Epistasia e Cor
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O ebook “Epistasia e Cor” foi desenvolvido pelo grupo 4 como
um projeto da disciplina de Fundamentos de Genética do curso
de Biotecnologia, ministrada pela Professora Dra. Patrícia
Domingues Freitas.
Este ebook tem como objetivo trazer informações sobre um dos
tipos de interação gênica que está diretamente associada à
expressão de pigmentos em diversos organismos, a epistasia.
O objetivo deste, é que o leitor possa adquirir conhecimentos
sobre esta forma de interação por meio de uma abordagem
que contém explicações e diversos exemplos que facilitam a
compreensão sobre o assunto de forma detalhada.
Todas as pessoas envolvidas na produção deste ebook são
discentes do curso de Biotecnologia pela Universidade Federal
de São Carlos (UFSCar), curso gerido pelo Departamento de
Genética e Evolução (DGE).
Autores
Fernanda Goulart Moraes, R.A: 800809
Geovana Vargas, R.A: 800192
Henrique Sebestyen França, R.A: 801574
Maria Eduarda Saladine, R.A: 801903
Maria Júlia Pozelli Macedo, R.A: 790785
O que é epistasia? (pág. 04)
Vamos entender mais sobre epistasia e seus efeitos nos seres vivos.
Epistasia na pelagem de dálmatas (pág. 06)
O capítulo explica como funciona a interação epistática que determina a
pigmentação dos dálmatas com pintas claras (dálmatas limão).
Epistasia na coloração do bulbo da cebola (pág. 08)
Vamos saber como ocorre a determinação da cor do bulbo da cebola roxa e
como isso é diferente do bulbo da cebola amarela.
Epistasia na pelagem de ovinos da raça Santa Inês
(pág. 10) A raça de ovinos Santa Inês possui várias cores de pelagem,
nesse capítulo vamos entender como cada indivíduo tem sua cor
determinada.
Epistasia na pigmentação do feijão (pág. 12)
Vamos entender como o feijão, leguminosa tão comum no cotidiano
brasileiro, possui sua coloração definida.
Epistasia na cor dos olhos (pág. 14)
O capítulo explica um pouco sobre as interações epistáticas do
fenômeno poligênico da pigmentação da cor dos olhos.
03
04
No estudo da genética observamos frequentemente interações gênicas que
seguem os princípios de Mendel, tanto em relação à Primeira lei de Mendel quanto
em relação a sua segunda lei, em que dois ou mais locus interagem para a
formação de um determinado fenótipo, assim é estabelecida como proporção
fenotípica padrão 9:3:3:1 na F2. Entretanto, muitas vezes são observadas
interações que fogem a este padrão, entre estas estão as interações epistáticas.
Nas relações denominadas como epistáticas
dois locus interagem de forma que ocorre a
inibição de um dos genes, tal interação pode ser
ocasionada pela presença dos dois genes numa
mesma via bioquímica, isso porque nesta
situação ocorre uma série de reações químicas
em que uma reação depende da anterior, o que
pode causar variação na expressão de uma
característica. A palavra epistasia em si possui
como significado “Predominância sobre”, desta
forma podemos classificar os genes que
participam dessa interação, sendo chamado de
epistático o gene que predomina, assim
atuando como inibidor, já o gene que fica sob a
atuação do predominante podendo ser inibido é
chamado de hipostático.
A cor dos nossos olhos é determinada por uma
interação epistática.
A presença do gene epistático ocasiona em dois tipos de epistasia, sendo estas a
dominante e a recessiva.
Na epistasia recessiva encontramos
uma proporção característica de 9:3:4, o
que se deve a necessidade de
expressão do alelo em dose dupla,
assim este deve se apresentar como
homozigoto recessivo (aa).
Na epistasia dominante, a presença de
um único alelo epistático é suficiente
para que sua expressão ocorra,
podendo aparecer na forma de
heterozigoto ou então como homozigoto
dominante (Aa/AA), desta forma
gerando uma proporção de 12:3:1.
Temos também a presença de um terceiro tipo de epistasia denominado epistasia recessiva
duplicada, neste a presença de alelos duplos recessivos em um dos loci da interação, tem a
capacidade de suprimir um fenótipo, segundo experimentos a proporção fenotípica deste tipo de
característica é de 9:7.
Agora vamos conferir diferentes exemplos de epistasia na pigmentação de alguns
seres vivos.
