Revista da Misericordia #41
São 20 anos de Revista da Misericórdia, refletidos em ilustrações e imagens de diversas capas dos últimos anos. Sempre associadas aos conteúdos abordados que andam à volta da SUSTENTABILIDADE ambiental, económica e social, tema que convidamos à reflexão acompanhando as preocupações, alertas e palavras de esperança da equipa de colaboradores que se envolveram neste tema.
São 20 anos de Revista da Misericórdia, refletidos em ilustrações e imagens de diversas capas dos últimos anos. Sempre associadas aos conteúdos abordados que andam à volta da SUSTENTABILIDADE ambiental, económica e social, tema que convidamos à reflexão acompanhando as preocupações, alertas e palavras de esperança da equipa de colaboradores que se envolveram neste tema.
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editorial
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20 anos
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por vasco ferreira
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provedor 1986/87 e 2000/05
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Vinte anos. É uma data realmente especial. E
enquanto ia pensando o que escrever a propósito,
encontrei o mote ao folhear a Revista nº 1 da
Misericórdia, então impressa na Tipografia Nova, em
Santo Tirso. Tanta evolução de então para cá!
Assinei, enquanto Provedor, o “Estatuto” editorial da
primeira edição, que terá sido distribuída em Junho
de 2001. Realço parte do “Estatuto” que escrevi e foi
ratificado em reunião da Mesa Administrativa:
(…) “Não se encontra sujeito a qualquer corrente
ideológica ou credo político, o que não o impede de
expressar a sua opinião, sempre que julgue oportuno
e com total respeito pela diferença de opinião dos
outros: tudo fará para não entrar em polémicas
estéreis, seja qual for o tema ou o assunto.”(…)
E assim sempre aconteceu. Vinte anos passados, o
balanço só pode ser positivo. Hoje ninguém tem
dúvidas de que a edição da “Revista da Misericórdia”
é um exemplo de sucesso. Discutir internamente
para que em conjunto sejam apontados caminhos e
soluções, só revela o espírito verdadeiramente
democrático intrínseco à instituição, prevalecendo
uma voz, a da união dos Diretores, dos Colaboradores
e da Mesa Administrativa.
Construir seja o que for dá muito trabalho. É
necessário dedicação, empenho e total entrega à
causa em que se acredita e se defende diariamente.
Não se pense, por isso, que a história e o património
imaterial que a “Revista da Misericórdia” representam
foram construídos unicamente com o contributo dos
dirigentes que pela Santa Casa desfilaram. Aliás,
passar por tal estrutura ultrapassa qualquer cargo e
presença nos corpos sociais da instituição. Foram,
assim, bem mais os que por aqui passaram. Foram
afinal todos os que, enquanto elementos institucionais
ativos, se preocuparam em debater e participar na
imagem que a Revista projeta. Sem esquecer os que
desinteressadamente colaboraram em todas as
temáticas que foram abordadas.
Houve uma mudança radical entre a primeira e a
última revista publicadas, na forma e no conteúdo.
Ao revê-las, logo ocorre a ideia do sociólogo e
filósofo polaco, expressa na frase “A mudança é a
única permanência e a incerteza a única certeza”.
Nunca, como nas últimas décadas, se falou e se
escreveu tanto sobre a mudança, ao ponto de se
banalizar a ideia de que tudo muda e tudo é feito de
mudança, como se nada permanecesse. Estamos
perante um problema de perceção: só olhamos o
que muda e esquecemo-nos do que persiste. É como
se estivéssemos numa dobra do tempo. É como se
entre o tempo cronológico e o tempo de cada um de
nós existisse um desfasamento tal que se torna
impossível conciliar os dois. Mas foi possível. Com a
visão para compreender cada momento vivido, a
ambição de querer transformá-lo e a audácia de o
ter feito. Até hoje terá, porventura, sido prestada
mais atenção aos movimentos sociais locais e aos da
própria instituição, em detrimento das mudanças
sociais, económicas e tecnológicas que ocorreram
em sociedades mais avançadas. Será preciso, por
isso, ser mais abrangente e plural. Se fizermos só o
que sabemos, nunca seremos nada além do que já
somos. O tempo e a sua inexorabilidade são o
expoente máximo desta realidade.
O terceiro setor está a alterar-se de hora a hora. É
urgente criar futuro. Fica um desafio à “Revista da
Misericórdia”: tornar-se vanguardista através da
criatividade e da inovação, do pensar fora da caixa,
de espelhar de minuto em minuto o que se passa
também no contexto social nacional e internacional,
de incentivar ambientes de trabalho colaborativos e
solidários, de aproximar todos os saberes que
interajam e criem ligações mesmo que inesperadas
e improváveis, de fomentar a diversidade.
Considerar que os primeiros vinte anos foram de
consolidação do seu espaço. E que os próximos vinte
se tornem um lugar ímpar de conhecimento e de
descoberta, com um simbolismo que resista à
passagem do tempo, tornando-se relevante.
E assim será sempre um motivo de celebração.
SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A FILIPA GODINHO - ARTISTA PLÁSTICA DE
SANTO TIRSO P.06 / SUSTENTABILIDADE - UM DESAFIO PERMANENTE P.14 / WEBINAR
- IFRRU PARA REABILITAR P.15 / RELATÓRIO E CONTAS 2020 P.16 / O IMPACTO DA
COVID-19 NAS MISERICÓRDIAS - A RECONSTRUÇÃO DO FUTURO COM A ECONOMIA
SOCIAL P.20 / DIÁLOGO COM A COMUNIDADE P.24 / SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU
COM A PANDEMIA? P.24 / SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU COM A PANDEMIA? P.28
/ CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL P.32 / A MISERICÓRDIA E O AMBIENTE P.36 / GESTOS
QUE POUPAM P.38 /// FORMAÇÃO/GRH / LOUVOR AO LÍDER INCOMPLETO P.40 / 3º
SETOR - DIFERENCIAÇÃO NA GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DA ECONOMIA SOCIAL P.42
/// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE / PLANEAMENTO E ARTICULAÇÃO SOCIAL P.43 /
SUSTENTABILIDADE - MOBILIZAR VONTADES PELO QUE NOS É COMUM P.44 / SEMANA
DA INTERCULTURALIDADE P.46 / UNIÃO PARA SUPERAR VICISSITUDES P.48 /// SAÚDE
/ ESPERANÇA P.49 / ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL - RECOMENDAÇÕES P.50 /// AÇÃO
EDUCACIONAL / PEQUENOS GESTOS PARA UMA FAMÍLIA SUSTENTÁVEL P.54 /// CULTURA
/ O FUTURO DO SETOR TÊXTIL RUMO À CIRCULARIDADE P.56 / FAÇA VOCÊ MESMO
- ECONÓMICO E SUSTENTÁVEL P.58 / OS IRMÃOS EM REVISTA P.60 / O CONDE S. BENTO E A
URBANIZAÇÃO DE SANTO TIRSO P.62 / POEMA P.66 /// REVELAÇÕES MARTA FERREIRA P.68
A edição desta Revista, para além de versar sobre o tema
SUSTENTABILIDADE, também comemora 20 anos de vida.
Criando a ligação a um passado que se faz presente, este número
inclui imagens e ilustrações de capas anteriores, ligadas ao artigo
em referência. A criatividade no design também pode promover a
circularidade e ser re-imaginada…
2010/CEP.3635
Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.
PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS // SECRETARIADO AVELINO
RIBEIRO // COLABORADORES BETHANIA PAGIN // CARLA GONDAR // CARLA NOGUEIRA // CÁTIA MAGALHÃES // CÉU MACHADO // GRAÇA
LOURENÇO // HUGO ASSOREIRA // HUGO MARTINS // IDALINA MACHADO // ILÍDIO OLIVEIRA // JOÃO LOUREIRO // J. LUIS CRISTINO // JOSÉ PINTO
// JULIANA MOREIRA // LILIANA SALGADO // MARGARIDA COELHO // Mª AMÉLIA FERREIRA // MIGUEL DIAS // NUNO LUCAS // NUNO OLAIO // SARA
A. SOUSA // SÍLVIA MONTEIRO // SUSANA FONSECA // SUSANA FREITAS // SUSANA MOURA // VASCO FERREIRA // TIRAGEM 1000 EXEMPLARES
// EDIÇÃO JUNHO 2021 // DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN
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#41
Atualidades
ENTREVISTA A FILIPA
GODINHO ARTISTA PLÁSTICA
DE SANTO TIRSO
UM OLHAR GENEROSO
Filipa Godinho é uma artista plástica de Santo Tirso, onde
viveu quase toda a sua vida, mas que se mudou para o
Porto há cinco anos. Tem um sorriso bonito e sempre
presente no rosto e mesmo quando menciona
circunstâncias menos boas, há um brilho e uma vivacidade
na forma entusiasmante que fala das coisas. É de facto
uma apaixonada pela vida e pelas pessoas. Resiliência é
uma palavra nunca mencionada na nossa entrevista, mas
depois de ler sobre ela, conversar e conhecê-la melhor,
sentimos que é o que melhor a define. Isso e a sua
generosidade nas ações e no tempo que dedica ao trabalho
e às pessoas. Atenta ao mundo, vive em constante
aprendizagem, onde as preocupações ambientais fazem
parte do seu dia-a-dia pessoal e profissional.
Filipa Godinho tem 37 anos e um significativo percurso nas
artes, tendo-se dedicado e vivido do seu trabalho artístico em
desenho, pintura, escultura e cerâmica durante vários anos. A
sua obra esteve já exposta em várias galerias, museus e
bienais nacionais e internacionais. Paralelamente foi
professora, na última década foi mãe duas vezes,
desdobrando-se desde cedo entre serviços educativos artísticos
vários. Trabalhou cerca de 10 anos em Serralves e nos últimos
18 meses na Casa da Arquitetura, onde atualmente exerce a
função de coordenadora do serviço educativo.
É possível viver da arte?
Sim, é possível, mas não é fácil. Implica coragem e
persistência, não é uma vida estável. Quando se tenta viver da
arte não se conta com um ordenado fixo, ou seja, se tivermos
gastos regulares estamos sempre dependentes do que
vendemos para os colmatar. Não temos nunca uma
tranquilidade absoluta, o que provoca bastante ansiedade.
Sobretudo quando se começa, e este começo pode demorar
anos, décadas… Este nível de sacrifício, que vem cheio de
frustração muitas das vezes, só se consegue superar com uma
enorme paixão. Se a paixão for maior que o medo, sim, é
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Atualidades
possível viver da arte. Claro que isto é uma visão um pouco
romântica que só se segura com prudência, contenção nos
meses melhores e resistência nos piores. Eu gosto de fazer
muitas coisas e foi sobretudo por isso que não fiquei
demasiado tempo a viver só da arte, mas estava a resultar, na
verdade acho que se apenas me interessasse o dinheiro
ganhava mais se me tivesse mantido assim, bem feitas as
contas. Mas, para mim, torna-se um isolamento que me
perturba, em excesso não me faz bem, preciso de contactar
com pessoas e criar dentro desses contactos, conversar muito,
pensar junto, ter desafios e oportunidades para ser criativa. O
atelier é um lugar demasiado meu, demasiado cheio de mim, e
isso cansa-me. Talvez um dia o atelier seja outro e consiga
enchê-lo doutras coisas, ou talvez eu mesma seja outra e já me
canse, acredito que caminho para isso. Gosto de sonhar que
um dia volto a dedicar o meu tempo laboral todo ao atelier,
planeio isso como quem planeia as férias de uma vida. Há-de
ser trabalho e, como sempre, o trabalho de atelier é muito
duro, mas avanço quando sentir que vai ser, sobretudo, prazer.
Tem de ser esse o motor.
Paralelamente enveredou por outros caminhos, o ensino foi
uma das áreas a que esteve ligada durante alguns anos.
Comecei aos 23 anos e dei aulas em dezasseis escolas, desde
o ensino básico (1º ciclo) ao ensino superior. O ensino em
Portugal está longe de ser satisfatório para quem acredita na
importância do ensino artístico. Tem curtos tempos de trabalho
com muita contenção de gastos, salas pouco preparadas para
a parte artística e depois as direções das escolas não querem
largar os programas antigos e são também pouco recetivas a
novas sugestões. É rara a escola onde dá para fazer coisas
mais experimentais. O que vi, na maioria, foram escolas cheias
de professores muito cansados, que não arriscam para não
serem questionados e evitarem trabalhos. O que é o inverso do
que devíamos ensinar, é um péssimo exemplo, com isto as
crianças crescem a perceber que o que dá muito trabalho não
se faz, o que demora muito, o que suja, o incerto, o que não se
sabe se resulta, o desvio, são para evitar. E com isto de repente
percebemos que estamos a deixá-las de fora da experiência
criativa, ensinamos na prática que devemos procurar receitas
simples para todos os problemas, embora na teoria os tentemos
convencer do oposto pedindo-lhes genialidade. Eu acredito
num ensino mais honesto, com trabalho expandido e
multidisciplinar, ligado por eixos capazes de cruzar as famílias,
os alunos, os docentes e a comunidade. A experiência é a
forma mais direta e primária para aprender, aprende-se
fazendo, vendo, imitando, testando, sentindo. Como mãe sou
muito atenta ao que a escola consegue dar aos meus filhos e
tento perceber como posso complementar. Na verdade, o que
sinto que devo fazer é dar-lhes o básico, que a escola não dá,
o contacto com a natureza, a liberdade de escolha e de
opinião, ouvi-los muito, questioná-los mais ainda, dar lugar à
subjetividade deles. Mas isto é o papel de qualquer educador,
o de ouvir, compreender e orientar a subjetividade de cada um
para que se satisfaça em harmonia com o todo. Há ferramentas
que devemos adquirir, claro, mas o pensamento industrial e
economicista ainda predomina, a competitividade, e isso
afasta-nos da missão maior. Somos todos, queiramos ou não,
educadores. Somos todos responsáveis pelo que mostramos a
quem nos vê, e quem está com crianças devia perceber que o
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#41
Atualidades
ENTREVISTA A FILIPA
GODINHO ARTISTA PLÁSTICA
DE SANTO TIRSO
mundo das crianças não é o mesmo dos adultos, exige muito
mais ar, ideias, sonhos, tempo.
Enquanto professora, como é que envolvia os seus alunos
para a questão dos recursos de forma sustentável?
Como Professora sempre fui adepta da ideia de que com
pouco se pode fazer muito. Adoro, ainda hoje, pegar em coisas
avulsas e improvisar-lhes um uso, transformá-las. Quando as
pessoas me dizem que não conseguem produzir por não terem
materiais, eu sinto-me automaticamente desafiada a resolver
isso com coisas que se encontram por todo o lado, é só olhar
com atenção. Estamos, infelizmente,
rodeados de objetos que podemos
utilizar para criar, desde o cartão de
embalagens, que é o meu favorito.
Estou a lembrar-me que uma vez fiz
uma peça de teatro numa escola do
1º ciclo na qual todas crianças
construíram cabeças enormes de
animais feitas de cartão. Todas as
personagens e o cenário foram feitos com cartão e agrafador,
depois pintados com guache preto que desenhava alguns
detalhes e foi das construções mais bonitas que fiz numa
escola, a custo quase zero. Podemos pintar com café, desenhar
com carvão, desenhar na areia, esculpir com papel, com
tecidos, com comida, não há limites. Os estudantes de arte,
sobretudo os mais velhos, sonham sempre em produzir obras
enormes, gigantes, e preocupam-se muito com a durabilidade,
ainda há muito a vontade de que as criações perdurem além
da vida do artista e o imortalizem. Na verdade, se pensarmos
Podemos pintar com café, desenhar
com carvão, desenhar na areia,
esculpir com papel, com tecidos,
com comida, não há limites.
bem, é uma questão de ego. A pegada ecológica de um artista
que produza muito, grande e duradouro é terrível. O planeta
está cheio de objetos, a maior parte deles não são arte, é certo,
são só coisas inúteis que rapidamente se reduzem a lixo
quando já saciaram um desejo qualquer que entretanto
passou. Mas os artistas são, muitos deles, e é desses que falo,
criadores de objetos. Ora se isto não vier com responsabilidade
só estamos a tornar o mundo num lugar ainda mais cheio de
coisas que o terá dificuldade em engolir. Por isso acho tão
perfeita a música enquanto arte. A imaterialidade seduz-me.
Há, sobretudo desde os anos 60, cada vez mais artistas a
trabalhar sobre o conceito da
imaterialidade. Claro que se
pensarmos na poluição que os dvds
trouxeram há umas décadas atrás
concordaremos que não foi nada de
amigável em termos ecológicos, mas
há muitos artistas hoje preocupados
com isso. O ativismo na arte tem
explodido no dobrar do milénio no
que diz respeito às questões ambientais. Se os artistas eram
vistos como seres rebeldes e irresponsáveis, há cem anos atrás,
acho que agora estamos a assistir a uma realidade quase
inversa. Acho que os artistas estão a tentar exprimir as
preocupações do nosso tempo e essa é uma das mais fortes e
relevantes. Tentam ser responsáveis, apontar o dedo aos
problemas, propor modos de estar e de produzir em harmonia
com a natureza. O que eu tentei sempre passar aos meus
alunos foi o poder da mensagem e a responsabilidade que ela
nos traz. Podemos tomar escolhas e só dentro desse jogo de
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Atualidades
escolhas é que faz sentido falar de arte. Eu não sou
completamente ecológica no meu trabalho, mas tendo a ser e
gosto de pensar que tudo que faço é efémero. Tenho levado o
meu trabalho a tamanhos cada vez mais pequenos, materiais
cada vez mais sensíveis e frágeis, e adoro pensar que é
possível que vivam tanto como eu. É bom, eu acho, que tudo
passe sobre o planeta, e nada fique, para que a vida seja
renovada sempre.
Lugares de Afetos
Filipa Godinho tem uma mini horta em casa, onde planta com
os filhos legumes, ensina-os e sensibiliza-os sobre as questões
de uma alimentação equilibrada, de boas práticas ambientais.
Esta é uma preocupação bem presente na sua vida,
nomeadamente no que diz respeito ao consumismo. Há muitos
jogos e brinquedos que são feitos numa combinação de
materiais ou objetos que são recuperados e potenciados numa
nova vida. Este olhar de constante transformação esteve
sempre presente no seu percurso de vida. A sua curiosidade
fê-la sempre encontrar novas fórmulas.
Tem uma mini horta em casa. A sensibilização ambiental
nos mais pequenos ainda vai num ritmo muito lento?
