Revista da Misericordia #42
Comunicar foi o tema explorado, num conjunto de textos que refletem os desafios e a importância da comunicação nos dias de hoje, na dimensão individual e/ou organizacional.
Comunicar foi o tema explorado, num conjunto de textos que refletem os desafios e a importância da comunicação nos dias de hoje, na dimensão individual e/ou organizacional.
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O ALFABETO
EM CÓDIGO
MORSE
editorial Comunicar
por José dos Santos Pinto provedor
A comunicação verbal depende da palavra escrita ou falada. A palavra é muito mais do que simples fonética ou
semântica. O seu significado está copulado a uma experiência de vida emocional individual. Para a comunicação a
maior barreira não é a falta de habilidade verbal, mas a falta de compreensão da experiência emocional com as
palavras. A linguagem de duplo sentido torna a relação altamente confusa. Quando alguém diz que ama, mas não ama,
que pode, mas não pode, que confia, mas não confia, que é, mas não é, as consequências podem ser sentidas nos
desvios de personalidade, nos sintomas de doenças, nos distúrbios matrimoniais e em atritos no trabalho. Para uma
comunicação eficaz, a palavra precisa de ter valor. E a palavra sem valor não passa de sons perdidos no vácuo. O valor
da palavra está no ato de falar e de fazer. A ação valida a palavra. A palavra não validada é uma palavra desrespeitada.
Por isso, é muito comum frases como: “Eu já disse várias vezes, mas não vale de nada”; “É uma perda de tempo falar”. A
palavra só deve ser dita quando houver disposição para a acompanhar com a ação que ela expressa, com as
consequências nela implícitas. Caso contrário é melhor não falar para não ser humilhado.
Quem fala e não cumpre rebaixa-se aos olhos dos outros, perde autoestima e incapacita-se para resolver problemas e
conflitos. Resumindo, a vida do ser humano depende da relação, a relação depende da comunicação, a comunicação
depende da palavra, a palavra depende do valor e o valor depende da ação e do respeito.
A comunicação faz-se em quatro tempos: expressar, ouvir, interpretar e devolver. Aprender a comunicar é aprender a
revelar sentimentos e pensamentos com clareza. Deixar de expressar sentimentos com culpa, raiva, medo e mágoa, pode
bloquear a comunicação. A comunicação eficaz nada mais é do que o exercício da boa vontade no ouvir e no falar,
requer tempo e exige calma. Se falhamos na comunicação, não é por ignorância, incompetência ou falta de habilidade,
mas porque não queremos comunicar, e não comunicamos porque estamos feridos. O sentimento é que sufoca a
vontade. A comunicação funcional fundamenta-se na honestidade da mensagem que facilita a compreensão e alimenta a
confiança. Ela conduz à entrega que alimenta a intimidade e facilita o crescimento rumo à solução dos problemas. Pela
comunicação eficaz crescemos em comunhão, formamos uma comunidade e florescemos no amor. Na verdade,
construímos a base para uma vida com menos conflitos.
SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A CARLOS DANIEL - JORNALISTA RTP P.06 / 136º
ANIVERSÁRIO DA INSTITUIÇÃO P.12 / UNIDADE DE LONGA DURAÇÃO E MANUTENÇÃO - 1º
ANIVERSÁRIO P.14 / PLANO DE ATIVIDADES E ORÇAMENTO 2022 P.16 / ASSEMBLEIAS GERAIS
- APROVAÇÃO DO RELATÓRIO E CONTAS 2020 E PLANO ATIVIDADES 2022 P.20 / COMUNICAR
COM O CLIENTE P.21 / A COMUNICAÇÃO EXTERNA DE ORGANIZAÇÕES DE TERCEIRO SETOR
- PONTO DE PARTIDA E PONTO DE CHEGADA P.22 / COMUNICAR COM TODOS E SOBRE TUDO
P.24 / COMUNICAR É UMA ARTE A ARTE DA RELAÇÃO P.26 / ONDE TUDO COMEÇA E ACABA
NA HUMANIZAÇÃO DAS NOSSAS ORGANIZAÇÕES P.31 /// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE /
ENVELHECER ATIVAMENTE - PRÉMIO BPI FUNDAÇÃO “LA CAIXA” P.33 / CENTRO DE EMERGÊNCIA
IRIS - NÚMEROS QUE DIZEM O PROJETO P.36 / COMUNICAR ATRAVÉS DOS CUIDADORES
INFORMAIS P.40 / COMUNICAR NA DEMÊNCIA P.42 / SHARING IS CARING P.45 / OS DESAFIOS
DA COMUNICAÇÃO VIRTUAL P.46 /// AÇÃO EDUCACIONAL / O IMPACTO DA PANDEMIA
NO DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM E FALA DAS CRIANÇAS P.48 ///
SAÚDE / ENFERMAGEM - ARTE DE ESCUTAR O UTENTE P.51 / COMUNICAR NA SAÚDE P.52 ///
FORMAÇÃO/GRH / AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DOS/AS COLABORADORES/AS - CONSIDERAR
QUEM NOS CONSIDERA P.54 / FLEXIBILIDADE E APRENDIZAGEM CONTÍNUA - CHAVES PARA
O SUCESSO P.56 /// CULTURA / MOUSIKÉ - AQUELE MOMENTO P.58 / A FOTOGRAFIA E O
PERCURSO ATÉ AO SEU SIGNIFICADO P.62 / POEMAS P.66 /// REVELAÇÕES JOSÉ SANTOS P.68
2010/CEP.3635
PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS
// SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES ANDREIA MACEDO // ANA ALVARENGA // ÂNGELO
VALENTE // CARLA CABRAL // CARLA NOGUEIRA // CÉU MACHADO // FÁTIMA FLORES // GILDA TORRÃO // JOANA
ANDRADE // JOANA FREITAS // JOÃO LOUREIRO // JOSÉ PINTO // LILIANA SALGADO // MANUELA CARNEIRO
// Mª ALICE RODRIGUES // Mª JOÃO FERNANDES // MARINE ANTUNES // MARTA PIAIRO // MIGUEL DIAS //
MIGUEL MOUTINHO // SARA A. SOUSA // SOFIA MOITA // SOFIA NUNES // SOFIA PEREIRA // SUSANA MOURA
// VANESSA SILVA // VERA TORRES // TIRAGEM 1000 EXEMPLARES // EDIÇÃO DEZEMBRO 2021 // DEPÓSITO
LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN
Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.
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#42
Atualidades
ENTREVISTA A CARLOS
DANIEL JORNALISTA RTP
TUDO É TRABALHO, O SUCESSO VEM DEPOIS
Carlos Daniel é um rosto conhecido do Jornalismo. Tem um
percurso profissional com mais de 30 anos, um bonito
sorriso, uma voz marcante que nos traz notícias,
informação, mas também música. Com a Tertúlia dos 40,
um espetáculo de entretenimento que com os seus amigos
de longa data, Filipe Fonseca e João Ricardo Pateiro,
partilha histórias e belíssimas recordações dos grandes
êxitos dos anos 80/90. É apaixonado por futebol, é
comentador e publicou um livro sobre o tema. É um
homem de família, rodeado das suas mulheres, que no
fundo, são os seus grandes amores e com quem partilha
tudo.
Comunicar é um dom ou um ofício?
Seguramente que é mais um ofício, porque é aquilo que quero
acreditar que faço bem. Se tenho algum talento particular para
isso, penso que ao fim destes anos todos a carreira não me
correu mal. Depois de construir este caminho com mais de 30
anos, essencialmente tudo é trabalho, o sucesso só vem depois
disso. Acredito que há sempre algo que nos favorece no ofício
que tem a ver com as nossas características e o nosso
empenho.
Mas é um prazer trabalhar?
Se eu gosto tanto do que faço, e às vezes me custa, imagino
quem não gosta do que faz. Acordo normalmente feliz por vir
trabalhar, motiva-me fazer coisas diferentes, responder a
desafios novos, eu gosto muito da pressão do direto, do
improviso; sempre que há coisas diferentes para fazer, isso
inspira-me muito. E ter a oportunidade de fazer temas diversos,
em várias áreas – entrevistas, diretos, frente a frente, jornal –
faz com que me sinta desafiado profissionalmente e nada
acomodado.
No dia-a-dia acha que gere bem o tempo?
Costumo dizer que sou desorganizadamente organizado, pois
gosto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Tenho
dificuldade, ainda hoje, em dizer não a algumas solicitações
profissionais ou até na vida pessoal. Acabo por encontrar o
método onde me organizo, que é responder por prioridades, e
a cada momento definir o que tenho de fazer, o que é mais
relevante. O meu horário já foi mais ordenado a nível de tempo
quando apresentava o Jornal da Tarde com mais regularidade,
pois acordava sempre à mesma hora, passava cá as manhãs a
preparar tudo. Agora depende dos dias, mas trabalho sempre
muitas horas, tenho muitas deslocações Porto/Lisboa quer por
causa do programa “É Ou Não É” ou devido ao meu lugar na
Direção que acaba por acarretar mais reuniões. A verdade é
que gosto de ter o tempo ocupado.
É um homem de família, rodeado de mulheres. É o “rei da
casa”?
É precisamente ao contrário, sou eu que decido menos porque
sou democrata e os democratas acreditam na força das
maiorias e eu lá em casa estou em minoria (risos). Claro que
estou a ironizar. Eu e a minha mulher sempre conseguimos que
a nossa vida não tivesse a ver com o facto de ser uma figura
pública e em casa sou tão importante como ela e as minhas
filhas; às vezes até acho que elas não me valorizam
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Atualidades
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Atualidades
ENTREVISTA A CARLOS
DANIEL JORNALISTA RTP
devidamente (risos). Nos momentos de família, a quatro, damos
mais importância ao que estamos a fazer. Somos como todas as
famílias, há momentos em estamos mais felizes do que outros.
Tenho imenso orgulho nas minhas filhas e na minha mulher.
O futebol, o jornalismo e a música são amores ou paixões?
São todos interesses importantes da minha vida. Claro que é
mais fácil estar apaixonado pela música e pelo futebol do que
pela política, mas eu gosto imenso da área. São relações que
se estabelecem; são mais racionais aquelas que desenvolvemos
com a realidade política e
económica. Eu passei a racionalizar
mais o futebol a partir do momento
que comecei a fazer mais análise e
não tanto apenas notícia ou
entrevista; com a política racionalizo
sempre mas é importante que a
valorizemos. Já a música é mais fruição, prazer. São as músicas
antigas que me emocionam; eu não choro com muita
facilidade, mas sou capaz de ter as lágrimas nos olhos com
uma canção, às vezes é uma memória que não sabemos bem
qual é, mas está ali escondida atrás daquela melodia, daquela
letra.
Licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, mas acabou por não fazer formação
superior em Jornalismo, nunca viu isso como uma lacuna?
No ano em que fui para a Rádio Comercial, foi o ano em que
entrei para a faculdade. Acabei por optar por fazer um curso
no Porto e procurei um que acreditei me pudesse dar um
leque de conhecimentos mais amplo. Não acho que seja uma
lacuna pois a técnica jornalística aprende-se muito rápido.
Quem for atento, empenhado, consegue captar rápido. É saber
como escrever uma notícia, como fazer um direto. O que
aconselho sempre a toda a malta mais nova que começa nisto
é que a melhor escola é olhar em volta e perceber que está ali
alguém que faz melhor que eu isto, como é que se faz, e aí
vamos encontrar o nosso caminho. E depois a base do
jornalismo é o conhecimento e esse tem de ser amplo; o
jornalista é um generalista e acho que a Sociologia me deu
oportunidade de voltar a estudar
Inglês, História, Estatística. Depois
de fazer o curso na Faculdade de
Letras, dois ou três anos depois,
fui convidado para ser professor
na Universidade do Minho e já
tinha os meus trabalhos na área
da sociologia direcionados na vertente do jornalismo. A minha
tese de fim de curso já foi sobre os telejornais e os
alinhamentos das notícias. Frequentei o mestrado na
Universidade de Coimbra, fiz a parte curricular, falta-me a
tese, foi no ano que fui para Lisboa, para a SIC, e acabei por
desistir. Depois fui fazer doutoramento na Universidade do
Minho, já com mais anos de carreira, com outro trajeto, conclui
a parte curricular mas chegou a parte da tese e coincidiu com
o período em que fui convidado para a então RTPN, voltei a
adiar. Não há hipótese de ter uma carreira tão absorvente, ter
uma vida, eu gosto de viver para além da televisão, de estar
com a família, com os amigos, gosto de cantar, de ir ao futebol
e assim é impossível fazer uma tese com “pés e cabeça”.
Acho que a informação chega a toda a
hora a mais gente. Mas não temos gente
informada em tanta profundidade (...)
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Atualidades
Em 30 anos de experiência que diferença encontra nos
media. As pessoas estão mais informadas, mais
atualizadas?
Eu tenho dificuldade em ter uma resposta. As pessoas têm
muito mais informação disponível e tenho a sensação que
recebem muito menos informação do que a que tinham.
Recebem os alertas através dos telemóveis, quase todos têm um
smartphone, mesmo os mais humildes, com menos recursos, é
um dos utensílios que ninguém dispensa. Acho que a
informação chega a toda a hora a mais gente. Mas não temos
gente informada em tanta profundidade porque se atomizou e
fragmentou muito a forma como a informação chega, quer na
televisão, nos jornais, mas também nas redes sociais, no
Instagram, no Twitter, ou no Facebook. Há aquelas pessoas
que só vêem determinados canais, outras nenhuns, umas que
só procuram entretenimento, outras apenas informação. Hoje
em dia somos diretores de programas de nós próprios. Uma
das maiores diferenças do ponto de vista do consumo é esta, a
responsabilização cada vez maior do recetor. Temos mais
informação disponível, selecionamos nós aquela informação
que queremos ver, ao passo que quando comecei no
jornalismo, os media tinham uma obrigação exclusiva de
seleção, de darmos às pessoas os alinhamentos das notícias
que considerávamos mais importantes.
Acha que as Misericórdias deveriam comunicar mais e
melhor a sua missão? A sua imagem continua, quase
exclusivamente, associada à terceira idade?
Acho as duas coisas, a sua imagem pública é muito associada
aos lares e à terceira idade, e devia comunicar mais, até para
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Atualidades
ENTREVISTA A CARLOS
DANIEL JORNALISTA RTP
fugir daquelas circunstâncias que são o momento crítico à volta
das residências de idosos, das doenças ou dos surtos. Vivemos
um período particular que é difícil conseguir, isso porque
objetivamente as coisas são notícias pela atualidade em si.
Acho que existem outros espaços em que se pode chegar às
pessoas sem ser o jornalismo. Estou a pensar em programas em
que pessoas que com o seu conhecimento são um contributo
para um público que não é tanto o que consome os noticiários,
mas que precisa dessa informação. E a verdade é que a
informação não chega apenas através dos jornalistas.
Há pessoas que o inspiraram?
