Cultura de Bancada, 22º Número
Cultura de Bancada, 21º número, lançado a 12 de fevereiro de 2024
Cultura de Bancada, 21º número, lançado a 12 de fevereiro de 2024
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editorial
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vamos vivendo,
vamos aprendendo
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HISTÓRIA DO MOVIMENTO
ORGANIZADO DE ADEPTOS
no FC Porto
ultras com história
fernando mendes
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apostas desportivas
38
à conversa com
association nationale des supporters
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memórias da bancada
56
resumo da bancada
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o pontapé que abateu
uma avioneta
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que futuro para o varzim?
82
estrela da amadora x
boavista fc
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87
90
manter 50+1
derby de évora
white angels solidários
92
derby do minho
98
102
106
rumo à vitória
cultura de adepto
a voz do leitor
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Edito
Houve um tempo em que a
chegada de um novo ano levantava a
esperança das pessoas, mas quão longe
vai esse tempo? Então, enquanto adeptos,
não dá mesmo para criar o mais pequeno
sentimento de esperança. Em substituição
aparece o da injustiça, alimentado pela
forma como somos tratados semana após
semana. É facto que o clima de censura e
violência contra os adeptos está a aumentar
e, como se já não fosse suficientemente mau,
a maioria reage assobiando para o lado. E o
que dizer das instituições e entidades com
poder que continuam a empurrar esses
acontecimentos para debaixo do tapete? Foi
assim no caso recente das agressões policiais
nas imediações do Estádio de Alvalade e é
assim na grande maioria das ocorrências
que prejudicam os adeptos. Fica a ideia de
que, quando o assunto é atacar os adeptos,
os clubes, as polícias e o governo fecham
os olhos. Quando algo se repete com muita
frequência, não é coincidência.
Por outro lado, já saiu o novo
Relatório de Análise da Violência Associada
ao Desporto. Este, sim, é um idioma que as
autoridades competentes já compreendem.
Compreendem demais, diríamos nós, uma
vez que até a venda ilícita de bilhetes se
configura como um acto de violência. E
sobre a pirotecnia? Sobre esta, temos os
dados que realmente possuem uma forte
expressão e, por sua vez, a velha promessa da
criminalização está prestes a materializar-se.
Não somos nós que dizemos, mas estamos
atentos e acreditamos que as conferências
que suportam o “cenário apocalíptico”
lançaram a segunda pedra recentemente, em
Viseu.
Resumindo, a demonstração de
força do governo não se vai centrar nos
ataques com armas brancas e de fogo
que se repetem cada vez mais nas ruas
de Portugal. Pelo contrário, os já poucos
polícias portugueses terão mais que fazer
com os adeptos que, por sua vez, serão
ainda mais perseguidos. Queremos referir
que não usamos o exemplo da criminalidade
nas ruas para desviar a atenção sobre a
questão da pirotecnia. Apenas tentamos
expor a hipocrisia política que encena uma
demonstração de força no palco mediático
que é o futebol, ao mesmo tempo que fecha
os olhos aos verdadeiros problemas com a
violência em Portugal.
Todos sabemos a força que os
Director
J. Lobo
Redacção
L. Cruz
G. Mata
J. Sousa
Design
S. Frias
M. Bondoso
Revisão
J. Rocha
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estádios têm como palco mediático e, talvez
por isso, exista uma vontade tão grande em
proibirem os adeptos de se expressarem
livremente. São múltiplos os actos de censura
a que somos sujeitos e, agora, nem os panos
com as iniciais dos nomes dos grupos podem
entrar na bancada. Quem recentemente
escolheu subir ao famoso palco mediático
e também sentiu a limitação dessa censura
foram as forças de segurança que organizaram
protestos em alguns estádios, onde se inclui o
do Portimonense e, diferentemente do que
tinha acontecido há uns anos durante uma
partida da Taça da Liga, viram o seu protesto
limitado ao cantar do hino nacional – uma
acção política. Quem sabe o que aconteceria
se fossem outros cidadãos a fazer o mesmo?
Nós sabemos e recuamos ao dia, não muito
distante da actualidade, em que no estádio do
Portimonense um grupo de professores teve
de retirar ou virar do avesso as suas t-shirts,
com frases de luta, e posteriormente foram
expulsos do estádio. Pensem o que quiserem,
mas nós estamos cansados.
Numa altura em que decorreram as
últimas etapas da edição deste ano da Taça
da Liga, não podíamos deixar de mencionar
algo em que o maior derrotado é Pedro
Proença, pois em breve saberemos em que
país se vai jogar esta espécie de competição
portuguesa. Venha de lá esse tempo, pois
acreditamos que a onda de indignação
será cada vez maior e mais rapidamente os
clubes poderão acordar, percebendo a falta
de prestígio desportivo e de respeito pelos
adeptos que a mesma transmite. A máxima
prevalece: quem nasce torto, tarde ou nunca
se endireita.
Uma palavra final para as novas
gerações de adeptos activos que, fruto dos
tempos, crescem mais individualistas em
comparação com as gerações anteriores:
nunca se esqueçam da importância das
causas, da união necessária para a realização
e da ética. Sozinho ninguém faz nada, mas
unidos e com um verdadeiro propósito,
alcançam a chave para o vosso caminho não
se resumir ao que temos e ao que somos
actualmente.
Quase que nos íamos esquecendo…
bem-vindos ao 21º número da Cultura de
Bancada! Aproveitem cada página. Se não
gostarem de ler tudo, procurem o que vos
interessa, mas, acima de tudo: interessem-se
por algo.
Convidados
Martha Gens
Fernando Mendes
ANS
Eupremio Scarpa
P. Costa
M. Soares
Tim
White Angels
Joao C.
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VAMOS VIVENDO, VAMOS APRENDENDO
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A APDA juntou-se à FSE em 2018
e foi em 2019 que o Congresso Europeu de
Adeptos teve lugar em Lisboa. Desde essa
data, o meu envolvimento em representação
da APDA se tornou cada vez mais intenso.
Em primeiro lugar, vejo com muita alegria
e satisfação ter sido eleita para fazer parte
da Direcção desta Instituição. São muitas
as vezes que sinto que todos os dias estou
a aprender para poder transportar esses
conhecimentos para o que fazemos na APDA.
Somos um país que pouco aposta
na pirâmide governativa do futebol, e em que
existem poucas oportunidades de formação
e aquisição de conhecimento e, por isso,
aproveito sempre para aprender mais e mais.
Um dos temas em que a FSE sempre se focou
(e agora de forma mais intensa depois da
assinatura do Memorando de Entendimento
com a UEFA) foram as competições da UEFA,
nas suas diferentes vertentes: bilhética (aliás,
deve-se à FSE a existência de um price cap
para as três competições), regulamentação,
sanções aplicadas pela UEFA, as alterações
aos próprios modelos das competições (a esse
propósito, a FSE foi ouvida vezes sem conta a
propósito da implementação que se chama o
“modelo suíço”), sempre numa perspetiva do
impacto de todas estas questões nos adeptos.
Para mim, este mote, tem sido incrivelmente
desafiante – na medida em que, no nosso
contexto, falamos muitas vezes sem grande
profundidade deste tema mas, na verdade, é
preciso muita informação e estudo não só das
regras da UEFA actualmente aplicáveis, mas
também conhecer o contexto próprio e único
do nosso país e quais os efeitos colaterais ou
secundários que determinadas alterações
podem surtir para nós. E para isso, foram-me
muitas vezes exigidas horas a estudar, a saber
mais, a ler, a falar com outras pessoas – para
me enriquecer e poder falar com propriedade
do “caso português”.
Apesar de tudo, nem é esse o
tópico deste artigo que vos escrevo. Além
de ter aprendido muito no que diz respeito
aos tópicos acima, decidi fazer parte, quando
a APDA se juntou à FSE, da chamada “Fan
Lawyers Network”, que não é mais que uma
rede internacional de advogados dedicados
a assuntos de adeptos, coordenada pela
FSE – uma espécie de grupo de trabalho. A
utilidade deste grupo é imensa – trocamos
experiencias, conhecemos o panorama legal
de outros países quanto às leis em vigor
(como por exemplo, como é vista legalmente
a pirotecnia de país para país).
Diversos clubes com excelentes
relações com a FSE começaram a recorrer
também à Fan Lawyers Network aquando das
suas deslocações europeias de forma a ter
contactos de advogados nos países onde o
seu clube joga fora. E para quê? Para garantir
aos seus adeptos apoio jurídico na condição
de visitantes.
E eu, parte dessa rede, ofereci-me
naturalmente para poder fazer esse trabalho.
Na verdade, acredito que um adepto, que
sente na pele todas as dificuldades quando
se desloca ao estrangeiro para ver o seu
clube, consegue entender o que fazer e
quando fazer. Também quais são as principais
preocupações. No país destino, sabe quais
são os principais obstáculos e como deve
actuar.
Os meu primeiro contacto para
trabalhar em Portugal foi do Departamento
de Adeptos do Eintracht Frankfurt, quando
jogaram com o SLB no Estádio da Luz para a
Liga Europa.
Conhecia bem a massa adepta do
Frankfurt e fiz um TPC mais aprofundado –
historial, grupos, forma de estar, ideologias.
Um clube que é conhecido pela sua massa
adepta, que invade qualquer estádio, onde
quer que que a sua equipa jogue. Nem
sempre foi assim, e esta postura vem de uma
história que se tornou nas manifestações de
bancada que hoje conhecemos dos adeptos
deste clube.
Sabia a lei, conhecia os
intervenientes. Fiz contactos prévios com
todos eles, de forma a saberem que estavam
acompanhados por advogado. Também do
lado do clube estavam plenamente cientes
da lei em vigor – o que podiam e o que não
deviam, e quais as consequências. Em todo o
caso, estaria sempre ali, lado a lado com eles,
como se um deles se tratasse.
Reunião pré jogo, cortejo (de vários
kilómetros, até ao estádio da luz), cânticos,
bandeiras e chamadas para os spotters
durante o cortejo. Sobre a comunicação,
era muita e fluída. Chegados ao estádio,
supervisão da revista e só entro quando
não houver nem um adepto na rua. Desta
primeira experiência sentei-me na bancada
central com bilhete, na medida em que foi a
primeira vez que trabalhámos e me queriam
sã e salva para o caso de ser necessária a
minha intervenção.
Correu bem. Reunião de feedback e
no dia seguinte estavam todos sãos e salvos
de volta a Frankfurt.
Sem me alongar em todos os clubes
com quem já trabalhei nas competições
europeias (alguns, apenas necessitam de
informações prévias relativamente a tópicos
específicos, como é o caso da pirotecnia
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e dispensam o acompanhamento em dia
de jogo), destaco o jogo em Guimarães do
Eintracht Frankfurt. Era definitivamente um
dos jogos mais esperados da fase de grupos,
e foi o último (o famoso e tantas vezes
derradeiro M6) – sobretudo por ambos os
lados terem consigo adeptos conhecidos
por serem particularmente míticos e com
bases muito fortes. Senti a pressão de todos
os factores de risco em causa e ia preparada
para isso mesmo.
O primeiro momento de tensão
verificou-se à entrada dos (dois) sectores
onde os adeptos do Eintracht Frankfurt
entravam – tivemos casos do fotógrafo oficial
do clube não poder entrar com a sua máquina
fotográfica, passando por casos de adeptos
com medicação e prescrição médica a serem
quase alvo de um inquérito para poderem
entrar. Houve problemas com a entrada
de megafones e um profissional do clube a
dizer que não podiam entrar com megafones
porque eram claques “não registadas”. Ao
apito inicial, todos os problemas estavam
resolvidos e não estava ninguém na rua.
Ao entrar no sector visitante (e nesse
jogo, já tinha uma credencial UEFA e já
fui também para o sector visitante – até
porque os próprios adeptos já sabiam quem
eu era e estava lá com eles), já o jogo tinha
começado no Estádio D. Afonso Henriques
– e de um lado, uma coreografia dos White
Angels acompanhada de pirotecnia (que
valeu ao VSC uma multa de 50k da UEFA) e
do meu lado - o sector visitante – cadeiras a
voar, adeptos a saltar para o piso de baixo....
Acabei de entrar e pensei “o que é que eu
perdi?”. Jogo de cintura, chamadas para o
“match commander”, pedindo que a polícia
se afastasse do cordão que já estava a ser
formado e pronto para entrar em acção. Uma
chamada telefónica que podia ter sido tirada
de um filme de acção. A polícia afastou-se e
os ânimos acalmaram.
Apito final – entre outras peripécias,
e alguns adeptos de parte a parte envolvidos
em confrontos na saída e ida para a estação
ferroviária, temos um último comboio a sair
de Guimarães às 00:20 para o Porto, onde a
maioria dos adeptos do Frankfurt ia ficar. Lá
vou eu agarrada ao telefone... “Ninguém quer
que eles percam o comboio, pois não? Então
ajudem-me e falem com a CP, por favor!”
Corrida louca em Guimarães. Um
comboio parado sempre à espera de mais um
adepto que aproveitou um café aberto para
uma ida à casa de banho ou um fino.
Todos no comboio, acenamos ao
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maquinista – pode seguir.
Por último, trago-vos ainda o último
jogo que acompanhei – Sturm Graz em
Alvalade, também a contar para a Liga Europa.
É um solo que eu conheço particularmente
bem e sei quais as vicissitudes.
Além de uma negociação de última
hora com o Metropolitano de Lisboa e o Sturm
Graz – foi possível parar o Metropolitano
de Lisboa para levar perto de 2 mil adeptos
direitinhos para a estação de Telheiras, que
dá acesso directo à Porta 1 do Estádio José de
Alvalade. Depois de uma paragem de susto na
estação do Campo Grande (estação destinada
aos adeptos da casa, onde os adeptos do
Sturm Graz não podiam sair!) e abertura de
portas, saímos em Telheiras. Cânticos audíveis
e que ecoaram até ao estádio – palmas,
tambores. Uma identidade muito forte.
O maior problema com que nos
deparámos foram equipas tanto do lado
da polícia como dos ARD bastante jovens.
Do lado dos ARD, continuam a cometer o
erro de justificar proibições com o nosso já
conhecido “não, porque não!”, o que é um
erro de escola. Paus para bandeiras, escovas
e pentes proibidos de entrar no recinto, e
uma falta de resposta em conformidade
que deixa qualquer um de cabelos em pé –
principalmente a mim.
No sector, uma fantástica
coreografia feita apenas com cachecóis,
cânticos e tambores que não pararam um
minuto – nem quando o clube estava a perder
3-0 fora.
Todo o convívio que antecede e
depois do jogo entre mim e a equipa dos
clubes... esse, só nós sabemos. Todas estas
situações de gestão de risco, ansiedade e
pressão, tornam os laços de quem ali trabalha
mais fortes. Pensamos todos da mesma
maneira, e só queremos toda a gente de volta
a casa e que levem de Portugal um dia para
contar aos filhos e netos.
Em todos os clubes com quem
trabalhei, criei uma ligação de amizade.
Todos os sorteios estamos com os olhos
postos naqueles potes mágicos – estudamos
a equação e no dia do sorteio já sabemos
todas as probabilidades. De olhos postos no
ecrã, ligados pelo chat, dizemos “Boa sorte e,
se tudo correr bem, vemo-nos em breve!”
Por Martha Gens, Presidente da Associação
Portuguesa de Defesa do Adepto
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A viagem é curta e nós temos tempo para absorver e desfrutar, algo que fazemos
quando tomamos um cálice de Vinho do Porto. Noutros tempos, podíamos ir de Matosinhos
para o Porto de elétrico, transporte que, entretanto, foi preterido. Aliás, teria outro simbolismo,
visto que, em 1895, a Rua da Restauração foi palco da primeira viagem de um carro elétrico na
Península Ibérica, substituindo os primeiros veículos de transporte colectivo de passageiros que
se moviam pela tracção animal. Mas, então, vamos de metro pelo caminho da história portuense
e portista, que se cruzam desde o século XIX até aos dias de hoje.
Continuamos a nossa leitura que nos vai fazer viajar na Antiga, Mui Nobre e Sempre
Leal, Invicta Cidade do Porto. Desde a pré-história, ainda que se tenham encontrado longe do
Centro Histórico, que há vestígios de ocupação humana no concelho. Hoje, sendo o Centro
Histórico considerado Património Cultural da Humanidade, revelador da sua importância, o castro
edificado no Morro da Penaventosa (actualmente Morro da Sé) foi o berço de toda a povoação
desta localidade, a partir dos primeiros séculos do milénio anterior ao nascimento de Cristo.
Naquele monte desenvolveu-se aquilo que viria a tornar-se cidade durante quase dois milénios,
onde autóctones, iberos, celtas e romanos deixaram o seu cunho. Os últimos empregaram uma
grande dinâmica na Ribeira, pois lá se encontrava o porto da cidade de Cale, desenvolvendo
infraestruturas importantes nessa zona. Então, o porto marítimo era conhecido em Roma por
“Portus Cale”, nome que abre um leque de derivações. Após a vitória dos visigodos sobre os
suevos em 584, o Rei Leovigildo manda cunhar uma série de moedas com a inscrição “Portocale”,
em referência à região do Porto. No século IX, dali surgiria o Condado Portucale, pertencente ao
Reino da Galiza, tendo em 1096 sido criado por Afonso VI de Castela o Condado Portucalense,
delimitado pelos rios Minho e Mondego, o qual foi doado a D. Henrique estrategicamente, devido
à presença moura na península. É em 1143 que se confirma a independência deste Condado,
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que está na origem do nosso país. Já no século XII, o couto portucalense (território da cidade do
Porto) passa por mudanças administrativas e territoriais, destacando-se a atribuição de foral a
um território administrado pelo Clero, o que contribuiu em larga medida para o aumento da sua
importância comercial e marítima, destacando-se a capacidade de trabalho daquelas gentes. De
forma a proteger as pessoas e a actividade mercantil dos oportunistas que ameaçavam chegar por
terra e mar, D. Afonso IV manda edificar aquela que ficou conhecida por “muralha fernandina”,
para a qual contribuíram as terras vizinhas da Maia, de Bouças, de Gondomar, de Melres, dos
Refojos do Ave, de Aguiar de Sousa, de Paiva e da Feira.
Nascido no Porto, o Infante D. Henrique acabaria por aproveitar os estaleiros da
localidade para preparar vários dos 200 navios da armada que fez expedição a Ceuta, no ano de
1415, na vanguarda da expansão marítima portuguesa. Desta situação nasce uma das versões
da lenda das Tripas à Moda do Porto e dos tripeiros, uma vez que se conta que, devido a esta
expedição, os portuenses teriam fornecido à armada a carne limpa, salgada e acamada, sobrando
somente as vísceras para seu governo. No entanto, a população já estaria habituada a isto, pois
como cidade portuária dedicada ao comércio marítimo com o norte europeu, teria de alimentar
os seus marinheiros com o melhor que tivessem.
É aqui que ouvimos o anúncio de que a próxima paragem é na Lapa, onde saímos.
Percorremos Cedofeita, passando pelo Piolho, e vislumbrando a Torre dos Clérigos, obra realizada
no século XVIII, numa época em que o Porto tinha uma economia mais diversificada e pujante,
fruto da exportação de imenso Vinho do Porto, da construção naval e do fabrico de cordas,
tabaco, ferragens, tanoaria e cerâmica. É encetado um conjunto de intervenções urbanísticas
relevantes na senda do desenvolvimento económico e do crescimento da população da cidade,
bem como da melhoria da qualidade de vida da população.
A primeira metade do século XIX pôs à prova o espírito de luta e resistência dos
portuenses, devendo-se inicialmente às Invasões Francesas, nas quais as tropas britânicas
desempenharam um papel importante num episódio em que a corte portuguesa se acobardou,
tornando-se dependente da Grã-Bretanha e do novo reino brasileiro, passando Portugal a ser
sua colónia. Devido a isso, em 1820, no Porto é levada a cabo a Revolução Liberal, na qual se
pretendia uma reforma que levasse à salvação da Pátria. Os tempos seguintes foram de enorme
disputa entre liberais radicais, liberais mais moderados e absolutistas, levando a uma contrarevolução
e à Guerra Civil. Esta teve no Cerco do Porto (imposto pelas tropas absolutistas, entre
julho de 1832 e agosto 1833) o seu episódio mais emblemático, tendo a entrega, bravura e
resistência dos portuenses marcado D. Pedro IV, que após a vitória sob os miguelistas doou, em
testamento, o seu coração à cidade. A sua filha, D. Maria II, viria a agradecer ao povo tripeiro,
oferecendo os símbolos do progenitor às armas da cidade e atribuindo-lhe o título de “Invicta”, a
única em Portugal. Mas os conflitos continuaram nas décadas seguintes, sobretudo entre liberais,
não permitindo ao país ter maior estabilidade política. No Porto ocorreram revoltas, entre outros
acontecimentos, que fizeram cair governos.
A comunidade inglesa ali destacada começa a introduzir uma nova dinâmica na
sociedade portuguesa através da prática desportiva. Corria o ano de 1855 quando se formou
o primeiro clube desportivo da cidade, o Oporto Cricket & Lawn Tennis Club, formado por e
concebido para ingleses. Contudo, este é fundamental para a difusão do desporto em solo
nacional, inserindo na sua actividade a Natação, o Râguebi, o Hóquei em Campo, o Atletismo e o
Futebol.
Noutro sentido, a cidade continuou a evoluir, expandindo-se a área urbana, aumentando
também o número de freguesias do concelho, por altura da chegada da industrialização, da
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melhoria e criação de infraestruturas (entre elas os caminhos de ferros, as pontes e a Estrada
da Circunvalação), e de uma crescente visibilidade, obtida através de grandes exposições e feiras
internacionais.
A elite portuense tinha uma maior proximidade aos ingleses, começando também eles
a apaixonarem-se pela bola, como aconteceu com António Nicolau d’Almeida. Este aristocrata
fundou em 1893 o Real Velo-Club do Porto e o Football Club do Porto, o primeiro dedicado ao
Ciclismo e o segundo dedicado somente ao Futebol. Vinte e dois sócios do novo clube, disputam
a sua primeira partida a 8 de outubro de 1893, no antigo hipódromo de Matosinhos. Seguiu-se
o “match” contra o Club Lisbonense, pioneiro em Portugal, no ano de 1894, o qual a Família
Real presenciou. Reza a lenda que o clube acabaria por ficar inactivo, uma vez que a esposa de
António Nicolau d’Almeida solicitou-lhe que deixasse de jogar Futebol, dada a violência imposta
em campo. Daí em diante, há um vazio futebolístico na cidade, quebrado pelo surgimento dos
The Boavista Footballers em 1903, formado por ingleses ligados à Fábrica Graham.
