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LIVRO DE RESUMOS
15 SETEMBRO DE 2020
ÍNDICE
Posters ........................................................................................................... 5
Trabalhos de Investigação ........................................................................................................ 5
Monitorização da prescrição de quinolonas na PAC, em 2 unidades de saúde – estaremos a prescrever
de forma correta? ......................................................................................................................................... 6
A obesidade familiar é uma realidade nas crianças entre os 10 e os 12 anos numa USF?........................8
Doença coronária isquémica em idade jovem………………………………………………………………….10
Revisão de Tema……………………………………………………………………………………………………………………13
Gravidez: uma opção terapêutica para as náuseas e vómitos?................................................................14
Retração do prepúcio: como aconselhar os pais?.....................................................................................16
“Doutor, tenho um quisto renal!" - Abordagem dos Quistos Renais nos Cuidados de Saúde Primários...18
Melhoria de Qualidade………………………………………………….………………………………………………………21
Vacinação de grupos de risco contra a gripe, Protocolo de Avaliação e Melhoria da Qualidade…..…….22
Ciclo de Avaliação e Melhoria Contínua da Qualidade do Registo do Risco Cardiovascular em Doentes
Hipertensos…………………………………………………………………………………………….…………………24
Relato de Prática……………………………………………………………………….…...……………………………….……27
Simplificar e ilustrar a dor a utentes migrantes numa Unidade de Saúde Familiar………………………...28
Casos Clínicos………………………………….…………………………………………….……………………..……………….31
Seis anos para diagnosticar acromegalia……………………………………………………………………….32
Da fratura à Artrite Reumatoide…………………………………………………………………………………..34
Fibrilhação Auricular e Patologia Tiroideia: a importância da abordagem multidisciplinar………………...36
Entre dois males! – Iatrogenia como fator de abandono terapêutico………………………………………...38
Ouve os conselhos do teu Médico de Família, ele conhece-te bem!.........................................................40
Síndrome da Veia Cava Superior: um caso clínico…………………………………………………………….42
Anemia Ferropénica – uma luta de prioridades!........................................................................................44
Comunicações Orais - 1S5M ................................................................. 47
Um Caso de Macrocitose – qual a etiologia?........................................................................................... 48
Quando um sintoma comum cursa numa doença rara………………………………………………………..49
Registos Clínicos Incompletos: um caso de sorte!....................................................................................50
Consumo de lacticínios e desenvolvimento de acne - Revisão Baseada na Evidência……………….…..51
Emergência no Centro de Saúde, e agora?..............................................................................................52
Quando um mal nas costas não vem só!..................................................................................................53
POSTERS
TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO
Monitorização da prescrição de quinolonas na PAC, em duas
unidades de saúde – estaremos a prescrever de forma correta?
Catarina Fortunato; Ana Rita Pereira; Paulo Barreto Augusto
USF Moliceiro; USF Esgueira+
Introdução e objetivos:
A promoção de cuidados de saúde seguros, de boa qualidade e efetivos baseia-se
numa prescrição baseada na evidência. Segundo a Norma da DGS nº 045/2011, os β-
lactâmicos devem ser considerados como tratamento empírico de eleição na Pneumonia
Adquirida na Comunidade (PAC) em ambulatório, estando as fluoroquinolonas reservadas
para algumas situações específicas. As resistências aos ATB têm sido uma preocupação
crescente e o ACeS em estudo apresenta níveis de prescrição de quinolonas superiores à
respetiva ARS e ao panorama nacional.
Os principais objetivos foram: Identificar a percentagem de doentes medicados com
quinolonas no tratamento de PAC no ambulatório, em 2 unidades de saúde, e avaliar a
adequação da prescrição de quinolonas nestes doentes.
Metodologia:
Estudo observacional, descritivo e transversal.
População: Utentes que recorrem às unidades em estudo.
Amostra: Todos os utentes, com ≥ 18 anos, codificados pelo ICPC-2 com o diagnóstico
de R78 – Bronquite/bronquiolite aguda e R81 - Pneumonia, no ano de 2018.
Critérios de exclusão: Doentes com PACS, doentes sem prescrição de antibiótico,
doentes com ATB prescrito fora da sua unidade de saúde, doentes com informação clínica
insuficiente.
Variáveis: idade; sexo; episódio R78 ou R81 em 2018; antecedentes de DPOC, DM,
doença cardíaca, hepática ou renal crónica, neoplasia, alcoolismo, esplenectomia,
imunocomprometido ou fármacos imunossupressores; alergia à penicilina; ATB nos últimos
3 meses; Quinolona prescrita, outros ATB prescritos.
A recolha de dados foi feita através do Mim@uf® e SClínico e a análise de dados com
o Microsoft Excel 2016®.
Resultados:
De um total de 262 utentes, obteve-se uma amostra final de 157 utentes (sexo F = 91;
sexo M = 66), com idades compreendidas entre os 23 e os 93 anos e uma média de idades
de 62,5 anos. O tratamento ATB mais prescrito foi a associação Amoxicilina 875 mg + Ácido
clavulânico 125 mg (n=50), seguindo-se da Azitromicina 500 mg (n=24) e das quinolonas
(n=24; 15,3%). Destes últimos, a maioria (n=16) possuía pelo menos 1 critério para indicação
de quinolona. Contudo, 33% (n=8) tiverem prescrição de quinolona sem, aparentemente,
cumprirem nenhum dos critérios. A quinolona mais prescrita foi a levofloxacina 500 mg
(n=21).
Discussão:
Algumas das limitações deste trabalho incluem uma amostra de tamanho reduzido e
uma possível interpretação enviesada dos resultados, quer por erros de codificação de
diagnóstico ICPC-2, quer por falta de informação clínica registada no processo.
Tal como sabemos, os ATB podem ser prescritos no âmbito de uma atitude defensiva
do profissional, bem como para satisfazer as supostas expectativas dos doentes. Ao Médico
de Família cabe a individualização terapêutica, de acordo com a melhor evidência disponível.
A prescrição de quinolonas no tratamento da PAC continua a merecer a nossa atenção, no
sentido de melhoria contínua de uma prescrição racional de ATB e de uma redução dos
doentes medicados com quinolona, aparentemente sem critério clínico para tal.
Monitorização da prescrição de quinolonas na PAC, em 2 Unidades de Saúde
- Estaremos a prescrever de forma correta?
Catarina Fortunato 1 , Ana Rita Pereira 2 , Paulo Barreto Augusto 3
1,2
Internas de MGF na USF Moliceiro; 3 Interno de MGF na USF Esgueira +
Introdução
A promoção de cuidados de saúde seguros, de boa qualidade e
efetivos assenta numa prescrição baseada na evidência. Segundo a
Norma da DGS nº 045/2011, os β-lactâmicos devem ser
considerados como tratamento empírico de eleição na PAC em
ambulatório, estando as fluoroquinolonas reservadas para
algumas situações específicas.
As resistências aos ATB têm sido uma preocupação crescente e
o ACeS em estudo apresenta níveis de prescrição de quinolonas
superiores à respetiva ARS e ao panorama nacional.
Objetivos
• Identificar a percentagem de doentes medicados com
quinolonas no tratamento de PAC no ambulatório, em 2
unidades de saúde;
• Avaliar a adequação da prescrição de quinolonas nestes
doentes.
Caracterização da amostra
Metodologia
Estudo: observacional, descritivo e transversal.
População: Utentes que recorreram às unidades em estudo.
Amostra: Todos os utentes, com ≥ 18 anos, codificados pelo ICPC-2 com
o diagnóstico de R78 – Bronquite/bronquiolite aguda e R81 -
Pneumonia, em 2018.
Critérios de exclusão: Doentes com PACS, doentes sem prescrição de
antibiótico, doentes com ATB prescrito fora da sua unidade de saúde,
doentes com informação clínica insuficiente.
Variáveis: idade; sexo; episódio R78 ou R81 em 2018; antecedentes de
DPOC, DM, doença cardíaca, hepática ou renal crónica, neoplasia,
alcoolismo, esplenectomia, imunocomprometido ou fármacos
imunossupressores; alergia à penicilina; ATB nos últimos 3 meses;
Quinolona prescrita, outros ATB prescritos.
Fonte de dados: Mim@uf® e SClínico®
Registo e tratamento de dados: Microsoft Excel 2016®.
Resultados
Critério(s) para prescrição de quinolonas
. Mulheres (n=91)
262 utentes 157 utentes
. Homens (n=66)
. Idades: 23 a 93 anos
. Média: 62,5 anos
8; 33%
16; 67%
Sim
Não
ATB mais prescrito
2 2 1 1
Amoxicilina 875 mg + Ácido clavulânico 125 mg
Azitromicina 500 mg
15
12
10
50
Quinolona
Amoxicilina 1000 mg + Azitromicina 500 mg
Claritromicina 500 mg
Amoxicilina 1000 mg
Quinolonas prescritas
1
2
Ciprofloxacina 500 mg
16
24
24
Amoxicilina 500 mg
Amoxicilina 875 mg + Ácido clavulânico 125 mg
+ Azitromicina 500 mg
Amoxicilina 1000 mg + Claritromicina 500mg
Cefuroxima 500 mg
21
Levofloxacina 250 mg
Levofloxacina 500 mg
Doxiciclina 100 mg
Conclusão
Algumas das limitações deste trabalho incluem uma amostra de tamanho reduzido e uma possível interpretação
enviesada dos resultados, quer por erros de codificação de diagnóstico ICPC-2, quer por falta de informação clínica
registada no processo.
Tal como sabemos, os ATB podem ser prescritos no âmbito de uma atitude defensiva do profissional, bem como para
satisfazer as supostas expectativas dos doentes. Ao Médico de Família cabe a individualização terapêutica, de acordo com
Siglas
ATB – Antibióticos
PAC – Pneumonia Adquirida na
Comunidade
PACS – Pneumonia Associada
aos Cuidados de Saúde
Bibliografia
a melhor evidência disponível.
A prescrição de quinolonas no tratamento da PAC continua a merecer a nossa atenção, no sentido de melhoria
contínua de uma prescrição racional de ATB e de uma redução dos doentes medicados com quinolona, aparentemente
sem critério clínico para tal.
A obesidade familiar é uma realidade nas crianças entre os
10 e os 12 anos numa USF?
Margarida Barros Henriques; Joana Barros Henriques
USF Feijó; UCSP São Pedro do Sul
Introdução:
A obesidade e excesso de peso infantil é um problema mundial. Quando a obesidade
está presente em um ou ambos os pais, a criança tem maior risco de vir a ser obesa. Esta
relação provavelmente deve-se a uma causa genética e/ou a hábitos obesogénicos.
Segundo a OMS, Portugal tem vindo a mostrar uma melhoria nas prevalências de excesso
de peso e obesidade infantil, mas qual é a nossa realidade?
Objetivo:
Conhecer a prevalência de excesso de peso e obesidade nas crianças entre os 10 e
os 12 anos, se estas já tinham excesso de peso e/ou obesidade na consulta dos 5/6 anos,
e se um ou ambos os progenitores têm IMC≥25, o nível de escolaridade mais elevado na
família e o tipo de família.
Metodologia:
Estudo clínico, observacional e retrospetivo. Critérios de inclusão: Crianças entre os
10 e os 12 anos na USF com “T82 - Obesidade” ou “T83 – Excesso de Peso” (ICPC2) até
Janeiro de 2020. Critérios de exclusão: Sem informação familiar ou na ficha individual. Fonte
de dados: MIM@UF® e SClínico®. Variáveis: Idade, sexo, IMC, tipo de família, escolaridade.
Análise de dados: IBM SPSS Statistics®.
Resultados:
Excesso de peso e obesidade em 53 de 504 crianças. 47 foram incluídas: 24 do sexo
masculino e 23 do feminino; a maioria tinha obesidade (11 aos 10 anos, 6 aos 11 anos e 15
aos 12 anos) e destas, na consulta dos 5/6 anos, 16 já tinham obesidade, 8 tinham excesso
de peso e 8 peso normal. Independentemente das faixas etárias, apenas 13 tinham ambos
os pais com IMC<25, sendo que nas restantes, ou ambos ou 1 deles, tinha IMC≥25. Tipos
de família: monoparental tinha maioritariamente IMC<25 nos pais e obesidade nos filhos;
nuclear tinha maioritariamente IMC≥25 num ou ambos os pais e obesidade nos filhos;
alargada tinha 1 família com ambos os pais com excesso de peso e outra com 1 pai com
excesso de peso e ambas as crianças tinham obesidade; reconstruída tinha 1 família em
que os pais tinham IMC<25 e o filho excesso de peso e nas outras 3 famílias ou ambos ou
1 dos pais tinha IMC≥25 e as crianças eram obesas. Informação de escolaridade apenas
em 27 das famílias: a maioria tinha escolaridade <obrigatória e só nos pais com ensino
superior é que maioritariamente o IMC<25; nas crianças com obesidade os pais tinham
maioritariamente escolaridade <obrigatória e nas crianças com excesso de peso 4 tinham
os pais com ensino superior e 4 tinham com escolaridade <obrigatória. Não existiu relação
estatisticamente significativa entre pelo menos 1 pai ter IMC≥25 e os filhos terem excesso
de peso ou obesidade (Teste exato de Fisher p=0,295).
Discussão:
Sabe-se que a família tem um grande impacto na adequação do peso da criança pela
modelagem parental, no entanto no presente estudo não foi possível demonstrar uma
relação estatisticamente significativa entre as várias características familiares, em especial
o peso dos pais. Mas é preciso continuar a intervir, pois uma criança que é obesa aos 12
anos tem 75% de probabilidade de se tornar um adulto obeso.
A obesidade familiar é uma realidade nas crianças
entre os 10 e os 12 anos numa USF?
Autor: Margarida Barros Henriques
Instituição: USF Feijó
Introdução
A obesidade e excesso de peso infantil é um problema de saúde pública mundial comportando um importante risco para a saúde (1). Quando a obesidade está presente em
um ou ambos os pais, a criança tem maior risco de vir a ser obesa. Esta relação deve-se, provavelmente, a uma causa genética e/ou hábitos obesogénicos (2), pela grande
influência familiar nos comportamentos alimentares da criança (3), quer na aquisição de alimentos para consumo, na religião e na cultura enraizadas, quer no comportamento
alimentar dos pais e conhecimentos transmitidos às crianças sobre alimentação (4). Segundo a OMS – COSI 2015-17, nos últimos anos Portugal tem vindo a mostrar uma
tendência invertida nas prevalências de excesso de peso e obesidade infantil (5), mas qual é a nossa realidade?
Objetivos
Conhecer a prevalência de excesso de peso e
obesidade nas crianças entre os 10 e os 12
anos, se estas mesmas crianças teriam
excesso de peso e obesidade na idade préescolar
(consulta dos 5/6 anos) e se um ou
ambos os progenitores têm excesso de peso
ou obesidade, o nível de escolaridade mais
alto e o tipo de família.
Metodologia
Tipo de estudo: Estudo clínico, observacional, transversal e retrospetivo.
População: Utentes entre os 10 e os 12 anos inscritos na USF Feijó.
Critérios de inclusão: Crianças entre os 10 e os 12 anos inscritas na USF Feijó codificadas na lista de
problemas com “T82 - Obesidade” ou “T83 – Excesso de Peso” (ICPC2) até Janeiro de 2020.
Critérios de exclusão: Sem informação de avaliação ponderal dos pais ou do próprio no processo clínico.
Fonte de dados: MIM@UF® e SClínico®. Variáveis: Idade, sexo, IMC, tipo de família, escolaridade.
Análise de dados: IBM SPSS Statistics®.
504 crianças
53 com excesso de
peso e obesidade
Sexo
masculino;
24
47 incluídas
Representação das crianças por sexo
Sexo
feminino;
23
Sexo feminino Sexo masculino
Gráfico 1 – Representação do grupo de crianças entre
os 10 e 12 anos com excesso de peso e obesidade em
Janeiro de 2020 por sexo (masculino e feminino).
Fonte: MIM@UF®; extração a 17/01/2020.
Relação do nível de escolaridade mais elevado na
família com a avaliação ponderal de pais e filhos
desconhecida
escolaridade < à obrigatória
escolaridade obrigatória
ensino superior
1
1
2
G10 anos - consulta 5/6 anos
10 anos
G11 anos - consulta 5/6 anos
11 anos
G12 anos - consulta 5/6 anos
12 anos
Gráfico 4 – Representação do nível de escolaridade mais elevado na família e a sua relação
com a avaliação ponderal de pais e filhos à data da extração dos dados. Fonte: SClínico®;
extração a 07/02/2020.
