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Cultura de Bancada, 17º Número

Cultura de Bancada, 18º número, lançado a 12 de junho de 2023

Cultura de Bancada, 18º número, lançado a 12 de junho de 2023

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Liberdade, igualdade, fraternidade...

e boas práticas

observatório da violência

associada ao desporto

HISTÓRIA DO MOVIMENTO

ORGANIZADO DE ADEPTOS

na áustria

era uma vez

dodicesimo in campo

quando a vida entra

em campo

24

e se fosse consigo?

27

30

32

o fim de época dos papa tintos

o dia em que os equipamentos

ganharam os nomes nas costas

memórias da bancada

2

44

resumo da bancada


62

final da taça de portugal

66

70

prima, durante e dopo

final da taça de frança

74

de novo pela

pátria dos ultras

76

78

modena fc x parma calcio

no trilho dos históricos

80

de volta Às competições

profissionais

82

86

cultura de adepto

the football factory

88

a voz do leitor

3


Edito

Mais uma época findada, mais um

campeonato que termina. Muitas viagens

realizadas e muitas que ficaram por fazer.

E, já que falamos de viagens, alegrem-se

porque o passaporte do adepto está para

chegar. Em mais uma ideia genial, de Pedro

Proença e companhia, a Liga Portugal

quer criar o passaporte do adepto para

promover a presença dos adeptos nos

estádios portugueses e quem sabe aproveitar

para criar, a par da venda centralizada de

bilhética, os mecanismos necessários para

um maior controle das massas apaixonadas

que seguem os seus clubes. Portanto, o

que importa é transformar uma experiência

cultural e sentimental num big brother onde

sabem quem tu és e onde estás. Tudo trans

vestido de razões comerciais e de marketing.

Sabem como diz a música “É Portugal”! Só

que infelizmente para todos nós, este é o

nosso Portugal.

Do Parlamento português também

chegam notícias que, após a proposta de

Lei 44/XV/1 descer à especialidade, com

as devidas audições e a entrega de vários

contributos escritos, chegou, por fim, a última

votação que irá fechar o diploma que seguirá

para o Presidente da República. Ansiamos por

poder ver o resultado, algo para o qual já não

devemos ter que esperar muito.

Ainda sobre as medidas que a Liga

tenciona levar a cabo, desta feita com a APCVD,

recordo a iniciativa que foi preparada na Taça

da Liga para promover a componente da

hospitalidade. Porém, estamos perante mais

uma medida que comprova o deslocamento

da consciência destas instituições, em

particular da comandada por Pedro Proença.

Julgo que no último clássico que pôs frente a

frente o Sporting CP e o SL Benfica ficamos

a perceber qual o resultado que podemos

esperar. Antevendo o que se prepara para

acontecer, quem sabe se a Convenção

Saint-Denis passa a incorporar o termo

hospitalização ao invés de hospitalidade.

Num país que impede cachecóis, bandeiras e

camisolas vai ser possível colocar adeptos de

diferentes clubes lado a lado.

Outra coisa importante, com a

mobilização de um contingente policial

próprio de um estado policial, como podem

a Direcção Nacional da PSP e o Ministério

da Administração Interna justificar que

haja confrontos à porta do estádio sem que

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Director

J. Lobo

Convidados

Martha Gens

Daniel Seabra

Dodicesimo in Campo

C. Martins

Redacção

L. Cruz

G. Mata

J. Sousa

Eupremio Scarpa

A. Soares

G. Guimarães

M. Ribeiro


rial2

haja intervenção durante tanto tempo. É

estratégico/intencional ou é uma prova cabal

da incompetência da polícia que só sabe

reprimir ao invés de prevenir?

Atenção, nem tudo tem sido mau!

Neste período de tempo, desde o lançamento

do número anterior, conseguimos estar

presentes na Assembleia Geral da APDA, que

teve lugar na cidade de Famalicão. Saímos

de lá com mais algumas gotas de esperança,

mas é preciso fazer tanto e será muito difícil

que APDA consiga continuar a fazer quase

tudo sozinha como tem acontecido nos

últimos anos. É um trabalho hercúleo aquele

que se aproxima e que só será concretizado

com o apoio de cada vez mais adeptos. Por

isso voltamos a lançar o apelo para que se

associem à Associação Portuguesa de Defesa

do Adepto, bastando para isso aceder ao

seu site e preencher o formulário que está

disponível. Não tem custos, a inscrição é

gratuita e as quotas foram abolidas.

Por vezes pode parecer que

fazemos publicidade à APDA, mas, sendo eles

os únicos que se manifestam e trabalham

pelos interesses dos adeptos, devem ter todo

o apoio possível de cada um de nós.

Design

S. Frias

M. Bondoso

Quanto à Cultura de Bancada, continuamos

na demanda a que nos propusemos, todos

os dias dedicamos uma parte da nossa vida

a construir as páginas que vos apresentamos,

Já são 17 números lançados, caminhando

a passos largos para o 3º ano de existência

do nosso projeto. Está a ser uma das

melhores experiências que tivemos ligada

ao movimento dos adeptos. Acreditamos

que fizemos, e continuamos a fazer, o nosso

melhor contribuindo para algo que é parte

de todos nós, mas não pode ser só por nós

porque, na verdade, isto nunca é apenas

para nós. Por isso, esperamos que continuem

a desfrutar com prazer dos conteúdos

que, juntos com os nossos convidados,

preparamos para vocês.

Aquilo que nos dá luta também

nos dá dor, mas é com isso que continuamos

a evoluir. A transformação dá trabalho,

mas está ao nosso alcance. Assim, à vossa

maneira, participem e façam a vossa parte.

Obrigado aos leitores que responderam ao

nosso apelo de participar na nova rubrica que

estreamos este número.

Pela bancada, pelos adeptos!

Revisão

A. Pereira

D. Fontão

Manuel Oliveira

Filipa Liquito

Patrcik T.

Convidados

Manuel Soares

Rui Quinta

P. Alves

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LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE...

E BOAS PRÁTICAS

Parece mentira, mas não é. Em

França, é actualmente permitido o uso de

pirotecnia nas bancadas.

Na verdade, ao contrário do

que tem sido veiculado pelos meios de

comunicação social, esta possibilidade e

permissão não teve o seu início nas últimas

semanas – este projecto piloto teve início em

2022.

Em Março deste ano, foi publicado o

Décret 2023-216 que formaliza esta iniciativa

– um Projecto-Piloto de 3 anos (2022/2025)

que regula a permissão do uso de engenhos

pirotécnicos tais como potes de fumo, tochas

e strobs nas bancadas dos estádios das

competições profissionais em França.

Este processo traduz-se num claro

apelo à utilização controlada e mitigada –

formalmente o pedido para utilização destes

engenhos deve ser feito pelo organizador

do evento desportivo/proprietário do local,

de forma a proporcionar condições que

preservem a segurança dos adeptos. O

pedido é autorizado pelo Prefet da cidade

- que pode questionar algum ponto em

concreto, mas não pode em momento algum

proibir a utilização.

Até ao momento, e desde o início

deste Projecto-Piloto, é preciso que se diga –

estão registados zero incidentes relacionados

com a deflagração destes engenhos.

Na génese deste projecto está

um relatório produzido por deputados

franceses, onde se constata que são raros

os casos em que as exibições pirotécnicas

causaram algum tipo de ferimento ou dano.

Mais – que um dos factores que determina

a existência do risco de acontecerem este

tipo de incidentes reside precisamente na

proibição da utilização, por si só. Perante

uma proibição, o uso de pirotecnia é, na

sua maioria, feita pelos adeptos recorrendo

a prácticas e comportamentos de risco - e

essas sim, são potenciadoras de danos. De

uma forma muito simplista, se um adepto

recorre ao uso de uma faixa ou uma peça

de roupa para não ser identificado na posse

de um engenho ao deflagrá-lo, é mais que

certo que aumenta o risco da sua utilização,

podendo por exemplo, incendiar os têxteis

usados. Daí ser entendido neste relatório que

a simples utilização sem utilização deste tipo

de prácticas, é por si, mais segura – e pode

ser facilmente controlada.

Foi nesta sequência que foram

iniciados os trabalhos pela Instance Nationale

du Supportérisme, criando esta experiência

de três anos de espectáculos pirotécnicos

supervisionados.

A iniciativa e consequente

publicação deste texto legal oferece,

sobretudo liberdade e segurança aos

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adeptos e aos seus clubes – incutindo-lhes

responsabilidade. E este é um ponto chave

que, em particular, a Associação Portuguesa

de Defesa do Adepto tem defendido.

Esta opção legislativa promove

igualmente que exista sempre um operador

de fogo de artificio qualificado, sublinhando

a planificação das exibições pirotécnicas (que

passam a ser do conhecimento de todos os

intervenientes, prevenindo o factor surpresa,

de poderem nascer de forma incerta,

temporal e localmente) exponenciando, a

possibilidade de fácil intervenção, se for caso

disso – promovendo segurança.

Cada evento desportivo onde

exista pirotecnia é avaliado e no final deste

projecto, será elaborado um relatório de

avaliação, que irá concluir se a pirotecnia

pode ser definitivamente legalizada ou se a

experimentação deve ser prolongada.

Este é definitivamente o caminho que se

deve seguir – um adepto que sente que a sua

voz é ouvida, e que escuta uma resposta ao

que reivindica, será um adepto que se sente

acolhido e que protegerá os seus e aqueles

que o acolhem. Ao contrário, está mais do que

provado que as proibições infundamentadas,

reiteradas e injustas apenas promovem o

inverso – sentimentos de incompreensão

e revolta. E neste caso, aumentam de

forma grotesca o factor de perigosidade na

utilização deste tipo de engenhos.

Pois cá em Portugal, a posse e

deflagração de engenhos pirotécnicos nos

recintos desportivos é actualmente uma

contraordenação (administrativa). Em cima

da mesa da Assembleia da República está de

momento uma proposta de lei que visa alterar

esta situação, tornando esta contraordenação

em crime.

O nosso caso é particularmente

mais grave uma vez que a mera posse e/

ou deflagração de engenhos pirotécnicos é

considerada, nas esferas políticas, uma forma

de violência. Quando a grande fatia das

decisões da APCVD se fundam neste tipo de

ilícito, o que é transmitido à nossa sociedade

civil é que os nossos problemas se baseiam na

posse e uso destes engenhos. Pior – o efeito

social que daí se retira é perigosamente

falacioso. O efeito que daí decorre é que

todos os adeptos que usam estes tipos

de engenhos são violentos e perigosos –

quando, na verdade, a quantidade de danos

ou ferimentos são raros e são causados

(como menciona o relatório referido acima)

pela cega proibição e perseguição.

Aos olhos daqueles que vêem o uso

de pirotecnia como uma forma de expressão

da bancada, existe uma clara dualidade de

critérios quando esta mesma pirotecnia é

utilizada, por exemplo, em festas populares,

onde muitas vezes, o nível de perigosidade

é muitíssimo superior – porque estes

engenhos são fabricados de forma caseira,

e os momentos da sua utilização são, por

excelência, momentos com centenas de

pessoas presentes, sem polícia ou bombeiros,

e os espectadores são compostos por crianças

ou mesmo utilizados por menores.

De qualquer das formas, é de

referir que esta iniciativa é ímpar, na zona

UEFA, e apesar dos rumores, a pirotecnia

ainda continua a ser proibida ou mesmo

considerada crime em alguns países. O que é

certo e podemos contar, é que se espera que

o efeito positivo francês seja contagiante e

outros países sigam este exemplo.

Por Martha Gens, Presidente da Associação

Portuguesa de Defesa do Adepto

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A violência no desporto é tão antiga

como este e a sua compreensão só será

possível se considerarmos as suas múltiplas

manifestações, causas, consequências e

significados. Como bem lembrou Pierre Karli,

“as violências fazem parte integrante de uma

realidade humana infinitamente complexa e

é necessário evitar abordá-las através de uma

única das múltiplas facetas desta realidade.

(…) Todas as explicações simples não

explicam nada e todas as soluções simples

não resolvem nada.”

A compreensão e explicação das

violências no desporto está, portanto, longe

de ser conseguida apenas por comentários

superficiais às diversas ocorrências sempre

noticiadas pela comunicação social. Basta

ter em conta o tempo longo da História para

que se perceba que a profusão de notícias

sobre violências nos recintos desportivos não

significa um aumento destas. Na verdade, são

muitos os dados que apontam no sentido de

que estamos perante uma maior exposição

dos incidentes e não tanto do seu aumento.

Os relatos e as notícias evidenciam muitos

e graves casos de violências ocorridos no

passado. Este é apenas uma dimensão de um

problema cuja compreensão está muito para

além de discursos repetitivos de reprovação,

sempre ditos e que continuarão a ser ditos.

Com o intuito de compreender

e explicar as violências no desporto,

considerando as suas multiplicidades,

a Fundação Ensino e Cultura Fernando

Pessoa instituiu o Observatório da Violência

Associada ao Desporto, estando este

integrado no Instituto de Investigação,

Inovação e Desenvolvimento. Como se poderá

constatar pela leitura do seu sítio na Internet

(http://obvd.fundacaofernandopessoa.pt)

este observatório analisará múltiplas fontes e

levará a cabo investigações sobre o tema.

Contemplará, por isso, não apenas

as ocorrências de violências provocadas

por adeptos, mas também as situações

de violência perpetradas ou provocadas

por outros agentes que, diretamente


ou indiretamente, estão envolvidos

nos espetáculos desportivos. Por isso o

Observatório da Violência Associada ao

Desporto está aberto a receber, através do

seu e-mail (obvd@ufp.edu.pt), relatos dos

adeptos e membros dos grupos organizados

de adeptos sobre as suas experiências nos

recintos desportivos, sejam estas boas ou

más no que diz respeito às condições dos

estádios, de segurança ou outras que possam

colocar em causa o normal usufruto do

espetáculo desportivo. Este observatório será

sempre um espaço de investigação, reflexão

e debate ao qual todos poderão ter acesso

e para o qual todos os leitores da Cultura de

Bancada se podem sentir convidados.

Por Prof. Dr. Daniel Seabra

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Estamos no fim da Primavera e a Cultura de Bancada tem a oportunidade de procurar

um novo destino para conhecer, e nesta procura enquadra-se um país de clima ameno. Lá vamos

nós até à Áustria, um país com uma localização privilegiada e uma história riquíssima.

Como não podia deixar de ser, o território austríaco foi, desde muito cedo, disputado

por diversos impérios e reinos, até que se tornou num centro de poder. Durante 640 anos, até

1918, aquele povo esteve sob o domínio da família dos Habsburgos, que detiveram diversos

reinos, como o de Portugal, e lideraram o I Reich, o Sacro Império Romano-Germânico. Com as

guerras napoleónicas deu-se a criação do Império Austríaco, com o qual se pretendia assegurar

a supremacia entre os estados germânicos. Em 1867, na sequência da perda de uma pequena

guerra contra a Prússia, esse império foi dividido e deu-se a formação do Império Austro-Húngaro.

Os austríacos destacaram-se em dois âmbitos, desde a Idade Média: Arte e Cultura.

Primeiramente, desenvolveram-se na Poesia e na Arquitetura, dando a sua maior contribuição

cultural na Música. Viena é considerada a capital da Música Clássica, na qual brilharam Haydn,

Mozart, Schubert e a família Strauss. A fundação da Música Moderna surgiu pela mão de três

austríacos e não admira que Beethoven tenha morado 35 anos na maior cidade do país. A Ópera

Nacional de Viena é uma das mais conceituadas do mundo, estando as galerias de arte muito

bem cotadas na Europa, até porque há austríacos entre os criadores da pintura moderna.

No ano de 1870 deu-se a introdução do Futebol em solo austríaco, feita por ingleses.

A primeira competição em formato de liga teve a sua estreia em 1900. O primeiro campeonato

oficial foi disputado em 1911 e denominado de “1. Klasse”, sendo organizado pela Federação de

Futebol da Baixa Áustria, entidade fundada em 1904.

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Ainda nos primeiros anos de existência do Rapid Viena, clube fundado por jovens

operários em 1898, os adeptos começaram a formar uma tradição: “os quinze minutos à Rapid”.

Isto consistia num apoio mais efusivo nos últimos quinze minutos dos jogos, com uma salva de

palmas incessante.

O Império Austro-Húngaro era de uma imensidão tamanha, englobava mais de dez

nacionalidades e ultrapassava os 50 milhões de habitantes, contrastantes com os cerca de

8 milhões de habitantes da actual Áustria. Ainda no século XIX, vivia-se alguma instabilidade

social no Império, que culminou na revolta do povo e assassinato do príncipe herdeiro Francisco

Fernando em Sarajevo, no ano de 1914. Foi o rastilho para a Primeira Grande Guerra Mundial,

que culminou com a derrota da Tripla Aliança (Império Austro-Húngaro, Itália e Alemanha) e

o desmembramento do Império em estados independentes. Aí, a Áustria passou a ser uma

república.

Apesar do Esqui e do Hóquei no Gelo serem as modalidades mais populares naquele

solo, o Futebol foi se desenvolvendo. Hugo Meisl tentou replicar no seu país algumas coisas que

assistiu nas ilhas britânicas e, em 1927, criou a Taça Mitropa e a Taça Internacional. A Mitropa

foi uma competição que juntou os melhores clubes do centro europeu, sendo uma inspiração

para a Taça dos Campeões Europeus, que usou o seu modelo competitivo nas primeiras edições.

A Internacional permitiu a interação entre selecções da Europa central, sendo a primeira edição

disputada entre 1927 e 1930 e vencida pela Itália. Importa referir que, nas primeiras finais de

ambas as competições, houve equipas austríacas a disputar os títulos. Tudo isto contribuiu para o

desenvolvimento da selecção austríaca, que viria a vencer em 1932 a Taça Internacional, brilhando


durante essa década, com vitórias espantosas contra Escócia, Alemanha, Suíça, Hungria e Itália.