Inspiram-me 2 tipos de pessoas, as que querem que este seja
um mundo melhor e as pessoas inteligentes que me motivam,
nem que seja numa boa conversa num café. Podem ser o
Aristides Sousa Mendes, o Papa Francisco ou o Nelson
Mandela, mas também pode ser um amigo que encontro e que
me fala de livros, música, futebol ou de filmes. Nunca tive um
herói de infância, sem ser jogadores de futebol, ou cantores.
Agora os heróis de carne e osso são o meu pai, a minha mãe,
de quem me orgulho muito.
“Só me arrependo do que não fiz” é
uma velha máxima sua. Há alguma
coisa que lamenta não ter feito? O
que ficou por concretizar?
Há coisas que eu gostava de ter feito,
como ter escrito um livro de ficção, mas
tenho um certo pudor, porque há
demasiada gente a escrever e sobretudo há pessoas que o
fazem extraordinariamente bem, decerto com mais talento que
eu para isso. Também me falaram muitas vezes numa carreira
de treinador de futebol, mas isso ou teria acontecido muito
mais cedo, e poderia ter acontecido se outros fossem os
tempos, ou forçaria uma mudança de carreira que obviamente
não faz sentido aos meus olhos e com esta idade. A vida podia
ter-me levado, em algum momento, para outro caminho mas
não surgiu essa opção. Não tenho, no entanto, nenhum
arrependimento, são simplesmente coisas que poderiam ter
acontecido e não aconteceram, como a toda a gente.
Acho que existem outros espaços
em que se pode chegar às pessoas
sem ser o jornalismo.
Acha que é uma pessoa inspiradora?
É engraçado que com a idade surgem
mais pessoas na vida, nomeadamente
na minha área, no jornalismo, que me
dizem “eu quis ser jornalista por causa
do Carlos Daniel”. E eu respondo a
brincar “eh pah, não me ponham essa
responsabilidade”, mas assumo que é uma sensação muito
simpática. •
POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)
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Atualidades
DESAFIO
ESCOLHA UMA MÚSICA PARA DESCREVER
Estes quase 2 anos de pandemia
“Let it Be” dos Beatles
Situação económica e política do país
“Amanhã é Sempre Longe Demais”, dos Rádio Macau
Este Natal
“Driving Home for Christmas” de Chris Rea
Desejos para o próximo ano
“Saudades do Futuro”, do Camané
EM POUCAS PALAVRAS
Um livro
Ernest Hemingway – “Por Quem os Sinos Dobram”
Uma viagem
Argentina e Chile
Um lugar
A minha casa
Um prato
Rojões à moda do Minho
Uma aventura
Ver as baleias nos Açores
Um desejo
Ser feliz com os meus, o mais tempo possível
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Atualidades
136º ANIVERSÁRIO DA
INSTITUIÇÃO
Sinalizou-se uma vez mais a comemoração do aniversário
desta instituição. Apesar das restrições, é sempre
importante lembrar este dia e saber agradecer: aos
presentes e aos ausentes, que deixaram um legado e uma
missão conduzida, na atualidade, por esta grande família
que inclui órgãos sociais, colaboradores, utentes e seus
familiares, irmãos e voluntários.
Houve lugar à homenagem ao nosso instituidor, Conde S.
Bento, bem como a uma Eucaristia celebrada na Capela da
Misericórdia. Ali o passado fez-se presente através da junção
da 1ª bandeira com uma árvore colocada sobre si
representando, simbolicamente, os colaboradores, utentes e
valências. Nomes que são rostos e que também são vidas.
Porque, conforme referiu o Pe. Luis Mateus “não somos um
lugar qualquer, não lidamos com pessoas quaisquer e temos
que ir fazendo a diferença.”
Esta celebração estendeu-se à comunidade e às diferentes
estruturas residenciais através da transmissão direta pelo
Facebook, onde decorreram festejos, mais uma vez simbólicos,
a parabenizar os 136 anos de vida. Cada equipa na respetiva
valência, mas unida na mesma raiz da árvore: a Misericórdia
de Santo Tirso. •
POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)
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Atualidades
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#42
Atualidades
UNIDADE DE LONGA
DURAÇÃO E MANUTENÇÃO
1º ANIVERSÁRIO
No dia 10 de novembro de 2021 assinalou-se o primeiro
aniversário da Unidade de Longa Duração e Manutenção
“Comendador Alberto Machado Ferreira”. A celebração
desta data teve um significado especial, pois foi uma obra
projetada para 12 meses, conseguindo cumprir-se com o
prazo de execução que decorreu durante todo o complexo
período de pandemia de 2020.
As palavras de agradecimento a toda a equipa “pela
dedicação que faz a diferença” foram dadas pelo Provedor da
instituição, José Pinto, bem como pela Coordenadora da
Unidade, Marta Ribeiro.
Para além da equipa da ULDM, a celebrar este momento
marcaram igualmente presença Diretores, Coordenadoras de
diferentes valências, entre outros Colaboradores da
Misericórdia, que parabenizaram e brindaram à continuidade
do sucesso desta unidade de saúde. •
POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)
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Atualidades
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#42
Atualidades
PLANO DE ATIVIDADES E
ORÇAMENTO 2022
“Não é a força ou a sorte, mas o empenho, a
determinação e a persistência que nos conduzem ao
sucesso.” (Autor desconhecido)
Em 2021, dissemos que cada novo ano é um desafio, mas
que tem contornos incaracterísticos. Em 2022, esperamos
poder voltar à plena normalidade, retomando as rotinas
numa perspetiva mais renovada.
É com empenho, determinação e persistência que vamos
encarar mais um novo ano, prosseguindo na promoção
de respostas e iniciativas adequadas à prossecução dos
nossos fins e às necessidades diagnosticadas na
comunidade. Vamos contribuir para o desenvolvimento
local e a proteção de grupos sociais mais vulneráveis,
sempre direcionados para a melhoria da qualidade dos
serviços prestados à comunidade, atualizando o modelo
de gestão organizacional e potenciando a melhoria
contínua junto dos nossos colaboradores, parceiros e
entidades envolvidas na nossa ação. Pretendemos, deste
modo, manter o reconhecimento como entidade
preponderante nas áreas em que intervimos, sem
descurar o respeito pela dignidade humana, a ética, a
responsabilidade e a competência profissional.
Este espírito tem-nos conduzido a uma dinâmica que se
reflete no crescimento institucional e, consequentemente,
numa maior necessidade de recursos. É, pois,
fundamental apostar em atividades geradoras de fundos
que possam vir a ser canalizados para o setor social.
Neste contexto, daremos continuidade à remodelação e
reabilitação do Bairro da Misericórdia, concluindo 6
moradias de Tipologia T2 e encetaremos diligências
com vista ao possível início de trabalhos nas restantes 6.
Dado o ano conturbado de 2021, não estiveram abertas
candidaturas ao Fundo Rainha D. Leonor. Em 2022,
esperamos avançar com o projeto para obras de
remodelação e recuperação da nossa Capela.
Na senda encetada pela Mesa Administrativa em
2014, iremos, mais uma vez, durante o ano de 2022,
alertar o Estado Português e o poder autárquico
tirsense para a existência do “TERMO DE
TRANSAÇÃO” celebrado entre a nossa Misericórdia e
o Estado Português, datado de 13 de fevereiro de
2004, no qual ficou acordado que as Quintas do
Mosteiro, propriedade desta Santa Casa, arrendadas
ao Estado com duração efetiva limitada para nelas
funcionar a Escola Profissional Agrícola Conde S.
Bento, terão de ser entregues à Misericórdia, livres de
pessoas e coisas, a 31 de dezembro de 2025. Assim
sendo, é tempo de haver, por parte destas entidades,
uma clarificação do seu posicionamento sobre o assunto.
Mais, relembrar que nesse documento assinado pelas
partes no Tribunal Judicial de Santo Tirso (2.º Juízo Civil),
na data acima referida, ficou acordado que todas as
obras de que os prédios careçam, quer de conservação
ordinária, quer extraordinária, ficarão a cargo do Estado,
sem que este, findo o contrato, possa reclamar
benfeitorias que ficarão a pertencer aos prédios.
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Atualidades
Por último, frisar que o “Mosteiro de Santo Tirso”, onde
aos prédios das referidas quintas se integram, é desde
1910 Monumento Nacional.
Na área da Saúde, concluída a Unidade de Cuidados
Continuados de Longa Duração “Comendador Alberto
Machado Ferreira”, esperamos poder dar início a uma
nova tipologia da Rede Nacional de Cuidados
Continuados Integrados, mais concretamente uma
unidade piloto de autonomia e promoção da saúde,
com capacidade para 30 utentes.
Estas unidades estão contempladas
no Plano de Recuperação e
Resiliência – PRR – Investimento
RE-C01-i02 – Rede Nacional de
Cuidados Continuados.
Após um estudo de viabilidade
económico-financeira e de mercado para um possível
investimento na área imobiliária que contemplava a
construção de 32 apartamentos no edifício do Antigo
Liceu/1º Hospital de Santo Tirso, foi estrategicamente
decidido direcionar este espaço para uma atividade
enquadrada nos fins que prosseguimos, devolvendo-o à
sua génese. Assim sendo, propomo-nos apresentar
candidatura no âmbito do PRR a, no mínimo, três
módulos de 20 camas (60 camas), divididas entre as
tipologias de Média Duração e Reabilitação e Longa
Duração e Manutenção.
É com empenho, determinação e
persistência que vamos encarar
mais um novo ano (...)
Na área Social, continuaremos a investir na
modernização das valências, quer em termos físicos,
quer em termos tecnológicos. A disponibilização de
rede wi-fi em todas as nossos espaços é, para nós, uma
prioridade. Trabalharemos para remodelar e equipar os
espaços exteriores com mobiliário adequado, a fim de
podermos dinamizar atividades no exterior, favorecendo
o contacto com a natureza e o convívio saudável,
despertando nos utentes todos os sentidos.
A nossa responsabilidade social
também passará pela parte
ambiental e ecológica, tendo já
sido apresentada candidatura para
financiamento à aquisição de duas
viaturas elétricas para o nosso
Serviço de Apoio Domiciliário.
Ao abrigo do Programa de Celebração ou Alargamento
de Acordos de Cooperação para o Desenvolvimento de
Respostas Sociais (PROCOOP), persistiremos na
renegociação com a Segurança Social da
comparticipação financeira para o funcionamento das
respostas sociais.
Estaremos sempre disponíveis para apoiar o Estado na
implementação das suas políticas sociais e de saúde,
respondendo com determinação, inovação e
empreendedorismo a qualquer projeto ou desafio nas
nossas áreas de intervenção, desenvolvido por nós ou em
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#42
Atualidades
PLANO DE ATIVIDADES E
ORÇAMENTO 2022
parceria, como IPSS ou mediante outra entidade
legalmente constituída para o efeito.
Tal como consta no nosso Compromisso, a Misericórdia
pode prosseguir, de modo secundário ou instrumental,
outras atividades, a título gratuito ou geradoras de
fundos, para garantir a sua sustentabilidade económico-
-financeira, por si ou em parceria, que possa trazer um
retorno financeiro para ser investido no setor social.
Os/as colaboradores/as são a essência das organizações
e a forma como que se olha para o nosso maior ativo tem
uma influência direta nos objetivos a que nos propomos,
nomeadamente na resposta plena às necessidades da
comunidade que servimos. É fundamental
continuarmos a aposta na gestão de recursos
humanos, quer pela via da formação pessoal e
profissional, quer pelo aprofundamento dos
benefícios sociais e financeiros.
protocolos, ou através do mecenato, que pretendemos
dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo nosso
Grupo Coral e Grupo de Pequenos Cantores, mais
concretamente na divulgação do nome da nossa
instituição e do concelho de Santo Tirso, dentro e fora do
país.
Como sempre, estaremos disponíveis para dinamizar
atividades e eventos nas nossas estruturas (Auditório, Sala
Multiusos, Facebook, Instagram, Revista, etc.).
O empenho, a determinação e a persistência, aliados ao
permanente profissionalismo e espírito de sacrifício de
todos/as os/as colaboradores/as da nossa Santa Casa,
permitem que os nossos sonhos corram sempre o sério
risco de serem concretizados.
RENDIMENTOS 2022
A cultura também integra uma das nossas áreas de
intervenção, enquanto proprietários do maior espaço
cultural do concelho – o Auditório “Centro Eng.º Eurico
de Melo”, com capacidade para 267 lugares sentados.
Temos a responsabilidade de o disponibilizar à
comunidade, como tal pretendemos concluir a sua
remodelação e renovação com o devido envolvimento das
entidades competentes.
É também em colaboração com estas entidades,
nomeadamente por meio do estabelecimento de
OUTROS REND. GANHOS
€ 839 800,00
SUBSIDIOS À EXPLORAÇÃO
€ 3 928 000,00
JUROS E REND. SIMILARES
€ 320,00
PREST. SERVIÇOS
€ 3 967 700,00
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Atualidades
RENDIMENTOS 2022 EM %
GASTOS 2022 EM %
OUTROS REND. GANHOS
10%
JUROS E REND. SIMILARES
0%
PREST. SERVIÇOS
45%
JUROS E GASTOS
SIMILARES
0,18%
GASTOS E PERDAS DE
FINANCIAMENTO
0,09%
GASTOS DE
DEPRECIAÇÃO E
AMORTIZAÇÃO
8,17%
CUSTO MERC. VEND.
MAT. CONS.
9,34%
FORNECIMENTOS
SERVIÇOS EXTERNOS
16,52%
SUBSIDIOS À EXPLORAÇÃO
45%
GASTOS C/ PESSOAL
65,71%
GASTOS 2022
JUROS E GASTOS
SIMILARES
€ 17 000,00
GASTOS E PERDAS DE
FINANCIAMENTO
€ 8 400,00
GASTOS DE
DEPRECIAÇÃO E
AMORTIZAÇÃO
€ 773 000,00
CUSTO MERC. VEND.
MAT. CONS.
€ 884 000,00
FORNECIMENTOS
SERVIÇOS EXTERNOS
€ 1 563 700,00
Notas:
Rendimentos = € 8 735 820,00
Gastos = € 9 467 100,00
Resultado Líquido do Período= - € 731 280,00
Gastos de Depreciação e Amortização = € 773 000,00
Meios Libertos Previsionais = € 41 720,00 •
POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)
GASTOS C/ PESSOAL
€ 6 221 000,00
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Atualidades
#42
ASSEMBLEIAS GERAIS
APROVAÇÃO DO RELATÓRIO
E CONTAS 2020 E PLANO
ATIVIDADES 2022
“COmVIDa foi a principal preocupação do primeiro semestre
do ano. Depois de 2 meses de normalidade, fomos apanhados
pela pandemia e por uma crise sanitária que levou todo o
nosso foco nos quatro meses seguintes.”
in Relatório e Contas 2020
É inequívoco que não temos vivido tempos fáceis, realidade
devidamente espelhada nos relatórios submetidos à aprovação
da Assembleia Geral de Irmãos. Assim, ao abrigo dos estatutos
e durante o ano 2021, a Assembleia Geral Ordinária da
Irmandade da Santa da Misericórdia de Santo Tirso reuniu
duas vezes no Auditório, designadamente:
• No dia 22 de junho, pelas 17h30, para apreciação e
votação do Relatório e Contas do Exercício de 2020, tendo
o mesmo sido aprovado por unanimidade;
• No dia 30 de novembro, pelas 17h30, para apreciação e
votação do Plano de Atividades e Orçamento para 2022,
igualmente aprovado pela Assembleia de Irmãos ali
presente.