05
A característica mais marcante da raça Dálmata é
sua pelagem branca com pintas pretas e variedades
de fígado, que apresentam pintas marrons.
A cor da pelagem dos cães é determinada por vários
loci envolvidos com influência um sobre o outro,
caracterizando uma interação epistática. Nos
dálmatas, o locus B e o locus E são os principais
envolvidos nessa característica, influenciando um
sobre o outro e alterando assim o fenótipo do animal.
O locus B é responsável pela concentração de
eumelanina, determinante da pigmentação na cor
preta ou fígado, quando em homozigose dominante
ou heterozigose, a pigmentação será preta e quando
em homozigose recessiva, será marrom.
Enquanto isso, o locus E é responsável pela
concentração de feomelanina, que determina a
pigmentação amarelada/avermelhada. Quando em
dominância, seu gene remove a feomelanina e
apenas a eumelanina atua no fenótipo, porém
quando em homozigose recessiva, ele restringe a
atuação da eumelanina, o que resulta na cor
alaranjada no pelo do animal.
06
Nessa interação epistática, temos o gene E,
chamado gene epistático, inibindo o efeito
do gene B, chamado gene hipostático.
Esses genes são herdados de forma
independente durante a formação dos
gametas e por isso o fenótipo só aparece
quando o gene epistático apresenta-se em
homozigose recessiva, portanto não é
possível afirmar que um Dálmata preto ou
marrom não possui o alelo recessivo “e”
apenas por seu fenótipo.
Assim, para identificar a epistasia e saber se
o cão carrega o alelo, que resulta na cor fora
do padrão da raça, é necessário analisar o
gene com técnicas laboratoriais, entre elas, a
reação em cadeia da polimerase (PCR).
Entendendo as informações já
apresentadas, concluímos que o
tipo de epistasia envolvida é
epistasia recessiva. Agora
vamos analisar um caso com o
cruzamento entre dois cães de
pintas pretas e o que aconteceu
com os filhotes deles.
Um acasalamento entre dois cães de pintas pretas resultou
em 12 filhotes, ao nascer, 10 filhotes apresentam pintas
pretas um tempo depois, os dois filhotes restantes
apresentam pintas laranjas (Dálmata limão).
O teste genético já feito na fêmea mostrou a presença do
gene Ee, portanto ela carregava o alelo causador da cor
laranja, foi então realizado um teste genético no macho
para confirmar o mecanismo de epistasia e também em
dois filhotes escolhidos ao acaso, sendo um macho de
pintas pretas e uma fêmea de pintas laranjas. O resultado
obtido revelou heterozigose no pai (Ee), e como os dois
eram heterozigotos para o gene E, os filhotes poderiam
receber “E” ou “e” de cada um deles, e seus filhotes
poderiam ser homozigotos dominante (EE), heterozigotos
(Ee) ou homozigotos recessivos (ee), possibilitando
então as crias limão. Nos filhotes analisados, o filhote
com pintas pretas apresentou homozigose dominante(EE)
e a filhote com pintas limão apresentou homozigose
recessiva(ee).
Como a filhote de pintas laranjas apresentou o gene “E”
em homozigose recessiva (ee), a expressão das
características do gene “B” foi restringida, o que
resultou na presença da cor preta apenas em áreas
restritas.
Imagem ilustrativa, foto de Django, macho de
pintas pretas e Khalessi, fêmea de pintas laranjas.
(Instagram: @khalessi.django.dalmatian)
Abaixo temos uma tabela com os resultados do teste genético para o gene epistático (gene E) do
padreador e dos filhotes.
Cão analisado Raça Locus E
Padreador
Dálmata
Ee
Macho de pintas pretas
Dálmata
EE
Fêmeas de pintas laranjas
Dálmata
ee
07
08
A cebola de bulbo amarelo é a mais comumente encontrada no
Brasil, sendo a de bulbo roxo mais comum no Nordeste, mas
como é feita essa diferenciação?
Interações epistáticas complexas envolvendo ao menos 5 locus são
responsáveis pela coloração do bulbo da cebola.
Um estudo envolvendo o cruzamento entre ‘BRS Riovale’ (bulbo amarelo) x ‘BRS Carrancas’
(bulbo roxo) (C1) e entre ‘Botucatu’ (bulbo amarelo) x ‘BRS Carrancas’ (bulbo roxo) (C2)
buscou analisar a segregação nos bulbos.
