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Cultura de Bancada, 22º Número

Cultura de Bancada, 21º número, lançado a 12 de fevereiro de 2024

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04

editorial

06

vamos vivendo,

vamos aprendendo

10

26

HISTÓRIA DO MOVIMENTO

ORGANIZADO DE ADEPTOS

no FC Porto

ultras com história

fernando mendes

34

apostas desportivas

38

à conversa com

association nationale des supporters

42

memórias da bancada

56

resumo da bancada

2

76

o pontapé que abateu

uma avioneta


78

que futuro para o varzim?

82

estrela da amadora x

boavista fc

83

87

90

manter 50+1

derby de évora

white angels solidários

92

derby do minho

98

102

106

rumo à vitória

cultura de adepto

a voz do leitor

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Edito

Houve um tempo em que a

chegada de um novo ano levantava a

esperança das pessoas, mas quão longe

vai esse tempo? Então, enquanto adeptos,

não dá mesmo para criar o mais pequeno

sentimento de esperança. Em substituição

aparece o da injustiça, alimentado pela

forma como somos tratados semana após

semana. É facto que o clima de censura e

violência contra os adeptos está a aumentar

e, como se já não fosse suficientemente mau,

a maioria reage assobiando para o lado. E o

que dizer das instituições e entidades com

poder que continuam a empurrar esses

acontecimentos para debaixo do tapete? Foi

assim no caso recente das agressões policiais

nas imediações do Estádio de Alvalade e é

assim na grande maioria das ocorrências

que prejudicam os adeptos. Fica a ideia de

que, quando o assunto é atacar os adeptos,

os clubes, as polícias e o governo fecham

os olhos. Quando algo se repete com muita

frequência, não é coincidência.

Por outro lado, já saiu o novo

Relatório de Análise da Violência Associada

ao Desporto. Este, sim, é um idioma que as

autoridades competentes já compreendem.

Compreendem demais, diríamos nós, uma

vez que até a venda ilícita de bilhetes se

configura como um acto de violência. E

sobre a pirotecnia? Sobre esta, temos os

dados que realmente possuem uma forte

expressão e, por sua vez, a velha promessa da

criminalização está prestes a materializar-se.

Não somos nós que dizemos, mas estamos

atentos e acreditamos que as conferências

que suportam o “cenário apocalíptico”

lançaram a segunda pedra recentemente, em

Viseu.

Resumindo, a demonstração de

força do governo não se vai centrar nos

ataques com armas brancas e de fogo

que se repetem cada vez mais nas ruas

de Portugal. Pelo contrário, os já poucos

polícias portugueses terão mais que fazer

com os adeptos que, por sua vez, serão

ainda mais perseguidos. Queremos referir

que não usamos o exemplo da criminalidade

nas ruas para desviar a atenção sobre a

questão da pirotecnia. Apenas tentamos

expor a hipocrisia política que encena uma

demonstração de força no palco mediático

que é o futebol, ao mesmo tempo que fecha

os olhos aos verdadeiros problemas com a

violência em Portugal.

Todos sabemos a força que os

Director

J. Lobo

Redacção

L. Cruz

G. Mata

J. Sousa

Design

S. Frias

M. Bondoso

Revisão

J. Rocha

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rial2

estádios têm como palco mediático e, talvez

por isso, exista uma vontade tão grande em

proibirem os adeptos de se expressarem

livremente. São múltiplos os actos de censura

a que somos sujeitos e, agora, nem os panos

com as iniciais dos nomes dos grupos podem

entrar na bancada. Quem recentemente

escolheu subir ao famoso palco mediático

e também sentiu a limitação dessa censura

foram as forças de segurança que organizaram

protestos em alguns estádios, onde se inclui o

do Portimonense e, diferentemente do que

tinha acontecido há uns anos durante uma

partida da Taça da Liga, viram o seu protesto

limitado ao cantar do hino nacional – uma

acção política. Quem sabe o que aconteceria

se fossem outros cidadãos a fazer o mesmo?

Nós sabemos e recuamos ao dia, não muito

distante da actualidade, em que no estádio do

Portimonense um grupo de professores teve

de retirar ou virar do avesso as suas t-shirts,

com frases de luta, e posteriormente foram

expulsos do estádio. Pensem o que quiserem,

mas nós estamos cansados.

Numa altura em que decorreram as

últimas etapas da edição deste ano da Taça

da Liga, não podíamos deixar de mencionar

algo em que o maior derrotado é Pedro

Proença, pois em breve saberemos em que

país se vai jogar esta espécie de competição

portuguesa. Venha de lá esse tempo, pois

acreditamos que a onda de indignação

será cada vez maior e mais rapidamente os

clubes poderão acordar, percebendo a falta

de prestígio desportivo e de respeito pelos

adeptos que a mesma transmite. A máxima

prevalece: quem nasce torto, tarde ou nunca

se endireita.

Uma palavra final para as novas

gerações de adeptos activos que, fruto dos

tempos, crescem mais individualistas em

comparação com as gerações anteriores:

nunca se esqueçam da importância das

causas, da união necessária para a realização

e da ética. Sozinho ninguém faz nada, mas

unidos e com um verdadeiro propósito,

alcançam a chave para o vosso caminho não

se resumir ao que temos e ao que somos

actualmente.

Quase que nos íamos esquecendo…

bem-vindos ao 21º número da Cultura de

Bancada! Aproveitem cada página. Se não

gostarem de ler tudo, procurem o que vos

interessa, mas, acima de tudo: interessem-se

por algo.

Convidados

Martha Gens

Fernando Mendes

ANS

Eupremio Scarpa

P. Costa

M. Soares

Tim

White Angels

Joao C.

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VAMOS VIVENDO, VAMOS APRENDENDO

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A APDA juntou-se à FSE em 2018

e foi em 2019 que o Congresso Europeu de

Adeptos teve lugar em Lisboa. Desde essa

data, o meu envolvimento em representação

da APDA se tornou cada vez mais intenso.

Em primeiro lugar, vejo com muita alegria

e satisfação ter sido eleita para fazer parte

da Direcção desta Instituição. São muitas

as vezes que sinto que todos os dias estou

a aprender para poder transportar esses

conhecimentos para o que fazemos na APDA.

Somos um país que pouco aposta

na pirâmide governativa do futebol, e em que

existem poucas oportunidades de formação

e aquisição de conhecimento e, por isso,

aproveito sempre para aprender mais e mais.

Um dos temas em que a FSE sempre se focou

(e agora de forma mais intensa depois da

assinatura do Memorando de Entendimento

com a UEFA) foram as competições da UEFA,

nas suas diferentes vertentes: bilhética (aliás,

deve-se à FSE a existência de um price cap

para as três competições), regulamentação,

sanções aplicadas pela UEFA, as alterações

aos próprios modelos das competições (a esse

propósito, a FSE foi ouvida vezes sem conta a

propósito da implementação que se chama o

“modelo suíço”), sempre numa perspetiva do

impacto de todas estas questões nos adeptos.

Para mim, este mote, tem sido incrivelmente

desafiante – na medida em que, no nosso

contexto, falamos muitas vezes sem grande

profundidade deste tema mas, na verdade, é

preciso muita informação e estudo não só das

regras da UEFA actualmente aplicáveis, mas

também conhecer o contexto próprio e único

do nosso país e quais os efeitos colaterais ou

secundários que determinadas alterações

podem surtir para nós. E para isso, foram-me

muitas vezes exigidas horas a estudar, a saber

mais, a ler, a falar com outras pessoas – para

me enriquecer e poder falar com propriedade

do “caso português”.

Apesar de tudo, nem é esse o

tópico deste artigo que vos escrevo. Além

de ter aprendido muito no que diz respeito

aos tópicos acima, decidi fazer parte, quando

a APDA se juntou à FSE, da chamada “Fan

Lawyers Network”, que não é mais que uma

rede internacional de advogados dedicados

a assuntos de adeptos, coordenada pela

FSE – uma espécie de grupo de trabalho. A

utilidade deste grupo é imensa – trocamos

experiencias, conhecemos o panorama legal

de outros países quanto às leis em vigor

(como por exemplo, como é vista legalmente

a pirotecnia de país para país).

Diversos clubes com excelentes

relações com a FSE começaram a recorrer

também à Fan Lawyers Network aquando das

suas deslocações europeias de forma a ter

contactos de advogados nos países onde o

seu clube joga fora. E para quê? Para garantir

aos seus adeptos apoio jurídico na condição

de visitantes.

E eu, parte dessa rede, ofereci-me

naturalmente para poder fazer esse trabalho.

Na verdade, acredito que um adepto, que

sente na pele todas as dificuldades quando

se desloca ao estrangeiro para ver o seu

clube, consegue entender o que fazer e

quando fazer. Também quais são as principais

preocupações. No país destino, sabe quais


são os principais obstáculos e como deve

actuar.

Os meu primeiro contacto para

trabalhar em Portugal foi do Departamento

de Adeptos do Eintracht Frankfurt, quando

jogaram com o SLB no Estádio da Luz para a

Liga Europa.

Conhecia bem a massa adepta do

Frankfurt e fiz um TPC mais aprofundado –

historial, grupos, forma de estar, ideologias.

Um clube que é conhecido pela sua massa

adepta, que invade qualquer estádio, onde

quer que que a sua equipa jogue. Nem

sempre foi assim, e esta postura vem de uma

história que se tornou nas manifestações de

bancada que hoje conhecemos dos adeptos

deste clube.

Sabia a lei, conhecia os

intervenientes. Fiz contactos prévios com

todos eles, de forma a saberem que estavam

acompanhados por advogado. Também do

lado do clube estavam plenamente cientes

da lei em vigor – o que podiam e o que não

deviam, e quais as consequências. Em todo o

caso, estaria sempre ali, lado a lado com eles,

como se um deles se tratasse.

Reunião pré jogo, cortejo (de vários

kilómetros, até ao estádio da luz), cânticos,

bandeiras e chamadas para os spotters

durante o cortejo. Sobre a comunicação,

era muita e fluída. Chegados ao estádio,

supervisão da revista e só entro quando

não houver nem um adepto na rua. Desta

primeira experiência sentei-me na bancada

central com bilhete, na medida em que foi a

primeira vez que trabalhámos e me queriam

sã e salva para o caso de ser necessária a

minha intervenção.

Correu bem. Reunião de feedback e

no dia seguinte estavam todos sãos e salvos

de volta a Frankfurt.

Sem me alongar em todos os clubes

com quem já trabalhei nas competições

europeias (alguns, apenas necessitam de

informações prévias relativamente a tópicos

específicos, como é o caso da pirotecnia

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e dispensam o acompanhamento em dia

de jogo), destaco o jogo em Guimarães do

Eintracht Frankfurt. Era definitivamente um

dos jogos mais esperados da fase de grupos,

e foi o último (o famoso e tantas vezes

derradeiro M6) – sobretudo por ambos os

lados terem consigo adeptos conhecidos

por serem particularmente míticos e com

bases muito fortes. Senti a pressão de todos

os factores de risco em causa e ia preparada

para isso mesmo.

O primeiro momento de tensão

verificou-se à entrada dos (dois) sectores

onde os adeptos do Eintracht Frankfurt

entravam – tivemos casos do fotógrafo oficial

do clube não poder entrar com a sua máquina

fotográfica, passando por casos de adeptos

com medicação e prescrição médica a serem

quase alvo de um inquérito para poderem

entrar. Houve problemas com a entrada

de megafones e um profissional do clube a

dizer que não podiam entrar com megafones

porque eram claques “não registadas”. Ao

apito inicial, todos os problemas estavam

resolvidos e não estava ninguém na rua.

Ao entrar no sector visitante (e nesse

jogo, já tinha uma credencial UEFA e já

fui também para o sector visitante – até

porque os próprios adeptos já sabiam quem

eu era e estava lá com eles), já o jogo tinha

começado no Estádio D. Afonso Henriques

– e de um lado, uma coreografia dos White

Angels acompanhada de pirotecnia (que

valeu ao VSC uma multa de 50k da UEFA) e

do meu lado - o sector visitante – cadeiras a

voar, adeptos a saltar para o piso de baixo....

Acabei de entrar e pensei “o que é que eu

perdi?”. Jogo de cintura, chamadas para o

“match commander”, pedindo que a polícia

se afastasse do cordão que já estava a ser

formado e pronto para entrar em acção. Uma

chamada telefónica que podia ter sido tirada

de um filme de acção. A polícia afastou-se e

os ânimos acalmaram.

Apito final – entre outras peripécias,

e alguns adeptos de parte a parte envolvidos

em confrontos na saída e ida para a estação

ferroviária, temos um último comboio a sair

de Guimarães às 00:20 para o Porto, onde a

maioria dos adeptos do Frankfurt ia ficar. Lá

vou eu agarrada ao telefone... “Ninguém quer

que eles percam o comboio, pois não? Então

ajudem-me e falem com a CP, por favor!”

Corrida louca em Guimarães. Um

comboio parado sempre à espera de mais um

adepto que aproveitou um café aberto para

uma ida à casa de banho ou um fino.

Todos no comboio, acenamos ao

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maquinista – pode seguir.

Por último, trago-vos ainda o último

jogo que acompanhei – Sturm Graz em

Alvalade, também a contar para a Liga Europa.

É um solo que eu conheço particularmente

bem e sei quais as vicissitudes.

Além de uma negociação de última

hora com o Metropolitano de Lisboa e o Sturm

Graz – foi possível parar o Metropolitano

de Lisboa para levar perto de 2 mil adeptos

direitinhos para a estação de Telheiras, que

dá acesso directo à Porta 1 do Estádio José de

Alvalade. Depois de uma paragem de susto na

estação do Campo Grande (estação destinada

aos adeptos da casa, onde os adeptos do

Sturm Graz não podiam sair!) e abertura de

portas, saímos em Telheiras. Cânticos audíveis

e que ecoaram até ao estádio – palmas,

tambores. Uma identidade muito forte.

O maior problema com que nos

deparámos foram equipas tanto do lado

da polícia como dos ARD bastante jovens.

Do lado dos ARD, continuam a cometer o

erro de justificar proibições com o nosso já

conhecido “não, porque não!”, o que é um

erro de escola. Paus para bandeiras, escovas

e pentes proibidos de entrar no recinto, e

uma falta de resposta em conformidade

que deixa qualquer um de cabelos em pé –

principalmente a mim.

No sector, uma fantástica

coreografia feita apenas com cachecóis,

cânticos e tambores que não pararam um

minuto – nem quando o clube estava a perder

3-0 fora.

Todo o convívio que antecede e

depois do jogo entre mim e a equipa dos

clubes... esse, só nós sabemos. Todas estas

situações de gestão de risco, ansiedade e

pressão, tornam os laços de quem ali trabalha

mais fortes. Pensamos todos da mesma

maneira, e só queremos toda a gente de volta

a casa e que levem de Portugal um dia para

contar aos filhos e netos.

Em todos os clubes com quem

trabalhei, criei uma ligação de amizade.

Todos os sorteios estamos com os olhos

postos naqueles potes mágicos – estudamos

a equação e no dia do sorteio já sabemos

todas as probabilidades. De olhos postos no

ecrã, ligados pelo chat, dizemos “Boa sorte e,

se tudo correr bem, vemo-nos em breve!”

Por Martha Gens, Presidente da Associação

Portuguesa de Defesa do Adepto

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A viagem é curta e nós temos tempo para absorver e desfrutar, algo que fazemos

quando tomamos um cálice de Vinho do Porto. Noutros tempos, podíamos ir de Matosinhos

para o Porto de elétrico, transporte que, entretanto, foi preterido. Aliás, teria outro simbolismo,

visto que, em 1895, a Rua da Restauração foi palco da primeira viagem de um carro elétrico na

Península Ibérica, substituindo os primeiros veículos de transporte colectivo de passageiros que

se moviam pela tracção animal. Mas, então, vamos de metro pelo caminho da história portuense

e portista, que se cruzam desde o século XIX até aos dias de hoje.

Continuamos a nossa leitura que nos vai fazer viajar na Antiga, Mui Nobre e Sempre

Leal, Invicta Cidade do Porto. Desde a pré-história, ainda que se tenham encontrado longe do

Centro Histórico, que há vestígios de ocupação humana no concelho. Hoje, sendo o Centro

Histórico considerado Património Cultural da Humanidade, revelador da sua importância, o castro

edificado no Morro da Penaventosa (actualmente Morro da Sé) foi o berço de toda a povoação

desta localidade, a partir dos primeiros séculos do milénio anterior ao nascimento de Cristo.

Naquele monte desenvolveu-se aquilo que viria a tornar-se cidade durante quase dois milénios,

onde autóctones, iberos, celtas e romanos deixaram o seu cunho. Os últimos empregaram uma

grande dinâmica na Ribeira, pois lá se encontrava o porto da cidade de Cale, desenvolvendo

infraestruturas importantes nessa zona. Então, o porto marítimo era conhecido em Roma por

“Portus Cale”, nome que abre um leque de derivações. Após a vitória dos visigodos sobre os

suevos em 584, o Rei Leovigildo manda cunhar uma série de moedas com a inscrição “Portocale”,

em referência à região do Porto. No século IX, dali surgiria o Condado Portucale, pertencente ao

Reino da Galiza, tendo em 1096 sido criado por Afonso VI de Castela o Condado Portucalense,

delimitado pelos rios Minho e Mondego, o qual foi doado a D. Henrique estrategicamente, devido

à presença moura na península. É em 1143 que se confirma a independência deste Condado,

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que está na origem do nosso país. Já no século XII, o couto portucalense (território da cidade do

Porto) passa por mudanças administrativas e territoriais, destacando-se a atribuição de foral a

um território administrado pelo Clero, o que contribuiu em larga medida para o aumento da sua

importância comercial e marítima, destacando-se a capacidade de trabalho daquelas gentes. De

forma a proteger as pessoas e a actividade mercantil dos oportunistas que ameaçavam chegar por

terra e mar, D. Afonso IV manda edificar aquela que ficou conhecida por “muralha fernandina”,

para a qual contribuíram as terras vizinhas da Maia, de Bouças, de Gondomar, de Melres, dos

Refojos do Ave, de Aguiar de Sousa, de Paiva e da Feira.

Nascido no Porto, o Infante D. Henrique acabaria por aproveitar os estaleiros da

localidade para preparar vários dos 200 navios da armada que fez expedição a Ceuta, no ano de

1415, na vanguarda da expansão marítima portuguesa. Desta situação nasce uma das versões

da lenda das Tripas à Moda do Porto e dos tripeiros, uma vez que se conta que, devido a esta

expedição, os portuenses teriam fornecido à armada a carne limpa, salgada e acamada, sobrando

somente as vísceras para seu governo. No entanto, a população já estaria habituada a isto, pois

como cidade portuária dedicada ao comércio marítimo com o norte europeu, teria de alimentar

os seus marinheiros com o melhor que tivessem.

É aqui que ouvimos o anúncio de que a próxima paragem é na Lapa, onde saímos.

Percorremos Cedofeita, passando pelo Piolho, e vislumbrando a Torre dos Clérigos, obra realizada

no século XVIII, numa época em que o Porto tinha uma economia mais diversificada e pujante,

fruto da exportação de imenso Vinho do Porto, da construção naval e do fabrico de cordas,

tabaco, ferragens, tanoaria e cerâmica. É encetado um conjunto de intervenções urbanísticas

relevantes na senda do desenvolvimento económico e do crescimento da população da cidade,

bem como da melhoria da qualidade de vida da população.


A primeira metade do século XIX pôs à prova o espírito de luta e resistência dos

portuenses, devendo-se inicialmente às Invasões Francesas, nas quais as tropas britânicas

desempenharam um papel importante num episódio em que a corte portuguesa se acobardou,

tornando-se dependente da Grã-Bretanha e do novo reino brasileiro, passando Portugal a ser

sua colónia. Devido a isso, em 1820, no Porto é levada a cabo a Revolução Liberal, na qual se

pretendia uma reforma que levasse à salvação da Pátria. Os tempos seguintes foram de enorme

disputa entre liberais radicais, liberais mais moderados e absolutistas, levando a uma contrarevolução

e à Guerra Civil. Esta teve no Cerco do Porto (imposto pelas tropas absolutistas, entre

julho de 1832 e agosto 1833) o seu episódio mais emblemático, tendo a entrega, bravura e

resistência dos portuenses marcado D. Pedro IV, que após a vitória sob os miguelistas doou, em

testamento, o seu coração à cidade. A sua filha, D. Maria II, viria a agradecer ao povo tripeiro,

oferecendo os símbolos do progenitor às armas da cidade e atribuindo-lhe o título de “Invicta”, a

única em Portugal. Mas os conflitos continuaram nas décadas seguintes, sobretudo entre liberais,

não permitindo ao país ter maior estabilidade política. No Porto ocorreram revoltas, entre outros

acontecimentos, que fizeram cair governos.

A comunidade inglesa ali destacada começa a introduzir uma nova dinâmica na

sociedade portuguesa através da prática desportiva. Corria o ano de 1855 quando se formou

o primeiro clube desportivo da cidade, o Oporto Cricket & Lawn Tennis Club, formado por e

concebido para ingleses. Contudo, este é fundamental para a difusão do desporto em solo

nacional, inserindo na sua actividade a Natação, o Râguebi, o Hóquei em Campo, o Atletismo e o

Futebol.

Noutro sentido, a cidade continuou a evoluir, expandindo-se a área urbana, aumentando

também o número de freguesias do concelho, por altura da chegada da industrialização, da

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melhoria e criação de infraestruturas (entre elas os caminhos de ferros, as pontes e a Estrada

da Circunvalação), e de uma crescente visibilidade, obtida através de grandes exposições e feiras

internacionais.

A elite portuense tinha uma maior proximidade aos ingleses, começando também eles

a apaixonarem-se pela bola, como aconteceu com António Nicolau d’Almeida. Este aristocrata

fundou em 1893 o Real Velo-Club do Porto e o Football Club do Porto, o primeiro dedicado ao

Ciclismo e o segundo dedicado somente ao Futebol. Vinte e dois sócios do novo clube, disputam

a sua primeira partida a 8 de outubro de 1893, no antigo hipódromo de Matosinhos. Seguiu-se

o “match” contra o Club Lisbonense, pioneiro em Portugal, no ano de 1894, o qual a Família

Real presenciou. Reza a lenda que o clube acabaria por ficar inactivo, uma vez que a esposa de

António Nicolau d’Almeida solicitou-lhe que deixasse de jogar Futebol, dada a violência imposta

em campo. Daí em diante, há um vazio futebolístico na cidade, quebrado pelo surgimento dos

The Boavista Footballers em 1903, formado por ingleses ligados à Fábrica Graham.

