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Revista da Misericórdia #45

IGUALDADE foi o desafio lançado e que reuniu um excelente grupo de colaboradores/as - internos e externos - que refletiram sobre as diferentes variáveis que se cruzam em torno deste tema tão atual. Porque é preciso pensar a igualdade como forma de combater a desigualdade social, de género, na educação, terceira idade e cuidados de saúde. Nos caminhos a trilhar de acesso aos serviços, apoios e direitos. E onde o roxo funciona também como o seu símbolo de representação, pela síntese entre o azul e o cor-de-rosa e que funcionou na década de 70 como bandeira na luta pela igualdade de direitos. Esta edição da revista espelha a necessidade de lutarmos pelos valores da igualdade numa só voz, onde ainda nem tudo são rosas. Clique no link para ler a última edição da revista em formato digital: https://www.iscmst.pt/cultura/revista-da-misericordia/.

IGUALDADE foi o desafio lançado e que reuniu um excelente grupo de colaboradores/as - internos e externos - que refletiram sobre as diferentes variáveis que se cruzam em torno deste tema tão atual.
Porque é preciso pensar a igualdade como forma de combater a desigualdade social, de género, na educação, terceira idade e cuidados de saúde. Nos caminhos a trilhar de acesso aos serviços, apoios e direitos. E onde o roxo funciona também como o seu símbolo de representação, pela síntese entre o azul e o cor-de-rosa e que funcionou na década de 70 como bandeira na luta pela igualdade de direitos. Esta edição da revista espelha a necessidade de lutarmos pelos valores da igualdade numa só voz, onde ainda nem tudo são rosas.
Clique no link para ler a última edição da revista em formato digital: https://www.iscmst.pt/cultura/revista-da-misericordia/.

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junho ‘23

#45



editorial IGUALDADE

por Gabriela Costa presidente da mesa da assembleia geral

“Sou mulher e escrevo. Sou plebeia e sei ler. Nasci serva e sou livre.

Vi e fiz coisas maravilhosas na minha vida.”

Rosa Montero

A luta pelos direitos das mulheres e a sua plena

igualdade cívica, jurídica e social, marcaram a

viragem do século XIX para o século XX.

Carolina Beatriz Ângelo, nascida na Guarda em

1878, foi a primeira mulher portuguesa a exercer o

direito de voto em 28 de Maio de 1911. Foi também

a primeira mulher a exercer cirurgia em Portugal no

Hospital de S. José em Lisboa.

Sophia de Mello Breyner Andressen, nascida no

Porto em 1918, escritora, poetisa, ativista política

antes do 25 de Abril, deputada, foi a primeira

mulher a receber o Prémio Camões.

Helena Sacadura Cabral, nascida em Lisboa em

1934, economista, professora, jornalista, escritora de

44 livros, foi a primeira mulher a ser admitida nos

quadros técnicos do Banco de Portugal.

Na sua frase inspiradora, Rosa Montero, nascida em

Madrid em 1951, jornalista e escritora, reflete sobre

a sua origem, o seu género e a sua classe social.

São muitos os exemplos de mulheres em que o

género, a época, a origem social, o regime político,

e outros constrangimentos, não impediram de lutar

pelos seus direitos e defender as suas ideias, através

da palavra e da atuação social e política.

Enquanto a igualdade é um conceito abstrato que

só existe se se souber entre quem e/ou em quê, a

equidade é um conceito mais agregador porque

reconhece que somos todos diferentes, sendo

necessárias medidas que ajustem o desequilíbrio,

levando à justiça social de igualdade na diferença.

A Equidade valoriza a individualidade, a

diversidade, a diferença e a justiça social,

sem a qual nenhum país atingirá um nível

de felicidade desejável.

Igualdade e equidade só serão possíveis

através de um investimento sério na

Educação, que começa em casa e

continua nas creches e jardins de

infância, até à universidade e vida adulta.

Em pleno século XXI, em países ditos

desenvolvidos, ainda falarmos de quotas

para tentar garantir a igualdade e a não

discriminação denota um nível de

desenvolvimento civilizacional e de

bem-estar social ainda muito precários.

O país tem de apostar de forma séria e

contínua em políticas nas áreas da saúde

e da educação que reúnam o maior

consenso possível para serem

suprapartidárias e de longo prazo.

Para podermos deixar de falar de quotas

e passarmos a falar de valores e

competências.

Para podermos vir a respirar a verdadeira

Igualdade: direitos, deveres e

oportunidades, com respeito e

responsabilidade.


SUMÁRIO /// ATUALIDADES / A IGUALDADE CONTINUA A SER UMA PRIORIDADE - ENTREVISTA A

TERESA MORAIS P.04 / NOVOS ÓRGÃOS SOCIAIS - TOMADA DE POSSE 2023-2026 P.10 / RELATÓRIO

E CONTAS 2022 P.12 / MISERICÓRDIA EM NÚMEROS JANEIRO A DEZEMBRO 2022 P.18 /// AÇÃO

SOCIAL E COMUNIDADE / NEM TUDO SÃO ROSAS P.19 / VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - IDIOMAS QUE O

CRIME DESCONHECE P.20 / EQUIDADE VERSUS IGUALDADE P.24 / INCURSÕES PELA IGUALDADE - A

IMPORTÂNCIA DO PLANO MUNICIPAL PARA A IGUALDADE E A NÃO DISCRIMINAÇÃO P.26 / A-VÓS

PELA IGUALDADE P.29 / IGUALDADE, NÃO DISCRIMINAÇÃO E O DIREITO A VIVER EM SEGURANÇA E EM

LIBERDADE P.30 / CARTOON P.33 / VOLUNTARIADO COMO FERRAMENTA DE INCLUSÃO SOCIAL P.34/

TEMPO DE (DES)IGUALDADE P.38 /// G. RECURSOS HUMANOS / A PROCURA DE UMA SOCIEDADE

JUSTA P.41 / UM CAMINHO. E OS SEUS DEGRAUS. P.42 /// AÇÃO EDUCACIONAL / IT GETS BETTER:

TUDO VAI MELHORAR! P.44 / ESCOLA INCLUSIVA: UMA ESTRATÉGIA PARA A ESPERANÇA P.47 ///

SAÚDE / A MAGIA DO CUIDAR - PALESTRA P.49 / A IGUALDADE NO ACESSO AOS CUIDADOS DE

SAÚDE P.50 / SER PESSOA! P.52 /// CULTURA / A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES E IGUALDADE

DE GÉNERO P.54 / A MULHER - UM GÉNERO COM DIREITOS A CONQUISTAR P.58 / OS ROSTOS

DA GRATIDÃO P.60 / POEMAS P.62 / SOMOS NOTÍCIA P.64 /// REVELAÇÕES TIAGO SILVA P.66


2010/CEP.3635

PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS

// SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES/AS ANA ALVARENGA // ANA GONÇALVES // BEATRIZ

CAMÕES // CARLA LEBREIRO // CARLA NOGUEIRA // CARMINA REI // CLÁUDIA DIAS // DENISE LIMA // GABRIELA

COSTA // GRAÇA LOURENÇO // GUIDA NETO // ILDA MEIRELES // ISADORA FREITAS // JOÃO LOUREIRO // JOSÉ

ARAÚJO // JOSÉ MIRRA // LUCAS SAMPAIO // Mª JOÃO FERNANDES // MARTA SILVA // MIGUEL DIAS // OLGA RIBEIRO

// RICARDO GOUVEIA // RUI SANTOS // SOFIA MOITA // TIRAGEM 900 EXEMPLARES // EDIÇÃO JUNHO 2023 //

DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN

Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.


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#45

Atualidades

A IGUALDADE CONTINUA

A SER UMA PRIORIDADE

ENTREVISTA A TERESA MORAIS

Teresa Morais é uma mulher com um belo sorriso e ar

sereno. Atualmente é docente universitária, Conselheira

Nacional do PSD, cidadã atenta e preocupada com as

injustiças e as minorias. Foi Secretária de Estado dos

Assuntos Parlamentares e da Igualdade e Ministra da

Cultura, Igualdade e Cidadania. De olhar atento sobre os

grandes temas da atualidade e numa conversa sobre si e o

seu percurso foram abordadas questões que se mantêm, e

que se deve continuar a trabalhar.

Qual a sua memória mais antiga? Teve uma infância feliz?

A minha memória mais antiga talvez seja a de acordar junto da

minha mãe, com os cabelos pretos apanhados no alto da

cabeça, depois de uma longa sesta. Ainda hoje gosto de sestas.

Tive uma infância pacata. Vivia numa quinta da família, com os

meus pais e os três irmãos mais velhos e uma tia avó. Havia

espaço, árvores, animais. Brincava ao ar livre, subia a uma

velha figueira, comia fruta apanhada no momento e lavada na

água de um poço. Era tudo muito simples.

E como foi a passagem da adolescência à idade adulta: um

processo normal, sereno ou de rutura, transformação?

Foi um processo internamente complexo, mas externamente

normal. Não houve ruturas, apenas inquietação. Foi um tempo

de procura do essencial em mim. Nessa altura comecei a

escrever contos e poemas que mais tarde rasguei. Eram

demasiado piegas para a mulher em que me tornei.

Uma carreira jurídica esteve sempre nos seus planos como

percurso profissional? E a política, como surgiu na sua

carreira?

Não. Nos meus planos de menina não estava uma carreira

jurídica. Queria ser professora. Ensinava crianças mais novas,

minhas vizinhas, usando como quadro o portão verde de ferro

da quinta. E na verdade, foi professora que fiquei para a vida,

até hoje.

A participação política nunca foi planeada. Surgiu tarde, com

uma passagem como adjunta de um membro do primeiro

governo de Cavaco Silva. Depois disso, concentrei-me na

universidade, na Faculdade de Direito de Lisboa, na qual fiz o

mestrado e preparava o meu doutoramento quando, súbita e

inesperadamente, fui convidada para integrar as listas de

deputados pelo Partido Social Democrata, no tempo de Durão

Barroso. Fui eleita, fiz um mandato curto, interrompido pela

dissolução do Parlamento por Jorge Sampaio. Mais tarde, em

2009, fui de novo chamada por Manuela Ferreira Leite, para

encabeçar a lista de deputados por Leiria, posição que

mantive em 2011 e 2015, com Pedro Passos Coelho, com

quem tive o gosto e a honra de trabalhar nos seus dois

governos, no primeiro como Secretária de Estado dos Assuntos

Parlamentares e da Igualdade, e no segundo, muito breve,

como Ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania. Derrubado

esse governo, cumpri o resto do meu mandato e regressei às

minhas funções docentes. A vida foi fluindo sem que alguma

vez eu tivesse podido programar o que viria a acontecer.


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Atualidades


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#45

Atualidades

A IGUALDADE CONTINUA

A SER UMA PRIORIDADE

ENTREVISTA A TERESA MORAIS

Sentiu nalgum momento da sua vida algum tipo de

condicionalismo por ser mulher?

Não. Não posso dizer que tenha sentido. Mas cada uma de nós

não precisa de ser discriminada para saber que existe

discriminação e desigualdade. Eu vi-a sempre de perto, em

colegas, em mulheres da minha e de outras gerações.

A escritora Simone de Beauvoir escreveu “Ninguém nasce

mulher, torna-se mulher”. Faz-lhe sentido?

Beauvoir foi uma mulher inspiradora. Com os seus textos

antecipou causas e movimentos cruciais para a defesa dos

direitos das mulheres. Essa afirmação pretendia, a meu ver,

desmontar a fatalidade dos papéis atribuídos e esperados

relativamente às mulheres que, no entanto, podem fazer tudo o

que quiserem, se a sociedade não as limitar. No contexto em

que a afirmação foi escrita, sim, faz sentido.

Terá afirmado que há razões para celebrar o Dia

Internacional das Mulheres pelos progressos registados ao

longo das últimas décadas em Portugal. Que principais

mudanças são essas?

Vale a pena celebrar esse dia para assinalar os progressos,

mas também para lembrar o que está por fazer. Entre os

progressos estão sobretudo a maior sensibilização social para

as questões da igualdade e não discriminação e os avanços

legislativos entretanto consagrados, quer em matéria de

igualdade, quer na prevenção e punição da violência contra

as mulheres, apesar de insuficientes.


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Atualidades

Igualdade, equidade ou paridade?

Igualdade, que para mim só se alcança por inteiro com a

paridade. Equidade, sendo um termo com um significado

distinto, é habitualmente usado como sinónimo de igualdade

por aquelas pessoas que são relutantes em chamar as coisas

pelos nomes certos. Parece-me.

Estamos próximos de alcançar a igualdade entre homens e

mulheres ao nível das oportunidades de progressão de

carreira, cargos de chefia e diferenças salariais? A

desigualdade no mercado laboral ainda persiste, o que

falta fazer?

Não. Não estamos perto, na verdade.

Apesar dos avanços alcançados, as

mulheres ainda não têm iguais

oportunidades de promoção na

carreira e a cargos de chefia,

sobretudo nalguns ramos do setor

privado. Continuam a ser poucas as

que integram os Conselhos de

Administração de Empresas, com

funções executivas. E quanto a

diferenças salariais a situação é muito séria, uma vez que

Portugal, de acordo com dados recentes do Eurostat, é o 15º

país da União Europeia com maiores diferenças salariais e as

perspetivas de as eliminar estão, neste momento, remetidas

para 2051.

Há muito trabalho a fazer para combater este estado de coisas:

avançar na legislação, aumentar a fiscalização, progredir na

sensibilização, são tarefas cruciais para ultrapassar esta

(...) as mulheres ainda não

têm iguais oportunidades de

promoção na carreira e a cargos

de chefia, sobretudo nalguns

ramos do setor privado.

situação que resulta numa imensa injustiça com a parte maior

da humanidade.

Qual a sua opinião relativamente aos sistemas/leis de

quotas na promoção da igualdade e da não discriminação?

A minha opinião é favorável. Sempre foi. Outros países antes

de nós reconheceram a necessidade desse tipo de medidas e

alguns têm hoje uma situação exemplar na Europa. Ainda que

como medidas transitórias e a rever, não me parece que haja

melhor maneira de ultrapassar estas diferenças. Sem as quotas

na participação política estaríamos hoje bem piores.

É lugar-comum ouvir-se que “a

mulher tem de provar o dobro para

chegar ao mesmo lugar de um

homem”. Ainda é assim?

Não sei se têm de provar o dobro, mas

têm certamente de provar mais e de

sacrificar mais do que homens. Há um

cartoon que mostra bem essa

diferença. Vou tentar descrever: há

uma escada dupla, com degraus de

ambos os lados. Num dos lados há um homem, com uma pasta

na mão, que vai subindo os degraus, serenamente. Do outro

lado da escada está uma mulher, que leva uma criança ao

colo, outra agarrada à saia e no braço direito transporta, ao

mesmo tempo, um livro, um saco de compras e uma frigideira.

Com todo este peso, lá vai subindo, sempre três degraus

abaixo. Ainda é mais ou menos esta a vida de muitas mulheres.


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#45

Atualidades

A IGUALDADE CONTINUA

A SER UMA PRIORIDADE

ENTREVISTA A TERESA MORAIS

Enquanto Secretária de Estado, a igualdade de género foi

uma das suas áreas de maior intervenção porque a

considerou como prioritária. Voltaria a fazer o mesmo?

As minhas perspetivas na política não se restringiram à área da

igualdade. Eu trabalhei nas áreas da justiça, da defesa

nacional e da segurança interna e não deixei de me interessar

por elas, mas, na verdade, a igualdade era para mim uma

prioridade quando assumi funções governativas e continuaria a

sê-lo hoje. Infelizmente, não se avançou o suficiente para nos

darmos ao luxo de deixarmos de a considerar uma prioridade.

Nalguns aspetos até se abrandou ou mesmo regrediu. Mais

uma vez, de acordo com dados do Eurostat, as diferenças

salariais entre mulheres e homens em Portugal aumentam há

três anos consecutivos. A luta pela igualdade é civilizacional e

não está concluída. Enquanto assim for não pode deixar de se

manter prioritária.

O combate à violência doméstica foi também uma área

prioritária. Como Secretária de Estado dos Assuntos

Parlamentares e Igualdade promoveu medidas inovadoras

e diferenciadoras, nomeadamente no apoio às vítimas: o

serviço de transporte seguro, as vagas de emergência, os

apoios económicos para a autonomização das mulheres e

crianças acolhidas em casas de abrigo, … Sente que esse

trabalho foi profícuo? Ainda há muito a ser feito?