Após o cruzamento, a F1 foi caracterizada pela dominância da cor roxa sobre a amarela. Em
seguida seus bulbos foram vernalizados e após 100 dias as sementes da F1 foram plantadas
para nova avaliação da segregação dos bulbos F2, as proporções e segregações dos bulbos
roxos e dos amarelos nos cruzamentos foram testadas pelo qui-quadrado para 3:1, 9:7, 13:3 e
15:1.
Para C1, o total de bulbos foi 142, sendo eles 81 roxos e 61 amarelos com segregação
epistática não mendeliana de 9:7.
Para C2, o total de bulbos foi 223, sendo eles 174 roxos e 49 amarelos com segregações
possíveis de 3:1 (mendeliana) e 13:3 (epistática não mendeliana). Neste cruzamento, para
definir o tipo de segregação é necessário avaliar uma população com mais de 400 bulbos.
Com esses dados fica evidente a necessidade de monitorar o cruzamento com seleção
para coloração dentro de famílias por algumas gerações para a fixação dos alelos que
controlam esse caráter.
Gene A
Gene R
Precursor
E1
Pigmento
E2
Pigmento
INCOLOR
AMARELO
ROXO
A epistasia envolvida na pigmentação do bulbo da cebola é a epistasia dominante.
09
O estudo da definição da pelagem de ovinos da raça Santa Inês veio da curiosidade relacionada à alta
capacidade de sobrevivência desses animais em altas temperaturas, descobrindo-se que havia relação
entre ambas as características. Os mecanismos responsáveis pela variedade de coloração nesses
mamíferos são o receptor de Melanocortina-1 (MC1R) e a proteína sinalizadora de Agout (ASIP), os quais
têm um papel importante na síntese de melanina.
Os Santa Inês são naturalizados no Brasil e são descendentes do cruzamento de duas raças ovinas, por
isso, apresentam tanta variação da cor da pelagem. Devido à presença de tantas variações, torna-se
interessante estudar os efeitos dos polimorfismos dos genes que interferem nesse fenótipo.
A herança da cor da pelagem de mamíferos vem sendo estudada a partir de uma perspectiva qualitativa
com categorias distintas de fenótipos, controlados por poucos genes e mostrando uma relação epistática,
entretanto já se sabe que a variação da cor dos pelos é afetada por um grande número de genes.
Padrões de pelagem da raça Santa Inês
A raça Santa Inês possui dois tipos básicos de pelagens: a monocolorida e a multicolorida.
A pelagem monocolorida varia desde a branca-suja até a negra, com destaque para as pelagens
castanha (“pelo-de-boi”), vermelha e negra.
A pelagem multicolorida é caracterizada pela presença de manchas escuras sob um fundo mais claro de
pelagem, podendo ocorrer também o inverso. Os tipos multicoloridos são a pelagem malhada, que conta
com grandes manchas arredondadas e nítidas; a pelagem tartarugada, com pequenas manchas
arredondadas que podem ter bordas definidas ou não; a pelagem lavrada, que possui manchas retas e
muito definidas; a pelagem chitada, caracterizada por pingos e borrões sem contornos definidos; e a
pelagem chuviscada, apresentando pingos, salpicos e chuviscos com definidos contornos.
10
Adaptabilidade térmica
A estrutura da pele e a cor da pelagem são importantes ferramentas de sobrevivência das
ovelhas diante da adaptabilidade térmica ao ambiente, permitindo a criação dessa raça em
diversos ambientes, entretanto esse tópico não é o foco da pesquisa e, portanto, não será
aprofundado.
Genética Molecular e genes responsáveis pela cor de pelagem
As análises dos fenótipos ovinos dependem da identificação genotípica, baseada em marcadores
moleculares que estão ligados aos genes de interesse para o estudo. A cor da pelagem em
mamíferos depende depende da quantidade relativa de dois tipos de melanina - proteína produzida a
partir da tirosina - a eumelanina, que é uma coloração escura, e a feomelanina, que é uma coloração
clara.
Os principais locus gênicos responsáveis pela ampla paleta de pelagens dos mamíferos são, os
anteriormente citados, MC1R e ASIP, que apresentam um papel na regulação da síntese da
molécula de melanina do pelo. A exacerbação da função do MC1R ou a perda da funcionalidade do
ASIP são responsáveis pela indução do melanismo.
