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Anais do X Encontro Regional Nordeste da ABEM - 2011

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X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong><br />

I ENCONTRO REGIONAL NORDESTE<br />

DE PROFESSORES DE ARTES /<br />

MÚSICA DOS IF’s<br />

I FORUM PERNAMBUCANO<br />

DE EDUCAÇÃO MUSICAL<br />

2 a 4 junho <strong>2011</strong> Recife - PE<br />

Tema<br />

A EDUCAÇÃO MUSICAL<br />

NO BRASIL DO SÉCULO XXI:<br />

A RELAÇÃO COM O SABER<br />

NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA<br />

ANAIS<br />

Realização<br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

2 OA N O S<br />

Apoio<br />

PROEXT PROPESO PROACAD


X ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DA <strong>ABEM</strong><br />

I ENCONTRO REGIONAL NORDESTE DE PROFESSORES DE<br />

ARTES/MÚSICA DOS IFS<br />

I FÓRUM PERNAMBUCANO DE EDUCAÇÃO MUSICAL<br />

A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL DO SÉCULO XXI: a relação<br />

com o saber na socie<strong>da</strong>de contemporânea<br />

ANAIS<br />

RECIFE<br />

<strong>2011</strong><br />

2


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />

Reitor<br />

Prof. Amaro Henrique Lins<br />

Vice-Reitor<br />

Prof. Gilson Edmar<br />

Pró-Reitora para Assuntos Acadêmicos<br />

Profa. Ana Cabral<br />

Pró-Reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-<br />

Graduação<br />

Prof. Anísio Brasileiro<br />

Pró-Reitora de extensão<br />

Profa. Solange Coutinho<br />

Diretora <strong>do</strong> Centro de Artes e Comunicação<br />

Profa. Virgínia Leal<br />

Chefe <strong>do</strong> Departamento de Música<br />

Prof. Paulo Lima<br />

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E<br />

TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO<br />

Reitor<br />

Prof. Sérgio Gaudêncio Portela de Melo<br />

Vice-reitora<br />

Cláudia <strong>da</strong> Silva Santos<br />

Pró-Reitora de Ensino<br />

Edilene Rocha Guimarães<br />

Pró-Reitora de Pesquisa<br />

Ana Patrícia S. T. Falcão<br />

Pró-Reitora de Extensão<br />

Cláudia <strong>da</strong> Silva Santos<br />

Diretoria <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> (2009-<strong>2011</strong>)<br />

Presidente<br />

Profa. Dra. Magali Oliveira Kleber – UEL, PR<br />

Vice-presidente<br />

Profa. Dra. Jusamara Souza – UFRGS, RS<br />

Tesoureira<br />

Profa. Dra. Cristiane Almei<strong>da</strong> – UFPE, PE<br />

Segun<strong>da</strong> Tesoureira<br />

Profa. Ms. Vânia Malagutti Fialho – UEM, PR<br />

Secretário<br />

Prof. Dr. Luis Ricar<strong>do</strong> Silva Queiroz – UFPB, PB<br />

Segun<strong>da</strong> Secretária<br />

Profa. Ms. Flávia Narita – UNB, DF<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

Presidente<br />

Profa. Dra. Luciane Wilke Freitas Garbosa – UFSM,<br />

RS<br />

Editora<br />

Profa. Dra. Maria Cecília Torres – IPA, RS<br />

Membros<br />

Prof. Dr. Carlos Kater – UFSCar, SP<br />

Profa. Dra. Cássia Virginia Coelho de Souza – UEM,<br />

PR<br />

Profa. Dra. Lilia Neves – UFU, MG<br />

DIRETORIA REGIONAL<br />

Norte<br />

Prof. Dr. Ruy Henderson Filho – UEPA – PA<br />

<strong>Nordeste</strong><br />

Prof. Ms. Vanil<strong>do</strong> Marinho – UFPB, PB<br />

Centro-oeste<br />

Profa. Ms. Flavia Maria Cruvinel – UFG, GO<br />

Sudeste<br />

Profa. Dra. Ilza Zenker Joly – UFSCar, SP<br />

Sul<br />

Profa. Dra. Cláudia Ribeiro Bellochio – UFSM, RS<br />

3


X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> – Associação Brasileira de Educação Musical<br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IFs<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Coordena<strong>do</strong>ra Geral: Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong> (UFPE)<br />

Comissão Organiza<strong>do</strong>ra:<br />

Profa. Ms. Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto (UFPE)<br />

Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong> (UFPE)<br />

Prof. Ms. José Davison <strong>da</strong> Silva Júnior (IFPE)<br />

Prof. Ms. Sérgio Ricar<strong>do</strong> de Go<strong>do</strong>y Lima (UFPE)<br />

Coordenação Científica:<br />

Prof. Dr. Paulo David Braga (UFPE/CAA)<br />

Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE)<br />

Ativi<strong>da</strong>des Artístico-Culturais:<br />

Prof. Ms. Flávio Gomes Tenório de Medeiros (UFPE)<br />

Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE)<br />

Infra-Estrutura:<br />

Prof. Ms. Sérgio Ricar<strong>do</strong> de Go<strong>do</strong>y Lima (UFPE)<br />

Prof. Ms. Leonar<strong>do</strong> Pellegrim Sanchez (UFPE)<br />

Manassés Bispo <strong>da</strong> Silva (UFPE)<br />

Financeiro e Secretaria Geral:<br />

Profa. Ms. Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto (UFPE)<br />

Profa. Adilza Raquel Cavalcanti <strong>do</strong>s Santos (SE-PE)<br />

Prof. Ms. José Davison <strong>da</strong> Silva Júnior (IFPE)<br />

Documentação e Comunicação:<br />

Profa. Ms. Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes (SE-PE)<br />

Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong> (UFPE)<br />

Natália Dantas de Oliveira Duarte (UFPE)<br />

Crislany Viana <strong>da</strong> Silva (UFPE)<br />

Programação Visual, Digital e Informática:<br />

Manassés Bispo <strong>da</strong> Silva (UFPE)<br />

Jadiel Men<strong>do</strong>nça de Vasconcelos (UFPE)<br />

Jadson Felipe Dias (UFPE)<br />

Paulo Henrique Lopes de Alcântara (UFPE)<br />

Gleice Kelly Luiz <strong>da</strong> Silva (UFPE)<br />

Apoio aos Participantes:<br />

Profa. Ms. Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto (UFPE)<br />

Leonar<strong>do</strong> Ferreira <strong>da</strong> Silva (UFPE<br />

Priscila Daniele <strong>da</strong> Silva (UFPE)<br />

Rebeca Juliana Farias <strong>da</strong> Costa (UFPE)<br />

PROFESSORES PARECERISTAS<br />

Profa. Ms. Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto (UFPE)<br />

Profa. Dra. Ana Cristina Tourinho (UFBA)<br />

Prof. Dr. Carlos Sandroni (UFPE)<br />

Profa. Dra. Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong> (UFPE)<br />

Prof. Ms. Danilo Guanais (UFRN)<br />

Prof. Dr. Elvis de Azeve<strong>do</strong> Mattos (UFC)<br />

Profa. Dra. Flávia Candusso (UFBA)<br />

Prof. Ms. Giann Mendes Ribeiro (IFRN)<br />

Prof. Ms. Henderson de Jesus Rodrigues <strong>do</strong>s Santos (UERN)<br />

Profa. Ms. Juciane Araldi (UFPB)<br />

Prof. Dr. Luis Ricar<strong>do</strong> Silva Queiroz (UFPB)<br />

Prof. Ms. Marcos <strong>do</strong>s Santos Moreira (UFAL)<br />

Profa. Dra. Maria Cristina Carvalho Cascelli de Azeve<strong>do</strong> (UnB)<br />

Profa. Dra. Maria Guiomar de Carvalho Ribas (UFPB)<br />

Profa. Dra. Maria Isabel Montandón (UnB)<br />

Prof. Dr. Paulo David Amorim Braga (UFPE)<br />

Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira de Figueire<strong>do</strong> (UDESC)<br />

Prof. Ms. Tarcísio Gomes Filho (UFRN)<br />

Profa. Dra. Valéria Lázaro de Carvalho (UFRN)<br />

Prof. Ms. Vanil<strong>do</strong> Mousinho Marinho (UFPB)<br />

4


Apresentação<br />

Preza<strong>do</strong>s(as) colegas,<br />

É com muita alegria que <strong>da</strong>mos as boas-vin<strong>da</strong>s a to<strong>do</strong>s(as) que vieram partilhar conosco suas<br />

experiências educativas no X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>/ I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong><br />

<strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Artes/Música <strong>do</strong>s IFs/ I Fórum Pernambucano de Educação<br />

Musical.<br />

Desejamos que o <strong>Encontro</strong>, além de produtivo em sua proposta de refletir sobre os diversos<br />

aspectos <strong>da</strong> Educação Musical Brasileira, seja também festivo. Dentre os motivos para<br />

comemoração, destacamos o início <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is outros eventos que se unem ao <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong><br />

<strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, amplian<strong>do</strong> os espaços de trocas entre aqueles(as) que querem discutir o<br />

ensino de música e seus des<strong>do</strong>bramentos.<br />

Agradecemos aos que, nesses dez anos, contribuíram para a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s <strong>Encontro</strong>s,<br />

como integrante <strong>da</strong> equipe organiza<strong>do</strong>ra ou como participante que vem somar com os demais<br />

para a realização desse momento de construção coletiva de conhecimentos.<br />

Um evento especial para to<strong>do</strong>s(as)!<br />

Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto, Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong>,<br />

José Davison <strong>da</strong> Silva Júnior e Sérgio Ricar<strong>do</strong> de Go<strong>do</strong>y Lima<br />

5


AGRADECIMENTOS<br />

Assessoria de Comunicação <strong>do</strong> IFPE<br />

Centro de Artes e Comunicação <strong>da</strong> UFPE<br />

Centro de Filosofia e Ciências Humanas <strong>da</strong> UFPE<br />

Coordenação de Comunicação e Design <strong>do</strong> CAC-UFPE<br />

Editora Universitária – UFPE<br />

Centro de Educação Musical de Olin<strong>da</strong><br />

Conservatório Pernambucano de Música<br />

Escola Técnica Estadual de Criativi<strong>da</strong>de Musical<br />

Pró-Reitoria de Extensão <strong>do</strong> IFPE<br />

Pró-Reitoria de Extensão <strong>da</strong> UFPE<br />

Pró-Reitoria para Assuntos Acadêmicos <strong>da</strong> UFPE<br />

Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação <strong>da</strong> UFPE<br />

Professores(as) ministrantes de cursos<br />

Professores(as) coordena<strong>do</strong>res de GT's<br />

Professores(as) palestrantes<br />

Professores(as) pareceristas<br />

Funcionários(as) e alunos(as) <strong>do</strong> Departamento de Música <strong>da</strong> UFPE<br />

6


2 OA N O S<br />

A educação musical <strong>do</strong>s cantores de Renovação: herança vocal <strong>da</strong> cultura<br />

religiosa de Juazeiro <strong>do</strong> Norte - CE<br />

Juliany Ancelmo Souza<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará – Campus Cariri<br />

julianysouzapaz@yahoo.com.br<br />

Josemeire Medeiros Silveira de Melo<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará – Campus Cariri<br />

josy@cariri.ufc.br<br />

Resumo: O presente trabalho apresenta informações resultantes de uma pesquisa em<br />

an<strong>da</strong>mento, sobre a aprendizagem empírica <strong>do</strong>s cantores de Renovação de Juazeiro <strong>do</strong> Norte-<br />

CE. Os cânticos entoa<strong>do</strong>s por ocasião desta festa religiosa caracterizam-se como herança<br />

cultural, visto que são transmiti<strong>do</strong>s pelas gerações mais velhas para as mais novas. Trata-se de<br />

um aprendiza<strong>do</strong> informal, imitativo, que ocorre mediante observação <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> coro<br />

nas cerimônias religiosas ou nas experiências de ouvir-cantar <strong>do</strong> dia a dia. As vozes,<br />

pre<strong>do</strong>minantemente femininas, produzem sonori<strong>da</strong>de original, utilizam o vibrato e são<br />

executa<strong>da</strong>s em uníssono ou em primeira e segun<strong>da</strong> voz, alternan<strong>do</strong>-se entre sopranos,<br />

contraltos e tenores. Não há acompanhamento com instrumentos musicais. Esta manifestação<br />

cultural é muito importante, pois consegue penetrar no íntimo <strong>da</strong>s pessoas através <strong>da</strong><br />

vitali<strong>da</strong>de e potência vocal, bem como propicia a valorização <strong>do</strong> saber popular e<br />

fortalecimento <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> povo caririense.<br />

Palavras-chave: Educação musical, herança vocal, Renovação.<br />

Introdução<br />

Este artigo apresenta algumas considerações iniciais acerca <strong>do</strong> processo de educação<br />

informal <strong>do</strong>s cantores de Renovação.<br />

Resulta de pesquisa em an<strong>da</strong>mento, de cunho qualitativo, caracteriza<strong>da</strong> como estu<strong>do</strong><br />

de caso. A intenção deste estu<strong>do</strong> é conhecer o processo de ensino e aprendizagem <strong>do</strong>s cantores<br />

de Renovação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Juazeiro <strong>do</strong> Norte, identifican<strong>do</strong> as características <strong>da</strong> educação<br />

musical que permeiam sua formação. Neste contexto, faz-se necessário: entender as<br />

meto<strong>do</strong>logias e estratégias vocais utiliza<strong>da</strong>s; analisar a forma de transmissão e assimilação<br />

<strong>do</strong>s cânticos; identificar a relação entre a música e a religiosi<strong>da</strong>de; perceber a presença<br />

significativa <strong>da</strong>s músicas de Renovação na trajetória de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s cantores; e compreender a<br />

importância desta manifestação artístico-religiosa, para a valorização <strong>da</strong> cultura caririense.<br />

Renovação: uma celebração religiosa<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

7


2 OA N O S<br />

Denomina-se de Renovação a celebração religiosa <strong>da</strong> Igreja Católica Apostólica<br />

Romana, em louvor ao Sagra<strong>do</strong> Coração de Jesus e ao Sagra<strong>do</strong> Coração de Maria<br />

consagran<strong>do</strong> a família no lar. Ocorre em geral por ocasião <strong>do</strong>s festejos <strong>do</strong> aniversário de<br />

casamento, natalício ou outra <strong>da</strong>ta especial, escolhi<strong>da</strong> pelos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> casa. A partir <strong>da</strong><br />

entronização - cerimônia inicial em que se abençoa residência, imagens e quadros de devoção<br />

- to<strong>do</strong>s os anos vin<strong>do</strong>uros, nesta mesma <strong>da</strong>ta se renovará esse compromisso religioso.<br />

Essa cerimônia foi cria<strong>da</strong> pelo Papa Pio X, em 1908 (<strong>do</strong>cumento <strong>da</strong> Sagra<strong>da</strong><br />

Penitenciária Apostólica sobre a consagração <strong>da</strong>s famílias ao Sagra<strong>do</strong> Coração de Jesus). Com<br />

efeito, no Brasil, desde o princípio a consagração promovi<strong>da</strong> pelo Apostola<strong>do</strong> foi acolhi<strong>da</strong><br />

com ar<strong>do</strong>r. “Em 17 de fevereiro de 1918, a ‘União’ trazia a bela soma de 6.617 famílias, que<br />

ao mesmo jornal man<strong>da</strong>vam participar que se haviam ofereci<strong>do</strong> ao Coração Divino, colocan<strong>do</strong><br />

também a imagem no lugar de honra <strong>da</strong> casa” (GENTIL, 1948, p. 56).<br />

Nesta época, era comum o costume de construir capelas e igrejinhas nos povoa<strong>do</strong>s.<br />

“Nas cerimônias de benzimentos de capelas, nos sítios e fazen<strong>da</strong>s, ou então durante as festas<br />

de padroeiro, o povo <strong>da</strong>s re<strong>do</strong>ndezas comparecia com fervor” (PAZ, 2004, p. 12). Contu<strong>do</strong>, o<br />

contato dessas pessoas com as celebrações <strong>da</strong> Igreja, com os padres e sacramentos, era muito<br />

escasso devi<strong>do</strong> ao número reduzi<strong>do</strong> de sacer<strong>do</strong>tes para atender a população com serviços<br />

religiosos. Então surgiram celebrações “paralitúrgicas de caráter devocional realiza<strong>da</strong>s<br />

coletivamente, tais como festas, procissões, novenas e renovações” (PAZ, 2004, p. 12).<br />

A Renovação foi incentiva<strong>da</strong> pelo Padre Cícero Romão Batista, no início <strong>do</strong> século<br />

XX, na pequena vila de Juazeiro <strong>do</strong> Norte, Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará. Cheio de disposição começou a<br />

evangelizar to<strong>do</strong>s os dias na capelinha de Nossa Senhora <strong>da</strong>s Dores e a comuni<strong>da</strong>de foi se<br />

habituan<strong>do</strong> e aceitan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que o vigário ordenava.<br />

As bases <strong>da</strong> trajetória eclesiástica de padre Cícero tiveram como fun<strong>da</strong>mento<br />

as Missões Populares ou Santas Missões, que atuaram no Brasil a partir <strong>do</strong><br />

século XVII, numa tradição inicia<strong>da</strong> pelos jesuítas, franciscanos e lazaristas.<br />

(...) Nestas missões a participação de leigos era estimula<strong>da</strong> pelos padres (...)<br />

(MELO, 2004, p. 31).<br />

Ele estava sempre pronto a aju<strong>da</strong>r aquele povo, como também os visitantes. Então<br />

sua credibili<strong>da</strong>de foi aumentan<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> dia. Famílias de outros esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> nordeste vinham<br />

para Juazeiro em busca de auxílio e palavra de conforto. O sacer<strong>do</strong>te os aju<strong>da</strong>va no intuito de<br />

resolver seus problemas, e ele sempre tinha uma resposta produtiva para aqueles que<br />

necessitavam. Evangelizava a to<strong>do</strong> o momento.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Não há romeiro ou devoto <strong>do</strong> Padre Cícero, que não traga um rosário<br />

pendente ao pescoço, e os de classe social mais sofistica<strong>da</strong> trazem no bolso<br />

ou na bolsa um terço que, invariavelmente, reza<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os dias. Nas casas<br />

de família, além <strong>da</strong> reza <strong>do</strong> rosário em comum, recita-se pie<strong>do</strong>samente o<br />

ofício de Nossa Senhora, que to<strong>do</strong> romeiro e devoto de brio sabe decora<strong>do</strong>.<br />

(VIEIRA, 1988, p. 117)<br />

O sacer<strong>do</strong>te orientava as mulheres a rezar nas residências, convocava to<strong>do</strong>s para<br />

rezar o rosário <strong>da</strong> Mãe de Deus pedin<strong>do</strong> para minimizar as dificul<strong>da</strong>des: a seca, a guerra e<br />

to<strong>da</strong>s as <strong>do</strong>enças que assolavam a região. “O binômio oração e trabalho era o seu lema.<br />

Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre” (BEM FILHO, 2002, p. 41).<br />

Ao tempo em que iniciava um intenso trabalho missionário, ao instigar a<br />

obediência e a devoção <strong>do</strong>s fiéis, padre Cícero, espelhan<strong>do</strong>-se na ação<br />

missionária de padre Ibiapina, organizou um grupo de mulheres que passou a<br />

acompanhar os seus passos, dedican<strong>do</strong>-se aos rituais, às orações e às missas<br />

de maneira ca<strong>da</strong> vez mais intensa (MELO, 2004, p. 32).<br />

É nesta ci<strong>da</strong>de onde atualmente, se verifica maior quanti<strong>da</strong>de de adeptos a este ritual<br />

religioso, mas ele ocorre também em outras ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Cariri cearense e pernambucano.<br />

É em alguma espécie de forma cerimonial (…) que as disposições e<br />

motivações induzi<strong>da</strong>s pelos símbolos sagra<strong>do</strong>s nos homens e as concepções<br />

gerais <strong>da</strong> ordem <strong>da</strong> existência que eles formulam para os homens se<br />

encontram e se reforçam umas às outras. Num ritual, o mun<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> e o<br />

mun<strong>do</strong> imaginário fundem-se sob a mediação de um único conjunto de<br />

formas simbólicas (…) (GEERTZ, 2008, p. 82).<br />

Para a realização dessa ativi<strong>da</strong>de religiosa faz-se necessário ornamentar a sala de<br />

visitas <strong>da</strong> casa com um altar, monta<strong>do</strong> sobre uma pequena mesa (situa<strong>da</strong> abaixo <strong>do</strong> quadro <strong>do</strong><br />

Sagra<strong>do</strong> Coração de Jesus e Sagra<strong>do</strong> Coração de Maria), coberta por uma toalha de se<strong>da</strong> e<br />

ren<strong>da</strong> branca, um jarro com flores artificiais de papel crepom ou plástico, um ou <strong>do</strong>is castiçais<br />

com velas, uma Bíblia, esculturas de santos de devoção <strong>da</strong> família e cortinas de várias cores.<br />

Basea<strong>da</strong>s na devoção e cultos aos santos e almas, as crenças e práticas desta<br />

forma de catolicismo viabilizam a relação direta entre santo e fiel, sem a<br />

necessi<strong>da</strong>de de interferência de sacer<strong>do</strong>tes. Os devotos estabelecem com os<br />

santos uma relação afetiza<strong>da</strong>, familiar, como um mo<strong>do</strong> de marcar o lugar <strong>da</strong><br />

religião em suas vi<strong>da</strong>s, trazen<strong>do</strong> para a sua intimi<strong>da</strong>de estes intercessores<br />

próximos, capazes de resolver questões cotidianas (PAZ, 2004, p. 14).<br />

O turno em que ocorre esta festivi<strong>da</strong>de é geralmente à noite, para viabilizar a<br />

presença <strong>do</strong>s convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s (familiares e vizinhos) que trabalham durante o dia. A cerimônia<br />

inicia-se com música, leitura <strong>do</strong> evangelho e segue alternan<strong>do</strong> com orações, realiza<strong>da</strong>s pelos<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

reza<strong>do</strong>res e rezadeiras (pessoas que memorizam a sequência <strong>da</strong>s falas e cânticos deste ato<br />

religioso). O tempo de duração desta “reza” é de, aproxima<strong>da</strong>mente, uma hora e meia. No<br />

final, a família oferece um lanche aos participantes com bolo de mandioca, batata, milho,<br />

sequilhos (biscoitos feitos com goma), café, chá de ervas medicinais, aluá (bebi<strong>da</strong> feita a<br />

partir <strong>da</strong> fermentação <strong>do</strong> abacaxi), refrigerantes e às vezes, um jantar. Além <strong>do</strong> louvor a Deus,<br />

essa é uma <strong>da</strong>s formas de aproximação entre famílias.<br />

A música presente nessa celebração são cânticos, orações, salmos, poemas melódicos<br />

e benditos. É executa<strong>da</strong> por coro forma<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minantemente por mulheres, sem auxílio de<br />

instrumentos musicais. Uma singela forma de transmitir o amor fraterno, como relata Vieira:<br />

“para mim, a música e a sua irmã poesia nasceram <strong>do</strong>s lábios perfuma<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s mães, cantan<strong>do</strong><br />

acalentos primorosos e melodiosos para a<strong>do</strong>rmecerem os seus filhos (...)” (VIEIRA, 1988,<br />

p.87).<br />

Os cantores entoam as músicas <strong>da</strong> celebração com uma sonori<strong>da</strong>de marcante<br />

preenchen<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a dimensão <strong>da</strong> residência sem necessi<strong>da</strong>de de amplificação sonora. Uma<br />

capaci<strong>da</strong>de singular de extensão e potência vocal. Sabem conduzir os procedimentos <strong>da</strong><br />

celebração com seus cânticos dinâmicos, compartilhan<strong>do</strong> e envolven<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os presentes<br />

num momento de a<strong>do</strong>ração cristã.<br />

Assim acontece com Juazeiro, com o seu povo, que com uma <strong>da</strong>s mãos faz<br />

deslizar as <strong>do</strong> seu rosário e com a outra maneja o instrumento de trabalho, e<br />

os acordes intermitentes <strong>do</strong>s hinos, benditos, e canções religiosas <strong>do</strong>s seus<br />

romeiros a ci<strong>da</strong>de distende os seus músculos gigantescos para crescer e<br />

oferecer condições humanas de conforto, de bem-estar (VIEIRA, 1988, p.<br />

102).<br />

Através <strong>da</strong> voz essas cantoras de renovação despertam emoções, sentimentos<br />

profun<strong>do</strong>s e ao mesmo tempo conseguem transmitir uma agradável sucessão de sons. É<br />

impressionante a extensão vocal desse pessoal que canta em harmonia, sem me<strong>do</strong> de errar,<br />

cantan<strong>do</strong> por mais de uma hora em ca<strong>da</strong> residência, conseguin<strong>do</strong> tessituras vocais com<br />

segurança e dinamismo. “Nenhum instrumento é comparável à voz, ela é a única que tem o<br />

privilégio de unir o texto à música. Mas, só emociona dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> intérprete” (DINVILLE, 1993, p.3).<br />

O aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong>s músicas de Renovação<br />

O aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cânticos consiste numa transmissão oral, realiza<strong>da</strong> sem<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

conhecimento sistematiza<strong>do</strong>, nem saber específico na área de música e técnica vocal. Mesmo<br />

diante desta constatação, o que se verifica é um processo de ensino e aprendizagem que<br />

resulta na formação <strong>do</strong>s cantores de Renovação, que executam as músicas de maneira afina<strong>da</strong>,<br />

com segurança e estratégia vocal que os possibilita cantar por longo tempo, sem irritar as<br />

cor<strong>da</strong>s vocais.<br />

Os cantores de Renovação ensinam as músicas <strong>da</strong> maneira que aprenderam, de forma<br />

oral e empírica, a seus familiares e vizinhos mais novos. Eles cantam juntos nas residências e<br />

também levam as crianças para as celebrações, no intuito delas ingressarem nesse mesmo<br />

grupo, pois quan<strong>do</strong> não puderem comparecer, já terão alguns prepara<strong>do</strong>s para substituí-los.<br />

A educação está presente durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> indivíduo. Ela consiste na<br />

ação exerci<strong>da</strong> pelas gerações mais velhas sobre as mais novas, suscitan<strong>do</strong> o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s aspectos físico, intelectual e moral, reclama<strong>do</strong>s pela<br />

socie<strong>da</strong>de política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a pessoa,<br />

particularmente, se destine (DURKHEIM, 1978 apud PILETTI, 2002, p.<br />

111).<br />

Muitos <strong>do</strong>s cantores de Renovação têm pouco ou nenhum conhecimento de leitura e<br />

escrita. São, em geral, pertencentes à cama<strong>da</strong> pobre <strong>da</strong> população. Manifestam grande fervor<br />

religioso, também aprendi<strong>do</strong> com seus antepassa<strong>do</strong>s. Assumem com responsabili<strong>da</strong>de o<br />

compromisso de cantar em louvor a Deus, sem receber nenhum pagamento por esse ato. Dona<br />

Maria Neuza 1 , cantora de Renovação de Juazeiro <strong>do</strong> Norte, revela como aprendeu os cânticos:<br />

Nasci os ‘dente’ ouvin<strong>do</strong> a minha mãe cantan<strong>do</strong>. Ela me levava pra<br />

Renovação, pra Igreja que só tinha missa de oito em oito dias. Eu sempre fui<br />

rude pra aprender a ler e escrever - leio um pouquinho e mal sei assinar meu<br />

nome - mas decorei as músicas. Aprendi com minha mãe e minhas irmãs<br />

também (...).<br />

Ela também faz referência a Dona Quiterinha – cantora de Renovação, já faleci<strong>da</strong>,<br />

que teve a oportuni<strong>da</strong>de de conviver com Padre Cícero Romão Batista. Esta senhora marcou a<br />

trajetória de vi<strong>da</strong> de Dona Maria Neuza, pela devoção divina e fervor religioso que transmitia<br />

ao cantar.<br />

Tinha uma velhinha, Dona Quiterinha que era cantora de Renovação. Meu<br />

padrinho ‘Ciço’ dizia a ela: - Não tenha preguiça Quiterinha, que cantora na<br />

terra é cantora no céu. O canto <strong>do</strong> Coração de Jesus é o que sai <strong>da</strong> alma, com<br />

alegria, cantan<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> Dele.<br />

1<br />

Entrevista concedi<strong>da</strong> por Dona Maria Neuza, cantora de Renovação, 21 de março de <strong>2011</strong> em Juazeiro <strong>do</strong><br />

Norte-CE.<br />

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Dona Maria Neuza já ensinou às sobrinhas os cânticos de Renovação. Atualmente<br />

assumiu a incumbência de ensinar também para sua irmã mais nova, que sabe ler e escrever<br />

muito bem e já canta nas igrejas.<br />

O que se observa é que o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cânticos de renovação se inicia na<br />

infância. Neste perío<strong>do</strong> de desenvolvimento humano, a música pode suscitar na criança<br />

emoções originais capazes de provocar ação motora e facilitar a compreensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

exterior, promoven<strong>do</strong> assim, a interrelação entre as dimensões individuais e sociais.<br />

É possível também perceber a facili<strong>da</strong>de de familiarização <strong>do</strong>s pretensos reza<strong>do</strong>res<br />

com a música. Mesmo sem <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> código linguístico, conhecimento de teoria musical e<br />

técnicas vocais, são capazes de compreender a melodia e memorizá-la. Há, portanto,<br />

sensibili<strong>da</strong>de musical e aguçamento <strong>da</strong> percepção auditiva.<br />

(...) a música é a relação entre os sons e não o próprio som, qualquer que seja<br />

o grau de artifício e de complexi<strong>da</strong>de de sua sucessão. Ou melhor ain<strong>da</strong>:<br />

compreender e fazer música é primeiro ser <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de de perceber<br />

intervalos e de estabelecer relações entre eles.(...) O intervalo é um<br />

movimento entre as alturas sonoras.(HOWARD, 1984, p. 63)<br />

Não existe uma “seleção” prévia nem argumentos de “falta de <strong>do</strong>m” que impeçam as<br />

pessoas de serem cantoras de Renovação. Para cantar, basta sentir o despertar de forte emoção<br />

psíquica e tensão motora capaz de gerar esta ação. “(...) Em princípio, to<strong>da</strong>s as crianças<br />

manifestam profun<strong>do</strong> interesse pela música e, possivelmente mais profun<strong>do</strong> ain<strong>da</strong>, pelo seu<br />

exercício” (HOWARD, 1984, p. 101).<br />

A capaci<strong>da</strong>de de cantar também propicia a elevação <strong>da</strong> auto-estima na medi<strong>da</strong> em<br />

que as pessoas tomam consciência <strong>do</strong> seu potencial e ao mesmo tempo, assumem a função de<br />

mensageiras <strong>da</strong> Palavra de Deus. Na execução <strong>da</strong> música em coro, por ocasião <strong>da</strong> cerimônia<br />

<strong>da</strong> Renovação, esta ativi<strong>da</strong>de coletiva assume a expressão de identi<strong>da</strong>de popular, porque se<br />

caracteriza como manifestação própria <strong>do</strong> povo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de que integram.<br />

Diante <strong>do</strong> exposto é possível afirmar que a formação de cantores decorre de um<br />

processo empírico, informal que valoriza movimentos de execução espontâneos, possui<br />

características próprias e beleza singular, que perpassa por uma corrente contínua de<br />

aprendizagem dinâmica e consciente em relação à habili<strong>da</strong>de vocal.<br />

Considerações finais<br />

As músicas canta<strong>da</strong>s nas Renovações apresentam forte caráter religioso, expressão<br />

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singular <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de caririense, em que a base é a manifestação <strong>da</strong> fé em Deus.<br />

A experiência informal e cotidiana gerou, ao longo <strong>do</strong> tempo, um saber popular que<br />

vem sen<strong>do</strong> repassa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s gerações mais antigas para as mais jovens. Esse tipo de<br />

conhecimento envolve tanto a forma de cantar, como também a desenvoltura <strong>da</strong> voz no<br />

momento <strong>da</strong> cerimônia.<br />

As músicas de Renovação propiciam o vínculo entre a satisfação pessoal e social,<br />

bem como promove a valorização cultural <strong>da</strong> região. Esta afirmação é evidencia<strong>da</strong> na fala de<br />

Dona Maria Neuza, em que se percebe a alegria e honra de participar <strong>do</strong> grupo que foi<br />

inicia<strong>do</strong> pelo Padre Cícero, que até hoje mantém e também visa perpetuar esta tradição.<br />

Este trabalho revela que a preocupação puramente mecânica e técnica <strong>do</strong> canto, não<br />

garante a quali<strong>da</strong>de estética. É preciso considerar a presença <strong>da</strong> emoção e a autentici<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

manifestação artística.<br />

Pretende-se com este estu<strong>do</strong>, possibilitar o conhecimento, reflexão e análise crítica<br />

acerca <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong>s cânticos religiosos de Renovação. Para tanto, faz-se necessário<br />

aprofun<strong>da</strong>r e concluir esta pesquisa para que se obtenham informações mais precisas sobre a<br />

quali<strong>da</strong>de estética, processo de ensino e aprendizagem e implicações sócio-culturais desta<br />

celebração religiosa para o povo <strong>da</strong> região <strong>do</strong> Cariri.<br />

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Referências<br />

BEM FILHO, Mario. Formação Religiosa de Juazeiro <strong>do</strong> Norte. Fortaleza: ABC, 2002.<br />

DINVILLE, Claire. A técnica <strong>da</strong> voz canta<strong>da</strong>. Tradução Marjorie B. Couvoisier Hasson. 2a.<br />

ed. Rio de Janeiro: Enelivros, 1993.<br />

GEERTZ, Clifford. A interpretação <strong>da</strong>s culturas. Tradução The Interpretation of Cultures.<br />

Rio de Janeiro: LTC, 2008.<br />

GENTIL, P. Josephus <strong>da</strong> Frota. Manual <strong>do</strong> Coração de Jesus. Rio de Janeiro: Mensageiro <strong>do</strong><br />

Coração de Jesus, 1948.<br />

HOWARD, Walter. A música e a criança. Tradução Norberto Abreu Silva Neto. São Paulo:<br />

Summus, 1984.<br />

MELO, Rosilene Alves de. O outro Juazeiro: Histórias <strong>da</strong>s crenças e práticas ocultas na<br />

ci<strong>da</strong>de sagra<strong>da</strong>. Tendências: Caderno de Ciências Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>Regional</strong> <strong>do</strong> Cariri,<br />

Crato, v. 2, n. 1, p. 29-40, jul. 2004.<br />

PAZ, Renata Marinho. Cariri, campo fértil <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de popular. Tendências: Caderno<br />

de Ciências Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>Regional</strong> <strong>do</strong> Cariri, Crato, v. 2, n. 1, p. 9-27, jul. 2004.<br />

PILETTI, Nelson. Sociologia <strong>da</strong> Educação. 18a. ed. São Paulo: Ática, 2002.<br />

VIEIRA, Padre Antônio. Roteiro Lírico e Místico sobre Juazeiro <strong>do</strong> Norte. Fortaleza:<br />

Imprensa Oficial <strong>do</strong> Ceará – IOCE,1988.<br />

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A formação <strong>do</strong>s professores de Arte/Música <strong>da</strong> Rede Municipal de<br />

Ensino de Mossoró<br />

Elder Pereira Alves<br />

Conservatório de Música D’alva Stella Nogueira Freire/UERN<br />

elder.edumusic@gmail.com<br />

Resumo: Este trabalho apresenta resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa concluí<strong>da</strong> em nível de mestra<strong>do</strong>,<br />

desenvolvi<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de de Mossoró-RN. O estu<strong>do</strong> teve como objetivo apresentar, analisar e<br />

refletir acerca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, enquanto conteú<strong>do</strong> obrigatório <strong>do</strong><br />

componente curricular Arte, em escolas municipais de Mossoró. O trabalho buscou<br />

identificar: 1) qual a formação <strong>do</strong> professor de Arte desse contexto; 2) quais dentre esses<br />

profissionais trabalham com o ensino <strong>da</strong> música; 3) que práticas de educação musical são<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s por esses profissionais e que concepções norteiam suas práticas. Esse estu<strong>do</strong><br />

possui uma meto<strong>do</strong>logia quantitativo-qualitativa, pois além de ter busca<strong>do</strong> realizar um<br />

levantamento sobre o ensino <strong>da</strong> música e a formação <strong>do</strong>s professores de Arte, procurou<br />

também analisar concepções e práticas de educação musical desenvolvi<strong>da</strong>s nesse contexto.<br />

Este artigo, especificamente, se propõe a apresentar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s referentes à formação <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>centes de Arte <strong>da</strong> Rede Municipal de Ensino de Mossoró.<br />

Palavras-chave: formação de professores, ensino de música, professor de arte.<br />

Introdução<br />

As discussões sobre o ensino <strong>da</strong> música na educação básica têm si<strong>do</strong> bastante<br />

enfatiza<strong>da</strong>s nas últimas déca<strong>da</strong>s, ten<strong>do</strong> em vista, principalmente, a significativa ausência <strong>da</strong><br />

música nos currículos escolares. Diversos aspectos têm contribuí<strong>do</strong> para essa ausência, tais<br />

como a formação <strong>do</strong>s professores de arte/música atuantes nesse contexto, os problemas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à legislação educacional brasileira, concepções equivoca<strong>da</strong>s sobre o ensino de<br />

música, entre tantos outros. No entanto, no ano de 2008, através <strong>da</strong> Lei 11.769 que altera a<br />

atual LDB - Lei nº 9.394/96, a música foi instituí<strong>da</strong> como conteú<strong>do</strong> obrigatório <strong>do</strong><br />

componente curricular Arte, deven<strong>do</strong> estar efetivamente presente na educação básica<br />

brasileira até agosto de <strong>2011</strong>. Ten<strong>do</strong> em vista esse cenário, senti o interesse de investigar<br />

como se encontra o ensino <strong>da</strong> música nas escolas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Mossoró-RN, especificamente<br />

na rede municipal de ensino <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Partin<strong>do</strong> dessa perspectiva, como objetivo geral o estu<strong>do</strong> buscou apresentar, discutir<br />

e analisar a atual situação <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, enquanto conteú<strong>do</strong> obrigatório <strong>do</strong> componente<br />

curricular Arte, em escolas <strong>da</strong> Rede Municipal de Ensino de Mossoró-RMEM. Com vistas a<br />

contemplar o objetivo geral, o trabalho de pesquisa realiza<strong>do</strong> teve os seguintes objetivos<br />

específicos: identificar a formação <strong>do</strong>s professores que atuam na disciplina de Arte, a<br />

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quanti<strong>da</strong>de desses <strong>do</strong>centes que trabalham com música e aspectos relaciona<strong>do</strong>s à formação e<br />

experiência musical desses professores; analisar as concepções e práticas de educação musical<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s por esses profissionais. Nesse trabalho, apresento apenas os resulta<strong>do</strong>s relativos<br />

à formação <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente de Arte/Música <strong>da</strong> RMEM 1 .<br />

Na Educação Musical, os estu<strong>do</strong>s brasileiros que giram em torno <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

música na educação básica tem se intensifica<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais, e essa temática tornou-se um<br />

<strong>do</strong>s principais focos <strong>da</strong>s discussões na área nos últimos anos. Vários estudiosos vêm se<br />

dedican<strong>do</strong> a essa questão, desenvolven<strong>do</strong> investigações nesse contexto sob diversas<br />

abor<strong>da</strong>gens, o que tem nos aju<strong>da</strong><strong>do</strong> a compreender melhor essa reali<strong>da</strong>de. Para fun<strong>da</strong>mentar<br />

essa investigação, selecionei <strong>do</strong>is aspectos fun<strong>da</strong>mentais no que diz respeito ao ensino <strong>da</strong><br />

música na educação básica: a formação de professores (BELLOCHIO, 2003; DEL BEN,<br />

2003b; MATEIRO, 2003; SANTOS, 2005; PENNA, 2007; FIGUEIREDO, 2004; QUEIROZ;<br />

MARINHO, 2007) e a análise <strong>da</strong>s politicas educacionais e termos normativos (PENNA, 2001;<br />

2004a; 2004b; 2008a; ARROYO, 2003; FERNANDES, 2004; SOBREIRA, 2008).<br />

Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

O trabalho possui uma abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica quantitativo-qualitativa,<br />

proporcionan<strong>do</strong> uma visão ampla <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, através de um levantamento<br />

quantitativo que investiga a formação <strong>do</strong>s professores de Arte e sua atuação no ensino <strong>da</strong><br />

música, assim como uma análise mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, por meio de uma apreciação qualitativa<br />

que analisa as concepções e práticas de educação musical desses profissionais. Como<br />

comentei anteriormente, apresentarei nesse trabalho parte <strong>do</strong> levantamento quantitativo,<br />

focan<strong>do</strong> na formação <strong>do</strong>s professores.<br />

O universo <strong>da</strong> pesquisa foi constituí<strong>do</strong> pelas escolas <strong>da</strong> RMEM, de maneira mais<br />

específica, foi seleciona<strong>do</strong> o Ensino Fun<strong>da</strong>mental II (6º ao 9º ano) como alvo <strong>da</strong> investigação.<br />

Atualmente essa rede de ensino conta com 72 escolas 2 , sen<strong>do</strong> 35 localiza<strong>da</strong>s na região urbana<br />

e 37 pertencentes à zona rural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. O foco <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foi na zona urbana <strong>do</strong> município,<br />

procuran<strong>do</strong> abranger os professores de Arte que atuam nas escolas existentes nessa região.<br />

Das 35 escolas <strong>da</strong> zona urbana, apenas 18 atendem aos anos finais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

1 Em Alves (2010), foram apresenta<strong>do</strong>s alguns resulta<strong>do</strong>s parciais dessa pesquisa, referentes à formação e<br />

atuação desses profissionais.<br />

2 Da<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Gerência Executiva <strong>da</strong> Educação – Órgão <strong>da</strong> prefeitura responsável pela educação no município - no<br />

início de 2010<br />

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Deste mo<strong>do</strong>, o universo <strong>da</strong> pesquisa foi constituí<strong>do</strong> pelos professores de Arte que atuam<br />

nessas 18 escolas.<br />

A fase quantitativa <strong>da</strong> pesquisa de campo foi concretiza<strong>da</strong> através <strong>da</strong> aplicação de<br />

questionários. Esse instrumento é, geralmente, emprega<strong>do</strong> em pesquisas desta natureza por<br />

alcançar um grande público. Foi aplica<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s os professores de Arte <strong>da</strong>s 18 escolas<br />

municipais, localiza<strong>da</strong>s na zona urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, com o objetivo de identificar,<br />

principalmente, a formação <strong>do</strong>s professores de Arte e a quanti<strong>da</strong>de desses <strong>do</strong>centes que<br />

trabalham com música.<br />

Resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />

Por meio <strong>da</strong> pesquisa de campo foi possível verificar que, atualmente, nas 18 escolas<br />

onde há o Ensino Fun<strong>da</strong>mental II, existem 24 professores atuan<strong>do</strong> na disciplina Ensino <strong>da</strong><br />

Arte. Vale ressaltar que na época <strong>da</strong> pesquisa de campo, inicia<strong>da</strong> nas primeiras semanas <strong>do</strong><br />

ano letivo de 2010, uma dessas 18 escolas ain<strong>da</strong> encontrava-se sem professor de Arte. Dos 24<br />

professores identifica<strong>do</strong>s, somente um se recusou a responder o questionário, alegan<strong>do</strong> que<br />

estava assumin<strong>do</strong> a disciplina há pouco tempo e que, por esse motivo, não gostaria de<br />

participar. Apenas três professores não devolveram os questionários. Portanto, consegui<br />

receber 20 questionários respondi<strong>do</strong>s, o que corresponde a um percentual de 83,33%, um<br />

índice significativo para uma pesquisa dessa natureza.<br />

Desse universo, composto por 20 professores, há uma pre<strong>do</strong>minância de mulheres,<br />

15 professoras e apenas cinco professores. De uma forma geral, essa é uma reali<strong>da</strong>de<br />

fortemente encontra<strong>da</strong> na educação básica brasileira, confirman<strong>do</strong> a existência <strong>da</strong> feminização<br />

<strong>do</strong> magistério (Ver: DEL BEN, 2005; DINIZ, 2005; HIRSCH, 2007).<br />

A faixa etária desses profissionais está entre 31 e 55 anos, com média de 44 anos. No<br />

estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> por Del Ben (2005), encontrou-se uma faixa etária semelhante, no qual<br />

Um percentual de 41,38% <strong>do</strong>s professores está acima <strong>do</strong>s 45 anos. Esse <strong>da</strong><strong>do</strong><br />

pode indicar que os jovens professores de música ou <strong>da</strong>s demais<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artísticas não têm se senti<strong>do</strong> atraí<strong>do</strong>s para atuar como <strong>do</strong>centes<br />

nas escolas públicas estaduais de educação básica. Ou, ain<strong>da</strong>, que têm si<strong>do</strong><br />

escassos os concursos para professores nessas áreas (p. 73).<br />

Portanto, parece haver um número reduzi<strong>do</strong> de jovens professores de arte/música<br />

atuan<strong>do</strong> como <strong>do</strong>centes nas escolas públicas.<br />

Através dessa pesquisa, procuro apresentar um panorama geral sobre a formação<br />

inicial <strong>do</strong>s professores de Arte <strong>da</strong> RMEM, para que assim, através <strong>do</strong> conhecimento dessa<br />

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reali<strong>da</strong>de, seja possível verificar quem é o profissional que atua na disciplina Ensino <strong>da</strong> Arte,<br />

pois, até bem pouco tempo não existiam cursos de formação de professores de arte na ci<strong>da</strong>de<br />

de Mossoró e região. O primeiro cria<strong>do</strong> foi a Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN, no ano de 2004.<br />

Primeiramente, é importante destacar que to<strong>do</strong>s os professores participantes <strong>da</strong><br />

pesquisa são licencia<strong>do</strong>s, estan<strong>do</strong> assim em consonância com a atual LDB, que exige<br />

formação superior na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de licenciatura para a atuação no Ensino Fun<strong>da</strong>mental e<br />

Médio. A TAB. 1 apresenta <strong>da</strong><strong>do</strong>s referentes à graduação desses <strong>do</strong>centes:<br />

TABELA 1<br />

Graduação <strong>do</strong>s professores de Arte <strong>da</strong> RMEM<br />

GRADUAÇÃO QUANTIDADE PERCENTUAL<br />

Letras 10 50%<br />

História 4 20%<br />

Teologia 2 10%<br />

Educação Artística 1 5%<br />

Geografia 1 5%<br />

Ciências Sociais 1 5%<br />

Não respondeu 1 5%<br />

Como se pode observar, apenas um entre os 20 professores possui formação na área<br />

de Arte, especificamente, no curso de Educação Artística com Habilitação em Música. Uma<br />

reali<strong>da</strong>de diferente <strong>da</strong> encontra<strong>da</strong> em outras ci<strong>da</strong>des brasileiras, como em Porto Alegre, onde<br />

“60,34% de to<strong>do</strong>s os 58 professores participantes <strong>da</strong> pesquisa possuem formação específica<br />

para atuar na área de artes” (DEL BEN, 2005, p. 75), e João Pessoa, onde “a grande maioria<br />

<strong>do</strong>s professores tem formação específica: 86% (160 em 186) <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s informam ter<br />

cursa<strong>do</strong> ou estar cursan<strong>do</strong> uma licenciatura em Educação Artística” (PENNA, 2002b, p. 22) 3 .<br />

Constatei também que a metade <strong>do</strong>s professores que atua na disciplina de arte possui<br />

formação na área de Letras. Esse fato parece ter relação com o título que o Curso de Letras <strong>da</strong><br />

UERN possuía até pouco tempo, denomina<strong>do</strong> de “Letras e Artes”. Esse Curso funcionava<br />

oferecen<strong>do</strong> uma ou duas disciplinas optativas na área de Arte e talvez passasse a impressão de<br />

habilitar, efetivamente, o professor para atuar nessa área 4 . Como aponta um <strong>do</strong>s professores<br />

de arte <strong>da</strong> RMEM, “apesar de ser chama<strong>do</strong> de Letras e Artes, o curso não traz essa formação<br />

3 Ver também: (ARAÚJO, 2002; ALMEIDA, 2006; HIRSCH, 2007).<br />

4 Informação <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos professores forma<strong>do</strong>s nesse Curso.<br />

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especificamente” (P8) 5 . No entanto, outro professor acredita que “o Curso de Letras e Artes,<br />

habilita para ensinar Português, Inglês e Artes” (P5). Pelo o que se pode perceber, com a<br />

falta de cursos específicos para a formação de professores de Arte na ci<strong>da</strong>de, esse parece ter<br />

si<strong>do</strong> o curso que, durante algum tempo, assumiu o papel <strong>do</strong>s cursos forma<strong>do</strong>res de professores<br />

<strong>da</strong> área na região, talvez por causa desse título. Inclusive, um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes participantes <strong>da</strong><br />

pesquisa afirmou que assumiu o cargo de professor de Arte na RMEM através de concurso<br />

público para a área. Ou seja, já existiram concursos públicos no Município, nos quais,<br />

professores sem formação específica puderam concorrer e assumir o cargo.<br />

Os demais professores possuem formações diversas: quatro em História, que também<br />

é uma quanti<strong>da</strong>de significativa (20%); <strong>do</strong>is em Teologia; um em Geografia; um em Ciências<br />

Sociais; e apenas um não respondeu a essa questão. Apesar de existirem alguns contextos<br />

diferencia<strong>do</strong>s, como os aponta<strong>do</strong>s anteriormente, essa ain<strong>da</strong> é a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de arte<br />

encontra<strong>da</strong> em grande parte <strong>da</strong>s escolas brasileiras, nas quais a grande maioria <strong>do</strong>s professores<br />

não possui formação para atuação na área de Arte:<br />

De acor<strong>do</strong> com o trabalho, basea<strong>do</strong> no Censo Escolar <strong>da</strong> Educação Básica<br />

2007, o Brasil possui cerca de 124 mil professores de Artes. A grande<br />

maioria (92%) tem licenciatura. Mas o <strong>da</strong><strong>do</strong> preocupante é que Artes é a<br />

disciplina com menor proporção de <strong>do</strong>centes com formação na área<br />

específica de atuação: 25,7%, nos anos finais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. Destes,<br />

só 2,4% lecionam a disciplina correspondente ao curso em que se formaram<br />

na graduação. O trabalho <strong>do</strong> MEC informa ain<strong>da</strong> que 50,2% <strong>do</strong>s professores<br />

que lecionam Artes são forma<strong>do</strong>s em outras áreas (BOLETIM ARTE NA<br />

ESCOLA, 2010, p. 6).<br />

Em Mossoró, a situação é ain<strong>da</strong> mais complica<strong>da</strong>, pois, só existe um profissional<br />

com formação específica para trabalhar na área de Arte em to<strong>da</strong> a rede municipal.<br />

Atualmente, de acor<strong>do</strong> com o EDUCACENSO 6 , a RMEM atende a uma deman<strong>da</strong> de mais de<br />

21 mil alunos matricula<strong>do</strong>s <strong>da</strong> educação infantil ao último ano <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

Outro aspecto importante é que, <strong>do</strong>s 20 professores identifica<strong>do</strong>s, apenas <strong>do</strong>is atuam,<br />

exclusivamente, na disciplina de Arte: o professor forma<strong>do</strong> em Educação Artística e o que é<br />

forma<strong>do</strong> em Letras concursa<strong>do</strong> na área de Arte. Os demais professores também ministram<br />

aula de outras disciplinas, geralmente, relaciona<strong>da</strong>s a seu campo de formação.<br />

Nesse contexto, o que tem leva<strong>do</strong> a maioria desses professores de outras áreas a<br />

trabalharem com o ensino de arte é a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> complementação de suas cargas horárias.<br />

5 P – Refere-se a uma numeração utiliza<strong>da</strong> nesse trabalho para identificação <strong>do</strong>s 20 Professores.<br />

6 Censo Escolar realiza<strong>do</strong> pelo Instituto de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).<br />

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Dez professores (50%) apontaram que esse é o principal motivo que os levaram a trabalhar<br />

com essa disciplina, como se pode verificar na TAB. 2:<br />

TABELA 2<br />

Motivação <strong>do</strong>s professores para trabalhar com Arte<br />

MOTIVOS QUANTIDADE PERCENTUAL<br />

Complementação de carga<br />

10 50%<br />

horária<br />

Se sentem prepara<strong>do</strong>s 3 15%<br />

Não responderam 3 15%<br />

Identificação com a área 2 10%<br />

Necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola 1 5%<br />

Aprovação em concurso<br />

1 5%<br />

público na área<br />

Total 20 100%<br />

Apenas três assinalaram que se sentem prepara<strong>do</strong>s para ensinar na área (incluin<strong>do</strong> o<br />

professor que tem formação específica) e <strong>do</strong>is que possuem, de fato, alguma identificação<br />

com a disciplina. Esses <strong>da</strong><strong>do</strong>s são preocupantes, primeiramente, porque os profissionais não<br />

possuem formação para a atuação, mas como já apontei essa não é a reali<strong>da</strong>de apenas de<br />

Mossoró, mas de boa parte <strong>do</strong> país. E segun<strong>do</strong>, porque a maioria assume a disciplina em<br />

função de uma circunstância empregatícia e não por se sentir prepara<strong>da</strong> ou pelo menos<br />

identificar-se com a área.<br />

Com o intuito de conhecer detalha<strong>da</strong>mente a atuação desses professores, procurei<br />

verificar em quais <strong>da</strong>s quatro mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artísticas eles se sentem melhor prepara<strong>do</strong>s para<br />

trabalhar. A maioria <strong>do</strong>s professores apontou mais de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de 7 . Como era de se<br />

esperar, a maior parte afirmou que se sente prepara<strong>da</strong> para atuar com Artes Visuais, num total<br />

de 15 professores. Essa tendência, após a LDB de 1971, tem si<strong>do</strong> muito forte nas aulas de<br />

Arte, chegan<strong>do</strong> ao ponto de poder configurar-se apenas como “Ensino de Artes Visuais” (ver:<br />

PENNA, 2008b). Dos 20 professores, 12 acreditam também estarem prepara<strong>do</strong>s para trabalhar<br />

com Música, 13 com Teatro e apenas cinco com Dança.<br />

Por terem sua formação fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em outras áreas, é interessante observar que esses<br />

professores demonstram sentirem-se prepara<strong>do</strong>s para atuarem nas diversas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />

artísticas, alguns chegan<strong>do</strong> a apontar as quatro mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des. São <strong>da</strong><strong>do</strong>s que nos levam a<br />

7 Essa questão era de múltipla escolha, na qual os professores poderiam eleger quantas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des quisessem,<br />

entre as quatro existentes (Artes Visuais, Música, Teatro ou Dança).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

refletir acerca <strong>da</strong>s concepções dessas aulas de Artes desenvolvi<strong>da</strong>s por esses profissionais,<br />

pois, essas práticas educativas parecem estar basea<strong>da</strong>s numa concepção polivalente.<br />

Para verificar essa situação, solicitei aos professores que apontassem quais as<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artísticas que eles, efetivamente, trabalham em sala de aula. Suas respostas<br />

confirmaram a concepção <strong>da</strong> atuação polivalente, que parece acontecer em grande parte <strong>da</strong>s<br />

aulas de arte, como podemos verificar na TAB. 3:<br />

TABELA 3<br />

Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artísticas trabalha<strong>da</strong>s pelos professores<br />

MODALIDADES QUANTIDADE PERCENTUAL<br />

Música e outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />

(Artes Visuais, Teatro e<br />

13 65%<br />

Dança)<br />

Outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des (Artes<br />

Visuais, Teatro e Dança) 3 15%<br />

Somente Artes Visuais 3 15%<br />

Somente Música 1 5%<br />

Somente Teatro 0 0%<br />

Somente Dança 0 0%<br />

Total 20 100%<br />

Somente três professores trabalham exclusivamente com Artes Visuais e um com<br />

Música, o restante atua ensinan<strong>do</strong> mais de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de artística. Um aspecto positivo que<br />

ressalto nesses <strong>da</strong><strong>do</strong>s é que 14 professores afirmam trabalhar com Música, 13 de forma<br />

polivalente e um de forma exclusiva.<br />

Como é possível perceber, a influência <strong>da</strong> polivalência nas aulas de Arte ain<strong>da</strong> é<br />

muito forte atualmente. Pude verificar também que, em diversos estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s em<br />

escolas brasileiras, a influência <strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> concepção polivalente esteve presente em<br />

grande parte deles. No estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> por Del Ben (2005) em Porto Alegre, “os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

indicam que a maioria <strong>do</strong>s professores investiga<strong>do</strong>s atua concomitantemente nas áreas de<br />

artes plásticas, artes cênicas e música” (p. 77). Do mesmo mo<strong>do</strong>, na região Sul <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Nota-se que ain<strong>da</strong> há a presença de uma atuação polivalente, quan<strong>do</strong> o<br />

somatório de 33,1% <strong>do</strong>s professores afirma trabalhar com mais de uma<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de artística, contra o somatório de 59,0% <strong>do</strong>s professores que<br />

declaram trabalhar com apenas uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de artística (HIRSCH, 2007, p.<br />

48).<br />

Na pesquisa realiza<strong>da</strong> em Belo Horizonte, pôde-se evidenciar que “ain<strong>da</strong> há<br />

influência <strong>da</strong> formação polivalente (cursos de Educação Artística) sobre a prática pe<strong>da</strong>gógica<br />

e as concepções <strong>do</strong>centes sobre o ensino de música” (MARINO, 2005, p. 5). Em João Pessoa,<br />

foi possível verificar<br />

Uma forte tendência à atuação polivalente, comprova<strong>da</strong> pelos <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

coleta<strong>do</strong>s. [...] 85 (45,7%) professores trabalham apenas uma linguagem<br />

artística em sala de aula, enquanto 43 (23,1%) trabalham com duas, 34<br />

(18,3%) com 3 linguagens e os demais trabalham com 4 (PENNA, 2002b, p.<br />

27).<br />

To<strong>do</strong> esse cenário reflete, no mínimo, que os profissionais que estão sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>s<br />

nas novas licenciaturas (Licenciatura em Artes Visuais, Música, Dança e Teatro), ain<strong>da</strong> não<br />

estão presentes, efetivamente, na educação básica, pelo menos é o que se pode evidenciar na<br />

reali<strong>da</strong>de de Mossoró.<br />

Aproveitan<strong>do</strong> essa rápi<strong>da</strong> discussão sobre as concepções <strong>do</strong>s professores de arte,<br />

procurei verificar se esses profissionais conhecem ou, pelo menos já ouviram falar, <strong>da</strong> Lei<br />

11.769/08, para ter uma ideia <strong>da</strong> repercussão e discussão dessa Lei nesse contexto<br />

educacional. Apenas quatro professores afirmam conhecê-la, sen<strong>do</strong> que um deles desconhece<br />

o seu texto. Portanto, os demais 16 professores de Arte <strong>da</strong> RMEM (80%) nunca ouviram falar<br />

<strong>da</strong>s discussões sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na educação básica, após mais de<br />

um ano <strong>da</strong> promulgação dessa Lei 8 .<br />

Essa reali<strong>da</strong>de não deixa de ser impactante, e por mais que esses profissionais não<br />

possuam formação nas áreas de Arte e Música, seria importante que estivessem atentos às<br />

discussões que envolvem suas áreas de atuação, <strong>da</strong>s quais a Música faz parte. Portanto, se os<br />

professores de arte, potenciais professores de música desse contexto, desconhecem as<br />

discussões que tratam <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na educação básica, é provável<br />

que, praticamente, não existam reflexões e ações a respeito desse aspecto no âmbito <strong>da</strong><br />

RMEM.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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Conclusões<br />

Na ci<strong>da</strong>de de Mossoró e na Rede Municipal de Ensino, especificamente, até o<br />

presente momento, pouco se sabia a respeito de quem vem atuan<strong>do</strong> com o ensino de<br />

arte/música, uma vez que, até então, nenhum estu<strong>do</strong> dessa natureza fora desenvolvi<strong>do</strong> nesse<br />

contexto. Através desse trabalho, procurei apresentar um breve levantamento sobre a<br />

formação <strong>do</strong>s professores que atuam na disciplina Arte na RMEM.<br />

Foi possível identificar que apenas um professor possui formação na área de Artes,<br />

no extinto curso de Educação Artística. Verifiquei também que a metade <strong>do</strong>s professores de<br />

Arte possui formação na área de Letras, e que o curso de Letras <strong>da</strong> UERN, até bem pouco<br />

tempo denomina<strong>do</strong> de “Letras e Artes”, parece ter assumi<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong>s cursos forma<strong>do</strong>res de<br />

professor de Arte na região. Esse curso funcionou oferecen<strong>do</strong> umas duas disciplinas optativas<br />

na área de Arte e acabou passan<strong>do</strong> a impressão de formar, efetivamente, os professores para<br />

atuarem na área.<br />

Contu<strong>do</strong>, a maior parte <strong>do</strong>s professores de Arte <strong>da</strong> RMEM tem assumi<strong>do</strong> a disciplina<br />

de Arte por causa de uma circunstância empregatícia, ou seja, por necessitarem complementar<br />

suas cargas horárias. Assim, essa formação ofereci<strong>da</strong> nesse curso de “Letras e Artes” parece<br />

não ter exerci<strong>do</strong> tanta influencia na atuação desses professores.<br />

De forma geral, a partir <strong>da</strong> realização desse estu<strong>do</strong>, foi possível verificar que a<br />

grande maioria <strong>do</strong>s professores de Arte atuantes nesse contexto não possuem formação nas<br />

áreas de Arte e Música. Portanto, o que se pode evidenciar, a partir de to<strong>do</strong> o exposto, é a<br />

urgente necessi<strong>da</strong>de de formação existente nesse contexto educacional, tanto na área de Arte,<br />

quanto em Música especificamente, pois, praticamente não há profissionais especializa<strong>do</strong>s<br />

atuan<strong>do</strong> nessas áreas.<br />

8 Ressaltan<strong>do</strong> que esses <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram coleta<strong>do</strong>s no início de 2010.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ALMEIDA, Poliana Carvalho de. A educação musical nas escolas públicas: mapean<strong>do</strong> a<br />

reali<strong>da</strong>de de Salva<strong>do</strong>r. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 15., 2006, João Pessoa. <strong>Anais</strong>... João Pessoa: <strong>ABEM</strong>,<br />

2006. p. 55-63.<br />

ALVES, Elder. A formação <strong>do</strong>s professores de Arte <strong>da</strong>s escolas municipais de Mossoró-RN e<br />

a sua atuação no ensino <strong>da</strong> música. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 19., 2010, Goiânia. <strong>Anais</strong>... Goiânia: <strong>ABEM</strong>,<br />

2010. p. 210-219.<br />

ARAÚJO, Rosane Car<strong>do</strong>so de. O ensino <strong>da</strong> música nas escolas <strong>da</strong> rede municipal de Curitiba.<br />

In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL,<br />

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ARROYO, Margarete. Políticas educacionais, arte-educação e educação musical: um estu<strong>do</strong><br />

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EDUCAÇÃO MUSICAL, 12., 2003,Florianópolis. <strong>Anais</strong>... Florianópolis: <strong>ABEM</strong>, 2003. p.<br />

586-594.<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A formação profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical: algumas<br />

apostas. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 8, 17-24, 2003.<br />

BOLETIM ARTE NA ESCOLA. n. 57, 2010. ISSN 1809-9254.<br />

DEL BEN, Luciana. Múltiplos espaços, multidimensionali<strong>da</strong>de, conjunto de saberes: idéias<br />

para pensarmos a formação de professores de música. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 8,<br />

29-32, 2003.<br />

_____. Um estu<strong>do</strong> com escolas <strong>da</strong> Rede Estadual de Educação Básica de Porto Alegre/RS:<br />

Subsídios para a elaboração de políticas de Educação Musical. Revista Música Hodie.<br />

Goiânia, V.5, nº 2, p. 65-89, 2005.<br />

DINIZ, Lélia Negrini. Música na Educação Infantil: Um Survey com professoras <strong>da</strong> Rede<br />

Municipal de Ensino de Porto Alegre-RS. Porto Alegre, 2005. 115f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong><br />

em Música) Programa de Pós-Graduação <strong>da</strong> UFRGS, Porto Alegre, RS, 2005.<br />

FERNANDES, José Nunes. Normatização, estrutura e organização <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música nas<br />

escolas de educação básica <strong>do</strong> Brasil: LDBEN/96, PCN e currículos oficiais em questão.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 10, 75-87, 2004.<br />

FIGUEIREDO, Sérgio. A preparação musical de professores generalistas no Brasil. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 11, 55-61, 2004.<br />

HIRSCH, Isabel Bonat. Música nas séries finais <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental e no Ensino Médio:<br />

Um Survey com professores de Arte/Música de escolas estaduais <strong>da</strong> Região Sul <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul. Porto Alegre, 2007. 105f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música) Programa de<br />

Pós-Graduação <strong>da</strong> UFRGS, Porto Alegre, RS. 2007.<br />

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2 OA N O S<br />

MARINO, Gislene. Educação musical escolar: análise <strong>do</strong> ensino de música nas escolas<br />

municipais de Belo Horizonte. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA<br />

DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 14., 2005, Belo Horizonte. <strong>Anais</strong>... Belo Horizonte: <strong>ABEM</strong>,<br />

2005. p. 1-7.<br />

MATEIRO, Teresa <strong>da</strong> Assunção Novo. O comprometimento reflexivo na formação <strong>do</strong>cente.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 8, 33-38, 2003.<br />

PENNA, Maura. Música na escola: analisan<strong>do</strong> a proposta <strong>do</strong>s PCN para o ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental. In: PENNA, Maura (Coord.). É este o ensino de arte que queremos?: uma<br />

análise <strong>da</strong>s propostas <strong>do</strong>s parâmetros curriculares nacionais. João Pessoa: Editora<br />

Universitária, 2001. p. 113-134.<br />

______. A arte no ensino fun<strong>da</strong>mental: mapeamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de nas escolas públicas <strong>da</strong><br />

Grande João Pessoa. Relatório de pesquisa. João Pessoa: D’ARTES/UFPB, 2002. Disponível<br />

em: http://www.cchla.ufpb.br/pesquisarte/Masters/relatorio_ensino_fun<strong>da</strong>mental.pdf<br />

______. A dupla dimensão <strong>da</strong> política educacional e a música na escola: I – analisan<strong>do</strong> a<br />

legislação e termos normativos. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, v. 10, p. 19-27, 2004a.<br />

______. A dupla dimensão <strong>da</strong> política educacional e a música na escola: II – <strong>da</strong> legislação à<br />

prática escolar. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, v. 11, p. 7-16, 2004b.<br />

______. Não basta tocar? Discutin<strong>do</strong> a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>,<br />

Porto Alegre, v. 16, p. 49-56, 2007.<br />

______. Caminhos para a conquista de espaços para a música na escola: uma discussão em<br />

aberto. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 19, p. 57-64, 2008a.<br />

______. Música(s) e seu Ensino. Sulina: Porto Alegre, 2008b.<br />

QUEIROZ, Luis Ricar<strong>do</strong> Silva; MARINHO, Vanil<strong>do</strong> Mousinho. Educação musical nas<br />

escolas de educação básica: caminhos possíveis para a atuação de professores não<br />

especialistas. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 17, p. 69-76, 2007.<br />

SANTOS, Regina Marcia Simão. Música, a reali<strong>da</strong>de nas escolas e políticas de formação.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 12, p. 49-56, 2005.<br />

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música nas escolas públicas.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 20, p. 45-52, 2008.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

A informali<strong>da</strong>de construin<strong>do</strong> a formação musical <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes<br />

frequenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Praça Verde Historia<strong>do</strong>r Raimun<strong>do</strong> Girão (Centro<br />

Dragão <strong>do</strong> Mar de Arte e Cultura)<br />

Yure Pereira de Abreu ∗<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

yuredeabreu@oi.com.br<br />

Luiz Botelho Albuquerque<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

luizbotelho@uol.com.br<br />

Resumo: O presente artigo é um relato de pesquisa que teve como objetivo identificar e<br />

compreender como está se estruturan<strong>do</strong> a formação musical, formal e informal, <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes entre 12 – 18 anos frequenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Praça Verde Historia<strong>do</strong>r Raimun<strong>do</strong><br />

Girão, espaço pertencente ao Centro Dragão <strong>do</strong> Mar de Arte e Cultura e manti<strong>do</strong> pelo<br />

Instituto de Arte e Cultura <strong>do</strong> Ceará (IACC), situa<strong>do</strong> na Rua Dragão <strong>do</strong> Mar, nº 81,<br />

Praia de Iracema. Entender a formação musical destes a<strong>do</strong>lescentes é de certa forma,<br />

compreender os contextos sócio-culturais em que estão inseri<strong>do</strong>s. Sob essa perspectiva<br />

foi realiza<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso sobre o impacto que as mídias e grupamentos jovens<br />

exercem sobre a formação musical <strong>do</strong>s indivíduos que freqüentam o centro,<br />

vislumbra<strong>do</strong> apontar um panorama acerca <strong>da</strong> formação musical, em caráter formal e<br />

informal, e repensar estratégias de incentivar uma dissipação igualitária ao acesso à<br />

música.<br />

Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescentes, Grupamentos Jovens, Formação Musical.<br />

Introdução<br />

Compreender o processo de construção <strong>da</strong> formação musical é de certa forma<br />

compreender o contexto sócio-cultural no qual a juventude está inseri<strong>da</strong>. É em meio à<br />

socie<strong>da</strong>de moderna com o advento <strong>da</strong> cultura de massas, vincula<strong>da</strong> às mídias, que a<br />

educação musical se torna ain<strong>da</strong> mais dinâmica e interativa. No entanto a educação<br />

passa a operar tanto na formali<strong>da</strong>de quanto e principalmente em uma mescla entre a<br />

formali<strong>da</strong>de e informali<strong>da</strong>de. É neste contexto que a educação musical informal cresce,<br />

sen<strong>do</strong> acentua<strong>da</strong> pelas mídias e grupamentos jovens.<br />

∗<br />

Graduan<strong>do</strong> em Música (licenciatura) pela Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará. É bolsista <strong>do</strong><br />

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência MEC/CAPES – UFC e integrante <strong>do</strong><br />

grupo de pesquisa Ensino de Música, atuan<strong>do</strong> na linha de Culturas Contemporâneas e Educação<br />

Escolar, sob a orientação <strong>do</strong> Prof. Dr. Luiz Botelho Albuquerque.<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Atualmente a ci<strong>da</strong>de de Fortaleza não oferece educação musical em caráter<br />

formal acessível a to<strong>da</strong> população, pelo simples fato de não ofertar nenhuma disciplina<br />

de música nas matrizes curriculares <strong>da</strong>s escolas públicas de ensino básico nem escolas<br />

de música ou conservatórios públicos, deixan<strong>do</strong> a formação musical por conta <strong>da</strong><br />

informali<strong>da</strong>de e, em nível superior, as universi<strong>da</strong>des que ofertam cursos de licenciatura,<br />

bacharela<strong>do</strong> e de nível técnico.<br />

O presente trabalho visa refletir sobre um processo <strong>da</strong> formação musical <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes entre 12 – 18 anos, de caráter informal e a educação musical de caráter<br />

formal, vislumbran<strong>do</strong> apontar os mecanismos formativos presentes no cotidiano <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes que freqüentam a Praça Verde Historia<strong>do</strong>r Raimun<strong>do</strong> Girão (Praça Verde).<br />

Espero que este artigo venha a contribuir com a comuni<strong>da</strong>de científica,<br />

educa<strong>do</strong>res musicais, bem como to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de educacional ao apresentar um<br />

panorama <strong>da</strong> formação musical, formal e informal, <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes acima cita<strong>do</strong>s,<br />

repensan<strong>do</strong> estratégias e fazen<strong>do</strong> reflexões acerca <strong>da</strong> formação musical no que diz<br />

respeito à implementação <strong>do</strong> ensino de música na educação básica, o que já está<br />

previsto na Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> observação <strong>do</strong> local e suas especifici<strong>da</strong>des<br />

com 21 sujeitos freqüenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Praça Verde, numa tentativa de identificar elementos<br />

e concepções acerca <strong>do</strong>s processos formativos em música, na busca de responder a<br />

pergunta: como ocorre o processo de formação musical <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes de Fortaleza na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

Um estu<strong>do</strong> de caso foi realiza<strong>do</strong> com o intuito de compreender certas nuances<br />

acerca <strong>da</strong> formação musical <strong>do</strong>s jovens e o mo<strong>do</strong> como os grupamentos jovens e as<br />

mídias tendem a influenciar nesse processo, colaboran<strong>do</strong> para uma padronização.<br />

Dessas fontes empíricas extraíram-se <strong>da</strong><strong>do</strong>s importantes sobre o assunto, de observação<br />

<strong>do</strong> cotidiano e <strong>do</strong> entendimento que os a<strong>do</strong>lescentes freqüenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Praça Verde têm<br />

sobre a sua formação musical, relacionan<strong>do</strong>-as com suas próprias experiências. Segun<strong>do</strong><br />

Gil (2009), estu<strong>do</strong>s de casos: “Caracterizam-se pelo estu<strong>do</strong> profun<strong>do</strong> e exaustivo de um<br />

<strong>do</strong>s poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalha<strong>do</strong>.”<br />

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Com o intuito de recolher informações acerca <strong>da</strong> formação musical <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes que freqüentam a Praça Verde, eu confeccionei e apliquei um questionário<br />

conten<strong>do</strong> 11 perguntas, dentre abertas e fecha<strong>da</strong>s, direciona<strong>da</strong>s a temática <strong>do</strong> artigo, tais<br />

como: se os entrevista<strong>do</strong>s já haviam estu<strong>da</strong><strong>do</strong> música, formalmente ou informalmente<br />

(autodi<strong>da</strong>ta); Em qual instituição e/ou local tiveram acesso ao conhecimento musical; Se<br />

os entrevista<strong>do</strong>s cantam ou tocam algum instrumento musical e se participam de<br />

formações artísticas (corais, ban<strong>da</strong>s, etc.); quais meios de comunicação os entrevista<strong>do</strong>s<br />

mais utilizam; quais os gêneros musicais, artistas ou ban<strong>da</strong>s favoritas e quais meios<br />

culturais mais freqüentam; na busca de responder a pergunta supracita<strong>da</strong>.<br />

A Praça Verde Historia<strong>do</strong>r Raimun<strong>do</strong> Girão: um espaço de lazer,<br />

formação e encontros.<br />

A Praça Verde Historia<strong>do</strong>r Raimun<strong>do</strong> Girão, ou simplesmente “Praça Verde”<br />

como dizem às pessoas que ali freqüentam, é um <strong>do</strong>s mais amplos espaços pertencente<br />

ao Centro Dragão <strong>do</strong> Mar de Arte e Cultura, o qual tem por finali<strong>da</strong>de promover<br />

ativi<strong>da</strong>des artísticas, culturais e recreativas visan<strong>do</strong> propagar e preservar as culturas<br />

locais, bem como auxiliar no desenvolvimento artístico, educacional, cultural e<br />

cognitivo <strong>da</strong>s crianças que participam <strong>do</strong>s projetos <strong>do</strong> local. O espaço também tem por<br />

proposta abrigar espetáculos, shows e eventos de grande porte como, por exemplo, a<br />

Feira <strong>da</strong> Música de Fortaleza; ain<strong>da</strong> conta com um espaço anexo, o Ateliê <strong>da</strong>s Artes,<br />

que é um espaço volta<strong>do</strong> para a realização de cursos, oficinas, debates, dentre outras<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

No entanto é durante as noites de sába<strong>do</strong> que o local recebe o público alvo<br />

deste trabalho, visto que é esse o dia escolhi<strong>do</strong> pelos jovens para realizarem as reuniões<br />

de seus grupos e encontrarem seus amigos, com inúmeros objetivos, tais como: divertirse,<br />

namorar, trocar idéias, fazer música, etc. Porém as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s por esses<br />

jovens não possuem ligação com as ativi<strong>da</strong>des oferta<strong>da</strong>s pela instituição, visto que esta<br />

é uma ativi<strong>da</strong>de que não compõe a programação <strong>do</strong> local. Assim as ações realiza<strong>da</strong>s<br />

nestes encontros não possuem nenhum direcionamento específico, o que as torna<br />

bastante diversifica<strong>da</strong>s e heterogêneas, atenden<strong>do</strong> a diversos campos e interesses como<br />

<strong>da</strong>nça, música, pintura, teatro, dentre outras.<br />

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2 OA N O S<br />

A influência <strong>da</strong>s mídias e <strong>do</strong>s grupamentos jovens e os impactos na<br />

formação musical<br />

No decorrer <strong>do</strong> século XX as socie<strong>da</strong>des passaram por significativas mu<strong>da</strong>nças<br />

estruturais que influenciaram os campos social, ideológico e científico-tecnológico<br />

colaboran<strong>do</strong> para o surgimento de uma nova cultura que Morin (1997) define como a<br />

terceira cultura, originária <strong>da</strong>s mídias novas e antigas como cinema, rádio, televisão,<br />

jornal, projetan<strong>do</strong>-se ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>s culturas tradicionais. Esta cultura de massas que tem<br />

como objetivo a padronização, crian<strong>do</strong> uma cultura dita “Universal”, que é uma junção<br />

de crenças, costumes, mitologias, etc.<br />

É no decorrer <strong>do</strong> desenvolvimento industrial que a mídia se apresenta como<br />

uma grande ferramenta de propagação <strong>da</strong> lógica <strong>do</strong> consumo, proporcionan<strong>do</strong> estímulos<br />

de massificação social de uma cultura “universal”, incorpora<strong>do</strong> pelos grupamentos<br />

jovens que associam elementos <strong>da</strong> cultura universal aos hábitos intimamente<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao mo<strong>do</strong> como esses grupamentos se organizam.<br />

Para tanto, em meio ao desenvolvimento midiático, surgem diversas práticas<br />

correntes, que muitas vezes não emergiam com o propósito de educação, mas ao final,<br />

constituem um imenso mecanismo educacional. Então, toman<strong>do</strong> por base que a<br />

educação é um processo dinâmico e que a educação ocorre em to<strong>do</strong>s os locais e com<br />

to<strong>da</strong>s as coisas, a mídia com certeza auxilia no desenvolvimento educacional <strong>do</strong>s<br />

jovens.<br />

Para analisar a formação musical <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes que freqüentam a Praça<br />

Verde, ressaltan<strong>do</strong> as contribuições <strong>do</strong> local que aos sába<strong>do</strong>s congrega jovens de to<strong>da</strong> a<br />

ci<strong>da</strong>de de Fortaleza e região metropolitana, o que favorece a criação de grupamentos<br />

jovens, surge a necessi<strong>da</strong>de de compreensão <strong>do</strong>s processos de formação <strong>do</strong>s<br />

grupamentos jovens e de interação entre os a<strong>do</strong>lescentes que compõem o grupo, ao<br />

entender que ambos exercem influências sobre a formação musical <strong>do</strong>s jovens que ali<br />

freqüentam. Para Janotti Jr. (2003) o conceito de grupamento jovem está intimamente<br />

relaciona<strong>do</strong> à perspectiva <strong>da</strong>s:<br />

Agremiações de indivíduos que partilham interesses comuns,<br />

vivenciam valores, gostos, afetos, privilegiam determina<strong>da</strong>s produções<br />

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de senti<strong>do</strong> em espaços desterritorializa<strong>do</strong>s, através de processos<br />

midiáticos que se utilizam de referenciais globais.<br />

Levan<strong>do</strong> em conta que a a<strong>do</strong>lescência é um perío<strong>do</strong> instável e conturba<strong>do</strong>, que<br />

Pfromm Netto (1976) define como inquietação, pode-se afirmar que é nessa fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

que as pessoas sofrem mais influências, pelo simples fato de ain<strong>da</strong> estar constituin<strong>do</strong><br />

seus valores e hábitos, sua identi<strong>da</strong>de. Assim foi possível perceber que a formação<br />

musical <strong>do</strong>s jovens que freqüentam a Praça Verde é influencia<strong>da</strong> pela mídia e<br />

grupamentos jovens.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussões<br />

Após coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s ficou constata<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s jovens entrevista<strong>do</strong>s<br />

não havia estu<strong>da</strong><strong>do</strong> música de forma mais sistemática, em caráter formal, ou seja, liga<strong>da</strong><br />

a uma instituição de ensino, seja ela pública ou priva<strong>da</strong>, como, por exemplo,<br />

conservatórios, escolas de música, escolas de educação básica, etc. Segun<strong>do</strong> Arroyo<br />

(2000, apud WILLE, 2005):<br />

Ao utilizarmos o termo formal para qualificarmos a educação musical<br />

diferentes significa<strong>do</strong>s poderão ser destaca<strong>do</strong>s, pois esse termo pode<br />

ter significação como escolar, oficial, ou <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de uma organização.<br />

Eu acredito que o fato <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s jovens não terem estu<strong>da</strong><strong>do</strong> música<br />

formalmente esteja intimamente liga<strong>do</strong> ao fato <strong>da</strong> carência de escolas ou conservatórios<br />

de música públicos e também pela ausência de música na matriz curricular <strong>da</strong> rede<br />

publica de ensino básico.<br />

Deste mo<strong>do</strong> pude constatar uma pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s musicais<br />

informais, o que podemos denominar de autodi<strong>da</strong>tismo, ou seja, não liga<strong>do</strong> a nenhuma<br />

instituição, o que contribui para uma maior fragili<strong>da</strong>de no aprendiza<strong>do</strong> musical. Eu<br />

entendi também que o estu<strong>do</strong> autodi<strong>da</strong>ta pode afetar a saúde física <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, já<br />

que nem sempre ao se tocar um instrumento musical ou cantar os alunos tomam cui<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

com postura, técnicas, dentre outras coisas.<br />

Dentre os jovens que afirmaram ter estu<strong>da</strong><strong>do</strong> música formalmente, alguns<br />

afirmam possuir habili<strong>da</strong>des como cantar e/ou tocar um instrumento musical. Entre os<br />

instrumentos mais cita<strong>do</strong>s estão o violão, o tecla<strong>do</strong> e a bateria. Porém, a maioria <strong>do</strong>s<br />

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entrevista<strong>do</strong>s dizem saber tocar algum instrumento e/ou cantar, mesmo sem haver<br />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong> música formalmente.<br />

Considerações Finais<br />

A partir de minha pesquisa pude constatar como está se estruturan<strong>do</strong> a<br />

formação musical <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes freqüenta<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Praça Verde Historia<strong>do</strong>r<br />

Raimun<strong>do</strong> Girão, e que tal formação está bastante implica<strong>da</strong> na informali<strong>da</strong>de, ao passo<br />

que os grupamentos jovens e as mídias vêm intensifican<strong>do</strong> suas influências sobre o<br />

processo de formação musical <strong>do</strong>s jovens que ali freqüentam e que, apesar de algumas<br />

ações isola<strong>da</strong>s que têm si<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong>s no município, na tentativa de promover um<br />

acesso mais igualitário ao ensino de música, analiso que estão sen<strong>do</strong> insuficientes e<br />

deficitárias, já que a maioria <strong>do</strong>s jovens ain<strong>da</strong> não possuem acesso ao conhecimento<br />

musical formalmente.<br />

Também foi possível constatar como está ocorren<strong>do</strong> a formação musical<br />

informal, sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> através de amigos, livros, méto<strong>do</strong>s, vídeos-aula, revistas,<br />

dentre outros.<br />

Por fim podemos concluir que a mídia juntamente com os grupamentos jovens<br />

e a carência de educação musical em caráter formal na ci<strong>da</strong>de de Fortaleza colaboram<br />

na dissipação <strong>da</strong> cultura educacional informal.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

GIL, Antonio Carlos. Méto<strong>do</strong>s e técnicas de pesquisa social. 6º Edição. São Paulo:<br />

Atlas, 2009.<br />

JANOTTI JUNIOR, Jeder Silveira. Mídia, cultura juvenil e rock and roll: comuni<strong>da</strong>des,<br />

tribos e grupamentos urbanos. Disponível<br />

em: . Acessa<strong>do</strong> em 28 de outubro de 2010.<br />

MORIN, Edgar. Culturas de massas no século XX: Neurose. Tradução de<br />

Maura Ribeiro Sardinha. 9º Edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1997.<br />

PFROMM NETTO, Samuel. Psicologia <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência. 5. Edição. São<br />

Paulo, Pioneira; Brasília, INL, 1976.<br />

WILLE, Regiana Blank. Educação musical formal, não formal ou informal:<br />

um estu<strong>do</strong> sobre processos de ensino e aprendizagem musical de<br />

a<strong>do</strong>lescentes. Disponível em:<br />

. Acessa<strong>do</strong> em 28 de março de <strong>2011</strong>.<br />

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2 OA N O S<br />

A Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPI: diálogo entre a formação ofereci<strong>da</strong><br />

e a formação almeja<strong>da</strong><br />

Juliana Carla Bastos<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Piauí (UFPI)<br />

julianacarlabastos@gmail.com<br />

Resumo: O presente artigo tem como objetivo investigar e identificar as características<br />

inerentes ao perfil de curso traça<strong>do</strong> pelo Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> Licenciatura em<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Piauí, bem como compreender de que maneira(s) essa<br />

caracterização está sen<strong>do</strong> recebi<strong>da</strong> pelos alunos e trabalha<strong>da</strong> pelos professores. Com base no<br />

referencial teórico e na revisão bibliográfica já constituí<strong>do</strong>s, a discussão inicial aqui<br />

apresenta<strong>da</strong> servirá de base para a fase prática <strong>da</strong> pesquisa, que será de aplicação de<br />

questionários e realização de entrevistas com o intuito de conseguir informações efetivas<br />

sobre a opinião de alunos e professores com respeito ao caminho que o curso vem trilhan<strong>do</strong>.<br />

Palavras-chave: educação musical, UFPI, formação <strong>do</strong> professor.<br />

Apresentação<br />

Como professora <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong><br />

Piauí desde janeiro de <strong>2011</strong>, alguns aspectos me chamaram a atenção no que diz respeito ao<br />

perfil profissional que o curso salienta como ideal para seus egressos. Interessei-me,<br />

especialmente, em investigar de que maneira(s) esse ensino está alia<strong>do</strong> ao conhecimento<br />

extra-sala de aula, relacionan<strong>do</strong>-o não só com o perfil <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s, mas também<br />

observan<strong>do</strong> a interação destes com o merca<strong>do</strong> de trabalho musical em Teresina. O impulso<br />

inicial de pesquisa surgiu de conversas com alunos e professores <strong>do</strong> curso, nas quais se<br />

menciona uma desconexão de usos entre o que se ensina na universi<strong>da</strong>de e o que se aplica<br />

efetivamente no cotidiano profissional <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s. Além de procurar compreender os<br />

possíveis motivos gera<strong>do</strong>res e/ou intensifica<strong>do</strong>res desse descompasso, julgo necessário<br />

também perguntar o que os <strong>do</strong>centes esperam e pretendem fazer no/com o curso. Com base<br />

nessas informações, o objetivo <strong>do</strong> trabalho, ain<strong>da</strong> em fase inicial, é realizar uma pesquisa<br />

básica com a intenção de levantar <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre essa reali<strong>da</strong>de, compreenden<strong>do</strong> aspectos<br />

característicos <strong>do</strong> contexto.<br />

O referencial teórico está sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> com base nas idéias de educa<strong>do</strong>res<br />

musicais consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>s nacionalmente e que apresentam, a ca<strong>da</strong> trabalho, contribuições<br />

significativas para a área (PENNA, 2007, 2008; MARINHO; QUEIROZ, 2005; MATEIRO,<br />

2009; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007). Para constituir o quadro de revisão bibliográfica,<br />

busquei trabalhos sobre Educação Musical que contemplem a ci<strong>da</strong>de de Teresina ou o Esta<strong>do</strong><br />

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2 OA N O S<br />

<strong>do</strong> Piauí, percebi que as questões trata<strong>da</strong>s em quase to<strong>do</strong>s os exemplos encontra<strong>do</strong>s giram em<br />

torno ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, como questões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> normatização e estruturação <strong>do</strong><br />

ensino <strong>da</strong> música nas escolas (FERNANDES, 2004) 1 , ou fazen<strong>do</strong> menção aos processos de<br />

cognição envolvi<strong>do</strong>s na formação musical <strong>da</strong>s crianças e jovens participantes ban<strong>da</strong>s de<br />

música (BENEDITO, 2008) 2 . A exceção, nesse senti<strong>do</strong>, é o trabalho de Ferreira Filho (2009),<br />

que contempla o assunto <strong>da</strong> pesquisa ao traçar um panorama histórico <strong>da</strong> Educação Musical<br />

no Piauí, engloban<strong>do</strong> atores <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental ao superior. Completan<strong>do</strong> as bibliografias,<br />

utilizo também três outros escritos que versam sobre análise de projetos político-pe<strong>da</strong>gógicos<br />

(PPP) em licenciaturas em música no Brasil (MATEIRO, 2009); saberes e competências<br />

compartilha<strong>do</strong>s entre o professor de música e o aluno que pretende ser um professor de<br />

música (REQUIÃO, 2002); e um artigo que fala sobre o perfil <strong>do</strong>s graduan<strong>do</strong>s em música <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba e procura discutir definições sobre a significação de valores<br />

e concepções musicais para esses discentes (BASTOS, 2009).<br />

A Educação Musical para educar o... professor!<br />

A Educação Musical, como área em ampla consoli<strong>da</strong>ção no Brasil, sobretu<strong>do</strong> nas<br />

últimas três déca<strong>da</strong>s, aponta aspectos com relação ao ensino <strong>da</strong> música e à formação <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r musical quase sempre relacionan<strong>do</strong> o contexto social com a sala de aula - e quem<br />

foi que disse que esses <strong>do</strong>is universos deveriam, algum dia, ter si<strong>do</strong> dissocia<strong>do</strong>s? Certamente,<br />

devemos sistematizar os processos ocorrentes em nossa socie<strong>da</strong>de para que seja possível<br />

aplicá-los, mas talvez tenhamos nos equivoca<strong>do</strong> quanto à definição sadia <strong>da</strong> palavra<br />

“organização”, resultan<strong>do</strong>, em parte, na fragmentação presente por muito tempo no ensino<br />

brasileiro – algo como um conjunto de gavetas, ca<strong>da</strong> qual com seu assunto; ca<strong>da</strong> assunto a ser<br />

trata<strong>do</strong> separa<strong>da</strong>mente. Atualmente, com base nas falas <strong>do</strong>s estudiosos sobre o assunto<br />

(PENNA, 2007; MATEIRO, 2003), a constatação de que essa fragmentação não é assim tão<br />

benéfica é bastante óbvia, já que não podemos compartimentar a vi<strong>da</strong>. Sen<strong>do</strong> assim,<br />

compartimentar o ensino também não deveria fazer senti<strong>do</strong>.<br />

1 FERNANDES, José Nunes. Normatização, estrutura e organização <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música nas escolas de<br />

educação básica <strong>do</strong> Brasil: LDBEN/96, PCN e currículos oficiais em questão. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre,<br />

n. 10, p. 75-87, 2004.<br />

2 BENEDITO, Celso. Curso de capacitação para Mestres de Filarmônicas: o prenúncio de uma proposta<br />

curricular para formação <strong>do</strong> mestre de ban<strong>da</strong>s de música. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL<br />

DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO, 18., 2008, Salva<strong>do</strong>r. <strong>Anais</strong>... Salva<strong>do</strong>r: 2008. Disponível em:<br />

http://www.anppom.com.br/anais/. Acesso em: 22 abr. 2001.<br />

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2 OA N O S<br />

Quer dizer que, nessa conversa de convergir e aliar, a discussão sobre a extinção <strong>do</strong><br />

ensino polivalente de artes caminha na direção contrária ao querer separar seus conteú<strong>do</strong>s? De<br />

maneira alguma. O caso <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong>s artes demonstra, historicamente, a gra<strong>da</strong>tiva predileção<br />

por uma <strong>da</strong>s frentes, que não é a música, em detrimento <strong>da</strong>s demais. O que a Lei 11.769/08 3<br />

ordena, ao colocar a música como conteú<strong>do</strong> obrigatório, porém não exclusivo, na aula de<br />

artes, é apenas uma “luz no fim desse túnel”, uma primeira vitória que deve ser comemora<strong>da</strong>,<br />

certamente, mas que não pode desviar-nos <strong>do</strong> foco, que é a delimitação <strong>da</strong> disciplina de<br />

música. Ca<strong>da</strong> frente de conhecimento deve demonstrar sua autonomia dentro <strong>do</strong> sistema de<br />

ensino, já que são áreas delimita<strong>da</strong>s. No entanto, e tão importante quanto, compreender que as<br />

fronteiras entre elas não são estanques parece ser o cerne desse processo de entendimento<br />

sobre aliar à sala de aula o contexto social e <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para não fazer confusões sobre o uso<br />

<strong>da</strong> polivalência.<br />

No ensino superior, a crescente migração <strong>da</strong>s habilitações em música presentes no<br />

curso de educação artística para a transformação em cursos específicos de música<br />

(MATEIRO, 2009, p.59) demonstra que as discussões sobre a reconfiguração <strong>da</strong> área de<br />

Educação Musical estão atingin<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s degraus iniciais de to<strong>do</strong> esse processo educacional:<br />

a formação <strong>do</strong> professor de música.<br />

Panorama atual <strong>do</strong> curso de Música <strong>da</strong> UFPI<br />

Assim como presenciamos, atualmente, as discussões acerca <strong>da</strong> Lei 11. 769/08,<br />

algumas leis anteriores implementaram justamente o que ela procura modificar. Em 1971, a<br />

disciplina de Educação Artística foi defini<strong>da</strong> como obrigatória nos ensinos fun<strong>da</strong>mental (atual<br />

educação básica) e médio pela Lei 5692/71. Data dessa época a criação de cursos de<br />

Licenciatura em Educação Artística com habilitações em quatro frentes de conhecimento<br />

artístico: Artes Cênicas, Artes Plásticas, Desenho e Música.<br />

Na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Piauí, a Licenciatura em Educação Artística nasceu em<br />

1977 4 e, tal como referi<strong>do</strong> acima, oferecia a habilitação em música até 2008 (PROJETO<br />

POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2009, p. 6). As turmas remanescentes dessa grade curricular 5<br />

encontram-se em fase de conclusão de curso e alguns estu<strong>da</strong>m a possibili<strong>da</strong>de de migração<br />

para a grade curricular atual, <strong>da</strong> qual falarei adiante.<br />

3 Altera a LDB 9394/96, que, no § 2 <strong>do</strong> Art. 26., diz que a arte deve ser componente obrigatório na educação<br />

básica, a fim de promover o desenvolvimento cultural <strong>do</strong>s alunos, sem especificação de conteú<strong>do</strong>.<br />

4 Resolução nº 01/77 CCE/UFPI, CONSUM.<br />

5 A última ingressou em 2008.1, portanto, forma-se, no mínimo, em <strong>2011</strong>.2 e, no máximo, em 2012.2.<br />

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O recorte <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong> se aterá às características <strong>do</strong> curso a partir <strong>do</strong> primeiro<br />

semestre de 2009, quan<strong>do</strong> os aprova<strong>do</strong>s no vestibular passaram a ingressar num curso de<br />

Música, e não mais em Educação Artística com habilitação em Música. O PPP desse novo<br />

curso, aprova<strong>do</strong> em 22 de junho de 2009, apresentava, como titulação acadêmica <strong>do</strong>s<br />

egressos, a formação de “Licencia<strong>do</strong> em Música”. O ensino superior em música no Esta<strong>do</strong><br />

acontece apenas na UFPI, e atende a deman<strong>da</strong> de Teresina e <strong>da</strong> Região Integra<strong>da</strong> de<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Grande Teresina 6 .<br />

A aprovação <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> projeto demonstrou que o curso já havia inicia<strong>do</strong> sua<br />

trajetória em direção a um delineamento condizente com as discussões atuais <strong>da</strong> Educação<br />

Musical. Nesse ínterim, há, ain<strong>da</strong>, outro importante aspecto a ser menciona<strong>do</strong>: na UFPI, e a<br />

exemplo <strong>do</strong> que acontece em outras licenciaturas em música, como a <strong>da</strong> UFPB (QUEIROZ;<br />

MARINHO, 2005), a UFG e a UFMG (MATEIRO, 2009, p. 65), observa-se que a formação<br />

ofereci<strong>da</strong> tem procura<strong>do</strong> aliar ao embasamento musico-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> licenciatura a<br />

habilitação em instrumento. Isso se deve a vários fatores, grande parte justifica<strong>do</strong>s pelo<br />

remodelamento <strong>do</strong> campo de atuação profissional <strong>do</strong> músico que, ca<strong>da</strong> vez mais, abrange<br />

aspectos além <strong>do</strong>s inerentes a saber <strong>da</strong>r aulas de música ou <strong>do</strong>minar um instrumento. O que<br />

vários autores demonstram em suas falas é que tanto as possibili<strong>da</strong>des quanto os deveres<br />

aumentaram significativamente (REQUIÃO, 2002; CAJAZEIRA; OLIVEIRA, 2007;<br />

BASTOS, 2009).<br />

Observan<strong>do</strong> essas mu<strong>da</strong>nças, o PPP (2009) de Música <strong>da</strong> UFPI dá ao aluno a opção<br />

de escolher um <strong>do</strong>s instrumentos contempla<strong>do</strong>s pelas titulações <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente – violão,<br />

piano, violino, canto. Composição e regência também estão entre as titulações <strong>do</strong>s<br />

professores, mas não são ofereci<strong>da</strong>s como habilitações.<br />

O que se constata, contu<strong>do</strong>, é que o perfil <strong>da</strong>s pessoas que ingressam no curso é<br />

varia<strong>do</strong>: apenas uma parcela se dedica exclusivamente a um <strong>do</strong>s instrumentos contempla<strong>do</strong>s<br />

pelas habilitações. Noutros casos, o estu<strong>da</strong>nte toca <strong>do</strong>is instrumentos – o <strong>da</strong> habilitação e<br />

outro, fora <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. Existe, ain<strong>da</strong>, o grupo que não toca nenhum instrumento <strong>do</strong>s<br />

oferta<strong>do</strong>s pela universi<strong>da</strong>de, relegan<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> deste somente aos momentos restritos aos<br />

muros universitários, e, fora deles, toca outro(s) instrumento(s), como é o caso de alguns<br />

bateristas, percussionistas, trompetistas, trombonistas, guitarristas, baixistas e cavaquinistas,<br />

por exemplo. Essa “vi<strong>da</strong> dupla” gera um sentimento de insatisfação em alguns estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Segun<strong>do</strong> relatos informais de alguns deles, a prática <strong>do</strong> “instrumento de universi<strong>da</strong>de” fica em<br />

6 Composta pelos municípios de Altos, Beneditinos, Coivaras, Curralinhos, Demerval Lobão, José de Freitas,<br />

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segun<strong>do</strong> plano porque em seu trabalho pela ci<strong>da</strong>de e em seu interesse pessoal, o(s) outro(s)<br />

instrumento(s) (em geral, executa<strong>do</strong> a mais tempo) é o que, de fato merece sua atenção e<br />

dedicação. Tem-se, então uma problemática dupla: o “instrumento de universi<strong>da</strong>de”, para<br />

alguns, significará um aprendiza<strong>do</strong> não prazeroso e, por vezes, até prejudicial às suas carreiras<br />

musicais. Além disso, o fato de não se ter um ensino superior no instrumento de real interesse<br />

faz com que o aproveitamento <strong>do</strong> curso seja reduzi<strong>do</strong>, haja vista que as disciplinas práticas<br />

terão um foco diferente <strong>do</strong> almeja<strong>do</strong> pelo estu<strong>da</strong>nte.<br />

Frente à necessi<strong>da</strong>de eminente de ampliação desse quadro, o PPP foi reformula<strong>do</strong> em<br />

2010 e tem previsão de implantação ain<strong>da</strong> em <strong>2011</strong>. Revisto pela mesma equipe <strong>do</strong>cente, ele<br />

prevê, além <strong>da</strong>s habilitações já menciona<strong>da</strong>s, também titulação em: viola, violoncelo,<br />

contrabaixo, saxofone, flauta <strong>do</strong>ce, trompete, trompa, trombone, bombardino, tuba, flauta<br />

transversal, oboé, clarinete, fagote e percussão. Funcionará <strong>da</strong> seguinte forma: por ano, são<br />

disponibiliza<strong>da</strong>s quarenta vagas, distribuí<strong>da</strong>s entre as quatro habilitações contempla<strong>da</strong>s no<br />

curso. Caso nem to<strong>da</strong>s sejam preenchi<strong>da</strong>s, o PPP prevê que<br />

[...] as vagas [...] [que sobrarem] serão redistribuí<strong>da</strong>s conforme a<br />

oferta de práticas instrumentais em novos instrumentos; isto é, as 40<br />

vagas se dividirão igualmente pelo número total <strong>do</strong>s instrumentos cujo<br />

ensino possa ser ofereci<strong>do</strong>. Por exemplo, se houver a possibili<strong>da</strong>de de<br />

se disponibilizar práticas instrumentais em 8 instrumentos diferentes,<br />

as vagas serão distribuí<strong>da</strong>s na proporção de 5 para ca<strong>da</strong> opção<br />

instrumental. A oferta de ensino em instrumentos diferentes <strong>da</strong>queles<br />

ora realiza<strong>da</strong> (piano, canto, violão e violino) estará, é claro,<br />

condiciona<strong>da</strong> à contratação de novos professores especializa<strong>do</strong>s nos<br />

novos instrumentos (PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO, 2010, p.<br />

35).<br />

Ou seja: no PPP prestes a entrar em vigor, novas habilitações estão previstas;<br />

contu<strong>do</strong>, seu implemento depende <strong>da</strong> contratação <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s professores. A titulação <strong>do</strong><br />

egresso desse curso será, ain<strong>da</strong>, a de “Licencia<strong>do</strong> em Música”, com a diferença de acrescer ao<br />

título a frase “com habilitação em [instrumento]”.<br />

Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Além <strong>da</strong> pesquisa bibliográfica, já referi<strong>da</strong> anteriormente; a meto<strong>do</strong>logia conta<br />

também com a pesquisa <strong>do</strong>cumental, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ênfase ao PPP <strong>do</strong> curso; e com a observação<br />

Lagoa Alegre, Lagoa <strong>do</strong> Piauí, Miguel Leão, Monsenhor Gil e União, no Piauí; e por Timon, no Maranhão.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

participante, tanto nos momentos em que eu estiver em sala com os discentes, quanto quan<strong>do</strong><br />

realizar a coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s diretamente com eles e com os professores.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s a serem informa<strong>do</strong>s pelo corpo <strong>do</strong>cente (7 professores efetivos e 1<br />

substituto – não contan<strong>do</strong> comigo) serão obti<strong>do</strong>s por meio de entrevistas individuais,<br />

esclarecen<strong>do</strong> aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>do</strong> curso e an<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s implementos. A administração<br />

está contempla<strong>da</strong> no corpo <strong>do</strong>cente na figura <strong>do</strong> Professor Cássio Martins que é também o<br />

coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> curso.<br />

A amostragem <strong>do</strong> corpo discente pretende contemplar 20 alunos por ano de ingresso<br />

(50% <strong>do</strong> total), totalizan<strong>do</strong> 80 pessoas. A fim de investigar as relações entre os diversos<br />

mun<strong>do</strong>s musicais presentes no contexto, a coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s acontecerá <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

• Entrevista com 5 alunos de ca<strong>da</strong> grupo de 20;<br />

• Questionário para os 60 indivíduos restantes.<br />

As entrevistas serão utiliza<strong>da</strong>s para que <strong>da</strong><strong>do</strong>s qualitativos delinea<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s grupos<br />

sejam cruza<strong>do</strong>s com <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos <strong>do</strong> panorama geral extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong>s questionários,<br />

fornecen<strong>do</strong>, dessa maneira, resulta<strong>do</strong>s rigorosamente mais fiéis ao contexto.<br />

Os questionários a serem aplica<strong>do</strong>s são dividi<strong>do</strong>s em três partes: <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos<br />

a respeito <strong>do</strong> curso e <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de escolhi<strong>da</strong>; opinião <strong>do</strong>s graduan<strong>do</strong>s sobre gêneros musicais<br />

e sua utilização dentro e/ou fora <strong>do</strong> contexto acadêmico através <strong>da</strong> indicação de adjetivos; e,<br />

por fim, compreensão <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes sobre elementos musicais diversos encontra<strong>do</strong>s em<br />

obras musicais de diferentes perío<strong>do</strong>s.<br />

Em suma, serão 28 pessoas investiga<strong>da</strong>s através de entrevistas e 60 pessoas<br />

investiga<strong>da</strong>s por questionário.<br />

A fase de análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s contemplará a catalogação <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>. A partir<br />

de então, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong>s questionários serão quantifica<strong>do</strong>s a fim de obter, ain<strong>da</strong> que de maneira<br />

panorâmica, o delineamento <strong>do</strong> pensamento ocorrente entre os estu<strong>da</strong>ntes; e as entrevistas<br />

passarão por transcrição e posterior análise, a qual utilizará como base a análise <strong>da</strong><br />

conversação e <strong>da</strong> fala 7 (MYERS, 2002), e a análise de discurso 8 (GILL, 2002).<br />

7 Tipo de análise na qual procuram-se decifrar os padrões comportamentais, bem como afirmações atribuí<strong>da</strong>s a<br />

grupos e tipos de ativi<strong>da</strong>de específicos.<br />

8 Tipo de análise que procura revelar aspectos fun<strong>da</strong>mentais que constituem a dimensão ideológica e política <strong>da</strong>s<br />

argumentações consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s no processo discursivo de pessoas num determina<strong>do</strong> contexto.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Outro aspecto importante a ser menciona<strong>do</strong> no cruzamento dessas informações é a<br />

atuação que a própria IES 9 possui no processo de consoli<strong>da</strong>ção de um curso de formação<br />

superior. Devemos lembrar que uma parcela considerável de decisões toma<strong>da</strong>s dentro de uma<br />

coordenação de curso passa por instâncias outras que vão além <strong>da</strong> reunião de professores ou<br />

<strong>da</strong> reivindicação <strong>do</strong>s discentes. Espero compreender o perfil <strong>do</strong> curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>da</strong> UFPI através <strong>da</strong> observação <strong>da</strong> atuação conjunta dessas três frentes – professores,<br />

alunos, administração.<br />

Considerações<br />

Observar e analisar os processos de interação entre o PPP e a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> curso<br />

universitário de música <strong>da</strong> UPFI significa não só compreender alguns valores e concepções<br />

inerentes ao processo de formação, mas também se configura em mais uma opção para<br />

vislumbrar possíveis adequações que visem a melhoria <strong>do</strong> ensino ofereci<strong>do</strong> e/ou para <strong>da</strong>r<br />

ênfase a aspectos que já funcionam nesse contexto. O curso é bastante “jovem”, e o caminho<br />

de sua consoli<strong>da</strong>ção qualitativa deve ser o mesmo a ser trilha<strong>do</strong> pela aplicabili<strong>da</strong>de efetiva na<br />

carreira <strong>do</strong>s indivíduos que o buscam como alternativa de formação musical profissional no<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Piauí.<br />

9 Instituto de Ensino Superior.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BASTOS, Juliana. A visão <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> graduação em música <strong>da</strong> UFPB sobre<br />

concepções e valores musicais. In: FÓRUM PARAIBANO DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 2.,<br />

2009, João Pessoa. <strong>Anais</strong>... João Pessoa: 2009. Disponível em:<br />

http://ufpi.academia.edu/JulianaCarlaBastos/. Acesso em: 22 abr.<strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Presidência <strong>da</strong> República. Lei no 5.692, de 11 de agosto de 1971. Estabelece<br />

diretrizes para o ensino de 1° e 2º graus. Brasília, 1971. Disponível em:<br />

. Acesso em: 22<br />

abr. <strong>2011</strong>.<br />

______. Presidência <strong>da</strong> República. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as<br />

diretrizes e bases <strong>da</strong> educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em:<br />

. Acesso em: 22<br />

abr. <strong>2011</strong>.<br />

CAJAZEIRA, Regina; OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. Educação Musical no Brasil. Salva<strong>do</strong>r: P&A, 2007.<br />

FERREIRA FILHO, João Valter. História e memória <strong>da</strong> Educação Musical no Piauí: <strong>da</strong>s<br />

primeiras iniciativas à universi<strong>da</strong>de. 2009. 222 p. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação) -<br />

Centro de Ciências <strong>da</strong> Educação, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Piauí (UFPI), Teresina, 2009.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em: 22 abr. <strong>2011</strong>.<br />

GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa<br />

qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Tradução de Pedrinho A.<br />

Guareschi. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 244-269.<br />

MARINHO, Vanil<strong>do</strong> Mousinho; QUEIROZ, Luis Ricar<strong>do</strong> Silva (Orgs.). Contexturas: o<br />

ensino <strong>da</strong>s artes em diferentes espaços. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2005.<br />

MATEIRO, Teresa <strong>da</strong> Assunção Novo. O comprometimento reflexivo na formação <strong>do</strong>cente.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 8, p. 33-38, 2003.<br />

______. Uma análise de projetos pe<strong>da</strong>gógicos de licenciatura em música. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>,<br />

Porto Alegre, n. 22, p. 57-66, 2009.<br />

MYERS, Greg. Análise <strong>da</strong> conversação e <strong>da</strong> fala. In: BAUER, Martin W.; GASKELL,<br />

George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Tradução de<br />

Pedrinho A. Guareschi. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 271-292.<br />

PENNA, Maura. Não basta tocar? Discutin<strong>do</strong> a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 16, p. 49-56, 2007.<br />

______. Músicas e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

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2 OA N O S<br />

Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso de Graduação em Música, Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de Licenciatura, <strong>do</strong><br />

Centro de Ciências <strong>da</strong> Educação, Campus Universitário Petrônio Portela, Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal <strong>do</strong> Piauí. Teresina, junho 2009.<br />

Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso de Graduação em Música, Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de Licenciatura, <strong>do</strong><br />

Centro de Ciências <strong>da</strong> Educação, Campus Universitário Petrônio Portela, Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal <strong>do</strong> Piauí. Teresina, 2010.<br />

REQUIÃO, Luciana Pires de Sá. Saberes e competências no âmbito <strong>da</strong>s escolas de música<br />

alternativas: a ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> músico-professor na formação profissional <strong>do</strong> músico.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 7, p. 59-67, 2002.<br />

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2 OA N O S<br />

A utilização <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> “O Passo” em aulas de Solfejo no Conservatório de<br />

Música D’alva Stella Nogueira Freire<br />

Alexandre Milne-Jones Náder Filho 1<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

amjnader@gmail.com<br />

Evandro Hallyson Dantas Pereira 2<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

hallyson<strong>da</strong>ntas@hotmail.com<br />

Resumo: A utilização de diferentes formas de ensino na abor<strong>da</strong>gem de aspectos musicais tem<br />

suscita<strong>do</strong> distintas possibili<strong>da</strong>des de assimilação e internalização de questões referentes à<br />

música como pulso, acento, compasso etc. Acreditan<strong>do</strong> que essas formas de ensino podem<br />

estender suas contribuições para além <strong>do</strong>s contextos que foram propostos, o presente trabalho<br />

tem por objetivo apresentar e analisar as ativi<strong>da</strong>des práticas pe<strong>da</strong>gógico musicais<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s por mim numa turma de solfejo I <strong>do</strong> Conservatório de Música D´alva Stella<br />

Nogueira Freire utilizan<strong>do</strong> em algumas ativi<strong>da</strong>des o méto<strong>do</strong> O’PASSO <strong>do</strong> professor Lucas<br />

Ciavatta, desenvolvi<strong>do</strong> principalmente para auxiliar o aprendiza<strong>do</strong> de música em escolas<br />

regulares de ensino. A partir dessa experiência foi possível perceber, que as ativi<strong>da</strong>des de<br />

execução rítmica através <strong>do</strong> PASSO, as práticas de solfejo e execução se retroalimentam<br />

fornecen<strong>do</strong> um auxílio mútuo entre as ativi<strong>da</strong>des. Com relação ao contexto de ensino, vemos<br />

que mesmo tratan<strong>do</strong> de um repertório específico, o ensino de música erudita, esses espaços<br />

especializa<strong>do</strong>s de ensino podem melhorar suas estratégias pe<strong>da</strong>gógicas através <strong>da</strong> utilização<br />

de diferentes formas de trabalhar aspectos musicais.<br />

Palavras-chave: movimento expressivo, aula de música, solfejo.<br />

Introdução<br />

A educação musical, a partir <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong>s diversos locais em que ocorre o<br />

ensino e aprendizagem de música, tem se volta<strong>do</strong> a compreender como os processos de ensino<br />

utiliza<strong>do</strong>s em diferentes espaços podem dialogar com práticas musicais efetiva<strong>da</strong>s em espaços<br />

como as escolas regulares de ensino e conservatórios de música. Neste senti<strong>do</strong>, várias<br />

pesquisas tem se volta<strong>do</strong> para análise <strong>da</strong>s estratégias <strong>do</strong> ensino de música utiliza<strong>da</strong>s em<br />

diversos contextos e seus principais objetivos.<br />

Nessa perspectiva Brito (2002) comenta que:<br />

É ca<strong>da</strong> vez maior o número de projetos - subvenciona<strong>do</strong>s por instituições<br />

diversas - volta<strong>do</strong>s à educação, ampliação <strong>do</strong> universo cultural, capacitação<br />

para o trabalho etc, envolven<strong>do</strong> crianças e jovens <strong>do</strong> país. O Terceiro Setor<br />

1 Prof. Ms. <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN e orienta<strong>do</strong>r <strong>da</strong> pesquisa.<br />

2 Graduan<strong>do</strong> em Música pela Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN.<br />

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vem desempenhan<strong>do</strong> um importante papel ao proporcionar experiências e<br />

formação em áreas diversas, complementan<strong>do</strong> o papel <strong>da</strong> escola e – mesmo -<br />

suprin<strong>do</strong> lacunas presentes nos desenhos curriculares. Neste contexto,<br />

contamos com iniciativas diversas relaciona<strong>da</strong>s à educação musical que, por<br />

vezes, priorizam um ou outro aspecto: a prática de orquestra, os ritmos<br />

brasileiros e a percussão, a música popular, o hip-hop, o canto coral etc<br />

(BRITO, 2002, s.p).<br />

A busca por novas meto<strong>do</strong>logias de ensino na área <strong>da</strong> educação musical tem refleti<strong>do</strong><br />

em importantes discussões a respeito <strong>da</strong> ampliação e elaboração de formas de ensino que<br />

contribuam de forma efetiva no processo de aprendizagem musical. Nesta perspectiva, a<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica em diversos contextos tem possibilita<strong>do</strong> novas formas de se ensinar, como<br />

também novas formas de se aprender. Com vistas a essas novas possibili<strong>da</strong>des, as maneiras de<br />

se pensar em ações meto<strong>do</strong>lógicas e até mesmo sua a<strong>da</strong>ptação para determina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,<br />

necessita que o educa<strong>do</strong>r, enquanto facilita<strong>do</strong>r de conhecimentos, esteja habilita<strong>do</strong> a essa<br />

prática para facilitar o processo de aquisição <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> (ESPERIDIÃO,<br />

2002; ARROYO, 2001).<br />

Com referência a esse tipo de prática, Lima (2002) comenta essa prática seja:<br />

[...] uma educação musical que aborde princípios teóricos, técnicos e<br />

práticos <strong>da</strong> música, com vistas a formação de indivíduos capazes de<br />

estabelecer relações entre os conhecimentos musicais, suas potenciali<strong>da</strong>des e<br />

o meio em que vivem, a partir de uma intervenção contextualiza<strong>da</strong> dialógica<br />

e dinâmica. Partimos <strong>do</strong> principio de uma educação para a vi<strong>da</strong>, não<br />

encaran<strong>do</strong>-a como um mero acúmulo de informações e habili<strong>da</strong>des práticas<br />

(LIMA, 2002. s.p.).<br />

Existem discussões a respeito <strong>da</strong>s estratégias de ensino musical contemporâneo, na<br />

qual também é leva<strong>da</strong> em consideração to<strong>da</strong> uma série de conhecimentos já adquiri<strong>do</strong>s pelo<br />

indivíduo que está participan<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho. Esse conhecimento adquiri<strong>do</strong> em seu cotidiano<br />

faz dele um ser que tenha condições de desempenhar inúmeras ativi<strong>da</strong>des.<br />

Podemos tomar como exemplo a pulsação de uma música. Por mais que um indivíduo<br />

não seja músico, ele consegue facilmente marcar a pulsação com o pé ou até mesmo com a<br />

mão. Isso acontece às vezes sem nem sentir. É uma ação “involuntária” que é desenvolvi<strong>da</strong> de<br />

dentro para fora.<br />

Essas experiências adquiri<strong>da</strong>s, muitas vezes são estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, discuti<strong>da</strong>s e até<br />

sistematiza<strong>da</strong>s, de forma a ser compreendi<strong>da</strong> numa determina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, fazen<strong>do</strong> com que<br />

novas possibili<strong>da</strong>des de se ensinar sejam elabora<strong>da</strong>s.<br />

A existência de méto<strong>do</strong>s que auxiliam no processo de ensino aprendizagem indica<br />

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caminhos e possibili<strong>da</strong>des para desenvolver determina<strong>da</strong>s práticas. Muitas vezes é necessário<br />

que se façam a<strong>da</strong>ptações para determina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de/situação, pois, os méto<strong>do</strong>s não são<br />

embasa<strong>do</strong>s em regras fixas pré-estabeleci<strong>da</strong>s, mas, apresentam formas para desenvolver ações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

Trataremos de apresentar nesse texto os fun<strong>da</strong>mentos teórico-práticos <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> “O<br />

Passo” e a sua utilização nas aulas de solfejo em uma escola especializa<strong>da</strong> em música.<br />

A união de movimento, corpo e ritmo fazem <strong>do</strong> Passo um referencial meto<strong>do</strong>lógico<br />

propício para qualquer contexto, pois, a prática <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> não necessita de instrumentos<br />

musicais, mas, apenas o corpo e a voz. Segun<strong>do</strong> Ciavatta, cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>:<br />

O Passo não trabalha visan<strong>do</strong> este ou aquele tipo de realização. Ele trabalha<br />

com a construção de uma base, algo que traz inúmeras possibili<strong>da</strong>des e abre<br />

uma porta, não apenas para os ritmos e os sons, mas para a rítmica como um<br />

to<strong>do</strong> e para uma real aproximação com o universo sonoro. O Passo surge em<br />

resposta ao processo altamente seletivo <strong>do</strong> acesso à prática musical tanto nos<br />

espaços acadêmicos quanto nos espaços populares. Sua maior inspiração<br />

veio <strong>da</strong> riqueza <strong>do</strong> fazer musical popular brasileiro, principalmente no que<br />

diz respeito à relação corpo e música no processo de aquisição <strong>do</strong> suingue.<br />

(CIAVATTA, 02/04/11) 3<br />

A partir dessa prática <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, podemos pensar numa varie<strong>da</strong>de de formas didáticas<br />

e pe<strong>da</strong>gógicas para desenvolver a prática musical de forma diferencia<strong>da</strong> <strong>do</strong> tradicional,<br />

buscan<strong>do</strong> eficácia no trabalho desenvolvi<strong>do</strong>.<br />

O Méto<strong>do</strong> está embasa<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is princípios, o de inclusão e autonomia.<br />

Em se tratan<strong>do</strong> de inclusão no Passo Ciavatta comenta sobre esse aspecto que “só<br />

estamos de fato incluí<strong>do</strong>s num determina<strong>do</strong> fazer musical quan<strong>do</strong> somos afeta<strong>do</strong>s por ele e,<br />

principalmente, quan<strong>do</strong> o afetamos 4 ”.<br />

Essa ideia de inclusão passa a ser ver<strong>da</strong>deira não somente quan<strong>do</strong> fazemos as<br />

ativi<strong>da</strong>des propostas pelo méto<strong>do</strong> como bater palmas, marcar o pulso com os pés, mas,<br />

quan<strong>do</strong> há uma reciproci<strong>da</strong>de no fazer musical, no resulta<strong>do</strong> coletivo <strong>da</strong> prática musical que<br />

fora interferi<strong>do</strong> pelo nosso fazer.<br />

Já no fator autonomia, Ciavatta comenta que a prática coletiva propicia uns aos outros<br />

não uma forma de sempre estar esperan<strong>do</strong> um pelo outro na hora <strong>da</strong> prática musical, mas,<br />

estar sempre atento e verificar se o erro existe. Se isso ocorrer, a própria percepção <strong>do</strong><br />

3 Texto extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> site: www.opasso.com.br<br />

4 Texto extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> site: www.opasso.com.br<br />

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indivíduo faz com que ele se enquadre dentro <strong>do</strong>s eixos que fun<strong>da</strong>mentam aquela ativi<strong>da</strong>de<br />

prática.<br />

Ativi<strong>da</strong>des<br />

O méto<strong>do</strong> propõe a utilização <strong>do</strong> ritmo e <strong>da</strong> melodia para a construção musical. No<br />

que diz respeito ao desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas de solfejo I 5 no Conservatório de Música,<br />

apresentaremos como são desenvolvi<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des e os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em um mês e<br />

meio de trabalho fazen<strong>do</strong> o uso de proposta meto<strong>do</strong>lógica melódica <strong>do</strong> Passo.<br />

Não existe no méto<strong>do</strong> uma hierarquização de qual estu<strong>do</strong> vem primeiro, se o rítmico<br />

ou o melódico, mas, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de é que se faz a utilização <strong>da</strong> proposta.<br />

No méto<strong>do</strong>, é apresenta<strong>do</strong> um esquema no qual deve ser inicia<strong>do</strong> com a escala<br />

diatônica maior. Esse esquema é uma sequência de números que devem ser canta<strong>do</strong>s sempre<br />

fazen<strong>do</strong> referência a uma sequência base. Segue abaixo o esquema apresenta<strong>do</strong> pelo méto<strong>do</strong>:<br />

Com base nesse gráfico, foi utiliza<strong>do</strong> inicialmente nas aulas de solfejo apenas três sons<br />

(dó, ré e mi) sen<strong>do</strong> estes substituí<strong>do</strong>s pelos números 1, 2 e 3, como mostra a figura 2:<br />

5 Aulas realiza<strong>da</strong>s semanalmente com duração de 1:30 min.<br />

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Durante o processo de cantar, houve problemas de afinação <strong>do</strong>s intervalos, pois, como<br />

havia variação numérica, os alunos não conseguiam afinar a diferença entre eles, e também<br />

por ser o primeiro contato com música no senti<strong>do</strong> de solfejar melodias, muito embora simples.<br />

Após algumas repetições, fora consegui<strong>do</strong> alcançar o objetivo.<br />

Foram inseri<strong>do</strong>s mais <strong>do</strong>is novos sons (fá e sol) como mostra a figura 3. A dificul<strong>da</strong>de<br />

aumentou, fazen<strong>do</strong> com que as relações de altura se tornassem um novo entrave. Contu<strong>do</strong>, a<br />

relação de graus conjuntos que foi elabora<strong>do</strong> propositalmente com a finali<strong>da</strong>de de se<br />

conseguir uma melhor afinação, surtiu um bom resulta<strong>do</strong>, e aos poucos as variações foram<br />

sen<strong>do</strong> inseri<strong>da</strong>s, dificultan<strong>do</strong> o processo e fazen<strong>do</strong> com que houvesse o despertar <strong>da</strong><br />

assimilação de diferentes alturas mais distantes, diferentemente de quan<strong>do</strong> havia apenas três<br />

sons.<br />

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2 OA N O S<br />

O bom resulta<strong>do</strong> consegui<strong>do</strong> de forma rápi<strong>da</strong> e eficiente fez com que ultrapassássemos<br />

a inserção <strong>da</strong>s duas últimas notas finais, fazen<strong>do</strong> com que usássemos a escrita tradicional. Em<br />

se tratan<strong>do</strong> de ritmo, foi proposta uma ativi<strong>da</strong>de que substituísse sinais alternativos pelas<br />

figuras. Contu<strong>do</strong>, a leitura de partituras utilizan<strong>do</strong> figuras como semínima e colcheia e<br />

intervalos com salto de até quarta facilitasse o processo de cantar bem como a interpretação<br />

<strong>da</strong> codificação musical com melodias simples.<br />

Em conjunto com o processo de musicalização por meio de solfejo melódico, são<br />

utiliza<strong>do</strong>s ain<strong>da</strong> movimentos corporais e células rítmicas. Em algumas vezes são forma<strong>do</strong>s<br />

grupos na sala onde ca<strong>da</strong> um deles faz uma célula diferente de um determina<strong>do</strong> ritmo, que,<br />

quan<strong>do</strong> é executa<strong>do</strong> em conjunto, percebemos o envolvimento de to<strong>da</strong> a turma.<br />

No tocante às duas ativi<strong>da</strong>des, sempre que vamos realizar os exercícios melódicos ou<br />

rítmicos, sempre fazemos aquecimentos vocais e alongamento corporal, haja vista a<br />

importância desse tipo de ativi<strong>da</strong>de, prevenin<strong>do</strong> qualquer tipo de lesão ao aluno.<br />