Eu diria que a luta contra a violência doméstica foi a prioridade

absoluta. De resto, isso mesmo foi escrito nos programas dos

governos de que fiz parte e cumprido, não apenas por mim,

mas por uma equipa governativa envolvida e motivada para

esta causa. As medidas que menciona foram respostas

concretas a problemas detetados no trabalho no terreno, nas

visitas a casas abrigo, nas conversas com pessoal técnico da

rede e com as mulheres vítimas com quem me encontrei em

todo o país. Tenho a convicção de que essas e muitas outras

medidas que tomámos, como o protocolo de colaboração com

o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, visando dar

resposta às necessidades de habitação condigna das vítimas

de violência doméstica no momento da saída das casas de

abrigo, o protocolo com a Associação Nacional de Municípios

Portugueses, procurando facilitar o acesso a habitação a baixo

custo por vítimas de violência doméstica, através da criação de

uma rede de municípios solidários, ou o programa a Escola Vai

à Casa Abrigo, que levou professores a casas onde viviam as

vítimas que não podiam circular na comunidade por razões de

segurança, fizeram efetivamente a diferença na vida de

pessoas e de instituições.

Na verdade, parece-me que há muito mais que deve ser feito.

E o facto de se terem interrompido programas em curso ou de

se atrasarem soluções e planos de ação não está a ajudar.

De acordo com a Comissão para a Cidadania e a Igualdade

de Género (CIG) em 2022 houve 30389 casos de violência

doméstica, mais 4 mil do que em 2021. Que leitura faz

destes números?

É preocupante. Na verdade, os números constam do Relatório

Anual de Segurança Interna referente a 2022 e mostram,

portanto, a violência reportada às forças de segurança. Este

aumento de casos revela a meu ver que nós, enquanto nação,

estamos a perder esta batalha. E o argumento de que as

queixas aumentam porque há maior visibilidade do problema


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Atualidades

Ainda é da opinião que há uma “tolerância excessiva para

com a violência conjugal”, que todos os anos leva à morte

dezenas de mulheres em Portugal?

Sim. Ainda tenho essa convicção. A realidade não me

desmente, lamentavelmente. Há muito quem ainda vire a cara

para o lado perante a violência conjugal. Acresce que ainda

parece falhar muita coisa no processo de proteção das vítimas

em Portugal. Há, em muitos casos, excessiva complacência

com os agressores e demasiada ligeireza na forma como se

lida com as vítimas. Erros na avaliação do risco em que se

encontram as vítimas, atrasos na aplicação de medidas de

proteção e de afastamento do agressor, penas suspensas, nada

disto ajuda a resolver a situação grave que temos.

não pode servir indefinidamente, parece-me. Em algum

momento, se estivéssemos todos a fazer as coisas certas, a

diferença haveria de se notar. E isso não está a acontecer.

Enquanto Secretária de Estado lamentou a brandura das

penas aplicadas no crime de violência doméstica. Entende

que o caminho passa pela alteração da moldura penal?

Sim. E pior ainda é que as penas sejam sistematicamente

suspensas, com risco de vida para as vítimas. O legislador tem

dado atenção a este problema em sucessivas legislaturas, mas

infelizmente os juízes nem sempre ponderam a letalidade das

situações com que estão a lidar.

O que pode ser perspetivado para o futuro?

Não estou otimista quanto ao futuro próximo. As crises

económicas e sociais tendem a agravar as desigualdades e a

dificultar as relações entre as pessoas, também no contexto

familiar. Será necessário estar muito atento a todos os

indicadores e promover, com energia e sem medo, políticas de

promoção da igualdade e de proteção das pessoas

vulneráveis. E eu não vislumbro nem essa energia, nem essa

capacidade. Lamento não poder terminar com uma nota de

otimismo, mas a realidade impõe-se-nos, quer queiramos quer

não.•

POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)


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#45

Atualidades

NOVOS ÓRGÃOS SOCIAIS

TOMADA DE POSSE 2023-2026

Na continuidade da Assembleia Ordinária Eleitoral que

reuniu a 9 de dezembro de 2022, para eleição dos Corpos

Sociais para o quadriénio 2023-2026, e dando seguimento

ao Regulamento Eleitoral - aprovado em Assembleia Geral

Extraordinária de 12 de julho de 2022 - a cerimónia de

Tomada de Posse dos novos Órgãos Sociais decorreu no

dia 6 de janeiro de 2023, pelas 17h00, no Auditório “Centro

Eng.º Eurico de Melo”.

Na presença de todos os elementos da lista vencedora e após

assinado o auto de posse, presenciado por uma assembleia

constituída por Irmãos/ãs e um número restrito de

Colaboradores/as, mantém-se como Provedor da Mesa

Administrativa, José dos Santos Pinto, para mais 4 anos a liderar

os desígnios da instituição. No Conselho Fiscal mantém-se

igualmente como Presidente, António Jorge Pereira Ribeiro.

Reflexo da evolução social em prole da igualdade, regista-se

uma inovação na história desta Misericórdia: o cargo de

Presidente da Mesa da Assembleia Geral foi atribuído a um

elemento do sexo feminino. Será liderado por Mª Gabriela

Moreira Costa Sousa que referiu, no ato de tomada de posse, a

honra de representar esta viragem na página da história da

instituição.

Os interessados em conhecer/consultar a lista atualizada dos

Órgãos Sociais, pode fazê-lo acedendo ao site institucional,

em: https://www.iscmst.pt/instituicao/corpos-sociais/ •

POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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Atualidades


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#45

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2022

O ano de 2022 foi o último do mandato dos Órgãos Sociais

eleitos para o quadriénio 2019 – 2022.

Não podemos deixar de destacar que o referido período foi

atravessado por uma crise pandémica que durou cerca de 2

anos e que esperávamos que 2022 nos pudesse devolver a

plena normalidade, retomando as rotinas numa perspetiva mais

renovada.

Iniciámos o respetivo Plano de Atividades e Orçamento de

2022 referindo que “Não é a força ou a sorte, mas o empenho,

a determinação e a persistência que nos conduzem ao

sucesso.” (autor desconhecido)

E foi com empenho, determinação e persistência que

encarámos o ano de 2022. Aliás, é este espírito que nos tem

conduzido a uma dinâmica que se reflete no crescimento

institucional e nos tem dado arte e engenho para criarmos e

implementarmos atividades geradoras de fundos,

imprescindíveis à concretização da nossa missão.

No ano em análise demos continuidade à reabilitação do

Bairro da Misericórdia: concluímos e colocámos no mercado

de arrendamento 6 moradias de Tipologia T2 e encetámos

diligências com vista ao possível início de trabalhos nas

restantes ou em parte delas.

Depois de concluídas as obras de remodelação da Casa de

Repouso de Real, foram obtidas todas as licenças desta

valência.

No seguimento do processo iniciado pela Mesa Administrativa

em 2014, durante o ano de 2022, foi alertado o Estado

Português e o poder autárquico tirsense para a existência do

“TERMO DE TRANSAÇÃO” celebrado entre a nossa

Misericórdia e o Estado Português, datado de 13 de fevereiro

de 2004, no qual ficou acordado que as Quintas do

Mosteiro (propriedade desta Santa Casa, arrendadas ao

Estado com duração efetiva limitada para nelas funcionar a

Escola Profissional Agrícola Conde S. Bento) terão de ser

entregues à Misericórdia, livres de pessoas e coisas, a 31

de dezembro de 2025.

Mais, foi relembrado que nesse documento, assinado pelas

partes no Tribunal Judicial de Santo Tirso (2.º Juízo Cível) na

data acima referida, ficou acordado que todas as obras de que

os prédios careçam, quer de conservação ordinária, quer

extraordinária, ficarão a cargo do Estado.

De notar que o “Mosteiro de Santo Tirso”, onde os prédios das

referidas quintas se integram, é desde 1910 Monumento

Nacional.

A nossa visão estratégica é direcionada para a melhoria da

qualidade dos serviços prestados à comunidade através da

atualização do modelo de gestão organizacional, potenciando

a melhoria contínua junto dos/as seus/suas colaboradores/as,

parceiros/as e entidades envolvidas na sua ação, de modo a

ser reconhecida como entidade local preponderante na

intervenção social e áreas afins.


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Atualidades

Um dos objetivos permanentes é a aposta na qualidade. Esta

passa também pela constante renovação e remodelação dos

espaços atualmente existentes, com o objetivo de

proporcionarmos a melhor comodidade, conforto e assistência

às pessoas nossas utentes.

O investimento no último quadriénio foi de € 5.859.465,84,

tendo no ano de 2022 sido de € 1.989.763,01.

Conforme planeado e apresentado no respetivo Plano de

Atividades e Orçamento, foi estrategicamente decidido

direcionar o espaço do “Antigo Liceu/1º Hospital de Santo

Tirso” para uma atividade enquadrada nos fins que

prosseguimos, devolvendo-o à sua génese. Assim, foi

elaborado projeto de arquitetura e respetivas

especialidades para apresentação de candidatura no

âmbito do PRR a, no mínimo, três módulos de 20 camas (60

camas) para Cuidados Continuados, divididas entre as

tipologias de Média Duração e Reabilitação e Longa

Duração e Manutenção.

Consolidámos a atividade das Unidades de Cuidados

Continuados, atingindo a eficácia e eficiência previstas na

relação entre as duas unidades existentes.

Aprofundámos a parceria com o Centro Hospitalar do

Médio Ave – CHMA nomeadamente no protocolo de camas

de retaguarda e na nossa Clínica de Gastroenterologia –

Unidade de Endoscopia para a realização de exames

endoscópicos. Nesta Clínica procedemos à renovação da

convenção junto da Administração Central do Sistema de

Saúde, I.P – ACSS.

Na Clínica de Fisiatria, em face da procura, procedemos ao

aumento da equipa de técnicos/as de fisioterapia, terapia da

fala e terapia ocupacional com alargamento dos horários a fim

de podermos dar uma resposta mais célere e sempre

direcionados à qualidade de serviço.

Por fim, e dentro das instalações desta Clínica, não podemos

deixar de referir a consolidação do gabinete de Medicina

Dentária.

Na área Social e Educação, continuamos a investir na

modernização das valências, quer em termos físicos, quer

em termos tecnológicos. A disponibilização de rede wi-fi

em todos os nossos espaços foi uma prioridade e um

objetivo atingido.

A nossa responsabilidade social também passa pela parte

ambiental e ecológica: foi apresentada candidatura para

financiamento da aquisição de duas viaturas elétricas para o

nosso Serviço de Apoio Domiciliário que já se encontram em

circulação, bem como a instalação de painéis fotovoltaicos na

Casa de Repouso de Real.

Ao abrigo do Programa de Celebração ou Alargamento de

Acordos de Cooperação para o Desenvolvimento de Respostas

Sociais (PROCOOP), persistimos na renegociação com a

Segurança Social da comparticipação financeira para o

funcionamento das respostas sociais.


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#45

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2022

“Os/as colaboradores/as são a essência das organizações e a

forma como se olha para o nosso maior ativo tem uma

influência direta nos objetivos a que nos propomos,

nomeadamente na resposta plena às necessidades da

comunidades que serviços.” (ISCMST-Plano de Atividades e

Orçamento 2022)

A nossa instituição prossegue na aposta na excelência dos/

/as seus/suas profissionais, ciente de que se trata de um

investimento essencial para que continue a ser uma

referência nacional.

Numa permanente adaptação ao contexto económico, legal e

social, procura responder às demandas operacionais e às

necessidades das nossas pessoas.

Em 2022, para sublinhar o papel de todos/as os/as que sustêm

e elevam esta Santa Casa, instituímos o “Dia do/a

Colaborador/a” porque no nosso setor, nada substitui a

presença humana. Assim, iniciamos uma nova tradição, a

celebrar anualmente, na última sexta-feira do mês de Outubro.

Complementarmente, preocupados com o bem-estar, a saúde

e satisfação dos/as seus/suas Colaboradores/as,

disponibilizamos um pacote exclusivo de benefícios e regalias

(atualizadas periodicamente): o “M+”.

Apresentamos de seguida um resumo da atividade

financeira no ano transato.

Rendimentos (€ )

PRESTAÇÃO

DE SERVIÇOS

SUBS. À

EXPLORAÇÃO

2021 2022 DIF. DIF. %

3 943 067,52 4 579 598,87 636 531,35 16,14%

4 917 703,22 4 584 629,39 -333 073,83 -6,77%

REVERSÕES 0,00 0,00 0,00 0,00%

OUT. REND. E

GANHOS

JUROS REND.

OBT.

1 237 529,51 1 208 497,58 -29 031,93 -2,35%

952,65 358,43 -594,22 -62,38%

TOTAL 10 099 252,90 10 373 084,27 273 831,37 2,71%

Verificou-se um aumento dos Rendimentos em 2,71%

(€ 273.831,37), devido ao seguinte:

• Aumento da rubrica Prestação de Serviços em 16,14%

(€ 636.531,35), essencialmente pelo crescimento da Área

da Saúde em cerca de 10%; e pelo sucesso do protocolo

estabelecido com o Centro Hospitalar do Médio Ave -

C.H.M.A., para a cedência de camas de retaguarda na

Casa de Repouso de Real;

• Diminuição da rubrica Subs. Doações e Legados à

Exploração em 6,77% (€ 333.073,83), principalmente pelo

registo no ano 2021 de um Donativo que foi objeto de

apreciação em Assembleia Geral Extraordinária.


Pag | 15

Atualidades

358,43

0%

1 208 497,58

12%

358,43

0%

4 579 598,87

44%

Gastos (€ )

2021 2022 DIF. DIF. %

4 584 629,39

44%

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

SUBS. À EXPLORAÇÃO

REVERSÕES

OUT. REND. E GANHOS

JUROS REND. OBT.

C.M.V.M.C. 831 562,81 940 185,64 108 622,83 13,06%

F.S.E. 1 477 834,99 1 388 948,08 -88 886,91 -6,01%

GASTOS C/

PESSOAL

5 858 195,35 6 494 729,87 636 534,52 10,87%

AMORTIZAÇÕES 703 635,29 772 175,97 68 540,68 9,74%

PROVISÕES 1 796 470,57 1 366 024,01 -430 446,56 -23,96%

5 000 000,00

OUTROS GAST.

PERDAS

60 984,20 78 147,10 17 162,90 28,14%

3 750 000,00

2 500 000,00

1 250 000,00

2021

2022

JUROS E

GASTOS SIM.

18 020,07 19 572,65 1 552,58 8,62%

TOTAL 10 746 703,28 11 059 783,32 313 080,04 2,91%

0,00

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

SUBS.Á EXPLORAÇÃO

REVERSÕES

OUT. REND. E GANHOS

JUROS REND. OBT.

Os Gastos apresentam um aumento de 2,91% (€ 313.080,04),

devido essencialmente ao seguinte:

• Aumento da rubrica C.M.V.M.C. em 13,06%

(€ 108.622,83) pelo aumento de 23,65%, cerca de

€ 100.000,00, nos Géneros Alimentares;

• Aumento da rubrica de Gastos c/ Pessoal em 10,87%

(€ 636.534,52) principalmente pelas atualizações salariais


Pag | 16

#45

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2022

globais em 2022, atualização do Salário Mínimo Nacional

e respetivas repercussões nas restantes remunerações,

bem como pela normalização no que ao absentismo diz

respeito (parte do ano 2021 foi passado em período de

pandemia);

• Aumento da rubrica Outros Gastos e Perdas em 28,14%

(€ 17.162,90) devido essencialmente a correções

efetuadas ao período anterior;

1 366 024,01

772 175,97

78 147,10

19 572,65

940 185,64

1 388 948,08

C.M.V.M.C.

F.S.E.

GASTOS C/PESSOAL

AMORTIZAÇÕES

PROVISÕES

OUTROS GAST. PERDAS

JUROS E GASTOS SIM.

• Diminuição na rubrica de Provisões em 23,96%

(€ 430.446,56), tendo por objeto reconhecer as

responsabilidades cuja natureza esteja claramente

definida e que à data do balanço sejam de ocorrência

provável ou certa, mas incertas quanto ao seu valor ou

data de ocorrência. Neste caso em concreto a instituição

tem a responsabilidade de garantir as necessárias

condições de acolhimento aos/às seus/suas utentes

mediante a sua esperança média de vida. Este valor tem

vindo anualmente a ser ajustado à nossa realidade e ao

número de utentes institucionalizados;

6 494 729,87

7 000 000,00

5 250 000,00

3 500 000,00

2021

2022

• Atendendo ao período conturbado vivido no ano em

análise, mais concretamente no que respeita ao aumento

significativo da Taxa de Inflação, é de relevar a diminuição

verificada na rubrica de F.S.E. em 6,01% (€ 88.886,91),

espelhando a constante preocupação em seguir uma

rigorosa política de gestão, onde diariamente é desafiado

o profissionalismo, empenho, transparência e capacidade

de sacrifício de todos/as os/as colaboradores da

instituição.

1 750 000,00

0,00

C.M.V.M.C.

F.S.E.

GASTOS C/PESSOAL

AMORTIZAÇÕES

PROVISÕES

JUROS E GASTOS SIM.

