Revista Grid - 6ª edição
Somos a vitrine mais nobre do automobilismo para o seu produto e sua carreira.
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PILOTO GRID
“Eu só tinha uma
bala e errei o tiro”
Djalma Fogaça fala do caminho que tentou trilhar
rumo à Fórmula 1, admite frustrações na carreira e hoje
curte a condição de empregado do filho na Copa Truck
Luc Monteiro
Duda Bairros, Vanderley Soares e Arquivo pessoal
São mais de 40 anos de dedicação ao automobilismo,
em vários deles conciliando categorias
diferentes. Uma equação que resulta em pelo menos
questões: uma, quantos seriam os carros de
corrida já pilotados por Djalma Fogaça?; outra,
de quantas corridas o sorocabano já participou
na vida? Ele próprio responde – ou, no caso, evita
responder. “Não acho que seja possível chegar a
um número exato, ou mesmo próximo”, desvia.
Fogaça completou 60 anos em abril. Passou
dois terços da vida pingando de autódromo em
autódromo, no Brasil e em várias partes do mundo.
Trajetória improvável para quem foi apresentado
ao kart sem nunca ter acompanhado uma
corrida na vida. “Nem de kart, nem de Fórmula
1, nem de turismo, nada”, conta. “Na minha estreia,
inclusive, a minha corrida era a dos novatos,
a primeira do dia. Eu sequer sabia como era uma
largada”, diverte-se.
Outro fator dificultava a presença de Fogaça nas
pistas: ninguém da família tinha qualquer ligação
com o mundo das competições. Na época da estreia
em um torneio de verão em fins de 1982 em
Ribeirão Preto, quando descobriu na marra aos
19 anos como era uma largada de kart, Wladimir
Fogaça, seu pai, era proprietário de meia dúzia
de caminhões. Seu foco era o negócio que tratava
de iniciar. Não havia tempo para corridas, nem
interesse por isso.
“Eu corria de kart e em carros de turismo por
hobby, não tinha pretensão de seguir carreira. Era
totalmente amador e tudo era novidade”, lembra
o piloto, que viria rapidamente a saber bem mais
que seus vinte e poucos anos. Em 1984 decidiu
Trajetória veloz: o início no kart, o título brasileiro na F-Ford e as atuações na F-3 sul-americana
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Com Senna no grid da F-3 em Interlagos, a atuação na F-Opel europeia e o título da F-Chevrolet
comprar um Fórmula Fiat de segunda mão, carro de
cinco anos antes, e participou de seu primeiro Campeonato
Brasileiro de automobilismo. “Aí as coisas
correram em uma velocidade espantosa”, reconhece.
Em 1985 saltou para a Fórmula Ford. Foi vice no
Paulista, que tinha notável relevância, e terceiro
no Brasileiro. No ano seguinte, de novo terceiro na
versão nacional, com pole na etapa final, e campeão
paulista. “Fiz 17 corridas e meti 10 poles com
um chassi Heve, que não vendia dois carros por
mês. Na metade do ano fui pilotar pela fábrica
Heve, do Herculano Ferreira. Vendeu 18 carros em
cinco meses, acabando com o domínio do chassi
JQ”, revive.
A consagração poderia vir em 1987. Depois de vencer
a abertura da F-Ford em Florianópolis, decidiu se
aventurar na Inglaterra, sem falar uma única palavra
em inglês. “Foi meu maior erro no automobilismo,
não falar essa língua”, reconhece. “Fiquei quase duas
semanas por lá, não me acostumei com o frio, montei
no avião e vim embora”. Convidado por Mauro
Vogel em 1988 a defender a Texaco-Petrópolis, melhor
equipe da F-Ford, foi enfim campeão brasileiro.
“Fui campeão e o meu nome estourou no norte”,
reverencia, usando de uma gíria sem muito sentido.
Depois de dois anos na Fórmula 3 da América do
Sul, voltou à Europa em 1991. “Foi outro erro. Tinha
220 mil dólares de patrocínio, com essa grana andaria
em uma boa equipe da Indy Lights nos EUA e
minha carreira teria decolado, pelo tanto que eu era
forte nos fórmulas. Eu só tinha uma bala no pente e
errei o tiro”, admite, com certa amargura.
Aos 60 anos,
Djalma Fogaça
mantém na Copa
Truck uma das
trajetórias mais
aplaudidas pelo
público
5
Ação na F-Uno e no Superturismo Sudam, nos anos 90, e nas 1000 Milhas, já nos anos 2000
O tiro errado foi na Fórmula Opel. “Das 15 etapas,
nove eram preliminares da Fórmula 1 e eu
queria aprender as pistas da Fórmula 3000, que
era a Fórmula 2 da época, último degrau para a
F-1. Fiz um campeonato de altos e baixos e terminei
em quinto, o melhor dos quatro brasileiros
que estavam lá”. Nem a vitória em Imola, momentos
antes de Ayrton Senna vencer o GP de
San Marino, abriu portas. “Nem de longe os caras
olham para essas categorias inferiores”.
Em 1992 chegava ao Brasil a Fórmula Chevrolet,
idêntica à F-Opel. “Eu conhecia o carro, os pneus,
aceitei de pronto o convite do Mauro Vogel para
correr na equipe dele. Na estreia, preliminar do
GP do Brasil, deu até dó dos moleques. Ganhei
com 36s de vantagem. Fui campeão, mas nunca
estive focado. Talvez um pouco frustrado por não
conseguir a F-3000, mesmo que fosse no Campeonato
Inglês. Foi um título que não me acrescentou
nada”, estipula.
Depois de
desistir várias
vezes da
aposentadoria,
o piloto de
Sorocaba
disputa a Copa
Truck com
o Mercedes
número 72
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Mesmo com filho de colo, Djalma estava
propenso a vender tudo o que tinha, juntar
as economias e tentar a vida no automobilismo
norte-americano. “Eu tinha 30 anos,
os caras da Indy eram da faixa de 35 a 40,
então eu pensei em montar um projeto para
tentar um patrocínio e fazer um ano na Indy
Lights. Aí morreu um piloto lá, com uma cabeçada
no muro. Decidi que não valeria a
pena. Era o fim da minha história com os
fórmulas”, arremata.
A primeira guinada de carreira teve como
foco a Stock Car, onde o “caipira voador”
– apelido que recebeu do narrador Luiz
Carlos Largo – permaneceu de 1994 a 1996,
vencendo três corridas, inclusive a preliminar
da primeira etapa brasileira da Indy, em
Jacarepaguá. Foi ao pódio em sete de suas
31 corridas e terminou seu último campeonato
em terceiro lugar. Em 1997, apostou na
Fórmula Truck, que vivia seus primeiros momentos
com estrondoso sucesso.
Foi o início de uma nova vida. Tanto que
mantém até hoje o envolvimento com as corridas
de caminhões, estando desde 2017 na
Copa Truck. A fundação da categoria marcou
a passagem de bastão: a equipe passou a ser
de Fábio Fogaça, o filho que o acompanhava
no colo nas corridas dos anos 90 e, sem surpresas,
também virou piloto – vai se tornar
papai em abril do ano que vem. Djalma Santos
Fogaça, que um dia sonhou pilotar para
os donos dos carros de Fórmula 1, hoje pilota
para o filho. “No fim, me dei bem!”.
Filho e sucessor: Fábio Fogaça assumiu em 2017
o comando da equipe de competições da família
Com Rubens Barrichello e o filho Fábio, pilotando Dragster e vencendo na Stock Car no Rio
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FORMULA 1
A pergunta nem é
quem, mas quando
Com Max Verstappen colocando nove de dez dedos
no troféu, circo aproveita ao máximo quando pode correr
sem o favoritismo da Red Bull. Singapura que o diga!
Bruno Vicaria
Pirelli Media
A temporada de 2023 da Fórmula 1 já tem seu
lugar ao lado de campeonatos emblemáticos
como os de 1988, 1992 e 2002, para apontar os
mais significativos, como uma das mais tranquilas
e humilhantes imposições de forca da história.
Desta vez é a Red Bull quem reedita o que
no passado fizeram McLaren, Williams e Ferrari.
Muitos dizem ser a temporada perfeita de um
carro perfeito e um piloto quase lá. O ciclo de
dez vitórias consecutivas de um piloto só e de
15 conquistas seguidas da Red Bull – um recorde
absoluto na categoria – dificilmente será repetido.
Até porque as equipes estão alcançando os
austríacos no desenvolvimento da atual geração
de carros. E, com as novas regras, tudo deve
mudar de novo em 2025.
Acumulando recordes,
Max Verstappen vê-se
cada vez mais próximo
do tricampeonato
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Por conta disso, a própria Red Bull e Max Verstappen
trataram de saborear bem o momento quando
a marca caiu no GP de Singapura. A introdução
de uma nova regra em relação às asas dianteiras,
que passaram a ser mais flexíveis, e um update não
tão bem-sucedido quanto os anteriores viu o time
dominante ser somente a quinta força nas ruas de
Marina Bay.
“Passar 15 corridas seguidas vencendo estava além
da nossa imaginação. Para o Max vencer dez seguidas
é uma insanidade. A última vez que alguém fez
aquilo foi Sebastian Vettel em um de nossos carros,
o que nos faz ter os dois melhores números nessa
estatística”, comenta Christian Horner, chefe da
Red Bull.
“Se eu fiquei chateado com a quebra da sequência?
Não, pois a gente nunca esperou isso. A gente
não liga muito para as estatísticas, mas temos orgulho
delas. Quebrar uma marca que vem de 1988
mostra como é difícil alcançar esse tipo de supremacia”,
orgulha-se Horner.
“Vencer 15 provas seguidas é algo impensável se
você considerar a variedade de circuitos e condições
que atravessamos. E foi uma linda jornada,
pois sempre soubemos que uma hora ela acabaria.
Este tem sido um ano incrível e que nos orgulha
muito”, completa o dirigente, que tem o endosso
do atual campeão mundial.
“Eu sabia que este dia chegaria, então para mim
está tudo certo, sem dramas”, afirma Max, cuja
maior preocupação é saber quando que ele vai liquidar
o campeonato de forma matemática – a Red
Bull já deve sacramentar o título de construtores no
Japão ou, mais tardar, no Catar.
“Para os olhos do mundo, tudo precisa ser perfeito.
Todo mundo está sempre dizendo: ‘Ah, olha
como eles são dominantes, olha como é fácil’. Mas
nunca é fácil e aconteceu de não conseguirmos
acertar em Singapura”, completa Max, cuja derrota
foi celebrada com muita festa pelos rivais e pelo
público, cansado de ouvir o hino holandês quase
todo santo domingo.
“É uma lufada de ar fresco que temos com um
vencedor diferente, um pódio sem eles. Você tem
que levar os pequenos pontos positivos em um ano
de domínio da Red Bull”, comenta Toto Wolff, que
hoje sente o gostinho de ser coadjuvante após muitos
anos de Mercedes na frente.
“Mas acreditamos que foi uma situação de momento
em Singapura, uma etapa diferente, e que
eles retornarão à forma dominante na sequência do
calendário em pistas mais tradicionais”, reconhece
o rival, para desespero do público, que viu em Singapura
a melhor corrida do ano e um retrato interessante
de como seria o campeonato sem a Red
Bull na frente.
Carlos Sainz firma-se cada
vez mais como primeiro
nome da Ferrari, onde
Charles Leclerc parece
ter perdido o foco
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Hamilton e Russell vivem fases distintas na tentativa da Mercedes de voltar à ponta
O alto equilíbrio apresentado entre Mercedes, McLaren e Ferrari vem proporcionando há muito
tempo na temporada 2023 o ponto alto das disputas nas corridas. Isso sem contar quando
outro time da meiuca acerta na evolução, como a Aston Martin, a Williams ou a Alpine.
A disputa nas voltas finais de Singapura, com Carlos Sainz administrando a vantagem sobre
Lando Norris e permitindo a aproximação do rival (e amigo) conforme lhe era conveniente
para que os dois não deixassem a dupla da Mercedes, de pneus novos, atacar, entra direto
para o “top 3” de grandes momentos da temporada.
E, não, o leitor da Revista Grid não está errado. Em nenhum momento desta abordagem citamos
o nome de Charles Leclerc. É que o monegasco parece estar entrando em uma espiral
negativa cada vez maior dentro da Ferrari, que não consegue encontrar mais motivos para
protegê-lo das críticas.
Ele integra um quarteto de pilotos que vive o “núcleo dramático” da temporada ao ver tudo
dar errado e nada ajudar, ao lado de George Russell, que bateu sozinho na última volta em
Singapura e chorou ao dar entrevistas, Logan Sargeant, único sem contrato garantido e sucumbindo
aos erros, e Lance Stroll, que, mesmo sendo filho do dono da Aston Martin, vem
cometendo falhas inaceitáveis até para o pai.
Alguns pilotos estão bastante de olho em algumas dessas situações, principalmente na de
Sargeant, que está no paredão sem um contrato garantido. Foi reportado que Felipe Drugovich,
brasileiro campeão da Fórmula 2 no ano passado, teria aberto conversas com a Williams
para ocupar essa vaga, uma vez que não tem espaço na Aston Martin e a Alfa Romeo renovou
com o chinês Guanyu Zhou por mais um ano.
Para o torcedor, que esgotou os ingressos para o GP de São Paulo de 2023 em tempo recorde,
o sonho maior é poder ter novamente um representante brasileiro de forma regular no
grid, coisa que não acontece desde a despedida de Felipe Massa, também em uma Williams
- a equipe cuja história de amor e ódio com o brasileiro, tomara, está longe de acabar.
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O pódio sem pilotos da Red Bull, algo que a Fórmula 1 não via desde o GP de São Paulo de 2022
A torcida brasileira vislumbra
a ida de Felipe Drugovich
para a vaga de
Logan Sargeant na Williams
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FORMULA 1
Os dez melhores
GPs no Brasil
Em 2023, Interlagos recebe a prova de número 50
do Brasil na F-1 e nada mais justo que montarmos
o “top 10” definitivo de melhores corridas
Bruno Vicaria
GP experimental com 12 carros em Interlagos e festa de Emerson pelo segundo lugar no Rio
O ano de 2023 marca o aniversário de 50 anos de presença oficial do Brasil no calendário da Fórmula 1.
Após uma primeira edição bem-sucedida em 1972, em prova não válida pelo campeonato, o país se estabeleceu
de vez no ano seguinte, na esteira do título mundial de Emerson Fittipaldi, e hoje ocupa um lugar
especial no calendário como uma prova favorita de público e pilotos.
Para esquentar as turbinas visando a edição número 50 do GP – que não foi realizado em 2020, permitindo
o número redondo em 2023 –, juntamos um colegiado à altura para definir a que consideramos a
lista definitiva de melhores corridas da história em solo brasileiro. Participaram da votação os jornalistas
Flavio Gomes, Fabio Seixas, Sergio Mauricio, Mariana Becker, Téo José, Tiago Mendonça e Luc Monteiro.
A dica que a gente dá é a seguinte: praticamente todas elas estão disponíveis no YouTube e no F1TV,
muitas delas na íntegra, então vale a pena saborear essa reportagem enquanto acompanha os lances no
computador.
Menções honrosas - 1972 e 1978 (10 pontos)
Nosso único empate no ranking é emblemático: a primeira corrida de F-1 em São Paulo, em 1972, ainda
não valendo pontos, e a primeira no Rio de Janeiro, que revitalizava o finado Jacarepaguá e se posicionava
como substituto ideal do então decadente Interlagos, que vivia uma situação bem oposta seis anos antes.
Após receber provas de avaliação de categorias menores como F-3 e F-2, a toda poderosa F-1, impulsionada
pela turma formada pelos irmãos Fittipaldi, José Carlos Pace e Luís Pereira Bueno, decidiu
enfrentar os mais de 7 km de Interlagos depois de abrir a temporada na Argentina. Mesmo com grid
baixo, de 12 carros, as arquibancadas lotaram, a cobertura da imprensa foi grandiosa, Emerson Fittipaldi
completou a festa e o GP ganhou uma vaga permanente que dura até hoje.
Seis anos depois, o cenário era o oposto. Mal-cuidado, Interlagos gerou tantos acidentes por conta do
asfalto e das ondulações em 1977 que as equipes se recusaram a voltar. Aproveitando a oportunidade,
o Rio de Janeiro reformou Jacarepaguá e o combo praias-festa-pista boa gerou aprovação imediata.
Para coroar, Emerson levou seu Fittipaldi de quinto para segundo, no melhor resultado da equipe, e
Jacarepaguá passou a ser a casa do GP nos anos 80.
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10 - GP do Brasil de 2009 (12 pontos)
A temporada de 2009 pode ser considerada uma
das mais difíceis e encantadoras da história da Fórmula
1. O escândalo do Cingapuragate, a mudança
completa de regulamento, a saída de várias montadoras
por conta de uma crise global e a criação às
pressas da Brawn, sob as cinzas da Honda, com um
carro que nasceu perfeito, criou um enredo incrível
que teve em Interlagos o seu grande clímax.
Para os brasileiros, acrescente-se a este roteiro a presença
de Rubens Barrichello, declarado fora da F-1 até
semanas antes da primeira prova e brigando pelo título,
e ainda as que seriam as últimas vitórias do Brasil, e
também o grave acidente de Felipe Massa, que praticamente
encerrou sua fase de ouro na categoria.
Com chances matemáticas, mas ainda reais, Barrichello
precisava largar na pole e vencer. Jenson Button
precisava dele mesmo: seu quinto lugar, diante
da oitava posição do brasileiro, foi suficiente para o
título histórico dele e da equipe, que no ano seguinte
se transformou em Mercedes.
A prova também ficou marcada pelos diversos acidentes,
como o de Kimi Raikkonen nos boxes, cuja
Ferrari virou uma bola de fogo por um segundo após
entrar em contato com combustível que vazava de
outro carro.
Barrichello foi pole e tinha chances,
mas Button, em quinto, foi o campeão
9 - GP do Brasil de 1989 (14 pontos)
A última corrida de Jacarepaguá como palco de um GP do Brasil de Fórmula 1 foi digna de uma grande
despedida. Ainda não se sabia na época, mas uma série de eventos – como um acidente pré-temporada que
deixou Phillipe Streiff paraplégico após um atendimento médico precário – e uma jogada de mestre da Prefeitura
de São Paulo, que reformou Interlagos em tempo recorde com a bênção de Ayrton Senna, provocariam a
volta da prova a solo paulista em 1990.
O GP de 89 em si foi divertido, emocionante e histórico. Logo na largada, Ayrton Senna se envolvia em
acidente e seguia sua sina de ir mal no Brasil. Em contrapartida, Maurício Gugelmin, em tarde iluminada, foi
o grande herói do dia, indo ao pódio em terceiro. Seu resultado só não foi mais importante que a vitória de
Nigel Mansell, a primeira dele com a Ferrari, logo na estreia pela equipe, e a primeira de um carro com câmbio
semiautomático – que mudaria a história da F-1 nos anos seguintes.
Mansell estreou com vitória na Ferrari e teve a companhia de Prost e Gulgemin no pódio do Rio
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8 - GP do Brasil de 1983 (15 pontos)
A corrida de 1983 entra mais para a história por ser uma
“revanche” do que aconteceu no ano anterior e pelo fato
de ter sido a primeira vez que o famoso “Tema da Vitória”
tocou na Rede Globo após uma vitória brasileira.
Campeão mundial em 1981, Nelson Piquet havia vencido
de forma heroica a prova em 1982, com direito a
desmaio no pódio, mas teve o triunfo retirado após ser
descoberta uma artimanha na Brabham no carro do brasileiro,
que largava com um tanque cheio de água para
despejá-la pelo caminho durante a prova, o que deixava
o carro mais leve.
No entanto, para aquela edição, o time tinha uma outra
carta na manga: o reabastecimento, prática que eles
mesmo desenvolveram e estava começando a ser copiada
pelos rivais. Desta forma, Piquet, que começou a
prova em terceiro, pulou rapidamente para primeiro e
deu a arrancada rumo ao bicampeonato com uma conquista
que ninguém conseguiria tirar no tapetão.
Prost rodou no aguaceiro. Melhor
para Senna, craque no molhado...
7 - GP do Brasil de 1993
(18 pontos)
Nelson Piquet em ação com sua Brabham:
desta vez o piloto brasileiro ganhou e levou!
Lembro bem da corrida de 2004, uma das
únicas vezes que ganhei o bolão, apostei na vitória
do Montoya (a outra vez que levei o bolão foi no
primeiro Roland Garros do Guga), e da de 2012, o
campeonato do Vettel contra Alonso, climão
horrível dos dois no paddock, entrevistas
superapimentadas”
MARIANA BECKER
A segunda vitória de Ayrton Senna
em sua terra natal foi tão emblemática
quanto a primeira, em 1991, mas bem
menos dramática do ponto de vista do
torcedor brasileiro. Mais que a vitória do
tricampeão, as circunstâncias de corrida
maluca colocaram a prova de 1993 em
um lugar especial no coração do fã de
F-1 – e confessamos que apostávamos
em ver esta prova em uma posição mais
alta em nosso ranking.
Com um carro inferior e um contrato
por corrida para irritar a McLaren, Ayrton
Senna contou com o clima de Interlagos
para fazer sua mágica. O temporal
homérico provocou a primeira entrada
de um Safety Car na história de um GP,
tirou o então líder Alain Prost da disputa
e embolou todos os pilotos, que estavam
bem espalhados pela pista, e deu ao modelo
Fiat Tempra seu lugar na história
como o carro de segurança mais lembrado
de todos os tempos.
Quando a pista secou e a relargada foi
dada, Senna se aproveitou da então inexperiência
de Damon Hill para fazer uma
ultrapassagem de mestre no Laranjinha
e vencer sem problemas, provocando
uma invasão de pista e atirando o piloto
aos braços do público. Uma cena que até
hoje arrepia e emociona.
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6 - GP do Brasil de 1975 (20 pontos)
A prova de 1975 é marcada por ser a primeira vez
que o torcedor brasileiro e a comunidade do esporte
a motor nacional sentiam um gostinho de algo especial
que não acontece com muita frequência na
F-1 até hoje: uma dobradinha com pilotos do mesmo
país no topo do pódio na corrida de casa.
Nas corridas em solo brasileiro, isso só aconteceu
em duas oportunidades: 1975 e 1986. Enquanto, na
segunda oportunidade, a conquista foi mais badalada
pelo momento do país no esporte, com Piquet no
auge e Senna decolando, a primeira foi muito mais
celebrada justamente por ter sido inesperada.
Com José Carlos Pace em uma mediana Brabham,
os brasileiros voltaram seus olhos para o bicampeão
Emerson Fittipaldi, que largaria em segundo, atrás
de Jean-Pierre Jarier. Mas uma largada péssima fez
o favorito cair para sétimo e, a partir de então, as
atenções foram para Pace, que perseguia os líderes
Jarier e Carlos Reutemann, passando o argentino e
vendo o francês abrir 30 segundos na frente.
Pace viu Jarier abandonar com problemas de freio
e Fittipaldi se aproximar perigosamente. O alívio se
transformou em festa na bandeirada com a primeira
dobradinha da história em uma vitória que seria a
única de Carlos Pace, morto em 1977 em acidente
aéreo. Dez anos depois do resultado histórico seu
nome foi dado – com muito mérito, diga-se – ao autódromo
de Interlagos.
