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Jesus_13-30

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Capa<br />

1


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Dados do Livro<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

<strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Exemplar nº 0246<br />

Para uso exclusivo de<br />

Fernando Bicudo Salomão<br />

Permitida apenas uma única reprodução,<br />

em papel ou arquivo, para segurança.<br />

Livraria Maçônica Paulo Fuchs<br />

São Paulo, SP – 11 5510-0370 internet: www.livrariamaconica.com.br<br />

agosto de 2002.<br />

© Francisco Klörs Werneck – Todos os direitos reservados.<br />

2


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Indice<br />

Capa<br />

Dados do Livro<br />

Indice<br />

Apresentação<br />

Introdução<br />

A Vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong> Cristo<br />

A Vida de Santo Issa<br />

Sinópticos<br />

<strong>Jesus</strong> e os Manuscritos do Mar Morto<br />

Elementos Suplementares para o Estudo de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo<br />

Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Outro Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Origem do Nascimento Virginal de <strong>Jesus</strong><br />

Nascimento de <strong>Jesus</strong> e a Astrologia<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Apresentação<br />

Quem foi <strong>Jesus</strong>, chamado o Cristo, o Messias? Até hoje milhões de cristãos de todas as<br />

religiões perguntam onde esteve ele durante os chamados 17 anos de sua vida desconhecida, e a<br />

resposta mais cômoda que conseguem obter é a de que <strong>Jesus</strong> esteve trabalhando na oficina de<br />

carpintaria de seu pai, José. Mas o próprio Novo Testamento se encarrega de desmentir essa<br />

afirmativa quando diz que, ao regressar ele à sua terra natal, os judeus indagavam se não era ele<br />

o filho do carpinteiro José, pois já não o conheciam mais, e ainda de onde lhe teria vindo toda<br />

aquela sabedoria, conforme o Evangelho segundo Mateus, vers. 55/56 do cap. <strong>13</strong>.<br />

Esta falta de conhecimento de 17 dos 33 anos de vida de <strong>Jesus</strong> tem levado muita gente<br />

à descrença e à afirmativa de que a sua vida foi forjada e copiada de grandes vultos religiosos de<br />

longínquo passado. Para suprir esta surpreendente lacuna, o Dr. Francisco Klörs Werneck resolveu<br />

dedicar-se ao assunto e, por mais de 40 anos seguidos, reuniu todo o material que pôde para<br />

mostrar a pessoa de <strong>Jesus</strong> sob vários pontos de vista. Num imparcial e audacioso trabalho como<br />

este, procurar reconstituir toda a sua vida de 33 anos e reconduzir as ovelhas perdidas ao seu<br />

novo aprisco, ao rebanho do Mestre dos Mestres, que deve ser um só.<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Introdução<br />

Quando estudei o Espiritismo, estudei também e procurei compreender a extraordinária<br />

figura do Cristo, sob o ponto de vista espiritualista, mas verifiquei, desde logo, a grande confusão<br />

que gira em torno da sublime personalidade do rabi da Galiléia.<br />

Li as seguintes obras (títulos em português):<br />

Os Evangelhos;<br />

A Vida de <strong>Jesus</strong>, de Ernest Renan; História do Cristo, de Giovani Papini; <strong>Jesus</strong>, de<br />

Souza Carneiro;<br />

Cristianismo Místico, do Yogi Ramacharaka;<br />

Os Quatro Evangelhos, comunicações mediúnicas recebidas pela Sra. Colignon;<br />

A Vida de <strong>Jesus</strong> Ditada por Ele Mesmo, mensagens mediúnicas recebidas pela Sra. X.;<br />

Novo Nuctemeron, livro ditado pelo espírito de Apolônio de Tiana;<br />

Elucidações Evangélicas, mensagens espíritas compiladas por Antônio Luiz Sayão;<br />

<strong>Jesus</strong> Perante a Cristandade; obra ditada pelo espírito de Francisco Leite<br />

Bittencourt Sampaio;<br />

A vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong>-Cristo, de Nicolau Notovitch;<br />

<strong>Jesus</strong> e Sua Doutrina, de A. Leterre;<br />

Da Esfinge ao Cristo, de Edouard Schuré;<br />

Os Grandes Iniciados, idem.<br />

A Bíblia na Índia, de Louis Jacolliot;<br />

O Cristo Nunca Existiu, de J. Brandes, etc.;<br />

e muitos artigos e mensagens espíritas, daqui e do estrangeiro, a respeito d’Ele.<br />

Nas obras mediúnicas de meu conhecimento, os espíritos comunicantes geralmente<br />

vêem <strong>Jesus</strong> sob o prisma ou o aspecto pelo qual o conheceram na vida terrena, de modo que, como<br />

estas obras já são conhecidas no vernáculo, vou recorrer a algumas obras publicadas no estrangeiro,<br />

esperando que projetem alguma luz sobre esta questão que não é nova: quem foi realmente <strong>Jesus</strong><br />

e o que fez ele nos 17 anos desconhecidos de sua vida na Palestina? Passemos a elas.<br />

No “Novo Nuctemeron”, obra ditada pelo espírito de Apolônio de Tiana à conhecida<br />

médium inglesa Marjorie Livingstone e prefaciada por Sir Arthur Conan Doyle, vemos que no<br />

<strong>Jesus</strong> carnal se encarnou o Cristo, o iniciado divino. Como esse livro é pouco conhecido, dele<br />

extraio os seguintes trechos:<br />

“O Iniciado Divino, o Filho de Deus, realizou para vós essa Descida na Matéria,<br />

essa Ordália Perfeita, essa Oblata de si mesmo, esse Sacrifício até a morte”. (Cap. II)<br />

5


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

“Podeis perguntar-me como o Iniciado Egípcio podia ver o Cristo 2000 anos antes<br />

de ter <strong>Jesus</strong> nascido na Galiléia. A resposta é bem simples. Não devereis pensar que, porque<br />

o Cristo ainda não se tinha manifestado na carne, ele não existia. Sua manifestação na<br />

pessoa de <strong>Jesus</strong> de Nazaré não foi senão um incidente de sua vida eterna; para a vossa<br />

Terra é talvez o mais importante de sua história”.<br />

“Repito que a manifestação do Espírito Divino do Cristo Cósmico em <strong>Jesus</strong> de<br />

Nazaré não foi senão um incidente, etc”.<br />

“Antes do período da Encarnação em <strong>Jesus</strong> de Nazaré, os Iniciados veneravam e<br />

temiam o Cristo de Deus, mas com incompreensão; depois da Encarnação, um amor pessoal<br />

por ele surgiu na Humanidade”.<br />

“...nós não podemos conceber uma alegria mais extática, um esplendor mais<br />

radioso do que a Visão d’Aquele que era ao mesmo tempo Filho de Deus e filho do Homem”.<br />

“Durante a vida de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, Deus se manifestou diretamente no corpo do<br />

Homem e dessa forma submeteu-se a leis naturais e a limitações físicas. Esse Ato Supremo<br />

resumiu não somente todas as possibilidades do Bem pelo Homem, no plano material, mas<br />

também em todos os ciclos do seu progresso. Deus, tendo assim se manifestado na carne,<br />

pode também manifestar-se à vontade, de maneira reconhecível, em todos os planos<br />

intermediários. Assim, ele é o Cristo, <strong>Jesus</strong> e Deus, porém a sua forma não é a mesma em<br />

todas as esferas”. (Cap. VII)<br />

“Em sua Encarnação, o Cristo tomou a semelhança humana e essa aparência<br />

não foi senão o invólucro exterior dos diferentes estados do seu ser, ainda como Homem.<br />

Quando deixou a carne, a forma de sua personalidade física permaneceu gravada em sua<br />

Forma astral e espiritual, que ele havia tomado antes para chegar a um estado mais<br />

denso pelo qual a Encarnação fosse possível. Deus não pode pôr-se em contato direto com<br />

a matéria e vários estados da Natureza foram precisos antes que a corrente da Força<br />

Divina pudesse ser suficientemente isolada para tal fim. O Cristo, tendo tomado uma<br />

única vez sobre si todos os diferentes estados aos quais pode o Homem estar sujeito, pôde<br />

retomar essas condições à vontade. Os que por sua grande virtude ou porque tenham um<br />

ardente desejo ou grande necessidade de verem o Cristo o verão na forma que ele viveu na<br />

Galiléia; os que passaram o véu da morte podem vê-lo na forma que ele reveste para visitar<br />

as esferas intermediárias” (Cap. IX).<br />

Resumindo: no corpo de <strong>Jesus</strong> humano encarnou-se o Cristo de Deus para conduzir<br />

esta pobre humanidade por novos caminhos. É por isto que João, o Evangelista, disse que o Verbo<br />

se fez carne e habitou entre nós e que, no começo, estava com Deus.<br />

Para Jacolliot (A Bíblia na Índia); na vida de <strong>Jesus</strong> Cristo há fatos da de Iezus Crisma,<br />

o reformador hindu. E, para Schuré (Da Esfinge ao Cristo), <strong>Jesus</strong> só existiu até o batismo no<br />

Jordão, quando o espírito do Cristo se incorporou nele.<br />

Segundo os teósofos, o corpo de Jiddu Krishnamurti seria o novo veículo pelo qual o<br />

Cristo se manifestaria ao mundo (O .Cristo voltará, de Jean Deville), mas Krishnamurti dissolveu<br />

a Ordem da Estrela e fundou nova corrente de pensamento.<br />

Ao passo que o Abade Alta (O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários) nos diz, como<br />

muitos outros autores, que o Cristo foi contemporâneo de Apolônio de Tiana, o teosofista australiano<br />

Charles W. Leadbeater (Os Mestres e o Caminho) escreve que “O Mestre <strong>Jesus</strong>, que atingiu o<br />

adeptado durante a encarnacão em que foi conhecido sob o nome de Apolônio de Tiana e que se<br />

tornou mais tarde Shri Ramnujacharva, o grande re-formador religioso do sul da Índia, dirige o<br />

sexto Raio, o da devoção ou Bhakti”.<br />

6


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Aludo, de passagem, à obra do Dr. Franz Hartmann intitulada “Vida de Jehoshua”,<br />

segundo a qual <strong>Jesus</strong> seria filho espúrio de um legionário romano chamado Pandira e de Maria,<br />

ainda não casada com José, e que seu nome era <strong>Jesus</strong> ben-Pandira.<br />

A tal se contrapõe a nota “A” das anotações feitas no fim da obra do Prof. Petrucelli della<br />

Gattina “Memórias de Judas”, baseada, ao que parece, em um evangelho apócrifo.<br />

Diz a referida nota:<br />

“O Talmud, capítulo VI, Sanhedrin, fala de ter sido lapidado um <strong>Jesus</strong> de Nazaré,<br />

réu de magia, de sedução e de corrupção dos seus correligionários. No capítulo seguinte,<br />

acha-se mencionado um outro <strong>Jesus</strong>, filho de Pandira e de Maria, bordadeira ou modista,<br />

mulher de Studa, ou de uma Studa, mulher de Papus, filho de Jehuda. Esta Maria era da<br />

Lydia e viveu perto de 70 anos depois de Maria, mãe do <strong>Jesus</strong> dos Cristãos. É este <strong>Jesus</strong><br />

que, diz Raban Maur, os judeus amaldiçoavam em todas as suas orações, como ímpio, filho<br />

de um ímpio, o pagão Pandira e da adúltera Maria”.<br />

Quanto ao livro de Binet-Sanglé, “A loucura de <strong>Jesus</strong>”, é um trabalho que se lê com<br />

desgosto e tristeza ao mesmo tempo.<br />

Um protestante, Charles T. Russell (Estudos das Escrituras) assim define a personalidade<br />

de <strong>Jesus</strong>: “Antes do Cristo vir ao mundo, era ele um ser especial possuindo natureza espiritual,<br />

não sendo, na acepção mais elevada, um ser divino. Essa natureza espiritual mudou--se quando<br />

apareceu no mundo, transformando-se em perfeita natureza humana”.<br />

Já para os budistas, <strong>Jesus</strong> é um Nirmanakaya, isto é, um ser humano muito evoluído,<br />

o qual, por uma série de existências perfeitas, atingira o Nirvana.<br />

A revista inglesa The Two Worlds, de Manchester, n° de 8-9-1939, dá notícia de um livro<br />

sob o título “Vi o Mestre”, ditado por “Ray” e compilado por Grace Gibbons Grindling, no qual se lê<br />

que Maria, mãe de <strong>Jesus</strong>, teve outros quatro filhos e que José era pai adotivo de <strong>Jesus</strong>. Trata-se de<br />

uma coleção de comunicações de quem se diz chamar “Godfrey” e que teria perdido a vida na<br />

guerra em outubro de 1915.<br />

Mas, se esse livro teve por autor uma entidade espiritual não “credenciada”, já o mesmo<br />

não aconteceu com outro livro a que se refere L’Astrosophie, de Cartago, Tunísia, n° de Maio de<br />

1938. Tem o título de “Vida de <strong>Jesus</strong>” e traz o quilométrico sub-título de “Vida inédita e rigorosamente<br />

verdadeira, ditada por João, o Evangelista, assistido pelos apóstolos Pedro e Paulo, assim como<br />

pelo profeta Samuel ao qual se juntou o iniciado hindu Kirbi”.<br />

Em 1938 apareceu na imprensa londrina um livro mediúnico que obteve enorme sucesso<br />

e foi lido com grande avidez pelo público que se interessa por conhecer detalhes sobre o período da<br />

vida de <strong>Jesus</strong> que vai dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> anos. Essa interessante obra, de que possuo um exemplar<br />

ofertado em 6 de dezembro daquele ano pelo apreciado escritor espírita português Frederico Duarte,<br />

o F. Etraud da “Crônica Estrangeira” de The Two Worlds, de Manchester, cidade inglesa em que<br />

residiu há muito tempo, foi ditada por um espírito que se deu o singelo nome de “Mensageiro”, em<br />

vez de se adornar com qualquer nome bíblico ou evangélico para dar maior autoridade ao seu<br />

ditado. Tem ela o título de “Fragmentos dos anos desconhecidos da vida de <strong>Jesus</strong>” e está dividida<br />

nos seguintes capítulos: I - Introdução e Descrições; II - <strong>Jesus</strong> no Templo; III - <strong>Jesus</strong> no Deserto;<br />

IV - <strong>Jesus</strong> no Tibet; V - A Decisão; VI - <strong>Jesus</strong> na Índia; VII - <strong>Jesus</strong> no Egito; VIII - Cerimônia de<br />

Iniciação; IX - <strong>Jesus</strong> na Pérsia; X - <strong>Jesus</strong> volta ao Egito e XI - Consagração de <strong>Jesus</strong>.<br />

Sobre a referida obra, colhemos no n° 28 de outubro de 1938, da citada revista inglesa,<br />

os seguintes comentários feitos pelo Sr. F. C. Wentworth:<br />

7


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

“Há um considerável número de livros tratando do pouco conhecido período da vida a<br />

<strong>Jesus</strong>, que vai dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> anos. Que sucedeu durante aquele tempo para transformá-lo de um<br />

menino inteligente em um mestre cujos ensinos deviam influenciar civilizações? Registros daquele<br />

lapso de tempo praticamente não existem. Informações tivemos de que em templos da Índia e<br />

mosteiros do Tibet há documentos que tratam da iniciação de alguém chamado <strong>Jesus</strong>. Rumores<br />

circulam de que documentos da biblioteca do Vaticano muito poderiam revelar se ela escapasse à<br />

proibição imposta pelas autoridades papais, que acham não dever torná-los públicos, havendo,<br />

portanto, sempre um ar de mistério a cobrir a resposta de uma questão que tem deixado atônitos<br />

todos os que estudaram o desenvolvimento da personalidade de <strong>Jesus</strong>.<br />

Uma obra acaba de aparecer, ditada a um médium sob a autoridade de um espírito<br />

comunicante que diz ter tido conhecimento daquele período de tempo da vida desconhecida de<br />

<strong>Jesus</strong>. A dificuldade existente no caso é a de não se poder comparar o livro com notícias conhecidas.<br />

Ele deve ser aceito em seu mérito interior e em seu valor comparativo em documentos históricos,<br />

que devem suportar as críticas que se farão sobre o trabalho.<br />

O livro tem o título de Fragments of the hidden years of <strong>Jesus</strong> e foi ditado por um “Escriba”<br />

que esclarece: “Estes escritos me foram transmitidos do Além, durante muitas sessões com<br />

a médium Sra. Graddon-Thomas, que sempre esteve mergulhada em profundo estado de<br />

transe. Um espírito que se deu o nome de ‘Mensageiro’ os ditou a mim e eu escrevi pela mão<br />

dela. Nem eu e nem a médium poderíamos escrever este livro e minha responsabilidade<br />

está limitada à transcrição do assunto”.<br />

Este parágrafo deve ser lembrado ao serem lidos os capítulos tratando da iniciação de<br />

<strong>Jesus</strong> nas escolas da Índia, Tibet, Egito e Pérsia. Pinta-se então um quadro íntimo do<br />

desenvolvimento de suas faculdades de como foi ele treinado pelos sumos-sacerdotes de várias<br />

ordens para fazer uso das qualidades superiores de sua consciência a fim de colher as vastas<br />

reservas do poder invisível de que ia servir-se durante o curso do seu ministério.<br />

A teoria de que <strong>Jesus</strong> passou através de escolas iniciáticas do Egito e de outros centros<br />

de aprendizagem não é nova. Certos aspectos do seu ensino revelam influências que devem ser<br />

traçadas a um ou outro desses centros iniciáticos, porquanto seus ensinamentos demonstram<br />

que ele não desconhecia a obra de seus mestres e antecessores”.<br />

Notei que o articulista disse acima: “A dificuldade existente no caso é a de não se<br />

poder comparar livro com notícias conhecidas. Ele deve ser aceite seu mérito interior e em<br />

seu valor comparativo com documentos históricos, que devem suportar as críticas que se<br />

farão sobre o trabalho”. É o que vou tentar fazer, detendo-me mais demoradamente no livro de<br />

Notovitch La vie inconnue de Jésus Christ, para depois passar a umas notícias análogas a que darei<br />

o título Sinópticos”, isto é, Concordantes, e aos manuscritos mar Morto.<br />

Darei a “Introdução” da obra de Notovitch, farei um resumo das peripécias de suas<br />

viagens e do encontro dos manuscritos tibetanos e transcreverei, em versículos, tal como foi achada,<br />

a “Vida de Santo Issa”.<br />

Creio ter assim correspondido à curiosidade de muitos e atendido os inúmeros pedidos<br />

que me têm si feitos.<br />

8<br />

Francisco Klörs Werneck


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

A Vida Desconhecida de <strong>Jesus</strong> Cristo<br />

Conforme prometi linhas atrás, transcrevo a seguir a “Introdução” do supracitado livro<br />

de Nicolau Notovitch, em que nele narra, resumidamente, as peripécias de sua viagem, o encontro<br />

dos manuscritos tibetanos e as tentativas que fez para publicá-lo na França. Escreve Notovitch:<br />

Depois da guerra da Turquia (1877/8), empreendi uma série de viagens ao Oriente.<br />

Após ter visitado todas as localidades, ainda que de pouca importância, da península<br />

balcânica, transportei-me, através do Cáucaso à Ásia Central e à Pérsia e, finalmente,<br />

em 1887, parti para a Índia, país admirável que me atraía desde a minha infância.<br />

O fim dessa viagem era o de conhecer e estudar, in loco, os povos que habitam a Índia,<br />

seus costumes, sua arqueologia grandiosa e misteriosa e a natureza colossal e cheia de<br />

majestade desse país.<br />

Errando, sem plano prefixado, de um lugar para outro, cheguei até o Afeganistão<br />

montanhoso, donde alcancei a Índia pelo trajeto pitoresco de Bolan e de Guernai.<br />

Depois, subi o Indo até Raval Pindi, percorri o Pendjab, país dos cinco rios, visitei o<br />

templo de ouro de Amritsa, o túmulo de Ranjid-Singh, rei do Pendjab, perto de Lahore,<br />

dirigindo- me para o Kashmyr, o vale da felicidade eterna.<br />

Aí comecei minhas peregrinações ao sabor da curiosidade até que cheguei ao Ladak,<br />

onde formei o projeto de voltar à Rússia pelo Karakorum e o Turquestão chinês.<br />

Certo dia, no decurso da visita que fiz a um convento budista, situado no meu caminho,<br />

soube, do lama-chefe, que existiam, nos arquivos de Lhassa, memórias muito antigas,<br />

que faziam referências à vida de <strong>Jesus</strong> Cristo e a nações do Oriente e que certos mosteiros<br />

possuíam cópias e traduções de tais crônicas.<br />

Como era pouco provável que eu fizesse ainda uma viagem por aqueles países, resolvi<br />

transferir, para outra época posterior, minha volta à Europa, e, custasse o que custasse;<br />

decidi-me ou a encontrar essas cópias nos grandes conventos ou a chegar ao Lhassa,<br />

viagem que está longe de ser tão perigosa e tão difícil como se costuma dizer; demais,<br />

achava-me tão habituado a toda sorte de perigos que eles já não podiam fazer-me recuar<br />

um passo.<br />

Durante minha permanência em Leh, capital do Ladack, visitei o grande convento de<br />

Himis, situado nas cercanias da cidade.<br />

O lama daquele convento me declarou que a biblioteca monástica continha algumas<br />

cópias dos manuscritos em questão. Para que as autoridades não suspeitassem do<br />

objetivo de minha visita ao convento e a fim de não encontrar obstáculos, dada a minha<br />

qualidade de russo, fiz saber, numa viagem posterior ao Tibet, de retorno a Leh, que<br />

voltava à Índia.<br />

Deixei, novamente, a capital do Ladak. Uma queda infeliz, em conseqüência da qual<br />

quebrei uma das pernas, forneceu-me inesperado pretexto para voltar ao convento,<br />

onde me foram prestados os primeiros socorros médicos.<br />

Aproveitei minha curta estada entre os lamas para obter do lama-chefe consentimento<br />

para que me fossem mostrados os manuscritos relativos a <strong>Jesus</strong>-Cristo, existentes na<br />

biblioteca do convento, e, ajudado por meu intérprete, que me traduzia a língua tibetana,<br />

anotei, cuidadosamente, em meu caderno, o que o lama me dizia.<br />

9


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

A respeito desse mosteiro de Himis, mister se faz entremos em pormenores porque dois<br />

mosteiros trazem este nome no Tibet. Aquele em que fui recolhido por estar ferido, e<br />

cuidadosamente tratado e em que me foi comunicada a existência dos documentos que<br />

entrego à curiosidade pública, é o mosteiro situado no Ladak, não longe de Leh, nas<br />

proximidades do rio Indo e aos pés das montanhas, dominado pelo pico de Himis, de<br />

18.733 pés de altitude. É, depois do mosteiro central do Lhassa, o mais povoado do<br />

Tibet, sua biblioteca é a mais rica e seus monges os mais instruídos e estudiosos.<br />

O outro Himis está situado no caminho de Khalsi a Leh e junto ao Shavlikangri, de<br />

18.096 pés, ao norte do Indo. É uma aldeia com um pequeno mosteiro, muito pobre,<br />

abrigando quatro ou cinco monges que se entregam comumente a trabalhos manuais,<br />

fora das horas de suas maquinais orações.<br />

Todos os que se acham um pouco familiarizados com o Tibet sabem, aliás, que é tão<br />

impossível confundir essas duas localidades quanto o Paris e o Versailles da França<br />

com o Paris e o Versailles do Connecticut.<br />

Não tenho dúvida alguma quanto à autenticidade da crônica que me foi comunicada e<br />

que me pareceu redigida, com muita exatidão, por historiadores brâmanes e, sobretudo,<br />

por budistas da Índia e do Nepal.<br />

Quis, de volta à Europa, publicar a tradução delas e, com esse fim, dirigi-me a vários<br />

eclesiásticos universalmente conhecidos, rogando-lhes lessem minhas notas e dissessem<br />

o que delas pensavam.<br />

Monsenhor Platon, célebre metropolitano de Kiew, foi de opinião que o trabalho era de<br />

grande importância, porém dissuadiu-me de fazer aparecer essas memórias acreditando<br />

que sua publicação só poderia causar-me aborrecimentos. Por quê? Foi o que o venerável<br />

prelado se recusou a dizer-me de modo explícito. Entretanto, como nossa conversa foi<br />

na Rússia, onde a censura teria posto seu veto em semelhante obra, resolvi esperar.<br />

Um ano depois me achava em Roma. Mostrei o manuscrito ao Cardeal Nina, muito<br />

estimado pelo Santo Padre, o qual me respondeu textualmente o seguinte: “Que<br />

necessidade há de imprimir-se isto? Ninguém lhe dará grande importância e vós<br />

criareis uma multidão de inimigos. No entanto, sois tão jovem ainda! Se é uma<br />

questão de dinheiro que vos interessa, pedirei para vós uma recompensa pelas<br />

vossas notas, recompensa que vos indenizará das despesas feitas e do tempo<br />

perdido”. Naturalmente que recusei.<br />

Em Paris falei do meu projeto com o Cardeal Rotelli, que conheci em Constantinopla.<br />

Ele também se opôs a que eu imprimisse o meu trabalho sob o pretexto de que era<br />

prematuro. “A Igreja - acrescentou ele -sofre novamente correntes de idéias ateístas<br />

e vós só fornecereis ensejo a caluniadores e detratores da doutrina evangélica.<br />

Vo-lo digo no interesse de todas as igrejas cristãs”.<br />

Fui, em seguida, procurar Jules Simon. Ele achou que minha comunicação era muito<br />

interessante e me recomendou que pedisse a opinião de Ernest Renan a respeito da<br />

melhor maneira de publicá-la. No dia seguinte, pela manhã, estava eu sentado no gabinete<br />

do grande filósofo. No fim de nossa conversa, Renan me propôs que lhe confiasse as<br />

memórias em questão, a fim de fazer um relatório delas à Academia. Tal proposta, como<br />

se compreende bem, era muito sedutora e lisonjeava meu amor-próprio, todavia tornei<br />

a levar a obra sob o pretexto de revê-la ainda uma vez.<br />

Previa que, se aceitasse a proposta, só teria a honra de ter achado a crônica, ao passo<br />

que ao ilustre autor da Vie de Jésus caberia toda a glória da publicação e seus<br />

comentários.<br />

10


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Ora, eu me julgava bem preparado para publicar a tradução da crônica, fazendo-a<br />

acompanhar de notas minhas; declinei, pois, da proposta que me fizera Renan. Para<br />

não ferir a susceptibilidade do grande mestre, que respeito profundamente, resolvi<br />

aguardar-lhe a morte, acontecimento fatal que não devia tardar, a julgar por sua fraqueza<br />

geral.<br />

Pouco depois da morte de Renan, escrevi a Jules Simon para pedir-lhe a opinião. Ele me<br />

respondeu que me competia julgar da oportunidade de fazer aparecer as memórias.<br />

Pus, então, em ordem, minhas notas, reservando-me o direito de provar a autenticidade<br />

dessas crônicas.<br />

Desenvolvo aqui os argumentos que devem convencer-nos da sinceridade e boa-fé dos<br />

compiladores budistas. Junto, também, provas que atestam minha boa-fé e minha própria<br />

sinceridade. Os maldizentes me demonstraram que essas provas, que eu havia julgado<br />

inúteis em 1894, se tornaram necessárias em 1899.<br />

Desejaria juntar provas ainda mais materiais: quero falar de fotografias muito curiosas<br />

que bati no decurso de minhas excursões e que teriam falado a meu respeito às pessoas<br />

mais desconfiadas. Infelizmente, quando de minha volta da Índia, examinei os negativos<br />

e verifiquei que haviam ficado completamente estragados.<br />

Foi por isto que, para ilustrar meu livro, recorri à extrema gentileza de meu amigo, o Sr.<br />

d’Auvergne, que havia feito várias viagens ao Himalaia e que, graciosamente, me ofereceu<br />

algumas provas.<br />

Passo, sem mais delongas, ao prometido resumo da “Vida de Santo Issa”, segundo os<br />

documentos tibetanos, que, a seguir, transcreverei em sua forma de versículos:<br />

Os dois manuscritos em que o lama do convento de Himis leu, para que o autor ouvisse,<br />

tudo o que se relaciona com <strong>Jesus</strong>, formam coleções de cópias diversas, escritas em língua<br />

tibetana, tradução de alguns rolos pertencentes à biblioteca de Lhassa e trazidos da Índia,<br />

do Nepal e de Magada, lá para o ano 200 depois de Cristo, para um convento construído no<br />

monte Marbur, perto da cidade de Lhassa, onde então residia o Dalai-Lama.<br />

Esses rolos foram escritos em língua pali, que certos lamas estudavam ainda, a fim de<br />

poderem fazer traduções em dialeto tibetano. Os cronistas eram budistas pertencentes à<br />

seita do buda Goutama.<br />

Tais crônicas contêm a descrição da vida e das obras do “melhor dos filhos dos homens”,<br />

santo Issa, um sábio israelita que, tendo vivido muitos anos entre os sacerdotes brâmanes<br />

e budistas, voltou para o seu país, onde foi condenado à morte por ordem do governador<br />

romano Pôncio Pilatos, depois de ter sido duas vezes absolvido por um tribunal composto<br />

de sábios e anciãos da Judéia. As narrações conservadas nesses antiqüíssimos documentos,<br />

redigidos segundo o testemunho de mercadores vindos da Judéia, com a notícia do martírio<br />

de santo Issa, assemelham-se, em quase todos os pontos, às dos Evangelhos e mantêm<br />

um nexo iniludível de analogia com., o que se sabe da vida de <strong>Jesus</strong>.<br />

Em resumo, e seguindo tanto quanto possível a letra dos textos traduzidos, essas crônicas<br />

budistas nos dizem que um jovem israelita, já conhecido na Galiléia aos treze anos “pelos<br />

discursos edificantes em nome do Todo Poderoso”, abandonou ocultamente, naquela idade,<br />

a casa paterna, e, numa caravana de mercadores, tomou o caminho da Índia “para se<br />

aperfeiçoar na palavra divina e estudar as leis dos grandes Budas.<br />

11


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Chegando à Índia, os Djainitas, impressionados com a profunda sabedoria e alta inspiração<br />

do jovem peregrino israelita, procuraram atraí-lo para a sua seita, mas Issa se afastou<br />

pouco tempo depois para Djaguernat, onde os padres brâmanes o acolheram com carinho<br />

e lhe “ensinaram a ler e compreender os Vedas, a curar com o auxílio de preces, a ensinar<br />

e a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno do corpo do homem<br />

e a lhe restituir a forma humana”. Em Djaguernat passou seis anos. No começo, a língua do<br />

país, o sânscrito, as doutrinas religiosas, a filosofia, a medicina e as matemáticas constituem<br />

o objetivo de seus estudos prediletos. Depois, suas prédicas, dirigidas de preferência às<br />

classes miseráveis dos sudras, seus ataques reiterados à hierarquia dos deuses que<br />

desnaturava o princípio do monoteísmo, a negação da origem divina dos Vedas irritaram<br />

profundamente os padres brâmanes e os guerreiros, que resolveram dar- lhe morte. Avisado<br />

em tempo pelos discípulos que a sua bondade e a magia da sua palavra tinham conquistado,<br />

o jovem profeta encaminhou-se para as montanhas do Nepal, onde o Budismo florescia em<br />

todo o seu esplendor.<br />

O princípio da unidade divina era ali religiosamente conservado em sua pureza primitiva já<br />

há quinhentos anos; quando o Príncipe Çakia-Muni fundara a doutrina budista. Seis anos<br />

depois, Issa, já preparado para a explicação dos livros sagrados e iniciado nas doutrinas e<br />

práticas religiosas dos sacerdotes budistas, resolveu tornar ao seu país. Completara 26<br />

anos. As notícias das humilhações dos seus compatriotas e das calamidades que<br />

devastavam a terra que ele deixara em criança decidiram-no a abandonar a Índia. Dirigiuse<br />

primeiro para o oeste, pregando a povos diferentes a suprema perfeição do homem e<br />

combatendo a idolatria e os sacrifícios humanos.<br />

A fama de sua palavra magnética espalhava-se pelos países vizinhos e, quando Issa entrou<br />

na Pérsia, os sacerdotes locais, receosos do poder sugestivo das prédicas do peregrino<br />

israelita, proibiram aos habitantes de acompanhá-lo e ouvi-lo.<br />

Os adoradores de Zoroastro fizeram-no prender e submeter a um longo interrogatório,<br />

depois do qual o profeta foi conduzido, à noite, fora das portas da cidade e abandonado na<br />

estrada, na esperança de que as feras saberiam completar a sentença que os sacerdotes<br />

persas não tinham ousado pronunciar.<br />

O profeta seguiu viagem, despertando entusiasmo e alegria por campos e cidades, onde<br />

uma multidão, sempre nova, vibrava ao calor de sua palavra iluminada.<br />

Aos 29 anos de idade, apareceu Issa no país de Israel, a terra dos seus antepassados.<br />

Diante do seu povo, cumulado de infortúnios e agitado pela perspectiva do advento de um<br />

messias anunciado pelos profetas para restabelecer o reino de Israel, ele aconselhou a<br />

humildade e a paciência pois o “dia da redenção dos pecados estava próximo”.<br />

Milhares de pessoas o seguiam, animados da esperança de libertação e da restauração do<br />

seu antigo culto e da crença dos seus ancestrais.<br />

Os chefes das cidades por onde a palavra do profeta ia deitando um sulco de fogo, inquietos<br />

com a sua popularidade crescente e assustadora, queixaram-se ao governador romano<br />

Pôncio Pilatos, residente em Jerusalém, que as pregações de Issa levantavam o povo que o<br />

ouvia e assim negligenciava os serviços do Estado.<br />

Insinuaram-lhe a necessidade e a conveniência de impedir, por qualquer forma, a<br />

continuação daquele estado de coisas, cujos resultados poderiam ser funestos à<br />

administração romana daquela província conquistada.<br />

Pilatos, não vendo em Issa mais do que um agitador, ordenou-lhe a prisão e, para não<br />

exasperar o povo que o acompanhava por toda a parte, decidiu que o trouxessem a<br />

Jerusalém, a fim de ser julgado no templo, pelos velhos sacerdotes hebreus e sábios anciãos.<br />

12


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Nesse ínterim, Issa, que continuava a pregar de cidade em cidade, chegou a Jerusalém,<br />

cujos habitantes acorreram em massa ao seu encontro, ansiosos por ouvir de sua boca as<br />

palavras inflamadas com que ele havia mitigado os infortúnios das outras cidades de<br />

Israel.<br />

Os padres e os anciãos foram encarregados por Pilatos do julgamento do profeta no templo.<br />

Depois de ouvirem de sua própria boca a declaração de que não procurava levantar o povo<br />

de Israel contra as autoridades constituídas, mas que voltara de lugares distantes, onde<br />

fora habitar em criança, para recordar aos israelitas a fé de seus antepassados e o<br />

restabelecimento das leis mosaicas, eles se apresentaram ao governador romano e lhe<br />

comunicaram ter absolvido o pregador judeu pela falsidade das acusações que lhe eram<br />

imputadas.<br />

Pilatos, encolerizado com o procedimento dos veneráveis juízes, fez acompanhar o profeta<br />

de espiões encarregados de recolherem todas as palavras que ele dirigisse ao povo.<br />

Issa prosseguiu em sua missão pelas cidades vizinhas, indicando os verdadeiros caminhos<br />

do Criador, exortando os hebreus à paciência, prometendo-lhes uma pronta libertação e<br />

explicando àqueles em que reconhecia assoldadados pelo governador que todos eles não<br />

seriam libertos do poder de César mas dos erros grosseiros em que as suas almas viviam<br />

mergulhadas.<br />

Três anos durou o ministério de Issa. A sua popularidade crescia e era tido como o Messias<br />

libertador anunciado pelos profetas. O governador romano, a quem os espiões declararam<br />

nada ter ouvido que parecesse uma instigação à revolta contra as autoridades constituídas,<br />

encarregou os soldados de o prenderem e conduzirem a um subterrâneo onde foi torturado<br />

na intenção de se lhe arrancar uma confissão comprometedora. Os sacerdotes e os anciãos,<br />

informados dos martírios infligidos ao seu profeta e da resistência heróica oposta a todos<br />

os meios empregados para fazê-lo falar, dirigiram-se ao governador romano com o pedido<br />

de o mandar pôr em liberdade na ocasião da festa da Páscoa, que se aproximava. Pilatos<br />

recusou peremptoriamente a ceder aos pedidos dos velhos sacerdotes, mas consentiu em<br />

que Issa comparecesse diante do Tribunal dos Anciãos para ser, em definitivo, julgado<br />

antes da próxima festa.<br />

Fizeram-no retirar da prisão, em lastimável estado de fraqueza, por motivo das torturas<br />

sofridas. Sentado entre dois ladrões,. que deviam ser julgados ao mesmo tempo para atenuar<br />

a importância de um acontecimento que apaixonava a população, diante do governador<br />

romano, que presidia o Tribunal, e dos principais capitães, sacerdotes, sábios anciãos e<br />

legistas, Issa foi submetido a um longo interrogatório do qual sobressaiu sua completa<br />

inocência. O governador, irritado com a altivez de suas respostas, exigiu que os juízes<br />

pronunciassem a pena capital. Os anciãos recusaram proferir essa sentença iníqua diante<br />

das declarações ouvidas de todos. Pilatos recorre ao derradeiro expediente que o seu espírito<br />

imaginara, para não deixar escapar a presa. Manda adiantar um dos seus espiões, que<br />

afirma ter ouvido do profeta a anunciação do reino de Israel sobre a terra do qual Issa se<br />

intitulava Chefe Supremo.<br />

A cena narrada pelas crônicas budistas é de uma grandeza serena e única na história.<br />

“Sereis perdoado”, disse o profeta ao traidor, “porque o que dizeis não vem de vós”, e,<br />

depois, dirigindo-se a Pilatos: “Por quê humilhais vossa dignidade e induzis vossos inferiores<br />

à mentira, quando, sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?” A estas palavras,<br />

Pilatos, esquecido do seu cargo, exigiu dos Anciãos a condenação de Issa e a absolvição<br />

dos dois ladrões.<br />

<strong>13</strong>


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Os velhos juízes, depois de se consultarem entre si, declararam solenemente não assumir<br />

a responsabilidade de condenar um inocente, levantaram-se e; depois de lavarem as mãos<br />

num vaso sagrado, saíram anunciando: “Somos inocentes da morte do justo”.<br />

O profeta e os dois ladrões foram crucificados no mesmo dia, por ordem de Pilatos, e os<br />

seus corpos ficaram suspensos nas cruzes sob a guarda de soldados.<br />

Ao pôr-do-sol, extinguiram-se os sofrimentos de Issa. Ele perdeu os sentidos e a alma<br />

desse justo se separou do corpo para ir fundir-se na Divindade.<br />

Assim terminaram os dias de santo Issa “reflexo do Espírito eterno sob a forma de um<br />

homem que tinha redimido pecadores endurecidos, padecendo tantos sofrimentos”.<br />

O governador romano, assustado com a severidade do seu proceder, mandou entregar o<br />

corpo do profeta aos parentes para o sepultarem perto do lugar do suplício. Em breve, toda<br />

uma multidão gemente e lacrimosa acorria em peregrinação ao santo sepulcro.<br />

Três dias após, Pilatos, a quem tinha chegado rumores de um levante popular, ordenou a<br />

seus soldados que retirassem, à noite, secretamente, o corpo de Issa do sepulcro e o<br />

enterrassem em um lugar afastado.<br />

No dia seguinte, encontrado o túmulo aberto e vazio, propalou-se que “O Juiz Supremo<br />

recolhera, pelos seus anjos, os restos mortais do santo, no qual tinha habitado, sobre a<br />

terra, uma partícula do espírito divino”.<br />

Pilatos, enfurecido com a nova feição dos acontecimentos, começou a mover uma cruel<br />

perseguição contra os mais íntimos discípulos de Issa, que foram obrigados a deixar o país<br />

de Israel e pregar a outros povos o abandono dos seus erros grosseiros, a purificação das<br />

suas almas e a “felicidade perfeita que aguarda os homens no mundo espiritual, onde, em<br />

repouso e em toda a sua pureza, reside, numa majestade perfeita, o grande Criador”.<br />

Os pagãos, termina a vetusta crônica, seus reis e seus guerreiros, ouviram os pregadores,<br />

abandonaram as crenças absurdas que professavam, renegaram seus sacerdotes e ídolos<br />

para celebrar os louvores do muito sábio Criador do Universo, do Rei dos Reis, cujo coração<br />

está cheio de misericórdia infinita.<br />

Assim falam, em suas linhas gerais, as narrações arquivadas nos antigos manuscritos<br />

budistas, achados no Tibet.<br />

Essa narrativa preenche a lacuna de 17 anos que existe na vida de <strong>Jesus</strong>-Cristo,<br />

começando no vers. 52 do Capítulo 2 do Evangelho segundo Lucas: “E crescia <strong>Jesus</strong> em sabedoria<br />

e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” e indo até o vers. 23 do Capítulo 3 do<br />

mesmo Evangelho: “E o mesmo <strong>Jesus</strong> começava a ser de quase trinta anos”. Sobre a qual o Novo<br />

Testamento nada nos diz.<br />

A seguir, pois, a vida de <strong>Jesus</strong>, resumida acima. segundo os versículos dos manuscritos<br />

tibetanos.<br />

14


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

A Vida de Santo Issa<br />

I<br />

1 - A terra estremeceu e os céus choraram por causa do grande crime que acabava<br />

de ser cometido no país de Israel.<br />

2 - Porque acabava de ser ali torturado e executado o grande justo Issa, em que<br />

residia a alma do Universo.<br />

3 - A qual se encarnara em um simples mortal a fim de fazer bem aos homens e de<br />

exterminar os maus pensamentos.<br />

4 - E de conduzir à vida da paz, do amor e do bem o homem degradado pelos<br />

pecados, recordando-lhe o único e indivisível Criador cuja misericórdia é<br />

infinita.<br />

5 - Eis o que contam a respeito mercadores vindos de Israel.<br />

II<br />

1 - O povo de Israel, que habitava um solo fértil, dando duas colheitas por ano e<br />

que possuía grandes rebanhos, provocou, por seus pecados, a justiça de Deus.<br />

2 - Que lhe infligiu um castigo terrível, arrebatando-lhe a terra, o gado e toda a<br />

sua fortuna; Israel foi reduzido à escravidão por ricos e poderosos faraós que<br />

reinavam, então, no Egito.<br />

3 - Esses trataram os israelitas pior do que a animais, os sobrecarregaram de<br />

trabalhos difíceis e os puseram a ferro. Cobriram seus corpos de feridas e<br />

chagas, sem lhes dar alimentos, nem lhes permitir que tivessem um teto.<br />

4 - A fim de os manter em um estado de terror contínuo e de lhes tirar toda a<br />

semelhança humana.<br />

5 - Em sua grande calamidade, o povo de Israel, lembrando-se de seu protetor<br />

celestial, se dirigiu a ele e lhe implorou graça e misericórdia.<br />

6 - Um ilustre faraó reinava então no Egito, o qual ficou célebre por suas<br />

numerosas vitórias, pelas riquezas que acumulara e os vastos palácios que seus<br />

escravos erigiram por suas próprias mãos.<br />

7 - Esse faraó tinha dois filhos, dos quais o mais moço se chamava Mossa. Sábios<br />

israelitas lhe ensinaram diversas ciências.<br />

8 - Mossa era amado no Egito por causa de sua bondade e da compaixão que<br />

testemunhava a todos os que sofriam.<br />

9 - Vendo que os israelitas não queriam, apesar dos intoleráveis sofrimentos que<br />

suportavam, abandonar o seu Deus para adorar aqueles que a mão do homem<br />

havia criado, os quais eram os deuses da nação egípcia.<br />

15


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

10 - Mossa acreditou no Deus invisível deles, que lhes não deixava abater as fracas<br />

forças.<br />

11 - E os preceptores israelitas animaram o ardor de Mossa e recorreram a ele,<br />

pedindo-lhe para interceder junto ao faraó, seu pai, em favor de seus<br />

correligionários.<br />

12 - O príncipe Mossa pediu então a seu pai que abrandasse a sorte dos desgraçados<br />

israelitas, mas o faraó levantou-se em cólera contra ele e aumentou os<br />

tormentos que já suportavam esses escravos.<br />

<strong>13</strong> - Aconteceu que pouco tempo depois uma grande desgraça visitou o Egito: a<br />

peste ali dizimou jovens e velhos, sãos e doentes, e o faraó acreditou em um<br />

ressentimento de seus próprios deuses contra ele.<br />

14 - Porém o príncipe Mossa disse a seu pai que era o Deus de seus escravos que<br />

intercedia em favor desses infelizes e punia os egípcios.<br />

15 - O faraó intimou então a Mossa, seu filho, a tomar todos os escravos da raça<br />

judia e os conduzir fora da cidade, e fosse fundar, a uma grande distância da<br />

capital, outra cidade e que ficasse com eles.<br />

16 - Mossa fez saber aos escravos hebreus que ele os havia forrado em nome do seu<br />