Eu acho que os mais novos estão bastante sensíveis à urgência
na nossa mudança de hábitos. Ter uma horta é, para crianças
que crescem na cidade como as minhas, uma experiência
quase laboratorial, infelizmente, claro que seria muito melhor
se tivessem terreno e assistissem a tudo de modo menos
artificial e condicionado. Acho que são os adultos que ainda
precisam de ser convencidos sobre a mudança necessária, são
esses que estão acomodados e sentem uma enorme preguiça e
resistência à mudança. Estes miúdos têm a tarefa difícil não só
de fazer mudar o mundo, que não é coisa pouca, como de
fazer mudar os pais. Espero que consigam, admiro-os muitos.
Admiro mesmo a nova geração de miúdos transformadores que
aí anda. Sinto-me otimista quando os vejo.
Como gere o seu trabalho criativo?
Eu trabalho no atelier em pesquisas que são muito pessoais, às
vezes até biográficas, são preocupações minhas. Algumas
vezes encaro-as como experiências, pesquiso soluções de
representação, outras vezes são parte do meu processo para
resolver os meus problemas. Depois há outro lado, que é
quando apesar de não entrarem no atelier o processo envolve
mais gente. Recebo de vez em quando encomendas e, quando
o trabalho me interessa, acabo por me dedicar também a isso.
Embora o faça cada vez menos, porque preciso menos e
porque cada vez me sinto menos movida para isso. Só quando
acho que vai ser algo mesmo especial, prazeroso.
Aceitar estes pedidos/encomendas não é castrar ou
adulterar um pouco a parte criativa?
Depende. Quando são pedidos muito objetivos, como retratos,
por exemplo, é castrador e afeta a médio prazo a autoestima. E
eu já fiz muitos, sem ter completamente percebido que isso me
estava a levar por um caminho que nunca imaginei que iria
fazer. A verdade é que gosto de me perder no jogo de captura
de um rosto, há um processo de caça através do desenho que
eu adoro, mas a seguir a isso vem a expectativa e quando se
começa a tentar agradar aos outros já se perde o prazer da
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#41
Atualidades
ENTREVISTA A FILIPA
GODINHO ARTISTA PLÁSTICA
DE SANTO TIRSO
criação livre. É preciso ir alternando entre encomendas e
trabalho próprio. Idealmente, fundir ambas, que seria o ideal,
pois faz-se sempre o que se quer e como se quer. Mas não nos
enganemos, acho que em nenhum trabalho se faz sempre tudo
que se quer e como se quer, ceder não é mau se for em
consciência. Muitas vezes fiz coisas de que gostava menos para
depois poder fazer outras de que gostava muito. Nunca fiz
nada de que não gostasse, talvez tenha sido sorte ou então
talvez seja apenas teimosa.
Rostos Marcantes
Há cinco anos foi inaugurada em Santo Tirso uma exposição
importante para Filipa Godinho, algo que descreve como
muito pessoal e íntimo. Com o título “1562/1563” apresentou
quadros de doze rostos de pessoas que foram, e são, ainda,
companhia dos pais na Casa de Repouso de Real, valência da
Misericórdia de Santo Tirso.
Os seus pais foram para esta instituição muito novos, tinham 60
anos, e Filipa Godinho queria que se integrassem o mais
rapidamente possível com as pessoas que lá estavam e que
fizessem amizades. Então decidiu fazer um projeto para
apresentar à Santa Casa da Misericórdia e à Câmara
Municipal de Santo Tirso e depois às famílias das pessoas
envolvidas. O seu pai era Professor de Educação Visual e
também Escultor, e pensou que um trabalho artístico desta
envergadura o poderia animar.
Fotografou os utentes, numa sessão fotográfica em que houve
toda uma produção da imagem dos mesmos, muitos foram ao
cabeleireiro, compraram roupa nova, foi um momento único e
especial para todos, nomeadamente para Filipa Godinho que
sentiu que este projeto os fez sentir acarinhados. Doze
pinturas, doze rostos pintados em 3 meses.
Este trabalho acabou por influenciar, deixar uma marca?
Na altura não tive noção disso, mas sim, foi um momento de
viragem. A minha vontade era de fazer aquilo para os meus
pais e, claro, para os utentes mas acabou por ser o início de
um caminho que ainda hoje está aberto. Tenho recordações
preciosas desses momentos, e muitas saudades de algumas das
pessoas retratadas que lamentavelmente entretanto já
faleceram. Já me ocorreu voltar a desenvolver um projeto de
cariz social como esse, foi muito motivador e emocionante.
Frequentemente chegava à exposição e via gente chorar. Foi
muito forte para muita gente.
Foi um trabalho diferente do que já tinha feito...e que
entretanto teve continuidade.
Acho que fui levada por um processo que teve início aí, mas ao
mesmo tempo senti que havia um potencial de fazer o bem,
porque quando as pessoas me pediam retratos eu percebia
que era mesmo importante para elas o segurar daquelas
imagens. A grande questão que está na base do retrato é a
questão da memória, e isso interessa-me muito. Fui fazendo
retratos pontuais e de repente as pessoas foram gostando cada
vez mais, eu fui aprendendo a fazer melhor, e nunca mais se
fechou esse caminho…e eu tentei fechá-lo algumas vezes.
É engraçado porque enquanto estudante eu achava que ia ser
uma criadora muito mais minimalista, mais conceptualista; as
minhas teses de fim de curso, de mestrado, não tinham nada
de figurativo, não tinham nada a ver com o mundo no qual eu
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Atualidades
depois entrei e do qual nunca consegui sair completamente.
Mas está a mudar, acho que estou noutra fase. Até porque a
minha relação com a memória e com as imagens também está
a mudar e isso vai refletir-se nisto.
Disse na altura que “a vida é uma contínua metamorfose” e
“todos os momentos devem ser valorizados e superados”.
Ainda pensa assim?
Eu acredito na impermanência de tudo. As coisas nunca são
como foram há uns minutos, estão sempre a mudar. Acho que
quanto mais rápido tomarmos consciência disso menos
frustrações teremos, porque viver acreditando que as coisas
são previsíveis, duradouras e estáveis é
uma ilusão; pelo menos é essa a
aprendizagem que eu tenho tido. Penso
que lutar contra essa impermanência é
uma luta perdida.
Sobre a superação, não sei bem o que
é. Sei o que significa continuar. Sei
como se faz, insiste-se, espera-se quando não se consegue
andar, avança-se quando se consegue. Acho que sabemos
sempre pouco sobre o que está a acontecer na nossa vida, e
menos ainda na vida dos outros. Se tudo correr bem, penso
hoje diferente do que pensava quando disse essa frase. Talvez
superar seja isso, ou seja, se uma tentativa de resolver um
problema não funcionar para o atravessar, tenta-se de outro
modo, e de outro, até conseguir. Mas por vezes é quando
deixamos de pensar nisso que o problema desaparece. Estou a
lembrar-me da imagem da criança que fica presa numa grade,
acontece muito, um braço, a cabeça, enfim, enquanto estiver a
Eu acredito na impermanência
de tudo. As coisas nunca são
como foram há uns minutos (...)
lutar para sair não consegue. Mas quando relaxa de repente
sai e nem se percebeu como. Talvez compliquemos demasiado
as coisas.
Como é a sua relação com as peças. Existe uma ligação
afetiva com as suas obras?
Tenho com algumas, e essas não vendo. No geral tento que
vão para pessoas especiais, não precisam de ser próximas, mas
preciso de sentir que aquele objeto vai ser valorizado de uma
forma parecida com o valor que lhe dou, como quem entrega
uma coisa pessoal e faz questão que a entendam. Claro que
nada disto se controla verdadeiramente, mas as peças das
quais gosto muito chego a ficar
verdadeiramente triste, dias, semanas,
quando vendo. Tenho uma ou outra que
vendi há anos e que ainda hoje penso
nelas com arrependimento. Mas sei que
não está certo, o correto é libertar.
O que é que a move e a inspira?
Os meus filhos, sempre, todos os dias. Tento estar atenta aos
seus interesses e o que querem conhecer, experimentar, o que
lhes dá prazer. Os pais devem ajudar os filhos a agirem de
acordo com o que são e sentem, ou seja, a serem eles próprios,
a descobrir qual o caminho a seguir para serem felizes e
estarem bem consigo e com os outros. Mas eu acho que os
filhos também nos ajudam a descobrir-nos, dão-nos a
oportunidade de nos reavaliarmos, devolvem-nos informação
preciosa sobre nós. É simbiótico, crescemos juntos. Eu sou
muito alimentada pela luz dos meus filhos e apesar de saber
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#41
Atualidades
ENTREVISTA A FILIPA
GODINHO ARTISTA PLÁSTICA
DE SANTO TIRSO
que a base disso é a do amor, sei também que há algo mais
selvagem e natural nesta relação e que me ultrapassa, eu
preciso deles para sobreviver na mesma medida em que
preciso de sobreviver para eles. Não conheço nada mais
poderoso que isto.
O que mudou depois de ter tido cancro?
Tudo mudou, não há regresso. Muda a relação com o corpo,
com o tempo, com os amigos, com a família, com o trabalho,
com a vida em si. Pode-se pensar que se vai ter um ano
diferente e volta tudo a ser como era antes e que vamos
continuar a vida tal como estava quando isso aconteceu. Mas
não é verdade. Sei que sou outra, sinto-me diferente e o
mundo de certa forma também me parece outro, porque
mudou o modo como o vejo. É como se estivesse a usar uns
óculos novos que me mostram o que não via antes. Por muito
que explique acho que é uma mudança muito pessoal e
intransmissível.
E agora como gere o seu tempo?
A minha prioridade são sempre os meus filhos. Divido o meu
tempo entre eles e o trabalho, algumas amizades e o atelier.
Durmo pouco e tento gerir tudo com o equilíbrio possível.
Consigo ir ao cinema, ter tempo para passeios a pé quase
todos os dias, brincar com eles, conversar muito, e envolvo-os
sempre nos meus projetos. Por exemplo, eles ajudaram a
esculpir o busto que fiz recentemente. Estiveram horas com as
mãos na peça, foram fazendo coisas que eu depois fui
corrigindo quase até ao final, quando depois já não podiam
mesmo alterar nada. Prefiro deixar um trabalho para ser feito à
meia-noite, quando eles estão a dormir, do que retirar tempo
de estar com eles, preciso desse tempo, aliás, é para que ele
exista que eu trabalho, mal corria se depois não o aproveitasse.
Como é a sua casa? Tem muitos quadros e cerâmica?
Mudei de casa este mês e nesta casa vou tentar não ter
imagens em lado algum. Preciso de um intervalo de imagens.
Vamos todos viver numa casa limpa de pinturas por uns
tempos. Vamos ver quanto tempo dura.
É uma casa com muitos brinquedos, música, livros e gatos. Há
trotinetes, muita fruta, chocolates, sempre alguns balões pelo
chão e o atelier ao fundo. Não me posso nunca queixar de falta
de animação.
O que é que mais teme, que a assusta?
Ver as pessoas quem gosto doentes, e a ideia de não assistir o
suficiente à vida dos meus filhos.
O que faz dar umas valentes gargalhadas?
No bem e no mal estou sempre a tentar sorrir, mas o que me
faz dar umas gargalhadas valentes são os disparates dos meus
filhos e das minhas amigas mais loucas e queridas, as
Leonildas, que é um nome que veio da quarentena entre um
grupo de amigas. E eu própria, claro, quando sou ridícula, o
que acontece muito.
Que balanço faz deste ano, de viver sobre o espectro
COVID?
O COVID trouxe o medo. De repente tememos perder toda a
gente e percebermos que somos muito frágeis. A mim fez-me
Pag | 13
Atualidades
trabalhar mais em casa e valorizar o meu espaço. A relação
com o trabalho também mudou. Trabalhar à distância é algo
que as instituições deveriam adotar nem que fosse algumas
vezes por semana porque permite um nível de esforço
diferente, menos desgastante e mais focado. Eu aprendi muito
sobre a minha fragilidade em 2020, e sobre a dos outros. Além
do covid lidei com um cancro na
mama e terminei o ano com a perda
do meu pai. O covid, que foi
gigante, no meu ano foi só mais uma
coisa entre tantas, não o vivi tão
intensamente por estar a viver outras
situações intensas, mas condicionou-
-me porque me fechou. Teria sido
mais fácil se tivesse sido possível ter
gente perto.
Costuma acompanhar o trabalho
de arte alheio?
Gosto de acompanhar e estou
atenta. Em todas as exposições que
vou encontro sempre aprendizagens,
e mesmo discordando, fazem-me
pensar. Espero que isso aconteça
sempre, porque acho que mais que
um lugar de deslumbramento, o museu, a galeria ou o atelier
de alguém deve ser o lugar de questionamento, de confronto
com a diferença. Dá-nos a possibilidade de pensar diferente,
crescer um bocadinho, ampliarmo-nos.
Nesta nova casa, vai ter espaço para ter o seu novo atelier?
Sim, o meu atelier é maior que o meu quarto e de preferência
maior que a sala. É a parte mais importante. Para mim a casa
podia não ter quarto, mas nunca podia não ter atelier. Ali tenho
tudo, cabe tudo: passado, presente, futuro, o possível, o
impossível, é um mundo maior que este.
Qual é a sua memória mais
antiga?
O parque D. Maria II, em Santo
Tirso. Aquele parque é na verdade
muito antigo e há muitos anos sofreu
obras. No passado era muito denso,
tinha muitas árvores, era mais
romântico. Lembro-me de ser muito
pequenina e andar lá a dar de
comer aos patos. Recordo-me
também da sensação de estar ao
colo do meu pai e do meu avô, de
sentir o braço à volta do corpo.
Curiosamente, tenho a minha
história mais ligada aos homens da
família do que às mulheres e nesta
memória que me ocorre este colo
era de dois grandes pilares da
minha infância. Tenho muitas saudades de ambos.
Especialmente do meu pai, claro. É a minha memória mais
antiga mas mais recente, é omnipresente. •
POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)
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#41
Atualidades
SUSTENTABILIDADE UM
DESAFIO PERMANENTE
O Homem é um ser eminentemente social.
O meu estado de espírito e dos elementos da Mesa
Administrativa, assim como do Diretor Geral é que nos sentimos
motivados e empenhados em fazer uma gestão para que de
uma forma sustentada possamos proporcionar investimentos
com qualidade e adequados às necessidades dos novos
desafios.
Contamos com o profissionalismo e sentido de dever de todos
os funcionários, impondo regras que vão desde a compreensão
e coordenação à cordialidade, de modo a potenciar os seus
conhecimentos aperfeiçoando o seu caráter. Assim, sentem-se
mobilizados e comprometidos nos diversos serviços,
rentabilizando os resultados e, simultaneamente, construindo
um clima fraterno privilegiando a qualidade do ser e do fazer.
Quando nos regemos por princípios de verdade, espírito de
missão e a vontade de bem-fazer, o desenvolvimento
sustentável assegura-nos o crescimento social e económico
sem esgotar os recursos para o futuro. •
REVISTA #04
POR JOSÉ DOS SANTOS PINTO (PROVEDOR)
#41
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WEBINAR IFRRU PARA
REABILITAR
Atualidades
O IFRRU 2020 trata-se de um Instrumento Financeiro
para apoio à Reabilitação e Revitalização Urbanas,
incluindo a promoção da eficiência energética. Foi criado
no âmbito do Portugal 2020 pelo Programa Operacional
Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos.
Dirige-se à reabilitação integral dos edifícios com idade
igual ou superior a 30 anos, destinados à habitação,
equipamentos de utilização coletiva, ou atividades
económicas como comércio, serviços ou turismo. Entre
outros espaços, devem estar localizados em zonas
industriais abandonadas.
O evento foi organizado pelo Banco Santander Portugal,
em parceria com a União das Misericórdias Portuguesas
e a partilha desta experiência sustentável teve como
público-alvo as Misericórdias inscritas neste encontro que
decorreu no dia 14 de abril, através da plataforma Zoom.
•
POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)
Os critérios definidos para este apoio financeiro foram
naturalmente conciliados com a vontade de requalificar
um dos antigos espaços da unidade fabril tirsense “Arco
Têxteis”, adquirido pela Misericórdia de Santo Tirso para
requalificar e converter em mais um equipamento de
apoio à Comunidade.
Assim, no espaço de um ano, foi possível remodelar o
interior e colocar em funcionamento uma nova Unidade
de Cuidados Continuados de Longa Duração, designada
“Comendador Alberto Machado Ferreira”.
Para partilhar e testemunhar esta experiência,
considerada de sucesso, o diretor geral da Instituição,
Dr. João Loureiro, marcou presença no Webinar “IFRRU
- Uma Oportunidade para Reabilitar”.
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#41
Atualidades
RELATÓRIO E CONTAS 2020
Os temas das nossas revistas publicadas em 2020 foram
“COmVIDa” e “REAGIR”.
“COmVIDa” foi a principal preocupação do primeiro
semestre do ano passado. Depois de dois meses de
normalidade, fomos apanhados pela pandemia e por
uma crise sanitária que levou todo o nosso foco nos
quatro meses seguintes. Acresceu a tudo isto o impacto
económico-financeiro inerente ao confinamento e ao
encerramento das nossas clínicas.
Foi neste contexto COVID que toda a família Misericórdia
demonstrou comprometimento e determinação em
proteger vidas.
“Reagir” tem como definição “Responder de uma certa
maneira a um acontecimento: Resistir, Lutar” e foi desta
forma que encarámos o segundo semestre. Reorientamos
as nossas táticas para ir de encontro à estratégia traçada
para este ano.
No nosso Plano de Atividades e Orçamento tínhamos
assumido os seguintes compromissos:
• Reabilitar o Bairro da Misericórdia;
• Das 8 moradias de tipologia T2 e 2 moradias de
tipologia T1, 4 moradias de tipologia T2 estarem no
mercado de arrendamento, bem como serem
iniciados todos os processos tendentes ao início das
obras de mais 2 moradias de tipologia T1 e 2
moradias de tipologia T2;
• Dar continuidade às obras de remodelação da Casa
de Repouso de Real e do Leonor Beleza,
nomeadamente nas casas de banho e nos espaços
comuns;
• Desenvolver, no Edifício do antigo Liceu, um estudo
económico e de mercado, a fim de avaliar o
potencial imobiliário deste edifício;
• Ter em funcionamento a nova Unidade de Cuidados
Continuados, no último trimestre de 2020, no antigo
edifício da ARCO Têxteis: uma Unidade com
capacidade para 36 camas, sendo 34 objeto de
contratualização com a A.R.S. – Norte, ficando 2
camas para negociação com privados,
nomeadamente seguradoras.
