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geralda maria maia cordeiro de azevedo ... - FUNEDI – UEMG

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong><br />

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO<br />

GERALDA MARIA MAIA CORDEIRO DE AZEVEDO<br />

LINGUAGEM LÍQUIDA?<br />

Impactos da Internet nas Práticas <strong>de</strong> Leitura e Escrita <strong>de</strong> Estudantes do<br />

Ensino Médio da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG<br />

DIVINÓPOLIS <strong>–</strong> MG, 2008.


GERALDA MARIA MAIA CORDEIRO DE AZEVEDO<br />

LINGUAGEM LÍQUIDA?<br />

Impactos da Internet nas Práticas <strong>de</strong> Leitura e Escrita <strong>de</strong> Estudantes<br />

do Ensino Médio da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG<br />

Dissertação apresentada ao Curso <strong>de</strong> Mestrado em Educação, Cultura<br />

e Organizações Sociais da <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong>, como requisito parcial à<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em Educação.<br />

Área <strong>de</strong> concentração: Estudos Contemporâneos<br />

Linha <strong>de</strong> pesquisa: Cultura e Linguagem<br />

Orientador: Professor Doutor Mateus Henrique <strong>de</strong> Faria Pereira.<br />

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong><br />

DIVINÓPOLIS, MG <strong>–</strong> 2008.


Azevedo, Geralda Maria Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong><br />

A994l Linguagem líquida? Impactos da Internet nas práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita <strong>de</strong> estudantes do ensino médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga - MG<br />

[manuscrito] / Geralda Maria Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo. <strong>–</strong> 2008.<br />

154 f., enc. il .<br />

Orientador : Mateus Henrique <strong>de</strong> Faria Pereira<br />

Dissertação (mestrado) - Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />

Fundação Educacional <strong>de</strong> Divinópolis.<br />

Bibliografia : f. 113 -118<br />

1. Escrita. 2. Leitura <strong>–</strong> Estudantes ensino médio. 3. Leitura <strong>–</strong><br />

Ciberespaços sites <strong>de</strong> relacionamento. 4. MSN e Orkut. I. Pereira,<br />

Mateus Henrique Faria. II. Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

Fundação Educacional <strong>de</strong> Divinópolis. III. Título.<br />

CDD: 469.8


Termo <strong>de</strong> Autorização<br />

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial<br />

<strong>de</strong>sta dissertação por processos <strong>de</strong> fotocopiadoras e eletrônicos. Igualmente, autorizo sua<br />

exposição integral nas bibliotecas e no banco virtual <strong>de</strong> dissertações da <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong>.<br />

________________________________________________________________<br />

Geralda Maria Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo.<br />

Formiga, 28 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2008.


À memória <strong>de</strong> minha avó Maria Pio da Silva, um exemplo nas suas práticas<br />

<strong>de</strong> leitura, apoio inestimável, fomentou minha infância <strong>de</strong> leituras.<br />

Aos meus eternos amores; Arizio, Diego, André, ...<br />

Aos meus Alunos e Alunas, razão <strong>de</strong> meu crescimento profissional.


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Dom da vida, pela força, coragem, luci<strong>de</strong>z, perseverança em cada momento <strong>de</strong><br />

realizações e conquistas no meu existir.<br />

Ao Professor Doutor Mateus Henrique <strong>de</strong> Faria Pereira pela atenção, competência,<br />

supervisão, orientações, paciência e parceria na realização <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Ao Coor<strong>de</strong>nador do Curso <strong>de</strong> Mestrado, Professor Doutor Alexandre Simões Ribeiro, pelo<br />

magnífico trabalho e ousadia transdisciplinar no Curso <strong>de</strong> Mestrado. Agra<strong>de</strong>ço-lhe também<br />

pelas preciosas contribuições na concretização <strong>de</strong>ste trabalho e orientações na redação <strong>de</strong><br />

artigos e apresentações em Seminários que muito contribuíram na minha formação<br />

profissional e acadêmica.<br />

Aos Professores do Curso <strong>de</strong> Mestrado, em especial os Professores Doutores: José Raimundo<br />

Batista Bechelaine, Helena Alvim Ameno e Pedro Pires Bessa, pelos exemplos e referênciais<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação e amor ao magistério.<br />

À Professora Doutora Batistina <strong>de</strong> Souza Corgozinho, pela <strong>de</strong>dicação, potencialida<strong>de</strong> e<br />

exemplo <strong>de</strong> coragem nos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> viver.<br />

Aos meus Colegas do Curso <strong>de</strong> Mestrado, aos Colegas Professores, Amigos, Alunos e Alunas<br />

pelas interlocuções e contribuições na realização <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisa e, acima <strong>de</strong><br />

tudo, pela a amiza<strong>de</strong>.<br />

Aos Diretores, Coor<strong>de</strong>nadores Pedagógicos, Professores, Alunos e Funcionários das<br />

Escolas: Escola Dr. Abílio Machado e Colégio Losango, ambas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG,<br />

pelas contribuições na coleta <strong>de</strong> dados para a realização <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

Aos Alunos, Alunas, Professores e Coor<strong>de</strong>nadores Pedagógicos da Escola Estadual Professor<br />

Tonico Leite pelas interlocuções iniciais <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Aos funcionários da Secretaria do Mestrado, em especial a Rosimeire <strong>de</strong> Freitas Santos<br />

Peixoto (Rose), Mônica Diniz e Graziela Oliveira Chagas Severo pelo atendimento, atenção e<br />

profissionalismo.<br />

À Professora Doutora Vilma Botrel Coutinho <strong>de</strong> Melo pelas orientações iniciais e ternura.<br />

Aos meus amigos internautas do MSN Messenger e Orkut que muito me ensinaram outras<br />

formas <strong>de</strong> ler e escrever, interagir e organizar, através <strong>de</strong> suas interlocuções, mensagens,<br />

scraps. Em especial ao Saulo Henrique <strong>de</strong> Faria, presença marcante em diversos momentos<br />

em que redigia este trabalho e a minha querida aluna Vanessa Cristina do Couto que,<br />

pacientemente, me apresentou e traduziu códigos, ícones, smiles, emoticons da escrita do<br />

MSN Messenger.<br />

Ao meu esposo, porto seguro, cumplicida<strong>de</strong>, apoio, carinho, compreensão e oportunida<strong>de</strong>s,<br />

minha eterna gratidão.<br />

Aos meus filhos pelas colaborações e compreensão, principalmente nos momentos mais<br />

difíceis.<br />

Aos meus pais e familiares, pela compreensão, atenção e incentivo.<br />

À minha funcionária Lucimar <strong>de</strong> Fátima da Cunha pela atenção e auxílio nas tarefas<br />

cotidianas do lar.<br />

À Elvira Angheti Pereira Cardoso, pela atenção, <strong>de</strong>dicação e minuciosa revisão ortográfica<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.<br />

E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização <strong>de</strong>ste trabalho, meu<br />

reconhecimento, carinho e sinceros agra<strong>de</strong>cimentos!<br />

Muito Obrigada!!!


Escrever é procurar enten<strong>de</strong>r, é<br />

procurar reproduzir o irreproduzível,<br />

é sentir até o último fim o<br />

sentimento que permaneceria<br />

apenas vago e sufocador.<br />

Escrever é também abençoar<br />

uma vida que não foi abençoada.<br />

Clarice Lispector


RESUMO<br />

Este estudo trata das práticas <strong>de</strong> leitura e escrita interativa do ciberespaço <strong>de</strong> estudantes do<br />

Ensino Médio da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG, cujas questões são: como as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos interferem nas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

convencional e quais são as características próprias <strong>de</strong>ssa linguagem em constituição. O<br />

primeiro capítulo apresenta consi<strong>de</strong>rações sobre a história da leitura e da escrita, os suportes<br />

<strong>de</strong> edição e difusão das mesmas, a invenção do livro - do có<strong>de</strong>x ao texto eletrônico,<br />

virtual/digital e o mundo contemporâneo. O segundo capítulo aborda o ensino da língua<br />

portuguesa, refere-se às políticas pedagógicas, à escola, ao livro didático, à leitura e à escrita<br />

interativa no ciberespaço, com análises <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> leitura e escrita observadas no MSN<br />

Messenger e Orkut. O terceiro capítulo <strong>de</strong>staca a metodologia e as técnicas usadas para a<br />

realização da pesquisa <strong>de</strong> campo com uma análise dos resultados obtidos através dos<br />

questionários on<strong>de</strong> estudamos as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita dos estudantes e educadores.<br />

Seria a cibercultura uma nova linguagem com um novo leitor/escritor mediante as<br />

características <strong>de</strong>ssa escrita e leitura? Verificamos como a escola se posiciona frente a essa<br />

realida<strong>de</strong> e que implicações po<strong>de</strong>m ser percebidas. Constatamos que as práticas <strong>de</strong><br />

leitura/escrita no ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos po<strong>de</strong>m interferir nas práticas<br />

convencionais <strong>de</strong> leitura/escrita dos estudantes, pelo fato <strong>de</strong> fazerem uso <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> e trocas<br />

<strong>de</strong> letras. Apontamos essa realida<strong>de</strong>: um <strong>de</strong>safio para a escola na contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: escrita, leitura, estudantes, práticas, ciberespaço<br />

ABSTRACT<br />

This study <strong>de</strong>als with reading practice and interactive writing of high school stu<strong>de</strong>nts in<br />

cyberspace in the city of Formiga <strong>–</strong> M.G. whose questions are as follows: how can their<br />

reading and writing practices in the cyberspace of relationship websites interfere in the<br />

traditional reading and writing practices and which are the own features of this language in<br />

formation? The first chapter presents consi<strong>de</strong>rations about the history of reading and writing,<br />

the support of editing and spreading of them, the invention of book <strong>–</strong> from co<strong>de</strong>x to the<br />

electronic book, virtual/digital and the contemporary world. The second chapter is about the<br />

teaching of Portuguese language concerning with pedagogic policies, with the school, with<br />

the textbook, with the interactive reading and writing in the cyberspace, analyzing the reading<br />

and writing practices observed in MSN Messenger and Orkut. The third chapter highlights the<br />

methodology and the techniques used to perform this survey with an analysis of the findings<br />

collected from questionnaires where the reading and writing practices of stu<strong>de</strong>nts and<br />

educators were studied. Would it be a cyber culture a new language with a new rea<strong>de</strong>r/writer<br />

before the characteristics of this reading and writing? It was checked how a school faces this<br />

reality and what implications can be perceived. It was realized that the reading and writing<br />

practices in the cyberspace of relationship websites can interfere in the conventional practices<br />

of reading and writing used by stu<strong>de</strong>nts due to fact that they make use of the orality and<br />

misspelled words. It was appointed this orality as a challenge to the schools of the<br />

contemporary world.<br />

Key words: writing, reading, stu<strong>de</strong>nts, practices, cyberspace.


LISTA DE GRÁFICOS<br />

Gráfico 01 On<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital ............................................................. 90<br />

Gráfico 02 De que forma você escreve nos espaços digitais ...................................................... 91<br />

Gráfico 03 Em que situação você mais usa a escrita/leitura digital ........................................... 93<br />

Gráfico 04 Você escreve mais ou menos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital ............. 96<br />

Gráfico 05 Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> da escrita e leitura ................................................ 97<br />

Gráfico 06 Ida<strong>de</strong> dos educadores ............................................................................................... 98<br />

Gráfico 07 Freqüência que os educadores fazem uso da escrita/leitura digital .......................... 100<br />

Gráfico 08 Como você percebe o uso da escrita/leitura dos seus alunos ................................... 102<br />

Gráfico 09 Depois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital os alunos ........................................... 103<br />

Gráfico 10 Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura ................................................... 105<br />

Gráfico 11 Ida<strong>de</strong> dos alunos ....................................................................................................... 134<br />

Gráfico 12 Sexo dos alunos ........................................................................................................ 134<br />

Gráfico 13 Renda familiar .......................................................................................................... 135<br />

Gráfico 14 Ativida<strong>de</strong> remunerada .............................................................................................. 135<br />

Gráfico 15 Você tem PC em casa ............................................................................................... 136<br />

Gráfico 16 Principal fonte <strong>de</strong> informação dos alunos ................................................................ 136<br />

Gráfico 17 Com que freqüência você lê livros ........................................................................... 137<br />

Gráfico 18 Com que freqüência você vai a eventos culturais .................................................... 137<br />

Gráfico 19 Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital ...................................... 138<br />

Gráfico 20 On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital ........................................................................ 138<br />

Gráfico 21 On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital ........................................................................ 139<br />

Gráfico 22 On<strong>de</strong> a sua escrita é mais livre, criativa ................................................................... 139<br />

Gráfico 23 Você lê todas as mensagens ..................................................................................... 140<br />

Gráfico 24 Sexo dos educadores ................................................................................................ 146<br />

Gráfico 25 Escolarida<strong>de</strong> dos educadores .................................................................................... 146<br />

Gráfico 26 Qual a principal fonte <strong>de</strong> informação ....................................................................... 147<br />

Gráfico 27 Com que freqüência você lê livros ........................................................................... 147<br />

Gráfico 28 On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital ........................................................................ 148<br />

Gráfico 29 On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital ........................................................................ 148<br />

Gráfico 30 Ao navegar na Internet on<strong>de</strong> você mais usa escrita/leitura digital ........................... 149<br />

Gráfico 31 De que forma você escreve nos espaços digitais ...................................................... 149


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 01 Ida<strong>de</strong> dos estudantes ................................................................................................. 127<br />

Tabela 02 Sexo dos estudantes ................................................................................................. 127<br />

Tabela 03 Renda familiar .......................................................................................................... 127<br />

Tabela 04 Ativida<strong>de</strong> remunerada .............................................................................................. 128<br />

Tabela 05 Você tem PC em casa... ............................................................................................ 128<br />

Tabela 06 Qual a principal fonte <strong>de</strong> informação.. ..................................................................... 128<br />

Tabela 07 Com que freqüência você lê livros ........................................................................... 129<br />

Tabela 08 Com que freqüência você vai a eventos culturais .................................................... 129<br />

Tabela 09 Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital ...................................... 129<br />

Tabela 10 On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital ........................................................................ 130<br />

Tabela 11 On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital ........................................................................ 130<br />

Tabela 12 E na Internet on<strong>de</strong> você usa a escrita/leitura digital ................................................. 130<br />

Tabela 13 De que forma você escreve nos espaços digitais ...................................................... 131<br />

Tabela 14 Em que situação você mais usa a escrita digital ....................................................... 131<br />

Tabela 15 On<strong>de</strong> a escrita é mais livre e criativa ....................................................................... 132<br />

Tabela 16 Você lê todas as mensagens que recebe ................................................................... 132<br />

Tabela17 Você escreve mais ou menos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital ............. 132<br />

Tabela 18 Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua escrita e leitura .......................................... 133<br />

Tabela 19 Ida<strong>de</strong> dos educadores ............................................................................................... 141<br />

Tabela 20 Sexo dos educadores ................................................................................................ 141<br />

Tabela 21 Escolarida<strong>de</strong> dos educadores .................................................................................... 141<br />

Tabela 22 Qual sua principal fonte <strong>de</strong> informação ................................................................... 142<br />

Tabela 23 Com que freqüência você lê livros ........................................................................... 142<br />

Tabela 24 Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital ...................................... 142<br />

Tabela 25 On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital ........................................................................ 143<br />

Tabela 26 On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital ........................................................................ 143<br />

Tabela 27 Ao navegar na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital ........................ 143<br />

Tabela 28 De que forma você escreve nos espaços digitais ...................................................... 144<br />

Tabela 29 Como você percebe o uso da escrita/leitura <strong>de</strong> seus alunos ..................................... 144<br />

Tabela 30 Depois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital os alunos ........................................... 144<br />

Tabela 31 Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong>les ..................................................... 145


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 01 Mensagem <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>ntificador <strong>de</strong> MSN ..................................................................... 67<br />

Figura 02 Fragmento <strong>de</strong> uma conversa no MSN ......................................................................... 70<br />

Figura0 3 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 71<br />

Figura 04 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 72<br />

Figura 05 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 73<br />

Figura 06 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 73<br />

Figura 07 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 74<br />

Figura 08 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 74<br />

Figura 09 Scrap <strong>de</strong> Orkut ............................................................................................................ 74<br />

Figura 10 Fragmento <strong>de</strong> uma barra <strong>de</strong> ferramenta do Microsoft Word ....................................... 78<br />

Figura 11 Tabela periódica <strong>de</strong> Química ...................................................................................... 79<br />

Figura 12 Fragmento <strong>de</strong> uma partitura musical .......................................................................... 80<br />

Figura 13 Tela com emoticons personalizados do MSN ............................................................. 81<br />

Figura 14 Tela com emoticons padrão do MSN .......................................................................... 82<br />

Figura 15A Mapa <strong>de</strong> localização da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG ...................................................... 150<br />

Figura 15B Mapa <strong>de</strong> localização da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG ...................................................... 150<br />

Figura 16 E. E. Dr. Abílio Machado da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG .............................................. 151<br />

Figura 17 Colégio Losango da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG ............................................................ 152


LISTA DE BOXES<br />

Boxe 1 .................................................................................................................................. 68<br />

Boxe 2 .................................................................................................................................. 68<br />

Boxe 3 .................................................................................................................................. 69<br />

Boxe 4 .................................................................................................................................. 69<br />

Boxe 5 .................................................................................................................................. 70


SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 15<br />

CAPÍTULO I<br />

SENTIDOS DA ESCRITA E LEITURA FRENTE AO TEXTO ELETRÔNICO ............. 24<br />

1.1 Consi<strong>de</strong>rações sobre a história da escrita e da leitura ................................................ 24<br />

1.2 O livro: do có<strong>de</strong>x ao texto eletrônico ......................................................................... 32<br />

1.3 Virtual/digital e o mundo contemporâneo ................................................................. 35<br />

CAPÍTULO II<br />

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA, A LEITURA E A ESCRITA ENTRE O<br />

VIRTUAL/DIGITAL .......................................................................................................... 43<br />

2.1 As políticas pedagógicas frente ao ensino da Língua Portuguesa no Ensino Médio. 43<br />

2.1.1 Orientações curriculares .................................................................................... 46<br />

2.1.2 O livro didático e a escola ................................................................................. 50<br />

2.2 A leitura e a escrita interativa no ciberespaço ............................................................ 54<br />

2.3 Análise <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> escrita e leitura observadas no MSN e Orkut ......................... 65<br />

CAPÍTULO III<br />

PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA DE ESTUDANTES E EDUCADORES DO<br />

ENSINO MÉDIO ................................................................................................................ 84<br />

3.1 Procedimentos metodológicos e técnicos da pesquisa <strong>de</strong> campo .............................. 84<br />

3.2 A escrita e a leitura dos estudantes: análise dos questionários dos estudantes .......... 87<br />

3.3 A escrita e a leitura dos educadores: análise dos questionários dos educadores ....... 98<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 107<br />

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 113<br />

6. ANEXOS ........................................................................................................................ 119<br />

ANEXO A Questionários <strong>de</strong> Pesquisa dos estudantes ........................................................ 119<br />

ANEXO B Questionários <strong>de</strong> Pesquisa dos educadores ....................................................... 122<br />

ANEXO C Ofício Nº 001/07 ............................................................................................... 125


ANEXO D Ofício Nº 002/07 ............................................................................................... 126<br />

ANEXO E Tabelas <strong>de</strong> respostas dos estudantes .................................................................. 127<br />

ANEXO F Gráficos <strong>de</strong> respostas dos estudantes................................................................. 134<br />

ANEXO G Tabelas <strong>de</strong> respostas dos educadores ................................................................ 141<br />

ANEXO H Gráficos <strong>de</strong> respostas dos educadores ............................................................... 146<br />

ANEXO I Fotos ................................................................................................................... 150<br />

ANEXO J Dicionário <strong>de</strong> abreviações <strong>de</strong> uso do MSN Messenger ...................................... 153


INTRODUÇÃO<br />

Mudanças significativas po<strong>de</strong>m ser percebidas no atual avanço e disseminação das<br />

tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação. Roger Chartier afirma que o mundo mudou<br />

profundamente no final dos anos 1960. De acordo com esse autor, 1968 foi um marco da<br />

ruptura cultural e agora há uma fragmentação cultural infinita 1 , e essa fragmentação é vista<br />

como uma forma <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> diversificação. Não há apenas a possibilida<strong>de</strong><br />

compartilhada, mas um universo <strong>de</strong> referência cultural mais ampliado que possibilita<br />

abordagens interdisciplinares.<br />

As estruturas e as fronteiras dos saberes apresentam-se abalados e já não se sustentam<br />

por si só, a transdisciplinarida<strong>de</strong> aposta na tentativa <strong>de</strong> estabelecer outro discurso nas ciências.<br />

Neste sentido, François Dosse diz que as ciências humanas, fortalecidas com sua própria<br />

tradição, po<strong>de</strong>m abrir-se ao diálogo e à nova configuração que emerge das pesquisas em curso<br />

e não po<strong>de</strong>m reduzir-se a uma única corrente <strong>de</strong> pensamento, <strong>de</strong> vocação totalizante. Afirma<br />

que elas são atravessadas por polarida<strong>de</strong>s múltiplas 2 .<br />

A partir <strong>de</strong>ssa teoria, propomos um estudo sobre\ as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

interativa do ciberespaço 3 , <strong>de</strong> estudantes do Ensino Médio, frente à escrita e leitura<br />

convencional 4 , à luz <strong>de</strong> teorias em diversas áreas dos saberes, isto é, um estudo com uma<br />

perspectiva <strong>de</strong> transdisciplinarida<strong>de</strong>. De acordo com Ivan Domingues, a transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

possibilita o cruzamento <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s, um olhar nas interfaces para superar fronteiras.<br />

Isso significa a migração <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado campo do saber para outro 5 .<br />

Ao nos referirmos a mudanças contemporâneas, a estruturas dos saberes que se<br />

apresentam abaladas, tomamos a teoria <strong>de</strong> Zygmut Bauman, para fundamentar nosso estudo,<br />

quando ele afirma que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> imediata é ‘leve’, ‘líquida’, ‘fluida’ e infinitamente<br />

1<br />

Entrevista no site: http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2479,1.shl. Acessada em 20/03/07.<br />

2<br />

DOSSE, François. O império do sentido: a humanização das ciências humanas. Bauru, SP: EDUSC, 2003,<br />

p.435.<br />

3<br />

Termo criado por William Gibson, em, 1984, que já previa um tipo <strong>de</strong> comunicação global, num espaço nãofísico<br />

entre os seres humanos. Neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa os termos leitura e escrita interativa do ciberespaço<br />

serão usados para referir-se à escrita (que envolve leitura), que se usa nos sites e programas <strong>de</strong> relacionamento na<br />

Internet. Cabe ressaltar, também, que no universo do ciberespaço, abordaremos, a partir <strong>de</strong> um recorte, as<br />

práticas <strong>de</strong> leitura e escrita do programa <strong>de</strong> MSN Messenger e o site Orkut.<br />

4<br />

Escrita e leitura convencional neste trabalho serão usadas para referir - se a práticas <strong>de</strong> leitura e escrita que se<br />

ensina na escola, baseadas na gramática, a chamada linguagem culta ou a língua padrão.<br />

5<br />

DOMINGUES, Ivan (org.). Conhecimento e transdisciplinarida<strong>de</strong>. Belo Horizonte: Editora UFMG; IEAT,<br />

2001, p. 18.<br />

15


mais dinâmica que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ‘sólida’, e que a passagem <strong>de</strong> uma para outra acarretou<br />

profundas mudanças em todos os aspectos da vida humana 6 . Essa afirmativa, num primeiro<br />

momento, possibilita-nos pensar que a leveza tratada nessa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida seja algo<br />

visto <strong>de</strong> forma positiva, bem resolvida, fluida. No entanto, não é bem assim: essa leveza<br />

possui <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong>. E sobre isso retomaremos a discussão no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias cada vez mais sofisticadas nos aguça a<br />

pensar sobre se o que se vive hoje seria uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> fluida, líquida on<strong>de</strong> o não ser e o<br />

ser se misturam nas suas interfaces. Cabe esclarecer que nesse trabalho, ao nos referirmos ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, nossa ênfase será dada ao <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico nas<br />

comunicações.<br />

A linguagem 7 , frente ao <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias da comunicação, apresentase<br />

com múltiplas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, com rompimento e incorporação <strong>de</strong> normas,<br />

tanto na linguagem oral quanto na escrita. Percebemos também que, com o advento da<br />

Internet, mudanças profundas ocorreram em todos os segmentos da socieda<strong>de</strong>. Altera-se, <strong>de</strong><br />

modo significativo, o fluxo <strong>de</strong> informação. As interações e as interlocuções entre os seres<br />

reconfiguram-se e modificam as organizações sociais. A rotina profissional e as áreas do<br />

conhecimento sofrem impacto. Confirmamos isso em Néstor Canclini quando afirma que “as<br />

re<strong>de</strong>s virtuais alteram os modos <strong>de</strong> ver e ler, as formas <strong>de</strong> reunir-se, falar e escrever, <strong>de</strong> amar e<br />

saber-se amado à distância, ou talvez, imaginá-lo” 8 .<br />

A escrita e a leitura ganham outras ferramentas <strong>de</strong> difusão, outros espaços <strong>de</strong> edição e<br />

gêneros lingüísticos eletrônicos com diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita. Conseqüentemente,<br />

com práticas e representações <strong>de</strong> leitura que se perpetuam e se renovam através do<br />

computador conectado à Internet. Mediante essa realida<strong>de</strong>, Steven Johnson afirma que o uso<br />

<strong>de</strong> um processador <strong>de</strong> texto muda nossa maneira <strong>de</strong> escrever, não só porque estamos nos<br />

valendo <strong>de</strong> novas ferramentas, mas também porque o computador transforma<br />

fundamentalmente o modo como concebemos as frases e o pensamento que se <strong>de</strong>senrola<br />

paralelamente ao processo <strong>de</strong> escrever 9 . E isso po<strong>de</strong> ser percebido nos espaços escolares,<br />

através do comportamento, do discurso e da produção <strong>de</strong> texto dos estudantes que apresentam<br />

6<br />

BAUMAN, Zygmunt. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.<br />

7<br />

De <strong>de</strong>finição ampla, neste trabalho consi<strong>de</strong>ramos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar através <strong>de</strong> vocábulos orais e ou<br />

escritos, on<strong>de</strong> se usam sinais, símbolos, sons. Cf. também: HARRIS, Theodore L. & HODGES, Richard E.<br />

(orgs.). Dicionário <strong>de</strong> Alfabetização: Vocabulário <strong>de</strong> leitura e escrita. Porto Alegre, RS: Artmed, 1999, p. 169-<br />

172.<br />

8<br />

CANCLINI, Néstor Garcia. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras, 2008, p. 54.<br />

9<br />

JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira <strong>de</strong> criar e comunicar.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 105.<br />

16


formas diferentes <strong>de</strong> se organizar, relacionar, escrever, falar e interagir entre eles e com outras<br />

pessoas. Observamos, também, no discurso dos educadores, a percepção <strong>de</strong>ssas mudanças,<br />

quando afirmam que o computador e a Internet, estão acabando com a língua portuguesa, que<br />

os alunos não lêem e não sabem escrever, assim como outras discussões que fazem parte do<br />

cotidiano das preocupações dos educadores.<br />

Ao perceber essa polêmica, como professora do Ensino Médio, convivendo com essa<br />

realida<strong>de</strong>, cursando um Curso <strong>de</strong> Mestrado, na Área <strong>de</strong> Estudos Contemporâneos, cuja linha<br />

<strong>de</strong> pesquisa é Cultura e Linguagem, <strong>de</strong>cidimos verificar que linguagem é essa da qual se faz<br />

uso no ciberespaço. Como essas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita estão sendo vistas pelos<br />

estudantes e educadores e o que pensam sobre isso. Seriam essas práticas <strong>de</strong> escrita e leitura<br />

responsáveis pela mudança da escrita convencional dos estudantes? E como a escola lida com<br />

essa realida<strong>de</strong>? A partir <strong>de</strong>ssa reflexão prévia <strong>de</strong> nossa pesquisa, norteamos nosso estudo em<br />

Carla Coscarrelli e Ana Elisa Ribeiro quando afirmam que é preciso repensar a sala <strong>de</strong> aula,<br />

refletir sobre os ambientes <strong>de</strong> ensino/aprendizagem, reconfigurar conceitos e práticas e<br />

completam: emergiram formas <strong>de</strong> interação e até mesmo novos gêneros e formatos textuais.<br />

Então a escola foi atingida pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir, ampliar, rever 10 .<br />

Com a criação da World Wi<strong>de</strong> Web (WWW) Pierre Lévy afirma: “trata-se,<br />

provavelmente da maior revolução na história da escrita , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a invenção da imprensa” 11 .<br />

Observa-se que o ciberespaço da web possibilita a criação <strong>de</strong> páginas através <strong>de</strong> hipertextos 12<br />

que po<strong>de</strong>m ou não passar por um filtro <strong>de</strong> censura ou correção. Além disso, há os espaços que<br />

permitem o anonimato. O mesmo ocorre com os torpedos nos telefones celulares. A<br />

informática oferece cada vez mais programas sofisticados para revisão <strong>de</strong> textos, porém não<br />

se faz obrigatório em <strong>de</strong>terminados espaços. A apropriação da escrita e leitura sem o uso da<br />

norma culta <strong>de</strong> que fazem uso no ciberespaço, tem causado muitas controvérsias entre os<br />

educadores. Muitos <strong>de</strong>les alegam que essas práticas <strong>de</strong> escrita e leitura, como blogs 13 , flogs 14 ,<br />

10 COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e<br />

possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 8.<br />

11<br />

LÉVY, Pierre. A revolução contemporânea em matéria <strong>de</strong> comunicação. In MARTINS e SILVA (orgs). Para<br />

navegar no século XXI. 3ª Ed. Porto Alegre: Sulina/ Edipucrs, 2003, p. 196.<br />

12<br />

Cf. sobre <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> hipertexto: XAVIER, A. C. O hipertexto na socieda<strong>de</strong> da informação: a constituição do<br />

modo <strong>de</strong> enunciação digital. Tese (Doutorado em Lingüística). Campinas: Instituto <strong>de</strong> Estudos da Linguagem<br />

(IEL). Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (UNICAMP), 2002, e ______. Leitura, texto e hipertexto. In<br />

MARCUSCHI, L. A. (Orgs.) Hipertexto e gêneros digitais: novas formas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentido. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Lucerna, 2004.<br />

13<br />

É um diário on-line no qual se publica comentários, idéias, histórias, textos, ou imagens. Permite comentários<br />

dos seus visitantes.<br />

14<br />

É formado por blogs <strong>de</strong> fotos, ou seja, sites que permitem que você coloque fotos na Internet com facilida<strong>de</strong> e<br />

rapi<strong>de</strong>z, permitindo comentários dos visitantes.<br />

17


e-mails 15 , chats 16 , Orkut 17 , MSN Messenger 18 e outros, têm interferido na leitura e escrita<br />

convencional dos estudantes.<br />

Essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita apresenta marcas do discurso oral, sinais <strong>de</strong> pressa, que<br />

facilita a digitação. À medida que omitem vogais, apresentam excesso <strong>de</strong> pontuação, troca <strong>de</strong><br />

letras, substituição <strong>de</strong> acentos por letras, uso <strong>de</strong> estrangeirismos e outras características que<br />

vão surgindo a cada dia, com regras e códigos próprios e criativos. Muitos educadores temem<br />

que tais práticas possam resultar em vícios e comprometimento no aprendizado e nas práticas<br />

convencionais da escrita e leitura. Porém há que se avaliar possíveis danos e outras<br />

implicações.<br />

Dentre os diversos espaços virtuais que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar, os sites com programas <strong>de</strong><br />

conversa instantânea e ou simultânea, são os que apresentam mais variações na escrita, pelo<br />

fato <strong>de</strong> a escrita não ser necessariamente formal. A oralida<strong>de</strong> na escrita é marcante para<br />

aproximar-se <strong>de</strong> uma conversa presencial e também, por se tratar <strong>de</strong> uma conversa on<strong>de</strong> se<br />

fala com mais <strong>de</strong> uma pessoa, <strong>de</strong> assuntos e lugares diferentes. Sem o uso da oralida<strong>de</strong> a<br />

conversa po<strong>de</strong>rá tornar-se uma comunicação formal sem expressão <strong>de</strong> sentimentos. Isso po<strong>de</strong><br />

justificar o uso <strong>de</strong> símbolos como os emoticons 19 ou smileys 20 , tornando mais divertida e ágil<br />

a conversa.<br />

Essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita no ciberespaço, em <strong>de</strong>terminadas situações, apresenta<br />

características <strong>de</strong> usos da língua no passado, como abreviações, <strong>de</strong>senhos, porém, po<strong>de</strong>m ser<br />

percebidas novida<strong>de</strong>s e possibilida<strong>de</strong>s proporcionadas pela tecnologia da comunicação e<br />

criativida<strong>de</strong> dos usuários. Em muitas situações, o uso <strong>de</strong>ssa escrita não segue as normas já<br />

15 Correio eletrônico. É um serviço disponível na Internet que tem a função <strong>de</strong> controlar o envio e o recebimento<br />

<strong>de</strong> mensagens entre usuários. As mensagens po<strong>de</strong>m conter textos ou imagens que po<strong>de</strong>m ser copiadas no arquivo<br />

do computador.<br />

16 Salas <strong>de</strong> bate papo. Organizam-se por grupos <strong>de</strong> interesse, como ida<strong>de</strong>, sexo, cida<strong>de</strong>s, regiões, etc. Não é<br />

obrigatório revelar as verda<strong>de</strong>iras i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos participantes, a título <strong>de</strong> segurança e privacida<strong>de</strong>.<br />

17 É uma comunida<strong>de</strong> online que conecta pessoas através <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> amigos. É um lugar <strong>de</strong> se fazer<br />

amiza<strong>de</strong>s com pessoas que têm os mesmos interesses. Cf. mais em: FERNANDES, Fábio. A construção do<br />

imaginário cyber: William Gibson, criador da cibercultura. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2006, p. 71-<br />

72.<br />

18 É um programa que possibilita, <strong>de</strong> forma popular e divertida, conversar on-line, através da escrita, fala, ví<strong>de</strong>o,<br />

foto, textos. Porém, usam-se mais a escrita com signos como smiles, emoticons. O usuário possui controle sobre<br />

os participantes <strong>de</strong> uma conversa através das diversas opções <strong>de</strong> status como: online, ocupado, volto logo,<br />

ausente, em ligação, em horário <strong>de</strong> almoço, aparecer offline e outros que o próprio usuário po<strong>de</strong> estabelecer. Esse<br />

espaço permite falar com até 15 contatos na mesma janela. Tem sido um dos recursos mais usados,<br />

principalmente entre os jovens e entre empresas. É o espaço on<strong>de</strong> mais se ousa modificar e criar um estilo<br />

próprio <strong>de</strong> comunicação.<br />

19 São seqüências <strong>de</strong> caracteres tipográficos que transmitem estados psicológicos emotivos. O Nome "emoticon"<br />

<strong>de</strong>riva da contração do inglês emotion+icon. Ex.: *-) significa pensativo. Cf. site<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Emoticon.<br />

20 São as carinhas que correspon<strong>de</strong>m aos emoticons. São elementos paralingüísticos usados na linguagem da<br />

Internet. São também chamados <strong>de</strong> emoticons. Ex.: ☺ que significa feliz. Cf. Site<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Smiley.<br />

18


estabelecidas pela gramática como, por exemplo, troca <strong>de</strong> letras sem se preocupar com a<br />

etimologia das palavras (jente ao invés <strong>de</strong> gente, ak ao invés <strong>de</strong> aqui). Tais práticas <strong>de</strong> leitura<br />

e escrita expressam uma forma <strong>de</strong> se organizar e interagir socialmente, caracterizando assim<br />

um gênero lingüístico do ciberespaço. Conforme Bakhtin, que mesmo não participando <strong>de</strong>sta<br />

época virtual/digital, já previa isso ao tratar da questão dos gêneros lingüísticos, ao afirmar<br />

que cada época e cada grupo social têm seu repertório <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> discurso na comunicação<br />

sócio-i<strong>de</strong>ológica 21 . Isto é, em cada momento histórico po<strong>de</strong>mos observar gêneros lingüísticos<br />

próprios, conforme os recursos e as tecnologias disponíveis <strong>de</strong> cada época e <strong>de</strong> acordo com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cultural. As tecnologias po<strong>de</strong>riam ser uma das mediadoras da construção do<br />

discurso na socieda<strong>de</strong>, possibilitando outras formas para escrever e ler.<br />

Michel <strong>de</strong> Certeau ao tratar da questão <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a escrever nos últimos séculos<br />

afirma que:<br />

nos últimos três séculos apren<strong>de</strong>r a escrever <strong>de</strong>fine a iniciação por excelência<br />

em uma socieda<strong>de</strong> capitalista e conquistadora [...] A i<strong>de</strong>ologia dominante se<br />

muda em técnica, tendo por programa essencial fazer uma linguagem e não<br />

mais lê-la. A própria linguagem <strong>de</strong>ve ser agora fabricada, ‘escrita’ [...] A<br />

escritura se torna um princípio <strong>de</strong> hierarquização social que privilegia, ontem<br />

o burguês, hoje o tecnocrata. 22<br />

Observamos que há um chacoalhar nas estruturas rígidas das normas que regem todos<br />

os princípios e organizações da socieda<strong>de</strong>, uma característica da contemporaneida<strong>de</strong> que tem<br />

sido tratada nos campos da pesquisa em diversas áreas dos saberes. Na comunicação, por<br />

exemplo, emergem possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras práticas <strong>de</strong> leitura e escrita. Surgem outros<br />

gêneros lingüísticos como também surgem os chamados analfabetos digitais. O letramento<br />

digital passa a incorporar as <strong>de</strong>mandas do ensino, porém numa realida<strong>de</strong> em que a<br />

alfabetização e o letramento convencional ainda são consi<strong>de</strong>rados problemas sociais sérios<br />

que têm sido tratados na educação através das políticas educacionais.<br />

Com a invenção da Internet, novas <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> aprendizado se perpetuam como<br />

afirma Marília Levacov:<br />

faz necessário reconhecer que somos todos parceiros, relutantes ou<br />

entusiasmados, necessitando adquirir novas habilida<strong>de</strong>s (‘alfabetização’<br />

digital) para alcançar as mesmas antigas metas (comunicação, informação e<br />

conhecimento) e precisando também reavaliar constantemente nossos<br />

conceitos sobre tais assuntos 23 .<br />

21 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.p. 43.<br />

22 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A invenção do cotidiano. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2000, p. 227-230.<br />

23 LEVACOV, Marília. Bibliotecas virtuais. In MARTINS, Francisco Menezes & SILVA, Juremir Machado da.<br />

(orgs). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p. 269-270.<br />

19


O reconhecimento <strong>de</strong> que há <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

mediante a emergência do virtual/digital, instiga-nos a pensar que estamos frente a um duplo<br />

problema, numa realida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a alfabetização básica ainda é um problema social, um <strong>de</strong>safio<br />

para a educação. Nesse sentido, nosso trabalho preten<strong>de</strong> refletir sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita interativas dos estudantes no ciberespaço para verificar se elas alteram as práticas<br />

convencionais das mesmas e compreen<strong>de</strong>r que linguagem é essa que se usa no ciberespaço <strong>de</strong><br />

sites <strong>de</strong> relacionamentos.<br />

Compreen<strong>de</strong>r e apropriar-se <strong>de</strong> novas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita é <strong>de</strong>safiador,<br />

<strong>de</strong>manda pesquisa e compreensão, pois, <strong>de</strong> acordo com o <strong>de</strong>senvolvimento cultural e<br />

tecnológico, escrita e leitura passaram por diversas formas e suportes <strong>de</strong> edição e divulgação.<br />

No capítulo um <strong>de</strong>sta pesquisa, apresentamos um estudo sobre isso. Bakhtin, ao tratar <strong>de</strong>ste<br />

assunto, chama essas mudanças <strong>de</strong> fenômeno i<strong>de</strong>ológico. Um produto i<strong>de</strong>ológico faz parte <strong>de</strong><br />

uma realida<strong>de</strong>, como todo corpo físico, instrumento <strong>de</strong> produção ou produto <strong>de</strong> consumo; mas<br />

ao contrário <strong>de</strong>stes, ele é exterior, tudo que é i<strong>de</strong>ológico é um signo 24 . Sem signos não existe<br />

i<strong>de</strong>ologia 25 . O autor afirma que todo signo resulta <strong>de</strong> um consenso entre indivíduos<br />

socialmente organizados e que isso é a razão pela qual as formas do signo são condicionadas<br />

tanto pela organização social <strong>de</strong> tais indivíduos como pelas condições em que a interação<br />

acontece.<br />

Portanto, ao basearmos na teoria <strong>de</strong> Bakhtin, como referencial, compreen<strong>de</strong>mos que as<br />

práticas <strong>de</strong> leitura e escrita que emergem no ciberespaço, com suas características,<br />

apresentam-se como um fenômeno i<strong>de</strong>ológico. Essas manifestações implicam mudanças <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> organizações sociais e interações que comportam estudo, investigação e<br />

compreensão. A partir <strong>de</strong>ssa reflexão, consi<strong>de</strong>ramos que nossa pesquisa assegura a sua<br />

relevância científica.<br />

Ao buscarmos compreen<strong>de</strong>r os fenômenos relacionados ao uso e apropriação <strong>de</strong><br />

modalida<strong>de</strong>s e gêneros discursivos diferentes da escrita/leitura convencional 26 , a partir da<br />

incorporação do computador e do uso da Internet no cotidiano das pessoas, e as implicações<br />

que envolvem essa realida<strong>de</strong>, acreditamos assegurar a relevância social <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

24<br />

De acordo com SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2005, p. 58, “o signo é<br />

uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só po<strong>de</strong> funcionar como signo se carregar esse po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> representar, substituir uma outra coisa diferente <strong>de</strong>le”.<br />

25<br />

BAKHTIN, Mikhail. (Volochinov) Marxismo e filosofia da linguagem. 7 ed. São Paulo: Hucitec, 1995. Grifo<br />

do autor.<br />

26<br />

Consi<strong>de</strong>ramos nesta pesquisa como escrita/leitura convencional a modalida<strong>de</strong> da língua padrão, ou seja, a<br />

língua culta que se ensina na escola.<br />

20


Nessa direção, este estudo preten<strong>de</strong> verificar as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita num<br />

contexto histórico e suas representações e impactos que se esten<strong>de</strong>m ao virtual/digital no<br />

ciberespaço.<br />

Verificamos que, <strong>de</strong> acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, PCNs 27 , o<br />

