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Cultura de Bancada, 20º Número

Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023

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Congresso S4

Safety, Security, Service at Sports Events

novo formato,

mesmos intentos

14

28

32

HISTÓRIA DO MOVIMENTO

ORGANIZADO DE ADEPTOS

no leixões sc

O NOVO DIPLOMA DAS

SOCIEDADES DESPORTIVAS

à conversa com

ultras-tifo

36

50

memórias da bancada

resumo da bancada

68

Os intelectuais e o futebol –

O caso de Alves Redol

2

70

mini-férias POR espanha


76

o futuro do paços de ferreira

78

os anos passam,

nós não!

80

82

86

real sociedad x sl benfica

mix jogos itália

sporting cp x atalanta bc

88

rivalidades com história

derby della lanterna

92

uc sampdoria x spezia calcio

94

98

cultura de adepto

a voz do leitor

3


Edito

Finalmente chegamos ao vigésimo

número da Cultura de Bancada!

Começamos por mostrar agrado

em saber que mais um grupo ultra português

lançou a sua fanzine, juntando-se às poucas

publicações de adeptos que existem

actualmente em Portugal. Que mais grupos

se motivem em fazer o mesmo, mais que não

seja, porque é importante haver actividade

nos próprios grupos. Insistimos que um

movimento faz-se de pessoas que se mexem

e, por isso, enquanto vivemos tempos que

nos impedem de fazer tanta coisa para as

nossas bancadas, juntem esforços e não

desistam.

Entretanto, no país onde tratam os

adeptos como uma espécie potencialmente

perigosa, vemos os supostos bons

samaritanos desta sociedade envolvidos em

mais um escândalo. Felizmente, tal como

das outras vezes, esta vez foi mais um caso

irrelevante (modo irónico) com a diferença

que, finalmente, houve consequências

políticas para o primeiro-ministro de Portugal.

São tantos os casos, associados à justiça, de

membros deste (des)governo, que a única

coisa que nos apetece fazer é questionar o

seguinte: para quando o cartão do político,

com todas as restrições de expressão,

deslocação e demais que foram e são

impostas aos adeptos? Todos sabemos que

estão, entre os políticos, aqueles que mais

prejudicam os cidadãos portugueses (sejam

adeptos ou não). Se antes suspeitávamos,

hoje temos a certeza: As bancadas mais

perigosas em Portugal não estão nos estádios,

estão no Parlamento.

Assim, esperamos que a justiça...

Permitam-nos reformular: gostávamos que

a justiça tirasse consequências profundas

de tudo isto. É altura para ter mão firme e

mostrar ao país que não há dois pesos e duas

medidas. Para já, uma certeza: António Costa

e a sua equipa estão de saída e não deixam

saudades. Quem também podia estar de saída

era Pedro Proença, mas, infelizmente, não

abdicou de ser presidente da Liga Portuguesa

ao assumir a presidência da Associação de

Ligas Europeias. Realmente temos pena.

Desviando um bocado o

assunto, a comunicação social tem estado,

particularmente, atenta aos assuntos

Director

J. Lobo

Redacção

L. Cruz

G. Mata

J. Sousa

Design

S. Frias

M. Bondoso

Revisão

J. Rocha

4


rial2

associados à pirotecnia. São sinais que

reforçam o anúncio que está para breve: a

alteração à Lei que irá considerar crime a

posse e uso da pirotecnia. Temos muito que

refletir sobre o que queremos nesta matéria,

pois são demasiados os tiros nos pés.

Um facto curioso é que a Liga

Portuguesa tem andado em silêncio nas

questões sobre as assistências nos estádios.

De facto, uma coisa eles já entenderam

- são precisos mais adeptos. O problema é

que quem toma as decisões não entende

o que é a bancada e acha que pode ir

preenchendo as cadeiras com “figurantes”, e

por isso reiteramos a enorme necessidade de

promover o associativismo em Portugal.

Continuando com a Liga Portugal,

recentemente Pedro Proença referiu a

importância de identificar quem entra num

estádio, abrindo a cortina para a questão da

bilhética nominal – algo que os clubes e os

adeptos parecem ignorar neste momento.

Sem deixar de tirar a devida reflexão, parecenos

que Pedro Proença deveria era estar

preocupado em identificar pessoas associadas

ao tráfico humano e à corrupção.

Por último, mencionar as seguintes

palavras de Carsten Crames, CEO do Borussia

de Dortmund, com um apontamento nosso:

“O futebol está relacionado com a cultura

e rituais. Com tradição e com história. Na

Fórmula 1 não têm essa retrospectiva, pois o

seu foco é dar sempre o próximo passo com

o carro. O futebol está mais lento, contudo,

nós temos de crescer. No fim de contas, a

nossa concorrência não é o Real Madrid, mas

a Netflix ou outra atividade de lazer. A nossa

missão é garantir que as próximas gerações

ainda se interessem por futebol”. Está aberta

a porta à transformação do jogo em função da

salvação do negócio. A cultura do espectador

figurante é que parece importar, e poucos

parecem compreender o papel notável dos

clubes na relação do futebol com as pessoas.

Agradecemos a todos os que nos

seguem e também nos apoiam. Esperemos

que a Cultura de Bancada esteja ao nível que

vocês almejam. Agora, é tempo dos nossos

leitores espreitarem as nossas páginas.

Convidados

Martha Gens

Vasco Rodrigues

Ultras-Tifo

Eupremio Scarpa

Rui Abreu

Afonso C.

Duarte Monteiro

M. Soares

5


CONGRESSO S4

SAFETY, SECURITY, SERVICE AT SPORTS EVENTS

6

S4 – Safety, Security, Service, Sports

Events – foi o mote que serviu ao Congresso

Internacional organizado pela Autoridade

de Prevenção e Combate à Violência no

Desporto, no passado dia 13 de Outubro, na

Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu.

A APDA foi convidada pela APCVD e marcámos

a nossa presença, neste primeiro evento do

género no nosso país.

O evento teve início com sala cheia,

com cerca de 400 convidados - entre eles,

vários Oficiais de Ligação a Adeptos, com

quem estivemos e trocámos algumas ideias e

experiências.

Um congresso S4 é um ponto de

viragem na forma como são abordados os

eventos desportivos e, como tal, pode ser

tido como uma ferramenta útil na mudança

de mentalidades, no que aos adeptos diz

respeito. Explicando melhor, todos nós

seguimos de forma atenta, em outros

países, não só o panorama político e legal,

bem como a forma como tratam os seus

adeptos, e temos consciência que o nosso

país ainda está muitos passos atrás do que

são as práticas hoje já enraizadas em países

como a Alemanha ou a Holanda. Assistimos

hoje, infelizmente, a uma constante

instrumentalização da massa adepta, de

forma indiscriminada, para justificar todos

os males do futebol em particular – sempre

baseado numa perspetiva securitária e,

observámo-lo tantas vezes, que chega a ser

cansativo.

Infelizmente, somos obrigados

a constatar que, neste país à beira-mar

plantado, os corpos directivos e gestores dos

nossos clubes gerem os clubes como se de

vulgares empresas se tratassem – vendem

um produto a um cliente e, no fim, queixamse

do comportamento dos seus adeptos –

totalmente alheados que são eles próprios

responsáveis por estes comportamentos.

Enquanto isso, vendem mais camisolas e

mudam de símbolos, para manter os cofres a

salvo e as votações a seu favor também. Ser

gestor da Nestlé ou de um clube de futebol é,

e tem de ser, diferente, pelo menos enquanto

houver pessoas que amam clubes de forma

como não amam uma vulgar empresa como a

Nestlé. Mas não nos alonguemos aqui.

É, contudo, importante referir que,

no meio desta total falta de noção, assistimos

a um evento que, no limite, procurou sair

deste marasmo e do chavão fácil da violência

e trazer opiniões de diversos oradores que

sabem do que falam. Talvez alguns dos

convidados possam ter saído de lá com

algumas lições – ainda que não aprendidas,

esperemos que as tenham, ao menos,

colocado no programa.

Depois das apresentações

introdutórias da praxe, seguiu-se um

programa muito rico, desde logo com a

apresentação da versão oficial em língua


portuguesa do curso e-learning sobre

Proteção, Segurança e Serviço, que resulta

do trabalho conjunto do Conselho da Europa,

a APCVD e a Universidade de Liverpool. Este

curso, na nossa visão, será certamente uma

ferramenta extremamente interessante para

quem gosta e trabalha na organização e

gestão de eventos desportivos – sobretudo

pela visão global e holística dos três pilares da

Convenção de St. Denis – sustendo que não

pode haver legítima expectativa da existência

de um panorama sustentável e saudável se

os três pilares da Convenção não forem tidos

em consideração em conjunto, como um

todo. Esperamos de facto que tenha sucesso

e que, sobretudo, se traduza numa alteração

de mentalidade e comportamentos de forma

transversal.

Sem querer particularizar em

demasia e descrever de forma extensa todos

os painéis que tiveram lugar ao longo do

primeiro dia de Congresso, queremos apenas

sublinhar três intervenções que nos cativaram

em particular – umas de forma mais positiva,

outras nem tanto.

A primeira teve lugar no segundo

painel da manhã, dedicado aos Grandes

Eventos Desportivos, que é um tema que me

diz muito. Com moderação de Paulo Fontes,

da APCVD, as intervenções ficaram a cargo

de Helmut Spahn (FIFA), Falah Al Dosari

(INTERPOL), Juha Karjalainen (UEFA), Luís

Silva (Blue Rock) e Tom Smith (Consultor de

Pirotecnia). Foi provavelmente o painel que,

em termos técnicos, captou mais a nossa

atenção, e será sobre ele que escolhemos

discorrer um pouco mais.

Juha Karjalainen é um nome

conhecido para quem segue as competições

UEFA, uma vez que é Senior Safety and

Security Expert da UEFA. Conhecido e muito

querido entre clubes que habitualmente

movimentam consigo milhares de adeptos

nas três competições organizadas pela

UEFA, trouxe a este Congresso um caso

prático, a organização e gestão de um evento

desportivo: a final da Conference League

que colocou, frente a frente, a Fiorentina

com o West Ham, no Fortuna Arena, casa

do SK Slavia Praha, República Checa. Quais

os maiores desafios da organização e gestão

de um jogo em que são apenas conhecidas

as equipas a um mês antes da realização do

jogo? Quais os desafios em receber milhares

de adeptos, de diferentes países, numa

cidade que nem sequer é a sua? Como são

as infraestruturas da cidade? Como se dão

a conhecer aos adeptos? Como funcionará

a bilhética? Quantas pessoas vão viajar? Há

rivalidades ou anticorpos entre as equipas? E

no dia de jogo? Quem faz o quê? E se houver

imprevistos? Foram estas questões as que

foram colocadas e respondidas por Juha, de

forma extremamente prática, empática e

elucidativa. Provavelmente, a nível pessoal, a

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que mais me ensinou e captou a atenção.

Já no mesmo painel, outra

intervenção que motivou o extremo inverso.

Tom Smith, é um académico, doutorado por

Oxford em Química, que tem trabalhado

como Consultor de pirotecnia em inúmeros

e importantes palcos. Em Junho de

2017, a UEFA publicou um estudo, por si

encomendado e pela FSE, elaborado por

Tom Smith onde, pasme-se... se conclui

que a utilização de pirotecnia não é segura

num recinto desportivo. Este relatório de

72 páginas está praticamente construído

com base nesta premissa e apresenta

uma abordagem científica à utilização de

engenhos pirotécnicos. É como se fosse

encomendado um estudo sobre os males

associados ao tabaco que concluísse que

“fumar faz mal” – é este o melhor resumo que

podemos fazer destas 72 páginas. Claro que,

para os interessados, a leitura e abordagem

crítica deste tema é altamente recomendada.

Sem prejuízo, é seguro afirmar que ouvir as

palavras de Tom Smith é estar perante uma

abordagem securitária hardline. Esta foi,

surpreendentemente, uma confirmação de

última hora, e a sua intervenção durou cerca

de 30 minutos, em formato online.

Pessoalmente, considero este tipo

de abordagem despropositada, demagógica

e completamente sem contexto. Morrem

pessoas de cancro causado por hábitos

tabágicos numa taxa superior do que os

eventuais danos que já ocorreram devido

ao uso de pirotecnia, e a abordagem não é

proibitiva, mas sim educativa e pedagógica.

Curiosamente, também morreram mais

pessoas a construir estádios para acolher

eventos desportivos do que alguma vez

aconteceu com engenhos pirotécnicos. O que

arde, queima - é uma conclusão que todos

nós a partir de determinada idade somos

capazes de induzir.

Eventualmente, esta abordagem

científica poderia até conduzir a uma

utilização consciente, responsável e

moderada de engenhos pirotécnicos, e

nisso concordamos que poderia ter sido um

tópico bastante interessante – que é. Mas

não, quando conduzido da forma como foi e

para os fins a que se destinou, acabando por

chocar os menos conhecedores do tema, que

não têm qualquer contexto sobre os dados

apresentados. Porque claro, o que arde,

queima.

Que a pirotecnia tem riscos não

é uma descoberta digna de um Nobel. Se

o objectivo é criar a ilusão que o uso de

pirotecnia é a causa de todos os males no

futebol, este é um bom caminho. Agora, se o

objectivo é que ninguém se magoe, devemos

ter em conta o contexto em vez de proibir.

Identificar e reduzir os riscos. Em França,

actualmente, a pirotecnia é legal, e há zero

ocorrências. Em 2015 na Noruega, em 80

espetáculos, zero ocorrências nas bancadas.


E podíamos continuar. Em todo o congresso,

foi talvez o único momento que nos marcou

pela negativa e não podíamos deixar de

esconder a nossa crítica.

Em todo o restante primeiro dia

de evento, e não querendo propriamente

terminar com esta nossa nota em tom mais

duro, podemos assinalar que todos os painéis

tiveram como tónica uma abordagem positiva

e hospitaleira. Sem descurar os pilares de

safety e security, não há como ter recintos

desportivos em harmonia sem o pilar de

serviço.

Para terminar, e precisamente

neste sentido, salientamos a fantástica (mas

curta) apresentação subordinada ao tema

“Receber bem e ser bem recebido” pelo

Professor Michael Humann, do Centro de

Desenvolvimento e Apoio Educacional da

Universidade de Liverpool. Uma intervenção

que em todos os segundos captou a nossa

atenção. Os seus minutos tiveram como foco

um ponto-chave que é por muitos ignorado

– comunicação. Comunicação, compreensão,

diálogo.

Eu, polícia, entendo a pergunta e o

objectivo do que me está a ser comunicado?

De forma integral, sem subterfúgios ou

anticorpos? Eu, promotor, entendo porque

querem os adeptos uma marcha? Isso

prejudica a segurança? Ou pode ser feito,

com segurança? Então porque não? Todos

nós, adeptos, já fomos confrontados com

o não porque não. Porque “eu não quero”,

“porque é assim”, “porque é a lei”. “Porque,

porque, porque... não”. E conseguimos nós,

adeptos, se nos compreenderem, também

compreender o outro lado? Esta seria uma

intervenção que faria todo o sentido ser

repetida e, quem sabe, levada aos próprios

promotores. Esta é, sem dúvida, daquelas

que é para nós uma das mais importantes

abordagens que a Convenção nos apresenta.

Os restantes painéis do dia,

moderados pelo experiente e sempre

empático Carlos Daniel, marcaram pontos

pela forma leve como assuntos sérios foram

conduzidos – que levaram, muitas vezes, a

que o público se sentisse emocionado pelo

modo como o futebol toca a todos de forma

tão diferente, mas sempre de forma tão

profunda.

Por fim, mencionar a presença de

uma figura muito acarinhada do desporto,

Cândido Costa, que falou do seu trabalho

como Embaixador da Liga 3, e Jorge Reis,

Presidente do Caldas SC, que tem devolvido

o Clube à cidade e aos seus adeptos, criando

um sentimento incrível de pertença.

O foco está, e esteve muito bem,

aqui – mais serviço, menos anticorpos,

mais disponibilidade para ouvir outras

experiências. Mais disponibilidade,

igualmente, para querer absorver outras

realidades, sem a arrogância de achar que

estamos sempre no carro da frente, porque

claramente não é o caso do nosso panorama

– pelo menos no que diz respeito à forma

como são tratados todos os que frequentam

as nossas bancadas.

Por Martha Gens, Presidente da Associação

Portuguesa de Defesa do Adepto

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NOVO FORMATO, MESMOS INTENTOS

Corria a noite de 18 de Abril de 2021

quando, já para lá das 23 horas, um rumor

que se espalhava incessantemente pela

imprensa ganhou finalmente corpo. Surgia

o anúncio oficial, por parte de 12 “tubarões”

do futebol europeu (AC Milan, Arsenal,

Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter

de Milão, Liverpool, Manchester City, Real

Madrid e Tottenham), da criação da SuperLiga

Europeia, uma competição fora do circuito

da UEFA que previa contar com a presença

anual de 20 clubes, sendo que os membros

fundadores tinham lugar assegurado,

independentemente de qual fosse a sua

prestação desportiva na temporada transacta.

Esta nova competição seria presidida por

Florentino Pérez, Presidente do Real Madrid

e uma espécie de “guru” pioneiro da

“financeirização” do futebol, coadjuvado

por Andrea Agnelli, à época presidente da

Juventus que, entretanto, se viu envolvido

num escândalo financeiro que culminou na

retirada de 15 pontos ao clube, e Joel Glazer,

proprietário do Manchester United.

Este anúncio acabou por

desencadear um verdadeiro terramoto

nos alicerces do futebol e da sociedade

europeia em geral. As críticas a este projecto

surgiram de entidades e personalidades dos

mais diversos quadrantes, e até o Primeiro-

-Ministro britânico e o Presidente francês se

juntaram ao coro de indignados. Federações,

ligas, governos, associações, treinadores,

jogadores, ex-jogadores e muitos, muitos

adeptos gritaram em uníssono que esta

ideia era inconcebível e atacava todos os

pilares basilares que norteiam, ou melhor,

deviam nortear, o futebol. A UEFA, pela voz

do seu responsável máximo Aleksander

Ceferin, também foi bastante contundente,

ameaçando com a exclusão de todos os clubes

que incorporassem a SuperLiga, que apesar

de estar projectada para alegadamente não

interferir com a realização dos campeonatos

nacionais, iria seguramente retirar boa parte

da importância que a Champions League

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tem e retirar também ao organismo que

tutela o futebol europeu o monopólio sobre

o mesmo. As pressões sentidas foram de tal

forma intensas que, poucos dias após este

anúncio, boa parte dos integrantes tinha já

feito marcha-atrás e abandonado a ideia. Em

virtude dessa pressão, esta primeira tentativa

viria a ficar em “águas de bacalhau”, mas

a UEFA foi célere a responder, tendo no dia

seguinte à “apresentação” deste projecto

prometido uma reformulação do quadro

competitivo da Champions. Pouco mais de

um ano volvido, a 10 de Maio de 2022, seria

aprovado esse novo modelo.

Para compreendermos com maior

amplitude o teor desta transformação,

convém que façamos uma breve retrospectiva

daquilo que foram as alterações de formato

na maior competição de clubes da UEFA

desde os seus primórdios. A Taça dos Clubes

Campeões Europeus realizou-se pela 1ª vez

na temporada 1955/1956 e, nessa época,

contava apenas com um representante de

cada país (foram 16), sendo disputada num

sistema de eliminatórias a duas mãos, desde

a 1ª ronda até à final, esta jogada num só

encontro. Nas primeiras edições os clubes

foram escolhidos por convite, mas desde o

final da década de 1950 esta Taça passou a ser

disputada apenas pelos campeões nacionais

de cada país, tendo-se este formato mantido

praticamente inalterado até aos anos 90. Foi

na temporada 1991/1992 que, pela primeira

vez, se introduziu o formato de fase de

grupos, ainda que para aceder a esta fase

da competição fosse necessário ultrapassar,

antes disso, três eliminatórias. Na temporada

seguinte a prova muda de nome, e é então

que surge o nome “Champions League”.

Durante esta década a Champions foi sendo

alvo de sucessivos ajustes, sendo um dos mais

importantes a inclusão de vice-campeões a

partir do ano de 1997, entre outras alterações

no sistema de grupos e eliminatórias, até que

chegamos ao ano de 2003, em que se passou

a disputar a competição nos moldes que hoje

conhecemos.

Depois de duas décadas sem

alterações de monta, eis que a próxima

temporada trará uma transformação radical

da prova, que passará a ser disputada por 36

equipas em lugar das anteriores 32, e contará

com uma liga única substituindo os 8 grupos

em vigor. Cada equipa realizará, pelo menos,

8 jogos contra 8 adversários diferentes, ao

invés dos 6 jogos contra 3 equipas (casa

e fora). Os clubes serão distribuídos por

quatro potes (consoante o coeficiente) e

defrontarão dois adversários de cada pote,

sendo esses mesmos adversários sorteados

consoante os resultados da ronda anterior

(vitoriosos defrontam vitoriosos, derrotados

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contra derrotados), formato que é apelidado

de “Sistema Suíço” e que é regra em alguns

torneios de xadrez.