Todos estes objetivos foram atingidos.
A instituição, antes do final do ano, atingiu o patamar dos
400 colaboradores, serviu cerca de 2500 utentes dia,
tendo um encargo com remunerações de €5.068.767.65
e um investimento de €2.778.345,00, afirmando-se como
um elemento fulcral da economia local.
O ano em análise será um marco na História da
humanidade e consequentemente da nossa
Misericórdia, mas é também o confirmar do espírito
inquieto, empenhado, solidário e comprometido de
todos quantos levaram, nestes tempos difíceis, a que
tenhamos cumprido com a nossa Missão, Visão e
Valores.
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Atualidades
RENDIMENTOS
PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS
SUBS.Á
EXPLORAÇÃO
2019 2020 DIF. DIF. %
3 421 897,26 3 266 186,96 -155 710,30 -4,55%
2 862 265,83 3 686 721,07 824 455,24 28,80%
REVERSÕES 0,00 0,00 0,00 0,00%
OUT. REND. E
GANHOS
JUROS REND.
OBT.
1 186 804,65 999 545,67 -187 258,98 -15,78%
1 396,02 1 388,94 -7,08 -0,51%
TOTAL 7 472 363,76 7 953 842,64 481 478,88 6,44%
Verifica-se um aumento dos Rendimentos em 6.44%
(€481.478.88), devido ao seguinte:
• Diminuição da rubrica Prestação de Serviços em 4.55%
(€155.710.30), essencialmente resultante do período de
pandemia (com encerramento de março a maio das
Clínicas e Jardim de Infância), diminuição atenuada pela
entrada em funcionamento, em novembro, da nova
Unidade de Longa Duração e Manutenção;
• Aumento da rubrica Subs. à Exploração em 28.90%
(€824.455.24), principalmente relacionado com a
atribuição de donativo e entrada em funcionamento, em
novembro, da nova Unidade de Longa Duração e
Manutenção;
• Diminuição da rubrica Outros Rendimentos e Ganhos em
15.78%, pela alteração da contabilização dos donativos,
(ver explicação do aumento dos Subs. à Exploração), que
passaram para a conta subsídios à exploração.
SUBS.Á
EXPLORAÇÃO
46%
4 000 000,00
3 000 000,00
2 000 000,00
1 000 000,00
OUT. REND.
E GANHOS
13%
0,00
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
SUBS.Á EXPLORAÇÃO
JUROS REND. OBT.
0%
REVERSÕES
OUT. REND. E GANHOS
PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS
41%
2019
2020
JUROS REND. OBT.
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#41
Atualidades
RELATÓRIO E CONTAS 2020
GASTOS
2019 2020 DIF. DIF. %
C.M.V.M.C. 685 690,44 793 636,09 107 945,65 15,74%
F.S.E. 1 295 346,61 1 461 721,06 166 374,45 12,84%
GASTOS C/
PESSOAL
5 063 839,88 5 068 767,65 4 927,77 0,10%
AMORT. 618 166,60 728 600,86 110 434,26 17,86%
PROVISÕES 258 008,01 459 176,09 201 168,08 77,97%
OUTROS GAST.
PERDAS
JUROS E GASTOS
SIM.
98 798,74 111 724,45 12 925,71 13,08%
2 963,46 5 383,00 2 419,54 81,65%
TOTAL 8 022 813,74 8 629 009,20 606 195,46 7,56%
Os Gastos apresentam um aumento de 7,56% (€606.195,46),
devido essencialmente ao seguinte:
• Rubrica de Gastos c/ Pessoal manteve-se praticamente
inalterada, apesar da atualização do salário mínimo
nacional e consequente repercussão ponderada nos
diversos escalões da instituição. O absentismo durante o
período de pandemia, compensou essa atualização de
salários;
• Aumento de 15,74% (€107.945.65) na rubrica
C.M.V.M.C., principalmente relacionado com os
aumentos de gastos relacionados com higiene e
segurança, resultantes da situação de pandemia;
• A rubrica F.S.E. aumentou em 12,84%, essencialmente
derivado de rendas no montante de €172.861,07 de
contrato renting. As restantes rubricas: aumento no Gás
(€4.241.56), diminuição na Eletricidade (€3.915,28),
aumento na Comunicação (€8.753.44), aumento nas
Deslocações e Transporte (€697.38), aumento nos
Seguros (€2.702.68), o aumento na Conservação de
Prédios (€2.005.01) e Ferramentas e Utensílios
(€17.703.68), diminuição na Água, Saneamento e
Resíduos (€5.308.98) e aumento nos Encargos com
Utentes (€7.801.87).
Não podemos deixar de realçar a exigente e rigorosa política
de gestão, onde é desafiado permanentemente o
profissionalismo, empenho, transparência e capacidade de
sacrifício de todos os colaboradores da instituição,
nomeadamente nas rubricas acima referidas onde se
verificaram poupanças significativas.
AMORT.
8%
GASTOS C/PESSOAL
59%
PROVISÕES
5%
OUTROS GAST. PERDAS
1%
JUROS E GASTOS SIM.
0%
C.M.V.M.C.
9%
F.S.E.
17%
Pag | 19
Atualidades
6 000 000,00
4 500 000,00
3 000 000,00
1 500 000,00
2019
2020
REAL VS ORÇADO
Pese embora o rigor orçamental com que foi elaborado o
documento para 2020, a situação pandémica em que o país
mergulhou a partir de março alterou as contas, afetando
significativamente a receita, com a diminuição das prestações
de nossos utentes/clientes e exponenciando os CMVMC e
FSE´s., conforme referenciado anteriormente.
0,00
Resultados
C.M.V.M.C.
F.S.E.
GASTOS C/PESSOAL
AMORT.
PROVISÕES
OUTROS GAST. PERDAS
JUROS E GASTOS SIM.
INVESTIMENTO
No ano de 2020 foi feito um investimento de €2.778.345,00
com destaque para a conclusão da reabilitação do edifício e
aquisição de equipamento para abertura da Unidade de
Longa Duração e Manutenção no total de €2.196.007,51.
O último quadriénio apresenta assim um total de investimento
de €5.164.577,77. •
MEIOS LIBERTOS 2020
POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)
Provisões 459 176,09
Amortizações 728 600,86
Resultado Liquido -675 166,56
Meios Libertos 512 610,39
Meios Libertos de €512.610,39
• RESULTADO LIQUIDO DO PERÍODO: €675.166,56
• AMORTIZAÇÕES: €728.600,00
• PROVISÕES: €459.176,09
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Atualidades
#41
O IMPACTO DA COVID-19
NAS MISERICÓRDIAS A
RECONSTRUÇÃO DO FUTURO
COM A ECONOMIA SOCIAL
O aparecimento, em 2020, da CoVID-19, trouxe desafios
que ninguém esperava e para os quais não havia receitas
preparadas a nível mundial, nacional e, naturalmente,
local. As Misericórdias Portuguesas, através de tentativas,
erros e correções, fizeram um trabalho que deixará para
sempre a memória de 2020 em todos nós.
A pandemia de CoVID-19 trouxe desafios novos e
extraordinários para as instituições
do Setor Social e, em particular,
para as Misericórdias. Estes
desafios exigiram respostas
complexas, de caráter dinâmico,
imaginativas e, também elas,
inovadoras. Desenvolvemos novos
modelos de trabalho, novos
hábitos, valores e, acima de tudo,
identificaram-se poderosas armas
contra a crise trazida pela
pandemia: solidariedade, compaixão e resiliência.
Relacionaram-se com a imposição de medidas determinadas
pelas Autoridades de Saúde, as quais levaram à suspensão
durante largos períodos de muitas das respostas oferecidas no
âmbito da saúde e ação social; houve limitação do acesso às
unidades das Santas Casas como, por exemplo, restrição de
visitas, elaboração e instituição de diversos planos de
contingência, etc. Ficaram suspensas dimensões de vida tão
elementares como a proximidade entre nós, o impedimento da
visitação, o convívio, o contacto físico que expressa os afetos. E
ficou em risco a sustentabilidade das instituições!
Ficaram suspensas dimensões de vida
tão elementares como a proximidade
entre nós, o impedimento da visitação,
o convívio, o contacto físico que
expressa os afetos. E ficou em risco a
sustentabilidade das instituições!
A 1 de junho de 2020, o Presidente da República considerou
que “as Misericórdias agigantaram-se” durante a pandemia de
CoVID-19. “Agigantaram-se porque foram apanhadas de
surpresa, como fomos todos, pela pandemia, e tiveram de ir
respondendo dia a dia, inesperadamente, de modo imprevisto,
a desafios alguns deles impensáveis, com o apoio dos
autarcas”. De facto, a pandemia de CoVID-19 colocou em
destaque o trabalho das instituições particulares de
solidariedade social, sendo nelas
de realçar o papel nuclear das
Mulheres que são a grande força
do “cuidar” nas Misericórdias.
A 15 de dezembro de 2020, o
Bispo do Porto Exa. Reverendíssima
D. Manuel Linda, enviou uma
mensagem de agradecimento às
Santas Casas da Misericórdia da
Diocese do Porto pelo seu trabalho
“assinalável e insubstituível” que “exprime a caridade mais
pura e ronda mesmo o heroísmo” em tempo de pandemia.
O início de 2021 marcou o princípio do fim da pandemia de
CoVID-19. Graças ao trabalho científico pioneiro e aos
esforços no plano político foi possível disponibilizar
vacinas a ritmo acelerado. Hoje, os nossos mais vulneráveis
estão vacinados contra a CoVID-19. Antes de os benefícios da
vacinação atingirem uma escala que permita levantar todas as
restrições, a sociedade ainda se depara com o risco da
emergência de novas variantes, que dão origem à transmissão
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Atualidades
#41
O IMPACTO DA COVID-19
NAS MISERICÓRDIAS A
RECONSTRUÇÃO DO FUTURO
COM A ECONOMIA SOCIAL
mais rápida do vírus. Contudo, tendo em conta todas essas
premissas, cientes destas mudanças – e da necessidade de nos
adaptarmos a uma “nova normalidade” – vão as Santas Casas,
com tranquilidade e dedicação ao próximo, preparar um “novo
normal” de responsabilidade Institucional, instituindo uma
capacidade de resposta já demonstrada e que permite ter
confiança na construção de um futuro sustentável pós-
-pandemia!
Perante a situação pandémica, as
limitações impostas pela Saúde
Pública, a necessidade de criar
condições de adaptação,
reorganização, coragem e
esperança, o que fazer quando o
futuro parece ser tão incerto e
difícil? A CoVID-19, deixou-nos
com problemas imediatos e graves
de saúde, mas as maiores
consequências negativas não são
ainda não totalmente conhecidas ao nível das relações sociais
e familiares, da economia, do emprego, do ensino, da
segurança, entre outros.
As Misericórdias estiveram à altura do desafio no cumprimento
da sua Missão e dos seus Valores. Defenderam os mais
vulneráveis que estavam à sua guarda, mantiveram o apoio em
proximidade dos que tiveram que cumprir o confinamento, não
deixaram ninguém para trás. Cumpriram com o que delas era
esperado.
Agradecimento muito especial porque as
Misericórdias do Secretariado Regional
do Porto criaram – entre si – uma rede
de intervenção face a necessidades que
eram dificilmente ultrapassadas no início
da pandemia.
O Secretariado Regional do Porto envolve 21 Misericórdias,
com 5848 colaboradores diretos e apoiam 22684 pessoas
por dia (Fonte: Quem Somos nas Misericórdias 2020). A
solidariedade tão comum nos portugueses, em particular
no Norte, respondeu de modo rápido envolvendo centenas
de instituições da área social, sem as quais a pandemia
teria afetado de modo muito mais marcado as populações
pobres, envelhecidas e doentes.
Às Misericórdias do
Secretariado Regional do Porto
são devidas palavras de
agradecimento e
reconhecimento pela resiliência
e compromisso que, em
conjunto, assumiram na
resposta rápida aos desafios
desconhecidos com que se
confrontaram diariamente, com
um sentido de comunidade
como nunca existiu ao nível da União das Misericórdias
Portuguesas. E na sua capacidade de adaptação a novas
normas e orientações, que surgiam na confluência da saúde e
da ação social, impostas às respostas de cada uma das
instituições. Os valores e princípios orientadores são inspirados
nas catorze obras de Misericórdia de proteção e promoção da
humanidade. A sua atuação baseia-se no respeito pela
dignidade humana, ética, humanização dos serviços prestados,
criatividade, inovação e qualidade.
Pag | 23
Atualidades
Agradecimento muito especial porque as Misericórdias do
Secretariado Regional do Porto criaram – entre si – uma rede
de intervenção face a necessidades que eram dificilmente
ultrapassadas no início da pandemia. Todos partilharam
humildemente o desconhecimento. Acima de tudo, colocaram
os utentes no centro da atuação, na defesa das suas vidas e
integridade física e mental.
E, agora, em período já de maior acalmia pós-pandemia
assumem a recuperação e a reestruturação de espaços,
procedimentos, lutando pela sustentabilidade. A resposta e o
compromisso das Misericórdias não foram acompanhados por
equivalente resposta no apoio às nossas Santas Casas.
A paragem da atividade, os gastos acrescidos
significativamente em EPIs, a necessidade (e dificuldade)
de recrutamento de novos elementos, criaram situações de
dificuldades na sustentabilidade financeira, para as quais
muitas das instituições tiveram parco apoio dos órgãos de
poder local. Contudo, assumiram os gastos no
cumprimento do que era delas esperado.
Controlado este desafio, lamentando perdas e atrasos, partimos
melhor preparados para enfrentar a reconstrução do futuro!
Oxalá que no final de 2021, dotada a Humanidade das armas
necessárias para a mitigação da pandemia, permita que, com
a mesma esperança e empenho, as Misericórdias construam
um futuro sustentável.
Há a certeza de que o presente e o futuro após a pandemia
não voltarão a ser os mesmos. O primeiro passo a dar será
sermos resilientes e capazes de transformar as adversidades
em oportunidades ultrapassando dificuldades e obstáculos.
Não é mais do que cumprir com os valores de já cinco séculos
da história das Misericórdias. •
POR MARIA AMÉLIA FERREIRA (PRESIDENTE DO SECRETARIADO REGIONAL DO PORTO
– UMP | PROVEDORA SANTA CASA MISERICÓRDIA DE MARCO DE CANAVESES)
Se continuarmos a intervenção conjunta, tirando partido da
nossa excelência de servir em proximidade, da capacidade de
exercício da solidariedade e dos nossos valores, estaremos em
condições de relegar para o passado as restrições vividas ao
longo dos últimos 18 meses e seguir em frente, numa trajetória
sólida de recuperação. E será esta a resposta de qual o
melhor caminho, no âmbito da sustentabilidade, que
implica “construir pensando no futuro”.
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#41
Atualidades
DIÁLOGO COM A
COMUNIDADE
Muitos já escreveram sobre o fim do papel no que respeita à
comunicação. Há alguns anos, jornais e revistas tiveram de
lidar com o enorme desafio que a era digital impunha e em
discussão estava o eventual fim das edições impressas.
Contudo, ainda há pouco tempo, um jornal nacional com
muitos anos de existência retomou a versão impressa, ao fim de
largos meses de publicação unicamente digital.
Hoje, após um período de ‘explosão’ da internet, começámos a
assistir a uma convivência mais ou menos serena entre o digital
e o analógico. Os meios conversam entre si de modo a tirar
proveito das suas melhores potencialidades, com conteúdos
produzidos em função dos públicos a alcançar. Esta regra vale
para órgãos de comunicação social e também para outras
áreas de atuação, das empresas às organizações do setor
social e solidário.
O digital oferece, sem dúvida, diversas vantagens. A rapidez
de propagação e a possibilidade de uma minuciosa
monitorização do impacto do que é divulgado são alguns
exemplos das vantagens da internet. Por outro lado, numa era
digital muito condicionada pelas grandes empresas que
operam na área dos conteúdos (Google, Facebook etc),
‘viralizar’ ou mesmo alcançar novos públicos é cada vez mais
difícil, a não ser que se recorra a conteúdos patrocinados.
Acresce que o imediatismo da informação exige leitores
informados e alguma atitude crítica que nem sempre está
presente. Apesar das suas inúmeras vantagens, a comunicação
digital não deve ser encarada como uma solução milagrosa.
Para comunicar com a comunidade, por via digital ou
analógica, uma das primeiras reflexões a fazer é sobre os
caminhos que queremos seguir. Para onde vamos? Esta é a
primeira pergunta. E para termos resposta, importa ter
presente quem somos e de onde viemos.
As Misericórdias nasceram das comunidades para servir essas
próprias comunidades. Qualquer caminho que se queira
seguir deve ter sempre presente que as pessoas estão em
primeiro lugar. E é nesta premissa que reside a principal fonte
de sustentabilidade das instituições. Sim, porque
sustentabilidade não é um exclusivo de contas, nem de
orçamentos. Mais que isso, reside na maneira como
conseguimos gerir da melhor forma possível todos os nossos
recursos e, no caso das instituições de solidariedade, os
recursos são – também e principalmente - as pessoas e o afeto
que colocamos nas relações com utentes, famílias,
trabalhadores, fornecedores, irmãos, parceiros, voluntários,
patrocinadores, beneméritos etc.
É certo que a nossa essência está intimamente ligada à imagem
do irmão da Misericórdia de Florença, com o rosto coberto a
ajudar um aflito: “fazer o bem sem olhar a quem”. Contudo, os
tempos obrigam-nos a inverter esta lógica. Fazer bem em
primeiro lugar, mas também divulgar o trabalho que as
equipas desenvolvem no terreno para concretizar em ações a
missão institucional. É através desse diálogo constante que
vamos fortalecendo a nossa presença na sociedade.
Se soubermos mostrar quem somos e o que fazemos
teremos certamente mais pessoas engajadas na mesma
REVISTA #11
causa. Trata-se de inspirar para a solidariedade, para o
bem-fazer, para a coesão social, sob pena de definharmos
aos poucos. Sensibilizar para a nossa causa e atrair
pessoas para este movimento é uma das melhores
maneiras de garantir, a médio e longo prazo, a nossa
permanência. As Misericórdias têm sabido adaptar-se aos
tempos. Numa história de séculos, repleta de desafios, este é
apenas mais um e a comunicação é seguramente uma
ferramenta importante.
Mas se de alguma forma é relativamente simples perceber
quem somos e de onde viemos, saber para onde vamos obriga
a uma reflexão mais profunda, que aponte caminhos sem
colocar em causa a nossa identidade.