Ainda no século XIX, a Invicta ficou a conhecer “O Grupo do Destino”, composto de

uma rapaziada alegre, ruidosa, entusiasta e buliçosa, cuja missão era divertir-se após as horas de

trabalho. Não havia local onde bem se comesse e melhor se bebesse que O Grupo do Destino não

conhecesse! O seu presidente, José Monteiro da Costa, teve a oportunidade de visitar Espanha,

França e Inglaterra, entre 1904 e 1905, onde ficaria impressionado com o Futebol por aquelas

bandas, trazendo consigo a “febre boleira”, contagiando desde logo os seus amigos. O Grupo

do Destino organiza-se e numa reunião magna tratam da instalação do novo clube, numa altura

em que o jogo era desconhecido para a maioria dos sócios. Unanimemente decidem recuperar

o nome do clube fundado em 1893, Football Club do Porto, e “foi também escolhida a cor da

equipa, e, caso curioso, apesar da maioria dos sócios instaladores ser de republicanos - alguns


até comprometidos nas conspirações - a escolha recaiu no azul e branco, pois eram as cores

da bandeira nacional!”. Isto acontece em 1906, e instalam-se naquele que seria o Campo da

Rua Rainha, tendo o mesmo sido utilizado até 1912. Este possuía um terreno de jogo com as

medidas oficiais, uma pista de Atletismo, bufete e balneários, chegando mais tarde a receber um

“court” de Ténis, um campo de Cricket e um ginásio. Contudo, neste âmbito importa destacar

sobretudo a bancada que tinha capacidade para receber 600 adeptos, algo notável para a época.

A 01/01/1913 deu-se a inauguração do Campo da Constituição, em jogo frente ao Oporto Cricket

and Lawn-Tennis Club. Palco dos primeiros títulos portistas, tinha uma bancada de madeira ao

longo de toda a lateral esquerda do terreno, vindo a ter um belo e grande topo, conhecido por

Altar da Constituição, e um peão no lado oposto, numa altura em que os portistas já viajavam de

comboio para verem jogos fora. Entre as décadas de 20 e de 40, tem lugar na cidade a primeira

revolta em solo nacional contra a ditadura militar (1927) e o FCP deambulou entre a Constituição,

o Campo do Amial (Sport Progresso) e o Estádio do Lima (Académico F.C.), numa altura em que

o clube se afirmou como uma das principais potências portuguesas, sendo que o campo próprio

não tinha condições nem capacidade para acompanhar a evolução do clube. É por isso que em

1933, numa AG, é votada favoravelmente a proposta daquilo que viria a ser o Estádio das Antas,

inaugurado em 1952, com capacidade para acolher 44 000 adeptos.

É após o quebrar do longo jejum de êxitos desportivos, para o qual contribuíram em larga

medida os trabalhos de José Maria Pedroto como treinador e o de Pinto da Costa como director,

que no ano em que este último assume a presidência da instituição surge o primeiro grupo

organizado de apoio portista: Dragões Azuis. A base surgiu entre alunos do Colégio Universal, que

viam os jogos juntos e fizeram por aglutinar toda a gente que tinha bandeiras grandes no meio da

central que tinha a arquibancada, no decorrer de 1982. Houve então uma considerável evolução

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do espetáculo proporcionado pelos portistas com a organização dos Dragões Azuis, que fizeram

surgir nas Antas pela primeira vez elementos como cânticos organizados, bandeiras gigantes,

faixas, lençóis enormes, fumaradas feitas com extintores e pirotecnia, misturando com isto papel

higiénico e papel cortado. Tal foi possível graças à dedicação dos jovens e aos patrocínios que

angariaram, sendo disso exemplo o da Sapataria Beleza e da Revigres, bem como o apoio da

direcção do clube, clube este que viveu na década de 80 uma era dourada, com a conquista de 12

troféus, tendo os Dragões Azuis marcado forte presença nas primeiras finais europeias do clube,

disputadas em Basileia (1984) e Viena (1987).

A final da Taça das Taças de 1983/1984, frente à Juventus, trouxe a oportunidade

aos adeptos do FCP de verem de perto a performance dos Fighters, que contribuíram para o

espetáculo com um grande número de elementos munidos de bandeiras, pirotecnia e um potente

apoio vocal, e a partir daí o “bichinho” cresceu num daqueles que viria a ser fundador dos SD.

Entretanto, alguns elementos dos DA não concordavam com a influência que os patrocinadores

exerciam no grupo e saem. Os ingredientes estavam reunidos para o que se seguiu e, com uma

índole mais próxima do estilo Ultra, nascem em 1986, com um espírito mais rebelde, os Super

Dragões. Instalou-se uma nova dinâmica, uma vez que o grupo não era reconhecido pelo clube,

nem tinha apoios financeiros. A verdade é que a nova dinâmica de apoio atraiu muita gente,

estando os SD situados na bancada nevrálgica, a do famoso Tribunal, Superior Sul. Mais tarde,

os Super Dragões acabariam por se associar a um patrocinador, algo que acabou revertido, visto

que os responsáveis consideraram que esse caminho afectou negativamente a dinâmica, apesar

do crescimento numérico do grupo.

A época 91/92 trouxe consigo o aparecimento da Brigada Azul, criada por elementos

dissidentes dos SD. Apoiavam a partir da Superior Sul, permanecendo ao lado dos Super, onde


se destacaram pela elaboração de faixas, introduzindo dimensões superiores e estética cuidada,

bem como de um lençol gigante que continha o nome do grupo, aliando a isso o uso regular de

pirotecnia. O grupo pioneiro, Dragões Azuis, veria os seus últimos dias no início dos anos 90, tal

como aconteceu com a Brigada Azul em 1993/1994, época na qual os Super decidiram mudar-se

para a arquibancada, uma medida que foi tomada para afastar o pessoal que roubava e agredia

“companheiros” de bancada e que provocavam distúrbios principalmente nas deslocações, o

que manchou de certa forma a imagem do grupo. Houve quem não acompanhasse o imposto,

optando pela fundação dos Ultras Porto, que continuaram na Sul. Dada a situação, começaram

desde logo com um número considerável de integrantes, fazendo-se notar com um cachecol e

uma t-shirt próprios nos primeiros tempos, proporcionando bons momentos de apoio, entre os

quais se destacam o jogo contra o AC Milan, no qual se apresentaram com coletes azuis e brancos

com a inscrição Ultras Porto, e a deslocação em grande número a Barcelona, onde se fez uma

coreografia de cartolinas. Os Super Dragões perderam número e expressão, tendo voltado ao seu

sector original ainda antes do fim da época, voltando a juntar-se à malta que tinha ficado na Sul.

Também na época 93/94 surgiu a Legion of Dragon, na “virgem” Superior Norte. Este

foi um colectivo de adeptos independente, formado por malta oriunda de terras como Lousada

e Felgueiras, entre outras, conseguindo-se fazer notar sobretudo nos jogos grandes, mas não

conseguiam manter o mesmo nível na maioria das ocasiões. Viriam mais tarde a converter-se em

subgrupo dos Super, mantendo actividade por muitos anos.

O tal crescimento do número de entusiastas continuou a acentuar-se nos anos 90, tendo

os Super procurado uma reestruturação com a subdivisão em núcleos, o que ainda contribuiu

para a entrada de mais jovens no grupo, numa altura em que o clube estava fortíssimo e em que

pertencer a uma claque era moda. É a época do afamado “boom” do movimento ultra português,

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e a imprensa passa a aproveitar tudo de bom e de mau, destacando-se nos jornais sobretudo os

confrontos. Há o célebre Vitória SC vs FC Porto, em que ultras de ambos os clubes combatem em

pleno relvado do D. Afonso Henriques. Desse episódio resultam vários feridos, tendo a polícia

reagido tardiamente, numa tarde que o cenário se poderia ter tornado pior. Na sequência disto

são exercidas pressões para acabar com os SD, tendo o grupo optado pela auto-suspensão por

tempo indeterminado, algo que não foi aceite unanimemente e que levou a que a mudança da

liderança do grupo se viesse a consumar um pouco mais tarde.

Nessa mesma temporada, 93/94, a Superior Norte assiste ao nascimento do

Movimento Portuense, um grupo que pretendia apoiar o FCP em todas as modalidades, além

de ter a intenção de ter um raio de acção mais abrangente, procurando ser activo na vida da

própria cidade. Exemplo disso foi a presença na manifestação contra a venda do Coliseu do

Porto à Igreja Universal, em 1995. Na época seguinte o clube tem como missão reconquistar o

título nacional, algo que conseguiu, dando início à conquista do Pentacampeonato, para o qual

o Colectivo Curva Norte, fundado no verão de 95, já prestou contributo. Como o nome indica,

ficaram na mesma bancada onde estava o Movimento Portuense, e quiseram construir com um

ambiente de verdadeira união e camaradagem entre os membros de um novo grupo criado por

três dissidentes dos Super Dragões. Como referido, houve uma mudança de liderança nos SD, que

trouxe uma nova força e onde se destacam, nesse ano, as mobilizações a Paris (Supertaça contra

o Benfica) e a Génova (Taça das Taças contra a Sampdoria).

O CCN apresentou-se logo com material pintado à mão, com um cachecol e t-shirt

próprios. Cerca de um mês após a fundação, tiveram a primeira prestação num jogo oficial, numa

recepção ao Sporting, na qual, com sete membros presentes, organizaram uma cascata de 2

000 rolos de papel higiénico. O financiamento era colectado através da venda de material do


grupo, sendo os parcos recursos financeiros um entrave para a organização de deslocações, que

inicialmente eram feitas com recurso a viaturas próprias ou às camionetas organizadas pelos

Super. A primeira deslocação ao estrangeiro foi em 1995/1996, à casa do AC Milan, que contava

com um poderosíssimo sector Ultra, época essa em que pela primeira vez os ultras azuis e

brancos viajaram para a Luz em comboio especial. Por sua vez, nesses anos, os SD começam a

apostar mais na comercialização de material próprio, o que se tornou um dos principais suportes

financeiros do grupo. Entretanto, na época 1997/98, o MP cessa a sua história.

Em relação à apresentação de coreografias, os anos 90 foram de inovação, com a

introdução do plástico e das cartolinas. Os grupos reciclavam os plásticos azuis e brancos, dando

para usar o mesmo material em outras ocasiões de forma diferente. Na época 1997/98, na

recepção ao Real Madrid, o Colectivo faz-se notar com a estreia do seu primeiro lençol, onde

constava a inscrição do seu nome e o de um stand de automóveis, que patrocinou essa coreografia,

uma inovação coreográfica e uma mudança de postura em relação a patrocínios, que serviu de

exemplo para o futuro. A partir da época 98/99, o CCN redobra a sua preocupação na confecção

de material de bancada, o que certamente contribuiu para uma melhoria que se faria notar nos

tifos, começando a haver malta que se juntava regularmente para trabalhar neste âmbito. Já em

1999/2000, numa recepção ao Sporting, os Super Dragões surgem com uma tela a subir uma

estrutura que, ao que parece, continha cordas e roldanas. Possivelmente foi a primeira vez que

portistas fizeram tal coisa. Em 2000/2001 o Colectivo apresenta-se com uma nova roupagem a

partir da Supertaça, mostrando-se com uma nova faixa composta pelo novo brasão e nome do

grupo, Colectivo Ultras 95, e demais material de bancada novo. Em vias da cidade ser Capital

Europeia da Cultura, o C95 lançou ainda uma t-shirt e o seu segundo cachecol naquele início de

temporada. À mudança também se juntou o facto de aumentarem o número de coreografias e

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frases provocativas nos jogos contra os rivais, o que viria a tornar-se uma imagem de marca do

Colectivo.

As presenças dos ultras do Porto fora de portas contavam sempre com um considerável

contingente dos Super Dragões, que sempre tiveram capacidade para grandes mobilizações, como

ainda vai acontecendo, inclusive no estrangeiro. Os SD organizaram voos fretados e comboios

para Lisboa em várias ocasiões, sendo incontáveis as caravanas de autocarros que puseram nas

estradas nacionais. Como exemplo podemos falar da presença de 10 000 portistas em Alvalade,

no ano do penta.

Em 2002, enquanto o Porto não ganhava há três temporadas, houve contestação à SAD,

que durou alguns jogos. Seguiu-se a chegada de José Mourinho, treinador que levou a cabo uma

profunda reforma na equipa, guiando o clube a dois títulos europeus e dois títulos nacionais até

ao verão de 2004.

No caminho para a glória europeia, os ultras azuis e brancos iam melhorando as suas

performances coreográficas, especialmente o C95, e em ambas as finais europeias as claques

uniram esforços para realizarem coreografias memoráveis para o movimento portista. Importa

referir que, para a meia-final caseira da Taça UEFA, o Colectivo fez um lençol de 35x45m na

rua, que é para alguns portistas a sua coreografia preferida de sempre, devido ao trabalho de

qualidade superior, bem acima do nível que até ali tinham atingido. Para a final de Sevilha,

centenas de ultras trabalharam durante duas semanas, obrigando a uma logística especial.

Este período glorioso contribuiu para uma maior captação de adeptos, tendo os grupos

de apoio a oportunidade de “lapidar” mais “diamantes em bruto”, os jovens. Os SD acabaram por

aglutinar o maior número de adeptos nestes anos, aumentando exponencialmente o seu número

de efectivos.


O Estádio do Dragão é inaugurado em 2003 e o Colectivo passa para a curva sul através de

um acordo com os Super Dragões e a direcção do clube, tendo em vista a centralização e melhoria

do apoio à equipa, algo que foi desfeito na época seguinte. Não foi por falta de cooperação, uma

vez que os grupos tiveram grandes momentos de apoio vocal e realizaram novas coreografias

em conjunto no novo estádio. Contudo, o sector era pequeno para ambos os grupos e a partilha

de ingressos não foi a anteriormente acordada, numa época em que o Colectivo viveu outros

problemas internos. Cresceu a vontade de voltarem à Norte, o que aconteceu na época seguinte,

decisão que deixou a direcção do clube desagradada.

Para a final de Gelsenkirchen teve lugar uma enorme mobilização portista. Cerca de 20

000 tripeiros ajudaram a equipa a conquistar a Liga dos Campeões, sendo a coreografia SD/C95

inspirada no feito de Madjer no Prater Stadium, em 1987. Após a glória europeia a equipa sofreu

alguma instabilidade, mas os portistas viriam ser campeões intercontinentais, numa final que

teve lugar no Japão e que foi presenciada por mais de 20 ultras do Porto, apesar da distância sem

igual até à data.

A partir daqui para a frente, o Colectivo faz (possivelmente) da Norte do Dragão a

bancada de referência nacional ao nível coreográfico, uma vez que passaram a tifar com os mais

variados elementos das mais diversas formas, destacando-se pela inovação, originalidade, sentido

de oportunidade, complexidade e competência associadas a boa parte delas. Em 2004/2005

parabenizam o Benfica pelos 10 anos sem título nacional com um insuflável em forma de bolo de

aniversário. Na temporada seguinte, apesar da resistência dos responsáveis do clube à inovação,

surge um trabalho imponente e histórico ao alto: “Ultras FCPorto” acompanhado do símbolo do

grupo. Numa recepção ao Sporting, em 2006/2007, o Colectivo volta às coreografias com um

mosaico de “cartolinas” e de estandartes, escrevendo por toda a bancada “C1995”. Novamente

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frente ao Sporting, na época seguinte, pela segunda vez um trabalho amarrado em rede a subir

até à pala da bancada, onde apresentaram o seu novo brasão. Para festejarem o tri-campeonato,

em 2007/2008, um dragão a segurar o brasão nacional e o do Colectivo em tiras de plástico na

vertical, que foram pintadas individualmente, algo também bem conseguido por ocasião da meiafinal

da Liga Europa de 2010/2011. Mais tarde, em 2008/2009 contra o Benfica, desenvolveram a

imagem da cidade, sob lema evocativo de ser invicta, em estandartes com cerca de 20 metros de

largura. Numa outra recepção ao Sporting, na temporada 2009/10, fazem uma bandeirada de 5

000 peças a acompanharem um insuflável que recriava a fachada do Campo da Constituição. Para

celebrarem os 15 anos de militância, fizeram um mix de elementos, entre frase, lençol, bandeiras,

estandartes e “cartolinas”. A época 2012/2013 finalizaria com a revalidação do título e, para

ajudar à festa, o Colectivo desenvolveu duas coreografias na recepção ao Sporting, envolvendo

a confecção de 6 000 bandeiras e do maior lençol da sua história. O Porto voltaria a ser Tri em

2012/2013, tendo contribuído para isso a vitória épica sobre o Benfica aos 92’ com um golo de

Kelvin. Nesse jogo, o Colectivo daria o mote para o que viria a seguir-se, fazendo da Norte um

cenário medieval, distribuindo entre milhares de adeptos coletes e capacetes para representar

uma cruzada. Outras a proporcionar belo impacto visual foram as dos 18 anos em 13/14, “Ultras”

em 14/15 com tiras de plástico separadas, na qual não usaram qualquer gota de tinta, tal como

a realizada no jogo contra o Sporting na mesma época. Ainda em 14/15, mais uma coreografia

a destacar em partida contra o Bayern. Logo a abrir 2015/16, um dragão ao centro da Norte a

deitar fogo pelos olhos e fumo pela boca. Em 2016/17 há a destacar o trabalho a evocar o lema

da cidade num jogo frente ao Sporting, equipa contra a qual voltaram a brilhar com o mosaico “FC

Porto” na temporada seguinte, ao mesmo tempo que na Sul os SD faziam uma bela bandeirada

acompanhada de fumos. A época 2018/19 trouxe uma renovação da imagem do Colectivo, que


representou o desenho da faixa principal ao longo de toda a Norte numa partida contra o Benfica.

Desde a saída de Mourinho que a instabilidade se apoderou das prestações da equipa,

registando-se diversas mudanças de treinador nos tempos seguintes. Perante o cenário de maus

resultados, ambos os grupos chegaram várias vezes até à equipa após os jogos, sendo que a

seguir a uma partida em Vila do Conde, vão até ao Dragão esperar a equipa, apercebendo-se

de que a equipa afinal iria para o centro de estágios, local onde ultras e o treinador Co Adrianse

viriam a entrar em conflito. Na jornada seguinte dá-se um protesto conjunto e a direcção de

PdC acabaria por retirar os apoios a ambos os grupos, o que não os demoveu. Apesar de tudo, o

Porto viria a conquistar a dobradinha para regozijo dos ultras. Na época seguinte, o conflito SADultras

seria somente sanado com os SD, continuando o Colectivo na mesma situação por vontade

dos dirigentes do clube. Isto prejudicaria o C95 na presença em número e na realização de

coreografias, situação que mudaria com uma intervenção em nome do grupo numa assembleiageral,

tendo o clube imposto que só apoiaria os grupos legalizados. Assim, os grupos avançaram

para esse processo.

Para abrir a década de 2010 da melhor forma, o clube contrata André Villas-Boas para

treinador, ele que parecia ter a aura de Mourinho ao conquistar três de quatro competições,

inclusive a Liga Europa, numa final disputada em Dublin frente ao SC Braga, algo inédito para o

Futebol nacional.

Chegaria o 30º aniversário da presidência de Pinto da Costa em 2012, tendo os grupos

de apoio homenageado o mesmo com coreografias e a oferta de placas comemorativas.

Por ocasião do 120º aniversário do FCP, o Colectivo apresentou num jogo dois lençóis

evocativos em simultâneo e o clube inaugurou o seu museu, tendo anteriormente desafiado

os adeptos a participarem na composição do mesmo. O Colectivo quis dar o seu contributo,

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considerando a faixa da fundação a peça certa

para valorizar o seu próprio gesto, sendo o

museu o lugar indicado para a conservação

e memória da referida peça, entregando-a a

Pinto da Costa. Os Super Dragões também

contribuíram para o enriquecimento do

museu doando uma faixa.

Outro acontecimento relevante na

história do C95 é o lançamento do seu livro,

por altura do vigésimo sexto aniversário, em

2021, livro esse que em tanto contribuiu para

podermos concretizar este trabalho.

Em 2023, concretizou-se um

notável espetáculo pirotécnico para celebrar

o 130º aniversário do clube na Ribeira, onde

remonta a origem da cidade portuense,

protagonizado por ambos os grupos que

estão na eminência de atingir os 38 e os 29

anos de actividade em prol do FC Porto.

Por L. Cruz

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ULTRAS COM HISTÓRIA

FERNANDO MENDES

Convidamos para esta rubrica um nome

conhecido das bancadas portuguesas,

particularmente pelos Ultras: Fernando

Mendes. Um mítico adepto, um Ultra, com

uma história preenchida de acontecimentos.

Resta-nos agradecer a disponibilidade do

Fernando em responder às nossas perguntas.

Eu é que agradeço desde já. Muito obrigado,

é um prazer para mim, um privilégio

também, responder às vossas questões,

para movimentar e continuar a dar vida

ao movimento Ultra, que anda um bocado

esquecido dos nossos estádios.

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Quem é o Fernando Mendes? Como

começou a tua ligação com o Sporting e com

a Juventude Leonina?

A minha ligação com o Sporting começou

quando tinha 12 anos, quando joguei nos

iniciados e juvenis. O meu pai faleceu tinha eu

três anos e ele 33. A minha mãe era mulhera-dias,

numa família humilde que éramos e

ainda somos. Quando acabavam os jogos no

antigo Estádio de Alvalade ia para a Juventude

Leonina. Ou seja, eu começo primeiro na

Força Verde, que era patrocinada pela Sogaz

e Irmãos Faria, e participavam muitos ícones

da Juventude Leonina, como o João Pulido,

Caipira e outros tantos, mas principalmente

esses dois, e depois naturalmente trouxeramme

para a Juventude Leonina, fundada

pelos filhos do João Rocha, mas também

pela própria Margarida e o Gonçalo, o mais

novo dos irmãos Rocha. Eu entretanto acabei

por ficar a passar o meu tempo, com 12,

13, 14, 15 anos. Então, depois de me ligar

à Juventude Leonina, aos 15 anos, surgiu

um imprevisto na minha vida em que fui

expulso do ensino secundário. Entretanto

fiquei irradiado durante oito anos (ainda

existiam essas penas) e fui para França.

Fiquei lá até aos 19 anos e, quando regresso,

vou directamente para os paraquedistas, e

vi muita coisa mal na Juventude Leonina,

fugiam da claque do Benfica, por exemplo,

os Diabos Vermelhos. Na altura ainda não

havia No Name’s nem nada. Eu disse: “Não,

não se pode consentir isso”. Entrei para os

paraquedistas e disse: “Tenho de fazer aqui

uma tropa, tenho de fazer aqui uma turma,

tenho de fazer qualquer coisa”.