Ainda no século XIX, a Invicta ficou a conhecer “O Grupo do Destino”, composto de
uma rapaziada alegre, ruidosa, entusiasta e buliçosa, cuja missão era divertir-se após as horas de
trabalho. Não havia local onde bem se comesse e melhor se bebesse que O Grupo do Destino não
conhecesse! O seu presidente, José Monteiro da Costa, teve a oportunidade de visitar Espanha,
França e Inglaterra, entre 1904 e 1905, onde ficaria impressionado com o Futebol por aquelas
bandas, trazendo consigo a “febre boleira”, contagiando desde logo os seus amigos. O Grupo
do Destino organiza-se e numa reunião magna tratam da instalação do novo clube, numa altura
em que o jogo era desconhecido para a maioria dos sócios. Unanimemente decidem recuperar
o nome do clube fundado em 1893, Football Club do Porto, e “foi também escolhida a cor da
equipa, e, caso curioso, apesar da maioria dos sócios instaladores ser de republicanos - alguns
até comprometidos nas conspirações - a escolha recaiu no azul e branco, pois eram as cores
da bandeira nacional!”. Isto acontece em 1906, e instalam-se naquele que seria o Campo da
Rua Rainha, tendo o mesmo sido utilizado até 1912. Este possuía um terreno de jogo com as
medidas oficiais, uma pista de Atletismo, bufete e balneários, chegando mais tarde a receber um
“court” de Ténis, um campo de Cricket e um ginásio. Contudo, neste âmbito importa destacar
sobretudo a bancada que tinha capacidade para receber 600 adeptos, algo notável para a época.
A 01/01/1913 deu-se a inauguração do Campo da Constituição, em jogo frente ao Oporto Cricket
and Lawn-Tennis Club. Palco dos primeiros títulos portistas, tinha uma bancada de madeira ao
longo de toda a lateral esquerda do terreno, vindo a ter um belo e grande topo, conhecido por
Altar da Constituição, e um peão no lado oposto, numa altura em que os portistas já viajavam de
comboio para verem jogos fora. Entre as décadas de 20 e de 40, tem lugar na cidade a primeira
revolta em solo nacional contra a ditadura militar (1927) e o FCP deambulou entre a Constituição,
o Campo do Amial (Sport Progresso) e o Estádio do Lima (Académico F.C.), numa altura em que
o clube se afirmou como uma das principais potências portuguesas, sendo que o campo próprio
não tinha condições nem capacidade para acompanhar a evolução do clube. É por isso que em
1933, numa AG, é votada favoravelmente a proposta daquilo que viria a ser o Estádio das Antas,
inaugurado em 1952, com capacidade para acolher 44 000 adeptos.
É após o quebrar do longo jejum de êxitos desportivos, para o qual contribuíram em larga
medida os trabalhos de José Maria Pedroto como treinador e o de Pinto da Costa como director,
que no ano em que este último assume a presidência da instituição surge o primeiro grupo
organizado de apoio portista: Dragões Azuis. A base surgiu entre alunos do Colégio Universal, que
viam os jogos juntos e fizeram por aglutinar toda a gente que tinha bandeiras grandes no meio da
central que tinha a arquibancada, no decorrer de 1982. Houve então uma considerável evolução
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do espetáculo proporcionado pelos portistas com a organização dos Dragões Azuis, que fizeram
surgir nas Antas pela primeira vez elementos como cânticos organizados, bandeiras gigantes,
faixas, lençóis enormes, fumaradas feitas com extintores e pirotecnia, misturando com isto papel
higiénico e papel cortado. Tal foi possível graças à dedicação dos jovens e aos patrocínios que
angariaram, sendo disso exemplo o da Sapataria Beleza e da Revigres, bem como o apoio da
direcção do clube, clube este que viveu na década de 80 uma era dourada, com a conquista de 12
troféus, tendo os Dragões Azuis marcado forte presença nas primeiras finais europeias do clube,
disputadas em Basileia (1984) e Viena (1987).
A final da Taça das Taças de 1983/1984, frente à Juventus, trouxe a oportunidade
aos adeptos do FCP de verem de perto a performance dos Fighters, que contribuíram para o
espetáculo com um grande número de elementos munidos de bandeiras, pirotecnia e um potente
apoio vocal, e a partir daí o “bichinho” cresceu num daqueles que viria a ser fundador dos SD.
Entretanto, alguns elementos dos DA não concordavam com a influência que os patrocinadores
exerciam no grupo e saem. Os ingredientes estavam reunidos para o que se seguiu e, com uma
índole mais próxima do estilo Ultra, nascem em 1986, com um espírito mais rebelde, os Super
Dragões. Instalou-se uma nova dinâmica, uma vez que o grupo não era reconhecido pelo clube,
nem tinha apoios financeiros. A verdade é que a nova dinâmica de apoio atraiu muita gente,
estando os SD situados na bancada nevrálgica, a do famoso Tribunal, Superior Sul. Mais tarde,
os Super Dragões acabariam por se associar a um patrocinador, algo que acabou revertido, visto
que os responsáveis consideraram que esse caminho afectou negativamente a dinâmica, apesar
do crescimento numérico do grupo.
A época 91/92 trouxe consigo o aparecimento da Brigada Azul, criada por elementos
dissidentes dos SD. Apoiavam a partir da Superior Sul, permanecendo ao lado dos Super, onde
se destacaram pela elaboração de faixas, introduzindo dimensões superiores e estética cuidada,
bem como de um lençol gigante que continha o nome do grupo, aliando a isso o uso regular de
pirotecnia. O grupo pioneiro, Dragões Azuis, veria os seus últimos dias no início dos anos 90, tal
como aconteceu com a Brigada Azul em 1993/1994, época na qual os Super decidiram mudar-se
para a arquibancada, uma medida que foi tomada para afastar o pessoal que roubava e agredia
“companheiros” de bancada e que provocavam distúrbios principalmente nas deslocações, o
que manchou de certa forma a imagem do grupo. Houve quem não acompanhasse o imposto,
optando pela fundação dos Ultras Porto, que continuaram na Sul. Dada a situação, começaram
desde logo com um número considerável de integrantes, fazendo-se notar com um cachecol e
uma t-shirt próprios nos primeiros tempos, proporcionando bons momentos de apoio, entre os
quais se destacam o jogo contra o AC Milan, no qual se apresentaram com coletes azuis e brancos
com a inscrição Ultras Porto, e a deslocação em grande número a Barcelona, onde se fez uma
coreografia de cartolinas. Os Super Dragões perderam número e expressão, tendo voltado ao seu
sector original ainda antes do fim da época, voltando a juntar-se à malta que tinha ficado na Sul.
Também na época 93/94 surgiu a Legion of Dragon, na “virgem” Superior Norte. Este
foi um colectivo de adeptos independente, formado por malta oriunda de terras como Lousada
e Felgueiras, entre outras, conseguindo-se fazer notar sobretudo nos jogos grandes, mas não
conseguiam manter o mesmo nível na maioria das ocasiões. Viriam mais tarde a converter-se em
subgrupo dos Super, mantendo actividade por muitos anos.
O tal crescimento do número de entusiastas continuou a acentuar-se nos anos 90, tendo
os Super procurado uma reestruturação com a subdivisão em núcleos, o que ainda contribuiu
para a entrada de mais jovens no grupo, numa altura em que o clube estava fortíssimo e em que
pertencer a uma claque era moda. É a época do afamado “boom” do movimento ultra português,
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e a imprensa passa a aproveitar tudo de bom e de mau, destacando-se nos jornais sobretudo os
confrontos. Há o célebre Vitória SC vs FC Porto, em que ultras de ambos os clubes combatem em
pleno relvado do D. Afonso Henriques. Desse episódio resultam vários feridos, tendo a polícia
reagido tardiamente, numa tarde que o cenário se poderia ter tornado pior. Na sequência disto
são exercidas pressões para acabar com os SD, tendo o grupo optado pela auto-suspensão por
tempo indeterminado, algo que não foi aceite unanimemente e que levou a que a mudança da
liderança do grupo se viesse a consumar um pouco mais tarde.
Nessa mesma temporada, 93/94, a Superior Norte assiste ao nascimento do
Movimento Portuense, um grupo que pretendia apoiar o FCP em todas as modalidades, além
de ter a intenção de ter um raio de acção mais abrangente, procurando ser activo na vida da
própria cidade. Exemplo disso foi a presença na manifestação contra a venda do Coliseu do
Porto à Igreja Universal, em 1995. Na época seguinte o clube tem como missão reconquistar o
título nacional, algo que conseguiu, dando início à conquista do Pentacampeonato, para o qual
o Colectivo Curva Norte, fundado no verão de 95, já prestou contributo. Como o nome indica,
ficaram na mesma bancada onde estava o Movimento Portuense, e quiseram construir com um
ambiente de verdadeira união e camaradagem entre os membros de um novo grupo criado por
três dissidentes dos Super Dragões. Como referido, houve uma mudança de liderança nos SD, que
trouxe uma nova força e onde se destacam, nesse ano, as mobilizações a Paris (Supertaça contra
o Benfica) e a Génova (Taça das Taças contra a Sampdoria).
O CCN apresentou-se logo com material pintado à mão, com um cachecol e t-shirt
próprios. Cerca de um mês após a fundação, tiveram a primeira prestação num jogo oficial, numa
recepção ao Sporting, na qual, com sete membros presentes, organizaram uma cascata de 2
000 rolos de papel higiénico. O financiamento era colectado através da venda de material do
grupo, sendo os parcos recursos financeiros um entrave para a organização de deslocações, que
inicialmente eram feitas com recurso a viaturas próprias ou às camionetas organizadas pelos
Super. A primeira deslocação ao estrangeiro foi em 1995/1996, à casa do AC Milan, que contava
com um poderosíssimo sector Ultra, época essa em que pela primeira vez os ultras azuis e
brancos viajaram para a Luz em comboio especial. Por sua vez, nesses anos, os SD começam a
apostar mais na comercialização de material próprio, o que se tornou um dos principais suportes
financeiros do grupo. Entretanto, na época 1997/98, o MP cessa a sua história.
Em relação à apresentação de coreografias, os anos 90 foram de inovação, com a
introdução do plástico e das cartolinas. Os grupos reciclavam os plásticos azuis e brancos, dando
para usar o mesmo material em outras ocasiões de forma diferente. Na época 1997/98, na
recepção ao Real Madrid, o Colectivo faz-se notar com a estreia do seu primeiro lençol, onde
constava a inscrição do seu nome e o de um stand de automóveis, que patrocinou essa coreografia,
uma inovação coreográfica e uma mudança de postura em relação a patrocínios, que serviu de
exemplo para o futuro. A partir da época 98/99, o CCN redobra a sua preocupação na confecção
de material de bancada, o que certamente contribuiu para uma melhoria que se faria notar nos
tifos, começando a haver malta que se juntava regularmente para trabalhar neste âmbito. Já em
1999/2000, numa recepção ao Sporting, os Super Dragões surgem com uma tela a subir uma
estrutura que, ao que parece, continha cordas e roldanas. Possivelmente foi a primeira vez que
portistas fizeram tal coisa. Em 2000/2001 o Colectivo apresenta-se com uma nova roupagem a
partir da Supertaça, mostrando-se com uma nova faixa composta pelo novo brasão e nome do
grupo, Colectivo Ultras 95, e demais material de bancada novo. Em vias da cidade ser Capital
Europeia da Cultura, o C95 lançou ainda uma t-shirt e o seu segundo cachecol naquele início de
temporada. À mudança também se juntou o facto de aumentarem o número de coreografias e
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frases provocativas nos jogos contra os rivais, o que viria a tornar-se uma imagem de marca do
Colectivo.
As presenças dos ultras do Porto fora de portas contavam sempre com um considerável
contingente dos Super Dragões, que sempre tiveram capacidade para grandes mobilizações, como
ainda vai acontecendo, inclusive no estrangeiro. Os SD organizaram voos fretados e comboios
para Lisboa em várias ocasiões, sendo incontáveis as caravanas de autocarros que puseram nas
estradas nacionais. Como exemplo podemos falar da presença de 10 000 portistas em Alvalade,
no ano do penta.
Em 2002, enquanto o Porto não ganhava há três temporadas, houve contestação à SAD,
que durou alguns jogos. Seguiu-se a chegada de José Mourinho, treinador que levou a cabo uma
profunda reforma na equipa, guiando o clube a dois títulos europeus e dois títulos nacionais até
ao verão de 2004.
No caminho para a glória europeia, os ultras azuis e brancos iam melhorando as suas
performances coreográficas, especialmente o C95, e em ambas as finais europeias as claques
uniram esforços para realizarem coreografias memoráveis para o movimento portista. Importa
referir que, para a meia-final caseira da Taça UEFA, o Colectivo fez um lençol de 35x45m na
rua, que é para alguns portistas a sua coreografia preferida de sempre, devido ao trabalho de
qualidade superior, bem acima do nível que até ali tinham atingido. Para a final de Sevilha,
centenas de ultras trabalharam durante duas semanas, obrigando a uma logística especial.
Este período glorioso contribuiu para uma maior captação de adeptos, tendo os grupos
de apoio a oportunidade de “lapidar” mais “diamantes em bruto”, os jovens. Os SD acabaram por
aglutinar o maior número de adeptos nestes anos, aumentando exponencialmente o seu número
de efectivos.
O Estádio do Dragão é inaugurado em 2003 e o Colectivo passa para a curva sul através de
um acordo com os Super Dragões e a direcção do clube, tendo em vista a centralização e melhoria
do apoio à equipa, algo que foi desfeito na época seguinte. Não foi por falta de cooperação, uma
vez que os grupos tiveram grandes momentos de apoio vocal e realizaram novas coreografias
em conjunto no novo estádio. Contudo, o sector era pequeno para ambos os grupos e a partilha
de ingressos não foi a anteriormente acordada, numa época em que o Colectivo viveu outros
problemas internos. Cresceu a vontade de voltarem à Norte, o que aconteceu na época seguinte,
decisão que deixou a direcção do clube desagradada.
Para a final de Gelsenkirchen teve lugar uma enorme mobilização portista. Cerca de 20
000 tripeiros ajudaram a equipa a conquistar a Liga dos Campeões, sendo a coreografia SD/C95
inspirada no feito de Madjer no Prater Stadium, em 1987. Após a glória europeia a equipa sofreu
alguma instabilidade, mas os portistas viriam ser campeões intercontinentais, numa final que
teve lugar no Japão e que foi presenciada por mais de 20 ultras do Porto, apesar da distância sem
igual até à data.
A partir daqui para a frente, o Colectivo faz (possivelmente) da Norte do Dragão a
bancada de referência nacional ao nível coreográfico, uma vez que passaram a tifar com os mais
variados elementos das mais diversas formas, destacando-se pela inovação, originalidade, sentido
de oportunidade, complexidade e competência associadas a boa parte delas. Em 2004/2005
parabenizam o Benfica pelos 10 anos sem título nacional com um insuflável em forma de bolo de
aniversário. Na temporada seguinte, apesar da resistência dos responsáveis do clube à inovação,
surge um trabalho imponente e histórico ao alto: “Ultras FCPorto” acompanhado do símbolo do
grupo. Numa recepção ao Sporting, em 2006/2007, o Colectivo volta às coreografias com um
mosaico de “cartolinas” e de estandartes, escrevendo por toda a bancada “C1995”. Novamente
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frente ao Sporting, na época seguinte, pela segunda vez um trabalho amarrado em rede a subir
até à pala da bancada, onde apresentaram o seu novo brasão. Para festejarem o tri-campeonato,
em 2007/2008, um dragão a segurar o brasão nacional e o do Colectivo em tiras de plástico na
vertical, que foram pintadas individualmente, algo também bem conseguido por ocasião da meiafinal
da Liga Europa de 2010/2011. Mais tarde, em 2008/2009 contra o Benfica, desenvolveram a
imagem da cidade, sob lema evocativo de ser invicta, em estandartes com cerca de 20 metros de
largura. Numa outra recepção ao Sporting, na temporada 2009/10, fazem uma bandeirada de 5
000 peças a acompanharem um insuflável que recriava a fachada do Campo da Constituição. Para
celebrarem os 15 anos de militância, fizeram um mix de elementos, entre frase, lençol, bandeiras,
estandartes e “cartolinas”. A época 2012/2013 finalizaria com a revalidação do título e, para
ajudar à festa, o Colectivo desenvolveu duas coreografias na recepção ao Sporting, envolvendo
a confecção de 6 000 bandeiras e do maior lençol da sua história. O Porto voltaria a ser Tri em
2012/2013, tendo contribuído para isso a vitória épica sobre o Benfica aos 92’ com um golo de
Kelvin. Nesse jogo, o Colectivo daria o mote para o que viria a seguir-se, fazendo da Norte um
cenário medieval, distribuindo entre milhares de adeptos coletes e capacetes para representar
uma cruzada. Outras a proporcionar belo impacto visual foram as dos 18 anos em 13/14, “Ultras”
em 14/15 com tiras de plástico separadas, na qual não usaram qualquer gota de tinta, tal como
a realizada no jogo contra o Sporting na mesma época. Ainda em 14/15, mais uma coreografia
a destacar em partida contra o Bayern. Logo a abrir 2015/16, um dragão ao centro da Norte a
deitar fogo pelos olhos e fumo pela boca. Em 2016/17 há a destacar o trabalho a evocar o lema
da cidade num jogo frente ao Sporting, equipa contra a qual voltaram a brilhar com o mosaico “FC
Porto” na temporada seguinte, ao mesmo tempo que na Sul os SD faziam uma bela bandeirada
acompanhada de fumos. A época 2018/19 trouxe uma renovação da imagem do Colectivo, que
representou o desenho da faixa principal ao longo de toda a Norte numa partida contra o Benfica.
Desde a saída de Mourinho que a instabilidade se apoderou das prestações da equipa,
registando-se diversas mudanças de treinador nos tempos seguintes. Perante o cenário de maus
resultados, ambos os grupos chegaram várias vezes até à equipa após os jogos, sendo que a
seguir a uma partida em Vila do Conde, vão até ao Dragão esperar a equipa, apercebendo-se
de que a equipa afinal iria para o centro de estágios, local onde ultras e o treinador Co Adrianse
viriam a entrar em conflito. Na jornada seguinte dá-se um protesto conjunto e a direcção de
PdC acabaria por retirar os apoios a ambos os grupos, o que não os demoveu. Apesar de tudo, o
Porto viria a conquistar a dobradinha para regozijo dos ultras. Na época seguinte, o conflito SADultras
seria somente sanado com os SD, continuando o Colectivo na mesma situação por vontade
dos dirigentes do clube. Isto prejudicaria o C95 na presença em número e na realização de
coreografias, situação que mudaria com uma intervenção em nome do grupo numa assembleiageral,
tendo o clube imposto que só apoiaria os grupos legalizados. Assim, os grupos avançaram
para esse processo.
Para abrir a década de 2010 da melhor forma, o clube contrata André Villas-Boas para
treinador, ele que parecia ter a aura de Mourinho ao conquistar três de quatro competições,
inclusive a Liga Europa, numa final disputada em Dublin frente ao SC Braga, algo inédito para o
Futebol nacional.
Chegaria o 30º aniversário da presidência de Pinto da Costa em 2012, tendo os grupos
de apoio homenageado o mesmo com coreografias e a oferta de placas comemorativas.
Por ocasião do 120º aniversário do FCP, o Colectivo apresentou num jogo dois lençóis
evocativos em simultâneo e o clube inaugurou o seu museu, tendo anteriormente desafiado
os adeptos a participarem na composição do mesmo. O Colectivo quis dar o seu contributo,
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considerando a faixa da fundação a peça certa
para valorizar o seu próprio gesto, sendo o
museu o lugar indicado para a conservação
e memória da referida peça, entregando-a a
Pinto da Costa. Os Super Dragões também
contribuíram para o enriquecimento do
museu doando uma faixa.
Outro acontecimento relevante na
história do C95 é o lançamento do seu livro,
por altura do vigésimo sexto aniversário, em
2021, livro esse que em tanto contribuiu para
podermos concretizar este trabalho.
Em 2023, concretizou-se um
notável espetáculo pirotécnico para celebrar
o 130º aniversário do clube na Ribeira, onde
remonta a origem da cidade portuense,
protagonizado por ambos os grupos que
estão na eminência de atingir os 38 e os 29
anos de actividade em prol do FC Porto.
Por L. Cruz
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ULTRAS COM HISTÓRIA
FERNANDO MENDES
Convidamos para esta rubrica um nome
conhecido das bancadas portuguesas,
particularmente pelos Ultras: Fernando
Mendes. Um mítico adepto, um Ultra, com
uma história preenchida de acontecimentos.
Resta-nos agradecer a disponibilidade do
Fernando em responder às nossas perguntas.
Eu é que agradeço desde já. Muito obrigado,
é um prazer para mim, um privilégio
também, responder às vossas questões,
para movimentar e continuar a dar vida
ao movimento Ultra, que anda um bocado
esquecido dos nossos estádios.
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Quem é o Fernando Mendes? Como
começou a tua ligação com o Sporting e com
a Juventude Leonina?
A minha ligação com o Sporting começou
quando tinha 12 anos, quando joguei nos
iniciados e juvenis. O meu pai faleceu tinha eu
três anos e ele 33. A minha mãe era mulhera-dias,
numa família humilde que éramos e
ainda somos. Quando acabavam os jogos no
antigo Estádio de Alvalade ia para a Juventude
Leonina. Ou seja, eu começo primeiro na
Força Verde, que era patrocinada pela Sogaz
e Irmãos Faria, e participavam muitos ícones
da Juventude Leonina, como o João Pulido,
Caipira e outros tantos, mas principalmente
esses dois, e depois naturalmente trouxeramme
para a Juventude Leonina, fundada
pelos filhos do João Rocha, mas também
pela própria Margarida e o Gonçalo, o mais
novo dos irmãos Rocha. Eu entretanto acabei
por ficar a passar o meu tempo, com 12,
13, 14, 15 anos. Então, depois de me ligar
à Juventude Leonina, aos 15 anos, surgiu
um imprevisto na minha vida em que fui
expulso do ensino secundário. Entretanto
fiquei irradiado durante oito anos (ainda
existiam essas penas) e fui para França.
Fiquei lá até aos 19 anos e, quando regresso,
vou directamente para os paraquedistas, e
vi muita coisa mal na Juventude Leonina,
fugiam da claque do Benfica, por exemplo,
os Diabos Vermelhos. Na altura ainda não
havia No Name’s nem nada. Eu disse: “Não,
não se pode consentir isso”. Entrei para os
paraquedistas e disse: “Tenho de fazer aqui
uma tropa, tenho de fazer aqui uma turma,
tenho de fazer qualquer coisa”.