Há muitos anos que trabalho como editora de um jornal
que acompanha o trabalho das Santas Casas. O ‘Voz das
Misericórdias’ é um projeto editorial com quase 40 anos e,
no âmbito das funções que desempenho, também sei que
a sustentabilidade económica tem um peso determinante.
Começa nos custos de produção e distribuição. Gráfica e
correio concentram a maior parte das nossas despesas com
fornecedores de serviços. Ao mesmo tempo, sei dos ‘apelos’
dos anunciantes que preferem anúncios digitais porque é
tremendamente mais fácil monitorizar o impacto das suas
campanhas de publicidade.
Mesmo assim, quando somos questionados sobre uma eventual
passagem a um formato exclusivamente digital, a resposta
pode não ser fácil. Por um lado, a questão é: para onde
vamos? O que leva inevitavelmente o pensamento para as
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#41
Atualidades
DIÁLOGO COM A
COMUNIDADE
pessoas que apoiamos: vamos mesmo excluir pessoas que não
têm acesso a internet? Quando um projeto editorial tem já
tantos anos de existência, qualquer mudança de grande
envergadura deve ser refletida tendo em conta os seus
públicos e não apenas os números.
Quererá isto dizer que não deve ser efetuada uma alteração?
Não, de todo. As soluções são inúmeras e o caminho deverá ser
sempre pautado pelo diálogo entre o digital e o analógico,
onde há uma imensidão de
possibilidades editoriais que
merecem ser ponderadas, tendo
como balizas três pressupostos:
quem somos, que caminhos
queremos seguir e os
investimentos (a curto e médio
prazo principalmente) necessários.
No que respeita à primeira ideia
(quem somos), não podemos
perder de vista que as Misericórdias não são meios de
comunicação social, nem blogs ou canais como tantos que
pululam na internet. Temos uma missão muito bem
definida e compromissos que dela resultam. Temos
públicos específicos com quem queremos dialogar e os
tipos de comunicação devem ser escolhidos em função
disso.
E se a nossa missão passa sobretudo pelo diálogo com as
comunidades, as decisões de gestão relacionadas com a
comunicação devem acautelar cenários mistos, com soluções
Parabéns, equipa! Continuem o bom
trabalho (...) Das capas extravagantes
aos textos mais técnicos ou de opinião,
tudo são descobertas quando a revista é
folheada.
diferentes que se complementem, assegurando desta forma
que a nossa mensagem chega eficientemente aos mais
diferentes públicos.
Mas para que este diálogo com a comunidade cumpra a sua
função, há algo que é especialmente determinante, seja digital
ou não. Além das inúmeras competências técnicas que vão da
programação à fotografia, passando pela produção de textos, a
comunicação apenas funcionará
se tiver resposta para todas as
perguntas aqui elencadas. As
equipas têm de conhecer muito
bem a história e a atualidade das
instituições, mas também as
estratégias para o futuro.
Dito isto, quando olho para o
trabalho que a Santa Casa da
Misericórdia de Santo Tirso tem
desenvolvido nesta área, coloco-me nos sapatos de uma
observadora atenta que deseja continuar a aprender. As
ferramentas de comunicação são inúmeras, dialogam entre si e
revelam um fio condutor comum a todas. Nas redes sociais,
acompanhei com alguma atenção a comunicação com o
exterior durante o surto de Covid-19 no Lar Dra. Leonor
Beleza. As características a destacar são as mesmas que
observo em tudo o resto: transparência, rigor e
profissionalismo, sem perder de vista os afetos, tão importantes
em casas como as Misericórdias.
MIX REVISTAS
Para o fim, deixo o mais importante. A revista completa 20
anos. Parabéns, equipa! Continuem o bom trabalho e
saibam que em Lisboa há uma pessoa a celebrar sempre
que vê um envelope de Santo Tirso. Das capas
extravagantes aos textos mais técnicos ou de opinião, tudo
são descobertas quando a revista é folheada. Pois, porque
tatear a textura dos papéis é algo que muitos ainda
apreciam. Além disso, um qualquer link pode ser apagado
ou esquecido, enquanto o formato impresso continuará em
cima da mesa a provocar a curiosidade do leitor. •
POR BETHANIA PAGIN (EDITORA DO JORNAL VOZ DAS MISERICÓRDIAS E RESPONSÁVEL
PELO GABINETE DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS
PORTUGUESAS)
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#41
Atualidades
SUSTENTABILIDADE, O QUE
MUDOU COM A PANDEMIA?
A pandemia da Covid-19 colocou em cheque e trouxe
vários desafios para as diversas economias mundiais,
mas mais importante que isso, fez com que o tema da
Sustentabilidade se tornasse num dos mais
importantes do momento.
O Conceito de Sustentabilidade foi introduzido
inicialmente em 1987 em Estocolmo pela WCED (World
Commission on Environment and Development), uma
comissão formada por membros da ONU. Aqui foi
divulgado o relatório Brundtland um documento que
alertava para as consequências ambientais negativas do
desenvolvimento económico e da globalização,
oferecendo soluções para os problemas decorrentes da
industrialização e do crescimento populacional. Este
relatório deu-nos a definição de Desenvolvimento
Sustentável que ainda hoje vigora, “Desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades,
garantindo o equilíbrio entre o crescimento
económico, o cuidado com o ambiente e o bem-estar
social”.
Analisando esta definição percebemos que a
Sustentabilidade está alicerçada em 3 pilares:
• Económico, relacionado com a produção,
distribuição e consumo de bens e serviços. A
economia deve considerar a questão social e
ambiental.
• Social, engloba as pessoas e as suas condições de
vida como educação, saúde, violência ou lazer.
• Ambiental, refere-se aos recursos naturais do planeta
e a forma como são utilizados pela sociedade,
comunidades ou empresas.
Podemos assim subdividir a Sustentabilidade em vários
tipos consoante o pilar onde estão assentes, mas que
devem coexistir de modo a que se atinja uma
sustentabilidade plena. Assim temos:
• Sustentabilidade ambiental – Compreende a
preservação e manutenção do meio ambiente, cujo
principal objetivo é garantir que as necessidades das
gerações futuras não sejam prejudicadas pelo uso
indiscriminado dos recursos naturais da atualidade.
• Sustentabilidade empresarial – Com o crescente
grau de consciencialização dos consumidores no
que toca às questões ambientais, as empresas têm
incluído no seu planeamento estratégico a
sustentabilidade como responsabilidade social. Aqui
as ações são regidas pela preservação do meio
ambiente e na procura de uma melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
• Sustentabilidade social – É baseada na redução da
desigualdade entre os povos, com a manutenção de
uma vida digna e com garantia das necessidades
básicas do ser humano, como a saúde, a edução e a
identidade cultural.
• Sustentabilidade económica – Baseia-se num modelo
de gestão sustentável. Isto implica uma gestão
REVISTA #16
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#41
Atualidades
SUSTENTABILIDADE, O QUE
MUDOU COM A PANDEMIA?
adequada dos recursos naturais que têm como
objetivo o crescimento económico, o
desenvolvimento social e a melhoria da distribuição
da riqueza.
Com base nos pilares de desenvolvimento sustentável é
possível desenvolver ações nos âmbitos pessoal,
comunitário e global e estes são capazes de minimizar os
impactos negativos provocados pelo homem. Num mundo
em que as expectativas da
sociedade em relação às empresas
são crescentes, e o conceito de
propósito ganha cada vez mais
relevância, a incorporação dos
aspetos sociais e
ambientais na estratégia das
organizações ganha cada vez mais
relevância e constitui-se como
uma vantagem competitiva.
O papel das empresas na sociedade e o seu
propósito passa agora a ser uma questão
crítica na criação de valor, a longo prazo, e atrai cada
vez mais a atenção de investidores e dos
seus “stakeholders”. A perspetiva de um ambiente
empresarial mais colaborativo, consciente e com o
desígnio de acrescentar valor para todos
os “stakeholders” será uma vantagem competitiva
no futuro.
Muitas vezes as soluções dos
nossos problemas poderão estar
na porta ao lado, poupando
assim tempo, dinheiro e o
ambiente.
As iniciativas e tendências que já se vinham a identificar,
nos últimos anos, ganharam agora maior senso de
urgência e a sustentabilidade é, cada vez mais, apontada
como um pilar estratégico para a reconstrução da
economia global.
À medida que cada vez mais empresas e negócios se
apercebem de que a sua sobrevivência e crescimento, a
longo prazo, depende da obtenção de um
equilíbrio inteligente entre rentabilidade e harmonia
entre todos os intervenientes, muitas
organizações têm tentado
desenvolver iniciativas no âmbito da
sustentabilidade, que impactam
todos os seus “stakeholders”.
Na ACIST procuramos que haja uma
forte aposta na Sustentabilidade por
parte das empresas. Se a
sustentabilidade ambiental já fazia
parte da preocupação de grande parte dos empresários
e já eram adotadas várias medidas nesse sentido, como
por exemplo, a reciclagem e o uso de energias limpas, a
pandemia da Covid-19 veio chamar a atenção para a
necessidade de as empresas se focarem no bem-estar
dos seus colaboradores e da comunidade onde estão
inseridos.
Exemplo disso são iniciativas como a campanha
natalícia “Compre no Nosso Comércio” em que houve
um claro apelo à comunidade tirsense para que
centrasse o consumo no comércio tradicional do
Pag | 31
Atualidades
nosso concelho, permitindo assim, de algum modo,
minimizar o impacto desta crise. Esta iniciativa
contou com o forte apoio de algumas empresas e
instituições como a Irmandade e Santa Casa da
Misericórdia de Santo Tirso que ao presentearem com
tickets oferta os seus colaboradores permitiram que
fosse injetado no comércio tradicional vários milhares
de euros.
Esta iniciativa de sustentabilidade empresarial e social,
inédita no nosso concelho, servirá certamente de
alavanca para ações cada vez mais impactantes na
economia concelhia, levando ao crescimento do
comércio e da indústria da nossa comunidade.
Em resumo é urgente a necessidade das empresas, dos
governos e da sociedade investirem cada vez mais em
Sustentabilidade, só assim conseguiremos garantir o
bem-estar das gerações atuais e futuras.
BIBLIOGRAFIA
Porto Business School, “Com a COVID-19 a sustentabilidade ganha um novo
significado”, https://www.pbs.up.pt/pt/artigos-e-eventos/
artigos/a-sustentabilidade-ganha-a-partir-da-pandemia-da-covid-19-um-novosignificado/
Lisboa Capital Verde 2020, “Sustentabilidade, o que é isto?”, https://
lisboagreencapital2020.com/noticias/sustentabilidade-o-que-e-isto/ •
POR HUGO ASSOREIRA (PRESIDENTE ACIST - ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL
DE SANTO TIRSO)
É desígnio da ACIST dar a conhecer e facilitar a
aproximação entre o tecido empresarial e as
Instituições do nosso concelho. Muitas vezes as
soluções dos nossos problemas poderão estar na
porta ao lado, poupando assim tempo, dinheiro e o
ambiente.
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#41
Atualidades
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
O que é, afinal, a sustentabilidade, para além de ser,
hoje, uma palavra repetidamente presente nos mais
variados discursos, documentos e circunstâncias, de que
já todos ouvimos falar, mas cujo significado nem todos
somos capazes de expressar ou compreender?
A palavra deriva do vocábulo “sustentável”, que
provém do latim sustentare (que significa sustentar,
defender, favorecer, apoiar, conservar, cuidar, manter,
proteger).
O termo é, frequentemente, relacionado com o meio
ambiente, especialmente associado ao controle da
poluição, mas a sua abrangência vai, hoje, muito para
além desse enquadramento. Ao longo do século XX,
abriram-se novas “frentes” para a sustentabilidade,
alargando-se ao campo económico e ao campo social,
numa luta global por um planeta sadio em que as
pessoas possam encontrar as condições necessárias
para a sua sobrevivência, promovendo a qualidade de
vida das gerações actuais e garantindo que não se
compromete a possibilidade de as gerações futuras
também lhe poderem aceder.
A partir da Revolução Industrial, criou-se a ideia de que o
progresso da humanidade se alcançaria através da
passagem de uma condição inicial de penúria cultural e
ignorância para uma outra, de “civilização”, através de
um modelo único e universal que garantiria o
desenvolvimento, assente em estratégias de sair de uma
economia baseada na agricultura para outra de cariz
industrial.
A 2.ª Guerra Mundial (tempo de terror, medo e
frustração) e o período que se lhe seguiu constituíram um
marco para a difusão das teorias do desenvolvimento e
assistiu-se a uma grande evolução económica e social
nos países industrializados e capitalistas, que se reflectiu
na alteração da organização e estrutura das sociedades.
Acreditava-se que o crescimento económico seria a
solução para os problemas que assolavam as
comunidades. A fome, a pobreza e a miséria seriam
resolvidas com o desenvolvimento da capacidade
produtiva que, consequentemente, levaria ao aumento do
emprego e do consumo.
Não foi exactamente assim. O modelo único e universal
não teve a adesão e o sucesso esperados. O sistema
produtivo e as alterações nas sociedades ocidentais
desenvolvidas afastaram-se da “visão” inicial: a
mecanização e o desenvolvimento técnico libertaram
mão-de-obra da agricultura e da indústria (sectores
primário e secundário) e a intensa procura de serviços e
bem-estar pessoal levaram a um forte crescimento do
sector terciário. O bem-estar tornou-se, mesmo, um dos
principais objectivos das sociedades ocidentais, visando a
melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento de
novas formas de lazer.
Isso levou a um aumento do consumo, estimulado pela
publicidade. As empresas adoptaram o princípio de
produzir mais para consumir mais e utilizaram os media e
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Atualidades
o marketing para incentivar o público a adquirir os seus
produtos.
O crescimento económico apareceu, frequentemente,
associado ao surgimento de sociedades de consumo e
abundância (de que decorrem alguns perigos e graves
problemas ambientais, uma vez que aumenta a produção
de lixo – “use e deite fora” – e a poluição), mas também
a grandes desigualdades e à geração de franjas
marginalizadas, os «excluídos», que vivem em situação de
pobreza e sem usufruir das comodidades destas
sociedades.
A rápida delapidação dos recursos naturais, os impactos
que a actividade humana reflecte nos ecossistemas e na
biosfera, os elevados níveis de desigualdades sociais e de
pobreza que enfrentamos e a falta de ética de gestão
corporativa são inimigos de um modelo de
desenvolvimento capaz de assegurar às gerações futuras
as oportunidades e a qualidade de vida de que as actuais
(ainda) gozam.
Está, por isso, cada vez mais presente na sociedade a
consciência de que se impõe (e urge) a adopção de um
novo modelo de desenvolvimento. Como escrevia, há
dias, no Jornal EXPRESSO, o Reitor da Universidade de
Coimbra, Professor Amílcar Falcão, “a sustentabilidade é
a resposta para o desafio das nossas vidas: o de
deixarmos um Mundo mais justo e seguro, a nível
ambiental, económico e social, para as gerações futuras.
Da erradicação da pobreza e da fome à protecção da
vida terrestre e da vida marinha, da promoção da saúde
e da educação de qualidade à acção climática, importa
agir o quanto antes”.
Também o Papa Francisco, no dia 8 de Maio, na Sala
Regia, no Vaticano, afirmou, perante os cerca de 500
participantes da Conferência Internacional «A Doutrina
Social da Igreja: das raízes à era digital”, promovida pela
Fundação Centesimus Annus, depois de recordar a Carta
Encíclica ‘Laudato Si’ (publicada há 4 anos), reconheceu
haver “sinais de um aumento da consciência sobre a
necessidade de cuidado com a casa comum” (citando,
como exemplos, “o crescente investimento em fontes de
energia renovável e sustentável” e “os novos métodos de
eficiência energética”) e afirmou que o apelo “para
sermos mais solidários como irmãos e irmãs e a uma
responsabilidade compartilhada pela casa comum,
torna-se cada vez mais urgente”. Noutro passo, referiu
que “mudar o modelo de desenvolvimento global,
abrindo um novo diálogo sobre o futuro do nosso planeta”
é a tarefa que está diante de nós.
O sector da Construção Civil (responsável por
impactos relacionados com o consumo de matériasprimas
e de energia e também por 50% dos resíduos
sólidos gerados pelas actividades humanas) torna-se,
por isso, particularmente importante, na abordagem
deste novo paradigma, exigindo a adopção de novas
práticas baseadas em conceitos coerentes com a
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#41
Atualidades
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
sustentabilidade, como o consumo consciente de
matérias-primas e recursos naturais, o
reaproveitamento de resíduos e a minimização de
desperdícios.
Neste contexto, tem-se assistido, nos últimos anos, a
uma profunda alteração de processos e métodos
construtivos, com a integração de diversas variantes
na conceptualização de soluções técnicas,
privilegiando a iluminação natural, a utilização de
fontes alternativas de energia ou de tecnologias
inteligentes para regular a ventilação, a acústica e a
climatização dos edifícios.
Passos significativos foram, também, dados na
organização dos estaleiros de obras e na gestão eficiente
dos resíduos, quer da construção, quer da demolição,
facilitando a sua triagem e separação, de modo a
possibilitar a reutilização e a reciclagem, com
encaminhamento dos restantes a locais apropriados de
vazadouro e despejo.
Na Misericórdia de Santo Tirso, temos procurado
desenvolver acções concretas, no sentido de garantir
a sustentabilidade da Instituição, mas também que as
iniciativas, no âmbito da construção, sejam, em si
próprias, testemunhos de sustentabilidade. Assim:
- No que respeita à sustentabilidade da Instituição,
todos têm, certamente, consciência de que os últimos
anos têm sido marcados por fortes reduções nos apoios
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Atualidades
enquadramento das acções de reabilitação de
património, de que são exemplos mais recentes as
intervenções nas casas do Bairro da Misericórdia e no
edifício do ARCO, onde foi instalada a nova Unidade de
Cuidados Continuados;
do Estado e também dos particulares. A conjuntura
económica a tanto tem obrigado e os efeitos da
pandemia, em particular, têm sido especialmente
gravosos. Ora, não fica fácil gerir uma casa onde as
receitas se vêem reduzidas e as despesas
substancialmente aumentadas. Impõe-se, por isso,
encontrar fontes de financiamento alternativo, que
assegurem os fluxos financeiros que a procura da
melhoria permanente da qualidade de vida dos utentes e
a vasta actividade reclamam.