Os quatro lugares “extra” serão

distribuídos pelas duas ligas com melhor

coeficiente no final da temporada anterior

(um lugar para a 1ª e um lugar para a 2ª melhor

liga), pelo 3º classificado da 5ª melhor liga, e

ainda um lugar para ser atribuído às equipas

que vêm das pré-eliminatórias pelo “caminho

dos campeões” (campeões de países com

coeficientes mais baixos na UEFA). Resta dizer

que os oito primeiros classificados desta nova

liga da Champions apurar-se-ão directamente

para os oitavos-de-final, enquanto que os

que se classificarem entre o 9º e o 24º lugar

disputarão um play-off a duas mãos, sendo

o caminho da fase a eliminar até à final em

parte determinado pela performance na fase

regular, decisão que a UEFA justifica com a

alegada necessidade de “fortalecer a sinergia

entre a fase da liga e a fase a eliminar”, mas

que aparenta uma intenção bem diferente: a

de garantir que as equipas ditas mais fortes

cheguem incólumes à “recta final” da prova.

Este novo modelo, que passará a

incluir encontros à quinta-feira, irá aumentar

o número de jogos disputados na competição

e, desta forma, aumentar também as

receitas geradas pela mesma, tentando

assim “apaziguar” as intenções das equipas

mais poderosas, que pretendem gerar

mais e mais receitas para aumentar as suas

despesas, num loop que parece não ter fim.

Perante este cenário, fica bem patente que as

sucessivas declarações dos responsáveis dos

organismos que tutelam o futebol (e não só)

que atacavam a criação da SuperLiga, porque

esta violava aquilo que de mais bonito tem

o futebol (a solidariedade, a meritocracia, a

competitividade, etc), soam a pura hipocrisia.

Se é verdade que, de um lado, temos um

conjunto de clubes que querem reforçar

a sua hegemonia no futebol europeu,

depauperando tudo à sua volta, parece

também que aos responsáveis da UEFA,

mais do que fomentar a competitividade e a

solidariedade, interessa realmente é defender

um monopólio e um privilégio intocável. Os

dois lados da “barricada” enchem a boca para

falar do interesse dos adeptos, mas a verdade

é que o que ambicionam é meramente seguir

as tendências dos telespectadores, que mais

não são do que consumidores, nesta nova

faceta do “show biz” chamada futebol.

Este ritmo voraz de jogos em

catadupa pode parecer interessante para

aqueles que assistem do sofá ao espetáculo,


como se da telenovela da noite se tratasse,

mas para o adepto fidelizado, consciente

e militante, o ritmo do futebol negócio

configura-se como uma verdadeira tortura.

Para aqueles que insistem em estar presentes

em todos os encontros do seu clube do

coração, que vivem esse emblema de forma

associativa e o olham como verdadeiramente

seu, esta alteração não produz nada de

bom. Serão mais dois jogos num calendário

já sobrelotado e, muito provavelmente, os

sorteios serão realizados bem mais próximos

da data dos encontros, o que necessariamente

fará disparar o montante gasto nestas viagens

continentais.

A verdade é que estas alterações

parecem não ser suficientes para satisfazer

a gula dos mais poderosos, e o projecto

da SuperLiga voltou à baila, ainda que

em moldes ligeiramente diferentes. A

empresa A22, com o apoio do Real Madrid,

Barcelona e Juventus, veio anunciar a

intenção de relançar a competição, desta vez

apresentando a intenção de incluir 60 a 80

equipas, todas apuradas com base no mérito

desportivo. A lição que a UEFA deveria extrair

é que não é fazendo mais e mais concessões

aos tubarões que vai conseguir saciar o seu

apetite infinito por receitas. Os homens que

lideram estes clubes, tal como os que gerem

as multinacionais que “comandam” o leme

da economia mundial, norteiam-se pelos

valores capitalistas que concentram todos os

esforços e recursos num crescimento infinito,

desprezando os interesses das camadas

populares e da grande fatia da população.

A bola está agora na mão dos aficionados,

pois reside neles a última esperança para

travar este rumo destrutivo que o futebol

tem tomado. O apelo é bem claro: tomem

consciência, unam-se e mobilizem-se porque,

se não o fizerem, nenhum Sebastião nos virá

salvar!

Por J. Sousa

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14


Interrompemos a nossa procura por mais informação sobre movimentos de apoio

internacionais, salutando o facto de que, entre tanta diferença e diversidade, haja tanto em

comum nesta nossa cultura. Regressamos a casa e assentamos arraiais. Fruto da nossa base

se ter expandido ao longo de três anos de trabalho em prol do panorama nacional, podemos

aprofundar mais sobre a sua história, a qual retratamos de forma muito resumida no número

de estreia da Cultura de Bancada. Juntos abrimos a oportunidade de conhecermos mais sobre

este tipo de realidade, em clube ou em cidade, coisa que começou a suceder-se há dois meses,

quando entramos na “máquina do tempo” das bancadas do “berço da nação”. Desta feita vamos

até à terra que se tornou cidade muito à custa da sua aguerrida gente e dos leixões, um conjunto

de rochas que constituiu um porto de abrigo marítimo natural.

Nos últimos anos do século XIX, Matosinhos tornou-se um dos berços do Futebol

português, embora os matosinhenses ainda não tocassem na “xixa”. Tal deveu-se às equipas/

clubes da cidade do Porto que começaram a jogar à bola num hipódromo daquela vila piscatória,

onde os seus naturais tiveram o seu primeiro contacto com o desporto-rei em 1902, quando

um jovem emigrante retornou de Inglaterra com uma bola de couro e a partilhou no areal da

praia. Foi a semente que levou a que surgissem os Leixões Foot-Ballers, equipa que protagonizou

a fusão com Lawn-Tennis do Prado e Lawn-Tennis de Matosinhos da qual nasceu o Leixões

Sport Club, em 28 de Novembro de 1907. O clube foi formado com os objectivos de servir a

comunidade e de elevar o nome da terra, merecendo então o entusiasmo e participação dos

locais, registando-se um total de 84 sócios fundadores, entre eles homens da indústria pesqueira,

um laço determinante na história leixonense. Desta forma começou a desenvolver-se uma das

mais carismáticas massas adeptas de Portugal.

Nos inícios do século XX, a sociedade não estava familiarizada com o desporto e o

15


16

mesmo não estava acessível a todos, sendo maioritariamente disputado por cavalheiros das

classes altas, algo que contrastava com o povo de Matosinhos, gente pobre que subsistia à base

da pesca, em tempos em que a fome era uma realidade diária. Naturalmente que nos primeiros

anos eram poucos aqueles que assistiam aos “match’s”, algo que foi evoluindo positivamente

com o tempo. Em 1935, na recepção ao Sporting CP, registou-se a maior enchente num campo

do Leixões até ali, contabilizando-se a presença de 4 000 adeptos.

Mais tarde, na manhã de 1 de Dezembro de 1947, durante o período em que

Matosinhos era o maior centro conserveiro nacional, regressa ao molhe sul do nosso porto uma

traineira carregada de sardinha, contrariando o que tinha acontecido com outras embarcações.

A necessidade era grande e, nesse mesmo dia, partiram rumo à Figueira da Foz 103 traineiras.

Infelizmente, as condições climáticas mudaram drasticamente ao anoitecer e quatro embarcações

naufragaram, vitimizando um total de 152 pescadores, naquela que é a maior tragédia marítima

na costa portuguesa. Naquele tempo, Leixões já era o maior porto de pesca do país e a faina era

feita manualmente, levando a que cada traineira empregasse entre 30 a 40 pessoas. O Leixões

SC foi sempre um clube inclusivo, destacando-se como clube-escola eclético, alicerçando o

seu crescimento na sua comunidade. Ofereceu formação pessoal e desportiva, atingindo alto

nível dentro de campos e quadras e colheu frutos da união e sentido de missão da comunidade

envolvente, sendo exemplo disso a construção do Estádio do Mar. Puxando a fita atrás, sempre

foi uma dificuldade do LSC estabelecer-se num só campo e desenvolver o mesmo, uma vez que

eram espaços arrendados e o dinheiro nunca abundava, o que se traduziu em quatro mudanças

de “estádio” até aos anos 50. O problema persistiu, a vila continuou sem ter estádio municipal e

o Leixões continuou a procurar a sua independência. No ano de 1958, o clube conseguiu avançar

com a compra do terreno onde surgiria a sua tão desejada casa, tendo a direcção do LSC, com


gente de renome no sector piscatório, apelando à comparticipação e sacrifício do seu povo para

financiarem as despesas. Há então um acordo entre os mestres do mar, numa altura em que o

peixe abundava, em que havia cerca de 150 traineiras em actividade e a indústria conserveira

continuava a prosperar. O acordo consistia em doar ao clube um tostão em cada cabaz vendido,

não havendo limites de captura e cada traineira podendo apanhar num dia entre 800 a 1 000

cabazes. Multiplicando o valor de 800 cabazes/dia por metade dos dias de um ano, o valor

ultrapassa 7 300€, algo muito mais valioso à época. Juntando a isto o facto de diversas drogarias

doarem materiais de construção, de empreiteiros e trabalhadores comuns se juntarem à causa

pro bono, a concretização da obra deu-se a 1 de Janeiro de 1964. Os pescadores tinham ainda

o desiderato e tradição de serem associados do clube, o qual disponibilizou uma categoria de

associado própria à classe, sendo reduzida a quota em relação ao sócio comum.

Quanto às bancadas, o Leixões já enchia o Campo de Santana com milhares de apoiantes,

que até em cima de telhados de casas viam os jogos. Eram os tempos em que se faziam chapéus

de papel ao estilo chinês e em que os mais novos pediam aos adultos para entrarem de mão dada

para poderem assistir às partidas. Em comparação à actualidade o ambiente era mais fervoroso,

havendo menos contestação interna devido à união. Os primeiros registos que encontramos de

deslocações a terrenos adversários datam de 1953, quando um grupo de adeptos organizou um

comboio especial para irem a Chaves, de 1954, quando 2 000 matosinhenses viajaram até Viseu

(para surpresa do viseenses, registando-se ainda uma deslocação a Barcelos nesse ano) e de

1959, quando foram organizados comboios especiais e autocarros para levarem centenas de

adeptos a Santo Tirso, com mulheres e crianças a acompanharem figuras predominantemente

masculinas. O apoio vocal não era organizado, surgindo de forma espontânea, baseando-se em

palavras de incentivo e no nome do clube, como também do uso de bandeiras, que naturalmente

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eram raras. O primeiro registo em que é possível ver dezenas de bandeiras na bancada é aquando

da subida à Primeira Divisão, em 1958/1959, naquelas que parecem ser bandeiras de papel do

tamanho da palma da mão. No regresso ao principal escalão, ficaram marcados os jogos com

o Benfica e com o Porto, os quais presenciaram 20 000 e 15 000 pessoas respectivavemente,

estabelecendo-se novos recordes de assistência em Matosinhos.

Podemos dizer com certeza que, entre o final dos anos 50 e dos anos 70, o Leixões SC

viveu a sua era dourada a nível desportivo, chegando inclusive a vencer a Taça de Portugal em

1961. A final foi disputada no Estádio das Antas e a maioria dos leixonenses fizeram a pé cerca de

13 quilómetros na ida e na vinda. Também neste período a indústria matosinhense vivia tempos

saudáveis, contribuindo em larga medida para isso as exportações de conversas para o Ultramar.

Tudo isto abriu a porta a muita gente que procurava trabalho, “emigrando” para cá. O centro da

vila era bem diferente do actual, situando-se na zona beira-mar, com artérias como a Rua Conde

São Salvador, a Rua de Brito Capelo e a Avenida Serpa Pinto como “epicentro”, sendo o Café

Girassol e o Café Lindo Mar dois dos principais pontos de encontro dos leixonenses. De lá partiam

sempre grandes romarias, fosse para o Santana, fosse para o Estádio do Mar, apesar da distância.

Mais tarde, em meados de 1971, o LSC não conseguiu evitar a descida à II Divisão,

após o término da fase regular do campeonato. A direcção e a massa associativa entenderam

que essa descida foi forçada pela Federação Portuguesa de Futebol, uma vez que foi imposta

na secretaria. Liderados pelo Dr. Edison Magalhães, entre outros, durante vários dias seguidos

os matosinhenses protestaram e fecharam as entradas e saídas da cidade, fosse pelas estradas,

caminhos de ferros ou pela via marítima, não deixando comercializar nada enquanto a FPF não

voltasse atrás na sua decisão. Posto isto, o nosso Leixões recebeu a positiva notícia da parte da

FPF de que afinal haveria uma liguilha, a qual ultrapassou com sucesso, mantendo-se assim na


primeira divisão. Tudo isto se passou em pleno regime ditatorial, liderado por Marcello Caetano,

numa altura em que não eram permitidas manifestações.

Com a Revolução dos Cravos acentuou-se muito o número de mulheres a viajarem para

os jogos fora, principalmente nas viagens mais longas. Em 1976/77, após dezoito épocas seguidas

na I Divisão, o Leixões desce. Coincidentemente ou não, foi por altura que se instalou uma grave

crise na indústria do pescado, mas os problemas financeiros do LSC já eram herança. A partir daí,

o clube disputou a II Divisão - Zona Norte, procurando incessantemente a subida. Eram tempos

em que as muitas invasões de campo eram acontecimentos normais em Matosinhos, onde a rede

da superior ia sempre abaixo e em que os jogos eram interrompidos devido ao arremesso de

pedras para o relvado. Inclusive, em 1983/1984, o árbitro Santos Ruivo saiu do estádio às portas

da morte, deitado numa maca após ser agredido. Mas há histórias bem mais bonitas, dos anos em

que era “fácil” encher autocarros, sendo exemplo a deslocação a Tadim (Braga), em Dezembro de

1978, que aconteceu por altura do Natal e que foi antecedida por uma semana de mau tempo. Os

pescadores praticamente não saíram para o mar nesses dias, acentuando a escassez de dinheiro,

o que levou a que um dos organizadores mais assíduos de camionetas, o Sr. Valdemar, não o

tenha feito. No domingo de jogo, o “bichinho” mexia com a malta que parava no Café Girassol e,

por acaso, parou ali uma camioneta à hora de almoço. O motorista vai tomar um café e comprar

tabaco para seguir para casa, em Santa Maria da Feira. O Sr. Valdemar mete conversa, questiona

quanto ficaria a viagem para Braga e em cinco minutos enche o autocarro, levando muita gente a

mais, que se sentou em bancos corridos das tascas que foram postos no corredor. Foi uma tarde

de rambóia, com cerveja e muita chuva à mistura num campo ladeado por terrenos de cultivo. À

saída, os leixonenses encheram o autocarro de legumes para a consoada.

Na época 1983/1984 surge o primeiro grupo de apoio organizado, de seu nome

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“Piratas do Mar”. Formou-se então um colectivo idealizado e composto por adolescentes que

acompanhavam o Futebol e o Voleibol leixonense. Apoiados pela direcção de Ricardo Peixinho,

tiveram a primeira sede nas instalações do clube, t-shirt’s próprias e conseguiam mobilizar cerca

de 100 elementos no jogos caseiros. Desde aí até à suspensão da Máfia Vermelha, todos os

grupos apoiavam desde a bancada superior, e nos jogos fora costumavam organizar autocarros,

que costumavam encher. Aliás, numa viagem a Famalicão, o neto do proprietário da rodoviária

matosinhense levou uma camioneta da empresa sem autorização. Depois disso, a Resende passou

a disponibilizar um autocarro. O grupo apresentou-se com as primeiras bandeiras de grandes

dimensões rubro-brancas abanadas em ferros, tendo sido pioneiro no movimento leixonense na

utilização de potes de fumo, fumos esses adquiridos através da Juventude Leonina, na sequência

de contactos que levaram a que os Piratas do Mar tivessem representados por um membro no I

Congresso Nacional de Claques, que decorreu em 1984 na Nave de Alvalade. Dois ou três anos

mais tarde o grupo cessaria a actividade.

A segunda claque a surgir foi “Lobos do Mar”, fundada em 14 de Fevereiro de 1986. Na

sua composição já havia uma mistura de gerações, sendo que também foram integrados antigos

Piratas. Pelos registos que encontramos, foi o primeiro grupo leixonense a apresentar a palavra

“Ultra” numa faixa. Alugavam camionetas para deslocações com dinheiro angariado através de

rifas e permutavam bilhetes com grupos de apoio ou direcções de outros clubes. Há a destacar

ainda as boas relações com gilistas, com quem chegaram a ter convívios nos quais também

participou Penteado, icónico avançado. Os grupos de apoio leixonenses supracitados não faziam

do apoio vocal a sua principal força, uma vez que cantavam músicas muito básicas que eram

transversais a vários clubes, como “a pulga salta, a pulga grita e o Leixões é a melhor equipa”, “oh

Leixões, oh Leixões, não tenhas medo de sujar a camisola, a camisola e os calções, marca um golo


para sermos campeões” e “viva o alho, viva o alho e xyz vai para o caralho”. Uma das memórias

mais bonitas destes tempos é a tradição do capitão de equipa entrar em campo com um peluche

à Leixões, o qual atirava para a claque. No final do jogo, o peluche era devolvido na rouparia para

que o ritual se repetisse duas semanas depois. Tudo isto aconteceu durante cerca de três anos.

Há então um interregno no movimento organizado de apoio leixonense, interrompido

em 1992. Dois jogos antes da meia-final da Taça de Portugal, disputada no Mar contra o Porto,

surgem os “Heróis do Mar”, criados por estudantes das secundárias de Matosinhos que curtiam

as ondas Psycho Billy e Oi!. A faixa tinha o nome do grupo em cima e em baixo “Ultra Leixões”,

sendo que cantavam sobretudo “we are hooligans” e “é pra a esquerda allez, é pra direita allez,

é pra cima allez, é pra baixo allez allez, allez Leixões allez”. O jogo da Taça ficou marcado por

incidentes na bancada, nos quais se envolveram elementos do grupo, e a verdade é que o mesmo

não durou para além daquela tarde.

A situação do clube piora com a descida à “rua escura”, a II Divisão B, em 93/94. Por

essa altura, três adolescentes oriundos da Rua Conde São Salvador, que tinham o costume de ir à

bola com a família, decidiram criar um grupo de apoio, composto por 20/30 leixonenses da zona

da rua da praia nova. Denominaram-se de “Strogonoff’s” e pintaram a sua faixa principal numa

empresa de plásticos. Apresentavam-se com coletes iguais, utilizavam tochas e potes de fumo,

inovando com o uso de tiras de plástico e cascatas de papel higiénico. O grupo que manteve

actividade durante dois anos, estava sediado no café do pai de um elemento e organizou algumas

deslocações, viajando no autocarro emprestado pela Escola de Condução Beira-Mar até Viana do

Castelo, Sandim e Freamunde, por exemplo.

Em 1996 surgem os Ultras Leixões, fundamentalmente composto por malta dos bairros

de Carcavelos, Cruz de Pau, Biquinha e de Sendim. Era malta “pesada”, que muitas vezes não

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queria jovens no seu meio e que baseava o seu material de apoio na sua faixa principal, dois

bandeirões com bulldog’s e outras bandeiras rubro-brancas. Na Escola Industrial, alguns Ultras

Leixões conheceram o professor Bruno, o qual já tinha militado nos Dragões Azuis e pertencia ao

Colectivo, que lecionava Educação Visual e desenhou algumas faixas lindíssimas para os UL96.

Nos jogos fora viajavam de comboio, Resende (rodoviária de Matosinhos) ou em carrinhas de

transporte ao molhe e fé em Deus, com a preparação/organização a ser feita no ringue do Senhor

do Padrão ou na escola. Parte do seu financiamento era angariado através da venda de rifas (o

prémio era uma bola do Leixões, comprada no Continente) nos jogos em casa, e ao intervalo

anunciavam no sistema de som do estádio o vencedor, que “invariavelmente” saía sempre à

casa. Nesses anos era habitual os clubes visitados mudarem o preço do bilhete em cima da hora

de jogo, como aconteceu num célebre jogo no Marco, em que os primeiros bilhetes saíram a 1

000 escudos e depois de se aperceberem que iam ter enchente, meteram um carimbo a marcar

2 500 escudos. Isso gerou contestação e motivou a ira dos leixonenses, que forçaram a entrada,

tendo inclusive levado à frente Avelino Ferreira Torres. As suas coreografias eram baseadas nas

tradicionais cascatas de papel higiénico misturadas com papel cortado, acompanhadas de tochas

(nesse tempo já se faziam tochas com bolas de Ping Pong embrulhadas em prata), embora se

destacassem mais pelo contexto hardcore e aventuras violentas ao longo dos cerca de seis anos

de actividade.

Durante a época 1998/1999, “bebés do Mar” das equipas de infantis e iniciados, que

antes pertenciam aos Ultras Leixões, decidem fundar a sua própria claque, a “Mancha Vermelha”.