Antes de seres líder da Juventude Leonina,
eras responsável por um núcleo? Como
foram esses tempos antes de assumires um
papel determinante à frente da claque?
Não fui responsável pelo núcleo. Incentivei o
pessoal a fazer núcleos. Era e sou da zona da
Praça do Chile e tinha grandes amigos como
o Emanuel Lopes, conhecido por Bimbo, e
o Rui Pedro Santos que é do Cacém, que é
o Monhé. O Bimbo andava na Patrício e eu
andei na Luísa e então fizemos o “Paluí”,
que era o “Pa” da Patrício e o “Lui” da Luísa
Gusmão. Incentivava, mas não fui responsável
por um núcleo. O que aconteceu foram
situações que se estavam a passar e que não
se deviam passar. Tínhamos medo de ir à Luz
e eu dizia: “Ninguém pode ter medo, em prol
do Sporting temos de lá ir”.
Tu próprio usaste isso para catapultar outro
tipo de mentalidade na Juventude Leonina...
Exactamente. Depois, entretanto, como
entrei nos paraquedistas e estive lá dois anos,
vinha com a mentalidade de organização, de
combater, de disciplina e isto era tudo “um
Deus dará”. Disse: “Não. Temos medo de ir à
Luz, temos medo de ir às Antas, temos medo
de ir ao Bessa, de ir a Guimarães. Não, nunca,
jamais em tempo algum”.
Como vivias um derby nos teus primeiros
tempos de Juve Leo?
Vivia tal e qual como se fosse uma missão.
Ainda hoje sinto, apesar de todas as minhas
maleitas e doenças que tenho agora, estou
retirado, dizem que sou do passado, mas no
passado é que se fez a história e sempre a
combater! Comigo ninguém fica para trás!
Mas vivia com ansiedade, com vibração. Eu
posso dizer isso. Apareci no jornal “A Bola”
na altura… Uma história: quando saí dos
paraquedistas, fomos ao Estádio da Luz, onde
é hoje em dia o Parque dos Príncipes. Aquilo
eram tipo canaviais, zona de terra batida
(que é agora Telheiras), e fiz três pontos
que eram o ponto A, ponto B e ponto C. Fui
ao mercado de Arroios comprar 20 kilos de
batatas grandes para fritar e comprar 2 kilos
de cavilhas para fazer uma coisa que tinha
aprendido, que é a “guerrilha urbana”. Era
enfiar três ou quatro cavilhas em cada batata
e escavar. Tudo isto foi feito de madrugada,
no dia anterior. Escavava lá um buraco na
terra e eu dizia: “se tiver de ser, recuamos,
não fugimos deles. Está aqui isto” - isto no
ponto A. No Ponto B, fiz uns caibros de 1,5
metros numa serração. No ponto C eram uns
cocktails Molotov, os chamados explosivos
incendiários. Fui comprar limalha de ferro que
era para os explosivos incendiarem. Ou seja,
para nos protegermos. Não havia a Brigada
Anti-Crime, nem os spotters nem nada.
Éramos por nós, sozinhos, e íamos por ali. Fiz
isto antes do derby, dois ou três dias antes.
Os cocktails eram postos de madrugada para
a gasolina não evaporar e deixávamos lá.
Protegíamo-nos assim.
Nos dias de hoje, ainda se vive da mesma
maneira? O que mudou?
Não se vive como se vivia nos anos 80,
90 e entre 2000 e 2002, porque mudou
a mentalidade, mudou totalmente a
mentalidade. O Futebol tornou-se um grande
negócio e subsequentemente também as
próprias claques, os grupos organizados de
adeptos. Já não há claques, há associações.
Mudou-se totalmente o mundo Ultra,
perdeu-se a mística, a vontade, o amor
ao clube. Agora olha-se primeiro para os
euros e depois é que “vamos lá, é preciso”.
Infelizmente, vou dizer uma coisa que não
devia dizer: há poucas claques que ainda têm
essa mentalidade. O meu arqui-rival, o arquiinimigo
até à morte, tenho de os reconhecer
como tal, que são os NN, os meninos, os No
Name, que ainda têm essa mentalidade, essa
pureza. De resto, há muito show-off.
Tu achas que mesmo em termos institucionais,
havendo uma certa obrigação do próprio
governo e da polícia, isso contribuiu para a
perda da mística e de outras coisas?
É verdade que houve uma obrigação, mesmo
até política, jurídica/judicial, essas situações
todas, mas também não houve nenhum
dirigente das ditas claques que pudesse
combater, chegar lá e dizer “não” a quem de
direito. Fosse ao governo, fosse à Liga, fosse
à Federação para dizerem: “Não, isto não é
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possível”. Como esta situação do Cartão de
Adepto. Isto já foi experimentado num país
do mundo Ultra (Itália), durou cerca de dez
anos e depois viu-se que aquilo não rendeu.
Quer dizer, nós estamos a importar, estamos
a recriar uma coisa de há dez anos. Para os
próprios adeptos, o que eles vão resolver com
isso? Nada, nada! A mentalidade, acima de
tudo dos adeptos, mudou-se.
Quais as deslocações e episódios que te
marcaram mais?
Uma delas é a ida a Israel - tenho ainda aí
as fotos de Israel. Fui lá sozinho, com dez
dólares no bolso - essa história é mítica. Fui
preso por estar a dar marradinhas no muro
das lamentações, que não sabia o que era.
Ó pá, era burrinho, era novo… Foi contra o
Beitar Jerusalém. Eu vi lá os rabis todos a dar
marradinhas no muro e perguntei a um senhor
que lá estava. Eu não sei falar inglês, só falava
francês e mal, porque estive um ano e meio a
viver em Paris e ele lá me explicou: “ah e tal,
pedes um desejo, usa o papel e a caneta. Você
pede um desejo, independentemente da sua
religião e ele realiza-se” – e eu, logo, “quero
o Sporting campeão”. Dobrei o papelinho e
pus na parede! E lá comecei às marradinhas.
Ó pá, aquilo é como se tu chegasses a Fátima,
fosses um fulano qualquer e começasses
a gozar ou a rezar a gozar. E aquilo que eu
fiz foi uma ofensa para eles. Fui para um
gabinete ser interrogado, com um tradutor
da Mossad, que me perguntou: “como é
que você conhece a Galil?”. Lá expliquei,
que tinha sido paraquedista e que os
paraquedistas portugueses usavam Galil.
Depois confirmaram e lá me safei. Ainda
viram a faixa, viram que não tinha mais nada
na mochila, não tinha facas sequer. Tinha lá
uma escova e uma pasta de dentes e uma
cuequita, mais nada!
Fui ao jogo sozinho, para pôr a faixa. Para
sermos a primeira claque, que representava
uns cinco, seis, sete mil adeptos a estar lá.
Entretanto, o Cintra só me tinha pago o
bilhete de avião. Chego lá e eu pensar que
aquilo era tipo como ir a Paços de Ferreira,
em que um gajo dorme lá em qualquer
lado... No aeroporto, os gajos da Mossad
ficavam a ver os adeptos. Entretanto vi um
autocarro e percebi logo que era dos VIPS.
Via as senhoras todas arranjadas, de batom
e com os trolleys, e mais os velhotes... pela
diferença de idades, de trinta/quarenta anos,
deviam ser as acompanhantes de luxo (risos).
Lá pensei: “vou ter de me meter aqui, senão
vou pra onde?” Com dez dólares no bolso,
uma notinha que tinha lá em casa que me
deu a minha Mãe, que Deus tem... “E agora o
que é que eu faço à minha vida, com a faixa...
Ainda por cima não sei falar inglês nem o
caralho”. Lá me consegui infiltrar e pus a faixa
na bagageira do autocarro. Entretanto no
avião tinha vendido uns cachecóis, daqueles
fininhos, a dizer “Juve Leo Boys”, só que
pagaram-me em escudos. Cada um custava
mil escudos, um conto de reis. Um deles até
me pagou a mais e eu disse: “mas eu devolhe
troco, vá ter comigo a Alvalade, que
não me esqueço da sua cara. Vá ter comigo
à banca cá em baixo quando se sobe para
nossa sede. Eu estou lá e dou-lhe o troco,
que eu não me esqueço da sua cara!”. E ele:
“nada disso, tome lá para ir beber um copo”.
Lá me consegui despachar daquilo, tinha
montes de dinheiro, mas em escudos, em
contos. Continuando, lá pus o saco da faixa
na bagageira e pensei: “e agora para entrar?”
Nisto, dou a volta ao autocarro, abro a porta
do motorista e toco a buzina. Fecho a porta,
vou por trás outra vez e o motorista à nora,
a tentar saber quem é que tocou… A guia
também sai da porta e eu entro de surrinha.
Sentei-me na esperança que não reparassem
muito em mim. Imagina, tudo doutores, de
fato e gravata, unhas pintadas, batons, todas
bem, todas tias... Só pensava que iam logo
ver que eu sou da ralé, que eu não sou daqui.
Eu, de casaco de ganga, t-shirt... vão ver logo
que um gajo assim não é daqui. Tudo velhos,
um único novo, este gajo não é daqui, está
tresmalhado, estás a ver? Sabes que mais,
não se passou nada e na calada lá chego ao
hotel.
Chego lá, peço ao rapaz: “oh amigo pode-me
dar aí essa mala?” – uns com trolleys, malas
e eu com um saco, de lona, grande... E agora
para entrar? Como é que eu entro aqui no
Ritz? Com uma mala destas? Vou para onde?
Há uma velhota, uma senhora, com os seus
cinquenta e tais, toda bem arranjada, veio
com aqueles carrinhos de levar as malas, mete
lá dois ou três vestidos com aqueles sacos
para não amarrotar, todos XPTO, e eu agarro
assim numa abertura e meto a mala num
desses carrinhos! E agora? Agora tenho de ir
atrás dela, nem que lhe diga que é a minha
tia. E então lá lhe digo: “ó minha senhora, não
me leve a mal, eu perdi o meu bilhete e agora
para não dar aqui confusão, pode dizer que é
minha tia? Eu vou consigo, é só para entrar no
quarto. Eu tenho aí o meu quarto, mas tenho
de ligar para a minha esposa, para ela me dar
outra vez tudo...”. E ela: “ah, tudo bem, você
também é sportinguista, veio na viagem e
tal, foi o rapaz que me vendeu os cachecóis!
Então venha comigo!” E lá fui.
Nisto disse que ia lá abaixo ligar à minha
mulher e tal. Saí... não fui lá abaixo nada,
fui fazer tempo – subi e desci andares no
elevador! Depois voltei e disse-lhe que os
gajos não aceitavam nada que não fosse
original por causa da segurança, e pronto, não
sabia onde dormir. E ela lá me disse: “então,
mas há aí tanta cama, fica aqui, isto é uma
suite, durma aí no sofá! Eu sei quem você é,
já ouvi falar de si, lá da claque!” e ainda dormi
no Sheraton, tudo XPTO.
Acordei e siga, pequeno-almoço, comi que
nem um alarve. Fiz duas ou três sandes,
que guardei nos bolsos. Tinha dinheiro, mas
tinha de “cambiar” para dólares. Só tinha
aqueles dez e era mesmo para a cervejinha,
também já não ia gastar em comida. Fui com
a senhora como se fosse sobrinho, enquanto
que a faixa estava guardada no quarto, mas
o que ia fazer ao almoço? O que é que eu ia
dizer à senhora? Tive vergonha e disse-lhe
que ia “só ali à casa de banho”. Esperei que
eles começassem a servir... Os gajos tinham
aqueles pães israelitas, dos kebabs... comi
as minhas sandochas que tinha feito ao
pequeno-almoço, bebi água da torneira da
casa de banho... Nisto começou a circular
que andava lá o Fernando Mendes, a malta
queria ajudar e acabei por saber que estava
lá o meu tio. Nisto, eu andava a comer os
restos das outras pessoas e o meu tio vê-me
e chama-me. Lá lhe expliquei e a partir daí
fiquei sempre orientado, o meu tio pagou-me
um quarto e lá me safei. Até chegar à história
do muro das lamentações...
No jogo correu tudo tranquilo... Foi altamente,
fomos a primeira claque portuguesa a pôr
uma faixa em Israel, com UM elemento.
Esta foi das melhores deslocações e uma
das que mais me marcou, sobretudo pelas
dificuldades que passei para lá pôr a faixa da
Juventude Leonina e engrandecer o nome do
Sporting.
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Sobre as famosas invasões de campo, que
nos podes contar?
Dizem que na Europa estou considerado
como o segundo maior invasor. O primeiro
era da Roma, dos C.U.C.S., o Commando Ultra
Curva Sud, e depois fiquei eu como o segundo
com mais invasões. Era uma adrenalina que
me dava, quando se marcava um golo, ter
a satisfação tal e qual um jogador. Eu como
apoiava o Sporting, também era jogador
daquela equipa, então queria abraçá-los. Não
era para bater em ninguém, era pela alegria
e mais pela adrenalina. A minha invasão
épica foi no Estádio do Bessa, Boavista vs
Sporting. O Pedro Barbosa marca o golo
no primeiro minuto do jogo, num livre, e
estávamos ali numa de matar o borrego, pois
não ganhávamos lá há montes de anos, salvo
erro vinte e tal anos. Eu saltei do segundo
anel, por trás de uma das balizas. Venho cá
para baixo, um quarto de hora antes, desfiz
e tirei a rede, e consegui entrar. Ainda jogava
o Edmilson, que levou com as minhas botas
de biqueira de aço. Era o Schmeichel o
guarda-redes e no último minuto o Boavista
tem um livre muito perigoso. O Beto e o
Marco Aurélio contam que ele dizia-lhes
em inglês que aquela bola não podia entrar
e que tinham de estar “seven” na barreira.
Entretanto entra um gajo em tronco nú lá
dentro a vibrar, “eight” na barreira… “Pá, não
pode entrar esta bola, estamos a ganhar 1-0”.
Consegui fugir, o Edmilson dá-me a camisola,
consegui ludibriar a polícia e escondi-me
num balneário. Vim numa grande caixa
das camisolas e roupa suja dos jogadores,
meteram-me no autocarro do Sporting e saí
na área de serviço de Leiria.
No geral, como avalias o movimento Ultra
nos anos 80 e 90?
Em Portugal, acho que foi o expoente máximo
do movimento Ultra, atingiu mesmo o boom.
Até porque quase todos os clubes tinham as
suas próprias claques. Formavam-se claques
(hoje chamam-se grupos), o que dava grande
competitividade entre os próprios grupos – o
Sporting tinha a Juve Leo, depois apareceu
a Torcida Verde, no Porto os Dragões
Azuis depois os Super... o Benfica com os
Diabos e depois os NN. Isso tudo dava uma
competição entre as claques, em termos
de quem eram as melhores bandeiras, as
melhores coreografias, quem cantava mais,
quem levava mais elementos. Era benéfico
e saudável, porque se fosse só uma que
existisse... é como se costuma dizer, se só
existisse o Sporting, nós competíamos com
quem? É normal que haja um Benfica, um
Porto, Guimarães, Braga, por aí fora. Sozinho
não se consegue competir.
Hoje, tem muito a ver com a comunicação
social e com o protótipo das claques – são
vândalos, hooligans, arruaceiros, são isto
e aquilo, o que não é totalmente verdade.
Também é verdade que há violência, mas
isso há em todo o lado na sociedade. Não
são as claques que tornam a sociedade mais
violenta. E pronto, sinto uma certa tristeza e
nostalgia que hoje não seja tanto como nos
anos 80 e 90. Infelizmente o mundo ultra
está em baixo, mas é na Europa toda. Vemos
no país vizinho, aqui ao lado, em Espanha,
que está igual. A Itália, que era o expoente
máximo na altura, também já não está como
era. Hoje em dia é cada vez mais grupos e
grupinhos. Perdeu-se um bocado a mística.
O final dos anos 90 e o início dos anos
2000 foram de grande sucesso tanto para
o Sporting como para a Juve Leo. O que de
melhor guardas desse período de ouro do
teu clube e da curva sul de Alvalade?
Guardo os títulos a nível nacional, a
dobradinha. Estávamos em grande. Quer
em número de elementos, cânticos... e mais
uma vez a JL foi pioneira, quando lançámos
o nosso CD. Fomos a primeira claque a lançar
um CD oficial: “Só eu sei porque não fico em
casa”. Havia a cena dos tops e destronamos a
Shakira, estivemos seis semanas consecutivas
no top e conseguimos chegar a platina.
Foi disco de ouro e depois platina. Foi um
sucesso, foi inédito, foi um espetáculo. Toda
a gente andava com os CD’s nos carros, em
casa, nos bares...
E nos dias de hoje, como avalias?
Estamos muito em baixo, por tudo e mais
alguma coisa. Por causa de alguns acidentes
que aconteceram, por culpa nossa, por
situações em que nos pusemos a jeito… demos
muitos tiros nos pés. A comunicação social é
muito agressiva, há quatro TV’s e antes só
havia duas. Há vinte jornais, trinta Facebooks,
vinte Instagrams... é um pandemónio. A
polícia melhorou muito, agora até há uma
polícia só para as claques, os spotters. É
normal que as pessoas tenham receio de ser
prejudicadas ou de se prejudicarem nas suas
vidas particulares por causa de incidentes, é
normal.
Podíamos estar mais unidos. Devíamos
discutir problemas e soluções e hoje
ninguém quer fazer isso. Devemos ser mais
reivindicativos mesmo até no Parlamento,
como por exemplo aconteceu com o cartão
do adepto!
Como comparas a repressão policial que
existia no passado com a que vai acontecendo
no presente?
Agora está bem mais severa, eles têm muito
mais poder hoje em dia. Antigamente nós
levávamos umas chicotadas, duas ou três, e
não passava disso, e até a minha mãe, que
Deus tem, dizia: “ó filho, vens todo inchado,
mas olha, o que incha, desincha!”. Hoje em
dia é completamente diferente, é a lei da
pen, a lei da caneta, que estraga a vida às
pessoas. Miúdos, jovens que possam ter feito
disparates, levavam ali duas ou três galhetas,
se calhar até ficavam retraídos para a próxima,
só que hoje em dia não, tiram a identificação,
manda-se ao Ministério Público, daí tribunal,
e no tribunal... ficas logo com o cadastro
sujo. Queres entrar em certas profissões,
como bancário ou até uma licença de Uber?
Cadastro sujo, porque atirou um petardo.
Ao fim de tantos anos, o que significa para ti
a palavra Ultra?
Esta é muito boa, não é nada fácil responder,
mas para mim a palavra Ultra... volto ao meu
auge, aos meus tempos, os meus 18, 19, vinte
ou trinta, quarentas! Depois a partir daí a vida
e a idade não perdoam, que é mesmo assim...
é o chamado PDI! O PDI não é a puta da idade,
que eu não sou mal educado! É o problema
da idade! Já sabem, quando disserem “PDI”,
é o problema da idade! E isto para dizer o
quê... que para mim, que ainda me considero
Utra, é ser-se absorvente do que se ama!
Se eu tenho um amor pelo Sporting Clube
de Portugal, eu absorvo o Sporting Clube de
Portugal 24 horas por dia, como absorvo a
minha mulher, o meu filho, os meus amigos
mais próximos... visto a camisa de corpo e
alma. E isso para mim é Ultra, e foi por isso
que eu enveredei, foi aquilo que eu escolhi e
defendo até à morte.
Hoje, ao recordares o teu passado, o que é
que te deixa mais orgulhoso?
Olha, toda a merda que eu fiz. Tudo o que
eu fiz de bem? É supérfluo. Eu vim dos
31
32
paraquedistas e nós tínhamos um lema – o
impossível está feito, agora vai-se fazer o
possível – portanto, fazer uma bandeira, uma
coreografia é normal, agora coisas malucas,
extravagantes é que me deixam orgulhoso!
Tanto que, para mim, só me falta uma coisa.
Eu já marquei um pontapé de canto num
Portimonense x SCP, marquei um pontapé
de baliza num Moreirense x SCP, marquei
um pontapé de livre no Belenenses x SCP no
Estádio do Restelo, estive na barreira quando
saltei do segundo anel do Boavista x SCP
quando fomos campões com o Schmeichel
– pus-me na barreira, no final estávamos a
ganhar 1-0 e, a 2 minutos do fim, havia um
livre perigosíssimo para o SCP e eu lá consegui.
Só me falta mesmo marcar um penalty! Só
estou aqui à espera da autorização da minha
esposa, que ela diz que eu depois vou preso,
senão, digo: “ó Gyokeres sai daí, que eu é que
vou marcar! Sai, que eu é que vou marcar
com a minha bota de biqueira d’aço” e, se eu
falhar, vou logo dizer ao árbitro: “vai lá ver ao
VAR”. É que só me falta isso! E vai ser golo!
Se actualmente um pequeno jovem
sportinguista for ter contigo, dizendo que
pretende juntar-se a uma claque, davas-lhe
algum conselho em especial?
O meu conselho único e eterno seria: juntate
à Juventude Leonina. Tem de mudar
muita, muita coisa, mas junta-te à Juventude
Leonina.
Quais foram as tuas maiores influências no
contexto das bancadas?
A influência que tive foi a que trouxe dos
paraquedistas – a da disciplina. Se fosse para
ser respeitado tinha de me dar ao respeito
primeiro. Modéstia à parte, acho que sempre
me dei ao respeito com todos os elementos
– posso ter tido um ou outro excesso, e
desde já peço desculpa por isso a quem
esteja a ouvir ou que leia, mas sempre tentei
respeitar porque foi isso que me ensinaram
nos paraquedistas. Foi respeitar a hierarquia,
para depois poder ser respeitado. E acho que
é isso. Eu não quero que as pessoas tenham
medo de mim, quero que me respeitem.
O que significam as fanzines para ti?
Na minha altura era tudo em papel.
Significam muito mais para mim hoje que as
redes sociais, que eu não sou nada das redes
sociais, sou da velha guarda, do antigamente.
O meu filho até costuma dizer que eu sou do
tempo das cavernas e eu admito!
É fabuloso, porque eu gosto de escrita, de ler,
de escrever. No meu tempo era giro, porque
até havia situações em que eu lia e via algum
erro ortográfico e era logo: ”ó tu (não vou
dizer nomes!), então eu com a quarta classe
tirada à noite e tu com o 12º ano, como é
que é isto? Falta aqui uma cedilha e tal, o til,
depois vão gozar connosco!” ou “ó pá, a frase
está mal construída...”. Era giro. E havia mais
união entre nós, porque tínhamos de nos
juntar diariamente ou uma semana antes.