Perante isto, a Football Association inglesa convidou os austríacos para um jogo em Stamford

Bridge, o qual terminou com vitória caseira num disputado 4-3. Toda esta conjuntura fez com que

o povo exaltasse e acreditasse que a selecção poderia conquistar o Mundial de 1934. A história

conta que foi perante os anfitriões que sucumbiram, numa meia-final onde se diz que o árbitro foi

o “homem do jogo”. O juiz sueco Eklind confraternizou com “Il Duce” Mussolini e elites do Partido

Nacional Fascista Italiano antes da meia-final e da final, um bom cartão de visita. Já no ano de

1936, a Áustria cometeu duas proezas: vencer a Inglaterra e conquistar a medalha de prata nos

Jogos Olímpicos (a maior conquista do seu Palmarés).

O país lutou pela manutenção da sua independência, algo que foi contrariado pelo

avanço do III Reich. Em Março de 1938, Hitler conseguiu a anexação da Áustria, tornando-se

uma província. Logo em Abril realizou-se um jogo de “comemoração” da anexação no Estádio

do Pratter entre selecções de ambas nações, vencendo a Áustria. Foi o último jogo de Matthias

Sindelar, a estrela, que se recusou a representar a Alemanha, ao passo que outros colegas ainda

representaram o III Reich no Mundial que se disputou alguns meses mais tarde. No ano seguinte,

a Polónia foi invadida e iniciou a Segunda Guerra Mundial, ficando o Futebol para trás.

Os anos seguintes foram cheios de tentativas de apagar a memória austríaca e de

exaltação de Hitler. Obviamente que os clubes sofreram com a guerra e a liga austríaca foi desfeita.

Passaram então a disputar o Campeonato e a Taça da Alemanha. Perante todas as dificuldades

inerentes, o Rapid Viena conseguiu vencer ambas as competições (Taça em 1938 e Campeonato

em 1941), consumando uma pequena vingança. Só em 1945 é que a república daquele país foi

restaurada e a liga nacional foi oficialmente retomada quatro anos depois, apesar de as forças

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14

aliadas terem permanecido no seu território até 1955, ano em que foi garantida a neutralidade e

independência austríaca.

A Áustria é um dos países mais montanhosos do velho continente. É natural que assim

seja, pois mais de 75% do seu território faz parte da cordilheira dos Alpes. É uma nação fronteiriça

a outras oito nações, que, a nível futebolístico, no pós-II Guerra Mundial não conseguiu ter

estabilidade no modelo competitivo das suas principais ligas e não voltou a ter uma selecção tão

boa quanto a “Wunderteam”. Somente o Rapid conseguiu dar um ar da graça nacional, sendo

finalista vencido em duas finais da Taça das Taças de 1985 e de 1996.

Curiosamente, foi em meados da década de 80 que três jovens adeptos do Rapid

começaram a incentivar a sua equipa de forma mais entusiasta e a incentivar ainda os adeptos

das suas cores a serem mais pró-ativos, usando tachos, fumos e tochas feitas artesanalmente.

Somente sete anos mais tarde é que apareceu a primeira faixa “ultras” naquele meio. Por ocasião

de um Rapid vs PSV, surgiu o primeiro panal gigante, custeado pelos adeptos, no valor equivalente

a 700€, que cobriu o “Block West “do Estádio Gerhard-Hanapp. Inspirada no Comando Ultra Curva

B do Napoli, os vienenses apresentaram-se sob a faixa “Commando Ultras”. Estes acontecimentos

tiveram destaque na impressa escrita e hoje podemos considerar que foram um embrião do

movimento de apoio austríacos, pois o primeiro grupo ultra fundou-se no ano seguinte.

Há semelhanças entre os movimentos de adeptos austríaco e o alemão e uma delas é

a predominância dos grupos Hooligan nos anos 80, também fruto da influência britânica que se

alastrou por toda a Europa. Nessa década foi estabelecida uma amizade entre hool’s do Rapid e

do Grazer AK. No início dos anos 90, hooligans do Áustria Viena e do Rapid deixaram a rivalidade

de lado e uniram-se para combater grupos de imigrantes.


Inspirados nos vizinhos italianos, quatro homens e uma mulher fundaram oficialmente o “Ultras

Rapid Block West 1988”. Pretendiam construir uma relação positiva com o clube e com os demais

adeptos, distanciando-se de situações violentas e de conotações políticas. As “armas” eram

o apoio vocal, o uso de bandeiras gigantes, de faixas e pirotecnia. A primeira coreografia em

mosaico foi realizada em 1990, num derby contra o Áustria Viena.

O processo de aceitação e introdução desta forma de estar demorou anos a ser

conseguido em relação à maioria dos adeptos. Com o propósito de se inteirarem melhor em

relação ao movimento ultra, membros do grupo viajavam regularmente até Udine, Roma e

Génova. Reza a lenda que ficaram fascinados pelos Ultras Tito Cucchiaroni da Sampdoria. Em

2001, ultras do Venezia Mestre estabeleceram uma amizade com o grupo, que é o mais antigo

dos países de língua alemã que ainda se mantém activo.

A sua capital é a cidade com maior aglomerado de habitantes, apresentando nesta

característica um desfasamento da realidade das demais cidades. Graz, Linz, Salzburgo e Innsbruck,

por esta ordem, apresentam-se como as seguintes terras mais populosas, mas somente as duas

primeiras chegam a ter 10% do número de habitantes da cidade onde o FC Porto conquistou a

Taça dos Campeões Europeus em 1987. Talvez por isto o poder do Futebol austríaco seja tão

centrado em poucos clubes, à semelhança do português.

O movimento de apoio foi evoluindo e muito progrediu, sobretudo no apoio vocal e

no impacto visual que causam. Com muito e belo material levantado ao longo dos 90 minutos,

com coreografias também elas bonitas e complexas e muita pirotecnia à mistura. Para isso

contribuíram diversos grupos, estando aqui descriminados os primeiros vinte deste movimento:

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Rote Teufel (1980, FAVAC), Ultras Rapid (1988, Rapid Viena), Doblinger Kojoten (1988, First

Vienna), Linzer Stahlfront (1991, BlauWeiss Linz), Black White Supporters Club (1991, Admira

Wacker), Verruckte Kopfe (1991, Wacker Innsbruck), Kommando Kremstal (1992, LASK Linz),

Tough Guys Salzburg (1992, Austria Salzburg), Fedayn (1993, FAVAC), Brigata Graz (1994, Sturm

Graz), Jewels Sturm (1994, Sturm Graz), Fedayn Wien (1995, Áustria Viena), FCSG (1995, SV Ried),

Viking Linz (1995, LASK Linz), Commando Urfahr (1995, LASK Linz), Grazer Sturmflut (1996, Sturm

Graz), Tornados Rapid (1996, Rapid Viena), Alte Garde (1996, Rapid Viena), Unsterblich Wien

(1996, Áustria Viena), Supras (1996, SV Ried). Muitos mais coletivos continuaram a ser criados,

nos mais variados escalões competitivos, algo que se continuou a acentuar-se durante o século

XXI.

Curiosamente, a Áustria participou pela primeira vez num Euro em 2008, quando

organizou o torneio em conjunto com a Suíça. Foram eliminados na fase de grupos, sem conquistar

qualquer vitória. Um ano antes do começo da competição, o governo austríaco anunciou que os

hool’s locais teriam de se apresentar nas esquadras quatro horas antes de jogos de alto risco. Esta

medida não foi unânime e a Ministra da Justiça defendeu isto violava os direitos civis.

O governo austríaco mudou a lei que regulamenta a uso de pirotecnia, o que levou a

uma união de diversos grupos de adeptos do país. Em Junho de 2010, perto da cidade de Linz,

grupos de Viena, Graz, Innsbruck, Salzburg, Linz e Ried juntaram-se à mesa e debateram o que

poderiam fazer para combater a criminalização do uso de pyro nas bancadas. Surgiu assim o

movimento “Pirotecnia Não é Crime”, que ganhou apoiantes em toda a Europa.

Em 2011, o derby de Viena disputado em casa do Rapid ficou marcado por incidentes e

protestos contra a direção do clube. Antes do jogo, os adeptos do Rapid apedrejaram o autocarro


da equipa adversária. Aos 26 minutos de

jogo, elementos do Block West interrompem

o jogo com pirotecnia e invasão de campo.

Jogo suspenso e repressão da direção do

clube e da comunicação social para com

os ultras e hooligans que invadiram. Vários

adeptos que não participaram ativamente

nesta situação foram interditos dos recintos

desportivos e a direção do clube quis proibir

o acesso de todos integrantes do Block West,

o que reforçou a necessidade dos grupos de

apoio do Rapid se defenderem. Foi criada a

associação “United We Stand”, à qual todos

os grupos se uniram boicotando o apoio à

equipa por mais de dez meses. A associação

angariou fundos e os visados judicialmente

foram apoiados com donativos, até porque

os honorários dos advogados e custos de

tribunal na Áustria são imensos.

Por L. Cruz

17


ERA UMA VEZ

DODICESIMO IN CAMPO

Desta vez temos o prazer de falar com a

equipa da Dodicesimo in Campo. Este é um

projeto de comunicação independente sobre

o movimento ultras, no formato de programa

de televisão, único na Itália e com 23 anos

de existência. É realizado por elementos

do Ultras Brescia 1911, sendo um meio

de comunicação que divulga e defende o

movimento ultras em geral.

Onde, como e quando começa o Dodicesimo

in Campo?

Começa em março de 2000, em Brescia.

As más informações sobre o mundo dos

Ultras dão-me a ideia de tentar dar uma

interpretação diferente do mundo dos Ultras

e então comentei sobre isso com o meu

grupo -”Brescia 1911”- que apoia minha

ideia de fazer uma contra-transmissão de

informações.

Quais foram os objectivos iniciais do

projecto? Mantêm-se os mesmos ou, à

medida que o tempo passou, acrescentaram

mais algum?

Sempre quisemos combater a informação

tendenciosa sobre o nosso mundo e fazer com

que todos reflitam sobre o quão perigosas são

certas leis liberticidas que, uma vez testadas

no estádio, são pontualmente “exportadas”

para outras esferas da sociedade. O nosso

objetivo nunca mudou.

Quem e como se compõe a vossa equipa?

Eu conduzo a transmissão e há 4/5 pessoas

que me ajudam fazer acontecer. Somos

todos voluntários, nenhum de nós recebe

remuneração. Fazemos tudo por paixão.

18

Consideram que ser adepto/ultras tem

importância relevante nas vossas vidas


e na vossa construção pessoal? De que

forma o projecto contribuiu para o vosso

desenvolvimento pessoal e mesmo enquanto

ultras?

Fazer parte de um grupo Ultras ajuda-te a dar

importância a esses valores agora obsoletos:

amizade, solidariedade, sentimento de

pertença, respeito... O Dodicesimo in Campo

em campo permitiu-me lidar com muitas

realidades de Ultras e apreciar seus méritos.

Ao longo da vossa jornada, já convidaram

e receberam vários membros de grupos de

outros clubes, inclusive de grupos rivais,

bem como de elementos habitualmente

fustigados pela repressão policial, como

Antonino Speziale e Claudio Boccia. Quais

os objectivos de tais convites? Como pode

descrever essa experiência?

Muitos pertencentes ao mundo Ultras

sofreram um assédio severo e julgamentos

difamatórios nos média. Sempre pensamos

que era certo dar-lhes a oportunidade de

dizer a verdade. Agradeço sinceramente

a estas pessoas por se terem exposto e

por terem aceite “dar a cara” mesmo num

contexto televisivo. Eles ensinaram muito, a

todos nós.

Quais são as maiores dificuldades que o DiC

encontra?

No início havia ceticismo em relação a nós,

mas parece-nos que agora está ultrapassado

graças ao trabalho realizado sempre com

muita seriedade. A maior dificuldade é

encontrar pessoas do nosso mundo que

queiram contar suas histórias. Além disso,

há a desvantagem económica: infelizmente

temos sempre de lidar com os custos que

uma transmissão televisiva acarreta. Por

isso, agradecemos a todos aqueles que nos

ajudam nesse sentido.

Sentem que contribuem para a construção

de uma “bancada” melhor?

Não assumimos ser capazes de mudar o

mundo, mas estamos conscientes de poder

dar um pequeno contributo, pelo menos

apresentando sempre uma versão diferente

da perpetrada pelos meios de comunicação

institucionais.

Em tempos o futebol era um jogo quase

exclusivo para homens, mas isso mudou.

De que forma as bancadas, os campos e

os camarotes, na vossa perspetiva, tem se

moldado acompanhando a afirmação do

papel feminino na sociedade?

No meu grupo não há distinção entre

homens e mulheres. As pessoas qualificamse

pelo que demonstram, sejam homens

ou mulheres. No entanto, sempre adorei

quebrar os padrões, tanto que também fui

a primeira árbitra em Itália.

Quais os episódios que vos marcaram mais?

O episódio da estação Verona Porta

Nuova, em 2005, com violentos ataques

da polícia e ferimentos em dezenas de

adeptos do Brescia, um dos quais ficou às

portas da morte e ainda hoje com 100%

de deficiência. Graças às nossas batalhas

conseguimos que 8 policias fossem julgados

e o juiz determinou que as forças da ordem

se haviam transformado em “forças da

desordem”.

19


meios para combater a repressão. Acredito

que em Itália os grupos perderam muitas

oportunidades de lutar juntos.

Têm alguma referência semelhante ao vosso

projecto?

Existem revistas do setor que fazem um

excelente trabalho de informar sobre o

mundo dos adeptos.

Considera que os vários agentes desportivos,

o governo italiano e as autoridades de

segurança têm uma real compreensão do

fenómeno cultural que são os adeptos, em

geral, e os ultras em específico?

Eles não têm conhecimento do nosso mundo.

Se eles tivessem a humildade de querer

considerar as nossas opiniões, todo o mundo

do futebol beneficiaria.

Entendemos que as bandeiras, as faixas,

as frases, assim como os cânticos, fazem

parte de um conjunto ao qual podemos

chamar de expressão do adepto. O governo

português tem implementado uma série

de medidas repressivas sendo que, sob

a bandeira da segurança e combate ao

racismo, à xenofobia e à intolerância nos

espetáculos desportivos, decidiu proibir toda

a expressão, com excepção aos grupos que

se “legalizem”, e que para isso fornecem os

seus dados pessoais e ficam restritos a um

sector. Em Itália, houve a “Tessera del Tifoso”,

existem bilhetes nominais e há restrições de

deslocação a estádios adversários. De que

forma interpretam tudo isto e de que forma

isto influencia o dia-a-dia e a saúde dos

grupos italianos?

Faço parte de um grupo que nunca quis aderir

à Tessera del Tifoso e que luta com todos os

Quais são as causas centrais pelas quais é

essencial batalhar durante a próxima década

no movimento ultras?

Acho que temos que lutar se quisermos ser

livres para apoiar e viajar. Hoje o sistema

repressivo anda rápido e se não fizermos

nada, temo que nosso Movimento corra

o risco de morrer ou se transformar,

infelizmente para pior.

Como vê o trabalho da comunicação social

em relação aos adeptos e ultras?

A mídia institucional geralmente divulga más

informações: retrata os Ultras como uma

massa de ignorantes, violentos e sem ideais.

Na realidade não é assim, mas os jornais

- muitas vezes - não aprofundam, apenas

buscam o furo das grandes manchetes.

Qual é a importância da comunicação

independente no movimento ultras? O que é

que o Dodicesimo in Campo veio acrescentar

ao movimento ultras?

Acredito que a comunicação é fundamental.

O Dodicesimo in Campo, em todos esses anos,

tem procurado fazer contra-informação, sem

desvirtuar o Movimento. Acho que continuar

a contar coisas uns aos outros não pode trazer

mudanças, é importante dar a conhecer os

nossos pensamentos ao “mundo exterior”.

20


Como vê a cultura de adepto em Portugal?

Na nossa emissão mostramos frequentemente

imagens do tifo em Portugal. Acredito que

seu Movimento está crescendo. Sem dúvida,

uma bela vista de se ver.

Que caminhos acreditam que devem ser

trilhados para que haja um reforço da cultura

de adepto e dos próprios ultras?

Acredito que se lutássemos juntos

poderíamos conseguir mais. Também estou

convencida de que a convergência com a

política é necessária, porque só quem governa

tem o poder de mudar as coisas. Porém,

convergência não significa colaboração, mas

simplesmente diálogo.

O que acha das fanzines enquanto meio de

comunicação? Consideram ter importância

para o desenvolvimento desta cultura nas

pessoas?

As fanzines são um meio de comunicação

fundamental. Podem ser vistas por todos

e com certeza é uma importante ajuda na

divulgação das ideias de um grupo.

Uma mensagem final para os nossos leitores,

por favor.

Estou absolutamente convencida de que

nosso mundo pode transmitir valores

decisivos para o crescimento dos mais jovens.

Mas também acho que o Movimento Ultras

precisa fazer uma reflexão séria e uma

autocrítica, porque se a repressão se tornou

cada vez mais próxima, também é, em parte,

culpa nossa, que não lutamos o suficiente

para combatê-la. Também acredito que os

amigos, a camisola e as cores devem vir antes

dos resultados dentro de campo. Como diz

uma das nossas frases: PRIMA DI TUTTO GLI

AMICI!

A Cultura de Bancada reforça o agradecimento

à equipa Dodicesimo In Campo pelo valoroso

contributo, desejando felicidades e a maior

longevidade ao projecto.

21


QUANDO A VIDA ENTRA EM CAMPO

22

Se perguntarem a alguém qual o

espaço que conhecem onde mais se transpira

emoções existe uma probabilidade muito

grande da resposta ser o estádio de futebol.

Um palco de alegrias para uns, um muro de

lamentos para outros mas, uma coisa é certa,

um santuário de fé para a maioria. Um espaço

de esperança, de expectativas, onde a alegria

e a tristeza coexistem lado a lado, sendo certo

que uma irá dar lugar à outra num ciclo que

se repete eternamente. É a lei do jogo, num

destino que se balança entre a vitória e a

derrota, movido pelo som da bola a bater na

rede. O golo, o epicentro da explosão e, vocês

sabem que, nem todos os golos valem o

mesmo. Assim, afirmo, há aqueles que pouco

ou nada valem. O estádio, graças ao futebol, é

realmente um santuário diferente e especial.

“O futebol é a coisa mais importante entre as

coisas menos importantes.” Quem o disse foi

Arrigo Sacchi, ex-treinador de futebol italiano.