Nas mesmas datas das Assembleias Gerais, decorreram
ainda duas Assembleias Gerais Extraordinárias para,
respetivamente, apresentarem proposta de proclamação de
duas Irmãs, Senhora D. Rosalina F. Freitas e Senhora D.
Odete Monteiro, a Irmãs Beneméritas. Pela nobreza dos seus
gestos solidários, ambas as propostas foram aclamadas e
aprovadas pelos presentes.
Conforme habitual, tanto o Plano de Atividades e Orçamento
2022 como o Relatório e Contas do Exercício 2020 encontram-
-se para consulta em www.iscmst.pt •
POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)
#42
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COMUNICAR COM O CLIENTE
Atualidades
A Comunicação em qualquer clima organizacional constitui
uma ferramenta de gestão incontornável, que se for bem
trabalhada, poderá trazer resultados muito positivos para a
instituição, mas se a descurarmos, poderá acarretar muitos
problemas.
Para a Direção da Qualidade, a comunicação constitui um
barómetro do Sistema de Gestão da Qualidade, dado que
afere como está a ser recebido/interpretado/avaliado o serviço
prestado pela instituição.
Pelos vários meios de comunicação com o cliente percebemos
qual é a sua recetividade perante o nosso desempenho. Desde
as reclamações, aos elogios, de
modo mais formal, até aos sorrisos,
piscar de olhos e palmadinhas nas
costas, por quem retribui o que lhe
apraz demonstrar sobre o
descontentamento ou a satisfação
pelos serviços.
A Misericórdia trabalha com pessoas
e para as pessoas, e como tal, terá
que adequar a linguagem aos seus
clientes, numa postura assertiva, clara
e positiva, inspirando confiança (...)
A escuta ativa pode ajudar a melhorar os resultados
atingidos pela organização, desde que se adeque a forma
de trabalhar à opinião dos outros. Estar atento ao feedback
do cliente e alterar os procedimentos em função dessa
perceção será a chave do sucesso organizacional, muito mais
quando se trata de um domínio de cuidados pessoais. Os
questionários de avaliação da satisfação deverão ser utilizados
como instrumentos de gestão para a alteração de
procedimentos e definição de pistas estratégicas da instituição.
Um claro exemplo do respeito que a Misericórdia tem com
os clientes, pode ser espelhado na fase crítica da pandemia
em que mantivemos sempre uma
comunicação escrita sobre a
situação interna para os
familiares, mesmo em tempos
que todo o esforço institucional
estava voltado para a proteção e
segurança dos utentes.
É importante a perceção dos
prestadores de serviços à
linguagem não verbal, que será o primeiro nível de feedback
do cliente, e adaptar a forma de comunicar a esses sinais
(positivos ou negativos) fazendo os devidos ajustes à
comunicação e intervenção. A Misericórdia trabalha com
pessoas e para as pessoas, e como tal, terá que adequar a
linguagem aos seus clientes, numa postura assertiva, clara e
positiva, inspirando confiança àqueles que deixam os seus
familiares a nosso cargo ou mesmo aos clientes diretos, que
dependem dos nossos cuidados.
A pandemia obrigou-nos a explorar
novas formas de comunicação e de
interação com as famílias, de modo a prevenir consequências
graves na saúde mental dos nossos utentes.
A comunicação eficaz parte da escuta ativa dos problemas dos
outros para conseguirmos superá-los em conjunto. •
POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)
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Atualidades
#42
A COMUNICAÇÃO EXTERNA
DE ORGANIZAÇÕES DE
TERCEIRO SETOR PONTO DE
PARTIDA E PONTO DE CHEGADA
As estratégias de comunicação a apresentar e a seguir pelas
mais diferentes organizações - com qualquer enquadramento
jurídico e prosseguindo os mais diversos objetivos e fins - são
uma das prioridades atuais, bem como uma das mais
relevantes preocupações com que as instituições se deparam.
Esta preocupação transversal deve-se à importância de criar
uma imagem reconhecível e credível para o/a consumidor/a,
utente, doador/a ou simpatizante. Tal imagem é, numa
atualidade tão marcada pelo
acesso a uma elevada
quantidade e diversidade de
informação, da mais extrema
importância para a
sustentabilidade e
reconhecimento do trabalho
desenvolvido por dada
organização. Em paralelo, é
necessário divulgar, de modo
consistente e claro, aquele trabalho - o que é, também, um
desafio. Por último, assistimos a um reforço da necessidade de
aproximar as organizações às pessoas, não apenas as que
usufruem dos serviços e produtos, mas a população em geral.
Numa realidade marcada por redes sociais e contactos virtuais,
a comunicação institucional clama por um sentimento de
proximidade (e de pertença) que abarque várias necessidades.
Se tal é verdade para a generalidade dos atores económicos, é
ainda mais premente para as Organizações de Terceiro Setor
(OTS), isto é, sem fins lucrativos. Se é verdade que estas
instituições não necessitam de ceder a uma comunicação
Numa realidade marcada por redes sociais
e contactos virtuais, a comunicação
institucional clama por um sentimento de
proximidade e de pertença (...)
predatória concordante com o desejo de aumento de lucro,
também é certo que os desafios de sustentabilidade económica
motivam uma estratégia de comunicação que permita alcançar
os efeitos abordados acima. Contudo, aqui pede-se (ainda
mais) por uma comunicação consciente, respeitosa e
verdadeira. Para além da questão financeira, devemos, ainda,
relevar o que tem a ver com parcerias. Sendo este um setor
marcado pela criação de sinergias entre organizações,
cooperação e projetos
estratégicos em diferentes
territórios, torna-se imprescindível
que a comunicação externa seja
apelativa a tais parceiros, mas,
sobretudo, que a comunicação
entre eles seja eficaz e produtiva.
Acerca do primeiro caso,
relevamos as estratégias de
marketing público e social. Estas estratégias permitem que as
organizações possuam uma presença diferenciadora, por
exemplo, em redes sociais - e assim deve ser. Os objetivos, os
propósitos e - acima de tudo - a atuação das OTS são
diferenciadores face aos setores privado e público, não apenas
pela não-prossecução de lucro e proximidade às comunidades,
mas também na visão e intenção que colocam nos seus
empreendimentos. É necessário que, mesmo sem perder a
atratividade da comunicação, seja claro para a população que
estas organizações apresentam mais-valias e fatores únicos a
aportar aos territórios onde atuam. A apresentação de
testemunhos, casos de sucesso, materiais informativos,
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Atualidades
entre outros (sem perder o sentido ético) são excelentes
formas de estabelecer um contacto significativo com os/as
seguidores/as, por exemplo. A atuação em comunicação
deve, também, criar um ambiente de confiança ao redor da
organização, demonstrando a sua pertinência, proximidade
e confiança. Pensando em estratégias de comunicação que
visam a angariação de novos/as membros e de fundos, esta
questão torna-se ainda mais fulcral. Para tal, a prestação de
contas e a prova de transparência
da organização são aspetos que não
devem ser esquecidos e que
permitem à população perceber o
que é realizado pela organização,
atingido pela mesma e a forma
como, por exemplo, doações são
alocadas às diferentes atividades
desenvolvidas e o impacto que
advém de um contributo monetário.
Sobre o segundo caso, a maioria dos projetos desenvolvidos
por OTS são implementados em parceria (formal ou informal).
Assim, é compreensível a importância de chegar até aos
parceiros certos - sendo uma organização com reconhecido
valor em determinada área de atuação - mas também de saber
como manter e potenciar as boas relações institucionais, que
permitam não apenas implementar os projetos com qualidade
e dentro dos prazos previstos, mas também a continuidade da
parceria. Trata-se, aqui, da constituição e reforço de relações
de trabalho de confiança e duradouras, o que, a par da
qualidade técnica das propostas, muito influencia o impacto
(...) um elemento fulcral na
comunicação é a ligação e conexão
concreta ao território, às pessoas, às
suas necessidades e pontos fortes.
que a intervenção irá atingir. Uma comunicação clara, com
caminhos de fala estabelecidos mas flexíveis, aberta e
disponível em diferentes meios, bem como a clarificação
do papel de cada organização na parceria e a adoção de
metodologias participativas de trabalho são exemplos de
como alcançar uma proveitosa parceria.
Apesar de estes serem aspetos deveras importantes, e
relevantes para reflexão, um
elemento fulcral na comunicação é a
ligação e conexão concreta ao
território, às pessoas, às suas
necessidades e pontos fortes.
Qualquer comunicação deve ser
baseada num trabalho concreto e
mensurável - assim abrimos as
organizações à comunidade! •
POR SOFIA PEREIRA (TÉCNICA DE INTERVENÇÃO SOCIAL - AGÊNCIA PIAGET PARA O
DESENVOLVIMENTO (APDES))
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#42
Atualidades
COMUNICAR COM TODOS
E SOBRE TUDO
A Misericórdia de Pernes entende como basilar
comunicar. Comunicar para o exterior. Comunicar
para o interior. Comunicar entre equipas. Comunicar
entre os vários níveis hierárquicos. Comunicar em
todos os sentidos, onde a sua presença se faça sentir,
com todos e quase sobre tudo.
Comunicar hoje, de forma assertiva, transparente,
verdadeira, envolvente, colaborante e constante, é o
desafio! Não existe outra forma de fazer um trabalho de
proximidade e confiança, que
não passe por estas premissas.
Comunicar, num contexto de
Misericórdia, é fazer pontes,
pontes que assentem na sua
missão, com aqueles que mais
precisam de nós e com aqueles
de quem nós também mais
precisamos.
Esta pandemia fez com que a Misericórdia se
aproximasse de pessoas, instituições, entidades, através
da necessidade que tivemos de comunicar e que nos
mostrou que não somos nada uns sem os outros,
dependemos uns dos outros e, para tal, convergir e ceder
são condição para a comunicação. E esta comunicação
de tolerância é a linguagem a que todos fomos chamados
a utilizar.
Para além disso, as Misericórdias, e a de Pernes não é
exceção, para se manter atualizada ao longo dos
Os meios de comunicação digitais
são também instrumentos poderosos,
rápidos, abrangentes, globais e vitais
para a sobrevivência das Instituições.
séculos, necessita de se reinventar nessa
comunicação, que, imperiosamente, tem de ser de
aprendizagem constante e proativa. Caso contrário,
ficará parada no tempo e não poderá acompanhar o
ritmo acelerado que a sua atividade exige, em todos os
quadrantes, dando-se como exemplo, digitais, ambientais
e de políticas, sejam elas sociais, sanitárias, económicas
ou outras que visem acompanhar a cadência do mundo
em transformação que vivemos.
Neste sentido, a Misericórdia
de Pernes tem apostado em
várias formas de comunicar
para ir ao encontro do seu
plano de comunicação, que
tem como objetivo o já referido.
Assim, destacamos os
encontros entre Misericórdias,
“Mais que um Encontro, uma Partilha”, sobre várias
temáticas, que se fazem de uma forma regular, e que
visam, como o seu nome indica, aproximar
Misericórdias, perceber como é que elas atuam, numa
perspetiva de melhorar o que for preciso, ao nível das
práticas, e também dar a conhecer as que entendemos
que poderão ser consideradas de referência. A título de
exemplo, podemos falar de algumas das temáticas, em
gerontologia, comunicação, património, entre outras.
Entendemos esta atividade como uma forma de
comunicar!
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Atualidades
Os livros que publicamos servem também para comunicar
e fazer história, que, no nosso caso, versam sobre a
atualidade da Instituição e preservam a memória das
pessoas que por ela passam.
Não menos importante é a nossa publicação do Jornal A
Voz, que, semestralmente, e há mais de vinte anos, retrata
os factos mais relevantes que acontecem na Instituição.
Os nossos planos de atividades e orçamento ou relatórios
e contas, documentos estratégicos, aos quais dedicamos
particular importância, também se revelam como
instrumentos de comunicação essenciais na vida da
Instituição.
Os nossos produtos, os nossos projetos, por se terem
tornado consistentes ao longo dos anos, já se traduzem
numa marca que nos torna conhecidos, valorizados e
ímpares.
A nossa identidade, a forma como nos apresentamos aos
outros, seja pelo fardamento, seja pelo nosso caderno de
trabalho, seja pela viatura que usamos, seja pela postura
profissional, tudo comunica, por nós, aquilo que somos e
que representamos.
demonstrar-se úteis, viáveis e possíveis nos mais diversos
contextos.
Não podemos deixar de dar nota de uma mensagem que
o Papa Francisco, no âmbito do 50.º Dia Mundial das
Comunicações Sociais, a 08 de maio de 2016, há já cinco
anos, mas que se mantém atual, onde reflete sobre
comunicação e misericórdia, entendendo esta
conjugação como um encontro fecundo. Para ele, a
comunicação, boa ou má, depende do coração do
homem e da sua capacidade de fazer bom uso dos meios
de comunicação que existem ao dispor. Partilhamos desta
visão e percebemos que a melhor forma de comunicar,
pela nossa experiência, é aquela que vai de boca em
boca, através das pessoas de quem cuidamos, das suas
famílias, que nos levam a outros, que reconhecem em nós
um valor humano, justo, positivo e de oportunidades.
Queremos continuar a comunicar desta forma, nos
próximos anos deste e de outros séculos! •
POR MARIA ALICE RODRIGUES E VERA TORRES (DIREÇÃO TÉCNICA - SANTA CASA DA
MISERICÓRDIA DE PERNES)
Os meios de comunicação digitais são também
instrumentos poderosos, rápidos, abrangentes, globais e
vitais para a sobrevivência das Instituições. Já ninguém
consegue viver sem eles, que incluem não só as páginas
de Facebook, websites, mas também os webinar’s, os
contactos de emails, as videochamadas, as comunicações
via Skype, entre outras, que vieram, com a pandemia,
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#42
Atualidades
COMUNICAR É UMA ARTE
A ARTE DA RELAÇÃO
Na ASAS encaramos a Comunicação como uma arte.
Entendemo-la como a arte da relação. Porque a
comunicação, seja pessoal ou através de outros meios
(emails, carta, com recurso às redes sociais) é a forma
que encontramos para dar a conhecer, partilhando,
este nosso mundo apaixonante de DAR ASAS À VIDA.