Antes de seres líder da Juventude Leonina,

eras responsável por um núcleo? Como

foram esses tempos antes de assumires um

papel determinante à frente da claque?

Não fui responsável pelo núcleo. Incentivei o

pessoal a fazer núcleos. Era e sou da zona da

Praça do Chile e tinha grandes amigos como

o Emanuel Lopes, conhecido por Bimbo, e

o Rui Pedro Santos que é do Cacém, que é

o Monhé. O Bimbo andava na Patrício e eu

andei na Luísa e então fizemos o “Paluí”,

que era o “Pa” da Patrício e o “Lui” da Luísa

Gusmão. Incentivava, mas não fui responsável

por um núcleo. O que aconteceu foram

situações que se estavam a passar e que não

se deviam passar. Tínhamos medo de ir à Luz


e eu dizia: “Ninguém pode ter medo, em prol

do Sporting temos de lá ir”.

Tu próprio usaste isso para catapultar outro

tipo de mentalidade na Juventude Leonina...

Exactamente. Depois, entretanto, como

entrei nos paraquedistas e estive lá dois anos,

vinha com a mentalidade de organização, de

combater, de disciplina e isto era tudo “um

Deus dará”. Disse: “Não. Temos medo de ir à

Luz, temos medo de ir às Antas, temos medo

de ir ao Bessa, de ir a Guimarães. Não, nunca,

jamais em tempo algum”.

Como vivias um derby nos teus primeiros

tempos de Juve Leo?

Vivia tal e qual como se fosse uma missão.

Ainda hoje sinto, apesar de todas as minhas

maleitas e doenças que tenho agora, estou

retirado, dizem que sou do passado, mas no

passado é que se fez a história e sempre a

combater! Comigo ninguém fica para trás!

Mas vivia com ansiedade, com vibração. Eu

posso dizer isso. Apareci no jornal “A Bola”

na altura… Uma história: quando saí dos

paraquedistas, fomos ao Estádio da Luz, onde

é hoje em dia o Parque dos Príncipes. Aquilo

eram tipo canaviais, zona de terra batida

(que é agora Telheiras), e fiz três pontos

que eram o ponto A, ponto B e ponto C. Fui

ao mercado de Arroios comprar 20 kilos de

batatas grandes para fritar e comprar 2 kilos

de cavilhas para fazer uma coisa que tinha

aprendido, que é a “guerrilha urbana”. Era

enfiar três ou quatro cavilhas em cada batata

e escavar. Tudo isto foi feito de madrugada,

no dia anterior. Escavava lá um buraco na

terra e eu dizia: “se tiver de ser, recuamos,

não fugimos deles. Está aqui isto” - isto no

ponto A. No Ponto B, fiz uns caibros de 1,5

metros numa serração. No ponto C eram uns

cocktails Molotov, os chamados explosivos

incendiários. Fui comprar limalha de ferro que

era para os explosivos incendiarem. Ou seja,

para nos protegermos. Não havia a Brigada

Anti-Crime, nem os spotters nem nada.

Éramos por nós, sozinhos, e íamos por ali. Fiz

isto antes do derby, dois ou três dias antes.

Os cocktails eram postos de madrugada para

a gasolina não evaporar e deixávamos lá.

Protegíamo-nos assim.

Nos dias de hoje, ainda se vive da mesma

maneira? O que mudou?

Não se vive como se vivia nos anos 80,

90 e entre 2000 e 2002, porque mudou

a mentalidade, mudou totalmente a

mentalidade. O Futebol tornou-se um grande

negócio e subsequentemente também as

próprias claques, os grupos organizados de

adeptos. Já não há claques, há associações.

Mudou-se totalmente o mundo Ultra,

perdeu-se a mística, a vontade, o amor

ao clube. Agora olha-se primeiro para os

euros e depois é que “vamos lá, é preciso”.

Infelizmente, vou dizer uma coisa que não

devia dizer: há poucas claques que ainda têm

essa mentalidade. O meu arqui-rival, o arquiinimigo

até à morte, tenho de os reconhecer

como tal, que são os NN, os meninos, os No

Name, que ainda têm essa mentalidade, essa

pureza. De resto, há muito show-off.

Tu achas que mesmo em termos institucionais,

havendo uma certa obrigação do próprio

governo e da polícia, isso contribuiu para a

perda da mística e de outras coisas?

É verdade que houve uma obrigação, mesmo

até política, jurídica/judicial, essas situações

todas, mas também não houve nenhum

dirigente das ditas claques que pudesse

combater, chegar lá e dizer “não” a quem de

direito. Fosse ao governo, fosse à Liga, fosse

à Federação para dizerem: “Não, isto não é

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possível”. Como esta situação do Cartão de

Adepto. Isto já foi experimentado num país

do mundo Ultra (Itália), durou cerca de dez

anos e depois viu-se que aquilo não rendeu.

Quer dizer, nós estamos a importar, estamos

a recriar uma coisa de há dez anos. Para os

próprios adeptos, o que eles vão resolver com

isso? Nada, nada! A mentalidade, acima de

tudo dos adeptos, mudou-se.

Quais as deslocações e episódios que te

marcaram mais?

Uma delas é a ida a Israel - tenho ainda aí

as fotos de Israel. Fui lá sozinho, com dez

dólares no bolso - essa história é mítica. Fui

preso por estar a dar marradinhas no muro

das lamentações, que não sabia o que era.

Ó pá, era burrinho, era novo… Foi contra o

Beitar Jerusalém. Eu vi lá os rabis todos a dar

marradinhas no muro e perguntei a um senhor

que lá estava. Eu não sei falar inglês, só falava

francês e mal, porque estive um ano e meio a

viver em Paris e ele lá me explicou: “ah e tal,

pedes um desejo, usa o papel e a caneta. Você

pede um desejo, independentemente da sua

religião e ele realiza-se” – e eu, logo, “quero

o Sporting campeão”. Dobrei o papelinho e

pus na parede! E lá comecei às marradinhas.

Ó pá, aquilo é como se tu chegasses a Fátima,

fosses um fulano qualquer e começasses

a gozar ou a rezar a gozar. E aquilo que eu

fiz foi uma ofensa para eles. Fui para um

gabinete ser interrogado, com um tradutor

da Mossad, que me perguntou: “como é

que você conhece a Galil?”. Lá expliquei,

que tinha sido paraquedista e que os

paraquedistas portugueses usavam Galil.

Depois confirmaram e lá me safei. Ainda

viram a faixa, viram que não tinha mais nada

na mochila, não tinha facas sequer. Tinha lá

uma escova e uma pasta de dentes e uma

cuequita, mais nada!

Fui ao jogo sozinho, para pôr a faixa. Para

sermos a primeira claque, que representava

uns cinco, seis, sete mil adeptos a estar lá.

Entretanto, o Cintra só me tinha pago o

bilhete de avião. Chego lá e eu pensar que

aquilo era tipo como ir a Paços de Ferreira,

em que um gajo dorme lá em qualquer

lado... No aeroporto, os gajos da Mossad

ficavam a ver os adeptos. Entretanto vi um

autocarro e percebi logo que era dos VIPS.

Via as senhoras todas arranjadas, de batom

e com os trolleys, e mais os velhotes... pela

diferença de idades, de trinta/quarenta anos,

deviam ser as acompanhantes de luxo (risos).

Lá pensei: “vou ter de me meter aqui, senão

vou pra onde?” Com dez dólares no bolso,

uma notinha que tinha lá em casa que me

deu a minha Mãe, que Deus tem... “E agora o

que é que eu faço à minha vida, com a faixa...

Ainda por cima não sei falar inglês nem o

caralho”. Lá me consegui infiltrar e pus a faixa

na bagageira do autocarro. Entretanto no

avião tinha vendido uns cachecóis, daqueles

fininhos, a dizer “Juve Leo Boys”, só que

pagaram-me em escudos. Cada um custava

mil escudos, um conto de reis. Um deles até

me pagou a mais e eu disse: “mas eu devolhe

troco, vá ter comigo a Alvalade, que

não me esqueço da sua cara. Vá ter comigo

à banca cá em baixo quando se sobe para

nossa sede. Eu estou lá e dou-lhe o troco,

que eu não me esqueço da sua cara!”. E ele:

“nada disso, tome lá para ir beber um copo”.

Lá me consegui despachar daquilo, tinha


montes de dinheiro, mas em escudos, em

contos. Continuando, lá pus o saco da faixa

na bagageira e pensei: “e agora para entrar?”

Nisto, dou a volta ao autocarro, abro a porta

do motorista e toco a buzina. Fecho a porta,

vou por trás outra vez e o motorista à nora,

a tentar saber quem é que tocou… A guia

também sai da porta e eu entro de surrinha.

Sentei-me na esperança que não reparassem

muito em mim. Imagina, tudo doutores, de

fato e gravata, unhas pintadas, batons, todas

bem, todas tias... Só pensava que iam logo

ver que eu sou da ralé, que eu não sou daqui.

Eu, de casaco de ganga, t-shirt... vão ver logo

que um gajo assim não é daqui. Tudo velhos,

um único novo, este gajo não é daqui, está

tresmalhado, estás a ver? Sabes que mais,

não se passou nada e na calada lá chego ao

hotel.

Chego lá, peço ao rapaz: “oh amigo pode-me

dar aí essa mala?” – uns com trolleys, malas

e eu com um saco, de lona, grande... E agora

para entrar? Como é que eu entro aqui no

Ritz? Com uma mala destas? Vou para onde?

Há uma velhota, uma senhora, com os seus

cinquenta e tais, toda bem arranjada, veio

com aqueles carrinhos de levar as malas, mete

lá dois ou três vestidos com aqueles sacos

para não amarrotar, todos XPTO, e eu agarro

assim numa abertura e meto a mala num

desses carrinhos! E agora? Agora tenho de ir

atrás dela, nem que lhe diga que é a minha

tia. E então lá lhe digo: “ó minha senhora, não

me leve a mal, eu perdi o meu bilhete e agora

para não dar aqui confusão, pode dizer que é

minha tia? Eu vou consigo, é só para entrar no

quarto. Eu tenho aí o meu quarto, mas tenho

de ligar para a minha esposa, para ela me dar

outra vez tudo...”. E ela: “ah, tudo bem, você

também é sportinguista, veio na viagem e

tal, foi o rapaz que me vendeu os cachecóis!

Então venha comigo!” E lá fui.

Nisto disse que ia lá abaixo ligar à minha

mulher e tal. Saí... não fui lá abaixo nada,

fui fazer tempo – subi e desci andares no

elevador! Depois voltei e disse-lhe que os

gajos não aceitavam nada que não fosse

original por causa da segurança, e pronto, não

sabia onde dormir. E ela lá me disse: “então,

mas há aí tanta cama, fica aqui, isto é uma

suite, durma aí no sofá! Eu sei quem você é,

já ouvi falar de si, lá da claque!” e ainda dormi

no Sheraton, tudo XPTO.

Acordei e siga, pequeno-almoço, comi que

nem um alarve. Fiz duas ou três sandes,

que guardei nos bolsos. Tinha dinheiro, mas

tinha de “cambiar” para dólares. Só tinha

aqueles dez e era mesmo para a cervejinha,

também já não ia gastar em comida. Fui com

a senhora como se fosse sobrinho, enquanto

que a faixa estava guardada no quarto, mas

o que ia fazer ao almoço? O que é que eu ia

dizer à senhora? Tive vergonha e disse-lhe

que ia “só ali à casa de banho”. Esperei que

eles começassem a servir... Os gajos tinham

aqueles pães israelitas, dos kebabs... comi

as minhas sandochas que tinha feito ao

pequeno-almoço, bebi água da torneira da

casa de banho... Nisto começou a circular

que andava lá o Fernando Mendes, a malta

queria ajudar e acabei por saber que estava

lá o meu tio. Nisto, eu andava a comer os

restos das outras pessoas e o meu tio vê-me

e chama-me. Lá lhe expliquei e a partir daí

fiquei sempre orientado, o meu tio pagou-me

um quarto e lá me safei. Até chegar à história

do muro das lamentações...

No jogo correu tudo tranquilo... Foi altamente,

fomos a primeira claque portuguesa a pôr

uma faixa em Israel, com UM elemento.

Esta foi das melhores deslocações e uma

das que mais me marcou, sobretudo pelas

dificuldades que passei para lá pôr a faixa da

Juventude Leonina e engrandecer o nome do

Sporting.

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Sobre as famosas invasões de campo, que

nos podes contar?

Dizem que na Europa estou considerado

como o segundo maior invasor. O primeiro

era da Roma, dos C.U.C.S., o Commando Ultra

Curva Sud, e depois fiquei eu como o segundo

com mais invasões. Era uma adrenalina que

me dava, quando se marcava um golo, ter

a satisfação tal e qual um jogador. Eu como

apoiava o Sporting, também era jogador

daquela equipa, então queria abraçá-los. Não

era para bater em ninguém, era pela alegria

e mais pela adrenalina. A minha invasão

épica foi no Estádio do Bessa, Boavista vs

Sporting. O Pedro Barbosa marca o golo

no primeiro minuto do jogo, num livre, e

estávamos ali numa de matar o borrego, pois

não ganhávamos lá há montes de anos, salvo

erro vinte e tal anos. Eu saltei do segundo

anel, por trás de uma das balizas. Venho cá

para baixo, um quarto de hora antes, desfiz

e tirei a rede, e consegui entrar. Ainda jogava

o Edmilson, que levou com as minhas botas

de biqueira de aço. Era o Schmeichel o

guarda-redes e no último minuto o Boavista

tem um livre muito perigoso. O Beto e o

Marco Aurélio contam que ele dizia-lhes

em inglês que aquela bola não podia entrar

e que tinham de estar “seven” na barreira.

Entretanto entra um gajo em tronco nú lá

dentro a vibrar, “eight” na barreira… “Pá, não

pode entrar esta bola, estamos a ganhar 1-0”.

Consegui fugir, o Edmilson dá-me a camisola,

consegui ludibriar a polícia e escondi-me

num balneário. Vim numa grande caixa

das camisolas e roupa suja dos jogadores,

meteram-me no autocarro do Sporting e saí

na área de serviço de Leiria.

No geral, como avalias o movimento Ultra

nos anos 80 e 90?

Em Portugal, acho que foi o expoente máximo

do movimento Ultra, atingiu mesmo o boom.

Até porque quase todos os clubes tinham as

suas próprias claques. Formavam-se claques

(hoje chamam-se grupos), o que dava grande

competitividade entre os próprios grupos – o

Sporting tinha a Juve Leo, depois apareceu

a Torcida Verde, no Porto os Dragões

Azuis depois os Super... o Benfica com os

Diabos e depois os NN. Isso tudo dava uma

competição entre as claques, em termos

de quem eram as melhores bandeiras, as

melhores coreografias, quem cantava mais,

quem levava mais elementos. Era benéfico

e saudável, porque se fosse só uma que

existisse... é como se costuma dizer, se só

existisse o Sporting, nós competíamos com

quem? É normal que haja um Benfica, um

Porto, Guimarães, Braga, por aí fora. Sozinho

não se consegue competir.

Hoje, tem muito a ver com a comunicação

social e com o protótipo das claques – são

vândalos, hooligans, arruaceiros, são isto

e aquilo, o que não é totalmente verdade.

Também é verdade que há violência, mas

isso há em todo o lado na sociedade. Não

são as claques que tornam a sociedade mais

violenta. E pronto, sinto uma certa tristeza e

nostalgia que hoje não seja tanto como nos

anos 80 e 90. Infelizmente o mundo ultra

está em baixo, mas é na Europa toda. Vemos

no país vizinho, aqui ao lado, em Espanha,

que está igual. A Itália, que era o expoente

máximo na altura, também já não está como

era. Hoje em dia é cada vez mais grupos e

grupinhos. Perdeu-se um bocado a mística.

O final dos anos 90 e o início dos anos

2000 foram de grande sucesso tanto para

o Sporting como para a Juve Leo. O que de

melhor guardas desse período de ouro do

teu clube e da curva sul de Alvalade?

Guardo os títulos a nível nacional, a

dobradinha. Estávamos em grande. Quer

em número de elementos, cânticos... e mais


uma vez a JL foi pioneira, quando lançámos

o nosso CD. Fomos a primeira claque a lançar

um CD oficial: “Só eu sei porque não fico em

casa”. Havia a cena dos tops e destronamos a

Shakira, estivemos seis semanas consecutivas

no top e conseguimos chegar a platina.

Foi disco de ouro e depois platina. Foi um

sucesso, foi inédito, foi um espetáculo. Toda

a gente andava com os CD’s nos carros, em

casa, nos bares...

E nos dias de hoje, como avalias?

Estamos muito em baixo, por tudo e mais

alguma coisa. Por causa de alguns acidentes

que aconteceram, por culpa nossa, por

situações em que nos pusemos a jeito… demos

muitos tiros nos pés. A comunicação social é

muito agressiva, há quatro TV’s e antes só

havia duas. Há vinte jornais, trinta Facebooks,

vinte Instagrams... é um pandemónio. A

polícia melhorou muito, agora até há uma

polícia só para as claques, os spotters. É

normal que as pessoas tenham receio de ser

prejudicadas ou de se prejudicarem nas suas

vidas particulares por causa de incidentes, é

normal.

Podíamos estar mais unidos. Devíamos

discutir problemas e soluções e hoje

ninguém quer fazer isso. Devemos ser mais

reivindicativos mesmo até no Parlamento,

como por exemplo aconteceu com o cartão

do adepto!

Como comparas a repressão policial que

existia no passado com a que vai acontecendo

no presente?

Agora está bem mais severa, eles têm muito

mais poder hoje em dia. Antigamente nós

levávamos umas chicotadas, duas ou três, e

não passava disso, e até a minha mãe, que

Deus tem, dizia: “ó filho, vens todo inchado,

mas olha, o que incha, desincha!”. Hoje em

dia é completamente diferente, é a lei da

pen, a lei da caneta, que estraga a vida às

pessoas. Miúdos, jovens que possam ter feito

disparates, levavam ali duas ou três galhetas,

se calhar até ficavam retraídos para a próxima,

só que hoje em dia não, tiram a identificação,

manda-se ao Ministério Público, daí tribunal,

e no tribunal... ficas logo com o cadastro

sujo. Queres entrar em certas profissões,

como bancário ou até uma licença de Uber?

Cadastro sujo, porque atirou um petardo.

Ao fim de tantos anos, o que significa para ti

a palavra Ultra?

Esta é muito boa, não é nada fácil responder,

mas para mim a palavra Ultra... volto ao meu

auge, aos meus tempos, os meus 18, 19, vinte

ou trinta, quarentas! Depois a partir daí a vida

e a idade não perdoam, que é mesmo assim...

é o chamado PDI! O PDI não é a puta da idade,

que eu não sou mal educado! É o problema

da idade! Já sabem, quando disserem “PDI”,

é o problema da idade! E isto para dizer o

quê... que para mim, que ainda me considero

Utra, é ser-se absorvente do que se ama!

Se eu tenho um amor pelo Sporting Clube

de Portugal, eu absorvo o Sporting Clube de

Portugal 24 horas por dia, como absorvo a

minha mulher, o meu filho, os meus amigos

mais próximos... visto a camisa de corpo e

alma. E isso para mim é Ultra, e foi por isso

que eu enveredei, foi aquilo que eu escolhi e

defendo até à morte.

Hoje, ao recordares o teu passado, o que é

que te deixa mais orgulhoso?

Olha, toda a merda que eu fiz. Tudo o que

eu fiz de bem? É supérfluo. Eu vim dos

31


32

paraquedistas e nós tínhamos um lema – o

impossível está feito, agora vai-se fazer o

possível – portanto, fazer uma bandeira, uma

coreografia é normal, agora coisas malucas,

extravagantes é que me deixam orgulhoso!

Tanto que, para mim, só me falta uma coisa.

Eu já marquei um pontapé de canto num

Portimonense x SCP, marquei um pontapé

de baliza num Moreirense x SCP, marquei

um pontapé de livre no Belenenses x SCP no

Estádio do Restelo, estive na barreira quando

saltei do segundo anel do Boavista x SCP

quando fomos campões com o Schmeichel

– pus-me na barreira, no final estávamos a

ganhar 1-0 e, a 2 minutos do fim, havia um

livre perigosíssimo para o SCP e eu lá consegui.

Só me falta mesmo marcar um penalty! Só

estou aqui à espera da autorização da minha

esposa, que ela diz que eu depois vou preso,

senão, digo: “ó Gyokeres sai daí, que eu é que

vou marcar! Sai, que eu é que vou marcar

com a minha bota de biqueira d’aço” e, se eu

falhar, vou logo dizer ao árbitro: “vai lá ver ao

VAR”. É que só me falta isso! E vai ser golo!

Se actualmente um pequeno jovem

sportinguista for ter contigo, dizendo que

pretende juntar-se a uma claque, davas-lhe

algum conselho em especial?

O meu conselho único e eterno seria: juntate

à Juventude Leonina. Tem de mudar

muita, muita coisa, mas junta-te à Juventude

Leonina.

Quais foram as tuas maiores influências no

contexto das bancadas?

A influência que tive foi a que trouxe dos

paraquedistas – a da disciplina. Se fosse para

ser respeitado tinha de me dar ao respeito

primeiro. Modéstia à parte, acho que sempre

me dei ao respeito com todos os elementos

– posso ter tido um ou outro excesso, e

desde já peço desculpa por isso a quem

esteja a ouvir ou que leia, mas sempre tentei

respeitar porque foi isso que me ensinaram

nos paraquedistas. Foi respeitar a hierarquia,

para depois poder ser respeitado. E acho que

é isso. Eu não quero que as pessoas tenham

medo de mim, quero que me respeitem.

O que significam as fanzines para ti?

Na minha altura era tudo em papel.

Significam muito mais para mim hoje que as

redes sociais, que eu não sou nada das redes

sociais, sou da velha guarda, do antigamente.

O meu filho até costuma dizer que eu sou do

tempo das cavernas e eu admito!

É fabuloso, porque eu gosto de escrita, de ler,

de escrever. No meu tempo era giro, porque

até havia situações em que eu lia e via algum

erro ortográfico e era logo: ”ó tu (não vou

dizer nomes!), então eu com a quarta classe

tirada à noite e tu com o 12º ano, como é

que é isto? Falta aqui uma cedilha e tal, o til,

depois vão gozar connosco!” ou “ó pá, a frase

está mal construída...”. Era giro. E havia mais

união entre nós, porque tínhamos de nos


juntar diariamente ou uma semana antes.