Porém, há quem veja as coisas por outro

prisma, por vezes como se de uma questão

de vida ou de morte se tratasse. É o caso

de Bill Shankly, antigo jogador e treinador

escocês, que afirma “O futebol não é uma

questão de vida ou de morte. É muito mais

importante que isso... “. Se algum académico

tivesse curiosidade de estudar este assunto a

observação do que aconteceu hoje seria com

certeza um testemunho muito válido.

Este texto nasce fruto da ocorrência

de um acidente no jogo de futebol entre o

Vitória SC e o FC Vizela, realizado no Estádio

D. Afonso Henriques. Tudo aconteceu na

bancada sul superior, no sector dos White

Angels, numa altura em que o Vitória vencia

a partida por 1-0. Por volta do minuto 28 um

dos ultras caiu acidentalmente de uma altura

de quase 5 metros, enquanto incentivava os

adeptos no apoio ao clube. Infelizmente eu

assisti de frente à queda, foi um momento

de terror em que se temeu o pior. Fosse nas

bancadas ou no relvado todos ficaram em

choque, mesmo quem só o viu ali deitado

sentiu algo que é difícil de explicar por

palavras. Uma espécie de pânico congelou

toda gente enquanto se especulava sobre o

estado daquele ultra. Foram longos aqueles

12 minutos em que o jogo esteve parado

enquanto os socorristas não retiravam o

adepto da bancada, este que haveria de

sair aplaudido por todo estádio como se

de uma mensagem de força se tratasse.

Instantes depois o Vitória faz o segundo golo,

a ambulância ainda se encontrava no interior

do recinto de jogo, eu não consegui festejar

o jogo tinha terminado nas bancadas para

mim. Este golo foi dedicado pelo próprio

jogador ao adepto acidentado, um gesto

que mereceu uma nova salva de palmas por

parte de muito dos presentes. Embora muitos

adeptos, não pertencentes a grupos Ultras,


tivessem gritado golo a verdade é que nos

segundos seguintes voltaram a silenciar-se.

Na verdade o importante já não era o jogo de

futebol, mas a vida que estava em jogo.

Só que o jogo continuou e o Vitória

ainda fez o terceiro golo na segunda parte.

Contudo, os adeptos mostravam-se quase

indiferentes, enquanto que um número

significativo já tinha abandonado a bancada.

Sem cânticos, sem movimento, só um

grupo de homens atrás de uma bola, assim

descrevo o jogo. Todos os grupos de apoio

removeram os seus panos identificativos

de perigo de vida.

Afinal o que é o futebol para os seus

adeptos? Dá que pensar que de um momento

para o outro passou de tudo a nada. Nós

que cometemos loucuras e juras de vida ao

clube fomos confrontados com uma situação

que, de algum modo, colocou à prova os

nossos valores mais profundos. A resposta

foi evidentemente muito forte e considero

que, pelo menos para quem esteve presente

no Estádio D. Afonso Henriques, aquele

dia ficará marcado pela demonstração de

princípios que, em particular, deveria servir

de referência ao movimento Ultra.

Termino recordando uma frase

que gera alguma polémica, a qual deixo à

consideração de quem lê este texto. Para

uns representa o extremo dos grupos Ultras,

pois coloca o grupo à frente de tudo, para

outros a bancada não faz sentido sem esta

orientação pois está associada a uma questão

de autodefesa e sobrevivência. Ela pertence

a Claudio Bocia, um ultra histórico afecto à

equipa da Atalanta, e foi dita durante uma

homenagem a Gabriele Sandri, um ultra da

Lázio assassinado a tiro pela polícia.”Primeiro

vêm os amigos, primeiro vem o grupo,

primeiro vem a tua faixa e só depois vem a

equipa.”

Por J. Lobo

marcando a posição que já não estavam ali

para apoiar, não havia condições para tal.

No sector visitante a Força Azul também

decidiu abandonar a bancada para regressar

a Vizela. Ao longo deste jogo vários adeptos

necessitaram de ser assistidos pelas bancadas

por se sentirem mal com aquilo que tinham

visto. Resumindo, foi um dia negro que só não

terminou pior porque até agora, momento

em que faço a revisão do texto, a informação

que tenho sobre o estado de saúde da pessoa

em questão é que aparentemente está fora

23


E SE FOSSE CONSIGO?

24

No dia 20 de Maio de 2018, toda

uma pequena Vila de 8500 habitantes

localizada no concelho de Santo Tirso estava

em êxtase, fruto da conquista da Taça de

Portugal por parte do clube local, diante do

imponente Sporting na mítica final disputada

no Estádio do Jamor. O CD Aves vivia a página

dourada da sua história, um verdadeiro

sonho, que aos olhos de muitos tinha sido

possível graças a Wei Zhao, investidor chinês

que detinha 90% do capital da SAD do

emblema avense criada em 2015.

Em contraste com muitos casos

ruinosos, que aconteceram noutros

emblemas nacionais, esta parceria entre

clube e investidor externo parecia ser um

grande exemplo de sucesso. Da mesma

maneira também parecia que a grande

maioria dos adeptos locais se tinha deixado

conquistar pelos feitos alcançados por esta

“sociedade”. Só que este sonho rapidamente

se transformaria num pesadelo para o Aves e,

apenas duas temporadas após a sua grande

conquista, iria terminar o campeonato em

lugar de despromoção ao segundo escalão,

mas isso estaria longe de ser a pior parte de

todo este enredo.

Os últimos meses da temporada

2019/2020 foram desprestigiosos para o

clube. O último lugar da tabela classificativa

foi apenas reflexo de todo um processo

de decadência em que os profissionais

que representavam o clube foram, a par

dos associados, as maiores vítimas. Os

salários em atraso e o desaparecimento da

estrutura accionista, deixou o emblema em

maus lençóis, acabando mesmo por ser a

recém-eleita direcção do clube a suportar

as despesas inerentes à realização dos

jogos - para que a equipa pudesse de forma

digna e honrosa comparecer nos mesmos.

De salientar também a dignidade revelada

pelos profissionais em causa em especial por

jogadores e equipa técnica dirigida por Nuno

Manta Santos.

incerteza reinava na Vila das Aves e

os maiores receios dos adeptos locais viriam a

tornar-se realidade quando em Julho de 2020

a estrutura da SAD não consegue cumprir

os requisitos necessários ao licenciamento

para participação nas provas profissionais e

escusa-se inclusivamente a exercer o direito

a recorrer desta decisão para o Conselho de

Justiça da FPF.

Ainda assim, a SAD do CD Aves

inscreve uma equipa no Campeonato de

Portugal, mas acabaria por desistir de

participar na competição em 23 de Setembro,

quando já em litígio com o clube procurou

um acordo de cedência de instalações com

o Perafita, clube de Matosinhos, acordo esse

que viria a falhar.

A direcção do clube, liderada

por António Freitas, decide então avançar

para um processo de refundação em que

a instituição insolvente ficaria com o nome

de Desportivo das Aves 1930, inscrevendo a

equipa de futebol na 2ª Divisão da AF Porto

- o que perfaz uma queda de 7 divisões

em relação à 1ª Liga que o emblema local

tinha disputado na temporada anterior.

Pela primeira vez desde 1985 o Aves não

competiria num campeonato profissional de

futebol.


Neste momento o centro da acção

desta história desloca-se 320 quilómetros

para Sul, mais propriamente para a

localidade de Vila Franca de Xira. O emblema

protagonista passa a ser o União Desportiva

Vilafranquense. A sua Sociedade Anónima

Desportiva tinha sido criada no ano de 2013

pela mão de Rudolfo Frutuoso, sociedade

essa cuja maioria do capital estava já também

em “mãos externas”.

A equipa do Vilafranquense, que

alinhou na 2ª Liga na última temporada,

disputou os jogos caseiros no Estádio

Municipal de Rio Maior a 50 quilómetros de

Vila Franca de Xira, uma vez que o Campo

do Cevadeiro não reunia as condições

necessárias para a realização dos jogos de uma

competição profissional e, aparentemente, é

esta a razão pela qual os investidores da SAD

entraram em litígio com a autarquia local,

reivindicando que a mesma não garantia as

condições para o desenvolvimento do futebol

profissional em Vila Franca.

Ainda que seja irónico que uma

entidade privada, que tem como finalidade

última a criação de lucros e distribuição de

dividendos pelos respectivos accionistas,

exija dum organismo público determinado

investimento, esta está longe de ser a maior

trapalhada de um processo de “mudança de

casa” que nos transporta para a realidade de

outros desportos disputados em latitudes

bem distantes.

Por forma a validar a alienação da

participação de 10% que o Vilafranquense

detinha na SAD, foi agendada uma

Assembleia Geral para discutir o assunto,

com o Presidente da comissão administrativa

Mário Oliveira a conduzir todo este processo

de forma muito pouco transparente.

Nessa mesma AG, foi entregue um

requerimento por parte de alguns associados

que pedia uma sessão de esclarecimentos

para elucidar os sócios sobre a forma como

o processo seria conduzido. Em resposta

a este requerimento é agendada nova AG

para o mês seguinte na qual vão aparecer os

jogadores do plantel, toda a administração

da SAD, respectivos familiares e um conjunto

de novos associados que aproveitando uma

lacuna do regulamento interno do clube -

redigido em 1980 e que não previa um período

de carência entre a entrega da proposta de

novo sócio e a possibilidade destes terem o

direito de voto - aprovaram a alienação da

participação do clube. Ficou registado em

acta que teria de ser criada uma comissão

de acompanhamento do processo de venda,

comissão essa que nunca veio a conhecer a

luz do dia, e os associados do Vilafranquense

só seriam informados dos contornos do

negócio através da comunicação social.

O protocolo assinado prevê o

pagamento duma verba por parte da SAD ao

clube, verba essa que aparentemente ficará

muito aquém do valor das dívidas que o clube

tem, as quais ascendem acima do milhão de

euros, deixando a localidade sem futebol

e com um clube emergido numa situação

financeira da qual dificilmente se poderá

levantar.

Voltando a rumar em direcção

ao norte, especificamente à Vila das Aves,

depois de todo o enredo vivido com o

25


processo de insolvência da primeira SAD mais

de 200 associados do CD Aves aprovaram em

assembleia geral, com apenas 4 votos contra,

que seria a entidade liderada por Sereno que

passaria a gerir os destinos do futebol sénior

nas Aves, mas também todos os escalões de

formação.

A situação do CD Aves 1930 era

extremamente débil, uma vez que o clube

de viu impedido de inscrever jogadores por

via duma decisão da FIFA, fruto dos mais de

17 milhões de euros de dívidas deixados pela

insolvência da SAD, e esta foi a solução que os

locais entenderam a acertada para prosseguir

com o desporto na vila.

Cito David Inácio, associado do

Vilafranquense e membro do grupo de apoio

Piranhas do Tejo: “aprendemos desde crianças

que o futebol é rua contra rua, bairro contra

bairro, cidade contra cidade, país contra país.

Quando tiramos um clube da cidade que lhe

deu origem, estamos a subverter o futebol”.

Eu revejo-me e subscrevo integralmente

estas palavras, e lanço a questão: Onde

está a transparência e a ética em todo este

processo? A fiscalização das entidades que

tutelam o futebol é absolutamente nula num

processo todo ele coberto de incongruências

e exigia-se uma uma postura actuante de

quem tem por missão proteger o futebol em

Portugal. Mas exigia-se também dignidade

e uma outra postura aos avenses, que são

também eles responsáveis pela destruição

dum clube, pela privação das crianças e jovens

duma localidade da prática desportiva e por

toda esta trapalhada que subverte aqueles

que deveriam ser os valores do futebol.

É caso para dizer, fazendo uso duma

expressão bem conhecida da população

portuguesa: E se fosse consigo?

Por J. Sousa

26


Folgrades x União de Lamas

O dia do jogo começou com várias

pessoas a deslocarem-se logo pela manhã

para o local do jogo. Pelas 12h00 já estavam

perto de 300 pessoas para os 150 bilhetes

disponíveis.

Lá se conseguiu colocar cerca de 60

Papa Tintos na bancada, mas era lá fora que

estava o verdadeiro espectáculo lembrando

os dias do covid. Haviam cerca de 700/800

pessoas espalhadas, pela parte de trás de

ambas as balizas, fazendo a festa com vários

fumos à mistura que foram acendendo

durante o jogo. Um total de cerca de 1000

adeptos do CFUL divididos por dentro e fora

do campo. No final do jogo, com a derrota,

perdemos o 1º lugar e houve contestação

acompanhada de uma carga policial, com

caixotes do lixo e afins a voar contra os

“robocops” presentes.

Aniversário Papa Tintos 25/4/2023 - 31 anos

O nosso aniversário começou,

como sempre, na véspera dia 24 de abril

pelas 18h00 no estádio onde se encontra a

nossa sede, com uma animada apanhadura

que se prolongou ate à hora do jantar por

volta das 20h30.

Início de jantar no salão do clube,

bem regado com tinto e afins e, com uma

visita inesperada de vários jogadores,

capitães e treinador que tinham terminado

o treino, pois no dia seguinte realizava-se

a meia final da Taça de Aveiro. Entretanto

tivemos os discursos da praxe da old troop92,

direcção actual e presidente do clube. Por

voltas 23h30 deslocamo-nos para o nosso

sector do estádio onde às 00h00 em ponto

foram colocadas dezenas de tochas e strobs

ao som de vários cânticos, entre eles o de

parabéns. A festa continuou ate ás 2h00.

Para o dia seguinte, dia de jogo,

tínhamos preparado algo para comemorar

os 31 anos. Era um tifo já muito usado por

vários grupos ultras, mas que foi feito à nossa

maneira e à mão. Consistiu na representação

27


28

de um pai e um filho/a, no nosso sector, com

a criança a segurar um fumo. Após baixar-mos

o tifo foram abertos vários fumos e strobs.

Ovarense x União de Lamas - 20/5/2023

A concentração estava marcada às

14h00 para realizar o habitual aquecimento

dos motores com muita cerveja a jorrar na

sede dos Papa Tintos no nosso estádio.

A saída do autocarro, com 80

adeptos, deu-se por volta das 15h45.

Entretanto chegamos a Ovar e a uns 4 km

do estádio, como de costume, junta-se uma

carrinha da PSP de Ovar para nos acompanhar

até ao estádio. O restante trajecto foi

realizado sem nenhum problema. Na chegada

ao estádio tivemos uma “surpresa”, pois

habitualmente entramos directamente com

o autocarro na zona reservada aos adeptos

visitantes para evitar contacto com adeptos

da casa. Desta vez a PSP de Ovar lembrou-se

de alterar planos à ultima da hora deixando

o autocarro parado a 100 metros da entrada

e com cerca de 12 elementos para controlar

a nossa saída a pé, passando ao lado de

várias dezenas de adeptos do Ovarense que

aguardam como sempre todos anos a nossa

chegada carregados com pedras, garrafas,

etc.

A PSP ao ver que não conseguia

controlar o trajecto a pé anula prontamente

a nossa saída do autocarro, mas bloqueia-o

tornando a viatura um alvo fácil para as

pedras, garrafas e demais coisas que voaram

na nosso sentido. Este episódio provocou

vários vidros partidos e amolgadelas na

chaparia do autocarro, com a estimativa dos

prejuízos a chegar aos 6.500 euros.

Nota importante: durante estes

cerca de 10 minutos a PSP não teve a

capacidade nem vontade de intervir,

chegando ao cúmulo de nem colocarem

os capacetes que traziam pendurados na

cintura.

Perante tudo o que vimos, ficou

com a sensação que esta situação tinha

sido potenciada pela PSP e o pelo clube de

Ovar. Como consequência deste episódio

uma mulher polícia ficou ferida devido a

uma pedra que lhe acertou na cabeça, e que

teve receber assistência do INEM e também

houveram mais uns quantos agentes feridos.


Do nosso lado, felizmente não tivemos

feridos.

Quanto ao que se passou dentro

do estádio, enchemos o sector visitante com

cerca de 250/300 adeptos do União de Lamas.

Tivemos um bom apoio vocal e abrilhantamos

a bancada com potes de fumo e strobs.

O jogo ficou pelos 45 minutos pois,

no momento da expulsão de um jogador da

Ovarense, o nosso guarda redes foi agredido

duas vezes - primeiro com um balde e a seguir

um adepto de Ovar entrou dentro de campo

e pontapeou o nosso guarda redes quando já

se encontrava no chão por ter sido atingido

pelo balde. Naquele momento, o resultado

encontrava-se 1-0 para o Ovarense.

O jogo termina após esse incidente

e tivemos mais 45 minutos de espera, no

estádio, até ser permitida a saída de todos os

adeptos do União de Lamas. Regressamos a

casa sem registar mais nenhum conflito.

Falta um jogo em casa, que é já

este domingo, e estamos a 1 ponto atrás do

primeiro classificado. Esperemos que este

escorregue e seja possível fazer a festa da

subida aos campeonatos nacionais

Mais uma vez vimos muitos fumos

no início, durante e no fim do jogo a par de

um bom apoio vocal dos Papa Tintos.

O fim de época será a Supertaça de

Aveiro que terá lugar no dia 10 de junho, no

estádio do Feirense, onde vamos encontrar o

Florgrade - a equipa que ficou à nossa frente

no Campeonato.

Seguramente espera-se uma forte

presença nossa, com concentração na botica

de baco desde as 14h00 para aquecimento

para o jogo.

Por C. Martins

Final da Taça de Aveiro - União de Lamas x

Lobão - 3/6/2023

Saímos em carros em direcção ao

Estádio Municipal de Aveiro, no total viajaram

à volta de 1000 adeptos do União de Lamas.

Este jogo ocorreu sem registo de incidentes

e terminou com a vitória do União de Lamas

por 4 bolas a zero.

29


No número anterior da “Cultura

de bancada” lembramos “o dia em que os

equipamentos ganharam números”; no dia

15 de setembro de 1946 o COL apareceu

com a clássica numeração 1-11 . Desta vez

falaremos de um outro momento marcante

no futebol português, ou seja, quando as

camisolas apareceram com os nomes dos

jogadores nas costas!

E, mais uma vez, esta “revolução”

não foi feita por uma equipa “grande”, mas

(como foi com o Oriental e a numeração) pelo

GD Estoril Praia, pequeno, mas carismático

clube da Linha de Cascais.