Comunicando, informamos a comunidade (interna e
externa) de que a nossa causa - proteção dos grupos da
população desprotegidos, principalmente crianças e
jovens em perigo - infelizmente é necessária e existe, de
como no nosso dia a dia transformamos essas vidas,
tornando-as mais felizes e de como qualquer pessoa
pode fazer parte dela. De que na ASAS vivemos um
turbilhão de emoções, onde cada elemento da equipa se
apaixona ainda mais sempre que se alcança o nosso
propósito e que se vê a ASAS reconhecida pelo seu
contributo para uma sociedade mais justa e mais
inclusora.
A ASAS é uma instituição particular de solidariedade
social sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade
pública. Somos uma entidade da economia social, do
terceiro setor. Para muitos a designação de setor da
economia social é ainda desconhecida. De uma forma
simplificada, podemos afirmar que a organização social,
política e económica de um país poder-se-á considerar
como resultado da atividade de três setores: o setor
público, o setor privado empresarial e o terceiro setor, o
setor da economia social, onde se inserem as
organizações sem fins lucrativos (OSFL), incluindo as
Instituições particulares de solidariedade social (IPSS)
como é o caso da ASAS. As organizações sem fins
lucrativos são organizações privadas, não distribuidoras
de lucros, auto-governadas e de caráter voluntário. Estão
muito próximas das pessoas e são agentes privilegiados
no diagnóstico e na resposta aos desafios sociais.
As organizações sem fins lucrativos são diferentes
das empresas e das instituições públicas. Quer
porque não têm como primeiro fim o lucro, quer
porque a missão destas organizações é, de facto, um
fator distintivo face aos outros setores, porque será
uma causa social, ambiental, filantrópica, de defesa
de direitos, entre outras. São organizações orientadas
para a sociedade e suas necessidades. Que servem e
satisfazem necessidades humanas. Para além disso,
muitas OSFL dependem da boa vontade das pessoas que
se voluntariam e da boa vontade das pessoas e
instituições que doam. Ainda, as OSFL são normalmente
prestadoras de serviços, com os desafios associados à
gestão de serviços, acrescidas das complexidades das
problemáticas com que muitas vezes estas se deparam.
No nosso País existem 71.885 entidades da economia
social, que asseguram 6,1% do Emprego Remunerado,
3% do Valor Acrescentado Bruto e 5,3% das
Remunerações e que regista 268.139 pessoas ao
serviço (Fonte: Contas Satélite da Economia Social-
Edições 2013, 2016 e 2019, INE/CASES)
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Atualidades
Um dos desafios que a economia social enfrenta é
aumentar a consciência da sociedade sobre a sua
existência enquanto setor. Esta quase ausência de
consciência de “setor” limita a capacidade do próprio
setor em dar a conhecer as suas intervenções e a sua
relevância, em atrair apoios da comunidade e em
assegurar políticas favoráveis ao seu futuro
desenvolvimento.
Assim, coloca-se às entidades da economia social o
desafio de enveredarem por um
caminho de maior e melhor
capacidade organizacional,
melhorar a sua aptidão em
satisfazer ou influenciar os seus
diferentes stakeholders, que são
os diferentes indivíduos ou
grupos que podem afetar ou ser
afetados pela intervenção da
organização, tais como utilizadores/beneficiários,
associados, colaboradores e voluntários, doadores
individuais ou empresas, entidades parceiras, incluindo o
governo.
E a capacidade de uma organização é formada pelas
competências humanas, pelas suas pessoas, pelos
recursos materiais ou financeiros, pelas relações que
estabelece com o exterior, que devem ser eficazes e por
uma atitude de aprendizagem e melhoria contínua. E um
desempenho superior só pode ser alcançado se forem
dadas respostas, de forma contínua, às expectativas e
necessidades dos seus diferentes stakeholders,
Um dos desafios que a economia
social enfrenta é aumentar a
consciência da sociedade sobre a sua
existência enquanto setor.
principalmente utilizadores, colaboradores e doadores. A
multiplicidade de intervenientes das OSFL é outra
característica, senão a maior, que mais as distingue das
empresas com fins lucrativos.
Nas organizações da economia social existem
preocupações com garantia da sustentabilidade (do
serviço, da equipa e financeira) e a procura de uma
melhoria contínua dos serviços prestados aos utilizadores.
Acreditamos que a comunicação
e as tecnologias apoiam as
organizações no alcance destas
prioridades.
Comunicar, atualmente, não se
pode dissociar do imenso mundo
que as tecnologias de
informação e conhecimento
proporcionam. Deixando,
contudo, aqui uma nota da importância da continuidade
da relação pessoal, de maior proximidade, mais humana
e tão importante na economia social.
A comunicação é fundamental na gestão das pessoas,
das competências humanas (remuneradas ou voluntárias),
desde logo na formação, área em que se tem cada vez
mais de apostar, e na promoção do debate interno das
questões que as afetam, enriquecendo a informação,
facilitando, e sustentando, a tomada de decisão. As
tecnologias dão um forte contributo, já que a formação
pode ser facilitada quando realizada à distância, facilitam
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#42
Atualidades
COMUNICAR É UMA ARTE
A ARTE DA RELAÇÃO
o contacto entre pares no seio da organização ou entre
organizações. O conhecimento de outras práticas
enriquece estes processos de capacitação.
Os processos de comunicação permitem também a
uma organização dar visibilidade à sua causa, à sua
intervenção, através dos quais podem captar
voluntários, dotando a organização de mais e/ou
diferentes competências humanas.
Ao contrário do setor empresarial, as organizações da
economia social estão muitas vezes dependentes do
trabalho voluntário, que têm motivações, expectativas
distintas das dos colaboradores remunerados. Mesmo os
colaboradores destas organizações, têm muitas vezes
motivações diferentes das dos restantes setores. De
registar que em Portugal os colaboradores da
economia social, nomeadamente das IPSS, são
remunerados de forma inferior aos colaboradores de
outros setores, sendo muitas vezes motivados por
razões não económicas, como por exemplo a
identificação com a causa da sua organização.
Por isso, os processos de comunicação interna e externa
assumem relevo na gestão das pessoas, porque permitem
informar, promover o seu sentido de pertença e, dessa
forma, a sua fidelização. Para além de possibilitar a
captação de novos colaboradores.
As organizações sem fins lucrativos estão quase sempre
dependentes de apoio de entidades externas, que são os
seus financiadores ou doadores. Sendo importante
manter relações de confiança e que as organizações
implementem processos de comunicação promotores da
transparência e facilitadores da prestação de contas. As
IPSS têm que dedicar muita da sua atenção à sua
estrutura de financiamento, procurando alternativas,
já que não deve ser de excessiva dependência de
uma só fonte de financiamento. Trabalhar de forma
proativa, dinâmica e criativa a angariação de fundos é
essencial nas organizações sem fins lucrativos. O que
nos conduz ao domínio das relações com entidades
externas, onde se incluem os financiadores, mas também
a comunidade, os parceiros, os organismos públicos,
entre outros, com quem as organizações podem
estabelecer parcerias ganhadoras com vantagens para
todas as partes. As novas tecnologias são uma excelente
ferramenta na promoção e desenvolvimento destes
processos de colaboração e prospeção.
É verdade que são muitas as solicitações de instituições
sem fins lucrativos às empresas. Mas também o é que são
cada vez mais as empresas a procurar como apoiar
instituições sem fins lucrativos. É importante por isso que
as entidades da economia social aumentem a informação
disponível de que necessitam de apoio, qual o apoio de
que necessitam e sobre a sua capacidade para gerir bem
os fundos recebidos. Para que os doadores decidam a
quem dar. Num contexto em que são cada vez mais as
entidades da economia social, menores os apoios do
governo, assiste-se a uma maior concorrência por
doações, sendo as solicitações em maior número. É
importante que as instituições desenvolvam processos
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#42
Atualidades
COMUNICAR É UMA ARTE
A ARTE DA RELAÇÃO
estruturados de comunicação, planeados, eficazes. Com
eles podem dar visibilidade à sua intervenção, aumentar
a sua notoriedade, podendo resultar numa maior
satisfação dos seus beneficiários. Se for comunicado que
uma OSFL está a cumprir a sua missão, ao satisfazer as
necessidades dos seus beneficiários, o reconhecimento
desta instituição vai aumentar podendo ter como
consequência um aumento de recursos.
Por outro lado, os financiadores querem sentir cada vez
mais que escolheram bem a causa a apoiar. O que nos
conduz à importância da implementação de processos de
prestação de contas (accountability) para os quais a
comunicação é fundamental. Porque cada vez mais
existem preocupações por parte dos financiadores com o
fim dado aos recursos que disponibilizam. Aliás a
prestação de contas deve ser dirigida a todos os públicos
da organização, e não apenas aos doadores. Pode, e
deve, ter como destinatários todos os seus stakeholders.
A prestação de contas deve ser uma atitude nas
organizações, num processo envolvente, numa lógica de
responsabilidade partilhada entre as organizações e os
seus públicos. Trata-se de estabelecer pontes, da
correspondência de expectativas, que prolonguem no
tempo as relações de confiança tão vital para a
sustentabilidade de uma organização numa comunidade.
Por isso as novas tecnologias, as redes sociais, a
listagem de contactos a quem se poderá enviar
informação periódica, a existência de sites devem
proporcionar informação que comunique a
organização de forma esclarecedora.
Por isso se pode afirmar que as tecnologias permitem às
organizações do terceiro sector alcançarem maior
impacto social, seja porque melhoram os processos,
crescendo a eficácia e a eficiência, libertando tempo
para o processo criativo e gerador de novas ideias, seja
porque permite um maior alcance em termos de
dimensão e ao nível da diversidade de atividades.
Realçando que todo o processo de comunicação tem que
ter subjacente princípios da ética, da moral,
acompanhados por políticas de proteção de dados e dos
direitos dos diferentes públicos, que terão que estar
explanados nas políticas de privacidade e códigos de
conduta das organizações.
Não obstante tudo o que foi referido, não podemos
deixar de partilhar que no nosso País as OSFL
enfrentam graves obstáculos à implementação de
uma estratégia de transição digital, de
implementação de planos de comunicação externa ou
marketing, porque não possuem nas suas equipas
recursos qualificados, os equipamentos necessários,
porque se debatem com graves limitações
orçamentais, já que esta necessidade não é ainda
valorizada seja pelo governo que as tutelam, por
muitas dos dirigentes dessas organizações e também
por muitos dos financiadores. •
POR GILDA TORRÃO (DIRETORA GERAL DA ASAS)
#42
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ONDE TUDO COMEÇA E
ACABA NA HUMANIZAÇÃO DAS
NOSSAS ORGANIZAÇÕES
Atualidades
Neste artigo pretendo aprofundar temas que todos os dias
me pedem para abordar nos meus cursos e/ou palestras,
tópicos pelos quais tenho um apreço muito especial,
ciente que podem fazer a diferença na qualidade de vida
das pessoas e das organizações, já que estas são
construídas pelas mesmas.
Todos os dias, o número de emigrantes no nosso país
aumenta e, com a chegada destas pessoas começam os
problemas de comunicação, sendo a primeira barreira a
língua em muitos casos. Observamos os filhos destes
emigrantes a integrar as nossas
escolas e, pela facilidade de
aprendizagem, associada à
idade e, pela convivência diária
com o idioma superam
facilmente esta dificuldade,
contudo para os adultos, esta
compreensão do nosso
português é muito difícil. Qual será a razão?
As explicações são muitas e variadas, mas irei focar-me
numa única dimensão deste problema e, na minha
opinião, a maior barreira à comunicação de todos os
tempos. Estou a falar do preconceito e julgamento,
sustentado pelo medo do desconhecido.
Nos meus 50 anos de existência, tive a oportunidade,
e a sorte, de viver em muitos países e conviver com
muitas culturas diferentes, tendo construído uma
plena consciência que me tornei uma pessoa muito
mais sábia no convívio com tantas pessoas diferentes.
(...) a minha receita para superar
qualquer barreira à comunicação nas
vossas vidas pessoais ou profissionais,
pratiquem o RESPEITO pelo outro (...)
Por outro lado, a minha curiosidade venceu sempre os
meus maiores receios perante o desconhecido e o
oposto. Nesta minha ânsia de descobrir mais sobre as
pessoas que me rodeavam, aprendi a apreciar as
diferenças e a desenvolver um profundo respeito por
todas as pessoas que se cruzaram na minha vida. Desta
forma, partilho com vocês a minha receita para superar
qualquer barreira à comunicação nas vossas vidas
pessoais ou profissionais, pratiquem o RESPEITO pelo
outro e pelas suas diferenças.
Quando entrei na escola,
recordo-me que estava muito
entusiasmada por aprender a
ler e escrever, via a minha irmã
mais velha a ler livros e
sonhava com aquela
habilidade. Infelizmente nos
primeiros meses da minha
entrada neste novo mundo fui diagnosticada com
dislexia, ficando retida logo no primeiro ano da escola
primária. O estigma da criança “burra” acompanhou-me
durante muitos anos, lutando sozinha para superar os
padrões que a escola tradicional nos obriga, obter as
melhores notas para ser alguém neste mundo. Não tenho
nenhuma memória de algum amigo de turma me ajudar a
superar as minhas dificuldades de aprendizagens. As
únicas pessoas disponíveis eram os professores e os
educadores de ensino especial, onde a escola falhou?
Qual a competência fundamental que nunca aprendi e
nenhuma criança tem oportunidade de desenvolver?
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#42
Atualidades
ONDE TUDO COMEÇA E
ACABA NA HUMANIZAÇÃO DAS
NOSSAS ORGANIZAÇÕES
A minha reposta é simples: ao entrar na escola, as
crianças deveriam aprender algumas competências
comportamentais que irão precisar ao longo da sua vida
profissional e pessoal, como por exemplo, a comunicação
interpessoal, a empatia, o trabalho em equipa e tantas
outras competências que deveriam contribuir para o seu
desenvolvimento pessoal enquanto ser humano. Mas
aquilo que observamos é que estas matérias não fazem
parte do currículo académico. Quando falamos, por
exemplo, de trabalho em equipa e observamos as nossas
crianças numa sala de aula, tomamos consciência que a
única competência que desenvolvemos neste sistema
educativo é saber bater a oposição através de um sistema
de pauta, onde o prémio pela melhor nota individual é o
único caminho para o sucesso. Em adulto, quando
entramos no mundo do trabalho, ouvimos as nossas
lideranças “pregar” algo totalmente diferente,
“precisamos de trabalhar para a meta comum”, o
contributo individual é o menos relevante, mas sim a
soma de todos os contributos é o caminho para o sucesso.
Mas afinal em que ficamos? Qual o caminho certo?
Não precisamos de grandes estudos científicos para
termos a certeza que a soma de todas as nossas
competências, alinhadas e afinadas, podem-nos levar
para patamares de excelência que o trabalho
individual nunca será capaz de alcançar. Então, do que
estamos à espera para rever o nosso sistema de ensino?