Ao criarem o grupo, deparam-se com os poucos recursos materiais e, após um jogo, dirigiram-se

até à praia para sacarem uma lona publicitária de um bar e juntaram dinheiro para tinta vermelha

e preta, pintando o nome do colectivo e uma cruz celta, sem fundo ideológico. Os panos que


conseguiram juntar foram usados para os transformar em bandeiras e estandartes, pintando-

-os sem protecção no pátio da casa de um fundador, deixando o chão marcado de inscrições

como, por exemplo, “Anti-Sul”. No final de um jogo, um sócio do LSC ofereceu àqueles jovens

um bandeirão rubro-branco e uma bandeira suiça, que é possivel ver em fotos antigas dos Lobos

do Mar. Fizeram em papel os cartões de membro, que depois eram plastificados, meramente

por uma questão de orgulho. Era costume procurarem recolher extintores e num jogo com o

Porto b abriram três, proporcionando um belo impacto visual, numa altura em que era difícil

arranjar tochas. Para outro jogo caseiro, conseguiram reunir mais de 100 rolos de papel higiénico,

tendo sido distribuídos dois ou três rolos por elemento. Passaram o jogo a mandarem os rolos,

uma vez que os que não abriam eram devolvidos pelos apanha bolas para novas tentativas.

Marcavam sempre presença nos jogos caseiros, não conseguindo atingir a mesma consistência

nas deslocações, uma vez que eram atletas de formação e nem sempre era possível conciliar

os jogos e tratando-se de um grupo de miúdos, estavam dependentes de boleias. Conseguiam

mobilizar entre 10 a 60 leixonenses, dependendo dos jogos, cantando praticamente sempre as

mesmas músicas, sem materiais que acompanhassem o esforço vocal. O grupo acabaria passado

cerca de um ano e meio.

Entretanto, na época 2000/2001, o Leixões desloca-se ao José de Alvalade para um jogo

da Taça, jogo em que os Ultras Leixões se apresentaram com uma t-shirt nova. Outros leixonenses,

que já tinham pertencido a outras claques ou que curtiam a onda, organizaram autocarro e

apresentaram-se com a faixa “Matosinhos Rebels - Grupo Anti-Tripas”. Para isso roubaram uma

lona, pediram o empréstimo de um retroprojector a uma escola e aproveitaram a noite para, no

ringue da Cruz de Pau, desenharem o nome em letras góticas. O que aconteceu naquele jogo não

teve continuidade.

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Os “Red Rebel’s” surgem em Novembro de 2001, num jogo na Póvoa de Varzim, um dos

que fez parte da histórica caminhada até ao Jamor, e passado uma semana separam-se, durando

apenas dois jogos.

A “Frente Leixonense” foi fundada após uma cisão nos Ultras Leixões em Dezembro

de 2001, embora a sua faixa tivesse a inscrição “FL02”. Essa faixa principal era a da Mancha

Vermelha, tendo sido toda pintada de preto para, à posteriori, levar as letras rubro-brancas.

Contaram com antigos elementos de claques antecessoras, sendo mais de 50 nos jogos em casa,

e destacaram-se pelo uso de megafone e inovação na confecção de material de bancada, bem

como de cachecóis, tendo sido o primeiro grupo a ter cachecol próprio, que foi desenhado pelo

professor Bruno. Foi mais um colectivo que procurou extintores por todo o lado para poder abrir

na bancada, onde revelaram serem inconstantes no apoio vocal durante a época e meia em

que se organizaram. A par dos Ultras Leixões, estiveram presentes na meia-final de Braga, na

qual ambos os grupos fizeram uma cascata de papel, que a seguir foi sendo junto e incendiado.

Meses depois, para a final do Jamor, deslocaram-se 12 000 pessoas para apoiarem o Leixões,

numa jornada marcante para todos os presentes. A Frente apresentou uma grande camisola

rubro-branca, tendo o pessoal que se tinha apresentado no ano anterior como “Matosinhos

Rebels” tentado, sem sucesso, organizar no dia uma coreografia em cartolinas. Nesse tempo,

os leixonenses tinham adaptado as músicas “Só Eu Sei” e “És a Nossa Fé” da Juventude Leonina.

O povo matosinhense prestou um enorme apoio, principalmente na segunda parte, cantando

repetidamente a “Uma equipa belíssima, uma equipa fantástica”, precisamente num confronto

com o Sporting.

Na época seguinte, fruto do êxito na competição rainha, o Leixões disputa a Supertaça

Cândido de Oliveira e a Taça UEFA, não se registando presença dos grupos organizados leixonenses


no estrangeiro. Nesse verão, miúdos do Bairro dos Pescadores resolvem criar a sua claque com

o nome “Putos do Mar”, tendo andado pela Cidade a perguntar quem se queria juntar a eles e

a distribuir fichas de inscrição. Pintaram material e foram para a bancada fazer o melhor que

sabiam, algo que aconteceu em meia dúzia de jogos. Eram tempos de gente com vontade, mas de

muita inconsistência. Julgo que, durante os anos na “rua escura”, faltou por cá fundamentalmente

um projecto bem estruturado. Apesar disso, o Leixões sempre teve muito apoio em casa e fora,

sendo o “abono de família” para os visitados e “assustador” para os visitantes, sendo raro o jogo

que não dava estalo. Poucos eram os grupos de apoio existentes na II Divisão B e menos ainda

eram os que cá vinham, salvo excepções como, por exemplo, os Fama Boys e os Green Devils.

Ainda em 2002/2003 aparecem os “Red Demons”, criados na Escola Básica Prof.

Óscar Lopes, no bairro da Cruz de Pau. O professor Bruno foi transferido da Industrial para lá,

onde começou a fazer actividades extracurriculares com jovens problemáticos na pintura de

camisolas com técnicas de Graffiti. Numa dessas sessões o professor ouve falar pela primeira

vez em “Red Demons” e, questionando o aluno, o mesmo explicou-lhe que era uma ideia de

criar uma nova claque para o L.S.C., tendo o nome Red Demons surgido numa aula de Inglês (no

ano letivo precedente), com ajuda de uma professora. A partir daí, Bruno Sampaio começa a

desenvolver a ideia, tendo também criado o logo e desenhado material. Trocaram-se as atividades

extracurriculares de pintura pelo “Espaço Red Demons”, dando assim um cariz ainda mais social a

um projeto dum grupo de apoio. Para tal e muito mais, contribuiu a professora Aurora Anastácio,

que era à altura a diretora da Escola e uma leixonense ferrenha. Aproveitando o espaço, a nova

geração Ultra era cultivada com reuniões do grupo, criação de cânticos, desenho e pintura de

material e coreografias, etc. O apoio vocal e a pirotecnia improvisada com extintores, com tochas

artesanais feitas de prata e bolas de Ping-pong, ou até mesmo com cal comprada em drogarias,

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que punham em garrafões para depois abanar, também contribuíam para o espetáculo que

proporcionavam. De referir que o professor, em algumas partidas, esteve lado-a-lado na bancada

com os seus alunos, sendo um dos momentos mais marcantes quando o professor mostrou a

prova do primeiro cachecol do grupo a alguns jovens, algo que era como o concretizar de um

sonho para miúdos que muitas vezes viam as suas expectativas desfeitas. Igualmente memorável

são momentos como o primeiro aniversário, festejado na Escola, na qual a comunidade escolar

recebeu uma comitiva do clube, onde perfilavam dirigentes, jogadores como Pedras (originário

daquele bairro), Brito, etc. Marcante é ainda o facto dos adolescentes e o professor passarem

parte das férias escolares a pintarem material na Escola, como também o facto de nos dias de

torneio inter-turmas as faixas e estandartes estarem afixados nas redes do campo e à volta do

mesmo haver um ambiente de estádio. Com o surgimento da Máfia Vermelha e com o intuito

de fortalecer o apoio ao clube, ambos os grupos partilharam algumas vezes o mesmo sector (e

também uma sede, disponibilizada pelo clube). Numa altura em que menos de cinco membros

ainda resistiam à tentação de pertencerem à Máfia Vermelha, findaram a sua existência em

2004/2005, com cerca de três anos de atividade.

A 22 de Maio de 2003, no ano de regresso à II Liga, é fundada a “Máfia Vermelha”.

Inicialmente, foi proposto a dois fundadores assumirem a Frente Leixonense, mas após

ponderação optaram por trilhar um novo caminho. Tudo o que veio de trás foi “maturação”, e

os fundadores da Máfia tiveram o condão de cativar e unir malta de muitos grupos anteriores.

Inovaram muito no contexto leixonense, mobilizando sempre boas massas em casa e fora. A nível

vocal tornaram-se um dos mais consistentes e fortes grupos nacionais, fazendo coreografias de

dimensões e qualidade nunca antes vistas no universo leixonense, não descurando o confronto

físico. Em 17 anos de actividade, a MV03 não marcou presença somente uma vez, por boicote,


e fez por merecer o reconhecimento que lhe é dado até hoje. Fora da bancada apoiaram o clube

em momentos conturbados, sendo exemplo disso a oferta de um corta relva e de quase 15 000 €.

Este é o grupo leixonense que mais ficou marcado na história do Leixões Sport Club e dos próprios

leixonenses, deixando uma grande herança e um enorme vazio após a sua suspensão em 2020.

No dia 22 de Maio de 2021, de forma a relembrar e homenagear todos os leixonenses

e grupos que “desapareceram”, especialmente a Máfia Vermelha, foi organizado o I Memorial

Apenas Diferentes. Nessa edição, realizada no Estádio do Mar, foi feito um minuto de silêncio

em memória de quem já não está entre nós, foram apresentadas faixas verdadeiras e réplicas

de todos os grupos de apoio e uma fumarada em jeito de despedida das portas 1 e 2 do Estádio

do Mar. Na segunda edição, foram novamente homenageados leixonenses e houve torneio de

Futebol de 5, o que aconteceu igualmente este ano, adicionando-se a isso a apresentação do livro

“Apenas Diferentes”, que aborda a história da Máfia Vermelha. Também em 2023, um grupo de

amigos independente pintou um mural de 150 metros no Estádio do Mar, reservando um espaço

no qual homenageou todos os grupos de apoio.

Hoje em dia, o apoio “claqueiro” é dado por um grupo de amigos independente e pelos

Ultras do Mar, grupo fundado em 2022, voltando a ser muito mais desorganizado e espontâneo.

Por L. Cruz

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O NOVO DIPLOMA DAS

SOCIEDADES DESPORTIVAS

UM NOVO DIPLOMA

Depois de, em 2013, o governo

em funções ter reformulado o quadro das

competições profissionais ao obrigar a que

os clubes que participassem em competições

profissionais assumissem uma forma

societária, fosse ela através de uma SAD ou

de uma sociedade unipessoal por quotas

(SDUQ), através da emanação do Decreto-Lei

nº10/2013, o mesmo viu-se na contingência

de reformular o diploma que esteve em

vigência durante dez anos.

para as que ocorreram fruto do diferendo

entre os Belenenses e a Codecity, entidade

que era accionista maioritária da sua SAD, ou

a insolvência do Clube Desportivo das Aves,

sem que o diploma aplicável conseguisse dar

uma resposta jurídica a esses (mas, ainda

outros que foram surgindo) problemas.

Aliás, o governo português, em

comunicado no seu sítio oficial, ao anunciar

o novo diploma (a Lei 39/2023), era claro em

afirmar que “Considerando que cerca de 20%

das sociedades desportivas constituídas até

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Na verdade, a década que

transcorreu demonstrou que o diploma,

que nessa altura entrou em vigor, não foi

capaz de responder aos desafios que se lhe

foram colocando. Nada de surpreendente,

atendendo ao facto da omissão de previsão

de situações ser corrente nos normativos

jurídicos, levando ao surgimento das regras

de interpretação jurídica, mas preocupante

pelo sem número de situações que foram

ocorrendo, com especial ênfase, a nosso ver,

hoje foram ou estão a caminho da extinção,

insolvência ou dissolução e que, em alguns

casos, os clubes fundadores foram arrastados

pela queda das respetivas sociedades

desportivas, tornou-se prioritário avançar

com alterações ao regime destas sociedades

procurando-se, ao mesmo tempo, assegurar

uma maior regulação ao setor, de forma a

torná-lo mais atrativo para a captação de

investimento.”

Ou seja, durante dez anos, assistiu-


se ao avolumar de situações agónicas, à

entrada de investidores de dúbias intenções,

a conflitos entre clubes e accionistas, sem

que até hoje algo fosse feito. Assim, para

obstar a estas situações apostou-se num

diploma que, na sua generalidade, pretende

o “equilíbrio de direitos na relação entre

clubes fundadores e sociedades desportivas,

o reforço dos requisitos de idoneidade e

incompatibilidades, a criação de quotas

de género nos órgãos de administração e

fiscalização, o aumento da transparência e

dos deveres de informação, assim como a

criação de um regime contraordenacional,

um canal de denúncias específico e mais e

melhor fiscalização a estas sociedades.”

Serão estas vertentes que

procuraremos deslindar nesta exposição,

ainda que de modo sucinto, devendo os

interessados aprofundar estes pontos nas

diversas publicações e artigos que vão

surgindo relativamente a esta matéria.

EM BUSCA DA TRANSPARÊNCIA

Diga-se, porém, que o principal

escopo a alcançar pelo legislador foi a

transparência, principalmente, no que tange

a participações no capital social e direitos de

voto e, ainda, à identificação de beneficiários

de participações. Aliás, um dos maiores sinais

de combate à opacidade que grassou nestes

entes residirá na aplicação de medidas de

combate ao branqueamento de capitais e ao

financiamento do terrorismo previstas na lei

83/2017, de 18 de Agosto.

De mãos dadas com a transparência

estarão o reforço dos requisitos de idoneidade

para os integrantes dos respectivos Conselhos

de Administração. Assim, não deverão ter

sido condenados por crimes como racismo

ou xenofobia, por ilícitos contra sociedades

desportivas, mas também outro tipo de

crimes que vão desde o terrorismo até ao

tráfico de substâncias psicotrópicas nos

últimos cinco anos. Porém, mais do que isso,

deverão demonstrar junto de uma entidade

fiscalizadora a capacidade económica para

proceder a investimentos, bem como a

procedência dos meios financeiros para

realizar esses actos. O organismo incumbido

dessa missão será o Instituto Português do

Desporto e da Juventude, que terá atribuições

para realizar inquéritos, inspecções,

sindicâncias e auditorias externas para

aquilatar da idoneidade e entre eventuais

conflitos de interesses dos investidores,

administradores e gerentes.

Com uma procura tão clara de se

obter a máxima transparência nas sociedades

desportivas, ainda que tenha reduzido o

capital mínimo societário exigido aos clubes

de 10% para 5%, não será de surpreender

as preocupações com a publicidade que

o diploma demonstra. Deste modo, as

sociedades desportivas encontram-se,

agora, obrigadas a publicar no seu sítio

de Internet o seu contrato societário, as

contas dos últimos anos, a composição dos

órgãos de administração e de fiscalização e,

ainda, as comunicações dos sócios relativas

à subscrição ou aquisição de participações

sociais. Deverão, ainda, aquando da

realização de transferências de jogadores

profissionais, prestar todas as informações

relativas às mesmas, como o seu valor e a

percentagem de direitos que é alienada à

respectiva federação, bem como à entidade

fiscalizadora, que já mencionamos qual era.

A IMPORTÂNCIA DA PARIDADE

Num diploma adaptado aos

novos tempos, não será de surpreender

outra inovação que passa por um regime

de paridade de sexos. Assim, apesar de um

clube não poder ser titular de capital social de

mais do que uma sociedade desportiva que

tenha por objecto o mesmo desporto, a nova

lei excepciona esta regra, permitindo que

o clube, na mesma modalidade desportiva,

possa criar outra sociedade, desde que se

refira ao sexo feminino. No fundo, o legislador

tomou em atenção a relevância crescente

que o futebol feminino está a merecer, dando

a possibilidade do seu desenvolvimento

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através desta possibilidade.

Porém, vai mais além. Assim,

colocou no diploma uma norma de quotas

de género, definindo que cada órgão de

administração e fiscalização das sociedades

devam ter, no mínimo, 1/3 de componentes

do sexo feminino.

Falemos, agora, de outras curiosas

especificidades. Assim, se o anterior diploma

criou a figura societária da sociedade

unipessoal por quotas, a SDUQ, que permitia

que o ente fundador, ou seja, o clube, ficasse

detentor de uma quota única, agora a lei

remete para outra possibilidade e regulada

pelo Código das Sociedades Comerciais: as

sociedades por quotas, como existem em

outros ramos empresariais.

A SALVAGUARDA DO CLUBE FUNDADOR

Todas estas sociedades passarão a

ter uma valiosa salvaguarda que no anterior

diploma não existia. Assim, para evitar casos

como os que ocorreram com o Desportivo

das Aves, que viu penhorada a Taça de

Portugal por si conquistada, o artigo 30º sob a

epígrafe “Dissolução, Insolvência e Extinção”

estipula que “Em caso de dissolução,

insolvência ou extinção da sociedade

desportiva, as instalações desportivas, se não

forem indispensáveis para liquidar dívidas

sociais, o palmarés desportivo e os troféus

conquistados pela sociedade desportiva

devem ser reconhecidos e atribuídos ao

clube desportivo fundador, desde que

este mantenha essa qualidade à data da

dissolução, insolvência ou extinção.” Procurase,

pois, garantir que os troféus e honrarias

conquistados se mantenham nas mãos do

clube fundador, para quem os mesmos

têm um valor estimativo e sentimental

bastante superior do que para a maioria dos

accionistas, às vezes desprovidos do vínculo

afectivo para com o emblema fundador da

sociedade.

Outro ponto destinado a

salvaguardar os interesses do clube fundador,

defendendo-o, consiste na possibilidade

que este passa a ter de eleger um seu

associado para o conselho de administração

da SAD, com direito a participar nas

reuniões, mas sem direito de voto. Mesmo

sem capacidade de influir as decisões dos

homens do dinheiro pretende-se que, pelo

menos, possam desempenhar um papel de

vigilância das medidas levadas a cabo pelos

administradores.

APLICAÇÃO DE REGIME CONTRA-

ORDENACIONAL

Por fim, deveremos falar de uma

30


das principais novidades do diploma, o

regime contra-ordenacional nele inserto e

que obriga a que as entidades desportivas

não se desviem da legalidade aí definida.

Assim, por qualquer infracção, poderão

ser responsabilizadas as pessoas singulares

e colectivas independentemente da

regularidade da sua constituição.

Além disso, as entidades

fiscalizadoras podem passar a recorrer

a medidas cautelares, quando tal seja

necessário, como a suspensão preventiva de

algumas funções.

PONTOS DE EVOLUÇÃO

Não existirão diplomas perfeitos.

Aliás, as normas deverão ser merecedoras de

um constante aperfeiçoamento, procurando,

de modo constante, uma adaptação às

situações que vão surgindo. Porém, algumas

questões deveriam ser aprofundadas,

desde logo o modo de fusão de sociedades

desportivas, de modo a impedir o surgimento

de entes estranhos e quase esotéricos.

Além disso, deve também ser considerada a

regulação de situações em que um investidor

salta de um clube fundador para outro,

como aconteceu no AVS SAD, abandonando

o anterior e levando consigo os direitos

desportivos do primeiro, numa forma de

ascensão artificial, mas que a lei em nada

poderá opor.

Para além disso, porque não

privilegiar os adeptos? Por que não prever a

possibilidade, ainda que sem direito de voto,

de um grupo de sócios poder ter assento nas

reuniões do Conselho de Administração da

sociedade, de modo a apresentar sugestões

ou levar a cabo reclamações?

Poderemos ainda abordar a

previsão e a regulamentação de grupos de

sócios poderem adquirir títulos, juntando-os

e podendo votar de forma global.

O caminho é longo e ainda está no início...

Por Vasco Rodrigues

31


À CONVERSA COM

ULTRAS-TIFO

32

Como e quando começa o projeto Ultras-

Tifo? Quais eram os objectivos iniciais do

projeto? Mantêm-se os mesmos ou, com

o passar do tempo, foram acrescentados

outros? Por quem e como é composta a

vossa equipa? São todos do mesmo país?

Deixem-me apresentar-me. Sou búlgaro e

uma das três pessoas que detêm e gerem o

ULTRAS-TIFO.net (UT). Juntei-me à equipa

em 2010, embora já participasse no fórum há

vários anos.

O Ultras-Tifo foi inicialmente fundado em

dezembro de 2004, principalmente como

um fórum. O seu principal objetivo era ligar

pessoas da comunidade ultra de todo o

mundo, permitindo-lhes partilhar imagens e

informações entre si.

A criação do UT foi um esforço de colaboração

entre dois irmãos, adeptos do Sporting CP,

cujas cores influenciaram a nossa identidade,

e um norueguês. Pouco tempo depois, os dois

irmãos abandonaram o projeto por terem ido

para a tropa, deixando o nosso administrador

norueguês a tratar de tudo sozinho. Um

pouco mais tarde, um segundo indivíduo, um

croata, juntou-se à equipa. Eu, como já referi,

passei a fazer parte da UT em 2010.

