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Livro de Resumos
Auditório da Câmara Municipal do Seixal
12 e 13 de setembro de 2022
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
Índice
POSTERS 3
PROTOCOLO 3
Percepção da imagem corporal por cuidadores e crianças – um instrumento de mudança? 4
INVESTIGAÇÃO 6
Espessura íntima média e placa de ateroma carotídea como preditores de acidente vascular
cerebral isquémico 7
Estudo do perfil lipídico em crianças e adolescentes 9
PROJECTO DE INTERVENÇÃO 11
Viver em equilíbrio – um projeto de intervenção na prevenção de quedas nos idosos 12
REVISÃO DE TEMA 14
Utilização de critérios de prioridade clínicos na atribuição de médico de família: revisão
narrativa 15
Gravidez e alterações cognitivas: mito ou realidade? 17
Prematuridade e desenvolvimento a longo prazo – uma RBE 19
RELATO DE PRÁTICA 21
Relato de prática: saúde à medida 22
CASOS CLÍNICOS 24
HEEADSSS e a importância da sua realização pelo médico de família: a propósito de um
caso clínico 25
Síndrome nutcracker: um relato de caso 27
1 SLIDE I 5 MINUTOS 29
O uso de misoprostol vaginal para colocação de DIU, na mulher nulípara, aumenta a taxa
de sucesso de colocação? 30
Parceria com a Direção-Geral da Saúde para a tradução de consentimentos informados 30
Adequabilidade do método contracetivo em mulheres fumadoras – a realidade de uma
USF 30
Necrobiose lipóidica – uma complicação rara da diabetes 30
Rastreio VIH- resultados obtidos após 3 ciclos de melhoria da qualidade 30
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
POSTERS
PROTOCOLO
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
Percepção da imagem corporal por cuidadores e crianças
– um instrumento de mudança?
Catarina Pinhão 1 , Olga Carneiro 1
1- IFE MGF USF Andreas, Aces Oeste Sul, ARSLVT
Introdução:
A obesidade infantil está associada a maior risco de obesidade na idade adulta e outras doenças
crónicas, a custos elevados com a saúde e a alterações psicológicas que levam a pior autoestima
e menor qualidade de vida.
Os pais são essenciais na sua prevenção e tratamento - se não reconhecerem o peso excessivo
das crianças ou os riscos associados, os programas de prevenção e tratamento da obesidade
infantil não serão bem-sucedidos. É essencial ajudar os pais a percepcionar o excesso de peso
dos filhos, e certificar que estão preparados e motivados para a mudança.
Objetivos: Pretendemos avaliar o Índice de Massa Corporal (IMC) da nossa população infantil e
a capacidade de avaliação da imagem corporal das crianças pelas próprias e pelos cuidadores, e
perceber se a constatação de que a imagem da criança não é a ideal leva a um desejo de
mudança.
Métodos:
Durante um ano, todos os utentes de 10 anos convocados para completar o programa nacional
de vacinação, bem como os seus cuidadores, serão convidados a preencher um formulário de
forma anónima e individual, constituído pelo Questionário de Silhuetas de Collins - deverão
assinalar a imagem que consideram “real” e a “ideal”. Será ainda anexado o IMC das crianças a
cada questionário.
Discussão:
Este estudo vai aferir se existe concordância entre a imagem corporal real das crianças e a
imagem idealizada pelos cuidadores e pelos próprios, e a sua relação com o IMC. Os
questionários serão analisados, e a diferença entre a imagem “real” e a “ideal” será interpretada
como insatisfação com a imagem corporal - valores negativos correspondem ao desejo de perder
peso, valores positivos ao desejo de ganhar peso e 0 a satisfação com a imagem corporal.
Estes dados servirão de base para o desenvolvimento de medidas e intervenções direcionadas à
obesidade infantil na nossa população.
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
POSTERS
INVESTIGAÇÃO
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
Espessura íntima média e placa de ateroma carotídea como preditores
de acidente vascular cerebral isquémico
Maria Bento 1 , Gil Nunes 2 , Patrícia Coelho 3 , Francisco Rodrigues 4
1 Escola Superior de saúde Dr. Lopes Dias – Instituto Politécnico de Castelo Branco; 2 Hospital de Vila Franca de Xira | Instituto
Politécnico de Castelo Branco –Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias | Centro Académico Clínico das Beira; 3 Instituto Politécnico
de Castelo Branco – Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias Sport, Health & Exercise Unit (SHERU) | Qualidade de vida no Mundo
Rural (Qrural), PhD; 4 Instituto Politécnico de Castelo Branco – Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias | Qualidade de vida no
Mundo Rural (Qrural) | Sport, Health & Exercise Unit (SHERU),PhD
Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) intitula-se como a principal doença cérebro
vascular. É uma patologia bastante presente na atualidade, revelando ser uma das principais
causas de morbilidade e mortalidade. A avaliação de alguns parâmetros por ultrassonografia
carotídea, como o índice intima-média e as placas de ateroma carotídeas revelam utilidade na
previsão do risco de AVC e prevenção do mesmo.
Objetivo: Investigar qual o melhor preditor de AVC medido por ultrassonografia carotídea.
Materiais e métodos: Foi realizado um estudo retrospetivo, transversal por meio de uma base
de dados referente os anos de 2017 a 2020 do Hospital de Vila Franca de Xira, sendo aplicados
critérios de inclusão e exclusão para seleção da amostra. Foram selecionados aleatoriamente 100
indivíduos com idades superiores a 40 anos que realizaram EcoDoppler carotídeo no ano de
2020, sendo 50 indivíduos sem diagnóstico de AVC e 50 indivíduos com diagnóstico de AVC
isquémico ou acidente isquémico transitório (AIT) de etiologia aterosclerótica. Sendo excluídos
todos os indivíduos com história de AVC hemorrágico e AVC isquémico ou AIT, cuja etiologia
não tivesse sido aterosclerótica ou tivesse sido indeterminada. Posteriormente à seleção da
amostra foram codificados e tratados os dados através do programa SPSS utilizando o teste
estatístico do Chi-quadrado.