Ensino da Língua Portuguesa <strong>de</strong>ve preparar o aluno para a vida, qualificando-o para o<br />

aprendizado permanente e para o exercício da cidadania, como po<strong>de</strong>mos conferir também na<br />

LDB/96 28 citada nos PCNs:<br />

Art. 36. [...] I - <strong>de</strong>stacará a educação tecnológica básica, a compreensão do<br />

significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico <strong>de</strong><br />

transformação da socieda<strong>de</strong> e da cultura; a língua portuguesa como<br />

instrumento <strong>de</strong> comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da<br />

cidadania; [...] 29<br />

E <strong>de</strong> acordo com a Proposta Curricular <strong>de</strong> Minas Gerais, Conteúdo Básico Comum,<br />

CBC 30 , sobre as diretrizes para o ensino da Disciplina Língua Portuguesa, verificamos que:<br />

[...] a linguagem é atitu<strong>de</strong> interativa em que nos construímos como sujeitos<br />

sociais, autores e interlocutores capazes <strong>de</strong> usar a língua materna para<br />

expressar em varieda<strong>de</strong>s e registros <strong>de</strong> linguagem pertinentes e a<strong>de</strong>quados a<br />

diferentes situações comunicativas. Tal propósito implica o acesso à<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usos da língua, em especial às varieda<strong>de</strong>s cultas e aos gêneros<br />

<strong>de</strong> discurso do domínio público que as exigem, condição necessária ao<br />

aprendizado permanente e à inserção social. 31<br />

De acordo com os PCNs, com a LDB e com o CBC, compreen<strong>de</strong>mos que a escola<br />

possui responsabilida<strong>de</strong>s perante o Ensino da Língua Portuguesa, ou seja, a língua materna, a<br />

língua pátria, nos diversos aspectos da formação e preparação para a vida dos estudantes. A<br />

língua como constituidora dos sujeitos é um instrumento para o exercício da cidadania, media<br />

a compreensão das ciências e das artes, possibilita o acesso ao conhecimento. É um<br />

passaporte para a pessoa compreen<strong>de</strong>r e expressar-se nas diversas situações, registros e<br />

gêneros do discurso. São responsabilida<strong>de</strong>s, atribuições e preocupações dos educadores que<br />

trabalham com a alfabetização e letramento 32 dos estudantes.<br />

27 Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília:<br />

MEC/SEM, 2000.<br />

28 Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996.<br />

29 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília:<br />

MEC/SEM, 2000, p. 33.<br />

30 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta curricular <strong>de</strong> português.<br />

Educação Básica. Ensino Médio, 2005.<br />

31 SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS (SEE-MG). Proposta curricular <strong>de</strong><br />

português. Educação Básica. Ensino Fundamental, 2005, p. 9.<br />

32 Nesse trabalho consi<strong>de</strong>ramos que alfabetização é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer letras, pronunciar e escrever em<br />

uma <strong>de</strong>terminada língua. Letramento é mais que alfabetização; é a habilida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer,<br />

21


Sobre os objetivos específicos propomos verificar como as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

do ciberespaço têm se relacionado com as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita convencional, das quais<br />

professores e alunos fazem uso nos espaços escolares, cujo ensino é uma das atribuições da<br />

escola até então. Analisar se há algum tipo <strong>de</strong> impacto e como a escola se coloca frente à<br />

<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros lingüísticos e usos da linguagem na contemporaneida<strong>de</strong>, em<br />

função da emergência do mundo virtual/digital.<br />

Nesse estudo <strong>de</strong> pesquisa, buscamos compreen<strong>de</strong>r se essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e<br />

leitura do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> relacionamentos seria uma linguagem líquida,<br />

híbrida, uma vez que a mesma apresenta elementos paralingüísticos, estrangeirismos, signos,<br />

símbolos, imagens e outros recursos. Trata-se <strong>de</strong> uma escrita que não segue as normas<br />

convencionais da escrita escolar. Por isso a escola, provavelmente, não é receptiva e não<br />

reconhece essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura como um meio <strong>de</strong> comunicação possível para<br />

realização das ativida<strong>de</strong>s escolares. Isto porque teme que os alunos, ao fazerem uso <strong>de</strong>sta<br />

modalida<strong>de</strong>, possam adquirir vícios <strong>de</strong> escrita e dúvidas quanto ao domínio da ortografia. Isto<br />

é, escrita e leitura praticadas pelos estudantes no ciberespaço dos sites e programas <strong>de</strong><br />

relacionamentos po<strong>de</strong>riam modificar a escrita e a leitura convencional dos estudantes.<br />

Essa pesquisa apresenta caráter <strong>de</strong>scritivo e exploratório. Utilizamos procedimentos<br />

técnicos da pesquisa bibliográfica e <strong>de</strong> levantamento <strong>de</strong> dados, isto é, qualitativa e<br />

quantitativa. As fontes para análise <strong>de</strong> dados foram adquiridas através da pesquisa <strong>de</strong> campo,<br />

com questionários em duas escolas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga-MG 33 e uma coletânea <strong>de</strong> textos<br />

produzidos por estudantes no ciberespaço, Orkut e MSN Messenger. Optamos fazer um<br />

recorte no universo do ciberespaço, pelos textos <strong>de</strong> sites e programas <strong>de</strong> relacionamentos, por<br />

tratarem <strong>de</strong> textos on<strong>de</strong> mais se usa a escrita sem a preocupação com as normas da escrita<br />

convencional. A escolha se <strong>de</strong>u pelo fato <strong>de</strong> estes sites serem os espaços on<strong>de</strong> os mesmos<br />

mais fazem uso <strong>de</strong> escrita livre das normas convencionais, que são ensinadas na escola. A<br />

partir <strong>de</strong>ste estudo, realizamos uma análise dos questionários dos estudantes e dos educadores<br />

para verificar o que pensam e como estão lidando com essa realida<strong>de</strong>.<br />

pronunciar, escrever, compreen<strong>de</strong>r e fazer uso <strong>de</strong> códigos verbais a<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong> acordo com as normas da<br />

língua <strong>de</strong> que se está fazendo uso.<br />

33 O município <strong>de</strong> Formiga possui uma população <strong>de</strong> 64.585 (censo 2007) hab. Contagem da População 2007 <strong>–</strong><br />

IBGE. Está situado na região Centro-Oeste <strong>de</strong> Minas Gerais, na Zona Campo das Vertentes, segundo a divisão<br />

geográfica do Estado. São limítrofes os municípios <strong>de</strong> Guapé, Pimenta, Córrego Fundo, Pains, Arcos, Santo<br />

Antonio do Monte, Pedra do Indaiá, Itapecerica, Can<strong>de</strong>ias e Cristais. Formiga está sitiada a uma distância <strong>de</strong> 186<br />

km da capital do Estado, à qual se liga pela rodovia MG-050. Mais informação cf. site:<br />

http://www.jimi.mg.gov.br/sistema/novo/se<strong>de</strong>s/2008/microrregional_a/formiga/historia.php e<br />

http://www.formiga.mg.gov.br/in<strong>de</strong>x.php. Cf. também fotos Anexo I.<br />

22


As amostras foram coletadas em duas escolas 34 , sendo uma pública e outra particular,<br />

num universo <strong>de</strong> três escolas particulares e cinco estaduais que possuem Ensino Fundamental<br />

e Ensino Médio, todas situadas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga - MG, e que envolveu alunos e<br />

educadores (professores das diversas áreas <strong>de</strong> ensino e pedagogos). Decidimos pesquisar em<br />

escola pública e particular para se ter uma amostra dos diversos perfis <strong>de</strong> alunos e educadores<br />

no universo do Ensino Médio. São escolas que possuem alunos <strong>de</strong> diversos pontos da cida<strong>de</strong>,<br />

isto é, alunos que representam padrões culturais e socioeconômicos diversificados, tentando<br />

<strong>de</strong>sta forma, assegurar uma amostra que possa representar as diversida<strong>de</strong>s da população<br />

pesquisada. A escola particular situa-se no centro da cida<strong>de</strong> e a escola pública em um bairro.<br />

Ambas aten<strong>de</strong>m alunos, também <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais e cida<strong>de</strong>s vizinhas.<br />

A dissertação é composta <strong>de</strong> três capítulos, dividida da seguinte forma: o primeiro<br />

capítulo aborda os sentidos da escrita e leitura frente ao texto eletrônico. Através <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa bibliográfica, apresenta consi<strong>de</strong>rações sobre a história da escrita e da leitura; o livro,<br />

do có<strong>de</strong>x ao livro eletrônico; virtual/digital e o mundo contemporâneo. Para situar a pesquisa<br />

num contexto histórico, nos referimos a invenções tecnológicas e i<strong>de</strong>ológicas, com enfoque na<br />

história da escrita e leitura, a história oral e as práticas das mesmas em cada momento. Para<br />

tal fim, foram usados livros, artigos, teses, dicionários e sites.<br />

No segundo capítulo focalizamos consi<strong>de</strong>rações sobre o ensino da Língua Portuguesa<br />

no Ensino Médio; as políticas pedagógicas através das orientações curriculares e os PCNs e<br />

CBC do Ensino Médio. Tratamos sobre o livro didático, a escola, a escrita e a leitura<br />

virtual/digital. Tudo isso para compreen<strong>de</strong>r e verificar quais são as políticas pedagógicas, os<br />

suportes que norteiam o Ensino da Língua Portuguesa, a realida<strong>de</strong> virtual/digital na escola.<br />

Apresentamos, também, uma análise <strong>de</strong> scraps do Orkut e fragmentos <strong>de</strong> conversa do MSN<br />

Messenger <strong>de</strong> estudantes do Ensino Médio.<br />

O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos e técnicos, referentes à<br />

pesquisa <strong>de</strong> campo, através <strong>de</strong> uma abordagem <strong>de</strong>scritiva e analítica da realida<strong>de</strong> constatada.<br />

Apresentamos o levantamento <strong>de</strong> dados, por meio <strong>de</strong> questionários entre educadores,<br />

estudantes e análises sobre os mesmos. E por fim as consi<strong>de</strong>rações finais, referências<br />

bibliográficas e anexos.<br />

34 Cf. fotos Anexo I. Escola particular: Colégio Losango, situado à Rua Barão <strong>de</strong> Piunhi, Nº. 486, Centro.<br />

Formiga - MG e Escola Estadual: Escola Estadual Dr. Abílio Machado, situada à Rua Ramiro Correia S/ nº.<br />

Bairro Areias Brancas. Formiga <strong>–</strong> MG.<br />

23


CAPÍTULO I<br />

SENTIDOS DA ESCRITA E LEITURA FRENTE AO TEXTO<br />

ELETRÔNICO<br />

Apresentamos, neste capítulo, um estudo sobre a escrita e leitura e o uso das mesmas na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>. O capítulo está dividido em três tópicos. O primeiro tópico (1.1) trata <strong>de</strong><br />

uma breve consi<strong>de</strong>ração sobre a história da escrita e da leitura, com o objetivo <strong>de</strong> situar no<br />

tempo as diversas etapas que as mesmas apresentaram. Destacamos os suportes <strong>de</strong> edição e<br />

difusão da escrita e leitura ao logo da história. No segundo tópico (1.2) apresentamos um<br />

estudo sobre o livro <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua invenção, do có<strong>de</strong>x ao texto eletrônico, com objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stacar seu <strong>de</strong>senvolvimento através das tecnologias da comunicação para verificar sua<br />

importância e sua permanência. No terceiro tópico (1.3) apresentamos um estudo sobre<br />

virtual/digital e o mundo contemporâneo.<br />

1.1 Consi<strong>de</strong>rações sobre a história da leitura e escrita<br />

A escrita atravessou três fases distintas, segundo Cagliari: a pictórica (<strong>de</strong>senho<br />

figurativo), a i<strong>de</strong>ográfica (representação <strong>de</strong> idéias sem indicação dos sons das palavras) e a<br />

fonográfica, ou seja, a alfabética (representação dos sons das palavras). A escrita alfabética<br />

representa as palavras através <strong>de</strong> consoantes e vogais.<br />

A fase pictórica, que se distingue pela escrita <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos ou pictogramas, foi encontrada<br />

em inscrições antigas como na escrita asteca, nos cantos Ojibwa da América do Norte. Os<br />

pictogramas se associavam à imagem do que se queria representar, sendo uma representação<br />

simplificada dos objetos.<br />

A fase i<strong>de</strong>ográfica, caracterizada pela escrita através <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos, chamados, i<strong>de</strong>ogramas,<br />

com o tempo foi per<strong>de</strong>ndo alguns traços da figura, tomando a forma <strong>de</strong> letras. Isso foi, uma<br />

evolução da escrita que <strong>de</strong>u origem ao nosso alfabeto. Sabe-se que as escritas i<strong>de</strong>ográficas<br />

mais importantes são a egípcia, a mesopotâmica, as escritas da região do mar Egeu e a<br />

chinesa.<br />

Conforme Cagliari, antes que o alfabeto tomasse a forma atual, inúmeras transformações<br />

ocorreram, A fase alfabética se caracterizou pelo uso <strong>de</strong> letras originadas nos i<strong>de</strong>ogramas, que<br />

24


per<strong>de</strong>ram seu valor enquanto i<strong>de</strong>ográfico que por sua vez per<strong>de</strong>u seu valor pictórico,<br />

assumindo uma nova função <strong>de</strong> escrita, uma representação fonética 35 .<br />

De acordo com estudiosos da história da escrita, os caracteres egípcios <strong>de</strong>ram origem à<br />

escrita semítica e o nome da letra semítica coinci<strong>de</strong> com o significado do hieróglifo egípcio.<br />

O alfabeto grego formou-se a partir do sistema <strong>de</strong> escrita fenício, isto é, uma ramificação da<br />

escrita semítica, que funcionou como mo<strong>de</strong>lo gráfico. Alguns caracteres fenícios passaram a<br />

representar vogais no alfabeto grego, per<strong>de</strong>ndo-se assim o valor consonantal <strong>de</strong> origem, ou<br />

seja, as línguas semíticas grafavam apenas as consoantes das palavras. Os gregos, ao<br />

introduzirem as vogais no sistema <strong>de</strong> escrita, <strong>de</strong>senvolveram o primeiro alfabeto mo<strong>de</strong>rno. O<br />

abecedário romano que usamos hoje <strong>de</strong>rivou do alfabeto grego. Obviamente, com a invenção<br />

da escrita, surge a leitura, as quais andam atreladas e <strong>de</strong>mandam aprendizagem. Essa <strong>de</strong>manda<br />

é atribuição da escola, porque é na escola que os estudantes <strong>de</strong>senvolvem suas habilida<strong>de</strong>s<br />

para a alfabetização e o letramento.<br />

Cagliari, ao referir-se à escrita, afirma: “a escrita, seja ela qual for, sempre foi uma<br />

maneira <strong>de</strong> representar a memória coletiva, religiosa, mágica, científica, política, artística e<br />

cultural” 36 . Portanto, reconhece a importância social que escrita e leitura exercem na vida<br />

cultural <strong>de</strong> um povo.<br />

O ato <strong>de</strong> escrever e ler sempre se apresentou <strong>de</strong> forma diferente, em cada momento da<br />

história, <strong>de</strong> acordo com as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte que o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e as<br />

transformações e permanências culturais propiciaram. Toda mudança <strong>de</strong>manda<br />

reconhecimento, tempo para adaptações, assimilações; surgem <strong>de</strong>bates, negociações que,<br />

muitas vezes, apresentam-se <strong>de</strong> forma polêmica, com resistências e cautelas. Até que passe<br />

fazer uso na rotina da vida cultural das pessoas, ou seja, sem gran<strong>de</strong>s polêmicas. Isso se dá<br />

através do intercâmbio <strong>de</strong> informações e interações. Essa realida<strong>de</strong> tem estado presente na<br />

socieda<strong>de</strong>, como verificamos em Thompson, quando afirma que, em todas as socieda<strong>de</strong>s, os<br />

seres humanos se ocuparam da produção e do intercâmbio <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> conteúdos<br />

simbólicos. Des<strong>de</strong> as mais antigas formas <strong>de</strong> comunicação, seja gestual e <strong>de</strong> uso da<br />

linguagem, até os mais recentes <strong>de</strong>senvolvimentos na tecnologia computacional, a produção,<br />

o armazenamento e a circulação <strong>de</strong> informação e conteúdo simbólico têm sido aspectos<br />

centrais da vida humana 37 .<br />

35<br />

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística: 9ª ed. São Paulo, SP. Editora Scipione, 1996, p. 109.<br />

36<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 112.<br />

37<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p.19.<br />

25


A produção e o intercâmbio <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> conteúdos se transformam, sofrem<br />

mudanças ao longo da história. E, em cada momento histórico, observa-se que uma<br />

ferramenta se <strong>de</strong>stacou na transmissão da cultura, das interações e evoluções culturais <strong>de</strong> um<br />

povo, registrando assim o contexto histórico <strong>de</strong> todas as gerações que interferiram, ou melhor,<br />

repercutiram nas relações e organizações sociais. Thompson afirma que o uso dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação transforma a organização espacial e temporal da vida social, cria novas formas<br />

<strong>de</strong> ação e interação e novas maneiras <strong>de</strong> exercer o po<strong>de</strong>r que está mais ligado ao<br />

compartilhamento local comum 38 .<br />

A oralida<strong>de</strong> foi o primeiro suporte da escrita para os antepassados. E sobre isso<br />

verificamos em Jeanne Marie Gagnebin a relação entre oralida<strong>de</strong> e escrita, quando afirma que<br />

a memória dos homens constrói estes dois pólos: o da transmissão oral viva e efêmera e a<br />

conversa pela escrita, que talvez dure por mais tempo 39 .<br />

Roger Chartier afirma que as ‘revoluções da leitura’ são múltiplas e que não estão<br />

imediatamente ligadas à invenção ou às transformações da impressão. A primeira revolução<br />

consiste no processo crescente <strong>de</strong> leitores que passam <strong>de</strong> uma prática <strong>de</strong> leitura oral, para uma<br />

leitura visual, puramente silenciosa. Foi durante a Ida<strong>de</strong> Média que a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler em<br />

silêncio foi conquistada pelos leitores oci<strong>de</strong>ntais. A segunda revolução na leitura ocorreu<br />

durante a era da impressão, mas antes da industrialização da produção do livro 40 .<br />

O século XIX é marcado por uma nova categoria <strong>de</strong> leitores (mulheres, crianças,<br />

trabalhadores) que, até então, eram privados da leitura. Isso popularizou a leitura, diminuindo<br />

o analfabetismo, diversificando a produção impressa e permitindo novas práticas <strong>de</strong> leitura.<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias, surgiram novas ferramentas para produzir o<br />

livro, difundir a leitura e ampliar a comunicação. Neste contexto, escrita e leitura passam por<br />

configurações significativas on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m observar mudanças nas interações e interlocuções<br />

sociais. A socieda<strong>de</strong>, por sua vez, reorganiza-se a partir <strong>de</strong>stas mudanças. Como afirma<br />

Roger Chartier: “A nova relação com os textos obriga a uma profunda reorganização da<br />

‘economia da escrita’” 41 . Compreen<strong>de</strong>mos aqui por ‘economia da escrita’ a regulamentação,<br />

a produção, a distribuição e o consumo da mesma. Surgem práticas sociais <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

<strong>de</strong> forma diferente daquelas em uso até então. As <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> práticas sociais <strong>de</strong> leitura e<br />

38<br />

, THOMPSON, John B.A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 2001, p.14.<br />

39<br />

GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer, 2006, p. 11.<br />

40<br />

CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />

história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP,<br />

2000, p. 23-24.<br />

41<br />

Ibi<strong>de</strong>m, 2000, p. 27.<br />

26


escrita digital através das novas tecnologias conduzem a um estado ou condição diferente das<br />

práticas <strong>de</strong> leitura e escrita tipográfica. Para Thompson, o <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação cria novas formas <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> interação e novos tipos <strong>de</strong> relacionamentos<br />

sociais. Ele faz surgir uma complexa reorganização <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> interação humana através<br />

do espaço e do tempo. Com o <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong> comunicação, a interação se<br />

dissocia do ambiente físico, <strong>de</strong> tal maneira, que os indivíduos po<strong>de</strong>m interagir uns com os<br />

outros, ainda que não partilhem do mesmo ambiente espaço-temporal 42 , a virtualida<strong>de</strong><br />

evi<strong>de</strong>ncia.<br />

Antes da invenção da imprensa, a produção e reprodução manuscritas dos textos<br />

condicionavam sua difusão, seu uso e, conseqüentemente, as práticas <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> leitura.<br />

Por um lado, os livros manuscritos da Ida<strong>de</strong> Média eram objetos <strong>de</strong> luxo, a que poucos tinham<br />

acesso; por outro lado, os copistas, freqüentemente, alteravam o texto, ou por erro ou por<br />

intervenção consciente, <strong>de</strong> modo que as cópias do mesmo texto raramente eram idênticas.<br />

Além disso, o possuidor ou o leitor do manuscrito tinha a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir no texto,<br />

acrescentando títulos, notas, observações pessoais, porque espaços em branco eram <strong>de</strong>ixados<br />

para essa finalida<strong>de</strong>.<br />

De acordo com Roger Chartier, a invenção da imprensa não representou uma<br />

transformação tão absoluta como se costuma afirmar. Um livro manuscrito (sobretudo nos<br />

séculos, XIV e XV) e um livro pós Gutemberg baseiam-se nas mesmas estruturas<br />

fundamentais, as do có<strong>de</strong>x 43 . A revolução <strong>de</strong> Gutenberg alterou as formas <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong><br />

reprodução e <strong>de</strong> difusão da escrita e, conseqüentemente, modificou significativamente as<br />

práticas sociais e individuais <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita, modificando o letramento, isto é, o estado<br />

ou condição <strong>de</strong> quem participa <strong>de</strong> eventos em que tem papel fundamental a escrita.<br />

Thompson <strong>de</strong>staca três <strong>de</strong>senvolvimentos chaves no final do século XIX e XX que<br />

foram relevantes no sistema <strong>de</strong> comunicação: 1) O <strong>de</strong>senvolvimento dos sistemas <strong>de</strong> cabos<br />

submarinos pelas potências imperiais européias; 2) O estabelecimento <strong>de</strong> novas agências<br />

internacionais e a divisão do mundo em esferas <strong>de</strong> operação exclusivas; e 3) A formação <strong>de</strong><br />

organizações internacionais, interessadas na distribuição do espectro eletromagnético. Desses<br />

três <strong>de</strong>senvolvimentos, <strong>de</strong>stacam-se três elementos que marcaram <strong>de</strong> forma sucessiva cada<br />

época:<br />

42<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001.p.77.<br />

43<br />

CHARTIER, Roger. A or<strong>de</strong>m dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e<br />

XVIII. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2ª ed., 1998, p. 7.<br />

27


1. O telégrafo foi o primeiro meio <strong>de</strong> comunicação que explorou com sucesso o<br />

potencial comunicativo da eletricida<strong>de</strong>.<br />

2. Um segundo <strong>de</strong>senvolvimento do século XIX, que teve consi<strong>de</strong>rável importância<br />

para a formação das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação global, foi o estabelecimento <strong>de</strong> agências<br />

internacionais <strong>de</strong> notícias.<br />

3. Um terceiro <strong>de</strong>senvolvimento que exerceu um importante papel na globalização da<br />

comunicação provém também do final do século XIX. Diz respeito ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

novos meios <strong>de</strong> transmitir informações através <strong>de</strong> ondas eletromagnéticas e a sucessão <strong>de</strong><br />

tentativas para regular a distribuição do espectro eletromagnético 44 .<br />

Observamos que o <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias possibilitou mudanças no suporte<br />

físico da escrita, assim como na leitura. Roger Chartier afirma que tais mudanças forçam o<br />

leitor a ter novas atitu<strong>de</strong>s e apren<strong>de</strong>r novas práticas intelectuais. A passagem dos textos do<br />

livro impresso para a tela do computador é uma mudança tão gran<strong>de</strong> quanto a passagem do<br />

rolo para o có<strong>de</strong>x durante os primeiros séculos da Era Cristã. Isso <strong>de</strong>safia a or<strong>de</strong>m dos livros<br />

familiares aos leitores e dita novos caminhos <strong>de</strong> leitura que superam as limitações tradicionais<br />

impostas pelos objetos impressos 45 .<br />

Não é a primeira vez que as novas tecnologias intelectuais são acompanhadas por<br />

modificações do saber, 46 como afirma Pierre Lévy. Nesta mesma obra o autor, ao tratar sobre<br />

os três tempos do espírito, afirma que o ser humano, ao longo <strong>de</strong> sua história, conheceu três<br />

tempos distintos; a oralida<strong>de</strong> primária, a escrita, e a informática. O tempo da oralida<strong>de</strong><br />

primária é baseado na memória, na narrativa e no rito. O tempo da escrita é estabelecido na<br />

interpretação, na teoria e na legislação, ao passo que o da informática se fixa na mo<strong>de</strong>rnização<br />

operacional e simulação como forma <strong>de</strong> conhecimento. O referencial não se estabelece<br />

inscrito no papel que é suporte inerte, rígido, mas está no computador on<strong>de</strong> são corrigidos e<br />

aperfeiçoados continuamente. Dificilmente o mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong>finitivo.<br />

De acordo com Thompson, a prática <strong>de</strong> transmitir mensagens através <strong>de</strong> extensas<br />

faixas <strong>de</strong> espaço não é recente, porém foi no século XIX que as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação foram<br />

organizadas sistematicamente em escala global, firmando assim a globalização. Isto se <strong>de</strong>veu<br />

44<br />

Cf. THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 200,1 p.137 - 142.<br />

45<br />

CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />

história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP,<br />

2000, p. 28.<br />

46<br />

LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. 14ª ed. São<br />

Paulo - SP: Editora 34, 2006, p.19, 75-85.<br />

28


em parte ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas tecnologias <strong>de</strong>stinadas a dissociar a comunicação do<br />

transporte físico das mensagens e as implicações econômicas, políticas e militares 47 .<br />

O ato <strong>de</strong> comunicar, transmitir mensagens e conhecimentos, apresenta <strong>de</strong> formas<br />

distintas em cada momento histórico do ser humano. Verificamos em Umberto Eco que nos<br />

mosteiros os cristãos constituíam fortalezas on<strong>de</strong> o conhecimento era preservado com imensas<br />

dificulda<strong>de</strong>s. Dado à inexistência da imprensa, os livros tinham <strong>de</strong> ser copiados a mão por<br />

monges <strong>de</strong>dicados. Em conseqüência, os livros eram bastante raros e <strong>de</strong> difícil acesso. Essa<br />

falta <strong>de</strong> circulação do conhecimento persistiu até a revolução científica dos séculos XVII e<br />

XVIII 48 . Percebemos que sempre houve um esforço humano para que a circulação da<br />

informação se mantivesse com os recursos <strong>de</strong> cada época.<br />

A globalização também não é algo novo. Des<strong>de</strong> que os indivíduos começaram um<br />

intercâmbio <strong>de</strong> mercadorias, isso caracteriza-se como globalização. Porém teria ficado mais<br />

evi<strong>de</strong>nte através das novas tecnologias e velocida<strong>de</strong>s como a Internet, on<strong>de</strong> tempo e espaço se<br />

reconfiguram.<br />

A criação da Internet revolucionou o final do século XX e seu impacto na vida da<br />

humanida<strong>de</strong> ainda é imprevisível, mediante as diversas perspectivas que ela possibilita. A<br />

Internet é mais que uma possível mídia publicitária, que vem sendo <strong>de</strong>scoberta e explorada<br />

gradativamente. De acordo com Lévy trata-se, provavelmente, da maior revolução na história<br />

da escrita, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a invenção da imprensa. E o mesmo afirma: a explosão da Web não foi<br />

prevista nem <strong>de</strong>sejada pelas gran<strong>de</strong>s multinacionais da informática, das telecomunicações ou<br />

da mídia, mas expandiu como um rastro <strong>de</strong> pólvora entre os cibernautas 49 .<br />

Com a invenção da Internet inaugura-se a era digital 50 . A escrita e a leitura<br />

configuraram-se em novas modalida<strong>de</strong>s. Observam-se novos gêneros lingüísticos com<br />

características distintas da escrita normativa. A criação <strong>de</strong> uma linguagem rápida, abreviada,<br />

com expressões únicas até então inexistentes, cheias <strong>de</strong> ícones 51 , emoticons 52 , ou smiley 53 ,<br />

animações, ausência <strong>de</strong> vogais, ausência <strong>de</strong> acentuação, às vezes com excesso ou falta <strong>de</strong><br />

47<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p.137.<br />

48<br />

ECO, Umberto. O nome da rosa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 2000.<br />

49<br />

LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p. 196.<br />

50<br />

Consi<strong>de</strong>ramos aqui como era digital o início <strong>de</strong> uma época notável que utiliza um conjunto <strong>de</strong> dígitos, em vez<br />

<strong>de</strong> ponteiros ou marcas numa escala, para mostrar informações numéricas. Em informática, o computador que<br />

opera com quantida<strong>de</strong>s numéricas ou informações expressas por algarismos<br />

51<br />

Consi<strong>de</strong>ramos ícones, aqui, mensagens gráficas que funcionam como representação visual <strong>de</strong> um comando, e<br />

que permite ao utilizador fazer operar esse comando sem ter necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixá-lo e digitar.<br />

52<br />

São caracteres tipográficos que transmitem estados psicológicos emotivos, exemplos: :) = feliz, ): = triste, *-*<br />

= emocionado, *-) = pensativo. Cf. site http://pt.wikipedia.org/wiki/Emoticon<br />

53<br />

São as carinhas: referem-se aos emoticons. Cf. Site http://pt.wikipedia.org/wiki/Smiley<br />

29


pontuação, uso <strong>de</strong> letras minúsculas no lugar <strong>de</strong> maiúsculas e abreviaturas ou alongamento <strong>de</strong><br />

palavras que só são compreendidas por quem domina essa escrita e leitura. É uma linguagem<br />

que permite uma comunicação mais rápida, às vezes com menos caracteres. A oralida<strong>de</strong> e a<br />

pressa fazem com que os sujeitos <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rem regras básicas da gramática e da ortografia<br />

normativa. Os usuários da Internet formam uma nova comunida<strong>de</strong> lingüística com maneiras<br />

específicas <strong>de</strong> conversar, utilizando-se <strong>de</strong> outros recursos semióticos para substituir a<br />

conversa face a face, obtendo <strong>de</strong>ste modo a construção <strong>de</strong> hipertextos. Neste contexto, os<br />

usuários se organizam e interagem <strong>de</strong> formas diferentes das convencionais. A noção <strong>de</strong> tempo<br />

e <strong>de</strong> espaço configuram novos conceitos, <strong>de</strong>vido às velocida<strong>de</strong>s e à evidência do virtual.<br />

A Internet apresenta-se como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outra forma <strong>de</strong> linguagem que po<strong>de</strong><br />

incorporar elementos comunicativos <strong>de</strong> diversas mídias, operando com textos e imagens que<br />

são relacionados <strong>de</strong> forma simultânea na tela e segundo os movimentos do usuário. Este<br />

dispõe <strong>de</strong> um fluxo <strong>de</strong> informações que se alimenta <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> planetária e mutante, tendo<br />

em vista que esta po<strong>de</strong> ser atualizada, em tempo cada vez mais curto e em várias partes do<br />

mundo, ao mesmo tempo.<br />

Roger Chartier, ao afirmar sobre os <strong>de</strong>safios da atualida<strong>de</strong>, diz que enfrentamos duplos<br />

<strong>de</strong>safios atualmente. De um lado, a profunda transformação que está alterando todos os modos<br />

<strong>de</strong> publicação, comunicação e recepção da palavra escrita, e isso <strong>de</strong>ve ser acompanhado por<br />

uma reflexão histórica, jurídica e filosófica. Mas, por outro lado, a representação eletrônica<br />

dos textos não <strong>de</strong>ve, <strong>de</strong> modo algum, implicar no rebaixamento, no esquecimento ou, pior<br />

ainda, na <strong>de</strong>struição dos objetos que mantiveram e mantêm originalmente os trabalhos do<br />

passado ou do presente. Talvez isto seja uma das tarefas fundamentais das gran<strong>de</strong>s bibliotecas<br />

hoje: é a <strong>de</strong> colecionar, proteger, inventariar e, finalmente, tornar acessível a herança da<br />

cultura escrita 54.<br />

Para Roger Chartier esse novo mundo eletrônico não significa a morte da impressão.<br />

Temos <strong>de</strong> lembrar que, somente preservando o entendimento da cultura impressa, po<strong>de</strong>remos<br />

saborear completamente a ‘felicida<strong>de</strong> extravagante’ prometida pelas inovações tecnológicas 55 .<br />

Roger Chartier discorre que a leitura é sempre apropriação, invenção, produção <strong>de</strong><br />

significados 56 . O texto implica significações que cada leitor constrói a partir <strong>de</strong> seus próprios<br />

códigos <strong>de</strong> leitura, quando ele recebe ou se apropria do texto <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>terminada 57 .<br />

54 CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />

história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP,<br />

2000, p. 30.<br />

55 Ibi<strong>de</strong>m, p. 31.<br />

56 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP 1999, p. 77<br />

30


O computador, através da Internet, vem proporcionado uma revolução nos meios <strong>de</strong><br />

comunicação e difusão <strong>de</strong> leitura e escrita e nas organizações sociais. Nunca se escreveu tanto<br />

e nunca se leu tanto <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua invenção. Uma nova modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita ou um novo<br />

gênero lingüístico se configura. A leitura e a escrita não se separam, sempre tiveram uma<br />

relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, são ações que funcionam juntas. No computador, isso se evidência<br />

ainda mais. Uma vez que se usa a escrita digital, faz-se uso da leitura e vice-versa. Isto é, ao<br />

ler na tela, digitar comandos e escrever, pratica-se o ato <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita. O leitor se<br />

<strong>de</strong>para com um novo suporte com o qual vai se adaptando, <strong>de</strong> acordo com suas <strong>de</strong>mandas.<br />

Roger Chartier afirma que a revolução do nosso presente é mais importante do que a<br />

<strong>de</strong> Gutenberg 58 . Isto porque essa revolução modificou a técnica <strong>de</strong> reprodução do texto e as<br />

próprias formas <strong>de</strong> suporte do escrito, os modos <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong> estruturação e <strong>de</strong> consulta<br />

dos leitores. A tela substituiu o có<strong>de</strong>x. Ler um livro jamais será como ler na tela. Com essa<br />

realida<strong>de</strong> percebe-se que a cognição da leitura e escrita passa por um processo <strong>de</strong> adaptação,<br />

que não rompe com práticas já existentes, porém agrega novas formas <strong>de</strong> ler e escrever.<br />

Sabemos que, com o <strong>de</strong>senvolvimento dos sistemas <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> meios técnicos<br />

como o pergaminho e o papel, aumentaram substancialmente a reprodutibilida<strong>de</strong> das formas<br />

simbólicas. A invenção da máquina impressora permitiu a reprodução <strong>de</strong> mensagens escritas<br />

em escala e rapi<strong>de</strong>z que, até então, eram impossíveis. Da mesma forma que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da litografia, do gramofone, do rádio gravador foram significativos, não<br />

somente porque permitiram a fixação <strong>de</strong> fenômenos visuais e acústicos nos meios técnicos<br />

duráveis e também por fenômenos que eram fixados em meios que lhes facilitavam, em<br />

princípio, a reprodução.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sse nosso estudo realizado até aqui foi verificar em linhas gerais a<br />

história da escrita e leitura para situá-las no tempo e verificar as práticas <strong>de</strong> leituras atuais no<br />

contexto virtual/digital do mundo contemporâneo.<br />

57 Ibi<strong>de</strong>m, 1999, p. 152.<br />

58 CHARTIER Roger. A or<strong>de</strong>m dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e<br />

XVIII. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2ª ed., 1998, p. 97.<br />

31


1.2 O livro: do có<strong>de</strong>x 59 ao texto eletrônico<br />

O livro é um produto intelectual que expressa conhecimentos individuais ou coletivos<br />

através <strong>de</strong> textos manuscritos e ou impressos, com ou sem imagens. Ele é um dos diversos<br />

suportes <strong>de</strong> transmissão e inscrição do texto, <strong>de</strong> fácil transporte, <strong>de</strong>vido à facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> para<br />

manuseio pela leveza, tamanho e formato. Sua história é <strong>de</strong> inovações das técnicas que<br />

permitiram a melhora da conservação dos volumes e do acesso à informação, da facilida<strong>de</strong> em<br />

manuseá-lo e produzi-lo. Esta história está intimamente ligada a contingências políticas e<br />

econômicas e à história <strong>de</strong> idéias e religiões. Para Cagliari a invenção do livro e, sobretudo da<br />

imprensa, são gran<strong>de</strong>s marcos da História da humanida<strong>de</strong>, após a invenção da escrita 60 .<br />

Para se chegar à invenção do livro, a escrita passou por uma trajetória <strong>de</strong> invenções <strong>de</strong><br />

suportes: os primeiros, utilizados para a escrita, foram tabuletas <strong>de</strong> argila ou <strong>de</strong> pedra. A<br />

seguir, veio o cilindro <strong>de</strong> papiro, facilmente transportado. O texto era escrito em colunas na<br />

maioria das vezes. Algumas vezes um mesmo cilindro continha várias obras.<br />

No final do Império Romano e durante toda a Ida<strong>de</strong> Média, a transmissão do saber<br />

humano era feito por meio <strong>de</strong> códices, livros manuscritos, geralmente em pergaminho, que<br />

constituíam autênticas obras <strong>de</strong> arte. Os códices vieram para substituir os rolos <strong>de</strong> papiros<br />

enrolados em um cilindro <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, comumente utilizados na Antiguida<strong>de</strong>. Tábulas<br />

retangulares <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, revestidas <strong>de</strong> cera e unidas por cordões ou anéis, foram utilizadas<br />

pelos gregos e romanos para receberem registros contábeis ou textos didáticos; são os<br />

antepassados imediatos dos códices. A substituição do papiro pelo pergaminho foi a partir do<br />

século IV, que difundiu o códice como suporte para a escrita.<br />

O có<strong>de</strong>x apresentava diversas vantagens sobre o rolo. Esse era muito incômodo, pois<br />

para encontrar uma <strong>de</strong>terminada passagem no meio <strong>de</strong> uma obra, era preciso <strong>de</strong>senrolá-lo até<br />

achar o trecho e <strong>de</strong>pois enrolá-lo <strong>de</strong> novo. Já o livro podia ser facilmente aberto em qualquer<br />

página e, como se escreve dos dois lados <strong>de</strong> cada folha, permite economizar material e incluir<br />

mais informação. Num rolo <strong>de</strong> tamanho normal havia espaço apenas para um evangelho,<br />

como por exemplo, o evangelho <strong>de</strong> São Mateus, ao passo que a Bíblia inteira cabia num livro.<br />

Além disso, os códices mostravam-se mais fáceis <strong>de</strong> armazenar e proteger.<br />

59 De acordo com CHARTIER, Roger. Os <strong>de</strong>safios da escrita. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 106, “São<br />

objetos compostos <strong>de</strong> folhas dobradas um certo número <strong>de</strong> vezes, o que <strong>de</strong>termina o formato do livro e a<br />

sucessão dos ca<strong>de</strong>rnos. Estes ca<strong>de</strong>rnos são montados, costurados uns aos outros e protegidos por uma<br />

enca<strong>de</strong>rnação.”<br />

60 CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Lingüística: 9ª ed. São Paulo, SP. Editora Scipione, 1996, p. 112.<br />

32


O códice surgiu na Antiguida<strong>de</strong>, no século I da era cristã, contendo textos escolares,<br />

relatos <strong>de</strong> viagens ou registros contábeis. Seu uso se multiplicou nos séculos II e III em<br />

conseqüência do incremento da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> livros e da adoção do pergaminho que, no século<br />

IV, substituiu o papiro. Nessa época, o códice substituiu <strong>de</strong>finitivamente o rolo e adquiriu a<br />

forma característica <strong>de</strong> livro, isto é, formado por vários ca<strong>de</strong>rnos.<br />

Foi no Império Romano que se <strong>de</strong>senvolveu a indústria livreira. Os editores repartiam<br />

o papiro entre os librarii e copistas, e os textos eram ditados para eles. Depois <strong>de</strong> corrigidos<br />

por revisores, os textos eram enca<strong>de</strong>rnados. Tornou-se intenso o comércio <strong>de</strong> rolos e códices,<br />

nas chamadas tabernae librariae.<br />

Os primeiros mosteiros cristãos acolheram em sua estrutura fra<strong>de</strong>s encarregados <strong>de</strong><br />

preparar as tintas e os pergaminhos, enquanto outros, chamados scriptores, copiavam os<br />

textos na sala conhecida com scriptorium.<br />

No século XI, passou-se a marcar a continuida<strong>de</strong> dos ca<strong>de</strong>rnos escrevendo, no fim da<br />

última página, a primeira palavra do ca<strong>de</strong>rno seguinte. No século XIII, quase todos os códices<br />

eram assinalados <strong>de</strong>ssa forma, e no século XVI a prática se generalizou.<br />

A partir do século XII, quando surgiram as universida<strong>de</strong>s e o pensamento oci<strong>de</strong>ntal<br />

experimentou uma completa renovação, a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> códices se multiplicou<br />

extraordinariamente e se <strong>de</strong>senvolveu uma nova indústria, que pouco <strong>de</strong>via à da época<br />

romana. As cida<strong>de</strong>s universitárias acolhiam todos os que participavam da fabricação dos<br />

livros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> copistas e enca<strong>de</strong>rnadores até comerciantes. Embora as técnicas empregadas no<br />

século XII não diferissem das antigas, os novos artesãos do livro, agora reunidos em grêmios,<br />

rivalizavam entre si na excelência <strong>de</strong> seus trabalhos e formavam escolas ligadas a alguma<br />

universida<strong>de</strong> ou país. As universida<strong>de</strong>s, por sua vez, não permitiam a circulação <strong>de</strong> cópias <strong>de</strong><br />

má qualida<strong>de</strong> em seus esforços para proteger a pureza e a exatidão dos textos. Nessa época, e<br />

antes da invenção da imprensa, os leitores podiam prover-se <strong>de</strong> livros comprando-os<br />

diretamente nos stationarii ou encomendando-os a um scriptor ou copista. Estes costumavam<br />

alugar os ca<strong>de</strong>rnos aos livreiros, com preços <strong>de</strong>terminados pela universida<strong>de</strong>. O sistema <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>rnos permitia que vários copistas trabalhassem na mesma obra simultaneamente. As<br />

universida<strong>de</strong>s também se reservavam o direito <strong>de</strong> inspecionar os exemplares em po<strong>de</strong>r dos<br />

livreiros.<br />

Além <strong>de</strong>sses livros <strong>de</strong> texto, que tinham certa difusão, no fim da Ida<strong>de</strong> Média as<br />

igrejas e os gran<strong>de</strong>s magnatas costumavam encomendar a confecção <strong>de</strong> luxuosos códices <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> valor artístico. Esses livros já não eram realizados por copistas, mas por calígrafos e<br />

ilustradores muito especializados.<br />

33


Foram também freqüentes as redações <strong>de</strong> códices sobre pergaminhos anteriormente<br />

escritos e <strong>de</strong>pois raspados e apagados, os palimpsestos, que proliferaram, sobretudo nos<br />

séculos VII e VIII, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> pergaminhos virgens.<br />