Deus, o Deus de Israel. Deixou com eles a cidade e a terra do Egito.<br />

17 - E os conduziu para a terra que haviam perdido por seus pecados, deu-lhes leis<br />

e lhes recomendou que orassem sempre ao Criador invisível cuja bondade é<br />

infinita.<br />

18 - Com a morte do príncipe Mossa, os israelitas observaram-lhe rigorosamente as<br />

leis e assim Deus os recompensou dos males a que os expusera no Egito.<br />

19 - Seu reino tornou-se o mais poderoso de toda a terra, seus reis foram célebres<br />

por seus tesouros e uma longa paz reinou entre o povo de Israel.<br />

III<br />

1 – A fama das riquezas de Israel espalhou-se por toda a terra e as nações vizinhas<br />

começaram a ter-lhe inveja.<br />

2 - Mas o Altíssimo protegeu as armas vitoriosas dos hebreus e os pagãos não<br />

ousaram atacá-los.<br />

3 - Infelizmente, como o homem não obedece sempre a si mesmo, a fidelidade dos<br />

hebreus a seu Deus não durou muito tempo.<br />

4 - Começaram por esquecer todos os favores com que foram cumulados, não<br />

invocavam senão raramente o nome de Deus e pediam proteção a mágicos e<br />

feiticeiros.<br />

5 - Os reis e os capitães substituíram as leis que lhes foram dadas por Mossa<br />

pelas deles, o templo de Deus e as práticas do culto foram abandonados, o povo<br />

entregou-se aos prazeres e perdeu sua pureza anterior.<br />

6 - Vários séculos haviam escoado depois de sua saída do Egito quando Deus<br />

começou novamente a puni-los por seus pecados.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

7 - Estrangeiros começaram a invadir o país de Israel, devastando terras,<br />

arruinando aldeias e conduzindo seus habitantes ao cativeiro.<br />

8 - Chegaram, certo dia, pagãos d’além mar, do país dos romanos, submeteram os<br />

hebreus e instituíram chefes de exércitos que, por delegação do César, os<br />

governaram.<br />

9 - Destruíram os templos e obrigaram os habitantes a não mais adorar o Deus<br />

invisível, mas a sacrificar vítimas aos deuses pagãos.<br />

10 - Fizeram guerreiros dos que eram nobres, arrebataram esposas a seus maridos<br />

e o baixo povo, reduzido à escravidão, foi enviado aos milhares por além mares.<br />

11 - Quanto às crianças, foram passadas a fio de espada; bem logo, em todo o país<br />

de Israel, só se escutaram soluços e gemidos.<br />

12 - Em sua tristeza extrema, eles se lembraram do seu grande Deus, imploraramlhe<br />

a graça e lhe suplicaram perdão. Nosso Pai, em sua inesgotável, escutoulhes<br />

a prece.<br />

IV<br />

1 - Nesse tempo, chegou o momento em que o juiz, cheio de clemência, escolhera<br />

para encarnar-se em um ser humano.<br />

2 - E o Espírito eterno, que permanecia em estado de repouso completo e de<br />

beatitude suprema, se despertou e se destacou, por um tempo indeterminado,<br />

do Ser eterno.<br />

3 - A fim de indicar, revestindo a imagem humana, os meios de se identificar com<br />

a Divindade e alcançar a felicidade eterna.<br />

4 - Para mostrar, com seu exemplo, como se podia chegar à pureza moral e<br />

separar a alma do seu invólucro grosseiro, a fim de que ela atingisse o estado de<br />

perfeição necessária para alcançar o reino do céu, que é imutável, e onde reina a<br />

felicidade eterna.<br />

5 - Logo depois, uma criança maravilhosa nasceu na terra de Israel; Deus, pela<br />

boca dessa criança, falava das misérias corporais e da grandeza da alma.<br />

6 - Os pais do recém-nascido eram pessoas pobres, pertencentes, por seu<br />

nascimento, a uma família de notável piedade, que recordava sua antiga<br />

grandeza na terra para exaltar o nome do Criador e lhe agradecer os castigos<br />

que lhes aprouvera enviar.<br />

7 - Para recompensá-la por não se ter deixado desviar do caminho da verdade,<br />

Deus abençoou o primogênito dessa família, escolheu-o para seu eleito e o<br />

enviou para sustentar os que haviam caído no mal e curar os que sofriam.<br />

8 - A criança divina, a quem se deu o nome de Issa, começou, desde a mais tenra<br />

idade, a falar do Deus único e invisível, exortando as almas transviadas a se<br />

arrependerem e a se purificarem dos pecados que haviam cometido.<br />

9 - Pessoas vinham escutá-lo de todas as partes e se maravilhavam das sentenças<br />

que saíam da boca do menino; todos os israelitas eram acordes em dizer que o<br />

Espírito eterno habitava o corpo dele.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

10 - Quando Issa atingiu a idade de treze anos, idade em que o israelita devia<br />

casar- se.<br />

11 - A casa em que seus país ganhavam a vida, mediante um trabalho modesto,<br />

começou a ser lugar de reunião de pessoas ricas e nobres que queriam ter por<br />

genro o jovem Issa, já célebre por seus discursos edificantes em nome do Todo<br />

Poderoso.<br />

12 - Foi então que o jovem Issa deixou ocultamente a casa paterna, saiu de<br />

Jerusalém e, em companhia de mercadores, se dirigiu em direção ao Sindh.<br />

<strong>13</strong> - Com o fim de aperfeiçoar-se na palavra divina e instruir-se nas leis dos<br />

grandes budas.<br />

V<br />

1 - Quando tinha 14 anos, o jovem Issa, abençoado de Deus, desceu o Sindh e se<br />

estabeleceu entre os Árias, no país querido de Deus.<br />

2 - A fama ia espalhar o nome da criança maravilhosa ao longo do Sindh setentrional;<br />

quando ele atravessou o país dos cinco rios e o Radjiputan, os adeptos do deus<br />

Djaine lhe pediram que permanecesse entre eles.<br />

3 - Ele, porém, abandonou os adoradores transviados de Djaine e partiu para<br />

Djaguernat, no país de Orsis, onde jazem os despojos mortais de Viassa-Krishna e<br />

onde os padres brancos lhe fizeram cordial recepção.<br />

4 - Eles o ensinaram a ler e a compreender os Vedas, a curar com o auxílio da prece,<br />

a explicar a Escritura Sagrada ao povo, a expulsar o espírito maligno do corpo do<br />

homem e a lhe restituir a imagem humana.<br />

5 - Passou Issa seis anos em Djaguernat, em Radiagriha, em Benares e em outras<br />

cidades santas; todo mundo o amava, porque Issa vivia em paz com os Veisas e os<br />

Sudras, aos quais ensinava a Escritura Sagrada.<br />

6 - Os Brâmanes e os Kchatrias, porém, lhe disseram que o grande Parabrâma lhe<br />

proibia aproximar-se daqueles que havia criado de seu ventre e de seus pés.<br />

7 - Que os Veisas só estavam autorizados a ouvir a leitura dos Vedas e isto apenas<br />

nos dias de festas.<br />

8 - Que era interdito aos Sudras não só o assistir à leitura dos Vedas como até mesmo<br />

os contemplar, porque a condição deles era servir, para sempre e como escravos,<br />

os Brâmanes, os Kchatrias e os próprios Veisas.<br />

9 - “Só a morte pode libertá-los da servidão”, disse Parabrâma. “Deixá-los, pois, e<br />

vinde adorar conosco os deuses que se irritarão contra vós se lhes desobedeceis”.<br />

10 - Issa, porém, não lhes escutou as advertências e foi entre os Sudras pregar contra<br />

o despotismo dos Brâmanes e dos Kchatrias.<br />

11 - Ele se levantou veementemente contra o direito que se arroga um homem de<br />

despojar seus semelhantes de seus direitos de homem, dizendo: “Deus, o Pai, não<br />

estabeleceu diferença alguma entre seus filhos, que lhe são todos igualmente caros”.<br />

12 - Issa negou a origem divina dos Vedas e dos Puranas, porque, ensinava ele aos que<br />

o seguiam, uma lei foi dada ao homem para guiá-los em suas ações.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

<strong>13</strong> - Temei vosso Deus, só dobreis os joelhos diante dele só e levai-Lhe as oferendas<br />

que provenham de vossos ganhos”.<br />

14 - Issa negou a Trimurti e a encarnação de Parabrâma em Vishnu, em Siva e em<br />

outros deuses, porque dizia ele:<br />

15 - “O juiz eterno, o Espírito eterno, compõe a alma única e indivisível do Universo, a<br />

qual, sozinha, criou, contêm e vivifica o todo”.<br />

16 - “Só ele é que quis e criou, só ele é que existe desde a eternidade e cuja existência<br />

não terá fim; ele não tem semelhantes, nem no céu, nem na terra”.<br />

17 - “O grande Criador não dividiu seu poder com pessoa alguma, ainda menos com<br />

objetos inanimados, como vos foi ensinado, porque só ele é que possui a<br />

onipotência”.<br />

18 - “Ele quis e o mundo apareceu; por um pensamento divino ele reuniu as águas e<br />

delas separou as partes secas do globo. Ele é a causa da vida misteriosa do homem,<br />

em que soprou uma parte do seu ser”.<br />

19 - “Ele subordinou ao homem as terras, as águas, os animais e tudo que criou e que<br />

sozinho conserva em ordem imutável, fixando para cada coisa sua duração própria”.<br />

20 - “A justiça de Deus descerá breve sobre o homem porque ele esqueceu seu Criador,<br />

porque encheu seus templos de abominações e adora uma multidão de criaturas<br />

que Deus lhe subordinou”.<br />

21 - Porque, para agradar a pedras e metais, o homem sacrifica seres humanos, nos<br />

quais reside uma parte do espírito do Altíssimo”.<br />

22 - Porque humilha o que trabalha com o suor de sua fronte para adquirir o favor do<br />

preguiçoso que está sentado em uma mesa cheia de iguarias”.<br />

23 - “Aqueles que privam seus irmãos da felicidade divina por sua vez serão dela<br />

privados, e os Brâmanes e os Kchatrias tornar-se-ão os Sudras dos Sudras”.<br />

24 - “Porque no dia do juízo final, os Sudras e os Veisas serão perdoados por causa de<br />

sua ignorância e Deus, ao contrário, fará cair sua punição sobre aqueles que se<br />

arrogaram direitos divinos”.<br />

25 - Os Veisas e os Sudras ficaram tomados de viva admiração e perguntaram a Issa<br />

como era preciso orar para que não perdessem a felicidade.<br />

26 - “Não adoreis os ídolos porque eles não vos ouvem; não escuteis os Vedas porque a<br />

Verdade nele está adulterada; não vos creiais os primeiros em todo lugar e não<br />

humilheis o vosso próximo”.<br />

27 - Ajudai os pobres, sustentai os fracos, não façais mal a quem quer que seja, não<br />

cobiceis o que não possuis e o que vedes em casa alheia”.<br />

VI<br />

1 - Os padres brancos e os guerreiros, tendo conhecimento das palavras que Issa<br />

dirigia aos Sudras, decidiram-lhe a morte e enviaram, como esse intuito, seus<br />

criados para procurar o jovem profeta.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

2 - Issa, porém, avisado do perigo pelos Sudras, deixou, ao cair da noite, os<br />

subúrbios de Djaguernat, ganhou a montanha e se fixou no país dos<br />

Guatâmidas, onde viu a luz do dia o grande buda Çakia-Muni, no meio do povo<br />

que adorava o único e sublime Brama.<br />

3 - Depois de ter aprendido a falar com perfeição a língua pali, o justo Issa<br />

entregou-se ao estudo dos rolos sagrados dos Sutras.<br />

4 - Seis anos após, Issa, que o Buda escolhera para espalhar a palavra santa,<br />

sabia explicar perfeitamente os rolos sagrados.<br />

5 - Issa deixou então o Nepal e o monte Himalaia, desceu o vale do Radjiputan e se<br />

dirigiu para o oeste, pregando a povos diversos a suprema perfeição do homem.<br />

6 - E o bem que é preciso fazer a seu próximo e que constitui o meio mais seguro<br />

para absorver-se rapidamente no Espírito eterno. “Aquele que recuperava sua<br />

pureza primitiva, dizia Issa, morria tendo obtido o perdão de suas faltas, e teria<br />

o direito de contemplar a figura majestosa de Deus”.<br />

7 - Atravessando territórios pagãos, o divino Issa ensinou que a adoração de<br />

deuses visíveis era contrária à lei natural.<br />

8 - “Porque o homem, dizia ele, não tivera em partilha o dom de ver a imagem de<br />

Deus e de construir uma multidão de divindades à semelhança do Eterno”.<br />

9 - “Além disso, é incompatível com a consciência humana fazer menos caso da<br />

grandeza da pureza divina do que de animais ou de obras executadas pela mão<br />

do homem em pedra ou metal”.<br />

10 - “O Eterno legislador é um; não há outros deuses senão Ele; Ele não dividiu o<br />

mundo com pessoa alguma, nem participou a ninguém de suas intenções.<br />

11 - Do mesmo modo que um pai agiria para com seus filhos, da mesma maneira<br />

Deus julgará os homens depois da morte, segundo suas leis misericordiosas.<br />

Jamais Ele humilhará um seu filho, fazendo emigrar sua alma, como em um<br />

purgatório, no corpo de um animal”.<br />

12 - “A lei celeste, dizia o Criador pela boca de Issa, repudia a imolação de<br />

sacrifícios humanos a uma estátua ou a um animal, porque Eu subordinei ao<br />

homem todos os animais e tudo que contém o mundo”.<br />

<strong>13</strong> - “Tudo foi sacrificado ao homem que deve estar direta e intimamente ligado a<br />

Mim seu Pai; assim será severamente julgado e castigado pela lei divina aquele<br />

que me tiver arrebatado um filho”.<br />

14 - “O homem nada. é diante do Juiz eterno, do mesmo modo que o animal o é<br />

perante o homem”. 15 - “É por isto que vos digo: Abandonai vossos ídolos e não<br />

executeis cerimônias que vos separam de nosso Pai e vos ligam a padres de<br />

quem o céu se apartou”.<br />

16 - “Porque são esses que vos separaram do verdadeiro Deus e cujas superstições<br />

e crueldade vos conduzem à perversão do espírito e à perda de todo o senso<br />

moral”.<br />

20


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

VII<br />

1 - As palavras de Issa, tendo se espalhado entre os pagãos dos países que<br />

atravessava, fizeram com que eles abandonassem seus ídolos.<br />

2 - Isto vendo, os padres exigiram daquele que glorificava o nome do Deus<br />

verdadeiro provas, diante do povo, das censuras que lhes dirigia e a<br />

demonstração da nulidade de seus ídolos.<br />

3 - E Issa lhes respondeu: “Se vossos ídolos e vossos animais são poderosos e<br />

possuem realmente um poder sobrenatural, que eles me fulminem aqui neste<br />

lugar”.<br />

4 - “Fazei então um milagre, replicaram-lhe os padres, e que vosso Deus confunda<br />

os nossos, se eles lhe inspiram desgosto”.<br />

5 - Issa, porém, lhes replicou, dizendo: “Os milagres de nosso Deus começaram a<br />

se produzir desde o primeiro dia em que o Universo foi criado; eles se produzem<br />

em cada dia, em cada momento; aquele que não os vê está privado de um dos<br />

mais belos dons da vida”.<br />

6 - “Não é contra pedaços de pedras, de metais ou de paus, completamente<br />

inanimados, que a justiça de Deus se fará, mas ela recairá sobre homens cujos<br />

ídolos precisam ser destruídos para sua salvação”.<br />

7 - “Do mesmo modo que uma pedra e um grão de areia, nulos como são para o<br />

homem, até o momento em que os tome para deles fazer algo de útil”.<br />

8 - Assim o homem deve esperar o grande favor que lhe concederá Deus<br />

honrando-o com uma decisão”<br />

9 - “Porém, desgraça sobre vós, inimigos dos homens, porque não é um favor que<br />

recebereis, mas, ao contrário, a justiça divina, desgraça sobre vós se esperais<br />

que ela ateste seu poder por meio de milagres”.<br />

10 - “Porque não serão os ídolos que destruirá mas aqueles que os erigiram; seus<br />

corações ficarão presas do fogo eterno e seus corpos lacerados irão saciar o<br />

apetite de feras bravias”.<br />

11 - “Deus expulsará os animais contaminados de seus rebanhos, porém chamará a<br />

si aqueles que se transviaram por terem desconhecido a parcela celestial que<br />

neles habitava”.<br />

12 - Vendo a impotência de seus padres, os pagãos acreditaram em Issa e, tementes<br />

a Deus, despedaçaram seus ídolos; quanto aos padres, esses fugiram para<br />

escapar à vingança popular.<br />

<strong>13</strong> - Issa ensinou ainda aos pagãos que não se esforçassem por ver o Espírito eterno,<br />

mas procurassem senti-lo pelo coração e, por uma alma verdadeiramente pura,<br />

buscassem tornar- se dignos de seus favores.<br />

14 - “Não somente, dizia-lhes ele, não executeis sacrifícios humanos, mas, em geral,<br />

não imoleis nenhum animal a que a vida foi dada, porque tudo que foi criado o<br />

foi para ser útil ao homem”.<br />

15 - “Não furteis o bem alheio, porque seria levar de vosso próximo coisas que ele<br />

adquiriu com o suor de seu rosto”.<br />

21


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

16 - “Não enganeis a ninguém a fim de que não sejais também enganados. Procurai<br />

preparar-vos antes do juízo final, porque será então muito tarde”.<br />

17 - “Não vos entregueis à devassidão, porque seria violar as leis de Deus”.<br />

18 - “E alcançareis a beatitude suprema; não somente purificando-vos mas ainda<br />

guiando os outros na senda que lhes permitirá conquistar a perfeição primitiva”.<br />

VIII<br />

1 - Os países vizinhos se encheram do ruído das prédicas de Issa e, quando ele<br />

penetrou na Pérsia, os padres ficaram com medo e proibiram os habitantes de<br />

ouvi-lo.<br />

2 - Porém, quando viram todas as aldeias acolhê-lo com alegria e escutar-lhe<br />

religiosamente os sermões, deram ordem para que o prendessem e o<br />

conduzissem diante do grão-sacerdote, onde sofreu o seguinte interrogatório:<br />

3 - “De que novo Deus falais vós? Ignorais, desgraçado, que o santo Zoroastro é o<br />

único justo admitido à honra de receber comunicações do Ser supremo?”<br />

4 - “O qual ordenou aos anjos que redigissem por escrito a palavra de Deus para<br />

uso de seu povo, leis essas que foram dadas a Zoroastro no paraíso”.<br />

5 - “Quem sois vós então que ousais blasfemar aqui contra nosso Deus e semear a<br />

dúvida no coração dos crentes?”<br />

6 - E Issa lhes respondeu: “Não é de um novo Deus que falo, mas de nosso Pai<br />

Celestial, que existiu antes de todo o começo e existirá para todo o sempre”.<br />

7 - “Foi dele que falei ao povo que, do mesmo modo que uma criança inocente, não<br />

está ainda em situação de compreendê-lo só pela força única da inteligência e<br />

de penetrar-lhe a sublimidade divina e espiritual”.<br />

8 - “Mas, da mesma maneira que um recém-nascido reconhece no escuro o seio<br />

materno, assim vosso povo, que foi induzido ao erro, reconheceu por instinto<br />

seu Pai no Pai do qual sou profeta”.<br />

9 - O Ser Eterno disse ao vosso povo, por minha boca: “Não adoreis o sol porque<br />

ele é uma parte do mundo que criei para o homem”.<br />

10 - “O sol se levanta a fim de vos aquecer durante o vosso trabalho; ele se deita<br />

para vos conceder o repouso que fixei para mim mesmo”.<br />

11 - “É a mim, e a mim só que deveis tudo que possuís, tudo que se acha ao redor<br />

de vós, como acima de vós e abaixo de vós!”<br />

12 - Mas, disseram os padres, como poderia viver um povo segundo as regras da<br />

justiça se não tivesse preceptores?<br />

<strong>13</strong> - Issa lhes respondeu: “Quando os povos não tinham padres, a lei natural os<br />

governou e eles conservaram a candura de suas almas”.<br />

14 - “Suas almas estavam em Deus e, para se entreterem com o Pai, não<br />

precisavam do auxílio intermediário de nenhum ídolo ou animal, nem do fogo,<br />

assim como fazeis”.<br />

22


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

15 - “Pretendeis que é preciso adorar o sol, o gênio do Bem e do Mal. Vossa<br />

doutrina é detestável, vo-lo digo eu, porque o sol não age espontaneamente, mas<br />

pela vontade do Criador invisível que lhe deu começo”.<br />

16 - “E ele quis que esse astro iluminasse o dia e aquecesse o trabalho e as<br />

sementeiras do homem”.<br />

17 - “O Espírito Eterno é a alma de tudo que existe de animado; cometeis um<br />

grande pecado fracionando-o no espírito do Mal e o espírito do Bem, porque não<br />

existe Deus fora do Bem”.<br />

18 - “Quem semelhante a um pai de família não faz senão o bem a seus filhos, dos<br />

quais perdoa as faltas se se arrependerem?”<br />

19 - “O espírito do Mal reside na terra, no coração dos homens que desviam os<br />

filhos de Deus do caminho reto”.<br />

20 - “É por isto que vos digo:” “Temei o dia do juízo porque Deus infligirá terrível<br />

castigo a todos aqueles que desviaram seus filhos do verdadeiro caminho e os<br />

encheram de superstições e preconceitos”.<br />

21 - “Aqueles que cegaram os vivos transmitiram o contágio aos de boa saúde e<br />

ensinaram o culto das coisas que Deus submeteu ao homem para seu próprio<br />

bem e para os auxiliar em seus trabalhos”.<br />

22 - “Vossa doutrina. é, pois, fruto de vossos erros, porque, desejando aproximar de<br />

vós o Deus da Verdade, criastes falsos deuses”.<br />

23 - Após o terem ouvido, os magos resolveram não lhe fazer mal algum. Pela noite,<br />

quando toda a cidade repousava, eles o conduziram para fora dos muros da<br />

cidade e o abandonaram no grande caminho, na esperança de que ele não<br />

tardaria em ser preso de feras.<br />

24 - Issa, porém, protegido pelo senhor nosso Deus, continuou seu caminho sem<br />

acidentes.<br />

IX<br />

1 - Issa, que o Criador tinha escolhido para recordar o verdadeiro Deus aos<br />

humanos mergulhados nas depravações, tinha 29 anos quando voltou ao país<br />

de Israel.<br />

2 - Depois da partida de Issa, os pagãos haviam feito os israelitas suportar<br />

sofrimentos ainda mais atrozes e estes se achavam tomados do maior<br />

abatimento.<br />

3 - Muitos deles já tinham começado a repudiar as leis de seu Deus e as de Mossa,<br />

na esperança de abrandar seus ferozes conquistadores.<br />

4 - Em vista de tal situação, Issa exortou seus compatriotas a não se<br />

desesperarem porque o dia da redenção dos pecados estava próximo e lhes<br />

despertou a crença que haviam tido no Deus de seus pais.<br />

5 - “Filhos, não vos entregueis ao desespero, dizia o Pai Celestial pela boca de Issa,<br />

porque escutei vossa voz e vossos lamentos chegaram até mim”.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

6 - “Não choreis mais, ó bem amados, porque vossos soluços tocaram o coração de<br />

vosso Pai que vos perdoou, como perdoou vossos antepassados”.<br />

7 - “Não abandoneis vossa família para vos entregardes à devassidão, não percais<br />

a nobreza de vossos sentimentos e não adoreis ídolos que ficarão surdos à vossa<br />

voz”.<br />

8 - “Enchei meu templo com a vossa esperança e com a vossa paciência e não<br />

abjureis a religião de vossos pais, porque eu os guiei e cumulei de benefícios”.<br />

9 - “Levantai os que tombaram, dai de comer aos que têm fome e ide em auxílio<br />

dos enfermos a fim de ficardes todos puros e sejais achados justos no dia do<br />

juízo final que eu vos preparo”.<br />

10 - Os israelitas acudiram em multidão para ouvir a palavra de Issa e lhe<br />

perguntaram onde deviam agradecer ao Pai Celestial, pois seus inimigos lhes<br />

tinham arrasado os templos e roubado os vasos sagrados.<br />

11 - Issa lhes disse que Deus não considerava os templos edificados pela mão do<br />

homem, mas que ouvia os corações humanos, que são seus verdadeiros<br />

templos.<br />

12 - “Entrai em vosso templo, em vosso coração, iluminai-o com bons pensamentos<br />

e com paciência e a confiança inabaláveis que deveis ter por vosso Pai”.<br />

<strong>13</strong> - “E vossos vasos sagrados serão vossas mãos e vossos olhos; olhai e fazei o que<br />

é agradável a Deus, porque, fazendo bem ao vosso próximo, executais uma<br />

cerimônia que embeleza o templo onde mora Aquele que vos deu nascimento”.<br />

14 - “Porque Deus vos criou à sua semelhança, inocentes, simples, corações cheios<br />

de bondade e amor, não para a concepção de projetos maus, mas para serem o<br />

santuário do amor e da justiça”.<br />

15 - Não maculeis vosso coração, vo-lo digo eu, porque o Ser Eterno aí reside<br />

sempre”.<br />

16 - “Se quereis fazer obras cheias de piedade ou de amor, fazei-as com o coração<br />

grande e que vossa ação não seja movida pela esperança de recompensa ou por<br />

cálculo comercial”.<br />

17 - “Porque essa ação não vos aproximará da salvação e caireis então em um<br />

estado de degradação moral em que o roubo, a mentira e o assassínio passarão<br />

por atos generosos”.<br />

X<br />

1 - Santo Issa ia de uma cidade a outra, levantando pela palavra de Deus a<br />

coragem dos israelitas que estavam prestes a sucumbir sob o peso do<br />

desespero. Milhares de homens o seguiam para ouvir-lhe as prédicas.<br />

2 - Mas os chefes das cidades tiveram medo dele e fizeram saber ao governador<br />

principal, que residia em Jerusalém, que um homem chamado Issa havia<br />

chegado ao país, que sublevava o povo contra as autoridades com os seus<br />

sermões e que o povo o escutava assiduamente e esquecia os trabalhos do<br />

Estado, acrescentando que, dentro em pouco, ele seria desembaraçado de seus<br />

governadores.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

3 - Então Pilatos, governador de Jerusalém, ordenou que prendessem o pregador<br />

Issa, o conduzissem à cidade e o levassem à presença dos juízes, todavia, para<br />

não excitar o descontentamento da população, Pilatos encarregou os padres e os<br />

sábios, velhos hebreus, de julgá-lo no templo.<br />

4 - Entrementes, Issa, continuando suas pregações chegou a Jerusalém e, tendo<br />

sabido de sua vinda, todos os habitantes, que já o conheciam de nome,<br />

correram à sua presença.<br />

5 - Eles o saudaram respeitosamente e lhe abriram as portas do seu templo, a fim<br />

de ouvir de sua boca, o que havia dito em outras cidades de Israel.<br />

6 - E Issa lhes disse: A raça humana perece por causa de sua falta de fé, porque<br />

as trevas e as tempestades tresmalharam o rebanho humano, que perdeu os<br />

seus pastores”.<br />

7 - Mas as tempestades não durarão sempre e as trevas não ocultarão<br />

eternamente a luz; o céu tornar-se-á breve sereno, a claridade celeste espalharse-á<br />

por toda a terra e as ovelhas desgarradas reunir-se-ão ao redor de seus<br />

pastores”.<br />

8 - “Não vos esforceis em procurar caminhos diretos na escuridão, com o risco de<br />

cairdes em algum fosso, mas poupai vossas últimas forças, sustentai-vos uns<br />

aos outros, colocai toda a vossa confiança em Deus e esperai que um primeiro<br />

clarão apareça”.<br />

9 - “Aquele que sustenta seu vizinho ampara a si próprio e aquele que protege sua<br />

família sustenta seu povo e seu país”.<br />

10 - “Porque, crede, sem dúvida, próximo está o dia em que sereis libertados das<br />

trevas; reunir-vos-ei em uma só família e vosso inimigo estremecerá de medo,<br />

ele que ignora o que é um favor do grande Deus”.<br />

11 - Os padres e os anciãos que o escutavam, cheios de admiração diante de sua<br />

linguagem, perguntaram-lhe se era verdade que ele tivesse tentado sublevar o<br />

povo contra as autoridades do país, assim como que um abismo se lhes abre aos<br />

pés”.<br />

12 - “É possível insurgirmo-nos contra homens transviados aos quais as trevas<br />

ocultaram o caminho e o destino, respondeu Issa. Não tenho feito senão avisar<br />

os infelizes, como faço aqui no templo, para que não avancem mais longe por<br />

estradas tenebrosas, porque um abismo se lhes abre aos pés”.<br />

<strong>13</strong> - “O poder terrestre é de duração efêmera e está submetido a uma imensidade de<br />

mudanças. Não seria de grande utilidade revoltar-se alguém contra ele, porque<br />

um poder sucede sempre a outro poder e assim será até o fim da existência<br />

humana”.<br />

14 - “Ao contrário, não vedes que os poderosos e os ricos semeiam entre os filhos de<br />

Israel um espírito de rebelião contra o poder eterno do céu?”<br />

15 - Então os anciões lhe perguntaram: “Quem sois vós e de que país viestes para<br />

cá? Antes não ouvíamos falar de vós e ignorávamos mesmo o vosso nome”.<br />

16 - “Sou israelita, respondeu Issa, e, no dia do meu nascimento, vi os muros de<br />

Jerusalém e ouvi soluçar meus irmãos reduzidos à escravidão e se lamentarem<br />

minhas irmãs, que foram conduzidas para as terras dos pagãos”.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

17 - “E minh’alma se entristeceu dolorosamente quando vi que meus irmãos haviam<br />

esquecido o verdadeiro Deus. Ainda criança, deixei a casa paterna para ir viver<br />

entre outros povos”.<br />

18 - “Mas, tendo ouvido dizer que meus irmãos suportavam torturas ainda maiores,<br />

voltei ao país que meus pais habitavam para recordar a meus irmãos a fé de<br />

seus antepassados, a qual nos prega a paciência na terra para conseguir, lá no<br />

alto, uma felicidade perfeita e sublime”.<br />

19 - E os sábios anciãos lhe fizeram ainda esta pergunta: “Afirma-se que renegais<br />

as leis de Mossa e que ensinais ao povo o abandono do templo de Deus”.<br />

20 - Issa lhes respondeu; “Não se destrói o que foi dado por nosso Pai Celestial e o<br />

que foi destruído pelos pecadores; recomendei-lhes que purificassem o coração<br />

de todas as máculas, porque ele é que é o verdadeiro templo de Deus”.<br />

21 - “Quanto às leis de Mossa, esforço-me em restabelecê-las no coração dos<br />

homens e eu vos digo que ignorais seu verdadeiro alcance, porque não é a<br />

vingança mas o perdão que elas ensinam. O sentido dessas leis está adulterado.<br />

XI<br />

1 - Tendo escutado Issa, os padres e sábios anciãos resolveram entre si não o<br />

julgar, visto que Issa não fazia mal a ninguém. Apresentando-se diante de<br />

Pilatos, instituído governador de Jerusalém pelo rei pagão do país dos Romanos,<br />

assim falaram:<br />

2 - “Vimos o homem a quem acusais de excitar nosso povo à revolta, ouvimos suas<br />

prédicas e soubemos que ele é nosso compatriota”.<br />

3 - “Os chefes das cidades vos enviaram falsos relatórios porque é um homem<br />

justo que ensina ao povo a palavra de Deus. Depois de havê-lo interrogado,<br />

resolvemos deixá-lo ir em paz”.<br />

4 - O governador ficou possuído de violenta cólera e enviou para perto de Issa<br />

criados seus, disfarçados, a fim de lhe espiarem todos os atos e de os comunicar<br />

às autoridades com as menores palavras que dirigisse ao povo.<br />

5 - Issa, entretanto, continuava a visitar as cidades vizinhas e a ensinar os<br />

verdadeiros caminhos do Criador, exortando os hebreus à paciência e lhes<br />

prometendo uma pronta libertação.<br />

6 - Muitas pessoas o seguiram por toda a parte em que ia; algumas não o<br />

abandonaram e o serviam.<br />

7 - E Issa lhes dizia: “Não crede nos milagres feitos pelas mãos do homem, porque<br />

aquele que domina a natureza é o único capaz de fazer coisas sobrenaturais, ao<br />

passo que o homem é impotente para deter a corrente dos ventos e espalhar a<br />

chuva”.<br />

8 - Entretanto, há um milagre que é possível ao homem fazer: é aquele em que,<br />

cheio de crença sincera, se dispõe a desenraizar do coração todos os maus<br />

pensamentos e, para isso, não transita mais pelos caminhos da maldade”.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

9 - “E todas as coisas que se fizeram sem Deus são erros grosseiros, seduções e<br />

encantamentos que só servem para demonstrar a que ponto a alma daquele que<br />

pratica esta arte está cheia de devassidão, de mentira e de impureza”.<br />

10 - “Não deis fé aos oráculos, porque só Deus conhece o futuro; aquele que recorre<br />

aos adivinhos conspurca o templo que está em seu coração e dá prova de<br />

desconfiança a respeito do Criador”.<br />

11 - “A fé nos adivinhos e em seus oráculos destrói a simplicidade inata no homem<br />

e sua pureza infantil; um poder infernal se apodera dele e força-o a cometer<br />

toda sorte de crimes e a adorar ídolos”.<br />

12 - “Ao passo que o Senhor nosso Deus, que não tem ninguém que se lhe iguale, é<br />

um, todo poderoso, onisciente e onipresente; é ele que possui a sabedoria e toda<br />

luz”.<br />

<strong>13</strong> - “É a ele que deveis dirigir-vos para serdes consolados de vossas tristezas,<br />

auxiliados em vossos trabalhos, curados de vossas enfermidades; aquele que<br />

recorrer a ele não sofrerá recusa”.<br />

14 - “O segredo da natureza está nas mãos de Deus, porque o mundo, antes de<br />

surgir, existia no fundo do seu pensamento divino; ele se tornou material e<br />

visível pela vontade do Altíssimo”.<br />

15 - “Quando vos quiserdes dirigir a ele, tornai-vos crianças, porque não conheceis<br />

nem o passado, nem o presente, nem o futuro, e Deus é o Senhor do tempo”.<br />

XII<br />

1 - “Homem justo, perguntaram os servidores disfarçados do governador de<br />

Jerusalém, diz-nos se nos é necessário executar a vontade de nosso César ou<br />

esperar nossa próxima libertação”.<br />

2 - E Issa, tendo reconhecido naquelas pessoas indivíduos comprados para o<br />

seguir, quando o interrogavam, lhes respondeu: “Não vos anunciei que sereis<br />

libertados do César; é a alma, mergulhada no erro, que terá sua libertação”.<br />

3 - “Não pode haver família sem chefe, não poderá haver ordem em um povo sem<br />

um César, ao qual é preciso obedecer cegamente porque só ele responderá por<br />

seus atos perante o tribunal supremo”.<br />

4 - “César possui um direito divino, perguntaram-lhe ainda os espiões, e é o<br />

melhor dos mortais?”<br />

5 - Entre os homens não há melhor, mas existem os enfermos aos quais os eleitos<br />

e encarregados de uma missão devem tratar usando dos meios que lhe confere a<br />

lei sagrada do Pai Celestial”.<br />

6 - “Clemência e justiça, eis os mais altos dons concedidos a César e seu nome<br />

será ilustre se assim se manter”.<br />

7 - “Mas aquele que age de outro modo, que infringe os limites do poder que tem<br />

sobre seu subordinado e vai até pôr sua vida em perigo, esse ofende o grande<br />

juiz e lesa sua dignidade na opinião dos homens”.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

8 - Nesse ínterim, uma velha que se aproximara do grupo para melhor ouvir Issa,<br />

foi afastada por um dos homens disfarçados, que se colocou diante dela.<br />

9 - Então Issa lhe disse: “Não é bom que um filho afaste sua mãe para ocupar o<br />

primeiro lugar, que deve ser dado a ela”.<br />

10 - “Aquele que não respeita sua mãe, o ser mais sagrado depois de Deus, é<br />

indigno do nome de filho”.<br />

11 - “Escutai o que vou dizer-vos: “Respeitai a mulher porque ela é a mãe do<br />

universo e toda a verdade da criação reside nela”.<br />

12 - “É ela que é a base de tudo o que há de bom e belo, como é também o germe da<br />

vida e da morte. Dela depende toda a existência do homem, porque é seu apoio<br />

moral e natural em seus trabalhos”.<br />

<strong>13</strong> - “Ela nos dá à luz no meio de sofrimentos; com o suor do seu rosto vela nosso<br />

crescimento e vós lhe causais as mais vivas angústias até os seus últimos dias.<br />

Bendizei-a e adorai- a, porque ela é vossa única amiga e sustentáculo na terra”.<br />

14 - “Respeitai-a, defendei-a, porque, assim procedendo, ganhar-lhe-eis amor,<br />

sereis agradáveis a Deus e muitas faltas vos serão perdoadas”.<br />

15 - “Da mesma maneira, amai vossas esposas e respeitai-as porque elas serão<br />

mães amanhã e, mais tarde, avós de uma nação inteira”.<br />

16 - “Sede dóceis para com a mulher; seu amor enobrece o homem, abranda-lhe o<br />

coração endurecido, doma a fera e dela faz um cordeiro”.<br />

17 - “A esposa e a mãe, tesouros inapreciáveis que Deus vos deu, são os mais belos<br />

ornamentos do Universo e delas nascerá tudo que habitará o mundo”.<br />

18 - “Assim como Deus outrora separou a luz das trevas e a terra das águas, a<br />

mulher possui o divino talento de separar no homem as boas intenções dos<br />

maus pensamentos”.<br />

19 - “É por isto que vos digo: Depois de Deus, vossos melhores pensamentos devem<br />

pertencer às mães e às esposas, à mulher, enfim, que é para vós o templo divino<br />

em o qual obtereis mais facilmente a felicidade perfeita”.<br />

20 - “Colocai neste templo vossa força moral; aí esquecereis vossas tristezas, vossos<br />

insucessos e recobrareis as forças perdidas que vos serão necessárias no auxílio<br />

de vosso próximo”.<br />

21 - “Não as humilheis, porque, assim procedendo, humilhareis a vós mesmos e<br />

perdereis o sentimento de amor, sem o qual nada aqui na terra existiria”.<br />

22 - “Protegei vossa esposa para que ela vos proteja, vós e toda vossa família; tudo o<br />

que fizerdes por vossa mãe, vossa esposa, por uma viúva ou uma outra mulher<br />

na desgraça, o fareis por vosso Deus”.<br />

XIII<br />

1 - Santo Issa ensinou assim ao povo de Israel durante três anos, em cada cidade,<br />

em cada aldeia, nos caminhos e nos campos, e tudo que anunciara se realizava.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

2 - Durante todo esse tempo, os espiões do governador Pilatos o observavam<br />

estreitamente, mas sem nada ouvir dizer que se assemelhasse aos relatórios que<br />

haviam sido enviados antes pelos chefes das cidades a seu respeito.<br />

3 - O governador Pilatos, porém, assustado com a grande popularidade de Santo<br />

Issa, que, a crer em seus adversários, queria sublevar o povo para se fazer rei,<br />

ordenou a um de seus espiões que o acusasse.<br />

4 - Mandou então que soldados procedessem à sua prisão e o encerrassem em um<br />

cárcere subterrâneo, onde lhe fizeram agüentar suplícios vários com o fim de<br />

forçá-lo a acusar-se a si próprio, o que daria margem a ser condenado à morte.<br />

5 - O Santo, só pensando na felicidade de seus irmãos, suportou todos os<br />

sofrimentos em nome do Criador.<br />

6 - Os servidores de Pilatos continuaram a torturá-lo e o reduziram a um estado<br />

de fraqueza extrema, mas Deus estava com ele e não permitiu que Issa<br />

morresse.<br />

7 - Cientes dos sofrimentos e das torturas que o Santo suportava, os principais<br />

sacerdotes e os sábios anciãos foram rogar ao governador para pô-lo em<br />

liberdade na ocasião de uma grande festa que se achava próxima.<br />

8 - Mas o governador se recusou a fazê-lo. Pediram então para que Issa<br />

comparecesse perante o tribunal dos Anciãos a fim de que fosse condenado ou<br />

absolvido antes da festa, no que Pilatos consentiu.<br />

9 - No dia seguinte, o governador fez reunir os principais capitães, padres, anciãos<br />

e legistas com o fim de julgar Issa.<br />

10 - Tiraram-no do cárcere e fizeram-no sentar-se diante do governador, entre dois<br />

bandidos, que eram julgados no mesmo momento, e isso com o fim de mostrar à<br />

multidão que ele não era o único a ser condenado.<br />

11 - Pilatos, dirigindo-se a Issa, lhe perguntou: “O” homem, é verdade que sublevais<br />

o povo contra as autoridades com o intuito de vos tornardes rei de Israel? “.<br />

12 - “Ninguém se torna rei por sua própria vontade, respondeu-lhe Issa, e vos<br />

mentiram afirmando que eu amotinava o povo. Eu só falei do Rei dos céus e foi<br />

a ele que pedi ao povo que adorasse”.<br />

<strong>13</strong> - “Porque os filhos de Israel perderam sua pureza original e, se não tiverem o<br />

auxílio do verdadeiro Deus, serão sacrificados e seus templos tombarão em<br />

ruínas”.<br />

14 - “O poder temporal mantém a ordem em um país e eu lhes ensinei o seguinte:<br />

“Vivei de acordo com a vossa situação e a vossa fortuna, a fim de não<br />

perturbardes a ordem pública, e os exortei também a se lembrarem de que a<br />

desordem lhes reinava no coração e no espírito”.<br />

15 - “Também o Rei dos céus os puniu e suprimiu seus reis nacionais, por isto, lhes<br />

dizia eu, que, se se resignassem à sua sorte, em recompensa, o reino dos céus<br />

lhes seria aberto”.<br />

16 - Nesse momento introduziram-se as testemunhas, uma das quais depôs assim:<br />

“Dissestes ao povo que o poder temporal não era nada junto do poder real, que<br />

devia libertar breve os israelitas do jugo pagão”.<br />

29


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

17 - “Bendito sejais vós, disse-lhe Issa, por terdes dito a verdade. O Rei dos céus é<br />

maior e mais poderoso do que a lei terrestre e seu reino supera a todos os reinos<br />

da terra”.<br />

18 - “E o tempo não está longe em que, conforme a vontade divina, o povo de Israel<br />

se purificará de seus pecados, porque foi dito que um precursor viria anunciar a<br />

libertação do povo e a sua reunião em uma só família”.<br />

19 - O governador, dirigindo-se aos juízes, exclamou: “Ouvis? O israelita Issa<br />

confessa o crime de que é acusado. Julgai-o então conforme vossas leis e<br />

pronunciai contra ele a pena capital”.<br />

20 - “Não podemos condená-lo, responderam-lhe os padres e anciãos. Vós acabais<br />

de ouvi-lo dizer que fazia alusão ao Rei dos céus e que nada pregou que<br />

constituísse uma insubordinação contra a lei”.<br />

21 - O governador mandou então entrar a testemunha que, por instigação sua,<br />

tinha traído Issa e esse homem entrou e, dirigindo-se a Issa, lhe perguntou:<br />

“Não vos fazíeis passar por rei de Israel quando dizíeis que aquele que reina nos<br />

céus vos havia enviado para preparar seu povo?”<br />

22 - Issa, tendo-o abençoado, lhe disse: “Sereis perdoado, porque o que dizeis não<br />

vem de vós”. Depois, dirigindo-se ao governador, falou: “Porque humilhar vossa<br />

dignidade e porque ensinar vossos subalternos a viver na mentira, quando,<br />

mesmo sem ela, tendes o poder de condenar um inocente?”<br />

23 - Ditas que foram estas palavras, o governador ficou possuído de violenta cólera<br />

e ordenou a condenação de Issa à morte e a absolvição dos dois bandidos.<br />

24 - Os juízes, tendo se consultado entre si, disseram a Pilatos: “Não assumiremos<br />

sobre nossas cabeças a grande culpa de condenar um inocente e de absolver<br />

bandidos, coisas contrárias às nossas leis”.<br />

25 - “Fazei, pois, o que vos agradar”. Isto dito, os padres e os sábios anciãos saíram<br />

e lavaram as mãos em um vaso sagrado, dizendo: “Somos inocentes da morte do<br />

justo”.<br />

XIV<br />

1 - Por ordem do governador, os soldados levaram Issa e os dois bandidos, que<br />

conduziram para o local do suplício, onde foram pregados em cruzes que<br />

ergueram na terra.<br />

2 - Durante o dia inteiro os corpos de Issa e dos bandidos ficaram suspensos,<br />

gotejando sangue, sob a guarda de soldados; o povo permanecia ao redor, ao<br />

passo que os parentes dos supliciados oravam e choravam.<br />

3 - Ao pôr do sol, os sofrimentos de Issa tiveram termo. Ele perdeu o conhecimento<br />

e a alma desse justo se destacou do corpo para fundir-se na Divindade.<br />

4 - Assim findou a existência terrena do reflexo do Espírito Eterno sob a forma de<br />

um homem que, após intensos sofrimentos, salvara pecadores endurecidos.<br />

5 - Pilatos, entretanto, assustado com a sua ação, mandou entregar o corpo do<br />

santo a seus parentes para que o enterrassem junto ao local do suplicio; a<br />

multidão foi orar junto ao seu sepulcro e encheu o ar de soluços e gemidos.<br />