Resultados: A correlação entre as variáveis Índice intima média (IIM) aumentado e a presença
de AVC, revelou um IIM superior ao limiar da normalidade na maioria da amostra, sendo o
grupo com AVC aquele que apresentou um maior número de indivíduos com IIM aumentado,
não apresentando significância estatística significativa (p=0,086). Correlacionando ainda a
ocorrência de AVC com as placas de ateroma na carótida interna, verificou-se que a maioria da
amostra revelou placas de ateroma, sendo o grupo com AVC aquele que apresentou um maior
número de indivíduos com placas de ateroma, revelando ser estatisticamente significativo
(p=0,008).
Discussão: Tanto o IIM como as placas de ateroma carotídeas são bons preditores de AVC.
A maioria da amostra revelou valores aumentados de IIM tal como presença de placas de
ateroma na carótida interna, com maior prevalência no grupo com AVC em ambas as variáveis.
Sendo que os resultados estatisticamente significativos estão associados às placas de ateroma,
traduzindo uma influência estatisticamente significativa das placas de ateroma ao AVC. O que
não se verificou na relação entre o IIM e o AVC.
A literatura corrobora a utilidade destas duas variáveis na previsão do risco de AVC, sendo que
alguns autores afirmam que as placas de ateroma são mais adequadas na avaliação do risco de
AVC, os quais se encontram concordantes com os achados neste estudo. Enquanto outros
autores defendem que são variáveis independentes e que ambas tem um valor semelhante na
previsão do risco de AVC. Na presente investigação as placas de ateroma revelaram ser melhor
preditor do risco de AVC face ao índice íntima-média. Contudo devem ser avaliados de forma
complementar para uma melhor previsão do risco de AVC.
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Estudo do perfil lipídico em crianças e adolescentes
Ema Cabral 1 , Patrícia Coelho 2 , Francisco Rodrigues 3
1- Instituto Politécnico de Castelo Branco - Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias. 2- Instituto Politécnico de
Castelo Branco - Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias| Spot, Health&Exercicse Unit (SHERU) | Qualidade de
Vida no Mundo Rural (Qrural), PhD. 3- Instituto Politécnico de Castelo Branco - Escola Superior de Saúde Dr.
Lopes Dias| Qualidade de Vida no Mundo Rural (Qrural)| Spot, Health&Exercicse Unit (SHERU), PhD
Introdução:
A dislipidemia, caracterizada por níveis anómalos de lípidos no sangue, tem grande influência
no desenvolvimento de processos ateroscleróticos que podem iniciar ainda na infância sem
sintomas clínicos associados resultando, posteriormente, em processos isquémicos.
Objetivo:
Determinar a prevalência das alterações lipídicas e a sua relação com os fatores de risco nos
alunos com idades compreendidas entre os 9 e os 19 anos.
Materiais e Métodos:
Foi realizada a avaliação do perfil lipídico em cada indivíduo através da recolha sanguínea
capilar em alunos do 5º ao 12º ano de escolaridade.
Resultados:
A amostragem constituída por um total de 327 alunos, com idades compreendidas entre os 9 e
os 19 anos e 194 alunos do sexo feminino e 133 do sexo masculino. Os níveis de colesterol total
encontraram-se, maioritariamente, aceitáveis contrariamente aos níveis de colesterol highdensity
lipoprotein (HDL), que se encontraram alterados em 64,3% dos alunos. Observou-se
uma maior prevalência de níveis elevados de triglicerídeos nos alunos que não praticavam
exercício físico fora do contexto escolar e nos indivíduos que ingeriam maiores quantidades de
carne, que também apresentavam uma maior prevalência de níveis de colesterol HDL inferiores
ao expectável.
Discussão:
Observou-se uma elevada prevalência de indivíduos com alterações no perfil lipídico,
nomeadamente, níveis baixos de colesterol HDL tal como se observou nos estudos realizados
por Cunha et.al e Ramos et. al. Concluiu-se que a presença de alterações no perfil lipídico nesta
população jovem está associada à escassa prática de exercício físico e aos hábitos alimentares.
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POSTERS
PROJECTO DE INTERVENÇÃO
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
Viver em equilíbrio – um projeto de intervenção na
prevenção de quedas nos idosos
Filipa Moreira 1 , Daniela Santareno Marques 2 , Rita Brochado 2
1 Interna de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar, USF Lápias, ACES Sintra.
2 Médica Assistente de Medicina Geral e Familiar, USF Lápias, ACES Sintra
Introdução:
Os acidentes estão associados a uma elevada taxa de internamentos e de morbimortalidade em
pessoas com idade superior a 60 anos, muitos são causados por quedas durante a realização de
atividades de vida diária. Na sua etiologia podem estar associadas patologias como alterações da
visão, hipotensão postural, problemas cardiovasculares, tonturas/vertigens, neuropatias,
alterações da marcha e músculo-esqueléticas, medicação (sedativos, antidepressivos, entre
outros), uso de calçado inadequado e a presença de obstáculos na via pública e em casa.
Objetivos:
Este trabalho visa relatar um projeto de educação para a saúde desenvolvido na comunidade por
um grupo de médicas de uma Unidade de Saúde Familiar, com ações de formação numa
Estrutura Residencial Para Idosos (ERPI) da região.