Considerações<br />

As pesquisas na área <strong>da</strong> educação musical têm contribuí<strong>do</strong> de forma efetiva para a<br />

implementação de propostas meto<strong>do</strong>lógicas no senti<strong>do</strong> de sanar problemas advin<strong>do</strong>s de<br />

diversas situações. A dialética nas áreas afins com a música tem promovi<strong>do</strong> impactos<br />

relevantes no senti<strong>do</strong> de fornecer possibili<strong>da</strong>des prático-meto<strong>do</strong>lógicas, almejan<strong>do</strong> um bom<br />

resulta<strong>do</strong> na prática musical.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o ensino musical tem ganha<strong>do</strong> novo formato, possibilitan<strong>do</strong> novas<br />

formas de ensino e aprendizagem, pois, o educa<strong>do</strong>r enquanto facilita<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conhecimento está<br />

ca<strong>da</strong> vez mais capacita<strong>do</strong> para desenvolver meto<strong>do</strong>logias de acor<strong>do</strong> com a necessi<strong>da</strong>de de<br />

uma reali<strong>da</strong>de.<br />

Os materiais didáticos que auxiliam a prática <strong>do</strong>cente têm enorme contribuição nessa<br />

prática, pois auxiliam de forma a explanar maneiras de se li<strong>da</strong>r com determina<strong>da</strong>s situações, e<br />

a partir <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> professor, é elabora<strong>da</strong> a devi<strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia.<br />

Diante dessa situação, o méto<strong>do</strong> O Passo foi elabora<strong>do</strong> com o objetivo de possibilitar<br />

novos caminhos ao aluno que está sen<strong>do</strong> envolto por essa prática.<br />

Com vistas ao estu<strong>do</strong> em foco, é percebi<strong>do</strong> nos alunos o rápi<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> que o méto<strong>do</strong><br />

tem propicia<strong>do</strong>, fomentan<strong>do</strong> o fazer musical de forma prática e lúdica, estimulan<strong>do</strong> o aluno.<br />

Ain<strong>da</strong> não podemos apresentar resulta<strong>do</strong>s concretos, ten<strong>do</strong> em vista que as ativi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong>s aulas de solfejo têm uma carga horária de 60h/a e apenas 15h/a foram realiza<strong>da</strong>s.<br />

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2 OA N O S<br />

Contu<strong>do</strong>, podemos afirmar que o méto<strong>do</strong> tem ofereci<strong>do</strong> bons resulta<strong>do</strong>s em curto<br />

espaço de tempo e espera-se que ao final <strong>do</strong> curso o desempenho seja satisfatório.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ARROYO, Margarete. Música popular em um Conservatório de Música. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>,<br />

Porto Alegre, V. 6, 59-67, set. 2001.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Uma passo a mais: educação mucial como parte de um projeto de<br />

educação complementar. In: <strong>Encontro</strong> anual <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical,<br />

XI., 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... s.p..<br />

CIAVATTA, Lucas. O Passo: princípios d’o passo. s.d.. Disponível em:<br />

http://www.opasso.com.br/. Acesso em: 02/04/<strong>2011</strong>.<br />

ESPERIDIÃO, Neide. Educação profissional: reflexões sobre o currículo e a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong>s conservatórios. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 7, 69-74, set. 2002.<br />

LIMA, Maria Helena de. Projeto Música & ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia: uma proposta de movimento. In:<br />

<strong>Encontro</strong> anual <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical, XI., 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... s.p.<br />

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2 OA N O S<br />

A Criação Musical na iniciação coletiva ao violão à luz <strong>da</strong> Teoria de<br />

Aprendizagem Musical de Gor<strong>do</strong>n.<br />

Marcelo Mateus de Oliveira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

marcelomateus@ufc.br<br />

Elvis de Azeve<strong>do</strong> Matos<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

elvis@ufc.br<br />

Resumo: Esta pesquisa em an<strong>da</strong>mento faz parte de uma pesquisa de mestra<strong>do</strong> em Educação<br />

Brasileira e pretende observar o papel <strong>da</strong> criação musical em contextos coletivos durante a<br />

iniciação ao violão. Muitas publicações citam a importância <strong>da</strong> criação musical no<br />

desenvolvimento musical/humano <strong>do</strong> sujeito mas há uma carência quanto a utilização desta<br />

ativi<strong>da</strong>de como ferramenta pe<strong>da</strong>gógica em contextos coletivos na iniciação ao instrumento,<br />

em nosso caso o violão. Nos apoiamos na Teoria <strong>da</strong> Aprendizagem Musical de Edwin<br />

Gor<strong>do</strong>n, que utiliza categorias como “audiação”, “criação”, “improvisação”, ten<strong>do</strong> como foco<br />

de observação a aprendizagem <strong>do</strong> sujeito. É uma pesquisa de cunho qualitativo, utilizan<strong>do</strong> a<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de pesquisa-ação. Utilizará como instrumento de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s o registro <strong>do</strong>s<br />

encontros em vídeo, diário de campo e relatórios coletivos.<br />

Palavras-chave: Criação, Aprendizagem Musical, Iniciação Coletiva.<br />

Introdução<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII, Jean-Jacques Rousseau já nos apontava a importância<br />

<strong>da</strong> criação musical quan<strong>do</strong> afirmou que “(...) para bem saber a música, não basta executá-la, é<br />

preciso compor, e uma coisa se deve aprender com a outra, sem o que jamais a saberemos<br />

bem.” (ROUSSEAU, 2004, p.188) Keith Swanwick, no século XX, corrobora com Rousseau<br />

ao afirmar que:<br />

Uma vez que a composição permite mais toma<strong>da</strong>s de decisão ao participante,<br />

proporciona mais abertura para a escolha cultural. A composição é, portanto,<br />

uma necessi<strong>da</strong>de educacional [grifo nosso], não uma ativi<strong>da</strong>de opcional<br />

para ser desenvolvi<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> o tempo permite. Ela dá ao aluno uma<br />

oportuni<strong>da</strong>de para trazer suas próprias idéias à microcultura <strong>da</strong> sala de aula,<br />

fundin<strong>do</strong> a educação formal com a “música de fora”. Os professores, então,<br />

tornam-se conscientes não somente <strong>da</strong>s tendências musicais <strong>do</strong>s alunos, mas<br />

também, até certo ponto, de seus mun<strong>do</strong>s social e pessoal. (SWANWICK,<br />

2003, p.68)<br />

O exercício <strong>da</strong> criação, portanto, parece permitir o desenvolvimento de uma<br />

característica musical particular, um produto <strong>da</strong> “personali<strong>da</strong>de” musical <strong>do</strong> sujeito. Essa<br />

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2 OA N O S<br />

característica pessoal exterioriza<strong>da</strong> através <strong>do</strong> fazer artístico coloca o ser aprendente em um<br />

novo patamar de encontro/entendimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de si mesmo. Essa percepção amplia<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> “eu” a partir <strong>da</strong> musica pode, talvez, ser exercita<strong>da</strong> a partir de procedimentos de criação<br />

artística, na qual o sujeito sai <strong>do</strong> âmbito individual para iniciar um diálogo com outrem,<br />

encontran<strong>do</strong>-se com a coletivi<strong>da</strong>de. Pensan<strong>do</strong> na iniciação musical, o exercício <strong>da</strong> criação<br />

pode mediar esses encontros e quiçá favorecer os processos de aprendizagem musical.<br />

Duas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des principais de criação musical serão abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s em nosso relato de<br />

pesquisa em an<strong>da</strong>mento: a composição e a improvisação.<br />

A composição musical aqui é entendi<strong>da</strong> como a manipulação e organização <strong>do</strong><br />

material sonoro com atribuição de significa<strong>do</strong> musical. O compositor, pois, realiza uma<br />

ativi<strong>da</strong>de intelectual/experimental de seleção e organização <strong>do</strong> som buscan<strong>do</strong> expressar-se<br />

artisticamente. Seria possível que, na iniciação na aprendizagem musical, essa prática <strong>da</strong><br />

composição contribuísse significativamente para a apreensão <strong>do</strong> conhecimento musical?<br />

A improvisação também nos parece um precioso instrumento de entendimento <strong>da</strong><br />

música, favorecen<strong>do</strong> a aquisição de conhecimentos e habili<strong>da</strong>des musicais. A improvisação é<br />

por nós entendi<strong>da</strong> como um tipo de construção na qual a música é composta enquanto está<br />

acontecen<strong>do</strong> (SCHAFER, 1991, p. 52). A improvisação musical promove interações <strong>do</strong><br />

sujeito com o instrumento e o fazer musical que podem ser trabalha<strong>da</strong>s já nas primeiras aulas.<br />

Teca de Alencar Brito, ao abor<strong>da</strong>r o lugar <strong>da</strong> improvisação na meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> professor H. J.<br />

Koellreutter, nos diz que:<br />

Sua prática permite vivenciar e conscientizar importantes questões musicais,<br />

que são trabalha<strong>da</strong>s com aspectos como autodisciplina, tolerância, respeito,<br />

capaci<strong>da</strong>de de compartilhar, criar, refletir etc. O professor [Koellreutter]<br />

entende que, por meio <strong>do</strong> trabalho de improvisação, abre-se espaço para<br />

dialogar e debater com os alunos e, assim, introduzir os conteú<strong>do</strong>s<br />

adequa<strong>do</strong>s. (BRITO, 2001, p.45)<br />

As concepções de composição e de improvisação aqui apresenta<strong>da</strong>s são reflexões<br />

iniciais para apresentação de nossa proposta de trabalho. Nosso objetivo maior é elaborar uma<br />

reflexão sobre o papel desses processos na iniciação musical. Para uma boa consecução <strong>do</strong><br />

que nos propomos faz-se necessário considerar perspectivas de Educação que influenciaram<br />

– e, muitas vezes determinaram – o desenvolvimento <strong>do</strong>s processos de ensino-aprendizagem.<br />

Explanaremos sucintamente esses direcionamentos no campo <strong>da</strong> Educação e seus reflexos<br />

mais imediatos no campo <strong>da</strong> Educação Musical.<br />

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Educação reducionista e Educação progressista<br />

John Dewey coloca que nós, humanos, gostamos de “pensar por meio de opostos<br />

extremos”. (2010, p.19) Nessa perspectiva, uma polari<strong>da</strong>de desenvolveu-se no campo <strong>da</strong><br />

Educação entre educação tradicional de um la<strong>do</strong> e, <strong>do</strong> outro, educação progressista. A<br />

diferença principal entre as duas é que a educação tradicional vê a educação como formação<br />

de fora para dentro, e a educação progressista entende a educação como um processo de<br />

desenvolvimento de dentro para fora. (DEWEY, 2010, p.19)<br />

Na perspectiva tradicional, educação é a transmissão de um conjunto de informações<br />

e habili<strong>da</strong>des construí<strong>da</strong>s no passa<strong>do</strong> para as novas gerações. O intuito <strong>do</strong> processo educativo,<br />

sob este foco, é preparar o estu<strong>da</strong>nte para responsabili<strong>da</strong>des e situações futuras. Quanto a<br />

postura <strong>do</strong> aluno, deve ser “(...) de <strong>do</strong>cili<strong>da</strong>de, receptivi<strong>da</strong>de e obediência”(DEWEY, 2010,<br />

p.20). Uma vez que esta conduta reduz o processo de ensino-aprendizagem ao binômio<br />

transmissão-assimilação – informações e habili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> transmiti<strong>da</strong>s/impostas ao<br />

estu<strong>da</strong>nte em atitude passiva – trataremos este modelo por abor<strong>da</strong>gem reducionista.<br />

A insatisfação com a abor<strong>da</strong>gem reducionista fez crescer um movimento que<br />

chamaremos por abor<strong>da</strong>gem progressista, que considera que o conhecimento ocorre de<br />

dentro para fora. Esta abor<strong>da</strong>gem admite a experiência real com a educação na qual o<br />

estu<strong>da</strong>nte tem um papel ativo no processo. Entende-se que a experiência <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte é<br />

fun<strong>da</strong>mental no processo de construção <strong>do</strong> conhecimento. Quan<strong>do</strong> a abor<strong>da</strong>gem progressista é<br />

entendi<strong>da</strong> como uma simples oposição à abor<strong>da</strong>gem reducionista surgem novos problemas,<br />

como por exemplo o equívoco de não organizar os conteú<strong>do</strong>s para não “interferir” na<br />

experiência <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte. Não é nesse senti<strong>do</strong> que seguiremos. O intuito é que a organização<br />

curricular contemple o processo educativo não como um mero repasse de informações<br />

elabora<strong>da</strong>s no passa<strong>do</strong> para um estu<strong>da</strong>nte que se prepara para a vi<strong>da</strong>, mas que esta<br />

organização curricular possa ser concebi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> percepção de que o processo educativo<br />

é um movimento dinâmico de construção <strong>do</strong> conhecimento, movimento no qual as<br />

informações <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> contribuirão nessa construção <strong>do</strong> conhecimento a partir <strong>da</strong><br />

experiência. Nesta perspectiva o objetivo é formar o sujeito para o presente. “Educação é<br />

vi<strong>da</strong>, não preparação para a vi<strong>da</strong>” (DEWEY, 1978, p.36)<br />

A autori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor permanece como aquele que irá conduzir/mediar o<br />

processo educativo. O que não interessa nesta perspectiva progressista é o autoritarismo, aqui<br />

entendi<strong>do</strong> como o exercício vazio <strong>do</strong> poder sobre aqueles que lhe são subordina<strong>do</strong>s. O<br />

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conhecimento <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> na perspectiva progressista participa ativamente como meio para a<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento a partir <strong>da</strong> experiência, e não como o fim <strong>do</strong> processo educativo.<br />

Assim, o objetivo <strong>da</strong> educação é a transformação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de uma vez que o conhecimento<br />

modifica o comportamento <strong>do</strong> indivíduo. (DEWEY, 2010, p. 19-25)<br />

Abor<strong>da</strong>gem reducionista e Abor<strong>da</strong>gem progressista na Educação Musical<br />

É possível encontrarmos ecos <strong>do</strong> pensamento reducionista na Educação Musical.<br />

Tais ecos, ou práticas, se configuram como transmissão estática de informações<br />

desconecta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> prática, privilegian<strong>do</strong> a teoria, decodificação <strong>da</strong> escrita musical e aspectos<br />

técnico-mecânicos numa prática que visa a preparação <strong>do</strong> músico profissional, o “virtuose”.<br />

Segun<strong>do</strong> Fonterra<strong>da</strong> (2008) “no século XIX que fin<strong>da</strong>va, essa intenção concentravase,<br />

antes de mais na<strong>da</strong>, na produção de bons intérpretes musicais; no âmbito acadêmico, o que<br />

se buscava era a excelência no conhecimento técnico/instrumental e científico.” (p. 121) Essa<br />

intenção primeira de, no ensino de música, formar o exímio executante de instrumento antes<br />

<strong>da</strong> formação musical mais ampla ain<strong>da</strong> têm fortes marcas na prática de ensino <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de.<br />

Tourinho reforça esse argumento ao dizer que<br />

“No caso de escolas, conservatórios, universi<strong>da</strong>des, parece ser notório o<br />

destaque <strong>da</strong><strong>do</strong> à leitura musical nas aulas de instrumentos. A habili<strong>da</strong>de de<br />

poder decifrar um código, associan<strong>do</strong> a grafia a teclas, trastes, chaves ou<br />

orifícios parece também suplantar os objetivos afetivos.” (TOURINHO,<br />

1995, p. 175)<br />

Questões como interesse <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte são deixa<strong>do</strong>s de la<strong>do</strong> nesse processo, minan<strong>do</strong>,<br />

muitas vezes, a ocorrência de experiências musicais significativas para <strong>da</strong>r lugar a realizações<br />

essencialmente mecânicas e pouco musicais.<br />

Tourinho também destaca a importância <strong>do</strong> interesse no processo de aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte. Enfatiza que o apelo excessivamente técnico em detrimento ao fazer musical faz<br />

com que o interesse pelo estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento e <strong>da</strong> música em geral decaiam, já que – salvo<br />

algumas exceções – os estu<strong>da</strong>ntes desejam, desde a primeira aula trabalhar o som num senti<strong>do</strong><br />

musical, ou seja: desejam fazer música. (TOURINHO, 1995, 178-179)<br />

O interesse será, pois, um <strong>do</strong>s motiva<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s experiências significativas em<br />

educação. A partir <strong>do</strong> interesse <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte o objeto de estu<strong>do</strong> toma nova feição, e com a<br />

mediação/direção <strong>do</strong> professor, os processos educativos de construção <strong>do</strong> conhecimento<br />

basea<strong>do</strong>s na experiência <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte têm mais oportuni<strong>da</strong>des de ocorrer. Dewey<br />

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2 OA N O S<br />

complementa este pensamento ao afirmar que não devemos buscar o interesse, mas promover<br />

as condições para o produzir e desenvolver. (DEWEY, 1978)<br />

Fonterra<strong>da</strong>, ao descrever o que chamou de “méto<strong>do</strong>s ativos em Educação Musical”,<br />

nos mostra a influência <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem progressista na educação musical. De maneira geral, a<br />

aproximação com a música não é vista como um procedimento técnico ou teórico, preferin<strong>do</strong><br />

o contato musical como “experiência de vi<strong>da</strong>”. “É pela vivência que a criança aproxima-se <strong>da</strong><br />

música, envolve-se com ela, passa a amá-la e permite que faça parte de sua vi<strong>da</strong>”<br />

(FONTERRADA, 2008, p.177). Tais méto<strong>do</strong>s ativos também enfatizam a o papel <strong>do</strong><br />

movimento corporal e <strong>do</strong> canto na aprendizagem musical.<br />

Trabalhos como o de Fonterra<strong>da</strong> (2008) atestam a importância <strong>do</strong> papel ativo <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte no processo de ensino-aprendizagem musical; propõem que os sujeitos<br />

experimentem o material sonoro <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe senti<strong>do</strong> musical (OLIVEIRA, 2009); reforçam a<br />

importância de considerar a bagagem cultural <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte utilizan<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu repertório de<br />

interesse como material no processo de aprendiza<strong>do</strong> musical ao instrumento (TOURINHO,<br />

1995).<br />

Cabe ain<strong>da</strong> lembrar que, a título de organização teórica, a separação a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> nesta<br />

introdução é necessária à medi<strong>da</strong> que contribui para a compreensão de alguns aspectos<br />

concernentes aos processos de ensino-aprendizagem. Porém, seria ingenui<strong>da</strong>de pensar que as<br />

relações educativas se resumem a essa arbitrária e limita<strong>da</strong> contraposição. Pretendemos<br />

refletir sobre os principais direcionamentos que orientarão a prática a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> no an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong><br />

pesquisa, mas não reduzir a riqueza <strong>do</strong> processo educativo à simples contraposição de<br />

algumas abor<strong>da</strong>gens.<br />

A criação na iniciação coletiva ao violão<br />

Realizamos estu<strong>do</strong>s preliminares através de entrevistas exploratórias (QUIVY e<br />

CAMPENHOUDT, 2008) com o intuito de relacionar o objeto de estu<strong>do</strong> com a prática de<br />

professores de violão. Os público trabalha<strong>do</strong> foi de três professores <strong>da</strong> Escola de Música<br />

Maestro Wilson Brasil 1 . De acor<strong>do</strong>s com esses estu<strong>do</strong>s exploratórios percebemos que, na<br />

prática <strong>do</strong> professor de música em contextos coletivos, há um consenso de que a criação<br />

musical só pode ser realiza<strong>da</strong> pelo estu<strong>da</strong>nte após um perío<strong>do</strong> posterior à iniciação musical.<br />

Assim, o estu<strong>da</strong>nte estaria apto a experimentar, uma vez que já teria reproduzi<strong>do</strong> uma<br />

quanti<strong>da</strong>de considerável de obras consagra<strong>da</strong>s e legitima<strong>da</strong>s. Essa visão <strong>da</strong> criação musical<br />

1 Escola de Música <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Sobral, Ceará.<br />

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como etapa posterior ao processo de iniciação pode ser melhor compreendi<strong>do</strong> com a<br />

abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong><strong>da</strong> por Cristina Tourinho (2007) ao abor<strong>da</strong>r duas tendências principais no<br />

ensino <strong>do</strong> instrumento: o ensino tutorial e o ensino coletivo.<br />

No ensino tutorial a música é vista como um privilégio de poucos. O regime é de um<br />

aluno para um professor e este tem como pressuposto para a aprendizagem a atenção<br />

exclusiva ao aluno. O objetivo deste é a formação <strong>do</strong> música profissional. Há um duro<br />

processo seletivo no qual os critérios de aprovação são, basicamente, a habili<strong>da</strong>de em leitura<br />

musical com um repertório, na maior parte, de origem europeia.<br />

No ensino coletivo o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> música é entendi<strong>do</strong> como acessível a to<strong>do</strong>s. Há<br />

mais de um aluno por professor e a seleção constitui-se de entrevista de classificação e<br />

nivelamento. O objetivo <strong>do</strong> ensino coletivo não é a formação <strong>do</strong> músico profissional, mas<br />

contribuir na aquisição de conhecimentos musicais independentemente <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de que o<br />

estu<strong>da</strong>nte preferir. A observação e a interação <strong>do</strong>s sujeitos dentro <strong>do</strong> grupo são os agentes<br />

principais <strong>da</strong> aprendizagem.<br />

Tourinho também destaca a importância <strong>da</strong>s diferenças e <strong>da</strong> interação entre os<br />

estu<strong>da</strong>ntes para um aprendiza<strong>do</strong> mais rico e diversifica<strong>do</strong> ao afirmar:<br />

O mito <strong>da</strong> atenção exclusiva é bastante forte no ensino tutorial e a ele se<br />

contrapõe a crença <strong>do</strong> ensino coletivo, de que é possível compartilhar<br />

conhecimento, espaço, e que a interação e a diferença são partes importantes<br />

<strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>. (TOURINHO, 2007)<br />

Convém esclarecer o que consideramos como ensino coletivo de instrumentos<br />

musicais. Concor<strong>da</strong>mos com Nascimento (2006) quan<strong>do</strong> este afirma que o ensino coletivo de<br />

instrumentos musicais<br />

consiste em ministrar aulas ao mesmo tempo para vários alunos. Essas aulas<br />

põem ser de forma homogenia ou heterogenia e é efetua<strong>da</strong> [sic] de maneira<br />

multidisciplinar, ou seja, além <strong>da</strong> prática instrumental, podem ser<br />

ministra<strong>do</strong>s outros saberes musicais intitula<strong>do</strong>s academicamente como:<br />

teoria musical, percepção musical, história <strong>da</strong> música, improvisação e<br />

composição. (p. 3)<br />

Nosso trabalho de pesquisa propõe-se a discutir/refletir sobre estratégias de ensino<br />

que propiciem espaços de aprendizagem no ensino de música. No âmbito desta pesquisa em<br />

an<strong>da</strong>mento, pretendemos compreender como a criação musical – mais especificamente a<br />

improvisação e a composição musicais – pode ou não servir de ferramenta pe<strong>da</strong>gógica na<br />

promoção de aprendizagens significativas no processo de iniciação musical coletiva ao<br />

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2 OA N O S<br />

instrumento.<br />

Pressupostos Teóricos<br />

Edwin Gor<strong>do</strong>n, ao propor a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> foco <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> de música <strong>do</strong> “como se<br />

ensina” para o “como se aprende” contribui para nossa discussão com a noção de aprendiza<strong>do</strong><br />

por discriminação e aprendiza<strong>do</strong> por inferência. O aprendiza<strong>do</strong> por discriminação refere-se ao<br />

que é trazi<strong>do</strong> ao estu<strong>da</strong>nte e ocorre por imitação. Trata-se <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> linguagem, a<br />

formação de um vocabulário que será a base para realizações mais autônomas. Quan<strong>do</strong> o<br />

aluno é capaz de aprender de maneira mais autônoma, construir conhecimento a partir <strong>da</strong>s<br />

próprias conclusões, temos o aprendiza<strong>do</strong> por inferência. (RODRIGUES, 2001, p. 5-6)<br />

A criativi<strong>da</strong>de e a improvisação são níveis posteriores na sua<br />

sequência de aprendizagem. São fun<strong>da</strong>mentais, até porque expressam<br />

essa capaci<strong>da</strong>de de pensar por si próprio em termos musicais. Mas<br />

ninguém cria a partir <strong>do</strong> na<strong>da</strong>. (RODRIGUES, 2001, p.7)<br />

Gor<strong>do</strong>n também nos traz novas categorias como a audiação, uma escuta mais ativa<br />

que envolve a compreensão <strong>do</strong>s elementos ouvi<strong>do</strong>s. Para Gor<strong>do</strong>n, a audiação ocorre quan<strong>do</strong><br />

assimilamos e compreendemos uma música que acabamos de ouvir ou que ouvimos a<br />

execução num momento <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Também audiamos quan<strong>do</strong> assimilamos e<br />

compreendemos ao ler música, compor ou improvisar. Enquanto na percepção auditiva<br />

li<strong>da</strong>mos com “acontecimentos sonoros imediatos”, na audiação li<strong>da</strong>mos com acontecimentos<br />

musicais que podem não ocorrer simultaneamente a audição. (GORDON, 2000, p. 16-17)<br />

Também é destaca<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des de criação e improvisação na Teoria de<br />

Aprendizagem Musical. Tais ativi<strong>da</strong>des atuam como ferramentas de apropriação <strong>do</strong> fazer<br />

musical pelo estu<strong>da</strong>nte:<br />

(...) quan<strong>do</strong> um professor incute nos alunos a capaci<strong>da</strong>de de criar e<br />

improvisar a sua própria música, a música torna-se proprie<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s próprios<br />

alunos e isto é que deve constituir a finali<strong>da</strong>de última de to<strong>do</strong>s os<br />

professores. A relativa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música que os alunos criam não é<br />

realmente importante. O que é importante é os alunos acreditarem que a<br />

música lhes pertence. (GORDON, 2000, p. 64)<br />

Assim, a audiação tem para Gor<strong>do</strong>n essa característica de permitir e potencializar a<br />

expressão musical <strong>do</strong> sujeito:<br />

“Quem é capaz de audiar música, é capaz de aprender a criar, a improvisar e<br />

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2 OA N O S<br />

a acompanhar-se a si próprio, ou a acompanhar outros músicos com uma<br />

progressão melódica apropria<strong>da</strong> e, se assim o desejar, a ler e escrever<br />

notação, compreenden<strong>do</strong>-a. Apropria-se <strong>da</strong> música.” (GORDON, 2000, p.<br />

27)<br />

Procedimentos Meto<strong>do</strong>lógicos De Investigação<br />

Consideramos que a pesquisa qualitativa está mais adequa<strong>da</strong> ao propósito <strong>da</strong> nossa<br />

investigação uma vez que pretendemos atuar em um âmbito específico atentan<strong>do</strong> para a<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações de aprendiza<strong>do</strong>, e não a quanti<strong>da</strong>de de conteú<strong>do</strong>s memoriza<strong>do</strong>s.<br />

Bog<strong>da</strong>n e Biklen colocam que a abor<strong>da</strong>gem qualitativa atingiu a maturi<strong>da</strong>de completa e que:<br />

Um campo que era <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelas questões <strong>da</strong> mensuração, definições<br />

operacionais, variáveis, teste de hipóteses e estatística, alargou-se para<br />

contemplar uma meto<strong>do</strong>logia de investigação que enfatiza a descrição, a<br />

indução, a teoria fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> e o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s percepções pessoais.<br />

(BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.11)<br />

Dessa maneira, a quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> processo é coloca<strong>da</strong> em análise. A composição e a<br />

improvisação trazem o caráter ativo e co-autor <strong>do</strong> trabalho aos sujeitos <strong>da</strong> pesquisa. Essa<br />

característica nos levou a optar pela pesquisa-ação como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de investigativa. Jean<br />

Dubost caracteriza a pesquisa-ação como uma:<br />

ação delibera<strong>da</strong> visan<strong>do</strong> a uma mu<strong>da</strong>nça no mun<strong>do</strong> real, engaja<strong>da</strong> numa<br />

escala restrita, engloba<strong>da</strong> por um projeto mais geral e submeten<strong>do</strong>-se a certas<br />

disciplinas para obter efeitos de conhecimento ou de senti<strong>do</strong>. (DUBOST<br />

apud BARBIER, 2007, p.36)<br />

Bog<strong>da</strong>n e Biklen(1994, p.292) concor<strong>da</strong>m com Barbier ao afirmarem que “a<br />

investigação-ação consiste na recolha de informações sistemáticas com o objetivo de<br />

promover mu<strong>da</strong>nças sociais.”<br />

Basea<strong>do</strong>s na Teoria de Aprendizagem Musical de Gor<strong>do</strong>n realizaremos a pesquisa<br />

buscan<strong>do</strong> compreender o papel <strong>da</strong> criação musical na iniciação coletiva ao instrumento. Para<br />

este propósito, realizaremos como primeiro momento de aprendiza<strong>do</strong> de um repertório<br />

coletivo através <strong>da</strong> memorização <strong>da</strong> vozes de arranjos musicais (aprendizagem por<br />

discriminação). Após a internalização pelo grupo de alguns conceitos-chave e um certa<br />

desenvoltura com o instrumento – de maneira que possam realizar passagens musicais com<br />

conforto – proporemos como segun<strong>do</strong> momento ativi<strong>da</strong>des de criação musical, utilizan<strong>do</strong><br />

como material básico os conceitos e elementos apreendi<strong>do</strong>s na primeiro momento. Ao final <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> etapa, realizaremos o registro em áudio <strong>da</strong> criação construí<strong>da</strong>. O terceiro momento<br />

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consistirá na audição <strong>do</strong> que foi construí<strong>do</strong> anteriormente pelo grupo e uma discussão coletiva<br />

acerca <strong>do</strong> que foi elabora<strong>do</strong> na segun<strong>da</strong> etapa.<br />

A discussão <strong>da</strong>s composições e a análise <strong>do</strong> processo junto aos estu<strong>da</strong>ntes em ro<strong>da</strong>s<br />

de conversa, debates e relatórios coletivos fortalecerá o caráter de pesquisa-ação, tipo de<br />

pesquisa a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> neste trabalho. (BARBIER, 2007)<br />

A pesquisa de campo ocorrerá como parte de um projeto de extensão <strong>do</strong> curso de<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará, Campus de Sobral. No decorrer <strong>do</strong>s meses de<br />

agosto a novembro <strong>do</strong> ano de <strong>2011</strong> serão observa<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de criação em contextos<br />

coletivos de aprendizagem musical durante a iniciação ao violão. Utilizaremos como<br />

instrumento de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s a gravação em vídeo (análise <strong>do</strong>cumental) <strong>do</strong>s encontros, além<br />

de diário de campo e relatórios coletivos elabora<strong>do</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Conclusão<br />

Há indícios de que a criação musical pode contribuir significativamente para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> violão já no processo de iniciação ao instrumento. Diversos autores abor<strong>da</strong>m a<br />

temática, deten<strong>do</strong>-se, ora na importância <strong>da</strong> improvisação musical (GORDON, 2000; BRITO,<br />

2001), ora na composição (SWANWICK, 2003). Porém, não encontramos trabalhos que<br />

detenham-se mais especificamente à iniciação musical ao instrumento em contextos coletivos<br />

e estratégias de criação musical com/<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes na promoção de possibili<strong>da</strong>des para<br />

aprendizagens significativas.<br />

No contexto atual de implementação <strong>da</strong> lei 11.769/2008, que torna a música<br />

componente curricular obrigatório e <strong>do</strong> atual movimento resgatar o ensino de música no<br />

âmbito <strong>da</strong> escola básica, este trabalho, ao refletir sobre o processo de apropriação <strong>do</strong><br />

conhecimento musical e <strong>da</strong> contribuição desse processo na formação <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão crítico – e<br />

um pouco mais consciente <strong>do</strong> ambiente sonoro e social que integra – pode aju<strong>da</strong>r a<br />

fun<strong>da</strong>mentar futuras ações no campo <strong>da</strong> Educação Musical. Fornecerá, assim, alguns<br />

subsídios para os profissionais atuantes nas diversas esferas <strong>da</strong> Educação Musical, mas<br />

principalmente, na rede de ensino básico brasileira.<br />

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Referências<br />

BARBIER, René. A pesquisa-ação. Tradução de Lucie Didio. Brasília: Liber Livro Editora,<br />

2007.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educa<strong>do</strong>r: O humano como objetivo <strong>da</strong> educação<br />

musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.<br />

BOGDAN, Roberto C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação: uma<br />

introdução à teoria e aos méto<strong>do</strong>s. Tradução: Maria João Alvarez, Sara Bahia <strong>do</strong>s Santos e<br />

Telmo Mourinho Baptista. Porto: Porto Editora, 1994.<br />

DEWEY, John. Experiência e Educação. Tradução: Renata Gaspar. – Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

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2 OA N O S<br />

2010.<br />

DEWEY, John. Vi<strong>da</strong> e Educação. Trad. E estu<strong>do</strong> preliminar por Anísio Teixeira. 10ª ed. –<br />

São Paulo: Melhoramentos, 1978.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensio sobre música e<br />

educação. 2.ed. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: Funarte, 2008.<br />

GORDON, Edwin. Teoria de Aprendizagem Musical: Competências, conteú<strong>do</strong>s e padrões.<br />

Trad. Maria de Fátima Albuquerque. Lisboa: Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, 2000.<br />

OLIVEIRA, Marcelo Mateus. Ruí<strong>do</strong>, Silêncio e Musicalização: O trabalho com Sequências<br />

Musicais na escola Marcos Valentin. In: ENCONTRO REGIONAL DA <strong>ABEM</strong> NORDESTE,<br />

8., 2009, Mossoró, <strong>Anais</strong>... Mossoró: <strong>ABEM</strong>, 2009.<br />

QUIVY, Raymond; CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de investigação em ciências<br />

sociais. Trad. João M. Marques, Maria A. Mendes e Maria Carvalho. 5ª edição. Lisboa –<br />

Gradiva, 2008.<br />

RODRIGUES, Helena. Pequena Crónica sobre notas de ro<strong>da</strong>pé na Educação Musical:<br />

Reflexões a Propósito <strong>da</strong> Teoria de Aprendizagem Musical. Revista de la Lista Electrónica<br />

Europea de Música en la Educación. nº8, 2001. Retira<strong>do</strong> dia 26/03/2007 <strong>do</strong> endereço<br />

eletrônico: http://musica.rediris.es/leeme/revista/rodrigues.htm<br />

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio, ou, Da educação. Trad. Roberto Leal Ferreira. – 3ª ed. –<br />

São Paulo: Martins Fontes, 2004.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Tradução de Al<strong>da</strong> Oliveira e<br />

Cristina Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

SCHAFER, R. Murray. O ouvi<strong>do</strong> pensante. Trad. Marisa Trench de O. Fonterra<strong>da</strong>, Mag<strong>da</strong> R.<br />

Gomes <strong>da</strong> Silva, María Lúcia Pascoal. São Paulo: Fun<strong>da</strong>ção Editora <strong>da</strong> UNESP, 1991.<br />

TOURINHO, Cristina. A motivação e o desempenho escolar na aula de violão em grupo: a<br />

influência <strong>do</strong> repertório de interesse <strong>do</strong> aluno. Salva<strong>do</strong>r: Dissertação de Mestra<strong>do</strong>, Escola de<br />

Música, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, 1995.<br />

TOURINHO, Cristina. Ensino coletivo de instrumentos musicais: crenças, mitos, princípios e<br />

um pouco de história., 2007. Disponível em:<br />

http://www.abemeducacaomusical.org.br/Masters/anais2007/inicio.html acessa<strong>do</strong> em 20 de<br />

fevereiro de <strong>2011</strong>.<br />

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2 OA N O S<br />

A educação musical em ONGS: a prática <strong>do</strong> coral infantil na ADOTE-RN<br />

Janieri Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Facul<strong>da</strong>de de Natal (FAL)<br />

Janierisilva@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo relata sobre o desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas de coral infantil <strong>da</strong> ADOTE-<br />

RN (Associação de Orientação aos Deficientes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte), aulas<br />

essas financia<strong>da</strong>s pelo CONSEC através <strong>do</strong> Projeto Ateliê de Talentos, que aconteceu de 01<br />

de outubro de 2009 a 28 de julho de 2010. Será apresenta<strong>da</strong> uma descrição, de forma breve,<br />

sobre a instituição ONG, sobre a ADOTE-RN e sobre como foi desenvolvi<strong>da</strong> a proposta<br />

pe<strong>da</strong>gógica e a prática em sala de aula. Foi uma experiência engrandece<strong>do</strong>ra, pois além de<br />

proporcionar uma nova experiência a 20 crianças, foi uma proposta desenvolvi<strong>da</strong> na área de<br />

educação inclusiva, algo ain<strong>da</strong> muito recente em nosso país.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, ONGs, Canto Coral Infantil.<br />

Introdução<br />

A educação musical entra no cenário <strong>da</strong> educação brasileira e para ca<strong>da</strong> setor ou área<br />

em que ela irá ser emprega<strong>da</strong> terá objetivos, meto<strong>do</strong>logias e didáticas especificas. Ela está<br />

presente em diferentes instituições, seja na escola de educação básica, nas escolas de música<br />

onde sempre esteve presente com objetivos e meto<strong>do</strong>logias volta<strong>da</strong>s para prática musical, em<br />

empresas um número ain<strong>da</strong> raro, mas com finali<strong>da</strong>des terapêuticas e em ONGs, onde os<br />

objetivos variam entre educacionais, terapêuticos e musicais. Poden<strong>do</strong>-se assim entender as<br />

ONGs como: “O espaço composto por organizações priva<strong>da</strong>s, sem fins lucrativos, cuja<br />

atuação é dirigi<strong>da</strong> a finali<strong>da</strong>des coletivas ou públicas” (FISCHER, 2002, p.45).<br />

As ONGs apóiam a comuni<strong>da</strong>de e oferecem serviços em vários âmbitos: sejam de<br />

saúde, de educação ou de cultura. Existem instituições que oferecem estes três serviços<br />

simultaneamente e que contam com o apoio <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Essas instituições são filantrópicas e<br />

contam também com a arreca<strong>da</strong>ção financeira e aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Nas ONGs, a educação musical é uma prática nova e que ain<strong>da</strong> está liga<strong>da</strong> a<br />

contextos educativos. Principalmente o canto coral por necessitar de pouco custeamento<br />

financeiro, não sain<strong>do</strong> tão caro para as instituições. As instituições tentam, através desses<br />

trabalhos, conscientizar a socie<strong>da</strong>de sobre a relevância <strong>do</strong>s mesmos para os participantes.<br />

O coral é uma prática muitas vezes utiliza<strong>da</strong> nessas instituições e que é de grande<br />

importância para os participantes, pois atua nos processo de interação social, de afinação e de<br />

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2 OA N O S<br />

conhecimento de si:<br />

O trabalho <strong>do</strong> coro é solidário. O canto coral privilegia a união entre as<br />

pessoas e a socialização, além de proporcionar um conhecimento de caráter<br />

cultural. O canto coral é assim, ti<strong>do</strong> como uma ativi<strong>da</strong>de importante na<br />

formação social <strong>da</strong> criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A música faz parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas e as escolas não podem desconsiderar isso. (BRÉSCIA, 2003, p.84).<br />

Contexto de Ensino<br />

A ADOTE (Associação de Orientação aos Deficientes) onde esse trabalho foi<br />

realiza<strong>do</strong> é uma instituição sem fins lucrativos que desenvolve um trabalho de aprendizagem<br />

na inclusão de pessoas com necessi<strong>da</strong>des especiais na socie<strong>da</strong>de, sejam estas: intelectual,<br />

física, auditiva, múltiplas síndromes, Paralisia Cerebral e Distrofia Muscular Progressiva. A<br />

mesma está situa<strong>da</strong> na Rua Aracati nº30 no bairro de Ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Esperança, Natal RN, sen<strong>do</strong><br />

reconheci<strong>da</strong> como serviço de utili<strong>da</strong>de pública nos âmbitos municipal, estadual e federal.<br />

A ADOTE é uma instituição que atende pessoas com múltiplas deficiências ten<strong>do</strong> a<br />

Escola Madre Fietzbach que atende hoje cerca de 260 alunos focan<strong>do</strong> no ensino inclusivo, o<br />

Centro de Conivência Teresinha Gurgel de Faria, que trabalha com artes de forma geral<br />

atuan<strong>do</strong> em diversas linguagens e que busca apoio financeiro através de projetos na<br />

concorrência de vários editais, além <strong>do</strong> setor de atendimento clínico com acompanhamento<br />

psicológico, psicope<strong>da</strong>gógico, o<strong>do</strong>ntológico, fonoaudiológico etc.<br />

A missão <strong>da</strong> instituição é “valorizar a pessoa com deficiência <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong><br />

Norte, promoven<strong>do</strong> a assistência integral, por meio de atendimento nas áreas de saúde,<br />

educação, reabilitação, esporte, cultura, lazer e trabalho.” (ADOTE, 2009).<br />

As aulas de canto coral fizeram parte <strong>do</strong> Projeto Atelier de Talentos autoriza<strong>do</strong> pelo<br />

CONSEC, onde a ADOTE concorreu ao edital para financiamento <strong>do</strong> mesmo. O Projeto<br />

Ateliê de Talentos ofereceu diversas ativi<strong>da</strong>des culturais para os alunos <strong>da</strong> Escola Madre<br />

Fitzbach e pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de onde em seu objetivo geral relata que:<br />

Oferecerá as crianças e a<strong>do</strong>lescentes, com ou sem deficiência, e aos<br />

jovens, com deficiência intelectual, práticas de expressivi<strong>da</strong>de cultural<br />

nas linhas de música, teatro e artes visuais, contribuin<strong>do</strong> para o seu<br />

desenvolvimento como ci<strong>da</strong>dãos de direitos, se descobrin<strong>do</strong> enquanto<br />

possibili<strong>da</strong>de expressiva e, consequentemente, como possibili<strong>da</strong>de<br />

social e humana. (ADOTE, 2009, p.1)<br />

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O coral foi forma<strong>do</strong> com 20 crianças, entre 8 a 10 anos, com deficiência física,<br />

intelectual e crianças com déficit de atenção e diversas dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem, sen<strong>do</strong> a<br />

maioria alunos <strong>da</strong> Escola Madre Fitzbach, escola pertencente a ADOTE RN.<br />

Objetivos<br />

Os objetivos na área de canto coral infantil <strong>do</strong> projeto tinham como meta, além de<br />

atender a quanti<strong>da</strong>de de alunos, que eram 20 (vinte), desenvolver ativi<strong>da</strong>des na área de<br />

percepção musical, concepção de ritmo, melodia, musicali<strong>da</strong>de, a interação sócio-cultural, a<br />

apreciação e principalmente o fortalecimento <strong>da</strong> família através <strong>da</strong> participação <strong>do</strong>s pais em<br />

palestras incentiva<strong>do</strong>ras para o desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho.<br />

A prática coral em sala de aula<br />

A prática <strong>da</strong> oficina foi realiza<strong>da</strong> no Centro de Convivência Teresinha Gurgel de<br />

Faria, onde funcionam oficinas de Artes de forma geral e que faz parte <strong>da</strong> Associação de<br />

Orientação aos Deficientes. A oficina tinha 20 participantes de mo<strong>do</strong> a trabalhar de forma<br />

inclusiva.<br />

Refletin<strong>do</strong> um pouco sobre esta área tão abrangente e importante que chamamos de<br />

educação musical, gostaria de lembrar as palavras de Koellreutter, quan<strong>do</strong> defende: “a<br />

educação musical como um meio que tem a função de desenvolver a personali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> jovem<br />

como um to<strong>do</strong>.” (BRITO, 2001, p.41).<br />

O processo de escolha dessas crianças que participaram dessas oficinas deu-se de<br />

forma seletiva, através de um teste de vocalize, onde foram analisa<strong>do</strong>s os seguintes aspectos:<br />

afinação, ritmo, acompanhamento e an<strong>da</strong>mento. No projeto, em relação a esse processo de<br />

seleção, foi estabeleci<strong>do</strong> que:<br />

O processo de seleção se <strong>da</strong>rá através de entrevistas sen<strong>do</strong> leva<strong>do</strong> em<br />

consideração o interesse e habili<strong>da</strong>des para oficina escolhi<strong>da</strong>. Essa etapa será<br />

realiza<strong>da</strong> pela coordenação geral <strong>do</strong> projeto em conjunto com os instrutores<br />

de ca<strong>da</strong> oficina. (ADOTE. 2009, p. 9).<br />

Refletin<strong>do</strong> sobre o processo de seleção e a meto<strong>do</strong>logia emprega<strong>da</strong> é necessário<br />

observarmos o quanto a diversi<strong>da</strong>de musical pode ser trabalha<strong>da</strong> nas oficinas, além <strong>da</strong><br />

humana. A educação musical de quali<strong>da</strong>de, mais uma vez segun<strong>do</strong> Koellreuter é “aquela<br />

volta<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de” (BRITO, 2001, p.31). Durante to<strong>do</strong>s os oito meses de<br />

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trabalho com esse grupo, as ativi<strong>da</strong>des eram volta<strong>da</strong>s à sua necessi<strong>da</strong>de e ao seu contexto<br />

cultural. Era necessário trabalhar to<strong>da</strong>s as competências corais e educativo-musicais sem<br />

perder a magia <strong>do</strong> universo <strong>da</strong> criança, despertan<strong>do</strong>-lhe a vontade de aprender mais e mais,<br />

buscan<strong>do</strong> “um ensino personaliza<strong>do</strong>, criativo, que respeite o aluno” (BRITO, 2001, p.31).<br />

A meto<strong>do</strong>logia emprega<strong>da</strong> durante o processo se edificou na escola inclusiva, onde<br />

crianças com deficiência ou com dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem e crianças sem nenhuma<br />

deficiência pudessem aprender juntas e desenvolver suas habili<strong>da</strong>des: “Há ain<strong>da</strong> muito<br />

preconceito contra as pessoas com necessi<strong>da</strong>des especiais, o que faz com que elas, não<br />

participem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de com as mesmas chances que um não deficiente” (LOURO. S.d., p.1).<br />

É necessário tentar incluir essas crianças no contexto musical, <strong>da</strong>r novas<br />

oportuni<strong>da</strong>des, proporcioná-las um ambiente novo e diferente <strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de atual.<br />

A inclusão se caracteriza na perspectiva de que to<strong>do</strong>s os indivíduos<br />

pertencentes a um coral encontram-se na mesma posição de aprendizes,<br />

unin<strong>do</strong>-se na busca de objetivos comuns de realização pessoal e grupal.<br />

(AMATO, 2007, p. 80).<br />

Para Brito “A música, dentro <strong>da</strong> escola deve ser viva”. Acredito que viva a música<br />

deverá ser em to<strong>do</strong>s os espaços de ensino aprendizagem, mesmo que não seja a escola regular.<br />

Para a mesma autora:<br />

Música Viva significa bem mais <strong>do</strong> que realizar exercícios mecânicos para<br />

desenvolver uma ou outra habili<strong>da</strong>de (musical ou não); mais <strong>do</strong> que aprender a<br />

cantar e/ou reproduzir músicas, preparar apresentações ou, ain<strong>da</strong>; iniciar-se<br />

nos processos de leitura e escrita musical. Tu<strong>do</strong> isso pode fazer parte, sim <strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong> de realizações musicais, mas só terão senti<strong>do</strong> se estiverem integra<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong>des de criação, de exploração, pesquisa e reflexão. A música só tem<br />

senti<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> é parte <strong>do</strong> jogo <strong>do</strong> viver, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em si mesma. (BRITO. S.d.,<br />

p.5).<br />

Proposta pe<strong>da</strong>gógica<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s aulas <strong>da</strong> oficina de canto coral <strong>do</strong> projeto Ateliê de Talentos<br />

aconteciam nas sextas-feiras de 13:30h as 17:30h, contabilizan<strong>do</strong> quatro horas semanais.<br />

Forma<strong>do</strong> com 20 alunos com a faixa etária de 8 a 10 anos, as ativi<strong>da</strong>des foram fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s<br />

em teóricos <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia musical muito importantes para o ensino de música e que serão<br />

cita<strong>do</strong>s no decorrer desse item.<br />

O trabalho <strong>do</strong> coro é solidário. O canto coral privilegia a união entre as<br />

pessoas e a socialização, além de proporcionar um conhecimento de caráter<br />

cultural. O canto coral é assim, ti<strong>do</strong> como uma ativi<strong>da</strong>de importante na<br />

formação social <strong>da</strong> criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A música faz parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

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2 OA N O S<br />

pessoas e as escolas não podem desconsiderar isso. (BRÉSCIA, 2003, p.84).<br />

Durante esse projeto as ativi<strong>da</strong>des buscavam desenvolver, nessas crianças,<br />

conteú<strong>do</strong>s em âmbitos gerais como o relacionamento social, interação, desenvolvimento<br />

motor, mas também conteú<strong>do</strong>s específicos como percepção sonora, percepção rítmica,<br />

afinação, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s com o aparelho fona<strong>do</strong>r, além de alguns conhecimentos de teoria musical.<br />

Villa Lobos diz que:<br />

O canto coletivo, com seu poder de socialização, predispõe o indíviduo a<br />

perder no momento necessário a noção egoísta <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de excessiva,<br />

integran<strong>do</strong>-a na comuni<strong>da</strong>de, valorizan<strong>do</strong> no seu espírito a idéia <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de renúncia e <strong>da</strong> disciplina (VILLA-LOBOS, 1987, p. 87).<br />

O trabalho desenvolvi<strong>do</strong> com essas crianças utilizou-se de algumas competências<br />

cita<strong>da</strong>s por Rita Fucci Amato, em seu trabalho intitula<strong>do</strong>: O canto coral como uma prática<br />

sócio cultural e educativo musical (AMATO, 2007). Essas competências contribuíram para o<br />

processo de ensino e aprendizagem <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> coral infantil <strong>da</strong> ADOTE-RN, na medi<strong>da</strong><br />

em que buscou desenvolver os seguintes aspectos:<br />

1ª INTELIGÊNCIA VOCAL<br />

2ª CONSCIÊNCIA RESPIRATÓRIA<br />

3ª CONSCIÊNCIA AUDITIVA<br />

4ª PRÁTICA DE INTERPRETAÇÃO<br />

5ª PRODUÇÃO VOCAL EM VARIADAS FORMAÇÕES<br />

6ª RECURSOS AÚDIO-VISUAIS<br />

7ª APRESENTAÇÃO DE PESQUISAS E DEBATES<br />

Em relação à percepção sonora, o primeiro elemento a ser trabalha<strong>do</strong> foi a audição<br />

ou inteligência auditiva, saben<strong>do</strong> que um bom cantar surge de um bom ouvir. “É através <strong>do</strong><br />

desenvolvimento auditivo que utilizamos a leitura e a escrita musical para fixar e transmitir o<br />

pensamento sonoro” (ROCHA, 1990, p.34).<br />

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2 OA N O S<br />

FIGURA 1 – Apresentação dia <strong>da</strong>s<br />

mães 2010<br />

As ativi<strong>da</strong>des que trabalhavam o desenvolvimento auditivo na oficina coral<br />

correspondiam desde o simples ouvir a sequência rítmica e repetir, até o identificar as notas<br />

nas ativi<strong>da</strong>des que envolviam a escala musical, além <strong>do</strong> apreciar e poder refletir sobre essas<br />

apreciações. Tomou-se por base o méto<strong>do</strong> Willems, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong>is elementos considera<strong>do</strong>s<br />

importantes quan<strong>do</strong> o ponto é desenvolvimento auditivo: o escutar (interesse por parte <strong>do</strong><br />

aluno) e o despertar atenção (proveniente <strong>do</strong> professor).<br />

FIGURA 2 – Ativi<strong>da</strong>de de<br />

percepção.<br />

Trabalhar as proprie<strong>da</strong>des sonoras – timbre, altura, duração e intensi<strong>da</strong>de – foi a<br />

proposta inicial para as aulas de canto coral. O timbre a partir <strong>da</strong> identificação <strong>da</strong> origem <strong>do</strong><br />

som, observan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os sons, desde sons <strong>do</strong> ambiente até os sons musicais, pois segun<strong>do</strong><br />

Murray Schafer “o corpo to<strong>do</strong> é um ouvi<strong>do</strong>” (SCHAFER, 1991, p.333).<br />

Trabalhou-se a altura, nos registros <strong>do</strong> som grave e agu<strong>do</strong>, com diferentes<br />

instrumentos como: flauta <strong>do</strong>ce, tecla<strong>do</strong>, flauta Pã, onde o aluno aprendeu primeiramente os<br />

registros grave e agu<strong>do</strong> (as extremi<strong>da</strong>des) para depois entrar nos registros medianos. Uma<br />

dificul<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> foi com os alunos que tinham déficit de aprendizagem principalmente<br />

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2 OA N O S<br />

na identificação <strong>do</strong> som, o que foi resolvi<strong>do</strong> com momentos extra-sala no intuito de focar a<br />

atenção <strong>do</strong>s alunos.<br />

A forma de registros para os sons são apresenta<strong>do</strong>s por Carmen Metting, no livro<br />

“Educação Musical Méto<strong>do</strong> Willems”, onde ela apresenta a relevância <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s varia<strong>do</strong>s<br />

materiais sonoros. Segun<strong>do</strong> ela: “O bom uso <strong>do</strong> material sonoro será recompensa<strong>do</strong> pelo<br />

progresso que o aluno apresentará no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> audição.” (ROCHA, 1990, p.38).<br />

Sobre a forma como foi trabalha<strong>da</strong> a proprie<strong>da</strong>de sonora intensi<strong>da</strong>de também foi<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong> o fator “ritmo”. Durante as aulas, esta proprie<strong>da</strong>de foi abor<strong>da</strong><strong>da</strong> a partir <strong>da</strong><br />

diferenciação <strong>do</strong> forte e fraco, onde o aluno conhecia a proprie<strong>da</strong>de e de início aprendia a<br />

diferenciar os sons. Após esse primeiro momento, os alunos foram chama<strong>do</strong>s a aprender a<br />

pulsação, onde foi organiza<strong>da</strong> para os mesmos uma seqüência de fortes e fracos e com um<br />

instrumento percussivo eram chama<strong>do</strong>s a executar essa sequência de acor<strong>do</strong> com o pulso<br />

apresenta<strong>do</strong> pelo professor.<br />

EX: F f f F f f F F<br />

Obs: F = FORTE f = fraco<br />

As dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s nesse exercício foram com os alunos que apresentavam<br />

dificul<strong>da</strong>de na coordenação motora e déficit de atenção e a estratégia desenvolvi<strong>da</strong> foi a<br />

diminuição <strong>do</strong> pulso, primeiro obedecen<strong>do</strong> ao ritmo <strong>do</strong> aluno, para que o mesmo pudesse<br />

diferenciar o forte <strong>do</strong> fraco e depois obedecen<strong>do</strong> um pulso bem lento. Para Pederiva, ao<br />

explicar o méto<strong>do</strong> Dalcroze “O objetivo <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> é a realização expressiva <strong>do</strong> ritmo, bem<br />

como a sua vivência por meio <strong>do</strong> movimento corporal” (PEDERIVA, 2004, p.94).<br />

A proprie<strong>da</strong>de sonora duração foi trabalha<strong>da</strong> na perspectiva <strong>do</strong> som curto e longo.<br />

Fazer com que os alunos identificassem que existiam esses <strong>do</strong>is parâmetros nessa proprie<strong>da</strong>de<br />

para que os mesmos ao chegarem às canções entendessem que existiriam notas que seriam<br />

mais longas e mais curtas que outras.<br />

O movimento corporal foi trabalha<strong>do</strong> desde o início nas aulas de canto coral, tanto<br />

nas ativi<strong>da</strong>des que envolviam o conteú<strong>do</strong> musical quanto nos ensaios para o espetáculo final<br />

de apresentação. Esse movimento corporal era desde uma ativi<strong>da</strong>de de identificação de nota,<br />

onde a criança precisava an<strong>da</strong>r para apontar a nota que foi toca<strong>da</strong>, como no plano de aula nº.<br />

17, até os gestos desenvolvi<strong>do</strong>s para ca<strong>da</strong> canção e os acompanhamentos rítmicos que<br />

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precisavam ser executa<strong>do</strong>s. Na<strong>da</strong> de movimentos estereotipa<strong>do</strong>s, mas que desenvolvessem<br />

consciência corporal e percepção si.<br />

“O movimento é o fator essencial e pre<strong>do</strong>minante para o desenvolvimento rítmico <strong>do</strong><br />

ser humano” (FARIAS. 2005, p.1). O movimento corporal deve ser vivencia<strong>do</strong> e trabalha<strong>do</strong><br />

de diversas formas como no saltitar, na marcha, no galope (ROCHA, 1998). “O trabalho<br />

corporal é realmente muito importante no fazer de iniciação musical e também muito bem<br />

aceito pelos alunos.” (ROCHA, 1998, p.39).<br />

As primeiras canções escolhi<strong>da</strong>s para que os alunos cantassem de início foram<br />

canções <strong>do</strong> seu cotidiano, com aquilo que já estavam acostuma<strong>do</strong>s; após um espaço de tempo<br />

foram introduzi<strong>da</strong>s canções <strong>do</strong> repertório <strong>do</strong> folclore, canções de caráter infantil, com letra de<br />

fácil acesso para os mesmos. “É inegável o valor <strong>da</strong> canção na iniciação musical <strong>da</strong>s crianças,<br />

não só pelo seu aspecto sintético, globaliza<strong>do</strong>r, mas também pelo seu poder de despertar a<br />

sensibili<strong>da</strong>de afetiva.” (ROCHA, 1998, p.28).<br />

A canção é o principio <strong>do</strong> coral e deve ser pensa<strong>da</strong> com mais rigor e principalmente<br />

deve-se pensar nos participantes antes de um desenvolvimento de trabalho com a mesma.<br />

Outro fator importante é que fazíamos apresentações na Escola Madre Fitzbach, onde eles<br />

estu<strong>da</strong>vam, o que foi muito bom para assim trabalharmos a expressão artística antes <strong>do</strong><br />

espetáculo final.<br />

Preparar os meninos para o espetáculo tornou-se a preocupação maior no fim <strong>do</strong><br />

trabalho. Transformar as músicas ensaia<strong>da</strong>s e o conteú<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>do</strong> em performace era o que<br />

deveria ser trabalha<strong>do</strong> nas ultimas semanas. O primeiro passo toma<strong>do</strong> foi dialogar com os<br />

alunos sobre as músicas escolhi<strong>da</strong>s e quais as que eles elegiam para a apresentação final no<br />

teatro. Após essa conversa os alunos elegeram as seguintes canções: Pipa, Carrinho e<br />

Brincadeira, de minha autoria, Como Pode um Peixe Vivo, Para Ser Feliz e Mamãe Segure<br />

Firme, <strong>do</strong> folclore. To<strong>da</strong>s essas canções fizeram parte <strong>do</strong> processo pe<strong>da</strong>gógico musical <strong>da</strong>s<br />

aulas. Também precisávamos elaborar a encenação para esse momento, estimular o processo<br />

criativo de ca<strong>da</strong> aluno e formar idéias, que era a maior meta a ser cumpri<strong>da</strong>, respeitan<strong>do</strong> o<br />

ritmo de ca<strong>da</strong> aluno. Esse processo criativo não é considera<strong>do</strong> “solto”, ou seja, é necessário<br />

que o professor tenha a consciência <strong>da</strong> disposição <strong>da</strong> sua turma e principalmente conheça ca<strong>da</strong><br />

um e a sua deficiência, pois pensar nela será muito importante para o acontecimento na<br />

prática.<br />

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2 OA N O S<br />

FIGURA– Apresentação no<br />

CEMURE. 17/12/2010<br />

Esse trabalho de conscientização corporal visava mostrar para a criança que o corpo<br />

precisava estar prepara<strong>do</strong>, existiam passos a serem segui<strong>do</strong>s, tempo cronometra<strong>do</strong>, mas que a<br />

prática <strong>do</strong> cantar era o mais importante. Precisávamos ao mesmo tempo fazer bem a<br />

encenação e cantar as musicas coma afinação correta. Também era importante mostrar que<br />

além <strong>da</strong> teorização existem momentos em que o corpo vai ser essencial para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho e retificamos o quanto é necessário deixar a criança ser criança.<br />

“A criança precisa ter oportuni<strong>da</strong>de de se expressar com o corpo, interagir com a natureza e<br />

não só ficar presa em uma cadeira diante de um quadro negro.” (KRAMER, 2005, p.7).<br />

Considerações finais<br />

Considerar a Educação Musical como importante, mostrar o quanto os elementos de<br />

aprendizagem musical e as consequências desse trabalho podem atuar como elemento<br />

fun<strong>da</strong>mental em determina<strong>do</strong>s contextos. A educação musical, mesmo sen<strong>do</strong> uma prática<br />

inicial em instituições <strong>do</strong> terceiro setor, contribui para o desenvolvimento de uma<br />

determina<strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de. As ONGs que trabalhavam independentes <strong>do</strong> apoio <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> na<br />

época <strong>da</strong> sua fun<strong>da</strong>ção, hoje felizmente oferecem um serviço de apoio à comuni<strong>da</strong>de em<br />

parceria com o mesmo. O esta<strong>do</strong> conhece o papel fun<strong>da</strong>mental e relevante <strong>da</strong> instituição e por<br />

isso a financia tanto em verbas para os departamentos em que ela atua quanto em ceder mão<br />

de obra, profissionais <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> para trabalharem nessas instituições.<br />

As instituições que trabalham com arte precisam manter o compromisso com a<br />

comuni<strong>da</strong>de. Conhecemos muito bem a desvalorização ain<strong>da</strong> existente deste setor e o quanto<br />

precisamos desenvolver trabalhos que demonstrem sua relevância. O nosso trabalho desperta<br />

a emoção e ela é fun<strong>da</strong>mental para a propagação dele. Nosso objetivo é mostrar o quanto a<br />

música é essencial na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s indivíduos que participam desta ativi<strong>da</strong>de, ten<strong>do</strong> deficiência ou<br />

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2 OA N O S<br />

não.<br />

O governo oferece os projetos, as instituições concorrem e devem desenvolver o seu<br />

trabalho com compromisso social, respeitan<strong>do</strong> o público com o qual atua. A ADOTE visa<br />

esse compromisso social que é respeita<strong>do</strong> pela comuni<strong>da</strong>de e que está representa<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s<br />

os seus profissionais. Trabalhar com a pessoa com deficiência e estabelecer relações na<br />

socie<strong>da</strong>de inclusiva faz parte <strong>do</strong> nosso papel, além de proporcionar à socie<strong>da</strong>de a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de conviver com a diversi<strong>da</strong>de que está presente em to<strong>do</strong>s nós.<br />

Agradeço a to<strong>do</strong>s que participaram efetivamente desse trabalho, pois também<br />

conheciam a sua importância. Agradeço também a to<strong>da</strong>s as crianças que me fizeram ser um<br />

ser humano bem melhor, que aprende a ca<strong>da</strong> dia na oficina de canto coral com eles através<br />

<strong>da</strong>s trocas de experiências. Crianças com deficiência, sim, especiais to<strong>do</strong>s nós somos.<br />

Crianças que precisam de atenção, de respeito e de carinho como to<strong>da</strong>s as outras, que não tem<br />

porque serem discrimina<strong>da</strong>s e que precisam ser ama<strong>da</strong>s o suficiente para o progresso <strong>do</strong> seu<br />

desenvolvimento.<br />

Referências<br />

ADOTE - ASSOCIAÇÃO DE ORIENTAÇÃO AOS DEFICIENTES. Projeto Ateliê de<br />

Talentos. Natal. 2009<br />

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2 OA N O S<br />

AMATO. Rita Fucci. O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical.<br />

Disponível em . Acessa<strong>do</strong> em<br />

05 de outubro de 2010.<br />

BRÉSCIA,V.P. Educação musical: Bases Psicológicas e Ação Preventiva. São Paulo: Átomo,<br />

2003.<br />

BRITO. Teça de Alencar. Koellreutter educa<strong>do</strong>r: O humano como objetivo <strong>da</strong> educação<br />

musical. São Paulo; Peirópolis, 2001.<br />

BRITO. Teca de Alencar. Educação musical: uma caixa de música. Disponível em:<br />

. Acessa<strong>do</strong><br />

em 05 de outubro de 2010.<br />

FARIAS, Fernan<strong>do</strong>. Resumo <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Dalcroze de educação musical. Paraíba:<br />

Departamento de Artes/UFPB, 2005.<br />

FISCHER, Rosa Maria. O desafio <strong>da</strong> colaboração: práticas de responsabili<strong>da</strong>de social entre<br />

empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente, 2002.<br />

KRAMER, Sônia, Entrevista: Aprenden<strong>do</strong> com a criança a mu<strong>da</strong>r a reali<strong>da</strong>de. Revista<br />

Criança <strong>do</strong> professor de Educação Infantil, pág. 5, 6, 7, 8. Abril/2005<br />

LOURO. Viviane. Educação musical e deficiência: quebran<strong>do</strong> os preconceitos. Documento<br />

Disponível em:<br />

. Acessa<strong>do</strong> em 05 de outubro de 2010.<br />

PEDERIVA, Patrícia Lima Martins. A relação músico-corpo-instrumento: procedimentos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre: V. 11, 91-98, set. 2004.<br />

ROCHA, Carmen Maria Mettig. Educação musical méto<strong>do</strong> Willems. 2ª edição. Salva<strong>do</strong>r:<br />

Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong> Bahia. 1990.<br />

SCHAFER, R. Murray. O ouvi<strong>do</strong> pensante. Tradução: Marisa Trench Fonterra<strong>da</strong>. São Paulo:<br />

Ed. UNESP, 1991.<br />

VILLA-LOBOS. Heitor. Villa-Lobos por ele mesmo/ pensamentos. In: RIBEIRO,J.C.(Org).<br />

O pensamento vivo de Villa-Lobos. São Paulo: Martin Claret, 1987.<br />

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2 OA N O S<br />

A interação compositor-intérprete-pe<strong>da</strong>gogo na Escola de Música <strong>da</strong><br />

UFRN: uma proposta de trabalho<br />

Cláudia Roberta de Oliveira Cunha<br />

UFRN<br />

claudia@musica.ufrn.br<br />

Elkke Beatriz Riedel<br />

UFRN<br />

ebriedel@musica.ufrn.br<br />

Resumo: Este trabalho surgiu por meio de um exercício para interiorização de noção de<br />

tempo em segun<strong>do</strong>s, como preparação de uma <strong>da</strong>s peças <strong>do</strong> repertório para a especialização<br />

em práticas interpretativas <strong>do</strong>s séculos XX e XXI. Em Impressões nº 1 de Helder Alves de<br />

Oliveira 1 o parâmetro duração é o único estritamente estabeleci<strong>do</strong>. No início <strong>do</strong> exercício de<br />

contagem <strong>do</strong> tempo em segun<strong>do</strong>s surgiram dificul<strong>da</strong>des de percepção desta nova proporção de<br />

tempo que foram supera<strong>da</strong>s depois de várias tentativas de erro e acerto. Surgiu então a idéia<br />

de repetir o experimento com os alunos <strong>do</strong> bacharela<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s os passos <strong>da</strong> vivência serão<br />

grava<strong>do</strong>s em vídeo como forma de registro <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de didático-pe<strong>da</strong>gógica que visa à<br />

inclusão <strong>do</strong> repertório de música contemporânea nos conteú<strong>do</strong>s curriculares em nossa<br />

universi<strong>da</strong>de. E, assim, possibilitar não só o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mais conheci<strong>do</strong>s compositores<br />

contemporâneos <strong>do</strong> cenário internacional, como também divulgar a literatura vocal escrita por<br />

autores locais.<br />

Palavras-chave: música vocal contemporânea, pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance, interação<br />

compositor-intérprete-pe<strong>da</strong>gogo<br />

Introdução<br />

Este trabalho é um relato de experiência surgi<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório de<br />

músicas para soprano e várias formações instrumentais. Tais peças foram compostas<br />

especialmente para o projeto de pesquisa <strong>do</strong> curso de especialização em práticas<br />

interpretativas <strong>do</strong>s séculos XX e XXI, destacan<strong>do</strong>-se que os seus compositores fazem parte <strong>do</strong><br />

Grupo de Pesquisa em Composição e Computação Musical <strong>da</strong> Escola de Música <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte, o BRAVO. Um diferencial deste projeto é que<br />

ele ultrapassa os limites <strong>da</strong> composição e seus des<strong>do</strong>bramentos nas práticas interpretativas.<br />

Além <strong>da</strong>s análises, recitais e gravação <strong>da</strong>s músicas, pretendemos que este repertório seja<br />

rapi<strong>da</strong>mente difundi<strong>do</strong> com o uso didático, realizan<strong>do</strong>-se masterclasses e elaboran<strong>do</strong>-se um<br />

manual que sirva de subsídio a uma ampla divulgação e utilização <strong>do</strong> conjunto <strong>da</strong> obra por<br />

estu<strong>da</strong>ntes de Canto <strong>da</strong> Escola de Música <strong>da</strong> UFRN e por outras instituições afins.<br />

1 Compositor paraibano residente em Natal-RN. Atua como professor substituto na Escola de Música <strong>da</strong> UFRN,<br />

nas disciplinas de análise musical e percepção musical.<br />

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2 OA N O S<br />

Analisan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s curriculares <strong>do</strong>s cursos de canto <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des e<br />

conservatórios brasileiros, inclusive <strong>da</strong> EMUFRN, observamos que o repertório estu<strong>da</strong><strong>do</strong> é<br />

limita<strong>do</strong> aos compositores <strong>da</strong> primeira metade <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong> (Fauré, Debussy, Poulenc,<br />

Britten, Vaughan Williams, Manuel de Falla, Richard Strauss, Wagner). No que se refere à<br />

escolha de compositores brasileiros, os mais executa<strong>do</strong>s são Alberto Nepomuceno, Villa-<br />

Lobos, Jaime Ovalle, Francisco Mingnone, Osval<strong>do</strong> Lacer<strong>da</strong>, Cláudio Santoro, Guerra-Peixe,<br />

Ernani Braga, Lorenzo Fernandez, Waldemar Henrique, Camargo Guarnieri, Edmun<strong>do</strong><br />

Villani-Cortez, Willy Correia de Oliveira, Altino Pimenta e Marlos Nobre. É fácil perceber<br />

que a escolha <strong>da</strong>s peças ain<strong>da</strong> está atrela<strong>da</strong> ao gosto pela linguagem mais tradicional.<br />

Panorama <strong>da</strong> música contemporânea<br />

Desde o final <strong>do</strong> século XIX a linguagem musical vem passan<strong>do</strong> por grandes<br />

transformações <strong>do</strong>s pontos de vista harmônico, formal e rítmico. Temos no século XX as<br />

experiências de Edgar Varèse, John Cage e Karlheinz Stockhausen que ampliaram as<br />

possibili<strong>da</strong>des de produção de sonori<strong>da</strong>des <strong>da</strong>n<strong>do</strong> origem não só a uma nova notação, mas<br />

crian<strong>do</strong> novos meios e formas de execução dessa música.<br />

Na maioria <strong>da</strong>s peças escritas a partir de 1950 os compositores utilizaram o que se<br />

denominou de técnica vocal expandi<strong>da</strong> ou técnica de voz expandi<strong>da</strong>. Para seguirmos com<br />

segurança por este caminho, nós nos baseamos no livro Exploring Twentieth – Century Vocal<br />

Music, (MABRY, 2002). A autora abor<strong>da</strong> a notação não tradicional e a técnica vocal<br />

expandi<strong>da</strong> e também apresenta idéias de seleção, preparação, interpretação e programação<br />

dessas peças. Das emissões vocais classifica<strong>da</strong>s como híbri<strong>da</strong>s temos o sprechgesang e a<br />

recitação. O sprechgesang, por exemplo, foi desenvolvi<strong>do</strong> por Arnold Schönberg na obra<br />

Pierrot Lunaire. Nesta técnica as alturas são alcança<strong>da</strong>s e logo aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s em movimentos<br />

ascendentes e descendentes por meio de glissan<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> a autora, estes glissan<strong>do</strong>s<br />

servem para fazer a conexão entre as notas (MABRY, 2002 p. 77 – 81).<br />

Os efeitos vocais mais explora<strong>do</strong>s são sussurro, riso, grito, inspiração, expiração,<br />

glissan<strong>do</strong>, portamento, vibrato, estalo de língua e trillo de língua. Destacaremos os três<br />

primeiros menciona<strong>do</strong>s e as respectivas orientações de execução. O sussurro é um som sur<strong>do</strong><br />

e de pouco volume. Sua produção não requer a vibração <strong>da</strong>s pregas vocais: deve ser feito<br />

simplesmente com a abertura e relaxamento <strong>da</strong> garganta. (MABRY, 2002 p. 127). O riso, por<br />

sua vez, é para ser emiti<strong>do</strong> nas mesmas cavi<strong>da</strong>des de ressonância <strong>do</strong> canto e, dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

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2 OA N O S<br />

indicação <strong>do</strong> compositor, nas regiões de ressonância de peito e de cabeça. Por exigir muito<br />

<strong>do</strong>s músculos <strong>da</strong> garganta, recomen<strong>da</strong>-se o uso <strong>do</strong> fonema [h] no ataque <strong>do</strong> riso para evitar a<br />

fadiga vocal e rouquidão (MABRY, 2002 p. 125). Já o efeito grito pode também causar <strong>da</strong>no<br />

à voz. Para sua execução é importante, especialmente para as vozes femininas, que a voz de<br />

peito não seja usa<strong>da</strong> em regiões muito agu<strong>da</strong>s (MABRY, 2002 p. 129).<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de didático-pe<strong>da</strong>gógica<br />

Essas orientações nos conduzem à próxima fase <strong>do</strong> nosso enfoque que é a preparação<br />

<strong>do</strong> repertório composto pelo grupo BRAVO. O estu<strong>do</strong> teve início com Impressões nº 1 para<br />

canto individual, composição de Helder Alves de Oliveira. Esta peça é a primeira <strong>da</strong> série<br />

composta para instrumentos individuais. Trata-se de música textual que utiliza recursos de<br />

técnica expandi<strong>da</strong> <strong>da</strong> voz, ordena<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> procedimentos contemporâneos como<br />

probabili<strong>da</strong>de e serialização de parâmetros musicais, tais como registro vocal e duração.<br />

Ao iniciarmos o estu<strong>do</strong>, o primeiro obstáculo foi encontra<strong>do</strong> no parâmetro duração,<br />

que é o único estritamente estabeleci<strong>do</strong> para a realização <strong>do</strong>s módulos <strong>da</strong> composição. O<br />

experimento desse parâmetro foi proposto por meio de um exercício para interiorização de<br />

noção de tempo segun<strong>do</strong> Maby (2002 p. 71-72). Durante as primeiras tentativas ficou níti<strong>da</strong> a<br />

falta de familiari<strong>da</strong>de com este nova proporção de tempo, o segun<strong>do</strong>. O senti<strong>do</strong> de pulsação<br />

rítmica que até então era claro e compreensível tornou-se um labirinto de imprecisão. Ain<strong>da</strong><br />

havia a falta de familiari<strong>da</strong>de com o manuseio <strong>do</strong> cronômetro. Como ultrapassar esta etapa e<br />

seguir adiante? Com paciência e perseverança seguimos exercitan<strong>do</strong> e, ao mesmo tempo,<br />

sentin<strong>do</strong> o efeito <strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>s no corpo, aprimoran<strong>do</strong> essa percepção tão sutil, equilibran<strong>do</strong><br />

razão e intuição.<br />

Antunes (1989, p. 75) abor<strong>da</strong> as questões <strong>do</strong> parâmetro <strong>da</strong> duração e <strong>do</strong> ritmo. Ele<br />

afirma que a duração é causa para o surgimento de tantas e novas notações musicais e sugere<br />

<strong>do</strong>is tipos de duração: a física e a psicológica. A física é absoluta, pois pode ser mensura<strong>da</strong><br />

utilizan<strong>do</strong> um cronômetro; a psicológica é relativa e subjetiva. Tu<strong>do</strong> depende <strong>do</strong> contexto<br />

inseri<strong>do</strong>. O ritmo entendi<strong>do</strong> tradicionalmente como articulação <strong>do</strong> tempo, conceito de<br />

periodici<strong>da</strong>de (batimentos cardíacos, ritmo respiratório), tornou-se relativo nas novas<br />

concepções estéticas <strong>da</strong> música contemporânea. “O bom músico profissional embora não seja<br />

necessariamente aquele que tem ouvi<strong>do</strong> absoluto, é sempre aquele que, entre outras<br />

quali<strong>da</strong>des, é capaz de “bater o segun<strong>do</strong>”, porque registra<strong>do</strong> em sua memória, graças à sua<br />

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2 OA N O S<br />

vivência musical [...]” (ANTUNES, 1989 p. 78, grifo <strong>do</strong> autor). No nosso caso, o aspecto em<br />

foco é o uso <strong>do</strong> cronômetro para controle <strong>do</strong> tempo. Portanto, to<strong>do</strong>s os outros parâmetros só<br />

poderão ser executa<strong>do</strong>s se o cantor tiver a consciência <strong>da</strong> passagem <strong>do</strong> tempo.<br />

A experiência com a contagem e vivência <strong>do</strong> tempo em segun<strong>do</strong>s possibilitou a idéia<br />

de replicar o experimento com os estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> bacharela<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s os passos <strong>da</strong> vivência<br />

serão grava<strong>do</strong>s em vídeo como forma de registro <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de didático-pe<strong>da</strong>gógica. É<br />

igualmente um passo para a preparação <strong>do</strong> repertório que pretendemos estu<strong>da</strong>r com ênfase em<br />

nossa universi<strong>da</strong>de. E, dessa forma, possibilitar não só o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mais conheci<strong>do</strong>s<br />

compositores contemporâneos <strong>do</strong> cenário internacional, como também divulgar a literatura<br />

vocal escrita por autores locais.<br />

O vídeo vai proporcionar aos alunos a oportuni<strong>da</strong>de de vivenciar os exercícios e<br />

oferecerá condições para trabalhos futuros, tanto em termos de levantamento de diferentes<br />

impressões <strong>da</strong> consciência <strong>da</strong> passagem <strong>do</strong> tempo como para possibilitar uma melhor<br />

execução <strong>da</strong> obra em questão, aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a sensibili<strong>da</strong>de rítmica, vivencian<strong>do</strong> a noção de<br />

gesto vocal e aperfeiçoan<strong>do</strong> a noção intervalar.<br />

As conclusões finais têm como base as impressões percebi<strong>da</strong>s ao fazer os exercícios.<br />

Como já foi cita<strong>do</strong> anteriormente, o obstáculo encontra<strong>do</strong> foi o parâmetro duração, cuja<br />

indicação é estritamente estabeleci<strong>da</strong> na peça Impressões nº 1. Ao iniciar o manuseio <strong>do</strong><br />

cronômetro com as devi<strong>da</strong>s orientações, percebemos a falta de habili<strong>da</strong>de de sentir, nessa fase<br />

inicial <strong>do</strong>s exercícios, o senti<strong>do</strong> de pulsação (o que causou espanto), já que o ritmo é uma <strong>da</strong>s<br />

matérias-primas no dia-a-dia de uma professora de canto. Sen<strong>do</strong> um experimento, as<br />

tentativas de erro e acerto foram acalman<strong>do</strong> a inquietude inicial. A persistência em<br />

experimentar proporcionou a percepção desta nova proporção de contagem de tempo, esse<br />

novo pulso. A sensação de conseguir com mais exatidão medir e sentir esse tempo abriu as<br />

portas para uma necessi<strong>da</strong>de de aprofun<strong>da</strong>r os níveis ca<strong>da</strong> vez mais sutis de percepção. No<br />

entanto, ain<strong>da</strong> é preciso vivenciar com mais proprie<strong>da</strong>de esse tempo. Cremos que é possível<br />

sentir-se à vontade nele como na concepção de tempo vigente na literatura vocal mais<br />

tradicional.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

MABRY, Sharon. Exploring Twentieth Century vocal music: a pratical guide to innovations<br />

in performance and repertoire. Oxford: Oxford Univesity, 2002.<br />

ANTUNES, Jorge. Notação na música contemporânea. Brasília: Sistrum Edições Musicais,<br />

1989.<br />

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Acesso e permanência no curso de Licenciatura em Música: primeiras<br />

impressões<br />

Rebeca Juliana Farias <strong>da</strong> Costa<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

Bolsista PIBIC/CNPq/FACEPE<br />

rebecajfc@hotmail.com<br />

Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco - UFPE<br />

cmgabr@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este texto apresenta um recorte <strong>do</strong> projeto de pesquisa, desenvolvi<strong>do</strong> pelo Grupo de<br />

Pesquisa Formação e atuação profissional de professores de música, cujo objetivo geral é<br />

investigar as motivações para a permanência no curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE,<br />

<strong>do</strong>s alunos passíveis de “jubilamento” e como objetivos específicos identificar as diferentes<br />

razões para o ingresso no curso; identificar, também, os aspectos mais relevantes para a<br />

permanência no curso; e analisar o descompasso entre a motivação inicial e a atual para a<br />

permanência no curso. Apresentaremos os resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>da</strong> pesquisa, que incluem <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

coleta<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> questionário aplica<strong>do</strong> aos discentes e, também, por meio de entrevista<br />

realiza<strong>da</strong> com um <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que ingressou na universi<strong>da</strong>de entre 1993 e 2001. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

analisa<strong>do</strong>s até o momento têm aju<strong>da</strong><strong>do</strong> a entender as motivações para a profissionalização <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes de licenciatura, mesmo <strong>da</strong>queles que permanecem no curso além <strong>do</strong> tempo<br />

previsto, como também têm auxilia<strong>do</strong> na caracterização <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> aluno de licenciatura em<br />

nossa universi<strong>da</strong>de.<br />

Palavras-chave: Ensino superior, acesso e permanência, motivação.<br />

Introdução<br />

O acesso e a permanência de estu<strong>da</strong>ntes no ensino superior tem si<strong>do</strong> tema de<br />

discussão em to<strong>da</strong>s as áreas <strong>do</strong> conhecimento. Na subárea <strong>da</strong> educação musical, pesquisa<strong>do</strong>res<br />

que estu<strong>da</strong>ram sobre cursos de graduação, destacam esses aspectos em seus trabalhos (ver<br />

MORATO, 2009; PRATES, 2004; CERESER, 2003; entre outros).<br />

Da mesma forma, nossos questionamentos incluíam os cursos de graduação em<br />

música, mais especificamente os cursos de formação de professores. Ao investigarmos sobre<br />

o perfil <strong>do</strong>s alunos que pertencem ao curso de licenciatura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Pernambuco – UFPE, identificamos alunos que ingressaram no curso ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de<br />

1990. Essa constatação levou à realização de um subprojeto denomina<strong>do</strong> Acesso e<br />

permanência no curso de Licenciatura em Música: motivações para a profissionalização, que<br />

tem como objetivo geral investigar as motivações para a permanência no curso, <strong>do</strong>s alunos<br />

passíveis de “jubilamento” e como objetivos específicos identificar as diferentes razões para o<br />

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ingresso no curso; identificar, também, os aspectos mais relevantes para a permanência no<br />

curso; e analisar o descompasso entre a motivação inicial e a atual para a permanência no<br />

curso.<br />

Outro fato que reforçava a necessi<strong>da</strong>de de ter esse aspecto <strong>do</strong> perfil discente como<br />

parte de um subprojeto específico, foi o de ter si<strong>do</strong> aprova<strong>da</strong> na UFPE, a Resolução 09/2009,<br />

que disciplina a recusa de matrícula nos cursos de Graduação. Em seu Artigo 1º, a Resolução<br />

define que será recusa<strong>da</strong> a matrícula ao estu<strong>da</strong>nte que houver esgota<strong>do</strong> o prazo máximo<br />

estabeleci<strong>do</strong> pela universi<strong>da</strong>de para a integralização curricular.<br />

Nesta comunicação, apresentaremos os resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>da</strong> pesquisa, que incluem<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong> questionário aplica<strong>do</strong> aos discentes e, também, por meio de<br />

entrevista realiza<strong>da</strong> com um <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que ingressou na universi<strong>da</strong>de entre 1993 e 2001.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Como referencial teórico-meto<strong>do</strong>lógico, utilizamos alguns conceitos <strong>da</strong> teoria crítica<br />

pós-moderna de Boaventura de Sousa Santos (2004). Sua teoria reconhece o conhecimento<br />

como “agrega<strong>do</strong>r de to<strong>do</strong>s os outros conceitos dessa teoria, entre eles ecologia <strong>do</strong>s saberes,<br />

ecologia <strong>da</strong>s temporali<strong>da</strong>des e <strong>do</strong>s reconhecimentos” (SANTOS, 2004). Esses conceitos e<br />

outros conduziram a nossa reflexão durante os momentos de análises <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

questionário e <strong>da</strong>s entrevistas.<br />

Este subprojeto faz parte de uma pesquisa maior que é desenvolvi<strong>da</strong> por um grupo de<br />

pesquisa, cujos integrantes são alunos <strong>da</strong> graduação, que participam voluntariamente. No<br />

entanto, o subprojeto foi aprova<strong>do</strong> no edital <strong>do</strong> PIBIC e tem uma <strong>da</strong>s integrantes <strong>do</strong> grupo<br />

como bolsista. Seguin<strong>do</strong> as metas estabeleci<strong>da</strong>s, foram realiza<strong>da</strong>s a revisão de literatura, onde<br />

buscamos autores que abor<strong>da</strong>vam conceitos que se relacionavam com o nosso tema: acesso e<br />

permanência nos cursos universitários. Dentre os textos consulta<strong>do</strong>s, encontramos aqueles que<br />

comentavam sobre o jubilamento, que é entendi<strong>do</strong> como o desligamento ou afastamento de<br />

aluno de Instituição de Ensino Superior (IES) por ter ultrapassa<strong>do</strong> o prazo máximo permiti<strong>do</strong><br />

para a conclusão <strong>do</strong> curso (RODRIGUES, 2006).<br />

Além desses, alguns textos apresentavam o acesso e a permanência nos cursos de<br />

graduação entre os grandes desafios <strong>da</strong> Reforma no Ensino Superior (BARRETO, 2008). Para<br />

essa autora, esses desafios deman<strong>da</strong>m <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a criação de políticas públicas de inclusão,<br />

a qual precisamente refere-se ao processo de implementação de medi<strong>da</strong>s que<br />

visem à garantia <strong>da</strong> permanência <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes na educação superior, até a<br />

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2 OA N O S<br />

integralização de seus cursos, sobretu<strong>do</strong> os advin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s classes populares. (BARRETO,<br />

2008, p. 60).<br />

Ain<strong>da</strong> em relação à permanência na Educação Superior, Mota (2008) afirma que,<br />

com relação ao processo de evasão nos cursos superiores, em termos gerais,<br />

os números <strong>do</strong> INEP não demonstram de imediato um processo de evasão<br />

acentua<strong>do</strong>, ou seja, em torno de 60% <strong>do</strong>s alunos de graduação concluem seus<br />

cursos no tempo mínimo. No entanto, nossas experiências pessoais em salas<br />

de aula evidenciam que desses 40% que evadem boa parte tem motivações<br />

de ordem econômica, varian<strong>do</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de trabalho a dificul<strong>da</strong>des de<br />

acompanhamento decorrentes de fraca formação no ensino médio. O<br />

processo de evasão pode e deve ser compensa<strong>do</strong> via ocupação <strong>da</strong>s vagas<br />

ociosas e por políticas assistenciais e acadêmicas adequa<strong>da</strong>s, elevan<strong>do</strong> o<br />

nível de diplomação (MOTA, p. 4).<br />

Outro item <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia era o primeiro contato com os possíveis participantes,<br />

aqueles alunos que ingressaram no curso entre 1993 a 2001 e que ain<strong>da</strong> permaneciam no<br />

curso. A técnica de pesquisa escolhi<strong>da</strong> para o contato com esses estu<strong>da</strong>ntes foi a entrevista<br />

que, neste subprojeto, é vista como uma “forma específica de conversação” que “favorece o<br />

acesso direto ou indireto às opiniões, às crenças, aos valores e aos significa<strong>do</strong>s que as pessoas<br />

atribuem a si, aos outros e ao mun<strong>do</strong> circunci<strong>da</strong>nte” (FRASER; GONDIM, 2004, p. 140).<br />

Portanto, após termos refleti<strong>do</strong> sobre os procedimentos que poderíamos a<strong>do</strong>tar durante as<br />

entrevistas, iniciamos essa etapa. Realizamos com os alunos as entrevistas na própria<br />

Universi<strong>da</strong>de. Estas entrevistas foram grava<strong>da</strong>s e logo após transcritas e envia<strong>da</strong>s para os<br />

mesmos, para que pudessem confirmar e rever seus depoimentos, assinan<strong>do</strong> posteriormente o<br />

termo onde pudessem consentir a utilização de sua entrevista como material <strong>do</strong> projeto, sen<strong>do</strong><br />

este um <strong>do</strong>s procedimentos éticos <strong>da</strong> pesquisa.<br />

A partir <strong>da</strong> execução desta parte <strong>do</strong> trabalho, começamos a categorização inicial <strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. Além disso, outros textos foram consulta<strong>do</strong>s, nos auxilian<strong>do</strong> tanto na parte de<br />

categorização, quanto na compreensão <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s.<br />

Acesso e permanência: primeiras impressões<br />

Apresentaremos, a seguir, alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> entrevista realiza<strong>da</strong> com um <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes seleciona<strong>do</strong>s. Para manter seu anonimato, o nomeamos de Aluno X. Na entrevista,<br />

questionamos a sua formação anterior, se possuía algum vínculo empregatício e as<br />

motivações que o levaram a permanecer por um longo perío<strong>do</strong> de tempo vincula<strong>do</strong> ao curso.<br />

Foi possível observar que antes de ingressar no curso superior, o Aluno X tinha frequenta<strong>do</strong><br />

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aulas em escolas próprias de música, por exemplo, conservatórios. Ao fazer o vestibular para<br />

Licenciatura em Música, a ideia ao ingressar no curso era que a universi<strong>da</strong>de funcionaria<br />

como uma continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s seus estu<strong>do</strong>s anteriores em escolas de música, ou de outra<br />

formação que recebeu anteriormente, que seus conhecimentos seriam expandi<strong>do</strong>s. É<br />

importante também ressaltar que, ao mencionarem a ideia de continui<strong>da</strong>de e aprimoramento<br />

<strong>do</strong>s conhecimentos já adquiri<strong>do</strong>s,<br />

os alunos constroem senti<strong>do</strong>s de que o curso os instrumentaliza em diversos<br />

aspectos constituin<strong>do</strong> como uma espécie de “amadurecimento profissional”<br />

<strong>do</strong> que já trazem consigo. Sen<strong>do</strong>, pois uma expansão <strong>do</strong> seu mun<strong>do</strong><br />

profissional proporciona<strong>do</strong> pelo curso de música, como também um<br />

investimento na carreira profissional (MORATO, 2009, f. 151).<br />

Não havia, entretanto, por parte <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>, clareza sobre a proposta <strong>do</strong> curso<br />

que é a formação de professores, embora houvesse o contato anterior com o ensino, pois já<br />

ensinava informalmente, tanto em escolas de amigos como em aulas particulares. Essa<br />

profissionalização anterior à formação é apresenta<strong>da</strong> por Louro (2004), em sua tese. A autora<br />

afirma que<br />

para muitos professores de música, a experiência em lecionar inicia muitas<br />

vezes concomitante ao processo formal de formação para a profissão,<br />

poden<strong>do</strong>, em algumas vezes, ser anterior à mesma. (LOURO, 2004, f. 75 ).<br />

Para essa autora, esse fenômeno tem caracteriza<strong>do</strong> a profissão na área <strong>da</strong> música na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de, não poden<strong>do</strong> se desconsiderar a formação que o aluno vivenciou.<br />

Uma <strong>da</strong>s problemáticas apresenta<strong>da</strong>s pelo entrevista<strong>do</strong> foi a falta de interesse <strong>do</strong>s<br />

alunos <strong>da</strong> sua turma, pois alguns já possuíam uma formação universitária anterior a de<br />

música, em outra área profissional. Na perspectiva <strong>do</strong> Aluno X, seus colegas de turma vinham<br />

de outros cursos para estu<strong>da</strong>r música porque gostavam, não porque pretendiam ou mostravam<br />

interesse em seguir carreira profissional na área.<br />

Pelo menos que eu me lembre, não tinha quase ninguém que pretendia ser<br />

músico, sabe, tinha um que era farmacêutico, a outra era forma<strong>da</strong> em não sei<br />

quantos cursos, tava fazen<strong>do</strong> música, porque queria fazer música [como<br />

hobby]. (Aluno X).<br />

Além disso, o Aluno X comenta que a turma onde havia ingressa<strong>do</strong> “era uma galera<br />

bem mais velha”, com as aulas acontecen<strong>do</strong> no turno <strong>da</strong> noite, sen<strong>do</strong> este fato uma <strong>da</strong>s razões<br />

para não conseguir uma aproximação com seus colegas de turma, o que o desmotivava.<br />

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Outra dificul<strong>da</strong>de apresenta<strong>da</strong> na entrevista <strong>do</strong> aluno foi a estrutura <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de<br />

na época, como também a reprovação e o atraso em disciplinas, que ocorriam por ele faltar às<br />

aulas:<br />

Me desestimulei até com a estrutura <strong>da</strong>qui <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de na época, [...] aí fui<br />

pagan<strong>do</strong> [as disciplinas]... às vezes me matriculava em mais, mas reprovava<br />

por falta, não <strong>da</strong>va priori<strong>da</strong>de, qualquer coisa que aparecesse, eu deixava de<br />

ir, para a facul<strong>da</strong>de, para poder tocar... não vinha por falta de estímulo<br />

mesmo. (Aluno X).<br />

Este aspecto, destaca<strong>do</strong> pelo entrevista<strong>do</strong>, tem similari<strong>da</strong>de com a perspectiva<br />

descrita por Salga<strong>do</strong> e Silva (2005) quan<strong>do</strong> focaliza um “distanciamento” entre os cursos e os<br />

interesses musicais <strong>do</strong>s alunos. Para o autor, esse distanciamento se refere à uma concorrência<br />

entre os conteú<strong>do</strong>s vivencia<strong>do</strong>s nos cursos e sua relevância para a prática profissional <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes, que o faz priorizar as ativi<strong>da</strong>des “de fora” em detrimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

acadêmicas.<br />

Considerações finais<br />

O acesso e a permanência de alunos nos cursos de Ensino Superior é um tema que<br />

apresenta questões problemáticas não somente para as Universi<strong>da</strong>des, mas para to<strong>da</strong> a<br />

socie<strong>da</strong>de. O problema <strong>do</strong> acesso ao ensino superior se inicia bem antes <strong>do</strong> ingresso na<br />

universi<strong>da</strong>de, com as deficiências vivencia<strong>da</strong>s na educação básica, dificultan<strong>do</strong> sua entra<strong>da</strong><br />

nos cursos de graduação. Posteriormente, para permanecer o estu<strong>da</strong>nte encontra outras<br />

dificul<strong>da</strong>des, como a incerteza sobre a carreira profissional que almeja seguir, a necessi<strong>da</strong>de<br />

de trabalhar enquanto estu<strong>da</strong> e o distanciamento entre o curso e os seus interesses. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

analisa<strong>do</strong>s até o momento têm aju<strong>da</strong><strong>do</strong> a entender as motivações para a profissionalização <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes de licenciatura, mesmo <strong>da</strong>queles que permanecem no curso além <strong>do</strong> tempo<br />

previsto, como também têm auxilia<strong>do</strong> na caracterização <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> aluno de licenciatura em<br />

nossa universi<strong>da</strong>de.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BARRETO, Maria Rai<strong>da</strong>lva Nery. Políticas públicas para o acesso e permanência no Ensino<br />

Superior. 2008. 144f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Políticas Públicas, Gestão <strong>do</strong> Conhecimento<br />

e Desenvolvimento <strong>Regional</strong>), Departamento de Ciências Humanas, Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Bahia, Salva<strong>do</strong>r, 2008.<br />

CERESER, Cristina Mie Ito. A formação de professores de Música sob a ótica <strong>do</strong>s alunos de<br />

Licenciatura. 2003. 152f. Dissertação. (Mestra<strong>do</strong> em Música) - Instituto de Artes,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre.<br />

FRASER, Márcia Tourinho Dantas; GONDIM, Sônia Maria Guedes. Da fala <strong>do</strong> outro ao<br />

texto negocia<strong>do</strong>: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia, Ribeirão<br />

Preto, vol.14, n. 28, p. 139-152, 2004.<br />

LOURO, Ana Lúcia de Marques e. Ser <strong>do</strong>cente universitário-professor de música: dialogan<strong>do</strong><br />

sobre identi<strong>da</strong>des profissionais com professores de instrumento. 2004. 195f. Tese (Doutora<strong>do</strong><br />

em Música), Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre,<br />

2004.<br />

MORATO, Cíntia Thaís. Estu<strong>da</strong>r e trabalhar durante a graduação em Música: construin<strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong>s sobre a formação profissional <strong>do</strong> músico e <strong>do</strong> professor de música. 2009. 307f. Tese<br />

(Doutora<strong>do</strong> em Música), Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto<br />

Alegre, 2009.<br />

MOTA, Ronal<strong>do</strong>. O Acesso à Universi<strong>da</strong>de. Disponível em:<br />

. Acesso em: 15 abr. <strong>2011</strong>.<br />

PRATES, Ana Lídia <strong>da</strong> Fontoura. Por que a licenciatura em música? Um estu<strong>do</strong> sobre<br />

escolha profissional com calouros <strong>do</strong> curso de licenciatura em música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul em 2003. 2004. 136f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música),<br />

Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre, 2004.<br />

RODRIGUES, Horácio Wanderley. Direito à educação: acesso, permanência e desligamento<br />

de alunos <strong>do</strong> ensino superior. Revista Seqüência, n. 52, p. 201-216, jul. 2006.<br />

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia <strong>da</strong>s ausências e uma sociologia <strong>da</strong>s<br />

emergências. In: SANTOS, Boaventura de Sousa. Conhecimento prudente para uma vi<strong>da</strong><br />

decente: ‘um discurso sobre as ciências’ revisita<strong>do</strong>. São Paulo: Cortez, 2004. p. 777-821.<br />

SILVA, José Alberto Salga<strong>do</strong> e. Construin<strong>do</strong> a profissão musical: uma etnografia entre<br />

estu<strong>da</strong>ntes universitários de música. 2005. 289f. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Música), UNIRIO, Rio<br />

de Janeiro, 2005.<br />

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2 OA N O S<br />

Arranjo no Ensino Coletivo <strong>da</strong> Performance Musical: experiência com<br />

Violão em grupo na ci<strong>da</strong>de de São Luís/MA<br />

Daniel Lemos Cerqueira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Maranhão<br />

<strong>da</strong>l_lemos@yahoo.com.br<br />

Guilherme Augusto de Ávila<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Maranhão<br />

Guilherme_violao@hotmail.com<br />

Resumo: Pretende-se relatar a experiência realiza<strong>da</strong> em uma oficina de Violão em São Luís,<br />

dialogan<strong>do</strong> com a literatura para estabelecer considerações acerca <strong>da</strong>s estratégias de ensino<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s. Há uma breve seção sobre a história <strong>do</strong> ensino coletivo <strong>da</strong> Performance Musical,<br />

bem como suas características didático-pe<strong>da</strong>gógicas. Conclusões reforçam o desenvolvimento<br />

desta temática no Brasil atualmente, enfatizan<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de de elaborar pesquisas acerca<br />

<strong>do</strong> ensino individual.<br />

Palavras-chave: Ensino Coletivo, Arranjo, Violão<br />

Introdução<br />

O ensino coletivo <strong>da</strong> Performance Musical é um meio instrucional que<br />

provavelmente remonta aos primeiros registros de manifestação musical. Chailley (1970, p.4-<br />

5) menciona a descoberta de um arco musical na caverna <strong>do</strong>s Trois-Fréres, localiza<strong>da</strong> no Sul<br />

<strong>da</strong> França, há cerca de 40.000 anos. Assim como visto em diversas tribos africanas, a Música<br />

não era concebi<strong>da</strong> de forma separa<strong>da</strong> como na cultura Ocidental, mas associa<strong>da</strong> a um ritual<br />

cultural de forma orgânica. Na presença de instrumentos musicais, subentende-se que seja<br />

necessário transmitir saberes acerca de sua prática, e na inexistência <strong>do</strong>s recursos a nós<br />

disponíveis na atuali<strong>da</strong>de (registros <strong>do</strong>cumentais e audiovisuais, por exemplo), é possível<br />

deduzir que o aprendiza<strong>do</strong> musical ocorria através <strong>da</strong> observação, audição e imitação,<br />

poden<strong>do</strong> haver transmissão oral de conhecimentos – este último também presente <strong>do</strong> ensino<br />

individual de Música, segun<strong>do</strong> Harnoncourt (1988, p.29).<br />

Dessa forma, pretende-se neste trabalho tratar de uma experiência de ensino coletivo<br />

<strong>da</strong> Performance Musical, dialogan<strong>do</strong> com a literatura específica e refletin<strong>do</strong> sobre as<br />

estratégias didáticas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s. O presente artigo está associa<strong>do</strong> ao ENSAIO – Grupo de<br />

Pesquisa em Ensino e Aprendizagem <strong>da</strong> Performance Musical, vincula<strong>do</strong> à Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal <strong>do</strong> Maranhão, adequan<strong>do</strong>-se à linha de pesquisa intitula<strong>da</strong> “Estratégias para o ensino<br />

de instrumento musical”.<br />

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Breve história <strong>do</strong> ensino coletivo<br />

No início <strong>do</strong> Século XIX, o ensino coletivo era utiliza<strong>do</strong> como ferramenta para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> de teoria musical, em especial Harmonia. Ain<strong>da</strong> neste perío<strong>do</strong>, instrumentistas<br />

como Franz Liszt (1811-1886) e Fréderic Chopin (1810-1849) ensinavam aspectos<br />

interpretativos em grupo, através <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia conheci<strong>da</strong> como master-class, cujo objetivo<br />

é trabalhar aspectos interpretativos <strong>do</strong> repertório, exigin<strong>do</strong>, portanto nível de instrução<br />

apropria<strong>do</strong> (CERQUEIRA, 2010). Neste modelo, as aulas coletivas são utiliza<strong>da</strong>s como<br />

complemento ao ensino individual.<br />

No final <strong>do</strong> século XIX, nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, o ensino coletivo foi inseri<strong>do</strong> na<br />

educação básica, utilizan<strong>do</strong> o instrumento Piano, devi<strong>do</strong> ao favorecimento econômico<br />

provin<strong>do</strong> <strong>da</strong> construção deste instrumento e ao alto custo <strong>do</strong> ensino individual. Este cenário<br />

propiciou o surgimento de material didático para este fim, concentra<strong>do</strong> principalmente no<br />

ensino tradicional de Música, com orientações sobre estratégias de ensino, organização e<br />

número de alunos. (FISHER, 2010, p.3-4). Apesar de estar associa<strong>da</strong> ao ensino tradicional de<br />

Música, esta estratégia não requer níveis eleva<strong>do</strong>s de experiência musical, sen<strong>do</strong> possível<br />

trabalhar com um público-alvo menos específico.<br />

Na primeira metade <strong>do</strong> século XX, o ensino coletivo obteve significativos avanços,<br />

trabalhan<strong>do</strong> aspectos não abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s no ensino individual tradicional. Dentre as habili<strong>da</strong>des<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s, há transposição, leitura à primeira vista, improvisação, harmonia e treinamento<br />

auditivo (FISHER, 2010, p.5). Ain<strong>da</strong>, surge neste contexto a necessi<strong>da</strong>de de se desenvolver<br />

estratégias pe<strong>da</strong>gógicas para diferentes faixas etárias, importante avanço para o ensino <strong>da</strong><br />

Performance Musical. Contanto, é importante perceber que, neste perío<strong>do</strong>, o ensino coletivo<br />

ain<strong>da</strong> continuava atrela<strong>do</strong> aos objetivos <strong>do</strong> ensino profissional de Música.<br />

Características <strong>do</strong> ensino coletivo de instrumentos musicais<br />

No Brasil, o ensino coletivo tem ti<strong>do</strong> amplo desenvolvimento nas últimas déca<strong>da</strong>s,<br />

sen<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> nos mais varia<strong>do</strong>s contextos e objetivos de ensino musical. Dentre alguns,<br />

podemos citar o ensino profissional de música – orquestras, ban<strong>da</strong>s, música de câmara, bigbands<br />

e master-classes, por exemplo – e o ensino musical na escola regular e em cursos livres<br />

– iniciação musical, oficinas de arranjo e improvisação e corais ama<strong>do</strong>res, entre outros.<br />

Dentre os aspectos musicais, pe<strong>da</strong>gógicos, sociais e econômicos relativos ao ensino<br />

coletivo de instrumentos, Oliveira (1990), Cruvinel (2008), Tourinho (2008), Cerqueira<br />

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(2009) e Fisher (2010) reforçam as seguintes características:<br />

• Acessibili<strong>da</strong>de econômica em to<strong>do</strong>s os contextos sociais;<br />

• Autonomia a partir <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de iniciativas e decisões;<br />

• Interação com os colegas como recurso de aprendizagem – Teoria <strong>da</strong> Aprendizagem<br />

Colaborativa (FISHER, 2010, p.51-66);<br />

• Abor<strong>da</strong>gem prática no aprendiza<strong>do</strong> de conceitos teórico-musicais, permitin<strong>do</strong> sua<br />

assimilação sensorial;<br />

• Desenvolvimento interdisciplinar de habili<strong>da</strong>des musicais, entre elas Treinamento<br />

Auditivo, Leitura de Notação Musical, Audição Crítica, Análise Musical, História <strong>da</strong><br />

Música, Improvisação, Harmonização, Composição e Performance;<br />

• Utilização de repertório provin<strong>do</strong> de culturas e contextos varia<strong>do</strong>s;<br />

• Considerações sobre a técnica instrumental e suas implicações anatômico-fisiológicas;<br />

• Desenvolvimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de artística através <strong>da</strong> Audição Crítica.<br />

Ain<strong>da</strong>, Trin<strong>da</strong>de (2010) reforça, a partir de seu modelo “CLATEC”, a possibili<strong>da</strong>de<br />

de se trabalhar no ensino coletivo com construção de instrumentos musicais não-tradicionais,<br />

sen<strong>do</strong> sugeri<strong>da</strong> como recurso de ensino e aprendizagem para porta<strong>do</strong>res de deficiência visual.<br />

Cerqueira (2010) reforça que no ensino coletivo de ban<strong>da</strong>s ou grupos de cor<strong>da</strong>s – como nos<br />

trabalhos de Barbosa (1994) e Cruvinel (2005) – é possível tratar de técnica, ten<strong>do</strong> em vista a<br />

semelhança entre instrumentos <strong>do</strong> mesmo naipe.<br />

Alguns <strong>do</strong>s possíveis ambientes de aplicação <strong>do</strong> ensino coletivo são, segun<strong>do</strong><br />

Tourinho (2008), escolas profissionais de Música, projetos sociais, ONGs, centros<br />

comunitários e na educação básica.<br />

O Arranjo no Ensino Coletivo<br />

Segun<strong>do</strong> Tourinho (2008) há diversos critérios para divisão <strong>da</strong>s turmas para o ensino<br />

coletivo, caben<strong>do</strong> ao professor definir uma opção pertinente a sua meto<strong>do</strong>logia de trabalho.<br />

Dentre tais critérios, podemos enumerar:<br />

• Faixa Etária;<br />

• Posse <strong>do</strong> instrumento;<br />

• Habili<strong>da</strong>de prévia no instrumento;<br />

• Conhecimento musical anterior.<br />

Sobre a elaboração de arranjos como estratégia pe<strong>da</strong>gógica, é possível trabalhar sem<br />

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exigência de pré-requisitos musicais. Durante o processo de composição, o professor pode<br />

a<strong>da</strong>ptar o material às condições técnico-musicais de ca<strong>da</strong> aluno. Cerqueira (2010, p.133-137)<br />

descreve tal fato, sugerin<strong>do</strong> a adição de “desafios” – trechos de maior exigência psicomotora<br />

– gradualmente, a fim de desenvolver as habili<strong>da</strong>des instrumentais <strong>do</strong>s alunos. Dessa forma,<br />

to<strong>do</strong>s os participantes desempenham papel relevante na produção musical sem uma<br />

hierarquia, sen<strong>do</strong> uma estratégia de motivação.<br />

Relato de experiência com o ensino coletivo de Violão através de arranjo<br />

Em segui<strong>da</strong>, haverá o relato de uma oficina de ensino coletivo de Violão, ministra<strong>da</strong><br />

pelo professor desta disciplina no Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

<strong>do</strong> Maranhão, e segun<strong>do</strong> autor <strong>do</strong> presente trabalho.<br />

Esta oficina ocorreu em um mini-curso <strong>do</strong> X <strong>Encontro</strong> Humanístico <strong>do</strong> Centro de<br />

Ciências Humanas, na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Maranhão, em outubro de 2010. O grupo de<br />

alunos possuía i<strong>da</strong>de média de 22 anos, e nenhum deles havia participa<strong>do</strong> <strong>da</strong>s minhas aulas de<br />

violão em grupo. Dois <strong>do</strong>s alunos eram <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, e estavam na capital<br />

exclusivamente para o evento. A realização <strong>da</strong> tarefa durou quatro horários (uma manhã).<br />

No início <strong>da</strong> aula, houve uma conversa com os alunos onde foram abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

assuntos como a vivência musical, na tentativa de conhecer a experiência de ca<strong>da</strong> um e<br />

diagnosticar as capaci<strong>da</strong>des momentâneas de execução no Violão. Ao tocar, <strong>do</strong>is alunos<br />

arriscaram pequenas peças com dedilha<strong>do</strong> e acordes mais complexos, enquanto os demais não<br />

tentaram executar o instrumento, demonstran<strong>do</strong> estar em uma fase inicial de aprendizagem.<br />

Este procedimento norteou o grau de dificul<strong>da</strong>de para as experimentações posteriores, onde<br />

ca<strong>da</strong> um desenvolverá estruturas musicais compatível com suas possibili<strong>da</strong>des performáticas<br />

(CERQUEIRA, 2009, p.136).<br />

A próxima etapa foi definir o repertório a ser trabalha<strong>do</strong> com arranjos em grupo.<br />

Foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s algumas sugestões pelo professor, entre eles clássicos <strong>do</strong> rock (como Yester<strong>da</strong>y,<br />

<strong>do</strong>s Beatles) e música popular maranhense. Em segui<strong>da</strong>, o professor perguntou se algum <strong>do</strong>s<br />

alunos possuía composições para violão, sen<strong>do</strong> que um deles mostrou uma peça ain<strong>da</strong> sem<br />

nome. A turma demonstrou interesse pela peça, fican<strong>do</strong> acor<strong>da</strong><strong>do</strong> que esta seria trabalha<strong>da</strong>.<br />

Esta consulta certamente propiciou maior envolvimento, sen<strong>do</strong> a escolha conjunta <strong>do</strong><br />

repertório uma estratégia de motivação indica<strong>da</strong> por Kaplan (1987, p.60-68) e Tourinho<br />

(1995). É possível que a utilização de peças compostas por alunos contribuam mais à<br />

motivação, valorizan<strong>do</strong> a experiência musical <strong>do</strong>s mesmos e oferecen<strong>do</strong> maior proximi<strong>da</strong>de<br />

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com a criação.<br />

Esta peça possuía um padrão rítmico em dedilha<strong>do</strong> semelhante à introdução de uma<br />

bala<strong>da</strong> de rock. O aluno compositor demonstrou prática ao tocar sua peça, pois apresentava<br />

interessantes recursos harmônicos e idiomáticos <strong>do</strong> violão. A métrica <strong>da</strong> peça é quaternária,<br />

com movimento harmônico de um acorde por compasso – Em, Bm7, Am7, D7 e depois Am,<br />

Bm, C, D7. Em segui<strong>da</strong>, o aluno tocou a peça algumas vezes para que os demais a<br />

memorizassem através <strong>da</strong> audição, recurso de aprendizagem típico <strong>da</strong> Música Popular<br />

(CAVALCANTI, 2010). Logo, foi realiza<strong>da</strong> uma análise textural <strong>da</strong> peça, com o professor<br />

direcionan<strong>do</strong> a percepção musical <strong>do</strong> grupo às estruturas musicais. Foi concluí<strong>do</strong> que esta era<br />

composta por um baixo, melodia e uma parte intermediária de acompanhamento. Para chegar<br />

às conclusões, foram utiliza<strong>da</strong>s perguntas como: “de que forma vocês acham que esta música<br />

foi feita? Que elementos temos aqui?” Esta estratégia pe<strong>da</strong>gógica é conheci<strong>da</strong> como<br />

aprendizagem por descoberta, sen<strong>do</strong> sua eficácia no ensino musical reforça<strong>da</strong> por Uszler<br />

(USZLER et al, 2000, p.244-248) e Fisher (2010, p.44-45). O ponto mais evidente desta<br />

técnica pe<strong>da</strong>gógica é desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de tomar decisões de forma independente,<br />

caben<strong>do</strong> ao professor apenas direcionar a percepção <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> para que as conclusões –<br />

descobertas – sejam feitas pelo aluno.<br />

Continuan<strong>do</strong>, o professor sugeriu que a peça poderia ser executa<strong>da</strong> por um grupo<br />

instrumental (chama<strong>do</strong> no momento de “mini-ban<strong>da</strong>”), e que o trabalho seguinte seria<br />

desmembrá-la em vozes. Poderia, ain<strong>da</strong>, haver o acréscimo de elementos musicais, ten<strong>do</strong> em<br />

mente o tamanho <strong>do</strong> grupo. Assim, foi elabora<strong>do</strong> um esquema formal <strong>da</strong> peça no quadro<br />

branco (tabela 1):<br />

Estrutura<br />

Forma Musical<br />

Melodia<br />

X<br />

Acompanhamento Em Bm7 Am7 D7 Em Bm7 Am7 D7 G Em C D7<br />

Baixo X X<br />

TABELA 1 – Partitura esquemática <strong>da</strong> música executa<strong>da</strong> pelo aluno compositor<br />

Ain<strong>da</strong>, durante o processo de elaboração <strong>do</strong> arranjo, o professor procurou estabelecer<br />

relações com o cotidiano musical de violonistas. Uma <strong>da</strong>s práticas mais utiliza<strong>da</strong>s no Violão é<br />

justamente a elaboração de arranjos e transcrições, seja para solo, grupos de violões ou de<br />

instrumentos diversos, como flautas, vozes e percussão, entre outros (FUNCK, 2006). Este<br />

comentário foi levanta<strong>do</strong> para que os alunos relacionem esta instrução com sua utilização<br />

prática, propician<strong>do</strong> maior atenção e interesse nas tarefas.<br />

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Em segui<strong>da</strong>, foi realiza<strong>do</strong> um esquema que apresentasse a ordem de eventos <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> executa<strong>do</strong> pelo compositor <strong>da</strong> música. Cifras foram coloca<strong>da</strong>s na voz intermediária<br />

(acompanhamento), pois to<strong>do</strong>s sabiam ler cifras. Logo após, as vozes foram separa<strong>da</strong>s em três<br />

violões, levan<strong>do</strong> em consideração questões idiomáticas <strong>do</strong> instrumento. O baixo, então<br />

executa<strong>do</strong> pelo compositor, foi a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> para se adequar a esta proposta. A voz intermediária<br />

foi executa<strong>da</strong> em acordes “bati<strong>do</strong>s”. A seguir, foram acrescenta<strong>da</strong>s estruturas musicais,<br />

através de experimentações. Por fim, to<strong>do</strong>s chegaram a consenso, transforman<strong>do</strong>-se em um<br />

novo esquema (tabela 2):<br />

Estrutura<br />

Forma Musical<br />

Violão solo 1<br />

X<br />

Violão solo 2<br />

X<br />

Acompanhamento Em Bm Am D7 Em Bm Am D7 G Em C D7 Am<br />

Baixo X X X<br />

Percussão no violão X X X<br />

TABELA 2 – Esquema, após experimentações<br />

Como podemos ver, a melodia escrita no esquema anterior deu lugar a duas vozes de<br />

violões solo. Essas mu<strong>da</strong>nças foram parte <strong>da</strong>s experimentações.<br />

Durante o processo de experimentação, foi pergunta<strong>do</strong> se alguém era capaz de<br />

improvisar. Dois alunos se prontificaram, demonstran<strong>do</strong> habili<strong>da</strong>des satisfatórias. Assim,<br />

ficou combina<strong>do</strong> que ambos improvisariam, em forma de “pergunta e resposta”. Um fato<br />

importante a ser considera<strong>do</strong> é a forma natural com que os alunos se ofereceram para<br />

improvisar. Isto não é comum, pois os alunos costumam ficar tími<strong>do</strong>s ao se arriscar frente a<br />

grupos. Fisher (2010, p.45) reforça que a estratégia de aprendizagem por descoberta, a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong><br />

durante to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de, traz autoconfiança, pois incentivam os alunos à toma<strong>da</strong> de decisões e<br />

descoberta de conceitos individualmente. Logo, é provável que o ambiente de interação e<br />

participação ativa trouxe esta sensação de liber<strong>da</strong>de.<br />

Próximo ao fim <strong>da</strong> oficina, o esquema para a condução <strong>da</strong> peça foi finaliza<strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

início ao trabalho com intensi<strong>da</strong>de musical. Em geral, há restrita consciência acerca deste<br />

parâmetro musical, em especial por alunos que não possuem o Violão como primeiro<br />

instrumento. Na falta de maior projeção sonora, os violonistas são constantemente obriga<strong>do</strong>s a<br />

usufruir de uma ampla gama de diferentes ângulos de toques, varian<strong>do</strong> timbres e intensi<strong>da</strong>des<br />

como forma de compensar a restrita variação de intensi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> instrumento (NAVEDA,<br />

2002). Dessa forma, foram inseri<strong>do</strong>s no esquema alguns sinais de dinâmica utiliza<strong>do</strong>s em<br />

partituras tradicionais, sen<strong>do</strong> que os mesmos requerem mínimas explicações.<br />

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Para encerrar a aula, foi realiza<strong>da</strong> uma gravação <strong>do</strong> arranjo via celular, pois não foi<br />

possível utilizar o estúdio de gravação <strong>da</strong> rádio universitária. Os alunos ficaram contentes<br />

com o resulta<strong>do</strong>. Inclusive, aqueles que residem no interior manifestaram interesse em<br />

retornar a São Luís para gravar esta peça, caso fosse consegui<strong>da</strong> uma vaga no estúdio <strong>da</strong><br />

rádio.<br />

Considerações finais<br />

O estabelecimento de um ambiente saudável de trabalho, onde o aprendiza<strong>do</strong> ocorre<br />

através <strong>da</strong> motivação, participação ativa e colaboração (FISHER, 2010, p.51-56), aumenta a<br />

eficácia <strong>do</strong> ensino, ten<strong>do</strong> em mente que o aprendiza<strong>do</strong> de um instrumento musical é<br />

basicamente psicológico (KAPLAN, 1987, p.14). Experiências no emprego de estratégias que<br />

contemplem facilita<strong>do</strong>res psicológicos tem si<strong>do</strong> bem sucedi<strong>da</strong>s, e um número significativo de<br />

pesquisas nacionais reforçam seus benefícios (TOURINHO, 1995; CRUVINEL, 2005;<br />

NASCIMENTO, 2007; CRUVINEL, 2008; TOURINHO, 2008; CERQUEIRA, 2009;<br />

CAVALCANTI, 2010; CENCI; PRESGRAVE, 2010; CLEMENTINO, 2010; RIBEIRO,<br />

2010). Tal fato demonstra o atual desenvolvimento e interesse pelas estratégias de aplicação<br />

<strong>do</strong> ensino coletivo, provavelmente devi<strong>do</strong> às suas diversas possibili<strong>da</strong>des aplicação na<br />

socie<strong>da</strong>de e a seu caráter mais próximo <strong>do</strong>s objetivos de formação <strong>do</strong>s diversos Cursos de<br />

Licenciatura em Música abertos recentemente no país. Entretanto, o ensino individual – mais<br />

associa<strong>do</strong> aos Bacharela<strong>do</strong>s em Música – tem ti<strong>do</strong> menores atenções, haven<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de<br />

de pesquisar por estratégias pe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s a este contexto. Reforça-se, então, que o<br />

ensino individual seja objeto de futuras pesquisas no ensino <strong>da</strong> Performance Musical.<br />

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CRUVINEL, Flávia Maria. Educação Musical e Transformação Social: uma experiência com<br />

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TOURINHO, Ana Cristina Gama. O ensino coletivo de violão na educação básica e em<br />

espaços alternativos: utopia ou possibili<strong>da</strong>de? In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> VIII <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong> Centro-Oeste. Brasília, 2008.<br />

TRINDADE, Brasilena Pinto. A abor<strong>da</strong>gem de educação musical CLATEC e sua interrelação<br />

com as inteligências múltiplas. In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> IX <strong>Encontro</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> <strong>Nordeste</strong>. Natal: UFRN,<br />

2010.<br />

USZLER, Marienne; GORDON, Stewart; SMITH, Scott McBrige. The Well-Tempered<br />

Keyboard Teacher. Belmont: Schirmer Books, 2000. 2ª ed.<br />

WEBER, Wiliam. Conservatories (I). In: SADIE, Stanley (org.). The New Grove Dictionary<br />

of Music and Musicians. Disponível em http://www.oxfordmusiconline.com/public/book/omo<br />

_gmo, 2010.<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

As canções <strong>do</strong>s Songbooks analisa<strong>da</strong>s como material didático:<br />

levantamento de repertório para uma proposta contemporânea de aula de<br />

instrumento<br />

Ana Carolina Nunes <strong>do</strong> Couto<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

anacarolina.couto@ufpe.br<br />

Sérgio Ricar<strong>do</strong> de Go<strong>do</strong>y Lima<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

sergiogo<strong>do</strong>y68@gmail.com<br />

Resumo: Apresentação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> A música brasileira popular e a<br />

pe<strong>da</strong>gogia instrumental: pesquisa de repertório e confecção de guia ilustrativo (LIMA;<br />

COUTO, 2010). Traz uma primeira listagem <strong>da</strong>s páginas onde se encontram as músicas nos<br />

Songbooks <strong>da</strong>s editoras Lumiar e Gryphus, que exemplificam onze categorias de conteú<strong>do</strong>s<br />

técnico-musicais, analisa<strong>da</strong>s e cataloga<strong>da</strong>s através de análise <strong>do</strong>cumental e fenomenológica.<br />

Palavras-chave: Songbooks, aprendizagem, didática <strong>do</strong> instrumento.<br />

Introdução<br />

Este artigo traz os resulta<strong>do</strong>s parciais de um estu<strong>do</strong> publica<strong>do</strong> nos <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> IX<br />

<strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> <strong>Nordeste</strong> (LIMA; COUTO, 2010). Ele tem como objetivo<br />

apresentar uma primeira listagem <strong>da</strong>s páginas onde se encontram músicas <strong>do</strong>s Songbooks <strong>da</strong>s<br />

editoras Lumiar e Gryphus, analisa<strong>da</strong>s e cataloga<strong>da</strong>s a partir de uma lista de onze categorias<br />

musicais.<br />

Esta pesquisa surge num momento em que a música popular já é aceita como<br />

repertório dentro <strong>da</strong> sala de aula sem as antigas barreiras que a excluíram por tanto tempo de<br />

ambientes formais de ensino (COUTO, 2009). Tal aceitação, reflexo de uma socie<strong>da</strong>de<br />

contemporânea que busca diálogos entre diferentes saberes e práticas ora marginaliza<strong>do</strong>s pela<br />

academia, torna necessárias pesquisas que tratem <strong>do</strong>s mais diferentes aspectos que a utilização<br />

deste repertório pode deman<strong>da</strong>r <strong>do</strong> professor em sala de aula. No caso específico <strong>do</strong> professor<br />

de instrumento, estu<strong>do</strong>s apontam que sua prática costuma não ser devi<strong>da</strong>mente sistematiza<strong>da</strong>,<br />

e um <strong>do</strong>s motivos alega<strong>do</strong>s para isto é a inexpressiva produção de material didático na área <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance (BORÉM, 2006, p. 50-51; COUTO, 2008, p. 77-78; HARDER,<br />

2008, p. 137; SANTIAGO, 2007, p.17).<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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2 OA N O S<br />

Com o intuito de colaborar com o crescimento <strong>do</strong> conhecimento na área <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance instrumental, mais especificamente com a utilização <strong>do</strong> repertório<br />

oriun<strong>do</strong> <strong>da</strong> música brasileira popular, propomos, através <strong>do</strong> projeto inicial desta pesquisa, a<br />

sistematização de parte de nossa ativi<strong>da</strong>de enquanto <strong>do</strong>centes. Ela se caracteriza pela seleção,<br />

análise, categorização e catalogação de conteú<strong>do</strong>s teórico-musicais presentes em peças que<br />

fazem parte <strong>do</strong>s Songbooks. Este nome é como ficaram popularmente conheci<strong>do</strong>s os diversos<br />

livros de partituras, publica<strong>do</strong>s com intuito comercial, e amplamente utiliza<strong>do</strong>s por músicos,<br />

professores de música e público em geral (BOTELHO, 1997). Contu<strong>do</strong>, tal utilização é feita<br />

de maneira não sistematiza<strong>da</strong>, e ca<strong>da</strong> indivíduo lança mão de uma busca pessoal de<br />

organização de processos de autoaprendizagem com este material.<br />

Almejan<strong>do</strong> contribuir para a diminuição desse déficit na produção didática <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance instrumental, pretende-se investigar a seguinte questão:<br />

* É possível identificar padrões de elementos composicionais de ordem rítmica,<br />

melódica, harmônica e estrutural na música brasileira popular que possam ser organiza<strong>do</strong>s e<br />

cataloga<strong>do</strong>s em categorias temáticas pré-estabeleci<strong>da</strong>s, permitin<strong>do</strong> assim orientar a<br />

organização de programas de estu<strong>do</strong> de instrumentos musicais?<br />