3
3
4
4
4
0 2 4 6 8 10 12 14
Nº DE UTENTES
excesso de peso filho obesidade filho
1 pai/mãe IMC≥25 ambos os pais IMC≥25
ambos os pais IMC<25
5
5
6
6
7
7
Resultados
Discussão
O aumento da prevalência de obesidade infantil verificado nos últimos anos parece dever-se a alterações nos estilos de vida e hábitos alimentares. Sabe-se que a família tem
um grande impacto na adequação do peso da criança pela modelagem parental, através da qual a criança tem tendência para desenvolver comportamentos semelhantes aos
dos seus familiares. Uma vez que uma grande proporção de pais não tem perceção do excesso de peso dos seus filhos, estabelece-se uma barreira para a criança atingir um
peso saudável. No entanto, no presente estudo não foi possível demonstrar uma relação estatisticamente significativa entre pelo menos 1 pai ter IMC≥25 e os filhos terem
excesso de peso ou obesidade (Teste exato de Fisher p=0,295), nem das restantes várias características familiares, o que poderá dever-se ao facto da amostra ser pequena e
da possibilidade de haver variação ponderal ao longo do ano, pelo que o registo da ficha individual relativa aos pais é limitante. Mas é preciso continuar a intervir, pois sabese
que uma criança que é obesa aos 12 anos tem 75% de probabilidade de ser um adulto obeso (6).
Prevalência de excesso de peso e obesidade no grupo de crianças com 10, 11 e 12 anos em
Janeiro de 2020 e na idade pré-escolar
1
3
6
7
10
11
15
4
5
0 5 10 15 20 25
obesidade excesso de peso
Gráfico 2 – Prevalência de excesso de peso e obesidade no grupo de crianças entre os 10 e 12 anos em Janeiro de 2020 e na idade pré-escolar.
Fonte: SClínico®; extração a 07/02/2020.
9
11
13
Nº DE FAMÍLIAS
25
20
15
10
5
0
5 5
6 7
5 5
5 4
2
3
2
3
G10 anos -
consulta 5/6
Avaliação ponderal dos pais das crianças estudadas aquando da consulta
de vigilância dos 5/6 anos dos filhos e em Janeiro de 2020
10 anos G11 anos -
consulta 5/6
anos
anos
anos
Gráfico 3 – Representação da avaliação ponderal dos pais do grupo de crianças estudadas no ano da consulta de vigilância dos 5/6 anos
dos seus filhos e à data da extração dos dados. Fonte: SClínico®; extração a 07/02/2020.
20
15
10
5
0
ambos os pais ambos os pais 1 pai/mãe pai/mãe obesidade excesso de
IMC<25 IMC≥25 IMC≥25 IMC<25 filho peso filho
Gráfico 5 – Representação dos tipos de família do grupo de crianças estudadas e a sua relação com a avaliação ponderal de pais e filhos.
Fonte: SClínico®; extração a 07/02/2020.
6
5
6 6
8 9
7 6
11 anos G12 anos -
consulta 5/6
12 anos
6
1 pai/mãe IMC≥25
ambos os pais IMC≥25
ambos os pais IMC<25
Tipos de família das crianças estudadas e avaliação ponderal dos pais e filhos
18
14
11
monoparental
9
7 8
8
6
nuclear
2 1 1 1 1 1 2 2 1
alargada
reconstruída
Bibliografia
1) WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic. World Health Organization Technical Report Series.
2000; 894.
2) Whitaker RC, Wright JA, Pepe MS, Seidel KD, Dietz WH. Predicting obesity in young adulthood from childhood and
parental obesity. N Engl J Med. 1997; 337(13):869-73.
3) Ramos M, Stein L. Desenvolvimento do comportamento alimentar infantil. Jornal de Pediatria. 2000; 76(Supl
3):S229.
4) Rossi A, Moreira E, Rauen M. Determinantes do comportamento alimentar: uma revisão com enfoque na
família. Rev Nutr. 2008; 21:739-48.
5) WHO. Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI). World Health Organization. Factsheet. Highlights
2015-17. 2018.
6) Klish W. Childhood obesity. Pediatrics in Review. 1998; 19(9):312.
Doença Coronária Isquémica em Idade Jovem
Patrícia Torcato Ferrão
USF Villa Longa
Introdução:
As doenças coronárias isquémicas (DCIs) nos adultos jovens são consideradas uma
patologia rara, sendo o seu diagnóstico etiológico muitas vezes um desafio clínico.
Apesar da incidência de DCIs aumentar com a idade, o risco não pode ser negligenciado em
população mais jovem onde a incidência tem vindo a aumentar nas últimas décadas
(correspondendo a cerca de 5% a 10% do total das DCIs).
O diagnóstico etiológico pode ser complexo pois nas populações mais jovens as
manifestações tendem a ser atípicas, tais como dor epigástrica, indigestão de aparecimento
recente, dor torácica de características pleuríticas, ou dispneia crescente.
Os fatores de risco mais conhecidos para a doença cardiovascular são a hipertensão
arterial, o tabagismo, a dislipidemia, e ainda fatores diretamente ligados ao estilo de vida,
hábitos alimentares e aos níveis de atividade física. Outros fatores associados à doença
cardiovascular são o excesso de peso e a obesidade, a diabetes mellitus, e os hábitos
alcoólicos.
Objetivo:
O objetivo deste trabalho foi determinar a incidência e fatores de risco para DCI nos
utentes jovens.
Metodologia:
Foi elaborada uma pesquisa retrospetiva, onde foram identificados os utentes com
idade igual ou inferior a 55 anos com diagnóstico de acidente vascular cerebral e doença
coronária isquémica, nos últimos 5 anos, bem como os fatores de risco que tinham à data
do diagnóstico.
Resultados:
Foram identificados vinte e três utentes, maioritariamente do sexo masculino (73.9%),
sendo que dezanove casos corresponderam a enfartes agudos do miocárdio (6 com supra-
ST, 4 sem supra-ST, 9 não especificados) e quatro casos corresponderam a angina instável.
Verificou-se um predomínio do sexo masculino dos 35 aos 50 anos e do sexo feminino dos
51 aos 55 anos.
A pesquisa de fatores de risco cardiovascular demonstrou uma elevada prevalência
dos mesmos. Destes utentes, 21% eram hipertensos, 21% tinham dislipidemia, 22% com
obesidade, 29% com hábitos tabágicos e 2% com alcoolismo.
Dois utentes não apresentavam, há data de diagnóstico de DCI, fatores de risco. Dos
casos estudados, dois utentes tinham apenas 1 fator de risco, nove tinham 2 fatores de risco
identificados, e dez tinha 3 ou mais fatores de risco.
Os utentes com diagnóstico de angina instável tinham os quatro a data de diagnóstico
3 ou mais fatores de risco sendo que todos eles tinham dislipidemia e obesidade.
Discussão:
Apesar de menos comum, as DCIs em idades jovens são uma realidade, devendo o
médico de família estar ciente dos fatores de risco e desta forma otimizar os cuidados
prestados, com vista a melhorar a eficácia da prevenção primária.
Devido ao número reduzido de utentes encontrados estes valores não são
valorizáveis, contudo correspondem ao descrito na literatura.
Predomínio do genero
consoante idade:
Quantidade
Doença Coronária Isquémica
em Idade Jovem
Patrícia Torcato Ferrão (USF Villa Longa)
INTRODUÇÃO:
As doenças coronárias isquémicas (DCIs) nos adultos jovens são consideradas uma patologia rara, contudo o risco não pode ser negligenciado
nesta população, onde a incidência tem vindo a aumentar nas últimas décadas (correspondendo a cerca de 5% a 10% do total das DCIs).
O diagnóstico etiológico pode ser complexo
(manifestações tendem a ser atípicas):
❖ dor epigástrica
❖ indigestão de aparecimento recente
❖ dor torácica de características pleuriticas
❖ dispneia crescente.
RESULTADOS:
Objetivo:
O objetivo deste trabalho foi determinar a incidência e fatores de risco para DCI
nos utentes jovens.
Metodologia:
Pesquisa retrospetiva, onde foram identificados os utentes com idade igual ou
inferior a 55 anos com diagnóstico de acidente vascular cerebral e doença
coronária isquémica, nos últimos 5 anos, bem como os fatores de risco que
tinham à data do diagnóstico.
23
Utentes
→ sexo masculino (73.9%)
→ 19 enfartes agudos do miocárdio
→ 4 angina instável
Quanto ao numero de factores de risco por utente:
9
7
2 2
3
35 anos
50 anos 55 anos
Sexo idade Evento coronário Factores de Risco
Masculino 35 EAM sem SST HTA, Obesidade, Tabagismo
Masculino 36 EAM com SST Tabagismo e etilismo
Masculino 37 EAM Tabagismo
Masculino 37 EAM -
Masculino 39 EAM -
Masculino 43 EAM HTA, dislipidemia
Masculino 44 EAM com SST DM, Dislipidemia, Tabagismo
Masculino 44 Angina instável DM, dislipidemia, Excesso peso, Tabagismo
Masculino 45 EAM com SST Dislipidemia, Tabagismo
Masculino 45 EAM Dislipidemia, Obesidade
Masculino 45 Angina instável Dislipidemia, excesso peso, Tabagismo
Feminino 46 EAM HTA, dislipidemia, Excesso peso, Tabagismo
Masculino 47 EAM sem SST HTA, Dislipidemia, Tabagismo
Masculino 48 Angina instável Dislipidemia, Excesso peso
Masculino 49 EAM com SST
Dislipidemia, Tabagismo, CA orofaringe sob
QT e RT
Masculino 50 EAM HTA, Tabagismo
Masculino 50 EAM HTA, DM, Dislipidemia, Obesidade
Feminino 51 EAM com SST HTA, excesso peso
Feminino 52 EAM HTA, Obesidade
Feminino 53 EAM sem SST HTA, Tabagismo
Feminino 53 EAM com SST Tabagismo
Masculino 54 Angina instável HTA, Obesidade Tabagismo
Feminino 55 EAM sem SST HTA, Obesidade, Tabagismo
Discussão:
Apesar de menos comum, as DCIs em idades jovens são
uma realidade, devendo o médico de família estar ciente
dos fatores de risco e desta forma otimizar os cuidados
prestados, com vista a melhorar a eficácia da prevenção
primária.
0 1 2 3 4
Factores de Risco
A pesquisa de fatores de risco cardiovascular
demonstrou as seguintes prevalências:
Factores de Risco
21%
29% 2%
10%
11%
21%
6%
HTA
Dislipidemia
DM
Obesidade
Excesso peso
Tabagismo
POSTERS
REVISÃO DE TEMA
Gengibre na gravidez: uma opção terapêutica para as
náuseas e vómitos?
Diana Palma; Marta Bernardo
USF Andreias
Introdução e Objetivo:
As náuseas e vómitos são dos sintomas mais comuns e desagradáveis da gravidez,
com impacto na qualidade de vida da mulher, e ocorrem tipicamente no primeiro trimestre.
O gengibre é uma especiaria tradicionalmente utilizada para tratar a indigestão, náuseas e
vómitos, pelo que tem sido considerada como opção terapêutica não farmacológica na
grávida.
O objetivo deste trabalho é rever a informação cientificamente relevante quanto à sua
eficácia e precaução na utilização.
Metodologia:
Pesquisa bibliográfica de artigos de revisão, meta-análises e ensaios clínicos nas
bases de dados Pubmed/MEDLINE e Cochrane Library com os termos MeSH “ginger”;
“nausea” e “pregnancy, escritos em língua inglesa, portuguesa e espanhola, publicados nos
últimos 10 anos e utilizados. Critérios exclusão: discordância nos objetivos, idioma e
metodologia dos da presente revisão e informação duplicada e/ou contida nos artigos
selecionados. Utilizada a escala SORT da American Family Physician para atribuir nível de
evidência.
Resultados:
Num total de 21 artigos, foram selecionadas 7 revisões sistemáticas, tendo sido
excluídos artigos por discordância de idioma (1), de objetivos da revisão (4) e de metodologia
(2), bem como por informação repetida e/ou contida nos artigos selecionados (9). Observouse
uma melhoria sintomática das náuseas e vómitos quando utilizado o gengibre
comparativamente com o placebo em todos os estudos. Não se observaram diferenças
significativas quando comparado com a piridoxina e com a sua combinação com doxilamina,
bem como com a metoclopramida e o dimenidrinato. Em alguns estudos, o gengibre não
teve impacto significativo na frequência de episódios de vómitos. Relativamente a
recomendações, o tratamento do gengibre foi associado a melhoria nos sintomas ligeiros de
náuseas e vómitos (nível de evidência A, classe IIa segundo guidelines ACC/AHA). Nas
guidelines de 2015 da ACOG, o gengibre é recomendado como tratamento não
farmacológico. A NHS-UK inclui o gengibre na lista de tratamento aceitáveis para as náuseas
e vómitos no início da gravidez. Embora vários estudos tenham alertado para alguns dos
efeitos adversos major (hemorragias, arritmia, aborto espontâneo, desidratação) e minor
(eructação, pirose, refluxo, cefaleia), nenhum dos estudos obteve diferença estatisticamente
significativa quanto às mulheres do grupo controlo, bem como sem registo de complicações
para a grávida ou o feto. Atualmente ainda se desconhece a dose máxima, recomendandose
que seja inferior a 1,5 mg, sendo que a maior parte dos estudos utilizou a dose de 1 g/dia
dividido em 2-4 tomas. Estudos demonstram que a redução da agregação plaquetária pelo
gengibre só se verifica a partir das 10 g, pelo que a contraindicação devido a risco
hemorrágico tem ainda evidência limitada e continua em discussão.
Discussão:
O gengibre é uma opção terapêutica não farmacológica a ser considerada para o
tratamento das náuseas e vómitos na gravidez, ao qual atribuímos força de recomendação
B (SORT). Como limitação apontamos o número reduzido de estudos, a heterogeneidade
nos métodos de avaliação da severidade dos sintomas na grávida bem como nas formas de
utilização de gengibre. A realização de mais estudos randomizados controlados duplamente
cegos é necessária para estabelecer a eficácia e segurança do gengibre.
GENGIBRE NA GRAVIDEZ
Uma opção terapêutica para as
náuseas e vómitos?
Diana Palma, Marta Bernardo
Internas de Medicina Geral e Familiar, USF ANDREAS – Mafra
1.º
trimestre
gravidez
náuseas 1e vómitos são sintomas comuns
utilizado tradicionalmente para tratar a
indigestão, náuseas e vómitos
Objetivo: rever a informação cientificamente relevante quanto à sua eficácia e precaução na utilização como opção
não-farmacológica na grávida.
Metodologia:
• Pesquisa bibliográfica de artigos de revisão, meta-análises e ensaios clínicos : Pubmed/MEDLINE e Cochrane Library
• Termos MeSH: “ginger, “nausea” e “pregnancy”
• Língua inglesa, portuguesa e espanhola, publicados nos últimos 10 anos
• Critérios exclusão: discordância nos objetivos, idioma e metodologia dos da presente revisão e informação duplicada e/ou contida nos artigos selecionados.
• Utilizada a escala SORT da American Family Physician para atribuir nível de evidência.
Resultados: 21 artigos → 16 excluídos→ 7 revisões sistemáticas analisadas
TODOS os estudos: melhoria sintomática
das náuseas e vómitos quando utilizado
o gengibre vs. placebo 1-7
SEM diferenças significativas: 1, 7
gengibre vs.
piridoxina
piridoxina+doxilamina
metoclopramida
dimenidrinato
EM ALGUNS estudos, o gengibre não teve
impacto significativo na frequência de episódios de
vómitos. 2
ACCF/AHA (2013)
American Colege of Cardiology
Foundation/American Heart
Asociation
ACOG (2015)
American College of Obstetricians
and Gynecologists
NHS UK (2008)
National Health Service UK
O tratamento com gengibre foi
associado a melhoria nos sintomas
ligeiros de náuseas e vómitos (nível de
evidência A, classe IIa). 5
Gengibre recomendado como
tratamento não farmacológico para
náuseas/vómitos na gravidez. 3
Inclui o gengibre na lista de
tratamentos aceitáveis para as náuseas
e vómitos no início da gravidez. 3, 5
EFEITOS ADVERSOS 1-7 (EA)
MAJOR: hemorragias, arritmia, aborto espontâneo, desidratação
MINOR: eructação, pirose, refluxo, cefaleia
NENHUM DOS ESTUDOS registou diferença estatisticamente
significativa relativamente aos EA comparativamente às mulheres
do grupo controlo nem complicações para a grávida ou o feto. 1- 7
DOSAGEM
DOSAGEM
Dose máxima desconhecida (recomendado < 1,5 g/dia).
Maior parte dos estudos utilizou a dose de 1 g/dia
(dividido em 2-4 tomas, via oral). 1-7
Contra-indicação por risco hemorrágico com evidência
limitada: redução da agregação plaquetária pelo gengibre
só em doses > 10 g. 4
DISCUSSÃO
O gengibre é uma opção terapêutica não farmacológica a ser
considerada para o tratamento das náuseas e vómitos na
gravidez, ao qual atribuímos força de recomendação B (SORT).
