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Da fratura à Artrite Reumatoide
Luísa Margarida Pereira Lopes Rodrigues; Ana Luísa Mendonça Rodrigues;
USF Andreas
Enquadramento:
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença autoimune, inflamatória, sistémica e crónica
caracterizada por sinovite periférica e múltiplas manifestações extra-articulares. Segundo
dados do EpiReumaPt 2011-2013, a sua prevalência em Portugal é de 0,7% sendo 1,1%
nas mulheres e 0,3% nos homens. A apresentação clínica, gravidade e prognóstico é muito
variável, sendo a apresentação mais frequente uma poliartrite simétrica das pequenas e
grandes articulações com caráter crónico e destrutivo, podendo levar a limitação funcional e
deterioração da qualidade de vida. Desconhece-se a etiologia da doença, mas o seu
aparecimento é influenciado por fatores hormonais, ambientais e imunológicos em indivíduos
geneticamente suscetíveis. Vários autores reconhecem, ainda, o trauma físico como
possível fator predisponente. Este caso clínico relata uma situação de um utente com
sintomatologia muito sugestiva de AR, que teve início poucos meses após fraturas ósseas
dos membros superiores.
Descrição de caso:
Doente do sexo masculino, 65 anos, raça caucasiana, reformado de vendedor de loja,
pertencente a família nuclear na fase VIII do ciclo de vida de Duvall. Tem como antecedentes
pessoais hipertensão arterial (HTA), rinite alérgica, excesso de peso e escoliose lombar de
provável etiologia adquirida, sendo ex-fumador desde 2017. Realizava a seguinte medicação
crónica: omeprazol, loflazepato de etilo, olmesartan+amlodipina. Em maio de 2017 sofreu
um acidente que resultou em fraturas concomitantes do escafoide direito e da tacícula radial
bilateral, tendo sido submetido a terapêutica conservadora. Em junho de 2017 recorreu ao
médico de família (MF) no contexto de consulta de HTA onde referiu um quadro de queixas
articulares ao nível do cotovelo direito com calor, edema, rubor, dor, alteração da mobilidade
com impossibilidade de realizar a extensão completa do membro. No início de outubro de
2017 apresentava edema poliarticular (mãos, ombro, pés, joelhos) com dor de ritmo
inflamatório associada, desde há 3 meses, que aliviava com a toma de AINEs per os, pelo
que se pediram análises com estudo reumático. No final de outubro de 2017 volta à consulta
para reavaliação e mostrar o estudo analítico que revelou uma Velocidade de Sedimentação
de 45 mm/h, Proteína C Reativa Ultra Sensível de 1,4 mg/L e Fator Reumatoide de 1024.
Tendo em conta os resultados ajustou-se a medicação e referenciou-se para consulta
hospitalar de reumatologia onde se confirmou o diagnóstico de artrite reumática seropositiva
com anti-CCp positivos e geodos/geódica. O utente mantém-se medicado e estável, com
seguimento no MF e Reumatologia.
Discussão:
A AR é uma doença três vezes mais prevalente no sexo feminino e ocorre normalmente
entre os 30 e os 50 anos, mas pode ser diagnosticada em qualquer idade. Neste caso clínico,
o utente do sexo masculino com 65 anos apresentava sintomatologia sugestiva de AR, logo
após episódio de traumatismo ortopédico com fratura dos membros superiores. A relação
entre trauma físico e desenvolvimento de AR mantém-se controversa apesar de vários
estudos publicados. O MF é um interveniente importante no diagnóstico e orientação destes
doentes que devem ser acompanhados com o apoio de equipa multidisciplinar e de forma
personalizada.