OUTROS GAST. PERDAS


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Atualidades

Resultados

• RESULTADO LÍQUIDO DO PERÍODO: - € 686.699,05

• AMORTIZAÇÕES: € 772.175,97

• PROVISÕES: € 1.366.024,01

• MEIOS LIBERTOS: € 1.451.500,93

Proposta de Aplicação de Resultados:

A Mesa Administrativa propõe que o resultado líquido negativo

do período, no montante de € 686.699,05 seja aplicado da

seguinte forma:

Resultados transitados: - € 686.699,05.

NOTAS

800 000,00

600 000,00

400 000,00 104 691,14

200 000,00 73 252,33

0,00

-200 000,00

-400 000,00

-600 000,00

-800 000,00

772 175,97

703 635,29

-630 382,96 -647 450,38

-667 484,83 -686 699,05

2021

2022

REAL VS ORÇADO: Confirma-se o cuidado no rigor orçamental

e a apologia feita aquando da apresentação do Plano

de Atividades e Orçamento para 2022. Efetivamente projetamos

com prudência as receitas e num cenário pessimista as

despesas, exceção feita à rubrica de provisões.

INVESTIMENTO: O valor do investimento no ano de 2022

foi de € 1.989.763,01, com destaque para as obras de recuperação

do Bairro da Misericórdia, de remodelação da Casa

de Repouso de Real e renovação/melhoramento do parque

informático, a que foram afetos cerca de 80% deste valor.

A registar ainda abates no valor de € 71.566,30 que respeita

essencialmente ao abate de 3 viaturas adquiridas em 1998,

2001 e 2003 que pelo estado de degradação não justificava a

sua reparação.

No último quadriénio (2019-2022), foram investidos

€ 5.859.465,84, tendo os Meios Libertos neste período sido de

€ 4.142.002,93.

PROVISÕES: Reitera-se que tendo estas por objeto reconhecer

as responsabilidades cuja natureza esteja claramente

definida e que à data do balanço sejam de ocorrência provável

ou certa, mas incertas quanto ao seu valor ou data de ocorrência,

a instituição tem a responsabilidade de garantir as necessárias

condições de acolhimento aos/às seus/suas utentes

mediante a sua esperança média de vida. •

POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)


Pag | 18

#45

Atualidades

MISERICÓRDIA EM NÚMEROS

JANEIRO A DEZEMBRO 2022

Nº DE INDIVÍDUOS EM

ACOMPANHAMENTO SOCIAL

(RSI, CPCJ, CANTINA, PROG. ALIMENTAR)

92 130

Nº DE ADMISSÕES EM

VALÊNCIAS RESIDENCIAIS

(JLA, LB, CR)

54 em 236 utentes

36 14

Nº DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA ACOLHIDAS

(CA E C. EMERGÊNCIA)

156 vítimas em 33 vagas

116 40

Nº DE ADMISSÕES EM VALÊNCIAS

COMPLEMENTARES

(SAD, CD)

53 em 112 utentes

32 21

ESTÁGIOS ACOLHIDOS

49 estagiários/as / 16 entidades

40 9

CLÍNICAS DA MISERICÓRDIA

Unidade Fisiatria: 800 utentes/dia

10% Atendimentos diários são dos 0 aos 15 anos.

Acima dos 55 anos a taxa de atendimentos é de 60%

Unidade Endoscopia: 220 utentes/mês

Gabinete M. Dentária: 20 utentes/mês

REDE NACIONAL CUIDADOS

CONTINUADOS

Capacidade instalada: 68 utentes

Taxa de Ocupação: 98%

Idade: entre 36 e 93 anos

KILÓMETROS PERCORRIDOS

(SAD)

83.762 KM


#45

Pag | 19

NEM TUDO SÃO ROSAS

Ação

Social e

Comunidade

Um Dia da Mulher Sem Floreados foi o mote de uma

campanha de sensibilização levada a cabo pelo Centro

Comercial UBBO (Amadora). Uma ação que procurou

contrariar a clássica oferta de flores no Dia da Mulher e

recentrar a reflexão no sentido desta data histórica e nas

questões da igualdade. Na Casa Abrigo D. Maria Magalhães

também acreditamos que as mulheres não querem flores, mas

sim direitos, motivo este que nos levou a replicar esta ação na

cidade de Santo Tirso com a colaboração da AVISCENA -

Associação de Teatro Amador de Vila das Aves.

Partindo deste mesmo cliché, para o desmontar, e tentar

contrariar esta face mais comercial da celebração deste dia e a

oferta vazia de flores.

Em jeito de provocação, a Casa Abrigo ofereceu flores... a

mulheres que nunca foram alvo de assédio. A mulheres que

nunca tiveram medo de andar sozinhas na rua. A mulheres que

ganham mais do que um homem a fazer o mesmo trabalho...

O objetivo? Fazer pensar sobre as desigualdades que

persistem e que continuam a fundamentar a celebração do Dia

Internacional das Mulheres.

No fim, muitas rosas ficaram por oferecer. Outras foram

entregues por irrefletida insistência de quem se abeirou da

banca. Claramente não pela vivência de realidades iguais, mas

porque, paradoxalmente, muitas mulheres parecem negar a

evidência da desigualdade. Ou tendem a normalizá-la.

Porque receber flores neste dia é já uma inquestionável

tradição...

E porque na luta pela igualdade nem tudo são rosas! •

POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA DA CASA ABRIGO D. MARIA

MAGALHÃES)


Pag | 20

#45

Ação

Social e

Comunidade

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

IDIOMAS QUE O CRIME

DESCONHECE

A violência doméstica tem múltiplos idiomas. Nada conhece

sobre a geografia dos países, etnias ou culturas. É um

fenómeno global e transversal a toda a sociedade.

Reflexo desta realidade global, a Casa Abrigo D. Maria

Magalhães, desde a sua criação em 2004, tem vindo a

acolher mulheres e famílias de todo o mundo. Só nos

últimos 6 anos foram acolhidas nesta estrutura 120

mulheres de nacionalidade estrangeira, o que totaliza 20%

da população utente registada neste mesmo período.

Falar de mulheres vítimas de violência doméstica

migrantes é falar de vítimas especialmente vulneráveis.

Porque estão num país que desconhecem e que, muitas

vezes, não as reconhece. Porque pouco ou nada sabem

sobre as suas leis, serviços, apoios e direitos. Porque,

muitas vezes, não dominam o idioma. Porque geralmente

estão sós, distantes da sua família e amigos e por isso à mercê

do agressor. Porque não raras vezes se encontram no país

indocumentadas e em situação irregular. Porque vivem

enclausuradas no medo: do agressor, de ter que regressar ao

país de origem, de perder os seus filhos e também da

sociedade.

Naturalmente que as mulheres estrangeiras vítimas de violência

doméstica têm os mesmos direitos de qualquer cidadã(o)

português(a), nomeadamente no que concerne à apresentação

de queixa, acesso aos apoios institucionais e à proteção

jurídica no âmbito do processo-crime. No entanto, todas

aquelas fragilidades parecem dificultar o exercício de tais

direitos: atrasam significativamente a procura de ajuda,

condicionam a participação no processo, tardam o acesso a

determinados apoios e, por conseguinte, a reestruturação do

seu novo projeto de vida.

O acompanhamento de mulheres migrantes nas estruturas de

acolhimento faz-se, por isso, de desafios. Trata-se de um

trabalho exigente e dinâmico, pautado pela constante procura

de novas soluções e estratégias para fazer face às

necessidades destes grupos tão heterogéneos e gerir de forma

construtiva as diferenças.

Importa, em primeiro lugar, falar da barreira da língua, já

que frequentemente acolhemos mulheres e famílias que

não falam português, comunicando noutra língua que, na

maior parte das vezes, também não dominam. Em alguns

casos, não falam qualquer língua estrangeira, mas apenas o

seu próprio idioma. As pontes comunicacionais são então

rudimentares e escassas perante tanto que há para dizer,

partilhar e explanar. A partir de um ecrã, o Google Tradutor é

ponto de encontro e uma ferramenta facilitadora a que

recorremos habitualmente, mas ainda assim se registam

grandes dificuldades. Face às omissões e em virtude do que

não é dito, regista-se um atraso na adaptação às rotinas,

normas e procedimentos da valência. Da dificuldade em

transmitir as informações faz-se a dificuldade em apre(e)nder e

compreender a cultura institucional. Tarda igualmente a

inclusão no grupo e o estabelecimento de relações de

proximidade significativas. Desencorajadas pelas dificuldades

linguísticas, as restantes utilizadoras acabam por negligenciar

o contacto com estas mulheres e crianças que se veem assim

perdidas e isoladas nos seus idiomas.



Pag | 22

#45

Ação

Social e

Comunidade

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

IDIOMAS QUE O CRIME

DESCONHECE

A estes constrangimentos somam-se as dificuldades de dar

resposta e espaço às diferentes tradições, costumes e

culturas. É importante facilitar o processo de aculturação.

Criar condições para que as utilizadoras possam viver a

sua religião e a espiritualidade. Adaptar dietas de acordo

com os seus hábitos, especificidades e preferências

alimentares. Adaptar e flexibilizar normas para acolher e

integrar a diferença.

E sob estas mesmas premissas mediar a relação com o grupo.

Tentar promover o diálogo entre culturas e uma interação

horizontal e sinérgica entre as

utentes. Gerir estereótipos e

preconceitos que possam estar na

base de dinâmicas marginalizantes.

Trabalhar a pertença.

Paralelamente é fundamental

gerir o etnocentrismo das

próprias equipas. A tendência

oculta e inconsciente para interpretar a realidade a partir

dos nossos próprios padrões culturais e presumir a

supremacia das nossas práticas culturais. Assumir o

exercício de refletir sobre a forma como comunicamos e

pensamos as mulheres migrantes para perceber de que modo

a atitude das equipas deixa espaço às diferenças culturais.

Para lá destes desafios que se impõem imediata e diariamente

nas rotinas das mulheres migrantes e nas dinâmicas e

procedimentos institucionais, também a intervenção técnica

Movidos por questões raciais,

estereótipos e preconceitos, muitos

senhorios recusam o aluguer das suas

casas a mulheres estrangeiras.

soma atropelos que muito condicionam o processo de

autonomização e reintegração deste grupo de vítimas de

violência doméstica.

A barreira da língua afeta o quotidiano das mulheres vítimas

migrantes e naturalmente penaliza-as nos processos de

acompanhamento multidisciplinar. Tem um impacto maior no

acompanhamento psicológico que, habitualmente alicerçado

na linguagem e na narrativa enquanto método terapêutico,

pouco pode valer num contexto de comunicação muda. Os

mesmos muros que separam a vítima migrante do grupo,

acabam por se impor também na

relação com o psicólogo, com

prejuízo da aliança terapêutica

estabelecida, do envolvimento no

processo e dos resultados

alcançados.

O indizível (ou aquilo que é

lacónica e superficialmente

explanado) também afeta amplamente o testemunho da

vítima no âmbito do processo-crime. De facto, e apesar da

lei prever o recurso a intérpretes, muitas vezes

confrontamo-nos com a indisponibilidade de tradutores

para alguns idiomas, situação esta que materializa

dificuldades maiores para estas mulheres que se veem

obrigadas a testemunhar sobre vivências potencialmente

traumáticas num idioma que não dominam.


Pag | 23

Ação

Social e

Comunidade

Por outro lado, o processo de autonomização conta com

dificuldades acrescidas motivadas por evidentes desigualdades

no acesso ao emprego e ao mercado do arrendamento. Não

raras vezes percebemos que as portas se fecham, literalmente,

para as populações migrantes. Movidos por questões raciais,

estereótipos e preconceitos, muitos senhorios recusam o

aluguer das suas casas a mulheres estrangeiras. Outros

praticam com estas rendas mais altas num exercício de

marginalização, restando apenas o acesso a habitação em

condições pouco dignas.

E o mesmo acontece com o emprego. Das vagas que parecem

não estar disponíveis para determinados grupos restam a estas

mulheres empregos precários e mal pagos que pouco

dignificam a sua condição.

No caso das mulheres migrantes indocumentadas verifica-se

ainda um atraso significativo que as mulheres experimentam no

acesso aos serviços e apoios (saúde, subsídios, proteção

jurídica, etc) também com impacto maior no seu processo de

reintegração. Administrativamente presas aos Serviços de

Estrangeiros e Fronteiras, que tardam na atribuição de

documentos e vistos, estas mulheres veem-se assim incapazes

de se reorganizar.

O reconhecimento destas vítimas como vítimas especialmente

vulneráveis, a criação dos Centros Nacionais de Apoio ao

Imigrante (mais recentemente com gabinete de apoio à vítima),

centros locais, serviços de apoio telefónico, incluindo tradução

simultânea disso são exemplo. Mas ainda há um longo

percurso para garantir o exercício igual dos direitos dos

cidadãos portugueses e estrangeiros. É urgente desenvolver

mecanismos de agilização dos processos de regularização da

migração, desenvolver mecanismos de garantia de condições

de trabalho às populações migrantes, com reforço da

fiscalização, e a reflexão sobre o acesso à habitação destas

populações. Só assim construiremos espaços sociais mais

inclusivos e condições iguais no combate à violência

doméstica. Múltiplos idiomas e vítimas diferentes, mas um

só crime e uma resposta - cabal e inteira - pautada pela

igualdade e equidade no acesso aos serviços, apoios e

direitos.•

POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA DA CASA ABRIGO D. MARIA

MAGALHÃES)

Quer do ponto de vista social, quer no âmbito das políticas

e das práticas de acolhimento e integração de imigrantes e

também no domínio da intervenção da Violência

Doméstica, têm-se registado nos últimos anos avanços

significativos.


Pag | 24

#45

Ação

Social e

Comunidade

EQUIDADE VERSUS

IGUALDADE

A igualdade e a não discriminação são princípios fundamentais

do Direito Internacional dos direitos humanos; é proibida a

discriminação em razão, designadamente: do sexo, raça, cor,

origem étnica ou social, características genéticas, língua,

religião ou convicções, opiniões políticas ou outras, pertença a

uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade

ou orientação sexual.

No artigo 26 da carta dos direitos humanos, a União Europeia

reconhece e respeita o direito das pessoas com deficiência a

beneficiarem de medidas destinadas a assegurar a sua

autonomia, a sua integração social e profissional e a sua

participação na vida da comunidade.

No contexto da Diversidade & Inclusão, a distinção entre

equidade e igualdade é fundamental, pois mostra como agir

para respeitar verdadeiramente as diversidades e ser, de facto,

incluso.

Embora ambas tenham o objetivo de promover a justiça, é

possível perceber que equidade e igualdade têm conceitos

diferentes e essa diferença precisa ser realçada.

Enquanto a igualdade procura tratar todos da mesma

forma, independentemente das suas necessidades, a

equidade trata as pessoas de forma diferente, levando em

consideração o que elas necessitam.

Atentemos neste simples exemplo: se dermos a mesma escada

a três pessoas de alturas diferentes, elas não ficarão do mesmo

tamanho; a mais alta continuará mais alta, a de altura média

continuará na mesma e a mais baixa continuará a ser a menor

do trio. Agora, se tivermos três escadas de tamanho diferente,

podemos distribuí-las de modo que as três pessoas fiquem com

alturas equilibradas - a escada maior para a pessoa mais

baixa, a média para a do meio e a menor para a mais alta.

Neste sentido, apresento-vos a CAID - Cooperativa de

Apoio à Integração do Deficiente - que tem como missão

dotar as pessoas com deficiência e incapacidades das

ferramentas necessárias para que possam competir de

igual forma, tendo por base a equidade, na luta pela

igualde de oportunidades. Esta é constituída por capital

misto, público e privado, sendo que a Câmara Municipal de

Santo Tirso detém a maioria do capital social, assumindo a

presidência da Direção.


Pag | 25

Ação

Social e

Comunidade

quer trabalhando o tecido social e empresarial do concelho,

para a riqueza da diversidades e o contributo de todos os seres

humanos.

Não deixarei de referir a parceria entre a CAID e ISCMST,

firmada há mais de 20 anos. Esta começou aquando da

constituição da CAID, em 1998, por iniciativa da Câmara

Municipal de Santo Tirso e de um conjunto de entidades e

empresários do concelho, dos quais se destacam a

Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso e

a ACIST - Associação Comercial e Industrial de Santo

Tirso.

Este facto tem permitido à CAID fazer um trabalho de

excelência na plena inclusão de pessoas com deficiência no

meio social tirsense. Ao criar equipamentos de excelência, ao

colocar recursos humanos e materiais ao serviço desta causa,

deu o exemplo da verdadeira inclusão, adotando como

princípio a equidade, reconhecendo a diversidade e

considerando que diferentes contextos, proporciona os

recursos necessários para que todos possam alcançar os

mesmos resultados.

