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Haifa em árabe, Jope em grego antigo, ou Yafo em hebraico. Em qualquer idioma, o sentido é o mesmo.
Quando menino, eu gostava muitíssimo de ouvir a história do lugar onde vivia.
Haifa foi fundada antes de serem iniciados os registros.
Ela é mencionada como uma cidade cananita na lista de tributos do Faraó Tutmos II no século XV A.C., antes de Josué ter
travado a batalha de Jericó. Foi nela que o rei fenício de Tiro, Hirão, descarregou madeira de cedro para o templo de
Salomão.
Embora fascinante, a história não fora bondosa com a minha cidade. Haifa tinha sido invadida, capturada, destruída e
reconstruída várias vezes. Simão Macabeu, Vespasiano, os mamelucos, Napoleão e Allenby, todos se apossaram dela.
Haifa veio a ser colocada em uma nova nação, o estado profetizado de Israel, só seis anos antes do meu nascimento. Mas a
comunidade propriamente dita não era judia.
O prefeito Hinn
Meu pai foi prefeito de Haifa durante a minha infância. Ele era um homem forte, com cerca de 1,85m e 120kg e uma
capacidade natural para a liderança. Era forte em todos os sentidos – fisicamente, mentalmente e na sua vontade férrea.
Sua família imigrara da Grécia para o Egito antes de estabelecer-se na Palestina.
Mas “ser de outro lugar” era comum. Haifa da minha infância era verdadeiramente uma cidade cosmopolita.
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Andando pela Rua Raziel e entrando na Tower Square onde se acha a Abdul Hamid Jibilee Clock Tower, a cadeia com muros
de pedra, e a Grande Mesquita, construída em 1810, eu podia ouvir os habitantes conversando em francês, búlgaro, árabe, e
outros idiomas. Nos quiosques e cafés ao ar livre, eu saboreava baklava , zlabiya, falafel, sum-sum, e dúzias de outras
delícias.
Ali estava eu então, nascido em Israel, mas sem ser judeu. Criado numa cultura árabe, mas não de origem árabe. Freqüentando
escola católica, mas educado como grego ortodoxo.
As línguas são fáceis de aprender nessa parte do mundo. Eu pensava que todos deveriam falar três ou quatro delas. Nós
usávamos o árabe em nossa casa, mas na escola as freiras católicas ensinavam em francês, exceto o Antigo Testamento, que
era estudado em hebraico antigo.
Durante minha infância, os cem mil habitantes de Haifa haviam sido engolidos pela população judia de Tel Avive, em
explosão para o norte. A metrópole hoje tem o nome oficial de Tel Avive Haifa. Mais de quatrocentas mil pessoas vivem
nessa área.
Tel Avive começou na verdade com uma experiência judia em 1909, quando sessenta famílias compraram 32 acres de dunas
arenosas desguarnecidas ao norte de Haifa e foram se estabelecer ali. Elas estavam cansadas do confinamento e do ruído dos
quarteirões árabes onde viviam. A expansão continuou até que Tel Avive se tornou a maior cidade de Israel.
Embora meu pai não fosse judeu, os líderes israelitas confiavam nele. E ficaram felizes em ter alguém em Haifa que pudesse
comunicar-se com uma comunidade internacional. Tínhamos orgulho do seu círculo de amigos, que incluía muitos líderes
nacionais. Ele foi convidado para 22
ser embaixador de Israel em países estrangeiros, mas preferiu permanecer em Haifa.
A família não recebia, porém muito do seu tempo. Eu não posso, na verdade, dizer que conhecia meu pai naquela época. Sua
presença parecia ser sempre exigida em alguma função oficial ou reunião importante.
Meu pai não era uma pessoa extrovertida, mas rigorosa, e raramente manifestava qualquer sinal de afeição. (Minha mãe, no