Com a invenção da imprensa e o <strong>de</strong>senvolvimento do papel, como suporte para a<br />

escrita, multiplicaram-se as possibilida<strong>de</strong>s da edição <strong>de</strong> livros que acarretaram a <strong>de</strong>cadência<br />

dos códices. Durante o Renascimento, os estudiosos do classicismo puseram em moda os<br />

códices escritos com a chamada littera antiqua muito apreciado pelos colecionadores.<br />

O livro tornou-se um produto <strong>de</strong> consumo, um bem a partir <strong>de</strong> sua invenção. A tarefa<br />

<strong>de</strong> criar um conteúdo passível <strong>de</strong> ser transformado em livro é tarefa do autor. Já a produção<br />

dos livros, no que concerne a transformar os originais em um produto comercializável, é<br />

tarefa do editor, em geral, contratado por uma editora. Uma terceira função associada ao livro<br />

é a coleta, organização e in<strong>de</strong>xação <strong>de</strong> coleções <strong>de</strong> livros, típica do bibliotecário.<br />

A permanência do livro impresso é um fato que se discute hoje, como se a Internet<br />

representasse uma ameaça à sua existência. As bibliotecas eletrônicas, sem muros já são uma<br />

realida<strong>de</strong>. Porém observamos que há uma dualida<strong>de</strong> entre o livro impresso e o livro<br />

eletrônico. Se há tal risco <strong>de</strong> extinção do livro impresso acreditamos que ainda é cedo para<br />

afirmar. Porém há consi<strong>de</strong>rações, como verificamos em Roger Chartier, ao citar Henri-Jean<br />

Martin, on<strong>de</strong> ele afirma que o livro não exerce mais o po<strong>de</strong>r que já teve; ele não é mais o<br />

mestre <strong>de</strong> nossos raciocínios ou <strong>de</strong> nossos sentimentos, em face dos novos meios <strong>de</strong><br />

informação e <strong>de</strong> comunicação dos quais, a partir <strong>de</strong> agora, dispomos 61 . Não interpretamos a<br />

Internet como ameaça à existência do livro, apenas ressaltamos discussões que verificamos.<br />

De acordo com essa discussão Roger Chartier afirma que a revolução do livro eletrônico é<br />

uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras <strong>de</strong> ler<br />

62 63<br />

. Cada leitor constrói, a partir <strong>de</strong> seus próprios códigos <strong>de</strong> leitura, os significados . E isso<br />

ocorre <strong>de</strong> forma diferente em cada existência em que o texto se apresenta segundo Steven<br />

Johnson, o leitor, na tela, não lê como no papel 64 . A compreensão, ou seja, as construções<br />

acontecem <strong>de</strong> forma diferenciada.<br />

De acordo com Roger Chartier, vivemos hoje a pluralida<strong>de</strong> da existência do texto e a<br />

eletrônica é apenas uma <strong>de</strong>ntre elas. É preciso preservar as próprias condições <strong>de</strong> sua<br />

inteligibilida<strong>de</strong>, conservando os objetos que os transmitiram. A biblioteca material, na sua<br />

61 CHARTIER, Roger. A or<strong>de</strong>m dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e<br />

XVIII. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2ª ed., 1998, p. 95.<br />

62 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p.13<br />

63 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 152.<br />

64 JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira <strong>de</strong> criar e<br />

comunicar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p 105.<br />

34


função <strong>de</strong> preservação das formas sucessivas da cultura escrita tem, também, um futuro<br />

necessário 65 .<br />

1.3 Virtual/digital e o mundo contemporâneo<br />

No mundo contemporâneo, as palavras, virtual e digital estão em evidência. Digital é<br />

uma palavra usada geralmente em computador e em eletrônica, especialmente on<strong>de</strong> a<br />

informação real da palavra é convertida ao formulário numérico binário, como na fotografia e<br />

áudio. A palavra digital <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> dígito, que por sua vez proce<strong>de</strong> do latim digitus,<br />

significando <strong>de</strong>do. É o sistema on<strong>de</strong> o sinal não tem a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> variar. É a informação<br />

processada <strong>de</strong> forma binária através <strong>de</strong> bits (dígitos binários).<br />

Já a palavra virtual, <strong>de</strong> acordo com Pierre Lévy, vem do latim medieval virtualis,<br />

<strong>de</strong>rivado por sua vez <strong>de</strong> vertus, força, potência. Na filosofia escolástica, é virtual o que existe<br />

em potência e não em ato. O virtual ten<strong>de</strong> a atualizar-se, sem ter passado, no entanto à<br />

concretização efetiva ou formal 66 . Ao <strong>de</strong>finir o que é virtual, há que se pisar em território<br />

<strong>de</strong>sconhecido, <strong>de</strong>sterritorizado 67 , isto é, sem fronteiras e sem proprietários únicos. É um<br />

território <strong>de</strong>nso, porém invisível, que às vezes extrapola a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação.<br />

Observamos que a palavra virtual hoje está na mídia, <strong>de</strong>notando uma terminologia<br />

contemporânea, como se pertencesse ao mundo da Internet, porém, <strong>de</strong> acordo com a<br />

<strong>de</strong>finição, não é o que se <strong>de</strong>nota, isto é, não é um neologismo e nem algo recente, que só faz<br />

parte do mundo digital e contemporâneo, ou algo que pertence à Internet. Verificamos, na<br />

afirmação <strong>de</strong> Pierre Lévy, que a virtualização não é um fenômeno recente. A espécie humana<br />

se constitui na e pela virtualização 68 . Aristóteles, nos estudos sobre a potência, o ato e o<br />

movimento, afirma que: ser não é apenas o que já existe, em ato; ser é, também, o que po<strong>de</strong><br />

ser a virtualida<strong>de</strong>, a potência 69 . Ainda em Pierre Lévy, virtual em termos filosóficos, não se<br />

opõe ao real, mas ao atual. Virtualida<strong>de</strong> e atualida<strong>de</strong> são apenas duas maneiras <strong>de</strong> ser<br />

diferente 70 . O mesmo autor <strong>de</strong>fine que há quatro modos <strong>de</strong> ser: possível, real, atual e virtual<br />

65<br />

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 153.<br />

66<br />

LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p.15.<br />

67<br />

Cf. “O EFEITO MOEBIUS”. LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p. 24-<br />

25.<br />

68<br />

LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p.135.<br />

69<br />

ARISTÓTELES, Vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. Coleção os pensadores, 1999, p. 23-25.<br />

70<br />

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo - SP: Editora 34, 1999, p. 47.<br />

35


que são modos <strong>de</strong> ser diferentes, mas quase sempre operando juntos em cada fenômeno<br />

concreto que se po<strong>de</strong> analisar 71 .<br />

O que evi<strong>de</strong>ncia o virtual, hoje, é a invenção <strong>de</strong> novas velocida<strong>de</strong>s, isto é, os modos <strong>de</strong><br />

ser passam por um loop e o virtual se sobressai em relação aos outros modos. A Internet é<br />

uma ferramenta que possibilita isso, potencializa o real, tornando-o acessível em diversos<br />

lugares, até mesmo simultaneamente. Um objeto, uma foto, por exemplo, po<strong>de</strong> ser real em um<br />

<strong>de</strong>terminado lugar e, ao mesmo tempo, ser virtual (em potência) em muitos lugares.<br />

No mundo virtual/digital, as maneiras <strong>de</strong> ser se alteram. Segundo Pierre Lévy, novas<br />

maneiras <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e<br />

da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a inteligência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da<br />

metamorfose incessante <strong>de</strong> dispositivos informacionais. A escrita, a leitura, a visão, a audição,<br />

a criação, a aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada 72 .<br />

A evolução tecnológica e a revolução sociológica ditam um novo tempo, um novo<br />

ritmo. E isso sempre po<strong>de</strong> ser observado, como por exemplo, a invenção do trem a vapor. O<br />

tempo e o espaço revolucionaram o mundo. A máquina passa a substituir a força física do<br />

homem. A aceleração causada pelas máquinas fez o homem se distanciar do ritmo da<br />

natureza. E hoje, isso não é diferente. A Internet revolucionou a concepção <strong>de</strong> tempo e<br />

espaço, possibilitando certa relativida<strong>de</strong> nas concepções.<br />

As categorias conceituais que compõem o universo da chamada comunicação<br />

contemporânea não têm características rígidas e guardam entre si uma estreita relação. Noções<br />

como interface, interativida<strong>de</strong>, hipertexto, hipermídia, virtual, ciberespaço, cibercultura 73 e<br />

outras, parecem indicar não apenas uma re<strong>de</strong>finição do papel dos meios <strong>de</strong> comunicação no<br />

contexto histórico e cultural da humanida<strong>de</strong>, mas um novo direcionamento das relações do<br />

homem com tudo que ele cria. A hipertextualida<strong>de</strong> não é uma invenção nova e mo<strong>de</strong>rna.<br />

Registros históricos <strong>de</strong>ssa estrutura narrativa em obras da Ciência, Literatura e Filosofia já<br />

foram encontrados. Apenas ganhou impulso com o avanço da crescente ação dialógica entre o<br />

homem e a técnica. A hipertextualida<strong>de</strong>, como ponto <strong>de</strong> convergência, revela a falência do<br />

discurso tradicional lógico, acabado, fechado em si mesmo. As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexões<br />

71 Cf. LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p.136-145.<br />

72 LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência. 14ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2006, p. 7.<br />

73 William Gibson foi o primeiro estudioso a expor a idéia <strong>de</strong> cibercultura como uma flora aquática, sem raízes.<br />

No seu romance <strong>de</strong> ficção científica Neuromante, o termo <strong>de</strong>signa o universo das re<strong>de</strong>s digitais, <strong>de</strong>scrito como<br />

campo <strong>de</strong> batalha entre as multinacionais, palco <strong>de</strong> conflitos mundiais, nova fronteira econômica e cultural. Cf.<br />

mais sobre esse assunto em: LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo - SP: Editora 34, 1999, p. 92-93 e<br />

FERNANDES, Fábio. A construção do imaginário cyber: William Gibson, criador da cibercultura. São Paulo:<br />

Editora Anhembi Morumbi, 2006.<br />

36


entre trechos e totalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> textos favorecem a flexibilização das fronteiras nas áreas do<br />

conhecimento.<br />

A contemporaneida<strong>de</strong> apresenta-se com o rompimento <strong>de</strong> estruturas rígidas, com<br />

erosões, fissuras, rizomas, rompimento <strong>de</strong> barreiras, <strong>de</strong> limites, <strong>de</strong> normas. Padrões que até<br />

então eram absolutos, reconfiguram-se com novos conceitos, com concepções <strong>de</strong> ser e não<br />

ser, do verso e do reverso e são possíveis nas suas interfaces. Seria a contemporaneida<strong>de</strong> a<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida? Conforme já mencionamos na introdução <strong>de</strong>ssa pesquisa, o sociólogo<br />

polonês Zygmunt Bauman afirma: o que está acontecendo hoje é por assim dizer, uma<br />

redistribuição e realocação dos ‘po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>rretimento’ da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> 74 . A flui<strong>de</strong>z e a<br />

liqui<strong>de</strong>z são metáforas a<strong>de</strong>quadas para captar a natureza da presente fase <strong>de</strong> muitas maneiras,<br />

na história da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. O autor retrata como a transição da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ‘pesada’,<br />

‘sólida’ passa para uma mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ‘leve’, ‘líquida’ e infinitamente mais dinâmica e como<br />

isso afetou os mais variados aspectos <strong>de</strong> nossa vida. O mesmo analisa cinco conceitos básicos<br />

que organizam a vida humana compartilhada que são: emancipação, individualida<strong>de</strong>,<br />

tempo/espaço, trabalho e comunida<strong>de</strong>. Ao discorrer sobre líquidos, afirma que os líquidos,<br />

diferentes dos sólidos, não mantêm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e,<br />

portanto, diminuem a significação do tempo. Os fluidos, por sua vez, não se atêm muito a<br />

qualquer forma, estão constantemente prontos e propensos a mudá-la. O que conta é o tempo,<br />

mais do que o espaço que lhes toca ocupar. A mobilida<strong>de</strong> dos fluidos sugere idéia <strong>de</strong> leveza,<br />

porém, há líquidos que, centímetro cúbico por centímetro cúbico, são mais pesados que<br />

muitos sólidos 75 . Isso sugere complexida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. Nessa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida, o que<br />

um dia foi consi<strong>de</strong>rado impossível, irreal, revela interfaces até então <strong>de</strong>sconhecidas.<br />

Conforme Pierre Lévy:<br />

vivemos hoje em uma <strong>de</strong>stas épocas limítrofes na qual toda a antiga or<strong>de</strong>m<br />

das representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos<br />

<strong>de</strong> conhecimento e estilos <strong>de</strong> regulação social ainda pouco estabilizado.<br />

Vivemos um <strong>de</strong>stes raros momentos em que, a partir <strong>de</strong> uma nova<br />

configuração técnica, quer dizer, <strong>de</strong> uma nova relação com o cosmos, um<br />

novo estilo <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> é inventado 76 .<br />

A rapi<strong>de</strong>z e as facilida<strong>de</strong>s que as novas tecnologias possibilitaram às comunicações<br />

interferiram em todas as organizações. De acordo com Pierre Lévy, à medida que a<br />

informatização avança, certas funções são eliminadas, novas habilida<strong>de</strong>s aparecem, a ecologia<br />

74 BAUMAN, Zygmunt. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 13.<br />

75 BAUMAN, Zygmunt. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 8.<br />

76 LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência. 14ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2006, p. 17.<br />

37


cognitiva 77 se transforma. Isto é, à medida que surgem novida<strong>de</strong>s nas evoluções tecnológicas,<br />

automaticamente, se apren<strong>de</strong> a lidar com as relações das evoluções. Pierre Lévy, ao referir-se<br />

às gran<strong>de</strong>s invenções, afirma que cada gran<strong>de</strong> inovação em informática abriu a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> novas relações entre homens e computadores. Surgem códigos <strong>de</strong> programação cada vez<br />

mais intuitivos, a comunicação em tempo real, re<strong>de</strong>s micro, novos princípios <strong>de</strong> interfaces 78 .<br />

Toda mudança causa espanto e incômodo, que <strong>de</strong>mandam compreensão, assimilações,<br />

adaptações, perdas, ganhos etc.. Isso requer tempo para se reestruturar e ganhar sentido. Para<br />

Pierre Lévy, compreen<strong>de</strong>r o lugar fundamental das tecnologias da comunicação e da<br />

inteligência na história cultural nos leva a olhar <strong>de</strong> uma nova maneira a razão, a verda<strong>de</strong>, e a<br />

história, ameaçadas <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r sua preeminência na civilização da televisão e do computador<br />

79 .<br />

O mundo mediado oferece muitas possibilida<strong>de</strong>s que ameaçam a estabilida<strong>de</strong> das<br />

rotinas, <strong>de</strong> padrões, <strong>de</strong> conceitos, <strong>de</strong> normas. De acordo com Thompson, viver num mundo<br />

mediado significa responsabilida<strong>de</strong>s que pesam gravemente sobre os ombros <strong>de</strong> alguns. O<br />

imediatismo da experiência vivida e as reivindicações morais, associadas à interação face a<br />

face, jogam constantemente contra as responsabilida<strong>de</strong>s provenientes da experiência<br />

mediada 80 .<br />

Para Renato Ortiz, o mundo das últimas décadas transformou-se radicalmente. O<br />

planeta, que, no início, se anunciava tão longínquo, se encarna assim em nossa existência,<br />

modificando nossos hábitos, nossos comportamentos, nossos valores 81 . Indagamos se isso<br />

seria conseqüência da globalização acelerada. O mesmo autor aponta algumas metáforas<br />

referidas por estudiosos no livro <strong>de</strong> Alvin Toffler para <strong>de</strong>screver as transformações do final do<br />

século XX. Como por exemplo: al<strong>de</strong>ia global, <strong>de</strong> McLuhan; a primeira revolução mundial,<br />

<strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r King; a terceira onda, <strong>de</strong> Alvin Toffler; socieda<strong>de</strong> informática, <strong>de</strong> Adam Shaff;<br />

socieda<strong>de</strong> amébica; <strong>de</strong> Kenichi Ohmae. Na verda<strong>de</strong> são várias formas para <strong>de</strong>finir a<br />

contemporaneida<strong>de</strong>. Renato Ortiz afirma que entre os homens que se comunicam, nessa<br />

al<strong>de</strong>ia, existem tensões, interesses e disputas que os afastam <strong>de</strong> qualquer i<strong>de</strong>al comum,<br />

construído apenas pela razão preguiçosa. E o mesmo acrescenta: a globalização é um<br />

fenômeno emergente, um processo ainda em construção que se reconfigura. Não seria um<br />

77 De acordo com Pierre Lévy, a ecologia cognitiva é o estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição<br />

que propõe estudar as coletivida<strong>de</strong>s cosmopolitas. Para mais informações, cf. LÉVY, Pierre. As tecnologias da<br />

Inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. 14ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2006, 135-149.<br />

78<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 54.<br />

79<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 87.<br />

80<br />

THOMPSON, John B.A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 202.<br />

81<br />

ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994, p. 7- 8.<br />

38


processo inacabado? O qual se re-configura a partir do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e das<br />

evoluções culturais? Essas inquietações po<strong>de</strong>m ser conferidas também em Renato Ortiz,<br />

quando afirma que o processo <strong>de</strong> mundialização é um fenômeno social total. Esse fenômeno<br />

permeia as manifestações culturais. Ele <strong>de</strong>ve localizar enraizar nas práticas cotidianas dos<br />

homens. Com a emergência <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> globalizada, a totalida<strong>de</strong> cultural se remo<strong>de</strong>la,<br />

portanto, sem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raciocinarmos em termos sistêmicos, a ‘situação’ na qual se<br />

encontravam as múltiplas particularida<strong>de</strong>s 82 .<br />

O mesmo autor aponta também que, no processo <strong>de</strong> formação da nacionalida<strong>de</strong>, a<br />

escola, a imprensa, os meios <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong>sempenham um papel fundamental, isto é,<br />

possibilitam um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> comunicação. O <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

tecnologias da velocida<strong>de</strong> reconfigura a organização social e suas interações. A re<strong>de</strong><br />

comunicativa, a estrada <strong>de</strong> ferro, o telégrafo, os transportes, os jornais, etc., pela primeira vez,<br />

articulam esse emaranhado <strong>de</strong> pontos, interligando-os entre si. A nação rompe com o<br />

isolamento local das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, as relações sociais são <strong>de</strong>slocadas dos contextos<br />

territoriais <strong>de</strong> interação e se reestruturam por meio <strong>de</strong> extensões in<strong>de</strong>finidas <strong>de</strong> tempo-espaço.<br />

Os homens se <strong>de</strong>sterritorializam, favorecendo uma organização racional <strong>de</strong> suas vidas.<br />

Neste contexto <strong>de</strong>sterritorializado, o mundo contemporâneo dilata-se para atingir<br />

novas dimensões, novas possibilida<strong>de</strong>s. Como afirma Thompson, o universo ético não po<strong>de</strong><br />

mais ser pensado como um mundo <strong>de</strong> contemporâneos co-presentes. As condições <strong>de</strong><br />

contemporaneida<strong>de</strong> e proximida<strong>de</strong> não se sustentam mais, e o universo ético se <strong>de</strong>ve alargar<br />

para abranger outros distantes que, embora remotos no espaço e no tempo, po<strong>de</strong>m fazer parte<br />

<strong>de</strong> uma seqüência interligada <strong>de</strong> ações e suas conseqüências 83 . Essa <strong>de</strong>sterritorialização ocorre<br />

também na comunicação, altera o discurso oral e escrito. Conseqüentemente modificam as<br />

práticas que os envolvem inclusive as práticas <strong>de</strong> leitura. E é neste aspecto que retomamos a<br />

questão principal <strong>de</strong>sse nosso trabalho <strong>de</strong> pesquisa, que é refletir sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita interativas dos estudantes nos <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos, verificar se elas alteram as<br />

práticas convencionais das mesmas e compreen<strong>de</strong>r que linguagem é essa que se usa no<br />

ciberespaço <strong>de</strong> relacionamentos.<br />

Compreen<strong>de</strong>r os impactos que as novas tecnologias proporcionam aos meios culturais<br />

é condição para se tirar benefícios que elas po<strong>de</strong>m proporcionar. Para isso, há que se<br />

<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> preconceitos, nostalgias, como se fora ameaça à tradição. Segundo Thompson,<br />

82<br />

ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994, p. 30.<br />

83<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 226.<br />

39


se quisermos enten<strong>de</strong>r o impacto cultural dos meios <strong>de</strong> comunicação no mundo mo<strong>de</strong>rno,<br />

<strong>de</strong>vemos pôr <strong>de</strong> lado a visão <strong>de</strong> que a exposição à mídia conduzirá o indivíduo<br />

invariavelmente ao abandono das maneiras ‘tradicionais’ <strong>de</strong> viver e à adoção <strong>de</strong> ‘mo<strong>de</strong>rnos’<br />

estilos <strong>de</strong> vida. De acordo com esse autor, a exposição à mídia não implica, por si mesma,<br />

nenhuma particular posição frente à tradição. Os meios <strong>de</strong> comunicação po<strong>de</strong>m ser usados<br />

não somente para <strong>de</strong>safiar e enfraquecer os valores e crenças tradicionais, mas também para<br />

expandir e consolidar tradições. 84<br />

As mudanças sempre ameaçam os mais pessimistas. Thompson afirma que uma das<br />

mais po<strong>de</strong>rosas heranças do pensamento social clássico é a idéia <strong>de</strong> que, com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, a tradição vá gradualmente per<strong>de</strong>ndo importância<br />

e finalmente cesse <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar algum papel significativo na vida cotidiana da maioria dos<br />

indivíduos. Sabemos que as conseqüências do <strong>de</strong>senraizamento só serão sentidas ao longo do<br />

tempo. Prever isso seria uma profecia muito arriscada, inconseqüente, segundo o autor.<br />

Compreen<strong>de</strong>mos que o tempo se encarrega <strong>de</strong> mostrar isso. O <strong>de</strong>senraizamento ou<br />

‘<strong>de</strong>slocamento’ da tradição tem conseqüências <strong>de</strong> longo alcance.<br />

Por outro lado, o mesmo autor ressalta que o <strong>de</strong>senraizamento foi condição para<br />

reimplantar as tradições em novos contextos e para a nova ancoragem das tradições a novos<br />

tipos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s territoriais que iam além dos limites das localida<strong>de</strong>s compartilhadas. As<br />

tradições foram <strong>de</strong>slocadas, não per<strong>de</strong>ram, porém, sua territorialida<strong>de</strong>: elas foram<br />

remo<strong>de</strong>ladas para serem reimplantadas numa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lugares e religadas a unida<strong>de</strong>s<br />

territoriais cujos limites ultrapassavam os da interação face a face 85 .<br />

Neste contexto observamos, também em Thompson, que o <strong>de</strong>senvolvimento dos meios<br />

<strong>de</strong> comunicação abasteceu uma crescente conscientização da interconexão e inter<strong>de</strong>pendência<br />

que ele mesmo, entre outros, ajudou a criar. Ele alimentou o frágil sentido <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

pela humanida<strong>de</strong> e pelo mundo coletivamente habitado 86 .<br />

Como já afirmamos, a contemporaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda uma emergência do digital e<br />

aponta uma evidência do virtual. Isso provocou uma alteração <strong>de</strong> paradigmas na relação do<br />

sujeito com a técnica, gerando um gran<strong>de</strong> impacto nas formas tradicionais <strong>de</strong> práticas da<br />

escrita e leitura. Surgem os analfabetos digitais ou os não letrados digitais.<br />

Conseqüentemente, o letramento digital passa a ser uma <strong>de</strong>manda contemporânea. Para Carla<br />

84<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 172.<br />

85<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 172. 174.<br />

86<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 228.<br />

40


Coscarelli e Ana Elisa Ribeiro, o letramento digital é a ampliação do leque <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> contato com a escrita também em ambiente digital que po<strong>de</strong> ser para ler e escrever 87 . Nos<br />

dias <strong>de</strong> hoje, quem não domina a escrita e a leitura digital expõe-se ao risco <strong>de</strong> ser<br />

discriminado, excluído e privado do acesso à informação, à cultura e ao avanço das<br />

tecnologias do mundo globalizado. A era digital instiga os cidadãos que mantenham<br />

conectados e em muitas situações, até mesmo que tenham uma senha, ou seja, um password,<br />

um login, para conectar-se com esse mundo virtual/digital e fazer parte <strong>de</strong>le. É senha para Email,<br />

Orkut, MSN Messenger, banco, cartão <strong>de</strong> crédito, supermercado, e assim, muitas e<br />

muitas senhas para interagir com a máquina e realizar transações; comprar, ven<strong>de</strong>r,<br />

correspon<strong>de</strong>r, interagir, namorar, divertir, etc.. Nessa realida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos perceber uma<br />

dualida<strong>de</strong> lingüística e oscilações bilingüísticas, biculturais e binacionais <strong>de</strong> caráter<br />

multicultural que o acesso à mídia propicia.<br />

Por outro lado, há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar também que o intercâmbio entre as socieda<strong>de</strong>s que<br />

se evi<strong>de</strong>ncia com o acesso à mídia propicia a hibridação cultural através <strong>de</strong> processos <strong>de</strong><br />

quebra e mescla das coleções organizadas pelos sistemas culturais, a <strong>de</strong>sterritorialização dos<br />

processos simbólicos e a expansão dos gêneros impuros, cujo tema é tratado por Néstor<br />

Canclini. Esse autor afirma que as transformações culturais geradas pelas últimas tecnologias<br />

e por mudanças na produção e circulação simbólica não eram responsabilida<strong>de</strong> exclusiva dos<br />

meios comunicacionais 88 . Compreen<strong>de</strong>mos aqui que muitos fatores contribuem para a<br />

hibridação cultural na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, não cabendo somente a responsabilida<strong>de</strong> aos meios<br />

<strong>de</strong> comunicação. Mas ressaltamos que a mudança do suporte físico da escrita e leitura alterou<br />

as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita. E é sobre isso que propomos <strong>de</strong>senvolver ao logo <strong>de</strong>sse estudo.<br />

O estudo que realizamos até aqui foi uma tentativa <strong>de</strong> obter uma visão sobre a escrita e<br />

leitura no aspecto histórico e seu uso nos diversos momentos, com seus suportes <strong>de</strong> edição e<br />

difusão. Observamos as práticas e sentidos que ocuparam e ocupam lugar na vida cultural do<br />

ser humano. O primeiro item ocupou-se <strong>de</strong> uma breve consi<strong>de</strong>ração sobre a história da escrita<br />

e leitura, com o objetivo <strong>de</strong> situarmos no tempo as diversas etapas que as mesmas<br />

apresentaram e apresentam. No segundo item apresentamos uma história do livro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua<br />

invenção, enfatizando do có<strong>de</strong>x ao livro eletrônico, com objetivo <strong>de</strong> se perceber seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento através das tecnologias, verificando sua importância e sua permanência. E,<br />

por último, um estudo sobre virtual/digital e o mundo contemporâneo.<br />

87<br />

COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e<br />

possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 9.<br />

88<br />

CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas. 4ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo, SP: Edusp, 2006, p. 284-<br />

285.<br />

41


Retomamos a Zygmunt Bauman para finalizar nosso estudo nesse capítulo. Para este<br />

autor “o advento da instantaneida<strong>de</strong> conduz a uma cultura e a ética humanas, a um território<br />

não-mapeado e inexplorado, on<strong>de</strong> a maioria dos hábitos apreendidos para lidar com os<br />

afazeres da vida per<strong>de</strong>u sua utilida<strong>de</strong> e sentido” 89 . A mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida, ou seja, a<br />

contemporaneida<strong>de</strong> ainda está por ser compreendida; a liqui<strong>de</strong>z, ao configurar em leveza,<br />

possui sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e complexida<strong>de</strong>. E isso po<strong>de</strong> ser percebido também na linguagem, seja<br />

ela na leitura, escrita e fala. Portanto, retornaremos a essa discussão nos próximos capítulos,<br />

para verificar como escrita e leitura interativa apresentam e implicações que po<strong>de</strong>m ser<br />

percebidas em relação à escrita e à leitura convencional nos espaços escolares.<br />

89 BAUMAN, Zygmunt. Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 148.<br />

42


CAPÍTULO II<br />

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA, A LEITURA E A ESCRITA<br />

ENTRE O VIRTUAL/DIGITAL<br />

Este capítulo está dividido em três tópicos. No primeiro (2.1), apresentamos um estudo<br />

sobre o ensino da Língua Portuguesa no Ensino Médio, mediante as políticas pedagógicas<br />

através das orientações curriculares, os PCNs e CBC do Ensino Médio na Língua Portuguesa.<br />

No segundo tópico (2.2), buscamos saber como as políticas pedagógicas norteiam o ensino da<br />

Língua Portuguesa. Abordamos sobre o livro didático e a escola. No terceiro tópico (2.3),<br />

apresentamos um estudo sobre a leitura/escrita interativa no ciberespaço. Além disso,<br />

apresentamos uma análise <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> leitura e escrita observadas no MSN Messenger e<br />

Orkut <strong>de</strong> alunos do Ensino Médio, para saber como essa escrita apresenta as características da<br />

mesma como: os elementos paralingüísticos e outros que são inerentes a essa escrita e leitura<br />

interativa do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos que envolvem escrita e leitura. Nosso<br />

objetivo é compreen<strong>de</strong>r as características próprias <strong>de</strong>sse gênero lingüístico do ciberespaço,<br />

dos sites <strong>de</strong> relacionamentos. Verificar se estas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita interferem nas<br />

práticas convencionais <strong>de</strong> leitura e escrita dos estudantes e que implicações po<strong>de</strong>m ser<br />

percebidas.<br />

2.1 As políticas pedagógicas frente ao ensino da Língua Portuguesa no<br />

Ensino Médio<br />

De acordo com a LDBEN/96, o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica.<br />

Essa fase <strong>de</strong> estudos po<strong>de</strong> ser compreendida como o período <strong>de</strong> consolidação e<br />

aprofundamento <strong>de</strong> muitos dos conhecimentos construídos ao longo do Ensino Fundamental.<br />

90<br />

De acordo com o documento Orientações Curriculares para o Ensino Médio 91 , esperase<br />

que o estudante no pleno <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas capacida<strong>de</strong>s, seja capaz <strong>de</strong>:<br />

90 LDBEN (Leis <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional ). Cf. BRASI, Ministério da Educação e do<br />

Desporto. Leis <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBs). Brasília: MEC, 1996.<br />

91 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,<br />

códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006, p 17-39.<br />

43


I. Avançarem níveis mais complexos <strong>de</strong> estudos:<br />

II. Integrar-se ao mundo do trabalho, com condições para prosseguir, com autonomia, no<br />

caminho <strong>de</strong> seu aprimoramento profissional;<br />

III. Atuar, <strong>de</strong> forma ética e responsável, na socieda<strong>de</strong>, tendo em vista as diferentes<br />

dimensões da prática social.<br />

O Ensino Médio <strong>de</strong>ve atuar <strong>de</strong> forma que garanta ao estudante a preparação básica para o<br />

prosseguimento dos estudos, para inserção no mundo do trabalho e o exercício cotidiano da<br />

cidadania, em sintonia com as necessida<strong>de</strong>s político-sociais <strong>de</strong> seu tempo.<br />

Segundo a LDBEN/96, as ações realizadas na disciplina Língua Portuguesa, no contexto<br />

do Ensino Médio, <strong>de</strong>vem propiciar ao aluno o refinamento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong><br />

escrita, <strong>de</strong> fala e <strong>de</strong> escuta. Implica tanto na ampliação contínua <strong>de</strong> saberes relativos à<br />

configuração, ao funcionamento e à circulação dos textos, quanto no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão sistemática sobre a língua e a linguagem.<br />

É necessário lembrar que tais orientações 92 não esgotam a questão das múltiplas faces, que<br />

envolvem aspectos políticos e i<strong>de</strong>ológicos, históricos e sociais, globais e locais, acadêmicos e<br />

científicos. O documento LDBEN/96 propõe discutir, em linhas gerais, a relação entre os<br />

avanços <strong>de</strong> disciplinas científicas que se incubem do estudo da língua e da linguagem e seus<br />

efeitos para as disciplinas escolares envolvidas na formação oferecida pelo Ensino Médio.<br />

O documento estudado diz que é pela linguagem, só através <strong>de</strong>la é que o ser humano tem<br />

condições <strong>de</strong> refletir sobre si mesmo. As ativida<strong>de</strong>s humanas são mediadas simbolicamente<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem, o homem se constitui sujeito, só por intermédio <strong>de</strong>las é que se<br />

tem condição <strong>de</strong> refletir sobre si mesmo. Através das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão e produção<br />

<strong>de</strong> textos, o sujeito <strong>de</strong>senvolve uma relação íntima com a leitura, escrita, fala <strong>de</strong> si mesmo e<br />

do mundo que o ro<strong>de</strong>ia, viabilizando significado para seus processos subjetivos. A partir <strong>de</strong>sta<br />

abordagem, i<strong>de</strong>ntificamos estudiosos 93 que buscaram compreen<strong>de</strong>r os fundamentos biológicos<br />

da linguagem e os que focalizam os aspectos sociais implicados no funcionamento dos<br />

sistemas semióticos. Em seus estudos, consi<strong>de</strong>ram as relações entre os processos cognitivos,<br />

ou intrapsicológicos, e os processos sociais, ou interpsicológicos no processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e funcionamento da língua e da linguagem.<br />

92 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,<br />

códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006, p. 23-25.<br />

93 Referimo-nos, aqui, à contribuição <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>senvolvidos no escopo da Lingüística; como Hymes na<br />

Antropologia; Bakthin, na Filosofia da Linguagem; Goffman, na Etnometodologia e Sociologia e no âmbito da<br />

Psicologia do Desenvolvimento, Vygotsky e seus seguidores.<br />

44


As relações humanas entre mundo e linguagem são convencionais, nascem das<br />

<strong>de</strong>mandas das socieda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> seus grupos sociais, e das transformações pelas quais passam<br />

em razão <strong>de</strong> novos usos, que emergem <strong>de</strong> novas <strong>de</strong>mandas. Os conhecimentos são elaborados<br />

por formas <strong>de</strong> linguagem. É na interação, em diferentes instituições sociais, que o sujeito<br />

apren<strong>de</strong> as formas <strong>de</strong> funcionamento da língua e os modos <strong>de</strong> manifestação da linguagem. O<br />

sujeito, ao fazer uso da linguagem, constrói seus conhecimentos relativos aos usos da língua e<br />

da linguagem em diferentes situações.<br />

A língua é uma das formas <strong>de</strong> manifestação da linguagem, é um sistema entre os<br />

sistemas semióticos 94 construídos histórica e socialmente pelo homem. E o mesmo em suas<br />

práticas orais e escritas <strong>de</strong> interações, recorre ao sistema lingüístico com suas regras<br />

fonológicas, morfológicas, sintáticas, semânticas e com seu léxico.<br />

O papel do ensino da Língua Portuguesa é possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento das ações <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> linguagem em diferentes situações <strong>de</strong> interações e abordagens interdisciplinares,<br />

nas práticas em aulas, através <strong>de</strong> procedimentos sistemáticos. A abordagem interdisciplinar<br />

oferece amplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recursos para trabalhar, como as narrativas <strong>de</strong> domínio<br />

literário, as narrativas dos gran<strong>de</strong>s feitos históricos, as narrativas do universo oral (cultura<br />

popular), as narrativas do mundo midiático, etc. O trabalho com abordagens <strong>de</strong> múltiplas<br />

linguagens e com gêneros discursivos <strong>de</strong>ve ser compreendido como uma tentativa <strong>de</strong> não<br />

fragmentar o processo <strong>de</strong> formação do aluno, nas diferentes dimensões implicadas na<br />

produção <strong>de</strong> sentidos. Para isso, concebe a leitura e a escrita como ferramentas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />

inclusão social.<br />

Compreen<strong>de</strong>mos que a abordagem do letramento <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar as práticas <strong>de</strong><br />

linguagem que envolvem a palavra escrita e os diferentes sistemas semióticos, seja em<br />

contextos escolares, seja em contextos não escolares. Promover diferentes níveis e tipos <strong>de</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s, bem como diferentes formas <strong>de</strong> interação, é atribuição da escola.<br />

Conseqüentemente, isso pressupõe implicações i<strong>de</strong>ológicas. Esse aspecto trata <strong>de</strong> uma das<br />

razões <strong>de</strong> nossa pesquisa, quando <strong>de</strong>paramos com uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura<br />

interativa, que surge fora dos espaços escolares, oportunamente propiciadas pelo ciberespaço,<br />

leitura essa que incorpora diversos elementos paralingüísticos como rompimento <strong>de</strong> normas e<br />

outros elementos que analisamos nesse trabalho. E, além disso, essa modalida<strong>de</strong> traz uma<br />

94 Sistemas semióticos: Linguagem: verbal e não verbal , é o resultado do trabalho humano que foi sedimentado<br />

numa relação <strong>de</strong> convencionalida<strong>de</strong>. São vários os sistemas semióticos (línguas naturais, sistemas numéricos,<br />

sistemas <strong>de</strong> marcar o tempo, a temperatura, a escrita alfabética, os i<strong>de</strong>ogramas, o braile, o código Morse, os<br />

sinais <strong>de</strong> trânsito e etc., constituídos pelos homens para respon<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>.<br />

45


forma <strong>de</strong> organizar, divertir e interagir, principalmente entre os jovens, que nos aguça a<br />

compreen<strong>de</strong>r que linguagem é essa e sua relação com a escola e com a aprendizagem.<br />

De acordo com as orientações curriculares, a escola que preten<strong>de</strong>, efetivamente, ser<br />

inclusiva e aberta à diversida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ater-se ao letramento da letra, e sim, se abrir para os<br />

múltiplos letramentos, que envolvem variação <strong>de</strong> mídias, que se constroem <strong>de</strong> forma<br />

multisemiótica e híbrida, como, por exemplo, o hipertexto na imprensa ou na Internet. Essa<br />

postura é condição para confrontar o aluno com práticas <strong>de</strong> linguagem que possibilitem<br />

formá-lo para o mundo do trabalho e para a cidadania com respeito pelas diferenças no modo<br />

<strong>de</strong> agir e <strong>de</strong> fazer sentido 95 .<br />

Na perspectiva da história <strong>de</strong> interações e <strong>de</strong> letramento, sabemos que o aluno do<br />

Ensino Médio traz consigo uma bagagem <strong>de</strong> conhecimentos, muitos dos quais foram<br />

adquiridos ao longo do Ensino Fundamental, através das experiências sistemáticas <strong>de</strong><br />

aprendizagem como a escrita, a produção e compreensão <strong>de</strong> texto. Esses se constituíram nas<br />

esferas sociais <strong>de</strong> uso da linguagem, seja ela pública e/ou privada. Espera-se que o aluno do<br />

Ensino Médio ao longo <strong>de</strong> sua formação seja capaz <strong>de</strong> lidar com a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros<br />

lingüísticos, <strong>de</strong> acordo com o espaço que cada um estabelece.<br />

2.1.1 Orientações curriculares 96<br />

Nesse item <strong>de</strong> estudo, propomos verificar as orientações curriculares para o Ensino<br />

Médio, em consonância com os PCNs 97 e o CBC 98 , para que possamos nos inteirar das<br />

políticas <strong>de</strong> ensino e dialogar com o tema pesquisado. Asseguramos que <strong>de</strong>ntre os impactos e<br />

implicações que as mudanças tecnológicas propiciam à linguagem na comunicação, há<br />

políticas pedagógicas que norteiam as questões do ensino da língua, assim como outros<br />

conteúdos.<br />

95 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,<br />

códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006, p. 29.<br />

96 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,<br />

códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006.<br />

97 PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio.<br />

Brasília: MEC/SEM, 2000, ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec,<br />

2002______. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais. Vol. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002.<br />

98 CBC (Currículo Básico Comum). SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS.<br />

Proposta curricular <strong>de</strong> português. Educação Básica. Ensino Médio, 2005.<br />

46


As Orientações Curriculares Nacionais <strong>de</strong> Língua Portuguesa para o Ensino Médio 99<br />

se realizam por meio da discussão e da <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> ensino que orienta tanto<br />

da emergência <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> ensino/estudo, quanto das abordagens a serem adotadas nessa<br />

tarefa. Devem ser tomadas como referenciais. Uma vez discutidas, compreendidas e (re)<br />

significadas no contexto da ação docente, possam efetivamente orientar as abordagens a<br />

serem utilizadas nas práticas <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

De acordo com a Secretaria <strong>de</strong> Educação Básica, a qualida<strong>de</strong> da escola é condição<br />

essencial <strong>de</strong> inclusão e <strong>de</strong>mocratização das oportunida<strong>de</strong>s no Brasil, e o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> oferecer<br />

uma educação básica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para a inserção do aluno, o <strong>de</strong>senvolvimento do país e a<br />

consolidação da cidadania é tarefa <strong>de</strong> todos. Ainda no mesmo documento refere-se que<br />

preparar o jovem para participar <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> complexa como a atual, requer<br />

aprendizagem autônoma e contínua ao longo da vida, é o <strong>de</strong>safio que temos pela frente.<br />

A Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Base da Educação Nacional (nº. 9394/96), representa um divisor<br />

na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da terceira etapa da Educação Básica brasileira. Destacam-se dois<br />

aspectos:<br />

O primeiro é sobre as finalida<strong>de</strong>s atribuídas ao Ensino Médio, isto é, o aprimoramento<br />

do educando como ser humano. Sua formação ética, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua autonomia<br />

intelectual e <strong>de</strong> seu pensamento crítico, sua preparação para o mundo do trabalho e o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências para continuar seu aprendizado. (Artigo. 35). E o segundo<br />

propõe a organização curricular.<br />

De acordo com o documento 100 essas diretrizes consistem na possibilida<strong>de</strong> objetiva <strong>de</strong><br />

pensar a escola a partir <strong>de</strong> sua própria realida<strong>de</strong>, privilegiando o trabalho coletivo.<br />

O CBC propõe a base para o estabelecimento <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> avaliação institucional<br />

das unida<strong>de</strong>s escolares da re<strong>de</strong> pública estadual, para a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho individual<br />

dos professores e para a proposição <strong>de</strong> metas que visem à melhoria do <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> cada<br />

escola, contribuindo para o <strong>de</strong>senvolvimento da qualida<strong>de</strong> da educação pública em Minas<br />

Gerais.<br />

O Ensino das Disciplinas Língua Portuguesa assim como Língua Estrangeira<br />

Mo<strong>de</strong>rna, Arte, Educação Física e Informática (área <strong>de</strong> Linguagens, Códigos e suas<br />

Tecnologias) tem como finalida<strong>de</strong> básica o <strong>de</strong>senvolvimento das competências gerais <strong>de</strong><br />

99 SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio: linguagens,<br />

códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006.<br />

100 Ibi<strong>de</strong>m.<br />

47


Representação e Comunicação, <strong>de</strong>finidas, nos PCN+, como competências para “manejar<br />

sistemas simbólicos e <strong>de</strong>codificá-los” 101 .<br />

O sentido do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa impõe a ampliação <strong>de</strong><br />

horizontes, <strong>de</strong> forma a reconhecer as dimensões estéticas e éticas da ativida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong><br />

linguagem, só ela capaz <strong>de</strong> tornar <strong>de</strong>sejada a leitura <strong>de</strong> poemas e narrativas ficcionais.<br />

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais 102 , o ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa <strong>de</strong>ve<br />

preparar o aluno para a vida, qualificando-o para o aprendizado permanente e para o exercício<br />

da cidadania. Preparar para a vida significa formar locutores/autores e interlocutores capazes<br />

<strong>de</strong> usar a língua materna para se expressar em varieda<strong>de</strong>s e registros <strong>de</strong> linguagem pertinentes<br />

e a<strong>de</strong>quados a diferentes situações comunicativas. Isso implica o acesso à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usos<br />

da língua, em especial às varieda<strong>de</strong>s cultas e aos gêneros <strong>de</strong> discurso do domínio público que<br />

as exigem. É condição necessária ao aprendizado permanente e à inserção social. Implica,<br />

também, compreen<strong>de</strong>r a dimensão ética e política da linguagem, ou seja, ser capaz <strong>de</strong> refletir<br />

criticamente sobre a língua como ativida<strong>de</strong> social capaz <strong>de</strong> regular <strong>–</strong> incluir ou excluir <strong>–</strong> o<br />

acesso dos indivíduos ao patrimônio cultural e ao político.<br />

Os conteúdos e as práticas <strong>de</strong> ensino selecionado <strong>de</strong>vem favorecer a formação <strong>de</strong><br />

cidadãos capazes <strong>de</strong> participação social e política, funcionando, portanto, como caminho para<br />

a <strong>de</strong>mocratização e superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e econômicas.<br />

Cabe à escola conduzir o aluno a expandir sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso da língua,<br />

estimulando o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se comunicar em diferentes gêneros <strong>de</strong><br />

discursos, sobretudo naqueles do domínio público que exigem o uso do registro formal e da<br />

norma padrão. Isto é, o domínio das varieda<strong>de</strong>s cultas é fundamental ao exercício crítico<br />

frente aos discursos da ciência, da política, da religião, etc.<br />

Portanto, retomamos a questão principal <strong>de</strong>sse nosso trabalho <strong>de</strong> pesquisa que é<br />

refletir sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita interativa dos estudantes no ciberespaço, para<br />

verificar se elas alteram as práticas convencionais das mesmas e compreen<strong>de</strong>r que linguagem<br />

é essa e como lidar com essa realida<strong>de</strong> nos espaços escolares. A partir das orientações<br />

curriculares, consi<strong>de</strong>ramos que a escola não é receptiva a essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura<br />

interativa do ciberespaço porque prioriza a linguagem culta.<br />

Ressaltamos que essas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita interativas no ciberespaço po<strong>de</strong>riam<br />

ser consi<strong>de</strong>ras como práticas sociais <strong>de</strong> leitura e escrita, uma vez que envolvem interação,<br />

101<br />

BRASIL. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais. Vol. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/Semtec, 2002, p.24.<br />

102<br />

BRASI, Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília:<br />

MEC/SEM, 2000.<br />

48


entretenimento entre os membros e isso são <strong>de</strong>mandas principalmente entre os jovens ao se<br />

organizarem em grupos ou bandos, como ouvimos informalmente. Nesse aspecto verificamos<br />

em Juarez Dayrell, quando afirma que os espaços que propiciam formas <strong>de</strong> agrupamento são<br />

raros, há um enorme vazio por parte do estado em oferecer políticas públicas, especialmente<br />

<strong>de</strong>stinadas aos jovens, que propiciem formas <strong>de</strong> agrupamento. As relações mais significativas<br />

são gestadas fora da escola e da família, as tradicionais instituições socializadoras. Para este<br />

autor, as práticas que ocorrem fora da instituição escolar <strong>de</strong>vem chamar a atenção dos<br />

educadores, não para trazer a rua para o interior da escola, mas é preciso perguntar sobre o<br />

tipo <strong>de</strong> experiência cultural que a escola oferece no âmbito da sociabilida<strong>de</strong> juvenil, se<br />

quisermos transformar a ação educativa da escola 103 .<br />

Pontuamos essa questão porque consi<strong>de</strong>ramos que as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

interativa no ciberespaço transcen<strong>de</strong>m suas funções <strong>de</strong> simples práticas <strong>de</strong> leitura e escrita.<br />

Elas envolvem organização entre pessoas, grupos, num espaço virtual, <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong> que<br />

po<strong>de</strong>riam contribuir com a sociabilida<strong>de</strong> e intercâmbio cultural e outros aspectos inerentes a<br />

essa realida<strong>de</strong>. Essas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, que acontecem fora dos espaços escolares<br />

po<strong>de</strong>m ser elemento <strong>de</strong> atenção da escola em diversos aspectos, não só sobre a questão<br />

ortográfica, mas nas questões sócio-educativas, e culturais.<br />

De acordo com as orientações curriculares 104 , o currículo da disciplina <strong>de</strong>ve ser<br />

composto dos conteúdos consi<strong>de</strong>rados essenciais à vida em socieda<strong>de</strong>, especialmente aqueles<br />

cuja aprendizagem exige intervenção e mediação sistemáticas da escola: a leitura e a escrita.<br />

Não basta que o aluno seja capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar e codificar textos escritos. É preciso que ele<br />

reconheça a leitura e a escrita como ativida<strong>de</strong>s interativas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentido e que<br />

coloque em jogo diferentes fatores, como a situação comunicativa. O horizonte social dos<br />

interlocutores, o objetivo <strong>de</strong> interlocução, as imagens que os interlocutores fazem um do<br />

outro, os usos e práticas <strong>de</strong> linguagem. Que atinja, também, um nível <strong>de</strong> letramento que o<br />

capacite a compreen<strong>de</strong>r e produzir, com autonomia, diferentes gêneros <strong>de</strong> textos, com<br />

distintos objetivos e motivações e que tenha acesso aos usos literários da língua e a obras <strong>de</strong><br />

autores representativos da literatura brasileira.<br />

Só se compreen<strong>de</strong> as regras do jogo discursivo quando observamos a língua viva, em<br />

funcionamento na comunicação. E isso se dá por meio <strong>de</strong> discursos e <strong>de</strong> suas manifestações<br />

103<br />

DAYRELL, Juarez. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996, p. 100-<br />

102.<br />

104<br />

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta curricular <strong>de</strong> português.<br />

Educação Básica. Ensino Médio, 2005, p. 10.<br />

49


<strong>de</strong> produções e leitura <strong>de</strong> textos. A compreensão e a produção <strong>de</strong> textos orais e escritos e a<br />

reflexão sobre os processos <strong>de</strong> textualização <strong>de</strong>vem ser vistos como objeto <strong>de</strong> estudo central<br />

da disciplina, o que exige novos níveis <strong>de</strong> análise e novos procedimentos metodológicos, isto<br />

é, estudar uma língua é mais que analisar a gramática da forma ou o significado <strong>de</strong> palavras.<br />

A coerência e a coesão não são qualida<strong>de</strong>s dos textos em si, mas se produzem no contexto,<br />

com base no trabalho lingüístico dos interlocutores e em seus conhecimentos compartilhados.<br />

Estudar um texto implica consi<strong>de</strong>rá-lo em sua materialida<strong>de</strong> lingüística, seu<br />

vocabulário e sua gramática. Significa analisar as inter-relações entre as condições <strong>de</strong><br />

produção e a configuração semântica e formal dos diversos tipos <strong>de</strong> textos.<br />

As situações <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem levar o aluno a rever o conceito <strong>de</strong> gramática,<br />

consi<strong>de</strong>rando as várias significações <strong>de</strong>sse termo e o fato <strong>de</strong> existirem diferentes práticas<br />

discursivas orais e escritas, e varieda<strong>de</strong>s diversas <strong>de</strong> língua (dialetos e registros), cada qual<br />

com sua gramática e com suas situações <strong>de</strong> uso. Isto significa que, ao ensinar Língua<br />

Portuguesa, é preciso lembrar que ela não é uma só. Não se po<strong>de</strong> negar que é tarefa da escola<br />

ensinar o português padrão, já que esse é o uso que, geralmente, o aluno não domina.<br />

A Língua Portuguesa, segundo aos Parâmetros Curriculares Nacionais, <strong>de</strong>ve ser<br />

aprendida não apenas para que o aluno saiba usá-la em diferentes situações ou contextos, mas,<br />

assim como outras linguagens, <strong>de</strong>ve ser vista como ferramenta semiótica essencial para que o<br />

ser humano transcenda os limites <strong>de</strong> sua experiência imediata e possa pensar sobre seu<br />

próprio pensamento.<br />

2.1.2 O livro didático e a escola<br />

O livro didático é um elemento que possibilita nortear o ensino nos diversos conteúdos<br />

do ensino escolar. No ensino da língua portuguesa ele é um importante contraponto entre a<br />

escrita/leitura convencional e escrita/leitura virtual/digital. De certa forma, o livro didático é<br />

um suporte didático do qual os professores lançam mão.<br />

De acordo com Marisa Lajolo:<br />

O livro didático é instrumento específico e importantíssimo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong><br />

aprendizagem formal. Muito embora não seja o único material <strong>de</strong> que<br />

professores e alunos vão valer-se no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, ele<br />

50


po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>cisivo para a qualida<strong>de</strong> do aprendizado resultante das ativida<strong>de</strong>s<br />

escolares 105 .<br />

Essa autora afirma que o livro didático tem sua importância principalmente aqui no<br />

Brasil on<strong>de</strong> uma precaríssima situação educacional faz com que acabe <strong>de</strong>terminando conteúdo<br />

e condicionando estratégias <strong>de</strong> ensino, marcando, pois, <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva, o que se ensina e<br />

como se ensina.<br />

Marisa Lajolo ao relatar sobre a história do livro didático e da escola afirma que:<br />

A história do livro didático e da escola brasileira mostra que nem sempre a<br />

relação do professor com o livro didático é esta <strong>de</strong>sejável relação <strong>de</strong><br />

competência e autonomia. A história sugere que a precarieda<strong>de</strong> das<br />

condições <strong>de</strong> exercício do magistério, para boa parte do professorado, é<br />

responsável direta por vários dos <strong>de</strong>sacertos que circundam questões<br />

relativas ao livro didático na escola brasileira 106 .<br />

Nas salas <strong>de</strong> aulas ele apresenta mudanças ao logo <strong>de</strong> sua história, isto é, os mesmos<br />

vêm se sofisticando à medida que os recursos didáticos vêm se <strong>de</strong>senvolvendo, também, com<br />

o auxílio do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. Sabe-se que até os anos 60 havia poucas opções <strong>de</strong><br />

livro didático no mercado. E raramente se trocava <strong>de</strong> livro. Isso porque não havia muitas<br />

opções, <strong>de</strong>vido ao custo dos mesmos. Portando, sua durabilida<strong>de</strong> era longa. Com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da indústria gráfica, nas últimas décadas do século XX, surgiram muitas<br />

opções <strong>de</strong> edições no mercado, com variadas editoras. Conseqüentemente, a durabilida<strong>de</strong> do<br />

livro diminuiu.<br />

Os impressos didáticos como trataremos também aqui, têm sido objeto <strong>de</strong> pesquisa<br />

que vêm <strong>de</strong>spertando interesse <strong>de</strong> muitos pesquisadores nas últimas décadas, <strong>de</strong>vido à sua<br />

importância na formação e letramento dos estudantes e como suporte didático para os<br />

professores. Como produto cultural, o livro didático começou a ser analisado sob várias<br />

perspectivas, se <strong>de</strong>stacando nos aspectos educativos o seu papel na configuração da escola<br />

contemporânea.<br />

O livro didático é um objeto cultural <strong>de</strong> certa forma contraditório, pois gera intensas<br />

polêmicas e críticas <strong>de</strong> muitos setores, mas tem sido sempre consi<strong>de</strong>rado como um<br />

instrumento fundamental no processo <strong>de</strong> escolarização. O mesmo tem possibilitado <strong>de</strong>bates<br />

nas comunida<strong>de</strong>s escolares, entre educadores, alunos e suas famílias, assim como em<br />

encontros acadêmicos, em artigos <strong>de</strong> jornais, envolvendo autores, editores, autorida<strong>de</strong>s<br />

105<br />

LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual <strong>de</strong> usuário. Em Aberto, Brasília, ano 16, 69, jan./mar.<br />

1996. (texto), p. 4.<br />

106<br />

Ibi<strong>de</strong>m, p. 7.<br />

51


políticas, intelectuais <strong>de</strong> diversas procedências. Essas discussões estão vinculadas também à<br />

sua importância econômica para um vasto setor ligado à produção <strong>de</strong> livros e também ao<br />

papel do Estado como agente <strong>de</strong> controle e consumidor <strong>de</strong>ssa produção. As escolas públicas<br />

brasileiras contam com o Programa Nacional <strong>de</strong> Livro Didático (PNLD) 107 e com as políticas<br />

educacionais <strong>de</strong> cada estado. Constatamos que esse programa vem sendo ampliado nos<br />

últimos anos. Isso não é diferente nas escolas estaduais e municipais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga <strong>–</strong><br />

MG.<br />

Os balanços bibliográficos mostram que houve uma tendência, iniciada na década <strong>de</strong><br />

1960, <strong>de</strong> se analisar os conteúdos dos livros escolares privilegiando a <strong>de</strong>núncia do caráter<br />

i<strong>de</strong>ológico 108 dos textos. Tal abordagem ocupava, e ainda ocupa, um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas<br />

pesquisas nacionais e <strong>de</strong> vários outros países, cujo enfoque sobre as i<strong>de</strong>ologias subjacentes<br />

aos manuais permanece.<br />

Nos últimos anos, existem mudanças <strong>de</strong> abordagens que integram reflexões <strong>de</strong> caráter<br />

epistemológico, essenciais para a compreensão da constituição das disciplinas e saberes<br />

escolares. Paralelamente às análises sobre os conteúdos, foram acrescidas outras temáticas,<br />

notadamente as relações entre as políticas públicas e a produção didática, evi<strong>de</strong>nciando o<br />

papel do Estado.<br />

A partir dos anos 1980, muitos dos problemas relacionados ao conteúdo ou ao<br />

processo <strong>de</strong> produção e uso do livro didático por professores e alunos passaram a ser<br />

analisados em uma perspectiva histórica, constituindo-se tais análises em uma das vertentes<br />

mais importantes <strong>de</strong>sse campo <strong>de</strong> investigação. Os objetivos centrais <strong>de</strong> tais análises são o <strong>de</strong><br />

situar o processo <strong>de</strong> mudanças e permanências do livro didático tanto como objeto cultural<br />

fabricado, quanto pelo seu conteúdo e práticas pedagógicas. Sua inserção hoje, quando se<br />

introduzem, em escala crescente, novas tecnologias educacionais, chegam a colocar em xeque<br />

a própria permanência do livro como suporte preferencial <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> saberes<br />

escolares. A história do livro didático, ao se constituir em campo significativo da área,<br />

introduziu a preocupação <strong>de</strong> inventariar e preservar, ao máximo possível, a produção escolar.<br />

As escolas públicas, nos últimos anos, passaram a receber o livro bancado pelo Estado,<br />

isto é, Programa do Livro na Escola 109 . Isso tem sido visto <strong>de</strong> forma positiva, uma vez que<br />

todos os alunos passaram a ter acesso ao livro didático. Porém, esse programa não aten<strong>de</strong><br />

todas as disciplinas e por outro lado, o livro doado muitas vezes não aten<strong>de</strong> às necessida<strong>de</strong>s a<br />

107 Para saber mais sobre esse assunto em http://www.fn<strong>de</strong>.gov.br/home/in<strong>de</strong>x.jsp?arquivo=livro_didatico.html<br />

108 Cf. revista Época Nº. 492 <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007.<br />

109 Cf. sobre Programa Livro na Escola 2005 no site: http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=1109<br />

52


às <strong>de</strong>mandas das escolas. Há pon<strong>de</strong>rações pelos professores no critério <strong>de</strong> escolha e até<br />

mesmo quanto à i<strong>de</strong>ologia que tais livros didáticos passam. A qualida<strong>de</strong> é questionável,<br />

<strong>de</strong>ixando a <strong>de</strong>sejar em muitos aspectos e, nem sempre, a escola disponibiliza <strong>de</strong> recursos para<br />

superar esse problema Para Marisa Lajolo:<br />

nenhum livro didático, por melhor que seja, po<strong>de</strong> ser utilizado sem<br />

adaptações. Como todo e qualquer livro, o didático também propicia<br />

diferentes leituras para diferentes leitores, e é em função da li<strong>de</strong>rança que<br />

tem na utilização coletiva do livro didático que o professor precisa preparar<br />

com cuidado os modos <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>le 110 .<br />

Os livros didáticos têm como função a escolarização dos estudantes. Sem eles a escola<br />

compromete seu objetivo principal que é a escolarização. Portanto, os livros didáticos têm<br />

seu papel <strong>de</strong> relevância nas escolas. Porém, verificamos que não são eles os únicos que<br />

assumem papel <strong>de</strong> escolarização. Os livros que não são didáticos possuem papéis importantes<br />

na escolarização da leitura. Magda Soares, por exemplo, discute sobre o livro didático e a<br />

escolarização da leitura. Para essa autora, o livro que é usado em sala <strong>de</strong> aula, aquele que não<br />

foi feito para a escola, que é usado fora das pare<strong>de</strong>s da escola, serve como prática social <strong>de</strong><br />

leitura e tem seu papel <strong>de</strong> escolarização. Porém ela ressalta que é necessário que esses livros<br />

sejam trabalhados <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada. Que essa escolarização não mate as características<br />

básicas da prática social <strong>de</strong> leitura 111 .<br />

Acreditamos que o uso do livro <strong>de</strong> literatura po<strong>de</strong>ria ilustrar essa realida<strong>de</strong>. A<br />

literatura tem seu papel <strong>de</strong> relevância nas práticas sociais <strong>de</strong> leitura e escrita. O uso incomum<br />

da linguagem, através da literatura, produz no leitor o prazer estético, porém,<br />

lamentavelmente, nem sempre é o que ocorre nos espaços escolares.<br />

É no livro didático que se encontra o saber sobre a língua e também é ele que se<br />

constitui em material <strong>de</strong> consulta e leitura para o professor e para o aluno no processo<br />

educacional do ensino. Já a leitura é construída pelo sujeito e, com isso, há diferentes gestos<br />

<strong>de</strong> interpretação com diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura dos textos, <strong>de</strong> acordo com os códigos<br />

<strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> cada um. Nesse contexto, o lugar ocupado pela leitura nos livros didáticos <strong>de</strong><br />

Língua Portuguesa sempre foi a inquietação dos professores. Portanto o livro didático 112 é um<br />

importante contraponto entre a escrita/leitura convencional e a escrita/leitura digital, pois é<br />

através do livro didático que as ativida<strong>de</strong>s e práticas <strong>de</strong> aprendizagem da língua são norteadas.<br />

110<br />

LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual <strong>de</strong> usuário. Em Aberto, Brasília, ano 16, 69, jan./mar.<br />

1996. (texto), p.8<br />

111<br />

Cf. http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/entrevistas/magda_soares.htm . Acessado em 13/10/07.<br />

112<br />

Nesse trabalho nos referimos ao livro <strong>de</strong> Língua Portuguesa.<br />

53


2.2 A leitura e a escrita interativa no ciberespaço<br />

Com já tratamos nesse trabalho sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias e velocida<strong>de</strong><br />

na comunicação, percebemos que houve muitas mudanças em todos os setores da socieda<strong>de</strong> e<br />

isso repercutiu nas interações, interlocuções e organizações sociais. A maneira das pessoas<br />

pensarem, julgarem, agirem e <strong>de</strong> programarem suas vidas modificou-se. As organizações<br />

sociais e as interações se <strong>de</strong>sconfiguram-se e se encontram em processos <strong>de</strong> reconfigurações.<br />

Estruturas sólidas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> dissolvem-se e reconfiguram em outros mo<strong>de</strong>los e<br />

possibilida<strong>de</strong>s. Na área <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong>staca-se a alfabetização e o letramento como um<br />

problema social nas diversas culturas, até mesmo em países mais <strong>de</strong>senvolvidos. Armando<br />

Petrucci afirma que nos Estados Unidos, país que produz mais livros e papel impresso no<br />

mundo e que possuem uma indústria editorial muito forte e organizada, os problemas mais<br />

sentidos são o analfabetismo crescente nas áreas urbanas e a progressiva queda do nível do<br />

<strong>de</strong>sempenho escolar dos estudantes 113 .<br />

A partir <strong>de</strong>sta informação o que po<strong>de</strong>mos esperar da realida<strong>de</strong> brasileira? A essa<br />

realida<strong>de</strong>, incorpora-se, também, a emergência do digital, com uma vasta população <strong>de</strong><br />

analfabetos digitais ou excluídos digitais. No âmbito político e social é consi<strong>de</strong>rado como um<br />

problema <strong>de</strong> caráter global que <strong>de</strong>manda vonta<strong>de</strong> política. Surgem os projetos <strong>de</strong> inclusão<br />

digital. E para <strong>de</strong>finirmos o que é a inclusão digital, baseamos na informação <strong>de</strong> João Thomaz<br />

Pereira quando afirma que a inclusão digital é um processo em que uma pessoa ou grupo<br />

passa a participar dos métodos <strong>de</strong> processamento, transferência e armazenamento <strong>de</strong><br />

informações que já são do uso e do costume <strong>de</strong> outro grupo. Quando passam a ter os mesmos<br />

direitos e os mesmos <strong>de</strong>veres dos já participantes daquele grupo on<strong>de</strong> está se incluindo 114 . E o<br />

mesmo afirma que precisamos dominar a tecnologia da informação. A inclusão digital<br />

transcen<strong>de</strong> uma simples alfabetização, é necessário dominar a tecnologia da informação.<br />

Mediante essa realida<strong>de</strong>, a educação tem seu papel <strong>de</strong> relevância na socieda<strong>de</strong>, precisa<br />

estar a serviço da humanização e emancipação da humanida<strong>de</strong>.<br />

Há que refletir sobre a interação homem/máquina para que possamos apropriar-se do<br />

largo leque <strong>de</strong> novas possibilida<strong>de</strong>s que a técnica oferece. Como afirma Pierre Lévy, na<br />

113 PETRUCCI, Armando. Ler Por ler: Um futuro para a leitura.. In CARVALHO, Guglielmo e CHARTIER,<br />

Roger (orgs.). História da leitura no mundo oci<strong>de</strong>ntal. São Paulo: Editora Ática, vol. 2, 1998, p. 210-211.<br />

114 PEREIRA, João Thomaz. Educação e Socieda<strong>de</strong> da informação in COSCARELLI, Carla e RIBEIRO, Ana<br />

Elisa (ORGS). Letramento digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale;<br />

Autêntica, 2005, p. 17.<br />

54


atualida<strong>de</strong>, há uma <strong>de</strong>pendência total do homem em relação à máquina e à tecnologia, para<br />

sobreviver 115 . E Otacílio J. Ribeiro afirma que, o mundo é marcado pela inteligência<br />

artificial, o homem ce<strong>de</strong> espaço para a construção <strong>de</strong> um sujeito coletivo 116 .<br />

A socieda<strong>de</strong> marcada pela emergência digital/virtual que apresenta com outras formas<br />

<strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> leitura e escrita. O letramento digital passa a ser um problema social. Ao<br />

tratarrmos sobre letramento digital, cabe uma <strong>de</strong>finição para o mesmo. De acordo com Magda<br />

Soares, letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto no qual a<br />

escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida das pessoas 117 .<br />

Emilia Ferreiro afirma que a alfabetização não é um estado, mas um processo. Ela tem<br />

início bem cedo e nunca termina. Nós não somos igualmente alfabetizados para qualquer<br />

situação <strong>de</strong> uso da língua escrita. Temos mais facilida<strong>de</strong> para ler <strong>de</strong>terminados textos e<br />

evitamos outros. O conceito também muda <strong>de</strong> acordo com as épocas, as culturas e a chegada<br />

da tecnologia 118 .<br />

De acordo com Emilia Ferreiro, acreditamos que há sempre <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> aprendizado<br />

no que tange a práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, uma vez que a cultura e as tecnologias estão em<br />

constante mutação.<br />

Há uma gran<strong>de</strong> preocupação entre os educadores com relação às práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita dos estudantes. Muitos chegam a afirmar que eles escrevem e lêem menos. Sobre essa<br />

realida<strong>de</strong> Roger Chartier discorda quando afirma que hoje se lê mais do que nos anos 1950,<br />

porque o computador não é apenas um novo veículo para imagens ou jogos. Ele é responsável<br />

também pela multiplicação da presença do escritor nas socieda<strong>de</strong>s contemporâneas. No<br />

computador tanto se po<strong>de</strong> ler os clássicos como as publicações acadêmicas e revistas em<br />

geral. Po<strong>de</strong>m não ser necessariamente leituras, enriquecedoras, mas são leituras 119 .<br />

Nesta perspectiva, ocorre-nos se seriam as práticas <strong>de</strong> leituras e escrita que acontecem<br />

nos espaços escolares, suficientes para o letramento dos alunos. De acordo com Roger<br />

Chartier, refletir sobre as revoluções do livro e, mais amplamente, sobre os usos da escrita, é<br />

115<br />

LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003.<br />

116<br />

RIBEIRO, Otacílio José. Educação e Socieda<strong>de</strong> da informação in COSCARELLI, Carla e RIBEIRO, Ana<br />

Elisa (ORGS). Letramento digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale;<br />

Autêntica, 2005, p. 85.<br />

117<br />

Ver mais sobre letramento em: SOARES, Magda Becker. O que é letramento, Diário na Escola, Diário<br />

Gran<strong>de</strong> ABC, Santo André, 2003.<br />

118<br />

Ver FERREIRO, Emilia. Alfabetização e cultura da escrita no site:<br />

http://novaescola.abril.com.br/ed/162_mai03/html/falamestre.htm Acessado dia 17/011/07.<br />

119<br />

http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2479,1.shl . Entrevista à Isabel Lustosa. Acessada 20/03/07.<br />

55


examinar a tensão que atravessa o mundo contemporâneo, dilacerado entre a afirmação das<br />

particularida<strong>de</strong>s e o <strong>de</strong>sejo universal 120 .<br />

Para Jean Hébrard a escola constrói seus próprios tipos <strong>de</strong> saberes ou habilida<strong>de</strong>s<br />

conforme os modos <strong>de</strong> elaboração, cuja lógica po<strong>de</strong> ser encontrada <strong>de</strong>ntro dos próprios<br />

sistemas educativos 121 . A escola tem seu papel fundamental na formação dos alunos. Porém o<br />

autor afirma que historicamente, a escola não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada o único lugar on<strong>de</strong> se<br />

constroem e transmitem os equipamentos intelectuais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>mos que<br />

há outros espaços responsáveis e capazes para dar essas atribuições.<br />

Ao verificarmos o papel da escola, mediante a questão do letramento digital e sobre as<br />

práticas <strong>de</strong> leitura e escrita nos espaços escolares, constatamos que a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Base<br />

da Educação Nacional (LDBN/96), já previa a necessida<strong>de</strong> da ‘alfabetização digital’, isto é,<br />

uma das <strong>de</strong>mandas contemporâneas proveniente ao <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias da<br />

comunicação.<br />

A contemporaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda uma emergência do digital. E isso provoca uma<br />

alteração <strong>de</strong> paradigmas na relação do sujeito com a técnica, gerando um gran<strong>de</strong> impacto nas<br />

formas tradicionais da escrita e leitura. O fato <strong>de</strong> não saber ler, nem escrever hoje implicam,<br />

além <strong>de</strong> ser discriminado por isso, estar muito distante <strong>de</strong> um mundo globalizado, do avanço<br />

das tecnologias, do uso dos computares, entre outros. Saber ler e escrever é requisito para<br />

inserir no mundo virtual/digital.<br />

Thompson discorre que viver num mundo mediado significa uma carga <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> que pesa gravemente sobre os ombros <strong>de</strong> alguns. Isso provoca uma dinâmica<br />

na qual o imediatismo da experiência vivida e as reivindicações morais associadas à interação<br />

face a face jogam constantemente contra as responsabilida<strong>de</strong>s provenientes da experiência<br />

mediada 122 . O mesmo afirma que o <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong> comunicação abasteceu<br />

uma crescente conscientização da interconexão e inter<strong>de</strong>pendência 123 .<br />

Nessa realida<strong>de</strong> virtual/digital, é necessário compreen<strong>de</strong>r o conceito <strong>de</strong> alfabetização e<br />

letramento, confrontar com as tecnologias tipográficas e digitais <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita.<br />

Avaliar os efeitos sociais, cognitivos e discursivos para compreen<strong>de</strong>r o presente, buscando um<br />

120<br />

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 133.<br />

121<br />

HÉBRARD, Jean. Três figuras <strong>de</strong> jovens leitores: Alfabetização e escolarização do ponto <strong>de</strong> vista da história<br />

cultural. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras:<br />

Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 2000, p. 35.<br />

122<br />

THOMPSON, John B.A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001.<br />

123<br />

THOMPSON, John B.A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2001, p. 228.<br />

56


sentido para a alfabetização e letramento na cibercultura 124 e o lugar que ocupam nos espaços<br />

educacionais.<br />

Através da escrita digital é possível criar textos e conectá-los através <strong>de</strong> links <strong>de</strong> uma<br />

forma prática. Isso acabou tornando-se a característica fundamental <strong>de</strong> um texto publicado na<br />

re<strong>de</strong>. Toda essa flexibilida<strong>de</strong> trouxe novas possibilida<strong>de</strong>s. O escritor ou leitor po<strong>de</strong> recortar,<br />

copiar, editar, mover, inserir, exibir, <strong>de</strong>letar, formatar, configurar, <strong>de</strong>sfazer, refazer, enfim,<br />

tudo o que antes era muito limitado no papel, transformou-se em muitas possibilida<strong>de</strong>s para se<br />

editar um texto. Além do mais, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir imagens, sons, ví<strong>de</strong>o etc.<br />

Não somente po<strong>de</strong>mos inserir links <strong>de</strong> uma página em outra, mas também po<strong>de</strong>mos<br />

estabelecer conexões entre os mais diversos tipos <strong>de</strong> conteúdos audiovisuais. O hipertexto<br />

surgiu para tornar possível a navegação pelos websites como conhecemos hoje, pois, sem ele,<br />

não seria possível ter essa hipermediação.<br />

A escrita na tela possibilita a criação <strong>de</strong> um texto diferente do texto no papel, o<br />

chamado hipertexto que é, segundo Pierre Lévy, um texto móvel, caleidoscópio, que<br />

apresenta suas facetas, gira, dobra-se e <strong>de</strong>sdobra-se à vonta<strong>de</strong> frente ao leitor 125 . O texto<br />

escrito no papel é lido, em tese, linearmente, seqüencialmente, da esquerda para a direita, <strong>de</strong><br />

cima para baixo, uma página após a outra. O texto na tela, ou seja, o hipertexto é escrito e lido<br />

<strong>de</strong> forma multilinear, multiseqüencial, acionando-se links ou nós que vão trazendo telas numa<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s, sem que haja uma or<strong>de</strong>m pré-<strong>de</strong>finida. A dimensão do texto<br />

no papel é materialmente <strong>de</strong>finida. I<strong>de</strong>ntifica-se claramente seu começo e seu fim, as páginas<br />

são numeradas, o que lhes atribui uma <strong>de</strong>terminada posição numa or<strong>de</strong>m consecutiva; a<br />

página é uma unida<strong>de</strong> estrutural. O hipertexto, ao contrário, tem a dimensão que o leitor lhe<br />

<strong>de</strong>r. Seu começo é ali on<strong>de</strong> o leitor escolhe, com um clique, a primeira tela, termina quando o<br />

leitor fecha, com um clique, uma tela, ao dar-se por satisfeito ou consi<strong>de</strong>rar-se<br />

suficientemente informado. Enquanto a página é uma unida<strong>de</strong> estrutural, a tela é uma unida<strong>de</strong><br />

temporal.<br />

Em outro aspecto, analisamos a escrita <strong>de</strong>svinculada <strong>de</strong> seu suporte <strong>de</strong> edição, (papel<br />

ou tela). Verificamos que construir um texto, significa or<strong>de</strong>nar caracteres <strong>de</strong> forma inteligível<br />

e esse produto <strong>de</strong>manda um leitor letrado, capacitado para interpretar os caracteres e construir<br />

sentido e significados sobre os caracteres or<strong>de</strong>nados. De acordo com Roger Chartier, a<br />

124 Cibercultura é um termo criado por William Gibson, em 1984, que já previa um tipo <strong>de</strong> comunicação global,<br />

num espaço não-físico entre os seres humanos. Cf. mais sobre esse assunto em: FERNANDES, Fábio. A<br />

construção do imaginário cyber: William Gibson, criador da cibercultura. São Paulo: Editora Anhembi<br />

Morumbi, 2006.<br />

125 LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo - SP: Editora 34, 1999, p. 56,<br />

57


evolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito<br />

assim como nas maneiras <strong>de</strong> ler 126 . Compreen<strong>de</strong>mos aqui que, ao mudar o suporte físico da<br />

escrita, mudam-se também as maneiras <strong>de</strong> ler.<br />

A leitura é uma prática histórica, que requer habilida<strong>de</strong>s diferentes ao longo da<br />

história, porém, consi<strong>de</strong>ramos que o ato <strong>de</strong> ler, compreen<strong>de</strong>r um texto, ou seja, compreen<strong>de</strong>r e<br />

construir sentido e significados sobre um amontoado <strong>de</strong> caracteres or<strong>de</strong>nados perpassa o<br />

suporte da escrita. O domínio básico da leitura é condição para novas práticas da mesma.<br />

Segundo Roger Chartier, a comunicação à distância, livre e imediata, propiciada pelas re<strong>de</strong>s<br />

eletrônicas, dá um novo alento a este sonho, em que toda a humanida<strong>de</strong> participaria do<br />

intercâmbio dos julgamentos 127 .<br />

A tela, como novo espaço <strong>de</strong> escrita, traz significativas mudanças nas formas <strong>de</strong><br />

interação entre escritor e leitor, entre escritor e texto, entre leitor e texto e até mesmo, mais<br />

amplamente, entre o ser humano e o conhecimento. Embora estudos e pesquisas sobre os<br />

processos cognitivos envolvidos na escrita e na leitura <strong>de</strong> hipertextos sejam ainda poucos, a<br />

hipótese é <strong>de</strong> que essas mudanças tenham conseqüências sociais, cognitivas e discursivas. E<br />

isso esta se configurando em letramento digital 128 , isto é, certo estado ou condição que<br />

adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong><br />

escrita na tela, diferente do estado ou condição, do letramento, dos que exercem práticas <strong>de</strong><br />

leitura e <strong>de</strong> escrita no papel.<br />

Para alguns autores, os processos cognitivos inerentes a esse letramento digital<br />

reaproximam o ser humano <strong>de</strong> seus esquemas mentais. Como afirma Ramal, estamos<br />

chegando à forma <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita mais próximas do nosso próprio esquema mental.<br />

Assim como pensamos em hipertexto, sem limites para a imaginação a cada novo sentido<br />

dado a uma palavra, navegamos em múltiplas vias on<strong>de</strong> o novo texto se abre, não mais em<br />

páginas, mas em dimensões superpostas que se interpenetram e que po<strong>de</strong>mos compor e<br />

recompor a cada leitura 129 . Para esse autor, o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que<br />

amplificam, exteriorizam e modificam numerosas funções cognitivas humanas, como a<br />

memória, que se encontra tão objetivada em dispositivos automáticos, tão separada do corpo<br />

126<br />

CHARTIER, Roger. A or<strong>de</strong>m dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e<br />

XVIII. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2ª ed., 1998, p. 13.<br />

127<br />

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 133.<br />

128<br />

Cf. SOARES, Magda. Letramento: como <strong>de</strong>finir, como avaliar, como medir. In SOARES, Magda.<br />

Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998, p. 61-125. A autora <strong>de</strong>fine que<br />

letramento são as práticas sociais <strong>de</strong> leitura e escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem<br />

como as conseqüências <strong>de</strong>las sobre a socieda<strong>de</strong>.<br />

129<br />

RAMAL, Andrea C. Educação na cibercultura: hipertextualida<strong>de</strong>, leitura, escrita e aprendizagem. Porto<br />

Alegre: ARTMED, 2002, p. 84.<br />

58


dos indivíduos ou dos hábitos coletivos que nos perguntamos se a própria noção <strong>de</strong> memória<br />

ainda é pertinente.<br />

Roger Chartier indaga se a revolução do texto eletrônico será uma revolução da<br />

leitura. Ler sobre uma tela não é ler um có<strong>de</strong>x. A representação eletrônica dos textos modifica<br />

totalmente a sua condição 130 . A tela, como espaço <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> leitura, traz não apenas<br />

novas formas <strong>de</strong> acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas<br />

<strong>de</strong> conhecimento, novas maneiras <strong>de</strong> ler e <strong>de</strong> escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um<br />

novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> leitura na tela.<br />

De acordo com Pierre Lévy, o ciberespaço é por excelência o meio em que os atos<br />

po<strong>de</strong>m ser registrados e transformados em dados exploráveis 131 . É o espaço usado pelos<br />

cibernautas para navegar na Internet. De complexa caracterização, é um espaço virtualmente<br />

cheio <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interações, negócios, informações, produções, divulgações,<br />

pesquisas, comunicações sonoras e <strong>de</strong> imagens, etc.<br />

O ciberespaço permite ao usuário estar presente em potência, ou seja, virtualmente, em<br />

mais <strong>de</strong> um lugar em tempo real. Observa-se que é, também, um espaço público e vasto,<br />

porém ainda não é previsível o estabelecimento do limite <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s e espaços a serem<br />

explorados. Ao mesmo tempo em que se permite virtualizar, o virtual po<strong>de</strong> interferir no real<br />

<strong>de</strong>sestabilizando-o e possibilitando um possível <strong>de</strong>sconhecido. Pierre Lévy afirma que o<br />

ciberespaço é, hoje, o sistema com o <strong>de</strong>senvolvimento mais rápido <strong>de</strong> toda a história das<br />

técnicas <strong>de</strong> comunicação 132 . É um espaço que permite qualquer um publicar seus textos, sem<br />

passar por um filtro <strong>de</strong> censura, possibilitando assim que vozes minoritárias, opositoras ou<br />

divergentes possam ser escutadas 133 . O cibernauta possui muitos espaços para se comunicar,<br />

interagir, pesquisar, informar, ven<strong>de</strong>r, comprar, etc.<br />

A tecnologia <strong>de</strong> impressão formatou a escrita, muito mais do que fizeram o rolo e o<br />

códice, em algo estável, monumental e controlado. O texto tornou-se reproduzível em cópias<br />

sempre idênticas; monumental porque o texto impresso, muito mais que o manuscrito,<br />

sobrevive e persiste como um monumento ao seu autor e tempo, sempre controlado por<br />

instâncias que intervêm em sua produção e regulação.<br />

130 CHARTIER, Roger. A or<strong>de</strong>m dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e<br />

XVIII. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2ª Ed. 1998, p. 100.<br />

131 LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p.63.<br />

132 LÉVY, Pierre in MARTINS, Francisco Menezes & SILVA, Juremir Machado da. (orgs). Para navegar no<br />

século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p. 194.<br />

133 Ibi<strong>de</strong>m, p. 198.<br />

59


Os leitores e escritores da era digital possuem uma autonomia sobre o texto, isto é,<br />

po<strong>de</strong>m modificá-los, reescrevê-los e reeditá-los a qualquer momento e, ao mesmo tempo,<br />

compartilhar imagens, sons, textos etc. Isso, até então, não era possível. Para Roger Chartier,<br />

o computador altera profundamente todo o relacionamento com a cultura escrita 134 .<br />

São as tecnologias <strong>de</strong> impressão e difusão da escrita que <strong>de</strong>terminam a proprieda<strong>de</strong><br />

sobre a obra, proprieda<strong>de</strong> que se expressa concretamente no surgimento da figura do autor,<br />

em geral difuso e não i<strong>de</strong>ntificado anteriormente, nos livros manuscritos, e institui,<br />

conseqüentemente, os direitos autorais, a criminalização da cópia e do plágio.<br />