Largada do GP de 1975, que teve Pace
e Fittipaldi comemorando a dobradinha
A vitória em Interlagos foi a única da
carreira de José Carlos Pace na F-1
5 - GP do Brasil de 2003 (23 pontos)
Barrichello chora a vitória perdida e
‘Fisico’ e Raikkonen trocam troféus
Se alguém te pedir um exemplo de uma corrida maluca, o GP do
Brasil de 2003 é o exemplo perfeito. Um temporal antes da largada
e nas voltas finais, uma poça d’água que transformou a Curva
do Sol em um estacionamento de luxo, acidentes grandiosos de
Mark Webber e Fernando Alonso, um incêndio e até uma mudança
de vencedor dias depois marcaram esta edição.
Isso sem falarmos da inacreditável derrota de Rubens Barrichello,
que rumava para a vitória e viu seu carro ficar sem gasolina – algo
que a Ferrari não consegue explicar até hoje – na chance mais
concreta que ele teve até hoje em sua cidade natal.
No meio de toda essa confusão estava o Jordan de Giancarlo
Fisichella, que conseguiu jogar com a estratégia e se viu ultrapassando
o líder Kimi Raikkonen na curva do Pinheirinho duas voltas
antes dos acidentes que provocaram a bandeira vermelha.
Terminada a corrida, Eddie Jordan não sabia com o que se desesperava
mais: com o erro de cronometragem que apontava Fisichella
em segundo ou com o carro do italiano pegando fogo no
parque fechado. Por fim, na prova seguinte, Fisichella recebeu das
mãos de Raikkonen o troféu da corrida mais maluca da história.
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Nem a batida com Bruno Senna no início do GP
impediu o tricampeonato de Sebastian Vettel
4 - GP do Brasil de 2012 (34 pontos)
Entre os anos de 1973 e 2003 as corridas no Brasil ficavam
no início do calendário, chegando a abrir algumas temporadas.
A partir de 2004, passou para o outro extremo, encerrando
muitas temporadas e passando a definir campeonatos.
Foi assim em 2005, 2006, 2007, 2008, 2019 e 2012, prova que
recordamos agora.
Era uma temporada histórica com oito vencedores diferentes
nas oito primeiras corridas e uma batalha épica entre Fernando
Alonso e Sebastian Vettel. O espanhol, em sua chance mais
concreta de título com a Ferrari, precisava vencer e contar com
um deslize de Vettel, 17 pontos à frente. Esse deslize quase veio.
Partindo de quarto em uma pista úmida, Vettel se viu rodado
e acertado violentamente por Bruno Senna na descida
do Lago. A partir daí, deu início a uma recuperação frenética
com um carro aerodinamicamente deteriorado pelo choque.
Alonso, por sua vez, era o segundo, resultado que, naquelas
circunstâncias, lhe daria o tri. No entanto, o tricampeonato
ficou mesmo com Vettel, que salvou um sexto lugar e fechou
2012 com apenas três pontos de vantagem.
A corrida de 2021 eu
pude viver ela
intensamente e o
resultado dela só ajudou
a torná-la ainda mais
inesquecível para mim”
SÉRGIO
MAURÍCIO
O GP de 1988 foi
marcante para mim por
ter sido a minha
primeira cobertura in loco
de um GP de F-1. Além
disso, testemunhava o
início de uma nova era
naquele momento,
a era Senna”
FLAVIO
GOMES
3 - GP de São Paulo de 2021 (37 pontos)
16
Hamilton, em fim de semana de
gala, sua extravasou brasilidade
Quem dormiu após o GP do Brasil de 2019 e acordou às vésperas
da corrida de 2021 no Brasil encontrou um mundo diferente. Não
só por causa da Covid, mas a própria F-1 havia se transformado
profundamente neste período. A nova gestão apostou e acertou
no público jovem e, principalmente, no norte-americano, ao abrir
as portas da F-1 para a internet e para o público, cujo impacto da
série “Drive to Survive” no Netflix reverbera até hoje. Se, em 2019,
estava em baixa, dois anos depois ela vivia sua melhor fase.
A prova em Interlagos também foi revitalizada, ganhou um novo
promotor e passou a se chamar GP de São Paulo. O regulamento,
congelado por conta da pandemia e do novo carro que sairia no
ano seguinte, proporcionou a temporada mais equilibrada desde
2012 e a guerra entre Lewis Hamilton e Max Verstappen ganhou
um novo e especial capítulo em São Paulo.
Empossado cidadão brasileiro, Hamilton se viu partindo em último
na corrida Sprint, terminando em décimo e fazendo a corrida
de sua vida no domingo, ultrapassando Max Verstappen no braço em sua segunda tentativa, vencendo
a prova e carregando a bandeira brasileira no fim, para delírio do público. Hamilton nunca foi tão brasileiro
quanto naquele dia.
2 - GP do Brasil de 2008 (48 pontos)
Quem é brasileiro e esteve presente naquele dia no autódromo
de Interlagos nunca testemunhou um silêncio tão grande
quanto o da hora em que Lewis Hamilton ultrapassava um
Timo Glock sem pneus na curva final e garantia, com um ponto
de vantagem, o título em cima de Felipe Massa.
O brasileiro teve um fim de semana impecável: pole e vitória
liderando praticamente todas as voltas, mesmo quando
a chuva começou de leve no fim e fez Hamilton cair para
quinto, ultrapassado por um então novato Sebastian Vettel
a duas voltas do fim, posição que daria o título ao brasileiro.
O piloto da Ferrari, quando recebeu a bandeirada, estava
como campeão mundial – a ultrapassagem de Hamilton sobre
Glock ocorreu dez segundos depois. Sua família comemorou
antes da hora, sendo interrompida por um mecânico
da Ferrari em uma cena emblemática e constrangedora ao
mesmo tempo. No fim, a comemoração honrosa de Massa
no pódio, em um misto de alegria por vencer em casa com
uma tristeza profunda pela perda do título, também merece
ser destacada.
Campeão por 10s, Massa teve
a comemoração e o desabafo
A vitória do Senna em 93 vi ao
lado do Emerson lá na Indy, melhor
comentarista impossível, enquanto
a pole do Barrichello pela Brawn
em 2009 considero uma de
minhas melhores narrações”
TÉO JOSÉ
1 - GP do Brasil de 1991 (49 pontos)
Se tem uma corrida que todos nós sabíamos que lideraria
esta lista, é a de 1991. Mas o que ninguém imaginava era
somente um ponto separar 1991 de 2008 na lista. E temos
certeza que quem definiu essa lista não foi a prova, mas a
genialidade de seu vencedor. A corrida em si foi modorrenta
até a metade: saindo da pole, Senna liderava com conforto.
Mansell, seu principal rival, rodava e abandonava com problemas
de câmbio e todo mundo dava o triunfo, finalmente o fim
da zica, como certo.
Mas aí Senna perdia quinta marcha, depois a quarta, a terceira,
a segunda e, por fim, a primeira. Com o câmbio travado
à sexta, ele lutava para fazer seu carro ganhar força nas retomadas
de curvas e na íngreme subida da Junção. Sabendo
disso, o segundo colocado, Riccardo Patrese, sentava o pé e
tirava uma média de quatro segundos por volta – a diferença
era superior a 20 nas passagens anteriores.
Para piorar, a chuva começou a cair nas voltas finais, o que
deixava os carros ainda mais sem tração - para martírio de
Senna, que se arrastou até receber a bandeira quadriculada
menos de três segundos à frente. O esforço provocou
cãibras imediatas, um desmaio e um Senna completamente
exausto fazendo força para erguer o troféu que tanto sonhou
conquistar.
Na oitava tentativa, Senna chegou à tão sonhada
vitória no Brasil, a mais dramática de sua carreira
GPs que receberam votos, mas não entraram na lista: 2006 (9 pontos), 2017 (9 pontos),1973 (7 pontos), 2016 (7 pontos),
2004 (6 pontos), 2022 (6 pontos), 1994 (6 pontos), 1982 (5 pontos), 2007 (4 pontos), 2000 (1 ponto)
17
FORMULA 4
Marcelo Machado de Melo
Já tendo exportado sete pilotos, a F-4 Brasil será preliminar do GP de São Paulo de F-1
Tipo exportação
Planos de implantação da Academia Alpine
no Brasil são mais um incentivo para o
desenvolvimento do automobilismo de base
Luis Ferrari
Não é segredo: o Brasil está há seis anos sem um
piloto na Fórmula 1. Desde a saída de Felipe Massa
da Williams, em 2017, o país só teve representantes
em duas corridas em 2020, quando Pietro Fittipaldi
substituiu Romain Grosjean na Haas, e em testes.
Tudo isso expôs um déficit na formação de pilotos
para os monopostos no automobilismo brasileiro.
Depois do kart, o salto era enorme. Estados Unidos
ou Europa, onde invariavelmente enfrentavam
logo de cara rivais já muito mais prontos.
Neste cenário, a criação da Fórmula 4 Brasil,
em 2022, foi uma notícia excepcional. Principalmente
porque a Vicar, organizadora do campeonato,
trouxe para o país os mesmos equipamentos
modernos usados nas categorias
internacionais – os chassis italianos Tatuus F4
T-021 e os motores Abarth preparados pela italiana
Autotecnica Motori. Tudo para que os pilotos
saíssem mais prontos antes do salto para
a Europa.
18
Duda Bairros
Matheus Comparatto, João Tesser e Vinícius Tessaro, nomes de destaque no grid da F-4
A ponto de sete pilotos terem dado esse passo. Primeiro
campeão da F-4 Brasil, Pedro Clerot está na
F-4 espanhola junto com Fefo Barrichello e Ricardo
Gracia. Lucas Staico foi para a Inglaterra disputar a
GB3. Vencedora da seletiva global FIA Girls on Track
– Rising Stars, Aurelia Nobels integra a Academia
Ferrari e está na F-4 Italiana pela conceituada Prema
Racing. Nos Estados Unidos, Nic Giaffone foi campeão
da USF Juniors e Nicholas Monteiro disputou a
temporada da USF Pro 2000.
“Em pouco tempo a categoria já conseguiu exportar
pilotos. Sete dos que correram na temporada do
ano passado estão fora do Brasil, é um número significativo.
Não imaginava que tantos pilotos já iam
fazer esse caminho em tão pouco tempo”, disse Gastão
Fráguas, gestor da Fórmula 4 Brasil. “A categoria
mostrou que é o primeiro passo, é onde eles vão
poder aprender para poder dar outros passos”.
Uma outra boa notícia foi a possível chegada ao
Brasil de uma filial da Academia Alpine, para formar
pilotos do continente no caminho da equipe de Fórmula
1. Com patrocínio do mesmo banco que apoia
Gabriel Bortoleto, novo campeão da FIA Fórmula 3,
a estrutura teria sede no Autódromo Internacional
Nelson Piquet, em Brasília, que passa por reformas.
A ideia só deve sair do papel no próximo ano e grandes
investimentos estão previstos.
Ainda não está claro como o programa funcionará
em parceria com a Fórmula 4 Brasil. Em teoria, seria
o passo seguinte dos jovens pilotos na escada rumo
às categorias internacionais de monopostos – depois
do kart e da F-4 Brasil, integrar a Academia Alpine
para chegar com um bom preparo no exterior.
Seria um belo passo adiante para o desenvolvimento
da base do automobilismo.
Vinícius Tessaro, da Cavaleiro Sports,
lidera o campeonato de 2023
Marcelo Machado de Melo
19
FORMULA 3
“Toca o hino que o
campeão chegou!”
Com autoridade, Gabriel Bortoleto coloca o Brasil novamente
em evidência nos monopostos com título antecipado
Bruno Vicaria
James Gasperotti
Depois da conquista do título da F-3, Bortoleto antecipa que estará na F-2 em 2024
20
Muitos veem a Fórmula 3 como principal plataforma
lançadora de pilotos para a Fórmula 1 entre as
décadas de 60 e 2000. Foi lá, basicamente na versão
inglesa, onde a divisão nasceu, que o mundo tomou
conhecimento pela primeira vez de uma série
de grandes talentos brasileiros que se tornariam vitoriosos
ao redor do planeta.
Foi assim com Emerson Fittipaldi (1969), José
Carlos Pace (1970), Nelson Piquet (1978), Chico
Serra (1979), Ayrton Senna (1983), Mauricio Gugelmin
(1985), Rubens Barrichello (1991), Gil de Ferran
(1992), Mario Haberfeld (1998), Antonio Pizzonia
(2000), Nelsinho Piquet (2004) e Felipe Nasr (2011).
E, em 2023, com Gabriel Bortoleto, em um novo formato
da modalidade.
A F-3 já foi considerada a única máquina, junto do
kart e da F-1, em que os pilotos podiam desenvolver
conhecimentos profundos de ajustes técnicos. O formato
que consagrou os pilotos do passado acabou
sucumbindo em todas as suas divisões ao redor do
mundo devido aos altos custos em 2014. Voltou em
2019 completamente revitalizado, como campeonato
único, correndo junto da F-1 e com equipamentos
padronizados, de ajustes limitados.
Desde então, a F-3 vem cumprindo bem seu papel
como base da pirâmide de escalada rumo à F-1 e
bem alinhada com a F-2 em termos de procedimentos.
Dos quatro campeões anteriores, Oscar Piastri,
dono do título de 2020, conseguiu chegar à F-1 neste
ano, e com bons desempenhos. Robert Shwartzman,
Denis Hauger e Victor Martins seguem na F-2.
Nascido em outubro de 2004, Gabriel Bortoleto
não viveu e provavelmente nem acompanhou os
momentos turbulentos da F-3, mas foi lá que ele se
encontrou em seu terceiro ano competindo de monopostos.
E sob a orientação de ninguém menos
que Fernando Alonso, que passou a gerenciar sua
carreira no fim do ano passado.
Antes da consagração da F-3, Bortoleto passou sete
anos no kart, atingindo a maturidade em 2018, sendo
terceiro nos campeonatos Europeu e Mundial e
dando o passo definitivo para os carros em 2020, na
F-4 italiana. Venceu já na quarta rodada e terminou o
campeonato em quinto. Passou nos dois anos seguintes
pela F-Regional Europeia, uma especie de F-4
“turbinada”, até encantar a equipe Trident nos testes
pós-temporada da F-3 em 2022, iniciando o caminho
que culminou no título deste ano na etapa de Monza.
21
Gabriel com o pai Lincoln Oliveira, que
também é controlador do Grupo Veloci
“Muita coisa passou pela minha cabeça no momento
que recebi a mensagem de que havia
garantido o título por antecipação. Estava conversando
com meu coach Roberto e, do nada,
ele começou a gesticular como se estivesse acabado,
mas não havia entendido. Perguntava ‘o
que está acontecendo, o que está rolando?’. Foi
quando ele disse que eu havia garantido o campeonato.
Só conseguia pensar ‘meu Deus, o que
está acontecendo?’”, relembra o campeão, que
terminou o campeonato com duas vitórias, seis
pódios, uma pole-position e três voltas mais rápidas
em corridas.
“É um sentimento incrível ver a equipe surgir
com quadros e tudo o que era possível com meu
nome e a palavra campeão, com minha família
presente, foi inacreditável”, destaca. Sua família,
aliás, vem assumindo um protagonismo importante
no automobilismo brasileiro. Desde 2020,
ela detém a maior promotora de corridas do Brasil,
a Vicar. Também criou o Grupo Veloci e gerencia
os campeonatos da Stock Car, Stock Series,
F-4, Turismo Nacional e TCR Brasil.
Virada a página da F-3, Bortoleto já confirmou a
subida de mais um degrau em sua escalada. “Espero
poder confirmar tudo em breve, mas posso
dizer no momento que em 2024 estarei na Fórmula
2. Não posso dizer a equipe, pois estamos
negociando e vendo as melhores opções para
decidir, mas estou muito feliz em poder dizer que
darei mais um passo”, completa Gabriel, que está
sendo relacionado à equipe UniVirtuosi, parceira
da McLaren.
Se o folclórico apresentador de televisão Craque
Neto também comentasse corridas pela
Band, poderíamos ter ouvido na segunda-feira
depois da etapa de Monza a famosa frase: “Toca
o hino, Cascão, que o campeão chegou!”.
Collet no top-10
Quem também procura uma definição
em seu futuro é Caio Collet. O
piloto de 21 anos conseguiu tirar leite
de pedra na Fórmula 3 em 2023,
ao fechar na última hora pela equipe
VAR e vencer de forma convincente
em Spa. O nono lugar na tabela não
representou todo o trabalho feito.
“Foi um ano muito bom para nós.
Fechamos a temporada de última
hora e conseguimos um desempenho
muito bom junto com a VAR.
Vencemos corridas e fomos ao pódio
no ano, terminando a temporada
dentro do top 10”. Piloto da academia
da Alpine, Collet também deve
subir de classe no ano que vem.
22
23
FORMULA 2
Fase ruim de Vesti
praticamente dá o
título a Pourchaire
Sequência de erros e azares do piloto dinamarquês
transformam a liderança em uma desvantagem
de 25 pontos no espaço de duas etapas
Bruno Vicaria Fórmula 2
Pourchaire, depois de perder o título de
2022 para Drugovich, é favorito neste ano
Vesti fez uma boa campanha, mas não tem
ajudado a si próprio nas últimas etapas
Talvez o campeonato mais osso duro de roer
de todas as divisões de acesso e base para a
F-1, a Fórmula 2 costuma ser muito cruel com
seus competidores: o campeão, além de precisar
ter competência e constância, precisa normalmente
ser uma pessoa de muita sorte – ou
contar com o azar dos outros. Em 2023, o sortudo
pode responder pelo nome Theo Pourchaire.
Com uma única vitória em 24 corridas, aliada a
outros dez pódios, o francês da ART Grand Prix
vem tendo seu caminho facilitado pelos azares
de seu principal concorrente, o dinamarquês
Frederik Vesti.
O caso mais simbólico aconteceu na antepenúltima
etapa, na Holanda, em cena digna dos melhores
filmes de comédia-pastelão: andando na
frente, com Pourchaire fora, Vesti fez sua parada
nos boxes e, ao sair da garagem, no meio da pista,
suas duas rodas traseiras saíram voando. Sim,
sua equipe, a italiana Prema, simplesmente se esqueceu
de apertar os parafusos!
Sob pressão – e é nessas horas que tudo dá
errado, mesmo –, Vesti viu a etapa seguinte, em
Monza, ruir diante de seus olhos. Após vencer a
corrida curta, que vale menos (só dez pontos), o
dinamarquês se envolveu em um acidente bobo
24
na largada da prova principal e abandonou, com Pourchaire
levando 23 pontos para casa, ampliando ainda
mais a distância na tabela.
Isso sem contar o que aconteceu em Spa, onde bateu
na volta de abertura de box para formação do grid de
largada da prova principal e não conseguir nem alinhar –
foi o que o tirou da ponta do campeonato. Se juntarmos
todos os pontos possíveis que foram desperdiçados, certamente
Pourchaire não estaria rindo à toa. “Preciso parar
de errar se quiser ser campeão”, comentou Vesti, de
forma desolada, após errar em Monza. “Foi devastador
abandonar no começo. Não há muito o que dizer. Agora
é só pensar em Abu Dhabi e vou dar o meu melhor”.
Vencedor da etapa de Spa, Enzo Fittipaldi é outro que
não vem em paz com a sorte. Nas últimas quatro corridas
o brasileiro amargou dois abandonos, estacionando
em sétimo no campeonato e ficando longe da briga pelo
“top 5” - mas com chances matemáticas, de acordo com
o que acontecer com seus principais concorrentes, Victor
Martins e Ollie Bearman.
“Vou para casa e pensar no que podemos fazer para
melhorar. Estamos muito próximos dos cinco primeiros.
Acho que estamos a 15 pontos do quinto lugar, então o
objetivo é fazer uma boa última rodada e sair com o top-
5”, completou Enzo.
O baixinho japonês Ayumu Iwasa, da DAMS, é o terceiro
na tabela, já sem chance de pensar em título. Com mais
de dois meses de férias antes da finalíssima, Pourchaire
vai para a decisão em Abu Dhabi, no fim de novembro,
com 25 pontos de vantagem sobre Vesti, podendo ser
campeão já na primeira corrida. Mas, em se tratando de
Fórmula 2, tudo pode acontecer!
Com dois abandonos nas quatro últimas
corridas, Enzo Fittipaldi estacionou no
sétimo lugar do campeonato
O Brasil
em 2024
Com prestígio, o francês Martins tem
prioridade nos planos da Alpine
Muito se fala sobre a presença e possibilidade
de termos brasileiros competindo na principal
divisão de acesso para a Fórmula 1 na próxima
temporada. Em sua terceira – e melhor – jornada
na categoria, Enzo Fittipaldi segue sem caminho
definido, mas a tendência é de que continue
na F-2 por mais um ano. “Obviamente,
falta apenas uma rodada e basicamente quando
você chega a Abu Dhabi, todas as decisões
para o próximo ano já foram tomadas. Serão
necessárias muitas decisões nos próximos meses”,
afirmou o brasileiro, que neste ano obteve
importantes apoiadores como a Red Bull e
a Eurofarma.
A mudança de carro para a próxima temporada,
que certamente agitará muito a ordem
de forças do grid, interessa a muitos pilotos,
entre eles Gabriel Bortoleto, que já “se confirmou”
para 2024. O mesmo caminho pretende
seguir Caio Collet, que tem o apoio da
Alpine, mas a equipe segue investindo em
Victor Martins, o que fará com que o brasileiro
precise buscar mais apoiadores se quiser
financiar uma temporada.
25
FORMULA INDY
Por que Palou?
Palou por quê?
Espanhol domina temporada e quebra escrita da categoria
para confirmar o bicampeonato por antecipação
Jackson Lincoln
Chris Jones
Em Elkhart Lake, Alex Palou
acelera para uma das cinco
vitórias que encabeçaram
a campanha do bi
A Fórmula Indy é tida pelos fás das corridas
como uma das categorias mais competitivas do
mundo. Prova disso é que desde a reunificação
entre IndyCar e Champ Car, em 2008, todos os
campeonatos tiveram seu título decidido só na
última corrida. Isso até o ano passado. A temporada
de 2023 foi diferente: teve Alex Palou dominando
as ações. O catalão chegou a liderar 11
das 17 corridas do ano, passando 377 vezes pela
linha de chegada à frente de todos os demais. Palou
acabou ampliando sua coleção de vitórias na
Indy e, com mais cinco, garantiu o título na penúltima
etapa, disputada em Portland.
Além destes números, Alex Palou Montalbo cravou
duas poles no ano, uma delas na icônica 500
Milhas de Indianápolis – a outra, cabe nota, foi em
Detroit. Também subiu ao pódio em outras cinco
etapas e teve como piores resultado no ano
os oitavos lugares em Iowa e St. Petersburg. Das
2.260 voltas que compuseram todo o campeonato,
completou 2.258. Nenhuma quebra, nenhum
acidente, quase nenhum problema. Um feito raro.
Seu ano só não foi o mais perfeito de todos os
seus sonhos por conta do toque que levou de
Rinus VeeKay dentro dos pits nas 500 Milhas de
Indianápolis, quando estava liderando.
26
Chris Owens
Alex Palou e a Chip Ganassi Racing comemorando o título na etapa final, na Califórnia
Em seu terceiro ano na equipe Chip Ganassi, o espanhol
do carro número 10 conquistou o segundo título.
É tão bicampeão da categoria quanto outro Alex, o
Zanardi, que fez história entre 1996 e 1998 conquistando
dois campeonato para o time de Floyd Ganassi
Jr. Este foi o 15º título da Chip Ganassi Racing na Fórmula
Indy em 33 anos de vida da equipe, que nasceu
com a missão de fazer frente ao Team Penske. Já são
130 vitórias no cartel. A equipe que tinha em Scott Dixon
seu grande nome desde a aposentadoria de Dario
Franchitti há uma década passa a dividir atenções
entre o neozelandês e o espanhol para 2024.