<strong>30</strong>


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

6 - Três dias após, o governador enviou soldados para desenterrarem o corpo de<br />

Issa e o inumarem em qualquer outro lugar, com medo de um levante popular.<br />

7 - Na manhã seguinte, a multidão encontrou o túmulo aberto e vazio; logo o ruído<br />

se espalhou de que o Juiz Supremo tinha enviado seus anjos para levar os<br />

despojos mortais do santo em que tinha residido, na terra, uma parte do seu<br />

espírito divino.<br />

8 - Quando tal ruído chegou ao conhecimento de Pilatos, proibiu, sob pena de<br />

escravidão e morte, que jamais se pronunciasse o nome de Issa e se orasse ao<br />

Senhor por ele.<br />

9 - O povo, porém, continuou a chorar e a glorificar em alta voz o seu mestre;<br />

assim muitos entre eles foram conduzidos ao cativeiro, submetidos a torturas e<br />

condenadas à morte.<br />

10 - Os discípulos de Issa abandonaram o país de Israel e partiram para todas as<br />

terras dos pagãos, pregando a necessidade de se abandonarem erros grosseiros,<br />

de pensarem na salvação de suas almas e na felicidade perfeita que espera os<br />

humanos no mundo espiritual, cheio de luzes, em que há o repouso, em toda a<br />

sua pureza, no seio da majestade perfeita do grande Criador.<br />

11 - Os pagãos, seus reis e guerreiros ouviram os pregadores, abandonaram as<br />

antigas crenças absurdas, renegaram seus padres e ídolos para entoar hosanas<br />

ao sapientíssimo Criador do Universo, ao Rei dos Reis, cujo coração é cheio de<br />

uma misericórdia infinita”.<br />

Aqui termina a narração da vida de Santo Issa, de acordo com os documentos encontrados<br />

por Notovitch.<br />

Há de parecer estranho que Mossa, o Moisés dos hebreus, apareça na narrativa como<br />

um príncipe egípcio, mas leiamos o que escreveu Lisandro de la Torre na pág. 274 de sua obra “A<br />

questão social e os cristãos sociais”: “Mas, quem era Moisés? A Bíblia apresenta-o como um<br />

hebreu e diz que ele matou um egípcio e foi viver entre os hebreus e se casou com Séfora,<br />

filha de Ragual. A fácil impunidade desse crime traiçoeiro robustece a suposição de que a<br />

autoridade do Faraó era muito fraca nas paragens onde andava Moisés. Renan supõe que<br />

Moisés não era hebreu, mas egípcio, pois seu nome não é hebraico, e o nome Mosé é egípcio<br />

e parece-lhe verossímil que este foi o seu. Egípcio renegado, teria podido adquirir<br />

ascendência entre os hebreus e conceber o plano do êxodo, que coincidia com o interesse de<br />

sua segurança pessoal”.<br />

Estrabão, historiador grego e autor de 17 livros sobre a sabedoria antiga e que viveu na<br />

época do nascimento do Cristo, refere que o êxodo do Egito teve lugar da seguinte forma: “Moisés,<br />

um sacerdote egípcio que também dirigia uma província egípcia, dali partiu porque não estava<br />

satisfeito com o estado de coisas local e com ele partiram muitos outros pelas mesmas razões<br />

religiosas”. O caso é que Moisés dizia que não estava direito que os egípcios elevassem touros e<br />

animais selvagens à categoria de deuses, assim como não era justo que os gregos dessem aos seus<br />

deuses formas humanas:<br />

31


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Em “Tudo começou em Babel”, do escritor alemão Herbert Wendt, lê-se o seguinte: “Os<br />

egípcios, que emigraram para a Palestina, então se aliaram às nações vizinhas, parte por<br />

fins comerciais, parte por costumes religiosos. E então surgiu aí o inconsiderável reino<br />

dos judeus. Moisés e .os chefes religiosos dos judeus não eram judeus mas egípcios de alta<br />

categoria, rebelados contra a situação religiosa. O nome Moisés é sem dúvida egípcio e<br />

aparece nos nomes de muitos faraós: Thutmoses, Ahmoses, Ramesés, por exemplo. A grande<br />

façanha de Moisés foi a de que se mostrou capaz de ajudar um grande número desses<br />

párias escravos a fugir do Egito, dar-lhes leis e uma religião e ainda reuni-los em uma<br />

única nação na terra de Canaã. Foi desde aquele tempo que começou a história judaica”.<br />

Na mesma parte de “O Povo Eleito” do supracitado livro de Wendt, aparece uma hipótese<br />

levantada pelo Fundador da Psicanálise, Sigmund Freud, médico e psiquiatra judeu vienense,<br />

concordando com Estrabão e outros, que “Moisés e os demais chefes religiosos, que guiaram os<br />

judeus ao fugirem do Egito, não foram judeus, mas sim egípcios que se revoltaram contra a<br />

religião egípcia do Estado.<br />

Acontece que Freud não pára aí, “continua dizendo que não somente Moisés e a<br />

casta sacerdotal dos levitas foram egípcios mas a própria religião monoteísta que, durante<br />

milênios tornou possível a sobrevivência dos judeus, foi egípcia também”. Lê-se também ali<br />

que a gente que constituiu o depois chamado povo judeu, hebreu ou israelita tinha várias<br />

procedências, isto é, que era uma mistura de raças unidas por idéias religiosas.<br />

Mas, depois de tantos séculos, dizemos nós, quem vai acreditar que Mossa ou Moisés foi<br />

mesmo egípcio e não hebreu como sempre constou.<br />

Da mesma forma poder-se-á dizer que o autor deste trabalho é alemão ou filho de<br />

alemães, quando eu nasci em Niterói, Capital do Estado do Rio de Janeiro, Estado em que nasceram<br />

também os meus pais, com, salvo um avô materno alemão, uma longa geração de ascendentes<br />

fluminenses, mineiros e paulistas.<br />

Tudo pode acontecer.<br />

Sinópticos<br />

32<br />

(Extratos de “El corazon de Ásia”, de<br />

Nicolau Roerich, edição do<br />

Museu Roerich, de New York, MCMXXX)<br />

Antes de fazer dois pequenos extratos da citada obra, vou dizer quem foi Roerich, de<br />

acordo com Ricardo Rojas, em seu prólogo:<br />

“Conheço a extraordinária personalidade de Nicolau Roerich, sua inquieta vida<br />

de viajor de vários continentes, sua origem russa, sua aclimatação americana, sua obra<br />

de pintor, de pensador e de educador, que fazem dele uma das mais singulares figuras do<br />

mundo internacional contemporâneo. Para honrá-lo e para dar ao seu vigoroso espírito um<br />

instrumento de ação, erigiu-se em New York o magnífico Museu que leva o seu nome e que<br />

tem nas principais nações membros honorários da estirpe de Bernard Shaw, na Inglaterra;<br />

de Zuloaga, na Espanha e de Rabindranath Tagore na Índia”.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Isto dito e deixando aos leitores o trabalho de comparação, passo, sem comentários, aos<br />

seguintes e interessantes trechos do seu livro:<br />

“Em Srinagar, ouvimos, pela primeira vez, a curiosa lenda acerca da visita do<br />

Cristo ao lugar. Depois, vimos quão amplamente difundida na Índia, no Ladak e na Ásia<br />

Central é a da viagem do Cristo a esses países, durante sua larga ausência de que fala o<br />

Evangelho. Os muçulmanos de Srinagar nos contaram que o Cristo crucificado, ou Issa,<br />

como o chamam, não morreu na cruz, mas só desmaiou. Seus discípulos raptaram seu<br />

corpo, o esconderam e o curaram. Posteriormente o levaram para Srinagar, onde doutrinou<br />

o povo e ali morreu. O túmulo do Mestre se acha nos alicerces de uma casa particular e se<br />

conta que existe lá uma inscrição que diz que, naquele lugar, foi enterrado o filho de José.<br />

Narra-se que perto da sepultura se dão curas milagrosas e que o ar está saturado de<br />

aromas. Dessa forma os crentes de outras religiões desejam ter o Cristo consigo”. (pág. 26).<br />

Este outro trecho concorda com o anterior e com a narrativa de Notovitch. Ei-lo:<br />

“Em Leh encontramos novamente a lenda da visita do Cristo a esses lugares. O<br />

chefe indu dos correios de Leh e vários ladakis budistas nos contaram que nesta cidade,<br />

não longe do bazar, ainda existe uma lagoa na margem da qual se erguia uma velha<br />

árvore à cuja sombra o Cristo pregou ao povo, antes de sua partida para a Palestina.<br />

Ouvimos também outra lenda de como o Cristo, quando jovem, chegou à Índia em uma<br />

caravana de mercadores e como foi aprendendo a suma sabedoria dos Himalaias. Ouvimos<br />

várias versões desta lenda, que se difundiu amplamente pelo Ladak, Sinkiang e Mongólia,<br />

mas todas elas concordam em um ponto: que, durante o tempo de sua ausência, o Cristo<br />

esteve na Índia e na Ásia. Não importa como e de onde proveio a lenda; talvez seja de origem<br />

nestoriana, mas notável é que a ela se referem com absoluta sinceridade”. (págs. 31 e 32)<br />

Aqui me detenho para passar a outra notícia concordante, mas de origem extra-humana,<br />

isto é, espiritual.<br />

(Trecho do livro “Herculanum”, ditado pelo<br />

espírito do conde J. W. Rochester à<br />

médium Sra. W. Krijanowsky, na França<br />

edição da Livraria da Federação Espírita Brasileira, 1935)<br />

Quem fala é o espírito do ex-centurião romano Quirinus Cornelius (anteriormente Allan<br />

Kardec, sacerdote, druida, depois João Huss, padre da Boêmia), em resposta à pergunta de Caius<br />

Lucilius (depois conde de Rochester, a própria entidade comunicante): “Onde é que <strong>Jesus</strong>, de<br />

origem tão humilde, adquirira o grande saber e a eloqüência com a qual escravizava os corações?”<br />

Informa ele:<br />

“A sua origem divina manifestou-se do berço, justamente por uma sabedoria que<br />

ultrapassava a sua idade e isso em todas as fases de sua vida. Entretanto, eis o que ouvi<br />

a respeito. Depois daquela conversa com o Mestre, tive o ensejo de, por intermédio de um<br />

dos discípulos, travar relações com um judeu rico e ardoroso adepto da nova doutrina, a<br />

propósito desta mesma pergunta que ora me fazes.<br />

33


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Pois bem, esse homem me contou que o Mestre, ainda criança, foi a Jerusalém<br />

pela Páscoa, e, tendo por acaso se intrometido entre os doutores, a todos surpreendeu por<br />

suas dissertações e raciocínios, inconcebíveis na sua idade. Entre esses doutores,<br />

encontrava-se um velho rabino de Alexandria, abastado e sábio homem, que se interessou<br />

pelo menino precoce e veio a proporcionar-lhe, mais tarde, uma viagem àquela cidade, a<br />

fim de instruir-se. A morte do velho o impediu de facultar a <strong>Jesus</strong> uma posição independente,<br />

mas, ainda, assim, ele viajou pela Índia e só regressou à Galiléia dois ou três anos antes<br />

de começar a sua predicação. Sendo, ao demais, muito discreto, nenhum dos seus discípulos<br />

conhecia os pormenores da sua vida, nesse período que passou longe da pátria.<br />

Sua mãe, essa não o poderia ignorar, mas a verdade é que também se conservou<br />

muda a respeito”.<br />

Esta narrativa, que concorda com as anteriores, concorda ainda com as que se seguem.<br />

(Nota n° 1, da obra “La sorcellerie des<br />

campagnées”, de Charles Lancelin, autor de<br />

“L’Occultisme et la Science” e “La Vie Posthume”)<br />

O próprio <strong>Jesus</strong> foi um iniciado nos Mistérios do Egito. Encontro uma prova inegável<br />

disto em um erro de tradução, evidentemente proposital, que fizeram, sucessivamente, todos os<br />

tradutores oficiais do evangelho de Mateus. Ei-lo: o versículo 46 do Capítulo XXVII, deste autor,<br />

está assim: “E, pela nona hora, <strong>Jesus</strong> deu um grande brado, dizendo: ‘Eli, Eli, lamma<br />

sabachthani!’, isto é, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”<br />

Todos os manuscritos gregos transcrevem como seguem estas quatro palavras hebraicas:<br />

Eli, Eli, lamma sabachthani! Esta transcrição é unânime, pode-se, portanto, considerá-la como<br />

absolutamente exata. Ela deve ser tanto mais exata porque não apresenta nenhuma dificuldade e<br />

ser, por sua vez, substituída pelo hebraico em que, letra por letra, escreve-se (o hebreu não tem<br />

vogal) desta maneira: “LI, LI, LHM ShBHh ThNI”. Ora, a tradução desta frase não é “Meu Deus,<br />

meu Deus, por que me abandonastes?” e sim “Meu Deus, meu Deus, quanto me glorificais!”<br />

E esta frase era precisamente (com a única diferença proveniente da adaptação da idéia<br />

a uma outra língua) a fórmula que terminava nos mistérios do Egito a prece de ação de graças do<br />

iniciado: numa palavra, ela era sacramental e fazia parte de ritos misteriosos.<br />

Vejo na tradução oficial um contra-senso proposital, porque as edições que contêm esta<br />

passagem não deixam de enviar o leitor ao Salmo XII (XXI de certas traduções), vers. I, que é: “Oh,<br />

meu Deus! Oh, meu Deus! por que me abandonastes?”<br />

A tradução deste versículo do salmo é, com efeito, exata, porém o texto é muito diferente<br />

do de Mateus; traz “LI, LI LMHHhZHTh-Ni” (ou acrescentando a transcrição dos pontos<br />

massoréticos: hazabattva-ni), fazendo o leitor observar que não se deve confundir o Hh, do primeiro<br />

texto, com o Hh, do segundo, pois, no primeiro caso, é um Hheth, aspiração gutural muito forte<br />

que o grego substituiu por Chi, quando no segundo texto é um Agin, outra aspiração muito forte.<br />

Para representar estes sons guturais das línguas semíticas, o alfabeto latino oferece uma só letra:<br />

o H, para as aspirações fracas e Hh para as aspirações fortes.<br />

Ora, a que homem de bom senso pode-se fazer crer que, entre todos os hebraizantes<br />

oficiais que estudaram estes textos, não houvesse um só para fazer o simplicíssimo trabalho que<br />

acabo de apresentar ao leitor e, por conseguinte, desvendar o erro? Donde deriva ele?<br />

34


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Simplesmente disto: que, na época em que o evangelho de Mateus foi traduzido, no<br />

grego, por São Jerônimo, esta fórmula ritual era conhecida pelos padres contemporâneos, pois<br />

ainda existia bom número de iniciados hierofantes. Dar uma tradução exata seria classificar <strong>Jesus</strong>,<br />

ipso facto, entre os iniciados do Egito. E isto é tão verdadeiro que, embora tenha existido, ou ainda<br />

com certeza exista nas câmaras secretas da biblioteca do Vaticano, nunca nos apresentaram o<br />

texto original hebraico de Mateus, e que São Jerônimo, depois de se ter servido dele para firmar<br />

sua própria tradução (que, na realidade, era uma adaptação muito abreviada), depois de nos ter<br />

dado, do texto que ele próprio fez, a tradução errada, atualmente em voga, trata de heréticos todos<br />

os outros comentários que não os seus e denuncia como heréticas todas as seitas cristãs ebionitas,<br />

gnósticas, cabalistas, cevirtas, etc., que se serviram do livro original hebreu de Mateus. Contudo,<br />

não se deve procurar a razão desse ostracismo no fato único que acabo de estudar, mas também<br />

nessa outra causa que o livro de Mateus provava a existência, no ensino crístico, de uma doutrina<br />

esotérica secreta que só devia ser conhecida por certos iniciados.<br />

35<br />

(Citação do livro “Cristianismo Místico”,<br />

do Yogi Ramacharaka, edição do<br />

Círculo Esotérico da Comunhão do<br />

Pensamento, 1926, págs. 79/83)<br />

Escreve Ramacharaka que, se não me engano, é o ocultista inglês William Walker<br />

Atkinson:<br />

Lendas e tradições de organizações e irmandades místicas e ocultistas nos dizem que,<br />

depois do acontecimento do Templo, onde os pais o encontraram no meio dos doutores,<br />

aproximaram-se de <strong>Jesus</strong> membros da organização secreta a que pertenciam os Magos e<br />

fizeram os pais ver que não convinha que <strong>Jesus</strong> ficasse recluso na carpintaria, quando<br />

tinha dado provas evidentes de um maravilhoso desenvolvimento espiritual e tão admirável<br />

compreensão intelectual de assuntos gravíssimos. Depois de longa e séria consideração,<br />

os progenitores de <strong>Jesus</strong> consentiram que ele seguisse o plano dos Magos e permitiramlhes<br />

levá-lo consigo para a sua terra e seus retiros a fim de receber ali as instruções que a<br />

sua alma anelava e para as quais a sua mente estava preparada”.<br />

É verdade que o Novo Testamento não corrobora essas lendas ocultistas, mas igualmente<br />

é verdade que nada diz de contrário; passa com o silêncio por cima deste importante período<br />

de dezessete anos. É notável que, quando <strong>Jesus</strong> apareceu no cenário da atividade de<br />

João, este não o conheceu e, se <strong>Jesus</strong> tivesse passado aqueles anos em casa, João, seu<br />

primo teria conhecido seus traços fisionômicos e sua aparência pessoal.<br />

Os ensinos ocultistas nos dizem que aqueles dezessete anos da vida de <strong>Jesus</strong>, a respeito<br />

dos quais os Evangelhos nada contam, foram aproveitados por ele para viagens a terras<br />

longínquas, onde adolescente e moço foi instruído na sabedoria e ciência das diferentes<br />

escolas. Segundo essas tradições, ele foi à Índia, ao Egito, à Pérsia e a outras regiões<br />

distantes, vivendo alguns anos em cada centro importante e sendo iniciado nas diversas<br />

irmandades, ordens e corporações que ali tinham suas sedes. Algumas tradições das ordens<br />

egípcias falam de um jovem Mestre que esteve entre os irmãos daquela terra e do mesmo<br />

modo há tradições análogas na Pérsia e na Índia.<br />

Entre as lamasarias ocultas do Tibet e nos montes Himalaias podem se encontrar lendas e<br />

histórias concernentes ao admirável Mestre que certa vez visitou tais paragens e observou<br />

sua sabedoria e ciência secreta.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Além disso, há tradições entre os bramanistas, budistas e zoroastristas que narram a<br />

história de um estranho instrutor que apareceu no seu meio, ensinou admiráveis verdades<br />

e levantou contra si grande oposição dos sacerdotes das várias religiões da Índia e da<br />

Pérsia, porque pregava contra a casta sacerdotal e o formalismo e também se opunha a<br />

todas as formas de distinções e restrições das castas sociais. E tudo está também de<br />

acordo com as lendas ocultistas que dizem que do seu vigésimo primeiro até quase ao<br />

trigésimo ano de idade, <strong>Jesus</strong> exerceu seu ministério entre o povo da Índia, da Pérsia e das<br />

terras vizinhas, voltando, finalmente, ao seu país natal onde foi ativo durante os últimos<br />

anos de sua vida.<br />

As lendas ocultistas nos informam que, em todas as terras que visitou, despertara a mais<br />

amarga oposição aos sacerdotes, que sempre se opunha ao formalismo e ao poder sacerdotal<br />

e procurara reconduzir o povo ao Espírito da Verdade, afastando-o das cerimônias e fórmulas<br />

de que sempre se têm servido para ofuscar e nublar a Luz do Espírito.<br />

Ele ensinou sempre a Paternidade de Deus e a Irmandade do Homem. Empenhou-se por<br />

tornar as grandes verdades ocultas compreensíveis à massa do povo, que tinha perdido o<br />

Espírito da Verdade em sua observância das formas externas e cerimônias pretensiosas.<br />

Relata-se que, na Índia, atraiu sobre sua cabeça a ira dos brâmanes, que sustentavam a<br />

distinção das castas, essa maldição da Índia. Ele morava na cabana dos sudras, a mais<br />

baixa das castas hindus e por isso era olhado como pária pelas classes superiores.<br />

Por toda a parte os sacerdotes e as castas superiores o consideravam como revoltoso e<br />

perturbador da ordem social estabelecida. Era um agitador, um rebelde, um renegado<br />

religioso, um socialista, um homem perigoso, um cidadão indesejável, na opinião das<br />

autoridades daqueles países.<br />

Os grãos da sabedoria, porém, foram semeados à direita e à esquerda e, nas doutrinas de<br />

outros países orientais, se pode achar a Verdade, cuja semelhança com as doutrinas de<br />

<strong>Jesus</strong>, que foram conservadas, demonstra que provêm da mesma fonte e deram muito que<br />

pensar aos missionários cristãos que visitaram aquelas terras.<br />

E assim, devagar e com paciência, <strong>Jesus</strong> foi regressando à sua pátria, à terra de Israel,<br />

onde devia completar o seu ministério, trabalhando por três anos entre os seus compatriotas<br />

e onde igualmente devia incitar contra si a oposição dos sacerdotes e das classes elevadas<br />

que lhe trouxe finalmente o martírio e a morte. Ele era rebelde contra a ordem estabelecida<br />

das coisas e encontrou o fado reservado a todos os que vivem acima de seu tempo.<br />

E, como aconteceu desde os primeiros dias do seu ministério até o último, hoje, as<br />

verdadeiras doutrinas do Homem das Dores tocam mais facilmente os corações do povo,<br />

ao passo que são contrariadas e combatidas pelas pessoas que têm autoridade eclesiástica<br />

ou temporal, embora se chamem seus sequazes e apresentem suas insígnias. Ele foi sempre<br />

o amigo do pobre e oprimido, e odiado pelos homens do poder.<br />

Assim, pois, vedes que os ensinos ocultistas mostram que <strong>Jesus</strong> tem sido um instrutor<br />

mundial e não apenas um profeta judeu. O mundo inteiro foi seu auditório e todos os povos<br />

seus ouvintes.<br />

Ele plantou seus grãos de Verdade no seio de várias religiões e não numa só, e estas<br />

sementes estão começando a dar os seus melhores frutos agora em nossos dias, quando<br />

as nações começam a sentir a verdade da Paternidade de Deus e da Irmandade dos Homens<br />

e o novo sentimento vai se tornando bastante forte para derrubar os velhos preconceitos<br />

que separam irmão de irmão e um credo de outro credo. O Cristianismo, em seu sentido<br />

verdadeiro, não é apenas um credo, é uma grande Verdade humana e divina, que há de<br />

elevar-se por sobre todas as mesquinhas diferenças de raça e religião, para no fim iluminar<br />

todos os homens, unindo-os todos num só rebanho da Fraternidade Universal.<br />

36


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Assim escreveu Ramacharaka e o ano 2000 está próximo, ano, até quando, segundo<br />

mensagens do Além, ficarão cumpridas todas as profecias messiânicas.<br />

É que os tempos já chegaram, os tempos preditos pelo Apocalipse.<br />

37<br />

(Transcrição do capítulo X<br />

O sacerdócio secreto de <strong>Jesus</strong> -<br />

do livro “The mys-tical life of <strong>Jesus</strong>’<br />

do Dr. H. Spencer Lewis, da Biblioteca<br />

Rosacrux de San José, Califórnia,<br />

Estados Unidos da América)<br />

Escreve o Dr. Spencer Lewis, o falecido “Imperator” da Ordem Rosa-cruz do Norte,<br />

Centro e Sul América, membro da Ashrama Essênia da Índia e delegado americano do Mosteiro<br />

da. Grande Irmandade Branca do Tibet:<br />

Pouco ensinam os Evangelhos cristãos acerca da vida de <strong>Jesus</strong> entre a sua palestra com<br />

os doutores em Jerusalém e o começo do seu ministério na Palestina.<br />

Com efeito, a primeira coisa que nos contam os Evangelhos a respeito da preparação de<br />

<strong>Jesus</strong> para a sua obra como Filho de Deus é o seu batismo no rio Jordão. Dizem-nos que,<br />

na ocasião, <strong>Jesus</strong> quis sair da Galiléia e mostrar-se em público.<br />

Certamente que o batismo de <strong>Jesus</strong> não pode ter sido o início de sua preparação para o seu<br />

ministério, pois maior preparo exigia a obra que realizou durante alguns anos.<br />

Já expus em outras passagens deste livro porque está fora da razão acreditar que <strong>Jesus</strong><br />

não precisava de preparar-se para a sua missão e tratei de demonstrar que toda a sua vida<br />

denota profundo estudo, cuidadosa preparação e extraordinária disciplina durante a<br />

juventude.<br />

De acordo com as crônicas essênias, terminou <strong>Jesus</strong> os estudos no começo do outono,<br />

quando estava ainda nos <strong>13</strong> anos. Apesar da sua precocidade e esclarecido entendimento,<br />

não lhe foi permitido abreviar os estudos preparatórios na escola dos profetas do monte<br />

Carmelo, portanto cabe presumir que era atendido e cuidado por quem aumentava, com<br />

novas instruções os seus conhecimentos, na expectativa de que chegasse a hora de passar<br />

a cursos superiores em outras escolas a cargo de outros instrutores.<br />

Também assinalam as crônicas, bem claramente, quais as vicissitudes da vida de <strong>Jesus</strong><br />

desde que saiu da escola do Carmelo até ficar pronto para cumprir a sua missão.<br />

Os pormenores desses incidentes ou vicissitudes de sua vida são demasiado extensos e<br />

amiúde insignificantes para incluí-los em um livro desta espécie e tamanho, de modo que<br />

só exporei os pontos mais essenciais.<br />

De conformidade com as instruções enviadas à escola do Carmelo pelo Supremo Templo<br />

de Heliópolis, o jovem Avatar devia completar a sua educação com um estudo aprofundado<br />

das antigas religiões e dos ensinamentos das diversas seitas e credos mais influentes na<br />

época. Devia familiarizar-se com os dogmas das chamadas religiões pagãs, antes de<br />

empreender o estudo do desenvolvimento das crenças e ritos pagãos nos princípios<br />

superiores e credos ensinados nas escolas secretas do Egito e promulgada pela Grande<br />

Fraternidade Branca.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Nos tempos modernos, aquele que se propõe dedicar ao ministério sacerdotal tem de estudar<br />

as religiões comparadas e conta, com efeito, com universidades em que são analisadas,<br />

comentadas e interpretadas as Escrituras Sagradas antes de empreender o estudo da<br />

teologia atual. Hoje não sai mais o estudante do seu país natal e segue para terras estranhas<br />

a fim de familiarizar-se com as antigas religiões e escolas de filosofia moral. Na época de<br />

que tratamos, todavia, era absolutamente necessário que o estudante de religião e filosofia<br />

fosse às sedes das antigas religiões, onde podia consultar os únicos exemplares das<br />

autênticas escrituras de cada religião e conviver com as pessoas que a professavam para<br />

familiarizar-se com os seus rituais, dogmas e cerimônias. Alguns grandes Avatares do<br />

passado tiveram que ir a lugares afastados com dito propósito e assim foi universalmente<br />

disseminado o conhecimento dos antigos ensinamentos.<br />

O jovem <strong>Jesus</strong> ficou ao cuidado de dois magos que foram ao Carmelo com o objetivo de<br />

levá-lo à sua primeira escola afastada e lugar de experiência. Dizem as crônicas que foi<br />

permitido a <strong>Jesus</strong> passar uma semana com os seus pais na Galiléia, enquanto os magos<br />

faziam os preparativos e consultavam os professores da escola do Carmelo. Também<br />

instruíram os pais de <strong>Jesus</strong> a respeito do que deviam esperar e do que deviam fazer<br />

durante a ausência do seu filho.<br />

Do mesmo modo contam as crônicas que; quando <strong>Jesus</strong> e os magos saíram da Galiléia,<br />

realizou- se uma cerimônia essênia em uma assembléia privada e, sem despertar a atenção<br />

do povo, os magos e <strong>Jesus</strong>, junto com outros que iam à curta distância pelo mesmo caminho,<br />

partiram em caravana na direção de Djaguernat, cidade localizada na costa oriental da<br />

Índia, chamada hoje Puri, que, por séculos, foi o centro do mais puro budismo.<br />

Em uma montanha das cercanias da cidade havia uma escola ou mosteiro em que se<br />

guardavam vários antigos escritos budistas e onde residiam os mais doutos instrutores<br />

das doutrinas de Buda.<br />

Perto de um ano levou a caravana para chegar a Djaguernat e durante esse tempo não<br />

cessaram os magos de ensinar ao jovem <strong>Jesus</strong>, mostrando-lhe, no meio dos incômodos e<br />

atribulações da viagem, os sofrimentos da humanidade, a falta de ideais do povo e os<br />

assuntos populares então em voga.<br />

Segundo essas crônicas, permaneceu <strong>Jesus</strong> pouco mais de um ano naquela escola monástica<br />

e se familiarizou com os ensinos e rituais do budismo. O principal instrutor dele naquele<br />

período foi Lamaas, com quem simpatizou tanto que posteriormente o induziu a que<br />

ingressasse na comunidade essênia da Palestina.<br />

Do mosteiro de Djaguernat se trasladou <strong>Jesus</strong> para o vale do Ganges e se deteve alguns<br />

meses em Benáres, onde teve ocasião de estudar ética, física, gramática e outras disciplinas<br />

próprias das escolas mais famosas pela sua cultura e erudição. Ali se interessou vivamente<br />

<strong>Jesus</strong> pelo sistema terapêutico dos hindus e recebeu lições de Udraka, o mais insigne<br />

terapeuta do país.<br />

Depois de visitar outras partes da Índia com o fim de conhecer a arte, a legislação e a<br />

cultura dos seus povos, regressou <strong>Jesus</strong> ao mosteiro de Djaguernat, onde esteve outros<br />

dois anos. Tal adiantamento conseguiu em seus estudos que o nomearam instrutor na vila<br />

de Ladak, em que teve ocasião de familiarizar-se com a arte de ensinar por meio de<br />

parábolas.<br />

Por motivo das suas relações com eminentes instrutores de Benáres, recebeu <strong>Jesus</strong> a<br />

visita de uma alta dignidade de Lahore. Das crônicas se infere que <strong>Jesus</strong> já havia introduzido<br />

novas idéias e verdadeiros princípios místicos nas lições que ministrava aos alunos de sua<br />

escola e, embora essas novidades agradassem aos discretos, provocavam o antagonismo<br />

dos indoutos e rigorosamente ortodoxos.<br />

38


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O sacerdote vindo de Lahore tratou de persuadir <strong>Jesus</strong> a que modificasse ligeiramente os<br />

seus ensinos e cessasse de conviver com as castas inferiores e pessoas vulgares. Essa foi<br />

a primeira tentação que acometeu <strong>Jesus</strong> para que se afastasse da plebe e se unisse à<br />

influente aristocracia, mas ele não quis ouvir as insinuações do sacerdote e recusou os<br />

presentes que lhe eram oferecidos.<br />

Quando assim bebia os primeiros tragos amargos de sua vida, recebeu <strong>Jesus</strong> a notícia da<br />

morte do seu pai na Galiléia e que nada, nem ninguém, podia consolar a sua aflita mãe. Os<br />

mensageiros que levaram a notícia a ele lhe disseram que não se conhecia coisa alguma a<br />

seu respeito desde a sua partida da Galiléia, que a sua mãe não sabia por onde ele andava<br />

e que, se bem os essênios lhe afirmassem que o silêncio de <strong>Jesus</strong> estava vaticinado e que<br />

nenhum mal o atingira, não era possível consolá-la.<br />

Referem algumas crônicas antigas que, terminados os seus estudos do budismo e do<br />

hinduísmo na Índia, ia <strong>Jesus</strong> para Lhassa, no Tibet, mas, estando ainda na Índia, chegou<br />

um mensageiro com alguns manuscritos.de um templo de Lhassa, que lhe enviava o famoso<br />

Mengste, considerado como o maior de todos os sábios budistas.<br />

Durante largo tempo chegaram de Lhassa sucessivos mensageiros que lhe levavam<br />

manuscritos budistas e, desse freqüente intercâmbio e do efeito que produziu em sua vida,<br />

derivou a crença de que havia ele estado pessoalmente ali. Quando <strong>Jesus</strong> resolveu sair de<br />

Djaguernat, dirigiu-se à Pérsia, onde se haviam feito, na cidade de Persépolis, os preparativos<br />

convenientes a fim de que prosseguisse em seus estudos.<br />

Era Persépolis a capital da antiga Pérsia e a sede dos magos daquele país, chamados Hor,<br />

Lun e Mer. Um deles, já muito velho, era um dos três que tinham visitado o menino ao<br />

nascer na gruta essênia e lhe havia ofertado presentes do mosteiro da Pérsia.<br />

Grandes homenagens prestaram esses e os sacerdotes do templo a <strong>Jesus</strong>. De várias<br />

comarcas da Pérsia acudiram outros personagens a Persépolis e ali permaneceram uns<br />

como instrutores e outros como estudantes durante o período da educação de <strong>Jesus</strong>, porque<br />

referem as crônicas que cada dia, depois das lições, os instrutores lhe rogavam que lhes<br />

ensinasse os princípios superiores que parecia compreender por inspiração.<br />

Por último lhes fez <strong>Jesus</strong> saber que a maior instrução que ele podia dar era a obtida no<br />

silêncio, depois de meditar sobre alguma importante lei que havia sido ensinada no decurso<br />

dos seus estudos e leituras. Assim estabeleceu <strong>Jesus</strong> o método de ‘penetração no silêncio’,<br />

que tão importante característica havia de ter nos posteriores métodos místicos.<br />

Também demonstrou <strong>Jesus</strong> em Persépolis notáveis faculdades terapêuticas e, depois de<br />

analisar muitos meses essa sua inerente faculdade e fazer cuidadoso estudo de sua índole,<br />

declarou aos instrutores que, no seu entender, a atitude mental da harmonia por parte do<br />

enfermo influía consideravelmente no resultado. Tal foi o fundamento dos posteriores<br />

ensinamentos das reuniões secretas dos discípulos de <strong>Jesus</strong>, ou seja, que a harmonia<br />

interna e a preparação mental eram necessárias em todas as modalidades da terapêutica<br />

espiritual.<br />

Depois de um ano de permanência na Pérsia, <strong>Jesus</strong> e os magos se dirigiram para a região<br />

do Eufrates, onde entrou em relação com os mais ilustres sábios da Assíria e magos de<br />

outros países que foram vê-lo e ouvi-lo, pois já havia chamado a atenção de todos como<br />

intérpretes das leis espirituais de uma forma mais mística e compreensível.<br />

Largo tempo permaneceu <strong>Jesus</strong> nas cidades e povoações da Caldéia e da Mesopotâmia.<br />

Seu salutar poder e métodos terapêuticos se aperfeiçoaram tão rapidamente que inúmeras<br />

pessoas deles receberam o benefício da saúde e então lhe disseram os seus preceptores,<br />

os magos, que a faculdade de sarar os enfermos seria uma das provas do seu último<br />

exame preparatório para o exercício efetivo de sua missão.<br />

39


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Daquele país se transportaram <strong>Jesus</strong> e os magos para as ruínas da Babilônia e ali estiveram<br />

algum tempo a examinar os templos desmoronados, as partes destruídas e os palácios<br />

desertos. Lá se familiarizou <strong>Jesus</strong> com as provas e atribulações das cativas tribos de Israel<br />

e viu os lugares em que Daniel e os hebreus suportaram tremendas atribulações.<br />

Indubitavelmente lhe impressionaram os pecados dos pagãos e os erros das crenças antigas.<br />

Da Babilônia foram <strong>Jesus</strong> e os magos para a Grécia, onde se relacionou com alguns filósofos<br />

atenienses e esteve sob a direção pessoal e cuidado de Apolo, que lhe mostrou as antigas<br />

crônicas da sabedoria grega. Naquele país <strong>Jesus</strong> despertou muito a atenção dos sábios e<br />

magos que lhe rogaram permanecesse mais tempo com eles, mas o seu itinerário estava<br />

definitivamente traçado e, ao cabo de poucos meses, embarcou rumo a Alexandria.<br />

Ali só esteve o tempo suficiente para conversar com os mensageiros especiais que haviam<br />

ido saudá-lo e visitar alguns dos mais antigos santuários. De lá passou para Heliópolis e<br />

residiu em uma casa particular, especialmente disposta para ele, com vários criados, um<br />

lindo jardim e um escriba cujas funções eram análogas às do que chamamos hoje de<br />

secretário particular.<br />

Pouco depois de sua chegada a Heliópolis, foi <strong>Jesus</strong> visitado pelos representantes do<br />

sacerdócio pagão do Egito, que se haviam inteirado com desgosto e desaprovação dos<br />

seus ensinamentos e manifestações de poder místico. Novamente sofreu as amarguras da<br />

vida em várias provas e atribulações que teriam levado um homem vulgar a ceder às<br />

insinuações dos sacerdotes e a recorrer ao engano e à hipocrisia com respeito aos seus<br />

propósitos e intenções”.<br />

Diz o autor que foi naquela ocasião que <strong>Jesus</strong> começou a preparar-se para os graus<br />

superiores da Grande Fraternidade Branca, quando então alcançou o título de Mestre e voltou<br />

para a Palestina.<br />

40<br />

(Transcrição parcial do capítulo XXXIII<br />

da obra mediúnica recebida por<br />

Geraldine Cummins e publicada sob o<br />

titulo de “The Manhood of <strong>Jesus</strong>”<br />

pela Psychic Press Ltd., de Londres, Inglaterra)<br />

Antes do mais, algumas palavras a respeito da médium srta. Geraldine Cummins,<br />

recentemente falecida, que os espíritas ingleses chamavam de “o maior médium de escrita<br />

automática do mundo”, possivelmente por desconhecer a grande obra mediúnica do nosso querido<br />

Francisco Cândido Xavier. Em todo o caso vale o título para evidenciar o trabalho mediúnico da<br />

srta. Cummins, composto de vários volumes.<br />

A srta. Geraldine Cummins era filha do prof. Ashley Cummins, de Cork, Irlanda. Recebia<br />

mensagens de Felipe, o evangelista; de Cleofas ou Cleopas, um dos discípulos a quem <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo apareceu no caminho de Emaús depois da ressurreição, e de Frederic William Henrv Mvers,<br />

o conhecido espírita inglês Frederic Myers. O desenvolvimento de sua mediunidade começou em<br />

dezembro de 1923, em sessões realizadas com a srta. E. B. Gibbes. Nunca estudou teologia ou<br />

assuntos semelhantes. Viajou por todas as partes, mas nunca esteve no Egito nem na Palestina,<br />

de modo que não se lhe pode atribuir conhecimentos históricos ou geográficos daquelas duas<br />

regiões.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Sua escrita habitual era vagarosa ao passo que, quando escrevia automaticamente, era<br />

muito rápida, até mesmo veloz. Já em março de 1926, contavam-se 1750 palavras escritas em<br />

apenas uma hora e quinze minutos. Sua principal produção mediúnica foi de assuntos dos tempos<br />

apostólicos, como Francisco Cândido Xavier que nos deu: “Há 2000 anos”, “50 anos depois”, “Ave<br />

Cristo”, “O sinal da vitória” e “Paulo e Estevão”, obras ditadas pelo espírito de Emmanuel, que, em<br />

existência anterior, foi um sacerdote católico e que, em certo sentido, não poderia deixar de pender<br />

para a sua última religião terrena.<br />

O primeiro livro mediúnico recebido pela srta. Cummins foi “Os escritos de Cleofas’, que<br />

suplementa os Atos dos Apóstolos e as Epístolas de São Paulo. É uma narrativa histórica da igreja<br />

primitiva e do trabalho dos apóstolos de logo após a morte de <strong>Jesus</strong> até a partida de Paulo de<br />

Beréia para Atenas.<br />

Na sua segunda obra “Paulo em-Atenas”, a narrativa é retomada e continuada. A terceira,<br />

“Os grandes dias de Éfeso”, segue a mesma linha de pensamento. A produção desses escritos<br />

automáticos foi testemunhada por eminentes teólogos e outras autoridades e esclareceu muitas<br />

passagens obscuras dos Evangelhos. Recebeu ela, além de várias outras, sobre diferentes assuntos<br />

de fundo espírita, a pequena obra “Apelo para o César” e ainda “A infância de <strong>Jesus</strong>” e esta que<br />

mencionei acima e que trata dos primeiros anos da vida de adulto de <strong>Jesus</strong>, o seu julgamento e a<br />

sua crucificação. “The manhood of <strong>Jesus</strong>” está prefaciada pelo Rev. B. A. Lestes, B. A. (Ôxon).<br />

Trata-se, em suma, de uma médium altamente credenciada e respeitada, mesmo por<br />

autoridades eclesiásticas, e muito lhe deve o Espiritismo na Inglaterra.<br />

Passo, finalmente, à transcrição acima prometida. Ei-la, em tradução:<br />

Os Fariseus, os Saduceus e os Essênios adoravam cada um deles a Deus, conforme sua<br />

própria maneira. Na época em que <strong>Jesus</strong> andava pela Galiléia, os Essênios eram em número<br />

de três ou quatro mil. Alguns moravam na cidade, embora permanecessem uma gente à<br />

parte. Outros viviam na comunidade local e alguns pensavam em Deus nos lugares desertos.<br />

Eles envergonhavam os Fariseus e os Saduceus pela nobreza e pureza de suas vidas. Não<br />

censuravam qualquer pessoa, mas entre si discutiam a respeito das práticas dos Fariseus<br />

e condenavam o oferecimento de animais em sacrifício no Templo de Sion. Não acreditavam<br />

que ritos e cerimônias externas fossem tudo desejado por Deus. Havia uma prática, porém,<br />

além da prece e do jejum, que lhes era preciosa. Eram cuidadosos na limpeza do corpo e<br />

banhavam-se muitas vezes diariamente. Esse era um sinal exterior de sua pureza interior,<br />

esse testemunho da alma que acreditavam levar com eles depois da morte, em sua rápida<br />

viagem para a região feliz, o Paraíso, no longínquo horizonte.<br />

Os Essênios não proferiam palavras profanas ou mundanas antes do nascimento do sol.<br />

Na hora escura que precede a madrugada, ajoelhavam-se e oravam até que o sol surgisse,<br />

quando entoavam o Canto da Luz Eterna, aquela Luz que emana da fronte de Deus e que,<br />

em majestade e beleza, alimenta toda vida. Mas se entregavam, em particular, a essa<br />

prática da prece e comunhão com Deus antes do nascer do sol, pois que acreditavam que,<br />

sempre na hora da morte, as almas dos fiéis viajavam para o Paraíso quando o sinal<br />

externo da Luz Eterna surgia em sua glória por cima de colinas e vales. A essa boa gente,<br />

portanto, a hora do levantar do sol era santa, um espaço de tempo concedido pela vontade<br />

divina ao viajante que se libertou da carne e do mal do mundo que condenavam inteiramente<br />

e de que pensavam livrar-se durante a sua vida.<br />

Os Fariseus e os Saduceus odiavam esses Filhos da Luz, mas a couraça da virtude deles<br />

não podia ser perfurada. Assim, embora esses homens desejassem a sua destruição, não<br />

achavam um meio de assalto com que pudessem abatê-los e destruir-lhes as comunidades.<br />

41


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

No sopé de um monte não longe de Jericó e construída sobre uma rocha, achava-se a casa<br />

dos eremitas. Há muitos anos, dois jovens chamados Shammai e Enoc haviam reunido<br />

alguns desses fiéis e os aconselharam a fugir das maldades das cidades e buscar retidão<br />

de vidas, antes que fosse tarde, nos lugares desertos.<br />

Por algum tempo, eles perambularam pelo deserto, cheios de fome e sede, mas, finalmente,<br />

como Moisés e Aarão, Shammai e Enoc descobriram a terra que lhes fora prometida por<br />