Outra competência que deveria ser ensinada nos
bancos da escola, mas passa muito longe dos
currículos académicos, é a empatia. Mas afinal o que
é a empatia? A literatura fala na capacidade de se
colocar no lugar do outro, para entender os seus
sentimentos, as suas emoções, os seus pensamentos e a
sua perspetiva. Esta capacidade empática implica
conseguirmos escutar o outro sem julgamentos. Temos de
aprender a deixar de falar de nós e passar a ouvir o
outro, é aqui que começa a conexão interpessoal e
genuína com os outros. Tenho de me anular para estar
conetado com o outro, sendo esta a habilidade que deve
ser desenvolvida ao longo da nossa vida, que deve ser
trabalhada logo no pré-escolar com atividades que
promovam o reconhecimento e entendimento dos
sentimentos e o respeito pelas emoções dos outros.
Acredito sinceramente que a prática e o incentivo para
desenvolvermos o nosso poder empático na escola é uma
forma de prevenir a exclusão e agressividade nos jovens,
do qual é exemplo o bullying, pois os alunos tornam-se
mais próximos e deixam de entender as diferenças como
algo ameaçador e negativo, mas sim algo complementar.
Termino o meu artigo com uma reflexão: o
desenvolvimento das competências comportamentais que
acabei de abordar, e todas aquelas que faltam abordar
serão o segredo para entender melhor o outro, conseguir
colocar-me no lugar do outro, conseguir chegar ao outro.
Afinal todos temos uma competência estrutural
pronta para desenvolvermos estas capacidades:
somos todos HUMANOS. •
POR FÁTIMA FLORES (CONSULTORA E FORMADORA)
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ENVELHECER ATIVAMENTE
PRÉMIO BPI FUNDAÇÃO “LA
CAIXA”
Ação
Social e
Comunidade
A Misericórdia de Santo Tirso foi este ano uma das
instituições premidas pela 9ª edição do Prémio BPI
Seniores 2021, financiado pelo Banco BPI e a
Fundação “la Caixa”.
O Prémio BPI Sénior tem como objetivo privilegiar
projetos que promovam a autonomia pessoal e bem-estar
da população com mais de 65 anos, este ano 2021 com
especial enfoque no impacto da pandemia da COVID 19
no seu quotidiano, na mobilidade física e na saúde
mental. “O confinamento e o distanciamento social
exigidos para reduzir a taxa de contágio vieram aumentar
as dificuldades das pessoas mais velhas em aspetos
chave, como a atividade física, a acessibilidade digital e
as relações sociais o que implicou um agravamento das
situações de fragilidade, de doença e dependência.”
Um estudo (2021) da Universidade Católica e da
Confederação Nacional das Instituições Particulares
de Solidariedade Social (IPSS) revela que os/as
idosos/as, entre os quais os/as utentes das IPSS,
foram o grupo mais afetado ao nível do impacto da
pandemia COVID-19, pelo isolamento a que
estiveram sujeitos. Os resultados salientam
consequências ao nível psicológico: solidão, perdas
relacionais e de socialização, desgaste, stress/
/ansiedade tristeza e medo e consequências ao nível
da condição física associadas ao agravamento da
doença mental ou cognitivas preexistentes, regressão
da capacidade locomotora e agravamento do estado
geral de saúde.
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#42
Ação
Social e
Comunidade
ENVELHECER ATIVAMENTE
PRÉMIO BPI FUNDAÇÃO “LA
CAIXA”
No que concerne ao fomento da população idosa no
envolvimento comunitário prevenindo situações e
isolamento e privilegiando a inclusão social, destacamos
um dos objetivos prioritários da Organização Mundial de
Saúde (OMS) 2021: combate ao idadismo através da
interação idoso/jovens em diferentes contextos. Em
concordância com o priorizado pela OMS, durante a
execução do projeto estão previstas ações que permitam
fomentar redes relacionais com jovens e
comunidade pela prática do desporto.
O projeto Envelhecer Ativamente será
desenvolvido com os/as utentes do Lar
José Luiz d’ Andrade, e visa a mitigação
dos efeitos da pandemia nos/as idosos/
/as institucionalizados/as, através de
ações que promovam o envelhecimento
ativo saudável.
Com base no diagnóstico de necessidades efetuado
previamente, desenhamos atividades com ações
prioritárias dos domínios: incentivo à prática de
atividade física e fomento das redes relacionais.
Assim, Envelhecer Ativamente no Lar José Luiz
d’Andrade irá contemplar as seguintes atividades:
• Treino e jogos de Boccia, em sala de atividades e nos
jardins da instituição;
• Rentabilização do Jardim Geriátrico com atividades
de ativação e reabilitação (força muscular, equilíbrio
e coordenação).
COMBATE AO IDADISMO: ações comunitárias e de
voluntariado, com o envolvimento de jovens da área do
desporto, para prática da modalidade
com os/as idosos/as e participação em
torneios de Boccia locais e regionais.
Durante um ano, com o apoio dos
Prémios BPI Fundação “la Caixa”,
prevemos uma melhoria da qualidade
de vida, dos níveis de bem estar e
satisfação e da condição de saúde dos/
/as utentes da Misericórdia de Santo
Tirso.•
POR SOFIA MOITA (COORDENADORA DO LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE)
ATIVAMENTE SAUDÁVEL:
• Rotinas diárias de atividade física adaptadas às
características funcionais dos vários utentes, através
do uso de equipamento específico de reabilitação e
reforço físico;
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Ação
Social e
Comunidade
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#42
Ação
Social e
Comunidade
CENTRO DE EMERGÊNCIA IRIS
NÚMEROS QUE DIZEM O
PROJETO
Enquanto houver uma mulher vítima de violência
doméstica não vai ficar tudo bem. Assim se enunciou mais
uma campanha da Comissão para a Igualdade de Género e
da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, no
passado dia 25 de novembro, pelo Dia Internacional pela
Eliminação da Violência contra as Mulheres. Numa clara alusão
à situação pandémica, partindo do slogan e da imagem que
neste período difícil configurou a esperança, esta campanha
devolve-nos um arco-íris que carrega também as
preocupações relativas ao fenómeno da violência
doméstica e ao risco de escalada das situações de
violência neste contexto particular de pandemia.
Em Portugal, em 2021, foram mortas 14 mulheres em contexto
de violência doméstica. Números que continuam a mobilizar o
trabalho neste domínio da prevenção e da eliminação da
violência contra as mulheres e fundamentam a necessidade de
uma aposta contínua na Rede Nacional de Apoio às Vítimas de
Violência Doméstica (RNAVVD) e na capacitação das estruturas
que a integram.
Norteada por este mesmo propósito e para a proteção das
vítimas, a Casa Abrigo D. Maria Magalhães, propriedade da
Misericórdia de Santo Tirso, tem vindo a garantir duas
respostas de acolhimento temporário para mulheres e crianças,
uma das quais destinada a situações de emergência.
Neste âmbito importa destacar a atividade do Centro de
Emergência Iris. Financiado pelo Programa Operacional
Inclusão Social e Emprego, e em funcionamento por 32
meses, entre 01 de janeiro de 2019 e 31 de agosto de 2021,
este projeto permitiu o acolhimento de emergência e o
acompanhamento multidisciplinar de 168 mulheres
vítimas de violência doméstica e seus filhos/as a cargo.
Para lá das narrativas das vítimas e das suas histórias de
vitimação que tanto nos dizem sobre o problema da violência
doméstica, também os números retratam sumariamente o
fenómeno e o projeto. Centremo-nos neles. Estes foram alguns
dos números que marcaram o Centro de Emergência Iris
durante o seu período de funcionamento:
• 97 mulheres acolhidas, entre os 18 e os 70 anos de idade
(média de idades: 40 anos);
• 71 crianças/jovens acolhidas/os, entre os 0 e os 23 anos
de idade (média de idades: 7 anos);
• 84% das vítimas apresentavam nacionalidade
portuguesa, oriundas, na sua maioria, do norte e centro
do país;
• 64% das mesmas eram residente no distrito do Porto, mas
apenas 3% do concelho de Santo Tirso;
• Em todos os casos o agressor era do sexo masculino,
estabelecendo com a vítima uma relação de intimidade
atual (90% dos casos o agressor era o cônjuge,
companheiro ou namorado) ou passada (8% eram
ex-parceiros);
• A esmagadora maioria das vítimas apresentava-se em
situação de grande fragilidade económica, sendo que
68% se encontrava em situação de desemprego e na
dependência do agressor;
• 22% das vítimas foram encaminhadas por estruturas de
atendimento a vítimas de violência doméstica, mas
maioritariamente pelos serviços competentes da
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Ação
Social e
Comunidade
Segurança Social (71%). Neste contexto, cabe referir que
a Linha Nacional de Emergência Social (LNES) foi
responsável pelo encaminhamento de 65% dos casos;
• No que respeita ao período de acolhimento, o tempo
médio de permanência foi de 56 dias, tendo-se
registado acolhimentos com o tempo mínimo de 1 dia e
um acolhimento com o tempo máximo de 134 dias;
• Após o período de acolhimento, 44% recorreu à rede
informal de apoio, 25% integrou Casa Abrigo, 13% das
mulheres regressou a casa e à relação abusiva e 12%
recorreram a outras soluções (integração em outras
respostas sociais ou de saúde, regresso ao país de origem,
etc).
Importa porém sublinhar que os números apresentados
resumem e diluem profundas assimetrias que muito dizem do
contexto pandémico que assolou o país e, por conseguinte, do
apoio às vítimas de violência doméstica. Não transparecem as
diferenças, dificuldades e particularidades registadas a partir
de Março de 2020 e em relação direta com a pandemia por
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#42
Ação
Social e
Comunidade
CENTRO DE EMERGÊNCIA IRIS
NÚMEROS QUE DIZEM O
PROJETO
COVID-19. De facto, a pandemia trouxe dificuldades maiores à
execução física deste projeto, sendo de referir global e
resumidamente: 1) a redução drástica dos pedidos de
encaminhamento possivelmente associados à menor
capacidade das vítimas de violência doméstica para denunciar
e pedir ajuda; 2) o aumento de tempo de permanência das
mulheres e famílias nesta estrutura de acolhimento (com menor
rotatividade de vagas e inviabilizando novos acolhimentos); 3)
a necessidade de adotar novos procedimentos na admissão de
novos utentes, cumprindo com as orientações da DGS e de
acordo com o Plano de Contingência da Instituição com
redução do número de vagas efetivas e atraso no acolhimento
de novos casos.
poderá assim prolongar esta intervenção de primeira linha por
mais 16 meses e até 31 de dezembro de 2022. Rumo à
igualdade, continuando a garantir o acolhimento temporário
de vítimas de violência doméstica, proporcionando as
condições necessárias à segurança e bem-estar físico e
emocional das mesmas e promovendo o seu acompanhamento
multidisciplinar numa perspetiva de capacitação e
empoderamento. Enquanto houver uma mulher vítima de
violência doméstica não vai ficar tudo bem. Trabalharemos por
e para ela(s).•
POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA CASA ABRIGO D. MARIA MAGALHÃES)
Assim, e se em 2019 se registaram 104 acolhimentos, nos
anos subsequentes verificou-se uma queda abrupta desse
número. Contrariando a história deste Centro e os números
registados nos anos anteriores, em 2020 e 2021 o número de
acolhimentos não ultrapassou as 32 integrações (64 no total
dos dois anos).
Não obstante estas dificuldades, o projeto foi concluído no
passado mês de Agosto com uma taxa de execução de
105%.
No sentido de dar continuidade a esta resposta de acolhimento
de emergência, em Outubro passado, a Misericórdia de Santo
Tirso submeteu nova candidatura ao Programa Operacional
Inclusão Social e Emprego, tendo recebido recentemente
confirmação da sua aprovação. O Centro de Emergência Iris
Pede ajuda!
Tem muita força, não desistas e não penses que a culpa é
tua.
Lembra-te do teu amor-próprio e do amor pelos teus filhos.
Não nasceste para passar por isto.
Ganha coragem e pede ajuda!
Denuncia!
Não tenhas medo.
Ao início parece difícil, mas foi a escolha mais acertada que eu fiz.
Ele vai-te pedir sempre desculpa, dizer que vai mudar, mas não
acredites. Ele não vai mudar e as coisas vão piorar cada vez mais!
Coloca a tua segurança e a dos teus filhos em primeiro lugar!
Pede ajuda!
A culpa não é tua!
Tem coragem!
Foge enquanto podes!
Pede ajuda a quem deves!
Leva contigo o que consegues!
Contacta a linha 144.
Não desistas! Tem força!
Pensa que não és a única a passar pelo mesmo.
Quem constrói a vida uma vez, consegue construir a
segunda!
Ganha força e toma uma atitude! Contacta a APAV!
DIA INTERNACIONAL DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES APELO À MUDANÇA E SUPERAÇÃO PELAS MULHERES DA CASA ABRIGO
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#42
Ação
Social e
Comunidade
COMUNICAR ATRAVÉS DOS
CUIDADORES INFORMAIS
No âmbito do dia do cuidador informal (05.11), o Serviço
de Apoio Domiciliário, desafiou os seus familiares e
clientes a comunicar com o Serviço de Apoio Domiciliário
da Misericórdia, partilhando o que sentem em serem
Cuidadores.
A palavra CUIDAdor, apresenta dupla conotação, visto
que quem CUIDA é obrigado muitas vezes a prescindir
da sua vida para cuidar do outro, no entanto fazem-no
por “dedicação” e por “amor”. Partilho convosco o desafio
em imagens.•
POR ANDREIA MACEDO (COORDENADORA SERVIÇO DE APOIO DOMICILIÁRIO)
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Ação
Social e
Comunidade
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#42
Ação
Social e
Comunidade
COMUNICAR NA DEMÊNCIA
O declínio da comunicação é uma manifestação
inevitável da demência, pelo que o comprometimento da
comunicação não só acarreta repercussões negativas
para o próprio, designadamente ao nível da
autoexpressão de necessidade e pensamentos, interação
social e bem-estar emocional, mas também para o seu
cuidador, que se confronta com maiores níveis de
sobrecarga e menor qualidade de vida.
Perder a capacidade de comunicar pode ser um dos
problemas mais frustrantes e difíceis para as pessoas com
demência, bem como para as famílias e cuidadores. À
medida que a doença progride, a pessoa com demência
experiencia uma perda gradual da sua capacidade de
comunicar, sentindo dificuldades cada vez maiores para
se expressar com clareza e compreender aquilo que os
outros dizem.
Cada pessoa com demência é única e as dificuldades
na comunicação dos pensamentos e sentimentos
podem variar de pessoa para pessoa e podem originar
barreiras comunicacionais – na resposta aos
estímulos, na compreensão da informação que se
recebe e na capacidade de se fazer entender.
Contudo, a comunicação é fundamental na prestação de
cuidados centrados na pessoa com demência, daí a
necessidade de aprendermos a comunicar com elas e
tirar partido de competências que se vão mantendo
relativamente preservadas – atenção, linguagem, postura
corporal e expressão emocional.