Nos anos 70, o nome nas costas era

considerado uma “americanice”; sim, porque

na Liga Americana de Futebol (ou melhor

de soccer), a NASL-Noth American Soccer

League, todas as equipas já estavam a utilizar

estes pormenores nas suas camisolas.

A NASL era uma espécie de

campeonato pré-reforma para muitos craques

do futebol mundial, basta lembrar só alguns

nomes que lá jogaram: Pelé em primeiro e

depois Beckenbauer, Chinaglia, George Best

e... Eusébio. Além dos nomes inscritos nas

costas, era igualmente comum os jogadores

apresentarem os seus respetivos números na

parte superior direita da frente da camisola.

Assim se apresentou o plantel do Estoril Praia,

30


no dia 12 de setembro de 1976, na 2ª jornada

do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. O

adversário foi o CF “Os Belenenses”, uma

curiosa coincidência, dado que o jogo de

estreia dos números nas camisolas do

Oriental foi igualmente contra os jogadores

de Belém!

Era um belo plantel, o do Estoril,

onde ainda jogava o “Bom Gigante” José

Torres, o Quim (o Cruyff de Marvila), o

Fernando Santos e outros.

O “atrevido” que quis estrear esta

“moda” foi o treinador António Medeiros sob

influência do jogador Rui Paulino que jogou

no Canadá uns meses e trouxe esta novidade,

imediatamente aceite pelo Medeiros,

jogadores e sociedade.

Pela crónica, o jogo acabou

empatado.

O campeonato dos Canarinhos não

correu como esperado e a moda dos nomes

nas costas ficou limitada a esta época 1976-

1977.

Só a partir dos anos 90 é que a moda

pegou, fruto também da comercialização e do

business que agora ronda o mundo da bola.

Mas quando comprarem uma camisola com

o nome de Messi, de Ronaldo, de Neymar,

lembrem destes nomes que foram os

primeiros: Ferro, Vieirinha, Amílcar, Fernando

Santos, Carlos Pereira, Eurico Caires, Óscar,

Nélson Reis, Manuel Fernandes, Cepeda,

Clésio. Quim e Fernando Martins. Longa vida

aos pioneiros!!!!

Por Eupremio Scarpa

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MEMÓRIAS Da BANCADA

ALFINETADAS - PARTE 1

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Dois meses marcados pela recta final das várias competições, o que é sinónimo de grandes

alegrias (e tristezas), de subidas (e descidas) de divisão, de títulos, de festejos e de invasões.

Deixamos aqui vários dos importantes registos que se passaram no nosso país, em mais um

Resumo de Bancada!

SL Benfica x FC Porto | 07-04-2023

Clássico do futebol nacional realizado

na Sexta-feira Santa, com direito a casa

praticamente cheia num belo final de tarde.

Muitos benfiquistas concentraram-se nas

imediações da Luz para receber o autocarro

da sua equipa, mas a polícia decidiu estragar o

incentivo, fazendo com que o veículo levasse

outro caminho para fugir à multidão. Já

dentro do estádio, houve pirotecnia, cânticos

e ainda destaque para uma mensagem do

grupo Velhas Maneiras: “Até à última gota de

suor”.

Os benfiquistas estavam bem encaminhados

com uma vantagem pontual confortável

sobre os rivais e ainda marcaram no início da

partida. Porém, os portistas deram a volta ao

desafio, para rejubilo dos milhares de azuis

e brancos que se encontravam no sector

visitante. Como habitualmente, deram um

bom recital no recinto encarnado, fazendo-se

ouvir na maioria da partida.

Leixões SC x Sporting CP | 08-04-2023

Quinto e decisivo jogo das meias-finais do

campeonato de voleibol feminino. Os adeptos

leixonenses já se habituaram a criar bons

ambientes neste tipo de encontros e este não

foi excepção, depois de um play-off marcado

por uma coreografia num jogo anterior e

uma deslocação ao terreno sportinguista.


Numa quadra junto de uma bancada repleta

a apoiar intensamente o conjunto da casa,

a verdade é que a formação sportinguista

conseguiu mesmo a vitória e atingir a final

do campeonato. Ainda assim, no final, houve

um bom momento entre a equipa e o público

rubro e branco.

SL Benfica x FC Internazionale Milano | 11-

04-2023

Quase 63 mil adeptos lotaram o Estádio do

Sport Lisboa e Benfica, entre eles mais de 3 mil

italianos. As expectativas para este encontro

dos quartos-de-final da Liga dos Campeões

eram naturalmente altas, tendo o ambiente

sido típico de uma grande noite europeia. Os

No Name Boys, no topo superior, voltaram a

fazer uma tochada.

Já os ultras ‘nerazzurri’ conseguiram fazerse

ouvir muitas vezes, também empurrados

pelo resultado positivo da sua equipa,

conseguindo uma importante vantagem de

dois golos. Antes do encontro, fizeram um

grande cortejo, com cânticos de incentivo

ao Inter, mas também de provocação aos

portugueses, à imagem do que aconteceu no

Porto.

Juventus FC x Sporting CP | 13-04-2023

Mais uma excelente deslocação europeia

por parte dos sportinguistas, compondo

a totalidade do sector visitante.

Proporcionaram um excelente ambiente,

fazendo-se ouvir por diversas ocasiões ao

longo da partida e centrando, muitas vezes,

as atenções em si mesmos. Nota para o facto

de terem exibido tarjas de apoio à Fiorentina

e uma, do Directivo Ultras XXI, de provocação

à Juventus.

FC Famalicão x Vitória SC | 14-04-2023

Nesta noite de 6ª feira, um pouco mais de

4 mil espectadores estiveram presentes em

Famalicão para assistir a este encontro entre

as duas formações minhotas. Destaque para

o bom e regular apoio de parte a parte,

com direito a fumarada por parte dos ultras

vimaranenses.

45


24º aniversário dos White Angels | 15-04-

2023

Logo na madrugada seguinte ao encontro do

registo anterior, o grupo do Vitória SC decidiu

festejar mais um aniversário, em grande

estilo diga-se, à volta do seu estádio. Muita

pirotecnia, com tochas e fogo de artifício,

proporcionado belíssimas imagens.

CS Marítimo x FC Paços de Ferreira | 15-04-

2023

Jogo com uma importância extrema para dois

dos maiores candidatos à descida de divisão.

Para os pacenses, os incentivos começaram

ainda em território continental, mais

concretamente junto do seu estádio, com

os seus adeptos a darem uma última força à

equipa, com cânticos, palavras e ainda uma

mensagem afixada: “Só união e dedicação

deixam o Paços na 1ª divisão”.

Relativamente aos maritimistas, mais de 9 mil

compuseram os Barreiros, à imagem do que

têm feito ultimamente. Os Fanatics também

fizeram um incentivo pré-partida, com uma

grande coreografia afixada no exterior do

recinto, podendo ler-se: “Eternamente,

os maiores”. Já durante os 90 minutos, o

ambiente foi de grande apoio, tornandose

de festa à medida que o tempo passava,

dado o resultado positivo para os da casa,

num jogo que terminou com uma vitória do

Marítimo por 3-1.

46

Florgrade FC x CF União de Lamas | 16-04-

2023

Invasão dos adeptos do Lamas na curta

deslocação até Cortegaça, com quase mil

unionistas a quererem assistir a este embate

entre os dois primeiros classificados deste

campeonato distrital aveirense. Na realidade,

a capacidade do Parque Desportivo do

Buçaquinho é limitado e muitos tiveram que

ficar no exterior, a arranjar maneira de ver a

partida de fora.

A equipa da casa acabou por vencer, mesmo

com um bom apoio dos Papa Tintos, grupo

que aproveitou posteriormente para criticar


o adversário (clube recentemente fundado)

e a própria AF Aveiro de não respeitarem o

União de Lamas.

FC Internazionale Milano x SL Benfica | 19-

04-2023

Pese embora a desvantagem de dois golos

levada de Lisboa, quase cinco mil benfiquistas

estiveram presentes em Milão com

esperanças de uma reviravolta que permitisse

a passagem às meias-finais da competição

máxima europeia. E pode dizer-se que esta

deslocação foi tudo menos monótona.

Antes do encontro, um grupo de várias

dezenas de No Name Boys, acompanhados

pelos seus amigos croatas da Torcida Split,

fizeram um ataque nas imediações do estádio.

Houve troca de acusações, mas a verdade

é que isso levou à detenção de mais de 20

elementos (que posteriormente souberam

que ficaram interditos a jogos em Itália).

Antes do início da partida, nota para um

belo espectáculo pirotécnico dos Diabos

Vermelhos, mas também de uma coreografia

a cobrir a totalidade das bancadas destinadas

aos adeptos da casa. Os No Name Boys fizeram

uma tochada, durante o desafio, que originou

bastante polémica pelo facto de terem atirado

as tochas para os sectores abaixo, onde se

encontravam simpatizantes ‘nerazzurri’, o que

obrigou mesmo o clube encarnado a fazer um

pedido de desculpas público. Posteriormente

houve uma condenação da UEFA que proibiu

os encarnados de acederem ao próximo jogo

fora de casa europeu.

Houve muitos golos, terminando com

um empate a três bolas e a consequente

eliminação do Benfica. Ainda assim, destaque

para vários momentos em que o público

presente no sector visitante se fez ouvir.

Sporting CP x Juventus FC | 20-04-2023

O Sporting precisava de recuperar de uma

desvantagem de um golo, para ter aspirações

de seguir às meias-finais da Liga Europa.

Os seus simpatizantes disseram presente e

confirmaram, por larga margem, a melhor

47


casa da época, com quase 47 mil presentes.

Mais do que o número, destaque para os

incentivos iniciais na chegada do autocarro

da sua formação e o excelente ambiente que

se viveu, salientando-se os habituais cânticos

de início da partida e os momentos após o

golo do empate (1-1). Resultado que ficou

sem mais golos depois, confirmando-se a

eliminação dos leões.

Destaque para a presença de cerca de mil

adeptos da Juventus e de, novamente, tarjas

de apoio, por parte dos ultras sportinguistas,

aos seus amigos da Fiorentina.

Vitória SC x Sporting CP | 24-04-2023

Partida realizada numa 2ª feira à noite, mas

que contou com um excelente ambiente,

estando quase 22 mil presentes nas bancadas

do estádio. Não faltou animação e podese

dizer que foi dos jogos da época que

mais iniciativas teve no interior do estádio.

Coreografias, muitos cânticos, picardias e

pirotecnia.

Dois grupos da casa aproveitaram para

comemorar os seus respectivos aniversários

- 24º dos White Angels e 20º do Gruppo 1922

-. Uma excelente coreografia da claque que

fica na bancada sul, cobrindo a totalidade da

mesma e com a seguinte mensagem: “Com

história e tempo para novas conquistas”. Já

o grupo que fica na bancada nascente fez

algo mais simples, mas que também virou

as atenções para si, através de um pequeno

mosaico no seu sector e uma fumarada

amarela.

O Sporting venceu por 0-2, o que fez com

que os seus vários ultras se empolgassem

no sector visitante e dessem um apoio em

crescendo, fazendo-se ouvir num terreno

com ambiente naturalmente adverso.

FC Famalicão x FC Porto | 26-04-2023

Primeira mão deste embate a contar para

as meias-finais da prova rainha nacional,

com direito às duas bancadas muito bem

preenchidas e a um excelente ambiente. Na

entrada das equipas houve fogo de artifício

48


aberto no exterior do estádio, mas também

uma coreografia realizada pelos Fama Boys,

indicando que “Só há um caminho - Juntos

neste sonho!”.

Houve muito apoio de parte a parte, com

espaço também para alguma pirotecnia por

parte dos ultras portistas. O Porto venceu por

1-2, garantindo uma importante vantagem

para o que faltava, mas nem por isso o grupo

famalicense deixou de se fazer ouvir. No

sector visitante, houve a natural festa entre

público e jogadores portistas.

UD Leiria x SC Braga “B” | 29-04-2023

O Leiria garantiu um “dois em um”.

Desportivamente, conseguiram a tão

desejada subida à segunda divisão, depois

de vários anos a “morrer na praia”, algo que

até já foi bem descrito num número anterior

desta fanzine com um artigo dedicado ao

clube. O único golo do jogo aconteceu ao 89º

minuto, tornado a festa ainda mais especial.

Nas bancadas, voltaram a bater o recorde

de assistência na Liga 3, o que já tem sido

habitual no Estádio Dr. Magalhães Pessoa,

neste tipo de desafios mais importantes, com

22.197 espectadores, oficialmente.

SC Salgueiros x SC Vianense | 30-04-2023

Primeira jornada da fase de subida, do

Campeonato de Portugal para a Liga 3, com

direito a coreografia da Alma Salgueirista,

acompanhada por fumo e pela mensagem

“Let the party begin”. A formação portuense

venceu por 2-0, motivando uma boa festa, no

final da partida, entre a equipa e o público

presente.

FC Porto x Boavista FC | 30-04-2023

Cerca de 48 mil espectadores presentes

no dérbi, o que também foi significado de

quase casa cheia. Final de tarde com tempo

agradável no Porto, bom ambiente no

estádio, com o público da casa ainda com

esperanças na conquista do título. Nota

para a mensagem dos Super Dragões e dos

Panteras Negras para Rui Cardinal, um ultra

dos Super Dragões que faleceu dias antes.

49


FC Porto x SL Benfica | 04-05-2023

Clássico português do hóquei em patins,

a contar para a ‘final eight’ da Liga dos

Campeões, que se realizou em Viana do

Castelo. Apesar de ter sido realizada ao final

de tarde de uma 5ª feira, a verdade é que

contou com muito público e, acima de tudo,

com um bom ambiente proporcionado pelas

turmas de adeptos mais fanáticos de ambos

os rivais, que estavam bem compostas, atrás

de cada uma das balizas. Naturalmente,

houve muitos cânticos e picardias.

No final, os dragões acabaram a sorrir pela

vitória, e respectiva passagem às meias-finais.

Os jogadores não festejaram com todos os

portistas que se encontravam no pavilhão,

pois muitos, principalmente da claque,

abandonaram ao intervalo devido ao jogo de

futebol contra o Famalicão, que se iria realizar

um pouco mais tarde nessa noite.

FC Porto x FC Famalicão | 04-05-2023

Um encontro que se esperava tranquilo para

os portistas, uma vez que apenas precisavam

de não sair derrotados para atingirem a final

da Taça, mas que se converteu numa grande

“dor de cabeça”, conseguindo apenas o

apuramento aos... 120 minutos! O Dragão

não contou com a melhor das casas, mas os

vários grupos presentes animaram a noite.

Os Fama Boys ainda se chegaram a fazer

ouvir, empurrados pela boa exibição dos seus

jogadores, mas no final foi o público da casa a

explodir de alegria e, acima de tudo, de alívio.

Ainda assim, a claque famalicense fez questão

de aguardar a chegada do autocarro da sua

equipa, já praticamente de madrugada,

abrindo pirotecnia e aplaudindo o esforço da

mesma.

50

Juve Leo em Palma de Maiorca

Cerca de duas dezenas de elementos da

Juventude Leonina deslocaram-se até

território insular espanhol, para apoiar a sua

equipa de futsal na ‘final four’ da UEFA Futsal

Cup. Na 6ª feira, assistiram a uma vitória

confortável frente ao Anderlecht. Depois, na


final que foi jogada contra o anfitrião Palma

Futsal, os leões acabaram por ser derrotados

no desempate por grandes penalidades.

Em ambos os jogos, juntaram-se a eles nas

bancadas outros sportinguistas que lá se

encontravam.

De realçar que, na madrugada seguinte à

final, houve desacatos numa zona de diversão

nocturna envolvendo os mesmos com outras

pessoas. Sete dos portugueses acabaram por

ser detidos, mas libertados no dia seguinte

após terem sido ouvidos em tribunal.

CF “Os Belenenses” x AD Sanjoanense | 06-

05-2023

Encontro que garantiu mais uma subida (a

quinta em cinco anos) da formação lisboeta.

Com uma bancada central do Restelo muito

bem composta e muito apoio, um empate

sem bolas bastou para garantir o objectivo.

Foi o prémio para os seus adeptos, que

fizeram muito boas deslocações ao longo da

época, não tendo estes últimos jogos da fase

de promoção sido excepção naturalmente.

Mal o árbitro deu o apito final, houve uma

bonita festa com uma invasão de campo,

estendendo-se até ao centro de Belém,

através de uma comemoração entre a equipa

e os aficionados belenenses.

Nota para a presença de cerca de 50

simpatizantes do Sanjoanense, com destaque

para o grupo Força Negra. O emblema ainda

tinha algumas hipóteses de também poder

ascender de escalão, algo que não se veio a

confirmar.

CF Estrela da Amadora x Moreirense FC | 06-

05-2023

O emblema de Moreira de Cónegos garantiu

a subida, e também o título de campeão da

Segunda Liga, na Reboleira, curiosamente

contra um adversário que ia logo atrás de si

na tabela classificativa. O destaque vai para

a boa deslocação dos adeptos forasteiros,

que praticamente lotaram o sector visitante.

Com o apoio organizado por parte dos

Green Devils, festejaram ainda, no final,

51


com a sua equipa, após uma vitória por 2-4,

confirmando, em grande estilo, uma época

muito bem sucedida.

Vitória FC x FC Oliveira do Hospital | 06-05-

2023

O mítico Estádio do Bonfim esteve com as

bancadas quase repletas de gente a assistir

a um jogo decisivo do Vitória, que acabou

em desilusão para o clube sadino, com uma

descida para o Campeonato de Portugal.

O ambiente foi muito bom, tendo o apoio

sido constante e ainda com direito a uma

coreografia do Grupo 1910 a abrir a partida.

Os dois golos de diferença que o Vitória

precisava para a manutenção até foram

concretizados. Porém, perto do minuto 90,

a formação forasteira reduziu para 2-1 e

o histórico emblema do futebol nacional

viu a descida para o quarto escalão ser

consumada...