E justiça seja feita: o trocadilho que utilizamos no
título desta matéria tem autor. É o narrador gaúcho
Geferson Kern, que o aplica nas transmissões da
Fórmula Indy para o Brasil pela TV Cultura.
Joe Skibinski
Palou beija a taça do título. É o segundo título do catalão em três temporadas pela Ganassi
27
FORMULA INDY
A busca por vagas
nas equipes médias
Orçamento para temporada em times como
Andretti e Rahal chega à casa dos US$ 6 milhões
Jackson Lincoln
James Black
Chris Jones
David Malukas com Gavin Ward e Zak
Brown: dois anos na Arrow McLaren
Scott Dixon e Will Power têm seus
Contratos devidamente renovados
Grande maioria dos assentos para o próximo
ano da Fórmula Indy já estavam preenchidos no
fim de setembro, ao fechamento desta edição de
Revista Grid. Mas algumas vagas ainda são bastante
cobiçadas na categoria, principalmente nas
equipes Andretti e Rahal-Letterman-Lanigan. Pilotos
das categorias de base da própria IndyCar
e também da Fórmula 2 buscam os cockpits da
Indy para o ano que vem, quando o grid deverá
reunir 27 ou 28 carros.
A Penske seguirá em 2024 com seu trio de pilotos
formado por Josef Newgarden, Will Power e
Scott McLaughlin. A Arrow McLaren resolveu não
renovar com Felix Rosenqvist e trouxe para seu
lugar David Malukas, da Dale Coyne. O time comandado
por Zak Brown manteve, ainda, Patrício
O’Ward e Alexander Rossi.
A campeã Chip Ganassi amplia sua operação de
quatro para cinco carros, acreditando demais em
pilotos das categorias de base. Vai contar com
o sueco Linus Lundqvist, campeão da Indy NXT
de 2022, e com Marcus Armstrong, ex-Fórmula
2, que passa a pilotar também nos ovais e fará
todo o campeonato. A grande surpresa do pós-
-temporada é a contratação inesperada de Kyffin
Simpson, décimo colocado na Indy NXT deste
ano, mas que traz um generoso aporte financeiro.
Scott Dixon e Alex Palou, estrelas do time, seguem
escalados.
A Andretti foi outra que teve mudanças no
plantel. Após o fim de contrato de dois com Romain
Grosjean, o time resolveu não renovar com
o francês devido ao alto número de acidentes
e reclamações ao longo do ano; para seu lugar,
contratou o sueco Marcus Ericsson, que venceu
a Indy 500 de 2022, vindo da Chip Ganassi. Colton
Herta e Kyle Kirkwood continuam no time. O
quarto carro segue com a vaga em aberto e é a
grande cobiça dos pilotos que estão sem assento
para o ano que vem.
28
O argentino Agustín Canapino, que
busca patrocínio para renovar com a
Juncos, com exemplar da Revista Grid:
“Muito legal a mídia do Brasil
dar atenção à Indy”
Jackson Lincoln
Após dispensar Jack Harvey antes do final da temporada, a
Rahal-Letterman-Lanigan busca um piloto para o carro número
30. Com Graham Rahal e Christian Lundgaard confirmados
para 2024, o cockpit do Dallara-Honda-Firestone da
RLL pode dar vitórias ao piloto que ocupa-lo. O dinamarquês
Lundgaard venceu o GP de Toronto com a Rahal neste ano.
As equipes médias e menores como Dale Coyne, Juncos
Hollinger Racing, A.J. Foyt e Carpenter ainda têm assentos
disponíveis. Dos times de menor expressão, apenas a
Meyer Shank Racing já definiu sua dupla de pilotos para
2024: Felix Rosenqvist e Tom Blomqvist estão confirmados
para a temporada completa e Helio Castroneves guiará
um terceiro carro na Indy 500.
O início de década marcou a chegada de uma excelente
safra de novatos à Indy, casos de Alex Palou, Patrício
O’Ward, Colton Herta, Christian Lundgaard, Kyle Kirkwood
e Rinus VeeKay, todos eles com pelo menos uma vitória na
categoria. O mesmo não pode ser dito de alguns pilotos
que chegaram com aportes financeiros nos últimos dois
anos, casos de Devlin DeFrancesco, Benjamin Pedersen e
Sting Ray Robb.
O dinamarquês Christian Rasmussen foi o campeão da
Indy NXT, nova nomenclatura da Indy Lights, com cinco
vitórias, mas nem ele e nem Hunter McElrea, vice na série
de acesso com três vitórias, convenceram os chefões da
Indy e têm seus futuros incertos nos EUA. Com isso cresce
a oportunidade para pilotos de fora da América, como foi
com Marcus Armstrong e Juri Vips, que debutaram este
ano. Para assegurar uma vaga nessas equipes médias, especula-se,
o piloto precisa levar algo em torno de seis milhões
de dólares para fazer o campeonato completo, além
dos testes de pré-temporada.
Helio das 500 Milhas
e da Meyer Shank
Chris Jones
Em 10 de setembro de 2023, ao completar a etapa final
em Laguna Seca, Helio Castroneves virou um carro da Fórmula
Indy para a direita pela última vez na vida. A partir
do ano que vem o piloto brasileiro deixará de competir de
forma integral na categoria, passando a disputar apenas as
500 Milhas de Indianápolis.
O sonho de vencer pela quinta vez a corrida mais emblemática
do automobilismo mundial ainda é algo palpável
– e, principalmente, em que Helio acredita muito. Com três
triunfos pela Penske no Indianapolis Motor Speedway, em
2001, 2002 e 2009, além da vitória pela Meyer Shank em
2021, o brasileiro vai buscar, aos 49 anos, o inédito pentacampeonato
da Indy 500.
A partir de agora, além de assegurar a vaga de piloto para a disputa no oval
do IMS, Helio Castroneves passa também a ser sócio de Michael Shank e Jim
Meyer na equipe. Terá assegurado, por mais alguns anos, um cockpit para
correr atrás da tão sonhada quinta vitória. Ele faz questão sempre de deixar
claro que não está se aposentando das pistas. Além de seguir participando
das 500 Milhas, também busca outras categorias para correr em 2024.
Helio Castroneves com
seus novos sócios
Michael Shank e
Jim Meyer e o piloto
Tom Blomqvist
29
FORMULA E
Jake Dennis chegou ao título com duas vitórias e outros dez pódios em 17 corridas
O novo rei
britânico!
Jake Dennis conquista primeiro título para seu
país na categoria dos carros elétricos, que pode
ter um brasileiro a mais no grid em 2024
Renata Correia
Divulgação F-E
A nona temporada do Campeonato Mundial ABB FIA Fórmula E deixou sua marca na história com a
estreia de um novo carro, o Gen3, e a ascensão de um novo campeão. O desfecho teve contornos de
emoção, destacando uma competitividade sem precedentes. Se Jake Dennis chegou ao título de pilotos
pela Andretti, a Envision foi coroada campeã entre as equipes.
Dennis foi campeão de forma antecipada. O título veio “em casa”, na penúltima corrida, que abriu a
rodada dupla de Londres. A jornada do britânico de 28 anos rumo ao título foi repleta de altos e baixos,
sobretudo na primeira metade da temporada. A campanha foi marcada por apenas duas vitórias e a
constância no pódio, onde esteve 12 vezes, foi determinante.
30
As cinco corridas sem pódio para o campeão foram
as de Hyderabad, onde terminou em 16º, Cidade do
Cabo, em 13º, São Paulo, com abandono, a primeira
corrida de Berlim, em 18º, e a primeira corrida da
rodada dupla de Roma, em quarto. A estratégia de
gerenciamento de energia foi outro fator fundamental.
Pesou, também, a notória capacidade para evitar
incidentes em corridas caóticas.
A tarefa do piloto da Andretti não foi fácil. Ele teve
forte concorrência de Nick Cassidy, da Envision Racing,
e Mitch Evans, da Jaguar TCS Racing. Cada um
dos neozelandeses conquistou quatro vitórias – juntos,
os três venceram metade das corridas. Dennis, à
base da consistência, chegou enfim ao título que já
havia batido na trave em sua temporada de estreia,
a de 2020/2021, quando defendia a BMW i Andretti
Motorsport.
Altos e baixos marcaram, também, a temporada
da Envision, que teve seu powertrain fornecido
pela Jaguar. Cassidy emergiu como um dos principais
favoritos, acumulando vitórias impressionantes.
O triunfo de ponta a ponta – fato raríssimo
na Fórmula E – proporcionou na etapa final, em
Londres, uma evidência de sua habilidade e sua
determinação.
A disputa entre as equipes foi igualmente intensa.
Envision Racing e Jaguar TCS Racing lutaram pelo
título durante todo o campeonato. Com pontos
equivalentes, o título seria determinado pelo desempenho
superior na etapa final. Cassidy e o suíço Sebastien
Buemi cruzaram a linha de chegada à frente
de Evans e do britânico Sam Bird, fechando a fatura.
O time mostrou habilidade em manter o foco sob
pressão.
No entanto, a disputa entre as equipes foi tão intensa
quanto a batalha dos pilotos. A Envision Racing e
a Jaguar TCS Racing lutaram pelo título de equipes
durante toda a temporada. Com pontos equivalentes,
a equipe que conseguisse um desempenho superior
na última etapa determinaria o vencedor. No
final, a Envision Racing emergiu vitoriosa, com Cassidy
e Buemi cruzando a linha de chegada à frente de
Evans e Bird, garantindo assim o título de equipes.
Sylvain Filippi, diretor da Envision Racing, expressou
sua satisfação com a vitória e a superação da
equipe. A competição acirrada com a Jaguar e a capacidade
de manter o foco sob pressão foram elementos
cruciais para o sucesso da equipe na temporada.
Foram 304 pontos, 12 a mais que a Jaguar. A
Andretti, em terceiro, somou 252.
Sérgio Sette Câmara tem permanência confirmada na Nio 333 para a décima temporada
31
MUDANÇAS E RENOVAÇÃO
Com a nona temporada encerrada,
os olhares da Fórmula E já estão voltados
ao que está por vir. Novas equipes
e novos pilotos chegam à categoria,
suscitando a expectativa de uma competição
ainda mais acirrada em 2024.
Algumas novidades já foram inclusive
definidas e anunciadas.
Lucas di Grassi seguirá com a Mahindra.
Único a ter disputado todas as
corridas da história da Fórmula E, o
brasileiro tem a experiência como ativo
valioso para a equipe. Jehan Daruvala,
indiano como a equipe, poderá
ser seu companheiro de equipe do
paulista de 39 anos. O mineiro Sérgio
Sette Câmara, depois de uma temporada
desafiadora, seguirá com a chinesa
NIO 333 Racing, ao lado do britânico
Dan Ticktum.
A participação brasileira poderá ter
reforço com Felipe Drugovich, que impressionou
em 2023 nos testes para estreantes.
Atual piloto de testes na Aston
Martin na Fórmula 1, o paranaense fez
dois testes com a Maserati, em Berlim e
Roma, e tem seu nome cogitado – ainda
sem confirmações – para estar ao lado
do campeão Jake Dennis na Andretti.
A DS Penske mantém o belga Stoffel
Vandoorne e o francês Jean-Éric Vergne.
Nada de mudanças também na
Porsche, que seguirá com o português
António Felix da Costa e o alemão
Pascar Wehrlein. A McLaren anuncia
dupla britânica, mantendo Jake Hughes
e trazendo Sam Bird, que deixa
sua vaga de parceiro de Mitch Evans
na Jaguar para Nick Cassidy. O holandês
Robin Frijns estará ao lado de Sebastien
Buemi na Envision.
O francês Sacha Fenestraz segue na
Nissan, agora tendo como holandês
Oliver Rowland. O holandês ocupar o
lugar do francês Norman Nato, que foi
para a Maserati, de onde o suíço Eduardo
Mortara saiu para não ter anunciado
seu futuro ainda. Outro retorno
possível para 2024 é o de Nyck de
Vries. Campeão em 2021, o holandês
mantém contatos com vários times.
Nick Cassidy chegou a assumir o favoritismo
ao título, mas terminou como vice
Lucas di Grassi, campeão e recordista de
largadas, seguirá com a Mahindra em 2024
Depois de testes, Felipe Drugovich
pode defender Maserati ou Andretti
32
33
INTERLAGOS
A edição de 2023 do The Town levou centenas de
milhares de pessoas a Interlagos em agenda que
destacou show de estrelas internacionais
34
Desculpem-nos
pelo transtorno,
estamos em obras
Prefeitura de São Paulo converte autódromo em arena
multiuso e, apesar de reação adversa dos automobilistas,
aponta benefício geral a partir da nova fase
Luc Monteiro
Júlio D’Paula
35
Palco maior do automobilismo brasileiro, sobretudo nas três últimas décadas, o autódromo de Interlagos
assumiu em 2023 a condição de um verdadeiro canteiro de obras. Condição que, obviamente, não
causou apenas impressões positivas. O trabalho maior, afinal, focou montagem e instalação de toda a
infraestrutura do The Town, festival musical que reuniu dezenas de milhares de pessoas durante cinco
dos dez primeiros dias de setembro – e que tem mais duas edições confirmadas para 2025 e 2027, sempre
no mês de setembro, conforme contrato firmado há dois anos. A comunidade do automobilismo de
competição não viu com bons olhos a conversão do autódromo em arena de eventos. O reflexo maior
da reação negativa veio das manifestações em redes sociais de internet. A partir disso, Revista Grid
conversou com o diretor administrativo do autódromo de Interlagos, Marcelo Pinto, que expôs pormenores
do trabalho já executado e agendado para os próximos meses. Ele assegura: festivais musicais
são ponto positivo para o automobilismo.
REVISTA GRID - Interlagos está definitivamente
passando de autódromo a arena multiuso?
MARCELO PINTO - Esse já é o nosso normal em
Interlagos, conciliar o maior número de eventos
com a menor intervenção de pista possível. O
que buscamos é que um evento não atrapalhe
o outro.
REVISTA GRID - De onde partiu a decisão de
se rever o uso do autódromo de Interlagos?
MARCELO PINTO - É uma demanda muito importante
para a cidade. São Paulo é carente de
espaços tão grandes e versáteis como Interlagos.
Além disso, o nome e a marca de Interlagos valorizam
qualquer evento. Isso é constatado pelos
próprios promotores. Realizar um evento aqui é
tarefa difícil, já não é para qualquer promotor, e
é caro também. Nem tanto pelo aluguel, mas por
toda estrutura que precisa ser montada, logística,
segurança do evento e o bom atendimento
ao público.
REVISTA GRID - Qual foi o investimento da Cidade
de São Paulo nas obras já executadas?
MARCELO PINTO - Até agora a prefeitura investiu
aproximadamente R$ 120 milhões. A estimativa
é de que o total ultrapasse os 300 milhões.
REVISTA GRID – Há expectativa de prazo para
retorno líquido?
MARCELO PINTO - O maior lucro de Interlagos
não fica no autódromo e sim para a cidade.
Grandes eventos atraem muitos turistas para São
Paulo, movimentando todo comércio local, hotéis,
restaurantes, baladas, muita coisa. Isso sem contar
o enorme número de empregos temporários.
Apenas para servir como base, o impacto econômico
do GP de São Paulo de Fórmula 1 de 2022
foi de aproximadamente R$ 1,3 bilhão na cidade.
O Lollapalooza se aproxima dos R$ 500 milhões.
As etapas nacionais de automobilismo também
têm esse viés turístico com suas equipes e fãs, em
números mais modestos, mas durante todo o ano.
36
REVISTA GRID - Como a Fórmula 1 viu essa reformulação?
MARCELO PINTO - Também de forma positiva,
afinal eles também estarão ganhando a ampliação
de área. Isto é definitivo para o autódromo.
A F-1 tem acompanhado de perto todas as intervenções
e nenhuma delas afeta o traçado ou algum
ponto de segurança. Temos o foco em manter
a homologação FIA de Interlagos.
REVISTA GRID - Quantos eventos artístico-
-culturais deverão ocorrer a cada ano em Interlagos?
MARCELO PINTO - Os únicos eventos previstos
são o Lollapalooza e o Primavera Sound anualmente,
em março e dezembro, respectivamente.
O The Town é bianual, em setembro de cada ano.
Os eventos menores que podem acontecer no
autódromo não devem impactar nas atividades
de pista. Até por termos áreas maiores de público,
elas devem ser melhor aproveitadas sem interferir
no esporte a motor.
REVISTA GRID - Essa nova fase do autódromo
possa prejudicar o desenvolvimento do automobilismo,
sobretudo o de nível regional?
MARCELO PINTO - Muito pelo contrário. Recentemente
o prefeito Ricardo Nunes esteve em
Le Mans para formalizar um acordo de cinco anos
para recebermos a FIA WEC em Interlagos. Com
isso passaremos a ter as três principais categorias
da FIA na Cidade de São Paulo. Se o automobilismo
brasileiro depende muito de Interlagos, o
regional mais ainda. Temos ciência de que diversas
empresas ao redor do autódromo dependem
dessas atividades e as obras vêm justamente
para que tenhamos um impacto menor no nosso
calendário, que já é tão disputado. Por outro
lado, os grandes eventos trazem muita visibilidade
ao autódromo e pouca gente que não é ligada
ao automobilismo sabe das tantas atividades
que temos durante todo o ano, e praticamente
de segunda a domingo. Desde que começamos a
receber o pessoal do The Town por aqui, sempre
explicamos as nossas dificuldades de calendário.
Eles meio que ignoravam, não achavam possível
termos tudo isso por aqui. Desde abril, quando
começaram a frequentar mais, entenderam o
monte de eventos que temos e ficaram chocados
com essa frequência que ninguém sabe. É um
ponto positivo para o automobilismo.
Marcelo Pinto, diretor administrativo
do autódromo de Interlagos
37
I N T E R
REVISTA GRID - Muito se tem visto manifestações
de repúdio, sobretudo em redes sociais,
quanto à interrupção do calendário de corridas.
Como a Cidade de São Paulo lida com essa resistência?
MARCELO PINTO - Passamos por um período
traumático no início das obras justamente por não
conseguir começar tudo no tempo previsto. A única
forma foi cancelar alguns eventos e remanejar
outros. Não era o esperado, mas foi uma vitória
manter a pista funcionando o maior tempo possível
convivendo com as obras e as montagens.
REVISTA GRID - Quais são as secretarias e organizações
envolvidas nesse processo de reformulação
de Interlagos?
MARCELO PINTO - Hoje o Autódromo de Interlagos
está vinculado à Secretaria do Governo Municipal,
uma secretaria ligada diretamente ao prefeito
Ricardo Nunes. Neste processo todo ainda
temos diversas secretarias municipais: Infraestrutura
Urbana e Obras, Turismo, Fazenda, Casa Civil,
Cultura, Comunicação, Desenvolvimento Econômico
e Trabalho, Urbanismo e Licenciamentos,
Verde e Meio Ambiente e Subprefeituras. E contamos
ainda com a SP Obras e SP Turis, que são
empresas de economia mista ligadas à prefeitura.
REVISTA GRID - Qual a maior dificuldade enfrentada
pela administração nesse processo
todo?
MARCELO PINTO - Na prática é a burocracia
normal. A máquina pública às vezes é difícil de
sair da inércia, mas depois vai a todo vapor.
REVISTA GRID - O calendário de obras segue
por mais quanto tempo?
MARCELO PINTO - A previsão são mais dois
anos de obras até termos todo nosso planejamento
concluído, mas continuamos trabalhando
para terminar tudo até o final de 2024.
REVISTA GRID - Fala-se na construção de uma
segunda área de boxes, acompanhando a curva
do Sol. Isso está previsto no atual pacote de
obras?
MARCELO PINTO - Temos esse projeto em desenvolvimento
ainda, alguns pontos ainda não
foram totalmente solucionados.
REVISTA GRID - A obra toda foi dividida em
quantas fases?
MARCELO PINTO - Vários cronogramas foram
discutidos e divididos em partes. O que conseguimos
executar até o momento foram quatro
etapas. A primeira de terraplanagem na Arena,
a área foi ampliada de 35 mil para quase
60 mil metros quadrados. A segunda etapa foi
a implantação de toda rede de esgoto do autódromo,
que até então terminava em fossas e
hoje está interligada à rede externa da Sabesp.
Na terceira fase tivemos a demolição de um
prédio administrativo próximo ao hospital. As
duas áreas foram niveladas formando um único
platô. Tínhamos uma área de dois mil e outra
de sete mil e quinhentos metros quadrados, e
hoje temos uma arena para shows menores com
aproximadamente 20 mil metros quadrados. Valas
técnicas, canaletas de águas pluviais e toda
pavimentação das áreas também fazem parte
deste pacote. A quarta etapa conta com a iluminação
de toda a perimetral, com 200 luminárias
solares e autônomas e torres técnicas nas
arenas para iluminação, implantação de caixas
acústicas e antenas de propagação de 5G das
operadoras de celular.
38
L A G O S
REVISTA GRID - A pista de corrida, em si, passa
por alguma mudança?
MARCELO PINTO - O último recapeamento completo
da pista foi em 2014, a vida útil do nosso pavimento
é de sete anos e algumas fissuras começam a
aparecer por desgaste natural. Em 2021 foi realizado
um reparo na Curva do Lago por estar muito dentro
do traçado e há uma previsão de um recape maior
neste ano na curva do Laranjinha.
REVISTA GRID - Essa reformulação do autódromo
não seria a ocasião adequada para a esperada
implantação da área de escape na subida do Café?
MARCELO PINTO - Vi um desses projetos, mas
ainda não chegaram na solução ideal por não haver
muito espaço ali para avançar.
REVISTA GRID - Haverá novos acessos ao autódromo,
posto que deveremos ter shows e corridas
ao mesmo tempo?
MARCELO PINTO - Sim, para conciliarmos mais
eventos é essencial um novo acesso para separarmos
esses públicos. Está prevista para o ano que
vem a construção de um túnel ligando o portão G ao
hospital, passando por baixo da pista na reta oposta.
REVISTA GRID - Existem planos para reativação
do anel externo da pista?
MARCELO PINTO - Houve uma conversa sobre
esse tema, mas além do custo, isso inviabiliza outras
áreas do autódromo que são utilizadas frequentemente
e temos que pensar em uma solução para a
saída dos boxes que contemple o anel externo e o
nosso traçado tradicional.
REVISTA GRID - O projeto de Interlagos, como
um todo, contempla também o aspecto social e de
formação?
MARCELO PINTO - Outra pauta importante que
basicamente é cumprida pelo kartódromo. A maior
parte dos 200 preparadores, mecânicos e assistentes
que trabalham diariamente no nosso kartódromo
é de comunidades próximas ao autódromo. Isso
tem um impacto na economia local. Recentemente
recebi uma excursão de adolescentes de uma escola
de Parelheiros também para atender esse quesito
social. Acho extremamente importante crianças e
adolescentes terem esse acesso e despertar o automobilismo
dentro de si.
REVISTA GRID – Havia, ou há, risco de desativação
do autódromo?
MARCELO PINTO - Desde que estou à frente da
administração não ouvi muito falar sobre o assunto.
O certo é que muita coisa aconteceu e em novembro
passado, na coletiva de imprensa da F-1, o prefeito
Ricardo Nunes anunciou publicamente que não haveria
a concessão do autódromo.
REVISTA GRID - Rio e Curitiba perderam seus autódromos
por conta de especulações imobiliárias. Existe
algum risco de acontecer o mesmo em São Paulo?
MARCELO PINTO - Neste momento não vejo essa
possibilidade.