Esperamos, com esta investigação:<br />

1. Catalogar peças que ilustrem elementos característicos <strong>da</strong> música brasileira<br />

popular por conteú<strong>do</strong>s teórico-musicais a serem considera<strong>do</strong>s durante o estu<strong>do</strong> instrumental;<br />

2. Estabelecer critérios de seleção de peças que possam orientar a organização de um<br />

programa de aprendizagem <strong>do</strong> piano popular;<br />

3. Elaborar material didático na forma de guia de consulta para utilização de<br />

professores e alunos de instrumentos musicais<br />

Procedimentos de coleta e análise<br />

Dentre as editoras que se dedicam a publicar este tipo de material, a pesquisa optou<br />

em trabalhar com as publicações <strong>da</strong> Lumiar, Irmãos Vitale e Gryphus, pois são produtoras de<br />

materiais facilmente encontra<strong>do</strong>s e de amplo uso por escolas especializa<strong>da</strong>s e músicos<br />

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2 OA N O S<br />

profissionais. Entretanto, até o momento só foram analisa<strong>do</strong>s os Songbooks <strong>da</strong> Lumiar e<br />

Gryphus. A extração de <strong>da</strong><strong>do</strong>s desse material está obedecen<strong>do</strong> a duas estratégias de análise:<br />

uma objetiva, composta por leitura, análise e interpretação, típicas <strong>da</strong> técnica de análise<br />

<strong>do</strong>cumental (MICHEL, 2005, p. 38), alia<strong>da</strong> a uma subjetivista, fenomenológica, que inclui a<br />

análise auditiva <strong>da</strong> partitura com sua execução em instrumento e/ou fonograma<br />

(CAVAZOTTI; FREIRE, 2007, p. 47).<br />

No entanto, <strong>da</strong><strong>do</strong> à vasta quanti<strong>da</strong>de de Songbooks existentes no merca<strong>do</strong> (48 <strong>da</strong><br />

Lumiar, 82 <strong>da</strong> Irmãos Vitale e 7 <strong>da</strong> Gryphus 1 ), o trabalho deman<strong>do</strong>u uma seleção <strong>da</strong><br />

amostragem. Os Songbooks escolhi<strong>do</strong>s para fazerem parte <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cumental são os<br />

volumes que constam na Biblioteca <strong>do</strong> Centro de Artes e Comunicação <strong>da</strong> UFPE (37 volumes<br />

registra<strong>do</strong>s 2 ), soma<strong>do</strong>s aos volumes de nosso acervo pessoal 3 (11 volumes). Acredita-se que<br />

esta seleção <strong>da</strong> amostragem facilitará o acesso <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s, já que a maioria <strong>da</strong>s obras<br />

lista<strong>da</strong>s na pesquisa poderá ser consulta<strong>da</strong> em material disponível na biblioteca cita<strong>da</strong>.<br />

As categorias inicialmente estabeleci<strong>da</strong>s deram-se pela observação de índices de<br />

materiais pe<strong>da</strong>gógicos tanto <strong>do</strong> repertório popular (tais como ALMADA, 2009; CURIA,<br />

1990; FREITAS, 1995; GUEST, 2006; FARIA, 1991), como também de materiais<br />

tradicionais (KOELLREUTTER, 1980), e alguns oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Jazz Americano, cuja<br />

estruturação didática é ti<strong>da</strong> como referência de organização para a aprendizagem <strong>da</strong> música<br />

popular (COKER et. al, 1997; LEVINE, 1995). Após uma primeira análise, que constou na<br />

verificação <strong>da</strong> freqüência de ocorrências destes conteú<strong>do</strong>s pré-estabeleci<strong>do</strong>s no projeto inicial,<br />

certas categorias permaneceram, enquanto outras foram elimina<strong>da</strong>s ou substituí<strong>da</strong>s. O critério<br />

utiliza<strong>do</strong> para a seleção de determina<strong>da</strong>s categorias se deu pelo seu uso no programa previsto<br />

no plano de ensino <strong>da</strong>s disciplinas Instrumento Auxiliar - Tecla<strong>do</strong> 1, 2, 3 e 4, <strong>do</strong> curso de<br />

Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE, na qual atuamos como <strong>do</strong>centes.<br />

Contu<strong>do</strong>, faz-se necessário esclarecer que, para que uma determina<strong>da</strong> música seja<br />

aceita como representante de determina<strong>da</strong> categoria e a indicação de sua página figure na<br />

listagem, ela deve apresentar de forma facilmente identificável aquela categoria em sua<br />

estrutura. Desse mo<strong>do</strong>, no caso <strong>da</strong> categoria “Músicas com amplo uso <strong>da</strong> progressão II – V –<br />

I”, por exemplo, só figuram aquelas que utilizam significativamente tal progressão, de<br />

1 Informações disponíveis no site <strong>da</strong>s editoras: www.irmãosvitale.com.br; www.lumiar.com.br;<br />

www.gryphus.com.br, obti<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> de elaboração <strong>do</strong> projeto (janeiro/2010).<br />

2 Conforme informações obti<strong>da</strong>s no momento de elaboração <strong>do</strong> projeto inicial, em março de 2010.<br />

3 Os volumes repeti<strong>do</strong>s não serão computa<strong>do</strong>s.<br />

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maneira que ela possa vir a ser utiliza<strong>da</strong> pelo professor como um exemplo didático desse<br />

conteú<strong>do</strong> harmônico.<br />

Resulta<strong>do</strong>s parciais<br />

Até o momento, foram analisa<strong>do</strong>s 20 volumes <strong>do</strong>s Songbooks que constam <strong>da</strong><br />

amostragem, representan<strong>do</strong> 41,6 % <strong>do</strong> total. A Tabela 1 apresenta uma primeira listagem<br />

desta análise, separa<strong>da</strong>s em onze categorias.<br />

Tabela 1 – Categorias e localização <strong>da</strong>s músicas analisa<strong>da</strong>s<br />

Conteú<strong>do</strong> Musical Editoras Songbook Páginas<br />

Dorival Caymmi vol.1 p. 40-41<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 2 p. 35-37<br />

Melodias construí<strong>da</strong>s<br />

sobre pentacordes<br />

Lumiar<br />

Cazuza vol. 1 p. 64-65<br />

Cazuza vol. 2 p. 50-51<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 94-95<br />

Rita Lee vol.1 p. 40-41<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 120-121<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 36-37<br />

Melodias construí<strong>da</strong>s<br />

sobre pentatônicas<br />

Lumiar<br />

Rita Lee vol. 1 p. 44-45; 60-61<br />

Rita Lee vol. 2 p. 62-63; 74-75<br />

Cazuza vol. 1 p. 54-55; 74-75; 76-77; 80-81; 82-83<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Cazuza vol. 2 p. 44-45; 47; 48-49; 56-57; 68-69<br />

Djavan vol. 1 p. 29-31<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 42-43; 54-55; 132-133; 134-135;<br />

138-139<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 48-50; 127; 102-103; 132-133<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 76-78; 85-87<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 25-29; 117-121; 151-153; 161-163<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 2 p. 68-70; 71-72<br />

Caetano Veloso vol. 1 p. 42-43<br />

Djavan vol. 2 p. 129-131<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 54-55; 92-93<br />

Melodias que mu<strong>da</strong>m<br />

de mo<strong>do</strong><br />

Lumiar<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 27; 30-31; 116-118<br />

Edu Lobo p. 198-202<br />

Francis Hime p.153-155; 276; 295-297<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 57-58<br />

Ary Barroso vol. 2 p. 118-119<br />

Rita Lee vol. 1 p. 44-45<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 134-135; 148-149<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 91-93<br />

Melodias que<br />

modulam para tons<br />

Lumiar<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 99-101; 109-111; 126-128<br />

Ary Barroso vol. 2 p. 39-41; 109-111;<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

vizinhos Caetano Veloso vol. 1 p. 35<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 140-141; 142-143<br />

Djavan vol. 1 p. 90-91; 104-105<br />

Djavan vol. 2 p. 152-153<br />

Edu Lobo p. 55-58; 198-202<br />

Tom Jobim vol. 1 p. 48-49<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 48-49; 67-72; 84-86; 109-110<br />

Tom Jobim vol. 3 p. 65-67<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 104-106<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 55-58; 170-171<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 90-91<br />

Lumiar<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 87-89<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 114-117<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 70-74; 116-117; 138-139; 158-159<br />

Melodias que<br />

modulam para tons<br />

afasta<strong>do</strong>s<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 40-41<br />

Djavan vol. 1 p. 56-58; 92-94<br />

Djavan vol. 2 p. 36-39; 81-83<br />

Edu Lobo p. 71-75; 212-213; 229-232<br />

Francis Hime p. 69-71; 110-111; 118-119; 138-141;<br />

153-155; 246-247; 295-297<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 40-43; 44-48; 51-53; 54-56; 81-83;<br />

84-86<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Tom Jobim vol. 3 p. 39-41; 42-44; 70-71; 72-73<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 62-65<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 104-105;<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 2<br />

p. 35-37; 58-60; 79-82; 120-123; 159-<br />

161;<br />

Rita Lee vol. 2 p. 66-67<br />

Caetano Veloso vol. 1 p. 35<br />

Melodias mo<strong>da</strong>is<br />

Lumiar<br />

Cazuza vol. 2 p. 27<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 58-59; 70-74; 78-79; 108-112; 127;<br />

128-129; 138-139; 155-157; 158-159<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 98-99<br />

Djavan vol. 1 p. 49-51; 122-123<br />

Djavan vol. 2 p.58-59; 109-111<br />

Edu Lobo p. 52-53; 92-95<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 81-83<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 132-133<br />

Harmonias que<br />

utilizam<br />

pre<strong>do</strong>minantemente<br />

acordes I, IV e V<br />

Lumiar<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 2 p. 35-37<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 124-125<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 30-31; 35; 56-57; 60; 66; 90-91;<br />

92-93; 99-101<br />

Rita Lee vol. 1 p. 44-45<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

98


2 OA N O S<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 42-43; 104-105; 147;<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 48-50; 148-149<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p. 82-84<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 53-54<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 32-33; 46-47; 90-91; 104-105<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 48-49; 52-53; 61-63; 87-89<br />

Rita Lee vol. 1 p. 40-41; 72-73<br />

Caetano Veloso vol. 1 p. 35<br />

Lumiar<br />

Cazuza vol. 1 p. 64-65; 74-75; 82-83<br />

Cazuza vol. 2 p. 27; 44-45; 68-69; 88<br />

Harmonias que<br />

utilizam<br />

pre<strong>do</strong>minantemente<br />

acordes <strong>do</strong> campo<br />

harmônico<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 56-57; 127; 130-131; 134-135;138-<br />

139; 158-159; 162-163; 175-177<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 36-37; 54-57; 94-95<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 42-43<br />

Ary Barroso vol. 2<br />

p. 46-47 (1ª parte)<br />

Djavan vol.1 90-91; 161-163; 167-170<br />

Djavan vol. 2 p. 53-55; 78-80; 90-91<br />

Francis Hime p. 110-111<br />

Tom Jobim vol. 1 p. 57<br />

Gryphus A cor <strong>do</strong> Som p.66-68 (1ª parte); 85-87; 120-121<br />

Músicas com amplo<br />

uso <strong>da</strong> progressão<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 66-69; 144-145<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

II - V - I<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 104-105; 115-117<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 42-44; 52-53; 84-86; 87-89<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 48-50; 57-58<br />

Ary Barroso vol. 2 p. 46-47<br />

Caetano Veloso vol. 1 p. 42-43<br />

Djavan vol. 1 p. 32-35; 40-42; 43-45; 52-55; 56-58;<br />

59-61; 62-63; 76-80; 81-83; 87-89;<br />

95-97; 104-105; 111-113; 158-160<br />

Djavan vol. 2 p. 36-39; 63-65; 69-71; 72-74; 115-<br />

117; 118-120; 121-123; 129-131; 132-<br />

134; 156-158; 166-168<br />

Edu Lobo p. 86-89; 99-103; 116-119; 180-185;<br />

220-221<br />

Lumiar<br />

Francis Hime p. 138-141; 171; 153-155; 194-195;<br />

214-215; 238-239; 254-255; 260; 267-<br />

269; 280; 295-297; 304-305<br />

Tom Jobim vol. 1 p. 48-49; 50-51; 52-53; 58-59; 60-61;<br />

65; 78-79; 88; 90-91; 98-99; 106;<br />

108-109; 112-113; 114-115; 116; 117<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 40-43; 51-53; 57-58; 67-72; 76-77;<br />

78-80; 81-83; 84-86; 87; 88-89; 90-<br />

91; 98-99; 100-102; 103-106; 107-<br />

108; 109-110<br />

Tom Jobim vol. 3 p. 26-27; 32-34; 35-36; 37-38; 39-41;<br />

42-44; 45-47; 54-56; 57-58; 59-60;<br />

61-62; 70-71; 72-73; 86-87; 88-91;<br />

92-94; 95-97; 98-99; 102-103<br />

Rita Lee vol. 1 p. 38-39<br />

Rita Lee vol. 2 p. 36-37; 62-63<br />

Cazuza vol. 1 p. 90-91<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

100


2 OA N O S<br />

Gilberto Gil vol. 1<br />

p. 108-112; 118-119; 140-141; 162-<br />

163<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 71-73; 112-113; 172-173<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 1 p. 170-171<br />

As 101 melhores canções <strong>do</strong><br />

século XX vol. 2 p. 140-141<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 48-50<br />

Ary Barroso vol. 2 p. 46-47; 54-56<br />

Músicas com amplo<br />

uso <strong>da</strong> progressão<br />

I - VI - II - V<br />

Lumiar<br />

Dorival Caymmi vol. 1<br />

p. 36-38; 40-41; 44-45; 46-47; 56-57;<br />

90-91; 92-93<br />

Dorival Caymmi vol. 2 p. 72-73; 84-86; 122-123<br />

Rita Lee vol. 1 p. 38-39<br />

Rita Lee vol. 2 p. 36-37; 62-63<br />

Tom Jobim vol. 1 p. 65<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 67-72; 100-102<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 68-70; 71-72<br />

Ary Barroso vol. 1 p. 59-60; 65-66; 86-88; 126-128;<br />

Ary Barroso vol. 2<br />

p. 21-22; 39-41; 54-56; 109-111; 112-<br />

113<br />

Músicas com amplo<br />

uso de <strong>do</strong>minantes<br />

estendi<strong>da</strong>s<br />

Lumiar<br />

Dorival Caymmi vol. 1 p. 76-77; 115-117<br />

Djavan vol. 1 p. 29-31; 81-83<br />

Djavan vol. 2 p. 118-120; 126-128; 156-158<br />

Edu Lobo p. 27-29; 47-51; 142-146; 180-185<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

101


2 OA N O S<br />

Francis Hime p. 118-119; 153-155; 194-195<br />

Tom Jobim vol. 1 p. 108-109<br />

Tom Jobim vol. 2 p. 54-56; 59-60; 100-102; 109-110<br />

Tom Jobim vol. 3 p. 35-36; 63-34<br />

Gilberto Gil vol. 1 p. 102-121; 140-141<br />

Gilberto Gil vol. 2 p. 71-73; 112-113; 140-141<br />

Discussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s parciais<br />

Conforme já exposto, as categorias foram escolhi<strong>da</strong>s de mo<strong>do</strong> a atender, em parte, os<br />

conteú<strong>do</strong>s teórico-musicais <strong>da</strong>s disciplinas Instrumento Auxilar – Tecla<strong>do</strong> 1, 2, 3 e 4, de<br />

forma que as músicas encontra<strong>da</strong>s sirvam de repertório para análise e aplicação de tais<br />

conteú<strong>do</strong>s. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s anteriormente permitem verificar a existência de canções<br />

populares brasileiras que ilustram to<strong>da</strong>s as categorias. A Tabela 2 traz a visualização <strong>da</strong>s<br />

categorias com a quanti<strong>da</strong>de de canções que foram encontra<strong>da</strong>s naquele item:<br />

Tabela 2 – Quanti<strong>da</strong>de de músicas por categoria<br />

Conteú<strong>do</strong> Musical<br />

Quanti<strong>da</strong>de<br />

Melodias construí<strong>da</strong>s sobre pentacordes 7<br />

Melodias construí<strong>da</strong>s sobre pentatônicas 27<br />

Melodias que mu<strong>da</strong>m de mo<strong>do</strong> 22<br />

Melodias que modulam para tons vizinhos 19<br />

Melodias que modulam para tons afasta<strong>do</strong>s 35<br />

Melodias mo<strong>da</strong>is 25<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

102


2 OA N O S<br />

Harmonias que utilizam pre<strong>do</strong>minantemente acordes I, IV e V 18<br />

Harmonias que utilizam pre<strong>do</strong>minantemente acordes <strong>do</strong> campo<br />

harmônico 42<br />

Músicas com amplo uso <strong>da</strong> progressão II - V - I 115<br />

Músicas com amplo uso <strong>da</strong> progressão I - VI - II - V 23<br />

Músicas com amplo uso de <strong>do</strong>minantes estendi<strong>da</strong>s 35<br />

Perspectiva de continui<strong>da</strong>de e des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong> trabalho<br />

Algumas <strong>da</strong>s peças presentes na listagem <strong>da</strong> Tabela 1 estão sen<strong>do</strong> utiliza<strong>da</strong>s como<br />

repertório nas aulas de Instrumento Auxiliar – Tecla<strong>do</strong> 1, 2, 3 e 4 <strong>do</strong> curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>da</strong> UFPE. Pretende-se, ao final <strong>do</strong> 2º semestre <strong>do</strong> corrente ano, verificar as<br />

contribuições que o uso deste repertório trará ou não à aprendizagem <strong>do</strong>s alunos. Para isso,<br />

ain<strong>da</strong> serão analisa<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criação de um sub-projeto, e/ou de um relato de<br />

experiência para futuras publicações.<br />

Conclusão<br />

As músicas presentes nos Songbooks <strong>da</strong>s editoras Lumiar e Gryphus fornecem uma<br />

vasta fonte de utilização didática por professores de instrumento. Através <strong>da</strong>s análises<br />

realiza<strong>da</strong>s até o momento, é possível conhecer e mapear determina<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s teóricos e<br />

musicais muito freqüentes no repertório popular brasileiro. Agora, pela primeira vez no<br />

Brasil, o público que utiliza os Songbooks em sala de aula poderá facilmente encontrar a<br />

música mais adequa<strong>da</strong> para se trabalhar os conteú<strong>do</strong>s deseja<strong>do</strong>s, graças ao olhar didático que<br />

esta pesquisa lança sobre tal material.<br />

O processo realiza<strong>do</strong> até o momento também permite visualizar a possibili<strong>da</strong>de de<br />

transformar este trabalho num Guia de Consulta aos Songbooks destas três editoras, com<br />

intuito comercial, disponibilizan<strong>do</strong> estas informações a quem mais desejar delas se beneficiar.<br />

Acreditamos que isto pode contribuir para uma melhor sistematização <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente, no<br />

que diz respeito não apenas à pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance instrumental <strong>da</strong> música popular, mas<br />

de to<strong>do</strong> tipo de aula de música que lance mão deste repertório.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

103


2 OA N O S<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

104


2 OA N O S<br />

Referências<br />

ALBUQUERQUE, João L. Rock book V: A Cor <strong>do</strong> Som. Rio de Janeiro: Editora Gryphus,<br />

2000.<br />

ALMADA, Carlos. Harmonia funcional. Campinas: Editora <strong>da</strong> Unicamp, 2009.<br />

BORÉM, Fausto. Por uma uni<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 13, 45-54, mar. 2006.<br />

BOTELHO, Ana C. de Lima. Identi<strong>da</strong>de na canção popular e sua representação: o caso <strong>do</strong>s<br />

songbooks no Brasil. 93 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música Brasileira) – Centro de Letras e<br />

Artes, UNI-RIO, Rio de Janeiro, 1997.<br />

CAVAZOTTI, A.; FREIRE, Van<strong>da</strong> B. Música e pesquisa: novas abor<strong>da</strong>gens. Belo<br />

Horizonte: Editora <strong>da</strong> UFMG, 2007.<br />

COKER, Jerry; KNAPP, Bob;VINCENT, Larry. Hearin’ the changes: dealing with unknow<br />

tunes by ear. Rottenburg: Advance Music, 1997.<br />

COUTO, Ana Carolina Nunes <strong>do</strong>. Música popular e aprendizagem: algumas considerações.<br />

Opus, Goiânia, v. 15, n. 2, dez. 2009, p. 89-104.<br />

______. Ações pe<strong>da</strong>gógicas <strong>do</strong> professor de piano popular: um estu<strong>do</strong> de caso. 101 f.<br />

Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música). Escola de Música <strong>da</strong> UFMG. Belo Horizonte, 2008.<br />

CURIA, Wilson. Harmonia moderna e improvisação. São Paulo: Fermata <strong>do</strong> Brasil, 1990,<br />

84p.<br />

FARIA, Nelson. A arte <strong>da</strong> improvisação. Rio de Janeiro: Lumiar, 1991.<br />

FREITAS, Sérgio P. R. de. Teoria <strong>da</strong> Harmonia na música popular: uma definição <strong>da</strong>s<br />

relações de combinação entre os acordes na música tonal. 197 p. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em<br />

Música). Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista. São Paulo, 1995.<br />

GUEST, Ian. Harmonia méto<strong>do</strong> prático. v. 1, 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumiar, 2006. 164 p.<br />

HARDER, Rejane. Algumas considerações a respeito <strong>do</strong> ensino de instrumento: trajetória e<br />

reali<strong>da</strong>de. Opus, Goiânia, v. 14, n.1, p. 127-142, jun. 2008.<br />

KOELLREUTTER, H. J. Harmonia funcional: introdução à teoria <strong>da</strong>s funções harmônicas.<br />

São Paulo: Ricordi, 1980.<br />

LEVINE, Mark. The jazz theory book. Petaluma: Sher Music Co., 1995.<br />

LIMA, S. R. de Go<strong>do</strong>y; COUTO, A.C. Nunes <strong>do</strong>. A música brasileira popular e a pe<strong>da</strong>gogia<br />

instrumental: pesquisa de repertório e confecção de guia ilustrativo. IN: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> IX <strong>Encontro</strong><br />

<strong>Regional</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> <strong>Nordeste</strong>. Natal, jun de 2010. Disponível em:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

105


2 OA N O S<br />

www.musica.ufrn/revistas/index.php/abemnordeste2010. Acesso: 31 jan. <strong>2011</strong>.<br />

MICHEL, M. Helena. Meto<strong>do</strong>logia e pesquisa científica em ciências sociais. São Paulo:<br />

Atlas, 2005. 138 p.<br />

SANTIAGO, P. Furst. Mapa e síntese <strong>do</strong> processo de pesquisa em performance e em<br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance musical. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 17, p. 17-27, set.<br />

2007.<br />

CHEDIAK, Almir. 101 Melhores Canções <strong>do</strong> Século XX. Rio de Janeiro: Lumiar, 2004. 2 v.<br />

______. Songbook Ary Barroso. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994. 2 v.<br />

______. Songbook Caetano Veloso. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997. 2 v.<br />

______. Songbook Cazuza. Rio de Janeiro: Lumiar, 1990. 2 v.<br />

______. Songbook Djavan. Rio de Janeiro: Lumiar, 1997. 2 v.<br />

______. Songbook Dorival Caymmi. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994. 2 v.<br />

______. Songbook Edu Lobo. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994.<br />

______. Songbook Francis Hime. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994.<br />

______. Songbook Gilberto Gil. Rio de Janeiro: Lumiar, 1992. 2 v.<br />

______. Songbook Rita Lee. Rio de Janeiro: Lumiar, 1990. 2 v.<br />

______. Songbook Tom Jobim. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994. 3 v.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

106


2 OA N O S<br />

As pesquisas sobre Educação Infantil e Música no Brasil<br />

Mônica Luchese Marques<br />

Universi<strong>da</strong>de de Brasília<br />

monicaluchese@hotmail.com<br />

Maria Cristina de Carvalho Cascelli de Azeve<strong>do</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Brasília<br />

criscarvalhocazeve<strong>do</strong>@gmail.com<br />

Resumo: A relação entre Música e Educação Infantil vem sen<strong>do</strong> investiga<strong>da</strong> de diversas<br />

formas por diferentes autores. A fim de conhecer como essa relação é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> em teses e<br />

dissertações nacionais, utilizou-se o Banco de Teses <strong>da</strong> CAPES para realizar um mapeamento<br />

de pesquisas que abor<strong>da</strong>m essa temática. Esse mapeamento foi orienta<strong>do</strong> pelas seguintes<br />

questões: 1) como a Música na Educação Infantil vem sen<strong>do</strong> investiga<strong>da</strong>? 2) em que áreas as<br />

investigações sobre Música e Educação Infantil estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s? e 3) como os<br />

paradigmas investigativos qualitativos e quantitativos estão sen<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong>s nessas<br />

pesquisas? Os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s nos mostram uma pre<strong>do</strong>minância de trabalhos<br />

qualitativos, centraliza<strong>do</strong>s na região sul e sudeste <strong>do</strong> país, defendi<strong>do</strong>s na área de Educação e<br />

que focam no sujeito o professor. As temáticas mais pesquisa<strong>da</strong>s discutem as práticas<br />

musicais de professores uni<strong>do</strong>centes na Educação Infantil.<br />

Palavras-chave: Educação Infantil, Música, Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Arte.<br />

Introdução<br />

A Educação Infantil é considera<strong>da</strong> a primeira etapa <strong>da</strong> Educação Básica e abrange<br />

crianças de 0 a 6 anos de i<strong>da</strong>de. Segun<strong>do</strong> a Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional –<br />

LDBEN, essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino tem por finali<strong>da</strong>de o desenvolvimento integral <strong>da</strong> criança.<br />

(BRASIL, 1996). 1<br />

O reconhecimento <strong>da</strong> educação infantil como parte integrante <strong>da</strong> Educação Básica<br />

resultou na elaboração <strong>do</strong> Referencial Curricular Nacional <strong>da</strong> Educação Infantil – RCNEI<br />

(BRASIL, 1998), <strong>do</strong>cumento não obrigatório, que apresenta referências e orientações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas que visam contribuir com as práticas educativas a fim de promover o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s crianças na primeira infância. Esse <strong>do</strong>cumento é dividi<strong>do</strong> em três<br />

volumes: Introdução, Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mun<strong>do</strong>. Neste, a Música<br />

é eixo de trabalho sen<strong>do</strong> considera<strong>da</strong> linguagem em que se destaca a sua importância na<br />

comunicação, expressão e desenvolvimento cognitivo <strong>da</strong>s crianças. Desde o primeiro volume<br />

1 Com a criação <strong>do</strong> nono ano, a faixa etária de 6 anos passou a integrar o Ensino Fun<strong>da</strong>mental, artigo 32 seção<br />

III, de 2006, no entanto o texto legal <strong>do</strong> artigo 29, II seção, <strong>da</strong> LDBEN 9394/96 considera a faixa de 0 até 6 anos<br />

como Educação infantil.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

107


2 OA N O S<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, o texto enfatiza que o desenvolvimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des cognitivas <strong>da</strong>s<br />

crianças deve incluir as práticas <strong>da</strong> linguagem musical juntamente com a corporal, plástica,<br />

oral e escrita. (BRASIL, 1998)<br />

A concepção de aprendizagem musical no RCNEI aponta para a presença <strong>da</strong> música<br />

como conhecimento específico nessa etapa <strong>da</strong> Educação Básica. Porém, a forma como a<br />

música está sen<strong>do</strong> inseri<strong>da</strong> nesse contexto varia em ca<strong>da</strong> instituição escolar quanto aos seus<br />

objetivos, ativi<strong>da</strong>des, conteú<strong>do</strong>s e profissional. Geralmente, é consenso a presença <strong>da</strong> música<br />

com diferentes fins e objetivos na rotina <strong>da</strong>s crianças como: 1) disciplinar o comportamento e<br />

desenvolver atitudes e valores – lavar mão, alimentar-se, fazer silêncio, <strong>do</strong>rmir, respeitar o<br />

colega -; 2) comemorar <strong>da</strong>tas e festivi<strong>da</strong>des – dia <strong>da</strong> árvore, dia <strong>da</strong>s mães, dia <strong>do</strong>s pais, dia <strong>do</strong><br />

índio -; 3) memorizar conteú<strong>do</strong>s – números, letras <strong>do</strong> alfabeto, vocabulário e 4) executar<br />

instrumentos de “bandinhas” reproduzin<strong>do</strong> e imitan<strong>do</strong> padrões sonoros e rítmicos (BRASIL,<br />

1998).<br />

O RCNEI em contraposição a essa prática destaca que a ativi<strong>da</strong>de musical na<br />

educação infantil deve superar a concepção tradicional de ativi<strong>da</strong>des musicais reprodutoras e<br />

mecanicistas, em que a expressão musical <strong>da</strong> criança e seus saberes e fazeres musicais são<br />

ignora<strong>do</strong>s. No cenário musical atual, o professor tem o desafio de trabalhar o conhecimento<br />

musical prévio <strong>do</strong> aluno, oportunizan<strong>do</strong> a convivência e a reflexão sobre diferentes gêneros e<br />

estilos musicais. Nesse senti<strong>do</strong>, o RCNEI, ao compreender a música como linguagem e forma<br />

de conhecimento defende que a música tem estrutura e características próprias que devem ser<br />

vivencia<strong>da</strong>s por meio <strong>da</strong> produção, apreciação e reflexão (BRASIL, 1998). Por produção o<br />

<strong>do</strong>cumento entende a experimentação e a imitação, sen<strong>do</strong> produtos musicais a interpretação, a<br />

improvisação e a composição. A apreciação envolve a percepção de sons e silêncios, a<br />

organização <strong>da</strong>s estruturas musicais em que se objetiva desenvolver a escuta ativa, a<br />

capaci<strong>da</strong>de de observação, a análise e o reconhecimento. A terceira ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica está<br />

relaciona<strong>da</strong> com a reflexão sobre a organização, criação e produção musical (BRASIL, 1999).<br />

A proposta musical <strong>do</strong> referencial curricular exige que o professor tenha conhecimento<br />

específico sobre música, ou seja, <strong>do</strong>mine a linguagem musical e seus fun<strong>da</strong>mentos.<br />

Segun<strong>do</strong> Penna (2008), as especifici<strong>da</strong>des musicais <strong>do</strong> RCNEI, torna improvável sua<br />

concretização, pois em suas palavras esse referencial “é uma idealização muito distante <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de atual, e somente em poucas escolas deste país encontramos um professor licencia<strong>do</strong><br />

na área especifica de música atuan<strong>do</strong> neste nível escolar, especialmente na rede pública”<br />

(PENNA, 2008, p. 135). A transformação desse quadro ain<strong>da</strong> é lenta e depende <strong>da</strong> formação<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

108


2 OA N O S<br />

de professores e de políticas educacionais. Espera-se, que a presença <strong>do</strong> profissional de<br />

música na Educação Infantil possa ser impulsiona<strong>da</strong> pela aprovação <strong>da</strong> Lei nº 11769/08 que<br />

exige a inclusão <strong>da</strong> música como conteú<strong>do</strong> obrigatório <strong>do</strong> componente curricular Artes na<br />

Educação Básica. Segun<strong>do</strong> a lei, os estabelecimentos de ensino tem até Agosto de <strong>2011</strong> para<br />

sua implementação, o que tem provoca<strong>do</strong> discussões e debates sobre quem e como a Música<br />

deverá ser inseri<strong>da</strong> no currículo <strong>da</strong>s escolas.<br />

O como a Música está sen<strong>do</strong> inseri<strong>da</strong> na Educação Infantil e a sua relação com o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> criança são temáticas recorrentes nas pesquisas sobre Música e Educação<br />

Infantil. A função <strong>da</strong> Música nessa etapa <strong>da</strong> educação é destaca<strong>da</strong> por diversos autores, que<br />

enfatizam a relevância <strong>da</strong> formação musical no desenvolvimento cognitivo e afetivo <strong>da</strong>s<br />

crianças. Embasa<strong>da</strong>s pelos princípios pe<strong>da</strong>gógicos <strong>do</strong> RCNEI, as investigações nessa área<br />

apresentam problemáticas, objetivos, meto<strong>do</strong>logias e resulta<strong>do</strong>s distintos e convergentes.<br />

Como parte <strong>da</strong> revisão de literatura <strong>da</strong> pesquisa de mestra<strong>do</strong> em an<strong>da</strong>mento, cujo objetivo é<br />

compreender a ação pe<strong>da</strong>gógica de professora específica de música em escola de Educação<br />

Infantil, foi realiza<strong>do</strong> um mapeamento <strong>da</strong> produção de teses e dissertações brasileiras que<br />

abor<strong>da</strong>m a temática <strong>da</strong> Música na Educação infantil. Este levantamento visou compreender:<br />

1) como a Música na Educação Infantil vem sen<strong>do</strong> investiga<strong>da</strong>; 2) em que áreas as<br />

investigações sobre Música e Educação Infantil estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s; e 3) como os<br />

paradigmas investigativos qualitativos e quantitativos estão sen<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong>s nessas<br />

pesquisas.<br />

O levantamento 2<br />

teórico realiza<strong>do</strong> faz parte <strong>do</strong> questionamento permanente <strong>da</strong><br />

pesquisa, que carrega consigo um passa<strong>do</strong> prático-teórico, ou como denomina Lima e Mioto<br />

(2007) uma “carga histórica”, que “trilha” o assunto. Sen<strong>do</strong> assim, as autoras afirmam que o<br />

pesquisa<strong>do</strong>r “realiza uma ativi<strong>da</strong>de de aproximações sucessivas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, sen<strong>do</strong> que esta<br />

apresenta “uma carga histórica” e reflete posições frente à reali<strong>da</strong>de” (LIMA e MIOTO, 2007,<br />

p. 38). Para conhecer o “histórico” <strong>da</strong>s pesquisas que envolvem Música e Educação Infantil,<br />

a<strong>do</strong>tou-se como referência a base de <strong>da</strong><strong>do</strong>s de Teses e Dissertações <strong>da</strong> CAPES 3 , fonte<br />

legítima de pesquisas realiza<strong>da</strong>s no âmbito nacional.<br />

A meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> para busca seguiu os seguintes passos: 1) digitação <strong>da</strong>s<br />

palavras-chaves: Educação Musical e Educação Infantil e Música, com a seleção <strong>do</strong> tópico<br />

“to<strong>da</strong>s as palavras”; 2) seleção <strong>da</strong> opção de “expressão exata” com os termos: Educação<br />

Musical e Educação Infantil, Música e Educação Infantil, Música na Educação Infantil,<br />

2 Esse levantamento foi realiza<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de Março a Maio de <strong>2011</strong>.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Educação Infantil e Música e Educação Musical Infantil. To<strong>do</strong>s os termos foram digita<strong>do</strong>s na<br />

categoria “assunto”. Optou-se assim, partir de um assunto mais amplo e com a análise<br />

quantitativa <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s seguir realizan<strong>do</strong> um recorte mais específico por meio <strong>do</strong><br />

tópico “expressão exata”, como descrevemos a seguir.<br />

Procedimentos de seleção <strong>da</strong>s pesquisas no portal CAPES<br />

A palavra-chave Educação Musical foi abor<strong>da</strong><strong>da</strong> inicialmente com o intuito de<br />

verificar as publicações que estão relaciona<strong>da</strong>s a essa área <strong>do</strong> conhecimento, sem a restrição<br />

de palavras foram encontra<strong>da</strong>s 538 teses/dissertações que abor<strong>da</strong>m esse tema. Diante <strong>da</strong><br />

quanti<strong>da</strong>de, restringiu-se a busca por meio <strong>do</strong> termo “expressão exata”, sem restrição de ano.<br />

Nessa seleção, foram encontra<strong>da</strong>s 378 teses e dissertações, sen<strong>do</strong> que destas, 60 são teses de<br />

<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>, 317 são dissertações de mestra<strong>do</strong> e 1 pesquisa profissionalizante. Para verificar a<br />

produção científica mais recente fez-se um recorte <strong>do</strong>s últimos 10 anos, que está retrata<strong>do</strong> na<br />

tabela a baixo:<br />

ANO TESES DISSERTAÇÕES TOTAL<br />

2000 3 9 12<br />

2001 3 9 12<br />

2002 2 15 17<br />

2003 6 28 34<br />

2004 6 18 24<br />

2005 3 30 33<br />

2006 8 23 31<br />

2007 6 40 46<br />

2008 11 52 63<br />

2009 18 57 75<br />

TOTAL 66 281 347<br />

Ao longo <strong>do</strong>s 10 anos percebe-se um aumento de pesquisas que abor<strong>da</strong>m o termo<br />

Educação Musical, tanto nas teses quanto nas dissertações. Somente nos anos de 2004 e 2006<br />

houve uma diminuição nas defesas de dissertações. Em relação às teses no ano de 2005 há<br />

uma que<strong>da</strong> na produção. Porém, é evidente o aumento <strong>da</strong>s pesquisas que em 2000 eram 12<br />

trabalhos defendi<strong>do</strong>s e em 2009 são 75, um crescimento de 625%.<br />

3 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior<br />

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A partir dessa verificação foi feita a busca com o termo: Educação Infantil e Música,<br />

sem restrição de “expressão exata” e ano. O resulta<strong>do</strong> mostrou 85 teses e dissertações. Sen<strong>do</strong><br />

destas 13 teses, 71 dissertações e 1 pesquisa de nível profissionalizante. A partir desse<br />

resulta<strong>do</strong>, as palavras-chaves Educação Musical e Educação Infantil, Música e Educação<br />

Infantil, Música na Educação Infantil, Educação Infantil e Música e Educação Musical<br />

Infantil com expressão exata foram pesquisa<strong>da</strong>s. À medi<strong>da</strong> que se obtinha os resulta<strong>do</strong>s, a<br />

lista era compara<strong>da</strong> ao primeiro resulta<strong>do</strong> geral obti<strong>do</strong>, ou seja: 85 teses/dissertações. Dessa<br />

análise, apenas uma dissertação não estava relaciona<strong>da</strong> na primeira busca. Ela foi encontra<strong>da</strong><br />

quan<strong>do</strong> utiliza<strong>da</strong> a palavra-chave: Educação Musical e Educação Infantil:<br />

• Eduar<strong>do</strong> Guedes Pacheco- Educação Musical e Educação Infantil: uma investigaçãoação<br />

na formação e práticas de professoras. 2005.<br />

Com essa constatação o levantamento <strong>do</strong>s trabalhos ficou com um total de 86<br />

teses/dissertações. Sen<strong>do</strong> que destas 6 teses, 25 dissertações e 1 pesquisa de nível<br />

profissionalizante não têm temática que envolva Música e Educação Infantil, ou seja, o foco é<br />

a Educação Infantil ou o universo infantil, como exemplos: Ingrid Wiggers. Corpos<br />

desenha<strong>do</strong>s: Olhares de crianças de Brasília através <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong> mídia. 2003.<br />

• Celso Luiz Prudente. A pe<strong>da</strong>gogia afro <strong>da</strong> Associação Meninos <strong>do</strong> Morumbi: entre a<br />

carnavalização e a cultura oficial .2003<br />

• Gilberto Apareci<strong>do</strong> Damiano. Semente Voa<strong>do</strong>ra: Germinação Epistemestética de uma<br />

Pe<strong>da</strong>gogia Spathodea. 2001<br />

• Gisleine Bartolomei Fregoneze Corrêa. Contribuições ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> a<strong>do</strong>ção de<br />

produtos/marcas por meio de comportamentos imitativos: uma investigação com o<br />

consumi<strong>do</strong>r infantil. 2009<br />

Outros 12 trabalhos enfatizavam somente aspectos musicais não engloban<strong>do</strong> a<br />

Educação Infantil como uma tipologia <strong>da</strong> Educação Básica ou a faixa etária <strong>da</strong>s crianças.<br />

Esses trabalhos também não foram considera<strong>do</strong>s para a análise <strong>do</strong>s textos, exemplos: Alberto<br />

Sampaio Neto. A iniciação infantil à flauta <strong>do</strong> pífaro: repertório, aspectos técnicos e recursos<br />

didáticos. 2005<br />

• Alexandre Henrique Isler Chagas. A Orquestra de Cor<strong>da</strong>s infanto-juvenil como<br />

instrumento meto<strong>do</strong>lógico na Educação Musical. 2007<br />

• Celio Roberto Eing. Acertan<strong>do</strong> o compasso sobre a apropriação de conceitos musicais<br />

<strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. 2008<br />

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Após a seleção realiza<strong>da</strong>, restaram para análise 6 teses de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> e 34<br />

dissertações de mestra<strong>do</strong>, ou seja, 40 investigações. To<strong>do</strong>s os trabalhos seleciona<strong>do</strong>s para a<br />

realização dessa pesquisa estão lista<strong>do</strong>s em anexo.<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Mapeamento<br />

Do universo de 40 trabalhos, foram destaca<strong>do</strong>s: 1) a Universi<strong>da</strong>de onde o trabalho foi<br />

desenvolvi<strong>do</strong>; 2) o programa de pós-graduação; 3) a temática estu<strong>da</strong><strong>da</strong>; e 4) a abor<strong>da</strong>gem<br />

meto<strong>do</strong>lógica. Na tabela abaixo consta a freqüência de teses e dissertações relaciona<strong>da</strong>s com o<br />

lugar e o programa de pós-graduação (PPG):<br />

UNIVERSIDADE PPG TESES DISSERTAÇÕES TOTAL<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> sul Música 0 1 2<br />

(UFRGS)<br />

Educação 1 0<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual de São Paulo Júlio de Música 0 2 2<br />

Mesquita Filho (UNESP)<br />

Conservatório Brasileiro de Música Música 0 2 2<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Paraná (UFPR) Música 0 1 2<br />

Educação 0 1<br />

Universi<strong>da</strong>de de Minas Gerais (UFMG) Música 0 1 2<br />

Ciências <strong>da</strong> Saúde 1 0<br />

Universi<strong>da</strong>de federal de Goiás (UFG) Música 0 1 3<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro (UNIRIO)<br />

Educação 0 2<br />

Música 0 1 2<br />

Memória Social 0 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia (UFBA) Música 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Mato Grosso <strong>do</strong> sul Educação 0 1 1<br />

(UFMS)<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>Regional</strong> de Blumenau Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Educação 1 1 2<br />

Norte (UFRN)<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Uberlândia Educação 0 3 3<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas Educação 1 2 4<br />

(UNICAMP)<br />

Artes 0 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de São Carlos Educação Especial 0 1 2<br />

(UFSCAR)<br />

Educação 1 0<br />

Pontifica Universi<strong>da</strong>de Católica de São Educação 0 1 1<br />

Paulo (PUCSP)<br />

Universi<strong>da</strong>de São Francisco Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Itajaí Educação 0 1 1<br />

Pontifica Universi<strong>da</strong>de Católica <strong>do</strong> Paraná Educação 0 1 1<br />

(PUCPR)<br />

Universi<strong>da</strong>de de Tuiuti <strong>do</strong> Paraná Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Presbiteriana Mackenzie Educação, Arte e<br />

História <strong>da</strong> Cultura<br />

0 2 2<br />

Universi<strong>da</strong>de Nove de Julho Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Metodista de são Paulo Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de de Santa Maria (UFSM) Educação 0 1 1<br />

Universi<strong>da</strong>de de São Paulo (USP) Educação 1 0 1<br />

Tabela 1 - Quanti<strong>da</strong>de de Teses e Dissertações por Universi<strong>da</strong>de e, Programa<br />

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Com o cruzamento <strong>da</strong>s informações percebemos que ain<strong>da</strong> são poucas as<br />

universi<strong>da</strong>des que possuem trabalhos que abor<strong>da</strong>m a Música na Educação Infantil, ao to<strong>do</strong> são<br />

25 universi<strong>da</strong>des federais, particulares e estaduais. Em PPGs específicos de Música essa área<br />

é ain<strong>da</strong> pouco pesquisa<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> que não há nenhuma tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> e apenas 10<br />

investigações de mestra<strong>do</strong>. Em PPGs de Educação essa temática é mais explora<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong><br />

encontra<strong>da</strong>s 4 teses e 20 dissertações.<br />

As temáticas que abor<strong>da</strong>m essas pesquisas concentram-se no professor como sujeito<br />

e fonte de informações <strong>da</strong>s problemáticas pesquisa<strong>da</strong>s. Percebe-se que a maioria <strong>do</strong>s trabalhos<br />

analisa<strong>do</strong>s selecionam a prática <strong>do</strong>cente como palavras centrais nos seus objetivos, buscan<strong>do</strong><br />

assim compreendê-la, investigá-la, percebê-la e identificá-la. A tabela abaixo demonstra a<br />

categorização de temáticas relaciona<strong>da</strong>s à frequência de teses e dissertações. Essa<br />

categorização foi realiza<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong>s objetivos apresenta<strong>do</strong>s pelos autores <strong>da</strong> pesquisas:<br />

TEMÁTICAS TESES DISSERTAÇÕES TOTAL<br />

Práticas musicais de professores uni<strong>do</strong>centes na Educação 0 11 11<br />

Infantil<br />

Práticas de professores de Música com crianças 0 5 5<br />

O papel <strong>da</strong> Música na Educação Infantil 0 6 6<br />

Repertório 2 4 6<br />

Desenvolvimento musical infantil 2 4 6<br />

Formação de professores 2 1 3<br />

A importância <strong>da</strong> Música na Educação Infantil 0 2 2<br />

Materiais didáticos 0 1 1<br />

Tabela 2 – Quanti<strong>da</strong>de de teses e dissertações por temáticas e problematizações<br />

To<strong>do</strong>s os trabalhos abor<strong>da</strong>m a questão <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> Música para crianças, no<br />

entanto enfatizam principalmente valores e atitudes não musicais. A maioria <strong>do</strong>s trabalhos<br />

tem o foco na função <strong>da</strong> Música em instituições infantis e no seu valor para execução de<br />

diversas ativi<strong>da</strong>des, coman<strong>do</strong>s e aprendizagens sem objetivos musicais.<br />

Sobre as abor<strong>da</strong>gens de pesquisa a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s, 2 dissertações a<strong>do</strong>tam o paradigma<br />

quantitativo e 38 o qualitativo. Para Pacheco (1995) a diferenciação <strong>da</strong> investigação<br />

qualitativa e quantitativa está relaciona<strong>da</strong> à definição <strong>do</strong> objeto, à natureza epistemológica <strong>da</strong><br />

investigação e aos procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos <strong>da</strong> pesquisa. A esses três pontos, Merriam<br />

(1998) acrescenta mais seis princípios que definem a orientação meto<strong>do</strong>lógica a ser a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>:<br />

foco <strong>da</strong> pesquisa, raízes filosóficas, frases associa<strong>da</strong>s, meta de investigação, características <strong>do</strong><br />

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projeto, amostra, coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, méto<strong>do</strong> de análise e resulta<strong>do</strong>s. A tabela a baixo demonstra<br />

a frequência <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de pesquisa:<br />

METÒDOS TESES DISSERTAÇÕES TOTAL<br />

Estu<strong>do</strong> de Caso 0 2 2<br />

Estu<strong>do</strong> Multicaso 0 1 1<br />

Investigação-ação 1 1 2<br />

Etnográfica 0 1 1<br />

Survey 0 2 2<br />

Pesquisa-ação colaborativa/comunicacional 1 0 1<br />

Análise Documental 0 4 4<br />

Análise de Conteú<strong>do</strong> 1 0 1<br />

Documentação Indireta 0 1 1<br />

História Oral 0 1 1<br />

Autoetnografico 0 1 1<br />

Análise Ideográfica e monotética <strong>do</strong>s depoimentos 0 1 1<br />

Experimental 0 1 1<br />

Correlacional 0 1 1<br />

Observação Longitudinal 1 0 1<br />

Instrumentos de pesquisa: observação, entrevista e questionário 2 17 19<br />

Tabela 3 – Quanti<strong>da</strong>de de teses e dissertações por méto<strong>do</strong>s de pesquisa<br />

Percebe-se na pesquisa qualitativa a pre<strong>do</strong>minância de trabalhos que relatam como<br />

seu méto<strong>do</strong> de pesquisa apenas os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s para colher as informações<br />

deseja<strong>da</strong>s, totalizan<strong>do</strong> assim 19 pesquisas. Outros determinam o seu méto<strong>do</strong> com formas de<br />

definir seus procedimentos, sujeitos e instrumentos meto<strong>do</strong>lógicos como os demais mostra<strong>do</strong>s<br />

na tabela à cima. Dentre os instrumentos de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, os mais utiliza<strong>do</strong>s foram: a<br />

observação, segui<strong>da</strong> de entrevistas, a análise de <strong>do</strong>cumentos e os questionários.<br />

Nas pesquisas quantitativas os méto<strong>do</strong>s investigativos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s foram o Estu<strong>do</strong><br />

Correlacional e a pesquisa Experimental. Nestas pesquisas, apesar <strong>do</strong> uso de análise<br />

quantitativa como testes e escalas, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s numéricos foram submeti<strong>do</strong>s a uma análise<br />

qualitativa.<br />

Conclusão<br />

A análise <strong>da</strong>s pesquisas levanta<strong>da</strong>s com a temática Educação Infantil e Música nos<br />

mostra a trajetória histórica desse assunto nos PPGs <strong>do</strong> Brasil. Desse mo<strong>do</strong>, nos permite<br />

avaliar a contribuição <strong>da</strong> pesquisa de mestra<strong>do</strong> em an<strong>da</strong>mento para os estu<strong>do</strong>s na área de<br />

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Educação Musical, como também nos permite discutir o que os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s<br />

acrescentam a pesquisa.<br />

A maneira como a Música é apresenta<strong>da</strong> pelo RCNEI e o como ela vem sen<strong>do</strong><br />

concretiza<strong>da</strong> na primeira infância, seja pelo ensino, pelo desenvolvimento musical individual<br />

e pelas vivências proporciona<strong>da</strong>s pelo meio são problemáticas levanta<strong>da</strong>s pelas investigações<br />

analisa<strong>da</strong>s. Percebe-se que a música na Educação Infantil ain<strong>da</strong> é pouco explora<strong>da</strong> nos<br />

programas de pós-graduação <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, sen<strong>do</strong> que esses estu<strong>do</strong>s se concentram no Sul<br />

e Sudeste <strong>do</strong> país, principalmente em PPGs <strong>da</strong> área de Educação, em que a Música é abor<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

como meio e não como fim em si mesma. Na análise meto<strong>do</strong>lógica, o pre<strong>do</strong>mínio de<br />

pesquisas qualitativas, nos faz refletir sobre o interesse particular em determina<strong>do</strong>s casos em<br />

detrimento de um conhecimento mais panorâmico e geral sobre o ensino de música na<br />

Educação Infantil. De mo<strong>do</strong> geral, os trabalhos não permitem inferências para um universo<br />

maior o que não permite a conhecer a situação <strong>da</strong> Música na Educação Infantil no Brasil. No<br />

entanto, a partir <strong>do</strong>s trabalhos realiza<strong>do</strong>s é possível identificar que resulta<strong>do</strong>s são comuns e<br />

aproximam as pesquisas realiza<strong>da</strong>s possibilitan<strong>do</strong> conhecer como a música está se inserin<strong>do</strong><br />

na Educação Infantil no Brasil.<br />

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Referências<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.<br />

3° volume. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.<br />

1° Volume. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional. Lei no 9.394/96, de 20 de<br />

dezembro de 1996.<br />

LIMA, Telma C. S. de; MIOTO, Regina C. T. Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos na construção<br />

<strong>do</strong> conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev. Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p.<br />

37-45 2007.<br />

PENNA, Maura. Música(s). 2° edição Editora: Sulina. 2008<br />

PACHECO, José Augusto. O Pensamento e a Acção <strong>do</strong> Professor. Porto Editora. Portugal,<br />

1995.<br />

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ANEXO A- Teses<br />

1. Kelly Stifft. A construção <strong>do</strong> conhecimento musical no bebê: um olhar a partir <strong>da</strong>s<br />

suas relações interpessoais. 2008<br />

2. Maria Audenora <strong>da</strong>s Neves Silva Martins. Cantigas de ro<strong>da</strong>: o estético e o poético e<br />

sua importância para a Educação Infantil. 2003<br />

3. Maria Betania Parizzi Fonseca. O desenvolvimento <strong>da</strong> percepção <strong>do</strong> tempo em<br />

crianças de <strong>do</strong>is a seis anos: um estu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> canto espontâneo. 2009<br />

4. Ilza Zenker Leme Joly. Um processo de supervisão de comportamentos de professores<br />

de musicalização infantil para a<strong>da</strong>ptar procedimentos de ensino. 2000<br />

5. Iveta Maria Borges Avila Fernandes. Música na escola: desafios e perspectivas na<br />

formação contínua de educa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> rede pública. 2009<br />

6. Marcia Apareci<strong>da</strong> Baldin Guimarães. O Canto Coletivo na Educação Infantil e no<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental. 2003<br />

ANEXO B- Dissertações<br />

1. Ana Maria Paes Leme Carrijo Abrahão. A música na escola: um privilégio <strong>do</strong>s<br />

especialistas? Concepções <strong>do</strong>s professores sobre o talento musical e a música na<br />

escola e a representação gráfica <strong>do</strong> som de crianças de 3 a 6 anos de i<strong>da</strong>de. 2006<br />

2. Angelita Maria Vander Brook. A abor<strong>da</strong>gem pontes na musicalização para crianças<br />

entre 0 e 2 anos de i<strong>da</strong>de. 2009<br />

3. Anita Henriqueta Kubiak Tozetto. Educação musical: a atuação <strong>do</strong> professor na<br />

educação infantil e séries iniciais. 2003<br />

4. Beatriz De Souza Bessa. Não atire o pau no gato: o politicamente incorreto e memória<br />

na educação infantil. 2007<br />

5. Beatriz Helena Furlanetto. Infância em pauta - um estu<strong>do</strong> histórico sobre as<br />

concepções de infância presentes nas canções e na formação de professores. 2006<br />

6. Caroline Brendel Pacheco. Habili<strong>da</strong>des musicais e consciência fonológica: um estu<strong>do</strong><br />

correlacional com crianças de 4 e 5 anos de Curitiba. 2009<br />

7. Cintia Vieira Da Silva Soares. A música na educação infantil: o movimento <strong>do</strong>s bebês<br />

em ambiente musical. 2007<br />

8. Claudia Maria Fróes De Tole<strong>do</strong>. As contribuições <strong>do</strong> ensino de música e sua interface<br />

com a educação infantil. 2004<br />

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9. Daiane Solange Stoeberl Da Cunha. Educação musical e emancipação: a formação <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r musical a partir de uma perspectiva crítica. 2006<br />

10. Daniela Vilela de Morais. O material concreto na educação musical infantil: uma<br />

análise <strong>da</strong>s concepções <strong>do</strong>centes. 2009<br />

11. Edna Apareci<strong>da</strong> Costa Vieira. Música: sua influência no processo de alfabetização no<br />

perío<strong>do</strong> pré-escolar. 2004<br />

12. Eduar<strong>do</strong> Guedes Pacheco. Educação musical e educação infantil: uma investigaçãoação<br />

na formação e práticas <strong>da</strong>s professoras. 2005<br />

13. Egle Maria Luz Braga Zamarian de Siqueira. Música: <strong>da</strong> casa à escola de educação<br />

infantil e ensino fun<strong>da</strong>mental. 2000<br />

14. Fabrícia Piva. Educação musical: a perspectiva de professoras <strong>da</strong> educação infantil.<br />

2008<br />

15. Gisele Crosara Andraus Oliveira. A música na escola tem futuro: uma análise <strong>da</strong><br />

situação <strong>do</strong> ensino de música na educação infantil e anos iniciais <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental, em Uberlândia/MG, 10 anos após a promulgação <strong>da</strong> lei de diretrizes e<br />

bases <strong>da</strong> educação nacional – lei 9.394/96. 2007<br />

16. Isa Stavracas. O papel <strong>da</strong> música na educação infantil. 2008<br />

17. Jéssica Mami Makino. A arte invade o Brás: uma proposta de educação musical na<br />

creche <strong>do</strong> Brás. 2003<br />

18. João Ricar<strong>do</strong> De Souza. Os cancionistas urbanos e a educação musical infantil.<br />

Estu<strong>do</strong>s de caso: Colégios Clip e Passionista São Paulo <strong>da</strong> Cruz (SP 1996-2006). 2007<br />

19. Juliane De Sousa Silva Paiva. A música nas propostas educacionais <strong>do</strong>s parques<br />

infantis na ci<strong>da</strong>de de São Paulo: 1947 a 1957. 2009<br />

20. Karen Ildete Stahl Soler. A música na educação infantil: um estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s EMEIS e EEIS<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de In<strong>da</strong>iatuba, SP. 2008<br />

21. Leila Yuri Sugahara. Música na escola: um estu<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> psicogenética<br />

Walloniana. 2008<br />

22. Lélia Negrini Diniz. Música na educação infantil: um survey com professoras <strong>da</strong> rede<br />

municipal de ensino de porto alegre - RS. 2005<br />

23. Liara Roseli Krobot. A inclusão <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de música no curso de pe<strong>da</strong>gogia -<br />

habilitação educação infantil e séries iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental: o caso <strong>do</strong> curso<br />

de pe<strong>da</strong>gogia em Jaraguá <strong>do</strong> Sul - SC. 2006<br />

24. Margaterh Darezzo. Impacto de um programa de ensino para cui<strong>da</strong><strong>do</strong>ras em creche:<br />

música como condição facilita<strong>do</strong>ra de condutas humanas ao li<strong>da</strong>r com bebês. 2004<br />

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2 OA N O S<br />

25. Maria Cristina de Campos Pires. O som como linguagem e manifestação <strong>da</strong> pequena<br />

infância: música? Percussão? Barulho? Ruí<strong>do</strong>?.2006<br />

26. Maria de Fátima Marinho Jordão. "musicalização infantil na creche Berta Lutz". 1997<br />

27. Maria Teresa de Beaumont. Paisagens polifônicas <strong>da</strong> música na escola: saberes e<br />

práticas <strong>do</strong>centes. 2003<br />

28. Maristela De Oliveira Mosca. Como se fora brincadeira de ro<strong>da</strong>: a ciran<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

lu<strong>do</strong>poiese para uma educação musical humanescente. 2009<br />

29. Melita Bonna. Nas entrelinhas <strong>da</strong> pauta: repertório e práticas musicais de professores<br />

<strong>do</strong>s anos iniciais. 2006<br />

30. Patricia Alves Carvalho. Re-tocan<strong>do</strong> a aprendizagem na educação de infância: a<br />

música como linguagem. 2005<br />

31. Roberta Alves Tiago. Música na educação infantil: saberes e práticas <strong>do</strong>centes. 2007<br />

32. Sonia Regina Catellino Loureiro. Música na educação infantil, além <strong>da</strong>s festas<br />

comemorativas. 2009<br />

33. Thaís Lobosque Aquino. A música na formação inicial <strong>do</strong> pe<strong>da</strong>gogo: embates e<br />

contradições em cursos regulares de pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> região centro-oeste. 2007<br />

34. Vera Bloch Wrobel. A educação musical na educação infantil sob uma abor<strong>da</strong>gem<br />

construtivista. 1999<br />

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As mu<strong>da</strong>nças na atuação profissional <strong>do</strong> técnico em música <strong>do</strong> século XXI e<br />

suas implicações para a formação <strong>do</strong> músico nos cursos técnicos<br />

Beatriz de Mace<strong>do</strong> Oliveira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Uberlândia<br />

E-mail: biaflauta@yahoo.com.br<br />

Resumo: Os músicos egressos <strong>do</strong>s cursos técnicos <strong>do</strong>s Conservatórios de Música encontram<br />

atualmente uma socie<strong>da</strong>de totalmente modifica<strong>da</strong> e globaliza<strong>da</strong> devi<strong>do</strong> aos avanços<br />

tecnológicos. Isso acarreta modificações no merca<strong>do</strong> de trabalho e consequentemente na<br />

atuação profissional <strong>do</strong>s músicos. O artigo expõe o papel <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música nos diferentes<br />

perío<strong>do</strong>s históricos até chegar à criação <strong>do</strong>s Conservatórios de Música como centros de<br />

formação profissional de músicos a nível técnico e o modelo curricular a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> desde a<br />

criação destas escolas no Brasil. Sen<strong>do</strong> assim, o artigo apresenta um recorte <strong>da</strong> pesquisa em<br />

an<strong>da</strong>mento que tem o objetivo de estu<strong>da</strong>r a relação entre a formação e atuação profissional<br />

<strong>do</strong>s músicos de nível técnico na socie<strong>da</strong>de contemporânea.<br />

Palavras-chave: Formação e atuação profissional o músico, Cursos Técnicos de Música,<br />

Conservatórios de Música.<br />

Introdução<br />

Ao longo <strong>da</strong> história, a função <strong>da</strong> preparação de artistas e músicos nem sempre foram<br />

atribuí<strong>da</strong>s às escolas especializa<strong>da</strong>s. Em Minas Gerais, os Conservatórios de Música foram<br />

cria<strong>do</strong>s inicialmente com a função de formação de professores para atuar nas escolas e<br />

também para formar instrumentistas virtuosos. Atualmente a formação profissional <strong>do</strong> músico<br />

se dá em dimensões bem maiores e para além <strong>do</strong>s muros escolares. Políticas governamentais<br />

volta<strong>da</strong>s para mu<strong>da</strong>nças legais têm provoca<strong>do</strong> várias reformas curriculares nas instituições<br />

forma<strong>do</strong>ras, especialmente com relação à Educação Profissional de nível médio. As escolas<br />

técnicas, e entre elas estão os Conservatórios de Música, têm se desenvolvi<strong>do</strong> para o<br />

atendimento <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho para a atual socie<strong>da</strong>de de massa,<br />

totalmente tecnológica e industrializa<strong>da</strong>, cujos conhecimentos acumula<strong>do</strong>s oferecem subsídio<br />

a sua rápi<strong>da</strong> transformação. Porém estas mu<strong>da</strong>nças curriculares se relacionam com mu<strong>da</strong>nças<br />

nas concepções pe<strong>da</strong>gógicas e estas refletem visões de mun<strong>do</strong>, de socie<strong>da</strong>de e de humani<strong>da</strong>de.<br />

Os profissionais responsáveis pela educação profissional <strong>do</strong> músico necessitam<br />

distinguir entre os modelos de formação de forma a perceber as transformações ocorri<strong>da</strong>s nos<br />

processos de construção <strong>do</strong> conhecimento e <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> arte ao longo <strong>da</strong> história. Refletir<br />

sobre os modelos de formação fornecerá subsídios para entendermos de que forma eles<br />

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orientam a atuação profissional <strong>do</strong> músico de acor<strong>do</strong> com ca<strong>da</strong> época.<br />

Na ci<strong>da</strong>de de Uberlândia, o Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli<br />

passou por várias mu<strong>da</strong>nças curriculares, mas foi especialmente com a Resolução n. º 718 de<br />

18 de novembro de 2005 que o curso foi reestrutura<strong>do</strong> para o trabalho técnico. Em 2008<br />

concluiu a primeira turma de Técnicos em Instrumento e Canto dentro desta nova grade<br />

curricular.<br />

É nesse universo que se insere o meu próprio objeto de pesquisa, por ser professora<br />

<strong>do</strong> Conservatório de Uberlândia há 23 anos e nos últimos dez anos lecionan<strong>do</strong> no Curso<br />

Técnico e por acompanhar as transformações no currículo e as modificações nas leis.<br />

Consideran<strong>do</strong> os desafios enfrenta<strong>do</strong>s por esses profissionais recém forma<strong>do</strong>s esta<br />

pesquisa tem o objetivo interpretar as informações que os egressos de 2008 <strong>do</strong> Curso Técnico-<br />

Instrumental/Canto <strong>do</strong> Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli oferecem<br />

acerca <strong>da</strong>s relações que estabelecem entre a formação técnica que tiveram no curso com as<br />

suas atuações profissionais no merca<strong>do</strong> musical de trabalho. A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s será através de<br />

fontes orais, através de entrevistas com os egressos de 2008, e <strong>do</strong>cumentais, como as<br />

legislações e as grades curriculares <strong>do</strong> Conservatório.<br />

Com essa preocupação, o objetivo deste artigo é fazer uma breve descrição histórica<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> ensino musical ocidental até a sua aplicação na reali<strong>da</strong>de brasileira<br />

como modelo de excelência na formação <strong>do</strong>s artistas e músicos, como recorte <strong>da</strong> pesquisa,<br />

que tem como objeto a formação e atuação <strong>do</strong> músico técnico na socie<strong>da</strong>de contemporânea.<br />

1. A origem <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na socie<strong>da</strong>de européia e sua importância<br />

na formação musical profissional<br />

Segun<strong>do</strong> Plaza (1997) o modelo de ensino de arte medieval era <strong>da</strong> relação direta e<br />

pessoal entre mestre e discípulo e visava à convivência técnica e ao aprendiza<strong>do</strong> através <strong>da</strong>s<br />

encomen<strong>da</strong>s de obras de arte. O mun<strong>do</strong> medieval era <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> pelo fanatismo religioso e<br />

pela submissão <strong>do</strong> povo aos senhores feu<strong>da</strong>is, transforman<strong>do</strong> a I<strong>da</strong>de Média em I<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

Trevas.<br />

Para Elmerich (1977, p. 28) essa situação resultou num perío<strong>do</strong> de estagnação nas<br />

ciências e nas artes. Raynor (1978, p. 26) diz que “qualquer história <strong>da</strong> música nos primeiros<br />

dias <strong>da</strong> Europa cristã começa inevitavelmente pela Igreja, pois só esta oferece <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

verificáveis em registros precisos”. Segun<strong>do</strong> Stehman (1964), “a ciência musical evoluiu<br />

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através <strong>da</strong> música religiosa; e a música religiosa transmitiu à música profana”. Segun<strong>do</strong><br />

Raynor (1978) a Igreja utilizava-se <strong>da</strong> música “para afastar o culto <strong>do</strong> reino <strong>da</strong> experiência e<br />

sentimentos subjetivos pessoais” (p. 26). Nesta direção a música pertencia à criação coletiva<br />

(ou individual, imediatamente transmiti<strong>da</strong> à coletivi<strong>da</strong>de), e por isso tinha si<strong>do</strong> anônima. Os<br />

nomes que conhecemos se devem mais à sua importância e influência reconheci<strong>da</strong> por seus<br />

contemporâneos, seja na música religiosa ou <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res, que por se tratarem de nobres,<br />

sua fama foi conquista<strong>da</strong> por outros motivos. Fora <strong>da</strong> Igreja, como manifestação <strong>da</strong> música<br />

profana surge a canção, difundi<strong>da</strong> pelos trova<strong>do</strong>res, de origem nobre, que as cultivava em<br />

seus castelos, enquanto o povo as difundia nas ruas, festas e nas feiras. Estes músicos<br />

ambulantes de origem nobre eram acompanha<strong>do</strong>s por músicos chama<strong>do</strong>s de menestréis, que<br />

eram geralmente pessoas de baixa categoria social, que, além de tocar harpa ou viola<br />

(guitarra), exibiam-se como <strong>da</strong>nçarinos, acrobatas, prestidigita<strong>do</strong>res etc. “Devi<strong>do</strong> à vi<strong>da</strong><br />

desregra<strong>da</strong> que levaram muitos desses músicos ambulantes e o conseqüente mau conceito no<br />

qual eram ti<strong>do</strong>s, é que foram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s as primeiras confrarias junto às igrejas, espécie de<br />

associação de músicos profissionais” (ELMERICH, 1977, p. 28). Como a missa e os ofícios<br />

diários nas catedrais e igrejas eram invariavelmente canta<strong>do</strong>s, existiam as escolas de canto<br />

que <strong>da</strong>vam ensino musical aos meninos pobres <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de boa voz antes de examinar até que<br />

ponto e de que mo<strong>do</strong> <strong>da</strong>r-lhes educação geral.<br />

Conforme Plaza (1997), ao modelo de ensino de arte medieval se sucedeu o modelo<br />

<strong>da</strong> Academia no século XVI onde havia disciplinas organiza<strong>da</strong>s para complementação teórica<br />

e intelectual <strong>do</strong> trabalho artesanal <strong>do</strong>s ateliês. O renascimento libertou o homem <strong>da</strong>s severas<br />

normas de vi<strong>da</strong>, mas ao mesmo tempo, gerou abusos como o desregramento e a licenciosi<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s costumes. Reagin<strong>do</strong> a isso surgiu a Reforma com Lutero, que entre outras modificações,<br />

aboliu o latim <strong>da</strong>s cerimônias religiosas e criou o canto coral na língua <strong>do</strong> país, o que<br />

aumentou o número de adeptos. O canto gregoriano deixou de ser o único admiti<strong>do</strong> nas<br />

igrejas.<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, com a ascensão <strong>da</strong> burguesia nos fins <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de<br />

Média favoreceu a música revolucionária no seio <strong>da</strong> Igreja. A mu<strong>da</strong>nça no mo<strong>do</strong> de vi<strong>da</strong><br />

exigiu <strong>da</strong> música a expressão <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de e enaltecimento <strong>da</strong>s cerimônias. A música devia<br />

acrescentar glórias simbólicas e concretas aos feitos <strong>da</strong> nobreza.<br />

Ao mesmo tempo em que as ci<strong>da</strong>des continentais tratavam de glorificar as<br />

igrejas e ampliar os coros religiosos além de empregar os melhores cantores<br />

e compositores para o serviço <strong>da</strong> religião, desejavam música socialmente,<br />

para fomentar a digni<strong>da</strong>de e civilização de suas vi<strong>da</strong>s (RAYNOR, 1978, p.<br />

69).<br />

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Raynor (1978, p. 70) diz que entre os séculos XVII e XVIII os músicos “a<strong>do</strong>taram o<br />

padrão <strong>da</strong>s organizações de ofícios e reuniam-se em guil<strong>da</strong>s de músicos”. [...] “Na<br />

terminologia <strong>da</strong> guil<strong>da</strong>, os músicos eram ‘mestres’ <strong>do</strong> seu ofício; ca<strong>da</strong> um deles preparava<br />

tantos aprendizes quantos possível ou de acor<strong>do</strong> com as estipulações <strong>da</strong> guil<strong>da</strong>”. Durante o<br />

Renascimento a corte era um centro musical com grande força criativa, que necessitava tanto<br />

<strong>da</strong> música religiosa como <strong>da</strong> música secular. Houve aumento <strong>do</strong> prestígio <strong>do</strong> compositor<br />

através <strong>da</strong> música palaciana, embora nem sempre esta lhe proporcionasse condições materiais<br />

favoráveis.<br />

O século XVIII caracterizou-se pela efervescência <strong>do</strong> Iluminismo, a racionali<strong>da</strong>de<br />

científica se sobrepunha à fé e a religião. Alguns compositores se mantiveram trabalhan<strong>do</strong> a<br />

serviço <strong>da</strong> Igreja, por sobrevivência ou para a corte, mas para alguns compositores totalmente<br />

influencia<strong>do</strong>s pelas idéias iluministas estes ambientes eram por demais castra<strong>do</strong>res. Foi o caso<br />

de Wolfgang Amadeus Mozart, que desejava a liber<strong>da</strong>de para compor viven<strong>do</strong> um enorme<br />

conflito pessoal sofren<strong>do</strong> a pressão <strong>da</strong> corte de um la<strong>do</strong>, e a influência superprotetora <strong>do</strong> pai<br />

de outro, que o impediam de desenvolver sua música. Mozart é um bom exemplo de um<br />

músico iluminista.<br />

Foi na Itália, no século XVI que se originou uma instituição de cari<strong>da</strong>de onde se<br />

conservavam crianças órfãs e pobres com o nome de “conservatório”. Nestas instituições se<br />

desenvolviam ativi<strong>da</strong>des educacionais e dentre elas estava a música. Segun<strong>do</strong> Vieira (2004, p.<br />

142), o modelo institucional de conservatório difundi<strong>do</strong> pela Europa surgiu na França e foi<br />

consoli<strong>da</strong><strong>do</strong> no século XIX. Ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> Vieira (2006) tanto no Brasil como na Europa,<br />

O conservatório, afirma<strong>do</strong> no século XIX no mun<strong>do</strong> ocidental, constituiu-se<br />

como lugar onde o conhecimento musical europeu até então acumula<strong>do</strong><br />

passou a ser conserva<strong>do</strong> e difundi<strong>do</strong>. Trata-se de um processo que não pode<br />

ser dissocia<strong>do</strong> de pelo menos quatro séculos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> criação de<br />

condições materiais e institucionais para a incorporação de valores europeus<br />

pela socie<strong>da</strong>de local que se ia construin<strong>do</strong> (VIEIRA, 2001, apud VIEIRA,<br />

2006).<br />

A música européia vem sen<strong>do</strong> conserva<strong>da</strong> e difundi<strong>da</strong> nos conservatórios<br />

dentro de um "modelo conservatorial" que compreende a cultura musical<br />

erudita européia <strong>do</strong> século XVIII e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> XIX, quan<strong>do</strong> os sistemas<br />

musicais métrico e tonal alcançaram o apogeu (PENNA, 1995, apud<br />

VIEIRA, 2006).<br />

Esse modelo dá ênfase, sobretu<strong>do</strong> à performance, distinguin<strong>do</strong>-a <strong>do</strong> ensino<br />

teórico, manten<strong>do</strong>, assim a velha divisão entre prática e teoria na formação<br />

<strong>do</strong> músico, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média (BEYER, 1993 apud VIEIRA, 2006).<br />

Com o passar <strong>do</strong>s anos esse modelo de ensino passou a ser o padrão de formação<br />

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profissional de músicos e professores, não só na Europa, mas também no Brasil.<br />

1.1. Aspectos históricos <strong>da</strong> institucionalização <strong>do</strong> ensino de música no Brasil<br />

A introdução <strong>da</strong> música erudita no Brasil se deu com a colonização e com a vin<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>s jesuítas em 1549, sen<strong>do</strong> que a música tinha a função na catequização e sensibilização <strong>do</strong>s<br />

povos indígenas na tarefa principal de conquistar novos servos para a igreja católica. Esses<br />

missionários trabalharam em princípio com o cantochão e depois acrescentaram o ensino de<br />

instrumentos como o cravo, viola e órgão, utiliza<strong>do</strong>s nas missas. A primeira notícia <strong>da</strong><br />

existência de uma escola de música funcionan<strong>do</strong> nos moldes <strong>do</strong>s conservatórios europeus vem<br />

<strong>do</strong> século XVII, na qual ensinava-se música aos negros escravos. Foi dessa escola que surgiu<br />

uma <strong>da</strong>s figuras mais importantes <strong>da</strong> música brasileira <strong>do</strong> século XVIII, o Padre José<br />

Maurício Nunes Garcia.<br />

A construção <strong>do</strong> Teatro São João se deu após a chega<strong>da</strong> de D. João VI com sua corte<br />

no Brasil, pois a música erudita passou a ter maior importância, não se limitan<strong>do</strong> somente às<br />

igrejas. Porém, após este tempo de D. João VI, houve um longo perío<strong>do</strong> de estagnação na a<br />

música brasileira.<br />

Conforme Esperidião (2001), a parti<strong>da</strong> de D. João VI e a expulsão <strong>do</strong>s jesuítas<br />

fizeram com que o ensino musical fosse gra<strong>da</strong>tivamente exerci<strong>do</strong> por professores particulares,<br />

compensan<strong>do</strong> a ausência de escolas e Conservatórios nesta época.<br />

As primeiras escolas de música no Brasil foram cria<strong>da</strong>s em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX,<br />

através <strong>da</strong> burguesia nascente e que aspirava ao poder e cultivava a cultura nos moldes<br />

ocidentais. Algumas dessas escolas eram denomina<strong>da</strong>s “conservatórios” seguin<strong>do</strong> os modelos<br />

europeus. Como estabelecimentos surgi<strong>do</strong>s naquela época podemos citar três que hoje<br />

recebem os seguintes nomes: Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

(1848), Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia (1895) e Instituto Estadual Carlos<br />

Gomes (1895), localiza<strong>do</strong> em Belém <strong>do</strong> Pará.<br />

Desta forma, vemos que a deflagração dessas escolas de música no Brasil estava em<br />

consonância com o projeto governamental brasileiro pós-independência, para construção <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>-Nação.<br />

Os conservatórios mineiros foram cria<strong>do</strong>s no século XX, em especial na déca<strong>da</strong> de<br />

50. Segun<strong>do</strong> Gonçalves (1993) a criação destes conservatórios partiu de uma iniciativa oficial<br />

<strong>do</strong> então governa<strong>do</strong>r Juscelino Kubitschek<br />

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com o objetivo de ‘atender os pen<strong>do</strong>res artísticos <strong>da</strong> juventude mineira’<br />

(KUBITSCHEK, mensagem, ano de 1953), ‘cultuar as tradições culturais de nosso<br />

povo’ (SALGADO, 1955) resultou, pois, na criação e institucionalização destas<br />

escolas de música que seriam responsáveis pela formação técnica-profissionalizante<br />

de contingente habilita<strong>do</strong> para atuar nas escolas de ensino primário e secundário e<br />

no ensino instrumental propriamente dito, no Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais.<br />

(GONÇALVES, 1993, p. 23)<br />

A Lei n º 811, de 12 de dezembro de 1951 deu suporte a criação <strong>do</strong>s conservatórios<br />

em minas Gerais, e o Decreto-lei 3.870 de setembro de 1952 estipulou os conteú<strong>do</strong>s<br />

obrigatórios.<br />

Atualmente, Minas Gerais possui 12 conservatórios estaduais funcionan<strong>do</strong> com o<br />

objetivo de desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des artísticas <strong>do</strong>s jovens e formação profissional<br />

para o merca<strong>do</strong> de trabalho, além <strong>da</strong> preservação e difusão <strong>da</strong> cultura.<br />

Gonçalves (1993) aponta alguns fatores envolvi<strong>do</strong>s na criação e institucionalização<br />

<strong>do</strong>s conservatórios, como o fator econômico expresso no discurso <strong>do</strong> então governa<strong>do</strong>r<br />

Juscelino Kubitschek; o fator político – prestígio <strong>do</strong>s políticos por serem “cultos” e “amantes”<br />

<strong>da</strong>s tradições; soma<strong>do</strong>s a esses estariam mais <strong>do</strong>is fatores conjuga<strong>do</strong>s <strong>da</strong> preservação <strong>da</strong>s<br />

“tradições musicais e culturais” e <strong>do</strong>s interesses basea<strong>do</strong>s nas relações “político-pessoais”.<br />

(GONÇALVES, 1993, p. 45-46).<br />

Os conservatórios mineiros possibilitaram a formação profissional de professores de<br />

música e canto coral para atuarem nas escolas e desenvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des musicais e<br />

artísticas de músicos para atuarem em diversos espaços existentes na socie<strong>da</strong>de. Mu<strong>da</strong>nças na<br />

legislação, já no final <strong>do</strong> século XX fizeram com estes estabelecimentos deixassem de ter a<br />

função de preparar <strong>do</strong>centes, tarefa que passou a ser exclusiva <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des. Hoje estas<br />

instituições têm a função de preparação de profissionais para atender às deman<strong>da</strong>s <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> trabalho.<br />

Apesar <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças legais, e consideran<strong>do</strong> os profissionais que já atuavam nestes<br />

conservatórios, não foi ofereci<strong>do</strong> nenhum curso preparatório com a finali<strong>da</strong>de de preparação<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes para essa tarefa de formar técnicos em música para atuarem nas novas funções<br />

postas por esse merca<strong>do</strong> profissional em mu<strong>da</strong>nças.<br />

Levan<strong>do</strong> em consideração que o merca<strong>do</strong> de trabalho hoje exige a formação de uma<br />

real competência, conforme defendi<strong>do</strong> por Grossi (2003) estas noções de competência<br />

orientam um fun<strong>da</strong>mento para a formação <strong>do</strong> músico que tenha habili<strong>da</strong>des para a prática<br />

reflexiva, para o conteú<strong>do</strong> musical no contexto amplo e diversifica<strong>do</strong> <strong>da</strong> linguagem musical e<br />

ain<strong>da</strong> para prática política e ética.<br />

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Este conjunto de competências musicais e profissionais coloca<strong>da</strong>s num projeto de<br />

qualificação profissional <strong>do</strong> músico de nível técnico permite pensar ain<strong>da</strong> em uma educação<br />

profissional musical como práxis social. Segun<strong>do</strong> Vasquez (1968) a educação profissional<br />

como práxis, exige que a teoria e a prática sejam indissociáveis no âmbito de uma práxis<br />

social. Finalizan<strong>do</strong>, observa-se que o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho musical vem exigin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s músicos<br />

uma capaci<strong>da</strong>de para articular conhecimentos teóricos e práticos de tal forma que eles saibam<br />

criar, executar, gravar, editar, distribuir, (em ativi<strong>da</strong>des musicais previsíveis ou improvisa<strong>da</strong>s)<br />

e também saibam entender e explicar fun<strong>da</strong>mentos e princípios que sustentam estas ações.<br />

Neste contexto a pesquisa poderá colaborar com uma avaliação <strong>da</strong> instituição.<br />

Também por entender que é necessária uma reflexão sobre a formação <strong>do</strong> Curso Técnico a<br />

partir <strong>da</strong> legislação específica e de <strong>da</strong><strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pelos próprios egressos que atuam no<br />

merca<strong>do</strong>. Ain<strong>da</strong> pela importância de conhecer o perfil <strong>do</strong>s profissionais forma<strong>do</strong>s, os espaços<br />

de atuação <strong>do</strong>s egressos, suas ativi<strong>da</strong>des musicais e desafios que enfrentam profissionalmente.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa irão colaborar com um crescimento <strong>da</strong> qualificação profissional e<br />

provocar mu<strong>da</strong>nças qualitativas no ensino técnico musical <strong>do</strong> Conservatório e de outras<br />

instituições de ensino musical.<br />

Considerações Finais<br />

O músico profissional encontra hoje um merca<strong>do</strong> musical bastante modifica<strong>do</strong><br />

devi<strong>do</strong> aos avanços tecnológicos exigin<strong>do</strong> conhecimentos mais amplos que vão desde o<br />

<strong>do</strong>mínio instrumental e <strong>da</strong>s técnicas de arranjo e composição até a utilização <strong>do</strong>s aparatos<br />

eletrônicos e noções de empreende<strong>do</strong>rismo. Essas mu<strong>da</strong>nças na atuação profissional <strong>da</strong><br />

contemporanei<strong>da</strong>de implicam uma revisão <strong>do</strong>s modelos de formação a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelas<br />

instituições forma<strong>do</strong>ras.<br />

Observamos que o modelo de excelência em que estes conservatórios foram<br />

fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s desde a sua criação teve fortes ligações com as aspirações <strong>da</strong> burguesia<br />

ascendente e formação de uma nacionali<strong>da</strong>de brasileira. O modelo de conservatório europeu<br />

foi aceito como tipo de formação legítima para o músico profissional e também alicerçou o<br />

ensino nas escolas e nos conservatórios, levan<strong>do</strong>-os a desenvolver uma formação<br />

fragmenta<strong>da</strong>, organizan<strong>do</strong> os cursos com divisão disciplinar. Com a divisão <strong>do</strong>s cursos em<br />

disciplinas estanques, deixou-se a cargo <strong>do</strong> aluno a integração <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, o que nem<br />

sempre acontece, perden<strong>do</strong>-se a consciência global e o afastamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de em sua<br />

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plenitude.<br />

A fragmentação leva tanto os professores como os alunos a um processo de restrição<br />

reprodutória <strong>do</strong> conhecimento. Os <strong>do</strong>centes a<strong>do</strong>tam como meto<strong>do</strong>logia o princípio de que o<br />

aluno necessita aprender inicialmente os conteú<strong>do</strong>s geralmente informativos para depois<br />

passar a aplicação destes conteú<strong>do</strong>s na prática. Desta maneira, devi<strong>do</strong> a essa fragmentação<br />

ocorre a dissociação entre a teoria e a prática e a pre<strong>do</strong>minância de procedimentos apoia<strong>do</strong>s<br />

na repetição e memorização.<br />

Parti<strong>do</strong> desta lógica, o conhecimento musical estrutura-se como um saber acaba<strong>do</strong>,<br />

ocorre uma supervalorização <strong>da</strong> música européia <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> clássico e barroco em detrimento<br />

<strong>da</strong> música brasileira e contemporânea, causan<strong>do</strong> uma descontextualização social e histórica na<br />

vi<strong>da</strong>. Dentro de um sistema como esse os processos mentais de comparação, criação,<br />

resolução de problemas perdem espaço para a quantificação e memorização nas quais se<br />

baseiam as avaliações <strong>do</strong> processo de ensino-aprendizagem. Nesse caminho é ve<strong>da</strong><strong>do</strong> ao<br />

aluno qualquer questionamento.<br />

As idéias desenvolvi<strong>da</strong>s até aqui não tiveram a pretensão de <strong>da</strong>r um traço conclusivo<br />

ao trabalho de pesquisa, mas, ao contrário, tivemos a intenção de deixar a impressão de<br />

abertura, uma vez que ain<strong>da</strong> não temos as respostas que procuramos sobre a relação <strong>do</strong><br />

profissional <strong>da</strong> música a nível técnico com sua formação e os desafios que enfrenta em sua<br />

atuação profissional.<br />

A participação <strong>do</strong>s alunos egressos <strong>do</strong> curso <strong>do</strong> conservatório na pesquisa será uma<br />

maneira de contribuir para a avaliação <strong>do</strong> curso ofereci<strong>do</strong> a partir de problemas levanta<strong>do</strong>s<br />

por eles, contribuin<strong>do</strong> na proposição de caminhos volta<strong>do</strong>s para as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> aluno o<br />

que contribuirá também para sua própria reflexão, proporcionan<strong>do</strong> para o conservatório um<br />

feedback <strong>da</strong>s suas ações educativas.<br />

Diante dessa nova reali<strong>da</strong>de, através <strong>da</strong> análise <strong>do</strong>cumental <strong>da</strong>s legislações e <strong>da</strong>s<br />

grades curriculares soma<strong>da</strong>s às informações que esses egressos poderão nos fornecer, talvez<br />

possamos ter as pistas para verificar o modelo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> atualmente nos conservatórios e sua<br />

adequação à reali<strong>da</strong>de contemporânea. Ao mesmo tempo poderemos descobrir caminhos para<br />

melhorias qualitativas nos cursos de formação ofereci<strong>do</strong>s pelos conservatórios e outras<br />

instituições de ensino musical.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

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GROSSI, Cristina. Reflexões sobre atuação profissional e merca<strong>do</strong> de trabalho na perspectiva<br />

<strong>da</strong> formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 8, p. 87-92, mar. 2003.<br />

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pe<strong>da</strong>gógico-musicais <strong>do</strong>s conservatórios estaduais mineiros na déca<strong>da</strong> de 50. Dissertação de<br />

mestra<strong>do</strong>. UFRS, Porto Alegre, 1993.<br />

PLAZA, Marcus. Arte, ciência, pesquisa: relações. Trilhas. IAR – UNICAMP, n. 6. p. 21-32.<br />

jul./dez. 1997.<br />

RAYNOR, Henry. História Social <strong>da</strong> Música: <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média a Beethoven. Tradução de<br />

Nathanael C. Caixeiro. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1978. 434 p.<br />

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Lisboa. c 1964, Éditions Gerard & Cie, Verviers, Bélgica. 298 p.<br />

VÁSQUEZ, A<strong>do</strong>lfo Sánchez. Filosofia <strong>da</strong> Práxis. Editora Paz e Terra, Série Rumos <strong>da</strong><br />

Cultura Moderna, Rio de Janeiro, 1968. 11 v.<br />

VIEIRA, José G. S.; FERNANDES, R. Garcia. A estrutura <strong>da</strong>s revoluções científicas na<br />

economia e a Revolução Keynesiana. Estu<strong>do</strong>s Econômicos. SciELO Brasil, v. 36 n º 2, São<br />

Paulo, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-<br />

41612006000200007&script=sci_arttext&tlng=en, Acesso em: 15/07/2010.<br />

VIEIRA, Lia Braga. A escolarização <strong>do</strong> ensino de música. Pro-Posições, v. 15, n. 2 (44) -<br />

maio/ago. 2004. Disponível em:<br />

http://www.proposicoes.fe.unicamp.br/~proposicoes/textos/44-<strong>do</strong>ssie-%20vieiralb.pdf,<br />

Acesso em: 19/07/2010.<br />

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2 OA N O S<br />

A avaliação <strong>da</strong> performance sob a perspectiva <strong>da</strong> preferência <strong>do</strong> aluno<br />

Jonathas Joktaniel Raposo <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Alagoas<br />

jonathasraposo@hotmail.com<br />

Milson Casa<strong>do</strong> Fireman<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Alagoas<br />

milsonfireman@gmail.com<br />

Resumo: Este artigo é o resulta<strong>do</strong> de um estu<strong>do</strong> piloto realiza<strong>do</strong> para uma disciplina de um<br />

curso de Licenciatura em Música a partir <strong>da</strong> experiência com uma turma de alunos de um<br />

professor de clarinete de uma instituição particular. O objetivo principal foi observar a relação<br />

entre preferência <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte e a avaliação pratica<strong>da</strong> pelo professor. Buscou-se inicialmente<br />

informações acerca <strong>da</strong> forma utiliza<strong>da</strong> para avaliar as performances <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de<br />

clarinete e posteriormente pediu-se que a escolha <strong>da</strong> peça a ser executa<strong>da</strong> fosse feita pelos<br />

alunos. Observou-se uma mu<strong>da</strong>nça nas médias <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Palavras-chave: Avaliação musical, performance musical, repertório, clarinete<br />

Introdução<br />

A avaliação permeia to<strong>da</strong>s nossas ações diárias. Em qualquer hora e lugar sempre<br />

estabelecemos critérios que nos dão suporte para avaliar e decidir sobre as relações<br />

apresenta<strong>da</strong>s em determina<strong>da</strong>s situações. Um exemplo bem simples de avaliação cotidiana é<br />

quan<strong>do</strong> vamos ao trabalho; sabemos que será necessário acor<strong>da</strong>r em uma hora determina<strong>da</strong> a<br />

fim de que estejamos no ponto de ônibus em tempo de chegar ao local de trabalho na hora<br />

exata. A partir <strong>do</strong> momento que pensamos quantas horas iremos precisar para acor<strong>da</strong>r antes <strong>da</strong><br />

hora <strong>do</strong> trabalho já estamos avalian<strong>do</strong>. Essa avaliação será realiza<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> de determinar<br />

estimativas para ca<strong>da</strong> procedimento durante o ritual de preparação para as ativi<strong>da</strong>des laborais.<br />

Este é um de muitos exemplos de avaliação que fazemos habitualmente em nossa vi<strong>da</strong>.<br />

Em uma oportuni<strong>da</strong>de ímpar que abrolhou em uma determina<strong>da</strong> aula na universi<strong>da</strong>de<br />

onde curso Licenciatura em Música, o professor propôs que fizéssemos um planejamento de<br />

avaliação para aplicarmos em alguma ativi<strong>da</strong>de de ensino musical. Prontamente refleti sobre<br />

essa proposta e procurei estabelecer um plano que não priorizasse a escolha <strong>do</strong> objeto a ser<br />

avalia<strong>do</strong> pelo <strong>do</strong>cente, mas que possibilitasse ao aluno escolher em qual performance ele<br />

gostaria que seu professor avaliasse. Nosso objetivo foi observar de que maneira a preferência<br />

<strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte poderia interferir na avaliação <strong>do</strong> professor e vice-versa. Também seria possível,<br />

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2 OA N O S<br />

a partir dessa proposta, vislumbrar se a auto-avaliação <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte estaria em consonância<br />

com a avaliação <strong>do</strong> professor.<br />

Fun<strong>da</strong>mentação Teórica<br />

Avaliação em Música<br />

Oliveira e Tourinho (2003, p. 08) argumentam que “Avaliar é o processo de<br />

determinar até onde os objetivos de uma tarefa educacional foram atingi<strong>do</strong>s” (OLIVEIRA;<br />

TOURINHO, 2003, p. 08). Podemos ain<strong>da</strong> dizer que ca<strong>da</strong> avaliação realiza<strong>da</strong> nas aulas de<br />

performance musical traz consigo uma série de comparações estabeleci<strong>da</strong>s em um plano<br />

cognitivo. De acor<strong>do</strong> com Swanwick (2003, p. 83), essas comparações podem ser descritas<br />

em duas categorias: intrapessoal e interpessoal. A comparação intrapessoal fun<strong>da</strong>menta-se nas<br />

performances forneci<strong>da</strong>s por um mesmo sujeito em <strong>do</strong>is momentos temporais distintos<br />

enquanto a interpessoal baseia-se na comparação entre duas performances de <strong>do</strong>is sujeitos<br />

distintos.<br />

Gor<strong>do</strong>n (2002, p. 5) comenta sobre a diferença entre avaliar e mensurar (medir).<br />

Normalmente mensurar está relaciona<strong>do</strong> a objetivi<strong>da</strong>de e avaliar a subjetivi<strong>da</strong>de. Ele acredita<br />

que a objetivi<strong>da</strong>de e subjetivi<strong>da</strong>de estão em um continuum. “Na<strong>da</strong> é perfeitamente objetivo;<br />

isto é, tu<strong>do</strong> em algum grau é subjetivo, a extensão vai <strong>do</strong> muito pouco ao absoluto.” 1<br />

(GORDON, 2002, p. 5). Fireman (2010, p. 68) concor<strong>da</strong> com Gor<strong>do</strong>n e acrescenta:<br />

Até mesmo avaliar um estu<strong>da</strong>nte na resolução de cálculos matemáticos<br />

possui certo grau de subjetivi<strong>da</strong>de. Nem to<strong>do</strong>s os estu<strong>da</strong>ntes resolvem<br />

cálculos <strong>da</strong> mesma maneira. Ain<strong>da</strong> que to<strong>do</strong>s dêem respostas erra<strong>da</strong>s aos<br />

problemas, os processos cognitivos durante a resolução <strong>do</strong>s problemas foram<br />

diferentes. Alguns podem saber determinar o tipo de problema, os meios<br />

para se resolver, o caminho mais curto para encontrar a resolução e os<br />

procedimentos para executar a resolução, mas podem se distrair durante o<br />

processo. Enquanto outros podem nem saber determinar nenhum <strong>do</strong>s passos<br />

para resolver o problema. Mesmo assim, a maioria <strong>do</strong>s testes de matemática<br />

considera como critério o resulta<strong>do</strong> estar correto (FIREMAN, 2010, p. 68).<br />

Essa subjetivi<strong>da</strong>de tem um direto relacionamento com o meio pelo qual avaliamos.<br />

Frequentemente verbalizamos, atribuímos nota ou conceito ao avaliar alguma performance<br />

musical. Contu<strong>do</strong>, esses meios de manifestar a avaliação não alcancem um nível de<br />

proximi<strong>da</strong>de adequa<strong>do</strong> com a natureza <strong>do</strong> material avalia<strong>do</strong>. Talvez uma maneira adequa<strong>da</strong> de<br />

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avaliar a performance seja fornecer uma performance de acor<strong>do</strong> com as referências de quem a<br />

avalia. Muitas vezes os professores fazem isso, mas nem sempre esses modelos de<br />

performance estão presentes nas avaliações. Temos que refletir sobre a função <strong>da</strong> avaliação.<br />

Guiar a carreira <strong>do</strong> intérprete; motivá-lo; aju<strong>da</strong>r a melhorar o ensino <strong>do</strong><br />

professor; manter o padrão <strong>da</strong> escola ou de determina<strong>da</strong> região ou, ain<strong>da</strong>,<br />

coletar <strong>da</strong><strong>do</strong>s para uso em pesquisas, geran<strong>do</strong> conhecimento para orientar<br />

outras situações de avaliação basea<strong>da</strong>s em sistemas mais adequa<strong>do</strong>s.<br />

(OLIVEIRA; TOURINHO, 2003, p. 13).<br />

Em aula, ao invés de ser um instrumento de punição, a avaliação serve para conduzir<br />

o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte.<br />

Motivação<br />

Oliveira e Tourinho (2003, p.13) acrescentam ain<strong>da</strong> que a avaliação nas aulas de<br />

performance musical se dá no repertório musical. A maior parte <strong>da</strong> aula de performance<br />

musical compreende a execução de um repertório musical estabeleci<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com<br />

objetivos pretendi<strong>do</strong>s. Muitas vezes o professor estabelece esse repertório a fim de <strong>da</strong>r<br />

continui<strong>da</strong>de ao desenvolvimento musical sem envolver o estu<strong>da</strong>nte. Seashore (1967, p. 157)<br />

orienta que “fazer o estu<strong>da</strong>nte querer aprender e colocar a responsabili<strong>da</strong>de nele é o primeiro<br />

elemento de um ensino de sucesso” 2 . A proposta <strong>do</strong> autor é manter o aluno motiva<strong>do</strong> e uma<br />

<strong>da</strong>s formas de se alcançar essa motivação é envolvê-lo ativamente no processo de ensinoaprendizagem.<br />

A responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sucesso educacional não é apenas <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente,<br />

acreditamos que a maior parte é <strong>do</strong> discente. Uma vez que a escolha <strong>do</strong> repertório é algo<br />

fun<strong>da</strong>mental na aula de instrumento, envolver o estu<strong>da</strong>nte nessa escolha pode contribuir para<br />

o sucesso no trabalho. Fireman (2006) em uma pesquisa sobre repertório em aula de violão<br />

observou que um <strong>do</strong>s alunos envolvi<strong>do</strong>s passou mais tempo estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> peças escolhi<strong>da</strong>s pelo<br />

próprio aluno.<br />

De forma geral, o programa para ca<strong>da</strong> aluno deve ser fonte de aprendizagem,<br />

nem tão fácil que não ofereça um desafio nem tão difícil que seja toca<strong>do</strong> no<br />

limite <strong>da</strong> compreensão e <strong>da</strong> fluência. Da mesma forma deve oferecer a<br />

possibili<strong>da</strong>de de explorar frasea<strong>do</strong>, dinâmica, textura, possibilitan<strong>do</strong> um<br />

crescimento musical e técnico (OLIVEIRA E TOURINHO, 2003, p.22).<br />

1 Nothing is perfectly objective; that is, everything is to some degree subjective, the range being from very little<br />

to absolute<br />

2 Making the student want to learn and placing the responsibility on him is the first element of successful<br />

teaching.<br />

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Sabemos que a seleção de um repertório musical atualmente é algo bastante flexível,<br />

embora não seja algo muito fácil de realizar e que nem to<strong>do</strong>s os professores atentam para o<br />

equilíbrio <strong>da</strong>s variáveis envolvi<strong>da</strong>s. É importante refletir sobre os próprios procedimentos e<br />

utilizar propostas didáticas de referência no meio musical como, por exemplo, as mu<strong>da</strong>nças<br />

metafóricas apresenta<strong>da</strong>s por Swanwick (2003, p. 85). Precisamos continuamente avaliar os<br />

repertórios estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s de maneira que o estu<strong>da</strong>nte possa adquirir autonomia para se autoavaliar<br />

e conduzir seu próprio desenvolvimento. A participação <strong>do</strong> aluno na escolha de seu<br />

repertório aju<strong>da</strong> a manter o estu<strong>da</strong>nte motiva<strong>do</strong> e a aprimorar sua visão <strong>da</strong> performance<br />

musical.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Partimos <strong>do</strong> pressuposto de que normalmente o professor avaliava seus alunos para<br />

que novos objetivos fossem traça<strong>do</strong>s a fim de conduzir o processo de ensino-aprendizagem de<br />

forma consistente. Contu<strong>do</strong>, era necessário conhecer como essa avaliação estava inseri<strong>da</strong> nas<br />

ativi<strong>da</strong>des em aula. Este estu<strong>do</strong> pode ser subdividi<strong>do</strong> em duas partes. A primeira, consistiu <strong>da</strong><br />

aplicação de um questionário cujo objetivo foi conhecer o mo<strong>do</strong> de pensar e avaliar <strong>do</strong><br />

professor e a segun<strong>da</strong> resumiu-se em propor ao <strong>do</strong>cente que modificasse a maneira como<br />

escolhia o objeto a ser avalia<strong>do</strong>.<br />

O questionário elabora<strong>do</strong> era composto por quatro perguntas: 1) O que avaliar? 2)<br />

Por que avaliar? 3) Como avaliar? 4) Qual seu plano de avaliação?<br />

Este estu<strong>do</strong> foi elabora<strong>do</strong> com a intenção de experimentar modificações no objeto de<br />

avaliação utiliza<strong>do</strong> por um professor de clarinete em uma instituição musical onde ministra<br />

aulas a uma turma de 11 alunos, 1 hora-aula por semana. Para melhor compreensão <strong>da</strong> leitura<br />

dividi a turma em <strong>do</strong>is níveis, onde os alunos 1, 2, 3, 4, 5 e 6, encontravam-se no nível A,<br />

apresentavam um desenvolvimento musical inicial, e os alunos 7, 8, 9, 10 e 11, encontravamse<br />

no nível B, ou seja, já tinham mais experiência no instrumento. Os critérios utiliza<strong>do</strong>s para<br />

distribuir os níveis A e B foram classifica<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com <strong>do</strong> tempo de estu<strong>do</strong> e com a<br />

visão que o professor tinha <strong>da</strong> performance <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes:<br />

NÍVEL A: menos que um ano de instrumento e desenvolvimento musical inicial.<br />

NÍVEL B: mais que um ano de instrumento e desenvolvimento musical avança<strong>do</strong>.<br />

Outra informação importante foi que utilizamos para a análise as notas atribuí<strong>da</strong>s aos<br />

estu<strong>da</strong>ntes no semestre anterior ao <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s desse trabalho.<br />

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Análise<br />

Respostas ao questionário<br />

Para a primeira questão o <strong>do</strong>cente respondeu: “Eu avalio o desenvolvimento técnico<br />

deles basean<strong>do</strong>-se em seu empenho”. É possível perceber que o professor relaciona o que<br />

avalia, “desenvolvimento técnico”, com seu objetivo para o estu<strong>da</strong>nte, “empenho”. Ele utiliza<br />

o empenho como referência para a avaliação. Empenho no senti<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>, refere-se à<br />

motivação. Acreditamos que ele observa se a dificul<strong>da</strong>de técnica <strong>da</strong>s peças estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s estão<br />

produzin<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s no interesse <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte.<br />

Para a segun<strong>da</strong>: “Para saber as deficiências e facili<strong>da</strong>des em determina<strong>do</strong>s pontos<br />

musicais que o aluno realmente tem para saber se ele está melhoran<strong>do</strong> ou não”. Nota-se que a<br />

preocupação é conduzir o aprendiza<strong>do</strong> de maneira consciente. Ele está preocupa<strong>do</strong> em saber<br />

quais os problemas enfrenta<strong>do</strong>s na execução <strong>da</strong> peça e o desenvolvimento alcança<strong>do</strong>.<br />

A resposta para a quarta questão, como avaliar, foi: “Faço uma entrevista para saber<br />

quanto tempo de estu<strong>do</strong> eles têm, peço para eles tocarem uma música para avaliar o nível<br />

técnico incluin<strong>do</strong> avaliação <strong>da</strong> postura, embocadura, respiração, sonori<strong>da</strong>de, e etc. durante as<br />

aulas estou sempre corrigi<strong>do</strong> os erros cometi<strong>do</strong>s e no fim <strong>do</strong> semestre faço uma comparação<br />

de quan<strong>do</strong> eles iniciaram até hoje, fazen<strong>do</strong> uma audição escolhen<strong>do</strong> uma peça (estu<strong>do</strong> de<br />

méto<strong>do</strong>) e uma música (minueto ou concerto, sonata e etc.) e uma música em grupo”. Uma<br />

constatação no discurso <strong>do</strong> professor é que ele está comprometi<strong>do</strong> com o desenvolvimento<br />

musical <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte e que as avaliações realiza<strong>da</strong>s servem de base para conduzir os<br />

trabalhos, como comenta<strong>do</strong> no parágrafo anterior. Outra coisa importante é a avaliação<br />

intrapessoal realiza<strong>da</strong> ao final <strong>do</strong> semestre. Ele se fun<strong>da</strong>menta na comparação de <strong>do</strong>is<br />

momentos temporais distintos de ca<strong>da</strong> aluno. Acreditamos que outro ponto positivo é a<br />

utilização de um repertório musical que possibilita a prática individual e coletiva.<br />

Para a última questão a resposta <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente foi: “No início <strong>do</strong> curso uma entrevista e<br />

a execução de uma música. Acompanho seu desenvolvimento na sala de aula e no fim <strong>do</strong><br />

semestre faço uma audição escolhen<strong>do</strong> uma peça (estu<strong>do</strong> de méto<strong>do</strong>) e atribuo uma nota de 0<br />

a 10, uma música (minueto ou concerto, sonata e etc.) e <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> atribuo uma nota de<br />

0 a 10 e uma música para ser executa<strong>da</strong> em grupo também com notas de 0 a 10 e to<strong>da</strong>s com<br />

médias sete.” O professor inicia as ativi<strong>da</strong>des com uma avaliação diagnóstica, com o objetivo<br />

de determinar onde o aluno se encontra e o que traz de experiência musical para <strong>da</strong>í traçar um<br />

plano de ensino. Oliveira e Tourinho (2003, p. 18) escreveram que a avaliação diagnóstica é<br />

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realiza<strong>da</strong> “quan<strong>do</strong> se determinam ativi<strong>da</strong>des a ser desenvolvi<strong>da</strong>s a médio e longo prazo”. O<br />

<strong>do</strong>cente expressou também que acompanha o desenvolvimento em sala de aula. Swanwick<br />

(2003, p. 82) apresenta três funções <strong>da</strong> avaliação e uma <strong>da</strong>s funções é ensinar: “Eles<br />

interagem com o que os estu<strong>da</strong>ntes dizem e fazem”. O autor complementa mais adiante que<br />

os professores também fazem comparações. No parágrafo anterior constatamos que o<br />

acompanhamento <strong>da</strong>s aulas serve para que o professor faça uma comparação intrapessoal.<br />

Contu<strong>do</strong>, certamente ao ensinar o professor reage de maneira adequa<strong>da</strong> às performances <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte utilizan<strong>do</strong> como referência conhecimentos armazena<strong>do</strong>s em sua memória: “Ao se<br />

deparar com situações semelhantes em momentos distintos de sua carreira, o professor<br />

construiu e reconstruiu representações mentais que o auxiliaram nas orientações ao<br />

estu<strong>da</strong>nte.” (FIREMAN, 2007, p. 122). No final, o <strong>do</strong>cente comenta que atribui notas de 0,0 a<br />

10,0 para ca<strong>da</strong> performance o que caracteriza a necessi<strong>da</strong>de de quantificar para fins de<br />

registro escolar. O professor comentou que a intenção não é reprovar, mas saber quais alunos<br />

podem avançar para etapas posteriores.<br />

Avaliação realiza<strong>da</strong> no semestre anterior<br />

Para as apresentações individuais o professor pontuou os alunos 1, 2, 3 e 4 com<br />

médias entre 5,0 e 7,0, os estu<strong>da</strong>ntes 5, 6, 7 e 8 com médias entre 7,1 e 8,5 e os alunos 9, 10 e<br />

11 com médias entre 8,6 e 9,0. Na apresentação em grupo ele analisava mais as presenças, o<br />

interesse <strong>do</strong> aluno e também o <strong>do</strong>mínio técnico nas músicas, e obteve os alunos de 1 ao 5<br />

ficaram com médias entre 7,0 e 8,9 e os alunos de 6 a 11 com médias entre 9,0 e 10,0. Ao fim<br />

<strong>do</strong> semestre o professor tem um total de aprovação de ± 80% <strong>do</strong>s alunos. A seguir<br />

apresentamos os resulta<strong>do</strong>s resumi<strong>do</strong>s em tabelas.<br />

Variação <strong>da</strong>s Médias individuais Estu<strong>da</strong>ntes<br />

5,0 a 7,0 1, 2, 3 e 4<br />

7,1 a 8,5 5, 6, 7 e 8<br />

8,6 a 9,0 9, 10 e 11<br />

TABELA 1 - Médias para as performances individuais<br />

no semestre anterior.<br />

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Variação <strong>da</strong>s Médias em grupo Estu<strong>da</strong>ntes<br />

7,0 a 8,9 1 ao 5<br />

9,0 a 10 6 ao 11<br />

TABELA 2 - Médias para as performances coletivas no<br />

semestre anterior.<br />

Aplicação <strong>da</strong> nova proposta<br />

Com base na análise <strong>da</strong>s respostas <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente ao questionário, lançamos a proposta<br />

de avaliação apenas com a alteração <strong>do</strong> objeto a ser avalia<strong>do</strong>. Anteriormente o professor<br />

construía o repertório a ser trabalho e escolhia qual peça o aluno iria apresentar para ser<br />

avalia<strong>do</strong>. Nessa nova proposta o aluno estaria livre para escolher quais performances gostaria<br />

de apresentar na oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> avaliação somativa ao fim <strong>do</strong> semestre, consideran<strong>do</strong><br />

também um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> e uma música para ser executa<strong>da</strong> em grupo.<br />

Resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> nova proposta<br />

Nessa nova proposta as notas atribuí<strong>da</strong>s pelo professor foram mais satisfatórias e<br />

elevou a média <strong>do</strong>s alunos. Os estu<strong>da</strong>ntes 1, 2 e 4 obtiveram médias entre 6,0 e 7,5, os alunos<br />

3, 5, 6 e 7 médias entre 7,6 e 8,5, os estu<strong>da</strong>ntes 8, 9 e 10 médias entre 8,6 e 9,5 e o discente 11<br />

com média 10 na avaliação <strong>da</strong>s performances. Na apresentação em grupo o resulta<strong>do</strong> foi<br />

extremamente satisfatório e pelo empenho e dedicação to<strong>do</strong>s os alunos obtiveram média 10,0.<br />

Ao fim <strong>do</strong> semestre o professor teve a aprovação de 100% <strong>do</strong>s alunos.<br />

Variação <strong>da</strong>s Médias individuais Estu<strong>da</strong>ntes<br />

6,0 a 7,5 1, 2 e 4<br />

7,6 a 8,5 3, 5, 6 e 7<br />

8,6 a 9,5 8, 9 e 10<br />

10,0 11<br />

TABELA 3 - Médias para as performances individuais a<br />

partir <strong>da</strong> nova proposta.<br />

Discussão<br />

Pode-se observar que de uma forma geral a média <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes apresentou um<br />

acréscimo. Para as performances individuais os estu<strong>da</strong>ntes geralmente apresentaram um<br />

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2 OA N O S<br />

aumento nas médias mais baixas em 0,5 ponto e também reduziram a variação <strong>da</strong>s médias<br />

para aproxima<strong>da</strong>mente 1,0 ponto. Ain<strong>da</strong> é possível observar que no semestre anterior nenhum<br />

estu<strong>da</strong>nte recebeu média 10,0 e a partir <strong>da</strong> nova proposta um <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes obteve essa<br />

média. Para as performances coletivas, as notas ficaram no máximo. Outra fato interessante<br />

foi a mu<strong>da</strong>nça nas médias <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte 3. Este aluno estava classifica<strong>do</strong> com médias mais<br />

baixas e passou para outro grupo de estu<strong>da</strong>ntes. Podemos sugerir que tanto o estu<strong>da</strong>nte pode<br />

ter se dedica<strong>do</strong> mais ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento como também a possibili<strong>da</strong>de de escolher a<br />

peça a ser avalia<strong>da</strong> pode ter contribuí<strong>do</strong> para que sua melhor performance realmente fosse<br />

destaca<strong>da</strong>.<br />

Conclusão<br />

O presente trabalho teve como objetivo observar a relação entre a preferência <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte e a avaliação <strong>da</strong> performance realiza<strong>da</strong> pelo professor. A preferência se deu no<br />

momento em que os alunos escolheram as peças para performance. Ao escolherem é provável<br />

que tenham opta<strong>do</strong> por uma execução que considerassem a melhor dentre as que estu<strong>da</strong>ram,<br />

ou seja, algo que gostassem e que conseguissem apresentar bem. Os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s<br />

demonstraram que houve uma mu<strong>da</strong>nça na avaliação <strong>do</strong> professor. Essa mu<strong>da</strong>nça pode ser<br />

decorrente <strong>do</strong> intervalo de tempo entre as avaliações, mas é possível que a escolha <strong>do</strong><br />

estu<strong>da</strong>nte tenha interferi<strong>do</strong> positivamente nas notas.<br />

A preferência nesse caso está diretamente liga<strong>da</strong> à auto-avaliação. Na primeira<br />

avaliação <strong>do</strong>s alunos, realiza<strong>da</strong> no semestre anterior, não existia abertura para a autoavaliação,<br />

visto que o estu<strong>da</strong>nte não tinha a oportuni<strong>da</strong>de de escolher a performance a ser<br />

avalia<strong>da</strong>. A partir <strong>do</strong> momento em que existe essa oportuni<strong>da</strong>de, a avaliação que faz de sua<br />

própria performance toma lugar, pois acreditamos que serão escolhi<strong>da</strong>s as peças que<br />

considerarem melhor executa<strong>da</strong>s. Dessa maneira ao escolher o estu<strong>da</strong>nte avalia qual execução<br />

está em condições de ser submeti<strong>da</strong> ao crivo <strong>do</strong> professor.<br />

Nessa relação entre auto-avaliação <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte e avaliação <strong>do</strong> professor existe uma<br />

aproximação, ou seja, um certo tipo de modelagem. Acreditamos que se o aluno continuar a<br />

praticar essa auto-avaliação ele se aproximará <strong>da</strong> avaliação realiza<strong>da</strong> pelo <strong>do</strong>cente, uma vez<br />

que aprenderá a avaliar sua performance. Não se aprende somente repertório musical e<br />

práticas interpretativas, aprende-se também a exercer a crítica musical a partir de um modelo.<br />

Também essa prática avaliativa contribui para o desenvolvimento de um estu<strong>do</strong> instrumental<br />

mais autônomo.<br />

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Este trabalho permitiu ao professor praticar a avaliação através <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça na<br />

escolha <strong>do</strong> objeto a ser avalia<strong>do</strong>. A mu<strong>da</strong>nça no processo de avaliação teve o intuito de obter<br />

informações e resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ensino-aprendizagem com seus alunos e dessa forma lhe deu<br />

subterfúgios para desenvolver sua didática de ensino. A partir <strong>do</strong> momento que o professor<br />

avalia a performance <strong>do</strong> aluno ele irá corrigir algum item, assim estará comparan<strong>do</strong> e<br />

aprimoran<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> mais aquela performance e contribuin<strong>do</strong> para que o aluno desenvolva.<br />

Gostaria de mencionar que, apesar <strong>da</strong> porcentagem de aprovação ter si<strong>do</strong> superior à<br />

prática <strong>do</strong> professor no semestre anterior, esta pesquisa pretende realizar uma primeira<br />

abor<strong>da</strong>gem ao assunto. Também temos consciência de que, como qualquer outra proposta,<br />

este trabalho terá que ser aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> e minuciosamente estu<strong>da</strong><strong>do</strong> a fim de que conheçamos<br />

um pouco mais sobre a avaliação em aulas de música e evitemos prejuízos à formação <strong>da</strong>s<br />

performances <strong>do</strong>s alunos.<br />

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Referências<br />

FIREMAN, M. A escolha de repertório na aula de violão como uma proposta cognitiva.<br />

Revista Em Pauta, Porto Alegre, v. 18, n. 30, 2007.<br />

FIREMAN, M. Leitura Musical à Primeira Vista ao Violão: a influência <strong>da</strong> organização <strong>do</strong><br />

material de estu<strong>do</strong>. Tese (Doutora<strong>do</strong>), Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, Salva<strong>do</strong>r, 2010.<br />

GORDON, E. E. Rating Scales And Their Uses For Measuring And Evaluating Achievment In<br />

Music Performance. Chicago: GIA Publications, 2002.<br />

OLIVEIRA, A.; TOURINHO, C. Avaliação <strong>da</strong> performance musical. In: HENTSCHKE,<br />

LIANE E SOUZA, JUSAMARA. Avaliação em Música: Reflexões e Práticas. São Paulo:<br />

Moderna, 2003.<br />

SEASHORE, C. E. Psychology of Music. New York: Dover Publications, 1967.<br />

SWANWICK, K. Ensinan<strong>do</strong> Música Musicalmente. Tradução de Cristina Tourinho e Al<strong>da</strong><br />

Oliveira. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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Avaliação em música: proposta de registro avaliativo diário<br />

Maria Luiza Santos Barbosa<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

mluizasb@yahoo.com.br<br />

Otávio Fi<strong>da</strong>lgo<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

ojviolonista@hotmail.com<br />

Quedma Cristal<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

quedmacristal@hotmail.com<br />

Letícia Bartholo<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

leticiabartholo@hotmail.com<br />

Luana Valentim<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

lua25@hotmail.com<br />

Vinícius Ferraz<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

vininhosfm@hotmail.com<br />

Isis Carla<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

ojviolonista@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo trata de uma pesquisa em an<strong>da</strong>mento em <strong>do</strong>is cursos de extensão <strong>da</strong><br />

UFBA, o projeto de Iniciação Musical com Introdução ao Tecla<strong>do</strong> (IMIT) e o projeto de<br />

Iniciação Musical com Introdução ao Violão (IMIV). A caderneta, que era utiliza<strong>da</strong> somente<br />

para registro <strong>da</strong> presença <strong>do</strong>s alunos, foi modifica<strong>da</strong>, servin<strong>do</strong> também como um registro de<br />

avaliação diário desses educan<strong>do</strong>s. Avaliar em música sempre foi uma questão bastante<br />

discuti<strong>da</strong>. Quais os parâmetros que se deve usar para avaliar o conhecimento <strong>do</strong> aluno? O<br />

que, realmente, se deve avaliar? Basea<strong>da</strong> na abor<strong>da</strong>gem TECLA, de Swanwick, há a<br />

possibili<strong>da</strong>de de registro <strong>do</strong>s itens trabalha<strong>do</strong>s durante a aula, e espera-se que, ao final <strong>do</strong><br />

semestre, o professor tenha elementos significativos para elaborar uma avaliação mais precisa<br />

sobre a aprendizagem <strong>do</strong> aluno.<br />

Palavras-chave: Avaliação, Educação Musical, IMIT<br />

INTRODUÇÃO<br />

O processo avaliativo tem si<strong>do</strong> constantemente tema de discussões em to<strong>da</strong>s as áreas<br />

de pesquisas, principalmente em Educação. Em Educação Musical, não é diferente. Avaliar<br />

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musicalmente levanta alguns questionamentos: Como avaliar os processos criativos <strong>do</strong>s<br />

alunos? Quais os parâmetros que se deve usar para avaliar o conhecimento <strong>do</strong> aluno? O que,<br />

realmente, se deve avaliar? É necessário, de fato, avaliar algo tão subjetivo quanto o processo<br />

de aquisição musical?<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a proposta de reestruturação <strong>do</strong> registro de presença, comumente<br />

chama<strong>da</strong> de caderneta, pretende auxiliar o professor no processo contínuo e reflexivo de<br />

avaliação <strong>do</strong>s alunos. O novo modelo está sen<strong>do</strong> testa<strong>do</strong> em <strong>do</strong>is cursos de extensão <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, o IMIT e o IMIV, e está basea<strong>do</strong> na abor<strong>da</strong>gem TECLA, de<br />

Keith Swanwick.<br />

CONTEXTO DO CURSO<br />

O Curso de Iniciação Musical com Introdução ao Tecla<strong>do</strong>, IMIT, é um projeto de<br />

extensão universitária, desenvolvi<strong>do</strong> desde 1988 pela Profa. Dra. Al<strong>da</strong> Oliveira. A<br />

Meto<strong>do</strong>logia é basea<strong>da</strong> na abor<strong>da</strong>gem TECLA, elabora<strong>da</strong> pelo educa<strong>do</strong>r musical Keith<br />

Swanwick.<br />

As aulas são, atualmente, ministra<strong>da</strong>s por estu<strong>da</strong>ntes de Música <strong>da</strong> UFBA, sen<strong>do</strong>,<br />

neste ano de <strong>2011</strong>, três <strong>do</strong> curso de Licenciatura, um bacharelan<strong>do</strong> em Instrumento (piano) e<br />

outro bacharelan<strong>do</strong> em Regência, sob a coordenação, desde 2009, <strong>da</strong> mestran<strong>da</strong> em Educação<br />

Musical Maria Luiza Barbosa.<br />

As turmas possuem entre 2 e 6 alunos, com i<strong>da</strong>des que variam entre 7 e 12 anos, e a<br />

duração <strong>da</strong>s aulas é de 1 hora e meia, uma vez por semana. Os níveis variam de IMIT 1.1 a<br />

IMIT 4.2, num total de 4 anos, conta<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> primeiro nível. O programa <strong>do</strong> curso é<br />

basea<strong>do</strong> em ativi<strong>da</strong>des adequa<strong>da</strong>s ao nível cognitivo, afetivo, psicomotor e social <strong>do</strong>s alunos.<br />

A ca<strong>da</strong> semestre, elabora-se um projeto com um tema escolhi<strong>do</strong> entre o coordena<strong>do</strong>r e os<br />

estagiários. A partir deste tema, elaboram-se ativi<strong>da</strong>des de técnica, execução, composição,<br />

literatura e a apreciação musicais.<br />

O curso de Iniciação Musical com Introdução ao Violão (IMIV) começou em 1994<br />

pela Profa. Dra. Cristina Tourinho (após fazer observações não participante <strong>da</strong>s aulas <strong>do</strong><br />

IMIT). O planejamento de repertório e ativi<strong>da</strong>des foi feito por Cristina e contou com a aju<strong>da</strong><br />

de Allison Carvalho (na época estu<strong>da</strong>nte de licenciatura em Música <strong>da</strong> UFBA). Atualmente,<br />

o curso atende 7 turmas com, no máximo, 4 alunos por turma, entre 6 e 11 anos. Dois<br />

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professores trabalham no projeto, com aulas de musicalização para os alunos de 6 anos e<br />

iniciação ao violão, a partir <strong>do</strong>s 7, com duração de 1 hora e meia/aula, uma vez por semana.<br />

Para que não se perdesse nenhum <strong>do</strong>s momentos vivencia<strong>do</strong>s em sala, procurou-se<br />

registrar a avaliação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais trabalha<strong>da</strong>s na sala de aula no momento em que<br />

elas foram ministra<strong>da</strong>s. Sen<strong>do</strong> assim, a avaliação semestral e/ou anual será mais precisa, uma<br />

vez que o professor tem em mãos o registro de to<strong>da</strong>s as aulas.<br />

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS<br />

Avaliar em música sempre foi uma questão bastante discuti<strong>da</strong>. Quais os parâmetros<br />

que se deve usar para avaliar o conhecimento <strong>do</strong> aluno? O que, realmente, se deve avaliar? É<br />

necessário, de fato, avaliar algo tão subjetivo quanto o processo de aquisição musical?<br />

A avaliação é uma ferramenta imprescindível para que o professor auxilie seu aluno<br />

no processo de aprendizagem. Segun<strong>do</strong> Hoffman:<br />

A avaliação, enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento como<br />

apropriação <strong>do</strong> saber pelo aluno e também pelo professor, como açãoreflexão-ação<br />

que se passa na sala de aula em direção a um saber<br />

aprimora<strong>do</strong>, enriqueci<strong>do</strong>, carrega<strong>do</strong> de significa<strong>do</strong>s, de compreensão. Dessa<br />

forma, a avaliação passa a exigir <strong>do</strong> professor uma relação epistemológica<br />

com o aluno – uma conexão entendi<strong>da</strong> como reflexão aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> a respeito<br />

<strong>da</strong>s formas como se dá a compreensão <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> sobre o objeto <strong>do</strong><br />

conhecimento. (HOFFMAN, p. 56)<br />

O acompanhamento <strong>do</strong> processo de construção de conhecimento implica favorecer o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> aluno, orientá-lo nas tarefas, oferecer-lhe novas leituras ou explicações,<br />

sugerir-lhe investigações, proporcionar-lhe vivências enriquece<strong>do</strong>ras e favorece<strong>do</strong>ras à sua<br />

ampliação <strong>do</strong> saber.<br />

Segun<strong>do</strong> Luckesi,<br />

A avaliação, diferentemente <strong>da</strong> verificação, envolve um ato que ultrapassa a<br />

obtenção de configuração <strong>do</strong> objeto, exigin<strong>do</strong> decisão <strong>do</strong> que fazer ante ou<br />

com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação, por<br />

sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação. (LUCKESI, p.76)<br />

Outros educa<strong>do</strong>res definem o processo avaliativo. Para Haydt, há três formas de<br />

avaliação: diagnóstica, formativa, somativa. A avaliação diagnóstica é aquela que verifica a<br />

presença ou ausência de pré-requisitos para novas aprendizagens. Também detecta<br />

dificul<strong>da</strong>des específicas de aprendizagem, tentan<strong>do</strong> identificar suas causas. Segun<strong>do</strong> Hadji<br />

(2001), este tipo de avaliação é chama<strong>da</strong> também de prognóstica, pois compreende que “to<strong>da</strong><br />

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avaliação pode ser diagnóstica, na medi<strong>da</strong> em que identifica certas características <strong>do</strong> aprendiz<br />

e faz um balanço, certamente mais ou menos aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong>, de seus pontos fortes e fracos”. Ela<br />

permite um ajuste entre o educan<strong>do</strong> e o seu programa de estu<strong>do</strong>s, seja modifican<strong>do</strong> este<br />

programa, seja orientan<strong>do</strong> os educan<strong>do</strong>s a cumprirem-no segun<strong>do</strong> suas competências.<br />

Haydt (2004) descreve a avaliação formativa como aquela que constata se os<br />

objetivos estabeleci<strong>do</strong>s foram alcança<strong>do</strong>s pelos alunos. Também fornece <strong>da</strong><strong>do</strong>s para<br />

aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem. Hadji afirma que sua principal função é<br />