Nessa altura (2010) o nosso website já estava

a funcionar há alguns anos, e a nossa página

no Facebook estava criada. O UT evoluiu

para uma espécie de sítio web “mediático”,

coincidindo com o declínio gradual dos

fóruns. Hoje em dia, as pessoas têm acesso

em tempo real a plataformas de redes sociais

como o Instagram, o Twitter e outras, mas o

UT continua a atrair um número significativo

de visitantes todos os meses que apreciam

os nossos artigos, reportagens fotográficas e

outros tipos de publicações.

Consideram que ser adepto/ultra tem uma

importância relevante nas vossas vidas e

no vosso desenvolvimento pessoal? Como

é que o projeto contribuiu para o vosso

desenvolvimento pessoal e mesmo como

ultras?

Sem dúvida, o facto de sermos ultras e

estarmos presentes nos jogos durante todos

estes anos foi, sem dúvida, benéfico. Teve um

impacto positivo tanto no website enquanto

projeto como em nós, enquanto pessoas que

o gerem. Ao contrário das redes tradicionais

de comunicação social, temos uma ligação

profunda ao que fazemos porque vivemos

uma emoção real todos os fins-de-semana.

Quais são as maiores dificuldades com que

se depara o Ultras-Tifo? Tendo em conta

que gerem o fórum, que estão presentes

em diferentes plataformas e que publicam

regularmente, a dimensão do projeto torna

a vossa tarefa mais difícil?

O nosso maior desafio é encontrar o

equilíbrio entre a família, o nosso trabalho

na vida real e os Ultras-Tifo (UT). O UT é um

projeto que exige muita atenção e tempo,

mas é algo que não podemos deixar de fazer

porque gostamos genuinamente de o fazer.

Gostamos de ser úteis e informativos para as


pessoas, mas o aspeto mais gratificante são

as fortes ligações que criamos uns com outras

pessoas ao longo dos anos. Podemos dizer

com confiança que não teríamos conhecido

ou estabelecido contacto com muitas destas

pessoas se não fosse o projecto.

que se mantêm fiéis à “velha forma” de

acções mais discretas, revelando-as apenas

depois do facto consumado - esse é o aspeto

romântico.

Um aspeto positivo é que, hoje em dia, é

possível ver facilmente as fotografias de um

determinado jogo quase em tempo real.

Lembro-me dos dias em que tinha de esperar

que alguém partilhasse uma fotografia de um

jogo, por vezes durante dias.

Sentem que o vosso trabalho é devidamente

reconhecido pelos outros adeptos?

Olha, por muito que gostemos de fazer isto,

se não houvesse interesse e feedback dos

nossos seguidores teríamos acabado por

parar. Claro que há quem nos veja apenas

como mais um site, mas também temos

um núcleo muito fiel de seguidores que nos

acompanham há anos. Agradecemos-lhes

sinceramente por confiarem em nós para

lhes fornecermos informações e multimédia

exactas e genuínas.

Surgiram novas plataformas que

transformaram a divulgação de informação

entre os adeptos organizados. Acreditam que

a busca pelo protagonismo instantâneo pode

ser prejudicial para o movimento ou acham

que traz algo positivo? É preciso ter critério

no que é publicado?

Como em tudo, há aspectos positivos e

negativos, dependendo de como é utilizado.

Pessoalmente, o que me deixa uma

impressão negativa é a parte hooligan destas

“reportagens”. Hoje em dia, é frequente ver

grupos de jovens a publicar coisas como

“estamos aqui, à procura de X, mas não

apareceram”, como se estivessem a tentar

documentar todos os momentos para

construírem uma imagem para si próprios.

No entanto, esta abordagem não funciona.

Felizmente, ainda há muitos grupos sérios

Consideram que os diferentes agentes

desportivos, governos e autoridades de

segurança têm uma verdadeira compreensão

do fenómeno cultural que são os adeptos em

geral e os ultras em particular?

Não, esse tipo de pessoas vêem-nos como um

problema. Não querem saber do nosso amor

por um determinado clube, dão prioridade

aos negócios. Tudo o que vêem é alguém que

pode interferir com a sua agenda. Aproveitam

qualquer oportunidade conveniente para

proibir a entrada de indivíduos ou mesmo

de grupos inteiros nos estádios. Assistimos

a isto com os Ultras Sur (Real Madrid) e,

infelizmente, é um padrão com muitos outros.

33


34

Quais são as causas fundamentais pelas

quais é essencial lutar durante a próxima

década no movimento ultra?

Por mais triste ou mundano que possa

parecer, a nossa luta é fundamentalmente

pelo nosso direito a estar nos estádios. Muitos

clubes, sobretudo os maiores, que atraem

muito interesse turístico, são cada vez mais

indiferentes aos ultras. Não se importam se

não houver ninguém a cantar, porque podem

continuar a vender bilhetes para encher

esses lugares com turistas e “espectadores

de teatro”. Não posso afirmar que sei como

podemos ganhar a luta pelo “ser ou não ser”,

mas estou certo de que todos nós lutaremos

com todos os meios necessários para fazer

valer o nosso direito de estar presente. É

essencial reconhecer que os ultras trazem a

forma mais pura de amor e paixão aos seus

clubes.

O que pensam da cultura de adeptos e do

movimento ultra em Portugal?

Uma boa cena com características próprias,

como muitas outras na Europa. Sobretudo no

passado, quando tudo era mais descontraído

e acessível. Hoje em dia há muita repressão

contra os ultras, como referi anteriormente.

Infelizmente, isso acontece em todo o lado,

mas continuamos a assistir a grandes acções,

tanto dentro como fora dos estádios.

Que caminhos consideram que devem ser

seguidos para que haja um reforço da cultura

dos adeptos e dos próprias ultras?

Sou totalmente a favor da manutenção

das tradições do passado. As pessoas mais

velhas devem dialogar com as gerações

mais novas, que são novas na cena ultra.

Devem explicar que ser ultra é mais do que

apenas apoiar a equipa durante 90 minutos

ou entrar em conflitos com outros adeptos.

É um modo de vida distinto que se estende

para além do futebol. Uma vez demonstrado

o teu empenho e seriedade, deixas de ser

apenas um entre muitos adeptos e passas

a fazer parte de uma família que se ajuda

mutuamente em vários aspectos da vida.

Para além disso, é com orgulho que defende

o seu clube, as suas cores, a sua cidade e os

seus irmãos.

O que pensam das fanzines como meio

de comunicação? Consideram que são

importantes para o desenvolvimento desta

cultura nas pessoas?

Adoro-as. No passado, comprava muitos

números da Supertifo italiana e da Fan’s

Magazine, apesar de não falar italiano.

Fazia-o por pura afeição a essa cena em

particular. Actualmente, acumulei centenas


destas revistas com milhares de fotografias,

a maioria das quais não está disponível na

Internet. Por isso, para mim, ver uma fanzine

é como uma explosão do passado. Dou todo

o meu apoio aos grupos e às pessoas que

continuam a criá-los.

Uma mensagem final para os nossos leitores.

Mantenham-se fiéis à vossa família, amigos

e princípios porque, neste mundo louco, eles

são tudo o que temos.

35


MEMÓRIAS Da BANCADA

DESLOCAÇÕES HISTÓRICAS

FOTOS CEDIDAS POR RAÚL RODRIGUES, J. CAMPOS, M SOARES

Bologna x Sporting

1990/1991

Inter x Sporting

1990/1991

36


Leverkusen x Benfica

1993/1994

Milão x Porto

1993/1994

37


Parma x Benfica

1993/1994

Parma x Benfica

1993/1994

38


Barcelona x Porto

1993/1994

Real Madrid x Sporting

1993/1994

39


Real Madrid x Sporting

1994/1995

Real Madrid x Sporting

1994/1995

40


Sampdoria x Porto

1994/1995

Sampdoria x Porto

1994/1995

41


Nápoles x Boavista

1994/1995

Nápoles x Boavista

1994/1995

42


Nápoles x Boavista

1994/1995

Hajduk x Benfica

1994/1995

43


Lyon x Farense

1995/1996

44

Lyon x Farense

1995/1996


Barcelona x Vitória SC

1995/1996

Barcelona x Vitória SC

1995/1996

45


Milão x Porto

1995/1996

Fiorentina x Benfica

1996/1997

46


Inter x Boavista

1996/1997

Real Madrid x Porto

1999/2000

47


Roma x Vitória FC

1999/2000

Espanhol x Porto

2000/2001

48


Juventus x Porto

2001/2002

Lazio x Porto

2002/2003

49


Estamo-nos a aproximar do final do ano civil, altura de diversos jogos grandes e de várias

partidas europeias, que proporcionam sempre bons registos. Apresentamos, então, mais um

Resumo de Bancada, pela 20ª vez!

1. FC Union Berlin x SC Braga | 03-10-2023

Não eram muitos, mas os suficientes para

marcarem nova presença bracarense num

reduto estrangeiro. Foi o primeiro jogo fora

de casa do Braga nesta fase de grupos das

competições europeias e logo no mítico

Olympistadion, em Berlim, casa emprestada

ao Union Berlin, que está impossibilitado de

realizar os seus encontros europeus no seu

Estádio An der Alten Försterei, o que tem

motivado protestos dos adeptos da formação

do leste da capital alemã, como foi o caso

neste encontro.

Num canto de uma das bancadas, que estavam

compostas por mais de 73 mil espectadores

(!), os braguistas que se encontravam em

Berlim tiveram a felicidade de assistir a uma

reviravolta épica, de um 2-0 para um 2-3,

em que o último golo foi feito no 4º minuto

depois dos 90. Uma alegria imensa para os

minhotos, que naquele fervoroso ambiente

quase passava despercebida.

FC Porto x FC Barcelona | 04-10-2023

O Dragão encheu para receber o Barcelona,

emblema que naturalmente dispensa

apresentações, em mais um embate a contar

para a Liga dos Campeões. Com uma espécie

de mosaico com uma pequena imagem do

troféu da Champions nas mãos de cada um

dos presentes, houve um efeito interessante

na entrada das equipas em campo, momento

50


que também deu origem a uma coreografia

apresentada pelos Super Dragões e,

posteriormente, a um pequeno espectáculo

com mistura de fumo azul e pirotecnia feito

pelos Casuals.

O ambiente foi naturalmente de jogo grande,

com oscilações entre momentos mais

empolgantes e de alguma expectativa, pois a

partida foi discutida até ao fim, mas sorriu ao

Barça uma vitória pela margem mínima.

Sporting CP x Atalanta BC | 05-10-2023

Excelente jogo europeu, principalmente no

que às bancadas diz respeito. Mais de 42 mil

presentes, entre eles cerca de mil “tifosi” da

formação italiana.

Na bancada sul, onde fica a Juventude

Leonina, destaque para a mensagem, junta

do símbolo sportinguista em grande plano:

“Tão grande como os maiores da Europa!”.

Simultaneamente, nota para uma fumarada

verde a abrir o encontro e ainda para uma

tochada.

Relativamente à parte norte do estádio,

registo para uma pequena coreografia do

Directivo Ultras XXI com a inscrição da data

de fundação do clube, ao mesmo tempo que

faziam um pequeno espectáculo pirotécnico.

Ainda antes do jogo, o próprio Directivo abriu

uma pequena tarja, provocando o adversário:

“Odio Bergamo”. Não é difícil de entender que

tudo se devia principalmente à amizade dos

grupos leoninos com os da Fiorentina. Essa

mensagem valeu a intervenção da polícia.

Do lado visitante, para além do número já

referido, convém salientar o apoio dado pelos

ultras da Atalanta, que se fizeram ouvir várias

vezes, empolgados também pelo resultado e

exibição da sua equipa, que saiu de Alvalade

com uma vitória por 1-2.

SC Braga x Rio Ave FC | 07-10-2023

Com mais de meia casa preenchida, o público

da casa ajudou a sua equipa a somar mais

uma vitória no campeonato, num final de

tarde de Sábado. Destaque para os Red

Boys, que aproveitaram para festejar o

51


seu 31º aniversário, com algumas tochas,

acompanhadas pela mensagem: “31 anos de

irreverência ultra”.

CF “Os Belenenses” x CS Marítimo | 08-10-

2023

Duelo no segundo escalão do futebol

nacional entre dois conjuntos historicamente

de primeira, não sendo de estranhar as mais

de duas mil pessoas presentes no Restelo,

ao início da tarde de Domingo. Nota positiva

para os apoiantes forasteiros, que deram

bastante cor ao sector visitante, com um

bom incentivo à sua equipa, sobretudo

pelo grupo Fanatics. A verdade é que foram

premiados com uma vitória por 1-2, em mais

um registo de uma boa presença forasteira de

simpatizantes deste clube insular.

FC Famalicão x Vitória SC | 08-10-2023

Encontro entre dois conjuntos minhotos, que

quando se defrontam têm tendência para

proporcionar boas assistências, o que foi

também o caso nesta bela tarde de Domingo,

com mais de quatro mil adeptos presentes.

Fama Boys de um lado e os ultras do emblema

vimaranense do outro tomaram conta do

apoio sentido no estádio, com destaque para

os forasteiros, que abarrotaram o canto a

eles destinado e, empolgados por estarem

a vencer toda a partida (desde o primeiro

minuto), fizeram-se sempre ouvir.

52

Rebordosa AC x SC Braga | 19-10-2023

Numa 5ª feira à noite, o bonito e revitalizado

Complexo Desportivo Monte de Azevido

recebeu este embate entre a sua formação,

do quarto escalão nacional, contra o Braga,

na 3ª eliminatória da Taça de Portugal. Uma

excelente moldura humana que, segundo as

palavras do próprio presidente da formação

local, praticamente teve lotação esgotada

(limitada por questões de segurança), num

recinto que, sem restrições, teria capacidade

máxima para 12 mil espectadores.

Muitos minhotos fizeram a deslocação,

que, apesar de não ser muito longínqua,


ocorreu a meio da semana e sob condições

atmosféricas não muito convidativas. Houve,

por isso, um grande ambiente proporcionado

pelos muitos milhares de simpatizantes do

Rebordosa e pelos ultras do Braga, que foram

audíveis durante praticamente toda a partida.

No final, o Braga venceu por 0-2, destacandose

o aplauso dos seus adeptos à equipa

adversária, reconhecendo o esforço realizado

pelos atletas do emblema que milita

actualmente no Campeonato de Portugal.

CD Paços de Brandão x SC Espinho | 22-10-

2023

Destaque para a excelente moldura humana

espinhense na curta deslocação até Paços de

Brandão, em mais uma partida da distrital

aveirense. Eram várias as centenas presentes,

que proporcionaram imagens muito boas,

num recinto com lotação limitada, fazendo

lembrar registos de antigamente.

SL Benfica x Real Sociedad | 24-10-2023

Encontro interessante no panorama europeu

para quem se interessa pelo mundo dos

adeptos. A procura de ingressos por parte dos

bascos foi intensa, esgotando rapidamente

os 2.850 bilhetes que lhes foram destinados

para o sector visitante. Para além disso,

houve tentativas de mais pedidos de

bilhetes e até de vários ‘aficionados’ da Real

Sociedad a fazerem-se sócios para comprar

para sectores da casa. Seria, portanto,

facilmente perceptível que iria haver uma

invasão de pessoas do emblema de San

Sebastián a Lisboa, o que de facto aconteceu,

preenchendo bastante do centro da cidade

no dia do jogo. Para além disso, a RSF Firm,

mais virada para a vertente hooligan, andou

sem escolta nas ruas lisboetas, tanto na noite

anterior como durante o dia da partida, não

tendo havido qualquer registo de confrontos

com os grupos encarnados.

Ao contrário das expectativas iniciais, houve

algumas clareiras nas bancadas e a assistência

total ficou-se pelos 56 mil espectadores.

Apoio audível dos bascos no sector visitante,

53


empolgados pela exibição dos seus jogadores

e pelo resultado favorável, tendo vencido

por 0-2, complicando e muito a tarefa do

Benfica na Liga dos Campeões. Relativamente

ao público da casa, nota para as diferentes

tochadas dos No Name Boys, tanto no

primeiro como no terceiro anel do topo sul.

SC Braga x Real Madrid CF | 24-10-2023

A Pedreira encheu para receber este duelo

contra o poderoso Real Madrid, ficando esse

facto naturalmente como um registo histórico

para o emblema bracarense. Ambiente

intenso, como seria natural, com destaque

para a tochada dos ultras do Braga e a

presença dos Ultras Sur, que concentraram

muitas atenções pela Europa sobre isso, pelo

facto de serem “personas non gratas” dentro

do próprio Real Madrid, e também da própria

polícia que lhes fez um acompanhamento

especial. Houve, da parte deles, vários

cânticos a exigir a demissão de Florentino

Pérez, motivando alguma polémica posterior

entre os sócios ‘madridistas’.

Quanto à partida, o Real Madrid venceu por

1-2, com o golo braguista, que foi marcado

logo depois de sofrer o segundo, a motivar

uma explosão de alegria e uma esperança

num outro resultado, que não chegou a ser

consumado.

FC Midtjylland x FC Famalicão | 25-10-2023

11 elementos dos Fama Boys estiveram

presentes na cidade dinamarquesa de Herning

para apoiar a sua equipa de juniores que,

em virtude de se terem sagrado campeões

nacionais da época passada, tiveram acesso

à Youth League, maior competição europeia

para conjuntos sub-19. Há que referir que a

claque famalicense também esteve presente

em casa, na primeira mão, que aconteceu no

início deste mesmo mês de Outubro.

O desfecho não foi o mais feliz para quem

se deslocou até território nórdico, pois a sua

formação foi eliminada após desempate por

grandes penalidades, ficando a nota para este

registo histórico para o grupo minhoto.

54


Royal Antwerp FC x FC Porto | 25-10-2023

O Antuérpia chegou pela primeira ver à Liga

dos Campeões - desde que a competição

mudou para este nome - sendo uma formação

interessante de acompanhar neste percurso

europeu pelo ambiente proporcionado no seu

estádio, ao bom nível do que se vai fazendo

naquela zona do continente europeu. Não foi

de estranhar, portanto, que a partida tivesse

casa cheia, com quase 14 mil espectadores,

entre eles 800 portistas, que esgotaram

rapidamente os ingressos que lhes estavam

destinados. Perante uma atípica e rigorosa

forma de deslocação, em que eram obrigados

a trocar os seus bilhetes, nominais, apenas e

só num perímetro delineado pela polícia no

centro daquela cidade belga, sem qualquer

possibilidade de poderem caminhar ao

estádio de forma individual, não faltou apoio

aos azuis e brancos, com vários momentos

em que foram bem audíveis e empolgados

por um resultado favorável, de 1-4 (após

até terem começado em desvantagem no

marcador), havendo também brilho com

pirotecnia aberta.

No final da partida, houve alguns momentos

de tensão, com cerca de duas dezenas

de fanáticos do clube da casa a terem-se

aproximado do sector visitante, obrigando a

um reforço policial e estendendo-se até ao

exterior, o que obrigou a um grande atraso na

saída dos adeptos (e até da equipa) do Porto.

RKS Raków Częstochowa x Sporting CP | 26-

10-2023

500 adeptos leoninos preencheram a grande

maioria do sector visitante do estádio, em

Częstochowa, e foram protagonistas nesta

partida. Para além do excelente número para

uma partida da Liga Europa a esta distância,

foram bastante audíveis durante quase

toda a partida e tiveram vários momentos

de pirotecnia, proporcionando bons

espectáculos também visuais.

55


SL Benfica x Casa Pia AC | 28-10-2023

Encontro que ficou marcado nas bancadas

pela homenagem dos No Name Boys ao 73º

aniversário dos seus amigos da Torcida Split,

claque do Hajduk, através de uma mensagem

em croata e de tochas abertas. Convém

referir que, no mesmo dia, houve presença

de vários símbolos do grupo encarnado nas

celebrações ocorridas no próprio estádio dos

croatas.

Quanto à partida, nota para uma casa muito

boa com mais de 57 mil presentes, mas em

que o público acabou por cair em desilusão

por causa de um empate inesperado a uma

bola.

Gil Vicente FC x SC Braga | 28-10-2023

As curtas deslocações dos bracarenses a

Barcelos têm sido sinónimo de invasões, e

esta não foi excepção. Num jogo bastante

animado, que terminou com um empate a

três golos, o apoio de quem se encontrava na

bancada destinada aos adeptos visitantes foi

sempre bastante ruidoso. Destaque para uma

mensagem da Bracara Legion, que comunicou

anteriormente o boicote a encontros da Taça

da Liga pelo facto de a mesma no próximo ano

se realizar no estrangeiro, anunciando: “Taça

da Liga no estrangeiro? Fazemos boicote!

Fiquem com o dinheiro.”

FC Vizela x FC Porto | 29-10-2023

Já não é surpresa os bons ambientes neste

tipo de jogos nesta localidade minhota,

o que também aconteceu desta vez, de

parte a parte. Cerca de 4.500 espectadores

compuseram o recinto do Vizela, destacandose

muito apoio vindo de vários sectores

diferentes, com os portistas empolgados

pelo resultado positivo da sua equipa e os

vizelenses a aproveitarem vários momentos

para tentar incentivar os seus jogadores a

conseguirem outro resultado. Nota, ainda,

para um espectáculo pirotécnico dos

Casuals Porto, que acabou por interromper

momentaneamente a partida.