REVISTA GRID - O sr. tem uma posição de observação
privilegiada: afinal, tanto está à frente de todo o
projeto quanto também é piloto de automobilismo.
Pessoalmente, como vê o momento de Interlagos?
MARCELO PINTO - Desde que cheguei em maio
de 2021, sempre defendi e trabalho para que o autódromo
seja utilizado pelo maior número de pessoas
possível, seja do automobilismo ou do entretenimento.
Procuro sempre conciliar o entretenimento
sem atrapalhar o esporte a motor, afinal Interlagos
é um autódromo. Eventos passam, são pontuais,
o automobilismo é eterno e Interlagos é um ícone
mundial que precisa ser preservado com a ajuda de
todos. Neste período, pessoalmente não tinha como
mudar alguma coisa, mas se nossos cronogramas tivessem
sidos cumpridos, com certeza teríamos uma
tranquilidade maior.
REVISTA GRID – A quantas anda o entendimento
com a Fórmula Indy para realização de etapas em
Interlagos?
MARCELO PINTO - Por enquanto estagnado.
REVISTA GRID - Em se tratando do palco de competições
de automobilismo, o que podemos esperar
de Interlagos para as próximas temporadas? Alguma
novidade que possa ser compartilhada com
os leitores da Revista Grid?
MARCELO PINTO - Para 2024 apenas a WEC está
confirmada em Interlagos. Outras podem aparecer,
mas não posso revelar ainda.
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NOVOS AUTODROMOS
Do projeto
ao asfalto
As duas próximas temporadas do automobilismo
brasileiro poderão marcar um ‘boom’ de praças inéditas
Osires Junior
O fechamento anual de Interlagos para shows e obras, somado a experiências de resultados não tão
positivos com recuperação de outras praças, fez com que o calendário do automobilismo visse uma
bandeira amarela em termos de datas e acúmulo de provas nos mesmos locais, especialmente Goiânia
e Velocittà. E, na carona disso, brotaram anúncios de novos palcos para o esporte. Mas o que é boato e
o que de fato são projetos e obras de novos autódromos? A Revista Grid conversou com bastante gente
que está colocando a mão na massa e fazendo os rascunhos se transformarem em asfalto.
Isso pode gerar um calendário repleto de novas pistas, especialmente a partir da temporada de 2025.
A realização dos projetos passa por parcerias entre empresários, clubes de automobilismo e administrações
públicas que enxergam o mundo das corridas como excelente ferramenta que é para movimentação
econômica nas regiões de abrangência. Por isso, o pessoal não está pensando apenas em pista e
boxes, mas em complexos que contemplem turismo familiar, lazer e eventos.
RACEVILLE
Localizado na região de Brotas, o complexo surge
com o conceito de Speed Club, reunindo autódromo
padrão FIA, trilhas off-road e uma pista para UTVs rodeada
de natureza. Afinal, a cidade no interior paulista
é famosa por suas corredeiras para rafting e cachoeiras
para rapel. Entre os idealizadores estão Marcelo Chanoft,
Cacá Clauset, Sylvio de Barros e Carlos Nomura.
Juntos, eles idealizaram o complexo e formataram o
traçado do autódromo unindo trechos de outras pistas
como Silverstone, Barcelona, Spa, Suzuka e Interlagos,
gerando muitas alternativas para as categorias que forem
acelerar por lá.
O traçado já está pronto e deve ter o asfalto concluído
até o mês de novembro. A pista de off-road já pode ser
utilizada. O próximo passo é a construção de 40 chalés
para as famílias dos sócios e toda a estrutura de boxes,
paddock e salão para eventos e treinamentos. “Tem
uma demanda importante no Brasil por autódromos,
então, juntamos a fome com a vontade de comer. Mas
pensamos em um espaço para que toda a família possa
se divertir enquanto estaremos na pista”, comenta Sylvio
de Barros, que é piloto da Porsche Cup.
Serão 520 títulos associativos, entre honorários, fundadores
e patrimoniais. Os valores se aproximam dos
R$ 500 mil com mensalidades de R$ 2.500.
O Raceville oferecerá várias opções
de traçado no interior paulista
Confira o
vídeo de
lançamento
do Raceville
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CUIABÁ
O Parque Novo Mato Grosso chega para desbravar
o Centro-Oeste, muito tradicional com as
provas de velocidade na terra. O complexo está
localizado na estrada que liga Cuiabá à Chapada
dos Guimarães, a MT-251. O projeto é uma
união de esforços de empresários locais ligados
ao agro e do governador Mauro Mendes, que
fez um chamamento público. A Agrícola Bom
Futuro doou o terreno, onde o complexo ocupará
mais de 300 hectares de área construída, e
o governo fará o investimento em obras.
O Parque Novo Mato Grosso, de localização atribuída a
Cuiabá, terá o primeiro autódromo iluminado do Brasil
A simulação dos boxes
e a indicação do traçado
do primeiro autódromo
asfaltado da região
Norte do Brasil
A previsão de entrega é para 2025, já contando
com autódromo, kartódromo, uma lâmina
d’água para esportes aquáticos, área para
shows e um espaço para contar a história do
agro que desbravou a região. Serão 14 mil vagas
de estacionamento e 40 mil lugares entre
paddock e arquibancada. O traçado terá pouco
mais de 4.300 metros com 12 metros de largura,
com circuitos misto e um trioval. Será o
primeiro autódromo com iluminação artificial
no país. “Queremos que a região se desenvolva
e os grandes eventos venham para cá. Temos
uma geração de pessoas com muita visão para
o esporte e o turismo, que enxergam esse plano
de investimento”, conta Vanderlei Reck Junior,
piloto da velocidade na terra e que se tornou
deputado estadual ao longo deste ano.
Um dos planos é que a pista tenha homologação
grade 1 da FIA e da FIM. “Desde 1987 que o
Brasil não recebe o Mundial de Motovelocidade.
Nós temos isso como um dos nossos objetivos”,
revela Reck Jr. O projeto arquitetônico já está
finalizado e aprovado. A terraplanagem já está
em 80%. Paralelamente, acontece a construção
do kartódromo. Assim, para o ano que vem, as
duas pistas serão asfaltadas no mesmo período
e as inaugurações deverão acontecer em 2025.
Conheça o Parque Novo Mato Grosso
www.autodromointernacionalcba.com.br
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O Speed City Araranguá surge como opção multiuso para o esporte a motor e o entretenimento
SPEED CITY ARARANGUÁ
Seguindo a linha dos complexos de esporte e lazer, a cidade de Araranguá, no extremo-sul do litoral
de Santa Catarina, deverá receber um dos maiores investimentos dentro dos novos conceitos. Lá, o
projeto tem autódromo, kartódromo, trilha off-road, hotéis, restaurantes, centro de compras, área de
show, academia e até centro médico. “Nossa ideia é que o piloto e sua família não precisem sair daqui.
O Speed City é muito abrangente, incluindo escola de pilotagem e mecânica. Teremos um lado social
que também poderá ser utilizado pela população da cidade”, conta Thiago Freitas, um dos nomes que
estão à frente da administração do projeto.
Atualmente, o time trabalha no projeto executivo e licenciamentos, com prazo de oito meses para
entrega. A expectativa é que a obra comece dentro de um ano. Um dos pontos considerados favoráveis
é a logística: a cidade está a 220 km de Florianópolis e a 240 km de Porto Alegre, com a área da
construção localizada no Balneário Ilhas, às margens da BR-101. O local costuma ser o palco das arrancadas
de caminhões. A área de 40 hectares foi cedida pelo empresário Alex Cavalheiro, que reside em
Araranguá.
CHAPECÓ
Sob a promessa de apresentarem o primeiro autódromo
de asfalto de Santa Catarina, o Automóvel Clube
de Chapecó e a Prefeitura estão trabalhando para
acelerar as obras. O investimento conjunto é resultado
de recursos conquistados pelo clube com a venda de
alguns imóveis e através da Lei de Incentivo ao Esporte.
A área total de 708 mil metros quadrados, sendo
80% de área livre e 20% de reserva legal, está distante
20 km do centro da cidade, com acesso pela SC-480.
A pista terá sete opções de traçado, sendo o principal
deles com 4.057 metros, 12 a 15 metros de largura,
sentido horário, e está projetado para receber
provas de carros, caminhões e motos. O que chama a
atenção na área é que o traçado terá muitas subidas e
descidas, com uma altimetria total de 23 metros. O pit
building será instalado fora da área do traçado, com
35 boxes, torre de controle de corridas, salas de imprensa
e de transmissão, camarotes e áreas vips.
O traçado foi demarcado no último mês de maio e a
O layout dos boxes e do traçado de
Chapecó, com a obra já em execução
terraplanagem será feita a partir de setembro, com a inauguração prevista para 2024. O traçado principal
contempla três retas, a maior delas na largada, com 871 metros de extensão. A reta oposta tem 551
metros e a segunda reta oposta, 424. Serão 13 curvas, oito delas para a direita. Destaque para a curva
número 8, que será de alta velocidade e terá 517 metros, com raio aberto e constante.
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43
NASCAR BRASIL
“Senhor
apronta-tudo”
Convidado especial no Velocitta, Paul Tracy volta
a vencer no automobilismo depois de 16 anos
Erick Gabriel
Luciano Santos
A participação de Paul Tracy deu o tempero especial à receita de competitividade da etapa
Desde o primeiro dia 1 da parceria entre a GT
Sprint Race e Nascar sabia-se que o intercâmbio
entre Brasil e Estados Unidos seria algo comum.
O envio de promessas do nosso automobilismo
para a tentativa de carreira na maior categoria
das Américas tende a ser uma realidade ao passo
que a visita de astros também deve ser comum.
Quiseram o destino e a amizade que o primeiro
grande nome a visitar um circuito brasileiro para
competir tivesse uma identificação maior em outra
categoria, a Fórmula Indy. Paul Tracy esteve
no Velocitta para correr na decisão da Special
Edition, minitorneio que faz parte do calendário
da Nascar Brasil.
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A vinda do canadense, que recentemente também
se tornou oficialmente cidadão americano, deu-se
pela amizade com Tarso Marques, com quem competiu
nos Estados Unidos. Os dois nutrem uma grande
amizade com interesses em comum, na customização
de carros e motos.
O primeiro contato ocorreu quando a Sprint Race
realizou etapa em Homestead Miami, com Thiago
Marques – irmão de Tarso e promotor da categoria
brasileira – recebendo a promessa de Tracy de que
em outra oportunidade viria com o maior prazer, já
que não poderia correr na pista da Flórida por conta
de outros compromissos.
A oportunidade chegou, com o aceite do canadense
de bate-pronto, surpreendendo os fãs da Indy e
da Nascar no Brasil, cada qual a seu modo. Em comum,
a curiosidade de como ele se comportaria
dentro e fora da pista.
Logo no primeiro dia, Tracy se mostrou surpreendido
com o cenário e a pista, ao dizer que “é uma
instalação muito bonita, tão boa quanto qualquer
outra dos Estados Unidos”. Ele veio a Mogi Guaçu
acompanhado pela mulher Lisa, que esteve sempre
ao seu lado e o ajudava no registro de cada passo do
marido para as redes sociais.
O primeiro dia de contato com o V6 de 300 cavalos
da Nascar Brasil foi de puro aprendizado. As primeiras
impressões eram promissoras, exaltando que o carro
era “muito divertido de guiar”. No primeiro treino
oficial a adaptação de Tracy foi surpreendentemente
rápida, com a segunda posição na tabela de tempos.
Na manhã seguinte, um resultado ainda melhor, com
a liderança da sessão que antecedeu o Qualy.
Na classificação, Tracy apareceu na quinta posição,
que não deixava de ser surpreendente, mas o melhor
estava por vir naquele mesmo sábado. Ganhando algumas
posições no início da corrida 1, viu-se em uma
batalha com um dos astros da categoria, Léo Torres.
Um pequeno entrevero entre os dois e o carro #26
do convidado ilustre assumia a liderança da corrida,
sendo posteriormente pressionado pelo piloto da
classe ProAM, Jorge Martelli, que confessou que já
estava feliz em apenas dividir curvas com o campeão
da Cart de 2003, além de triunfar em sua categoria.
O Velocitta testemunhava a primeira vitória de Paul
Tracy em 16 anos. Sua última aparição no degrau
mais alto do pódio havia sido na etapa de Cleveland
da Champ Car World Series, em 2007. Totalmente
ambientado, à vontade e demonstrando alívio, Tracy
agradeceu a oportunidade de poder viver aquela
experiência, especialmente na pessoa de Thiago
Marques, além de renovar esperanças para o futuro:
“Espero que eles me convidem novamente”. Este foi
o ápice do canadense no Brasil.
O domingo reservava mais duas provas, sendo
que a terceira decidiria o fim de semana e também
a Special Edition de 2023. Os campeões receberão
seus prêmios – de maneira oficial – no mesmo evento
da Nascar dos Estados Unidos, no final do ano.
Téo José, narrador muito ligado às transmissões da
Indy no Brasil, apelidou Tracy como “Senhor apronta
tudo”. Pois é. Na segunda corrida a lembrança da
alcunha colocada pelo brasileiro veio à tona, com a
desclassificação, após toque sobre Lourenço Beirão,
piloto português que se tornou um daqueles que
mais ajudou Tracy no fim de semana. Apesar do “encontro”
na pista, ambos continuaram sendo vistos
conversando constantemente na garagem, demonstrando
que a nova amizade não foi abalada.
A terceira prova teve participação discreta do canadense,
finalizando sua passagem no Brasil na 16ª
posição, após ter problemas durante a corrida.
O saldo foi mais do que positivo. O Brasil, definitivamente,
se mostrou uma terra que traz sorte a Paul
Tracy, tendo vencido no saudoso autódromo de Jacarepaguá
pela Cart em 1997, além de trazer sensações
hibernadas de uma vitória em uma categoria
de relevância internacional.
Vitor Genz e Rafael Dias asseguraram o
título da Special Edition na classe Pro
O Velocitta confirmou o título de MC Gui
na AM já em seu primeiro ano nas pistas
45
As corridas de 9 e 10 de setembro no Velocitta marcaram o encerramento da Special Edition
O intercâmbio entre Nascar Brasil Sprint Race e
a Nascar dos Estados Unidos deve trazer outros
astros, mas a primeira experiência foi mais do
que positiva, com a satisfação de todos os envolvidos:
piloto, promotor, fãs e concorrentes. Qual
será o próximo passo?
POLÊMICO, EU?
Paul Tracy é conhecido por não ter papas na língua
e não fugiu de respostas que envolviam sua
personalidade. A Nascar Brasil Sprint Race era o
seu primeiro compromisso profissional após experiência
na Superstar Racing Experience, depois da
qual foi “convidado” a não retornar à categoria por
ter causado um grande acidente com Josef Newgarden,
que coletou uma série de outros rivais.
Perguntado o que achava rotulado de piloto
polêmico, ele mandou: “Sempre tive esse rótulo
desde quando comecei na Indy, porque naquela
época, com 21, 22 anos, havia pilotos como
Emerson Fittipaldi, Rick Mears, A.J. Foyt e Mario
Andretti e eles eram homens estabelecidos, se-
nhores, muito respeitosos na pista. E aquela nova
geração era muito agressiva nas corridas o tempo
todo.”
Além de ser considerado uma lenda nas pistas,
Paul Tracy também se aventurou nos microfones,
atuando como comentarista da Indy até o final
da temporada de 2021. A avaliação crítica era
uma de suas marcas, característica que aparentemente
ele não abandonou, quando indagado
sobre o atual momento da categoria.
“Acho a Indy muito competitiva. O nível é muito
alto. A única coisa que acho é que o carro não
é tão veloz como era na minha época. Quando
eu corria, os carros tinham mais de 900 cavalos
de potência, às vezes mil. Agora os carros têm
700 cavalos. Então, acho que o carro agora é um
pouco mais fácil de guiar, não é tão físico. Isso faz
com que a competição diminua, porque um cara
mediano consegue fazer um bom tempo de volta.
Acho que se eles colocassem mais potência e
deixassem mais difícil de pilotar, isso separaria os
pilotos de nível superior dos de trás.”
Com duas vitórias, Gabriel Casagrande
e Gui Backes foram campeões da ProAM
Paul Tracy mostrou rápida adaptação
e foi destaque já nos primeiros treinos
46
NASCAR
Eles também
viram à direita
Erick Gabriel
Nascar Media
A etapa da Nascar nas ruas de Chicago foi um sucesso, quase igualando o público da Indy 500
A Nascar é certamente a categoria que mais se identifica
com os circuitos ovais nos Estados Unidos, e de
todos os tipos, apesar de uma das joias da Tríplice
Coroa do automobilismo, as 500 Milhas de Indianápolis,
ser disputada nesse tipo de traçado, mas fazendo
parte da IndyCar. Mas a evolução da categoria de
monopostos mostra uma variedade muito maior de
layouts, chegando a ter apenas quatro ovais por temporada
em 2023, Indianápolis, Texas, Iowa e Gateway.
Sempre contando com um calendário carregado,
hoje são 36 etapas que valem pontos na Cup Series,
o principal campeonato da Nascar, mais duas provas
festivas. Os ovais realmente são a grande maioria, até
levando algumas pessoas a acreditarem que a categoria
tem em seu cronograma 100% desse tipo de
corrida.
Mas poucos sabem que logo na sexta temporada de
sua história, a Nascar já introduzia um circuito misto,
no Linden Airport, em New Jersey, em junho de 1954,
com vitória de Al Keler. De lá para cá, mais 17 circuitos
foram usados, chegando a seis mistos no atual calendário
– em 1/6 do campeonato, os pilotos encaram
um traçado diferente do comum.
Tradicionalmente, o calendário reservava dois ou três
encontros em mistos, mas a partir de 2021 uma aposta
ousada da maior categoria do automobilismo dos Estados
Unidos viu seis compromissos em mistos.
ESPECIALISTAS
Jeff Gordon, uma das lendas da Nascar, é também
aquele que mais venceu em mistos, com nove triunfos,
tendo sido cinco em Sonoma e quatro em Wa-
47
tkins Glen. Em segundo lugar aparece Tony Stewart,
com oito, sendo cinco em Glen e três em Sonoma,
que também foi o palco de sua última vitória na carreira,
em 2016.
Na era moderna da Nascar, Sonoma e Watkins Glen
eram os principais circuitos em que se virava também
para a direita e os dois principais recordistas fizeram
seus nomes nesses traçados. Com o fato de apenas
duas corridas serem assim, os grids não contavam
com mais especialistas, chegando a muitas vezes as
equipes optarem pelo uso de pilotos de outras categorias
para, na contagem final do campeonato das
equipes, a disparidade não ser tão grande.
SUCESSO
Os calendários das temporadas da Nascar Cup e Xfinity
Series de 2023 chegaram com uma grande novidade.
Pela primeira vez, os carros não só virariam
para a direita, como fariam isso em um circuito de rua,
sendo Chicago o local escolhido.
Chuvas e trovoadas fizeram questão de se fazer presente
desde sábado, abreviando o final da prova da
Xfinity Series, com o brasileiro Miguel Paludo sendo o
13º colocado, e atrasando a largada da corrida da Cup
no domingo.
Mesmo assim, a vitória surpreendente do neozelandês
Shane Van Gisbergen foi vista por um público
similar ao das 500 Milhas de Indianápolis da Indy
deste ano. Foram 4.620.000 de pessoas pela rede
NBC, apenas 96 mil a menos que a corrida que teve
o triunfo de Josef Newgarden, mostrando a força da
categoria neste tipo de circuito.
Comemoração do neozelandês Shane Van Gisbergen
pela vitória conquistada na etapa de Chicago
Como sempre, a corrida mais vista do ano até agora
da Nascar, que deve manter esse status até o final do
campeonato, é a Daytona 500, com 8.173.000 telespectadores.
Como as 500 Milhas de Daytona são transmitidas
pela rival FOX, a corrida de Chicago foi a mais vista
da NBC em seis anos.
A lenda Jeff Gordon conquistou no misto de Sonoma cinco das vitórias que acumulou na Nascar
48
DNA OVAL
Mesmo com o aumento
do número de eventos
em mistos, a evolução
dos pilotos neste tipo
de traçado, a resposta
positiva do público com
grandes audiências e
a atração de pilotos
estrangeiros que tentam
a sorte em corridas
como estas, como Kimi
Raikkonen, Jenson
Button, Kamui Kobayashi,
entre outros, o DNA da
Nascar é o oval.
Isso porque o aspirante
a piloto nos Estados
Unidos tem sua base
nesse tipo de traçado,
especialmente em piso
de terra batida, um
cenário muito diferente
do europeu ou brasileiro,
que forma sua base no
kart, fazendo curvas para
ambos os lados.
Shane Van Gisbergen,
vencedor da corrida de
Chicago, tricampeão da
Supercars Australiana, se
mudará para os Estados
Unidos em 2024 para
uma temporada completa
na Nascar Cup Series e a
sua maior preocupação,
assim como de seus
fãs na Nova Zelândia e
Austrália, é a adaptação
ao oval. É uma barreira
cultural que separa
dois mundos bem
diferentes, apesar de
atenderem pelo nome de
automobilismo em todos
os casos.
INÉDITO?
O evento da Nascar em Chicago realmente foi considerado
um fenômeno, tanto em audiência como de presença
de público, em um dos maiores cartões postais dos Estados
Unidos. Oficialmente, a categoria tratou como uma
corrida pioneira em um circuito de rua.
Mas, muitos questionam o marketing sobre o evento, já
que de 1949 a 1958 Daytona Beach, na Flórida, recebia as
corridas da Nascar na praia, em um “oval” que utilizava
parte da rua que acompanhava a orla.
O traçado era metade na areia e metade no asfalto e deixou
de ser usado assim que o Daytona International Speedway
foi inaugurado, em 1959. Foi quando nasceu a maior
corrida da categoria, as 500 Milhas de Daytona, na maioria
das vezes em fevereiro e abrindo o campeonato.
Tony Stewart comemorou também em Sonoma,
sete anos atrás, sua última vitória na Nascar
49
ENDURANCE BRASIL
Velocidade
que vale ouro
Etapa de outubro coloca categoria na galeria
histórica da corrida mais tradicional do Brasil
Vandré Dubiela
Bruno Terena
A Cascavel de Ouro terá na pista, neste ano, as supermáquinas do Endurance Brasil
A Cascavel de Ouro remete qualquer fã do automobilismo
a memórias, com muitos ou com poucos
detalhes. Ao lado das inúmeras versões já vistas
das Mil Milhas, além das 12 Horas de Tarumã e dos
500 Quilômetros de São Paulo – em uma lista que
as 500 Milhas de Londrina também fizeram menção
de integrar –, o nome da tradicional prova da
cidade paranaense se destaca entre os principais
eventos do esporte a motor brasileiro. E, claro, permeia
as mais diversas trajetórias, sobretudo pelo
grande número de categorias que já contemplou.
Faz 56 anos que a Cascavel de Ouro foi disputada
pela primeira vez, numa empoeirada pista de rua,
em época em que a cidade ainda não tinha seu autódromo.
Em 2023, o histórico do evento acolhe
mais uma categoria: o Império Endurance Brasil,
que na sexta de suas oito etapas visitará pela primeira
vez o traçado de maior média de velocidade
do país. As quatro horas da corrida marcada para
21 de outubro, um sábado, terão em disputa também
a inclusão dos campeões da 37ª edição da
Cascavel de Ouro.