Na altura tínhamos os “tops” – “top bêbado

da excursão a Paços de Ferreira” ou só “top

bêbado” – foi o Manel, ou o Francisco ou o

Joaquim? Tínhamos o “top roubos” – quem

roubou mais. O “top bacoradas” e o pessoal

tinha de se juntar para chegar a um consenso.

“Ó pá, mas o outro roubou duas sandes”,

“mas o outro roubou três” – “pronto, então

foi o Manel Joaquim que ganhou, mete aí!”.

E repara que ainda sou do tempo em que as

fanzines eram a preto e branco! As fanzines

para mim são tudo, mesmo tudo, o que diz

respeito a informação interna da claque. Hoje

em dia há redes sociais - eu compreendo, que

também não sou assim tão das cavernas!

- mas há mais mexericos que o resto. E nas

fanzines o que estava escrito, estava, não

podias dizer: “ah, eu não disse e tal”. Nas

redes sociais é só intrigas e invejas, depois as

pessoas chibam-se... e a JL foi pioneira… tudo

bem, havia a Supertifo em Itália, mas tivemos

esta ideia e era fabuloso.

Eu acho que se deviam fazer fanzines, claro, e

em papel – a malta tem guita para gastar em

droga e em cerveja e não dá cinco euros para

uma fanzine? Não pode ser. Este trabalho tem

de continuar.

Uma mensagem para os nossos leitores, a

pensar no futuro do movimento.

Que nunca abandonem o apoio aos vossos

clubes e que nas chamadas claques, nos

chamados G.O.A., que eu não gosto dessa

sigla, seja sempre a combater, sempre a

lutarem, sempre a apoiarem, e não deixem

morrer o nome “Ultra” em Portugal, porque

é das melhores coisas que ainda temos no

nosso país. Bem-haja, obrigado. Felicidades

para vocês.

Nota final da redacção: Esta entrevista foi

realizada e conduzida numa conversa que

tivemos com o Fernando num momento em

que se encontrava privado da sua liberdade.

Agradecemos ter-nos aberto a porta e a

vontade de partilhar as suas histórias que

enriquecem o movimento das bancadas.

Tentamos transcrever a entrevista da forma

mais genuína possível.

Da parte de toda a equipa da Cultura de

Bancada, enviamos uma palavra de força ao

Fernando Mendes.

33


APOSTAS DESPORTIVAS

34

Nos tempos que correm é

praticamente impossível dissociar o futebol

profissional do fenómeno das apostas

desportivas. Assistir a um jogo, seja in loco

ou pela televisão, é ter a garantia de que

vamos ser bombardeados com publicidade

a estes sites e casas de apostas. Este hábito

entrou pela vida quotidiana de boa parte

dos portugueses adentro e domina tantas e

tantas conversas sob o pretexto da “aposta

que bateu” ou do interminável azar que

não nos abandona. Para compreender a

abrangência e a antiguidade deste fascínio,

temos de recuar no tempo e observar a

forma como os jogos de azar se “infiltraram”

no ADN humano.

Os registos historiográficos da

prática do jogo remontam há milhares de

anos atrás e há inegáveis evidências dessa

realidade em civilizações antiquíssimas,

tais como a suméria, a egípcia e a romana.

Em Portugal, e olhando directamente para

o século XX, percebemos que os jogos

de fortuna ou azar foram legalizados e

regulamentados pelo estado a partir de

1927, tendo a legislação que data desse ano

colocado fim a uma proibição que vigorava

desde os finais do século XIX. O estado, que

ficou com o monopólio da exploração desta

actividade, reconhecia desta forma que “o

jogo era um facto contra o qual nada podiam

já as disposições repressivas”. Avançando

umas décadas, até ao ano de 1961,

observamos a criação do primeiro jogo de

apostas desportivas de dimensão nacional,

o célebre Totobola, que ainda hoje continua

activo e é propriedade dos Jogos Santa

Casa, empresa gerida pela Santa Casa da

Misericórdia de Lisboa e que deteve, durante

muito tempo, a concessão do monopólio do

jogo em Portugal.

É já na primeira década do século

XXI que surgem as primeiras hostilidades

entre os Jogos Santa Casa e os emergentes

sites de apostas desportivas, que começavam

a florescer no contexto internacional. Na

temporada 2006/2007, o SC Braga assinou

com o site de apostas Sportingbet um acordo

para esta empresa ser o principal patrocinador

das camisolas do clube. Este acordo viria a ser

contestado em tribunal pela Santa Casa de

Lisboa, contestação que teve provimento e o

clube minhoto alinharia o resto da temporada

com um rectângulo azul na parte dianteira das

camisolas de jogo, como forma de contestar

a decisão e de dar algum mediatismo ao

assunto. Esta situação não foi caso único e,

inclusivamente, a Liga de Clubes foi obrigada

a remover todas as referências que tinha ao

seu principal patrocinador, que era à época,

tal como hoje, um site de apostas.

Esta conflitualidade, bem como

o vazio legal que constava da legislação de

1989 que tutelava o sector, acabaria por levar

o assunto a debate no Parlamento, que viria

a promulgar o decreto-lei nº 66/2015, que

seria publicado em Diário da República em

Abril de 2015, e viria desta forma regular

esta actividade que estava a crescer no nosso

país. Desde então o volume deste negócio

não parou de crescer, tal como os malefícios

a ele associados. Numa sociedade pouco

letrada, em que muitos indivíduos e famílias

têm necessidade de encontrar rendimentos


extra, o vício do jogo acaba por encontrar

um terreno fértil para prosperar. Com o

aparecimento de concorrência nesta que

tinha sido até aqui uma coutada gerida a belo

prazer pelos Jogos Santa Casa, esta entidade

para responder à “adversidade” haveria de

lançar o “Placard”, que basicamente funciona

como um site de apostas online, mas sem

necessidade de recurso a equipamentos

digitais, o que permite entranhar-se entre os

públicos mais débeis e permeáveis aos riscos

associados aos jogos de azar.

Para perceber a dimensão dos

riscos associados a esta actividade, basta

analisar os dados sobre a incidência da

mesma em Portugal, e um estudo intitulado

“Scratching the surface of a neglected threat:

huge growth of instant lottery in Portugal”,

de 2020, mostra que, só em raspadinhas, se

gastam mais de 4 milhões de euros por dia no

nosso país, o que corresponde a uma média

de 160 euros gastos por cidadão em cada

ano.

Vários especialistas na matéria

alertam para os riscos que a publicidade a

casas de apostas online representa. Assunção

Neto, do Grupo de Atuação em Psicologia &

Performance, afirma que “quando vamos

ver um evento desportivo, a excitação e a

antecipação do bem-estar estão presentes

durante aquele evento, e isso coloca o

nosso cérebro muito iluminado em termos

de sensação do prazer”. Isto faz com que os

adeptos ou espectadores de espetáculos

desportivos estejam mais vulneráveis e

suscetíveis à publicidade com que se deparam

nesses momentos, e essa situação agrava-se

nas camadas mais desfavorecidas, que são

quem mais joga.

Em resposta a este flagelo que

não conhece fronteiras, várias são as ligas

europeias que estão a tentar controlar

o fenómeno, com especial ênfase para

as ligas espanhola e italiana, que pura e

simplesmente proibiram os patrocínios a

estas entidades, proibição essa que será

parcialmente acompanhada pela Premier

League, que a partir da temporada 2026/2027

decretará a impossibilidade de existirem

equipas nesta competição a ceder o espaço

frontal das camisolas para patrocínio a estes

sites. Já a liga portuguesa parece estar em

sentido contrário, liderando a percentagem

de patrocínios por parte das casas de apostas

nos 10 países com maior coeficiente da

UEFA. É sabido que 16 das 18 equipas que

integram a primeira liga têm algum género

de patrocínios destas empresas, para além

35


da própria liga, cujo naming foi cedido a

uma casa de apostas, e inclusivamente a

Federação é também patrocinada pelos Jogos

Santa Casa.

No meio deste lamaçal que é a

corrida sem fim pela insaciável necessidade

de fazer as receitas crescerem surgem alguns

casos louváveis, de que é exemplo o Luton

Town, recém-promovido à Premier League

e cujo presidente, Gary Sweet, reafirma que

não aceitará nenhum contrato com estas

empresas, ainda que isso o impeça de fazer

um importante encaixe financeiro de vários

milhões de euros.

Para além da dependência que

gera em milhões de pessoas, esta actividade

acarreta um outro risco substancial que é a

proliferação de bandos criminosos que se

dedicam a viciar resultados de jogos para

lucrarem com as apostas. Suspeitas relativas

a acontecimentos deste género não são

novidade e a prova disso é o célebre escândalo

36


“Totonero”, que rebentou na década de 80

em Itália, e em que jogadores apostavam

em lotarias clandestinas nos resultados dos

jogos das equipas que representavam. Desde

aí que se foram sucedendo os casos, e a

dimensão que estes bandos atingem é de tal

forma assustadora que, em 2013, a Europol

desmantelou uma rede que viciou mais de

650 jogos, durante quatro anos, disputados

em cinco continentes.

Os baixos salários praticados pelas

equipas de menor dimensão e as que militam

na divisão secundária, associados muitas

vezes à existência de ordenados em atraso,

tornam Portugal um alvo fácil para estas redes.

A Operação “Jogo Duplo” veio deixar isso bem

patente, e expôs a existência de viciação de

resultados em jogos do Oriental e Oliveirense.

Outro caso igualmente dramático aconteceu

no Atlético CP, cuja SAD foi adquirida por

Eric Mao, que é acusado de ser líder de uma

rede de adulteração de resultados localizada

em Singapura e de contratar jogadores que

estão também referenciados por estarem

envolvidos em situações deste género.

Depois de envolver o clube numa série de

situações pouco abonatórias, Mao viria a

desaparecer de cena, deixando o emblema

lisboeta completamente destruído.

A verdade é que o fenómeno não

é novo, mas tem crescido exponencialmente

na última década, até porque a variedade de

apostas que é possível fazer cresceu também.

Se antigamente era apenas possível apostar

no resultado do jogo ou então na conjugação

de resultados da jornada, hoje pode-se

apostar no número de golos, de cantos, ou até

que vai ser exibido um cartão a determinado

jogador, o que permite que seja muito mais

fácil manietar as circunstâncias para que a

aposta seja bem-sucedida.

Combater todo este negócio, legal e

ilegal, não será certamente tarefa fácil para as

autoridades, que estão elas próprias também

reféns de lóbis. Proibir pura e simplesmente a

actividade trará, como já ficou demonstrado

no passado, resultados pouco eficazes e quiçá

até contraproducentes. Creio que a opção

deverá ser apertar a malha, canalizando mais

recursos para vigiar esta actividade, enquanto

se proíbe a publicidade da mesma. Esta

problemática é mais uma das que florescem

nesta era de financeirização do futebol,

em que tudo é subvertido pelo novo deus

da sociedade, o dinheiro, e que mais não

serve do que para enriquecer uns poucos,

depauperando ainda mais a generalidade da

população.

Por J. Sousa

37


À CONVERSA COM

ASSOCIATION NATIONALE DES SUPPORTERS

38

Temos a honrar de conversar com

elementos da Association Nationale des

Supporters, agremiação de e para adeptos

franceses, dando continuidade à procura de

informações sobre o que se vai fazendo no

estrangeiro neste âmbito.

Quando e como é que foi criada a vossa

associação? E quais têm sido as principais

preocupações dos adeptos franceses nos

últimos anos?

Olá, ora essa! A ANS foi criada em 2014. A

sua origem deve-se ao colectivo SOS-Ligue

2, uma coligação de adeptos que se opôs à

marcação de partidas para as sexta-feiras,

nomeadamente em horários como o das

18:45h, devido aos interesses televisivos

(mais propriamente da Bein Sport). Depois

desta questão ficar mais ou menos resolvida,

o colectivo foi reunindo para discutir uma

série de problemas de um ponto de vista

mais institucional. De facto, os problemas

não residiam nem afectavam apenas a

Ligue 2, estendiam-se a todos os clubes,

nomeadamente da Ligue 1. Neste seguimento,

houve algumas reuniões com outros grupos

de adeptos da Ligue 1, incluindo a Association

de Defense et d’Assistance Juridique des

Interets des Supporters (ADAJIS), uma

associação que apoiava a defesa legal dos

adeptos do PSG em conflito com a sua própria

direcção. Depois disto, existiu uma reunião

geral e foi aí que se fundou a ANS.

As principais preocupações dos adeptos

franceses, nos últimos anos, têm sido a

liberdade de circulação e as sanções colectivas.

Por exemplo, o número de proibições sobre

deslocações aumentou bastante nos últimos

dez anos. No que diz respeito às sanções

colectivas, estamos a falar de decisões de

encerramento de bancadas ou de alguns

sectores e de jogos interditos, na sequência

de decisões do comité disciplinar da Ligue de

Football Professionnelle (LFP) para punir, na

sua maioria, a utilização de pirotecnia. Estas

duas preocupações são as mais recorrentes

no panorama actual francês. Há ainda várias

outras questões que preocupam alguns

clubes, como as bancadas safe-standing e a

calendarização dos jogos (sobretudo para os

clubes da 2ª e 3ª divisão).

E como é que a ANS tem reagido a essas

preocupações e que estratégias têm utilizado

no vosso programa?

A ANS tem vindo a utilizar diferentes

estratégias para fazer face a todos estes

problemas. Por exemplo, para denunciarmos

as sanções colectivas, acabámos por organizar

algumas “jornadas de acção” nas quais foram

afixadas faixas/frases contra essas mesmas

sanções em boa parte dos estádios franceses.

Na mesma onda, produzimos alguns

comunicados de imprensa e procurámos

sensibilizar a opinião pública. Além disto,

a ANS é membro da Instance Nationale

du Supportérisme, uma organização que

constitui um fórum de discussão com os

poderes públicos, a Liga francesa, os clubes

e diferentes investigadores (entre os quais

sociólogos) sobre as diversas reivindicações

dos adeptos. Trata-se, no fundo, de um


trabalho meticuloso e demorado em torno da

defesa dos interesses dos adeptos.

Pode explicar como começou e está a ser

equipamento de proteção e um número

limitado de dispositivos pirotécnicos. No

entanto, as regras relaxaram com o tempo e,

desenvolvido o projecto para o regresso da

pirotecnia aos estádios?

O projecto de experimentação em torno

da pirotecnia nos estádios começou na

temporada de 2021/2022, no âmbito do

trabalho realizado com a Instance Nationale

du Supportérisme (INS). Esta organização

extraparlamentar, criada a partir da lei

de 10 de maio de 2016, cujo objectivo é

reforçar o diálogo com os adeptos franceses

e ser instituição-baluarte no combate ao

hooliganismo, é composta por representantes

dos ministérios do desporto e do interior,

a liga francesa de clubes, associações de

adeptos e alguns académicos/investigadores.

Voltando à pergunta, o objetivo era iniciar

um processo para “legalizar a pirotecnia”. Na

prática, um clube poderia solicitar permissão

à prefeitura/município para organizar um

“espetáculo pirotécnico” nas bancadas.

Inicialmente, as regras eram rigorosas:

formação de utilizadores de pirotecnia

por um pirotécnico especializado, uso de

na prática, nem todas as obrigações iniciais

são hoje necessárias. Já depois de dois anos

de experimentação, é para nós evidente

que a pirotecnia não é perigosa e há uma

necessidade de fazer evoluir a legislação nesse

sentido. No entanto, surge uma contradição,

uma vez que a polícia pune mais severamente

a “pirotecnia ilegal”, apesar de ser igualmente

perigosa à “pirotecnia experimental”, sem

aprovação oficial da prefeitura/município.

Surge, então, uma questão “filosófica”: deve

um adepto concordar em cumprir regras para

poder usar pirotecnia sem risco de acusação?

E quanto à subversão do uso da pirotecnia?

Ainda não temos grandes respostas, mas

estamos todos a trabalhar nesse sentido.

Calculamos que muito do vosso trabalho

procure envolver as instâncias governativas.

A ANS sente-se escutada pelos responsáveis

políticos franceses?

Bom, a resposta tem variado consoante

os ministros e os deputados envolvidos.

39


Alguns políticos estão-se nas tintas para

nós, enquanto outros fazem o esforço para

nos ouvir. Por exemplo, em 2022, no âmbito

de um projecto de lei referente aos Jogos

Olímpicos de 2024, alguns artigos legislativos

em discussão preocuparam vários adeptos.

Conseguimos ser ouvidos e apresentar, neste

seguimento, as dúvidas e preocupações dos

adeptos, assim como sugerimos alterações a

serem feitas ao documento.

E como é que os adeptos, em geral, têm

respondido à vossa intervenção? E, caso

tivessem esse poder mágico, o que gostariam

de mudar na cultura dos adeptos, neste caso

no vosso contexto?

Os adeptos franceses envolvidos nas suas

associações de adeptos locais ou em grupos

organizados têm tido uma opinião muito

positiva sobre o trabalho da ANS, ainda que

procuremos defender todos os adeptos

do mundo do futebol e não apenas em

exclusivo aqueles que mais se organizam

em associações ou similares. No entanto,

devemos admitir que a ANS continua a ser um

pouco desconhecida do grande público, isto

é, do “adepto comum”. Seria óptimo que mais

adeptos se envolvessem na defesa dos seus

direitos e da própria sobrevivência do futebol

em geral. Assim, alertamos, por exemplo,

que os desenvolvimentos recentes da

indústria do futebol (como o caso da criação

da “Superliga” europeia ou as questões que

se levantam quando vemos mais clubes a

optar pela solução da “multipropriedade”)

deveriam suscitar em todos o desejo de

40


procurar saber como é que nós, os adeptos,

poderemos proteger este nosso desporto e

bloquear o avanço do “futebol-negócio”.

Olhando para o nosso país: o que é têm

ouvido sobre os adeptos portugueses e

sobre o trabalho da Associação Portuguesa

de Defesa do Adepto (APDA)?

Seguimos atentamente a vossa luta contra

o “Cartão do Adepto”. Este é um tema que

iremos continuar a acompanhar aqui em

França, uma vez que tememos que tentem

estabelecer esse dispositivo também aqui.

Além disso, mais recentemente, a vossa

mobilização geral para boicotar o Mundial no

Qatar marcou-nos, pois fazia parte de uma

abordagem colectiva de adeptos em toda

a Europa contra esse evento-desastre. Essa

união é positiva.

Acreditam que as fanzines têm um papel a

desempenhar em tudo isto?

As fanzines, como qualquer meio de

comunicação, podem ajudar a divulgar

informações e a sensibilizar. Em França, a

ANS já se expressou várias vezes na fanzine

francesa “Gazzeta Ultra”. No entanto, as

fanzines são geralmente lidas por um público

já consciente dos problemas enfrentados

pelos adeptos, o que traz outras questões.

Porém, são claramente uma ferramenta real

para informar/sensibilizar os adeptos sobre a

evolução das questões que os afetam.

Gostariam de deixar uma mensagem final

para os nossos leitores?

Gostaria de agradecer à Cultura de Bancada

pelo convite para esta entrevista. Esta troca

foi muito enriquecedora. Desejo uma luta

vitoriosa para todos os adeptos que estão

a enfrentar diferentes problemas (ao nível

dos horários dos jogos, repressão policial,

aumento dos preços dos bilhetes, restrições

nas bancadas). Lembrem-se: O FUTEBOL

SEM ADEPTOS NÃO É NADA E NÓS SOMOS

também O FUTEBOL!

Obrigado pelas respostas e pelo vosso tempo!

Força para todo o vosso trabalho futuro! Até

breve!

41


MEMÓRIAS Da BANCADA

GRUPOS REFERÊNCIA (PARTE UM)

FOTOS CEDIDAS POR J.CAMPOS (@PHOTOTIFO)

Fossa dei Grifoni

Genoa x Padova

1988/1989

Fossa dei Grifoni

Monza x Genoa

1989/1990

42


Ultras Tito

Sampdoria x Genoa

1993/1994

Ultras Tito

Fiorentina x Sampdoria

1996/1997

43


Irriducibili

Roma x Lazio

1999/2000

44

CUCS

Roma x Lazio

1995/1996


Fedayn e CUCS

Udinese x Roma

1997/1998

Eagles

Fiorentina x Lazio

1991/1992

45


Viking

Bari x Lazio

1995/1996

CUCS

Roma x Inter

1990/1991

46


Ultra’ Lecce

Bari x Lecce

1996/1997

Brigate Gialloblu

Modena x Cosenza

1992/1993

47


WUP

Palermo x Salernitana

1995/1996

Brigate Rosanero

Palermo x Nocerina

1998/1999

48


Boys

Milan x Parma

1990/1991

Boys

Atalanta x Parma

1991/1992

49


Fossa, BRN e Commandos

Milan x Inter

1991/1992

Fossa, BRN e Commandos

Bari x Milan

1995/1996

50


Fossa, BRN e Commandos

Milan

Brigate Gialloblu

Verona x Milan

1984/85

51


Brigate Gialloblu

Verona x Udinese

1990/1991

Brigate Gialloblu

Salernitana x Verona

1990/1991

52


Granata South Force

Salernitana x Lucchese

1996/1997

Granata South Force

Juventus x Salernitana

1998/1999

53


Mastiffs

Verona x Napoli

1996/1997

Fedayn

Juventus x Napoli

1997/1998

54


Vigilantes

Inter x Vicenza

1995/1996

Vigilantes

Juventus x Vicenza

1997/1998

55


Última parte de 2023 e primeira de 2024, o que, no plano desportivo, representa estarmos na

metade da temporada. Entra-se numa fase crucial da época, não faltando o que ver em mais

um Resumo da Bancada, desde a última jornada da fase de grupos das competições europeias,

passando por clássicos do futebol nacional, divisões inferiores e até modalidades.

Varzim SC x AD Fafe | 03-12-2023

Encontro entre duas das equipas com massas

adeptas mais fervorosas do terceiro escalão

nacional. Duas madrugadas antes do jogo,

o estádio e os autocarros do Fafe foram

vandalizados com inscrições alusivas ao

Varzim, o que poderia até apimentar o que

viria a acontecer.

Chegado o momento da partida, que ocorreu

numa tarde fria na Póvoa, não houve registo

de incidentes nem de rivalidades acrescidas

pelas tais ocorrências em Fafe. Houve,

sim, um bom apoio de parte a parte, digno

da qualidade a que ambos os lados já nos

habituaram. No final, os “justiceiros” foram

os mais felizes, conseguindo uma importante

vitória, pela margem mínima, neste embate

entre dois adversários com aspirações a uma

boa classificação na sua série da Liga 3.