A Misericórdia possui um vasto património, mas tem de
ser mantido, gerido e cuidado. Cumpre, por isso,
identificar as «peças» que podem ser intervencionadas e
colocadas em posição de rentabilidade, ainda que à
custa de algum investimento inicial. Tal tem sido o
- No que respeita à sustentabilidade das intervenções,
importa assinalar a implementação de sistemas
tecnológicos que asseguram a eficiência energética (com
redução de consumos de electricidade e o recurso a
painéis solares e fotovoltaicos), o isolamento térmico e
acústico de paredes, os sistemas inteligentes de
climatização e aquecimento de águas, a gestão de
resíduos de construção e demolição, a gestão dos
próprios resíduos domésticos, soluções técnicas que
possibilitem a poupança de água, etc., com evidente
melhoria da qualidade de vida dos utentes e
trabalhadores.
Por outras palavras, estamos, de facto, e com empenho, a
promover o desenvolvimento e a satisfazer as
necessidades do presente, minimizando a afectação de
recursos, a pensar nas gerações futuras. Renovando,
recuperando, construindo.
Estamos no futuro. Estamos com o futuro. Com
sustentabilidade. •
POR J. LUÍS CRISTINO (ENG. CIVIL / UP, CONSULTOR TÉCNICO DA MISERICÓRDIA)
O autor escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico.
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#41
Atualidades
A MISERICÓRDIA E O
AMBIENTE
Apesar de todas as outras preocupações e prioridades
vividas no atípico e inesperado ano 2020, a Misericórdia
de Santo Tirso procurou não descurar a sua consciência
ambiental, prosseguindo com os seus contínuos cuidados
na preservação do meio ambiente, abrangendo na sua
agenda uma gradual aposta em estratégias relacionadas
com a sustentabilidade ambiental já evidenciada em anos
recentes:
• Reabilitação da valência Lar José Luiz d’Andrade
com a substituição de caixilharia (janelas e portas) e
aplicação de capoto de modo e melhorar o
isolamento do edifício e consequentemente a
eficiência energética; reabilitação da valência Casa
de Repouso de Real com renovação da caixilharia
existente (portas e janelas) de modo e melhorar o
isolamento do edifício e consequentemente a
eficiência energética; reabilitação da valência Lar
Dra. Leonor Beleza com renovação da caixilharia
existente (portas e janelas) de modo e melhorar o
isolamento do edifício e consequentemente a
eficiência energética; medida a ser prevista para
outras valências mas que devido aos elevados custos
associados, apenas poderá ser expandida de forma
bastante gradual e de acordo com as maiores
necessidades de cada edifício;
• Constante consciencialização dos hábitos de
consumo, alertando para o impacto ambiental e
económico da utilização eficiente de energia através
de iniciativas de sensibilização dirigidas a utentes e
colaboradores;
• Criação de Grupos de Trabalho na área dos
consumos (constituídos por representantes das
diferentes valências/serviços), procurando a
racionalização da utilização de energia promovendo
boas práticas e comportamentos mais sustentáveis
junto de colaboradores e utentes;
• Renovação gradual de equipamentos tecnológicos
com a aposta crescente em materiais e tecnologia
“verde”;
• Substituição progressiva de lâmpadas
incandescentes por lâmpadas de baixo consumo;
• Instalação de sensores de temporizadores e sensores
de presença;
• Aplicação de redutores de fluxo de água nas
torneiras, chuveiros e autoclismo;
• Consciencialização para a utilização do papel e
outros materiais descartáveis de forma mais
consciente;
• Preservação e limpeza de matas da instituição
procurando prevenir incêndios e contribuindo no
equilíbrio da fauna e da flora, bem como procurando
diminuir a poluição ambiental;
• Utilização de Sistema de Gestão de Resíduos
fazendo a devida separação de materiais para
reciclagem e resíduos biológicos;
• Registo no SILiAmb (Sistema Integrado de
Licenciamento do Ambiente), desde 2007, para
controlo de resíduos onde são validados guias
eletrónicas de recolha de resíduos hospitalares, óleos
alimentares, embalagens, vidro, papel e cartão,
REVISTA #10
Atualidades
plástico e componentes perigosas retiradas de
equipamentos;
• Em 2019, a instituição foi mesmo distinguida com o
1º lugar no concurso “Amarelo Por Um Sorriso”
(prémio atribuído no valor de 862,50€), promovido
pela RESINORTE, relacionada com a entidade com
maior quantidade de plástico e metal entregue.
A instituição acredita que esta aposta contínua em
políticas de sustentabilidade ambiental conduzirá não
apenas a benefícios ambientais, como também a
proveitos económicos, socias e culturais tanto a curto
como a médio e longo prazo. •
POR HUGO MARTINS (DEP. MANUTENÇÃO DA ISCMST)
Pag | 38
#41
Atualidades
GESTOS QUE POUPAM
Em todas as áreas podemos adotar comportamentos que
promovam a sustentabilidade evitando o desperdício e
rentabilizando recursos que por definição, são escassos.
Queremos, de uma forma simples, partilhar gestos que
poupam, gestos que fazemos todos os dias e por tão
rotineiros que são, não percebemos que no final de 1 mês
ou no final de 1 ano, representam centenas, senão
milhares de euros gastos sem qualquer utilidade.
Neste novo normal que a Pandemia nos obrigou a viver, que
todos nós desconhecíamos até então, o teletrabalho veio para
ficar, e com ele, parte dos custos do nosso trabalho foram
transferidos dos empregadores, diretamente para o nosso
bolso.
Gestos que poupam, podem ser aplicados no local de
trabalho, em casa, no jardim, ou em qualquer local onde
esteja, você pode ser o catalisador da mudança, de uma
mudança positiva!
Vivemos hoje na era digital, onde praticamente tudo consome
energia, utiliza consumíveis e de forma direta ou indireta
“gasta” o Nosso Planeta.
Toda a tecnologia que nos rodeia não é diferente, e por isso,
gestos que poupam devem ser cultivados e massificados por
todos nós.
De seguida, damos nota de alguns gestos que poupam na área
tecnológica e que de tão simples que são, temos a certeza que
todos vão ter um papel ativo na sua adoção.
Gestos que poupam a energia….
Desligar o computador no final do dia de trabalho;
Desligar o monitor quando desliga o computador;
Desligar a impressora todos os dias, principalmente as
impressoras de grandes formatos;
Reduzir o brilho do monitor até se sentir confortável (até poupa
os seus olhos…);
Gestos que poupam o ambiente….
Impressão só quando necessário/imprescindível;
Impressão em rascunho por defeito e privilegiar o preto;
Impressão de e-mails apenas a preto;
Impressão em papel de rascunho (que não contenha no verso
dados sensíveis);
Privilegiar o envio de forma digital em detrimento da
impressão;
Utilização de plataformas digitais para redução do papel e do
seu armazenamento;
Gestos que poupam o espaço….
Confirme se o que está a guardar no seu computador, há mais
de 2 anos sem ser utilizado, necessita mesmo… (otimize os
recursos que tem);
Não duplique ficheiros em todos os locais, faça apenas uma
cópia de segurança…
Gestos que poupam, são gestos que nos poupam….a
todos! •
POR SUSANA FREITAS, NUNO LUCAS E ILÍDIO OLIVEIRA (DEPARTAMENTO
INFORMÁTICA ISCMST)
REVISTA #32
Pag | 40
#41
Formação/GRH
LOUVOR AO LÍDER
INCOMPLETO
Uma liderança eficaz associa múltiplas competências:
técnicas, cognitivas (concetuais, estratégicas), relacionais
(sociais) e de liderança pessoal (contenção, temperança,
...) e encontrá-las numa só pessoa é tarefa quase
impossível. Portanto, assim que um líder (re)conhece e
aceita as suas forças e as suas fraquezas, pode e deve
procurar rodear-se de outros que as complementem.
O ano de 2020 constituiu a prova mais recente e
impactante de como, cada vez mais, as decisões são
tomadas enquadradas em conjunturas globais e de
incerteza, cujas forças (financeira, social, política,
tecnológica e ambiental) mudam rápida e, por vezes,
drasticamente. De tal forma que, ninguém consegue
sozinho estar em cima de todos os contextos.
É tempo de contrariar o mito do líder completo:
aquele está no topo e reúne em si mesmo todas as
competências.
Voltemo-nos então para o “Líder Incompleto”, aquele
que reconhece o(s) momento(s) em que deve permitir
que aqueles que na equipa melhor conhecem as
circunstâncias sejam peça primordial no processo de
tomada de decisão.
A distribuição de liderança deve ter em conta
competências facilitadoras (criam as condições para
motivar e sustentar a mudança) e competências
orientadas para a criatividade e para a ação (produzem o
foco e a energia necessários para provocar a mudança).
Assim sendo, uma liderança eficaz requer um líder que
garanta:
Capacidade de perceber o contexto em que a
entidade e os colaboradores operam (a forma como
estudamos o contexto, aquilo a que damos atenção,
determina a perceção que construímos do mesmo).
Aporte correto de competências de relacionamento
interpessoal, nomeadamente:
- criar e desenvolver relações intra e interorganizacionais;
- escutar com intenção genuína de perceber;
- explicar o ponto de vista do próprio, suas interpretações
e conclusões;
- desenvolver uma rede de pessoas confiáveis que
possibilita o suporte de iniciativas ou a discussão aberta
de problemas;
- assegurar a gestão do distanciamento psicológico aos
níveis social, temporal, espacial e experimental (requer
ajustes mediante as circunstâncias, potenciando a
eficácia das decisões ao atentar à “floresta” e/ou à
“árvore”, no momento certo).
Visão: capacidade de criar uma imagem atrativa do
futuro que proporciona aos colaboradores sentido de
propósito relativamente ao seu trabalho.
Competências de desenvolvimento e execução:
processo criativo que permite passar do mundo abstrato
das ideias para o mundo concreto da implementação,
REVISTA #38
desenvolvendo novas formas para transpor a visão do
futuro numa realidade diária.
As competências elencadas são interdependentes.
Porém, nenhum líder consegue ser igualmente
excecional em todas elas (tipicamente, é bom numa ou
duas competências).
Mas não confundamos: líderes incompletos não são
líderes incompetentes. Os primeiros conseguem
identificar com clareza as suas melhores competências e
têm a capacidade de determinar como e com quem
trabalhar em equipa de forma a potenciar as suas forças
e colmatar as suas limitações. Mesmo os líderes mais
talentosos beneficiam da aplicação construtiva e criativa
de inputs de (outros) profissionais de referência.
Líderes que não se façam rodear de diversidade e
complementaridade correm o risco de lhes escaparem
competências essenciais para a sobrevivência da sua
organização neste Mundo complexo e em permanente
mudança. •
POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)
Pag | 42
#41
Formação/GRH
3º SETOR DIFERENCIAÇÃO NA
GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES
DA ECONOMIA SOCIAL
A Sustentabilidade do 3º Setor depende intrinsecamente da
profissionalização crescente das práticas de gestão existentes
nas organizações que o compõem.
A Misericórdia de Santo Tirso, Organização da Economia
Social, oferece uma multiplicidade de serviços e respostas à
comunidade, sendo considerada uma Grande Empresa por
contar com cerca de 400 colaboradores/as.
Consciente da importância da especialização e da
diferenciação daqueles/as que ocupam cargos de
coordenação/gestão, a instituição investe de forma
consistente e criteriosa na formação dos/as mesmos/as.
Desta feita, destacamos a participação de 6 coordenadoras
de valência no Curso de Gestão de Organizações da
Economia Social (duas edições), promovido pela CASES
(Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), com
o objetivo de capacitar as organizações do setor social para
a melhoria da qualidade dos serviços prestados.
As ações contaram com formadores/as com habilitações e
experiência profissional comprovada nas temáticas abordadas,
concretamente na área da economia social, com
conhecimentos relevantes acerca do setor e dos tipos de
organizações que o integram.
As nossas participantes tiveram a oportunidade de usufruir de
uma abordagem abrangente, testando os conteúdos de forma
prática.
Potenciar a melhoria dos procedimentos e das competências
de gestão dos/as nossos/as profissionais (dirigentes/quadros
técnicos) é apostar em boas práticas e sustentabilidade.
E porque a Misericórdia de Santo Tirso, como qualquer todo, é
maior do que a simples soma das suas partes, fica o desafio às
participantes para partilha dos conhecimentos adquiridos,
promovendo o efeito multiplicador. •
POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)
Entre o final do ano 2020 e primeiro semestre de 2021, no
decurso de 147 horas de formação, distribuídas por 8 módulos,
foram tratados os temas “Economia Social”, “Gestão
Estratégica”, “Gestão de Recursos Humanos”, “Contabilidade e
Fiscalidade”, “Gestão Financeira”, “Marketing e
Comunicação”, “Gestão de Projetos” e “Ética e
Responsabilidade Social”.
#41
Pag | 43
PLANEAMENTO E
ARTICULAÇÃO SOCIAL
Ação
Social e
Comunidade
Precisamos de virar a página.
Aprender com as vicissitudes da vida, das marcas
deixadas pelo COVID para nunca “baixar as armas” na
proteção dos mais fragilizados, mas avançar… Não
ficarmos tolhidos pelo receio do que virá depois da
Pandemia.
Ainda no meio de muitos afazeres para garantir as condições
de segurança em relação ao COVID nas valências sociais –
testes regulares e vacinação aos colaboradores e utentes –
temos que repor a normalidade possível, para o bem da saúde
física e mental de todos.
Iniciamos as Reuniões de Planeamento e Articulação Social
para olharmos nos olhos de cada participante e partilhar
vivências, anseios e projetos. Este arranque serviu para
realizarmos um balanço do período COVID e das suas
consequências nas respostas sociais da Misericórdia – na
orgânica e nos utentes.
Objetivos:
• Refletir e partilhar as iniciativas/intervenções/
/constrangimentos;
• Apresentar linhas de atuação/projetos futuros;
• Afinar e uniformizar procedimentos;
• Rentabilizar recursos humanos e materiais;
• Fomentar a articulação entre valências;
• Reforçar a identidade institucional.
Para além das vantagens estratégicas, estes momentos de
trabalho são sempre agradáveis, onde se estabelece uma
interação muito positiva entre os elementos da equipa técnica
das valências sociais. Retomar estas dinâmicas coletivas cria
alguma estranheza no início, quando estávamos formatadas
para uma dinâmica mais individualizada e centrada na própria
valência. Voltar ao conceito de Unidade e Identidade da
Misericórdia terá que ser um caminho a percorrer de novo.
Mas com a participação e envolvimento de todas será um
caminho prazeroso pela articulação social e melhoria contínua.
•
POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)
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#41
Ação
Social e
Comunidade
SUSTENTABILIDADE
MOBILIZAR VONTADES PELO
QUE NOS É COMUM
Na resposta ao desafio para falar de sustentabilidade
económica, social e ambiental enquanto organização de
combate à pobreza e exclusão social implica falar em primeira
instância do bem-estar das pessoas e das suas comunidades
locais de pertença, bem como do atual modelo de
desenvolvimento económico que deve dar resposta a este
primado. Implica igualmente falar de emprego digno e no
respeito pela biodiversidade dos ecossistemas naturais,
recursos estes finitos, sem esquecer uma atenção particular às
alterações climáticas e às suas consequências múltiplas que
podem daí advir se não for dedicado um verdadeiro empenho
dos Estados a nível global. Como se sustenta o equilíbrio do
bem-estar das pessoas e uma economia competitiva e
inclusiva com preocupações ambientais? Muito se tem
falado dos três vértices deste triângulo por estarem
intrinsecamente associados, mas o que tem sido feito na
prática? E o que é necessário fazer? Para conciliar estas
três preocupações fala-se em crescimento justo,
sustentável e inclusivo, é isso que está acontecer? O que
deve mudar e o que depende de cada um fazer?
Esta crise sanitária, económica e social trouxe a descoberto um
crescimento do desemprego, das desigualdades entre os que
tem poucos recursos, com trabalhos precários, trabalhadores
sazonais dependentes do turismo, da restauração e em todos
os setores mais fustigados. A pobreza no trabalho exige salários
dignos e adequados acompanhados de proteção social.
As crianças e os jovens de meios desfavorecidos que não
puderam acompanhar a escola digital requerem a
implementação de medidas que impeçam que as crianças
pobres se tornem em adultos pobres. A par do reforço da
Garantia da Juventude, a Comissão Europeia adotou uma
proposta de recomendação do Conselho da União Europeia
(UE) que estabelece uma Garantia Europeia para a Infância
para promover a igualdade de oportunidades às crianças em
risco de pobreza ou exclusão social.
Encontramo-nos ainda em pandemia do COVID 19 e na
necessidade de pensar a transição de medidas de emergência
para medidas estratégicas de recuperação da crise social e
económica, num contexto de um novo quadro de fundos
europeus plurianual 2021-2027, como uma oportunidade de
investimento social na melhoria das condições de vida.
O Pilar Europeu dos Direitos Sociais aponta para três metas a
atingir em 2030, presentes no plano de ação, apresentadas na
Cimeira Social do Porto em Maio de 2021 nos domínios do
emprego, das competências e da proteção social:
• Pelo menos 78 % da população entre os 20 e os 64 anos
deverão estar empregadas até 2030. O objetivo de
emprego para toda a população em idade ativa, incluindo
os grupos excluídos e marginalizados do mercado de
trabalho: jovens NEET, minorias étnicas, imigrantes, pois
importa que seja um emprego digno e inclusivo, que se
preocupe em diminuir as disparidades salariais entre
homens e mulheres.
• Pelo menos 60 % de todos os adultos devem participar
anualmente em ações de formação. Com uma experiência
de anos de formação profissional é importante que esta
acrescente valor e se adeque ao mercado de trabalho e à
real economia do país sem esquecer a aquisição de
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Ação
Social e
Comunidade
competências digitais, em particular junto dos grupos
mais vulneráveis para a transição digital a que estamos
assistir.
• O número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão
social deverá ser reduzido em, pelo menos, 15 milhões até
2030 e pelo menos 5 milhões devem ser crianças. Esta
meta em particular de suma importância com o objetivo
de reduzir o número de pessoas em risco de pobreza ou
exclusão social em, pelo menos, 15 milhões até 2030 é
um retrocesso na ambição da meta estabelecida pela
Europa 2020, que era de 20 milhões, especialmente no
contexto da pandemia COVID-19.