“contribuir para uma boa regulação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de ensino (ou de formação, no senti<strong>do</strong><br />

amplo). Trata-se de levantar informações úteis à regulação <strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem”<br />

(2001, p. 20).<br />

Ela diz ain<strong>da</strong> que a avaliação somativa é aquela que classifica os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

aprendizagem alcança<strong>da</strong> pelos alunos, de acor<strong>do</strong> com os níveis de aproveitamento<br />

estabeleci<strong>do</strong>s. Este tipo de avaliação é feito no término no ano letivo. A avaliação que ocorre<br />

depois <strong>da</strong> ação é chama<strong>da</strong> de cumulativa, cuja função é de “verificar se as aquisições visa<strong>da</strong>s<br />

pela formação forma feitas” (HADJI, 2001). A avaliação somativa traduz-se em um escore e<br />

abrange to<strong>da</strong> uma uni<strong>da</strong>de ou um ciclo de uni<strong>da</strong>des de aprendizagem. (SANTIAGO, 1994, p.<br />

139).<br />

Jussara Hoffman defende um paradigma de avaliação que se opõe ao paradigma<br />

sentencioso, classificatório. Ela o define como “avaliação media<strong>do</strong>ra”:<br />

[...] a perspectiva <strong>da</strong> ação avaliativa como uma <strong>da</strong>s mediações pela qual se<br />

encorajaria a reorganização <strong>do</strong> saber. Ação, movimento, provocação, na<br />

tentativa de reciproci<strong>da</strong>de intelectual entre os elementos <strong>da</strong> ação educativa.<br />

Professor e aluno buscan<strong>do</strong> coordenar seus pontos de vista, trocan<strong>do</strong> idéias,<br />

reorganizan<strong>do</strong>-as. (HOFFMANN, p. 67)<br />

Através <strong>do</strong> diálogo, entendi<strong>do</strong> como momento de conversa com os alunos, o<br />

professor despertaria o interesse e a atenção pelo conteú<strong>do</strong> a ser transmiti<strong>do</strong>. O<br />

acompanhamento significaria estar junto aos alunos, em to<strong>do</strong>s os momentos possíveis, para<br />

observar passo a passo seus resulta<strong>do</strong>s individuais.<br />

Corrigir para ver se aprendeu reflete o paradigma positivista de uma avaliação.<br />

Refletir a respeito <strong>da</strong> produção de conhecimento <strong>do</strong> aluno para encaminhá-lo à superação, ao<br />

enriquecimento <strong>do</strong> saber significa desenvolver uma ação avaliativa media<strong>do</strong>ra (HOFFMAN,<br />

p. 57).<br />

Swanwick diz que “a avaliação musical genuína é a chave para uma educação<br />

musical efetiva.” (Swanwick, 2003, p. 80). Ele levanta a questão de que, mesmo que haja uma<br />

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avaliação intuitiva fazen<strong>do</strong> parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária <strong>da</strong>s pessoas, a avaliação em educação e,<br />

especialmente em artes, parece ser tão problemática. Afirma que<br />

Devemos buscar um vocabulário que seja significativo e compartilha<strong>do</strong>, ou<br />

encontrar e declarar critérios que façam senti<strong>do</strong> para qualquer pessoa.<br />

Mesmo que o formal seja uma tentativa de comparar com alguma espécie de<br />

norma, ou talvez com as expectativas <strong>do</strong> que possam aprender os alunos de<br />

certa i<strong>da</strong>de ou que estejam em um estágio determina<strong>do</strong> de um curso. É nesse<br />

ponto de comparação que começamos a ter consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de e<br />

critérios confiáveis para explicitar padrões, para uma linguagem<br />

compartilha<strong>da</strong> de crítica musical. (SWANWICK, 2003, p. 83).<br />

Buscan<strong>do</strong> uma forma de avaliar os alunos de maneira reflexiva e contínua, elementos<br />

de uma avaliação qualitativa, procurou-se modificar o instrumento de registro <strong>da</strong> presença<br />

destes alunos em sala: a caderneta. Para isso, foi utiliza<strong>do</strong> o modelo TECLA (Técnica,<br />

Execução, Composição, Literatura e Apreciação), de Swanwick.<br />

Em resposta aos sistemas de ensino, que necessitam de uma avaliação quantitativa<br />

para promover – ou não – o aluno para um nível mais adiante, fez-se uso de uma escala<br />

numérica, varian<strong>do</strong> de 1 a 5 (1 – mínimo; 5 – máximo). Após estabelecer os critérios para<br />

ca<strong>da</strong> nível <strong>da</strong> escala, o professor pode registrar sua avaliação de acor<strong>do</strong> com a resposta <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pelo aluno e segun<strong>do</strong> os critérios anteriormente discuti<strong>do</strong>s.<br />

A CADERNETA<br />

O modelo a seguir apresenta as características de uma caderneta elabora<strong>da</strong> para as<br />

turmas <strong>do</strong> IMIT e IMIV. Como as aulas são ministra<strong>da</strong>s uma vez por semana, é possível fazer<br />

o calendário bimensal. Ca<strong>da</strong> linha corresponde a uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> modelo TECLA. Há<br />

um espaço em branco, caso o professor necessite registrar algum ponto relevante ocorri<strong>do</strong> em<br />

sala:<br />

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Além desta, o professor também recebe outra folha para registrar, de forma sucinta,<br />

as ativi<strong>da</strong>des aplica<strong>da</strong>s durante a aula. Este tipo de registro é necessário para que o professor<br />

tenha um melhor controle <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s alterações ocorri<strong>da</strong>s durante as<br />

aulas, pois, por mais que a aula seja planeja<strong>da</strong> de forma a atender um plano, podem ocorrer<br />

mu<strong>da</strong>nças na aula que satisfaçam melhor as necessi<strong>da</strong>des musicais <strong>do</strong>s alunos. Há, também,<br />

uma legen<strong>da</strong>, com orientações relativas ao preenchimento <strong>da</strong> caderneta. Segue, portanto, a<br />

segun<strong>da</strong> folha para anotações:<br />

Ao final <strong>do</strong> semestre, o professor terá preenchi<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os campos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

aplica<strong>da</strong>s, seguin<strong>do</strong>, então, para um diagnóstico final relativo à aprendizagem <strong>do</strong>s alunos no<br />

semestre corrente.<br />

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Vale ressaltar que este instrumento é apenas uma ferramenta de auxílio <strong>do</strong>cente, não<br />

um fim em si mesma. O professor pode utilizar outros recursos para complementar sua<br />

avaliação final.<br />

RESULTADOS ESPERADOS<br />

Quan<strong>do</strong> se propõem determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, o proponente espera que seu trabalho<br />

seja bem recebi<strong>do</strong> por aqueles que irão executá-la e, por fim, realiza-se uma avaliação de tu<strong>do</strong><br />

o que foi feito. Com o professor acontece o mesmo. As ativi<strong>da</strong>des aplica<strong>da</strong>s em sala, os<br />

conteú<strong>do</strong>s transmiti<strong>do</strong>s, os objetivos de ca<strong>da</strong> aula requerem uma avaliação no final deste<br />

perío<strong>do</strong> de trabalho. Sen<strong>do</strong> assim, quanto mais anotações <strong>da</strong>s respostas <strong>do</strong>s alunos o professor<br />

fizer, melhor e mais justa será sua avaliação, bem como <strong>da</strong>rão um retorno mais confiável aos<br />

pais <strong>do</strong>s seus educan<strong>do</strong>s.<br />

No Imit, após 15 aulas, os pais e alunos receberão uma ficha de avaliação <strong>do</strong><br />

semestre, conten<strong>do</strong> uma análise de to<strong>da</strong>s as avaliações feitas a ca<strong>da</strong> aula. Esta ficha será<br />

preenchi<strong>da</strong> basea<strong>da</strong> nas anotações feitas durante o semestre e pelas observações de ca<strong>da</strong><br />

professor.<br />

Espera-se que a nova forma de preenchimento <strong>da</strong> caderneta auxilie o professor, que<br />

terão to<strong>da</strong>s as informações registra<strong>da</strong>s como auxílio para um parecer reflexivo, crítico e<br />

condizente com o desenvolvimento musical <strong>do</strong> aluno neste perío<strong>do</strong> letivo.<br />

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2 OA N O S<br />

REFERÊNCIAS<br />

COUTO, Ana Carolina Nunes; SANTOS, Israel Rodrigues Souza. Por que vamos ensinar<br />

Música na escola? Reflexões sobre conceitos, funções e valores <strong>da</strong> Educação Musical<br />

Escolar. Opus, Goiânia, v. 15, n. 1, p. 110-125, jun. 2009.<br />

HAYDT, Regina Célia Cazaux. Avaliação <strong>do</strong> Processo Ensino-aprendizagem. São Paulo:<br />

Ática, 2004.<br />

HOFFMAN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Media<strong>do</strong>ra: uma relação dialógica na<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento. Disponível em:<br />

. Acesso em<br />

15/04/<strong>2011</strong>.<br />

LUCKESI, Cipriano C. Verificação ou Avaliação: O Que Pratica a Escola? Disponível em:<br />

www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p071-080_c.pdf. Acesso em 15/04/<strong>2011</strong>.<br />

SANTIAGO, Diana. Mensuração e avaliação em Educação Musical. IN: Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

Educação Musical. Vol. 2, <strong>ABEM</strong>, 1994. p. 136-164.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Trad. Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Compartilhan<strong>do</strong> conhecimentos entre educa<strong>do</strong>res: ação e reflexão<br />

Ricar<strong>do</strong> Oliveira Ribeiro<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

ricar<strong>do</strong>_educacao@yahoo.com.br<br />

Resumo: O artigo relata a experiência <strong>do</strong> Grupo de Estu<strong>do</strong> e Experimentação em Educação<br />

Musical e sua influência na prática pe<strong>da</strong>gógica de ca<strong>da</strong> participante. Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> modelo de<br />

transmissão de saberes <strong>da</strong> cultura popular, desenvolvemos to<strong>da</strong>s as experiências em conjunto,<br />

visan<strong>do</strong> um aprimoramento <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas ao cultivar o compartilhamento de<br />

experiências, de práticas e saberes como um meio de criar novos conhecimentos. Procuramos<br />

desenvolver discussões e ativi<strong>da</strong>des didático-musicais levan<strong>do</strong> em consideração o contexto de<br />

duas escolas públicas onde atuamos. Neste texto pretendemos conduzir uma reflexão sobre a<br />

experiência, verifican<strong>do</strong> através <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> grupo, de que forma o trabalho<br />

desenvolvi<strong>do</strong> contribuiu para um crescimento pessoal e profissional. Para esse fim<br />

elaboramos um questionário. Concluímos através <strong>da</strong> análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s que a criação de<br />

comuni<strong>da</strong>des de educa<strong>do</strong>res aprendizes é um caminho seguro de se trilhar para a formação <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente enquanto educa<strong>do</strong>r e pesquisa<strong>do</strong>r, contemplan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os quatro pilares <strong>da</strong><br />

educação, segun<strong>do</strong> Jacques Delors em relatório para a UNESCO (1999): aprender a conhecer,<br />

a ser, a conviver, e a fazer. Assim, o educa<strong>do</strong>r adquire uma fonte referencial prática ao<br />

estimular em si esses aspectos considera<strong>do</strong>s essenciais para a formação integral <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão,<br />

antes de pretender estimulá-lo em seus educan<strong>do</strong>s.<br />

Palavras-chave: Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> ro<strong>da</strong>, Compartilhamento de conhecimentos, Prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica<br />

Introdução<br />

O Grupo de Estu<strong>do</strong> e Experimentação (GEE) surgiu <strong>do</strong> Programa Institucional de<br />

Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID) que propõe, em linhas gerais, a inserção gradual e<br />

acompanha<strong>da</strong> <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> no ambiente <strong>da</strong> Escola Pública, antecipan<strong>do</strong> vários aspectos <strong>da</strong><br />

rotina <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, principalmente o saber-fazer necessário ao trabalho em sala de aula. A<br />

idéia central é suprir a grande carência de articulação entre a teoria e prática nos cursos de<br />

licenciatura, propon<strong>do</strong> uma visão crítico-propositiva frente à resolução de problemas e<br />

estimulan<strong>do</strong> a reflexão acerca <strong>da</strong> educação e seus desafios. O estímulo para a<br />

pesquisa/experimentação didática surgiu <strong>da</strong> síntese entre os direcionamentos <strong>do</strong> edital <strong>do</strong><br />

PIBID, às necessi<strong>da</strong>des de aprendizagem <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> grupo e <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s<br />

escolas públicas envolvi<strong>da</strong>s no projeto. As ativi<strong>da</strong>des didáticas foram desenvolvi<strong>da</strong>s em<br />

formato de laboratório para depois serem experimenta<strong>da</strong>s em sala de aula com os educan<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong>s escolas públicas, retornan<strong>do</strong> depois para avaliação pelo grupo.<br />

Desde a primeira reunião foi utiliza<strong>da</strong> a meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> como elemento<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

unifica<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s encontros, visan<strong>do</strong> promover o estímulo à participação de to<strong>do</strong>s na busca pelo<br />

aprimoramento <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas. Toman<strong>do</strong> como base o cultivo <strong>do</strong>s ideais que<br />

consideram o compartilhamento de experiências, de práticas e saberes como um meio de criar<br />

novos conhecimentos. As ativi<strong>da</strong>des didático-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s sempre levaram em<br />

consideração o contexto <strong>da</strong>s Escolas Públicas envolvi<strong>da</strong>s com o projeto.<br />

O Grupo de Estu<strong>do</strong>s e Experimentação em educação musical.<br />

Este grupo surgiu com o intuito de compartilhar e desenvolver ativi<strong>da</strong>des<br />

pe<strong>da</strong>gógico-musicais, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> ideário popular de construção de saberes em grupo, “... por<br />

to<strong>da</strong> a parte, onde se quer que sujeitos sociais troquem bens e serviços, há também trocas de<br />

símbolos através <strong>do</strong>s quais entre si eles se ensinam-e-aprendem” (BRANDÃO, 1984, p. 100).<br />

Buscamos na troca de experiências e na aplicação prática o caminho para o saber: “aprender é<br />

uma experiência prática interativa, enquanto a prática é uma experiência de aprendiza<strong>do</strong> sem<br />

fim” (NZEWI, 2003, p. 14). Utilizamos desde o primeiro encontro a meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> ro<strong>da</strong>, por<br />

entender ser esse o melhor caminho para estimular a participação de to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s, “…<br />

na ro<strong>da</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se vê, não tem <strong>do</strong>no, a ro<strong>da</strong> tem uma idéia que pertence a to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> é educa<strong>do</strong>r e a ro<strong>da</strong> não faz eleição faz consenso” (ROCHA, 2007).<br />

Foram pesquisa<strong>do</strong>s assuntos considera<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os participantes de interesse para<br />

a educação musical, com um enfoque interdisciplinar, procuran<strong>do</strong> sempre as possibili<strong>da</strong>des de<br />

transformar os conteú<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s em ativi<strong>da</strong>des didático-musicais. As matérias pesquisa<strong>da</strong>s<br />

levaram em conta os direcionamentos <strong>do</strong>s referenciais curriculares nacionais, estaduais e<br />

municipais para a educação musical, contemplan<strong>do</strong> a construção de instrumentos, exploração<br />

sonora <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong> entorno sonoro assim como a percepção <strong>da</strong> paisagem sonora<br />

(SCHAFER, 2001), cultura afro-brasileira e indígena. Encontramo-nos duas vezes na semana<br />

durante o mês de julho e agosto <strong>do</strong> ano de 2010 com uma carga horária de 06 horas semanais<br />

dividi<strong>da</strong>s em <strong>do</strong>is dias, elaboramos ativi<strong>da</strong>des internamente em formato laboratório sempre<br />

ten<strong>do</strong> em vista sua aplicação em sala de aula.<br />

Buscamos na aprendizagem em grupo o caminho para solucionar os problemas<br />

causa<strong>do</strong>s tanto pela falta de estrutura quanto pela falta de experiência de ca<strong>da</strong> participante <strong>do</strong><br />

grupo. Aproximamo-nos assim <strong>do</strong> conceito de aprendizagem organizacional muito utiliza<strong>do</strong><br />

pela psicologia e economia, mas que, se visto dentro de uma ótica interdisciplinar permite<br />

conceituar e descrever o processo de trabalho <strong>do</strong> grupo. Car<strong>do</strong>so (2000) citan<strong>do</strong> Senge (1990)<br />

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2 OA N O S<br />

define<br />

as organizações que aprendem como organizações onde as pessoas<br />

continuamente expandem as suas capaci<strong>da</strong>des no senti<strong>do</strong> de criar resulta<strong>do</strong>s<br />

deseja<strong>do</strong>s, onde novos sistemas são gera<strong>do</strong>s, onde se liberta a aspiração<br />

coletiva e onde as pessoas fazem continuamente uma aprendizagem de<br />

aprender em conjunto. A aprendizagem organizacional é, assim, um<br />

processo que permite o desenvolvimento e a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> sistema de valores<br />

e de conhecimentos, a melhoria <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des de ação e resolução de<br />

problema. (CARDOSO, 2000, p. 97)... Segun<strong>do</strong> Kolb (1984), Trata-se de um<br />

processo cíclico, pelo que planos, ações e conceitos são modifica<strong>do</strong>s pela<br />

reflexão feita sobre experiências e não só sobre os resulta<strong>do</strong>s. (CARDOSO,<br />

2000, p. 99).<br />

To<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> aprendi<strong>do</strong> e testa<strong>do</strong> pelo grupo de estu<strong>do</strong>s foi em um segun<strong>do</strong><br />

momento transforma<strong>do</strong> em ativi<strong>da</strong>de didática e aplica<strong>do</strong> em sala de aula. Após este momento,<br />

seguiu uma reflexão acerca <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pela equipe, evidencian<strong>do</strong> os acertos e<br />

expon<strong>do</strong> propostas de soluções viáveis para os problemas encontra<strong>do</strong>s. No final de 2010<br />

também foi realiza<strong>do</strong> um workshop com o objetivo de socializar o que foi aprendi<strong>do</strong> com<br />

outros professores <strong>da</strong> área de educação musical e demais interessa<strong>do</strong>s.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Procuramos conduzir uma reflexão sobre a experiência, verifican<strong>do</strong> através <strong>da</strong><br />

percepção <strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> GEE de que forma o trabalho desenvolvi<strong>do</strong> contribuiu para o<br />

crescimento pessoal e profissional. Para esse fim, elaboramos um questionário que foi<br />

respondi<strong>do</strong> pelos participantes consideran<strong>do</strong> os aspectos <strong>da</strong>s relações: a) <strong>do</strong> indivíduo com o<br />

grupo (possíveis contribuições), b) <strong>do</strong> grupo com os indivíduos (resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s aprendizagens<br />

em grupo no campo pessoal), c) o indivíduo dentro <strong>do</strong> contexto profissional (contribuições<br />

para a prática pe<strong>da</strong>gógica), e d) dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s e soluções propostas. Foram<br />

entregues dez questionários <strong>do</strong>s quais cinco foram respondi<strong>do</strong>s e devolvi<strong>do</strong>s.<br />

Análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

As respostas seguiram um caminho de auto-avaliação, relatan<strong>do</strong> aspectos positivos<br />

no desenvolvimento pessoal e profissional e negativo quanto às possibili<strong>da</strong>des de produção<br />

ofereci<strong>da</strong>s pelas duas escolas públicas envolvi<strong>da</strong>s no projeto. Revelaram que, apesar <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des o uso <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de pode transformar poucos recursos em grandes<br />

possibili<strong>da</strong>des e que a chave para o sucesso <strong>do</strong> trabalho em grupo está na aceitação e respeito<br />

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2 OA N O S<br />

<strong>do</strong> outro.<br />

Análise por tópico<br />

a) Do indivíduo para o grupo – A maioria <strong>do</strong>s participantes considerou que colaborou<br />

trazen<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des, sugerin<strong>do</strong> linhas de pesquisa e estan<strong>do</strong> abertos para aprender com to<strong>do</strong>s,<br />

mostran<strong>do</strong> que não só as idéias, mas também as atitudes foram considera<strong>da</strong>s como<br />

contribuições.<br />

b) Do grupo para o indivíduo – As ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> grupo foram considera<strong>da</strong>s essenciais<br />

para um constante desenvolvimento de conteú<strong>do</strong>s atitudinais. Houve relatos de quebras de<br />

bloqueios psicológicos ao se manifestar em público, de uma crescente afirmação de si<br />

enquanto ser humano transforma<strong>do</strong>r <strong>do</strong> meio, de melhora na capaci<strong>da</strong>de de organização e nas<br />

relações interpessoais.<br />

c) Contribuições para a prática pe<strong>da</strong>gógica – No aspecto profissional foram<br />

considera<strong>da</strong>s de grande valia as contribuições <strong>do</strong> grupo tanto como espaço de<br />

compartilhamento de idéias e dúvi<strong>da</strong>s acerca <strong>da</strong> viabili<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des didático-musicais,<br />

como de reflexão após a aplicação <strong>da</strong>s mesmas, crian<strong>do</strong> assim um repertório de ativi<strong>da</strong>des a<br />

serem feitas em sala. Além <strong>do</strong> desenvolvimento no campo profissional <strong>da</strong> música, já que ao<br />

realizarmos as ativi<strong>da</strong>des propostas junto com o grupo estávamos trabalhan<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>s<br />

musicais, foram cita<strong>da</strong>s também, contribuições na afirmação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente.<br />

e) Dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s – A limitação de recursos físicos e humanos advin<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong>s duas instituições públicas (Escola e Universi<strong>da</strong>de) envolvi<strong>da</strong>s no projeto foi um <strong>do</strong>s<br />

aspectos mais cita<strong>do</strong>s pelos participantes <strong>do</strong> grupo: falta de salas específicas para realizar<br />

ativi<strong>da</strong>des previstas, falta de ferramentas necessárias ao trabalho como computa<strong>do</strong>res, acesso<br />

a internet, instrumentos musicais, etc. Foi muito menciona<strong>da</strong> também a dificul<strong>da</strong>de de<br />

trabalhar em grupo no que diz respeito ao choque entre de personali<strong>da</strong>des, a falta de<br />

engajamento de alguns participantes, constantes faltas e atrasos, houve também reclamações<br />

quanto ao excesso de contribuições e sugestões de uma minoria. Dificul<strong>da</strong>des estas que foram<br />

supera<strong>da</strong>s com o aproveitamento criativo <strong>do</strong>s recursos existentes e maior aceitação <strong>do</strong> outro.<br />

Em <strong>da</strong><strong>do</strong> momento também percebemos um possível erro de planejamento, ao se pretender<br />

muitos objetivos, o que resultou em certa frustração pelo fato de o grupo ter abor<strong>da</strong><strong>do</strong> alguns<br />

conteú<strong>do</strong>s de maneira consistente e outros nem tanto.<br />

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2 OA N O S<br />

Conclusões<br />

Concluímos que a criação de uma comuni<strong>da</strong>de de educa<strong>do</strong>res aprendizes pode se<br />

tornar um caminho complementar na formação <strong>do</strong>cente no que diz respeito à educação e à<br />

pesquisa bem como contemplan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os quatro pilares <strong>da</strong> educação, segun<strong>do</strong> Jacques<br />

Delors em relatório para a UNESCO (1999): aprender a conhecer, a ser, a conviver e a fazer.<br />

Através desta experiência o educa<strong>do</strong>r pode adquirir uma fonte referencial prática ao estimular<br />

em si os aspectos considera<strong>do</strong>s hoje essenciais para a formação integral <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão, antes de<br />

pretender estimulá-lo em seus educan<strong>do</strong>s. O grupo de estu<strong>do</strong>s e experimentação se mostrou<br />

muito produtivo, servin<strong>do</strong> de apoio a ações e reações em sala de aula diante de situações<br />

problemas, sen<strong>do</strong> espaço de laboratório de ativi<strong>da</strong>des didático-musicais. Ampliou ou<br />

reformulou o paradigma educacional de ca<strong>da</strong> participante se tornan<strong>do</strong> espaço para o<br />

compartilhamento de experiências, de referências bibliográficas, material didático. Estimulou<br />

a reflexão crítico-propositiva diante de problemas de to<strong>da</strong> ordem dentro <strong>do</strong> campo<br />

educacional trazi<strong>do</strong>s para o grupo por seus participantes, auxilian<strong>do</strong>-os também no<br />

desenvolvimento pessoal em nível <strong>da</strong>s relações interpessoais como na superação de<br />

travamentos psicológicos.<br />

Alguns aspectos podem ser questiona<strong>do</strong>s no intuito de melhorar a eficiência de<br />

grupos dessa natureza. Como construir os objetivos sem que haja pre<strong>do</strong>minância <strong>da</strong>s idéias<br />

<strong>da</strong>s personali<strong>da</strong>des mais fortes? Como fomentar o engajamento real <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> grupo?<br />

Como conseguir o cumprimento <strong>da</strong>s metas e prazos por to<strong>do</strong>s, sem que seja necessário a<br />

construção de uma hierarquia, trabalhan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s dentro <strong>do</strong> mesmo ideal de construção <strong>do</strong><br />

conhecimento?<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Casa de escola: cultura camponesa e educação rural. 2. ed.<br />

Campinas, São Paulo: Papirus, 1984.<br />

CARDOSO, Leonor. Aprendizagem Organizacional. Revista Psychologica, Coimbra, n. 23, p.<br />

95-117, 2000.<br />

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999.<br />

NZEWI, Meki. Acquiring knowledge of the musical arts in traditional society. In: HERBST,<br />

Anri; NZEWI, Meki; AGAWU, Kofi. Musical arts in Africa: theory, practice and education.<br />

Pretoria: University of South Africa, 2003. Pp. 13-37.<br />

ROCHA, Tião. Folha Online – Educação: As pe<strong>da</strong>gogias <strong>do</strong> CPCD, nov. 2007. Disponível<br />

em: . Acesso em: 09<br />

nov. 2010.<br />

SCHAFER, Raymond Murray. A afinação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>: uma exploração pioneira pela história<br />

passa<strong>da</strong> e pelo atual esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> mais negligencia<strong>do</strong> aspecto <strong>do</strong> nosso ambiente, a paisagem<br />

sonora. Tradução de Marisa Trench Fonterra<strong>da</strong>. São Paulo: UNESP, 2001.<br />

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2 OA N O S<br />

Compreensão Musical: um processo desenvolvi<strong>do</strong> na aula de instrumento<br />

Kátia Suzette Braga Gurgel<br />

Conservatório Pernambucano de Música (CPM)<br />

Escola de Música Anthenor Navarro (EMAN)<br />

katiasuzette@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este artigo expõe um estu<strong>do</strong> a ser realiza<strong>do</strong>, que pretende observar o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> compreensão musical em alunos de piano. A primeira etapa consiste em<br />

utilizar uma abor<strong>da</strong>gem interativa visan<strong>do</strong> à possibili<strong>da</strong>de de desenvolver a compreensão<br />

musical na aprendizagem instrumental. Esta etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> será aplica<strong>da</strong> a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

semestre de <strong>2011</strong> e realiza<strong>da</strong> durante <strong>do</strong>is anos. Na segun<strong>da</strong> etapa observar-se-á o processo de<br />

compreensão musical verifica<strong>do</strong> na aprendizagem pianística nesse perío<strong>do</strong>. O procedimento<br />

meto<strong>do</strong>lógico está fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> nas propostas <strong>da</strong> educação musical contemporânea. A<br />

relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> para a área consiste na possibili<strong>da</strong>de de levantar reflexões sobre o ensino<br />

de piano, fomentan<strong>do</strong> discussões que visem proporcionar ao aluno meios de desenvolver uma<br />

performance mais significativa.<br />

Palavras-chave: compreensão musical, aprendizagem pianística, ensino instrumental<br />

Introdução<br />

O interesse em observar o desenvolvimento <strong>da</strong> compreensão musical em alunos de<br />

piano surgiu a partir de minha experiência profissional como professora de piano na escola<br />

especializa<strong>da</strong>. O desempenho <strong>do</strong>s alunos verifica<strong>do</strong> em suas performances levaram-me a<br />

refletir as seguintes questões: Como se dá a apreensão <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas no processo de<br />

aprendizagem pianística? Que fatores, além <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas, podem auxiliar o aluno<br />

na assimilação <strong>da</strong> compreensão musical de maneira que possa proporcioná-lo desenvolver<br />

uma performance mais significativa?<br />

Tais questões implicam em aplicar procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos que visem<br />

proporcionar a compreensão na aprendizagem, seja na habili<strong>da</strong>de motora ou na assimilação de<br />

elementos <strong>da</strong> linguagem musical. Abordá-las faz parte de um estu<strong>do</strong> cujo objetivo é observar<br />

o desenvolvimento <strong>da</strong> compreensão musical em alunos de piano na escola especializa<strong>da</strong>.<br />

A primeira questão envolve aspectos técnicos específicos que não serão comenta<strong>do</strong>s<br />

no momento. Esse artigo irá se ater na reflexão <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> questão. Para <strong>da</strong>r início à reflexão<br />

é necessário estabelecer etapas, pois desta forma o estu<strong>do</strong> será melhor conduzi<strong>do</strong>.<br />

A primeira etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> consiste em utilizar uma abor<strong>da</strong>gem interativa visan<strong>do</strong> a<br />

possibili<strong>da</strong>de de desenvolver a compreensão musical na aprendizagem instrumental. Nesse<br />

senti<strong>do</strong> serão utiliza<strong>do</strong>s determina<strong>do</strong>s elementos <strong>da</strong> linguagem musical que, abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s na<br />

aprendizagem pianística, poderão auxiliar o aluno na assimilação <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> musical. Esta<br />

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2 OA N O S<br />

abor<strong>da</strong>gem visa a compreensão <strong>do</strong> repertório na sua totali<strong>da</strong>de, ou seja, consciência técnica e<br />

compreensão musical.<br />

A segun<strong>da</strong> etapa consiste em observar o processo de compreensão musical verifica<strong>do</strong><br />

na aprendizagem pianística.<br />

Fun<strong>da</strong>mentação Teórica<br />

Propostas em desenvolver a compreensão musical já se configuravam desde o início<br />

<strong>do</strong> século XX. Dalcroze, educa<strong>do</strong>r e professor de piano, ao observar que os alunos de piano<br />

apresentavam dificul<strong>da</strong>des em executar determina<strong>do</strong>s ritmos no instrumento lançou uma<br />

reforma que objetivava desenvolver no aluno uma ‘consciência musical’. (CAUDURO, 1992)<br />

Na metade <strong>do</strong> século XX surgiram novas propostas de educação musical que<br />

impulsionaram profissionais <strong>da</strong> música a refletirem e discutirem procedimentos<br />

meto<strong>do</strong>lógicos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s no ensino <strong>da</strong> música. Tais propostas visam desenvolver no aluno a<br />

consciência <strong>da</strong> música.<br />

Entre os educa<strong>do</strong>res musicais contemporâneos que se destacaram a partir <strong>da</strong> metade<br />

<strong>do</strong> século XX podemos destacar o educa<strong>do</strong>r musical Keith Swanwick. Este educa<strong>do</strong>r enfatiza<br />

a importância <strong>da</strong> compreensão musical no ensino instrumental dizen<strong>do</strong> que “permitir que as<br />

pessoas toquem qualquer instrumento sem compreensão musical – sem realmente ‘entender<br />

música’- é uma negação <strong>da</strong> expressivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cognição e, nessas condições, a música se<br />

torna sem senti<strong>do</strong>”. ( SWANWICK, 1994, p. 7).<br />

A ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> por Keith Swanwick levanta reflexões sobre procedimentos utiliza<strong>do</strong>s<br />

na aula instrumental, pois desenvolver no aluno a consciência musical é imprescindível no<br />

processo de aprendizagem. Portanto, o professor de instrumento deve buscar alternativas<br />

meto<strong>do</strong>lógicas para atingir este objetivo.<br />

A compreensão musical é considera<strong>da</strong> por França como “o entendimento <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong> expressivo e estrutural <strong>do</strong> discurso musical, uma dimensão ampla que permeia e é<br />

revela<strong>da</strong> através <strong>do</strong> fazer musical”. (FRANÇA, 2000, p.52).<br />

Estu<strong>do</strong>s verifica<strong>do</strong>s na literatura específica abor<strong>da</strong>m alguns aspectos inerentes à<br />

performance instrumental. (MORAES, 2000; FRANÇA, 2000, 2004). A abor<strong>da</strong>gem pretende<br />

demonstrar que uma melhor atuação na performance envolve não apenas a habili<strong>da</strong>de motora<br />

mas outros fatores que, soma<strong>do</strong>s, auxiliam o intérprete na performance.<br />

Moraes (2000) descreve o resulta<strong>do</strong> parcial de um estu<strong>do</strong> sobre os níveis <strong>da</strong><br />

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2 OA N O S<br />

consciência possíveis de serem alcança<strong>do</strong>s pelo intérprete na performance musical. O autor<br />

abor<strong>da</strong> também como estes níveis podem beneficiar a performance. Na contextualização de<br />

um desses níveis, que não é objetivo desse trabalho se aprofun<strong>da</strong>r, Moraes diz que:<br />

“alcançan<strong>do</strong> uma linguagem simbólica, o instrumentista integra naturalmente os aspectos<br />

musicais envolvi<strong>do</strong>s na performance – técnica, conhecimentos musicais e interpretação.”<br />

(MORAES, 2000, p. 39).<br />

França (2004) apresenta resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa sobre a avaliação <strong>da</strong><br />

performance de alunos de piano no Vestibular e no Bacharela<strong>do</strong> em Música <strong>da</strong> UFMG. A<br />

autora observou que nas performances <strong>do</strong>s graduan<strong>do</strong>s em música ”a compreensão estrutural<br />

e formal <strong>da</strong> peça favorece tanto a memorização quanto a consistência musical <strong>da</strong><br />

performance” (FRANÇA, 2004, p. 44).<br />

A definição de ‘análise musical’ encontra<strong>da</strong> no The New Harvard Dictionary of<br />

Music complementa a abor<strong>da</strong>gem discorri<strong>da</strong> pelos autores cita<strong>do</strong>s. O termo ‘análise musical’<br />

significa “o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> estrutura musical aplica<strong>do</strong> a obras ou performances”. (RANDEL, 1996,<br />

p. 37).<br />

Portanto, partin<strong>do</strong> desse referencial teórico, através de uma abor<strong>da</strong>gem interativa, se<br />

utilizará nas aulas determina<strong>do</strong>s elementos <strong>da</strong> linguagem musical na aprendizagem pianística,<br />

visan<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong> repertório na sua totali<strong>da</strong>de, ou seja, consciência técnica e<br />

compreensão musical.<br />

Procedimento Meto<strong>do</strong>lógico<br />

Ao refletir sobre os fatores que poderiam auxiliar o aluno na assimilação <strong>da</strong><br />

compreensão musical na aprendizagem pianística, resolvi estabelecer estratégias de ensino<br />

não somente basea<strong>da</strong> no desenvolvimento <strong>da</strong> leitura e técnica. Com a preocupação em<br />

proporcionar aos alunos uma ‘consciência musical ‘ sobre o conteú<strong>do</strong> musical abor<strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

objetivei utilizar um procedimento meto<strong>do</strong>lógico fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> nas propostas <strong>da</strong> educação<br />

musical contemporânea.<br />

Esta atitude surgiu por observar nos alunos um desconhecimento de elementos<br />

básicos <strong>da</strong> estrutura musical no repertório executa<strong>do</strong> nas aulas. Este fato ain<strong>da</strong> persiste devi<strong>do</strong><br />

à frequência verifica<strong>da</strong> no cotidiano <strong>do</strong> ensino de música onde se constata muitas vezes uma<br />

dicotomia existente entre aula prática e aula teórica. Frequentemente se observa que o<br />

conteú<strong>do</strong> abor<strong>da</strong><strong>do</strong> na aula teórica não é pratica<strong>do</strong> na aula de instrumento, ou então, que o<br />

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repertório utiliza<strong>do</strong> é executa<strong>do</strong> sem a observação <strong>do</strong>s elementos intrínsecos na obra. Este<br />

procedimento pode acarretar dificul<strong>da</strong>des na assimilação de conteú<strong>do</strong>s e consequentemente<br />

poderá comprometer o resulta<strong>do</strong> final, ou seja, a performance.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> a aprendizagem integra<strong>da</strong>, uma <strong>da</strong>s propostas <strong>da</strong> educação musical<br />

contemporânea, poderia auxiliar o aluno na compreensão <strong>do</strong> repertório na sua totali<strong>da</strong>de,<br />

consciência técnica e compreensão musical.<br />

A integração no ensino <strong>da</strong> música é defendi<strong>da</strong> por educa<strong>do</strong>res. Para Swanwick a<br />

aprendizagem musical é um processo que pode ser inicia<strong>do</strong> na aula de instrumento. Este<br />

educa<strong>do</strong>r comenta que “aprender a tocar um instrumento deveria fazer parte de um processo<br />

de iniciação dentro <strong>do</strong> discurso musical” (SWANWICK, 1994, p. 7).<br />

Para Borém, a partir <strong>da</strong> proposta de Swanwick, o professor poderia:<br />

[...] ampliar um pouco mais esse raciocínio para um engajamento<br />

multifaceta<strong>do</strong> ideal e chegar ao desafio de uma cooperação efetiva entre a<br />

música na teoria e a música na prática, nas suas diversas interfaces [...]<br />

Performance e História <strong>da</strong> Música, Performance e Educação Musical são<br />

apenas algumas <strong>da</strong>s interfaces de que o professor pode lançar mão para<br />

tornar a experiência <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> musical mais significativa e dura<strong>do</strong>ura<br />

(BORÉM, 2006, p 47, grifo meu).<br />

Portanto para iniciar o estu<strong>do</strong>, como primeira etapa, selecionei determina<strong>do</strong>s<br />

elementos <strong>da</strong> linguagem musical que, abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s no repertório, pudessem possibilitar o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> compreensão musical. Os elementos seleciona<strong>do</strong>s à princípio para serem<br />

aplica<strong>do</strong>s nas aulas serão os seguintes: pequenas frases musicais, frases e perío<strong>do</strong>s musicais,<br />

padrões rítmicos, cadências facilmente reconhecíveis (V-I) e utilização de dedilha<strong>do</strong> no<br />

âmbito melódico explora<strong>do</strong> (no máximo uma oitava).<br />

Esse conteú<strong>do</strong> musical será vivencia<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s e peças para iniciantes constantes<br />

no programa de piano <strong>da</strong>s escolas especializa<strong>da</strong>s que atuo.<br />

A aplicação dessa etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> se <strong>da</strong>rá a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre de <strong>2011</strong> e<br />

será realiza<strong>da</strong> durante <strong>do</strong>is anos. To<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> explora<strong>do</strong> (aspectos melódicos e harmônicos,<br />

aspectos técnicos específicos e aspectos estruturais) será abor<strong>da</strong><strong>do</strong> gra<strong>da</strong>tivamente, visan<strong>do</strong> o<br />

crescimento progressivo na performance pianística durante o perío<strong>do</strong> estipula<strong>do</strong>.<br />

A compreensão <strong>do</strong> repertório na sua totali<strong>da</strong>de poderá proporcionar ao aluno meios<br />

de desenvolver uma performance mais significativa pois o entendimento <strong>do</strong>s elementos<br />

constitutivos de uma obra musical nos dão subsídios para tomar decisões de como devemos<br />

executar o texto musical, onde nem to<strong>da</strong>s as indicações são precisas.<br />

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Nesse senti<strong>do</strong>, a segun<strong>da</strong> etapa pretende observar o processo de compreensão<br />

musical verifica<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>is anos de realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. Para esta observação será utiliza<strong>do</strong><br />

o Modelo Espiral de Desenvolvimento Musical de Swanwick. Neste Modelo a compreensão<br />

musical pode ser investiga<strong>da</strong> através <strong>da</strong> composição, apreciação e performance, mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />

centrais <strong>do</strong> fazer musical. (SWANWICK, 1994 apud FRANÇA, 2000).<br />

A Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical de Swanwick é, segun<strong>do</strong> França,<br />

defendi<strong>da</strong> por vários autores como “a contribuição mais expressiva sobre o desenvolvimento<br />

cognitivo-musical encontra<strong>da</strong> na literatura” (FRANÇA, 2004, p.33). Avalia a compreensão<br />

musical através de quatro estágios de aprendizagem <strong>da</strong> música. Esses estágios (Materiais<br />

Sonoros, Caráter Expressivo, Forma e Valor) supõem etapas cumulativas de aquisição <strong>do</strong><br />

conhecimento musical. Ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s estágios se des<strong>do</strong>bra em <strong>do</strong>is níveis: O primeiro, nos<br />

níveis ‘Sensorial’ e ‘Manipulativo’; o segun<strong>do</strong>, nos níveis ‘Pessoal’ e ‘Vernacular’; o terceiro,<br />

nos níveis ‘Especulativo’ e ‘Idiomático’ e o quarto, nos níveis ‘Simbólico’ e ‘Sistemático’.<br />

(FRANÇA, 2004).<br />

A abor<strong>da</strong>gem gra<strong>da</strong>tiva realiza<strong>da</strong> na primeira etapa visa o crescimento progressivo<br />

na performance pianística. Será observa<strong>do</strong> nos alunos iniciantes durante um perío<strong>do</strong> de <strong>do</strong>is<br />

anos. Como nas escolas especializa<strong>da</strong>s que atuo o aluno é avalia<strong>do</strong> no final de ca<strong>da</strong> semestre<br />

será possível a realização desta etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> ser realiza<strong>do</strong> com alunos iniciantes, pressupõe-se que os alunos<br />

inicialmente estarão classifica<strong>do</strong>s em um <strong>do</strong>s níveis <strong>do</strong> estágio ‘Materiais Sonoros’. O nível<br />

‘Sensorial’ ou ‘Manipulativo’.<br />

No nível ‘Sensorial’ “a performance é errática e inconsistente. O fluxo é instável e as<br />

variações de colori<strong>do</strong> sonoro e intensi<strong>da</strong>de não parecem ter significa<strong>do</strong> expressivo ou<br />

estrutural”. No nível ‘Manipulativo’ “algum grau de controle é demonstra<strong>do</strong> por um<br />

an<strong>da</strong>mento estável e pela consistência na repetição de padrões. O <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> instrumento é a<br />

priori<strong>da</strong>de principal e não há evidência de contorno expressivo ou organização estrutural.<br />

(SWANWICK, 1994 apud FRANÇA, 2004, p. 34).<br />

Ao final <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> estabeleci<strong>do</strong> espera-se que a maioria <strong>do</strong>s alunos iniciantes possa<br />

estar classifica<strong>da</strong>, no mínimo entre o nível ‘Vernacular’ <strong>do</strong> estágio ‘Caráter Expressivo’ e o<br />

nível ‘Especulativo’ <strong>do</strong> estágio ‘Forma’.<br />

No nível ‘Vernacular’ “a performance é fluente e convencionalmente expressiva.<br />

Padrões melódicos e rítmicos são repeti<strong>do</strong>s de maneira semelhante e a interpretação é bem<br />

previsível”. No nível ‘Especulativo’ “a performance é expressiva e segura e contém alguns<br />

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toques de imaginação. A dinâmica e o frasea<strong>do</strong> são delibera<strong>da</strong>mente controla<strong>do</strong>s ou<br />

modifica<strong>do</strong>s com o objetivo de ressaltar as relações estruturais <strong>da</strong> obra” (SWANWICK, 1994<br />

apud FRANÇA, 2004, p. 34).<br />

Considerações Finais<br />

O estu<strong>do</strong> a ser realiza<strong>do</strong>, ao propor uma abor<strong>da</strong>gem interativa, poderá contribuir para a<br />

área de educação musical através <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de levantar reflexões sobre o ensino de<br />

instrumento. As possíveis discussões poderão gerar propostas de ensino que proporcionem ao<br />

aluno meios de desenvolver uma performance mais significativa.<br />

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Referências<br />

BORÉM, Fausto. Por uma uni<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> performance. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 14, p. 45-54, 2006.<br />

CAUDURO, Vera R. P. Implicações pe<strong>da</strong>gógicas na apreensão e compreensão de estruturas<br />

rítmicas e melódicas. In: 1º ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 1992, Rio de Janeiro. <strong>Anais</strong>... UFRGS: Setor Gráfico <strong>do</strong> CPG-<br />

Música/UFRGS, 1992, p.28-40.<br />

FRANÇA, Cecília Cavalieri. Performance instrumental e educação musical: a relação entre a<br />

compreensão musical e a técnica. Per Musi. Belo Horizonte, v.1, p. 52-62, 2000.<br />

______. Dizer o indizível?: considerações sobre a avaliação <strong>da</strong> performance instrumental de<br />

vestibulan<strong>do</strong>s e graduan<strong>do</strong>s em música. Per Musi. Belo Horizonte, n.10, p.31-48, 2004.<br />

MORAES, Abel. A uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> consciência e a consciência <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de nas performances<br />

musicais. Per Musi. Belo Horizonte, v.2, p.30-49, 2000.<br />

RANDEL, Don Michael (Ed.) Analysis. In: The New Harvard Dictionary of Music. Londres,<br />

1996. p. 37.<br />

SWANWICK, Keith. Ensino Instrumental enquanto Ensino de Música. Cadernos de Estu<strong>do</strong><br />

Educação Musical, n. 4 e 5, p.7-14, 1994.<br />

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Concepções <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes no ensino médio: reflexões sobre o fazer<br />

musical<br />

Michal Siviero Figuerê<strong>do</strong><br />

UFBA/ IFBAIANO<br />

michal.siviero@si.ifbaiano.edu.br<br />

Resumo: Neste artigo, apresento os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa sobre as concepções e<br />

experiências musicais anteriores de a<strong>do</strong>lescentes estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> primeira série <strong>do</strong> ensino médio<br />

integra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano/ campus Santa Inês,<br />

no ano de 2010, na disciplina Artes <strong>da</strong> qual sou <strong>do</strong>cente com formação em educação musical.<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is questionários a fim de conhecer as concepções e opiniões <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes especialmente nas ativi<strong>da</strong>des de cantar e tocar um instrumento musical. Como<br />

resulta<strong>do</strong>s que mais chamaram a atenção, vale salientar a imagem negativa que os educan<strong>do</strong>s<br />

apresentaram <strong>da</strong> própria voz; o desejo que to<strong>do</strong>s demonstraram em aprender a tocar algum<br />

instrumento; e os conceitos sobre música que trazem de suas vivências anteriores em suas<br />

famílias e comuni<strong>da</strong>des. O conhecimento de como os educan<strong>do</strong>s experimentam e concebem a<br />

música e as práticas musicais é imprescindível para que o educa<strong>do</strong>r musical (1) reflita sobre<br />

essas experiências trazi<strong>da</strong>s pelos educan<strong>do</strong>s, (2) crie articulações entre este conhecimento<br />

trazi<strong>do</strong> e as novas aprendizagens; e (3) procure manter uma postura flexível aprenden<strong>do</strong> com<br />

os educan<strong>do</strong>s e consigo mesmo, a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s e as ativi<strong>da</strong>des, enfim,<br />

potencializan<strong>do</strong> o processo educacional.<br />

Palavras-chave: A<strong>do</strong>lescentes, Educação Musical, Ensino Médio.<br />

Introdução: o contexto educacional<br />

Neste trabalho, apresento os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa sobre as concepções e<br />

experiências musicais anteriores <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes, com i<strong>da</strong>de entre 13 e 17 anos, estu<strong>da</strong>ntes<br />

<strong>da</strong> primeira série <strong>do</strong> ensino médio integra<strong>do</strong> 1 <strong>do</strong> Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia Baiano – IFBAIANO/ campus Santa Inês, no ano de 2010, na disciplina Artes <strong>da</strong><br />

qual sou <strong>do</strong>cente com formação em educação musical. Na atuali<strong>da</strong>de, as orientações <strong>do</strong><br />

Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura – MEC – para o Ensino Médio apresentam uma concepção<br />

contemporânea <strong>da</strong> disciplina Artes, segun<strong>do</strong> a qual a arte é considera<strong>da</strong> um conhecimento<br />

humano articula<strong>do</strong> no âmbito <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> percepção e <strong>da</strong> cognição (LINGUAGENS,<br />

2006, p. 179); e a disciplina Artes pode direcionar seus conteú<strong>do</strong>s e ativi<strong>da</strong>des à concepção <strong>da</strong><br />

Arte em geral como aprofun<strong>da</strong>r-se em conteú<strong>do</strong>s específicos <strong>da</strong>s diferentes linguagens<br />

1 Ensino Médio Integra<strong>do</strong>: segun<strong>do</strong> a Lei nº 11.741, é a educação profissional técnica de nível médio articula<strong>da</strong><br />

com o nível médio ou subsequente, desenvolvi<strong>da</strong>, nesta instituição, de forma integra<strong>da</strong>, com matrícula única<br />

(BRASIL, 2008a).<br />

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2 OA N O S<br />

artísticas as quais “podem ser considera<strong>da</strong>s separa<strong>da</strong>mente ou articula<strong>da</strong>s entre si.” (PCN<br />

Mais Orientações Educacionais Complementares aos PCN, p.181).<br />

Assim sen<strong>do</strong>, como educa<strong>do</strong>ra musical, procurei fomentar a compreensão sobre o<br />

conceito e as funções <strong>da</strong> Arte como expressão <strong>da</strong>s culturas humanas e promover experiências<br />

mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s com a linguagem musical. Através de aulas expositivas, discussões e<br />

vivências, o desenvolvimento musical e <strong>da</strong> consciência corporal foi estimula<strong>do</strong> através <strong>da</strong><br />

experimentação de sons e percussão corporais; <strong>da</strong> criação de trechos sonoro-musicais; <strong>da</strong>s<br />

oficinas de canto-coral e <strong>da</strong> aprendizagem sobre higiene <strong>da</strong> voz, classificação vocal e<br />

expressão corporal; além <strong>da</strong> pesquisa e reflexão sobre as abor<strong>da</strong>gens sobre o “corpo” nas<br />

letras de músicas populares. As aulas aconteceram em salas areja<strong>da</strong>s e amplas com<br />

disponibili<strong>da</strong>de de aparelho de som, tecla<strong>do</strong>, flauta <strong>do</strong>ce, além de violões trazi<strong>do</strong>s por alunos<br />

e instrumentos de percussão construí<strong>do</strong>s nas aulas. Em ca<strong>da</strong> bimestre, às ativi<strong>da</strong>des de<br />

pesquisa, exposições orais, criações musicais, vivências, provas escritas, dentre outros, foram<br />

atribuí<strong>do</strong>s valores numéricos para fins de registro avaliativo <strong>da</strong> instituição.<br />

A Pesquisa<br />

Instrumentos utiliza<strong>do</strong>s<br />

No primeiro de dia de aula, após as apresentações iniciais – <strong>da</strong> professora, <strong>do</strong>s<br />

educan<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> plano de ensino – os a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong>s sete turmas de primeira série <strong>do</strong> ensino<br />

médio integra<strong>do</strong> responderam a um questionário sobre suas preferências e experiências<br />

artísticas e musicais. Destas sete turmas, foram seleciona<strong>da</strong>s, aleatoriamente, como amostra,<br />

quatro turmas para análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. A fim de aprofun<strong>da</strong>r a investigação sobre as questões<br />

mais específicas sobre o fazer musical, em duas destas turmas, um segun<strong>do</strong> questionário foi<br />

respondi<strong>do</strong> pelos educan<strong>do</strong>s que afirmaram, no primeiro questionário, tocar um instrumento<br />

ou participar de grupo vocal (ou ain<strong>da</strong> aqueles que já tocaram ou começaram a aprender a<br />

tocar). O primeiro questionário foi apresenta<strong>do</strong> como ativi<strong>da</strong>de em classe, enquanto que o<br />

segun<strong>do</strong> buscou a colaboração de educan<strong>do</strong>s que quisessem responder livremente as questões.<br />

Quan<strong>do</strong> estava distribuin<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> questionário, descobri que vários educan<strong>do</strong>s<br />

que não informaram “tocar um instrumento” no primeiro questionário, haviam começa<strong>do</strong> a<br />

aprender a tocar um instrumento, mas não deram continui<strong>da</strong>de. Desta forma, estes últimos<br />

foram incluí<strong>do</strong>s na segun<strong>da</strong> amostra enquanto que, alguns que afirmaram já tocar um<br />

instrumento, por motivos desconheci<strong>do</strong>s e não informa<strong>do</strong>s, não devolveram o segun<strong>do</strong><br />

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questionário respondi<strong>do</strong>. Vale salientar que escolhi nomes fictícios para substituir os nomes<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes a fim de preservar a identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s mesmos.<br />

Preferências, desejos e experiências <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes: resulta<strong>do</strong>s e análises<br />

Como o questionário foi aplica<strong>do</strong> na primeira aula <strong>do</strong> bimestre, poucos educan<strong>do</strong>s<br />

não participaram desta ativi<strong>da</strong>de.<br />

Tabela 1: cantar e tocar<br />

Turma/educan<strong>do</strong>s Respondentes Gosta de cantar? Toca um instrumento<br />

A: 37 37 SIM: 30 – NÃO: 07 10<br />

B: 37 34 SIM: 28 – NÃO: 05 12<br />

C: 37 33 SIM: 22 – NÃO:10 (01 não respondeu) 07<br />

E: 38 27 SIM: 19 – NÃO: 09 07<br />

Nas turmas A e B, mais de 75 % <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s afirmaram gostar de cantar enquanto<br />

que nas turmas C e E, menos de 50%. Em média, um terço <strong>do</strong>s respondentes afirmou tocar um<br />

instrumento e, dentre estes, o mais cita<strong>do</strong> foi o violão, segui<strong>do</strong> de outros como bateria,<br />

guitarra, tecla<strong>do</strong>, cavaquinhos, flauta, contrabaixo. Um <strong>da</strong><strong>do</strong> que muito chamou a atenção é o<br />

fato <strong>do</strong>s respondentes terem acrescenta<strong>do</strong> comentários negativos sobre a própria voz. A<br />

pergunta era específica: “gosta de cantar?” não sen<strong>do</strong> acresci<strong>da</strong> de “por que?” mas vários<br />

educan<strong>do</strong>s resolveram complementar a resposta “sim” ou “não” com depreciações sobre as<br />

suas capaci<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s ao canto.<br />

35<br />

Gráfico 1: Gosta de cantar<br />

30<br />

25<br />

20<br />

Gosta de cantar<br />

15<br />

10<br />

Comentário negativo sobre a<br />

própia voz<br />

5<br />

0<br />

Turma A Turma B Turma C Turma D<br />

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O Gráfico 1 demonstrou os que afirmaram gostar de cantar ao la<strong>do</strong> de alguns que,<br />

embora gostassem de cantar, fizeram comentários depreciativos sobre a própria voz. O<br />

Gráfico 2, abaixo, demonstra aqueles que não gostavam de cantar e aqueles que não gostavam<br />

de cantar porque pensavam que “a voz não era boa”.<br />

12<br />

Gráfico 2: Não gosta de cantar<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

Não gosta de cantar<br />

Comentário negativo sobre a<br />

própria voz<br />

2<br />

0<br />

Turma A Turma B Turma C Turma E<br />

Frases como “sim, gosto de cantar, mas só no chuveiro” e “gosto de cantar, mas não<br />

quero que ninguém ouça” denotam a impressão ruim que alguns <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes tinham <strong>da</strong><br />

própria voz, uma espécie de baixa “auto-estima” vocal. Os comentários também informam o<br />

desejo de “esconder-se” <strong>do</strong>s outros, sen<strong>do</strong> reflexos <strong>da</strong> preocupação em relação à opinião <strong>do</strong>s<br />

colegas e <strong>da</strong>s outras pessoas sobre as suas capaci<strong>da</strong>des. Mesmo entre os a<strong>do</strong>lescentes que<br />

afirmaram não gostar de cantar, alguns também julgaram necessário explicar a razão: “minha<br />

voz não é boa” ou “não levo jeito pra isso”.<br />

Apenas um educan<strong>do</strong>, dentre to<strong>da</strong>s as quatro turmas não desejava tocar um<br />

instrumento musical. Alguns respondentes citaram mais de um instrumento, mas foi<br />

considera<strong>da</strong> apenas a primeira citação. Vale salientar que o violão era o desejo acalenta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

maioria e parece ter si<strong>do</strong> o mais acessível e oportuniza<strong>do</strong> na região, uma vez que é o<br />

instrumento mais cita<strong>do</strong> pelos que tocavam algum instrumento, conforme aparece no Gráfico<br />

3, a seguir:<br />

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Gráfico 3: Instrumento que deseja aprender a tocar<br />

violão<br />

bateria<br />

guitarra<br />

baixo<br />

piano<br />

tecla<strong>do</strong><br />

violino<br />

Os instrumentos cita<strong>do</strong>s fazem parte, principalmente, <strong>da</strong> formação de ban<strong>da</strong>s de<br />

estilo popular com ampla divulgação na mídia atual e nos eventos promovi<strong>do</strong>s pelas<br />

prefeituras <strong>da</strong> região. Em to<strong>do</strong> o vale <strong>do</strong> Jiquiriçá, numa extensão de, aproxima<strong>da</strong>mente 90<br />

km não, não há orquestras filarmônicas nem sinfônicas. Como os educan<strong>do</strong>s desejariam tocar<br />

instrumentos que não conhecem?<br />

Dentre as quatro turmas, 17 a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong>s turmas C e E responderam o segun<strong>do</strong><br />

questionário - 05 <strong>da</strong> turma E e 12 <strong>da</strong> turma C. Participaram (1) educan<strong>do</strong>s que já tocavam em<br />

algum nível e (2) aqueles que começaram a aprender, mas desistiram. To<strong>do</strong>s os educan<strong>do</strong>s se<br />

interessaram “ven<strong>do</strong> alguém tocar” – quer amigos, parentes e até pela televisão. Foram<br />

considera<strong>do</strong>s os diversos ambientes de aprendizagem, desde os mais formais com méto<strong>do</strong><br />

específico e/ou numa instituição até aqueles contatos mais informais com amigos e parentes,<br />

conforme a Tabela 2.<br />

Tabela 2: Ambiente de aprendizagem<br />

Ambiente de<br />

aprendizagem<br />

Respondentes (17)<br />

Colégio (profº. de música) 2<br />

Escola de Música 1<br />

Comuni<strong>da</strong>de/Igreja 2<br />

Professor particular 2<br />

Fanfarra 1<br />

Amigos 6<br />

Sozinho 1<br />

Parente 1<br />

Imitan<strong>do</strong> os outros 1<br />

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2 OA N O S<br />

As respostas às perguntas “Como foi o ensino?” e “O que você gostava ou não<br />

gostava no ensino?” foram mais positivas entre os que tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de aprender de<br />

forma mais sistematiza<strong>da</strong>, quer em escola, quer com professor particular. No entanto, apesar<br />

de afirmarem que a experiência foi “legal” ou “boa” e até elogiarem o professor (ou<br />

professora), alguns teceram comentários sobre o méto<strong>do</strong> ou forma <strong>do</strong> ensino, principalmente<br />

no que tange à relação entre a “teoria x prática”:<br />

A minha professora era calma, ensinava muito bem. Mas antes de começar a<br />

praticar órgão, tem que estu<strong>da</strong>r o Bona 2 e teorias, depois chegar no órgão e<br />

essa parte eu não gosto pois o Bona é difícil e tem que decorar várias coisas<br />

de teorias (Fernan<strong>da</strong>).<br />

Fernan<strong>da</strong> demonstrou a insatisfação quanto ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> teoria musical antes <strong>da</strong><br />

prática instrumental porque o méto<strong>do</strong> em questão – o Bona – “é difícil”. O educan<strong>do</strong> Heitor,<br />

que aprendeu a tocar o instrumento caixa-clara numa fanfarra municipal disse: “sempre no<br />

começo é difícil, mas me acostumei”, revelan<strong>do</strong> o entendimento de que as dificul<strong>da</strong>des<br />

iniciais no processo de ensino e aprendizagem são naturais. Entretanto, é sabi<strong>do</strong> que as etapas<br />

<strong>da</strong> aprendizagem podem ser dificulta<strong>da</strong>s pelo méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> ou pela desmotivação <strong>do</strong><br />

aprendiz em relação a este, conforme externou Fernan<strong>da</strong> (acima) e também Geisa: “(o ensino<br />

era) interessante, mas às vezes se tornava chato. Não gostava no começo em que o professor<br />

começou a ensinar as notas musicais” (Geisa).<br />

Nas situações de ensino tradicional, geralmente não há abertura para a realização <strong>do</strong>s<br />

desejos ou opiniões <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s nem mesmo espaço para o desenvolvimento de um<br />

educa<strong>do</strong>r perceptivo a estes desejos. O olhar atento e observa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical é<br />

essencial para práticas significativas, conforme afirma Arroyo:<br />

(...) um segun<strong>do</strong> aspecto sobre a relevância <strong>do</strong> olhar antropológico para a<br />

Educação Musical está na possibili<strong>da</strong>de de educa<strong>do</strong>res musicais<br />

transformarem suas percepções sobre o que considerar como situações e<br />

práticas de ensino e aprendizagem de música (ARROYO, 1999).<br />

Pesquisar o educan<strong>do</strong> e seus anseios, e estar atento às oportuni<strong>da</strong>des que surgem para<br />

a aprendizagem, permite uma costura mais acerta<strong>da</strong> <strong>da</strong> imensa colcha de retalhos que deveria<br />

ser o ensino – um ensino multifaceta<strong>do</strong>, com conhecimentos interconecta<strong>do</strong>s e interliga<strong>do</strong>s<br />

entre si.<br />

2 Pasquale Bona (1808-1878) – compositor e autor de livros, entre eles, o méto<strong>do</strong> de solfejo muito utiliza<strong>do</strong> em<br />

ban<strong>da</strong>s filarmônicas, conservatórios e igrejas.<br />

3 Referência ao Terno de Reis - manifestação cultural brasileira.<br />

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Com exceção <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> Baruc, to<strong>do</strong>s os aprendizes de flauta, violão e órgão,<br />

relataram ter aprendi<strong>do</strong> algumas músicas. Celso afirmou que aprendeu algumas “bati<strong>da</strong>s” de<br />

rock na bateria e Heitor, instrumentista de caixa-clara, afirmou que aprendeu “vários ritmos”.<br />

Em contraparti<strong>da</strong>, dentre os educan<strong>do</strong>s que tiveram as primeiras experiências em um meio<br />

informal, com amigos ou parentes, apenas José e Kelvin aprenderam músicas inteiras. Kelvin<br />

afirmou ter aprendi<strong>do</strong> músicas evangélicas e alguns tipos de rock, comentan<strong>do</strong>: “Aprendi com<br />

um amigo que me ensinou a maior parte <strong>da</strong>s notas, etc. Não foi o melhor ensino, mas foi bom;<br />

entendi tu<strong>do</strong> o que ele falou, bom, quase tu<strong>do</strong>” (José). Ele demonstrou uma satisfação parcial<br />

quan<strong>do</strong> disse “não foi o melhor ensino” talvez, revelan<strong>do</strong>, implicitamente, que encontrou<br />

algumas dificul<strong>da</strong>des.<br />

Discutin<strong>do</strong> a auto-aprendizagem musical em sua pesquisa, CORRÊA (2008), revelou<br />

que “a convivência com os amigos e as relações interpessoais que se criavam acabavam<br />

geran<strong>do</strong> aprendizagens” e ain<strong>da</strong> “Na auto - aprendizagem <strong>do</strong> violão, o desejo e a intenção de<br />

aprender, alia<strong>do</strong>s à iniciativa <strong>do</strong> contato inicial com o instrumento através de uma ação<br />

efetiva, exercem um papel fun<strong>da</strong>mental” (CORRÊA, 2008, p.29). Embora algumas<br />

experiências, como as relata<strong>da</strong>s por Corrêa (2008) e a de José (acima) tenham contribuí<strong>do</strong><br />

para aprendizagens efetivas, outros educan<strong>do</strong>s dessa pesquisa relataram algo semelhante ao<br />

que Otto respondeu: “[como foi o ensino?] tentan<strong>do</strong> aprender algumas notas que vi meus<br />

primos tocar. Foi muito ruim porque não consegui aprender” (Otto).<br />

Nem to<strong>da</strong>s as pessoas aprendem apenas por ter motivação ou interesse. Após o<br />

contato com o ensino instrumental, quer nos ambientes formais ou informais, é necessário <strong>da</strong>r<br />

continui<strong>da</strong>de ao processo estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> sozinho e é neste ponto onde nem to<strong>do</strong>s conseguem<br />

manter a motivação inicial. Nas experiências relata<strong>da</strong>s – de ensino formal ou com amigos –<br />

existem tanto pontos positivos bem como dificul<strong>da</strong>des. A pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong> ensino teórico<br />

desprovi<strong>do</strong> de estímulos práticos é algo marcante para os educan<strong>do</strong>s que muitas <strong>da</strong>s vezes,<br />

deixam de aprender devi<strong>do</strong> à redução <strong>da</strong> motivação. No entanto, embora ambiente mais<br />

informais e agradáveis como “a casa <strong>do</strong>s amigos” sejam acolhe<strong>do</strong>res e interessantes, a falta de<br />

sistematização ou organização <strong>do</strong> ensino também oferece dificul<strong>da</strong>des. A mediação de um<br />

educa<strong>do</strong>r, portanto, que desenvolva um ensino sistematiza<strong>do</strong> com vivências práticas e<br />

dinâmicas poderia ser considera<strong>do</strong> um “melhor ensino”.<br />

Um <strong>do</strong>s respondentes aprendeu a tocar o instrumento zabumba com amigos em uma<br />

manifestação cultural: “a gente saía à noite com os grupos de reiseiro 3 . Eu gostei de tocar com os<br />

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amigos, era tu<strong>do</strong> massa, eu gostei de tu<strong>do</strong>” (Nelson). Nelson parece não ter senti<strong>do</strong> as dificul<strong>da</strong>des<br />

iniciais <strong>da</strong> aprendizagem de coisas novas porque não comenta que “aprendeu” ou “não<br />

aprendeu”, mas que “tocava com os amigos”. Sua experiência foi significativa e o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

ensino e <strong>da</strong> aprendizagem em contextos culturais é relevante para a educação musical<br />

(ALMEIDA, 2009). Aprende-se por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, em to<strong>do</strong> e qualquer lugar, de diferentes<br />

maneiras e méto<strong>do</strong>s. O exame <strong>do</strong>s processos <strong>da</strong> aprendizagem nas diferentes manifestações <strong>da</strong><br />

cultura rural e urbana, em seus aspectos religiosos, lúdicos e de trabalho, mostra a<br />

pre<strong>do</strong>minância <strong>da</strong> linha de ação que contrasta com os processos formais de aprendizagem<br />

aplica<strong>da</strong>s pelas escolas. (CONDE, Cecília; NEVES, José Maria. 1984/1985). A aprendizagem<br />

na vi<strong>da</strong> real e a aprendizagem na escola são, na maioria <strong>da</strong>s situações, visivelmente<br />

contrastantes. Assim sen<strong>do</strong>, é preciso tornar este ensino escolar formal mais articula<strong>do</strong> com as<br />

experiências de vi<strong>da</strong> e conhecimentos <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Considerações finais<br />

Após conhecer o contexto <strong>do</strong> IFBAIANO/campus Santa Inês ao mesmo tempo em<br />

que já atuava nele, percebi a importância <strong>da</strong> atitude de conhecer os ambientes <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s<br />

bem como suas experiências a fim de criar ou contribuir para um ambiente o mais propício<br />

possível para uma efetiva educação musical. Segun<strong>do</strong> CONDE e NEVES:<br />

(...) ao ingressarem na escola, a educação formal existente nestes<br />

estabelecimentos de ensino tende a desconhecer as experiências culturais<br />

destas crianças, passan<strong>do</strong> a existir apenas a educação formal, desvincula<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> sua reali<strong>da</strong>de, de sua família, de sua comuni<strong>da</strong>de. (CONDE, Cecília,<br />

NEVES, José Maria, p. 42, 1984/1985).<br />

O problema não é a escola formal ou a sua formali<strong>da</strong>de. Afinal de contas, a<br />

socie<strong>da</strong>de inventou, sistematizou os conhecimentos e to<strong>do</strong>s devem ter acesso a eles. O<br />

conhecimento <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s pode até ser bem conheci<strong>do</strong> pelos professores - muitas vezes<br />

estes estão inseri<strong>do</strong>s no mesmo ambiente cultural de seus educan<strong>do</strong>s. O problema é que o<br />

conhecimento dito formal geralmente não é ou não está vincula<strong>do</strong> ao contexto <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Ressalto aqui, grandes desafios para os educa<strong>do</strong>res: articular os saberes escolares com aqueles<br />

trazi<strong>do</strong>s pelos educan<strong>do</strong>s; e vincular os próprios saberes escolares – isto é, as disciplinas entre<br />

si. Além de vincular os diferentes saberes e disciplinas escolares, ain<strong>da</strong> existe a dificul<strong>da</strong>de<br />

em vincular tantos saberes aos diferentes contextos: ca<strong>da</strong> educan<strong>do</strong>, na ver<strong>da</strong>de, traz um<br />

contexto único. E em classes com 30 ou mais educan<strong>do</strong>s, como contemplar a to<strong>do</strong>s eles? Para<br />

Swanwick (2003):<br />

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2 OA N O S<br />

Não “recebemos” cultura, meramente. Somos intérpretes culturais. A<br />

concepção de educação musical como uma forma de estu<strong>do</strong>s culturais ou<br />

reforço social tende a resultar num currículo muito diferente <strong>da</strong>quele que<br />

identifica música como uma forma de discurso. O ensino musical, então,<br />

torna-se não uma questão de simplesmente transmitir a cultura, mas algo<br />

como um comprometimento com as tradições em um caminho vivo e<br />

criativo, em uma rede de conversações que possui muitos sotaques<br />

diferentes. Nessa conversação, to<strong>do</strong>s nós temos uma “voz” musical e<br />

também ouvimos as “vozes” musicais de nossos educan<strong>do</strong>s. (SWANWICK,<br />

2003, p.45-46)<br />

Tornar a educação musical na escola uma espécie de “rede de conversações” é<br />

imprescindível, mas incorporar estas conversas aos conteú<strong>do</strong>s e práticas não é tarefa fácil.<br />

Entretanto, com criativi<strong>da</strong>de, percorren<strong>do</strong> um “caminho vivo”, atenden<strong>do</strong>, gra<strong>da</strong>tivamente, a<br />

pelo menos alguns educan<strong>do</strong>s em ca<strong>da</strong> aula, os demais poderão também sentir-se incluí<strong>do</strong>s<br />

contribuin<strong>do</strong> para um ambiente motiva<strong>do</strong>r e propício para as aprendizagens.<br />

Desta forma, a seleção de conteú<strong>do</strong>s e formas apropria<strong>da</strong>s de ensino também<br />

produz intensa reflexão. Os a<strong>do</strong>lescentes trazem para a sala de aula alguns conceitos um tanto<br />

míticos ou estereotipa<strong>do</strong>s que podem levar algum tempo para serem transforma<strong>do</strong>s através<br />

<strong>da</strong>s aprendizagens proporciona<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>via, enquanto novos conceitos são internaliza<strong>do</strong>s, os<br />

antigos influenciam o processo sen<strong>do</strong> responsáveis por muitas <strong>da</strong>s resistências a novos<br />

conteú<strong>do</strong>s e pensamentos. O fato de acreditar que “cantar é um <strong>do</strong>m” ou pensar “minha voz<br />

não é boa, não nasci pra isso” pode afastar os educan<strong>do</strong>s de ativi<strong>da</strong>des que contribuiriam para<br />

o seu desenvolvimento vocal e musical, por exemplo. Neste caso, o estu<strong>do</strong> de temas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à psicologia como auto-estima, auto-imagem, auto-conceito, desenvolvimento<br />

a<strong>do</strong>lescente, pode auxiliar o educa<strong>do</strong>r na formação de concepções e atuações mais adequa<strong>da</strong>s.<br />

Ao contrário de tantos a<strong>do</strong>lescentes que pensavam que cantar não é tão fácil, nas<br />

falas e experiências de praticamente to<strong>do</strong>s os educan<strong>do</strong>s ficou explícito o desejo de aprender a<br />

tocar um instrumento. Apesar de a voz ser o instrumento mais acessível, não lhes foi<br />

oportuniza<strong>do</strong> experiências vocais como as <strong>do</strong> canto-coral, por exemplo. Ao longo <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

bimestre de 2010, após experimentar algumas ativi<strong>da</strong>des de canto-coral, alguns <strong>do</strong>s<br />

educan<strong>do</strong>s já comentavam que “cantar não é tão difícil”; e como fruto de debates e contínua<br />

informação e conscientização, vários educan<strong>do</strong>s concor<strong>da</strong>ram que através <strong>do</strong> processo de<br />

ensino-aprendizagem, to<strong>do</strong>s podem conhecer e vivenciar a música: tocan<strong>do</strong>, cantan<strong>do</strong>,<br />

crian<strong>do</strong>, aprecian<strong>do</strong>.<br />

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Segun<strong>do</strong> a declaração <strong>da</strong> ISME 4 (1998), a educação musical pela música e através <strong>da</strong><br />

música deve ser para to<strong>do</strong>s e em to<strong>da</strong>s as faixas etárias. Para tanto, as oportuni<strong>da</strong>des deveriam<br />

ser ofereci<strong>da</strong>s de maneira mais ampla – tanto na sala de aula, como em projetos de oficinas,<br />

por exemplo. Devi<strong>do</strong> às particulares <strong>da</strong> sala de aula como inadequação <strong>do</strong> espaço físico,<br />

escassez de material e quanti<strong>da</strong>de de educan<strong>do</strong>s por turma, ativi<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s ao ensino<br />

instrumental, por exemplo, podem ter a eficiência comprometi<strong>da</strong>. Assim, no contexto<br />

educacional aqui apresenta<strong>do</strong>, a instituição poderia promover o desejo já existente através de<br />

oficinas de violão, por exemplo, além de despertar novos desejos através de apresentações e<br />

oficinas de instrumentos diversos, além de corais, grupos vocais e outros.<br />

O dinamismo <strong>da</strong> pesquisa <strong>da</strong> prática escolar permite as abor<strong>da</strong>gens de diversos temas<br />

sob varia<strong>do</strong>s ângulos e matizes. Neste relato sobre o contexto educativo no ensino médio,<br />

percebi a latência de temas relevantes para a área de educação e educação musical que<br />

poderão ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s e aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong>s em pesquisas posteriores tais como: a avaliação <strong>do</strong><br />

processo de ensino-aprendizagem musical; currículo de música na disciplina Artes;<br />

pluridisciplinari<strong>da</strong>de na escola; (in) disciplina na sala de aula; auto-imagem na aprendizagem<br />

musical; projetos escolares de oficinas de música; formação <strong>do</strong> professor de ensino médio na<br />

atuali<strong>da</strong>de; to<strong>do</strong>s eles estu<strong>do</strong>s importantes para que a música na escola básica contribua com a<br />

formação integral <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e com o fortalecimento <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Educação Musical.<br />

4 The Isme Declarations of Beliefs – Declaração <strong>do</strong>s princípios <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Internacional de Educação Musical.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ALMEIDA, Jorge Luis Sacramento. Ensino /Aprendizagem <strong>do</strong>s alabês: uma experiência nos<br />

terreiros Ilê Axé Oxumaré e Zoogodô Bogum Malê Rundó. 2009. 270f. Doutora<strong>do</strong> em Música<br />

– Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, Salva<strong>do</strong>r, 2009.<br />

ARROYO, Margarete. Representações sociais sobre práticas de ensino e aprendizagem<br />

musical: um estu<strong>do</strong> etnográfico entre congadeiros, professores e estu<strong>da</strong>ntes de música. Tese<br />

(Doutora<strong>do</strong>) - Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre. 1999.<br />

BRASIL. Lei n. 9.394 de 20/12/1996. Estabelece as diretrizes e bases <strong>da</strong> educação nacional.<br />

Presidência <strong>da</strong> República, Casa Civil. São Paulo: Editora <strong>do</strong> Brasil S/A: [s.d] p.21.<br />

BRASIL. Lei n. 11.741, de 17 de julho de 2008. Altera dispositivos <strong>da</strong> Lei no 9.394.<br />

Presidência <strong>da</strong> República, Casa Civil. Disponível em:<br />

www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2008/Lei/L11741. Acesso em 26 jul. 2010.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação e Cultura. PCN Ensino Médio + Orientações Educacionais<br />

Complementares sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: www.<br />

portal.mec.gov.br<br />

CONDE, Cecília; NEVES, José M. Música e educação não-formal. In Pesquisa e Música. Rio<br />

de Janeiro, v. 1, 1984/1985, n 1, p. 41-52.<br />

CORRÊA, Marcos Kröning. Discutin<strong>do</strong> a auto-aprendizagem musical. In Aprender e ensinar<br />

música no cotidiano. (Org.) Jusamara Souza. Porto alegre: Sulina, 2008. cap. II, p.13-38.<br />

INTERNACIONAL Society Music Education. The Isme Declarations of Beliefs. ISME<br />

Newsletter. 5 nov. 1998. p. 24.<br />

LINGUAGENS, Códigos e suas Tecnologias. Orientações Educacionais Complementares aos<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais. PCN. Ensino Médio ... Brasília; Ministério <strong>da</strong> Educação,<br />

Secretaria de Educação Básica, 2006. p.179. Disponível em:<br />

portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/linguagens02.pdf Acesso em 26 jul. 2009<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003. p.45-46.<br />

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Concerto Didático <strong>da</strong> Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Recife:<br />

um Estu<strong>do</strong> de Caso<br />

Andréia <strong>da</strong>s Chagas Pedro<br />

IBPEX – Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão<br />

andreiachagas@yahoo.com.br<br />

Resumo: Esta comunicação apresenta um projeto de pesquisa que pretende observar como o<br />

concerto didático é prepara<strong>do</strong> e para quais metas é realiza<strong>do</strong>. Buscará entender, através de um<br />

estu<strong>do</strong> de caso, o processo de ensino-aprendizagem no concerto didático <strong>da</strong> Orquestra<br />

Sinfônica <strong>do</strong> Recife. Esta pesquisa terá cunho qualitativo. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão coleta<strong>do</strong>s nos<br />

<strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong> orquestra, em jornais, em entrevistas e através de questionários, e analisa<strong>do</strong>s<br />

de acor<strong>do</strong> com o referencial teórico que está basea<strong>do</strong> nos conceitos de educação informal<br />

(WILLE, 2003), apreciação musical (BASTIÃO, 1995/2003; BOZZETTO et al., 2002;<br />

CHERÑAVSKY, 2008; FREIRE, 2000; KRÜGER, 2003; RODRIGUES, 2007) e avaliação<br />

em música (SWANWICK, 2003; VEBER, 2003). Este trabalho justifica-se pela necessi<strong>da</strong>de<br />

de produção de materiais educativos sobre o concerto didático, que é um campo que pode ser<br />

mais explora<strong>do</strong> por pesquisa<strong>do</strong>res e aproveita<strong>do</strong> pela educação musical.<br />

Palavras-chave: concerto didático, educação informal, avaliação em música.<br />

1. Introdução<br />

A música sinfônica está presente há muito tempo na ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife, mas é pouco<br />

difundi<strong>da</strong> entre as cama<strong>da</strong>s populares <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. O concerto didático surge como uma<br />

oportuni<strong>da</strong>de, uma alternativa musical para alunos de escolas públicas. É conduzi<strong>do</strong> de forma<br />

interativa e didática. Apresenta: a orquestra e sua história, as composições para orquestra, os<br />

instrumentos e como se agrupam, a organização <strong>do</strong> palco e o teatro.<br />

Em outras regiões este concerto é chama<strong>do</strong> de concerto aula e concerto para a<br />

juventude, que é um espaço de formação de público. Tem, também, como função estimular a<br />

curiosi<strong>da</strong>de e contribuir para a formação de músicos e de ouvintes mais atentos, informa<strong>do</strong>s e<br />

críticos musicalmente (VEBER, 2003, p. 19), pois, o programa lança às crianças e jovens o<br />

desafio de entrar num mun<strong>do</strong> que poucos alunos <strong>da</strong> escola pública tiveram ain<strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>de<br />

de descobrir. Pode, também, apenas ser uma ponte para despertar o interesse pessoal pelo<br />

simples gosto de ouvir música sinfônica. O concerto didático ensina música fora <strong>da</strong> sala de<br />

aula convencional, amplia e refina o conhecimento musical, desenvolven<strong>do</strong> hábitos e<br />

comportamentos auditivos. (BOZZETTO et al., 2002, p. 391 ).<br />

Na Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Recife (O.S.R.), o concerto didático é uma apresentação<br />

mensal, que acontece no Teatro Santa Isabel, para crianças e, consequentemente, alcança pais,<br />

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2 OA N O S<br />

irmãos, educa<strong>do</strong>res, professores, que estão diretamente liga<strong>do</strong>s a elas. Em ca<strong>da</strong> concerto são<br />

apresenta<strong>da</strong>s as famílias <strong>do</strong>s instrumentos e músicas para ca<strong>da</strong> uma delas e depois uma<br />

música com to<strong>da</strong> a orquestra. Tem duração aproxima<strong>da</strong> de uma hora para: ouvir música ao<br />

vivo, divertir, informar e educar ao mesmo tempo, uma vez que em to<strong>da</strong> prática musical<br />

acontece um aprendiza<strong>do</strong> (LIMA, 2007, p. 4). Tem entra<strong>da</strong> gratuita e é aberto ao público em<br />

geral. As escolas entram em contato com a administração <strong>da</strong> orquestra para agen<strong>da</strong>r a visita,<br />

apenas para controle de quanti<strong>da</strong>de de público que , em sua maioria, são crianças <strong>da</strong> educação<br />

básica de escolas públicas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife e <strong>da</strong> região metropolitana.<br />

Em to<strong>da</strong> bibliografia pesquisa<strong>da</strong> encontrei até o momento apenas um texto produzi<strong>do</strong><br />

pela OSESP – Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo – que trata diretamente sobre<br />

concerto didático, evidencian<strong>do</strong> a grande necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência de um estu<strong>do</strong> aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

deste tema de grande importância na educação musical e manutenção de público para a<br />

música sinfônica.<br />

Dentre outros objetivos, o concerto didático tem em vista trazer novas experiências<br />

que permitam aos alunos crescimento cultural e crítico (BASTIÃO, 1995, p. 31 apud<br />

BASTIÃO, 2003, p. 886; KRÜGER, 2003, p. 800). Isto é, proporcionar ao ouvinte o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> audição reflexiva, inician<strong>do</strong> o hábito de aplicar estes conhecimentos às<br />

exposições musicais a que está sujeito no dia a dia.<br />

A apreciação musical amplia os meios de como se dá o processo <strong>da</strong> aprendizagem<br />

conceitual <strong>da</strong> música, auxilian<strong>do</strong> também na melhor compreensão-assimilação <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong> som, dinâmica e expressivi<strong>da</strong>de na obra, uma vez que só através dela são construí<strong>do</strong>s<br />

alguns esquemas mentais (RODRIGUES, 2007, p. 1). Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s são<br />

estimula<strong>do</strong>s para uma ativi<strong>da</strong>de específica, o resulta<strong>do</strong> é mais intensamente percebi<strong>do</strong> e<br />

apreendi<strong>do</strong>. Residin<strong>do</strong>, também, aqui sua importância, pois esta ativi<strong>da</strong>de trabalha vários<br />

aspectos como o cognitivo, afetivo e psicomotor. (BASTIÃO, 2003, p. 887)<br />

Segun<strong>do</strong> Freire (2000), a apreciação musical constrói o conhecimento musical de<br />

mo<strong>do</strong> crítico, mas não discrimina<strong>do</strong>r. Essa é uma oportuni<strong>da</strong>de de trabalhar para que o<br />

educan<strong>do</strong> apren<strong>da</strong>, goste e, de forma independente, opte por manter a constância na<br />

participação de ativi<strong>da</strong>des de apreciação em concertos e outras apresentações musicais. A<br />

necessi<strong>da</strong>de de formação de platéia para obras sinfônicas existe há algum tempo em nosso<br />

país, e, de acor<strong>do</strong> com Cherñavsky (2008), foi uma <strong>da</strong>s metas <strong>do</strong> movimento conheci<strong>do</strong> como<br />

nacionalismo musical, que buscou formar um novo público com os jovens, pois eram abertos<br />

a novi<strong>da</strong>des.<br />

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2 OA N O S<br />

O concerto didático busca, entre outros, também promover a continui<strong>da</strong>de/constância<br />

<strong>do</strong> público através de momentos de ensino não formais. Durante o concerto são ensina<strong>do</strong>s e<br />

vivencia<strong>do</strong>s conceitos que poderiam levar muito tempo para serem abrangi<strong>do</strong>s e<br />

compreendi<strong>do</strong>s numa sala de aula convencional. Entende-se aqui como aula convencional a<br />

<strong>da</strong> escola de ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, e as escolas específicas de música.<br />

A discussão a respeito <strong>da</strong>s definições que giram em torno <strong>da</strong> educação fora <strong>do</strong><br />

contexto escolar é ampla, e não queremos aqui simplificá-la. Tais reflexões fazem uso de<br />

termos como educação não formal, educação informal, educação extra-escolar. Uma vez que<br />

algumas dessas explicações e pensamentos se complementam, é através dessas interações que<br />

estabeleceremos alguns termos desta pesquisa.<br />

A educação não formal ou informal, nesta pesquisa, será defini<strong>da</strong> como aquela<br />

realiza<strong>da</strong> fora <strong>do</strong> âmbito escolar (OLIVEIRA, 2000 Apud WILLE, 2003, p. 9). É aquela que<br />

educa sem se propor a ensinar, e o faz informalmente, ou seja, sem os moldes e rigidez<br />

acadêmica. Não segue currículos, livros ou apostilas ain<strong>da</strong> que utilize seus tópicos e possua<br />

um material didático próprio.<br />

De um mo<strong>do</strong> geral as ativi<strong>da</strong>des educativas são compostas por ensino e verificação<br />

<strong>da</strong> aprendizagem. Sen<strong>do</strong> uma pesquisa <strong>da</strong> área de educação, será observa<strong>do</strong> também o mo<strong>do</strong><br />

como o público <strong>do</strong> concerto didático absorve as informações.<br />

De acor<strong>do</strong> com Swanwick (2003), a música é uma forma de discurso, uma ativi<strong>da</strong>de<br />

simbólica, uma experiência complexa, um processo metafórico e que também em música<br />

muitas experiências podem ser indizíveis e incomunicáveis, parecen<strong>do</strong> difícil de avaliar.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, quem se expressa musicalmente comunica uma idéia, quem a recebe pode<br />

interpretar como o emissor quis dizer e/ou <strong>da</strong>r outras interpretações, o que torna a avaliação<br />

em música um ato subjetivo. No entanto, o autor afirma que é possível avaliar a aprendizagem<br />

musical e segue explican<strong>do</strong> que em to<strong>do</strong> momento estamos fazen<strong>do</strong> novas avaliações<br />

informais, com as escolhas e decisões que tomamos, como optar por ouvir uma estação de<br />

rádio ou assistir a um canal de TV. Decidimos questões simples e complexas e muitas delas<br />

ocorrem de mo<strong>do</strong> intuitivo, mas quan<strong>do</strong> começamos a “formalizar” as avaliações elas se<br />

tornam complica<strong>da</strong>s.<br />

Swanwick (2003) utiliza critérios de avaliação que estão dividi<strong>do</strong>s em: materiais<br />

(reconhecer sonori<strong>da</strong>des); expressão (reconhecer o caráter expressivo <strong>da</strong> música); forma<br />

(perceber relações estruturais e classificar a obra num estilo particular); e valor (desenvolver<br />

idéias críticas e analíticas sobre música.<br />

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2 OA N O S<br />

A avaliação será defini<strong>da</strong> nesta pesquisa como um mo<strong>do</strong> de entender os processos de<br />

ensino e aprendizagem para ampliar idéias e conhecimentos <strong>do</strong>s alunos (VEBER, 2003).<br />

Como se dá o ensino-aprendizagem durante os concertos e o que é apreendi<strong>do</strong> pelos<br />

alunos? É a resposta que procuro através desta pesquisa.<br />

2. Objetivos<br />

O objetivo <strong>da</strong> pesquisa é entender como se dá o ensino e a aprendizagem no concerto<br />

didático na Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Recife. Para isso os procedimentos buscarão: conhecer<br />

quais objetivos <strong>do</strong> concerto didático e em quais regras está basea<strong>do</strong>; entender como se dá a<br />

organização/planejamento <strong>do</strong> concerto; perceber como acontece o ensino musical durante o<br />

concerto; compreender a avaliação, se houver; observar/estu<strong>da</strong>r/procurar perceber como o<br />

ensino está sen<strong>do</strong> absorvi<strong>do</strong> pelo público.<br />

3. Justificativa<br />

Este trabalho justifica-se pela necessi<strong>da</strong>de de compreender as práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

no processo de ensino-aprendizagem no concerto didático e pela necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>cumentação desta ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> tão importante e prestigia<strong>do</strong> patrimônio cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> Recife e <strong>da</strong> elaboração de uma literatura que faça um estu<strong>do</strong> sobre ensino e a<br />

aprendizagem no concerto didático. Foi encontra<strong>do</strong> pouco material sobre o concerto didático.<br />

O concerto didático é uma ativi<strong>da</strong>de de educação e sensibilização musical de<br />

considerável relevância e precisa ser um campo mais explora<strong>do</strong>, concorren<strong>do</strong> para o aumento<br />

de literatura em português, orientações, sugestões e divulgação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s já<br />

concretiza<strong>do</strong>s por alguns grupos, o que levará à motivação de outros estudiosos musicais para<br />

iniciarem tanto pesquisa como a prática <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong> deste tipo de concerto-aula.<br />

4. Meto<strong>do</strong>logia<br />

4.1 Tipo de Pesquisa<br />

A abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica desta pesquisa será de base qualitativa, escolhi<strong>da</strong> pela<br />

característica de descrever em detalhes um contexto ou evento (BRESLER, 2007). Será<br />

realiza<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> de caso, que é uma pesquisa aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> de um objeto e é utiliza<strong>do</strong> para<br />

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perceber, ter entendimento e descrever acontecimentos (ARAÚJO et al., 2008). O objeto de<br />

pesquisa será o concerto didático.<br />

4.2 Técnica de Pesquisa<br />

O processo de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s será feito por meio de pesquisa de campo de caráter<br />

descritivo através de observações não-participativas e diretas <strong>do</strong>s concertos, na busca de<br />

compreender como se dá o ensino-aprendizagem, anotações, transcrições de concertos,<br />

questionários e entrevista. Pedirei autorização para a administração <strong>da</strong> Orquestra Sinfônica <strong>do</strong><br />

Recife para entregar os questionários ao público na entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> concerto, no teatro, recolhen<strong>do</strong><br />

na saí<strong>da</strong>.<br />

4.3 Participantes <strong>da</strong> Pesquisa<br />

A instituição escolhi<strong>da</strong> para o estu<strong>do</strong> é a Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Recife, que realiza<br />

mensalmente seus concertos didáticos no Teatro de Santa Isabel, situa<strong>do</strong> na Praça <strong>da</strong><br />

República s/n, no Bairro de Santo Antônio, na ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife, onde os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão<br />

coleta<strong>do</strong>s para posterior análise.<br />

Os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa serão o público e o apresenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> concerto didático por<br />

estarem diretamente envolvi<strong>do</strong>s com o objetivo <strong>da</strong> pesquisa. A pesquisa será totalmente<br />

custea<strong>da</strong> pela pesquisa<strong>do</strong>ra responsável. Sen<strong>do</strong> assim não terá ônus financeiro para os<br />

sujeitos.<br />

4.4 Procedimento de Coleta de Da<strong>do</strong>s<br />

Em <strong>da</strong>ta a combinar, será feita uma entrevista junto ao apresenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> concerto, na<br />

sala <strong>da</strong> administração <strong>da</strong> orquestra, procuran<strong>do</strong> entender como é concebi<strong>do</strong> o ensino, bem<br />

como a organização <strong>do</strong> concerto-aula. Questionários específicos serão distribuí<strong>do</strong>s a alunos,<br />

professores (público em geral), escolhi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com os critérios especifica<strong>do</strong>s neste<br />

projeto, para verificar qual o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>, a aprendizagem alcança<strong>da</strong> pelo público e como<br />

ela aconteceu. E ain<strong>da</strong> serão colhi<strong>da</strong>s informações sobre o concerto didático nos arquivos <strong>da</strong><br />

Orquestra através de <strong>do</strong>cumentos, jornais, cartas etc.<br />

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4.5 Procedimentos de Análise<br />

Após a coleta e organização <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, serão feitas comparações entre as respostas<br />

<strong>da</strong>s entrevistas e questionários na busca de perceber/encontrar como acontece o ensinoaprendizagem<br />

durante o concerto. Será realiza<strong>da</strong> uma análise <strong>do</strong>cumental <strong>do</strong>s arquivos<br />

encontra<strong>do</strong>s na sede <strong>da</strong> orquestra: jornais, revistas, memoran<strong>do</strong>s, cartas e outros escritos<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao concerto didático também servirão como base para a investigação.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão analisa<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com o referencial teórico que está basea<strong>do</strong> nos<br />

conceitos de educação informal (WILLE, 2003), apreciação musical (BASTIÃO, 2003;<br />

BOZZETTO et al., 2002; CHERÑAVSKY, 2008; FREIRE, 2000; KRÜGER, 2003;<br />

RODRIGUES, 2007 ) e avaliação em música (SWANWICK, 2003; VEBER, 2003).<br />

Na fase de tratamento <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão identifica<strong>da</strong>s como as informações respondem<br />

a pesquisa. A entrevista será transcrita. To<strong>do</strong>s os <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s serão organiza<strong>do</strong>s e agrupa<strong>do</strong>s<br />

de acor<strong>do</strong> com as respostas encontra<strong>da</strong>s, estabelecerei conexões entre eles. Este agrupamento<br />

levará à criação de categorias para interpretar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s (ARAÚJO et al., 2008, p. 17). As<br />

informações serão analisa<strong>da</strong>s e compara<strong>da</strong>s respeitan<strong>do</strong> estas categorias. Em segui<strong>da</strong>, será<br />

elabora<strong>do</strong> um texto, a monografia, que apresentará o concerto didático sob a perspectiva <strong>do</strong><br />

apresenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> concerto, <strong>do</strong> público e o que dizem os <strong>do</strong>cumentos encontra<strong>do</strong>s no arquivo <strong>da</strong><br />

Orquestra.<br />

5. Conclusão<br />

Dentre os resulta<strong>do</strong>s que busco encontrar através desta pesquisa, preten<strong>do</strong><br />

compreender como se dá o ensino-aprendizagem nos concertos didáticos <strong>da</strong> Orquestra<br />

Sinfônica <strong>do</strong> Recife com o intuito de, também, encorajar que outras pesquisas de educação<br />

musical sejam feitas na subárea de apreciação e avaliação musical em ambientes extraescolares.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

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Méto<strong>do</strong>s de investigação em educação: estu<strong>do</strong> de caso. Portugal, jan. 2008. Disponível em:<br />

. Acesso em: 29 mar <strong>2011</strong>.<br />

BASTIÃO, Zurai<strong>da</strong> Abud. Apreciação musical: repensan<strong>do</strong> práticas pe<strong>da</strong>gógicas. In:<br />

ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 12,<br />

2003, Florianópolis. <strong>Anais</strong>... Florianópolis: <strong>ABEM</strong>, 2003. p. 883-896.<br />

BOZZETTO, Adriana; CUNHA, Elisa; HENTSCHKE, Liane; SOUZA, Jusamara. Ban<strong>da</strong>s de<br />

rock: qual repertório? Como tocar? – Um estu<strong>do</strong> multi-casos com a<strong>do</strong>lescentes. In:<br />

ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL,<br />

11., 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... Natal: <strong>ABEM</strong>, 2002. p. 386-392.<br />

BRESLER, Liora. Pesquisa qualitativa em educação musical: contextos, características e<br />

possibili<strong>da</strong>des. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, n. 16, p. 7-16, 2007.<br />

CHERÑAVSKY, Analía. O nacionalismo musical e a necessi<strong>da</strong>de de formação <strong>do</strong> público.<br />

In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO<br />

EM MÚSICA, 18., 2008, Salva<strong>do</strong>r. <strong>Anais</strong>... Salva<strong>do</strong>r: ANPPOM, 2008. p. 562–565.<br />

FREIRE, Van<strong>da</strong> L. Bellard. Currículos, apreciação musical e culturas brasileiras. In:<br />

<strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> Sul – Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina – 2000.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 29 mar. <strong>2011</strong>.<br />

KRÜGER, Susana E. Uma orquestra pode ser a minha cara? Uma experiência com concertos<br />

didáticos para crianças e a<strong>do</strong>lescentes. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 12., 2003, Florianópolis. <strong>Anais</strong>... Florianópolis:<br />

<strong>ABEM</strong>, 2003, p. 608-615.<br />

LIMA, Eduar<strong>do</strong>. A Educação Musical de Crianças em ambiente Informal: Estu<strong>do</strong> de Caso <strong>do</strong><br />

Projeto Som na Luz – Belo Horizonte/MG. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 16., 2007, Campo Grande. <strong>Anais</strong>... Campo<br />

Grande: <strong>ABEM</strong>, 2007. Disponível em:<br />

. Acesso em: 13 out.<br />

2010.<br />

RODRIGUES, Henderson. O que acontece quan<strong>do</strong> aprecio música? Uma abor<strong>da</strong>gem<br />

interdisciplinar. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-<br />

GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 17., 2007, São Paulo. <strong>Anais</strong>... São Paulo: ANPPOM, 2007.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 13 out. 2010.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Tradução de Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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2 OA N O S<br />

VEBER, Andréia. Avaliação <strong>da</strong> apreciação musical: um estu<strong>do</strong> com crianças <strong>da</strong> 5ª e 7ª<br />

séries <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental.(TCC). Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina,<br />

Florianópolis: 2003. Disponível em:<br />

http://pages.udesc.br/~c7apice/arquivos/<strong>do</strong>wnload/TCC%20Andreia%20Veber.PDF<br />

Acesso em: 07 abr. <strong>2011</strong>.<br />

WILLE, Regiana Blank. Educação musical formal, não formal ou informal: três estu<strong>do</strong>s de<br />

caso. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre, 2003. Disponível em:<br />

http://hdl.handle.net/10183/2424 Acesso em: 13 out. 2010.<br />

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2 OA N O S<br />

Condições de Implantação <strong>da</strong> Lei 11.769 na Ci<strong>da</strong>de de Mossoró e<br />

Diagnóstico: um Survey<br />

Henderson de Jesus Rodrigues <strong>do</strong>s Santos<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte-UERN<br />

hendersonrodrigues@uern.br<br />

Resumo: A presente comunicação apresenta as bases de uma pesquisa em an<strong>da</strong>mento que<br />

visa levantar <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> contexto musical de Mossoró no que se refere às possibili<strong>da</strong>des de<br />

implantação <strong>da</strong> lei 11.769 de agosto de 2008. Com a aprovação <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> lei, a música passa<br />

a ser conteú<strong>do</strong> obrigatório nas escolas de ensino regular, embora não exclusivo. Porém, não se<br />

verificam ações importantes para a implantação <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, uma vez que não basta a<br />

aprovação de uma lei para que a reali<strong>da</strong>de mude de forma efetiva. As condições políticas e<br />

sociais precisam acompanhar o princípio que regeu a formulação desta lei, o que justifica a<br />

proposta de um Survey, uma vez que <strong>da</strong><strong>do</strong>s mais precisos devem ser apresenta<strong>do</strong>s, analisa<strong>do</strong>s<br />

e tabula<strong>do</strong>s para que se conheçam os fatores que podem dificultar a implantação <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

lei na ci<strong>da</strong>de de Mossoró/RN. Os resulta<strong>do</strong>s desta pesquisa poderão orientar setores<br />

específicos de nossa socie<strong>da</strong>de no senti<strong>do</strong> de amenizar as problemáticas inerentes a este<br />

processo.<br />

Palavras-Chave: Educação musical, Lei 11.769, Políticas Públicas na Educação Musical<br />

Implicações para a Implantação <strong>da</strong> lei 11.769<br />

Atualmente a área <strong>da</strong> Educação Musical no Brasil tem, por meio <strong>da</strong>s iniciativas de<br />

vários professores e pesquisa<strong>do</strong>res, proposto um novo contexto para a Educação Básica. Este<br />

contexto, ao qual o país já fez parte em épocas passa<strong>da</strong>s, sobretu<strong>do</strong> nos anos <strong>do</strong> governo<br />

Vargas com Villa Lobos, diz respeito à inclusão <strong>da</strong> música como disciplina obrigatória nas<br />

escolas regulares.<br />

Com a aprovação <strong>da</strong> Lei nº 11.769 em agosto de 2008, a música passa a ser conteú<strong>do</strong><br />

obrigatório nas escolas de ensino regular, embora não exclusivo. Porém percebe-se que as<br />

condições políticas e sociais precisam acompanhar o princípio que regeu a formulação desta<br />

lei.<br />

Mossoró, segun<strong>da</strong> maior ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte e pioneira na<br />

formação <strong>do</strong>cente na área de música <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, tem passa<strong>do</strong> por grandes transformações no<br />

contexto musical nos últimos 15 anos. Dentre estas mu<strong>da</strong>nças podemos destacar a criação <strong>do</strong><br />

curso de licenciatura em música, a criação de diversos grupos de câmara em diversos<br />

contextos (como por exemplo, a Camerata de cor<strong>da</strong>s, a orquestra filarmônica sacra <strong>da</strong> Igreja<br />

Assembléia de Deus e etc.), o crescimento <strong>da</strong> busca pela profissão de músico, representa<strong>do</strong><br />

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2 OA N O S<br />

pelo crescimento de grupos de música popular e de entretenimento e recentemente um<br />

concurso para 19 músicos nesta Instituição, <strong>do</strong>s quais 15 de nível técnico e 4 de nível<br />

superior.<br />

To<strong>do</strong> este contexto de crescimento musical aponta para um cenário propício para a<br />

implantação <strong>da</strong> lei 11.769. Porém, a observação no contexto escolar parece apontar para<br />

dificul<strong>da</strong>des, uma vez que a infra-estrutura e a existência de pessoal qualifica<strong>do</strong> não parecem<br />

condizer com a deman<strong>da</strong> existente na ci<strong>da</strong>de.<br />

Faz-se necessário a iniciativa de setores liga<strong>do</strong>s à educação básica e à educação<br />

musical <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de no intuito de amenizar possíveis dificul<strong>da</strong>des de implantação <strong>da</strong> lei 11.769<br />

que deverá ser implanta<strong>da</strong> até agosto deste ano, conforme prazo <strong>da</strong><strong>do</strong>. Iniciativas políticas<br />

como publicações de editais para a contratação de profissionais prepara<strong>do</strong>s para lecionar tal<br />

conteú<strong>do</strong>, criação de um plano de implantação e definição <strong>da</strong>s séries ou mesmo de propostas<br />

de currículos por partes de pe<strong>da</strong>gogos seriam algumas <strong>da</strong>s ações espera<strong>da</strong>s. Soma-se ao fato<br />

de que ain<strong>da</strong> há pouco conhecimento <strong>da</strong> existência desta lei por parte <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

ensino regular em nossa ci<strong>da</strong>de e em várias ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Outro <strong>da</strong><strong>do</strong> preocupante diz respeito ao fato de que pela lei 9394/96 (Lei de<br />

Diretrizes e Bases) o ensino <strong>da</strong> Educação Artística foi substituí<strong>do</strong> pelo ensino específico <strong>da</strong>s<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de Arte <strong>da</strong> qual música já fazia parte. Porém, neste senti<strong>do</strong>, até este ano a música<br />

não era conteú<strong>do</strong> obrigatório, o que permitia que as escolas desenvolvessem conteú<strong>do</strong><br />

relaciona<strong>do</strong> às demais áreas sem prejuízo ao cumprimento <strong>da</strong> lei.<br />

Neste contexto o que se observa, e não apenas no nosso esta<strong>do</strong>, é a existência de<br />

editais para concurso de professores polivalentes de artes (como já discuti<strong>do</strong> em PENNA,<br />

2002; PIRES, 2003; ANDRAUS, 2008; SOBREIRA, 2008; GROSSI, 2007). Esta reali<strong>da</strong>de é<br />

justifica<strong>da</strong> pelo discurso de que existem poucos profissionais nas diversas áreas de artes, bem<br />

como na dificul<strong>da</strong>de de lotação de professores que possam assumir a carga horária exigi<strong>da</strong><br />

que, pela impossibili<strong>da</strong>de de concentração em uma escola, tenham que trabalhar em várias<br />

escolas. Neste senti<strong>do</strong> um professor que pudesse ministrar mais de uma disciplina poderia<br />

concentrar sua carga horária em uma ou duas escolas.<br />

Outro fator a ser conheci<strong>do</strong> é a atuação <strong>do</strong>s professores chama<strong>do</strong>s não especialistas,<br />

ou seja, aqueles que não possuem formação específica em música, mas que estão leciona<strong>do</strong> o<br />

conteú<strong>do</strong> música, seja como disciplina ou incluí<strong>do</strong> em outras práticas. Este conhecimento se<br />

faz necessário, uma vez que um <strong>do</strong>s caminhos para facilitar a inserção <strong>da</strong> música nos<br />

currículos <strong>da</strong>s escolas é o fato <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de formação destes professores em<br />

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conhecimentos musicais gerais, o que é por alguns, chama<strong>da</strong> de formação generalista. Neste<br />

senti<strong>do</strong>, nos falam Queiroz e Marinho que:<br />

Essa ação não visa à formação de especialistas, mas sim <strong>da</strong>r a esses<br />

profissionais condições necessárias para trabalharem com conteú<strong>do</strong>s<br />

musicais de forma adequa<strong>da</strong> para o desenvolvimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />

percepção <strong>do</strong>s alunos. Assim, esses professores teriam condições de<br />

encontrar alternativas para proporcionar aos estu<strong>da</strong>ntes conhecimento <strong>da</strong><br />

estruturação de linguagens musicais e acesso ao patrimônio cultural artístico<br />

imaterial caracteriza<strong>do</strong> pela música em suas diferentes expressões<br />

(QUEIROZ; MARINHO, 2007, p. 72).<br />

Além <strong>do</strong> exposto, existem ain<strong>da</strong> variáveis relaciona<strong>da</strong>s à meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong>s<br />

professores de música (ou o professor que ministra este conteú<strong>do</strong>), perfil <strong>do</strong>s alunos nas<br />

diversas faixas etárias e as condições materiais e de infra-estrutura para a implantação <strong>da</strong> lei<br />

11.769. Desta forma se faz necessário este Survey, uma vez que <strong>da</strong><strong>do</strong>s mais precisos devem<br />

ser apresenta<strong>do</strong>s, analisa<strong>do</strong>s e tabula<strong>do</strong>s para que se conheçam os fatores que poderiam<br />

dificultar a implantação <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> lei.<br />

Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> levantamento<br />

O levantamento procurará determinar o perfil musical <strong>do</strong>s alunos, o perfil <strong>do</strong>s<br />

professores e as condições físicas, materiais e estruturais para o desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas de<br />

música. As duas primeiras categorias visam compreender a relação entre aquilo que os alunos<br />

buscam em uma aula de música e as abor<strong>da</strong>gens que os professores acreditam ser eficazes<br />

para o aprendiza<strong>do</strong> musical. O perfil <strong>do</strong>s alunos será identifica<strong>do</strong> através de levantamento por<br />

meio de questionário aplica<strong>do</strong> à amostra de alunos <strong>do</strong> ensino regular, aplica<strong>do</strong> nas séries pares<br />

<strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e nas séries impares de ensino médio elegen<strong>do</strong>-se de forma aleatória a<br />

5 alunos (amostra probabilística) e de forma dirigi<strong>da</strong> a 4 alunos (amostra não probabilística).<br />

Além desta determinação será escolhi<strong>da</strong> 4 escolas que apresentem diversi<strong>da</strong>de de contexto<br />

social. A forma dirigi<strong>da</strong> a que se refere, diz respeito à escolha de alunos que gostaria de<br />

estu<strong>da</strong>r música, sen<strong>do</strong> que neste contexto se elegerá de forma aleatória desde que o universo<br />

ultrapasse a amostra pretendi<strong>da</strong> (Cf. BABBIE, 2001).<br />

O perfil <strong>do</strong>s professores será conheci<strong>do</strong> por meio de questionário aplica<strong>do</strong> a 10<br />

professores <strong>da</strong> rede básica de ensino de escolas que apresentem diversi<strong>da</strong>de de contexto social<br />

escolhi<strong>do</strong>s de forma aleatória.<br />

As condições físicas, estruturais e materiais serão conheci<strong>do</strong>s através <strong>do</strong><br />

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preenchimento de formulário conten<strong>do</strong> o conjunto de características que se acredita necessário<br />

para um bom desenvolvimento <strong>da</strong> aula de música. Este formulário será dividi<strong>do</strong> em categorias<br />

como: itens indispensáveis, importantes, ideais, fatores de motivação/desmotivação, bem<br />

como, de fatores conceituais que possam cercar a utilização <strong>da</strong> música na escola em questão<br />

como o objetivo <strong>da</strong>s aulas, o contexto <strong>do</strong> fazer musical na escola.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão analisa<strong>do</strong>s e tabula<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> a apresentar tendências, pontos fortes<br />

e pontos fracos. Os possíveis problemas para a implantação <strong>da</strong> lei cita<strong>da</strong> será sempre que<br />

possível apresenta<strong>do</strong> em conjunto com os fatores que os criam. A pesquisa como apresenta<strong>da</strong>,<br />

utilizará a abor<strong>da</strong>gem quantitativa. Terá caráter exploratório e explicativo.<br />

As amostras aqui sugeri<strong>da</strong>s poderão sofrer modificações no decorrer <strong>da</strong> pesquisa no<br />

intuito de melhor representar a reali<strong>da</strong>de. A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s será <strong>do</strong> tipo corte-transversal<br />

(ocorri<strong>da</strong> uma só vez), a uni<strong>da</strong>de de análise será o próprio indivíduo, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão<br />

analisa<strong>do</strong>s, caso possível de forma multidimensional.<br />

Os instrumentos de coleta serão testa<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> como base uma escola escolhi<strong>da</strong><br />

apenas para este fim, bem como a aplicação <strong>do</strong>s questionários a indivíduos neutros e de<br />

contexto conheci<strong>do</strong> (como alunos ou professores <strong>do</strong> curso de música).<br />

Hipóteses e direcionamentos <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

Acredita-se ser possível compreender melhor o contexto em que a música será<br />

inseri<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de de Mossoró, bem como possíveis dificul<strong>da</strong>des. Neste senti<strong>do</strong> as<br />

expectativas <strong>do</strong>s alunos <strong>da</strong> rede de ensino básico quanto ao conteú<strong>do</strong> que será trabalha<strong>do</strong> nas<br />

aulas de música pode ser um fator que poderá entrar em choque com o caráter obrigatório <strong>do</strong><br />

ensino <strong>da</strong> música caso os professores não estejam prepara<strong>do</strong>s para atuarem de forma a incluir<br />

as experiências <strong>do</strong>s alunos bem como, possibilitar re-significações de seus contextos culturais,<br />

afim de, partin<strong>do</strong> de características <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> aluno, apresentar um universo de<br />

vivências, dialogan<strong>do</strong> com as tradições.<br />

Além disto, as condições de implantação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais em uma escola é<br />

outro fator limita<strong>do</strong>r para o cumprimento <strong>da</strong> Lei 11.769. Isto por que a música, como não era<br />

pratica<strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong>s últimos anos, poderá ser de pouco interesse caso o aluno não encontre<br />

condições de aprendiza<strong>do</strong>, preferin<strong>do</strong> buscar este conhecimento fora <strong>da</strong> escola, onde, por<br />

meio <strong>do</strong> contato direto com outros músicos, podem aprender aquilo que julgam ser de<br />

interesse. Neste senti<strong>do</strong>, o poder de atração e de motivação <strong>da</strong>s estratégias didáticas <strong>do</strong><br />

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professor, alia<strong>do</strong> a uma estrutura adequa<strong>da</strong> de aprendiza<strong>do</strong>, podem fazer diferença.<br />

Em to<strong>do</strong> caso, sabemos que a atuação <strong>do</strong>s órgãos públicos e <strong>do</strong>s professores será<br />

decisiva para um bom an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais nas escolas. Para tanto, o resulta<strong>do</strong><br />

desta pesquisa instruirá ambientes de discussões volta<strong>da</strong>s às condições materiais, físicas e<br />

estruturais <strong>da</strong>s escolas, bem como, o atual perfil de formação no curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN.<br />

O perfil <strong>do</strong> aluno nos aju<strong>da</strong>rá a indicar possibili<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptações de meto<strong>do</strong>logias<br />

para a atuação em sala de aula. Neste senti<strong>do</strong>, o contexto cultural local e regional traduz bem<br />

este direcionamento, pois méto<strong>do</strong>s como os chama<strong>do</strong>s “ativos” ou mesmo os atuais méto<strong>do</strong>s e<br />

meto<strong>do</strong>logias, devem ser a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong>s para as reali<strong>da</strong>des mossoroenses, permitin<strong>do</strong> uma maior<br />

objetivi<strong>da</strong>de e resulta<strong>do</strong>s contextualiza<strong>do</strong>s. Processos como estes têm si<strong>do</strong> sugeri<strong>do</strong> na última<br />

déca<strong>da</strong> por diversos pesquisa<strong>do</strong>res como: Queiroz (2000; 2003; 2004), Grossi (2000), Gomes<br />

(1996), Oliveira (2000), entre outros.<br />

No senti<strong>do</strong> de ampliarmos os direcionamentos de propostas meto<strong>do</strong>lógicas,<br />

incluiremos na análise <strong>da</strong>s condições materiais a possibili<strong>da</strong>de de se trabalhar com<br />

tecnologias, como o computa<strong>do</strong>r, ou equipamento para rádios escolares etc. Esta possibili<strong>da</strong>de<br />

poderá abrir caminho para a inclusão de professores não especialistas, que, atuan<strong>do</strong><br />

conjuntamente com professores de música, possam dinamizar e ampliar a prática musical na<br />

escola.<br />

Neste senti<strong>do</strong> esperamos contribuir com a implantação <strong>da</strong> Lei 11.769 na ci<strong>da</strong>de de<br />

Mossoró e, ao mesmo tempo, apresentar uma experiência de a<strong>da</strong>ptação em um <strong>da</strong><strong>do</strong> contexto<br />

com o intuito de instruir processos análogos em outras ci<strong>da</strong>des.<br />

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Referências<br />

ANDRAUS, Gisele Crosara. Um olhar sobre o ensino de música em Uberlândia (MG).<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 19, 65-73, mar. 2008.<br />

BABBIE, Earl. Méto<strong>do</strong>s de Pesquisas de Survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.<br />

GOMES, Nilma Lino. Escola e diversi<strong>da</strong>de étnico-cultural: um diálogo possível. In:<br />

DAYRELL, Juarez (org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Ed.<br />

UFMG, 1996. p.85 -91.<br />

GROSSI, Cristina. Categorias de respostas na audição <strong>da</strong> música popular e suas<br />

implicações para a percepção musical. In: SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 7, 2000, Londrina. <strong>Anais</strong>... Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2000. p. 37-64.<br />

_________. A educação musical na perspectiva de um concurso público para professor<br />

<strong>da</strong> disciplina de Arte. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 16, 39-47, mar. 2007.<br />

OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. Educação musical em transição: Jeito brasileiro de musicalizar. In:<br />

SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 7, 2000, Londrina. <strong>Anais</strong>...<br />

Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2000. p. 15-32.<br />

PENNA, Maura. Professores de música nas escolas públicas de ensino fun<strong>da</strong>mental e<br />

médio: uma ausência significativa. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 7, 7-19, set. 2002.<br />

PIRES, Nair. A identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s licenciaturas na área de música: multiplici<strong>da</strong>de e<br />

hierarquia. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 9, 81-88, set. 2003.<br />

QUEIROZ, Luis Ricar<strong>do</strong> S. O ensino <strong>do</strong> violão clássico sob uma perspectiva <strong>da</strong> educação<br />

musical contemporânea. 2000. 90 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música - área de<br />

concentração Educação Musical) – Conservatório Brasileiro de Música, Rio de Janeiro.<br />

_________. Educação musical e cultura: singulari<strong>da</strong>de e plurali<strong>da</strong>de cultural no ensino e<br />

aprendizagem <strong>da</strong> música.Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 9, p. 20-32, 2004.<br />

__________; MARINHO, Vanil<strong>do</strong> Mousinho. Educação musical nas escolas de educação<br />

básica: caminhos possíveis para a atuação de professores não especialistas. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 17, 69-76, set. 2007.<br />

SOBREIRA, Sílvia. Reflexões sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música nas escolas públicas.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 20, 45-52, set. 2008.<br />

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Construção de conhecimento no Grupo de Pesquisa<br />

Educação Musical, Cotidiano e Socie<strong>da</strong>de<br />

Maria Guiomar de Carvalho Ribas<br />

UFPB<br />

guiomarcarvalho@yahoo.com.br<br />

Juciane Araldi Beltrame<br />

UFPB<br />

juciane.araldi@gmail.com<br />

Cleide Alves <strong>da</strong> Silva<br />

UFPB<br />

Marcelo Cabral de Mello Dantas Alves<br />

UFPB<br />

Olga Verônica Alves de Oliveira<br />

UFPB<br />

Raquel Carmona Torres<br />

UFPB<br />

Tiago Lima de Gusmão<br />

UFPB<br />

Resumo: Nesse texto abor<strong>da</strong>mos a prática de pesquisa em grupo no espaço acadêmico. O<br />

objetivo é apresentar o caminho pelo qual estamos fazen<strong>do</strong> pesquisa em grupo. Pretendemos<br />

ao trazer a tona nossa experiência, contribuir para o debate acerca <strong>da</strong> formação <strong>do</strong>/a<br />

pesquisa<strong>do</strong>r/a em música no âmbito <strong>da</strong> graduação e pós-graduação. A opção por abor<strong>da</strong>r esse<br />

assunto decorre <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong>s grupos de pesquisa como espaços potenciais para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> prática investigativa.<br />

Palavras-chave: pesquisa em educação musical, pesquisa em grupo, grupo de pesquisa.<br />

Introdução<br />

Nesse texto abor<strong>da</strong>mos a prática de pesquisa em grupo no espaço acadêmico. A<br />

reflexão sobre a prática de realizar pesquisa na academia tem si<strong>do</strong> um assunto pouco<br />

explora<strong>do</strong>, principalmente entre nós <strong>da</strong> educação musical. Como Souza et. al. (2005)<br />

colocam, orientar uma pesquisa é um ato complexo e a discussão sobre processos e maneiras<br />

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de orientar ain<strong>da</strong> é algo relativamente pouco visível e debati<strong>do</strong> em nossa área. “Discute-se a<br />

pesquisa, as meto<strong>do</strong>logias, os resulta<strong>do</strong>s, mas raramente se discute o papel de quem orienta a<br />

pesquisa” e as relações construí<strong>da</strong>s entre os envolvi<strong>do</strong>s nesse processo (SOUZA et. al. 2005,<br />

p. 1).<br />

O objetivo dessa comunicação é justamente apresentar o caminho pelo qual estamos<br />

fazen<strong>do</strong> pesquisa em grupo. Pretendemos ao trazer a tona nossa experiência, contribuir para o<br />

debate acerca <strong>da</strong> formação <strong>do</strong>/a pesquisa<strong>do</strong>r/a em música no âmbito <strong>da</strong> graduação e pósgraduação.<br />

A opção por abor<strong>da</strong>r esse assunto decorre <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong>s grupos de pesquisa<br />

como espaços potenciais para o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> prática investigativa. Assim, optamos por<br />

trazer para esse encontro regional os itinerários percorri<strong>do</strong>s pelos membros <strong>do</strong> Grupo e as<br />

aprendizagens que estão decorren<strong>do</strong> <strong>da</strong> sua primeira pesquisa em conjunto.<br />

Para discorrer sobre os itinerários percorri<strong>do</strong>s, utilizaremos ao longo desse texto<br />

citações extraí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s Diários de Campo <strong>do</strong>s discentes <strong>do</strong> Grupo. Passamos a a<strong>do</strong>tar esses<br />

diários ao percebermos a riqueza <strong>do</strong>s relatos nos encontros semanais. Seu principal intuito foi<br />

<strong>do</strong>cumentar as falas repletas de significa<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> que estava acontecen<strong>do</strong> nos<br />

‘basti<strong>do</strong>res’ dessa pesquisa. Como os diários de ca<strong>da</strong> integrante passaram a compor o Caderno<br />

de Campo <strong>do</strong> Grupo, configuran<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumento coletivo, optamos por não citar a autoria de<br />

ca<strong>da</strong> trecho.<br />

O texto está organiza<strong>do</strong> em três partes: apresentação <strong>do</strong> Grupo; apresentação <strong>da</strong><br />

pesquisa; caminhos investigativos.<br />

Apresentan<strong>do</strong> o Grupo<br />

O Grupo de Pesquisa Educação Musical, Cotidiano e Socie<strong>da</strong>de dedica-se ao<br />

conhecimento acerca de processos e práticas musico-educativas pelos quais as pessoas<br />

aprendem, ensinam e/ou compartilham música em suas vi<strong>da</strong>s. Cria<strong>do</strong> em 2009, conta<br />

atualmente com sete integrantes sen<strong>do</strong> duas <strong>do</strong>centes, uma discente <strong>da</strong> graduação, e quatro<br />

mestran<strong>do</strong>s.<br />

A perspectiva teórica <strong>do</strong> nosso trabalho estabelece diálogo com as ciências sociais,<br />

apoian<strong>do</strong>-se mais particularmente na teoria <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana (CERTEAU, 2000; PAIS, 2003;<br />

SOUZA, 1996; 2000; 2009, entre outros). Essa teoria permite a análise <strong>do</strong>s fenômenos sociais<br />

livre de formas rígi<strong>da</strong>s e estáticas, possibilitan<strong>do</strong> ao ir além de visões monolíticas, estu<strong>da</strong>r<br />

suas dinâmicas e heterogenei<strong>da</strong>des. A sociologia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana considera a dimensão<br />

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subjetiva <strong>do</strong> ser social, portanto, defende que a “reali<strong>da</strong>de” é socialmente construí<strong>da</strong> por<br />

indivíduos plurais (CERTEAU 2000; PAIS 2003). Possibilita li<strong>da</strong>r com a complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

fenômenos sociais, que necessariamente reflete e são refleti<strong>do</strong>s por construtos culturais<br />

dinâmicos e muitas vezes efêmeros e fugidios.<br />

Sobre a contribuição desse viés teórico para a construção de uma teoria <strong>da</strong> educação<br />

musical, como argumenta Souza:<br />

[...] a perspectiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana entra nas brechas, nas falhas, nas<br />

ausências de perspectivas totalizantes. Ela se compromete com a análise<br />

individual histórica, com o sujeito imerso, envolvi<strong>do</strong> num complexo de<br />

relações presentes, numa reali<strong>da</strong>de histórica prenhe de significações<br />

culturais. Seu interesse está em restaurar as tramas de vi<strong>da</strong>s que estavam<br />

encobertas; recuperar a plurali<strong>da</strong>de de possíveis vivências e interpretações;<br />

desfiar a teia de relações cotidianas e suas diferentes dimensões de<br />

experiências fugin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dualismos e polari<strong>da</strong>des e questionan<strong>do</strong><br />

dicotomias. (SOUZA, 2000, p. 28).<br />

Partimos ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> entendimento <strong>da</strong> educação musical enquanto área de<br />

conhecimento autônoma, embora teci<strong>da</strong> por múltiplas dimensões disciplinares (KRAEMER,<br />

2000; SOUZA, 1996).<br />

Os encontros <strong>do</strong> Grupo são semanais, ten<strong>do</strong> duas horas de duração. Buscamos nesses<br />

momentos construir laços entre os integrantes que vão ao encontro <strong>do</strong> que diz SOUZA et. al.<br />

(2005): “transformar a relação orientan<strong>do</strong>/orienta<strong>do</strong>r em uma relação de reciproci<strong>da</strong>de, de<br />

interesses comuns para romper a visão fragmenta<strong>da</strong> <strong>do</strong> conhecimento nas situações de<br />

aprendizagem científica na qual o orienta<strong>do</strong>r também se modifica” (p. 2).<br />

Leituras preparatórias e discussões foram realiza<strong>da</strong>s, basea<strong>da</strong>s no livro Vi<strong>da</strong>s<br />

Cotidianas: enigmas e revelações <strong>do</strong> sociólogo português José Macha<strong>do</strong> Pais (2003), bem<br />

como no artigo de Kraemer (2000) Dimensões e funções <strong>do</strong> conhecimento pe<strong>da</strong>gógico<br />

musical. Em relação ao texto de Pais, o contato com a perspectiva <strong>do</strong> Cotidiano e o mo<strong>do</strong><br />

como o autor abor<strong>da</strong> o papel de quem pesquisa suscitou provocações:<br />

À primeira vista, a escrita de Pais (2003) parecia distante <strong>da</strong> minha<br />

compreensão. Lia e relia; e os “enigmas” trazi<strong>do</strong>s pelo autor no campo <strong>da</strong><br />

pesquisa pareciam ain<strong>da</strong> mais enigmáticos. Cheguei até mesmo a questionar<br />

se aquele autor seria referência para minha pesquisa, já que não compreendia<br />

muito bem o que ele queria dizer, aonde queria chegar com tantos<br />

“enigmas”. Com as discussões e posteriormente com a pesquisa já em<br />

an<strong>da</strong>mento, a linguagem <strong>do</strong> autor foi se revelan<strong>do</strong> mais clara no nosso fazer.<br />