Jeová numa visão.<br />

De uma caverna no meio de uma região nua saía uma corrente d’água que denominaram<br />

‘Água da Vida’. Nunca estava seca e regava a planície pedregosa que os irmãos desobstruíam<br />

quando fosse possível, e plantavam pés de uva e figos no alto da rocha. Então, com vagar<br />

e instrumentos edificaram o Lar dos Fiéis, que se tornou famoso além de qualquer outra<br />

coisa pertencente à sua seita, pois Shammai e Enoc, após meditação e prece, esboçaram<br />

corretos modos de pensar e de conduta e levaram-nos a serem observados, de modo que<br />

aqueles irmãos, que dirigiam, levassem uma vida pura que servisse de exemplo para as<br />

outras comunidades. Desprezavam as riquezas e partilhavam as coisas em comum. Sabendo<br />

disto quando era jovem, <strong>Jesus</strong> disse à Maria Cleofas que algum dia visitaria os Essênios e<br />

aprenderia o seu modo de viver.<br />

E assim aconteceu que, no começo do verão, na hora do pôr do sol, Shammai, que permanecia<br />

entre as vinhas e dirigia o trabalho dos irmãos, percebeu, no vale, um viajante que se<br />

aproximava e que demonstrava estar caindo de fraqueza. Rapidamente despachou dois<br />

irmãos mais moços para receber e socorrer o homem. Levantaram-lhe o corpo caído e<br />

conduziram-no, pela volta do caminho, ao seu lar na encosta do morro.<br />

Depois de breve instante, esse viajante abriu os olhos na frialdade da larga câmara para<br />

onde o tinham conduzido. Tendo sido revigorado por meio de ervas e limpado da poeira do<br />

caminho, ele falou e deu o seu nome: <strong>Jesus</strong> de Nazaré. Então Shammai mandou que os<br />

irmãos voltassem ao seu trabalho e às suas orações, pois. como ele contou a Enoc, ficara<br />

estranhamente impressionado pela conversa e a figura do jovem galileu.<br />

Shammai era um homem de dignidade e idade avançada e seu tom de autoridade não<br />

podia deixar de ser obedecido. Logo <strong>Jesus</strong> lhe estava abrindo o coração e contando o seu<br />

plano de ir ao Egito.<br />

‘Por que ir ao país dos idólatras, onde não há paz nem qualquer segurança onde uma<br />

comunhão possa ser feita e mantida com o Abençoado?’ falou Shammai. ‘Percebo, jovem,<br />

que a tua alma está pesada e que ficaste abatido pelas maldades do mundo. Em uma<br />

época distante, como tu, também eu presenciei cenas de violência que me levaram a buscar<br />

Deus neste lugar deserto, que tem sido frutífero para nós. Vi homens torturados e mortos<br />

pelos Romanos e ouvi as declarações feitas pelos Fariseus aos homens do poder. Por<br />

conseguinte, sei que unicamente pelo retiro do mundo posso preservar minh’alma e as dos<br />

outros do mal que sempre prevalece no mundo dos homens - prevalece até que o Messias<br />

venha’.<br />

Então <strong>Jesus</strong> perguntou se ele podia tornar-se irmão dessa comunidade de Essênios e<br />

passar sua vida no vale: ‘onde, na verdade, creio que encontrarei e guardarei o Reino do<br />

Céu’.<br />

Por um momento Shammai não deu resposta como se perscrutasse o rosto do jovem com os<br />

olhos. Quando finalmente falou, suas palavras não foram de boas-vindas e de assentimento.<br />

42


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

‘Meu espírito me diz’, falou Shammai, ‘que há em ti algum estranho poder que te levará<br />

longe de nós, te levará de volta ao mundo. Acho-me assim confuso, não gostando de proibirte<br />

de entrar para a nossa ordem, mas sabendo, por conhecimento íntimo, que tu não és um<br />

dos nossos, que estranhos e terríveis acontecimentos jazem em teu caminho pela vida<br />

afora. Portanto, temendo que a nossa paz possa ser destruída, hesito em pedir-te para<br />

permanecer conosco’.<br />

<strong>Jesus</strong> então encheu-se de tristeza. Percebendo-lhe o abatimento, Shammai lançou de si o<br />

manto do pré-conhecimento e disse ao seu hóspede que ele poderia morar naquela casa<br />

três dias e noites depois do que receberia a sua resposta.<br />

Assim, durante aqueles três dias e noites <strong>Jesus</strong> viveu entre os Essênios, seguindo o .seu<br />

modo de vida. Levantava-se ao nascer do sol e orava até que o dia clareasse, e todos então<br />

se juntavam no seu canto de louvor e adoração. <strong>Jesus</strong> banhava-se na corrente quatro<br />

vezes por dia e comia com os irmãos no largo aposento e ouvia a leitura das Escrituras,<br />

feita por Enoc. Trabalhava na vinha e cada tarde lavava a veste branca que lhe fora dada<br />

para usar. As horas de orações eram observadas por ele, horas das quais era cioso, não<br />

permanecendo dormindo como acontecia com alguns irmãos durante o pesado calor da<br />

tarde. Breve, em razão de sua singularidade e certa radiação que a regra do silêncio não<br />

podia quebrar, tornou-se o amado dos ‘crentes’ como eram os Essênios chamados.<br />

Na hora seguinte ao levantar do sol, já no quarto dia, Enoc foi porta-voz do desejo dos<br />

irmãos, que pediam a Shammai que permitisse que <strong>Jesus</strong> se tornasse membro de sua<br />

comunidade ou, pelo menos, lhe fosse permitido residir ali por três anos e observado e<br />

experimentado até que eles pudessem saber se ele poderia continuar na ordem durante a<br />

sua vida.<br />

Shammai respondeu: ‘Não estou consentindo nisto, mas, já que é a vontade dos irmãos,<br />

assim seja’. Então os Essênios daquela comunidade ficaram contentes, e, na sua presença,<br />

<strong>Jesus</strong> proferiu as palavras de seu primeiro voto: ‘Serei verdadeiro e fiel no meu trato com<br />

todos os homens e mais particularmente obedecerei os que tiverem autoridade, pois Deus<br />

os apontou para dirigir-me’.<br />

Preces foram proferidas e os irmãos vestiram <strong>Jesus</strong> com nova veste branca e assim começou<br />

o seu noviciado.<br />

Mais tarde iria <strong>Jesus</strong> cumprir o seu destino em Jerusalém e outros lugares.<br />

Em resumo, esta narrativa mediúnica confirma a estada de <strong>Jesus</strong> entre os Essênios e o<br />

seu aprendizado.<br />

43<br />

(Excerto da obra de A. Leterre “<strong>Jesus</strong><br />

e sua doutrina”, edição da<br />

Livraria da Federação<br />

Espírita Brasileira, 1934, págs. <strong>13</strong>2-4)<br />

O erudito A. Leterre foi um dos autores que mais investigaram sobre a vida de <strong>Jesus</strong> e<br />

do seu alentado volume de 540 páginas, estudo remontado há mais de 8600 anos, extraímos o<br />

seguinte e interessante trecho:


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Como já vimos, <strong>Jesus</strong> era de ascendência judaica e, como tal, teve de submeter-se a todas<br />

as exigências da Lei Mosaica que abrangia a Economia, o Ensino, a justiça, a Higiene, a<br />

Moral e o Culto a Jeová.<br />

As primeiras palavras que <strong>Jesus</strong> balbuciou foram certamente orações a IÊVE (Jeová) e<br />

nem sua mãe poderia ter-lhe ensinado outra doutrina senão a que ela mesma professava<br />

nos templos, tanto mais, crente como estava, de ser seu filho o Messias, isto é, o profeta<br />

anunciado por Moisés, não podendo, pois, a religião ser outra, por isso que o nazareou,<br />

mesmo para estar de acordo com a Lei que mandava consagrar ao Senhor todo primogênito<br />

homem.<br />

Criado o menino, foi ele entregue ao templo para sua educação e final desempenho da sua<br />

missão, tendo se dado essa ausência entre a idade de 12 à de <strong>30</strong> anos, justamente o<br />

tempo omisso nos Livros Sagrados sobre a Vida de <strong>Jesus</strong> nesse interregno, mas exatamente<br />

concordante com o tempo prescrito pelos templos na Índia para as iniciações que regulava<br />

ser de 18 a 21 anos.<br />

Esses 18 anos de ausência de <strong>Jesus</strong> são comparáveis aos 15 anos em que Zoroastro<br />

também esteve ausente. Apelemos para Lucas. Que diz ele em 1, 80?<br />

“E o menino crescia e se robustecia em espírito. E esteve nos desertos até o dia<br />

em que havia de mostrar-se a Israel”.<br />

Esse deserto era toda a parte que se estendia para o Oriente, cujo limite pouco importava<br />

ao evangelista. Se as palavras do Evangelho devem ser consideradas palavras de evangelho,<br />

não há como curvar-se a cabeça ante esta declaração que corrobora todas as pesquisas<br />

feitas pelos cientistas.<br />

Segundo Nicolau Nótovitch, <strong>Jesus</strong> esteve em Djaguernat, na Índia, onde os Brâmanes lhe<br />

ensinaram a doutrina dos Vedas, a medicina, a matemática, etc.<br />

Notovitch afirma que ele era conhecido sob o nome de Issa. Não haverá neste nome uma<br />

corrupção fonética de Isso - I-Sh-O - Iesu?<br />

Em celta, Esus é análogo ao Eso etrusco que era o epíteto de Júpiter, ao Aisa grego, à Isis<br />

egípcia. Esus significava o Ser, assim como Esuk, Eson ou OEsar significava Deus.<br />

Mas, como esse Issa não se conformava com a hierarquia dos deuses bramânicos, produzida<br />

pelo cisma de Irshu, 3200 anos, antes, ele se retirou para as montanhas do Nepal, no<br />

Tibet, onde reinava a doutrina budista, que aprendeu, iniciando-se nos outros mistérios.<br />

Dirigiu- se, então, para sua terra natal, atravessando a Pérsia e chegando à terra de Israel<br />

com a idade de 29 anos, o que concorda com Lucas III, 23: ‘<strong>Jesus</strong> estava quase nos <strong>30</strong><br />

anos de idade, sendo, como se cuidava. filho de José’, o que significa, claramente, que seu<br />

súbito aparecimento ali, após tão prolongada ausência, produziu aquela dúvida entre as<br />

pessoas da localidade.<br />

Aprofundando-se também o sentido da exclamação de Marcos e de Mateus VI, 3, etc.: ‘Não<br />

é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? e não<br />

estão suas irmãs aqui conosco?’, verifica-se logo o súbito aparecimento de <strong>Jesus</strong> entre<br />

seus parentes. É de notar-se mesmo que Mateus, não se referindo a seu pai José, faz<br />

supor que ele já tivesse morrido, mas João VI, 42, supre esta falta, dizendo: ‘Não é este<br />

<strong>Jesus</strong>, filho de José, cujos pai e mãe nós conhecemos?’<br />

44


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Segundo este notável escritor, toda a documentação por ele copiada e resumida em sua<br />

citada obra, cujas edições foram em grande parte queimadas na Rússia e em Paris pelo clero<br />

interessado, se acha, entretanto, conservada nos templos de Lhassa, para onde foi levado cerca de<br />

200 anos após a morte de <strong>Jesus</strong>, da qual é também ali falada e igualmente é encontrada em<br />

Bombaim e na própria Biblioteca do Vaticano.<br />

A história parece ter seu cunho de verdade se compararmos as palavras, as sentenças,<br />

as parábolas, os atos de <strong>Jesus</strong> com os ensinos da doutrina de Buda, onde elas se encontram em<br />

toda sua pureza, e do que faremos adiante uma vasta comparação.<br />

Também, segundo Saint-Yves,<br />

<strong>Jesus</strong> foi iniciado no Agartha, no Tibet, e sua doutrina é saturada da budista, que ele<br />

soube adaptar à mosaica e de acordo com a mentalidade e os costumes de seu povo.<br />

Por outro lado, confrontando-se Notovitch com Schuré, ex-discípulo de Saint-Yves, este<br />

escritor faz supor que, da idade de 29 para <strong>30</strong> anos, <strong>Jesus</strong> havia se recolhido ao templo<br />

que funcionava em Engaddi, perto de Belém, nas margens do Mar Morto, e que era dirigido<br />

por Essênios (Assaya em siríaco, que significa Médico, Terapeuta), os quais tinham por<br />

missão curar doenças físicas e morais. Era o resto de uma casta sacerdotal pertencente a<br />

confrarias de profetas instituídas ali por Samuel, o qual, por sua vez, era filiado às doutrinas<br />

de Rama.<br />

Proibiam o matrimônio e a guerra; recomendavam o amor a Deus e ao próximo e ensinavam<br />

a imortalidade da alma; formavam uma singular associação moral e religiosa e viviam<br />

numa espécie de mosteiros (Koinobions), pondo seus bens em comum e entregando-se à<br />

agricultura.<br />

Eram opostos aos Saduceus, que negavam a imortalidade da alma. Há grande analogia<br />

entre essa seita e os primitivos cristãos. Tinham, porém, muitas idéias e práticas budistas.<br />

O título de irmão usado na igreja primitiva é de origem essênia.<br />

Segundo F. Delaunay, os essênios surgiram 159 anos antes de J. C. nas cercanias da<br />

cidade dos Patriarcas, ao norte de Engaddi, não longe, portanto, de Belém, onde se achavam<br />

disseminados seus templos.<br />

Plínio, por sua vez, relata que os essênios eram budistas.<br />

Paramos aqui para citar outro autor não menos erudito, ou seja um grande orientalista,<br />

como Louis Jacolliot.<br />

45<br />

(Passagem de “La Biblia en la India”<br />

de Louis Jacolliot, Editorial Araujo,<br />

Buenos Aires, Argentina, págs. 341-3)<br />

Louis Jacolliot, indianista e escritor francês de primeira plana, nasceu em Charolles<br />

por volta de 1837 e faleceu em Saint-Thibault-les-Vignes no ano de 1890, Doutorou-se em<br />

jurisprudência ainda muito jovem e partiu para a Índia, cujos mistérios constituíram a vocação<br />

absorvente de sua vida.<br />

Em Chandernagor, lugar onde escreveu o original francês de La Bible dans l’Inde, foi<br />

Presidente do Tribunal de Justiça e se destacou como um espírito largo e generoso. O tratamento<br />

de pundit-sahib (senhor da justiça), que lhe deram naquela ocasião, bem mostra seu fervor humano<br />

e sua preocupação pela eqüidade e a verdade.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Na Índia, Jacolliot meditou toda a sua obra, composta de vários volumes, entre eles o de<br />

que se trata e que bem revela a sua cultura de humanista erudito, e Christna et le Christ, Les fils de<br />

Dieu, La genèse de l’humanité, Le Spiritisme dans le monde, etc.<br />

Escreve ele:<br />

É indubitável para nós que <strong>Jesus</strong>, até o momento em que apareceu no cenário do mundo,<br />

isto é, até os trinta anos, se preparou pelo estudo para a missão que se havia imposto.<br />

Por que, com efeito, permanecer até os trinta anos sem começar sua obra? Por que, se<br />

houvesse sido Deus, permanecer na inação durante doze ou quinze anos de sua vida de<br />

adolescente e de homem? Por que não pregar desde sua infância? Seria, sem dúvida<br />

alguma, um meio bastante sensível de demonstrar sua divindade.<br />

Conta-se que aos doze anos defendeu, no templo, uma tese que maravilhou os doutores<br />

judeus. Que tese? Por que os evangelistas não julgaram conveniente nos fazer conhecê-la?<br />

Não seria mais provável que esse fato, junto com outros, fosse produto de sua imaginação?<br />

Enfim, que fez dos doze aos trinta anos? Esta é uma pergunta que formulo e que gostaria<br />

de ver respondida.<br />

No silêncio dos apologistas de <strong>Jesus</strong> não podemos ver mais do que um fato intencional,<br />

pois seria preciso dizer a verdade e destruir a nuvem de obscuridade com a qual se<br />

comprazeram em rodear aquela grande figura. E o certo é que Cristo, durante tal período,<br />

estudou no Egito, talvez até na Índia, os livros sagrados, reservados desde séculos aos<br />

iniciados e com os mais inteligentes dos discípulos que se juntaram a ele no curso das suas<br />

peregrinações.<br />

Desta maneira foi como <strong>Jesus</strong> conheceu as tradições primitivas e estudou a obra e a moral<br />

de Crisma, na qual se inspirou para seus ensinamentos e prédicas familiares.<br />

Parece-me ouvir exclamações de surpresa e admiração até no campo dos livres pensadores.<br />

Raciocinemos, pois. A vós racionalistas me dirijo, a vós somente, pois toda discussão com<br />

os partidários da fé é impossível, desde o momento que não podemos entender-nos a<br />

respeito de princípios.<br />

Se não acreditais na divindade de <strong>Jesus</strong> por que vos admirais que se indague quais foram<br />

seus antecessores e iniciadores? Nascido de uma classe não inteligente, porque muito<br />

pouco instruída, só mercê de estudos pôde elevar-se acima de seus compatriotas e<br />

desempenhar o importante papel que conhecemos. Sim, Cristo foi ao Egito; sim, Cristo<br />

estudou no Oriente com os seus discípulos, eis a única maneira de explicar logicamente a<br />

revolução moral que realizaram. Provas não faltam. Esperai antes de formular juízo a respeito<br />

desta opinião que não é para mim uma simples hipótese mas uma verdade histórica.<br />

Que esta última palavra não vos surpreenda muito. Digo verdade histórica porque se comigo<br />

recusais o revelado, o prodigioso e o maravilhoso, só ficam causas naturais para estudar e<br />

se juntos achamos, em nossos estudos anteriores, uma doutrina mais antiga e que seja,<br />

ponto por ponto, idêntica à de <strong>Jesus</strong> e de seus apóstolos, não estaremos no direito de crer<br />

que nas mesmas fontes primitivas foi onde eles foram buscar seus conhecimentos?<br />

Não foram todas as grandes inteligências da antiguidade vivificar seu gênio no Egito? Não<br />

era aquele antigo país o ponto de reunião de todos os pensadores, de todos os filósofos, de<br />

todos os historiadores, de todos os gramáticos daquela época? Que iam buscar ali? Que<br />

podia encerrar aquela imensa biblioteca de Alexandria cuja destruição foi um dos menores<br />

títulos com que o César conquistou o desprezo das gerações vindouras?<br />

Por que mais tarde os neo-platônicos foram àquele país fundar sua célebre escola se as<br />

antigas tradições não houvessem atraído, qual foco luminoso, todas as escassas inteligências<br />

e todos os pensadores?<br />

46


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O filho de Maria e José seguiu a corrente: o Egito estava a pouca distância e ele foi ali<br />

instruir-se. Até pode ser, e estou tentado em acreditá-lo, que foi levado àquele país, desde<br />

a mais tenra idade, pelos próprios pais, assim como explicam os evangelistas, e devia<br />

voltar só depois de haver concebido o pensamento de ir pregar sua doutrina aos judeus.<br />

Fazemos ponto aqui, passando a novas narrações concordantes, todas elas enaltecendo<br />

a grande missão do Cristo, embora o vejam sob certo ponto de vista.<br />

Não censureis os que consideram <strong>Jesus</strong> como um grande iniciado, pois autores há, que,<br />

alegando que ele historicamente não existe, porque não foi mencionado por escritores de sua<br />

época, duvidam de sua existência terrena e chegam mesmo a impugnar o Novo Testamento, que já<br />

foi muito esmiuçado e criticado. Não desconhecemos o que aconteceu com o Padre Loisy.<br />

Mas, seja como for, a nossa religião cristã tem feito muito pela humanidade terrena e<br />

progredirá cada vez mais.<br />

<strong>Jesus</strong> foi e será sempre o maior dos profetas, a julgar pelo Novo Testamento.<br />

(Trechos das obras de Edouard Schuré intituladas<br />

“L’Évolution Divine (du Sphinx au Christ) e<br />

“Les Grands Initiés” (Rama, Khrisma, Hérmes,<br />

Moise, Orphée, Pythagore, Platon, Jésus),<br />

Librairie Académique Perrin, Paris, 1950)<br />

Edouard Schuré foi um escritor francês de origem alsaciana, que escreveu obras sobre<br />

história, estética e filosofia, bem como poesias, romances e peças de teatro. Era filiado à escola<br />

teosófica que, baseada em algumas passagens do Novo Testamento, ensina que <strong>Jesus</strong>, depois de<br />

convenientemente preparado pela iniciação, serviu de veículo à manifestação do Cristo Cósmico<br />

na Terra.<br />

Eis a descrição de Schuré:<br />

O corpo etéreo foi violentamente arrancado de seu invólucro físico. Por alguns segundos<br />

toda a vida passada turbilhonou em um caos. Depois, um imenso alívio e o negror da<br />

inconsciência. O eu transcendente, a alma imortal do mestre <strong>Jesus</strong> deixou para sempre<br />

seu corpo físico e mergulhou na aura do sol que o inspirou. Mas, do mesmo jato, por um<br />

movimento inverso, o Gênio solar, o Ser sublime, que chamamos Cristo, se apoderou do<br />

corpo abandonado para tomar posse dele até a medula e animar com um fogo novo essa<br />

lira humana, preparada por centenas de gerações para holocausto de seu profeta. Foi por<br />

isso que os dois essênios viram um clarão brotar do céu azul e iluminar todo o vale do<br />

Jordão? Eles fecharam os olhos devido à luz penetrante como se tivessem visto um arcanjo<br />

brilhante precipitar-se, cabeça baixa, no rio, deixando atrás de si miríades de espíritos com<br />

um rastro de chamas.<br />

Não apoiamos ou negamos este ensino, pois já percebemos que a vida de <strong>Jesus</strong> se<br />

presta perfeitamente a várias interpretações e que tal ponto de vista permanece mesmo lá no<br />

Além, como vimos, no começo deste trabalho, a propósito do “Novo Nuctemeron”, ditado pelo<br />

espírito de Apolônio de Tiana, a quem é atribuída a autoria do “Nuctemeron”, também chamado<br />

“As Doze Horas de Apolônio de Tiana”.<br />

Razão teve o antroposofista austríaco Rudolf Steiner quando escreveu: “Pode-se sempre<br />

aprofundar o mistério da Palestina. Detrás dele há ... o infinito”.<br />

47


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Extraímos o seguinte trecho do Capítulo III - Estada de <strong>Jesus</strong> entre os essênios,<br />

o batismo no Jordão e encarnação do Cristo, págs. 363/4, do livro VIII - O Cristo cósmico<br />

e o <strong>Jesus</strong> histórico - da primeira das obras citadas:<br />

Que fez <strong>Jesus</strong> dos treze aos trinta anos? Os Evangelhos não dizem palavra a respeito.<br />

Há uma lacuna premeditada e um profundo mistério, porque todo profeta, por maior<br />

que seja ele, tem necessidade de ser iniciado. É preciso que sua alma interior seja<br />

desperta e que ela tome conhecimento de suas forças para cumprir sua nova função.<br />

A tradição esotérica dos teósofos da antiguidade e dos tempos modernos é acorde<br />

em afirmar que o mestre <strong>Jesus</strong> não podia ser iniciado senão entre os essênios,<br />

última confraria onde existiam ainda as tradições do profetismo e que habitava<br />

então as margens do Mar Morto. Os essênios, dos .quais Filon de Alexandria revelou<br />

os costumes e as doutrinas secretas, eram sobretudo conhecidos como terapeutas<br />

ou curadores pelos poderes do Espirito. Assaya quer dizer médico. Os essênios<br />

eram médicos d’alma.<br />

Como convinha à humanidade profana, os Evangelistas deixaram pairar um silêncio<br />

absoluto, tão profundo quanto o do Mar Morto, sobre a iniciação do mestre <strong>Jesus</strong>.<br />

Eles não nos mostram senão o último termo dela no batismo do Jordão, mas, tendo<br />

reconhecido de uma parte a individualidade transcendente de mestre <strong>Jesus</strong> idêntica<br />

à do profeta de Ahura-Mazda, e sabendo de outro lado que o batismo do Jordão<br />

desvenda o mistério formidável da encarnação do Cristo, afirmada em escritura<br />

oculta pelos símbolos transparentes que pairam na narração evangélica, podemos<br />

reviver, em suas fases essenciais, essa preparação de um gênero único para o<br />

mais extraordinário acontecimento da história.<br />

É o que ele narra nas páginas seguintes, cujo remate final não nos satisfaz.<br />

Conforme prometemos, damos a seguir breves passagens da obra “Os Grandes<br />

Iniciados”, no que dizem respeito ao nascimento de <strong>Jesus</strong> e a sua alta missão.<br />

Do capítulo II - Maria - Os primeiros tempos de <strong>Jesus</strong>:<br />

Jehosua, cujo nome helenizado veio a tornar-se em <strong>Jesus</strong>, nasceu provavelmente<br />

em Nazaré. Foi com certeza nesse canto perdido da Galiléia que decorreu sua infância<br />

e que teve lugar o primeiro e o maior dos mistérios cristãos: a eclosão da alma do<br />

Cristo. Ele era filho de Myriam, que nós chamamos Maria, mulher do carpinteiro<br />

José, uma galiléia de nobre estirpe, adepta dos essênios.<br />

A lenda envolveu o nascimento de <strong>Jesus</strong> num tecido de maravilhas. Ora, se a lenda<br />

algumas vezes encobre apenas superstições outras há também que servem para<br />

velar verdades psíquicas pouco conhecidas, porque superiores ao entendimento<br />

comum.<br />

Como quer que seja um fato parece ressaltar da história lendária de Maria - que<br />

<strong>Jesus</strong> foi uma criança consagrada a uma missão profética pela vontade de sua<br />

mãe, antes de seu nascimento. Conta-se que o mesmo sucedeu com vários heróis ë<br />

profetas do Velho Testamento. Esses filhos votados a Deus pelas suas mães<br />

chamavam-se Nazarenos. A tal respeito é interessante reler a história de Sansão e<br />

a de Samuel. Um anjo anuncia à mãe de Sansão que ela vai conceber e dar à luz<br />

um filho por cuja cabeça não passaria navalha “porque a criança desde o ventre<br />

de sua mãe será nazareno; e que será ela que começará a libertar Israel<br />

da tirania dos Filisteus”. (Juízes, VIII, 3/5) A mãe de Samuel pede um filho a<br />

Deus. Ana, mulher de Elcana, sendo estéril, fez um voto e disse: “Senhor dos<br />

exércitos celestes! se deres à tua escrava um filho varão, eu to oferecerei<br />

por todos os dias de sua vida e não passará navalha pela sua cabeça.<br />

Então Elcana conheceu sua mulher... Algum tempo depois, Ana concebeu e<br />

deu à luz um filho a quem pôs o nome de Samuel, porque, diz ela, o pedi ao<br />

Senhor”. (Samuel I, cap. I, vs. 11/20) Ora, SAM-U-EL significa, segundo as raízes<br />

semíticas primitivas: Esplendor interior de Deus. A mãe, sentindo-se iluminada<br />

por aquele que encarnava, considerava-o como a essência etérea.<br />

48


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

trecho:<br />

Estas passagens têm uma importância extrema, porque nos fazem penetrar na tradição<br />

esotérica, constante e viva em Israel, e por ela no sentido verdadeiro da lenda cristã. Elcana,<br />

o marido, é bem o pai terrestre de Samuel segundo a carne, mas o Eterno é seu pai celeste,<br />

segundo o Espírito. A linguagem figurada do monoteísmo encobre aqui a doutrina da<br />

preexistência da alma. A mulher iniciada chama uma alma superior para a receber no seu<br />

ventre e dar à luz um profeta. Esta doutrina, muito velada entre os judeus, completamente<br />

ausente do culto oficial, fazia parte da tradição secreta dos iniciados.<br />

E do cap. II - Os essênios - João Batista - A tentação, este pequeno e interessante<br />

O que <strong>Jesus</strong> queria saber, só os essênios lhe poderiam ensinar.<br />

Os Evangelhos guardam um silêncio absoluto sobre os fatos e os gestos de <strong>Jesus</strong> antes de<br />

seu encontro com João Batista, pelo qual, segundo eles, o Cristo, de certo modo, deu início<br />

ao seu ministério. Logo depois ele apareceu na Galiléia com uma doutrina formada, a<br />

segurança de um profeta e a consciência de um Messias, porém é evidente que esse início<br />

de pregação deveria ter sido precedido por um longo desenvolvimento e por uma verdadeira<br />

iniciação. E não é menos certo que tal iniciação deveria ter-se realizado na única associação<br />

que então conservava em Israel as verdadeiras tradições e o gênero de vida dos profetas.<br />

Isto não pode oferecer a menor dúvida àqueles que, elevando-se acima da superstição da<br />

letra e da mania maquinal do documento, ousam descobrir o encadeamento das coisas<br />

pelo espírito delas.<br />

Isto ressalta não só da íntima conformidade entre a doutrina de <strong>Jesus</strong> e a dos essênios<br />

mas do próprio silêncio guardado pelo Cristo e pelos seus acerca dessa seita. Por que<br />

motivo ele, que atacava com uma liberdade sem igual todos os partidos religiosos de seu<br />

tempo, não cita nunca os essênios? Por que razão também nem os Apóstolos nem os<br />

Evangelistas falam deles? Evidentemente porque consideravam os essênios como sendo<br />

dos seus, porque estavam ligados a eles pelo juramento dos Mistérios e porque esta seita<br />

se fundiu com a dos cristãos.<br />

Na época de <strong>Jesus</strong> a ordem dos essênios constituía o último resto dessas confrarias de<br />

profetas organizadas por Samuel. O despotismo dos senhores da Palestina, a inveja de um<br />

sacerdócio ambicioso e servil os tinham repelido para o retiro e o silêncio. Eles já não<br />

lutavam como os seus predecessores, contentando-se em manter a tradição. Tinham dois<br />

centros principais: um no Egito, nas margens do lago Maoris e o outro na Palestina, em<br />

Engaddi, à beira do Mar Morto. Este nome de Essênios, que tinham adotado, vinha da<br />

palavra siríaca Assaya, médico, em grego terapeuta, porque seu mister confessado era o<br />

de curar doenças físicas e morais.<br />

Paramos aqui com as citações das obras de Schuré para passar a duas autoras muito<br />

conhecidas no meio teosófico.<br />

49<br />

(Citação de “El Cristianismo Esotérico”<br />

(Los Mistérios de <strong>Jesus</strong> de Nazaré)<br />

de Annie Besant, Editorial Claridad,<br />

Buenos Aires, Argentina, págs. 73/4)


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Annie Besant foi uma simpática e ilustre senhora inglesa que, maravilhada com a Teosofia,<br />

fixou residência na Índia e foi mãe adotiva do filósofo Krishnamurti.<br />

De sua obra supracitada, extraímos o seguinte trecho do capítulo IV - O Cristo Histórico<br />

- que condiz com o ponto de vista teosófico sobre o assunto, isto é, a iniciação <strong>Jesus</strong> e a encarnação<br />

terrena do Cristo. Ei-lo:<br />

Os anais ocultos confirmam, em parte, a narração dos. Evangelhos e em parte não. Mostramnos<br />

a vida de <strong>Jesus</strong> e deste modo nos facilitam o separá-la dos mitos que estão com ela<br />

entrelaçados.<br />

O menino, cujo nome judeu foi transformado em <strong>Jesus</strong>, nasceu na Palestina 105 anos<br />

antes de nossa era, sendo cônsules Públio Rutilo Rufo e Gnae Mallio Máximo. Seus pais,<br />

de ilustre origem, ainda que pobres, o educaram no conhecimento das escrituras hebréias,<br />

mas sua fervorosa devoção e sua gravidade, que não condiziam com a sua idade, fizeram<br />

com que eles o destinassem à vida religiosa e ascética e, como depois, em uma visita que<br />

fez a Jerusalém, mostrasse sua extraordinária inteligência e seu afã de saber, indo em<br />

busca dos doutores do templo, o enviaram para adquirir ensinamentos em uma comunidade<br />

de essênios que habitava o deserto meridional de Judéia. Na idade de dezenove anos<br />

entrou para o mosteiro essênio situado nas proximidades do Monte Serbal, instituto muito<br />

visitado pelos sábios que da Pérsia e da Índia iam para o Egito e onde existia uma magnífica<br />

biblioteca de obras ocultas, muitas das quais idas de regiões mais além do Himalaia. Desse<br />

lugar de místico saber, passou mais tarde ao Egito.<br />

Havia sido plenamente instruído nas doutrinas secretas que constituíam entre os essênios<br />

a verdadeira fonte da vida e, no Egito, foi iniciado como discípulo dessa sublime Logia de<br />

onde saem os fundadores de todas as religiões, pois o Egito foi sempre um dos grandes<br />

centros que há no mundo para a guarda dos Mistérios verdadeiros, dos quais são fracos e<br />

incompletos todos os Mistérios semi-públicos. Os Mistérios historicamente classificados de<br />

egípcios eram sombras dos assuntos tratados realmente “na Montanha” e ali foi consagrado<br />

o jovem hebreu de um modo solene que o preparou para o Sacerdote Régio a que chegou<br />

mais tarde. Era sua pureza tão sobre-humana e tão grande sua devoção que, em sua idade<br />

viril, cheia de graça, avantajava de muitos os severos e algo fanáticos ascetas com os quais<br />

havia sido educado, derramando entre os rudes judeus que o cercavam a fragrância de<br />

uma sabedoria suave e terna como um roseiral que, plantado estranhamente em um deserto,<br />

espargisse seu perfume por estéril planície. A majestosa graça e a formosura de linhas<br />

puras formavam em seu redor radiante auréola e suas breves palavras, dóceis e amorosas,<br />

despertavam ainda nos mais duros suave ternura. Assim viveu até os 29 anos de idade,<br />

crescendo de graça em graça.<br />

Com pureza e devoção tão grandes, estava em condições para servir de templo a um Poder<br />

mais elevado, para ser a morada de uma Presença poderosa. Havia chegado a hora de<br />

realizar-se uma das manifestações divinas que de tempo em tempo vêm em auxílio da<br />

humanidade, quando para apressar sua evolução espiritual se necessita de um novo<br />

impulso, quando a aurora de uma nova civilização vai despontar.<br />

Um poderoso “Filho de Deus” devia encarnar na terra um Instrutor supremo “cheio de<br />

graça e de verdade” (S. João, I, 14), mas precisava de um tabernáculo terrestre, uma forma humana,<br />

o corpo de um homem. Quem mais a propósito para ceder seu corpo com vontade e alegria ao<br />

serviço de Um ante o qual os anjos e os homens se curvavam com a mais profunda reverência, que<br />

esse hebreu, o mais nobre e o mais puro entre os “Perfeitos”, cujo corpo e alma imaculados eram<br />

o melhor que a humanidade poderia oferecer? O homem <strong>Jesus</strong> se entregou voluntariamente ao<br />

sacrifício, “ofereceu-se sem mancha” ao Senhor que tomou para si aquela forma pura como<br />

tabernáculo e viveu com ela três anos de vida material.<br />

50


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Nas tradições contidas nos Evangelhos, encontra-se essa época assinalada pelo Batismo<br />

de <strong>Jesus</strong>, quando se viu o Espírito “que desceu do céu como uma pomba e pousou n’Ele” (S. João,<br />

I, 32) e uma voz celestial o proclamou o Filho bem amado a quem os homens deviam prestar<br />

ouvido. E era ele, na verdade, o Filho bem amado a quem o Pai pôs sua complacência (S. Mateus,<br />

111, 17) e desde então “começou <strong>Jesus</strong> a pregar” (S. Mateus, IV, 17) e foi aquele grande mistério:<br />

“Deus se manifestou na carne” (I. Timóteo, 111, 16).<br />

Citamos mais de um autor teosofista, mas, como não mencionamos ainda aquela que é<br />

considerada a fundadora da nova Teosofia Helena Petrovna Blavatsky, que escreveu, entre outros<br />

livros, “Isis sem véu” e “A Doutrina Secreta”, em vários volumes, vamos ver o que diz ela sobre<br />

<strong>Jesus</strong> nas págs. <strong>30</strong>2/3 do seu “Glosário Teosófico”: <strong>Jesus</strong> - Chamado também Cristo ou <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo. É preciso estabelecer uma distinção entre o <strong>Jesus</strong> histórico e o <strong>Jesus</strong> mítico. O primeiro<br />

era essênio e nazareno e foi mensageiro da Grande Fraternidade para pregar os antigos ensinamentos<br />

divinos que deviam ser a base da nova civilização. Pelo espaço de três anos foi Mestre divino dos<br />

homens e percorreu a Palestina, levando uma vida exemplaríssima por sua pureza, compaixão e<br />

amor pela humanidade. Operou multidões de prodígios ressuscitando mortos, curando enfermos,<br />

devolvendo a vista a cegos, fazendo andar paralíticos e realizando muitos outros atos que, pelo seu<br />

caráter extraordinário, foram qualificados de “milagrosos”. A sublimidade de sua doutrina ressalta<br />

sobretudo em seu célebre Sermão da Montanha. Como iniciado que era, ensinou também doutrinas<br />

esotéricas, mas estas as reservava unicamente para uns “poucos”, isto é, para seus discípulos<br />

escolhidos.<br />

Ao <strong>Jesus</strong> histórico foram atribuídos não poucos fatos lendários que o converteram em<br />

outro personagem puramente mítico, uma verdadeira cópia do deus Krishna, tão venerado na<br />

Índia. Para comprovar claramente tal asserção, basta observar um pouco o paralelo que entre<br />

<strong>Jesus</strong> e Krishna é apresentado em “Isis sem Véu”, etc., etc”.<br />

Gostaríamos, e muito, de citar autores não espiritualistas ou ocultistas, mas notamos<br />

que eles não dizem palavra sobre a vida de <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> anos. Para quem quiser aprofundar<br />

o mistério, que vai ... ao infinito, como diz Steiner, recomendamos as seguintes obras na língua<br />

francesa: de Gustave Dalman, Diretor do Instituto Arqueológico Alemão de Jerusalém: Les itinéraires<br />

de Jésus (Topographie des Évangiles); de R. Bultman, Professor na Universidade de Marburg: Le<br />

Christianisme primitive dans le cadre des religions antiques; de Joseph Klausner, Professor de<br />

Literatura Hebraica na Universidade de Jerusalém: <strong>Jesus</strong> de Nazareth (Son temps - Sa vie - Sa<br />

doctrine); Charles<br />

Guignebert, Professor de História do Cristianismo na Sorbonne: Des prophètes à Jésus,<br />

Jésus, Le Christ e L’Église; e de Maurice Goguel, Decano da Faculdade de Teologia Protestante de<br />

Paris: <strong>Jesus</strong>, La naissance du Christianisme. L’Église primitive e Au seuil de l’Évangile.<br />

Nossos leitores já notaram que um autor escreve Krishna e outros Cristna, bem como<br />

que uns dão 12 anos a <strong>Jesus</strong> na ocasião do encontro no templo e outros <strong>13</strong>, embora incompletos.<br />

São pequenos detalhes que nada alteram. Digo isto (no singular), porque, embora muito tenha lido<br />

sobre <strong>Jesus</strong>, o que ficou ainda em mim, na mente e no coração, foi aquele que conheci em meu<br />

tempo de criança.<br />

51<br />

(Trecho do artigo “O Cristo morreu em Kashmyr”,<br />

de Victor de Carvalho, no número de 29-6-1949<br />

do “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, Brasil)


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Com o título acima e os subtítulos de “<strong>Jesus</strong> de Nazaré foi um “yogi”, “Onde Issa passou<br />

a sua mocidade” e “O mistério de um túmulo sombrio”, apareceu, no conceituado matutino carioca<br />

“Correio da Manhã”, o curioso artigo de que extraio os seguintes trechos, todos em confirmação do<br />

que foi dito anteriormente, como veremos adiante. Dito artigo faz parte de uma série sob o título<br />

geral de “Cartas da Índia” e foi escrito em Srinagar, Kashmyr, em julho de 1949.<br />

Passo aos trechos que nos interessam:<br />

Os muçulmanos veneram aqui um santuário numa pequena aldeia não longe de Srinagar.<br />

É um túmulo antiqüíssimo e sombrio. E quem está nesse túmulo?<br />

Quem inspira tanto respeito e veneração? Simplesmente <strong>Jesus</strong> de Nazaré! Porque, para os<br />

muçulmanos, <strong>Jesus</strong> morreu em Kashmyr! Considerado por eles como um dos grandes<br />

profetas, sendo os outros Abraão, Moisés e Maomé, <strong>Jesus</strong> conhecia todos os segredos da<br />

vida e da morte. Assim, após o Calvário e o seu sepultamento, tornou à vida. Os discípulos<br />

o esconderam e trataram das suas chagas. Depois, ele começou a grande jornada para o<br />

Tibet. Deteve-se em Kashmyr, onde veio a morrer das feridas mal curadas. E aqui existe<br />

um pinheiro, cujas folhas têm a virtude de sarar qualquer chaga. Nesse pinheiro, diz a<br />

lenda, Cristo apoiou-se para morrer...<br />

Aliás, o Nazareno já estivera aqui. E os muçulmanos têm uma versão que explica o mistério<br />

da vida de Cristo da adolescência à maturidade. Onde esteve ele desde a discussão no<br />

Templo com os doutores até se fazer homem?<br />

Muitas figuras do renascimento indiano do século XIX escreveram sobre o “Cristo oriental”<br />

afirmando que <strong>Jesus</strong> pertencia à Índia tanto racialmente como espiritualmente. Um<br />

manuscrito descoberto num mosteiro budista refere-se a <strong>Jesus</strong> como Issa e conta que Issa<br />

esteve por muito tempo no Tibet estudando os sistemas hindus-budistas da “yoga” e da<br />

ciência espiritual. Na idade de <strong>30</strong> anos, Issa regressou à Palestina. Aí, os seus novos<br />

ensinamentos provocaram a reação político-social que o levou ao calvário, porque <strong>Jesus</strong>, o<br />

“yogi”, queria que o seu povo aprendesse a antiga verdade: “Deus é Amor”.<br />

Um amigo muçulmano contava-me essa versão nova para mim. Eu fiquei ali, parado,<br />

admirado, olhando o túmulo misterioso. Uma mulher coberta de véus entrou e ajoelhou-se<br />

em atitude de profunda veneração. Depois suas mãos tocaram com unção uma pedra onde<br />

está gravada a marca dos pés do Nazareno. E, eu, Católico, Apostólico Romano, senti que<br />

minha mão se erguia, automaticamente, e fazia o Sinal da Cruz.<br />

Quando saí do sombrio túmulo de Cristo, o sol esplendente parecia querer cegar-me. Teria<br />

eu traído por um momento a minha crença na Ressurreição do Filho de Deus? Em torno, a<br />

suprema beleza do verde dos vales, do azul das águas, do branco imaculado das montanhas<br />

cobertas de neve ... Quem sabe mesmo se um dia os divinos pés do Nazareno não pisaram<br />

essas paragens, tornando-as num dos mais belos lugares do mundo?<br />

Mulheres veladas, homens com turbantes de cores vivas e amplos mantos, chegam em<br />

grupos para o santuário. Pareciam sair de antigas pinturas dos tempos dos imperadores<br />

mongóis.<br />

O brave new world<br />

That has such people in it<br />

Mais uma lenda para se confundir com a História, perturbando a paz do “Novo Testamento.<br />

52


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Aqui termina o articulista, e também eu. Não faço nenhum comentário. Quem quiser<br />

que o faça. Porque, para mim, <strong>Jesus</strong>-Cristo será sempre o mesmo Cristo dos seus sublimes<br />

ensinamentos.<br />

53<br />

(Excertos do artigo “<strong>Jesus</strong>: Homem ou Deus?”<br />

do escritor Rodolfo Benavides<br />

publicado no n° 1-12-1952,<br />

de “Voz Informativa”, do México)<br />

Este escritor mexicano, no seu supracitado artigo, dividido em subtítulos: <strong>Jesus</strong> histórico;<br />

<strong>Jesus</strong> bíblico; <strong>Jesus</strong> filósofo; Estudo analítico de <strong>Jesus</strong>; Paulo, cérebro criador da Bíblia; <strong>Jesus</strong><br />

não morreu na cruz; Aspiração de <strong>Jesus</strong>; Fenômeno do Avatar; Porque se chama a José o carpinteiro<br />

de patriarca?; <strong>Jesus</strong> primogênito e não unigênito; <strong>Jesus</strong> estudante e Conclusão, também estranha<br />

certos aspectos da crucificação, bem como que se chame a <strong>Jesus</strong> de unigênito quando teve irmãos<br />

e irmãs carnais. Alguns categorizados exegetas do Novo Testamento argumentam que se trata não<br />

de “irmãos carnais” e sim de “irmãos espirituais”, argumento que não prevalece pois também no<br />

meio espírita chamamos habitualmente os nossos confrades de “irmãos” no sentido espiritual,<br />

quando temos também os nossos “irmãos carnais”, como aconteceu com <strong>Jesus</strong>.<br />