50
Rodolfo Scherner/Bruno Castilho, dupla que
venceu em 1967 com um Simca Chambord
A edição de 1982 valeu pela F-2 Codasur,
com vitória do gaúcho Aroldo Bauerman
“Marcar a sexta etapa do campeonato com a Cascavel
de Ouro é algo que nos deixa muito orgulhosos”,
afirma Henrique Assunção, que preside a Associação
dos Pilotos de Endurance. “A Cascavel de
Ouro é uma prova histórica do automobilismo nacional
e participar dela é reflexo do crescimento do
Império Endurance Brasil ao longo dos últimos anos.
Somos uma categoria de apaixonados pelo esporte
a motor, o público de Cascavel também é aficionado
por corridas, e tenho certeza que faremos um grande
evento”.
As primeiras edições, nas décadas de 60 e 70,
confrontavam pilotos a bordo de tudo o que havia
disponível em termos de carros de competição na
época. Receita que serviu, também, para maioria
das edições dos anos 80 e 90, sobretudo para as
máquinas das categorias de âmbito regional. Houve
exceções específicas, como a etapa da Super Vê em
1976, da Fórmula 2 Codasur em 1982 ou da Fórmula
3 Sul-Americana em 1992, todas elas colocando em
disputa o troféu mais tradicional do automobilismo
brasileiro.
Com o Puma Spartano e o Avallone,
Pedro Muffato venceu três vezes
Em termos automobilísticos, o mais ilustre
dos vencedores da Cascavel de Ouro é Nelson
Piquet. Ele venceu a sétima edição do evento,
levado a efeito em 1976 como uma etapa do
Campeonato Brasileiro de Super Vê. Duas
temporadas antes ele havia conquistado
também no circuito paranaense sua primeira
vitória na categoria – tal qual aconteceria com
seu filho Nelsinho na Fórmula 3 sul-americana
em 2001. Nelson Piquet estrearia na Fórmula
1 dois anos depois de se tornar campeão da
Cascavel de Ouro. Seu último contato com
a pista aconteceu em 2015, em um treino
extraoficial da Porsche Cup Brasil.
51
GALERIA DE CAMPEÕES
DA CASCAVEL DE OURO*
Daniel Gomes
Com um Divisão 3, Edgar Favarin conquistou
em 1983 a primeira das sete vitórias que tem
Depois de um hiato de cinco anos, os dirigentes retomaram
a história da Cascavel de Ouro em 2003,
com três edições consecutivas sob o regulamento
praticado no campeonato local para carros de turismo.
O intervalo seguinte foi ainda maior, de seis anos,
até que a única ida da hoje extinta GT Brasil à cidade
também valeu o troféu Cascavel de Ouro, em 2012. O
ano seguinte foi sabático, mas em 2014 a história foi
retomada com ritmo, de volta aos grids formados por
carros dos campeonatos de turismo.
Não é exagero dizer que a Cascavel de Ouro pariu
a atual Turismo Nacional, criada em 2017 por Ângelo
Correa, que acompanhava todos os anos o desempenho
do filho Gabriel no evento do Oeste paranaense,
do qual saiu campeão em 2019. A renovação da frota
do campeonato que nasceu nos bastidores do evento
festivo levou à implantação de outro campeonato, o
da Gold Turismo, que desde o ano passado tem seus
grids abarrotados de modelos de carros que já não se
encontram mais nas vitrines das concessionárias.
Foram nove anos consecutivos com os carros de
turismo, sequência quebrada em 2021, por força de
efeitos da pandemia, quando o cancelamento do formato
original promoveu o evento-suporte da Gold
Classic à Cascavel de Ouro. E, próxima de completar
seis décadas, a rica história do evento vira mais uma
página para, em outubro, acolher no grid do Autódromo
Internacional Zilmar Beux protótipos e carros de
gran-turismo que permeiam os sonhos dos fãs que
devotam sua paixão ao mundo das quatro rodas.
1967 - Rodolfo Scherner/Bruno Castilho
(Laranjeiras do Sul/Curitiba), Simca
1970 - Sérgio Valente Withers (Curitiba),
Volkswagen Divisão 5
1971 - Pedro Muffato (Cascavel),
VW Puma Spartano
1973 - Francisco Lameirão (São Paulo),
Avallone-Chrysler
1974 - Pedro Muffato (Cascavel), Avallone-Chrysler
1975 - Pedro Muffato (Cascavel), Avallone-Chrysler
1976 - Nelson Piquet (Brasília), Super Vê
1980 - Marcos da Silva Ramos (Curitiba),
GM Chevette
1982 - Aroldo Bauermann (Porto Alegre),
Muffatão-Passat Fórmula 2
1983 - Edgar Favarin (Cascavel), VW Fusca
1984 - Cláudio Elbano (Curitiba), VW Passat
1985 - Saul Mário Caús (Cascavel), GM Opala
1986 - Dilso Sperafico (Toledo), Hot-Fusca
1987 - Aloysio Ludwig Neto (Cascavel), Dodge RT
1988 - Ruy Chemin (Cascavel), Dodge RT
1989 - Marcos Corso (Curitiba), VW Passat
1990 - Edgar Favarin/Clênio Faust
(Cascavel/Francisco Beltrão), VW Passat
1991 - Edgar Favarin/Milton Serralheiro
(Cascavel), VW Gol
1992 - Constantino Júnior (Brasília),
March-Honda Fórmula 3
1993 - Cláudio Girotto/Lourenço Barbatto
(São Paulo), Aldee-VW
1994 - Edgar Favarin/David Muffato/Gilson Reikdall
(Cascavel/Cascavel/Curitiba), Aldee-VW
1996 - Edgar Favarin/Valmor Emílio Weiss
(Cascavel/Curitiba), VW Gol
1997 - Valmor Emílio Weiss/Antônio Espolador
(Curitiba), VW Gol
2003 - Aloysio Ludwig Neto/Flávio Poersch
(Cascavel), VW Voyage
2004 - David Muffato/Ruy Chemin
(Cascavel), Ford Escort
2005 - Edgar Favarin/Flavio Poersch
(Cascavel), Ford Escort
2012 - Paulo Bonifácio/Sérgio Jimenez (São Paulo/
Piedade), Mercedes-Benz SLS AMG GT3
2014 - Leandro Zandoná/Daniel Kaefer
(Cascavel), Ford Fiesta
2015 - Natan Sperafico/Ricardo Sperafico
(Toledo), Ford Ka
2016 - Odair dos Santos/Thiago Klein
(Ciudad del Este/Cascavel), VW Gol
2017 - Emílio Weiss/Marcel Sedano
(Curitiba/Porto União), VW Gol
2018 - Edgar Favarin/David Muffato/Israel Favarin
(Cascavel), VW Gol
2019 - Gabriel Correa/Daniel Kaefer
(Goiânia/Cascavel), Ford New Ka
2020 - Beto Monteiro/Odair dos Santos/Thiago
Klein (Recife/Ciudad del Este/Cascavel), GM Onix
2021 - Caio Lacerda (São Paulo), Aldee-VW
2022 - Fabrício Lançoni (Curitiba), VW Gol
A edição de 2022 da Cascavel de Ouro teve na pista o grid da Gold Turismo
52
53
HIST0RIA
Fórmula Fiat, a
grande sensação
dos anos 90
Alavancada pelo sucesso do Uno no mercado brasileiro,
categoria também deu base ao lançamento do Palio no Brasil
Rodrigo Carelli
Acervo “Blog do Carelli”
O conceito de categoria monomarca é muito difundido
no automobilismo de competição pela gama de
atrativos que contempla. Custos reduzidos, facilidade
nas padronizações técnicas e desportivas, disputas
sempre mais equilibradas e a possibilidade teoricamente
mais evidente de se angariar o apoio oficial
de uma fábrica de automóveis a partir de seu interesse
na plataforma de divulgação de seu produto.
A história do automobilismo brasileiro ressalta uma
série de categorias monomarcas bem-sucedidas.
A Fórmula Uno, convenientemente convertida em
Fórmula Palio no andamento de sua história, é um
dos melhores exemplos, tendo perdurado por quase
toda a década de 90 com grids sempre abarrotados,
apoio de fábrica, bons patrocinadores, presença dos
pilotos de maior renome do esporte e disputas acirradas
do começo ao fim das corridas.
Sob organização e regência técnica do experiente
Luiz Antônio Greco e apoio oficial da Fiat brasileira, a
categoria estreou em 1992. O carro escolhido como
base para o modelo de competição foi o Uno 1.6R,
a versão esportiva do pequeno hatch. As previsões
iniciais apontavam que cada piloto teria um investimento
aproximado de 40 mil dólares, nos valores da
época, para disputar toda a temporada.
A Fiat subsidiava os gastos com combustível,
transporte e inscrição e vendia os carros aos pilotos
a preço de custo praticamente “depenados”. Cabia
à Greco Competições a montagem dos itens de
competição. Também era atribuição do time de Luiz
Antônio a preparação de todos os motores de 1.600
cm 3 , que tinham potência estimada de 108 cv. Em
nome do equilíbrio, esses motores eram sorteados
entre os pilotos a cada etapa.
Arquibancadas e grids lotados eram marcas da
Fórmula Uno, como na etapa decisiva de 1992
Paulão Gomes lidera a etapa que levou a F-Uno
ao Nordeste em 1994, no autódromo de Caruaru
54
Não poderiam faltar àquele os grid momentos
da rivalidade Ingo Hoffmann x Xandy Negrão
A troca da carburação pela injeção eletrônica
alavancou ainda mais o sucesso da categoria
Fábio Greco, filho de Luiz Antônio, lembra com riqueza
de detalhes de todo o processo de implantação
da F-Uno (veja entrevista nas páginas 58 e 59). E
da maior dificuldade enfrentada na estreia: “Tivemos
muitos problemas com a carburação dos carros, por
conta da grande quantidade de álcool no combustível
nas diferentes localidades onde as corridas aconteciam.
Acertar a carburação era um desafio, sofremos
muito”.
Para alavancar a participação de pilotos mais jovens
ou estreantes, a Fiat ofereceu como prêmio ao
melhor deles uma temporada na Fórmula 3 italiana.
Flávio “Nonô” Figueiredo conseguiu uma façanha
improvável: foi campeão geral e, obviamente, o
melhor dos pilotos considerados novatos, superando
Fábio Sotto Mayor e Xandy Negrão na decisão.
Sotto Mayor, vice-campeão, recebeu um Fiat Tempra
como prêmio.
A primeira temporada teve 10 etapas pelos principais
circuitos do país, com adesão de nomes de
peso como Chico Serra, Adalberto Jardim, Fábio
Sotto Mayor, Toninho da Matta, Ingo Hoffmann, Xandy
Negrão, Maria Cristina Rosito e tantos outros. Os
grids atingiram o patamar de 50 carros logo na primeira
temporada – destaque para a corrida decisiva,
em Interlagos, para a qual foram registradas as inscrições
de 48 pilotos.
Ao fim da primeira temporada a Fórmula Uno
sofreu um baque. Um infarto matou seu criador e
organizador Luiz Antônio Greco, aos 57, durante férias
em Miami. O legado do principal responsável
pela organização técnica da categoria – também
um dos mais importantes chefes de equipe e preparadores
da história do automobilismo brasileiro
– foi repassado a seu filho Fábio Greco, então com
29 anos.
A Greco Competições promoveu melhorias técnicas
nos Uno para a nova temporada, entre elas a
adoção da injeção eletrônica, que punha fim ao drama
com os carburadores. Seguiam os pneus radiais,
saindo a Pirelli e entrando a Goodyear. Apesar do
sorteio de motores, do lote de 150 unidades disponíveis,
os pilotos tinham a prerrogativa de exigir até
duas trocas por etapa. Uma eventual terceira troca
mandava o piloto para o fim do grid.
Em 1993 a categoria assumiu a condição de grande
sensação do automobilismo nacional, angariando
cada vez mais pilotos, equipes e patrocinadores. As
10 etapas seriam televisionadas pela Rede Bandeirantes,
como atração do dominical “Show do Esporte”.
Ingo Hoffmann venceu três etapas e foi campeão
da Graduados A. Na Graduados B, Carlos Apezzato
levou o caneco após uma disputa bastante acirrada
contra Ênio Paranhos.
Os motores da primeira geração da F-Uno, em
1993, e os que equipavam a F-Palio em 1997
55
O lançamento internacional do Palio deu novo
visual ao grid da F-Fiat na temporada de 1996
Na etapa goiana de 1997 Beto Giorgi puxou
a fila, mas seu título só viria nos tribunais
Em 1994 a Fiat levou o recém lançado Uno Turbo
também às pistas, com pneus slick Goodyear e molas
e amortecedores de competição. O motor era o
mesmo dos carros de série e rendia 118 cavalos. O
Uno Turbo de corrida tinha o mesmo visual do carro
de rua, com apêndices aerodinâmicos nos parachoques,
na tampa traseira e nas laterais. Essa era a categoria
Turbo. A Aspirado mantinha o pacote técnico
com motor de 1.600 cm e pneus radiais de rua.
A primeira das dez etapas aconteceu em 1º de maio,
em Brasília. Ao término da corrida da Aspirado os pilotos
receberam a notícia da morte de Ayrton Senna.
Não havia mais clima para competição. Chico Serra,
amigo próximo de Senna, estava bastante abalado.
Em respeito ao ídolo da Fórmula 1, e como forma
de homenagem, os pilotos da Turbo decidiram não
correr. Completaram só uma volta pela pista, em fila,
com faróis acesos.
Outro tricampeão de F-1 marcou a temporada de
1994: Nelson Piquet disputou a terceira etapa. Classificou-se
em 11º no grid de Interlagos e deixou a corrida
com superaquecimento de motor. Foi sua única
experiência na Fórmula Uno, que naquele ano realizou
uma etapa em Caruaru, diante de 12 mil torcedores.
A organização submeteu-se a uma epopeia para
viajar a Pernambuco, deslocando cinco carretas para
o transporte de carros e motores.
Na disputa pelo título da Turbo, Paulão Gomes levou
a melhor no épico duelo com Chico Serra, pondo
fim ao jejum de títulos nacionais que vinha desde
o Brasileiro de Marcas & Pilotos de 1991. Na Aspirado,
José Massa Neto foi campeão, tendo José Mário
Castilho e Beto Giorgi como adversários diretos. E a
categoria, em ascensão extrema, chegava ao patamar
de totalizar mais de 60 carros nas duas categorias
para a temporada de 1995.
Temporada que marcou o primeiro bicampeonato,
com Nonô Figueiredo levando o título da Turbo no
duelo com Walter Travaglini. José Mário Castilho reinou
absoluto na Aspirado. O ano marcou a estreia
de duas jovens promessas: Cacá Bueno, 18 anos, e
André Bragantini Jr., 16, juntavam-se a Valdeno Brito
Filho, 21, presente desde o ano anterior. Era o início
da onda de pilotos que direcionaram suas carreiras
para as categorias de turismo.
A grande novidade do evento para 1996 foi criação
da Fórmula Palio, que alavancou o lançamento
do novo modelo da Fiat. O carro, na versão de
pista, tinha motor 1.6 multiválvulas, com cabeçote
retrabalhado e substituição da central eletrônica de
injeção por uma voltada à performance. A potência
era de 124 cv. Os pneus Pirelli eram slick. A Fórmula
Uno seguiu, com divisão nas categorias Graduados
e Novatos.
Xandy Negrão foi o primeiro campeão da Fórmula
Palio, pondo fim a um jejum de título de dez anos
– seu último havia sido o do Brasileiro de Marcas &
Pilotos de 1986. Pela F-Uno, que usou motores 1.6 aspirados
e aposentou os turboalimentados utilizados
na classe principal nos dois anos anteriores, Fred
Marinelli levou o título da Graduados, enquanto André
Bragantini Jr. definiu a disputa da Novatos duas
etapas antes do campeonato terminar.
O formato tornou a mudar em 1997. A Fórmula Palio
foi subdividida em classes A e B, com 25 carros
em cada uma. A Fórmula Uno mantinha o modelo
veterano na pista, com grid médio de expressivos
33 carros para sua classe única, a Novatos. Esse título
foi conquistado por Rômulo Rocha – foi a única
vez que um piloto da cidade paranaense de Telêmaco
Borba conquistou um título brasileiro de automobilismo.
56
Na Fórmula Palio as decisões foram pouco pacíficas.
Na etapa final, em Interlagos, a punição de
20 segundos aplicada a Beto Giorgi fez de Paulo
Gomes o campeão da classe A. Giorgi recorreu
aos tribunais e teve seu título reestabelecido quase
um ano depois. Na classe B, Albery Spinola foi
desclassificado da corrida decisiva por irregularidades
em seu carro, o que fez com que o título
ficasse com André Bragantini Jr.
Mais novidades vieram para 1998, quando a
Fórmula Uno tornou-se uma categoria feminina.
A ideia de reunir as mulheres pilotos em
uma categoria exclusiva foi liderada por Maria
Helena Fittipaldi. Os equipamentos tinham preparação
padronizada e as participantes tinham
espaço para desenvolver sua pilotagem lideradas
e acompanhadas por um profissional do
calibre de Amadeu Rodrigues. Juliana Carreira
foi a campeã.
Pela Fórmula Palio, Luizito Massa, tio de Felipe,
foi o campeão da classe B, que absorveu também
os pilotos que até o ano anterior atuavam na Fórmula
Uno Novatos. Waldir Buneder, na classe A,
conquistou o único título de um gaúcho nas oito
temporadas de história do evento. Sim, apenas
oito: a temporada de 1999, que começou apenas
em agosto por conta da demora na confirmação
de patrocínios, seria a última.
Pilotos e equipes driblaram as intempéries e
apresentaram ao público um campeonato digno.
André Bragantini Jr. faturou mais um título,
desta vez na Palio A. Antônio “Gugu” Guimarães
foi o campeão na Palio B. A categoria chegava
ao fim certa da prestação dos melhores serviços
para o automobilismo. Levou multidões aos
autódromos, confrontou os melhores pilotos do
país em grids numerosos, revelou talentos.
ANO
CATEGORIA
CLASSE
Em 1998 a Fórmula Uno se
tornou uma categoria para
mulheres. Juliana Carreira,
irmã e prima de pilotos,
foi a campeã
Atual CEO da Stock Car, Fernando Julianelli foi
um dos integrantes do grid da F-Palio em 1997
OS CAMPEÕES E VICES DA FÓRMULA FIAT
CAMPEÃO
VICE
1992
Fórmula Uno
Única
Nonô Figueiredo
Fábio Sotto Mayor
1993
Fórmula Uno
Graduados A
Ingo Hoffmann
Xandy Negrão
1994
Fórmula Uno
Graduados B
Carlos Apezzato
Ênio Paranhos
1994
Fórmula Uno
Turbo
Paulo Gomes
Chico Serra
1994
Fórmula Uno
Aspirado
José Massa Neto
José Mário Castilho
1995
Fórmula Uno
Turbo
Nonô Figueiredo
Walter Travaglini
1996
Fórmula Uno
Aspirado
José Mário Castilho
Paulo Braga
1996
Fórmula Palio
A
Xandy Negrão
José Mário Castilho
1996
Fórmula Uno
Graduados
Fred Marinelli
Rogério Motta
1996
Fórmula Uno
Novatos
André Bragantini Jr.
Marcelo Siqueira
1997
Fórmula Palio
A
Beto Giorgi
Paulo Gomes
1997
Fórmula Palio
B
André Bragantini Jr.
Albery Spinola
1997
Fórmula Uno
Novatos
Rômulo Rocha
Laírton Miranda
1998
Fórmula Palio
A
Waldir Buneder
Chico Serra
1998
Fórmula Palio
B
Luizito Massa
Luciano Zangirolami
Estreante no automobilismo, Cacá Bueno ouvia
atento, aos 18 anos, os conselhos do pai Galvão
1998
1999
Fórmula Uno
Fórmula Palio
Feminina
A
Juliana Carreira
André Bragantini Jr.
Mara Feltre
Antônio Jorge Neto
1999
Fórmula Palio
B
Gugu Guimarães
Nelson Bazzo
57
Fábio Greco:
“Era competição,
mesmo!”
Ex-piloto e atual presidente do Conselho Técnico
Desportivo Nacional da CBA relembra à Revista Grid os
desafios vividos com a Fórmula Uno e a Fórmula Palio
GRID - Como surgiu a ideia da Fórmula Uno? Como
nasceu esta categoria?
Fábio Greco - O processo começou em 1990. O automobilismo
caiu demais, as montadoras saindo da
Stock Car, saindo do Marcas, o automobilismo estava
minguando, eram cada vez menos carros. Aí o meu
pai, muito preocupado, começou a buscar as montadoras.
Foi na GM, na Ford, na Volkswagen, na Fiat,
mostrando projetos de uma categoria monomarca
muito mais barata, que atraísse o público e os pilotos.
A Fiat acabou comprando a ideia. Meu pai foi bem hábil,
como ele sempre foi, para fazer um belo projeto.
Essa a expertise do meu pai, saber “vender o peixe”,
como ele mesmo falava. O primeiro ano foi bem difícil,
como sempre é. Tivemos muitos problemas com
os carburadores... Enfim, os motores tiveram bastante
problema. O combustível foi outro problema. Na época
existia uma diferença muito grande de quantidade
de álcool no combustível de um Estado para outro, e
isso alterava demais a carburação. Sofremos muito.
GRID - Já no primeiro ano da categoria, em 1992,
seu pai infelizmente nos deixou. Como foi para você
assumir a gestão da categoria?
Fábio Greco - Eu tinha 29 anos quando meu pai
faleceu, era um moleque. Meu pai me ensinou tudo
na minha vida, trabalhei com ele desde os 12 anos,
assimilei bastante, mas foi muito difícil enfrentar os
leões. Aí trabalhei como louco nos três primeiros meses
do ano desenvolvendo a injeção eletrônica, foi a
primeira categoria no Brasil a ter injeção eletrônica.
Tínhamos sofrido demais com o carburador e eliminamos
o carburador. Quando fomos para a injeção a
categoria deu um pulo, assim, fantástico. Em 1993 e
1994 tivemos que limitar o número de carros, a categoria
“estourou”. E virou o que virou pela ajuda do
meu pai, porque nós já estávamos pensando nisso, e
ele acabou falecendo antes de entrar neste projeto.
Eu entrei de cabeça. Eu fiquei três meses focado, isso
fez com que eu esquecesse um pouco o falecimento
dele. Quando saiu a primeira corrida foi um alívio, eu
até homenageei ele em todas as provas de 1993 e recebi
homenagem em todos os autódromos por ele.
GRID - Como era o apoio da Fiat do Brasil?
Fábio Greco - Eu sempre tive o apoio completo da
diretoria e da presidência da Fiat. Eu tinha uma carta
do presidente da Fiat na época, que me apresentava
como um representante da Fiat, então eu ia nos
concessionários, eu ajudava os pilotos a conseguirem
Luiz Antonio Greco, responsável pelo advento da
F-Uno, sofreu um infarto fatal no Natal de 1992
58
GRID - Como era o desafio de garantir o balanço
de performance dos motores?
Fábio Greco - Nós tínhamos muitas peças, eu tinha
mecânicos muito eficientes, eu mesmo entendo
bastante disso, tinha bastante dinamômetro, a gente
tinha uma equipe fantástica. Nosso critério era bem
certinho, trocava tudo, tudo sempre original. Não
economizava em nada, era muito bem feito. Eu tinha
o apoio da Fiat, então tinha muita peça. Trocava tudo,
não economizava um centavo, e isso matinha o equilíbrio.