As teias que tecem o percurso meto<strong>do</strong>lógico de uma pesquisa científica e as<br />

diferentes formas de vislumbrar o cotidiano foram ten<strong>do</strong> conotações mais<br />

significativas para mim. (Caderno de campo).<br />

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As leituras têm oportuniza<strong>do</strong> ampliar o olhar, propician<strong>do</strong> uma emersão em campo<br />

com maior potencial analítico:<br />

Embora eu ain<strong>da</strong> estivesse <strong>da</strong>n<strong>do</strong> os primeiros passos numa pesquisa<br />

científica, pude constatar que o olhar <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r (a) deveria ir além<br />

<strong>da</strong>quilo que está aparente e parece ser conheci<strong>do</strong>; porque no campo<br />

científico tu<strong>do</strong> fica além <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Na<strong>da</strong> é o que parece ser. Na<strong>da</strong> é<br />

fecha<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> se renova “retalhan<strong>do</strong> a reali<strong>da</strong>de”, “farejan<strong>do</strong> pistas”, in<strong>do</strong><br />

atrás <strong>do</strong> que está oculto, buscan<strong>do</strong> não apenas o que lhe dizem para ver, mas<br />

aquilo que “falta ver”, refletin<strong>do</strong> sobre que rumo <strong>da</strong>r ao que temos nas mãos<br />

[Pais, 2003]. (Caderno de campo).<br />

E assim, como diz uma participante <strong>do</strong> Grupo “a ca<strong>da</strong> encontro, uma nova descoberta<br />

que me [nos] fazia querer conhecer um pouco mais <strong>do</strong> que viria à frente”. Entendemos que<br />

essa vontade de avançar na apreensão e produção de conhecimento tem nos impulsiona<strong>do</strong><br />

enquanto grupo.<br />

Apresentan<strong>do</strong> a Pesquisa<br />

Para tratar <strong>do</strong>s caminhos percorri<strong>do</strong>s pelos integrantes <strong>do</strong> Grupo na realização dessa<br />

primeira pesquisa coletiva, trazemos aqui os objetivos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, bem como sua meto<strong>do</strong>logia.<br />

A pesquisa intitula<strong>da</strong> “Produção em ciências sociais e humanas em interlocução com<br />

a educação musical: um estu<strong>do</strong> exploratório” tem por objetivo geral compreender como<br />

estudiosos <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong>s ciências sociais e <strong>da</strong> comunicação têm abor<strong>da</strong><strong>do</strong> a música em<br />

seus estu<strong>do</strong>s. Para tanto, foram delinea<strong>do</strong>s os seguintes objetivos específicos: 1) localizar<br />

trabalhos nas áreas de educação, ciências sociais e comunicação que estabeleçam uma<br />

articulação com a música e/ou a educação musical; 2) identificar que concepções de música<br />

estão subjacentes a esses trabalhos; 3) analisar como esses estu<strong>do</strong>s problematizam o ensino e<br />

aprendizagem <strong>da</strong> música, no fenômeno por eles estu<strong>da</strong><strong>do</strong>; 4) refletir sobre quais fenômenos<br />

musicais tem capta<strong>do</strong> atenção desses/as cientistas, e como se articulam com objetos e<br />

temáticas dessas áreas (RIBAS e ARALDI, 2010).<br />

A meto<strong>do</strong>logia escolhi<strong>da</strong> foi o estu<strong>do</strong> exploratório, ten<strong>do</strong> como fonte os anais <strong>do</strong>s<br />

encontros anuais <strong>da</strong>s seguintes associações: Associação Nacional de Pós-Graduação e<br />

Pesquisa em Educação (ANPED); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em<br />

Ciências Sociais (ANPOCS); e Associação Nacional <strong>do</strong>s Programas de Pós-Graduação em<br />

Comunicação (COMPOS). Foi considera<strong>da</strong> a produção discente e <strong>do</strong>cente publica<strong>da</strong> nesses<br />

anais entre os anos de 2005 a 2009.<br />

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A pesquisa iniciou em abril de 2010 e seu término está previsto para dezembro de<br />

<strong>2011</strong>. Ela está organiza<strong>da</strong> em três fases: (i) levantamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s; (ii) categorização; (iii)<br />

análise <strong>do</strong> material coleta<strong>do</strong>.<br />

A primeira fase foi concluí<strong>da</strong> no final de 2010. Consistiu <strong>do</strong> levantamento <strong>do</strong>s<br />

trabalhos que abor<strong>da</strong>vam de alguma forma a música, publica<strong>do</strong>s entre 2005 a 2009 nos<br />

encontros <strong>da</strong> ANPED, ANPOCS e COMPOS. Primeiramente, o critério de seleção <strong>do</strong>s<br />

trabalhos foi através <strong>da</strong> busca pelas palavras-chave “música”, “musical” e “músico”. Utilizouse<br />

para isso o coman<strong>do</strong> ‘Ctrl + F’ que permite localização de palavras em textos formata<strong>do</strong>s<br />

em ‘pdf’, como era o caso. Posteriormente, foram li<strong>do</strong>s os resumos de to<strong>do</strong>s os textos que não<br />

continham as palavras-chaves elegi<strong>da</strong>s, uma vez que mesmo assim poderiam versar sobre<br />

música - como por exemplo, os que se referiam ao samba, funk, rock, entre outras<br />

possibili<strong>da</strong>des.<br />

Esse material foi edita<strong>do</strong> em planilhas <strong>do</strong> Excel organiza<strong>da</strong>s em pastas, sen<strong>do</strong><br />

separa<strong>do</strong> por associação e ano. As tabelas gera<strong>da</strong>s continham os seguintes elementos de<br />

identificação <strong>do</strong>s trabalhos seleciona<strong>do</strong>s: título; grupo de trabalho ao qual está vincula<strong>do</strong>; link<br />

<strong>do</strong> arquivo; <strong>da</strong>ta de acesso.<br />

O Grupo encontra-se atualmente na segun<strong>da</strong> fase. Esta consiste <strong>da</strong> leitura na íntegra<br />

<strong>do</strong>s trabalhos seleciona<strong>do</strong>s na primeira fase. De mo<strong>do</strong> distinto <strong>da</strong> fase anterior, essa é de teor<br />

mais analítico. Consideran<strong>do</strong> os objetivos <strong>da</strong> presente pesquisa, o critério primordial de<br />

seleção para essa fase é como a música tem si<strong>do</strong> abor<strong>da</strong><strong>da</strong> nesses trabalhos. Os artigos em que<br />

o fenômeno musical não é toma<strong>do</strong> como elemento de compreensão ou constituição <strong>do</strong> objeto<br />

de estu<strong>do</strong> - como por exemplo, em situações em que a música aparece como mera ilustração<br />

e/ou em nota de ro<strong>da</strong>pé - são desconsidera<strong>do</strong>s.<br />

A terceira e última fase será realiza<strong>da</strong> ao longo <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> semestre <strong>do</strong> corrente ano.<br />

Caminhos investigativos<br />

Ten<strong>do</strong> em vista a formação pela/para a pesquisa, uma preocupação primária <strong>da</strong>s<br />

coordena<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> Grupo tem si<strong>do</strong> levar os membros discentes a se envolverem na pesquisa<br />

proposta não meramente executan<strong>do</strong> sem questionamento as tarefas necessárias ao an<strong>da</strong>mento<br />

<strong>do</strong> trabalho, haja vista que a “produção de conhecimento não se trata somente <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio de<br />

algumas operações técnicas” (SOUZA et. al. 2005, p.2). Mas, fun<strong>da</strong>mentalmente através<br />

dessas ativi<strong>da</strong>des promover reflexões e meios vivenciais para uma jorna<strong>da</strong> investigativa<br />

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prazerosa e consistente. Nesse senti<strong>do</strong>, abor<strong>da</strong>mos a pesquisa coletiva desenvolvi<strong>da</strong> no Grupo,<br />

enquanto mo<strong>do</strong> e processo pelo qual se busca fomentar a autonomia e empoderamento <strong>do</strong>s<br />

seus integrantes enquanto pesquisa<strong>do</strong>res/as emergentes. Trata-se de um processo bem<br />

imbrica<strong>do</strong> e convergente às orientações <strong>do</strong>s projetos individuais <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> Grupo, mas<br />

o foco delinea<strong>do</strong> para a presente comunicação está centra<strong>do</strong> na dimensão <strong>da</strong> prática <strong>da</strong><br />

pesquisa em grupo.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista o processo <strong>da</strong> pesquisa em grupo e as aprendizagens individuais e<br />

coletivas <strong>da</strong>s pessoas nele envolvi<strong>da</strong>s, a ideia de criar um Caderno de Campo desta pesquisa,<br />

surgiu como menciona<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s relatos trazi<strong>do</strong>s durante os encontros semanais. Em<br />

vários desses encontros comentávamos “temos que escrever sobre isso” e assim, no início<br />

deste semestre, solicitamos aos integrantes discentes que transformassem as falas em material<br />

escrito, registran<strong>do</strong> suas impressões sobre a participação no Grupo e sobre a pesquisa. Tais<br />

relatos constituem o que estamos chaman<strong>do</strong> Caderno de Campo <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Sobre a primeira fase<br />

A fase de levantamento <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi feita em 2010 conforme menciona<strong>do</strong>. Como a<br />

pesquisa está sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> coletivamente, foram necessários alguns ajustes para uma<br />

padronização <strong>do</strong> processo de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Dessa forma, o Grupo foi divi<strong>do</strong> em duplas que<br />

se responsabilizaram pela seleção <strong>do</strong>s trabalhos de uma associação específica.<br />

No que se refere às palavras música, músico e musical, já cita<strong>do</strong>s anteriormente, a<br />

escolha <strong>da</strong>s mesmas, bem como a forma de proceder ao levantamento, foi trabalha<strong>da</strong> em<br />

conjunto. Nesse senti<strong>do</strong>, foi necessário tempo para a compreensão de como utilizá-las, como<br />

ilustra o relato que segue:<br />

Nosso trabalho de busca começaria quan<strong>do</strong> decidíssemos em conjunto,<br />

quais seriam as palavras-chave. Estas deveriam ser as mesmas para as<br />

equipes e escolhê-las gerou discussões entre o Grupo. [...] a ca<strong>da</strong> reunião<br />

estávamos aprenden<strong>do</strong> uns com os outros como iniciaríamos esta pesquisa.<br />

(Caderno de campo).<br />

Ademais, a suposta ‘simples’ tarefa de localizar as fontes consulta<strong>da</strong>s utilizan<strong>do</strong> o<br />

coman<strong>do</strong> de busca e posterior leitura de resumos gerou inúmeras dúvi<strong>da</strong>s, incertezas que<br />

foram compartilha<strong>da</strong>s e supera<strong>da</strong>s gra<strong>da</strong>tivamente.<br />

As meto<strong>do</strong>logias a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s para a garimpagem <strong>do</strong>s artigos foram a busca<br />

pelas palavras-chave música, músico e musical, nos artigos completos e a<br />

leitura <strong>do</strong>s resumos, para conseguir captar outra gama de textos<br />

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relaciona<strong>do</strong>s à música, a qual escapasse à busca pelas palavras-chaves.<br />

Éramos em nove, e esta fase apresentou uma grande diversi<strong>da</strong>de na forma<br />

<strong>da</strong>s publicações, dúvi<strong>da</strong>s e entendimentos varia<strong>do</strong>s. Neste senti<strong>do</strong>, as trocas<br />

de experiências, no Grupo, as discussões e sugestões, foram muito<br />

importantes para irmos sintonizan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais os procedimentos de<br />

to<strong>do</strong>s, de forma a <strong>da</strong>r uma maior coerência e sistematici<strong>da</strong>de à coleta de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s. (Caderno de campo).<br />

Ain<strong>da</strong> nessa fase emergiram dúvi<strong>da</strong>s referentes à situação em que a música aparecia<br />

de mo<strong>do</strong> ‘figurativo’. Diante de situações como essas, retomávamos os objetivos <strong>da</strong> pesquisa<br />

e principalmente o objetivo <strong>da</strong> primeira fase, que era fazer um levantamento e não análise de<br />

como a música era abor<strong>da</strong><strong>da</strong>, o que seria feito nas fases posteriores:<br />

A primeira fase foi mais trabalhosa <strong>do</strong> que se poderia inferir, já que era<br />

apenas o levantamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> busca pelas palavras-chave e<br />

leituras de resumo. [...] fugíamos um pouco <strong>do</strong> estabeleci<strong>do</strong> em Grupo:<br />

quan<strong>do</strong> víamos que a palavra busca<strong>da</strong> não tinha nenhuma relação com o<br />

artigo ficávamos pensan<strong>do</strong> se “valia a pena” incluí-la ou não; parecia ser<br />

um trabalho “inútil”, já que antevemos excluí-la <strong>da</strong> próxima fase. (Caderno<br />

de campo).<br />

To<strong>da</strong>via as discussões propiciaram maior entendimento sobre a importância que o<br />

méto<strong>do</strong> tem na condução <strong>da</strong> pesquisa e associa<strong>do</strong> a isso a necessi<strong>da</strong>de de uniformização <strong>da</strong>s<br />

buscas por meio <strong>da</strong>s três palavras-chave elegi<strong>da</strong>s e posterior leitura <strong>do</strong>s resumos. Além <strong>do</strong><br />

rigor científico, isso agilizou o processo de busca, levan<strong>do</strong> a percepção de que “se ca<strong>da</strong> um<br />

começasse a agir delibera<strong>da</strong>mente a pesquisa teria pouca consistência e estancaria a ca<strong>da</strong><br />

encontro”. Assim, a discussão nessa primeira etapa foi “imprescindível”, pois possibilitou<br />

falar <strong>da</strong> experiência <strong>da</strong> busca a ca<strong>da</strong> encontro, procuran<strong>do</strong> melhorar o entendimento <strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong>. Desse mo<strong>do</strong>:<br />

Essa primeira fase, por ter si<strong>do</strong> também a primeira, foi um “divisor de águas,<br />

pois na<strong>da</strong> melhor que a vivência para fazer entender conceitos tão<br />

menciona<strong>do</strong>s na graduação, como é o caso <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia. Para mim, ter um<br />

espaço para escutar e ser escuta<strong>da</strong>, compartilhar idéias e dúvi<strong>da</strong>s, como<br />

também construir soluções conjuntamente tem si<strong>do</strong> de uma riqueza<br />

tremen<strong>da</strong>, porque senti que to<strong>do</strong>s tinham o que oferecer e que crescíamos<br />

juntos. Em sala de aula, às vezes esse sentimento fica um pouco em segun<strong>do</strong><br />

plano. (Caderno de campo).<br />

Sobre a segun<strong>da</strong> fase<br />

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Termina<strong>da</strong> essa etapa, o início <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> fase tem deman<strong>da</strong><strong>do</strong> encaminhamentos<br />

específicos. Foi cria<strong>do</strong> um formulário avaliativo conten<strong>do</strong>: título <strong>do</strong> texto e autoria; breve<br />

descrição <strong>da</strong> pesquisa; análise; e parecer. Esse parecer determina se o texto analisa<strong>do</strong> segue ou<br />

não para a última fase.<br />

Nesta fase <strong>da</strong> pesquisa, atenção tem si<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> a aspectos como: reflexões conjuntas<br />

sobre como otimizar o tempo de leitura desse material (uma vez que são cerca de 800 artigos<br />

para serem analisa<strong>do</strong>s); preocupação com a pertinência <strong>do</strong>s pareceres; e associa<strong>do</strong> a isto,<br />

dificul<strong>da</strong>des em saber se o texto segue para a próxima fase ou não.<br />

No que se refere à categorização <strong>do</strong>s trabalhos, iniciamos com a análise de trinta<br />

textos, sen<strong>do</strong> dez de ca<strong>da</strong> associação. Tais análises foram feitas pelas <strong>do</strong>centes e apresenta<strong>da</strong>s<br />

como exemplo para que to<strong>do</strong>s pudessem ter uma ideia <strong>do</strong> passo a passo, e <strong>da</strong> confecção <strong>do</strong>s<br />

pareceres.<br />

Da<strong>da</strong> ser distinta a quanti<strong>da</strong>de de artigos seleciona<strong>do</strong>s em ca<strong>da</strong> associação, nessa fase<br />

a distribuição <strong>do</strong>s artigos está permitin<strong>do</strong> que ca<strong>da</strong> integrante perpasse pelas três associações.<br />

Nas reuniões semanais, estamos len<strong>do</strong> pareceres feitos pelos membros, e quan<strong>do</strong> necessário<br />

discutin<strong>do</strong> os aspectos pendentes. Além disso, os que suscitam dúvi<strong>da</strong>s são trazi<strong>do</strong>s para<br />

decisão conjunta. Isso tem possibilita<strong>do</strong> chegar a um ‘jeito’ próprio:<br />

O jeito como nós realizamos a leitura e pareceres, acabou ten<strong>do</strong> bastantes<br />

semelhanças entre nós quan<strong>do</strong> relatamos uns aos outros como havíamos<br />

feito nossos trabalhos durante a semana, o que também acabou aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

alguns que tiveram dificul<strong>da</strong>des em finalizar suas ativi<strong>da</strong>des. Esse exercício<br />

de análise está sen<strong>do</strong> muito caro para mim ao contribuir para meu<br />

desenvolvimento intelectual, pois tenho sempre que fun<strong>da</strong>mentar minha<br />

discordância ou aceitação <strong>do</strong> material analisa<strong>do</strong> e me sinto responsável<br />

pelos pareceres que realizo, além de nos aproximarmos mais<br />

qualitativamente <strong>do</strong> objetivo <strong>da</strong> pesquisa. (Caderno de campo).<br />

A relação entre tempo e mo<strong>do</strong>s de realização <strong>da</strong>s tarefas tem si<strong>do</strong> um aspecto<br />

bastante trabalha<strong>do</strong> atualmente. A fala de um <strong>do</strong>s integrantes ilustra essa preocupação:<br />

Um ponto que tem chama<strong>do</strong> atenção, na segun<strong>da</strong> etapa, tem si<strong>do</strong> a relação<br />

entre o tempo que ca<strong>da</strong> participante <strong>da</strong> pesquisa dispõe para esta e o<br />

volume de leitura, e a forma de fazer com que a empreita<strong>da</strong> seja viável e<br />

efetiva. Eu, por exemplo, tive dificul<strong>da</strong>des em cumprir as nossas metas de<br />

análises e pareceres. Queria ler to<strong>do</strong>s os artigos, na íntegra, com a mesma<br />

atenção, <strong>do</strong> início ao fim [mesmo aqueles que não foram seleciona<strong>do</strong>s para<br />

a fase posterior, mas cujo tema ou abor<strong>da</strong>gem teórico-meto<strong>do</strong>lógica eu<br />

tinha particular interesse]. (Caderno de campo)<br />

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Ao longo dessa jorna<strong>da</strong>, tem se percebi<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças no envolvimento <strong>do</strong>s<br />

participantes, seus questionamentos, e o fato de ca<strong>da</strong> um se encontrar em uma parte <strong>da</strong><br />

pesquisa.<br />

Merece ain<strong>da</strong> destaque nesse itinerário, a consciência de grupo que é exigi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong><br />

integrante, bem como o comprometimento com a forma de realizar a tarefa, remeten<strong>do</strong> ao que<br />

consideramos um grande aprendiza<strong>do</strong> sobre fazer pesquisa em grupo.<br />

Assim, essa prática de pesquisa em grupo tem provoca<strong>do</strong> reflexões e possibilita<strong>do</strong><br />

discussões acerca <strong>da</strong> práxis investigativa, representan<strong>do</strong> uma experiência importante para a<br />

formação acadêmica de seus membros.<br />

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Referências<br />

CERTEAU, Michel. A invenção <strong>do</strong> cotidiano. 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes,<br />

2000[1993].<br />

KRAEMER, Ru<strong>do</strong>lph. Dimensões e funções <strong>do</strong> conhecimento pe<strong>da</strong>gógico-musical. Em<br />

Pauta: Revista <strong>do</strong> PPG em Música <strong>da</strong> UFRGS, Porto Alegre, v.11, n.16/17, p. 50-73, abr/set,<br />

2000.<br />

PAIS, José Macha<strong>do</strong>. Vi<strong>da</strong> Cotidiana: enigmas e revelações. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

RIBAS, Maria Guiomar; ARALDI, Juciane. Produção em ciências sociais e humanas em<br />

interlocução com a educação musical: um estu<strong>do</strong> exploratório. In: ENCONTRO ANUAL DA<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 19., 2010, Goiânia. <strong>Anais</strong>...<br />

Goiânia: <strong>ABEM</strong>, 2010, p. 1914-1920.<br />

SOUZA, Jusamara. Contribuições teóricas e meto<strong>do</strong>lógicas <strong>da</strong> Sociologia para a pesquisa em<br />

Educação Musical. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 5., 1996, Londrina. <strong>Anais</strong>... Londrina: <strong>ABEM</strong>, 1996.<br />

_____ (Org.). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: PPGM-UFRGS, 2000.<br />

_____ (Org.). Aprender e ensinar música no cotidiano. 2ª edição. Porto Alegre: Sulina,<br />

2009[2008].<br />

SOUZA, Jusamara; BOZZETTO Adriana; SCHMELING, Agnes; LOURO, Ana Lúcia;<br />

GOMES, Celson; SILVA, Helena; ARALDI, Juciane; GONÇALVES, Lília; TEIXEIRA,<br />

Lúcia; KLEBER, Magali; CORRÊA, Marcos; TORRES, Maria Cecília; RIBAS, Maria<br />

Guiomar; SCHMITT, Marta; RAMOS, Sílvia; FIALHO, Vânia. Prática <strong>da</strong> pesquisa em<br />

grupo: um relato de experiência na área de educação musical. In: <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong><br />

Associação Brasileira de Educação Musical, 14., 2005, Belo Horizonte. <strong>Anais</strong>...Belo<br />

Horizonte: <strong>ABEM</strong>, 2005<br />

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Corpo, voz e ensino <strong>do</strong> canto: vivências corporais no canto coral<br />

Simone Santos Sousa<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

simsousa@ufc.br<br />

Resumo: Este projeto tem por objetivo investigar a relação corpo-voz tal como constituí<strong>da</strong> na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong>s regentes de coro ao preparar a voz de seus coralistas. Parte <strong>da</strong>s<br />

seguintes questões de pesquisa: a) Qual o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo no contexto <strong>da</strong> relação cantorcorpo-voz?<br />

b) Quais os maiores problemas ou dificul<strong>da</strong>des corporais de coralistas no processo<br />

de aprendizagem <strong>da</strong> voz canta<strong>da</strong>, quais seriam as suas causas, e como tentam resolver tais<br />

problemas? c) Que tipos de procedimentos os regentes, prepara<strong>do</strong>res vocais e corporais<br />

utilizam ao li<strong>da</strong>r com o corpo <strong>do</strong> cantor no processo ensino-aprendizagem? Para tal<br />

delimitamos nosso universo ao Coral <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará. Abor<strong>da</strong>mos a idéia<br />

de conhecimento musical pauta<strong>do</strong> na vivência corporal, e <strong>da</strong> estreita relação existente entre a<br />

ação corporal e o desenvolvimento de estruturas cognitivas presentes na proposta educacional<br />

de Jaques-Dalcroze. Optamos pela abor<strong>da</strong>gem qualitativa de natureza exploratória e<br />

descritiva, basea<strong>do</strong> na perspectiva etnográfica de pesquisa além <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso, para<br />

fun<strong>da</strong>mentar nosso estu<strong>do</strong>. A análise partirá de uma pesquisa de campo em que procederemos<br />

à coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, constituí<strong>do</strong>s de diários de campo construí<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s ensaios <strong>do</strong> coral e<br />

entrevistas com os regentes, prepara<strong>do</strong>res vocais e corporais e coralistas.<br />

Palavras-chave: Canto coral, corpo, voz.<br />

Introdução<br />

Iniciei minha formação musical como aluna no Curso de Piano <strong>do</strong> Conservatório de<br />

Música Alberto Nepomuceno (CMAN), em Fortaleza-CE. Entre outras ativi<strong>da</strong>des, cantava no<br />

Coral Infantil <strong>da</strong> instituição, que apresentava pequenos espetáculos em dezembro. Em um<br />

deles cantamos canções infantis como Sapo Cururu ou Carneirinho, Carneirão, que receberam<br />

letras alusivas às comemorações natalinas, e montamos um presépio vivo. Para mim a<br />

experiência de participar deste tipo de espetáculo com o coral infantil teve curta duração: em<br />

breve eu seria considera<strong>da</strong> adulta para o coral.<br />

Em 1994, assisti "Uma viagem a São Saruê", espetáculo com o Coral <strong>da</strong> Companhia<br />

de Água e Esgoto <strong>do</strong> Ceará (CAGECE). Em cena, música, teatro, figurinos, cenário,<br />

movimentação. A criativi<strong>da</strong>de e simplici<strong>da</strong>de <strong>do</strong> figurino, a expressão corporal <strong>do</strong> grupo bem<br />

ensaia<strong>do</strong>, a iluminação em perfeita sincronia com a idéia geral, as vozes, as músicas e os<br />

arranjos, produziram em mim magia e encantamento difíceis de descrever. Aquele coral tinha<br />

me mostra<strong>do</strong> algo inteiramente novo, que ain<strong>da</strong> não tinha ti<strong>do</strong> a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

experimentar.<br />

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Em 1995 ingressei na graduação em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />

(UECE) e comecei a cantar em corais independentes, que me levaram a novos caminhos.<br />

Descobri em cantar uma nova perspectiva, e dentro <strong>do</strong>s corais, uma nova maneira de fazer<br />

coro, a partir <strong>da</strong> idéia de juntar corpo e movimento ao ato de cantar. Comecei a reger e<br />

trabalhar como professora de técnica vocal ain<strong>da</strong> na graduação. Este trabalho direcionou<br />

minha escolha profissional, e tornei-me cantora e professora de canto.<br />

O trabalho com o canto suscitou o surgimento de questões relativas ao ensino <strong>da</strong> voz<br />

canta<strong>da</strong> e suas implicações com o corpo. Minha prática pe<strong>da</strong>gógica, a princípio totalmente<br />

volta<strong>da</strong> aos aspectos fisiológicos <strong>da</strong> voz, pouco levava em consideração vivências corporais.<br />

As dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s por meus alunos e por mim enquanto cantora, além <strong>do</strong> desejo,<br />

surgi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> que vivenciei como coralista, de montar espetáculos com proposta cênica<br />

nos corais que eu regia mostraram-me outro caminho: em 2003 ingressei na graduação em<br />

Artes Cênicas <strong>do</strong> IFCE (ain<strong>da</strong> CEFET-CE).<br />

As pesquisas de corpo realiza<strong>da</strong>s pelos artistas de teatro e <strong>da</strong>nça com os quais tive<br />

contato naquele curso levaram-me a trazer algumas experiências para os ensaios de coral e<br />

para a sala de aula. O estu<strong>do</strong> de trabalhos como as pesquisas de movimento de Ru<strong>do</strong>lf Laban<br />

e as experiências com o equilíbrio extra-cotidiano de Eugênio Barba embasaram, em minha<br />

prática como professora e regente, experiências bem pessoais e desenvolvi<strong>da</strong>s de mo<strong>do</strong><br />

espontâneo em sala de aula. Refletin<strong>do</strong> sobre esta prática, me deparei com questionamentos<br />

sobre possíveis dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s por outros professores. Como eles percebem e li<strong>da</strong>m<br />

com o corpo no processo de ensino <strong>do</strong> canto? Que procedimentos de inclusão <strong>do</strong> corpo<br />

utilizariam em sua rotina de trabalho? Como pensam a idéia de integração corpo-voz em suas<br />

aulas de canto? Como seus alunos percebem a relação entre corpo e voz em seu aprendiza<strong>do</strong>?<br />

Neste projeto proponho realizar uma pesquisa em torno <strong>da</strong> problemática <strong>do</strong> uso <strong>do</strong><br />

corpo na preparação vocal <strong>do</strong> cantor.<br />

Pensan<strong>do</strong> a voz no corpo<br />

Cantar, mais <strong>do</strong> que a emissão de sons melódicos, envolve em sua ação mais <strong>do</strong><br />

corpo <strong>do</strong> cantor <strong>do</strong> que ele tem consciência. Os princípios <strong>da</strong> técnica vocal dizem que um<br />

cantor deve desenvolver capaci<strong>da</strong>des como um coman<strong>do</strong> voluntário <strong>da</strong> respiração e um<br />

aproveitamento <strong>do</strong>s ressona<strong>do</strong>res naturais <strong>do</strong> corpo. No entanto, o excesso de informações, os<br />

coman<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s pelos professores para o trabalho com músculos ou para atingir<br />

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determina<strong>da</strong> postura podem gerar grande pressão sobre os alunos/cantores.<br />

Para isso ele deve abrir a garganta, direcionar o som para ali ou acolá<br />

(escolas diferentes dizem coisas diferentes), soltar a mandíbula, ter agili<strong>da</strong>de<br />

de dicção e mais fazer coisas específicas para vogais específicas e notas<br />

específicas. Claro que se você não é ain<strong>da</strong> um cantor capaz de fazer tu<strong>do</strong> isso<br />

vai achar que está diante de um mistério total. Tá legal, abrir a garganta, mas<br />

COMO ASSIM? Usan<strong>do</strong> algum tipo de aparelho? Usan<strong>do</strong> a força mental?<br />

Rezan<strong>do</strong>? Porque esperar que você faça isso por querer, na hora que quiser,<br />

ciente <strong>do</strong> que faz, parece de fato pedir demais a um ser humano<br />

(MESQUITA, 2000).<br />

O corpo, veículo utiliza<strong>do</strong> para a produção <strong>da</strong> voz, torna-se uma uni<strong>da</strong>de mental,<br />

física e emocionalmente na busca de um som vocal de quali<strong>da</strong>de, que alie conforto, técnica e<br />

interpretação durante o ato de cantar. No caminho traça<strong>do</strong> para alcançar essa quali<strong>da</strong>de<br />

sonora, muitos cantores (e professores de canto) preocupam-se exclusivamente com a técnica<br />

vocal, aqui entendi<strong>da</strong> como treinamento físico que li<strong>da</strong> especificamente com a emissão vocal<br />

e os órgãos <strong>do</strong> corpo diretamente liga<strong>do</strong>s a ela. Essa idéia de trabalho técnico pode se tornar<br />

um problema quan<strong>do</strong> o indivíduo não observa que a voz parte de um corpo que precisa ser<br />

vivencia<strong>do</strong> integralmente. Para Mathias (1986), o cantor precisa desenvolver um senso de<br />

consciência corporal, uma vez que o corpo (seu instrumento) não se resume ao local onde se<br />

localiza a laringe. Priorizar a fragmentação <strong>do</strong> aparelho fona<strong>do</strong>r produz uma visão equivoca<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> canto, que não leva em consideração as dimensões cognitiva, física e emocional <strong>do</strong> ser<br />

humano.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, uma proposta de ensino <strong>do</strong> canto deveria necessariamente enfocar um<br />

trabalho técnico que integrasse treinamento vocal e corporal. Para Coelho (1994), o processo<br />

de ensino-aprendizagem vocal deve estar desde o início vincula<strong>do</strong> à busca de uma postura que<br />

conscientizaria o cantor <strong>do</strong> próprio corpo, colocan<strong>do</strong>-o em posição natural e desenvolven<strong>do</strong><br />

equilíbrio e autocontrole. Rubim (2000) fala sobre a construção de um esquema corporal<br />

vocal e a integração mente-corpo no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> canto e Quinteiro (2000) enfatiza a<br />

importância de se aliar técnicas corporais e vocais na busca <strong>do</strong> equilíbrio <strong>da</strong> voz.<br />

No entanto, apesar <strong>do</strong> quase consenso sobre a necessi<strong>da</strong>de de integrar voz e corpo no<br />

ensino <strong>do</strong> canto, pouco se publicou sobre como acontece essa integração. A maioria <strong>do</strong>s livros<br />

publica<strong>do</strong>s em língua portuguesa sobre técnica vocal enfoca principalmente anatomofisiologia<br />

<strong>da</strong> voz, enfatizan<strong>do</strong> a laringe e o aparelho respiratório, sem levar em consideração a<br />

idéia <strong>do</strong> corpo sen<strong>do</strong> vivencia<strong>do</strong> integralmente nos exercícios propostos.<br />

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Coral e formação de cantores<br />

A partir de minha experiência pessoal, pude observar que o início <strong>do</strong> processo de<br />

aprendiza<strong>do</strong> e prática <strong>do</strong> canto, e em alguns casos, to<strong>do</strong> o processo de formação, acontece nos<br />

corais. Em Fortaleza, ci<strong>da</strong>de sem tradição forte no canto lírico, o canto coral é mais acessível<br />

para o aprimoramento vocal de quem deseja cantar. Na experiência como coralista o cantor<br />

tem um primeiro contato com a técnica vocal, o que pode levá-lo a buscar um maior<br />

aprofun<strong>da</strong>mento no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> voz e até a descobri-la como um projeto de vi<strong>da</strong> em potencial.<br />

Assim, o regente de coro, em geral responsável pela preparação vocal <strong>do</strong>s coralistas, torna-se<br />

um grande forma<strong>do</strong>r de cantores.<br />

É incomum que os professores de canto tratem o corpo como parte integrante <strong>do</strong><br />

objeto a ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong> no processo de ensino-aprendizagem <strong>do</strong> canto. No entanto, há um<br />

espaço no qual se faz necessário realizar um trabalho que alie preparação vocal e corporal: os<br />

corais que se propõem a montar espetáculos cênicos. Estes corais seriam um espaço onde,<br />

necessariamente, encontraremos o trabalho com voz e corpo com um mesmo objetivo.<br />

Estabeleci então algumas questões de pesquisa:<br />

1. Qual o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo no contexto <strong>da</strong> relação cantor-corpo-voz?<br />

2. Quais os problemas ou dificul<strong>da</strong>des corporais de cantores/coralistas no<br />

processo de aprendizagem <strong>da</strong> voz canta<strong>da</strong>, quais seriam suas causas, e como tentam resolver<br />

tais problemas?<br />

3. Que tipos de procedimentos os regentes, prepara<strong>do</strong>res vocais e corporais<br />

utilizam ao li<strong>da</strong>r com o corpo <strong>do</strong> cantor no processo ensino-aprendizagem?<br />

4. Como acontece (se acontece), a integração corpo-voz no processo de<br />

aprendizagem <strong>do</strong> canto para os cantores/coralistas?<br />

Para entendermos como se dá o processo de ensino <strong>do</strong> canto de uma forma integral<br />

(corpo-voz), tomaremos como população os integrantes <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong><br />

Ceará.<br />

O Coral <strong>da</strong> UFC<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Coral iniciam em 1963 com a criação <strong>do</strong> Madrigal <strong>do</strong> Ceará, grupo<br />

a princípio liga<strong>do</strong> ao CMAN que recebia verba <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de para funcionar. Este grupo<br />

teve importância fun<strong>da</strong>mental na criação <strong>do</strong> primeiro Curso Superior em Música de Fortaleza<br />

(SCHRADER, 2001).<br />

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2 OA N O S<br />

Em 1981, ao assumir a regência <strong>do</strong> grupo, Izaíra Silvino a<strong>do</strong>ta um repertório volta<strong>do</strong><br />

principalmente para o cancioneiro popular brasileiro, seguin<strong>do</strong> a direção <strong>do</strong> lema <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de, “chegar ao universal pelo regional”. A partir <strong>da</strong>í, o coral passa a ter duas<br />

características importantes para a nossa pesquisa. A primeira delas é a busca por uma<br />

sonori<strong>da</strong>de mais próxima <strong>do</strong> nordestino, distancian<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> modelo tradicional europeu.<br />

Sempre achei que aquela coloratura normalmente usa<strong>da</strong> nos corais<br />

desvirtuava o som de nossas vogais e fazia o cantor demorar a encontrar sua<br />

própria voz. Desejávamos um som <strong>da</strong> voz <strong>do</strong>s cantores de nossa música<br />

popular e que guar<strong>da</strong>sse o volume ideal e a saúde vocal de ca<strong>da</strong> coralista<br />

(SILVINO, 2007, p. 163).<br />

Para encontrar esse som brasileiro, a regente convi<strong>do</strong>u a professora Leilah Carvalho<br />

Costa para orientar vocalmente os cantores <strong>do</strong> coral. Falan<strong>do</strong> a respeito de sua experiência no<br />

grupo, a professora enfatiza a importância <strong>do</strong> corpo no processo de descoberta desta<br />

sonori<strong>da</strong>de particular.<br />

À medi<strong>da</strong> que o trabalho ia se desenvolven<strong>do</strong>, o coral começava a despontar<br />

para uma maneira mais natural de cantar, com a emissão mais apropria<strong>da</strong> ao<br />

tipo de música que a regente tinha como proposta. Enfatizamos também a<br />

importância <strong>do</strong> equilíbrio entre corpo e voz 1 . (...) A técnica de cantar para<br />

nós deve ser também a que permite treinar o corpo no senti<strong>do</strong> de permitir sua<br />

plena expressivi<strong>da</strong>de. Na <strong>da</strong>nça como no canto, o corpo deve participar em<br />

sua totali<strong>da</strong>de (COSTA, 1989, p. 26).<br />

Outro ponto importante <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC é o emprego de aspectos, além<br />

de musicais, cênicos. Seus recitais eram espetáculos musicais que aliavam à preparação vocal<br />

o trabalho corporal, pesquisa de repertório e confecção de figurinos.<br />

Quan<strong>do</strong> era espetáculo, este era monta<strong>do</strong> assim: a partir <strong>da</strong>s canções<br />

trabalha<strong>da</strong>s, escolhíamos um tema (...) que era o fio condutor de uma trilha<br />

cênica para o espetáculo. Após isso, ca<strong>da</strong> coralista criava-se como<br />

personagem, e, <strong>da</strong>í, surgia o figurino, que podia ser diferente de pessoa para<br />

pessoa (SILVINO, 2007, p. 169).<br />

Nos últimos anos o grupo permaneceu com a proposta de incluir pesquisa cênica em<br />

seus espetáculos exploran<strong>do</strong> a capaci<strong>da</strong>de expressiva de seus coralistas. Seu trabalho, além <strong>da</strong><br />

pesquisa sobre as possibili<strong>da</strong>des de expressão <strong>do</strong> cantor, envolve a formação de novos líderes<br />

de grupos corais. No site <strong>do</strong> grupo 2 podemos ter uma ideia de sua proposta:<br />

1 O grifo é meu.<br />

2 http://www.coral.ufc.br<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

O grupo estimula seus participantes a construírem juntos um espetáculo de<br />

canto coral que recorra a outras linguagens artísticas que podem ser<br />

alberga<strong>da</strong>s em um espaço teatral. No cotidiano de preparação deste<br />

espetáculo, discute-se a temática, o repertório, os cenários, os figurinos e os<br />

adereços, bem como se elabora interlocuções corporais e teatrais. O<br />

envolvimento intenso de to<strong>do</strong>s os participantes no processo de construção<br />

<strong>do</strong>s espetáculos configura o processo formativo-musical, meta principal <strong>da</strong><br />

opção pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> grupo.<br />

Objetivos<br />

Objetivo geral<br />

Investigar a relação corpo-voz no processo de ensino-aprendizagem <strong>do</strong> canto.<br />

Objetivos específicos<br />

Investigar a preocupação referente à utilização <strong>do</strong> corpo para a preparação vocal <strong>do</strong>s<br />

coralistas.<br />

Conhecer a percepção <strong>do</strong>s coralistas <strong>da</strong> relação corpo-voz em seu aprendiza<strong>do</strong>.<br />

Identificar e descrever procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos que incluam vivência corporal<br />

integra<strong>da</strong> à voz no ensino/aprendizagem <strong>do</strong> canto, a partir <strong>da</strong> experiência de regentes e<br />

coralistas nos ensaios <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC.<br />

Quadro teórico<br />

Corpo e ensino musical<br />

A partir <strong>do</strong> século XX, surgem educa<strong>do</strong>res musicais que criaram meto<strong>do</strong>logias de<br />

ensino musical que buscavam um conhecimento musical pauta<strong>do</strong> na prática e na vivência<br />

corporal. Ao utilizar o corpo para sensibilizar o aluno a apreender conceitos teórico-musicais,<br />

eles tomaram consciência <strong>da</strong> relação entre ação corporal e aprendiza<strong>do</strong>, e <strong>do</strong> quanto de<br />

emocional estava agrega<strong>do</strong> ao movimento corporal. (LIMA; RÜGER, 2007). Destacamos<br />

aqui o educa<strong>do</strong>r Jaques-Dalcroze.<br />

Émile Jaques-Dalcroze desenvolveu suas primeiras idéias a respeito de educação<br />

musical ao tornar-se professor no Conservatório de Genebra. Em suas primeiras lições ele<br />

percebeu a deficiência na capaci<strong>da</strong>de auditiva e rítmica de seus alunos, que compreendiam<br />

unicamente os aspectos teóricos <strong>da</strong> experiência musical. A partir desta observação, Dalcroze<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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cria uma nova prática de ensino musical. Em sua proposta, a educação musical deveria partir<br />

<strong>da</strong> audição, entendi<strong>da</strong> como escuta consciente, na qual haveria a participação de to<strong>do</strong> o corpo.<br />

Para ele, os sons são percebi<strong>do</strong>s por outras partes <strong>do</strong> organismo humano além <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>, e o<br />

movimento corporal tem a dupla função de manifestar externamente os elementos sonoromusicais<br />

senti<strong>do</strong>s e pensa<strong>do</strong>s internamente e de ampliar e aperfeiçoar essa consciência<br />

musical, a partir <strong>da</strong> sensação muscular (SANTOS, 2001). Parte então <strong>do</strong> movimento corporal<br />

e <strong>da</strong> exploração <strong>do</strong> espaço para a apreensão de conceitos musicais.<br />

Ponho-me a sonhar com uma educação musical na qual o próprio corpo<br />

desempenharia o papel de intermediário entre os sons e o pensamento e<br />

tornar-se-ia o instrumento direto de nossos sentimentos - em que as<br />

sensações <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong> se tornariam mais fortes, graças àquelas provoca<strong>da</strong>s<br />

pelas múltiplas matérias suscetíveis de vibrar e ressoar em nós: a respiração<br />

dividin<strong>do</strong> os ritmos <strong>da</strong>s frases e as dinâmicas musculares traduzin<strong>do</strong> as<br />

dinâmicas que ditam as emoções musicais. Assim, na escola, a criança não<br />

só aprenderia a cantar e a escutar com precisão e no compasso, mas<br />

aprenderia também a mover-se e a pensar de mo<strong>do</strong> preciso e ritmicamente<br />

(JACQUES-DALCROZE, 2010, p. 223).<br />

Para Dalcroze, a consciência rítmica (base <strong>do</strong> conhecimento musical) é alcança<strong>da</strong><br />

através <strong>do</strong> movimento. Seu méto<strong>do</strong> pressupõe uma interação <strong>do</strong> aluno que, a partir <strong>da</strong>s<br />

reações às propostas de movimento, vai construin<strong>do</strong>, com seu corpo, um conhecimento<br />

musical pauta<strong>do</strong> em suas descobertas pessoais.<br />

Significa<strong>do</strong>s de corpo<br />

Pederiva (2005), tratan<strong>do</strong> a respeito <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> professor de instrumento, sugere<br />

uma reflexão sobre a construção e vivência <strong>do</strong> corpo na formação <strong>do</strong> músico que viabilize a<br />

compreensão <strong>do</strong> corpo e suas dimensões física, emocional e mental. Nesse senti<strong>do</strong>, propõe<br />

diversos significa<strong>do</strong>s ou metáforas de corpo, no contexto <strong>da</strong> relação músico-corpoinstrumento,<br />

referin<strong>do</strong>-se à percepção sobre o corpo na formação <strong>do</strong> intérprete musical:<br />

Desse mo<strong>do</strong>, as metáforas <strong>do</strong> corpo (...) – corpo-instrumento, corpo-mente,<br />

corpo-base, corpo-organismo, corpo-sujeito, corpo-emoção, cultura e objeto,<br />

revelam, ca<strong>da</strong> qual, mo<strong>do</strong>s de pensar e viver o corpo no mun<strong>do</strong>, bem como<br />

referenciais conceituais aos quais estão liga<strong>do</strong>s. Representam diversos<br />

"esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpo" no contexto ensino-aprendizagem de instrumentos<br />

(PEDERIVA, 2005, p. 97).<br />

Para a autora, estas metáforas revelam o mo<strong>do</strong> de conceber o corpo para professores,<br />

e sua influência em seu procedimento pe<strong>da</strong>gógico. Para esta pesquisa destacamos as seguintes<br />

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metáforas, que dizem respeito diretamente ao estu<strong>do</strong> proposto: corpo-base, que traz a<br />

concepção <strong>do</strong> corpo que é considera<strong>do</strong> parte importante no processo de aprendizagem<br />

(significa o reconhecimento de um corpo ti<strong>do</strong> como alicerce <strong>do</strong> trabalho pe<strong>da</strong>gógico); corposujeito,<br />

aquele reconheci<strong>do</strong> como individuali<strong>da</strong>de, no qual a subjetivi<strong>da</strong>de é parte integrante<br />

<strong>do</strong> processo de aprendizagem; e corpo-emoção, no qual se reconhece que as emoções<br />

participam <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> musical.<br />

Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

A pesquisa qualitativa busca uma compreensão particular <strong>da</strong>quilo que estu<strong>da</strong> sem se<br />

preocupar com generalização, princípios e leis, pois o objetivo é o específico, o peculiar.<br />

Busca sempre a compreensão e não a explicação <strong>do</strong>s fenômenos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s. Para Minayo<br />

(1994), a abor<strong>da</strong>gem qualitativa trabalha com o universo de significa<strong>do</strong>s, valores e atitudes<br />

que dizem respeito a um espaço mais profun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s relações, <strong>do</strong>s processos e <strong>do</strong>s fenômenos<br />

que não podem ser quantifica<strong>do</strong>s. Sen<strong>do</strong> de natureza simultaneamente teórica e prática, parte<br />

<strong>da</strong>s experiências e observações <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, cujas descrições são analisa<strong>da</strong>s e interpreta<strong>da</strong>s<br />

para desven<strong>da</strong>r o fenômeno. Assim, o trabalho de campo torna-se característica básica.<br />

Este trabalho também apresenta características <strong>da</strong> pesquisa etnográfica, tais como<br />

contato direto <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r com a situação estu<strong>da</strong><strong>da</strong> e obtenção de grande quanti<strong>da</strong>de de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s descritivos. A pesquisa etnográfica compreende o estu<strong>do</strong>, pela observação direta e por<br />

um perío<strong>do</strong> de tempo, <strong>da</strong>s formas costumeiras de viver de um grupo particular de pessoas,<br />

uma uni<strong>da</strong>de social representativa para estu<strong>do</strong>, forma<strong>da</strong> por poucos ou muitos elementos. O<br />

objetivo é <strong>do</strong>cumentar, monitorar, encontrar o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> ação (ANDRÉ, 1997).<br />

Também podemos notar semelhanças no trabalho aqui realiza<strong>do</strong> com o estu<strong>do</strong> de<br />

caso, no que essa meto<strong>do</strong>logia tem de específica, ou seja, o estu<strong>do</strong> de um grupo particular,<br />

cujo processo dentro <strong>do</strong> contexto estu<strong>da</strong><strong>do</strong> é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de um valor intrínseco e representativo de<br />

uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação, com o objetivo de estabelecer posteriores generalizações sobre a<br />

população a que essa uni<strong>da</strong>de pertence. A preocupação central é a compreensão de uma<br />

reali<strong>da</strong>de singular, tratan<strong>do</strong>-se o objeto estu<strong>da</strong><strong>do</strong> como único. Dessa forma, torna-se<br />

desnecessário ser o caso representativo de uma população determina<strong>da</strong>, já que é trata<strong>do</strong> como<br />

ten<strong>do</strong> valor intrínseco (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p. 17).<br />

Optei então pela abor<strong>da</strong>gem qualitativa de natureza exploratória e descritiva.<br />

Investigaremos as significações relaciona<strong>da</strong>s à questão corpo-voz acompanhan<strong>do</strong> os ensaios<br />

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<strong>do</strong> coral <strong>da</strong> UFC. Para conhecer a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> envolvi<strong>do</strong>s, será utiliza<strong>da</strong> como instrumento de<br />

coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s a entrevista individual, por se entender que este instrumento pode aju<strong>da</strong>r a<br />

acessar significa<strong>do</strong>s subjetivos e conteú<strong>do</strong>s tais como: opiniões sobre fatos, sentimentos,<br />

planos de ação, condutas atuais ou <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e motivos conscientes para opiniões e<br />

sentimentos; atitudes, valores e opiniões que só são acessa<strong>do</strong>s com a contribuição <strong>do</strong>s atores<br />

sociais envolvi<strong>do</strong>s, sujeitos interativos, motiva<strong>do</strong>s e intencionais (PEDERIVA, 2005).<br />

Utilizarei ain<strong>da</strong> os recursos <strong>da</strong> observação direta de ensaios e apresentações <strong>do</strong> grupo. Estes<br />

recursos meto<strong>do</strong>lógicos serão úteis para avaliar os aspectos de elaboração <strong>do</strong> movimento<br />

corporal e sua relação com a voz.<br />

Posteriormente procederemos à análise <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s. A análise<br />

de conteú<strong>do</strong> consiste numa técnica usa<strong>da</strong> para ler, descrever e interpretar o conteú<strong>do</strong> de<br />

<strong>do</strong>cumentos e textos. Este tipo de análise é usa<strong>do</strong> para aju<strong>da</strong>r a interpretar as mensagens e a<br />

atingir uma compreensão de seus significa<strong>do</strong>s num nível que vai além de uma leitura comum.<br />

A análise de conteú<strong>do</strong>, em sua vertente qualitativa, parte de uma série de<br />

pressupostos, os quais, no exame de um texto, servem de suporte para captar<br />

seu senti<strong>do</strong> simbólico. Este senti<strong>do</strong> nem sempre é manifesto e o seu<br />

significa<strong>do</strong> não é único. Poderá ser enfoca<strong>do</strong> em função de diferentes<br />

perspectivas (MORAES, 1999, p. 9).<br />

dissertação.<br />

Por fim procederemos à sistematização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s para efeito de elaboração <strong>da</strong><br />

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Referências<br />

ANDRÉ, M. E. D. A. A pesquisa no cotidiano escolar. In: FAZENDA, Ivani (org.)<br />

Meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> pesquisa educacional. São Paulo: Cortez Editora, 1997.<br />

COELHO, H. S. N. W. Técnica vocal para coros. São Leopol<strong>do</strong>: Editora Sino<strong>da</strong>l, 1994.<br />

COSTA, L. C. Treinamento <strong>da</strong> voz <strong>do</strong> cantor popular. Monografia de especialização.<br />

Fortaleza: Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará, 1989.<br />

JAQUES-DALCROZE, É. Os estu<strong>do</strong>s musicais e a educação <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>. ProPosições,<br />

Campinas, vol.21, n.1, p. 219-224, 2010.<br />

LIMA, S. A.; RÜGER, A. C. L. O trabalho corporal nos processos de sensibilização musical.<br />

Opus, Goiânia, v. 13, n. 1, p. 97-118, jun. 2007.<br />

LÜDKE, M. & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abor<strong>da</strong>gens qualitativas. São<br />

Paulo: Editora Pe<strong>da</strong>gógica e Universitária Lt<strong>da</strong>., 1986<br />

MATHIAS, N. Coral: um canto apaixonante. Brasília: Musimed, 1986.<br />

MESQUITA, S. Sorvete na testa ou como escolher seu professor de canto. Suleymesquita,<br />

2000. Disponível em: . Acesso em: 20 mai. 2009.<br />

MINAYO, M.C.S. (Org.) Pesquisa social: teoria, méto<strong>do</strong> e criativi<strong>da</strong>de. Petrópolis: Vozes,<br />

1994.<br />

MORAES, Roque. Análise de conteú<strong>do</strong>. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-<br />

32, 1999.<br />

PEDERIVA, P. O corpo no processo ensino-aprendizagem de instrumentos musicais:<br />

percepção de professores. Dissertação de mestra<strong>do</strong>. Brasília, Universi<strong>da</strong>de Católica de<br />

Brasília, 2005.<br />

QUINTEIRO, E. Manual de terapia corporal como base <strong>da</strong> estética <strong>da</strong> voz e fala.<br />

Carapicuíba: Pró-Fono, 2000.<br />

RUBIM, M. Controle cerebral no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> canto. In: Cadernos <strong>do</strong> Colóquio. Rio de<br />

Janeiro: Programa de Pós-graduação em Música <strong>do</strong> CLA <strong>da</strong> UNIRIO, 2000.<br />

SANTOS, R. M. S. Jaques-Dalcroze, avalia<strong>do</strong>r <strong>da</strong> instituição escolar: em que se pode<br />

reconhecer Dalcroze um século depois? Revista Debates, Rio de Janeiro, Programa de Pós-<br />

Graduação em Música, UNIRIO, n.4, p. 07-48, 2001.<br />

SCHRADER, E. O canto coral na ci<strong>da</strong>de de Fortaleza, 1950 – 1999: cinqüenta anos na<br />

perspectiva <strong>do</strong>s regentes. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>. Fortaleza: Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Bahia/Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará, 2001.<br />

SILVINO, I. ...ah, se eu tivesse asas... Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Lt<strong>da</strong>., 2007.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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Curso técnico integra<strong>do</strong> em instrumento musical - guitarra: o primeiro<br />

semestre de um professor<br />

Marcos <strong>da</strong> Rosa Garcia<br />

Instituto Federal de Ciência e Tecnologia <strong>da</strong> Paraíba<br />

marcosrosa2408@yahoo.com<br />

Resumo: Este artigo é um relato de experiência <strong>do</strong> ensino de instrumento musical no Instituto<br />

Federal de Ciência e Tecnologia <strong>da</strong> Paraíba (IFPB), ten<strong>do</strong> por base ações pe<strong>da</strong>gógicas e<br />

reflexivas que fizeram parte de minha vivência como professor durante os primeiros meses de<br />

contratação, ministran<strong>do</strong> a disciplina Instrumento Musical – guitarra em um curso técnico<br />

integra<strong>do</strong> de música (ETIM). Para a produção deste trabalho, realizei uma pesquisa<br />

bibliográfica na área de educação musical, contextualizan<strong>do</strong> o ensino de instrumento junto às<br />

perspectivas contemporâneas desta área, ten<strong>do</strong> como foco os cursos técnicos de música. O<br />

texto objetiva relatar como as práticas realiza<strong>da</strong>s se articularam e construíram saberes<br />

pe<strong>da</strong>gógicos no decurso de minhas experiências prático-reflexivas, além de apresentar<br />

exemplos de exercícios realiza<strong>do</strong>s em sala de aula e os conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> disciplina ministra<strong>da</strong>.<br />

Palavras-chave: guitarra, curso técnico integra<strong>do</strong>, ensino de instrumento.<br />

É possível observar um aumento na quanti<strong>da</strong>de de cursos de música em instituições<br />

federais nos últimos anos. Mais especificamente, cursos com enfoque na instrumentalização e<br />

certificação de instrumentistas e regentes populares que, em sua prática diária, já li<strong>da</strong>m<br />

habitualmente com problemas e contextos diversos <strong>da</strong> profissão musical, mesmo que não<br />

possuam titulação ou conhecimento específico, por vezes necessário.<br />

Este artigo visa fazer um relato de experiência a partir de meu primeiro semestre<br />

enquanto professor <strong>da</strong> disciplina Instrumento Musical no Instituto Federal de Ciências e<br />

Educação <strong>da</strong> Paraíba (IFPB) – Campus João Pessoa, na qual seja possível expor e refletir<br />

sobre a prática de ensino e aprendizagem <strong>do</strong> instrumento guitarra em um curso Técnico<br />

Integra<strong>do</strong> de Música (ETIM). Em alguns momentos, foram feitas referências a aulas e alunos<br />

de violão com o intuito de enriquecer o relato, uma vez que também ministro aulas deste<br />

instrumento.<br />

Para a elaboração <strong>do</strong> texto, utilizo uma bibliografia específica sobre educação<br />

musical na atuali<strong>da</strong>de e suas implicações para os cursos técnicos de música, meus planos de<br />

aula e de curso e trabalhos referentes à implementação <strong>do</strong>s cursos técnicos, assim como a<br />

ementa <strong>da</strong> disciplina de instrumento. Ain<strong>da</strong> faço uso <strong>da</strong> transcrição de exercícios propostos e<br />

cito o repertório de músicas abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s durantes as aulas.<br />

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2 OA N O S<br />

Escolas especializa<strong>da</strong>s em ensino de música e a atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r<br />

Refletin<strong>do</strong> sobre as categorias técnicas formais, orienta<strong>da</strong>s pela LDB, onde já se<br />

pode verificar a distinção entre os níveis básico, técnico e tecnológico, e sobre contextos não<br />

formais como os conservatórios e cursos livres de música, é possível perceber o quão díspar<br />

pode ser a educação musical especializa<strong>da</strong>.<br />

Os cursos técnicos objetivam a formação de mão de obra especializa<strong>da</strong> na área com o<br />

intuito de “produzir um capital humano a serviço <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho” (LIMA, 2000, p.<br />

40). Logo, reflete-se que os cursos técnicos em música devem buscar uma atualização<br />

constante de seus currículos, <strong>do</strong>s repertórios e meto<strong>do</strong>logias utiliza<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong><br />

disponibili<strong>da</strong>de de instrumentos, objetivan<strong>do</strong> atender a deman<strong>da</strong> social. O velho modelo <strong>do</strong><br />

conservatório, que visava à formação unicamente de solistas e instrumentistas para orquestras<br />

e que acreditava na predisposição <strong>do</strong>s talentosos não supre as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

musical na atuali<strong>da</strong>de, quan<strong>do</strong> exigi-se <strong>do</strong>s músicos: trabalho em estúdios de gravação,<br />

repertório varia<strong>do</strong>, arranjos, produção musical e artística, manipulação de técnicas e aparelhos<br />

eletrônicos diversos, <strong>da</strong>r aulas, somente para citar algumas possibili<strong>da</strong>des.<br />

Reconhecemos, assim, a importância <strong>da</strong> prática de ensino/aprendizagem de música<br />

em cursos específicos, não sen<strong>do</strong>, no entanto, a única forma de qualificação profissional<br />

especializa<strong>da</strong>, mas, sim, uma oportuni<strong>da</strong>de de deman<strong>da</strong> para a prática musical consistente,<br />

desde que em harmonia com a prática musical diversifica<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo. “O<br />

mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> artista tem indica<strong>do</strong> que, atualmente, não é mais suficiente a mera<br />

preparação técnica. É preciso preparar o músico para gerir sua carreira, sensibilizan<strong>do</strong>-o<br />

quanto aos ambientes em que vai atuar e as diferentes interfaces dessa atuação”<br />

(NASCIMENTO, 2003, p. 74).<br />

To<strong>da</strong>via, observamos que as pesquisas <strong>do</strong>s autores <strong>da</strong> área ressaltam que os cursos<br />

profissionalizantes e específicos de formação em música continuam a priorizar a formação de<br />

instrumentistas, fato decorrente <strong>da</strong> própria formação <strong>do</strong>s professores que ministram aulas<br />

nesses contextos. Ain<strong>da</strong> existe uma desinformação ou desvinculação <strong>do</strong>s valores individuais<br />

<strong>do</strong>s professores atuantes nesses cursos e <strong>da</strong> estrutura pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>s instituições que os<br />

empregam, “um descompasso entre os objetivos <strong>da</strong> direção e <strong>do</strong>s professores em relação ao<br />

direcionamento <strong>do</strong> ensino de música, à filosofia de ensino” (CUNHA, 2009, p. 3). Tais fatos<br />

poderão ser observa<strong>do</strong>s neste relato.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Sobre o curso<br />

Logo que contrata<strong>do</strong> pelo IFPB como professor substituto e loca<strong>do</strong> no Núcleo de<br />

Artes, Cultura e Eventos (NACE) no final <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> bimestre de 2010, entre os meses de<br />

junho e julho, fui chama<strong>do</strong> pelos coordena<strong>do</strong>res de música e requisita<strong>do</strong> a assumir e elaborar<br />

a ementa <strong>da</strong> disciplina Instrumento Musical – guitarra e violão. Isso, de início, me<br />

surpreendeu, visto que já existia uma turma matricula<strong>da</strong> no segun<strong>do</strong> ano <strong>do</strong> curso,<br />

consequentemente, deveria existir algum tipo de ementa comum a essa disciplina exposta no<br />

tronco de disciplinas <strong>do</strong> curso. Porém, observei que existia (e existe) uma ementa <strong>da</strong><br />

disciplina Instrumento Musical, que permitia o funcionamento <strong>do</strong> curso, mas essa era genérica<br />

e váli<strong>da</strong> para instrumentos distintos como violino, sax, baixo, sanfona, tecla<strong>do</strong>, violão,<br />

guitarra, to<strong>do</strong>s orienta<strong>do</strong>s pela mesma ementa e ten<strong>do</strong> o mesmo diário de classe/turma.<br />

Para a elaboração <strong>da</strong> ementa, foi preciso consultar os textos elabora<strong>do</strong>s pelo instituto<br />

e que dizem respeito ao “perfil <strong>da</strong> formação integra<strong>da</strong>”, onde lemos que o mesmo<br />

[...] foi defini<strong>do</strong> pela identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação integra<strong>da</strong>, consideran<strong>do</strong> o nível<br />

de autonomia e responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> técnico a ser forma<strong>do</strong>, os ambientes de<br />

atuação, os relacionamentos necessários, os riscos a que estará sujeito e a<br />

necessi<strong>da</strong>de de continuar aprenden<strong>do</strong> e se atualizan<strong>do</strong> (IFPB, 2008, p.17).<br />

E continua, ain<strong>da</strong> sobre características nortea<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s alunos:<br />

Profissional habilita<strong>do</strong> com bases científicas, tecnológicas e humanísticas<br />

para o exercício <strong>da</strong> profissão numa perspectiva critica, pró-ativa, ética e<br />

global, consideran<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, a contextualização sócio-políticoeconômica<br />

e o desenvolvimento sustentável, agregan<strong>do</strong> valores artísticoculturais<br />

(IFPB, 2008, p.17).<br />

Também foi leva<strong>do</strong> em consideração o perfil profissional de conclusão, onde “a<br />

produção artístico-musical caracteriza-se pela aquisição e interpretação como também pela<br />

preservação e utilização <strong>da</strong> linguagem musical” (IFPB, 2008, p.18). Além disso, fica explícito<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes forma<strong>do</strong>s devem compreender ativi<strong>da</strong>des de criação, desenvolvimento,<br />

produção e difusão <strong>da</strong> linguagem musical. Portanto, foi necessária a elaboração <strong>do</strong> plano de<br />

curso específico, segui<strong>do</strong> <strong>da</strong> ementa 1 <strong>do</strong> instrumento guitarra, também elabora<strong>da</strong> por mim,<br />

como consta a seguir:<br />

1 As ementas utiliza<strong>da</strong>s fazem referência ao primeiro e segun<strong>do</strong> anos <strong>do</strong> ensino médio <strong>do</strong> curso ETIM e<br />

elabora<strong>da</strong>s e segui<strong>da</strong>s por este professor relator. É preciso reforçar que o plano <strong>do</strong> curso de guitarra e a ementa<br />

por mim elabora<strong>da</strong> não fazem parte <strong>do</strong> Projeto Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso Técnico em Música desta instituição. Eles<br />

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Ementa Guitarra: A prática <strong>da</strong> guitarra enfocan<strong>do</strong> aspectos técnicos e musicais a<br />

partir de concepções coletivas e individuais <strong>do</strong> ensino e aprendizagem instrumental.<br />

Formatação de repertório para conclusão <strong>do</strong> curso e apresentação pública focan<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong><br />

e o desenvolvimento sócio-cultural <strong>do</strong> homem. Manutenção e conservação <strong>do</strong> instrumento.<br />

Acredito que seja necessário não confundir os cursos de música ofereci<strong>do</strong>s pelo<br />

IFPB, visto que além <strong>do</strong> curso integra<strong>do</strong> – objeto deste relato – existem os cursos de<br />

Extensão, Subseqüentes e o Certifique, ca<strong>da</strong> qual com público e objetivos diferencia<strong>do</strong>s e<br />

específicos, apesar de usufruírem, praticamente, <strong>do</strong> mesmo colegia<strong>do</strong> e estrutura física onde<br />

ocorrem as aulas.<br />

Os cursos de nível médio integra<strong>do</strong> oferta<strong>do</strong>s pelos Institutos Federais possuem um<br />

diferencial em relação a outras escolas normais, pois em acréscimo às disciplinas técnicas<br />

integra<strong>da</strong>s, os alunos devem estu<strong>da</strong>r na instituição durante quatro anos e não três, como é o<br />

comum, para que possam receber o diploma de conclusão <strong>do</strong> nível médio. Sen<strong>do</strong> que, durante<br />

os três primeiros anos, o aluno deve cursar três disciplinas específicas de música como, por<br />

exemplo, Instrumento Musical I, II e III, paralelamente às disciplinas de português,<br />

matemática, história, geografia, etc. Somente no quarto ano, opta-se por um currículo quase<br />

que exclusivamente composto por disciplinas relaciona<strong>da</strong>s à área técnica escolhi<strong>da</strong>.<br />

Na prática<br />

Para os alunos <strong>do</strong> curso ETIM, não existe nenhum tipo de avaliação específica de<br />

música, ou seja, não existem provas de seleção, logo, to<strong>do</strong>s os alunos interessa<strong>do</strong>s na<br />

habilitação música, dentre outras tantas ofereci<strong>da</strong>s pela instituição, são orienta<strong>do</strong>s a<br />

escolherem um instrumento musical de sua preferência e são aceitos pelo programa.<br />

Tampouco existe um número de vagas por instrumento e, devi<strong>do</strong> a isso, logo que iniciei as<br />

aulas, fui recebi<strong>do</strong> por 20 alunos de violão e 7 alunos interessa<strong>do</strong>s em guitarra, totalizan<strong>do</strong> 27<br />

alunos <strong>do</strong> primeiro e segun<strong>do</strong> anos <strong>do</strong> ensino médio.<br />

Para um melhor rendimento <strong>da</strong>s aulas, decidi que, durante a primeira semana de<br />

aulas, marcaria uma reunião com to<strong>do</strong>s os alunos de guitarra e violão. Feito isso, eu me<br />

apresentei como novo professor, trocamos experiências musicais e toquei algumas músicas de<br />

meu repertório em ambos os instrumentos. Em segui<strong>da</strong>, pedi para que ca<strong>da</strong> aluno preenchesse<br />

uma ficha de inscrição/interesses, deixan<strong>do</strong> claro quais suas intenções para com as aulas de<br />

foram elabora<strong>do</strong>s apenas para melhor orientar minha prática e a de outros futuros professores de guitarra <strong>do</strong><br />

curso.<br />

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instrumento e comentan<strong>do</strong> sobre experiências ou trabalhos com música. Desse mo<strong>do</strong>, eu<br />

poderia saber quem já tocava e há quantos anos, se já havia ti<strong>do</strong> algum tipo de aula de música<br />

e, por último, se era aluno <strong>do</strong> 1º ou 2º ano <strong>do</strong> ETIM.<br />

Esse momento inicial, juntamente com as repostas <strong>do</strong>s alunos ao questionário<br />

aplica<strong>do</strong>, foi de grande importância visto que o coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> curso havia me orienta<strong>do</strong> a<br />

agrupar os alunos consideran<strong>do</strong> o seu nível musical e não o seu grau escolar, ou seja,<br />

poderiam ser forma<strong>da</strong>s turmas com alunos de 1º e 2º anos ao mesmo tempo, desde que com as<br />

mesmas habili<strong>da</strong>des/conhecimentos instrumentais. Porém, foi meu objetivo, o qual consegui<br />

atingir, não misturar alunos de anos letivos diferentes, uma vez que acreditava que, assim,<br />

haveria um desenvolvimento melhor, poden<strong>do</strong> cobrar <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de maneira mais<br />

homogenia, consideran<strong>do</strong> sua i<strong>da</strong>de e carga horária dentro <strong>do</strong> programa.<br />

Basea<strong>do</strong> em minha prática anterior como professor em outras escolas, acreditei que<br />

as aulas coletivas de instrumento poderiam propiciar o desenvolvimento de outros saberes e<br />

habili<strong>da</strong>des para além <strong>da</strong>quelas <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s programáticos. Na prática <strong>da</strong>s aulas coletivas,<br />

existe uma maior troca de informações, especialmente quan<strong>do</strong> essa meto<strong>do</strong>logia é aplica<strong>da</strong> a<br />

alunos iniciantes, como destacam Moura e Cruvinel em seu estu<strong>do</strong> com alunos de violão:<br />

[...] o ensino coletivo de violão torna-se uma meto<strong>do</strong>logia eficiente na<br />

democratização <strong>do</strong> acesso ao ensino musical na fase de iniciação<br />

instrumental, onde o compartilhar <strong>do</strong> conhecimento contribui de maneira<br />

contundente para o melhor desenvolvimento técnico-musical de ca<strong>da</strong> aluno<br />

envolvi<strong>do</strong> (2006, p.62).<br />

De mo<strong>do</strong> geral, na prática em grupo se <strong>da</strong>va a execução de exercícios e repertório<br />

coletivamente, a exemplo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de na qual era preciso executar uma seqüência préestabeleci<strong>da</strong><br />

de quatro acordes e a turma era dividi<strong>da</strong> por acordes, ou seja, ca<strong>da</strong> aluno toca um<br />

acorde dentro de um compasso. Assim como na brincadeira de ro<strong>da</strong> “batata quente”, a ca<strong>da</strong><br />

compasso mu<strong>da</strong>-se o acorde e o aluno, passan<strong>do</strong> a vez ao próximo.<br />

Em outra ativi<strong>da</strong>de, ca<strong>da</strong> aluno ficava responsável por tocar um única nota forma<strong>do</strong>ra<br />

de um acorde escolhi<strong>do</strong> pelo professor, assim, quan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> nota fosse toca<strong>da</strong> ao mesmo<br />

tempo por to<strong>do</strong>s os alunos, teríamos a execução de um acorde específico. Alteran<strong>do</strong> notas, era<br />

possível fazer com que os alunos reconhecessem, através <strong>do</strong> som, acordes maiores e menores<br />

e suas características forma<strong>do</strong>ras sem que fossem necessárias extensas explicações sobre<br />

harmonia ou formação de tríades.<br />

Como último exemplo a ser destaca<strong>do</strong> neste artigo, exponho exercícios relaciona<strong>do</strong>s<br />

à improvisação e composição. Quan<strong>do</strong> os alunos aprenderam escalas maiores e menores,<br />

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foram escolhi<strong>da</strong>s músicas de seu repertório, às quais fosse possível adicionar melodias tonais<br />

a partir <strong>da</strong> escolha de notas forma<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> escala maior e menor. O grupo escolhia o trecho<br />

onde seria cria<strong>do</strong> um solo melódico e, em segui<strong>da</strong>, um aluno executava os acordes de forma<br />

rítmica - bati<strong>da</strong>s, outro aluno criava e tocava uma linha mais grave (baixos) e outro aluno<br />

improvisava sobre a harmonia proposta. Caso fosse quatro o número de alunos, esse último<br />

dedilhava (arpejava) os acordes, de preferência em uma diferente região <strong>da</strong>quela em que o<br />

outro aluno tocava as bati<strong>da</strong> rítmicas.<br />

As aulas de guitarra<br />

Para as aulas <strong>do</strong> instrumento guitarra, foram monta<strong>da</strong>s três turmas (duas para os<br />

alunos <strong>do</strong> 1º ano e outra para os alunos <strong>do</strong> 2º ano <strong>do</strong> ETIM). Foi possível aproveitar e juntar<br />

os alunos de um mesmo ano no mesmo horário, apesar <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas <strong>do</strong>s alunos<br />

serem heterogenias em uma mesma turma, especialmente com o grupo de alunos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

ano. Tais diferenças foram aproveita<strong>da</strong>s em sala de aula, provocan<strong>do</strong> certo nível de<br />

competição e de orientação aluno-aluno, possibilitan<strong>do</strong> um aprendiza<strong>do</strong> respeitoso entre os<br />

estu<strong>da</strong>ntes. Ain<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> grupo de alunos tinha um encontro semanal com duração de uma<br />

hora.<br />

Diferentemente <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que buscaram aulas de violão, to<strong>do</strong>s os alunos de<br />

guitarra já tinham alguma experiência com o instrumento, especialmente experiências de<br />

aprendiza<strong>do</strong> em cursos livres, ministra<strong>do</strong>s por instituições religiosas, ou aulas particulares,<br />

sen<strong>do</strong> essa uma prática comum quanto ao ensino e aprendizagem desse instrumento<br />

(GARCIA, 2010). Além disso, a maioria <strong>do</strong>s alunos possuía uma guitarra para estu<strong>do</strong> em suas<br />

casas, apenas uma aluna teve que estu<strong>da</strong>r com um violão empresta<strong>do</strong>, outra prática comum,<br />

devi<strong>do</strong> à relação de semelhança entre os instrumentos (violão e guitarra) em termos de<br />

afinação e disposição <strong>da</strong>s notas na escala. Desse mo<strong>do</strong>, a utilização <strong>do</strong> violão tem auxilia<strong>do</strong><br />

vários estu<strong>da</strong>ntes de guitarra elétrica. Com apenas algumas a<strong>da</strong>ptações, foi possível seguir o<br />

plano de curso, assim como os conteú<strong>do</strong>s programáticos, como exposto a seguir:<br />

1º Ano:<br />

• Estrutura física e funcionamento <strong>da</strong> guitarra – pequenos reparos;<br />

• Leitura de cifra e tablatura 2 ;<br />

2 Sistema gráfico de notação musical aplica<strong>da</strong>, especialmente, aos instrumentos violão, guitarra e baixo elétrico,<br />

forma<strong>da</strong>, basicamente, por grupos de linhas que representam as cor<strong>da</strong>s e números que correspondem as casas na<br />

escala <strong>do</strong>s instrumentos.<br />

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• Escalas diatônicas – maior e menor;<br />

• Tom relativo e tom homônimo;<br />

• Padrões melódicos sobre escalas;<br />

• Técnica instrumental pura: palheta alterna<strong>da</strong>, palheta sweep, salto de cor<strong>da</strong>s,<br />

hammer on, pull of, bends, exercícios cromáticos, 1234 e variações;<br />

• Técnica aplica<strong>da</strong>;<br />

• Repertório;<br />

• Técnica aplica<strong>da</strong> ao repertório.<br />

2º Ano:<br />

• História e estética <strong>do</strong> instrumento;<br />

• Leitura de tablatura e partitura;<br />

• Intervalos;<br />

• Arpejos, acordes de três sons – tríades (maior, menor, aumenta<strong>do</strong>, diminuto e<br />

suspenso);<br />

• Campo harmônico;<br />

• Padrões melódicos;<br />

• Técnica instrumental pura: palheta alterna<strong>da</strong>, palheta sweep, salto de cor<strong>da</strong>s,<br />

hammer on, pull of, bends e exercícios cromáticos;<br />

• Repertório;<br />

• Técnica aplica<strong>da</strong> ao repertório.<br />

O repertório sugeri<strong>do</strong> pelos alunos foi, em sua maioria, relaciona<strong>do</strong> a clássicos <strong>do</strong><br />

rock produzi<strong>do</strong>s entre os anos 1980 e 1990. Porém, apesar desses alunos terem possibilita<strong>do</strong><br />

um desenvolvimento adequa<strong>do</strong> <strong>do</strong> programa proposto e, por se tratar de um curso técnico,<br />

com carga horária e programa defini<strong>do</strong>, não foi possível satisfazer to<strong>do</strong>s os desejos <strong>do</strong>s<br />

alunos. Ain<strong>da</strong> assim, as músicas utiliza<strong>da</strong>s em sala de aula durante o semestre foram:<br />

Miserlou – Dick Dale, e Sweet Child of Mine – Guns n’ Roses. Foi comum a utilização de<br />

backing tracks 3 <strong>da</strong>s músicas cita<strong>da</strong>s, além de outras opções de backing tracks específicas para<br />

o estu<strong>do</strong> de improvisação melódica.<br />

A seguir, irei expor alguns exercícios utiliza<strong>do</strong>s durante as aulas de guitarra. Os<br />

exercícios foram aqui transcritos em notação musical tradicional (pentagrama) juntamente às<br />

tablaturas para possibilitar uma melhor análise ao leitor, mas os alunos de guitarra<br />

3 Gravações de músicas sem guitarra (solo ou base), nas quais os instrumentos mais comuns são bateria, baixo e<br />

tecla<strong>do</strong>, que constituem a base rítmica e harmônica <strong>do</strong> arranjo original.<br />

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apresentaram grande dificul<strong>da</strong>de na leitura de partitura, especialmente os alunos <strong>do</strong> primeiro<br />

ano e, por vezes, os exercícios e exemplos eram passa<strong>do</strong>s de forma oral.<br />

1º - Exercícios cromáticos com variações (FIGURA 1) para o desenvolvimento de<br />

sincronismo e independência <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s. Foram executa<strong>do</strong>s com utilização de palheta<br />

alterna<strong>da</strong> e semicolcheias. Ca<strong>da</strong> número representa um de<strong>do</strong> <strong>da</strong> mão na escala, na ordem que<br />

devem ser pressiona<strong>do</strong>s entre os trastes, em casa paralelas (semitons). Ca<strong>da</strong> combinação foi<br />

feita em to<strong>da</strong>s as cor<strong>da</strong>s <strong>da</strong> guitarra.<br />

FIGURA 1 – Exercício de técnica pura.<br />

2º - Exercício com arpejos sobre acordes <strong>do</strong> campo harmônico de Mi menor com<br />

utilização de palheta sweep (FIGURA 2). Com esse exemplo, os alunos estu<strong>da</strong>vam a técnica<br />

<strong>da</strong> palheta, mapeamento visual, sonoro e tátil de diferentes regiões <strong>da</strong> escala <strong>da</strong> guitarra.<br />

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FIGURA 2 – Exercício palheta sweep e arpejos.<br />

3º - O próximo exemplo trata <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong> música Sweet Child of Mine<br />

(FIGURA 3). Apesar <strong>da</strong> música ter si<strong>do</strong> grava<strong>da</strong> com afinação mais baixa <strong>do</strong> que o padrão <strong>do</strong><br />

instrumento, os alunos foram orienta<strong>do</strong>s a executá-la um semitom acima <strong>da</strong> gravação original.<br />

Esse trecho possibilita o estu<strong>do</strong> de técnica aplica<strong>da</strong> ao repertório e a técnica aplica<strong>da</strong> aqui foi<br />

o “salto de cor<strong>da</strong>s”, com utilização de palheta alterna<strong>da</strong>.<br />

FIGURA 3 – Introdução <strong>da</strong> música Sweet Child of Mine.<br />

Nos últimos anos como professor de guitarra, tenho nota<strong>do</strong> que exercícios de técnica<br />

pura despertam o interesse <strong>do</strong>s alunos quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong>s juntamente ao metrônomo e como<br />

proposta de desafio ao estu<strong>da</strong>nte. Os guitarristas iniciantes gostam ser desafia<strong>do</strong>s pela<br />

possibili<strong>da</strong>de de tocar ca<strong>da</strong> vez mais rápi<strong>do</strong>, superan<strong>do</strong> seus colegas, professores e í<strong>do</strong>los, de<br />

mo<strong>do</strong> que não consideram esse tipo de exercícios “chatos”.<br />

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Considerações finais<br />

Os alunos de guitarra demonstraram, desde o início, bastante interesse em se<br />

tornarem músicos profissionais, além de terem í<strong>do</strong>los (modelos a serem segui<strong>do</strong>s) bem<br />

defini<strong>do</strong>s, fato que facilitou o desenrolar <strong>da</strong>s aulas durante semestre. Quanto aos alunos de<br />

violão, foi preciso criar um interesse no instrumento em grande parte <strong>do</strong>s alunos, assim como<br />

criar modelos musicais a seres objetiva<strong>do</strong>s, o que foi feito com a utilização de varia<strong>do</strong>s<br />

exemplos sonoros e visuais de violonistas nacionais e internacionais (solistas, grupos<br />

musicais, populares e eruditos). Alguns <strong>do</strong>s alunos de violão admitiram terem escolhi<strong>do</strong> o<br />

curso de música por acreditarem que seria um curso fácil e mais prazeroso <strong>do</strong> que outros<br />

cursos ofereci<strong>do</strong>s pelo instituto.<br />

Ain<strong>da</strong>, sobre a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aulas coletivas, destaco que a meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> foi,<br />

inicialmente, uma alternativa necessária devi<strong>do</strong> à quanti<strong>da</strong>de de alunos matricula<strong>do</strong>s, uma vez<br />

que seria impossível realizar aulas individualiza<strong>da</strong>s. To<strong>da</strong>via, foi uma ótima escolha, que<br />

permitiu uma rica interação social entre os alunos, trocas saudáveis de gostos musicais e<br />

repertórios compostos de varia<strong>do</strong>s gêneros. Durante as aulas, alunos com mais facili<strong>da</strong>de em<br />

determina<strong>do</strong>s exercícios auxiliavam outros com mais dificul<strong>da</strong>de, fato que fazia com que se<br />

sentissem úteis e importantes para o grupo.<br />

Ao final <strong>do</strong> quarto bimestre e, portanto, <strong>do</strong> ano letivo, foi possível a utilização de<br />

notação musical tradicional com os alunos de instrumento. Eles já conseguiam ler e tocar<br />

figuras rítmicas simples como colcheias e semicolcheias, reconhecen<strong>do</strong> seus respectivos<br />

valores e pausas, apesar de demonstrarem certo repúdio quanto à prática <strong>da</strong> leitura musical e,<br />

muitas vezes, preferirem recorrer à tablatura ou “tirar músicas de ouvi<strong>do</strong>”. Estas práticas<br />

também foram incentiva<strong>da</strong>s e declara<strong>da</strong>s como práticas que se complementam e não devem se<br />

contrapor, especialmente quan<strong>do</strong> pensamos em um merca<strong>do</strong> musical contemporâneo.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

CUNHA, Elisa <strong>da</strong> Silva e. Compreender a escola de música como uma instituição: um<br />

estu<strong>do</strong> de caso em Porto Alegre. 2009. 234f. Tese (Doutora<strong>do</strong> em música) Programa de Pós-<br />

Graduação em Música, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Porto Alegre, 2009.<br />

IFPB. Curso Técnico Integra<strong>do</strong> ao Ensino Médio: Instrumento Musical. João Pessoa, p. 2-45,<br />

agosto, 2008.<br />

GARCIA, Marcos <strong>da</strong> Rosa. O ensino de guitarra elétrica no contexto de aulas particulares. In:<br />

XIX Congresso <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, 2010, Belo Horizonte. <strong>Anais</strong>... Goiânia: UFG, 2010.<br />

LIMA, Sonia Albano. A educação profissional de música frente à LDB n. 9394/96. Revista<br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n.5, p. 39-44, 2000.<br />

MOURA, A<strong>da</strong>ir Martins de; CRUVINEL, Flávia Maria. Música nas escolas: um estu<strong>do</strong> sobre<br />

o ensino coletivo de violão em duas escolas de ensino básico de Goiânia. In: II ENCONTRO<br />

NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL, 2, 2006, Goiânia.<br />

<strong>Anais</strong>... Goiânia: Enecim, 2006. p. 241-247.<br />

NASCIMENTO, Sônia de Almei<strong>da</strong> <strong>do</strong>. Educação profissional: novos paradigmas, novas<br />

práticas. Revista <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n.8, p. 69-74, 2003.<br />

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Da cozinha para o palco: relato de experiência de um projeto de extensão<br />

na comuni<strong>da</strong>de Renascer<br />

José Edmilson Coelho Falcão<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

edmilson_net@ig.com.br<br />

Josélia Ramalho Vieira)<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

jramalhovieira@yahoo.com.br<br />

Resumo: Relato de experiência <strong>da</strong> construção de uma performance <strong>do</strong> curso de extensão<br />

MECT - Musicalização Através <strong>do</strong> Ensino Coletivo de Tecla<strong>do</strong>/Piano, durante o evento<br />

“Música e Performance” 1 . O relato descreve como a Abor<strong>da</strong>gem Centra<strong>da</strong> na Pessoa (ACP)<br />

de Carl Rogers 2 norteou a ação valorizan<strong>do</strong> o indivíduo dentro <strong>do</strong> coletivo direcionan<strong>do</strong><br />

humanisticamente a musicalização através <strong>do</strong> ensino coletivo de tecla<strong>do</strong>/piano culminan<strong>do</strong> na<br />

performance propriamente dita.<br />

Palavras-chave: Ensino coletivo de piano, arranjos didáticos, extensão universitária.<br />

Introdução<br />

Este trabalho visa apresentar o relato de experiência vivencia<strong>da</strong> por mim enquanto<br />

bolsista, <strong>do</strong> processo de construção de uma performance (produto), com os alunos <strong>do</strong> curso de<br />

extensão <strong>do</strong> MECT – Musicalização Através <strong>do</strong> Ensino Coletivo de Tecla<strong>do</strong>/Piano. O curso<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong> no primeiro semestre de 2009 e coordena<strong>do</strong> pela Prof.ª Josélia Ramalho Vieira, tem<br />

como principal objetivo a reflexão e prática <strong>do</strong> ensino coletivo toman<strong>do</strong> por base as ideias<br />

rogerianas. O MECT atende a duas turmas, a turma 1 funciona no LECT – Laboratório de<br />

Ensino Coletivo de Tecla<strong>do</strong>/Piano (no Campus) e a turma 2 no Centro Comunitário Santa<br />

Luzia, localiza<strong>do</strong> na comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Renascer II, Cabedelo-PB.<br />

Esta comunicação relata como a Abor<strong>da</strong>gem Centra<strong>da</strong> na Pessoa influenciou as ações<br />

pe<strong>da</strong>gógicas que culminaram com a performance no evento “Música e Performance” na<br />

UFPB, realiza<strong>da</strong> pela Turma 2 <strong>do</strong> MECT.<br />

1 Música em Performance é um evento semestral que reúne apresentações <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong>s cursos<br />

de Bacharela<strong>do</strong>, Licenciatura e Sequencial em Música <strong>da</strong> UFPB. São seis recitais por dia envolven<strong>do</strong><br />

centenas de alunos e professores, além <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em geral.<br />

2 Carl Rogers (1902- 1987) humanista e psicólogo norte-americano autor <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> Abor<strong>da</strong>gem<br />

Centra<strong>da</strong> na Pessoa – ACP.<br />

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A nossa “cozinha”<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> turma 2 se desenvolvem na cozinha <strong>do</strong> Centro Comunitário, o único<br />

espaço que, em última instância, sobrou para que as aulas <strong>do</strong> MECT pudessem acontecer. A<br />

nossa estrutura nesta sala improvisa<strong>da</strong> é composta por um piano de armário muito velho e<br />

quatro tecla<strong>do</strong>s ama<strong>do</strong>res, com no máximo cinco oitavas, instrumentos estes adquiri<strong>do</strong>s<br />

através de <strong>do</strong>ações de pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Os alunos são to<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s vizinhanças <strong>do</strong><br />

Centro Comunitário que atenderam à divulgação feita através de panfletos em locais e<br />

instituições públicas e religiosas <strong>do</strong> bairro. As aulas, com duração de duas horas, são<br />

realiza<strong>da</strong>s à noite, uma vez por semana.<br />

A ACP<br />

“As ideias de Carl Rogers evoluíram com o passar <strong>do</strong>s anos para uma filosofia de<br />

vi<strong>da</strong>, visão de mun<strong>do</strong> e de homem, chama<strong>da</strong> Abor<strong>da</strong>gem Centra<strong>da</strong> na Pessoa ou ACP”<br />

(DIAS; SILVA, 2010). O pressuposto onde estão basea<strong>da</strong>s as proposições <strong>da</strong> ACP é a crença<br />

na capaci<strong>da</strong>de inata ao ser humano que lhe impulsiona a progredir. Encontram-se dentro <strong>do</strong><br />

indivíduo, segun<strong>do</strong> a ACP, “to<strong>do</strong>s os mecanismos necessários para li<strong>da</strong>r consigo e com o<br />

outro” (Op. Cit.). Este impulso foi denomina<strong>do</strong> de Tendência Atualizante. (ROGERS, 1961,<br />

p. 253).<br />

Aprender como pessoa inteira significa uma aprendizagem “unifica<strong>da</strong>, a nível <strong>da</strong><br />

cognição, <strong>do</strong>s sentimentos e <strong>da</strong>s vísceras, além de uma percepção clara <strong>do</strong>s diferentes<br />

aspectos deste aprender unifica<strong>do</strong>” (ROGERS, 1977, p. 145).<br />

As principais características <strong>da</strong> ACP são: confiança no impulso <strong>do</strong> indivíduo,<br />

proeminência nos aspectos afetivos, privilégio <strong>da</strong> situação imediata, criação de um espaço<br />

para o crescimento <strong>do</strong> outro, além <strong>da</strong> ênfase na aprendizagem, a a<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong> currículo <strong>do</strong><br />

curso ao aluno e a participação ativa deste em to<strong>do</strong> o processo de ensino-aprendizagem.<br />

Carl Rogers (1902-1987) valoriza a relação empática entre duas pessoas em<br />

qualquer situação, incluin<strong>do</strong> a relação professor–aluno. Para ele, a quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s relações humanas permeia to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des em que pessoas estão<br />

atuan<strong>do</strong> e, sob esta premissa, desenvolve suas teorias relaciona<strong>da</strong>s à terapia e<br />

à educação. Nesta, defende um ensino em que o aluno tenha alto grau de<br />

participação no processo e, sem descartar a necessi<strong>da</strong>de de limites, acredita<br />

que a valorização <strong>da</strong> contribuição pessoal <strong>do</strong> aluno promove um ensino mais<br />

significativo e com resulta<strong>do</strong>s mais eficientes para sua atuação social.<br />

(ROGERS apud GLASER, 1986, p. 27)<br />

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2 OA N O S<br />

Existem atitudes <strong>do</strong> professor que facilitam a aprendizagem. Estas atitudes são: a<br />

congruência, a aceitação e a empatia.<br />

Quan<strong>do</strong> o professor tem a habili<strong>da</strong>de de compreender as reações íntimas <strong>do</strong><br />

aluno, quan<strong>do</strong> tem a percepção sensível <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como o aluno vê o<br />

processo de educação e de aprendizagem, então, cresce a possibili<strong>da</strong>de de<br />

aprendizagem significativa. (ROGERS, 1973, p. 112)<br />

A ACP como referencial no MECT<br />

Dentro <strong>do</strong> processo <strong>do</strong> ensino/aprendizagem aplica<strong>do</strong> no MECT, os próprios alunos<br />

expõem suas aspirações musicais e os professores/bolsistas/colabora<strong>do</strong>res tentam facilitar a<br />

criação de um espaço favorável para que haja uma aprendizagem significativa. Tentamos<br />

tomar as atitudes de aceitação, consideração positiva, respeitan<strong>do</strong> o aluno como parte<br />

importante no processo <strong>do</strong> ensino aprendizagem, observan<strong>do</strong>, to<strong>da</strong>via, o nível <strong>da</strong> bagagem<br />

musical de ca<strong>da</strong> um, a partir desta valorização e reconhecimento <strong>da</strong>s singulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong><br />

aluno, se constroem arranjos para a prática de conjunto.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A educação musical tradicional concebia os seres humanos como máquinas<br />

decodifica<strong>do</strong>ras de uma linguagem escrita e dedicava a maior quanti<strong>da</strong>de de<br />

energia ensinan<strong>do</strong> a decifrar as notas para que fosse possível transferi-las ao<br />

instrumento [...]. Também se concentrou intensamente no ensino <strong>da</strong> técnica.<br />

Diríamos que as duas observações fun<strong>da</strong>mentais foram: como proceder para<br />

ler música escrita e, depois, como proceder para executá-la. (GAINZA,<br />

1988, p. 116).<br />

A prática de ensino aprendizagem a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> no MECT, entra em confronto direto com<br />

ensino tradicional de música pauta<strong>do</strong> na técnica, na teoria dissocia<strong>da</strong> <strong>da</strong> prática. Até que<br />

ponto podemos aplicar a congruência proposta por Rogers “quan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> pessoa, incluin<strong>do</strong> o<br />

professor, está buscan<strong>do</strong>/trilhan<strong>do</strong> caminhos tão diversos através <strong>da</strong>s mesmas notas?”<br />

(VIEIRA, 2010, p. 7). O projeto de extensão tem a proposta de ensinar um instrumento dito<br />

de elite, o piano, de uma forma coletiva. O contexto é um bairro de periferia com alto índice<br />

de violência, baixa autoestima <strong>do</strong>s alunos sobre os quais pesa um grande preconceito. Neste<br />

senti<strong>do</strong> nos orientamos por Kebach que afirma:<br />

[...] <strong>do</strong> ponto de vista epistemológico, ambos, mora<strong>do</strong>r <strong>da</strong> favela e pessoa<br />

pertencente à família abasta<strong>da</strong>, têm a possibili<strong>da</strong>de de se desenvolverem<br />

musicalmente, pois nasceram com estruturas orgânicas similares (o com<br />

mínimas diferenças). Ou seja, o funcionamento cognitivo de ambos é<br />

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idêntico. As oportuni<strong>da</strong>des é que serão diferentes. (KEBACH, 2008, p. 24).<br />

A pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na atuali<strong>da</strong>de deve ter como objetivo a realização<br />

<strong>do</strong> processo de aprendizagem musical de dentro para fora, resgatan<strong>do</strong> aspectos que foram<br />

relega<strong>do</strong>s pela educação tradicional como é o caso <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>, “a mente musical<br />

só pode entender ver<strong>da</strong>deiramente trabalhar dentro <strong>do</strong> contexto que ou o ouvi<strong>do</strong> lhe fornece”<br />

(GAINZA, Op. Cit., p. 117), afirma categoricamente a autora, que qualquer indivíduo não<br />

sen<strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de deficiência auditiva grave, necessita de experiência no campo de sua<br />

audição, no processo de ensino aprendizagem.<br />

No caso de ensino de jovens e adultos as especifici<strong>da</strong>des segun<strong>do</strong> USZLER (2000)<br />

vão desde a motivação pessoal, habili<strong>da</strong>des cognitivas e motoras distintas <strong>da</strong> criança iniciante<br />

o que deman<strong>da</strong> <strong>do</strong> professor uma meto<strong>do</strong>logia mais específica.<br />

Para USZLER (Op. Cit., p. 60) o ensino de piano para jovens e adultos possuem suas<br />

vantagens e desvantagens, vejamos algumas destas especifici<strong>da</strong>des:<br />

Vantagens:<br />

• Maior tempo de concentração quan<strong>do</strong> as ativi<strong>da</strong>des são varia<strong>da</strong>s e<br />

interessantes;<br />

• O fato de o piano ser um instrumento projeta<strong>do</strong> para ser toca<strong>do</strong> por um<br />

jovem ou adulto, <strong>da</strong><strong>do</strong> as suas dimensões físicas;<br />

• O jovem ou adulto possui altura suficiente para obter uma visão periférica de<br />

to<strong>do</strong> o tecla<strong>do</strong>;<br />

• O <strong>do</strong>mínio mais apura<strong>do</strong> sobre seus movimentos corporais;<br />

Desvantagens:<br />

• Interessa-se mais em chegar a definições <strong>do</strong> que experimentá-las;<br />

• O jovem ou adulto quer alcançar sempre resulta<strong>do</strong>s imediatos, com rapidez e<br />

muita força, acarretan<strong>do</strong> tensões desnecessárias;<br />

• A indisposição em aceitar que o aprendiza<strong>do</strong> de novos movimentos e gestos<br />

denota tempo, sen<strong>do</strong> fruto de muita prática de tentativas de erros e acertos,<br />

além de pensar que o adulto possua maior facili<strong>da</strong>de em compreender e<br />

traduzir as informações em ações rápi<strong>da</strong>s e eficientes.<br />

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• O cansaço é mais frequente na hora de praticar o instrumento, pela<br />

sobrecarga <strong>do</strong> dia-a-dia;<br />

A partir desta pequena amostra podemos perceber o quanto devemos repensar a<br />

forma tradicional <strong>do</strong> ensino de piano para os mesmos, buscan<strong>do</strong> não relegar estas informações<br />

no planejar <strong>da</strong>s nossas ações pe<strong>da</strong>gógicas no processo ensino-aprendizagem.<br />

No curso de extensão <strong>do</strong> MECT as aulas seguem o modelo de ensino coletivo de<br />

instrumento.<br />

As aulas de piano em grupo estabelecem-se, normalmente, nos moldes<br />

pe<strong>da</strong>gógicos <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> piano como instrumento musicaliza<strong>do</strong>r. Neste<br />

contexto educacional, a meto<strong>do</strong>logia, basea<strong>da</strong> na aprendizagem de música<br />

por audição e por imitação, em improvisações e criações, emprega canções<br />

folclóricas, tradicionais e de <strong>do</strong>mínio público, além <strong>da</strong> música popular e<br />

<strong>da</strong>quelas que fazem parte <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> aluno. Os processos de leitura e<br />

escrita musicais são abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s criteriosamente por meio de repertório<br />

adequa<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> fase cognitiva <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte, porém, devem ser precedi<strong>do</strong>s e<br />

sustenta<strong>do</strong>s pelas experiências sem partitura. (MARINO; RAMOS, 2003,<br />

p.44).<br />

Do processo ao produto<br />

O caminho percorri<strong>do</strong> <strong>da</strong> cozinha para o palco exigiu vários elementos para a sua<br />

execução. Os principais foram: a escolha de repertório, a confecção <strong>do</strong>s arranjos, os ensaios e<br />

a apresentação propriamente dita.<br />

Um arranjo consiste em a<strong>da</strong>ptar ou reescrever uma composição com certa<br />

liber<strong>da</strong>de, fato que suscita o conceito de composição. Para isto subentendese<br />

que é necessário um <strong>do</strong>mínio relativo de estruturação musical [...].<br />

(BOYD apud CERQUEIRA, 2009, p.133).<br />

Toman<strong>do</strong> por base o trabalho de Uzsler (2000) em relação aos níveis de<br />

aprendizagem pianísticas, analisamos aluno por aluno e determinamos o nível de ca<strong>da</strong> um.<br />

Depois de defini<strong>do</strong> os níveis de ca<strong>da</strong> aluno, começou o processo de composição <strong>do</strong> arranjo<br />

utilizan<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório utiliza<strong>do</strong> em sala. Finalmente as músicas já arranja<strong>da</strong>s passaram a ser<br />

ensaia<strong>da</strong>s e nesta fase sofreram alguns ajustes e modificações. Como por exemplo, escolhas<br />

de timbres nos tecla<strong>do</strong>s, mu<strong>da</strong>nça de texturas nos arranjos, planejamento dinâmico, entre<br />

outros.<br />

O repertório contou com as músicas Asa Branca, Além <strong>do</strong> Arco-Íris, Bate o Sino,<br />

Noite Feliz.<br />

As características básicas de ca<strong>da</strong> arranjo são: uma base harmônica, a melodia, e uma<br />

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segun<strong>da</strong> voz, dividi<strong>do</strong>s entre ca<strong>da</strong> aluno dentro de suas possibili<strong>da</strong>des de execução. Esta<br />

personalização realiza<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> arranjo funciona como um estímulo para os alunos ten<strong>do</strong> em<br />

vista que to<strong>do</strong>s, independentemente <strong>do</strong> nível, participam ativamente <strong>da</strong> execução <strong>da</strong> obra<br />

musical, lhe propician<strong>do</strong> a sensação poder realizar uma ativi<strong>da</strong>de musical com um nível<br />

eleva<strong>do</strong>, que para maioria <strong>do</strong>s alunos era ti<strong>do</strong> como improvável ou muito distante de sua<br />

capaci<strong>da</strong>de.<br />

Os ensaios aconteceram dentro <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aulas onde os alunos foram agrupa<strong>do</strong>s<br />

em número de <strong>do</strong>is por instrumento, inicialmente em um total de 10 alunos envolvi<strong>do</strong>s na<br />

ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica. Os alunos executavam os arranjos <strong>da</strong>s músicas em pequenas partes,<br />

soman<strong>do</strong> uma a outra até conseguirem uma execução completa <strong>da</strong> música.<br />

Nesta ação<br />

sempre se observava e se aplicavam as indicações de dinâmica indica<strong>da</strong>s na partitura e seus<br />

significa<strong>do</strong>s.<br />

A ativi<strong>da</strong>de de ensaio se intensificou com a proximi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> evento, fazen<strong>do</strong> com que<br />

a maior parte <strong>da</strong> aula fosse destina<strong>da</strong> para o mesmo, to<strong>da</strong>via sempre acrescentan<strong>do</strong><br />

informações novas sobre termos musicais, na medi<strong>da</strong> em que apareciam os questionamentos<br />

por parte <strong>do</strong>s alunos.<br />

Nos últimos dias definimos a quanti<strong>da</strong>de de instrumentos para serem transporta<strong>do</strong>s<br />

para a sala <strong>do</strong> evento e divisão <strong>do</strong>s alunos para ca<strong>da</strong> instrumento.<br />

Resulta<strong>do</strong>s<br />

Ganhos Técnicos<br />

Observamos um desenvolvimento na prática de conjunto, obediência à regência,<br />

experimentação <strong>do</strong>s conceitos de melodia, contorno melódico, acordes e harmonia. Reflexão e<br />

vivência sobre os elementos básicos conti<strong>do</strong>s nos arranjos, como timbres, an<strong>da</strong>mentos,<br />

dinâmicas, como também a interação como ouvintes <strong>do</strong> evento com repertórios, instrumentos<br />

e outras formas de expressão artística ain<strong>da</strong> não experimenta<strong>da</strong> pelos mesmos em face <strong>da</strong><br />

privação social imposta pela condição sociocultural <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Ganhos Pessoais:<br />

A pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> instrumento calca<strong>da</strong> na ACP, que valorizou o indivíduo,<br />

elevou a autoestima <strong>do</strong>s alunos, agora eles tinham visto e participa<strong>do</strong> de algo grande e<br />

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substancial no tocante ao fazer musical. Ficou perceptível nas lágrimas <strong>do</strong>s parentes <strong>do</strong>s<br />

alunos que não se tratava de mais uma apresentação, mas sim “A” apresentação, o realizar de<br />

um sonho, o transpor <strong>da</strong>s barreiras e dificul<strong>da</strong>des impostas pelas condições sociais de ca<strong>da</strong><br />

envolvi<strong>do</strong>. Antes <strong>do</strong> encerramento <strong>do</strong> semestre, foi realiza<strong>do</strong> um questionário visan<strong>do</strong> avaliar<br />

e nortear as ações no MECT.<br />

Como você se sentiu como parte ativa <strong>do</strong>s arranjos musicais?<br />

Aluno a:<br />

- Me sinto muito bem, pois são partes muito importantes na música.<br />

Aluno b:<br />

-Foi melhor para perder o meu me<strong>do</strong>.<br />

Aluno c<br />

- Me senti útil.<br />

Aluno d<br />

-Me senti muito bem.<br />

Você acha que foi ouvi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> quis expressar seus pensamentos?<br />

Aluno a<br />

- Sim.<br />

Aluno b<br />

-Sim. Porque eles me deram atenção.<br />

Aluno c<br />

- Sim.<br />

Aluno d<br />

-Sim. (VIEIRA, 2010a)<br />

A repercussão pós-apresentação foi positiva, receben<strong>do</strong> tanto <strong>do</strong>s alunos <strong>da</strong><br />

graduação em música <strong>da</strong> UFPB quanto <strong>do</strong>s professores muitos elogios e palavras de incentivo<br />

a iniciativa <strong>do</strong> projeto em iniciar tal ativi<strong>da</strong>de de musicalização através <strong>do</strong> ensino coletivo de<br />

piano.<br />

Ganhos pe<strong>da</strong>gógicos<br />

A experiência proporcionou, como bolsista, uma visão mais ampla acerca <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica a ser aplica<strong>da</strong> no processo de ensino aprendizagem <strong>da</strong> música,<br />

focalizan<strong>do</strong> principalmente o aluno em suas mais amplas necessi<strong>da</strong>des. Pudemos observar<br />

que, ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos, podemos produzir conhecimento através <strong>da</strong>s práticas musicais<br />

valorizan<strong>do</strong> as relações interpessoais e perpassan<strong>do</strong> as fronteiras além <strong>da</strong> cozinha de projeto<br />

de musicalização.<br />

Conclusão<br />

Concluímos a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s na construção <strong>da</strong> performance que, o<br />

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processo de musicalização através <strong>do</strong> ensino coletivo de tecla<strong>do</strong>/piano quan<strong>do</strong> calca<strong>do</strong> em<br />

uma pe<strong>da</strong>gogia musical centra<strong>da</strong> na pessoa, produziu benesses que ultrapassaram o mero fazer<br />

musical, com o uso integra<strong>do</strong> <strong>da</strong> prática e a teoria musical, quebran<strong>do</strong> barreiras sociais e<br />

culturais preestabeleci<strong>da</strong>s no cotidiano de ca<strong>da</strong> aluno envolvi<strong>do</strong>, além de favorecer o processo<br />

de ensino aprendizagem um rápi<strong>do</strong> rendimento e uma assimilação de práticas e conceitos<br />

musicais mais sóli<strong>do</strong>s e dura<strong>do</strong>uros pelo aluno.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BASTOS, Maria Bernadete Berno. O Educa<strong>do</strong>r e o processo de musicalização através de<br />

tecla<strong>do</strong>s acústicos e eletrônicos. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação Musical).<br />

Conservatório Brasileiro de Música, Rio de Janeiro, 1999.<br />

CERQUEIRA, Daniel Lemos. O arranjo como ferramenta pe<strong>da</strong>gógica no ensino coletivo de<br />

piano. Revista MÚSICA HODIE, Goiânia, n.1, p. 133, 2009.<br />

DIAS, Isa<strong>do</strong>ra; SILVA, Mamede. Um pouco sobre a Abor<strong>da</strong>gem Centra<strong>da</strong> na Pessoa.<br />

Disponível em: . Acesso em: 11 ago. 2010.<br />

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estu<strong>do</strong> de psicope<strong>da</strong>gogia musical. Tradução de Beatriz A.<br />

Cannabrava. Coleção novas buscas em educação. 2ª ed. São Paulo: Summus, 1988. p: 116 -<br />

117.<br />

GLASER, Scheilla R. Instrumentista & professor: contribuições para uma reflexão acerca <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> piano e <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> músico-professor. Dissertação de Mestra<strong>do</strong> em Música,<br />

IA-UNESP, São Paulo, 2005.<br />

MARINO, Gislene; RAMOS, Ana Consuelo. Piano 1: arranjos e ativi<strong>da</strong>des. Belo Horizonte:<br />

Edição <strong>da</strong>s autoras, 2001. (Coleção Inventos e Canções).<br />

MONTANDON, Maria Isabel. Piano Suplementar – função e materiais. In SEMPEM, 1,<br />

2001, Goiânia. <strong>Anais</strong>... UFG: Goiânia: SEMPEM/UFG, 2001.<br />

ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1961.<br />

______. Liber<strong>da</strong>de para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973.<br />

______. Pode a aprendizagem abranger ideias e sentimentos? In: ROGERS, Carl,<br />

ROSENBERG, Rachel L. A pessoa como centro. São Paulo: Edusp, 1977. p. 143-161.<br />

USZLER, Marienne. The Well-Tempered Keyboard Teacher. 2ª ed. New York: Shirmer Books,<br />

2000, p. 3-34.<br />

VIEIRA, Josélia Ramalho. Arranjos de piano em grupo por licencian<strong>do</strong>s em música <strong>da</strong> UFPB:<br />

relato de experiência. In ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 18, 2009, João Pessoa. <strong>Anais</strong>... João Pessoa: <strong>ABEM</strong>, 2009. P. 293-302.<br />

VIEIRA et al. MECT - Musicalização através <strong>do</strong> ensino coletivo de tecla<strong>do</strong>/piano: acerca <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem centra<strong>da</strong> na pessoa em um projeto de extensão universitária. Texto não<br />

publica<strong>do</strong>, 2010.<br />

______. MECT - Musicalização através <strong>do</strong> ensino coletivo de tecla<strong>do</strong>/piano. Relatório Final,<br />

2010a.<br />

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Educação musical em um projeto social:<br />

um estu<strong>do</strong> de caso em João Pessoa/PB<br />

Marcel Ramalho de Mello *<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

marcel.ramalho@yahoo.com.br<br />

Maura Penna<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

maurapenna@gmail.com<br />

Resumo: A presente comunicação expõe os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa feita no segun<strong>do</strong><br />

semestre de 2010, que teve como objetivo principal analisar práticas de ensino e<br />

aprendizagem de música desenvolvi<strong>da</strong>s no contexto educativo não-formal de um projeto<br />

social no município de João Pessoa/PB. A meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> baseou-se em revisão<br />

bibliográfica, pesquisa <strong>do</strong>cumental, observações <strong>da</strong>s aulas de música de um núcleo <strong>do</strong><br />

Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil de João Pessoa e entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s<br />

com quatro profissionais envolvi<strong>do</strong>s no projeto. Após a análise <strong>da</strong>s observações <strong>da</strong>s aulas e<br />

<strong>da</strong>s entrevistas realiza<strong>da</strong>s, ficou clara a ênfase na função social e ética <strong>do</strong> PETI em detrimento<br />

às funções estéticas <strong>da</strong>s aulas de música, e como esse valor é nortea<strong>do</strong>r na estruturação e<br />

planejamento <strong>da</strong>s aulas <strong>do</strong> núcleo observa<strong>do</strong>. Assim, vemos como ponto-chave na educação<br />

musical no PETI em João Pessoa a preocupação maior em tirar as crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong>s<br />

ruas e de qualquer possibili<strong>da</strong>de de risco social, utilizan<strong>do</strong> como meio as aulas de música,<br />

cujos objetivos pe<strong>da</strong>gógicos específicos ficam em segun<strong>do</strong> plano.<br />

Palavras-chave: Educação musical, Projeto Social, Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho<br />

Infantil.<br />

Introdução<br />

O trabalho aqui apresenta<strong>do</strong> expõe os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisa feita durante a<br />

segun<strong>da</strong> metade de 2010, que teve como objetivo principal analisar práticas de ensino e<br />

aprendizagem de música desenvolvi<strong>da</strong>s no contexto educativo não-formal de um projeto<br />

social no município de João Pessoa, Paraíba.<br />

Nossa pesquisa caracterizou-se como estu<strong>do</strong> de caso – mais especificamente, um<br />

estu<strong>do</strong> de caso múltiplo –, que se caracteriza por focalizar um fenômeno particular (ou mais<br />

de um fenômeno) e por ter como produto final uma descrição “densa” desse fenômeno<br />

(ANDRÉ, 2005, p. 17-18).<br />

De acor<strong>do</strong> com Libâneo (1999, a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> por OLIVEIRA, 2000), espaços nãoformais<br />

de ensino são caracteriza<strong>do</strong>s por ONGs, projetos sociais, associações comunitárias,<br />

* Bolsista de Iniciação Científica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba e Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tecnológico<br />

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espaços diversos que oferecem cursos livres (como igrejas) etc. Ou seja, espaços de ensino<br />

que não são regulamenta<strong>da</strong>s pela legislação educacional vigente no país. A área de educação<br />

musical tem <strong>da</strong><strong>do</strong> especial atenção a esses espaços, com diversas análises de práticas neles<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s (CANÇADO, 2006; PENNA, 2006; OLIVEIRA, 2006, entre outros).<br />

Ten<strong>do</strong> como foco o estu<strong>do</strong> de práticas educativo-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s em espaços<br />

não-formais de ensino, escolhemos um projeto social como objeto de pesquisa. O Programa<br />

de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil foi seleciona<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> em consideração a sua força<br />

dentro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa. Foram seleciona<strong>do</strong>s para a pesquisa <strong>do</strong>is núcleos <strong>do</strong> PETI,<br />

que ofereciam, dentre outras ativi<strong>da</strong>des, uma aula de percussão por semana. No entanto,<br />

diante <strong>do</strong>s limites deste texto, apresentamos aqui apenas a pesquisa feita em um <strong>do</strong>s núcleos,<br />

localiza<strong>do</strong> em uma comuni<strong>da</strong>de de baixa ren<strong>da</strong> de um bairro de classe média de João Pessoa.<br />

Devi<strong>do</strong> ao tráfico de drogas na área, os índices de violência nessa comuni<strong>da</strong>de são altos,<br />

ten<strong>do</strong> inclusive atingi<strong>do</strong> <strong>do</strong>is alunos de música <strong>do</strong> PETI, como veremos adiante.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Desde o início e durante to<strong>da</strong> a pesquisa, uma pesquisa bibliográfica foi feita,<br />

basea<strong>da</strong> na literatura em educação musical, educação e meto<strong>do</strong>logia científica, a fim de<br />

alicerçar o nosso trabalho.<br />

Para coletar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa, utilizamos como principal técnica a observação<br />

<strong>da</strong>s aulas e ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s. Como ca<strong>da</strong> aula tinha duração de duas horas,<br />

planejamos inicialmente observar oito aulas, o que não pôde ser totalmente realiza<strong>do</strong>, como<br />

discutimos adiante. Utilizamos, ain<strong>da</strong>, entrevistas de caráter semi-estrutura<strong>do</strong> feitas com a<br />

coordena<strong>do</strong>ra (interina) e o coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong> área de Música <strong>do</strong> PETI em João Pessoa, assim<br />

como com a coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> núcleo escolhi<strong>do</strong> e o oficineiro de percussão <strong>da</strong> turma<br />

observa<strong>da</strong>.<br />

Também foi realiza<strong>da</strong> uma pesquisa <strong>do</strong>cumental relativa ao projeto, com destaque<br />

para a Portaria nº 458, de 4 de Outubro de 2001, que estabelece as diretrizes e normas <strong>do</strong><br />

Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil.<br />

A análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi de cunho analítico e interpretativo, pelo caráter qualitativo<br />

desta pesquisa, buscan<strong>do</strong> compreender as concepções, as práticas e estratégias que<br />

caracterizam o processo de ensino e aprendizagem musical. Ao longo <strong>da</strong> análise,<br />

entrecruzamos diferentes fontes de <strong>da</strong><strong>do</strong>s e relacionamos o que encontramos em nossa<br />

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pesquisa com outros estu<strong>do</strong>s já realiza<strong>do</strong>s a respeito <strong>do</strong> mesmo tema, procuran<strong>do</strong> detectar e<br />

compreender os pontos em que os <strong>da</strong><strong>do</strong>s de nossa pesquisa reforçam ou se diferenciam desses<br />

estu<strong>do</strong>s.<br />

O PETI<br />

O Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil foi implanta<strong>do</strong> pelo governo federal<br />

no Brasil em 1996, inicialmente no Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, sen<strong>do</strong>, aos poucos, introduzi<strong>do</strong> em<br />

outros esta<strong>do</strong>s (CARVALHO, 2004, p. 2-3). Apesar de ser um projeto federal e de ser dessa<br />

instância que vem a maior parte <strong>do</strong>s recursos financeiros para sua realização, o PETI é<br />

gerencia<strong>do</strong> em conjunto pelo esta<strong>do</strong> e a prefeitura de ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que complementam com o<br />

que for financeiramente necessário (BRASIL, 2001, p. 6). O objetivo <strong>do</strong> programa é<br />

“erradicar, em parceria com os diversos setores governamentais e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, o<br />

trabalho infantil nas ativi<strong>da</strong>des perigosas, insalubres, penosas ou degra<strong>da</strong>ntes nas zonas<br />

urbana e rural.” (BRASIL, 2001, p. 2).<br />

Por meio de ativi<strong>da</strong>des complementares à escola, o PETI tem como priori<strong>da</strong>de<br />

manter crianças e a<strong>do</strong>lescentes (de 7 a 14 anos e de famílias com ren<strong>da</strong> de até ½ salário<br />

mínimo) participantes desse programa na escola e fora de qualquer ativi<strong>da</strong>de de trabalho<br />

(BRASIL, 2001, p. 2). A exceção se dá com relação à assistência que pode ser ofereci<strong>da</strong> a<br />

crianças com 15 anos em situação de extremo risco, vítimas de exploração de mão-de-obra e<br />

também vítimas de exploração sexual, onde o atendimento “<strong>da</strong>r-se-à através <strong>da</strong>s estratégias<br />

opera<strong>da</strong>s pelos Programas Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano e Sentinela”<br />

(BRASIL, 2001, p. 2).<br />

As ativi<strong>da</strong>des complementares à escola podem acontecer nas uni<strong>da</strong>des escolares ou<br />

nas uni<strong>da</strong>des de apoio nas comuni<strong>da</strong>des, e tem como objetivo “o desenvolvimento de<br />

potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s crianças e a<strong>do</strong>lescentes com vistas à melhoria <strong>do</strong> seu desempenho escolar<br />

e inserção no circuito de bens, serviços e riquezas sociais” (BRASIL, 2001, p. 3).<br />

Além disso, o PETI tem como um <strong>do</strong>s focos mais importantes as famílias <strong>do</strong>s jovens<br />

atendi<strong>do</strong>s pelo programa, para que elas possam, através de alternativas de geração de emprego<br />

e ren<strong>da</strong>, assumir a sua responsabili<strong>da</strong>de com relação ao processo de desenvolvimento de suas<br />

crianças e a<strong>do</strong>lescentes.<br />

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2 OA N O S<br />

O PETI em João Pessoa<br />

O Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil foi implanta<strong>do</strong> em João Pessoa no<br />

ano de 2000 1 , e hoje a ci<strong>da</strong>de conta com 28 núcleos que atendem aos seus 65 bairros. Dos 28<br />

núcleos, 14 2<br />

oferecem aulas específicas de música. Segun<strong>do</strong> a coordena<strong>do</strong>ra interina <strong>do</strong><br />

projeto, to<strong>do</strong>s os outros núcleos <strong>do</strong> PETI também trabalham com música, mas de forma<br />

indireta, ou seja, a música é utiliza<strong>da</strong> nas oficinas de pintura, educação física etc.<br />

As ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s no PETI de João Pessoa são to<strong>da</strong>s de cunho lúdicope<strong>da</strong>gógico<br />

e artístico-cultural, ten<strong>do</strong> por objetivo desenvolver a curiosi<strong>da</strong>de, o pensamento e<br />

novas habili<strong>da</strong>des através de ativi<strong>da</strong>des que envolvam a arte e a brincadeira. Estas ativi<strong>da</strong>des<br />

são determina<strong>da</strong>s de acor<strong>do</strong> com a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de atendi<strong>da</strong>.<br />

Ca<strong>da</strong> núcleo <strong>do</strong> PETI possui um coordena<strong>do</strong>r, que tem a função de organizar as<br />

ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s nos núcleos, que não se limitam apenas ao espaço físico <strong>do</strong>s<br />

núcleos: há viagens e apresentações <strong>do</strong>s alunos em outros lugares que não a comuni<strong>da</strong>de<br />

atendi<strong>da</strong>. Esses coordena<strong>do</strong>res são seleciona<strong>do</strong>s por meio de indicação de pessoas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> prefeitura, e têm vínculo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento<br />

Social como cargos comissiona<strong>do</strong>s.<br />

Para as ativi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> área, ca<strong>da</strong> núcleo possui oficineiros, que têm a função de<br />

desenvolver habili<strong>da</strong>des específicas. Pagos em sua maioria com recursos <strong>da</strong> própria prefeitura,<br />

estes oficineiros são contrata<strong>do</strong>s como presta<strong>do</strong>res de serviço também por meio de indicação<br />

de pessoas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> prefeitura, mas há uma entrevista, na qual a formação e a<br />

compreensão <strong>do</strong> oficineiro em relação ao PETI e sua proposta são os pontos mais importantes<br />

a serem considera<strong>do</strong>s.<br />

Além de atender jovens envolvi<strong>do</strong>s com trabalho infantil, o PETI em João Pessoa<br />

também tem como foco jovens que não estejam trabalhan<strong>do</strong>, mas que estejam em uma<br />

situação de risco. Assim, o PETI faz um levantamento dentro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de atendi<strong>da</strong> para<br />

que também façam parte <strong>do</strong> programa jovens que possam acabar se dedican<strong>do</strong> ao trabalho<br />

ce<strong>do</strong> demais, às drogas, à criminali<strong>da</strong>de etc.<br />

1 Segun<strong>do</strong> a coordena<strong>do</strong>ra interina <strong>do</strong> projeto. Por outro la<strong>do</strong>, o coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong> área de música <strong>do</strong> PETI cita<br />

2004 como o ano de implantação desse Programa em João Pessoa.<br />

2 Aqui também o coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong> área de música concede uma informação diferente <strong>da</strong> concedi<strong>da</strong> pela<br />

coordena<strong>do</strong>ra interina: segun<strong>do</strong> ele, são 15 os núcleos <strong>do</strong> PETI que possuem aula de música. Tal<br />

incompatibili<strong>da</strong>de nessas informações mostra talvez a falta de informação de um ou <strong>do</strong> outro profissional, além<br />

de uma provável distância nas relações entre as pessoas responsáveis pelo projeto.<br />

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Educação Musical no PETI em João Pessoa<br />

As ativi<strong>da</strong>des de música ofereci<strong>da</strong>s pela PETI em João Pessoa são de canto coral,<br />

violão, flauta e percussão, e acontecem em 14 bairros. É importante ressaltar que os núcleos<br />

<strong>do</strong>s bairros não oferecem to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des de música acima cita<strong>da</strong>s, impreterivelmente;<br />

essas variam de núcleo para núcleo, poden<strong>do</strong>, por exemplo, um núcleo oferecer três ativi<strong>da</strong>des<br />

de música e outro núcleo oferecer apenas uma.<br />

A periodici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s aulas varia de núcleo para núcleo. A turma que observamos<br />

tinha uma aula de percussão por semana, que deveria ter duração de duas horas, o que nunca<br />

aconteceu, muito pelo fato de depois de uma hora de aula os alunos já estarem cansa<strong>do</strong>s e<br />

dispersos, insistin<strong>do</strong> para que a aula acabasse.<br />

A sala onde ocorria a oficina não possuía ventilação, era pequena, empoeira<strong>da</strong> e<br />

escura. De qualquer forma, cremos que não se deve exigir uma sala acusticamente bem<br />

estrutura<strong>da</strong> para uma aula de música em comuni<strong>da</strong>des carentes como as aqui observa<strong>da</strong>s.<br />

Processos pe<strong>da</strong>gógicos desenvolvi<strong>do</strong>s no núcleo <strong>do</strong> PETI<br />

Como a turma observa<strong>da</strong> estava prestes a gravar um CD, as aulas consistiam apenas<br />

de ensaios para essa gravação. Na ver<strong>da</strong>de, a única alusão à percussão nos encontros era um<br />

atabaque que o oficineiro tocava e as baquetas que um aluno batia uma na outra. Os outros<br />

alunos cantavam em coro uníssono, com alguns solos de uma aluna, as músicas <strong>do</strong> futuro CD,<br />

que consistia de composições de artistas locais e cujas letras versavam sobre criminali<strong>da</strong>de,<br />

trabalho infantil, PETI, Estatuto <strong>da</strong> Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente e drogas.<br />

Nessas aulas, o único objetivo era fazer com que os meninos decorassem a letra e<br />

cantassem no ritmo correto (talvez essa sen<strong>do</strong> a única característica que aproxime esses<br />

encontros de aulas de percussão), mas sem preocupação com a internalização <strong>do</strong>s elementos<br />

<strong>da</strong> música, nem com princípios básicos <strong>da</strong> técnica vocal ou aspectos expressivos. Já que essas<br />

aulas tratavam basicamente de um trabalho de canto, observações mais consistentes a respeito<br />

desses aspectos por parte <strong>do</strong> oficineiro poderiam ter si<strong>do</strong> feitas.<br />

Nos primeiros encontros, percebemos os alunos bastante intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>s com a nossa<br />

presença, por vezes nos olhan<strong>do</strong>, como se esperassem por um tipo de “aprovação” ou “nota”.<br />

Claramente, tratava-se <strong>do</strong> efeito <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, que é conheci<strong>do</strong> nas ciências humanas. No<br />

entanto, percebemos que isso aos poucos foi mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e já no 4° encontro nos pareceu que os<br />

alunos não mais se sentiam intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>s ao cantar.<br />

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Como mostra Mace<strong>do</strong> (2000):<br />

[...] o processo de observação não se consubstancia num ato mecânico de<br />

registro. Apesar <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> função <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r que observa, ele<br />

está inseri<strong>do</strong> num processo de interação e de atribuição de senti<strong>do</strong>s. [...] À<br />

medi<strong>da</strong> que a interação progride, ocorrerão, sem dúvi<strong>da</strong>, acréscimos e<br />

modificações no esta<strong>do</strong> inicial <strong>da</strong>s informações. (MACEDO, 2000, p.151)<br />