Do longo artigo do Sr. Rodolfo Benavides só traduzo os trechos intitulados “<strong>Jesus</strong> não<br />

morreu na cruz”, e “<strong>Jesus</strong> estudante”. Vamos a eles.<br />

A afirmativa de que <strong>Jesus</strong> não morreu na cruz geralmente surpreende ainda a pessoas<br />

versadas nestas questões e isto obriga uma explicação. Lemos em Lucas, cap. 24, vers. 37<br />

a 43, que dizem: “Então eles (os discípulos), espantados e atemorizados, pensavam<br />

que viam algum espírito. E ele (<strong>Jesus</strong>) lhes disse: Por que estais perturbados e por<br />

que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os<br />

meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne<br />

nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhe as mãos e os<br />

pés. E, não o crendo eles ainda por causa da alegria, e maravilhados, disse-lhes;<br />

Tendes aqui alguma coisa que comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um<br />

peixe assado e um favo de mel, o que tomou, e comeu diante deles”.<br />

O Espiritismo científico experimental moderno demonstra que, em determinadas<br />

circunstâncias, os espíritos podem materializar-se e fazer-se momentaneamente visíveis<br />

até o ponto de deixar-se fotografar, mas nunca se aceitou que essas materializações cheguem<br />

a constituir um corpo físico permanente, nem muito menos que possa comer, como afirma<br />

o Evangelho. E tudo isto, sem contar com que, para a elevada personalidade de <strong>Jesus</strong>,<br />

recorrer ao procedimento de tomar alimentos para conquistar de novo os discípulos, é um<br />

procedimento somente válido quando se quer demonstrar, que não morreu mas que,<br />

transcorridos alguns dias, se restabeleceu de suas feridas.<br />

Poderíamos citar os outros evangelhos, porém preferimos chamar a atenção para fatos<br />

suspeitos como são o de ter sido baixado da cruz só algumas horas depois de haver sido<br />

crucificado, embora a lei romana exigisse um mínimo de três dias. Depois, quando foi<br />

levado a um túmulo de propriedade de Arimatéia, proeminente essênio, antigo mestre de<br />

<strong>Jesus</strong>, e finalmente quando o corpo desapareceu tão inesperadamente que os quatro<br />

evangelistas não puderam pôr-se de acordo, em vista do que cada um deles dá uma.<br />

versão distinta.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Tudo isto revela a manifesta parcialidade de Pilatos, que a todo o custo tratou de salvarlhe<br />

a vida e proibiu que lhe fossem quebradas as pernas, conforme ordenava a bárbara lei<br />

romana. Por que Pilatos não haveria de permitir que fosse descido da cruz antes de expirar,<br />

para fazer o último intento de salvar-lhe a vida depois de haver satisfeito a ânsia de vingança<br />

da igreja? Isto fala muito alto de Pilatos.<br />

Tudo demonstra que <strong>Jesus</strong> foi um homem e não um Deus. Um homem tremendamente<br />

odiado pelos seus inimigos e profundamente amado pelos seus amigos, os quais expuseram<br />

a sua própria vida para salvá-lo, posto que os fariseus, braço armado da igreja judia,<br />

pretendiam permanecer perto da cruz, como o fariam qualquer abutre, mas os soldados<br />

romanos o impediram para evitar desordens, e aqui se volta a ver as mãos de Pilatos.<br />

Que significa a palavra patriarca? Naquela época, com ela eram designados os homens<br />

que tinham doze ou mais filhos. Atualmente, os dicionários concordam com que este substantivo<br />

sirva para designar os personagens bíblicos que foram cabeça de família grande.<br />

A definição anterior nos obriga a recordar palavras do próprio <strong>Jesus</strong>, que, em Mateus<br />

6:3, declara: “O que é nascido da carne, carne é; e, o que é nascido do espírito, espírito é”,<br />

assegurando-nos assim o próprio <strong>Jesus</strong>, com as suas palavras, que ele foi concebido por obra do<br />

homem.<br />

Além disto, podemos perguntar de onde vem a José o título de patriarca se não teve<br />

filhos? Esta interrogação nos obriga a refletir que José não foi patriarca, pois que <strong>Jesus</strong> viria a ser<br />

filho adotivo e então no próprio José se findou a árvore genealógica dessa família. Como pode um<br />

homem estéril ter o nome de patriarca? Como podia José ser patriarca se precisava ser, por<br />

requisito indispensável, o tronco de uma vasta família?<br />

Mas é provável que José tenha sido efetivamente patriarca e então ser pai de muitos<br />

filhos e não entendemos como pôde haver sido <strong>Jesus</strong> uma exceção, que, se Deus fez, estava<br />

negando sua imutabilidade e, se a admitiu José, ficava a sua honra em suspenso.<br />

Para aclarar este conflito, que tem todos os visos de artificial, devemos investigar<br />

novamente nos evangelhos, onde encontramos algumas pessoas que são claramente designadas<br />

com ó nome de “irmãos” de <strong>Jesus</strong> no sentido de irmão carnal, como podemos verificar pelas<br />

citações seguintes: Mateus, cap. <strong>13</strong>: vers. 53 a 56: “E aconteceu que <strong>Jesus</strong>, concluindo estas<br />

palavras, se retirou dali. E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de<br />

sorte que se maravilhavam, e diziam: Donde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas?<br />

Não é este o filho do carpinteiro e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José,<br />

Simão e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio pois tudo isto?”<br />

Se só pudéssemos fazer esta citação, poderia argumentar-se má interpretação, mas há<br />

outras que confirmam a anterior. Vejamos algumas deles: Marcos, cap. 3, vers. 31 a 34: “Chegaram<br />

então seus irmãos e sua mãe, e, estando fora, enviaram a ele, chamando-o. E a multidão<br />

estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te buscam lá<br />

fora. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em<br />

redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos”.<br />

No fim desta passagem de Marcos, <strong>Jesus</strong> referia-se a seus irmãos espirituais, tanto que<br />

acrescentou no vers. 35: “Porque qualquer que fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, e<br />

minha irmã, e minha mãe”, de acordo com as idades dos presentes, quando a mãe e os irmãos<br />

carnais o buscavam lá fora, isto é, não se achavam presentes. Uns eram parentes “carnais” e<br />

outros parentes “espirituais”. <strong>Jesus</strong> (houve muitos na Judéia com este nome) tinha primos paternos<br />

e maternos com os nomes dos seus irmãos, daí muitas confusões ocasionadas em diversas passagens<br />

do Novo Testamento.<br />

54


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Mas vejamos ainda Marcos, capítulo 6, versículo 3: “Não é este o carpinteiro, filho de<br />

Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco as<br />

suas irmãs? E escandalizavam-se nele”.<br />

As citações anteriores liquidam completamente com todo o conceito de divindade em<br />

relação a <strong>Jesus</strong>, pois se fora certo. o dos reis magos, do presépio, da fuga para o Egito e das<br />

crianças decapitadas, como é que o povo o ignorava, quando conhecia tão bem a família, se as<br />

irmãs viviam no meio dele, se citava os país pelos nomes e pelo seu ofício? Além disto, na última<br />

passagem, o próprio povo o designa com o nome de carpinteiro, expressão que nos faz pensar que<br />

<strong>Jesus</strong> aprendeu o ofício de seu pai antes de começar a pregar, pois que não se pode pensar que o<br />

chamasse de carpinteiro porque o pai dele o havia sido e isto fica esclarecido perfeitamente quando<br />

se sabe que a escola essênia tinha no programa elemental, como obrigação, a aprendizagem de<br />

algum ofício manual.<br />

Continuemos com as citações: Lucas, cap. 6, vers. 14: “Simão, ao qual também chamou<br />

Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Felipe e Bartolomeu, e Atos, cap. 1, vers. 14:<br />

“Todos estes perseveraram unanimemente em orações e súplicas, com as mulheres, e Maria,<br />

mãe de <strong>Jesus</strong>, e com seus irmãos”.<br />

Seria preciso continuar com as citações? Cremos que as acima bastem e quem quiser<br />

aprofundar o tema bastará estudar um pouco a Bíblia na qual encontrará múltiplas alusões aos<br />

irmãos de <strong>Jesus</strong> e a naturalidade com que o povo reconhecia esse fato, como, por exemplo, quando<br />

Efraim, acompanhado de seus irmãos e Maria sua mãe, sai a caminho para ir ao encontro de<br />

<strong>Jesus</strong> porque dizia-se que <strong>Jesus</strong> estava louco e, finalmente, ao dar-se o encontro, o citado Efraim<br />

pede a <strong>Jesus</strong> uma explicação pública, já que anda se proclamando filho de Deus quando todos o<br />

sabem filho de carpinteiro e portanto irmão deles.<br />

Usando de paciência, é possível refazer a família de <strong>Jesus</strong>. José teve cinco filhos com a<br />

sua primeira esposa Débora; Tiago, Matias, Cleofas, Judas e Eleazar.<br />

Depois de alguns anos de viuvez, José o carpinteiro contraiu matrimônio com Maria,<br />

vestal (médium) dos Essênios, com a qual teve sete filhos: <strong>Jesus</strong>; José, chamado também Efraim;<br />

Simão, Elisabeth, André, Ana e Jaime. Este último parece que mudou de nome por razoes que não<br />

nos interessam no momento.<br />

É de advertir que a ordem em que se acham colocados não significam as idades,<br />

excetuando a <strong>Jesus</strong> e Jaime.<br />

Outra coisa a notar:<br />

Na leitura da Bíblia encontramos com muita freqüência a palavra “primogênito” e, em<br />

menor proporção, “unigênito”.<br />

“Unigênito” se usa no caso de um só filho produto de casamento, como é o caso de<br />

Isaac, filho único de Abraão e Sara. Por sua vez, a palavra “primogênito” se usa no caso de<br />

primeiro filho de um casamento, mas não único filho.<br />

A progenitura entre os antigos judeus e que continuava sendo de certa importância nos<br />

dias de <strong>Jesus</strong> tem grande importância nesta argumentação, porque, na Bíblia, não se chama a<br />

<strong>Jesus</strong> de “unigênito” e sim claramente de “primogênito”, visto que <strong>Jesus</strong> foi um dos onze filhos<br />

de José e o primeiro dos sete de Maria”.<br />

É tão difícil analisar a personalidade de <strong>Jesus</strong> e chegar à verdade de sua existência,<br />

como é difícil investigar a origem de qualquer deus de qualquer religião. Os deuses nunca foram<br />

seres tangíveis, exceto quando se os converteu pela primeira vez em ídolos, mas os ídolos carecem<br />

de personalidade própria, porque nunca tiveram vida.<br />

55


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Ao contrário, seria muito fácil investigar a de <strong>Jesus</strong>, se se dissesse, por exemplo, que<br />

nasceu normalmente em Nazaré, não em Jerusalém, como sexto filho de um carpinteiro, nada<br />

pobre certamente, o qual apesar de ser nazarita, isto é, inimigo da religião judaica, teve que<br />

apresentá-lo no Templo na idade de doze anos, porque assim o exigia a rígida lei religiosa judia.<br />

A partir de então, começou a estudar na escola primária dos Essênios, dirigida por José<br />

de Arimatéia, parente do carpinteiro. Aos 22 anos, segundo ordenava a própria escola essênia,<br />

teve que partir para percorrer o mundo e escolher a atividade que mais lhe agradava, segundo sua<br />

vocação. Estudou no Egito as religiões comparadas, na Grécia filosofia e ciências, na Caldéia<br />

astronomia e na Índia botânica para poder chegar à terapêutica, condição indispensável que se<br />

exigia a todo o que chegar à condição de Iniciado ou pelo menos converter-se ao grau inferior da<br />

chamada fraternidade branca.<br />

Em suas pregações, demonstrou que podia fazer-se entender por todo o mundo, como<br />

se isto fosse possível sendo o idioma dos judeus na região do Tiberíades o aramaico, o científico o<br />

grego e o oficial o romano. Somente estudando é que poderia chegar a poliglota de três idiomas e<br />

para tanto era preciso ir aos respectivos países, visto que não havia escolas do tipo atual e muito<br />

menos na Palestina.<br />

Com relação à viagem à Índia, há provas irrefutáveis como é o fato de ter pregado em<br />

parábolas, forma desconhecida e até estranha entre os judeus, que foi uma das razões pela qual<br />

chamou a atenção, visto que era a forma natural da doutrina budista há séculos. E mais ainda:<br />

grande quantidade de seus ensinos parece ter sido copiada do Budismo, como o pode comprovar<br />

quem se decide a fazer a respectiva comparação, coisa que não podemos fazer aqui por falta de<br />

espaço, mas por certo nos faz pensar que <strong>Jesus</strong> estudou o Budismo na Índia, para tornar-se<br />

terapeuta, profissão que exerceu amplamente durante a sua odisséia.<br />

Pois bem, preparado para tanto, saiu <strong>Jesus</strong> a pregar, mas, como o inimigo principal do<br />

processo era a religião judaica, que protegia a corrupção, o vício, o mercantilismo e todos os<br />

valores negativos no homem, teve que carregar os seus discursos sobre esses temas, provocando<br />

a ira do pontífice que se dizia representante de Deus na Terra”.<br />

Paro aqui com as citações. Não posso explicar baseado em que o articulista diz que<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu a 4 de dezembro às 8 horas da manhã e que o crucificaram no dia 27 de março e<br />

morreu 88 dias depois.<br />

(Algumas perguntas e respectivas respostas<br />

do espírito Ramatis, extraídas das obras<br />

“Mensagens do Astral” e “O sublime peregrino”,<br />

da Livraria Freitas Bastos, S.A.)<br />

Parecendo-me não haver espírito tão perguntado, sobre tantos e tantos assuntos que<br />

nos interessam, como o de Ramatis, vou transcrever a seguir, total e parcialmente, algumas das<br />

perguntas que lhe foram feitas e as respostas que ele deu a respeito de <strong>Jesus</strong>.<br />

A obrigação de quem faz um estudo assim como este é de colher todos os elementos<br />

necessários para um consenso, uma concordância de informações provindas de vários autores,<br />

assim como fez Kardec utilizando-se do consenso dos espíritos desencarnados para a codificação<br />

do Espiritismo, agradem ou não, de ordem material e espiritual, isto é, o que foi escrito pelos<br />

homens e ditado pelos espíritos, de forma franca e imparcial. Nossa responsabilidade única está<br />

nas transcrições e traduções que procuramos fazer fielmente.<br />

56


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Bem sabemos que o espírito Ramatis conquistou a admiração de muitos espíritas, como<br />

também não ignoramos que certas respostas dele não foram aceitas por outros, mas não acreditamos<br />

que uma divergência de opiniões, sobre uma personalidade tão analisada e discutida como a de<br />

<strong>Jesus</strong>, vá quebrar a unidade existente no meio espírita, tanto mais porque o seu lema principal é<br />

“Fora da caridade não há salvação” e nosso Mestre foi e sempre será a pessoa de <strong>Jesus</strong>.<br />

Temos ainda idéias arraigadas de passado remoto e os nossos espíritos vieram das mais<br />

diversas religiões e assim elas não desaparecem comumente numa só reencarnação, por mais<br />

luzes que recebamos.<br />

Conhecemos pessoas que só se tornaram espíritas depois de grandes lutas internas,<br />

depois de muitas meditações e comparações de muitos e muitos anos, e outras não. É a reforma<br />

total do homem terreno, alijando cargas acumuladas em séculos de outras existências transcorridas<br />

nos mais diversos países e condições sociais. Ainda hoje não temos quem acredite na lenda de<br />

Adão e Eva, de Caim e Abel e outras? Trabalho, solidariedade, tolerância, é o que nos é recomendado<br />

sempre. Cada um faz sua própria experiência no mundo.<br />

Faço, primeiramente, transcrições das “Mensagens do Astral” e depois de “O sublime<br />

peregrino”, relacionadas com o que nos interessa.<br />

Pergunta: Qual o fundamento da tradição religiosa que afirma haver sido <strong>Jesus</strong> concebido<br />

por obra e graça do Espírito Santo e nascido de uma virgem? Cremos que essa tradição deve ter<br />

alguma base lógica, pois a própria Bíblia, no Velho Testamento, afirmava que o Messias deveria<br />

nascer de uma virgem e o evangelista Mateus o confirma no Novo Testamento quando diz que Maria,<br />

antes de coabitar com José, já havia concebido naquelas condições.<br />

Ramatis: Os velhos profetas procuraram deixar aos pósteros algumas indicações para<br />

que no futuro pudessem reconhecer o Messias, mas a insuficiência humana não permitiu que se<br />

entendessem tão prematuramente as alusões feitas ao nascimento do Messias através das deficientes<br />

traduções dos livros sagrados, por cujo motivo resultou obscurecido o sentido exato de certas<br />

alegorias.<br />

Através da Bíblia, a posteridade ficou sabendo que o Messias teria de nascer de uma<br />

virgem e ser concebido por obra e graça do espírito santo, mas interveio na profecia a interpretação<br />

pessoal, que trouxe a confusão ao profetizado. <strong>Jesus</strong>, como primeiro filho que se gerou em Maria,<br />

nasceu realmente de uma virgem, pois virgem era a sua jovem genitora, quando retirada do templo<br />

de Jerusalém para uma primeira núpcia. Cumprira--se a profecia e se identificara o principal<br />

sinal, que seria o nascimento de uma criança filha de uma virgem, ou seja, o primeiro filho nascido<br />

da primeira concepção conjugal.<br />

Maria, na realidade, era um espírito “santo”, ou seja um anjo descido dos céus na forma<br />

de mulher, para servir de matriz carnal e santificada pelo espírito, isenta de provas redentoras e<br />

em missão junto ao sublime <strong>Jesus</strong>. No seu corpo virginal e, por obra do seu espírito “santo”,<br />

gerou-se o corpo de <strong>Jesus</strong>. Maria não era uma mulher dominada pelas paixões humanas, mas um<br />

ser angélico, delicado, formoso e santo em espírito! Deveis atender sempre ao espírito da palavra e<br />

não à palavra do espírito! etc. (“Mensagens”, pág. 371 e seguintes).<br />

Pergunta: Para que a entidade espiritual, que se chamou <strong>Jesus</strong> de Nazaré, pudesse baixar<br />

a este mundo, tomando aqui um corpo, para conviver entre nós, houve necessidade de providências<br />

excepcionais ou essa encarnação obedeceu às leis comuns que regulam a encarnação dos espíritos<br />

em geral?<br />

57


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Ramatis: Já vos dissemos alguma coisa a este respeito, mas, como o assunto é vasto,<br />

estamos prontos a responder novas perguntas que desejardes fazer. Como já tivemos ocasião de<br />

explicar, o nascimento de uma alta entidade em vosso orbe, como ocorreu com <strong>Jesus</strong>, é precedida<br />

sempre de importantíssimas providências por parte da técnica sideral, providências essas que<br />

escapam, em sua maior parte, à capacidade de compreensão humana. Em linhas gerais, é um<br />

acontecimento que exige a existência de um campo astronômico purificado e providências que se<br />

estendem até ao controle dos mínimos recursos à hora de vir à luz, em vosso mundo, a entidade<br />

que deve encarnar. Além disso, deve ser assegurado à entidade um clima espiritual, na Terra,<br />

através da ação de espíritos que para isso se encarnam com antecedência.<br />

A encarnação da entidade que se chamou <strong>Jesus</strong> não obedeceu totalmente à lei que<br />

regula as reencarnações comuns, que são, em geral, de espíritos ainda atrasados, que sentem, por<br />

isso, poderosa atração para os planos inferiores, devida à sua grande afinidade com o instinto<br />

animal que ainda os domina. Os espíritos ainda apegados à matéria têm campo propício, favorável<br />

à sua reencarnação, porque trazem em si o desejo latente que lhes inspira a hipnose da carne. No<br />

entanto <strong>Jesus</strong>, um Messias, um Sublime Peregrino, um hóspede que baixava à Terra em missão<br />

sacrificial, foi obrigado a mobilizar a sua vontade e criar mesmo aquele desejo, para que fosse<br />

facilitada a sua entrada no plano vibratório físico. O trabalho de <strong>Jesus</strong>, para descer ao plano<br />

físico, lembra o esforço de auto-redução que o raio do sol teria que fazer, em si mesmo, para<br />

conseguir habitar num frasco de barro, etc. (“Mensagens”, pág. 385 e seguintes).<br />

Pergunta: Por que motivo não chegou até nós a história da infância e juventude de<br />

<strong>Jesus</strong>?<br />

Ramatis: Os homens de hoje chegariam a descrer da existência de <strong>Jesus</strong> se a<br />

conhecessem através da história ou dos relatos da época em que viveu no vosso mundo, pois que<br />

não merecem crédito. A própria referência a <strong>Jesus</strong>, feita por Flavius Josephus na “Guerra dos<br />

Judeus”, foi uma hábil interpolação efetuada posteriormente, para garantia da história religiosa.<br />

Em Nazaré ainda se discute sobre qual seja o local onde <strong>Jesus</strong> provavelmente vivera.<br />

Isso comprova que a sua infância foi despida de acontecimentos excepcionais e idêntica à dos<br />

meninos hebreus seus contemporâneos. Devido à falta de elementos concretos e indiscutíveis, sua<br />

infância e juventude foram descritas ao sabor da imaginação de cada autor que, por isso, o situou<br />

sob diversas índoles psicológicas; pintaram-lhe uma infância incomum e lendária para que depois<br />

se justificasse a epopéia do Deus imolado na cruz, etc. (“Mensagens”, pág. <strong>30</strong>1 e seguintes).<br />

Pergunta: Em virtude de existirem duas teorias sobre a natureza do corpo de <strong>Jesus</strong> (a<br />

carnal e a fluídica), podereis nos dizer qual a verdadeira?<br />

Ramatis: Respeitando os sentimentos elevados através dos quais alguns dedicados<br />

trabalhadores espirituais atribuem a <strong>Jesus</strong> um corpo fluídico, não podemos nos furtar, entretanto,<br />

à sinceridade de vos responder que o corpo do Mestre era integralmente físico e obedecia às leis<br />

comuns da genética humana. Naturalmente, tratava-se de um organismo indene de qualquer<br />

distorção patogênica própria ou hereditária, pois provinha da mais pura expressão biológica e<br />

linhagem ancestral de gerações passadas. Constituía magnífico conjunto de expressão anátomofisiológica,<br />

onde o sistema endócrino era um cordão de luzes acesas para o mundo físico, e o<br />

sistema nervoso a mais perfeita rede hipersensível entre o comando cerebral e os seus órgãos de<br />

relação. Seu organismo era o resultado de um plano deliberado havia milênios; significava a maior<br />

possibilidade de virtuosismo na carne, assim como um “stradivarius” tem capacidade para reproduzir<br />

o sentimento completo e o gênio de um Paganini. Tudo fora resolvido, entretanto, sob regime<br />

sensato das leis tradicionais e disciplinadoras da gênese nos sistemas organogênicos dos planos<br />

físicos, etc. (“Mensagens”, pág. 412 e seguintes).<br />

58


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Pergunta: Algumas obras esotéricas, principalmente da “Fraternidade Rosa-Cruz”, afirmam<br />

que o Mestre <strong>Jesus</strong> viveu entre os Essênios, os quais influíram bastante na sua obra cristã. No entanto,<br />

outras obras, inclusive mediúnicas, asseguram que isso não aconteceu. Que dizeis a respeito?<br />

Ramatis: <strong>Jesus</strong> esteve realmente em contato com os Essênios durante algum tempo e<br />

conheceu-lhes os costumes, as austeras virtudes, assim como teve oportunidade de apreciar- lhes<br />

as cerimônias singelas dos santuários menores, externos e os ritos mais sugestivos do “Círculo<br />

Interno”. Muitos dos seus gestos, práticas e atos do mundo profano deixavam perceber as<br />

características essênicas de elevado teor espiritual, pois eles guardavam muita semelhança com<br />

os primeiros cristãos.<br />

Aliás, <strong>Jesus</strong>, como entidade de elevada estirpe sideral e insaciável na pesquisa do espírito<br />

imortal, ou da verdadeira vida do homem, jamais deixaria de procurar os Essênios e conhecer-lhes<br />

as idéias, pois os mesmos já ensinavam o amor a Deus e ao próximo, criam na imortalidade da<br />

alma e na reencarnação. Todas as religiões, seitas e movimentos espiritualistas da época foram<br />

alvo da atenção de <strong>Jesus</strong>, cuja mente privilegiada assimilava imediatamente a essência benfeitora<br />

e se desocupava das fórmulas exteriores. Seria bastante estranhável e um formal desmentido ao<br />

tipo espiritual avançado do Mestre <strong>Jesus</strong> caso ele tivesse conhecimento da existência dos Essênios,<br />

na própria Galiléia, e jamais se interessasse de um contato instrutivo.<br />

Pergunta: Mas por que não chegaram até nós as provas de que <strong>Jesus</strong> viveu entre os<br />

Essênios?<br />

Ramatis: Porque o Mestre não pertenceu, não se filiou propriamente à Confraria dos<br />

Essênios, mas entreteve relações amistosas, embora tenha participado dos ritos internos, que os<br />

próprios mentores Essênios achavam dispensáveis para uma entidade do seu quilate. Acresce que<br />

os Essênios do “Círculo Interno”, cujas práticas ficaram ignoradas dos profanos, faziam questão<br />

cerrada de se conservarem no mais absoluto anonimato, o que levou os historiadores a descrerem<br />

de sua existência, exceto quanto aos terapeutas ou adeptos externos.<br />

Acontece, também, que <strong>Jesus</strong> jamais propalou a sua condição de membro honorário da<br />

Confraria dos Essênios, onde o sigilo era um voto de severa responsabilidade moral. Em<br />

conseqüência, salvo João Evangelista, que conhecia tal disposição do Mestre.<strong>Jesus</strong> e dos seus<br />

contatos com os Essênios, ninguém jamais pode identificá-los a esse respeito. Assim, nada consta<br />

nos próprios evangelhos escritos posteriormente à morte de <strong>Jesus</strong>, nos quais há muitas contradições<br />

entre si, pois algumas lendas substituíram fatos autênticos e certas interpolações descrevem<br />

coisas que não aconteceram. Além dessas incoerências, que deixam os estudiosos hesitantes, se<br />

ainda há quem oponha dúvidas até quanto à existência do Rabi da Galiléia, não é de admirar que<br />

duvidem de suas relações ocultas com os Essênios, etc. (“O sublime peregrino”, págs. 278, 279 e<br />

seguintes).<br />

Muitas são as perguntas feitas ao espírito Ramatis e longas as respostas por ele dadas.<br />

Reproduzi-las todas ou mesmo parcialmente seria impossível. Do capítulo XXV - <strong>Jesus</strong> e os Essênios<br />

- colho a seguir alguns esclarecimentos de Ramatis que coincidem com alguns constantes de<br />

trechos citados de outras obras a respeito de <strong>Jesus</strong>. Vamos a alguns deles:<br />

1 - A Confraria dos Essênios teve seu inicio no ano 150 a.C., no tempo dos<br />

Macabeus; era uma espécie de associação moral e religiosa, lembrando algo das<br />

cooperativas agrícolas modernas.<br />

2 - A Igreja Católica nada sabe da existência da Fraternidade dos Essênios ou do<br />

convívio de <strong>Jesus</strong> entre eles. Aliás, os ensinamentos católicos não se coadunam<br />

com a origem iniciática e o esoterismo dos Essênios, pois, estes, além de serem<br />

reencarnacionistas; também eram avessos à idolatria das imagens.<br />

59


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

3 - Os templos, ou mais propriamente os santuários essênicos, disseminavam-se<br />

pelos montes mais importantes da Hebréia, em lugares sempre favoráveis para<br />

atender os discípulos e próximos dos agrupamentos rurais dos terapeutas.<br />

Todos os santuários submetiam-se ao “Conselho Supremo”, o qual se reunia em<br />

assembléias periódicas ou em casos extraordinários para atender problemas<br />

avançados da comunidade e estabelecer as normas da vida futura da<br />

Fraternidade. Esse Conselho era composto de setenta anciãos, cuja maior parte<br />

vivia no monte Moab, à margem oriental do Mar Morto. Muitos desses anciãos<br />

estiveram presentes às principais pregações de <strong>Jesus</strong>, como no caso do “Sermão<br />

da Montanha” e durante a “Transfiguração”, pois eles se misturavam entre .o<br />

povo comum. No monte Ebat funcionava o santuário dos Essênios que atendia a<br />

zona da Samaria; no monte Carmelo e Tabor os santuários para os galileus. Os<br />

peregrinos ou moradores provindos da Síria e de povos semelhantes apreciavam<br />

freqüentar os santuários do monte Hermon, onde os seus dirigentes também<br />

eram egressos daquelas zonas. Não eram, propriamente, edifícios construídos<br />

nas cristas dos montes; tais santuários eram escavados, com certo capricho, no<br />

interior das minas abandonadas, das grutas e cavernas distantes das cidades<br />

principais.<br />

4 - Os judeus que ingressavam na confraria dos Essênios não tardavam em<br />

abandonar o seu modo mecânico e lamentoso de orar a Jeová, libertando-se do<br />

rosário de murmúrios ininteligíveis ou das cantorias monótonas tão familiares<br />

nas sinagogas.<br />

5 - Apenas João, o Evangelista, tinha acesso aos ritos internos, pois era iniciado e<br />

fora ele o próprio profeta Samuel, que, no passado, havia organizado a<br />

“Fraternidade dos Profetas”, na qual os Essênios também se inspiraram. Aliás,<br />

os apóstolos de <strong>Jesus</strong> foram arrebanhados quase ao apagar das luzes da vida do<br />

Mestre e jamais poderiam escalonar no curto prazo de três anos as iniciações<br />

esotéricas do Círculo Interno essênico.<br />

E, finalmente, acrescentamos que Ramatis diz que “<strong>Jesus</strong> foi crucificado, como o<br />

Cordeiro de Deus, devido à imprudência sediciosa dos seus discípulos e não por efeito de<br />

quaisquer excomungações agressivas contra o próximo” e que “quando foi crucificado, a<br />

sua auréola messiânica quase apagou-se, pois naqueles dias trágicos sumiram-se parentes,<br />

amigos e discípulos, ante o terror de serem crucificados. Mas, à medida que foram<br />

decorrendo os dias, a figura do Mestre Amado foi-se avultando emergindo do seu martírio,<br />

assim como a planta renasce das próprias raízes depois de cortada. Em breve, sua vida e<br />

sua morte eram motivos que centralizavam os sonhos de seus adeptos e amigos, fazendo-os<br />

cultuar-lhe a memória consagrada pelas bênçãos dos seus ensinos e fidelidade de suas<br />

idéias. Os compiladores dos evangelhos, segundo os apóstolos, então cercaram-lhe a<br />

personalidade de reformador moral e religioso, de fatos e acontecimentos melodramáticos,<br />

além de dos prodígios para adaptarem sua vida às predições exaltadas do Velho<br />

Testamento”.<br />

Mas paremos com Ramatis. Vamos a outros autores, vamos ver o que eles dizem a<br />

respeito de <strong>Jesus</strong> e ainda sobre a sua vida e ligações com os Essênios. Quem afinal foi <strong>Jesus</strong>? Eis<br />

a pergunta que ainda podemos formular! Embora dizendo que <strong>Jesus</strong> é o Governador Espiritual do<br />

Planeta Terra (pág. 12), Ramatis ensina ainda que ele foi o “médium” do Cristo Planetário (pág.<br />

66), ao afirmar: “Assim, o Logos, o Verbo ou o Cristo do planeta Terra, em determinado momento<br />

passou a atuar diretamente pelo seu intermediário <strong>Jesus</strong>, anjo corporificado na figura humana,<br />

transmitindo à humanidade a Luz redentora do Evangelho!<br />

60


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

(Transcrição de trecho do artigo<br />

“Teria <strong>Jesus</strong> vivido na Inglaterra?”, de André Cehesse,<br />

publicado ria edição de 23-7-1958,<br />

de “O Globo”, do Rio de Janeiro)<br />

Reproduzimos a seguir o trecho principal do artigo supracitado, deixando para o fim<br />

algo que podemos adicionar ao que foi dito. Ei-lo:<br />

A decifração e tradução dos manuscritos antigos, encontrados, há alguns anos, por modesto<br />

pastor numa gruta próxima do mar Morto, são acompanhados na Inglaterra com um tal<br />

interesse que muitas vezes toca as raias da paixão.<br />

Uma estranha teoria acrescenta um elemento de curiosidade a estes problemas teológicos.<br />

Em alguns meios eclesiásticos ou não, espera-se que essas relações, escritas no decorrer<br />

dos primeiros séculos de nossa era, venham confirmar que <strong>Jesus</strong> esteve na Inglaterra,<br />

conforme alguns pretendem.<br />

Trata-se, com efeito, menos de uma lenda do que de uma tradição secular da Cornualha,<br />

tradição que, convém assinalar, é apoiada por dados muito precisos e curiosos.<br />

Um estudo aprofundado dos Evangelhos e dos textos sagrados não nos faculta,<br />

naturalmente, o menor esclarecimento que venha patrocinar ou anular esta tese. Porém, na<br />

realidade, não sabemos da vida de Cristo no decorrer dos dezoito anos de sua existência<br />

transcorridos depois que ele atingiu os doze anos de idade.<br />

Não nos esqueçamos também de que <strong>Jesus</strong> foi sobrinho de José de Arimatéia, o mesmo<br />

que reclamou seu corpo a fim de dar-lhe uma sepultura condigna.<br />

Ora, Arimatéia era um rico mercador cujos navios singravam o Mediterrâneo em todos os<br />

sentidos. É, pois, provável que <strong>Jesus</strong> menino tenha acompanhado o tio numa dessas viagens.<br />

É que o navio, transpondo o estreito de Gibraltar e subindo para o norte, tenha feito escala<br />

na Cornualha.<br />

Não há nesta suposição nada de extraordinário, pois naquela época vários foram os<br />

navegadores que não só tocaram as costas da Inglaterra como ainda subiram os largos<br />

estuários dos rios. Os trabalhos dos ferreiros britânicos eram então muito apreciados em<br />

Roma e em todos os países do Levante.<br />

De acordo com a tradição, <strong>Jesus</strong> deve ter residido entre modestos ferreiros, fornecedores<br />

ou fregueses do seu tio. E ele teria aproveitado sua estada na Cornualha para visitar a<br />

região, instruir-se com os druidas, estacionando em várias aldeias que ainda existem.<br />

Ao término de alguns meses ou de alguns anos, <strong>Jesus</strong> seria encontrado, no seu país natal,<br />

com seu tio José de Arimatéia.<br />

Em todas as regiões do oeste da Grã-Bretanha, não somente na Cornulha como também<br />

em Somerset, e principalmente ao longo da costa, torna-se a encontrar essa curiosa tradição,<br />

de acordo com a qual Cristo deve ter vivido na Inglaterra.<br />

No começo da era cristã, na pequena região de Glastonbury, existiu uma igreja construída<br />

pelo próprio Cristo, a qual, evidentemente, desapareceu há muito tempo e foi substituída<br />

por uma capela mais moderna.<br />

61


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Mas, por mais longe que se remonte o decorrer da História, encontram-se traços da existência<br />

dessa igreja. Em 1658, quando os saxões invadiram Somerset, essa igreja já existia e, de<br />

acordo com testemunhas dignas de fé, vinha de tempos imemoriais.<br />

Os arquivos de Glastonbury contêm um documento que data de antes da conquista dos<br />

normandos. Esse documento afirma, de acordo com a tradição, que aquela igreja não tinha<br />

sido construída ‘pela mão dos homens e, sim, pelas mãos do próprio Deus’.<br />

Há quem confirme a tradição oral da presença de <strong>Jesus</strong> na Inglaterra, baseada no<br />

testemunho de dois santos. Quando São David se achava em Glastonbury Cristo apareceulhe<br />

e, mostrando-lhe a igreja, disse-lhe: ‘Eis aqui a igreja que eu construí em honra<br />

de minha mãe’.<br />

Outro fato singular parece confirmar esta tradição, José de Arimatéia é o santo padroeiro<br />

de Glastonbury.<br />

O fato de ter sido ele escolhido entre milhares de outros é devido, talvez, a, no seu tempo,<br />

ter estado nessa pequena região da Inglaterra, e nada prova que naquela época ele não<br />

estivesse acompanhado por seu divino sobrinho”.<br />

Aqui termina a nossa transcrição, que vou complementar, por assim dizer, com o que<br />

encontrei a respeito. Diz-se que a igreja católica descobriu, intactos, mais de um século (100 anos)<br />

depois dós acontecimentos narrados no Novo Testamento, a cruz, os cravos, a coroa de espinhos,<br />

o manto sagrado, etc., da crucificação de <strong>Jesus</strong>, mas nada descobriu, ou não quis dizer, sobre o<br />

período de sua vida dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> anos, parando-a nos 12 anos, quando dizia que “crescia <strong>Jesus</strong><br />

em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens”. (Lucas, II, vers. 52)<br />

Como não se pode admitir que <strong>Jesus</strong> tenha vivido incognitamente na casa de seus pais,<br />

nem como “agenere” num clima quente como o da Palestina, nem se conta onde ele adquiriu toda<br />

esta grande e sublime sabedoria que mostrou e demonstrou, diferente da religião de seu próprio<br />

povo, cabe examinar qualquer presunção para preencher esse vazio inexplicado dos 17 longos<br />

anos de sua vida de adulto de apenas 33 anos e mesmo admitir que tenha estado na antiga<br />

Bretanha ou Inglaterra, em companhia do mercador José de Arimatéia, seu tio e protetor.<br />

Vou, pois, referir algo relacionado com a transcrição acima, colhido em um livro<br />

completamente desconhecido do público brasileiro. É da autoria do Sr. Frederick Bligh Bond e tem<br />

o título de The Company of Avalon - a study of the script of Brother Simon, sub-prior of the Winchester<br />

Abbey in the time of King Stephen, ou, em português, “A Companhia de Avalon um estudo da<br />

narrativa do Irmão Simão, sub-prior da Abadia de Winchester no tempo do rei Estevão”.<br />

Em 1908, as autoridades eclesiásticas resolveram restaurar a abadia de Glastonbury, o<br />

mais velho edifício religioso da Inglaterra, sendo as escavações começadas em 1904, para achar<br />

uma das capelas, a de Edgar, mas sem êxito algum. Em suma, não se sabia quase nada sobre as<br />

construções primitivas, que remontavam ao século VI.<br />

Encarregado da restauração, o Sr. Bligh Bond resolveu recorrer à clarividência de um<br />

dos seus amigos, o Sr. John Alleyne, antes do começo das buscas. Em uma série de “narrativas<br />

subconscientes”, cuja origem era atribuída aos monges da abadia e em parte já conhecidas,<br />

indicações foram dadas sobre a disposição e as dimensões das antigas capelas. Ora, essas foram<br />

efetivamente achadas, particularmente a de Edgar.<br />

62


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O Sr. Bligh Bond, bem como o seu amigo, não era espírita e daí aparecerem hipóteses já<br />

aventadas em oposição às espíritas, mas nunca suficientes para esclarecimento do caso. Ele explica<br />

as revelações obtidas em parte por uma “inferência subconsciente” tirada de documentos<br />

arqueológicos, em parte por uma “metagnomia” cuja fonte lhe parecia ser uma “memória coletiva”<br />

onde se viriam fundir, pela morte, todas as “memórias individuais”, isto é, uma espécie de “sabetudo<br />

eterno e universal” onde os médiuns em geral tirariam todas as suas sempre exatas informações,<br />

que, bastas vezes, na verdade, não conferem com a realidade. É o chamado “reservatório cósmico<br />

de memórias individuais”, hipótese formulada, para fins especulativos, por Sir Wil-liam James, e<br />

que o Prof. Ernesto Bozzano arrasou integralmente em seus trabalhos, inclusive na “Literatura<br />

d’além-túmulo”.<br />

Fato interessante é que as comunicações foram sempre obtidas na presença de Bligh<br />

Bond. Sozinho, o médium não as obtinha, o que faz pensar que o arqueólogo, por qualquer motivo<br />

- quem sabe se por uma encarnação anterior ligada à abadia - servisse de “ponto de ligação” ou<br />

provocasse uma espécie de “relação psíquica”. Ou que talvez atraísse qualquer monge daquela<br />

época que viesse a agir sobre o clarividente, provocando ou favorecendo as visões tidas.<br />

Desde então outros médiuns continuaram a obter mensagens análogas que serviram<br />

para pequenas publicações separadas, as chamadas “mensagens de Glastonbury”. Uma notável<br />

série delas foi reunida nesse volume com o nome de uma das primeiras comunidades religiosas de<br />

Glastonbury: The Company of Avalon.<br />

É a história do mosteiro em certas épocas, desde a sua fundação por José de Arimatéia<br />

até o século XII, quando foi totalmente destruído pelo fogo. Não havia então nenhum documento<br />

que pudesse informar o médium, uma senhora que já havia obtido, pela escrita subconsciente,<br />

comunicações relativas à catedral de Winchester e à abadia de Shafsthury. Essas mensagens<br />

também provinham de personalidades daquela época, principalmente de Simão, sub-prior da abadia<br />

de Winchester e de Ambrósio, prior da abadia de Glastonbury. Eles revelaram a existência de uma<br />

câmara subterrânea, não longe da velha porta do Norte. Contaram, em seguida, no antigo inglês,<br />

mistura de baixo-latim e de anglo-saxão, a história do grande incêndio. Enfim, deram detalhes<br />

extremamente circunstanciados, acompanhados de plantas e croquis, sobre a primeira igreja de<br />

madeira de Glastonbury: The Ealde Chirche ou Vetusta Ecclesia, a Velha Igreja.<br />

Logo em seguida, por oposição das autoridades eclesiásticas, que consideraram Bligh<br />

Bond e os médiuns como auxiliares do diabo (!!!), outra verificação não pôde ser empreendida.<br />

Entretanto, o “acaso” de uma escavação fez descobrir, ao norte da capela de São José, certa<br />

muralha que segue exatamente na direção da descrição dada na mensagem. Trata-se de uma obra<br />

de alvenaria edificada pelo monge Herlewin para proteger a Vetusta Ecclesia, da qual nada resta no<br />

momento, pois uma capela foi cavada no século XVI nas suas fundações.<br />

Dois médiuns psicógrafos, uma na América e outro na Inglaterra, igualmente receberam<br />

mensagens relativas à história da abadia e as indicações recebidas por eles concordam com a<br />

narrativa do Frade Simão.<br />

Ora, se José de Arimatéia esteve mesmo na antiga Bretanha ou Inglaterra, teria <strong>Jesus</strong><br />

ido com ele e vivido lá algum tempo? Nada se pode dizer ao certo por falta de dados concretos, que<br />

também não os há nos evangelhos, dois dos quais foram escritos segundo as tradições verbais dos<br />

primeiros cristãos.<br />

Que nos ocultaram os chamados “evangelhos apócrifos”? Teria <strong>Jesus</strong> vivido mesmo,<br />

anonimamente, na casa de seus pais? Mas o Novo Testamento nos conta que ele reapareceu na<br />

Palestina, causou certa admiração e que até não o reconheceram. O certo, porém, é que <strong>Jesus</strong> não<br />

poderia viver, anonimamente, 17 anos seguidos, inúteis, em alguma parte da Terra, ou abandonar<br />

o seu corpo carnal e ir para o Espaço, na hora de cumprir a sua missão terrena, que foi apenas de<br />

3 anos.<br />

63


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Tudo é possível, tudo. <strong>Jesus</strong>, por mais que esmiucemos a sua vida, permanece o grande<br />

mistério, até com o auxílio dos manuscritos encontrados em grutas perto do mar Morto, aos quais<br />

vou referir-me por meio de vários autores.<br />

<strong>Jesus</strong> e os Manuscritos do Mar Morto<br />

64<br />

(Tradução integral do artigo de Bernard Genty<br />

sob o título de “Um precursor de <strong>Jesus</strong>”?<br />

publicado no n° de Set./Out. de 1951,<br />

de La Revue Spirite, de Paris, França)<br />

Ao contrário do que venho fazendo, esta é a tradução completa de um artigo que já nos<br />

fornece um resumo dos chamados “rolos do mar Morto” e nos permite fazer uma comparação entre<br />

os Essênios e os primeiros Cristãos.<br />

Quem conhece bastante o Novo Testamento terá, com este artigo, muito o que pensar<br />

sobre a pessoa de <strong>Jesus</strong>. Vamos, pois, a ele.<br />

No caminho de Jerusalém para Jericó, na passagem montanhosa da Judéia; em estreito<br />

barranco, uma gruta se abre em dois buracos. Na primavera de 1947, um beduíno, que<br />

cuidava de seu rebanho, penetrou na gruta. Em seu solo achou várias vasilhas de barro<br />

cozido, quebradas umas, intactas outras, e dentro delas uns rolos de couro envolvidos em<br />

tela e que continham manuscritos ali colocados há aproximadamente dois mil anos.<br />