Limitações: n.º reduzido de estudos; heterogeneidade do seu desenho;
formas de utilização de gengibre. 1-7
A realização de mais estudos randomizados controlados duplamente
cegos é necessária para estabelecer a eficácia e segurança do gengibre.
Bibliografia:
“Doutor, tenho um quisto renal!" - Abordagem dos Quistos
Renais nos Cuidados de Saúde Primários
Vânia Morais; António Filipe Serrano
USF D. Jordão; USF Lidador
Introdução e Objetivo:
Os quistos renais são achados incidentais frequentes, pelo uso crescente de exames
imagiológicos requeridos em diversos contextos clínicos. A incidência da doença renal
quística aumenta com a idade e engloba um largo espectro de patologias, tornando-se
essencial a distinção entre lesões benignas e malignas. Este trabalho tem como principal
objetivo a estruturação de um fluxograma que sistematize a abordagem dos quistos renais
nos cuidados de saúde primários de acordo com as suas características individuais.
Metodologia:
Pesquisa bibliográfica em guidelines e artigos científicos publicados nas bases de
dados Pubmed e UpToDate, na língua inglesa e portuguesa, usando os termos MeSH “cystic
kidney disease”, “diagnosis” e “disease management”, publicados de janeiro de 2009 a
dezembro de 2019.
Resultados:
A ecografia renal é o gold standard na avaliação dos quistos renais, permitindo
diagnosticar quistos simples, sem necessidade de follow-up. Contudo, quistos sintomáticos,
múltiplos ou com aspeto ecográfico atípico requerem investigação adicional,
nomeadamente, a TC renal e a sua categorização de acordo com a classificação Bosniak.
As lesões das categorias I e II são benignas, não necessitando de follow-up. Os quistos IIF
exigem vigilância e, aqueles categorizados como III e IV, pelo maior risco de malignidade,
devem ser referenciados à consulta de urologia.
Discussão:
Embora a maioria dos quistos renais não tenha indicação para intervenção
terapêutica, é essencial a uniformização de procedimentos de forma a melhorar o seu
acompanhamento. O médico de família assume um papel crucial na abordagem
sistematizada dos quistos renais, nomeadamente, na sua deteção, caracterização, vigilância
e, quando adequada, referenciação aos cuidados de saúde secundários.
Vânia Morais 1 ; António Filipe Serrano 2
1 - Interna de Formação Específica de MGF da USF D. Jordão
2 - Interno de Formação Específica de MGF da USF Lidador
DOUTOR, TENHO UM QUISTO RENAL !
ABORDAGEM DOS QUISTOS RENAIS NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS
INTRODUÇÃO
Os quistos renais
são achados incidentais
frequentes, pelo uso crescente de
exames imagiológicos requeridos em
diversos contextos clínicos. A incidência
da doença renal quística aumenta com
a idade e engloba um largo espectro
de patologias, tornando-se essencial
a distinção entre lesões
benignas e malignas.
OBJETIVOS
Estruturação de um
fluxograma que sistematize
a abordagem dos quistos
renais nos cuidados de
saúde primários de acordo
com as suas
características
individuais.
TAC Renal
METODOLOGIA
Pesquisa bibliográfica
em guidelines e artigos científicos
publicados nas bases de dados
Pubmed e UpToDate, na língua
inglesa e portuguesa, usando os
termos MeSH “cystic kidney disease”,
“diagnosis” e “disease
management”, publicados
de janeiro de 2009 a
dezembro de
2019.
OU
Classificação de Bosniak
RESULTADOS
Presença de:
Diagnóstico imagiológico
incidental de massa renal
Ecografia Renal
- Forma oval ou esférica
- Contornos regulares e bem definidos
- Parede fina e de difícil individualização
- Conteúdo anecoico com reforço acústico posterior
Cumpre todos estes critérios?
OU
Sintomatologia associada?
- Múltiplos quistos
- Septos
- Calcificações
- Conteúdo heterogéneo
- Espessamento da parede
Quisto renal simples
Sem necessidade
de vigilância
Bosniak I
Aproximadamente 100% de
probabilidade de
corresponder a quisto renal
simples.
- Parede fina, regular e bem
definida;
- Sem septações,
calcificações ou captação de
contraste;
- Conteúdo homogéneo com
densidade hídrica entre 0-20
unidades de Hounsfield (UH).
Bosniak II
Lesões consideradas benignas
com atipias mínimas.
- Septos finos (<1mm);
- Calcificações finas
(frequentemente pequenas - 1
a 2 mm - e lineares) na parede
ou no septo;
- Quisto pequeno (<3cm de
diâmetro) e hiperdenso
(>20UH);
- Sem captação de contraste.
Bosniak II F
Lesões de carácter benigno
questionável com atipias
significativas.
- Quistos não
inequivocamente classificados
como Bosniak II ou III;
- Múltiplos septos finos ou
ligeiramente espessados, mas
regulares;
- Calcificações espessadas
ou nodulares;
- Quisto grande (≥3cm) e
hiperdenso (>20UH);
- Sem captação de
contraste.
Vigilância
Exame de imagem de
controlo aos 6 e 12 meses
e, depois anualmente
durante 5 anos.
Bosniak III
Lesões suspeitas de
malignidade.
- Parede espessada e/ou
nodular;
- Septos irregulares,
espessados e/ou calcificados;
- Septo com captação de
contraste.
Bosniak IV
Lesões neoplásicas.
- Características similares às da
categoria III, mas apresenta
também componente sólida
com captação de contraste
independentemente dos
septos ou da parede.
Referenciar ao
Serviço de Urologia
DISCUSSÃO
A maioria dos quistos renais não
tem indicação para intervenção
terapêutica. Contudo, é essencial a
uniformização de procedimentos de
forma a melhorar o acompanhamento
dos quistos renais de acordo com as
suas características individuais. O
médico de família assume um papel
crucial na abordagem sistematizada
dos quistos renais, nomeadamente,
na sua deteção, caracterização,
vigilância e, quando adequada,
referenciação aos cuidados
de saúde secundários.
Sem necessidade
de vigilância
(não existe consenso quanto
ao método de controlo
imagiológico)
BIBLIOGRAFIA
Alterações
estruturais durante
estes 5 anos?
Retração do prepúcio: como aconselhar os pais?
Sílvia Ferreira; Rita Pisco; Maria Ana Kadosh; Daniela Capelo
USF Valflores
Introdução e Objetivos:
O prepúcio é uma dobra simples da pele composta por uma camada queratinizada
externa e uma camada mucosa interna, que reveste o saco prepucial e cobre a glande do
pénis. Após o primeiro ano de vida, a retração do prepúcio para trás do sulco da glande só
é possível em cerca de 50% dos rapazes, condicionando uma fimose fisiológica, não sendo
necessária nenhuma intervenção específica.
Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão narrativa da literatura
relativamente aos cuidados a ter com o prepúcio, nomeadamente ao nível da sua retração
e das potenciais lesões.
Metodologia:
Pesquisa bibliográfica de artigos em língua inglesa e portuguesa nos motores de
busca Medscape, Medline/Pubmed e Cochrane, Guidelines nacionais e internacionais das
sociedades de urologia e pediatria nos últimos 15 anos. MeSH: foreskin; phimosis, hygienic
care.
Resultados:
Ao nascimento, e nos primeiros anos de vida, a parte interna do prepúcio está
geralmente aderente à glande sendo incapaz de ser retraída. O prepúcio vai-se tornando
gradualmente retrátil ao longo de um período variável de tempo, que varia do nascimento
até aos 18 anos de idade ou mais.
A Associação Urológica Canadiana defende que a retração ativa do prepúcio tem o
potencial de causar microrroturas e levar à formação de cicatrizes e, posteriormente, causar
uma verdadeira fimose.
A Sociedade Americana de Pediatria recomenda que o pénis não circuncisado deve
ser lavado com água e sabão, não devendo o prepúcio ser forçadamente retraído.
A Sociedade Europeia de Urologia recomenda, com um nível de evidência 2b, evitar a
retração de aderências prepuciais assintomáticas.
As indicações para referenciação à consulta de Urologia incluem uma suspeita de
fimose verdadeira, com cicatrizes evidentes no anel prepucial, episódios recorrentes de
balanite ou ITU e líquen escleroso genital.
Discussão:
A retração forçada do prepúcio deverá ser evitada até a sua camada interna estar
completamente individualizada da glande, que acontece em diferentes idades. Nesta
ocasião, o prepúcio poderá ser retraído com cuidado para a correta higienização. Dada a
escassez de estudos, não existe evidência clara de que este gesto, realizado de forma
cuidadosa, seja traumático e condicione lesões do pénis.
Retração do Prepúcio: como aconselhar os pais?
Sílvia Ferreira | Rita Pisco | Daniela Campelo | Maria Ana Kadosh
USF Valflores | Aces Loures Odivelas
Introdução e Objetivos
O prepúcio é uma dobra simples da pele com uma camada queratinizada externa e uma camada mucosa interna, que
cobre a glande. (1) Após o primeiro ano de vida, a sua retração só é possível em cerca de 50% dos rapazes.(2) A fimose
fisiológica caracteriza-se pela incapacidade de retração total do prepúcio, na ausência de patologias sugestivas de
fimose patológica e não necessita de intervenção específica.(3)(4)
Os pais das crianças mostram-se, muitas vezes, preocupados acerca da retractilidade e dos cuidados a ter com o
prepúcio.
Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre cuidados a ter com o prepúcio, nomeadamente
ao nível da retração e potenciais lesões.
Metodologia
Pesquisa de artigos em língua inglesa e portuguesa em Medscape, Medline/Pubmed e Cochrane, orientações nacionais
e internacionais das sociedades de urologia e pediatria nos últimos 15 anos. MeSH: foreskin; phimosis, hygienic care.
Resultados
Função protetora da
glande e meato
uretral (5)
Função imunológica
com produção de
diversas substâncias (5)
Prepúcio
Nos primeiros anos, a
parte interna do
prepúcio está aderente
à glande (5)
Torna-se gradualmente
retrátil desde o
nascimento até aos 18
anos (5)
A retração forçada do
prepúcio pode originar
fissuras que formam
cicatrizes e anel fimótico,
com consequente fimose
secundária.(3)(4)
Associação Urológica Canadiana
Retração ativa do prepúcio causa
microrroturas, forma cicatrizes
levando a verdadeira fimose. Os
cuidados com o prepúcio só deverão
começar quando este for retrátil.
Ensinar a criança a manipular e a
fazer a higiene com água e sabão,
durante o banho.(4)
Sociedade Americana de Pediatria
O pénis não circuncisado deve ser lavado
com água e sabão, evitando retração ativa
do prepúcio. A maioria das adesões
presentes no nascimento é resolvida
espontaneamente em 2 a 4 meses e,
quando desaparecem, o prepúcio pode
ser facilmente retraído e higienizado. (6)
Sociedade Europeia de Urologia
Nível de evidência 2b: evitar a
retração de aderências prepuciais
assintomáticas. (7)
Fimose
verdadeira
Prepúcio não completamente
retráctil aos 8-10 anos de
idade (autores a sugerir
idades mais precoces) (4)(8)
Corticosteróides tópicos
Retração suave
Líquen
escleroso
genital
Referenciação
à Urologia (3)(4)
Cicatrizes
no anel
prepucial
Conclusão
A retração forçada do prepúcio deverá ser evitada até a sua camada interna estar
completamente individualizada da glande, o que acontece em diferentes idades. Nesta ocasião, o
prepúcio poderá ser retraído com cuidado para a correta higienização. Não existe evidência clara
de que este gesto, realizado de forma cuidadosa, seja traumático e condicione lesões do pénis.
Balanite
ou ITU
recorrente
(1) Yang C, Liu X, Wei GH. Foreskin development in 10 421 Chinese boys aged 0-18 years. World J Pediatr. 2009;5(4):312–5. (2) Tekgüll S, Gerharz E, Hoebeke P, Kocvara R, Nijman JM, Radmayr R, et al. Orientações Sobre Urologia Pediátrica. Urol Pediátrica. :295–307. (3) McGregor TB, Pike JG, Leonard MP. Pathologic and
physiologic phimosis: Approach to the phimotic foreskin. Can Fam Physician. 2007;53(3):445–8. (4) Dave S, Afshar K, Braga LH, Anderson P. Canadian urological association guideline on the care of the normal foreskin and neonatal circumcision in Canadian infants (Full version). J Can Urol Assoc. 2018;12(2):E76–99. (5) Shahid
SK. Phimosis in Children. Tzortzis V, Okamura T, editors. ISRN Urol [Internet]. 2012;2012:707329. Available from: https://doi.org/10.5402/2012/707329 . (6) Male Circumcision. Am Acad Pediatr [Internet]. 2012 Sep 1;130(3):e756 LP-e785. Available from: http://pediatrics.aappublications.org/content/130/3/e756.abstract .(7)
EAU Guidelines. Edn. presented at the EAU Annual Congress Amsterdam 2020. ISBN 978-94-92671-07-3 (8) Brás Silva C, Alves MC, Ribeiro JC, Ribeiro dos Santos A. Fimose e Circuncisão. Acta Urológica [Internet]. 2006;23(2):21–6. Available from: http://www.apurologia.pt/acta/2-2006/fimos-circ.pdf
POSTERS
MELHORIA DA QUALIDADE
Vacinação de grupos de risco contra a gripe: protocolo de
avaliação e melhoria da qualidade
Margarida Barros Henriques; Anaísa Silva; Ricardo Alves Coelho
USF Feijó
Enquadramento:
A gripe é uma doença viral aguda com carácter sazonal que afeta predominantemente
as vias respiratórias. A probabilidade de contágio pode ser diminuída através da evicção do
contacto com infetados, da etiqueta respiratória, e da higienização frequente das mãos,
podendo ser evitada através da vacinação anual, que deverá ocorrer nas pessoas que têm
maior risco de sofrer complicações: com ≥ 65 anos, principalmente se residirem em
instituições; com doenças crónicas pulmonares, cardíacas, renais ou hepáticas; diabetes em
tratamento; outras doenças que diminuam a resistência às infeções; e grávidas. Com o
intuito de conhecer a cobertura vacinal dos utentes considerados de risco segundo o
indicador 6.01.04. foi consultado o BICSP à data de Março de 2018, havendo uma cobertura
vacinal de apenas 45,808%.
Objetivo:
Melhorar a cobertura vacinal contra a gripe nos grupos de risco incluídos no indicador
6.01.04.
Metodologia:
Dimensão: qualidade técnico-científica. Consulta do BICSP: indicador 6.01.04 -
Proporção idosos ou doença crónica, com vacina da Gripe. Contexto: estudo retrospetivo
numa USF. Período de estudo: 1ª avaliação de Out. de 2018 a Mar. de 2019, 2ª avaliação
de Out. de 2019 a Mar. de 2020. População: utentes inscritos na USF com diabetes (ICPC-
2 “T89” ou “T90”) ou com doença respiratória crónica (ICPC-2 “R95” ou “R96” ou “R79”) ou
com doença cardíaca crónica (ICPC-2 “K74” ou “K75” ou “K76” ou “K77”) ou com idade ≥ 65.
Intervenção: Medidas educacionais – apresentação em reunião de serviço dos panfletos e
cartazes de sensibilização (Set. 2018); resultados da 1ª avaliação (Mar. 2019); início de
consulta de DPOC pela equipa de internos com promoção ativa da vacinação contra a gripe
(Jun. de 2019); resultados da 2ª avaliação (Mar. 2020).
Resultados:
Previamente à implementação das medidas educacionais os valores encontrados
foram: 36,567% em Out., 41,176% em Nov., 42,482% em Dez. de 2017, 45,938% em Jan.,
45,780% em Fev. e 45,808% em Mar. de 2018. Posteriormente: 1ª avaliação - 36,803% em
Out., 45,820% em Nov., 47,241% em Dez. de 2018, 47,665% em Jan., 47,615% em Fev. e
47,303% em Mar. de 2019; 2ª avaliação - 40,810% em Out., 48,179% em Nov., 50,340% em
Dez. de 2019. Até à data da submissão deste resumo não existiam dados de 2020.
Discussão:
Os resultados da avaliação mensal da cobertura vacinal contra a gripe foram melhores
comparativamente aos valores de 2017, havendo um valor mínimo de aumento 0,2% na
transição de Outubro de 2017 para 2018 e máximo 8% de Dezembro de 2017 para 2019,
não se observando nenhuma regressão desde o início da implementação das intervenções.
Apesar da importante melhoria registada, continuamos aquém de uma cobertura vacinal
ótima nos grupos de risco incluídos nesta amostra. Limitações: viés de leitura pela exposição
dos cartazes em tamanho A4; os folhetos não terem sido, ainda que oportunisticamente,
distribuídos a todos os utentes; possível existência de utentes com requisição de vacina no
exterior e vacinados nas farmácias que não informaram o seu médico ou enfermeiro de
família e como tal não houve registo. É importante manter a sensibilização para esta
temática!