A coloração preta da pelagem em ovelhas é dominante e tem sido relatada por uma extensão
alélica, transportando o p.M73K e p.D121, que indica alterações na sequência de codificação do
gene MC1R.
Foi relatada a relação entre o excesso de pigmentação na pelagem com os marcadores de DNA do
cromossomo 13 das ovelhas, em que os locus agouti indicam o gene ASIP como candidato para a
pigmentação recessiva dos ovinos em questão.
O gene MC1R codifica um receptor acoplado à proteína G, que é expresso em melanócitos da pele,
folículos pilosos e em células do sistema imune. Ao se ligar ao hormônio estimulante de melanócito,
o MC1R ativa a síntese de AMP cíclico intracelular induzindo a síntese de eumelanina - responsável
por pigmentos escuros. A ativação do MC1R é inibida pelo gene ASIP, que impede sua ativação pelo
αMSH e, assim, induz a troca da síntese de eumelanina para feomelanina - responsável por
pigmentos claros. O ASIP se comporta como antagonista do MC1R, impedindo sua ativação e
induzindo a troca da síntese de pigmentos.
Em ovinos, no mínimo, três mutações foram sugeridas para esclarecer a cor não-agouti recessiva
para cor de pelagem preta: a deleção de 5 pb do exon 2; uma mutação na raça Missense no exon 4;
e uma deleção de 9 pb no exon 2, restando apenas 10 pb após o códon de iniciação ATG, o que iria
resultar na perda de um tripeptídeo podendo prejudicar parcialmente a função ASIP. Além disso, a
variação do número de cópias de uma grande região do genoma incluindo o gene ASIP em ovinos
tem mostrado ser a causa genética da coloração branca da pelagem de forma dominante.
Ovinos pretos e multicoloridos Ovino branco Ovino multicolorido Ovino castanho
11
12
O feijão (Phaseolus vulgaris L.) é uma das leguminosas mais consumidas no
Brasil, fazendo parte da alimentação cotidiana da população brasileira. Logo, o
feijão possui uma gigantesca importância econômica no mercado interno
brasileiro e, consequentemente sua aparência e qualidade é de suma
importância para a escolha do produto pelo consumidor final.
Após ser colhido, durante todo o processo de transporte, empacotamento e venda, alguns feijões podem
vir a ter a sua cor alterada devido a processos de oxidação, e desidratação dos grãos no armazenamento,
saindo da tonalidade clara e ficando escurecidos. Desta forma, o feijão perde rapidamente seu valor
comercial, isso pois os feijões escuros são considerados velhos pelo consumidor final, que acabam não
consumindo-o.
O conhecimento do controle genético do escurecimento dos grãos de feijão é requisito básico para o
desenvolvimento de programas de melhoramento que tenham como objetivo o desenvolvimento de
cultivares com escurecimento lento dos grãos. Com o objetivo de entender melhor a genética por trás do
escurecimento, foram realizadas pesquisas utilizando duas variedades de feijão, o feijão pinto e o feijão
carioca (São as duas variedades mais afetadas pelo escurecimento). Através dessas pesquisas iniciais, foi
concluído que o escurecimento dos grãos tem controle monogênico com dominância do alelo que
condiciona escurecimento normal. O gene identificado responsável pelo escurecimento foi denominado
Sd (Slow darkening).
No entanto, posteriormente, durante estudos sobre a herança em populações com hibridações múltiplas
de linhagens feijão com escurecimento normal e lento dos grãos, foi concluído e comprovado que na
realidade, o escurecimento é determinado por mais de um gene, através de uma epistasia recessiva,
sendo um gene responsável pelo escurecimento ou não dos grãos (gene J, sendo que o genótipo jj
confere o não escurecimento dos grãos) e o outro responsável pela velocidade do escurecimento (gene
Sd), que pode ser lento (sdsd) ou normal (SdSd ou Sdsd). Ou seja, caso um indivíduo seja recessivo para o
gene J, esse gene irá inibir a atuação do gene “Slow darkening”, já que não existe um escurecimento lento
ou normal caso não haja ao menos um escurecimento.
Através desse conhecimento, hoje em dia os cientistas foram capazes de selecionar indivíduos que
apresentam um carácter de escurecimento lento, assim, realizando a criação de diversas variedades
comerciais de feijão carioca e pinto que também apresentam essa característica, além de outras
variedades que irão apresentar o genótipo epistático jj, desta forma não apresentando o escurecimento
do feijão, deixando-o livre da possibilidade de perda de valor comercial.