SC Vianense x Lusitânia de Lourosa FC | 03-

12-2023

O Vianense conseguiu a promoção, nesta

última época, do Campeonato de Portugal

para a Liga 3, mas só à 12.ª jornada da

competição teve oportunidade de estrear

o seu estádio, devido ao decorrer das

remodelações necessárias para cumprir os

regulamentos que a Federação exige. A Raça

Azul, grupo do emblema de Viana do Castelo,

fez questão de realizar uma coreografia,

56


assinalando o momento e homenageando os

125 anos do clube, através de uma mensagem

que referia “A nossa casa, o nosso forte”,

acompanhada com os símbolos do Vianense

e da cidade.

FC Vizela x SC Braga | 08-12-2023

O estádio não esteve cheio, mas registou-

-se um bom ambiente, com quase quatro

milhares de adeptos presentes em Vizela,

neste duelo entre minhotos. Bom apoio de

parte a parte, como seria de esperar, com

a Força Azul a entoar os cânticos da casa e

com as várias centenas de braguistas que

lotavam o sector visitante a incentivarem os

forasteiros e a saírem mais felizes, depois de

uma vitória por 1-3.

SL Benfica x SC Farense | 08-12-20232

Perto de 57 mil adeptos estiveram presentes,

sendo que, entre eles, houve o registo de

várias centenas de farenses que fizeram

uma excelente mobilização até Lisboa. Não

se ficaram apenas pelo número, dando um

bom recital no sector visitante, fazendo-se

inclusivamente ouvir durante várias vezes

ao longo da partida. O apoio não foi em

vão, tendo sido brindados com um empate

a uma bola, que valeu enormes festejos no

final entre eles próprios e a sua equipa. Por

outro lado, houve muita contestação do

lado encarnado, tanto ao longo do encontro

como no final, chegando mesmo a haver uma

tentativa de invasão à garagem do recinto.

SC Braga x SL Benfica | 09-12-2023

Cerca de 1.400 adeptos preencheram as

bancadas da Arena do SC Braga neste jogo

grande do futsal português, criando um

excelente ambiente, como já vem sendo

apanágio em Braga, principalmente neste

tipo de partidas da modalidade em questão.

No final, o Braga venceu por 5-2, valendo

uma enorme festa no pavilhão.

57


Vitória SC x Sporting CP | 09-12-2023

Cerca de 20 mil pessoas marcaram presença

numa partida notável, tanto dentro como

fora do relvado, em que não faltou apoio,

pirotecnia, brilho e muita emoção. Os grupos

vitorianos fizeram questão de dar uma boa

entrada, com os White Angels a registarem

(mais uma) excelente tochada e os Insane

e o Grupo 1922 a embelezarem a sua zona,

na bancada nascente, com muitas bandeiras

pretas e brancas e também, algumas

tochas. A noite acabou feliz para eles,

pois, entre golos marcados e sofridos com

reviravolta pelo meio, a sua equipa venceu

por 3-2, registando-se momentos de grande

ambiente.

Do lado sportinguista, nota também para um

forte incentivo, fazendo-se ouvir por diversas

ocasiões, e também para pirotecnia aberta.

Red Bull Salzburg x SL Benfica | 12-12-2023

O Benfica, pela segunda vez nesta fase de

grupos da Liga dos Campeões, estava proibido

de levar adeptos a um jogo fora. Ainda assim,

o sector visitante não estava vazio e isto, só

por si, já é mais do que motivo de destaque.

Vários benfiquistas “furaram” a proibição da

UEFA, havendo presença também de material

dos Diabos Vermelhos. Para além desta

acção, nota para os momentos de felicidade

final com a sua equipa, após uma vitória

por 1-3, em que o último golo, nos instantes

finais, permitiu a ida dos encarnados para a

Liga Europa, evitando a eliminação precoce

nas competições europeias.

58

SSC Napoli x SC Braga | 12-12-2023

Nesta última jornada da fase de grupos da

Liga dos Campeões, o emblema bracarense

necessitava de vencer por duas bolas no mítico

San Paolo (agora denominado oficialmente

de Estádio Diego Armando Maradona) para

conseguir a passagem aos oitavos-de-final da

competição, o que se avizinhava uma tarefa

bastante complicada. Ainda assim, houve

uma boa presença braguista em Nápoles,

com destaque naturalmente para as várias


dezenas de elementos levados pela Bracara

Legion e pelos Red Boys, que ainda se fizeram

notar com uma pequena tochada.

Com quase 38 mil pessoas presentes no

recinto e com o tradicional grande ambiente

que lá existe, o Braga saiu derrotado por 2-0,

mas a sua participação europeia vai continuar

na Liga Europa. No final, houve os tradicionais

agradecimentos entre equipa e público

arsenalista.

FC Porto x FK Shakhtar | 13-12-2023

Dragão com cerca de 48 mil presentes

neste encontro decisivo para a continuação

na prova, sendo que apenas bastava um

empate aos azuis e brancos para confirmar a

passagem aos “oitavos”. As equipas entraram

em campo, enquanto era exibida uma

coreografia em praticamente todo o estádio,

formada essencialmente por um mosaico

com as riscas das cores do clube.

Foi uma partida animada, que terminou

favoravelmente ao conjunto portista com

uma vitória por 5-3, em que estiveram a maior

parte do tempo em vantagem no marcador, o

que permitiu um melhor ambiente no recinto.

HC Liceo x OC Barcelos | 14-12-2023

Nota para a presença do grupo Kaos

Barcelense na Corunha, numa demonstração

de fidelidade à sua equipa de hóquei em

patins da cidade barcelense. Estiveram lá,

apoiaram e são o grande destaque da Liga dos

Campeões da modalidade em questão.

Sporting CP x SK Sturm Graz | 14-12-2023

Última partida da fase de grupos da Liga

Europa, com a particularidade de a formação

verde e branca já ter o seu lugar definido,

pois, independentemente do resultado, ia

ficar em segundo lugar e disputar o playoff

de acesso aos oitavos-de-final da prova.

Não foi, portanto, de estranhar que fosse o

embate em Alvalade nesta competição com

menor assistência até agora, com menos de

25 mil presentes, sendo que quatro milhares

eram austríacos. Por falar nestes últimos,

59


60

que ficaram no centro da bancada superior

norte (uma novidade para adeptos visitantes

naquele estádio), os mesmos contribuíram

para o cenário fora das quatro linhas com

um bom poder vocal e também uma boa

cachecolada naquela zona, ao estilo do que

têm feito noutros jogos europeus fora de

casa, em que nunca deixam um espectáculo

material por se ver no início da partida. A

acompanhar os ultras do Sturm estavam os

seus amigos italianos do Pisa e Carrarese, e

os alemães do Karlsruher.

Relativamente ao que se passou dentro das

quatro linhas, apesar do Sporting ter rodado

a sua equipa, venceu confortavelmente por

3-0, fazendo com que os grupos da casa

dessem um bom apoio, ao típico estilo de

um encontro sem grande história em campo,

mas com boa animação fora dele. Houve,

novamente, registo de pirotecnia por parte

da Juventude Leonina. Já na parte final,

nota para o facto de servir mais como um

pré-clássico pois, dias depois, o Sporting iria

receber o Porto.

Ainda quanto aos austríacos, serviu de

consolação o facto do Raków ter perdido

por quatro bolas contra a Atalanta, fazendo

com que o Sturm fosse repescado para a

Conference League.

SC Farense x CF Estrela da Amadora | 15-12-

2023

Encontro que abriu a 14.ª jornada,

realizando-se a uma 6.ª feira à noite, o que

não foi motivo para afastar o público (antes

pelo contrário), registando-se uma boa casa,

com 4.549 presentes oficialmente, entre

eles algumas dezenas de simpatizantes do

Estrela da Amadora. Para além do número de

espectadores, registo para um bom ambiente,

fervendo algumas vezes com provocações

entre os adeptos das duas partes, pese

embora em campo não ter havido qualquer

golo. Os South Side Boys criaram animação

praticamente do início ao fim, fazendo com

que fosse uma partida com um nível fora das

quatro linhas acima do habitual no nosso

campeonato.


Boavista FC x Vitória SC | 16-12-2023

O Bessa contou com uma assistência acima

da média, com cerca de nove milhares

de espectadores presentes, sendo que a

falange vitoriana que compôs grande parte

da bancada superior do topo norte também

contribuiu para esse facto, para além do bom

apoio vocal que a mesma proporcionou, tal

como é habitual. Comum nestes jogos são

também as picardias entre os dois lados, dada

a rivalidade histórica existente, que apimenta

sempre o ambiente.

No final, houve empate a uma bola, depois do

conjunto da casa ter marcado nos instantes

finais da partida, fazendo com que houvesse

uma explosão de alegria no estádio por parte

do público da casa.

SC Braga x SL Benfica | 17-12-2023

Uma das melhores casas registadas no Estádio

Municipal de Braga, com 25.532 presentes

oficialmente. Havia muita expectativa

de parte a parte, pois falamos de dois

adversários que ocupam lugares cimeiros da

tabela classificativa. Houve alguma tensão

fora do recinto, com a intervenção policial a

afastar possíveis confrontos entre rivais.

Já dentro do relvado, o Benfica adiantouse

muito cedo na partida - fazendo o único

golo na partida - o que causou naturalmente

animação entre as hostes presentes no

sector visitante que, para além de estarem

muito bem no plano vocal, fizeram tochadas

que proporcionaram bonitas imagens. Já

relativamente ao público da casa, embora

tenham estado em desvantagem durante

praticamente todo o jogo, não faltou apoio

por parte dos ultras locais, que foram sempre

tentando empolgar a sua equipa a procurar

evitar o desaire.

61


Sporting CP x FC Porto | 18-12-2023

Se no registo anterior abordámos a

importância do encontro em questão, a

verdade é que na mesma jornada, apenas

um dia a seguir, houve clásssico em Alvalade.

Mais de 44 mil espectadores estiveram

presentes nesta 2.ª feira à noite, incluindo

naturalmente a falange de apoio portista que

encheu o sector visitante, na mesma zona

onde ficaram os adeptos do Sturm, uns dias

antes.

Dentro de campo, os leões estiveram

melhores e venceram por 2-0, começando

ainda relativamente cedo em vantagem, o

que animou o público da casa. Houve, de

parte a parte, muitos cânticos, picardias

e também pirotecnia, como já estamos

habituados neste tipo de jogos grandes.

FC Vizela x Moreirense FC | 23-12-2023

Antes do Natal, ainda houve tempo para um

dérbi no principal escalão do nosso futebol.

Em pleno Sábado à tarde, as bancadas do

Estádio do Vizela estiveram muito bem

compostas, com mais de quatro milhares de

espectadores presentes.

Ainda antes da partida, a Força Azul fez

questão de organizar uma concentração

para receber o autocarro da sua formação,

de maneira a dar um incentivo extra. Diga-se

que o encontro foi muito mais animado fora

das quatro linhas, pois em campo registou-se

um empate a zero e poucas oportunidades

de golo. No final, Green Devils e a sua equipa

tiveram um bom momento de comunhão,

devendo-se realçar que o Moreirense está

a fazer uma temporada bastante acima das

expectativas.

62

Os De 1915 a comemorarem aniversários

Como já se tem tornado hábito nos meses

de Dezembro, o grupo varzinista Os De 1915

festeja dois aniversários - o seu e o do clube.

No dia 4 comemoraram o seu sexto, e fizeram

questão de lançar um vídeo nas redes sociais

sobre as comemorações precisamente no dia

25, quando o clube também cumpre mais


um ano de vida. Com um bonito espectáculo

pirotécnico na escadaria da Capela de São

Félix, na periferia da Póvoa de Varzim, em que

não faltaram strobs e tochas, deram um bom

efeito visual para celebrar o marco.

Já depois da tradicional consoada de Natal,

após a madrugada em que inicia o dia 25,

reuniram-se junto ao seu estádio, com a sua

faixa, e assinalaram os 108 anos da instituição

através de uma tochada.

Casa Pia AC x SC Braga | 30-12-2023

O Casa Pia continua a realizar as suas partidas

caseiras em Rio Maior, ou seja, a cerca de

80 quilómetros de Pina Manique. Ainda

assim, esta recepção ao Braga contou com

uma assistência de 4.153 espectadores,

que compuseram grande parte dos lugares

disponíveis e ainda ocuparam a bancada

norte (algo que apenas tinha ocorrido contra

o Sporting, nesta época).

A nível de apoio, o destaque vai claramente

para as centenas de braguistas presentes

que, através dos seus ultras, tomaram conta

do ambiente vocal. tendo sido brindados com

uma vitória por 1-3, com todos os golos na

segunda parte. Nota, ainda, para o espetáculo

visual da Bracara Legion, com várias tochas e

bandeiras durante a entrada das equipas em

campo.

Portimonense SC x Sporting CP | 30-12-2023

Entre os mais de quatro milhares de

espectadores presentes, os sportinguistas

estavam claramente em maioria, não só em

número, mas principalmente no apoio. Uma

grande falange leonina, motivada pela boa

época que a sua equipa vem fazendo, deu um

bom recital em Portimão, com ênfase para os

seus ultras, que se concentraram na bancada

nascente do estádio, e onde não faltaram

momentos de abertura de pirotecnia.

Tal como no registo anterior de Rio Maior,

também aqui os visitantes venceram (neste

caso, por 1-2) com todos os golos a serem

marcados na segunda parte, motivando

grandes festejos finais.

63


Nota para o Directivo Ultras XXI que aproveitou

para parabenizar o grupo Marasma, os seus

amigos da Fiorentina.

85.º aniversário do Vizela | 01-01-2024

Batia a meia-noite, o que para quase todos

é motivo de festejo de mais um ano civil

que passa. Em Vizela, mais concretamente

na marginal ribeirinha junto ao rio, a Força

Azul efectuava um espectáculo pirotécnico,

não propriamente por causa do Ano Novo,

mas sim para mais um aniversário do seu FC

Vizela, que fazia 85 anos.

AD Fafe x FC Felgueiras 1932 | 05-01-2024

Encontro a uma 6.ª feira à noite, a contar

para a Liga 3, entre dois clubes de localidades

vizinhas. Serviu para o Grupo 1958 festejar o

seu terceiro aniversário, com uma pequena

coreografia com a sua inscrição e ainda uma

outra mensagem com o lema: “Apenas um

clube, uma cidade. Lealdade. Irmandade”.

Não faltaram cânticos também durante a

partida, seja por parte dos da casa, através da

presença desse mesmo grupo e dos Fighters

Boys, mas também dos que fizeram a curta

deslocação de Felgueiras, com ênfase para a

sua claque Os Do Costume. No final, foram

precisamente os visitantes a festejarem,

pois venceram por 0-3, cimentando o seu

excelente registo no primeiro lugar da tabela.

Boavista FC x FC Porto | 05-01-2024

Quase meia casa no Estádio do Bessa

para assistir ao Dérbi da Invicta. Como já

é habitual, os portistas ocuparam os dois

níveis da bancada norte do recinto, acabando

por dar um bom recital de apoio. Para além

disso, houve pirotecnia e fumarada - dos

dois lados, como praticamente tem sido

regra, diga-se -, destacando-se claramente

um bom espectáculo nesse aspecto dado

pelo Colectivo 95, aquando das entradas

das equipas em campo, com um efeito visual

digno de registo.

No final, houve um empate a uma bola, para

clara felicidade dos boavisteiros, contrariando

64


as expectativas num momento clubístico

bastante conturbado que iam atravessando,

que exultaram com os seus jogadores. Pelo

contrário, a formação azul e branca saiu

do relvado debaixo de um grande coro de

assobios e de protestos em consequência do

seu rendimento em campo.

FC Arouca x SL Benfica | 06-01-2024

4.437 adeptos estiveram no Municipal de

Arouca, o que representa a melhor casa da

temporada, não sendo de estranhar que

a larga maioria era afecta aos encarnados.

O apoio por parte dos benfiquistas foi

constante, tendo a vitória por 0-3 ajudado

a isso, havendo registo de vários momentos

pirotécnicos, principalmente após os golos.

SC Braga x Vitória SC | 06-01-2024

Um dos dérbis mais empolgantes do nosso

futebol, que dispensa apresentações, teve

a peculiaridade de começar a “ferver” dias

antes (mais concretamente na passagem de

ano, por parte dos Insane) com a colocação

de diversas mensagens provocatórias, seja

na própria cidade ou até na cidade rival do

adversário - tanto de um lado como o do

outro, até ao dia da própria partida. Convém

dizer que teve mais frases do que o costume,

um pouco à semelhança do que aconteceu

nos recentes tempos dos recintos à porta

fechada.

Mais de 22 mil estiveram presentes na

Pedreira. Houve um pouco de tudo, desde os

tradicionais cânticos de incentivo, picardias,

pirotecnia e até tensão, tanto dentro como

fora do recinto, com a nota da detenção de

12 apoiantes braguistas, que foram presentes

ao tribunal de Guimarães dois dias depois,

registando-se mais momentos de tensão no

exterior desse espaço.

Dentro de campo, o Vitória evitou a derrota

nos últimos instantes do encontro, levando

a uma enorme explosão de alegria no sector

visitante.

65


Rebordosa AC x USC Paredes | 07-01-2024

Destaque para a presença da claque White

Legion, afecta ao Paredes, com várias

dezenas de elementos, neste dérbi do

concelho paredense. O grupo em questão

tem-se afirmado como um dos mais activos

no Campeonato de Portugal.

Caldas SC x Académica de Coimbra | 07-01-

2024

Encontro bastante interessante, a contar para

a Liga 3, que ocorreu num Domingo à noite.

O destaque vai claramente para a grande

falange de apoio trazida pelo emblema

de Coimbra até ao Campo da Mata, que

incentivou durante praticamente toda a

partida e foi brindada com uma importante

vitória.

De realçar também a habitual presença da

claque da formação caseira, o Sector 1916.

SC Braga x Sporting CP | 08-01-2024

Novo jogo grande de futsal na Arena do SC

Braga, nova casa cheia, desta vez a uma 2.ª

feira nocturna. Como tem sido habitual, bom

apoio das claques arsenalistas, voltando a

conseguir empurrar a sua equipa para uma

outra vitória importantíssima, em mais um

embate entre candidatos ao título. Houve,

naturalmente, uma grande festa no final.

Gil Vicente FC x Amarante FC | 10-01-2024

Várias centenas de amarantinos deslocaram-

-se até Barcelos numa 4.ª feira e deram a

ideia que estavam a jogar em casa, seja no

número de presentes como no apoio. O clube

compete actualmente no quarto escalão e,

mesmo assim, deu luta até ao final, com um

golo do empate no minuto 82 que provocou

uma explosão de alegria na bancada visitante

e fez sonhar os seus simpatizantes. Porém,

logo depois, o Gil Vicente fez dois tentos

seguidos e impingiu a primeira derrota (!) da

temporada para o emblema de Amarante.

No final, houve grande momento de sintonia

entre o seu público e equipa.

66


SL Benfica x SC Braga | 10-01-2024

Mais de 56 mil pessoas estiveram presentes

neste encontro a meio da semana, a contar

para os oitavos-de-final da Taça de Portugal.

Jogo bastante animado, que ficou 3-2 a favor

dos encarnados, motivando também um bom

ambiente no estádio, principalmente entre os

grupos benfiquistas e as várias centenas de

braguistas presentes no sector visitante.

Nota, ainda, para uma boa tochada dos No

Name Boys.

FC Barcelona x OC Barcelos | 11-01-2024

À imagem do que já tinha acontecido na

jornada anterior da Liga dos Campeões em

hóquei em patins, a claque Kaos Barcelense

voltou a deslocar-se até território espanhol,

agora em Barcelona, o que representa

naturalmente uma viagem ainda maior. Numa

5.ª feira à noite, os barcelenses estiveram

representados nas bancadas por mais de

duas dezenas de elementos, apoiando a sua

equipa ao longo da partida, pese embora

terem sofrido a primeira derrota nesta fase

de grupos.

Portimonense SC x SC Farense | 12-01-2024

Quase 13 anos depois, tivemos direito a um

encontro com adeptos, na primeira divisão,

entre duas formações da região algarvia.

Houve uma bela casa nesta 6.ª feira à

noite, com 3.611 espectadores segundo as

estatísticas oficiais. O destaque vai para a

boa deslocação dos farenses, que se situaram

na bancada nascente, embora houvesse

dois sectores ligeiramente espaçados entre

eles. Os South Side Boys tomaram conta

dos cânticos durante praticamente o tempo

todo, fazendo valer a sua força e o facto de

não haver um apoio organizado ao futebol

profissional em Portimão.

Nos instantes finais da partida que os da casa

venceram por 1-0, houve alguns incidentes

precisamente na bancada nascente, numa

zona que juntava o grupo ultra de Faro com

alguns simpatizantes do Portimonense, sem

qualquer barreira, o que não deixa de ser mais

67


uma causa caricata da existência das famosas

Zonas com Condições Especiais de Acesso

e Permanência (ZCEAP) que continuam a

causar mais confusão do que segurança,

simplicidade e ocupação.

GD Chaves x Sporting CP | 13-01-2024

Mais uma deslocação dos sportinguistas que

encheram por completo o sector visitante e

deram outro bom espectáculo vocal. Numa

noite fria e chuvosa na região transmontana,

a falange de apoio leonina pouco ou nada deu

por essas condicionantes, principalmente

pelo empolgamento que a equipa vive e por

uma nova vitória tranquila.

GD Joane x AD Oliveirense | 14-01-2024

Encontro com um ambiente soberbo na

Pro-Nacional da distrital bracarense, o

equivalente ao quinto escalão nacional.

Duas equipas candidatas à subida ao

Campeonato de Portugal e os Ultras Joane

quiseram aproveitar para dar espectáculo.

Houve, durante a entrada das formações,

uma tochada e a seguinte mensagem: “Bemvindos

ao inferno”

FC Porto x SC Braga | 14-01-2024

Mais de 41 mil espectadores presentes, neste

Domingo à noite, para assistirem à partida

de grande cartaz deste fim-de-semana.

Destaque para duas tochadas de relevo, uma

conjunta dos ultras do emblema brancarense

enquanto expunham uma tarja que referia

“Todos juntos pelo Braga” e outra na bancada

sul do Dragão.

Forte apoio de parte a parte, com a vitória a

sorrir para os dragões - graças a uma vitória

por 2-0 -, que motivou os naturais festejos do

lado da casa, mas que não desmoralizou as

hostes visitantes, que também não se calaram

durante praticamente todo o encontro.