Pertinência:
A maioria das quedas são evitáveis. Os médicos de família, pela sua ligação à comunidade e
atuação na prevenção, devem capacitar os idosos para a prevenção primária das quedas e suas
consequências. Por outro lado, sendo Portugal um país envelhecido e com uma esperança média
de vida crescente, o conceito de envelhecimento saudável assume maior relevância e a
promoção do exercício físico e da reabilitação física tem de ser um assunto prioritário da nossa
prática clínica.
Descrição:
Com a colaboração dos profissionais da ERPI onde se realizou o projeto, foram organizadas
sessões informativas e práticas sobre este tema, onde abordámos a relevância e prevalência do
problema, ensinámos medidas gerais para a sua prevenção e praticámos com os utentes
exercícios de Otago, concebidos especificamente para a prevenção de quedas.
Discussão:
Os utentes demonstraram um grande interesse na prática de exercício regular, adaptado às suas
limitações individuais, revelando os conhecimentos adquiridos e progressos na mobilidade na
continuidade das sessões. Observou-se também um decréscimo de 50% das quedas na média
dos 8 meses subsequentes à primeira intervenção, comparativamente à média das quedas
registadas nos 8 meses antes da mesma.
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POSTERS
REVISÃO DE TEMA
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
Utilização de critérios de prioridade clínicos na atribuição
de médico de família: revisão narrativa
Inês Laplanche Coelho 1, 2
1. USF Dafundo, ACeS Lisboa Ocidental e Oeiras
2. Clínica Universitária de Medicina Geral e Familiar, Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa
Introdução e Objetivo
De acordo com o Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde, cerca de 10% da
população portuguesa não tem médico de família atribuído, prevendo-se que a situação se
agrave nos próximos anos. A literatura demonstra que utentes sem médico de família (MF) têm
menor acesso aos cuidados de saúde, menor continuidade de cuidados, recebem cuidados menos
abrangentes, experimentam cuidados mais descoordenados, e dependem frequentemente do
serviço de urgência para dar resposta às necessidades de saúde não atendidas. Torna-se por isso
premente a discussão sobre a necessidade de utilização de critérios de prioridade na atribuição
de MF. A presente revisão narrativa tem como objetivo identificar critérios de prioridade
clínicos na atribuição de MF descritos na literatura.
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa em abril de 2022 nas bases de dados MEDLINE/PubMed, Scielo,
COCHRANE utilizando os termos MESH “waiting list” e “primary care”. Foram considerados
todos artigos e documentos em inglês e português publicados desde 1980 até abril de 2022.
Foram consultadas referências bibliográficas dos artigos selecionados na pesquisa primária. Foi
ainda realizada uma pesquisa na literatura cinzenta e foi contactada uma das autoras dos artigos
selecionados para auxílio na identificação de outros documentos relevantes.
Resultados
Os resultados da pesquisa de literatura realizada mostram que o único país que utiliza critérios
de prioridade clínicos para atribuição de MF é o Canadá, onde cerca de 15% da população não
tem MF atribuído. Foram criados balcões centralizados de doentes que concentram as
solicitações dos doentes que procuram um MF. Nalgumas províncias canadianas, foi adotado
um modelo de prioridade baseado em critérios clínicos com o objetivo de dar prioridade aos
doentes mais vulneráveis. Estes critérios de prioridade baseados em diagnósticos específicos
vão determinar a urgência com que deve ser atribuído um médico de família ao doente.
Discussão
O sistema em vigor em Portugal prevê, de acordo com Despacho nº 1774-A/2017, que as
famílias com grávidas, utentes com multimorbilidade, com doença crónica ou com crianças até
2 anos de vida tenham prioridade na atribuição de MF. Na prática, na maioria das unidades,
tem-se observado um sistema de first come first served. Considerando a necessidade de gerir a
situação dos utentes sem MF, é de destacar o exemplo do Canadá onde, em algumas províncias,
a definição de critérios de prioridade clínicos específicos permite identificar doentes com uma
necessidade urgente de médico de família.
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z
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Gravidez e alterações cognitivas: mito ou realidade?
Rita L. Ramos 1 ; Marina Meireles 1
1- USF Fernão Ferro Mais – ACeS Almada-Seixal
Introdução e Objetivo:
Mais de 80% das mulheres referem um declínio cognitivo durante a gravidez, caracterizado
sobretudo por dificuldades de concentração e esquecimentos frequentes. Estas alterações são
habitualmente conhecidas como “Baby Brain” ou “Pregnancy Brain” e têm sido associadas a
alterações hormonais que ocorrem durante a gravidez.
Esta revisão tem como objetivo perceber se esta perceção por parte das mulheres grávidas tem
fundamento na literatura e se há, de facto, uma relação entre gravidez e um declínio cognitivo
objetivo.
Metodologia:
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica de artigos (ensaios clínicos, estudos de coorte, revisões
da literatura ou meta-análises) em bases de dados científicas (PubMed e Up to Date) publicados
entre 2012 e 2022, utilizando os termos de pesquisa: “pregnancy”, “memory changes” e
“cognitive function”. Foram incluídos e analisados cinco artigos científicos.
Resultados:
Dos artigos analisados, dois eram ensaios clínicos, um era um estudo de coorte, um era uma
revisão da literatura e um era uma meta-análise.