A CAID tem vindo a adotar um conjunto de práticas que se têm

mostrado eficazes na capacitação de pessoas com deficiência,

na sua plena realização e integração socioprofissional, através

do investimento que nelas tem vindo a fazer; quer apoiando a

criação de valências adequadas às pessoas com deficiência;

Posteriormente, e já lá vão mais de 10 anos, tornou-se na

primeira parceria ativa e promotora da causa da deficiência,

adotando uma postura verdadeiramente inclusiva ao

reconhecer a qualidade/capacidade do trabalho dos nossos

clientes. Este reconhecimento materializou-se na

contratualização dos serviços de jardinagem da CAID para a

execução da manutenção dos espaços verdes e dos seus vários

equipamentos, bem como a integração nos seus quadros, de

uma jovem cliente da CAID.

Como foi explanado temos aqui um grande exemplo de

inclusão/integração e assim continuaremos a melhorar, com os

incentivos e apoios de todos vós.•

POR GUIDA NETO (DIRETORA TÉCNICA DA CAID - COOPERATIVA DE APOIO À

INTEGRAÇÃO DO DEFICIENTE)


Pag | 26

Ação

Social e

Comunidade

#45

INCURSÕES PELA IGUALDADE

A IMPORTÂNCIA DO PLANO

MUNICIPAL PARA A IGUALDADE

E A NÃO DISCRIMINAÇÃO

Vivemos tempos extraordinários. No nosso quotidiano

observamos uma exigência democrática crescente na

abordagem às questões da igualdade, qualquer que seja a

esfera da vida em sociedade. De facto, se, por vezes, podemos

ter a perceção de que quando ouvimos falar de igualdade

estamos “apenas” a ter em consideração os direitos de homens

e de mulheres, a verdade é que o conceito é inegavelmente

mais abrangente.

A consciência e reconhecimento de tal abrangência

motivou a Câmara Municipal de Santo Tirso a elaborar um

plano municipal que, para além das questões de

igualdade, mergulha no domínio da (não) discriminação,

visando agir sobre estereótipos e processos de rotulagem,

num compromisso que envolve vários intervenientes

sociais em prol de um território e de uma comunidade cada

vez mais coesa.

Com enquadramento nos objetivos da Estratégia Nacional para

a Igualdade e a Não Discriminação – Portugal + Igual

2018-2030 e sob a supervisão da Comissão para a Cidadania

e a Igualdade de Género, o Plano para a Igualdade e a Não

Discriminação (PMIND) de Santo Tirso, cofinanciado pelo

Fundo Social Europeu – Programa Operacional Inclusão Social

e Emprego, no âmbito do horizonte Portugal 2020, afigura-se

um instrumento orientador, que, sendo realista e com um

horizonte temporal definido (2022-2025), demonstra um

grande potencial de escalabilidade. Pelo seu cariz dinâmico

permitirá alavancar muitos outros domínios de intervenção,

ora numa lógica mais estratégica, ora mais operacional,

contemplando e/ou ampliando áreas como as do

urbanismo, do ordenamento do território, do desporto, da

migração, da orientação sexual, da deficiência, do

envelhecimento, das acessibilidades, dos transportes, da

conciliação entre a vida pessoal e familiar, da saúde, das

competências digitais, do assédio, do trabalho, da pobreza,

da educação, da habitação, entre outras.

A redação inicial do PMIND (que contou com a consultoria do

Instituto de Sociologia da Universidade do Porto) contempla

duas vertentes: interna e externa. No primeiro caso,

direcionado para a Câmara Municipal, foram considerados os

seguintes domínios de intervenção: i) Modalidades de

Organização do Trabalho e Promoção do Diálogo Social; ii)

Conciliação entre Vida Profissional, Familiar e Pessoal; iii)

Sensibilização/Capacitação/Formação Especializada de

Trabalhadores/as, Parceiros; iv) Informação, Comunicação e

Imagem. Já no que respeita à vertente externa, são três os

domínios de intervenção: i) Sensibilização e Formação em

Igualdade de Género e Não Discriminação; ii) Prevenção e

Combate às Múltiplas Formas de Violência; iii) Promoção do

Respeito e Integração de Pessoas com Deficiência na

Sociedade.

A construção da estrutura referida no parágrafo anterior não

acontece por acaso. Sendo Santo Tirso um município com uma

forte componente de trabalho em parceria, bem alicerçado no

desempenho da sua Rede Social – para mencionar apenas um

dos vários exemplos que aqui podiam ser nomeados –, a

concertação dos referidos domínios de intervenção resulta de



Pag | 28

Ação

Social e

Comunidade

#45

INCURSÕES PELA IGUALDADE

A IMPORTÂNCIA DO PLANO

MUNICIPAL PARA A IGUALDADE

E A NÃO DISCRIMINAÇÃO

um processo participado de diagnóstico e consequente

planeamento. Há um envolvimento de várias partes

interessadas e que vão desde muitas unidades orgânicas da

própria Câmara Municipal, até ao tecido empresarial, ao

tecido educativo e às instituições da economia social, passando

ainda pelas forças de segurança e, como não podia deixar de

ser, pelas Conselheiras Interna e Externa para a Igualdade.

Não se pode também dissociar o papel central da Equipa para

a Igualdade na Vida Local, que, ainda que esteja a dar os seus

primeiros passos, será o garante da monitorização,

implementação e avaliação deste plano municipal. Toda esta

participação foi ainda coadjuvada por um inquérito à

população residente no concelho de Santo Tirso, que através

desse método de recolha de dados – administrado com recurso

a plataformas digitais – teve também oportunidade de

contribuir para a estratégia definida.

O PMIND representa, portanto, a espinha dorsal de uma

intervenção multinível, que, por um lado, espelha as

necessidades locais identificadas, ao mesmo tempo que, por

outro, ambiciona um modelo de governança com diferentes,

mas complementares, ramificações, seja numa perspetiva mais

voltada para os serviços municipais, seja numa vertente externa

de âmbito territorial ou até mesmo supramunicipal, para a qual

o comprometimento dos setores público, empresarial, social e

cooperativo configuram um aspeto incontornável.

transnacional GEMIS – Promote Gender Equality for a More

Inclusive Society, cofinanciado pelo Programa da União

Europeia “Europa para os Cidadãos”, concretizou momentos

de reflexão que nos ajudaram a perceber que há ainda um

longo caminho a percorrer, seja qual for a escala que

queiramos abordar. A sensibilização e a formação prefiguram-

-se, desde logo, como dois fatores absolutamente nucleares

para que possamos dar outros passos subsequentes.

Igualmente importante é a partilha de boas-práticas, que nos

ajuda a conhecer outras realidades e formas de estar que

podemos adaptar ao contexto em que nos encontramos,

diminuindo, também por essa via, comportamentos

segregadores e discriminatórios, numa operação que visa

alcançar uma verdadeira mudança estrutural.

Em suma, o PMIND pretende ser o trampolim para uma

mudança estrutural e cultural, que caminhe no sentido da

erradicação de qualquer tipo de discriminação e

desigualdade, e que seja orientada para a promoção de

elevados índices de coesão social. Uma forma de trabalhar

estabilizada num modelo de governança que queremos

que seja plural e concertada. •

POR RUI SANTOS (CHEFE DE DIVISÃO DE AÇÃO SOCIAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE

SANTO TIRSO E ASSISTENTE CONVIDADO DA ÁREA TÉCNICO-CIENTÍFICA DE CIÊNCIAS

SOCIAIS E HUMANAS DO INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO)

Como mote para um trabalho assente em bases sólidas, vale

ainda a pena referir que a recente integração da Câmara

Municipal de Santo Tirso na equipa de parceiros do projeto


#45

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A-VÓS PELA IGUALDADE

Ação

Social e

Comunidade

Este ano assinalam-se 48 anos de lutas sociais, políticas e

económicas das mulheres, reforçam-se discursos e memórias

de caminhos pela igualdade. O Lar José Luiz d’Andrade

lançou o desafio: A-Vós pela Igualdade.

Durante o mês de março, todas as valências do grupo de

Geriatria e Dependência uniram vozes que recordam e

traçam lutas pela igualdade.

Esta iniciativa itinerante, deu voz a utentes e

colaboradores/as que, em conjunto, relembraram e

partilharam memórias do antes e depois de algumas

vitórias já conseguidas.

Foi, e continuará a ser, um caminho longo com necessário

envolvimento de todos e todas. Apesar de já muito se ter

conseguido, lamentamos perceber que “Direitos adquiridos

não são direitos garantidos” (autor desconhecido).

Continuaremos a dar “A-Vós pela Igualdade”. •

POR ILDA MEIRELES E SOFIA MOITA (ANIMADORA SOCIOCULTURAL E

COORDENADORA DO LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE)


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Ação

Social e

Comunidade

#45

IGUALDADE, NÃO

DISCRIMINAÇÃO E O DIREITO

A VIVER EM SEGURANÇA E

EM LIBERDADE

Por que motivo(s) não podemos deixar de falar de

Igualdade sempre que abordamos problemáticas como

discriminação(ões) e da sua expressão máxima que é a

violência (no seu sentido lato, enquanto conjunto de

comportamentos abusivos que visam infligir dano, e não

apenas físico) sobre outra pessoa? E de que Igualdade

estamos a falar? Da que nos remete para a esfera da

normatividade, do nivelamento, que nega (ou subestima) a

diversidade? Um exercício simples da pesquisa da definição

de Igualdade nos diversos dicionários vai conduzir-nos a

conceitos tão díspares como “Qualidade do que é igual”;

“Relação entre coisas ou pessoas iguais”; “Correspondência

perfeita entre as partes de um todo” ou “Organização social em

que não há privilégios de classes”. Continuando a pesquisa

vamos encontrar os conceitos de “igualdade social” para

referência aos contextos ou às situações em que as pessoas

beneficiam dos mesmos direitos e das mesmas oportunidades.

Quando ampliamos ao conceito de Igualdade de Género,

abrimos a porta a leituras que vão da negação pueril (“mas as

mulheres e os homens são de facto diferentes, então porquê

falar de igualdade”) à utilização mais enviesada e instrumental

que visa “culpabilizar” o conceito de Igualdade de Género

por, e passo a citar, um “conjunto de ideias mistificadoras e

falsas que serve para mobilizar politicamente dois lóbis ou

grupos - feministas e LGBTI.”, sublinhando que “se baseia num

conjunto de ideias anticientíficas que, com propósitos políticos

autoritários, extirpa a sexualidade humana da sua realidade

natural e a explica apenas pela cultura” (Jornal SOL, dezembro

de 2022).

Ora, quando nos referimos a Igualdade de Género estamos a

utilizar um conceito complexo que pode ser entendido

“simplesmente” como o direito de cada pessoa

(independentemente do sexo que lhe foi atribuído à nascença

– menino ou menina) ter oportunidades iguais para usufruto

das suas vidas.

Também todos/as percebemos o porquê das “aspas” no

“simplesmente”: constatamos, não raras vezes por

experiência na primeira pessoa, que não obstante a nossa

Constituição prever, inequivocamente, que “Todos os

cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais

perante a lei” e que “Ninguém pode ser privilegiado,

beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou

isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo,

raça, língua, território de origem, religião, convicções

políticas ou ideológicas, instrução, situação económica,

condição social ou orientação sexual.”, não temos, de facto,

todos e todas o acesso aos mesmos recursos.

E é esta desigualdade no acesso e no usufruto dos direitos que

nos deve mobilizar. Porque acontece? Porque é que

permanece, ano após ano, século após século? Porque afeta

mais uns grupos sociais que outros e com intensidades tão

díspares?

As repostas serão complexas, multicausais, com interseções

nada simplistas e fortemente contextualizadas (no tempo, no

espaço, nas diversas latitudes…), mas de forma transversal e,

arrisco, universal, a desigualdade de género surge como


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Ação

Social e

Comunidade

denominador comum a todas as outras desigualdades.

Trata-se, portanto, de uma desigualdade estrutural e, por

conseguinte, fortemente enraizada, que se baseia

“simplesmente” na ideia de que homens e mulheres têm

atributos, capacidades, habilidades, possibilidades (e, de

caminho, privilégios) diferentes. E se é inequívoco que

existem diferenças físicas (objetivas) entre homens e

mulheres, já menos óbvio é que o maior ou menor acesso

ao exercício de direitos tenha alguma relação com esses

ditames biológicos. De facto, a desigualdade neste

exercício assenta, essencialmente, nas construções que

todas as sociedades fazem sobre

“o que é ser mulher” e “o que é

ser homem”: como se devem/

/podem comportar, que

expectativas podem almejar, que

lugares (públicos ou privados)

podem assumir, entre outros. É

esta construção social de género,

mais que as características

biológicas per se, que determina os comportamentos e as

atitudes em quase todas as esferas da nossa vida.

Nos últimos quase 50 anos, as agendas políticas internacionais

e nacionais têm, paulatinamente, colocado a tónica na não

discriminação de género. A igualdade de direitos e de

oportunidades está ressalvada no texto constitucional desde

1976 e a tarefa fundamental do Estado de promover a

igualdade entre homens e mulheres, desde 1997.

E é esta desigualdade no acesso e no

usufruto dos direitos que nos deve

mobilizar. Porque acontece? Porque é

que permanece, ano após ano, século

após século?

Embora mulheres e homens tenham hoje uma vida muito mais

igualitária, em vários domínios, os dados demonstram que

ainda persistem desigualdades estruturais na sociedade atual

que conduzem à discriminação com base no sexo e no género.

Uma das manifestações mais prototípicas desta assimetria

estrutural é a violência doméstica, essencialmente com

matriz de violência de género.

Fundamentalmente, a origem deste fenómeno prende-se com

os estereótipos que decorrem dos papéis sociais atribuídos a

mulheres e homens, com impacto na esfera da intimidade,

onde se reproduz a assimetria de

poder entre ambos, onde se

reforçam modelos de

comportamento que assentam, por

sua vez, nesta desigualdade,

tornando-a muito difícil de

combater.

Sabemos, também, que a natureza

multifacetada e complexa deste fenómeno social implica um

olhar mais detalhado, que não descure a análise de outros

fatores de discriminação e de assimetria de poder, tais como a

raça ou etnia, nacionalidade, religião, deficiência, a orientação

sexual, identidade e a expressão de género, ou ainda o nível

educacional e socioeconómico, entre outros.

Mas se hoje a consciência sobre esta realidade é generalizada,

nem sempre foi assim. A violência doméstica acontece

maioritariamente à porta fechada, invisível. Só nos anos 90 do


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Ação

Social e

Comunidade

#45

IGUALDADE, NÃO

DISCRIMINAÇÃO E O DIREITO

A VIVER EM SEGURANÇA E

EM LIBERDADE

século passado esta realidade ganhou visibilidade na agenda

política refletindo as prioridades emergentes em instituições

internacionais como as Nações Unidas e o Conselho da

Europa. Mas, ainda assim, nem sempre abordada numa

perspetiva de género e interseccional e só mais recentemente

se tornou um fenómeno do conhecimento de toda a sociedade,

gerando crítica e intolerância.

Em suma, igual não significa idêntico e o acesso a direitos

por parte de um grupo de pessoas não significa menos

direitos para outro grupo. •

POR MARTA SILVA (CHEFE DE EQUIPA MULTIDISCIPLINAR NO NÚCLEO DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA/VIOLÊNCIA DE GÉNERO NA CIG - COMISSÃO PARA A CIDADANIA E A

IGUALDADE DE GÉNERO)

Portugal tem assumido um conjunto de compromissos

internacionais que enformam o combate à violência e que

se espelham em medidas internas ao nível da violência da

proteção dos direitos das vítimas e da responsabilização do

agente agressor.

O percurso é longo, com obstáculos, resistências e retrocessos,

mas também com conquistas, persistência, e constante desafio

das crenças que legitimam que uma pessoa “é superior (tem

mais valor social)” porque nasceu com um determinado sexo.

Os últimos anos têm-nos mostrado que nada pode ser dado

como adquirido. Os movimentos de backlash nas políticas de

igualdade de género (como noutras agendas políticas

consideradas mais progressistas) têm emergido e crescido em

muitas latitudes. Surgem como discursos conservadores como

se fossem algo “para o nosso próprio bem”, e comportam riscos

sérios de retrocesso. Estes riscos encontram terreno

particularmente fértil em contextos de crises económico-

-financeiras, em que a perda de privilégios é simplistamente

atribuída à “culpa” de alguém que pretende ter acesso à

mesma fatia do direito supostamente adquirido e

inquestionável.



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#45

Ação

Social e

Comunidade

VOLUNTARIADO COMO

FERRAMENTA DE INCLUSÃO

SOCIAL

Foi em 2021 que a Pista Mágica lançou, no âmbito do projeto

VOAHR Municípios, o Guia para um Voluntariado mais

Inclusivo 1 : uma proposta metodológica que viria a tornar

premente a necessidade de dar forma a uma nova abordagem

no terreno – a que assume a prática de voluntariado como

ferramenta de inclusão social.