Tínhamos muito motor reserva, então eu andava
muito nos carros. Eu era piloto, recém tinha parado
de correr. Eu era novo, guiava muito bem com tração
dianteira. Eu vim disso, participei de vários campeonatos
e ganhei títulos, então eu conseguia entender
se estava ruim, mesmo, ou se não estava. A gente
acabava por trocar motores. Se tivesse que trocar,
trocava. Claro, sempre havia alguém descontente,
isso faz parte do jogo. No automobilismo sempre tem
reclamação, é uma coisa contínua, mas eu tinha um
time maravilhoso.
Fábio Greco é o atual presidente do Conselho
Técnico Desportivo Nacional da Confederação
patrocínio na região de cada um. Ajudava nisso também,
não só em patrocínio para a categoria. Isso ajudava
demais. Carro, peças, os pilotos até ganhavam
um dinheiro. Ingo, Fabinho, Xandy, Paulão, todos esses
pilotos de renome entraram, porque a Stock Car
estava em baixa, o Brasileiro de Marcas estava no fim,
e todos acabaram entrando justamente por causa
disso. Era um meio de vida. Eu sei que o carro não era
“uma Brastemp”, era pequeno, mas tínhamos grids lotados,
autódromos lotados, e aquilo que valia: aquilo
era competição, mesmo!
GRID - Como foi a preparação do Palio em 1996?
Fábio Greco - Foi um desafio. Primeiro porque o
carro seria lançado mundialmente, era um segredo,
e tive que construir os carros lá na fábrica, não podia
sair de lá. Era um projeto secreto, então para nós foi
muito difícil. Foi a primeira vez que a Fiat fez um motor
diferente, com tuchos hidráulicos, um monte de
coisas diferentes no carro, então para nós também foi
um desafio ter que lidar com esse motor. Fomos no
Berta, na Argentina, fomos para a Itália, nos irmãos
Pedrazzani, e a gente não conseguia melhorar o motor.
Acabamos acertando o motor aqui. O motor que
a gente conseguiu desenvolver aqui era fantástico.
Acabamos estreando em Brasília, e o carro foi um
sucesso, um carro maravilhoso, a Fiat adorou, assim
como tinha sido com o Uno Turbo.
GRID - Quais foram as circunstâncias do fim da categoria?
Fábio Greco - Toda categoria monomarca tem um
período, ela vai se desgastando. A montadora tem
um planejamento, ela investe uma quantidade de
tempo, e ela vai diminuindo, ela vai achando que a
categoria tem que se tornar autossuficiente, mas ela
não é. Que patrocinador vai investir em um produto
que só tem uma marca envolvida? Fica inviável, teria
que começar a virar uma multimarca, o que não era o
caso, então a categoria acaba. Chegou uma hora que
mudou a presidência, a diretoria, resolveram pegar a
verba que era destinada à competição e direcionar
para outros fins, aí ficou inviável a continuidade do
projeto. Se tivesse até hoje, seria uma categoria maravilhosa
para revelar pilotos, como revelou Cacá Bueno,
Antônio Jorge Neto e muitos outros que estão até
hoje brilhando em suas carreiras. Como foi feito com
eles poderia ter sido feito com muito mais pilotos. De
qualquer forma, foi um sucesso enquanto durou, e a
lembrança de todos que estavam lá, de uma era, da
década de 90, que marcou o automobilismo, foi essa
categoria.
59
STOCK CAR
Muito mais que
carro novo
Novo projeto só verá bandeira verde em 2025,
mas já impressiona – sobretudo por sua conectividade
Cleber Bernuci
Duda Bairros
Para uma categoria com 44 anos de idade, não
são só as gerações de pilotos que vêm e vão. Desde
seu início no final dos anos 1970 com os Chevrolet
Opala, passando pelos Omega na primeira
metade dos anos 90 e com a adoção do chassi
tubular no final da mesma década. Esse processo
permitiu à Vicar, organizadora da Stock Car,
adaptar visuais de diferentes veículos de produção
ao sabor do que decidiam os departamentos
de marketing das montadoras envolvidas.
Depois, em 2009, o primeiro passo rumo à modernidade
com a adoção do JL-G09, projeto do
italiano Nicola Scimeca junto de Gustavo Lehto,
da então JL – hoje Giaffone Racing -, que era derivado
do Audi TT do DTM. Moderno para a época,
hoje um tanto defasado. Tanto que o câmbio
Xtrac que equipa os carros de hoje não são mais
fabricados pela empresa britânica.
Até a nova geração de carros que estreou em
2020, utilizando mais partes originais dos Chevrolet
Cruze e Toyota Corolla de produção, ainda tem
em seu esqueleto e órgãos internos o DNA do JL-
G09. Um carro que se provou seguro e eficiente.
Mas os tempos mudam. Tecnologia, segurança,
níveis de emissões... Tudo evolui. Daí a necessidade
de a Stock Car Pro Series, na qualidade da
Volante de Fórmula 1?
Quase. O do novo Stock Car foi
projetado pela Grid Engineering
60
mais importante categoria do automobilismo brasileiro
e uma das mais competitivas do mundo quando se
fala em carros turismo, também evoluir.
“Este carro é um divisor de águas na nossa história”,
destaca Fernando Julianelli, CEO da Vicar, promotora
da Stock Car. “Muita pesquisa e tecnologia foram
empregadas para que tenhamos o carro mais seguro,
performático e tecnológico na nossa história. Ele
vai levar muito mais emoção, não só para os pilotos,
mas também aos nossos fãs”. A Stock Car não quis só
evoluir. Quis revolucionar. Durante o fim de semana da
sexta etapa da temporada, a categoria apresentou no
Autódromo Velocitta o Audace SNG01, seu novo carro.
Ninguém presente ao Velocitta viu o carro inteiro,
montado. Contudo, todos puderam ter uma ideia do
que vai ser esta nova máquina, que teve cada parafuso
e peça apresentados. Como em uma “feira de ciências”,
definição dada pelo próprio Julianelli, a intenção era
mostrar toda a tecnologia empregada nas partes do
veículo e em todos os processos de fabricação.
“Ele chega para revolucionar a Stock Car e, com isso,
trazer novas metas para os demais atores do automobilismo
brasileiro. A Stock, que já era um exemplo seguido
por todos, agora eleva a barra, indicando qual é
o futuro do nosso automobilismo. Nós e nossos parceiros,
como a ArcelorMittal e a Qualcomm, estamos muito
orgulhosos do que estamos realizando”, completou.
Sim, a ArcelorMittal se encarregou de preparar um
novo blend do aço empregado na estrutura tubular de
segurança do Audace SNG01, proporcionando mais segurança
e, nas conhecidas palavras de Colin Chapmann,
criador da equipe Lotus de F-1, “adicionando leveza”.
A Qualcomm, parceira da categoria, também trouxe
inovação em conectividade. Por meio do sistema
Snapdragon, o carro terá enorme capacidade de sensorização
de seus diversos sistemas, aquisição de dados
em tempo real e transmissão de dados e imagens
das câmeras onboard em tempo real. Serão três câmeras
internas por carro, uma delas em 360 graus. Uma
experiência totalmente nova para os fãs – e também
para os comissários desportivos, que terão muito mais
agilidade na tomada de decisões durante as corridas
na análise de incidentes de pista.
Tal tecnologia empregada já rendeu à Stock Car um
prêmio como plataforma de desenvolvimento e implantação
de uma inovação tecnológica em telecomunicações
no projeto desenvolvido por Qualcomm, Baicells
Technologies e Audacetech, braço tecnológico do
Grupo Veloci, controlador da Stock Car.
Para os amantes do espetacular ronco dos V8, uma
notícia não muito boa: os novos motores serão de 2,1
litros, com quatro cilindros em linha, turboalimentados,
capazes de gerar 500 cavalos de potência. O
câmbio segue sendo fornecido pela Xtrac, que trará o
mesmo modelo usado no McLaren GT3.
As soldas especiais do Audace SNG01
são realizadas pelo robô da ESPAS
As câmeras vão permitir aos pilotos
ver seus adversários no painel
O aerofólio traseiro, de fibra de carbono,
traz o conceito da asa móvel da F-1
61
O ronco, no entanto, deverá continuar atraente, nas palavras de Fernando Julianelli.
“Todo o design do conjunto dos escapamentos foi pensado também nesta experiência
para o fã, de trazer um ronco atraente, um ronco de carro de corrida”. A mudança é
inevitável, e cada vez mais as empresas têm de cumprir metas de emissão. Aliás, o combustível
do novo carro voltará a ser o etanol a partir de 2025.
Dois detalhes que chamaram muito a atenção no novo carro foram o volante e a asa
móvel. Sim, a Stock Car terá DRS (Drag Reduction System, na sigla em inglês). A metodologia
de aplicação ainda não foi definida, mas será um aliado importante ao push to
pass nas ultrapassagens, estratégias e na já altíssima competitividade da categoria. O
volante foi um show à parte: a peça, altamente tecnológica, foi desenvolvida pela Grid
Engineering, com tela de LCD de 4,3 polegadas que trará várias páginas com informações
diferentes, configuráveis pelo piloto, switches rotativos, retroiluminação e diversos outros
botões que deixaram o volante do novo Stock Car muito parecido com os da Fórmula 1.
“Esse novo modelo está sendo projetado com para aumentar a facilidade de manutenção
dos carros e governança de regulamento. É mais leve e foi desenhado para ser um carro de
corrida, não tem nenhuma adaptação. Desde suspensão, chassi, a forma de se projetar um
carro dentro da pista”, ressaltou Lincoln Oliveira, controlador do Grupo Veloci.
O Audace SNG01 traz mais tecnologia, segurança, conectividade e também maior acessibilidade
para as equipes trabalharem. “Hoje conheço as dores de todos os lados: do
promotor, de quem produz o carro e, principalmente, da equipe. Temos o foco muito
grande de que seja um carro mais simples, mais durável, mais fácil para o mecânico atuar.
Tudo isso está sendo muito bem testado e muito bem pensado. Esperamos que seja
muito à frente daquilo que eles têm hoje. Um dos predicados é que se trata de um carro
muito mais leve, e se estudou um modelo muito mais rígido que o atual”, destacou José
Roberto Avallone, diretor-técnico da Audacetech.
O que ficou em aberto na apresentação do novo carro é a carroceria. Hoje em dia,
são Cruze e Corolla que disputam freadas pelas pistas do país. Mas isso pode mudar, e
Julianelli não descartou sequer a possibilidade de que as “bolhas” dos carros sejam até
mesmo de SUVs das marcas envolvidas.
Diferente do que é praticado hoje, em que as equipes são as proprietárias de seus carros,
a partir de 2025 eles serão locados pela Vicar aos times, prontos para correr. O carro
é mais padronizado e controlado, garantindo que todos os veículos estejam 100% em
condições a todos os pilotos e equipes.
2024 marcará um ano importante na transição do novo carro, já que as equipes terão
o primeiro contato com o veículo durante sessões de testes nas pistas do calendário. Os
pilotos não veem a hora de colocar as mãos no Audace SN01. E nós não vemos a hora de
vê-lo nas pistas.
62
62
Detalhe do cabeçote do
motor Audacetech Toyota
AUDACE SNG01
Mais leve, o motor Audacetech 2.1
turbo gera 500 hp de potência
Motor: Audacetech Chevrolet ou Audacetech
Toyota de quatro cilindros, 2,1 litros,
turboalimentado, 16 válvulas e injeção
eletrônica, com potência de 500 cv a 7.600
rpm e torque 580 Nm de 4.000 a 6.800 rpm
Eletrônica: Motec e Fueltech
Painel: Fueltech FT700 Plus
Peso: 1.100kg (2kg por cv)
Câmbio: XTrac P1529, sequencial e
semiautomático, seis marchas, é acionado pelo
piloto, mas o mecanismo gerencia o engate;
trocas acionadas por borboletas no volante
Suspensão: independente nas quatro rodas,
com triângulos sobrepostos (“duplo A”),
sistema pushrod e amortecedores reguláveis
de competição
Amortecedores: Penske Racing
Conectividade: Qualcomm Snapdragon 5G,
com sensorização de diversas funções do
carro
Visibilidade: câmeras integradas ao chassi
com visão dianteira e traseira, além de
câmera 360 graus interna. As duas primeiras
disponíveis no display do piloto; as três usadas
em transmissão de prova e app
Aerodinâmica: carenagem a definir. DRS, asa
móvel em fibra de carbono
Projeto: Audacetech, ArcelorMittal, IPT e
SENAI
Carroceria: Chevrolet e Toyota, material
compósito (incluindo fibra de carbono, fibra
de vidro, aramida e kevlar), simulações e
testes. Fabricação Rallc
Chassi: tubos DP980R da família de Aços
Avançados de Alta Resistência; chancela IPT
e homologação CBA
Entreeixos: 2.750 mm
Freios dianteiros e traseiros: discos
ventilados, com pastilhas Fras-le e pinças
de competição AP Racing; seis pistões na
dianteira e quatro na traseira
Direção: sistema pinhão/cremalheira,
acionamento elétrico
Simulação computacional: IPT e Siemens
Fabricação e prototipagem: ESPAS e
Audacetech
Elementos de competição (motor e
suspensão): MTR
Volante: Grid Engineering, modelo Stock Car
Rodas: Mangels, liga leve, medidas 11,5 x 18
polegadas (diâmetro x largura)
Pneus: Hankook medidas 300-680x18
Hankook
Combustível: etanol
Tanque: instalado em cofre de fibra de
carbono, é um contêiner de borracha
deformável e resistente desenvolvido
especialmente para competição, seguindo
a classificação standard FT3 da FIA; válvula
de segurança anticapotagem e capacidade
ajustável
Segurança: estrutura tubular em aço DP980R
ArcelorMittal, proteção antichama por
paredes corta-fogo com chapas de alumínio
e revestimento resistente ao calor, estruturas
do tipo crash box na dianteira e traseira em
alumínio para absorção de impacto; estruturas
laterais em carbono, kevlar e aramida para
absorção de impacto e dissipação de energia;
banco do piloto projetado e fabricado nos
EUA com certificação FIA 63
63
STOCK CAR
Todos no páreo
Temporada contabiliza dez vencedores em 16 corridas e abre reta
decisiva com campeão Casagrande liderando a classificação
Luc Monteiro
A Stock Car já deu bandeira xadrez a dois terços
de sua temporada. A quatro etapas de fechar sua
45ª temporada, a categoria ainda coloca em jogo
224 pontos, dada a distribuição aos 20 primeiros
colocados nas duas corridas de cada etapa e ao
bônus assegurado pelo piloto que marca a pole-position.
Considerando-se que o líder Gabriel
Casagrande, da A. Mattheis-Vogel Motorsport,
chegou aos 217 com a vitória e o sétimo lugar
na oitava etapa, em setembro no Velopark, não
é errado afirmar que qualquer ser humano entre
os oito bilhões do mundo está matematicamente
apto a ser o campeão de 2023.
Vãs filosofias à parte, consideremos apenas no
grid atual o recorte de seres vivos candidatos ao
título. O descarte obrigatório de resultados terá
pouquíssima influência – talvez nenhuma. Ao término
da penúltima etapa, com 22 corridas em 11
eventos, cada piloto desfaz-se das duas pontuações
mais baixas para que a disputa siga à decisão
de 17 de dezembro em Interlagos. Praticamente
todo mundo está isento de jogar pontos
no lixo. Os pilotos somam pelo menos duas corridas
sem integrar o grupo dos 20 primeiros que
têm direito a pontos, descartam-nas e o saldo
bruto empata com o líquido.
O único que por ora descarta pontos é Rubens
Barrichello, agora vice-líder do campeonato. Seus
descartes, pela tabela atual, seriam o abandono
na segunda corrida da etapa de Cascavel e os
dois pontos de um 19º lugar na abertura da etapa
de Tarumã, onde viria a vencer a corrida final.
Pouco? É relativo; representam quase dez por
cento da diferença que o separa de Casagrande.
Campeão em 2014 e no ano passado, o piloto da
Full Time executa sua estratégia mais conhecida,
a de transformar limões em limonadas ou caipirinhas
para somar tantos pontos quanto possível.
Rodrigo Guimarães
Duda Bairros
Campeão em 2021, Casagrande voltou ao
topo do pódio e da tabela no Velopark
Dudu e Rubinho integram a lista de dez
pilotos vencedores deste campeonato
64
Rafael Gagliano
Thiago Camilo era líder
há duas etapas e hoje
está em quinto no
campeonato: luta é
contra o tabu do título
O grupo dos cinco candidatos mais destacados
ao título acolhe dois pilotos crus no
assunto. Ricardo Zonta, da RCM, vê crescer
sua chance mais evidente desde a estreia
na Stock Car em 2007. Com duas vitórias e
outros dois pódios, está em terceiro, a dois
pontos de Barrichello. Thiago Camilo, recordista
de vitórias entre os pilotos em atividade,
abriu o ano vencendo pela A. Mattheis
Motorsport e liderou boa parte da temporada,
mas despencou nas últimas etapas e está
em quinto. Tem 37 pontos a menos que o líder
e prepara um fim de campeonato combativo
pelo título que persegue há 20 anos.
Casagrande, Zonta e Camilo ganharam
duas corridas, cada, na temporada. Matías
Rossi, da Full Time, e Atila Abreu, da Pole
Motorsport, também. Outro com duas vitórias
é o tricampeão Daniel Serra, da RC
Competições, que chegou ao Velopark
como líder e, vendo seu carro sucumbir ao
modo de segurança quando se preparava
para largar à frente na segunda corrida,
caiu para quarto na tabela. Rubens Barrichello,
seu filho e companheiro de equipe
Dudu, César Ramos, da A. Mattheis, e Ricardo
Maurício, da RC, foram ao topo do pódio
uma vez, cada. Via de regra, em termos de
campeonato, estão todos no páreo.
Marcelo Machado de Melo
A etapa do Velopark intensificou ainda mais o equilíbrio
na disputa pelo título da 45ª temporada da Stock Car
José Mário Dias
Ricardo Zonta, a 24 pontos do líder, vê a chance real de entrar na galeria dos campeões
65
STOCK SERIES
Cinco garotos e
um superprêmio
Reta final da Stock Series tem troca de liderança
e disputa quente por um bônus milionário
Osires Junior
Magnus Torquato
O campeão da Stock Series terá espaço especial no grid da categoria principal da Stock Car
Está cada dia mais acirrada a disputa pelo título
da Stock Series. A categoria de acesso à Stock
Car experimentou um crescimento na quantidade
e qualidade dos pilotos em seu grid, todos
movidos pelo sonho de estarem no grid da principal
categoria do automobilismo nacional na
próxima temporada. Para isso, eles têm um belo
empurrãozinho, e em um dos pontos mais sensíveis
para jovens pilotos: o bolso.
Quem ficar com o título vai receber uma bolada
que se aproxima dos R$ 2,5 milhões. É bem
verdade que boa parte deste valor chegará em
forma de subsídios e produtos, mas já é uma mão
no volante para quem precisa de quase o dobro
disso para angariar uma vaga nas equipes consideradas
principais.
“Não resta dúvida de que todos esses jovens
estão acelerando em busca de um sonho, que é
66
Marcelo Machado Melo/Stock Car
Os pilotos da Stock Series aceleram em busca do prêmio de dois milhões e meio de rais
estar na Stock Car e poder competir contra os maiores
ídolos do nosso automobilismo. Ser o campeão e
já poder conversar com alguma equipe da categoria
principal sabendo que tem uma boa garantia financeira
faz toda a diferença”, destaca Tiago Romano,
coordenador de Marketing da categoria.
“A Stock Series tem sido um campeonato incrível,
com alternância nos pódios e na liderança, além de
uma excelente temporada dos estreantes”, segue
Romano. Suas palavras se traduzem perfeitamente
na análise do que aconteceu na quarta etapa, disputada
nos dias 16 e 17 de setembro no Velopark.
Foram dois vencedores diferentes nas três provas
O paranaense Zezinho Muggiati, vencedor
de cinco corridas, é o líder da temporada
Vanderley Soares
disputadas, um novo líder no campeonato e um favorito
que quase zerou em casa.
MATEMÁTICA
Com duas vitórias na pista gaúcha, Zezinho Muggiati
retomou a liderança. É o maior vencedor
da temporada. São cinco vitórias em 12 provas e o
maior número de voltas lideradas ao longo do ano,
104. “Sempre sonhei estar no grid da Stock Car. A
temporada tem sido uma construção, com muito trabalho
da equipe e muito foco nos objetivos. Saímos
do Velopark do jeito que imaginamos, com vitórias e
liderança”, afirmou o paranaense, que abriu 16 pontos
de vantagem sobre o gaúcho Gabriel Robe.
Robe não conseguiu os resultados que pretendia,
mesmo conquistando dois pódios com o carro da
Garra Racing, e caiu para a vice-liderança. Situação
semelhante viveu Pietro Rimbano. Após um acidente
no treino de classificação, ele sofreu para salvar pontos,
fazendo corridas de recuperação e mantendo a
terceira posição no campeonato. Na teoria, os três
são os nomes que figuram como favoritos ao título.
Porém, a etapa no Velopark também deu sobrevida
para Arthur Gama e Felipe Barrichello Bartz.
O sobrinho de Rubinho foi o maior pontuador da
etapa, esteve em todos os pódios e assumiu o quinto
lugar na classificação, além de também entrar na
disputa pelo título entre os estreantes. O campeonato
da Stock Series tem ainda duas etapas, marcadas
para o Velocitta, no fim de outubro, e Interlagos, no
início da segunda quinzena de dezembro, com um
total de 168 pontos ainda em disputa.
67
COPA HB20
Novos e
seminovos
Renovação de frota na quinta
temporada do campeonato dá base
à criação de mais uma categoria
Luc Monteiro
Rafa Catelan
Os primeiros meses de 2019 foram de um ritmo frenético
de trabalho na sede da H Racing Garage. Um
batalhão de mecânicos, técnicos, preparadores e especialistas
estabeleceram uma verdadeira linha de
produção, que soltou para as pistas de corrida mais
de 40 unidades do Hyundai HB20 RSpec. Foram os
carros que, por quatro temporadas, compuseram o
grid da Copa Hyundai HB20, sucesso de adesão desde
sua criação.
Pois o trabalho intenso de montagem dos carros
foi repetido em 2023. Com a diferença de, agora, os
profissionais envolvidos já terem acumulada a bagagem
de quatro anos com prós e contras corriqueiros
do automobilismo de competição. A renovação da
frota foi alavancada pelo lançamento, em 2022, do
novo modelo do HB20. É o carro que passa a ser
apresentado nos autódromos por pilotos dos quatro
cantos do Brasil.
A segunda geração de carros da Copa HB20 incorpora
inovações. O motor 1.6 segue rendendo 160 hp
de potência a partir da preparação para competição.
O câmbio é o automático e passou a ter acionamento
por borboletas instaladas atrás do volante, como
ocorre nas principais séries do esporte, inclusive na
Fórmula 1. O recurso foi devidamente testado pela H
Racing durante a última edição das 1000 Milhas em
Interlagos.
Tudo no carro da Copa Hyundai HB20 é novo. Inclusive
equipamentos próprios da segurança – banco-concha,
cinto de segurança de competição de
cinco pontos de fixação e extintores, além dos sistemas
de aquisição de dados, entre outros itens. Tudo
devidamente padronizado, para oferecer a mesma
condição de desempenho aos pilotos, que para efeito
de campeonato são distribuídos nas classes de
graduação Pro, Elite e Super.
Aí o leitor haverá de se perguntar: nada foi aproveitado
dos carros da antiga Copa HB20? Bem, é
correto responder, neste caso, que absolutamente
tudo foi recolocado na pista. Inclusive sob uma nova
proposta, a de uma categoria de acesso. Assim, a
receita técnica baseada nos RSpec, que mantém o
câmbio convencional com engates em “H”, segue
viva e competitiva na nova H Racing Cup, ambientada
no Campeonato Paulista de Automobilismo.