56


Boavista FC x Sporting CP | 30-10-2023

Partida numa 2ª feira à noite, o que não

demoveu os mais de 12.600 presentes, entre

eles alguns milhares de sportinguistas, que

encheram a parte inferior do topo norte.

Não faltou pirotecnia dos dois lados, sendo

que, num dos espectáculos pirotécnicos,

proporcionado pelos ultras sportinguistas,

a partida esteve temporariamente

interrompida, à imagem do que ocorreu em

Vizela no dia anterior. Houve, naturalmente,

muito apoio dos dois lados, com os forasteiros

a galvanizarem-se pelo resultado positivo

e pela própria motivação de liderarem o

campeonato.

Houve vários momentos de tensão, tanto

antes como depois da partida, que acabaram

mesmo por levar a uma agressão por engano

de um grupo de sportinguistas a outro

adepto sportinguista, não faltando também

as habituais picardias no interior do estádio.

SC Braga x Casa Pia AC | 01-11-2023

Primeiro encontro do Braga na Taça da Liga

e, como referido antes, houve previsão

de boicote por parte de vários adeptos

arsenalistas. Inicialmente, tal como

escrevemos, a Bracara Legion anunciou

isso mesmo - fizeram comunicado online,

colocaram tarjas e ainda afixaram papéis em

Barcelos a expor as suas razões -, sendo que

os Red Boys também se acabaram por juntar

à causa.

Os diversos apelos dos dois grupos ultras

para os restantes sócios se juntarem ao

protesto acabaram por surtir efeito, pois o

recinto contou apenas com seis milhares

de espectadores, numa época em que,

até então, as assistências oficiais vinham

sempre a ultrapassar os 16 mil. Um encontro,

portanto, com um cenário desolador, numa

noite não muito agradável em pleno feriado,

para uma competição que sistematicamente

tem decisões em sentido contrário aos

interesses do adepto.

57


UD Leiria x CS Marítimo | 05-11-2023

Partida bastante interessante na cidade do

Lis entre dois históricos do futebol nacional.

Os leirienses em casa e os maritimistas fora

são, como já temos vindo a destacar há

muito tempo por aqui, sinónimo de boas

presenças no estádio. Não foi surpresa, por

isso, os quase oito milhares de espectadores

presentes, contando com duas boas falanges

de apoio dos dois lados. Dentro de campo,

as equipas criaram também muita animação

com um 4-3 final a favor do Leiria.

No final, perto do autocarro do Marítimo,

registaram-se alguns ânimos exaltados entre

adeptos do emblema insular com Tulipa, o

próprio treinador, descontentes com a fase

menos positiva atravessada.

Moreirense FC x Vitória SC | 05-11-2023

Dérbi do concelho vimaranense, o que

significou naturalmente uma boa assistência -

com 4.351 presentes oficialmente -, contando

como é habitual com uma deslocação em

grande número de adeptos vitorianos.

Grande apoio durante praticamente toda a

partida do público visitante, que até estava

empolgado com uma recente boa forma

da sua equipa, mas que neste caso viu o

conjunto verde e branco a levar a melhor,

vencendo por 1-0, para alegria dos da casa,

que também foram incentivando, graças ao

apoio dos Green Devils, que iam tentando

contagiar os restantes simpatizantes cónegos.

FC Porto x Royal Antwerp FC | 07-11-2023

Depois dos momentos finais em Antuérpia,

daquilo que também é habitual daqueles

adeptos belgas e do facto de terem sido

vendidos cerca de 2.500 ingressos para

o sector visitante (mas a viagem ser

alegadamente feita por 3.500 belgas),

esperava-se um ambiente muito quente pela

cidade do Porto, o que se confirmou logo na

véspera, 2ª feira à noite, com vários vídeos

de alguns incidentes entre alguns deles e a

polícia a tornarem-se virais. O dia de jogo foi

mais calmo, com os belgas a fazerem-se sentir

58


de uma maneira menos agressiva, registandose

bonitas imagens do seu impactante cortejo

na Baixa.

Quase 45 mil presentes no Dragão, com

muitos cânticos de parte a parte, animando

bastante o ambiente em mais uma noite

europeia. O Porto venceu por 2-0, para

entusiasmo do público portista, que viu mais

perto as aspirações de passar aos oitavos-definal

da prova.

Real Sociedad x SL Benfica | 08-11-2023

Se um e dois dias antes os olhos postos de

quem se interessa pelo movimento mais

fanático de adeptos estava virado para

o Porto, a verdade é que na 4ª feira, dia

do encontro dos encarnados no Anoeta,

as atenções dos ultras europeus foram

concentradas aí mesmo, em San Sebastián.

Horas antes do jogo, que se realizava ao final

da tarde, turmas benfiquistas organizaram-se

sem escolta e foram ao ponto de encontro

dos grupos e simpatizantes em geral da Real

Sociedad, gerando-se vários confrontos - com

muitas tochas, garrafas e outros objectos a

serem trocados -, que se tornaram virais em

vários vídeos partilhados nas redes sociais.

Relativamente à partida em si, dentro de

campo não correu nada bem ao Benfica,

começando cedo numa desvantagem de

vários golos. Os cerca de 1.800 adeptos que

ia compondo o sector visitante não tinham

grandes razões para sorrir, ao contrário do

público da casa - que acabou por criar grandes

momentos de animação -, ainda assim nota

para o facto dos benfiquistas não terem

passado nada despercebidos, muito por

causa dos vários registos de pirotecnia que

criaram. Os Diabos Vermelhos abriram uma

bela tarja, juntamente com algumas tochas,

dedicada aos interditos. Já os No Name Boys,

durante o jogo, lançaram tochas para outras

zonas, gerando-se algum caos, detenções no

final e, posteriormente, mais uma proibição

de deslocação num jogo europeu (que vai ser

em Salzburgo).

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Real Madrid CF x SC Braga | 08-11-2023

Previsivelmente, esta foi a deslocação

europeia com mais procura até agora, com

cerca de quatro milhares de braguistas

a adquirirem ingressos para o Santiago

Bernabéu. Durante o dia, o vermelho e branco

já se ia vendo regularmente pelo centro da

cidade, mas o destaque no que toca à prépartida

vai para o impactante cortejo, em

que os dois grupos ultras do Braga seguiam

na frente.

Quanto à partida, pese embora o resultado

desfavorável [o Real Madrid venceu por

3-0], nota para uma muito boa prestação

dos apoiantes do emblema minhoto,

fazendo-se ouvir por diversas vezes e ainda a

abrilhantarem o seu sector com várias tochas.

Não passaram certamente despercebidos aos

olhos dos simpatizantes da casa.

Relativamente aos ‘madridistas’, houve um

curioso “protesto” no início, com a Grada

Fans a manter-se momentaneamente em

silêncio enquanto apresentava uma tarja com

a inscrição “fuero violentos de los estadios”,

numa referência ao facto de não estarem

satisfeitos com a presença dos Ultras Sur em

Braga.

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Sporting CP x RKS Raków Częstochowa | 09-

11-2023

Cerca de 33 mil pessoas presentes em

Alvalade, numa partida com um excelente

ambiente, pese embora tenha estado longe

da lotação esgotada. Dentro de campo, digase

que foi uma partida praticamente sempre

tranquila para os leões, mesmo que apenas

tenham vencido por 2-1, pois adiantaram-se

cedo no marcador e jogaram a maior parte do

tempo em superioridade numérica.

Os adeptos iam aproveitando para criar o seu

próprio espectáculo fora das quatro linhas.

Não surgiu praticamente nenhum momento

de silêncio, houve vários registos pirotécnicos,

com tochadas em diferentes sectores, com

destaque para uma do Directivo Ultras XXI,

que tinha em simultâneo várias bandeiras e

imensos petardos seguidos, e ainda várias


diferentes mensagens a surgirem por parte

dos grupos ultras sportinguistas. A partir de

certa altura, já era mais um pré-dérbi (pois

iam ter a deslocação à Luz passados três dias),

com as tarjas e os cânticos a serem dedicados

a isso mesmo.

Do lado polaco, a sua presença também não

passou despercebida. Trouxeram uma boa

turma, composta, segundo os próprios, por

393 elementos, entre os quais 45 adeptos

do Lechia Gdansk, oito do Stomil Olsztyn e

três do Chemik, no típico estilo daquele país,

onde as coligações entre grupos de clubes

diferentes são muito comuns. No meio de

uma boa prestação vocal dos apoiantes verde

e brancos, ainda conseguiram fazer-se ouvir

num ou noutro momento, comprovando que

também fizeram bem a sua parte.

Vitória SC x FC Porto | 11-11-2023

Noite de Sábado com um ambiente de

jogo grande em Guimarães. Mais de 21 mil

espectadores presentes, pirotecnia de ambos

os lados - com destaque para uma belíssima

tochada dos White Angels e de vários

momentos de tochas abertas pelos ultras

portistas -, uma pequena coreografia com

várias tiras pretas e brancas nos Insane Guys

e Gruppo 1922, muitos cânticos de parte a

parte, com os habituais incentivos audíveis

do público da casa e um sector visitante

em ascensão, fruto também do resultado

favorável, e as habituais picardias neste tipo

de partidas.

Houve, ainda, o registo de um pano dos Super

Dragões conseguido por parte de ultras do

emblema vimaranense.

SL Benfica x Sporting CP | 12-11-2023

Segundo clássico da época no Estádio do Sport

Lisboa e Benfica e segunda casa cheia. Não

faltou o costume destes jogos, entre muitos

apoio, insultos, picardias e, claro, pirotecnia.

Do lado benfiquista, salienta-se uma série

de boas tochadas dos No Name Boys e o

ambiente de êxtase que uma reviravolta

épica nos descontos finais proporcionou no

61


recinto. Já do lado sportinguista, o habitual

cortejo em grande número, o incentivo

extremamente audível e ainda um pano

benfiquista queimado, por parte da Juve Leo,

em pleno sector visitante, algo não muito

comum de se ver em Portugal.

UD Lamas x SC Espinho | 19-11-2023

Dérbi na distrital de Aveiro, com um

ambiente melhor do que a grande maioria

dos encontros do primeiro escalão nacional.

Como vem sendo habitual quando estes dois

rivais se defrontam, a afluência foi bastante

interessante e houve muito incentivo de

parte a parte. De um lado, os Papa Tintos,

que realizaram uma coreografia de grandes

dimensões que tinha a seguinte mensagem:

“We die for the land”. Para além desse

momento, há que registar a grande festa

feita pela vitória, numa partida onde se

defrontavam duas das melhores equipas da

tabela classificativa.

Do lado do Espinho, nota para a deslocação

feita por centenas de simpatizantes, que

também não se fizeram esconder no apoio

e ainda tiveram um belo momento de

confraternização com a sua formação, após

os 90 minutos.

113.º aniversário do Vitória FC | 20-11-2023

O Grupo 1910, claque do emblema sadino,

comemorou mais um aniversário do seu

Vitória em grande estilo, com muita pirotecnia.

No Bonfim, organizaram um espectáculo de

tochas, strobs e fogo de artifício. Num dos

registos, podia ler-se o número 113, em plena

bancada do estádio, através precisamente de

uma tochada em tons de verde.

FC Porto x CDC Montalegre | 24-11-2023

Num jogo a uma 6ª feira à noite entre equipas

separadas por três divisões, a assistência não

foi logicamente a mais famosa, com menos de

20 mil presentes. Ainda assim, houve vários

registos fora das quatro linhas. Cerca de dois

milhares de simpatizantes do Montalegre

viajaram desde a região transmontana até ao

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Dragão, fazendo a “festa” no final com os seus

jogadores, pese embora a derrota por 4-0.

Do lado azul e branco, destaque para a

mensagem do Colectivo 95 em homenagem

a Reinaldo Teles e a Fernando Gomes, duas

figuras do mundo portista que faleceram

por esta altura em 2020 e no ano passado,

respectivamente. Quanto aos Super Dragões,

foi notícia, dias depois de uma atribulada

assembleia-geral do clube, o facto de terem

entoado o cântico para Pinto da Costa,

nos momentos finais da partida, que foi

respondido com alguns assobios de vários

sócios da casa.

Sporting CP x Dumiense/CJP II | 26-11-2023

Tal como o registo anterior, também aqui

um candidato ao título nacional recebeu

uma formação do quarto escalão, não houve

uma grande assistência (com cerca de 18 mil

espectadores) e também houve uma boa

deslocação forasteira. Depois de uma pesada

derrota por 8-0, os quase 800 apoiantes do

Dumiense fizeram questão de aplaudir a sua

equipa e entoar vários cânticos, fazendo com

que vários dos adeptos da casa aplaudissem

mesmo esse momento final e os próprios

jogadores do emblema minhoto que milita

actualmente no Campeonato de Portugal.

116.º aniversário do Leixões | 28-11-2023

O Leixões cumpriu mais um ano de vida e os

seus simpatizantes não deixaram de marcar

registo por esse acontecimento. Ainda

antes do aniversário, houve algumas tarjas

espalhadas pela cidade matosinhense com

várias mensagens diferentes. Já durante a

meia-noite de 3ª feira, dia de aniversário do

clube, os seus adeptos protagonizaram um

espectáculo pirotécnico, com várias tarjas e

onde não faltou fogo de artifício. Passadas

algumas horas, já durante a manhã, alguns

apoiantes do emblema do Mar concentraramse

junto á sua sede, para o tradicional hastear

da bandeira, apresentando uma faixa dos 116

anos e abrindo fumos e pirotecnia.

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FC Barcelona x FC Porto | 28-11-2023

Cerca de três milhares de portistas

deslocaram-se até Barcelona para apoiar

a sua equipa no Estádio Olímpico, recinto

que vai acolhendo actualmente os jogos

do conjunto ‘blaugrana’, enquanto

decorrerem as remodelações do Camp

Nou. Apesar do resultado desfavorável por

2-1, os simpatizantes azuis e brancos foram

destaque. Houve um imponente cortejo em

direcção ao estádio, com muita pirotecnia

e muitas bandeiras dos Super Dragões a

darem cor ao número de elementos que

ia caminhando. Depois, já na bancada, o

incentivo foi praticamente desde o início

ao fim, fazendo-se ouvir regularmente na

própria transmissão televisiva.

SC Braga x 1. FC Union Berlin | 29-11-2023

Numa noite de 4ª feira fria e chuvosa, foi

sem grandes surpresas que esta foi a partida

da fase de grupos da Liga dos Campeões no

reduto bracarense com menor assistência.

Menos de 16 mil pessoas estiveram presentes,

entre elas cerca de 2.500 apoiantes do Union

Berlin, que já nos habituaram a boas invasões,

e acabaram por dar, sem surpresa, um bom

e ruidoso espectáculo no sector visitante.

Ainda assim, os ultras da casa tiveram um

papel importante em empurrar a sua equipa,

que se viu a jogar com menos um elemento

logo na primeira parte, conseguindo um

importante empate a uma bola.

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SL Benfica x FC Internazionale Milano | 29-

11-2023

Encontro que concentrou muitas atenções

pela Europa fora para quem gosta do

movimento ultra. Cerca de 1.600 adeptos

‘nerazzurri’ viajaram até Lisboa, entre eles

várias centenas de ultras da Curva Nord,

acompanhados pelos seus amigos búlgaros

do Botev Plovdiv, franceses do Nice e até

neerlandeses do PSV (que jogavam no

mesmo dia em Sevilha). Organizaram um

cortejo, onde não faltaram cânticos de apoio,

mas também picardias com os locais - à


imagem do que se passou na época passada,

tanto na ida à Luz como ao Dragão. Dentro

do estádio, foram audíveis, principalmente na

segunda parte, altura em que a sua equipa

conseguiu evitar uma desvantagem de três

golos(!) e empatar a três bolas, renovando a

crise encarnada na Liga dos Campeões.

Do lado do Benfica, nota para os vários

espectáculos pirotécnicos. Os Diabos

Vermelhos fizeram uma bela tochada, que

serviu de comemoração ao 41.º aniversário

do grupo, e os No Name Boys também se

mostraram em destaque com muitas tochas

e fumarada vermelha. Algo que embelezou

as bancadas, mas que foi destaque na

comunicação social em modo polémico, pelas

recentes sanções ao clube na Europa.

Já na noite após a partida, numa acção

conjunta de elementos dos No Name Boys

e dos croatas da Torcida Split, um hotel que

abrigava ultras do Inter e do Botev foi atacado.

Atalanta BC x Sporting CP | 30-11-2023

Ambiente de jogo grande europeu em

Bérgamo. Os ultras sportinguistas fizeram um

comunicado em conjunto, dando a novidade

que iriam organizar uma coreografia juntos,

muito tempo depois da última vez numa

partida fora de casa, em que apelavam aos 750

adeptos que iriam ocupar o sector visitante

para levantarem um plástico à entrada das

equipas em campo durante três minutos, algo

que se proporcionou. Ao mesmo tempo que

tal acontecia, os ultras da Atalanta também

executavam uma bela tochada e com muito

material presente na Curva Nord, ao seu bom

estilo.

Durante o encontro, excelente apoio de

parte a parte, com muitos incentivos a virem

dos dois lados. Tal como nas bancadas,

também em campo a partida foi equilibrada e

terminou num empate a uma bola.

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SC Farense x Vitória SC | 02-12-2023

Bela casa no São Luís, cerca de cinco milhares

de espectadores presentes nas bancadas, com

presença de uma boa falange de vitorianos

que viajou até ao Sul do país para seguir a

sua equipa. Os South Side Boys tomaram

conta do apoio do lado caseiro, havendo

momentos em que o restante público

também acompanhava no incentivo. Ainda

assim, foram os de Guimarães a sorrirem no

fim, com uma vitória por 1-2, em que o golo

decisivo chegou já perto do final da partida.

FC Famalicão x FC Porto | 02-12-2023

Tal como no anterior registo, também aqui

se registou uma assistência com cerca

de cinco milhares nas bancadas, o que é

sinónimo em Famalicão de casa cheia. Fama

Boys com o habitual apoio à sua equipa

e os ultras portistas que lotavam o sector

visitante iam animando os seus respectivos

conjuntos. Os dragões acabaram por vencer

por 0-3, empolgando naturalmente quem os

acompanhava.

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Falar de intelectuais, escritos,

homens de cultura e futebol nunca foi

um conúbio que resultou. Durante muitos

anos, a elite intelectual não gostou do jogo

da bola, considerado um ópio dos povos,

aproveitado por governos reacionários e

manipuladores. Aquilo que pairava à volta do

futebol não podia agradar a esta faixa “culta”

da população, desde o analfabetismo e pouca

cultura dos seus praticantes, à violência,

irracionalidade e fanatismo clubístico. Tudo

isto não ajudou para que os intelectuais se

apaixonassem pelo nosso desporto preferido.

Só que há sempre excepções à

regra. Hoje queremos contar como a cultura

se associou ao desporto e ao associativismo

através de uma figura de relevo da cultura

portuguesa dos anos 40/50 - Alves Redol,

escritor considerado como um dos expoentes

máximos do Neorrealismo português. Nascido

num ambiente humilde de trabalhadores,

curioso e empático observador da vida dos

“marginalizados”, Alves Redol desde cedo

revelou preocupações de natureza social e

uma imensa vontade de intervir na realidade

envolvente, procurando encontrar soluções

para os problemas e as injustiças que

identificava, acreditando que as agremiações

desportivas são instrumentos fundamentais

na emancipação do povo e dos trabalhadores

através do desporto e da cultura. O escritor

esteve envolvido em muitas coletividades da

sua terra, Vila Franca de Xira.

Numa entrevista publicada n´A

Bola, em agosto de 1947, encontramos Alves

Redol a falar da sua paixão pelo futebol e pelo

desporto em geral: “O futebol domina-me e

absorve-me, porque encontro nele uma força

extraordinária de emoção”; “falar de futebol

agrada-me tanto como falar de literatura”;

“acho que os grupos desportivos deveriam

ser mobilizados para colaborarem num vasto

plano nacional de luta contra o analfabetismo

- bibliotecas, cursos de aperfeiçoamento,

conferências, representações teatrais,

exposições de arte, entre outras coisas,

deveriam figurar entre as realizações e

atividades culturais destes grupos”

A entrevista é muito interessante

porque focava temas que, ainda hoje,

continuam polémicos, como o desporto

vs espectáculo, e o problema amadorismo

vs profissionalismo, e toca pontos em

pontos como a saúde e higiene. Alves Redol

incentivou sempre a criação de grupos

desportivos como lugar de confraternização

e união dos mais humildes, dos últimos dos

Gaibéus que ele tanto falava.

“Acho que o desporto deve ser

considerado como um meio para que o


homem desenvolva as suas aptidões físicas

e assim se possam obter gerações mais

fortes, capazes, portanto, de melhor realizar

as grandes tarefas de paz que as condições

sociais lhes hão-de de propor”, um discurso

muito “atrevido” em pleno salazarismo.