Os estudos mostram-se unânimes relativamente a alterações cognitivas subjetivas (sobretudo
memória) reportadas pelas grávidas; no entanto demonstraram alguma heterogeneidade no que
toca a alterações objetivas, medidas com testes em ambiente de laboratório. A maioria dos
estudos não considera que haja alterações na memória de trabalho, funcionamento executivo ou
atenção. No entanto alguns encontraram alterações objetivas em diferentes áreas da memória,
capacidade de nomeação e capacidade de aprendizagem, sobretudo durante o 3º trimestre de
gravidez.
Discussão:
Embora alguns estudos sugiram uma objetiva alteração na função cognitiva, há pouco consenso
no tipo de função afetada. Adicionalmente, os testes realizados para avaliação da cognição
podem não refletir com precisão se os défices encontrados são clinicamente significativos em
termos funcionais (dado a avaliação ser feita sobretudo em ambiente de laboratório), não
estando também claro se estes défices são afetados por fatores como a privação de sono e stress
ou se retomam aos níveis pré-gestação.
São necessários mais estudos que clarifiquem o domínio da cognição afetado, que considerem a
avaliação da funcionalidade nas atividades da vida diária e que avaliem a progressão dos défices
longitudinalmente e os fatores que interferem nessa mesma progressão.
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Prematuridade e desenvolvimento a longo prazo – uma RBE
Carolina E. Ferrreira 1
1- Interna MGF USF Almonda
Introdução: A taxa global de parto pré-termo (<37 semanas) é 11% a nível mundial.
Anualmente nascem 15 milhões de prematuros, ou seja, 1 em cada 10 bebés. Em Portugal a
prematuridade ronda os 8% e a prevalência de prematuros abaixo das 32 semanas é 1,2%.
Crianças e jovens nascidos prematuros correm maior risco de distúrbios do desenvolvimento.
Objetivos: Avaliar prognóstico no desenvolvimento a longo prazo da prematuridade.
Metodologia: Revisão baseada na evidência com critérios de inclusão segundo a metodologia
PO: População – Recém-nascidos prétermo; O – Desenvolvimento a longo prazo. Pesquisaramse
guidelines, revisões sistemáticas, meta-análises, artigos de revisão, estudos observacionais,
em língua inglesa, publicados desde 2014, nas bases de dados: National Guideline
Clearinghouse, NICE, MEDLINE, Trip Database e PubMed. Utilizaram-se os termos não
MeSH: “preterm birth developmental long term outcome”. Para atribuição dos níveis de
evidência (NE) e forças de recomendação (FR) usou-se a escala SORT.
Resultados: Obtiveram-se 329 artigos na pesquisa. Após remoção de duplicados, exclusão pelo
título/resumo e pelo cumprimento dos critérios de inclusão e exclusão pré-definidos foram
selecionadas 5 publicações: 2 revisões sistemáticas e 3 artigos de revisão.
A evidência sugere uma maior prevalência de alterações do desenvolvimento quanto menor a
idade gestacional ao nascimento. O sexo masculino, raça não caucasiana, menor nível de
escolaridade dos pais e menor peso ao nascer foram preditores de comprometimento cognitivo
global abaixo dos 5 anos nos prematuros moderados (28-32 semanas). O sexo masculino foi
preditor de comprometimento da linguagem na primeira, mas não na segunda infância (P<0,05).
A influência dos fatores de risco perinatais no desenvolvimento cognitivo de prematuros
moderados parece diminuir com o tempo à medida que os fatores ambientais se tornam mais
importantes, como o status socioeconómico.
Relativamente aos prematuros extremos (<28 semanas) numerosos estudos relataram
importantes déficits na memória de curto prazo, velocidade de processamento, habilidades
visuo-perceptivas, integração sensori-motora e atenção. Grandes estudos populacionais
mostraram que as crianças prematuras extremas são mais propensas a ter pior desempenho
académico do que os pares nascidos a termo e colegas prematuros mais maduros. Há também
taxas significativas e substanciais de dificuldades de aprendizagem, mesmo entre aqueles sem
deficiências neurossensoriais e após ajuste para fatores socioeconómicos. Consequentemente,
39%–62% das crianças prematuras extremas tem necessidades educativas especiais. Há também
evidência de um risco aumentado de problemas do foro psiquiátrico que se estendem da infância
até à idade adulta, incluindo perturbações do espectro do autismo, perturbação de
hiperatividade/défice de atenção e do humor. Apesar da persistência destas sequelas a maioria
dos adultos prematuros extremos tem uma vida independente e a sua autopercepção da
qualidade de vida é semelhante aos controles.
Discussão: A prematuridade extrema particularmente tem um impacto significativo a longo
prazo no neurodesenvolvimento. São precisos mais estudos sobre prematuridade tardia (33-36
semanas). Dada a heterogeneidade e a ampla gama de déficits experimentados e a influência dos
fatores ambientais, as intervenções durante os anos escolares e aquelas que visam os múltiplos
processos cognitivos afetados poderão ser benéficas.
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RELATO DE PRÁTICA
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Relato de prática: saúde à medida
Ana Margarida Carvalho 1 , Duarte Vital Brito 2 , Pedro Almeida 3
1- USF Almirante, 2- Unidade de Saúde Pública Amélia Leitão, 3- Faculdade de
Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Introdução:
Um baixo nível de Literacia em Saúde compromete a eficácia dos cuidados de saúde. A
comunicação em saúde pode ser melhorada através de uma linguagem clara, auxiliada por
imagens. Muitos dos materiais de comunicação utilizados no Serviço Nacional de Saúde (SNS)
são criados por profissionais de saúde, carecendo das competências específicas de designers de
comunicação e de validação junto dos utentes.