FC Famalicão x SC Braga | 18-01-2024

Num horário em que não era dos mais

convidativos, pois iniciava-se às 18h45 de

uma 5.ª feira, cerca de quatro milhares de

68


adeptos marcaram presença nas bancadas do

recinto famalicense. Fama Boys de um lado e

um sector visitante repleto do outro tomaram

conta do apoio durante a partida. No final, a

vitória sorriu aos forasteiros, que tiveram

uma sofrida vitória fruto de uma reviravolta e

com um último golo a acontecer aos 90+10’,

colocando em êxtase quem fez a curta viagem

de Braga até Famalicão.

CS Marítimo x CD Nacional | 21-01-2024

Dérbi madeirense com mais de 10 mil

adeptos nos Barreiros, o que é sinónimo de

casa cheia. Para além da rivalidade existente

entre os dois, falamos de emblemas que

lutam actualmente pela subida ao principal

escalão, o que ainda fez aumentar mais a

expectativa em relação à partida. Mensagens

de parte a parte a antecederem de forma

a “apimentarem” as coisas, incentivos às

respectivas equipas de maneira a darem força

às mesmas e, depois, no final de Domingo à

tarde, muito apoio de ambos os lados.

A vitória sorriu aos da casa, que não deixaram

fugir o velho rival fugir na tabela classificativa

e continuam com aspirações a regressar á

primeira divisão. Houve naturalmente uma

grande festa no “Caldeirão dos Barreiros”.

SL Benfica x Sporting CP | 21-01-2024

A ‘final eight’ da Taça da Liga de futsal voltou a

ser realizada na Póvoa de Varzim. Foram sete

as partidas que aconteceram desde 5.ª feira

até Domingo, sendo que várias contaram com

assistências relevantes e presenças de grupos

de apoio. Destacamos a derradeira, neste

caso a final, que aconteceu entre os dois mais

famosos emblemas nacionais da modalidade.

Num Domingo à noite, ambiente escaldante

do Pavilhão Municipal, com muitos cânticos

de parte a parte, picardias, polémica e emoção

até final. A vitória, e respectiva conquista do

troféu, sorriu aos sportinguistas, valendo

festejos entre a equipa e os simpatizantes

presentes.

69


CDR “Os Vinhais” x SC Braga | 27-01-2024

A Bracara Legion aproveitou o facto dos ultras

arsenalistas estarem a boicotar a Taça da Liga

para realizar uma deslocação - no dia em que

a equipa de futebol do Braga jogava a final

da competição - até São Domingos de Rana,

no concelho de Cascais, para apoiar o seu

conjunto de futsal num “simples” encontro

a contar para a 4.ª eliminatória da Taça de

Portugal contra um conjunto que milita no

terceiro escalão nacional.

Depois de vencerem por 0-4, ainda houve

espaço para a habitual boa sintonia entre os

jogadores e o público presente.

Varzim SC x FC Felgueiras 1932 | 28-01-2024

Um dos destaques mais especiais e de maior

união deste resumo. O Varzim atravessa

uma crise directiva e financeira, sendo que

coincidentemente estamos numa fase de

decisões na Liga 3. Nesta última jornada da

primeira fase do campeonato, o emblema

poveiro mantinha em aberto a possibilidade

de ficar nos lugares de cima (que valem

a disputa da subida). A resposta dos seus

adeptos foi a de realizarem a melhor casa

da época (com mais de cinco milhares de

simpatizantes presentes), organizarem uma

angariação de fundos que valeu mais de 5 mil

euros e, no final, uma vitória contra o primeiro

classificado da tabela, garantindo uma vaga

na fase de promoção e uma enorme festa no

estádio, pese embora o momento mais triste

vivido pelo histórico clube.

70

SC Farense x FC Porto | 28-01-2024

Primeira casa cheia da época no Estádio

São Luís, com 6.356 adeptos presentes

oficialmente. As últimas deslocações portistas

até Faro, que já aconteceram há mais de duas

décadas, revelavam-se bastante animadas,

com muita tensão de parte a parte. A verdade

é que há tradições que ainda se cumprem por

mais que os tempos avancem e a repressão

aumente, não faltando animosidade fora

das quatro linhas, vários focos de incidentes,

sendo que a maioria com as forças de ordem


locais. O facto da entrada dos adeptos

visitantes não ficar muito longe do topo sul,

bancada dos South Side Boys, contribuiu para

as picardias subirem de tom no exterior.

Nas bancadas, como já se previa, muitos

cânticos de ambos os lados. A claque do

Farense a comandar o apoio dos da casa,

enquanto Super Dragões e Colectivo

animavam as hostes azuis e brancas. O Porto

acabou por vencer por 1-3, valendo uma festa

entre jogadores e simpatizantes visitantes.

Gil Vicente FC x Vitória SC | 28-01-2024

A procura de ingressos por parte dos adeptos

vitorianos foi grande, fazendo fila durante a

semana para cada um conseguir adquirir o

seu. Foi, por isso, natural a grande falange

de apoio à formação vimaranense em

Barcelos, que contou com vários milhares

de simpatizantes presentes, entre os 7.618

espectadores totais presentes, segundo os

números oficiais. Destaque para os ultras

forasteiros, que curiosamente estiveram

espalhados em duas bancadas diferentes.

Cantaram ao longo de praticamente toda a

partida e ainda abriram pirotecnia.

Apesar do muitos incentivos ao Vitória e

do empolgamento vivido, foi mesmo o Gil

a vencer, pela margem mínima, valendo

também uma boa festa entre o público da

casa.

Houve ainda espaço para momentos de fairplay

nas bancadas, com cânticos entoados de

parte a parte, cada um para o seu clube.

CF Estrela da Amadora x SL Benfica | 29-01-

2024

Melhor casa da época na Reboleira (6.398

adeptos), com a maioria dos presentes a

incentivar os encarnados. O destaque vai

precisamente para os adeptos visitantes,

principalmente integrantes dos grupos, que

deram um autêntico festival de tochas ao

longo da partida. Foram vários os momentos

de pirotecnia aberta, que deram registo

a imagens incríveis. O apoio obviamente

também não faltou, tendo sido brindados

71


por uma vitória por 1-4, pese embora terem

começado a perder.

Pela negativa, destaque para muitos relatos

de uma falta de organização gritante, que

levou a que muitos adeptos com ingresso

comprado não pudessem entrar, com as

forças de segurança a justificarem que outros

sem bilhete tinham conseguido entrar antes,

provocando vários constrangimentos nas

portas de acesso ao recinto.

Sporting CP x Casa Pia AC | 29-01-2024

O Sporting somou mais uma vitória, desta

vez através de um impressionante resultado

de 8-0. O clima foi, então, de festa durante

praticamente toda a partida. Para além disso,

os dois principais grupos leoninos quiseram

mostrar também um sentimento de união,

organizando em conjunto uma mensagem,

que começou na bancada sul e terminou na

bancada norte: “Enquanto houver estrada

para andar, a gente vai continuar a apoiar”

Académico de Viseu FC x CD Tondela | 30-

01-2024

Dérbi do distrito viseense realizado a uma 3.ª

feira à noite, registando 4.615 espectadores,

o que corresponde, por larga margem, à

melhor casa da época até então no Fontelo.

Numa altura em que os polícias têm

aproveitado para se deslocarem a jogos de

futebol para se manifestarem, principalmente

através da entoação do hino, houve aqui uma

particularidade: os elementos das forças

policiais que se organizaram nas bancadas

ocuparam... o habitual sector dos Viriathus

1914, grupo de apoio ao Académico, que foi

obrigado a ficar numa escadaria junto a essa

zona. Isto até certo momento, pois a meio

os polícias em questão deslocaram-se para

outra bancada.

De qualquer maneira, houve um bom

ambiente, com o empate a uma bola a

contribuir também para as emoções vividas

na bancada. A claque da casa curiosamente

teve alguns incidentes com a polícia antes da

partida, nas imediações do recinto. Do lado

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tondelense, houve uma boa presença nesta

curta viagem, sendo que a Febre Amarela

ainda organizou uma pequena coreografia

com balões amarelos e verdes.

SC Braga x GD Chaves | 31-01-2024

Depois do Braga ter vencido a Taça da Liga

- sem a presença das claques do clube

bracarense em virtude do boicote anunciado

-, este era o primeiro encontro para o

campeonato e o consequente regresso dos

grupos ao apoio. Era também o primeiro jogo

depois das polémicas declarações de António

Salvador, que considerou que quem fez o

boicote “não fez falta”. Pois bem, os ultras

arsenalistas aproveitaram para exibir a sua

resposta, num momento em que também

abriam pirotecnia, através da seguinte

mensagem: “Vozes de trolha não chegam ao

céu! Na defesa do símbolo sempre!”

FC Vizela x Vitória SC | 04-02-2024

Encontro entre dois clubes vizinhos que foi

“apimentado” bem antes do dia da partida.

Alegadamente, duas semanas antes, vários

ultras do emblema vimaranense atacaram

a sede da Força Azul, levando consigo

muito material do grupo vizelense, que foi

publicitado uma semana depois.

Para além deste último acontecimento,

este dérbi foi realizado num fim-de-semana

marcado pelo agravar dos protestos das

forças policiais, que passaram a colocar baixas

médicas em bloco, levando ao adiamento de

vários jogos do futebol profissional português

e equacionou-se a também não realização

deste, o que não passou de um “falso alarme”.

Numa tarde de Domingo agradável, mais de

cinco milhares de espectadores marcaram

presença no Estádio do Vizela, com destaque

para a habitual grande falange forasteira, que

esteve naturalmente em bom plano, tendo

sido premiada com uma vitória sofrida pela

margem mínima. Já do lado vizelense, houve

o habitual bom apoio da claque da casa.

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SL Benfica x Gil Vicente FC | 04-02-2024

Tal como no registo anterior, também aqui

havia alguma dúvida quanto à realização

da partida, devido aos protestos das forças

policiais, algo que veio com o tempo a

confirmar que se iria mesmo jogar. Muitos

milhares de benfiquistas concentraram--

se nas imediações do estádio desde cedo,

recebendo o autocarro da sua equipa e já com

algum fumo vermelho a dar cor e vivacidade

ao momento.

Quase casa cheia, com os números oficiais

a assinalarem 58.722 espectadores, que

assistiram a uma vitória tranquila do Benfica,

por 3-0. Nota, ainda, para a homenagem dos

Diabos Vermelhos a Fehér, através de uma

mensagem, numa altura em que se cumprem

20 anos desde o seu fatídico falecimento.

Olímpico do Montijo x UFC Moitense | 04-

02-2024

Bom apoio do grupo Orgulho Aldeano ao seu

Olímpico do Montijo, em mais uma partida

da distrital setubalense. Deram um bom

espectáculo visual com pirotecnia e ainda

uma fumarada.

74


75


José Mário Branco cantava nos

anos 70 que “a cantiga é uma arma”; algumas

vezes pensaram que a bola também pode ser

uma arma, até capaz de abater um avião?

Não se costuma dizer às vezes “o tal jogador

chutou um míssil na direção da baliza!”?

Bem, veremos que isto aconteceu realmente:

uma bola transformada em “rocket” capaz de

abater avionetas.

Em Villamora, na cidade de

Assuncíon (Paraguai), jogava o Clube General

Genes, pequena agremiação, orgulho bairrista

desta parte da cidade. O clube General Genes

foi fundado em 17 de dezembro de 1929, e o

seu nome homenageia o heroico soldado José

Ignacio Genes que, como capitão, comandou

o assalto aos encouraçados brasileiros Cabral

e Lima Barros, numa das ações navais mais

importantes lembradas da Guerra da Tríplice

Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o

Paraguai. Nesta ação heroica, que lhe valeu

uma promoção a general, Genes até perdeu

um olho.

As cores azul e branco do clube

estão relacionadas ao sentimento político

do bairro. Na década de 1920, Villamorra era

um bairro onde viviam muitos liberais, razão

pela qual o clube da região usou as cores que

identificavam o partido liberal: azul e branco.

O Geres teve o seu momento áureo nos anos

50, quando por duas vezes participou na

primeira divisão do campeonato paraguaio,

em 1952 e 1955. No entanto, não é por este

historial que o clube se tornou famoso.

76


O jovem Roberto Gabriel Trigo,

nascido em 1935, filho do bairro, brilhava na

sua equipa do coração. Jogou a vida inteira

defendendo as cores do Genes, equipa pela

qual se estreou oficialmente na Primeira

Divisão aos 17 anos, e a sua posição era lateral

direito, apesar de às vezes jogar como ala

esquerda. A lenda dá-se em fevereiro de 1957

quando, durante uma partida de futebol,

o jovem Rodrigo Trigo abateu um pequeno

avião que passava por cima do campo com um

golpe de bola. Sim, leram bem! A pequena

aeronave, conhecida como “teco teco”, era

pilotada por Alfredo Lird, amigo próximo de

Trigo, que aparecia regularmente à tarde para

fazer estas “brincadeiras”, e o pontapé forçou

Lird a fazer uma aterragem improvisada a

cerca de 200 metros do campo. Na realidade

não foi encontrado qualquer registo oficial

relativamente ao incidente “Queda do

avião de Genes”, mas é possível que o caso

nem tenha sido denunciado pois não houve

feridos ou danos materiais significativos.

As lembranças do Rodrigo são

vagas: “O que me lembro é que o parceiro

Lird estava muito assustado. Lird não ficou

chateado comigo, éramos amigos e eu sempre

brincava com ele que em algum momento

eu iria bater nele com uma bola quando ele

passasse por cima de nós novamente com

o seu avião. Acontece que nunca pensamos

que isso iria acontecer”, diz Don Trigo.

Verdade ou lenda, tanto faz: o

encanto do nosso jogo preferido alimenta-

-se também com o fascínio de contos deste

tipo. A emoção e a imagem que nos deixa é

sempre real e fascinante, quer seja mentira

ou verdade.

Por Eupremio Scarpa

77


78

O Varzim é um clube peculiar

numa cidade muito própria. É incutido a

todas as crianças, sem exceção, um orgulho

enorme por sermos poveiros, por termos

nascido numa cidade histórica com influência

piscatória, pelo facto de uma expedição viking

em tempos idos ter cá parado, influenciando

os nossos costumes, e pelo facto de termos

um grande clube de futebol na cidade, o

Varzim. O problema é que, depois de tudo

isso, na maioria dos casos entrega-se também

ao imaginário da criança um clube grande.

Quando, em 2011, fui pela

primeira vez para fora da Póvoa, estudar para

Guimarães, era apenas mais uma pessoa que

tinha nascido aqui e sentia o orgulho de cá ter

nascido e de ter representado, nas camadas

jovens, o Varzim SC. Foi a falta desta cidade

que me fez realmente Poveiro e varzinista.

A falta das pessoas, do mar, de tudo o que

sempre dei por garantido. E, de repente,

apanhei-me a desejar tudo aquilo que sempre

tive e que naquele momento tinha deixado

de ter. Aí percebi que não estava sozinho, e

que este sentimento é tão particular como a

própria cidade. Dei por mim a criar amizades

com outros poveiros naquela cidade e a

partilhar viagens para a Póvoa e para fora

dela. Do Campeonato Nacional de Séniores

até à Segunda Liga, tudo era desculpa para

sair de Guimarães e ir para onde quer que

fosse que o Varzim jogasse, ao fim de semana

ou à semana, estivesse como estivesse o

tempo ou tivéssemos nós os compromissos

que tivéssemos. As coisas mais importantes

que os anos na faculdade me deram foram as

amizades e o amor incondicional à Póvoa e ao

Varzim.

Refletindo diretamente sobre o

assunto em questão, financeiramente o clube

sempre foi dependente de doações locais. Era

comum cada mestre de cada barco pesqueiro

oferecer cabazes ao clube (o peixe era vendido

na lota, e o dinheiro reverteria a favor do

Varzim) e doações diretas eram frequentes.

Como a maioria dos homens pescavam, eram

as mulheres desses pescadores que muitas

vezes enchiam as bancadas do estádio do

Varzim Sport Club e, por isso, não restava

outra solução aos homens que não fosse

ajudar financeiramente o clube quando

podiam. E antes de iniciarmos a discussão

SAD/SDUQ, é necessário recuarmos aos anos

2000 para recordarmos uma situação que

ainda hoje paira sobre o clube.

Nessa altura, a direção do Varzim

negociou com um consórcio de empresas a

venda dos terrenos do atual estádio em troca

da construção de um novo estádio e mais

algumas contrapartidas financeiras. Esse novo

estádio nunca chegou a ser construído, nem

o antigo (e atual) estádio foi demolido. No

entanto, essas “contrapartidas financeiras”

acabaram por entrar no Varzim, tendo o

clube usado o dinheiro para uma super

equipa paga a peso de ouro, equipa essa que


acabou por cair na segunda divisão. E, como

nada nesta vida é de graça, em 2006, a Hagen

e a Famenc (duas empresas pertencentes a

esse consórcio) avançaram com um processo

judicial reclamando mais de doze milhões de

euros de indemnização, bem como quase

oito milhões de euros em juros de mora. O

famigerado “processo estádio”.

Felizmente, em 2020, os tribunais

portugueses deram razão ao clube, tendo

esses vinte milhões de euros sido convertidos

numa dívida de quase oitocentos mil euros

a serem pagos faseadamente a essas duas

empresas. Mas o mal estava feito, com quase

quinze anos hipotecados de desenvolvimento

do clube devido ao pairar desta possível

dívida de vinte milhões de euros.

Essa situação, aliada a erros crassos

de gestão do clube, levaram a que uma

direção, em 2023, tivesse tentado levar a

votação a criação de uma SAD no clube, SAD

essa em que o investidor seria detentor da

maioria das ações da mesma. Aqui entra o

problema do orgulho na Póvoa e no Varzim

contra o facto da maioria dos sócios do clube

terem sido sempre ensinados a “fugir” para

um clube grande para poderem encher o

peito em Maio e ficarem felizes durante uma

semana pela conquista de um título nacional.

Na minha opinião, é esse desespero pelo

sucesso que leva as gentes a trilhar pelo

caminho das SAD’s minoritárias.

Eu acredito que o modelo SDUQ

no Varzim, ou até uma SAD com um parceiro

estratégico em que o Varzim seja o verdadeiro

detentor da sociedade desportiva, não está

esgotado. O clube tem mais de vinte e oito

milhões de euros em património imobiliário

que lhe garantem quase a cem por cento

que o clube mais rapidamente vende o

seu património e liquida as dívidas do que

efetivamente abre falência e cessa atividade.

Esse desastre está descartado.

E mesmo que fosse constituída

uma Sociedade Anónima Desportiva,

existem sempre possibilidades diferentes

da que foi apresentada no passado mês de

Dezembro, tal como é ainda demonstrado

pelos clubes que detêm a maioria da sua

SAD ainda em Portugal (Primeira e Segunda

Liga). Seria também possível não ser acionista

maioritário da SAD se o investidor tiver

promovido continuamente no clube, de

forma substancial, o desporto, em particular

o futebol, por um determinado número de

anos, estipulando-se igualmente a proibição

de revenda do capital social (excetuando

aqui a venda do capital ao clube fundador),

devendo ainda o investidor, de forma

imperativa, continuar a promover o futebol.

Seria também igualmente imperativo garantir

que qualquer investidor que se proponha a

adquirir a maioria de uma SAD fosse sujeito

às seguintes obrigações:

- Facultar a discriminação da

estrutura societária e do seu último

beneficiário (no caso de o investidor ser uma

sociedade);

- Conceder, enquanto último

beneficiário, informações pessoais e

profissionais, relativamente a possíveis

condenações por qualquer facto que seja

contraditório com os princípios da integridade

e verdade desportiva;

- Deve também facultar o histórico

de gestão desportiva para apreciação,

nomeadamente a possibilidade de terem

existido insolvências culposas em anteriores

sociedades desportivas;

- Fornecer informações e provas

da suficiência e proveniência dos fundos a

investir na SAD;

79


- Elaborar e entregar um relatório

financeiro com as presumíveis consequências

económicas que a mudança do controlo da

SAD possa provocar;

- No mesmo seguimento, deve

ser elaborado e entregue um plano de

investimento para a SAD.

O que é necessário é arte e

engenho na forma de fazer dinheiro e de gerir

o futebol. Isto vale para as SDUQ e para as

SAD. Empurrar os problemas com a barriga

para as direções seguintes lidarem com os

problemas que forem criados não é a forma

correta de gerir os clubes.

Não sou nenhum especialista, mas

sempre ouvi dizer que se não temos o mesmo

dinheiro que os outros e queremos vencer,

temos de ir por outros caminhos. Reduzir

o orçamento para o plantel e efetivamente

apostar numa equipa sólida de scouting,

rendimento desportivo, garantir que os atletas

têm tudo fora de campo para singrarem

dentro de campo; tudo isso são coisas muito

mais baratas do que um jogador consagrado,

e podem muitas vezes ser a diferença

entre o sucesso e o insucesso. Depois, os

rendimentos gerados pelo clube. Não vejo no

futebol português a modernização necessária

para sobreviver sem investidores, é verdade.

Não há visão para fugir ao modelo tradicional

de angariação de patrocínios, associados,

parceiros. As redes sociais e as plataformas

digitais podem e devem ser usadas para

renovar o lado dos investimentos. Parcerias

com universidades são usadas por empresas

há anos e anos mas, no futebol, continuamos

a ser um mundo fechado. Por que não usar

alunos de marketing, de cinema ou de gestão

para ajudar a dotar o clube de capacidade

humana e técnica para crescer? Qualquer

minissérie de vinte minutos por semana no

youtube é mais interessante do que um cartaz

no instagram a anunciar o próximo jogo.

Há duas frases que qualquer

elemento de qualquer direção devia ter

em conta antes de tomar qualquer decisão

no clube“. A salvaguarda dos interesses do

clube fundador deve estar sempre, sempre

assegurada” e “Chegará o dia em que a

melhor forma de servir o clube é deixar de o

servir.” O problema é quando muitas vezes as

pessoas tentam salvar a própria pele ao invés

de salvarem o próprio clube.

No momento da escrita deste artigo

até ao dia de hoje, a mesa da Assembleia

Geral cancelou a assembleia que levaria a

sufrágio dos sócios a votação sobre a venda

da maioria de capital da futura SAD varzinista,

80


alegando falta de informação sobre as

garantias bancárias e os beneficiários da

mesma. Primeiro, a estrutura de futebol

anuncia a saída e, quase um mês depois,

a dois dias de um jogo importantíssimo, a

direcção demitiu-se em bloco, alegando um

boicote à proposta SAD por parte da mesa

da Assembleia Geral. Como sempre, quem

sai mais prejudicado é o clube, que entrará

agora numa situação de eleger uma comissão

de gestão para o resto da época enquanto

não são marcadas eleições. Pior, deixam o

clube com um passivo muito superior ao

que encontraram aquando da entrada desta

direção, e com uma verba futura proveniente

da receitas de jogadores hipotecada que

serviu de garantia ao investidor caso a SAD

não fosse aprovada até 31 de Dezembro,

fruto de um investimento inicial de 600 mil

euros.