A ligação de Redol ao futebol fez-se

ainda mais forte em duas ocasiões: foi o autor

dos diálogos do filme “Bola ao Centro”, longa

metragem que tem como pano de fundo o

futebol e a história da ascensão e queda de

um jogador-operário, que se deixa corromper

pelas “sereias” do sucesso e do dinheiro, mas

sobretudo como Diretor do periódico “Goal”,

um semanário ribatejano de desporto, arte e

literatura.

A produção do Goal era assegurada

por desempregados, com conhecimento em

tipografia, como era referido insistentemente

nas suas páginas. Apostava numa política

de baixo preço de venda (avulso 3 tostões),

provavelmente para não pesar nos magros

rendimentos dos seus potenciais leitores:

o povo de Vila Franca de Xira e da região

envolvente. Saíram 10 números entre janeiro

e março de 1933.

No editorial do primeiro número

(11.1.1933) considerou que o periódico

vinha suprir a ausência de um jornal nessa

matéria. Prometeu “vitalidade moça, cheia

de entusiasmo, repleta de espírito moderno”

e “independência crítica”. Finalmente,

assumiu que no semanário “só conheciam

uma ambição e só lutavam por uma causa:

o Desporto”, cuja prática considerava ter

virtudes revolucionárias na formação do

carácter humano. O semanário estabeleceu

como desígnio “auxiliar todos os clubes

ribatejanos que se dediquem à prática do

desporto”.

Os clubes do Ribatejo, o futebol

e as diferentes modalidades desportivas

constituíram a temática dominante do

novo periódico que assumiu, desde logo,

a necessidade da defesa e divulgação do

desporto por ser um “espectáculo sublime

da força física que garante a consolidação da

força moral”.

Ainda hoje, o legado do Alves Redol

é vivo no Ribatejo e na sua Vila Franca de Xira,

onde a biblioteca da UD Vilafranquense tem o

nome de uma das suas maiores figuras.

Por Eupremio Scarpa

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70

Esta foi uma viagem a Madrid com

o principal interesse a ser o que se passa

fora das quatro linhas do mundo da bola

por lá. Certamente à imagem da grande

maioria dos habituais leitores desta fanzine,

o conhecimento dos movimentos de apoio

locais acaba por me interessar mais do que

o típico turismo de visitar paisagens bonitas,

sítios famosos, ir a museus, etc. Mais do

que isso, consigo até diferenciar este estilo

de quem gosta simplesmente de futebol.

Saber mais sobre cada grupo ultra da capital

espanhola é bastante mais fascinante do que

ver troféus ou as estrelas de cada clube.

Não marquei a viagem com muito

tempo de antecedência, mas foi o suficiente

para encontrar algo barato e escolher um sítio

que já tinha interesse em conhecer melhor

há algum tempo, aproveitando uma última

semana de férias que tinha no calendário e o

facto de ter ficado mais livre no plano pessoal.

Depois de dois ou três amigos terem tido em

mente irem comigo, todos eles acabaram

por não o conseguir fazer, o que acabou por

representar a minha primeira viagem sozinho

ao estrangeiro.

A decisão do local também teve,

obviamente, relação com o calendário

futebolístico. Alguém que eu já conhecia dos

ultras do Getafe já me tinha convidado para

lá ir no passado, sendo que reparei que eles

jogavam em casa num Sábado à tarde, frente

ao Villarreal. Para além disso, também reparei

que o Atlético Madrid jogava em casa, contra

o Cádiz, no dia seguinte à noite, o que para

mim ficou perfeito para conseguir conciliar.

No primeiro caso, falei com o tal colega

espanhol, que me garantiu um bilhete para o

jogo do seu Getafe. Já para o Metropolitano,

fiz questão de reservar online um bilhete por

30€. Tendo em conta os dias e os preços da

viagem, optei por comprar viagem de ida

numa 5ª feira à noite e de volta na 2ª feira

logo de manhã.

Cheguei então na 5ª feira à noite

(dia 28 de Setembro), com tempo para

pousar as coisas no hostel e aproveitar a

noite numa das discotecas de techno mais

conhecidas do centro. Entre muitas aventuras

que duraram até à tarde seguinte, era tempo

de descansar um pouco e passar para o tão

aguardado fim-de-semana de futebol. No

Sábado de manhã saí bem cedo, e deu para

confirmar que não é mito o facto de os

espanhóis acordarem o mais tarde possível.

As ruas estavam inicialmente quase desertas

e silenciosas, tendo eu aproveitado para ir

conhecer algumas praças mais históricas,

dando sempre prioridade a espaços ligados a

adeptos como, por exemplo, o habitual sítio

dos festejos de determinados ‘aficionados’

ou onde multidões se concentram em jogos

das competições europeias. Despertou-me

a atenção uma conhecida loja de camisolas

retro, chamada Cooligan, que se localizava

precisamente no centro, onde entrei e pude

ver muitas pérolas históricas de diferentes

clubes internacionais.

Ao final da manhã apanhei comboio

e fiz a curta e rápida deslocação até Getafe.


Pouco faltava para as 11h30 locais, o que

significava que restavam pelo menos 2h30

para o início do encontro. Na estação estava

o meu amigo à espera, dando-me boleia até

junto do Coliseum Alfonso Pérez, o estádio

do Getafe. Lá é possível encontrar uma praça

nos arredores do recinto, por onde passam

grande parte dos adeptos que se deslocam

até ao mesmo e, no fundo, o sítio onde se

concentra o grupo ultra local, os Comandos

Azules. Situados no meio da praça, alojados

numa “banca” improvisada, cerca de 20

membros já lá estavam a confraternizar,

enquanto montavam o seu stock de cervejas e

material, onde se incluía vestuário, adereços

e fanzines.

O meu colega apresentou-me aos

elementos presentes, que me fizeram uma

simpática recepção. Era claramente notória a

diferença entre eles e qualquer simpatizante

normal que lá passasse. À parte de um ou

outro terem indumentárias alusivas ao clube,

a maioria priorizava roupas com marcas

claramente mais casuais ou então da própria

claque. É importante referir que, o grupo,

apesar de não ser muito grande, apresentava

dois subgrupos: um designado “Vandals”

e outro correspondente às Getafe Girls.

Saltava também à vista as muitas tatuagens

visíveis que cada um deles tinha, muitas delas

políticas, mais concretamente nacionalistas

- seguindo a tendência do que é a posição

política do grupo.

Depois dos cumprimentos iniciais

a quem lá estava, foi tempo de ir almoçar

de forma rápida. Num bar próximo e que

está habituado a receber os ‘aficionados’ do

Getafe, comi uma daquelas típicas baguetes

de presunto espanholas, acompanhada

naturalmente por cerveja. Essa altura serviu

para ter os primeiros conhecimentos sobre a

realidade do clube e do grupo. Como já sabia

antes, o Leganés, clube de uma localidade

situada a escassos quatro quilómetros, é

o grande rival. Eles estão actualmente no

segundo escalão, mas defrontaram-se nesta

última pré-época, onde houve problemas,

com os Comandos a deslocarem-se sem

escolta e a entrarem em confronto com o

grupo rival, chamado Ghetto 28.

Regressámos à concentração do

grupo já com a praça bastante preenchida

de azul. Era altura de ouvir mais histórias

de vários elementos e de perceber que

a realidade é bastante diferente do que

acontece em Portugal, apesar da proximidade

geográfica. Os combates combinados, por

exemplo, já se começam lá a enraizar, ao invés

do que acontece por cá. Independentemente

do resultado, essas lutas são encaradas com

toda a normalidade e como processo de

crescimento.

Algo que me despertava curiosidade

era obviamente o comportamento da polícia,

pois a repressão por aquele território é mais

que conhecida. Ao contrário de Portugal, não

existe aquela vigilância apertada e os olhos

postos permanentemente sobre os adeptos

no exterior, principalmente sobre quem

aparenta ser de algum grupo organizado de

adeptos. O que acontecia é que a carrinha

do Corpo Nacional de Polícia passava por

lá ocasionalmente, aproximadamente

num intervalo de 30 em 30 minutos, e fui

alertado para virar a cara no momento

da sua passagem, pois havia uma grande

probabilidade de estarem a filmar atrás dos

vidros fumados do veículo.

A meia-hora do encontro iniciar o

meu amigo disse-me para irmos entrando.

Muita gente nos acessos ao interior do

estádio, mas a andar a um bom ritmo, até

porque a revista não parecia muito rigorosa.

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72

A bancada do grupo era a sul, ou seja, atrás de

uma das balizas. As bancadas estavam muito

bem preenchidas para o início da partida,

tendo a assistência ficado acima dos 11 mil

espectadores, num recinto com lotação para

menos de 17 mil. Iam-se colorindo entre o azul

e o branco, com a particularidade de grande

parte do público estar de boné branco, uma

vez que estavam a ser distribuídos à entrada.

Destaque, também, para muitos adeptos de

várias bancadas apresentarem pequenos

cartazes com a imagem do seu treinador, José

Bordalás, figura muito acarinhada por lá.

Estava um calor monumental, e

três das quatro bancadas eram descobertas

(incluindo aquela em que eu fiquei) e o sol

incidia sem piedade. Nem uma brisa soprava e

era quase impossível estar sequer de camisola

vestida. As várias dezenas de elementos dos

Comandos iam preenchendo a parte inferior

central dessa bancada e, um pouco acima,

juntavam-se muitos jovens de camisola

do Getafe. Também tive oportunidade de

ver um grupo chamado “Cachorros” que,

segundo entendi, não adoptava o estilo

do movimento ultra, mas sim algo mais à

imagem de uma típica “peña”. Confirmava-se

a ideia que já tinha dos espanhóis. Os grupos

são relativamente pequenos e restritos,

acabando por ter uma percentagem muito

mais reduzida que em Portugal no que toca

à quantidade representada num estádio em

relação à assistência total, mas conseguem

firmar bem o seu respeito e comandar as

operações e qualquer ritmo ou cântico. Do

lado visitante, como seria expectável, eram

muito poucos os simpatizantes presentes do

Villarreal.

A partida foi de sentido único,

com o Getafe praticamente sempre por

cima, sendo que a meio da primeira parte

os forasteiros ficaram reduzidos a menos um

jogador. Curiosamente, depois disso, a veia

atacante da formação da casa até decresceu

um pouco. Ainda assim, apesar das várias

tentativas, não houve qualquer golo. O

apoio não foi mau, com os cânticos simples

e típicos do que estamos habituados a ouvir

no mundo ultra espanhol. Reforço que o calor

era claramente uma condicionante, e era

difícil ter capacidade e resistência de estarem

sem esmorecer em ritmos mais eufóricos. O

público que estava sentado acompanhava

apenas nos cânticos mais fáceis e “populares”,

principalmente depois dos lances de perigo.

Convém referir que, perto dos 90 minutos,

já iam saindo alguns adeptos, especialmente

da bancada nascente, originando algumas

“bocas” de quem estava junto a mim,

fazendo questão de gritar que estavam mais

preocupados em sair mais cedo para verem

o Real Madrid [iam jogar em Girona pouco

depois daquele encontro terminar].

Tive novamente curiosidade em

reparar no comportamento das forças de


segurança, agora no interior do estádio.

Apenas três stewards estavam a vigiar, de

forma separada e bastante tranquila, entre

o relvado e a bancada onde se situam

os Comandos. Não esperava, mas, nesse

aspecto, fiquei surpreendido pela positiva.

Em Portugal, com assistências bem mais

pequenas, vemos spotters, polícia, stewards,

etc, de olhos postos em bancadas de muito

menor dimensão. E, ainda sobre repressão,

convém salientar que os elementos do

grupo do Getafe foram ameaçados tempos

antes, em reunião com a direcção do clube,

com sanções individuais, caso a instituição

continuasse a pagar multas pelos seus

insultos.

Terminado o jogo com um empate

sem golos, como dissera anteriormente,

houve trocas de aplausos entre ‘aficionados’

e jogadores, mas achei que, da parte de

quem estava em campo, foram muito

tímidos. Pouco se afastaram do meio-campo

e não tiveram vontade de se aproximar da

bancada, demonstrando que a ligação entre

ambos não é a melhor e que a equipa não vê

os apoiantes com um poder e respeito como

existe noutros sítios.

Era tempo de ir saindo do estádio

com quem estava. Com os milhares de

presentes a abandonarem, reparei que a

tal praça junto ao recinto se ia esvaziando

rapidamente, sobrando quase exclusivamente

os elementos da claque, que voltaram a lá

ficar. Era tempo de voltar a confraternizar,

ficar finalmente à sombra e beber mais umas

cervejas. Depois de ter oferecido ao longo

da tarde muitos autocolantes da Cultura de

Bancada e alusivos ao Leixões, publicitando

e explicando sempre coisas sobre cada um

deles, retribuíram-me no fim com a oferta

de três fanzines diferentes do seu grupo

- estavam à venda por 10€ na tal banca - e

de dezenas de stickers. Pessoal bastante

amigável, que me acolheu bem, e ficou o

convite de parte a parte para novas visitas

futuras.

No dia seguinte, logo pela manhã,

decidi fazer tempo e aproveitar para

conhecer um pouco mais de Madrid. No

entanto, à hora de almoço, quando ainda

faltavam várias horas para o encontro que

iria assistir pela noite, segui viagem para

o Estádio Metropolitano e almocei por lá,

aproveitando também para conhecer o local.

O calor continuava intenso e foi tempo de

petiscar num estabelecimento localizado

já na área do recinto. Naturalmente que

ainda estava tudo muito vazio, com apenas

pequenos comerciantes a irem montando as

suas tendas e poucas pessoas a passearem

73


74

por lá.

Deu para conhecer a zona

envolvente ao estádio, onde se concentram

muitos bares e onde se vão reunindo os

adeptos do Atleti. Esta partida tinha a

particularidade de envolver duas formações

apoiadas por grupos de ideologias políticas

opostas, o que em Espanha é sempre

sinónimo de faísca. Ainda assim, não houve

qualquer presença das Brigadas Amarillas,

grupo dos forasteiros, ao contrário de

cerca de duas centenas de ‘aficionados’ do

Cádiz, nada relacionados com a cena ultra e

perfeitamente identificados com as camisolas

do clube. Muitos deles foram passando

por mim desde cedo, tanto a pé como

anteriormente nos transportes públicos.

Curiosamente, nenhum deles teve algum

olhar mais intimidatório de qualquer adepto

mais fanático do Atlético, percebendo-se

facilmente que, por lá, as hostilidades ficam

apenas e só para com os grupos rivais. Os

simpatizantes “normais” são tratados todos

da mesma maneira, independentemente de

serem do mesmo clube ou de um rival.

Nota também para um cenário

idêntico ao do dia anterior a nível de presença

policial nas imediações. Podia passar uma

carrinha ou outra, mas nada de vigílias quase

ofegantes perante adeptos de futebol nas

determinadas áreas em que os mesmos se

encontravam. Também como em Getafe,

era facilmente perceptível distinguir-se, no

exterior, malta do movimento e outro tipo de

apoiantes.

O tempo corria e deu para ir

bebendo mais umas cervejas durante largas

horas para disfarçar o calor. Pelo meio

consegui a recente fanzine da Frente Atlético,

a “Super Atleti”, que voltou a ser feita muito

tempo depois da anterior. Não é grande, mas

é dedicada ao clássico da semana anterior

contra o Real Madrid e tem um bom valor

simbólico pelo regresso à actividade do grupo

a este tipo de escrita.

Foi tempo de ir para o estádio já

com uma multidão a preparar-se para entrar,

neste encontro em que estiveram presentes

mais de 53 mil espectadores. Não foi casa

cheia, mas esteve naturalmente muito bem

composto. Era interessante também reparar

que praticamente todas as camisolas do

Atlético vestidas pelos adeptos tinham o

símbolo antigo, ou melhor, o símbolo antigo

e que agora se tornará novamente no oficial.

Convém salientar que, no passado mês de

Junho, os ‘colchoneros’, depois de cerca de seis

anos de luta contra a direcção, conseguiram

que o seu símbolo voltasse ao que era antes,

tendo sempre rejeitado o último. Depois de

muita insistência, conseguiram-no através de

um referendo, em que várias figuras muito

conhecidas da vida do clube se manifestaram

a favor do regresso, juntando-se à luta dos

adeptos.

O bilhete era destinado para uma

parte superior da bancada sul, ou seja,

por cima de onde fica a Frente Atlético.

O ambiente foi naturalmente agradável,

sendo que, nos cânticos mais fáceis ou até

nos mais sentimentais (caso do hino), o

restante público juntava-se e ajudava a criar

um ambiente frenético, em que as próprias

condições do estádio moderno ajudavam. O

Cádiz já vencia por 0-2 quando ainda nem

meia-hora do encontro estava realizado.


Percebeu-se logo a apreensão de quase toda

a gente, ao contrário da Frente, que seguia no

apoio. A verdade é que o Atlético logo reduziu

o marcador e as bancadas voltavam a ficar um

pouco mais animadas.

Surgiu o intervalo e aí o momento

do jogo no que a fora das quatro linhas diz

respeito. Reparei que os sectores ocupados

pela Frente se foram rapidamente esvaziando

e dava para verificar que teria sido originado

por problemas com a polícia. Um ou outro

adepto mais perto de onde eu me encontrava

também ia saindo do recinto, mas o resto do

público ficou normalmente nos seus lugares à

espera que a segunda parte se iniciasse.

Na realidade, era previsível que o ambiente

tivesse morrido a partir daí, e o meu interesse

até estava mais nessa parte, a bem dizer.

Saí, por isso, nesse momento, e percebi que

a razão de tudo aquilo se deveu ao facto

de dois elementos terem sido detidos sem

motivo aparente. Muita gente estava cá fora

centrada em frente a um ecrã de um bar

do estádio e vibraram com uma reviravolta.

Houve mais dois golos – um no início da

segunda parte e outro a meio – que valeram

uma grande festa, o que ia contrastando com

um ambiente mais hostil entre muitos polícias

equipados e a preparem-se para outro

tipo de eventualidades com os apoiantes

do Atlético concentrados no exterior. No

entanto, não passou mesmo de uma postura

mais intimidatória – sendo, obviamente, o

oposto de tudo o que tinha verificado até

então nesse fim-de-semana.

Terminado o encontro, aproveitei

para apanhar o metro, que se ia colorindo

com muito vermelho e branco, e algumas

manchas de azul e amarelo, e fui aproveitar

a última noite. Para a aventura se alongar,

acabei por perder o voo de regresso que

iria ter às 6h da manhã, acabando depois

por ter apenas às 14h, o que serviu para ir

experimentar mais algumas coisas da capital

espanhola. Inclusive, cheguei a ser abordado

no metro por um jovem adepto do Atlético,

que me reconheceu da noite anterior e,

em conversa, disse-me que trabalhava… na

remodelação do Estádio Santiago Bernabéu.

Aproveitei para ir com ele a um bar antes de

ele iniciar o trabalho diário (já era 2ª feira)

e, curiosamente, à minha frente reparei

em várias inscrições dos Ultras Sur. Estava

na Rua Marceliano Santa María, local de

concentração do grupo do Real Madrid que

está, como é sabido, proibido de ir à bola.

O exterior daquele recinto não

estava propriamente atraente por causa das

obras e não me chamou grande atenção. A

bem dizer, o próprio clube em si nunca me

despertou qualquer tipo de simpatia, sendo

o reflexo de tudo o que não me revejo no

futebol moderno.

Foi depois tempo de almoçar e

regressar, finalmente, a Portugal. Serviu para

conhecer pessoalmente uma realidade que

está muito próxima de nós e, ao mesmo

tempo, tem tantas parecenças e diferenças,

o que torna o movimento e a parte social do

futebol espanhol tão curioso.

Por G. Mata

75


O FUTURO DO PAÇOS DE FERREIRA

76

Ao longo dos seus 73 anos de

história, o FC Paços de Ferreira foi gerido

seguindo o modelo “tradicional” de gestão

de clubes desportivos: gente da terra

emprestando o seu tempo, conhecimento

e dinheiro em prol do clube. Ano após ano,

os cêntimos eram angariados com recurso a

todo o tipo de atividades: rifas, janeiras, porco

no espeto, etc. Tudo isto para complementar

o dinheiro de quotas dos associados e

patrocínios das empresas e autarquia locais.

Durante anos, o Paços sobreviveu à custa dos

mecenas locais que, apaixonados pelo clube e

pela sua terra, contribuíam para que o futuro

do clube nunca estivesse em causa.

Mesmo em 2013, quando surge a

obrigação legal de constituir uma sociedade

desportiva, os sócios optaram por manter

o clube fechado à entrada de “forasteiros”

que pudessem desvirtuar toda a história do

clube e mantiveram o controlo total através

da criação de uma SDUQ. SDUQ essa que

foi sendo gerida por membros que eram

concomitantemente diretores do clube e

da sociedade desportiva e, por isso mesmo,

sabiam defender os interesses do clube nas

decisões tomadas pela sociedade.

