ARCÁDIA | Arquieturas de Escape
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Imersa em um contexto em que a arte tende a se espacializar, a Land Art trouxe trabalhos em que corpo e espaço estabeleciam uma forte
relação. As intervenções na paisagem viabilizavam a externalização do contato entre objeto artístico e espectador, propondo uma experiência
perceptiva onde o indivíduo encontra-se englobado pela proposta e faz parte dela. Percebe-se que há, nesse sentido, uma aproximação entre
os discursos evocados pelas produções artísticas in situ com os estudos sobre a paisagem observados em Michel Collot4. A apreensão da
paisagem a partir de uma lógica de interdependência entre indivíduo e meio também está presente nos estudos do autor. Em seu texto “Pontos
de vista sobre a percepção de paisagens (1986)” ele observa que a paisagem se revela numa experiência em que sujeito e objeto não se
separam, não somente porque o objeto espacial é constituído pelo sujeito, mas também porque o sujeito encontra-se englobado pelo espaço5.
Para ele, a paisagem se define como “espaço ao alcance do olhar e à disposição do corpo”, e que esse se torna o “eixo de uma organização
semântica do espaço
As obras de arte-paisagem muitas vezes pensadas levando em consideração o conceito site specific, eram dispostas em lugares ermos, o que
demandava artifícios imagéticos capazes de registrar e representar os processos e resultados, dando origem a fotografias, croquis e projetos,
produtos que propagaram a obra de diversos artistas e tornaram possíveis novos modos de encontro estético, onde o caráter discursivo das
obras se potencializa e se estabelece em primeiro plano. Configura-se, desse modo, um reencontro entre a prática artística e a questão da
paisagem.
Trazer considerações sobre o movimento Land Art ao corpo deste trabalho é um exercício pertinente na medida em que o trabalho de artistas
inseridos nesse contexto bem como o de artistas que sofreram influência dessa corrente artística trazem ricas referências sobre como a
dimensão estética da paisagem pode ser abordada em um recorte contemporâneo e sobre as formas de se pensar e de se produzir o espaço
no que tange às questões da abordagem do sítio, implantação, desenho e experiência perceptiva, aspectos relevantes para as intenções do
presente trabalho.
Observatory, Robert Morris, 1977. Fonte: Landartflevoland
O Minuano, 2000. Nuno Ramos. Fonte: https://www.nunoramos.com.br/
4Professor da Universidade Sorbonne-Nouvelle - Paris III, atua no estudo da poesia francesa moderna e contemporânea, utilizando-se do tema da paisagem para tratar de
questões como a relação entre a poesia e o espaço bem como a abordagem do eu-lírico a partir de uma lógica contemporânea da subjetividade.
5Pontos de vista sobre a percepção de paisagens, Michel Collot, in: NEGREIROS, Carmem; LEMOS, Masé; ALVES, Ida. Literatura e Paisagem em diálogo. Rio de Janeiro: Edições
Makunaima, , p. 13.
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