Vacinação de grupos de risco contra a gripe –
protocolo de avaliação e melhoria da qualidade
Autores: Margarida Barros Henriques, Anaísa Silva, Ricardo Alves Coelho.
Instituição: USF Feijó
Enquadramento
A gripe é uma doença viral aguda com carácter sazonal que afeta predominantemente as vias respiratórias. A
probabilidade de contágio pode ser diminuída através da evicção do contacto com infetados, da etiqueta respiratória,
e da higienização frequente das mãos, podendo ser evitada através da vacinação anual, que deverá ocorrer nas
pessoas que têm maior risco de sofrer complicações: com ≥ 65 anos, principalmente se residirem em instituições;
com doenças crónicas pulmonares, cardíacas, renais ou hepáticas; diabetes em tratamento; outras doenças que
diminuam a resistência às infeções; e grávidas (Norma nº 006/2019 de 07/10/2019 atualizada a 14/10/2019). Com o
intuito de conhecer a cobertura vacinal dos utentes considerados de risco segundo o indicador 6.01.04. foi consultado
o BICSP à data de Março de 2018, havendo uma cobertura vacinal de apenas 45,808%.
Objetivo
Melhorar a cobertura vacinal
contra a gripe nos grupos de
risco incluídos no indicador
6.01.04.
Metodologia
Dimensão: qualidade
técnico-científica.
Consulta do BICSP:
indicador 6.01.04 -
Proporção idosos ou
doença crónica, com
vacina da Gripe.
Contexto: estudo
retrospetivo na USF
Feijó.
População: utentes inscritos na USF
com diabetes (ICPC-2 “T89” ou “T90”)
ou com doença respiratória crónica
(ICPC-2 “R95” ou “R96” ou “R79”) ou
com doença cardíaca crónica (ICPC-2
“K74” ou “K75” ou “K76” ou “K77”) ou
com idade ≥ 65.
Período de estudo: 1ª avaliação de
Outubro de 2018 a Março de 2019, 2ª
avaliação de Outubro de 2019 a Março
de 2020.
Intervenção: Medidas
educacionais – apresentação
em reunião de serviço dos
panfletos e cartazes de
sensibilização (Set. 2018);
resultados da 1ª avaliação
(Mar. 2019); início de consulta
de DPOC pela equipa de
internos com promoção ativa
da vacinação contra a gripe
(Jun. de 2019); resultados da
2ª avaliação (Mar. 2020).
Resultados
Figura 1– Cartazes e panfletos de sensibilização para a vacinação
contra a gripe das épocas 2018/2019 e 2019/2020.
Comparação de indicador 6.01.04 na préintervenção,
1ª avaliação e 3ª avaliação
36,6%
36,8%
40,8%
41,2%
45,8%
48,2%
42,5%
47,2%
50,3%
45,9%
47,7%
39,0%
45,8%
47,6%
44,0%
45,8%
47,3%
44,0%
60,0%
Evolução indicador 6.01.04. de outubro
de 2017 a março de 2020
40,0%
out nov dez jan fev mar
Pré-intervenção (2017/2018) 1ª avaliação (2018/2019)
2ª avaliação (2019/2020)
Gráfico 1 – Dados comparativos do indicador 6.01.04 - Proporção idosos ou doença crónica, com
vacina da Gripe – referente aos meses de Outubro, Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro e
Março nos anos 2017, 2018 e 2020. Fonte: SIARS/MIM@UF , último acesso 14/08/2020.
Discussão
Os resultados da avaliação mensal da cobertura vacinal contra a gripe
foram melhores comparativamente aos valores de 2017, havendo um
valor mínimo de aumento 0,2% na transição de Outubro de 2017 para
2018 e máximo 8% de Dezembro de 2017 para 2019, contudo observouse
uma regressão desde Janeiro de 2020, altura em que se iniciou a
Pandemia COVID19. Apesar da importante melhoria registada,
continuamos aquém de uma cobertura vacinal ótima nos grupos de
risco incluídos nesta amostra.
É importante
manter a
sensibilização
para esta
temática!
20,0%
0,0%
Gráfico 2 – Representação gráfica da evolução do indicador 6.01.04 - Proporção idosos ou
doença crónica, com vacina da Gripe – referente aos meses de Outubro, Novembro,
Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março entre 2017 e 2020. Fonte: SIARS/MIM@UF , último
acesso 14/08/2020.
Limitações: indicador não incluir alguns grupos de risco como
as grávidas; viés de leitura pela exposição dos cartazes em
tamanho A4; os folhetos não terem sido, ainda que
oportunisticamente, distribuídos a todos os utentes; possível
existência de utentes com requisição de vacina no exterior e
vacinados nas farmácias que não informaram o seu médico ou
enfermeiro de família e como tal não houve registo
informático.
out nov dez jan fev mar
Pré-intervenção (2017/2018) 1ª avaliação (2018/2019)
2ª avaliação (2019/2020)
Ciclo de Avaliação e Melhoria Contínua da Qualidade do
Registo do Risco Cardiovascular em Doentes Hipertensos
Diana Ferreira da Silva; Rafaela Ambrósio Sousa; Ana Calada Alexandre
USF Cartaxo Terra Viva; USF São Domingos; USF Cartaxo Terra Viva
Introdução/ Enquadramento:
As doenças cérebro-cardiovasculares são as primeiras causas de morte e doença em
todo o mundo e a principal causa de morte, incapacidade, sofrimento e uso de recursos
económicos em Portugal. A hipertensão arterial é um dos mais importantes fatores de risco
cardiovascular (RCV), cujo controlo intensivo é cada vez mais recomendado. O cálculo do
RCV global apresenta-se como uma ferramenta imprescindível na avaliação individual,
sendo recomendada a sua realização a cada 3 anos nos doentes hipertensos, uma vez que
este valor tem implicações nas condutas de seguimento, vigilância e terapêutica a adotar
pelo médico nos utentes com fatores de risco cardiovascular já conhecidos.
Objetivo:
Avaliação do registo do RCV a 3 anos em doentes hipertensos e verificação da
existência ou não de melhoria após implementação de medidas corretoras, numa unidade
de saúde.
Metodologia:
Dimensão: qualidade técnico-científica. Unidade de estudo: utentes com codificação
K86/ K87 inscritos na unidade. Tipo de dados: processual. Fonte: SClínico® e MIM@UF®.
Registo/ Tratamento: Excel®. Avaliação: interna, interpares, retrospetiva. Critérios de
qualidade: cumprimento do ID023. Padrão de qualidade: insuficiente [0-50%[, suficiente [50-
60%[, bom [60-70%[, muito bom [70-100%]. Medidas corretoras: formação aos profissionais
da unidade de saúde (maio de 2019) e convocatória de hipertensos não cumpridores (maio
a dezembro de 2019). Foram realizadas 3 avaliações, 1ª em março de 2019 (prévia à
aplicação das medidas corretoras), 2ª em junho de 2019 e 3ª em dezembro de 2019 (ambas
posteriores à aplicação das medidas corretoras).
Resultados:
Tendo por base os 1818 doentes hipertensos inscritos na unidade de saúde, na 1ª
avaliação obteve-se uma taxa de registo do RCV a 3 anos de 69,04% e na 2ª avaliação uma
taxa de 72,31%. Na avaliação final registou-se uma taxa de 80,23% de doentes hipertensos
com registo do RCV nos últimos 3 anos.
Discussão:
Verifica-se uma melhoria do padrão de qualidade de “bom” para “muito bom”. Apesar
desta melhoria, apontam-se algumas limitações, nomeadamente a ausência de um médico,
a existência de doentes recorrentemente faltosos e a omissão de registo de alguns dados
no processo clínico informatizado (p.e. requisição de análises sem registo do resultado, o
que compromete o cálculo do RCV). Dada a importância reconhecida da avaliação do RCV
a 3 anos no seguimento e tomada de decisões relativas à saúde nos doentes hipertensos, a
equipa está motivada para a melhoria sustentada deste padrão de qualidade. Importa
reforçar a relevância do registo clínico informatizado como peça fundamental ao cálculo do
RCV a 3 anos, auscultando os entraves sentidos (p.e. múltiplas tarefas a realizar durante
uma consulta, por parte dos médicos).
Ciclo de Avaliação e Melhoria Contínua da Qualidade do Registo do
Risco Cardiovascular em Doentes Hipertensos
Diana Ferreira da Silva 1 (dianaisilva@hotmail.com), Ana Alexandre Calado 1 , Rafaela Ambrósio Sousa 2
1 USF Cartaxo Terra Viva, 2 USF São Domingos
Introdução/ Enquadramento
Doenças
Cérebro-
Vasculares
causa de morte e doença
no mundo i)
causa de morte,
incapacidade, sofrimento
e uso de recursos
económicos em Portugal i)
HTA
um dos mais importantes
fatores de risco
cardiovascular (RCV)
o seu controlo intensivo é
cada vez mais
recomendado i)
valor tem implicações no seguimento,
vigilância e terapêutica a adotar pelo médico
Cálculo do
RCV global
ferramenta imprescindível
na avaliação individual
recomendada a sua
realização a cada 3 anos
nos doentes hipertensos i)
Objetivo
Avaliação do registo do RCV a 3 anos em doentes hipertensos e verificação da existência ou não de melhoria após implementação
de medidas corretoras na USF Alpiarça.
Metodologia
Resultados
• Dimensão: qualidade técnico-científica.
• Unidade de estudo: utentes com codificação K86/ K87
inscritos na unidade.
• Tipo de dados: processual.
• Fonte: SClínico ® e MIM@UF ® .
• Registo/ Tratamento: Excel ® .
• Avaliação: interna, interpares, retrospetiva.
• Critérios de qualidade: cumprimento do ID023.
1818 doentes
hipertensos
inscritos na
USF Alpiarça
• Padrão de qualidade:
Insuficiente
[0-50%[
Suficiente
[50-60%[
Bom
[60-70%[
Muito Bom
[70-100%[
1ª avaliação
69,04% com registo do RCV
a 3 anos
maio 2019
formação aos profissionais
da unidade da saúde
maio a dezembro 2019
convocatória de hipertensos
não cumpridores
2ª avaliação
72,31% com registo do RCV
a 3 anos
3ª avaliação
80,23% com registo do RCV
a 3 anos
março 2019
1ª avaliação
junho 2019
2ª avaliação
dezembro 2019
3ª avaliação
Discussão
Verifica-se uma melhoria do padrão de qualidade de “bom” para “muito bom”, o que
se traduziu numa melhoria do controlo dos fatores de RCV nos doentes hipertensos (como
os valores tensionais e do lipidograma), bem como no seu maior e melhor seguimento.
No entanto apontam-se algumas limitações, nomeadamente a existência de doentes
recorrentemente faltosos e a omissão do registo de alguns dados no processo clínico
informatizado.
Dada a importância reconhecida da avaliação do RCV a 3 anos no seguimento e
tomada de decisões relativas à saúde nos doentes hipertensos, a equipa está motivada
para a melhoria sustentada deste padrão de qualidade.
Bibliografia
POSTERS
RELATO DE PRÁTICA
Simplificar e Ilustrar a Dor a Utentes Migrantes numa
Unidade de Saúde Familiar
Inês Machado; Ana Margarida Carvalho; Inês Magalhães
USF Almirante
Introdução:
Os cuidados de saúde primários atuam em problemas de saúde gerais e não selecionados
dos seus utentes. Como tal, devem estar munidos de conhecimento que permita não só solucionar
as principais preocupações do utente, como também distinguir entre a necessidade de
referenciação para os cuidados de saúde secundários ou a sua gestão em ambulatório. A colheita
da história clínica e a caracterização adequada dos sintomas são cruciais no que toca à formulação
das principais hipóteses diagnósticas e, posteriormente, ao tratamento adequado dessas
condições. A 31 de dezembro de 2019, estavam inscritos numa unidade de saúde familiar em
Lisboa 1921 utentes de nacionalidade estrangeira, que representam 15,34% dos utentes. As
consultas realizadas em língua estrangeira constituem um desafio na comunicação entre o
profissional de saúde e o utente, sendo muitas vezes difícil descortinar sintomas, excluir sinais de
alerta e criar um plano terapêutico adequado. É fundamental estabelecer técnicas de comunicação
eficazes para garantir a abordagem adequada da saúde dos utentes.
Objetivo:
De modo a facilitar a comunicação com o utente estrangeiro, foi criada uma ferramenta de
apoio à consulta que visa diminuir o impacto da barreira linguística e da sua sobreposição à correta
colheita da história clínica, permitindo assim a identificação de sinais de alarme e encaminhamento
apropriado do utente.
Pertinência:
A dor é um dos principais motivos que leva um utente a procurar serviços de saúde, sendo
considerada um dos sinais vitais pela Direção Geral de Saúde. É uma das maiores causas de
perda de qualidade de vida, perda de produtividade e absentismo laboral. Errar na recolha de
informação clínica relevante e no tratamento da dor resulta em consequências graves na qualidade
dos serviços prestados pelos profissionais de saúde.
Descrição:
Assim, de acordo com o supracitado, foram criados folhetos com ilustrações de modo a
caracterizar a dor quanto às principais localizações, duração, intensidade, evolução, tipo de dor,
principais sintomas de alívio e de agravamento e respetivos sintomas associados segundo a sigla
inglesa SOCRATES. Estes folhetos estão escritos em português e em nove das línguas mais
faladas pelos utentes (espanhol, inglês, francês, italiano, nepali, bengali, hindi, chinês e russo).
Discussão:
Através da utilização destes folhetos, espera-se atenuar a barreira linguística entre o
profissional de saúde e o utente oriundo de um país onde a língua portuguesa não é predominante,
visando: 1) minimizar falhas e atrasos no diagnóstico; 2) humanizar a prática dos cuidados de
saúde primários; 3) melhorar a acessibilidade; 4) apoiar a multiculturalidade; 5) simplificar a gíria
médica; e 6) trabalhar a empatia e conquistar uma relação terapêutica de confiança com o utente.
Ao procurar esclarecer as dúvidas clínicas e resolver as preocupações dos utentes, torna-se uma
mais-valia na prática clínica atual, aplicando uma medicina centrada na pessoa.
SIMPLIFICAR E ILUSTRAR A DOR A UTENTES MIGRANTES
NUMA UNIDADE DE SAÚDE FAMILIAR
POSTERS
CASOS CLÍNICOS
Seis anos para diagnosticar Acromegalia
Mariana Zhang; Hema Hasmuklal Nádia Mourinho Bala
USF Parque Cidade; Hospital Beatriz Ângelo
Enquadramento:
A acromegalia resulta da produção excessiva da hormona do crescimento (GH),
normalmente devido a adenoma da hipófise e está associado a um aumento da morbilidade
e da mortalidade. É caracterizada por um aumento insidioso e progressivo das partes moles
das mãos, pés e da face, obrigando, muitas vezes, o doente a alterar o tamanho de sapatos
que calça. No entanto, os primeiros sinais e sintomas de apresentação pertencem a um
leque de manifestações do foro cardiovascular, neurológico ou metabólico, tornando difícil o
diagnóstico precoce. É também caracteristicamente acompanhado de aumento da
somatomedina C (IGF-1) sendo o seu doseamento integrante do diagnóstico e da
monitorização do tratamento da doença. O tratamento pode envolver uma combinação
variada entre cirurgia, farmacoterapia e radioterapia, sendo adaptado ao doente individual
com o objetivo de suprimir a atividade hormonal, crescimento tumoral e de regressão dos
sinais e sintomas.
Descrição do Caso:
Uma mulher de 46 anos, lactante de uma criança de 5 anos e amenorreica desde o
parto, recorre à consulta por crises de cefaleia há mais de 5 anos, agora cada vez mais
frequentes e incapacitantes. Diagnosticada recentemente com Hipertensão Arterial (HTA)
nas consultas de seguimento e bem controlada. Analiticamente mostrava indícios de
resistência à insulina, sem antecedentes pessoais de Diabetes Mellitus (DM). Por ser
acompanhada de um exame objetivo com facies com características sugestivas e mãos e
pés aumentados, foi colocada a hipótese de acromegalia, tendo motivado o pedido de TACsela
turca que revelou um macroadenoma com 30x29x21mm de dimensões. Foi
encaminhada para consulta de Endocrinologia onde foi feita a medição de GH e IGF-1, tendo
vindo um resultado elevado que permitiu o diagnóstico final de Acromegalia. Iniciou terapia
com Octreotido enquanto aguarda avaliação por Neurocirurgia. Retrospetivamente,
estimamos que, desde a apresentação do primeiro sintoma do quadro, até ao seu
diagnóstico final, tenham decorrido cerca de 6 anos.