Seguiram-se anos de sucesso

desportivo e, por consequência, financeiros.

A SDUQ não caiu na tentação de investir

os milhões que a Champions ou a venda

do Diogo Jota trouxeram em jogadores de

renome. Preferiu-se apostar nas melhorias

das instalações que, tornam hoje a Mata Real,

num dos melhores locais para os profissionais

de futebol desenvolverem a sua profissão.

Contudo, enquanto o Paços trilhava

este caminho, outros clubes começavam a

abrir-se a capital estrangeiro e o fosso para a

realidade de clubes como o Paços começava a

ser cavado. Nos últimos anos assistimos a um

Boom de entrada de investidores estrangeiros

no futebol português. E não apenas no futebol

profissional. Começamos a ver clubes de Liga

3, CP e até distrital a serem comprados. A

terem fundos que nunca conseguiriam ter

através dos modelos tradicionais de gestão…

mesmo que cantassem as janeiras todos os

meses!

É preciso perceber que o futebol

que muitos de nós aprenderam a amar, não

existe. A defesa da camisola, o orgulho de

ostentar um símbolo, os sacrifícios em prol

de um clube são coisas do passado (salvo

raras excepções). O futebol tornou-se uma

indústria, cada vez mais profissionalizada. Aos

clubes não basta hoje ter um plantel, com um

treinador e um preparador físico, um roupeiro

e um massagista. Há nutricionistas, analistas,

psicólogo, médico, mental coach, team

managers, departamentos de comunicação,

scouting… e por isso, as estruturas de clubes

profissionais são cada vez mais pesadas.

E notem que nem toquei na questão dos

agentes…

Toda esta evolução nos últimos

anos colocam clubes como o Paços numa

posição muito complicada: manter-se no

modelo atual e perder competitividade ou

abrir a porta ao “diabo” e conseguir manterse

no futebol profissional?

Chega a ser caricato pensar que

o Paços que desceu na última temporada

da Primeira Liga, apresente este ano um


orçamento 3 vezes inferior a um clube

que acabou de subir da Liga 3, mas é esta

a realidade. A folga financeira que estes

investidores trazem aos clubes fazem com

que jogadores de segunda, tenham salários

de primeira. E o Paços não consegue

acompanhar. Haverão sempre excepções, é

certo. Não esqueçamos que conquistamos

o terceiro lugar na primeira liga com um

dos orçamentos mais baixos de toda a

competição. Mas nos dias que correm, as

exigência do futebol moderno ditam que

clubes como o Paços precisam de aliar a

competência e o rigor a muita sorte para

conseguir estar no topo do futebol nacional.

E foi por isso que os sócios do

clube foram chamados a refletir sobre o

rumo que devemos tomar. Numa altura em

que estamos próximos de ser o único clube

fechado a capital externo, será que estamos

a tomar a decisão correta? Estaremos nós

certos e tudo o resto errado?

Na cabeça de muitos sócios do

Paços paira o fantasma das SADs falhadas.

Dos escândalos que levaram clubes históricos

a afundar-se. E talvez isso torne ainda mais

difícil a aceitação deste modelo de gestão

por parte dos nossos adeptos. É natural e

aceitável o seu ceticismo. Porque havemos de

tentar algo em que as histórias negativas são

mais do que as positivas? Porque havemos de

experimentar isso se no modelo atual temos

até conseguido ir a competições europeias?

A verdade é que o presente dá

sinais claros de que algo tem de ser feito. A

incapacidade de atrair talento por ausência

de argumentos financeiros começa a ser

preocupante. A dificuldade em segurar os

melhores ativos retira-nos força. E num clube

onde as receitas extraordinárias relacionadas

com as vendas são fundamentais para o

equilíbrio das contas, isto torna-se ainda

mais dramático porque se revela uma bola

de neve: sem vendas extraordinárias não

há melhorias de infraestruturas, não há

melhores condições para a formação, etc, etc.

É pois perante este cenário que os

sócios precisam tomar uma decisão: manter

tudo igual ou mudar?

Pessoalmente sempre fui contra

as SADs e mantenho essa posição. Não

me parece que o modelo de SAD pura e

dura seja o que o Paços precisa. Contudo,

o novo modelo de sociedade desportiva

recentemente criado - SDQ - parece-me ser

algo que se possa considerar. Desde logo

por aquilo que a lei impõe na criação deste

novo tipo de sociedade e que protege o

clube fundador. Neste novo modelo seria

impossível acontecer a aberração a que

assistimos em Vila Franca de Xira este verão.

Neste novo modelo, o grande desafio passa

por a direção do clube conseguir encontrar

algum investidor/parceiro com vontade

de se aliar ao clube mesmo com todos os

condicionalismos impostos pela nova lei.

Independentemente do que

venha a acontecer, o facto é que os sócios

serão soberanos e a sua vontade deverá

ser respeitada. Só desejo que essa vontade

signifique um Paços mais forte no futuro, seja

qual for o modelo de gestão.

Por Rui Abreu

77


OS ANOS PASSAM, NÓS NÃO!

78

Será que os anos vividos num

grupo conferem algum tipo de estatuto

dentro do mesmo ou será que sem acção,

com excepção das presenças nos jogos em

casa, esses mesmos anos não passam de um

número? Talvez a resposta mais justa seja

depende. Após alguma ponderação esta é a

minha resposta, e é natural que a vossa possa

ser diferente. Na verdade, e sem mistério,

a resposta depende da maior condição de

todas, de quem responde e sobre quem se

fala. Em vários casos a objectividade parece

relativa e a subjectividade encaminha a dar

uma resposta em função da própria vivência.

Por outras palavras, mesmo nos grupos, não é

estranho que haja formas diferentes de ver o

mesmo problema – no fundo, sem prejudicar

o sentido primário de unidade de um grupo,

cada um vê o mundo com os seus próprios

olhos.

A questão que abre o texto não

é de todo inocente, procurando traçar um

debate entre o SER do grupo e o ESTAR no

grupo. Com isto não procuro encontrar uma

verdade absoluta, apenas abrir a porta a um

tema bastante pertinente que poderá servir

de ponto de reflexão para alguém. Do mesmo

modo, também não pretendo desvalorizar

a história, o trabalho e, por ventura, a

importância de cada um no passado do grupo.

Sem dúvida que posso afirmar que sem

passado não há presente, mas nunca posso

esquecer que sem presente não há futuro.

Neste campo, tudo parece estar conectado.

No parágrafo anterior, acabo

por abrir a cortina ao que suporta a minha

resposta. É claro que os anos que temos de

grupo significam algo de importante, só que

a meu ver o principal destaque deve ser dado

ao sacrifício e esforço apresentado durante

esse tempo. São essas as componentes

que fazem os anos terem outro valor e que

tornam as pessoas em referências do grupo.

Não são heróis, que fique claro, pois acredito

que quem anda muitos anos num grupo e

os leve realmente a sério percebe, como

ninguém, o significado do termo anti-herói.

No entanto, sem a dedicação de quem se

sacrifica, os grupos acabam por perder uma

parte significativa do seu propósito. Para que

não haja desvios na interpretação, ressalvo

que não é sobre líderes que estou a escrever,

mas sim sobre todos os Ultras.

Resumindo, é importante respeitar

o passado, pois é nele que se encontra o

trabalho que precedeu as novas gerações,

mas, se queremos continuar a história, não

podemos descuidar a actividade do presente.

Se é pelo presente que se constrói a história,

então fica fácil de entender que sem esforço

de quem ainda cá está “passaremos à

história”. É agora que as novas gerações têm

que afirmar o seu espaço, passando de ESTAR

a SER, mas o activismo deve continuar a ser

partilhado pelos mais velhos - em teoria, o


exemplo deve partir obrigatoriamente destes.

É certo que as fases da vida mudam e, com

isso, muitas outras coisas se transformam,

seja em contexto familiar ou profissional, mas

não diminui a responsabilidade de fazermos

o que está ao nosso alcance para ajudar e

representar o nosso grupo na medida que é

possível. Contudo, na dimensão portuguesa

da Cultura Ultra, é comum ver os mais antigos

a passarem de SER para ESTAR quando não

abandonam o grupo. Quem nunca ouviu

a expressão “já não tenho idade/vida para

isso”? Facilmente percebem que não me

refiro a uma questão de sentimento. Este SER

é objectivamente uma questão de activismo

e, para mim, a par do reconhecimento da

história, este é um dos aspectos que devemos

valorizar. A militância Ultra pressupõe este

compromisso.

No nosso país, é muito comum ver o

pessoal dos grupos a encontrar no estrangeiro

as suas referências de bancada. Certamente,

não sou o único a sentir que entre os ultras

portugueses existe uma opinião que coloca

os grupos de alguns países num patamar

acima dos nossos. Era bom procurar perceber

porquê, para que o movimento português

também consiga subir o nível. Penso que

a resposta assenta essencialmente em

três factores: a organização, o sentido

de orientação e os membros. Explicando

minimamente cada um dos factores

mencionados, posso dizer que a organização

é preponderante para o bom funcionamento

e desenvolvimento do grupo, o sentido de

orientação define os valores e a identidade e,

por fim, os membros são a materialização do

grupo. Tudo se centra nas pessoas e no que

eles são, querem e fazem. Está aí a condição

que nos pode levar a patamares maiores, e

é também onde se encontra a necessidade

de pôr em causa o papel de cada um de nós

nos nossos próprios grupos. Seja por motivos

culturais, geracionais ou sociais, o povo está

demasiado acomodado - incluindo os Ultras.

Precisamos de contrariar essa tendência e

para isso temos que sair do conforto e colocar

o nosso papel em questão.

Não escondo que este texto foi

um desafio. Para passar a minha visão deste

tema tive de dar algumas “voltas”, sob pena

de desvirtuar a minha intenção ao redigir

este texto. Reitero que o objectivo não foi

criar avaliações entre os Ultras, apenas

contribuir para a reflexão do que somos e o

que queremos para os nossos grupos. Façam

a vossa parte.

Por J. Lobo

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REAL SOCIEDAD X SL BENFICA

Destino fora da habitual, rota

de Champions, proximidade uma cidade

fantástica e boas perspectivas em termos

desportivos.

Tudo levava a crer num away ao

país vizinho de sonho, numa mescla entre

a invulgaridade de um Getafe (do tempo

em que Mantorras ainda fazia golos) e a

esperança num resultado positivo tal e qual

como fizemos na última deslocação ao extinto

Vicente Calderón - naquela que, recordo, foi a

primeira derrota da era Simeone em casa.

Sou da opinião que estas são

daquelas que se fazem de carro. Não adianta

inventar muito. Mesmo que o condutor seja

sempre o mesmo (já estão a ver onde quero

chegar). Chegar ao destino é incrível e bom

sinal, mas é no caminho que se partilha,

que se criam e partilham histórias. Para lá,

é aproveitar. Para cá, é regressar como se

puder. Ganhando ou perdendo. Ganhando,

a viagem é mais longa e ruidosa. Perdendo,

silenciosa e sobretudo mais rápida.

San Sebastián não desilude. É uma

cidade que vive a Real, assim como Bilbao

vive o Athletic. Os bascos sabem receber, a

menos que “les toquen las narices”.

Nas bancadas, sector cheio como

tem sido apanágio. Dentro de campo,

lampejos da época dos zero pontos, de Vigo,

daquilo que quiserem.

Para além disso, dejavús e atitudes

80


iguais às que nos “impediram” de ir a Milão,

com consequente controlo policial após o

jogo. E controlo na verdadeira aceção da

palavra para quem já por muitas destas

passou.

A viagem de regresso foi algo

lenta pelo cansaço (psicológico e físico), mas

silenciosa.

Tudo passa. Valores mais altos se

levantam. A viagem para Salzburgo estava

marcada desde o dia do sorteio. Pensei que

ia adquirir bilhete ao meu clube e, afinal, não

vou, mas é uma questão resolvida.

Por Afonso C.

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Dia 1

Saímos do Porto debaixo de chuva,

mas tínhamos sol à chegada a Itália.

Bologna aguardava-nos com um verdadeiro

spaghetti (à bolonhesa).

De barriga cheia encaminhamo-nos

para o estádio Renato Dall’Ara. Ao contrário

das nossas expectativas o ambiente era

de calmaria entre os adeptos da casa. O

cenário estava bem policiado em cada rua,

antecipando eventuais confrontos com os

milhares de tifosi da Lázio que viajaram da

capital.

A entrada do estádio para a nossa

bancada faz-se por um acesso, imagine-se, de

uma velha escola.

o ambiente era de festa, com cânticos e

pirotecnia de ambos os lados. Excelente

ambiente.

Uma primeira parte fraca

esmoreceu os ânimos, e só voltamos a dar

conta que estávamos tão perto dos adeptos

da Lázio quando, aos 46 minutos, o Bologna

marca e os ultras da Lázio arremessam várias

tochas em direção aos bolonheses. Daí até

ao final do jogo só ouvimos os festejos dos

adeptos da casa.

Resultado final: Bologna 1 Lázio 0

Já lá dentro, ficamos mesmo ao

lado do setor visitante. Aí pudemos observar

toda a movimentação dos milhares de ultras

da Lázio que, mesmo numa sexta feira, a mais

de 350 km de casa, mostraram-se efusivos e

prontos a apoiar a sua equipa.

Antes mesmo do apito inicial

82


Dia 2

Depois de 120 km percorridos

eis-nos chegados a terras de Santo António,

Pádua. O confronto do dia opôs o clube da

cidade ao Giana Erminio.

Zero expectativas sobre o que se ia

passar dentro e fora das quatro linhas neste

jogo da série C, não fosse esse o objectivo

desta viagem: descobrir ao vivo a realidade

dos 3 principais escalões do futebol italiano.

Surpreendidos logo pela dimensão do

estádio, o ambiente de festa e o entusiasmo

dos adeptos, dirigimo-nos às bilheteiras (este

foi o único jogo para o qual não tínhamos

antecipado bilhetes) sob olhar curioso dos

ultras do Padova, cuja sede era mesmo ali.

Com os bilhetes comprados

ainda dava tempo para uma cerveja.

Arriscamos e entramos logo ali e, pelo meio

do avermelhado das tochas e dos cânticos

dos ultras da casa, avistamos uma pequena

mesa onde se vendiam cachecóis do grupo.

Colecionador como sou perguntei o preço

- 15€, respondeu-me o rapaz. Quando me

preparava para pagar fui surpreendido por

um sujeito já velha guarda, que mandou o

rapaz guardar o cachecol, e perguntou-nos de

onde éramos. O ambiente ficou tenso, num

ápice rodearam-nos vários outros membros

do grupo, mas quando respondemos que

eramos de Portugal baixaram a guarda.

Acabei por comprar o cachecol, deixando-nos

ficar por ali a beber até ao início do jogo.

Uma partida com um ambiente

surpreendente, melhor do que o do dia

anterior.

Resultado final: Padova 3 Giana Erminio 1

Dia 3

Verona, o mais esperado. Dois

jogos num só dia. Uma cidade encantadora,

uma simbiose perfeita entre cidade, clube e

adeptos. Verona respira o Hellas e o Hellas

respira Verona... qual Romeu e Julieta.

Jogo marcado para as 12:30, e

talvez por isso sem ambiente de registo fora

do estádio.

Já lá dentro, junto ao sector dos

ultras do Hellas, ficamos desapontados por

não estar tão cheio quanto prevíamos. Do

lado oposto, bem no topo, faziam-se ouvir

os visitantes do Monza. A fraca prestação

do Hellas no jogo levou-nos à conversa com

os adeptos da casa, enquanto o marcador

aumentava para os visitantes.

Enquanto bebíamos borghettis –

sim, em Itália há todo o tipo de álcool nos

83


estádios - sem os excessos que se cometem

por cá, ouvíamos os relatos de tudo o que se

passava no clube. Dos problemas na direção

à falta de dinheiro, passando mesmo pelas

guerrilhas internas entre os grupos do Hellas.

Descobrimos, então, por que é que o sector

dos ultras não estava tão cheio.

Era hora de partir para Parma, bem

antes do árbitro assinalar o final do jogo.

Resultado final: Hellas 1 Monza 3

Chegados a Parma, depois de

percorrermos mais de 140 km de paisagens

deslumbrantes por entre rios e vales,

estávamos prontos para mais um jogo.

No Ennio Tardini defrontavam-se

Parma e Sudtirol. À nossa chegada já estava

1-0, e o ambiente era de festa, não estivesse

o Parma a lutar para subir de divisão.

Ao intervalo fomos explorar as

redondezas do setor dos ultras da casa.

Convém lembrar que a arquitetura dos

estádios em Itália em nada se assemelha

aos nossos, onde encontrámos vários murais

graffitados alusivos ao clube e às suas gentes.

A segunda parte serviu para

saborear as últimas cervejas em Itália e

cantarolar os cânticos entoados pela curva

do Parma conhecidos por todos nós, não

fossem os italianos os grandes compositores

dos cânticos que ouvimos nas bancadas dos

estádios por este mundo fora.

Resultado final: Parma 2 Südtirol 0

Por Duarte Monteiro

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SPORTING CP X ATALANTA BC

As visitas de equipas italianas

geram sempre grande expectativa em relação

à visita e prestação dos seus ultras, sobretudo

quando se trata de uma curva histórica como

a Curva Nord da Atalanta. O alinhamento

do calendário apontou para que o jogo se

disputasse no dia 5 de outubro, feriado em

Portugal, acabando o horário da partida

por proporcionar uma soalheira jornada de

futebol europeu. De Bérgamo viriam 900

adeptos, número bastante reduzido, mas

reflexo do atual momento do movimento

ultra neroazzurro à procura de liderança e

orientação, depois da dissolução da Curva

Nord Atalanta. Horas antes, os adeptos

bergamascos juntaram-se no habitual ponto

de encontro definido pelas autoridades

neste tipo de ocasiões, para depois rumarem

de metro até ao estádio Alvalade XXI. Nas

imediações de Alvalade, a calma em torno do

estádio apenas foi agitada pela chegada em

grupos separados de adeptos da Atalanta,

que se fizeram ouvir com os seus cânticos.

A escolta musculada por parte das forças

de segurança direcionou rapidamente os

adeptos da Atalanta para a entrada do

estádio, provocados com cânticos referentes

à Fiorentina, cuja curva tem amizade com os

ultras sportinguistas e que tem uma rivalidade

muito forte com os da Atalanta. À medida

que o início da partida se ia aproximando,

as bancadas foram sendo preenchidas pelos

cerca de 42 mil adeptos que presenciariam

a partida. Noutros tempos, esta seria uma

ocasião propícia para os ultras da casa

realizarem uma coreografia, mas tal acabou

86


por não acontecer, limitando-se a curva sul

a expor a frase “Um clube tão grande, como

os maiores da Europa” e posteriormente um

lençol com o símbolo do clube juntamente

com potes de fumo verdes. Brigada e Torcida

mostraram de forma discreta algum do seu

material identificativo e, já com o jogo a

decorrer, na curva norte, onde atualmente

se posiciona o Directivo, foram abertos vários

lençóis com símbolo e data de fundação do

clube, acompanhados por alguma pirotecnia.

Posteriormente, os mesmos exibiram a frase

“Odio Bergamo”. O apoio vocal por parte dos

ultras sportinguistas foi constante, mas longe

do nível que se assistia aquando da curva sul

com os grupos todos. Na parte final, com

o Sporting em busca do empate, registouse

um forte apoio que alastrou facilmente

às restantes bancadas. Do lado italiano, a

permissão de utilização de tubos fez com que

o seu sector fosse colorido com estandartes

(ai que saudades!) e algumas bandeiras de

pequena dimensão, exibidos ao longo de

toda a partida. Os cânticos foram constantes

e intensos à medida que a sua equipa ia

assumindo o comando do jogo. A nova

disposição da bancada visitante, que agora

ocupa grande parte da bancada superior

norte, beneficiou bastante a projeção dos

cânticos dos italianos, bastante audíveis em

todo o estádio. Registe-se a presença de

diversas gerações de ultras que viviam com

a mesma intensidade que os mais novos

os acontecimentos da partida. No final, a

saída dos adeptos da Atalanta foi tranquila,

mas com forte aparato policial que os

acompanhou até ao metro que os levaria de

regresso ao centro da cidade.

Por M. Soares

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“Derby della Lanterna” é o nome

pelo qual se popularizaram os jogos entre os

dois principais emblemas futebolísticos da

cidade de Génova, que se localiza no noroeste

de Itália e que tem como principal atracção

precisamente a “Lanterna”, que mais não é

do que um farol que serve como referência

para as embarcações que há muito tempo

navegam por aqueles mares. É na ligação com

o mar que se encontra a alma desta cidade,

conhecida por ser o local mais provável

de nascimento do navegador Cristóvão

Colombo. Com aproximadamente 1,5

milhões de habitantes na área metropolitana,

a cidade foi fundada no século V a.C. e foi

uma república independente, a Sereníssima

República de Génova, entre o século XI e

1797, ano em que foi invadida pelos exércitos

napoleónicos. Durante o seu apogeu, a

Sereníssima República chegou a deter as

ilhas da Córsega e inclusive a Crimeia como

colónias, e evidenciava-se pelo forte pendor

comercial e mercantil da sua economia.

