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Síndrome da Veia Cava Superior: um caso clínico
Clélia Gonçalves; Mariana Pereira; Ana Catarina Henriques
USF Vista Tejo
Enquadramento:
A Síndrome da Veia Cava Superior (SVCS) refere-se a um conjunto de manifestações
que ocorrem quando há diminuição ou obstrução do fluxo venoso através da veia cava
superior (VCS) devido a trombose ou compressão extrínseca. A grande maioria (60 a 85%)
são de etiologia maligna. Apesar de menos frequentes, as SVCS de causa benigna
aumentaram nas duas últimas décadas sobretudo pelo aumento exponencial de
procedimentos endovenosos. Entre as causas malignas mais frequentes, a neoplasia do
pulmão é responsável por 80% dos casos, seguindo-se os Linfomas Não-Hodgkin (15%) e
a doença metastática. Aproximadamente 2 a 4% dos doentes com neoplasia do pulmão
desenvolvem SVCS em algum momento da doença. A SVCS é mais frequente no Carcinoma
Pulmonar de Pequenas Células (CPPC), ocorrendo em cerca de 10% dos casos.
Descrição do caso:
Doente do sexo feminino, 61 anos, com antecedentes de tabagismo (80 Unidades
Maço Ano) e esofagite, recorreu à consulta a 14/01/2019 por vómitos, enfartamento e perda
de peso com 5 meses de evolução. Referia cansaço fácil e dor no hemitórax direito, que
agravava com a inspiração. A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) de 09/11/2018 mostrava
estase gástrica e suspeita de esófago de Barrett. Foi referenciada a consulta de
gastrenterologia e pedida TC Tórax. A consulta foi recusada com a indicação de repetir EDA.
Por persistência das queixas, dirigiu-se ao Serviço de Urgência (SU) a 21/02/2019.
Analiticamente apresentava anemia, leucocitose, PCR elevada e leucocitúria, tendo sido
assumido diagnóstico de ITU e iniciada antibioterapia. Regressa à consulta a 27/02/2019 por
agravamento do cansaço, dispneia para pequenos esforços, tonturas e edema da face. A
TC Tórax revelou consolidação justa-mediastínica e adenopatias mediastínicas paratraqueais
direitas e troncos supra-aórticos. A EDA de repetição revelou uma gastrite antral.
Apesar da recomendação, recusou ida ao SU. Foi reavaliada a 01/03/2019 por agravamento
dos sintomas, referindo nesta fase disfagia, ortopneia e engasgamento fácil. À observação
destacava-se circulação colateral venosa na metade superior do tórax, protrusão palpebral
e ingurgitamento dos vasos cervicais. Encontrava-se polipneica, com saturação periférica de
oxigénio de 92%. Foi referenciada ao SU por suspeita de SVCS, que se confirmou, ficando
internada. Diagnosticado CPPC, mantém acompanhamento em consulta de Pneumologia e
Oncologia.
Discussão:
O diagnóstico suspeito da SVCS baseia-se na anamnese e exame objetivo. As
manifestações mais características e que exigem um elevado índice de suspeição são
frequentemente insidiosas, podendo surgir por um período de dias ou semanas. O Médico
de Família (MF) depara-se regularmente com sinais e sintomas que poderão traduzir
patologias mais graves e potencialmente malignas. O presente caso pretende demonstrar a
importância do MF na avaliação e integração de queixas inespecíficas, evolução da doença,
diagnóstico diferencial e orientação da marcha diagnóstica. Devido ao prognóstico
reservado, e tendo por base a evidência de que doentes com SVCS resultante de CPPC
vivem menos de 24 meses, é também importante destacar o papel do MF no suporte a
providenciar a nível pessoal e familiar.