O quadro de punnet acima demonstra os três fenótipos possíveis partindo do cruzamento
entre um genitor homozigoto para o caráter de escurecimento dos grãos (JJSdSd) e um
genitor homozigoto para o caráter de não escurecimento dos grãos (jjsdsd).
13
A ampla escala de pigmentação dos olhos está entre os exemplos da variação fenotípica observada
nos humanos. Os genes OCA2 e HERC2 estão associados à variação normal da pigmentação dos
olhos. Foi realizado um estudo avaliando a relação de polimorfismos na codificação desses genes
com os fenótipos e estruturas que fazem parte da íris. Foram destacados diversos polimorfismos que,
quando analisados em conjunto, revelaram interações epistáticas, sendo uma possível explicação
para a variabilidade extensa desses fenótipos, principalmente as variações intermediárias - olhos
verdes intermediários e cor de mel.
Bases moleculares da pigmentação
A pigmentação nos humanos está estritamente relacionada aos melanossomos, que são
compartimentos produzidos pelos melanócitos e que sintetizam a melanina, além de armazená-la. As
variações fenotípicas resultam de duas formas de melanina que são depositadas nas estruturas, a
eumelanina, de pigmentação escura, e a feomelanina, de pigmentação mais clara.
Pigmentação dos olhos
Assim como outras estruturas humanas pigmentadas, o fator que explica a diversidade de tipos é a
quantidade e a classe de melanina presente na íris, assim podemos notar que olhos claros possuem
menor concentração de melanina quando comparados a olhos escuros.
A proporção entre eumelanina e feomelanina também deve ser ressaltada. A maioria das tonalidades
de olhos contém maior quantidade de eumelanina, enquanto a feomelanina apresenta concentrações
muito parecidas em olhos claros e escuros, o que define que a tonalidade clara é dada pela menor
concentração de eumelanina. Entretanto, no caso dos olhos verdes, descobriram que há uma maior
concentração de feomelanina, contrariando o padrão estabelecido.
14
Bases genéticas da pigmentação dos olhos
A cor dos olhos é uma característica que possui 98%
de herdabilidade, ou seja, a grande maioria da
diversidade existente é explicada por variações
genéticas. Diversas pesquisas indicam que a
diversidade da pigmentação dos olhos está
relacionada a um único locus do gene HERC2.
O polimorfismo conhecido como rs12913832A>G é o
principal marcador capaz de explicar a variação de
cores entre os olhos castanhos e azuis, o alelo “A”
possui frequência elevada em populações não
europeias e o alelo “G” o contrário, acredita-se que
esse polimorfismo atua sob o modelo de dominância
e recessividade, de forma que “AA” e “AG”
apresentem olhos castanhos e “GG”, olhos azuis. Do
ponto de vista molecular, esse polimorfismo atua na
regulação do gene OCA2, que se localiza distante do
gene HERC2. Acredita-se que essa regulação ocorre
num loop de cromatina que permite a interação entre
o gene HERC2 e a região que promove OCA2, de
forma que o alelo “A” estivesse relacionado com uma
maior expressão do OCA2, enquanto o alelo “G”
estaria relacionado a uma baixa expressão.
OCA2
Esse gene é responsável pela codificação da
proteína transmembrana melanossomal, chamada de
proteína P, que modula a produção de melanina e é
considerado um dos principais genes envolvidos na
definição do fenótipo da pigmentação dos olhos.
Vários alelos foram associados com a cor azul de
olhos, entretanto, o polimorfismo rs1800407 foi
relacionado à cor castanha com traços em verde de
olhos.
Após a realização de alguns estudos, descobriram
que a influência do gene OCA2 na variação normal
da pigmentação dos olhos não é apenas
determinada por mutações em regiões codificantes
de proteína, mas também por mutações de regiões
regulatórias que expressam esse gene.
HERC2
Tal como o gene citado anteriormente, o HERC2 está
ligado à determinação da cor dos olhos. O gene
HERC2 está envolvido na regulação do gene OCA2,
por meio de interações com proteínas que aumentam
a ação de fatores transcritores na região promotora
do gene OCA2, contribuindo para a determinação da
cor dos olhos.