Os monges sírios do convento de São Marcos de Jerusalém adquiriram quatro rolos da<br />

gruta de Ain Frashka (assim se chama) e os entregaram, para estudo, aos sábios orientalistas<br />

da Escola Americana de Jerusalém. Em 1950 apareceu em New Haven, fotografado, o<br />

primeiro rolo do mar Morto compreendendo o Livro canônico de Isaías e o Comentário de<br />

Habacuc. Desta maneira todos os sábios do mundo podem estudar e traduzir, com toda a<br />

liberdade, os famosos documentos. A escrita arcaica desses manuscritos é uma garantia<br />

de sua autenticidade, provada, ademais, pela análise das vasilhas, as telas e os fragmentos<br />

dos manuscritos. O Livro de Isaías oferece um extraordinário interesse para os estudos<br />

lingüísticos, porém o sensacional, em tudo isto, reside no conteúdo do segundo rolo. Seu<br />

autor comenta ali o texto do livro canônico de Habacuc, obra pertencente à coleção canônica<br />

chamada dos “Doze Pequenos Profetas”, que anuncia e descreve a invasão dos caldeus. O<br />

comentarista considera simbólico o texto antigo que é uma espécie de profecia aplicável à<br />

sua época e faz alusões destinadas a serem compreendidas por seus contemporâneos.<br />

Todo o comentário leva alegoricamente ao relato de Habacuc sobre o conflito que houve<br />

entre os sacerdotes de Jerusalém e o “Mestre da Justiça”, fundador da seita judia “A Nova<br />

Aliança”.<br />

Em que data foi escrito esse comentário? Uma derrota militar ocorrida no dia de jejum da<br />

festa de guarda das expiações é considerada ali como castigo pela perseguição ao “Mestre<br />

da Justiça”. Unicamente a tomada de Jerusalém por Pompeu, no ano 63 antes de <strong>Jesus</strong>-<br />

Cristo, reúne tais condições.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O comentário foi escrito, pois, logo em, seguida a esse ano. Alusões muito parecidas com os<br />

romanos confirmam, ademais, que se trata dessa época. Outras referências às guerras<br />

civis entre os chefes romanos e a ausência de menção de Otávio, imperador de então, na<br />

paz que se seguiu a esse feito, situam o escrito entre os anos 49 e 29, provavelmente 41<br />

antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo, segundo opina o professor Dupont-Sommer.<br />

O comentarista fala, sobretudo, no fundador da seita. Seu nome, por veneração, não se<br />

escreve nunca. Só é chamado “Eleito de Deus” ou “Mestre da Justiça”. É um sacerdote que<br />

tem revelações divinas e a missão de transmiti-las aos judeus. “Deus o pôs na terra de<br />

Judá para explicar todas as palavras de seus servidores, os “Profetas”. Seus prediletos<br />

eram os pobres e os simples, fiéis observadores da Lei.<br />

Tem numerosos adeptos e funda uma comunidade “A Nova Aliança”.<br />

O “Mestre da Justiça” entra em luta com os sacerdotes de Jerusalém.<br />

O comentarista anatematiza o “Padre Ímpio”, o “Homem do Engano”, que persegue o “Mestre<br />

da Justiça”, bem como os seus partidários. O “Mestre da Justiça” foi sacrificado por ele em<br />

uma sentença iníqua e odiosos profanadores cometeram horrores e vinganças sobre o seu<br />

corpo carnal, pois quiseram desnudá-lo provavelmente para submetê-lo ao suplício.<br />

Mediante uma severa análise histórica, o professor Dupont-Sommer deduz que esse Sumo<br />

Sacerdote Rei que perseguiu o “Mestre da Justiça”, é Aristóbulo II, depois aprisionado e<br />

finalmente envenenado por Pompeu, acontecimentos que situam o suplício do “Mestre da<br />

Justiça” entre os anos 67 e 63 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo; parecendo também que o Sumo<br />

Sacerdote, chefe dos Saduceus, estava entre os perseguidores ao passo que os Fariseus<br />

se mantiveram neutros. Também se faz alusão a outro sacerdote ímpio, adversário de “A<br />

Nova Aliança”, que o professor Dupont-Sommer identifica como Ircão II, irmão e sucessor<br />

de Aristóbulo II. Ircão II foi feito prisioneiro no ano 40 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo pelos Partas,<br />

libertado e depois assassinado por ordem de Herodes. O comentarista se refere sempre ao<br />

castigo que aguarda os culpados, o que confirma que o relato foi escrito aí pelo ano 41<br />

antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

Os membros da “Aliança” viviam esperando o fim do mundo, com uma confiança ardente<br />

e alegre: “Chegados os “últimos Tempos”, seguirá o Grande JuÍzo, depois o periodo definitivo<br />

durará toda a eternidade e nele reinará o Bem. A gnose (conhecimento dos primeiros<br />

princípios) será revelada. Ninguém sabe a hora desse Grande Juízo, mas se sabe ... por<br />

meio de seu Eleito que Deus submeterá a julgamento todas as nações e então chegará o<br />

momento da expiação para todos os criminosos do povo. Aqueles que tiverem observados<br />

seus mandamentos serão uma rocha para eles...<br />

O Juízo Final será, pois, exercido pelo “Mestre da Justiça”, “Eleito de Deus”, o mesmo que,<br />

no evangelho, “ ... ocorrerá o mesmo no fim do mundo. O filho do homem enviará os<br />

seus anjos que arrojarão de seu reino todos os escandalosos e os que tenham<br />

produzido inquietudes...”<br />

Porém, no momento do Juízo quem será salvo? Habacuc escreveu: ... “e o justo viverá pela<br />

fé”, donde o comentarista conclui: A explicação disto concerne a todos os que praticam a<br />

Lei na casa de Judá que Deus livrará do Juízo (Israel culpável) por causa de sua pena e de<br />

sua fé no “Mestre da Justiça”. Assim, a fé que salva é a fé no fundador divino da Nova<br />

Aliança. “Ninguém vai ao Pai senão por mim” é uma frase atribuída a <strong>Jesus</strong>.<br />

Um dos rolos descobertos contém as regras da comunidade. Algumas passagens foram<br />

publicadas a título de amostra paleográfica; o resto o será mais tarde. É um ritual de<br />

iniciação.<br />

65


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Os componentes da seita “Filhos da Luz” devem estar estreitamente unidos e amar-se<br />

profundamente. As virtudes a praticar são: o amor e a verdade, a pobreza e o desprezo<br />

pelas riquezas, a humildade e a modéstia, o amor ao próximo, a mais escrupulosa castidade,<br />

a expiação, o esforço para a perfeição e a procura de Deus. Que semelhança com os preceitos<br />

de <strong>Jesus</strong>! Talvez o amor ao próximo não seja tão perfeito como a doutrina de <strong>Jesus</strong>: “Amar<br />

aqueles que Deus escolheu e odiar os que Ele repudia”, quando, ao contrário, <strong>Jesus</strong><br />

disse: “Amai aos vossos inimigos, rogai pelos que vos perseguem”.<br />

Depois de uma advertência, os novos adeptos a iniciar-se desfilavam entre os sacerdotes e<br />

clérigos que pronunciavam bênçãos em louvor a Deus. Em seguida os sacerdotes<br />

enumeravam os benefícios de Deus para com Israel e os clérigos respondiam com a<br />

enumeração das ingratidões de Israel para com Deus.<br />

Os membros entregavam tudo à comunidade e se submetiam aos tribunais da seita. A<br />

Nova Aliança se acha, pois, bem separada do resto dos judeus.<br />

Em outro rolo, os Salmos de Ação de Graças da Nova Aliança, se encontra a idéia de<br />

resgate: “Porque Tu resgataste minh’alma da cova e do Sheol-Obdon. Tu me fizeste remontar<br />

ao cimo do mundo”. E também:<br />

- a idéia da esperança.... “e soube que ali existia a esperança para aquele que Tu formaste<br />

do pó e destinaste à eterna assembléia;<br />

- a idéia da utilidade dos sofrimentos para chegar ao bem. . . “porque estive no domínio da<br />

milícia” ... “então Tu agitas a alma do pobre no meio de atribulações sem conta e calamidades<br />

atrozes acompanharam os meus passos”.<br />

- a idéia de felicidade eterna... “e aqueles que caminham pela via grata ao Teu coração<br />

ficaram para todo o sempre”.<br />

- a idéia do amor divino... “a abundância do Seu amor para com todos os filhos de Sua<br />

benevolência”. Um documento descoberto em 1896 numa sinagoga do velho Cairo, publicado<br />

em 1910, compreende dois manuscritos copiados um no século X e o outro no século XII, os<br />

quais contêm admonitórios e a regra de uma seita chamada “Filhos de Sadoc”, termo<br />

empregado no Comentário de Habacuc e também “A Nova Aliança do país de Damasco”.<br />

Segundo o professor Dupont-Sommer, esse documento fica agora inteligível depois do<br />

descobrimento dos rolos do mar Morto. Encontram-se neles a mesma linguagem, o mesmo<br />

estilo e aproximadamente o mesmo conteúdo que no Comentário de Habacuc. Encontra-se<br />

também ali o advento do “Mestre da Justiça”, que se chama a si mesmo “O Ungido” (Messias,<br />

Cristo, em grego), a primeira visita do Mestre da Justiça, a que sem dúvida se relata no<br />

comentário, fora da destruição de Jerusalém. Também se faz alusão ao inimigo do Mestre,<br />

o homem burlão, o perseguidor do Mestre.<br />

É, pois, provável que se trate em Damasco, como na margem do Mar Morto, da mesma<br />

seita. No escrito de Damasco, a semelhança com o que seria mais tarde o Cristianismo, é<br />

surpreendente. Ali encontramos esta frase: “Deus fez conhecer, por meio de Seu Ungido, o<br />

Seu Espírito Santo”. Que semelhança com a trindade cristã!<br />

Registrou a história a existência da Nova Aliança? Flavius Josephus nos cita como seitas<br />

judaicas apenas os Fariseus, os Saduceus e os Essênios. Só esses últimos se parecem<br />

com os adeptos da Nova Aliança. Por outro lado, Plínio o antigo, falecido em 79 depois de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo, conta que, no seu tempo, viviam, no oeste do Mar Morto, estranhos ascetas<br />

judeus “nação solitária”, sem mulheres, na renúncia de tudo o que fosse de Vênus, sem<br />

dinheiro, sem outra sociedade que as palmeiras. A esses ascetas Plínio chama Essênios.<br />

66


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Dion Crisóstomo, refere Sinésio, menciona também os Essênios como místicos que viviam<br />

em mosteiros e praticando, como os membros da Nova Aliança, o desprezo pelas riquezas,<br />

o amor ao próximo, a humildade, a castidade, crendo como eles, nas recompensas celestes<br />

e nos castigos infernais, na soberania do Destino. Há identidade na doutrina. O juramento<br />

dos Essênios é quase textualmente a fórmula de juramento da Nova Aliança. Josephus faz<br />

alusão ao Legislador dos Essênios, que é provavelmente o “Mestre da Justiça”. De tal<br />

modo, o professor Dupont-Sommer concluiu na identificação entre o Essenismo e a Nova<br />

Aliança.<br />

A semelhança entre as doutrinas da “Nova Aliança”, isto é, entre os Essênios, e a futura<br />

doutrina cristã, é surpreendente. Renan disse: “O Essenismo é uma antecipação do<br />

Cristianismo”. Eis aqui uma opinião antiga que novas descobertas vêm apoiar: “Tudo na<br />

Nova Aliança judia, diz o professor Dupont-Sommer, anuncia e prepara a Nova Aliança<br />

Cristã. O Mestre galileu, tal como no-lo apresentam os escritos do Novo Testamento, surge<br />

depois de muitas considerações, como uma assombrosa reencarnação do Mestre da Justiça<br />

essênio. Como este, ele praticou a penitência, a pobreza, a humildade, o amor ao próximo,<br />

a castidade. Como ele, prescreveu a observância da Lei de Moisés, toda a lei, acabada,<br />

perfeita, graças às suas próprias revelações. Como ele, foi o Eleito, o Ungido, o Messias de<br />

Deus, o Messias redentor do Mundo. Como ele, foi. objeto das hostilidades dos sacerdotes<br />

do partido dos Saduceus. Como ele, foi condenado ao suplício. Como ele, subiu aos Céus<br />

para perto de Deus. Como ele, profetizou sobre Jerusalém que, por causa de tê-lo condenado<br />

à morte, foi tomada e destruída pelos Romanos. Como ele, no fim dos tempos, será juiz<br />

soberano. Como ele, fundou uma igreja, cujos fiéis aguardam, com fervor, a sua volta<br />

gloriosa. Na Igreja Cristã, como na Igreja Essênia, o rito essencial é a Ceia, onde os sacerdotes<br />

são ministros. De um e de outro lado, à frente de cada comunidade há um Inspetor: o<br />

Bispo. E o ideal de uma e outra igrejas é essencialmente a unidade e a comunhão na<br />

caridade, chegando-se até a comunhão de bens.<br />

Acabo de citar as conclusões do professor Dupont-Sommer, sem a menor presunção de<br />

acrescentar outras. Acrescento que não são definitivas, posto que outras fotografias de<br />

manuscritos serão publicadas. Mostrarão essas novas publicações semelhanças mais nítidas<br />

entre a nova Aliança e o Cristianismo ou surgirão divergências que não se haviam notado.<br />

Breve, talvez, tenhamos a resposta. A notícia da descoberta dos manuscritos do Mar Morto<br />

despertou grande curiosidade. Uns esperavam que ameaçassem de ruína a fé cristã; outros<br />

que essa fé fosse robustecida. Na minha opinião, é esperar muito desses manuscritos.<br />

Nada têm de revolucionários, a não ser para os historiadores que agora poderão compreender<br />

uma grande quantidade de escritos judaicos cujo sentido se lhes escapou até então. Diante<br />

de tais documentos, qual a atitude dos crentes? Ignoro-o. Sei, ao contrário, que existe uma<br />

controvérsia entre um padre jesuíta e o professor Dupont-Sommer acerca da interpretação<br />

de tais documentos, porém nada mais fora disto.<br />

Alguns querem ver um só e mesmo personagem no Mestre da justiça e <strong>Jesus</strong>, acrescentando<br />

que é a lenda que faz viver <strong>Jesus</strong> em outra época. O próprio professor Dupont- Sommer é<br />

de outro parecer. Que fique bem entendido que eu não me pronuncio sobre a questão, em<br />

que me considero incompetente. Como espírita, pouco me importa a solução dada a este<br />

problema. Da mesma -maneira pouco me importa que o Mestre da Justiça e <strong>Jesus</strong> sejam<br />

um só personagem ou dois iniciados distintos. A mensagem de amor que eles trouxeram<br />

das esferas superiores é o essencial. Que importa se um deles veio preparar a vinda do<br />

outro. Que razão há para não aceitar que entidades superiores hajam preparado<br />

pacientemente sua mensagem de amor, enviando vários grandes espíritos à Terra?<br />

67


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O professor Dupont-Sommer diz, na sua conclusão, que o Mestre galileu parece uma<br />

assombrosa reencarnação do Mestre essênio. A palavra reencarnação é empregada no<br />

sentido figurado. Dando-se-lhe o sentido espírita, chegamos à nova hipótese: o Mestre da<br />

Justiça essênio se reencarnou em <strong>Jesus</strong> para concluir a sua obra. Já sei que a distância é<br />

curta entre a morte do primeiro e o nascimento do segundo, mas, no fim, a hipótese é<br />

possível.<br />

Antes de terminar, desejo assinalar que muitos espiritualistas, como, por exemplo, Edouard<br />

Schuré, situam <strong>Jesus</strong> como pertencente à seita dos Essênios e ele mesmo como essênio.<br />

Sua hipótese não é tão audaciosa assim, já que se descobriram tantas semelhanças entre<br />

as doutrinas essênias e cristãs, e disto não se poderia extrair outra explicação possível.<br />

Os Essênios prepararam um sucessor para o “Mestre da Justiça”, um continuador...<br />

Aqui termina a minha tradução deste longo e interessante artigo que projeta brilhante<br />

luz sobre os Essênios e os seus ensinamentos.<br />

São lógicas e razoáveis as conclusões do professor Dupont-Sommer, da Sorbonne, que<br />

teve uma controvérsia, como diz o articulista, com um jesuíta que penso seja o padre Roland de<br />

Vaux, O.P., que séria obrigado a concluir de acordo com as doutrinas de sua religião.<br />

Acha o articulista, em 1951, que as conclusões do professor não são definitivas pois que<br />

outras fotografias de manuscritos serão publicadas. Sete anos depois, isto é, em 1958, prefaciando<br />

a versão francesa de “Os Essênios e o Cristianismo”, da autoria do rev. Duncan Howlett, antigo<br />

ministro da Primeira Igreja Unitária de Boston, EE. UU. da América, escreve as seguintes linhas<br />

que dão a impressão de que o assunto não foi encerrado ainda:<br />

Eis o essencial: o conjunto dos manuscritos descobertos provém de uma comunidade essênia<br />

que se achava instalada na região de Qumram, comunidade essênia mencionada por Plínio<br />

o antigo; a história do Mestre da Justiça se situa, em grosso, no primeiro terço do primeiro<br />

século antes de <strong>Jesus</strong>- Cristo, um pouco antes da tomada de Jerusalém pelo romano Pompeu,<br />

e a comunidade fundada por ele abandonou Qumram no momento da grande guerra judia<br />

de 66-70 de nossa era, ocultando, então, nas grutas vizinhas, os seus livros sagrados;<br />

esse Mestre que faleceu muito provavelmente durante a perseguição dirigida contra a seita<br />

pelo sacerdote asmoneu, foi uma personalidade eminente, objeto de fervorosa veneração<br />

por parte dos seus fiéis; enfim e sobretudo, os novos textos revelam que a Igreja cristã<br />

primitiva se enraíza, em um grau que ninguém poderia suspeitar, na seita judia essênia,<br />

que esta emprestou àquela uma boa parte da sua organização e dos seus ritos, das suas<br />

doutrinas e dos seus “modelos de pensamento”, do seu ideal místico e moral.<br />

Sobre estas idéias, a despeito de algumas oposições mais ou menos barulhentas, um acordo<br />

cada vez maior começa a se estabelecer entre os mais diversos sábios: como se está longe<br />

da confusão extrema que reinava há ainda quatro ou cinco anos! Certamente, bastantes<br />

problemas ficam ainda em discussão: identificação exata do “Padre ímpio”, data e<br />

significação do “exílio de Damasco”, caráter messiânico do Mestre da justiça ... A estes<br />

diversos problemas e a outros ainda, no estado atual da documentação, ninguém poderia<br />

dar, no momento, uma resposta definitiva; para abordar esses problemas, em toda a sua<br />

amplitude e com todas as garantias científicas, é preciso esperar que tenham sido publicados<br />

todos os textos saídos das grutas de Qumram, esperar também que tenham terminado as<br />

buscas empreendidas na região de Qumram e que todos os resultados delas sejam<br />

inteiramente conhecidos. Até lá não se poderá senão fazer balizas e formular hipóteses<br />

mais ou menos revisáveis. Mas esta prudência necessária nas conclusões não poderá<br />

impedir as pesquisas de se desenvolverem em todos os sentidos; é mesmo grandemente<br />

desejável que as pistas as mais diversas sejam ativamente exploradas, com uma liberdade<br />

total. A obra de D. Howlett, que se recomenda por uma orientação nitidamente histórica e<br />

não menos pela sua serenidade e não menos pela sua serenidade e clareza, contribuirá<br />

muito utilmente para o progresso destas cativantes pesquisas.<br />

68


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Esta obra do rev. Howlett contém 28 capítulos, notas e um índice. Citamos 4 dos capítulos:<br />

o XIII - Analogias entre <strong>Jesus</strong> e os Essênios; XV - Interpretação das analogias e diferenças de<br />

doutrina verificadas entre <strong>Jesus</strong> e os Essênios; XVI - Analogias entre os Essênios e os primeiros<br />

Cristãos; e XVII - Interpretação das analogias existentes entre os Essênios e a Igreja dos primeiros<br />

cristãos.<br />

69<br />

(Parte do artigo de Tanneguy de<br />

Quénétain “Quem era <strong>Jesus</strong>?” publicado no<br />

n° 871, de 28-12-1968, de Manchete, do Rio de Janeiro)<br />

Sem nenhum comentário, deixando ao leitor o cuidado de comparar o que outros autores<br />

disseram a respeito, passo à transcrição do que interessa para o estudo das origens do Cristianismo:<br />

Sabe-se que <strong>Jesus</strong>, de acordo com os Evangelhos sinópticos, não celebrou a Páscoa na<br />

data oficial. Ele a celebrou antes de sua Paixão e morreu antes do começo da Páscoa legal<br />

que, naquele ano, caía num dia de sábado, ou seja, sexta-feira à tarde, ao cair do sol. Só<br />

havia um calendário em concorrência com o do Templo: o dos essênios. Mas, se <strong>Jesus</strong><br />

tivesse seguido o calendário essênico, não teria celebrado a festa na tarde de quinta-feira,<br />

mas na tarde de terça-feira. Uma erudita católica, Annie Jaubert, demonstrou, em um livro<br />

de cerrada documentação (A Data da Ceia), que <strong>Jesus</strong> obedecia ao calendário de Qumram,<br />

o qual celebra a Páscoa na tarde de terça-feira. E que a quinta-feira santa não faz parte da<br />

tradição cristã primitiva.<br />

Os essênios não participavam dos sacrifícios do Templo, mas tinham uma cerimônia à<br />

parte, que constituía o seu culto central: uma ceia presidida por um sacerdote, reservada<br />

apenas aos iniciados e que exigia a participação de dez pessoas pelo menos. Esta ceia<br />

sagrada, durante a qual o sacerdote benzia o pão e o vinho, era uma prefiguração do<br />

grande banquete messiânico que marcaria a chegada do Reino. Esta refeição diferente das<br />

liturgias domésticas dos judeus, presididas pelo chefe da família - é o embrião da ceia<br />

eucarística cristã. Com uma diferença essencial: para os essênios, o Messias ainda haveria<br />

de chegar; para os cristãos, ele já havia chegado na pessoa de <strong>Jesus</strong>, que preside a ceia.<br />

O banquete cristão realiza aquilo que o banquete essênio prefigura.<br />

As comunidades essênias eram impregnadas de uma atmosfera de exaltada espera do<br />

Messias, segundo testemunha a sua liturgia apocalíptica, e sua atitude contrasta com a da<br />

maioria dos fariseus, cujo ponto de vista está contido neste conselho de um rabino: ‘Se<br />

estás para fazer uma cerca e, se, neste momento, te anunciam a chegada do<br />

Messias, termina a tua cerca: terás bastante tempo para ir a seu encontro’.<br />

A opinião dos essênios sobre o Messias parece ter evoluído. Nos textos mais antigos são<br />

previstos dois Messias, um Messias-Sacerdote e um Messias-Rei. Mas em documentos<br />

mais recentes os dois Messias foram reunidos em um só. De acordo com o texto descoberto<br />

há pouco, e que é o horóscopo do Messias, está dito que ‘o eleito de Deus será por Ele<br />

feito’ - quer dizer, será seu filho. O arqueólogo Dupont-Sommer estabeleceu um paralelo<br />

entre este texto e a história dos Magos, os quais, segundo o Evangelho, foram guiados por<br />

uma estrela até Belém. Além do mais, a noção de um Messias ‘filho de Deus’ era aceita<br />

pelos essênios, antes que os saduceus e fariseus a renegassem como atentatória à majestade<br />

de um Deus único.


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Os essênios, tal como <strong>Jesus</strong> e os apóstolos, eram curandeiros e exorcistas. Num pequeno<br />

texto intitulado Prece de Nabonide, um rei da Babilônia, que havia sido curado por um<br />

exorcismo, declara: ‘Ele me remiu de meus pecados’. Os essênios acreditavam que um<br />

homem tinha o poder de perdoar os pecados. Isto chocava profundamente os fariseus que<br />

reprovavam <strong>Jesus</strong> quando dizia àqueles que curava: ‘Vai, teus pecados te são<br />

perdoados’.<br />

Os essênios acreditavam que detinham um conhecimento dos mistérios de Deus,<br />

conhecimento esse que escapava aos fariseus. Em um hino de Qumram os ‘hipócritas’ são<br />

repreendidos por ter ‘impedido os sedentes do Conhecimento, pois, quando tinham sede,<br />

recebiam vinagre para beber’. E <strong>Jesus</strong> apostrofou os doutores da Lei ‘porque guardam a<br />

porta da Sabedoria mas não entram nela nem deixam que os outros entrem’.<br />

Como se explica, então, que os essênios não sejam jamais mencionados nos Evangelhos?<br />

É verdade que não são denominados por este nome, mas como ‘os ho-mens do Conselho<br />

de Deus’, ou, ainda, como `a comunidade da Nova Aliança’, fórmula que será repetida<br />

pelos cristãos”.<br />

Por outro lado, como pensa o Padre Daniélou, ‘se os essênios não são jamais citados<br />

nos Evangelhos, a razão parece ser que, para Cristo, eles correspondem aos<br />

verdadeiros israelitas, aos pobres de Israel’. E mais: no momento em que foram escritos<br />

os Evangelhos, a guerra havia dispersado as comunidades essênias. Algumas foram<br />

assimiladas no judaísmo oficial, outras se reagruparam em torno da igreja nascente. Parece<br />

que, neste caso, na Síria, por exemplo, haviam comunidades essênias que foram<br />

integralmente transformadas em comunidades cristãs”.<br />

Outra questão: <strong>Jesus</strong> se considerava um essênio? Suponhamos que não. Ele conhecia a<br />

doutrina essênia: primeiro, pelos membros desta seita que pregavam na sinagoga; segundo,<br />

pelo seu primo João Batista que, segundo a maioria dos exegetas, teve contatos diretos<br />

com o Qumran antes de se transformar em um profeta solitário; terceiro, por muitos de<br />

seus discípulos - e não poucos - que mantinham relações com os discípulos de João Batista:<br />

Simão Pedro, André, Tiago e João. Mas <strong>Jesus</strong> acabou por organizar, ele mesmo, a sua<br />

comunidade e inspirou-se diretamente em certas regras essênias: abolição da propriedade<br />

privada, um tesoureiro (Judas Iscariotes) administrando os bens comuns. A Igreja era dirigida<br />

por 12 apóstolos, da mesma forma que a comunidade de Qumran era dirigida por um<br />

conselho de 12 membros. Entre os apóstolos, havia três que tinham mais importância que<br />

os outros: também eram em número de três os sacerdotes que presidiam o conselho essênio.<br />

É muito difícil admitir não tenha tido contato pessoal com meios essênios. Segundo alguns<br />

(como Danielou), ele se retirou para Qumran depois de ter sido preparado por João Batista<br />

e foi lá no deserto que ele conheceu as tentações do demônio. Ir ao deserto podia significar<br />

‘ir para Qumran’. A hipótese inversa parece mais provável. <strong>Jesus</strong> teria procurado uma<br />

comunidade essênia (mas não necessariamente a de Qumran) depois de ter sido instruido<br />

por João Batista, o qual se preparava, por sua vez, para propagar a sua própria doutrina.<br />

Após estas considerações, parcialmente transcritas do supracitado artigo, passemos<br />

ainda a outros autores. Para uns <strong>Jesus</strong> foi um essênio completo, para outros esteve entre eles e<br />

aprendeu os seus ensinamentos, de alguns dos quais discordou em parte.<br />

(Extrato da reportagem sob o título de<br />

“Salto de mil anos lança luz na história do texto bíblico”,<br />

publicada na edição de 10 de julho de 1962,<br />

de O Jornal, do Rio de Janeiro)<br />

70


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Antes do interessante extrato da supracitada reportagem, quero fazer a transcrição de<br />

dois pequenos trechos de “Os manuscritos do Mar Morto”, de John Marco Allegro (Publicações<br />

Europa-América, de Lisboa), para que se compreenda a importância deles e a íntima relação dos<br />

primeiros cristãos com os essênios. Ei-los:<br />

“De resto, à medida que se pode dispor de mais matéria e se fizerem os primeiros exames<br />

rigorosos, cada vez se torna mais evidente que os pergaminhos tinham uma importância enorme,<br />

ultrapassando os mais delirantes sonhos de qualquer investigador. O estudo dos pergaminhos de<br />

1947 já permitira estabelecer um certo número de paralelos com o Novo Testamento. Os que agora<br />

tinham aparecido, bem como o material das grutas descobertas posteriormente, estavam a produzir<br />

modificações, nos textos dos livros, sobre o período das origens do judaísmo e do Cristianismo.<br />

Inclusivamente, os menores eram valiosos, pois havia a oportunidade de os unir a outros num<br />

texto vital que talvez lançasse nova luz ou sobre as expectativas messiânicas dos tempos ou sobre<br />

as concepções teológicas correntes entre esta seita, a respeito do que até ali praticamente nada se<br />

conhecia” (pág. 47).<br />

“O próprio Harding pôde declarar publicamente que se tratava da maior descoberta<br />

arqueológica feita na Palestina e, tendo em conta o fundamental interesse deste período da história<br />

do Homem, parecia haver motivo para assegurar que era o mais importante que jamais se verificara.<br />

Numa palavra: o mundo científico fora acometido pela febre do interesse e do entusiasmo e na<br />

imprensa erudita de todo o mundo sucediam-se os artigos (pág. 48).<br />

Este Harding é o Sr. Gerald Lankester Harding, então encarregado dos interesses<br />

arqueológicos da Palestina árabe e da Transjordânia e ainda companheiro do Padre Roland de<br />

Vaux, O. P., nas buscas de novos manuscritos, que foram achados por diversos, em mais de um<br />

ano e em várias grutas.<br />

No final do livro de Millar Burrows, professor de Teologia Bíblica da Universidade de<br />

Yale, EUA, intitulado “Os documentos do Mar Morto” (Porto Editora Limitada), encontra-se uma<br />

vasta relação de obras e artigos publicados a respeito.<br />

Porém ainda maior é a importância dos manuscritos que pertencem à Bíblia. Estes<br />

contêm as crenças e ritos da comunidade religiosa dona dos rolos: uma comunidade de grande<br />

interesse, que habitava a região do Mar Morto nas vésperas da pregação cristã. Tratava-se de uma<br />

verdadeira ordem monástica na qual se ingressava depois de um ano de apostolado e dois de<br />

noviciado. Os fiéis se distinguiam em leigos e sacerdotes. Estes últimos exerciam os pontos diretivos,<br />

mas as decisões mais importantes provinham do conselho de todos os membros da comunidade.<br />

Entrando no monastério o noviço renunciava à propriedade privada, mas o monastério<br />

possuía certos bens. Foram encontrados dois rolos que continham uma detalhada lista de objetos<br />

preciosos juntamente com a data da entrada. Mal foram decifrados desencadeou-se na Palestina<br />

uma verdadeira caça ao tesouro, sem resultado no entanto. Os monges do Mar Morto estabeleceram<br />

como origem da regra um homem venerável que havia sofrido perseguição devido às idéias próprias.<br />

Infelizmente os manuscritos não revelam seu nome, mas o chamam de Mestre da Justiça. Afirmam<br />

que dois espíritos lutam continuamente pelo domínio do Universo, o espírito do Bem e o espírito<br />

do Mal. No fim o Bem prevalecerá após uma grande batalha que é narrada num manuscrito<br />

denominado “Guerra dos filhos da luz contra os filhos da treva”.<br />

Nossos eremitas certamente não pertenciam aos grupos oficiais e bem descritos nos<br />

Evangelhos como Fariseus e Saduceus, pois esses eram citadinos. Restam os Essênios que residiam<br />

junto ao Mar Morto, possuíam bens comuns, dividiam-se em sacerdotes e leigos e praticavam<br />

banhos rituais descritos nos rolos. Ao lado do hebraísmo urbano, emerge um ascético monastério<br />

insatisfeito com a religião oficial.<br />

71


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Passo agora aos informes do Padre de Vaux, que explicará, com sua grande autoridade<br />

no assunto, o que eram esses manuscritos bem como a sua grande, enorme importância para a<br />

nossa história cristã. Vem a reportagem de Roma, Itália, capital do Catolicismo e residência do<br />

Papa. Eis o trecho principal:<br />

Entretanto, discute-se o conteúdo e a importância dos manuscritos. O Padre de Vaux fornece<br />

notícias novas e importantíssimas: foram decifrados os últimos rolos descobertos na décima<br />

primeira gruta. Em um desses foi achada uma parte do livro bíblico dos Salmos; ora, os<br />

Salmos do Mar Morto estão em ordem diferentes dos contidos na Bíblia e incluem alguns<br />

desconhecidos até hoje.<br />

Mas o fato mais importante talvez é que, com o deciframento destes últimos manuscritos,<br />

estamos pela primeira vez em situação de dizer uma palavra conclusiva, de tentar um<br />

balanço de conjunto da descoberta.<br />

São seiscentos os manuscritos descobertos, com milhares de fragmentos, e apresentam-se<br />

em rolos de pele com cinqüenta centímetros de altura e muitos metros de largura. Seus<br />

donos os tinham envolvido em panos de linho e guardado em ânforas de terracota: o clima<br />

extremamente seco da região efetuou o milagre de preservá-los durante dois mil anos.<br />

Certamente inúmeros cuidados se impõem ao tirá-los de dentro das ânforas, isto porque a<br />

pele está tão ressequida que facilmente se pulverizará. Assim os arqueológicos colocam os<br />

manuscritos num ambiente úmido, uma espécie de banho turco e somente depois de alguns<br />

dias se arriscam a abri-los.<br />

Os manuscritos foram escritos em hebraico e aramaico, a língua da Palestina antiga, e<br />

pertencem à época compreendida entre o segundo século antes de Cristo e o primeiro<br />

depois.<br />

Segundo o Padre de Vaux, aproximadamente um quarto dos rolos do Mar Morto contém<br />

livros da Bíblia e textos já conhecidos, mas os conhecíamos através de manuscritos feitos<br />

mil anos depois. Eis, portanto, o grande significado da descoberta: na história do texto<br />

sacro damos de repente com um salto de mil anos. O resultado de tal salto é, sem dúvida,<br />

uma série de peculiaridades e variações ignoradas que lançam luz na estrutura e história<br />

da Bíblia. Mas estas variações concernem somente aos detalhes, não afetada em nada a<br />

linha geral do texto.<br />

Antes de tudo, segundo o Padre de Vaux, devemos estabelecer uma relação de pessoas<br />

entre o movimento essênio e o Cristianismo nascente. Quando João Batista pregava ao<br />

longo da margem do rio Jordão, não era possível que os monges distantes apenas duas<br />

horas de caminho o ignorassem ou fossem ignorados. E o próprio <strong>Jesus</strong>, batizado por João<br />

quando o mosteiro estava em pleno desenvolvimento, dificilmente desconheceria a existência<br />

de seus habitantes. Porém os traços da figura de <strong>Jesus</strong> emergem inteiramente autônomos,<br />

seja em relação ao hebraísmo oficial ou ao do Mar Morto. <strong>Jesus</strong> rompe com a Lei, proclamase<br />

Messias, anuncia a vinda de um Reino fundado sobre o sofrimento expiatório e a negação<br />

da morte. Os monges do Mar Morto o teriam condenado e expulsado se ele fosse um deles.<br />

É na organização da comunidade e em alguns ritos que se nota afinidade entre os Essênios<br />

e os Cristãos. O Padre de Vaux afirma que antes ou depois da destruição do mosteiro,<br />

alguns Essênios haviam aderido à religião de <strong>Jesus</strong>, levando consigo lembranças da própria<br />

doutrina. Porém tiveram um destino bem diverso. Os monges do Mar Morto, encerrados em<br />

seus limites nacionais, sucumbiram frente às legiões de Roma. Os Cristãos, superando as<br />

barreiras das nações, afirmaram-se no mundo. Ceci n’a pas pu sortir de cela: com<br />

estas palavras Roland de Vaux despediu-se sorridente de seus ouvintes.<br />

72


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Ignoro qual seja o verdadeiro sentido que o Padre de Vaux pretendeu conferir a esta<br />

frase “Isto não pode sair daquilo”. Se quis dizer que o rico e pomposo Catolicismo não podia sair<br />

da pobre e humilde comunidade dos Essênios, ele tem razão, porque desses Essênios saíram<br />

apenas os mais pobres e mais humildes primeiros cristãos, os cristãos das catacumbas.<br />

Embora pretenda citar outro autor a respeito das afinidades e diferenças entre os ensinos<br />

dos Essênios e os de <strong>Jesus</strong>, não posso deixar de recomendar a leitura dos capítulos IX, X, XI, XII<br />

e XIII, da supracitada obra de John Marco Allegro, capítulos que têm os seguintes títulos: “As<br />

doutrinas da seita”; “O uso dos textos da Escritura nos pergaminhos do Mar Morto e no Novo<br />

Testamento”; “A comunidade de Qumram e a Igreja (afinidades doutrinais e afinidades formais)”;<br />

“As concepções messiânicas e a Igreja primitiva de Qumram” e “A seita de Qumram e <strong>Jesus</strong>”.<br />

Do capítulo XII, destaco o seguinte e elucidativo trecho: “A seita de Qumram aguardava<br />

a vinda de um Messias sacerdotal, ao qual chamavam o ‘Mestre da justiça’ ou ‘Intérprete<br />

da Lei’. O fato de serem estes os termos que se aplicam ao fundador da seita confirma a<br />

idéia de que não era outro senão o seu ressuscitado Mestre quem conduziria a teocrática<br />

unidade do Novo Israel nos últimos dias”.<br />

Quanto às citadas diferenças entre as duas doutrinas, não nos esqueçamos de que, na<br />

vida de <strong>Jesus</strong>, houve muitas alterações e interpolações para fazer dele, ao mesmo tempo, Deus,<br />

Filho de Deus e 2ª pessoa da Santíssima Trindade, e assim criar uma doutrina própria. E que essa<br />

esperada vinda de um Messias nacional foi sempre um anseio do antigo povo judeu, que não<br />

aceitou a pessoa de <strong>Jesus</strong>, pois esperava um Messias guerreiro e não um Messias manso e<br />

moralizador dos maus costumes da época.<br />

(Trechos da obra The lost years of <strong>Jesus</strong> revealed,<br />

73<br />

do Rev. Dr. Charles Francis Potter,<br />

edição da Gold Medal Books<br />

Fawcett Publications, Inc., Greenwich, Conn., EUA)<br />

Em primeiro lugar, desejo informar que o Rev. Dr. Charles Francis Potter, autor dessa<br />

obra, cujo nome, em português, é, literalmente “Os anos perdidos de <strong>Jesus</strong> revelados”, é também<br />

autor da “História das Religiões”, já traduzida no vernáculo, e ostenta os títulos de M. A. (Master of<br />

Arts), B. D. (Bachelor of Divinity), S. T. M. (Sacred Theologiae Minister) e Litt. D. (Litterarum Doctor).<br />

É, como diz a capa de seu livro: World-renowned religious leader and scholar, isto é, um mundialmente<br />

famoso líder religioso e acadêmico.<br />

Essa obra, impressa em maio de 1958, no feitio de “bolso”, terá um prólogo e quatorze<br />

capítulos, dos quais destaco os seguintes: 1) Quem e o que eram os Essênios? - 3) Luz sobre a<br />

educação de <strong>Jesus</strong>. - 4) Livros sagrados omitidos na Bíblia. - 8) Importância de Enoc e outros<br />

pseudo-epigráficos. - 11) Origem da doutrina do Espírito Santo. - 12) Profecias dos “últimos Dias”.<br />

- <strong>13</strong>) O Reino do Céu e a sepultura vazia. Tem ainda um pequeno epílogo.<br />

Na impossibilidade de reproduzir, por muito extensas, partes de vários capítulos do<br />

livro, todos bem interessantes, vou apenas traduzir um trecho de seu prólogo. Ei-lo:


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Mais de doze anos já decorreram desde que as grutas escondidas da grande biblioteca<br />

essênia, com os chamados, ‘Rolos do Mar Morto’, foram acidentalmente descobertas por<br />

beduínos nômades do deserto de Qumram, a quatorze milhas de Jerusalém. Depois disto,<br />

muitos dos couros enrolados e cilindros de cobre, bem como milhares de fragmentos de<br />

centenas de manuscritos, foram decifrados e traduzidos por sábios e teólogos para saber<br />

se a provável Mãe do Cristianismo foi a seita separada judia às vezes chamada de essênia.<br />

Sabemos, pela leitura dos relatórios publicados, em jornais científicos, no francês, alemão<br />

e hebreu, que esses essênios pré-cristãos devem ter prioridade em tudo o que se tem<br />

considerado original no Cristianismo. Suas escrituras, não incluídas em nossa Bíblia, podem<br />

ser lidas (e têm sido) nos serviços matinais de adoração sem que a congregação suspeitasse<br />

da substituição.<br />

Um século ou mais antes que o Novo Testamento cristão fosse escrito, os essênios de<br />

Qumram já conheciam as idéias, os ensinos, os provérbios, as orações, as beatitudes, as<br />

bênçãos e até as belas sentenças de <strong>Jesus</strong> no ‘Sermão da Montanha’. Até mesmo a pregação<br />

do Evangelho, as Boas-Novas, ou, com a já corrente frase teológica, o kerygma do Reino<br />

Vindouro, foi evidentemente levada de Qumram por João Batista, bem como o batismo com<br />

que ele batizou <strong>Jesus</strong> para “cumprir toda justiça”, uma frase-chave essênica. E o próprio<br />

nome da Bíblia cristã, o Novo Testamento, vem desses monges de Qumram, que nunca se<br />

chamavam de essênios, mas de “Filhos de Sadoc” (o grão-sacerdote do rei David), ou,<br />

significativamente, a “Comunidade da Nova Aliança”. E “Nova Aliança” foi o melhor termo<br />

empregado para traduzir o termo aramaico que os cristãos mais tarde traduziriam como<br />

“Novo Testamento”.<br />

Na última refeição de <strong>Jesus</strong> com os discípulos, que parecia mais um ritual de pão e vinho<br />

da comunhão dos essênios antecipando a refeição do Reino Vindouro, que foi a Páscoa, é<br />

preciso lembrar que <strong>Jesus</strong> levantou a “taça da Nova Aliança” numa verdadeira forma<br />

essênica e que prometeu aos seus discípulos que eles comeriam e beberiam consigo no<br />

reino que viria.<br />

Centenas de outras provas da origem essênica das idéias, crenças e ensinos de <strong>Jesus</strong>,<br />

João Batista, João o discípulo, Paulo e outros autores do Novo Testamento têm sido notadas<br />

pelos sábios que trabalham com os rolos.<br />

E agora que já sabemos que a provável Mãe do Cristianismo foi a antiga Comunidade da<br />

Nova Aliança, comumente chamada de Essênios, a momentosa questão desafiando a<br />

consciência de toda a Cristandade é se o filho terá a graça, a coragem e a honestidade de<br />

conhecer e de honrar a sua mãe.<br />

Já comprovadas as origens essênicas do Cristianismo com outra obra de outro também<br />

categorizada membro da igreja protestante: o Rev. D. Howlett, deixo de recorrer de novo à obra de<br />

John Marco Allegro “Os manuscritos do Mar Morto” e à de Millar Burrows “Os documentos do Mar<br />

Morto” que tenho em minha biblioteca.<br />

Com a leitura destes quatro livros sobre o assunto, tive a confirmação de minha suspeita<br />

sobre o motivo por que certos meios religiosos mantiveram oculta a vida de <strong>Jesus</strong> que vai dos <strong>13</strong><br />

aos <strong>30</strong> anos. É que os essênios eram budistas e era preciso criar uma religião própria, que não<br />

tivesse base em nenhuma outra, mas, quem faz um estudo rigoroso do Novo Testamento, verifica<br />

que <strong>Jesus</strong> proferiu palavras e sentenças já ditas por outros reformadores da Índia.<br />

74


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Não quero terminar esta parte sem antes transcrever o que diz a segunda capa do livro<br />

do Rev. Potter: “Por séculos e séculos os estudantes cristãos da Bíblia se perguntavam onde<br />

<strong>Jesus</strong> estava e o que ele fez durante os chamados ‘dezoito anos de silêncio’. Os maravilhosos<br />

e dramáticos manuscritos da grande biblioteca essênica, achados em grutas após grutas<br />

perto do Mar Morto, finalmente nos deram a resposta. Que durante aqueles ‘anos perdidos’<br />