Mais uma vez, este é mais um mar

revolto que encontramos no nosso caminho,

mas como a nossa história nos mostra todos

os dias, é neste momento que o povo se vai

unir. Ala-Arriba Varzim SC!

Por P. Costa

81


ESTRELA DA AMADORA X BOAVISTA FC

A nova identidade do Estrela da

Amadora, recém-chegado à Primeira Liga,

tem-se esforçado por atrair adeptos ao

velhinho Estádio José Gomes e por criar um

elo mais forte de ligação entre o clube e as

gentes desta cidade colada à capital. Algum

deste valioso trabalho tem sido realizado

pela Magia Tricolor, grupo que tem lutado

pela preservação das antigas memórias

futebolísticas da Amadora e que tem

participado activamente na nova vida do

Estrela da Amadora. Esse esforço reflecte-se

em numerosas assistências - tendo em conta

a realidade que se assiste na nossa principal

liga - jogo após jogo. Desta feita, foram quase

4 mil pessoas que marcaram presença nas

bancadas para assistirem à reedição de um

clássico dos anos 90, década em que quer o

antigo Estrela da Amadora, quer o Boavista,

deram algumas das maiores alegrias aos seus

adeptos.

Do lado da equipa da casa, a Magia

Tricolor voltou a ocupar o sector por trás de

uma das balizas preenchendo por completo

essa bancada com os seus elementos. Na

tentativa de colorirem por completo o sector,

abriram um enorme lençol com a silhueta da

cidade, cujo resultado acabou por não ser

visualmente apelativo visto as dimensões do

lençol serem superiores às do sector. Pouco

depois, o sector ganharia de novo cor com

a abertura de alguns potes de fumo com as

cores do clube, juntamente com bandeiras.

Nota bastante positiva para o constante apoio

durante os noventa minutos.

Do lado oposto, não no antigo

sector visitante (agora ocupado por

publicidade), mas um pouco mais ao lado,

os adeptos axadrezados foram ocupando

a bancada que lhes estava reservada,

esperando-se que ficasse mais preenchida

com a chegada dos Panteras Negras, o que

não chegou a acontecer, dado que uma avaria

no autocarro em que se deslocavam impediu

que chegassem à Amadora, o que fez com

que o apoio vocal fosse quase inexistente.

Por M. Soares

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A regra dos 50+1 é um dos

principais trunfos do futebol alemão. Em

termos simples, a regra dos 50+1 estabelece

que a maioria das acções de um clube deve

estar sempre nas mãos dos seus membros.

Em termos um pouco mais complicados, isto

significa que não é possível aos investidores

adquirirem a maioria nas sociedades

anónimas em que grande parte dos clubes

na Alemanha acantonou as suas equipas

profissionais. Portanto, isto impede que os

investidores ou patrocinadores comprem

os sócios e tomem sozinhos as decisões do

clube.

É óbvio que há investidores e

empresas que prefeririam abolir a regra dos

50+1, sendo por isso que a mesma tem sido

repetidamente atacada, não só a nível político,

mas também a nível jurídico. Recentemente,

o Bundeskartellamt, em particular, tem

estado a analisar a regra e a sua legalidade.

O Bundeskartellamt garante o cumprimento

da lei da concorrência na Alemanha e

pode, por exemplo, proibir determinados

comportamentos de empresas que dominam

o mercado. Os opositores da regra dos

50+1 recorreram ao Bundeskartellamt por

considerarem que a regra os coloca em

desvantagem na concorrência europeia.

No entanto, o Bundeskartellamt não

classificou a regra em si como questionável,

mas sim as excepções que se aplicam. Estas

excepções aplicam-se ao Leverkusen, ao VfL

Wolfsburg e ao Hoffenheim, e permitem que

os patrocinadores ou similares que tenham

“promovido contínua e significativamente”

o futebol do clube durante pelo menos 20

anos possam adquirir a totalidade do clube.

83


O facto de o RB Leipzig não ser mencionado

nesta série deve-se ao facto de a regra dos

50+1 ser cumprida no papel, embora seja

obviamente contornada, mas falaremos disso

mais à frente.

Na sequência da repreensão do

Bundeskartellamt no ano passado, a DFL

foi obrigada a agir. Entretanto, está em

cima da mesa uma proposta que, do ponto

de vista da DFL, deverá proporcionar a

necessária segurança jurídica. É verdade

que a credibilidade desta abordagem foi

gravemente afectada pelo facto da DFL

procurar atrair investidores. No entanto,

a regra dos 50+1 continua a ser a âncora

mais importante, razão pela qual a sua

manutenção é de saudar. Essencialmente,

a proposta da DFL prevê que não haverá

mais excepções à regra dos 50+1, mas que

as excepções existentes serão protegidas,

proteção essa que deverá aplicar-se sob

determinadas condições. Entre outras coisas,

84


prevê-se que pelo menos um representante

do clube-mãe tenha assento nos conselhos de

administração das sociedades acantonadas

para o futebol profissional, a fim de manter

a influência do clube. Este representante

teria igualmente direito de veto no que se

refere aos “elementos de identidade” de um

clube, como as cores, o nome ou o logótipo.

Além disso, a proposta introduziria também

uma indemnização compensatória caso o

patrocinador/investidor desejasse compensar

as perdas sofridas pela fragmentação

profissional de um clube.

Em primeiro lugar, ao avaliar esta

proposta da DFL, é importante reconhecer o

resultado positivo de não serem permitidas

mais excepções e de ter sido alcançado um

acordo sobre o reconhecimento, que se espera

permanente, da regra dos 50+1. No entanto,

à última vista, os chamados compromissos

para proteger as excepções existentes são

mais ilusão do que realidade. Por exemplo,

o “regulamento de representação” acima

descrito é um direito minoritário em grande

parte ineficaz, uma vez que apenas um único

(e mesmo) representante do clube-mãe

deve ser delegado no órgão de controlo da

sociedade, podendo este representante

ser simplesmente derrotado pelos

representantes do patrocinador/investidor.

Além disso, o direito de veto sobre as cores,

o nome ou o do clube não pode ser vendido

como um compromisso, uma vez que essas

decisões devem estar sempre exclusivamente

nas mãos dos membros. O Bundeskartellamt

tinha criticado o facto de a influência do

clube-mãe poder ser reduzida a zero no caso

de clubes excepcionais, sendo questionável

se esta situação se alterará na sequência da

proposta do DFL.

É igualmente pouco provável que

as indemnizações compensatórias propostas

prejudiquem os clubes excepcionais. Com

efeito, 7,5% do volume de negócios total

dos clubes continua a ser considerado um

montante isento de impostos (ou seja,

15 milhões de euros para um volume de

negócios de 200 milhões de euros). Só se o

patrocinador/investidor efetuar pagamentos

à divisão profissional superiores a este

montante é que será devido um imposto

adicional. Com base nas taxas de juro actuais

isto significa que, se o grupo pagar um milhão

de euros a mais do que o montante isento de

impostos acima referido, terá de efetuar um

pagamento compensatório de 35.000 euros.

O que não está incluído na proposta da DFL

também é digno de crítica. Por exemplo, as

vantagens competitivas que beneficiaram

os clubes excepcionais nos últimos anos e

décadas não são de modo algum igualadas,

continuando estes clubes a ter a possibilidade

de compensar as suas perdas com os lucros do

grupo. A crítica do Bundeskartellamt, de que

os clubes excepcionais têm oportunidades

económicas diferentes das dos outros

clubes, não parece ter sido dissipada. Além

disso, um dos principais pontos de crítica do

85


Bundeskartellamt não foi sequer abordado:

a construção do RB Leipzig. Formalmente, a

regra 50+1 é respeitada no clube. No entanto,

apenas pouco mais de 20 membros estão

autorizados a votar, membros esses que são

próximos da Red Bull e são seleccionados

pelo próprio clube. O Bundeskartellamt

criticou este facto como um acto de evasão, e

o facto de isto não estar a ser discutido é uma

farsa.

Em suma, pode dizer-se que a

solução proposta pode, pelo menos, lançar

uma boa base para o desenvolvimento do

futebol alemão mas, em muitos aspectos,

não passa de um compromisso frágil. As

actuais distorções da concorrência não

serão alteradas e ainda não é claro se serão

autorizadas mais isenções. Porém, ainda

nada está ainda decidido, e agora a bola está

de novo no campo do Bundeskartellamt e

das outras partes envolvidas no processo.

O Bundeskartellamt já anunciou que não se

opõe fundamentalmente à proposta da DFL,

mas alguns clubes têm uma visão muito mais

crítica devido às excepções ainda previstas.

Esperemos alguns clubes apelem a um maior

rigor.

Manter 50+1!

Por Tim

86


5 de março de 2023, as equipas

do Lusitano e Juventude de Évora entram no

relvado para aquele que foi anunciado como

o último derby a disputar no velhinho Campo

da Estrela.

21 de janeiro de 2024, as duas

equipas voltam a reencontrar-se no... Campo

da Estrela. Fica desde logo a dúvida se este

será realmente a última vez que este velho

estádio (inaugurado em 1931) irá receber

o maior derby eborense. A anunciada

mudança para o Complexo Desportivo da

Silveirinha, localizado na periferia da cidade

tarda em acontecer, o que oferece às gentes

desta cidade alentejana a oportunidade de

presenciarem mais um confronto entre os

dois centenários rivais.

Como tantos outros dérbis, este

também é vivido intensamente pelos adeptos

destes dois clubes centenários, que rivalizam

de forma sã pelas ruas e cafés da cidade, não

fossem colegas de trabalho, de escola ou

vizinhos, tal como os dois emblemas, cujos

estádios estão separados... por uma rua.

Falta uma hora para o início do jogo

e a rua de acesso ao estádio começa a ganhar

as cores verde (Lusitano) e azul (Juventude).

Misturam-se entre cumprimentos e

conversas e só se separam para lá do portão

de entrada quando seguem para a bancada

devidamente destinada a cada um dos lados,

formando uma mancha verde de um lado e

azul do outro. Numa tarde solarenga do mês

de janeiro, o bar é o local de eleição para a

concentração dos adeptos de várias gerações,

que alimentam a rivalidade entre cervejas

e histórias que relembram confrontos do

passado. Ao percorrer os vários cantos do

estádio fazemos uma verdadeira viagem no

tempo. A arquitetura do estádio, as bancadas

em pedra, as separações para o relvado e o

peão remetem-nos para um futebol que já

87


não existe e que por aqui teima em perdurar

porque há muito que estes clubes estão

afastados da ribalta do futebol português.

Os muros das bancadas estão pintados com

várias mensagens de fair play, que apontam

ao espírito com que o futebol é vivido neste

recinto. E depois, há o pormenor bastante

curioso, talvez único no panorama nacional,

de se conseguir visualizar das bancadas do

Campo da Estrela o estádio do rival, o Estádio

Sanches de Miranda, que também está

previsto ser demolido, para dar lugar a uma

superfície comercial.

Aqueles que procuram o melhor

lugar para acompanhar as incidências da

partida ou simplesmente ficar à sombra,

antecipam-se no acesso às bancadas, que

só ficam devidamente preenchidas poucos

minutos antes do apito inicial. À entrada

das equipas soltam-se os coros de ambos

os lados e alguns adeptos mais organizados

do Lusitano exibem uma frase de apoio à

equipa. Será este grupo a assumir o comando

do apoio vocal ao clube da casa ao longo da

partida. Do lado oposto, são os jovens atletas,

guiados por um ou outro veterano, a gritar

pela equipa do Juventude.

O jogo começa e ainda há muita

gente junto dos portões à espera da sua vez

para completar uma moldura humana de

cerca de 3000 adeptos. À medida que entram

vão cumprimentando os que já lá estão,

88


juntando-se à conversa sobre os demais temas

do quotidiano, afinal o futebol sempre foi um

espaço de agregação e convívio. Num edifício

habitacional, que parece o prolongamento de

uma das bancadas, as varandas e qualquer

espaço que tenha visibilidade para o campo

também são ocupados.

Se o futuro destes clubes está

cheio de incertezas, dentro das quatro linhas

ia-se criando a certeza de que o resultado

dificilmente seria alterado, dada a escassez

de oportunidades e de futebol praticado.

Chega o intervalo e nos bares os empregados

não têm mãos a medir para a elevada

afluência de quem busca de um refresco para

a garganta. Não faltou cerveja, mas na 2ª

parte ficou a faltar um milagre ou momento

de inspiração no relvado que mudasse o

rumo dos acontecimentos. Os cânticos

fazem-se sentir a espaços de ambos os lados,

por entre os lamentos dos que desesperavam

por ver uma jogada devidamente organizada

e dos que justificam o atual estado das coisas

com a falta de interesse e de investimento em

ambos os clubes.

Final da partida e as cores voltam a

misturar-se à saída do estádio para uma última

imperial, para uma ou outra picada à volta do

jogo ou para uma simples boleia no regresso

a casa. À dúvida, quanto à possibilidade de

este campo voltar a receber o derby, somase

a incerteza em relação às mudanças para

novos estádios na periferia e o impacto que

essas mudanças terão nos rituais e relação

dos adeptos com os seus clubes. Afastar estes

clubes para fora da cidade irá com certeza

roubar-lhes a identidade.

Por M. Soares

89


WHITE ANGELS SOLIDÁRIOS

90

Enganem-se aqueles que pensavam

que os White Angels apenas serviam para

apoiar o Vitória SC, estamos também ao

serviço da comunidade.

Desde sempre os WA tiveram uma

conduta de ajudar pessoas mais necessitadas.

Contudo, cada vez mais temos verificado as

imensas dificuldades e a realidade em que

certas famílias se encontram. É algo que nos

deixa extremamente tristes! Então, decidimos

abraçar mais ações de solidariedade e,

em 2016, demos início aos “White Angels

Solidários.”

Este feito visa mobilizar toda a

sociedade por um objetivo comum: ajudar

as famílias mais carenciadas do município de

Guimarães.

Podemos dizer que, este projeto,

conta já com várias ações ao longo destes

últimos anos, sendo a mais conhecida a

recolha de alimentos, realizada todos os anos

perto da época natalícia.

A iniciativa desta época realizouse

na receção ao Rio Ave, contando a

colaboração do Vitória SC, e com um

incentivo extra. Na entrega de um alimento

era oferecido um bilhete para o jogo. Foram

angariadas 9 toneladas esta época.

Ao longo dos anos tivemos outras

iniciativas, umas mais conhecidas e outras que

ocorreram sem a necessidade de promoção.

Aliás, das vezes que promovemos as ações

foi sempre com objectivo de agradecer

publicamente aos nossos parceiros, que nos

ajudam na realização de algumas metas.

Dentro das mais conhecidas, recordamos a

do “pequeno Rúben” que foi uma das ações

mais importantes neste percurso solidário,

primeiro por ser irmão de uma pessoa do

nosso grupo e segundo pelas necessidades

para uma melhor qualidade de vida. Movendo

algumas influências, conhecimentos e

contando com algumas empresas locais e

algumas pessoas anónimas, conseguimos

uma cama articulada, uma cadeira de rodas e

ajudas para restaurarmos a casa do Rúben e

da família.

É com imenso prazer que o fazemos

e é, também, por estes pequenos gestos


de coragem e espírito de entreajuda que

continuaremos a lutar, contribuindo para um

melhor bem estar junto das pessoas mais

necessitadas. Esta é a nossa forma de estar

junto da nossa comunidade!

Como podem perceber, para além

de sermos apaixonados pelo Vitória SC e por

toda a mística e história da nossa cidade,

sentimos necessidade de contribuir nestas

causas de que tanto nos orgulhamos.

Por White Angels

91


“Derby do Minho” de seu nome,

marca aquele que é o embate entre o SC

Braga e o Vitória SC, o duelo entre as cidades

de Braga e Guimarães e o confronto entre

as suas gentes. Cerca de trinta quilómetros

separam as duas localidades vizinhas, tão

perto geograficamente, mas tão distantes ao

mesmo tempo. Distância essa suficiente para

haver uma disparidade tão grande naquilo

que de maior peso tem neste derby, a história

e suas versões entre quem mediaticamente a

costuma proclamar e por quem a tem. Posto

isto rapidamente se chega à conclusão de

que o futebol neste caso é efetivamente um

fator secundário, tem a sua quota-parte de

contribuição para as hostilidades, porém não

está na génese da rivalidade.

Apesar de ao longo dos anos

assistirmos a uma tentativa propagandista

e de certo modo a uma censura de peso a

tudo o que envolve fora das quatro linhas,

o derby do Minho vai incontornavelmente

além desses meros 90 minutos. Explicá-lo,

se é que é sequer possível, obriga a recuar

àquela que é a génese do futebol, à razão

que o levou a ser denominado de desporto-

-rei. É necessário perceber o que o elevou

e o potenciou tornando-o tão apetecível

aos olhos dos agentes que atualmente,

agindo de modo contraditório, o pretendem

comercializar atropelando todos aqueles

que para sempre irão constituir a última

barreira de um futebol popular, apesar da

sua constante marginalização e passagem

para um papel secundário, as comunidades

representadas por todos os aficionados nas

suas bancadas.

Qualquer Derby do Minho inicia

com os primeiros pensamentos e esboços do

planeamento e organização daquele, que por

muito limitado dadas as circunstâncias, vai ser

o tifo de bancada e da ânsia do momento da

bola começar a rolar, dos duelos não só entre

aqueles 22 jogadores em campo assim como

os que acontecem nas bancadas entre as duas

curvas presentes no estádio. Dá-se também

das estradas nacionais que ligam as duas

cidades, que por vezes nem parecem estarem

conectadas por uns curtos 30 km, bem como

das picardias que, não só vão aquecendo

o clima de derby, como contribuem para a

essência do mesmo. Resumindo, é o frentea-frente

entre duas comunidades.

Em modo de desabafo, confesso

que é frustrante assistir a esta tendência em

querer resumir esta partida a uma questão

92


de posição na tabela classificativa, algo que

obviamente também faz parte e tem de ser

enaltecido, mas banalizar o embate com

os “nuestros hermanos” é algo que não me

assiste. Esta cultura da qual bebemos e nos

entusiasma, leva-nos a uma questão mais

complexa, que não pode ser justificada por

nenhuma posição classificativa. Resumese

a: “Nós para aqueles gajos não podemos

perder em nada, nada mesmo!”, no campo,

na bancada, onde for… Viver e sentir o derby

do Minho é resumir tudo a um 8 ou 80, a um

“all in”, o dia que irás para sempre lembrar ou

aquele que darias de tudo para esquecer!

Quis então o calendário que logo no virar

do ano, no dia em que se celebra os Reis,

se desse na pedreira o jogo mais longo de

todo o ano. Soa então por volta das 20h30 o

apito inicial no Municipal de Braga, apito esse

que, como é frequente, apenas se dá alguns

dias depois do derby ter verdadeiramente

começado. Com o entrar na semana do

derby de dia 6, desenrola-se as habituais

picardias de parte a parte acompanhadas

com as “patrulhas” que estiverem presentes

nos dias que antecederam o jogo. Eis que se

vai aproximando o “dia D”, todas as emoções

se multiplicam e a cabeça já só pensa numa

coisa.

A verdade é que, infelizmente,

neste último derby ficou a sensação de

que algo faltava para o completar. Isto

porque a semana que antecede o jogo, é

tradicionalmente acompanhada de tudo o

relatei anteriormente, no entanto, para quem

respira a cultura de bancada, há algo que

por razões não de força maior, mas apenas

repressivamente moldadas em formato

de lei é nos retirado desta bela semana…

a impossibilidade de tifar, à boa e velha

maneira bracarense, em grande e sempre

em constante aprimoramento. Uma semana

desta dimensão teria de ser obrigatoriamente

acompanhada por horas a fundo de sono

perdidas na realização de um tifo, e com

todas as peripécias que do convívio associado

advêm, com a finalidade de no dia do jogo ser

erguido para a euforia tremenda de quem o

idealizou, projetou e pintou. O porquê de nos

ser impossibilitado? Não sei responder, mas a

tutela proclama tratar-se de medidas contra a

violência no desporto. Caso para dizer que o

único caso de estudo que pode existir aqui é

o da mente deles!

Finalmente chega o dia tão

aguardado e preparam-se então os últimos

detalhes daquilo que é a organização

necessária para as últimas horas antes do

apito inicial, assim como naquela que é a

razão que nos move em prol do Sporting

Clube de Braga, o apoio e toda a organização

da bancada que o exponencia até porque

se refletirmos bem, provavelmente trata-se

do jogo mais difícil a nível de bancada. Os

nervos estão à flor da pele e ir do céu ao

inferno, da explosão ao esfriamento é uma

questão de instantes e variável consoante

as fases do jogo, algo que nos ultrapassa e é

sem margem para dúvidas o jogo onde é mais

difícil de controlar a bancada.

Começa a partida, partida essa

bem disputada durante a 1ª parte, tanto

dentro como fora do campo, com ambos

os lados a protagonizar uma disputa a

nível vocal que veio acompanhada de um

“acender das velas”. O jogo vai para intervalo

a registar-se uma igualdade no marcador

apesar das inúmeras oportunidades de golo

dos da casa. Oportunidades essas que só

se materializaram em golo aos 56 minutos

para alegria e explosão dos cerca de 25

mil bracarenses presentes. O ambiente

efervescente envolvente e de euforia extrema

tornou-se frenético, estar por cima “daqueles

93


gajos” é impagável!

Após várias tentativas flagrantes de

golo não aproveitadas aconteceu aquilo que

é apelidado de futebol, com a igualdade a ser

estabelecida no último lance do jogo gelando

aqueles mesmos 25 mil bracarenses que

instantes antes expeliam todas as emoções

antagónicas às daquele momento e havendo

a natural inversão de papéis nas bancadas no

que às emoções diz respeito, sendo a vez dos

visitantes fazerem a festa.

Afinal de contas não há pior do que

isto, em pleno derby do Minho sofrer um golo

impeditivo da vitória nos últimos instantes da

partida. Ainda assim, no final de contas não

há nada melhor do que ter a oportunidade de

viver as emoções do derby nº1 em Portugal,

o do Minho!