Também são as tecnologias <strong>de</strong> impressão e difusão da escrita que criam várias<br />

instâncias <strong>de</strong> controle do texto, <strong>de</strong> sua escrita e <strong>de</strong> sua leitura. O texto é produto não só do<br />

autor, mas também do editor, do diagramador, do programador visual, do ilustrador, <strong>de</strong> todos<br />

aqueles que intervêm na produção, reprodução e difusão <strong>de</strong> textos impressos em diferentes<br />

portadores (jornais, revistas, livros, etc.). Altera-se, assim, fundamentalmente, o estado ou<br />

condição dos que escrevem e dos que lêem. O letramento na cultura do texto impresso<br />

diferencia-se substancialmente do letramento na cultura do texto manuscrito. A escrita no<br />

papel apresenta uma exigência <strong>de</strong> uma organização hierárquica e disciplinada das idéias,<br />

porém, na re<strong>de</strong>, isso não ocorre.<br />

A cultura do texto eletrônico traz uma nova mudança no conceito <strong>de</strong> letramento. Em<br />

certos aspectos essenciais, essa nova cultura do texto eletrônico traz, <strong>de</strong> volta, características<br />

da cultura do texto manuscrito. Como no texto manuscrito e ao contrário do texto impresso, o<br />

texto eletrônico não é estável, não é monumental e é pouco controlado. Não é estável porque,<br />

tal como os copistas e os leitores freqüentemente interferiam no texto, também os leitores <strong>de</strong><br />

hipertextos po<strong>de</strong>m interferir neles, acrescentar, alterar, <strong>de</strong>finir seus próprios caminhos <strong>de</strong><br />

leitura. Não é monumental porque, como conseqüência <strong>de</strong> sua não-estabilida<strong>de</strong>, o texto<br />

eletrônico é efêmero e mutável; pouco controlado porque é gran<strong>de</strong> a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

textos na tela e é quase totalmente ausente o controle da qualida<strong>de</strong> e conveniência do que é<br />

produzido e difundido.<br />

O autor do texto impresso é permanente e o leitor é apenas um visitador. No texto<br />

eletrônico, a distância entre autor e leitor se reduz, porque o leitor se torna também, autor,<br />

tendo liberda<strong>de</strong> para construir, ativa e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, a estrutura e o sentido do texto. O<br />

hipertexto é construído pelo leitor no ato mesmo da leitura. Optando entre várias alternativas<br />

134 CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />

história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP<br />

2000, p.28.<br />

60


propostas, é ele quem <strong>de</strong>fine o texto, sua estrutura e seu sentido. No texto impresso, cuja<br />

linearida<strong>de</strong>, por si só, já impõe uma estrutura e uma seqüência, o autor procura controlar o<br />

leitor, lançando mão <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong> leitura. No texto eletrônico, ao contrário, o autor será<br />

tanto mais competente, quanto mais alternativas <strong>de</strong> estruturação o texto possibilitar, quanto<br />

mais opções <strong>de</strong> interpretação ofereça ao leitor. Na verda<strong>de</strong>, o hipertexto não tem propriamente<br />

um autor. Em primeiro lugar, porque a intertextualida<strong>de</strong>, presente, no texto impresso, quase<br />

exclusivamente por alusão, no hipertexto se materializa, na medida em que esse se constrói<br />

pela articulação <strong>de</strong> textos diversos, <strong>de</strong> diferentes autorias. No hipertexto, não há uma autoria,<br />

mas muitas autorias. Assim, o texto eletrônico exige uma nova conceituação radical <strong>de</strong><br />

autoria, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> sobre a obra, <strong>de</strong> direitos autorais, o que tem, sem dúvida, efeitos nas<br />

práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita. É o que verificamos em Roger Chartier:<br />

a mudança no suporte físico da escrita força o leitor a ter novas atitu<strong>de</strong>s e<br />

apren<strong>de</strong>r novas práticas intelectuais. A passagem dos textos do livro<br />

impresso para a tela do computador é uma mudança tão gran<strong>de</strong> quanto a<br />

passagem do rolo para o có<strong>de</strong>x durante os primeiros séculos da Era cristã.<br />

Isso <strong>de</strong>safia a or<strong>de</strong>m dos livros familiares aos leitores e dita novos caminhos<br />

<strong>de</strong> leitura que superam as limitações tradicionais impostas pelos objetos<br />

impressos 135 .<br />

Por outro lado, na cultura da tela, altera-se radicalmente o controle da publicação.<br />

Enquanto, na cultura impressa, editores, conselhos editoriais <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m o que vai ser impresso,<br />

<strong>de</strong>terminam os critérios <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, portanto, instituem autorias e <strong>de</strong>finem o que será<br />

oferecido aos leitores, o computador po<strong>de</strong> publicar e distribuir no ciberespaço, textos que<br />

escapam da avaliação e do controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Porém, cabe ressaltar que há sites que<br />

mantêm esse controle <strong>de</strong> censura e qualida<strong>de</strong>. O que chama a atenção nesta reflexão são as<br />

possibilida<strong>de</strong>s que o autor tem <strong>de</strong> fazer uso do legal, do reconhecível, do censurado, do<br />

irreconhecível, do que é público e do que é privado na re<strong>de</strong> do ciberespaço.<br />

O hipertexto permite novas formas <strong>de</strong> ler e escrever. Para Roland Barthes, citado por<br />

Casalegno, o hipertexto trata-se <strong>de</strong> um texto composto <strong>de</strong> blocos <strong>de</strong> palavras, ou <strong>de</strong> imagens,<br />

conectados eletronicamente, conforme múltiplos percursos, numa textualida<strong>de</strong> sempre aberta<br />

e infinita 136 . Segundo Pierre Lévy, o hipertexto retoma e transforma antigas interfaces da<br />

escrita 137 . Apresenta um conjunto <strong>de</strong> informações textuais combinando imagens (animadas ou<br />

135 CHARTIER, Roger. As revoluções da leitura no oci<strong>de</strong>nte. In ABREU, Márcia (org.). Leitura, história e<br />

história da leitura. Campinas, SP: Mercado <strong>de</strong> letras: Associação <strong>de</strong> Leitura do Brasil; São Paulo: FAPESP<br />

2000, p.28.<br />

136 CASALEGNO, Fe<strong>de</strong>rico. Hiperliteratura, socieda<strong>de</strong>s hipertextuais. In MARTINS, Francisco Menezes &<br />

SILVA, Juremir Machado da. (orgs). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p. 273.<br />

137 LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência. 14ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2006, p. 34.<br />

61


fixas) e sons, que possibilitam uma leitura não necessariamente linear, à medida que existe a<br />

rolagem do texto (page up and page down), clique do mouse nos ícones. O mesmo põe em<br />

cheque as estruturas fixas, rompendo com a concepção <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> começo e fim. Seu<br />

objetivo não é só a escrita, mas também a interação. Para Lévy o hipertexto é um conjunto <strong>de</strong><br />

nós ligados por conexões que po<strong>de</strong>m ser palavras, páginas, imagens, gráficos, seqüências<br />

sonoras, documentos complexos que po<strong>de</strong>m eles mesmos ser hipertexto 138 . Arlindo Machado<br />

discorre que a informática possibilita unir em um único meio todos os suportes do texto 139 ,<br />

isto é, o texto escrito, o texto oral, a imagem fixa e em movimento, os sons ou ruídos, gestos,<br />

toques, construindo uma modalida<strong>de</strong> discursiva única.<br />

Casalegno, ao tratar sobre a leitura <strong>de</strong> um hipertexto, afirma que:<br />

ler, no caso do hipertexto, não significa ser consumidor passivo, mas<br />

produtor. O hipertexto exige e cria um leitor ativo. Além disso, um sistema<br />

hipertextual possibilita a quem escreve coletar informações, realizar<br />

percursos específicos em blocos <strong>de</strong> textos interligados, copiar e fazer<br />

anotações em textos consultados, fornecendo aos <strong>de</strong>mais leitores<br />

informações complementares 140 .<br />

Compreen<strong>de</strong>mos aqui que os leitores <strong>de</strong> hipertexto não são leitores passivos. Ao lerem<br />

ou produzirem seus hipertextos, assumem o papel <strong>de</strong> leitores, autores ativos e interativos.<br />

Pressupõe-se que o leitor <strong>de</strong> texto impresso seja um leitor passivo, porém não é isso que<br />

ocorre. Como po<strong>de</strong>mos conferir em Michel <strong>de</strong> Certeau, o texto só tem sentido graças a seus<br />

leitores; muda com eles, or<strong>de</strong>na-se conforme códigos <strong>de</strong> percepção que lhe escapam 141 . Para<br />

esse autor, ler é peregrinar por um sistema imposto, o leitor é o produtor <strong>de</strong> jardins que<br />

miniaturizam e congregam um mundo 142 . O leitor se <strong>de</strong>sterritorializa, é viajante que circula<br />

em terras alheias, nôma<strong>de</strong>, sem lugar, <strong>de</strong>sperta e habita textos adormecidos, misturando,<br />

associando, porém nunca sendo o seu proprietário. A circulação do texto hoje encontra um<br />

suporte po<strong>de</strong>roso no texto eletrônico, algo que até então só era permitido pela comunicação<br />

manuscrita afirma, Roger Chartier 143 .<br />

138 LÉVY, Pierre. O que é virtual. 6ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2003, p. 44.<br />

139 MACHADO, Arlindo. O quarto iconoclasmo: e outros ensaios hereges. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rios Ambiciosos,<br />

2001, p. 108.<br />

140 CASALEGNO, Fe<strong>de</strong>rico. Hiperliteratura, socieda<strong>de</strong>s hipertextuais. In MARTINS, Francisco Menezes &<br />

SILVA, Juremir Machado da. (orgs). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p. 275.<br />

141 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A invenção do cotidiano. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2000, p. 266.<br />

142 Ibi<strong>de</strong>m, p. 269.<br />

143 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 134.<br />

62


Seria então o leitor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tipo <strong>de</strong> texto, seja ele, oral, impresso, eletrônico,<br />

o criador <strong>de</strong> significados? A relação leitor e texto seria uma relação <strong>de</strong> criação e construção <strong>de</strong><br />

significado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos suportes que as tecnologias possibilitam?<br />

Roger Chartier, ao ser interrogado se o computador modifica a forma <strong>de</strong> redação dos<br />

textos e, em certo sentido, a forma <strong>de</strong> pensar, respon<strong>de</strong> que falta estudo 144 . Afirma que há<br />

muitos discursos, porém são discursos i<strong>de</strong>ológicos. Aponta que temos um campo imenso para<br />

observações <strong>de</strong> tipo sócio-antropológico, e que somente isso seria a condição para que<br />

pudéssemos sair da repetição dos discursos globais.<br />

Constatamos que há um impacto dos meios <strong>de</strong> comunicação na relação entre o público<br />

e o privado e na mudança do vínculo entre a visibilida<strong>de</strong> e o po<strong>de</strong>r. Os fenômenos que<br />

produzem questões difusas e incômodas na política hoje, como a freqüente ocorrência <strong>de</strong><br />

escândalos <strong>de</strong> todos os tipos, estão enraizados numa série <strong>de</strong> transformações fundamentais<br />

que dizem respeito à visibilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r exposto através da mídia.<br />

Como já verificamos, os seres humanos, nas mais antigas relações, sempre se<br />

ocupavam das produções e do intercâmbio <strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> conteúdo simbólico em todas<br />

as socieda<strong>de</strong>s. Des<strong>de</strong> as mais antigas formas <strong>de</strong> comunicação gestual e <strong>de</strong> uso da linguagem,<br />

até os mais recentes <strong>de</strong>senvolvimentos na tecnologia computacional, a produção, o<br />

armazenamento e a circulação <strong>de</strong> informação e conteúdo simbólico têm sido aspectos centrais<br />

da vida social. Confirmamos isso em Álvaro Pinto quando afirma que:<br />

a informação sempre existiu na convivência humana, que seria impossível<br />

sem ela. [...] Em todas as fases da existência pretérita a humanida<strong>de</strong><br />

empregou os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> que precisava para efetuar e regular a<br />

produção social. As formas <strong>de</strong> correspondência entre os homens refletiam-se<br />

nos conceitos em que eram resignados; estes modificaram-se com o tempo e<br />

as condições sociais objetivas 145 .<br />

Os meios <strong>de</strong> comunicação têm dimensões simbólicas irredutíveis, isto é, os seres<br />

humanos, ao fazerem uso dos meios <strong>de</strong> comunicação, vão tecendo significados para si<br />

mesmos <strong>de</strong> acordo com seus códigos <strong>de</strong> domínio.<br />

A escrita e a leitura digital trazem uma ruptura com o convencional. Rompem-se com<br />

as fronteiras das regras, do fixo e da rigi<strong>de</strong>z normativa. Apresentam-se, pois, livres dos<br />

dispositivos impostos pelas regras já estabelecidas. Possibilitam intervenções do leitor e<br />

incorporam regras próprias dos quais, até então, não se tinha conhecimento, ou melhor, não se<br />

tinha domínio. Em alguns momentos, apresentam retomada a um passado distante, como por<br />

144 CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: São Paulo: Editora UNESP, 1999.<br />

145 PINTO, Álvaro Vieira. O conceito <strong>de</strong> tecnologia. 2ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Contraponto, 2005, p.348.<br />

63


exemplo, o uso <strong>de</strong> símbolos. A instantaneida<strong>de</strong> e a constante atualização do texto abolem a<br />

rasura da escrita. O texto fica pronto para ser editado ou reeditado. Isto é, o digital se<br />

apresenta como se anulasse a rasura, tão ligada à escrita convencional como processo<br />

inacabado. O texto po<strong>de</strong> ser atualizado quantas vezes necessárias, <strong>de</strong> acordo com o quanto se<br />

<strong>de</strong>seja atualizar.<br />

A modalida<strong>de</strong> que se utiliza hoje na Internet apresenta-se próxima do que já se utilizou<br />

na Antiguida<strong>de</strong>. Observamos isso em Casalegno, quando afirma que, na escrita interativa dos<br />

povos semíticos, é o homem que fornece o sentido das coisas e dos gestos através da atitu<strong>de</strong><br />

interpretativa adotada 146 . É neste sentido que po<strong>de</strong>mos comparar a língua semítica com o<br />

hipertexto.<br />

Essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita no ciberespaço seria uma modalida<strong>de</strong> nova <strong>de</strong> linguagem,<br />

que propicia um novo leitor/escritor. Não seria a ferramenta, ou seja, o computador, através<br />

da Internet, que consagra essa novida<strong>de</strong>. Sabemos que sempre houve recursos enigmáticos,<br />

sintéticos, na escrita, porém, agora apresentam-se <strong>de</strong> forma mais elaborada, possibilitada pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico.<br />

Observamos que os recursos utilizados na escrita digital, principalmente nos sites <strong>de</strong><br />

relacionamentos e interações, são formas <strong>de</strong> aclimatar o virtual para aproximar do real.<br />

Percebemos que as mensagens escritas no ciberespaço permitem maior transparência daquilo<br />

que se quer fazer enten<strong>de</strong>r entre os interlocutores. Na escrita virtual/digital dos sites <strong>de</strong><br />

relacionamentos, observamos características próprias <strong>de</strong>ssa linguagem que supostamente seria<br />

uma linguagem líquida. A evidência da oralida<strong>de</strong> e elementos paralingüísticos, imagens,<br />

emoticons, smiles são marcantes. É uma escrita carregada <strong>de</strong> emoções, afetivida<strong>de</strong>, em<br />

<strong>de</strong>terminadas situações é consi<strong>de</strong>rada até mesmo como uma escrita sedutora. E sobre escrita<br />

sedutora, Leyla Perrone-Moisés, afirma que a forma mais tradicional da sedução é a oral. E a<br />

escrita sedutora é ainda mais perversa do que a fala sedutora, porque preten<strong>de</strong> agir sobre um<br />

interlocutor ausente, porque mexe com todos os <strong>de</strong>sejos vagos, múltiplos que a linguagem é<br />

capaz <strong>de</strong> mobilizar e atingir por ela mesma 147 . E nos sites <strong>de</strong> relacionamentos, a escrita muitas<br />

vezes explora esse aspecto <strong>de</strong> sedutora, afetiva, persuasiva. Seria o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sedução, ou o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser seduzido o motivo <strong>de</strong> tal evidência na escrita interativa do ciberespaço, ou seja,<br />

as carências, a solidão que implementam tal evidência, são hipóteses que nos ocorrem.<br />

146 CASALEGNO, Fe<strong>de</strong>rico. Hiperliteratura, socieda<strong>de</strong>s hipertextuais. In MARTINS, Francisco Menezes &<br />

SILVA, Juremir Machado da. (orgs). Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003, p.274.<br />

147 PERRONE-MOISÉS, Leyla. Flores da escrivaninha: São Paulo, Companhia das Letras, 1990, p18-19.<br />

64


De acordo com Thompson, quando os indivíduos usam os meios <strong>de</strong> comunicação,<br />

entram em formas <strong>de</strong> interação que diferem dos tipos <strong>de</strong> interação face a face que<br />

caracterizam a maioria dos nossos encontros quotidianos 148 . Porém, na Internet, os indivíduos<br />

buscam essas interações reais virtualmente. Sobre isso Fernanda Freire cita Umberto Eco<br />

quando ele afirma que a Internet implementou a solidão: as pessoas passaram a trabalhar em<br />

casa e comunicar-se virtualmente. Há uma preocupação em transformar a solidão em<br />

ocasiões 149 . Com as múltiplas possibilida<strong>de</strong>s e recursos que as tecnologias da comunicação<br />

possibilitam, percebemos que jamais se escreveu, comunicou e leu tanto. A comunicação e a<br />

interlocução entre os indivíduos acontecem mais virtual do que presencialmente. Com isso, as<br />

pessoas interagem, se conhecem primeiro através da palavra escrita. As relações e<br />

interlocuções acontecem muito mais virtualmente do que presencialmente. Essa realida<strong>de</strong> gera<br />

certo mal estar, certa nostalgia cujas conseqüências, a princípio, são imprevisíveis.<br />

Observamos que o mundo atual, em que vivemos é múltiplo, <strong>de</strong>nso, fragmentado e<br />

marcado pela pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos, informações, tecnologias, que se disseminam<br />

cada vez mais rapidamente. Há estudiosos que acreditam que o mo<strong>de</strong>lo hipertextual <strong>de</strong><br />

simultaneida<strong>de</strong> e não linearida<strong>de</strong> apresenta uma forma <strong>de</strong> leitura e escrita mais próxima do<br />

nosso próprio esquema mental <strong>de</strong> pensamento, uma vez que esse não apresenta limites para<br />

atribuições <strong>de</strong> sentido às palavras.<br />

Sobre os gêneros discursivos do ciberespaço, sabemos que as práticas mais atraentes<br />

têm sido as que acontecem em tempo simultâneo, semelhante à conversa face a face, a<br />

conversa escrita, principalmente pelos jovens. Na opinião <strong>de</strong> alguns professores pesquisados,<br />

essas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, em certos momentos, apresentam controvérsias frente à<br />

prática <strong>de</strong> leitura e escrita convencional dos espaços escolares. Há os mais entusiasmados que<br />

afirmam que o uso do hipertexto na escola aperfeiçoaria a cognição, alterando o modo <strong>de</strong><br />

pensar das pessoas. Por outro lado há os que vêem isso como euforia e pon<strong>de</strong>ram-se diante<br />

<strong>de</strong>ssa novida<strong>de</strong>.<br />

2.3 Análises <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> escrita e leitura observadas no MSN Messenger e<br />

Orkut<br />

148<br />

THOMPSON, John B. A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição Petrópolis, RJ:<br />

Vozes, 2001, p.13-14.<br />

149<br />

FREIRE, Fernanda M. A palavra (re)escrita e (re)lida via Internet. In SILVA, Ezequiel Theodoro da<br />

(coord.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez, 2003, p. 21.<br />

65


Neste tópico analisamos amostras <strong>de</strong> conversa do MSN Messenger e scraps do Orkut,<br />

escritos pelos estudantes do Ensino Médio que foram coletadas ao longo <strong>de</strong>ssa pesquisa, com<br />

o objetivo <strong>de</strong> verificar as características da mesma, como essa escrita acontece, como se<br />

apresenta no ciberespaço da Internet, discutir alguns aspectos instigantes e analisá-los. As<br />

amostras analisadas exemplificam a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita da qual principalmente os jovens<br />

fazem uso no ciberespaço para interagirem com os amigos. Destacamos, também, que essa<br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita está intrinsecamente ligada à leitura.<br />

Essa escrita, que encontramos no ciberespaço <strong>de</strong> conversa interativa, nos sugere ser<br />

líquida, híbrida, pelo fato <strong>de</strong> incorporar elementos paralingüísticos, isto é, fazer uso <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> um idioma, lançar recursos <strong>de</strong> imagens, <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>. Essa escrita ocupa um espaço antes<br />

reservado à linguagem oral, isto é, a <strong>de</strong> ser mais viva que a língua escrita. Seria o ciberespaço<br />

um facilitador para integrar o discurso oral no discurso escrito? Observamos que a união<br />

<strong>de</strong>sses dois discursos po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada no passado, principalmente nas correspondências<br />

íntimas, como bilhetes, recados, nas comunicações que não exigem formalida<strong>de</strong>s. Também na<br />

literatura po<strong>de</strong>mos observar, como em Guimarães Rosa, o registro <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> na escrita. O<br />

ciberespaço permite uma relação com o texto que existe na literatura e nas correspondências<br />

íntimas, porém <strong>de</strong> forma mais sofisticada, <strong>de</strong>vido aos recursos possibilitados pelas<br />

tecnologias.<br />

Celeste Zenha diz que, com a fusão da multimídia, dois discursos que haviam se<br />

separado com Platão, aparecem novamente reunidos. O discurso racional e escrito se junta à<br />

estética da imagem na produção <strong>de</strong> conhecimento 150 . No ciberespaço, o uso <strong>de</strong> elementos<br />

paralingüísticos, como imagens, sons, smiles, emoticons, signos, em <strong>de</strong>terminadas situações,<br />

se assemelha à escrita pictográfica. Roger Chartier afirma que esse uso ilustra a busca <strong>de</strong> uma<br />

linguagem não verbal que permite a comunicação universal das emoções e o sentido do<br />

discurso 151 .<br />

Cabe ressaltar aqui que foram mantidos em sigilo os nomes dos internautas, autores<br />

das amostras colhidas no MSN Messenger e no Orkut, para preservar suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s.<br />

Ao observar a escrita dos estudantes, no ciberespaço, percebemos que a liberda<strong>de</strong> ao<br />

lidar com a ortografia, com a construção das palavras, das frases, vai além da criativida<strong>de</strong>, das<br />

simplificações e pressa. E, conseqüentemente, essa escrita implica leitura, como já citamos.<br />

150 ZENHA, Celeste. Mídia e informação no cotidiano contemporâneo. In FILHO, Daniel Aarão Reis. O século<br />

XX: Tempo das dúvidas <strong>–</strong> do <strong>de</strong>clínio das utopias as globalizações. 2ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização<br />

Brasileira, 2002. V. 3, p. 245.<br />

151 CHARTIER, Roger. Os <strong>de</strong>safios da escrita. São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 17<br />

66


Isso po<strong>de</strong>ria ser um fato que preocupa os educadores ao consi<strong>de</strong>rar a memória da escrita que<br />

muitas vezes se apresenta diferente da escrita padrão.<br />

Veja o exemplo seguinte (FIG. 1), uma mensagem tirada <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>ntificador 152 do<br />

MSN Messenger <strong>de</strong> um jovem <strong>de</strong> quinze anos, estudante do primeiro ano do Ensino Médio:<br />

FIGURA 1<br />

Não se sabe até que ponto essa escrita po<strong>de</strong> ou não comprometer a escrita<br />

convencional dos estudantes, uma vez que, além da escrita fora dos padrões convencionais, é<br />

lida várias vezes por diversos usuários. A troca do g pelo j po<strong>de</strong>ria implicar <strong>de</strong>sconhecimento<br />

da grafia? Além da troca <strong>de</strong> letra, observa-se a marca <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>. Isso po<strong>de</strong>ria ser<br />

caracterizado como uma ousadia ao quebrar regras? Surgem questionamentos em relação ao<br />

uso e a suas conseqüências entre os educadores. Retomamos a teoria <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau,<br />

quando ele afirma que a linguagem, agora, <strong>de</strong>ve ser fabricada, escrita, que ontem privilegiava<br />

o burguês, hoje o tecnocrata 153 , isso seria um fato que relaciona com a i<strong>de</strong>ologia dominante na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>. Seria a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida em evidência na linguagem, na<br />

comunicação, ou seja, o rompimento das estruturas rígidas também da escrita? Ou um <strong>de</strong>safio<br />

para os educadores, principalmente aqueles que trabalham diretamente com a língua padrão?<br />

O texto seguinte trata <strong>de</strong> uma conversa 154 entre dois adolescentes no MSN Messenger .<br />

Apresentamos algumas observações <strong>de</strong>ntre vários aspectos que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>stacados.<br />

152 Nesse exemplo, retiramos o nome do usuário por se tratar <strong>de</strong> nome real e também pelo fato do MSN<br />

Messenger ser um programa do ciberespaço <strong>de</strong> uso público, porém <strong>de</strong> conversa particular, <strong>de</strong>sta forma<br />

preservando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do usuário.<br />

153 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A invenção do cotidiano. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2000, p. 227-230.<br />

154 Conversa realizada em Dez/06 entre adolescentes <strong>de</strong> 14 e 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

67


Douglas diz:<br />

o oio<br />

André diz:<br />

bom vei<br />

André diz:<br />

ce vai na festa o 3 ano o anglo<br />

André diz:<br />

nem vo<br />

André diz: BOX 1<br />

o jp vai<br />

Douglas diz:<br />

eu sei, vai ta oio<br />

Douglas diz:<br />

ve se aparece la na minha formatura<br />

André diz:<br />

hj<br />

Douglas diz:<br />

e, 7:30 la no clube centenário<br />

André diz:<br />

cara acho q nao vai da pra i nao tem q paga<br />

Douglas diz:<br />

naum, vai la soh um pouco, chama o jp i ceis vaom<br />

André diz:<br />

o jp vai mas ele vai na formatura e na festa<br />

André diz:<br />

a mas pra i so na formatura um trem mo formau vai se mo ruim ne nao<br />

Douglas diz:<br />

eu vou e calça jeans rsrsrsrs, vai o jento q queser<br />

André diz:<br />

mas oq q vai ser<br />

André diz:<br />

oq q vai te<br />

André diz:<br />

pq na festa eu nao vo nao nem comprei convite e nem tenho dinhero to quebrado<br />

Douglas diz:<br />

vai ser msm soh entrega e iploma, honimagens, e mto mas, vai la<br />

André diz:<br />

a nem rola<br />

Douglas diz:<br />

ce amina vai la<br />

André diz:<br />

Observamos aqui a intimida<strong>de</strong> entre os<br />

interlocutores, veio, o uso <strong>de</strong> abreviação<br />

jp um código já estabelecido entre os<br />

usuários.<br />

O uso da letra h para substituir<br />

acento soh.<br />

vai ta mo ruim si fo olha pro meu lado BOX 2<br />

Douglas diz:<br />

e msm<br />

André diz:<br />

no i seu irmao no centro hj sem camisa quaze bati nele<br />

Douglas diz:<br />

q o yego<br />

André diz:<br />

68


e<br />

Douglas diz:<br />

amanha vamo ruma uma coisa feiiii<br />

André diz:<br />

cara vamo mas aon<strong>de</strong><br />

Douglas diz: BOX 3<br />

ce q sabe<br />

André diz:<br />

direpente agente come batata aq m casa dinovo<br />

Douglas diz:<br />

poe ce<br />

André diz:<br />

<strong>de</strong>pois agente olha isso<br />

Douglas diz:<br />

ce fo ter ceis mi liga, naum esquece<br />

Douglas diz:<br />

tenho q conversa uns trem com<br />

Douglas diz:<br />

S BOX 4<br />

André diz:<br />

bobre<br />

Douglas diz:<br />

q?<br />

André diz:<br />

sobre""" foi mau<br />

Douglas diz:<br />

ow epois ce mi liga<br />

Douglas diz:<br />

vo sai, tenho q arrumar<br />

André diz:<br />

t flw<br />

Essa escrita, além da marca <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> que caracteriza uma conversa íntima e presencial/<br />

virtual, cria códigos próprios. Muitas vezes novo outras vezes fruto da abreviação ou<br />

economia da escrita como, por exemplo: hj, vc, ce, rsrsrsrs, q, flw, foram codificados para que<br />

haja compreensão, rapi<strong>de</strong>z através da economia na escrita. São códigos dos quais nem todos<br />

possuem conhecimento e domínio.<br />

Apresentamos a seguir (FIG. 2) um fragmento <strong>de</strong> uma conversa 155 no MSN<br />

Messenger. São vários os recursos que se utilizam na escrita <strong>de</strong>ste ciberespaço, porém<br />

propomos analisar um exemplo com objetivo <strong>de</strong> ilustrar esse tipo <strong>de</strong> conversa.<br />

155 Conversa entre um jovem <strong>de</strong> 18 anos, estudante do Ensino Médio e um adulto (out./2007).<br />

69<br />

Fusão <strong>de</strong> palavras como: direpente,<br />

dinovo. Seria a economia da<br />

escrita, a pressa, uso da oralida<strong>de</strong>.<br />

São hipóteses que nos sugerem.<br />

Uso variado da mesma palavra nao e<br />

naum é outro aspecto curioso. Por que<br />

em um mesmo texto essa variante?<br />

Seria o <strong>de</strong>sprendimento <strong>de</strong> padrões, ou<br />

seja, seriam flutuantes as próprias<br />

normas que se estabelecem nestes<br />

espaços?


FIGURA 2 <strong>–</strong> Fragmento <strong>de</strong> uma conversa no MSN Messenger. BOX 5<br />

A escrita que observamos acima (FIG. 2), em alguns momentos, apresenta elementos da<br />

escrita enigmática, uma escrita através <strong>de</strong> imagens. É uma escrita que usa recursos que nem<br />

sempre se associam a uma língua específica, isto é, os recursos lingüísticos utilizados po<strong>de</strong>m<br />

ser compreendidos em outras línguas. Como, por exemplo, o emoticon da carinha apontando o<br />

<strong>de</strong>do e com a língua <strong>de</strong> fora que foi traduzido pela palavra você, po<strong>de</strong>ria ser traduzido por you<br />

em inglês ou usted, tu e vos em espanhol ou em outros idiomas. São imagens que po<strong>de</strong>m ser<br />

lidas e compreendidas em outras línguas. Estes exemplos nos fazem reforçar a hipótese <strong>de</strong> que<br />

essa escrita não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como uma única língua 156 , mas uma escrita <strong>de</strong>sprendida<br />

<strong>de</strong> um idioma. Uma escrita que usa os recursos <strong>de</strong> signos para comunicar-se. Outro aspecto<br />

que chama atenção é a troca <strong>de</strong> letras <strong>de</strong> que já tratamos neste trabalho e a junção <strong>de</strong> palavras<br />

156 Cf. Anexo J Abreviações em inglês, que são usadas na em diversas línguas.<br />

70<br />

Apresentamos um fragmento <strong>de</strong> uma<br />

conversa no MSN para ilustrar o uso<br />

<strong>de</strong>ssa escrita. Observamos o uso <strong>de</strong><br />

emoticons para substituir palavras. Uma<br />

escrita que mistura letras com imagens,<br />

às quais substituem palavras. É uma<br />

realida<strong>de</strong> que requer conhecimento dos<br />

significados dos emoticons, caso<br />

contrário a compreensão do leitor fica<br />

prejudicada. Veja uma reescrita <strong>de</strong>ssa<br />

conversa:<br />

Jovem: “e, mas você consegue com<br />

certeza”<br />

Adulto: “obrigada”<br />

Jovem: “<strong>de</strong> nada”<br />

Jovem: “o que você está fazendo?”<br />

Adulto: “agora estou organizando<br />

correspondências para”, “e você?”<br />

Jovem: “só estou na Internet”, “no<br />

Orkut”, “no MSN”, “e caçando umas<br />

fotos”, ou seja, “procurando umas fotos”.


como po<strong>de</strong>mos conferir no texto (FIG. 2), ex.: conserteza = com certeza, dinada = <strong>de</strong> nada. A<br />

junção <strong>de</strong> palavras po<strong>de</strong>ria ser economia da escrita.<br />

Observamos neste texto que o uso <strong>de</strong> emoticons é feito em geral pelo jovem. Seria o<br />

jovem mais propenso a fazer uso <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita ou seria ele mais ousado do que<br />

o adulto? Um jovem, por exemplo, que escreve no espaço do MSN Messenger e faz troca <strong>de</strong><br />

letras e junção <strong>de</strong> palavras como conserteza ao invés <strong>de</strong> com certeza, teria o domínio da<br />

escrita padrão? São dúvidas e preocupações dos educadores que têm como responsabilida<strong>de</strong><br />

alfabetizar e letrar os alunos para fazerem uso da escrita padrão. Até que ponto po<strong>de</strong>ria ser<br />

caracterizado como pressa, <strong>de</strong>sconhecimento da ortografia, ousadia, quebra <strong>de</strong> estruturas<br />

rígidas?<br />

Como já mencionamos em nosso estudo, a LDBEM 157 diz que o Ensino Médio é a etapa<br />

final da Educação Básica, é o período <strong>de</strong> consolidação e aprofundamento <strong>de</strong> muitos<br />

conhecimentos construídos ao longo do Ensino Fundamental. Desta forma, consi<strong>de</strong>ramos que<br />

os estudantes do Ensino Médio <strong>de</strong>veriam possuir o domínio da linguagem nas diversas formas<br />

e gêneros discursivos. Porém, questionamos se este aluno possui realmente o domínio da<br />

ortografia. Será que essas práticas <strong>de</strong> escrita e leitura que acontecem no ciberespaço,<br />

principalmente as dos sites <strong>de</strong> relacionamentos, que acontecem fora do espaço escolar,<br />

estariam <strong>de</strong>safiando ou interferindo no ensino e nas práticas <strong>de</strong> escrita e leitura<br />

convencionais?<br />

A seguir, apresentamos algumas amostras <strong>de</strong> scraps 158 do Orkut, on<strong>de</strong> registramos<br />

algumas observações e análise da escrita. O Scrap (FIG.3) foi escrito por estudante do<br />

segundo ano do Ensino Médio.<br />

FIGURA 3 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

157 LDBEM (Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases do Ensino Médio).<br />

158 De acordo com o dicionário Oxford Escolar, scrap (como o chamam na linguagem da Internet) significa<br />

fragmento <strong>de</strong> escrita. Os scraps analisados neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa foram acessados no dia 13/11/07 da página<br />

<strong>de</strong> recados do Orkut da autora <strong>de</strong>sta pesquisa, cujo profile é: http://www.orkut.com/Home.aspx. Para acessar este<br />

e/ou outros profiles é necessário que tenham ou criem uma conta no Orkut.<br />

71


Verificamos (FIG. 3), a marca <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> na escrita como, por exemplo: ham, uma<br />

interjeição, a palavra olhano ao invés <strong>de</strong> olhando, o uso <strong>de</strong> kkkk, para expressar riso ou ironia,<br />

ou seja, o uso <strong>de</strong> onomatopéia, uma figura <strong>de</strong> linguagem que através <strong>de</strong> um vocábulo expressa<br />

o som ou ruído da palavra com alongamento <strong>de</strong> vogais e ou consoantes. O texto apresenta<br />

falta <strong>de</strong> pontuação, troca <strong>de</strong> letras, falta <strong>de</strong> coesão e <strong>de</strong> acentuação. Até que ponto po<strong>de</strong>ria ser<br />

caracterizado como pressa, erro, <strong>de</strong>scuido com a língua ou liberda<strong>de</strong> para expressar-se? Outro<br />

aspecto que observamos aqui é o registro do pensamento, da opinião, <strong>de</strong> forma escrita. Algo<br />

<strong>de</strong> que antes não se fazia registro e cujo esse espaço propicia isso.<br />

Scrap escrito por um ex-aluno do Ensino Médio:<br />

FIGURA 4 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

Observe (FIG. 4). A forma sintética ou econômica que se usou para escrever a palavra<br />

beleza blz, no scrap acima, é uma característica <strong>de</strong>ssa escrita, on<strong>de</strong> se omitem as vogais, as<br />

quais têm a função <strong>de</strong> dar sustentação aos sons das consoantes. Outro fato observado é o<br />

excesso <strong>de</strong> pontuação que sugere ênfase ao que se quer expressar.<br />

O uso da oralida<strong>de</strong> e a intimida<strong>de</strong> ou liberda<strong>de</strong> para se expressar. São freqüentes,<br />

como por exemplo, a troca <strong>de</strong> letras, (z por s) em <strong>de</strong>zejar. Essa troca seria uma troca que<br />

insinua <strong>de</strong>sconhecimento da ortografia e ou apenas uma brinca<strong>de</strong>ira ou ousadia?<br />

Scrap escrito por um aluno do terceiro ano do Ensino Médio após a realização <strong>de</strong> uma<br />

feira cultural da escola:<br />

72


FIGURA 5 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

O verbo achar com x (FIG. 5), também registra a troca <strong>de</strong> letra em axei. Outro fato que<br />

percebemos é o uso <strong>de</strong> letras maiúsculas, na linguagem da Internet, principalmente nos sites<br />

<strong>de</strong> relacionamentos e nos programas <strong>de</strong> conversa simultânea. Isso significa falar alto, gritar ou<br />

enfatizar o que se quer expressar. Além disso, o uso <strong>de</strong> onomatopéias 159 , como<br />

KKKKKKKKKK.<br />

Scrap escrito por um aluno na ocasião do aniversário <strong>de</strong> sua professora:<br />

FIGURA 6 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

Na (FIG. 6), encontramos o uso do sinal + no lugar da palavra, que é também uma<br />

característica <strong>de</strong>ssa escrita, a troca <strong>de</strong> palavras por sinais e ou símbolos. Observamos a<br />

liberda<strong>de</strong> para expressar-se, <strong>de</strong> forma coloquial, com a professora.<br />

Nesse scrap (FIG. 7) verificamos o uso <strong>de</strong> estrangeirismo:<br />

159<br />

Figura <strong>de</strong> linguagem que reproduz os sons e ruídos <strong>de</strong> uma língua com alongamento <strong>de</strong> vogais e ou<br />

consoantes.<br />

73


FIGURA 7 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

Dentre os diversos aspectos observados, <strong>de</strong>stacamos a hibridização 160 das línguas, fato<br />

ao qual já nos referimos nesse trabalho, que é o uso <strong>de</strong> estrangeirismos, (FIG. 5 e FIG.7). Esse<br />

uso tem sido freqüente nesse tipo <strong>de</strong> escrita, principalmente o uso da língua inglesa. Seria o<br />

imperialismo da língua inglesa, principalmente na informática ou até mesmo a liberda<strong>de</strong> para<br />

expressar-se em mais <strong>de</strong> um idioma? Ou seria uma característica contemporânea, o<br />

rompimento <strong>de</strong> estruturas rígidas, estabelecidas? Po<strong>de</strong>ria ser a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> líquida na<br />

linguagem, a mistura <strong>de</strong> línguas? São questões dos quais buscamos compreensão.<br />

Os scraps seguintes (FIG.8 e FIG.9) apresentam variação da escrita <strong>de</strong> uma mesma<br />

palavra, assim como na (FIG 6).<br />

FIGURA 8 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

FIGURA 9 <strong>–</strong> Scrap <strong>de</strong> Orkut.<br />

160 Usamos esse termo, neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa, para <strong>de</strong>signar a mistura <strong>de</strong> línguas, porém, Lúcia Santaella o<br />

utiliza para <strong>de</strong>signar fusão <strong>de</strong> mídias. E Canclini usa o termo hibridação para expressar mistura <strong>de</strong> culturas. São<br />

observações que registramos ao longo <strong>de</strong>ssa pesquisa. Nesse trabalho <strong>de</strong> pesquisa, buscamos suporte nos dois<br />

conceitos para compreen<strong>de</strong>r o uso <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um idioma e recursos paralingüísticos i<strong>de</strong>ntificados na escrita do<br />

ciberespaço os quais propomos analisar.<br />

74


Um outro aspecto que observamos nessa escrita são as variantes <strong>de</strong> uma mesma<br />

palavra como beijo, ver exemplos (FIG. 6: bjoo), (FIG. 8: BjuXxXX), (FIG. 9)<br />

bjussssssssssssssssss) e outros como: bj, bjs, bjokas, bsitos, bijimm, kisssss, ksssss,<br />

kissessssss, bjuu 161 .<br />

O uso <strong>de</strong> apelidos (nicknames) ou códigos são aspectos que também chamam a nossa<br />

atenção. São estratégias que po<strong>de</strong>m ser observado nessa escrita. Não exemplificamos aqui,<br />

pelo fato <strong>de</strong> manter preservada a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos autores dos scraps.. Porém, po<strong>de</strong>m ser<br />

conferidos nas diversas páginas <strong>de</strong> recados do Orkut e MSN Messenger. Em <strong>de</strong>terminadas<br />

situações, esse uso po<strong>de</strong>ria caracterizar o anonimato, preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos usuários, ou é<br />

apenas como uma brinca<strong>de</strong>ira, uma diversão.<br />

O ciberespaço permite ao usuário novas formas para gerenciar as informações, suprir<br />

carências, interagir, produzir e expor a criativida<strong>de</strong> e conhecimento, <strong>de</strong>sconstruções e<br />

reconstruções <strong>de</strong> saberes. Tudo isso através da escrita virtual/digital do ciberespaço,<br />

principalmente nos sites <strong>de</strong> relacionamentos e programas <strong>de</strong> conversa simultânea.<br />

O indivíduo perante a tela, na condição <strong>de</strong> leitor e autor <strong>de</strong>para com infinitas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recursos para escrever, ou seja, diversos recursos para elaborar seu texto e<br />

até mesmo reeditar e reelaborar textos que nem sempre são <strong>de</strong> sua autoria. Recursos como<br />

configurar, formatar, exibir, adicionar, alterar, inserir, <strong>de</strong>letar, recortar, colar, selecionar,<br />

editar e outros são utilizados na elaboração <strong>de</strong> textos que se editam nas páginas interativas da<br />

Internet. Estes recursos são como tintas, pincéis e tela na mão do artista que apresenta sua<br />

criativida<strong>de</strong>, que é muitas vezes, marcada pelos <strong>de</strong>sejos, anseios, carências, muitas vezes<br />

carregada <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, persuasão sedução. A palavra, composta <strong>de</strong> texto gráfico,<br />

transforma-se em imagens, enigmas, sons, signos, símbolos.<br />

Os usuários da Internet criam uma comunida<strong>de</strong> lingüística com maneiras específicas<br />

para conversar, interagir, organizar e produzir uma literatura que apresenta marca <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong><br />

na escrita. As abreviaturas, os emoticons, os smileys, recursos gráficos, ocuparam o lugar <strong>de</strong><br />

palavras. Assim como as gírias, sinais <strong>de</strong> pontuação <strong>de</strong>corados com <strong>de</strong>senhos, onomatopéias,<br />

letras estilizadas com formas gráficas <strong>de</strong>finidas e palavras <strong>de</strong> línguas estrangeiras, ganham<br />

sentido no texto que é minuciosamente escrito em cores diversas.<br />

Consagra-se assim um gênero lingüístico, que se utiliza <strong>de</strong> vários recursos semióticos<br />

para substituir a conversa face a face, obtendo-se, <strong>de</strong>sse modo, a construção <strong>de</strong> hipertextos,<br />

