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Entre utopias e memórias: arte, museus e patrimônios

Esta obra gira em torno não apenas de memórias coletivas, mas também de política, de formas de poder que se perpetuam, de conflitos e resistências, de silêncios e ausências e de buscas por reparação de violações cometidas no passado. Atualmente, mais do que em qualquer outro período da modernidade, há a percepção corrente de que a memória coletiva é construída e disputada. Inicialmente, as versões oficiais da História e da historiografia profissional foram contestadas, e a memória apareceu associada a testemunhos e narrativas autobiográficas como contraponto ao discurso dominante. Grupos sociais e diversos especialistas procuraram as versões não autorizadas do passado como forma de se contrapor ao discurso único. A memória e diversas outras representações coletivas passaram, então, a ser disputadas em meio às guerras culturais. O livro se divide em quatro seções (Descentrando as memórias coletivas; Patrimônio em contextos de crise; Arte e memórias políticas; Memória coletiva, revisões e políticas) e teve a participação das seguintes autoras e autores, além da organizadora Myrian Sepúlveda dos Santos: Carlos A. Gadea, Tereza Ventura, Leopoldo Guilherme Pio, Adebal de Andrade Júnior, Yussef Campos, Maurício Barros de Castro, Fred Coelho, Tatiane Schilaro, Viviane Borges, Gilvan Barreto, Gabriel da Silva Vidal Cid, Luciane Barbosa de Souza, Joseane Paiva Macedo Brandão e Lília Abadia.

Esta obra gira em torno não apenas de memórias coletivas, mas também de política, de formas de poder que se perpetuam, de conflitos e resistências, de silêncios e ausências e de buscas por reparação de violações cometidas no passado. Atualmente, mais do que em qualquer outro período da modernidade, há a percepção corrente de que a memória coletiva é construída e disputada.

Inicialmente, as versões oficiais da História e da historiografia profissional foram contestadas, e a memória apareceu associada a testemunhos e narrativas autobiográficas como contraponto ao discurso dominante. Grupos sociais e diversos especialistas procuraram as versões não autorizadas do passado como forma de se contrapor ao discurso único. A memória e diversas outras representações coletivas passaram, então, a ser disputadas em meio às guerras culturais.

O livro se divide em quatro seções (Descentrando as memórias coletivas; Patrimônio em contextos de crise; Arte e memórias políticas; Memória coletiva, revisões e políticas) e teve a participação das seguintes autoras e autores, além da organizadora Myrian Sepúlveda dos Santos: Carlos A. Gadea, Tereza Ventura, Leopoldo Guilherme Pio, Adebal de Andrade Júnior, Yussef Campos, Maurício Barros de Castro, Fred Coelho, Tatiane Schilaro, Viviane Borges, Gilvan Barreto, Gabriel da Silva Vidal Cid, Luciane Barbosa de Souza, Joseane Paiva Macedo Brandão e Lília Abadia.

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nostalgia, o aumento da literatura memorialística e confessional e dos

romances autobiográficos e históricos, a importância dos documentários

e canais de História, bem como a atenção voltada para a literatura

sobre trauma, síndrome da memória recuperada, histórias difíceis e

pedidos de desculpas sobre o passado. Em Regimes de Historicidade:

presentismo e experiências do tempo, Hartog (2015) descreveu nossa época

como marcada pelo “presentismo” e pela obstinada memorialização

de lugares sociais. À medida que o olhar para trás ganhava relevância,

os diversos movimentos sociais afastavam-se das lutas que prometiam

um mundo de liberdades a se realizar no futuro.

Em um livro mais polêmico, o historiador italiano Enzo Traverso

apontou o surgimento de um sentimento melancólico nos setores de

esquerda ocasionado pelo sentimento de culpa por não desafiar suficientemente

as autoridades, pelo medo de se render em resignação, pelo

luto por perdas humanas e pelo sentimento de fracasso por não realizar

aspirações utópicas. A emergência da memória no espaço público seria

uma consequência dessa mudança. Para Traverso (2017), o novo regime

de historicidade, que não é muito distante daquele descrito por Hartog,

teria o poder de reacender a dialética do pensamento revolucionário.

O trabalho de Walter Benjamin (1985) sobre o conceito de história

tem sido resgatado. Benjamin, que certamente estava à frente de seu

tempo, criticou duramente a construção da história de forma linear,

como se fosse contas de um rosário, na qual ocorria o distanciamento

entre passado e presente. Para o autor, que se considerava marxista,

as grandes narrativas da história, que anunciavam a vitória inevitável

do proletariado ou ainda a emancipação plena do indivíduo de todas

as amarras e condicionantes sociais não se sustentavam. O caminho

a ser trilhado na direção dada pelo progresso inexorável era resultado

de um pensamento equivocado. A crítica ao positivismo científico

alcançou com ele a historiografia do início do século XX.

Nas ciências sociais, o “olhar para trás” ganha atenção no mesmo

período da chamada “virada linguística”, em que as antinomias entre

indivíduo e sociedade abrem espaço para a interpretação das representações

sociais. Podemos dizer que a partir dos anos 1980 não é mais

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