Objetivos:
O projeto “Saúde à Medida” resulta de uma parceria entre o Grupo de Literacia do
Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Lisboa Central e a Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa (FBAUL). Pretende estimular o desenvolvimento de materiais
informativos sobre saúde, desenvolvidos em regime de cocriação entre profissionais de saúde e
estudantes de licenciatura em design de comunicação da FBAUL. Os materiais produzidos serão
instrumentos que poderão ser utilizados pelos profissionais de saúde do ACeS Lisboa Central,
de forma a melhorar a Literacia em Saúde dos utentes.
Pertinência: Cinco em cada dez pessoas da população portuguesa têm níveis reduzidos de
Literacia em Saúde. A disponibilização de instrumentos e ferramentas aos profissionais de
saúde, bem como o aumento da rede de parceiros para incorporar e potenciar as intervenções de
promoção da Literacia em Saúde, fazem parte das estratégias do Plano de Ação para a Literacia
em Saúde proposto pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Descrição:
Foi realizado um inquérito aos profissionais de saúde do ACeS Lisboa Central para apurar as
temáticas prioritárias para transmissão de informação em saúde, tendo sido selecionados quatro
temas para a edição de 2021/2022. Os temas selecionados foram: a alimentação equilibrada, a
atividade física, as infeções sexualmente transmissíveis e os métodos contracetivos. Os
estudantes tiveram acesso à informação através da: 1) partilha de materiais já produzidos pelos
profissionais de saúde, no âmbito destes temas e, 2) documentação disponibilizada pelo Grupo
de Literacia. Numa fase inicial de exploração e análise de conteúdo, foi criada uma plataforma
de recolha de dúvidas que foram esclarecidas por profissionais de saúde. Os materiais
produzidos foram revistos por estes profissionais, de forma a melhorar e validar o conteúdo
científico dos mesmos. Na fase final serão feitos os ajustes necessários aos materiais
produzidos, para possibilitar a sua divulgação junto dos utentes.
Discussão: A Literacia em Saúde é fundamental para a promoção da saúde, para a prevenção da
doença e para a utilização eficaz e eficiente dos serviços, sendo importante também para a
sustentabilidade do SNS. Os materiais informativos utilizados no âmbito dos cuidados de saúde
devem ser de fácil interpretação e visualmente apelativos. O design de comunicação aporta as
competências técnicas que permitem melhorar as ferramentas de trabalho na promoção da
Literacia em Saúde. Esta parceria visa ser uma via de disseminação de conhecimento,
permitindo melhores resultados em saúde.
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POSTERS
CASOS CLÍNICOS
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HEEADSSS e a importância da sua realização pelo médico de família:
a propósito de um caso clínico
Diana Neves Correia 1 , Sílvia Gomes 1 , Gonçalo Magalhães 1
1 - USF Infante D. Henrique – ACES Dão Lafões | Coordenador: Dr. Jorge Campos
Enquadramento: A adolescência é um período de múltiplas mudanças físicas e psicológicas.
Na consulta com o(a) adolescente, os aspetos psicossociais apresentam elevada importância,
permitindo conhecê-lo e identificando fatores de risco. A aplicação do questionário HEEADSSS
possibilita, através do diálogo com o adolescente, a realização da revisão dos sistemas e a
abordagem dos desafios enfrentados por esta faixa etária.
Descrição do caso: Sexo masculino, 13 anos, integrado numa família reconstruída. Viveu com
os avós dos 3 aos 8 anos, vivendo atualmente com a mãe e o padrasto. Sem antecedentes
pessoais de relevo e sem medicação habitual.
Em Maio de 2021 realizou consulta de rotina dos 12-13 anos, não apresentando queixas de
relevo. Ao longo da consulta foi realizada entrevista psicossocial, através da aplicação do
questionário HEEADSSS, tendo-se verificado que, relativamente ao Eating, apresentava
alterações: padrão de hábitos alimentares com seletividade – restrição de sopa e legumes-, e
preferência por fast-food, com vários anos de evolução. Apesar dessas variações, não foram
verificadas modificações no desenvolvimento ou avaliação antropométrica.
Quando questionado durante a consulta sobre o facto de existir alguma razão que tivesse
motivado a alteração dos seus hábitos alimentares, o adolescente referiu que, desde o
falecimento, há vários anos, do avô (a sua figura de referência), associava a alimentação a esse
acontecimento, com agravamento de sentimentos de tristeza nos últimos meses. Antes do
falecimento do familiar, o adolescente apresentava alimentação variada e equilibrada, afirmando
que a confeção e o momento da refeição seriam um espaço de partilha e convivência familiar,
particularmente com o avô. Para além do mencionado anteriormente, verificou-se que
apresentava sentimentos de tristeza, dificuldade na gestão do não, dificuldades de concentração
e sono irregular com agravamento nos últimos meses, no entanto, sem impacto nas atividades de
vida diárias ou rendimento escolar.
O adolescente foi referenciado para a consulta de Pediatria. Foram agendadas consultas mensais
de reavaliação para exploração do tema e intervenção, até avaliação por pediatria, que
posteriormente confirmou o diagnóstico de tristeza reativa – luto – e transtorno do défice de
atenção, tendo iniciado tratamento farmacológico e acompanhamento psicológico.
Em Março de 2022 não apresentava padrão de alimentação restritivo, tendo reintroduzido a
maioria dos alimentos. Atualmente, apresenta melhoria do quadro clínico, mantendo seguimento
com o médico de família (MF) e pedopsiquiatra.
Discussão: Este caso clínico realça a importância da realização do HEEADSSS durante a
consulta do adolescente, independentemente das queixas presentes. A tristeza reativa pode
apresentar-se através de alterações comportamentais, necessitando o MF de estar atento a sinais
de alarme. Para além do descrito, o MF apresentou um papel crucial na referenciação atempada
aos cuidados de saúde secundários, tendo a multidisciplinaridade entre o MF, o médico pediatra
e a psicóloga sido crucial para o sucesso terapêutico.