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Ação
Social e
Comunidade
Medidas simples para comunicar com pessoas com
demência:
Atenção
• Assegure-se que tem a atenção da pessoa a quem se
dirige;
• Limite as distrações e o barulho;
• Identifique-se pelo seu nome e refira quem é (por
exemplo: sou a sua filha, sou o seu enfermeiro, etc.);
• Tente manter o contacto visual;
• Tenha em atenção défices auditivos ou de visão;
• Simplifique as atividades;
• Peça uma tarefa simples de cada vez;
• Tente passar a decisão para o doente, ainda que lhe
dê escolhas limitadas (sempre que possível);
• Direcione a sua atenção para outro assunto e volte a
tentar mais tarde quando a tentativa de comunicação
perturbar o doente.
Linguagem e Postura Corporal
• Fale pausadamente;
• Faça frases curtas;
• Utilize um tom de voz apropriado, associado a
expressões faciais e a linguagem corporal que
ajudem a entender a sua mensagem;
• Use palavras simples, bem pronunciadas e
espaçadas;
• Tente formular as questões de modo a que a resposta
seja simples ou dê 2 opções de resposta para
escolher 1 (por exemplo, quer vestir a blusa verde ou
a blusa azul?);
• Estimule as respostas usando pistas verbais e visuais
(por exemplo, imagens, objetos ou mensagens
escritas);
• Utilize gestos e expressões faciais para se fazer
entender; apontar ou demonstrar pode ser uma
ajuda;
Afeto
• Trate o doente com respeito;
• Seja simpático e afetuoso;
• Se é familiar ou amigo do doente, trate-o da forma
como sempre fez;
• Se não é familiar ou amigo do doente, trate-o da
forma como ele estava habituado. Nessas
circunstâncias: não use o nome próprio, a não ser
que este seja o único reconhecido pelo doente;
• Dirija-se e fale com o doente de acordo com o seu
grau de proximidade e relacionamento;
• Adeque o contacto físico ao seu tipo de
relacionamento com o doente, pois este pode ser
interpretado de forma muito variável.
• Tocar e segurar a mão da pessoa pode ajudar a
manter a sua atenção e mostrar que se preocupa com
ela. Um sorriso caloroso e uma gargalhada partilhada
podem, frequentemente, comunicar mais do que as
palavras.
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#42
Ação
Social e
Comunidade
COMUNICAR NA DEMÊNCIA
As pessoas com demência, mesmo quando não
conseguem compreender o que está a ser dito,
conservam os seus sentimentos e emoções e, por isso, é
importante manter sempre a sua dignidade e autoestima.
correspondentes; “canções da minha vida”; “troca de
segredos” – expressão de tensões e emoções;
manipulação de jogos e puzzles; trava-línguas; rimas,
etc.
Nesta fase de isolamento social que estamos a viver,
parece-nos de particular importância compreender como
é que a comunicação com pessoas portadoras de
demência surge como uma ferramenta relevante, capaz
de se ajustar de forma
adaptativa a uma realidade
que exige tanto em termos
físicos, mentais, emocionais
e relacionais.
As funções executivas
parecem constituir as mais
complexas do cérebro
humano, sendo
responsáveis pela
coordenação de todas as restantes funções cognitivas.
Paralelamente, a função comunicativa apresenta-se como
um excelente veículo de transmissão de sentimentos
como amor, valorização, vínculo, conforto, inclusão e
segurança, entre outros.
Em Centro de Dia pretendemos explorar o tema em
questão, através de dinâmicas promotoras de
descontracção e bem-estar, que vamos realizando:
construção de frases, vocalizações, gestos; associação
de sons e palavras/símbolos às imagens
As pessoas com demência, mesmo quando não
conseguem compreender o que está a ser dito,
conservam os seus sentimentos e emoções e,
por isso, é importante manter sempre a sua
dignidade e autoestima.
O desequilíbrio do sistema comunicacional pode
provocar desarmonia no indivíduo e vice-versa. Sendo a
esfera social um sistema de relações contínuas e
interligadas, está sujeita a apreciações e influências em
todo o processo
comunicativo. •
POR SUSANA MOURA E MANUELA
CARNEIRO (EQUIPA TÉCNICA DO CENTRO
DE DIA)
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SHARING IS CARING
Ação
Social e
Comunidade
“When we share something with someone else it is equal
to caring - we show care and our interest by sharing.” É
uma expressão em inglês que define bem o que acreditamos e
é em bom português que vos contamos que sem dúvida
nenhuma, contar as histórias das nossas missões, divulgando-as
de forma eficaz potencia o trabalho de todos e ajuda-nos a
cuidar ainda melhor das pessoas.
É urgente haver um maior reconhecimento comunitário/social
do trabalho incrível que se faz no nosso setor e comunicarmos
é o primeiro passo para que isso aconteça.
Vamos elevar as causas sociais através da magia de
comunicar digitalmente?
A comunicação digital está presente no nosso quotidiano e é
hoje um desafio para o setor social, tornando-se um veículo
imprescindível para chegar às pessoas e concretizar a missão
de cada instituição através da ligação à comunidade.
Comunicar é ligarmo-nos a todos e um desafio cada vez mais
assumido por muitas instituições com exemplos concretos de
sucesso que nos devem inspirar a todos.
O nosso workshop “Sharing is Caring | Como potenciar a
comunicação no setor social”, que a Interage promove há 2
anos já passou por quase uma centena de instituições, são
abordadas estratégias e ferramentas essenciais para a
comunicação digital e tem sido fantástico perceber como de
facto, comunicar tem ajudado tantas missões a serem
concretizadas e tornado tantas pessoas, ainda mais felizes.
Querem potenciar a vossa comunicação connosco? •
POR ÂNGELO VALENTE, SOFIA NUNES E SHY (INTERAGE)
Quase todas as ferramentas são grátis e estão ao alcance
de todos. Delinear uma estratégia de comunicação para que
as entidades do terceiro setor encontrem a sua personalidade e
a sua voz, chamando e envolvendo as comunidades para as
suas causas, missões e valores é cada vez mais o desafio a
cumprir. Os resultados são evidentes: comunicar traz-nos
transparência, motivações e compromisso das
organizações e profissionais; contacto e envolvimento dos
stakeholders; apoios da sociedade; uma melhor reputação
da organização; uma sociedade mais informada e
consciente.
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#42
Ação
Social e
Comunidade
OS DESAFIOS DA
COMUNICAÇÃO VIRTUAL
Indiscutível e transversal a todas as épocas e povos é a
necessidade do ser humano para se relacionar e estabelecer
comunicação com o outro.
Ao longo da história e do desenvolvimento das espécies, fomos
desenvolvendo novas formas e padrões comunicacionais.
Desde as formas mais rudimentares de comunicação que
remontam à época pré-histórica, em que os humanos
comunicavam através de grunhidos, gestos e traços básicos, à
atualidade onde comunicamos através de sistemas de
comunicação tecnológicos altamente sofisticados.
A tecnologia permite-nos hoje
ultrapassar muitos obstáculos à
comunicação, nomeadamente os
que se relacionam com a distância
e com a velocidade. Posso
comunicar com qualquer pessoa
que esteja em qualquer parte do
planeta, ou mesmo fora dele, e em tempo real, o que traz
muitas vantagens ao processo, seja no domínio pessoal ou no
setor empresarial.
Indiscutíveis as vantagens destes meios que revolucionaram os
processos de comunicação em todos as áreas, mas não
estaremos nós a descurar alguns elementos fundamentais do
processo de comunicação? O contacto ocular, a expressão
facial, o toque, os afetos e até mesmo os silêncios enriquecem,
completam e validam a linguagem verbal. Diz o ditado que os
olhos são o espelho da alma, não estaremos nós a retirar
alma ao processo comunicacional?
As redes sociais banalizaram conceitos
como ‘amigo’ e ‘seguidor’. Mas, posso eu
ser ‘amiga’ ou ‘seguir’ alguém que não
conheço?
Não estaremos nós cada vez mais sozinhos? Será que não
estamos a criar um falso conceito de partilha, de abertura
ao mundo, quando, cada vez mais negligenciamos as
relações de proximidade?
Faz acreditar que quanto mais elaboradas são as tecnologias
da comunicação, menos comunicamos e menos partilhamos no
sentido pleno do conceito.
Recentemente a crise provocada pela Covid-19 ensinou-nos
algo, podemos fazer quase tudo à distância, trabalhar, ensinar,
aprender, comprar, dar carinho,
dar atenção, confraternizar, mas…
não é a mesma coisa, faltou-nos o
essencial: o contacto humano, a
afetividade das relações
presenciais, o toque, o abraço.
Por outro lado, a comunicação
virtual trouxe-nos outros desafios.
No mundo virtual eu posso ser o que escolher ou, o que eu
gostaria de ser ou mesmo o que eu acho que os outros
gostariam que eu fosse. A desejabilidade social determina
muitas vezes o comportamento nas redes sociais o que pode
retirar autenticidade ao processo de comunicação gerando
inseguranças e desconfianças que certamente prejudicam as
nossas interações.
As redes sociais banalizaram conceitos como ‘amigo’ e
‘seguidor’. Mas, posso eu ser ‘amiga’ ou ‘seguir’ alguém que
não conheço? Será coerente partilhar informações pessoais e
participar na vida de alguém com quem eu não interajo,
mesmo que me encontre presencialmente?
Da necessidade de preservar o nosso espaço pessoal
passaram, alguns de nós, à compulsão para divulgar e
“partilhar” tudo o que nos acontece: o bom, o mau e o
desnecessário.
A acrescentar a estes, outro desafio, o da exclusão daqueles
que não dominam as tecnologias e que não gerem a sua vida
em torno do seu smartphone ou PC que, neste momento
correm um sério risco de serem acusados de personalidade
anti-social.
Mas, como não devo terminar este artigo sem uma
pincelada de otimismo, fica a minha modesta
recomendação: considero que devemos usar todos os
recursos tecnológicos ao dispor, mas sem restringir a
comunicação a isto, porque a comunicação envolve muito
mais do que uma troca/partilha de informação e,
sobretudo, devemos ensinar as nossas crianças de que a
vida não gira à volta de meia dúzia de ecrãs. •
POR CARLA CABRAL (PSICÓLOGA DA ISCMST)
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Ação
Educacional
#42
O IMPACTO DA PANDEMIA
NO DESENVOLVIMENTO DA
COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM
E FALA DAS CRIANÇAS
O mundo tal como o conhecíamos mudou por causa da
Covid-19 e, desde março de 2020, que nós portugueses
passamos a ter de nos adaptar a uma nova realidade. Para
combater a pandemia foram implementadas medidas de
confinamento, onde creches e escolas tiveram de encerrar,
existindo a necessidade de recorrer às aulas online. Muitos dos
pais também foram obrigados a adotar um regime de
teletrabalho. Os telemóveis, tablets e computadores passaram a
ser os melhores amigos das
famílias e, se por um lado,
permitiram continuar com as
obrigações escolares e laborais,
por outro aumentaram
exponencialmente o tempo de
exposição aos ecrãs. É
perfeitamente compreensível
que com as crianças em casa e
perante todos os afazeres
profissionais, os pais tivessem de as entreter, de forma passiva
e solitária, durante um bom período de tempo, recorrendo
para isso aos aparelhos eletrónicos. Este tempo de exposição
aos ecrãs teve um aumento drástico e só agora estão a vir ao
de cima as suas consequências.
Como Terapeuta da Fala, venho-me a deparar na minha
prática clínica com diversos casos, sobretudo com crianças
em idade pré-escolar, com total ausência do Português
Europeu. Algo que estamos a assistir é o vocabulário e o
sotaque do Português do Brasil estar cada vez mais
presente nas nossas crianças, por estas estarem expostas,
A máscara utilizada pelos adultos deixa
visível apenas os olhos e restringe
importantes sinais visuais (...)
comprometendo a eficácia da comunicação
e a perceção da fala.
demasiadas horas, a jogos e vídeos brasileiros de conteúdo
infantil. É enriquecedor os mais pequenos conhecerem e
diferenciarem as variantes e regionalismos da Língua
Portuguesa, todavia não é expectável que usem no seu
dia-a-dia de forma consistente termos como “banheiro”,
“policial”, “geladeira”, “ônibus”, “marrom”, entre outros. Esta
situação está a comprometer o desenvolvimento da linguagem
das crianças até porque a construção frásica nas duas
variantes do Português é
bastante diferente. Se não for
alvo de intervenção, a longo
prazo, falar “abrasileirado”
poderá conduzir a dificuldades
de leitura e escrita, ou seja, em
associar o grafema (letra) ao
respetivo fonema (som) e vice-
-versa. No entanto, é
imprescindível consciencializar
os pais para esta situação e orientá-los no sentido de
estabelecerem regras, restringirem certos conteúdos e
diminuírem ao tempo que as crianças passam sozinhas em
frente a um ecrã.
Em consulta tenho verificado o aumento de casos de crianças
com atrasos na aquisição de competências comunicativas e
linguísticas, com impacto direto nas competências de
socialização e interação, sendo cada vez mais frequentes em
idades mais precoces. Muitas dessas crianças têm sérias
dificuldades em se relacionarem com o outro, respeitarem
regras, em estabelecerem o contacto ocular, em manter a
atenção ou uma conversa, associando-se ainda uma baixa
tolerância à frustração. De acordo com vários estudos, apenas
7% da informação é dita oralmente e 93% da comunicação
depende de aspetos não-verbais (expressões faciais, gestos,
movimentos corporais, entoação, distância física, entre outros).
Ora, com o intuito de combater a propagação do
coronavírus, o distanciamento social e o uso de máscaras
faciais fazem com que se perca uma grande parte da
informação não-verbal muitíssimo importante para o
processo comunicativo.
A máscara utilizada pelos adultos (pais, educadores,
professores, terapeutas, etc.) deixa visível apenas os olhos e
restringe importantes sinais visuais além de alterar as
propriedades acústicas da fala, comprometendo a eficácia da
comunicação e a perceção da fala. Deste modo, não permite à
criança observar e replicar os movimentos orofaciais
necessários para a correta produção dos sons da fala e
“esconde” as expressões faciais associadas às emoções, como
o sorriso, que ajudam a integrar o que ela ouve.
Se pensarmos em crianças mais pequenas, em que muitas
apresentam otites recorrentes e é frequente existir alguma
alteração auditiva, com o uso de máscaras, a interpretação
da mensagem transmitida pelo adulto ainda fica mais
comprometida. Desta forma, compreende-se que o
desenvolvimento da comunicação, linguagem e fala poderá
ficar afetado com a utilização de máscaras. Em crianças nos
primeiros anos de escolaridade, a aprendizagem da leitura e
da escrita também poderá ser influenciada negativamente, pois
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Ação
Educacional
#42
O IMPACTO DA PANDEMIA
NO DESENVOLVIMENTO DA
COMUNICAÇÃO, LINGUAGEM
E FALA DAS CRIANÇAS
ao não conseguirem fazer a leitura labial, torna-se mais difícil a
conversão fonema-grafema, logo poderão surgir diversos erros
ortográficos.