Na altura tínhamos os “tops” – “top bêbado
da excursão a Paços de Ferreira” ou só “top
bêbado” – foi o Manel, ou o Francisco ou o
Joaquim? Tínhamos o “top roubos” – quem
roubou mais. O “top bacoradas” e o pessoal
tinha de se juntar para chegar a um consenso.
“Ó pá, mas o outro roubou duas sandes”,
“mas o outro roubou três” – “pronto, então
foi o Manel Joaquim que ganhou, mete aí!”.
E repara que ainda sou do tempo em que as
fanzines eram a preto e branco! As fanzines
para mim são tudo, mesmo tudo, o que diz
respeito a informação interna da claque. Hoje
em dia há redes sociais - eu compreendo, que
também não sou assim tão das cavernas!
- mas há mais mexericos que o resto. E nas
fanzines o que estava escrito, estava, não
podias dizer: “ah, eu não disse e tal”. Nas
redes sociais é só intrigas e invejas, depois as
pessoas chibam-se... e a JL foi pioneira… tudo
bem, havia a Supertifo em Itália, mas tivemos
esta ideia e era fabuloso.
Eu acho que se deviam fazer fanzines, claro, e
em papel – a malta tem guita para gastar em
droga e em cerveja e não dá cinco euros para
uma fanzine? Não pode ser. Este trabalho tem
de continuar.
Uma mensagem para os nossos leitores, a
pensar no futuro do movimento.
Que nunca abandonem o apoio aos vossos
clubes e que nas chamadas claques, nos
chamados G.O.A., que eu não gosto dessa
sigla, seja sempre a combater, sempre a
lutarem, sempre a apoiarem, e não deixem
morrer o nome “Ultra” em Portugal, porque
é das melhores coisas que ainda temos no
nosso país. Bem-haja, obrigado. Felicidades
para vocês.
Nota final da redacção: Esta entrevista foi
realizada e conduzida numa conversa que
tivemos com o Fernando num momento em
que se encontrava privado da sua liberdade.
Agradecemos ter-nos aberto a porta e a
vontade de partilhar as suas histórias que
enriquecem o movimento das bancadas.
Tentamos transcrever a entrevista da forma
mais genuína possível.
Da parte de toda a equipa da Cultura de
Bancada, enviamos uma palavra de força ao
Fernando Mendes.
33
APOSTAS DESPORTIVAS
34
Nos tempos que correm é
praticamente impossível dissociar o futebol
profissional do fenómeno das apostas
desportivas. Assistir a um jogo, seja in loco
ou pela televisão, é ter a garantia de que
vamos ser bombardeados com publicidade
a estes sites e casas de apostas. Este hábito
entrou pela vida quotidiana de boa parte
dos portugueses adentro e domina tantas e
tantas conversas sob o pretexto da “aposta
que bateu” ou do interminável azar que
não nos abandona. Para compreender a
abrangência e a antiguidade deste fascínio,
temos de recuar no tempo e observar a
forma como os jogos de azar se “infiltraram”
no ADN humano.
Os registos historiográficos da
prática do jogo remontam há milhares de
anos atrás e há inegáveis evidências dessa
realidade em civilizações antiquíssimas,
tais como a suméria, a egípcia e a romana.
Em Portugal, e olhando directamente para
o século XX, percebemos que os jogos
de fortuna ou azar foram legalizados e
regulamentados pelo estado a partir de
1927, tendo a legislação que data desse ano
colocado fim a uma proibição que vigorava
desde os finais do século XIX. O estado, que
ficou com o monopólio da exploração desta
actividade, reconhecia desta forma que “o
jogo era um facto contra o qual nada podiam
já as disposições repressivas”. Avançando
umas décadas, até ao ano de 1961,
observamos a criação do primeiro jogo de
apostas desportivas de dimensão nacional,
o célebre Totobola, que ainda hoje continua
activo e é propriedade dos Jogos Santa
Casa, empresa gerida pela Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa e que deteve, durante
muito tempo, a concessão do monopólio do
jogo em Portugal.
É já na primeira década do século
XXI que surgem as primeiras hostilidades
entre os Jogos Santa Casa e os emergentes
sites de apostas desportivas, que começavam
a florescer no contexto internacional. Na
temporada 2006/2007, o SC Braga assinou
com o site de apostas Sportingbet um acordo
para esta empresa ser o principal patrocinador
das camisolas do clube. Este acordo viria a ser
contestado em tribunal pela Santa Casa de
Lisboa, contestação que teve provimento e o
clube minhoto alinharia o resto da temporada
com um rectângulo azul na parte dianteira das
camisolas de jogo, como forma de contestar
a decisão e de dar algum mediatismo ao
assunto. Esta situação não foi caso único e,
inclusivamente, a Liga de Clubes foi obrigada
a remover todas as referências que tinha ao
seu principal patrocinador, que era à época,
tal como hoje, um site de apostas.
Esta conflitualidade, bem como
o vazio legal que constava da legislação de
1989 que tutelava o sector, acabaria por levar
o assunto a debate no Parlamento, que viria
a promulgar o decreto-lei nº 66/2015, que
seria publicado em Diário da República em
Abril de 2015, e viria desta forma regular
esta actividade que estava a crescer no nosso
país. Desde então o volume deste negócio
não parou de crescer, tal como os malefícios
a ele associados. Numa sociedade pouco
letrada, em que muitos indivíduos e famílias
têm necessidade de encontrar rendimentos
extra, o vício do jogo acaba por encontrar
um terreno fértil para prosperar. Com o
aparecimento de concorrência nesta que
tinha sido até aqui uma coutada gerida a belo
prazer pelos Jogos Santa Casa, esta entidade
para responder à “adversidade” haveria de
lançar o “Placard”, que basicamente funciona
como um site de apostas online, mas sem
necessidade de recurso a equipamentos
digitais, o que permite entranhar-se entre os
públicos mais débeis e permeáveis aos riscos
associados aos jogos de azar.
Para perceber a dimensão dos
riscos associados a esta actividade, basta
analisar os dados sobre a incidência da
mesma em Portugal, e um estudo intitulado
“Scratching the surface of a neglected threat:
huge growth of instant lottery in Portugal”,
de 2020, mostra que, só em raspadinhas, se
gastam mais de 4 milhões de euros por dia no
nosso país, o que corresponde a uma média
de 160 euros gastos por cidadão em cada
ano.
Vários especialistas na matéria
alertam para os riscos que a publicidade a
casas de apostas online representa. Assunção
Neto, do Grupo de Atuação em Psicologia &
Performance, afirma que “quando vamos
ver um evento desportivo, a excitação e a
antecipação do bem-estar estão presentes
durante aquele evento, e isso coloca o
nosso cérebro muito iluminado em termos
de sensação do prazer”. Isto faz com que os
adeptos ou espectadores de espetáculos
desportivos estejam mais vulneráveis e
suscetíveis à publicidade com que se deparam
nesses momentos, e essa situação agrava-se
nas camadas mais desfavorecidas, que são
quem mais joga.
Em resposta a este flagelo que
não conhece fronteiras, várias são as ligas
europeias que estão a tentar controlar
o fenómeno, com especial ênfase para
as ligas espanhola e italiana, que pura e
simplesmente proibiram os patrocínios a
estas entidades, proibição essa que será
parcialmente acompanhada pela Premier
League, que a partir da temporada 2026/2027
decretará a impossibilidade de existirem
equipas nesta competição a ceder o espaço
frontal das camisolas para patrocínio a estes
sites. Já a liga portuguesa parece estar em
sentido contrário, liderando a percentagem
de patrocínios por parte das casas de apostas
nos 10 países com maior coeficiente da
UEFA. É sabido que 16 das 18 equipas que
integram a primeira liga têm algum género
de patrocínios destas empresas, para além
35
da própria liga, cujo naming foi cedido a
uma casa de apostas, e inclusivamente a
Federação é também patrocinada pelos Jogos
Santa Casa.
No meio deste lamaçal que é a
corrida sem fim pela insaciável necessidade
de fazer as receitas crescerem surgem alguns
casos louváveis, de que é exemplo o Luton
Town, recém-promovido à Premier League
e cujo presidente, Gary Sweet, reafirma que
não aceitará nenhum contrato com estas
empresas, ainda que isso o impeça de fazer
um importante encaixe financeiro de vários
milhões de euros.
Para além da dependência que
gera em milhões de pessoas, esta actividade
acarreta um outro risco substancial que é a
proliferação de bandos criminosos que se
dedicam a viciar resultados de jogos para
lucrarem com as apostas. Suspeitas relativas
a acontecimentos deste género não são
novidade e a prova disso é o célebre escândalo
36
“Totonero”, que rebentou na década de 80
em Itália, e em que jogadores apostavam
em lotarias clandestinas nos resultados dos
jogos das equipas que representavam. Desde
aí que se foram sucedendo os casos, e a
dimensão que estes bandos atingem é de tal
forma assustadora que, em 2013, a Europol
desmantelou uma rede que viciou mais de
650 jogos, durante quatro anos, disputados
em cinco continentes.
Os baixos salários praticados pelas
equipas de menor dimensão e as que militam
na divisão secundária, associados muitas
vezes à existência de ordenados em atraso,
tornam Portugal um alvo fácil para estas redes.
A Operação “Jogo Duplo” veio deixar isso bem
patente, e expôs a existência de viciação de
resultados em jogos do Oriental e Oliveirense.
Outro caso igualmente dramático aconteceu
no Atlético CP, cuja SAD foi adquirida por
Eric Mao, que é acusado de ser líder de uma
rede de adulteração de resultados localizada
em Singapura e de contratar jogadores que
estão também referenciados por estarem
envolvidos em situações deste género.
Depois de envolver o clube numa série de
situações pouco abonatórias, Mao viria a
desaparecer de cena, deixando o emblema
lisboeta completamente destruído.
A verdade é que o fenómeno não
é novo, mas tem crescido exponencialmente
na última década, até porque a variedade de
apostas que é possível fazer cresceu também.
Se antigamente era apenas possível apostar
no resultado do jogo ou então na conjugação
de resultados da jornada, hoje pode-se
apostar no número de golos, de cantos, ou até
que vai ser exibido um cartão a determinado
jogador, o que permite que seja muito mais
fácil manietar as circunstâncias para que a
aposta seja bem-sucedida.
Combater todo este negócio, legal e
ilegal, não será certamente tarefa fácil para as
autoridades, que estão elas próprias também
reféns de lóbis. Proibir pura e simplesmente a
actividade trará, como já ficou demonstrado
no passado, resultados pouco eficazes e quiçá
até contraproducentes. Creio que a opção
deverá ser apertar a malha, canalizando mais
recursos para vigiar esta actividade, enquanto
se proíbe a publicidade da mesma. Esta
problemática é mais uma das que florescem
nesta era de financeirização do futebol,
em que tudo é subvertido pelo novo deus
da sociedade, o dinheiro, e que mais não
serve do que para enriquecer uns poucos,
depauperando ainda mais a generalidade da
população.
Por J. Sousa
37
À CONVERSA COM
ASSOCIATION NATIONALE DES SUPPORTERS
38
Temos a honrar de conversar com
elementos da Association Nationale des
Supporters, agremiação de e para adeptos
franceses, dando continuidade à procura de
informações sobre o que se vai fazendo no
estrangeiro neste âmbito.
Quando e como é que foi criada a vossa
associação? E quais têm sido as principais
preocupações dos adeptos franceses nos
últimos anos?
Olá, ora essa! A ANS foi criada em 2014. A
sua origem deve-se ao colectivo SOS-Ligue
2, uma coligação de adeptos que se opôs à
marcação de partidas para as sexta-feiras,
nomeadamente em horários como o das
18:45h, devido aos interesses televisivos
(mais propriamente da Bein Sport). Depois
desta questão ficar mais ou menos resolvida,
o colectivo foi reunindo para discutir uma
série de problemas de um ponto de vista
mais institucional. De facto, os problemas
não residiam nem afectavam apenas a
Ligue 2, estendiam-se a todos os clubes,
nomeadamente da Ligue 1. Neste seguimento,
houve algumas reuniões com outros grupos
de adeptos da Ligue 1, incluindo a Association
de Defense et d’Assistance Juridique des
Interets des Supporters (ADAJIS), uma
associação que apoiava a defesa legal dos
adeptos do PSG em conflito com a sua própria
direcção. Depois disto, existiu uma reunião
geral e foi aí que se fundou a ANS.
As principais preocupações dos adeptos
franceses, nos últimos anos, têm sido a
liberdade de circulação e as sanções colectivas.
Por exemplo, o número de proibições sobre
deslocações aumentou bastante nos últimos
dez anos. No que diz respeito às sanções
colectivas, estamos a falar de decisões de
encerramento de bancadas ou de alguns
sectores e de jogos interditos, na sequência
de decisões do comité disciplinar da Ligue de
Football Professionnelle (LFP) para punir, na
sua maioria, a utilização de pirotecnia. Estas
duas preocupações são as mais recorrentes
no panorama actual francês. Há ainda várias
outras questões que preocupam alguns
clubes, como as bancadas safe-standing e a
calendarização dos jogos (sobretudo para os
clubes da 2ª e 3ª divisão).
E como é que a ANS tem reagido a essas
preocupações e que estratégias têm utilizado
no vosso programa?
A ANS tem vindo a utilizar diferentes
estratégias para fazer face a todos estes
problemas. Por exemplo, para denunciarmos
as sanções colectivas, acabámos por organizar
algumas “jornadas de acção” nas quais foram
afixadas faixas/frases contra essas mesmas
sanções em boa parte dos estádios franceses.
Na mesma onda, produzimos alguns
comunicados de imprensa e procurámos
sensibilizar a opinião pública. Além disto,
a ANS é membro da Instance Nationale
du Supportérisme, uma organização que
constitui um fórum de discussão com os
poderes públicos, a Liga francesa, os clubes
e diferentes investigadores (entre os quais
sociólogos) sobre as diversas reivindicações
dos adeptos. Trata-se, no fundo, de um
trabalho meticuloso e demorado em torno da
defesa dos interesses dos adeptos.
Pode explicar como começou e está a ser
equipamento de proteção e um número
limitado de dispositivos pirotécnicos. No
entanto, as regras relaxaram com o tempo e,
desenvolvido o projecto para o regresso da
pirotecnia aos estádios?
O projecto de experimentação em torno
da pirotecnia nos estádios começou na
temporada de 2021/2022, no âmbito do
trabalho realizado com a Instance Nationale
du Supportérisme (INS). Esta organização
extraparlamentar, criada a partir da lei
de 10 de maio de 2016, cujo objectivo é
reforçar o diálogo com os adeptos franceses
e ser instituição-baluarte no combate ao
hooliganismo, é composta por representantes
dos ministérios do desporto e do interior,
a liga francesa de clubes, associações de
adeptos e alguns académicos/investigadores.
Voltando à pergunta, o objetivo era iniciar
um processo para “legalizar a pirotecnia”. Na
prática, um clube poderia solicitar permissão
à prefeitura/município para organizar um
“espetáculo pirotécnico” nas bancadas.
Inicialmente, as regras eram rigorosas:
formação de utilizadores de pirotecnia
por um pirotécnico especializado, uso de
na prática, nem todas as obrigações iniciais
são hoje necessárias. Já depois de dois anos
de experimentação, é para nós evidente
que a pirotecnia não é perigosa e há uma
necessidade de fazer evoluir a legislação nesse
sentido. No entanto, surge uma contradição,
uma vez que a polícia pune mais severamente
a “pirotecnia ilegal”, apesar de ser igualmente
perigosa à “pirotecnia experimental”, sem
aprovação oficial da prefeitura/município.
Surge, então, uma questão “filosófica”: deve
um adepto concordar em cumprir regras para
poder usar pirotecnia sem risco de acusação?
E quanto à subversão do uso da pirotecnia?
Ainda não temos grandes respostas, mas
estamos todos a trabalhar nesse sentido.
Calculamos que muito do vosso trabalho
procure envolver as instâncias governativas.
A ANS sente-se escutada pelos responsáveis
políticos franceses?
Bom, a resposta tem variado consoante
os ministros e os deputados envolvidos.
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Alguns políticos estão-se nas tintas para
nós, enquanto outros fazem o esforço para
nos ouvir. Por exemplo, em 2022, no âmbito
de um projecto de lei referente aos Jogos
Olímpicos de 2024, alguns artigos legislativos
em discussão preocuparam vários adeptos.
Conseguimos ser ouvidos e apresentar, neste
seguimento, as dúvidas e preocupações dos
adeptos, assim como sugerimos alterações a
serem feitas ao documento.
E como é que os adeptos, em geral, têm
respondido à vossa intervenção? E, caso
tivessem esse poder mágico, o que gostariam
de mudar na cultura dos adeptos, neste caso
no vosso contexto?
Os adeptos franceses envolvidos nas suas
associações de adeptos locais ou em grupos
organizados têm tido uma opinião muito
positiva sobre o trabalho da ANS, ainda que
procuremos defender todos os adeptos
do mundo do futebol e não apenas em
exclusivo aqueles que mais se organizam
em associações ou similares. No entanto,
devemos admitir que a ANS continua a ser um
pouco desconhecida do grande público, isto
é, do “adepto comum”. Seria óptimo que mais
adeptos se envolvessem na defesa dos seus
direitos e da própria sobrevivência do futebol
em geral. Assim, alertamos, por exemplo,
que os desenvolvimentos recentes da
indústria do futebol (como o caso da criação
da “Superliga” europeia ou as questões que
se levantam quando vemos mais clubes a
optar pela solução da “multipropriedade”)
deveriam suscitar em todos o desejo de
40
procurar saber como é que nós, os adeptos,
poderemos proteger este nosso desporto e
bloquear o avanço do “futebol-negócio”.
Olhando para o nosso país: o que é têm
ouvido sobre os adeptos portugueses e
sobre o trabalho da Associação Portuguesa
de Defesa do Adepto (APDA)?
Seguimos atentamente a vossa luta contra
o “Cartão do Adepto”. Este é um tema que
iremos continuar a acompanhar aqui em
França, uma vez que tememos que tentem
estabelecer esse dispositivo também aqui.
Além disso, mais recentemente, a vossa
mobilização geral para boicotar o Mundial no
Qatar marcou-nos, pois fazia parte de uma
abordagem colectiva de adeptos em toda
a Europa contra esse evento-desastre. Essa
união é positiva.
Acreditam que as fanzines têm um papel a
desempenhar em tudo isto?
As fanzines, como qualquer meio de
comunicação, podem ajudar a divulgar
informações e a sensibilizar. Em França, a
ANS já se expressou várias vezes na fanzine
francesa “Gazzeta Ultra”. No entanto, as
fanzines são geralmente lidas por um público
já consciente dos problemas enfrentados
pelos adeptos, o que traz outras questões.
Porém, são claramente uma ferramenta real
para informar/sensibilizar os adeptos sobre a
evolução das questões que os afetam.
Gostariam de deixar uma mensagem final
para os nossos leitores?
Gostaria de agradecer à Cultura de Bancada
pelo convite para esta entrevista. Esta troca
foi muito enriquecedora. Desejo uma luta
vitoriosa para todos os adeptos que estão
a enfrentar diferentes problemas (ao nível
dos horários dos jogos, repressão policial,
aumento dos preços dos bilhetes, restrições
nas bancadas). Lembrem-se: O FUTEBOL
SEM ADEPTOS NÃO É NADA E NÓS SOMOS
também O FUTEBOL!
Obrigado pelas respostas e pelo vosso tempo!
Força para todo o vosso trabalho futuro! Até
breve!
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MEMÓRIAS Da BANCADA
GRUPOS REFERÊNCIA (PARTE UM)
FOTOS CEDIDAS POR J.CAMPOS (@PHOTOTIFO)
Fossa dei Grifoni
Genoa x Padova
1988/1989
Fossa dei Grifoni
Monza x Genoa
1989/1990
42
Ultras Tito
Sampdoria x Genoa
1993/1994
Ultras Tito
Fiorentina x Sampdoria
1996/1997
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Irriducibili
Roma x Lazio
1999/2000
44
CUCS
Roma x Lazio
1995/1996
Fedayn e CUCS
Udinese x Roma
1997/1998
Eagles
Fiorentina x Lazio
1991/1992
45
Viking
Bari x Lazio
1995/1996
CUCS
Roma x Inter
1990/1991
46
Ultra’ Lecce
Bari x Lecce
1996/1997
Brigate Gialloblu
Modena x Cosenza
1992/1993
47
WUP
Palermo x Salernitana
1995/1996
Brigate Rosanero
Palermo x Nocerina
1998/1999
48
Boys
Milan x Parma
1990/1991
Boys
Atalanta x Parma
1991/1992
49
Fossa, BRN e Commandos
Milan x Inter
1991/1992
Fossa, BRN e Commandos
Bari x Milan
1995/1996
50
Fossa, BRN e Commandos
Milan
Brigate Gialloblu
Verona x Milan
1984/85
51
Brigate Gialloblu
Verona x Udinese
1990/1991
Brigate Gialloblu
Salernitana x Verona
1990/1991
52
Granata South Force
Salernitana x Lucchese
1996/1997
Granata South Force
Juventus x Salernitana
1998/1999
53
Mastiffs
Verona x Napoli
1996/1997
Fedayn
Juventus x Napoli
1997/1998
54
Vigilantes
Inter x Vicenza
1995/1996
Vigilantes
Juventus x Vicenza
1997/1998
55
Última parte de 2023 e primeira de 2024, o que, no plano desportivo, representa estarmos na
metade da temporada. Entra-se numa fase crucial da época, não faltando o que ver em mais
um Resumo da Bancada, desde a última jornada da fase de grupos das competições europeias,
passando por clássicos do futebol nacional, divisões inferiores e até modalidades.
Varzim SC x AD Fafe | 03-12-2023
Encontro entre duas das equipas com massas
adeptas mais fervorosas do terceiro escalão
nacional. Duas madrugadas antes do jogo,
o estádio e os autocarros do Fafe foram
vandalizados com inscrições alusivas ao
Varzim, o que poderia até apimentar o que
viria a acontecer.
Chegado o momento da partida, que ocorreu
numa tarde fria na Póvoa, não houve registo
de incidentes nem de rivalidades acrescidas
pelas tais ocorrências em Fafe. Houve,
sim, um bom apoio de parte a parte, digno
da qualidade a que ambos os lados já nos
habituaram. No final, os “justiceiros” foram
os mais felizes, conseguindo uma importante
vitória, pela margem mínima, neste embate
entre dois adversários com aspirações a uma
boa classificação na sua série da Liga 3.