SL Benfica x SC Braga | 06-05-2023

Primeiro contra terceiro classificado nesta

fase da época é sinónimo de jogo grande e

os mais de 60 mil adeptos presentes na Luz

provaram isso mesmo. Para além de uma

das melhores casas da época desportiva em

Portugal, destaque para o bom ambiente (para

o qual a vitória dos encarnados contribuiu) e

a recepção dos adeptos da casa ao autocarro

da sua equipa, salientando-se uma iniciativa

dos Diabos Vermelhos que quase fez o veículo

parar. O grupo ultra do Benfica ainda criou

uma fumarada no momento da entrada das

formações em campo. Já os No Name Boys

fizeram, à sua imagem, uma boa tochada na

parte superior do topo sul.

Nota para a boa presença de braguistas, que

compuseram o sector visitante, com pelo

menos 15 autocarros a fazerem a viagem

entre a cidade minhota e Lisboa.

FC Porto x AD Valongo | 07-05-2023

Final da Liga dos Campeões de Hóquei em

Patins, num Domingo à tarde em Viana do

Castelo, com casa cheia e, acima de tudo,

52


um grande ambiente. Presença das claques

portistas, mas também houve espaço do

outro lado para um grupo de apoio à formação

valonguense. O Porto acabou por vencer por

5-1, e conquistar o troféu, motivando uma

grande festa entre a equipa e os adeptos

azuis e brancos.

Vitória SC x FC Vizela | 07-05-2023

Um dérbi realizado numa bela tarde de

Domingo, com mais de 20 mil espectadores

presentes, mas que ficou efectivamente

marcado apenas por um grande susto fora

das quatro linhas. Perto da meia-hora de

encontro, um ultra dos White Angels acabou

por cair para o anel inferior, provocando um

enorme transtorno em toda a gente presente

no estádio. A partida foi interrompida, muitos

adeptos já nem quiseram ver nada depois da

partida ser retomada. A própria Força Azul

tomou a posição de abandonar o recinto por

causa desse incidente, como referiram num

comunicado posterior.

O silêncio imperou no resto da partida, tendo

os golos sido pouco festejados (o Vitória

venceu por 3-0). Um deles, marcado no final

da primeira parte, foi dedicado pelo marcador

,André Silva, à vítima da queda.

Felizmente, como referido antes, não passou

mesmo de um susto e o adepto recuperou no

hospital.

AD Fundão x SC Braga | 13-05-2023

Registo para uma excelente deslocação dos

ultras do emblema bracarense até à Beira

Baixa, para incentivar a sua formação de futsal

neste primeiro embate dos quartos-de-final

dos play-offs do campeonato nacional. Os

grupos do Braga, particularmente a Bracara

Legion, já nos habituaram a boas presenças

e viagens para apoiarem nesta modalidade.

Neste dia, cerca de 40 braguistas estiveram

presentes, tendo sido brindados com uma

vitória.

Nota ainda para um momento de

confraternização entre os quase 30

elementos da Bracara com a sua equipa, à

porta do pavilhão.

53


CD Nacional x SC Farense | 14-05-2023

Com o Farense bem embalado na luta pela

promoção, nota para a deslocação de várias

dezenas de adeptos, com particular destaque

para os South Side Boys, que apoiaram a sua

equipa em território insular. Logo na véspera,

os jogadores sentiram um bom incentivo

quando chegavam de autocarro até o hotel

onde iriam estagiar, pois vários simpatizantes

do emblema algarvio já lá se encontravam

para os receber.

Durante a partida, foi possível perceber que

o grupo forasteiro estava instalado no canto

de uma das bancadas e praticamente não

parou de cantar durante os 90 minutos. No

final, tiveram a oportunidade de festejar com

a sua formação, após nova vitória importante

na luta pelas suas aspirações.

Moreirense FC x Leixões SC | 14-05-2023

Tarde de festa para os cónegos, pela

consagração da conquista do troféu do

segundo escalão nacional e subida à primeira

divisão. A animação criada pelos adeptos

minhotos começou ainda antes do jogo, com

a recepção à sua equipa, dando já um grande

colorido verde e branco nas imediações do

estádio.

Já dentro do recinto, destaque para a melhor

assistência da época, por grande margem,

em desafios na casa do Moreirense, com

mais de três mil espectadores presentes.

Houve entrega do troféu e um natural bom

ambiente durante a partida, que por acaso

até foi bem animada, com um 4-2 final no

resultado, sendo que o Leixões deixou-se

perder quando até ganhava por duas bolas a

cerca de 15 minutos do fim...

54

SL Benfica “B” x SC Farense | 19-05-2023

Numa 6ª feira ao final da tarde, cerca de

mil farenses deslocaram-se até ao Seixal

para incentivar a sua equipa num encontro

bastante importante nas contas da subida.

Apoio de excelência vindo da bancada onde

os mesmos estavam situados, com destaque

naturalmente para os South Side Boys. Os

muitos adeptos do emblema algarvio foram


brindados com um golo nos instantes finais

da partida, já nos descontos da segunda

parte, provocando uma enorme festa.

Com a vitória conseguida nesta penúltima

jornada, o Farense ficou apenas a precisar

de um ponto, ou até de um deslize do Estrela

da Amadora, que ainda tinha dois jogos pela

frente.

CF “Os Belenenses” x UD Leiria | 20-05-2023

Final da Liga 3 para decidir quem levantava

o troféu da competição, entre dois históricos

que ficaram promovidos. Jogado no Jamor,

como já se vem tornando hábito, foi com

naturalidade que conseguiu levar muitos

espectadores. Oficialmente, estavam mais de

15 mil presentes. É difícil precisar o número

exacto de simpatizantes de cada um, pois

leu-se e ouviu-se várias versões diferentes

sobre isso, mas é possível dizer-se que a

equipa lisboeta estava em superioridade

nas bancadas, embora os leirienses tenham

levado pelo menos 35 autocarros até Oeiras.

O Leiria acabou por vencer 1-0, mas o

resultado foi o menos importante. Muitos

cânticos fora das quatro linhas de parte a

parte, muita festa e, no final, cada formação

acabou por agradecer ao seu respectivo

público.

Boavista FC x SC Braga | 20-05-2023

O Boavista abriu as portas aos seus adeptos

no último jogo da época em sua casa, fazendo

com que o Bessa contasse com mais de nove

mil espectadores, entre eles uma também

boa falange de bracarenses.

Foi a despedida do capitão dos boavisteiros,

o guarda-redes Rafael Bracali - alguém

bastante acarinhado pelos axadrezados e que

anunciou o término da carreira aos 42 anos

de idade -, que fez com que o público da casa

o homenageasse antes, durante e depois da

partida.

Destaque para o bom e regular apoio vindo

do sector visitante. Mesmo após o empate

sofrido nos instantes finais, que acabou

por adiar a confirmação da ida do Braga à

3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões,

55


houve uma boa comunhão entre os seus

simpatizantes e jogadores.

Houve presença de escoceses do Aberdeen

junto dos Panteras Negras, reforçando a

amizade entre ambos (importa salientar

que na semana anterior foi o inverso, ou

seja, boavisteiros a terem ido ao território

britânico).

Nota ainda para o facto de, a meio da segunda

parte, ter havido um reforço do contingente

policial à volta do relvado, através de dezenas

de elementos do corpo de intervenção,

com o objectivo de impedirem uma invasão

de campo, algo que acaba por ser tradição

naquele reduto, nas despedidas de encontros

caseiros em cada temporada. A verdade é

que essa invasão cegou a acontecer, mas

muitos minutos depois do término do

desafio, havendo espaço para momentos

de confraternização entre os aficionados e a

equipa do Boavista.

Festa da subida do Farense | 21-05-2023

Menos de 48 horas depois da tal

importantíssima vitória do Farense no

Seixal, a formação algarvia garantiu mesmo

matematicamente a subida ao principal

escalão nacional, depois do Estrela da

Amadora ter sido derrotado pelo Nacional,

num encontro que foi realizado no final da

manhã de Domingo. Pois bem, a verdade é

que, mal esse jogo terminou, a população

farense saiu às ruas da sua cidade, festejando

durante largas horas. O clube acabou por

programar também as comemorações da

equipa junto dos seus adeptos, algo que

acabou por se estender desde o início da

noite até à madrugada, tanto no estádio

como nos arredores.

Vitória SC x Gil Vicente FC | 21-05-2023

Tarde de festa em Guimarães, que já tinha

garantido na semana anterior uma ida à

Conference League da época seguinte. Quase

23 mil espectadores presentes, havendo

naturalmente um bom ambiente.

No final do jogo, houve uma excelente sintonia

56


do público com a formação vimaranense.

Para além disso, houve ainda espaço para

alguns momentos menos vulgares no próprio

recinto, como troca de cachecóis entre

vitorianos e gilistas ou até de uma camisola

e cartões dados pelo árbitro Manuel Mota a

adeptos que estavam na bancada poente.

AD Ovarense x CF União de Lamas | 21-05-

2023

Uma das maiores rivalidades existentes nas

distritais do nosso país voltou a acontecer e

o que não faltou foi precisamente polémica e

mediatismo, com o jogo a ter sido... suspenso

na primeira parte! O Estádio Marques da Silva

esteve muito bem composto e o ambiente foi

bem “quentinho” nas bancadas, mas não só.

Convém salientar que, também no exterior

do recinto, houve apedrejamento aos Papa

Tinto e a outros simpatizantes unionistas.

Porém, o que ditou a interrupção da partida

foi mesmo uma agressão de um adepto do

emblema de Ovar a Nuno Dias, guarda-redes

dos forasteiros. Este último ficou na baliza

em que por trás se situava o grupo da casa,

os Fans 1921, tendo havido muitas trocas

de provocações entre ele e os ultras que lá

estavam. A dado momento, quando o atleta

se encontrava caído, um apoiante ovarense

entrou no terreno, pontapeando-o. Nuno

Dias ainda se levantou, mas voltou a deitar-se

e só saiu assistido pelos bombeiros.

A verdade é que tudo isto gerou troca de

acusações entre os clubes. A Ovarense,

que vencia por 1-0, queixou-se de um

aproveitamento por parte dos rivais. Já o

Lamas garantiu que não estavam reunidas

condições de segurança.

Sporting CP x SL Benfica | 21-05-2023

Um dos dérbis lisboetas em que mais

expectativas foram criadas dos últimos anos,

muito por causa de o facto do Benfica se

poder tornar campeão nacional em Alvalade

[precisaria de ganhar, para isso acontecer]. A

procura de bilhetes por parte dos encarnados

foi, portanto, bastante grande, esgotando

57


rapidamente os ingressos que lhes tinham

sido destinados e com muitos relatos de

compra de outros a sócios sportinguistas.

Estava prometida alguma tensão, entre

aqueles que de um lado queriam evitar, a todo

o custo, que o grande rival festejasse no seu

estádio contra os que lá queriam comemorar.

Mesmo longe da casa cheia (a assistência

nem aos 40 mil espectadores chegou),

foi sem dúvida um dos clássicos que mais

tensão teve no exterior, com vários pequenos

focos de confusão, muita desorganização

no planeamento das entradas, algumas

tentativas de grupos de chocarem entre si,

etc. Estendeu-se ao próprio estádio, onde um

grupo grande de benfiquistas se aglomerou

na bancada central, encostado ao sector

visitante.

Caos à parte, destaque obviamente para o

bom ambiente vivido durante a partida. Os

milhares de encarnados presentes, apesar

de estarem em clara minoria, tiveram um

grande poder vocal, fruto de estar juntos,

ao invés do apoio sportinguista, que era

mais espalhado pelo recinto. Ainda assim,

os leões até marcaram os primeiros dois

golos, empolgando bastante o público da

casa. O Benfica acabou por empatar, com o

último golo a ser feito nos instantes finais,

provocando o regozijo no sector dos seus

simpatizantes. Não houve campeão, mas

houve um empate que soube melhor aos

forasteiros.

Nota para o facto de o Directivo Ultras XXI

ter cumprido o seu 21º aniversário nesta

semana e, naturalmente, ter prolongado as

celebrações para este dia. Para além de tarjas

no exterior, assinalaram no início do encontro

com uma tochada digna de registo.

58

FC Vizela x Sporting CP | 26-05-2023

Último jogo da época para ambas as equipas,

num encontro que, em termos práticos, já

não contava para nada no plano desportivo.

Ainda assim, estiveram mais de três mil

espectadores em Vizela, contando com um

bom ambiente criado pelos ultras de ambos


os conjuntos.

Do lado da casa, destaque para uma

mensagem de agradecimento, em jeito de

homenagem, a Kiki Afonso, capitão dos

vizelenses, que vai sair após quatro épocas

de ligação ao clube. Quanto aos ultras

sportinguistas, nota para um momento de

pirotecnia por parte da Juventude Leonina

e uma tarja do Directivo Ultras XXI a apoiar

um elemento seu que está a recuperar de um

acidente.

FC Porto x Vitória SC | 27-05-2023

Só um milagre poderia dar o título de

campeão nacional aos portistas e os seus

simpatizantes tinham noção disso. Durante a

semana do encontro, os mesmos partilhavam

nas redes sociais que pretendiam colorir o

Estádio do Dragão de azul e branco, pedindo

incentivos no momento da saída para os

balneários, independentemente do que

acontecesse, uma vez que ainda iriam jogar

posteriormente a final da Taça. Assim o foi,

o Porto venceu confortavelmente, mas não

foi campeão. Os cerca de 40 mil presentes no

Dragão fizeram questão de cumprir o que era

solicitado, estando largos minutos a confortar

todos os jogadores e staff.

Ainda quanto ao que se passou fora das

quatro linhas, destaque também para a

excelente presença vitoriana no Dragão, que

compôs grande parte do sector visitante. Não

se ficaram pelo número, fazendo-se ouvir por

inúmeras vezes, de forma ruidosa, apesar da

desvantagem no marcador.

Foi também notícia a deslocação, sem escolta,

de ultras vimaranenses, pertencentes a

grupos que se situam na nascente inferior. No

total, 48 vitorianos acabaram detidos, antes

do desafio, depois de vários momentos de

tensão com apoiantes portistas.

SL Benfica x CD Santa Clara | 27-05-2023

Jogo do título para os encarnados, quatro

épocas depois da última vez. Não foi,

portanto, de estranhar todo o ambiente

que se criou e viveu nesta última jornada.

59


Procura intensa de bilhetes, estádio cheio,

muita gente espalhada nas imediações,

grandes incentivos na recepção da sua

equipa ao recinto, etc. Durante a partida -

que acabou por ser bastante tranquila, com

uma vitória confortável -, muitos cânticos

e pirotecnia. Mal soou o aguardado apito

final, houve naturalmente muita festa, que

se estendeu até altas horas da madrugada,

nas típicas celebrações que a equipa faz com

os seus adeptos na Praça do Marquês de

Pombal. De destacar imagens espectaculares

da imensidão de pirotecnia criada pelos

benfiquistas na passagem do autocarro no

caminho entre a Luz e o Marquês, bastante

divulgadas até internacionalmente.

Dois dias depois, na 2ª feira, a formação

benfiquista foi recebida, como habitualmente

vem acontecendo quando é campeã, nos

Paços do Concelho, perante mais um grande

aglomerado de simpatizantes que ali se

juntaram para dar azo ao prolongamento da

festa e a novas imagens de registo.

Nota também para o facto de, também sem

grande surpresa, esta conquista ter sido

comemorada um pouco por todo o país.

Houve inclusive abertura de pirotecnia, de

madrugada, na Ponte D. Luís I, no Porto.

SC Farense x CD Tondela | 28-05-2023

Com o Farense já com a subida garantida,

foi o momento dos seus adeptos festejarem

com o seu conjunto também neste derradeiro

encontro da temporada. Houve uma

intensa procura de bilhetes, não sendo de

estranhar que os algarvios tenham atingido

aqui o recorde de assistências desta época

no segundo escalão: 6.017 espectadores,

batendo um registo que curiosamente até era

seu (5.525 espectadores contra o FC Porto

“B”, umas semanas antes).

O dia foi longo para os muitos farenses,

predominado a boa disposição e o convívio

entre eles. A recepção à sua equipa, na

chegada ao estádio, foi bastante calorosa,

com pirotecnia à mistura e o tradicional

acompanhamento dos motards locais.

60


Dentro do recinto, o clima foi naturalmente

de gaudio, com cânticos constantes ao longo

da partida. O Farense venceu por 3-1, nesta

despedida à segunda divisão, aumentando

o rejubilo entre o público e a formação dos

leões de Faro.

SL Benfica x SC Braga | 28-05-2023

Registo para a excelente deslocação dos ultras

bracarenses até ao pavilhão principal dos

encarnados. Várias dezenas de minhotos, que

até chegaram no decorrer da primeira parte,

compuseram grande parte do sector visitante

e criaram um ambiente extraordinário no

apoio à sua equipa de futsal.

Neste primeiro encontro entre ambos,

nas meias-finais do campeonato, não

faltaram também incentivos por parte

dos simpatizantes benfiquistas que,

naturalmente, estavam na ressaca do seu

título de futebol. Ainda assim, foram os

braguistas que ficaram a sorrir, depois de uma

excelente vitória por 1-3. É bom lembrar que

o Braga, durante a fase regular, ficou à frente

do Benfica, faltando apenas jogar em casa

contra as águias, antes de poder atingir, de

forma histórica, a final da competição.

61


62

A ida ao Jamor é sempre um

momento especial, quer seja a primeira ou a

milésima vez. Poder terminar o ano com toda

a família bracarense reunida num momento

de festa é sempre uma excelente ideia.

No final do jogo na Madeira, com

a presença na final praticamente garantida,

a cidade de Braga já não pensava em mais

nada. Apesar de ainda haver o campeonato

para disputar não havia tempo a perder.

Encomendaram-se cachecóis, t-shirts e

autocolantes comemorativos. Foram feitas

encomendas mais ambiciosas e aguardouse

a abertura das bilheteiras. Entretanto,

organizaram-se os autocarros e preparou-se

o farnel para que nada faltasse num dia tão

especial.

Depois de muitos problemas

por parte das entidades organizadoras do

evento, finalmente chegou o fim de semana

da grande final. Nada melhor do que um

emocionante jogo de futsal para aquecer as

gargantas da malta e finalizar os preparativos


para o dia seguinte.