O oficineiro, bacharel em Música com habilitação em Percussão, utilizava de<br />

estratégias de motivação bastante esparsas, que não passavam de comentários em relação à<br />

energia <strong>do</strong> grupo, pedi<strong>do</strong>s para que os alunos cantassem em pé ou cantassem <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> ao<br />

ritmo <strong>da</strong> música ensaia<strong>da</strong>. Já na primeira aula, a dispersão é tanta que <strong>do</strong>is cantores, um deles<br />

sen<strong>do</strong> a solista, lêem uma revista enquanto ensaiam.<br />

Posteriormente, através de entrevista com o oficineiro, descobrimos que essa aluna<br />

solista havia si<strong>do</strong> balea<strong>da</strong> alguns dias antes, e que ain<strong>da</strong> não havia se recupera<strong>do</strong><br />

psicologicamente <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong>, o que explicava, portanto, a sua falta de concentração. Como<br />

um PETI é um projeto que atende principalmente comuni<strong>da</strong>des mais carentes, esse tipo de<br />

acontecimento não era raro. Também no perío<strong>do</strong> em que estivemos observan<strong>do</strong> as aulas,<br />

houve o assassinato de um <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> núcleo (mas não <strong>da</strong>s aulas de percussão).<br />

No decorrer <strong>da</strong>s aulas observa<strong>da</strong>s, o único momento em que os alunos mostraram<br />

uma empolgação foi na ocasião em que três músicos (um cantor, um flautista e um<br />

violonista), que também iriam gravar o CD, vieram de outro núcleo <strong>do</strong> PETI para ensaiar com<br />

as crianças. Como o ensaio desse dia contava com mais pessoas, to<strong>do</strong>s se reuniram na sala<br />

principal <strong>do</strong> núcleo, que era maior, mais clara e mais ventila<strong>da</strong>. Com a oportuni<strong>da</strong>de de fazer<br />

música com outros músicos e não apenas com um coral, a animação tomou conta <strong>do</strong>s alunos<br />

assim que o ensaio começou.<br />

Interessante notar que, apesar de as crianças demonstrarem habili<strong>da</strong>des em <strong>da</strong>nçar ao<br />

ritmo <strong>da</strong> música, bater a pulsação e com alguns alunos demonstran<strong>do</strong> excelentes habili<strong>da</strong>des<br />

de criação com o atabaque presente na sala, o oficineiro não demonstrava qualquer intenção<br />

de trabalhar essas habili<strong>da</strong>des com os alunos. Pensamos que esses momentos poderiam ter<br />

si<strong>do</strong> mais bem aproveita<strong>do</strong>s, com exercícios de percussão que, de fato, desenvolvessem as<br />

habili<strong>da</strong>des e capaci<strong>da</strong>des rítmicas <strong>do</strong>s alunos, já que esse, teoricamente, era o objetivo <strong>da</strong><br />

oficina.<br />

A quanti<strong>da</strong>de de observações feitas foi apenas seis, abaixo <strong>do</strong> que havíamos<br />

planeja<strong>do</strong>. Isso aconteceu pelo fato de que algumas aulas foram suspensas em virtude <strong>da</strong><br />

gravação <strong>do</strong> CD e uma aula foi suspensa em decorrência <strong>do</strong> assassinato acima menciona<strong>do</strong>.<br />

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A função <strong>da</strong> música no PETI<br />

Para os profissionais envolvi<strong>do</strong>s no PETI, a oficina de música cumpre uma função<br />

mais social e ética <strong>do</strong> que estética. Mais <strong>do</strong> que <strong>do</strong>minar uma nova linguagem e aprender, de<br />

fato, música, o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> música serve para tirá-los <strong>do</strong> perigo <strong>da</strong> rua, desenvolver a autoestima,<br />

o trabalho em conjunto, ou ain<strong>da</strong> para acalmá-los, fazer os jovens perceberem o seu<br />

valor etc. O mais importante são esses objetivos extra-musicais. Nas palavras <strong>da</strong><br />

coordena<strong>do</strong>ra interina <strong>do</strong> Programa,<br />

O que mais interessa, que é mais importante, é o resgate dessas crianças<br />

enquanto ci<strong>da</strong>dãos, <strong>da</strong> vivência social. E a gente desenvolve muitas<br />

ativi<strong>da</strong>des no senti<strong>do</strong> de resgatar a auto-estima dessas crianças. Porque a<br />

música, ela desenvolve a sensibili<strong>da</strong>de, a música desenvolve a auto-estima, a<br />

música desenvolve o trabalho em conjunto, a música desenvolve a percepção<br />

de talentos, a música desenvolve memória, atenção.<br />

O oficineiro também expressa a mesma opinião:<br />

A gente chega num canto, vê os meninos que são altamente discrimina<strong>do</strong>s,<br />

não é? Eles mesmos não sabem o valor deles e a gente chegar e descobrir os<br />

valores deles, fazer eles saberem que eles têm valor. [..] Então isso não tem<br />

nem como a gente classificar, é uma coisa enorme, uma mu<strong>da</strong>nça enorme,<br />

tanto na parte musical, mas principalmente na mu<strong>da</strong>nça deles pessoal. 3<br />

Hikiji (2006), em uma pesquisa de campo sobre o aprendiza<strong>do</strong> musical no Projeto<br />

Guri, no espaço <strong>da</strong> FEBEM 4 de São Paulo, também percebeu a força desse tipo de discurso<br />

em proponentes de projetos sociais:<br />

Ouvi <strong>da</strong> coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto Guri, Elizabeth Parro, que o objetivo <strong>do</strong><br />

projeto não é “formar músicos”, mas “mostrar para a criança uma condição<br />

de vi<strong>da</strong> melhor”. A ênfase <strong>do</strong> projeto está, evidentemente, nos aspectos<br />

sociais e éticos vincula<strong>do</strong>s às suas ativi<strong>da</strong>des, não no estético. A prática<br />

musical é vista como uma forma de ocupação <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong>s jovens e como<br />

via de acesso ao exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, tal qual compreendi<strong>da</strong> pelos<br />

propositores <strong>da</strong> intervenção. (HIKIJI, 2006, p. 65)<br />

Neste senti<strong>do</strong>, como discute Ilari (2007, p. 41), a música tem uma “função<br />

a<strong>da</strong>ptativa”, na medi<strong>da</strong> em que permite “passar o tempo em segurança, sem correr riscos”:<br />

Enquanto fazem música, seja através <strong>da</strong> execução instrumental, <strong>do</strong>s jogos<br />

simbólicos ou de programas de rádio, os indivíduos passam um tempo<br />

3 A transcrição <strong>da</strong> entrevista foi feita manten<strong>do</strong> as construções de frase usa<strong>da</strong>s pelo oficineiro, entenden<strong>do</strong> que<br />

essa era a sua forma de se expressar.<br />

4 Fun<strong>da</strong>ção Estadual <strong>do</strong> Bem-Estar <strong>do</strong> Menor<br />

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“tranqüilo” e desenvolvem inúmeras habili<strong>da</strong>des e competências, musicais e<br />

extramusicais. (ILARI, 2007, p. 41)<br />

A preocupação em mostrar resulta<strong>do</strong>s<br />

Outro ponto bastante presente tanto nas observações quanto nas entrevistas foi a<br />

preocupação <strong>do</strong>s profissionais envolvi<strong>do</strong>s com o projeto em mostrar resulta<strong>do</strong>s para a<br />

socie<strong>da</strong>de, através de performances e gravações de CDs (apesar de essa não ser uma exigência<br />

<strong>do</strong> governo federal). Durante a realização dessa pesquisa alguns núcleos <strong>do</strong> PETI de João<br />

Pessoa estavam gravan<strong>do</strong> o seu terceiro CD, e o núcleo que pesquisamos estava justamente<br />

ensaian<strong>do</strong> as músicas para essa gravação. Várias apresentações por to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de estavam<br />

agen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, como meio de divulgação <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong> que foi feito durante to<strong>do</strong> o ano.<br />

No entanto, a audição <strong>do</strong> CD revela uma grande distância entre a gravação realiza<strong>da</strong><br />

e os ensaios por nós observa<strong>do</strong>s, em termos de quali<strong>da</strong>de. Fica claro o trabalho realiza<strong>do</strong> no<br />

estúdio pós-gravação, “aprimoran<strong>do</strong>” o produto final 5 , o que ficou evidente até mesmo para<br />

alguns participantes <strong>do</strong> projeto: “Uma criança presente na sala, que canta no CD, percebe [ao<br />

ouvir a gravação] a diferença na música. Na canção “Não dê emprego à criança”, ela comenta:<br />

“Tiraram ‘eles’ e colocaram ‘elas’”. (Caderno de campo – 18 de novembro de 2010)<br />

De qualquer forma, o objetivo de uma performance ou uma gravação de um CD para<br />

o PETI ou qualquer outro projeto social não é a fruição puramente estética por parte <strong>da</strong><br />

platéia. O mais importante é mostrar para a socie<strong>da</strong>de que os jovens são capazes de algo. Mais<br />

uma vez, esse aspecto também pôde ser observa<strong>do</strong> por Rose Hikiji (2006) em sua pesquisa:<br />

“A ênfase não é necessariamente no plano estético, mas no ético. O julgamento <strong>do</strong> espetáculo<br />

assisti<strong>do</strong> levará mais em conta o fato <strong>do</strong> projeto ser algo ‘bom’ – para os jovens, para a<br />

socie<strong>da</strong>de – <strong>do</strong> que sua capaci<strong>da</strong>de de produzir o ‘belo’”. (HIkIjI, 2006, p 69).<br />

Considerações finais<br />

A importância de trabalhos sociais <strong>da</strong> amplitude <strong>do</strong> PETI é inegável. No entanto, no<br />

que se refere ao espaço observa<strong>do</strong> nesta pesquisa, fica claro que o comprometimento com a<br />

área de educação musical precisa ser reavalia<strong>do</strong>.<br />

Com uma abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica desconecta<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s expectativas <strong>do</strong>s<br />

alunos, sem efetivamente procurar desenvolver habili<strong>da</strong>des musicais, o oficineiro revelava,<br />

5 Aspectos como a afinação <strong>do</strong> grupo, a emissão vocal e a correção <strong>da</strong> letra, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> a concordância nominal e<br />

verbal <strong>da</strong> gramática normativa, puderam ser claramente percebi<strong>do</strong>s.<br />

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em sua prática, a falta de uma formação pe<strong>da</strong>gógica consistente em educação musical,<br />

provavelmente por ter apenas um bacharela<strong>do</strong>.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista as comuni<strong>da</strong>des que esse projeto atende, os objetivos de assistência<br />

às crianças e a<strong>do</strong>lescentes e suas famílias são, sem dúvi<strong>da</strong>, relevantes. Entretanto, se é através<br />

<strong>da</strong> música que proponentes de projetos sociais como o PETI pretendem contribuir para a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social, entendemos que, ao la<strong>do</strong> de propósitos éticos e sociais, objetivos<br />

musicais devem ter mais força e consistência, o que exige profissionais com formação e<br />

experiência, prepara<strong>do</strong>s para li<strong>da</strong>r com a diversi<strong>da</strong>de de condições de trabalho, de vivências<br />

musicais e expectativas <strong>do</strong>s alunos.<br />

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2 OA N O S<br />

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PENNA, Maura. Desafios para a educação musical: ultrapassar oposições e promover o<br />

diálogo. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 14, p. 35-43, mar. 2006.<br />

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Educação Musical Infantil e Meio ambiente: Uma experiência de<br />

conscientização e reflexão<br />

Elisama <strong>da</strong> Silva Gonçalves Santos<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

elisamamus@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este trabalho é um relato de experiência fruto de um Projeto de Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong>, <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia,<br />

realiza<strong>do</strong>, em uma Escola <strong>da</strong> rede de ensino priva<strong>do</strong> de Salva<strong>do</strong>r. Este estágio está sen<strong>do</strong><br />

desenvolvi<strong>do</strong> com uma turma de educação infantil com o objetivo de proporcionar as crianças<br />

uma vivência musical significativa atrela<strong>da</strong> à conscientização <strong>da</strong> preservação <strong>do</strong> Meio<br />

Ambiente. Levantan<strong>do</strong> questões como a importância <strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> Natureza, a busca<br />

pela conscientização ain<strong>da</strong> na infância, o papel <strong>da</strong> educação musical no contexto infantil, a<br />

didática <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical e possibili<strong>da</strong>des para o ensino de música escolar, levan<strong>do</strong> em<br />

conta especifici<strong>da</strong>des musicais e a interdisciplinari<strong>da</strong>de na escola.<br />

Palavras-Chave: Educação Musical, Meio ambiente, Educação Infantil.<br />

Introdução<br />

Atualmente, vivemos em uma socie<strong>da</strong>de onde a luta pela sobrevivência e a corri<strong>da</strong><br />

pelo crescimento econômico põe em risco o bem-estar <strong>do</strong> nosso planeta. São diversas ações<br />

<strong>do</strong> Homem investi<strong>da</strong>s contra a natureza, ao longo <strong>do</strong> tempo, que comprometem a própria<br />

existência humana.<br />

Desmatamentos, aterramentos, exploração exacerba<strong>da</strong> <strong>do</strong>s recursos naturais,<br />

poluição <strong>do</strong> ar, rios e outros espaços são uns <strong>do</strong>s fatores preponderantes na degra<strong>da</strong>ção <strong>do</strong><br />

meio ambiente. Para modificar esta reali<strong>da</strong>de, diversos setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, se articulam para<br />

combater práticas de destruição <strong>do</strong> nosso ambiente natural através de um processo de<br />

conscientização social, apostan<strong>do</strong> na educação como uma forma mais eficaz de<br />

conscientização e reflexão. Ten<strong>do</strong> como foco a formação educacional <strong>do</strong> ser humano que vai<br />

desde a infância até o fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Segun<strong>do</strong> Pedrini (1997), para diminuição <strong>do</strong>s problemas<br />

ambientais;<br />

O homem percebeu a necessi<strong>da</strong>de de repensar seu modelo estratégico de<br />

crescimento econômico e desenvolvimento social. Ao fazê-lo decidiu criar<br />

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meios para reverter a exploração não planeja<strong>da</strong> de seus recursos ambientais.<br />

O homem criou leis que previam multas e privação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Mas estas<br />

medi<strong>da</strong>s não foram suficientes e decidiu associar o processo educativo para<br />

conceber estrategicamente sua socie<strong>da</strong>de (PEDRINI, 1997 p. 21 e 22).<br />

É possível ressaltar que a Educação mostra-se como uma possível porta de reflexão<br />

<strong>da</strong>s atitudes para com o ambiente. As tentativas de conscientização são veicula<strong>da</strong>s através de<br />

diversos meios de comunicação, porém, no contexto educacional Brasileiro é na Escola que a<br />

maioria <strong>do</strong>s esforços estão sen<strong>do</strong> concentra<strong>do</strong>s para a formação de ci<strong>da</strong>dãos críticos e<br />

reflexivos para com a natureza.<br />

Um processo de formação que começa na infância, por isso o Tema Meio Ambiente,<br />

defini<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Educação como Tema Transversal, deve estar presente no<br />

desenvolvimento de to<strong>da</strong>s as disciplinas. E tratan<strong>do</strong>-se de Educação Musical, este relato vem<br />

mostrar que é possível um diálogo entre Música e Meio Ambiente que proporcione o<br />

desenvolvimento musical <strong>da</strong> criança e a consciência <strong>da</strong> preservação ambiental.<br />

Educação Ambiental e Educação Musical Infantil.<br />

De acor<strong>do</strong> com Dias (1991), “a evolução <strong>do</strong>s conceitos de EA (Educação Ambiental)<br />

esteve diretamente relaciona<strong>da</strong> à evolução <strong>do</strong> conceito de meio ambiente e ao mo<strong>do</strong> como<br />

este era percebi<strong>do</strong>”. A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 diversos conceitos sobre Educação Ambiental<br />

surgiram sen<strong>do</strong> defini<strong>da</strong> pela Internacional Union for the Conservation of Nature como<br />

processo de reconhecimento de valores de conceitos, volta<strong>do</strong> para o desenvolvimento de<br />

habili<strong>da</strong>des e atitudes necessárias à compreensão <strong>da</strong>s inter-relações entre o homem, sua<br />

cultura e seu entorno biofísico. No Brasil a Lei de Educação Ambiental 9795/1999 dispõe<br />

sobre pressupostos e aplicabili<strong>da</strong>de em socie<strong>da</strong>de, de acor<strong>do</strong> com a Lei;<br />

Art. 1.º Entende-se por educação ambiental os processos por meio <strong>do</strong>s quais<br />

o indivíduo e a coletivi<strong>da</strong>de constroem valores sociais, conhecimentos,<br />

habili<strong>da</strong>des, atitudes e competências volta<strong>da</strong>s para a conservação <strong>do</strong> meio<br />

ambiente, bem de uso comum <strong>do</strong> povo, essencial à sadia quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e<br />

sua sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

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É necessário considerar que a construção destes valores sociais de conservação<br />

começa na infância. Uma faixa etária de importância crucial na construção de personali<strong>da</strong>de e<br />

valores que serão leva<strong>do</strong>s por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.<br />

A Música enquanto disciplina na escola também deve ser pensa<strong>da</strong> e desenvolvi<strong>da</strong> de<br />

forma a contribuir para formação de um ci<strong>da</strong>dão crítico sobre o meio em que vive. É a partir<br />

desta reflexão que este relato mostra um Trabalho de Educação Musical, fruto de um Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong>, que vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> com crianças na faixa etária de cinco anos de<br />

i<strong>da</strong>de, de uma Escola <strong>da</strong> rede de Ensino Priva<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de Salva<strong>do</strong>r durante o ano<br />

corrente. Um <strong>do</strong>s principais objetivos <strong>do</strong> projeto é a Musicalização Infantil, utilizan<strong>do</strong> a<br />

abor<strong>da</strong>gem TECLA (Swanwick, 2003), atrela<strong>da</strong> ao desenvolvimento <strong>da</strong> Consciência<br />

ambiental e Preservação <strong>do</strong> Meio ambiente. Para isso, antes de pensar na articulação Musica x<br />

Meio Ambiente, faz-se necessário uma reflexão sobre a importância <strong>da</strong> Música na Educação<br />

Infantil. Segun<strong>do</strong> o Referencial Curricular <strong>da</strong> Educação Infantil;<br />

A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de<br />

expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio <strong>da</strong><br />

organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música<br />

está presente em to<strong>da</strong>s as culturas, nas mais diversas situações: festas e<br />

comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz<br />

parte <strong>da</strong> educação desde há muito tempo, sen<strong>do</strong> que, já na Grécia antiga, era<br />

considera<strong>da</strong> como fun<strong>da</strong>mental para a formação <strong>do</strong>s futuros ci<strong>da</strong>dãos, ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>da</strong> matemática e <strong>da</strong> filosofia. A integração entre os aspectos sensíveis,<br />

afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e<br />

comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É<br />

uma <strong>da</strong>s formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica<br />

sua presença no contexto <strong>da</strong> educação, de um mo<strong>do</strong> geral, e na educação<br />

infantil, particularmente (BRASIL, RCNEI, 1998).<br />

O trecho acima nos leva à reflexão <strong>do</strong> quanto é importante a presença <strong>da</strong> Música na<br />

Educação Infantil para formação de um ci<strong>da</strong>dão consciente <strong>do</strong> seu papel em socie<strong>da</strong>de. O<br />

processo de formação psicológica <strong>da</strong> criança está intimamente atrela<strong>do</strong> ao cultivo de aspectos<br />

<strong>do</strong> interior emocional humano e a música surge como uma ponte de desenvolvimento <strong>da</strong><br />

sensibili<strong>da</strong>de, criativi<strong>da</strong>de e integração social. Por isso é tão importante “falar sobre música,<br />

sobre sua presença na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças e na educação infantil, apontan<strong>do</strong> para sua<br />

indispensável contribuição à formação de seres humanos sensíveis, criativos e reflexivos”<br />

(BRITO, 2003, p. 12). Com isso, torna-se importante o “fazer musical” atrela<strong>do</strong> a reali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> educan<strong>do</strong> e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar proporcionan<strong>do</strong> aos educan<strong>do</strong>s o acesso a Música<br />

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enquanto Linguagem Artística e área <strong>do</strong> Conhecimento e ao mesmo tempo um caminho para a<br />

formação de seres humanos que busquem um mun<strong>do</strong> melhor.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Contexto <strong>do</strong> Estágio<br />

Esta proposta <strong>do</strong> Ensino de Música e Questões Ambientais está sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong><br />

dentro <strong>do</strong> Estágio Supervisiona<strong>do</strong>, pré-requisito para cumprimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

disciplina Prática <strong>do</strong> Ensino <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong><br />

Bahia. O estágio vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> no Colégio Adventista de Salva<strong>do</strong>r na Educação<br />

Infantil na turma <strong>do</strong> Infantil III no turno vespertino. Essa turma possui oito crianças na faixa<br />

etária de 5 anos de i<strong>da</strong>de que possuem música no currículo escolar desde o Infantil I, ou seja,<br />

<strong>do</strong> total de oito crianças apenas 2 nunca vivenciaram música na escola.<br />

O Colégio possui Música como disciplina curricular em to<strong>da</strong>s as séries, sen<strong>do</strong><br />

facultativo a partir <strong>do</strong> 6º ano, onde os alunos podem escolher outras disciplinas artísticas. A<br />

escola dispõe de um Conservatório de Música dentro <strong>do</strong> seu espaço, onde são realiza<strong>da</strong>s aulas<br />

<strong>do</strong> Curso livre de Música e <strong>do</strong> Ensino Regular <strong>da</strong> Escola, possuin<strong>do</strong> Diversos Instrumentos,<br />

uma Orquestra e Ban<strong>da</strong>s Musicais. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, é uma Escola que possui uma<br />

efervescência musical muito grande proporcionan<strong>do</strong> um contexto artístico muito construtivo<br />

para a formação <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

O tema anual <strong>da</strong> Escola é Meio Ambiente, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> mera coincidência com a<br />

Proposta de Estágio relata<strong>da</strong>, pois, este tema só foi divulga<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o meu Projeto já<br />

estava pronto. Para descrever a experiência vivi<strong>da</strong> em Sala de aula faz-se necessário deixar<br />

claro que a criança já experimenta uma diversi<strong>da</strong>de sonora desde o útero <strong>da</strong> mãe, e na medi<strong>da</strong><br />

em que vai crescen<strong>do</strong> e entra no contexto escolar, ela leva para a sala de aula suas<br />

experiências sonoras e sua forma de ver o mun<strong>do</strong>. As aulas possuem uma duração de 45<br />

minutos, a meto<strong>do</strong>logia está sen<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na perspectiva pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> educação<br />

musical e seus aspectos cognitivos, afetivos e sociais por meio <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem TECLA de<br />

Keith Swanwick, que parte <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> Técnica, Execução, Criação, Literatura e<br />

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Apreciação dentro <strong>do</strong> fazer musical em sala de aula interliga<strong>do</strong> ao Meio ambiente, que é<br />

representa<strong>do</strong> pela Fauna, Flora, o ambiente <strong>da</strong> criança e o Planeta Terra em Geral.<br />

Caracterização <strong>da</strong>s aulas<br />

Às vezes, o profissional <strong>do</strong>cente em formação levanta questões de como trabalhar<br />

musicalização infantil com crianças que ain<strong>da</strong> não <strong>do</strong>minam a leitura e a escrita. Este foi um<br />

<strong>do</strong>s principais questionamentos com os quais me deparei quan<strong>do</strong> fui informa<strong>da</strong> de que iria<br />

trabalhar com uma turma <strong>da</strong> Educação Infantil. E na construção <strong>do</strong> Projeto, a preocupação<br />

com O Meio Ambiente e formas de trabalhar conceitos musicais em sala de aula foram a<br />

união perfeita para o desenvolvimento <strong>do</strong> projeto.<br />

Desde o início <strong>do</strong> ano alguns conceitos musicais vêm sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s. Para as<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> I Uni<strong>da</strong>de, os conteú<strong>do</strong>s escolhi<strong>do</strong>s foram Proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Som e Pulsação e<br />

Ritmo. Em Proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Som realizamos diversas ativi<strong>da</strong>des de Percepção <strong>do</strong> Ambiente<br />

Sonoro e representação deste ambiente em desenhos feitos pelas crianças, ativi<strong>da</strong>de muito<br />

importante no desenvolvimento <strong>da</strong> Percepção Sonora <strong>do</strong> Ambiente delas. Segun<strong>do</strong> Fonterra<strong>da</strong><br />

(2006) para Schafer;<br />

Era preciso aperfeiçoar os mo<strong>do</strong>s de apreensão <strong>do</strong> som, valorizar sua<br />

importância, nem sempre adequa<strong>da</strong>mente percebi<strong>da</strong>, e conscientizar as<br />

pessoas a respeito <strong>do</strong> som ambiental, tornan<strong>do</strong>-as cúmplices no processo de<br />

construir um ambiente sonoro adequa<strong>do</strong> a elas e à comuni<strong>da</strong>de na qual<br />

viviam (FONTERRADA, 2006. p. 2).<br />

Nas Ativi<strong>da</strong>des de Intensi<strong>da</strong>de associamos com o tamanho <strong>do</strong>s animais, com canções<br />

que trazem o animal que caminha mais pesa<strong>do</strong>, exemplo; O Elefante e o mais leve A<br />

Formiguinha. Em Altura, trabalhamos com o som <strong>do</strong>s animais, graves e agu<strong>do</strong>s, exemplo;<br />

Passarinho, Leão, Gato e o Cachorro. Em Duração, com animais que an<strong>da</strong>m mais rápi<strong>do</strong> e/ou<br />

mais lento, como o Elefante, a Zebra e outros. Assim como a utilização <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de sonora<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> animal para trabalhar Timbre em sala.<br />

É uma forma bem Didática de associação sonora com o Mun<strong>do</strong> Animal, as crianças<br />

se identificam bastante com a Fauna, por ser algo <strong>do</strong> cotidiano deles, estarem presentes em<br />

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livros didáticos, desenhos anima<strong>do</strong>s e canções <strong>do</strong> repertório infantil. Em Pulsação e Ritmo,<br />

diversos exercícios foram realiza<strong>do</strong>s para o desenvolvimento <strong>da</strong> percepção rítmica <strong>da</strong>s<br />

crianças. Ativi<strong>da</strong>des de Apreciação, execução e improvisação sobre o ritmo de alguns<br />

animais. Utilizan<strong>do</strong> o Cd <strong>da</strong> Coleção Passeio no Zoológico (Al<strong>da</strong> Oliveira, 2003), foi possível<br />

realizar movimentos corporais <strong>do</strong> ritmo de alguns animais como Elefante, Zebra e Cavalo,<br />

execução instrumental com Baldes e representação rítmica <strong>da</strong> percepção <strong>da</strong> criança através de<br />

desenhos.<br />

A História Sonoriza<strong>da</strong> e a Paisagem Sonora também vêm constituin<strong>do</strong>-se como umas<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des onde podemos refletir sobre O Meio Ambiente de forma ain<strong>da</strong> mais direta. Em<br />

Sonorização de Histórias, utilizei um Projeto <strong>da</strong> Escola que é O Projeto Ciran<strong>da</strong> <strong>da</strong> Leitura,<br />

onde to<strong>do</strong>s os Professores ao Final <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de devem contar uma história e os educan<strong>do</strong>s<br />

reinventá-la, dramatizá-la ou Sonorizar, no caso de Música, escolhi um Compositor Clássico,<br />

Mozart e contei a história. As palavras a serem sonoriza<strong>da</strong>s diziam respeito a objetos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> musical, como Piano e Violino, aos animais; o Cavalo, e fenômenos <strong>da</strong> natureza;<br />

como a Chuva, Ventos e Trovões. Construímos com a turma um cartaz com as figuras que<br />

foram sonoriza<strong>da</strong>s onde foi possível executar com a voz e instrumentos musicais.<br />

A Paisagem Sonora é uma ativi<strong>da</strong>de que faz parte <strong>do</strong> Projeto de Estágio e será<br />

desenvolvi<strong>da</strong> em sala onde vamos contextualizar a Floresta e a Ci<strong>da</strong>de, refletin<strong>do</strong> sobre as<br />

diferenças sonoras e questões ambientais, utilizan<strong>do</strong> como material, revistas, figuras e<br />

cartazes. É importante ressaltar que sempre durante as ativi<strong>da</strong>des há uma conversa sobre os<br />

animais. Quem conhece aquele animal, quem poderia imitar os sons, reflexões de<br />

preservação, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s para com a floresta e os animais <strong>da</strong> natureza e uma auto-avaliação <strong>da</strong><br />

aula.<br />

Repertório e Registro <strong>da</strong>s Ativi<strong>da</strong>des<br />

O repertório utiliza<strong>do</strong> em sala também está intimamente liga<strong>do</strong> à vivência musical e<br />

a uma aproximação com questões <strong>da</strong> Natureza. Como já foi dito, vem sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> o Cd<br />

Coleção Passeio no Zoológico (Al<strong>da</strong> Oliveira, 2003), Cd Musican<strong>do</strong> (Cristina Lemos,<br />

Solange Maranho Gomes), Canções <strong>do</strong> Repertório Popular Infantil e Para fazer Música I e II.<br />

O registro torna-se algo importante não só como uma forma de avaliação, mas, um objeto de<br />

reflexão <strong>do</strong> que é produzi<strong>do</strong> em sala de aula e como os alunos apreendem a música. Por isso<br />

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realizamos em sala desenhos, dita<strong>do</strong>s sonoros, e a construção de Cartazes <strong>da</strong> História<br />

Sonoriza<strong>da</strong>, coletan<strong>do</strong> este material e unifican<strong>do</strong> através <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> Portfólio de ca<strong>da</strong><br />

educan<strong>do</strong>, além de filmagem de algumas aulas com a devi<strong>da</strong> autorização <strong>da</strong> Coordenação.<br />

Objetivos e Perspectivas<br />

Esse processo inicial de desenvolvimento <strong>da</strong> consciência infantil sobre a natureza, a<br />

identificação sonora e a recriação <strong>do</strong>s sons <strong>do</strong> ambiente através <strong>do</strong>s instrumentos é uma ponte<br />

de ligação para um <strong>do</strong>s maiores objetivos <strong>do</strong> Estágio, que é a Conscientização <strong>da</strong> importância<br />

<strong>da</strong> Preservação por meio <strong>da</strong> Reciclagem, e neste contexto está inseri<strong>do</strong> a Construção de<br />

Instrumentos com Material Recicla<strong>do</strong> e amostra deste material para a Comuni<strong>da</strong>de Escolar,<br />

como uma forma de conscientizar as crianças <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> reciclagem para diminuição<br />

<strong>do</strong>s problemas ambientais.<br />

A relação Educa<strong>do</strong>r e Educan<strong>do</strong><br />

Em meio a tantas perspectivas e ações rumo à reflexão sobre o Planeta em que<br />

vivemos, é importante ressaltar que a consciência sobre as práticas devem ser pensa<strong>da</strong>s no<br />

seio <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de. A relação de Ensino e aprendizagem não pode ser ofusca<strong>da</strong> por um<br />

educa<strong>do</strong>r que não percebe a construção <strong>do</strong> conhecimento como um processo. Portanto faz-se<br />

necessário a reflexão em sala de aula com as crianças, uma conversa aberta sobre o que<br />

aprendemos ou que queremos aprender, uma auto-avaliação e a criação e improvisação, que<br />

são ativi<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais para que a criança possa se expressar de forma musical e pessoal<br />

em sala de aula.<br />

Segun<strong>do</strong> Teca Alencar de Brito (2003), a música também é uma linguagem cujo<br />

conhecimento a criança deve construir. A criança precisa ser ouvi<strong>da</strong>, assisti<strong>da</strong> e entender que<br />

ouvir também é fun<strong>da</strong>mental para perceber o seu semelhante e o seu ambiente.<br />

Conclusão<br />

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É preciso ressaltar que esta é mais uma abor<strong>da</strong>gem didática dentre as diversas formas<br />

de se pensar o cotidiano <strong>do</strong> ensino de música em sala de aula. Embora a temática Meio<br />

Ambiente esteja presente, faz-se necessário ampliar o leque de possibili<strong>da</strong>des em sala,<br />

trabalhan<strong>do</strong> Educação Musical de forma específica e também interdisciplinar. As crianças tem<br />

se envolvi<strong>do</strong> nas ativi<strong>da</strong>des, é possível perceber um crescimento musical muito grande não só<br />

através <strong>do</strong>s registros como também durante o processo, as aulas têm si<strong>do</strong> bastante<br />

descontraí<strong>da</strong>s, mas sem per<strong>da</strong> <strong>do</strong> comprometimento com as ativi<strong>da</strong>des e os objetivos. É<br />

notável a identificação que elas trazem para com o mun<strong>do</strong> animal, as árvores, as paisagens e<br />

sons <strong>do</strong> ambiente. Segun<strong>do</strong> a Lei 9795 de 1999, a Educação Ambiental não deve ser<br />

disciplina isola<strong>da</strong> no currículo, mas, de acor<strong>do</strong> com o art. 2º; deve ser desenvolvi<strong>da</strong> como uma<br />

prática educativa integra<strong>da</strong>, contínua e permanente em to<strong>do</strong>s os níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

ensino formal.<br />

O processo de Musicalização de crianças “começa espontaneamente, de forma<br />

intuitiva, por meio <strong>do</strong> contato com to<strong>da</strong> a varie<strong>da</strong>de de sons <strong>do</strong> cotidiano, incluin<strong>do</strong> aí a<br />

presença <strong>da</strong> música.” (BRITO, 2003, p. 35). A percepção <strong>do</strong> ambiente sonoro <strong>da</strong> criança e a<br />

compreensão <strong>do</strong> meio sócio-cultural em que ela vive são peças fun<strong>da</strong>mentais para a<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento musical infantil.<br />

Por isso, esta é uma proposta de ensino que pretende priorizar antes de tu<strong>do</strong> o contexto<br />

musical <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, e as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> música na infância, onde a priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

prática musical está na vivência que a educação musical pode proporcionar. Bem como,<br />

contribuir para a formação de ci<strong>da</strong>dãos comprometi<strong>do</strong>s com a Preservação <strong>do</strong> Meio Ambiente<br />

e priorizan<strong>do</strong> a Educação Musical como um “meio para o desenvolvimento <strong>da</strong> expressão, <strong>do</strong><br />

equilíbrio, <strong>da</strong> auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social”<br />

(BRASIL, 1998, p. 49). Para concluir, faz-se necessário pensar que para existir uma<br />

socie<strong>da</strong>de consciente de suas ações para com o ambiente, é preciso agir de forma reflexiva, a<br />

formação de uma geração consciente sócio-culturalmente requer anos, mas é possível mu<strong>da</strong>r<br />

através <strong>da</strong> Educação. A escola ain<strong>da</strong> é um <strong>do</strong>s principais meios onde a criança tem os seus<br />

primeiros contatos com o mun<strong>do</strong> externo, é onde aprende a conviver em socie<strong>da</strong>de e<br />

desenvolve a percepção de si e <strong>do</strong> ambiente em que atua.<br />

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Referências<br />

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm>. Acesso em: 17/04/<strong>2011</strong>.<br />

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Referencial curricular nacional para a educação infantil (RCNEI). Brasília, DF:<br />

MEC/SEF,1998.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.<br />

FONTERRADA. Marisa Trench de Oliveira. Música e meio ambiente - três eixos para a<br />

compreensão <strong>do</strong> pensamento de Murray Schafer. Disponível em:<<br />

http://www.musimid.mus.br/2_<strong>do</strong>ctos/Marisa%20Fonterra<strong>da</strong>%20Schafer%20Musica%20e%2<br />

0Meio%20ambiente.pdf >. Acesso em: 17/04/<strong>2011</strong>.<br />

FRANÇA, Cecília Cavalieri. Para fazer Música. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008<br />

FRANÇA, Cecília Cavalieri. Para fazer Música. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.<br />

OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. Passeio no Zoológico. Salva<strong>do</strong>r. Solisluna, 2003. 32 p. il.<br />

PEDRINI, Alexandre de Gusmão. Trajetórias <strong>da</strong> Educação Ambiental. In: PEDRINI,<br />

Alexandre de Gusmão (org.). Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas.<br />

Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Trad. Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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2 OA N O S<br />

Educação Musical na escola CETL: um ano musicalizan<strong>do</strong> os seus alunos<br />

Janieri Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Facul<strong>da</strong>de de Natal (FAL)<br />

janierisilva@hotmail.com<br />

Resumo: Esta comunicação é um relato de experiência de um ano, 2010/<strong>2011</strong> com a temática<br />

de Educação Musical na escola. O objetivo é entender como se deu o processo <strong>do</strong> ensino de<br />

musica no CETL (Centro Educacional Teresa de Lisieux). Também será descrito a<br />

meto<strong>do</strong>logia que é emprega<strong>da</strong> durante as aulas, tanto quanto, o objetivo e os conteú<strong>do</strong>s<br />

ministra<strong>do</strong>s. Nosso objetivo vai além de relatar o trabalho e a de fomentar idéias, pois o<br />

principal é agregar multiplica<strong>do</strong>res, que lutam por uma educação musical de quali<strong>da</strong>de.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, Conteú<strong>do</strong>s, Meto<strong>do</strong>logia.<br />

Introdução<br />

A música deverá tornar-se obrigatória a partir de agosto de <strong>2011</strong> nas escolas<br />

brasileiras, algumas instituições de ensino já tomaram o primeiro passo e a<strong>do</strong>taram a música<br />

desde 2008. Com a vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> lei 11.769 a música entra como conteú<strong>do</strong> obrigatório e que<br />

deve ter objetivos <strong>da</strong> mesma forma que outros conteú<strong>do</strong>s também obrigatórios <strong>da</strong> grade<br />

curricular, seja no ensino infantil, ensino fun<strong>da</strong>mental e no ensino médio. Pensar nessa música<br />

na sala de aula é pensar também na quanti<strong>da</strong>de de profissionais que ain<strong>da</strong> não estão<br />

capacita<strong>do</strong>s e em um merca<strong>do</strong> de trabalho que não tem o número de profissionais necessários<br />

para exercer a função de professor. Segun<strong>do</strong> o Portal Aprendiz em entrevista com os<br />

secretários de educação afirma que “a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música nas escolas, por<br />

um la<strong>do</strong>, trará melhoria na formação cultural <strong>do</strong> aluno. Mas, por outro, terá um obstáculo: a<br />

falta de profissionais capacita<strong>do</strong>s para atuar nas salas de aula.” (PORTAL APRENDIZ,<br />

2010).<br />

A Educação Musical escolar ain<strong>da</strong> é trata<strong>da</strong> no Rio Grande <strong>do</strong> Norte de forma muito<br />

diversifica<strong>da</strong>, existem escolas que focam o ensino <strong>da</strong> música através <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong><br />

instrumento, de forma a não proporcionar ao aluna<strong>do</strong> outras experiências, sen<strong>do</strong> a meta só a<br />

aprendizagem <strong>do</strong> instrumento. Em outras só existe aulas de música em alguns níveis de<br />

ensino como no fun<strong>da</strong>mental I (Séries que compreendem <strong>do</strong> 1º ao 5º ano) com flauta <strong>do</strong>ce e<br />

coral infantil, e em algumas instituições, essas aulas acontecem em momentos extra sala de<br />

aula, não fazen<strong>do</strong> parte <strong>da</strong> rotina <strong>da</strong> escola, sen<strong>do</strong> uma aula particular não incluin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

alunos <strong>da</strong> escola.<br />

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Algumas escolas dispõem de materiais para que a música possa ser trabalha<strong>da</strong> como:<br />

instrumentos de bandinha rítmica, violões, tecla<strong>do</strong>s, instrumentos de sopro. Enquanto outras<br />

não têm um instrumento musical sequer, necessitan<strong>do</strong> <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho, com o uso de materiais recicláveis na construção de<br />

instrumentos alternativos.<br />

Contexto de Ensino<br />

O Centro Educacional Teresa de Lisieux (CETL), fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em 1994 é localiza<strong>do</strong> na<br />

ci<strong>da</strong>de de Parnamirim, RN. Hoje funciona <strong>da</strong> Educação Infantil ao Ensino Médio. A<strong>do</strong>tou a<br />

educação musical desde fevereiro de 2010, inserin<strong>do</strong> a mesma desde Nível D (Educação<br />

Infantil) ao 9º ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental, e que tem como meta fazer com que os alunos<br />

vivenciem os conteú<strong>do</strong>s, experimente-os, contextualize-os, não com o objetivo de formar<br />

músicos, mas com o intuito de que os alunos compreen<strong>da</strong>m a linguagem musical. Após um<br />

ano de educação musical nesta escola 2010/<strong>2011</strong> chega-se o momento de refletir quais foram<br />

os avanços advin<strong>do</strong>s com essa disciplina e como se deu o desenvolvimento <strong>da</strong> mesma, desde<br />

o emprego de conteú<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia emprega<strong>da</strong> nos diferentes níveis de ensino, fazen<strong>do</strong><br />

assim uma avaliação de to<strong>do</strong> o processo de ensino-aprendizagem musical.<br />

FIGURA 1 – Estrutura <strong>da</strong> escola<br />

A Proposta Pe<strong>da</strong>gógica Da Educação Musical No CETL.<br />

Como já foi cita<strong>do</strong> acima, o CETL (Centro Educacional Teresa de Lisieux) a<strong>do</strong>tou o<br />

ensino de música como obrigatório desde 2010. Os objetivos <strong>do</strong> ensino de música nesta<br />

escola surgiram <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de fazer com que os alunos vivenciassem a linguagem<br />

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musical, além de aprender aspectos importantes <strong>da</strong> mesma como: história <strong>da</strong> música<br />

ocidental, história <strong>da</strong> música popular brasileira, percepção musical, solfejo, leitura rítmica e<br />

etc. Consideramos esses conteú<strong>do</strong>s importantes por fazerem parte <strong>do</strong> processo cultural <strong>do</strong>s<br />

nossos alunos além de ajudá-los no seu desenvolvimento escolar, seja através <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de<br />

e <strong>do</strong> próprio aprendiza<strong>do</strong>. O CETL é uma escola regular e a<strong>do</strong>tou o ensino <strong>da</strong> disciplina<br />

Educação Musical como essencial a to<strong>do</strong>s os seus alunos e preza pela quali<strong>da</strong>de desse ensino<br />

A proposta utiliza<strong>da</strong> para embasar o ensino de música no CETL visa sempre os<br />

PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), onde o aluno é chama<strong>do</strong> a apreciar, produzir e<br />

refletir sem esquecer a sua origem e principalmente o seu ambiente musical ao qual já está<br />

habitua<strong>do</strong>. Pois segun<strong>do</strong> esses parâmetros:<br />

Qualquer proposta de ensino que considere essa diversi<strong>da</strong>de precisa abrir<br />

espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, acolhen<strong>do</strong>-a,<br />

contextualizan<strong>do</strong>-a e oferecen<strong>do</strong> acesso a obras que possam ser significativas<br />

para o seu desenvolvimento pessoal em ativi<strong>da</strong>des de apreciação e produção<br />

(PCNs – Arte, 1997, p.53).<br />

Além de pensarmos nesse ensino de música contextualiza<strong>do</strong> com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

aluno pensamos também nos benefícios que esta linguagem artística iria trazer. A aquisição<br />

de valores sociais antes de proporcioná-los outras experiências musicais. Quer dizer, antes <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> propriamente dito, o respeito ao próximo, a convivência, a interação são trabalha<strong>da</strong>s<br />

através de jogos e conteú<strong>do</strong>s musicais. Experiências essas que viriam de forma progressiva<br />

nos diferentes campos <strong>da</strong> música, fossem nas ativi<strong>da</strong>des de leitura rítmica, de solfejo, de coral<br />

infantil, <strong>da</strong> flauta <strong>do</strong>ce, <strong>da</strong> musicalização e <strong>da</strong> Educação Musical em si para as séries <strong>do</strong><br />

fun<strong>da</strong>mental.<br />

A música, como qualquer conhecimento, entendi<strong>da</strong> como uma linguagem<br />

artística, organiza<strong>da</strong> e fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> culturalmente, é uma prática social,<br />

pois nela estão inseri<strong>do</strong>s valores e significa<strong>do</strong>s atribuí<strong>do</strong>s aos indivíduos e à<br />

socie<strong>da</strong>de que a constrói e que dela se ocupam (LOUREIRO, 2001, p.113).<br />

A Educação Musical no CETL durante o ano de 2010/<strong>2011</strong> foi uma proposta<br />

vivencial, quer dizer, os alunos fossem eles <strong>da</strong> Educação Infantil ou <strong>do</strong> Fun<strong>da</strong>mental são<br />

chama<strong>do</strong>s a perceber a música primeiramente dita, antes de estu<strong>da</strong>r qualquer aspecto teórico,<br />

ou seja, é necessário estimular o gosto pela linguagem, que por mais que eles gostem<br />

necessitam ampliar o seu conhecimento, sejam através de apreciações, dinâmicas musicais e<br />

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outras ativi<strong>da</strong>des. É necessário entender como se deu o processo de desenvolvimento dessas<br />

ativi<strong>da</strong>des, para poder aprender quais são os elementos teórico-musicais envolvi<strong>do</strong>s nelas. É<br />

necessário proporcionar ao aluna<strong>do</strong> uma educação musical significativa, uma educação que<br />

consiga conciliar teoria e prática e não torná-los meramente mecaniza<strong>do</strong>s.<br />

A música na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> ser humano é tão importante como real e concreta, por<br />

ser um elemento que auxilia no bem estar <strong>da</strong>s pessoas. No contexto escolar a<br />

música tem a finali<strong>da</strong>de de ampliar e facilitar a aprendizagem <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>,<br />

pois ensina o indivíduo a ouvir e a escutar de maneira ativa e refleti<strong>da</strong>.<br />

(ONGARO, SILVA, RICCI, 2006, p.3).<br />

Acreditamos que uma proposta de Educação Musical de quali<strong>da</strong>de não deve ser<br />

encontra<strong>da</strong> só em um méto<strong>do</strong> e sim no conjunto de vivencias e experiências que possam ser<br />

proporciona<strong>da</strong>s a esse aluno. A canção que muitas vezes em escolas é trata<strong>da</strong> como o produto<br />

para apresentações, no CETL ela é um meio de vivência musical riquíssimo para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos. “É inegável o valor <strong>da</strong> canção na iniciação musical <strong>da</strong>s crianças, não<br />

só pelo seu aspecto sintético, globaliza<strong>do</strong>r, mas também pelo seu poder de despertar a<br />

sensibili<strong>da</strong>de afetiva” (ROCHA. 90 p.28).<br />

O ritmo nas ativi<strong>da</strong>des de Educação Musical e Musicalização vêm sempre de forma<br />

gra<strong>da</strong>tiva. É necessário o aluno vivenciar o ritmo, experimentan<strong>do</strong> de forma corpórea, ou seja,<br />

as ativi<strong>da</strong>des precisam ser desenvolvi<strong>da</strong>s de forma a sensibilizar ritmicamente o aluno,<br />

proporcionan<strong>do</strong> um autoconhecimento rítmico. Fazen<strong>do</strong> com que o mesmo aprecie, produza e<br />

reflita sobre o está fazen<strong>do</strong>. Aprender o que é uma pulsação, compreender uma divisão<br />

binária, ternária, quaternária ou estu<strong>da</strong>r elementos <strong>da</strong> teoria musical é algo que deve ser<br />

pensa<strong>do</strong> após to<strong>do</strong>s esses momentos vivenciais. Seja como um estu<strong>do</strong> inicial para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> de flauta <strong>do</strong>ce, ou para o canto coral e também para as vivências em Educação<br />

Musical. Não esquecen<strong>do</strong> que essas ativi<strong>da</strong>des rítmicas além de sensibilizar o aluno como já<br />

foi cita<strong>do</strong> auxiliará na coordenação motora, no desenvolvimento cognitivo, essencial na<br />

formação <strong>do</strong> indivíduo.<br />

O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio <strong>do</strong> sistema<br />

nervoso. Isto porque to<strong>da</strong> expressão musical ativa age sobre a mente,<br />

favorecen<strong>do</strong> a descarga emocional, a reação motora e alivian<strong>do</strong> as tensões.<br />

Qualquer movimento a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> a um ritmo é resulta<strong>do</strong> de um conjunto<br />

completo (e complexo) de ativi<strong>da</strong>des coordena<strong>da</strong>s (CHIARELLI;<br />

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BARRETO, 2005).<br />

O coral infantil <strong>do</strong> CETL é forma<strong>do</strong> pelas turmas <strong>do</strong> 1º, 2º e 3º ano, hoje em torno de<br />

50 alunos. As turmas têm o seu repertório passa<strong>do</strong> nas aulas separa<strong>da</strong>s, mas também existe o<br />

momento em conjunto, momento esse de promover a interação e principalmente a<br />

socialização entre eles. O repertório <strong>do</strong> coral é sempre de caráter infantil e apropria<strong>do</strong> a sua<br />

faixa etária de 6 a 8 anos. As apresentações são to<strong>da</strong>s de acor<strong>do</strong> ao calendário oficial <strong>da</strong><br />

escola para que o mesmo possa mostrar o seu trabalho junto à comuni<strong>da</strong>de escolar.<br />

O trabalho <strong>do</strong> coro é solidário. O canto coral privilegia a união entre as<br />

pessoas e a socialização, além de proporcionar um conhecimento de caráter<br />

cultural. O canto coral é assim, ti<strong>do</strong> como uma ativi<strong>da</strong>de importante na<br />

formação social <strong>da</strong> criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente. A música faz parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas e as escolas não podem desconsiderar isso (BRÉSCIA, 2003 p.84).<br />

Entran<strong>do</strong> para a área instrumental no CETL temos aula de iniciação à flauta <strong>do</strong>ce<br />

para os alunos <strong>do</strong> 4º e 5º anos, onde o processo de musicalização é inicia<strong>do</strong> através <strong>da</strong> flauta.<br />

Mesmo começan<strong>do</strong> com o instrumento o aluno não é condiciona<strong>do</strong> a regras <strong>da</strong> teoria musical,<br />

e sim o mesmo passa por to<strong>do</strong> o processo de familiarização e experimentação <strong>do</strong> instrumento.<br />

Esse processo se dá desde o conhecimento <strong>da</strong> flauta, passan<strong>do</strong> pelo trabalho <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong>des<br />

sonoras, onde os alunos aprendem alguns parâmetros já utilizan<strong>do</strong> a flauta como instrumento<br />

facilita<strong>do</strong>r, até a execução de algumas canções.<br />

Nas turmas <strong>do</strong> 6º ao 9º ano, a música é defini<strong>da</strong> como uma disciplina que possibilita<br />

aos alunos o acesso à linguagem artística e a to<strong>da</strong> sua estrutura, ten<strong>do</strong> seus conteú<strong>do</strong>s em<br />

sequência, desde o processo histórico musical de acor<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> ser erudito<br />

ou popular, até ativi<strong>da</strong>des de percepção rítmica, solfejos e vivências corporais musicais.<br />

Ten<strong>do</strong> como premissa o conhecimento <strong>da</strong> estrutura <strong>do</strong> processo musical antes <strong>da</strong> execução <strong>do</strong><br />

instrumento, experimentan<strong>do</strong> diversos materiais sonoros, seja instrumentos recicláveis,<br />

materiais de bandinha rítmica e etc. O Papel <strong>do</strong> professor é ir aproveitan<strong>do</strong> as experiências <strong>do</strong><br />

aluno e favorecer o processo de aprendizagem futuro.<br />

No caso <strong>da</strong> educação musical, que deve ser ofereci<strong>do</strong> pelo ensino formal<br />

para promover o efetivo desenvolvimento <strong>do</strong>s alunos poderia ser a<br />

ampliação de sua bagagem musical: não porque o conhecimento musical<br />

cotidiano seja “inferior”, mas porque ele certamente é limita<strong>do</strong>, caben<strong>do</strong> à<br />

educação formal interferir para ampliar e conduzir a formação educacional<br />

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2 OA N O S<br />

<strong>da</strong>s pessoas (BENEDETTI; KERR, 2008, p. 41).<br />

Os objetivos e conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> educação musical nos diferentes níveis de<br />

ensino no CETL que foram trabalha<strong>do</strong>s durante o ano 2010/<strong>2011</strong>.<br />

• Educação Infantil<br />

Vivenciar a música em to<strong>da</strong>s as suas formas desde cantar a conscientização dessas<br />

ativi<strong>da</strong>des;<br />

Desenvolver a sensibili<strong>da</strong>de rítmica, auditiva no trabalho com o som;<br />

Estimular as crianças à participação principalmente no desenvolvimento <strong>do</strong> convívio com<br />

os colegas.<br />

Conteú<strong>do</strong>s<br />

1º trimestre<br />

• Vivências Musicais – Méto<strong>do</strong> Willems de educação musical<br />

• As proprie<strong>da</strong>des sonoras<br />

• Timbre<br />

• Altura<br />

• Intensi<strong>da</strong>de<br />

• Duração<br />

2º Trimestre<br />

• Vivências Musicais – Méto<strong>do</strong> Willems de educação musical;<br />

• As notas Musicais;<br />

• A percepção;<br />

• Os jogos musicais;<br />

• A bandinha rítmica.<br />

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3º Trimestre<br />

• Percepção auditiva;<br />

• Percepção rítmica;<br />

• A canção;<br />

• 1º, 2º, 3º ano – Coral Infantil<br />

Proporcionar ao aluno um aprendiza<strong>do</strong> sobre o uso correto <strong>da</strong> voz;<br />

Propor interação entre os alunos já que coral é grupo, e grupo precisa de participação,<br />

empenho e consonância de to<strong>do</strong>s;<br />

Desenvolver uma correta afinação, postura e impostação de voz ao cantar;<br />

Aprender noções de teoria musical para que possa aplicar na prática coral.<br />

Conteú<strong>do</strong>s<br />

1º Trimestre<br />

• O som<br />

• As Notas<br />

• As proprie<strong>da</strong>des Sonoras<br />

• O vocalize<br />

• A postura<br />

• As canções<br />

2º Trimestre<br />

• A Melodia<br />

• A música Clássica<br />

• A música Popular<br />

• O compositor<br />

• O interprete<br />

• As canções<br />

• A respiração<br />

3º Trimestre<br />

• Percepção Rítmica e Melódica<br />

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• As Canções e o trabalho vocal<br />

4º e 5º ano – Flauta <strong>do</strong>ce<br />

• Proporcionar o aprendiza<strong>do</strong> em flauta <strong>do</strong>ce;<br />

• Desenvolver a percepção musical seja ela melódica ou rítmica;<br />

• Desenvolver a respiração para uma melhor execução instrumental.<br />

Conteú<strong>do</strong>s<br />

Conteú<strong>do</strong>s que fazem parte <strong>do</strong>s três bimestres.<br />

• O processo de respiração para execução na flauta;<br />

• As notas musicais;<br />

• As Figuras musicais;<br />

• A leitura musical;<br />

• As canções para flauta.<br />

Educação Musical – 6º ao 9º ano.<br />

Analisar diferentes estilos e processos musicais na tentativa de colocá-los em prática;<br />

Conscientizar sobre a importância <strong>da</strong> expressão corporal e <strong>do</strong>s procedimentos de<br />

aquecimento <strong>do</strong> corpo.<br />

Conteú<strong>do</strong>s 1º Trimestre:<br />

• O cantar;<br />

• O Falar;<br />

• Os Ritmos Brasileiros;<br />

• A criação Musical;<br />

• A Musicalização nos diferentes níveis.<br />

Conteú<strong>do</strong>s 2º Trimestre e 3º Trimestre<br />

• Figuras Musicais;<br />

• A Fisiologia <strong>da</strong> voz;<br />

• O Aquecimento vocal;<br />

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2 OA N O S<br />

• O Aquecimento corporal;<br />

• O Trabalho com intervalos musicais.<br />

Considerações finais<br />

Pensar em Educação musical é ter a consciência <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />

importância ao lecionar a mesma, tanto para o profissional como para a escola. Para o<br />

profissional, a segurança na difusão <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, no planejamento e principalmente nos<br />

objetivos a ser atingi<strong>do</strong>s. Para a escola, na estrutura física para as aulas, nos recursos<br />

necessários para o desenvolvimento nesse trabalho.<br />

Vejo a educação musical no CETL progredin<strong>do</strong> a ca<strong>da</strong> dia. Lembran<strong>do</strong> bem, a<br />

educação musical faz parte <strong>da</strong> rotina <strong>do</strong>s alunos, é algo que já estão habitua<strong>do</strong>s. Os nossos<br />

alunos não se sentem pressiona<strong>do</strong>s a tocar um instrumento musical. Eles têm a consciência<br />

que antes de tu<strong>do</strong> desenvolver a consciência musical através de vivências rítmicas, melódicas<br />

é mais importante.<br />

A proposta <strong>da</strong> educação musical <strong>da</strong> Educação Infantil ao 9º ano <strong>do</strong> Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental, é algo de grande valia, é acreditar nos benefícios que a música pode trazer aos<br />

seus alunos sem cobrar nenhum ônus financeiro além <strong>da</strong> mensali<strong>da</strong>de normal, sen<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>s<br />

primeiras escolas de Parnamirim a dispor de um profissional forma<strong>do</strong> na área para lecionar<br />

essas aulas.<br />

Após um ano podemos dizer que acreditamos sim na Educação Musical e<br />

principalmente nos resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com ela. Que nos orgulhamos em termos investi<strong>do</strong><br />

nessa área, pois sabemos o quanto ela auxilia na aprendizagem de to<strong>do</strong>s os indivíduos.<br />

Educação Musical para to<strong>do</strong>s é o que defendemos e acreditamos. Uma educação onde to<strong>do</strong>s<br />

os professores sejam capacita<strong>do</strong>s e que os alunos sintam prazer em participar, pois a música<br />

deve fazer parte <strong>da</strong>s alegrias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mesma forma que alegra os nossos ouvi<strong>do</strong>s.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BENEDETTI, Kátia Simone; KERR, Dorotéa Macha<strong>do</strong>. O papel <strong>do</strong> conhecimento musical<br />

cotidiano na educação musical formal a partir de uma abor<strong>da</strong>gem sócio-histórica.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre: Revista nº 20. 2008<br />

BRÉSCIA, V.P. Educação musical: Bases Psicológicas e Ação Preventiva. São Paulo:<br />

Átomo, 2003.<br />

CHIARELLI, Lígia Karina Meneghetti; BARRETO, Sidirley de Jesus. A Importância <strong>da</strong><br />

Musicalização na Educação Infantil e no Ensino Fun<strong>da</strong>mental - A Música como Meio de<br />

Desenvolver a inteligência e a interação <strong>do</strong> ser. Disponível em:<br />

. Acessa<strong>do</strong> em: 02 de<br />

Abril de <strong>2011</strong>.<br />

LOUREIRO, Alícia Maria Almei<strong>da</strong>. O ensino de música na escola fun<strong>da</strong>mental: um<br />

estu<strong>do</strong> exploratório. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>. Belo Horizonte: PUC/Minas. 2001.<br />

ONGARO; Carina de Faveri. SILVA; Cristiane de Souza. RICCI; Sandra Mara. A<br />

Importância <strong>da</strong> Música na Aprendizagem. Disponível em: <<br />

http://www.alexandracaracol.com/Ficheiros/music.pdf>. Acessa<strong>do</strong> em: 02 de Abril de <strong>2011</strong>.<br />

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – Artes – Ministério <strong>da</strong> Educação. Vol 6.<br />

Brasília: MEC, 1997.<br />

PORTAL APRENDIZ. Secretarias apontam falta de professores de música com boa<br />

formação. Disponível em: < http://aprendiz.uol.com.br/content/niuocrukip.mmp>. Acessa<strong>do</strong><br />

em: 04 de Maio de <strong>2011</strong>.<br />

ROCHA, Carmen Maria Mettig. Educação Musical Méto<strong>do</strong> Willems. 2º Edição, Salva<strong>do</strong>r:<br />

Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong> Bahia. 1990.<br />

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2 OA N O S<br />

Educação musical não formal a partir <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> de samba: uma proposta de<br />

extensão atuan<strong>do</strong> na formação de educa<strong>do</strong>res musicais<br />

Eduar<strong>do</strong> Conegundes de Souza<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de São Carlos<br />

edudemaria01@gmail.com<br />

Resumo: O presente artigo busca apresentar o desenvolvimento de um projeto de extensão<br />

universitária envolven<strong>do</strong> a parceria entre o curso de Educação Musical <strong>da</strong> UFSCar e o Núcleo<br />

de Samba Cupinzeiro, associação cultural sem fins lucrativos que atua desde 2001 na ci<strong>da</strong>de<br />

de Campinas-SP. Entenden<strong>do</strong> a indissociabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s processos de pesquisa, ensino e<br />

extensão, esta parceria teve o objetivo principal de proporcionar a construção de saberes e a<br />

complementação <strong>da</strong> formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s em Educação Musical no contato com<br />

manifestações <strong>da</strong> cultura popular e ações educativas desenvolvi<strong>da</strong>s por agentes integrantes <strong>da</strong><br />

instituição parceira. Através de oficinas, ro<strong>da</strong>s de samba e <strong>da</strong> construção de um ambiente<br />

virtual de ensino-aprendizagem, buscamos integrar a formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s a práticas<br />

culturais concretas, aos processos comunitários e de sociabili<strong>da</strong>de, potencialmente<br />

enriquece<strong>do</strong>res para a formação <strong>do</strong>s futuros educa<strong>do</strong>res musicais. Paralelamente, o projeto<br />

visou proporcionar uma alternativa viável de acesso a ativi<strong>da</strong>des culturais e formativas à<br />

população, além de gerar nos alunos e participantes reflexões acerca <strong>do</strong>s processos culturais<br />

vivencia<strong>do</strong>s, entenden<strong>do</strong>-os como ações coletivas que envolvem também processos não<br />

formais de educação em meio à prática cultural nos seus diversos níveis.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, Educação Não-formal, Samba.<br />

Apresentação<br />

A fonte motora para o projeto aqui apresenta<strong>do</strong> foi o desejo de estabelecer pontes<br />

possíveis entre os saberes construí<strong>do</strong>s em meio a práticas <strong>da</strong> cultura popular com as ativi<strong>da</strong>des<br />

de ensino, pesquisa e extensão no interior <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Pública.<br />

Para isso foi estabeleci<strong>da</strong> uma parceria entre o Núcleo de Samba Cupinzeiro e a<br />

UFSCar (Curso de Educação Musical). Tal parceria foi formaliza<strong>da</strong> através de projeto<br />

aprova<strong>do</strong> via Proext 1 .<br />

O referi<strong>do</strong> núcleo é uma associação sem fins lucrativos que vem desenvolven<strong>do</strong><br />

ativi<strong>da</strong>des culturais abertas à comuni<strong>da</strong>de na ci<strong>da</strong>de de Campinas SP. Ela iniciou suas<br />

ativi<strong>da</strong>des no ano de 2001 e vem desenvolven<strong>do</strong> ações culturais e educacionais em torno <strong>da</strong><br />

Ro<strong>da</strong> de Samba como manifestação aglutina<strong>do</strong>ra de seus participantes em torno <strong>da</strong> prática<br />

musical <strong>do</strong> samba enquanto importante matriz musical e cultural brasileira. A prática mensal<br />

<strong>da</strong>s Ro<strong>da</strong>s de Samba <strong>do</strong> grupo se dá em espaços manti<strong>do</strong>s em parceria com outras enti<strong>da</strong>des<br />

1<br />

Proext/SP 2009 Cultura - Programa de Apoio à Extensão Universitária às Universi<strong>da</strong>des no Esta<strong>do</strong> de São<br />

Paulo. Fun<strong>do</strong> Nacional de Cultura<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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2 OA N O S<br />

comunitárias, culturais e movimentos sociais, sen<strong>do</strong> este um <strong>do</strong>s fatores fun<strong>da</strong>mentais para o<br />

estabelecimento de um contato estreito entre o grupo e a comuni<strong>da</strong>de. As ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

associação têm como base a quebra <strong>da</strong> relação entre músicos (artistas) e platéia. O Núcleo<br />

Cupinzeiro busca, portanto, gerar uma relação que vai além <strong>da</strong>quela que se estabelece com a<br />

cultura enquanto bem de consumo. Ou seja, busca inserir a to<strong>do</strong>s os participantes como<br />

sujeitos ativos, propositores e produtores <strong>do</strong> processo cultural comunitário.<br />

A aproximação e atuação junto a esta associação, num primeiro momento abriram a<br />

percepção para uma série de procedimentos de recuperação e difusão <strong>da</strong> memória cultural<br />

dessa manifestação em meio a um processo que também poderia ser considera<strong>do</strong> como de<br />

educação não-formal. A partir dessa percepção foi realiza<strong>da</strong> uma pesquisa de mestra<strong>do</strong>,<br />

desenvolvi<strong>da</strong> durante os anos de 2005 e 2006, intitula<strong>da</strong> “Ro<strong>da</strong> de Samba: espaço <strong>da</strong><br />

memória, educação não-formal e sociabili<strong>da</strong>de”. 2 A partir dessa pesquisa foi possível fazer<br />

um acompanhamento <strong>da</strong>s diversas ativi<strong>da</strong>des culturais e comunitárias liga<strong>da</strong>s à prática <strong>do</strong><br />

grupo em questão, bem como de outros <strong>do</strong>is grupos com atuações similares 3 . A partir de um<br />

conjunto de observações em campo e posteriores análises com base em estu<strong>do</strong>s bibliográficos,<br />

foi possível perceber a ligação <strong>da</strong>s ações observa<strong>da</strong>s com processos de educação não-formal e<br />

educação musical no desencadeamento <strong>do</strong> conjunto de ativi<strong>da</strong>des culturais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

pelos grupos pesquisa<strong>do</strong>s.<br />

Durante a pesquisa observamos um processo de construção identitária liga<strong>da</strong> à<br />

prática <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> de samba enquanto momento comunitário destina<strong>do</strong> não somente a execução<br />

musical, mas também à troca de saberes sobre a história <strong>da</strong> manifestação, sua constituição<br />

sócio-cultural, formação de repertório, bem como de difusão de compositores liga<strong>do</strong>s ao<br />

perío<strong>do</strong> de constituição <strong>do</strong> samba enquanto gênero musical.<br />

A partir disso, a ação e construção coletiva que se estabeleceu no decorrer <strong>do</strong> projeto<br />

de extensão aqui apresenta<strong>do</strong>, se deu a partir <strong>do</strong> conjunto de ativi<strong>da</strong>des constituí<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong><br />

ro<strong>da</strong> de samba desenvolvi<strong>da</strong> pelo grupo parceiro. A prática <strong>do</strong> grupo se fun<strong>da</strong>menta na<br />

pesquisa histórica e na recuperação <strong>da</strong> memória <strong>do</strong> samba e de seus processos sóciohistóricos.<br />

Essa busca pela memória capaz de gerar um novo senti<strong>do</strong> para to<strong>do</strong> o repertório<br />

musical pratica<strong>do</strong> é gera<strong>do</strong> pela pesquisa fonográfica, pelo contato com antigos sambistas e<br />

com o acesso a registros históricos diversos.<br />

2<br />

3<br />

Essa pesquisa de mestra<strong>do</strong> teve financiamento <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção de Apoio a Pesquisa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo<br />

(FAPESP)<br />

Os grupos pesquisa<strong>do</strong>s foram o Projeto Nosso Samba com ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s no município de Osasco –<br />

SP e Gremio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro <strong>da</strong>s Pedras atual Terreiro Grande – São Paulo - SP.<br />

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2 OA N O S<br />

Com isso, a prática <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> de samba se torna um traço marcante de convergência<br />

<strong>do</strong>s participantes <strong>do</strong> projeto, principalmente no que diz respeito à construção de espaços de<br />

interações humanas, trocas de saberes em diversos níveis e de expressão em torno <strong>da</strong> cultura<br />

musical <strong>do</strong> samba. 4<br />

A partir <strong>da</strong> observação dessas práticas e <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s bibliográficos<br />

realiza<strong>do</strong>s, pudemos relacionar esta como sen<strong>do</strong> uma ação cultural desencadea<strong>do</strong>ra de um<br />

processo de educação não-formal realiza<strong>do</strong> em meio a pratica cultural e musical coletivas.<br />

Cultura, Educação Não-Formal e Experiência<br />

Para o presente relato é fun<strong>da</strong>mental buscarmos estabelecer qual noção de educação<br />

permeou nossas ativi<strong>da</strong>des e o quanto ela está imbrica<strong>da</strong> nas ações culturais propostas.<br />

Portanto conforme Maria <strong>da</strong> Glória Gohn, podemos conceber educação enquanto:<br />

[...] mo<strong>do</strong>s, formas e processos de atuação <strong>do</strong>s homens na história. Ela se<br />

constrói na história, está constantemente se modifican<strong>do</strong> mas, ao mesmo<br />

tempo, é continuamente influencia<strong>da</strong> por valores que se sedimentam em<br />

tradições, e que são transmiti<strong>do</strong>s de geração a geração. (GOHN, 1993, p.51).<br />

Podemos verificar que a educação pode ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> enquanto forma de ensino e<br />

aprendizagem adquiri<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos e “consiste no processo de absorção,<br />

reelaboração, e transformação <strong>da</strong> cultura existente nos grupos sociais”. (GOHN, op. cit, p.51).<br />

A autora ain<strong>da</strong> nos coloca que a leitura, interpretação e assimilação <strong>do</strong>s fatos e<br />

acontecimentos sociais são fun<strong>da</strong>mentais para a aquisição e construção <strong>do</strong>s saberes.<br />

A partir dessa primeira aproximação <strong>do</strong> que entendemos como processo de educação<br />

ocorren<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> indissociável <strong>da</strong> cultura, podemos considerar que a educação escolar,<br />

formal, oficialmente legitima<strong>da</strong> como possibili<strong>da</strong>de de acesso ao conhecimento estrutura<strong>do</strong> ao<br />

longo <strong>da</strong> história, deve ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> enquanto uma <strong>da</strong>s formas de educação. Outras formas<br />

podem ser caracteriza<strong>da</strong>s conforme o grau de sistematização <strong>do</strong>s saberes, bem como a partir<br />

<strong>da</strong>s ações e méto<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s para a transmissão e construção de saberes.<br />

Até recentemente se considerou a educação não-escolar como sen<strong>do</strong> decorrente de<br />

processos informais, espontâneos ou naturais, ain<strong>da</strong> que carrega<strong>do</strong>s de valores e<br />

representações. Porém, ao considerarmos os estu<strong>do</strong>s que vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s dentro <strong>da</strong><br />

4<br />

Com isso esses grupos retomam papel semelhante ao <strong>do</strong>s cordões nos anos 10, 20 e 30 e <strong>da</strong>s escolas de<br />

samba <strong>do</strong>s anos 30 aos 70, ten<strong>do</strong> papel educacional e organiza<strong>do</strong>r de ativi<strong>da</strong>des culturais comunitárias em<br />

espaço urbano e periférico. Sobre esse processo ver: SIMSON, Olga R. de Moraes von. Brancos e Negros<br />

no Carnaval Paulistano. QUEIROZ, Maria Izaura Pereira de. Carnaval Brasileiro: O Vivi<strong>do</strong> e o Mito.<br />

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sociologia <strong>da</strong> educação, este campo não-escolar pode ser caracteriza<strong>do</strong> por diferentes formas<br />

de atuação educacional em ambientes não-escolares. Segun<strong>do</strong> Almerin<strong>do</strong> Janela Afonso, “a<br />

educação informal ocorre nos espaços de possibili<strong>da</strong>des educativas no decurso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

indivíduos como a família, ten<strong>do</strong>, portanto, caráter permanente”. (AFONSO, 1992, p. 72).<br />

O que buscamos destacar aqui é que em meio à prática cultural de grupos<br />

organiza<strong>do</strong>s, outras possibili<strong>da</strong>des de educação não escolar vêm sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s e<br />

observa<strong>da</strong>s, principalmente a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 no Brasil, sen<strong>do</strong> designa<strong>da</strong> dentro <strong>do</strong><br />

campo não-escolar como educação não-formal.<br />

Esse tipo de ação cultural e educacional, além de não se opor à processos formais de<br />

educação, também engloba planejamento sistematiza<strong>do</strong>, pois, deve responder às deman<strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong>s seus agentes, desenvolven<strong>do</strong> assim, meto<strong>do</strong>logias a partir de tempos e espaços<br />

específicos, e portanto, diferentes <strong>do</strong> sistema formal (escolar). É importante ressaltar ain<strong>da</strong><br />

que, embora a educação informal e a não formal atuem no campo não escolar, também trazem<br />

características que as diferenciam entre si. Não raro encontramos o uso <strong>do</strong>s termos informal e<br />

não formal como sinônimos.<br />

Portanto para uma melhor visão dessas especifici<strong>da</strong>des, vejamos a caracterização<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> por Afonso:<br />

Por educação formal, entende-se o tipo de educação organiza<strong>da</strong> com uma<br />

determina<strong>da</strong> seqüência e proporciona<strong>da</strong> pelas escolas enquanto que a<br />

designação educação informal abrange to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des educativas no<br />

decurso <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> indivíduo, construin<strong>do</strong> um processo permanente e não<br />

organiza<strong>do</strong>. Por último, a educação não-formal embora obedeça também a<br />

uma estrutura e a uma organização (distintas porém <strong>da</strong>s escolares) e possa<br />

levar uma certificação (mesmo que não seja esta a sua finali<strong>da</strong>de), diverge<br />

ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> educação formal no que respeita a não fixação de tempos e locais e<br />

a flexibili<strong>da</strong>de na a<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s de aprendizagem a ca<strong>da</strong> grupo<br />

concreto. (AFONSO, op. cit., p. 86)<br />

Essa diferenciação e a conseqüente caracterização de uma área específica <strong>da</strong><br />

educação não-formal, vem sen<strong>do</strong> forma<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> observação de diferentes práticas,<br />

permea<strong>da</strong>s por relações educacionais, realiza<strong>da</strong>s por espaços associativos, ONG's,<br />

movimentos sociais, igrejas, sindicatos, parti<strong>do</strong>s políticos e espaços culturais. Embora não<br />

obedeçam a uma série de requisitos formais, esses espaços passaram a construir diferentes<br />

mo<strong>do</strong>s de vivenciar, compreender e sistematizar o processo de ensino-aprendizagem.<br />

Para Gohn a importância que as diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de educação não-formal tem<br />

adquiri<strong>do</strong> nos últimos anos deve-se não apenas à aquisição pura e simples de conhecimentos.<br />

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Se nos detivermos apenas nesses aspectos estaremos fazen<strong>do</strong> uma análise reducionista e<br />

utilitarista. Para a autora:<br />

A maior importância <strong>da</strong> educação não-formal está na possibili<strong>da</strong>de de<br />

criação de conhecimentos novos. O agir comunicativo <strong>do</strong>s indivíduos<br />

volta<strong>do</strong> ao entendimento <strong>do</strong>s fatos e fenômenos sociais <strong>do</strong> cotidiano, baseiase<br />

em convicções prático-morais, elabora<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s experiências<br />

anteriores, segun<strong>do</strong> as tradições culturais e as condições histórico-sociais de<br />

um certo tempo e lugar. O conjunto desses elementos fornece o amálgama<br />

para a geração de soluções novas, construí<strong>da</strong>s face aos problemas que o diaa-dia<br />

coloca nas ações <strong>do</strong>s homens e mulheres. (GOHN, 1997, p.04)<br />

Portanto, a autora nos faz compreender que ao estu<strong>da</strong>rmos a educação não-formal<br />

desenvolvi<strong>da</strong> junto a grupos sociais organiza<strong>do</strong>s, devemos atentar para as questões <strong>da</strong>s<br />

meto<strong>do</strong>logias, mo<strong>do</strong>s de funcionamento, organização coletiva, por serem estes os aspectos<br />

transmiti<strong>do</strong>s e construí<strong>do</strong>s pelos participantes, sen<strong>do</strong> o que possibilita o fazer cultural e seu<br />

processo de continui<strong>da</strong>de.<br />

Com isso, ao longo <strong>do</strong> projeto de extensão e pesquisa paralelamente desenvolvi<strong>do</strong>, os<br />

pontos até o momento levanta<strong>do</strong>s apontam para a possibili<strong>da</strong>de de um contato significativo de<br />

troca de saberes entre alunos de licenciatura em educação musical, comuni<strong>da</strong>de participante<br />

<strong>do</strong>s encontros e o grupo cultural na construção de práticas abertas à comuni<strong>da</strong>de mais ampla.<br />

Ao pensarmos no processo acadêmico <strong>do</strong>s alunos de graduação (licencian<strong>do</strong>s em<br />

educação musical), a vivência de processos como esses observa<strong>do</strong>s nas ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Núcleo<br />

de Samba Cupinzeiro, podem se tornar experiências de grande relevância para a formação <strong>do</strong><br />

futuro educa<strong>do</strong>r musical. A experiência, portanto, ganha importância enquanto contato e<br />

imersão no mun<strong>do</strong> empírico, com a cultura e a socie<strong>da</strong>de.<br />

Em Heidegger podemos encontrar a seguinte definição <strong>do</strong> experienciar:<br />

[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece, nos<br />

alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma. Quan<strong>do</strong><br />

falamos em “fazer” uma experiência, isso não significa precisamente que nós<br />

a façamos acontecer, “fazer” significa aqui: sofrer, padecer, tomar o que nos<br />

alcança receptivamente, aceitar, à medi<strong>da</strong> que nos submetemos a algo. Fazer<br />

uma experiência quer dizer, portanto, deixar-nos abor<strong>da</strong>r em nós próprios<br />

pelo que nos interpela, entran<strong>do</strong> e submeten<strong>do</strong>-nos a isso. Podemos ser assim<br />

transforma<strong>do</strong>s por tais experiências, de um dia para o outro ou no transcurso<br />

<strong>do</strong> tempo. (HEIDEGGER, in BONDÍA, 2002, p. 25)<br />

Portanto, nessa perspectiva o sujeito <strong>da</strong> educação pode participar de experiências e<br />

assim viver ca<strong>da</strong> novo saber num processo de exposição, de significação, de receptivi<strong>da</strong>de,<br />

travessia e perigo próprio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sen<strong>do</strong> vivi<strong>da</strong>. Esse passa a ser um processo fun<strong>da</strong>mental<br />

para a geração de significa<strong>do</strong>s e leituras <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, <strong>da</strong> música com a qual se tem contato, <strong>da</strong><br />

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cultura e <strong>da</strong>s próprias ações educacionais em meio às relações que se travam durante as<br />

práticas culturais.<br />

O profissional forma<strong>do</strong> pelas licenciaturas em Música ou Educação Musical, hoje,<br />

atua em meio a uma grande diversi<strong>da</strong>de cultural, e em espaços sociais diversos. Com isso, há<br />

uma necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aproximação de seus estu<strong>do</strong>s teóricos com práticas educacionais e<br />

culturais concretas. No caso <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des vivencia<strong>da</strong>s a partir <strong>do</strong> presente projeto os alunos<br />

puderam ter uma referência <strong>da</strong> atuação de agentes culturais com formações diversas em<br />

contexto não-formal. Portanto, nesse contato os estu<strong>da</strong>ntes tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

estabelecer relações de trocas de saberes, observar, compreender, e a partir <strong>da</strong> formação<br />

acadêmica refletir sobre as possibili<strong>da</strong>des de desenvolvimento de meto<strong>do</strong>logias de ensino e<br />

aprendizagem a partir de referências culturais, neste caso, provin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> cultura popular e <strong>da</strong><br />

educação não-formal. Embora haja um grande crescimento desse campo educacional nãoformal,<br />

os alunos de licenciatura tem pouco contato através <strong>da</strong> grades curriculares com as<br />

praticas e meto<strong>do</strong>logias provin<strong>da</strong>s desse campo durante a graduação. Nesse senti<strong>do</strong>, o projeto<br />

de extensão pôde ampliar os horizontes <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> complementação <strong>da</strong><br />

formação <strong>do</strong>s alunos envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Essa inter-relação de nossos alunos com tais práticas culturais as quais podemos<br />

relacionar ao campo <strong>da</strong> educação não formal, têm grande potencial de contribuir para que o<br />

estu<strong>da</strong>nte de licenciatura em música possa vivenciar práticas musicais coletivas e processos<br />

educacionais em contextos culturais diversos. Portanto, ao licencian<strong>do</strong> imerso como<br />

participante de ativi<strong>da</strong>des dessa natureza se abrem novos horizontes de pesquisa relativa à<br />

educação musical e a cultura em meio ao movimento dinâmico <strong>do</strong>s grupos sociais.<br />

O Percurso <strong>da</strong>s Ações e Reflexões<br />

A meto<strong>do</strong>logia para o desenvolvimento <strong>do</strong> projeto de extensão proposto foi basea<strong>da</strong><br />

em três frentes de atuação: Realização de Oficinas, Ro<strong>da</strong>s de Samba e ao oferecimento <strong>do</strong><br />

Curso de Extensão via ambiente virtual de ensino-aprendizagem.<br />

O projeto contemplou 4 alunos de Licenciatura em Música como bolsistas <strong>do</strong> projeto<br />

e portanto membros <strong>da</strong> equipe de planejamento e execução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. Além <strong>do</strong>s<br />

bolsistas tivemos uma média de 15 alunos licencian<strong>do</strong>s que participaram <strong>da</strong>s oficinas<br />

ministra<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des culturais abertas à comuni<strong>da</strong>de em geral.<br />

Ao to<strong>do</strong> foram seis encontros realiza<strong>do</strong>s com a frequência mensal. Em ca<strong>da</strong> encontro<br />

ocorri<strong>do</strong> aos finais de semana foi ofereci<strong>da</strong> uma oficina ministra<strong>da</strong> pelo professor<br />

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coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> projeto em parceria com o Núcleo de Samba Cupinzeiro. As oficinas<br />

ocorreram no perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> manhã (<strong>da</strong>s 09 às 12hs) sempre segui<strong>da</strong> de uma ro<strong>da</strong> de samba<br />

realiza<strong>da</strong> no perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> tarde e noite. (<strong>da</strong>s 18 as 22hs). As ro<strong>da</strong>s foram planeja<strong>da</strong>s de mo<strong>do</strong> a<br />

terem um intervalo, momento em que era ofereci<strong>do</strong> um cal<strong>do</strong> de feijão a to<strong>do</strong>s os presentes.<br />

Este foi um procedimento trazi<strong>do</strong> pelo grupo e manti<strong>do</strong> no projeto como forma de trazer o<br />

senti<strong>do</strong> comunitário e de construção <strong>da</strong> manifestação cultural envolven<strong>do</strong> os diversos aspectos<br />

<strong>da</strong> cultura.<br />

As Oficinas foram ministra<strong>da</strong>s pelos membros <strong>da</strong> Associação de Samba Cupinzeiro<br />

buscan<strong>do</strong> compartilhar com os licencian<strong>do</strong>s e com o público em geral as suas experiências de<br />

pesquisa e de prática com o samba. Para isso, foram realiza<strong>da</strong>s discussões sobre temas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à cultura e à memória <strong>do</strong> samba, aspectos que envolvem a organização coletiva<br />

<strong>do</strong> grupo, pesquisa e organização de repertório, além de aspectos práticos, tais como: o papel<br />

<strong>do</strong>s instrumentos dentro <strong>da</strong> manifestação, linguagem e estruturação desse gênero, bem como,<br />

formas de tocar e interagir musicalmente.<br />

Diretamente relaciona<strong>do</strong> ao trabalho <strong>da</strong>s oficinas, houve a construção <strong>do</strong> ambiente<br />

virtual de interação. Ele se deu em princípio pela construção <strong>do</strong> Blog intitula<strong>do</strong> “Na Ro<strong>da</strong> de<br />

Samba”. A partir <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s pelas oficinas foi construí<strong>do</strong> esse ambiente. Com isso<br />

foi possível <strong>da</strong>r acesso a conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s durante as ativi<strong>da</strong>des presenciais, bem como<br />

repertório executa<strong>do</strong> e informações históricas referentes ao gênero e a manifestação em si.<br />

Assim pudemos manter um contato com os participantes de mo<strong>do</strong> a termos uma continui<strong>da</strong>de<br />

e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s temas abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s nas oficinas, mesmo nos perío<strong>do</strong>s que se deu entre os<br />

encontros presenciais. Esse ambiente foi bastante significativo para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

projeto, visto que teve nos seis meses de ativi<strong>da</strong>des uma grande freqüência de acessos (1500<br />

ao to<strong>do</strong>). Esse recurso se mostrou eficaz na continui<strong>da</strong>de e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> processo de<br />

formação <strong>do</strong>s participantes. Os materiais disponibiliza<strong>do</strong>s em forma de hipertextos, áudio<br />

visuais, textos bibliográficos e links proporcionaram discussões acerca <strong>do</strong> samba, <strong>da</strong> educação<br />

e <strong>da</strong> lógica contemporânea de difusão <strong>da</strong> cultura realimentan<strong>do</strong> as oficinas em seus conteú<strong>do</strong>s.<br />

As Ro<strong>da</strong>s de Samba como práticas coletivas puderam proporcionar aos participantes<br />

a vivência de muitos <strong>do</strong>s aspectos trabalha<strong>do</strong>s e discuti<strong>do</strong>s nas Oficinas e no ambiente virtual<br />

de ensino e aprendizagem. Ao mesmo tempo, essas ativi<strong>da</strong>des geraram um processo de<br />

discussão e busca de conhecimentos que se fazem presentes na realização <strong>da</strong> ro<strong>da</strong>, e que<br />

passam a ser necessários para aqueles que buscam participar efetivamente de sua realização.<br />

Assim, pudemos potencializar o aprendiza<strong>do</strong> e a aquisição de um repertório comum,<br />

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fun<strong>da</strong>mental para que os interessa<strong>do</strong>s pudessem se inserir na manifestação como sujeitos<br />

pertencentes ao grupo pela identificação e pelo conhecimento coletiviza<strong>do</strong>.<br />

Conforme as experiências que temos ti<strong>do</strong> no uso de ambientes virtuais de educação,<br />

o uso <strong>do</strong> Blog como recurso de interação e disponibilização de conteú<strong>do</strong>s conjuga<strong>da</strong>s às<br />

interações presenciais têm a capaci<strong>da</strong>de de potencializar o processo de trocas e construção de<br />

conhecimentos. Além desse processo de formação gera<strong>do</strong> pelas Oficinas e pelo ambiente<br />

virtual, as Ro<strong>da</strong>s de Samba se caracterizam como uma possibili<strong>da</strong>de de acesso <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

local e regional a uma alternativa cultural e musical. Ao longo <strong>do</strong> projeto tivemos uma<br />

freqüência de 150 pessoas por encontro.<br />

Com isso, a meto<strong>do</strong>logia proposta, buscou estabelecer um ciclo em que a prática<br />

cultural é a base impulsiona<strong>do</strong>ra de reflexões, trocas de saberes, busca por conhecimentos e<br />

de interações humanas capazes de significar e reconstruir a relação com os saberes e com a<br />

cultura. Ca<strong>da</strong> encontro se torna a oportuni<strong>da</strong>de de participação efetiva e de aprofun<strong>da</strong>mento<br />

<strong>da</strong>s relações com o grupo de participantes e o fazer cultural. Nesse processo ca<strong>da</strong> indivíduo<br />

acessa os saberes a partir de suas referências e se relacionam numa imersão capaz de levar a<br />

etapas sucessivas de contato com os diversos saberes. Com isso, ca<strong>da</strong> novo encontro<br />

possibilita a construção de novos níveis de desenvolvimento cognitivo. Nessa experiência que<br />

envolve a prática musical coletiva e reflexiva, pretendemos dinamizar o que Pierre Lévy<br />

(2000) chama de “inteligência coletiva”. Esse processo passa pelo reconhecimento <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de coloca<strong>da</strong> em diálogo para a construção e ampliação <strong>do</strong>s saberes. Nesse senti<strong>do</strong>, o<br />

aprendiza<strong>do</strong> passa a significar: pesquisa, interação, prática coletiva e construção de saberes<br />

em diversos níveis, estan<strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente basea<strong>do</strong> no diálogo e na interação humana.<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

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X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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2 OA N O S<br />

Educação musical e religião: reflexões sobre o processo de<br />

ensino/aprendizagem de música na Congregação Cristã no Brasil<br />

Carlos Renato de Lima Brito<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

rbrito@isbc.com.br<br />

José Robson Maia de Almei<strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

robson@cariri.ufc.br<br />

Resumo: Este trabalho apresenta uma pesquisa em an<strong>da</strong>mento, cujo sujeito é o ensino de<br />

música <strong>da</strong> Igreja Evangélica conheci<strong>da</strong> como Congregação Cristã <strong>do</strong> Brasil. Nota-se que a<br />

diversi<strong>da</strong>de religiosa no país permite o desenvolvimento de culturas musicais diversas e o<br />

ensino de música é transmiti<strong>do</strong> aos religiosos através dessas culturas. Entre as religiões<br />

pratica<strong>da</strong>s no Brasil, as Igrejas Evangélicas têm notável preocupação com o ensino de música<br />

entre seus adeptos, isso como forma de providenciar a música <strong>do</strong>s cultos. O objetivo <strong>da</strong><br />

pesquisa é conhecer os processos de ensino-aprendizagem de música realiza<strong>do</strong>s pela Igreja<br />

Congregação Cristã, observan<strong>do</strong> a existência de motivações religiosas, verifican<strong>do</strong> a presença<br />

de ensinos formais, informais e não-formais nestes processos e de meto<strong>do</strong>logias tradicionais<br />

e/ou inova<strong>do</strong>ras. A natureza <strong>da</strong> pesquisa é qualitativa, sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> de caso. A<br />

coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s se <strong>da</strong>rá em entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s com dez músicos oficializa<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

Congregação <strong>do</strong> Brasil em Juazeiro <strong>do</strong> Norte, CE. A pesquisa se demonstra relevante, uma<br />

vez que ca<strong>da</strong> Igreja Evangélica tem se torna<strong>do</strong> um núcleo de educação musical carente de<br />

avaliação e aperfeiçoamento e, além disso, a pesquisa destaca uma relação interdisciplinar<br />

entre música, pe<strong>da</strong>gogia e religião.<br />

Palavras-chave: Educação, música, religião.<br />

Evangélicos no Brasil<br />

O cenário religioso brasileiro possui uma rica diversi<strong>da</strong>de de crenças, cultos e<br />

representações simbólicas. O tronco religioso brasileiro enriqueci<strong>do</strong> pelas raízes ameríndias,<br />

africanas e européias, transporta vi<strong>da</strong> para galhos, folhas, flores e frutos <strong>da</strong>s religiões<br />

institucionaliza<strong>da</strong>s por séculos de desenvolvimento aos núcleos informais de aglomeração<br />

religiosa.<br />

Nesta varie<strong>da</strong>de de manifestações religiosas impressiona o crescimento e a inserção<br />

na socie<strong>da</strong>de brasileira <strong>da</strong>s Igrejas Evangélicas. Men<strong>do</strong>nça (2009, p. 10) destaca os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

deste crescimento:<br />

Desde as últimas déca<strong>da</strong>s <strong>do</strong> século XX, o cenário <strong>do</strong> cristianismo no Brasil<br />

tem si<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> pela expansão <strong>do</strong> pentecostalismo. A pesquisa Datafolha<br />

sobre a religião <strong>do</strong>s brasileiros revela que, de 1996 a 2007, houve um<br />

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2 OA N O S<br />

declínio de católicos declara<strong>do</strong>s de 74% para 64%, um aumento de<br />

evangélicos não-pentecostais de 4% para 5%, e um crescimento de<br />

evangélicos pentecostais de 11% para 17%.<br />

Evangélicos e Educação Musical<br />

Além <strong>do</strong> crescimento numérico, <strong>da</strong> inserção evangélica na socie<strong>da</strong>de brasileira, <strong>da</strong>s<br />

manifestações midiáticas e <strong>da</strong> abertura para um novo merca<strong>do</strong> religioso nos moldes<br />

estadunidenses, o que é amplamente analisa<strong>do</strong> por Men<strong>do</strong>nça, impressiona a capaci<strong>da</strong>de<br />

histórica <strong>do</strong>s evangélicos em promover educação musical entre os fiéis. Isto é<br />

apropria<strong>da</strong>mente destaca<strong>do</strong> por Fontoura e Silva (2010, p.1):<br />

Nas igrejas Evangélicas <strong>do</strong> Brasil, a música vem sen<strong>do</strong> parte integrante de<br />

sua liturgia desde os seus primórdios. Nesse contexto, a sua prática dá-se<br />

através <strong>da</strong> execução vocal e instrumental, contemplan<strong>do</strong> formações musicais<br />

diversas. No intuito de alimentar tal prática musical as igrejas dispõem <strong>do</strong><br />

ensino de música em seus templos.<br />

Veja, reforça:<br />

Freitas (2008, p. 8), embasa<strong>da</strong> numa pesquisa feita pelo IBGE publica<strong>da</strong> na revista<br />

(...) 35% músicos brasileiros evangélicos dentre os participantes <strong>da</strong><br />

Orquestra Sinfônica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo – OSESP. A pesquisa também<br />

revela que os músicos evangélicos concentram-se nas seções de metais e<br />

madeiras <strong>da</strong>s orquestras brasileiras e afirma que as igrejas que mais formam<br />

músicos são a Assembléia de Deus, a Igreja Batista e a Congregação Cristã<br />

no Brasil.<br />

As Igrejas Evangélicas, herdeiras <strong>da</strong> Reforma Protestante <strong>do</strong> século XVI,<br />

compartilham de uma preocupação com a educação musical para utilizar a música como meio<br />

de evangelização e como componente <strong>da</strong> formação intelectual <strong>do</strong> indivíduo. Sobre o<br />

posicionamento <strong>do</strong> reforma<strong>do</strong>r alemão Martinho Lutero, Schalk (2006, p. 37) escreveu:<br />

Para Lutero, a música era parte indispensável <strong>da</strong> boa educação, não somente<br />

a música volta<strong>da</strong> a si mesma, mas também em relação à função que ela<br />

poderia desempenhar na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s jovens quan<strong>do</strong> participam <strong>do</strong> culto; ele<br />

defendeu a educação musical e promoveu sua inclusão no currículo escolar<br />

sempre que teve oportuni<strong>da</strong>de.<br />

Esta preocupação em ensinar música aos fiéis foi historicamente transmiti<strong>da</strong> às<br />

Igrejas Evangélicas implanta<strong>da</strong>s no Brasil pelo esforço missionário emprega<strong>do</strong> no século XIX<br />

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2 OA N O S<br />

especialmente por organizações religiosas norte-americanas. A respeito disso, destaca Braga<br />

(1960) que a senhora Sarah Kalley, junto com seu mari<strong>do</strong> <strong>do</strong>utor Robert Kalley, fun<strong>do</strong>u a<br />

primeira Igreja Evangélica com cultos realiza<strong>do</strong>s em língua portuguesa no Brasil. Dava aulas<br />

de música para melhorar o canto congregacional desde 16 de setembro de 1863 e possuía uma<br />

lista de freqüência em que anotava os atrasa<strong>do</strong>s e os faltosos por motivo de <strong>do</strong>ença (BRAGA,<br />

1960, p.113). Robert e Sarah Kalley foram responsáveis pela publicação <strong>do</strong> primeiro hinário<br />

evangélico no Brasil, uma coletânea de canções religiosas usa<strong>da</strong> na liturgia e no ensino de<br />

música nas Igrejas Evangélicas. O hinário Salmos e Hinos foi publica<strong>do</strong> em 1861, utiliza<strong>do</strong><br />

pela primeira vez no dia 17 de novembro (BRAGA, 1960, p.111).<br />

Numa contribuição para o crescente número de pesquisas que enfocam o<br />

relacionamento entre a educação musical e a religiosi<strong>da</strong>de evangélica, este projeto se propõe a<br />

estabelecer os parâmetros para a pesquisa <strong>do</strong> ensino de música realiza<strong>do</strong> numa <strong>da</strong>s<br />

denominações evangélicas que defini<strong>da</strong>mente possuem um projeto de ensino de música aos<br />

membros interessa<strong>do</strong>s em tocar um instrumento musical: a Congregação Cristã. A pesquisa<br />

elabora<strong>da</strong> pretenderá enxergar as motivações religiosas reivindica<strong>da</strong>s de mo<strong>do</strong> explícito ou<br />

não-verbal que levam os devotos a se dedicarem ao ensino/aprendiza<strong>do</strong> de música. Esta<br />

dedicação pessoal motiva<strong>da</strong> tem gera<strong>do</strong> números impressionantes de músicos e ban<strong>da</strong>s<br />

religiosas forma<strong>da</strong>s e liga<strong>da</strong>s à Congregação Cristã.<br />

Objetivo Geral<br />

Conhecer os processos de ensino-aprendizagem pratica<strong>do</strong>s dentro <strong>da</strong> Congregação<br />

Cristã, fazen<strong>do</strong> uma ponte entre a religiosi<strong>da</strong>de desta denominação evangélica e o seu<br />

processo educativo-musical.<br />

Objetivos Específicos<br />

Observar a existência de motivações religiosas no ensino e na aprendizagem de<br />

música, como fator de melhoria no desempenho <strong>do</strong> professor e <strong>do</strong> aluno;<br />

Verificar como ensinos formais, informais e não-formais estão presentes no ensino<br />

de música <strong>da</strong> Congregação Cristã e como eles são importantes para as recentes discussões <strong>da</strong><br />

educação musical na reali<strong>da</strong>de brasileira;<br />

Conhecer a existência de meto<strong>do</strong>logias tradicionais e/ou consagra<strong>da</strong>s emprega<strong>da</strong>s no<br />

ensino de música <strong>da</strong> Congregação Cristã ou novas meto<strong>do</strong>logias que melhor se aplicam a este<br />

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contexto eclesiástico;<br />

Promover uma reflexão crítica a respeito <strong>da</strong>s meto<strong>do</strong>logias de ensino de música nas<br />

Igrejas Evangélicas e demais instituições religiosas.<br />

Justificativa, problema <strong>da</strong> pesquisa e referencial teórico<br />

A primeira motivação pessoal <strong>da</strong> pesquisa a respeito <strong>do</strong> ensino de música na<br />

Congregação Cristã decorre <strong>da</strong> surpresa ao ouvir de um amigo um depoimento de como ele<br />

próprio aprendera a tocar violino no perío<strong>do</strong> em que fazia parte <strong>da</strong> Congregação Cristã. Este<br />

meu amigo relatou como foi inicia<strong>do</strong> em apontamentos de teoria musical e solfejo dentro <strong>da</strong><br />

Igreja pela aplicação de uma meto<strong>do</strong>logia defini<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> ensina<strong>do</strong> por outro membro <strong>da</strong><br />

Congregação Cristã. Relatou ain<strong>da</strong> que, depois de certo tempo de treinamento em Solfejo foi<br />

inicia<strong>do</strong> no violino e teve de passar por algumas fases de desenvolvimento para poder tocar na<br />

Igreja. Este amigo tornou-se, antes <strong>do</strong> afastamento <strong>da</strong> Congregação Cristã, um professor<br />

dentro <strong>da</strong> Igreja, sen<strong>do</strong> evidência de um ciclo educacional musical. A surpresa foi intensa<br />

porque eu mesmo fazia parte de uma Igreja Evangélica e estava muito interessa<strong>do</strong> no ensino<br />

de música na Igreja, lecionan<strong>do</strong> lições de violão e tecla<strong>do</strong> na mesma instituição, com o<br />

objetivo de acrescentar mais técnica à música pratica<strong>da</strong> nos cultos. Fiquei surpreso por<br />

perceber que aquela instituição alcançava resulta<strong>do</strong>s que eu não achava serem possíveis.<br />

Uma segun<strong>da</strong> motivação <strong>da</strong> pesquisa a respeito <strong>do</strong> tema é estar envolvi<strong>do</strong> por<br />

formação acadêmica nestas duas pontas <strong>da</strong> discussão proposta: a religião e a educação<br />

musical. Sou bacharel em Teologia pela Facul<strong>da</strong>de Kurios, Maranguape-CE, fiz o Curso<br />

Livre de Teologia com Ênfase em Exegese pelo Seminário Batista <strong>do</strong> Cariri, Crato, CE, e<br />

estou liga<strong>do</strong> à religião pela vocação de pastor evangélico na Igreja Batista Regular <strong>do</strong> Novo<br />

Juazeiro, Juazeiro <strong>do</strong> Norte-CE. Além <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s na sala de aula e <strong>da</strong><br />

prática sacer<strong>do</strong>tal, ensino música na Igreja desde os 16 anos. O conhecimento formal e<br />

legitima<strong>do</strong> em educação musical se deu pelo ingresso no curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará no ano de 2010.<br />

Uma terceira motivação em estu<strong>da</strong>r o tema é ter um colega de turma <strong>da</strong> Congregação<br />

Cristã que aprendeu a tocar tuba na Igreja e agora é um <strong>do</strong>s instrutores e músicos oficializa<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> denominação. O mo<strong>do</strong> como este colega interage com os assuntos <strong>da</strong> educação musical, se<br />

posiciona criticamente diante <strong>da</strong>s meto<strong>do</strong>logias propostas e tem disciplina em relação aos<br />

estu<strong>do</strong>s, despertou em mim uma curiosi<strong>da</strong>de em estu<strong>da</strong>r as suas origens musicais e religiosas.<br />

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A Congregação Cristã “é a mais antiga denominação pentecostal <strong>do</strong> país, onde está<br />

prestes a completar 100 anos de seu surgimento pelo italiano Luigi Francescon” (SILVA,<br />

2010, p.1). As celebrações religiosas possuem um esquema geral, o repertório é<br />

compreendi<strong>do</strong> de 450 hinos, conti<strong>do</strong>s no hinário “Santos Cânticos”, mas os hinos são<br />

escolhi<strong>do</strong>s no momento <strong>da</strong> celebração. Há uma forma defini<strong>da</strong> de ensino de instrumentos<br />

musicais, um programa de testes que levará o aluno a ter a permissão para tocar no culto e<br />

uma divisão muito clara nos papéis <strong>do</strong>s gêneros dentro <strong>da</strong>s celebrações (SILVA, p.10).<br />

Algumas perguntas podem ser propostas: Que meto<strong>do</strong>logias de ensino/aprendizagem<br />

de música são utiliza<strong>da</strong>s pela Igreja? Será que existe alguma relação entre a <strong>do</strong>utrina<br />

sustenta<strong>da</strong> pela Congregação Cristã e o ensino de música promovi<strong>do</strong> por ela? A religião pode<br />

ser um fator ou pode conter fatores motiva<strong>do</strong>res <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> musical? Que fatores destes<br />

estão presentes na Congregação Cristã?<br />

Um entendimento maior sobre as meto<strong>do</strong>logias de ensino pratica<strong>da</strong>s na Igreja<br />

Congregação Cristã se faz necessário porque as Igrejas Evangélicas têm produzi<strong>do</strong> em seus<br />

templos músicos profissionais e professores de música. De acor<strong>do</strong> com Freitas (2008, p. 20),<br />

músicos iniciaram seu aprendiza<strong>do</strong> musical nas Igrejas Evangélicas e depois, como forma de<br />

ampliar seus conhecimentos, ingressaram em cursos de música fora <strong>da</strong> Igreja ou se inseriram<br />

no merca<strong>do</strong> musical, especialmente em ban<strong>da</strong>s militares ou de civis. Também é importante<br />

refletir sobre as práticas de ensino de música nas Igrejas, porque estas meto<strong>do</strong>logias podem se<br />

apresentar deficitárias e ineficientes em áreas <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> músico. Tratan<strong>do</strong> de uma <strong>da</strong>s<br />

dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s no ensino de música nas Igrejas Evangélicas, escreve Freitas (2008,<br />

p.21):<br />

A afinação <strong>do</strong>s instrumentos é uma vertente que depende <strong>da</strong> prática<br />

individual de ca<strong>da</strong> aluno. Quanto mais estu<strong>do</strong>, mais o aluno se habitua com o<br />

som de seu instrumento e com a afinação <strong>do</strong> mesmo. Os alunos iniciantes<br />

possuem muita dificul<strong>da</strong>de e os professores sem formação adequa<strong>da</strong>, sentem<br />

muitas dificul<strong>da</strong>des para explicar a importância <strong>da</strong> afinação.<br />

Esta pesquisa pode oferecer respal<strong>do</strong> teórico para que problemas como esses possam<br />

ser enfrenta<strong>do</strong>s na prática de ensino de música realiza<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong>s Igrejas.<br />

Existe uma necessi<strong>da</strong>de de interdisciplinari<strong>da</strong>de entre as várias áreas <strong>do</strong><br />

conhecimento. A vi<strong>da</strong> não pode ser entendi<strong>da</strong> em departamentos herméticos e fragmenta<strong>do</strong>s,<br />

nem o estu<strong>do</strong> dela pode ser concebi<strong>do</strong> assim. A pesquisa pode promover uma interação entre<br />

a música, a pe<strong>da</strong>gogia e a religião.<br />

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Meto<strong>do</strong>logia<br />

A natureza desta pesquisa é qualitativa configuran<strong>do</strong>-se como um estu<strong>do</strong> de caso.<br />

Serão escolhi<strong>do</strong>s cinco músicos oficializa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Congregação Cristã no Brasil e serão feitas<br />

com eles entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s na ci<strong>da</strong>de de Juazeiro <strong>do</strong> Norte, CE. A coleta <strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s em ca<strong>da</strong> entrevista será feita com um grava<strong>do</strong>r eletrônico e um diário de campo.<br />

Tanto quanto a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegia<strong>do</strong> nas<br />

novas abor<strong>da</strong>gens de pesquisa educacional. Usa<strong>da</strong> como principal méto<strong>do</strong> de<br />

investigação ou associa<strong>da</strong> a outras técnicas de coletas, a observação<br />

possibilita um contato pessoal e estreito com o pesquisa<strong>do</strong>r com fenômeno<br />

pesquisa<strong>do</strong>, o que apresenta uma série de vantagens. (LUDKE; ANDRE,<br />

1986, p. 26).<br />

Além <strong>da</strong>s entrevistas, o autor <strong>da</strong> pesquisa se propõe a participar de um culto<br />

realiza<strong>do</strong> pela Congregação Cristã e de um ensaio regional. Para estas ocasiões os méto<strong>do</strong>s de<br />

coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão a observação e o registro escrito <strong>da</strong>s impressões <strong>do</strong> autor. A necessi<strong>da</strong>de<br />

deste segun<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s se explica no fato de que a música <strong>do</strong>s cultos é o<br />

objetivo final <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia de ensino de música pratica<strong>da</strong> pela Congregação Cristã. Não<br />

haveria como entender to<strong>do</strong> processo educacional sem ver o produto maior dele.<br />

Considerações finais<br />

Não é possível negar a presença de professores e alunos nas escolas e no ensino de<br />

música provenientes de uma educação musical inicia<strong>da</strong> dentro de Igrejas Evangélicas e nem é<br />

possível negar o volume de músicos profissionais que iniciaram seus estu<strong>do</strong>s nesse contexto.<br />

Cabe ao pesquisa<strong>do</strong>r fomentar a discussão e avaliar se este ensino é realmente eficaz, fazen<strong>do</strong><br />

com que o aluno desenvolva a capaci<strong>da</strong>de artístico-musical de forma plena e substancial.<br />

Costumes e <strong>do</strong>utrinas religiosas devem ser considera<strong>da</strong>s à luz <strong>da</strong> História e <strong>da</strong> crença dessas<br />

religiões, num esforço de entender as práticas de dentro para fora <strong>da</strong>quele grupo social, para<br />

não incorrer no erro de fazer juízos incompatíveis com a visão objetiva e racionaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

produção <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Alguns resulta<strong>do</strong>s parciais apontam para a conclusão de que a presença <strong>da</strong> educação<br />

musical na Igreja Congregação Cristã no Brasil se deve pela ênfase positiva <strong>da</strong><strong>da</strong> ao papel <strong>da</strong><br />

música nos cultos e na formação individual encontra<strong>da</strong> nos reforma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> século XVI e nos<br />

missionários que trouxeram o cristianismo evangélico ao Brasil no século XIX. Além disso, a<br />

religião e a <strong>do</strong>utrina evangélica se incorporam à educação musical, uma vez que, se o aluno<br />

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estiver pronto, participará de mo<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong> <strong>da</strong> celebração religiosa, tocan<strong>do</strong> seu<br />

instrumento musical ou cantan<strong>do</strong>, estan<strong>do</strong> em comunicação direta com o que se crê ser mais<br />

eleva<strong>do</strong> e transcendente.<br />

Apesar dessas contribuições, resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>da</strong> pesquisa demonstram que a<br />

educação musical realiza<strong>da</strong> nas Igrejas Evangélicas limita-se bastante ao repertório religioso<br />

liga<strong>do</strong> às denominações estabeleci<strong>da</strong>s e, provavelmente, se limita a meto<strong>do</strong>logias<br />

conserva<strong>do</strong>ras de ensino, como um méto<strong>do</strong> de Solfejo cria<strong>do</strong> no século XIX. É importante<br />

que o músico em formação tenha contato com músicas de diversas culturas e tenha a<br />

disposição novas meto<strong>do</strong>logias que complementem o seu aprendiza<strong>do</strong> e o preparem para o<br />

momento de diversi<strong>da</strong>de que caracteriza o século XXI. Deste mo<strong>do</strong> este ensino precisa ser<br />

avalia<strong>do</strong>.<br />

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Lobos, Centro de Letras e Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

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Paulo: EPU, 1986.<br />

MENDONÇA, Joêzer de Sousa. O gospel é pop: música e religião na cultura pós-moderna.<br />

São Paulo: Dissertação de Mestra<strong>do</strong>, Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, 2009.<br />

SCHALK, Carl F. Lutero e a música: paradigmas de louvor. São Leopol<strong>do</strong>: Sino<strong>da</strong>l, 2006.<br />

SILVA, Janaína. A questão de gênero na Congregação Cristã no Brasil. Revista Brasileira de<br />

História <strong>da</strong>s Religiões. Maringá: ANPUH, 2010.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Ensinar e Aprender História <strong>da</strong> Música: Desafios e Contribuições para a<br />

Educação Musical no Século XXI<br />

Keila Souza Fernandes <strong>da</strong> Cunha<br />

Conservatório Pernambucano de Música<br />

Centro de Educação Musical de Olin<strong>da</strong><br />

keilapitica@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este trabalho se constitui num breve relato de experiência que elabora algumas<br />

considerações sobre o ensino-aprendizagem <strong>da</strong> disciplina História <strong>da</strong> Música no universo de<br />

uma escola especializa<strong>da</strong>, o Conservatório Pernambucano de Música (CPM), mais<br />

especificamente o curso técnico, refletin<strong>do</strong> sobre os desafios que atingem o ambiente<br />

educacional escolar e que de certa forma são inerentes ao mun<strong>do</strong> contemporâneo, como por<br />

exemplo, as novas meto<strong>do</strong>logias utiliza<strong>da</strong>s em sala de aula, os recursos diversifica<strong>do</strong>s para<br />

auxiliar o ensino-aprendizagem, o perfil <strong>do</strong>s discentes nos cursos de nível técnico <strong>do</strong> CPM e<br />

suas aspirações, objetivos profissionais, e por último, os conteú<strong>do</strong>s didáticos, que talvez<br />

representem, em maior grau, um obstáculo a ser supera<strong>do</strong> ou compreendi<strong>do</strong> pelos discentes.<br />

Os objetivos desta vivência em sala de aula são, dentre outros, contribuir através <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música para a formação destes estu<strong>da</strong>ntes,<br />

apresentan<strong>do</strong> a utili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> disciplina direciona<strong>do</strong> às suas carreiras musicais, bem<br />

como proporcionar a compreensão de que no passa<strong>do</strong> e no presente, a música como arte e<br />

como cultura não pode estar desvincula<strong>da</strong> <strong>da</strong> prática social na qual o homem está inseri<strong>do</strong> e<br />

para tanto precisa de uma historici<strong>da</strong>de ampla e, portanto, compatível com as propostas <strong>da</strong><br />

Educação Musical <strong>do</strong> século XXI.<br />

Palavras-chave: História <strong>da</strong> Música, ensino-aprendizagem, educação musical.<br />

História <strong>da</strong> Música: Considerações Iniciais<br />

Nas escolas com ensino especializa<strong>do</strong> em música já é de praxe haver em suas grades<br />

curriculares a disciplina História <strong>da</strong> Música que em sua maioria apresenta-se divi<strong>da</strong> por<br />

perío<strong>do</strong>s e por temas, de preferência, em ordem cronológica. A quanti<strong>da</strong>de de semestres que<br />

são destina<strong>do</strong>s ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> disciplina varia conforme a divisão curricular proposta<br />

pelo corpo <strong>do</strong>cente juntamente com a coordenação pe<strong>da</strong>gógica de ca<strong>da</strong> instituição de ensino<br />

que a faz. Sem me ater à quanti<strong>da</strong>de ou durabili<strong>da</strong>de de semestres que são destina<strong>do</strong>s à<br />

História <strong>da</strong> Música, o que importa é ressaltar o fato de que esta disciplina atualmente se<br />

encontra na maioria <strong>do</strong>s cursos de nível técnico e superior em música de to<strong>do</strong> o Brasil,<br />

merecen<strong>do</strong>, portanto, uma atenção especial.<br />

Essa “atenção especial” já surtiu até num evento a nível nacional e internacional<br />

realiza<strong>do</strong> pelo Departamento de Música de Ribeirão Preto, que é vincula<strong>do</strong> à Escola de<br />

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Comunicação e Artes <strong>da</strong> USP, no perío<strong>do</strong> de 04 à 07 de agosto de 2010, constituin<strong>do</strong> assim<br />

no “I Simpósio Internacional para a Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música”, tema <strong>do</strong> evento onde<br />

foram amplamente apresenta<strong>da</strong>s e discuti<strong>da</strong>s principalmente práticas pe<strong>da</strong>gógicas e propostas<br />

curriculares que atualmente alicerçam esta disciplina em cursos de graduação no Brasil e no<br />

exterior. Foram apresenta<strong>da</strong>s comunicações por participantes de diversas universi<strong>da</strong>des<br />

brasileiras e ao fim <strong>do</strong> evento aconteceu um fórum para estabelecer uma Associação<br />

Brasileira de Professores de História <strong>da</strong> Música, que, infelizmente, ain<strong>da</strong> não foi reconheci<strong>da</strong><br />

nacionalmente.<br />

To<strong>do</strong> este destaque que aqui faço ao referi<strong>do</strong> evento serve para ilustrar que a História<br />

<strong>da</strong> Música, longe de ser aquela disciplina que aparenta sempre estar próxima de se<br />

“aposentar” <strong>do</strong>s cursos de música receben<strong>do</strong> nomes de “velha” e “cansativa”, e que boa parte<br />

<strong>do</strong>s alunos cumprem somente por obrigatorie<strong>da</strong>de, pode ser uma forte alia<strong>da</strong> na construção de<br />

uma vivência musical mais enriqueci<strong>da</strong> e menos centra<strong>da</strong> num único objeto de estu<strong>do</strong>. Bem<br />

como é útil para mostrar como esta disciplina pode contribuir para que os desafios que<br />

acompanham as novas dinâmicas <strong>da</strong> Educação Musical <strong>do</strong> século XXI sejam encara<strong>do</strong>s de<br />

forma consciente e utilitária e principalmente para que os discentes usem o conhecimento<br />

histórico-musical de uma forma extensiva à sua formação musical, não se restringin<strong>do</strong> apenas<br />

à uma sala de aula.<br />

Ação e Reação: A História <strong>da</strong> Música no “olhar” <strong>do</strong> educan<strong>do</strong><br />

Como no I SIPHM há quase um ano atrás, trago aqui algumas considerações que<br />

faço neste relato de experiência <strong>da</strong> minha prática <strong>do</strong>cente, desta vez no curso técnico de<br />

música <strong>do</strong> Conservatório Pernambucano de Música (CPM), como professora <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

disciplina, tanto na categoria <strong>da</strong> música erudita como também na <strong>da</strong> música popular. O curso<br />

técnico <strong>do</strong> CPM foi há pouco tempo, aproxima<strong>da</strong>mente um ano e meio, regulamenta<strong>do</strong> pelos<br />

órgãos competentes vincula<strong>do</strong>s ao Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco e desde então recebe<br />

alunos ingressos através de uma prévia seleção a ocuparem suas vagas para os cursos de<br />

técnico em Instrumento, Canto, Regência e, muito em breve, o de Composição. Nas três<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ensino ofereci<strong>da</strong>s, a disciplina História <strong>da</strong> Música é obrigatória, e dentro de<br />

um perío<strong>do</strong> de três anos ela tem a duração de um ano, o que equivale a <strong>do</strong>is semestres onde os<br />

conteú<strong>do</strong>s são dividi<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com seus perío<strong>do</strong>s. Uma boa parte <strong>do</strong>s alunos deste<br />

referi<strong>do</strong> curso foram alunos <strong>do</strong> próprio CPM, em anos anteriores, outros vieram de fora <strong>da</strong><br />

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instituição, mas já estu<strong>da</strong>ram música em outros lugares. São poucos os que não tiveram<br />

anteriormente uma preparação musical sistematiza<strong>da</strong> por escolas ou ban<strong>da</strong>s.<br />

Recentemente fiz um pequeno levantamento através de um simples questionário<br />

onde pude averiguar em cinco turmas, qual o interesse <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso técnico <strong>do</strong> CPM<br />

pela disciplina de História <strong>da</strong> Música. No questionário in<strong>da</strong>guei sobre questões como<br />

interesse pessoal, identificação com a disciplina, pontos positivos e pontos negativos,<br />

utilização de recursos, abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica e por último sobre méto<strong>do</strong>s avaliativos. O<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong>s respostas foi bastante homogêneo, principalmente no diz respeito à utilização de<br />

recursos para dinamizar as aulas, prevalecen<strong>do</strong> o uso <strong>do</strong> livro e/ou de apostilas, áudio,<br />

imagem (<strong>da</strong>tashow, figuras), o tipo de abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica onde o professor conduz o<br />

desempenho <strong>da</strong>s aulas permitin<strong>do</strong> a participação <strong>do</strong>s alunos, e por fim, uma avaliação mais<br />

objetiva e aberta. Os resulta<strong>do</strong>s foram surpreendentes principalmente no quesito <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica utiliza<strong>da</strong> pelo <strong>do</strong>cente em sala de aula, pois o resulta<strong>do</strong> deu maior<br />

pontuação para uma meto<strong>do</strong>logia que proporcionasse uma abertura à participação <strong>do</strong>s alunos<br />

no desenvolvimento <strong>da</strong>s aulas, e este resulta<strong>do</strong> correspondeu com a parte relaciona<strong>da</strong> aos<br />

pontos negativos que indicou, entre outros fatores, a figura <strong>do</strong> “professor(a)” como<br />

responsável pelo aspecto “cansativo” e “enfa<strong>do</strong>nho” que esta disciplina possui, sen<strong>do</strong><br />

acompanha<strong>do</strong> pelo fato deles, os alunos(as), não conseguirem estabelecer uma ligação <strong>do</strong><br />

conteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> disciplina com suas práticas musicais.<br />

Mesmo sem ser uma pesquisa de caráter científico, ou seja, destina<strong>do</strong> a uma<br />

investigação mais minuciosa de acor<strong>do</strong> com os procedimentos acadêmicos, pude perceber que<br />

atualmente a disciplina de História <strong>da</strong> Música não é somente apoia<strong>da</strong> pelo corpo <strong>do</strong>cente <strong>da</strong>s<br />

instituições especializa<strong>da</strong>s no ensino <strong>da</strong> música, mas também pelos alunos, neste caso,<br />

especificamente os <strong>do</strong> curso técnico que já vislumbram uma formação profissional<br />

direciona<strong>da</strong>, e que percebem a importância <strong>da</strong> disciplina mesmo que não haja uma<br />

identificação deseja<strong>da</strong> ou um interesse pessoal profun<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong>s mesmos. Diante destas<br />

colocações provoca<strong>da</strong>s pelo questionamento, que chamei de ação e reação, destaco alguns<br />

pontos através de interrogações, que desejo expor neste breve relato: Qual a real utilização <strong>da</strong><br />

História <strong>da</strong> Música nas escolas com ensino especializa<strong>do</strong> em música? Como tornar a História<br />

<strong>da</strong> Música uma disciplina aberta aos desafios que permeiam a Educação Musical no século<br />

XXI? É a partir destas duas in<strong>da</strong>gações que tentarei refletir brevemente nas considerações a<br />

seguir.<br />

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Por Uma História <strong>da</strong> Música Prazerosa e Conseqüente<br />

Visto que os cursos técnicos prioritariamente visam à qualificação profissional <strong>do</strong><br />

indivíduo para o merca<strong>do</strong> de trabalho, devemos compreender que o discente de um curso<br />

técnico em música também projeta sua formação para o exercício <strong>da</strong> prática musical seja ela<br />

qual for. Atualmente a maioria <strong>do</strong>s temas e debates que permeiam eventos como este,<br />

relaciona<strong>do</strong>s à Educação Musical no Brasil, apontam para questões relaciona<strong>da</strong>s com o “fazer<br />

musical” dentro <strong>da</strong>s perspectivas contemporâneas de educação que envolve diversi<strong>da</strong>de,<br />

sociabili<strong>da</strong>de, emancipação, plurali<strong>da</strong>de, humanização, dentre outras, e estas estabelecen<strong>do</strong><br />

ligações com as diversas áreas <strong>do</strong> conhecimento e <strong>do</strong> ensino musical. Onde podemos então<br />

situar a História <strong>da</strong> Música nesse universo educativo? Incrivelmente, a História <strong>da</strong> Música<br />

aparece em quase to<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> música, seja para os cursos de instrumentos, de regência,<br />

de composição, etc, e ain<strong>da</strong> nos níveis básico, médio e técnico e superior.<br />

Sen<strong>do</strong> assim é deveras importante compreender a razão de se estu<strong>da</strong>r História <strong>da</strong><br />

Música de mo<strong>do</strong> que esta possa contribuir não somente para uma determina<strong>da</strong> prática<br />

musical, como muitos propagam ser esta a única função <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música, mas também<br />

para a formação profissional ampla de um(a) futuro(a) músico(ista) que será atuante num<br />

mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong> e permea<strong>do</strong> pelas idiossincrasias <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> século XXI, um(a)<br />

profissional que compreende seu papel enquanto músico e artista, mas também como ser<br />

social histórico, que é forma<strong>do</strong> e que forma através de sua música, através <strong>da</strong>s relações<br />

estabeleci<strong>da</strong>s com o meio no qual está inseri<strong>do</strong>. Ou seja, a História <strong>da</strong> Música não é somente<br />

uma disciplina “informativa”, mas também ou principalmente ela é “formativa”, segun<strong>do</strong><br />

Selva Guimarães, que faz suas considerações sobre o ensino de história de uma forma geral,<br />

mas que é positivamente adequa<strong>do</strong> ao universo <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música: “A nosso ver, ensinar<br />

história no atual contexto sociopolítico e cultural nos conduz à retoma<strong>da</strong> de uma velha<br />

questão: o papel formativo <strong>do</strong> ensino de história.” (FONSECA, 2006, p. 245).<br />

E seguin<strong>do</strong> esta afirmação sobre o papel formativo <strong>da</strong> história amplio algumas<br />

considerações buscan<strong>do</strong> apresentar e ao mesmo tempo (tentan<strong>do</strong>) responder as duas<br />

in<strong>da</strong>gações que fiz neste relato anteriormente. De fato a “real utilização” que a História <strong>da</strong><br />

Música pode ter, acredito que vai mais além <strong>da</strong>s básicas aplicações de estilos relaciona<strong>do</strong>s aos<br />

perío<strong>do</strong>s <strong>da</strong> história <strong>da</strong> música ocidental nas interpretações e performances, pois utilizar<br />

apenas o “modelo” de uma execução barroca, por exemplo, em busca de uma excelente<br />

interpretação, requer a leitura de uma partitura, a observação <strong>da</strong>s suas regras de grafia,<br />

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dinâmica, sonori<strong>da</strong>de e execução, o que não significa a compreensão <strong>do</strong>s processos pelos<br />

quais esta música foi feita, para que função e para qual público ela foi destina<strong>da</strong>, por quais<br />

meios ela foi divulga<strong>da</strong>, como a socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> época a recebeu/recebe, como a atualmente<br />

podemos fazer uma re-leitura <strong>da</strong> mesma música. Enfim, uma série de fatores que através <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música podem ser vivencia<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> objetivo e coerente com o fazer<br />

musical, como pondera Pedro Demo sobre a questão <strong>da</strong> teoria e <strong>da</strong> prática fazen<strong>do</strong> a história<br />

acontecer:<br />

To<strong>da</strong>via, a prática é condição necessária de historici<strong>da</strong>de concreta,<br />

para poder acontecer. Teoria que nunca acontece, jamais se dirigiu à<br />

reali<strong>da</strong>de, ou melhor, foge dela. A prática é limitante, pois não<br />

consegue executar to<strong>da</strong> a riqueza <strong>da</strong> teoria, mas não há história real<br />

sem prática. (DEMO, 1999, p. 103-104).<br />

A utilização <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música nos currículos escolares não serve apenas para<br />

“enriquecer” uma grade curricular ou ser mais uma disciplina teórica que dá “suporte” à<br />

prática musical na carreira <strong>do</strong>s futuros técnicos em música. Ela precisa ser significativa em<br />

sua utili<strong>da</strong>de e para tal é necessário o diálogo entre o conteú<strong>do</strong> histórico-musical e a prática<br />

atual, proporcionan<strong>do</strong> conscientização de que a “música” é também um sujeito histórico pois<br />

é produzi<strong>da</strong> e organiza<strong>da</strong> pelo homem, o responsável pela existência <strong>da</strong> história. E essa<br />

aproximação pode e deve ser media<strong>da</strong> pelo professor no espaço <strong>da</strong> sala de aula, utilizan<strong>do</strong> os<br />

conteú<strong>do</strong>s didáticos, os depoimentos, os recursos diversos, o debate, enfim, tu<strong>do</strong> com o intuito<br />

de diminuir as distâncias que possam separar ain<strong>da</strong> mais o conhecimento <strong>do</strong> conhece<strong>do</strong>r,<br />

novamente respal<strong>da</strong><strong>do</strong> em James Pinsky e Carla Pinsky: “Quanto mais o aluno sentir a<br />