SC Vianense x Lusitânia de Lourosa FC | 03-
12-2023
O Vianense conseguiu a promoção, nesta
última época, do Campeonato de Portugal
para a Liga 3, mas só à 12.ª jornada da
competição teve oportunidade de estrear
o seu estádio, devido ao decorrer das
remodelações necessárias para cumprir os
regulamentos que a Federação exige. A Raça
Azul, grupo do emblema de Viana do Castelo,
fez questão de realizar uma coreografia,
56
assinalando o momento e homenageando os
125 anos do clube, através de uma mensagem
que referia “A nossa casa, o nosso forte”,
acompanhada com os símbolos do Vianense
e da cidade.
FC Vizela x SC Braga | 08-12-2023
O estádio não esteve cheio, mas registou-
-se um bom ambiente, com quase quatro
milhares de adeptos presentes em Vizela,
neste duelo entre minhotos. Bom apoio de
parte a parte, como seria de esperar, com
a Força Azul a entoar os cânticos da casa e
com as várias centenas de braguistas que
lotavam o sector visitante a incentivarem os
forasteiros e a saírem mais felizes, depois de
uma vitória por 1-3.
SL Benfica x SC Farense | 08-12-20232
Perto de 57 mil adeptos estiveram presentes,
sendo que, entre eles, houve o registo de
várias centenas de farenses que fizeram
uma excelente mobilização até Lisboa. Não
se ficaram apenas pelo número, dando um
bom recital no sector visitante, fazendo-se
inclusivamente ouvir durante várias vezes
ao longo da partida. O apoio não foi em
vão, tendo sido brindados com um empate
a uma bola, que valeu enormes festejos no
final entre eles próprios e a sua equipa. Por
outro lado, houve muita contestação do
lado encarnado, tanto ao longo do encontro
como no final, chegando mesmo a haver uma
tentativa de invasão à garagem do recinto.
SC Braga x SL Benfica | 09-12-2023
Cerca de 1.400 adeptos preencheram as
bancadas da Arena do SC Braga neste jogo
grande do futsal português, criando um
excelente ambiente, como já vem sendo
apanágio em Braga, principalmente neste
tipo de partidas da modalidade em questão.
No final, o Braga venceu por 5-2, valendo
uma enorme festa no pavilhão.
57
Vitória SC x Sporting CP | 09-12-2023
Cerca de 20 mil pessoas marcaram presença
numa partida notável, tanto dentro como
fora do relvado, em que não faltou apoio,
pirotecnia, brilho e muita emoção. Os grupos
vitorianos fizeram questão de dar uma boa
entrada, com os White Angels a registarem
(mais uma) excelente tochada e os Insane
e o Grupo 1922 a embelezarem a sua zona,
na bancada nascente, com muitas bandeiras
pretas e brancas e também, algumas
tochas. A noite acabou feliz para eles,
pois, entre golos marcados e sofridos com
reviravolta pelo meio, a sua equipa venceu
por 3-2, registando-se momentos de grande
ambiente.
Do lado sportinguista, nota também para um
forte incentivo, fazendo-se ouvir por diversas
ocasiões, e também para pirotecnia aberta.
Red Bull Salzburg x SL Benfica | 12-12-2023
O Benfica, pela segunda vez nesta fase de
grupos da Liga dos Campeões, estava proibido
de levar adeptos a um jogo fora. Ainda assim,
o sector visitante não estava vazio e isto, só
por si, já é mais do que motivo de destaque.
Vários benfiquistas “furaram” a proibição da
UEFA, havendo presença também de material
dos Diabos Vermelhos. Para além desta
acção, nota para os momentos de felicidade
final com a sua equipa, após uma vitória
por 1-3, em que o último golo, nos instantes
finais, permitiu a ida dos encarnados para a
Liga Europa, evitando a eliminação precoce
nas competições europeias.
58
SSC Napoli x SC Braga | 12-12-2023
Nesta última jornada da fase de grupos da
Liga dos Campeões, o emblema bracarense
necessitava de vencer por duas bolas no mítico
San Paolo (agora denominado oficialmente
de Estádio Diego Armando Maradona) para
conseguir a passagem aos oitavos-de-final da
competição, o que se avizinhava uma tarefa
bastante complicada. Ainda assim, houve
uma boa presença braguista em Nápoles,
com destaque naturalmente para as várias
dezenas de elementos levados pela Bracara
Legion e pelos Red Boys, que ainda se fizeram
notar com uma pequena tochada.
Com quase 38 mil pessoas presentes no
recinto e com o tradicional grande ambiente
que lá existe, o Braga saiu derrotado por 2-0,
mas a sua participação europeia vai continuar
na Liga Europa. No final, houve os tradicionais
agradecimentos entre equipa e público
arsenalista.
FC Porto x FK Shakhtar | 13-12-2023
Dragão com cerca de 48 mil presentes
neste encontro decisivo para a continuação
na prova, sendo que apenas bastava um
empate aos azuis e brancos para confirmar a
passagem aos “oitavos”. As equipas entraram
em campo, enquanto era exibida uma
coreografia em praticamente todo o estádio,
formada essencialmente por um mosaico
com as riscas das cores do clube.
Foi uma partida animada, que terminou
favoravelmente ao conjunto portista com
uma vitória por 5-3, em que estiveram a maior
parte do tempo em vantagem no marcador, o
que permitiu um melhor ambiente no recinto.
HC Liceo x OC Barcelos | 14-12-2023
Nota para a presença do grupo Kaos
Barcelense na Corunha, numa demonstração
de fidelidade à sua equipa de hóquei em
patins da cidade barcelense. Estiveram lá,
apoiaram e são o grande destaque da Liga dos
Campeões da modalidade em questão.
Sporting CP x SK Sturm Graz | 14-12-2023
Última partida da fase de grupos da Liga
Europa, com a particularidade de a formação
verde e branca já ter o seu lugar definido,
pois, independentemente do resultado, ia
ficar em segundo lugar e disputar o playoff
de acesso aos oitavos-de-final da prova.
Não foi, portanto, de estranhar que fosse o
embate em Alvalade nesta competição com
menor assistência até agora, com menos de
25 mil presentes, sendo que quatro milhares
eram austríacos. Por falar nestes últimos,
59
60
que ficaram no centro da bancada superior
norte (uma novidade para adeptos visitantes
naquele estádio), os mesmos contribuíram
para o cenário fora das quatro linhas com
um bom poder vocal e também uma boa
cachecolada naquela zona, ao estilo do que
têm feito noutros jogos europeus fora de
casa, em que nunca deixam um espectáculo
material por se ver no início da partida. A
acompanhar os ultras do Sturm estavam os
seus amigos italianos do Pisa e Carrarese, e
os alemães do Karlsruher.
Relativamente ao que se passou dentro das
quatro linhas, apesar do Sporting ter rodado
a sua equipa, venceu confortavelmente por
3-0, fazendo com que os grupos da casa
dessem um bom apoio, ao típico estilo de
um encontro sem grande história em campo,
mas com boa animação fora dele. Houve,
novamente, registo de pirotecnia por parte
da Juventude Leonina. Já na parte final,
nota para o facto de servir mais como um
pré-clássico pois, dias depois, o Sporting iria
receber o Porto.
Ainda quanto aos austríacos, serviu de
consolação o facto do Raków ter perdido
por quatro bolas contra a Atalanta, fazendo
com que o Sturm fosse repescado para a
Conference League.
SC Farense x CF Estrela da Amadora | 15-12-
2023
Encontro que abriu a 14.ª jornada,
realizando-se a uma 6.ª feira à noite, o que
não foi motivo para afastar o público (antes
pelo contrário), registando-se uma boa casa,
com 4.549 presentes oficialmente, entre
eles algumas dezenas de simpatizantes do
Estrela da Amadora. Para além do número de
espectadores, registo para um bom ambiente,
fervendo algumas vezes com provocações
entre os adeptos das duas partes, pese
embora em campo não ter havido qualquer
golo. Os South Side Boys criaram animação
praticamente do início ao fim, fazendo com
que fosse uma partida com um nível fora das
quatro linhas acima do habitual no nosso
campeonato.
Boavista FC x Vitória SC | 16-12-2023
O Bessa contou com uma assistência acima
da média, com cerca de nove milhares
de espectadores presentes, sendo que a
falange vitoriana que compôs grande parte
da bancada superior do topo norte também
contribuiu para esse facto, para além do bom
apoio vocal que a mesma proporcionou, tal
como é habitual. Comum nestes jogos são
também as picardias entre os dois lados, dada
a rivalidade histórica existente, que apimenta
sempre o ambiente.
No final, houve empate a uma bola, depois do
conjunto da casa ter marcado nos instantes
finais da partida, fazendo com que houvesse
uma explosão de alegria no estádio por parte
do público da casa.
SC Braga x SL Benfica | 17-12-2023
Uma das melhores casas registadas no Estádio
Municipal de Braga, com 25.532 presentes
oficialmente. Havia muita expectativa
de parte a parte, pois falamos de dois
adversários que ocupam lugares cimeiros da
tabela classificativa. Houve alguma tensão
fora do recinto, com a intervenção policial a
afastar possíveis confrontos entre rivais.
Já dentro do relvado, o Benfica adiantouse
muito cedo na partida - fazendo o único
golo na partida - o que causou naturalmente
animação entre as hostes presentes no
sector visitante que, para além de estarem
muito bem no plano vocal, fizeram tochadas
que proporcionaram bonitas imagens. Já
relativamente ao público da casa, embora
tenham estado em desvantagem durante
praticamente todo o jogo, não faltou apoio
por parte dos ultras locais, que foram sempre
tentando empolgar a sua equipa a procurar
evitar o desaire.
61
Sporting CP x FC Porto | 18-12-2023
Se no registo anterior abordámos a
importância do encontro em questão, a
verdade é que na mesma jornada, apenas
um dia a seguir, houve clásssico em Alvalade.
Mais de 44 mil espectadores estiveram
presentes nesta 2.ª feira à noite, incluindo
naturalmente a falange de apoio portista que
encheu o sector visitante, na mesma zona
onde ficaram os adeptos do Sturm, uns dias
antes.
Dentro de campo, os leões estiveram
melhores e venceram por 2-0, começando
ainda relativamente cedo em vantagem, o
que animou o público da casa. Houve, de
parte a parte, muitos cânticos, picardias
e também pirotecnia, como já estamos
habituados neste tipo de jogos grandes.
FC Vizela x Moreirense FC | 23-12-2023
Antes do Natal, ainda houve tempo para um
dérbi no principal escalão do nosso futebol.
Em pleno Sábado à tarde, as bancadas do
Estádio do Vizela estiveram muito bem
compostas, com mais de quatro milhares de
espectadores presentes.
Ainda antes da partida, a Força Azul fez
questão de organizar uma concentração
para receber o autocarro da sua formação,
de maneira a dar um incentivo extra. Diga-se
que o encontro foi muito mais animado fora
das quatro linhas, pois em campo registou-se
um empate a zero e poucas oportunidades
de golo. No final, Green Devils e a sua equipa
tiveram um bom momento de comunhão,
devendo-se realçar que o Moreirense está
a fazer uma temporada bastante acima das
expectativas.
62
Os De 1915 a comemorarem aniversários
Como já se tem tornado hábito nos meses
de Dezembro, o grupo varzinista Os De 1915
festeja dois aniversários - o seu e o do clube.
No dia 4 comemoraram o seu sexto, e fizeram
questão de lançar um vídeo nas redes sociais
sobre as comemorações precisamente no dia
25, quando o clube também cumpre mais
um ano de vida. Com um bonito espectáculo
pirotécnico na escadaria da Capela de São
Félix, na periferia da Póvoa de Varzim, em que
não faltaram strobs e tochas, deram um bom
efeito visual para celebrar o marco.
Já depois da tradicional consoada de Natal,
após a madrugada em que inicia o dia 25,
reuniram-se junto ao seu estádio, com a sua
faixa, e assinalaram os 108 anos da instituição
através de uma tochada.
Casa Pia AC x SC Braga | 30-12-2023
O Casa Pia continua a realizar as suas partidas
caseiras em Rio Maior, ou seja, a cerca de
80 quilómetros de Pina Manique. Ainda
assim, esta recepção ao Braga contou com
uma assistência de 4.153 espectadores,
que compuseram grande parte dos lugares
disponíveis e ainda ocuparam a bancada
norte (algo que apenas tinha ocorrido contra
o Sporting, nesta época).
A nível de apoio, o destaque vai claramente
para as centenas de braguistas presentes
que, através dos seus ultras, tomaram conta
do ambiente vocal. tendo sido brindados com
uma vitória por 1-3, com todos os golos na
segunda parte. Nota, ainda, para o espetáculo
visual da Bracara Legion, com várias tochas e
bandeiras durante a entrada das equipas em
campo.
Portimonense SC x Sporting CP | 30-12-2023
Entre os mais de quatro milhares de
espectadores presentes, os sportinguistas
estavam claramente em maioria, não só em
número, mas principalmente no apoio. Uma
grande falange leonina, motivada pela boa
época que a sua equipa vem fazendo, deu um
bom recital em Portimão, com ênfase para os
seus ultras, que se concentraram na bancada
nascente do estádio, e onde não faltaram
momentos de abertura de pirotecnia.
Tal como no registo anterior de Rio Maior,
também aqui os visitantes venceram (neste
caso, por 1-2) com todos os golos a serem
marcados na segunda parte, motivando
grandes festejos finais.
63
Nota para o Directivo Ultras XXI que aproveitou
para parabenizar o grupo Marasma, os seus
amigos da Fiorentina.
85.º aniversário do Vizela | 01-01-2024
Batia a meia-noite, o que para quase todos
é motivo de festejo de mais um ano civil
que passa. Em Vizela, mais concretamente
na marginal ribeirinha junto ao rio, a Força
Azul efectuava um espectáculo pirotécnico,
não propriamente por causa do Ano Novo,
mas sim para mais um aniversário do seu FC
Vizela, que fazia 85 anos.
AD Fafe x FC Felgueiras 1932 | 05-01-2024
Encontro a uma 6.ª feira à noite, a contar
para a Liga 3, entre dois clubes de localidades
vizinhas. Serviu para o Grupo 1958 festejar o
seu terceiro aniversário, com uma pequena
coreografia com a sua inscrição e ainda uma
outra mensagem com o lema: “Apenas um
clube, uma cidade. Lealdade. Irmandade”.
Não faltaram cânticos também durante a
partida, seja por parte dos da casa, através da
presença desse mesmo grupo e dos Fighters
Boys, mas também dos que fizeram a curta
deslocação de Felgueiras, com ênfase para a
sua claque Os Do Costume. No final, foram
precisamente os visitantes a festejarem,
pois venceram por 0-3, cimentando o seu
excelente registo no primeiro lugar da tabela.
Boavista FC x FC Porto | 05-01-2024
Quase meia casa no Estádio do Bessa
para assistir ao Dérbi da Invicta. Como já
é habitual, os portistas ocuparam os dois
níveis da bancada norte do recinto, acabando
por dar um bom recital de apoio. Para além
disso, houve pirotecnia e fumarada - dos
dois lados, como praticamente tem sido
regra, diga-se -, destacando-se claramente
um bom espectáculo nesse aspecto dado
pelo Colectivo 95, aquando das entradas
das equipas em campo, com um efeito visual
digno de registo.
No final, houve um empate a uma bola, para
clara felicidade dos boavisteiros, contrariando
64
as expectativas num momento clubístico
bastante conturbado que iam atravessando,
que exultaram com os seus jogadores. Pelo
contrário, a formação azul e branca saiu
do relvado debaixo de um grande coro de
assobios e de protestos em consequência do
seu rendimento em campo.
FC Arouca x SL Benfica | 06-01-2024
4.437 adeptos estiveram no Municipal de
Arouca, o que representa a melhor casa da
temporada, não sendo de estranhar que
a larga maioria era afecta aos encarnados.
O apoio por parte dos benfiquistas foi
constante, tendo a vitória por 0-3 ajudado
a isso, havendo registo de vários momentos
pirotécnicos, principalmente após os golos.
SC Braga x Vitória SC | 06-01-2024
Um dos dérbis mais empolgantes do nosso
futebol, que dispensa apresentações, teve
a peculiaridade de começar a “ferver” dias
antes (mais concretamente na passagem de
ano, por parte dos Insane) com a colocação
de diversas mensagens provocatórias, seja
na própria cidade ou até na cidade rival do
adversário - tanto de um lado como o do
outro, até ao dia da própria partida. Convém
dizer que teve mais frases do que o costume,
um pouco à semelhança do que aconteceu
nos recentes tempos dos recintos à porta
fechada.
Mais de 22 mil estiveram presentes na
Pedreira. Houve um pouco de tudo, desde os
tradicionais cânticos de incentivo, picardias,
pirotecnia e até tensão, tanto dentro como
fora do recinto, com a nota da detenção de
12 apoiantes braguistas, que foram presentes
ao tribunal de Guimarães dois dias depois,
registando-se mais momentos de tensão no
exterior desse espaço.
Dentro de campo, o Vitória evitou a derrota
nos últimos instantes do encontro, levando
a uma enorme explosão de alegria no sector
visitante.
65
Rebordosa AC x USC Paredes | 07-01-2024
Destaque para a presença da claque White
Legion, afecta ao Paredes, com várias
dezenas de elementos, neste dérbi do
concelho paredense. O grupo em questão
tem-se afirmado como um dos mais activos
no Campeonato de Portugal.
Caldas SC x Académica de Coimbra | 07-01-
2024
Encontro bastante interessante, a contar para
a Liga 3, que ocorreu num Domingo à noite.
O destaque vai claramente para a grande
falange de apoio trazida pelo emblema
de Coimbra até ao Campo da Mata, que
incentivou durante praticamente toda a
partida e foi brindada com uma importante
vitória.
De realçar também a habitual presença da
claque da formação caseira, o Sector 1916.
SC Braga x Sporting CP | 08-01-2024
Novo jogo grande de futsal na Arena do SC
Braga, nova casa cheia, desta vez a uma 2.ª
feira nocturna. Como tem sido habitual, bom
apoio das claques arsenalistas, voltando a
conseguir empurrar a sua equipa para uma
outra vitória importantíssima, em mais um
embate entre candidatos ao título. Houve,
naturalmente, uma grande festa no final.
Gil Vicente FC x Amarante FC | 10-01-2024
Várias centenas de amarantinos deslocaram-
-se até Barcelos numa 4.ª feira e deram a
ideia que estavam a jogar em casa, seja no
número de presentes como no apoio. O clube
compete actualmente no quarto escalão e,
mesmo assim, deu luta até ao final, com um
golo do empate no minuto 82 que provocou
uma explosão de alegria na bancada visitante
e fez sonhar os seus simpatizantes. Porém,
logo depois, o Gil Vicente fez dois tentos
seguidos e impingiu a primeira derrota (!) da
temporada para o emblema de Amarante.
No final, houve grande momento de sintonia
entre o seu público e equipa.
66
SL Benfica x SC Braga | 10-01-2024
Mais de 56 mil pessoas estiveram presentes
neste encontro a meio da semana, a contar
para os oitavos-de-final da Taça de Portugal.
Jogo bastante animado, que ficou 3-2 a favor
dos encarnados, motivando também um bom
ambiente no estádio, principalmente entre os
grupos benfiquistas e as várias centenas de
braguistas presentes no sector visitante.
Nota, ainda, para uma boa tochada dos No
Name Boys.
FC Barcelona x OC Barcelos | 11-01-2024
À imagem do que já tinha acontecido na
jornada anterior da Liga dos Campeões em
hóquei em patins, a claque Kaos Barcelense
voltou a deslocar-se até território espanhol,
agora em Barcelona, o que representa
naturalmente uma viagem ainda maior. Numa
5.ª feira à noite, os barcelenses estiveram
representados nas bancadas por mais de
duas dezenas de elementos, apoiando a sua
equipa ao longo da partida, pese embora
terem sofrido a primeira derrota nesta fase
de grupos.
Portimonense SC x SC Farense | 12-01-2024
Quase 13 anos depois, tivemos direito a um
encontro com adeptos, na primeira divisão,
entre duas formações da região algarvia.
Houve uma bela casa nesta 6.ª feira à
noite, com 3.611 espectadores segundo as
estatísticas oficiais. O destaque vai para a
boa deslocação dos farenses, que se situaram
na bancada nascente, embora houvesse
dois sectores ligeiramente espaçados entre
eles. Os South Side Boys tomaram conta
dos cânticos durante praticamente o tempo
todo, fazendo valer a sua força e o facto de
não haver um apoio organizado ao futebol
profissional em Portimão.
Nos instantes finais da partida que os da casa
venceram por 1-0, houve alguns incidentes
precisamente na bancada nascente, numa
zona que juntava o grupo ultra de Faro com
alguns simpatizantes do Portimonense, sem
qualquer barreira, o que não deixa de ser mais
67
uma causa caricata da existência das famosas
Zonas com Condições Especiais de Acesso
e Permanência (ZCEAP) que continuam a
causar mais confusão do que segurança,
simplicidade e ocupação.
GD Chaves x Sporting CP | 13-01-2024
Mais uma deslocação dos sportinguistas que
encheram por completo o sector visitante e
deram outro bom espectáculo vocal. Numa
noite fria e chuvosa na região transmontana,
a falange de apoio leonina pouco ou nada deu
por essas condicionantes, principalmente
pelo empolgamento que a equipa vive e por
uma nova vitória tranquila.
GD Joane x AD Oliveirense | 14-01-2024
Encontro com um ambiente soberbo na
Pro-Nacional da distrital bracarense, o
equivalente ao quinto escalão nacional.
Duas equipas candidatas à subida ao
Campeonato de Portugal e os Ultras Joane
quiseram aproveitar para dar espectáculo.
Houve, durante a entrada das formações,
uma tochada e a seguinte mensagem: “Bemvindos
ao inferno”
FC Porto x SC Braga | 14-01-2024
Mais de 41 mil espectadores presentes, neste
Domingo à noite, para assistirem à partida
de grande cartaz deste fim-de-semana.
Destaque para duas tochadas de relevo, uma
conjunta dos ultras do emblema brancarense
enquanto expunham uma tarja que referia
“Todos juntos pelo Braga” e outra na bancada
sul do Dragão.
Forte apoio de parte a parte, com a vitória a
sorrir para os dragões - graças a uma vitória
por 2-0 -, que motivou os naturais festejos do
lado da casa, mas que não desmoralizou as
hostes visitantes, que também não se calaram
durante praticamente todo o encontro.