Importa ressalvar que as metas a atingir no Pilar Europeu
dos Direitos Sociais só farão sentido se forem vinculativas
com caráter obrigatório para o seu cumprimento e, não seja
apenas mais uma declaração de princípios correndo o risco
de fragilizar a defesa da bandeira da Europa Social. No
quadro de financiamento plurianual 2021-2027, em particular
o Fundo Social Europeu Mais (FSE+), dotado de um orçamento
de 88 mil milhões euros, tem como objetivo o investimento nas
pessoas (emprego e proteção social, educação e inclusão
social através da erradicação da pobreza; qualificação para a
transição verde e digital) continuará a ser o principal
instrumento da União Europeia (EU) para apoiar a
implementação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais e
concretizar as três grandes metas propostas:
• Pelo menos 25 % dos recursos do FSE+ a nível nacional
devem ser canalizados para combater a pobreza e a
exclusão social, e desses, pelo menos, 5 % devem ser
investidos em medidas de combate à pobreza infantil, nos
Estados-Membros que seja superior à média da UE;
devem também utilizar, pelo menos, 3 % da sua quota do
FSE+ à ajuda alimentar e à assistência material de base
às pessoas mais carenciadas.
• Para combater o desemprego dos jovens, os Estados-
-Membros com taxas elevadas terão de consagrar, pelo
menos, 12,5 % dos fundos aos jovens que não trabalham,
não estudam nem seguem qualquer formação (NEET).
As preocupações da UE com as alterações climáticas
manifestaram-se na criação de um fundo específico para as
regiões que possam vir a ser afetadas pelos desafios
socioeconómicos decorrentes da transição climática: O Fundo
para uma Transição Justa.
No que respeita ao novo quadro de fundos comunitários,
Portugal apresentou o Plano de Recuperação e Resiliência e a
sua concretização ajudará a acompanhar em que medida o
compromisso político com os objetivos do Pilar Europeu dos
Direitos Sociais serão conseguidos.
O Núcleo do Porto da EAPN Portugal aproveita para dar os
parabéns à Revista da Misericórdia de Santo Tirso pelos
seus 20 anos de promoção da inclusão social e por um
futuro percurso editorial sustentável e amigo do ambiente
e das pessoas.
https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/O-9-2021-000025_PT.html
https://www.europarl.europa.eu/ftu/pdf/pt/FTU_2.3.2.pdf
https://www.portugal.gov.pt/downloadficheiros/ficheiro.aspx?v=%3d%3dBQAAA
B%2bLCAAAAAAABAAzNDQzNgYA62SpeQUAAAA%3d •
POR GRAÇA LOURENÇO (NÚCLEO DISTRITAL DO PORTO DA EAPN PORTUGAL)
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#41
Ação
Social e
Comunidade
SEMANA DA
INTERCULTURALIDADE
É cada vez mais evidente a necessidade de refletir e agir com
vista à garantia de uma sustentabilidade futura, não só
ambiental, económica, mas também social para que possamos
melhorar a qualidade de vida de forma que a geração
presente esgote os recursos e valores disponíveis das e para as
gerações futuras.
Só conseguimos uma sustentabilidade efetiva quando
temos um verdadeiro conhecimento e consciência do
conceito de identidade e pertença, cultura(s), pluralismo e
diversidade cultural. Quando procuramos compreender o
fenómeno da globalização e a sua relação com migrações,
etnicidade, combatendo formas de racismo e xenofobia
para promover o diálogo intercultural/inter-religioso e a
inclusão.
Deste modo, e no cumprimento da sua Missão – Proteção
de Grupos Sociais mais Vulneráveis, a Misericórdia de
Santo Tirso participou ativamente na Semana da
Interculturalidade promovida pela EAPN Portugal, que este
ano contou com o apoio institucional do ACM – Alto
Comissariado para as Migrações.
Esta iniciativa – Semana da Interculturalidade – assinalada
desde 2014, tem como objetivo promover o diálogo e a relação
entre culturas, mostrando que a interculturalidade é, também,
uma forma de combater a exclusão social, valorizando valores
como respeito, solidariedade, igualdade, cidadania, não
discriminação pela aparência, etnia, género ou nacionalidade,
democracia na educação e direitos humanos.
No âmbito deste evento a Misericórdia de Santo Tirso
participou com duas iniciativas distintas dirigidas a públicosalvo
diferentes:
Exposição “Mulheres de Azul”, decorreu no mês de abril na
Estação de Metro da Casa da Música
A exposição retratou a forma como cada mulher vítima de
violência doméstica se vê e aquilo que hoje as define como
pessoas. Presente num local de passagem, onde cruzaram
diferentes pessoas, teve como objetivo sensibilizar e levar a
refletir na identidade de cada um/a e o seu papel na
prevenção, desconstrução e combate da violência doméstica,
bem como dos valores fundamentais a uma sociedade de
respeito, solidária, igualitária, em suma sustentável.
Contos Interculturais – Seniores
Num período de pandemia em que os seniores, nomeadamente
os que se encontram em ERPI’s ficaram privados do contacto
com o exterior físico e humano, foi dada a possibilidade,
mesmo que à distância, de serem levados a imaginar, a viajar,
a recordar, a partilhar crenças e costumes, locais visitados,
momentos vividos, pessoas com quem se relacionaram, na
construção das suas identidades e no respeito com o/a outro/a
enquanto cidadãos/ãs e que atualmente são detentores de
sabedoria fundamental à construção da identidade das novas
gerações.
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Ação
Social e
Comunidade
Só quando efetivamente a humanidade for capaz de
perceber que somos um bocadinho de todos/as que cruzam
nas nossas vidas e respeitar verdadeiramente a
interculturalidade é que realmente conseguimos uma
verdadeira sociedade igualitária e sustentada.
“Pelas casas, ruas e praças hás de me encontrar bailando.
Bailando o novo ritmo que nasce do compasso das buscas,
indagações, perdas e encontros. (…) Coração tecido com
tantos fios, tantos povos, sangue dos mais variados que se
cruzam, se misturam, chocam, deslizam, harmonizam (negro,
indígena, europeu) nessa mistura e diversidade que sou eu!
Eu? No singular? Dentro de mim moram tantos plurais...
Encontrar o Outro, a Outra que está além de mim... quando
em mim moram tantos outros...”
Autor Desconhecido •
POR SUSANA MOURA (COORDENADORA DO CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)
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#41
Ação
Social e
Comunidade
UNIÃO PARA SUPERAR
VICISSITUDES
O Setor Social foi sem dúvida muito assolado pelas
vicissitudes da Pandemia, mas não podemos dissociar da
Saúde, que andou lado a lado, a dar diretrizes para
minimizarmos os riscos de contágio e superarmos as
consequências nas diferentes respostas sociais. Estivemos
sempre em articulação com a Segurança Social, a Direção
Geral de Saúde, mais concretamente a Saúde Pública local e
ainda a União das Misericórdias Portuguesas.
Em novembro 2020, contactada pela UMP, a Misericórdia de
Santo Tirso disponibilizou 7 vagas extra-acordo em resposta
social. Acolhemos “pessoas que, após alta clínica, permanecem
internadas nos hospitais do SNS, por motivos sociais e que
comprovadamente careçam de uma resposta de acolhimento
residencial, por não poderem regressar ou permanecer nas
suas residências, por falta de condições de autonomia e ou
inexistência ou incapacidade da família prestar o apoio
necessário”.
Esses utentes temporários foram acolhidos numa ala
distinta, localizada na Casa de Repouso de Real, com
serviços autónomos da restante estrutura, garantindo
sempre o acompanhamento próximo de uma equipa
pluridisciplinar.
Passados mais de 6 meses, embora existam ainda
questões formais a tratar, consideramos que esta resposta
demonstra que as parcerias são efetivas e que as
Misericórdias desenvolvem um papel extremamente
importante na superação dos problemas sociais
emergentes.
Nesta parceria, o Centro Distrital do ISS (e as equipas de
Serviço Social dos Hospitais do SNS), sinalizam os candidatos a
integrar as vagas disponibilizadas, comparticipando
financeiramente o período de acolhimento, deduzindo 80%
dos rendimentos do utente e avaliada a possibilidade de
comparticipação familiar.
Paralelamente e pelos mesmos motivos, ou seja, pela
lotação de camas hospitalares por pessoas com alta clínica
em tempo de Pandemia (desde março 2020), foi
estabelecida uma Parceria com o Centro Hospitalar do
Médio Ave, disponibilizando 10 camas para doentes que
aguardam vaga para a Rede de Cuidados Continuados ou
resolução da sua situação social.
Estas duas respostas de acolhimento temporário constituíram
assim, meios alternativos de assegurar a sustentabilidade das
respostas sociais e ao mesmo tempo responder às necessidades
sentidas pela sociedade.
A qualificação dos serviços e abertura a novos desafios
demonstra que a instituição está preparada para responder às
solicitações da comunidade na concretização da nossa missão
e a alargar estas parcerias. •
POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)
#41 Pag | 49
ESPERANÇA
Saúde
“A Esperança é o Sonho do Homem acordado.”
(Aristóteles)
Neste último ano, vivemos em Esperança! E, aos poucos, os
Sonhos tornam-se realidade, numa nova realidade!
Recordo a ansiedade do primeiro dia da chegada das vacinas
para os utentes e profissionais da nossa Instituição: um raio de
Esperança que nos fazia Acreditar que melhores dias seriam
possíveis. E Sim! O Sol raiou!
manter o estado de alerta para não recuar! E Sonhar!
Porque, sem dúvida, que o Sonho comanda a Vida, em
qualquer idade! Grata! •
POR SÍLVIA MONTEIRO (ENFERMEIRA NA ISCMST)
Com enorme felicidade, vejo os utentes a voltarem a
circular e a conviverem; regressaram os passeios ao
exterior demonstrando que o mundo fora do Lar continua a
existir e, talvez, ainda mais belo; regressaram as idas
emocionadas a Casa e ao Amor da Família que foram tão
desejadas; voltou a Celebração da Fé e da Oração; e tanto
que ainda há-de vir, contribuindo para uma melhor
condição de Saúde, sendo que a Saúde é muito mais do
que a ausência de doença.
Em nós, os colaboradores, vejo maior tranquilidade no
olhar, mais sorrisos e mais afetos.
REVISTA #39
Acreditamos que estamos mais seguros para proteger os
utentes e proteger a nossa Família, o nosso amparo.
Mas a memória não deixa esquecer o medo e os danos
provocados pela primeira vaga da Pandemia na Instituição, e
os dias, os meses que se seguiram… tanto refletimos e tanto
que aprendemos... Por isso, é tão importante manter os
cuidados de proteção individual e coletiva, num árduo
trabalho de equipa entre colaboradores, utentes e famílias;
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#41
Saúde
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL
RECOMENDAÇÕES
Atualmente, no mundo ocidental, comemos muito e
desperdiçamos muito mais! Este fenómeno é próprio de uma
sociedade moderna que, sendo de consumo, é também de
desperdício.
Alguns factos e números para reflectir…
“Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos em todo o
mundo não é consumido, que corresponde a 1,3 biliões de
toneladas por ano que são perdidas ou desperdiçadas.” 1
“Na União Europeia, aproximadamente 88 milhões de
toneladas de alimentos são actualmente desperdiçadas.” 1
Só em Portugal, estima-se que o desperdício alimentar seja
superior a 1 milhão de toneladas de alimentos.
“As perdas alimentares e o desperdício alimentar são
responsáveis pela emissão de 8% dos gases de efeito de
estufa.” 1
“São produzidos 263 milhões de toneladas de carne por
ano no mundo, sendo 20% desta quantidade perdida ou
desperdiçada.” 1
“A produção de alimentos de origem animal é responsável
por um uso superior de recursos (p.e. água, solo) e
emissões de gases de efeito de estufa face aos alimentos
de origem vegetal.” 1
“As perdas alimentares aumentam as emissões de gás de
estufa, uma vez que correspondem a um gasto de recursos
utilizados (p.e. água, energia).” 1
“Há 815 milhões de pessoas que passam fome em todo o
mundo e 1,9 mil milhões sofrem de excesso de peso.” 1
“São necessários cerca de 2000 a 5000 L de água para
produzir os alimentos consumidos, diariamente, por uma
pessoa.” 1
“As reservas de água doce são um recurso esgotável, não
chegando a 700 milhões de pessoas no mundo.” 1
O Desperdício alimentar não é só um problema ético e
económico, é também um problema relacionado com a
depleção dos recursos naturais. 1
Estima-se que, em 2050, a população mundial atinga os 9
biliões de indivíduos. 1 Esta tendência de aumento da
população acarreta a necessidade de maior disponibilidade
alimentar de forma a suprimir as necessidades nutricionais.
Desta forma será necessário repensar o padrão alimentar que
os portugueses e, de uma forma geral, as sociedades modernas
praticam.
A sustentabilidade, segundo a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e Agricultura (FAO), consiste em práticas
que permitem garantir os direitos do homem, satisfazendo as
necessidades presentes e futuras, sem causar danos
REVISTA #12
irreversíveis no ecossistema e sem comprometer o futuro das
gerações vindouras. 1
Ao longo dos últimos anos, a FAO tem promovido o debate
sobre esta temática, tendo lançado o Ano Internacional das
Frutas e Legumes 2021 com objetivo de apelar a uma melhoria
na produção alimentar, de forma a esta ser cada vez mais
sustentável. 2
Associado ao termo “sustentabilidade” encontramos o termo
“redução”, e por isso, uma alimentação sustentável é uma
alimentação que, entre outros, minimiza ao máximo as perdas
e o desperdício alimentar, entendendo-se por perda aquela
que ocorre antes de os alimentos chegarem ao consumidor e
desperdício quando ocorre depois de os alimentos chegarem
ao consumidor. 1
Uma alimentação sustentável tem baixo impacto ambiental
e contribui tanto para a segurança alimentar e nutricional,
como para o estado de saúde da população, quer no
presente quer no futuro. 1
Um alimento sustentável, é produzido por métodos que
respeitam o ambiente e os animais, sendo um produto sazonal
(alimento fresco, que se encontra disponível localmente e em
condições de maturação adequadas para consumo) e local
(adquirido directamente ao produtor, tendo uma cadeia de
distribuição curta), não processado, isto é, que minimiza os
recursos utilizados na indústria, como a água e combustível,
respeitando o ambiente, os produtores, os animais e os
consumidores. 1
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#41
Saúde
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL
RECOMENDAÇÕES
Na prática, para ter uma dieta sustentável, a Associação
Portuguesa de Nutrição 1 (APN) desenvolveu algumas
recomendações e sugestões que poderão ajudar:
• Realizar uma lista de compras e adquirir apenas os
alimentos que serão consumidos.
• Ocupar 3/4 do prato com alimentos de origem vegetalprodutos
de origem vegetal contribuem para a redução
expressiva sobre a pegada de carbono, hídrica e
ecológica.
• Limitar a 1/4 do prato os alimentos de origem animal - as
refeições apenas à base de alimentos de origem animal
têm maior impacto sobre o ambiente.
• Limitar o consumo de carne vermelha (p.e. porco, cabrito,
vaca) e processada (p.e. salsichas, hambúrgueres,
enchidos) - de entre os vários alimentos, a carne
(principalmente a vermelha) é a que requer mais água
para a sua produção e emite mais gases de estufa.
• Aumentar o consumo diário de leguminosas e utilizá-las
em substituição da carne, pescado ou ovos em algumas
refeições da semana.
• Servir as porções em função da Roda da Alimentação
Mediterrânica e em conformidade com as necessidades
energéticas e nutricionais de cada indivíduo - adoptar a
Dieta Mediterrânica constitui uma das alternativas mais
adequadas para modificar hábitos de consumo, de forma
a promover uma alimentação mais saudável e sustentável.
• Preferir alimentos locais e da época- os alimentos da
época têm, geralmente, características nutricionais e
organoléticas (p.e. sabor, odor, cor) superiores. Por outro
lado, permitem contribuir para a promoção da economia
local e para a melhoria do ambiente (p.e. utilizam menos
cadeias de frio, menos conservantes). Estes alimentos
também estão, habitualmente, disponíveis a um preço
mais acessível.
• Consumir pescado nacional, conforme a época e com o
tamanho mínimo exigido pela lei.
• Consumir alimentos oriundos do comércio justo.
• Utilizar utensílios adequados para servir as refeições (p.e.
colheres doseadoras, facas afiadas).
• Reaproveitar as sobras de outras refeições.
• Reduzir o desperdício na preparação e confeção dos
alimentos.
• As panelas de pressão permitem cozinhar mais
rapidamente e economizar mais energia. Limitar o uso de
forno.
• Ferver a água num jarro elétrico é mais rápido e envolve
menos custos energéticos do que aquecê-la numa panela.
• Manter a panela tapada, enquanto cozinha e desligar o
fogão pouco tempo antes do final da cozedura.
• Preferir embalagens familiares, ao invés de embalagens
individuais. Adquirir produtos avulso.
• Reutilizar embalagens utilizadas (p.e. acondicionar
botões, materiais de bricolagem).
• Minimizar o embalamento (p.e. pão embalado, talheres,
bases de tabuleiro).
• Atentar à data de validade dos produtos e acondicionar
na zona frontal os alimentos com a data de fim mais
próxima - quando adquire alimentos frescos, com um
tempo de vida curto, que não tenciona consumir de
imediato, procure adquirir uma embalagem com validade
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Saúde
maior. Assim, evitará que passe rapidamente de validade.
Armazene os produtos por ordem de validade, colocando
à frente os produtos com validade mais curta.
• Acondicionar convenientemente os alimentos (p.e.
armazenar em local seco ou no frio).
• Consumir, em primeiro lugar, os alimentos mais
perecíveis.
• Verificar, frequentemente, a temperatura de refrigeração
e congelação - os alimentos devem ser conservados entre
1 e 5º C para maior frescura e longevidade.
• Fazer compostagem dos resíduos orgânicos e utilizar
como fertilizante na horta familiar.
• Reciclar as embalagens utilizadas.
• Fazer uma horta familiar ou um canteiro aromático, em
caso de falta de espaço.
“RECOMENDAÇÕES DO PRESENTE ATÉ AO FUTURO”
“Repense, Reduza, Reutilize e Recicle!
Repense o seu consumo, a tornar-se resiliente na redução
do desperdício alimentar, na reutilização de alimentos para
novas confeções culinárias e na reciclagem dos recursos
utilizados. Assim, poderá contribuir para a salvaguarda do
planeta e das gerações futuras.”
(Associação Portuguesa de Nutrição; 2017)
Fontes:
1.Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar o futuro: uma reflexão sobre
sustentabilidade alimentar. E-book n.° 43. Porto: Associação Portuguesa de
Nutrição; 2017.