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
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Síndrome Nutcracker: um relato de caso
Margarida Silva Neto 1 , Daniel Martinho Dias 2
1- ACES Grande Porto I - Santo Tirso/Trofa - USF Vil’Alva;
2- ACES Grande Porto I - Santo Tirso/Trofa - USF Ao Encontro da Saúde
Enquadramento:
A hematúria microscópica sem uma causa identificável aparente é bastante comum e, por vezes,
transitória. No entanto, perante um doente do sexo masculino, com mais de 35 anos e fumador,
é fundamental excluir a presença de uma lesão maligna, nomeadamente um carcinoma da
bexiga ou das células renais.
Em contrapartida, perante um doente com perturbação de ansiedade de doença, é expectável que
este perspetive o seu estado de saúde de um modo muito particular, tornando-se um desafio no
que concerne à abordagem das suas queixas mas, sobretudo na comunicação e relação médicodoente.
Descrição o caso:
Homem de 40 anos, fumador (20 UMA), com antecedentes pessoais de perturbação depressiva
recorrente, perturbação da ansiedade generalizada e perturbação de ansiedade de doença, e
antecedentes familiares de neoplasia pancreática (mãe). Recorre a consulta aberta por queixas
crónicas intermitentes de dor abdominal localizada no flanco esquerdo, com agravamento
recente de frequência e intensidade. Descartados os sinais e sintomas de abdómen agudo, foi
pedido estudo analítico e imagiológico, que revelou a presença de hematúria microscópica e
proteinúria. Por iniciativa própria e após receber o resultado dos exames, recorreu a consulta de
urologia particular, tendo realizado cistoscopia, que não revelou alterações. Contudo, por
elevado índice de suspeição na citologia do lavado vesical, é proposta nova cistoscopia que o
doente recusa. Nesse momento recorre a CA para dar conhecimento ao seu MF do desenrolar de
todo o caso e referindo que não pretende prosseguir o estudo dada a ausência de queixas do foro
urinário e da dificuldade em realizar a cistoscopia prévia. Perante os factos apresentados, o
médico de família acaba por propor a realização de uma TAC abdominopélvica que o doente
aceita e que revelou achados compatíveis com uma síndrome de Nutcracker.
Discussão:
A síndrome de Nutcracker caracteriza-se pela compressão da veia renal esquerda no seu trajeto
entre a aorta abdominal e a artéria mesentérica superior, causada pela diminuição do ângulo
entre estes dois vasos. É uma causa possível, embora rara, de hematúria e proteinúria. A
abordagem destes doentes é multidisciplinar, envolvendo Urologistas e Cirurgiões Vasculares.
O papel do médico de família (MF) é fundamental na gestão dos receios e expectativas dos
doentes, ao promover relações médico-utente baseadas na confiança e no conhecimento
holístico do doente. A arte de comunicar e negociar com o utente, em parceria com os colegas
de especialidade, em prol do melhor interesse para o utente e da adesão ao plano terapêutico
evidencia o papel diferenciador do MF, sempre respeitando os princípios da beneficência, não
maleficência e da autonomia.
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
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1 SLIDE I 5 MINUTOS
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
O uso de misoprostol vaginal para colocação de DIU, na mulher nulípara,
aumenta a taxa de sucesso de colocação?
Mara da Silva¹, Gonçalo Matos¹, Catarina Morais¹, Célia
Santos Silva¹ , 1- USF Poente, ARS LVT
Introdução e objetivo:
Os dispositivos intrauterinos (DIU) são métodos de elevada efetividade, de longa duração, com
elevada segurança, efeitos indesejáveis reduzidos e imediatamente reversíveis após a sua
remoção. Apesar disso, um dos mitos associados a este método continua a ser o de as nulíparas
não poderem ser suas utilizadoras. Este mito relaciona-se diretamente com ideia de a sua
colocação ser mais difícil quando comparada com mulheres que já tiveram partos vaginais, e
parte tanto das utentes, como dos médicos assistentes. Ao longo do tempo, foi-se tornando
prática a utilização de misoprostol vaginal para facilitar a inserção nestes casos. Esta revisão
pretende esclarecer a eficácia desta utilização e a necessidade ou não de aprendizagem deste
método complementar à técnica de inserção.
Metodologia:
Pesquisa
Normas de Orientação Clínica (NOC), Metanálises, Revisões sistemáticas e
ensaios clínicos aleatorizados e controlados
Fontes PUBMED, Cochrane Library, TRIP Database, Nacional Guidelines
ClearingHouse, Canadian Medical Association Practice Guidelines InfoBase,
NICE Evidence Search e Bandolier
Limites
Termos
Mesh
Artigos de língua inglesa e portuguesa, publicados entre 2010 e 2022, de acesso
livre
misoprostol, nulliparity, intrauterine device
Taxonomia
Strength of Recommendation Taxonomy (SORT)
Resultados:
Foram encontrados 2 ensaios clínicos aleatorizados e controlados, 2 revisões sistemáticas e 2
guidelines, dos quais: apenas 1 ECAC mostrou benefício na aplicação de misoprostol vaginal e
2 ECAC incluídos numa RS mostraram esse benefício em nulíparas. Todas as outras fontes
referem ineficácia do uso do mesmo.