FC Famalicão x SC Braga | 18-01-2024
Num horário em que não era dos mais
convidativos, pois iniciava-se às 18h45 de
uma 5.ª feira, cerca de quatro milhares de
68
adeptos marcaram presença nas bancadas do
recinto famalicense. Fama Boys de um lado e
um sector visitante repleto do outro tomaram
conta do apoio durante a partida. No final, a
vitória sorriu aos forasteiros, que tiveram
uma sofrida vitória fruto de uma reviravolta e
com um último golo a acontecer aos 90+10’,
colocando em êxtase quem fez a curta viagem
de Braga até Famalicão.
CS Marítimo x CD Nacional | 21-01-2024
Dérbi madeirense com mais de 10 mil
adeptos nos Barreiros, o que é sinónimo de
casa cheia. Para além da rivalidade existente
entre os dois, falamos de emblemas que
lutam actualmente pela subida ao principal
escalão, o que ainda fez aumentar mais a
expectativa em relação à partida. Mensagens
de parte a parte a antecederem de forma
a “apimentarem” as coisas, incentivos às
respectivas equipas de maneira a darem força
às mesmas e, depois, no final de Domingo à
tarde, muito apoio de ambos os lados.
A vitória sorriu aos da casa, que não deixaram
fugir o velho rival fugir na tabela classificativa
e continuam com aspirações a regressar á
primeira divisão. Houve naturalmente uma
grande festa no “Caldeirão dos Barreiros”.
SL Benfica x Sporting CP | 21-01-2024
A ‘final eight’ da Taça da Liga de futsal voltou a
ser realizada na Póvoa de Varzim. Foram sete
as partidas que aconteceram desde 5.ª feira
até Domingo, sendo que várias contaram com
assistências relevantes e presenças de grupos
de apoio. Destacamos a derradeira, neste
caso a final, que aconteceu entre os dois mais
famosos emblemas nacionais da modalidade.
Num Domingo à noite, ambiente escaldante
do Pavilhão Municipal, com muitos cânticos
de parte a parte, picardias, polémica e emoção
até final. A vitória, e respectiva conquista do
troféu, sorriu aos sportinguistas, valendo
festejos entre a equipa e os simpatizantes
presentes.
69
CDR “Os Vinhais” x SC Braga | 27-01-2024
A Bracara Legion aproveitou o facto dos ultras
arsenalistas estarem a boicotar a Taça da Liga
para realizar uma deslocação - no dia em que
a equipa de futebol do Braga jogava a final
da competição - até São Domingos de Rana,
no concelho de Cascais, para apoiar o seu
conjunto de futsal num “simples” encontro
a contar para a 4.ª eliminatória da Taça de
Portugal contra um conjunto que milita no
terceiro escalão nacional.
Depois de vencerem por 0-4, ainda houve
espaço para a habitual boa sintonia entre os
jogadores e o público presente.
Varzim SC x FC Felgueiras 1932 | 28-01-2024
Um dos destaques mais especiais e de maior
união deste resumo. O Varzim atravessa
uma crise directiva e financeira, sendo que
coincidentemente estamos numa fase de
decisões na Liga 3. Nesta última jornada da
primeira fase do campeonato, o emblema
poveiro mantinha em aberto a possibilidade
de ficar nos lugares de cima (que valem
a disputa da subida). A resposta dos seus
adeptos foi a de realizarem a melhor casa
da época (com mais de cinco milhares de
simpatizantes presentes), organizarem uma
angariação de fundos que valeu mais de 5 mil
euros e, no final, uma vitória contra o primeiro
classificado da tabela, garantindo uma vaga
na fase de promoção e uma enorme festa no
estádio, pese embora o momento mais triste
vivido pelo histórico clube.
70
SC Farense x FC Porto | 28-01-2024
Primeira casa cheia da época no Estádio
São Luís, com 6.356 adeptos presentes
oficialmente. As últimas deslocações portistas
até Faro, que já aconteceram há mais de duas
décadas, revelavam-se bastante animadas,
com muita tensão de parte a parte. A verdade
é que há tradições que ainda se cumprem por
mais que os tempos avancem e a repressão
aumente, não faltando animosidade fora
das quatro linhas, vários focos de incidentes,
sendo que a maioria com as forças de ordem
locais. O facto da entrada dos adeptos
visitantes não ficar muito longe do topo sul,
bancada dos South Side Boys, contribuiu para
as picardias subirem de tom no exterior.
Nas bancadas, como já se previa, muitos
cânticos de ambos os lados. A claque do
Farense a comandar o apoio dos da casa,
enquanto Super Dragões e Colectivo
animavam as hostes azuis e brancas. O Porto
acabou por vencer por 1-3, valendo uma festa
entre jogadores e simpatizantes visitantes.
Gil Vicente FC x Vitória SC | 28-01-2024
A procura de ingressos por parte dos adeptos
vitorianos foi grande, fazendo fila durante a
semana para cada um conseguir adquirir o
seu. Foi, por isso, natural a grande falange
de apoio à formação vimaranense em
Barcelos, que contou com vários milhares
de simpatizantes presentes, entre os 7.618
espectadores totais presentes, segundo os
números oficiais. Destaque para os ultras
forasteiros, que curiosamente estiveram
espalhados em duas bancadas diferentes.
Cantaram ao longo de praticamente toda a
partida e ainda abriram pirotecnia.
Apesar do muitos incentivos ao Vitória e
do empolgamento vivido, foi mesmo o Gil
a vencer, pela margem mínima, valendo
também uma boa festa entre o público da
casa.
Houve ainda espaço para momentos de fairplay
nas bancadas, com cânticos entoados de
parte a parte, cada um para o seu clube.
CF Estrela da Amadora x SL Benfica | 29-01-
2024
Melhor casa da época na Reboleira (6.398
adeptos), com a maioria dos presentes a
incentivar os encarnados. O destaque vai
precisamente para os adeptos visitantes,
principalmente integrantes dos grupos, que
deram um autêntico festival de tochas ao
longo da partida. Foram vários os momentos
de pirotecnia aberta, que deram registo
a imagens incríveis. O apoio obviamente
também não faltou, tendo sido brindados
71
por uma vitória por 1-4, pese embora terem
começado a perder.
Pela negativa, destaque para muitos relatos
de uma falta de organização gritante, que
levou a que muitos adeptos com ingresso
comprado não pudessem entrar, com as
forças de segurança a justificarem que outros
sem bilhete tinham conseguido entrar antes,
provocando vários constrangimentos nas
portas de acesso ao recinto.
Sporting CP x Casa Pia AC | 29-01-2024
O Sporting somou mais uma vitória, desta
vez através de um impressionante resultado
de 8-0. O clima foi, então, de festa durante
praticamente toda a partida. Para além disso,
os dois principais grupos leoninos quiseram
mostrar também um sentimento de união,
organizando em conjunto uma mensagem,
que começou na bancada sul e terminou na
bancada norte: “Enquanto houver estrada
para andar, a gente vai continuar a apoiar”
Académico de Viseu FC x CD Tondela | 30-
01-2024
Dérbi do distrito viseense realizado a uma 3.ª
feira à noite, registando 4.615 espectadores,
o que corresponde, por larga margem, à
melhor casa da época até então no Fontelo.
Numa altura em que os polícias têm
aproveitado para se deslocarem a jogos de
futebol para se manifestarem, principalmente
através da entoação do hino, houve aqui uma
particularidade: os elementos das forças
policiais que se organizaram nas bancadas
ocuparam... o habitual sector dos Viriathus
1914, grupo de apoio ao Académico, que foi
obrigado a ficar numa escadaria junto a essa
zona. Isto até certo momento, pois a meio
os polícias em questão deslocaram-se para
outra bancada.
De qualquer maneira, houve um bom
ambiente, com o empate a uma bola a
contribuir também para as emoções vividas
na bancada. A claque da casa curiosamente
teve alguns incidentes com a polícia antes da
partida, nas imediações do recinto. Do lado
72
tondelense, houve uma boa presença nesta
curta viagem, sendo que a Febre Amarela
ainda organizou uma pequena coreografia
com balões amarelos e verdes.
SC Braga x GD Chaves | 31-01-2024
Depois do Braga ter vencido a Taça da Liga
- sem a presença das claques do clube
bracarense em virtude do boicote anunciado
-, este era o primeiro encontro para o
campeonato e o consequente regresso dos
grupos ao apoio. Era também o primeiro jogo
depois das polémicas declarações de António
Salvador, que considerou que quem fez o
boicote “não fez falta”. Pois bem, os ultras
arsenalistas aproveitaram para exibir a sua
resposta, num momento em que também
abriam pirotecnia, através da seguinte
mensagem: “Vozes de trolha não chegam ao
céu! Na defesa do símbolo sempre!”
FC Vizela x Vitória SC | 04-02-2024
Encontro entre dois clubes vizinhos que foi
“apimentado” bem antes do dia da partida.
Alegadamente, duas semanas antes, vários
ultras do emblema vimaranense atacaram
a sede da Força Azul, levando consigo
muito material do grupo vizelense, que foi
publicitado uma semana depois.
Para além deste último acontecimento,
este dérbi foi realizado num fim-de-semana
marcado pelo agravar dos protestos das
forças policiais, que passaram a colocar baixas
médicas em bloco, levando ao adiamento de
vários jogos do futebol profissional português
e equacionou-se a também não realização
deste, o que não passou de um “falso alarme”.
Numa tarde de Domingo agradável, mais de
cinco milhares de espectadores marcaram
presença no Estádio do Vizela, com destaque
para a habitual grande falange forasteira, que
esteve naturalmente em bom plano, tendo
sido premiada com uma vitória sofrida pela
margem mínima. Já do lado vizelense, houve
o habitual bom apoio da claque da casa.
73
SL Benfica x Gil Vicente FC | 04-02-2024
Tal como no registo anterior, também aqui
havia alguma dúvida quanto à realização
da partida, devido aos protestos das forças
policiais, algo que veio com o tempo a
confirmar que se iria mesmo jogar. Muitos
milhares de benfiquistas concentraram--
se nas imediações do estádio desde cedo,
recebendo o autocarro da sua equipa e já com
algum fumo vermelho a dar cor e vivacidade
ao momento.
Quase casa cheia, com os números oficiais
a assinalarem 58.722 espectadores, que
assistiram a uma vitória tranquila do Benfica,
por 3-0. Nota, ainda, para a homenagem dos
Diabos Vermelhos a Fehér, através de uma
mensagem, numa altura em que se cumprem
20 anos desde o seu fatídico falecimento.
Olímpico do Montijo x UFC Moitense | 04-
02-2024
Bom apoio do grupo Orgulho Aldeano ao seu
Olímpico do Montijo, em mais uma partida
da distrital setubalense. Deram um bom
espectáculo visual com pirotecnia e ainda
uma fumarada.
74
75
José Mário Branco cantava nos
anos 70 que “a cantiga é uma arma”; algumas
vezes pensaram que a bola também pode ser
uma arma, até capaz de abater um avião?
Não se costuma dizer às vezes “o tal jogador
chutou um míssil na direção da baliza!”?
Bem, veremos que isto aconteceu realmente:
uma bola transformada em “rocket” capaz de
abater avionetas.
Em Villamora, na cidade de
Assuncíon (Paraguai), jogava o Clube General
Genes, pequena agremiação, orgulho bairrista
desta parte da cidade. O clube General Genes
foi fundado em 17 de dezembro de 1929, e o
seu nome homenageia o heroico soldado José
Ignacio Genes que, como capitão, comandou
o assalto aos encouraçados brasileiros Cabral
e Lima Barros, numa das ações navais mais
importantes lembradas da Guerra da Tríplice
Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o
Paraguai. Nesta ação heroica, que lhe valeu
uma promoção a general, Genes até perdeu
um olho.
As cores azul e branco do clube
estão relacionadas ao sentimento político
do bairro. Na década de 1920, Villamorra era
um bairro onde viviam muitos liberais, razão
pela qual o clube da região usou as cores que
identificavam o partido liberal: azul e branco.
O Geres teve o seu momento áureo nos anos
50, quando por duas vezes participou na
primeira divisão do campeonato paraguaio,
em 1952 e 1955. No entanto, não é por este
historial que o clube se tornou famoso.
76
O jovem Roberto Gabriel Trigo,
nascido em 1935, filho do bairro, brilhava na
sua equipa do coração. Jogou a vida inteira
defendendo as cores do Genes, equipa pela
qual se estreou oficialmente na Primeira
Divisão aos 17 anos, e a sua posição era lateral
direito, apesar de às vezes jogar como ala
esquerda. A lenda dá-se em fevereiro de 1957
quando, durante uma partida de futebol,
o jovem Rodrigo Trigo abateu um pequeno
avião que passava por cima do campo com um
golpe de bola. Sim, leram bem! A pequena
aeronave, conhecida como “teco teco”, era
pilotada por Alfredo Lird, amigo próximo de
Trigo, que aparecia regularmente à tarde para
fazer estas “brincadeiras”, e o pontapé forçou
Lird a fazer uma aterragem improvisada a
cerca de 200 metros do campo. Na realidade
não foi encontrado qualquer registo oficial
relativamente ao incidente “Queda do
avião de Genes”, mas é possível que o caso
nem tenha sido denunciado pois não houve
feridos ou danos materiais significativos.
As lembranças do Rodrigo são
vagas: “O que me lembro é que o parceiro
Lird estava muito assustado. Lird não ficou
chateado comigo, éramos amigos e eu sempre
brincava com ele que em algum momento
eu iria bater nele com uma bola quando ele
passasse por cima de nós novamente com
o seu avião. Acontece que nunca pensamos
que isso iria acontecer”, diz Don Trigo.
Verdade ou lenda, tanto faz: o
encanto do nosso jogo preferido alimenta-
-se também com o fascínio de contos deste
tipo. A emoção e a imagem que nos deixa é
sempre real e fascinante, quer seja mentira
ou verdade.
Por Eupremio Scarpa
77
78
O Varzim é um clube peculiar
numa cidade muito própria. É incutido a
todas as crianças, sem exceção, um orgulho
enorme por sermos poveiros, por termos
nascido numa cidade histórica com influência
piscatória, pelo facto de uma expedição viking
em tempos idos ter cá parado, influenciando
os nossos costumes, e pelo facto de termos
um grande clube de futebol na cidade, o
Varzim. O problema é que, depois de tudo
isso, na maioria dos casos entrega-se também
ao imaginário da criança um clube grande.
Quando, em 2011, fui pela
primeira vez para fora da Póvoa, estudar para
Guimarães, era apenas mais uma pessoa que
tinha nascido aqui e sentia o orgulho de cá ter
nascido e de ter representado, nas camadas
jovens, o Varzim SC. Foi a falta desta cidade
que me fez realmente Poveiro e varzinista.
A falta das pessoas, do mar, de tudo o que
sempre dei por garantido. E, de repente,
apanhei-me a desejar tudo aquilo que sempre
tive e que naquele momento tinha deixado
de ter. Aí percebi que não estava sozinho, e
que este sentimento é tão particular como a
própria cidade. Dei por mim a criar amizades
com outros poveiros naquela cidade e a
partilhar viagens para a Póvoa e para fora
dela. Do Campeonato Nacional de Séniores
até à Segunda Liga, tudo era desculpa para
sair de Guimarães e ir para onde quer que
fosse que o Varzim jogasse, ao fim de semana
ou à semana, estivesse como estivesse o
tempo ou tivéssemos nós os compromissos
que tivéssemos. As coisas mais importantes
que os anos na faculdade me deram foram as
amizades e o amor incondicional à Póvoa e ao
Varzim.
Refletindo diretamente sobre o
assunto em questão, financeiramente o clube
sempre foi dependente de doações locais. Era
comum cada mestre de cada barco pesqueiro
oferecer cabazes ao clube (o peixe era vendido
na lota, e o dinheiro reverteria a favor do
Varzim) e doações diretas eram frequentes.
Como a maioria dos homens pescavam, eram
as mulheres desses pescadores que muitas
vezes enchiam as bancadas do estádio do
Varzim Sport Club e, por isso, não restava
outra solução aos homens que não fosse
ajudar financeiramente o clube quando
podiam. E antes de iniciarmos a discussão
SAD/SDUQ, é necessário recuarmos aos anos
2000 para recordarmos uma situação que
ainda hoje paira sobre o clube.
Nessa altura, a direção do Varzim
negociou com um consórcio de empresas a
venda dos terrenos do atual estádio em troca
da construção de um novo estádio e mais
algumas contrapartidas financeiras. Esse novo
estádio nunca chegou a ser construído, nem
o antigo (e atual) estádio foi demolido. No
entanto, essas “contrapartidas financeiras”
acabaram por entrar no Varzim, tendo o
clube usado o dinheiro para uma super
equipa paga a peso de ouro, equipa essa que
acabou por cair na segunda divisão. E, como
nada nesta vida é de graça, em 2006, a Hagen
e a Famenc (duas empresas pertencentes a
esse consórcio) avançaram com um processo
judicial reclamando mais de doze milhões de
euros de indemnização, bem como quase
oito milhões de euros em juros de mora. O
famigerado “processo estádio”.
Felizmente, em 2020, os tribunais
portugueses deram razão ao clube, tendo
esses vinte milhões de euros sido convertidos
numa dívida de quase oitocentos mil euros
a serem pagos faseadamente a essas duas
empresas. Mas o mal estava feito, com quase
quinze anos hipotecados de desenvolvimento
do clube devido ao pairar desta possível
dívida de vinte milhões de euros.
Essa situação, aliada a erros crassos
de gestão do clube, levaram a que uma
direção, em 2023, tivesse tentado levar a
votação a criação de uma SAD no clube, SAD
essa em que o investidor seria detentor da
maioria das ações da mesma. Aqui entra o
problema do orgulho na Póvoa e no Varzim
contra o facto da maioria dos sócios do clube
terem sido sempre ensinados a “fugir” para
um clube grande para poderem encher o
peito em Maio e ficarem felizes durante uma
semana pela conquista de um título nacional.
Na minha opinião, é esse desespero pelo
sucesso que leva as gentes a trilhar pelo
caminho das SAD’s minoritárias.
Eu acredito que o modelo SDUQ
no Varzim, ou até uma SAD com um parceiro
estratégico em que o Varzim seja o verdadeiro
detentor da sociedade desportiva, não está
esgotado. O clube tem mais de vinte e oito
milhões de euros em património imobiliário
que lhe garantem quase a cem por cento
que o clube mais rapidamente vende o
seu património e liquida as dívidas do que
efetivamente abre falência e cessa atividade.
Esse desastre está descartado.
E mesmo que fosse constituída
uma Sociedade Anónima Desportiva,
existem sempre possibilidades diferentes
da que foi apresentada no passado mês de
Dezembro, tal como é ainda demonstrado
pelos clubes que detêm a maioria da sua
SAD ainda em Portugal (Primeira e Segunda
Liga). Seria também possível não ser acionista
maioritário da SAD se o investidor tiver
promovido continuamente no clube, de
forma substancial, o desporto, em particular
o futebol, por um determinado número de
anos, estipulando-se igualmente a proibição
de revenda do capital social (excetuando
aqui a venda do capital ao clube fundador),
devendo ainda o investidor, de forma
imperativa, continuar a promover o futebol.
Seria também igualmente imperativo garantir
que qualquer investidor que se proponha a
adquirir a maioria de uma SAD fosse sujeito
às seguintes obrigações:
- Facultar a discriminação da
estrutura societária e do seu último
beneficiário (no caso de o investidor ser uma
sociedade);
- Conceder, enquanto último
beneficiário, informações pessoais e
profissionais, relativamente a possíveis
condenações por qualquer facto que seja
contraditório com os princípios da integridade
e verdade desportiva;
- Deve também facultar o histórico
de gestão desportiva para apreciação,
nomeadamente a possibilidade de terem
existido insolvências culposas em anteriores
sociedades desportivas;
- Fornecer informações e provas
da suficiência e proveniência dos fundos a
investir na SAD;
79
- Elaborar e entregar um relatório
financeiro com as presumíveis consequências
económicas que a mudança do controlo da
SAD possa provocar;
- No mesmo seguimento, deve
ser elaborado e entregue um plano de
investimento para a SAD.
O que é necessário é arte e
engenho na forma de fazer dinheiro e de gerir
o futebol. Isto vale para as SDUQ e para as
SAD. Empurrar os problemas com a barriga
para as direções seguintes lidarem com os
problemas que forem criados não é a forma
correta de gerir os clubes.
Não sou nenhum especialista, mas
sempre ouvi dizer que se não temos o mesmo
dinheiro que os outros e queremos vencer,
temos de ir por outros caminhos. Reduzir
o orçamento para o plantel e efetivamente
apostar numa equipa sólida de scouting,
rendimento desportivo, garantir que os atletas
têm tudo fora de campo para singrarem
dentro de campo; tudo isso são coisas muito
mais baratas do que um jogador consagrado,
e podem muitas vezes ser a diferença
entre o sucesso e o insucesso. Depois, os
rendimentos gerados pelo clube. Não vejo no
futebol português a modernização necessária
para sobreviver sem investidores, é verdade.
Não há visão para fugir ao modelo tradicional
de angariação de patrocínios, associados,
parceiros. As redes sociais e as plataformas
digitais podem e devem ser usadas para
renovar o lado dos investimentos. Parcerias
com universidades são usadas por empresas
há anos e anos mas, no futebol, continuamos
a ser um mundo fechado. Por que não usar
alunos de marketing, de cinema ou de gestão
para ajudar a dotar o clube de capacidade
humana e técnica para crescer? Qualquer
minissérie de vinte minutos por semana no
youtube é mais interessante do que um cartaz
no instagram a anunciar o próximo jogo.
Há duas frases que qualquer
elemento de qualquer direção devia ter
em conta antes de tomar qualquer decisão
no clube“. A salvaguarda dos interesses do
clube fundador deve estar sempre, sempre
assegurada” e “Chegará o dia em que a
melhor forma de servir o clube é deixar de o
servir.” O problema é quando muitas vezes as
pessoas tentam salvar a própria pele ao invés
de salvarem o próprio clube.
No momento da escrita deste artigo
até ao dia de hoje, a mesa da Assembleia
Geral cancelou a assembleia que levaria a
sufrágio dos sócios a votação sobre a venda
da maioria de capital da futura SAD varzinista,
80
alegando falta de informação sobre as
garantias bancárias e os beneficiários da
mesma. Primeiro, a estrutura de futebol
anuncia a saída e, quase um mês depois,
a dois dias de um jogo importantíssimo, a
direcção demitiu-se em bloco, alegando um
boicote à proposta SAD por parte da mesa
da Assembleia Geral. Como sempre, quem
sai mais prejudicado é o clube, que entrará
agora numa situação de eleger uma comissão
de gestão para o resto da época enquanto
não são marcadas eleições. Pior, deixam o
clube com um passivo muito superior ao
que encontraram aquando da entrada desta
direção, e com uma verba futura proveniente
da receitas de jogadores hipotecada que
serviu de garantia ao investidor caso a SAD
não fosse aprovada até 31 de Dezembro,
fruto de um investimento inicial de 600 mil
euros.