Termina assim mais um duelo que

nunca conseguiram comercializar, onde os

principais protagonistas, os das bancadas

nunca serão “chutados” para segundo ou

terceiro plano. Duelo esse onde nunca

ocorrerá a substituição de aficionados

para meros clientes e consumidores,

simplesmente é impossível, tem demasiado

peso, demasiada história, demasiado fervor

para tal…

Por fim resta a amargura do

resultado e a ansiedade de que o próximo

encontro chegue e rápido. Permanece o

sonho de que um dia seja possível fazer jus

à grandeza deste encontro nas bancadas,

seja qual for o estádio onde o derby se

jogue. Que todo o tifo de bancada que

contribui para elevar o ambiente do jogo, que

estranhamente não só é apreciado por todos

mas em especial seja aproveitado para fins

publicitários e comerciais por parte de quem

ao mesmo tempo não só o mina como o

oprime e marginaliza, seja liberalizado. A “arte

de tifar” que só é compreendida quando lhes

convém. Um contra-senso estranho apesar

de ser tão fácil de compreender.

Seremos sempre a última muralha

impenetrável do futebol do povo. Aos

adeptos aquilo que a eles lhes pertence!

Liberdade para apoiar!

Liberdade aos Ultras!

Por João C.

94


Quando a nossa equipa está em

campo todos os jogos são importantes,

porém há jogos que nos levantam memórias

pessoais e colectivas que, em alguns casos,

até ultrapassam o contexto desportivo e o

sentimento é naturalmente ampliado.

A rivalidade histórica entre

Guimarães e Braga é uma história muito

antiga que apenas se transportou para o

contexto desportivo vários séculos mais

tarde. Muito se sente, muito se fala, mas

afinal de onde vem esta rivalidade? Pelo que

fui aprendendo ao longo dos anos e fazendo--

me valer de algumas fontes, posso contar que

uns dizem que os problemas entre as duas

terras começaram a 1139, aquando a criação

da Colegiada de Guimarães, enquanto que

outros falam que terá sido a 23 de outubro de

1216 com a primeira concordata entre a Sé de

Braga e o Cabido de Guimarães – traduzindo

por miúdos, antes de existir essa concordata

a Colegiada de Guimarães não pertencia

a nenhuma diocese e, por isso, gozava

de uma certa autonomia. Seja como for,

percebe-se assim que, os primeiros sintomas

da rivalidade, começaram por questões

religiosas e foram se desenvolvendo ao longo

dos séculos seguintes dentro desse mesmo

contexto. No decorrer do tempo vários

acontecimentos fortaleceram o conflito, mas

destaco uma mudança importante quando,

em 1835, dá-se uma alteração significativa

nas divisões administrativas de Portugal.

Com a criação dos distritos, Guimarães passa

95


a ter uma dependência administrativa em

relação a Braga. Até então, Guimarães era

uma comarca como Braga. Esta mudança

é bastante importante para o aumento da

clivagem entre as duas terras.

Este é um pequeno resumo onde,

por necessidade de espaço, ocultei outras

datas relevantes. Gostava de continuar, ainda

assim espero que este seja um contributo

para uma maior compreensão do conflito

entre Guimarães e Braga, mas o verdadeiro

objectivo deste texto é contar a história do

último derby.

Numa declaração final, para fechar

este assunto, devo dizer que, dentro do que

percepciono, aquilo que narrei é apenas um

relato histórico que muito provavelmente

nem é conhecido na sua íntegra. Todavia, não

é por se ter ou não ter conhecimento dos

acontecimentos históricos que a rivalidade

é sentida de forma menor. Até porque, se

formos a analisar com atenção, para muitos

a história da rivalidade forjou-se desde

novos com o incentivo de alguém próximo e

desenvolveu-se com a própria experiência de

vida.

Vamos lá ao jogo, que foi marcado

para um sábado, dia 6 de janeiro, às 20h30.

Contudo, para os adeptos vitorianos

começou uns dias mais cedo, na madrugada

da passagem de ano. Nesse noite, os Insane

Guys colocaram uma frase na ponte do

Estádio D. Afonso Henriques onde se podia

ler: ANO NOVO, A VELHA HISTÓRIA: BRAGA

É MERDA. Estavam abertas as hostilidades.

Dias depois, desta vez junto ao Estádio do

rival, é colocada uma nova frase dos Insane

que dizia: MARROQUINOS, DIA 6, CELEBREM

96


A CHEGADA DOS REIS! Ainda na mesma

noite, os Red Boys deixaram uma frase em

Guimarães a qual, pouco depois, foi devolvida

à terra de origem por ultras vitorianos. Esta

questão das frases tem um sabor especial,

acaba por ser um jogo dentro de outro jogo, é

uma espécie de aquecimento para a partida.

Ainda sobre as dinâmicas de pré jogo, no dia

anterior ao derby, os White Angels foram

incentivar os jogadores na saída para o

estágio de preparação.

Foram enviados 1500 bilhetes para

Guimarães mas, muitos outros, haveriam de

ser adquiridos por outros meios. Uma nota,

esta questão de cumprir os regulamentos e

disponibilizar o menor número de bilhetes é

nociva e quem mais perde são os adeptos.

Ainda assim, ressalvo que, foi organizada uma

zona de segurança, fora do sector visitante,

para os adeptos vitorianos que tinham

bilhetes para outras zonas do estádio. No final

de contas, foram 22385 os adeptos presentes

dos quais mais de 2000 eram dos nossos.

No sector vitoriano, os quatro

grupos fizeram-se representar em número

considerável. Foram quase 100 minutos de

apoio com pirotecnia pelo meio. Por volta

do minuto 98 fizemos o golo do empate, um

grande golo, foi uma verdadeira explosão no

nosso sector. Um empate não é uma vitória

mas, não sejamos hipócritas, este jogo não é

um jogo normal.

Porque um derby faz-se dos vários

momentos ocorridos, deixo uma história

engraçada de quando os adeptos do Vitória,

após furarem a rede, lançaram uma lona

para a bancada inferior e nesse momento os

adeptos da casa puxaram a lona e reagiram

como se de uma conquista se tratasse. Deram

a entender que presumiam ser uma faixa, mas

era apenas uma lona que servia de barreira

para afastar os nossos adeptos da rede que

envolve o sector visitante. A lona acabou no

sector dos grupos da casa.

Por J. Lobo

97


O futebol tem vivido um processo

de transformação da sua génese, aquilo que

outrora foi um desporto popular e associativo

é hoje um negócio milionário e, a verdade

é que, essa transformação tem acelerado

vertiginosamente nas duas últimas décadas.

Ver uma competição oriunda de um dos

grandes países do futebol europeu ser

disputada fora da sua pátria de origem é um

acontecimento que se tem vindo a naturalizar

e Pedro Proença, parecia já estar a congeminar

algo de semelhante para o futebol português

há algum tempo. Dito isto, confesso que foi

com indignação, mas sem grande surpresa

que recebi a notícia de que havia planos para

remodelar o quadro competitivo da Taça da

Liga, reduzir o número de clubes participantes

e tentar a internacionalização desta prova.

Foi a 5 de Maio do ano transacto que

a direcção da Liga aprovou por unanimidade

esta mudança que prevê que apenas 8 clubes

disputem a competição (os 6 primeiros da 1ª

Liga e os 2 primeiros da 2ª Liga da temporada

anterior), ao contrario dos 4 clubes apenas

que tinham sido inicialmente sugeridos,

alegadamente por pressão do Vitória de

Guimarães, numa manobra que parece mais

preocupada com os interesses próprios do

que com o bem colectivo. A bem da verdade

a responsabilidade estende-se a todos os

clubes profissionais uma vez que nenhuma

direcção teve a decência de se opor a esta

mudança, convergência que é reveladora da

integridade da “nossa” classe dirigente.

Como é natural, depois de

começarem a circular as primeiras notícias

sobre este acontecimento, as conversas

com amigos e conhecidos dos meandros da

bola passaram a ser monopolizadas por este

assunto. O descontentamento era geral, a

necessidade de fazer alguma coisa que desse

voz à nossa indignação também, mas entre

ideias e planos mais ou menos mirabolantes a

verdade é que mais uma vez os grupos ultras

nacionais foram incapazes de encetar uma

acção concertada e a taça da liga arrancou

sem sobressaltos de maior, apenas com

a Febre Amarela do Tondela a anunciar o

boicote à competição.

Daqui por diante tentarei descrever

da forma mais detalhada e percetível possível,

a forma como decorreu o processo de luta

encetado pela Bracara Legion contra este

novo formato, desde a tomada de decisão

até às iniciativas levadas a cabo na semana

da final, por forma a partilhar métodos de

acção com todos os grupos interessados em

encabeçar lutas contra o futebol moderno,

porque acredito que só com união e partilha

de experiências poderemos alcançar sucessos

para esta causa que é, ou deveria ser de

todos.

Foi em reunião geral de grupo, no

início de época, que debatemos formas de

luta para demonstrar a nossa discordância

com a adopção deste novo formato e em

98


particular com o facto de se virem a disputar

jogos em solo estrangeiro. Depois de quase

duas horas de discussão, acabaria por se optar

pelo boicote total à competição, medida que

teve concordância quase absoluta entre os

membros do grupo. A decisão acabaria por

ficar no segredo dos deuses e optamos por

anunciá-la em primeira mão aos associados

do SC Braga a 21 de Outubro de 2023, em

Assembleia Geral do clube. Essa ocasião

foi aproveitada também para questionar

os membros da direcção e o presidente em

particular acerca da posição que tinham

sobre o assunto, uma vez que publicamente

não tinham mostrado nenhum género de

discordância com esta mudança. Seria a

primeira faúla que no futuro se viria a alastrar,

mas sobre isso falarei mais à frente.

Volvida menos de uma semana

sobre a AG, no dia 27 (sexta-feira), emitimos

um comunicado que tornamos público na

nossa página de Facebook, e cuja divulgação

em massa pelas redes sociais foi concertada

com todos os membros do grupo, comunicado

esse em que anunciávamos o boicote e em

que explicávamos as razões para avançarmos

para uma medida tão radical. No dia seguinte,

aproveitamos a realização dum jogo de futsal

na Arena do SC Braga e a curta transferta

até Barcelos, que mobiliza sempre muitos

bracarenses, para distribuir à porta dos

dois recintos, panfletos com o comunicado

impresso. Para além disso abrimos na

bancada do Estádio Cidade de Barcelos uma

frase em que se podia ler:” Taça da Liga no

estrangeiro? Fazemos boicote, fiquem com o

dinheiro”.

O impacto mediático destas acções

superou largamente as nossas espectativas e

o que é facto é que foram sendo publicadas

noticias em vários órgãos de comunicação

social nacionais, para além de inúmeras

publicações em páginas nas redes sociais.

Era hora de surfar a onda e apostar forte

para fazer desta batalha uma grande vitória.

Durante a semana que precedeu o jogo não

demos tréguas, fomos espalhando frases

a apelar à mobilização um pouco por toda

a cidade e partilhamos também um vídeo

de consciencialização. Estes dias foram

efectivamente muito produtivos e recebemos

com muita alegria a notícia de que os nossos

companheiros de curva, os Red Boys, se

juntariam também ao boicote, para além

de muitos outros bracarenses que a título

individual se iam associando ao mesmo.

O dia do jogo viria a “dar-nos”

a vitória, não dentro das quatro linhas,

mas pelo sucesso da iniciativa. No estádio

estavam pouco mais de 6000 pessoas, sendo

que até ao momento a assistência mais

baixada temporada em jogos disputados

na pedreira era de 16000. Em boa verdade,

parte deste sucesso tem de ser atribuído

também a quem calendarizou o jogo para as

20:15h numa quarta-feira que era feriado, e

em que o mesmo podia perfeitamente ter

sido disputado a horas decentes e também

ao facto dos visitantes, o Casa Pia, não

99


mobilizarem adeptos para a contenda. O

parco número de adeptos presentes, bem

como as sucessivas menções nos média,

inclusive várias referências ao boicote

feitos pelos comentadores da transmissão

televisiva, eram objectivos delineados para

medir o sucesso da acção.

O SC Braga só voltaria a entrar em

acção na competição quase um mês e meio

depois, a 22 de Dezembro, e deslocar-seia

à Choupana na Madeira, para defrontar

o Nacional. Nesse mesmo dia partilhamos

a fotografia de nova frase, desta feita com

Aeroporto Francisco Sá Carneiro como pano

de fundo, em que se podia ler: “Voo Allianz

Cup com destino às Arábias. Dirigentes e

investidores podem embarcar, Adeptos

fiquem a televisionar”. No estádio estariam

pouquíssimos bracarenses, algo que seria

também espectável uma vez que a viagem

até ao território insular numa data perto

do Natal e numa competição sem grande

interesse nunca mobilizaria muita gente

para além dos ultras. Dentro do retângulo de

jogo os bracarenses venceriam o Nacional,

e os 3 pontos, somados ao outro alcançado

no empate caseiro com o Casa Pia seriam o

suficiente para avançar para a final four, que

seria novamente disputada na cidade de

Leiria, no final do mês de Janeiro.

No dia anterior à meia-final em que

defrontamos o Sporting, voltamos a emitir

novo comunicado em que reafirmávamos

a nossa posição e em que voltávamos a

pedir o apoio dos restantes associados

do clube. A terça-feira de jogo traria uma

resposta esmagadora, menos de 200

adeptos presentes num jogo a eliminar

disputado numa cidade que se localiza a

uma distância aceitável. Apesar da ausência

de adeptos, a nossa equipa venceu o

Sporting e qualificou-se para a final. A partir

daqui o consenso que vinha a verificar-se

entre as hostes bracarenses estilhaçouse

e começaram a “chover” pedidos para

que reconsiderássemos a nossa posição.

Evidentemente que tal situação nem sequer

se equacionou, o quão incoerentes teríamos

de ser para voltar atrás com a nossa decisão?

Bem sabemos que as emoções toldam o

raciocínio das massas e a possibilidade de

conquistar um título é sempre um chamariz

apelativo, mas restava-nos um último esforço

para fazer valer os nossos intentos.

Voltaríamos à carga e espalharíamos

de novo frases de apelo ao boicote por toda a

100


cidade, acção essa que os Red Boys também

tiveram e publicariam ainda um vídeo muito

bem conseguido de sátira aos poderes

instalados. Esta unidade entre grupos foi

essencial num momento em que muitos dos

que apoiaram a acção nos jogos anteriores

nos viriam a atacar por não cedermos um

milímetro na posição que ponderadamente

tínhamos tomado. Para reforçar o ânimo

fomos percebendo que as notícias sobre

o protesto não paravam de circular e

inclusivamente seríamos contactados por

JN e TSF para explicar a nossa posição. Em

todas as transmissões televisivas dos nossos

jogos o tema foi várias vezes abordado o que

é sintomático do sucesso da nossa acção,

ainda que a presença de grande número de

bracarenses na final tenha deixado um certo

amargo de boca.

No dia da final, marcamos presença

em Cascais, em jogo da Taça de Portugal

de futsal frente ao Vinhais, uma equipa das

divisões secundárias. Não deixamos ainda

assim de vibrar com o jogo que fomos

acompanhando via relato radiofónico. À

alegria do triunfo, seguiu-se a raiva pelas

palavras do Presidente António Salvador, que

no final do encontro disse aos microfones da

Rádio Renascença que os que fizeram boicote

“não fizeram falta nenhuma”. A vontade era

de lhe proporcionar uma “comissão de boasvindas”,

mas felizmente soubemos ser frios e

pensar de forma estratégica. Não podíamos

correr o risco de virar o grosso dos associados

do nosso clube contra nós, pois dentro de sete

dias teríamos uma Assembleia Geral decisiva

para o futuro do clube e a nossa resposta foi

dada nesse mesmo dia e de forma categórica.

A proposta de alteração dos estatutos apoiada

pela direcção não teve provimento e o nosso

querido presidente ficou bem ciente da nossa

capacidade de mobilização e organização.

Pergunto muitas vezes aos meus

companheiros de grupo, por que razão

lutamos? Para ter reconhecimento entre

pares, para cimentarmos o nosso estatuto

enquanto “mentalitás” ou pelo contrário

se lutamos para transformar, para vencer?

Se queremos efectivamente que a cultura

ultra sobreviva e floresça, se queremos um

futebol para o povo então convém que a luta

se propague a muitos outros grupos e que

assim contagiemos as massas adormecidas.

Mas não precisamos de lutas estéreis para ter

5 minutos de fama no telegram. Precisamos

de lutar de forma coordenada, com recurso

a estratégia e planeamento e sabendo que

quando quem detem o poder tem todos os

recursos ao seu alcance, só podemos sonhar

com a vitória se trouxermos a opinião publica

para o nosso lado. Há que deixar egos de lado

e unir esforços para de forma consequente

solidificar um movimento de constestação

forte, devidamente coordenado pela APDA,

para obrigar os órgãos que tutelam o nosso

futebol a ouvir as nossas exigências. É

imperativo seguir estes passos para que

alguma coisa mude realmente!

Uma vez que na próxima temporada

a Taça da Liga se continuará a disputar em solo

nacional aparentemente porque nenhum

país quis ficar com ela, que tal um boicote

generalizado, anunciado em devido tempo

pelo grosso dos grupos ultras nacionais? Fica

a sugestão!

LUTAR PARA TRANSFORMAR,

RUMO À VITÓRIA!

Por J. Sousa

101


CULTURA

DE ADEPTO

Por M. Bondoso

102


Fuori Gioco

Internacional

Fuori Gioco (1.2.3.4)

Autor: Alessandro Amorese, Mauro Bonvicini

Ano: 2022 - 2024

Páginas: 100 em Média

Preço: 15eur

Para este número fugimos às críticas

a livros Ultras, e dedicamos este espaço a um

projecto com 4 números mas já com 2 anos

de actividade.

A Fuori Gioco apresenta-se

como uma revista sobre a mais duradoura

subcultura italiana e pretende dedicar-se

apenas aos anos 70,80 e 90. Nota-se também

uma forte influência britânica nos temas que

sejam musicais, roupa ou grupos.

Neste momento já conta com 4

números editados, com uma média de 100

páginas cada um, sendo bastante semelhante

à Cultura de Bancada neste aspecto.

Em cada número apresentam

sempre uma galeria fotográfica de vários

anos, também um espaço para livros e CD’s

no final.

O principal destaque vai para a

entrevista a um grupo por número. É sempre

excelente ter acesso a este tipo de conteúdo

por pessoas que fizeram a história do

movimento ultras.

A nível de grafismo é bastante

simples e directo e notou-se um bom

gradiente entre o primeiro e o ultimo numero

no que toca a fotografias a cor, fazendo jus à

evolução temporal presente nos assuntos da

revista.

Quem desejar adquirir pode

procurar em www.ecletticaedizioni.com/. A

revista está também disponível na Amazon

para quem preferir.

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On Tour: Esgueira

No sábado, 6 de janeiro de 2024,

decidimos fazer-nos à estrada para mais uma

deslocação do Portimonense S.C., neste caso

da nossa equipa de Basquetebol.

Em Portimão, à hora marcada, no

caso 9h00 da matina, começa a concentração

dos primeiros elementos. Pouco depois,

pelas 9h30, arrancamos e já contávamos com

o primeiro desistente, um dos nossos que

decidiu fazer direta e deixou-se dormir.

Arrancámos, assim, com a carrinha

a meio gás, pois íamos apanhar o resto da

malta pelo caminho. Primeira paragem na

autoestrada de Silves para apanharmos

o primeiro e daí seguimos, sempre pela

nacional, tirando as paragens quando a

bexiga apertava. Já só fizemos a paragem

obrigatória na Mimosa, Alvalade para encher

o bucho com a típica bifana. Lá continuámos,

em direção ao centro do país, fazendo umas

paragens nas estações de serviço para esticar

as pernas e, pelo meio, apanhou-se mais um

em Coimbra.

Na carrinha íamos fazendo a festa,

sempre com muito álcool à mistura. Quando

faltava apenas meia hora para chegarmos

tentámos coordenar, junto dos responsáveis

do Basquetebol, uma receção à equipa com

pirotecnia, mas rapidamente desistimos da

ideia, pois percebemos que iríamos chegar

tarde para tal.

Às 17h45 deu-se a chegada à

Esgueira. Como ainda faltava algum tempo

para o início do jogo, cá fora íamos aquecendo

as vozes, com cânticos, enquanto assávamos

chouriço num assador de barro, em cima da

arca da cerveja.

Pelas 18h30, início do jogo num

pavilhão bem-composto e com bom apoio

por parte dos da casa.

Mesmo estando em clara

inferioridade numérica, aproveitámos a boa

acústica do pavilhão e fomos fazendo a festa.

Na quadra a equipa não correspondia, mas

isso era o menos importante. Apesar de irmos

a perder por uma boa diferença do 2º para o

3º período, não esmorecemos.

No 4º e último período ainda

tivemos direito a uma surpresa, pois

começámos a receber chamadas para ir

entregar dois bilhetes à porta. O espanto

foi grande pois juntaram-se mais dois

elementos que, sem avisar o resto da malta,

arrancaram sozinhos de carro após terem

saído do trabalho às 16h30. Para assistirem a

um bocado do jogo, fizeram todo o percurso

prego a fundo pela autoestrada, e a chegada

desses dois reforços entusiasmou o pessoal e

serviu de embalo para um forte apoio vocal

nos minutos finais.

No final do encontro, destaque para

a simbiose entre nós e a equipa. Ao contrário

do fut€bol profissional, que deixamos de

apoiar, nas modalidades amadoras sentimos

que os atletas valorizam o nosso esforço.

Feitos os agradecimentos por parte da equipa,

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decidimos rumar até Oliveira de Azeméis

para confraternizar com alguns membros dos

Fanatics (grupo do C.S. Marítimo), com quem

mantemos contacto, aproveitando o facto de

eles terem jogado com a Oliveirense nesse

mesmo dia às 11h da manhã.

Do hotel, onde estavam alojados,

rumámos até um café onde se deram as

habituais trocas de abraços, bebemos

algumas rodadas de cerveja e trocámos

autocolantes.

Já perto das 22h30 era hora de

regressar a casa, pois ainda tínhamos mais

500 quilómetros para baixo. Seguimos até

Coimbra novamente pela nacional, onde

fizemos uma paragem mais longa para comer.

A partir dali fizemos o percurso até ao Algarve

sempre pela autoestrada e novamente com a

carrinha a meio gás, desta vez porque algum

pessoal se deixou dormir.

Batiam as 4h30 quando chegamos

a Portimão e, enquanto alguns limpavam a

carrinha, outros agarravam na calculadora

porque estava na hora daquela parte que

ninguém gosta… Feitas as contas e divididas

as despesas, entre o aluguer da carrinha,

o combustível e portagens, cada um

desembolsou cerca de 42 € para a viagem.

Fica a sensação de dever cumprido

e mais uma viagem cheia de histórias,

companheirismo e sobretudo de muito

Portimonense!

Por P. Filipe

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