Domingo, seis da manhã, tudo

estava pronto para descer até à capital e

mostrar a raça do povo bracarense. Afinal, os

autocarros chegaram para todos e as geleiras

não couberam todas na mala. A viagem até

Lisboa decorreu tranquilamente, graças à

organização competente que conseguiu

evitar que os adeptos das duas equipas se

cruzassem ao longo do dia. A tranquilidade

manteve-se na autoestrada, pois cada

autocarro emanava um entusiasmo que só

acalmaria quando chegássemos ao Jamor.

Ao chegarmos ao Estádio Nacional,

encontrámos uma cidade longe da sua cidade.

Família, amigos, companheiros de bancada,

todos no mesmo local. Isto é a beleza de uma

ida ao Jamor. E é apenas isto porque o estádio

continua sem oferecer grandes condições

para receber eventos desta envergadura.

Uma tarde quente, um dia que

sabe sempre a pouco principalmente quando

o resultado não é o desejado. Ainda assim,

vale cada segundo pois é o culminar de uma

época de sucesso mesmo que seja apenas

para os adeptos terem a oportunidade de

viver momentos como este.

O regresso a casa foi pesado e

cansativo mas, com a certeza em cada um

de nós, de que tudo foi feito com amor ao

Sporting Clube de Braga.

Por A. Soares

63


64

Um autêntico dia de Verão no

Jamor para mais uma final da Taça de Portugal

onde, como seria de esperar, os adeptos dos

dois clubes afluíram em grande número para

passar um dia de convívio coroado por um

interessante jogo de futebol.

Os adeptos fizeram por chegar

cedo ao local do evento, onde prontamente

montaram os seus postos de comes e bebes

e iniciaram um animado pré-jogo. Um grande

palco na “Fan Zone” mobilizou também uma

grande parte dos portistas que aí passaram as

últimas horas antes do encontro.

No que à vida dos grupos de

adeptos organizados diz respeito, uma

notória falta de organização das entidades

competentes poderia ter originado um

episódio de difícil resolução: quando os

últimos autocarros que transportavam

elementos dos Super Dragões e Colectivo

se preparavam para estacionar no parque

onde já se encontravam os restantes veículos

longos a polícia dá conta, após um demorado

período de espera, de que não existe

espaço para as cerca de quatro camionetas

sobrantes. Estas foram então conduzidas de

novo para a autoestrada, sendo que depois

de percorridos vários quilómetros foi-lhes

indicado que estacionassem num pequeno

terreno adjacente ao recinto ocupado pelos

adeptos bracarenses. Após uma conversa

entre os adeptos e as autoridades foi tomada

a decisão de os deixar ficar nas imediações

do parque onde estava a maioria dos nossos

adeptos. Já dentro da chamada “mata do

Jamor”, uma nota para a elevada quantidade

de elementos policiais à paisana que,

camuflados com os mais diversos disfarces,

iam em busca de quem fosse fazendo a festa

com pirotecnia.

À hora do apito inicial, um grande

ambiente dividia o estádio em duas cores,

prevalecendo o azul sobre o vermelho. Na

bancada Norte, um lençol dos Super Dragões

alusivo ao troféu em disputa animava a

entrada das equipas, acompanhado de


cartolinas, bandeiras gigantes e estandartes.

O Colectivo Ultras 95, apresentando os seus

habituais panos “C95”, dava também um

colorido especial com várias dezenas de

bandeiras pequenas.

Jogo a decorrer e os adeptos

bracar0, numa interessante vibração visual

promovida pelo abanar de várias bandeiras.

As claques do FC Porto também iam

mantendo um apoio regular, atingindo o seu

auge, naturalmente, após o primeiro golo.

A expulsão do jogador portista Wendell,

pouco tempo depois, motivou ainda mais

os bracarenses que até ao momento não

deixavam de apoiar a sua equipa, revelando

uma coesa postura de bancada. Os instantes

que se seguiram à expulsão foram de

apreensão para a generalidade dos adeptos

portistas, levando a uma maior intervenção

dos responsáveis das duas claques a fim

de galvanizar os restantes adeptos. Um

maior apoio acabou por conduzir a equipa

ao segundo golo, imediatamente após a

equipa do Braga ficar reduzida também a

dez jogadores. O golo portista resultou num

bonito momento de euforia onde ficou

manifestada a união, já há muito evidente,

existente entre jogadores e adeptos. Digna de

destaque foi também a tochada levada a cabo

pelos Casuals Porto, algo que foi sucedendo

ao longo da época de forma bastante cuidada

mas ao mesmo tempo impactante.

Terminado o jogo, a festa foi azul

com os grupos a aproximarem-se o mais que

podiam do relvado, estando diante deles um

aparato policial digno de cenário de um filme

norte americano. Se todos concordamos que

a garantia da segurança é algo inquestionável

neste tipo de eventos, deveríamos talvez

pensar o que de tão grave poderia ter

acontecido se os adeptos portistas tivessem

estado mais próximos dos jogadores do seu

amado clube, num momento festivo.

Após a habitual demora no arranque

dos autocarros, o veículo que transportava o

Colectivo foi alvo de uma avaria mecânica,

chegando mesmo a pegar fogo. Durante o

tempo de espera por um novo autocarro, na

qual a ajuda prestada pelos Super Dragões

foi essencial, o grupo manteve-se na berma

da estrada, sem no entanto perder a boa

disposição e o espírito de confraternização. O

novo autocarro acabaria por chegar cerca de

uma hora depois.

Com a viagem a menos de metade

é a vez da camioneta onde seguiam membros

dos Super Dragões avariar, tendo alguns

elementos que entrar na camioneta do

Colectivo. Este tipo de episódio, não sendo

de forma alguma novidade no seio dos ultras

portistas, é assim revelador das boas relações

que se vivem entre os dois grupos.

Estes adeptos, chegados à Invicta

por volta das 3h, horas antes do início de

uma semana de trabalho - deram então

por terminada mais uma época onde ficou

provado, por parte dos Ultras Porto, um fiel

acompanhamento da equipa ao longo de

todo o ano. A Supertaça a discutir com o

principal rival no início da próxima temporada

marcará o recomeço de tudo, outra vez.

Por G. Guimarães

65


“Toda semana a pensar no dia em

que vou ver o mágico a jogar”, a ansiedade

pelo dia de jogo... “Não imaginas a alegria

quando chega o dia de te ver jogar”, a alegria

de viver o momento... “Eu largo a família para

te apoiar”, o sacrifício... “Eterno amor da

minha vida”, a declaração... “Vence por nós,

ouve a nossa voz”, a comunhão com a equipa

na luta pela vitória... “E um dia, quando eu

morrer, eu vou lá estar, a teu lado a cantar”,

a fidelidade que se pretende perpetuar...

Palavras fortes, expressadas com emoção,

mas com diferentes significados para os

diversos difusores que as propagam a partir

das bancadas. Eu sou um deles e, agora, com

a cabeça fria, a sentir menos palpitações e

adrenalina, reflito sobre a influência que a

vida de adepto teve e tem em mim.

Cedo me apaixonei pelo Futebol, um

carinho hereditário. Sonhava em ser jogador

quando fosse grande e, inconscientemente,

isso influenciou-me em muita coisa, desde os

joguinhos com amigos da rua, da escola, do

trabalho dos meu pais, até hoje. Julgo que um

dos primeiros desejos e decisões que tomei

em relação à minha vida foi jogar Futebol

de formação. Tudo aquilo que vivi e aprendi

com os senhores que nos ensinavam a tocar a

bola e a pensar o jogo, bem como a lidar com

a vida, incutindo-nos valores e princípios,

complementou a educação que era me

passada em casa. O balneário foi fundamental

para o desenvolvimento da minha forma de

estar nas relações interpessoais. Esta é uma

experiência que se assemelha à Escola, pelo

acolhimento, pela introdução da vida em

comunidade, pela partilha de conhecimento,

pelo desenvolvimento de capacidades.

Importa referir que o Futebol é o

desporto-rei mundial e que afecta a cultura

portuguesa há mais de um século. Contudo,

há teorias divergentes em relação a isso. A

que mais ouvi falar é a de “Portugal dos três

F’s: Fátima, Fado e Futebol” do Estado Novo.

Em contraponto, há quem se prontifique

em desmistificar essa teoria em estudos

da História. Certo é que, desde pequenino,

quando conhecia alguém, muitas das

pessoas perguntavam: “De que clube és?”.

Que influência tem o clube em mim? Que

influência tem o meu gosto clubístico nos

demais?

Tive o privilégio de representar

o clube do meu coração na formação e

esse mesmo privilégio contribuiu para que

agora pudesse considerá-lo desta forma. A

família levou-me a conhecer o clube, o clube

levou-me a conhecer muito mais sobre a

comunidade em que estava inserido e, por

consequência, a considerar e a admirar muito

66


mais a cidade em que nasci. Isto tudo junto,

contribuiu para um aprofundamento histórico

da minha terra, dos seus cantos e recantos,

dos seus monumentos, da sua simbologia.

Passei a idolatrar os meus conterrâneos

antepassados, a sentir-me próximo de quem

não conheci pessoalmente, mas que em

certos actos pareceram-me modelos a seguir,

pela forma altruísta, enérgica, sacrificada

com que trabalharam pelos seus, pelo povo,

pela cidade e/ou pelo clube.

A identidade e a cultura de um

clube está dependente da comunidade e,

acredito, que os mais expressivos difusores e

defensores do ser “x” são os grupos de apoio,

os grupos ultras. Os membros deste tipo de

grupos estão somente (ou não) ligados a uma

entidade (o clube) e depois de forma mais

jogo de forma mais intensa, sempre de olho

no que o meu grupo, o grupo do adversário

e outros grupos (que possivelmente

pudéssemos encontrar) podíamos e iriamos

fazer. Acontece que a minha entrada no

grupo coincidiu com um período em que

vivia sozinho, porque os meus pais e irmão

estavam deslocados. Isto também fez com que

encontrasse naquele contexto uma espécie

de porto de abrigo, uma segunda família. Ali

muito me foi passado por algumas pessoas

mais velhas, que se foram tornando modelos

a seguir. Valores e princípios eram debitados

e também demonstrados em actos. Muito

aprendi com os actos dos outros, dentro e

fora da bancada. O mau exemplo também é

bom para crescer. O companheirismo que ali

se fomenta é algo extraordinário e desenvolvi

homogénea/fechada ou heterogénea/aberta

compõe aquilo que é a identidade e a cultura

do grupo de apoio. Eu fui cativado pelo grupo

de apoio do meu clube e, já antes, tinha sido

cativado pelo apoio de grupos de outros

clubes. O que despertou o meu interesse foi

algo que se torna superficial aos olhos de

quem passa a viver o grupo activamente por

dentro.

Com o envolvimento num grupo

de apoio, “abri a caixa de Pandora”. Esta

experiência deu-me a conhecer males,

mas sobretudo muita coisa boa. A primeira

influência afectou a minha forma de estar na

bancada, sendo que deixei de observar tanto

o jogo para focar-me no apoio incondicional à

equipa. Mais tarde, comecei a viver o dia de

amizades que levo para a vida, que me

fizeram compreender o que são amizades de

verdade, que me fizeram valorizar as atitudes

certas. Aprendi ainda com os meus erros,

embora, às vezes, o fervor excessivo consiga

toldar-me o raciocínio, levando-me a errar

novamente. Voltando ao campo das relação

interpessoais desenvolvidas na bancada,

posso acrescentar que foi ali que comecei a

desenvolver a relação de amor com a minha

namorada.

Após os primeiros tempos, quis

estar cada vez mais presente nos jogos de

várias modalidades, muitas vezes sacrificando

e prejudicando as relações com a família, os

amigos e as namoradas, os estudos ao longo

dos anos. Quantas vezes deixei de lanchar

67


na escola ou não gastei dinheiro em roupa,

calçado ou futilidades para poder pagar

deslocações? O retorno foi enriquecedor.

Atrás do meu clube, viajei e viajo por todo

Portugal, conhecendo muitos novos lugares.

Hoje tenho a possibilidade e privilégio

de viajar com alguma regularidade para

o estrangeiro, aproveitando períodos de

férias para conhecer, pelo menos, o campo

ou estádio “x” ou até mesmo de viajar para

ver o jogo “y”, com o foco de interesse nos

grupos de apoio presentes. O desempenho

profissional também foi afectado pela vida

ultra, pois uma vez que se vive em torno do

clube, muitas vezes prejudiquei-me, com

faltas injustificadas, atestados médicos, trocas

num blog dedicado ao clube, administrado

por mim. Logo senti consequências disso,

com convites para pertencer à estrutura

do clube e, à posteriori, silenciar a minha

opinião. Acontece que o meu clube foi

sendo influenciado pela política autárquica,

o que me ofereceu a oportunidade de,

por vezes, debater ideias com políticos e

perceber a podridão que a maioria deles

representa, bem como de muita gente que

andou pela direcção e SAD do meu clube.

O movimento ultras também contribuiu

para uma melhor compreensão da política

internacional, pois há grupos de apoio muito

politizados, o que me levou a aprofundar

conhecimentos de contexto sociais em que

68

de folgas e de turnos, dias de férias à última

da hora... O facto de preferir um emprego

menos remunerado, mas que me possibilita

ter o fim-de-semana disponível para o meu

clube, também foi algo que pesou na minha

vida.

Com mais participação no dia-a-dia

do clube e do grupo, tornei-me uma pessoa

mais interventiva, mais preocupada, mais

destemida, rebelde e até violenta. Despertei

para o caráter social do desporto, para o

que foi idealizado o meu clube e o seu papel

comunitário no presente. Desde tenra idade

partilhava as minha ideias e convicções

estão envolvidos. A questão da luta contra

a excessiva comercialização do Futebol

também foi importante para perceber que as

confederações que regulam o jogo, os grupos

privados de influenciadores económicos

e políticos e os governos se relacionam

intimamente. A minha dimensão política

também foi e é afectada pela repressão,

especialmente gerada pelo governo, a

polícia e pelas entidades que gerem o

desporto. Abriu-me os olhos para a forma

como estas entidades, muitas vezes aliadas

à desinformação passada pela comunicação

social, prestam um péssimo serviço ao povo


português, revertendo as finalidades para as

quais foram criadas.

A minha “veia artística” veio à

tona com a participação na elaboração de

coreografias. Passei a pintar panos, frases,

coreografias, bem como a pensá-las. A

criatividade para idealizar e desenhar, o

improviso para suplantar as dificuldades

que surgem ao longo do processo, o

conhecimento para conseguir juntar e

usar vários equipamentos que me eram

desconhecidos... Transportei com os meus a

arte ultra para as paredes das ruas, de forma

a tornar a simbologia do clube mais visível à

comunidade. Além disso, explorei caminhos

da literatura, com a leitura de livros, um

hábito que não tenho e, sinceramente, só leio

sobre adeptos ou Futebol. Passei a escrever

em blog sobre o movimento ultras e, hoje,

tenho orgulho em fazer parte da Cultura de

Bancada e poder dizer que editei um livro

deste âmbito. Também focado na história e

no que é ser adepto do meu clube, organizei

a elaboração de um documentário amador,

que contou com a participação de 29 adeptos

convidados. Tudo isto são trabalhos realizados

em áreas que não tinha imaginado explorar e

que através deste amor ganhei motivação e

gosto para me aventurar.

Este modo de vida influencioume

noutras questões, que entendo serem

mais superficiais. No estilo de roupa a

vestir, tenho sentido isso nos últimos anos.

Também conheci outros elementos culturais,

como bandas de música, inspirados neste

âmbito. Mas estas questões comparadas ao

carrossel de sentimentos que é viver um jogo

ou uma época do meu clube, é quase que

insignificante para mim. Euforia, adrenalina,

ansiedade, alegria, tristeza, resiliência

e resistência... O que esta vida nos dá é

transcendente e, por isso, cantarei “Só por ti

quero viver, só por ti quero morrer”, passando

por “Na bancada a cantar, vou resistir, jamais

nesta vida irei desistir”, com a humildade nos

actos de ser “Nem melhores, nem piores...

Apenas diferentes”. Não há perfeição, não

somos “Nem santos, nem criminosos” e é

necessário compreender o que nos rodeia

e agir, pois “Resistir é vencer”. O caminho

levou-me à expansão de horizontes, a sair

da minha zona de conforto e ver que “Essere

ultras esserlo nella mente”, que “Il nostro

Ideale non si cancella con la repressione” e

que “Prima di tutto noi... Prima di tutto gli

ultras”. Eles também estão lá para mim e

juntos estamos cá pela cultura de adepto.

Por L. Cruz

69


70

Por volta de Março, a hipótese de

o Toulouse conseguir marcar presença na

final da Coupe de France começou a revelarse

cada vez mais possível. Em Abril, após

um sofrido jogo das meias-finais, o cenário

tornou-se realidade. Além de ser uma final

contra um grande rival, seria a primeira em

décadas para o clube. Com isto, e já com

poucos dias de diferença a influenciar o preço

dos voos, decidimos marcar a viagem. Iríamos

viajar diretamente para Paris, fazendo depois

a transferta de regresso a Toulouse com os

ultras, regressando depois para Portugal.

À chegada a Paris, já não nos

encontrávamos nas melhores condições,

dadas as poucas horas de sono que conferem

os voos de madrugada, mas devido ao facto de

os nossos colegas franceses se encontrarem

no Stade de France a preparar a coreografia

(para isto partiram mais cedo de Toulouse,

os autocarros dos restantes adeptos apenas

chegariam poucas horas antes do jogo),

tivemos algum tempo livre para visitar a

cidade. Foi por aqui que recebemos a notícia

de que membros dos Auteuil do PSG estariam

pela cidade à procura de ultras/hooligans

do Toulouse. Isto porque os hooligans do

Toulouse mantêm uma forte amizade com

a Kop of Boulogne (também do PSG) e

estes, como é bem sabido, têm uma relação

de muito atrito com o referido grupo do

mesmo clube. No estádio, do outro lado da

bancada, estariam os adeptos do Nantes e a,

também conhecida, Brigade Loire. Embora a

rivalidade não se estenda muito aos adeptos

ditos “normais”, é muito sentida pelos ultras,

devido ao facto de a Brigade Loire gozar com

a morte de Brice Taton, ultra do Toulouse

morto pelos adeptos do Partizan. Ainda esta

época, aquando da deslocação dos Indians

à casa no Nantes, encontraram, na casa de

banho do sector visitante, um desenho de

um homem a cair com a inscrição “Attention

Brice”, numa clara referência à tragédia.