Discussão:
A relevância desde caso clínico para o médico geral e familiar (MGF) é fundamentada
por se tratar de uma doença que aumenta francamente a morbimortalidade do doente e é
quase sempre tratável; apesar de ser uma doença relativamente rara, acredita-se que seja
largamente sub-diagnosticada; devido a uma típica instalação insidiosa apresenta uma
média de atraso no diagnóstico estimado de cerca de 10 anos; apresenta-se com
manifestações extremamente comuns na prática diária de um MGF, como por exemplo HTA
ou DM, cuja investigação da causa primária é raramente realizada, nestas faixas etárias. De
facto, também a amenorreia apresentada neste caso clínico estava associada ao
comprometimento dos restantes eixos hipofisários provocada pelo efeito de massa e
erradamente assumida presuntivamente, primeiro como pela supressão provocada pela
lactação em curso, e depois como menopausa. Este caso demonstra como o diagnóstico é
dificultado quando os sintomas isoladamente não sugerem necessidade de investigação, ou
de suspeição de uma causa primária, até muitos anos depois quando surgem sintomas
patognomónicos.
SEIS ANOS PARA DIAGNOSTICAR ACROMEGALIA
Zhang, Mariana 1 Hasmuklal, Hema 1 Mourinho, Nádia 2
1
USF Parque Cidade, ACeS Loures-Odivelas, ARSLVT 2
Hospital Beatriz Ângelo, Endocrinologia
Introdução
• ACROMEGALIA resulta da produção excessiva da hormona do
crescimento (GH), normalmente devido a adenoma da hipófise
e está associado a um aumento da morbilidade e da mortalidade.
• É caracterizada por um aumento insidioso e progressivo das
partes moles das mãos, pés e da face, obrigando, muitas vezes, o
doente a alterar o tamanho de sapatos que usa.
• No entanto, os primeiros sinais e sintomas de apresentação
pertencem a um leque de manifestações do foro cardiovascular,
neurológico ou metabólico, tornando muito difícil o seu
diagnóstico precoce.
• É também caracteristicamente acompanhado de aumento da
somatomedina C (IGF-1), sendo o seu doseamento integrante
no diagnóstico e na monitorização do tratamento da doença.
• O tratamento pode envolver uma combinação variada entre
cirurgia, farmacoterapia e radioterapia, sendo adaptado ao
doente individual com o objetivo de suprimir a actividade
hormonal, crescimento tumoral e de regressão dos sinais e
sintomas.
Fig.1 Face e Perfil da doente com Acromegalia
Caso Clínico
♀ DN 09/03/1971 Saudável
2012 Gravidez 2º filho - Inicia amamentação + Amenorreia
2014 Inicia quadro depressivo
Fig.2 RMN plano sagital e coronal - Macroadenoma 29x21x20mm
Discussão e Conclusão
• Retrospetivamente, estimamos que, desde a apresentação do
primeiro sintoma do quadro, até ao seu diagnóstico final,
tenham decorrido cerca de 6 anos.
• Estudando as manifestações da doença foi ainda possível atribuir
a mesma causa Acromegalia ao aparecimento de resistência à
insulina, alteração do timbre e tom de voz e afastamento da
arcada dentária inferior por macroglossia (fig.5).
• A relevância desde caso clínico para o MGF é fundamentada:
• Trata-se de uma doença que aumenta francamente a
morbimortalidade do doente e é quase sempre tratável;
• Apesar de ser uma doença relativamente rara, acredita-se que
seja largamente sub-diagnosticada;
• Devido a uma típica instalação insidiosa apresenta uma média de
atraso no diagnóstico estimado de cerca de 10 anos;
• Apresenta-se com manifestações extremamente comuns na
prática diária de um MGF, como por exemplo HTA ou DM,
cuja investigação da causa primária é raramente realizada, nestas
faixas etárias.
• De facto, também a amenorreia apresentada neste caso clínico
estava associada ao comprometimento dos restantes eixos
hipofisários provocada pelo efeito de massa e erradamente
assumida presumtivamente, primeiro como pela supressão
provocada pela lactação em curso, e depois como menopausa.
• Este caso demonstra como o diagnóstico é dificultado quando
os sintomas isoladamente não sugerem necessidade de
investigação, ou de suspeição de uma causa primária, até muitos
anos depois quando surgem sintomas patognomónicos.
2016 Edema da face; Termina amamentação
Crises de cefaleia c/ vómitos
2017 Pés e Mãos aumentados
Mantém amenorreia
2018 Estudo hormonal de Menopausa negativo
Diagnóstico de HTA medicada e controlada
2019 Aumento da GH e IGF-1
Referenciação Endocrinologia
TAC-sela turca: Macroadenoma
Inicia Octeotrido
Referenciada para Neurocirugia
Contacto: mariana.zhang@arslvt.min-saude.pt
Fig.3 Comparação de mãos sem e com acromegalia
Fig.4 Pé da doente com acromegalia
Bibliografia
Fig.5 Dentes afastados por macroglossia
1. Bolanowski, M. Ruchała, M., Zgliczyński, R. et al. (2019). Diagnostics and treatment of acromegaly -
recommendations of the Polish Society of Endocrinology
2. Cordido, F. et al., (2013). Guía práctica de diagnóstico y tratamiento de la acromegalia - Endocrinología y
Nutrición
3. DynaMed. Ipswich (MA): EBSCO Information Services. 1995 - . Record No. T116280, Acromegaly; [actualizado
2018 Nov 30, citado 01/02/2020. Disponível em https://www.dynamed.com/topics/dmp~AN~T116280.
4. Razvi, S. et al., (2007). A 52-Year-Old Female with a Hoarse Voice and Tingling in the Hand – PLoS medicine
5. Cordero, R. et al., (2008). Current diagnosis of acromegaly - Rev Endocr Metab Disord
6. Katznelson et al (2014). Acromegaly: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline - The Journal of Clinical
Endocrinology & Metabolism
Da fratura à Artrite Reumatoide
Luísa Margarida Pereira Lopes Rodrigues; Ana Luísa Mendonça Rodrigues;
USF Andreas
Enquadramento:
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença autoimune, inflamatória, sistémica e crónica
caracterizada por sinovite periférica e múltiplas manifestações extra-articulares. Segundo
dados do EpiReumaPt 2011-2013, a sua prevalência em Portugal é de 0,7% sendo 1,1%
nas mulheres e 0,3% nos homens. A apresentação clínica, gravidade e prognóstico é muito
variável, sendo a apresentação mais frequente uma poliartrite simétrica das pequenas e
grandes articulações com caráter crónico e destrutivo, podendo levar a limitação funcional e
deterioração da qualidade de vida. Desconhece-se a etiologia da doença, mas o seu
aparecimento é influenciado por fatores hormonais, ambientais e imunológicos em indivíduos
geneticamente suscetíveis. Vários autores reconhecem, ainda, o trauma físico como
possível fator predisponente. Este caso clínico relata uma situação de um utente com
sintomatologia muito sugestiva de AR, que teve início poucos meses após fraturas ósseas
dos membros superiores.
Descrição de caso:
Doente do sexo masculino, 65 anos, raça caucasiana, reformado de vendedor de loja,
pertencente a família nuclear na fase VIII do ciclo de vida de Duvall. Tem como antecedentes
pessoais hipertensão arterial (HTA), rinite alérgica, excesso de peso e escoliose lombar de
provável etiologia adquirida, sendo ex-fumador desde 2017. Realizava a seguinte medicação
crónica: omeprazol, loflazepato de etilo, olmesartan+amlodipina. Em maio de 2017 sofreu
um acidente que resultou em fraturas concomitantes do escafoide direito e da tacícula radial
bilateral, tendo sido submetido a terapêutica conservadora. Em junho de 2017 recorreu ao
médico de família (MF) no contexto de consulta de HTA onde referiu um quadro de queixas
articulares ao nível do cotovelo direito com calor, edema, rubor, dor, alteração da mobilidade
com impossibilidade de realizar a extensão completa do membro. No início de outubro de
2017 apresentava edema poliarticular (mãos, ombro, pés, joelhos) com dor de ritmo
inflamatório associada, desde há 3 meses, que aliviava com a toma de AINEs per os, pelo
que se pediram análises com estudo reumático. No final de outubro de 2017 volta à consulta
para reavaliação e mostrar o estudo analítico que revelou uma Velocidade de Sedimentação
de 45 mm/h, Proteína C Reativa Ultra Sensível de 1,4 mg/L e Fator Reumatoide de 1024.
Tendo em conta os resultados ajustou-se a medicação e referenciou-se para consulta
hospitalar de reumatologia onde se confirmou o diagnóstico de artrite reumática seropositiva
com anti-CCp positivos e geodos/geódica. O utente mantém-se medicado e estável, com
seguimento no MF e Reumatologia.
Discussão:
A AR é uma doença três vezes mais prevalente no sexo feminino e ocorre normalmente
entre os 30 e os 50 anos, mas pode ser diagnosticada em qualquer idade. Neste caso clínico,
o utente do sexo masculino com 65 anos apresentava sintomatologia sugestiva de AR, logo
após episódio de traumatismo ortopédico com fratura dos membros superiores. A relação
entre trauma físico e desenvolvimento de AR mantém-se controversa apesar de vários
estudos publicados. O MF é um interveniente importante no diagnóstico e orientação destes
doentes que devem ser acompanhados com o apoio de equipa multidisciplinar e de forma
personalizada.
Enquadramento
Descrição do caso
Discussão e conclusão
Maio 2017
Junho 2017
Inicio OUT 2017
Final OUT 2017
DA FRATURA À ARTRITE REUMATÓIDE
Dra. Luísa Rodrigues – Interna de MGF
Dra. Ana Luísa Rodrigues – Assistente de MGF
• A artrite reumatóide (AR) é uma doença autoimune, inflamatória, sistémica e crónica
• Segundo dados do EpiReumaPt 2011-2013, prevalência em Portugal é de 0,7%. Mulheres > Homens
• Poliartrite simétrica das pequenas e grandes articulações com carater crónico e destrutivo
• Apresentação clínica, gravidade e prognóstico muito variável
• Pode resultar em limitação funcional e deterioração da qualidade de vida
• Etiologia desconhecida
• Influenciada por fatores hormonais, ambientais e imunológicos em indivíduos geneticamente suscetíveis
• O trauma físico é reconhecido como fator predisponente por vários autores
65 anos
Reformado (ex agente comercial)
Família nuclear em fase VIII do ciclo família Duvall
AP: HTA, escoliose lombar, ex-fumador desde 2016
Sem conhecimento de AF de AR
MH: omeprazol, olmesartan+amlodipina, loflazepato de etilo SOS
S: Consulta HTA. Status
pós fratura do escafoide
direito e lesão cotovelo
esquerdo após queda no
desporto. Observado por
ortopedia. Sob tratamento
conservador
O: Imobilização bilateral
A: L72 - fratura rádio/cúbito
L74 - fratura: osso da mão /pé;
K86 - HTA sem complicações
P: Mantem medidas
S: Consulta Aberta.
Queixas articulares ao
nível do cotovelo direito
O: Sinais inflamatórios e
alteração da mobilidade
A: L20 - sintoma / queixa de
articulação NE
P: Encaminhado para SU.
Medicado com Naproxeno
+ Flucloxacilina
S: Consulta HTA. Edema
poliarticular simétrico e
dor ritmo inflamatório das
mãos, ombro, pés, joelhos
com 3 meses de evolução
e melhora com AINEs
O: Sinais inflamatórios
articulações referidas
A: K86 – HTA s/ complicações
L20 - sintoma / queixa de
articulação NE;
P: Pedido estudo
reumático e medicado
com naproxeno
S: Melhoria ligeira com
naproxeno. Mantem
edema e dor articulações.
Mostra resultado dos
exames
O: VS 45 mm/h. PCR Ultra
Sensível de 1,4 mg/L. FR
1024
A: L 99 - doença do aparelho
músculo-esquelético outra
P: Encaminhado para
reumatologia. Mantem
AINEs e inicia ciclo de
corticoides orais
Dezembro 2017
Consulta hospitalar de reumatologia
Diagnóstico
Artrite reumática seropositiva com anti-CCp positivos e geodos/geódica
Medicado com: calcium D sandoz + ledertrexato 2.5mg + folicil + lepicortinolo 5 mg +
diclofenac 50 mg
AR é uma doença três vezes mais prevalente no sexo feminino e ocorre normalmente entre os 30 e os
50 anos, mas pode ser diagnosticada em qualquer idade
Utente do sexo masculino com 65 anos com sintomatologia sugestiva de AR, após episódio de
traumatismo ortopédico com fratura dos membros superiores
A relação entre trauma físico e desenvolvimento de AR mantém-se controversa apesar de vários
estudos publicados
O MF é um interveniente importante no diagnóstico e orientação destes doentes que devem ser
acompanhados com o apoio de equipa multidisciplinar e de forma personalizada
Bibliografia
• Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal Reuma. EpiReumaPt. Census 2011-2013.
• B. Másdoóttir et al. Smoking, rheumatoid factor isotypes and severity of rheumatoid arthritis. British Society for Rheumatology. 2000; 39: 1202–1205
• Brawer and Goel. The onset of rheumatoid arthritis following trauma. Rheumatology: Research and Reviews 2016; 8: 77-80
Fibrilhação Auricular e Patologia Tiroideia: a importância
da abordagem multidisciplinar
Maria Beatriz Morgado; Pedro Pacheco
USF Cova da Piedade
Enquadramento:
A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia crónica mais comum, afetando 10% da
população com mais de 70 anos. A persistência da resposta ventricular rápida (RVR) poderá
condicionar instabilidade hemodinâmica. O hipertiroidismo contribui em apenas 1% para
todas as causas de FA. No entanto, a FA é a complicação cardíaca mais comum do
hipertiroidismo.
Descrição do caso:
Apresenta-se o caso clínico de uma doente de 59 anos, pós-menopausa, com
antecedentes pessoais de dislipidemia e patologia tiroideia em estudo, sem medicação
habitual, que recorreu à Consulta de Doença Aguda no Centro de Saúde por quadro de
cansaço, palpitações e edema dos membros inferiores com menos de 24h de evolução. O
exame objetivo e avaliação eletrocardiográfica demonstrou disritmia compatível com FA com
RVR, pelo que se referenciou a doente ao Serviço de Urgência. No hospital, optaram por
estratégia de controlo de frequência cardíaca com beta-bloqueante e foi administrada
digoxina. Dada ausência de resposta, a Cardiologia foi chamada a intervir. A doente foi
internada na Unidade de Cuidados Coronários e foi proposta para cardioversão. Verificouse,
no entanto, a reversão espontânea a ritmo sinusal, com melhoria sintomática
significativa. Procedeu-se ao cálculo do risco trombótico e iniciou-se anti-coagulação em
concordância. Ao 3º dia de internamento, a avaliação analítica, permite concluir tratar-se de
um caso de fibrilhação auricular associada a hipertiroidismo. Neste contexto, discutiu-se o
caso com a Endocrinologia e iniciou-se metibasol. Agendada reavaliação em consulta de
Endocrinologia após a alta.
Discussão:
Destaca-se o presente caso clínico pela elevada prevalência das patologias
envolvidas e pelo facto de estas poderem ter apresentações sobreponíveis - por exemplo,
palpitações, o que se coaduna com a sua estreita relação fisiopatológica. Salienta-se a
importância de se pesquisar ativamente as causas de FA de novo, incluindo o doseamento
de TSH na apresentação inicial. O tratamento do hipertiroidismo associa-se frequentemente
à reversão a ritmo sinusal. A taxa de reversão a ritmo sinusal é mais elevada em jovens,
doentes sem doença cardíaca estrutural prévia e com episódio de FA de instalação recente.
No controlo de frequência cardíaca, os beta-bloqueantes são os fármacos de eleição, pela
sua eficácia e controlo de sintomas mediados pelos recetores beta, tais como a ansiedade
e tremor – comuns no hipertiroidismo. Está descrita alguma resistência à digoxina nesta
população, mas esta pode ser administrada (se justificado) em doses superiores às
habituais. Por fim, o score CHA2DS2-VASC permite aferir da necessidade de
anticoagulação. Salienta-se a orientação clínica multidisciplinar transversal a todo o caso
clínico - essencial para o controlo metabólico, estabilidade cardiovascular, prevenção dos
eventos tromboembólicos e, em última análise, qualidade de vida da doente.
Fibrilhação Auricular e Patologia Tiroideia
A importância da abordagem multidisciplinar
Maria Beatriz Morgado 1 ; Pedro Pacheco 2
1. Médica interna de formação específica em MGF, USF Cova da Piedade, ACES Almada-Seixal
2. Assistente graduado em MGF, USF Cova da Piedade, ACES Almada-Seixal
Contacto do autor:
mbmorgado@campus.ul.pt
Enquadramento
A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia crónica mais frequente, afetando 10% da população com
mais de 70 anos. O hipertiroidismo contribui em apenas 1% para todas as causas de FA. No
entanto, a FA é a complicação cardíaca mais comum do hipertiroidismo.