2.FAO in Portugal. Reconhecimento global de frutas, vegetais, chá e perda e
desperdício de alimentos: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
Agricultura;2019. http://www.fao.org/portugal/noticias/detail/es/c/1257182/
3.Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar com consciência: Estratégias a
implementar pelo Consumidor para repensar, reduzir, reutilizar e reciclar na
alimentação diária. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2017. •
POR CÁTIA MAGALHÃES LEMOS (NUTRICIONISTA ESTAGIÁRIA | 3364NE – SERVIÇO DE
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA ISCMST) E CARLA GONDAR (NUTRICIONISTA | 1206N
- RESPONSÁVEL PELO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA ISCMST)
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#41
Ação
Educacional
PEQUENOS GESTOS PARA
UMA FAMÍLIA SUSTENTÁVEL
Pensar em sustentabilidade é pensar nos nossos filhos e
no legado que lhes queremos deixar para que vivam num
planeta mais limpo (ou menos sujo), mais justo e onde
todas as espécies podem co-existir. O “click” surgiu na
nossa segunda gravidez e desde então fomos dando
pequenos passos para contribuir para a sustentabilidade e
para reduzir a nossa pegada ecológica como família.
Cabe-nos a nós Pais, esta tarefa de educar também para a
preservação do ambiente, sobretudo através de exemplos pois,
como sabemos, as crianças aprendem por imitação. Se há
algumas medidas que não são, de todo, economicamente
viáveis, outras há que podem ser imediatas e que adotamos
com bastante facilidade.
Começamos por uma medida “drástica” e com elevado
impacto no ambiente, quando optamos por usar fraldas
reutilizáveis quando a Laura nasceu. Além de toda a carga
poluente da fabricação de uma fralda, dos perigos dos
químicos de que são feitas (no processo de branqueamento
por exemplo), estas demoram cerca de 500 anos a degradar-
-se e, tendo consciência disto, foi relativamente fácil optar
pelas fraldas re-reutilizáveis ou biodegradáveis (em casos que
não podíamos usar as re-reutilizáveis).
Este foi talvez o nosso passo mais radical e o que mais peso
teve para a sustentabilidade, sendo também um dos que mais
nos motivou para adotar todas as outras medidas.
Desenganem-se os que pensam que usar uma fralda
reutilizável é um processo muito sujo, igual ao “antigamente”,
pois há agora novos materiais que permitem tornar o processo
mais amigável!
Com o uso das fraldas veio também o uso de toalhetes de
pano em vez das toalhitas embaladas, bem como a adoção
de óleos essenciais e cremes naturais. Para os banhos
abandonamos as embalagens plásticas e usamos há anos
sabonete, e passamos a usar, há cerca de dois anos,
sobretudo nas crianças, shampoo e amaciador sólido.
Na cozinha fizemos apenas algumas trocas simples:
usamos lufa natural em vez de esponja (de plástico),
optamos por esfregões de fibras de coco e detergentes
amigos do ambiente, mais concentrados e comprados a
granel. Para reduzir o uso de plástico, fizemos também
duas trocas simples: preferimos comprar manteiga
embrulhada em papel, em vez das caixas de plástico e
temos filtros de carvão ativado para diminuir o consumo de
água engarrafada.
Na questão das compras, passamos a comprar apenas o que
precisamos, sempre baseados numa lista de refeições que
fazemos para toda a semana. Com isto evitamos o desperdício
de alimentos e conseguimos equilibrar a nossa dieta.
Ainda relativamente à alimentação, aprendemos a “ler rótulos”
para evitar comprar alimentos altamente processados ou que
causam desequilíbrio nos ecossistemas como é o caso do óleo
de palma.
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Ação
Educacional
Preferimos comprar a granel, quer seja na feira, ou em
mercearias especializadas mas vamos também ao
supermercado e usamos sacos de pano e plástico que ainda
temos e que vamos usando até ficarem completamente
inutilizados!
A última medida adotada nesta área foi uma das mais simples:
compramos um recipiente de vidro com tampa que usamos
para ir à peixaria. Evitamos assim, todas as semanas, dois sacos
de plástico e uma caixa de esferovite!
Na minha opinião, como família, pensamos nestas medidas
pequeninas como um jogo, de como podemos melhorar, sem
perder qualidade de vida, ou até mesmo ganhando. É exemplo
disto o uso da bicicleta para nos deslocarmos na cidade
quando chega o Verão! Os nossos filhos adoravam chegar ao
infantário de bicicleta, apesar de me custar pedalar com 20 kg
extra de “bagagem”.
Claro que continuamos a viajar de avião e a usar o carro e não
fazemos tudo o que poderíamos fazer e sentimos que ainda
temos por onde crescer nesta área e fazer um bocadinho
melhor. Mas, como em tudo, é necessário um equilíbrio e,
será sempre mais sustentável muitas famílias fazerem
pequenas mudanças ao invés de apenas duas ou três
famílias adotarem todas as mudanças.
Como se costuma dizer “O Mundo precisa mais de muitos
ambientalistas imperfeitos!”. •
POR IDALINA MACHADO (MÃE DA LAURA, SALA DOS 3 ANOS DO JARDIM DE INFÂNCIA)
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#41
Cultura
O FUTURO DO SETOR TÊXTIL
RUMO À CIRCULARIDADE
Os produtos têxteis têm uma enorme pegada ecológica em
todas as fases da sua vida. À medida que mais roupas são
produzidas, consumidas e deitadas fora, o modelo linear
seguido pela indústria têxtil coloca uma enorme pressão
sobre o planeta em recursos, ambiente e clima.
Tal resulta do facto do setor têxtil ter conhecido um enorme
crescimento nas últimas décadas, essencialmente assente na
transformação do modelo de produção e consumo dos
produtos de vestuário, que, em muitos casos, passaram de
bens duráveis e de qualidade a bens quase descartáveis,
seguindo uma tendência que muitos apelidam de fast
fashion. Muitas das grandes marcas, que estão hoje
presentes em diferentes continentes, e que assentam o seu
modelo de negócio numa rotatividade rápida dos produtos
que produzem, chegam a ter em loja mais coleções do que
os meses do ano (coleções novas podem ser duas por mês,
em particular nas marcas dirigidas aos jovens).
Trata-se de um setor fortemente assente num modelo
económico linear, onde produzir e consumir são os elementos
estruturantes, havendo um espaço muito reduzido para a
reintegração de materiais e o fomento da circularidade, que é
bastante complexa, ao contrário do que muitas vezes se pensa,
particularmente se o objetivo for o de utilização das fibras em
soluções qualitativamente semelhantes.
Para termos uma ideia mais concreta do crescimento do setor,
o consumo global de fibras sintéticas aumentou de valores
praticamente marginais em 1960, para 60 milhões de
toneladas em 2016 e continua a aumentar. O poliéster, uma
das fibras mais comuns, é sintético, não-renovável, baseado no
petróleo e tem um processo de produção intensivo em termos
de carbono. Atualmente, as fontes fósseis representam cerca
de dois terços dos materiais usados pela indústria têxtil. Por
outro lado, a produção e consumo global de fibras de algodão
mais do que duplicaram, de 10 milhões de toneladas em 1960
para 25 milhões de toneladas em 2010.
Neste momento os têxteis são o 4º setor com maior intensidade
de utilização de matérias-primas primárias e de água e o 5º
setor em termos de emissão de gases com efeito de estufa. Nele
é feita uma utilização intensiva de substâncias químicas (cerca
de 15 mil), muitas delas perigosas para a saúde (de quem as
produz e de quem as usa) e para o ambiente. A nível mundial,
apenas cerca de 1% dos têxteis colocados no mercado são
reciclados.
Segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, em 2017
foram recolhidas cerca de 200 mil toneladas de resíduos têxteis
nos contentores de resíduos urbanos, o que representa cerca
de quatro por cento do total de resíduos urbanos produzidos
em Portugal. E esta é apenas a ponta do iceberg.
Contudo, é possível fazer diferente. Se estendermos nove
meses à vida das roupas, reduzimos a pegada de carbono,
água e resíduos entre 20 a 30%.
Para estender o tempo de vida dos têxteis será fundamental
integrar critérios de sustentabilidade, como sejam a
durabilidade, a reparabilidade, o potencial de reutilização ou
mesmo a redução de libertação de microfibras (fibras
sintéticas). Essencialmente apostar na redução da produção e
na conceção ecológica (ecodesign) dos têxteis.
Esta intervenção é urgente e tem um enorme potencial de
eficácia, uma vez que 80% dos impactos ambientais resultantes
dos produtos têxteis são estabelecidos na fase de conceção.
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Cultura
Os novos requisitos de design ecológico devem focar-se
em:
• Desenhar os produtos e os sistemas para vidas mais
longas, informando o consumidor do tempo de vida
expectável; fabricar produtos têxteis que sejam duráveis,
reutilizáveis, facilmente reparáveis e recicláveis;
• Assegurar que os produtos são livres de tóxicos e que os
materiais usados provêm de fontes sustentáveis e éticas;
• Desenvolver normas sobre a libertação de microfibras
(fibras sintéticas);
• Aplicação da responsabilidade alargada do produtor, que
promova prioritariamente a redução e a reutilização/
/durabilidade/reparação.
Esta proposta visa contribuir para a transição necessária do
atual modelo linear e insustentável (compras constantes;
tempo de utilização reduzido; descarte) para um modelo
circular (compra apenas do essencial; utilização a longo
prazo - pelo próprio ou por outros, fomentando a venda em
2ª mão - reciclagem em upcycling - transformando as fibras
recicladas em produtos de qualidade).
O Futuro dos Têxteis no Contexto da União Europeia
O setor têxtil está identificado como um dos setores prioritários
no âmbito do Plano de Ação da UE para a Economia Circular,
estando prevista a publicação de uma Estratégia Europeia para
a Sustentabilidade dos Têxteis.
Segundo a Diretiva Resíduos (já transposta para o direito
nacional através do Decreto Lei 102D/2020 de 12 de
dezembro) a partir de 1 de janeiro de 2025 a recolha seletiva
de têxteis passará a ser obrigatória em todos os países da UE.
Tal representa uma excelente oportunidade para, através da
aplicação da responsabilidade alargada do produtor, ser
definido um enquadramento que incentive as marcas a investir
na durabilidade, reutilização, reparabilidade, não toxicidade,
redução da libertação de microfibras e reciclabilidade dos
seus produtos e penalize fortemente aquelas que insistam no
modelo linear atual.
O Papel de Cada Um
Pare além das responsabilidades da indústria, dos governos de
cada país e da União Europeia, os próprios cidadãos também
têm o seu papel para promover a economia circular na área
dos têxteis.
O passo principal é o da redução, comprando menos e
seguindo a lógica de que “menos é mais”. Para além disso
podem privilegiar produtos de maior qualidade, duráveis,
intemporais, que possam ser usados durante mais tempo,
sempre que uma compra seja necessária.
Podem também reutilizar o que já têm, renovar as roupas,
por exemplo através da criatividade ou recorrendo a repair
cafés ou a costureiras (que podem ser mais ou menos
profissionais, uma vez que hoje há muitas pessoas que se
dedicam a criar peças e dar-lhes nova vida, mesmo de
forma informal).
Há ainda espaço para a partilha de roupas entre familiares
e amigos ou a promoção da troca de roupas entre
conhecidos ou em feiras/encontros com esse fim. •
POR SUSANA FONSECA (MEMBRO DA DIREÇÃO DA ZERO – ASSOCIAÇÃO SISTEMA
TERRESTRE SUSTENTÁVEL)
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#41
Cultura
FAÇA VOCÊ MESMO
ECONÓMICO E SUSTENTÁVEL
Nem todos os detergentes são amigos do ambiente e é
importante sensibilizar os consumidores para o impacto
ambiental de muitos produtos de uso doméstico. Se cada um
de nós contribuir com pequenos gestos, o “menos” irá tornar-se
“mais” e o planeta agradece.
Após o repto lançado internamente para os colaboradores
partilharem atitudes sustentáveis, deixamos 4 sugestões de
produtos naturais, amigos do ambiente, que podem
experimentar.
Não esquecer de identificar a embalagem com o produto, para
evitar o envenenamento acidental, ou o acesso indevido por
parte das crianças.
INSETICIDA NATURAL PARA PLANTAS DE
INTERIOR/EXTERIOR
ADUBO NATURAL PARA PLANTAS DE INTERIOR/EXTERIOR
Material Necessário:
4 Cascas de Banana
2 Cápsulas de Café (borras)
1,5 L de Água
Preparação:
Colocar o conteúdo num
recipiente e deixar em
repouso durante 2 dias. No
fim desse tempo, mexe-se a
solução e está pronta a
regar. É um bom adubo
para todo o tipo de plantas.
•
Material Necessário:
50 gr de Sabão (Rosa/ Azul / Natural)
100 ml de Vinagre
1 l de Água
1 pulverizador usado
POR MARGARIDA COELHO
(COLABORADORA ISCMST)
Preparação:
Ralar o sabão em pedaços bem pequenos, colocá-lo dentro do
pulverizador juntamente com a água e o vinagre. Agitar e
pulverizar as plantas/catos/suculentas.
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Cultura
DETERGENTE DE ROUPA LÍQUIDO CASEIRO
Material Necessário:
200 gr de Sabão (Coco/
/Marselha/Azul e Branco)
100 gr de Bicarbonato de
Sódio
100 ml de Vinagre de limpeza
5 L de Água
Preparação:
Ralar o sabão em pedaços
bem pequenos;
Numa panela adicionar 300 gr
de água, deixar ferver,
adicionar o sabão ralado, e ir
mexendo pelo menos 10
minutos. Adicionar mais 500 gr de água e mexer mais 5
minutos.
Juntar por fim o bicarbonato de sódio (ajuda a branquear e
retirar nódoas, pode optar por colocar diretamente em cima da
nódoa) e o vinagre (serve de amaciador). Acrescentar o resto
da água (quente de preferência).
Deixar repousar algumas horas. Quando estiver frio e o
preparado mais duro, mexa bem. Pode também passar a
varinha para ficar mais uniforme.
Colocar este preparado num recipiente reciclado de
detergente. Não deverá encher até cima, tem de ter espaço
para agitar antes de cada utilização, que deverá ser
semelhante a um detergente normal.
DETERGENTE DE LIMPEZA MULTIUSO CASEIRO
POR JULIANA MOREIRA (COLABORADORA ISCMST)
Material Necessário:
Cascas de Limão ou Laranja
Vinagre de Limpeza
Água
Preparação:
Num recipiente de vidro
guardar as cascas de limão
ou laranja, encher com
vinagre de limpeza e deixar
repousar 2 semanas.
Após esse tempo, fazer uma
mistura 50/50 do vinagre
com o citrino e a água.
Pode utilizar um vaporizador
reciclado e utilizar como
detergente universal para
superfícies e um eficiente
anticalcário. •
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#41
Cultura
OS IRMÃOS EM REVISTA
A primeira Revista da Misericórdia nasceu em junho de
2001. Mas acima de tudo, pensar nesta publicação será
remeter-nos a uma viagem cujo limite temporal não se
circunscreve a 20 anos. As linhas desta realidade cruzam-
-se no fio condutor de gerações passadas que muito
contribuíram para o presente, e tudo o que se tornou
possível criar e alicerçar.
No seguimento do Editorial “Vinte Anos”, o ano 2000 foi
marcado por uma reorganização institucional em que entre
outras medidas, passou por uma nova visão estratégica que
privilegiou a aposta na Comunicação e Imagem. Começou a
sentir-se necessidade de partilhar o que era realizado
internamente a um universo mais alargado, numa fase em que
já se entrava na era digital, mas ainda não se vislumbrava o
imediatismo das redes sociais. Nesta estratégia de
comunicação com o exterior, emerge a consciência de se criar
um instrumento de aproximação com os Irmãos, para que estes
tivessem um maior envolvimento e conhecimento da dinâmica
institucional.
Assim, se acreditamos que através desta publicação semestral
conseguimos mostrar quem e como somos, de quem cuidamos
e qual o caminho que pretendemos seguir, não menos
importante será direcionarmos o nosso olhar para aqueles que
foram a base da criação desta Revista, os Irmãos da
Misericórdia. E como pretendemos continuar a estreitar laços
de comunicação e a melhor conhecer quem também faz parte
desta família institucional, a comemoração de 20 anos passa
por apresentar uma breve caracterização dos Irmãos que
integram a base de dados atual, estudo realizado no âmbito do
Departamento de Comunicação e Imagem, através do
acolhimento de um estágio de Técnico de Marketing, do IEFP.
IRMÃOS ATUAIS
Através da análise cuidada aos 811 Irmãos, foram
monitorizados dados como Idade, Sexo, Profissões, Localidade,
entre outros elementos.
Assim, até maio do corrente verifica-se que 53% dos Irmãos
pertencem ao Sexo Masculino e 47% representam o Sexo
Feminino. Apenas se distanciam em 6%.
Quanto à Localidade, e conforme expectável, circunscreve-se
a Santo Tirso com 714 residentes. Os restantes, embora
distribuídos pelo país, situam-se maioritariamente a norte onde
os concelhos do Porto, V. N. Famalicão e Trofa surgem de
seguida com 24, 19 e 17 residentes, respetivamente.
No que se refere às Idades, verificou-se uma média situada nos
65 anos (350 Irmãos têm idades entre os 60 e os 80 anos). No
entanto, com base numa análise pormenorizada às admissões
dos últimos 20 anos verifica-se que o nível etário tem vindo a
diminuir, ou seja, atualmente o intervalo de idades situa-se
entre os 33 e os 47 anos, assistindo-se a uma participação mais
ativa de Irmãos mais jovens.
As Profissões foram igualmente analisadas. Num universo
aproximado a 60 diferentes profissões, as dominantes recaem
sobre as seguintes atividades, por ordem decrescente:
Professor(a), Empresário(a), Comerciante, Engenheiro(a) e
Escriturário(a). Destaca-se ainda um elevado número de Irmãos
que se encontram Aposentados.
REVISTA #13
OS PRIMEIROS 100 IRMÃOS
O estudo despoletou um novo interesse comparativo:
caracterizar os primeiros 100 Irmãos inscritos no Livro de
Matrículas, os impulsionadores da Misericórdia no séc. XIX. E
ao nível da Localidade prevalece uma sintonia entre 1885 e
2021: em 100 Irmãos, 95 residiam no concelho de Santo Tirso,
seguindo-se igualmente a cidade do Porto.
Quanto ao Sexo, o masculino era o principal, com 96% do
universo de inscritos, ficando a representação feminina nos
diminutos 4%, numa altura em que o 1º Compromisso era
explícito: “ninguém poderá ser admitido irmão sem que
preceda proposta escripta e assignada por um irmão do sexo
masculino…”.