Esta parte da premissa que os processos de gestão de

voluntariado devem ser adaptados, de forma a que respeitem a

individualidade, as competências e os desafios de pessoas em

situação de vulnerabilidade, permitindo a exploração do seu

potencial máximo no voluntariado e aquisição de diferentes

papéis de utilidade social.

Materializa-se, assim, em programas/projetos de

voluntariado em que as pessoas em situação de

vulnerabilidade são os agentes de mudança, ao colocarem

os seus talentos ao serviço da comunidade. Esta

abordagem apresenta, assim, o voluntariado como

ferramenta facilitadora da concretização das necessidades

sociais, de estima e de autorrealização de quem o pratica;

da descoberta/potencialização de talentos; da amplificação

da sua voz; do acesso a novas oportunidades e recursos; do

respeito pleno pelos seus direitos; e, consequentemente,

da sua plena inclusão social.

Pressupõe-se, portanto, que programas de voluntariado criados

com o intuito de promover uma maior inclusão social das

pessoas voluntárias devem proporcionar:

• Novas oportunidades;

• Maior acesso a recursos;

• A amplificação da voz das pessoas voluntárias;

• Uma maior consciencialização e respeito dos/pelos

direitos das pessoas voluntárias em situação de

vulnerabilidade.

O VolunTalento (jan. 2022 - jun. 2023) é um projeto-piloto

que se propõe, precisamente, a testar esta nova

abordagem, tendo como objetivo melhorar o acesso ao

exercício do voluntariado às pessoas maiores de 18 anos

com incapacidade ou deficiência (física ou mental) leve a

moderada e, consequentemente, aumentar a sua inclusão

social.

É promovido pela Pista Mágica - Voluntariado & Inovação e

financiado pela Portugal Inovação Social - Parcerias para o

Impacto (POISE), tendo como investidor social o Município de

1 A Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso foi uma das instituições identificada, no Guia para um Voluntariado mais Inclusivo, como uma boa prática em contexto de

voluntariado mais inclusivo. O sumário da boa prática, enquadrada na fase de recrutamento de voluntários, encontra-se na página 43 do Guia. No booklet Histórias

de um Voluntariado mais Inclusivo, uma publicação que procura refletir, de forma ilustrada e mais humanizada, os testemunhos partilhados, a história sobre a Santa

Casa da Misericórdia de Santo Tirso (“Um avô para ti, uma neta para mim”), encontra-se nas páginas 48 e 49.


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Ação

Social e

Comunidade

Vila Nova de Gaia e como entidades parceiras o Centro de

Inclusão Social do Magarão, em Avintes, e a EMVIO - Estratégia

Municipal de Voluntariado Inteligente e Organizado de

Vila Nova de Gaia.

ESPETRO DA AUTONOMIA NO VOLUNTARIADO

Utilizando o esquema exclusão-segregação-integração-

-inclusão, e após uma fase de experimentação e reflexão em

torno da relação entre voluntariado e inclusão social, a Pista

Mágica criou aquilo a que deu o nome de “espetro da

autonomia no voluntariado”.

Não sendo uma escada, este contempla, a par com diferentes

níveis de autonomia, os conceitos de voluntariado protegido,

voluntariado apoiado e voluntariado mais inclusivo, entre os

quais a pessoa em situação de vulnerabilidade se poderá

movimentar, de acordo com as suas necessidades,

capacidades e nível de autonomia, de forma a poder atingir,

no voluntariado, o seu potencial máximo.

Voluntariado Protegido:

Implica a realização de atividades de voluntariado em contexto

protegido, isto é, estabelecido especificamente para esse fim,

enquanto espaço seguro que permite que a pessoa em

situação de vulnerabilidade consiga atingir o seu máximo

potencial, de acordo com as suas capacidades e necessidades.

Por outras palavras, aqui, o contexto de voluntariado é criado

especificamente para a pessoa voluntária, tendo a atividade

um propósito socialmente útil.

Voluntariado Apoiado:

Figura 1 – O espetro da autonomia no voluntariado (Pista Mágica, 2022)

Prevê a capacitação e integração de pequenos grupos de

pessoas em situação semelhante de vulnerabilidade em

oportunidades, atividades, projetos ou programas já existentes

na comunidade, com o acompanhamento de um/a técnico/a,

que tem como função apoiar as pessoas voluntárias e mediar o

contacto com a organização acolhedora. As atividades de

voluntariado têm em conta as características do grupo e de

cada pessoa, para que cada uma possa atingir, no

voluntariado, o seu máximo potencial.


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#45

Ação

Social e

Comunidade

VOLUNTARIADO COMO

FERRAMENTA DE INCLUSÃO

SOCIAL

Voluntariado mais Inclusivo:

Pressupõe a integração de pessoas em situação de

vulnerabilidade em programas de voluntariado já existentes,

sendo ajustadas as funções às suas potencialidades,

necessidades e desafios – como deve ser prática comum em

qualquer processo de gestão de voluntariado, mesmo quando

integrados voluntários/as que não se encontram em situação

de vulnerabilidade. É exemplo qualquer programa de

voluntariado em que se estabelecem políticas e procedimentos

para que todas as pessoas possam realizar voluntariado. Aqui,

uma vez que há maior autonomia por parte da pessoa

voluntária, não se prevê a necessidade de um

acompanhamento personalizado e presencial por parte de

um/a técnico/a exterior à organização acolhedora durante o

exercício de voluntariado.

Neste sentido, pressupõe-se que, embora uma maior

autonomia dentro da prática de voluntariado implique um

maior número de oportunidades a nível da aquisição direta de,

e.g., competências, conhecimentos e contactos, seja qual for o

nível de autonomia no voluntariado, a inclusão social da

pessoa será sempre maior do que a de alguém que se

encontra na zona de exclusão do exercício de voluntariado.

No VolunTalento, privilegiamos o voluntariado em contexto

apoiado, promovendo a integração em atividades de

voluntariado (e não só) à medida do grupo de pessoas

voluntárias com incapacidade/deficiência.

FASES DA METODOLOGIA DE VOLUNTARIADO

APOIADO

Em que consiste a metodologia de Voluntariado Apoiado?

A metodologia de voluntariado apoiado prevê a capacitação e

integração de pequenos grupos de pessoas em situação

semelhante de vulnerabilidade em oportunidades, atividades,

projetos ou programas já existentes na comunidade, com o

acompanhamento de um/a técnico/a, que tem como função

apoiar as pessoas voluntárias e mediar o contacto com a

organização acolhedora. As atividades de voluntariado têm em

conta as características do grupo e de cada pessoa, para que

cada uma possa atingir, no voluntariado, o seu máximo

potencial.

Esta assenta em quatro fases:

1. Fase 1: Capacitação das Pessoas Voluntárias

Visa promover o empoderamento das pessoas em situação

de vulnerabilidade, propondo trabalhar as suas

necessidades sociais, de estima e de autorrealização a

partir de temáticas-base: Autoconhecimento, Empatia e

Voluntariado.

2. Fase 2: Atividades Genéricas de Voluntariado

Estas são realizadas em grupo (de pessoas em situação

semelhante de vulnerabilidade) e permitem que os/as


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Ação

Social e

Comunidade

participantes possam experimentar diferentes áreas de

atuação no voluntariado e discernir o que mais os realiza.

3. Fase 3: Projetos de Felicidade (Individuais ou

Comunitários)

O Projeto de Felicidade Individual (PFI) permite perceber,

na vida de cada voluntário/a em situação de

vulnerabilidade, como é que o voluntariado pode ajudar a

alavancar os seus sonhos.

O Projeto de Felicidade Comunitário (PFC) consiste no

desenho de projetos, que motiva o grupo de voluntários a

identificar as necessidades da sua comunidade e a propor

e implementar soluções centradas no voluntariado.

Joseph Campbell 2 , assumindo-se que o/a voluntário/a se

encontra no centro desta jornada, assumindo o papel de

herói/heroína na sua própria história.

No VolunTalento, esta metodologia foi testada com três

gerações de voluntários/as, resultando na integração, em

atividades de voluntariado, de 25 pessoas voluntárias com

incapacidade/deficiência. •

POR ANA GONÇALVES, CLÁUDIA DIAS E ISADORA FREITAS (ESFERA DE AÇÃO

COMUNITÁRIA, PISTA MÁGICA)

Fase 4: Atividades Específicas de Voluntariado

Estas permitem a concretização dos Projetos de

Felicidade, quer através da integração em oportunidades

de voluntariado (em grupo ou individuais) que se alinham

com os objetivos pessoais de cada um/a, quer através da

implementação dos projetos comunitários desenhados.

Como fio condutor da metodologia, adotou-se (de forma

adaptada) a estrutura narrativa “A Jornada do Herói”, de

2 Campbell, J. (2004). A Jornada do Herói. Editora Ágora.


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#45

Ação

Social e

Comunidade

TEMPO DE (DES)IGUALDADE

A defesa da igualdade de oportunidades é um princípio

jurídico e ético das sociedades democráticas na promoção do

bem-estar dos cidadãos. No entanto, as desigualdades sociais

persistem e em determinados períodos agudizam-se. As

desigualdades são a causa estrutural da pobreza. Em 2021, o

rendimento médio por adulto equivalente dos 10% mais ricos

era cerca de 8,5 vezes superior ao dos 10% de menores

rendimentos 1 . No contexto atual as famílias com menores

rendimentos são as mais penalizadas pelo crescente custo de

vida resultante da inflação, em particular nos custos com a

alimentação e energia. 2 O caminho para uma maior

igualdade social constrói-se no empenho e vontade de

reduzir as desigualdades no acesso a bens e serviços

essenciais, tais como: habitação, saúde, educação, justiça,

alimentação; na promoção de sistemas de proteção social,

a par de um rendimento adequado e a modelos de

desenvolvimento económico sustentáveis e justos.

Os caminhos para reduzir a pobreza, fazem-se também pela

via de um emprego sustentável e de qualidade. Este é um

objetivo que está longe de ser atingido para 10,3% das

pessoas, em 2021, que apesar de terem um trabalho

continuam a ser pobres, isto é, vivem com menos de 551 euros

por mês. A precaridade laboral 3 ganhou mais expressão com

as reformas laborais no período da Troika (FMI, CE e BCE) e é

um problema sério que põe em causa o direito ao trabalho, em

particular para os mais jovens que condiciona o seu bem-estar

no presente e as suas perspetivas de futuro, sendo que os

contratos temporários não se limitam apenas aos mais jovens,

abrangendo também trabalhadores mais velhos.

A este respeito, alguns dos caminhos relevantes no combate à

desigualdade social e à pobreza recentemente anunciados,

tem que ver com política pública, entre os quais a Agenda de

Trabalho Digno de Valorização dos Jovens no Mercado de

Trabalho 4 , com efeitos a partir de um de maio, que inclui 70

medidas ao serviço dos Trabalhadores e das Empresas, e

assenta em 4 eixos principais: (1) Combater a precariedade;

(2) Valorizar os Jovens no mercado de trabalho; (3) Promover

melhor conciliação entre a vida profissional, pessoal e familiar;

(4) Dinamizar a negociação coletiva e a participação dos

trabalhadores. As medidas em relação ao combate à

precaridade são as seguintes:

1 Índice S80/S20 e S90/SS10 permite medir a desigualdade entre os extremos da distribuição do rendimento por adulto equivalente

2 https://expresso.pt/economia/2023-02-02-Familias-mais-pobres-enfrentam-inflacao-mais-alta-8b18b880 e https://www.bruegel.org/dataset/inflation-inequalityeuropean-union-and-its-drivers

3 Por precaridade laboral entende-se os contratos temporários, trabalho a tempo parcial, contratos temporários involuntários e trabalho a tempo parcial involuntário.

Mais informação: https://www.observatorio-das-desigualdades.com/observatoriodasdesigualdades/wp-content/uploads/2021/07/Desemprego-e-Precariedade-

Laboral-na-Populac%CC%A7a%CC%83o-Jovem.pdf

4 https://dre.pt/dre/detalhe/lei/13-2023-211340863


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Ação

Social e

Comunidade

• A duração dos contratos temporários passa a ter limites

máximos, quando esteja a ser desempenhada a mesma

função, ainda que a entidade empregadora seja diferente.

• É reduzido para quatro o número de renovações dos

contratos temporários.

• O período experimental é reduzido para jovens que já

tenham tido contratos a termo na mesma atividade, mesmo

que com outro empregador.

• Passa a ser proibida a utilização de outsourcing durante

um ano após um despedimento coletivo ou por extinção

de posto de trabalho.

• Os estágios profissionais passam a ser remunerados no

mínimo por 80% do Salário Mínimo Nacional, e as bolsas

de estágio IEFP para licenciados são aumentadas para

960 €.

• É reforçada a proteção dos direitos dos jovens

trabalhadores-estudantes, passando a poder acumular o

abono de família e as bolsas de estudo com o salário.

• É duplicado o valor da compensação pela cessação dos

contratos a termo, como forma de dissuadir a celebração

de contratos a termo não justificados.

De igual modo, em janeiro de 2023 o Conselho Europeu

adotou formalmente a Recomendação sobre Rendimento

Mínimo Adequado 5 para assegurar uma inclusão ativa com o

objetivo de que os Estados Membros adotem Esquemas de

Rendimento Mínimo cuja adequação, cobertura, acesso a

mercados de trabalho inclusivos seja uma realidade na

prevenção da exclusão social e redução da pobreza. É de

relembrar que a referida Recomendação insere-se no princípio

14 – Rendimento Mínimo do Pilar Europeu dos Direitos Sociais

(PEDS).

No âmbito do PEDS, as metas a cumprir até 2030 passam

por retirar 15 milhões de pessoas da situação de pobreza,

das quais pelo menos 5 milhões de crianças; pelo menos

78% das pessoas entre 20 e os 64 anos devem estar

empregadas; e 60% dos adultos devem participar em

formação em cada ano.

5 Lei n.º 13/2023, de 3 de abril, https://www.consilium.europa.eu/pt/press/press-releases/2023/01/30/council-adopts-recommendation-on-adequate-minimumincome/

e https://www.eapn.pt/centro-de-documentacao/documentos/analise-a-recomendacao-do-conselho-europeu-sobre-rendimento-minimo-adequado-paraassegurar-uma-inclusao-ativa/

O termo “Rendimento Mínimo” utiliza-se normalmente para descrever uma prestação atribuída pelo Estado àquelas pessoas que não podem trabalhar ou não têm

acesso a um trabalho suficientemente remunerado, no sentido de assegurar um patamar para uma vida digna a todos os cidadãos. É um rendimento de último recurso

que, devendo ser encarado como um direito social, é um dos pilares do Estado-providência1. Em Portugal esta prestação tem, desde 20032, o nome de Rendimento

Social de Inserção e consubstancia-se numa prestação em dinheiro e num programa de inserção. Os esquemas de rendimento mínimo são diferentes de país para

país, mas em termos globais são pouco adequados, não retiram as pessoas da pobreza, não respondem às reais necessidades das pessoas e são alvo de estereótipos.


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#45

Ação

Social e

Comunidade

TEMPO DE (DES)IGUALDADE

As principais considerações da EAPN Portugal sobre a

Recomendação vão no sentido de que a única via de

garantir um Rendimento Mínimo adequado em toda a UE é

através de uma Diretiva, que impõe o seu cumprimento

perante a lei, e não uma mera recomendação em que os

países podem ou não adotar. Não obstante, alguns dos

aspetos positivos sublinhados são os seguintes: possibilidade

de requisição do Rendimento Mínimo por membros individuais

do agregado; disponibilização de apoio individualizado,

através de um gestor de caso, num prazo de 3 meses;

possibilidade de aceder a Rendimento Mínimo sem morada

permanente, facilitando assim o acesso a pessoas das

comunidades ciganas (Roma), migrantes, comunidades

“racializadas”, pessoas em situação de sem abrigo ou a viver

em albergues; atenção dada ao nível mínimo adequado

definido com base na linha de risco de pobreza nacional e

orçamentos de referência. Por sua vez, a EAPN Portugal aponta

algumas das fragilidades nomeadamente: os beneficiários,

assim como as organizações da sociedade civil que os

acompanham devem ser envolvidos na implementação,

monitorização e avaliação dos Esquemas de Rendimento

Mínimo, que deve ter lugar todos os anos; o Rendimento

Mínimo deveria ser automaticamente atualizado de acordo com

as mudanças no custo de vida e inflação em todos os países;

não especificação da idade a partir da qual o rendimento

mínimo está disponível - deveria ser a partir dos 18 anos.

Rendimento Social de Inserção e que consta como objetivo

estratégico da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza a

2021-2030 (ENCP).