Exceção à gestão técnica e desportiva, a H Racing
Cup não mantém qualquer vínculo umbilical com a
Copa Hyundai HB20. Os eventos sequer acontecem
nos mesmos dias – o que, sem surpresa, proporciona
a ocorrência de pilotos, cerca de dez, que disputam
as duas séries. As três primeiras etapas ocorreram
em Interlagos. As duas próximas estão agendadas
para os autódromos Velocitta, em Mogi Guaçu, e de
Goiânia.
68
O grid da Copa HB20 apresenta a partir deste ano o novo modelo do hatchback da Hyundai
Marcado pelo equilíbrio técnico, o grid da Copa
Hyundai HB20 segue reunindo mais de 40 carros
Daniel Kelemen, o organizador,
também é piloto da Copa Truck
69
“O custo de montagem dos carros já foi amortizado nesses primeiros
anos, e nossa operação logística é bem menos dispendiosa porque a
maioria das etapas acontece em São Paulo, perto da nossa sede. Com
isso, os pilotos têm um custo bem menor na H Racing Cup”, aponta
Daniel Kelemen, sócio-diretor da H Racing Garage. “E um custo menor
traz o panorama perfeito para que a gente possa desenvolver novos
pilotos”, ele entende.
Kelemen não esconde, desde que começou a rascunhar a criação
da Copa Hyundai HB20, que sua meta era manter uma categoria para
passos iniciais no automobilismo. “Sem querer parecer presunçoso, a
Copa HB20 acabou não se tornando a categoria de entrada que era a
nossa proposta inicial. Ela cresceu muito mais do que poderíamos esperar.
Agora, com a troca do carro, podemos, sim, ter nossa categoria
de acesso”, diz.
O grid da H Racing Cup é limitado aos 45 carros disponíveis da versão
RSpec. A etapa do fim de julho em Interlagos teve 35 desses na
pista. “Alguns pilotos da Copa Hyundai HB20 também estão no novo
campeonato, o que é bom, não só por dar um bom nível a um campeonato
que em tese é regional, mas também porque isso aproxima
ainda mais os novos pilotos do universo que a Copa oferece. Tem sido
interessante”, observa.
A Copa Hyundai HB20 é composta por oito etapas; a H Racing Cup
tem cinco. “Há muita coisa para acontecer até o fim do ano, o que não
impede que a gente já pense em inovações para 2024”, sugere Daniel
Kelemen. Vendedor de automóveis por ofício há 30 anos, ele é também
presidente da Associação Brasileira de Concessionários Hyundai.
Sabe do que fala, portanto, quando precisa oferecer um bom produto
sobre quatro rodas.
A Copa HB20 costuma oferecer a seu público corridas repletas de disputas bastante acirradas
70
Os carros que deram início à história da Copa HB20 foram realocados na nova H Racing Cup
71
LUGAR DE MULHER
As pistas
são delas!
A mulherada está tomando conta do automobilismo e,
a partir desta edição, Revista Grid passa a mostrar
parte da atuação da turma do batom
Renata Camargo
Nem só de pneus e gasolina vive o automobilismo.
E não são só os homens que fazem esse
esporte rodar. É muito mais frequente, claro, os
rapazes despertarem sua paixão pela velocidade,
mas muitas meninas também acabam encantadas
com a adrenalina e o fascínio abundantes no
automobilismo, que acaba por revelar em larga
escala essa quebra de paradigma, da mulher ocupar
seu espaço – como ocorre em tantos outros
segmentos.
A presença feminina vai muito além do cockpit
e de tantos exemplos que a história do automobilismo
brasileiro conta de mulheres que aceleram
(relembramos alguns nas páginas seguintes,
inclusive). Nos bastidores, a mulher também tem
deixado a sua marca nas diferentes categorias. A
engenheira de dados da Cavaleiro Sports e fundadora
da Girls Like Racing, Érika Prado, optou
inicialmente pela Engenharia de Produção, mas
com os olhos voltados para o desenvolvimento
automotivo. No segundo ano do curso, foi surpreendida
com um convite para assistir a uma prova
da Fórmula Indy. Foi amor à primeira vista. A partir
daí, teve um despertar, trocando a Engenharia
de Produção pelo curso de Engenharia Mecânica.
Érika foi alcançada em 2018 pela informação de
um curso da Porsche Engenharia de Competição
e Análise de Dados. Não restavam dúvidas: era
isso mesmo que queria. Um ano depois, já era
engenheira de Dados no Paulista de Automobilismo
na categoria Fórmula Vee. Em seguida, passou
pela Copa Hyundai HB20. Foi uma questão
de tempo receber o convite de Babi Rodrigues,
Gabriela Testa
A engenheira paulista Érika Prado atua
nas principais competições do Brasil
chefe da Hot Car New Generation na Stock Car.
Ao mesmo tempo, somava forças com o time da
Cavaleiro Sports, nas categorias AMG Cup Brasil,
Stock Car e Fórmula 4. “Um chamado de Deus e
um caminho aberto por Ele”, descreve.
72
José Mário Dias
Glauce Schutz, jornalista e responsável
pela operação do Endurance Brasil
Fernanda Freixosa fotografa as corridas
no Brasil e no mundo há duas décadas
Duda Bairros
Na visão de Érika Prado, esse incentivo deve ser
amplificado entre as mulheres. A presença da mulher
e seu amor pelo automobilismo gerou a Girls
Like Racing. Em parceria com a Stock Car e marcas
parceiras, a iniciativa promove definitivamente a inclusão
da mulher no automobilismo, mostrando sua
polivalência e capacidade de agir com a razão e vez
somente de optar pela emoção. Érika recorre a uma
frase de Simone Beauvoir para fazer uma leitura da
mulher na sociedade. “Os direitos das mulheres não
estão garantidos. Temos que estar sempre vigilantes
para que não os percamos”.
Outro exemplo é Glauce Schutz, jornalista que juntou
a fome com a vontade de comer: é diretora da
agência MS2 Comunicação e coordenadora do Império
Endurance Brasil. “O amor pelo jornalismo é nutrido
desde a infância”, define. Seus primeiros contatos
com o mundo da velocidade são creditados a Lauro,
seu pai, que sempre a levava a ver corridas de kart.
“Ele é quem mais ama o automobilismo”, reverencia.
As duas décadas de expertise na comunicação a
aproximaram do Endurance Brasil. Na época, em
2014, a categoria tinha âmbito de Campeonato Gaúcho.
Era o primeiro passo para o surgimento da versão
nacional, formada hoje por uma associação de
pilotos. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam,
não é uma profissão de glamour e viagens. Na
verdade, é um trabalho que requer muita dedicação,
responsabilidade e desafios”, ela alerta.
OLHAR FEMININO
A fotógrafa Fernanda Freixosa foi apresentada ao
automobilismo por mero acaso. Ao participar de
um curso sobre fotografia nos Estados Unidos, notou
sua predileção por fotografias que requerem
olhar clínico, técnico e conhecimento de abertura e
velocidade do equipamento. Um dos maiores desafios
era reunir recursos para adquirir equipamentos
de ponta, mais especificamente uma variedade de
lentes para entregar um produto de qualidade, sem
deixar de lado o conhecimento e amplo domínio da
máquina fotográfica. Era preciso ainda ser forte para
conseguir se deslocar nos autódromos carregando
pesados acessórios. Mas tudo isso serviu como motivação
à tenista Fernanda, que em 2023 celebra 20
anos de carreira como fotógrafa de corridas.
Todos esses atributos renderam-lhe o convite para ser
a primeira mulher fotógrafa oficial da maior categoria
do automobilismo brasileiro, a Stock Car, onde permaneceu
por 15 anos. Ela foi a mulher que abriu as portas
do segmento para outras profissionais dos cliques. O
espaço foi conquistado com mérito. Seus trabalhos já
estamparam publicações de Porsche, McLaren, Aston
Martin, Jaguar e Land Rover, entre outras. “A profissão
não é fácil para a mulher. Requer condicionamento físico
e muita paixão pelo automobilismo”, ensina.
73
LUGAR DE MULHER
As moças
velozes
Ale Menini
Luciana Flories
Cristina Rosito, na ativa há três décadas,
é um dos destaques da Fórmula Truck
Os campeonatos regionais e brasileiros
de velocidade estão cada vez mais habituados
a ver e ouvir rostos e vozes femininas
vestindo capacetes e macacões. Temos
uma longa história com o automobilismo
e hoje venho relembrar com vocês alguns
dos grandes nomes do time feminino das
pistas. Uma história que começou quase
um século atrás, lá na década de 1930, com
Anésia Pinheiro Machado. Foi a primeira
mulher a participar de uma corrida no Brasil,
em 1933, pilotando um Ford V8 na prova
Rio-São Paulo.
Cristina Rosito, gaúcha, começou sua carreira
aos 14 anos, em 1987, e já pilotou de
tudo. Motos, karts, monopostos, carros de
turismo e caminhões. É a única mulher no
grid da Fórmula Truck atualmente. Danusa
Palhares foi uma das poucas mulheres
a disputar corridas de carros no Brasil na
década de 1990, época em que enfrentou
bastante preconceito e também dificuldades.
Participou de campeonatos de Marcas
como o Paulista e a Copa Shell, e também
esteve na Fórmula Ford.
Duda Bairros
Vanderley Soares
Bia Figueiredo faz história na Copa Truck, onde Débora Rodrigues é campeã de popularidade
74
Rafa Catelan
Ale Menini, autora deste texto, venceu sua
classe nas 1000 Milhas Chevrolet Absoluta
Suzane Carvalho, carioca como Danusa, foi atriz e fez história
no automobilismo. Foi a primeira e única mulher a vencer
um campeonato de Fórmula 3, entrando para o Guinness Book
e para a Enciclopédia Barsa com o título da classe B que conquistou
em 1992. Dez anos depois, Cristiane ‘Kika’ Teixeira foi a
primeira mulher brasileira a vencer uma prova internacional, na
Fórmula Renault 2000 Eurocup. Ela competiu na Europa e na
Ásia, tendo conquistado cinco vitórias e dois vice-campeonatos.
Fernanda Parra, paulista, competiu na categoria Marcas e na
série de acesso à Stock Car. Começou em 2006 como navegadora
de rali, e depois passou a pilotar carros de turismo. Em
2008, assumiu a função de piloto na equipe de seu pai, o piloto
Fernando Parra. A pernambucana Danusa Moura se destacou
nos anos 90 e 2000. Passou pela Fórmula Ford, Fórmula
3 alemã, Stock Car B até deixar as pistas em 2007, após um
grave acidente que lhe afetou a coluna. Danusa morreu em
2015, aos 44, vitimada pelo câncer.
Débora Rodrigues foi uma das precursoras desse contato.
Filha de caminhoneiro, aos 12 anos ela já se arriscava na boleia,
sempre sob os olhares atentos do pai. Também foi apresentadora
de televisão e começou a pavimentar sua história
no automobilismo em outubro de 1998, quando estreou nas
pistas disputando a Fórmula Truck, no circuito gaúcho de Tarumã.
Casada com o também piloto Renato Martins, a paranaense
radicada em São Paulo segue nas pistas até os dias de
hoje, na Copa Truck.
Outra representante feminina de destaque no automobilismo
é Bia Figueiredo, primeira brasileira a desafiar a Fórmula Indy
por seis anos e vencer uma das etapas na Indy Lights. Com
passagem também pela Stock Car, Porsche Cup e TCR Brasil,
ela fez história ao ocupar pela primeira vez o lugar mais alto do
pódio na etapa de Cascavel da Copa Truck, majoritariamente
dominada por homens. Essa quebra de tabu é um divisor de
águas e abre caminho para outras jovens velozes e talentosas.
Sem contar a Antonella Bassani, que está disputando o título
da Porsche Cup, e a iniciativa histórica de 25 anos atrás, quando
a Fórmula Uno foi disputada exclusivamente por mulheres.
Apesar da boa ideia e do relativo sucesso, a categoria teve
apenas um ano de duração no Brasil. A trajetória completa da
categoria monomarca da Fiat no Brasil, aliás, está resgatada
nesta edição da Revista Grid. A existência de uma categoria
feminina pode, por que não?, ser pauta para todas nós em um
futuro próximo...
Nos campeonatos regionais não poderia ser diferente. O time
é forte. Renata Camargo, Fernanda Aniceto, Bruna Dias, Luciane
Klai e Natália Xavier são algumas das pilotas na ativa. Uma
lista da qual faço parte. Depois de vencer minha batalha contra
um câncer de mama, voltei a correr em 2021. Como todas as
que vieram antes de mim, não baixei a cabeça diante dos desafios.
Busquei me aprimorar. Neste ano, me tornei a segunda
mulher da história a vencer uma corrida com percurso de mil
milhas no Brasil. E tem muito mais por vir.
75
COPA TRUCK
Duas em uma,
quatro em duas
Reta final da sétima temporada terá quatro corridas em 24 horas
num dos autódromos mais temidos e desafiadores do Brasil
Luc Monteiro
Beto Corrêa
Roberval Andrade lidera a temporada e pode sair de Tarumã como bicampeão da Copa Truck
O calendário original de etapas da Copa Truck
previa para a passagem por Cascavel, no início
de julho, a realização de uma rodada dupla. Seriam
duas corridas no sábado e outras duas no
domingo, uma maratona insana para as equipes,
que já haviam experimentado esse formato em
algumas outras oportunidades. Com a temporada
em curso, os planos tiveram de ser revistos.
A etapa anterior, na pista de Londrina, resultou
num sem-número de acidentes, quebras e perrengues
equivalentes que apimentaram o ritmo
de trabalho já sempre frenético nas oficinas das
equipes.
Cascavel, com isso, passou a acolher duas
corridas, no formato normal do campeonato.
Mas o calendário ficou com uma lacuna e opções
passaram a ser estudadas. A inclusão de
uma nova data e de uma praça, pretensamente
Campo Grande, foi bastante comentada. Ao fim
das contas, o consenso deu-se em torno de se
adotar o formato da rodada dupla no penúltimo
evento do ano, confirmado para os dias 14 e 15
de outubro em Viamão. O Autódromo Internacional
de Tarumã, palco das quatro corridas que
ocorrerão em cerca de 24 horas, é um dos mais
temidos do país.
76
Ricardo Saibro
William Inácio
Felipe Giaffone voltou a vencer em Goiânia
e assumiu a vice-liderança do campeonato
Jaidson Zini, no ano de suas primeiras vitórias
na categoria, também está na vice-liderança
“O objetivo da mudança da data e da praça da rodada
dupla foi darmos um respiro para todos”, explica
Carlos Col, diretor geral da Mais Brasil, empresa
promotora da Copa Truck. “Claro que mudanças
com o campeonato em andamento não passam impunes.
Foi necessário renegociar data de transmissão
de TV, além de uma profunda reflexão entre as
equipes para escolher se seria melhor repor esta etapa
em Tarumã ou Interlagos. A decisão tomada de
forma democrática pendeu para Tarumã, apesar da
preocupação com um circuito que tem histórico de
batidas”, admite o dirigente.
Não é preciso um grande exercício de memória
para ilustrar a preocupação manifestada por Col. Na
última passagem da Copa Truck pelo circuito gaúcho,
em outubro de 2022, Kleber Eletric, durante o
treino de aquecimento, e Pedro Paulo Fernandes,
ao término da primeira corrida, tiveram seus caminhões
completamente destruídos em acidentes que
Vanderley Soares
Em busca do bicampeonato,
Felipe Tozzo retomou
a liderança na tabela
da Super Truck
ocorreram – coincidentemente – no mesmo ponto, a
aproximação para a Curva da Vitória. O circuito tem
conceito do início dos anos 70, quando foi inaugurado,
e apresenta a segunda maior média de velocidade
do automobilismo brasileiro.
A realização de quatro corridas em dois dias submete
as equipes a doses maiores de cautela e a
um planejamento diferente. A ASG Motorsport, por
exemplo, esteve em Tarumã semanas antes da etapa
com time quase completo para testes de desenvolvimento.
Piloto e chefe de equipe da ASG, Roberval
Andrade é líder do campeonato depois de conduzir
o Mercedes-Benz número 15 a cinco vitórias nas sete
últimas corridas. Tem 18 pontos de vantagem sobre
o companheiro de equipe Jaidson Zini e sobre Felipe
Giaffone, titular do Volkswagen da R9 Competições,
que dividem a vice-liderança.
Com 80 pontos em jogo no fim de semana de jornada
dupla não se descarta a possibilidade de, pela
primeira vez desde a criação da Copa Truck em 2017,
o título ser definido por antecipação: basta Andrade
deixar o Rio Grande do Sul com pelo menos 40
pontos de vantagem sobre seu adversário mais próximo.
A projeção do descarte obrigatório de dois
resultados que cada piloto fará ao término da penúltima
etapa amplia, inclusive, a vantagem do paulista,
campeão de 2018. A ASG Motorsport substitui a partir
deste ano a AM Motorsport, campeã em 2021 com
André Marques e em 2022 com Wellington Cirino.
A Super Truck, subdivisão que confronta pilotos
com currículo menos recheado ou com menos quilometragem,
tem uma disputa mais apertada. Campeão
em 2021, o catarinense Felipe Tozzo, da Dakar/
Iveco, voltou à liderança com a vitória na etapa passada
em Goiânia e tem seis pontos de dianteira sobre
o vice-líder paulista Jô Dias, titular de um dos
VW da R9. A diferença do primeiro ao décimo colocado
é de apenas 38 pontos – observe-se que ainda
há 120 em jogo até o fim do ano. Iveco, Volkswagen,
Mercedes-Benz e Volvo são as marcas de caminhões
do grupo destes dez. A equalização técnica vai bem,
obrigado.
77
F0RMULA TRUCK
Lista de
espera
Em ano de reconsolidação, Fórmula Truck entra
na televisão, lota autódromos e revela metas ousadas
Osires Júnior
Luciana Flores
Sob nova direção, a F-Truck tem conquistado espaço e foca a meta de ter 64 caminhões
O nome, um dos mais lembrados pelo público
amante das corridas, foi jogado fora depois de
problemas de gestão que levaram a categoria à
falência em 2017. A partir de 2021, sob nova direção
e com novo CNPJ, a Fórmula Truck reapareceu
no cenário dos motores e reacendeu a
paixão pelos caminhões que fizeram história na
estrada e nas pistas. A temporada de 2023, sob
um aumento considerável no número de participantes,
marcou a volta de fatores que fizeram o
sucesso da categoria em sua época de sucesso.
Ganham destaque nesse cenário a transmissão
das corridas ao vivo na tevê aberta, pela Rede
TV!, e a participação maciça do público, com
acampamentos e churrascada. A receita aplicada
não chega a ser novidade. Inclui a exposição de
caminhões de corrida nas várias cidades que são
pontos de venda de ingressos, com parcerias na
distribuição. Há ainda liberação para os torcedo-
res entrarem no autódromo já a partir da sexta-
-feira de cada corrida, além de desfiles e show de
manobras e de acrobacias com motos.
O grupo que toca a boleia tem planos mais ousados
para a próxima temporada, buscando números
ainda mais expressivos. “Temos um acordo
com vários dos integrantes do grid que possuem
as vagas. No entanto, quem não apresentar os
caminhões até o fim de ano ficará sem a vaga
para correr em 2024”, alerta Roberto Cirino, um
veterano na organização de eventos. Cirino que
sempre foi o “braço direito” de organizadores
como Aurélio Batista Félix e, agora, de Gilberto
Hidalgo, que deu vida à nova Fórmula Truck.
Atualmente são 40 caminhões, divididos entre
os eletrônicos e os que usam bomba injetora.
Muitos foram trazidos das arrancadas tradicionais
em Santa Catarina. Outros oito estão em construção,
além de caminhões prontos na fila de espera
78
A presença do público nas etapas tem sido um
dos pontos altos da Fórmula Truck em 2023
pela liberação de vagas. “A meta é chagar aos 64
caminhões já a partir de janeiro. Aí, vamos buscar
uma nova formatação para o evento com duas corridas
de 40 minutos, com neutralização, para cada
uma das categorias”, avisa Cirino. Cada etapa terá
um total de quatro corridas no mesmo dia.
ESTRUTURA X CUSTO
Com dois anos de atividade, a nova Fórmula Truck
ganha corpo, também, fora da pista, o que implica
uma formatação de calendário baseada na logística.
Para efeitos desportivos, o campeonato ocorre sob
o âmbito interestadual, com as federações de automobilismo
de Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul sendo
responsáveis pelas resoluções na pista. As etapas
acontecem sempre em cidades mais próximas entre
si, o que diminui consideravelmente os custos com
transporte.
Encerrada a etapa de agosto no Velopark, toda
a estrutura foi transportada a Santa Cruz do Sul, a
cerca de 130 km, para as corridas de setembro. A
organização desloca a todas as sedes oito carretas
com equipamentos. A categoria adotou a utilização
de pneus recapados para o eixo traseiro dos caminhões.
Além da economia, a medida refletiu nos
tempos de volta alcançados. A conta tende a cair
um pouco mais com a chegada de um fornecedor
oficial de pneus, aguardada para 2024.
O trabalho é todo voltado a fazer com que os pilotos
gastem pouco para correr. Em contato com alguns
deles, Revista Grid concluiu girar em torno de
R$ 25 mil o custo total por etapa. Sendo isso, convenhamos,
é barato para a realidade do automobilismo.
O sistema das vagas também auxilia nessa negociação.
Os primeiros detentores estimam valores
na casa de R$ 100 mil, com potencial para mais que
dobrar com o alcance do limite de vagas imposto
pela organização.
O ex-piloto Gilberto
Hidalgo é o
responsável pelo
ressurgimento do
nome Fórmula Truck
Novatos x veteranos
Não resta dúvida de que a Fórmula Truck conta
com o maior número de novos pilotos do
país. Grande parte do grid era acostumada às
provas de arrancada na areia, tradicionais em
Santa Catarina, e nunca tinha acelerado em um
autódromo. Com isso, não causa surpresa nomes
ou sobrenomes mais conhecidos terem
levado vantagem e dominado o pódio na fase
inicial da temporada.
O veterano Pedro Muffato tem se valido de
toda a expertise e do equipamento de ponta
para liderar a categoria Eletrônicos com uma
sequência de vitórias. Na Bomba Injetora, o
gaúcho Rafael Fleck vem dominando boa parte
das provas, travando um duelo com Márcio
Rampom pela liderança. Rafael é filho de Jorge
Fleck, que fez carreira também na pilotagem de
caminhões.
Pedro Muffato, aos 83 anos,
lidera a disputa da
categoria Eletrônicos
Rafael é filho de Jorge
Fleck, que fez sucesso
pilotando caminhões
79
TCR
Intercâmbio
de sucesso
80
Um conceito completamente inovador, em termos
de automobilismo. Substituto do WTCR, o TCR
World Tour trouxe uma lufada de ar fresco nas corridas
do bem-sucedido conceito TCR, que usa carros
de tração dianteira, com desempenho extremamente
equilibrado entre as marcas e – segredo do sucesso
– com custo baixo em relação a maior parte das
categorias internacionais de turismo.
A ideia do novo campeonato era passar pelas corridas
mais icônicas dos mais importantes dos 40 campeonatos
regidos pelo regulamento TCR ao redor do
mundo. E no caso do TCR South America, foram escolhidas
as provas de El Pinar, no Uruguai, e de San
Luis, na Argentina. Para 2024, o intercâmbio entre o
TCR World Tour e o TCR South America vai seguir
com duas corridas, em sedes ainda não confirmadas.