A média de Idades é díspar da atualidade, pois situava-se nos
45 anos. Eram Irmãos mais novos e num total de 16 profissões
identificadas, a dominante era Proprietário (43), seguindo-se
Negociante (17), Capitalista (6), Escrivão (6) e Advogado (4).
Facto importante prende-se com a permanência no tempo de
muitos destes primeiros irmãos, imortalizados nesta cidade de
Santo Tirso com nomes de ruas, praças e edifícios públicos, tais
como: Conde S. Bento, José Bento Correa, Arnaldo Baptista
Coelho, Abade Joaquim Pedrosa, José A. Ferreira de Lemos.
Mas o tempo agora é outro: atentar aos Irmãos de 2021 e
proceder à sua renumeração, o que irá implicar atribuição
de novos números em novos cartões. Porque a presente
viagem ao passado começou com um fim: o novo Cartão
de Irmão. •
POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)
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#41
Cultura
O CONDE S. BENTO
E A URBANIZAÇÃO DE
SANTO TIRSO
O processo de urbanização da atual cidade de Santo Tirso
possui uma história centenária cujas raízes se encontram no
estabelecimento de uma nova ordem política resultante da
vitória liberal na guerra civil de 1832/34. A 26 de março
entrava em Santo Tirso o exército liberal, tomando as novas
autoridades civis posse do mosteiro beneditino e inaugurando
um outro período na história local. Após a extinção do couto, o
mosteiro benedito acolheu nas suas galerias a Administração
do concelho (o representante do Governador Civil), o Tribunal,
as escolas primárias e a Câmara Municipal, entre outras
instituições, mantendo em funcionamento a Igreja Matriz e o
alojamento do pároco. Constituía-se um novo centro do poder
local que nos anos seguintes viria a mudar-se para o centro do
burgo com as suas novas praças, proporcionadas pela
urbanização da vila. A Câmara Municipal seria a última a sair,
em 1975, para o edifício construído de raiz pelo arqt.
Agostinho Ricca 1 , na praça 25 de abril.
Alberto Pimentel recordava no Santo Thyrso de Riba d’Ave a
importância dos monges na criação e desenvolvimento da
povoação: «Quando as ordens religiosas foram extinctas, o
nucleo da civilização portugueza, creada pelo frade sobre a
conquista do guerreiro, produzia copiosos fructos, era já
suficiente garantia de futuro prospero» 2 e efectivamente o
burgo setecentista já se tinha instalado no lugar de Cidnai,
onde os monges fomentaram a construção de casas. Os
topónimos Taipas, Carvalhais, Picoto, Rãs, entre outros,
sinalizavam pequenos núcleos de casas ligados entre si e à
Rua Nova de S. Bento e Largo do Cidnai, lugar central onde
em 1758 já existiam quarenta e oito casas. O Mosteiro
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Cultura
promoveria ainda a construção da ponte sobre o rio Ave, a
ligação com a estrada do Porto e o desenvolvimento das feiras
locais. Este foi um importante legado, recordado pelo saudoso
Carlos Faya Santarém nos seus Apontamentos de História
Local, que sublinha a continuidade entre o núcleo de
população inicial do Cidnai e o posterior crescimento da vila,
no período liberal.
“Esta terra, ainda há pouco humilde burgo benedictino e hoje
transformada em formosa e florescente villa reclinada na
margem esquerda do Ave, que com suave murmúrio deriva
lentamente a seus pés, […]” 3
Nas páginas do Jornal de Santo Thyrso, que iniciava neste
número o seu caminho centenário, fazia-se profissão de fé no
progresso oitocentista, nos projectos que existiam para a vila e
na crença de os concretizar. Quando a 6 de outubro de 1834
tomou posse a comissão municipal já existiam no Cidnai 98
casas. Nos anos seguintes vários executivos municipais
encarregar-se-ão de obras e abertura de ruas, mas a
urbanização da vila só arrancará verdadeiramente no mandato
de Custódio Gil dos Reis Carneiro, com a correção do traçado
da estrada de Guimarães, que em 1860 convergirá para o
centro da vila, criando-se uma nova praça, o Campo 29 de
Março (atual Praça Conde de S. Bento). A demolição de 2
casas no topo sul do Largo de Cidnai permitiu abrir a
comunicação entre este espaço e o Campo 29 de Março
ampliando o centro urbano e promovendo a construção de
outros arruamentos entre o Picoto (atual Praça Camilo Castelo
Branco) e o Cidnai. Nestes locais assistiu-se então, desde 1861,
a um rápido surto de construções que permitiram moldar o
centro, conforme o conhecemos hoje em dia. Mas seria no
mandato de João Justiniano de Sousa Trepa que se concluiria
este projecto com a arborização da nova praça e uma nova
retificação do trajecto da estrada, o qual permitiria abrir em
1863 a Rua Francisco Moreira, dentro dos terrenos da Quinta
de Fora do antigo mosteiro.
A ideia da construção de uma nova praça, atual Parque D.
Maria II germinaria em 1872, muitas anos antes da sua
aparição, devido à necessidade de mais espaço para a feira de
gado. Contudo, apenas em 1880, na presidência de
Bernardino Santarém se avançou com o projeto, sendo
aprovada a planta de Gualter de Freitas Costa para a nova
praça em terrenos que a câmara expropriaria a D. Maria da
Conceição Soares, proprietária do Mosteiro e das suas terras.
As obras para a construção desta importante praça que
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#41
Cultura
O CONDE S. BENTO
E A URBANIZAÇÃO DE
SANTO TIRSO
envolveu trabalhos de engenharia (na sustentação do
paredão), a construção de vários arruamentos, a sua
arborização e loteamento, acabaria por implicar um
considerável esforço e força de vontade das entidades
envolvidas no processo. As obras estender-se-iam até 6 de
agosto de 1883, mas já com a intervenção do benemérito
Visconde de S. Bento.
Uma data importante para o nosso concelho foi
precisamente o dia 27 de fevereiro de 1882, quando a
proprietária das casas e terras do antigo mosteiro as
vendeu ao Visconde de S. Bento; Manoel José Ribeiro. A
sua posse só viria a ter lugar a 12 de abril e poucas
semanas depois teria já os seus efeitos na forma como o
futuro Conde de S. Bento se envolveria na urbanização de
Santo Tirso. António Simões de Almeida tinha-lhe lançado o
repto na cerimónia de posse do mosteiro: «N’esta época de
transição social […] os sociologos preconisam tres agentes
poderosos, a escola, o asylo e o hospital. Esta trilogia tão
sympathica, tão cheia de encantos e de poesia, é a creação
mais santa, mais proficua e mais bella do nosso seculo, que
pela sua evolução torna a instrucção para a vida tão necessaria
como o ar que respiramos: o asylo, o albergue e o hospital de
momentosa importancia para tolher os ataques da adversidade,
amparar os desgraçados da fortuna, os orphãos e os invalidos
do trabalho e socorrer aquelles a quem a enfermidade lhe
minou o organismo curando-lhe e melhorando-lhe os seus
soffrimentos.» 4 . Este foi o primeiro de muitos reptos lançados
pelos conterrâneos do futuro conde e que surtiram
repetidamente efeito, uma vez que a 11 de maio cederia algum
terreno à paróquia na Quinta de Dentro; a 1 de junho, cederia
ao município os terrenos para construir a variante da estrada
distrital nº 8 (o início da Alameda da Ponte e da atual Av.
Soeiro Mendes da Maia) e no mesmo mês entregaria as terras
para a ampliação da nova praça que viria a ter o seu nome
Praça do Visconde de S. Bento (atual Parque D. Maria II) e
para a construção das ruas que a limitariam. Mandaria para
esta praça uma fonte oriunda da Quinta do Mosteiro para
aproveitamento das águas aí existentes. Foi ainda por ação
deste benemérito que seria promovida a venda ou aforamento
dos terrenos circundantes à praça, acelerando a sua
urbanização. No Campo 29 de Março colaboraria na
construção do coreto e financiamento da banda formada nesse
ano, a 27 de outubro, a qual levaria o seu nome. O impacto do
Conde de S. Bento na urbanização de Santo Tirso não estaria
completa sem nos referirmos aos terrenos cedidos para a
construção do caminho de Vilalva (atual Rua Dr. Carneiro
Pacheco).
A concretização da trilogia: escola, asilo e hospital viria ele
a cumprir em vida com a construção do edifício das escolas
primárias em 1886, do Hospital Conde de S. Bento em 1891
e, a título póstumo, do Asilo criado com o seu legado nas
instalações do antigo mosteiro beneditino. Soube José Luís
de Andrade cumprir o legado do seu tio, o Conde de S. Bento.
O seu testamento permitiu dividir a herança do Conde por
várias instituições que preservaram e melhoraram o seu
património, entre estas destaca-se o acordo celebrado com a
Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso,
parceiro ideal para prosseguir esta tarefa. O acordo lavrado
com o provedor, Dr. Eduardo da Costa Macedo, permitiu o
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Cultura
alargamento da rede viária de Santo Tirso (ampliação das ruas
do Norte e do Olival e a conclusão da Av. Soeiro Mendes da
Maia). Mas entre os encargos póstumos, o mais duradouro
seria a construção nos terrenos da Quinta de Fora do Mosteiro
da Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, histórico
estabelecimento da região que contribuiu para a
transformação de Santo Tirso com o seu ímpeto económico,
atraindo trabalhadores, construindo um bairro operário e
constituindo-se como um exemplo para outras indústrias locais.
No fundo, Manoel José Ribeiro, brasileiro enriquecido e
filantropo abnegado marcou o seu tempo e deixou um
legado que ainda se faz sentir nos dias de hoje nas
instituições locais, na cidade de Santo Tirso e no exemplo
perene que legou às gerações vindouras. A 28 de agosto de
1892 os tirsenses renderam-lhe homenagem em vida,
através da ereção de uma estátua no espaço público de
Santo Tirso. A iniciativa para a sua construção partiu da
Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso
que conduziu uma subscrição pública que contou incluso,
com doações da comunidade brasileira do Rio de Janeiro e
do Pará. A obra, autoria do escultor António Couceiro e da
empresa portuense de António Coelho de Sá & Cª, seria um
marco na história da cidade e na memória dos tirsenses. Como
vaticinaria António Simões de Almeida em 1882: «Eu antevejo
um futuro brilhante a esta formosa villa, que pelo signaes de
vida e de energia que apresenta e pela poderosa cooperação
do snr. Visconde de S. Bento, transformar-se-há dentro em
poucos anos n`uma cidade importante, rivalizando com as
principaes d`esta fertelissima provincia.». E assim foi.
1. A urbanização de Santo Tirso teve a atenção de vários autores como Alberto
Pimentel, Carlos Manuel Faya Santarém, nos Apontamentos de História Local
(publicados no Jornal de Santo Thyrso), o P. Francisco Carvalho Correia em
várias obras, nomeadamente nos volumes de Santo Tirso, da Cidade e do seu
Termo, Câmara Municipal de Santo Tirso, vol. I-VI, 2000-2008. Uma síntese mais
recente surgiu pela mão de Conceição Melo, «Da vila a cidade» in Santo Tirso.
Das Origens do Povoamento à Atualidade, Santo Tirso, 2013, pp. 263-346.
2. Alberto Pimentel, Santo Thyrso de Riba d’Ave, Club Tirsense, 1903, p.12.
3. Jornal de Santo Thyrso, nº 1, 11 de maio de 1882.
4. Jornal de Santo Thyrso, nº 8, 29 de junho de 1882. •
POR NUNO OLAIO (HISTORIADOR DA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO TIRSO)
O autor escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico.
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#41
Cultura
POEMA
Amor e Sustentabilidade
de mãos dadas
Somos aquilo que estamos dispostos a aprender
a nossa vida faz parte de um processo de aprendizagem e
evolução
responsáveis pelos nossos atos, eles mostram na sua essência
quem realmente nós somos
por isso falar de sustentabilidade é também falar de amor
amor por Nós, pela Natureza e tudo o que fervilha em redor
amor pela vida
sejamos pessoas conscientes, justas e sobretudo mais
responsáveis,
amar é partilhar, cuidar é tornar um futuro mais sustentável,
por isso
que as nossas ações ou intervenções causem o menor dos
danos quer a nível do ser o humano quer na Natureza...
devemos criar alternativas a... e não esgotá-las, para que
possamos garantir um futuro digno às gerações vindouras...
este será o nosso legado, a história da nossa passagem, da
nossa caminhada...
poetas, que cantais o amor e a vida, mostrai o quanto
pequenos somos perante a grandeza do Universo
cigarras cantai, tornai os dias leves e mansos
para o caminho... mel e canela
e que o amor nos abrace a cada olhar. •
sentimentos /
// raízes //
// prazer // troca
sentimentos
// afectos
// emoç
// i
// raízes // relaçõ
// in
// prazer // trocas // pa
// afectos // instinto
// interior /
POR CÉU MACHADO (VOLUNTÁRIA NA ISCMST)
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Cultura
/ emoções // alma
relações // tempo
s // paixão // presente
nstinto // reacções
terior
ões //
//
alma
es // tempo
espírito ...
ixão // presente
// reacções
/ espírito ...
REVISTA #18
Nome: Marta Ferreira
Categoria: Animadora Sociocultural
Antiguidade: 21 Anos
Quais são os 3 locais favoritos em Portugal?
Costa Litoral Alentejana pelas praias lindíssimas; Serra da
Arrábida pelas paisagens e a cidade do Porto (zona da
Ribeira) para um passeio de fim-de-semana.
Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente?
Ouço muita música, mas vou destacar uma que adoro em
particular: Mariza, pela voz lindíssima que faz arrepiar.
Destaco também a música “Prescrever” do Agir, “tiro o
chapéu” a esse músico que teve a coragem de escrever e
cantar esta música, mostrando de forma clara a injustiça e
desigualdade social que se vive em Portugal neste
momento!
RE
VE
LA
ÇÕES...
E o filme que marcou a sua vida?
“Os Condenados de Shawshank”, filme nomeado para 7
óscares com Morgan Freeman e Tim Robbins. Fala-nos da
história de um homem condenado a prisão perpétua, após
19 anos na prisão descobre o verdadeiro culpado e começa
a planear a sua fuga. Lembro-me de ver este filme várias
vezes em família. Fala de injustiça, persistência e coragem,
mas também de uma forte relação de amizade.
Um livro para ler antes de dormir?
Neste momento estou a ler “Durante a Queda Aprendi a
Voar” de Raul Minh‘alma e recomendo.
Prefere praia ou cidade?
Praia, sem dúvida: pelo som do mar, do cheiro a maresia.
Transmite paz, calma e energias positivas.
O que mais valoriza no ser humano?
O caráter, a transparência, humildade e discrição, ser
grandioso nas obras sem ter que aparecer.
E o que a deixa cheia de orgulho na Misericórdia?
O constante crescimento, a procura de melhoria, de abraçar
novos projetos procurando a sustentabilidade futura.
Como recorda a 1ª vaga da pandemia, vivida na
Misericórdia, e especificamente no lar José Luiz d’Andrade?
Primeiro que tudo foi uma enorme mudança na forma de
estar dos utentes, separados e isolados do exterior, foi
terrível para eles e para os seus familiares. O meu principal
papel, nesta fase, foi manter o contacto possível, através de
chamadas e video-chamadas tentando minimizar esse
sofrimento e sossegando os seus corações transmitindolhes
esperança! Mas também tive muito medo, também
testei positivo para a Covid-19 e foi assustador receber a
notícia. Mas como estive sempre assintomática, senti-me
muito grata. Infelizmente não foi bem assim com os
restantes e os meus pensamentos estavam sempre com
eles, e com as verdadeiras heroínas que estiveram na linha
da frente a cuidar dos utentes, arriscando a sua própria
saúde em prol dos outros. Ser Ajudante de Lar em contexto
de pandemia foi muito desgastante física e
psicologicamente e todas as homenagens seriam poucas
para lhes agradecer!
O que mais receou nessa fase?
Receei pela saúde e vida de todos, e não termos capacidade
de resposta, mas a equipa mostrou que está à altura de
grandes desafios!
Que 3 palavras lhe ocorrem, ao recordar os dias difíceis
vividos ao lado dos utentes, durante o confinamento?
Medo por ser algo novo e não saber o que esperar, incerteza
no futuro, mas também coragem, vontade de ultrapassar e
dar a volta para poder retomar a normalidade o mais rápido
possível.
Sente-se hoje uma pessoa diferente?
Claro que sim, aprendi a valorizar mais a vida. Quando
estás bem e os teus também cada dia é uma bênção!
O tema da Revista é “Sustentabilidade”. Que significado
lhe atribui enquanto Animadora de uma ERPI?
É fundamental garantir a sustentabilidade, de forma a dar
continuidade a mais e bons serviços de qualidade e a
animação é um deles. Na pandemia os utentes ficaram
isolados e privados dos relacionamentos com os seus
familiares, e com as atividades reduzidas quase a nada. Por
causa disso a sua condição física e mental foi claramente
prejudicada, só agora estamos a conseguir ter condições
para as retomar, de recuperar toda esta ausência e de
compensar os utentes para que se tornem mais saudáveis e
felizes! •
TENA ProSkin
uma gama completa para ajudar a cuidar
e manter a saúde da pele dos seus utentes.
Publicidade a dispositivos médicos. Leia atentamente a rotulagem e as instruções de utilização.
Os nossos produtos inovadores para o Cuidado da Incontinência são 100% respiráveis, mantêm os níveis adequados
de humidade à superfície da pele e têm diferentes níveis de absorção dando resposta aos diferentes níveis de
Incontinência. São produtos que respeitam a pele e contribuem para a saúde natural da pele.
Mantenha a pele dos seus utentes, seca, limpa e protegida!
Exclusivo para uso profissional
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TENA
an Essity brand
Todos os
produtos
TENA
ProSkin:
Oferecem uma Tripla
Proteção - contra
perdas, odores e
humidade, para ajudar
a manter a saúde
natural da pele.
Possuem a Tecnologia
TENA FeelDry Advanced
que absorve rapidamente
os líquidos afastando-os da
superfície, mantendo a pele
seca.
R E S P I R ÁV E L
São respiráveis – os
materiais com toque
têxtil permitem a
circulação do ar para
a saúde e o conforto
da pele.
TESTAD0
DERMATOLOGICAMENTE
São dermatologicamente
testados e verificados por
entidades independentes.
Têm a aprovação
de terceiros,
por um painel de
especialistas
da Skin Health
Alliance.
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do mundo
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