Em suma, a ENCP é lançada no âmbito do PEDS e apresenta-

-se como elemento central no objetivo de erradicação da

pobreza, e na redução das desigualdades sociais. É de

extrema importância que este desígnio nacional seja assumido

como um compromisso político sério e que seja munida de

financiamento para a sua concretização. •

POR GRAÇA LOURENÇO (NÚCLEO DISTRITAL DO PORTO DA EAPN PORTUGAL)

Importa assim que esta Recomendação tenha efeito prático e

seja adotada pelos Estados Membros na melhoria dos

esquemas de rendimento mínimo, que no caso português é o


#45

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A PROCURA DE UMA

SOCIEDADE JUSTA

G. Recursos

Humanos

O conceito de igualdade não pressupõe sermos todos/as

iguais, mas sermos todos/as tratados/as de igual forma, sem

que haja pessoas beneficiadas ou prejudicadas e que a lei seja

aplicada de forma igualitária no que diz respeito a direitos e

deveres.

igualdade e do bem-estar ao próximo. Nesta família prevalece

a forma educada, cuidada e afetuosa com que se presenteiam

todos/as os/as que dela fazem parte, sem que haja distinção.

Vamos continuar a lutar? •

Felizmente, com o passar do tempo é possível verificar uma

evolução no que toca à conquista da igualdade. Refiro-me a

conquista pois foram longos períodos de luta para que

houvesse mudança de pensamentos em relação a género,

etnia, religião, estatuto social, crenças, entre outros temas que

ainda hoje suscitam discriminação,

tendo-se conseguido gerar

mudanças comportamentais para a

promoção da igualdade.

Somos iguais porque somos

seres humanos. Atenção: a

igualdade não invalida a

identidade! Apesar da evolução

no que toca a igualar as oportunidades, continua a ser

crucial ultrapassar desigualdades. É importante persistir no

trabalho de desconstrução de crenças estruturais, identificar e

reanalisar a forma como pensamos e vemos o mundo.

Não podia abordar este tema sem mencionar a importância

que a Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso tem para a

promoção de uma sociedade mais justa. Nesta casa trabalha-se

com a finalidade de prestar cuidados a quem procura e

precisa dos seus serviços, sempre com base nos princípios da

POR CARLA LEBREIRO (PSICÓLOGA JÚNIOR)

Não podia abordar este tema sem

mencionar a importância que a

Santa Casa da Misericórdia de Santo

Tirso tem para a promoção de uma

sociedade mais justa.


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#45

G. Recursos

Humanos

UM CAMINHO. E OS SEUS

DEGRAUS.

Não há mundo justo sem igualdade. A igualdade, nos seus

mais latos domínios, é, sem qualquer dúvida, um princípio

ligado ao valor da dignidade humana e estruturante do sistema

de direitos fundamentais, encontrando-se refletido no conteúdo

da maioria dos restantes direitos, liberdades e garantias.

Tendo importância vital no desenvolvimento coletivo, o

grande primeiro passo em Portugal deu-se com a revolução

democrática e com a aprovação da Constituição da

República Portuguesa de 1976 e subsequente alteração

legislativa, designadamente no âmbito do direito civil.

Quase 50 anos volvidos, e apesar de ações persistentes no

âmbito da igualdade, ainda há muito a fazer-se. Ou seja, é

inegável que o quadro jurídico em Portugal, também muito à

custa das imposições da União Europeia, é consistente tendo

em vista, por um lado, o fim das desigualdades e, por outro

lado, a alteração de comportamentos que ferem a igualdade,

nas suas mais vastas expressões. Porém, ainda se verificam

fragilidades, como é exemplo a violência de género, a

desigualdade da participação das mulheres no mercado de

trabalho, o diferencial de salários entre homens e mulheres

para trabalho igual, a desigualdade entre mulheres e homens

no processo de decisão e a maior exposição das mulheres à

pobreza.

Dito de outro modo, há uma forte proteção legal do

princípio da igualdade, mas, no caminho percorrido, ainda

há degraus a ultrapassar. Se é inegável a importância da

igualdade, há ações que ficam por concretizar ou porque se

acredita que a desigualdade é coisa do passado ou que é

coisa bem distante da nossa realidade. Por outro lado ainda,

uma coisa é a lei, outra é a sua aplicação. Aliás, a pandemia é

um bom exemplo disso mesmo, porque apesar das inúmeras

salvaguardas do princípio da igualdade, foram as mulheres

que foram arrastadas, na sua grande maioria, para o

acompanhamento escolar dos/as filhos/as e foram elas que,

com o confinamento, ficaram mais vulneráveis em termos de

violência. Assim, impõe-se um constante aperfeiçoamento da

lei, também, tendo em vista a sua eficaz aplicação.

Nesse caminho, um bom exemplo é a Agenda do Trabalho

Digno, aprovada pela Lei nº. 13/2023, de 3 de Abril, que

trouxe as recentes e amplas alterações ao Código do

Trabalho. Entre outros, a Agenda do Trabalho Digno

valoriza aspetos como o imperativo da conciliação entre

trabalho e vida familiar e pessoal, em diferentes

dimensões, num quadro de promoção da igualdade entre

homens e mulheres, designadamente com a criação de

licença parental em part-time, a partir dos 120 dias, desde

que gozada por ambas as pessoas progenitoras, o aumento

do subsídio quando as licenças parentais são partilhadas,

a falta por luto gestacional para ambos, tudo no sentido de

promover a igualdade entre homens e mulheres.

E, importa lembrar, esses degraus são apenas para subir, não

vale descer. •

POR ANA ALVARENGA (JURISTA E RESPONSÁVEL DOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS)


Foto: Ana Alvarenga


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#45

Ação

Educacional

IT GETS BETTER:

TUDO VAI MELHORAR!

Olá! O meu nome é Lucas Basto Sampaio, sou uma pessoa

trans e venho apresentar-vos um projeto com o qual colaboro e

que merece muito a vossa atenção. Conheci a It Gets Better

Portugal apenas no ano passado, num evento em Amarante.

Tratava-se de uma sensibilização sobre a necessidade de

visibilidade e partilha de conhecimento sobre as

especificidades da população LGBTQIA+ no âmbito de

violência doméstica. De imediato, surgiu em mim a vontade de

colaborar com o projeto e procurei perceber como, falando

com a Daniela Leal (atual Presidente da Associação),

palestrante nesse evento. Foi preciso muito pouco tempo para

perceber o quanto ressoava com os meus valores e com a

forma como acredito poder contribuir para a causa

LGBTQIA+. Como psicólogo e pessoa trans, sinto e

reconheço a importância de estar ativo na e pela

comunidade, sobretudo no que diz respeito à área de

saúde mental, expressando através da minha experiência

de vida e conhecimento, que é possível vivermos mais

confortáveis, empoderados e felizes tal e qual como somos.

A It Gets Better nasce em Setembro de 2010, nos Estados

Unidos, pelo colunista e escritor Dan Savage e o seu

companheiro, Terry Miller, quando criaram um vídeo no

YouTube, para dar esperança aos jovens LGBTQIA+ vítimas de

violência e discriminação. Este movimento surgiu como

resposta ao número de estudantes que vinham atentando

contra as suas próprias vidas após serem vítimas de

bullying homofóbico e transfóbico na escola. A intenção foi

criar um núcleo de apoiantes que, espalhados por diversas

partes do mundo, pudessem dizer aos jovens LGBTQIA+

que TUDO VAI MELHORAR!

O movimento teve tanto sucesso que expandiu rapidamente.

Na primeira semana de existência foram adicionados duzentos

vídeos, e o canal do projeto no YouTube atingiu o limite de

seiscentos e cinquenta vídeos na semana seguinte. A partir de

então foi criado um website próprio e foi multiplicado por

vários países, inspirando mais de cinquenta mil pessoas a

criarem vídeos de apoio que já foram vistos mais de cinquenta

milhões de vezes. Como contributos mundiais de relevância

que aderiram ao It Get’s Better Project contam-se nomes

como o ex-Presidente dos EUA, Barack Obama, o atual Biden,

a ex-Secretária de Estado Hillary Clinton, o ex-Primeiro

Ministro do Canadá, o ex-Primeiro Ministro de Inglaterra,

David Cameron, entre outras figuras políticas americanas e do

Parlamento Europeu, apenas para citar alguns dos nomes da

política mundial.

O Projeto Tudo Vai Melhorar surge em 2012 em Portugal, pela

mão de Diogo Vieira da Silva. Já a It Gets Better Portugal nasce

em 2017, mantendo o projeto inicial mas aproximando-se mais

do projeto internacional, com a sua nova designação. Aqui

também se constitui agora como uma Organização Não

Governamental que visa capacitar, influenciar positivamente e

conectar jovens lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer e

intersexo (LGBTQIA+) usando o poder do Storytelling e da

Media. Atuamos através de diferentes projetos e iniciativas para

levar mensagens de esperança e amor aos jovens LGBTQI+,

promovendo o diálogo sobre os desafios que essa população

ainda enfrenta e compartilhando recursos para superar as suas

dificuldades.


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Ação

Educacional


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#45

Ação

Educacional

IT GETS BETTER:

TUDO VAI MELHORAR!

No decurso do projeto, estima-se que já tenha impactado a

vida de milhares de pessoas e de diferentes formas, entre

crianças, jovens e pessoas adultas, essencialmente através da

disseminação de testemunhos reais, esperançosos e confiantes

das mais diversas personalidades e vivências da comunidade

LGBITQIA+ e pessoas aliadas. Os principais projetos

desenvolvidos nesse âmbito até então foram as Web-series

Vamos falar e Já Melhorou, sendo que para

além destes o trabalho tem-se refletido

também muito no terreno, nomeadamente,

em parceria com outras organizações,

associações, eventos, câmaras municipais

e instituições de ensino e, claro, com as

centenas de testemunhos recolhidos e

presentes na nossa biblioteca online de

vídeos.

O nosso âmbito de atuação e trabalho tem

sido sobretudo a área da educação, com a

intenção de promover a escola como um

espaço seguro, integrador e feliz para todas as

pessoas. Assim, surge em 2020 o e-book: Come to

the rainbow school: Guia para Professor@s Inclusiv@s,

reconhecendo a importância e o impacto das/os

professoras/es na vida das/os estudantes. Esta ferramenta

foi construída com o objetivo de promover o bem-estar de

todas as pessoas que frequentam o ensino, uma vez que

que é na escola que é passada grande parte da vida da

juventude. Este e-book trata-se de um instrumento que

pode ser utilizado nas aulas ou em qualquer outro

momento em que seja uma mais valia falar e/ou explorar a

diversidade existente ao nível da identidade. São

abordados temas como a sexualidade, a expressão de género,

os afetos, bem como vários dos preconceitos e crenças

associados a estas temáticas. De ressaltar que se trata de uma

ferramenta prática, onde procuramos dar respostas às questões

mais comuns e relevantes que surgem neste contexto. Por ter

um formato totalmente digital e interativo, pode ser

utilizado de forma síncrona ou assíncrona. Até aos

dias de hoje o Come to the rainbow school já foi

apresentado e partilhado em várias escolas e

eventos e tem sido muito feliz a sua

aplicação, no entanto, sentimos falta de um

apoio estrutural e político mais integrado,

para a disseminação da sua utilização.

Posto isto, a It Gets Better Portugal

compromete-se com vários projetos futuros

que mantenham viva a sua missão. Sempre

que possível, alargamos as nossas conexões e

trabalhamos em rede, por acreditar que é

exatamente na (co)construção positiva que se podem

fazer reais mudanças no mundo. Fiquem desse lado e

confiantes de que tudo pode melhorar.

Podem acompanhar-nos nas nossas redes sociais, bem como

no nosso site oficial: www.itgetsbetter.pt

Instagram:@itgetsbetterpt | Twiter: @itgetsbetter

Facebook: https://www.facebook.com/Itgetsbetterpt •

POR LUCAS BASTO SAMPAIO (PSICÓLOGO - IT GETS BETTER PORTUGAL)


#45

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ESCOLA INCLUSIVA:

UMA ESTRATÉGIA PARA A

ESPERANÇA

Ação

Educacional

Vivemos numa sociedade altamente complexa, onde a

emoção se confunde com a razão e o “porque eu gosto”

ocupa o espaço do “porque assim deve ser”.

A escola não pode deixar de ser um espaço de

desenvolvimento de valores e de aprendizagem de princípios

essenciais à vida em sociedade, sempre com o máximo

respeito pela diversidade e pela diferença. Na escola vive-se

uma micro sociedade, com todos os desafios próprios da

integração, da igualdade de género, da interculturalidade, da

sustentabilidade ambiental e da participação democrática.

Neste sentido, a escola é um dos mais importantes agentes de

socialização, que deve ter as ferramentas necessárias e

adequadas aos tempos, para que os/ alunos/as sejam

educados por igual num sistema onde não estejam

hierarquizados em função do sexo.

No âmbito da estratégia para uma cidadania global, a escola

profissional OFICINA, em conjunto com as entidades parceiras

e famílias dos/as alunos/as, tem procurado refletir sobre estas

questões e a forma de promover práticas educacionais que

proporcionem e desenvolvam o diálogo e integração do/a

aluno/a nos seus vários contextos: social, cultural, espiritual/

/religioso e económico.

Esta estratégia, vai, também, de encontro à IV Conferência

Mundial sobre a Mulher, Pequim, em 1995 que defende: “A

igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos

humanos, condição para a justiça social e também é um

requisito necessário, fundamental para conseguir a igualdade,

desenvolvimento e a paz.”

Formar homens e mulheres para os outros, como nos diz

Pedro Arrupe sj, é educar para a igualdade de género, é

procurar a igualdade no âmbito laboral e cultural. É incluir,

integrar e assim acreditar num futuro de igualdade

equitativa, onde a sociedade será mais justa.

Neste contexto, não esquecemos os estereótipos e preconceitos

que existem à volta da igualdade, não os ignoramos, analisam-

-se de forma crítica e livre, desenvolvendo habilidades

analíticas e assim, os/as alunos/as, crescerem como pessoas

pensantes, que olham para os outros como pessoas singulares

e especiais. Ser especial é ser diferente e ser diferente não

é negativo, é enriquecedor, é possibilitador de

aprendizagens desafiantes que levam ao inconformismo,

inovador, criativo e empreendedor.


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#45

Ação

Educacional

ESCOLA INCLUSIVA:

UMA ESTRATÉGIA PARA A

ESPERANÇA

O/a aluno/a da OFICINA deve ser responsável consigo e com

os Outros partilhando criatividade, desenvolvendo empatia

com misericórdia e assim praticar a dignidade humana. A

esperança numa Cidadania Global é o caminho para um

mundo ideal, desenvolvendo consciências que pensam e por

isso partilham valores que não descriminam, que desenvolvem

o seu pensamento de forma livre e integral e não em modelos

estereotipados.

A Educação de qualidade é um direito humano fundamental e

um investimento para o futuro. A OFICINA trabalha com os/as

seus/suas alunos/as no sentido de desenvolver um olhar atento

ao Outro, a incluir e a servir o próximo de forma altruísta.

Educar para a Cidadania Global é, sobretudo, educar com

o coração e com os afetos. Acreditamos que é desta forma

que ajudamos os/as jovens a desenvolver competências de

relação pessoal, empatia, reconhecimento do outro como um

ser merecedor de respeito absoluto, condição e razão essencial

de uma autêntica cidadania. Acreditamos que esta sociedade,

complexa, é digna de Esperança! •

POR DENISE LIMA (COORDENADORA DA ESTRATÉGIA PARA A CIDADANIA DA OFICINA –

ESCOLA PROFISSIONAL DO INSTITUTO NUN’ALVRES)


#45

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A MAGIA DO CUIDAR

PALESTRA

Saúde

No Auditório “Centro Eng. Eurico de Melo”, o dia 8 de

março foi reservado a um evento destinado a profissionais

de saúde que pretendessem melhorar os seus

conhecimentos na área do CUIDAR.

Cuidar é um ato de MAGIA: é a produção de gestos

extraordinários, prestando atenção a algo, ou alguém. Cada

profissional de saúde tem magia dentro de si, é promotor

de felicidade em cada cuidado praticado na promoção do

bem-estar, no processo de cura e reabilitação de utentes. A

magia acontece no toque terapêutico, na escuta ativa, na

empatia, dedicação e abraço, no sorriso e no respeito pelo

sorriso cúmplice. Esta iniciativa, organizada pela empresa

Gameiros - Material Clínico em colaboração com a

Misericórdia de Santo Tirso, fez-se representar na sessão de

abertura pelo Provedor da instituição, José dos Santos Pinto,

apresentando umas breves palavras de boas vindas: “Como na

Misericórdia de Santo Tirso a missão de cuidar de utentes deve

ser um ato realizado com profissionalismo e, acima de tudo,

com muito carinho, dignidade, ou “MAGIA”, foi com muito

prazer que acolhemos o convite para nos associarmos a este

evento, disponibilizando este Auditório e incentivando os

nossos/as Colaboradores/as a participarem ativamente nesta

palestra.”

A Misericórdia esteve igualmente representada no evento

através de Helena Carvalho, enfermeira, que apresentou o

tema “Cuidar no Leito”, sendo atentamente escutada pelos/

/as participantes externos/as e por tantos/as Colaboradores/as

que marcaram presença para reforço de conhecimentos

profissionais.