161 Exemplos que po<strong>de</strong>m ser cf. também nas páginas <strong>de</strong> recados do profile: http://www.orkut.com/Home.aspx .<br />

75


esultado <strong>de</strong> um trabalho coletivo e mutante que revelam as experiências culturais <strong>de</strong> uma<br />

época. Bakhtin, ao tratar da questão dos gêneros lingüísticos, afirma que cada época e cada<br />

grupo social têm seu repertório <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> discurso na comunicação sócio-i<strong>de</strong>ológica 162 .<br />

Para Ângela Belmiro,<br />

A linguagem oral, a escrita e o ciberespaço convivem na socieda<strong>de</strong> e na<br />

cultura, ao lado <strong>de</strong> outras linguagens não verbais constituidoras do sujeito, e<br />

precisam conviver também na escola, que se propõe formadora <strong>de</strong> sujeitos<br />

capazes <strong>de</strong> conhecer o mundo em múltiplas dimensões 163 .<br />

Compreen<strong>de</strong>mos aqui que a escola precisa dialogar com o ciberespaço uma vez que as<br />

linguagens são constituidoras do sujeito, <strong>de</strong> acordo com as Orientações Curriculares. O<br />

ciberespaço é um espaço <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> linguagem. O objetivo da escola é buscar a<br />

“emancipação <strong>de</strong> sujeitos históricos capazes <strong>de</strong> construir seu próprio projeto <strong>de</strong> vida segundo<br />

Maria Cândida Moraes 164 .<br />

Qual seria então a pedagogia que a contemporaneida<strong>de</strong> propõe para se lidar com as<br />

<strong>de</strong>mandas provocadas pelas tecnologias da comunicação? Para isso Renato Rocha Souza<br />

afirma que não é necessária uma nova pedagogia para trabalharmos o aprendizado em<br />

ambientes <strong>de</strong> comunicação mediada por computador, uma vez que po<strong>de</strong>mos contar com<br />

gran<strong>de</strong> parte das orientações presentes nas linhas existentes 165 . O leitor/escritor tem à sua<br />

disposição infinitas orientações para apren<strong>de</strong>r a lidar com o computador e a Internet. O que<br />

implica é a compreensão como essa modalida<strong>de</strong> que envolve gêneros lingüísticos mediáticos<br />

que até então não existiam e que passam a fazer parte do discurso contemporâneo. Esse é o<br />

<strong>de</strong>safio da escola, ou seja, dos educadores.<br />

Percebemos que a escola passa a preocupar-se muito mais com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

investir nas práticas convencionais da escrita e leitura. A escrita cursiva e linguagem culta<br />

passam a ser alvo <strong>de</strong> atenção dos educadores. Como po<strong>de</strong> ser verificado na Escola Estadual<br />

Dr. Abílio Machado 166 : <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> serem analisados os aspectos frágeis dos resultados da<br />

162 BAKHTIN, M. (Volochinov) Marxismo e filosofia da linguagem. 7 ed. São Paulo: Hucitec, 1995, p. 43.<br />

163 BELMIRO, Ângela. Fala, escritura e navegação: caminhos da cognição. In COSCARELLI, Carla Viana<br />

(org.). Novas tecnologias, novos textos, novas formas <strong>de</strong> pensar. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p.19.<br />

164 MORAES, M. Cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997, p. 132.<br />

165 SOUZA, Renato Rocha. Contribuição das teorias pedagógicas <strong>de</strong> aprendizagem na transição do presencial<br />

para o virtual. In COSCARELLI, Carla Viana & RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento digital: aspectos<br />

sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 120<br />

166 Uma das escolas on<strong>de</strong> realizamos a pesquisa <strong>de</strong> campo.<br />

76


avaliação SIMAVE 167 , mesmo obtendo um bom resultado na cida<strong>de</strong> e no estado, <strong>de</strong>cidiu-se,<br />

<strong>de</strong>ntre várias medidas, organiza-se um projeto <strong>de</strong> normatização dos trabalhos <strong>de</strong> pesquisa,<br />

ativida<strong>de</strong>s em classe e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> casa. Tal projeto contou com educadores <strong>de</strong> diversas áreas,<br />

inclusive com a participação <strong>de</strong>sta pesquisadora. As normas estabelecidas no Projeto foram<br />

baseadas na ABNT.<br />

Para finalizar nosso estudo, nesse capítulo retomamos uma das questões principais<br />

<strong>de</strong>sse nosso trabalho <strong>de</strong> pesquisa, quando refletimos se as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

interativas dos estudantes no ciberespaço alteram a escrita e leitura convencionais.<br />

Constatamos que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com a ortografia, incorporar elementos<br />

paralingüísticos e usar recursos <strong>de</strong> abreviar palavras, ou seja, o uso da economia da escrita,<br />

tudo isso são fatos que preocupam e chamam a atenção dos educadores. Além disso, esses<br />

recursos, nem sempre são do domínio <strong>de</strong> todos. A troca <strong>de</strong> letras e o uso da oralida<strong>de</strong> na<br />

escrita são outros aspectos preocupantes. Sugere que fazer usos <strong>de</strong>sses recursos po<strong>de</strong><br />

caracterizar <strong>de</strong>sconhecimento da língua. Talvez sejam esses aspectos os mais preocupantes<br />

entre os educadores ou os mais sérios. Com relação aos signos, símbolos, imagens, ícones,<br />

po<strong>de</strong>mos levantar uma questão: o que seria da comunicação se não fossem os recursos das<br />

imagens, dos signos, dos símbolos? Muitos <strong>de</strong>stes recursos são antigos. As novida<strong>de</strong>s são<br />

relativas, muito são apenas aperfeiçoamentos que as técnicas possibilitam. Para ilustrar isso,<br />

apresentamos a seguir algumas figuras, através <strong>de</strong> fragmentos que ilustram o uso <strong>de</strong> signos,<br />

símbolos e imagens na informática, na química, na música, no ciberespaço <strong>de</strong> programas <strong>de</strong><br />

relacionamentos. Po<strong>de</strong>ríamos citar até mesmo os símbolos na linguagem da matemática, os<br />

símbolos na linguagem do telégrafo, ou seja, o Código Morse, assim como outros, porém<br />

vamos nos ater somente a alguns, como exemplos para ilustrar nosso trabalho.<br />

A seguir, apresentamos um fragmento (FIG.10) em forma <strong>de</strong> figura <strong>de</strong> uma barra <strong>de</strong><br />

ferramenta do Microsoft Word para ilustrar o uso <strong>de</strong> símbolos 168 , imagens 169 , ícones 170 ,<br />

167 Sistema Mineiro <strong>de</strong> Avaliação da Educação Pública. O SIMAVE possui três diferentes programas <strong>de</strong><br />

avaliação que se articulam: O PROALFA, o PROEB e o PAAE. São programas <strong>de</strong> Avaliação que permitem<br />

conhecer como o sistema funciona e tornam possível a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada escola.<br />

Esse tipo <strong>de</strong> avaliação torna possível intervenções planejadas pedagogicamente com base em diagnósticos<br />

contextualizados. Os resultados das avaliações realizadas para investigar todo o sistema po<strong>de</strong>m ser direcionados<br />

também para a resolução dos problemas <strong>de</strong> cada escola, a superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s e o fortalecimento <strong>de</strong> ações<br />

positivas.<br />

168 A palavra símbolo vem do Latim symbol. Substantivo masculino que significa figura, marca, sinal, que<br />

representa ou substitui outra coisa; aquilo que possui um po<strong>de</strong>r evocativo; emblema; divisa; sinal, signo.<br />

169 A palavra imagem vem do Latim imagine. Substantivo feminino que significa representação, reprodução ou<br />

imitação da forma <strong>de</strong> uma pessoa ou objeto; figura, estampa, cópia, reprodução, retrato, e outros.<br />

170 A palavra ícone vem do Grego "eikon" e significa imagem, já na informática ícone é um pequeno símbolo<br />

gráfico, usado geralmente para representar um software ou um atalho para um arquivo específico, aplicação<br />

(software) ou diretório (pasta).<br />

77


signos 171 na informática. É apenas um exemplo <strong>de</strong>ntre vários que po<strong>de</strong>ríamos citar dos<br />

programas <strong>de</strong> computadores e da comunicação na Internet.<br />

FIGURA 10 (Fragmento <strong>de</strong> uma barra <strong>de</strong> ferramenta do Microsoft Word)<br />

O que seria da informática, dos programas <strong>de</strong> software sem os recursos das imagens,<br />

símbolos, ícones e signos? Quantas informações são possíveis <strong>de</strong> se obter neste pequeno<br />

fragmento da barra <strong>de</strong> ferramenta do Microsoft Word. O usuário, através <strong>de</strong>ssas informações,<br />

é capaz <strong>de</strong> executar uma série <strong>de</strong> comandos na tela apenas lendo, interpretando todo esse<br />

conjunto <strong>de</strong> signos, imagens, símbolos e ícones.<br />

Na figura seguinte (FIG. 11) apresentamos uma Tabela Periódica <strong>de</strong> Química, on<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>mos observar os diversos símbolos das substâncias químicas.<br />

171 Nesse trabalho, ao nos referirmos aos signos, consi<strong>de</strong>ramos como <strong>de</strong>finição: uma unida<strong>de</strong> principal<br />

constitutiva da linguagem humana, representada pela associação entre um significado e um significante, ou seja,<br />

entre um conceito e uma imagem acústica.<br />

78


FIGURA 11 (Tabela periódica <strong>de</strong> Química)<br />

Observe na (FIG. 11) a forma sintética, ou seja, econômica para escrever as<br />

substâncias químicas. Em um único quadro a Tabela Periódica exibe todos os elementos<br />

químicos em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> número atômico, agrupa metais, não metais e gases nobres, cada qual<br />

em um bloco próprio, e ainda classificam todos eles por famílias, nas quais os elementos<br />

constituintes possuem proprieda<strong>de</strong>s químicas semelhantes. Se não fosse o recurso da<br />

economia da escrita, o que seria do discurso da química?<br />

Na (FIG.12) apresentamos um fragmento em forma <strong>de</strong> figura <strong>de</strong> uma partitura 172<br />

musical da Sonata <strong>de</strong> Wolfgang Ama<strong>de</strong>us Mozart, chamada Rondo Alla Turca 173 .<br />

172 A palavra partitura vem do Latim partitura. Substantivo feminino que significa conjunto das partes que<br />

constitui uma obra musical, ou seja, vozes e instrumentos.<br />

173 Em português Marcha Turca.<br />

79


FIGURA 12 (Fragmento <strong>de</strong> uma partitura musical)<br />

Nesta (FIG. 12), ilustramos o uso <strong>de</strong> notas musicais numa partitura. O recurso das<br />

notas musicais através <strong>de</strong> símbolos sintetiza a escrita dos sons dos instrumentos e vozes com<br />

respectivos tempo e variações dos mesmos, isto é, ritmo, melodia e harmonia, um recurso que<br />

facilita a composição musical e execução da mesma. Essa escrita existe há milhares <strong>de</strong> anos.<br />

Há registros em que foram encontradas evidências arqueológicas <strong>de</strong>ssa escrita musical<br />

praticada no Egito e Mesopotâmia por volta do terceiro milênio a.C. 174 . Portanto<br />

compreen<strong>de</strong>mos que se trata <strong>de</strong> um recurso da escrita bastante antigo.<br />

Saímos <strong>de</strong> um exemplo <strong>de</strong> escrita antiga e apresentamos um exemplo <strong>de</strong> escrita<br />

animada, que é mutante e está em constituição, a qual é usada no MSN Messenger (FIG. 13).<br />

174 Cf. http://br.answers.yahoo.com/question/in<strong>de</strong>x?qid=20070408173232AA3OTxn . Acessado dia 03/20/08.<br />

80


FIGURA 13 (Amostra <strong>de</strong> uma tela com emoticons personalizados, tirado da página <strong>de</strong><br />

um usuário do MSN Messenger)<br />

Nessa figura (FIG.13), exemplificamos a escrita através <strong>de</strong> emoticons personalizados<br />

que cada usuário elabora, cria, copia e mantém na sua página como recurso para comunicar-se<br />

com os amigos virtualmente. São recursos, criativos, que às vezes po<strong>de</strong>m sofisticar-se e tornar<br />

a escrita divertida. Porém o uso excessivo po<strong>de</strong> tornar a conversa insuportável e às vezes<br />

impossível, pelo fato <strong>de</strong> usar imagens e códigos que nem sempre é <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> todos<br />

os interlocutores. Outro aspecto é o uso <strong>de</strong> animações e cores, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sviar a atenção dos<br />

interlocutores pelo estímulo excessivo das animações e cores.<br />

Na (FIG. 14) apresentamos ainda exemplos <strong>de</strong> emoticons, porém padronizados, isto é,<br />

os que o programa <strong>de</strong> MSN Messenger disponibiliza para os usuários.<br />

81


FIGURA 14 (Amostra <strong>de</strong> tela com emoticons padrão, tirado da página do MSN<br />

Messenger)<br />

Com esse recurso (FIG. 14), basta que o usuário digite letras ou símbolos gráficos <strong>de</strong><br />

acordo com a legenda, que está abaixo dos <strong>de</strong>senhos, e as carinhas ou <strong>de</strong>senhos aparecerão na<br />

tela, ou utilize o recurso selecionar e clicar ok. Muitos <strong>de</strong>sses emoticons sugerem que foram<br />

baseados em símbolos já existentes como, por exemplo, da religião: (6) igual à figura do<br />

diabo e (A) igual à figura <strong>de</strong> anjo 175 . Com esses recursos o usuário expressa sentimentos,<br />

emoções, <strong>de</strong>sejos, etc.<br />

Muitos <strong>de</strong>sses signos, símbolos, imagens, são tão antigos quanto à linguagem. Outros<br />

foram criados, reinventados como já citamos nesse trabalho, através do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

cultural e tecnológico. Os símbolos sempre estiveram presentes na vida das pessoas. Em cada<br />

época, com criativida<strong>de</strong>, foram elaborados, criados e reinventados <strong>de</strong> acordo com as<br />

<strong>de</strong>mandas da comunicação e tecnologias.<br />

A partir <strong>de</strong>sse estudo, verificamos que o uso <strong>de</strong> recursos paralingüísticos po<strong>de</strong> altera as<br />

práticas convencionais da escrita e leitura. Pois <strong>de</strong> acordo com Lúcia Santaella o receptor <strong>de</strong><br />

175 Cf. na FIG. 14.<br />

82


uma hipermídia ou usuário, coloca em ação mecanismos, habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura muito<br />

distintas daquelas que são empregadas pelo leitor <strong>de</strong> um texto impresso como o livro 176 .<br />

Porém não vemos isso como um problema. Acreditamos que há outras implicações que<br />

<strong>de</strong>vem ser verificadas. Para isso propomos continuar essa discussão no capítulo seguinte,<br />

on<strong>de</strong> analisaremos sobre a escrita/leitura dos estudantes e educadores. E quanto à linguagem<br />

líquida? Quando levantamos a hipótese se seria a linguagem do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong><br />

relacionamento, uma linguagem líquida há que consi<strong>de</strong>rar que nem todos os líquidos se<br />

misturam, assim como, nem todos os líquidos são leves, nem toda mistura resulta em<br />

resultados satisfatórios. A linguagem do ciberespaço, aparentemente, apresenta certa liqui<strong>de</strong>z,<br />

certa leveza, como se fosse algo fluido, possível para se fazer misturas. Essa liqui<strong>de</strong>z po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>notar também imediatismo, porém há que consi<strong>de</strong>rar que essa liqui<strong>de</strong>z contém <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>,<br />

complexida<strong>de</strong> e implicações que comporta estudos, investigações. Um <strong>de</strong>safio para a escola,<br />

em especial para os educadores na contemporaneida<strong>de</strong>. Essa liqui<strong>de</strong>z possibilita um<br />

<strong>de</strong>sdobramento, uma subversão dos gêneros lingüísticos.<br />

O estudo apresentado nesse capítulo tratou sobre o ensino da língua portuguesa, sobre<br />

as políticas pedagógicas, sobre o ensino que envolve práticas <strong>de</strong> leitura e escrita<br />

convencionais na Língua Portuguesa. Analisamos algumas implicações do uso <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong><br />

leitura/escrita do ciberespaço na escrita/leitura convencional. Para isso, buscamos um estudo<br />

sobre as Orientações Curriculares, os PCNs, o CBC e consi<strong>de</strong>rações sobre o livro didático,<br />

para saber como se estabelecem as políticas <strong>de</strong> ensino da Língua Portuguesa. Além <strong>de</strong>stes<br />

tópicos, realizamos uma análise sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita observadas no MSN<br />

Messenger e Orkut, que acontecem fora dos espaços escolares, como já nos referimos nesse<br />

trabalho. Essas po<strong>de</strong>riam apresentar uma ameaça à escrita convencional dos estudantes. No<br />

próximo capítulo abordaremos sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita dos estudantes e<br />

educadores do Ensino Médio, para saber como os mesmos se relacionam com a escrita/leitura,<br />

sejam elas, convencional e/ou as do ciberespaço, e que impactos se po<strong>de</strong> perceber nessa<br />

relação entre escola e aprendizagem.<br />

176 SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2004.<br />

83


CAPÍTULO III<br />

PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA DE<br />

ESTUDANTES E EDUCADORES DO ENSINO MÉDIO<br />

Esse capítulo está dividido em três tópicos. No primeiro tópico (3.1), apresentamos os<br />

procedimentos metodológicos e técnicos utilizados para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa pesquisa <strong>de</strong><br />

campo, a <strong>de</strong>scrição dos processos, as justificativas e <strong>de</strong>cisões tomadas no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

mesma. Como por exemplo: o porquê da pesquisa e também o porquê no Ensino Médio, como<br />

foi feita a escolha das amostras analisadas, como estruturamos os questionários (dos<br />

estudantes e dos educadores). Cabe registrar, aqui, que os procedimentos metodológicos e<br />

técnicos não estavam inteiramente <strong>de</strong>finidos no projeto, por se tratar <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong><br />

“metodologia e epistemologia experimental” 177 . Os mesmos foram constituindo-se após a<br />

aplicação e análise preliminar dos questionários. No segundo tópico (3.2) apresentamos sobre<br />

a escrita e a leitura dos estudantes através da análise dos questionários. Analisamos as<br />

respostas, os comentários, estabelecemos comparações, hipóteses e cruzamento <strong>de</strong> dados. E<br />

no terceiro tópico (3.3), analisamos os questionários dos educadores. Seguimos os mesmos<br />

procedimentos anteriores, porém ressaltamos que nos questionários dos educadores<br />

apresentam itens diferentes em alguns tópicos. Tanto o segundo tópico, quanto o terceiro,<br />

<strong>de</strong>sse capítulo, têm como objetivo aprofundar as discussões que iniciamos nos capítulos<br />

anteriores, que são: compreen<strong>de</strong>r as características próprias <strong>de</strong>sse gênero lingüístico do<br />

ciberespaço e verificar se essas práticas <strong>de</strong> leituras e <strong>de</strong> escrita dos estudantes interferem nas<br />

práticas convencionais das mesmas e se há implicações.<br />

3.1 Procedimentos metodológicos e técnicos da pesquisa <strong>de</strong> campo<br />

A pesquisa quantitativa e qualitativa foi realizada através <strong>de</strong> uma coleta <strong>de</strong> dados on<strong>de</strong><br />

utilizamos questionários 178 escritos, com opções <strong>de</strong> respostas para marcar; em alguns itens foi<br />

solicitada a opção ‘se possível, justifique sua resposta’ e a opção <strong>de</strong> marcar ‘outros’ quando<br />

177<br />

Cf. DOSSE, François. Império dos sentidos: a humanização das ciências humanas. São Carlos: EDUSC,<br />

2003, p. 415-421.<br />

178<br />

Cf. Anexos A e B, mo<strong>de</strong>los dos questionários dos pesquisados.<br />

84


apresentávamos opções <strong>de</strong> respostas. Tais questionários foram aplicados entre alunos e<br />

educadores do Ensino Médio em duas escolas 179 da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG.<br />

Dessa forma, buscamos respon<strong>de</strong>r questões como: que mudanças po<strong>de</strong>m ser<br />

percebidas na escrita dos estudantes ao fazerem uso <strong>de</strong> escrita e leitura a partir <strong>de</strong> gêneros do<br />

ciberespaço, principalmente os <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamento, on<strong>de</strong> a escrita se apresenta com<br />

recursos próprios, sem compromisso com a escrita convencional 180 ? Os alunos estão fazendo<br />

uso <strong>de</strong> gêneros textuais mediados pelo computador nas ativida<strong>de</strong>s escolares, ou seja, há<br />

apropriação <strong>de</strong>stes gêneros nos discursos escolares? Essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura/escrita<br />

virtual/digital tem interferido na escrita e leitura convencional dos estudantes? O que se<br />

percebe nas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita, a partir das tecnologias <strong>de</strong> comunicação? Como os<br />

profissionais da educação e estudantes estão lidando com essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura<br />

virtual/digital?<br />

A escolha <strong>de</strong> se pesquisar no Ensino Médio foi baseada na teoria <strong>de</strong> Anne-Marie<br />

Chartier quando afirma que, durante o ciclo das aprendizagens fundamentais, os professores<br />

não po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rar a leitura e a escrita como adquiridas. Elas ainda não são instrumentos<br />

comuns, manejados sem pensar pelos estudantes para resolver outras tarefas 181 . Portanto,<br />

<strong>de</strong>limitamos pesquisar estudantes do Ensino Médio, levando em conta que os mesmos ao<br />

fazerem uso das modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita própria dos sites <strong>de</strong> relacionamentos e programas <strong>de</strong><br />

conversa simultânea, que são diferentes da modalida<strong>de</strong> padrão, estão conscientes, possuem<br />

conhecimento e o domínio da língua. Portanto, foram pesquisados alunos das três séries do<br />

Ensino Médio, isto é, as últimas séries da Educação Básica. Acreditamos que os mesmos<br />

tenham adquirido o conhecimento básico da língua materna 182 como instrumentos comuns,<br />

usando-a <strong>de</strong> forma consciente para resolver suas tarefas e para se comunicar nas diversas<br />

situações <strong>de</strong> discursos.<br />

O questionário dos estudantes 183 foi composto por quatro tópicos <strong>de</strong> abordagens. Cada<br />

tópico apresentou um grupo <strong>de</strong> perguntas 184 com opções para marcar as resposta. Em algumas<br />

179 Escola Estadual Dr. Abílio Machado, situada à Rua Ramiro Correia S/ nº. Bairro Areias Brancas. Formiga-<br />

MG (local em que a pesquisadora trabalha, atuando como professora <strong>de</strong> Inglês) e Colégio Losango, situado à<br />

Rua Barão <strong>de</strong> Piumhi, Nº. 486, Centro. Formiga- MG. Cf. fotos anexos J e L.<br />

180 Consi<strong>de</strong>ramos nesse trabalho <strong>de</strong> pesquisa como escrita e leitura convencional a escrita e a leitura que segue as<br />

normas gramaticais <strong>de</strong> que a escola faz uso no ensino.<br />

181 CHARTIER, Anne-Marie et al. Ler e escrever: entrando no mundo da escrita. Porto Alegre: Artes Médicas,<br />

1996, p. 113.<br />

182 Consi<strong>de</strong>ramos como língua materna, a língua pátria, a língua que se ensina na escola, para se fazer uso nas<br />

diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discursos.<br />

183 Cf. Anexo A.<br />

184 Tópico 1: Dados pessoais (ida<strong>de</strong> e sexo); i<strong>de</strong>ntificar a faixa etária e o sexo do pesquisado.<br />

85


situações o pesquisado tinha a opção <strong>de</strong> marcar ‘outros’ e a opção ‘se possível, justifique a<br />

resposta’.<br />

O questionário dos educadores 185 foi composto por três tópicos <strong>de</strong> abordagens. Cada<br />

tópico apresentou um grupo <strong>de</strong> perguntas 186 com opções para marcar as respostas. Em<br />

algumas situações o pesquisado tinha a opção <strong>de</strong> marcar ‘outros’ e a opção ‘se possível,<br />

justifique a resposta’.<br />

Para a computação das respostas dos questionários para análise, fizemos uma<br />

tabulação dos dados colhidos através do programa SPSS 187 , utilizamos gráficos 188 e tabelas 189 .<br />

A escolha <strong>de</strong> se utilizar esse programa foi pelos recursos que ele oferece para pesquisas que<br />

precisam <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados.<br />

As amostras analisadas foram coletadas entre estudantes e educadores <strong>de</strong> uma escola<br />

pública e uma particular do Ensino Médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga-MG. Os estudantes, quando<br />

pesquisados, estavam na faixa etária <strong>de</strong> 14 a 18 anos, das séries do 1º, 2º e 3º ano, ou seja, as<br />

últimas séries da Educação Básica. Os educadores pesquisados foram das respectivas séries<br />

dos estudantes pesquisados, os quais pertencem às diversas áreas <strong>de</strong> estudo do Ensino Médio.<br />

Professores <strong>de</strong> Física, Biologia, Educação Artística, Inglês, Português, Literatura, Química,<br />

História e coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos.<br />

A escolha <strong>de</strong> pesquisarmos em uma escola pública e uma particular foi pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

se obter uma amostra <strong>de</strong> um público que representasse os mais variados perfis e aspectos<br />

como sócio econômico, cultural, <strong>de</strong> local <strong>de</strong> moradia e a questão <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> escola: pública e<br />

particular (privada). A Escola Pública pesquisada possuía, na época da pesquisa, sete turmas<br />

Tópico 2: Informações culturais: saber o lugar e a freqüência com que os alunos pesquisados têm acesso às<br />

informações culturais.<br />

Tópico 3: A relação dos alunos pesquisados com a escrita e leitura digital, tópico chave para as discussões <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa: saber a freqüência, o lugar, a forma e a situação em que os pesquisados fazem uso da escrita/leitura<br />

digital e que implicações po<strong>de</strong>m ser percebidas.<br />

Tópico 4: Análise socioeconômica: verificar a abrangência do nível socioeconômico dos pesquisados, se<br />

possuem renda própria ou mesada, o meio pelo qual eles têm acesso à Internet.<br />

185 Cf. Anexo B.<br />

186 Tópico 1: Dados pessoais: i<strong>de</strong>ntificar a faixa etária, o sexo e a escolarida<strong>de</strong> do pesquisado.<br />

Tópico 2: Informações culturais: saber o lugar e a freqüência que os docentes pesquisados têm acesso às<br />

informações culturais.<br />

Tópico 3: A relação do pesquisado com a escrita e leitura digital e como vêem esta realida<strong>de</strong> em seus alunos e as<br />

expectativas sobre essa realida<strong>de</strong>, tópico chave para as discussões <strong>de</strong>sta pesquisa assim como tópico semelhante<br />

no questionário dos alunos.<br />

187 Para a computação das respostas dos questionários para análise, fizemos uma tabulação dos dados colhidos<br />

através do programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 13.0 for Windows. A escolha <strong>de</strong> se<br />

utilizar este programa foi pelos recursos que ele oferece para pesquisas que precisam <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados.<br />

188 O uso <strong>de</strong> gráficos nesse trabalho teve como objetivo ilustrar as informações apresentadas nas tabelas.<br />

189 As tabelas, nesse trabalho, apresentam a freqüência que ocorreu cada item da resposta, o percentual que<br />

correspon<strong>de</strong> à porcentagem da freqüência, o percentual acumulado que é a soma <strong>de</strong> cada percentual <strong>de</strong> acordo<br />

com cada resposta e a soma total <strong>de</strong> cada item.<br />

86


<strong>de</strong> primeiro ano, seis <strong>de</strong> segundo ano e quatro <strong>de</strong> terceiro, compondo os turnos: matutino e<br />

noturno. Sendo que o noturno possuía uma turma <strong>de</strong> cada série. No Ensino Médio, esta escola<br />

conta com trinta e seis professores. A Escola Particular possui três turmas <strong>de</strong> Ensino Médio as<br />

quais correspon<strong>de</strong>m a uma turma por série no turno matutino e um professor para cada<br />

conteúdo.<br />

As escolas pesquisadas aten<strong>de</strong>m um público bem diversificado em termos<br />

sociocultural e socioeconômico, são estudantes <strong>de</strong> diversos bairros da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />

rurais e <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s vizinhas.<br />

Asseguramos que em todo o processo <strong>de</strong>ssa pesquisa, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos pesquisados foi<br />

inteiramente mantida em sigilo, isto é, em nenhum momento foi solicitados a i<strong>de</strong>ntificação<br />

dos mesmos.<br />

3.2 A escrita e a leitura dos estudantes: análise dos questionários dos<br />

estudantes 190<br />

Para realizarmos esse estudo, através do questionário, primeiro buscamos informações<br />

sobre os dados pessoais, perfil socioeconômico e informações socioculturais para então<br />

a<strong>de</strong>ntrarmos no tema da pesquisa. Buscamos saber a freqüência com que os estudantes fazem<br />

uso da escrita/leitura digital. On<strong>de</strong> os estudantes mais usam a escrita e leitura digital, e outros<br />

aspectos que analisamos a seguir. Nessa análise, não seguimos a mesma or<strong>de</strong>m do<br />

questionário on<strong>de</strong> o perfil socioeconômico foi o último tópico.<br />

Quanto aos dados pessoais, buscamos i<strong>de</strong>ntificar a ida<strong>de</strong> 191 dos pesquisados e o sexo 192 .<br />

Com relação à ida<strong>de</strong> dos estudantes pesquisados, os dados apurados não apresentaram<br />

surpresas significativas. A faixa etária dos estudantes <strong>de</strong>ste nível <strong>de</strong> estudo é <strong>de</strong> quinze a<br />

<strong>de</strong>zoito anos. Registramos duas freqüências com mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenove anos. Isso po<strong>de</strong>ria ser<br />

justificado pelo fato <strong>de</strong> haver repetência ou <strong>de</strong>sistência temporária dos estudos.<br />

Sobre o sexo (masculino e feminino), percebemos que o público feminino, 57,33%, foi<br />

maior em relação ao masculino, 42,6%, em ambas as escolas. Apresentamos esses dados<br />

apenas para constar as características <strong>de</strong> nossos pesquisados.<br />

190<br />

Optamos por apresentar a análise dos questionários com todos os tópicos do questionário, porém,<br />

apresentamos apenas gráficos <strong>de</strong> alguns tópicos para ilustrar os resultados. Os gráficos e tabela da pesquisa que<br />

não foram apresentados aqui po<strong>de</strong>rão ser visualizados nos anexos E, F, G e H.<br />

191<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

192<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

87


Sobre o perfil socioeconômico dos estudantes, buscamos saber sobre a renda familiar 193 ,<br />

ativida<strong>de</strong> remunerada 194 e se têm computador (PC) em casa com Internet 195 . Com relação à<br />

renda familiar, há certa diferença entre os pesquisados da escola pública e particular, porém,<br />

não foi um dado relevante para essa pesquisa, portanto registramos apenas no anexo 196 para<br />

constar. Sobre ativida<strong>de</strong> remunerada, observamos que 18,7% trabalham, 19,3% trabalham<br />

eventualmente, 16,7% afirmaram que recebem mesada e 44,7% alegaram que não possuem<br />

ativida<strong>de</strong> remunerada. A maioria dos pesquisados, 70,67% afirmaram que possuem PC com<br />

Internet em casa. Os que não têm, 14,0%, usam Lan House ou 2,67% fazem uso <strong>de</strong> outros e<br />

12,7% afirmaram não ter. Esses dados mostram que o computador e a Internet são uma<br />

realida<strong>de</strong> na vida dos estudantes ao consi<strong>de</strong>rarmos que 86,0% dos pesquisados têm acesso à<br />

Internet.<br />

Sobre as informações culturais dos estudantes pesquisados, buscamos saber qual é a<br />

principal fonte <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> acontecimentos atuais 197 , a freqüência com que lêem<br />

livros 198 e a freqüência com que vão a eventos culturais 199 .<br />

Observamos que a principal fonte <strong>de</strong> informação é o telejornal 55,33%, seguida da<br />

Internet com 32,0%. O jornal escrito e a revista empataram 4,0%, apresentando uma<br />

porcentagem baixa em relação às outras opções. Po<strong>de</strong>ria ser a preferência pelo texto<br />

eletrônico, ou pela informação falada ou pela falta <strong>de</strong> acesso ao jornal ou revista <strong>de</strong>vido ao<br />

custo ou até mesmo pelo <strong>de</strong>sinteresse da leitura no papel. São hipóteses que levantamos.<br />

No item sobre a freqüência com que os estudantes lêem livros, buscamos saber a<br />

relação dos pesquisados com a leitura no papel e insinuamos a finalida<strong>de</strong> para a qual acontece<br />

essa leitura, quando apresentamos a opção ‘somente para fazer trabalhos escolares’.<br />

Verificamos que a leitura no papel apresenta uma porcentagem significativa com 22,67%,<br />

quando se trata <strong>de</strong> um livro ao mês e 18,67%, mais <strong>de</strong> um livro ao mês, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong><br />

computar que 41,4%, afirmam que lêem um livro ou mais ao mês. Isso contradiz o discurso<br />

dos professores quando afirmam que os alunos não lêem ou não têm hábito <strong>de</strong> leitura.<br />

A freqüência com que os estudantes pesquisados vão a eventos culturais como teatros,<br />

shows musicais, exposições <strong>de</strong> artes, museus etc., apresentou resultado surpreen<strong>de</strong>nte, com<br />

193<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

194<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

195<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

196<br />

Cf. Anexo E e Anexo F<br />

197<br />

Cf. Anexo E e Anexo F. Nesse item, foi necessário anular sete respostas, as quais correspon<strong>de</strong>m a (4,67%) das<br />

cento e cinqüenta respondidas, pelo fato <strong>de</strong> os pesquisados terem marcado mais <strong>de</strong> uma alternativa. O enunciado<br />

estava no singular e a palavra principal em negrito, mesmo assim, ocorreram equívocos.<br />

198<br />

Cf. Anexo E e Anexo F.<br />

199<br />

Cf. Anexo E e Anexo F.<br />

88


51,3%, uma vez que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga-MG não oferece eventos culturais com freqüência e<br />

muito menos diversida<strong>de</strong>.<br />

Com relação à freqüência com que os pesquisados fazem uso da escrita/leitura digital,<br />

verificamos que 72,67% afirmaram que sempre fazem uso. Ao <strong>de</strong>pararmos com esse<br />

resultado, concluímos que a escrita/leitura digital faz parte da vida cotidiana dos estudantes<br />

uma vez que mais <strong>de</strong> 50,0% fazem uso <strong>de</strong>ssa escrita/leitura. Esclarecemos também que, nesse<br />

item, foram apresentadas três opções <strong>de</strong> respostas: ‘sempre’, ‘às vezes’ e ‘nunca’. No entanto,<br />

não houve nenhuma opção marcada em nunca.<br />

No item sobre on<strong>de</strong> mais os estudantes usam a escrita/leitura digital, foram<br />

apresentadas as opções: Internet, Celular, Outros. A Internet aparece com o lugar <strong>de</strong> maior<br />

uso da escrita digital com 80,0% e 86,67% <strong>de</strong> uso da leitura. Nos diversos espaços on<strong>de</strong><br />

praticam a escrita/leitura digital, constatamos que a Internet é o principal espaço <strong>de</strong> uso da<br />

escrita/leitura digital. Em seguida vem o celular, mas com menos relevância. Esses dados<br />

sugerem que a Internet é uma realida<strong>de</strong> na vida dos estudantes.<br />

Na Internet, os espaços on<strong>de</strong> mais fazem uso da escrita/leitura digital, os estudantes<br />

pesquisados tinham as opções: MSN Messenger, Orkut, E-mail e outros 200 . Constatamos que o<br />

MSN Messenger é o espaço on<strong>de</strong> que mais usam para exercerem suas práticas <strong>de</strong><br />

escrita/leitura digital. Veja (GRAF.1) 201 .<br />

200 Nesse item foi necessário anular vinte respostas pelo fato <strong>de</strong> terem marcado mais <strong>de</strong> uma opção <strong>de</strong> resposta.<br />

Porém, foi possível obter a informação pesquisada, ou seja, verificar on<strong>de</strong> os estudantes mais usam a<br />

escrita/leitura digital na Internet.<br />

201 Cf. também Anexo E<br />

89


GRÁFICO 1<br />

E na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura<br />

digital?<br />

8,0%<br />

6,0%<br />

13,33%<br />

21,33%<br />

0,67%<br />

50,67%<br />

MSN<br />

Orkut<br />

E-mail<br />

Outros<br />

Nula<br />

Sem resposta<br />

Como po<strong>de</strong>mos observar, os estudantes usam mais o MSN Messenger com 50,67% em<br />

relação às outras opções apresentadas. Seria pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se organizarem em grupos,<br />

característica comum entre adolescentes? Po<strong>de</strong>ria ser pelo fato <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> conversa/escrita<br />

aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas dos jovens nas suas formas <strong>de</strong> organizar e conviver em grupo. Po<strong>de</strong>ria<br />

ser pela informalida<strong>de</strong> que esse espaço permite na escrita? Outras hipóteses po<strong>de</strong>riam ser<br />

levantadas. De certa forma chamam nossa atenção os resultados apresentados. Em segundo<br />

lugar vem o Orkut com 21,33%, que parece com menos relevância. Tanto o MSN Messenger<br />

quanto o Orkut são espaços on<strong>de</strong> se usa a escrita sem seguir as normas convencionais da<br />

linguagem culta. O E-mail apresenta 6,0%, uma porcentagem baixa. Ele é um recurso <strong>de</strong><br />

comunicação que não <strong>de</strong>manda necessariamente formalida<strong>de</strong>. É um recurso <strong>de</strong> comunicação<br />

que substitui as correspondências via correio tradicional, nas diversas finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas<br />

correspondências, como a carta comercial, a carta pessoal, etc.. Há que se consi<strong>de</strong>rar,<br />

também, que no MSN Messenger, há possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se fazer o uso <strong>de</strong> envio <strong>de</strong><br />

correspondência semelhante ao que se faz também no E-mail, como enviar anexos,<br />

documentos, fotos, músicas e outros. Neste item foi apresentada a opção: ‘se possível,<br />

justifique sua resposta’. O que mais chamou a atenção nas justificativas foi o fato <strong>de</strong> referirem<br />

90


que: é o lugar on<strong>de</strong> falam com muitos amigos, meio fácil e rápido para conversar, é também<br />

o lugar em que ficam mais tempo na Internet 202 .<br />

A forma que os pesquisados escrevem nos espaços digitais, a maioria dos estudantes<br />

pesquisados afirmam que não seguem a norma culta, como po<strong>de</strong> ser observado no (GRAF. 2).<br />

GRÁFICO 2<br />

De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

11,33%<br />

12,0%<br />

0,67%<br />

63,33%<br />

12,67%<br />

Sigo a norma<br />

culta da língua<br />

Não me<br />

preocupo com<br />

normas, escrevo<br />

do jeito que falo<br />

Escrevo <strong>de</strong><br />

acordo com cada<br />

espaço que estou<br />

fazendo uso<br />

Escrevo <strong>de</strong><br />

forma mista<br />

Buscamos verificar nesse item (GRAF.2) como os estudantes escrevem nos espaços<br />

digitais para saber <strong>de</strong> que tipo <strong>de</strong> escrita fazem uso neste espaço (norma culta, livre <strong>de</strong> normas<br />

ou do jeito que falam, <strong>de</strong> acordo com cada espaço, <strong>de</strong> forma mista). Observamos que 63,33%<br />

não se preocupam com normas, escrevem do jeito que falam. Neste aspecto é que surgem os<br />

questionamentos e preocupações dos educadores, como <strong>de</strong> que jeito falam / e como escrevem,<br />

uma vez que a escrita nem sempre é como se fala, envolvem conhecimento gramatical como,<br />

por exemplo, da ortografia, da etimologia.<br />

As vantagens que essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita digital oferece foi um item <strong>de</strong> resposta<br />

aberta. Destacamos algumas respostas 203 como: agilida<strong>de</strong>, com suas variantes, quando se<br />

202 Transcrição da fala dos alunos.<br />

Nula<br />

91


eferem à rapi<strong>de</strong>z / rápida / encurtar o tempo / gasto menos tempo escrevendo / menor tempo<br />

gasto / velocida<strong>de</strong>. Outro aspecto que chama a atenção é quando se referem à economia <strong>de</strong><br />

tempo / economia <strong>de</strong> letras / simplificar a escrita / praticida<strong>de</strong> / liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão.<br />

Todas são terminologias presentes no discurso e na realida<strong>de</strong> contemporânea que evi<strong>de</strong>nciam<br />

o relacionamento do homem com a máquina, e a mudança <strong>de</strong> comportamento e suas<br />

<strong>de</strong>mandas em função <strong>de</strong> seu relacionamento com a máquina e as tecnologias <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>.<br />

Ilustramos esta reflexão com uma epígrafe <strong>de</strong> McLuhan, os homens criam as ferramentas, as<br />

ferramentas recriam os homens. Steven Johnson, ao discorrer sobre os meios <strong>de</strong> comunicação<br />

como extensões do homem, afirma que assim po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r bem o que o mesmo quer<br />

dizer com slogan; o meio é a mensagem 204 . Os meios <strong>de</strong> comunicação moldam nossos hábitos<br />

e pensamento e isso po<strong>de</strong> ser verificado nas respostas dos estudantes. Moldam, também, a<br />

relação <strong>de</strong>sses estudantes com a máquina, que interfere nos seus relacionamentos, nas suas<br />

organizações e a influência da velocida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong> capitalista, on<strong>de</strong> a economia, a pressa,<br />

<strong>de</strong>terminam as maneiras <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> se relacionar e se organizar entre as pessoas.<br />