Neste sentido, torna-se necessário os adultos, nomeadamente
os pais/cuidadores, adotarem algumas estratégias que
potenciem a comunicação e estimulem o desenvolvimento da
linguagem nas crianças, entre as quais:
• Reduzir o ruído ambiente ao máximo possível;
• Posicionar-se de frente para a criança, para facilitar o
contacto ocular;
• Falar devagar, com um discurso simples mas sem
infantilizar (Ex: “popó”, “miau”);
• Durante as rotinas diárias e brincadeiras, narrar o que a
criança está a fazer;
• Deixar a criança iniciar e finalizar uma conversa;
• Fazer perguntas simples e pausas para que a criança
possa responder, evitando falar na vez dela;
• Reforçar positivamente as interações da criança (Ex:
“Boa!”, “Muito bem!”);
• Reformular e expandir os enunciados da criança (Ex: Se a
criança disser “É um policial”, o adulto poderá responder
“É um polícia. Ele prende os ladrões”. Desta forma
corrige-se pela positiva e acrescenta-se mais informação);
• Fazer perguntas abertas (Ex: “O que fizeste hoje?”, “E
depois o que aconteceu?”, “Porquê?”), de forma a pedir
mais informação à criança;
• Recorrer a palavras novas, à partida desconhecidas para a
criança, explicando-lhe o seu significado (através de
exemplos, imagens);
• Utilizar histórias, canções, rimas e lengalengas para
expandir o vocabulário da criança;
• E, sobretudo, BRINCAR! É importante variar os brinquedos
e atividades das crianças para despertar nelas o fascínio
por novas descobertas, a criatividade, a resolução de
problemas, proporcionar-lhes o manuseamento de
diferentes objetos e, assim, aprender.
Em caso de suspeita de alguma perturbação no
desenvolvimento comunicativo de uma criança, deverá ser
consultado um Terapeuta da Fala que ajudará a
compreender o que faz parte de um desenvolvimento dito
normal e o que realmente necessita de uma intervenção
profissional. •
POR VANESSA SILVA (TERAPEUTA DA FALA DA UNIDADE DE FISIATRIA)
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ENFERMAGEM ARTE DE
ESCUTAR O UTENTE
Saúde
Comunicar faz parte da “arte” de SER ENFERMEIRO.
A maior parte de nós, pensa que comunicar é só falar/exprimir
palavras, mas é muito, mas muito mais do que isso!
Esta comunicação pode ser através do toque, do olhar, de um
sorriso, de um abraço, de uma lágrima sincera…
Escutar o utente também faz parte desta comunicação!
Quantas e quantas vezes é que o utente está à espera do
nosso sorriso, por vezes como
forma de “aprovação”, de algo
que está a acontecer de bom na
sua recuperação?
Esperam pelo nosso olhar
reconfortante, para acalmar a dor, a
alma… e assim confirmam que não
estão sozinhos na sua luta.
E aquela mão que transmite segurança? Quando estão frias,
causam um despertar no utente (não de amargura), dizem
logo: “Mãos frias, coração quente…”, e o resto já sabem…
Nós, Enfermeiros, também brincamos muito ao “faz de conta”,
fazemos de conta que somos a amiga, ou a tia, etc, e
envolvemo-nos nas histórias que os utentes, desorientados,
“inventam”, mas para eles aquilo é tudo verdade. Esta é a
melhor forma de comunicarem connosco. Podemos estar horas
e horas a falar de um assunto, que muitas vezes, nem “ao diabo
lembra”! Eles ficam felizes e nós também.
E aquele abraço, não há nada melhor do que aquele
abraço! Sabemos que muitos de nós nesta pandemia sentimos
Esperam pelo nosso olhar reconfortante,
para acalmar a dor, a alma… e assim
confirmam que não estão sozinhos na
sua luta.
a falta do tal abraço, começamos a comunicar mais com o
olhar. Ficamos a perceber, que muitas vezes, um simples olhar
diz tudo, ou quase tudo, pois o rosto escondido atrás da
máscara não demonstra a nossa expressão facial (que também
é uma forma de comunicar).
Já diz o ditado: “Um gesto vale mais do que mil palavras”.
Melhor do que qualquer tratamento ou medicamento, é sem
dúvida, COMUNICAR!
Isto é só um resumo “de meia
dúzia de palavras” sobre as
diferentes formas de comunicar,
para um Enfermeiro (este tema
daria uma livro). •
POR JOANA ANDRADE (ENFERMEIRA NA
UNIDADE DE MÉDIA DURAÇÃO E REABILITAÇÃO)
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#42
Saúde
COMUNICAR NA SAÚDE
A comunicação faz parte do ser humano desde o seu primeiro
minuto de vida e permanece até ao seu último suspiro.
É possível comunicar de diversas formas, seja através da
comunicação verbal ou da comunicação não verbal, como
exemplo temos as expressões faciais ou da linguagem gestual.
O toque, o silêncio, o olhar e a própria postura são formas
de comunicar, que devem ser interpretadas e valorizadas.
A comunicação em saúde é uma ferramenta fundamental para
que se possa atingir o bem-estar e a qualidade de vida dos
utentes. Esta é uma ferramenta-chave para prevenir a
doença e promover a saúde. Podemos considerar que os
principais objetivos da comunicação em saúde são sensibilizar
a população para possíveis ameaças, promover a adoção de
comportamentos protetores, utilizar os recursos de forma
adequada e responsável e tomar decisões informadas. Para
que o utente adira ao plano de cuidados proposto pela equipa
multidisciplinar, é necessário existir uma comunicação eficaz,
em que o próprio compreende os objetivos a atingir e o seu
potencial de reabilitação. A comunicação surge como principal
aliada da estimulação e adesão e, se eficaz, obtêm-se
resultados positivos e significantes na reabilitação do utente.
Desde muito cedo, surgiram teorias e estudos que
mencionam a importância da relação enfermeiro-utente,
como é o caso da teoria das relações interpessoais, criada
em 1952 por Hildegrad Peplau. Nesta teoria, o indivíduo é
considerado um ser biopsicosocioespiritual e a Enfermagem
surge como um dos quatro conceitos-chave desta teoria. Para a
autora, a Enfermagem define-se como uma relação entre uma
pessoa que se encontra doente ou a necessitar de cuidados de
saúde e o enfermeiro que se encontra capacitado para
reconhecer, compreender e solucionar as necessidades
encontradas. Posto isto, surge aqui uma questão que nos leva à
reflexão: apesar de defendermos um modelo
biopsicossocioespiritual, quantas vezes atuamos sobre o
modelo biomédico, ao sobrepor a informação aos aspetos
relacionais? Muitas vezes, a organização de tarefas é
priorizada e a comunicação que temos com o utente fica um
pouco esquecida. O fator “gestão de tempo” é uma das
principais variáveis que prejudica esta relação terapêutica.
Surge aqui um desafio para nós, profissionais de saúde.
Quando realizamos ou planeamos os cuidados ao utente,
devemos manter como intervenção: vigiar a comunicação,
vigiar comportamentos e observar o mesmo como um todo,
considerando o cuidado holístico, valorizado por Florence
Nightingale, pioneira da Enfermagem.
Se a comunicação sempre foi um desafio diário para os
profissionais de saúde, a situação atual de pandemia
colocou-nos novas barreiras e desafiou-nos ainda mais. Foi
necessário reformular e reinventar as estratégias que até
então eram implementadas. A barreira primordial na
comunicação foi a máscara, que se tornou de uso obrigatório.
Esta surge como uma barreira, uma vez que nos impede de
observar o sorriso e expressões do outro e transforma os
discursos menos compreensíveis. Acresce ainda mais
dificuldade quando falamos em comorbilidades associadas
aos idosos, como a perda de audição. Intervenções como
adequar o tom de voz, falar pausadamente, utilizar
palavras adequadas à literacia de cada um, discursos
curtos e um olhar atento e sereno permitem melhorar a
comunicação.
As pessoas que se encontram institucionalizadas viram as suas
visitas suspensas, obrigadas a permanecer no seu quarto, em
prol da segurança. O distanciamento e o isolamento
determinaram novas formas de comunicação. As chamadas
telefónicas e videochamadas são realizadas mais
frequentemente e estas foram estratégias para que fosse
possível manter a comunicação ativa com os familiares e assim
diminuir receios, promover o bem-estar psicológico e
humanizar as relações nesta situação atípica.
Podemos realçar que o que Nightingale demonstrou há
dois séculos vigora atualmente: uma enfermagem
promotora de mudanças, que atua ativamente na linha de
frente e mesmo com as dificuldades e os riscos aos quais
se expõe, exerce e representa sua função: CUIDAR
(GEREMIA et al., 2020). •
POR JOANA FREITAS E MARTA PIAIRO (ENFERMEIRAS NA UNIDADE DE MÉDIA DURAÇÃO
E REABILITAÇÃO)
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#42
Formação/GRH
AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO
DOS/AS COLABORADORES/AS
CONSIDERAR QUEM NOS
CONSIDERA
Todos os anos, a Misericórdia de Santo Tirso ausculta os/as
seus/suas colaboradores/as relativamente à sua satisfação com
a Instituição e motivação relativamente às funções que
desempenha. Esta avaliação é feita através de um questionário
(de natureza pessoal e confidencial) de preenchimento
facultativo, com o objetivo de perseguir a melhoria contínua
dos serviços.
Em 2021, o questionário de avaliação criado para o efeito foi
disponibilizado através de um link para que os/as
colaboradores/as pudessem aceder online, de forma
individual, salvaguardando-se a privacidade das respostas
dadas. De modo a garantir maior adesão e atingir
colaboradores/as com baixa literacia informática/digital,
manteve-se a opção excecional de resposta em formato de
papel.
Mesmo num período difícil e conturbado, foram obtidos
resultados globalmente positivos em todos os parâmetros
avaliados:
Parâmetro
% de Satisfação Global
Contexto Organizacional 84%
Cooperação e Comunicação 89%
Mudança e Inovação 88%
Reconhecimento e Recompensa 71%
Relações com Chefias 82%
Política e Estratégia 86%
Posto de Trabalho 91%
Qualidade 91%
O nível médio de adesão na Instituição rondou os 50% (serviço
com valor mínimo = 26%; serviço com valor máximo = 100%).
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Formação/GRH
No que concerne à Avaliação Global, registou-se um aumento
de 16% no número de respondentes relativamente a 2020,
apresentando uma satisfação global no valor total de 87%.
TOTALMENTE SATISFEITO
6%
NS/NR
1%
NADA SATISFEITO
2%
POUCO SATISFEITO
10%
MUITO SATISFEITO
28% SATISFEITO
53%
Os dados globais de satisfação claramente positivos, não
retiram valor àqueles/as que, de alguma forma, demostraram a
sua insatisfação. As suas apreciações e os seus comentários são
sempre alvo da nossa melhor atenção, porque também esses
nos impulsionam na persecução da melhoria contínua e de
condições de excelência.
A Misericórdia de Santo Tirso considera e louva os/as seus/
suas colaboradores/as: a satisfação individual é melhor
potenciador do sucesso Institucional.•
POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)
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#42
Formação/GRH
FLEXIBILIDADE E
APRENDIZAGEM CONTÍNUA
CHAVES PARA O SUCESSO
A “Era Covid” veio cimentar uma certeza conhecida mas que
parecia merecer comprovativo, certificação: as carreiras
profissionais são projetos em permanente construção, porque
os/as profissionais mudam de papéis e funções com mais
frequência e fluidez.
Hoje em dia, a nossa capacidade para aprender é a melhor
moeda de troca no meio profissional. Os cursos profissionais e
superiores não dão garantias, são “apenas” pontos de partida,
já que em tempos íamos para o trabalho executar, mas hoje
trabalhar é aprender permanentemente.
Desenvolver a capacidade de aprender, desaprender e
reaprender é vital para sucesso a
longo prazo. A predisposição
para a aprendizagem contínua
potencia a disponibilidade para
a mudança, a flexibilidade, a
capacidade de adaptação, e a
resiliência. Nesta sequência, é
fácil depreender que chegam
“mais longe” os seres adaptativos e proativos, aqueles que mais
preparados se encontram para a mudança, que são os que
mais facilmente tiram proveito das oportunidades que os
desafios trazem.
Assim, quando investimos na nossa aprendizagem criamos
vantagem a longo prazo para o nosso desenvolvimento (pessoal
e profissional).
O dilema que se impõe:
“Eu gosto de aprender, mas como consigo fazer da
aprendizagem um hábito diário?
Desenvolver a capacidade de aprender,
desaprender e reaprender é vital para
sucesso a longo prazo.
Não tenho tempo. Não sei onde posso aprender matérias novas
que sejam úteis.”
O nosso dia-a-dia oferece-nos significativas oportunidades
de aprendizagem.
E o que quer isto dizer? Que estamos tão mecanizados para
cumprir tarefas, que não nos apercebemos do potencial ao
nosso redor. O desafio está em investirmos no nosso
desenvolvimento pessoal diariamente, de forma intencional.
Como? Com quem? Onde?
As pessoas com quem convivemos (familiares, amigos,
colegas, chefias, utentes, …) são fontes diversificadas de
conhecimento. Claro que há
conhecimento validado e
significativo, e informação para a
qual não devemos voltar a nossa
atenção – cabe-nos a tarefa de
sermos cuidadosos na distinção.
Por outro lado, alargarmos a nossa
rede de convivência pode trazer novas perspetivas e reduzir o
risco do sentimento de “mais do mesmo”. Contactar com
alguém fora do nosso círculo habitual pode ser uma boa forma
de abrir horizontes, conhecer outras realidades. Por exemplo,
uma vez por mês, convide um/a colega de outra valência ou
outro serviço/departamento para beber um café. Talvez tenha
a oportunidade de ver a Instituição por outra lente (perspetiva).
Isto também é aprender.
No Mundo de hoje, como sempre foi mas nem sempre o
percebemos, todos/as somos professores/as e todos/as somos
alunos/as.
No trabalho diário podemos propor novas formas de
executar determinadas tarefas, de organizar o serviço, de
aprender com colegas (troca de experiências e
conhecimentos). É natural que nem todas as ideias ou
propostas se concretizem, mas experimentar é uma
excelente forma de aprender, desaprender e reaprender.
Evoluímos sempre que aprendemos uma nova competência
(p.e. lavar corretamente as mãos), desaprendemos hábitos que
não são funcionais (p.e. tossir para a mão) e reaprendemos
outras formas de atuar (p.e. tossir para o cotovelo).
Deixo para o fim o “modelo tradicional” de aprendizagem,
formação e desenvolvimento pessoal, mas não por estar
desatualizado ou não ser relevante. Pelo contrário, a formação
contínua adquirida através da frequência de workshops e
cursos de curta, média ou longa duração, constitui um
excelente motor de reciclagem/consolidação de
conhecimentos, de aquisição de know-how, de partilha de
experiências, de capacitação para as funções que
desempenhamos.