História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa<br />

externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualifica<strong>do</strong> e inclina<strong>do</strong> a exercer”.<br />

(PINSKY; PINSKY, 2008, p. 28).<br />

Quanto à questão sobre tornar a disciplina História <strong>da</strong> Música aberta aos desafios<br />

próprios <strong>da</strong> Educação Musical no século XXI, é importante aqui frisar rapi<strong>da</strong>mente, pois este<br />

já seria um tema com muito material para outro ensaio, qual o perfil destes alunos(as) que<br />

hoje estão procuran<strong>do</strong> os cursos de música em escolas especializa<strong>da</strong>s, de onde eles vem e com<br />

que interesse estão envolvi<strong>do</strong>s no mesmo, uma vez que é na sala de aula o espaço onde se<br />

juntam estas “fontes” de informações, conteú<strong>do</strong>s e histórias diversas, sen<strong>do</strong> este o momento<br />

que o professor tem para construir, dialogar, aproximar, questionar, no senti<strong>do</strong> que está<br />

direciona<strong>do</strong> ao processo amplamente comenta<strong>do</strong> <strong>do</strong> “ensino-aprendizagem”, como<br />

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apropria<strong>da</strong>mente afirmou Jusamara Souza:<br />

Pensar na educação musical, nessa perspectiva, parte <strong>da</strong> consciência<br />

<strong>da</strong> época em que vivemos, significa pensar também nos alunos que<br />

estão em sala de aula como sujeitos desse contexto histórico-cultural<br />

complexo e dinâmico. Hoje, os alunos representam uma geração que<br />

nasce, vive em meio a processos de transformação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

contemporânea e suas repercussões no espaço social que habita, os<br />

quais presencia e <strong>do</strong>s quais participa. (SOUZA, 2004, p. 10)<br />

É justamente para atender esses discentes que são pertencentes às novas gerações nas<br />

socie<strong>da</strong>des contemporâneas <strong>do</strong> século XXI que devemos repensar nossa prática educativa,<br />

neste caso especificamente o ensino de História <strong>da</strong> Música, pois é para a formação e o<br />

desempenho musical destes indivíduos, alunos e alunas de hoje, regentes, cantores,<br />

concertistas, compositores e professores de amanhã, que estamos oferecen<strong>do</strong> uma parcela de<br />

conhecimento e que esta parcela poderá ser usa<strong>da</strong> no merca<strong>do</strong> de trabalho, que, aliás, também<br />

se constitui num desafio ao músico <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de, visto as inúmeras possibili<strong>da</strong>des<br />

de atuação e ao mesmo tempo sua massificação pela indústria midiática, vincula<strong>da</strong>s ao<br />

marketing, à propagan<strong>da</strong> e à publici<strong>da</strong>de. Como afirma Neide Esperidião:<br />

Com isso, os cursos de formação profissional <strong>do</strong>s Conservatórios<br />

deverão reconfigurar os seus currículos para que haja uma interligação<br />

com o mun<strong>do</strong> de trabalho e as necessi<strong>da</strong>des atuais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

profissional <strong>do</strong> músico. É nesse senti<strong>do</strong> que os sujeitos envolvi<strong>do</strong>s no<br />

processo ensino/aprendizagem <strong>do</strong>s Conservatórios, podem e devem<br />

refletir sobre suas práticas educativas, pois, além <strong>da</strong> formação<br />

profissional, estamos também forman<strong>do</strong> o ci<strong>da</strong>dão”. (ESPERIDIÃO,<br />

2002, p. 72)<br />

A disciplina História <strong>da</strong> Música não pode ser relega<strong>da</strong> à segun<strong>do</strong> ou terceiro plano na<br />

formação de alguém que vive e atua com música, pois a própria música já é um produto <strong>do</strong><br />

homem e o homem é um ser social, ou seja, socialmente defini<strong>do</strong>. A música é tão<br />

essencialmente humana quanto a história, visto que a música é “organiza<strong>da</strong>” pelo homem e a<br />

história se estabelece pela própria existência humana, portanto, o des<strong>do</strong>brar de aspectos<br />

musicais seguramente não pode desvincular-se <strong>da</strong> sua historici<strong>da</strong>de. Toman<strong>do</strong> de empréstimo<br />

um autor <strong>da</strong> Etnomusicologia para enfatizar este <strong>da</strong><strong>do</strong> na Educação Musical, relaciona<strong>do</strong> ao<br />

ensino de História <strong>da</strong> Música, segun<strong>do</strong> John Blacking, mesmo as estruturas musicais, que<br />

normalmente são considera<strong>da</strong>s objeto de estu<strong>do</strong> em campos estéticos e estilísticos <strong>da</strong> música,<br />

necessitam de respostas extra-musicais para que possam ser compreendi<strong>da</strong>s e estas respostas<br />

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podem ultrapassar até mesmo aspectos históricos:<br />

Disto decorre que qualquer juízo sobre a musicali<strong>da</strong>de humana deverá<br />

<strong>da</strong>r conta de processos que são extra-musicais, e que se deveria incluir<br />

nas análises musicais. As respostas para muitas importantes questões<br />

sobre a estrutura musical podem não ser estritamente musicais. Por que<br />

há preferência por certas escalas, mo<strong>do</strong>s ou intervalos? A explicação<br />

pode ser histórica, política, filosófica ou racional, em termos de leis<br />

acústicas. (BLACKING, 1976, p. 620)<br />

Um exemplo claro disto, ou seja, tanto de uma razão extra-musical histórica e<br />

política, para um “resulta<strong>do</strong>” musical, é a declaração <strong>do</strong>s autores Grout e Palisca: “A história<br />

<strong>da</strong> música ocidental, em senti<strong>do</strong> estrito, começa com a música <strong>da</strong> Igreja Cristã” (GROUT;<br />

PALISCA, 2007, p. 16). No mesmo capítulo os autores não somente evidenciam a estreita<br />

ligação <strong>da</strong> música ocidental com a música <strong>da</strong> Igreja Cristã, como também revelam que esta<br />

música litúrgica, o cantochão, estava diretamente relaciona<strong>da</strong> aos <strong>do</strong>gmas <strong>do</strong> catolicismo e<br />

seu interesse em unificar to<strong>da</strong> a Europa com os ideais <strong>da</strong> Igreja Cristã apoia<strong>do</strong>s pelos<br />

monarcas francos:<br />

Notar-se-á que tanto o registro sistemático por escrito <strong>da</strong>s melodias <strong>do</strong><br />

cantochão como a sua atribuição à uma inspiração divina coincidem com<br />

uma enérgica campanha <strong>do</strong>s monarcas francos no senti<strong>do</strong> de unificarem o<br />

seu reino poliglota.Um <strong>do</strong>s meios necessários para se alcançar este objetivo<br />

era uma liturgia e uma música de Igreja que fossem uniformes e<br />

constituíssem um elo de ligação entre to<strong>da</strong> a população.(...) O registro <strong>da</strong>s<br />

melodias por escrito terá então si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s meios de garantir que os cânticos<br />

seriam <strong>do</strong>ravante interpreta<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong> a parte <strong>da</strong> mesma forma.<br />

(GROUT; PALISCA, 2007, p. 59)<br />

Consideran<strong>do</strong> nas citações acima o fato de uma construção musical ter um senti<strong>do</strong><br />

“extra-musical”, fica quase impossível estu<strong>da</strong>r ou vivenciar esta sem que sejam conheci<strong>da</strong>s as<br />

razões pelas quais ela foi estrutura<strong>da</strong>. Sen<strong>do</strong> assim, o espaço <strong>da</strong> sala de aula nas escolas<br />

especializa<strong>da</strong>s em música deve ser otimiza<strong>do</strong> a fim de que tu<strong>do</strong> contribua para a compreensão<br />

<strong>do</strong> discente de qual seja a postura <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música para sua carreira profissional como<br />

um to<strong>do</strong>. E os recursos didáticos? Sim, eles podem sim auxiliar o professor(a) nesta<br />

construção, mas é coerente ponderar sobre a utilização desses recursos de mo<strong>do</strong> que sejam<br />

soma<strong>do</strong>s fatores como prática pe<strong>da</strong>gógica + acesso aos conteú<strong>do</strong>s + resulta<strong>do</strong>s otimiza<strong>do</strong>s, ou<br />

seja, a fim de que os possíveis recursos disponíveis à prática educativa não apenas sejam<br />

acessíveis, mas positivamente utiliza<strong>do</strong>s na formação musical <strong>do</strong> discente, pois até os<br />

melhores recursos só serão adequa<strong>da</strong>mente aproveita<strong>do</strong>s se utiliza<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a<br />

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proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> disciplina e <strong>do</strong> curso, e esse “saber ser” utiliza<strong>do</strong> é ter o<br />

conhecimento de causa, de conteú<strong>do</strong>, de consciência, segun<strong>do</strong> Selva Fonseca: “O professor,<br />

ao diversificar as fontes e dinamizar a prática de ensino, democratiza o acesso ao saber,<br />

possibilita o confronto e o debate de diferentes visões, estimula a incorporação e o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> experiência histórica.” (FONSECA, 2006, p. 244). Então,<br />

tratan<strong>do</strong>-se de recursos didáticos destina<strong>do</strong>s à auxiliar a via dupla que é o ensinoaprendizagem,<br />

a educação musical no século XXI experimenta uma gama de possibili<strong>da</strong>des, e<br />

a História <strong>da</strong> Música, especificamente, materiais que vão além <strong>do</strong> “tradicional” livro e <strong>da</strong><br />

“intocável” partitura, visto que até pouco tempo atrás era praticamente a única fonte<br />

<strong>do</strong>cumental considera<strong>da</strong> “segura” nos estu<strong>do</strong>s históricos musicais. Atualmente, o livro e a<br />

partitura somam-se às gravações de áudio, filmes, imagens, e principalmente <strong>da</strong> internet com<br />

suas inúmeras condições de acessibili<strong>da</strong>de. É na busca de uma reflexão significativa de<br />

algumas atitudes que podem fazer a diferença no ensino-aprendizagem <strong>da</strong> História <strong>da</strong> Música,<br />

que possamos, talvez, tornar esta disciplina “prazerosa e conseqüente” para to<strong>do</strong>s que temos<br />

contato com ela.<br />

Conclusão de Um Começo<br />

Sem pretender finalizar definitivamente com este tema, proponho que se elaborem<br />

mais debates sobre as questões acima cita<strong>da</strong>s, pois, se desejamos estar na medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> possível,<br />

de acor<strong>do</strong> com as novas propostas educativas que cercam as diretrizes <strong>da</strong> educação musical no<br />

Brasil, <strong>do</strong>is aspectos devem ser lembra<strong>do</strong>s: o papel que a música pode exercer na formação de<br />

um profissional e ci<strong>da</strong>dão, e como esta formação será utiliza<strong>da</strong> para encarar os desafios que<br />

compõem as socie<strong>da</strong>des contemporâneas. Diante de propostas e possibili<strong>da</strong>des que as escolas<br />

de música especializa<strong>da</strong>s oferecem para esta formação, principalmente as de formação técnica<br />

e profissional, é pertinente destacar e relacionar a afirmação de Luis Ricar<strong>do</strong> S. Queiroz: “A<br />

educação musical precisa pensar a disciplinari<strong>da</strong>de como base na interdisciplinari<strong>da</strong>de”<br />

(QUEIROZ, 2004, p. 105), ao lugar que a História <strong>da</strong> Música ocupa na própria educação<br />

musical e como esta pode ser uma forte alia<strong>da</strong> nesta objetivação formativa e para que os<br />

meios sejam desenvolvi<strong>do</strong>s conjuntamente, professor e aluno, através <strong>do</strong> diálogo educativo e<br />

significante, conduzin<strong>do</strong> à uma prática musical não apenas cumpri<strong>do</strong>ra de “regras” e<br />

“modelos”, mas de forma consciente e acima de tu<strong>do</strong> que proporcione a emancipação <strong>do</strong><br />

aprendiz.<br />

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Ensino coletivo de instrumentos de ban<strong>da</strong>: processos de aprendizagem <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>da</strong>mentos de se tocar metais<br />

Fabrício Dalla Vecchia<br />

UFBA<br />

fatrombone@gmail.com<br />

Joel Luis <strong>da</strong> Silva<br />

UFBA<br />

Resumo: Para Colwell e Hewitt (2010), Whitener (1997) e outros autores, respiração,<br />

embocadura, postura e emissão <strong>do</strong> som fazem parte <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos técnicos indispensáveis<br />

para se tocar instrumentos de sopro <strong>da</strong> família <strong>do</strong>s metais como trompete, trompa, trombone,<br />

bombardino e tuba. Eles apresentam conceitos desses fun<strong>da</strong>mentos e de como ensiná-los,<br />

contu<strong>do</strong> não especificam como ensiná-los no contexto de ensino coletivo de instrumentos<br />

homogêneos ou heterogêneos. Este trabalho relata uma pesquisa de mestra<strong>do</strong> que teve como<br />

objeto os processos de ensino e aprendizagem destes fun<strong>da</strong>mentos no âmbito <strong>do</strong> ensino<br />

coletivo de instrumentos de ban<strong>da</strong>. A pesquisa investigou como professores têm ensina<strong>do</strong> tais<br />

fun<strong>da</strong>mentos neste contexto de ensino. Foi utiliza<strong>do</strong> o delineamento de estu<strong>do</strong> de campo para<br />

abor<strong>da</strong>r diferentes reali<strong>da</strong>des, engloban<strong>do</strong> escolas regulares, escolas de música, ONG, ban<strong>da</strong>s<br />

e orquestras. Os instrumentos de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s,<br />

questionários, observações, anotações de campo e registros em vídeo e áudio. Os resulta<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> pesquisa demonstram que as concepções <strong>do</strong>s professores pesquisa<strong>do</strong>s sobre os<br />

fun<strong>da</strong>mentos técnicos são semelhantes às apresenta<strong>da</strong>s pelos teóricos abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s. São<br />

reporta<strong>da</strong>s considerações para um processo de educação musical fluente através de<br />

instrumentos de sopro.<br />

Palavras-chave: Ensino coletivo; Grupo instrumental; instrumentos de metal; técnica<br />

instrumental.<br />

Introdução<br />

Este estu<strong>do</strong> tem por tema o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos técnicos de se tocar<br />

instrumentos de metal no âmbito <strong>do</strong> ensino coletivo. Um <strong>do</strong>s motivos deste estu<strong>do</strong> enfocar tal<br />

tema é que, conforme Pereira (2000), há uma grande carência de cursos regulares para formar<br />

professores destes instrumentos no Brasil. Quanto à abor<strong>da</strong>gem <strong>do</strong> ensino coletivo, segun<strong>do</strong><br />

Cruvinel (2005), ele tem se mostra<strong>do</strong> eficiente, principalmente, na iniciação de novos<br />

músicos. Estu<strong>do</strong>s que tratem deste tema ain<strong>da</strong> são poucos e muito recentes em nosso país.<br />

Bozzini (2006) trata <strong>da</strong> técnica de instrumentos de metais, independente <strong>do</strong> contexto.<br />

Já liga<strong>do</strong> ao ensino coletivo destes instrumentos existem os trabalhos de Santana (2000),<br />

Moreira (2007) e Nascimento (2007). Estes apresentam experiências de grupos musicais que<br />

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obtiveram êxito com a forma coletiva de ensino de instrumentos de ban<strong>da</strong>.<br />

A partir <strong>da</strong> análise destes autores cita<strong>do</strong>s, surgiram as seguintes questões que<br />

serviram de diretrizes para este trabalho: Quais fun<strong>da</strong>mentos de se tocar metais têm si<strong>do</strong><br />

ensina<strong>do</strong>s por professores no ensino coletivo? Como eles os têm ensina<strong>do</strong>? Quais são suas<br />

concepções sobre os mesmos?<br />

Revisão de literatura<br />

Verificou-se através <strong>do</strong>s autores Hunt (1963), Reger (1967), Manning (1975),<br />

Colwell e Hewitt (2010), Whitener (1997) e Bozzini (2006) que uma base técnica sóli<strong>da</strong> para<br />

o instrumentista de metal precisa necessariamente conter os seguintes fun<strong>da</strong>mentos:<br />

respiração, compreenden<strong>do</strong> inspiração, expiração, respiração baixa, coluna ou fluxo de ar;<br />

embocadura, engloban<strong>do</strong> formato, proporção, posição e vibração <strong>do</strong>s lábios; postura,<br />

envolven<strong>do</strong> a relação corpo, braços, mãos e de<strong>do</strong>s ao instrumento; e emissão <strong>do</strong> som que<br />

compreende a aplicação simultânea <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos anteriores. Usou-se a sigla REPE para<br />

se referir a estes fun<strong>da</strong>mentos onde R significa respiração, E embocadura, P postura e E<br />

emissão <strong>do</strong> som.<br />

Foram revisa<strong>do</strong>s vídeos estrangeiros e nacionais. Deles analisamos os que<br />

acompanham os méto<strong>do</strong>s estadunidenses <strong>da</strong>s editoras Belwin, Hal Leonard e Alfred. Estes<br />

trazem DVD, CD e programas de computa<strong>do</strong>r com o objetivo de estimular o desenvolvimento<br />

técnico-musical junto ao instrumento.<br />

O projeto <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ción del Esta<strong>do</strong> por el Sistema Nacional de las Orquestras<br />

Sinfônicas Juveniles y Infantiles <strong>da</strong> Venezuela (FENOSJIV) dispõe de tutoriais em DVD para<br />

ca<strong>da</strong> instrumento <strong>da</strong> Orquestra Sinfônica. São muito detalha<strong>do</strong>s e, além <strong>da</strong> técnica e <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>da</strong>mentos, tratam também <strong>da</strong> história, funcionamento <strong>do</strong> instrumento e sua manutenção.<br />

No Brasil, temos notícias de apenas <strong>do</strong>is vídeos disponíveis comercialmente que<br />

tratam <strong>do</strong> ensino de instrumentos de metal, ambos para trompete. O primeiro é o VHS de<br />

Cascapera (SD) que foi relança<strong>do</strong> em DVD . O segun<strong>do</strong> é o DVD de Oliveira (2004), lança<strong>do</strong><br />

pela editora Keyboard Lt<strong>da</strong> . Silva (2007) elaborou um méto<strong>do</strong> para o ensino a distância de<br />

trombone, como parte de sua dissertação, que possui um vídeo que abor<strong>da</strong> os fun<strong>da</strong>mentos<br />

técnicos. O ban<strong>da</strong>larga para clarineta de Silveira (2009) é uma, entre várias apostilas, que faz<br />

parte <strong>do</strong> Programa de Atualização para Ban<strong>da</strong>s de Música <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. O<br />

ban<strong>da</strong>larga é composto de livro didático e vídeo aula em DVD para ca<strong>da</strong> instrumento <strong>da</strong><br />

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ban<strong>da</strong> em separa<strong>do</strong>, que tem por objetivo melhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Ban<strong>da</strong>s <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> a médio<br />

e a longo prazo. Vídeos ama<strong>do</strong>res e vídeo-aulas de professores em geral, são bem frequentes<br />

no youtube, porém, devi<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de de trazerem conceitos e demonstrações duvi<strong>do</strong>sas,<br />

vídeos <strong>do</strong> youtube não fizeram parte <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Verificou-se que a meto<strong>do</strong>logia de pesquisa quali-quantitativa de natureza descritiva<br />

seria a mais apropria<strong>da</strong>, vez que a mesma abrange processos de ensino e aprendizagem de<br />

instrumentos musicais em ban<strong>da</strong>s e orquestras de contextos diversos e parte <strong>da</strong> coleta de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s foi composta por <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos. Uma <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> pesquisa descritiva é<br />

"obter informações sobre o esta<strong>do</strong> atual de um fenômeno existente, tais como condições,<br />

práticas e situações" (PHELPS et al, 1993, p. 221).<br />

Essa característica foi presente na<br />

pesquisa por buscar conhecer a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s processos de ensino-aprendizagem e seus<br />

conceitos na comuni<strong>da</strong>de educacional, forma<strong>da</strong> por pessoas que utilizam o méto<strong>do</strong> Da Capo –<br />

Méto<strong>do</strong> elementar para o ensino coletivo e/ou individual de instrumentos de ban<strong>da</strong><br />

(BARBOSA, 2004).<br />

O delineamento de estu<strong>do</strong> de campo foi desenvolvi<strong>do</strong> por meio de observações<br />

acompanha<strong>da</strong>s de anotações em diário de campo, entrevistas e questionários. Também foram<br />

utiliza<strong>da</strong>s filmagens e fotografias para captar informações a respeito <strong>do</strong>s grupos pesquisa<strong>do</strong>s<br />

como indica Gil (2002) para este tipo de pesquisa.<br />

O universo <strong>da</strong> pesquisa compreendeu professores que utilizam ou utilizaram o<br />

méto<strong>do</strong> Da Capo. Logo, o uso deste méto<strong>do</strong> foi o critério a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> para determinar a amostra<br />

<strong>da</strong> pesquisa. Foram lista<strong>do</strong>s 60 regentes-professores de ban<strong>da</strong>s e orquestras com este perfil. A<br />

amostra se constituiu de 20, destes 31 regentes-professores, que responderam ao contato por<br />

endereço eletrônico ou telefone. Eles eram <strong>da</strong>s cinco regiões <strong>do</strong> Brasil. Foram seis <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

de São Paulo, quatro de Salva<strong>do</strong>r, três de Curitiba e três de São José <strong>do</strong>s Pinhais – PR, e<br />

apenas um informante de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s seguintes ci<strong>da</strong>des: Rio de Janeiro - RJ, Várzea Grande<br />

– MT, Itabaiana – SE e Oriximiná – PA. São Paulo é o esta<strong>do</strong> onde se encontra o maior<br />

número de professores-regentes que utilizam o méto<strong>do</strong> Da Capo.<br />

Além <strong>do</strong>s professores, 43 alunos que trabalharam com o méto<strong>do</strong> Da Capo<br />

compuseram a amostra de respondentes <strong>da</strong> pesquisa. A maioria <strong>do</strong>s professores e alunos<br />

informantes era de grandes centros urbanos, como São Paulo, Salva<strong>do</strong>r e Curitiba, ci<strong>da</strong>des<br />

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que possuem universi<strong>da</strong>des com cursos superiores nestes instrumentos.<br />

Figura 1 – O uso <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Da Capo no Brasil.<br />

Fonte: VECCHIA, F., Pesquisa de campo, 2008.<br />

Esses professores são emprega<strong>do</strong>s por prefeituras, ONG, incluin<strong>do</strong> associações de<br />

diversos segmentos que, geralmente, estão vincula<strong>da</strong>s a alguma instituição cultural. Alguns<br />

exemplos mais significativos pesquisa<strong>do</strong>s são a Ban<strong>da</strong> UFBERÊ <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de 1º de Maio em<br />

Salva<strong>do</strong>r e o Projeto GURI no esta<strong>do</strong> de São Paulo. A UFBERÊ, primeira Ban<strong>da</strong> forma<strong>da</strong><br />

com o méto<strong>do</strong> Da Capo em 1998, tem integrantes que já se tornaram professores e alunos de<br />

graduação na Escola de Música <strong>da</strong> UFBA. O GURI é um <strong>do</strong>s maiores projetos de ensino de<br />

música no país, atende mais de 30.000 crianças e a<strong>do</strong>lescentes.<br />

O tratamento e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s ocorreram a partir <strong>do</strong> cruzamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre as<br />

estratégias de ensino-aprendizagem descritas pelos professores nos questionários.<br />

Não há fontes precisas a respeito <strong>do</strong> número de professores que utilizam ou<br />

utilizaram o méto<strong>do</strong> Da Capo de maneira coletiva devi<strong>do</strong> a sua recente publicação (2004).<br />

Segun<strong>do</strong> o autor <strong>do</strong> mesmo, este número é de, aproxima<strong>da</strong>mente, 200 (BARBOSA, 2007).<br />

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Vez que se atingiu 10% <strong>do</strong>s professores conheci<strong>do</strong>s que utilizam o méto<strong>do</strong>, a amostra pode<br />

ser considera<strong>da</strong> significativa se considerarmos o universo <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Apresentação e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

Na análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, verificou-se que os processos didáticos mais ocorrentes no<br />

ensino <strong>do</strong>s instrumentos de metais podem ser distribuí<strong>do</strong>s em três pilares principais: 1) passoa-passo<br />

que é a seqüência de procedimentos ou primeiros passos que trata <strong>do</strong>s procedimentos<br />

básicos para a emissão <strong>do</strong> som; 2) REPE (Respiração, Embocadura, Postura e Emissão <strong>do</strong><br />

som), fun<strong>da</strong>mentos básicos para se tocar metais e 3) tabela de problemas, causas e possíveis<br />

soluções comuns a jovens iniciantes. Verificou-se que há muita semelhança entre o conteú<strong>do</strong><br />

proposto por Colwell e Hewitt (2010) e Whitener (1997) e o identifica<strong>do</strong> na prática <strong>do</strong>s<br />

professores pesquisa<strong>do</strong>s. Por exemplo, o professor de Oriximiná-PA, que utiliza o<br />

procedimento de demonstrar como o lábio vibra no bocal para produzir o som, exatamente<br />

como indica<strong>do</strong> por aqueles autores. A diferença mais significativa entre estes autores e os<br />

resulta<strong>do</strong>s foi que 60% <strong>do</strong>s professores pesquisa<strong>do</strong>s não instruem seus alunos a umedecer os<br />

lábios para favorecer a vibração <strong>do</strong>s mesmos. Já os autores Lautzenheiser (2006) e Colwell e<br />

Hewitt (2010) indicam tal procedimento.<br />

Dentre as estratégias de ensino observa<strong>da</strong>s se destacaram o uso de imagens mentais<br />

(metáforas e analogias) e de modelos (exemplos) sonoros realiza<strong>do</strong>s pelo próprio professor ou<br />

por alunos mais experientes. Estas estratégias estão mais presentes na etapa introdutória,<br />

anterior ao início <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Da Capo. Esta etapa consiste em aulas de naipes ou<br />

instrumentos mais semelhantes. O méto<strong>do</strong> propõe que os fun<strong>da</strong>mentos de respiração,<br />

embocadura, postura e emissão <strong>do</strong> som sejam introduzi<strong>do</strong>s durante esta etapa introdutória e<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s em segui<strong>da</strong>. A etapa seguinte consiste em aulas coletivas com to<strong>do</strong>s os naipes<br />

presentes, trabalhan<strong>do</strong> leitura de partitura, percepção, criativi<strong>da</strong>de e prática de ban<strong>da</strong><br />

simultaneamente.<br />

Conclusões e recomen<strong>da</strong>ções<br />

A análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s demonstrou que estes professores-regentes estão atualiza<strong>do</strong>s em<br />

relação as publicações científicas mais relevantes <strong>da</strong> área, como aponta<strong>da</strong>s no início deste<br />

artigo, e possuem competências compatíveis com os conhecimentos encontra<strong>do</strong>s na revisão<br />

bibliográfica nacional e estrangeira na área. Isto, provavelmente, se deve ao fato de a maioria<br />

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<strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>s ter formação musical em nível técnico ou superior e trabalharem em grandes<br />

centros urbanos.<br />

Conclui-se que um processo de educação musical fluente, através <strong>do</strong>s instrumentos<br />

de metais, passa pela construção <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos de respiração, embocadura, postura e<br />

emissão (REPE). A etapa introdutória destes fu<strong>da</strong>mentos tem duração, em média, de duas<br />

aulas, onde o aluno aprende a emitir a primeira nota. Constatou-se que o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> aula e<br />

o processo de educação musical <strong>do</strong> aluno e <strong>do</strong> grupo podem ser prejudica<strong>do</strong>s se, na etapa<br />

introdutória, a fixação desses fun<strong>da</strong>mentos for superficial. Foi possível observar que a carga<br />

horária destina<strong>da</strong> à etapa introdutória, às estratégias de abor<strong>da</strong>gem e à assimilação <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>da</strong>mentos de respiração, embocadura, postura e emissão <strong>do</strong> som influem diretamente no<br />

desempenho <strong>da</strong>s práticas coletivas de ensino musical de iniciantes em instrumentos de metal.<br />

A forma coletiva de ensino de instrumentos de sopro e o uso de material didático<br />

brasileiro específico para esta forma de ensino, é recente no Brasil, o méto<strong>do</strong> de Barbosa<br />

(2004) é o único publicato até então 2010. No entanto, o ensino coletivo tem demonstra<strong>do</strong><br />

que, além de viável, é também eficiente e ganha ca<strong>da</strong> vez mais espaço entre os professores de<br />

música. Mesmo entre aqueles professores que iniciaram o aprendiza<strong>do</strong> de forma tutorial.<br />

Seria relevante investigar mais profun<strong>da</strong>mente a relação entre a duração <strong>da</strong> etapa<br />

introdutória e os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelos alunos no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento. Também se<br />

faz mister verificar as implicações <strong>do</strong> emprego de material audiovisual no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

fun<strong>da</strong>mentos técnicos junto ao ensino coletivo de instrumentos de metais, bem como o uso<br />

deste tipo de material em cursos de formação de professores-regentes em caráter presencial,<br />

semi-presencial ou à distância e em cursos de formação continua<strong>da</strong> para professores.<br />

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processos de ensino e aprendizagem <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos técnicos na aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Da<br />

Capo. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, 2008.<br />

WHITENER, Scott. A Complete Guide to Brass: Instruments and Technique. 2 ed. New<br />

York: Schirmer, 1997.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

289


2 OA N O S<br />

Entre o silêncio e o ruí<strong>do</strong> útil: Estu<strong>do</strong> qualitativo <strong>do</strong> ambiente sonoro de<br />

uma escola pública de Fortaleza<br />

Leila Uchôa <strong>do</strong> Nascimento Sal<strong>da</strong>nha 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

leilauc@hotmail.com<br />

Gracyella Melissa de Oliveira Leão 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

melissaoll@hotmail.com<br />

Danilo Ramalho Gurgel 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

<strong>da</strong>nilorgurgel@gmail.com<br />

Marcos Chaves Lessa de Castro 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

marcos.c.lessa@gmail.com<br />

Gerar<strong>do</strong> Silveira Viana Júnior 2<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

gerar<strong>do</strong>vianajr@ufc.br<br />

Resumo: O presente artigo apresenta os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s a partir de uma pesquisa realiza<strong>da</strong><br />

em uma escola pública <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Fortaleza. Trata-se de um trabalho que tem por objetivo<br />

verificar em que medi<strong>da</strong> os estu<strong>da</strong>ntes e professores estão conscientes <strong>do</strong> ambiente sonoro <strong>da</strong><br />

Escola e de sua interferência sobre o processo de ensino-aprendizagem, bem como entender a<br />

relação entre o educa<strong>do</strong>r musical e essa temática. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s fornecerão subsídios<br />

para uma intervenção pe<strong>da</strong>gógica com o intuito de contribuir para uma ampliação <strong>da</strong><br />

sensibili<strong>da</strong>de musical <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s neste contexto, tornan<strong>do</strong> efetiva a integração entre<br />

Universi<strong>da</strong>de e Escola Pública.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, Ambiente Sonoro, Escola Pública<br />

Introdução<br />

A criação <strong>do</strong> termo Ecologia Sonora, por Murray Schafer em 1991, despertou o<br />

interesse <strong>do</strong>s músicos-educa<strong>do</strong>res para o entendimento <strong>da</strong> relação entre os aspectos relevantes<br />

<strong>da</strong> paisagem sonora e o desenvolvimento de uma audição inteligente dentro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

escolar.<br />

1 Bolsista <strong>do</strong> Programa de Educação Tutorial – PET/UFC <strong>do</strong> Curso de Música (Licenciatura)<br />

2 Tutor <strong>do</strong> Programa de Educação Tutorial – PET/UFC <strong>do</strong> Curso de Música (Licenciatura)<br />

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290


2 OA N O S<br />

A partir <strong>da</strong>s discussões que envolvem a temática <strong>da</strong> Ecologia Sonora, o Programa de<br />

Educação Tutorial (PET) <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC desenvolveu um<br />

projeto com a proposta de investigar a paisagem sonora de escolas <strong>da</strong> rede pública de<br />

Fortaleza, situa<strong>da</strong> no entorno <strong>da</strong> Casa José de Alencar, no Bairro de Messejana, proximi<strong>da</strong>des<br />

de onde funcionava o curso.<br />

Por meio <strong>da</strong> aproximação entre a Universi<strong>da</strong>de e a instituição de ensino, o projeto<br />

visa realizar uma intervenção pe<strong>da</strong>gógica, de forma a contribuir no processo de<br />

conscientização de gestores e estu<strong>da</strong>ntes acerca <strong>da</strong> importância <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical<br />

na construção de um ambiente sonoro propício para ativi<strong>da</strong>des educativas.<br />

Paisagem Sonora e Educação Musical<br />

A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, o canadense Murray Schafer desenvolveu um projeto<br />

intitula<strong>do</strong> “The Soundscape Project” com o objetivo de analisar as características sonoras <strong>do</strong>s<br />

ambientes rurais e urbanos. O pesquisa<strong>do</strong>r e músico criou o termo “soundscape” na tentativa<br />

de fazer uma analogia com a palavra “landscape”, referin<strong>do</strong>-se à paisagem. Por paisagem<br />

sonora, Schafer entendia “qualquer porção <strong>do</strong> ambiente sonoro vista como um campo de<br />

estu<strong>do</strong>s.” (Schafer, 1991, p.366), ou “qualquer campo de estu<strong>do</strong> acústico." (Schafer, 2001,<br />

p.23).<br />

No Brasil, segun<strong>do</strong> Fonterra<strong>da</strong> (2004), o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com as questões que cercam o som<br />

ambiental é praticamente inexistente. Entre os poucos programas de conscientização sobre o<br />

assunto, podemos encontrar o controle <strong>do</strong>s níveis de ruí<strong>do</strong>s nas áreas de proximi<strong>da</strong>de de<br />

hospitais e residências, além <strong>do</strong> controle de ruí<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s por aparelhos <strong>do</strong>mésticos.<br />

(...) o som ambiental e as questões que o cercam têm, ain<strong>da</strong>, pouco espaço de<br />

divulgação. Em alguns países desenvolvi<strong>do</strong>s, existe uma certa preocupação a<br />

esse respeito, mas nos países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil, a<br />

questão é praticamente inexistente (FONTERRADA, 2004, p.43).<br />

Em Schafer (1991), encontramos uma preocupação com a paisagem sonora<br />

contemporânea, que se tornou uma <strong>da</strong>s principais fontes de conflitos na atuali<strong>da</strong>de, sen<strong>do</strong><br />

responsável por grandes transtornos que afetam a saúde <strong>da</strong> população.<br />

A multiplicação irrestrita de máquinas e a tecnologia em geral resultaram<br />

numa paisagem sonora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, cuja intensi<strong>da</strong>de cresce continuamente.<br />

Evidências recentes demonstram que o homem moderno está fican<strong>do</strong><br />

gradualmente sur<strong>do</strong>. Ele está se matan<strong>do</strong> com som. A poluição sonora é um<br />

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2 OA N O S<br />

<strong>do</strong>s grandes problemas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> contemporânea (SCHAFER, 1991, p. 289).<br />

Os sons de curta duração e alta intensi<strong>da</strong>de podem resultar em uma per<strong>da</strong> temporária<br />

ou permanente <strong>da</strong> acui<strong>da</strong>de auditiva de um indivíduo, além de problemas extra-auditivos,<br />

como o aumento de batimentos cardíacos, alterações digestivas, irritabili<strong>da</strong>de, ansie<strong>da</strong>de,<br />

insônia, entre outros. Segun<strong>do</strong> Colleoni e colabora<strong>do</strong>res:<br />

[...] na faixa de freqüências baixas, inician<strong>do</strong>-se com as freqüências infrasônicas<br />

(abaixo de 16Hz), os efeitos <strong>do</strong> ruí<strong>do</strong> não são auditivos, e dentre eles<br />

estão enjôos, vômitos, tonturas, etc. À medi<strong>da</strong> que a freqüência aumenta, os<br />

efeitos são diferentes e podemos encontrar alterações na atenção e<br />

concentração mental, no ritmo respiratório, ritmo cardíaco, aumento <strong>da</strong><br />

irritabili<strong>da</strong>de, per<strong>da</strong> de apetite e esta<strong>do</strong>s pré-neuróticos (Colleoni et al.,<br />

1981).<br />

Diante dessa reali<strong>da</strong>de, a Educação Musical se apresenta como uma importante<br />

ferramenta para introduzir no ambiente escolar uma reflexão embasa<strong>da</strong> sobre o assunto. O<br />

som e o ambiente sonoro devem estar liga<strong>do</strong>s ao processo de aprendizagem e às práticas<br />

educativas na Escola, favorecen<strong>do</strong> uma relação entre o ensino de Música e a Paisagem<br />

Sonora.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Para entender a configuração sonora <strong>do</strong> ambiente escolar, a pesquisa a<strong>do</strong>tou uma<br />

abor<strong>da</strong>gem qualitativa, que possui um caráter descritivo e subjetivo. Neves (1996) faz a<br />

seguinte afirmação sobre esse méto<strong>do</strong> de investigação: “Um conjunto de diferentes técnicas<br />

interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo<br />

de significa<strong>do</strong>s.”<br />

A pesquisa se desenvolveu a partir de visitas semanais à escola, onde utilizamos o<br />

recurso <strong>da</strong> observação participante como principal instrumento para perceber a paisagem<br />

sonora <strong>da</strong> instituição de ensino. Com a utilização de um diário de campo, procuramos<br />

descrever os aspectos sonoros em diferentes momentos <strong>do</strong> dia. Observamos as salas de aula,<br />

os corre<strong>do</strong>res, as salas <strong>da</strong> direção e coordenação, o pátio e dependências externas.<br />

Durante a pesquisa procuramos também compreender como os envolvi<strong>do</strong>s nesse<br />

contexto sonoro percebem esse ambiente. Para isso, realizamos entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s<br />

com professores, gestores e estu<strong>da</strong>ntes.<br />

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O Ambiente Sonoro <strong>da</strong> Escola<br />

A escola pesquisa<strong>da</strong> destina-se ao ensino médio e tem sua sede localiza<strong>da</strong> no bairro<br />

de Messejana, zona urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Fortaleza. Trata-se de uma escola grande, com 1476<br />

alunos, que conta com um quadro de 70 professores 3 . A instituição possui um espaço amplo,<br />

com pátio arboriza<strong>do</strong>, biblioteca multimídia, laboratório de ciências e três laboratórios de<br />

informática. As salas são de médio porte e sem tratamento acústico adequa<strong>do</strong>, resultan<strong>do</strong><br />

numa intensa competição sonora entre os espaços.<br />

Observamos dentro <strong>da</strong>s dependências <strong>da</strong> escola vários tipos de ruí<strong>do</strong>s, oriun<strong>do</strong>s de<br />

sons naturais, sons provenientes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelos usuários <strong>do</strong> espaço, e sons<br />

externos.<br />

A escola encontra-se em uma <strong>da</strong>s aveni<strong>da</strong>s mais movimenta<strong>da</strong>s de Fortaleza e,<br />

devi<strong>do</strong> à ausência de isolamento acústico nas salas de aula, os ruí<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s pelo intenso<br />

trânsito na região interferem diretamente no an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s aulas. Observamos o barulho <strong>da</strong>s<br />

buzinas, <strong>do</strong>s freios, <strong>do</strong>s motores <strong>do</strong>s carros de grande e pequeno porte, entre outros ruí<strong>do</strong>s,<br />

que tornam o ambiente de ensino desagradável.<br />

Durante a realização <strong>da</strong> pesquisa, a escola passava por reformas em sua estrutura<br />

física, e mesmo em horário de aula, as obras aconteciam normalmente. Ruí<strong>do</strong>s intensos eram<br />

produzi<strong>do</strong>s por furadeiras, martelos, carrinhos de mão, conversas paralelas entre os<br />

funcionários, entre outros.<br />

Nos corre<strong>do</strong>res, mesmo durante as ativi<strong>da</strong>des em sala de aula, os usuários <strong>do</strong> espaço<br />

físico arrastavam seus calça<strong>do</strong>s no piso. Professores e funcionários também contribuíam para<br />

o estresse sonoro abrin<strong>do</strong> e fechan<strong>do</strong> portas, carregan<strong>do</strong> acessórios pesa<strong>do</strong>s, como correntes,<br />

chaves, pulseiras e botas, produzin<strong>do</strong> sons que ressoavam em to<strong>do</strong> ambiente escolar.<br />

No decorrer <strong>da</strong>s aulas, observamos uma mu<strong>da</strong>nça significativa no que diz respeito ao<br />

som emiti<strong>do</strong> pelos professores, que utilizavam a voz em intensi<strong>da</strong>de modera<strong>da</strong> no início <strong>da</strong>s<br />

aulas e, ao longo <strong>do</strong> tempo passavam a gritar, resultan<strong>do</strong> numa forte competição sonora entre<br />

as salas de aula, entre os estu<strong>da</strong>ntes e professores, além <strong>da</strong> constante competição com os sons<br />

externos. Os estu<strong>da</strong>ntes ca<strong>da</strong> vez mais inquietos gritavam, batiam palmas, assobiavam,<br />

gargalhavam, enquanto os professores, com a finali<strong>da</strong>de de chamar a atenção destes,<br />

3 Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com o setor administrativo <strong>da</strong> escola.<br />

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2 OA N O S<br />

esforçavam-se vocalmente e usavam de vários artifícios, como o ato de bater objetos nas<br />

mesas para obter a concentração <strong>do</strong>s jovens.<br />

As salas não possuem uma boa condição acústica e nenhuma privaci<strong>da</strong>de com<br />

relação às outras salas <strong>da</strong> instituição, deixan<strong>do</strong> o ambiente sonoro bastante confuso.<br />

A sala <strong>da</strong> diretoria e coordenação tinha um ambiente bastante agradável, possuía ar<br />

condiciona<strong>do</strong>, as janelas permaneciam fecha<strong>da</strong>s, impedin<strong>do</strong> a entra<strong>da</strong> de ruí<strong>do</strong>s indesejáveis,<br />

possibilitan<strong>do</strong> a existência de um local prazeroso para se desenvolver uma ativi<strong>da</strong>de<br />

profissional. Nesse espaço, verificamos apenas alguns sons produzi<strong>do</strong>s pelos professores e<br />

outros funcionários que organizavam o material para as aulas, barulhos produzi<strong>do</strong>s pelas<br />

teclas <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res, e o som produzi<strong>do</strong> pelo telefone, este, numa tonali<strong>da</strong>de agradável,<br />

interferin<strong>do</strong> muito pouco na quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ambiente.<br />

No intervalo e no término <strong>da</strong>s aulas, observamos os momentos de maior intensi<strong>da</strong>de<br />

sonora, nos quais as conversas paralelas formavam o ambiente sonoro desordena<strong>do</strong>.<br />

Os sons naturais eram quase imperceptíveis. Embora a escola apresentasse um<br />

ambiente arboriza<strong>do</strong> e de visualizarmos os pássaros, to<strong>do</strong>s os outros ruí<strong>do</strong>s se sobrepunham<br />

aos sons produzi<strong>do</strong>s pela natureza.<br />

As entrevistas<br />

Com a finali<strong>da</strong>de de compreender as percepções <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res sobre o ambiente<br />

sonoro <strong>da</strong> instituição, entrevistamos o diretor pe<strong>da</strong>gógico, o coordena<strong>do</strong>r de gestão, e<br />

professores.<br />

No que concerne à Educação Musical, percebemos falta de um entendimento mais<br />

aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong> sobre o assunto, o que dificulta a interferência em uma formação saudável <strong>do</strong><br />

ambiente sonoro. Em relatos obti<strong>do</strong>s através <strong>da</strong>s entrevistas direciona<strong>da</strong>s aos educa<strong>do</strong>res e<br />

gestores, encontramos certa preocupação com a o ensino <strong>da</strong>s artes, embora essa preocupação<br />

seja acompanha<strong>da</strong> pela falta <strong>do</strong> real entendimento <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> educação artística para a<br />

formação <strong>do</strong> indivíduo, como podemos perceber no dizer <strong>do</strong> diretor pe<strong>da</strong>gógico: “o trabalho<br />

com artes é importante para que talentos sejam revela<strong>do</strong>s”. Além disso, observamos que a<br />

presença <strong>da</strong> música na escola se restringe às ativi<strong>da</strong>des de entretenimento, como<br />

apresentações em <strong>da</strong>tas comemorativas.<br />

Percebemos certo desconhecimento sobre ecologia sonora e a falta de consciência<br />

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sobre a importância <strong>da</strong> temática para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des letivas, dificultan<strong>do</strong> a<br />

discussão sobre o assunto e a participação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical para o aproveitamento <strong>do</strong>s<br />

sons na prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Considerações Finais<br />

A discussão sobre a relevância <strong>da</strong> ecologia sonora no espaço escolar é fun<strong>da</strong>mental<br />

para eluci<strong>da</strong>r a relação entre paisagem sonora e educação musical, esclarecen<strong>do</strong> a importância<br />

desse relacionamento para uma abor<strong>da</strong>gem diferencia<strong>da</strong> <strong>do</strong> ensino de música, restringi<strong>do</strong>, por<br />

vezes, ao ensino de instrumentos e realizações de festivi<strong>da</strong>des.<br />

Por meio <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s através <strong>da</strong> pesquisa, percebemos os diferentes sons<br />

que compõem a paisagem sonora <strong>da</strong> escola. A partir desse reconhecimento, destacamos a<br />

necessi<strong>da</strong>de de promover discussões acerca <strong>do</strong> assunto para reconfigurar o ambiente sonoro<br />

escolar, despertan<strong>do</strong> um ouvir consciente capaz de perceber os sons que compõem esse<br />

ambiente sonoro no qual estamos inseri<strong>do</strong>s para então organizá-los e, até mesmo nos<br />

apropriarmos destes para fins criativos, e a Educação tem um papel importante nesse<br />

processo. Em Fonterra<strong>da</strong>, encontramos:<br />

Para compreendermos esse processo de ouvir, reconhecer, criar e organizar<br />

os sons é preciso que nos aproximemos deles, que o reconheçamos como<br />

fenômeno físico, existente na natureza, e capta<strong>do</strong> pelos nossos ouvi<strong>do</strong>s. Mas<br />

o som também pode ser cria<strong>do</strong> por nós e, para isso, lançamos mão <strong>do</strong>s meios<br />

os mais diversos (Fonterra<strong>da</strong>, 2004, p. 8).<br />

Schafer (2001) também desenvolve to<strong>da</strong> uma preocupação sobre a necessi<strong>da</strong>de de se<br />

criar um novo méto<strong>do</strong> educativo relaciona<strong>do</strong> à paisagem sonora, <strong>da</strong> qual o homem deve ser o<br />

principal agente criativo. Para ele, as pessoas são “seus compositores e executantes,<br />

encarrega<strong>do</strong>s de <strong>da</strong>r-lhe forma e beleza” (SCHAFER, 2001, p.18-19).<br />

Percebemos, portanto, a importância <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical na discussão e abor<strong>da</strong>gem<br />

<strong>do</strong>s temas relaciona<strong>do</strong>s à ecologia sonora, entenden<strong>do</strong> que as questões sonoras devem estar<br />

relaciona<strong>da</strong>s com as práticas educativas para que se compreen<strong>da</strong> a educação musical em sua<br />

real dimensão.<br />

(...) a educação musical não é apenas uma ativi<strong>da</strong>de destina<strong>da</strong> a divertir e<br />

entreter as pessoas, tampouco um conjunto de técnicas, méto<strong>do</strong>s e ativi<strong>da</strong>des<br />

com o propósito de desenvolver habili<strong>da</strong>des e criar competências, embora<br />

essa seja parte importante de sua tarefa. O mais significativo na educação<br />

musical é que ela pode ser o espaço de inserção <strong>da</strong> arte na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> ser<br />

humano, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe possibili<strong>da</strong>de de atingir outras dimensões de si mesmo e<br />

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de ampliar e aprofun<strong>da</strong>r seus mo<strong>do</strong>s de relação consigo próprio, como outro<br />

e com o mun<strong>do</strong> (FONTERRADA, 2008, p.117).<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

COLLEONI, N. et al. Ruí<strong>do</strong>s industriais, perturbações auditivas e sua profilaxia. Revista<br />

brasileira de saúde ocupacional. Nº 36, 1981.<br />

FONTERRADA. Marisa Trench de Oliveira. Ecologia Sonora. São Paulo: Irmãos Vitale,<br />

2004.<br />

_____________. De tramas e fios: Um Ensaio sobre Música e Educação. São Paulo:<br />

Editora UNESP, 2008, p.117.<br />

NEVES, José Luís. Pesquisa Qualitativa - Características, Usos e Possibili<strong>da</strong>des. Caderno<br />

de Pesquisas em Administração, USP, São Paulo, V. 1, N° 3, 2o semestre/1996.<br />

SCHAFER, R. Murray. O Ouvi<strong>do</strong> Pensante. São Paulo: Editora UNESP, 1991.<br />

_____________. A Afinação <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. São Paulo: Editora UNESP, 2001.<br />

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Estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s competências para diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de no palco<br />

Wênia Xavier de Medeiros<br />

UFRN/ Pós-Graduação em Música<br />

Wenia2@yahoo.com<br />

Pedro Henrique Macha<strong>do</strong> Freire<br />

UFRN/ Pós-Graduação em Música<br />

pepemddm@hotmail.com<br />

Resumo: A idéia deste artigo surgiu a partir <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s na disciplina<br />

Psicologia <strong>da</strong> Performance no Curso de Pós-Graduação (latu sensu) em Práticas<br />

Interpretativas em Música <strong>do</strong> Século XX e XXI <strong>da</strong> Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (EMUFRN). Assim, desenvolvemos um trabalho de educação<br />

musical na esfera pública a nível estadual. A experiência descrita foi basea<strong>da</strong> em aulas e<br />

audições de percussão erudita com crianças e jovens entre 07 e 24 anos de i<strong>da</strong>de, na Escola de<br />

Música Anthenor Navarro (EMAN), primeira escola de música <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Paraíba, volta<strong>da</strong><br />

para a formação de intérpretes. O objetivo <strong>do</strong> trabalho é fazer um levantamento sobre as<br />

dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos músicos no desempenho <strong>da</strong> performance e contribuir com os<br />

intérpretes para a diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de no palco, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. Na segun<strong>da</strong><br />

etapa <strong>da</strong> pesquisa, serão desenvolvi<strong>da</strong>s junto à equipe <strong>da</strong> escola, posteriormente, ações<br />

educativas de orientação com os alunos. Foram utiliza<strong>do</strong>s como instrumentos de coleta de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s a pesquisa bibliográfica e <strong>do</strong>cumental e aplicação de questionários. Foram aplica<strong>do</strong>s 30<br />

questionários durante o primeiro semestre de <strong>2011</strong> em fase de análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />

Palavras-chave: performance musical, competências musicais, ansie<strong>da</strong>de no palco.<br />

Introdução<br />

Este artigo foi idealiza<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s na disciplina Psicologia<br />

<strong>da</strong> Performance no Curso de Pós-Graduação (latu sensu) em Práticas Interpretativas em<br />

Música <strong>do</strong> Século XX e XXI na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. Dessa forma,<br />

encontra-se em fase de desenvolvimento um trabalho em educação musical na esfera pública<br />

a nível estadual. A experiência descrita foi basea<strong>da</strong> em aulas e audições de percussão erudita<br />

com crianças e jovens entre 07 e 24 anos de i<strong>da</strong>de, na Escola de Música Anthenor Navarro<br />

(EMAN), primeira escola de música <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Paraíba, volta<strong>da</strong> para a formação de<br />

intérpretes, no modelo conservatorial. O objetivo <strong>do</strong> trabalho é fazer um levantamento sobre<br />

as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos músicos no desempenho <strong>da</strong> performance e contribuir com<br />

os intérpretes para a diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de no palco, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. Na<br />

segun<strong>da</strong> etapa <strong>da</strong> pesquisa, serão desenvolvi<strong>da</strong>s junto à equipe <strong>da</strong> escola, posteriormente,<br />

ações educativas de orientação com os alunos. Foram utiliza<strong>do</strong>s como instrumentos de coleta<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

de <strong>da</strong><strong>do</strong>s a pesquisa bibliográfica e <strong>do</strong>cumental e aplicação de questionários. Foram aplica<strong>do</strong>s<br />

30 questionários durante o primeiro semestre de <strong>2011</strong> em fase de análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

A pesquisa surgiu a partir <strong>da</strong> constatação na prática de que os alunos apresentavam<br />

dificul<strong>da</strong>des em suas audições muito além <strong>da</strong> transmissão musical e de questões <strong>da</strong> orientação<br />

técnico-interpretativas que ocorrem nas aulas de instrumento. Essas dificul<strong>da</strong>des basicamente<br />

estavam relaciona<strong>da</strong>s ao controle <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> emocional apresentan<strong>do</strong> ansie<strong>da</strong>de ou<br />

nervosismo, o que em parte, prejudicavam suas apresentações. As causas relata<strong>da</strong>s diziam<br />

respeito entre outras coisas, ao sentimento de stress <strong>da</strong> pressão <strong>da</strong> performance, à falta de<br />

auto-confiança, ao me<strong>do</strong> <strong>do</strong> erro, às dificul<strong>da</strong>des de concentração.<br />

Dessa forma, nos propusemos a vali<strong>da</strong>r um estu<strong>do</strong> americano em João Pessoa (PB),<br />

denomina<strong>do</strong> “Estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s sete competências” (GREENE, 2001) e, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s<br />

e seus resulta<strong>do</strong>s, desenvolver ações de orientação com os alunos junto à coordenação <strong>da</strong><br />

escola. O material chegou às nossas mãos a partir <strong>da</strong> disciplina Psicologia <strong>da</strong> Performance <strong>do</strong><br />

Curso de Pós-Graduação em Práticas Interpretativas em Música <strong>do</strong> Século XX e XXI <strong>da</strong><br />

Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (EMUFRN).<br />

Estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s competências<br />

O estu<strong>do</strong> contém noventa e seis questões que não consistem em um teste. Foi<br />

desenvolvi<strong>do</strong> depois de nove anos de estu<strong>do</strong> com mais de cinco mil atletas e três mil artistas.<br />

Como ferramenta de avaliação e de diagnóstico, o estu<strong>do</strong> delineia as tendências de<br />

performance e não traços de personali<strong>da</strong>de, sem tomar medi<strong>da</strong>s de caráter ou defeitos. Não é<br />

um estu<strong>do</strong> de incursão ao passa<strong>do</strong>, mas um olhar para o futuro. Em uma escala de cinco itens<br />

de 1 a 5 (5= muito ver<strong>da</strong>deiro para mim, 4= mais ou menos ver<strong>da</strong>deiro para mim, 3= às<br />

vezes/sem certeza, 2= não é muito ver<strong>da</strong>deiro para mim, 1= falso para mim), os intérpretes<br />

responderam questões relaciona<strong>da</strong>s às suas atitudes, valores e comportamento com finali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> auto-conhecimento.<br />

Esta concepção baseia-se em um programa que auxilia os alunos/intérpretes a<br />

superarem suas dificul<strong>da</strong>des no desempenho <strong>da</strong> performance. Dessa forma, o estu<strong>do</strong> mostra<br />

que não existem milhares de fatores influencian<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> desempenho mas, cerca de<br />

vinte e quatro fatores dividi<strong>do</strong>s em sete categorias.<br />

Análise <strong>da</strong>s competências<br />

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As sete categorias a serem identifica<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s, chama<strong>da</strong>s aqui de competências,<br />

são dividi<strong>da</strong>s em 1) determinação, 2) energia, 3) perspectiva, 4) coragem, 5) Foco, 6)<br />

Equilíbrio e 7) Flexibili<strong>da</strong>de ou resiliência.<br />

A determinação é considera<strong>da</strong> a força <strong>da</strong> intenção e consiste na soma <strong>da</strong> motivação<br />

inerente, ou a uni<strong>da</strong>de interior que impulsiona para um objetivo com o compromisso ou quão<br />

investi<strong>do</strong> se está em sua missão e a vontade de vencer que é a força interna <strong>da</strong> decisão que<br />

pode estar relaciona<strong>da</strong> com motivações externas como o desejo de dinheiro, poder ou<br />

reconhecimento.<br />

A energia envolve equações entre a energia ideal ou o nível em que melhor<br />

desempenha, a energia <strong>da</strong> performance ou o nível que desempenha melhor aquela ação, a<br />

capaci<strong>da</strong>de de relaxamento e a capaci<strong>da</strong>de de estimulação.<br />

A perspectiva é como sua visão mol<strong>da</strong> o resulta<strong>do</strong> de seus esforços e é afeta<strong>da</strong> pela<br />

auto-confiança, ou a maneira como se sente perante si mesmo ou suas habili<strong>da</strong>des, pela<br />

comunicação intrapessoal, ou seus comentários com você mesmo e a expectativa ou os ponto<br />

de vista que enxerga melhor com os olhos mentais.<br />

A coragem é a habili<strong>da</strong>de de agir, apesar <strong>do</strong> me<strong>do</strong>. Exige a capaci<strong>da</strong>de de risco, que é<br />

a atitude de tomar a iniciativa em vez <strong>da</strong> defensiva, exige a capaci<strong>da</strong>de de risco frustra<strong>do</strong> que<br />

é a quanto se pode li<strong>da</strong>r com o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> risco desconheci<strong>do</strong> e exige capaci<strong>da</strong>de de risco com<br />

êxito, que mede o quão zelosamente se recebe as conseqüências bem sucedi<strong>da</strong>s.<br />

O foco possui quatro aspectos: a atitude, que significa a capaci<strong>da</strong>de de estar aqui e<br />

agora, com atenção para o momento presente; a intensi<strong>da</strong>de que se refere ao total <strong>da</strong> energia<br />

que empreende no objetivo em foco; a duração, que é a medi<strong>da</strong> de quanto se pode sustentar<br />

essa intensi<strong>da</strong>de e a tranqüili<strong>da</strong>de mental que é a capaci<strong>da</strong>de de se conseguir superar o ruí<strong>do</strong><br />

perturba<strong>do</strong>r <strong>do</strong> pensamento cognitivo.<br />

São considera<strong>do</strong>s equilibra<strong>da</strong>s aquelas pessoas que demonstram estar à vontade sob<br />

situações de pressão. O termo equilíbrio é utiliza<strong>do</strong> neste caso para descrever quatro<br />

situações: a capaci<strong>da</strong>de de tomar decisões, a negociação, a presença e multitarefa.<br />

A flexibili<strong>da</strong>de é a capaci<strong>da</strong>de de reagir com adversi<strong>da</strong>de e perseverança apesar <strong>do</strong>s<br />

erros ou fracassos. Vai consistir na capaci<strong>da</strong>de de se recuperar de um fracasso, na<br />

capaci<strong>da</strong>de de lutar, erguer-se e não se fazer de vítima e a tenaci<strong>da</strong>de mental que é a<br />

capaci<strong>da</strong>de de triunfar.<br />

“Pisan<strong>do</strong> no palco”<br />

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Associa<strong>do</strong> a identificação e análise destas sete competências, o estu<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> em fase<br />

de análise, evidenciou que podemos agrupar a preparação para a performance no palco em<br />

quatro categorias: a organizacional, a artística, a psicológica e a física. Além dessa<br />

categorização, Car<strong>da</strong>ssi (1999, p. 251) afirma que a performance no palco pode ser dividi<strong>da</strong><br />

em três etapas: antes, durante e depois <strong>do</strong> recital ou apresentação. Assim, durante o perío<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

pesquisa estão sen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong>s e elabora<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des com o intuito de colaborar para a uma<br />

melhor preparação e consequentemente uma maior diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de.<br />

A preparação organizacional diz respeito a produção <strong>do</strong> recital ou <strong>da</strong> audição em si,<br />

desde a elaboração de convites, cartazes, programa (folder), seleção de figurino para to<strong>do</strong>s os<br />

alunos, reserva <strong>do</strong> auditório para apresentação, transporte de instrumentos, estantes,<br />

acessórios e a divulgação <strong>do</strong> evento. No caso, <strong>da</strong>s audições <strong>da</strong> escola, os alunos não<br />

participam desta etapa, embora em muitos recitais, sejam os próprios alunos que cuidem <strong>da</strong><br />

organização. A organização fica a cargo <strong>da</strong> coordenação <strong>da</strong> área. Este fator talvez contribua<br />

para a diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de e permita que o aluno concentre-se nas demais fases de<br />

preparação.<br />

A preparação artística <strong>da</strong>s audições e recitais inicia-se com a escolha <strong>do</strong> repertório,<br />

definição <strong>da</strong> ordem de execução <strong>da</strong>s peças, estu<strong>do</strong> em sala de aula, estu<strong>do</strong> extra-classe, ten<strong>do</strong><br />

em mente os objetivos almeja<strong>do</strong>s.<br />

Uma vez que a escolha <strong>do</strong> repertório revela a intenção <strong>do</strong> intérprete e sua maneira de<br />

pensar a música, por ex. obras de vários estilos com uma trajetória histórica, <strong>do</strong>is estilos<br />

contrastantes, um único estilo, um único compositor. No caso <strong>do</strong>s alunos de percussão, os<br />

alunos iniciam suas participações nas audições com peças de acor<strong>do</strong> com o conteú<strong>do</strong><br />

programático e o nível de dificul<strong>da</strong>de que conseguem executar. São solicita<strong>do</strong>s inicialmente<br />

nos primeiros semestre solos simples de caixa e percussão múltipla e, posteriormente solos de<br />

tecla<strong>do</strong>s (xilofone, marimba, vibrafone) de 2 e 4 baquetas e tímpanos. São sugeri<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is<br />

recitais solo durante os seis anos de curso com instrumentação diversifica<strong>da</strong> (por ex. uma<br />

peça de caixa, uma de múltipla, uma de tecla<strong>do</strong> com duas baquetas, uma de tecla<strong>do</strong> com<br />

quatro baquetas, uma de vibrafone, uma de tímpanos, sen<strong>do</strong> pelo menos uma <strong>da</strong>s peças de<br />

música brasileira).<br />

Defini<strong>do</strong> o repertório, escolhe-se a ordem de execução <strong>da</strong>s peças. A escolha é pessoal<br />

e dever ser criativa, confortável e consciente <strong>da</strong> intenção, sen<strong>do</strong> recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> aos alunos<br />

experimentar várias possibili<strong>da</strong>des antes <strong>da</strong> definição.<br />

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To<strong>do</strong> o programa é estu<strong>da</strong><strong>do</strong> sob a orientação de um professor. O trabalho de ca<strong>da</strong><br />

peça isola<strong>da</strong>mente é apenas uma parte <strong>da</strong> preparação artística. Sugere-se que o aluno toque<br />

to<strong>do</strong> o programa pelo menos uma vez ao dia para acostumar-se com a energia despendi<strong>da</strong><br />

durante o recital, manten<strong>do</strong> o foco de concentração.<br />

O próximo passo é o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> programa <strong>do</strong> início ao fim, simulan<strong>do</strong> a situação real<br />

de performance, expon<strong>do</strong>-se a situações que podem ser gera<strong>do</strong>ras de alguma ansie<strong>da</strong>de. Estas<br />

situações ás vezes iniciam-se com uma apresentação para os amigos.<br />

Solicita-se aos alunos que escrevam quais são os objetivos almeja<strong>do</strong>s ao início para<br />

confrontá-los ao final <strong>da</strong> performance, evidencian<strong>do</strong> os pontos conquista<strong>do</strong>s e os que devem<br />

ser melhor trabalha<strong>do</strong>s.<br />

A preparação Física envolve uma boa alimentação, exercícios de relaxamento, de<br />

respiração, exercícios físicos e esportivos além de intervalos no estu<strong>do</strong> de instrumento.<br />

O estu<strong>do</strong> ininterrupto no instrumento por horas é improdutivo e <strong>da</strong>noso à saúde. Além<br />

de fazer intervalos durante o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento, é indica<strong>do</strong> aos alunos desenvolverem<br />

hábitos saudáveis de alimentação, consultan<strong>do</strong> se possível um profissional <strong>da</strong> área de nutrição<br />

e praticar exercícios físicos para o seu dia-a-dia.<br />

Sentar-se em boa forma, manter boa postura ao instrumento, fazer aquecimentos e<br />

alongamentos diminuem o risco de lesões físicas. A prática de esportes é altamente<br />

recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>, principalmente exercícios aeróbicos, como natação e caminha<strong>da</strong>s, associa<strong>do</strong>s a<br />

alongamentos. Exercícios de relaxamento e o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> respiração diafragmática são<br />

também importantes para a diminuição <strong>do</strong> stress para to<strong>do</strong>s os instrumentistas.<br />

A preparação psicológica envolve os aspectos de comportamento, atitudes e valores<br />

que contribuirão para a diminuição <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de na performance. To<strong>do</strong>s os artistas um dia<br />

sentem ansie<strong>da</strong>de. Mesmo os mais experientes sentem alguma apreensão antes de entrar no<br />

palco. A ansie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> performance pode trazer situações clínicas que variam de pessoa para<br />

pessoa, apresentan<strong>do</strong> sintomas físicos e mentais.<br />

Entre os sintomas corporais <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de encontra<strong>do</strong>s estão: tensão muscular,<br />

agitação, tremores, aceleração <strong>do</strong>s batimentos cardíacos, suor, on<strong>da</strong>s de calor ou frio, boca<br />

seca, náusea, aumento <strong>do</strong> nível de adrenalina e vontade de ir constantemente ao banheiro. Os<br />

sintomas mentais <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de são os seguintes: pensamentos derrotistas, distração, falhas de<br />

memória e sensação de pânico (Roland, 1998). Muitos intérpretes buscam receitas simples<br />

para li<strong>da</strong>r com a ansie<strong>da</strong>de, mas a solução para esse problema só é possível através <strong>da</strong> prática<br />

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de estratégias terapêuticas, e <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação dessas estratégias para a experiência individual <strong>do</strong><br />

intérprete (Salmon, 1992)<br />

Deve-se ter consciência a ansie<strong>da</strong>de e de que ela é normal e não negá-la. Ela pode ser<br />

transforma<strong>da</strong> em fatores positivos. A ansie<strong>da</strong>de deve ser encara<strong>da</strong> como uma excitação, um<br />

desejo de entrar no palco e tocar, transforman<strong>do</strong>-a em energia <strong>da</strong> performance. Até um certo<br />

nível, a ansie<strong>da</strong>de aumenta a habili<strong>da</strong>de de realizar tarefas, de maneira adequa<strong>da</strong> e mais<br />

rápi<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong>í, o efeito <strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de é de uma per<strong>da</strong> de controle e a performance ten<strong>do</strong> a<br />

perder a quali<strong>da</strong>de. Para Green (1986) existem <strong>do</strong>is jogos durante a performance e nestes o<br />

controle <strong>do</strong> pensamento é primordial. O jogo exterior, que é a música em si com seus desafios<br />

técnico interpretativos e o jogo interior, que acontece na mente <strong>do</strong> intérprete e produz os<br />

obstáculos mentais, como falta de concentração e nervosismo.<br />

Otimismo, habili<strong>da</strong>de e motivação fazem parte <strong>da</strong>s respostas efetivas nos diálogos<br />

interiores. A prática diária de diálogo interior positivo pode mu<strong>da</strong>r a resposta mental no<br />

tempo que precede o recital, encaran<strong>do</strong> assim o desafio e estabelecen<strong>do</strong> a auto-confiança, tão<br />

fun<strong>da</strong>mental para uma performance a contento. Os diálogos interiores positivos podem<br />

facilitar a aceitação <strong>do</strong> erro durante a execução. No palco, com a percepção aguça<strong>da</strong> em<br />

esta<strong>do</strong> de hiper-vigilância (Salmon, 1992), os erros parecem mais graves <strong>do</strong> que na ver<strong>da</strong>de<br />

são. A aceitação <strong>do</strong> erro deve ser um objetivo <strong>do</strong>s ensaios. Além <strong>da</strong> resposta mental positiva,<br />

o recital deve ser encara<strong>do</strong> como um desafio e não como uma ameaça. A ameaça, real ou<br />

imaginária, desencadeia fatores em nosso organismo. Se o recital é encara<strong>do</strong> como uma única<br />

chance de sucesso, a ansie<strong>da</strong>de aumenta e compromete o nível <strong>da</strong> apresentação, mas se é<br />

encara<strong>do</strong> como parte <strong>do</strong> seu desenvolvimento artístico a ansie<strong>da</strong>de tente a diminuir.<br />

A concentração deve ser outro objetivo fun<strong>da</strong>mental para o bom desempenho <strong>do</strong><br />

músico, manten<strong>do</strong> o foco no que realmente interessa naquele momento e afastar pensamentos<br />

irrelevantes. Em relação ao stress, as soluções são sempre individuais, assim como a escolha<br />

de rituais. Alguns por exemplo, preferem o isolamento, outros a companhia de amigos, as<br />

distrações. Outra estratégia para diminuir o stress e a ansie<strong>da</strong>de é a prática de ensaios mentais<br />

(Roland, 1998), que na<strong>da</strong> mais são <strong>do</strong> que imaginar o resulta<strong>do</strong> sonoro acompanhan<strong>do</strong> com as<br />

partituras. A execução de rituais simples nos dias que precedem a apresentação ou recital,<br />

como ler um trecho de um livro ou escutar determina<strong>da</strong> música, tendem a gerar uma situação<br />

de conforto devi<strong>do</strong> à familiari<strong>da</strong>de e à repetição <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.<br />

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Conclusão<br />

O desempenho <strong>da</strong> performance de intérpretes nem sempre está relaciona<strong>do</strong> apenas às<br />

questões <strong>da</strong> aprendizagem musical e às questões <strong>da</strong> orientação técnico-interpretativas que<br />

ocorrem nas aulas de instrumento. Existem dificul<strong>da</strong>des, no campo <strong>da</strong>s práticas<br />

interpretativas, que incluem controle <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> emocional, ansie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> performance ou<br />

nervosismo, comprometen<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> final <strong>da</strong> interpretação no palco. Mais <strong>do</strong> que um<br />

produto, a performance é uma construção, um processo que inclui etapas antes, durante e<br />

depois <strong>da</strong> apresentação e envolve a preparação organizacional, artística, física e psicológica.<br />

Estu<strong>do</strong>s como o de Greene (2001) aju<strong>da</strong>m os intérpretes a superarem suas dificul<strong>da</strong>des<br />

no desempenho <strong>da</strong> performance. A a<strong>da</strong>ptação desse estu<strong>do</strong> com alunos de uma escola de<br />

música pública estadual em João Pessoa tem o intuito de contribuir com a diminuição <strong>da</strong><br />

ansie<strong>da</strong>de no palco e consequentemente melhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> performance, a partir <strong>do</strong><br />

levantamento <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nos questionários aplica<strong>do</strong>s. A pesquisa encontra-se em<br />

an<strong>da</strong>mento e os <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s estão em fase de análise. Na segun<strong>da</strong> etapa <strong>da</strong> pesquisa, serão<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s junto à equipe <strong>da</strong> escola ações educativas de orientação com os alunos.<br />

Posteriormente às ativi<strong>da</strong>des orienta<strong>da</strong>s, os questionários serão novamente aplica<strong>do</strong>s e<br />

compara<strong>do</strong>s com os resulta<strong>do</strong>s iniciais.<br />

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Referências<br />

CARDASSI, Luciane. Pisan<strong>do</strong> no Palco: Prática de performance e produção de recitais.<br />

1999.<br />

GREEN, Barry (with W. Timothy Gallwey). The Inner Game of Music. Lon<strong>do</strong>n: Pan<br />

Original, 1987.<br />

GREENE, Don. Fight your fear and win: seven skills for performing your best under.<br />

Pressure. NY: Broadway books, 2001.<br />

ROLAND, David. The Confident Performer. Lon<strong>do</strong>n: Heinemann, 1998.<br />

SALMON, Paul & MEYER, Robert. Notes From The Green Room: Coping with Stress and<br />

Anxiety In Musical Performance. New York: Lexington Books, 1992.<br />

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Experiências Musicais: compartilhan<strong>do</strong> experiência <strong>do</strong>cente na Facul<strong>da</strong>de<br />

Santa Catarina<br />

Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes<br />

FASC/ETECM<br />

Ibrantina@yahoo.com.br<br />

Resumo: A música na formação inicial de pe<strong>da</strong>gogos constitui-se o tema desta comunicação.<br />

O presente trabalho consiste em relato de experiência <strong>do</strong>cente ain<strong>da</strong> em desenvolvimento<br />

vivencia<strong>da</strong> com estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> curso de licenciatura em pe<strong>da</strong>gogia na Facul<strong>da</strong>de Santa<br />

Catarina por quatro semestres. O trabalho encontra-se estrutura<strong>do</strong> <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

apresentação, uma breve fun<strong>da</strong>mentação teórica na qual a ação se ancora; descrição <strong>do</strong> relato<br />

de experiência <strong>do</strong>cente, sen<strong>do</strong> pontua<strong>da</strong>s, em segui<strong>da</strong>, algumas aprendizagens que deman<strong>da</strong>m<br />

<strong>da</strong> ação educativa.<br />

Palavras-chave: educação musical, formação de professores, educação básica.<br />

O ponto de parti<strong>da</strong><br />

A música está presente no contexto escolar, embora nem sempre essa reali<strong>da</strong>de seja<br />

percebi<strong>da</strong> como experiências musicais. No contexto <strong>da</strong> educação básica é recorrente a<br />

presença <strong>da</strong> música tanto nas festas, nos intervalos recreativos, como também na perspectiva<br />

de recurso didático com a finali<strong>da</strong>de de ensinar os mais varia<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, valores, hábitos<br />

aos estu<strong>da</strong>ntes. A música apresenta-se, portanto, transversal à proposta de outras disciplinas.<br />

Loureiro (2003) discute que a presença <strong>da</strong> música na escola como forma de “entretenimento<br />

lúdico e institucionaliza<strong>do</strong>” ou mesmo enquanto “suporte didático” para outras disciplinas<br />

torna a música menos importante que as demais no contexto escolar. Nesse senti<strong>do</strong>, a autora<br />

aponta que o ensino de música na escola se propõe à construção de conhecimento em<br />

oposição à velha concepção recreativa atribuí<strong>da</strong> à música. (LOUREIRO, 2003, p.147). Para<br />

Penna (1995), a proposta de música na escola regular corresponde ao resgate de meto<strong>do</strong>logias<br />

capazes de selecionar, ordenar e articular conteú<strong>do</strong>s significativos, de mo<strong>do</strong> a desven<strong>da</strong>r os<br />

princípios <strong>da</strong> linguagem musical. (PENNA, 1995, p.136)<br />

Segun<strong>do</strong> Figueire<strong>do</strong>, a utilização <strong>da</strong> arte enquanto forma de entretenimento ou<br />

facilita<strong>do</strong>ra de aprendizagens em outras disciplinas aponta para a concepção acessória e para o<br />

tratamento pouco importante, superficial e genérico justifican<strong>do</strong>, dessa forma o espaço no<br />

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qual a arte, mais particularmente a música, ocupa na formação de professores no curso de<br />

pe<strong>da</strong>gogia. (FIGUEIREDO, 2004, p.60)<br />

Outro ponto digno de atenção, segun<strong>do</strong> o autor acima cita<strong>do</strong>, consiste na defesa <strong>da</strong><br />

concepção de que o artista nasce feito e de que para aprender música são necessários talentos<br />

especiais. Para o autor, essa concepção impede que ações efetivas associa<strong>da</strong>s ao ensino de arte<br />

ocupem um lugar na formação <strong>do</strong>s profissionais que exercerão magistério tanto na educação<br />

infantil quanto nas séries iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. (FIGUEIREDO, 2004, p.60)<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Couto e Santos (2009) desconstroem a concepção de que “a prática<br />

instrumental não é a única maneira de adquirir conhecimento em música e de demonstrar<br />

conhecimento”. (COUTO; SANTOS, 2009, p.87). Esse mesmo pensamento é argumenta<strong>do</strong><br />

por Penna (1991) quan<strong>do</strong> admite que o conhecimento musical se processa não apenas no<br />

âmbito escolar, mas também em outros espaços informais. (PENNA, 1991, p.20-21)<br />

Consideran<strong>do</strong> que serão os professores polivalentes ou generalistas os responsáveis<br />

por organizar situações didáticas relaciona<strong>do</strong>s a to<strong>da</strong>s as áreas <strong>do</strong> conhecimento no ensino<br />

infantil como também nas séries iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, faz-se necessário a<br />

implementação de ações que os instrumentalizem durante a formação inicial no senti<strong>do</strong> de<br />

potencializar e apontar caminhos efetivos também para o ensino de música. (BELOCHIO,<br />

2000; FIGUEIREDO, 2004; QUEIROZ; MARINHO, 2007).<br />

O presente trabalho consiste em relato de experiência <strong>do</strong>cente em desenvolvimento<br />

vivencia<strong>da</strong> com estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> curso de licenciatura em pe<strong>da</strong>gogia na Facul<strong>da</strong>de Santa<br />

Catarina; já se contam quatro semestres. Nesse senti<strong>do</strong>, se apresenta semelhante à travessia na<br />

qual se faz necessária a ação <strong>do</strong> primeiro passo para o início <strong>da</strong> mesma, já que “estan<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua, ninguém estará em segui<strong>da</strong> no outro, a não ser atravessan<strong>do</strong> a rua.<br />

(FREIRE, 2008, p. 27).<br />

Reconhecen<strong>do</strong> o espaço <strong>da</strong> ação<br />

A facul<strong>da</strong>de constitui-se em instituição priva<strong>da</strong> de ensino superior que foi pensa<strong>da</strong><br />

e estrutura<strong>da</strong> por uma mantene<strong>do</strong>ra de orientação confessional, de sorte que no perío<strong>do</strong><br />

diurno, no mesmo espaço físico funciona o colégio de ensino fun<strong>da</strong>mental e médio. A<br />

facul<strong>da</strong>de possui uma boa estrutura física, disponibilizan<strong>do</strong> salas específicas para a equipe<br />

gestora e técnica, além de sala de vídeo, auditório, salas de aula amplas e climatiza<strong>da</strong>s que se<br />

encontram frequentemente limpas e organiza<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> turno. A facul<strong>da</strong>de conta ain<strong>da</strong> com<br />

biblioteca e laboratório de informática que atende a comuni<strong>da</strong>de acadêmica e dispõe de<br />

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equipamentos eletrônicos que normalmente são utiliza<strong>do</strong>s enquanto ferramentas pelos<br />

<strong>do</strong>centes durante a ação pe<strong>da</strong>gógica. Além <strong>da</strong> equipe gestora, as ações acadêmicas são<br />

assessora<strong>da</strong>s por núcleos específicos tais como o Núcleo de Apoio Pe<strong>da</strong>gógico, Núcleo de<br />

Projetos e Pesquisa Científica, Núcleo de Carreira, Núcleo de Estágio que se ocupam dentro<br />

de suas competências com <strong>do</strong>centes e discentes. A facul<strong>da</strong>de abriga os cursos de<br />

Administração, Ciências Contábeis e Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia<br />

O curso de Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia é vivencia<strong>do</strong> em oito perío<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong><br />

noturno e possui por finali<strong>da</strong>de formar profissionais para o exercício <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência na educação<br />

infantil, séries iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, ensino médio bem como em outras áreas nas<br />

quais se encontrem previstos conhecimentos pe<strong>da</strong>gógicos. Além <strong>da</strong> matriz composta por<br />

disciplinas obrigatórias e eletivas, os discentes contam com a defesa pública de um trabalho<br />

de conclusão de curso como pré-requisito para a obtenção <strong>do</strong> grau em caráter de graduação.<br />

Experiências musicais<br />

Experiências Musicais é hoje uma disciplina que já integra o corpo de disciplinas<br />

obrigatórias, no entanto foi estrutura<strong>da</strong> inicialmente para compor a matriz curricular <strong>do</strong> curso<br />

de Licenciatura em Pe<strong>da</strong>gogia em caráter de oficina, de sorte que apesar <strong>da</strong> proposta se<br />

apresentar inova<strong>do</strong>ra, figurava entre as disciplinas eletivas. A partir <strong>do</strong> ano de 2009,<br />

impulsiona<strong>da</strong> pela sanção <strong>da</strong> lei 11.769/2008 na qual a música se torna conteú<strong>do</strong> obrigatório<br />

na educação básica, a disciplina passa a ser compreendi<strong>da</strong> enquanto oportuni<strong>da</strong>de para<br />

instrumentalizar o pe<strong>da</strong>gogo em formação inicial já que, será este profissional diante <strong>da</strong><br />

atuação em caráter polivalente, em muitas situações de ensino se ocupará de propor e<br />

implementar algumas experiências musicais em sala de aula. Com a carga horária de 40h/a, a<br />

disciplina é vivencia<strong>da</strong> em um semestre letivo no quinto perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso.<br />

A disciplina se propõe, em caráter prático, vivências de experiências que envolvam<br />

sons, ritmos e instrumentos alternativos numa meto<strong>do</strong>logia, cujo viés teórico que a<br />

fun<strong>da</strong>menta, justifica o tema educação musical enquanto instância mais ampla. Os objetivos<br />

transitam dentro <strong>da</strong> concepção teórico-prática que, por exemplo, vão desde a compreensão de<br />

como o som se transforma em linguagem musical à construção de proposta de educação<br />

musical em diferentes níveis. De forma ambiciosa, as competências específicas propostas para<br />

o pe<strong>da</strong>gogo ao final <strong>da</strong> disciplina contemplam a compreensão <strong>da</strong> importância <strong>do</strong> ensino de<br />

música para a aprendizagem <strong>da</strong> criança e a elaboração de proposta pe<strong>da</strong>gógica em educação<br />

musical.<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

A meto<strong>do</strong>logia de ensino proposta pela disciplina busca promover um processo<br />

dialético no qual a articulação entre a prática e a teoria contempla os participantes enquanto<br />

sujeitos ativos <strong>do</strong> processo de construção de conhecimentos (FREIRE, 1998). Assim, priorizase<br />

a vivência <strong>da</strong>s experiências musicais, sen<strong>do</strong> em segui<strong>da</strong> propostas desconstruções <strong>da</strong>s<br />

vivências e reflexões críticas a partir de leituras de textos seleciona<strong>do</strong>s (PENNA, 1991).<br />

Os conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s na disciplina encontram-se agrupa<strong>do</strong>s em quatro temas:<br />

educação musical, sons e ritmos, apreciação musical e busca de material alternativo. Os temas<br />

são vivencia<strong>do</strong>s sob o ponto de vista <strong>da</strong> educação musical, embora se ressalte que os<br />

conteú<strong>do</strong>s podem ser organiza<strong>do</strong>s interdisciplinarmente ou mesmo que as discussões também<br />

se apresentam de forma transversal ao conteú<strong>do</strong> de outras disciplinas. A perspectiva <strong>da</strong> ação<br />

educativa visa, portanto, desconstruir a concepção de que a música é apenas coadjuvante de<br />

outras disciplinas. Por exemplo, perceber os sons normalmente causa um estranhamento para<br />

a maioria <strong>da</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que ain<strong>da</strong> não haviam pensa<strong>do</strong> na possibili<strong>da</strong>de, mas consideravam<br />

pertinente trabalhar o mesmo conteú<strong>do</strong> vincula<strong>do</strong> às ciências biológicas ou à educação<br />

ambiental.<br />

O processo avaliativo contempla a<strong>do</strong>ção <strong>da</strong> uma concepção diagnóstica, formativa e<br />

somativa de avaliação, no qual o aluno/a também avalia as aprendizagens construí<strong>da</strong>s no<br />

processo. Nesse senti<strong>do</strong>, os instrumentos de avaliação são diversifica<strong>do</strong>s.<br />

Na facul<strong>da</strong>de não há sala específica e apropria<strong>da</strong> para aula de música, nem<br />

instrumentos musicais, de sorte que os materiais sonoros mais utiliza<strong>do</strong>s são os CDs e DVDs,<br />

fato que possibilita um olhar crítico sobre o material circulante na mídia contemporânea e que<br />

está ao alcance <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res e educan<strong>do</strong>s na escola e fora dela. Nestes quatro semestres de<br />

vivência, pensar sobre o repertório enquanto possibili<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica, selecionan<strong>do</strong>-o e<br />

construin<strong>do</strong> sequências didáticas impulsionou um destaque para apreciação musical e para a<br />

escuta de uma diversi<strong>da</strong>de de gêneros musicais. Outros materiais didáticos mais utiliza<strong>do</strong>s são<br />

o corpo, a voz e os materiais alternativos que vão sen<strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>s ao longo <strong>da</strong> disciplina<br />

culminan<strong>do</strong> com a confecção de instrumentos e agrupamento <strong>do</strong>s mesmos em uma bandinha<br />

rítmica, nesta perspectiva a ativi<strong>da</strong>de se apresenta prazerosa para as educa<strong>do</strong>ras em formação.<br />

Na formação <strong>da</strong> bandinha, a sequência didática se processa em um primeiro momento a partir<br />

<strong>da</strong> escolha de repertório, criação de ostinatos rítmicos, quan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> instrumento se<br />

responsabiliza por tocar um deles. Em segui<strong>da</strong>, busca-se um esforço para notação musical que<br />

durante o processo encontra-se no âmbito não convencional, já que não se dispõe de tempo<br />

suficiente para o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong> tema.<br />

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A disciplina também se articula a ações interdisciplinares nas quais se destacam a<br />

participação no projeto “Entra na ro<strong>da</strong> com a gente: para cantar, brincar, <strong>da</strong>nçar e conviver”,<br />

ação voluntária de recreação que integrou <strong>do</strong>is <strong>Encontro</strong>s de Iniciação Científica propostos<br />

pela facul<strong>da</strong>de. Também faz parte <strong>do</strong> processo pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> disciplina a participação efetiva<br />

no trabalho de campo no qual é observa<strong>da</strong> a presença ou ausência <strong>da</strong> música no espaço<br />

escolar. Normalmente as licencian<strong>da</strong>s adentram o espaço escolar para também observarem<br />

questões veicula<strong>da</strong>s em outras disciplinas e elaboram um relatório de observação<br />

contemplan<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as questões propostas.<br />

Aprendizagens construí<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> experiência <strong>do</strong>cente<br />

Algumas aprendizagens que deman<strong>da</strong>m <strong>da</strong> experiência <strong>do</strong>cente precisam ser<br />

pontua<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s a partir dessa iniciativa <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de. A primeira é o caráter inova<strong>do</strong>r<br />

<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> pe<strong>da</strong>gogo a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> sistematiza<strong>do</strong> de uma linguagem<br />

artística específica como é a música.<br />

Reveste-se de significa<strong>do</strong> perceber que Experiências Musicais figura entre as<br />

disciplinas obrigatórias indican<strong>do</strong> um lugar de prestígio e uma possibili<strong>da</strong>de de formação que<br />

intenciona contemplar de forma efetiva a música na formação inicial <strong>do</strong>s pe<strong>da</strong>gogos. No<br />

entanto, há de se admitir que a carga horária, por exemplo, ain<strong>da</strong> é insuficiente para cumprir<br />

tão ambiciosa intenção, apontan<strong>do</strong> para a necessi<strong>da</strong>de de outras ações no espaço <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de<br />

que viabilizem a busca de conhecimento nessa área. Na reali<strong>da</strong>de, ao final de ca<strong>da</strong> semestre<br />

percebe-se que a disciplina contribui para formulações de questionamentos relaciona<strong>do</strong>s aos<br />

temas veicula<strong>do</strong>s na educação musical.<br />

A partir de depoimentos <strong>da</strong>s alunas, foram verbaliza<strong>do</strong>s interesses pelos temas<br />

trabalha<strong>do</strong>s na disciplina corroboran<strong>do</strong> para a construção de outro olhar para a música no<br />

contexto escolar, já que no início <strong>da</strong> disciplina faz-se necessário desconstruir algumas ideias,<br />

dentre elas a de que os conteú<strong>do</strong>s de música encontram-se relaciona<strong>do</strong>s ao talento, portanto<br />

uma aprendizagem volta<strong>da</strong> para poucos. Outra ideia, semelhante a esta, de que só sabe música<br />

quem toca um instrumento musical. As desconstruções necessárias apontam para o<br />

encaminhamento também de proposta de apreciação musical que viabilize o adentramento aos<br />

espaços escolares <strong>da</strong> música que os alunos e alunas ouvem e que se reveste de significa<strong>do</strong><br />

sociocultural para os mesmos, constituin<strong>do</strong>-se em temas a serem refleti<strong>do</strong>s por pe<strong>da</strong>gogos em<br />

formação. Essa compreensão aponta para o fato de que estes materiais disponíveis no<br />

cotidiano se transformam em possibili<strong>da</strong>des educativas no espaço escolar.<br />

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Diante <strong>do</strong> exposto, a oportuni<strong>da</strong>de de vivenciar experiências musicais no curso de<br />

pe<strong>da</strong>gogia de uma facul<strong>da</strong>de de ensino priva<strong>do</strong> aponta para um caráter inova<strong>do</strong>r e diferencial<br />

na formação inicial <strong>do</strong>s pe<strong>da</strong>gogos possibilitan<strong>do</strong> reflexão de que música constitui-se em área<br />

específica <strong>do</strong> conhecimento. Esse espaço, porém, não desfaz a incógnita inicial <strong>da</strong>s<br />

licencian<strong>da</strong>s que percebem a música como mais um trabalho que sobrecarrega os educa<strong>do</strong>res<br />

polivalentes <strong>da</strong>s séries iniciais.<br />

As possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ação educativa apontam as ênfases na construção de uma<br />

proposta na qual professor e aluno se posicionam enquanto sujeitos <strong>do</strong> processo elaboran<strong>do</strong><br />

um projeto viável e contextualiza<strong>do</strong> que permita inclusão de temas instigantes e específicos à<br />

área de música.<br />

Faz-se necessário ain<strong>da</strong> a organização efetiva <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>cente no senti<strong>do</strong> de<br />

perceber nos materiais acessíveis e disponíveis a possibili<strong>da</strong>de de se transformarem em<br />

materiais didáticos. Além de se considerar quão significativas são as músicas que fazem parte<br />

<strong>da</strong>s preferências discentes, as experiências de ouvir o entorno sonoro, as possibili<strong>da</strong>des de<br />

apreciação musical; a compreensão <strong>do</strong>s elementos que constituem a construção musical.<br />

Dessa forma, os desafios apontam para consoli<strong>da</strong>ção de ações educativas volta<strong>da</strong>s à formação<br />

inicial e continua<strong>da</strong> de pe<strong>da</strong>gogos, possibilitan<strong>do</strong> aprofun<strong>da</strong>mentos, pesquisas e outras<br />

vivências musicais.<br />

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Referências<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. Educação Musical: olhan<strong>do</strong> e construin<strong>do</strong> na formação e<br />

ação de professores. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre n.6, p.41-47, 2001<br />

COUTO, Ana Carolina Nunes; SANTOS, Israel Rodrigues Souza. Por que ensinar Música na<br />

escola? Reflexões sobre conceitos, funções e valores <strong>da</strong> Educação Musical Escolar. Opus,<br />

Goiânia, v.15, n.1, p. 75-90, jun. 2009.<br />

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. A preparação musical de professores generalistas no<br />

Brasil. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v 11, p.55-61, 2004<br />

FREIRE, Paulo. A importância <strong>do</strong> ato de ler: em três artigos que se completam. 49. Ed São<br />

Paulo: Cortez, 2008.<br />

______. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia 7ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.<br />

LOUREIRO, Alícia Maria Almei<strong>da</strong>. O ensino de música no ensino fun<strong>da</strong>mental. Campinas:<br />

Papirus, 2003.<br />

PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990.<br />

______. Ensino de Música: Para além <strong>da</strong>s fronteiras <strong>do</strong> conservatório. In PEREGRINO, Yara<br />

Rosas (coord.) Da camiseta ao museu: o ensino <strong>da</strong>s artes na democratização <strong>da</strong> cultura. João<br />

Pessoa: Editora Universitária, 1995. p. 129-140.<br />

QUEIROZ, Luiz Ricar<strong>do</strong> Silva; MARINHO, Vanil<strong>do</strong> Mousinho. Educação musical nas<br />

escolas de educação básica: caminhos possíveis para a atuação de professores não<br />

especialistas. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n.17, p.69-76, 2007.<br />

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Flauta <strong>do</strong>ce no ensino fun<strong>da</strong>mental: uma experiência de educação musical<br />

no município de Porto Alegre – RS<br />

Jonas Tarcísio Reis<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (UFRGS) / SMED-POA<br />

jotaonas@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este trabalho versa sobre uma experiência de ensino e aprendizagem de flauta <strong>do</strong>ce<br />

em conjunto, paralela a ativi<strong>da</strong>des de canto coletivo, realiza<strong>da</strong> em uma escola <strong>da</strong> rede<br />

municipal de ensino de Porto Alegre – RS. O recorte <strong>do</strong> trabalho aqui apresenta<strong>do</strong><br />

compreende as ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógico-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s durante o primeiro trimestre de<br />

iniciação a flauta <strong>do</strong>ce, com alunos de turmas de quarto e quinto anos <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental.<br />

A ênfase <strong>da</strong>s intervenções educativo-musicais construí<strong>da</strong>s se deu sobre práticas de<br />

interpretação musical. Este trabalho busca contribuir no campo de estu<strong>do</strong>s que focam a<br />

educação musical com flauta <strong>do</strong>ce e as práticas de educação musical no âmbito <strong>da</strong> educação<br />

básica.<br />

Palavras-chave: educação básica, flauta <strong>do</strong>ce, prática de conjunto.<br />

Introdução<br />

Atualmente, no Brasil, a área de Educação Musical vive um momento singular,<br />

desencadea<strong>do</strong> por inúmeros fatos e acontecimentos deriva<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sua história mais recente,<br />

circunscritos dentro <strong>do</strong> universo <strong>da</strong>s últimas duas déca<strong>da</strong>s, principalmente. Esse momento é<br />

marca<strong>do</strong> pelas ações <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical (<strong>ABEM</strong>) e de outras<br />

enti<strong>da</strong>des de classe e organizações que se dedicam à música, seu ensino e aprendizagem,<br />

pesquisa e reconhecimento social de sua importância na formação de uma socie<strong>da</strong>de moderna,<br />

complexa e que se volta à formação integral <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos. Essas ações culminaram na sanção<br />

<strong>da</strong> Lei 11.769, de Agosto de 2008 (BRASIL, 2008). A presente lei altera a Lei de Diretrizes e<br />

Bases <strong>da</strong> Educação Nacional (LDBEN) de 1996 (BRASIL, 1996), e institui a música como<br />

conteú<strong>do</strong> obrigatório, mas não exclusivo no âmbito <strong>da</strong> educação básica nacional. Isso quer<br />

dizer que, a música não pode continuar sen<strong>do</strong> excluí<strong>da</strong> <strong>da</strong> educação formal, como vinha<br />

sen<strong>do</strong>, uma vez que a disciplina Arte já englobava a música, porém, isto não incidia - por<br />

inúmeros fatores - no desenvolvimento de ações educativo-musicais inseri<strong>da</strong>s dentro <strong>do</strong>s<br />

currículos escolares como disciplina, conteú<strong>do</strong> ou componente obrigatório.<br />

Mas, agora a reali<strong>da</strong>de modifica-se, e as ações de diversos segmentos sociais,<br />

apoia<strong>da</strong>s pela nova lei, mobilizam grande número de sujeitos sociais interessa<strong>do</strong>s na<br />

implementação <strong>da</strong> Lei 11.769/2008, para levar a música, novamente, a ocupar um status,<br />

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anteriormente perdi<strong>do</strong>, de área <strong>do</strong> conhecimento indispensável à formação <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes<br />

brasileiros <strong>do</strong>s três níveis <strong>da</strong> educação básica nacional, a saber: educação infantil, ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental e ensino médio. Assim, neste contexto, viemos, por meio deste texto,<br />

compartilhar ideias de educação musical desenvolvi<strong>da</strong>s no âmbito <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, em<br />

uma escola pública no esta<strong>do</strong> situa<strong>do</strong> na região mais austral <strong>do</strong> Brasil. Acreditamos que<br />

poderemos colaborar no movimento de discussão <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de ensino e<br />

aprendizagem musical brasileiro.<br />

O lugar <strong>da</strong> Educação Musical na Escola Ci<strong>da</strong>dã<br />

As fontes empíricas deste artigo provêm de aulas de música realiza<strong>da</strong>s junto à rede<br />

municipal de educação de Porto Alegre – RS, com turmas de quarto e quinto anos <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental no sistema cicla<strong>do</strong> de ensino 1 <strong>da</strong> rede, em uma escola situa<strong>da</strong> na periferia <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de referi<strong>da</strong>. É um trabalho de reflexão sobre práticas educativo-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

com jovens <strong>da</strong> classe baixa <strong>da</strong> população <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, inseri<strong>do</strong>s no<br />

contexto sócio-cultural <strong>da</strong>s culturas de massa, <strong>do</strong> capitalismo industrial globaliza<strong>do</strong><br />

neoliberal. Porém, esses jovens fazem parte e são sujeitos de um processo e de uma proposta<br />

de educação pública contra-hegemônica, de inclinação liberta<strong>do</strong>ra e construtivista, que<br />

procura trazer resulta<strong>do</strong>s significativos para a socie<strong>da</strong>de através de um ensino almeja<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

superação anulativa <strong>do</strong>s processos antidemocráticos de opressão, de competição, de injustiça,<br />

e, portanto, por assim se apresentarem, são de desumanização <strong>do</strong> homem. Fala-se <strong>do</strong> Projeto<br />

Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> Escola Ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Porto Alegre – RS (PORTO ALEGRE, 1996).<br />

Nessa perspectiva, Azeve<strong>do</strong> (2009, p. 178), comentan<strong>do</strong> sobre a experiência políticope<strong>da</strong>gógica<br />

<strong>da</strong> Administração Popular (ver AZEVEDO, 2007) em Porto Alegre, no perío<strong>do</strong> de<br />

1989 a 2005, afere que:<br />

Na educação essa política expressou-se no projeto Escola Ci<strong>da</strong>dã. Este<br />

projeto tinha como diretriz democratizar a gestão e o acesso ao<br />

conhecimento. Através de intenso processo de participação reestruturou a<br />

instituição escola, recrian<strong>do</strong> o currículo, as formas de organização <strong>do</strong> ensino,<br />

as concepções e políticas de avaliação e oportunizou um intenso processo de<br />

formação aos educa<strong>do</strong>res, crian<strong>do</strong> espaços de formação e discussão,<br />

produzin<strong>do</strong> uma massa crítica interessa<strong>da</strong> na construção de uma educação<br />

comprometi<strong>da</strong> com a emancipação (AZEVEDO, 2009, p. 178).<br />

1 As escolas <strong>da</strong> rede municipal de educação <strong>do</strong> Município de Porto Alegre, desde o ano de 1997, estão<br />

organiza<strong>da</strong>s por ciclos de formação, onde o ensino fun<strong>da</strong>mental está dividi<strong>do</strong> em três ciclos, que por sua vez<br />

estão subdividi<strong>do</strong>s em três anos ca<strong>da</strong> um, totalizan<strong>do</strong> nove anos de estu<strong>do</strong>s nesse nível de ensino.<br />

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O autor ain<strong>da</strong> coloca que o projeto <strong>da</strong> Escola Ci<strong>da</strong>dã fora calca<strong>do</strong> na Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

Esperança, de Paulo Freire, e na Pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> Conflito, de Boaventura de Souza Santos.<br />

“Ambas as proposições tornaram-se referências para a discussão e a concretização de um<br />

projeto educacional encharca<strong>do</strong> de cumplici<strong>da</strong>de com conceitos e valores humaniza<strong>do</strong>res”<br />

(AZEVEDO, 2009, p. 181). Um projeto educativo genuinamente emancipatório, rega<strong>do</strong> na<br />

democratização <strong>da</strong> escola, à participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de na estrutura gestora <strong>da</strong> instituição<br />

escolar, e à ampla e ostensiva formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res. É um projeto que vai à<br />

contramão <strong>da</strong> expansão político-econômica e sócio-cultural <strong>da</strong>s propostas neoliberais que<br />

assolam os sistemas educacionais <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, sejam eles públicos (federais,<br />

estaduais, municipais) ou priva<strong>do</strong>s.<br />

É uma proposta que contraria as políticas educacionais públicas basea<strong>da</strong>s na<br />

meritocracia, na exclusão, na repetição, na classificação <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s e na competição, onde<br />

os processos avaliativos são externos e certificativos, “sem a participação <strong>do</strong>s sujeitos<br />

avalia<strong>do</strong>s, quantitativas, verificação de produtos, comparação com as performances <strong>do</strong>s países<br />

centrais, centro em determina<strong>da</strong>s áreas <strong>do</strong> conhecimento em detrimento de uma visão integral<br />

<strong>do</strong> ser humano” (idem, p. 177).<br />

Dentro deste contexto a música está inseri<strong>da</strong> <strong>da</strong> seguinte maneira na rede de ensino<br />

<strong>do</strong> município:<br />

A música faz parte <strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> RME-POA/RS, integran<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos<br />

oficiais <strong>do</strong> município desde o ano de 1996. Neste senti<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com a<br />

proposta, a música deve ser desenvolvi<strong>da</strong> nos três ciclos de formação. De<br />

acor<strong>do</strong> com as bases curriculares, no I, II e III ciclos as turmas de alunos<br />

serão atendi<strong>da</strong>s no componente arte-educação, que se apresenta através <strong>da</strong>s<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des artes cênicas, artes plásticas e música. Assim, ca<strong>da</strong><br />

especifici<strong>da</strong>de artística será desenvolvi<strong>da</strong> em um <strong>do</strong>s anos <strong>do</strong> ciclo. Salientase<br />

que a ordem de oferecimento <strong>da</strong>s disciplinas artísticas para os anos-ciclo<br />

deve ser planeja<strong>da</strong> pelas escolas, consideran<strong>do</strong>-se suas especifici<strong>da</strong>des e,<br />

principalmente, seus projetos políticos pe<strong>da</strong>gógicos (WOLFFENBÜTTEL,<br />

2009, p. 35).<br />

As ações pe<strong>da</strong>gógico-musicais com a flauta <strong>do</strong>ce<br />

O objetivo geral <strong>da</strong> proposta era trabalhar a aprendizagem de flauta <strong>do</strong>ce em<br />

conjunto paralela às ativi<strong>da</strong>des de canto coletivo. Como objetivos específicos, almejávamos:<br />

propiciar o acesso a cultura musical formal, por meio <strong>da</strong> prática de conjunto e <strong>da</strong> interpretação<br />

instrumental; contribuir para uma formação mais completa <strong>do</strong>s alunos; desenvolver a<br />

musicali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> grupo beneficia<strong>do</strong>, trabalhan<strong>do</strong> e explicitan<strong>do</strong> aspectos musicais até então<br />

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não apresenta<strong>do</strong>s formalmente a estes indivíduos, usan<strong>do</strong> músicas que, possivelmente, não<br />

faziam parte <strong>do</strong> seu universo cotidiano, ou <strong>da</strong> cultura que an<strong>da</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mídias e de outros<br />

meios de difusão de conhecimento<br />

As aulas de música eram semanais, com a duração de <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s por turma. Na<br />

escola não havia uma sala de aula específica para a música, nem estantes para partituras. Mas<br />

a escola tinha uma flauta <strong>do</strong>ce soprano para ca<strong>da</strong> aluno, o que significava a possibili<strong>da</strong>de de<br />

to<strong>do</strong>s tocarem ao mesmo tempo. Tínhamos, também, felizmente, a visão <strong>da</strong> direção e <strong>do</strong>s<br />

colegas <strong>do</strong>centes favorável ao trabalho musical com flauta <strong>do</strong>ce. Isso contribuiu muito para o<br />

processo de musicalização, pois não existiam reclamações <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar quanto à<br />

profusão de sons advin<strong>da</strong> <strong>da</strong>s aulas de música, e podíamos tocar com tranquili<strong>da</strong>de, sem nos<br />

preocuparmos em estar incomo<strong>da</strong>n<strong>do</strong> alguém.<br />

Durante as aulas, o professor fazia uso de um tecla<strong>do</strong> para acompanhar as músicas<br />

toca<strong>da</strong>s pelos alunos na flauta <strong>do</strong>ce, cujas quais também eram canta<strong>da</strong>s na sala de aula. As<br />

notas trabalha<strong>da</strong>s foram: Dó, Si, Lá e Sol. Inicialmente, no primeiro contato <strong>do</strong>s alunos com a<br />

flauta <strong>do</strong>ce, fora aprendi<strong>da</strong> uma música com as notas Si e Lá, em um desenho rítmico<br />

composto por semínimas e colcheias. A música usa<strong>da</strong> foi “Bem-ti-vi”, retira<strong>da</strong> de Suzigan e<br />

Mota (2001). Paralelo ao aprendiza<strong>do</strong> desta música, trabalhamos as sete notas musicais e o<br />

seu solfejo, com o auxílio <strong>do</strong> tecla<strong>do</strong>. Os alunos aprenderam a cantar a letra desta canção ao<br />

mesmo tempo em que aprenderam a tocá-la no instrumento de sopro. O canto e a<br />

interpretação instrumental aconteciam intercala<strong>do</strong>s. Em algumas aulas, enquanto alguns<br />

alunos cantavam, outros tocavam ao mesmo tempo, de mo<strong>do</strong> a formar um arranjo.<br />

Após, trabalhamos o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> música “O Trem de Ferro”, retira<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

cancioneiro folclórico brasileiro. Essa música é muito conheci<strong>da</strong> em diversas regiões <strong>do</strong><br />

Brasil, mas, atualmente, pelo que temos nota<strong>do</strong>s nas escolas que trabalhamos na região<br />

metropolitana de Porto Alegre, está ausente <strong>do</strong>s ambientes escolares, em decorrência <strong>da</strong><br />

invasão <strong>da</strong> cultura de massa propaga<strong>da</strong> pelas mídias. Na aprendizagem desta música<br />

incorporamos duas novas notas: Dó e Sol. As figuras rítmicas continuaram a ser as mesmas<br />

usa<strong>da</strong>s na música “Bem-ti-vi”, o que facilitou a compreensão musical sobre a nova música,<br />

uma vez que a célula rítmica a ser utiliza<strong>da</strong> era extremamente semelhante a <strong>da</strong> música<br />

anteriormente aprendi<strong>da</strong>. Também cantamos a letra <strong>da</strong> canção.<br />

Depois de aprendi<strong>da</strong>, os alunos foram incentiva<strong>do</strong>s a comporem acompanhamentos<br />

rítmico-corporais para acrescentar ao arranjo canta<strong>do</strong> e toca<strong>do</strong>. Isso fora feito em grupos de<br />

cinco alunos, por turmas. Alguns alunos usaram palmas, passos e bati<strong>da</strong>s na região torácica<br />

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no ritmo <strong>da</strong> canção para acompanhar os demais colegas que tocavam e cantavam. To<strong>do</strong>s os<br />

grupos tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de apresentar os seus arranjos para turma to<strong>da</strong>. Foi um<br />

momento de muita alegria para os alunos, pois se sentiram capazes de criar produtos musicais<br />

genuinamente seus, uma vez que não estavam só recrian<strong>do</strong> música na flauta ou através <strong>do</strong><br />

canto, mas sim desenvolven<strong>do</strong> algo novo em termos de música. Surgiram também alguns<br />

arranjos na forma de ritmos deriva<strong>do</strong>s de obras <strong>do</strong> gênero musical “Funk Carioca”, muito<br />

presente entre as culturas mais populares, e largamente dissemina<strong>do</strong> entre os jovens em i<strong>da</strong>de<br />

escolar. Na ativi<strong>da</strong>de de criação musical os alunos puderam trazer o conhecimento musical<br />

forma<strong>do</strong> fora <strong>da</strong> sala de aula de música. Houve a interlocução entre o saber formal e o saber<br />

informal (ver ARROYO et al., 2000)<br />

Nas aulas, durante os primeiros contatos com as músicas novas, os alunos tocavam<br />

to<strong>do</strong>s juntos. Em segui<strong>da</strong>, à medi<strong>da</strong> que as dificul<strong>da</strong>des técnicas e rítmicas eram supera<strong>da</strong>s, o<br />

professor buscava ouvir individualmente os educan<strong>do</strong>s a tocar, para aju<strong>da</strong>r na identificação de<br />

aspectos a serem melhora<strong>do</strong>s nas interpretações. Isso aju<strong>da</strong>va, também, os alunos a sentirem<br />

que as suas práticas musicais individuais eram de suma importância para quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> prática<br />

coletiva, e para o professor. Assim, buscavam se dedicar ca<strong>da</strong> vez mais na aprendizagem. Eles<br />

se sentiam desafia<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> o professor mencionava pontos que necessitavam de melhoria,<br />

o que os levava a processos necessários de reflexão sobre seu próprio fazer, e de compreensão<br />

e identificação <strong>do</strong> que e de como melhorar aquilo que o professor pedia. Os detalhes a serem<br />

melhora<strong>do</strong>s na interpretação musical com vistas à construção de uma prática musical com<br />

maior expressivi<strong>da</strong>de variavam entre os apontamentos a seguir apresenta<strong>do</strong>s.<br />

Através <strong>da</strong> prática de conjunto de flauta <strong>do</strong>ce foi possível trabalhar a precisão e a<br />

fluência rítmica. Trabalhamos basicamente com músicas que exigiam uma divisão rítmica<br />

bastante simples, engloban<strong>do</strong> apenas duas figuras de duração distintas; semínimas e colcheias.<br />

A afinação também foi alvo de nosso trabalho, consideran<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> imediato a construção<br />

de conhecimento perceptivo musical, uma vez que estávamos li<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com um instrumento<br />

que pode oferecer variações de afinação dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> corrente de ar posta em vibração e<br />

também <strong>da</strong> montagem e encaixe <strong>da</strong>s peças forma<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> instrumento, que podem ficar<br />

levemente frouxas em decorrência de necessi<strong>da</strong>des performáticas específicas ou pela<br />

desatenção, fato este, muito comum entre discentes iniciantes no instrumento, ain<strong>da</strong> mais em<br />

um contexto onde a profusão de sons emana<strong>do</strong>s de diversas fontes ao mesmo tempo pode<br />

confundir a audição e identificação <strong>da</strong> fonte de sons desafina<strong>do</strong>s.<br />

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O controle <strong>da</strong> corrente de ar posta em movimento na construção <strong>do</strong>s frasea<strong>do</strong>s<br />

musicais também fora alvo de nossas intervenções pe<strong>da</strong>gógico-musicais. Por tratar-se de<br />

alunos iniciantes o nível de cobrança variou de uma turma para outra no que concerne a<br />

obtenção de homogenei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coluna de ar, principalmente, em decorrência <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

inerente ao corpo discente delas, o que incidiu, diretamente, no tempo de prática necessária a<br />

compreensão e construção de uma prática musical homogênea em termos de sonori<strong>da</strong>de a ser<br />

obti<strong>da</strong> como produto musical na interpretação <strong>da</strong>s músicas trabalha<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong> trimestre.<br />

Enfatizamos também a necessi<strong>da</strong>de de uma postura corporal adequa<strong>da</strong> ao<br />

instrumento, visto que os alunos tocavam senta<strong>do</strong>s em suas carteiras e, às vezes, de pé, ou<br />

senta<strong>do</strong>s em ro<strong>da</strong>. Quan<strong>do</strong> senta<strong>do</strong>s, buscávamos que eles não escorassem os cotovelos nas<br />

mesas, nem sentassem com o tronco <strong>do</strong> corpo curva<strong>do</strong>, pois tais posturas implicariam<br />

diretamente no mo<strong>do</strong> de interpretação musical, bem como no controle <strong>da</strong> respiração, o que<br />

resultaria na obtenção de interpretações musicais poucos ideais.<br />

Sem exceções, to<strong>do</strong>s os alunos demonstravam gostar enormemente <strong>da</strong>s aulas de<br />

música. Paravam o professor nos corre<strong>do</strong>res <strong>da</strong> escola para saber quan<strong>do</strong> seria o “dia <strong>da</strong><br />

música”, e também para sanar dúvi<strong>da</strong>s sobre algum conteú<strong>do</strong> abor<strong>da</strong><strong>do</strong> em aula.<br />

Alguns alunos também tocavam em casa, pois puderam comprar a flauta <strong>do</strong>ce<br />

soprano. Outros só tocavam na escola, por falta de recursos financeiros. Mas o que foi<br />

cobra<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos de desenvolvimento técnico e musical com a flauta <strong>do</strong>ce não excedia o<br />

que era possível trabalhar no espaço tempo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s semanais por turma. Claro que<br />

isso não era o ideal, mas era o tempo que dispúnhamos. Ao final <strong>do</strong> trimestre, as aulas não<br />

pararam, seguiram e acrescentamos instrumentos de percussão que a escola comprou por<br />

nossa recomen<strong>da</strong>ção. Mas como o espaço <strong>do</strong> texto se esgota por aqui, deixamos a análise <strong>do</strong>s<br />

outros <strong>do</strong>is trimestres de aula para posteriores trabalhos. Por ora, sigamos às considerações<br />

finais.<br />

Considerações finais<br />

Nas aulas de música aqui relata<strong>da</strong>s buscamos, sempre, deixar os alunos se<br />

expressarem individual e coletivamente através <strong>da</strong> música, mostran<strong>do</strong> suas ideias musicais e<br />

amplian<strong>do</strong> seu conhecimento musical.<br />

Na aula de flauta <strong>do</strong>ce o aluno é sujeito e produtor <strong>do</strong> seu conhecimento, pois<br />

necessita fazer para aprender, não é copian<strong>do</strong> simplesmente o que está no quadro que<br />

desenvolve a cognição musical. Na aula de música é preciso existir o fazer musical, seja este<br />

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individual ou coletivo, na forma <strong>da</strong> interpretação ou criação musical, e logicamente, não é só<br />

ouvin<strong>do</strong> que se aprende música, muito embora seja uma ativi<strong>da</strong>de bastante rica e positiva a<br />

apreciação musical, mas sen<strong>do</strong> esta de caráter ativo, e não uma apreciação passiva<br />

simplesmente. Ativa no senti<strong>do</strong> de estar atrela<strong>da</strong> a reflexão sobre a obra ouvi<strong>da</strong>, bem como a<br />

descoberta e compreensão <strong>do</strong>s elementos forma<strong>do</strong>res <strong>da</strong> música aprecia<strong>da</strong>. Então, o eixo<br />

forma<strong>do</strong> por ativi<strong>da</strong>des de apreciação, criação e interpretação musical, enriqueci<strong>do</strong>s pela<br />

reflexão musical, reflexão sobre estes fazeres musicais, constitui-se como uma alternativa<br />

viável no âmbito <strong>da</strong> educação musical na educação básica.<br />

Embora nas práticas pe<strong>da</strong>gógico-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s durante um trimestre, aqui<br />

analisa<strong>da</strong>s, a ênfase tenha se <strong>da</strong><strong>do</strong> sobre a interpretação musical, não deixamos de <strong>da</strong>r<br />

oportuni<strong>da</strong>des aos educan<strong>do</strong>s para criarem acompanhamentos rítmicos com o corpo para as<br />

músicas aprendi<strong>da</strong>s, contemplan<strong>do</strong> a construção de arranjos musicais, e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a chance deles<br />

trazerem para a sala de aula os seus conhecimentos musicais informalmente adquiri<strong>do</strong>s.<br />

A apreciação musical também aconteceu em muitos momentos, principalmente<br />

quan<strong>do</strong> o professor tocava e pedia para os alunos observarem quais as diferenças entre a sua<br />

interpretação e as interpretações ouvi<strong>da</strong>s em um determina<strong>do</strong> CD, ou à que algum colega <strong>da</strong><br />

classe havia realiza<strong>do</strong>. Nestas ativi<strong>da</strong>des o objetivo era compreender que elementos ain<strong>da</strong><br />

faltavam nas interpretações <strong>do</strong>s alunos, auxilian<strong>do</strong>-os a prestar atenção aos frasea<strong>do</strong>s,<br />

dinâmicas, controle <strong>da</strong>s correntes de ar, postura corporal, digitação <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s e afinação <strong>do</strong><br />

instrumento.<br />

Por fim, trazemos uma reflexão teórica de caráter mais geral sobre as ativi<strong>da</strong>des<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s: assim, frente ao quadro sociocultural ao qual a figura <strong>da</strong> escola está inseri<strong>da</strong>, o<br />

educa<strong>do</strong>r precisa pensar o contexto <strong>do</strong>s sujeitos educan<strong>do</strong>s juntamente com a construção de<br />

processos educacionais que possam fazer emergir momentos educativos complexos,<br />

problematiza<strong>do</strong>res <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, produtores de subjetivi<strong>da</strong>des. É<br />

imprescindível trilhar atalhos em direção contrária a Mercoescola (AZEVEDO, 2007) e a<br />

padronização <strong>do</strong> ser-estar <strong>do</strong> homo-sapiens no mun<strong>do</strong> hodierno. Atalhos estes que levam a<br />

instauração de um esta<strong>do</strong> e convívio social vocaciona<strong>do</strong> para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre os seres<br />

humanos, independentemente <strong>da</strong> sua origem econômica, social, cultural ou religiosa.<br />

Perspectiva<strong>do</strong>s na troca mútua de conhecimentos e na propagação e produção de cultura como<br />

um bem a ser compartilha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s e estar acessível a to<strong>do</strong>s. É o enraizamento e a criação<br />

de um senti<strong>do</strong> novo de existir no mun<strong>do</strong> com o outro e ver-se no outro como a si próprio,<br />

como seu semelhante e cúmplice de uma coletivi<strong>da</strong>de humana positiva e humaniza<strong>da</strong>, onde<br />

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“conhecer é reconhecer e progredir no senti<strong>do</strong> de elevar o outro <strong>da</strong> condição de objeto à<br />

condição de sujeito” (SANTOS, 2000, p. 30).<br />

A caminha<strong>da</strong> supracita<strong>da</strong> pressupõe a constituição de novas relações teóricas e<br />

sociais no âmbito <strong>do</strong> conhecimento musical significativo e transforma<strong>do</strong>r <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

momentânea <strong>do</strong> tempo presente rumo à projeção <strong>da</strong> estruturação de um futuro<br />

promissoramente melhor, mais humaniza<strong>do</strong>, democrático e igualitário, onde a distribuição de<br />

riquezas e o capital cultural <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de sejam compartilha<strong>do</strong>s entre to<strong>do</strong>s os povos, entre<br />

to<strong>do</strong>s os seres humanos, sem hierarquizações ou supressões de um corpo cultural, de um<br />

conjunto de saberes sobre outros. É o almejar estabelece<strong>do</strong>r de uma coletivi<strong>da</strong>de universal,<br />

sem necessariamente abdicar <strong>da</strong>s subjetivi<strong>da</strong>des nacionais, regionais e locais <strong>da</strong>s diferentes<br />

culturas mundiais. Assim sen<strong>do</strong>, nessas primeiras aulas coletivas e reflexivas musicais<br />

procuramos <strong>da</strong>r os passos iniciais à concretização prática dessas ideias educativas mais<br />

amplas.<br />

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Referências<br />

ARROYO, M. et al. Transitan<strong>do</strong> entre o “formal” e o “Informal”: um relato sobre a formação<br />

de educa<strong>do</strong>res musicais. In: SPEM, 7, 2000, Londrina. <strong>Anais</strong>... Londrina: SPEM, 2000, p. 77-<br />

90.<br />

AZEVEDO, J. C. de. Educação e Emancipação: Cenários de Esperança. In: FREITAS, Ana<br />

Lúcia de; MORAES, Salete Campos de (Orgs.). Contra o desperdício <strong>da</strong> experiência: a<br />

pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> conflito revisita<strong>da</strong>. Porto Alegre: Redes, 2009, p. 171-183.<br />

____________. Reconversão cultural <strong>da</strong> escola: mercoescola e escola ci<strong>da</strong>dã. Porto Alegre:<br />

Ed. Sulina e Ed. Universitária Metodista, 2007.<br />

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro<br />

de 1996.<br />

BRASIL. Leis Ordinárias de 2008. Lei n° 11.769/2008. Altera a lei n° 9394/1996, de 20 de<br />

dezembro de 1996, lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação para dispor sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> ensino de música na educação básica. Brasília, 2008. Disponível em<br />

. Acesso em: 27<br />

ago. 2009.<br />

SANTOS, B. de S.. Para uma Pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> Conflito. In: FREITAS, Ana Lúcia de;<br />

MORAES, Salete Campos de (Orgs.). Contra o desperdício <strong>da</strong> experiência: a pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong><br />

conflito revisita<strong>da</strong>. Porto Alegre: Redes, 2009, p. 15-40.<br />

____________. A crítica <strong>da</strong> razão in<strong>do</strong>lente contra o desperdício <strong>da</strong> experiência. Para um<br />

novo senso comum; a ciência, o direito e a política na transição paradigmática. Vol. 1. São<br />

Paulo: Cortez, 2000.<br />

PORTO ALEGRE, 1996. Secretaria Municipal de Educação. Cadernos pe<strong>da</strong>gógicos N° 9:<br />

ciclos de formação, proposta político-pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola ci<strong>da</strong>dã. Porto Alegre: Prefeitura<br />

Municipal de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Educação, 1996.<br />

SUZIGAN, M. L. C.; MOTA, F. Méto<strong>do</strong> de iniciação musical para jovens e crianças: flauta<br />

<strong>do</strong>ce. Vol. 1. 2ª edição. São Paulo: Ed. G4, 2001.<br />

WOLFFENBÜTTEL, C. R. A inserção <strong>da</strong> música no Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico: o caso <strong>da</strong><br />

Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre/RS. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Música) - Instituto de<br />

Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre, 2009.<br />

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Formação de professores de música na região de Sobral/CE: relato de<br />

experiência e parceria entre redes de ensino<br />

Leonar<strong>do</strong> Borne<br />

UFC - Sobral<br />

leo@ufc.br<br />

José Brasil de Matos Filho<br />

6ª CREDE / Escola de Música Maestro Wilson Brasil - Sobral<br />

jobratos@yahoo.com.br<br />

Resumo: O presente trabalho tem por propósito relatar o projeto de extensão intitula<strong>do</strong><br />

“Formação de Professores em Música”, desenvolvi<strong>do</strong> pela Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará –<br />

campus de Sobral (UFC-Sobral) em parceria com a 6ª Coordena<strong>do</strong>ria <strong>Regional</strong> de<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (6ª CREDE/CE) e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo<br />

de Sobral no ano de <strong>2011</strong> com, aproxima<strong>da</strong>mente, 40 professores que atuam na área de<br />

música, porém sem formação específica, no 9º ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental e 1º ano <strong>do</strong> ensino<br />

médio nas escolas públicas estaduais <strong>da</strong> região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Acaraú, região norte <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Ceará. A formação ocorre em encontros presenciais mensais e, semanalmente, em encontros<br />

em ambiente virtual. Como resulta<strong>do</strong>s parciais, apontamos que os participantes estão mais<br />

ativos e reflexivos quanto às práticas musicais desenvolvi<strong>da</strong>s na escola, ao invés de simples<br />

reprodutores <strong>do</strong> ensino de música.<br />

Palavras-chave: Formação de professores de música, parceria entre redes de ensino, relato de<br />

experiência.<br />

Introdução<br />

Em 18 agosto de 2008, como resulta<strong>do</strong> “de uma articulação nacional inicia<strong>da</strong> pela<br />

implantação <strong>da</strong>s câmaras setoriais de linguagens artísticas em 2004 e continua<strong>da</strong> durante os<br />

anos seguintes em fóruns, congressos, reuniões temáticas e seminários” (MATOS FILHO,<br />

<strong>2011</strong>, p. 15), foi promulga<strong>da</strong> a Lei 11.769, que determina o retorno <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música à<br />

educação básica <strong>do</strong> Brasil. A lei prevê que as redes de ensino deveriam se adequar para<br />

oferecer o componente curricular música em to<strong>da</strong>s as escolas em um perío<strong>do</strong> de três anos,<br />

portanto em agosto de <strong>2011</strong>. Os Sistemas Educacionais estaduais e municipais, entretanto,<br />

apenas muito recentemente têm se preocupa<strong>do</strong> com a implementação <strong>do</strong> proposto na referi<strong>da</strong><br />

lei.<br />

A rede educacional pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará, por exemplo, tem busca<strong>do</strong><br />

alternativas de caráter emergencial, como a contratação de professores temporários com<br />

formação pe<strong>da</strong>gógica e/ou conhecimento musical, porém sem o conhecimento específico <strong>da</strong><br />

educação musical; ou ain<strong>da</strong> com conhecimento musical, porém sem o conhecimento <strong>da</strong><br />

educação.<br />

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2 OA N O S<br />

A 6ª Coordena<strong>do</strong>ria <strong>Regional</strong> de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (6ª CREDE), órgão<br />

vincula<strong>do</strong> à Secretaria Estadual de Educação (Seduc/CE) que abrange os 20 municípios <strong>da</strong><br />

região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Acaraú 1 , noroeste <strong>do</strong> Ceará, possui no seu calendário de formação<br />

continua<strong>da</strong> um encontro presencial mensal para que os professores possam se capacitar e se<br />

atualizar, formação essa dividi<strong>da</strong> em 17 cursos 2 . No ano de <strong>2011</strong>, a área de Linguagens e<br />