A situação em que os pesquisados mais usam a escrita/leitura digital é para interagir com<br />

os amigos, como po<strong>de</strong> ser conferido no (GRAF. 3).<br />

203 Transcrição na íntegra, como os estudantes escreveram no questionário.<br />

204 JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira <strong>de</strong> criar e<br />

comunicar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 9.<br />

92


Em que situação você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

GRÁFICO 3<br />

3,33%<br />

10,67%<br />

10,0%<br />

0,67%<br />

11,33%<br />

14,67% 49,33%<br />

Fazer ativida<strong>de</strong>s<br />

escolares<br />

Interagir com os<br />

amigos<br />

Passa tempo<br />

Fazer pesquisa<br />

Outras<br />

Sem resposta<br />

Nesse item (GRAF. 3) buscamos verificar em que situação os estudantes mais usam a<br />

escrita/leitura digital. Verificamos que 49,33% a usam para interagir com os amigos.<br />

Retomamos aqui a questão das carências, a implementação da solidão física que se<br />

estabeleceu a partir da implementação dos relacionamentos virtuais em <strong>de</strong>trimentos dos<br />

presenciais. Porém, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver e se organizarem em bando, característica comum<br />

entre os jovens, se mantêm. Destacamos o baixo uso da leitura e escrita como instrumento e<br />

fonte <strong>de</strong> pesquisa. Por isso, o computador, conectado na Internet, po<strong>de</strong>ria ser uma fonte<br />

inesgotável <strong>de</strong> informação, elaboração, estruturação e construção do conhecimento. E isso<br />

po<strong>de</strong> ser confirmado em Carla Coscarelli, quando aponta que o computador po<strong>de</strong> ser um forte<br />

aliado da escola, pois os recursos da informática são muito sedutores, além <strong>de</strong> imprevisíveis<br />

para a formação <strong>de</strong> um cidadão letrado 205 .<br />

On<strong>de</strong> a escrita dos estudantes pesquisados é mais livre, criativa 206 Verificamos que o<br />

MSN Messenger é o espaço on<strong>de</strong> mais usam a escrita livre, criativa, com 62,0% em seguida<br />

vem o Orkut com 24,0%. Nesse item foi apresentada a opção ‘se possível justifique sua<br />

resposta’. O MSN Messenger é o espaço que em os estudantes se sentem mais livres para<br />

205 COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e<br />

possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 39.<br />

206 Cf. Anexo E Gráfico e Tabela anexo F.<br />

Nula<br />

93


expressar, com criativida<strong>de</strong> e ousadia, a sua escrita, é o lugar on<strong>de</strong> quebram a norma padrão<br />

da escrita, usam ícones, emoticons, smiles, elementos paralingüísticos, oralida<strong>de</strong>, etc..<br />

Destacamos algumas respostas dos estudantes como: é on<strong>de</strong> eu entro na internet com mais<br />

freqüência / escrevo do jeito que falo não me preocupo / pois são amigos / lá é on<strong>de</strong> posso<br />

escrever como quiser / todos vão me enten<strong>de</strong>r / me sinto mais à vonta<strong>de</strong> e é mais rápido, lá<br />

posso me expressar <strong>de</strong> várias formas, posso escrever do meu modo / que meus colegas<br />

enten<strong>de</strong>rão / porque com amigos a criativida<strong>de</strong> se solta mais / porque é instantâneo daí tenho<br />

que ser rápido, por isso nem ligo com a forma da escrita / porque eu converso com meus<br />

colegas e ao mesmo tempo escrevo.<br />

Depois da invenção do MSN Messenger, os Chats per<strong>de</strong>ram um pouco do prestígio. O<br />

MSN Messenger é também o espaço que mais apresenta discussões e preocupações quanto à<br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita que po<strong>de</strong>ria modificar ou interferir no uso da escrita convencional.<br />

Conforme Else Martins é aon<strong>de</strong>, com mais evidência, as tecnologias das comunicações vêm<br />

instaurando novas formas <strong>de</strong> comunicação e o aperfeiçoamento das já existentes. Os<br />

elementos paralingüísticos servem <strong>de</strong> pretexto para acusar a escrita on-line <strong>de</strong> vilã da falência<br />

da escrita da Língua Portuguesa 207 . Porém há que se consi<strong>de</strong>rar que esse fenômeno na escrita<br />

não ocorre somente na Língua Portuguesa. Portando, se isso for consi<strong>de</strong>rado como ameaça à<br />

língua portuguesa po<strong>de</strong>ria ser também uma ameaça a outras línguas que, também, no<br />

ciberespaço, lançam mão <strong>de</strong> recursos semelhantes aos usados na Língua Portuguesa.<br />

Se os estudantes pesquisados lêem todas as mensagens que recebem do início ao<br />

fim 208 . Buscamos saber como eles lidam com os textos que recebem no ciberespaço da<br />

Internet, uma vez que observamos que as trocas <strong>de</strong> informação são intensas e se apresentam<br />

com muita diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> textos. Verificamos que 50,0% afirmaram que<br />

lêem e em seguida 38,0% alegaram que superficialmente. Portanto não sabemos se há<br />

qualida<strong>de</strong> nesse tipo <strong>de</strong> leitura e se há aquisição <strong>de</strong> conhecimento a partir <strong>de</strong>ssas leituras.<br />

Sobre o que mudou na escrita dos estudantes pesquisados ao fazerem uso da<br />

leitura/escrita digital 209 , verificamos que existem controvérsias, pois, há os que alegam que<br />

houve mudanças para pior, outros alegam que as mudanças foram para melhor e os que<br />

alegam, não houve mudanças. E sobre isso Else Martins, afirma que percebemos poucas<br />

características da linguagem dos chats nos textos escritos <strong>de</strong> seus alunos. Ela acredita que as<br />

207 SANTOS, Else Martins dos. In COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento<br />

digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 152.<br />

208 Cf. Anexo E Gráfico e Tabela Anexo F.<br />

209 Cf. Anexo E Gráfico e Tabela Anexo F<br />

94


críticas a esse respeito é <strong>de</strong> quem pensa a língua como forma, não enxergando coerência,<br />

integração e eficiência pragmática 210 .<br />

Destacamos respostas que se referem a mudanças para pior como: às vezes tenho<br />

dificulda<strong>de</strong>s para escrever algumas palavras / às vezes uso sem perceber em textos formais /<br />

às vezes você escreve no ca<strong>de</strong>rno igual no computador / comecei a pegar as manias <strong>de</strong><br />

escrever errado ou com palavras reduzidas / erro <strong>de</strong> ortografias / eu escrevo as palavras do<br />

jeito que pronuncio / muitas vezes piorou, pois, uso muita gíria assim gera muitos erros<br />

ortográficos / passei errar mais / tenho mais erros <strong>de</strong> português, escrevo as palavras<br />

abreviadas.<br />

Respostas que se referem a mudanças para melhor: passei a interpretar melhor /<br />

passei a reparar mais os erros graves que cometia /aprendi novas palavras com significados<br />

que nem imaginava que existisse aumentando assim a minha linguagem cultural / ganhei<br />

habilida<strong>de</strong> na digitação / ganhei mais conhecimento / melhorou a ortografia / melhorou a<br />

leitura / melhorou o jeito <strong>de</strong> falar / melhorou os meus conhecimentos gerais e facilitou os<br />

meus estudos / passei a reparar mais os erros graves que antes cometia.<br />

Em contrapartida as mudanças que verificamos, tanto para pior, quanto para melhor,<br />

registramos respostas que asseguram que não mudou nada como: nada que tenha notado /<br />

nada, diferencio a hora <strong>de</strong> usar a escrita digital e a hora <strong>de</strong> usar a escrita mais culta /<br />

nenhuma mudança significativa / não mudou nada porque quando uso a escrita digital é para<br />

a conversa ficar mais rápida / não mudou nada, sei diferenciar / nada, eu me policio para<br />

não escrever errado, ou abreviado / nada, diferencio sempre uma coisa da outra e não<br />

misturo.<br />

Registramos também a repetição intensa das palavras: rapi<strong>de</strong>z / simplificações e<br />

abreviar (com suas variantes, abreviaturas, abreviação, abreviações, abreviado, abreviada),<br />

que associamos com a economia da escrita e a pressa. Esse aspecto já foi discutido nessa<br />

pesquisa e que reforça nossa hipótese <strong>de</strong> que é <strong>de</strong>manda contemporânea, a pressa. Mediante<br />

as tecnologias da velocida<strong>de</strong>, estamos fadados a ser como o coelho, personagem do livro<br />

Alice no país das maravilhas: estou atrasado, muito atrasado.<br />

Concluímos, nesse item, que mudanças po<strong>de</strong>m ser percebidas sim, porém, não<br />

sabemos a extensão <strong>de</strong>ssas mudanças e se os prejuízos ou os ganhos são tão significativos,<br />

mas asseguramos que há implicações e que estas <strong>de</strong>vem ser elementos <strong>de</strong> atenção, intervenção<br />

e discussão nos espaços escolares. Não para trazer essa escrita do ciberespaço para os<br />

210 SANTOS, Else Martins dos. In COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento<br />

digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 153.<br />

95


espaços escolares como opção <strong>de</strong> uso nas tarefas escolares, mas como elemento <strong>de</strong> análise e<br />

estudo, para objetivar melhorias no aprendizado da língua padrão. E, também, sobre os<br />

benefícios que a língua possibilita como recuso <strong>de</strong> socialização, benefícios do intercâmbio<br />

cultural e compreensão das diferenças nas relações humanas.<br />

Se os estudantes escrevem mais ou menos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazerem uso da escrita/leitura<br />

digital, percebemos que é relativo <strong>de</strong> acordo com nossa pesquisa. Conferir (GRAF. 4).<br />

GRÁFICO 4<br />

Você escreve mais ou menos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer uso da<br />

escrita/leitura digital?<br />

49,33%<br />

1,33%<br />

12,0%<br />

37,33%<br />

Escrevo e leio<br />

mais<br />

Escrevo e leio<br />

menos<br />

Não mudou nada<br />

Sem resposta<br />

O objetivo, nesse item, foi saber se os estudantes pesquisados, ao fazerem uso da<br />

escrita e leitura digital, escrevem mais ou menos. Observamos que um número até<br />

significativo <strong>de</strong> 49,33% dos pesquisados, afirmam que não mudou nada. Em seguida, 37,33%<br />

afirmam que lêem e escrevem mais. Muitos relatam que passaram a abreviar mais as palavras,<br />

isto é, uso da economia da escrita, outros afirmam que pegaram as manias <strong>de</strong> como escrevem<br />

no computador. O que percebemos é que são diversificadas as respostas. Quanto a essa<br />

polêmica, Else Marins afirma em sua pesquisa que, com freqüência, dizem que ‘o adolescente<br />

não lê!’. Mas na realida<strong>de</strong> é que ele não lê a literatura <strong>de</strong> prestígio. Afirma ainda que o<br />

96


adolescente está em permanente contato com a leitura, tendo acesso, diariamente, a inúmeros<br />

gêneros <strong>de</strong> textos 211 . E, conseqüentemente, ele faz uso da escrita. Nesse aspecto, vemos que<br />

cabe à escola uma reflexão sobre isso e até mesmo intervenções para saber lidar com essa<br />

situação.<br />

Se a escrita dos estudantes pesquisados melhorou ou piorou veja a seguir (GRAF. 5).<br />

Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua escrita e leitura?<br />

GRÁFICO 5<br />

0,67%<br />

56,0%<br />

28,67%<br />

14,67%<br />

Melhorou<br />

Piorou<br />

Não Mudou<br />

Sem resposta<br />

Constatamos que 56,0% dos estudantes pesquisados alegaram que não mudou a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> leitura/escrita. Outros 28,67% afirmam que melhorou. No entanto, 14,%67% afirmam que<br />

piorou. Retomamos essa discussão na análise das respostas dos educadores, on<strong>de</strong><br />

confrontaremos os resultados.<br />

211 SANTOS, Else Martins dos. In COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento<br />

digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 152.<br />

97


3.3 A escrita e a leitura dos educadores: análise dos questionários dos<br />

educadores<br />

Para analisarmos sobre a leitura e escrita dos educadores, traçamos primeiro, o perfil dos<br />

mesmos com dados sobre ida<strong>de</strong>, sexo e escolarida<strong>de</strong>. Depois informações culturais e, por<br />

último, dados, sobre a escrita/leitura digital. Nesse item buscamos verificar a relação dos<br />

educadores com a escrita e leitura digital e como percebem essa realida<strong>de</strong> nos estudantes.<br />

Sobre a ida<strong>de</strong> (GRAF. 6), verificamos que a maioria está acima <strong>de</strong> trinta e cinco anos, fato<br />

relevante para nosso estudo.<br />

73,68%<br />

Ida<strong>de</strong>:<br />

15,79%<br />

10,53%<br />

De 26 a 30 anos<br />

De 31 a 35 anos<br />

Mais <strong>de</strong> 35<br />

GRÁFICO 6<br />

A maioria dos educadores pesquisados estão acima <strong>de</strong> trinta e cinco anos: 73,68%.<br />

Esse fato mostra que os educares pesquisados fazem parte <strong>de</strong> uma geração que está se<br />

socializando com a informática, que também envolve a Internet, mais tar<strong>de</strong> do que seus<br />

alunos. Seriam os educadores híbridos em relação realida<strong>de</strong> virtual/digital, isto é, apren<strong>de</strong>ram<br />

ou ainda estão apren<strong>de</strong>ndo a lidar com a realida<strong>de</strong> mais tar<strong>de</strong> do que seus alunos, que<br />

nasceram no final do século XX. De acordo com essa realida<strong>de</strong>, Else Martins afirma que a<br />

comunicação eletrônica está presente na vida <strong>de</strong> nossos jovens já há bastante tempo. Para<br />

esses jovens, nascidos no final do século XX, ligar um computador, <strong>de</strong>senvolver sites,<br />

98


conversar na re<strong>de</strong> através <strong>de</strong> blogs, fotoblogs, MSN Messenger, enviar e-mails ou participar <strong>de</strong><br />

fóruns é algo absolutamente corriqueiro 212 . Ao passo que, para muitos educadores, é uma<br />

realida<strong>de</strong> totalmente nova. E nem sempre possuem habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas para tal.<br />

Esses educadores que estão acima <strong>de</strong> trinta e cinco anos, trabalham com estudantes<br />

que vivenciam uma realida<strong>de</strong> no ciberespaço, que muitas vezes está distante <strong>de</strong> suas<br />

ativida<strong>de</strong>s diárias. Como por exemplo, o uso <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s e gêneros lingüísticos que não<br />

fazem parte do discurso dos educadores. É um fato que nos instiga saber, como isso se<br />

estabelece nas suas relações diárias em sala <strong>de</strong> aula. Haveria algum impacto, ou algum malestar<br />

em relação a isso? São interrogações que buscamos respon<strong>de</strong>r através <strong>de</strong>ssa pesquisa.<br />

Dos educadores pesquisados 213 , a população masculina apresenta-se um pouco maior<br />

em relação à feminina. Dos pesquisados, 63,2% é masculino. Esse resultado po<strong>de</strong>ria justificar<br />

que os homens atuam mais nas últimas séries do Ensino Médio e Ensino Universitário.<br />

Certificamos que 52,6% dos educadores pesquisados 214 possuem curso <strong>de</strong> pósgraduação<br />

e 10,5% possuem curso <strong>de</strong> mestrado. Esse resultado sugere que os educadores<br />

estão investindo em atualizações. E isso é uma das <strong>de</strong>mandas do mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Sobre as informações culturais 215 dos educadores, constatamos que a principal fonte<br />

<strong>de</strong> informação é o telejornal com 21,1%, seguido pelo jornal escrito e, <strong>de</strong>pois, a Internet.<br />

No item sobre a freqüência com que os educadores lêem livros 216 , observamos que os<br />

hábitos <strong>de</strong> leitura dos pesquisados são significativos. Os dados mostram que 63,16%<br />

afirmaram que lêem um livro por mês, seguido <strong>de</strong> 15.79% que lêem mais <strong>de</strong> um livro por<br />

mês.<br />

Para saber a relação que os educadores têm com a escrita/leitura digital verificamos a<br />

freqüência com que eles fazem uso da escrita/leitura digital (GRAF. 7).<br />

212<br />

SANTOS, Else Martins dos. In COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento<br />

digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 151.<br />

213<br />

Cf. Gráfico Anexo G e tabela Anexo H<br />

214<br />

Cf. Gráfico Anexo G e tabela Anexo H<br />

215<br />

Cf. Anexo G Gráfico e Anexo H Tabela. Nesse item anulamos <strong>de</strong>z respostas porque os pesquisados<br />

marcaram mais <strong>de</strong> uma alternativa. O enunciado estava no singular e a palavra principal estava em negrito,<br />

mesmo assim, ocorreram equívocos. Isso sugere que o resultado po<strong>de</strong> te ficado prejudicado.<br />

216<br />

Cf. Anexo G Gráfico e tabela Anexo H<br />

99


GRÁFICO 7<br />

Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

21,05%<br />

78,95%<br />

Sempre<br />

Ás vezes<br />

Nesse item, foram apresentadas três opções <strong>de</strong> respostas (sempre, às vezes e nunca).<br />

No entanto, não houve nenhuma opção marcada em nunca. A freqüência com que os<br />

educadores pesquisados fazem uso da leitura/escrita digital: 78,9% afirmaram que sempre e<br />

21,05%, às vezes. A partir <strong>de</strong>sse resultado levantamos a hipótese <strong>de</strong> que seria a escrita/leitura<br />

digital uma realida<strong>de</strong> também na vida dos educadores, assim como na dos estudantes<br />

pesquisados.<br />

Com relação ao lugar em que os educadores mais fazem uso da escrita digital 217 , entre<br />

as opções Internet, celular e outros, a Internet é o lugar <strong>de</strong> maior uso da escrita digital com<br />

84,2%. Esse resultado mostra que a Internet faz parte da vida dos educadores assim como da<br />

vida dos estudantes pesquisados, conforme já observamos na análise do questionário dos<br />

estudantes. E o lugar on<strong>de</strong> os pesquisados mais acessam a leitura digital 218 é também a<br />

Internet, com 89,5%. Po<strong>de</strong>ria ser pelo fato <strong>de</strong> ser o mesmo espaço on<strong>de</strong> os pesquisados fazem<br />

uso da escrita. Dessa maneira observamos que a Internet está presente na vida dos<br />

pesquisados.<br />

217 Cf. Gráfico Anexo G e tabela Anexo H<br />

218 Cf. Gráfico Anexo G e tabela Anexo H<br />

100


Perguntamos on<strong>de</strong>, na Internet, mais usam a leitura/escrita digital 219 . Foram dadas as<br />

seguintes opções <strong>de</strong> respostas: MSN Messenger, Orkut, E-mail e outros. Dos educadores<br />

pesquisados, 52,6 % afirmaram que é o E-mail, 15,8% afirmaram outros, e 5,3% usam o MSN<br />

Messenger. Observamos, nesse item, que os resultados são bastante diferentes, se comparados<br />

com o dos estudantes que usam mais o MSN Messenger e Orkut. Os educadores nem<br />

mencionam o Orkut. Isso nos sugere que ambos fazem uso da Internet, porém em espaços<br />

diferentes.<br />

Sobre <strong>de</strong> que forma escrevem nos espaços digitais 220 , 42,11% dos educadores<br />

pesquisados afirmaram que seguem a norma culta para escrever, 31,6% escrevem <strong>de</strong> acordo<br />

com o espaço <strong>de</strong> que estão fazendo uso e 21,1% escrevem <strong>de</strong> forma mista. A soma dos que<br />

escrevem <strong>de</strong> forma mista e os que escrevem <strong>de</strong> acordo com o espaço <strong>de</strong> que fazem uso resulta<br />

no total 52,7%, resultado superior aos que somente seguem a norma culta. A partir <strong>de</strong>sse<br />

resultado, levantamos a hipótese se seria a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita dos espaços digitais uma<br />

realida<strong>de</strong> aceitável pelos educadores.<br />

Buscamos saber dos educadores sobre as vantagens ou <strong>de</strong>svantagens que a modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> escrita/leitura digital oferece. Foi um item <strong>de</strong> resposta aberta 221 . De acordo com as<br />

respostas dos educadores, <strong>de</strong>stacamos como vantagens: agilida<strong>de</strong>, rapi<strong>de</strong>z, comunicação mais<br />

ágil, fluxo <strong>de</strong> informação, interesse pela leitura aumentou, a comunicação acontece <strong>de</strong> forma<br />

mais rápida, foram as respostas que mais se repetiram. A repetição da palavra agilida<strong>de</strong> ou os<br />

sinônimos correspon<strong>de</strong>ntes expressam preocupação com o tempo, com a economia <strong>de</strong> tempo,<br />

um fato relevante para os educadores, que foi também apresentado pelos estudantes<br />

pesquisados. Seriam preocupações comuns entre os pesquisados ou seria uma preocupação<br />

própria da contemporaneida<strong>de</strong>? Como <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>stacamos as seguintes respostas: acaba<br />

com a língua culta, banalida<strong>de</strong> da língua, o uso ina<strong>de</strong>quado da língua escrita, disseminação<br />

da forma coloquial na escrita. A partir <strong>de</strong>sse resultado, concluímos que há vantagens e<br />

<strong>de</strong>svantagens significativas. Sugere um <strong>de</strong>safio para os educadores administrarem.<br />

Para saber como os educadores percebem a escrita/leitura dos estudantes, propusemos<br />

três opções <strong>de</strong> respostas: ‘como problema’, ‘naturalmente’ e ‘não me preocupo’ 222 (GRAF. 8).<br />

219 Cf. Gráfico Anexo G e tabela anexo H Cabe esclarecer que nesse item da pesquisa foram anuladas 26,3%<br />

das respostas pelo fato <strong>de</strong> terem marcado mais <strong>de</strong> uma resposta.<br />

220 Cf. Gráfico Anexo G e tabela A nexo H.<br />

221 Essa opção não constou no (GRF. 8) porque nenhum dos pesquisados a marcaram.<br />

101


Como você percebe o uso da escrita/leitura digital em seus alunos?<br />

GRÁFICO 8<br />

57,89%<br />

42,11%<br />

Como problema<br />

Naturalmente<br />

A escrita e a leitura digital dos alunos são vistas, naturalmente, por 57,9% dos<br />

educadores pesquisados e, como problema por 42,11%%. Nenhum dos pesquisados marcou a<br />

opção ‘não preocupo’. Também foi apresentada a opção ‘se possível, justifique sua resposta’.<br />

Dentre as respostas dadas, <strong>de</strong>stacamos as seguintes: o uso incorreto <strong>de</strong> escrever a forma culta<br />

da linguagem, a leitura digital está afastando-os da leitura impressa, erros graves <strong>de</strong><br />

português, Orkut e MSN Messenger atrapalham muito o aluno, o mundo exige praticida<strong>de</strong> e<br />

agilida<strong>de</strong>, vejo como um processo <strong>de</strong> comunicação e evolução da escrita/leitura, essa forma<br />

<strong>de</strong> comunicação veio para ficar, não temos como lutar contra. Observamos que a<br />

preocupação dos pesquisados com o tempo é retomada neste item.<br />

Sobre o que mudou na escrita/leitura dos alunos <strong>de</strong>pois que eles passaram a fazer uso<br />

da escrita/leitura digital, foi um item <strong>de</strong> resposta aberta. De acordo com as respostas dos<br />

educadores pesquisados, <strong>de</strong>stacamos algumas respostas como: passaram a escrever mais<br />

errado e ler menos (livros), os erros gramaticais se tornaram mais freqüentes, usam muito<br />

abreviações, palavras sem acento, frases com omissões, estão mais ‘econômicos’ com as<br />

palavras e o vocabulário, piorou... e muito, muitas abreviações ina<strong>de</strong>quadas e um simbolismo<br />

que às vezes não entendo, a maioria dos alunos escrevem da maneira que falam, usando<br />

siglas etc. Verificamos, a partir <strong>de</strong>ssas respostas que muitos dos educadores afirmam que<br />

houve mudanças na escrita/leitura dos seus alunos.<br />

102


E na escrita/leitura dos educadores pesquisados o que mudou, foi também um item <strong>de</strong><br />

resposta aberta. A maioria dos pesquisados afirmaram que não mudou ou que não perceberam<br />

mudanças. Porém há os que afirmam: leio e escrevo com mais freqüência, melhorou;<br />

preocupo-me com aquilo que escrevi, tenho aprendido mais, agilida<strong>de</strong> no fluxo <strong>de</strong><br />

informações. As respostas sugerem que para alguns houve mudanças e essas, provavelmente,<br />

estão associadas com a relação que os educadores mantêm com a escrita/leitura digital.<br />

Como os educadores percebem a escrita dos estudantes 223 , após fazer uso da escrita e<br />

leitura digital (GRAF. 9).<br />

GRÁFICO 9<br />

Depois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital os alunos?<br />

5,26%<br />

5,26%<br />

5,26%<br />

84,21%<br />

Escrevem e lêem<br />

mais<br />

Escrevem e lêem<br />

menos<br />

Não mudou nada<br />

Sem resposta<br />

Nesse item, <strong>de</strong> acordo com as respostas dos educadores, 84,2% afirmam que os<br />

estudantes escrevem e lêem menos. De certa forma concordamos com esse resultado. Os<br />

estudantes, na maioria das vezes, só lêem e escrevem, quando obrigados a resolver tarefas<br />

escolares muito importantes, on<strong>de</strong> o professor propõe distribuição <strong>de</strong> pontos. É o que os<br />

educadores afirmaram em conversa informal durante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa pesquisa. Seria<br />

uma controvérsia se afirmássemos o contrário, mas isso é uma realida<strong>de</strong>, quando se trata <strong>de</strong><br />

223 Cf. Tabela Anexo H<br />

103


leitura/escrita impressa. Quando se trata do uso da informática aliada à Internet, consi<strong>de</strong>ramos<br />

que os estudantes lêem e escrevem muito mais. Em outro aspecto, há que consi<strong>de</strong>rar também,<br />

quando Else Martins afirma que o adolescente está em permanente contato com a leitura, com<br />

inúmeros gêneros <strong>de</strong> textos como panfletos, revistas, outdoors, faixas, jornais em ônibus,<br />

cartazes em supermercados e lojas em geral, músicas que escutam, cantam e copiam com<br />

avi<strong>de</strong>z, e ainda blogs, sites, chats entre outros 224 . Ao consi<strong>de</strong>rar esses aspectos,<br />

compreen<strong>de</strong>mos que os estudantes se apresentam com menos disposição para ler e escrever<br />

sobre ativida<strong>de</strong>s gerais do seu cotidiano escolar, mas se ocupam com outras formas <strong>de</strong><br />

leitura/escrita do ciberespaço e <strong>de</strong>sse mundo cada vez mais imagético.<br />

De acordo com as respostas dos educadores, na opção ‘se possível, justifique sua<br />

resposta’, <strong>de</strong>stacamos algumas respostas como: os jovens em sua maioria não sentem prazer<br />

em ler e como conseqüência escreve menos, há um empobrecimento da leitura e escrita,<br />

simplesmente não escrevem, se comunicam com códigos ou gírias, as informações são<br />

rápidas, mas os alunos não apren<strong>de</strong>m nada, eles esquecem tudo, a forma tradicional <strong>de</strong><br />

leitura e escrita é muito lenta para eles! A partir <strong>de</strong>stas informações <strong>de</strong>stacamos que a<br />

escrita/leitura convencional apresentam problemas no olhar dos educadores. De certa forma<br />

percebemos que há mudanças <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s dos estudantes, ao lidarem com a escrita/leitura<br />

convencional, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazerem uso da escrita/leitura digital. Outro aspecto que percebemos<br />

nesse item, baseados nas respostas dos educadores, é a forma que os estudantes lidam com o<br />

aprendizado que envolve a memória. Observamos que eles não se sentem obrigados a<br />

memorizar conteúdos, como afirmam os educadores: eles esquecem tudo. Percebemos que as<br />

formas que os estudantes lidam com a memória e assimilação dos conteúdos acontece <strong>de</strong><br />

forma diferente após o uso <strong>de</strong> computador e da Internet.<br />

Como os educadores vêem a qualida<strong>de</strong> da escrita/leitura <strong>de</strong> seus alunos (GRAF. 10).<br />

224 SANTOS, Else Martins dos. In COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento<br />

digital: aspectos sociais e possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005 p. 152.<br />

104


GRÁFICO 10<br />

Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura <strong>de</strong>les?<br />

5,26%<br />

89,47%<br />

5,26%<br />

Melhorou<br />

Piorou<br />

Não mudou<br />

Na opinião dos educadores, 89,5% alegam que a escrita/leitura piorou. Somente 5,3%<br />

alegam que melhorou e 5,3% afirma que não mudou nada. Seria a escrita/leitura digital uma<br />

ameaça à escrita/leitura convencional? É uma hipótese. Ainda nesse mesmo item ‘se possível,<br />

justifique sua resposta’, <strong>de</strong>stacamos as seguintes respostas: escrevem da mesma forma que a<br />

escrita digital / os jovens, <strong>de</strong> um modo geral, têm preguiça <strong>de</strong> ler e escrever / não sabem<br />

interpretar, relatar um fato nem uma simples narrativa / um empobrecimento geral, muito<br />

simbolismo, que para a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, ou melhor, para a geração <strong>de</strong>les faz sentido, mas não<br />

para minha geração / parece que piorou, é muito sério afirmar com toda convicção que<br />

piorou / as palavras são abreviadas, que horror!. Certificamos que há um conflito entre os<br />

educadores e estudantes que po<strong>de</strong>ríamos caracterizar como conflito <strong>de</strong> gerações e problemas<br />

com o ensino e aprendizagem da língua materna. Um <strong>de</strong>safio para a escola e educadores,<br />

como já citamos nessa pesquisa.<br />

Esse resultado permite, previamente, concluir que há mudanças sim, porém não se<br />

sabe bem on<strong>de</strong> se percebem melhoras, pioras e as implicações que envolvem. Demanda mais<br />

estudo sobre essa questão e até mesmo porque é uma realida<strong>de</strong> que se apresenta em mutação.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos cedo para medir as conseqüências e os rumos que possa tomar essa questão.<br />

Asseguramos que o mercado da informática, junto à Internet, está em constante mutação e<br />

oferece novida<strong>de</strong>s cada vez mais sofisticadas para edição <strong>de</strong> textos, programas <strong>de</strong> revisão<br />

ortográfica e dicionário eletrônico.<br />

105


Que as expectativas os educadores têm sobre o futuro da escrita/leitura digital foi um<br />

item <strong>de</strong> resposta aberta, com opção <strong>de</strong>, ‘se possível, justifique sua resposta’.<br />

Nas diversas respostas <strong>de</strong>stacamos: a língua portuguesa, já é complexa por natureza,<br />

<strong>de</strong>verá sofrer modificações / acho que essa modalida<strong>de</strong> veio para ficar, porém é preciso<br />

saber, e bem, a norma culta da língua, e mais, saber quando usar uma e outra / <strong>de</strong> forma<br />

preocupante, hoje, a informática faz parte <strong>de</strong> nossas vidas / os alunos não se preocupam em<br />

apren<strong>de</strong>r / Torre <strong>de</strong> Babel Digital / A língua é viva e está sujeita a mudanças! / Há dois<br />

caminhos: a acomodação ou a valorização da linguagem culta! / Assim como o aluno não<br />

sabe fazer contas, não vão saber escrever na linha. Percebemos que as expectativas dos<br />

educadores são preocupantes e <strong>de</strong>mandam atitu<strong>de</strong>s e intervenção da escola para lidar com essa<br />

realida<strong>de</strong>.<br />

Mediante esses dados apurados, <strong>de</strong>sconhecemos as dimensões dos problemas e as<br />

implicações que essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita possa trazer para a formação dos alunos no que<br />

tange ao domínio <strong>de</strong> escrita e leitura padrão. Porém, estamos certos <strong>de</strong> que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

intervenções nas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita dos estudantes.<br />

106


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com o <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias e velocida<strong>de</strong>s, a difusão e edição da escrita e<br />

a leitura ganham novos suportes <strong>de</strong> edição e divulgação. Conseqüentemente, novas práticas <strong>de</strong><br />

leitura e escrita são constituídas. No ciberespaço, emergem gêneros lingüísticos que se<br />

perpetuam e apontam mudanças nas práticas educacionais, nas organizações sociais e na<br />

construção do discurso na socieda<strong>de</strong>.<br />

Ao realizar essa pesquisa, observamos que há uma gran<strong>de</strong> preocupação dos<br />

educadores com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura dos alunos nas escolas pesquisadas.<br />

Percebemos que os alunos mostram menos interesse e motivação pela leitura e escrita<br />

convencionais. A preocupação com o tempo é evi<strong>de</strong>nte nas atitu<strong>de</strong>s e na forma com que lidam<br />

com a escrita e a leitura. Pautam-se por atitu<strong>de</strong>s que possibilitam economia <strong>de</strong> tempo.<br />

Essa pesquisa possibilitou-nos levantar muitas questões. Algumas apresentam<br />

respostas, outras comportam mais estudo e outras, sugerem e, até mesmo, possibilitam outras<br />

pesquisas. Nosso trabalho apresentou um esforço para compreen<strong>de</strong>r sobre as práticas <strong>de</strong><br />

leitura/escrita que acontecem no ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos, enfatizando o MSN<br />

Messenger e o Orkut. Compreen<strong>de</strong>r que língua é essa e quais os impactos, ou seja, as<br />

implicações que po<strong>de</strong>m ser percebidas na escrita/leitura convencional dos alunos, nos espaços<br />

escolares, foi um dos nossos objetivos. Seria a hibridização das línguas, on<strong>de</strong> os discursos se<br />

misturam e incorporam a outros elementos paralingüísticos na escrita? Como afirma Lúcia<br />

Santaella, a hibridização já está incorporada na essência da própria linguagem<br />

hipermidiática 225 .<br />

Buscamos aguçar e potencializar reflexões sobre essas implicações que atingem o uso<br />

e a aprendizagem da escrita convencional. Apontamos as mudanças que se estabelecem e são<br />

percebidas na contemporaneida<strong>de</strong> através das tecnologias e velocida<strong>de</strong>s, principalmente nos<br />

meios <strong>de</strong> comunicação e que po<strong>de</strong>m interferir nas práticas <strong>de</strong> leitura e escrita convencional,<br />

que envolvem também o virtual/digital; o uso da oralida<strong>de</strong> na escrita convencional, quando se<br />

faz necessário o uso da língua padrão. As trocas <strong>de</strong> letras nos parecem como o maior<br />

problema. Há também, a questão da memorização visual e auditiva que po<strong>de</strong>m interferir no<br />

uso da escrita padrão.<br />

225<br />

SANTAELLA, Lúcia. Culturas e artes do pós <strong>–</strong> humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo:<br />

Paulus, 2ª edição, 2004, p. 147.<br />

107


Buscamos saber também como os educadores percebem os problemas das práticas <strong>de</strong><br />

escrita e leitura e como isso ganha sentido nos espaços escolares. E que <strong>de</strong>mandas po<strong>de</strong>m ser<br />

percebidas nos espaços escolares com relação à escrita/leitura convencional.<br />

Através dos questionários, observamos e confirmamos nossa hipótese <strong>de</strong> que a escola<br />

não é receptiva e não reconhece a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura do ciberespaço <strong>de</strong> site <strong>de</strong><br />

relacionamentos, como um meio <strong>de</strong> comunicação possível para as ativida<strong>de</strong>s escolares. Os<br />

educadores temem que, os alunos, ao fazerem uso <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong>, possam adquirir vícios<br />

<strong>de</strong> escrita e dúvidas quanto ao domínio da ortografia, das estruturas formais do texto, dos<br />

gêneros discursivos e outras implicações que envolvem o ensino e a aprendizagem da língua.<br />

Os educadores alegam que, ao fazerem uso <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita e leitura, os alunos<br />

escrevem e lêem menos. Demonstram pioras na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita e<br />

leitura. Alegam também que o uso repetitivo da escrita e leitura incorreta são preocupantes, <strong>de</strong><br />

modo geral. Isso foi certificado através dos relatórios <strong>de</strong> respostas dos questionários dos<br />

educadores.<br />

Observamos através da pesquisa que as escolas pesquisadas fazem uso <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita convencional nas situações <strong>de</strong> aprendizagem. A escrita e a leitura do ciberespaço <strong>de</strong><br />

sites <strong>de</strong> relacionamentos são usadas somente para interagirem com amigos no ciberespaço,<br />

fora dos ambientes escolares. Isso foi o que percebemos ao conferir os conteúdos dos livros<br />

didáticos e ao analisar os questionários. Cabe ressaltar, também, que o livro didático <strong>de</strong><br />

Língua Portuguesa, adotado na Escola Dr. Abílio Machado 226 faz parte do Programa Nacional<br />

<strong>de</strong> Livro Didático (PNLD). No Colégio Losango 227 utilizam-se apostilas, próprias do Sistema<br />

<strong>de</strong> Ensino.<br />

Em <strong>de</strong>bates com os educadores, verificamos que há abordagens feitas por eles, em<br />

classe, sobre esse assunto, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacam que o uso da escrita <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong> acordo com cada<br />

interlocutor e com os espaços dos quais fazem uso. Para tal é estudado as variantes do<br />

discurso.<br />

226 O livro adotado nessa escola faz parte do Programa Livro na Escola 2005, do Governo do Estado <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais. É um livro <strong>de</strong> volume único, utilizado nas três séries, cuja autoria é: AMARAL, Emília, et al. Novas<br />

Palavras: Português <strong>–</strong> Ensino Médio. 2ed. São Paulo: FTD, 2003. Está dividido em três partes: literatura,<br />

gramática, redação/ leitura. Observamos que mais <strong>de</strong> 50% do livro é <strong>de</strong>dicado à literatura com 315 p. (51,47%),<br />

redação e leitura 110 p. (17,97%), gramática com 187 p. (30,56%) num montante <strong>de</strong> páginas 612 páginas. Para<br />

mais informação sobre o livro didático na escola cf. no site:<br />

http://www.educacao.mg.gov.br/in<strong>de</strong>x.asp?ID_PROJETO=28&ID_OBJETO=25726&ID_PAI=24437&tipo=Obj<br />

eto<br />

227 As apostilas são organizadas em forma <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>rnos, um ca<strong>de</strong>rno por bimestre que compõe todas as disciplinas<br />

do curso, distribuído em quatro bimestres por ano. O conteúdo <strong>de</strong> Língua Portuguesa está dividido entre<br />

gramática/texto e literatura. A referência é; Anglo: ensino médio: apostila ca<strong>de</strong>rno. São Paulo: 2002, Gráfica e<br />

Editora Anglo Ltda.<br />

108


Ao verificarmos a relação das práticas <strong>de</strong> leitura e escrita do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong><br />

relacionamentos com as convencionais, das quais professores e alunos fazem uso, verificamos<br />

que essa questão perpassa por múltiplas preocupações. Como por exemplo, o hábito <strong>de</strong> leitura<br />

dos estudantes nos livros impressos <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar e, conseqüentemente a escrita é um<br />

problema sério nas escolas. O índice <strong>de</strong> estudantes que apresenta dificulda<strong>de</strong>s com a leitura e<br />

escrita convencional é significativo e <strong>de</strong>ixa preocupado o corpo docente das escolas. Os<br />

estudantes apresentam dificulda<strong>de</strong>s ao ler, escrever, interpretar as tarefas escolares<br />

corriqueiras. Conseqüentemente, apresentam resultados baixos nas ativida<strong>de</strong>s avaliativas. As<br />

queixas dos professores são generalizadas neste aspecto, é o que confirmamos em <strong>de</strong>bates no<br />

<strong>de</strong>correr da realização <strong>de</strong>sta pesquisa. O uso da oralida<strong>de</strong> na escrita é preocupante. Por outro<br />

lado, os estudantes possuem o domínio da escrita/leitura virtual/digital com as variantes que<br />

as envolvem. Muitos apresentam competência, domínio e fluência e as praticam no<br />

ciberespaço sem resistências, com criativida<strong>de</strong>, por prazer e entretenimento.<br />

Sabemos que as escolas, para administrarem seus objetivos, conflitos, <strong>de</strong>mandas e<br />

nortear o ensino, contam com as políticas pedagógicas que zelam pelas questões do ensino.<br />

Essas políticas pedagógicas contam, na sua elaboração, com intelectuais brasileiros e até<br />

mesmo estrangeiros <strong>de</strong> diversas áreas dos saberes. As que se referem ao ensino da Língua<br />

Portuguesa <strong>de</strong>terminam que a escola <strong>de</strong>ve preparar o aluno para a vida, qualificando-o para o<br />

aprendizado permanente e para o exercício da cidadania. Nesta mesma direção, retomamos o<br />

discurso que está implícito no CBC quando diz que a linguagem é atitu<strong>de</strong> interativa em que<br />

nos construímos como sujeitos sociais, autores e interlocutores capazes <strong>de</strong> usar a língua<br />

materna para expressar em varieda<strong>de</strong>s e registros <strong>de</strong> linguagem pertinentes e a<strong>de</strong>quados às<br />

diferentes situações comunicativas. Tal propósito implica o acesso à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usos da<br />

língua, em especial às varieda<strong>de</strong>s cultas e aos gêneros <strong>de</strong> discurso do domínio público que as<br />

exigem, condição necessária ao aprendizado permanente e à inserção social.<br />

A aprendizagem, no universo dos conteúdos disciplinares, é um processo <strong>de</strong><br />

construção contínuo. Compete aos educadores mediar processos para o <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

estudantes. É através da escrita e leitura que os cidadãos adquirem, assimilam e apropriam dos<br />

bens culturais e se constituem sujeitos. Os educadores <strong>de</strong>vem possuir conhecimentos,<br />

competências e responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar e informar seus alunos, preparando-os para o<br />

trabalho e para a vida e isso está previsto na legislação e nos direitos da criança e adolescente.<br />

109


Cabe à escola reconhecer que um dia ela foi a <strong>de</strong>tentora 228 do conhecimento. Hoje com as<br />

estruturas dos saberes abalados, uma característica contemporânea, novas <strong>de</strong>mandas são<br />

atribuídas à escola e a escrita e a leitura são um <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios.<br />

Com relação ao uso da informática, na educação, linguagem e cognição, Carla<br />

Coscarelli afirma que a informática, fruto das evoluções tecnológicas, po<strong>de</strong> ser um recurso<br />

consi<strong>de</strong>rável para se trabalhar o <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem dos estudantes. A<br />

informática propicia múltiplas possibilida<strong>de</strong>s e opções <strong>de</strong> sites que oferecem informação e<br />

entretenimento que po<strong>de</strong>m ser explorados nas tarefas escolares 229 . Portanto, nada impe<strong>de</strong> o<br />

uso da informática nas salas <strong>de</strong> aulas como uma ferramenta para a construção dos saberes.<br />