“Estamos muito satisfeitos com os dois eventos
conjuntos do TCR World Tour e do TCR South America.
Ambos foram um grande sucesso de público
e presença na mídia”, disse Marcello Lotti, CEO da
World Sporting Consulting, dona do conceito TCR
em termos mundiais e organizadora do TCR World
Tour. “Os circuitos estiveram à altura das expectativas
e as corridas foram emocionantes”.
O uruguaio Santiago Urrutia e o argentino Néstor
Girolami coroaram os eventos com vitórias em casa.
“Os pilotos do TCR South America demonstraram
que podem competir com as estrelas internacionais
dos carros de turismo. Agradecemos às autoridades
esportivas nacionais do Uruguai e da Argentina, bem
como ao promotor do TCR South America, por seus
esforços para fazer com que esses dois eventos fossem
um sucesso”, disse Lotti.
Os dois eventos tiveram um público combinado de
mais de 60 mil pessoas no Autódromo Victor Borrat
Fabini, em El Pinar, no Uruguai, e no Autódromo
semipermanente José Carlos Bassi, em La Pedrera,
na cidade de San Luis, na Argentina. Tanto é que a
organização do TCR World Tour já confirmou que o
TCR South America vai receber mais duas etapas do
campeonato em 2024.
Outro fator que chamou a atenção foi a pouca diferença
técnica entre as equipes internacionais e as sul-
-americanas, tanto é que a argentina Squadra Martino
preparou o Honda Civic de nova geração de Néstor
Girolami, vencedor da segunda corrida em San Luis.
“O balanço dessas duas corridas é mais do que
positivo. Foi um grande desafio levar isso adiante
e posicionar o TCR South America na região e no
mundo”, disse Federico Punteri, presidente do TCR
South America. “Em resumo, a chegada do TCR
World Tour foi um evento de grande magnitude para
nós, transmitido para mais de 100 países ao redor
do mundo. Isso nos mostra que estamos na direção
certa para continuar crescendo”.
Punteri descreve o suporte recebido. “Tudo começou
em El Pinar, onde um trabalho significativo foi
realizado com a expansão da pista e onde o público
nos apoiou de maneira grandiosa. Em La Pedrera, o
World Tour encontrou um circuito único, de alto nível,
que mostra que a Argentina também possui um
automobilismo de qualidade superior”.
Corridas em El Pinar e San Luis totalizam público
de mais de 60 mil pessoas no World Tour
Luis Ferrari
Hernán Capa
Disputa do TCR World Tour no Parque La Pedrera, na cidade argentina de San Luis
81
TURISMO NACIONAL
O bom pai à
casa torna
Amor aos filhos e à velocidade fizeram Ângelo Correa
retornar ao autódromo em fim de semana de corrida
Osires Júnior
Não há como negar que o paulista Ângelo Correa
é o pai da Turismo Nacional. Não por acaso,
ganhou o apelido “Papai” entre os integrantes da
equipe de trabalho, tamanha sua dedicação à categoria,
e também pela forma como tratava todos
os envolvidos no evento. Idealizada em 2016,
a categoria chegou a reunir 11 marcas e 18 modelos
diferentes de carros em suas temporadas,
com um nível de equilíbrio considerado elevado,
mesmo diante de tantas diferenças entre motores
e câmbios das diversas montadoras.
Em 2021, atravessando dificuldades para efetivar
a temporada, Correa se associou à Vicar,
maior promotora de eventos do automobilismo
brasileiro. Depois de quase completar duas temporadas,
afastou-se em definitivo. Ou quase isso.
No último mês de agosto, aos 63 anos, o coração
falou mais alto e o ex-piloto decidiu retomar uma
outra função do passado: a de pai de piloto. O
filho Rafael Correa decidiu voltar a acelerar após
dois anos parado e teve a companhia do pai para
celebrar cinco vitórias em seis corridas disputadas
pela categoria B na quarta etapa, em Goiânia.
“Voltei às origens. Ser chefe de equipe e pai de
piloto, que foi o que me fez criar a Turismo Nacional
na época, para poder ver meu filho participar
de um campeonato brasileiro. A emoção de
ser pai de piloto é indescritível. É melhor do que
ser piloto”, conta Ângelo, que à época gerenciava
a carreira de outro filho, Gabriel, que conquistou
dois títulos no Festival Brasileiro de Turismo
1.600, em 2014 e 2016, e o título da própria TN,
em 2019, ano em que também venceu a tradicional
Cascavel de Ouro na dupla com o paranaense
Daniel Kaefer.
Vanderley Soares
Ângelo, o criador da TN, voltou à categoria,
agora como chefe de equipe do filho Rafael
O campeonato tem hoje um formato diferente
do idealizado por Ângelo. E qual seria a avaliação
do “papai” sobre o filho, que agora usa a mesma
motorização para todos os carros? “A categoria
está muito competitiva e tenho a certeza que vai
ficar ainda mais disputada. Consigo avaliar isso
estando do lado de cá, não como organizador,
mas como chefe de equipe e pai de piloto. O
carro está com torque e potência muito semelhantes,
o câmbio borboleta ‘casou’ muito bem
com ele. É um carro que está em evolução. Está
aprovadíssimo”, atestou. Animado com os resultados
e com a qualidade das disputas, pai e filho
82
Ricardo Saibro
Largada em Goiânia com Pablo Alves (33) à frente para vencer três vezes no fim de semana
já confirmaram que estarão juntos nas próximas
etapas da temporada, marcadas para as
pistas do Velopark e de Brasília.
CRESCIMENTO E LIDERANÇA
O grid da Turismo Nacional apresentou crescimento
expressivo em 2023. A largada em
Goiânia contou com 25 carros e já existem outros
seis sendo montados com o power-train
fornecido pela Audace Tech, braço tecnológico
da organização. Na pista, o catarinense
Juninho Berlanda e o goiano Pablo Alves
foram os destaques na categoria A, com três
vitórias, cada. Com isso, Berlanda – que busca
o bicampeonato – mantém boa margem na
liderança do campeonato, à frente de Ernani
Kuhn e DE Alves.
Na categoria B, Rafael Correa levou quase
tudo. Só a quinta das seis corridas teve outro
vencedor, o também goiano Iturival Neto. A
liderança segue com o catarinense Augusto
Freitas, agora um pouco menos distante do
vice-líder goiano Ewerson Dias, que também
comanda a pontuação na classe Sênior. Com a
chegada de novos nomes, a categoria Rookie
também empolga. O líder do campeonato é
o gaúcho Fernando Trennepohl, mas com os
resultados em casa Iturival Neto e Bruna Dias
já se aproximaram.
Beto Correa
Juninho Berlanda venceu três vezes e manteve boa
margem na liderança rumo ao bicampeonato
83
RALLY DOS SERTÕOES
Para ficar
na História
Pilotos e navegadores protagonizaram uma das edições mais
competitivas de todos os tempos na maior prova das Américas
Cleber Bernuci
José Mário Dias
Marcelo Gastaldi e Cadu Sachs, com o Century V8, conquistaram o título na categoria dos carros
O Rally dos Sertões do ano passado foi o maior
do mundo em sua 30ª edição. Cruzou o país, partindo
de Foz do Iguaçu, onde o Brasil faz fronteira
com o Paraguai, e percorreu todas as cinco
regiões do país para terminar no litoral do Pará
em 14 etapas. O Sertões 2023 foi mais curto, sim.
Retomou seu formato tradicional de oito etapas,
para um bom alívio financeiro nos custos das
equipes. E não decepcionou em nada.
Quem pensava que seria mais fácil na comparação
com a edição comemorativa de 30 anos
se enganou redondamente. Para as equipes de
apoio, de fato, a jornada de 2023 foi mais tranquila.
Sem precisar cruzar o país de Sul a Norte, e
com a estadia prolongada em Petrolina, onde começou
o rali, quem sentiu na pele o que foi este
Sertões foram pilotos, navegadores e – especialmente
– os equipamentos.
O Sertões 2023 percorreu 3,8 mil quilômetros
saindo de Petrolina até as praias do Preá, no Ceará.
Foram três os estados percorridos: Pernambuco,
Bahia e Ceará. Na Bahia a cortesia foi da
etapa maratona em Xique-Xique. Os competidores
deixaram Petrolina para a terceira e quarta
etapa e em seguida retornaram à bela cidade
pernambucana. O formato deste ano também
teve etapas de ida e volta ao mesmo local: Petrolina
recebeu a primeira, a segunda e a chegada
da quarta etapa, para depois partir rumo ao Crato,
no Ceará; de lá, Sobral, Cruz e Preá receberam
a caravana.
E foi, de fato, um Sertões para ficar na história.
Pela dificuldade e pela competitividade. No geral
dos UTVs, a categoria com maior número de participantes,
Rodrigo Varela e Mateus Mazzei lideravam
a prova ao final do penúltimo dia com ape-
84
nas 1min28s de vantagem sobre
Denísio do Nascimento e Gunnar
Dums. E na etapa final, nas dunas
da região de Jericoacoara, o motor
do CanAm Maverick de Varela
entrou em modo de segurança e
a dupla não conseguiu manter a
vantagem, permitindo a Nascimento
e Gums que pulassem à
liderança na última especial – foi
o segundo título de Denísio.
Nas motos, o norte-americano
Mason Klein, de apenas 22 anos,
fez sua estreia no Sertões. E correndo
pela KTM, pode-se dizer
que ele “chegou chegando”: venceu
as quatro primeiras especiais
e tratou de administrar a vantagem
de 14 minutos que tinha sobre
o segundo colocado, Gabriel
Bruning, da Yamaha, que acabou
levando o título na classe Moto2.
Os carros também foram um
show à parte. Era a categoria
onde se prometia a maior competitividade.
Lucas Moraes, terceiro
no Dakar deste ano, vinha com
a formação campeã do Sertões
2022 ao lado de Kaique Bentivoglio
e o Toyota Hilux V6 T1+ da
Overdrive. E desta vez, ele tinha
companhia na recém-criada categoria
T1+: os irmãos Baumgart,
da X Rally, trouxeram os Prodrive
Hunter V6, modelo com o qual
Sebástien Loeb venceu metade
das especiais do Dakar deste ano.
Cristian Baumgart/Beco Andreotti,
dupla tetracampeã, e Marcos
Baumgart/Kleber Cincea, dupla
dona do título de 2020, estavam
de volta à briga.
Além deles, na X Rally, Sylvio
de Barros/Ramon Sacilotti, Mauro
Guedes/Edu Bampi e Fefo
Rosset/Marcelo Haseyama também
vinham de Toyota Hilux T1+,
só que com motorização V8, a
exemplo de Julio Capua/Emerson
Cavassin na equipe R. Mattheis.
Nas outras classes, como
a T1 FIA, também com muita disputa
e o retorno do “professor”
Guiga Spinelli, pentacampeão da
prova.
Gabriel Bruning foi vice-campeão
na categoria das motos e ficou
com o título da classe Moto2
85
86
Aos 22 anos, o norte-americano
Mason Klein estreou no Sertões
dominando a disputa entre as motos
Ao lado de Gunnar Dums, Denísio do Nascimento chegou ao bi na categoria dos UTVs
Os favoritos, no entanto, foram ficando. Marcos e Kleber tiveram dois dias com furos de pneus e uma controversa
punição por um dado de GPS que induziu vários navegadores ao erro e que comprometeu sua contagem
de tempo. Depois, foi a vez de Cristian e Beco sofrerem com um alternador defeituoso justamente na
etapa maratona. No retorno a Petrolina, Moraes e Bentivoglio ficaram pelo caminho após quebra da barra de
direção.
Todos eles continuaram na prova, mas quem fez história entre os carros foi a dupla formada por Marcelo
Gastaldi e Cadu Sachs, com o Century V8 fabricado na África do Sul. Com poucas penalizações, um bom ritmo
e sem sofrerem nenhum tipo de problema na prova, Gastaldi e Sachs garantiram o primeiro título geral de um
carro com tração 4x2 no Sertões. Levaram na geral e na T1 FIA. Marcos Baumgart e Kleber Cincea, que chegaram
a ficar a mais de 40 minutos da liderança, terminaram ainda a dez minutos dos vencedores e levaram
o primeiro título da classe T1+ como prêmio de consolação.
Outros grandes nomes também estiveram na prova. Nelsinho Piquet fez seu terceiro Sertões completo e
garantiu seu primeiro título na classe UTV3 tendo a seu lado o navegador César Pedrutti no CanAm Maverick
X3, assim como Thiago Fraga/Álvaro Amarante na TV2. Thiago é irmão de Felipe Fraga, campeão de 2016 da
Stock Car, e que também disputou a prova, terminando em terceiro na UTV2.
Uma prova disputada, difícil e que mostra, ano a ano, por que é a maior. Pode não ter sido a maior do mundo
em 2023, mas foi uma das mais difíceis. Fez jus, novamente, ao título de maior rali das Américas.
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88
Experiência
ímpar na
Nascar Brasil
Caique Roberto
Marcelo Servidone sai à pista no Velocitta com
o carro número 00 da Nascar Brasil Sprint Race
A manhã de 10 de setembro está reservada à lista de memórias
especiais do piloto Marcelo Servidone no automobilismo. Foi
quando, no autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu, ele teve seu
primeiro contato em pista com um carro da Nascar Brasil Sprint
Race. Já tendo experimentado mais de uma dezena de diferentes
carros de competição em seus cinco anos de trajetória no automobilismo,
o piloto paulista confessou-se impressionado com o
equipamento.
“É um carro que tem uma estabilidade espetacular, que transmite
confiança para o piloto levar o conjunto homem-máquina ao limite.
E as experiências que o automobilismo nos proporciona são
exatamente isso, superação de limites”, comentou o piloto. Sua
participação no teste durante a programação da etapa decisiva
da Special Edition da Nascar Brasil ocorreu a partir de convite do
organizador Thiago Marques, que lhe foi direcionado por Thiago
Ozório, um dos engenheiros da categoria.
“A experiência foi fantástica. Imediatamente comecei minhas
tratativas com o Thiago Marques para, quem sabe, integrar o grid
da Nascar Brasil em 2024”, revelou, sem deixar de mencionar sua
intenção imediata com a categoria: compor o grid já na etapa
de encerramento da temporada de 2023. As duas corridas serão
disputadas em Interlagos no dia 10 de dezembro, em programação
que vai incluir também a etapa decisiva do campeonato da
Copa Truck.
89
O retorno ao grid (inteiro!)
A Mamba Negra Racing tem uma ligação forte
com a Gold Turismo desde a criação da categoria
em janeiro de 2022. No primeiro ano, esteve presente
no grid com Marcelo Servidone disputando
o Festival de Verão, evento inaugural que marcou
a preliminar das 1000 Milhas Chevrolet Absoluta
em Interlagos. Depois, nas duas primeiras etapas,
formou dupla com Luc Monteiro com o mesmo
Gol número 77. Ausente das etapas finais, viu o
parceiro paranaense conquistar em atuação individual
o título da classe Pro.
Em 2023 a equipe esteve presente no grid da
primeira etapa, desta vez com Thiago Lopes
levando seu carro ao pódio da classe Super. O
retorno da associação entre equipe e categoria
deu-se nas corridas da quinta e penúltima etapa,
disputadas em setembro no Velocitta: absolutamente
todos os carros do grid da Gold Turismo
estamparam em seus parabrisas o nome e
a logo da Mamba Negra Racing, numa ação de
marketing que primou pela exposição direcionada
da marca.
“A diretoria de Marketing do Grupo Servidone
vê a Gold Turismo como uma vitrine do automobilismo
brasileiro, o que bastou para que determinasse
o patrocínio à etapa do Velocitta”, explica
Marcelo Servidone. A escolha da Mamba Negra
Racing, divisão de competições do grupo, tem
razão especial. “Em breve vamos inaugurar nossa
academia para pilotos e nada mais adequado
que trazermos esse assunto à tona num meio que
reúne tantos pilotos e profissionais do automobilismo”.
O Velocitta apontou os três primeiros títulos da
Gold Turismo. O paranaense Iwan Júnior assegurou
a taça na classe Light e o catarinense Adriano
Martins sagrou-se campeão da Super, ambos fechando
a etapa em segundo lugar. Na Pro, a vitória
valeu título à dupla catarinense Rafael Balestrin/
Rafael Possenti. O campeão da Master será definido
na etapa final, dia 15 de outubro em Cascavel.
Os paranaenses Kadu Silva (VW Gol), Marcos Silva
Ramos (Peugeot 207) e Toninho Espolador (Ford
Ka) são os principais candidatos à taça.
Adriano Vieira Martins, da AVM Racing, com três
vitórias em cinco etapas, é campeão da Super
Iwan Júnior, da IX Motors-SR Competições, é o
campeão antecipado da classe Light
90
da Gold Turismo
Daniel Gomes
O grid da Gold Turismo reúne modelos das marcas Volkswagen, GM, Ford, Renault e Peugeot
Na Pro o título é dos catarinenses Possenti e
Balestrin, em dupla pela Roger Preparações
Kadu Silva lidera a disputa na classe Master, que
será definida na etapa de outubro em Cascavel
91
Mais duas vitórias
na GT Series Cup
Disputada no último fim de semana de julho, a
terceira etapa da GT Series Cup ampliou a galeria
de conquistas da Mamba Negra Racing. Inscrita
na classe FWD com o piloto Marcelo Servidone, a
equipe de São Paulo alcançou mais duas vitórias
e se aproximou da conquista de mais um título,
que poderá ser confirmado na última etapa do
calendário, agendada para o dia 17 de dezembro
no mesmo palco das etapas anteriores: o Autódromo
José Carlos Pace, em Interlagos.
“Aquela etapa marcou um fim de semana de
evolução. Conseguimos um ritmo constante, com
voltas na casa de 1min56s”, conta Servidone, fazendo
avaliação positiva do desempenho de seu
Audi A3 Sport número 56, cujo motor entrega
cerca de 230 cv. “E foi bastante divertido, também.
Na corrida, tive disputas curva a curva com
a BMW da Eurobike”, resume o líder da GT Series
na classe FWD, citando o modelo Série 3 em que
Henry Visconde formou dupla com Tiel Andrade.
A presença na GT Series Cup dá sequência à
trajetória iniciada pela Mamba Negra Racing em
2019, quando Marcelo Servidone, Nenê Finotti
e Marcelo Fortes venceram os 500 km de São
Piloto e colaboradores em clima descontraído
após mais uma etapa vitoriosa em Interlagos
Paulo com uma Brasília. Servidone também foi
bicampeão paulista da categoria Clássicos de
Competição. Nas 1000 Milhas Chevrolet Absoluta,
tem dois vices – na classe P3 em 2021, com
um MCR, e na P2 em 2022, com o protótipo 2S.
Soma, ainda, um quinto lugar no Sul-Americano
de Fórmula 4.
Servidone em ação durante
a terceira etapa da GT Series
Cup em Interlagos
O Audi A3 Sport número 56
com que Marcelo Servidone
disputa a classe FWD
92
A nossa
origem
Marcelo Servidone, diretor executivo
da Mamba Negra Racing
Em meados de 2018, a diretoria de Marketing
do GS, motivada pelo piloto Marcelo
Servidone, destinou recursos para patrocinar
alguns pilotos e eventos do esporte automotor,
visando a exposição da marca Grupo
Servidone e um relacionamento mais próximo
com clientes e colaboradores, bem como
fornecer visibilidade adicional para a marca,
ajudando-a a se destacar da concorrência, o
que de fato surtiu resultados positivos.
O automobilismo requer habilidades de
concentração, tomada de decisão rápida
e controle do veículo, o que pode ajudar a
desenvolver habilidades pessoais e profissionais
“acima da curva”, além da oportunidade
de desfrutar da emoção e da superação de
limites. Satisfação de pilotar carros de alto
desempenho em diversas pistas pelo mundo,
conhecer outras pessoas apaixonadas por
carros e corridas, construir novas amizades
duradouras e conexões valiosas foram motivos
mais do que suficientes para levar Marcelo
Servidone a se tornar piloto.
Ser diretor executivo de uma equipe de
corrida mostrou ser uma oportunidade para
ter um envolvimento maior neste esporte
emocionante e desafiador, além de fazer novos
contatos e estabelecer relacionamentos,
tanto pessoais quanto comerciais. Com este
pensamento nasceu a Mamba Negra Racing,
o que até o momento tem sido fantástico.
O automobilismo no próximo ano promete
ser emocionante e repleto de novidades. São
Paulo se tornará a capital do automobilismo
em 2024. Com certeza o Grupo Servidone e
o diretor executivo da Mamba Negra Racing
e piloto Marcelo Servidone estarão de perto
fazendo história.
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PALAVRA DO PRESIDENTE
Reconhecimento
internacional
Giovanni Guerra
Cris Reis
Atualmente, as atividades na Confederação Brasileira
de Automobilismo ocorrem com tanta velocidade
que precisei consultar minha coluna anterior
na Revista Grid, publicada na edição número
5, para me lembrar do que já havia sido dito aqui.
Tivemos grande conquistas a comemorar de lá
para cá, tais como o recorde de pilotos inscritos
na Copa Brasil de Kart, o grande impulso no programa
de treinamento e formação para oficiais
de competição, avanços em diversas modalidades
nas esferas técnicas e desportivas, ações relativas
aos novos e atuais autódromos, o incansável
trabalho das comissões, a modernização dos
já muito eficientes sistemas internos, a ampliação
de nossas ferramentas para falar diretamente
com a família CBA e muito mais.
Mas gostaria de me estender sobre duas delas,
em particular, porque representam o reconhecimento
da FIA pelo trabalho feito no automobilismo
brasileiro. Não tivéssemos um automobilismo
interno vibrante e em crescimento, não haveria
razão para a CBA ter sido reconhecida como foi
recentemente.
Em recente encontro da entidade máxima do
automobilismo, na Guatemala, a Confederação
Brasileira de Automobilismo recebeu o Prêmio
FIA José Abed. Além disso, nossa sede no Rio
de Janeiro acolherá o primeiro escritório da FIA
fora da Europa, desde sua fundação, em 1903.
As duas conquistas são motivo de muito orgulho
para a CBA, mas também aumenta nossa responsabilidade
diante dos desafios.
José Abed era mexicano e um dirigente histórico
do automobilismo em seu país e na FIA. Infelizmente,
ele nos deixou no ano passado. Para
eternizar seu legado e reconhecer os esforços
dos países das Américas, a FIA instituiu o prêmio
que leva seu nome e a CBA foi a primeira recebê-
-lo. O trabalho vitorioso foi o FIA Girls On Track
Brasil, da Comissão Feminina de Automobilismo
da CBA liderada pela pilota Bia Figueiredo, a presidente;
a publicitária Bruna Frazão e a engenheira
Rachel Loh.
Já o fato de a FIA ter escolhido o Brasil para
ser sua sede fora da Europa é algo extraordinário.
Além de consolidar nossa presença destacada no
continente, permitirá que a CBA ajude a alavancar
ainda mais o automobilismo nas Américas,
objetivo da vice-presidente de esporte da FIA
para América do Sul, Fabiana Ecclestone, com o
qual estamos muito orgulhosos de participar de
forma efetiva.
Mas não nos enganemos. Essas conquistas não
caíram do céu. São consequência do nosso automobilismo
interno, que cresce de forma sólida,
seja pela ação direta da CBA, seja pelo apoio participativo
em conquistas de nossos promotores
e categorias. E se eu contar para vocês que vem
muito mais por aí? Se preparem, pois o nosso
futuro próximo será mais vitorioso ainda. Com a
graça de Deus!
O autor é presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo
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