Tendo isto tudo em conta, estava

dado o mote para o que seria um dia de

tensão.

Chegadas as 16h, dirigimo-nos para

o local anunciado pelos ultras do Toulouse

para a concentração dos adeptos. Anúncio

este feito exatamente com a mesma imagem

usada pelo anúncio da Brigade Loire, apenas

escrito por cima, em tom de provocação.

Fomos

imediatamente

reconhecidos. O ambiente que se vivia era de

muito êxtase, com muita pirotecnia à mistura,

enquanto se convivia e bebia. Aquando uma

última reunião de preparação para o tifo, com

todos os ultras, alguns elementos da polícia


começaram a correr em direção à entrada

do parque onde nos encontrávamos. Isto

levou a que toda a gente corresse na mesma

direção, com os polícias que não tinham sido

“chamados” a ficarem impávidos e serenos no

mesmo local, deixando toda a gente correr.

Tinha-se dado uma tentativa de ataque dos

Auteuil, que não resultou em nada.

Chegando os cerca de 50

autocarros do clube, foi dado início ao cortejo

em direção ao estádio, com quase 3 horas

de antecedência, para que nada falhasse na

coreografia. Um cortejo com cerca de 20 mil

pessoas a acompanhar os Indians, repleto

de tochas e RGBs. O maior choque cultural,

até ao momento, era mesmo o tratamento

da polícia. Tratavam qualquer um com

educação, não respondiam agressivamente

quando alguém não cumpria as ordens e,

mesmo tendo em conta a animosidade do

jogo, a sua presença não era exagerada nem

ameaçadora. Assistimos até a um adepto,

já com os copos, a dar socos no escudo de

um polícia, que apenas se riu e pediu para o

mesmo parar.

A entrada no Stade de France

decorreu sem problemas, com destaque

apenas para os 3 (!) pontos de revista

até entrar na bancada. Deve-se isto aos

problemas ocorridos no mesmo estádio, na

final da Liga dos Campeões do anterior. Já

dentro da bancada, restava-nos aguardar

pelo início do jogo.

Na entrada das equipas,

coreografias de ambos os lados aqueceram

o ambiente, com os Indians a exibir um tifo

alusivo ao Capitólio, ponto central da cidade,

com plásticos roxos e brancos a cobrir o

resto da bancada e com duas frases nos

lados, onde se podia ler “Ramenons-la sur la

place”. Do lado do Nantes, um pouco aquém

do esperado, apenas uma coreografia com

cartolinas onde se podia ler “On est Nantes

putain!”, o slogan da Brigade Loire. Houve

espaço, no entanto, para uma impressionante

tochada, onde a experiência da Brigade se fez

notar, com a distribuição uniforme de tochas

por toda a bancada inferior, marcando assim

o início do jogo.

Dentro de campo, o Toulouse

entrou em força e, logo aos 4 minutos de

jogo, o cabo-verdiano Logan Costa, de cabeça,

abriu o marcador. À passagem do minuto 10,

mais um cruzamento e… Costa de novo, a

bisar na partida. O central, pouco utilizado

na liga francesa, a eternizar o seu nome nos

anais da história violeta e a loucura total

na bancada. Minuto 23, bola nas costas da

defesa do Nantes e Dallinga a picar por cima

do guarda-redes, 3-0 e a loucura transformase

em lágrimas de alegria dos adeptos do

Toulouse. O sonho estava vivo e perto de se

realizar. O 4-0, outro de Dallinga aos 31, a

aproveitar uma má defesa do guarda-redes

do Nantes, trouxe ainda mais tranquilidade a

um jogo já praticamente resolvido.

Acabando a primeira parte, foi

exibida uma tarja pela Brigade Loire a criticar,

pelo que conseguimos entender, o presidente

do clube. Estaria, talvez, planeada para uma

eventual derrota, mas encontrou um timing

ainda melhor.

Assim, durante o intervalo, era

novamente altura de preparações. Ao apito

do árbitro, foi exibido um tifo a cobrir a

bancada inferior do Toulouse, seguido de uma

grande tochada, que apenas ficou aquém

porque os ultras não se espalharam tanto na

71


bancada. Por isto, apesar do enorme número

de tochas, as mesmas pouco se fizeram notar.

Do outro lado, resposta dos ultras do Nantes,

com nova tochada, a cobrir toda a bancada. A

experiência a falar mais alto.

Algures a meio da segunda parte,

nova tochada da Brigade Loire a desviar as

atenções do relvado, que já se tinha tornado

aborrecido dado o resultado do jogo. Ao

minuto 75, falta na área do Toulouse, e Blas

que as partes do estádio vestidas de amarelo

iam abandonando o recinto. A entrega da

taça foi, primeiro, feita na tribuna, pois

havia um receio generalizado de protestos

contra o presidente Macron (foram também

colocadas grades nas bancadas traseiras

por este motivo. Estava ainda planeado um

protesto contra o presidente, com apitos

e cartões vermelhos, mas os apitos foram

proibidos e os cartões tiveram pouca adesão),

72

a reduzir para os canários, dando alguma

esperança duma reviravolta à equipa, logo

frustrada por um golo de antologia de

Aboukhlal aos 79’, repondo a vantagem de 4

golos.

Chegava o final do jogo e, com ele,

o momento mais esperado: a confirmação do

vencedor. Delírio da bancada sul, enquanto

e, depois, feita novamente no relvado, perto

dos adeptos. Comunhão entre adeptos e

jogadores, e, para terminar, um belíssimo

espetáculo pirotécnico, combinado com o

sistema de luzes do estádio. A anos-luz do

que é visto no Jamor todos os anos, seja em

organização, espetáculo ou, até, condições

mínimas... Após este momento, aproximava-


se a hora de ir embora.

Os ultras foram os últimos a

abandonar o estádio, depois de arrumar todo

o material: faixas, bandeiras, estandartes,

panos, megafones, tambores e ainda colunas

e microfone (!). Algo que parece saído

completamente de outro planeta, para quem

vem de Portugal. Outro exemplo disto, é o

facto da Brigade Loire ter disponível no seu

site todas as medidas do sector visitante do

auto-estrada, estávamos por nossa conta até

ao sul do país. Para quem o costuma fazer, foi

uma transferta não muito diferente ao que

estamos habituados em Portugal, dentro do

autocarro. Nas estações de serviço, devido ao

desinteresse da polícia, não havia leis.

Chegados a Toulouse por volta das

10 da manhã, alguns com poucas horas de

sono, outros com nenhuma, a maioria dos

membros aproveitou apenas para ir a casa

seu estádio, para qualquer adversário.

Restava-nos uma viagem de

aproximadamente 9 horas até Toulouse,

que acabaria por demorar cerca de 10,

dadas as paragens. Outro factor de surpresa,

apenas 2 motas da polícia acompanharam os

autocarros até à saída de Paris, e apenas para

auxiliar no trânsito. Assim que entramos na

tomar um banho, e voltar para um almoço de

grupo. Seguia-se, às 18h, a celebração oficial

no Capitólio. Um momento bonito, com o

novo cortejo organizado pelos ultras, mas

sem grandes momentos de destaque.

Foi assim, altura de nos dirigirmos

ao aeroporto e dar por terminada a viagem.

Por M. Ribeiro e D. Fontão

73


DE NOVO NA PATRIA DOS ULTRAS

Com a Páscoa programada para

ser passada em Itália, desta vez o destino

foi Bergamo (uma vez mais!). O intuito era

passear e, como não poderia deixar de ser,

assistir a um jogo. Nesse fim de semana a

Atalanta jogava em casa contra o Bolonha.

Aproveitamos para ver e rever

velhos amigos e, como sempre, fomos muito

bem recebidos. Desta vez tivemos o privilégio

de conhecer a renovada bancada Nord.

Aquando da nossa primeira visita a Bergamo

a antiga bancada Nord transmitia uma mística

cheia de história. Agora, vemos uma bancada

moderna, onde de certeza uma nova história

se vai escrever, contudo a mística da antiga

bancada irá sempre prevalecer.

Com a nova bancada, e sendo esta

coberta, a acústica ficou favorecida, o que

foi notório durante todo o jogo. No que se

refere aos acessos, os mesmos foram muito

melhorados. Lá dentro podemos apreciar

alguns (ainda poucos) graffitis alusivos aos

Ultras e é possível encontrar a banca de

material Ultra.

No que diz respeito ao jogo, viu-se

um estádio completamente lotado, com um

apoio constante tanto da Curva Nord como

da Sud. Bolonha, que também esteve à altura,

com uma bancada bem composta e um bom

apoio à equipa, que se acentuou bastante

quando os mesmos ficaram em vantagem.

Os adeptos da Atalanta

continuavam a apoiar para ajudar a dar a

volta ao resultado, mas, com o segundo golo

do Bolonha, o estádio ficou num silêncio

sepulcral. Entretanto, termina o jogo com a

74


vitória do Bolonha que fez a festa.

Foi uma deslocação muito

produtiva onde fizemos novas amizades,

trocamos ideias e tivemos um convívio

fantástico que ficará para sempre nas nossas

memórias.

Verificamos no jogo da Atalanta a

presença dos Ultra Ternara na curva Sud, os

quais jogariam no dia seguinte contra o seu

rival Bréscia. Nunca tínhamos assistido a um

jogo da Liga B e estando a uma curta distância

de Bréscia decidimos ir ver o jogo.

bancada lateral onde se encontra outro

grupo Ultra. Chegados à Nord encontramos

uma banca de material Ultra fora do estádio,

depois de alguma conversa e de ter visto

todo o material cada um seguiu para a sua

bancada.

Feita a revista finalmente chegamos

à curva. Tivemos que ficar na superior uma

vez que a inferior estava completamente

lotada. Haveria cerca de 5 mil adeptos

no estádio, pois o facto de o Bréscia não

vencer há mais de 6 meses tinha causado

muito descontentamento e afastamento nos

adeptos.

Do Ternara não houve uma grande

adesão à deslocação, contando apenas com

Estando o Bréscia a lutar pela

permanência na divisão verificamos, logo que

chegamos ao estádio, o descontentamento

dos Ultras para com a direção numa tarja

colocada à entrada no estádio. Após a

aquisição dos bilhetes decidimos almoçar nos

arredores do estádio num estabelecimento

onde tínhamos visto movimento. Lá iríamos

fazer tempo para o início do jogo e encontrarnos

com um “amigo” que até à data só

conhecia devido ao colecionismo. Ele tifa

Milan, mas como estes têm amizade com os

do Bréscia, era também um motivo para ir ao

jogo.

Após alguma conversa com algumas

“birras” à mistura lá nos encaminhamos para

o estádio. Ele fez questão de nos acompanhar

até à curva Nord, sendo que ele iria para a

cerca de 100 adeptos (se tanto!). Talvez a

longa distância entre cidades não tenha

ajudado!

Apesar da má situação do clube o

apoio por parte dos adeptos do Bréscia foi

muito bom. Durante 90 minutos apoiaram

a equipa afincadamente, provavelmente o

facto de terem marcado golo 5 minutos após

o início do jogo tenha ajudado neste apoio.

A tão desejada vitoria do Bréscia

finalmente aconteceu, o que levou os

adeptos a acreditarem na permanência. Ao

abandonar a bancada um adepto diz-nos

fervorosamente “Ragazzi non vinciamo da 6

mesi”. E assim terminou mais uma aventura

por terras italianas. Esta viajem fez-me ver,

ainda mais, que o melhor que a bola nos dá

são as amizades.

Por Manuel Oliveira e Filipa Liquito

75


MODENA FC X PARMA CALCIO

Há semanas que aguardava

ansiosamente a marcação deste jogo. Quando

finalmente chegou o dia fui surpreendido

mas, também, fiquei muito feliz. Sexta-feira à

noite, iluminação e duas franjas de adeptos

cujas cidades estão apenas a 60 km de

distância uma da outra. Cheguei de comboio

e, logo ao desembarcar, o cheiro familiar da

pirotecnia chegou-me às narinas. A estação

ficava imediatamente ao lado do estádio. O

que me espera aqui?

Quando cheguei à rua a cidade

parecia deserta. A polícia havia fechado todas

as ruas e um helicóptero circulava no céu.

Passando por inúmeros autocarros a polícia

deu-me indicações para seguir em direção

ao Parque Arqueológico Novi Ark. À primeira

vista isso não significa nada para a maioria das

pessoas mas, a bancada que está localizada

no parque, foi o local marcado pelos Ultras

do Raja os quais seriam expulsos pelos Ultras

locais de Modena. Chega de turismo.

Cerca de uma hora antes do início

do jogo chegamos ao estádio e ainda havia

muitos Ultras na rua em frente à curva.

Enquanto isso, no sector visitante, eles já

76


estavam ocupados preparando a coreografia.

Com a aproximação do apito inicial, a curva

da casa também se encheu e de ambos os

lados podia-se ouvir o que cada um pensava

do outro.

Os “Boys” de Parma mostraram

uma coreografia de papel no azul e amarelo

no início do jogo. Do lado do Modena,

que foram apoiados pelos seus amigos de

Veneza, foram exibidas bandeiras duplas e

estandartes. Além disso, em ambos os lados,

alguma pirotecnia durante o jogo. Vale a pena

mencionar que, após o 1 a 0 para Modena,

uma tocha foi atirada para o relvado. Este

epísódio não pareceu incomodar ninguém

e o jogo continuou. Apenas dois minutos

após o 1 a 0 e ocorreu o empate, que acabou

sendo o resultado final da partida.

Nas bancadas, estava à esperava

de mais. No entanto, a curva da casa ainda

teve um melhor desempenho e, em alguns

momentos, conseguiu contagiar o resto do

público. No sector visitante, por outro lado,

raramente se conseguiu um bom impacto

e chamou mais atenção pelos movimentos

visuais do que pelo volume.

Depois do jogo, fui rapidamente em

direção à estação onde um monte de adeptos

de Parma ainda esperava sua partida na linha

do lado.

Por Patrick T.

77


NO TRILHO DOS HISTÓRICOS

78

Já aqui foram anteriormente

relatadas inúmeras histórias, em torno

dos caminhos sinuosos, que alguns clubes

históricos do futebol português tomaram.

Neste final, desta longa época 2022/23,

escreveram-se mais alguns capítulos nas

histórias destes clubes - umas de sucesso e

outras de insucesso.

A mais mediática e empolgante

é a do Belenenses, que continua a subir

degraus nos escalões competitivos do futebol

português época após época, depois de ter

sido empurrado para o abismo. O emblema

do Restelo disputou esta época uma

competitiva Liga 3 cruzando-se com outros

emblemas históricos como a Académica,

Vitória de Setúbal e Leiria. Este último,

faria companhia ao Belenenses na subida

à II Liga e disputaria o título de campeão da

Liga 3, num jogo marcado para o Estádio

Nacional, no dia 19 de Maio. O entusiasmo

revelado pelos adeptos das duas equipas

ao longo da temporada fazia adivinhar uma

excelente mobilização de ambos os lados. E

assim foi, com cerca de 15 mil adeptos (10

mil belenenses, 5 mil leirienses) a marcarem

presença no Jamor. A romaria própria destes

eventos começou cedo, com os adeptos

das duas equipas a animarem as respetivas

áreas de convívio com muita música, comida

e bebida. À medida que se aproximava a

hora do jogo, as bancadas começaram a

ser ocupadas, percebendo-se logo que os

adeptos do Belenenses estariam em maioria.

Apesar da boa moldura humana por parte dos

adeptos leirienses esperava-se uma presença

mais numerosa neste jogo decisivo, tendo em

conta a campanha feita pelo clube junto das

gentes da cidade.

Em relação aos grupos de apoio,

assinale-se a já “habitual” proibição de

colocação das suas faixas, o que não encaixa

muito bem no discurso de “dar cor à festa”

por parte das entidades do futebol. A Fúria

Azul, que ocupou o topo norte, apesar das

inúmeras restrições conseguiu organizar uma

coreografia exibindo um lençol e o símbolo

do clube, acompanhada pela frase “Rumo

ao Nosso Lugar”. Durante o jogo, coloriram

o topo norte com inúmeras bandeiras,

cachecóis e frases. Foram incansáveis no

apoio à equipa ao longo dos 90 minutos,

mesmo com o resultado desfavorável desde

o início do jogo, contagiando os restantes

adeptos azuis. Do lado oposto, um número

considerável de elementos da Armata Ultras

ocupou um sector no topo sul mas, ficando

ligeiramente afastados dos restantes adeptos,


acabaram por não conseguir espalhar o seu

entusiasmo aos restantes sectores. Privados

das faixas e impedidos de realizar a sua

coreografia, coloriram o sector com os seus

panos e com bandeiras distribuídas pelo

clube. No final, a festa da vitória seria feita

pelos adeptos do Leiria que estenderiam os

festejos pela noite dentro, já na sua cidade.

Fica a certeza de que, para o ano, teremos

bancadas mais preenchidas e coloridas na II

Liga.

No sentido inverso, o Vitória

FC desceu ao Campeonato de Portugal

prolongando o pesadelo vivido pelos

seus adeptos nos anos mais recentes. Se

as vitórias puxam pelas pessoas para o

estádio, as derrotas tendem a afastá-las e,

em Setúbal, vê-se claramente uma cidade

de costas voltadas para o seu clube mais

representativo. Quem nunca deixou de estar

ao lado da equipa foram os seus grupos,

o VIII Exército e Grupo 1910, que de forma

separada e distinta marcaram presença em

todos os estádios em que o Vitória FC jogou.

E foi no distrito de Setúbal que

o Farense celebrou o regresso à I Liga, dois

anos depois após última passagem, na qual

não pode contar com o forte apoio dos seus

adeptos devido às restrições impostas pela

Covid19. A cidade do Seixal foi invadida por

um milhar de adeptos farenses, os quais

tiveram de esperar pelo último minuto do

jogo contra o Benfica B para celebrarem o

golo da vitória, que viria a confirmar a subida

do clube de Faro ao escalão máximo do

futebol português.

Outro histórico algarvio, o

Olhanense, teve sorte distinta e desceu aos

distritais pela primeira vez em 111 anos de

história. Este foi o resultado de mais uma

relação tumultuosa entre uma SAD e um

clube, da qual saem prejudicados os adeptos

desta cidade apaixonada por futebol. Num

futuro cheio de incertezas, o maior desafio

será reconquistar o coração dos adeptos.