Temáticas como “A Essência da Cidadania: Cuidar do Outro” e

“Incontinência e suas Várias Dimensões” foram tão importantes

como as demonstrações de “Mobilização Segura para a Pessoa

Dependente e o Cuidador” e a “Estimulação Sensorial no

Cuidar”.

Os momento de partilha de novas ideias e equipamentos,

fortaleceram conhecimentos e boas práticas que devem

prevalecer associados à prevenção, promoção da saúde e

bem-estar dos/as utentes. E assim a Magia do Cuidar

acontece! •

POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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#45

Saúde

A IGUALDADE NO ACESSO

AOS CUIDADOS DE SAÚDE

Em Portugal, o acesso aos cuidados de saúde é um conceito

fundamental das políticas de saúde. No entanto, ao contrário

do que se poderia pensar, trata-se de uma ideia complexa e

multifacetada. Ao nível mais básico, o acesso depende apenas

da oferta de cuidados, isto é, da sua disponibilidade. No

entanto, o acesso efetivo aos cuidados de saúde dependerá

também de eventuais barreiras à utilização apropriada de

cuidados de saúde, sejam elas económicas, sociais,

organizacionais ou culturais.

Nesse sentido, o acesso aos cuidados de saúde é

essencialmente uma questão de permitir o ingresso das

pessoas ao seu potencial de saúde e por consequência, deve

ser analisado à luz das necessidades em saúde e dos contextos

económicos e culturais dos diferentes grupos da sociedade.

Todavia, a questão de acesso aos cuidados de saúde é

indissociável da questão de igualdade do sistema de saúde.

A igualdade é considerada um objetivo relevante pelos

sistemas de saúde modernos, podendo ser definida como a

ausência de diferenças sistemáticas, e potencialmente

evitáveis, em um ou mais aspetos da saúde, entre grupos

populacionais contextualizados.

De acordo com a Constituição da República Portuguesa (CRP),

todos os cidadãos têm direito à proteção da saúde, e incumbe

ao Estado garantir esta premissa independentemente da sua

condição económica, raça, cultura e/ou estatuto social. Deste

modo, é possível respeitar os princípios basilares da CRP,

nomeadamente, a universalidade e a igualdade.

Por forma a cumprir os princípios consagrados no artigo 64º.

da CRP., a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tem um papel

preponderante na normalização de diversas situações de

acesso aos cuidados de saúde onde há evidência de

discriminação e desigualdades em função da entidade

responsável.

As intervenções da ERS têm por fundamento o dever

constitucional, legal e contratual da não discriminação de

utentes, onde todo o atendimento deve ser efetuado por

ordem de chegada e por critérios clínicos, e não segundo

critérios tendentes em função da entidade responsável.

Em contrapartida, as medidas de ação ou discriminação

positivas são consentidas, quando se destinam à proteção de

pessoas que se encontrem em situações desfavoráveis como

os/as cidadãos/ãs portadores/as de deficiência, promovendo

assim, a correção dos efeitos dessas desigualdades.

Ainda no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde,

o regime instituído pelo Decreto-Lei n.º58/2016, de 29 de

Agosto, assume especial importância, uma vez que se foca

na obrigatoriedade de prestar atendimento prioritário às

pessoas com deficiência ou incapacidade, pessoas idosas,

grávidas e pessoas acompanhadas de crianças ao colo,

para todos os estabelecimentos de saúde (privados ou

públicos).

Neste sentido, e não obstante o referido Decreto-Lei nº.

58/2016 se aplicar a todas as pessoas, públicas e privadas, nos


termos da alínea a) do n.º2 do artigo 2.º, excluem-se da

aplicação deste decreto-lei, as entidades prestadoras de

cuidados de saúde com serviços específicos, ou seja, o acesso

aos cuidados de saúde é fixado em função da avaliação clínica

a realizar. Veja-se o exemplo de um/a utente que procura o

serviço de urgência de uma unidade de saúde, em função do

problema de saúde que apresenta é reconhecida a prioridade

no atendimento, em detrimento de outros/as utentes que

possam ter chegado primeiro, mas cuja situação clínica é

menos grave.

Importa invocar, que a ERS deve assegurar o cumprimento dos

critérios, previamente estabelecidos, abarcar o acesso universal

e equitativo aos cuidados de saúde, punir as práticas de

rejeição discriminatórias ou infundadas de todos os

estabelecimentos publicamente financiados, zelar pelo respeito

da liberdade de escolha dos prestadores de cuidados de

saúde, e o direito à informação por parte dos/as cidadãos/ãs.

Em suma, as entidades responsáveis pelo estabelecimento

de cuidados de saúde têm o dever de prestar cuidados de

qualidade e com segurança a utentes, em tempo útil, nas

melhores condições de atendimento, sem fundar qualquer

tipo de discriminação, garantindo assim, a igualdade no

acesso aos cuidados de saúde. •

POR OLGA RIBEIRO (ENFERMEIRA NA ISCMST - DOUTORANDA EM EDUCAÇÃO, MESTRE

EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, MESTRE EM METODOLOGIAS DE INVESTIGAÇÃO EM

CIÊNCIAS DA SAÚDE)


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#45

Saúde

SER PESSOA!

Ser pessoa! Ser pessoa, deveria ser suficiente para garantir

igualdade. Mas, sabemo-lo, não o é.

A História faz prova dos constantes atropelos à igualdade que

existem, criando a necessidade de desenvolver mecanismos

que explanem o que deveria ser inato como é o caso da

Declaração Universal dos Direitos Humanos.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade

e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir

uns para com os outros em espírito de fraternidade” (Artigo 1).

Assim começa. Mas será que encontramos amiúde esse

espírito fraterno da sociedade para com os adultos

maiores? Especialmente quando a par da idade surge, em

grande destaque e sempre em primeiro plano a

DEMÊNCIA. De repente, ou não tão repentinamente, esta

palavra passa a ter uma dimensão que engole a pessoa e o

seu direito a opinião, tomada de decisão, autonomia e, em

última análise, à igualdade.

Lobo Antunes, no seu livro “Para aquela que está sentada no

escuro à minha espera” faz, no seu jeito irónico e satírico, uma

reflexão sobre este tema dando voz aos pensamentos de uma

senhora com um provável diagnóstico de Doença de

Alzheimer. O que pensa ela: “Setenta e muitos no mínimo, mais

velha que eles e portanto se me mandarem para a cama não

obedeço, acabaram-se as ordens”; “o sobrinho do meu marido

diz “está cada vez mais confusa”; “o Sr. Barata diz “já na altura

do teatro tinha alturas assim”; “o médico diz “mas afinal o que

ela tem””. Esta cena é recorrente nos gabinetes médicos, na

farmácia, na padaria e dentro das nossas casas (locais onde

procuramos conforto, familiaridade e compreensão) – falamos

de uma pessoa com demência, à sua frente, ignorando por

completo a sua presença. Até porque, invariavelmente, nos

refugiamos no argumento mais simplista: “já não percebe nada

do que é dito; é como se já não estivesse aqui”. Parece que

temos dificuldade em ver a pessoa à nossa frente e a única

coisa que vemos é um rótulo que se agiganta à medida que a

doença evolui.

É verdade que inerente à doença surgem os desafios, as

alterações de comportamento e de comunicação. E, não é

menos verdade que, muitas vezes, temos que apelar à nossa

imaginação e à empatia para conseguirmos entender o que as

pessoas com demência nos comunicam, já que a linguagem

nem sempre consegue acompanhar os seus pensamentos. Mas

esse facto não legitima a assunção de que a pessoa já não tem

vontade própria, já não consegue expressar o seu agrado/

desagrado, o que quer e o que não quer e ser tratada como

igual.

Talvez a doença nos exija não uma postura de igualdade mas

sim de equidade. Uma postura que permita que a pessoa com

demência se possa expressar e exprimir de uma forma que até

então não era a usual mas que nós, enquanto sociedade,

família, profissionais (ouvintes!) estamos disponíveis para

receber e ouvir. Ou seja, temos que criar condições para que a

pessoa se sinta segura nas suas formas de comunicação e

continue a fazer as suas opções, mesmo que com elas não

concordemos.


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Saúde

Diria que temos que recentrar no que é essencial – a PESSOA,

e não numa das suas características – a doença. Ou seja, no

contacto com a pessoa maior, com ou sem demência, temos

que voltar a olhar genuinamente para ela, relembrar a sua

história (e as suas estórias), as suas preferências, as suas

expressões, os seus desejos. Podem já não existir palavras, mas

existem gestos, olhares, outras expressões faciais, inquietude…

há tantas formas de comunicação se estivermos recetivos a elas

e acima de tudo a respeitá-las. Só temos que estar atentos.

Por outro lado, enquanto cidadãos temos que olhar para

esta fase da vida com a atenção

que esta nos exige. É uma fase da

vida para a qual todos

caminhamos e que cumpre uma

parte bastante significativa do

nosso percurso. No entanto,

contrariamente a outras (como é o

caso da infância) não a

preparamos/acarinhamos. Não

fazemos escolhas/planeamos o que gostaríamos ou não de

fazer, como nos ocupar, onde gostaríamos de viver e em

que condições e, em última instância, que decisões

gostaríamos que tomassem por nós caso a nossa

capacidade/consciência esteja alterada. São também os

mecanismos legais, como é o caso do testamento vital, ou

a abertura e clareza com que falamos sobre estes assuntos

com os que nos são próximos que nos permitem garantir

que continuaremos a ser ouvidos e a ter direito às nossas

escolhas quando um problema surge e nos pode limitar

Temos que combater o facto de

constantemente nos sobrepormos

aos adultos maiores, de escolhermos

porque nome são tratados, de

anteciparmos as suas decisões (...)

essa mesma capacidade de escolha. Em primeira instância

temos que combater muitos dos preconceitos e, atrevo-me a

dizer, o medo que esta fase da vida nos provoca. Temos que

combater o idadismo que está enraizado e muitas vezes

camuflado de proteção. Temos que combater o facto de

constantemente nos sobrepormos aos adultos maiores, de

escolhermos porque nome são tratados, de anteciparmos as

suas decisões (seja a de substituir o café pelo chá, seja a da

escolha das calças com velcro em vez das de botões) - refiro-

-me a decisões quotidianas mas também as de maior dimensão

como a escolha do local onde e como se quer viver.

POR CARMINA REI (PSICÓLOGA - SOS DEMÊNCIAS)

A vida e a sociedade em geral já

nos exigem tanto ao longo do

desenvolvimento que é inglório

que numa fase mais avançada da

mesma ainda tenhamos que estar

a lutar por sermos ouvidos, termos

a nossa opinião, sermos iguais! •


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#45

Cultura

A VIOLÊNCIA CONTRA AS

MULHERES E IGUALDADE DE

GÉNERO

A luta pela igualdade de género está indubitavelmente

marcada pela violência contra as mulheres. De acordo com

as teorias feministas emergentes na década de 60 do séc.

XX, as práticas violentas contra as mulheres resultaram do

papel central do homem na organização social que lhe

conferiu durante séculos um poder quase absoluto sobre

elas, relegando-as para funções subalternas e menos

relevantes socialmente (Anderson e Umberson, 2001).

Recuando a Aristóteles, numa reflexão sobre a organização da

cidade refere-se às diferenças existentes entre homens e

mulheres, este afirma que os homens têm o dever de ditar “a

lei aos filhos e às mulheres” (Aristóteles, 1998 [trad. Amaral e

Gomes], p. 53). Apesar de diferenciar o tratamento que o

homem deveria dar à mulher (cidadã) e aos filhos (súbditos),

era utilizado o argumento biológico para a distinção de

funções entre os sexos, afirmando que o homem estaria mais

predisposto para mandar do que a mulher, existindo como que

uma hierarquização natural de um face ao outro. Se recuarmos

aos tempos da Roma Antiga, como recorda Thompson (2006,

p. 6), de acordo como o princípio Patria Potestae o homem

tinha o poder/direito de castigar severamente a sua esposa

pelo crime de drunkness ou, em caso de adultério, a matar. No

entanto, se fosse o homem a cometer a infidelidade, a mulher

não teria o mesmo direito.

Entre os séculos XIII e XVIII através da influência crescente do

direito romano verificou-se um aumento da subordinação da

mulher ao marido (Lebrun, 1983; Flandrin, 1995; Oliveira e

Oliveira, 2011) que a viria a tornar juridicamente incapaz não

podendo gerir os seus bens, intentar uma ação em tribunal

sem a sua autorização ou mesmo prestar qualquer depoimento

naquela instância. Em caso de adultério o marido podia pedir

a separação da mulher, sendo o contrário impossível. Esta

subalternação da mulher viria a ser justificada por alguns

moralistas dos séculos seguintes como resultado da sua

fisionomia (o sexo fraco), de acordo com argumentos bíblicos 1

e com a necessidade desta se reservar em exclusivo às tarefas

domésticas 2 , ocorrendo desta forma uma “domesticação da

mulher” (Oliveira e Oliveira, 2011, p.307).

Durante o Antigo Regime, na família tradicional, o homem

continuou a manter a sua posição dominante adquirindo

através do casamento a posição de chefe de família que lhe

conferia um poder sobranceiro sobre todos os restantes

elementos do agregado familiar (Lebrun, 1983). Depois de

casar, a mulher era transferida de propriedade do seu pai

para o seu marido que, até à sua morte, dada a

indissolubilidade do casamento, era o seu dono. Shorter

(1995) recorda que neste período a taxa de mortalidade era

muito elevada e que a sexualidade, para a mulher, se

1 Epístola de S. Paulo aos Efésios (5,22 a 6,9) “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor”, “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também

Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.”; “De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo

sujeitas a seus maridos.”

2 Apesar de nas classes populares a mulher também executar tarefas fora de casa, mas claramente definidas como as menos exigentes fisicamente.



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#45

Cultura

A VIOLÊNCIA CONTRA AS

MULHERES E IGUALDADE DE

GÉNERO

resumia exclusivamente ao dever de procriar 3 . Como refere

o autor, “os papéis da esposa eram todos subservientes […]

o marido deveria assumir o papel ativo, a mulher, o papel

passivo” (Idem, p. 81), esperando-se que os homens

fossem “dominadores, aterradores na sua autoridade

patriarcal, egoístas, brutais e nada sentimentais; as

mulheres deviam ser leais, apagadas e submissas” (Idem,

Ibidem, p. 88).

Na Gália do séc. XV dizia-se, “mulher que fala como o homem

e a galinha que canta como o galo não prestam para guardar

[…] Bom cavalo ou mau cavalo precisa de espora. Boa mulher

ou má mulher precisa de pau” (Meurier cit. Flandrin, 1995, p.

133). Mais tarde, na França oitocentista o papel da mulher era

reproduzido em provérbios populares: “Mort de femme et vie

de cheval font l`homme riche […] Deuil de femme morte dure

jusq`à la porte” 4 (Lebrun cit. Shorter, 1997: p. 67),

recordando os autores que os homens podiam bater e castigar

as mulheres desde que não lhes causassem a morte.

Se nas famílias tradicionais, durante alguns séculos, os afetos

parecem ter ficado ausentes, “na família moderna o amor e a

felicidade tornam-se centrais […] triunfa a lógica do

sentimento” (Dias, 2004a, pp. 45-46). Começando nas classes

superiores e mais tarde passando para as classes populares, a

família moderna centra em si o ideal de felicidade e realização

pessoal (Vaquinhas, 2011). No entanto, a mulher permanece

dentro de casa e tem como principais funções o cuidado do lar

e dos filhos. Nesta época, o casamento torna-se central na

organização familiar, ocorrendo uma apologia ao casamento

sendo o matrimónio encarado por muitas mulheres como a

independência dos pais e o único caminho para a sua

liberdade (Dias, 2004a).

Nos anos 60 do século XX, emerge um novo conceito que

pretendeu separar o sexo biológico do sexo “social”, o género

(Crawford, 1995). Com o início dos estudos de género,

percebeu-se que “o determinismo biológico não é suficiente

para compreender a variedade de modos de ser que se

encontram entre homens e mulheres, nem a diversidade de

configurações que as relações entre homens e mulheres

assumem em diferentes contextos sociais” (Amâncio, 2004, p.

9). Neste período, do ponto de vista académico, as

investigadoras tentaram contrariar uma tendência que, de

acordo com os papéis sexuais de cada um dos sexos, atribuía

aos homens um lugar de destaque nas famílias, dado o seu

papel de bread winners, responsáveis pela subsistência da

família, e à mulher o garante da harmonia e bem-estar

emocionais (Idem, Ibidem). Até este período, a ciência tinha

sido dominada por homens tendo as feministas percebido que

o conhecimento científico estava enviesado por uma visão

androcêntrica do mundo social.

3 Ao contrário dos homens para quem os rituais iniciais da sexualidade eram socialmente aceites, sendo frequente o recurso à prostituição.