Mais uma vez, este é mais um mar
revolto que encontramos no nosso caminho,
mas como a nossa história nos mostra todos
os dias, é neste momento que o povo se vai
unir. Ala-Arriba Varzim SC!
Por P. Costa
81
ESTRELA DA AMADORA X BOAVISTA FC
A nova identidade do Estrela da
Amadora, recém-chegado à Primeira Liga,
tem-se esforçado por atrair adeptos ao
velhinho Estádio José Gomes e por criar um
elo mais forte de ligação entre o clube e as
gentes desta cidade colada à capital. Algum
deste valioso trabalho tem sido realizado
pela Magia Tricolor, grupo que tem lutado
pela preservação das antigas memórias
futebolísticas da Amadora e que tem
participado activamente na nova vida do
Estrela da Amadora. Esse esforço reflecte-se
em numerosas assistências - tendo em conta
a realidade que se assiste na nossa principal
liga - jogo após jogo. Desta feita, foram quase
4 mil pessoas que marcaram presença nas
bancadas para assistirem à reedição de um
clássico dos anos 90, década em que quer o
antigo Estrela da Amadora, quer o Boavista,
deram algumas das maiores alegrias aos seus
adeptos.
Do lado da equipa da casa, a Magia
Tricolor voltou a ocupar o sector por trás de
uma das balizas preenchendo por completo
essa bancada com os seus elementos. Na
tentativa de colorirem por completo o sector,
abriram um enorme lençol com a silhueta da
cidade, cujo resultado acabou por não ser
visualmente apelativo visto as dimensões do
lençol serem superiores às do sector. Pouco
depois, o sector ganharia de novo cor com
a abertura de alguns potes de fumo com as
cores do clube, juntamente com bandeiras.
Nota bastante positiva para o constante apoio
durante os noventa minutos.
Do lado oposto, não no antigo
sector visitante (agora ocupado por
publicidade), mas um pouco mais ao lado,
os adeptos axadrezados foram ocupando
a bancada que lhes estava reservada,
esperando-se que ficasse mais preenchida
com a chegada dos Panteras Negras, o que
não chegou a acontecer, dado que uma avaria
no autocarro em que se deslocavam impediu
que chegassem à Amadora, o que fez com
que o apoio vocal fosse quase inexistente.
Por M. Soares
82
A regra dos 50+1 é um dos
principais trunfos do futebol alemão. Em
termos simples, a regra dos 50+1 estabelece
que a maioria das acções de um clube deve
estar sempre nas mãos dos seus membros.
Em termos um pouco mais complicados, isto
significa que não é possível aos investidores
adquirirem a maioria nas sociedades
anónimas em que grande parte dos clubes
na Alemanha acantonou as suas equipas
profissionais. Portanto, isto impede que os
investidores ou patrocinadores comprem
os sócios e tomem sozinhos as decisões do
clube.
É óbvio que há investidores e
empresas que prefeririam abolir a regra dos
50+1, sendo por isso que a mesma tem sido
repetidamente atacada, não só a nível político,
mas também a nível jurídico. Recentemente,
o Bundeskartellamt, em particular, tem
estado a analisar a regra e a sua legalidade.
O Bundeskartellamt garante o cumprimento
da lei da concorrência na Alemanha e
pode, por exemplo, proibir determinados
comportamentos de empresas que dominam
o mercado. Os opositores da regra dos
50+1 recorreram ao Bundeskartellamt por
considerarem que a regra os coloca em
desvantagem na concorrência europeia.
No entanto, o Bundeskartellamt não
classificou a regra em si como questionável,
mas sim as excepções que se aplicam. Estas
excepções aplicam-se ao Leverkusen, ao VfL
Wolfsburg e ao Hoffenheim, e permitem que
os patrocinadores ou similares que tenham
“promovido contínua e significativamente”
o futebol do clube durante pelo menos 20
anos possam adquirir a totalidade do clube.
83
O facto de o RB Leipzig não ser mencionado
nesta série deve-se ao facto de a regra dos
50+1 ser cumprida no papel, embora seja
obviamente contornada, mas falaremos disso
mais à frente.
Na sequência da repreensão do
Bundeskartellamt no ano passado, a DFL
foi obrigada a agir. Entretanto, está em
cima da mesa uma proposta que, do ponto
de vista da DFL, deverá proporcionar a
necessária segurança jurídica. É verdade
que a credibilidade desta abordagem foi
gravemente afectada pelo facto da DFL
procurar atrair investidores. No entanto,
a regra dos 50+1 continua a ser a âncora
mais importante, razão pela qual a sua
manutenção é de saudar. Essencialmente,
a proposta da DFL prevê que não haverá
mais excepções à regra dos 50+1, mas que
as excepções existentes serão protegidas,
proteção essa que deverá aplicar-se sob
determinadas condições. Entre outras coisas,
84
prevê-se que pelo menos um representante
do clube-mãe tenha assento nos conselhos de
administração das sociedades acantonadas
para o futebol profissional, a fim de manter
a influência do clube. Este representante
teria igualmente direito de veto no que se
refere aos “elementos de identidade” de um
clube, como as cores, o nome ou o logótipo.
Além disso, a proposta introduziria também
uma indemnização compensatória caso o
patrocinador/investidor desejasse compensar
as perdas sofridas pela fragmentação
profissional de um clube.
Em primeiro lugar, ao avaliar esta
proposta da DFL, é importante reconhecer o
resultado positivo de não serem permitidas
mais excepções e de ter sido alcançado um
acordo sobre o reconhecimento, que se espera
permanente, da regra dos 50+1. No entanto,
à última vista, os chamados compromissos
para proteger as excepções existentes são
mais ilusão do que realidade. Por exemplo,
o “regulamento de representação” acima
descrito é um direito minoritário em grande
parte ineficaz, uma vez que apenas um único
(e mesmo) representante do clube-mãe
deve ser delegado no órgão de controlo da
sociedade, podendo este representante
ser simplesmente derrotado pelos
representantes do patrocinador/investidor.
Além disso, o direito de veto sobre as cores,
o nome ou o do clube não pode ser vendido
como um compromisso, uma vez que essas
decisões devem estar sempre exclusivamente
nas mãos dos membros. O Bundeskartellamt
tinha criticado o facto de a influência do
clube-mãe poder ser reduzida a zero no caso
de clubes excepcionais, sendo questionável
se esta situação se alterará na sequência da
proposta do DFL.
É igualmente pouco provável que
as indemnizações compensatórias propostas
prejudiquem os clubes excepcionais. Com
efeito, 7,5% do volume de negócios total
dos clubes continua a ser considerado um
montante isento de impostos (ou seja,
15 milhões de euros para um volume de
negócios de 200 milhões de euros). Só se o
patrocinador/investidor efetuar pagamentos
à divisão profissional superiores a este
montante é que será devido um imposto
adicional. Com base nas taxas de juro actuais
isto significa que, se o grupo pagar um milhão
de euros a mais do que o montante isento de
impostos acima referido, terá de efetuar um
pagamento compensatório de 35.000 euros.
O que não está incluído na proposta da DFL
também é digno de crítica. Por exemplo, as
vantagens competitivas que beneficiaram
os clubes excepcionais nos últimos anos e
décadas não são de modo algum igualadas,
continuando estes clubes a ter a possibilidade
de compensar as suas perdas com os lucros do
grupo. A crítica do Bundeskartellamt, de que
os clubes excepcionais têm oportunidades
económicas diferentes das dos outros
clubes, não parece ter sido dissipada. Além
disso, um dos principais pontos de crítica do
85
Bundeskartellamt não foi sequer abordado:
a construção do RB Leipzig. Formalmente, a
regra 50+1 é respeitada no clube. No entanto,
apenas pouco mais de 20 membros estão
autorizados a votar, membros esses que são
próximos da Red Bull e são seleccionados
pelo próprio clube. O Bundeskartellamt
criticou este facto como um acto de evasão, e
o facto de isto não estar a ser discutido é uma
farsa.
Em suma, pode dizer-se que a
solução proposta pode, pelo menos, lançar
uma boa base para o desenvolvimento do
futebol alemão mas, em muitos aspectos,
não passa de um compromisso frágil. As
actuais distorções da concorrência não
serão alteradas e ainda não é claro se serão
autorizadas mais isenções. Porém, ainda
nada está ainda decidido, e agora a bola está
de novo no campo do Bundeskartellamt e
das outras partes envolvidas no processo.
O Bundeskartellamt já anunciou que não se
opõe fundamentalmente à proposta da DFL,
mas alguns clubes têm uma visão muito mais
crítica devido às excepções ainda previstas.
Esperemos alguns clubes apelem a um maior
rigor.
Manter 50+1!
Por Tim
86
5 de março de 2023, as equipas
do Lusitano e Juventude de Évora entram no
relvado para aquele que foi anunciado como
o último derby a disputar no velhinho Campo
da Estrela.
21 de janeiro de 2024, as duas
equipas voltam a reencontrar-se no... Campo
da Estrela. Fica desde logo a dúvida se este
será realmente a última vez que este velho
estádio (inaugurado em 1931) irá receber
o maior derby eborense. A anunciada
mudança para o Complexo Desportivo da
Silveirinha, localizado na periferia da cidade
tarda em acontecer, o que oferece às gentes
desta cidade alentejana a oportunidade de
presenciarem mais um confronto entre os
dois centenários rivais.
Como tantos outros dérbis, este
também é vivido intensamente pelos adeptos
destes dois clubes centenários, que rivalizam
de forma sã pelas ruas e cafés da cidade, não
fossem colegas de trabalho, de escola ou
vizinhos, tal como os dois emblemas, cujos
estádios estão separados... por uma rua.
Falta uma hora para o início do jogo
e a rua de acesso ao estádio começa a ganhar
as cores verde (Lusitano) e azul (Juventude).
Misturam-se entre cumprimentos e
conversas e só se separam para lá do portão
de entrada quando seguem para a bancada
devidamente destinada a cada um dos lados,
formando uma mancha verde de um lado e
azul do outro. Numa tarde solarenga do mês
de janeiro, o bar é o local de eleição para a
concentração dos adeptos de várias gerações,
que alimentam a rivalidade entre cervejas
e histórias que relembram confrontos do
passado. Ao percorrer os vários cantos do
estádio fazemos uma verdadeira viagem no
tempo. A arquitetura do estádio, as bancadas
em pedra, as separações para o relvado e o
peão remetem-nos para um futebol que já
87
não existe e que por aqui teima em perdurar
porque há muito que estes clubes estão
afastados da ribalta do futebol português.
Os muros das bancadas estão pintados com
várias mensagens de fair play, que apontam
ao espírito com que o futebol é vivido neste
recinto. E depois, há o pormenor bastante
curioso, talvez único no panorama nacional,
de se conseguir visualizar das bancadas do
Campo da Estrela o estádio do rival, o Estádio
Sanches de Miranda, que também está
previsto ser demolido, para dar lugar a uma
superfície comercial.
Aqueles que procuram o melhor
lugar para acompanhar as incidências da
partida ou simplesmente ficar à sombra,
antecipam-se no acesso às bancadas, que
só ficam devidamente preenchidas poucos
minutos antes do apito inicial. À entrada
das equipas soltam-se os coros de ambos
os lados e alguns adeptos mais organizados
do Lusitano exibem uma frase de apoio à
equipa. Será este grupo a assumir o comando
do apoio vocal ao clube da casa ao longo da
partida. Do lado oposto, são os jovens atletas,
guiados por um ou outro veterano, a gritar
pela equipa do Juventude.
O jogo começa e ainda há muita
gente junto dos portões à espera da sua vez
para completar uma moldura humana de
cerca de 3000 adeptos. À medida que entram
vão cumprimentando os que já lá estão,
88
juntando-se à conversa sobre os demais temas
do quotidiano, afinal o futebol sempre foi um
espaço de agregação e convívio. Num edifício
habitacional, que parece o prolongamento de
uma das bancadas, as varandas e qualquer
espaço que tenha visibilidade para o campo
também são ocupados.
Se o futuro destes clubes está
cheio de incertezas, dentro das quatro linhas
ia-se criando a certeza de que o resultado
dificilmente seria alterado, dada a escassez
de oportunidades e de futebol praticado.
Chega o intervalo e nos bares os empregados
não têm mãos a medir para a elevada
afluência de quem busca de um refresco para
a garganta. Não faltou cerveja, mas na 2ª
parte ficou a faltar um milagre ou momento
de inspiração no relvado que mudasse o
rumo dos acontecimentos. Os cânticos
fazem-se sentir a espaços de ambos os lados,
por entre os lamentos dos que desesperavam
por ver uma jogada devidamente organizada
e dos que justificam o atual estado das coisas
com a falta de interesse e de investimento em
ambos os clubes.
Final da partida e as cores voltam a
misturar-se à saída do estádio para uma última
imperial, para uma ou outra picada à volta do
jogo ou para uma simples boleia no regresso
a casa. À dúvida, quanto à possibilidade de
este campo voltar a receber o derby, somase
a incerteza em relação às mudanças para
novos estádios na periferia e o impacto que
essas mudanças terão nos rituais e relação
dos adeptos com os seus clubes. Afastar estes
clubes para fora da cidade irá com certeza
roubar-lhes a identidade.
Por M. Soares
89
WHITE ANGELS SOLIDÁRIOS
90
Enganem-se aqueles que pensavam
que os White Angels apenas serviam para
apoiar o Vitória SC, estamos também ao
serviço da comunidade.
Desde sempre os WA tiveram uma
conduta de ajudar pessoas mais necessitadas.
Contudo, cada vez mais temos verificado as
imensas dificuldades e a realidade em que
certas famílias se encontram. É algo que nos
deixa extremamente tristes! Então, decidimos
abraçar mais ações de solidariedade e,
em 2016, demos início aos “White Angels
Solidários.”
Este feito visa mobilizar toda a
sociedade por um objetivo comum: ajudar
as famílias mais carenciadas do município de
Guimarães.
Podemos dizer que, este projeto,
conta já com várias ações ao longo destes
últimos anos, sendo a mais conhecida a
recolha de alimentos, realizada todos os anos
perto da época natalícia.
A iniciativa desta época realizouse
na receção ao Rio Ave, contando a
colaboração do Vitória SC, e com um
incentivo extra. Na entrega de um alimento
era oferecido um bilhete para o jogo. Foram
angariadas 9 toneladas esta época.
Ao longo dos anos tivemos outras
iniciativas, umas mais conhecidas e outras que
ocorreram sem a necessidade de promoção.
Aliás, das vezes que promovemos as ações
foi sempre com objectivo de agradecer
publicamente aos nossos parceiros, que nos
ajudam na realização de algumas metas.
Dentro das mais conhecidas, recordamos a
do “pequeno Rúben” que foi uma das ações
mais importantes neste percurso solidário,
primeiro por ser irmão de uma pessoa do
nosso grupo e segundo pelas necessidades
para uma melhor qualidade de vida. Movendo
algumas influências, conhecimentos e
contando com algumas empresas locais e
algumas pessoas anónimas, conseguimos
uma cama articulada, uma cadeira de rodas e
ajudas para restaurarmos a casa do Rúben e
da família.
É com imenso prazer que o fazemos
e é, também, por estes pequenos gestos
de coragem e espírito de entreajuda que
continuaremos a lutar, contribuindo para um
melhor bem estar junto das pessoas mais
necessitadas. Esta é a nossa forma de estar
junto da nossa comunidade!
Como podem perceber, para além
de sermos apaixonados pelo Vitória SC e por
toda a mística e história da nossa cidade,
sentimos necessidade de contribuir nestas
causas de que tanto nos orgulhamos.
Por White Angels
91
“Derby do Minho” de seu nome,
marca aquele que é o embate entre o SC
Braga e o Vitória SC, o duelo entre as cidades
de Braga e Guimarães e o confronto entre
as suas gentes. Cerca de trinta quilómetros
separam as duas localidades vizinhas, tão
perto geograficamente, mas tão distantes ao
mesmo tempo. Distância essa suficiente para
haver uma disparidade tão grande naquilo
que de maior peso tem neste derby, a história
e suas versões entre quem mediaticamente a
costuma proclamar e por quem a tem. Posto
isto rapidamente se chega à conclusão de
que o futebol neste caso é efetivamente um
fator secundário, tem a sua quota-parte de
contribuição para as hostilidades, porém não
está na génese da rivalidade.
Apesar de ao longo dos anos
assistirmos a uma tentativa propagandista
e de certo modo a uma censura de peso a
tudo o que envolve fora das quatro linhas,
o derby do Minho vai incontornavelmente
além desses meros 90 minutos. Explicá-lo,
se é que é sequer possível, obriga a recuar
àquela que é a génese do futebol, à razão
que o levou a ser denominado de desporto-
-rei. É necessário perceber o que o elevou
e o potenciou tornando-o tão apetecível
aos olhos dos agentes que atualmente,
agindo de modo contraditório, o pretendem
comercializar atropelando todos aqueles
que para sempre irão constituir a última
barreira de um futebol popular, apesar da
sua constante marginalização e passagem
para um papel secundário, as comunidades
representadas por todos os aficionados nas
suas bancadas.
Qualquer Derby do Minho inicia
com os primeiros pensamentos e esboços do
planeamento e organização daquele, que por
muito limitado dadas as circunstâncias, vai ser
o tifo de bancada e da ânsia do momento da
bola começar a rolar, dos duelos não só entre
aqueles 22 jogadores em campo assim como
os que acontecem nas bancadas entre as duas
curvas presentes no estádio. Dá-se também
das estradas nacionais que ligam as duas
cidades, que por vezes nem parecem estarem
conectadas por uns curtos 30 km, bem como
das picardias que, não só vão aquecendo
o clima de derby, como contribuem para a
essência do mesmo. Resumindo, é o frentea-frente
entre duas comunidades.
Em modo de desabafo, confesso
que é frustrante assistir a esta tendência em
querer resumir esta partida a uma questão
92
de posição na tabela classificativa, algo que
obviamente também faz parte e tem de ser
enaltecido, mas banalizar o embate com
os “nuestros hermanos” é algo que não me
assiste. Esta cultura da qual bebemos e nos
entusiasma, leva-nos a uma questão mais
complexa, que não pode ser justificada por
nenhuma posição classificativa. Resumese
a: “Nós para aqueles gajos não podemos
perder em nada, nada mesmo!”, no campo,
na bancada, onde for… Viver e sentir o derby
do Minho é resumir tudo a um 8 ou 80, a um
“all in”, o dia que irás para sempre lembrar ou
aquele que darias de tudo para esquecer!
Quis então o calendário que logo no virar
do ano, no dia em que se celebra os Reis,
se desse na pedreira o jogo mais longo de
todo o ano. Soa então por volta das 20h30 o
apito inicial no Municipal de Braga, apito esse
que, como é frequente, apenas se dá alguns
dias depois do derby ter verdadeiramente
começado. Com o entrar na semana do
derby de dia 6, desenrola-se as habituais
picardias de parte a parte acompanhadas
com as “patrulhas” que estiverem presentes
nos dias que antecederam o jogo. Eis que se
vai aproximando o “dia D”, todas as emoções
se multiplicam e a cabeça já só pensa numa
coisa.
A verdade é que, infelizmente,
neste último derby ficou a sensação de
que algo faltava para o completar. Isto
porque a semana que antecede o jogo, é
tradicionalmente acompanhada de tudo o
relatei anteriormente, no entanto, para quem
respira a cultura de bancada, há algo que
por razões não de força maior, mas apenas
repressivamente moldadas em formato
de lei é nos retirado desta bela semana…
a impossibilidade de tifar, à boa e velha
maneira bracarense, em grande e sempre
em constante aprimoramento. Uma semana
desta dimensão teria de ser obrigatoriamente
acompanhada por horas a fundo de sono
perdidas na realização de um tifo, e com
todas as peripécias que do convívio associado
advêm, com a finalidade de no dia do jogo ser
erguido para a euforia tremenda de quem o
idealizou, projetou e pintou. O porquê de nos
ser impossibilitado? Não sei responder, mas a
tutela proclama tratar-se de medidas contra a
violência no desporto. Caso para dizer que o
único caso de estudo que pode existir aqui é
o da mente deles!
Finalmente chega o dia tão
aguardado e preparam-se então os últimos
detalhes daquilo que é a organização
necessária para as últimas horas antes do
apito inicial, assim como naquela que é a
razão que nos move em prol do Sporting
Clube de Braga, o apoio e toda a organização
da bancada que o exponencia até porque
se refletirmos bem, provavelmente trata-se
do jogo mais difícil a nível de bancada. Os
nervos estão à flor da pele e ir do céu ao
inferno, da explosão ao esfriamento é uma
questão de instantes e variável consoante
as fases do jogo, algo que nos ultrapassa e é
sem margem para dúvidas o jogo onde é mais
difícil de controlar a bancada.
Começa a partida, partida essa
bem disputada durante a 1ª parte, tanto
dentro como fora do campo, com ambos
os lados a protagonizar uma disputa a
nível vocal que veio acompanhada de um
“acender das velas”. O jogo vai para intervalo
a registar-se uma igualdade no marcador
apesar das inúmeras oportunidades de golo
dos da casa. Oportunidades essas que só
se materializaram em golo aos 56 minutos
para alegria e explosão dos cerca de 25
mil bracarenses presentes. O ambiente
efervescente envolvente e de euforia extrema
tornou-se frenético, estar por cima “daqueles
93
gajos” é impagável!
Após várias tentativas flagrantes de
golo não aproveitadas aconteceu aquilo que
é apelidado de futebol, com a igualdade a ser
estabelecida no último lance do jogo gelando
aqueles mesmos 25 mil bracarenses que
instantes antes expeliam todas as emoções
antagónicas às daquele momento e havendo
a natural inversão de papéis nas bancadas no
que às emoções diz respeito, sendo a vez dos
visitantes fazerem a festa.
Afinal de contas não há pior do que
isto, em pleno derby do Minho sofrer um golo
impeditivo da vitória nos últimos instantes da
partida. Ainda assim, no final de contas não
há nada melhor do que ter a oportunidade de
viver as emoções do derby nº1 em Portugal,
o do Minho!