<strong>Jesus</strong> estudava nessa escola essênica está se tornando cada vez mais aparente. Os letrados<br />

estão gradualmente admitindo os surpreendentes paralelos existentes entre as suas<br />

doutrinas e vocabulário e as dos essênios e seu ‘Mestre da justiça’, que foi provavelmente<br />

crucificado cerca de um século antes do nascimento de <strong>Jesus</strong>. Foi a seu título e sua<br />

autoridade que <strong>Jesus</strong> provavelmente sucedeu”.<br />

E já não perguntaram se <strong>Jesus</strong> não foi outro “Mestre da Justiça”, igualmente crucificado?<br />

Quem o sabe ao certo? Aguardemos! Com muita calma, mesmo, pois parece que o caso foi encerrado<br />

... para não abalar os fundamentos de nossa religião cristã!<br />

Ainda aprofundando o mistério.<br />

Tive ocasião de citar, anteriormente, o antroposofista Rudolf Steiner, grande estudioso<br />

dos assuntos religiosos, que disse que, detrás do mistério de <strong>Jesus</strong> ... há o infinito. Em certo ponto<br />

há mesmo, porém já existe uma literatura nova que nos permite vislumbrar mais algo além do que<br />

consta dos evangelhos chamados sinópticos (S. Marcos, S. Mateus, S. Lucas e S. João), onde,<br />

apesar de serem chamados de “concordantes”, muitas divergências mostram, como se pode ver do<br />

livro de Aldeonoff Póvoas sob o título de “Contradições Bíblicas”.<br />

Acho, pois, temerária uma exegese literal, palavra por palavra, dos quatro evangelhos,<br />

em face de novos documentos religiosos e de progressos científico, ainda mais se entrar no meio<br />

“o véu da letra e a capa do mistério” ... Há, por exemplo, uma passagem bíblica que diz:<br />

“É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino<br />

do céu”. Ora, já li alhures que o tal “fundo de uma agulha” era uma porta da Palestina, com esse<br />

feitio, tão baixa e pequena que era difícil um camelo passar por ela. Quanto ao resto da passagem,<br />

estou de acordo.<br />

E, para quem quiser conhecer algo a respeito de Steiner, cito o livro de Rudolf Meyer<br />

intitulado “Quem era Rudolf Steiner?”, editado pela Associação Pedagógica Rudolf Steiner, de São<br />

Paulo.<br />

Vamos, pois, aprofundar o mistério de <strong>Jesus</strong>, fora da órbita dos evangelhos cristãos,<br />

que, na verdade, muito nos têm servido pelo que muito de bom contêm, apesar do que se cometeu<br />

no passado. Não os considero, racionalmente, a “Palavra de Deus”, mas, com a exclusão de muitas<br />

coisas, o maior livro religioso da Terra, pelo menos no meio chamado ocidental.<br />

Do livro de H. Dennis Bradley The Wisdom of the Gods (A Sabedoria dos Deuses), o<br />

mesmo autor de Towards the Stars (Rumo às Estrelas), este já traduzido para o português, extraio,<br />

da pág. 262, do cap. XIX, sessão de 8 de março de 1935, uma pergunta e uma resposta, com os<br />

comentários do supracitado autor.<br />

Perguntou o sr. Terry, conhecido autor teatral inglês: “Cristo é o Filho de Deus?” e o dr.<br />

Barnett, um dos guias de George Valiantine, afamado médium norteamericano de “voz direta”,<br />

respondeu o seguinte:<br />

75


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

“<strong>Jesus</strong> foi filho do homem; de pai e mãe terrenos”, e assim comenta o autor: “Eu já<br />

fizera esta pergunta antes e recebera a mesma resposta cada vez que a formulara. Este<br />

luminoso espírito, que já confundira os maiores cientistas vivos, nenhuma hesitação tinha<br />

ao dar a sua opinião a respeito. Ele disse que o Cristo era um Espírito muito elevado e que<br />

Ele vivia no Sétimo Plano da Sétima Esfera. O Cristo foi um dos maiores espíritos que já<br />

viveram na Terra em corpo humano e a sua influência seria cada vez maior ao nosso<br />

planeta no futuro próximo do que antes, porque a espiritualidade e a grande filosofia do<br />

Cristo poderiam salvar nossa civilização de uma destruição material. O ‘dr. Barnett’ fala<br />

sempre, com a maior veneração do Espírito do Cristo ao qual olha como próximo da divina<br />

e incompreensível inteligência do grande Deus do universo”.<br />

Vou citar agora outro espírito de grande antiguidade, referindo ao livro “A Filosofia<br />

Hermética”, a primeira obra mediúnica impressa pela “Fundação Educacional e Editorial<br />

Universalista”, de Porto Alegre, muito conhecida pela sigla FEEU. O conteúdo deste livro corresponde<br />

a uma série de palestras feitas, em Londres, capital da Inglaterra, no ano de 1936, a uma classe de<br />

aspirantes espiritualistas, por uma entidade conhecida como I-EM-HOTEP, por intermédio da<br />

sra. K. Barkel. Na literatura hermética há muitas referências ao grande sábio egípcio I-EM-HOTEP,<br />

cujo nome significa “Aquele que vem em paz”. Conforme consta de diversas enciclopédias, ele<br />

viveu no Egito há uns 3.000 anos antes de Cristo, ocupando, durante o reino de Zoser, o mais alto<br />

cargo do país, cargo que, posteriormente, recebeu o nome de Vizir. Arquiteto do rei, astrônomo e<br />

astrólogo, autor de sábios escritos e provérbios, poeta de renome I-EM-HOTEP também era Sumo<br />

Sacerdote do Egito e Hierofante do sistema de ensino religioso e esotérico de seu tempo. Foi ele<br />

quem desenhou o plano da primeira pirâmide egípcia - a pirâmide escalada de Sak-Ka-Ra. Foi ele<br />

quem, o primeiro na história do mundo, introduziu o uso da pedra talhada na construção, o que<br />

deu inicio à construção sólida. Foi, no entanto, como médico e fundador de templos de cura que I-<br />

EM-HOTEP deixou os traços mais profundos na areia do tempo. Suas curas tornaram-se proverbiais,<br />

ganhando-lhe a gratidão e a profunda reverência do povo. Esta, continuando após a sua morte, fez<br />

com que o Egito elevasse I-EM-HOTEP ao nível semi-divino, à sua semi-deificação, à divinização.<br />

Pois foi, “da noite dos tempos”, que esse grande espírito voltou à Terra, falando aos<br />

homens por intermédio de uma médium inglesa e começando por dizer: “Hoje, minha intenção é,<br />

apenas, esboçar certo ensinamento que encerra a Verdade sob uma forma simbólica, que<br />

permite transmiti-la, adaptando-a ao alcance e ao tipo de cada mente humana. Este<br />

ensinamento, sob diversas formas, atravessou muitos milhares de anos, chegando até<br />

vossa época e recebendo, nos últimos tempos, o nome de Filosofia Hermética”.<br />

Passo por cima de muitas coisas interessantes para ater-me apenas às referências feitas<br />

a <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

Na página 21 do supracitado livro, diz ele: “Os que amam o Mestre <strong>Jesus</strong> estarão<br />

certamente interessados em saber que Ele foi o maior mago e o maior ritualista que o vosso<br />

mundo conheceu. Ele trouxe consigo esse amor pelo Ritual das várias escolas por onde<br />

passou” e, respondendo a certa pergunta formulada, assim respondeu: ‘Não gostaria de<br />

destruir vossas crenças se elas até agora vos confortaram. De acordo, porém, com a<br />

mensagem da Nova Era, devo dar-vos a Verdade. <strong>Jesus</strong>, quando iniciou Sua missão, havia<br />

atingido à suprema maestria de todas as escolas ocultas conhecidas naquele tempo. Assim<br />

como os outros Adeptos, Ele possuía o seu grupo interno e externo de discípulos. No grupo<br />

interno, ensinava por símbolos, a fim de que esse ensinamento pudesse ser ministrado em<br />

todos os países, apesar da diferença de línguas e mentalidades. Ele ensinava seus discípulos<br />

a empregar esses símbolos segundo o desenvolvimento interno do homem. Para os que<br />

podiam compreender apenas o sentido literal, e nele achar conforto, só este devia ser<br />

dado. Em função, contudo, da evolução humana, o verdadeiro sentido devia ser revelado’”.<br />

76


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

A pergunta: “Vós referistes a <strong>Jesus</strong> como sendo um grande ritualista. Podereis citar um<br />

Rito feito por Ele?” foi assim respondida: “A maioria dos Ritos feitos por <strong>Jesus</strong>, visto ter Ele<br />

estudado nas escolas filosóficas egípcias e hindus, foi baseada na astrologia. No seu símbolo<br />

- o peixe - mostrava <strong>Jesus</strong> ser Adepto da Era dos Peixes. Sua túnica sem costura, feita de<br />

um só pedaço de pano, mostrava ser Ele Filho do Sol. Seus braços, estendidos em forma de<br />

cruz, indicavam ter Ele conhecimento da ciência egípcia do Tarot”. Como esta resposta é<br />

relativamente grande, passo a outra pergunta formulada, que está na pág. 56 do supracitado livro<br />

mediúnico. É ela: “Falastes da imagem da perfeição do coração. Estão gravadas ali todas<br />

as nossas experiências? “. A resposta é longa e a transcrevo na integra.<br />

Ei-la: “Naturalmente. Pode ser que em uma vida o átomo permanente acumule as<br />

qualidades materialistas, em uma outra - as da grande união, da fortaleza ou outras<br />

ainda. Em cada encarnação, ele atrai, dos átomos que o rodeiam naquela vida determinada,<br />

aquilo que lhe será necessário para a última expressão de sua perfeição. Tomemos o exemplo<br />

de um Grande Portador da Força Crística - o Mestre <strong>Jesus</strong>. O átomo divino do Seu coração,<br />

quando estava no corpo de <strong>Jesus</strong>, tinha atraído átomos perfeitamente puros e inalterados<br />

que criaram Seu belo corpo, Sua bela mente, através dos quais Sua perfeição podia se<br />

manifestar. Ele não poderia ter atraído estes átomos se nas vidas anteriores não tivesse<br />

adquirido toda a experiência necessária. Não sei se vos chocarei dizendo que o átomo<br />

permanente do coração de <strong>Jesus</strong> tinha residido previamente na pessoa de Melchizedek, de<br />

Enoc e de outros grandes e gloriosos Seres. É a herança divina que torna divino o homem.<br />

É a realização da semelhança com sua própria imagem no coração que permite construir<br />

gradativamente um veículo através do qual ele poderá, no futuro, ser um Cristo para a<br />

humanidade”.<br />

Coisa estranha, dirão os leitores, falar-se em iniciação para <strong>Jesus</strong>, mas assim não pensa<br />

o nosso formidável Léon Denis, chamado o “consolidador da filosofia espírita”. Como estou fazendo<br />

um estudo mais completo e moderno sobre a chamada “vida desconhecida de <strong>Jesus</strong>” e sendo o<br />

mais imparcial possível, dou a palavra a Léon Denis que, após tratar da decadência da época,<br />

escreve o seguinte, em “Depois da morte”, págs. 59 e 60 da 8ª edição deste belo livro: “Entretanto,<br />

nas margens do Mar Morto, alguns homens conservam no recesso a tradição dos profetas<br />

e o segredo da pura doutrina. Os essênios, grupo de iniciados cujas colônias se estendem<br />

até ao vale do Nilo, abertamente se entregam ao exercício da medicina, porém o seu fim<br />

real é mais elevado: consiste em ensinar, a um pequeno número de adeptos, as leis superiores<br />

do Universo e da vida. Admitem a preexistência e as vidas sucessivas da alma; prestam a<br />

Deus o culto do espírito. Nos essênios, como entre os sacerdotes de Mênfis, a iniciação é<br />

graduada e requer vários anos de preparo. Seus costumes são irrepreensíveis; passam a<br />

vida no estudo e na contemplação, longe das agitações políticas, longe dos enredos do<br />

sacerdócio ávido e invejoso. Foi evidentemente entre eles que <strong>Jesus</strong> passou os anos que<br />

precederam o seu apostolado, anos sobre os quais os Evangelhos guardam um silêncio<br />

absoluto. Tudo o indica: a identidade dos seus intuitos com os dos essênios, o auxílio que<br />

estes lhe prestaram em várias circunstâncias, a hospitalidade gratuita que, a título de<br />

adepto, ele recebia, e a fusão final da ordem com os primeiros cristãos, fusão de que saiu<br />

o Cristianismo esotérico”.<br />

E adiante, na mesma obra, pág. 67, Denis diz ainda o seguinte: “Negaram certos<br />

autores a existência do Cristo e atribuíram a tradições anteriores ou à imaginação oriental<br />

tudo o que a respeito foi escrito. Nesse sentido, produziu-se um movimento de opinião,<br />

tendente a reduzir às proporções de lendas as origens do Cristianismo. É verdade que o<br />

Novo Testamento contém muitos erros. Vários acontecimentos por ele relatados encontramse<br />

na história de outros povos mais antigos e certos fatos atribuídos ao Cristo figuram<br />

igualmente na vida de Krishna e na de Hórus. Mas também existem outras, e numerosas<br />

provas da existência de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, provas tanto mais peremptórias quanto foram<br />

fornecidas pelos próprios adversários do Cristianismo, etc.”.<br />

77


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Havia, nos ensinamentos do Cristo, um sentido oculto, simbólico, esotérico, e é ele<br />

mesmo que o diz no Evangelho segundo S. Mateus, XIII, 10 e 11: “Eu lhes falo por parábolas,<br />

porque a vós outros vos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é<br />

concedido” e assim o comenta Léon Denis quando escreve à pág. 38 da 5ª edição de “Cristianismo<br />

e Espiritismo”: “Evidente que haviam duas doutrinas no Cristianismo .primitivo: a destinada<br />

ao vulgo, apresentada sob formas acessíveis a todos, e outra, oculta, reservada aos<br />

discípulos e iniciados. É o que, de resto, existia em todas as filosofias e religiões da<br />

Antigüidade”.<br />

E sobre a natureza de <strong>Jesus</strong>, assim se exprime Denis à pág. 68 de “Depois da morte”:<br />

“Quanto às teorias que de <strong>Jesus</strong> fazem uma das três pessoas da Trindade, ou um ser<br />

puramente fluídico, uma e outra parecem igualmente pouco fundadas. Pronunciando estas<br />

palavras: ‘De mim se afaste este cálice’, <strong>Jesus</strong> revelou-se homem, sujeito ao temor e aos<br />

desfalecimentos. Como nós, sofreu, chorou, e esta fraqueza inteiramente humana,<br />

aproximando-nos dele, o faz ainda mais nosso irmão, tornando seus exemplos e suas virtudes<br />

mais admiráveis ainda”.<br />

Há um outro livro curioso a respeito de <strong>Jesus</strong>-Cristo, mas este já baseado em “registros<br />

akásicos”. O original é em inglês e tem o título de The Aquarian Gospel of <strong>Jesus</strong> the Christ, by Levi<br />

(O Evangelho Aquariano de <strong>Jesus</strong> o Cristo, por Levi). Há uma versão em francês sob o título de<br />

L’Evangile du Verseau (O Evangelho do Aquário) na Collection Louis Colombelle. Vou dizer realmente<br />

de que se trata. O Evangelho Aquariano é um substancioso trabalho que dá detalhes íntimos da<br />

vida do Cristo sobre a qual os evangelhos do Novo Testamento são silenciosos, detalhes esses<br />

extraídos de autênticos “registros akásicos” ou etéricos, por um estudante que se devotou quarenta<br />

anos ao preparo para essa tarefa. Este livro único é praticamente um completo registro das palavras<br />

e obras do Homem da Galiléia, incluindo os dezoito anos de estudos e viagens pelo Oriente. Cobre<br />

a sua vida desde o nascimento em Belém até a sua ascensão do Monte das Oliveiras. De especial<br />

interesse e valor são os detalhes completos e íntimos relativos à sua vida durante os dezoito anos<br />

despendidos em viagens entre os mosteiros gelados do Tibet, as construções formidáveis do Egito,<br />

os misteriosos templos da Índia, Pérsia e Grécia, um largo período de sua vida em que viajou e<br />

conversou com monges, sábios e videntes através do Oriente. Por que foi ele chamado Evangelho<br />

Aquariano? Porque não foi e nem podia ter sido escrito até o começo da Época Aquariana do<br />

mundo, o tempo referido por <strong>Jesus</strong> quando ele disse aos seus discípulos: “Tenho ainda muitas<br />

coisas que vos dizer, mas vós não as podeis suportar agora. Quando vier porém o espírito<br />

de Verdade ele vos ensinará todas as verdades...” (S. João, cap. XVI, vers. 12 e <strong>13</strong>).<br />

Quem transcreveu o Evangelho Aquariano? Quem leu os registros akásicos? Levi. Quem<br />

era ele? Levi ou Levi H. Dowling, nasceu a 18 de maio de 1844 em Belleville, Ohio, EUA. Estudante<br />

das sagradas escrituras, começou a pregar aos 16 anos de idade e aos 18 já era pastor de uma<br />

pequena igreja. Esteve no exército norte-americano como capelão, no qual serviu até a terminação<br />

da guerra civil. Estudou na Northwestern Christian University, de Indianópolis, Indiana, e publicou<br />

folhetos religiosos. Graduou-se em duas escolas médicas e praticou medicina durante alguns<br />

anos. Finalmente deixou a medicina para voltar ao seu trabalho literário. Ouando era um simples<br />

rapaz, teve uma visão na qual lhe fora dito que ele deveria “construir uma cidade branca”.<br />

Tal visão se repetiu por três vezes, em intervalos de anos. A construção da “cidade branca” foi<br />

“O Evangelho Aquariano de <strong>Jesus</strong> o Cristo”. O livro foi transcrito entre as duas e seis horas da<br />

madrugada, nas chamadas “horas silenciosas”. Levi faleceu a <strong>13</strong> de agosto de 1911.<br />

Mas o que é “akasa”? Akasa, na melhor expressão de um orientalista, é o éter cósmico,<br />

o fluido universal. Nele está registrado tudo o que ocorreu e ocorre na Terra, daí talvez que tenha<br />

originado a teoria do “reservatório cósmico de memórias individuais”, onde os médiuns iriam<br />

colher todas as informações que dão nas sessões, quando, muitas vezes, acontecem lapsos.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

The Aquarian Gospel está na sua vigésima edição inglesa, que é de 1969, conforme<br />

exemplar que tenho em mãos, quando da edição americana, de que possuo também um exemplar,<br />

já alcançou a trigésima sexta edição, pois o livro vem sendo reeditado desde 1908.<br />

Há uns capítulos do livro cujos títulos não podemos deixar de mencionar, como:<br />

VI - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Índia; VII - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> no Tibete e Índia Ocidental;<br />

VIII - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Pérsia; IX - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> na Assíria; X - Vida e obras de<br />

<strong>Jesus</strong> na Grécia; X - Vida e obras de <strong>Jesus</strong> no Egito; e finalmente o XXI - Materialização do corpo<br />

espiritual de <strong>Jesus</strong> e o XXII - Estabelecimento da Igreja Cristã.<br />

Poderia dizer muitas coisas mais, porém prefiro restringir o assunto, pois detrás dele...<br />

há o infinito. Menciono, para os interessados, as obras mediúnicas de uma espiritualista argentina,<br />

Josefa Rosalia Luque Alvarez, nascida a 18 de março de 1893 e falecida a 1° de agosto de 1965.<br />

Em mas de trinta anos em contato com os seus guias espirituais e diz-se também como o do<br />

Mestre, deixou volumosas obras como Origines de la Civilización Adámica, Arpas Eternas, Cumbres<br />

y Lecturas de Moisés, el Vidente del Sinái. Tratam, pelo menos as duas que tenho em mãos,<br />

detalhadamente da vida de <strong>Jesus</strong>, tendo Arpas Eternas, em três volumes, mais de 1.000 páginas,<br />

e Cumbres y Llanuras, em. dois grandes e grossos volumes, mais de 800 páginas. A primeira e a<br />

quarta já estão a caminho, mas não há tempo para ler e meditar sobre tanta coisa.<br />

Outra volumosa obra que adquiri recentemente é o True Gospel revealed anew by <strong>Jesus</strong><br />

(O verdadeiro evangelho revelado novamente por <strong>Jesus</strong>), editado pela Church of the New Birth, de<br />

Washington, EUA. São quatro grandes e grossos volumes de mais de 400 páginas cada um e, como<br />

o quarto volume ainda não me chegou às mãos e é muita coisa para eu ler e resumir, deixo de dar<br />

a minha opinião a respeito. Com os três primeiros volumes veio um folheto intitulado <strong>Jesus</strong>’ Birth<br />

and Youth as known by Mary, Mother of <strong>Jesus</strong> (Nascimento e MKocidade de <strong>Jesus</strong> narrados por<br />

Maria, Mmãe de <strong>Jesus</strong>). Como é de poucas páginas, tive ocasião de lê-lo e colher a seguinte<br />

revelação de Maria: “A maior parte do que o Novo Testamento diz a meu respeito não é<br />

verdade. Fui casada legalmente com José, meu marido, que era um moço e não o decrépito<br />

e impotente velho como é descrito pelos autores que fazem de mim uma virgem e mãe de um<br />

filho cujo pai não tinha corpo ou espírito”..., e mais adiante: “Não, fui mãe de oito filhos de<br />

carne e sangue, sendo o primeiro Jeshua, ou Jeshu, que é pronunciado diferentemente no<br />

norte o no centro da Palestina, como diferentemente em várias partes deste próprio país”.<br />

Há outra obra recebida recentemente e sobre a qual não posso discorrer, pois recebi<br />

apenas o seu primeiro volume. São dois e têm os seguintes título e subtítulos:<br />

The past lives of <strong>Jesus</strong> and Mary<br />

Key incarnations of the way showers<br />

Mystic interpretations from the akashic records<br />

God’s book of remembrance<br />

by Jessica Madigan in 2 volumes<br />

que, tudo traduzido, é:<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

As vidas passadas de <strong>Jesus</strong> e Maria<br />

Encarnações chaves dos precursores<br />

Interpretações místicas dos registros akásicos<br />

Livro de memórias de Deus<br />

por Jessica Madigan, em dois volumes.<br />

Como neste primeiro volume trata mais de <strong>Jesus</strong>, posso adiantar que, na interpretação<br />

da autora, <strong>Jesus</strong> viveu primeiro na Atlântida (enorme continente submerso) com o nome de Amilius,<br />

talvez forma latina de Emílio; foi depois Rama, o chefe ariano que penetrou na Índia; Krishna, o<br />

conhecido filósofo hindu; Hermes, o Núbio, que foi para o Egito; Enoc, autor do livro usado pelos<br />

antigos essênios e Melchizedek, o grande místico conhecido através da Bíblia. Sendo tudo isto<br />

escrito de passagem, pela falta de leitura dos 2 volumes, nada mais posso acrescentar no momento.<br />

Passo agora, de escantilhão, por uma obra sobre a qual gostaria de extrair muitas<br />

coisas, mas limito-me a bem pouco e o melhor. Trata-se de Edgar Cayce’s Story of <strong>Jesus</strong>, título que<br />

mais amplamente traduziria por “A vida de <strong>Jesus</strong> segundo leituras de vidas feitas por Edgar<br />

Cayce”. Este possuía a estranha faculdade de colocar-se em um estado de sono semelhante ao<br />

estado de transe e assim proferir palestras, fazer diagnósticos e principalmente as leituras das<br />

vidas pretéritas de muitos consulentes. Um dos seus vários biógrafos, Jess Stearn, o chamava de<br />

The Sleeping Prophet (O Profeta Adormecido), apelido que serviu de título a um dos seus livros. O<br />

autor deste livro, Jeffrey Furst, livro editado por Coward-MacCann, Inc. New York, USA. Para<br />

escrevê-lo, recorreu ao “grupo da Palestina”, isto é, às leituras de vidas de pessoas que viveram na<br />

Palestina na época do Cristo. E confirma a passagem de <strong>Jesus</strong> pelo Egito, Pérsia e outros países,<br />

como repetidamente referido em várias partes deste meu trabalho.<br />

Ele dá também o Monte Carmelo como a sede de uma escola de Essênios e diz que foi<br />

em um templo de lá que se realizou o casamento de José e Maria, os pais de <strong>Jesus</strong>. Perguntado<br />

que idade tinha José por ocasião do seu casamento com Maria, ele respondeu que 36 anos e Maria<br />

apenas 16. Perguntado ainda que mestres teve <strong>Jesus</strong> nos países em que estudou, respondeu:<br />

Kahjian na Índia; Junner na Pérsia e Zar no Egito.<br />

Este livro, em formato grande, tem cerca de 400 páginas. Citá-lo minuciosamente seria<br />

quase que escrever novo livro.<br />

Já que tive ocasião de me referir às várias vindas do Cristo à Terra, da qual, segundo<br />

alguns, ele seria o Governador, o Dirigente, o Instrutor Maior, vou citar também breve trecho da<br />

obra de Ruth Montgomery A World Beyond já traduzida para o português sob o sugestivo titulo de<br />

“A vida no Além-Túmulo” e publicada pela Distribuidora Record. Trata na maior parte, de colóquios<br />

com o espírito de Arthur Ford por meio da psicografia, mas de uma forma ainda desconhecida por<br />

mim: ela recebia as mensagens, não por meio de um lápis ou uma caneta, mas diretamente na<br />

máquina de escrever. Arthur Ford, falecido recentemente, era considerado o maior médium norteamericano.<br />

Quem conhece bem o inglês poderá ler a obra Nothing so Strange (literalmente “Nada<br />

tão Estranho”), que é a sua autobiografia em colaboração com Margueritte Harmon Bro e tem uma<br />

introdução de Hugh Lynn Cayce, Diretor da Edgar Cayce Association for Research and Enlightenment.<br />

Do capítulo <strong>13</strong> “Exemplos de reencarnação”, colho o seguinte e interessante trecho:<br />

80


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Na manhã de Sexta-Feira Santa, Arthur Ford escreveu em minha máquina: ‘Mais ou menos<br />

nesta data, há dois mil anos, um homem chamado <strong>Jesus</strong> de Nazaré morreu na cruz como<br />

símbolo vivo da vida eterna. Alguns pensavam que iria livrar-se da cruz para exibir mais<br />

um milagre, porém foi o Cristo dentro dele que sobreviveu à morte e voltou várias vezes na<br />

forma astral para provar que a vida é eterna, que o homem de carne não é o verdadeiro<br />

homem, mas apenas o símbolo físico da alma sempre viva. Ele provou a veracidade de<br />

suas palavras e por isso tornou-se imortal como um <strong>Jesus</strong> físico bem como na consciência<br />

de Cristo, que existe nas forças de Deus desde o início dos tempos.<br />

Agora vejamos o caso de São Paulo, que teve uma visão de Cristo no caminho para Damasco.<br />

Ele não conhecia o homem <strong>Jesus</strong>, mas assim que viu a aparição reconheceu-a como o<br />

Cristo que tinha habitado o corpo de <strong>Jesus</strong>. As palavras, para ele, eram inconfundíveis.<br />

<strong>Jesus</strong> foi a maior de uma longa série de personificações de uma alma criada no início e que<br />

de vez em quando encarnava na forma humana. Foi o Buda, o Messias, o todo-no-todo, e<br />

aquele por quem sempre ansiamos em nossas almas - o irmão mais velho, o camaradão, o<br />

pacificador, a personificação do bem. Filho de Deus, sim, mas não somos todos filhos e<br />

filhas de Deus? A diferença é que <strong>Jesus</strong> recebeu de Deus poderes para conduzir toda a<br />

humanidade às verdades básicas: amai-vos uns aos outros, sede bons para com quem vos<br />

maltrata, não faleis mal se não quiserdes que falem mal de vós, fazei aos outros aquilo que<br />

quereis que vos façam. O espírito de Cristo viveu e teve o seu ser por um período de anos<br />

dentro de <strong>Jesus</strong> de Nazaré, mas lembram-se disto: O espírito interior, que habita a forma<br />

física de todos nós, é igualmente parte de Deus e capaz de suportar o mal, por isso tentemos<br />

nós um pouco mais aquilo que no princípio foi puro, limpo e verdadeiro. Amai o próximo<br />

como a vós mesmos.<br />

Arthur desenvolveu um tema semelhante em seu “sermão” da manhã da Páscoa,<br />

escrevendo:<br />

Hoje é o aniversário da bela manhã em que o Cristo desencarnado ergueu-se do túmulo<br />

para demonstrar a vida eterna. Livre de seu corpo, ele apareceu a muitos dos seus seguidores<br />

na terra da Palestina e até mostrou seus ferimentos a um Tomás duvidoso, mas não é esta<br />

a mensagem importante. O ponto de destaque é que nós todos sobrevivemos à morte com<br />

nossa personalidade e memória intactas. Isto foi demonstrado por <strong>Jesus</strong> ao morrer na cruz<br />

e Sua parte eterna - o Cristo - continuou a viver para provar que o corpo físico não faz parte<br />

da alma eterna. Hoje falamos das várias encarnações daquele Cristo que recordamos na<br />

forma de <strong>Jesus</strong>. Ele tinha sido vários homens diferentes antes daquela encarnação e em<br />

todas buscava a perfeição do homem. Queria demonstrar a Seu Pai e a todos os outros que<br />

é possível habitar um corpo físico, resistir à tentação e viver uma vida de perfeição. As<br />

vezes esquecemo-nos de que <strong>Jesus</strong> era um homem como nós. Era o Cristo dentro dele que<br />

o tornava superior. As mesmas tentações carnais estavam ali para tentar a <strong>Jesus</strong> como a<br />

qualquer homem carnal e, no entanto, ele resistiu a todas. Lembremo-nos, pois, de que<br />

cada um de nós poderá viver tão corretamente quanto quiser, pois foi demonstrado que o<br />

homem, mesmo na carne, pode ser perfeito.<br />

Já disse aqui nesta obra, citando Rudolf Steiner, que, por detrás do mistério de <strong>Jesus</strong> ...<br />

há o infinito. E, por causa disto, vou fazer, para terminar, umas breves citações de um curioso<br />

livro, também recente como o antes citado. Trata-se de “A voz dos extraplanetários”, livro que se<br />

originou de um processo telepático a que se permitira o extraplanetário Ashtar Sheran por intermédio<br />

de um médium alemão chamado Herbert Victor Speer, de Berlim.<br />

81


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Mas quem é este Ashtar Sheran, de nome tão estranho? Di-lo o livro em muitas linhas,<br />

mas, para nós, direi apenas que se trata de um ser espiritual elevado, habitante de Methária,<br />

situado no sistema solar de Alfa Centauro e que teria o comando geral das naves espaciais em<br />

missão terrena ao aproximar-se “o fim dos tempos” tão falados. E lá se fala no Cristo e outras<br />

coisas mais ... Passo, ainda, a algumas transcrições interessantes e bem curiosas, como, por<br />

exemplo, do que consta das páginas 122 e 123. Ei-lo:<br />

Já numa comunicação precedente acentuamos que Cristo não foi o bode expiatório da<br />

humanidade terrestre. Tornou-se vítima de um crime horrendo! Essa morte brutal nada tem<br />

que ver com a Redenção da humanidade. Somente Seus ensinamentos podem redimir-vos,<br />

quando os colocardes em prática, porém não porque seu sangue foi derramado.<br />

Os “Santini” estavam num direto contato com este extraordinário Mestre.<br />

A Estrela de Belém era uma nave espacial extraterrestre, um U.F.O. como o chamais. Podereis<br />

ver tais estrelas de Belém em cada noite e, muitas vezes, também durante o dia e em todos<br />

os países da Terra. Suas trajetórias e seu brilho não são por nada diferentes daquela<br />

Estrela de Belém.<br />

O nascimento de Cristo foi anunciado pelos pilotos de um U.F.O. Citamo-vos agora uma<br />

passagem da Bíblia: “E um Anjo do Senhor esteve diante deles, e o esplendor do Senhor<br />

envolveu-os e assim sentiram medo”. O esplendor que envolveu os pastores era a irradiação<br />

de um U.F.O.. O anjo era um “Santini”, um extraterrestre. Não foi o Anjo que subiu ao céu,<br />

mas um U.F.O. acolheu-o levando rumo ao Cosmo. Uma estação interplanetária universal<br />

não é uma plataforma para Anjos. Também a partida de Elias no carro de fogo. Nem a<br />

visita dos Anjos, nem a luz divina com seu esplendor são baseadas na ação milagrosa de<br />

Deus. Trata-se, ao contrário, da visita dos “Santini”, que, se empenham sinceramente em<br />

vos explicar o significado de vossa existência.<br />

Esclarece o editor alemão desta obra, em nota, o seguinte:<br />

“É-nos muito difícil entrarmos em contato com Ashtar Sheran. Importante tornou-se então<br />

para nós a confiança demonstrada pelos Guias espirituais que já há muitos anos nos<br />

transmitem inumeráveis ensinamentos relacionados com a sabedoria. Com Ashtar Sheran<br />

entramos em contato de tempos em tempos. Nós não o vemos. Suas mensagens são<br />

espiritual-científicas. Por essa razão devemos recorrer ao mundo da colaboração de nossos<br />

Guias espirituais e, como se trata de missão divina, estas Grandes Almas procuram<br />

contentar-nos. Nem de todas as perguntas recebemos respostas, porque, para algumas<br />

explicações, não nos achamos preparados nem amadurecidos para entendê-las. Ashtar<br />

Sheran é um verdadeiro amigo da Humanidade; melhor instrutor não poderíamos imaginar.<br />

É o Guia de nossos tempos. Sentimo-nos felizes por termos sido escolhidos para a recepção<br />

de comunicações, mesmo que por causa disto sejamos escarnecidos. Entretanto existem<br />

muitas pessoas sérias e decididas que nos compreendem e estão conosco.<br />

As perguntas constantes das páginas 146 e 147 já são respondidas pelo Guia espiritual.<br />

Eis as mais importantes dele recebidas:<br />

Pergunta: A Ascensão de Cristo foi cientificamente posta em dúvida. Também as Igrejas<br />

não sabem como explicá-la. Que relação terá com os “Santini”?<br />

Resposta: Cristo conhecia a missão dos “Santini”. Uma nave espacial acolheu-O<br />

tomando-O consigo. Os “Santini” possuem estes meios. O céu não é um lugar<br />

sobre as nuvens. Cristo foi levado algures.<br />

P. - Conheceis este lugar?<br />

R. - Pelo que sabemos foi levado para as Índias, nas proximidades do Tibet. Ali<br />

ficaria mais seguro. (Nota do Editor: Há muitos indícios de que Cristo tenha operado na<br />

Índia)<br />

82


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

P. - Esta resposta faz vacilar o milagre da Ressurreição. Portanto Cristo deverá ter<br />

continuado a viver. Não teria então morrido na Cruz, não é assim?<br />

R. - Cristo possui dotes excepcionais, visto ser uma divina encarnação. Sabemos hoje<br />

que a maior parte das pessoas escuta de má vontade esta explicação. Porém Cristo<br />

morreu na Cruz. Morreu clinicamente. Mas; como Cristo é uma encarnação de<br />

imensa força divina, esta se pôs a agir n’Ele depois da morte. Ele venceu a matéria,<br />

levando-a como uma veste imaculada. Ele possui faculdades e poderes divinos.<br />

Curava os doentes, ressuscitava os mortos e assim recolocou-se a si próprio na<br />

vida e curou-se. Aí está o próprio milagre da Ressurreição, dentro da ordem imutável<br />

das leis espirituais.<br />

P. - Diz ainda a Bíblia: “Subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus”. Que dizeis a isto?<br />

R. - Deus não é uma pessoa e assim sendo Cristo não poderia sentar-se à Sua direita.<br />

E o céu não é um teto próprio colocado sobre a Terra. Este é outro consenso<br />

dogmático. Cristo se acha no reino espiritual, na esfera mais alta. Ali não está só,<br />

mas rodeado por muitos espíritos eleitos.<br />

P. - Como reagirão as Igrejas ao escutarem esta afirmativa? Como nos deveremos<br />

comportar?<br />

R. - Poderemos sempre dizer a verdade, gostem dela ou não. Além disto, a coisa não é<br />

tão estranha quanto parece. Existem faquires e iogues que podem realizar<br />

semelhante milagre: Anulam a força da gravidade, fazem-se transpassar por espadas<br />

e permanecem sepultados durante semanas inteiras. Dominam a matéria, como<br />

fez Cristo.<br />

P. - Cristo estava clinicamente morto. Como devemos entender isto?<br />

R. - Também sobre a Terra existem homens que se acham clinicamente mortos. Eles<br />

podem ser ressuscitados para a vida, mas só por um breve período de tempo,<br />

porque usam outros meios e sistemas errados. Podem ser ressuscitados até o<br />

momento em que o cordão de prata, aquele laço que une o corpo à alma, não tenha<br />

sido rompido. Até aí a ressurreição poderá ser possível. (Nota do Editor: Três dias<br />

depois da morte)<br />

P. - Sabemos que as células do cérebro não podem permanecer vivas por mais de que<br />

alguns minutos, visto que logo se decompõem dando-lhes a morte definitiva. Cristo,<br />

entretanto, ficou no túmulo por muito tempo. Como poderia ater-se dado isto?<br />

R. - Houve casos nos quais foi constatado que, depois da morte, no crânio de alguns<br />

terrestres não mais havia o cérebro. Entretanto, eles, quando vivos, podiam agir e<br />

pensar. Cristo não tinha necessidade de cérebro para pensar. Seu Espírito era<br />

extraordinariamente forte.<br />

Aqui me detenho novamente para dizer que a obra “A Voz dos Extraplanetários” foi<br />

impressa, em 1972, pela Editora Pongetti, que já nos promete, a seguir, do mesmo autor, as<br />

seguintes: “Veritas Vincit”, “De Estrela em Estrela” e “Antes da Aterrissagem”. Aqueles que<br />

conservam, como eu, a liberdade do pensamento como coisa preciosa, podem lê-las todas para<br />

estudo, comparação e ilustração, bem como “A Bíblia e os discos voadores” do escritor brasileiro<br />

Fernando Cleto Nunes Pereira, já em 2ª edição. Não me furto à ocasião de citar dois pequenos<br />

trechos da obra deste autor nacional. Um, da pág. 140, quando ele diz: “Não devemos fugir<br />

nunca dos temas difíceis e contraditórios, razão pela qual pretendemos examinar o delicado<br />

problema que constitui a reencarnação. Como já vimos, a Lei do Carma procede também<br />

dos astronautas extraterrenos. Sentimos mesmo ser do nosso dever focalizar aqui o livro<br />

que ficou perdido por muitos séculos, chamado Atos II, de autoria de S. Lucas, narrando a<br />

assunção de Santa Maria - episódio inteiramente desconhecido dos cristãos, porque o<br />

referido livro não mereceu a aprovação da Igreja Católica”.<br />

83


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

E outro, mais adiante, na pág. 143, quando esclarece o seguinte: “Vamos agora<br />

surpreender a grande maioria dos leitores, focalizando um misterioso livro muito pouco<br />

conhecido. Não sabemos se alguma Igreja já aceitou tal livro como verdadeiro. Trata-se do<br />

remoto e desaparecido Atos II, de autoria de S. Lucas, no qual são expostas algumas lições<br />

de Santa Maria sobre a reencarnação. Este livro foi descoberto e traduzido do grego para<br />

a língua inglesa por Kenneth Sullivan Guthrie e para a língua portuguesa por M.M.<br />

A primeira edição em inglês foi feita em 19-9-1904 e constou de apenas 155 exemplares.<br />

Somente 60 anos depois da primeira edição foi tal livro reeditado na língua inglesa.<br />

O editor e distribuidor de Atos II em nossos dias é o Centro Metafísico Mark-Age, Inc.,<br />

327 N.E. 20th Terrace - Miami, Flórida, USA. Uma pequena edição de menos de 100<br />

exemplares foi feita no Brasil, em língua portuguesa, editada em 15-8-1965 (Traduzido<br />

para a língua portuguesa, da versão inglesa, por M.M.). Nesse notável livro, que teria ficado<br />

perdido quase 1900 anos, está descrito, num verdadeiro poema, como se deu a assunção<br />

de Santa Maria e as revelações que ela faz sobre os mistérios do Reino de Deus. Narra<br />

também que, no momento da assunção, o próprio <strong>Jesus</strong> e o anjo Gabriel apareceram para<br />

levar Maria ao céu, momento em que <strong>Jesus</strong> confirma algumas de suas encarnações anteriores<br />

na Terra. Segundo o mesmo livro, Paulo e Pedro teriam assistido como se deu a assunção<br />

e juntos teriam ouvido as últimas revelações de Santa Maria e <strong>Jesus</strong>”.<br />

Os leitores que meditem sobre tudo isto e façam o seu juízo a respeito porque, no<br />

mistério de <strong>Jesus</strong>, parece que só se pode mesmo é opinar. Certeza não há, ainda menos com os<br />

Evangelhos chamados Apócrifos, que a própria Igreja Cristã rejeitou.<br />

A Bíblia inteira foi tantas vezes adulterada e interpolada por uns e outros interessados<br />

que hoje já não sabemos o que estava anteriormente escrito em inúmeras passagens. Para<br />

corresponderem a certas aspirações e idéias dos judeus antigos, alterações foram feitas, a dedo,<br />

no Novo Testamento, onde inúmeras passagens se contradizem umas as outras. E dói vermos que<br />

espíritos ditos de luz interpretam integralmente todos os versículos da Bíblia, mesmo os mais<br />

confusos...<br />

Outra coisa. Dizem que os judeus antigos tratavam de irmãos tanto os irmãos carnais<br />

como os primos-irmãos e demais parentes, mas, quando o interesse interpretativo entra em jogo,<br />

os irmãos carnais nunca são irmãos mesmo e sim de outro parentesco.<br />

Embora consideremos que é muito difícil argumentar-se a respeito de <strong>Jesus</strong> com<br />

passagens bíblicas, vamos fazer uma citação da Bíblia Sagrada traduzida em português, segundo<br />

a Vulgata Latina, pelo Padre Antonio Pereira de Figueiredo. Escolhemos, a propósito, os sete<br />

primeiros versículos do capítulo 2 - Nascimento de <strong>Jesus</strong> - do Evangelho Segundo São Lucas:<br />

“1. E aconteceu naqueles dias que saiu um édito emanado de César Augusto, para que fosse alistado<br />

todo o mundo. 2. Este primeiro alistamento foi feito por Cirino, governador da Síria. 3. E iam todos<br />

alistar-se, cada um à sua cidade. 4. E subiu José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade<br />

de David, que se chamava Belém, porque era da casa e da família de David. 5. Para se alistar com sua<br />

esposa Maria, que estava pejada. 6. E estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que havia de<br />

dar à luz. 7. E deu à luz a seu filho primogênito e o enfaixou e o reclinou em uma mangedoura, porque<br />

não havia lugar para eles na estalagem”.<br />

Notem bem: Maria deu à luz o seu filho primogênito. Filho primogênito, sabemos<br />

todos nós, é o primeiro filho de um casal de carne e osso e não se falava em primogênito sem haver<br />

outros filhos do mesmo casal, portanto haviam outros filhos mais, que eram mesmo irmãos uterinos<br />

de <strong>Jesus</strong>, e não primos-irmãos.<br />

São José teve filhos da primeira mulher dele, mas, quando se casou com Maria, a sua<br />

segunda mulher e mãe de <strong>Jesus</strong>, passou de homem de carne e osso a simples espectador... para<br />

que se cumprissem a vontade dos profetas e a dos interessados de ontem e hoje.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Quem conhecer o inglês e quiser ler muita coisa a respeito da vida de <strong>Jesus</strong>, indico um<br />

livro publicado pela primeira vez em 1899 e, pela segunda, em 1968 pela Unarius Publishing Co.,<br />

de Glendale, Califórnia, Estados Unidos da América. Tem o duplo título de The True Life of <strong>Jesus</strong><br />

of Nazareth (A verdadeira vida de <strong>Jesus</strong> de Nazaré) e The Confessions of Paul (As confissões de<br />

Paulo) e se trata de um volume de 325 maciças páginas recebidas através da mediunidade de<br />

Alexander Smyth.<br />

O referido livro é acompanhado de um apêndice com o título de The Crucifixion and<br />

Resurrection of <strong>Jesus</strong>, by an eye-witness (A crucificação e ressurreição de <strong>Jesus</strong> por uma testemunha<br />

ocular). Trata-se de um manuscrito descoberto e pertencente à antiga Biblioteca de Alexandria,<br />

com muita matéria adicional e explanatória sobre os Essênios e com pasmante declaração de que<br />

<strong>Jesus</strong> não faleceu na cruz e sim seis meses após e que não houve uma ressurreição e sim uma<br />

ressuscitação de <strong>Jesus</strong>.<br />

Ainda a propósito de <strong>Jesus</strong>, aproveito o ensejo para transcrever breve trecho do belo<br />

artigo “Ritos e iniciações esotéricas”, de Sandra Galeotti, aparecido no n° 32, de abril-maio de<br />