4 “Morte de mulher e vida de cavalo tornam o homem rico. […] Luto por mulher morta, dura até à porta”.


Pag | 57

Cultura

O caminho até ao presente continuou a ser tortuoso, repleto de

adversidades e distinto nas várias sociedades. Se na maior

parte do “Ocidente alargado” terá ocorrido um percurso

tendencialmente positivo, noutros locais, as desigualdades

mantiveram-se praticamente inalteráveis. A complexidade do

relacionamento entre nações, as sucessivas crises

económicas e o consequente ressurgimento de

movimentos políticos extremistas, parecem estar a arrastar

o mundo para uma bipolarização onde também no

Ocidente os “valores tradicionais” voltam a ser recordados

com saudosismo. Estas ameaças devem lembrar-nos que a

luta pela igualdade de género deve ser contínua e

permanentemente escrutinada, nada está garantido, há

ainda muito para conquistar. •

POR RICARDO GOUVEIA (SOCIÓLOGO)

Bibliografia

AMÂNCIO, L. (2004). Aprender a ser Homem, Lisboa, Livros Horizonte

ANDERSON, K. L. e UMBERSON, D. (2001). Gendering violence: Masculinity and

power in men’s accounts of domestic violence. Gender & Society, Vol. 15, 3, pp.

358- 380.

ARISTÓTELES (1998). A Política [tradução de António Campelo Amaral e Carlos

Gomes]. Lisboa, Editora Veja

CRAWFORD, M. (1995). Talking Difference: on gender and language. London,

Sage.

DIAS, I. (2004a). Violência na Família. Lisboa, Afrontamento.

FLANDRIN, JL. (1995). Famílias – parentesco, casa e sexualidade na sociedade

antiga. Lisboa, Editorial Estampa.

FLANDRIN, JL. (1995). Famílias – parentesco, casa e sexualidade na sociedade

antiga. Lisboa, Editorial Estampa.

LEBRUN, F. (1983). A Vida Conjugal no Antigo Regime. Lisboa, Edições Rolim

OLIVEIRA, A. R. e OLIVEIRA, A. R. (2010). A mulher. In J. Mattoso (dir.) História

da Vida Privada. Idade Média em Portugal. Lisboa, Círculo de Leitores, pp.

300-323.

SHORTER, E. (1995). A Formação da Família Moderna. Lisboa, Terramar

THOMPSON, S., (2006). Was ancient Rome a dead wifes society? What did the

roman paterfamilias get away with?. Journal of Family History, Vol. 31, 1, pp. 3-27

VAQUINHAS, I. (2011). A Época Contemporânea – Introdução. In Vaquinhas,

Irene (org.), José Mattoso (dir.), História da vida privada em Portugal. A Época

Contemporânea, Lisboa. Círculo de Leitores, pp. 6-20.


Pag | 58

#45

Cultura

A MULHER: UM GÉNERO COM

DIREITOS A CONQUISTAR.

“Não se nasce mulher, torna-se mulher.”

Simone de Beauvoir in “O Segundo Sexo”

No século XX, Simone de Beauvoir mostra-nos um novo

entendimento do género feminino. É compreensível na sua

citação uma construção do género, com um agente

implicado na sua formulação e que se apropria desse.

Simone em nada explica que o “ser” que se torna mulher

seja necessariamente uma figura feminina. Como a mesma

afirma, “o corpo é uma situação”, não há como recorrer a um

corpo que já não tenha sido sempre interpretado por um meio

de significados culturais; consequentemente, o sexo não

poderia qualificar-se como uma facticidade anatómica

pré-discursiva. Já no final do século, em 1995, Joan Scott, diz

que o termo “género” se torna, antes, uma maneira de indicar

“construções culturais” – a criação inteiramente social de ideias

sobre os papéis adequados às mulheres e aos homens.

No entender de Judith Butler (2003), “se há algo de certo na

afirmação de Beauvoir de que ninguém nasce e sim torna-se

mulher decorre que mulher é um termo em processo, um devir,

um construir de que não se pode dizer como acerto que tenha

uma origem ou um fim”. Concluímos então que o género é,

segundo estas definições, uma categoria social imposta sobre

um corpo sexuado.

Na Europa Ocidental, a construção do paradigma de mulher

associou-se às religiões monoteístas, particularmente ao

Cristianismo. Na Época Medieval, a construção do

imaginário sobre a mulher, proveniente dos textos do

“Génesis”, concebem a mesma à semelhança de Eva,

retirada da costela de Adão. As reinterpretações feitas dos

textos supracitados ficaram a cargo de religiosos, médicos

e juristas, originando um pensamento estereotipado sobre

as mulheres, onde estas eram frágeis, incapazes e

tentadoras, guiando o homem ao pecado. A sua função

devia estar limitada à reprodução, raciocínio este que

perpetuou a ideia da existência de uma inferioridade

orgânica das mulheres perante os homens.

Durante a Época Moderna, a inferioridade da mulher

continuava enraizada na sua diferença sexual, onde o seu

papel natural se pautava apenas pela reprodução. Já na

contemporaneidade, a separação entre público e privado

inclui também diferenças de género, sendo que o espaço

público era o palco patriarcal por excelência,

predominantemente masculino, enquanto o espaço privado e

doméstico, era o espaço de vivência do sexo feminino,

“partilhando-se da convicção que a «domesticidade» era

condição «natural» da mulher” (Vaquinhas, 2011).

Durante o Estado Novo em Portugal, a família era um elemento

fulcral para fundamentar a visão conservadora do regime

político vigente. Os papéis de género eram diferentes, sendo o

homem tido como ser predisposto a tomar melhor decisões,

tendo uma intelectualidade superior à mulher, alvo de

atribuição de características emotivas, tida como

biologicamente predisposta à reprodução e à devoção ao

marido e aos filhos. A mulher devia preparar as refeições

atempadamente, fazer a manutenção do vestuário e gerir o


Pag | 59

Cultura

orçamento doméstico, a partir daquilo que o marido tinha

previamente definido. Na gestão económica, a mulher

continuava a dever obediência ao cônjuge.

Foi perante toda esta vivência de subordinação que a mulher

se emancipa numa luta pelos seus direitos.

A celebração do Dia Internacional das Mulheres,

comemorado a 8 de março, deve a sua origem à

comemoração organizada pelo Partido Socialista da

América, a 28 de fevereiro de 1909, em Nova Iorque. Num

contexto de mobilização feminina, cabe-nos destacar a

militante comunista alemã Clara

Zetkin como impulsionadora do

desejo de celebrar um dia

anualmente como jornada de luta

pelos direitos da mulher.

É sobre o manto operário que as

demonstrações de apoio se vão

manifestando pela Áustria, Alemanha,

Dinamarca e Suíça, em defesa do direito ao voto feminino e fim

das discriminações laborais de género. A celebração oficial do

Dia Internacional da Mulher como feriado foi declarado após a

Revolução de Outubro de 1917 na Rússia Soviética pelo

governo bolchevique. O cunho deste dia fica

predominantemente associado aos países socialistas e ligado

ao movimento comunista internacional.

A passagem da sua celebração para a Europa Ocidental só

acontece a partir dos finais da década de 60 do século XX, no

Em 1975, a ONU proclama o ano

como o Ano Internacional da

Mulher e, somente, dois anos

depois é que o mesmo é instituído

como data de celebração anual.

contexto da segunda vaga do feminismo, que acrescenta aos

conhecidos temas da igualdade salarial e de direitos civis,

novas reivindicações como a luta pelos direitos reprodutivos e

contra a violência patriarcal. Em 1975, a ONU proclama o ano

como o Ano Internacional da Mulher e, somente, dois anos

depois é que o mesmo é instituído como data de celebração

anual.

Atualmente, o fenómeno da Greve Feminista Mundial procura

retomar a natureza reivindicativa da celebração, recuperando

o espírito transformador e radical que esteve na sua génese,

rompendo com o aproveitamento

corporativo e empresarial da data

celebrada em prol das conquistas de

direitos humanos e laborais. •

POR BEATRIZ MEIRELES RUAS CAMÕES (ALUNA DE

MESTRADO EM HISTÓRIA E PATRIMÓNIO, FLUP)


Pag | 60

#45

Cultura

OS ROSTOS DA GRATIDÃO

Recuando no tempo, mais concretamente à data de criação da

Misericórdia de Santo Tirso (3 de julho de 1885), o

entendimento do género feminino em Portugal estava muito

distante de ir ao encontro da Igualdade tão difundida e

defendida na atualidade. Irrefutável prova disso encontra-se

visível nos primeiros Compromissos da instituição onde,

aquando à procura de informação relacionada com o

enquadramento histórico dos Irmãos Beneméritos, aparecem

referências desiguais - mas legais à época - sobre os critérios

para a sua admissão.

Folheando o Compromisso de 1885, e a propósito da Admissão

dos Irmãos, no artigo 7º do Cap. III é referido que “Ninguém

poderá ser admittido irmão sem que preceda proposta

escripta e assignada por um irmão do sexo masculino (…)”.

Acrescentam ainda: “A’s mulheres casadas e aos menores

não emancipados será exigida auctorisação, por escripto,

de seus respectivos maridos, paes ou tutores.” De seguida,

no cap. IV menciona a obrigação dos irmãos aceitarem

gratuitamente, e exercerem com zelo, todos os cargos para

que sejam convocados. Mas, este capítulo termina com o art.º

15 em que acentua a desigualdade de género vigente: “Dos

irmãos honorários ou beneméritos, dos do sexo feminino e dos

menores, acceitam-se mas não se exigem serviços.” A mesma

regra de não-aceitação de mulher casada para Irmã, sem

autorização do marido, continua no Compromisso de 1901 e

no de 1912: “A mulher casada também não será admitida,

sem auctorisação do respectivo marido.” Aparte as

desigualdades de género, a partir de 1901, um novo direito foi

associado aos Irmãos Beneméritos: “Terão direito estes irmãos

a um retrato a óleo na galeria para esse fim destinada.”

Ao longo dos últimos 122 anos, a instituição cumpriu sempre

com esta orientação, mas respeitando a evolução social e a

defesa da cidadania e igualdade. Outras renovações do

Compromisso sucederam e na mais recente (2015)

continua a figurar, no Art. 5º a importância dos Irmãos

Beneméritos: “Aqueles que, pela sua ação excecional a

favor da Instituição ou por lhe haverem efetuado donativos

ou doações relevantes, se hajam tornado credores da

gratidão da Irmandade, sendo merecedores da atribuição

de tal distinção em deliberação secreta da Assembleia

Geral, mediante proposta escrita e devidamente

fundamentada da mesa Administrativa.”.

Assim, através da sensibilidade do olhar, traço e pincel da

artista plástica tirsense, Filipa Godinho, apresentam-se os

três últimos Irmãos Beneméritos, retratados a óleo, na

sequência da proclamação e aprovação nas respetivas

Assembleias Gerais de Irmãos, que decorreram em 2018

(outubro) e 2021 (junho e novembro, respetivamente).

Figuram dignamente na Galeria de Irmãos/ãs na sede da

instituição: Joaquim Eugénio Sousa Correia de Lima, Maria

Rosalina Ferreira Freitas e Maria Odete Moreira Monteiro. Pela

nobreza dos seus gestos solidários e pelo notável apoio

institucional, foi-lhes reconhecido um conjunto de ações

excecionais em prol da nossa missão, tendo-se tornado

credores de todo o respeito e admiração institucional. Um

grande bem-haja a todos/as eles/as, uma gratidão sem

género, em igualdade. •

POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


Pag | 61

Cultura

Joaquim Eugénio Sousa Correia de Lima Maria Odete Moreira Monteiro

Maria Rosalina Ferreira Freitas


Pag | 62

#45

Cultura

POEMAS

ÀS CUIDADORAS E CUIDADORES

1 – Quando a profissão, é cuidar dos outros, somos capacitados,

(não), pelas mãos dos homens, mas (sim), pelas mãos de Jesus!

Cuidar, é mais que um ato, de nobreza, é uma nobre e sublime atitude,

Só quem ama, o próximo, é capaz, de o (bem) fazer!...

2 – Hoje, eu próprio, testemunho, que vocês cuidadoras e cuidadores, dos outros,

possuem uma simpatia e hospitalidade, como o condão da Natureza,

porque o sorriso abrem, com gosto de bem servir, a quem acaba de chegar,

com vida e alma, de uma raça, bem portuguesa!

E a franqueza manda entrar, para a casa da I.S.C.M.S.T.,

onde o pão é para dois, e chega sempre, para três!!

3 – Os anjos, que cuidam de pessoas, por vezes, também precisam de cuidados,

e eu, faço sinceros votos, para que nesses momentos, vocês cuidadoras e cuidadores,

se possam, sentir também, cuidados! Eu estou certo, que também o sentirão,

porque, vossos superiores hierárquicos, são pessoas de bem, com muito

boa formação moral e de muito boa, compreensão!!

4 – Com muito respeito, carinho e gratidão, a todas as cuidadoras e cuidadores,

bem como a todos os colaboradores, dessa Irmandade, que de uma forma,

ou de outra, colaboram para o bem estar, de todos aqueles, que mais de cuidados necessitam!!... •

POR JOSÉ MARIA MIRRA (FAMILIAR DE UTENTE DO LAR DRA. LEONOR BELEZA)

Poema escrito e oferecido à instituição, em 29-03-2023


Pag | 63

Cultura

A-VÓS PELA IGUALDADE

Mulher bonita e bondosa.

O mundo sem ti não era nada

Após 25 de Abril, tens liberdade de expressão,

até podes desempenhar o mais alto cargo da Nação.

A mulher é bonita bela

o que seria o mundo sem ela? •

POR JOSÉ ARAÚJO (UTENTE DO LAR JOSÉ LUIZ D’ANDRADE - COLABORAÇÃO NA

INICIATIVA A-VÓS PELA IGUALDADE)

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Este espaço que ocupo, neste mundo e nesta página, é único,

Tão diferente e tão igual de qualquer mulher,

Esposa, mãe, avó, filha, irmã, tia, madrinha, confidente, amiga,

cuidadora…

Pilar do lar, gestora da cozinha, da escola e da saúde.

“Milagreira” do tempo.

Qualquer Mulher que ajuda a nascer e a partir, e de permeio

dá o ombro e o olhar.

Sorri com vontade de chorar.

Ser Mulher é este tudo e nada.

É ser noite e madrugada.

É receber e partilhar

É saber abraçar

É ser pomba de Paz e ramo de Oliveira

É Ser brisa, água e sol

É Ser filósofa e obreira.

Ser Mulher é saber ver o Universo num grãozinho de areia. •

POR GABRIELA COSTA (PRESIDENTE DA MESA DA ASSEMBLEIA GERAL)


José Pinto reconduzido como Provedor

in Entre Margens

(Dezembro 2022)

Aniversário da Misericórdia

in Jornal de Santo Thyrso

(Julho 2022)


Peça de Teatro com histórias de vida dos idosos

in Voz das Misericórdias

(Agosto 2022)

Apoio à integração dos Ucranianos em Portugal

in Voz das Misericórdias

(Fevereiro 2023)

Viagem no tempo com ida ao teatro

in Voz das Misericórdias

(Dezembro 2022)

Concerto de Reis do Coral da Misericórdia:

in Jornal de Santo Thyrso

(Fevereiro 2023)


Quais são os 3 locais favoritos em Portugal?

Prefiro o Porto porque é mais grande que Santo Tirso; O

Algarve porque vou de férias para lá; e Póvoa de Varzim

onde vou em agosto fazer praia (gosto de ir à água, mas está

fria e fico ao sol).

O que o deixa cheio de orgulho no concelho de Santo

Tirso?

Santo Tirso é mais pequeno que o Porto, e menos bonito.

Mas gosto de Santo Tirso, especialmente de passar na rua

dos bares e no parque.

E na Misericórdia?

Gosto de trabalhar na Misericórdia.

Estou a trabalhar com elas, gosto muito delas, e elas gostam

de mim, sentem carinho por mim…

Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente?

Gosto de rancho e de ouvir a Rádio Voz de Santo Tirso.

Gosto do Toni Carreira e de música portuguesa.

E o filme que marcou a sua vida?

Não tenho, mas gosto de ir ao cinema ao NorteShopping.

Um livro para ler antes de dormir?

Não leio.

RE

VE

Prefere praia ou cidade?

De vez em quando gosto da cidade, e de vez em quando

gosto da praia (quando está quente).

Se pudesse escolher a vista de sua casa, como seria?

Escolhia poder ver melhor a vista da cidade de Santo Tirso.

O que valoriza no ser humano?

Gosto de pessoas carinhosas e alegres.

Como recorda a integração profissional na Misericórdia?

Vim de Guimarães, da CERCIGUI. Estava num Curso de

Cozinha e em 2015 vim estagiar para a cozinha da

Misericórdia. Depois do estágio acabar eu disse que não

queria ir embora…e pedi para ficar aqui para sempre…

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