O Atlético CP, histórico que também viveu um

conflito recente entre SAD e Clube, carimbou

no início de junho a subida à Liga 3. Aos

poucos o clube tem vindo a reconciliar-se com

as gentes de Alcântara, que irão certamente

voltar à Tapadinha em busca de reviverem a

glória de outros tempos.

79


DE VOLTA ÀS COMPETIÇÕES PROFISSIONAIS

10 anos passaram, 10 anos de luta

e dedicação na maior parte das vezes sem luz

ao fundo do túnel.

Em primeiro lugar, há que perceber

que, ser adepto da União Desportiva De Leiria

não é para todos. É preciso viver o futebol de

forma genuína e verdadeira. Poucos sabem

o que é lidar com o tremendo fosso de

realidades que nós, os verdadeiros unionistas,

lidamos ao acompanhar esta instituição.

Falo de verdadeiros Unionista, pois

vivemos tempos de abundância, batemos

records de assistências, lideramos de forma

destacada esse campo na liga 3. Entramos

até para o top de assistências de todas as

competições profissionais, mas ainda há

um caminho longo para que muitos destes

adeptos se possam afirmar como verdadeiros

amantes desta instituição.

As políticas implementadas pela

atual direção estão a aproximar a população

do clube mais representativo da sua cidade

e, neste momento, é com muito orgulho que

vejo cada vez mais jovens a viver a mística do

nosso clube, a transportar o símbolo ao peito,

mesmo quando não há jogos, de segunda a

domingo. Esta é a nossa verdadeira vitória,

este deve ser o verdadeiro foco.

Não podemos mudar velhas

mentalidades (Ou falta delas!) não podemos

pedir a um estarola que de um dia para o outro

seja 100% Unionista, mas podemos incutir

nos nossos jovens o verdadeiro significado

de apoiar o clube da sua cidade, o clube que

realmente os representa, a instituição que

faz algo pelo desporto, por nós e por toda a

nossa região.

Essa será sempre a maior vitória

que podemos ter.

Sobre a nossa tão desejada subida

de divisão, foram muitos anos a “morrer na

praia”. Este ano a Liga 3 foi a mais competitiva

de sempre, com clubes cheios de história e

ambições. Dá um gosto especial subir quando

a dificuldade se elevou e conheceu novos

patamares. Uma competição repleta de

história pelos clubes que a representaram,

de adeptos fiéis e ultras que ainda conhecem

o verdadeiro significado da palavra. Ao

fazer uma análise cega às competições diria

até que, em comparação com a liga 2, se

encontrou mais valor na atual liga 3.

É difícil ou quase impossível definir

sentimentos que descrevam o momento.

80


Quando tocou o apito final contra o Braga

foram muitas as emoções que vieram à tona,

lembro-me de olhar à volta, meio apático, e

apreciar simplesmente o meu redor. É uma

sensação incrível aquele misto de sorrisos e

lágrimas. Só posso agradecer a todos os que

lutaram desde o primeiro minuto, que nunca

abandonaram o clube e foram genuinamente

fiéis à instituição.

Agradeço a todos aqueles que

acompanharam o clube para todo o lado, que

fizeram dezenas de milhares de quilómetros,

que viveram a sua vida em prol da nossa

mágica.

Com a chegada às competições

profissionais, cresce também a ambição. O

alvo é agora a primeira liga, todas as armas

vão estar apontadas a um objetivo comum

que passa pelo crescimento sustentável

aliado ao sucesso desportivo.

Não vai ser fácil, enquanto adepto

espero pelo aumento da repressão, espero

também a redução substancial do número

de adeptos, fruto dos horários indecentes,

espero uma luta intensa contra a violência

que qualquer adepto sofre para seguir o seu

clube.

Mas os verdadeiros lá estarão

para lutar afinal, hoje em dia e de forma

generalizada, ser fiel adepto deste desporto

não é para quem pode é para quem realmente

quer!

Por Rui Quinta

81


CULTURA

DE ADEPTO

Por P. Alves

82


Navijaci

Internacional

Navijaci

Autor: Piotr Jaworski

Equipa:Várias

Ano: 2020

Páginas: 610

Preço: N/A

Os Balcãs são considerados por muitos um

dos últimos refúgios do movimento Ultra no

seu estado mais puro. As guerras civis ainda

recentes, as lutas entre máfias e os fluxos

migratórios fazem deste território um dos

mais férteis a nível de heterogeneidade no

apoio nas bancadas.

Foi esta miscelânea que o autor tentou

documentar ao longo de mais de 610 paginas

tentando retratar mais de 250 grupos que

residem nestas paragens.

A cada 2-4 páginas, o autor dedica alguns

parágrafos a um grupo, mostrando algumas

das melhores imagens da sua história, falando

da fundação, palmares, amizades e inimigos.

O livro está dividido em 6 capítulos:

Bósnia Herzegovina, Croácia, Montenegro,

Macedónia, Sérvia e Eslovénia.

Apesar da barreira linguística, acaba por ser

uma boa recordação para os colecionadores

de livros que procuram algo referente aos

Balcãs.

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Aslan Yürekliler

Internacional

Aslan Yürekliler

Autor: Orhan Ölçen

Equipa:Galatasaray

Ano: 2012

Páginas: 412

Preço: N/A

A antiga cidade de Constantinopla, hoje

conhecida como Istambul, é casa de

algumas das equipas mais importantes

das competições Europeias e cujo os seus

adeptos são bastantes temidos onde quer

que se desloquem. É o caso dos Ultras Aslan

que apoiam o Galatasaray.

Inteiramente escrito em turco, o autor fala

sobre a influência político-desportiva-social

que este grupo teve para a equipa do lado

Europeu do Bósforo.

A acompanhar os vários capítulos, temos

algumas fotos do adeptos, coreografias,

bancadas entre outros que ilustram a

evolução desta equipa Turca ao longo das

últimas décadas.

84


Navijaci

Aslan Yürekliler

85


THE FOOTBALL FACTORY

“I’m just another bored male

approaching 30, in a ded-end job who lives

for the weekened. Casual sex, watered-down

lager, heavily cut drugs, and occasionally

kicking the fuck out of sommeone”. Tiro de

partida perfeito para o filme britânico “The

Football Factory”, estas palavras são ditas por

Dany Dyer que interpreta o papel de Tommy

Johnson, personagem principal e narrador

durante toda a película editada em 2004, que

se centra nas tramas da sua vida e na firma de

hooligans do Chelsea à qual pertence.

que se resolve com a pronta intervenção do

amigo, que agride com um taco de cricket

o atacante. Os dois companheiros põem-se

prontamente em fuga. Esta cena acaba por

marcar toda a história uma vez que, mais

tarde, Dany acabará por perceber que o

agredido é também irmão de Fred, o líder da

temível firma do Millwall.

Durante a hora e meia em que o

filme, realizado por Nick Love e escrito por

John King, se desenrola, a firma vai vivendo

uma série de confrontos com adeptos rivais,

86

Tal como se descreve, Dany é

um jovem adulto sem grandes projectos

de vida ou aspirações e que procura

alguma animação para a sua existência no

consumo de álcool e drogas e nas sessões

de pancadaria da sua firma contra as turmas

rivais. Numa noite de copos com o seu amigo

Rod (Neil Maskell), os dois acabam por se

envolver com duas raparigas e, na manhã

seguinte, Dany acorda com o irmão de uma

delas a ameaçá-lo com uma faca, situação

mas também um conjunto de peripécias e

tensões internas. A disputa da liderança entre

Billy Bright e Harris, os “top boys” do grupo,

as encrencas em que os “caçulas” Zeberdee

e Raff se vão metendo, e até o caso amoroso

de Rod, são parte importante da acção que

faz desta obra um tanto ou quanto divertida e

nada monótona.

A representação da cena hooligan

britânica leva também nota positiva,

com alguns momentos bem construídos,


nomeadamente a cena que se desenrola

dentro de um autocarro com a firma

em convívio com recurso aos habituais

“estimulantes”, situação que qualquer ultra

reconhecerá como familiar.

Na obra há espaço também para a

crítica social, nomeadamente no que concerne

ao crescimento da xenofobia e do racismo no

Reino Unido e também para o drama de Bill

(avô de Dany) e o seu eterno companheiro

Albert, veteranos da segunda grande guerra,

personagens que se aproximam do último

suspiro e vão suportando mutuamente as

agruras da velhice.

Paralelamente a toda a agitação da

vida hool, Dany debate-se com problemas de

saúde mental, chegando mesmo a dizer que

estava perto dum “esgotamento nervoso”,

enquanto vai tendo pesadelos recorrentes

e sofrendo de um quadro de ansiedade à

medida que o dia do grande encontro com os

rivais do Millwall se vai aproximando.

Numa das últimas cenas dá-se uma

sessão épica de pancadaria exactamente

com a firma rival do Millwall que acaba com

feridos graves e a intervenção da policial,

precisamente aquilo que se podia esperar de

um filme desta natureza, mas confrontado

com a pergunta se a “pica” e a adrenalina

destes episódios justificam todos os riscos

e as consequências que se abatem sobre os

seus intervenientes, o nosso protagonista

responde com um redondo e cabal sim!

A performance em The Football

Factory tornaria Dany Dyer uma figura

afamada entre os amantes da cultura, o que

o levaria a apresentar um documentário

chamado The Real Football Factory, primeiro

visitando firmas do Reino Unido e depois

viajando um pouco por toda o Mundo por

entre as fileiras dos mais temíveis hooligans

do globo.

Tanto enquanto peça artística como

representação de uma cultura, esta película

figura, para mim, entre as melhores alguma

vez feitas sobre a temática e recomendo que

dispensem um pouco do vosso tempo para

desfrutar do seu visionamento.

Por J. Sousa

87


88

CD Nacional x SC Braga

Em meados de fevereiro, o SC Braga

deslocou-se à ilha da Madeira, acompanhado

de um número significativo de adeptos e

ultras, para defrontar e vencer o CS Marítimo.

Uma transferta bem conseguida pelos ultras

bracarenses, com um apoio vocal notável,

assim como um feedback extremamente

positivo por parte dos companheiros

presentes, alimentou em mim um forte

interesse em realizar esta deslocação.

Volvidos dois meses, era a vez dos

arsenalistas voltarem a viajar até à Madeira,

mas desta feita até ao estádio da Choupana.

Rapidamente surgiu a vontade de marcar

presença e fazer a minha primeira deslocação

fora de Portugal continental. Assim foi,

compramos e planeamos uma estadia de três

dias no centro do Funchal.

Porém, o que era suposto serem

umas férias breves e tranquilas transformouse

numa pequena aventura que fugiu ao que

tínhamos previsto. O voo em que embarcamos

não aterrou devido à situação climatérica

que se fazia sentir e tivemos que pernoitar

no aeroporto à espera de uma solução. Essa

passava por comprar um voo que chegasse a

horas do jogo e numa companhia diferente, o

que nos causou alguns problemas de logística

e, consequentemente, algumas horas de

stress a recear a possibilidade de não ver a

bola.

Felizmente lá nos desenrascamos e,

depois de fazer escala em Lisboa, chegamos

ao destino final por volta das 11 horas do

dia de jogo. Ainda tínhamos uma tarde

pela frente antes de ir para o estádio e, por

isso, aproveitamos para visitar o centro da

cidade e fazer o aquecimento. Ao longo da

tarde, fomos encontrando vários braguistas

equipados a rigor e assim se começava a

sentir a ansiedade habitual antes da bola

rolar. Fomos para o estádio cerca de uma hora

antes e deparei-me com um ambiente calmo

de convívio, isento de polícia militarizada, com

adeptos de ambas as cores numa rua única

adjacente ao estádio. De salientar que era

regra o fino (com álcool) e a bifana nas mãos

de quem lá estava, algo que é absolutamente

estranho nas proximidades do Municipal de

Braga.

Já dentro do estádio, confesso que

esperava bem mais do lado da casa, que numa

meia final da prova rainha apenas contou

com 556 adeptos, um número muito abaixo

do normal, tendo em conta as restantes

assistências da época. Do lado bracarense,

cerca de 100 adeptos, entre eles pouco mais

de duas dezenas de ultras (Bracara Legion e

Red Boys), viajaram até à ilha para dar um

autêntico festival, que foi correspondido de

forma exímia dentro das quatro linhas. Nota

mais para a venda de álcool no interior do

estádio, contrariando a habitual discriminação

de apenas ser permitida nos camarotes.

Por fim, após o jogo terminar

contava com mais de 40 horas sem dormir, o


que não foi motivo para deixar de apoiar, de

forma incessante e festiva, o Sporting Clube

de Braga durante os 90 minutos. No último

dia da nossa estadia na Madeira, optamos

por passar o dia na Câmara de Lobos e a noite

novamente no centro do Funchal, sempre

com a famosa poncha a acompanhar e com o

sentimento de dever cumprido.

Nota final para o desrespeito para

com o adepto (mais um) desta vez por parte

da Federação Portuguesa de Futebol, que

agendou a data do jogo 12 dias antes deste

acontecer e para um dia laboral. Ao longo da

corrente edição da Taça de Portugal, ficou

demonstrado que os horários escolhidos para

as eliminatórias são pensados em função

de quem tem o poder económico e não em

função dos adeptos (Braga vs Moreirense –

quinta-feira; Braga vs Vitória – quarta-feira;

Braga vs Benfica – quinta-feira; Nacional vs

Braga – quarta-feira). É esta a festa da Taça

que tanto se preza, em que os interesses

adotados são todos exceto os do adepto?

Que os factos sirvam de reflexão para o leitor.

Bravos são aqueles que não se acomodam

ao futebol negócio e lutam pelos direitos e

liberdades básicas nas bancadas!

Por “Rooney”

89


Nápoles, uma cidade em Festa

Ao entrar em Nápoles percebi

logo que algo tinha acontecido. 90% dos

prédios tinham bandeiras, tarjas, cachecóis

ou algo referente ao clube ou, claro, a D10S,

Maradona. Todas as ruas estão enfeitadas

com algo de Napoli, todos os cafés têm

alguma referência ao clube, as pessoas

sorriem e estão felizes.

No dia do jogo, toda a cidade estava

em festa. Miúdos, graúdos, tudo. Havia um

barulho ensurdecedor de buzinas, de carros,

de motas, o fumo de tochas inundava a cidade

e a felicidade de todos era bem patente.

Depois de um almoço italiano, segui

a pé cerca de uma hora para o estádio e toda

a cidade parecia uma festa popular a lembrar

os santos populares. Ao aproximar do estádio,

a festa intensificava-se e as buzinas dos carros

tomavam conta do espaço. Chegando ao

estádio, arrepiei-me ao ver o espetáculo de

fumo, música e alegria entre toda a gente.

Durante o jogo, a festa continuou e atingiu o

apogeu no golo.

No regresso, os festejos ocuparam

a rua central, onde tudo se juntou com

espetáculo de fogo de artifício, som e fumo

de tochas.

O que mais me comoveu foi a

verdadeira simbiose entre o clube a cidade,

onde o amor é totalmente passado de

geração em geração.

As referências à vitória do Sul de Itália sobre o

Norte eram mais que muitas, com a Juve a ser

a principal visada, principalmente em forma

de zebra.

Spaletti disse numa conferência de

imprensa que, em Nápoles, não basta ganhar,

mas tem de se jogar esteticamente bonito

(acho que foram estas as palavras exactas), o

que, depois de conhecer a cidade e sua gente

faz todo o sentido, pois o clube é a extensão

da cidade e uma das principais bandeiras da

luta norte/sul.

Por Ulisses

90


Amarante x Lusitânia

Fiz-me à estrada com a ideia que

este jogo tinha muito para dar e, no final, não

desapontou as minhas expectativas. Estive

perante dois clubes históricos e, ainda para

mais, ambos tentavam a subida por isso era

certo um ambiente vibrante tanto dentro das

quatro linhas como fora delas.

Cheguei a Amarante uma hora e

meia antes do jogo para comprar bilhete

e assistir ao ambiente nas imediações do

estádio.

Ainda sem sinal das camionetas

dos adeptos forasteiros já existia uma grande

onda de amarelo (Lusitânia), podendo

mesmo dizer que, nas bilheteiras e num bar

perto do estádio, vía mais amarelo do que

preto e branco.

A faltar meia hora, para o esperado

início da partida, começou a chegar mais

gente afeta à equipa da casa (Amarante) e

também chegaram os três autocarros que

transportaram os adeptos do Lusitânia até

Amarante.

Depois de ver o ambiente fora do

estádio segui caminho para a minha porta,

onde fiquei surpreendido de não existir

nenhum tipo de revista.

Já dentro do estádio, a faltar 10

minutos para o começo do jogo, a bancada

da casa estava praticamente lotada e pouco

faltou para encher por completo.

É de felicitar a coreografia feita

pelos Ultras do Lusitânia na entrada das

equipas.

Um jogo vibrante como se esperava,

adeptos fervosos de um lado e do outro. Uma

disputa dentro e fora de campo e mas sempre

com respeito mútuo.

Chegou o intervalo e fui ao bar

buscar a cerveja com álcool, a tão desejada

nos principais escalões. Acabei por encontrar

um adepto fanático pelo o Amarante com o

qual dei duas de treta e no final da conversa

ofereceu-me não uma cerveja mas três. Em

seguida convidou-me para ir para mais perto

dos Ultras do Amarante na segunda parte. No

final do jogo ainda me ofereceu a camisola

dos Ultras Amarante que ele próprio usava.

Um jogo que acabou por ficar 0-0,

sem golos mas com muita emoção e história.

E é caso para dizer que “fui sem nada e trouxe

tudo…”

O que mais me saltou à vista foram

dois pontos, um negativo e um positivo. O

ponto negativo foi o preço que paguei por

um jogo do Campeonato Portugal (7 euros),

a meu ver é um preço elevado para os dias

que correm em Portugal. O lado positivo, e

mais bonito, é ter presenciado um jogo do

Campeonato de Portugal com cerca de 1500

adeptos nas bancadas, onde dou nota dos

mais de 400 adeptos presentes afectos ao

Lusitânia.

Por R. Laranjeiro

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