Depois <strong>de</strong> realizarmos esse estudo sobre as práticas <strong>de</strong> leitura/escrita ao longo da<br />

história e as atuais que envolvem virtual/digital no ciberespaço e sobre as práticas <strong>de</strong><br />

leitura/escrita nas escolas <strong>de</strong> Ensino Médio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga-MG, concluímos que a<br />

escola <strong>de</strong>ve estar atenta às mudanças <strong>de</strong> cada época e compreendê-las. Porém faz-se<br />

necessário uma postura firme e consciente <strong>de</strong> sua atribuição. Nessa direção concordamos<br />

com a afirmativa <strong>de</strong> Jean Hébrard quando afirma que, na escola, é preciso haver um objeto<br />

fixo, que não mu<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> hoje é reinventar uma escola que seja capaz<br />

<strong>de</strong> assumir uma posição adulta. O mesmo, cita que concorda com a posição <strong>de</strong> Hannah<br />

Arendt, quando ela afirma que na crise da cultura, a função da escola é assumir a posição do<br />

passado, não a posição do futuro, porque o futuro é a invenção da nova geração. Não po<strong>de</strong> ser<br />

a invenção da geração prece<strong>de</strong>nte. Para que a nova geração possa inventar o futuro é preciso<br />

que a antiga geração, nós, os professores assumamos a posição <strong>de</strong> passado 230 .<br />

Enten<strong>de</strong>mos que a escola <strong>de</strong>ve ser um referencial, um porto seguro, na qual os<br />

estudantes possam se espelhar. Jean Hébrard discorre que a ação humana não po<strong>de</strong> esperar o<br />

mo<strong>de</strong>lo. É preciso haver uma ação antes <strong>de</strong> se estar seguro <strong>de</strong> que um bom mo<strong>de</strong>lo existe 231 .<br />

Nessa direção, verificamos que a linguagem líquida, do ciberespaço está em constituição, não<br />

é normatizada, apenas convenções entre grupos. Ela possui certa plasticida<strong>de</strong>, liqui<strong>de</strong>z,<br />

leveza, porém com sua <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong> e implicações. Suas características não estão<br />

normatizadas. Nesta direção ressaltamos a importância da escola estar atenta ao que acontece<br />

fora <strong>de</strong> seu espaço, não para trazer a rua para <strong>de</strong>ntro da escola, como citamos em Juarez<br />

228 Consi<strong>de</strong>ra-se que a escola até aqui era a <strong>de</strong>tentora do conhecimento. O fim do século XX, com as novas<br />

tecnologias, configura-se com o rompimento <strong>de</strong> fronteiras e estruturas rígidas on<strong>de</strong> o ser já não mais o é. O<br />

conhecimento se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> seu trânsito, <strong>de</strong> seu lugar.<br />

229 Ver COSCARELLI, Carla e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs). Letramento Digital: aspectos sociais e<br />

possibilida<strong>de</strong>s pedagógicas. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005, p. 25-40.<br />

230 HÉBRAD, Jean (2000). “O objetivo da escola é a cultura, não a vida mesma (em entrevista)”, Presença<br />

Pedagógica, vol. 6, nº 33. Belo Horizonte, Dimensão.<br />

231 Ibi<strong>de</strong>m.<br />

110


Dayrell, mas para compreen<strong>de</strong>r e saber lidar com as experiências culturais <strong>de</strong> interação e<br />

sociabilida<strong>de</strong>, interativida<strong>de</strong> e entretenimento que envolve os jovens.<br />

Nosso trabalho procurou refletir sobre os conflitos, resistências e adaptações efetuadas<br />

por estudantes e educadores frente às transformações pelas quais as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita estão passando em função da emergência do mundo virtual/digital.<br />

Ao concluir esse estudo <strong>de</strong> pesquisa, acreditamos que, no universo e na complexida<strong>de</strong><br />

que o tema <strong>de</strong>manda, é possível perceber que problemas existem nas práticas <strong>de</strong> leituras e<br />

escrita convencionais. E reconhecemos que isso se acentuou com as práticas <strong>de</strong> leitura e<br />

escrita do ciberespaço <strong>de</strong> sites <strong>de</strong> relacionamentos que envolvem virtual/digital,<br />

principalmente nos espaços on<strong>de</strong> os estudantes fazem uso da escrita e leitura livre <strong>de</strong> normas<br />

convencionais. Essa realida<strong>de</strong> implica na alfabetização e no letramento dos estudantes. A<br />

escrita e a leitura virtual/digital po<strong>de</strong>m trazer benefícios ao ensino, porém a escola <strong>de</strong>ve estar<br />

atenta e há que fazer intervenções, conforme constatamos. Segundo Lucia Santaella as<br />

mudanças cognitivas emergentes anunciam um novo tipo <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> perceptiva sintética<br />

e uma dinâmica mental distribuída que essas mudanças já colocaram em curso e que <strong>de</strong>verão<br />

sedimentar-se cada vez mais no futuro 232 .<br />

Desejamos que essa pesquisa tenha contribuído aos interessados nesse tema: práticas<br />

<strong>de</strong> leitura e escrita, enquanto constituidoras dos sujeitos Que o diálogo e a compreensão <strong>de</strong><br />

uma possível ecologia cognitiva 233 entre as práticas <strong>de</strong> leitura/escrita convencional e a virtual<br />

/digital sejam um incentivo para possíveis trabalhos <strong>de</strong> pesquisa em função <strong>de</strong> melhor<br />

capacitação do aprendizado e domínio da linguagem nas suas diversas variantes discursivas.<br />

Que escrita e leitura virtual/digital possam ser i<strong>de</strong>ntificadas e compreendidas como mais uma<br />

possível forma <strong>de</strong> comunicação, interações, interlocuções, sociabilida<strong>de</strong> e entretenimento dos<br />

sujeitos nos diversos gêneros dos discursos que se estabelecem na socieda<strong>de</strong>, a partir do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias da comunicação. Porém, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a sua<br />

originalida<strong>de</strong>, sua normatização, importância e formalida<strong>de</strong>. Saber o lugar que ela ocupa na<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> um povo, como ferramenta <strong>de</strong> apropriação da cultura, aquisição <strong>de</strong><br />

conhecimento e <strong>de</strong> intercâmbio cultural e científico.<br />

Retomamos a questão principal <strong>de</strong>ste nosso trabalho <strong>de</strong> pesquisa para finalizar nossa<br />

reflexão sobre as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita interativas dos estudantes no ciberespaço <strong>de</strong> sites<br />

<strong>de</strong> relacionamentos. As mesmas alteram as práticas convencionais? Concluímos que po<strong>de</strong>m<br />

232<br />

SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus,<br />

2004, p. 184.<br />

233<br />

Cf. nota <strong>de</strong> rodapé nº 76.<br />

111


alterar sim, porque essas práticas possibilitam um novo leitor/escritor, que faz uso <strong>de</strong> recursos<br />

paralingüísticos, <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong> letras para se comunicarem. Portanto, trata-se <strong>de</strong><br />

uma situação que aponta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção e intervenção dos educadores,<br />

principalmente quando os gêneros são usados nos espaços que o uso da língua <strong>de</strong>manda uso<br />

da língua padrão. Cabe como um dos <strong>de</strong>safios contemporâneo, a escola mediar essa realida<strong>de</strong>,<br />

enfrentar as incertezas e ensinar a compreensão como afirma Edgar Morin 234 para<br />

compreen<strong>de</strong>r que linguagem é essa e saber como lidar com essa realida<strong>de</strong> nos espaços<br />

escolares.<br />

234<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:<br />

UNESCO, 2002.<br />

112


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CÔRTES, Celina. Entrevista Charles Melman. Istoé, São Paulo, n. 1824, p.7-11, setembro.<br />

2004.<br />

COSCARELLI, Carla Viana (org.). Novas tecnologias, novos textos, novas formas <strong>de</strong> pensar.<br />

2ª ed. Belo Horizonte, Autêntica, 2003.<br />

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______. Apocalípticos e integrados. 6ª Ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2001.<br />

114


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115


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JESÚS, Martín-Barbero. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva. 2ª<br />

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JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira <strong>de</strong><br />

criar e comunicar. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.<br />

KATO, Mary A. No mundo da escrita; uma perspectiva psicolingüística. 5. ed. São Paulo:<br />

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KLEIMAN, Angela B. & MATENCIO, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Meirelles (orgs.). Letramento e<br />

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Campinas, SP: Mercado das Letras, 2005.<br />

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______. As tecnologias da Inteligência. 14ª ed. São Paulo - SP: Editora 34, 2006.<br />

MARCUSCHI, Luis Antônio. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1991.<br />

MARTINO, Luís Mauro. Estética da comunicação: da consciência comunicativa ao “eu”<br />

digital. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.<br />

MARTINS, Francisco Menezes & SILVA, Juremir Machado da. (orgs). Para navegar no<br />

século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs, 2003.<br />

MELMAN, Charles. O homem sem gravida<strong>de</strong>, gozar a qualquer preço. Ed. Companhia <strong>de</strong><br />

Freud, 2003.<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6ª ed. São Paulo: Cortez;<br />

Brasília, DF: UNESCO, 2002.<br />

OLIVEIRA, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Abreu <strong>de</strong>. BESSA, P. P. & REDMOND, W. V. Literatura &<br />

mídia: percursos perversos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições Galo Branco, 2004.<br />

ORLANDI, Eni Puccinelli. A leitura e os leitores. Campinas, SP: Pontes, 1998.<br />

OSTROWER, Fayga. Criativida<strong>de</strong> e processos <strong>de</strong> criação. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 1994.<br />

PERRENOUD, Philippe... et al. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos<br />

professores e o <strong>de</strong>safio da avaliação. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.<br />

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Flores da escrivaninha: São Paulo, Companhia das Letras,<br />

1990.<br />

PIERCE, Charles. San<strong>de</strong>rs. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2005.<br />

116


PLATÃO. Vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. Coleção os pensadores, 1999.<br />

PINTO, Álvaro Vieira. O conceito <strong>de</strong> tecnologia. 2ª edição. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Contraponto,<br />

2005; volume II.<br />

RENATO, Ortiz. Mundialização e cultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000.<br />

SANTAELLA, Lucia. A teoria geral dos signos. São Paulo: Editora Pioneira, 2000.<br />

_____. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus,<br />

2004.<br />

______. O que é semiótica. São Paulo: Ed.Brasiliense, 2005.<br />

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta curricular <strong>de</strong><br />

português. Educação Básica. Ensino Fundamental, 2005.<br />

SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Proposta curricular <strong>de</strong><br />

português. Educação Básica. Ensino Médio, 2005.<br />

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações curriculares para o ensino médio:<br />

linguagens, códigos e suas tecnologias. Vol.1, Brasília: Ministério da Educação Básica, 2006.<br />

THOMPSON, John B.A mídia e a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: uma teoria social da mídia: 3ª Edição<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.<br />

SILVA, Antônio da (org.). A língua que falamos <strong>–</strong> Português: história, variação e discurso.<br />

São Paulo: Globo, 2005.<br />

SILVA, Ezequiel Theodoro da (coord.). A leitura nos oceanos da Internet. São Paulo: Cortez,<br />

2003.<br />

SOLVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Documentos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>; uma introdução às teorias do<br />

currículo. Belo horizonte: Autêntica, 2000.<br />

SOARES, Magda. Linguagem e escola; uma perspectiva social. 14. ed. São Paulo: Ática,<br />

1996.<br />

______ O que é letramento, Diário na Escola, Diário Gran<strong>de</strong> ABC, Santo André, 2003.<br />

VANOYE, Francis. Usos da linguagem; problemas e técnicas na produção oral e escrita. 10.<br />

ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.<br />

ZENHA, Celeste. Mídia e informação no cotidiano contemporâneo in FILHO, Daniel Aarão<br />

Reis. O século XX: Tempo das dúvidas <strong>–</strong> do <strong>de</strong>clínio das utopias as globalizações. 2ª edição.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. V. 3, p. 227-247.<br />

117


SITES:<br />

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http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2479,1.shl Acessado em 20/03/07<br />

Entrevista com Jean Hébrard<br />

http://www.bienlire.education.fr/04-media/a-interview21.asp Acessada em 27/12/07<br />

http://scripts.dwebd.net/abreviaturas.php acessado em 05/03/08<br />

http://radiofobia.zip.net/arch2004-09-01_2004-09-15.html Acessado em 05/03/08<br />

SOFWARE:<br />

SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 13.0 for Windows. Copyright (c) SPSS<br />

Inc., 1989 - 2004.<br />

118


ANEXOS<br />

Anexo A Questionário <strong>de</strong> pesquisa dos estudantes<br />

1. Dados pessoais:<br />

A. Ida<strong>de</strong>:<br />

a) menos <strong>de</strong> 14 anos<br />

b) <strong>de</strong> 14 a 16 anos<br />

c) <strong>de</strong> 17 a 19 anos<br />

d) mais <strong>de</strong> 19<br />

B. Sexo:<br />

a) feminino<br />

b) masculino<br />

c) outro<br />

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA <strong>–</strong> ALUNOS<br />

Mestranda: Geralda Maria Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo<br />

<strong>FUNEDI</strong> - <strong>UEMG</strong><br />

2. Informações Culturais:<br />

A. Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> acontecimentos atuais?<br />

a) Jornal escrito<br />

b) Telejornal<br />

c) Jornal falado (rádio)<br />

d) Revista<br />

e) Internet<br />

B. Com que freqüência você lê livros?<br />

a) raramente<br />

b) um livro ao mês<br />

c) mais <strong>de</strong> um livro ao mês<br />

d) somente para fazer trabalhos escolares<br />

e) nunca<br />

C. Com que freqüência você vai a eventos culturais como: teatros, shows musicais,<br />

exposições <strong>de</strong> artes, museus e etc.<br />

a) raramente<br />

b) às vezes<br />

c) sempre<br />

d) nunca<br />

Para respon<strong>de</strong>r as próximas questões, leia a seguinte informação:<br />

119


Consi<strong>de</strong>ra-se aqui como escrita/leitura digital todo sistema eletrônico <strong>de</strong> escrita e leitura que<br />

processa através <strong>de</strong> um teclado ou <strong>de</strong> qualquer sistema digital eletrônico para uma tela. Os<br />

quais po<strong>de</strong>m ser: um computador, um notebook, um palmtop, um laptop, um caixa eletrônico,<br />

um telefone celular ou algo semelhante.<br />

3. Com relação à escrita/leitura digital:<br />

A. Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

a) sempre<br />

b) às vezes<br />

c) nunca<br />

B. On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

a) Internet<br />

b) celular<br />

c) outros; ___________________________________________________________________<br />

C. On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

a) Internet<br />

b) celular<br />

c) outros; ___________________________________________________________________<br />

D. E na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

a) MSN<br />

b) Orkut<br />

c) e-mail<br />

d) outros; ___________________________________________________________________<br />

Se possível justifique sua resposta:_______________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

E. De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

a) sigo a norma culta da língua<br />

b) não me preocupo com normas, escrevo do jeito que falo<br />

c) escrevo <strong>de</strong> acordo com cada espaço <strong>de</strong> que estou fazendo uso.<br />

d) escrevo <strong>de</strong> forma mista.<br />

F. Que vantagens essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita digital lhe oferece? _______________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

G. Em que situação você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

a) fazer ativida<strong>de</strong>s escolares<br />

b) interagir com os amigos<br />

c) Passatempo<br />

d) Fazer pesquisa<br />

e) Outras ___________________________________________________________________<br />

120


H. On<strong>de</strong> a sua escrita é mais livre, criativa?<br />

a) e-mail<br />

b) Orkut<br />

c) MSN Messenger<br />

d) outros; ___________________________________________________________________<br />

Se possível justifique sua resposta; _______________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

I. Você lê todas as mensagens que recebe do início ao fim?<br />

a) sempre<br />

b) às vezes<br />

c) superficialmente<br />

d) nunca<br />

J. O que mudou na sua escrita ao fazer uso da leitura/escrita digital? ____________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

L. Você escreve mais ou menos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital?<br />

a) escrevo e leio mais<br />

b) escrevo e leio menos<br />

c) não mudou nada<br />

M. Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua escrita e leitura?<br />

a) melhorou<br />

b) piorou<br />

c) não mudou<br />

4. Análise socioeconômica:<br />

A. De acordo com o salário mínimo atual, qual é a renda mensal familiar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> você vive?<br />

a) até 1 salário mínimo<br />

b) <strong>de</strong> 1 a 2 s/m<br />

c) <strong>de</strong> 2 a 3 s/m<br />

d) <strong>de</strong> 3 a 5 s/m<br />

e) mais <strong>de</strong> 5<br />

B. Você tem ativida<strong>de</strong> remunerada?<br />

a) sim, trabalho<br />

b) eventualmente<br />

c) mesada<br />

d) não<br />

C. Você tem computador (PC) com Internet em casa?<br />

a) sim<br />

b) não<br />

c) não, mas uso LAN House<br />

d) outros<br />

______________________________________________________________________<br />

FIM DO QUESTIONÁRIO<br />

OBRIGADA PELA PARTICIPAÇÃO E COLABORAÇÃO!!!<br />

121


Anexo B Questionário <strong>de</strong> pesquisa dos educadores<br />

4. Dados pessoais:<br />

A. Ida<strong>de</strong>:<br />

a) <strong>de</strong> 26 a 30 anos<br />

b) <strong>de</strong> 31 a 35 anos<br />

c) mais <strong>de</strong> 35<br />

B. Sexo:<br />

a) feminino<br />

b) masculino<br />

C. Escolarida<strong>de</strong>:<br />

a) superior incompleto<br />

b) superior<br />

c) pós-graduado<br />

d) mestrado<br />

e) doutorado<br />

f) pós-doutorado<br />

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA DOCENTES<br />

Mestranda: Geralda Maria Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo<br />

<strong>FUNEDI</strong> <strong>UEMG</strong><br />

5. Informações Culturais:<br />

A. Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informações?<br />

a) Jornal escrito<br />

b) Telejornal<br />

c) Jornal falado (rádio)<br />

d) Revista<br />

e) Internet<br />

f) Outros<br />

______________________________________________________________________<br />

B. Com que freqüência você lê livros?<br />

a) raramente<br />

b) um livro ao mês<br />

c) mais <strong>de</strong> um livro ao mês<br />

d) nunca<br />

Para respon<strong>de</strong>r as próximas questões, leia a seguinte informação:<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se aqui como escrita/leitura digital todo sistema eletrônico <strong>de</strong> escrita e leitura que<br />

processa através <strong>de</strong> um teclado ou <strong>de</strong> qualquer sistema digital eletrônico para uma tela. Os<br />

quais po<strong>de</strong>m ser: um computador, um notebook, um palmtop, um laptop, um caixa eletrônico,<br />

um telefone celular ou algo semelhante.<br />

122


6. Com relação à escrita/leitura digital:<br />

A. Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

a) sempre<br />

b) às vezes<br />

c) nunca<br />

B. On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

a) Internet<br />

b) Celular<br />

c) Outros; quais? _____________________________________________________________<br />

C. On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

a) Internet<br />

b) Celular<br />

c) Outros; quais? _____________________________________________________________<br />

D. Ao navegar na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

a) MSN Messenger<br />

b) Orkut<br />

c) E-mail<br />

d) Outros; quais? _____________________________________________________________<br />

E. De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

a) sigo a norma culta da língua<br />

b) não me preocupo com normas, escrevo do jeito que falo<br />

c) escrevo <strong>de</strong> acordo com cada espaço que estou fazendo uso.<br />

d) escrevo <strong>de</strong> forma mista.<br />

F. Em sua opinião que vantagens ou <strong>de</strong>svantagens essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura digital<br />

oferece? ____________________________________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

G. Como você percebe o uso da escrita/leitura digital em seus alunos?<br />

a) como problema<br />

b) naturalmente<br />

c) não me preocupo<br />

Se possível justifique sua resposta: ______________________________________________<br />

H. O que mudou na escrita/leitura <strong>de</strong> seus alunos <strong>de</strong>pois que eles passaram fazer uso da<br />

escrita/leitura digital? _________________________________________________________<br />

I. E na sua escrita/leitura o que mudou? ___________________________________________<br />

J. Depois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital os alunos?<br />

a) escrevem e lêem mais<br />

b) escrevem e lêem menos<br />

c) não mudou nada<br />

Se possível justifique sua resposta: _______________________________________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

123


L. Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura <strong>de</strong>les?<br />

a) melhorou<br />

b) piorou<br />

c) não mudou<br />

Se possível justifique sua resposta: _______________________________________________<br />

M. Que expectativas você tem sobre o futuro da escrita/leitura digital? Se possível faça uma<br />

breve reflexão sobre como a escola <strong>de</strong>ve lidar com essa realida<strong>de</strong>:______________________<br />

___________________________________________________________________________<br />

FIM DO QUESTIONÁRIO<br />

OBRIGADA PELA PARTICIPAÇÃO E COLABORAÇÃO!!!<br />

124


Anexo C Ofício 001/07<br />

Formiga, Setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Ofício Nº 001/07<br />

Ilmº Sr.<br />

Leonard <strong>de</strong> Paula Faria<br />

DD Diretor<br />

Escola Estadual Dr. Abílio Machado. Formiga <strong>–</strong> MG<br />

Prezado Senhor,<br />

Por meio <strong>de</strong>ste instrumento, solicito <strong>de</strong> vossa Senhoria autorização para<br />

<strong>de</strong>senvolver minha pesquisa <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> Mestrado. A temática pesquisada<br />

é: “Práticas <strong>de</strong> Escrita e Leitura na Era Digital”. Constam como prováveis<br />

ativida<strong>de</strong>s: questionário, entrevistas, coleta <strong>de</strong> textos escritos pelos alunos,<br />

<strong>de</strong>bates e etc. A qual envolverá alunos <strong>de</strong> 13 a 18 anos (últimas séries do ensino<br />

fundamental e as três séries do ensino médio), professores, especialistas,<br />

funcionários, pais, etc. Posteriormente encaminharei a documentação do parecer<br />

do Conselho <strong>de</strong> Ética da instituição - <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong>.<br />

No aguardo <strong>de</strong> sua especial atenção, aproveito a oportunida<strong>de</strong> para reiterar<br />

estima e consi<strong>de</strong>ração.<br />

Atenciosamente,<br />

________________________________________<br />

Mestranda Geralda Mª Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo.<br />

E-mail: ge<strong>maia</strong>ze@yahoo.com.br<br />

125


Anexo D Ofício 002/07<br />

Formiga, Setembro <strong>de</strong> 2007.<br />

Ofício Nº 002/07<br />

Ilmº Sr.<br />

Marcelo Alves<br />

DD Diretor<br />

Escola Ângulo <strong>–</strong> Sistema <strong>de</strong> Ensino - Formiga - MG<br />

Prezado Senhor,<br />

Por meio <strong>de</strong>ste instrumento, solicito <strong>de</strong> vossa Senhoria autorização para<br />

<strong>de</strong>senvolver minha pesquisa <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> Mestrado. A temática pesquisa é:<br />

“Práticas <strong>de</strong> Escrita e Leitura na Era Digital”. Constam como prováveis<br />

ativida<strong>de</strong>s: questionário, entrevistas, coleta <strong>de</strong> textos escritos pelos alunos, <strong>de</strong>bates<br />

e etc. A qual envolverá alunos <strong>de</strong> 13 a 18 anos (últimas séries do ensino<br />

fundamental e as três séries do ensino médio), professores, especialistas,<br />

funcionários, pais, etc. Posteriormente encaminharei a documentação do parecer do<br />

Conselho <strong>de</strong> Ética da instituição <strong>–</strong> <strong>FUNEDI</strong>/<strong>UEMG</strong>.<br />

No aguardo <strong>de</strong> sua especial atenção, aproveito a oportunida<strong>de</strong> para reiterar<br />

estima e consi<strong>de</strong>ração.<br />

Atenciosamente,<br />

________________________________________<br />

Mestranda Geralda Mª Maia Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Azevedo.<br />

E-mail: ge<strong>maia</strong>ze@yahoo.com.br<br />

126


Anexo E Tabelas <strong>–</strong> Questionário dos estudantes<br />

TABELA 1<br />

Ida<strong>de</strong> dos estudantes pesquisados<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

De 14 a 16 anos 67 44,7 44,7<br />

De 17 a 19 anos 81 54,0 98,7<br />

Mais <strong>de</strong> 19 anos 2 1,3 100,0<br />

Total 150 100,0<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

Total<br />

TABELA 2<br />

Sexo:<br />

127<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

86 57,3 57,3<br />

64 42,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 3<br />

De acordo com o salário mínimo atual, qual é a renda mensal familiar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> você vive?<br />

Até 1 salário mínimo<br />

De 1 a 2 salários mínimos<br />

De 2 a 3 salários mínimos<br />

De 3 a 5 salários mínimos<br />

Mais <strong>de</strong> 5 salários mínimos<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

7 4,7 4,7<br />

19 12,7 17,3<br />

41 27,3 44,7<br />

45 30,0 74,7<br />

38 25,3 100,0<br />

150 100,0


Sim, trabalho<br />

Eventualmente<br />

Mesada<br />

Não<br />

Total<br />

Sim<br />

Não<br />

Não, mas uso Lan House<br />

Outros<br />

Total<br />

TABELA 4<br />

Você tem ativida<strong>de</strong> remunerada?<br />

128<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

28 18,7 18,7<br />

29 19,3 38,0<br />

25 16,7 54,7<br />

68 44,7 99,3<br />

150 100,0<br />

TABELA 5<br />

Você tem computador (PC) com Internet em casa?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

106 70,7 70,7<br />

19 12,7 83,3<br />

21 14,0 97,3<br />

4 2,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 6<br />

Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> acontecimentos atuais?<br />

Jornal escrito<br />

Telejornal<br />

Revista<br />

Internet<br />

Nula<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

6 4,0 4,0<br />

83 55,3 59,3<br />

6 4,0 63,3<br />

48 32,0 95,3<br />

7 4,7 100,0<br />

150 100,0


Raramente<br />

Um livro ao mês<br />

Mais <strong>de</strong> um livro ao mês<br />

Somente para fazer trabalhos<br />

Nunca<br />

Total<br />

TABELA 7<br />

Com que freqüência você lê livros?<br />

129<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

45 30,0 30,0<br />

34 22,7 52,7<br />

28 18,7 71,3<br />

41 27,3 98,7<br />

2 1,3 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 8<br />

Com que freqüência você vai a eventos culturais como: teatros, shows musicais,<br />

exposições <strong>de</strong> artes, museus e etc.<br />

Raramente<br />

Ás vezes<br />

Sempre<br />

Nunca<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

49 32,7 32,7<br />

77 51,3 84,0<br />

20 13,3 97,3<br />

4 2,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 9<br />

Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

Às vezes 41 27,3 27,3<br />

Sempre 109 72,7 72,7<br />

Total 150 100,0 100


Internet<br />

Celular<br />

Outros<br />

Sem resposta<br />

Nula<br />

Total<br />

Internet<br />

Celular<br />

Outros<br />

Nula<br />

Sem resposta<br />

Total<br />

MSN<br />

Orkut<br />

E-mail<br />

Outros<br />

Nula<br />

Sem resposta<br />

Total<br />

TABELA 10<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

120 80,0 80,0<br />

23 15,3 95,3<br />

2 1,3 96,7<br />

1 ,7 97,3<br />

4 2,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 11<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

130<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

130 86,7 86,7<br />

13 8,7 95,3<br />

2 1,3 96,7<br />

4 2,7 99,3<br />

1 ,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 12<br />

E na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

76 50,7 50,7<br />

32 21,3 72,0<br />

9 6,0 78,0<br />

12 8,0 86,0<br />

20 13,3 99,3<br />

1 ,7 100,0<br />

150 100,0


Sigo a norma culta da língua<br />

Não me preocupo com normas,<br />

escrevo do jeito que falo<br />

Escrevo <strong>de</strong> acordo com cada<br />

espaço que estou fazendo uso<br />

Escrevo <strong>de</strong> forma mista<br />

Nula<br />

Total<br />

TABELA 13<br />

De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

131<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

19 12,7 12,7<br />

95 63,3 76,0<br />

17 11,3 87,3<br />

18 12,0 99,3<br />

1 ,7 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 14<br />

Em que situação você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

Fazer ativida<strong>de</strong>s escolares<br />

Interagir com os amigos<br />

Passa tempo<br />

Fazer pesquisa<br />

Outras<br />

Sem resposta<br />

Nula<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

17 11,3 11,3<br />

74 49,3 60,7<br />

22 14,7 75,3<br />

16 10,7 86,0<br />

5 3,3 89,3<br />

15 10,0 99,3<br />

1 ,7 100,0<br />

150 100,0


E-mail<br />

Orkut<br />

MSN<br />

Outros<br />

Nula<br />

Total<br />

Sempre<br />

Ás vezes<br />

Superficialmente<br />

Nunca<br />

Total<br />

TABELA 15<br />

On<strong>de</strong> a sua escrita é mais livre, criativa?<br />

132<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

5 3,3 3,3<br />

36 24,0 27,3<br />

93 62,0 89,3<br />

10 6,7 96,0<br />

6 4,0 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 16<br />

Você lê todas as mensagens que recebe do início ao fim?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

75 50,0 50,0<br />

57 38,0 88,0<br />

16 10,7 98,7<br />

2 1,3 100,0<br />

150 100,0<br />

TABELA 17<br />

Você escreve mais ou menos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital?<br />

Escrevo e leio mais<br />

Escrevo e leio menos<br />

Não mudou nada<br />

Sem resposta<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

56 37,3 37,3<br />

18 12,0 49,3<br />

74 49,3 98,7<br />

2 56 37,3<br />

150 18 12,0


Melhorou<br />

Piorou<br />

Não Mudou<br />

Sem resposta<br />

Total<br />

TABELA 18<br />

Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua escrita e leitura?<br />

133<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

43 28,7 28,7<br />

22 14,7 43,3<br />

84 56,0 99,3<br />

1 ,7 100,0<br />

43 28,7 28,7


Anexo F Gráficos - Questionário dos estudantes<br />

Mais <strong>de</strong> 19 anos<br />

1,3%<br />

De 17 a 19 anos<br />

54,0%<br />

GRÁFICO 11<br />

GRÁFICO 12<br />

42,67%<br />

Sexo:<br />

57,33%<br />

Ida<strong>de</strong><br />

De 14 a 16 anos<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

44,7%<br />

134


De acordo com o salário mínimo atual, qual é a renda mensal<br />

familiar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> você vive?<br />

GRÁFICO 13<br />

GRÁFICO 14<br />

25,33%<br />

30,0%<br />

45,33%<br />

4,67%<br />

12,67%<br />

27,33%<br />

Voce tem ativida<strong>de</strong> remunerada?<br />

16,67%<br />

18,67%<br />

19,33%<br />

Até 1 salário<br />

mínimo<br />

De 1 a 2 salários<br />

mínimos<br />

De 2 a 3 salários<br />

mínimos<br />

De 3 a 5 salários<br />

mínimos<br />

Mais <strong>de</strong> 5<br />

salários mínimos<br />

Você tem ativida<strong>de</strong><br />

remunerada?<br />

Sim, trabalho<br />

Eventualmente<br />

Mesada<br />

Não<br />

135


GRÁFICO 15<br />

Você tem computador (PC) com Internet em casa?<br />

12,67%<br />

32,0%<br />

4,0%<br />

14,0%<br />

4,67% 4,0%<br />

2,67%<br />

70,67%<br />

55,33%<br />

Sim<br />

Não<br />

Não, mas uso Lan<br />

House<br />

Outros<br />

Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> acontecimentos<br />

atuais?<br />

GRÁFICO 16<br />

Jornal escrito<br />

Telejornal<br />

Revista<br />

Internet<br />

Nula<br />

136


GRÁFICO 17<br />

27,33%<br />

Com que freqüência você lê livros?<br />

18,67%<br />

1,33%<br />

22,67%<br />

30,0%<br />

Raramente<br />

Um livro ao mês<br />

Mais <strong>de</strong> um livro<br />

ao mês<br />

Somente para<br />

fazer trabalhos<br />

Nunca<br />

Com que freqüência você vai a eventos culturais como: teatros,<br />

shows musicais, exposições <strong>de</strong> artes, museus e etc.<br />

GRÁFICO 18<br />

13,33%<br />

51,33%<br />

2,67%<br />

32,67%<br />

Raramente<br />

Ás vezes<br />

Sempre<br />

Nunca<br />

137


Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

GRÁFICO 19<br />

GRÁFICO 20<br />

27,33%<br />

72,67%<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

15,33%<br />

0,67%<br />

1,33%<br />

2,67%<br />

80,0%<br />

Sempre<br />

Ás vezes<br />

Internet<br />

Celular<br />

Outros<br />

Sem resposta<br />

Nula<br />

138


GRÁFICO 21<br />

GRÁFICO 22<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

8,67%<br />

1,33%<br />

2,67%<br />

0,67%<br />

86,67%<br />

On<strong>de</strong> a sua escrita é mais livre, criativa?<br />

6,67%<br />

4,0%<br />

3,33%<br />

62,0%<br />

24,0%<br />

Internet<br />

Celular<br />

Outros<br />

Nula<br />

Sem resposta<br />

E-mail<br />

Orkut<br />

MSN<br />

Outros<br />

Nula<br />

139


GRÁFICO 23<br />

Você lê todas as mensagens que recebe do início ao fim?<br />

38,0%<br />

10,67%<br />

1,33%<br />

50,0%<br />

Sempre<br />

Ás vezes<br />

Superficialmente<br />

Nunca<br />

140


Anexo G Tabelas - Questionário dos educadores<br />

De 26 a 30 anos<br />

De 31 a 35 anos<br />

Mais <strong>de</strong> 35<br />

Total<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

Total<br />

Superior<br />

Pós-graduado<br />

Mestrado<br />

Total<br />

TABELA 19<br />

Ida<strong>de</strong>:<br />

141<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

3 15,8 15,8<br />

2 10,5 26,3<br />

14 73,7 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 20<br />

Sexo:<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

7 36,8 36,8<br />

12 63,2 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 21<br />

Escolarida<strong>de</strong>:<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

7 36,8 36,8<br />

10 52,6 89,5<br />

2 10,5 100,0<br />

19 100,0


Jornal escrito<br />

Telejornal<br />

Revista<br />

Internet<br />

Nulo<br />

Total<br />

TABELA 22<br />

Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informações?<br />

Raramente<br />

Um livro ao mês<br />

Mais <strong>de</strong> um livro ao mês<br />

Total<br />

142<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

2 10,5 10,5<br />

4 21,1 31,6<br />

1 5,3 36,8<br />

2 10,5 47,4<br />

10 52,6 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 23<br />

Com que freqüência você lê livros?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

4 21,1 21,1<br />

12 63,2 84,2<br />

3 15,8 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 24<br />

Com que freqüência você faz uso da escrita/leitura digital?<br />

Sempre<br />

Ás vezes<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

15 78,9 78,9<br />

4 21,1 100,0<br />

19 100,0


Internet<br />

Outros<br />

Nula<br />

Total<br />

Internet<br />

Outros<br />

Nula<br />

Total<br />

TABELA 25<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

16 84,2 84,2<br />

2 10,5 94,7<br />

1 5,3 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 26<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

143<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

17 89,5 89,5<br />

1 5,3 94,7<br />

1 5,3 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 27<br />

Ao navegar na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

MSN<br />

E-mail<br />

Outros<br />

Nula<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

1 5,3 5,3<br />

10 52,6 57,9<br />

3 15,8 73,7<br />

5 26,3 100,0<br />

19 100,0


Sigo a norma culta da língua.<br />

TABELA 28<br />

De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

Não me preocupo com normas, escrevo do jeito que leio<br />

Escrevo <strong>de</strong> acordo com cada espaço que estou fazendo u<br />

Escrevo <strong>de</strong> forma mista.<br />

Total<br />

TABELA 29<br />

144<br />

Freqüência Percentual<br />

Percentual<br />

Acumulado<br />

8 42,1 42,1<br />

1 5,3 47,4<br />

6 31,6 78,9<br />

4 21,1 100,0<br />

19 100,0<br />

Como você percebe o uso da escrita/leitura digital em seus alunos?<br />

Como problema<br />

Naturalmente<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

8 42,1 42,1<br />

8 57,9 100,0<br />

19 100,0<br />

TABELA 30<br />

Depois <strong>de</strong> fazer uso da escrita/leitura digital os alunos?<br />

Escrevem e lêem mais<br />

Escrevem e lêem menos<br />

Não mudou nada<br />

Sem resposta<br />

Total<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

1 5,3 5,3<br />

16 84,2 89,5<br />

1 5,3 94,7<br />

1 5,3 100,0<br />

19 100,0


Melhorou<br />

Piorou<br />

Não mudou<br />

Total<br />

TABELA 31<br />

Melhorou ou piorou a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita/leitura <strong>de</strong>les?<br />

Freqüência Percentual Percentual Acumulado<br />

1 5,3 5,3<br />

17 89,5 94,7<br />

1 5,3 100,0<br />

19 100,0<br />

145


Anexo H Gráficos - Questionário dos educadores<br />

GRÁFICO 24<br />

GRÁFICO 25<br />

63,16%<br />

10,53%<br />

52,63%<br />

Sexo:<br />

36,84%<br />

Escolarida<strong>de</strong>:<br />

36,84%<br />

Feminino<br />

Masculino<br />

Superior<br />

Pós-graduado<br />

Mestrado<br />

146


GRÁFICO 26<br />

GRÁFICO 27<br />

Qual é sua principal fonte <strong>de</strong> informações?<br />

52,63%<br />

10,53%<br />

10,53%<br />

21,05%<br />

5,26%<br />

Com que freqüência você lê livros?<br />

15,79%<br />

63,16%<br />

21,05%<br />

Jornal escrito<br />

Telejornal<br />

Revista<br />

Internet<br />

Nulo<br />

Raramente<br />

Um livro ao mês<br />

Mais <strong>de</strong> um livro<br />

ao mês<br />

147


GRÁFICO 28<br />

GRÁFICO 29<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a escrita digital?<br />

10,53%<br />

5,26%<br />

84,21%<br />

On<strong>de</strong> você mais usa a leitura digital?<br />

5,26%<br />

5,26%<br />

89,47%<br />

Internet<br />

Outros<br />

Nula<br />

Internet<br />

Outros<br />

Nula<br />

148


Ao navegar na Internet on<strong>de</strong> você mais usa a escrita/leitura digital?<br />

GRÁFICO 30<br />

GRÁFICO 31<br />

26,32%<br />

15,79%<br />

5,26%<br />

52,63%<br />

De que forma você escreve nos espaços digitais?<br />

21,05%<br />

31,58%<br />

5,26%<br />

42,11%<br />

MSN<br />

E-mail<br />

Outros<br />

Nula<br />

Sigo a norma culta<br />

da língua.<br />

Não me preocupo<br />

com normas,<br />

escrevo do jeito<br />

que leio.<br />

Escrevo <strong>de</strong> acordo<br />

com cada espaço<br />

que estou fazendo<br />

uso.<br />

Escrevo <strong>de</strong> forma<br />

mista.<br />

149


Anexo I Fotos<br />

Figura 15 A - Localização da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG.<br />

Figura 15 B - Localização da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga-MG.<br />

150


Figura 16 - Escola Estadual Dr. Abílio Machado da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG.<br />

151


Figura 17 - Colégio Losango da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Formiga- MG.<br />

152


ANEXO J Dicionário <strong>de</strong> Abreviações <strong>de</strong> uso do MSN Messenger<br />

LOL = Lots os laughs / Laughing out loud= Muitas risadas / Rindo muito alto [gargalhando]<br />

H8 = hate= o<strong>de</strong>io<br />

gf = girl friend= namorada<br />

WTF = What the fuck= Que porra é essa<br />

BRB = Be right back= Volto Já<br />

G2G = Gotta go / go to go= Tenho que ir<br />

ROFL = Rolling on the floor laughing= Rolando no chão <strong>de</strong> tanto rir<br />

FTW = For the win= Para a vitória<br />

TYVM = Thank you very much= Muito obrigada[o]<br />

TY = Thank you= Obrigada[o]<br />

NVM = Nevermind= Esquece<br />

GL = Good luck= Boa sorte<br />

GF = Good fight= Boa luta<br />

OMG = Oh My God= Oh meu Deus<br />

OMFG = Oh my fucking God / Oh my freaking God= Oh meu Deus maldito / Oh meu Deus<br />

louco<br />

BTW = By The Way= Aliás<br />

STFU = Shut The Fuck Up= Cala a porra da boca<br />

SU = Shut Up= Cala a boca<br />

WTH = What The Hell= Mas que inferno / Mas que diabos<br />

GLHF = Good Luck, Have Fun= Boa sorte, Divirta-se<br />

CYA = See You Around / See you= Te vejo por aí [Explicando o C: C, em inglês pronunciase<br />

'ci', assim como a palavra see / explicando o ya: gíria]<br />

LMAO = Laughing My Ass Off= Me cagando <strong>de</strong> rir<br />

ROFLMAO = Rolling On the Floor Laughing My Ass Off= Rolando no chão e me cagando<br />

<strong>de</strong> rir<br />

NFS = Not for sale= Não está a venda<br />

NP = No problem= Sem problema, usado como DE NADA, também<br />

YW = Your welcome= De nada<br />

NTY = No, thank you= Não, obrigada[o]<br />

IRL = In real Life= Na vida real<br />

153


WB = Welcome back= Bem vindo[a] <strong>de</strong> volta<br />

EA = each= cada<br />

NFS = Not for sell= Não está a venda<br />

IDK = I don't know= Eu não sei<br />

IDC = I don't care= Eu não ligo / eu não me importo<br />

GRATZ = Congratulations= Parabéns<br />

PLOX / PLZ / PLX = Please= Por favor<br />

WP = Wrong person= Pessoa errada<br />

FFS = For fucking sack= aff<br />

W8 = wait= Espere<br />

M8 = mate= Amigo, companheiro<br />

Algumas abreviações em português:<br />

Com torna-se c ou c/<br />

Flw que simboliza "Falou"<br />

T+ que simboliza "Até Mais"<br />

Vlw que simboliza "Valeu"<br />

Eh que simboliza "É"<br />

blz que simboliza "Beleza"<br />

xau que substitui "Tchau"<br />

aff é outra forma para "Afe!"<br />

tou, to ou tow que substitui "Estou"<br />

obv que simboliza "Óbvio"<br />

teclar torna-se tc<br />

imagem torna-se img<br />

firmeza torna-se fmz<br />

Mensagem torna-se msg<br />

comigo torna-se cmg<br />

quando torna-se kdo, qdo ou qd ou qnd<br />

também torna-se tbm; tb ou "tmb";<br />

154

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