Relato de Caso
1
D0: Identificação
- de 59 anos
- Antecedentes:
- Excesso peso;
- Dislipidemia;
- Patologia tiroideia
em estudo.
Sem medicação.
D1: Serviço Urgência
- Excluído SCA;
- FA RVR* confirmada;
- Inicia β-bloqueante;
- Inicia Digoxina.
» Mas manteve FA,
FC 200 bpm;
» Fica internada.
D3: UCC
- TSH <0.01;
Endocrinologia:
- Inicia Metibasol.
* Resposta Ventricular Rápida
D1: Centro Saúde
-Cansaço;
-Palpitações;
-Edema membros
inferiores <24h.
.
» ECG: FA? SCA?
D1 e D2: Cardiologia (UCC)
- Inicia anticoagulação;
- Proposta cardioversão.
00
» Mas reverteu a ritmo sinusal
(RS) espontaneamente.
Discussão
FA de novo
1) Controlo Frequência Cardíaca (FC);
2) Controlo Ritmo (se aplicável);
3) Anticoagulação ↔ score CHA2DS2-VASc;
4) Investigação ativa e precoce das causas:
Causas mais comuns:
✓ HTA
✓ IC, SCA, Disfunção valvular mitral
✓ Pneumonia, EAP
✓ Hipertiroidismo
✓ Outros: Pós-operatório, desequilíbrios hidroelectrolóticos,
álcool
Características
FA + Hipertiroidismo:
Ambas as patologias têm elevada prevalência e sintomas
comuns, pelo que é fundamental dosear TSH precocemente
(contrariamente ao caso apresentado, no qual doseamento foi
efetuado apenas no 3º dia de internamento).
Privilegiar β-bloqueantes, em particular o Propanolol, por ser
o fármaco mais eficaz no controlo da FC e dos sintomas (tanto
sintomas associados à FA, como associados ao hipertiroidismo).
A Resistência à Digoxina é frequente (e foi verificada no caso
clínico presente). Contudo, a Digoxina poderá ser utilizada,
administrando doses superiores às habituais.
Ponderar necessidade de cardioversão caso a caso.
Verifica-se a reversão espontânea a RS em 2/3 casos depois de
alcançado o estado eutiroideu (principalmente em jovens).
Conclusão
• É essencial pesquisar as causas de FA de novo, incluindo o doseamento de TSH na apresentação inicial.
• Na FA associada a hipertiroidismo, o Propanolol é o β-bloquente de eleição.
• A FA associada a hipertiroidismo associa-se a uma resistência parcial à Digoxina. Se justificada a sua
administração, devem utilizar-se doses superiores às habituais.
Bibliografia: [1] I. A. Khan, C. K. Nair, N. Singh, R. M. Gowda, and R. C. Nair, “Acute ventricular rate control in atrial fibrillation and atrial flutter,” Int. J. Cardiol., vol. 97, no. 1, pp. 7–13, 2004. [2] C. Symons, “Thyroid and Heart,” Lancet, vol. 310, no. 8049, p. 1187,
1977. [3] V. Reddy, W. Taha, S. Kundumadam, and M. Khan, “Atrial fibrillation and hyperthyroidism: A literature review,” Indian Heart J., vol. 69, no. 4, pp. 545–550, 2017. [4] E. Traube and N. L. Coplan, “Embolic risk in atrial fibrillation that arises from
hyperthyroidism: Review of the medical literature,” Texas Hear. Inst. J., vol. 38, no. 3, pp. 225–228, 2011.[5] B. M. Fadel, S. Ellahham, M. D. Ringel, J. Lindsay, L. Wartofsky, and K. D. Burman, “Hyperthyroid heart disease,” Clin. Cardiol., vol. 23, no. 6, pp. 402–408,
2000. [6] J. Jiskra, “Hyperthyroidism and the heart,” Kardiol. Rev., vol. 20, no. 3, pp. 167–172, 2018. [7] G. J. Martinez-Diaz, C. Formaker, and R. Hsia, “Atrial fibrillation from thyroid storm,” J. Emerg. Med., vol. 42, no. 1, pp. e7–e9, 2012. [8] K. O. Irwin Klein,
“Thyroid Hormone and the Cardiovascular System", N. Engl. J. Med., vol. 344, no. 7, pp. 501–509, 2011. [9] Longmore, Murray, et al.; Manual Oxford de Medicina Clínica, Euromédice: edições médicas, 9ª Edição
Entre dois males! -
Iatrogenia como fator de abandono terapêutico
Ana Sofia Braz; Tiago Paulino; Carolina Antunes
USF Sado
Enquadramento:
A Hematúria é definida como a presença anormal de eritrócitos na urina e surge com
alguma frequência como motivo de consulta, tratando-se de um fator altamente ansiogénico
para o doente, quando macroscópica. A presença de hematúria macroscópica, obriga à
realização de uma abordagem dirigida, tendo por base uma adequada história clínica, com
antecedentes pessoais/familiares, exame objetivo completo e realização de MCDTs para a
exclusão de forma eficiente das causas potencialmente graves, nomeadamente:
neoplásicas, infeciosas, renais e urológicas. As causas iatrogénicas, como a anticoagulação,
devem ser diagnósticos de exclusão após extensa investigação.
Descrição do Caso:
Sexo masculino, 69 anos, reformado, ex-fumador, com hábitos etanólicos moderados,
antecedentes pessoais de HTA complicada com HVE, FA persistente, Dislipidemia,
Obesidade, Disfunção Eréctil e Quistos Renais. Medicado com prindopril+indapamida
(2+0,625mg), bisoprolol 5mg, amiodarona 200mg, atorvastatina 40mg, rivaroxabano 20mg,
solifenacina+tansulosina (6+0,4mg). Frequentador irregular da consulta de MGF. Por
prostatite crónica complicada com hematúria macroscópica, é referenciado a consulta de
Urologia, tendo sido submetido a RTU-P em Maio de 2018. Após intervenção cirúrgica
urológica, regressa ao MF por macrohematúria, questionando na altura toda a sua
terapêutica. Após revisão de todas as patologias e dos exames já efetuados, excluindo-se
outras prováveis causas, foi explicada a importância da sua terapêutica anticoagulante e dos
efeitos secundários da mesma, tendo-se optado pela alteração para dabigatrano 150mg.
Entre consultas de seguimento de Urologia, o doente refere como principal queixa, disfunção
eréctil, tendo inclusivamente retomado a frequência nas suas consultas de Cardiologia, para
avaliação de doença cardíaca isquémica. Em consulta de Cardiologia, procede-se a nova
alteração terapêutica anticoagulante, passando a fazer o edoxabano 60 mg. Em Fevereiro
de 2020 regressa ao MF, por quadro de lentificação psico-motora após episódio de disartria
e assimetria dos músculos da face com 15 dias de evolução. Após abordagem diagnóstica
e terapêutica, o doente assume interrupção da terapêutica anticoagulante por ter
experienciado novos episódios de macrohematúria. Novamente aclarou-se a pertinência
destes fármacos e os riscos da sua suspensão, sugerindo-se nova alteração, desta vez para
apixabano 5mg. O doente mostrou-se relutante, mas aceitou a proposta terapêutica, e à
reavaliação um mês depois, encontrava-se, sem episódios de hematúria macroscópica,
tendo sido alcançado o objetivo pretendido.
Discussão:
Para o médico parece simples compreender a importância da prevenção primária
mesmo que essa não seja inócua, desde que a balança do risco-benefício pese em prole do
benefício. Não obstante, para o doente que experimenta essa iatrogenia o cenário é
totalmente diferente, sendo que no caso referido, a macrohematúria é causadora de
ansiedade e, consequentemente, de abandono terapêutico, com riscos acrescidos para o
doente. Nestes casos, a relação médico-doente, favorecida pela proximidade do MF, que
promove a educação para a saúde, transmitindo ao mesmo tempo informação de forma
adequada e adaptada ao doente, são a chave do sucesso, levando a uma adesão
terapêutica informada e equilibrada, em prole da saúde e do bem-estar.
COMO FACTOR DE
Ana Sofia Braz 1 , Tiago Paulino 1 , Carolina Antunes 2
1 – Interno de Formação Específica em Medicina Geral e Familiar, USF Sado
2 – Médica Assistente de Medicina Geral e Familiar, USF Sado
A hematúria é definida como a presença anormal de eritrócitos na urina e surge com alguma frequência como motivo de
consulta, tratando-se de um fator altamente ansiogénico para o doente, quando macroscópica. A presença de hematúria
macroscópica obriga à realização de uma abordagem dirigida, tendo por base uma anamnese e exame objectivo cuidados,
bem como meios complementares de diagnóstico para a exclusão de causas potencialmente graves. As causas iatrogénicas,
como a anticoagulação, devem ser diagnósticos de exclusão após investigação etiológica detalhada, pesando-se
posteriormente os riscos e benefícios da sua manutenção, caso a caso.
Ø 69 anos, reformado, casado, 4º ano de escolaridade, ex-fumador
Ø AP: HTA com lesão de órgão alvo (cardiopatia hipertensiva com HVE), FA com RVR
permanente sob NOAC desde 2016, Dislipidémia, Disfunção eréctil
Ø MH: perindopril/indapamida (2/0.625mg), bisoprolol 5mg, amiodarona 200mg, atorvastatina
40mg, dustasterida 0.5mg, rivaroxabano 20mg
DESDE
2016
MACROhematúria e Prostatite Crónica
Referenciação a Consulta de UROLOGIA
2017
UROLOGIA:
Ø UroTC com “cálculo coraliforme em haste calicial inferior à esquerda 7x14mm (...) quistos corticais
bilaterais (...) angiolipoma córtex terço medio (...)”;
Ø Citoscopia com “uretra friável, provável obstrução infravesical”.
05/2018
07/2018
MAS mantem queixas de LUTS e intercorrências infeciosas
RTU-P
e MACROhematúria sob rivaroxabano 20mg
CS: pede ao MF para mudar/suspender anticoagulação oral
solifenacina/tansulosina (6/0.4mg)
dabigatrano 150mg
05/2019
UROLOGIA: Melhoria de LUTS e hematúria macroscópica ocasional
Consulta de CARDIOLOGIA
09/2019
CARDIOLOGIA: mantém indicação para NOAC
switch para edoxabano 60mg
02/2020
03/2020
CS contexto de CA: quadro de lentificação psicomotora com 2 semanas de evolução após episódio de
disartria e assimetria dos músculos da face
Ø Assume NÃO ADESÃO TERAPÊUTICA por manutenção de episódios de MACROhematúria;
Ø Ensinos e Educação para a Saúde: pertinência dos fármacos e riscos de suspensão;
Ø Doente aceita nova alteração terapêutica para apixabano 5mg.
SEM novos episódios de HEMATÚRIA MACROSCÓPICA e adesão terapêutica conseguida!
Para o médico parece simples compreender a importância da prevenção primária mesmo que essa não seja inócua, desde
que a balança do risco-benefício pese em prole do benefício. Não obstante, para o doente que experimenta essa iatrogenia
o cenário é totalmente diferente, sendo que no caso referido, a macrohematúria é causadora de ansiedade e,
consequentemente, de abandono terapêutico, com riscos acrescidos para o doente. Nestes casos, a proximidade da
relação entre MF e doente, transmitindo e pesando a informação de forma adequada e adaptada ao doente, é a chave do
sucesso, conduzindo a uma adesão terapêutica informada e partilhada.
AP: antecedentes pessoais; CA: consulta aberta; CS: centro de saúde; FA: fibrilhação arterial; HTA: hipertensão arterial; HVE: hipertrofia do ventrículo esquerdo; LUTS: lower urinary tract symptoms; MF:
médico de família; MH: medicação habitual; NOAC: novos anticoagulantes orais; RTU-P: ressecção transuretral da próstata; RVR: resposta ventricular rápida.
Ouve os conselhos do teu Médico de Família,
ele conhece-te bem!
Ana Marinho; Marta Freitas
USF Cova da Piedade
Enquadramento:
O Síndrome hemolítico-urémico (SHU) caracteriza-se por anemia hemolítica
microangiopática, trombocitopenia e lesão renal aguda. O SHU é de difícil distinção com a
púrpura trombocitopénica trombótica (PTT), pela semelhança na apresentação clínica.
Descrição do caso:
Utente do sexo feminino, 22 anos, antecedentes pessoais de sífilis tratada há 5 anos.
Gravidez vigiada na USF (IO 1001), com perfil tensional normal, análises e urina sem
alterações. Parto às 39s+4d, por cesariana por paragem progressão trabalho de
parto/suspeita de coriamnionite, realizando antibioterapia intra-parto. Ao 5º dia pós-parto, no
contexto de realização do teste de Guthrie da sua filha na USF, detetada palidez cutânea na
utente pelo seu médico de família. Esta relatou que nos últimos dias havia notado tonturas,
náuseas, vómitos, cefaleia occipital, acufenos com agravamento com mudanças de posição.
No exame objetivo destacava-se palidez cutânea, sem petéquias ou outras alterações.
Pediu-se controlo analítico urgente, o qual a utente não realizou. Três dias depois, recorreu
a consulta no atendimento complementar, deparando-se por coincidência com a sua
enfermeira de família. Esta, ao ver o seu tom pálido e o seu mau estado geral, aconselhoua
a dirigir-se ao serviço de urgência (SU).
Deu entrada no SU com as mesmas queixas que havia relatado ao seu médico de
família, apenas notando um aumento progressivo do cansaço. Dos exames complementares
pedidos a salientar anemia hemolítica microangiopática, (Hb 3,5g/dL, LDH 2900UI/L e
esquizócitos no esfregaço de sangue periférico), trombocitopenia (91.000/uL), lesão renal
aguda (ureia 177, creatinina 3mg/dl), PCR 10mg/l, exame sumário de urina com hematúria
e leucocitose. Realizou ainda ecografia ginecológica e TC abdominopelvico, destacando-se
hepatoesplenomegalia, sem outras alterações.
Por suspeita de microangiopatia trombótica (SHU/PTT pós-parto) foi internada para
investigação e tratamento, tendo realizado plasmaferese urgente e corticoterapia com
prednisolona 60mg/dia e um total de 3UCE com resposta transfusional. Durante o
internamento realizou hemoculturas que se revelaram estéreis; ADAMTS 13 (Ac IgG normal,
atividade 911ng/mL); estudo imunológico com complemento, EPS, ANA, dsDNA e ANCA
negativos; serologias virais (Hep B e C e VIH) negativas. Por melhoria progressiva com
resolução da lesão renal, da trombocitopenia e da anemia, teve alta, mantendo seguimento
em consulta de nefrologia. Atualmente a fazer desmame de corticoide, medicada com
antihipertensor e a aguardar estudo genético de SHU atípico.
Discussão:
Os Cuidados de Saúde Primários são os pilares do sistema de saúde, sendo o médico
de família muitas vezes a porta de entrada para os cuidados de saúde e o principal gestor
do percurso do doente no sistema de saúde.
Este caso clínico pretende ilustrar que o facto de o médico de família conhecer bem
os seus utentes, e estar acostumado a ver utentes saudáveis, faz com que este seja um bom
triador, conferindo-lhe competência na avaliação da gravidade da doença.
Além disso, pretende ainda salientar o papel do MGF na suspeição de patologias
menos comuns, bem como focar a sua importância na orientação adequada dos utentes.
OUVE OS CONSELHOS DO TEU MÉDICO
DE FAMÍLIA, ELE CONHECE-TE BEM
Ana Marinho 1 , Marta Goes Freitas 1
1 Internas de formação especifica de MGF
USF Cova da Piedade
ENQUADRAMENTO
§ O Síndrome hemolíAco-urémico (SHU) caracteriza-se por anemia hemolíNca microangiopáNca, trombocitopenia e lesão
renal aguda.
§ O SHU é de diUcil disNnção com a púrpura trombocitopénica trombóAca (PTT), pela semelhança na apresentação clínica.
CASO CLÍNICO
BS, 22 anos
Antecedentes pessoais:
§ Sífilis tratada há 5 anos.
Gravidez vigiada na USF sem intercorrências.
Cesariana às 39s+4d (paragem progressão trabalho de parto/suspeita de
coriamnionite com antibioterapia intra-parto).
5º dia pós-parto
Consulta de teste de Guthrie da filha
§ Palidez cutânea sem petéquias
§ Tonturas
§ Vómitos
§ Cefaleia occipital
§ Acufenos
MGF pediu controlo analítico que
NÃO REALIZOU
Meios Complementares de DiagnósAco e TerapêuAca:
Anemia hemolíAca microangiopáAca; LDH 2900UI/L e esquizócitos no
esfregaço de SP; trombocitopenia; lesão renal aguda; PCR 10mg/l
Hematúria e leucocitose
8º dia pós-parto
Consulta atendimento complementar
Deparou-se por coincidência com a sua
enfermeira de família que recomendou
ida ao SU
Ecografia ginecológica e TC abdominopélvico: hepatoesplenomegalia
Suspeita de microangiopatia trombótica (SHU/PTT pós-parto)
Internamento
Consulta Nefrologia
Tratamento: Plasmaferese urgente + Prednisolona 60mg/dia + 3UCE
Estudo: Hemoculturas, serologias, EPS, ANA, dsDNA e ANCA negativos.