O HERC2 não codifica proteínas envolvidas no
processo de melanogênese, portanto não é um gene
pigmentar, mas contém diversos sinalizadores
relacionados à pigmentação, como sinais que são
considerados um dos principais determinantes da
variação de cor.
Interações epistáticas entre os genes OCA2 e
HERC2
A pigmentação é um fenômeno poligênico e o efeito
de genes múltiplos não pode ser analisado de forma
independente, visto que efeitos epistáticos atuam
sobre essas características e devem ser levados em
consideração.
Do ponto de vista molecular, há a existência de
epistasia entre os dois genes em questão, pois a
região ao redor do sinalizador do HERC2 é
extremamente conversada e associada à regulação
da expressão do OCA2 - por se conectar a ele por
meio de um loop de cromatina - atuando como um
elemento intensificador da expressão do OCA2,
diretamente ligado à pigmentação.
Imagem aumentada do corte de diferentes cores de olho
(azul, verde, mel, castanho claro e castanho escuro,
respectivamente) realizado pelo algoritmo do programa
utilizado para análises quantitativas.
15
●
O que é epistasia?
GRIFFITHS, A. J. F.; WESSLER, S. R.; LEWONTIN, R. C.; GELBART, W. M.;
SUZUKI, D. T.; MILLER, J. H. Introdução à genética. 10 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
●
Epistasia na pelagem de dálmatas.
SANTIAGO, Patrícia Albuquerque et al. Avaliação genética da pelagem de cães
da raça Dálmata. Ci. Anim., p. 33-41, 2020.
●
Epistasia na coloração do bulbo da cebola.
DE SOUSA, Maria Eduarda Marinho et al. Segregação para cor em cruzamentos
de cebola de bulbo amarelo x bulbo roxo. In: Embrapa Semiárido-Resumo em
anais de congresso (ALICE). In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
EMBRAPA SEMIÁRIDO, 15., 2020, Petrolina. Anais... Petrolina: Embrapa
Semiárido, 2020., 2020.
●
Epistasia na cor da pelagem de ovinos da raça Santa Inês.
LIMA, Gleice Rangel Silveira et al. Polimorfismos gênicos responsáveis pela
variabilidade na cor de pelagem em ovinos Santa Inês. PUBVET, v. 8, p.
2806-2887, 2014.
●
Epistasia na pigmentação do feijão.
RODRIGUES, Ludivina Lima et al. Controle genético do escurecimento dos grãos
de feijão com diferentes tipos de grão e origens. 2018.
●
Epistasia na cor dos olhos.
DEBORTOLI, Guilherme. Variantes nos genes OCA2 e HERC2 associadas a
fenótipos clássicos de pigmentação e estruturas secundárias presentes na
íris em amostra miscigenada da população brasileira. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.
16
Confira os materiais disponibilizados pelos grupos de alunos de biotecnologia da turma
de genética de 2021, os meios de publicação são diversos e tratam de vários temas
muito interessantes sobre genética e as características de diversos seres vivos.
@alemdogene
O perfil inteiro do instagram é dedicado a falar sobre epigenética! Explica o que é
epigenética e também demonstra exemplos de como os mecanismos epigenéticos
afetam os seres vivos e podem ser estudados em prol da sociedade.
O site disponibilizado para alunos da UFSCar explica o que é a herança genética
quantitativa, explicando com mais profundidade os tons de pele. Além de mostrar
como o ambiente pode afetar essa característica e quais são as outras heranças que
se relacionam com o tom de pele, como é o caso do albinismo e do vitiligo.
O material disponibilizado para alunos da UFSCar fala sobre genética de populações,
que é o estudo sobre a genética de grupos populacionais e também discute a
presença de genes podem mudar com seleção e mudanças na população, gerando
novas espécies.
https://poliploidiavegetal.wixsite.com/biotec/blog
O site é voltado para explicar sobre a poliploidia vegetal e mostrar seus diversos
usos e aplicações em nosso cotidiano, tudo isso de forma descontraída,
demonstrando através de frutos e vegetais que consumimos e conhecemos.
https://www.yumpu.com/pt/document/read/65983224/cancer-e-alter
acoes-cromossomicas
Este é um e-book dedicado à trazer informações de fácil acesso sobre como ocorre
às alterações cromossômicas, câncer e a relação entre ambos. A edição possui
um tópico especial sobre o novembro azul e o câncer de próstata.