Discussão:
O uso de misoprostol vaginal não parece contribuir para uma taxa mais elevada de sucesso da
inserção de DIU em mulheres nulíparas- Força de recomendação B. Existe uma grande
heterogeneidade nos estudos realizados, comprometendo a obtenção de conclusões, pelo que se
sugere a realização de estudos mais robustos.
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Parceria com a Direção-Geral da Saúde para a tradução de
consentimentos informados
Inês Machado 1 , Sofia Correia Pinto 2 , Alexandre Vasques 3
1- USF Almirante, ACeS Lisboa Central, 2- USF da Baixa, ACeS Lisboa Central, 3-
USF Oriente, ACeS Lisboa Central
Introdução:
A barreira linguística compromete a transmissão de informação em saúde. Existem atos médicos
onde é obrigatória a obtenção de consentimento informado, livre e esclarecido, nomeadamente
no Planeamento Familiar e na Saúde Materna. Com a população migrante, é frequente os
profissionais de saúde traduzirem oralmente o conteúdo dos consentimentos para inglês, já que
não existe material redigido nas línguas maternas destas utentes, em Portugal. Isto prejudica o
processo de decisão e autonomia das utentes.
Objetivos:
Em parceria com a Direção-Geral da Saúde (DGS), o Grupo de Literacia do Agrupamento de
Centros de Saúde (ACeS) de Lisboa Central propôs-se a criar documentos que permitam o
consentimento informado, livre e esclarecido das migrantes que não dominam a língua
portuguesa. Pretende-se a tradução escrita dos consentimentos para as 10 línguas mais faladas
na área de Lisboa Central, para a colocação de implante subcutâneo e de dispositivo intrauterino,
com levonogestrel ou de cobre, e para a administração de imunoglobulina anti-D.
Pertinência: A 31 de janeiro de 2021, estavam inscritos no ACeS 46.500 utentes de
nacionalidade estrangeira, representando 15,93% dos utentes. A criação destes documentos
colmata uma lacuna transversal a várias instituições prestadoras de cuidados, em Lisboa e em
Portugal.
Descrição:
O Grupo de Literacia disponibilizou o conteúdo dos consentimentos em português. A DGS
realizou a tradução para as línguas mais faladas em Lisboa Central. Por fim, pretende-se validar
a perceção da compreensão dos documentos traduzidos, junto de utentes migrantes.
Discussão:
O consentimento informado é um documento com importância indiscutível na capacitação do
utente no processo de decisão em saúde. A educação para a saúde deve incluir os migrantes que
não dominam a língua portuguesa e que podem ver-se impedidos de tomar decisões autónoma e
conscientemente. Esta parceria permite o aumento da Literacia em Saúde da população
migrante, contribuindo para a humanização dos cuidados prestados.
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Adequabilidade do método contracetivo em mulheres fumadoras
– a realidade de uma USF
Carolina E. Ferreira 1
1- USF Almonda
Introdução: A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu critérios médicos de
elegibilidade para o uso dos diferentes métodos contracetivos (MC). O tabagismo em mulheres
acima dos 35 anos, que fumem <15 cigarros/dia ou ≥15 cigarros/dia, corresponde às categorias
3 e 4 da OMS, respetivamente, para o uso de contraceção oral combinada (CHC). O uso de
CHC associado ao tabaco aumenta o risco de DCV principalmente de enfarte agudo do
miocárdio e este risco está diretamente relacionado com o nº cigarros diários. O consumo de
tabaco constitui um fator de risco adicional, para além da idade e outras comorbilidades
(obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus).
Objetivo: Caraterizar a população de mulheres fumadoras em idade fértil, inscrita numa
Unidade de Saúde Familiar (USF) e avaliar a adequabilidade do MC utilizado de acordo com os
critérios de elegibilidade da OMS.
Métodos: Estudo descritivo observacional das utentes inscritas com o diagnóstico “Abuso do
Tabaco – P17” e em idade fértil (15 - 49 anos). Consultou-se o processo de cada utente em
SClínico “Programa de Planeamento Familiar”, aferindo-se o MC e sua validação, nº de
cigarros, IMC, registo de intervenção breve (IB) em consulta de PF. Os dados recolhidos foram
tratados em Excel. Critérios de exclusão: cessação tabágica, ausência de registo de MC, MC não
hormonal (nenhum, natural ou barreira), status pós-menopausa, esterilização (histerectomia ou
laqueação) e gravidez.
Resultados: De um total de 399 mulheres fumadoras entre os 15-49 anos, 197 mulheres foram
excluídas, totalizando 202 mulheres. A maioria das mulheres fumadoras (60%) faz COC,
seguido de progestativo oral (19.8%), implante subcutâneo (12%), SIU (4.5%), DIU (3%) e
progestativo injetável (0.5%). 6% tem mais de 35 anos, fuma ≥15 cigarros/dia e faz COC
(Categoria 4), enquanto que 24% no mesmo intervalo de idade, fuma <15 cigarros/dia e faz
COC (Categoria 3). Adicionalmente 2% das mulheres faz COC e apresenta múltiplos FR CV
para além do tabagismo (idade>35 anos e HTA), (Categoria 3-4). 5% tem IMC>35Kg/m2 e faz
COC (Categoria 3). 5.4% faz COC com diagnóstico de enxaqueca (N89) (Categoria 3 ou 4). 1
mulher apresenta défice fator V Leiden com registo de COC (Categoria 4).
Em 37% não foi realizada IB em consulta de PF.
