empórios - Apas
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Capa EMPÓRIOS<br />
Casa<br />
Godinho<br />
LocaL: São Paulo (SP)<br />
36 n SuperVarejo | abril 2010<br />
Patrimônio da cidade<br />
Entrar na Casa Godinho é fazer<br />
uma viagem à São Paulo do século<br />
19. A loja, fundada em 1888 na Praça<br />
da Sé, está desde 1923 instalada<br />
na rua Líbero Badaró, também no<br />
centro da cidade. A foto antiga da loja<br />
de “molhados e finos” frequentada por cavalheiros que usavam<br />
chapéu coco dá o tom do que se pode encontrar lá.<br />
O bacalhau é o grande atrativo e fez a fama do estabelecimento,<br />
que trabalha com sortimento de 3 mil itens. A loja<br />
mantém as prateleiras originais de imbuia, a logomarca é a<br />
mesma desde o início; os produtos são embalados em papel<br />
rosa. Tudo isso cria um ambiente charmoso e aconchegante<br />
em meio ao caos da capital.<br />
Qual é o segredo para a sobrevivência de uma loja tão antiga?<br />
O atual proprietário, Miguel Romano (foto), tem as respostas<br />
para os problemas de um passado recente, quando precisou<br />
reformular o negócio para não perder a Casa Godinho.<br />
Em 1995 dois proprietários, herdeiros dos fundadores,<br />
convidaram Romano para entrar na sociedade. “Eles me<br />
conheciam desde pequeno. Meu pai tinha uma casa lotérica<br />
no centro, próximo à Casa Godinho, e eu trabalhava lá. Na<br />
época eu tinha acabado de fechar um restaurante e surgiu<br />
o convite.”<br />
No fim da década de 1990 ocorreu queda brusca nas vendas,<br />
causada pela decadência da região central da cidade.<br />
“As grandes empresas como o Itaú, a Associação<br />
Comercial e muitas outras deixaram o<br />
centro e o movimento caiu<br />
muito. O ano 2000 foi o<br />
pior, porque tivemos de<br />
reduzir a equipe e dificuldades<br />
para pagar as contas.<br />
Os sócios ficaram um<br />
ano sem fazer uma retirada<br />
sequer.”<br />
Em 2001 os antigos sócios<br />
venderam a parte deles<br />
por um preço baixíssimo para<br />
Romano, que ficou sozinho<br />
para administrar uma situação<br />
nada favorável. A solução<br />
foi se adaptar aos novos<br />
tempos do centro e dos<br />
consumidores que passaram<br />
a circular por lá.<br />
“Naquela época, as empresas<br />
de telemarketing começaram<br />
a se instalar na região.<br />
Os funcionários dessas<br />
empresas, porém, ganham<br />
Fundação: 1888<br />
Área de vendaS: 150 m 2<br />
FuncionÁrioS: 18<br />
fotos: paulo pEpE/nau<br />
pouco e a loja tem produtos<br />
caros para eles. A<br />
solução para melhorar<br />
o movimento foi montar<br />
a padaria”, comenta Romano.<br />
Esse consumidor com<br />
menos dinheiro no bolso<br />
entrava para comprar<br />
pães, bolos, doces, salgadinhos<br />
e aos poucos<br />
começou a conhecer a<br />
loja. “Ele percebeu que além de<br />
vinhos caros, também temos vinhos de 12 reais; aqui ele<br />
também pode comprar frios, torradas e até mesmo bacalhau<br />
uma vez por ano”, diz Romano. Atualmente a loja recebe 700<br />
pessoas por dia. Além disso, a empresa começou a fornecer<br />
alimentos para coffee break de empresas do entorno.<br />
“Antes nosso faturamento estava concentrado no Natal e<br />
na Páscoa por causa da venda do bacalhau. A padaria trouxe<br />
a segurança para o ano todo e hoje é o que sustenta a Casa.” A<br />
estrela é a empada, já considerada a melhor de São Paulo por<br />
revistas de gastronomia. Diariamente são vendidas 300 empadas,<br />
em uma receita criada por Romano que leva recheio<br />
cremoso e azeitona sem caroço, para se comer de colher.<br />
Até hoje loja recebe muitos clientes antigos. Romano se<br />
emociona ao contar a história do doutor Luís, que frequentou<br />
a loja até os 97 anos. “Um dia ele chegou e, em consideração à<br />
fidelidade dele, resolvi presenteá-lo com o bacalhau, o vinho<br />
e o azeite. Foi a última visita dele, logo depois faleceu.”<br />
A loja opera com margem de 10%, o mínimo para a sobrevivência<br />
do negócio, diz Romano. “Somos pequenos e<br />
não temos poder de compra. A Casa Godinho tem perfil de<br />
conveniência, e não de abastecimento.” Ele reforça ainda<br />
que a tradição, a marca e a confiança dos clientes também<br />
mantêm a empresa. “Percebemos isso nas épocas mais difíceis”,<br />
reflete.<br />
Além do visual, o atendimento à moda antiga é o que<br />
encanta os consumidores. “Sempre prezamos pela qualidade<br />
dos produtos e da estrutura da loja. O atendimento é<br />
diferencial. Embrulhamos tudo no papel rosa, à maneira<br />
dos <strong>empórios</strong> antigos.”<br />
No ano passado, a Prefeitura de São Paulo desapropriou o<br />
prédio onde fica a Casa Godinho, mas a loja permanece lá.<br />
“Ela está sendo tombada, não podemos mexer na estrutura,<br />
na mobília, em nada.” Por conta disso, o plano de Romano<br />
para montar um bistrô no fundo da loja aguarda aprovação<br />
da prefeitura. Mas os projetos de expansão não param por aí.<br />
Em breve será inaugurada uma unidade da Casa Godinho no<br />
Mercado Municipal da Cantareira, o Mercadão, para vender<br />
somente empadas.