Aquele/a que sabe estagna. Aquele/a que aprende evolui. •
POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)
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#42
Cultura
MOUSIKÉ AQUELE MOMENTO
Do mesmo modo que há muitas pessoas que não sabem o
que significa o seu próprio nome – porque nunca lho
disseram, porque nunca quiseram saber ou simplesmente
porque nunca pensaram nisso -, isto é, que a etimologia do
seu nome próprio aponta para um significado último, ainda
que muitas vezes sob a égide da mitologia, também se
torna extremamente oportuno buscar a etimologia de
qualquer conceito sobre o qual se pretenda discorrer.
Nesse sentido, quando falamos de música, saibamos que
esta deriva etimologicamente do grego mousiké, e que na
origem do termo está a mousa (musa) que desenvolvia a
sua techné (técnica) cantando e tocando para agradar aos
deuses do Olimpo. Não obstante, histórica, social e
culturalmente, a Grécia Antiga é também considerada por
muitos estudiosos como o berço da música ocidental, uma vez
que aí se foi consolidando e ganhando os contornos de arte
performativa que lhe reconhecemos hoje.
Não pretendendo, de todo, fazer aqui uma apologia proselitista
de estabelecer uma relação estreita entre divino e música, até
porque a crença ou adesão a um Deus/deus pressupõe a
liberdade, o facto de a etimologia do conceito música, por ela
mesma, remeter para uma dimensão transcendente (divina),
absolver-nos-ia à partida de tal pretensão. No entanto, num
rápido percurso pela História da Humanidade, vemos como a
música está presente nas demais culturas, civilizações e
tradições religiosas; residindo aqui mais uma particularidade,
ou não apontasse igualmente a palavra religião para um
re-ligare, ou seja, ligar o ser humano à divindade. Mais a
oriente ou a ocidente, de caráter mais sacro ou profano, mais
ou menos esotérico, ritual, político ou étnico, a música reveste-
-se de uma metalinguagem e metafísica próprias. Mesmo para
os não crentes, mas honestamente intelectuais, a música
move-se no domínio intangível das categorias, das
combinações; ou seria absolutamente necessário ser-se crente
para acreditar na matemática?!
Qualquer ouvinte, ainda que não necessariamente um
melómano, um músico, um musicólogo, um poeta, filósofo,
matemático, o que seja (!), sabe, porque sente, que a música
tem um princípio e natureza especiais. A música obedece à
esfera do racional e do irracional, e isso é certamente um dado
adquirido não só do senso comum, mas de todo o homem
pensante, vulgo homo sapiens. Sabemos que a música se
realiza (performance, daí arte performativa) em tempo e
espaço concretos, em indivíduos concretos e com corpo
biológico, em instrumentos humanos concretos (vozes
humanas) mas também em instrumentos físicos e corruptíveis.
Mais, ela é racional porque o ser humano é capaz de pensar a
coisa, de torná-la inteligível e abstrata, conferindo-lhe acima
de tudo um sentido. Todavia, a música tem uma dimensão
suprarracional, de outro domínio, aquilo a que
comummente designamos de inspiração ou impulso. De
onde vem? Para onde vai? A título de exemplo: tal como uma
pessoa muito versada numa qualquer língua – seja
inclusivamente o maior linguista! – poderá nunca habilitar-se a
escrever um poema, porque lhe falta a inspiração, assim
também o mais virtuoso ou instruído dos músicos poderá nunca
chegar a compor uma canção. É claro que a razão pode
escrever poemas e fazer música, mas na maior parte dos casos
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#42
Cultura
MOUSIKÉ AQUELE MOMENTO
ela é o brilhantismo humano que trabalha aquele impulso
legislado pela fonte que lhe queiramos atribuir. Não é assim?
Perguntai aos artistas.
Mas então qual é o domínio da música, é mais racional ou
irracional? Bem, a música é… a música é aquele momento!
Movendo-se por entre esses dois universos, um mais imaterial e
eterno (kairológico), e outro mais racional e corpóreo
(chronológico), esta é mais uma
analogia mitológica com a qual
nos atrevermos a decifrar o
sentido da música, o dizermos
que ela participa de uma e outra
dimensão para se tornar naquele
momento único de fusão e de
pertença. A música não participa
mais do seu lado intangível do
que do tangível, não. O momento musical, aquele momento
certo em que se canta, toca/executa ou simplesmente se
escuta, é de tal modo incarnado que abandona essas
premissas anteriores para se tornar num momento
existencial ímpar, o qual não se explica e se vive apenas. E
este momento tem provas reais da sua existência, ou não
choraríamos a ouvir música, não riríamos, não ficaríamos
com “pele de galinha”, não fossem evocadas certas
memórias e outras emoções (lugares, amores,
acontecimentos,…) ao escutarmos determinada música.
Tudo isto porque a música é aquele momento que
verdadeiramente nos faz transcender no tempo, em que
A música é da inclusão social porque há
lugar para todos os timbres (e o timbre
de voz não se compra); toda a gente
canta, e quem não canta toca (...)
viajamos dentro de nós próprios, e simplesmente acreditamos
nesse momento porque o sentimos; dessa experiência não há
quem nos retire, e é por isso que ninguém pode retirar a
música às pessoas. Aquilo que a música é verdadeiramente é
um momento, esse momento mágico que não se quer
compreender, mas viver. Não importa se ela é mais inspiração
ou transpiração, se ela é mais fé ou razão, o que sabemos, e
nos é permitido saber, é que ela é aquele momento em que se
realiza plenamente, um momento clarividente de pertença, de
encontro e de certeza do próprio
momento.
Do ponto de vista mais
epistemológico ou científico, o que
é que pode ser ou não considerado
música? Quem tem legitimidade e
autoridade para definir o que é a
música ou o que é música? Enfim,
também estas são questões muito difíceis de responder, pois
ninguém sabe muito bem onde ela começa e onde acaba.
Afinal, há séculos e séculos que se faz música e as
possibilidades musicais continuam a proliferar como um poço
sem fundo! Mas, por certo, mais ou menos racionalmente, mais
ou menos emocionalmente, todos concordamos que a
música é sem dúvida uma forma de expressão
especialmente eloquente, logo, impossível de não
comunicar. Ela torna-se eficaz no tempo em que se
desvela, para dizer o que não pode ser dito de outra forma.
A música é aquele momento!
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Cultura
A música é a única capaz de derrubar certas barreiras porque
está muito para além das palavras do diálogo ordinário. A
música é o refúgio de tantos misantropos! A música é terapia, a
música faz acontecer o impossível porque nos transcende. Ao
som de música clássica, extrai-se mais leite das vacas! A
música esconde-se nos mais frágeis, a música não é dos
ricos nem dos pobres. A música não traz menos felicidade
só porque não sou músico; sou feliz só de escutar! Alegra-
-nos a música dos outros e não nos desperta a cobiça nem
a inveja. A música é da inclusão social porque há lugar
para todos os timbres (e o timbre de voz não se compra);
toda a gente canta, e quem não canta toca, compõe,
interpreta, rege! Quem não serve vai para o bombo! Há
espaço para todos e a música é lugar para toda a gente,
porque a música é veículo de causa maior.
E quando por vezes na vida somos confrontados com aqueles
momentos festivos que com alguma prodigalidade certas
instituições realizam para os seus utentes, por mais simples que
seja a tal festinha, haverá sempre um momento… musical. E
sabemos como esse momento é tão normal quanto excecional.
A música é um momento, aquele momento de presença
real impossível de não comunicar e ao qual todos somos
dignos de pertencer. •
POR MIGUEL MOUTINHO (TEÓLOGO E MÚSICO)
UM SIMPLES PENSAMENTO
É a música, este romper do escuro.
Vem de longe, certamente doutros dias,
doutros lugares. Talvez tenha sido
a semente de um choupo, o riso
de uma criança, o pulo de um pardal.
Qualquer coisa em que ninguém
sequer reparou, que deixou de ser
para se tornar melodia. Trazida
por um vento pequeno, um sopro,
ou pouco mais, para tua alegria.
E agora demora-se, este sol materno,
fica contigo o resto dos dias.
Como o lume, ao chegar o inverno.
Eugénio de Andrade
Pag | 62
#42
Cultura
A FOTOGRAFIA E O
PERCURSO ATÉ AO SEU
SIGNIFICADO
Há muito que se discute se a Fotografia é um processo
meramente mecânico ou um processo de criação, mas,
independentemente do posicionamento de cada um quanto à
questão, certo é que a Fotografia é uma importante forma de
comunicar.
A Fotografia não existe sem o autor da imagem nem sem o
destinatário da mesma. Há uma relação de interpretação que
permite ir para lá da imagem em si, dando-lhe sentido, destino
e intenção a partir de diversos contextos e quadros de
referência. Como num conto que se lê, numa pintura que se
aprecia, numa música que se ouve… Na relação de partilha
entre o autor e o destinatário da fotografia está a
comunicação.
Sendo uma forma de comunicação, importa pensar nas
questões que se colocam à imagem contemporânea do ponto
de vista ético, no fundo, importa refletir acerca do ato de ver e
daquilo que se pretende dar a ver. O fotógrafo deve ter uma
preocupação sobre o processo interpretativo realizado por
quem vê, porque as imagens podem ter uma relação com
valores e levantar uma série de questões éticas. As intenções
do fotógrafo no momento em que produz a imagem não
determinam o significado da fotografia, que seguirá o seu
curso ao sabor das realidades, contextos e intenções de quem
a vê.
outubro, para assinalar o Dia Internacional para a
Erradicação da Pobreza. Nessa exposição estava compilada a
visão dos técnicos/as que trabalham diariamente com pessoas
em situação de pobreza e exclusão social, como forma de
partilha e reflexão sobre a problemática.
De uma forma mais simbólica e numa linguagem respeitadora
de quem vivencia esta problemática, a Misericórdia de Santo
Tirso procurou representar através das fotografias
“Clausura”, “Abandono” e “Itinerância” as fragilidades que
identificam a exclusão de mulheres, crianças, famílias e
idosos, grupos com os quais intervém nas suas diferentes
respostas sociais.
Comunicando através das fotografias apresentadas, a
Misericórdia procurou ampliar a consciência quanto à pobreza
e exclusão social, combatendo a indiferença pessoal e
institucional quanto ao tema. •
POR ANA ALVARENGA (JURISTA NA ISCMST)
É neste ponto que faz sentido introduzir a escolha que a
Misericórdia de Santo Tirso fez das fotografias que
compuseram o coletivo (IN)DIGNIDADES, apresentado na
Casa da Arquitetura de Matosinhos no passado dia 18 de
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Cultura
CLAUSURA
by ANA ALVARENGA
in EXPOSIÇÃO (IN)DIGNIDADES
ABANDONO
by ANA ALVARENGA
in EXPOSIÇÃO (IN)DIGNIDADES
ITINERÂNCIA
by ANA ALVARENGA
in EXPOSIÇÃO (IN)DIGNIDADES
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#42
Cultura
POEMAS
COMUNICAR
Comunicar é trazer muitas vezes dentro de nós
um silêncio difícil de se fazer ouvir
mais urgente do que responder
é necessário entender o que as palavras querem dizer
qual a intenção por de trás de...
ouvir com o coração e sentir com a Alma aquilo que não foi proferido...
afinal o que é que nós esperamos uns dos outros?
aprovação, reconhecimento, tocar a Alma de alguém...
alegria, que por vezes encontramos espalhada em migalhas aqui ou além?!
comunicamos, muitas vezes por um quase nada, que pode devolver-nos a vida
comunicar é muito mais do que falar... é comunhão de Almas
quantas vezes o silêncio foi mais útil do que as palavras
porque mais certas ou erradas que as palavras
são as interpretações que fazemos delas...
uma Palavra marca o nosso dia...
isto acontece quando falamos com alguém, lemos um livro ou ouvimos um poema
uma só, apenas uma Palavra...
que o amor largou, para que nós a pudéssemos escutar...
comunicar é carregar uma infinidade de emoções! •
POR CÉU MACHADO (VOLUNTÁRIA NA ISCMST)
Pag | 67
Cultura
QUANDO ME APONTASTE O DEDO NA RUA
Quando me apontaste o dedo na rua,
não entendeste que me acertaste.
Não é que a minha vida seja tua,
nem que mereças que seja eu a justificar-te
mas quando me apontaste o dedo na rua,
a ferida que ainda sangra, rebentou.
E não, não foi ela que se descoseu,
foi o teu dedo manhoso que a friccionou e a rompeu.
Quando me apontaste o dedo na rua,
os meus olhos encheram-se de lágrimas.
Não por ti pois nem te conheço,
mas porque naquele momento não virei a página e não impus o lugar
que eu mereço.
“Escrevi este poema há tantos anos (2003). Foi a minha careca à
mostra que o impôs que o escrevesse. Continua a ser um dos meus
poemas favoritos, talvez por ter sido um rasgão sentido. Um grito.” •
POR MARINE ANTUNES (CANCRO COM HUMOR)
Quais são os 3 locais favoritos em Portugal?
Não gosto de passear, o meu local favorito é Santo Tirso, é
onde está a minha família.
O que o deixa cheio de orgulho no concelho de Santo
Tirso?
É um concelho calmo. Tenho tudo o que preciso aqui para
viver e ser feliz.
E na Misericórdia?
Gosto das pessoas e penso nos mais frágeis que precisam
da ajuda da Misericórdia. Nós também podemos vir a
precisar... Sinto ainda muito orgulho em ter conseguido
cumprir tudo o que me pediram, todas as ordens ao longo
destes anos, com todos os Provedores que passaram pela
Misericórdia desde que vim para cá trabalhar.
Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente?
Não tenho ouvido nenhuma música especial, mas gosto de
ouvir Quim Barreiros, Toni Carreira e o Rancho Folclórico
de Monte Córdova.
RE
VE
LA
ÇÕES...
E o filme que marcou a sua vida?
Não quero referir um específico, mas gosto de filmes de
Cowboys.
Um livro para ler antes de dormir?
Não gosto de ler, não tenho paciência.
Prefere praia ou cidade?
Prefiro cidade, não gosto de praia.
Se pudesse escolher a vista de sua casa, como seria?
Seria uma paisagem virada para o campo. Antigamente
gostava da lavoura e essa paisagem iria trazer-me
recordações de infância. Em criança estava sempre a
cultivar…
O que valoriza no ser humano?
Serem pessoas limpas e organizadas.
O que lhe ocorre, quando recorda a 1ª vaga da pandemia,
vivida aqui na Misericórdia?
Medo. Tinha medo que a doença chegasse também aos
porteiros. A minha mulher esteve a trabalhar num dos lares,
esteve exposta ao vírus e tive muito receio do contágio.
Foi fácil gerir as entradas e saídas de pessoas e viaturas
nessa fase, em segurança?
Sim, tanto os nossos funcionários como todas as outras
pessoas “de fora” entenderam muito bem as novas regras e
souberam respeitar as orientações que tínhamos de dar.
NOME JOSÉ FERNANDO VIEIRA DOS SANTOS
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