ADAMTS 13 (Ac IgG normal, atividade 911ng/mL)
§ Desmame de corticoide
§ Inicia antihipertensor
§ Aguarda estudo genético de SHU
atípico
DISCUSSÃO
§ Os Cuidados de Saúde Primários são os pilares do sistema de saúde, sendo o médico de família (MGF) muitas vezes a
porta de entrada para os cuidados de saúde e o principal gestor do percurso do doente no sistema de saúde.
§ Este caso clínico pretende ilustrar que o facto de o MGF conhecer bem os seus utentes, e estar acostumado a ver utentes
saudáveis, faz com que este seja um bom triador, conferindo-lhe competência na avaliação da gravidade da doença.
§ Além disso, pretende ainda salientar o papel do MGF na suspeição de patologias menos comuns, bem como focar a sua
importância na orientação adequada dos utentes.
Síndrome da Veia Cava Superior: um caso clínico
Clélia Gonçalves; Mariana Pereira; Ana Catarina Henriques
USF Vista Tejo
Enquadramento:
A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) refere-se a um conjunto de manifestações
que ocorrem quando há diminuição ou obstrução do fluxo venoso através da veia cava
superior (VCS) devido a trombose ou compressão extrínseca. A grande maioria (60 a 85%)
são de etiologia maligna. Apesar de menos frequentes, as SVCS de causa benigna
aumentaram nas duas últimas décadas sobretudo pelo aumento exponencial de
procedimentos endovenosos. Entre as causas malignas mais frequentes, a neoplasia do
pulmão é responsável por 80% dos casos, seguindo-se os Linfomas Não-Hodgkin (15%) e
a doença metastática. Aproximadamente 2 a 4% dos doentes com neoplasia do pulmão
desenvolvem SVCS em algum momento da doença. A SVCS é mais frequente no Carcinoma
Pulmonar de Pequenas Células (CPPC), ocorrendo em cerca de 10% dos casos.
Descrição do caso:
Doente do sexo feminino, 61 anos, com antecedentes de tabagismo (80 Unidades
Maço Ano) e esofagite, recorreu à consulta a 14/01/2019 por vómitos, enfartamento e perda
de peso com 5 meses de evolução. Referia cansaço fácil e dor no hemitórax direito, que
agravava com a inspiração. A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) de 09/11/2018 mostrava
estase gástrica e suspeita de esófago de Barrett. Foi referenciada a consulta de
gastrenterologia e pedida TC Tórax. A consulta foi recusada com a indicação de repetir EDA.
Por persistência das queixas, dirigiu-se ao Serviço de Urgência (SU) a 21/02/2019.
Analiticamente apresentava anemia, leucocitose, PCR elevada e leucocitúria, tendo sido
assumido diagnóstico de ITU e iniciada antibioterapia. Regressa à consulta a 27/02/2019 por
agravamento do cansaço, dispneia para pequenos esforços, tonturas e edema da face. A
TC Tórax revelou consolidação justa-mediastínica e adenopatias mediastínicas paratraqueais
direitas e troncos supra-aórticos. A EDA de repetição revelou uma gastrite antral.
Apesar da recomendação, recusou ida ao SU. Foi reavaliada a 01/03/2019 por agravamento
dos sintomas, referindo nesta fase disfagia, ortopneia e engasgamento fácil. À observação
destacava-se circulação colateral venosa na metade superior do tórax, protrusão palpebral
e ingurgitamento dos vasos cervicais. Encontrava-se polipneica, com saturação periférica de
oxigénio de 92%. Foi referenciada ao SU por suspeita de SVCS, que se confirmou, ficando
internada. Diagnosticado CPPC, mantém acompanhamento em consulta de Pneumologia e
Oncologia.
Discussão:
O diagnóstico suspeito da SVCS baseia-se na anamnese e exame objetivo. As
manifestações mais características e que exigem um elevado índice de suspeição são
frequentemente insidiosas, podendo surgir por um período de dias ou semanas. O Médico
de Família (MF) depara-se regularmente com sinais e sintomas que poderão traduzir
patologias mais graves e potencialmente malignas. O presente caso pretende demonstrar a
importância do MF na avaliação e integração de queixas inespecíficas, evolução da doença,
diagnóstico diferencial e orientação da marcha diagnóstica. Devido ao prognóstico
reservado, e tendo por base a evidência de que doentes com SVCS resultante de CPPC
vivem menos de 24 meses, é também importante destacar o papel do MF no suporte a
providenciar a nível pessoal e familiar.
SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR: Um caso clínico
Gonçalves, Clélia*; Henriques, Ana Catarina**; Pereira, Mariana*
*Médica Interna de Medicina Geral e Familiar Unidade Saúde Familiar Vista Tejo
** Médica Assistente de Medicina Geral e Familiar Unidade Saúde Familiar Vista Tejo
Enquadramento
A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) refere-se a um conjunto de manifestações que ocorrem
quando há diminuição ou obstrução do fluxo venoso através da veia cava superior (VCS) devido a
trombose ou compressão extrínseca. A maioria das SVCS são de etiologia maligna. Entre as causas
malignas, é de salientar a neoplasia do pulmão como a mais frequente, seguindo-se os Linfomas
Não-Hodgkin e a doença metastática. Aproximadamente 2 a 4% dos doentes com neoplasia do
pulmão desenvolvem SVCS em algum momento da doença. A SVCS é mais frequente no Carcinoma
Pulmonar de Pequenas Células (CPPC), ocorrendo em cerca de 10% dos casos.
SVCS: Sinais e Sintomas
Frequentes
Dispneia
Edema da face e tronco
Tosse
Rouquidão
Circulação venosa colateral
Raros
Edema dos braços
Cianose
Náuseas
Toracalgia
Disfagia
Estridor
Edema cerebral
60-85%
Cancro do
Pulmão
malignidade
intratorácica
Linfoma
Não-Hodgkin
SVCS como manifestação inaugural
de tumor desconhecido
Descrição do Caso
Identificação: MCSTB, sexo feminino, 62 anos, autónoma, desempregada
Medicação Habitual: Omeprazol 40 mg; Velafaxina 75 mg; Oxazepam 15 mg; Trazodona 150 mg
Antecedentes Pessoais: Enfisema pulmonar; Esofagite gástrica crónica; Síndrome depressivo
Hábitos: Tabágicos - ex-fumadora, 80 UMA; Etanólicos - 1 copo de vinho à refeição esporadicamente
1ª Consulta USF Vista Tejo
S:
O:
A:
P:
- Cansaço para médios esforços; vómitos; enfartamento; perda ponderal
significativa (15kg/5 meses); dor hemitórax direito (agravada pela inspiração)
- Bom estado geral. ACP sem alterações
- EDA inconclusiva - elevada quantidade de alimentos no lúmen
gástrico com regurgitação, suspeita de esófago de Barret.
- RX Tórax: “área de hipertransparência no 4º arco costal posterior à direita e
alteração da morfologia do mesmo, justificando estudos evolutivos.”
- Cansaço, Perda ponderal e sintomas GI de etiologia a esclarecer
- Toracalgia de etiologia a esclarecer
- Referenciação para Gastroenterologia para repetição de EDA + Colonoscopia
- TAC Tórax
14/01
2019
21/02
2019
Serviço Urgência - Hospital Garcia de Orta
Persistência de vómitos e enfartamento;
Analiticamente: anemia, leucocitose, PCR elevada e leucocitúria.
Diagnóstico de Pielonefrite aguda
Medicada com Ceftriaxone e Cefuroxima
Consulta USF Vista Tejo
S: - Agravamento do cansaço ; dispneia para pequenos esforços; tonturas
27/02
2019
O:
A:
P:
- Edema da face; cansaço para pequenos esforços;
- Hemodinamicamente estável
- TC Tórax: “Consolidação justa-mediastinica e adenopatias mediastínicas
para-traqueais direitas e troncos supra-aorticas.”
- EDA: Gastrite antral
- Suspeita de SVCS
- Gastrite
- Referenciada ao SU HGO -> utente recusou.
- Avaliação analítica urgente
- Explicados sinais de alarme
- Reavaliação dentro de 1 - 2 dias no CS
01/03
2019
Consulta USF Vista Tejo
S: - Agravamento dos sintomas; disfagia; engasgamento;
O:
- Polipneica, Saturação de oxigénio 92%.
- Circulação colateral venosa na metade superior do toráx, protusão palpebral e
ingurgitamento dos vasos cervicais. Cianose do nariz e labial ligeira.
A: - SVCS
P: - Referenciada ao SU HGO
Serviço Urgência - Hospital Garcia de Orta
TAC pescoço/tórax: “compressão da veia cava superior; focos de
densificação grosseiramente nodulares no LSD e conglomerado
adenopático mediastínico
Internamento - Hospital Garcia de Orta
Terapêutica dirigida ao SVCS
Broncofibroscopia: Diagnóstico de CPPC
Doença Extensa. Estadio IIIc vs IVa, T3; N3; M1B
Radioterapia e Quimioterapia
Pneumologia Oncológica - Hospital Garcia de Orta
Cefaleias de novo
RMN Cerebral: Metástases de novo
Radioterapia Crânio-encefálica
01/03
2019
17/12
2019
Consultas de seguimento mensais:
USF Vista Tejo
Pneumologia Oncológica - Hospital Garcia de Orta
20/05
2019
S:
O:
A:
P:
Consulta USF Vista Tejo
- Humor deprimido
- Sentimentos de angustia, tristeza, irritabilidade, anedonia
- Fácies Triste
- Choro fácil
- Neoplasia do Pulmão: CPPC
- Síndrome depressivo
- Escuta ativa
- Ajudas técnicas
- Apoio Serviço Social
- Apoio Psicologia
- Terapêutica antidepressiva: Escitalopram
Agravamento Sintomático
Internamento em unidade de cuidados paliativos
08/07
2020
08 Julho 2020
Fim de vida no domicilio acompanhada pela filha.
Discussão
O diagnóstico suspeito de SVCS tem por base a anamnese e exame objetivo do doente, requerendo estudos imagiológicos para confirmação de obstrução da VCS. As
manifestações características e que exigem um elevado índice de suspeição são frequentemente insidiosas, podendo surgir por um período de dias ou semanas. O Médico de
Família (MF) depara-se regularmente com sinais e sintomas que poderão traduzir patologias menos tranquilizadoras e potencialmente malignas. O presente caso pretende
demonstrar a importância do MF na avaliação e integração de queixas inespecíficas, evolução da doença, diagnóstico diferencial e orientação da marcha diagnóstica.
Devido ao prognóstico reservado, com a evidência de que doentes com SVCS resultante de CPPC vivem menos de 24 meses apesar dos avanços terapêuticos, é também
importante destacar o papel do MF no suporte a providenciar a nível pessoal e familiar, sobretudo nos cuidados em fim de vida.
Referências Bibliográficas: 1. Rice TW, Rodriguez RM, Light RW. The superior vena cava syndrome: clinical characteristics and evolving etiology. Medicine (Baltimore) 2006; 85:37. 2. Lepper PM, Ott SR, Hoppe H, et al. Superior vena cava syndrome in thoracic malignancies. Respir Care. 2011 May;56(5):653-66. 3.
Wilson LD, Detterbeck FC, Yahalom J. Clinical practice. Superior vena cava syndrome with malignant causes. N Engl J Med 2008 Mar 6;358(10):1083. 4. Wan JF, Bezjak A. Superior vena cava syndrome. Hematol Oncol Clin North Am. 2010 Jun;24(3):501-13. 5. Warner P, Uberoi R. Superior vena cava stenting in the 21st
century. Postgrad Med J. 2013 Apr;89(1050):224-30. 6. Puma P, Vannucci J. Chapter 23 Superior Vena Cava Syndrome. In: Cardoso P, ed. Topics in Thoracic Surgery. Rijeka, Croatia: InTech Publishing; 2012:401-414.
Anemia Ferropénica – uma luta de prioridades
Diogo Miragaia; Geisa Félix; Sara Ferreira
USF Servir Saúde
Enquadramento:
A anemia ferropénica é um problema de saúde prevalente no adulto, contabilizando
50% de todos os casos de anemia a nível mundial. Um dos grupos mais afetado por esta
patologia são as mulheres em idade fértil, com estudos a referirem prevalências de até 29%.
É uma doença silenciosa que, por se manifestar com sintomas inespecíficos, pode ser de
difícil identificação, pelo que todos os médicos devem estar atentos às suas manifestações
e tratamento.
Descrição do caso:
AT, sexo feminino, 38 anos, leucodérmica, saudável até à data. Em contexto de
consulta de planeamento de familiar, em agosto de 2019, a utente refere desejo de
engravidar, tendo sido pedidos exames pré-concecionais, entre os quais análises que
revelaram uma anemia com Hb de 9 g/dL, do tipo hipocrómica e microcítica, pelo que iniciou
terapêutica com proteinossuccinilato de ferro. Por ter sido detetado fluxo menstrual
abundante, ponderou-se introdução de contracetivo hormonal, que a doente recusou, e
foram pedidos ecografia ginecológica e estudo do metabolismo do ferro. Em consulta de
reavaliação, após 1 mês, a utente referia não estar a comer carne desde última consulta, por
opção, e cumpria a suplementação com boa tolerância. As análises de reavaliação
continuavam a documentar Hb de 9.3 e ferritina de 1. A ecografia ginecológica revelou um
fibromioma intramural submucoso com 22 x 26 mm e um nódulo de localização endometrial
com 10 mm, provavelmente tradutor de pequeno pólipo. Reforçou-se a importância de
realizar contracetivo hormonal, mas a doente manteve-se reticente. Foi realizada
referenciação para consulta de ginecologia, onde a colega aferiu que a doente não pretendia
fazer pílula, pelo que se optou por enviar a utente à consulta de Imunohemoterapia. Nesta
consulta, a utente recusou tratamento com carboximaltose, estando sob tratamento
homeopático e, de momento, a aguardar miomectomia, com o objetivo de controlar a
anemia.
Discussão:
Este caso espelha o desafio que existe quando estamos perante uma disparidade
entre as prioridades médicas e do utente. Devemos estar sempre atentos a possíveis
obstáculos no tratamento de uma patologia, desde mitos e ideias erradas do doente até
mesmo à possibilidade de não compreensão por parte do médico dos verdadeiros motivos
daquele indivíduo. Este caso demonstra o dilema do médico perante dois princípios éticos:
por um lado o da beneficência e, portanto, foi oferecido o tratamento disponível e com menos
efeitos adversos; e, por outro lado, o da autonomia, pois deve o médico promover a
capacitação dos seus utentes deliberarem sobre a suas escolhas pessoais e saúde, de
forma a respeitar a sua capacidade de decisão. Esta utente optou por um tratamento mais
invasivo e outros sem evidência científica, o que foi contra a expectativa do seu médico de
família, mas nesta luta de prioridades, quem “ganha” é o utente.
ANEMIA FERROPÉNICA:
Uma Luta de Prioridades
Miragaia, D, Félix, G., Ferreira S. – Internos de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar da USF Servir Saúde
Dra. Isabel Alves, Dra. Zélia Godinho, Dra. Raquel Eça – Orientadores de Formação Específica de Medicina Geral e Familiar da USF Servir Saúde – ACES Almada Seixal
IDENTIFICAÇÃO
• Sexo feminino, 38 anos. IO: 0000
• Vive com companheiro, sem filhos.
• Bailarina profissional.
• Família nuclear no estadio I do ciclo de Duvall.
• Sem AP ou AF de relevo
ENQUADRAMENTO
A anemia ferropénica é um problema de saúde prevalente no adulto, contabilizando 50% de todos os casos de anemia a nível mundial. Um dos
grupos mais afetado por esta patologia são as mulheres em idade fértil, com estudos a referirem prevalências de até 29%. É uma doença silenciosa
que, por se manifestar com sintomas inespecíficos, por vezes com pouca expressão, pelo que todos os médicos devem estar atentos às suas
manifestações e tratamento.
DESCRIÇÃO DO CASO
S – Consulta de planeamento familiar.
Deseja engravidar.
O- colheita citologia. Colo sem lesões.
A- DESEJO DE ENGRAVIDAR
P- Pedidos de exames
préconcepcionais.
13 JUHO
S – A tomar medicação (apenas 1 por dia).
Parou de comer carne há 1 mês por iniciativa
própria. Sente queda de cabelo desde há 1
mês.
O – Hb 9.3, ferritina 1 (!). Ecografia
ginecológica: fibromioma intramural
submucoso com 22 x 26 mm + nódulo de
localização endometrial com 10 mm
(provável pólipo).