Termina assim mais um duelo que
nunca conseguiram comercializar, onde os
principais protagonistas, os das bancadas
nunca serão “chutados” para segundo ou
terceiro plano. Duelo esse onde nunca
ocorrerá a substituição de aficionados
para meros clientes e consumidores,
simplesmente é impossível, tem demasiado
peso, demasiada história, demasiado fervor
para tal…
Por fim resta a amargura do
resultado e a ansiedade de que o próximo
encontro chegue e rápido. Permanece o
sonho de que um dia seja possível fazer jus
à grandeza deste encontro nas bancadas,
seja qual for o estádio onde o derby se
jogue. Que todo o tifo de bancada que
contribui para elevar o ambiente do jogo, que
estranhamente não só é apreciado por todos
mas em especial seja aproveitado para fins
publicitários e comerciais por parte de quem
ao mesmo tempo não só o mina como o
oprime e marginaliza, seja liberalizado. A “arte
de tifar” que só é compreendida quando lhes
convém. Um contra-senso estranho apesar
de ser tão fácil de compreender.
Seremos sempre a última muralha
impenetrável do futebol do povo. Aos
adeptos aquilo que a eles lhes pertence!
Liberdade para apoiar!
Liberdade aos Ultras!
Por João C.
94
Quando a nossa equipa está em
campo todos os jogos são importantes,
porém há jogos que nos levantam memórias
pessoais e colectivas que, em alguns casos,
até ultrapassam o contexto desportivo e o
sentimento é naturalmente ampliado.
A rivalidade histórica entre
Guimarães e Braga é uma história muito
antiga que apenas se transportou para o
contexto desportivo vários séculos mais
tarde. Muito se sente, muito se fala, mas
afinal de onde vem esta rivalidade? Pelo que
fui aprendendo ao longo dos anos e fazendo--
me valer de algumas fontes, posso contar que
uns dizem que os problemas entre as duas
terras começaram a 1139, aquando a criação
da Colegiada de Guimarães, enquanto que
outros falam que terá sido a 23 de outubro de
1216 com a primeira concordata entre a Sé de
Braga e o Cabido de Guimarães – traduzindo
por miúdos, antes de existir essa concordata
a Colegiada de Guimarães não pertencia
a nenhuma diocese e, por isso, gozava
de uma certa autonomia. Seja como for,
percebe-se assim que, os primeiros sintomas
da rivalidade, começaram por questões
religiosas e foram se desenvolvendo ao longo
dos séculos seguintes dentro desse mesmo
contexto. No decorrer do tempo vários
acontecimentos fortaleceram o conflito, mas
destaco uma mudança importante quando,
em 1835, dá-se uma alteração significativa
nas divisões administrativas de Portugal.
Com a criação dos distritos, Guimarães passa
95
a ter uma dependência administrativa em
relação a Braga. Até então, Guimarães era
uma comarca como Braga. Esta mudança
é bastante importante para o aumento da
clivagem entre as duas terras.
Este é um pequeno resumo onde,
por necessidade de espaço, ocultei outras
datas relevantes. Gostava de continuar, ainda
assim espero que este seja um contributo
para uma maior compreensão do conflito
entre Guimarães e Braga, mas o verdadeiro
objectivo deste texto é contar a história do
último derby.
Numa declaração final, para fechar
este assunto, devo dizer que, dentro do que
percepciono, aquilo que narrei é apenas um
relato histórico que muito provavelmente
nem é conhecido na sua íntegra. Todavia, não
é por se ter ou não ter conhecimento dos
acontecimentos históricos que a rivalidade
é sentida de forma menor. Até porque, se
formos a analisar com atenção, para muitos
a história da rivalidade forjou-se desde
novos com o incentivo de alguém próximo e
desenvolveu-se com a própria experiência de
vida.
Vamos lá ao jogo, que foi marcado
para um sábado, dia 6 de janeiro, às 20h30.
Contudo, para os adeptos vitorianos
começou uns dias mais cedo, na madrugada
da passagem de ano. Nesse noite, os Insane
Guys colocaram uma frase na ponte do
Estádio D. Afonso Henriques onde se podia
ler: ANO NOVO, A VELHA HISTÓRIA: BRAGA
É MERDA. Estavam abertas as hostilidades.
Dias depois, desta vez junto ao Estádio do
rival, é colocada uma nova frase dos Insane
que dizia: MARROQUINOS, DIA 6, CELEBREM
96
A CHEGADA DOS REIS! Ainda na mesma
noite, os Red Boys deixaram uma frase em
Guimarães a qual, pouco depois, foi devolvida
à terra de origem por ultras vitorianos. Esta
questão das frases tem um sabor especial,
acaba por ser um jogo dentro de outro jogo, é
uma espécie de aquecimento para a partida.
Ainda sobre as dinâmicas de pré jogo, no dia
anterior ao derby, os White Angels foram
incentivar os jogadores na saída para o
estágio de preparação.
Foram enviados 1500 bilhetes para
Guimarães mas, muitos outros, haveriam de
ser adquiridos por outros meios. Uma nota,
esta questão de cumprir os regulamentos e
disponibilizar o menor número de bilhetes é
nociva e quem mais perde são os adeptos.
Ainda assim, ressalvo que, foi organizada uma
zona de segurança, fora do sector visitante,
para os adeptos vitorianos que tinham
bilhetes para outras zonas do estádio. No final
de contas, foram 22385 os adeptos presentes
dos quais mais de 2000 eram dos nossos.
No sector vitoriano, os quatro
grupos fizeram-se representar em número
considerável. Foram quase 100 minutos de
apoio com pirotecnia pelo meio. Por volta
do minuto 98 fizemos o golo do empate, um
grande golo, foi uma verdadeira explosão no
nosso sector. Um empate não é uma vitória
mas, não sejamos hipócritas, este jogo não é
um jogo normal.
Porque um derby faz-se dos vários
momentos ocorridos, deixo uma história
engraçada de quando os adeptos do Vitória,
após furarem a rede, lançaram uma lona
para a bancada inferior e nesse momento os
adeptos da casa puxaram a lona e reagiram
como se de uma conquista se tratasse. Deram
a entender que presumiam ser uma faixa, mas
era apenas uma lona que servia de barreira
para afastar os nossos adeptos da rede que
envolve o sector visitante. A lona acabou no
sector dos grupos da casa.
Por J. Lobo
97
O futebol tem vivido um processo
de transformação da sua génese, aquilo que
outrora foi um desporto popular e associativo
é hoje um negócio milionário e, a verdade
é que, essa transformação tem acelerado
vertiginosamente nas duas últimas décadas.
Ver uma competição oriunda de um dos
grandes países do futebol europeu ser
disputada fora da sua pátria de origem é um
acontecimento que se tem vindo a naturalizar
e Pedro Proença, parecia já estar a congeminar
algo de semelhante para o futebol português
há algum tempo. Dito isto, confesso que foi
com indignação, mas sem grande surpresa
que recebi a notícia de que havia planos para
remodelar o quadro competitivo da Taça da
Liga, reduzir o número de clubes participantes
e tentar a internacionalização desta prova.
Foi a 5 de Maio do ano transacto que
a direcção da Liga aprovou por unanimidade
esta mudança que prevê que apenas 8 clubes
disputem a competição (os 6 primeiros da 1ª
Liga e os 2 primeiros da 2ª Liga da temporada
anterior), ao contrario dos 4 clubes apenas
que tinham sido inicialmente sugeridos,
alegadamente por pressão do Vitória de
Guimarães, numa manobra que parece mais
preocupada com os interesses próprios do
que com o bem colectivo. A bem da verdade
a responsabilidade estende-se a todos os
clubes profissionais uma vez que nenhuma
direcção teve a decência de se opor a esta
mudança, convergência que é reveladora da
integridade da “nossa” classe dirigente.
Como é natural, depois de
começarem a circular as primeiras notícias
sobre este acontecimento, as conversas
com amigos e conhecidos dos meandros da
bola passaram a ser monopolizadas por este
assunto. O descontentamento era geral, a
necessidade de fazer alguma coisa que desse
voz à nossa indignação também, mas entre
ideias e planos mais ou menos mirabolantes a
verdade é que mais uma vez os grupos ultras
nacionais foram incapazes de encetar uma
acção concertada e a taça da liga arrancou
sem sobressaltos de maior, apenas com
a Febre Amarela do Tondela a anunciar o
boicote à competição.
Daqui por diante tentarei descrever
da forma mais detalhada e percetível possível,
a forma como decorreu o processo de luta
encetado pela Bracara Legion contra este
novo formato, desde a tomada de decisão
até às iniciativas levadas a cabo na semana
da final, por forma a partilhar métodos de
acção com todos os grupos interessados em
encabeçar lutas contra o futebol moderno,
porque acredito que só com união e partilha
de experiências poderemos alcançar sucessos
para esta causa que é, ou deveria ser de
todos.
Foi em reunião geral de grupo, no
início de época, que debatemos formas de
luta para demonstrar a nossa discordância
com a adopção deste novo formato e em
98
particular com o facto de se virem a disputar
jogos em solo estrangeiro. Depois de quase
duas horas de discussão, acabaria por se optar
pelo boicote total à competição, medida que
teve concordância quase absoluta entre os
membros do grupo. A decisão acabaria por
ficar no segredo dos deuses e optamos por
anunciá-la em primeira mão aos associados
do SC Braga a 21 de Outubro de 2023, em
Assembleia Geral do clube. Essa ocasião
foi aproveitada também para questionar
os membros da direcção e o presidente em
particular acerca da posição que tinham
sobre o assunto, uma vez que publicamente
não tinham mostrado nenhum género de
discordância com esta mudança. Seria a
primeira faúla que no futuro se viria a alastrar,
mas sobre isso falarei mais à frente.
Volvida menos de uma semana
sobre a AG, no dia 27 (sexta-feira), emitimos
um comunicado que tornamos público na
nossa página de Facebook, e cuja divulgação
em massa pelas redes sociais foi concertada
com todos os membros do grupo, comunicado
esse em que anunciávamos o boicote e em
que explicávamos as razões para avançarmos
para uma medida tão radical. No dia seguinte,
aproveitamos a realização dum jogo de futsal
na Arena do SC Braga e a curta transferta
até Barcelos, que mobiliza sempre muitos
bracarenses, para distribuir à porta dos
dois recintos, panfletos com o comunicado
impresso. Para além disso abrimos na
bancada do Estádio Cidade de Barcelos uma
frase em que se podia ler:” Taça da Liga no
estrangeiro? Fazemos boicote, fiquem com o
dinheiro”.
O impacto mediático destas acções
superou largamente as nossas espectativas e
o que é facto é que foram sendo publicadas
noticias em vários órgãos de comunicação
social nacionais, para além de inúmeras
publicações em páginas nas redes sociais.
Era hora de surfar a onda e apostar forte
para fazer desta batalha uma grande vitória.
Durante a semana que precedeu o jogo não
demos tréguas, fomos espalhando frases
a apelar à mobilização um pouco por toda
a cidade e partilhamos também um vídeo
de consciencialização. Estes dias foram
efectivamente muito produtivos e recebemos
com muita alegria a notícia de que os nossos
companheiros de curva, os Red Boys, se
juntariam também ao boicote, para além
de muitos outros bracarenses que a título
individual se iam associando ao mesmo.
O dia do jogo viria a “dar-nos”
a vitória, não dentro das quatro linhas,
mas pelo sucesso da iniciativa. No estádio
estavam pouco mais de 6000 pessoas, sendo
que até ao momento a assistência mais
baixada temporada em jogos disputados
na pedreira era de 16000. Em boa verdade,
parte deste sucesso tem de ser atribuído
também a quem calendarizou o jogo para as
20:15h numa quarta-feira que era feriado, e
em que o mesmo podia perfeitamente ter
sido disputado a horas decentes e também
ao facto dos visitantes, o Casa Pia, não
99
mobilizarem adeptos para a contenda. O
parco número de adeptos presentes, bem
como as sucessivas menções nos média,
inclusive várias referências ao boicote
feitos pelos comentadores da transmissão
televisiva, eram objectivos delineados para
medir o sucesso da acção.
O SC Braga só voltaria a entrar em
acção na competição quase um mês e meio
depois, a 22 de Dezembro, e deslocar-seia
à Choupana na Madeira, para defrontar
o Nacional. Nesse mesmo dia partilhamos
a fotografia de nova frase, desta feita com
Aeroporto Francisco Sá Carneiro como pano
de fundo, em que se podia ler: “Voo Allianz
Cup com destino às Arábias. Dirigentes e
investidores podem embarcar, Adeptos
fiquem a televisionar”. No estádio estariam
pouquíssimos bracarenses, algo que seria
também espectável uma vez que a viagem
até ao território insular numa data perto
do Natal e numa competição sem grande
interesse nunca mobilizaria muita gente
para além dos ultras. Dentro do retângulo de
jogo os bracarenses venceriam o Nacional,
e os 3 pontos, somados ao outro alcançado
no empate caseiro com o Casa Pia seriam o
suficiente para avançar para a final four, que
seria novamente disputada na cidade de
Leiria, no final do mês de Janeiro.
No dia anterior à meia-final em que
defrontamos o Sporting, voltamos a emitir
novo comunicado em que reafirmávamos
a nossa posição e em que voltávamos a
pedir o apoio dos restantes associados
do clube. A terça-feira de jogo traria uma
resposta esmagadora, menos de 200
adeptos presentes num jogo a eliminar
disputado numa cidade que se localiza a
uma distância aceitável. Apesar da ausência
de adeptos, a nossa equipa venceu o
Sporting e qualificou-se para a final. A partir
daqui o consenso que vinha a verificar-se
entre as hostes bracarenses estilhaçouse
e começaram a “chover” pedidos para
que reconsiderássemos a nossa posição.
Evidentemente que tal situação nem sequer
se equacionou, o quão incoerentes teríamos
de ser para voltar atrás com a nossa decisão?
Bem sabemos que as emoções toldam o
raciocínio das massas e a possibilidade de
conquistar um título é sempre um chamariz
apelativo, mas restava-nos um último esforço
para fazer valer os nossos intentos.
Voltaríamos à carga e espalharíamos
de novo frases de apelo ao boicote por toda a
100
cidade, acção essa que os Red Boys também
tiveram e publicariam ainda um vídeo muito
bem conseguido de sátira aos poderes
instalados. Esta unidade entre grupos foi
essencial num momento em que muitos dos
que apoiaram a acção nos jogos anteriores
nos viriam a atacar por não cedermos um
milímetro na posição que ponderadamente
tínhamos tomado. Para reforçar o ânimo
fomos percebendo que as notícias sobre
o protesto não paravam de circular e
inclusivamente seríamos contactados por
JN e TSF para explicar a nossa posição. Em
todas as transmissões televisivas dos nossos
jogos o tema foi várias vezes abordado o que
é sintomático do sucesso da nossa acção,
ainda que a presença de grande número de
bracarenses na final tenha deixado um certo
amargo de boca.
No dia da final, marcamos presença
em Cascais, em jogo da Taça de Portugal
de futsal frente ao Vinhais, uma equipa das
divisões secundárias. Não deixamos ainda
assim de vibrar com o jogo que fomos
acompanhando via relato radiofónico. À
alegria do triunfo, seguiu-se a raiva pelas
palavras do Presidente António Salvador, que
no final do encontro disse aos microfones da
Rádio Renascença que os que fizeram boicote
“não fizeram falta nenhuma”. A vontade era
de lhe proporcionar uma “comissão de boasvindas”,
mas felizmente soubemos ser frios e
pensar de forma estratégica. Não podíamos
correr o risco de virar o grosso dos associados
do nosso clube contra nós, pois dentro de sete
dias teríamos uma Assembleia Geral decisiva
para o futuro do clube e a nossa resposta foi
dada nesse mesmo dia e de forma categórica.
A proposta de alteração dos estatutos apoiada
pela direcção não teve provimento e o nosso
querido presidente ficou bem ciente da nossa
capacidade de mobilização e organização.
Pergunto muitas vezes aos meus
companheiros de grupo, por que razão
lutamos? Para ter reconhecimento entre
pares, para cimentarmos o nosso estatuto
enquanto “mentalitás” ou pelo contrário
se lutamos para transformar, para vencer?
Se queremos efectivamente que a cultura
ultra sobreviva e floresça, se queremos um
futebol para o povo então convém que a luta
se propague a muitos outros grupos e que
assim contagiemos as massas adormecidas.
Mas não precisamos de lutas estéreis para ter
5 minutos de fama no telegram. Precisamos
de lutar de forma coordenada, com recurso
a estratégia e planeamento e sabendo que
quando quem detem o poder tem todos os
recursos ao seu alcance, só podemos sonhar
com a vitória se trouxermos a opinião publica
para o nosso lado. Há que deixar egos de lado
e unir esforços para de forma consequente
solidificar um movimento de constestação
forte, devidamente coordenado pela APDA,
para obrigar os órgãos que tutelam o nosso
futebol a ouvir as nossas exigências. É
imperativo seguir estes passos para que
alguma coisa mude realmente!
Uma vez que na próxima temporada
a Taça da Liga se continuará a disputar em solo
nacional aparentemente porque nenhum
país quis ficar com ela, que tal um boicote
generalizado, anunciado em devido tempo
pelo grosso dos grupos ultras nacionais? Fica
a sugestão!
LUTAR PARA TRANSFORMAR,
RUMO À VITÓRIA!
Por J. Sousa
101
CULTURA
DE ADEPTO
Por M. Bondoso
102
Fuori Gioco
Internacional
Fuori Gioco (1.2.3.4)
Autor: Alessandro Amorese, Mauro Bonvicini
Ano: 2022 - 2024
Páginas: 100 em Média
Preço: 15eur
Para este número fugimos às críticas
a livros Ultras, e dedicamos este espaço a um
projecto com 4 números mas já com 2 anos
de actividade.
A Fuori Gioco apresenta-se
como uma revista sobre a mais duradoura
subcultura italiana e pretende dedicar-se
apenas aos anos 70,80 e 90. Nota-se também
uma forte influência britânica nos temas que
sejam musicais, roupa ou grupos.
Neste momento já conta com 4
números editados, com uma média de 100
páginas cada um, sendo bastante semelhante
à Cultura de Bancada neste aspecto.
Em cada número apresentam
sempre uma galeria fotográfica de vários
anos, também um espaço para livros e CD’s
no final.
O principal destaque vai para a
entrevista a um grupo por número. É sempre
excelente ter acesso a este tipo de conteúdo
por pessoas que fizeram a história do
movimento ultras.
A nível de grafismo é bastante
simples e directo e notou-se um bom
gradiente entre o primeiro e o ultimo numero
no que toca a fotografias a cor, fazendo jus à
evolução temporal presente nos assuntos da
revista.
Quem desejar adquirir pode
procurar em www.ecletticaedizioni.com/. A
revista está também disponível na Amazon
para quem preferir.
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On Tour: Esgueira
No sábado, 6 de janeiro de 2024,
decidimos fazer-nos à estrada para mais uma
deslocação do Portimonense S.C., neste caso
da nossa equipa de Basquetebol.
Em Portimão, à hora marcada, no
caso 9h00 da matina, começa a concentração
dos primeiros elementos. Pouco depois,
pelas 9h30, arrancamos e já contávamos com
o primeiro desistente, um dos nossos que
decidiu fazer direta e deixou-se dormir.
Arrancámos, assim, com a carrinha
a meio gás, pois íamos apanhar o resto da
malta pelo caminho. Primeira paragem na
autoestrada de Silves para apanharmos
o primeiro e daí seguimos, sempre pela
nacional, tirando as paragens quando a
bexiga apertava. Já só fizemos a paragem
obrigatória na Mimosa, Alvalade para encher
o bucho com a típica bifana. Lá continuámos,
em direção ao centro do país, fazendo umas
paragens nas estações de serviço para esticar
as pernas e, pelo meio, apanhou-se mais um
em Coimbra.
Na carrinha íamos fazendo a festa,
sempre com muito álcool à mistura. Quando
faltava apenas meia hora para chegarmos
tentámos coordenar, junto dos responsáveis
do Basquetebol, uma receção à equipa com
pirotecnia, mas rapidamente desistimos da
ideia, pois percebemos que iríamos chegar
tarde para tal.
Às 17h45 deu-se a chegada à
Esgueira. Como ainda faltava algum tempo
para o início do jogo, cá fora íamos aquecendo
as vozes, com cânticos, enquanto assávamos
chouriço num assador de barro, em cima da
arca da cerveja.
Pelas 18h30, início do jogo num
pavilhão bem-composto e com bom apoio
por parte dos da casa.
Mesmo estando em clara
inferioridade numérica, aproveitámos a boa
acústica do pavilhão e fomos fazendo a festa.
Na quadra a equipa não correspondia, mas
isso era o menos importante. Apesar de irmos
a perder por uma boa diferença do 2º para o
3º período, não esmorecemos.
No 4º e último período ainda
tivemos direito a uma surpresa, pois
começámos a receber chamadas para ir
entregar dois bilhetes à porta. O espanto
foi grande pois juntaram-se mais dois
elementos que, sem avisar o resto da malta,
arrancaram sozinhos de carro após terem
saído do trabalho às 16h30. Para assistirem a
um bocado do jogo, fizeram todo o percurso
prego a fundo pela autoestrada, e a chegada
desses dois reforços entusiasmou o pessoal e
serviu de embalo para um forte apoio vocal
nos minutos finais.
No final do encontro, destaque para
a simbiose entre nós e a equipa. Ao contrário
do fut€bol profissional, que deixamos de
apoiar, nas modalidades amadoras sentimos
que os atletas valorizam o nosso esforço.
Feitos os agradecimentos por parte da equipa,
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decidimos rumar até Oliveira de Azeméis
para confraternizar com alguns membros dos
Fanatics (grupo do C.S. Marítimo), com quem
mantemos contacto, aproveitando o facto de
eles terem jogado com a Oliveirense nesse
mesmo dia às 11h da manhã.
Do hotel, onde estavam alojados,
rumámos até um café onde se deram as
habituais trocas de abraços, bebemos
algumas rodadas de cerveja e trocámos
autocolantes.
Já perto das 22h30 era hora de
regressar a casa, pois ainda tínhamos mais
500 quilómetros para baixo. Seguimos até
Coimbra novamente pela nacional, onde
fizemos uma paragem mais longa para comer.
A partir dali fizemos o percurso até ao Algarve
sempre pela autoestrada e novamente com a
carrinha a meio gás, desta vez porque algum
pessoal se deixou dormir.
Batiam as 4h30 quando chegamos
a Portimão e, enquanto alguns limpavam a
carrinha, outros agarravam na calculadora
porque estava na hora daquela parte que
ninguém gosta… Feitas as contas e divididas
as despesas, entre o aluguer da carrinha,
o combustível e portagens, cada um
desembolsou cerca de 42 € para a viagem.
Fica a sensação de dever cumprido
e mais uma viagem cheia de histórias,
companheirismo e sobretudo de muito
Portimonense!
Por P. Filipe
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