1975, da apreciada revista “Planeta”. Ei-lo ipsis literis:<br />

É fácil notarmos como a identidade essencial entre várias correntes filosófico- iniciáticas se<br />

perpetuou até a época do advento de Cristo, chegando até nós, se considerarmos o conteúdo<br />

dos tratados firmados entre todas elas, através de seus mestres. Foi no ano 747 da fundação<br />

de Roma que se reuniram no supremo santuário dos essênios, localizado nas montanhas<br />

de Moal, os chefes das principais escolas esotéricas da época com o fim de estabelecer<br />

uma aliança que tinha por objetivo proporcionar todo amparo possível ao menino, que, aos<br />

<strong>30</strong> anos, iniciaria uma missão redentora do gênero humano. Foi firmado então um tratado<br />

com os seguintes dizeres: “Havendo comprovado que é uma mesma verdade a exposta<br />

nas cinco doutrinas conhecidas hoje, ou seja, o ptolomeismo da Alexandria, o copto da<br />

Arábia, o zend-avest da Pérsia, o budismo do Nepal e o mosaísmo essênio, nos impomos o<br />

sagrado dever de propiciar a unificação perfeita destas cinco ramificações da divina<br />

sabedoria para facilitar a missão redentora de Cristo em seu último advento à Terra”.<br />

Assinavam: Ezequias de Sichen, grande servidor do santuário do monte Abarin; Gaspar<br />

de Bombaim, primeiro mestre da Escola Estrela do Oriente; Baltasar de Susa, consultor da<br />

Congregação da Sabedoria Oculta; Melchior de Horeb, fundador da fraternidade copta do<br />

monte Horeb; Filon de Alexandria, estudante do 5° grau, na Escola Ptolomeísta.<br />

Diz a articulista que o documento original essênio desta aliança encontra-se hoje em<br />

uma das principais bibliotecas da cidade de Lhasa, no Tibet.<br />

E se quisermos aprofundar ainda um pouco mais o mistério que há por detrás da pessoa<br />

de <strong>Jesus</strong>, apesar dos inúmeros livros escritos a respeito e aqui citados, podemos incluir este<br />

pequeno trecho colhido na obra de Eduardo Morgens, pág. 24, intitulada Profecias: “Aqui desejamos<br />

abrir um parêntesis para formular a seguinte pergunta: segundo a Bíblia, Moisés, e<br />

posteriormente <strong>Jesus</strong>, desapareceu durante certo espaço de tempo, sem qualquer menção<br />

referente a seu paradeiro. Para onde teriam ido? Estudando cuidadosamente o Código de<br />

Hamurabi, composto em tijolos de argila 2000 anos antes do advento dos Profetas Bíblicos<br />

- base de toda a legislação moderna, civil e criminal - chegamos à conclusão de que esses<br />

dois grandes personagens tiveram contato com os sucessores de Hamurabi e,<br />

conseqüentemente, com o código famoso. Um confronto entre o Código de Hamurabi e os 10<br />

Mandamentos leva à conclusão de que a lei mosaica é uma condensação do código citado”.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

E também ainda ao pequeno trecho que colhemos na obra de Lytle Robinson intitulada<br />

Edgar Cayce’s Story of the Origin and Destiny of Man, que melhor traduziríamos por História da<br />

Origem e Destino do Homem segundo leituras de Edgar Cayce. Está na pág. 93 da edição de bolso<br />

e as leituras de Edgar Cayce, o profeta adormecido, já são bem conhecidas. Ei-lo: “A Grande<br />

Pirâmide de Gizeh permanece como um monumento histórico para a atual raça-raiz. Registra<br />

a história da luta do homem pela sabedoria espiritual e, por muitas épocas, foi utilizada<br />

como templo de iniciação para os grandes mestres e líderes do mundo. Foi aqui que o<br />

Grande Iniciado, <strong>Jesus</strong>, que se tornou o Cristo, recebeu os graus finais de Iniciado,<br />

juntamente com João Batista, o Seu precursor”.<br />

E o mistério parece continuar ...<br />

Diante de tudo o que foi dito e escrito por tantos autores, quer da Terra quer do Além,<br />

minha opinião pessoal é, e continuará a ser, a de que <strong>Jesus</strong> foi um ser carnal como nós, que se<br />

tornou um Grande Iniciado e que exerceu a mais bela missão terrena, opinião que deixo aqui<br />

estampada nestas poucas linhas a fim de que, após o meu desencarne, não me atribuam o que<br />

não disse e não escrevi.<br />

Francisco Klörs Werneck<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Elementos Suplementares para o Estudo de <strong>Jesus</strong>-Cristo<br />

Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Em Roma, no arquivo do Duque de Cesadini, foi encontrada uma carta de Públio Lêntulus,<br />

Procônsul da Galiléia, dirigida ao Imperador Romano Tibério César, em virtude deste ter interpelado<br />

o Senador Romano acerca de Cristo, de quem tanto lhe falavam.<br />

Eis a carta, que é um retrato fiel de <strong>Jesus</strong>:<br />

Sabendo que desejais conhecer quanto vou narrar: existindo nos nossos tempos um homem,<br />

o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado <strong>Jesus</strong>, que pelo povo é inculcado<br />

Profeta da Verdade e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, Criador do Céu e da<br />

Terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado. Em verdade, ó<br />

César, a cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse <strong>Jesus</strong>; ressuscita os mortos, cura<br />

os enfermos, em poucas palavras é um homem de justa estatura e é muito belo de aspecto.<br />

Há tanta majestade em seu rosto que aqueles que o vêem são forçados a amá-lo ou temêlo.<br />

Tem os cabelos da cor da amêndoa bem madura, são distendidos até as orelhas e das<br />

orelhas até as espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes. Tem no meio da sua<br />

fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso pelos nazarenos; o seu rosto é<br />

cheio, o aspecto muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em sua face de uma cor<br />

moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é espessa, mas semelhante aos<br />

cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio; seu olhar é muito especioso e grave.<br />

Tem os olhos graciosos e claros e o que surpreende é que resplandecem no seu rosto como<br />

os raios de sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque, quando resplandece,<br />

apavora e, quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade. Diz-se que<br />

nunca ninguém o viu rir, mas antes chorar. Tem os braços e as mãos muito belos; na<br />

palestra contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele alguém se aproxima, verifica<br />

que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa imaginar,<br />

muito semelhante à sua Mãe, a qual é de uma beleza rara, não se tendo jamais visto, por<br />

estas partes, uma donzela tão bela. De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém.<br />

Ele sabe todas as coisas e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma<br />

na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém, na sua presença, falando com Ele, temem<br />

e admiram. Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade,<br />

segundo me dizem os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos de grande doutrina,<br />

como ensina este <strong>Jesus</strong>; muitos judeus o têm como Divino e muito me querelam que é<br />

contra a lei de Vossa Majestade. Diz-se que esse <strong>Jesus</strong> nunca fez mal a quem quer que<br />

seja, mas, ao contrário, aqueles que o conhecem e com ele têm praticado afirmam ter dele<br />

recebido grandes benefícios de saúde, porém, à sua obediência estou prontíssimo e aquilo<br />

que Sua Majestade ordenar será cumprido.<br />

87


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Outro Retrato de <strong>Jesus</strong><br />

Este outro retrato de <strong>Jesus</strong> foi feito pelo espírito de Maria Dolores, através da mediunidade<br />

de Francisco Cândido Xavier, a 22-4-1978, no Grupo Espírita da Prece, de Uberaba, MG.<br />

Ei-lo:<br />

Está sendo procurado:<br />

Homem considerado galileu. Trinta e três anos. Pele clara e expressão triste. Cabelos longos<br />

e barba maltratada.<br />

Marcas sanguinolentas nas mãos e nos pés. Caminha habitualmente acompanhado de<br />

mendigos e vagabundos, doentes e mutilados, cegos e infelizes.<br />

Onde aparece, freqüentemente, é visto entre grande séqüito de mulheres, sendo algumas<br />

de má vida, com crianças esfarrapadas.<br />

Quase sempre está seguido por doze pescadores e marginais. Demonstra respeito para<br />

com autoridades, determinando que se dê a César o que é de César, mas espalha<br />

ensinamentos contrários à Lei antiga, como seja: o perdão das ofensas; o amor aos inimigos;<br />

a oração em favor daqueles que nos perseguem ou caluniam; a distribuição indiscriminada<br />

de dádivas com os necessitados; o amparo aos enfermos, sejam eles quais forem; e chega<br />

ao cúmulo de recomendar que uma pessoa espancada numa face ofereça a outra ao agressor.<br />

Ainda não se sabe se é um mágico, mas testemunhas idôneas afirmam que ele multiplicou<br />

cinco pães e dois peixes em alimentação para mais de cinco mil pessoas, tendo sobrado<br />

doze cestos.<br />

Considerado impostor por haver trazido pessoas mortas à vida, foi preso e espancado.<br />

Sentenciado à morte, com absoluta aprovação do próprio povo, que o condenou de<br />

preferência a Barrabás, malfeitor conhecido, recebeu insultos e pedradas, sem reclamar,<br />

quando conduzia a cruz às costas.<br />

Não se defendeu, quando questionado pela justiça, complicando-se-lhe a situação, porque<br />

seus próprios seguidores o abandonaram nas horas difíceis. Sob afrontas e zombarias, foi<br />

crucificado entre dois ladrões. Não teve parentes que lhe demonstrassem solidariedade, a<br />

não ser sua Mãe, uma frágil mulher que chorava aos pés da cruz.<br />

Depois de morto, não se encontrou lugar para sepultá-lo, senão lodoso recanto de um<br />

túmulo por favor de um amigo. Após o terceiro dia de sepultamento, desapareceu do sepulcro<br />

e já foi visto por diversas pessoas que o identificaram pelas chagas sangrentas dos pés e<br />

das mãos:<br />

“Esse é o homem que está sendo cuidadosamente procurado.<br />

Seu nome é <strong>Jesus</strong> de Nazaré.<br />

Se puderes encontrá-lo, deves segui-lo para sempre.<br />

88


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Origem do Nascimento Virginal de <strong>Jesus</strong><br />

As pessoas que tiveram a oportunidade de aprofundar o Espiritualismo, em seus vários<br />

ramos, aprenderam que era costume antigo considerar os fundadores de religiões como filhos de<br />

Deus, grandes avatares da Divindade e mesmo filhos de virgens, com nascimento sem concurso de<br />

pai terreno. E <strong>Jesus</strong> não escapou ao costume da época.<br />

Louis Jacolliot, que era juiz na antiga colônia francesa de Pondicherry, na Índia, teve<br />

ocasião de estudar profundamente a religião da antiga Índia e escreveu vários livros entre os quais<br />

um que tenho em mãos e que tem o título de “A Bíblia na Índia - Vida de Iezeus Cristna”. O<br />

exemplar, que tenho em mãos, leva o título em espanhol, já que foi publicado pela Editorial Araujo,<br />

de Buenos Aires, República Argentina, com quase 400 páginas de texto.<br />

Para não cansar os leitores, traduzo, a seguir, os principais e elucidativos trechos dele<br />

que condizem com o nascimento virginal de <strong>Jesus</strong>, notando, desde já, a semelhança do nascimento<br />

de um que viveu séculos antes do outro.<br />

Começo pelo capítulo VIII que tem o título de “Encarnações - Profecias anunciando a<br />

vida de Cristna”:<br />

Segundo a crença indiana, até o dia de hoje, nove vezes Deus veio à Terra: as oito primeiras<br />

vezes só foram curtas aparições da Divindade, vindo para renovar a santos personagens a<br />

presença de um Redentor feita a Adima e Heva depois do pecado; a nona só é uma<br />

encarnação, isto é, a realização da predição de Brama. Esta encarnação é a de Cristna,<br />

filho da virgem Devanagu.<br />

Passando ao capítulo IX, de título “Nascimento da virgem Devanaguy segundo a Bagavad-<br />

Gîtâ e as tradições bramânicas”, tomo o seguinte e longo trecho:<br />

Chegamos a esta maravilhosa encarnação indiana, a primeira quanto ao tempo, entre todas<br />

as encarnações do globo, a primeira que veio recordar aos homens as verdades imortais<br />

depositadas por Deus na consciência humana e que as lutas do despotismo e da intolerância<br />

conseguem muito amiúde ocultar.<br />

Vamos. narrar, simplesmente, seguindo as autoridades mais fidedignas, a vida da virgem<br />

Devanaguy e do seu divino filho, reservando, para mais adiante, todo comentário e toda<br />

comparação.<br />

Por volta do ano 3500 antes da era moderna, no palácio do rajá de Madura, pequena<br />

província da Índia Oriental, veio ao mundo uma menina cujo nascimento esteve rodeado de<br />

estranhos acontecimentos e de maravilhosos presságios.<br />

A irmã do rajá, mãe da menina, alguns dias antes da iluminação, teve um sonho, no qual,<br />

aparecendo-lhe Vishnu, em toda a magnificência de seu esplendor, lhe revelou os futuros<br />

destinos da que ia nascer.<br />

Darás à sua filha o nome de Devanaguy (em sânscrito, formada para Deus), disse à mãe,<br />

pois, por meio dela, os desígnios de Deus deviam realizar-se. Que nenhum alimento animal<br />

jamais toque os seus lábios; só o arroz, o mel e o leite devem fazer parte de sua alimentação.<br />

Sobretudo evita que nenhum homem se una a ela em matrimônio: morriam igualmente<br />

todos os que a tenham ajudado neste ato, antes de tê-lo realizado.<br />

A menina recebeu, ao nascer, o nome de Devanaguy, conforme lhe havia sido ordenado, e<br />

a sua mãe, temendo não poder cumprir as prescrições de Deus dadas no palácio de seu<br />

irmão, que era um malvado, a levou para a casa de um dos seus parentes chamado Nanda,<br />

senhor de uma pequena aldeia situada nas margens do Ganges e célebre pelas suas<br />

virtudes.<br />

89


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Segue o texto narrando que a mãe dela, Lakmy, faleceu e a filha, Devanaguy, foi obrigada<br />

a voltar para o palácio de seu tio, o tirano de Madura. Passo a um trecho inicial e pequeno para<br />

mostrar outra coincidência nas vidas do reformador indiano e do reformador judeu, trecho este do<br />

capítulo XI do título “A palavra de Deus se cumpre - Nascimento de Cristna - Perseguições do<br />

tirano de Madura - Matança de todos varões nascidos na mesma noite que Crisma (segundo o<br />

Bagavad-Gîtâ e as tradições bramânicas)”. Ei-lo:<br />

Certa tarde em que a virgem orava, uma música celestial começou de repente a encantar os<br />

seus ouvidos, a sua prisão ficou iluminada e Vishnu apareceu em todo o esplendor de sua<br />

divina majestade. Devanaguy caiu em profundo êxtase e tendo sido obumbrada, segundo<br />

a expressão sânscrita, pelo Espírito de Deus, concebeu.<br />

O período de sua gravidez transcorreu para ela em um encantamento perpétuo. O menino<br />

divino proporcionava à sua mãe prazeres infinitos que lhe faziam esquecer a Terra, seu<br />

cativeiro e até a sua existência.<br />

Na noite da iluminação de Devanaguy, quando o recém-nascido dera o seu primeiro vagido,<br />

forte vento fez uma abertura nos muros da prisão e a virgem e seu filho foram conduzidos<br />

por um enviado de Vishnu a um aprisco pertencente a Nanda, seu parente, situado nos<br />

confins do território do rajá de Madura”.<br />

Este último, quando teve notícia do parto e da fuga maravilhosa de sua sobrinha, foi preso<br />

de um furor indescritível e, em lugar de compreender que era inútil lutar contra o Senhor e<br />

pedir perdão, resolveu perseguir, por todos os meios possíveis, o filho de Devanaguy e<br />

fazê-lo morrer, acreditando evitar com isto a sorte que o ameaçava.<br />

Tendo tido um novo sonho que o advertia, de uma maneira precisa, do castigo que o esperava,<br />

“ordenou a matança, em todos os seus estados, dos meninos nascidos durante a<br />

noite em que Cristna veio ao mundo”, pensando desta maneira atingir seguramente<br />

quem, se-gundo o seu pensamento, deveria mais tarde derrubá-lo do trono. (Os grifos estão<br />

no original).<br />

O capítulo XII “Cristna começa a pregar a nova lei - Seus discípulos: Arjuna, seu mais<br />

ardoroso colaborador”, começa dizendo que “Cristna contava apenas dezesseis anos quando deixou<br />

a companhia de sua mãe e de seu parente Nanda e se pôs a percorrer a Índia pregando a nova<br />

doutrina”.<br />

Planeta, revista bem informada e de ótimos artigos, em seu n° 76 publicou um artigo<br />

intitulado “Só os deuses são filhos de virgens”. Pois bem, num certo trecho lê-se o seguinte:<br />

“Quanto à concepção virginal, há um aspecto interessante pela similitude existente entre<br />

diversas religiões e lendas em relação aos seres míticos: estes quase sempre são filhos de<br />

mães virgens, que conceberam por obra de alguma entidade superior ou através de contatos<br />

com elementos naturais”.<br />

Dito artigo termina com uma interrogação. Ei-la: “Que podem significar tantas<br />

coincidências? Na opinião dos estudiosos, elas mostram apenas que muitas das tradições<br />

cristãs são, na verdade, muito mais antigas do que o próprio Cristianismo. Para outros,<br />

essas coincidências mostram apenas que o anúncio da vinda do Filho do Senhor é tão<br />

antigo que remonta às próprias origens da civilização, de modo que onde parece haver<br />

coincidências existe apenas confirmação de que um dia o Messias viria para salvar a<br />

humanidade. Enfim, coincidências ou confirmações, quem pode saber?”<br />

Com base em tantas dúvidas e interrogações, chegou-se a criar um <strong>Jesus</strong> que, além de<br />

filho de virgem, era um ser fluídico, surgindo daí uma hipótese que dividiu para sempre um<br />

movimento que deveria ter unidade, como ninguém ignora ou não quer ignorar.<br />

90


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Em que ano nasceu <strong>Jesus</strong>?<br />

Abaixo transcrevemos grande parte do notável estudo publicado no “Diário de Notícias”,<br />

de 11-1-1953, pelo Sr. Roberto G. Bratcher, que replica as opiniões emitidas por um outro culto<br />

estudioso de tais assuntos:<br />

Deve ser esclarecido, desde logo, que a opinião dos eruditos bíblicos é que Dionisius Exiguus,<br />

o monge do século VI que introduziu o sistema cristão de datas, errou nos seus cálculos do<br />

nascimento de Nosso Senhor <strong>Jesus</strong>-Cristo. Em vez de 754 A.U.C. (ab Urbe condita, isso é,<br />

“da fundação de Roma”), Cristo nasceu no ano 749 A.U.C., mais ou menos, isto é, em vez<br />

do Cristo ter nascido no ano 1 da era cristã, ele nasceu no 5 (ou 6) a.C. - por absurdo que<br />

pareça. Diga-se logo, entretanto, que o aparente absurdo não é culpa dos Evangelistas,<br />

senão de Dionisius Exiguus, que errou nos seus cálculos.<br />

Como diz o cônego Heládio Correia Laurini, no seu estudo sobre cronologia neo-testamentária<br />

em “Introdução Geral ao Novo Testamento” 1 : “Dionisio, o Exíguo, instituiu a contagem<br />

da era cristã com erro enorme: datou para o nascimento de <strong>Jesus</strong> o dia 25 de<br />

Dezembro do ano 753 ‘ab Urbe condita’ ou da fundação de Roma. Ora bem, como<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu ‘nos dias do rei Herodes (o Grande)’, e Herodes morreu em Março ou<br />

Abril do ano 750, como está bem demonstrado, o fato miraculoso se deu pelo<br />

menos 4 anos antes do ano 753. (pág. 351)<br />

Diz ainda o cônego Laurini: “Parece que o ano que oferece as maiores probabilidades<br />

é o 747 de Roma e 7 a.C., isto é, antes da era cristã erroneamente marcada por Dionísio e<br />

seguida ainda hoje. ‘La Sacra Bíblia’, do Instituto Bíblico de Roma, prefere o ano 5 a.C. ou 5".<br />

(pág. 352)<br />

Não é necessário multiplicar citações para demonstrar que os eruditos bíblicos católicos<br />

e protestantes rejeitam o cálculo do monge Exíguo como errôneo.<br />

Examinemos, portanto, as passagens citadas, para ver o que revelam quanto à data do<br />

nascimento do nosso Senhor.<br />

1. Lucas, I, 5: “Nos dias de Herodes, rei da Judéia”. Herodes, o Grande, era filho de<br />

Antipater, o Idumeu, o qual fora feito procurador da Judéia por Júlio César, no ano 47 a.C. (707<br />

A.U.C.). Até aqui o articulista acerta. Erra, entretanto, ao afirmar que Antipater morreu no ano 37<br />

a.C. (717 A.U.C.). Antipater morreu envenenado no ano 43 a.C. (711 A.U.C.) 2 .<br />

Herodes, o Grande, foi feito rei pelos romanos no ano 40 a.C. (714 A.U.C.), mas levou<br />

3 anos para derrotar Antígono, o rei-sacerdote macabeu, e seus aliados, os Partas. Foi, portanto,<br />

no ano 37 a.C. (717 A.U.C.) que Herodes começou a reinar sobre a Judéia. Morreu em Março ou<br />

Abril do ano 4 a.C. (750 A.U.C.)<br />

Pergunta o articulista: “Como foi possível tudo isso (relatado nos Evangelhos de Mateus<br />

e Lucas a respeito de Herodes), se já tinha falecido 4 anos antes?” A resposta é óbvia: tudo isso<br />

foi possível porque ele não havia falecido 4 anos antes. O erro não é do Evangelista: como diria ele<br />

que Herodes fizera tudo aquilo depois de morto? O erro é do monge Exíguo, o qual calculou que<br />

Cristo nasceu em 754 A.U.C. Mas, como todos concordam, Herodes morreu no ano 750 A.U.C.:<br />

é evidente, portanto, que Cristo nasceu pelo menos alguns meses, ou até anos, antes da morte de<br />

Herodes - lá pelo ano 5 a.C. (749 A.U.C.), ou antes. Não culpemos o Evangelista do erro que cabe<br />

ao monge, fazendo seus cálculos cinco séculos depois.<br />

1 Bíblia Sagrada: Versão Clássica do Padre Antônio de Figueiredo, vol. XV, págs. 351-357.<br />

2 EMIL SCHURER - A History of the Jewish People in the Time of <strong>Jesus</strong> Christ, Divisão I, vol. 1, pág. 386 (cfs.<br />

Josefo, Antiguidades, XIV, 11, 4, e Guerra dos Judeus, II, 11, 4.)<br />

91


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

2. Lucas, II, 1 e 2: “Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto,<br />

convocando toda a população do Império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento,<br />

foi feito quando Quirínio era governador da Síria”.<br />

Foi esse recenseamento de César Augusto que levou José e Maria a Belém para se<br />

alistarem, pois ele era da casa e família de David. Enquanto estavam em Belém, <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Objeta o articulista a essa nota cronológica, dizendo que o recenseamento foi ordenado<br />

no ano 760 A.U.C. (7 d.C.). O articulista parece desconhecer a obra monumental do famoso<br />

historiador e arqueólogo inglês, Sir William Ramsay, o qual provou a exatidão histórica dessa nota<br />

cronológica em Lucas, II, 1 e 2. Ramsay, nos seus livros3 , demonstrou que os recenseamentos se<br />

davam periodicamente de 14 em 14 anos. O do ano 760 A.U.C. (7 d.C.) foi um deles: o mesmo<br />

Evangelista Lucas faz referência a esse recenseamento em Atos, V. 37. Teria dito ele que <strong>Jesus</strong><br />

nasceu no tempo deste recenseamento? Teria sido uma contradição flagrante.<br />

Pelo contrário, Lucas estabelece a diferença entre os dois dizendo cuidadosamente que<br />

o recenseamento do tempo do nascimento de <strong>Jesus</strong> foi o primeiro, quando Quirínio era governador<br />

da Síria. Ramsay mostra ainda, por meio de inscrições históricas, que Quirínio foi governador da<br />

Síria duas vezes. Foi durante o seu segundo período de governo que se deu o recenseamento do<br />

ano 760 A.U.C. (7 d.C.). O recenseamento anterior, quando <strong>Jesus</strong> nasceu, teria sido ordenado no<br />

ano 746 A.U.C. (8 a.C.), quatorze anos antes. É fácil ver-se que, por uma ou outra razão, teria<br />

havido alguma demora antes que o recenseamento fosse levado a efeito nas províncias, especialmente<br />

na Palestina, onde o representante dos romanos sempre tinha que tratar com muito cuidado os<br />

seus súditos rebeldes. Portanto, não há nada que milite contra a suposição de que esse primeiro<br />

recenseamento se efetuou na Palestina um ou dois anos depois de ordenado, isso é, 746-748<br />

A.U.C. (8-6 a.C.). Portanto, a data, em geral, concorda com a anterior.<br />

3. Lucas, III, 1 e 23. “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César - tinha<br />

<strong>Jesus</strong> cerca de trinta anos ao começar o seu ministério”.<br />

Augusto morreu em 29 de Agosto, 167 A.U.C. (14 d.C.), sendo sucedido por Tibério, o<br />

qual reinou, portanto, de 14 d.C. até 37 da nossa era. O 15° ano do seu reinado seria 781-782<br />

A.U.C. (28-29 d.C.): se <strong>Jesus</strong> tinha, nessa data, cerca de <strong>30</strong> anos, há lugar para uma variação de<br />

3 ou 4 anos: como diz o cônego Laurini, ele poderia ter de 28-32 anos de idade. Nesse caso, a data<br />

do seu nascimento cairia entre 750-754 A.U.C. (4 a.C. - 1 d.C.).<br />

Mas, é mais provável que Lucas data o 15° ano de Tibério, não da morte de Augusto,<br />

mas do começo do co-reinado de Tibério com Augusto, 2 anos antes da morte deste. Pois, conforme<br />

o testemunho dos historiadores Tácito e Suetônio, Tibério partilhou do reinado com Augusto uns<br />

dois anos antes da morte de Augusto em 767 A.U.C.<br />

Fazendo, pois, os mesmos cálculos, conclui-se que, segundo essa passagem, <strong>Jesus</strong><br />

nasceu entre 748-752 A.U.C. (6-2 a.C.). Novamente, essa data concorda com as duas anteriores.<br />

Esse breve estudo demonstra, portanto, que nas três passagens Lucas concorda em<br />

afirmar que <strong>Jesus</strong>-Cristo nasceu entre os anos 747-752 A.U.C., a saber, de 7-2 a.C. A maioria dos<br />

eruditos prefere os anos 748-749 A.U.C., isto é, 6 ou 5 a.C., como o ano em que <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Ninguém - e repetimos - ninguém exige dos historiadores antigos, nem mesmo dos bíblicos,<br />

a precisão científica com que se datam os eventos de hoje em dia. Para tanto não tinham nem os<br />

recursos, nem o interesse. Dizer que “pouco se incomodaram com a verdade histórica de suas<br />

narrações” por não revelarem eles essa precisão do historiador moderno, é, patentemente, uma<br />

decisão arbitrária e injusta.<br />

3 WILLIAM RAMSAY - Was Christ Born at Bethlehem?, e Bearing of Recent Discovery on the Trustworthiness of the New<br />

Testament.<br />

92


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Afinal de contas, qual é o propósito do autor bíblico nessas três passagens? É o de fixar<br />

o ano em que <strong>Jesus</strong> nasceu? De maneira alguma. Na primeira passagem Lucas assevera que<br />

<strong>Jesus</strong> nasceu quando Herodes, o Grande, era rei da Judéia. Certo ou errado? Todos concordam<br />

que ele está certo. Na segunda passagem ele relata que foi um recenseamento, durante o tempo<br />

em que Quirínio era governador da Síria, que trouxe Maria e José a Belém, onde <strong>Jesus</strong> nasceu.<br />

Está certo o historiador bíblico? As descobertas arqueológicas dizem que sim. Na terceira passagem<br />

o autor afirma que <strong>Jesus</strong>, com cerca de <strong>30</strong> anos de Idade, começou o seu ministério no 15° ano do<br />

reinado de Tibério4 . Incorre em erro o autor sagrado? Não. Portanto, o valor histórico do seu relato<br />

não pode ser impugnado: pois a erudição bíblica moderna tem demonstrado serem autênticas<br />

todas as três asseverações.<br />

Nós, leitores do 20º século, é que perguntamos: coincidem essas notas cronológicas no<br />

seu testemunho quanto à data do nascimento do Cristo? E a resposta é que, em linhas gerais,<br />

elas, de fato, coincidem, dentro de um período de 4 a 5 anos.<br />

Lucas, portanto, está vindicado pela erudição bíblica quanto à exatidão histórica com<br />

que relata os fatos. Suas asseverações não são, absolutamente, discordantes: não procede, portanto,<br />

a alegação de que ele cita “três épocas diferentes para sua narração do nascimento de <strong>Jesus</strong>”,<br />

ou de que há uma diferença de 10 anos entre as datas. Diga-se de passagem, aliás, que desde as<br />

investigações minuciosas e demoradas de Harnack, Ramsay e Streeter, poucos são os críticos<br />

bíblicos que se atrevem a atacar a historicidade do autor do 3° Evangelho. Descoberta após<br />

descoberta têm comprovado a verdade do que ele próprio afirma ter feito: “uma acurada<br />

investigação de tudo desde sua origem”.<br />

Mais duas observações:<br />

1. Marcos VI, 14, não se refere a Arquelau, e sim a Herodes Ántipas, tetrarca da Galiléia<br />

e Peréia. Nem um nem o outro recebeu o título de rei. A expressão “rei Herodes”<br />

nessa passagem é usada no sentido lato de “governador” (conferir ainda VI, 22, 25-<br />

27). Até o evangelista Mateus, que usa o título exato de “tetrarca” (XIV, I), em outro<br />

lugar usa o termo “rei” (XIV, 9). Portanto, não causa espécie que Marcos faça uso do<br />

título.<br />

2. As palavras de Lucas no prefácio do seu Evangelho (Lucas, I, 3, 4), quanto à maneira<br />

em que fez suas investigações, de maneira alguma invalidam, ou mesmo afetam, a<br />

doutrina que o articulista denomina “a suposta e imposta inspiração da Bíblia”.<br />

Nenhuma formulação da doutrina da inspiração da Bíblia nega o elemento humano<br />

na composição das Escrituras Sagradas. Não há lugar aqui para desenvolver o<br />

ensino sobre a inspiração das Escrituras: mas não é com um aparte superficial e<br />

capcioso que crítico qualquer eliminará o elemento divino da formação literária da<br />

Bíblia.<br />

Em conclusão, devemos dizer que todos os estudos do último meio século, arqueologia,<br />

papirologia, história, paleografia, crítica literária, enfim, todas as disciplinas - têm contribuído<br />

para aumentar, e não diminuir, a autoridade das Escrituras. Hoje a Bíblia está em situação muito<br />

mais segura, no que tange à parte histórica, do que estava há meio século. A evidência histórica,<br />

em peso, testifica do valor histórico das Escrituras, demonstrando serem as suas asseverações<br />

dignas de toda a confiança. Outrossim, a experiência desse último meio século demonstra,<br />

sobejamente, que o texto original da Bíblia resiste, impávido, a todas as tentativas de apoucá-lo ou<br />

desprestigiá-lo”.<br />

4 Cumpre notar que, a rigor, a data mencionada é a do início do ministério de João Batista; presume-se, entretanto,<br />

que João tenha pregado e batizado uns 6-12 meses antes do início do ministério do Messias. O 15º ano de Tibério,<br />

portanto, marcaria o início dos ministérios de João Batista e do Cristo.<br />

93


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Nascimento de <strong>Jesus</strong> e a Astrologia<br />

O artigo, cuja tradução em português se vai ler, é da autoria do Sr. Frederick Bligh<br />

Bond, antigo redator de The Journal of the American Society for Psychical Research e pessoa<br />

mundialmente conhecida, não necessitando, pois, de apresentação. É de notar-se também que<br />

The Journal era uma publicação científica nada espetaculosa.<br />

O artigo do Sr. Bligh Bond é referente a um escrito automático ditado por Felipe, um<br />

dos discípulos de <strong>Jesus</strong>-Cristo, dando as posições planetárias exatas no instante do nascimento<br />

do Mestre, permitindo, pela primeira vez, uma determinação de data e hora. Os detalhes fornecidos<br />

pelo desencarnado foram formalmente verificados pela astrologia científica.<br />

Salientamos que The Journal era um órgão nada espetaculoso pelo seguinte. Há, no<br />

escrito de Felipe, um detalhe curiosíssimo: é quando ele afirma que o nascimento de <strong>Jesus</strong>, em<br />

Belém, foi no verão e não no inverno. 25 de dezembro, como data do nascimento dele, era<br />

desconhecido nos três primeiros séculos de nossa era. Esta data foi oficialmente aceita, pela<br />

primeira vez, em 353, sob o reinado do Imperador Constantino. Diz-se que dezembro é a época das<br />

chuvas na Palestina, que a escolha do dia 25 de dezembro para o Natal e o ano que nós empregamos<br />

no calendário foi fixado por um astrônomo russo em 534, depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo e que este dia é<br />

a primeira data que a observação pode determinar como sendo a volta do Sol depois do solstício do<br />

inverno.<br />

Quanto às últimas palavras do autor, reproduzimo-las aqui:<br />

Certos detalhes dos ciclos planetários são conhecidos dos astrônomos e esses detalhes<br />

não se encontram em nenhum livro de uso corrente entre o público, salvo, talvez, entre os<br />

discípulos modernos do culto da astrologia, os quais, por seus próprios estudos, podem<br />

atribuir-lhes um significado especial.<br />

A revelação de um fato astronômico detalhado, absolutamente desconhecido e incognoscível<br />

à médium receptora, que foi, porém, verificado mais tarde por astrônomo profissional,<br />

pode muito bem ser considerado como uma revelação de origem supranormal ou pode<br />

indicar a posse de uma faculdade psíquica como meio de informação extraterrestre. Atribuir<br />

tal fato à coincidência é uma explicação que não é mais sustentável.<br />

O incidente, que desejo pôr em evidência, possui um interesse todo especial em razão das<br />

suas relações históricas, sobretudo do ponto de vista de uma exegese da própria Bíblia. É<br />

relativa à questão da Natividade de <strong>Jesus</strong> e ele poderá servir para determinar esse ponto,<br />

em controvérsia, de saber em qual data deve começar a Era Cristã.<br />

Durante os anos de 1924 e 1925, empreendi uma série de sessões, por meio da escrita<br />

automática, com a médium Sra. Hester Dowden. Essas sessões tinham por fim uma questão<br />

de pesquisas arqueológicas, pois o nosso grande desejo era o de obter uma informação<br />

precisa sobre a fundação da região sagrada de Glastenbury, na Inglaterra, e de localizar<br />

ali edifícios construídos em tempos imemoriais, mas, como sói acontecer tantas vezes em<br />

trabalhos dessa espécie, as comunicações tomaram um caminho novo e inesperado.<br />

Achamo-nos afastados do período medieval e postos em relação com as condições dessa<br />

idade nebulosa na ocasião em que se estabeleceu a primeira missão apostólica na Grã-<br />

Bretanha, período em que a tradição e a lenda são os únicos guias, pois esse tempo recuado<br />

não possui a sua história.<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

O espírito comunicante, que se dizia ser um jovem grego chamado Felipe, informou-nos<br />

que ele foi um dos membros de um grupo de doze missionários contemporâneos de <strong>Jesus</strong>,<br />

grupo esse que fundou a primeira igreja cristã da Grã-Bretanha, em Avalon (Glastenbury).<br />

Esse grupo estava sob a direção paternal de José de Arimatéia e o seu estabelecimento em<br />

Glastenbury se deu acerca de 47 anos depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo.<br />

De acordo com uma lenda muito espalhada, conta-se que o apóstolo Felipe visitou a Grã-<br />

Bretanha e que foi ele quem evangelizou a Ilha, porém o nosso informante declarou,<br />

firmemente, que ele não tinha direito algum de ser chamado apóstolo e, finalmente, nos<br />

informou ainda que ele era o jovem diácono mencionado nos Atos dos Apóstolos como um<br />

dos sete escolhidos para o serviço das mesas sacramentais.<br />

As comunicações, que se seguiram, formam um jornal de viagens missionárias de Felipe e<br />

constituirá um livro de muito grande interesse, sendo de narração vivente e de um estilo<br />

vivo e colorido.<br />

Para o fim do ditado desse jornal e pela pena da médium psicógrafa, o espírito comunicante<br />

perguntou-nos: “Quereis aceitar o meu ditado do Evangelho que eu tinha escrito na Samaria,<br />

atualmente perdido, pois que o manuscrito foi queimado em Atenas, durante aqueles anos<br />

cheios de perturbação?”<br />

Era eu quem devia decidir e desnecessário é dizer que achei útil e interessante consagrar<br />

um tempo suficiente para receber a versão do seu Evangelho. Pouco tempo depois recebiase,<br />

em sessões sucessivas, um Evangelho completo5 .<br />

Nele se acha incluída uma narração, feita por Felipe, dos acontecimentos relativos à<br />

Natividade de <strong>Jesus</strong>, que lhe foram contados por outra pessoa. O próprio Felipe não era<br />

então nascido, pois tinha apenas 17 anos por ocasião da crucificação.<br />

Neste artigo só me ocupo da versão dada por Felipe com relação à Natividade. Ele fala de<br />

uma grande estrela errante que foi o arauto dela. Insiste sobre o fato de que não é preciso<br />

fazer confusão entre essa estrela errante e a verdadeira constelação ou agrupamento de<br />

planetas no signo zodiacal em acordo com a realização das profecias que anunciavam o<br />

nascimento de um Messias na geração de David. Esse agrupamento de planetas, disse ele,<br />

tinha sido calculado e, deste modo, sábios e profetas aguardavam -impacientemente o<br />

momento indicado.<br />

Neste ponto é que a narração de Felipe toma maior interesse. Afirma ele que o nascimento<br />

de <strong>Jesus</strong>, em Belém, teve lugar no verão e não no inverno e compreendemos que o ano era<br />

anterior à data correntemente empregada.<br />

Com meticuloso cuidado, o nosso comunicante descreveu-nos a forma da constelação como<br />

sendo a de uma cruz, cujo pilar central era formado por três planetas em linha vertical: a<br />

Lua no alto, Marte no meio e Vênus embaixo. Esses três corpos celestes se encontram no<br />

signo de Caranguejo (Câncer), cujas estrelas principais formavam os dois braços de uma<br />

cruz.<br />

O signo de Câncer, disse ele, era visível antes d’alva para o Leste, acima de Jerusalém, e<br />

a configuração era exata uma hora antes da alvorada.<br />

Pela mão da Sra. Dowden, a médium escrevente, Felipe desenhou a configuração, indicando<br />

os pontos principais.<br />

A 24 de novembro de 1924, a mesma entidade comunicante escrevia: “As estrelas visíveis,<br />

naquela ocasião, eram cinco e este número formava a constelação. A hora era a do<br />

Caranguejo. Achareis as estrelas como as desenhei, mas não tão exatamente, pois agora<br />

elas estão um pouco mais afastadas umas das outras.<br />

5 Esse Evangelho foi publicado com o texto completo por The Macoy Publishing Co., de New York, USA, (N.A.)<br />

95


Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

Eu ignorava totalmente o agrupamento das estrelas no signo de Câncer e foi com certo<br />

espanto que verifiquei que este signo estava no céu, a Leste, pela manhã, durante o período do ano<br />

indicado por Felipe.<br />

Pesquisando em um grande planisfério, achei os dois grupos de estrelas no Câncer,<br />

quase nas mesmas posições que Felipe as desenhara. É preciso notar que, nessa constelação,<br />

o grupo de estrelas à direita ou sobre o braço sul da cruz é o mais importante: era aquele outrora<br />

chamado “Presépio” ou “Creche” pelos romanos.<br />

Este fato curioso foi comentado por Felipe da seguinte maneira: “Na verdade foi isto que<br />

se escreveu a propósito do nascimento de <strong>Jesus</strong>. Compreendeis que todos os grandes acontecimentos<br />

do mundo estão escritos no céu. Assim, o nascimento na creche estava escrito no céu por ocasião<br />

do nascimento de <strong>Jesus</strong>”.<br />

Segundo indicações dadas por Felipe, a hora do nascimento foi aquela em cujo momento<br />

a Lua formava exatamente uma linha reta com os dois planetas Marte e Vênus, estando Marte<br />

entre os dois agrupamentos de estrelas no Câncer.<br />

Os elementos determinantes na narração de Felipe, considerados friamente, do ponto<br />

de vista da ciência astronômica, são os seguintes:<br />

1° - Indicou-nos o signo zodiacal ascendente, apropriado ao período de ano do qual me<br />

falou e isto para um ano bastante perto daquele historicamente aceito;<br />

2° - Indicou-nos as posições da Lua e de Vênus na justa proporção dos seus movimentos<br />

naquela época;<br />

3° - Deu-nos detalhes precisos e inteiramente extraordinários concernentes às posições<br />

das estrelas do signo de Câncer, detalhes esses para nós inteiramente desconhecidos<br />

e mais tarde verificados.<br />

Muito tempo depois do recebimento deste ditado, achamo-nos em dificuldades para<br />

determinar as datas aproximativas às quais uma tal configuração teria podido apresentar-se durante<br />

alguns anos anteriores à data 1 depois de J.C..<br />

Não tínhamos competência alguma em Astronomia e não podíamos mesmo saber se era<br />

possível a esses planetas estarem em linha reta justa da maneira indicada durante o dito ano. A<br />

questão era muito complexa e não podia ser resolvida senão por pesquisas e cálculos especiais e a<br />

decisão final não podia ser dada senão por um sábio competente no mundo astronômico.<br />

Também não estamos em posição de afirmar que o nosso informante extraterrestre<br />

tivesse podido transmitir tudo que nos quisesse dizer, com bastante exatidão.<br />

Mesmo considerando os ditados de Felipe com boa fé e concedendo-lhes uma perfeita<br />

veracidade, é claro que a tarefa de transmitir detalhes de acontecimentos temporais deve ser de<br />

extrema dificuldade e isto ainda mais quando a questão de tempo aí se acha. Esta dificuldade sói<br />

acontecer constantemente em experiências psíquicas e principalmente em se tratando de recordações<br />

de um tempo há muito passado.<br />

O acontecimento essencial fica na memória, mas as condições de tempo, de lugar e das<br />

circunstâncias atinentes desaparecem ou se tornam de uma importância de tal modo diminuta<br />

que não se pode recordar delas com precisão. Grande foi a nossa satisfação quando, por intermédio<br />

de um amigo, um dos maiores astrônomos da América do Norte, aceitou o encargo de fazer pesquisas<br />

especiais baseadas na narração de Felipe e de controlar todos os detalhes do seu traçado. Fizeramse<br />

pesquisas e, ainda que o astrônomo tenha preferido ficar incógnito, ele nos enviou as suas<br />

conclusões por escrito.<br />

Podemos dar um sumário de tais conclusões da seguinte maneira:<br />

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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />

A configuração indicada no escrito de Felipe teve lugar no dia 27 de setembro de<br />

67 antes de Cristo. 6<br />

Esta combinação é cíclica e a tríplice conjunção pode-se fazer uma vez todos os 31 anos<br />

e 4/10 em média, mas nem sempre com uma tal perfeição. Esta configuração ou constelação pôde<br />

ser visível, em uma forma reconhecível, talvez uma centena de vezes depois de cada data. É<br />

interessante notar que ela teve lugar neste ano de 1932 e se achou, em uma forma bastante<br />

perfeita, na manhã de 29 de agosto.<br />

O que nos interessa aqui, principalmente, é a verificação, rigorosamente científica, de<br />

detalhes que se revelaram curiosamente precisos e tendo como origem a escrita automática<br />

proveniente de um desencarnado.<br />

Deixamos aos nossos leitores a inteira liberdade de considerar os aspectos simbólicos<br />

ou interpretativos desta informação e de sua verificação a respeito de tudo acima, pois também<br />

não sou astrônomo.<br />

.·.<br />

6 Este emprego de dois algarismos pode ocasionar confusão aos nossos leitores que não estão ao corrente da cronologia.<br />

A Era Cristã começa em 1º de janeiro do ano 1 depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo (e não houve ano 0 depois de <strong>Jesus</strong>-Cristo).<br />

Os astrônomos contam o ano 0 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo, porém os cronologistas chamam esse ano de 1 antes de<br />

<strong>Jesus</strong>-Cristo. Em uso geral, então, o ano dado acima, para o nascimento dele, foi o ano 7 antes de <strong>Jesus</strong>-Cristo. Há<br />

poucos anos publicou o matutino carioca “O Dia” uma notícia, proveniente de Paris, sob o título de “Cientista<br />

britânico diz que Cristo nasceu 7 anos antes”. (N.A.)<br />

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