A – ANEMIA FERROPÉNICA
P – Inicia maltofer. Referida importância de
dieta rica em alimentos com ferro.
Referenciação hospitalar.
14 e 20/01 de janeiro
O – Hb 10.4, Ferro 22
P – Sugerida realização de carboximaltose.
Refere estar a fazer terapêutica homeopática e
recusa. Em 2ª consulta, aceita a sua
administração.
2 agosto 30 agosto 3 outubro
Consulta
Ginecologia
Consulta
Imunohemo
-terapia
Junho
2020
S - Queixas de cansaço. Períodos de obstipação
intercalados com diarreia. refere fluxo
menstrual muito abundante, por vezes com
coágulos desde cessação de pílula(+7 dias).
O – Hb 9g/dL, Mucosas descoradas.
A – Anemia Ferropénica (perdas menstruais?)
P – Pedido ferritina + ecografia ginecológica
Recomendo retomar pílula para controlo de
perdas (doente recusa). Inicia
proteinossuccinilato de ferro (legofer).
21 outubro e 6 janeiro
O - ANL outubro: Hb 10.6, ferritina 12.4
Ecografia: 3 formações polipoides de 1 de 16
e 2 de 14 mm.
P – Explicada importância de terapêutica
hormonal. Por resistência da utente, enviada
a consulta de imunohemoterapia. Marcada
cirurgia de polipectomia.
S – Consulta CS. Melhoria de queixas de
perdas menstruais e cansaço. Mostra análises
recentes.
O – Hb 12.1, ferritina 138, ferro 268.
Polipectomia março 2020: pólipo funcional.
P – Mantém terapêutica e vigilância
hospitalar. Mantém desejo de engravidar.
DESAFIOS COLOCADOS PELO CASO
• O recurso a múltiplos especialistas
• A gestão da opção da utente pelo
ovolactovegetarianismo
• A gestão de expectativas perante o
desejo engravidar
• O receio do utente de iniciar novas
terapêuticas (falta confiança no
médico/receio efeitos colaterais?)
CONCLUSÃO
Este caso espelha o desafio que existe quando estamos perante uma disparidade entre as prioridades médicas e do utente. Devemos estar sempre atentos a possíveis obstáculos no tratamento
de uma doença, desde mitos e ideias erradas do doente até mesmo à possibilidade de não compreensão por parte do médico dos verdadeiros motivos daquele indivíduo. Este caso demonstra o
dilema do médico perante dois princípios éticos: por um lado o da beneficência, oferecendo o tratamento indicado com menor efeitos adversos e, por outro lado, o da autonomia pessoal do
doente na escolha dos tratamentos propostos. Uma das importantes funções do médico é a de promover a capacitação dos seus utentes para uma tomada de decisão consciente, sabendo que a
escolha, mesmo que não vá ao encontro da sua expectativa, será sempre do doente.
Bibliografia: Percy L, Mansour D, Fraser I. Iron deficiency and iron deficiency anaemia in women. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2017; Nijkang NP, Anderson L, Markham R, Manconi F. Endometrial polyps: Pathogenesis, sequelae and treatment. SAGE Open Med. 2019 May .
1 SLIDE | 5 MINUTOS
Um Caso de Macrocitose – qual a etiologia?
Geisa Félix; Diogo Miragaia; Sara Ferreira
USF Servir Saúde
Enquadramento:
A macrocitose é definida por um volume globular médio (VGM) ≥ 100 fL em indivíduos
adultos, requerendo investigação que pode ser desafiante para o médico de medicina geral
e familiar.
Descrição do Caso:
Homem de 44 anos de idade, com antecedentes de carcinoma do antro gástrico
diagnosticado em 2007 e submetido a gastrectomia total com anastomose esófago-jejunal
em Y de Roux. Antecedentes familiares, mencionados pela esposa, de pai com cirrose
hepática não alcoólica. Apresenta hábitos alcoólicos crónicos de 560 g/semana. Sem
medicação habitual.
Durante o seguimento em oncologia, o doente apresentou vários episódios de anemia
macrocítica que se atribuíram a défice de vitamina B12 e ácido fólico, como consequência
das patologias de base. Apesar da suplementação, manteve macrocitose sem anemia. No
contexto de estudo da macrocitose, verificou-se elevação dos parâmetros hepáticos (2x
limite superior normalidade da ALT, AST e GGT), com ecografia abdominal e serologias
virais negativas. Os doseamentos de vitamina B12 e de ácido fólico encontravam-se dentro
dos intervalos de referência.
Identificaram-se alterações no metabolismo do ferro com ferro sérico de 244 µg/dL,
capacidade total de fixação do ferro de 247 µg/dL, ferritina de 2378 ng/mL e saturação de
transferrina de 98% com reticulócitos normais. Excluídas as principais causas de
macrocitose, colocou-se a hipótese de hemocromatose.
Discussão:
Embora neste caso se pudesse atribuir a macrocitose à má-absorção de vitamina B12
pela gastrectomia total ou alcoolismo crónico, estas não se confirmaram. O facto de termos
um doente gastrectomizado, com AF de doença hepática não esclarecida e com ferritina
elevada, levanta a suspeita de hemocromatose. Pretende-se ilustrar não só a importância
de reconhecer outras etiologias além das mais evidentes, mas também de ressalvar o papel
do médico de família, que é gestor do utente ao longo da vida e da sua família, podendo
esta ser a chave para desvendar diagnósticos.
Quando um sintoma comum cursa numa doença rara…
Angélica Maria Machado Ferreira; Rafael Mira; Joana Veiga Coelho
USF Querer Mais; USF Lavradio; USF Querer Mais
Enquadramento:
A definição de diarreia crónica é controversa, tornando-se difícil estimar a prevalência.
Aproximadamente 10% das consultas dos cuidados de saúde primários centram-se em
problemas gastrointestinais, dos quais metade corresponde a problemas do trato
gastrointestinal inferior. O impacto da diarreia crónica inclui morbilidade física, aspetos
psicológicos e de bem-estar.
É objetivo deste caso clínico mostrar que uma história clínica detalhada é essencial
para a correta abordagem diagnóstica dos doentes com diarreia crónica.
Descrição do caso:
Helena, 73 anos, natural de Goa, com antecedentes de síndrome do túnel cárpico
bilateral, DM tipo 2 NIT, cardiopatia isquémica (ECG: bradicardia sinusal; EcoTT: hipertrofia
do septo interventricular). Apresenta desde 2008 incontinência fecal após hemorroidectomia,
na Índia.
Em Portugal, em 2018, após fisioterapia para incontinência fecal, a doente manteve
episódios de diarreia. Através da anamnese, o Médico de Família apurou que a diarreia era
prévia à cirurgia, e que a clínica não cumpria os critérios de Roma IV. O exame objetivo e a
avaliação analítica direcionada (hemograma, vit.B12, folatos, cálcio, funções tiroideia,
hepática e renal, PCR, análises de fezes e serologias incluindo doença celíaca e HIV) não
apresentavam alterações. Neste contexto foi solicitada uma colonoscopia que diagnosticou
amiloidose, cuja etiologia se encontra em estudo.
Discussão:
A diarreia crónica revela-se um desafio diagnóstico. Existe discrepância entre os
conceitos médicos e o vocabulário utilizado pelo doente, sendo fundamental clarificação
desde a avaliação inicial. A incontinência fecal é comumente mal interpretada como diarreia.
Na diarreia crónica de origem incerta, a colonoscopia com biópsias diagnostica 15-20% dos
casos. A amiloidose é rara e a sua forma de apresentação geralmente inespecífica atrasa o
seu diagnóstico, que requer biópsias do órgão envolvido e a investigação de outros órgãos
envolvidos, a fim de estabelecer a terapêutica adequada. Por comprometerem a qualidade
de vida, o acompanhamento psicológico deve integrar o plano terapêutico.
Registos Clínicos Incompletos: Um Caso de Sorte!
Fausto Honoré Silva; Teresa Peneda
USF Cova da Piedade
Enquadramento:
O registo clínico é uma ferramenta essencial na gestão clínica. É um suporte
informativo e um meio de comunicação entre profissionais de saúde. Bons registos agilizam
consultas subsequentes e possibilitam que qualquer médico, mesmo não conhecendo o
doente, rapidamente identifique antecedentes pessoais e necessidades de seguimento ou
vigilância.
Descrição do caso:
Homem, 71 anos, veio a 1ª consulta na USF em 11/2017. Os registos do seu antigo
centro de saúde mostravam antecedentes pessoais de dislipidemia, ESV paroxísticas e
trigeminismo, seguido em Cardiologia, e hipertiroidismo. Em registos prévios à mudança de
centro de saúde referia-se “TAC pulmonar: deve repetir após 3 meses” (05/2016) e “TAC
tórax: vigiar” (07/2016). Quando questionado sobre os TACs, o utente referia nódulo
pulmonar já identificado como benigno. Como antecedentes pneumológicos referia
internamento por pleurisia e negava hábitos tabágicos. Pelo relato do utente e ausência de
fatores de risco, não se continuou vigilância do nódulo.
Em 07/2018, volta por dor epigástrica com 30 dias de evolução, sendo pedida EDA.
Para realização de endoscopia, o hospital convencionado do SNS onde a iria fazer exigia
RX tórax, mas, pela existência do nódulo pulmonar, pediu-se antes TC torácica que mostrou
“nódulo no lobo inferior direito (LID), com 14mm, contornos irregulares, espiculares,
sugestivo de neoformação”. Referenciou-se o doente para consulta de Pneumologia e foi
submetido a segmentectomia apical do LID e esvaziamento mediastínico ganglionar,
revelando o exame histológico adenocarcinoma do pulmão. Atualmente mantém seguimento
em consulta de Pneumologia Oncológica.
Discussão:
Este caso pretende mostrar que registos incompletos podem dar azo à perda de
informação importante para o correto acompanhamento das patologias e possivelmente
levar a situações danosas para o doente.
Foca também a importância de num primeiro contato rever, pormenorizadamente, os
antecedentes pessoais do doente e exames antigos que nos gerem dúvidas, para evitar
falhas na vigilância de patologias conhecidas.
Consumo de lacticínios e desenvolvimento de acne
Revisão Baseada na Evidência
Marta Goes Freitas; Liliana Portela; Ana Marinho; Marta Marquês
USF Cova da Piedade; USF Descobertas
Introdução e objetivos:
A acne é uma patologia crónica inflamatória da pele que apresenta elevada
prevalência e um forte impacto psicossocial. O papel da dieta, nomeadamente dos
lacticínios, na acne é incerto. Com esta revisão, pretende-se determinar se existe relação
entre o consumo de lácteos e a acne que justifique a sua evicção alimentar.
Metodologia:
Pesquisa de Normas de Orientação Clínica, Guidelines, Meta análises(MA), Revisões
Sistemáticas(RS) e estudos originais nas bases de dados NICE, National Guideline
Clearinghouse, Canadian Medical Association Practice Guidelines InfoBase, Cochrane,
DARE, Bandolier, British Medical Journal Clinical Evidence, Evidence Based Medicine online
e PUBMED utilizando os termos MeSH “Acne Vulgaris", "Dairy Products”e "Humans”,
publicados entre 28.2.2010 e 28.2.2020. Foram incluídos estudos em português, inglês,
francês ou espanhol e excluídas revisões simples, artigos de opinião e estudos dirigidos a
grávidas ou cuja intervenção primária fosse o uso de suplementos derivados do leite.
Resultados:
Obtiveram-se 32 artigos, dos quais quatro cumpriram os critérios de inclusão: uma
guideline, duas RS com MA e um estudo caso-controlo(CC).
A guideline refere que a ingestão de lacticínios, particularmente leite desnatado, pode
estar associada a uma maior probabilidade de acne. Não foi encontrada associação com
ingestão de iogurte ou queijo (SORT B).
Uma RS com MA mostrou que ingestão de lacticínios, em particular leite magro
(exceto queijo), estava associada à acne (Nível Evidência(NE) 2).
A segunda RS com MA concluiu que parece existir uma associação entre o consumo
de leite (especialmente leite desnatado) e o desenvolvimento de acne (NE 2).
O estudo CC mostra que parece existir uma associação dose-resposta leite-acne (NE
2), não encontrando relação entre iogurte e acne.
Discussão:
Concluindo, parece existir uma associação entre o consumo de leite e
desenvolvimento de acne. Porém, a evidência é controversa relativamente a outros lácteos
pelo que são necessários mais estudos que clarifiquem esta relação.
Emergência no Centro de Saúde, e agora?
Joana Paço; Teresa Raposo; Catarina Pinhão
USF Andreas
Introdução:
A abordagem a situações de emergência, não é o principal cenário diário nos
cuidados de saúde primários (CSP), mas é uma realidade para que todos os profissionais
de saúde devem estar habilitados. Importa adequar os meios e manter os profissionais
treinados. Idealmente, os elementos devem manter atualizados os cursos de SBV/SAV,
devendo ainda haver planos de atuação adaptados à realidade dos CSP. Periodicamente,
devem ser realizados simulacros.
Objetivos:
Apresentar um simulacro de emergência médica nos CSP, de forma a treinar e avaliar
competências, envolvendo essencialmente médicos, enfermeiros e secretários clínicos.
.
Pertinência:
Simulacros periódicos permitem aferir o grau de prontidão das equipas, debater e
melhorar os protocolos de atuação. Permitem adequar os materiais existentes e colmatar
eventuais falhas detetadas.
Descrição:
O simulacro foi organizado por uma assistente graduada e três internas de formação
especifica de MGF. Foi realizado em três USFs pertencentes ao ACeS Oeste Sul (ARS LVT).
Este projeto envolveu um total de 27 médicos, 22 enfermeiros, 18 secretários clínicos, 2
seguranças e 2 auxiliares de limpeza, distribuídos pelas três USFs. Os objetivos e
competências a cumprir foram adaptados a cada grupo profissional.
Recorreu-se à utilização do método de TOSCE – Team objective structured clinical
examination. Foram escolhidos três cenários de emergência passíveis de se apresentarem
nos CSP.
Os participantes foram divididos em equipas multiprofissionais sendo estas expostas
a cada caso clinico.
O seu desempenho foi avaliado através de observação direta e preenchimento de
uma checklist. No final, foi realizada uma apresentação para revisão teórica com espaço
para debate.
Discussão:
Estes exercícios permitem rever conceitos, atualizar protocolos de atuação, aferir o
material disponível nos carros de emergência e agilizar a atuação da equipa, promovendo a
eficiência de atuação num cenário real, podendo traduzir-se em vidas salvas. Assim,
pareceu-nos relevante a partilha de forma a estimular a sua realização noutros locais.
Quando um mal nas costas não vem só!
Eduardo Sousa; Filipe Bacalhau; Joana Amaral
USF Amora Saudável
Enquadramento:
A lombalgia constitui um motivo frequente de consulta nos Cuidados de Saúde
primários (CPS), cuja abordagem se prende primariamente com a exclusão de sinais de
gravidade, uma vez que na maioria dos casos se trata de patologia não maligna.
O Mieloma Múltiplo (MM) resulta da proliferação maligna de um único clone de células
plasmocitárias, representando 10-20% de todos os tumores hemáticos. A tétrade clínica
clássica do MM é composta por anemia, alterações da função renal, hipercalcémia e lesões
ósseas (líticas).
Quando se individualiza um tumor sólido deste espectro das gamapatias monoclonais
denomina-se de plasmocitoma.
Descrição do caso:
Mulher, 60 anos, com antecedentes pessoais de tuberculose pulmonar (TP),
ooforectomia unilateral e histerectomia total, mamoplastia com colocação de próteses.
Negava medicação habitual.
Referia quadro de dorsalgia com 3 meses de evolução, irradiação bilateral
inframamária, refractária à terapêutica, motivando numa única semana 3 episódios no
serviço de urgência (SU) hospitalar. Realizou radiografia de tórax que revelou lesões
cicatriciais de TP e hipotransparência na base esquerda.
A médica de família pediu tomografia computorizada (TC) torácica e estudo
radiológico da coluna dorsal, destacando-se redução dos espaços intersomáticos dorsais e
lesão lítica ao nível de D5. Perante estes resultados, a doente foi encaminhada para o SU
ao cuidado da Neurocirugia, tendo sido submetida exérese de tumor que se relevou um
plasmocitoma, corroborando posteriormente o mielograma e a electroforese de proteínas o
diagnóstico de MM. Para estadiamento foi realizada Tomografia por Emissão de Positrões
(PET), identificando-se na mama esquerda foco hipercaptante posteriormente diagnosticado
como carcinoma invasivo.
Discussão:
O seguimento continuado pelo médico de família constituiu, particularmente neste
caso, um elemento fundamental ao diagnóstico de uma patologia (MM) cujo sintoma mais
comum, a dor óssea, coincide com um dos principais motivos de consulta nos cuidados de
saúde primários.