Conclusão: A maioria da população estudada encontra-se em conformidade relativamente ao
MC, apesar de 38% utilizarem um método contracetivo não recomendado (Categoria 3 ou 4),
devendo ser convocadas com vista à alteração do MC destas mulheres. O MC escolhido não é
algo estanque ao longo da vida da mulher, devendo rever-se a cada PF de acordo com novas
comorbilidades, status tabágico e desejo de futura gravidez. A IB oportunista em contexto de PF
é algo a ser melhorado dado muitas vezes ser o único contacto com o médico assistente
sobretudo em faixas etárias mais jovens. Quer a contraceção hormonal progestativa quer outros
métodos não hormonais são opções de contraceção válidas para as mulheres fumadoras
principalmente acima dos 35 anos (Categoria 1), na ausência de outras comorbilidades.
A escolha do método contracetivo deverá ser sempre individualizada para cada mulher, tendo
em conta as suas preferências.
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Necrobiose lipóidica – uma complicação rara da diabetes
Mariana Araújo Soares 1 , Raquel Estebainha 2 , Catarina Castro
Gomes 3 | 1- USF Pevidém, 2- USF Afonso Henriques, 3- USF Ronfe, ACeS Alto
Ave
Enquadramento
A Necrobiose Lipóidica (NL) é uma doença granulomatosa crónica rara da derme que
historicamente tem sido associada à Diabetes Mellitus (DM), apresentando-se como uma
complicação desta em cerca de 0,3% a 1,2% dos doentes. A etiologia e patogénese permanecem
controversas, mas a teoria mais amplamente aceite defende que a microangiopatia desempenha
um papel importante. Clinicamente apresenta-se como pápulas eritematosas na face anterior da
extremidades dos membros inferiores (MI) que podem coalescer e formar placas amareladas,
telangiectásicas e atróficas. O diagnóstico é geralmente clínico, mas perante dúvida, a biópsia
cutânea tem indicação. O tratamento representa um desafio e inclui corticosteroides,
imunomoduladores, biológicos, fototerapia, entre outros. A evolução das lesões deve ser
monitorizada, pela possibilidade de desenvolvimento de complicações como ulceração ou, em
casos raros, carcinoma espinocelular.
Descrição do Caso
Homem, 71 anos, antecedentes de DM tipo 2, Hipertensão Arterial, Dislipidemia,
Hiperuricemia e Obesidade. Recorreu ao Médico de Família (MF) por surgimento de lesões
cutâneas, assintomáticas, localizadas nos MI bilateralmente, com 6 meses de evolução,
inicialmente de pequenas dimensões, com crescimento progressivo. Ao exame objetivo,
observaram-se placas confluentes e dispersas ao longo do MI, com bordo eritematoso e região
central amarelada e atrófica. Pela exuberância das lesões, foi referenciado para Consulta de
Dermatologia e Venereologia, na qual foi colocada a hipótese diagnóstica de NL e confirmada
histologicamente. Foi medicado com betametasona 0,5 mg/g pomada e tacrolimus 0,1%
pomada, com resposta parcial. Mantém seguimento em Consulta de Dermatologia.
Discussão
A abordagem da NL tem-se revelado desafiante. As opções terapêuticas disponíveis produzem
resultados mínimos ou inconsistentes. A associação entre mau controlo glicémico na DM e o
desenvolvimento da NL permanece controversa.
Com este caso clínico pretende-se sensibilizar os MF para uma complicação rara de uma
patologia comum na prática clínica e elucidar relativamente à sua forma de apresentação e
tratamentos disponíveis.
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Rastreio VIH- resultados obtidos após 3 ciclos de melhoria
da qualidade
Catarina Pinhão, Rafael Dinis
IFE MGF USF Andreas, ACeS Oeste Sul, ARSLVT
Introdução/Enquadramento e Objectivos:
O rastreio do VIH está preconizado pela NOC 058/2011 (28/12, actualizada a 10/12/2014),
entre os 18 e os 64 anos, independentemente da exposição.
Em reunião multiprofissional, apurou-se a diminuta adesão a este rastreio, parecendo-nos
importante melhorar o desempenho. Iniciámos em 2021 uma melhoria da qualidade (MQ), de
que decorre o 3º de 6 ciclos semestrais, apoiando-nos no indicador 2015.306.01 (Propor. ute. s/
rastr. VIH/SIDA).
Quisémos partilhar a nossa experiência, focando as vantagens de realizar sucessivos ciclos -
estratégias, resultados, dificuldades.
Metodologia:
Obtivemos no MIM@UF um valor basal deste indicador. Apresentámos o protocolo da MQ e
uma revisão de tema. Elaborámos um panfleto. Definiu-se que se iriam associar às análises de
rotina os anticorpos VIH. Organizámos um rastreio HPV/HIV, com utilização de testes rápidos.
Utilizámo-los também nas consultas de PF e RCCU. Apresentámos semestralmente a avaliação
da MQ. Enviámos lembretes aos profissionais.
Resultados:
O valor basal era de 0,112%, com aumento para 8,233% (1º ciclo) e 13,258% (2º ciclo). O 3º
ciclo ainda está a decorrer, pelo que ainda não temos resultados.
Discussão:
Houve uma subida significativa dos resultados - 11837,5% do valor inicial. No entanto, o valor
ainda não nos parece adequado, pelo que a iremos manter de modo a prestar um melhor serviço
à população.
Ao fazermos vários ciclos, com avaliação no fim de cada um, permite-nos identificar e corrigir
alguns dos obstáculos encontrados. A utilização de testes rápidos HIV é uma ferramenta útil,
mas irregularmente disponível e que acarreta maior sobrecarga das enfermeiras. A conjugação
com outras iniciativas ou consultas é importante, mas não abrange toda a população elegível.
São assim importantes os lembretes a cada médico individualmente, bem como as avaliações
semestrais, servindo de reflexão e reforço da importância deste rastreio.
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal
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