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Livro de Resumos 7as Jornadas

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Ouve os conselhos do teu Médico de Família,

ele conhece-te bem!

Ana Marinho; Marta Freitas

USF Cova da Piedade

Enquadramento:

O Síndrome hemolítico-urémico (SHU) caracteriza-se por anemia hemolítica

microangiopática, trombocitopenia e lesão renal aguda. O SHU é de difícil distinção com a

púrpura trombocitopénica trombótica (PTT), pela semelhança na apresentação clínica.

Descrição do caso:

Utente do sexo feminino, 22 anos, antecedentes pessoais de sífilis tratada há 5 anos.

Gravidez vigiada na USF (IO 1001), com perfil tensional normal, análises e urina sem

alterações. Parto às 39s+4d, por cesariana por paragem progressão trabalho de

parto/suspeita de coriamnionite, realizando antibioterapia intra-parto. Ao 5º dia pós-parto, no

contexto de realização do teste de Guthrie da sua filha na USF, detetada palidez cutânea na

utente pelo seu médico de família. Esta relatou que nos últimos dias havia notado tonturas,

náuseas, vómitos, cefaleia occipital, acufenos com agravamento com mudanças de posição.

No exame objetivo destacava-se palidez cutânea, sem petéquias ou outras alterações.

Pediu-se controlo analítico urgente, o qual a utente não realizou. Três dias depois, recorreu

a consulta no atendimento complementar, deparando-se por coincidência com a sua

enfermeira de família. Esta, ao ver o seu tom pálido e o seu mau estado geral, aconselhoua

a dirigir-se ao serviço de urgência (SU).

Deu entrada no SU com as mesmas queixas que havia relatado ao seu médico de

família, apenas notando um aumento progressivo do cansaço. Dos exames complementares

pedidos a salientar anemia hemolítica microangiopática, (Hb 3,5g/dL, LDH 2900UI/L e

esquizócitos no esfregaço de sangue periférico), trombocitopenia (91.000/uL), lesão renal

aguda (ureia 177, creatinina 3mg/dl), PCR 10mg/l, exame sumário de urina com hematúria

e leucocitose. Realizou ainda ecografia ginecológica e TC abdominopelvico, destacando-se

hepatoesplenomegalia, sem outras alterações.

Por suspeita de microangiopatia trombótica (SHU/PTT pós-parto) foi internada para

investigação e tratamento, tendo realizado plasmaferese urgente e corticoterapia com

prednisolona 60mg/dia e um total de 3UCE com resposta transfusional. Durante o

internamento realizou hemoculturas que se revelaram estéreis; ADAMTS 13 (Ac IgG normal,

atividade 911ng/mL); estudo imunológico com complemento, EPS, ANA, dsDNA e ANCA

negativos; serologias virais (Hep B e C e VIH) negativas. Por melhoria progressiva com

resolução da lesão renal, da trombocitopenia e da anemia, teve alta, mantendo seguimento

em consulta de nefrologia. Atualmente a fazer desmame de corticoide, medicada com

antihipertensor e a aguardar estudo genético de SHU atípico.

Discussão:

Os Cuidados de Saúde Primários são os pilares do sistema de saúde, sendo o médico

de família muitas vezes a porta de entrada para os cuidados de saúde e o principal gestor

do percurso do doente no sistema de saúde.

Este caso clínico pretende ilustrar que o facto de o médico de família conhecer bem

os seus utentes, e estar acostumado a ver utentes saudáveis, faz com que este seja um bom

triador, conferindo-lhe competência na avaliação da gravidade da doença.

Além disso, pretende ainda salientar o papel do MGF na suspeição de patologias

menos comuns, bem como focar a sua importância na orientação adequada dos utentes.

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