Ora foi também pela “via marítima”

que começou a longa ligação desta cidade com

o futebol, uma vez que foi no porto de Génova

que cidadãos ingleses introduziram o jogo da

bola na Península Itálica, mais concretamente

a 7 de Setembro de 1893, quando nasce o

Genoa Cricket and Football Club, o mais antigo

clube de futebol italiano. Para além de ser o

primeiro clube a ser fundado oficialmente

no país, o Genoa foi também o primeiro

a vencer o Scudetto (campeonato), cuja

edição de estreia se realizou em 1898, e, na

aurora do futebol transalpino, os “rossoblú”

tiveram um domínio praticamente absoluto,

levando de vencidos seis dos primeiros sete

campeonatos italianos.

O primeiro jogo entre equipas

genovesas de que há registo foi disputado

ainda nos finais do século XIX (1898), e opôs

o Genoa ao Pro Liguria, estava o primeiro

Derby della Lanterna ainda a quase meio

século de distância, uma vez que o Unione

Calcio Sampdoria só seria fundado no final da

2ª Grande Guerra, em 1946, fruto da fusão

entre dois clubes locais, o Sampiedarena e o

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Andrea Doria. Inicialmente, a nomenclatura

desta colectividade continha até um hífen

(Samp-Doria), tendo o mesmo deixado de

ser utilizado com o passar dos anos. Os

blucerchiati, alcunha pela qual é conhecida

a Samp, cujos equipamentos ostentam o

azul (dominante), branco, vermelho e preto,

herdado dos clubes predecessores, apesar de

ainda jovem, é um clube já com um palmarés

assinalável, tendo vencido um scudetto em

1991 e quatro Taças de Itália, títulos a que

junta a conquista europeia da Taça das Taças

em 1990, diante do Anderlecht, e chegando

inclusivamente a disputar uma final da Taça

dos Campeões Europeus, em 1992.

Com forte implantação na zona de

Sampierdarena, subúrbio industrial da cidade,

a Sampdoria leva vantagem no confronto com

o vizinho Genoa, tendo vencido 42 dérbis,

contra apenas 26 vitórias dos Rossoblu, e

registando-se ainda 39 empates, tendo o

primeiro confronto entre os dois emblemas

ocorrido logo no ano de fundação da Samp,

a 3 de Dezembro, com a vitória por 3-0 a

sorrir ao clube recém-fundado. Ainda assim,

e fruto da hegemonia inicial, o Genoa pode

orgulhar-se de contar no seu espólio com

nove scudettos vencidos, ainda que o último

remonte ao longínquo ano de 1924.

É verdade que, em termos

mediáticos, este confronto não tem o

impacto de outros dérbis tais como o romano

ou o milanês, mas em matéria de paixão e

entusiasmo, as bancadas do Stádio Comunale

Luigi Ferraris, propriedade do município e

casa dos dois clubes, não recebem lições

de ninguém. Esta é uma rivalidade intensa

dentro e fora das quatro linhas e as duas

massas adeptas ostentam com orgulho o

seu fervor clubístico. Os mais entusiastas

de cada um dos lados estão radicados em

bancadas opostas do estádio - na Gradinata

Nord (bancada norte) localizam-se os

grupos Ultras do Genoa, cuja percurso fica

indubitavelmente marcado pela Fossa dei

Grifoni, fundada em 1973 e que, apesar de

se ter dissolvido vinte anos depois, continua

a figurar como o mais importante grupo

da história do movimento organizado de

adeptos do Genoa, ainda que muitos outros

lhe tenham sucedido, nomeadamente

Ottavio Barbieri ou Vecchi Orsi, que também

se destacaram. Actualmente mantêm-se em

actividade Via Armenia 5r (nome inspirado na

morada da antiga sede da Fossa dei Grifoni),

Gav, Caruggi e Levante Rossoblú.

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Do lado dos blucerchiati, que

ocupam “La Sud”, o filme não é muito

diferente. Quem figura como protagonista

principal neste lado são os incontornáveis

Ultras Tito Cucchiaroni, um dos grupos

pioneiros no movimento e apontados como

os primeiros a usarem uma faixa com o nome

Ultras. Ao contrário da Fossa dei Grifoni, os

Ultras Tito mantêm-se no activo, ainda que

tenham abandonado a bancada superior que

ocuparam durante largos anos e se tenham

juntado no piso baixo ao grosso dos outros

grupos da Samp. Fedelissimi 61 é outro dos

protagonistas desta película, para além de

outros intervenientes como a Struppa 86,

Valsecca Group, Molesti ou Fieri Fossato

que fecha o leque de colectivos ainda em

actividade.

As imagens de marca das bancadas

do Luigi Ferraris em dia de dérbi são os tifos

habitualmente apresentados pelas duas

gradinatas, que rivalizam em qualidade e

se superam a cada confronto. Apesar desta

fortíssima rivalidade, nas ruas reina uma paz

relativa entre ultras dos dois clubes, com

o último confronto violento e de grandes

proporções a datar de 2007, sendo que desde

então vigora uma espécie de pacto não oficial

que tem evitado grandes “arraiais”.

Nas últimas temporadas os dois

emblemas da cidade têm vivido tempos

conturbados, como a despromoção para

a Série B do Genoa na temporada 21/22,

que deu aso a inúmeras provocações

por parte dos rivais, inclusivamente uma

marcha fúnebre. Os blucerchiati, no

entanto, provaram o sabor dum velho ditado

português que diz para “não te rires do mal

do vizinho”, sendo eles próprios relegados

para a segunda divisão na temporada 22/23,

vendo o clube envolvido numa paupérrima

situação financeira, enquanto os Rossoblú

conseguiam a promoção que os trouxe na

corrente temporada de volta à série A. Para

infortúnio de todos os que gostam de bons

espetáculos de bancada, esta temporada não

haverá Derby della Lanterna, mas ficamos a

torcer para que as duas equipas de Génova

se voltem a encontrar o mais brevemente

possível.

Por J. Sousa

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UC SAMPDORIA X SPEZIA CALCIO

Depois de em Agosto ter descoberto

uma das maiores alegrias de vida, por um

bom período de tempo, fui maturando a ideia

de fazer mais um salto a Génova. A viagem

foi fácil de marcar, como sempre, e nada fazia

antever o que se soube a 3 dias da partida:

greve geral nos aeroportos em Itália.

Há coisas que não conseguimos

explicar em Portugal, mas muito menos em

Itália. Dos 3 voos Porto - Milão do dia, apenas

voou o nosso. Abençoado Santo Protector

dos Ultras.

Chegados a Génova a meio da

tarde, dirigimo-nos para o estádio e o caos

era bem visível no trânsito em direcção ao

mesmo. Com alguma sorte, conseguimos um

excelente estacionamento e em 5 minutos

já nos encontrávamos junto dos amigos de

sempre e com as primeiras bebidas a sair.

Com a certeza de que a escolta

para os visitantes seria imensa, o movimento

era bem sereno na rua dos grupos Doriani.

A entrada fez-se com grande calmaria no

primeiro controlo. No último controlo o

aspecto dos torniquetes tem perfil securitário

máximo, mas na realidade quase nem

revistado fui. Nota para a entrada tranquila

de bebidas, uma vez que há cerveja com

álcool dentro do estádio. Outras realidades e

percepções de bom senso.

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Gradinata Sud extremamente

compacta com a “nova” disposição dos

Grupos a dar excelentes resultados,

lembrando-me dos tempos áureos com

o velhinho sistema de som e para abrir o

jogo uma grande tochada acompanhada de

milhares de bandeiras ao vento e 3 riscas “à

argentina” caídas do segundo anel.

No settore ospiti, pouco mais de

800 adeptos, fruto da restrição de venda de

bilhetes apenas a quem possuía a tessera

del tifoso, coisa a que os grupos do Spezia

aderiram, e que apenas foram colocados à

venda a 3 dias do jogo.

Nível muito alto da Gradinata Sud

durante os 90 minutos, e nem com o golo do

empate se conseguiu ouvir o sector visitante.

Cânticos sempre ritmados com tambor e

forte influência argentina, mas sempre com

um cunho italiano clássico.

O golo da vitória a faltar 10 minutos

para o fim fez disparar a adrenalina e selar a

terceira vitória consecutiva da Sampdoria a

contar para o Campeonato, e com isto mais

uma sequência brutal de cânticos até ao

último segundo.

Final do jogo e era hora de arrumar

o material. Uma saída tranquilíssima do

estádio sem sinal de qualquer confusão, num

derby que já foi de amizade/respeito e que

nos últimos 2 anos tem sido de ódio.

Tempo para comer mais uma

fatia de pizza e beber as últimas antes de

continuarmos a festa na cidade, pela noite

fora.

Por M. Bondoso

Foto: Luca Ghiglione

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CULTURA

DE ADEPTO

Por M. Bondoso

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20 Anni di Passione Recidiva

Internacional

20 Anni di passione recidiva

Autor: Friulani al Seguito

Equipa: Udinese

Ano: 2014

Páginas: 187

Preço: 25 eur

Friulani al Seguito, um grupo

bastante respeitado no panorama italiano,

sempre manteve uma estética inovadora

como matriz principal.

O livro conta os 20 anos de

actividade jogo a jogo e época a época,

passando pelos períodos maus e bons.

Pelo meio vai sendo mostrado variado

material realizado desde cachecóis, t-shirts,

DVDs, bem como outras fotos relacionadas

com a vida “FAS”.

Cada foto, sempre numerada por

época, reporta depois para a legenda do jogo

dando um bom enquadramento auxiliada

quando possível de recortes de jornais e

bilhetes dos jogos.

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Ultras Salerno - Un’altra storia

Internacional

Ultras Salerno - Un’altra storia

Autor: U. Adinolfi, D. Cioffi, M. de Fazio

Equipa: Salernitana

Ano: 2020

Páginas: 172

Preço: 15 eur

Este livro pretende dar a visão

dos três autores sobre o movimento ultras

em Salerno e, para isso, parte da premissa

clássica: a origem social do movimento

associativo do clube em 1919 ate à génese

dos primeiros grupos em 1968.

Os capítulos são dedicados aos

grupos históricos da Curva Sud: Fedelissimi,

Ultras Plaitano, Gsf, Nucleo e East Side e

Nuova Guardia.

O nascimento, actividade e o fim

dos grupos vai acompanhando o relatar

dos jogos e das épocas da Salernitana,

passando pelos valores de cada um, das suas

dificuldades e também dos seus sucessos.

Termina com uma fotogaleria

de algumas das coreografias da Curva Sud

Siberiano que fizeram história.

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20 Anni di Passione Recidiva

Ultras Salerno - Un’altra storia

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Pela Pátria dos Ultras

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É recorrente ouvirmos na gíria

desportiva que “o futebol é muito mais do

que um jogo”. A verdade é que assim o é

desde os primórdios da prática do desportorei,

seja pelo impacto social que o futebol tem

na sociedade, seja pelos costumes e tradições

que são transportados das comunidades

locais para a bancada e vice-versa, ou até

pelas histórias que correm o mundo por

boas razões. Todas estas questões são alguns

dos pilares que fazem com que exista uma

vasta “Cultura de Bancada” por esses países

fora e é exatamente essa cultura que nos

dá a vontade única de percorrer o mundo

atrás destes pequenos tesouros. Posto isto,

a região da Campânia seria o destino para

uma semana de férias em família, ainda que

o objetivo principal não fosse por motivos de

bola. Porém, uma vez em Itália, diria que é

impensável não estar atento aos pormenores

que as curvas italianas têm para oferecer e

que tanto inspiram muitas outras pelo resto

da Europa.

A primeira paragem foi em Nápoles,

que passado três meses (agosto) ainda

ostentava fortes marcas dos célebres festejos

do terceiro scudetto e que seguramente

assim permanecerá durante um bom

tempo. A ligação umbilical entre a cidade e

o clube é o que mais se destaca quando se

vagueia por Nápoles: as ruas estão repletas

de alusões ao clube, os comércios exibem

com orgulho o símbolo dos partenopei

dentro dos seus estabelecimentos e existe

a certeza de que Diego Armando Maradona

jamais será esquecido por aquelas bandas.

Diego é indiscutivelmente o maior ídolo

dos napolitanos, o que é fácil de confirmar

devido à grande quantidade de referências

ao mesmo, desde pequenas bandeiras nas

habitações a grandes murais que cobrem

a fachada dos prédios. Quanto ao “Stadio

Diego Armando Maradona” não posso tecer

uma crítica completa, uma vez que não tive a

oportunidade de vivenciar uma partida, assim

como as duas localidades que vou referenciar

de seguida. Ao visitar o exterior do estádio,

fica apenas a imaginação do que poderá ser o

ambiente em torno de um jogo, ainda que as

dezenas de graffitis e murais realizados pelos

ultras sejam meritórios de uma palavra, que

certamente estão relacionados com a forte

cultura graffiti que domina as ruas da grande

urbe napolitana. Ao analisar estas artes

facilmente se percebe que a organização das

bancadas é algo complexa. Essencialmente,


dividem-se em duas curvas principais, as

famosas “A” e “B”, compostas por inúmeros

grupos, alguns já extintos. Ainda assim,

grande parte das mensagens nas paredes,

apesar de serem de grupos distintos,

possuem o objetivo comum de conotar a

luta pela liberdade de apoiar, de realizar

transfertas e de tifar, bem como contrariar

os abusos policiais e estatais. Relativamente

à cidade, fiquei com impressões que se

enquadram com muito daquilo que idealizava

anteriormente. O quotidiano napolitano está

completamente mergulhado no caos urbano,

com muitas ruas estreitas, o trânsito caótico

e a grande quantidade quer

de motos (as clássicas vespas

e lambretas) quer de pessoas

gera ainda mais confusão. Não

obstante, a urbanização em

massa dá sempre espaço para os

pequenos pormenores do povo

local, e Nápoles é perfeito para

abdicar de algumas horas apenas

para aliciar isso mesmo.

Continuando as férias,

optamos por tirar um dia para

realizar a tão famosa viagem

pela Costa Amalfitana na qual,

na minha perspetiva, há duas

paragens obrigatórias: Cava de’

Tirreni (uma pequena cidade com

pouco mais de 50 mil habitantes

que se recusa a render à febre

napolitana que domina grande

parte das localidades da região

da Campânia) e Salerno, que

dispensa apresentações. Logo

que chegamos a Cava sentimos um choque

regional comparado a Nápoles, onde a

tranquilidade reina, um número reduzido de

veículos e pessoas circula na rua e o centro

histórico é de facto deslumbrante. Esta

paragem foi o concretizar de um pequeno

sonho, dado que já faz algum tempo que

acompanho os Ultras da Cavese e aparentava

ser mais um dos infinitos casos em que

não ia passar de uma “visita virtual”. Em

praticamente toda a sua existência, o clube

competiu nas divisões italianas inferiores,

sendo que o ponto mais alto da história

recente foi a participação por 3 vezes

consecutivas e únicas na Série B entre 1981

e 1984. O passado da atual Società Sportiva

Cavese 1919 não é constituído propriamente

por glórias e conquistas, mas sim por

inúmeras situações infelizes, desde graves

problemas financeiros que levaram à exclusão

dos campeonatos profissionais até às fusões

com outros clubes da cidade. À data a Cavese

compete na Série D, porém, a sua verdadeira

vida e encanto é fora das 4 linhas. Foi na

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Curva Sud Catello Mari (assim intitulada em

homenagem ao jogador do clube que faleceu

num acidente de viação em 2006) que o

ritmo “Dale Cavese” ganhou popularidade

e passou a estar presente nos estádios ao

redor do mundo. A Curva Sud é constituída

pelos Acid Boys, NDC (Noi di Cava), Viking,

Nucleo Mods e Ultras Cavese, na medida

em que a união de todos os grupos origina

um apoio extremamente festivo e colorido,

de tal modo que o clube ficou conhecido

mundialmente exatamente por isso, sendo

indubitavelmente um exemplo a seguir. Posto

isto, se o leitor algum dia for a Nápoles,

recomendo dar um pequeno salto a Cava de’

Tirreni, principalmente se a Cavese jogar em

casa.

Por último, a paragem em Salerno

foi bastante breve, tendo sido apenas

possível visitar a Catedral de Salerno e as

imediações do “Stadio Arechi”, este último

que fica descontextualizado com o centro

da cidade. Das três visitas às redondezas dos

estádios, o reduto da Salernitana ficou muito

aquém das expetativas, uma vez que para

além do estádio pouco ou nada havia. Porém,

o centro da cidade assemelha-se bastante a

Nápoles, onde a ligação ao clube é bastante

presente nas ruas. Não obstante, tenho a

certeza que a minha opinião mudará quando

efetivamente entrar no estádio, e que oxalá

seja brindado com um excelente tifo da Curva

Sud Siberiano, algo que são exímios a fazer.

Concluindo, é unânime para

quem pensa o futebol de forma diferente e

racional, dando o devido valor aos direitos e

liberdades, que é extremamente gratificante

e de um enriquecimento cultural único visitar

a pátria dos Ultras. Fica o mote para a difícil

tarefa de os ultras bracarenses terem a faixa

presente em Nápoles, bem como o orgulho de

o Sporting Clube de Braga ter a oportunidade

de pisar tal palco.

Por “Rooney”

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Viagem à Madeira

Após uma difícil, dura e penosa

época na distrital, o Sport Clube de Vila Real

conquistou a subida de divisão e voltou aos

nacionais, o que normalmente significa uma

ida às ilhas.

Ansiosos pela divulgação das

séries oficiais e do calendário definitivo,

somos confrontados com três idas à ilha da

Madeira. Na verdade, anteriormente já tinha

tido o privilégio de ir ver o “Bila” à Madeira,

num jogo para a Taça de Portugal contra o

União da Madeira. Contudo, foi uma viagem

marcada à última da hora, onde viajei com

a equipa e direção. Desde então, senti que

necessitava de viver uma jornada à ilha de

maneira diferente, na companhia daqueles

que, domingo após domingo, partilham a

bancada comigo.

No dia do sorteio, com as supostas

datas definitivas em mãos, adquiri a

“passagem” para dia 25 de fevereiro, data do

jogo contra o Camacha, que curiosamente

coincidia com o meu dia de aniversário.

Poderia haver forma melhor de celebrar um

aniversário do que a assistir e apoiar o Bila na

Madeira? Duvido.

Entretanto, em outubro, eu e os

meus companheiros que já tinham adquirido

passagem para 25 de fevereiro, fomos

confrontados com a alteração da data

desse jogo. Isso naturalmente deixou-nos

revoltados, mas não resignados.

Conversamos entre nós e garantimos

outra viagem, desta vez de 3 a 6 de novembro,

para o jogo contra o Marítimo “B”, juntandonos

a mais adeptos que também tinham

comprado bilhete para esse encontro. Assim,

dia 3 de novembro, em voos diferentes,

embarcamos 6 “malucos” pelo Bila rumo à

ilha.

Desportivamente, o Sport Clube de

Vila Real encontrava-se na última posição,

sem qualquer vitória. No entanto, a esperança

de uma reviravolta viajava connosco na

bagagem, e todos acreditávamos que a

primeira vitória aconteceria na Madeira.

Chegados à ilha, vivemos uma sextafeira

de copos, amizade e Bila, com uma saída

à noite na zona histórica do Funchal, regada

com muita poncha e algumas “baixas” na

noite...

O sábado, mesmo com ressaca, não

nos impediu de visitar a pitoresca cidade

de Câmara de Lobos, onde absorvemos a

verdadeira essência madeirense, partilhando

memórias do nosso clube e absorvendo a

cultura local.

No domingo, dia do jogo, chegamos

ao Campo da Imaculada Conceição, no

Funchal, onde esperávamos ser os únicos

adeptos do Bila. Para nossa agradável

surpresa, constatamos a presença de 25 a 30

vilarrealenses sediados na Madeira e pais de

atletas na bancada.

Assistimos a um bom jogo da nossa

equipa, culminando na primeira vitória e

num sentimento de dever cumprido. No final,

adeptos e jogadores celebraram numa bela

simbiose, e senti que a nossa presença foi

vital para este resultado positivo.

Destaco também a presença de

vários membros da claque do Marítimo,

os “Templários”, que nos acompanharam

durante e após o jogo. Esta conexão foi

estabelecida numa das minhas idas à

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Madeira, onde assisti ao jogo junto deles

no Caldeirão dos Barreiros, estendendo-se

depois ao resto dos adeptos de ambos os

clubes, onde partilhamos a mentalidade do

apoio incondicional ao clube da terra.

No regresso a casa, passamos a

noite no aeroporto da Madeira, numa

demonstração de companheirismo, sacrifício

e dedicação ao nosso clube, que chegou ao

ponto de dormir no chão de um aeroporto

para apoiar 90 minutos de um jogo de

futebol, do último classificado da quarta

divisão em Portugal.

Digam o que quiserem, mas para nós,

não é apenas futebol.

Viva o Bila!

Por João Matos Bessa

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