Códigos e suas Tecnologias terá como foco prioritário, além <strong>da</strong> disciplina Língua Portuguesa,<br />

a disciplina Artes, essa última focan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s a serem repassa<strong>do</strong>s aos forma<strong>do</strong>res nas<br />

competências e habili<strong>da</strong>des musicais a serem desenvolvi<strong>da</strong>s pelos professores que atuam na<br />

escola com a disciplina de música.<br />

Os <strong>do</strong>cumentos orienta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> Arte nas escolas públicas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Ceará, assim chama<strong>do</strong>s Escola Aprendente, listam as seguintes competências e habili<strong>da</strong>des a<br />

serem desenvolvi<strong>da</strong>s:<br />

Reconhecer a importância <strong>da</strong>s linguagens artísticas e estéticas como<br />

instrumento de participação política, social, cultural e ci<strong>da</strong>dã <strong>do</strong> homem,<br />

compreenden<strong>do</strong> os fun<strong>da</strong>mentos conceituais <strong>da</strong>s artes visuais, cênicas,<br />

musicais, audiovisuais e corporais, como recursos de informação,<br />

comunicação, interpretação, necessários à formação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Desenvolver processos de criação artística nas diversas linguagens <strong>da</strong> arte.<br />

Compreender a história <strong>da</strong> arte em sua diversi<strong>da</strong>de cultural refletin<strong>do</strong> e<br />

analisan<strong>do</strong> os aspectos estéticos, filosóficos, históricos, sociais, culturais e<br />

antropológicos.<br />

Compreender os movimentos artísticos no tempo e no espaço, situan<strong>do</strong>-os no<br />

contexto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de socio-política e cultural e sua interferência nas<br />

transformações sociais.<br />

Compreender as diversas culturas estabelecen<strong>do</strong> relação entre a música<br />

presente na escola, as vincula<strong>da</strong>s pela mídia e as produzi<strong>da</strong>s por grupos<br />

locais, nacionais e internacionais. (CEARÁ, 2008, p.60)<br />

Em levantamento realiza<strong>do</strong> com os educa<strong>do</strong>res inscritos no curso de formação de<br />

professores de música, constatou-se que nenhum <strong>do</strong>s inscritos possui graduação em música;<br />

1 A Secretaria <strong>da</strong> Educação <strong>do</strong> Ceará possui vinte coordena<strong>do</strong>rias regionais de educação que gerenciam as<br />

escolas estaduais e fazem um acompanhamento nas escolas <strong>do</strong>s 184 municipios <strong>do</strong> estra<strong>do</strong>. A 6ª CREDE, com<br />

sede em Sobral, abrange os seguintes municípios: Alcantaras, Cariré, Coreaú, Fecheirinha, Forquilha, Graça,<br />

Groaíras, Hidrolândia, Irauçuba, Massapê, Meruoca, Moraújo, Mucambo, Pacujá, Pires Ferreira, Reriutaba,<br />

Santana <strong>do</strong> Acaraú, Sena<strong>do</strong>r Sá, Sobral e Varjota.<br />

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os professores responsáveis por ministrar a disciplina Artes têm formações em diversas áreas,<br />

tais como letras, química, física, biologia, geografia, teologia. Outra constatação preocupante<br />

refere-se ao fato que muitos professores são lota<strong>do</strong>s para ministério <strong>da</strong> disciplina Artes com<br />

critérios pouco preocupa<strong>do</strong>s com o oferecimento de um programa a ser desenvolvi<strong>do</strong>, pois<br />

muitos deles relatam pouca intimi<strong>da</strong>de com o conteú<strong>do</strong> a ser repassa<strong>do</strong> e que sua lotação<br />

aconteceu somente para complemento de carga horária.<br />

Comungamos com Figueire<strong>do</strong> e Rosa (2008) quan<strong>do</strong> eles dizem: “Sen<strong>do</strong> a música<br />

uma parte constituinte <strong>da</strong> Arte, nem sempre ela é entendi<strong>da</strong> como uma área que possui<br />

conteú<strong>do</strong>s específicos e desta forma não é assumi<strong>da</strong> como uma disciplina propriamente dita”<br />

(p. 03). Fica evidente, ao constatar que as graduações <strong>do</strong>s professores são diversas à música,<br />

que a rede de ensino estadual ain<strong>da</strong> está trabalhan<strong>do</strong> na criação <strong>da</strong> disciplina de música, ou<br />

melhor, <strong>do</strong> componente curricular música na escola, não caracterizan<strong>do</strong>-a como disciplina<br />

própria.<br />

Com essas constatações a Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará – campus de Sobral (UFC-<br />

Sobral), em parceria com a 6ª CRECE/CE, está desenvolven<strong>do</strong> o projeto de extensão<br />

“Formação de Professores em Música”, que busca o fortalecimento <strong>do</strong> ensino de música nas<br />

escolas <strong>da</strong> rede estadual de ensino através <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> e em serviço de<br />

professores que atuam na área de música nessas instituições, formação essa em caráter<br />

emergencial, haja vista a falta de recursos humanos com formação acadêmica específica para<br />

atuarem na área de música, como relata<strong>do</strong> anteriormente.<br />

As Parcerias Estabeleci<strong>da</strong>s<br />

A formação ocorre em sistema de parceria, como já dito, onde a 6ª Crede (instância<br />

estadual) oferece a deman<strong>da</strong> de participantes, um professor forma<strong>do</strong>r, apoio logístico e<br />

material de consumo. O espaço físico para realização <strong>do</strong> projeto é cedi<strong>do</strong> pela Prefeitura de<br />

Sobral (instância municipal), na Escola de Música Maestro Wilson Brasil. Cabe à<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará (instância federal), através de um professor, elaborar o<br />

material didático em conjunto com o professor forma<strong>do</strong>r advin<strong>do</strong> <strong>da</strong> CREDE/CE, bem como<br />

gerenciar o ambiente virtual de aprendizagem onde ocorre parte <strong>da</strong> formação e ministrar parte<br />

<strong>do</strong>s encontros presenciais realiza<strong>do</strong>s.<br />

2 Formação em: Português, Inglês, Espanhol, Artes, Educação Física, Matemática, Física, Quimica, Geografia,<br />

História, Sociologia, Filosofia e capacitações para os Conselhos Escolares, Coordena<strong>do</strong>res Pe<strong>da</strong>gógicos e<br />

professores <strong>do</strong>s Centros de Multimeios, Laboratórios de Ciencias e , Laboratórios de Informática.<br />

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abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

O calendário de formação <strong>da</strong> 6ª CREDE/CE prevê apenas um encontro mensal para a<br />

capacitação <strong>do</strong>s professores, o que poderia se tornar inviável para uma formação significativa<br />

em música. Para tanto, a solução encontra<strong>da</strong> foi ampliar essa carga horária através <strong>da</strong><br />

educação a distância. Dessa forma, fica a cargo <strong>do</strong>s encontros presenciais a maior parte <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des de cunho prático e <strong>do</strong> fazer pe<strong>da</strong>gógico-musical, através de dinâmicas e propostas<br />

diferencia<strong>da</strong>s, tais como palestras, seminários, vivências (musicais e pe<strong>da</strong>gógicas) e debates,<br />

priorizan<strong>do</strong> as ativi<strong>da</strong>des práticas e relaciona<strong>da</strong>s com o fazer musical <strong>da</strong> escola. Os conteú<strong>do</strong>s<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s serão defini<strong>do</strong>s em acor<strong>do</strong> com as orientações curriculares oficiais, sen<strong>do</strong> elas a<br />

Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional (Lei nº 9394/96); os Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM, 2002); os Referenciais Curriculares Básicos para o<br />

Ensino Médio <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará (RCB – Quinto Ciclo, 2002) e os textos <strong>da</strong> Coleção Escola<br />

Aprendente (Meto<strong>do</strong>logias de Apoio <strong>da</strong> Seduc/CE).<br />

O projeto se desenvolverá ao longo <strong>do</strong> ano de <strong>2011</strong>, assim dividi<strong>do</strong> para fins de<br />

consoli<strong>da</strong>ção de carga horária para certificação que se <strong>da</strong>rá através <strong>da</strong> Pró-Reitoria de<br />

Extensão <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará:<br />

• 50 horas de ativi<strong>da</strong>des presenciais (10 encontros mensais de 5 horas/aula);<br />

• 40 horas de ativi<strong>da</strong>des online (dedicação de mais 2 horas semanais para as<br />

ativi<strong>da</strong>des posta<strong>da</strong>s na plataforma Sócrates <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong><br />

Ceará);<br />

• 30 horas de elaboração de um PPI – Projeto de Produção Individual;<br />

momento de criação de um artigo, comunicação, relato de experiência ou<br />

Plano de Ação a ser desenvolvi<strong>do</strong> por ca<strong>da</strong> professor em sua escola,<br />

socializa<strong>do</strong> entre os professores participantes <strong>do</strong> curso de formação.<br />

Assim como dito anteriormente, os encontros presenciais (dez) acontecem na Escola<br />

de Música Maestro José Wilson (Escola de Música de Sobral), consoli<strong>da</strong>n<strong>do</strong> assim uma<br />

efetiva parceira entre os três níveis administrativos: Prefeitura de Sobral, através <strong>da</strong> Secretaria<br />

Municipal <strong>da</strong> Cultura e Turismo; Governo Estadual, através <strong>da</strong> 6ª Coordena<strong>do</strong>ria <strong>Regional</strong> de<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação e Governo Federal, através <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

– campus de Sobral.<br />

Os encontros a distância também têm o foco no desenvolvimento <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

pe<strong>da</strong>gógico-musicais. Esses abor<strong>da</strong>ram e permeiam os mesmos conteú<strong>do</strong>s que os encontros<br />

presenciais, porém em caráter mais teórico e reflexivo, propician<strong>do</strong> a troca entre os<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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participantes através <strong>do</strong> debate e <strong>da</strong> discussão online, bem como a criação de propostas<br />

meto<strong>do</strong>lógicas e pe<strong>da</strong>gógicas a serem utiliza<strong>da</strong>s em suas práticas <strong>do</strong>centes.<br />

Não se poderia, dessa forma, imaginar um programa de formação continua<strong>da</strong> que<br />

vise à mu<strong>da</strong>nça de postura pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> professor sem a preocupação de promover o<br />

envolvimento <strong>do</strong>s responsáveis pela gestão <strong>da</strong>s escolas. Pensan<strong>do</strong> nisso, os encontros de<br />

formação também recebem coordena<strong>do</strong>res pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong>s escolas para o repasse de to<strong>da</strong><br />

temática abor<strong>da</strong><strong>da</strong>. Também são elabora<strong>do</strong>s relatórios de ca<strong>da</strong> formação que são repassa<strong>do</strong>s<br />

aos diretores de to<strong>da</strong>s as 41 escolas atendi<strong>da</strong>s como forma de garantir a ampla publici<strong>da</strong>de e o<br />

posterior acompanhamento, por parte <strong>do</strong>s gestores escolares, de to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s, tanto nos encontros presenciais como nas ativi<strong>da</strong>des a distancia.<br />

Outro ponto importante a se destacar é a busca pelo fortalecimento de um senti<strong>do</strong> de<br />

trabalho em equipe, de uma ação de intersetoriali<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> escola. Assim, através <strong>do</strong><br />

diálogo com to<strong>do</strong>s os setores envolvi<strong>do</strong>s nos encontros de formação, procura-se garantir o uso<br />

<strong>do</strong>s recursos e ambientes existentes na escola, como os centros de multimeios, bibliotecas<br />

escolares e laboratórios de ciências e de informática, sempre na persecução de melhoria <strong>do</strong>s<br />

processos de ensino aprendizagem.<br />

Proposta Meto<strong>do</strong>lógica <strong>da</strong>s Formações<br />

Na busca por resposta aos grandes desafios que se apresentam nas escolas públicas<br />

de ensino médio <strong>do</strong>s municípios <strong>da</strong> abrangência <strong>da</strong> 6ª Coordena<strong>do</strong>ria <strong>Regional</strong> de<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação, como as altas taxas de repetência, o eleva<strong>do</strong> índice de evasão<br />

e, consequentemente, a baixa proficiência obti<strong>da</strong> <strong>do</strong>s alunos em exames padroniza<strong>do</strong>s,<br />

procurou-se promover a melhoria <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas desenvolvi<strong>da</strong>s pelos professores a<br />

partir <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> pauta<strong>da</strong> na produção individual e coletiva <strong>do</strong> conhecimento<br />

através de um programa de formação continua<strong>da</strong> em serviço na busca <strong>da</strong> consecução de<br />

competências necessárias ao ato de ensinar, associan<strong>do</strong> a teoria e a prática.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a Formação Continua<strong>da</strong> de Professores <strong>da</strong> 6ª CREDE/CE em <strong>2011</strong>,<br />

tem como foco a aprendizagem <strong>do</strong>s alunos na escola de jovens. Seguirá uma base pe<strong>da</strong>gógica<br />

subsidia<strong>da</strong> pelos <strong>do</strong>cumentos anteriormente elenca<strong>do</strong>s, em especial nas orientações didáticas<br />

<strong>da</strong> Coleção Escola Aprendente que propõe o ensino <strong>da</strong> arte<br />

de forma contextualiza<strong>da</strong>, de mo<strong>do</strong> que o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s conceitos e <strong>do</strong>s<br />

elementos básicos de ca<strong>da</strong> linguagem seja evidencia<strong>do</strong> no projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico, com foco no desenvolvimento de competências e habili<strong>da</strong>des,<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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numa perspectiva de ressignificar o aprendiza<strong>do</strong> efetivo <strong>da</strong> Arte em<br />

conformi<strong>da</strong>de com os PCNEM. (CEARÁ, 2008, p. 52).<br />

Os PCNEM (2002) asseguram aos alunos <strong>do</strong> ensino médio o direito <strong>do</strong><br />

desenvolvimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de expressiva em arte e, para tanto, “orienta que os professores<br />

de Arte possam se aperfeiçoar continuamente em seus saberes e sobre o exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>cente, para intermediar a formação artística e estética <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes” (BRASIL, 2002).<br />

O Ministério <strong>da</strong> Educação tem se preocupa<strong>do</strong> em garantir o oferecimento de um<br />

ensino médio de quali<strong>da</strong>de, de acor<strong>do</strong> com os indicativos sobre a<br />

organização curricular para esta etapa <strong>da</strong> educação básica, adequa<strong>do</strong>s às<br />

perspectivas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de moderna, capazes de fomentar e fortalecer as<br />

experiências exitosas desenvolvi<strong>da</strong>s pelos Sistemas de Ensino, consoante ao<br />

contexto de suas uni<strong>da</strong>des escolares (BRASIL, 2009. p.03)<br />

No plano estadual, um <strong>do</strong>s eixos nortea<strong>do</strong>res <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> Educação <strong>do</strong> Ceará<br />

defende a educação básica como vetor de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento pessoal, social e<br />

econômico, ten<strong>do</strong> em vista a construção de um esta<strong>do</strong> sustentável na busca incansável pela<br />

elevação <strong>do</strong> nível de aprendizagem <strong>do</strong>s alunos <strong>da</strong>s escolas de sua rede de ensino.<br />

Seguin<strong>do</strong> o pensamento <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Educação e de acor<strong>do</strong> como o previsto nos<br />

eixos nortea<strong>do</strong>res <strong>da</strong> política de educação pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará, além de considerar os<br />

<strong>do</strong>cumentos de apoio, construiu-se uma proposta que visa favorecer um nivelamento<br />

conceitual entre os professores de Arte <strong>do</strong> 9º ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental e <strong>do</strong> 1º ano <strong>do</strong><br />

Ensino Médio – séries contempla<strong>da</strong>s pelo oferecimento <strong>da</strong> disciplina Música nas escolas <strong>da</strong> 6ª<br />

CREDE/CE.<br />

O programa segue a proposta curricular constante nas orientações didáticas <strong>da</strong><br />

Coleção Escola Aprendente, <strong>do</strong>cumento nortea<strong>do</strong>r <strong>da</strong> matriz curricular <strong>do</strong> ensino médio <strong>da</strong>s<br />

escolas públicas <strong>do</strong> Ceará que preveem o desenvolvimento e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s seguintes<br />

conhecimentos musicais:<br />

• História <strong>da</strong> Musica Universal: grandes obras e autores.<br />

• História <strong>da</strong> Música Brasileira Popular e Erudita: apreciação, análise<br />

e decocificação <strong>da</strong> obra.<br />

• Movimentos artisticos: contribuição na formação <strong>da</strong> cultura<br />

brasileira.<br />

• Instrumentos musicais nas diversas culturas e possibili<strong>da</strong>des<br />

sonoras: acústicas, eletroacústicas, eletrônicas e novas mídias.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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• Gêneros, estilos e formas musicais nos diversos contextos históricos.<br />

• Influência <strong>da</strong> mídia e <strong>da</strong> cultura de massa na formação musical <strong>do</strong>s<br />

alunos.<br />

• Hinos oficiais <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> Ceará: fun<strong>da</strong>mentação histórica,<br />

composição literária e musical e autores. (CEARÁ, 2008, p.57).<br />

É importante notar que a proposta desenvolvi<strong>da</strong> pelos <strong>do</strong>cumentos oficiais <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Ceará não se propõe a repassar competências de interpretação musical; também há<br />

nenhuma ou raras referências a algum tipo de prática interpretativa instrumental ou vocal nas<br />

ativi<strong>da</strong>des previstas, nenhuma ou raras referências a momentos de apreciação musical<br />

presencial ou por meios de reprodução de som e imagem e por fim nenhuma referência a<br />

momentos de visitas, aulas de campo ou dialogo com músicos, interpretes, compositores<br />

locais, regionais ou nacionais.<br />

Buscamos, então na nossa formação, subsidiar diversos momentos de fazer musical<br />

para os professores que ali estão, pois acreditamos que, em algumas formações em música, há<br />

uma “ênfase muito grande no verbal, em detrimento <strong>da</strong> prática artística. Por mais importante<br />

que seja falar de música, essa prática não pode substituir a musical” (FONTERRADA, 2004,<br />

p. 38). Em outras palavras, para aprender música, devemos fazer música.<br />

Repercussões e análises preliminares<br />

O projeto de extensão “Formação de Professores de Música”, desenvolvi<strong>do</strong> em<br />

parceria entre a UFC/Sobral e a 6ª CREDE/CE, está atuan<strong>do</strong> na formação de professores <strong>da</strong><br />

rede de ensino estadual <strong>do</strong> Ceará que atuam na área de música, porém sem formação<br />

específica. Através de uma proposta que engloba ativi<strong>da</strong>des práticas – de fazer música – em<br />

encontros presenciais, e ativi<strong>da</strong>des mais reflexivas e teóricas – de pensar música – em<br />

encontros a distância, buscamos o fortalecimento <strong>da</strong> educação musical na região norte <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará.<br />

Ain<strong>da</strong> que, conforme o planejamento <strong>da</strong>s aulas <strong>do</strong>s professores cursistas, a música só<br />

seja abor<strong>da</strong><strong>do</strong> nos últimos <strong>do</strong>is meses <strong>do</strong> ano em sala de aula, muitas <strong>da</strong>s propostas e<br />

reflexões já são postas em uso por esses <strong>do</strong>centes. Eles, inclusive, fazem questão de<br />

compartilhar e <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a esses usos, como nos relatos a seguir:<br />

Não conhecia esse tipo de exercício, achei bem interessante. E o melhor, é<br />

que dá mesmo um resulta<strong>do</strong> positivo na voz. Ao final <strong>da</strong> semana, devi<strong>do</strong> à<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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quanti<strong>da</strong>de de aulas, minha voz fica bem desgasta<strong>da</strong>, rouca e depois <strong>da</strong><br />

prática <strong>do</strong>s exercícios senti uma melhora significativa. (KET-)<br />

também não conhecia esses exercícios, mas posso dizer que eles são muito<br />

proveitosos para o uso e o aquecimento <strong>da</strong> voz. pode ser usa<strong>do</strong> tanto para<br />

cantar quanto para aquecer a voz antes de <strong>da</strong>r aula. gostei muito. Legal!<br />

(LEO-)<br />

O Material sobre a VOZ está otimo!!! Vou montar um coral <strong>da</strong> escola, quem<br />

tiver algum material sobre o assunto envie para meu email. (DOR-)<br />

[...] na formação de Abril realize dinâmicas igual a <strong>da</strong> ultima formação para<br />

fazermos com nossos alunos em sala!!! (DOR-)<br />

Pode-se notar que a formação, além de qualificar e <strong>da</strong>r pistas aos professores de<br />

como ensinar música mesmo sem conhecimento específico, incita as inovações e a reflexão<br />

acerca <strong>da</strong> aula, tanto que vemos nas falas deles as iniciativas que são utiliza<strong>da</strong>s na escola,<br />

como montar um coral, ou ain<strong>da</strong> para sua própria quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> enquanto <strong>do</strong>cente, como<br />

os depoimentos <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> voz.<br />

Também é importante salientar a necessi<strong>da</strong>de desses cursistas em busca de material<br />

de ensino, como nas falas de DOR-. Ain<strong>da</strong> que possamos debater a questão de programa de<br />

aula, como a chama<strong>da</strong> receita de bolo, acreditamos que, neste momento de formação<br />

emergencial, onde estamos forman<strong>do</strong> professores para atuarem provisoriamente com música,<br />

eles carecem e necessitam de idéias para serem trabalha<strong>da</strong>s em sala de aula com música.<br />

Buscamos, então, indicar material pertinente para as suas práticas, porém sempre buscan<strong>do</strong><br />

esse posicionamento crítico e reflexivo, que saibam distinguir e utilizar esses materiais para<br />

transformar a sua aula, buscan<strong>do</strong> a consciência que a aula de música não é aula para ensinar<br />

músicas.<br />

Com o mesmo grau de importância, é necessário notar que essa iniciativa de<br />

formação relata<strong>da</strong> traz uma série de questionamentos que podem e devem ser levanta<strong>da</strong>s, tais<br />

quais, como está a articulação nas outras CREDEs <strong>do</strong> Ceará acerca <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong><br />

música como componente curricular obrigatório? Como as redes de ensino no nordeste<br />

brasileiro, e no Brasil como um to<strong>do</strong>, estão interpretan<strong>do</strong> a lei 11.769/08? E, mais destaca<strong>do</strong><br />

ain<strong>da</strong>, efetivamente teremos música na escola ou apenas mais um componente para os<br />

gestores <strong>da</strong>s escolas se preocuparem e alocarem professores com carga horária a serem<br />

complementa<strong>da</strong>s?<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação – Secretaria <strong>da</strong> Educação Básica. Programa Ensino Médio<br />

Inova<strong>do</strong>r – Documento Orienta<strong>do</strong>r. Brasilia, DF. 2009. Disponível em:<br />

Acesso em 11 abr <strong>2011</strong>.<br />

CEARÁ, Secretaria <strong>da</strong> Educação. Meto<strong>do</strong>logias de Apoio: Área de Linguagens, Códigos e<br />

suas Tecnologias. Fortaleza, CE, Seduc, 2008. (Coleção Escola Aprendente – volume 2)<br />

FIGUEIREDO, Sérgio Luiz F.; ROSA, Dyane <strong>da</strong> Silva. Um estu<strong>do</strong> sobre a Legislação para o<br />

Ensino de Música nas Séries Iniciais <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental nas Três Capitais <strong>da</strong> Região Sul<br />

<strong>do</strong> Brasil. In: DAPesquisa, v. 1 n.3, p. 1-12, 2008. Disponível em<br />

<br />

Acesso em 14 abr <strong>2011</strong>.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench O. Reflexões a respeito <strong>do</strong> ensino de música em escolas que<br />

não são de música. In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> II <strong>Encontro</strong> de Pesquisa em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Estadual de Maringá. Maringá: UEM, 2004.<br />

MATOS FILHO, José Brasil de. Escola de Música de Sobral: gestão de um ambiente de<br />

Educação não Escolar. Plano de Ação Educacional de Curso de Especialização em Gestão e<br />

Avaliação <strong>da</strong> Educação Pública. CAED, UFJF, Sobral, Ceará, <strong>2011</strong>.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Formação de professores em música e concepções de educação musical<br />

Conceição de Maria Cunha 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />

ceicacunha@hotmail.com<br />

José Álbio Moreira de Sales 2<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará<br />

albiosales@bol.com.br<br />

Resumo: O presente artigo tem por objetivo discutir as relações entre concepções de<br />

educação musical e a formação <strong>do</strong>s professores de Arte forma<strong>do</strong>s em música que atuam em<br />

escolas <strong>do</strong> município de Fortaleza. Do ponto de vista meto<strong>do</strong>lógico, trata-se de uma<br />

abor<strong>da</strong>gem qualitativa, fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> nas concepções de Schön (2000) e nos estu<strong>do</strong>s musicais<br />

de Souza (1996), Arroyo (1999) e Kraemer (2000). Na etapa <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de campo, foram<br />

investiga<strong>do</strong>s cinco professores, to<strong>do</strong>s licencia<strong>do</strong>s em música pela Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong><br />

Ceará. Através <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s nos depoimentos, pode-se observar que os atores<br />

investiga<strong>do</strong>s atribuem suas concepções de educação musical a um processo de reflexão,<br />

resultante <strong>do</strong>s conhecimentos e amadurecimento adquiri<strong>do</strong>s no curso de graduação, no curso<br />

pós-graduação e na práxis <strong>do</strong> cotidiano escolar. Tais concepções no entanto, de acor<strong>do</strong> com as<br />

falas <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>s, podem sofrer mu<strong>da</strong>nças e a<strong>da</strong>ptações, na medi<strong>da</strong> em que esses<br />

professores são envolvi<strong>do</strong>s na complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>cente e <strong>do</strong> contato com o “chão <strong>da</strong><br />

escola” de educação básica.<br />

Palavras-chave: Formação de professores, profissionais reflexivos, concepções de educação<br />

musical.<br />

1. Introdução e aspectos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Para compreender a problemática <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência em Arte na educação básica é<br />

necessário entender aspectos <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> professor, em especial, suas concepções de<br />

ensino de Arte, que podem resultar de seu percurso de formação. Colaboran<strong>do</strong> com a<br />

ampliação <strong>da</strong>s discussões sobre a formação <strong>do</strong> professor de musica, este artigo tem por<br />

objetivo discutir as relações entre concepções de educação musical e a formação <strong>do</strong>s<br />

professores de Arte, egressos <strong>do</strong> curso de música <strong>da</strong> UECE que atuam em escolas <strong>do</strong><br />

município de Fortaleza.<br />

Abor<strong>da</strong>r aspectos <strong>da</strong>s relações que permeiam a formação <strong>do</strong> professor de arte em<br />

Fortaleza é, antes de tu<strong>do</strong>, um assunto complexo que envolve situações, por vezes,<br />

conflituosas. Alguns <strong>do</strong>s questionamentos sobre a prática <strong>do</strong>cente aqui aponta<strong>do</strong>s podem<br />

1 Mestre em educação pela Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará.<br />

2 Prof. Dr. <strong>do</strong> Mestra<strong>do</strong> Acadêmico em Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Ceará.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

envolver deman<strong>da</strong>s relaciona<strong>da</strong>s com o currículo <strong>do</strong> curso de graduação e com a política de<br />

formação para o ensino de arte na escola.<br />

Durante séculos, o ensino <strong>da</strong> música era direciona<strong>do</strong> para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

virtuosismo musical. Os méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s eram repetições exaustivas de exercícios técnicos<br />

com instrumentos e voz, treinamento <strong>da</strong> escuta musical, visan<strong>do</strong> desenvolver o ouvi<strong>do</strong><br />

absoluto. As mu<strong>da</strong>nças na educação foram responsáveis pelo aban<strong>do</strong>no desse ensino<br />

mimético, refuta<strong>do</strong> especialmente por não levar em conta desenvolvimento psicomotor e<br />

cultural <strong>do</strong> aluno. Os estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> área de educação musical preocupam-se as discussões sobre<br />

méto<strong>do</strong> (Dalcroze, Kolály, Orff, Villa-Lobos), e prática (Koellreutter, Gainza, Swanwick,<br />

Schafer) de ensino, contu<strong>do</strong>, ficam de la<strong>do</strong> as discussões sobre a formação de professores e<br />

sua relação com as propostas desses teóricos <strong>da</strong> educação musical.<br />

Do ponto de vista <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia, trata-se de uma pesquisa com abor<strong>da</strong>gem<br />

qualitativa, com aporte etnográficos, cuja coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi realiza<strong>da</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />

instrumento, observação simples, registro em diário de campo e entrevista semi-estrutura<strong>da</strong>.<br />

Para a realização <strong>da</strong> pesquisa foram seleciona<strong>do</strong>s cinco professores, licencia<strong>do</strong>s em música<br />

que lecionam a disciplina de arte educação em escolas públicas de Fortaleza. Para preservar o<br />

anonimato <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>s utilizamos as notas musicais <strong>da</strong> escala pentatônica para<br />

identificá-los em nossa pesquisa.<br />

Visan<strong>do</strong> compreender as relações entre a formação acadêmica <strong>do</strong>s professores<br />

pesquisa<strong>do</strong>s e suas concepções de educação musical, o texto teve como embasamento teórico<br />

os estu<strong>do</strong>s sobre o profissional reflexivo, fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> em Donald Schön (2000), Sacristán<br />

(2005) e Pimenta (2005), bem como nos estu<strong>do</strong>s musicais de Souza (1996), Arroyo (1999) e<br />

Kraemer (2000), os quais abor<strong>da</strong>m concepções epistemológicas <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

Descreveremos, a seguir, as propostas teóricas sobre o professor como profissional<br />

reflexivo e algumas ponderações referente as concepções de educação musical na<br />

contemporanei<strong>da</strong>de, depois analisaremos, à luz desses fun<strong>da</strong>mentos, as relações entre a<br />

formação acadêmica em música e as concepções de educação musical <strong>do</strong>s professores<br />

investiga<strong>do</strong>s, em segui<strong>da</strong>, as conclusões a que chegamos.<br />

2. Os professores como profissionais reflexivos<br />

Discussões sobre a reflexivi<strong>da</strong>de na prática foram defendi<strong>da</strong>s por Donald Schön,<br />

que vem proporcionan<strong>do</strong> debates acadêmicos sobre a prática <strong>do</strong>cente. Nos estu<strong>do</strong>s, o autor<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

configura as questões <strong>da</strong> prática profissional como “crise de confiança no conhecimento<br />

profissional” (SCHÖN, 2000, p. 15), onde há problemas possíveis de serem resolvi<strong>do</strong>s<br />

mediante aplicação de teorias e técnicas desenvolvi<strong>da</strong>s na pesquisa. Para ele, esses problemas<br />

fazem parte <strong>do</strong> “plano eleva<strong>do</strong>”, aquele que resolve dificul<strong>da</strong>des com a prática. No entanto,<br />

ressalta que “na parte baixa, pantanosa, problemas caóticos e confusos desafiam as soluções<br />

técnica” (SCHÖN, 2000, p. 15), onde estão os problemas humanos.<br />

Nessa região “pantanosa” se encontra também questionamentos educacionais e, com<br />

eles, aqueles direciona<strong>do</strong>s a formação <strong>do</strong> professor, permea<strong>da</strong> por questões sociais, culturais,<br />

políticas e econômicas. No “pântano” a socie<strong>da</strong>de vem atribuin<strong>do</strong> e cobran<strong>do</strong> <strong>da</strong> escola<br />

soluções de problemas que estão além de suas responsabili<strong>da</strong>des, no entanto, o professor,<br />

profissional que está imbrica<strong>do</strong> nas relações cotidianas <strong>da</strong> escola, faz parte <strong>do</strong> cerne dessas<br />

questões conflituosas e está no eixo <strong>da</strong>s “crises” questiona<strong>da</strong>s por Schön (2000, p. 18)<br />

dizen<strong>do</strong> que “se as profissões especializa<strong>da</strong>s são acusa<strong>da</strong>s de ineficientes e inadequa<strong>da</strong>s, suas<br />

escolas são acusa<strong>da</strong>s de não conseguir os rudimentos <strong>da</strong> prática ética e efetiva”, o que ele<br />

denomina de “crise de confiança na educação”. Essa crise de confiança, em especial, na<br />

formação <strong>do</strong> professor, pode ser uma consequência de uma formação aligeira<strong>da</strong>, bem como a<br />

falta de informações culturais por parte <strong>do</strong>s professores, haja vista que muitos trabalham mais<br />

de <strong>do</strong>is turnos, dificultan<strong>do</strong> a busca por melhores conhecimentos culturais e,<br />

consequentemente, novas informações aos alunos podem ser negligencia<strong>da</strong>s, como cita<br />

Sacristán (2005, p.85): “Ninguém pode <strong>da</strong>r o que não tem. E se os professores não cultivam a<br />

cultura, não podem <strong>da</strong>r cultura; se eles não a possuem em profundi<strong>da</strong>de, não podem ensiná-la<br />

sequer nos níveis mais elementares”.<br />

Schön (2000) argumenta ain<strong>da</strong> que as universi<strong>da</strong>des modernas que se dedicam a<br />

pesquisa têm suas fun<strong>da</strong>mentações na racionali<strong>da</strong>de técnica, valorizan<strong>do</strong>, em primeiro lugar,<br />

os conhecimentos científicos, os quais devem ser aplica<strong>do</strong>s no ensino prático, desejan<strong>do</strong> que<br />

os alunos apren<strong>da</strong>m a aplicar os conhecimentos científicos apreendi<strong>do</strong>s na resolução de<br />

problemas <strong>da</strong> prática cotidiana. O mesmo defende o “conhecer-na-ação”, como o talento<br />

artístico que demonstra suas competências no julgamento <strong>da</strong> performance.<br />

Esse talento artístico que o autor enfatiza está relaciona<strong>do</strong> ao conhecimento tácito,<br />

um conhecimento na ação. Defende que a “reflexão-na-ação reflete naquilo que produz, “o<br />

repensar de algumas partes de nosso conhecer-na-ação leva a experimentos imediatos e a mais<br />

pensamentos que afetam o que fazemos (...)” (SCHÖN, 2000, p. 34). Tais reflexões estão<br />

configura<strong>da</strong>s também na educação.<br />

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Os estu<strong>do</strong>s de Donald Schön vêm contribuin<strong>do</strong> e fun<strong>da</strong>mentan<strong>do</strong> pesquisas<br />

direciona<strong>da</strong>s a prática <strong>do</strong>cente. Pimenta (2005) comenta que seriam necessárias mu<strong>da</strong>nças nos<br />

currículos para que a formação de professores possa se adequar as ideias de Schön, bem como<br />

no projeto político pe<strong>da</strong>gógico, na autonomia <strong>do</strong>s professores e <strong>da</strong>s escolas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, de acor<strong>do</strong> com Sacristán (1999) as relações técnicas pe<strong>da</strong>gógicas que<br />

envolvem a profissão <strong>do</strong> professor estão refleti<strong>da</strong>s em funções diversas, dentro <strong>da</strong> sala de<br />

aula, pois além de ensinar os conteú<strong>do</strong>s básicos <strong>do</strong> currículo escolar, o profissional <strong>da</strong><br />

educação deve ser um media<strong>do</strong>r de conflitos e questionamentos vivencia<strong>do</strong>s em sala. Para o<br />

autor “esta diversi<strong>da</strong>de provoca uma profusão de saberes potencialmente pertinentes, aspectos<br />

que ten<strong>do</strong> em conta a concepção de programas de formação. (...) Ca<strong>da</strong> tarefa <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente exige<br />

conhecimentos específicos, sen<strong>do</strong> diferente o grau de apoio e a influência <strong>da</strong> componente<br />

pessoal face à <strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mento científico” (SACRISTÁN, 1999, p. 77/78).<br />

Gómez (1995, p.110) comenta que “no modelo de formação de professores como<br />

artistas reflexivos, a prática adquire o papel central de to<strong>do</strong> o currículo, assumin<strong>do</strong>-se como<br />

lugar de aprendizagem e de construção <strong>do</strong> pensamento prático <strong>do</strong> professor”. Contrapon<strong>do</strong> o<br />

pensamento desse autor, com as deman<strong>da</strong>s práticas <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s na<br />

formação <strong>do</strong>cente, criam possibili<strong>da</strong>des de reflexões-na-ação, na medi<strong>da</strong> em que esse<br />

profissional percebe as relações que circulam seus fazeres em sala de aula, que seria o<br />

conhecer-na-ação.<br />

Mas como esse profissional, em especial, o professor de música, envolvi<strong>do</strong> na<br />

complexi<strong>da</strong>de de uma educação e cultura que segue um modelo globalizante, influencia<strong>do</strong><br />

pela economia, pode desenvolver habili<strong>da</strong>des para mediar as relações cotidianas em sala de<br />

aula? Entre as possíveis respostas se encontram a formação inicial e continua<strong>da</strong> <strong>do</strong> professor<br />

que, ancora<strong>da</strong> nos conteú<strong>do</strong>s curriculares, pode questionar a prática <strong>do</strong>cente e outros<br />

conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s fora <strong>da</strong> academia.<br />

Na busca de uma compreensão mais ampla <strong>do</strong> debate atual sobre o ensino de música<br />

na atuali<strong>da</strong>de, a análise <strong>da</strong>s concepções de educação musical nos remetem a uma<br />

contextualização <strong>do</strong> fenômeno.<br />

3. Concepções de educação musical na contemporanei<strong>da</strong>de<br />

No final <strong>do</strong> século XIX alguns educa<strong>do</strong>res musicais já apontavam méto<strong>do</strong>s de<br />

musicalização que poderiam ser desenvolvi<strong>do</strong>s em salas de aula visan<strong>do</strong> iniciação de crianças<br />

no ensino de música. Defendiam méto<strong>do</strong>s que as estimulassem para o desenvolvimento de<br />

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suas percepções rítmicas, melódicas e estéticas. De posse dessas informações, surgem em<br />

nossa mente as seguintes perguntas: o que desejamos com o ensino <strong>da</strong> música na escola? Que<br />

práticas musicais podem ser melhores desenvolvi<strong>da</strong>s para atender as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos<br />

na escola? A formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical atual atende as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> escola? Buscan<strong>do</strong><br />

respostas para essas perguntas faremos uma incursão sobre algumas corrente de “educação<br />

musical”, analisanso os estu<strong>do</strong>s de Kraemer, o qual vem levantan<strong>do</strong> questionamentos sobre o<br />

ensino <strong>da</strong> música, o qual aponta duas concepções <strong>do</strong> que viria a ser educar musicalmente:<br />

1) a prática músico educacional encontra-se em vários lugares, isto é, os<br />

espaços onde se aprende e ensina música são múltiplos e vão além <strong>da</strong>s<br />

instituições escolares, 2) o conhecimento pe<strong>da</strong>gógico musical é complexo e<br />

por isso sua compreensão depende de outras disciplinas, principalmente as<br />

ciências humanas (KRAEMER, 2000, p. 50).<br />

Na primeira concepção percebe-se que as relações musicais são construí<strong>da</strong>s<br />

culturalmente em determina<strong>da</strong>s circunstâncias, sejam elas intencionais ou não. Já na segun<strong>da</strong><br />

observa-se que ele destaca a complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, já que trata <strong>da</strong>s relações<br />

entre o indivíduo e a música, sen<strong>do</strong> necessário que o educa<strong>do</strong>r musical possua conhecimentos<br />

amplos para que possa melhorar os ensinamentos aos educan<strong>do</strong>s.<br />

Vê-se que as relações musicais na contemporanei<strong>da</strong>de estão ca<strong>da</strong> vez mais<br />

imbrica<strong>da</strong>s a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações sociais e culturais <strong>do</strong>s indivíduos, no caso, alunos e<br />

professores. Como atender as deman<strong>da</strong>s escolares com o multiculturalismo presente no<br />

contexto escolar, incorporan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de cultural e os desafios sociais conti<strong>do</strong>s na<br />

educação básica? Ain<strong>da</strong> na compreensão de KRAEMER (2000),<br />

A pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> música tem perguntas sensíveis sobre a percepção e sobre o<br />

conhecimento, sobre julgamentos estéticos, sobre o pensamento, sobre a<br />

maneira de agir e sentir, sobre o conhecimento de caráter linguístico e<br />

icônico <strong>da</strong> música, sobre a experiência corporal e estética, sobre a ética e<br />

cultura com vistas a abarcar os problemas de apropriação e transmissão <strong>da</strong><br />

música (KRAEMER, 2000, p. 53).<br />

Numa probabili<strong>da</strong>de de responder a pergunta acima, o educa<strong>do</strong>r musical pode<br />

vislumbrar as possibili<strong>da</strong>des e os limites para atender as deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> sala de aula,<br />

estruturan<strong>do</strong> um currículo que possa contemplar questões éticas e culturais <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s,<br />

instigan<strong>do</strong>-os a migrar culturalmente para um estágio superior os quais se encontravam.<br />

Souza (1996, p. 29) aponta elementos relaciona<strong>do</strong>s às práticas pe<strong>da</strong>gógicas em sala de aula<br />

como “ações pe<strong>da</strong>gógicas significativas” [grifos <strong>do</strong>s autores], com “objetivos, justificativas,<br />

experiências e condições de ensino-aprendizagem resultantes de uma reflexão profun<strong>da</strong>, num<br />

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diálogo permanente com a reali<strong>da</strong>de sócio-cultural”, proporcionan<strong>do</strong> o conhecer-na-ação e a<br />

reflexão-na-ação. As ações pe<strong>da</strong>gógicas <strong>do</strong> professor planeja<strong>da</strong>s e bem estrutura<strong>da</strong>s podem<br />

refletir em resulta<strong>do</strong>s satisfatórios no processo de aprendizagens <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, porém, <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

quantitativos de pesquisa como Sistema Permanente de Avaliação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará<br />

(SPAECE) e Índice de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação Básica (IDEB), por exemplo,<br />

comprovam os reflexos <strong>da</strong> educação brasileira negativa quan<strong>do</strong> se trata <strong>da</strong>s condições de<br />

ensino-aprendiza<strong>do</strong> em escolas cujas situações materiais e sociais, <strong>da</strong> escola e alunos,<br />

interferem no desempenho escolar, consequentemente, numa ascensão cultural.<br />

Nessa perspectiva, as concepções de educação musical, aponta<strong>da</strong>s por Kraemer,<br />

ain<strong>da</strong> são pertinentes a reflexões e in<strong>da</strong>gações de educa<strong>do</strong>res musicais que buscam definir o<br />

que seria “educação musical” nessa complexi<strong>da</strong>de. Assim, pesquisa apoia<strong>da</strong>s na<br />

fenomenologia e sociologia, buscan<strong>do</strong> nas relações cotidianas respostas científicas para<br />

afirmar algo decisivo. Del Ben (2002) fun<strong>da</strong>menta-se na fenomenologia social de Schutz,<br />

enfatizan<strong>do</strong> os aspectos subjetivos <strong>do</strong> comportamento <strong>da</strong>s pessoas. Arroyo (2000), apoia-se<br />

nos estu<strong>do</strong>s antropológicos de Clifford Geertz, visan<strong>do</strong> compreender teias de significa<strong>do</strong>s e<br />

interações <strong>da</strong>s ciências sociais, analisan<strong>do</strong> aspectos culturais na educação musical. Tais<br />

estu<strong>do</strong>s visam compreender as querelas que permeiam a complexi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música<br />

nas escolas, poden<strong>do</strong> serem refleti<strong>da</strong>s a seguir.<br />

4. Relações entre formação acadêmica em música e concepções de<br />

educação musical<br />

A relação com a música faz parte <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> homem, seja no entretenimento ou<br />

no desenvolvimento social e cultural <strong>do</strong>s indivíduos. Buscamos apresentar o perfil de<br />

formação de ca<strong>da</strong> sujeito pesquisa<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s. Foram investiga<strong>do</strong>s cinco<br />

professores, licencia<strong>do</strong>s em música, que ensinam arte educação nas escolas públicas<br />

municipais de Fortaleza, visan<strong>do</strong> conhecer as relações entre a formação acadêmicas em<br />

música destes e suas concepções de educação musical. Como acha<strong>do</strong> inicial <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

coleta<strong>do</strong>s sobre formação podemos dizer que, a maioria <strong>do</strong>s professores afirma ter busca<strong>do</strong> a<br />

formação em nível de graduação em música, com o objetivo de ampliar seus conhecimentos<br />

musicais. Embora alguns já trabalhassem com música, através de prática em ban<strong>da</strong>s, regência<br />

de coral, violão e outros instrumentos, também afirmam que foram as informações teóricas e<br />

práticas obti<strong>da</strong>s na graduação que possibilitaram o aprimoramento nos desenvolvimentos de<br />

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suas ativi<strong>da</strong>des musicais, como cita um deles, afirman<strong>do</strong> que “ao fazer o curso de música, eu<br />

pude, como professor, fazer um trabalho de arte educa<strong>do</strong>r.” (PROFESSOR SOL)<br />

No entanto, a academia também proporcionou conhecimentos teóricos para aqueles<br />

músicos autodi<strong>da</strong>tas, que aprenderam um ou mais instrumento musical estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> só ou em<br />

grupos, não participan<strong>do</strong> de escolas especializa<strong>da</strong>s em música, utilizan<strong>do</strong> recursos didáticos<br />

diversos como: folhetos com músicas cifra<strong>da</strong>s, ven<strong>do</strong> e ouvin<strong>do</strong> outros músicos tocan<strong>do</strong>.<br />

Nesse entremeio, muitas dúvi<strong>da</strong>s relaciona<strong>da</strong>s a teoria <strong>da</strong> música e harmonia permeiam entre<br />

aqueles que se dizem autodi<strong>da</strong>tas. Em uma <strong>da</strong>s entrevistas, um <strong>do</strong>s atores <strong>da</strong> pesquisa afirma<br />

que o curso de música passou a <strong>da</strong>r respostas para ações musicais que antes já utilizava.<br />

Eu já tinha to<strong>da</strong> uma prática musical, já tocava violão, guitarra e tal, mas<br />

no curso, em si, ele me deu respostas pra várias coisas. Por exemplo: eu<br />

percebia quan<strong>do</strong> eu estava tocan<strong>do</strong> um acorde de Sol com sétima e que<br />

resolvia num Dó. Eu sabia a to<strong>da</strong> hora: “é um Sol com sétima,<br />

provavelmente vem um Dó”, e lá no curso eu fui entender o porquê dessa<br />

resolução. (PROFESSOR MI)<br />

Fica claro, pelas falas <strong>do</strong>s professores entrevista<strong>do</strong>s que os conhecimentos<br />

acadêmicos contribuíram tanto na compreensão <strong>da</strong> lógica musical, presentes na teoria e na<br />

harmonia, como também na reflexão <strong>da</strong> prática. Essa “reflexão-na-ação”, aponta<strong>do</strong> por<br />

Donald Schön (2000), onde o professor, com os conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s no curso superior,<br />

vislumbra aplicar teorias e técnicas desenvolvi<strong>da</strong>s por pesquisa<strong>do</strong>res, o que Schön denomina<br />

de “plano eleva<strong>do</strong>”, estão presentes nas falas <strong>do</strong> professor Sol.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a formação acadêmica possibilitou novos conhecimentos<br />

relaciona<strong>do</strong>s a pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> música, técnicas e propostas educacionais que poderiam ser<br />

aplica<strong>da</strong>s em sala de aula, com o objetivo de ampliar o desenvolvimento musical, social e<br />

sensitivo <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, aponta<strong>do</strong>s por educa<strong>do</strong>res. Essas teorias são relevantes porque<br />

direcionam o ensino <strong>da</strong> música para concepções <strong>do</strong> que pode vir a ser o ensino <strong>da</strong> música na<br />

escola por esses educa<strong>do</strong>res musicais cita<strong>do</strong>s<br />

A contribuição principal foi mais na época que a gente depara com os<br />

pe<strong>da</strong>gogos, né? Talvez a partir de Edgar Willens, Dalcroze, Carl Orff, que,<br />

a partir <strong>da</strong>li, a gente percebe como seriam várias formas de ensinar a<br />

música (...). A lógica é que a gente veja a teoria desses pe<strong>da</strong>gogos musicais<br />

e procure aplicar na sala de aula, mas nem sempre é tão fácil. (...)<br />

(PROFESSOR DÓ)<br />

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Essa reflexão é pertinente, pois possibilita a “reflexão-na-ação”, bem como<br />

“conhecer-na-ação” o desenvolvimento prático <strong>da</strong>queles que dizem o “como pode ser”<br />

ensina<strong>do</strong> musicalmente, no entanto, como aponta Schön (2000, p. 15) “na parte baixa,<br />

pantanosa, problemas caóticos e confusos desafiam as soluções técnica”.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, os conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s no curso superior de música<br />

contribuíram positivamente no desenvolvimento musical e cultural <strong>do</strong>s atores, aprimoran<strong>do</strong><br />

um saber musical que trouxeram <strong>da</strong> formação anterior ao seu ingresso no curso de graduação.<br />

Essas informações, concebi<strong>da</strong>s no âmbito <strong>do</strong> curso de graduação, se articulam na formação de<br />

conceitos <strong>do</strong> que vem a ser educação musical para os atores, concepções diversas que foram<br />

refleti<strong>da</strong>s em suas práticas, nos fazeres em sala de aula.<br />

Das falas <strong>do</strong>s sujeitos entrevista<strong>do</strong>s foram seleciona<strong>do</strong>s os seguintes trechos,<br />

resumin<strong>do</strong> suas concepções <strong>do</strong> que denominamos na investigação de educação musical:<br />

• O desenvolvimento musical de alguma forma. De alguma forma você vai<br />

utilizar a música para tentar obter o desenvolvimento <strong>do</strong>s alunos através<br />

<strong>da</strong> música. (PROFESSOR DÓ)<br />

• Educação musical é você se utilizar <strong>do</strong>s artifícios que a música tem pra<br />

educar o a<strong>do</strong>lescente na escola. (PROFESSOR RÉ)<br />

• Bem, educação musical, <strong>do</strong> ponto de vista de ser trabalha<strong>do</strong> em sala de<br />

aula, eu enten<strong>do</strong> como uma disciplina que tem por objetivo educar o<br />

ouvi<strong>do</strong> as concepções musicais <strong>do</strong> aluno. (PROFESSOR MI)<br />

• Falan<strong>do</strong> de sala de aula, acho que seria a questão <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

mais elementares <strong>da</strong> área de música. Mas, é essa questão de ritmo,<br />

melodias. (PROFESSOR SOL)<br />

• Educação musical para mim é justamente levar os alunos a perceber a<br />

questão <strong>da</strong> música, a sensibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música, a importância <strong>da</strong> música<br />

no dia-a-dia. (PROFESSOR LÁ)<br />

Nota-se que as concepções pontua<strong>da</strong>s pelos atores <strong>da</strong> pesquisa podem estar<br />

impregna<strong>da</strong>s pelas concepções relaciona<strong>da</strong>s com suas formações musicais anteriores a<br />

graduação, poden<strong>do</strong>, também, estar permea<strong>da</strong>s por concepções articula<strong>da</strong>s com os estu<strong>do</strong>s<br />

durante o curso de graduação em música, ou ain<strong>da</strong> nas pós-graduações. Como to<strong>do</strong>s são<br />

licencia<strong>do</strong>s em música e especialistas em arte, tais percepções puderam ser melhores<br />

refleti<strong>da</strong>s com as leituras e discussões adquiri<strong>do</strong>s nas pós-graduações, questionan<strong>do</strong> sobre o<br />

ensino <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> música na escola, fazen<strong>do</strong> perceber a posição de arte educa<strong>do</strong>r e não,<br />

necessariamente, ser mais um professor de música. Sales e França (2009, p. 96) ressaltam que<br />

a “formação <strong>do</strong> professor não deve ser vista como estática, portanto é um conceito em<br />

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movimento, que articula forma-deforma-forma e que se renova a ca<strong>da</strong> deformação”, fato<br />

observa<strong>do</strong> nas falas <strong>do</strong>s professores investiga<strong>do</strong>s.<br />

5. Conclusões<br />

Com base nos acha<strong>do</strong>s <strong>da</strong> investigação sobre as relações entre formação <strong>do</strong>s<br />

professores de música e suas concepções de educação musical, podemos traças as seguintes<br />

conclusões:<br />

a) as concepções de educação musical <strong>do</strong>s professores investiga<strong>do</strong>s passam por<br />

mu<strong>da</strong>nças e a<strong>da</strong>ptações, na medi<strong>da</strong> em que estes saem <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de e passam a exercer a<br />

<strong>do</strong>cência, entran<strong>do</strong> em contato com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de arte;<br />

b) para os professores as relações com a prática <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência são complexas e, muitas<br />

vezes, colocam em xeque os méto<strong>do</strong>s de educação musical que apontam “como deveria ser” o<br />

ensino <strong>da</strong> música de uma maneira mais consciente, <strong>do</strong>s sons produzi<strong>do</strong>s musicalmente.<br />

Concluímos que o resulta<strong>do</strong> prático <strong>da</strong> investigação para o ensino de música é a<br />

ampliação <strong>do</strong> debate sobre os aspectos teóricos e práticos <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de educação musical,<br />

difundi<strong>do</strong>s pelos teóricos <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia musical e sua aproximação com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino<br />

de música em escolas <strong>da</strong> educação básica.<br />

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2 OA N O S<br />

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PIMENTA, Selma Garri<strong>do</strong> (Org), GHEDIN, Evandro (orgs.). Professor reflexivo no Brasil:<br />

gênese e crítica de um conceito. 3. ed. - São Paulo: Cortez, 2005.<br />

SACRISTÁN, José Gimeno. Tendências investigativas na formação de professores. In<br />

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2 OA N O S<br />

Formação e Fazer Musical no Coral <strong>da</strong> UFC: ações multiplica<strong>do</strong>ras nos<br />

anos 1980<br />

Eduar<strong>do</strong> Teixeira <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

eduteixeiraguitar@hotmail.com<br />

Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo traçar e analisar a trajetória <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará durante a déca<strong>da</strong> de 80, enfocan<strong>do</strong> o seu papel de espaço de<br />

formação musical e humana <strong>do</strong>s sujeitos que integraram o grupo como coralistas. Para a<br />

realização desta pesquisa elegemos o uso <strong>da</strong> história oral como meto<strong>do</strong>logia básica de<br />

trabalho. Por meio de entrevistas recolhemos depoimentos construí<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> memória de<br />

ex-coralistas, que revelaram não só histórias individuais, mas também <strong>do</strong> grupo, e <strong>da</strong> relação<br />

entre o grupo e a socie<strong>da</strong>de. Ao analisar os relatos recolhi<strong>do</strong>s junto aos ex-coralistas,<br />

observamos que o material obti<strong>do</strong> nas entrevistas proporcionam, além de uma reconstrução<br />

detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong> trajetória coral na UFC, algumas discussões como: a relação <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC<br />

com o Cenário Artístico Musical local, identifican<strong>do</strong> as contribuições <strong>do</strong> Coral no movimento<br />

coralista de Fortaleza; e o seu papel como um espaço de formação musical e humana <strong>do</strong>s<br />

sujeitos que foram coralistas no grupo.<br />

Palavras-chave: Coral, formação, memória.<br />

Introdução<br />

O percurso de pesquisa<br />

No início <strong>do</strong> ano de 2009 iniciei um trabalho como bolsista <strong>do</strong> Projeto Bolsa Arte –<br />

Música, viabiliza<strong>do</strong> pela Pró-Reitoria de Extensão <strong>da</strong> UFC, com uma pesquisa sobre os 50<br />

anos de História <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC. Sob orientações <strong>do</strong>s professores Elvis Matos e Erwin<br />

Schrader, realizei uma série de entrevistas junto aos sujeitos que fizeram ou fazem parte <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de coralista na UFC, no intuito de colher material para a celebração <strong>do</strong>s 50 anos <strong>do</strong><br />

Coral <strong>da</strong> UFC. Tal celebração previa a realização <strong>da</strong>s seguintes propostas: uma exposição, um<br />

<strong>do</strong>cumentário ou a elaboração de um livro.<br />

Após o processo de execução e transcrição <strong>da</strong>s entrevistas, passamos a fase de<br />

análise <strong>do</strong>s relatos recolhi<strong>do</strong>s junto aos integrantes e ex-integrantes <strong>do</strong> grupo. Nesse<br />

momento, constatamos que o material obti<strong>do</strong> pelas entrevistas proporcionaria mais que uma<br />

reconstrução rica em detalhes <strong>da</strong> trajetória <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC. O conteú<strong>do</strong> que obtivemos<br />

proporcionaria discussões relaciona<strong>da</strong>s com o papel <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC no cenário artístico de<br />

Fortaleza, mais especificamente no que se refere à difusão <strong>da</strong> Música Vocal, como também<br />

sobre o processo de formação musical e humana de seus integrantes.<br />

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2 OA N O S<br />

Coral <strong>da</strong> UFC: “coral-escola”?<br />

Sobre a constatação de que o Coral pode ter se constituí<strong>do</strong> como um espaço de<br />

musicalização e humanização, Moraes 1 revela:<br />

Muita gente que por lá passou dedicou-se à música ou enriqueceu sua vi<strong>da</strong><br />

com valores estéticos humanos vivencia<strong>do</strong>s, pela primeira vez, naquele<br />

coral. [...] Assim, posso dizer que o Coral <strong>da</strong> UFC, nestes aspectos, foi um<br />

coral-escola (2007, p.147).<br />

A partir <strong>do</strong> termo “coral-escola”, expresso por Morais, construímos a seguinte<br />

questão geral para o desenvolvimento de nossa proposta de pesquisa: O Coral <strong>da</strong> UFC pode<br />

ser considera<strong>do</strong> um “coral-escola”, no qual se constituiu um espaço de formação musical e<br />

humana <strong>do</strong>s sujeitos que fizeram parte <strong>do</strong> grupo? Ou seja, podemos considerar que: mais <strong>do</strong><br />

que um grupo musical representante de uma instituição, o Coral pode ser considera<strong>do</strong> um<br />

espaço não-formal de (in)formação musical e de enriquecimento com valores artísticos e<br />

éticos?<br />

Para investigar essa questão (problema), esta pesquisa buscará trabalhar a partir,<br />

essencialmente, <strong>do</strong>s relatos orais de ex-coralistas que vivenciaram o cotidiano de trabalho <strong>do</strong><br />

Coral <strong>da</strong> UFC durante a déca<strong>da</strong> de oitenta. Assim, utilizaremos parte <strong>da</strong>s entrevistas que já<br />

foram realiza<strong>da</strong>s durante o ano de 2009, e buscaremos reelaborar o roteiro de perguntas.<br />

Incluiremos questões que ain<strong>da</strong> não estavam postas naquele ano (2009), e iniciaremos novo<br />

processo de entrevistas, agora focan<strong>do</strong> apenas sujeitos que fizeram parte <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong>s anos<br />

oitenta.<br />

No contexto <strong>do</strong>s anos 1980, Matos identifica ter havi<strong>do</strong> uma efervescência <strong>do</strong><br />

movimento coral em Fortaleza, “no qual o Coral <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Ceará lideraria to<strong>do</strong> um<br />

movimento de multiplicação de corais, politização de coralistas e experimentação estética<br />

(MATOS, 2006, p.243).<br />

Ao iniciarmos a análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s que já coletamos, verificamos a existência de<br />

aspectos recorrentes nos relatos que nos aju<strong>da</strong>ram a delinear o percurso <strong>da</strong> pesquisa. Um<br />

desses relatos apresenta a seguinte exposição:<br />

[...] o Coral <strong>da</strong> UFC foi uma grande escola. Quan<strong>do</strong> eu entrei no Coral <strong>da</strong><br />

UFC eu nem fazia música ain<strong>da</strong>, eu fui fazer música depois, depois eu virei<br />

músico, virei regente. E estar no Coral <strong>da</strong> UFC naquela época era muito<br />

especial, era tu<strong>do</strong> muito especial, porque o coro, na minha leitura hoje, era<br />

1 Maria Izaíra Silvino Morais foi regente <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC durante a déca<strong>da</strong> de oitenta.<br />

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uma experiência muito importante naquela época, e hoje eu consigo ver, pelo<br />

que eu aprendi, que o coro tinha uma técnica muito boa, e to<strong>do</strong>s aprendiam<br />

um repertório maravilhoso, a própria técnica vocal com a <strong>do</strong>na Leilah, então<br />

era sempre uma experiência muito boa, e é difícil dizer o que foi mais<br />

especial. [...] o Coral <strong>da</strong> UFC foi referência nacional com relação ao<br />

movimento coral, e acredito que ele proliferou uma geração muito legal de<br />

musicistas, de novos regentes que hoje a gente tem aí trabalhan<strong>do</strong> na ci<strong>da</strong>de<br />

como músicos, que saíram <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC, eu acho que é uma contribuição<br />

muito grande. Tem aí Erwin, Elvis, eu, a Apareci<strong>da</strong>, a Lili, vários, tem um<br />

monte de gente trabalhan<strong>do</strong> com música, e está fazen<strong>do</strong> isso graças a essa<br />

intervenção <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC. Eu me descobri musicista, e me descobri<br />

regente dentro <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC. [...] graças ao Coral <strong>da</strong> UFC, eu hoje sou<br />

um regente de coro, trabalho na ci<strong>da</strong>de essencialmente com ativi<strong>da</strong>de coral,<br />

não faço outra coisa, trabalho somente com isso, e acredito que outras<br />

pessoas estão viven<strong>do</strong> com isso, que estão viven<strong>do</strong> de música graças ao<br />

Coral. 2<br />

A partir desse relato é possível observar que apesar de o Coral não se configurar<br />

como uma escola formal de ensino musical, nele constituiu-se um espaço de experimentação<br />

<strong>do</strong> fazer/aprender música, que contribuiu para muitos sujeitos descobrirem-se musicistas,<br />

regentes. Tal depoimento sugere que o Coral poderia constituir-se em um espaço de<br />

democratização, de acesso, <strong>do</strong> saber musical.<br />

A legislação brasileira sobre o Ensino de Música<br />

A história <strong>da</strong> Educação Musical brasileira <strong>do</strong> século XX (e também <strong>do</strong> século XXI)<br />

mostra que o conhecimento musical sempre encontrou dificul<strong>da</strong>de de atingir o plano <strong>da</strong><br />

educação formal nacional, <strong>da</strong> qual poderia ser propaga<strong>do</strong> um movimento de democratização<br />

de tal conhecimento.<br />

Revisitemos alguns pontos relativos ao histórico <strong>da</strong> legislação brasileira no que toca<br />

o ensino <strong>da</strong> arte musical.<br />

O prática <strong>do</strong> Canto Orfeônico, idealiza<strong>da</strong> e implementa<strong>da</strong> por Villa-Lobos desde a<br />

déca<strong>da</strong> de 1940, seria substituí<strong>da</strong> pela Educação Musical durante a déca<strong>da</strong> de 1960. Segun<strong>do</strong><br />

Fonterra<strong>da</strong>, a proposta apresenta<strong>da</strong> nessa substituição não diferia profun<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> anterior<br />

(2008, p.214). Mas no início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970, quan<strong>do</strong> foi implementa<strong>da</strong> a Educação<br />

Artística em substituição à Educação Musical nas escolas, ocorreu o enfraquecimento <strong>da</strong><br />

atuação <strong>da</strong> classe <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res musicais nas escolas públicas e priva<strong>da</strong>s. Para a autora, a<br />

partir desse último contexto o ensino formal de música nas escolas brasileiras iniciaria um<br />

longo perío<strong>do</strong> de regressão.<br />

2 Entrevista com o Professor Luis Carlos Prata Costa em 10/07/2009.<br />

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Em 1971 houve uma grande reviravolta no ensino <strong>da</strong> música nas escolas,<br />

com a promulgação <strong>da</strong> Lei n.5.692/71. Desde sua implantação, o ensino de<br />

música passou, e ain<strong>da</strong> vem passan<strong>do</strong>, por inúmeras vicissitudes, perden<strong>do</strong><br />

seu espaço na escola, pois a cita<strong>da</strong> lei extinguiu a disciplina educação<br />

musical <strong>do</strong> sistema educacional brasileiro, substituin<strong>do</strong>-a pela ativi<strong>da</strong>de de<br />

educação artística. Note-se a expressão utiliza<strong>da</strong>: a disciplina substituí<strong>da</strong><br />

pela ativi<strong>da</strong>de. Ao negar-lhe a condição de disciplina e colocá-la com outras<br />

áreas de expressão, o governo estava contribuin<strong>do</strong> para o enfraquecimento e<br />

quase total aniquilamento <strong>do</strong> ensino de música [...] (FONTERRADA, 2008,<br />

p.217-218).<br />

Somente com a promulgação <strong>da</strong> LDBEN n.9.394, em dezembro de 1996, que<br />

promoveu nova reforma <strong>da</strong> educação nacional, seria elabora<strong>da</strong> uma nova proposta para o<br />

ensino <strong>da</strong>s artes. Tal reforma estabelece o ensino de arte como componente curricular escolar<br />

obrigatório, 3 contrarian<strong>do</strong> a legislação anterior, que não reconhecia ao ensino <strong>da</strong> arte o status<br />

de disciplina escolar alinha<strong>da</strong> às outras disciplinas componentes <strong>do</strong> fluxo curricular. Mas<br />

ain<strong>da</strong> passariam alguns anos para que a legislação <strong>da</strong> educação nacional contemplasse a<br />

inclusão <strong>do</strong> ensino de música no currículo escolar.<br />

A música alcança o status de componente curricular escolar obrigatório através <strong>da</strong> lei<br />

11.769, promulga<strong>da</strong> em 18 de agosto de 2008. Essa lei altera a LDBEN n.9.394/96,<br />

acrescentan<strong>do</strong> ao seu artigo 26 um sexto parágrafo (§6º), que traz o seguinte texto: “A música<br />

deverá ser conteú<strong>do</strong> obrigatório, mas não exclusivo, <strong>do</strong> componente curricular de que trata o<br />

§2 o deste artigo”. 4 Entretanto, essa nova proposta de encarar o ensino de artes na escola<br />

formal, proposta pela atual legislação <strong>da</strong> educação nacional, ain<strong>da</strong> está encontran<strong>do</strong> muitas<br />

dificul<strong>da</strong>des para a sua implantação na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolas brasileiras públicas e priva<strong>da</strong>s.<br />

Espaços não-formais de (in)formação musical<br />

Após essa recapitulação de nossa história <strong>da</strong> educação musical nacional, constatamos<br />

o quanto o saber musical esteve e está distante de ser acessível a to<strong>do</strong>s. Observamos que o<br />

ensino formal de música apresenta-se historicamente precário nas instituições formais de<br />

ensino.<br />

Alguns poucos meios de contato com situações formais de ensino musical seriam:<br />

conservatórios, escolas de música, professores particulares; meios que não são acessíveis a<br />

qualquer pessoa. Assim, não podemos perder de vista a importância <strong>do</strong>s espaços não-formais<br />

3 O texto <strong>do</strong> parágrafo segun<strong>do</strong> (§2º), que faz parte <strong>do</strong> art.26 <strong>da</strong> LDBEN n.9394/96, diz o seguinte: “O ensino <strong>da</strong><br />

arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis <strong>da</strong> educação básica, de forma a promover<br />

o desenvolvimento cultural <strong>do</strong>s alunos”.<br />

4 Art. 1º <strong>da</strong> Lei nº.11.769, de 18 de agosto de 2008.<br />

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que contribuíram e ain<strong>da</strong> contribuem para a formação musical <strong>da</strong>queles que por questões de<br />

natureza econômica não podem ter acesso ao conhecimento em escolas formais de música.<br />

Tais espaços como Ban<strong>da</strong>s de Música e Grupos Corais se constituem como ver<strong>da</strong>deiros<br />

nichos de democratização <strong>do</strong> conhecimento musical. Almei<strong>da</strong> afirma: “As aprendizagens<br />

adquiri<strong>da</strong>s com a vivência na ban<strong>da</strong> de música podem se constituir de experiências<br />

importantes e ricas, bem como podem ser varia<strong>da</strong>s e, não necessariamente, se restringir aos<br />

aspectos musicais” (2010, p. 101). Nesse senti<strong>do</strong>, situamos o Coral <strong>da</strong> UFC como um desses<br />

diversos espaços não-formais que cumprem o papel de tornar acessível a formação e o fazer<br />

musical.<br />

Também buscaremos discutir a hipótese de que o Coral desmistificaria o fazer<br />

musical, no senti<strong>do</strong> de romper com a ideia tradicional de que o fazer musical seria um <strong>do</strong>m,<br />

um privilégio. De acor<strong>do</strong> Oscar Zander:<br />

O regente de coros enfrenta, geralmente, um grupo com menos base<br />

musical.[...] O regente de coros não só é uma pessoa que rege um grupo, mas<br />

principalmente alguém que deverá <strong>da</strong>r ou completar a formação musical de<br />

seus cantores e, com estes, mol<strong>da</strong>r a música (2003, p.147).<br />

A presente pesquisa propõe trazer os relatos de alguns sujeitos sobre seus processos<br />

de formação musical e humana dentro de um espaço não-formal de (in)formação musical, o<br />

Coral <strong>da</strong> UFC, de maneira a contribuir com reflexões e discussões sobre experiências<br />

relaciona<strong>da</strong>s ao fazer/aprender música no âmbito <strong>da</strong> Educação Musical realiza<strong>da</strong> em um<br />

grupo de canto coral.<br />

Quadro teórico<br />

Os Estu<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s por Rogério e Albuquerque 5 , bem como o trabalho de<br />

Matos 6 (2008), trazem importantes discussões e reflexões sobre experiências de formação<br />

musical que extrapolam o âmbito <strong>da</strong> Educação Musical formal, atingin<strong>do</strong> espaços extrainstitucionais<br />

de aprendizagem <strong>da</strong> música. Tais estu<strong>do</strong>s enfocam as experiências musicais que<br />

podem ser construí<strong>da</strong>s no cotidiano familiar, entre amigos, em coros, nos bares, nos festivais,<br />

na escuta <strong>do</strong> rádio e LPs etc, enfim, apontan<strong>do</strong> para percursos de aprendizagem híbri<strong>da</strong>s.<br />

5 ALBUQUERQUE, Luiz Botelho; ROGÉRIO, Pedro. Pessoal <strong>do</strong> Ceará: um currículo musical híbri<strong>do</strong>. In.<br />

MORAES, Silvia Elizabeth (Org.). Currículo e formação <strong>do</strong>cente: um diálogo interdisciplinar. Campinas:<br />

Merca<strong>do</strong> de Letras, 2008, p.185-201.<br />

6 MATOS, Elvis de Azeve<strong>do</strong>. Um Inventário Luminoso ou um Alumiário Inventa<strong>do</strong>: uma Trajetória Humana de<br />

Musical Formação. Fortaleza: Diz Editor(a)cão, 2008.<br />

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Esse conjunto de experiências musicais nos informa um percurso de<br />

aprendizagem. [...] essas vivências formam um currículo, no senti<strong>do</strong> de um<br />

percurso através <strong>do</strong> qual to<strong>do</strong>s passam acumulan<strong>do</strong> experiências,<br />

habili<strong>da</strong>des, conhecimentos, competências que serão necessárias para o<br />

desenvolvimento no universo musical mais amplo (ALBUQUERQUE;<br />

ROGÉRIO, 2008, p.197).<br />

Essa concepção de currículo pode ser encontra<strong>da</strong> nos Estu<strong>do</strong>s Culturais, nos quais<br />

diversas formas de conhecimento são, de certa forma, equipara<strong>da</strong>s. Assim, “não há uma<br />

separação rígi<strong>da</strong> entre o conhecimento tradicionalmente considera<strong>do</strong> como escolar e o<br />

conhecimento cotidiano <strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s no currículo” (SILVA, 2003, p.136).<br />

Como o problema central de investigação nesta pesquisa é a questão <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong><br />

UFC como um espaço não-formal de (in)formação musical <strong>do</strong>s sujeitos que o integraram,<br />

estaremos estabelecen<strong>do</strong> diálogos com as discussões e reflexões trabalha<strong>da</strong>s na área <strong>da</strong><br />

Educação Musical que enfocam a importância <strong>da</strong> circulação de saberes musicais em<br />

diferentes espaços de sociabili<strong>da</strong>de, neste caso a ativi<strong>da</strong>de coral.<br />

No âmbito dessas discussões o ensino de música na escola formal pode ser<br />

considera<strong>do</strong>, em muitos casos, distante <strong>do</strong> contexto musical <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em que a escola<br />

está inseri<strong>da</strong>. Assim, podemos considerar que o ensino institucionaliza<strong>do</strong> de música pode<br />

estar, muitas vezes, produzin<strong>do</strong> uma cultura musical isola<strong>da</strong> <strong>da</strong> música que é produzi<strong>da</strong> na<br />

comuni<strong>da</strong>de. Nesse senti<strong>do</strong>, recorremos ao conceito de subcultura <strong>da</strong> música escolar, que nos<br />

aju<strong>da</strong> a melhor entender essa situação:<br />

Não me surpreen<strong>do</strong> se a “música <strong>da</strong> escola” parece para muitos jovens uma<br />

subcultura, separa<strong>da</strong> <strong>da</strong> música que está fora dela no mun<strong>do</strong>, abstraí<strong>da</strong> pelas<br />

restrições <strong>da</strong> sala de aula e currículo e sujeita aos curiosos arranjos para<br />

avaliação. Temos de fazer melhor <strong>do</strong> que isso. Devemos considerar o<br />

envolvimento de músicos de várias espécies como parte de uma rede de<br />

educação musical [...] (SWANWICK, 2003, p.108).<br />

A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, o Coral passou a a<strong>do</strong>tar um novo repertório, que seria<br />

constituí<strong>do</strong> essencialmente por música brasileira. Segun<strong>do</strong> o ex-coralista, e hoje regenteassistente<br />

<strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC, Elvis Matos, naquele perío<strong>do</strong><br />

[...] a procura pelo Coral <strong>da</strong> UFC aumentava vertiginosamente desde 1981,<br />

quan<strong>do</strong> Izaíra Silvino assumiu a regência <strong>do</strong> grupo. O grande atrativo estava<br />

no repertório que a maestrina escolhia para trabalhar, totalmente constituí<strong>do</strong><br />

de música brasileira, e na forma como este era executa<strong>do</strong> (2008, p. 130).<br />

O Coral a partir de 1980 trazia aspectos estéticos renova<strong>do</strong>s: repertório, postura,<br />

roupas e atitude vocal; dessa forma, contribuía para que estereótipos existentes na visão de<br />

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pessoas que não sentiam quaisquer atrativos sobre o canto coral, pudessem ser rompi<strong>do</strong>s, e<br />

dessa maneira contribuiria para aproximar o canto coral, que tem como fim o trabalho musical<br />

coletivo, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

Outra perspectiva que será enfoca<strong>da</strong> na pesquisa é a relação <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC com o<br />

cenário artístico em Fortaleza, identifican<strong>do</strong> contribuições <strong>do</strong> Coral no processo de difusão <strong>do</strong><br />

movimento coralista na capital cearense. São exemplos dessas contribuições: o “Projeto de<br />

Multiplicação de Corais”, realiza<strong>do</strong> durante a déca<strong>da</strong> de 1980, onde os coralistas-bolsistas<br />

elaboravam e executavam projetos de criação de corais em escolas <strong>da</strong> periferia de Fortaleza; o<br />

“Projeto <strong>Nordeste</strong> – <strong>Encontro</strong>s Musicais <strong>da</strong> UFC” 7 , sob a coordenação <strong>da</strong> Professora Izaíra,<br />

trazen<strong>do</strong> para Fortaleza professores como Marcos Leal Leite e Samuel Kerr, alguns <strong>do</strong>s<br />

responsáveis por introduzir novas linguagens ao canto coral brasileiro.<br />

Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos <strong>da</strong> investigação<br />

[...] a história oral, não como uma disciplina, mas como um méto<strong>do</strong> de<br />

pesquisa que produz uma fonte especial, tem-se revela<strong>do</strong> um instrumento<br />

importante no senti<strong>do</strong> de possibilitar uma melhor compreensão <strong>da</strong><br />

construção <strong>da</strong>s estratégias de ação e <strong>da</strong>s representações de grupos ou<br />

indivíduos em uma <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (FERREIRA, 1994, p.14).<br />

Para a realização desta pesquisa elegemos o uso <strong>da</strong> história oral como meto<strong>do</strong>logia<br />

básica de trabalho, buscan<strong>do</strong> traçar a trajetória <strong>do</strong> Coral <strong>da</strong> UFC durante a déca<strong>da</strong> de oitenta a<br />

partir <strong>da</strong>s memórias de ex-coralistas <strong>do</strong> grupo.<br />

Iniciamos as entrevistas no início de 2009, contan<strong>do</strong> com o total de vinte e cinco<br />

nessa fase inicial <strong>do</strong> trabalho de pesquisa. 8 Assim, já contamos com uma razoável fonte de<br />

estu<strong>do</strong>s, mas que será complementa<strong>da</strong> com a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> processo de entrevistas, e de<br />

reelaboração <strong>da</strong>s questões, pois o an<strong>da</strong>mento atual <strong>da</strong> pesquisa apresenta um delineamento<br />

diverso <strong>da</strong> proposta de pesquisa trabalha<strong>da</strong> em 2009.<br />

Consideramos que por meio de entrevistas que recolhem depoimentos construí<strong>do</strong>s a<br />

partir <strong>da</strong> memória de ex-coralistas, obtemos não só histórias individuais, mas também <strong>do</strong><br />

grupo, e <strong>da</strong> relação entre o grupo e a socie<strong>da</strong>de. Apesar <strong>da</strong>s narrativas realiza<strong>da</strong>s com excoralistas<br />

serem individuais, isso não quer dizer que elas tragam narrativas individualiza<strong>da</strong>s,<br />

7 <strong>Nordeste</strong> – <strong>Encontro</strong>s Musicais <strong>da</strong> UFC: ocorreram de 1982 a 1986, financia<strong>do</strong>s pela FUNARTE; “aconteciam<br />

durante um mês (julho) e constavam de cursos de extensão, palestras, espetáculos didáticos, seminários de<br />

estu<strong>do</strong>s para temas específicos, grandes corais etc” (Izaíra, 2007, p.190).<br />

8 Durante o processo de entrevistas foram feitas gravações em áudio e transcrições <strong>do</strong>s depoimentos de (ex)<br />

coralistas, sen<strong>do</strong> tais depoimentos recolhi<strong>do</strong>s a partir de roteiros de questões, que serviram como guia durante as<br />

entrevistas.<br />

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elas trazem elementos <strong>da</strong> cultura de uma socie<strong>da</strong>de, trazem elementos <strong>da</strong> relação indivíduosocie<strong>da</strong>de.<br />

Para Stuart Hall e Hoggart as histórias individuais são traços <strong>da</strong> cultura de<br />

uma socie<strong>da</strong>de, portanto, são a mediação entre narrativas individuais – como<br />

histórias de vi<strong>da</strong>, autobiografias – e a socie<strong>da</strong>de. São pura expressão <strong>da</strong><br />

cultura, ou seja, <strong>do</strong>s diferentes senti<strong>do</strong>s e valores que formam o mo<strong>do</strong> de<br />

vi<strong>da</strong> de uma socie<strong>da</strong>de (apud COSTA; MAGALHÃES, 2001, p.78).<br />

Na utilização <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>da</strong> história oral como alicerce <strong>do</strong> desenvolvimento de<br />

pesquisa, são necessários cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s especiais em relação às entrevistas. Dentre esses cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

destacamos uma exigência essencial para estabelecer a ca<strong>da</strong> entrevista um ambiente<br />

adequa<strong>do</strong>: a <strong>do</strong> respeito mútuo entre entrevista<strong>do</strong>r e entrevista<strong>do</strong>, o que contribui para<br />

estabelecer uma intermediação sem tensões.<br />

Uma atitude superior <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>ra, não contribui de mo<strong>do</strong> algum para uma<br />

boa entrevista. O historia<strong>do</strong>r oral tem que ser um bom ouvinte, e o<br />

informante um auxiliar ativo. Como diz George Ewart Evans, “muito<br />

embora os velhos sobreviventes fossem livros ambulantes, eu não podia<br />

apenas folheá-los. Eles eram pessoas”. Também os historia<strong>do</strong>res são pessoas<br />

(THOMPSON, 2002, p.43).<br />

Consideramos que a fonte oral é especial para este trabalho porque proporciona<br />

informações sobre aspectos específicos <strong>do</strong> grupo, como suas relações de funcionamento<br />

interno e seu cotidiano de trabalho, tais como: ensaios, preparação vocal, leitura musical,<br />

repertório, apresentações. Muitos desses aspectos <strong>do</strong> Coral só podem ser identifica<strong>do</strong>s e<br />

aprofun<strong>da</strong><strong>do</strong>s por meio <strong>do</strong>s relatos <strong>do</strong>s sujeitos que experimentaram a ativi<strong>da</strong>de coralista na<br />

UFC. As “entrevistas sempre revelam eventos desconheci<strong>do</strong>s ou aspectos desconheci<strong>do</strong>s de<br />

eventos conheci<strong>do</strong>s: elas sempre lançam nova luz sobre áreas inexplora<strong>da</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária”<br />

(PORTELLI, 1997, P.27). Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s específicos recolhi<strong>do</strong>s nos depoimentos podem ser postos<br />

em diálogo ou confronto com informações mais gerais <strong>do</strong> Coral encontra<strong>da</strong>s em fontes<br />

impressas, como: programas, cartazes, jornais, fotografias etc, o que contribui para o<br />

enriquecimento <strong>da</strong> pesquisa.<br />

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Referências<br />

ALMEIDA, José Robson Maia de. Tocan<strong>do</strong> o repertório curricular: ban<strong>da</strong>s de música e<br />

formação musical. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>. Fortaleza: Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará, 2010.<br />

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional – 9.394/96. Disponível em:<br />

. Acesso em: 09/03/<strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008. Disponível em:<br />

. Acesso em: 09/03/<strong>2011</strong>.<br />

COSTA, Cléria Botelho <strong>da</strong> & MAGALHÃES, Nancy Alessio. Contar História, Fazer<br />

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X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Formação reflexiva de professores de música à distância<br />

Jor<strong>da</strong>na Pacheco Eid<br />

UnB – Universi<strong>da</strong>de de Brasília<br />

jor<strong>da</strong>naeid@gmail.com<br />

Maria Isabel Montan<strong>do</strong>n<br />

UnB – Universi<strong>da</strong>de de Brasília<br />

misabel@unb.br<br />

Resumo: Este texto relata minha experiência como tutora <strong>do</strong> curso de Licenciatura em<br />

Música a Distância <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília (UAB–UnB). Uma disciplina <strong>do</strong> curso foi<br />

analisa<strong>da</strong> em suas duas ofertas a partir <strong>da</strong>s idéias teóricas sobre a formação prático-reflexiva<br />

de professores (Dewey, 1959; Schon, 2000; Pimenta, 2006), ten<strong>do</strong> como ponto de parti<strong>da</strong> o<br />

questionamento sobre como desenvolver professores reflexivos em um curso à distância.<br />

Palavras-chave: Formação de professores de música; educação a distância<br />

A Universi<strong>da</strong>de Aberta <strong>do</strong> Brasil (UAB) foi cria<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Educação em<br />

2005 para oferecer ensino superior público de quali<strong>da</strong>de às diversas regiões <strong>do</strong> Brasil na<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de à distância. Dentro dessa política, o Departamento de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Brasília - UnB oferece o curso de Licenciatura em Música a distância (UAB) desde outubro<br />

de 2007. Em sua primeira oferta, o curso atendia apenas alunos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Acre que foram<br />

seleciona<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> prova específica, de caráter classificatório, e a prova <strong>do</strong> vestibular. Na<br />

segun<strong>da</strong> oferta <strong>do</strong> curso, em 2009, novos pólos em Goiás e Tocantins foram também<br />

atendi<strong>do</strong>s. Em <strong>2011</strong> uma nova oferta selecionou alunos de três pólos em Goiás, Mato Grosso<br />

e Minas Gerais.<br />

O currículo <strong>do</strong> curso, segun<strong>do</strong> Narita (2008), fun<strong>da</strong>menta-se em três grandes núcleos<br />

– Fun<strong>da</strong>mentação Pe<strong>da</strong>gógica, Formação Musical e Formação em Educação Musical – além<br />

<strong>do</strong> núcleo de Acesso, que visa à familiarização com o AVA (Ambiente Virtual de<br />

Aprendizagem) Moodle. De acor<strong>do</strong> com o Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso, um de seus<br />

objetivos gerais é “Aprender com e na prática, observan<strong>do</strong> e atuan<strong>do</strong>”. Consideran<strong>do</strong> que a<br />

aprendizagem a partir <strong>da</strong> prática implica em processos de análise e reflexão sobre e nas<br />

práticas <strong>do</strong>centes (Dewey, 1959; Schon, 2000; Zeichner, 1993; Pimenta, 2006), media<strong>do</strong>s pela<br />

relação dialógica entre professores e alunos, este tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s desafios na situação de<br />

ensino a distância.<br />

Em minha experiência como tutora à distância <strong>da</strong> disciplina Prática de Ensino e<br />

Aprendizagem Musical 2 (PEAM2) <strong>do</strong> Núcleo de Formação em Educação Musical <strong>do</strong> curso<br />

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de Licenciatura em Música à distância <strong>da</strong> UAB/UnB, tive a impressão de que os alunos não<br />

estavam refletin<strong>do</strong> sobre suas práticas, pois eu entendia que a reflexão acarretaria em<br />

transformações <strong>da</strong>s práticas, o quê, ao meu ver, não acontecia. Em um primeiro momento,<br />

atribuí a “pouca reflexão” <strong>do</strong>s alunos às ferramentas e meto<strong>do</strong>logias <strong>do</strong> curso, que<br />

enfatizavam a observação de vídeos com práticas realiza<strong>da</strong>s em outras disciplinas, discussão<br />

de textos e elaboração de planos de aula que não eram executa<strong>do</strong>s.<br />

Na segun<strong>da</strong> oferta <strong>da</strong> disciplina PEAM 2, as ativi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> semana foram<br />

reorganiza<strong>da</strong>s, de forma a colocar uma prática <strong>do</strong>cente no início <strong>do</strong> curso: na primeira semana<br />

os alunos deveriam fazer uma gravação <strong>da</strong>n<strong>do</strong> uma aula de música a alguém ou a um grupo e<br />

postar no fórum de discussão. Neste fórum, os alunos deveriam assistir às aulas <strong>do</strong>s colegas e<br />

fazer comentários. Nas semanas seguintes, os alunos deveriam ler textos, participar de fóruns<br />

de discussão sobre estes textos (que tinham como objetivo fun<strong>da</strong>mentar suas práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas), participar de webconferência na qual a professora supervisora e os tutores à<br />

distância <strong>da</strong>riam uma aula de música aos alunos de acor<strong>do</strong> com um modelo de educação<br />

musical proposto , assistir a vídeos de aulas grava<strong>da</strong>s pela professora supervisora em outros<br />

pólos (para conhecimento de outros modelos), fazer observações nas escolas <strong>da</strong> região,<br />

elaborar planejamentos de aula, participar de aulas presenciais pilotos nos pólos (<strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

alunos previamente seleciona<strong>do</strong>s com “bons” modelos de planejamentos), e por fim, realizar a<br />

aula planeja<strong>da</strong> na escola observa<strong>da</strong>, postar esta aula em vídeo no fórum e fazer uma reflexão<br />

sobre ela. Os fóruns de discussão foram constantes durante to<strong>do</strong> o curso como locais de<br />

discussão <strong>da</strong>s práticas.<br />

No entanto, mesmo na segun<strong>da</strong> reedição <strong>da</strong> disciplina, minha conclusão foi<br />

semelhante. Os alunos não mu<strong>da</strong>vam suas formas de <strong>da</strong>r aulas, mesmo que concor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com<br />

os textos e com nossas discussões.<br />

Nesse contexto, várias questões surgiram como forma de analisar a situação em que<br />

me encontrava. Como saber se um aluno “refletiu” sobre sua prática em um curso a distância?<br />

Até que ponto a reflexão, por si só, é garantia de mu<strong>da</strong>nças nas formas de <strong>da</strong>r aulas? Porque<br />

os alunos, apesar de concor<strong>da</strong>rem com os princípios e tendências educacionais discuti<strong>do</strong>s em<br />

textos, de seguirem roteiros de planos de aula, não modificavam a forma tradicional de <strong>da</strong>r<br />

aulas? Até que ponto o problema era a distância física ou as ferramentas usa<strong>da</strong>s pela<br />

plataforma? Qual o papel <strong>do</strong> tutor no desenvolvimento de licencian<strong>do</strong>s reflexivos?<br />

O debate sobre a formação de professores no Brasil e no mun<strong>do</strong> tem se desenvolvi<strong>do</strong><br />

a partir <strong>do</strong>s conceitos de escola, ensino e currículo <strong>da</strong> época em que se insere (Pérez Gomes,<br />

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1995). A partir <strong>da</strong> idéia <strong>do</strong> professor como “profissional responsável pela natureza e<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> cotidiano educativo na sala de aula e na escola” (Idem, p. 95) e <strong>da</strong> preocupação<br />

com os resulta<strong>do</strong>s escolares, a socie<strong>da</strong>de ocidental tem foca<strong>do</strong> suas atenções na formação<br />

destes professores.<br />

Durante o século XX, quan<strong>do</strong> o pensamento positivista reinava na socie<strong>da</strong>de, a<br />

formação de professores privilegiava uma concepção basea<strong>da</strong> na transposição de teorias e<br />

técnicas <strong>do</strong> conhecimento científico para a prática em sala de aula. Nesta concepção<br />

epistemológica her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong> positivismo, a prática <strong>do</strong> professor se baseava no que muitos<br />

chamam de Racionali<strong>da</strong>de Técnica, defini<strong>da</strong> por Schon (2000, p. 37) como “a competência<br />

profissional que consiste na aplicação de teorias e técnicas deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> pesquisa sistemática,<br />

preferencialmente científica, à solução de problemas instrumentais <strong>da</strong> prática”. Essa<br />

abor<strong>da</strong>gem passou a ser questiona<strong>da</strong> por não atender to<strong>do</strong>s os problemas que surgem no exato<br />

momento <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente, por separar tanto pessoalmente quanto institucionalmente a<br />

investigação <strong>da</strong> prática (Pérez Gómez, 1995), por não <strong>da</strong>r ao professor seu papel como<br />

construtor <strong>do</strong> conhecimento (Zeichner, 1993) e, principalmente, por considerar que ela não se<br />

encaixa na reali<strong>da</strong>de social, nos fenômenos práticos <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> incerteza, <strong>da</strong><br />

instabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> singulari<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de valores que fazem parte <strong>do</strong> cotidiano<br />

escolar.<br />

Como alternativa para a epistemologia <strong>da</strong> prática basea<strong>da</strong> na racionali<strong>da</strong>de técnica,<br />

tem si<strong>do</strong> proposto a formação <strong>do</strong> professor como prático reflexivo (Dewey, 1959; Schon,<br />

2000; Zeichner,1993; Pimenta, 2006; Nóvoa, 1992; Pérez Gómez, 1995; entre outros). Nela, a<br />

percepção de situações problemáticas é condição para a reflexão. Ou seja, é necessário que os<br />

forma<strong>do</strong>res de professores tenham estratégias para aju<strong>da</strong>r os alunos a problematizarem sua<br />

prática para que, assim, possam refletir sobre ela e conseqüentemente transformá-la.<br />

Para Dewey, o pensamento reflexivo se origina na fase <strong>da</strong> perplexi<strong>da</strong>de, na qual o<br />

sujeito se encontra em um esta<strong>do</strong> de dúvi<strong>da</strong>, de dificul<strong>da</strong>de mental. Para que encontre a<br />

solução para sua dúvi<strong>da</strong>, sua questão, a fase seguinte se dedica à pesquisa, na qual o autor<br />

explica que por meio de um pensamento regula<strong>do</strong> por um objetivo, o sujeito utiliza o<br />

pensamento reflexivo para investigar e encontrar a resposta ao problema.<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> idéia de experiência e reflexão na experiência de Dewey, Schon (2000)<br />

coloca que o ensino prático-reflexivo também parte de um problema. No entanto,<br />

diferentemente de Dewey, o sujeito não se depara com um problema em sua prática. Para o<br />

autor, o profissional define, escolhe o problema através de um processo ontológico. A<br />

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abor<strong>da</strong>gem de situações problemáticas deve ser feita de forma diferente dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

contexto individual.<br />

Como aspecto central <strong>da</strong> prática profissional, Schon questiona a aplicação <strong>da</strong> teoria e<br />

<strong>da</strong> técnica na resolução de problemas encontra<strong>do</strong>s na prática – racionali<strong>da</strong>de técnica. O autor<br />

coloca que existem ‘zonas indetermina<strong>da</strong>s <strong>da</strong> prática’, ou seja, situações inespera<strong>da</strong>s nas quais<br />

não é possível transpor a teoria para a prática. Ele coloca como alternativa a valorização <strong>do</strong><br />

‘talento artístico’ profissional, ou seja, a competência através <strong>da</strong> qual os profissionais<br />

realmente dão conta <strong>da</strong>s zonas indetermina<strong>da</strong>s <strong>da</strong> prática. Schon sugere assim, uma<br />

epistemologia <strong>da</strong> prática alternativa no qual o talento artístico profissional é entendi<strong>do</strong> em<br />

termos <strong>da</strong> reflexão-na-ação. Em sua visão, o professor deve refletir sobre a ação após ela<br />

acontecer ou, o que ele chama de refletir-na-ação, onde ain<strong>da</strong> se pode interferir na situação em<br />

desenvolvimento. Segun<strong>do</strong> Pimenta (2006), o processo de reflexão para Schon se inicia e se<br />

fin<strong>da</strong> na ação: primeiramente, o conhecimento na ação, ou seja, o conhecimento tácito já<br />

interioriza<strong>do</strong>, o hábito, está presente. Quan<strong>do</strong> há, no entanto, uma situação diferente, nova na<br />

ação, o sujeito passa pelo processo de reflexão-na-ação para resolver as novas deman<strong>da</strong>s no<br />

momento em que surgem. Com isso, o profissional adquire um repertório de ações, chama<strong>do</strong><br />

de conhecimento prático. Este conhecimento, porém, necessita de nova reflexão, pois os<br />

novos problemas superam o repertório cria<strong>do</strong> “exigin<strong>do</strong> uma busca, uma análise, uma<br />

contextualização, possíveis explicações, uma compreensão de suas origens, uma<br />

problematização, uma apropriação de teorias sobre o problema, uma investigação, enfim”<br />

(Pimenta, 2006, p.20). O sujeito, então, faz uma reflexão sobre a reflexão-na-ação para, a<br />

partir <strong>da</strong>í, transformar sua ação.<br />

Pude observar que a reforma que a disciplina PEAM 2 em que fui tutora sofreu <strong>da</strong><br />

primeira para a segun<strong>da</strong> oferta teve vários pontos positivos que poderiam contribuir para uma<br />

maior reflexão <strong>do</strong>s alunos sobre suas práticas. Observan<strong>do</strong> as leituras, notei que de acor<strong>do</strong><br />

com minha percepção, esta segun<strong>da</strong> proposta <strong>da</strong> disciplina está coerente com o debate sobre a<br />

formação prático-reflexiva de professores, pois o propósito é partir as discussões <strong>da</strong> própria<br />

atuação <strong>do</strong>s alunos em sala de aula juntamente com a discussão <strong>da</strong>s idéias teóricas propostas<br />

nos textos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s, além de incentivar os alunos a buscarem conhecer com antecedência o<br />

contexto onde realizarão a aula com o intuito de considerarem suas peculiari<strong>da</strong>des. Um ponto<br />

importante que me marcou nas leituras foi perceber que para os alunos refletirem sobre sua<br />

prática há a necessi<strong>da</strong>de de encontrarem problemas nela. Eis aí onde permanece a questão:<br />

Como fazer para os alunos perceberem os problemas de suas práticas? O fato <strong>do</strong>s alunos não<br />

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verem problemas em suas práticas na disciplina PEAM 2 também na segun<strong>da</strong> vez em que foi<br />

ofereci<strong>da</strong> contribuiu para que eu continuasse com a impressão de que eles não refletem. Não<br />

mais por eles não mu<strong>da</strong>rem suas práticas, pois este seria um passo seguinte, mas<br />

simplesmente por não a problematizarem. Minha atenção não era mais apenas sobre<br />

mu<strong>da</strong>nças, mas se os alunos percebiam que havia problemas nas suas aulas.<br />

A dificul<strong>da</strong>de de professores de música perceberem problemas em suas práticas foi<br />

tema de pesquisa de Scarambone (2009), que concluiu que “a reali<strong>da</strong>de é muitas vezes<br />

encara<strong>da</strong> como uma situação sem problemas, não fazen<strong>do</strong> parte questionamentos sobre suas<br />

práticas” (p.84). Segun<strong>do</strong> a autora, quan<strong>do</strong> os professores viam problemas, mas não sabiam<br />

como resolvê-los, por não saberem sua natureza ou por não terem recursos teóricometo<strong>do</strong>lógicos<br />

para os auxiliarem nesta busca de soluções, a tendência era colocar a<br />

responsabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s problemas a fatores externos à sua ação (p. 86).<br />

Como o debate atual sobre a formação de professores está focan<strong>do</strong> a reflexão sobre a<br />

prática como um aspecto importante, a formação de professores por meio <strong>da</strong> educação à<br />

distância também tem se atenta<strong>do</strong> para esta formação reflexiva. Pesquisa<strong>do</strong>res como Mebius<br />

(2005), Meneguetti (2004), Souza (2003), Filho (2007) e Carvalho (2009) investigaram a<br />

formação de professores na EAD e, mais especificamente, a formação reflexiva destes<br />

professores.<br />

Meneguetti (2004), em sua pesquisa de mestra<strong>do</strong>, investigou um curso de pe<strong>da</strong>gogia<br />

à distância buscan<strong>do</strong> compreender a construção <strong>da</strong> formação de professores<br />

pesquisa<strong>do</strong>res/reflexivos por meio <strong>da</strong> perspectiva de tutores <strong>do</strong> curso. A autora conclui que,<br />

apesar <strong>do</strong> curso objetivar a formação <strong>do</strong> professor que pesquisa e reflete sobre suas práticas,<br />

concretamente os tutores têm representações contraditórias sobre este processo. Segun<strong>do</strong> a<br />

autora, os tutores incorporaram o discurso <strong>do</strong> curso sobre o alcance <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> professor<br />

pesquisa<strong>do</strong>r/reflexivo, mas apontam muitos limites para a concretização desta formação,<br />

desde a precarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s condições de trabalho e estu<strong>do</strong> até, por exemplo, o processo<br />

avaliativo. A autora enfatiza que “parece haver uma dispari<strong>da</strong>de entre o que se pretende com a<br />

formação, o discurso e as condições estruturais e pe<strong>da</strong>gógicas ofereci<strong>da</strong>s pela instituição para<br />

que ela ocorra”. (MENEGUETTI, 2004, p. 124).<br />

A conclusão de Meneguetti me fez pensar até que ponto minha participação era<br />

responsável pela dificul<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos problematizarem suas práticas. Apesar <strong>da</strong> idéia de<br />

formação prático-reflexiva de professores não trazer em sua concepção uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

como os forma<strong>do</strong>res de professores devem atuar, como tutora, minha estratégia para motivar a<br />

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reflexão <strong>do</strong>s alunos, ou seja, para ajudá-los a enxergarem problemas em suas práticas, foi<br />

através de questionamentos, prática essa vivencia<strong>da</strong> no meu curso de licenciatura e também<br />

sugeri<strong>da</strong> pela supervisora <strong>do</strong> curso. A ca<strong>da</strong> fórum onde os alunos deveriam postar vídeos e<br />

fazer comentários sobre suas aulas e sobre as aulas <strong>do</strong>s colegas e também quan<strong>do</strong> deviam<br />

elaborar planejamentos de aula, eu os questionava sobre quais eram os objetivos <strong>da</strong> aula, se<br />

foram atingi<strong>do</strong>s, como eles sabiam se os alunos realmente haviam aprendi<strong>do</strong>, qual foi o papel<br />

<strong>do</strong> professor e <strong>do</strong>s alunos na aula, como eles li<strong>da</strong>ram com os imprevistos quan<strong>do</strong> aconteceram<br />

e etc., além de perguntar pontos específicos <strong>da</strong> aula de ca<strong>da</strong> um. Em geral, pude perceber que<br />

mesmo com a intenção <strong>da</strong> discussão de provocar a reflexão <strong>do</strong>s alunos sobre suas aulas e<br />

também sobre as aulas <strong>do</strong>s colegas, na maioria <strong>da</strong>s vezes os alunos não encontram problemas<br />

em suas práticas, ou se encontram, não sabem dizer onde, por que e nem pensam em outras<br />

possibili<strong>da</strong>des como solução para estes problemas, o que me remete às conclusões de<br />

Scarambone (2009) sobre as dificul<strong>da</strong>des de perceber e li<strong>da</strong>r com problemas <strong>da</strong>s práticas<br />

<strong>do</strong>centes. Os comentários <strong>do</strong>s alunos são, em sua maioria, elogios às aulas <strong>do</strong>s colegas e<br />

muitas vezes fun<strong>da</strong>mentam o comentário com textos de forma equivoca<strong>da</strong>. Não é possível<br />

saber se os alunos não se sentem motiva<strong>do</strong>s ou dispostos a fazerem uma crítica produtiva à<br />

aula <strong>do</strong> colega por não verem problemas realmente, por não se sentirem a vontade para<br />

registrar suas críticas nos fóruns de discussão ou por não quererem ser critica<strong>do</strong>s também. As<br />

questões coloca<strong>da</strong>s sobre as aulas são muitas vezes ignora<strong>da</strong>s, poucas vezes respondi<strong>da</strong>s sem<br />

reflexão de fato e apenas um pequeno grupo se dispõe a apontar problemas e discutir<br />

possibili<strong>da</strong>des de transformação.<br />

As peculiari<strong>da</strong>des de um curso a distância são várias. Primeiro, o formato triparti<strong>do</strong>.<br />

Nos cursos à distância <strong>da</strong> UAB/UnB existem três professores que trabalham em uma mesma<br />

disciplina. Há o professor autor que elabora a disciplina antes dela entrar no ar, o professor<br />

supervisor que faz uma formação prévia com os tutores e os orienta durante a disciplina e os<br />

professores tutores que mediam a disciplina com os alunos através <strong>da</strong> plataforma de interação.<br />

Isso tem várias implicações e diferenças em relação ao ensino presencial.<br />

Primeiro, o fato de termos que seguir o roteiro <strong>da</strong> disciplina, organiza<strong>do</strong> por semanas<br />

ou módulos. Na minha percepção, processos de “construção” podem ficar comprometi<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> temos que passar de um tópico ou um tema para outro sem que o tema anterior tenha<br />

si<strong>do</strong> esgota<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong>, a dificul<strong>da</strong>de de traçarmos caminhos não planeja<strong>do</strong>s pelo autor, mas<br />

que podem surgir durante as discussões e conduções <strong>da</strong>s temáticas. Terceiro, a<br />

responsabili<strong>da</strong>de e competência <strong>do</strong> tutor na condução de discussões que possam motivar ou<br />

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desenvolver o pensamento reflexivo. Quarto, a dificul<strong>da</strong>de de discussões em tempo real, em<br />

que o professor tutor possa aproveitar a resposta <strong>do</strong> aluno como técnica de problematização.<br />

Algumas questões continuam coloca<strong>da</strong>s sobre a formação de professores reflexivos<br />

por meio <strong>da</strong> EAD a partir <strong>da</strong> análise sobre a estrutura <strong>da</strong>s disciplinas de práticas ofereci<strong>da</strong>s<br />

pelo curso à distância e sobre minha atuação como tutora: Que ferramentas podem ser<br />

considera<strong>da</strong>s mais eficazes para este fim? Quais são os limites e possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s<br />

ferramentas Moodle, especialmente a <strong>do</strong>s Fóruns de Interação? Qual é o papel <strong>do</strong>s tutores na<br />

promoção de alunos reflexivos?<br />

Essa experiência gerou a problemática de minha proposta de pesquisa para o<br />

mestra<strong>do</strong> em Educação Musical, que tem como objetivo compreender como os alunos<br />

percebem a relação entre suas práticas <strong>do</strong>centes e sua formação em licenciatura em música<br />

por meio <strong>da</strong> EAD, em que momentos e como o curso os aju<strong>do</strong>u a se conscientizarem e<br />

transformarem suas práticas e que estratégias <strong>do</strong> curso ou <strong>do</strong>s supervisores e tutores são<br />

reconheci<strong>da</strong>s como responsáveis pelas mu<strong>da</strong>nças em suas práticas. Espera-se, com essa<br />

pesquisa, conhecer a eficácia <strong>da</strong>s ferramentas e ações <strong>do</strong>s atores envolvi<strong>do</strong>s na formulação<br />

<strong>do</strong>s cursos EAD para a formação de professores a partir <strong>da</strong> experiência e perspectiva <strong>do</strong>s<br />

próprios alunos.<br />

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(Doutora<strong>do</strong> em Educação). São Paulo: UNICAMP, 2005.<br />

MENEGUETI, Adriana Fátima. Professor pesquisa<strong>do</strong>r/reflexivo: O olhar de tutores <strong>da</strong><br />

educação a distância. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação). Florianópolis: Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal de Santa Catarina, 2004.<br />

NARITA, Flávia Motoyama. Licenciatura em Música na Universi<strong>da</strong>de Aberta <strong>do</strong> Brasil<br />

(UAB): educação sem distância? Em: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 17, 2008, São Paulo. <strong>Anais</strong>... São Paulo:<br />

<strong>ABEM</strong>, 2008.<br />

_______ . Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música. Programa<br />

Universi<strong>da</strong>de Aberta <strong>do</strong> Brasil. Brasília: Universi<strong>da</strong>de de Brasília, 2009.<br />

NÓVOA, António (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.<br />

PÉREZ GOMEZ, Angel. O pensamento prático <strong>do</strong> professor: a formação <strong>do</strong> professor como<br />

profissional reflexivo. In: NÓVOA, António (Coord.). Os professores e a sua formação.<br />

Lisboa: Dom Quixote, 1992. p.93-114.<br />

PIMENTA, Selma Garri<strong>do</strong>. Professor reflexivo: construin<strong>do</strong> uma crítica. In: PIMENTA,<br />

Selma Garri<strong>do</strong>; GHEDIN, Evandro (orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de<br />

um conceito- 4.ed.- São Paulo: Cortez, 2006. p.17-52.<br />

SCARAMBONE, Denise Cristina Fernandes. O pensamento reflexivo de professores de piano<br />

sobre sua atuação <strong>do</strong>cente: Dois estu<strong>do</strong>s de caso. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música).<br />

Brasília: Universi<strong>da</strong>de de Brasília, 2009.<br />

SCHON, Donald A. Educan<strong>do</strong> o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e<br />

aprendizagem; tradução de Roberto Catal<strong>do</strong> Costa – Porto Alegre: Artmed, 2000.<br />

SOUZA, Cássia Virgínia Coelho. Programa de Educação Musical à Distância para<br />

professores <strong>da</strong>s séries iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental: um estu<strong>do</strong> de caso. Tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>.<br />

Programa Pós-Graduação em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia. Salva<strong>do</strong>r: UFBA,<br />

2003.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

357


2 OA N O S<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> Música Musicalmente. Tradução: Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Editora Moderna, 2003.<br />

ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: Idéias e práticas. Lisboa:<br />

Educa<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Formas de inserção de pessoas cadeirantes no processo de ensinoaprendizagem<br />

<strong>do</strong> canto lírico<br />

Bárbara Simões de Lima Camargo<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

kaoro2003@hotmail.com<br />

Elke Beatriz Riedel<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

ebriedel@musica.ufrn.br<br />

Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo oferecer para pessoas cadeirantes o acesso<br />

personaliza<strong>do</strong> ao ensino <strong>do</strong> canto lírico, ampliar a aplicabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> técnica vocal, <strong>da</strong>r<br />

oportuni<strong>da</strong>de aos alunos de graduação <strong>da</strong> Escola de Música <strong>da</strong> UFRN a expandir horizontes<br />

profissionais aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> sua vivência com a diversi<strong>da</strong>de e criar oportuni<strong>da</strong>des de<br />

profissionalização para pessoas cadeirantes no canto lírico. Esse projeto tem a duração de um<br />

ano, dividi<strong>do</strong> em quatro partes: pesquisa de referências bibliográficas, criação <strong>do</strong> curso de<br />

extensão de canto para o publico em questão, realização <strong>da</strong>s aulas de canto em forma de<br />

laboratório, com recital final <strong>do</strong>s alunos, relatório <strong>do</strong> projeto visan<strong>do</strong> participação em<br />

congressos e a realização de artigos sobre os resulta<strong>do</strong>s. Através <strong>da</strong> pesquisa bibliográfica e<br />

<strong>do</strong>s relatos <strong>da</strong> nossa orienta<strong>do</strong>ra que é uma cantora lírica cadeirante, estamos neste momento<br />

em vias de pesquisar e organizar o material que irá ser trabalha<strong>do</strong> em sala de aula. Já houve<br />

discussões com relação aos conceitos de postura, tipos de paralisias físicas, exercícios de<br />

respiração, definição de repertório e como abor<strong>da</strong>r os assuntos: emissão, ressonância e<br />

articulação <strong>da</strong> voz com cadeirantes. Acreditamos que essa pesquisa será gera<strong>do</strong>ra de outras na<br />

área, abrin<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de de novos cursos e novas ações.<br />

Palavras-chave: ensino-aprendizagem, canto lírico, educação musical inclusiva.<br />

Colaboração para a desmistificação <strong>do</strong> porta<strong>do</strong>r de deficiência física<br />

motora como uma pessoa à parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

Um discurso muito comum dentro <strong>da</strong> área musical é: “A música é<br />

importante para formação de to<strong>do</strong>s”. Mas será que na prática to<strong>da</strong>s as<br />

pessoas têm as mesmas oportuni<strong>da</strong>des em relação ao ensino musical? Será<br />

que uma pessoa com deficiência, seja ela qual for, está inseri<strong>da</strong> nesse<br />

“to<strong>do</strong>s” que tanto dizem? Será que os professores de música estão aptos a<br />

li<strong>da</strong>r com realmente to<strong>do</strong>s? E o que dizer <strong>da</strong>s escolas de cursos de música,<br />

será que estes estão dispostos e prepara<strong>do</strong>s para de fato possibilitar que to<strong>do</strong>s<br />

usufruam de um ensino musical de quali<strong>da</strong>de? (LOURO, 2006, p. 25).<br />

Louro (2006) em seu livro Educação Musical e Deficiência, no primeiro capítulo,<br />

intitula<strong>do</strong> “A MÚSICA É PARA TODOS”: SERÁ MESMO???”, nos faz refletir sobre o<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

ensino <strong>da</strong> educação musical especial. Quan<strong>do</strong> nos referimos à educação musical especial, não<br />

estamos falan<strong>do</strong> de musicoterapia. “Musicoterapia é um processo sistemático que requer<br />

planejamento e monitoramento no qual o que importa é relação <strong>da</strong> música com o paciente e<br />

não <strong>da</strong> musica em si mesma.” (LOURO, 2006, p.64).<br />

Quanto ao direcionamento pe<strong>da</strong>gógico musical, apesar de surtir, muitas<br />

vezes, resulta<strong>do</strong>s tão benéficos quanto o de uma terapia que utiliza música,<br />

não pode ser considera<strong>do</strong> um processo terapêutico, uma vez que os objetivos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos musicais diferem, em principio, <strong>do</strong>s reabilitacionais. (LOURO,<br />

2006, p. 66)<br />

A partir <strong>do</strong> dia 24 de outubro de 1989 foi regulamenta<strong>da</strong> a lei nº 7.853 que dispõe<br />

sobre a política nacional para a integração <strong>da</strong> pessoa porta<strong>do</strong>ra de deficiência física na<br />

socie<strong>da</strong>de. Essa lei decreta que os órgãos e enti<strong>da</strong>des públicas federais têm como<br />

responsabili<strong>da</strong>de promover a inserção, no sistema educacional, <strong>da</strong>s escolas ou instituições<br />

especializa<strong>da</strong>s públicas e priva<strong>da</strong>s. A educação especial deve contar com uma equipe<br />

especializa<strong>da</strong> e a<strong>do</strong>tar orientações pe<strong>da</strong>gógicas individualiza<strong>da</strong>s. Embora o decreto acima<br />

cita<strong>do</strong> esteja em vigor, atualmente a socie<strong>da</strong>de vive um momento de transição para que se<br />

possa, de forma plena, atender a inclusão de deficientes físicos. O preconceito ain<strong>da</strong> é<br />

encontra<strong>do</strong> de forma direta ou indiretamente na comuni<strong>da</strong>de.<br />

O nosso projeto parte <strong>do</strong> ponto de vista de que não é a deficiência física que definirá<br />

o sucesso ou o fracasso de um indivíduo na sua profissão, mas sim o seu talento e o seu<br />

empenho em tal ativi<strong>da</strong>de; isto vale também para o (a) cantor (a) lírico (a). Porém existem<br />

ain<strong>da</strong> poucos cantores líricos cadeirantes com carreiras de sucesso; estes profissionais sofrem<br />

preconceito por parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, seus trabalhos são pouco divulga<strong>do</strong>s e consequentemente<br />

pouco valoriza<strong>do</strong>s. Atualmente existe a inclusão de pessoas cadeirantes no canto lírico, mas,<br />

no entanto, eles são submeti<strong>do</strong>s ao ensino-aprendizagem através de técnicas tradicionais<br />

usa<strong>da</strong>s para o ensino de pessoas que não possuem nenhuma deficiência. Portanto, este projeto<br />

tem como objetivo <strong>da</strong>r oportuni<strong>da</strong>de aos alunos de graduação <strong>da</strong> Escola de Música <strong>da</strong> UFRN<br />

de expandir horizontes profissionais aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> sua vivência com a diversi<strong>da</strong>de,<br />

proporcionar uma meto<strong>do</strong>logia de ensino de canto sistematiza<strong>do</strong> e volta<strong>do</strong> especificamente<br />

para atender a alunos porta<strong>do</strong>res de deficiência física motora, proporcionan<strong>do</strong> assim<br />

futuramente, oportuni<strong>da</strong>des de profissionalização para esse publico em questão.<br />

Usaremos como meto<strong>do</strong>logia para o projeto a pesquisa de referências bibliográficas<br />

para que a partir <strong>da</strong>í possamos preparar materiais, planos de aula e assuntos que serão usa<strong>do</strong>s<br />

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2 OA N O S<br />

em sala, criação <strong>do</strong> curso de extensão de canto na Escola de Música <strong>da</strong> UFRN para o publico<br />

em questão, realização <strong>da</strong>s aulas de canto em forma de laboratório, com recital final <strong>do</strong>s<br />

alunos, relatório <strong>do</strong> projeto visan<strong>do</strong> participação em congressos e a realização de artigos sobre<br />

os resulta<strong>do</strong>s. Esperamos que a partir deste projeto, possamos contribuir para que a Escola de<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte possa incluir de forma específica e<br />

sistematiza<strong>da</strong> alunos cadeirantes nos cursos regulares de extensão, básico, técnico e<br />

graduação na habilitação em canto, crian<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>í um maior leque de profissionais na<br />

área.<br />

Pesquisa de referências bibliográficas, discussões e resulta<strong>do</strong>s<br />

Foi cria<strong>do</strong> um grupo de pesquisa composto por uma professora orienta<strong>do</strong>ra, <strong>do</strong>is<br />

bolsistas e uma voluntária. Os encontros ocorrem quinzenalmente para discussão acerca de<br />

textos seleciona<strong>do</strong>s pela professora orienta<strong>do</strong>ra. O trabalho vem avançan<strong>do</strong> através discussões<br />

e pesquisas com relação aos conceitos de postura, tipos de paralisias físicas, exercícios de<br />

respiração, definição de repertório e como abor<strong>da</strong>r os assuntos: emissão, ressonância e<br />

articulação <strong>da</strong> voz para cadeirantes.<br />

Os conceitos de postura e de respiração foram os primeiros temas a serem abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

em nossa pesquisa devi<strong>do</strong> ao seu grau de importância para a prática <strong>do</strong> canto e por serem os<br />

<strong>do</strong>is conceitos que mais afetam a performance <strong>do</strong> cantor que canta senta<strong>do</strong>, devi<strong>do</strong> à diferença<br />

que existe na postura senta<strong>da</strong> e na em pé, principalmente em termos de alongamento e<br />

tonici<strong>da</strong>de muscular. Ao cantar é imprescindível a consciência <strong>da</strong> postura correta e a<br />

promoção <strong>da</strong> prontidão <strong>do</strong> corpo para a postura mais eficiente possível. Sem dúvi<strong>da</strong> a postura<br />

mais adequa<strong>da</strong> para o canto é a em pé, mas não é a única que pode ser utiliza<strong>da</strong>, pois, existem<br />

outras posturas como comprova este exercício de imaginação ativa.<br />

Quan<strong>do</strong> estiver senta<strong>do</strong>, de pé ou caminhan<strong>do</strong>, mantenha a coluna reta,<br />

toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para não vergá-la para trás. A cabeça também deve<br />

permanecer ereta, como se estivesse alinha<strong>da</strong> com um fio de prumo<br />

imaginário que começa no cóccix e se estende até um ponto central no seu<br />

topo (ZI, 1997, p.44).<br />

A partir dessa linha de pensamento, defendemos que é perfeitamente possível obter<br />

um bom desempenho no canto na posição senta<strong>da</strong>, ou seja, uma pessoa cadeirante que não<br />

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2 OA N O S<br />

tenha a musculatura ab<strong>do</strong>minal e costal seriamente afeta<strong>da</strong>, tem a capaci<strong>da</strong>de de desenvolver<br />

uma postura para o canto.<br />

A respiração adequa<strong>da</strong> está diretamente liga<strong>da</strong> à postura, pois a primeira depende <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> para ser efetiva. Quan<strong>do</strong> respiramos passamos por <strong>do</strong>is processos: a inspiração<br />

(entra<strong>da</strong> de ar nos pulmões) e a expiração (saí<strong>da</strong> de ar <strong>do</strong>s pulmões). Existem três tipos de<br />

respirações que devem ser utiliza<strong>da</strong>s no canto, a ab<strong>do</strong>minal, intercostal e torácica.<br />

A autora Nancy Zi é cantora e professora de canto, devi<strong>do</strong> a sua experiência em treinar<br />

e proteger a voz ela desenvolveu uma técnica de respiração chama<strong>da</strong> de Chi yi. Chi significa<br />

respiração, ar atmosfera. Yi significa arte. Daí o nome chi yi – arte de respirar (Zi, 1997, p.16).<br />

Essa técnica parte de alguns princípios <strong>do</strong> chi kung, arte chinesa de controle de respiração. O<br />

chi yi defende que to<strong>do</strong> ser humano possui um núcleo. “O núcleo se localiza no centro <strong>do</strong><br />

corpo medi<strong>do</strong> <strong>da</strong> cabeça aos pés, ou seja, de cinco a <strong>do</strong>ze centímetros abaixo <strong>do</strong> umbigo. O<br />

corpo inteiro é coordena<strong>do</strong> por esse centro de equilíbrio físico, mental e emocional” (ZI,<br />

1997, p.22). Ao cantarmos devemos manter uma condição de prontidão e alerta, essa<br />

condição é chama<strong>da</strong> de apoio. “O sentimento de força que é essencial para a manutenção<br />

deste esta<strong>do</strong> de alerta permeia to<strong>do</strong> o corpo, mas está centra<strong>da</strong> na região pélvica e no baixo<br />

ventre, em japonês chama<strong>do</strong> de Hara, em chinês de tanden” (HEMSLEY, 1998, p.30-31).<br />

Ao focalizar a respiração no núcleo <strong>do</strong> nosso corpo podemos ser beneficia<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong><br />

Nancy Zi, com a capaci<strong>da</strong>de de canalizar seletivamente essa energia interior, reagir com<br />

sabe<strong>do</strong>ria a necessi<strong>da</strong>des físicas e mentais, construin<strong>do</strong> a confiança e a intensificação <strong>da</strong><br />

presença pessoal, proporcionan<strong>do</strong> vigor, entusiasmo e coordenação motora, cútis luminosa,<br />

hálito refrescante e aprimoramento <strong>da</strong> fala e <strong>do</strong> canto. “A arte de respirar é benéfica para a<br />

saúde, sejam quais forem as ativi<strong>da</strong>des e a profissão <strong>da</strong> pessoa” (ZI, 1997, p.16).<br />

No livro A Arte de Respirar a autora disponibiliza exercícios para o aprimoramento <strong>do</strong><br />

chi yi. Colocamos em prática quatro exercícios com uma turma de cantores não deficientes.<br />

Os exercícios pratica<strong>do</strong>s foram os 1A, 1B, 1C e 1D <strong>do</strong> primeiro capítulo <strong>do</strong> livro.<br />

No exercício 1A é pedi<strong>do</strong> que a pessoa se sente em uma cadeira com a coluna reta e os<br />

pés bem firmes no chão separa<strong>do</strong>s por uma distância de quinze centímetros, em segui<strong>da</strong><br />

colocan<strong>do</strong> as palmas <strong>da</strong>s mãos com os de<strong>do</strong>s levemente separa<strong>do</strong>s sobre a parte inferior <strong>do</strong><br />

abdômen. Ao expirar colocan<strong>do</strong> a ponta <strong>da</strong> língua atrás <strong>do</strong>s dentes <strong>da</strong> frente <strong>da</strong> arca<strong>da</strong> inferior<br />

e ao inspirar colocan<strong>do</strong> atrás <strong>do</strong>s dentes <strong>da</strong> frente <strong>da</strong> arca<strong>da</strong> inferior. Durante a expiração<br />

contan<strong>do</strong> lentamente de um a seis e na inspiração de um a sete. No exercício 1B a autora pede<br />

que a pessoa que irá executa-lo se sente em uma cadeira com a coluna reta e com os pés<br />

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2 OA N O S<br />

separa<strong>do</strong>s por um distancia de 25 centímetros, com as palmas <strong>da</strong>s mãos vira<strong>da</strong>s para a parte<br />

interna <strong>da</strong>s coxas gradualmente inclinan<strong>do</strong> e ao mesmo tempo deslizan<strong>do</strong> as mãos em direção<br />

aos tornozelos, nessa posição expiran<strong>do</strong> e contan<strong>do</strong> de um a quatro, seguran<strong>do</strong> a respiração,<br />

inspiran<strong>do</strong> de um a cinco, seguran<strong>do</strong> a respiração e deslizan<strong>do</strong> lentamente as mãos para a<br />

posição inicial. Para executar o exercício 1C é preciso ficar de joelhos no chão com a planta<br />

<strong>do</strong>s pés para cima, as mãos nos quadris e os joelhos devem estar separa<strong>do</strong>s ao máximo,<br />

toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para não inclinar o corpo. Expiran<strong>do</strong> e contan<strong>do</strong> de um a seis, inspiran<strong>do</strong> de<br />

um a sete e ao mesmo tempo deslizan<strong>do</strong> as mãos lentamente na lateral <strong>do</strong> corpo até esticar os<br />

braços, expiran<strong>do</strong> de um as seis e ao mesmo tempo lentamente voltan<strong>do</strong> a posição original.<br />

No exercício 1D pede-se que a pessoa fique em pé com os pés separa<strong>do</strong>s por um distancia de<br />

45 centímetros e com a cabeça ereta entrelaçan<strong>do</strong> as mãos atrás <strong>da</strong>s costas com as palmas<br />

vira<strong>da</strong>s para baixo. Na expiração contan<strong>do</strong> de um a seis e ao mesmo tempo inclinan<strong>do</strong><br />

devagar para frente. Em segui<strong>da</strong> na inspiração contan<strong>do</strong> de um a sete e ao mesmo tempo<br />

voltan<strong>do</strong> a posição original devagar.<br />

O objetivo <strong>da</strong> prática desses exercícios foi o de saber se os alunos sentiram a ativação<br />

<strong>do</strong> núcleo. Apesar <strong>do</strong>s exercícios terem si<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong>s com alunos não deficientes, os <strong>do</strong>is<br />

primeiros podem ser usa<strong>do</strong>s para o ensino de pessoas cadeirantes. De acor<strong>do</strong> com a autora<br />

Nancy Zi, pessoas que usam cadeiras de ro<strong>da</strong>s também podem praticar os exercícios de A Arte<br />

de Respirar.<br />

Se alguém tiver dificul<strong>da</strong>de para se mover, poderá fazer senta<strong>do</strong> ou deita<strong>do</strong><br />

os exercícios que normalmente seriam feitos em pé. Também é possível<br />

a<strong>da</strong>ptar movimentos como os de alongar e curvar para adequá-los a<br />

deficiências físicas (ZI, 1997, p.183).<br />

A partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s acima expostos, é possível concluir que o processo de ensinoaprendizagem<br />

<strong>do</strong> canto lírico pode ser a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> e direciona<strong>do</strong> para as reais necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

porta<strong>do</strong>r de deficiência física usuário de cadeira de ro<strong>da</strong>s, oferecen<strong>do</strong> a ele a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

pleno desempenho artístico e realização de seu sonho de profissionalização como cantor<br />

lírico, e colabora<strong>do</strong>r na construção de uma reali<strong>da</strong>de mais humana e mais justa tanto para si<br />

como para to<strong>do</strong>s.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

RIEDEL, Elke. Cantan<strong>do</strong> com a diferença: formas de inserção de pessoas com deficiência no<br />

processo de ensino-aprendizagem <strong>do</strong> canto lírico. ENCONTRO REGIONAL NORDESTE<br />

DA <strong>ABEM</strong>, 9, 2010, Natal. <strong>Anais</strong>... Natal, 2010, s.p.<br />

ZI, Nancy. A arte de respirar: Seis lições simples para aprimorar o desempenho, a saúde e o<br />

bem-estar. São Paulo: Pensamento, 1997. 238 p.<br />

MARSOLA, Mônica. Canto: Uma expressão: Princípios básicos de técnica vocal. São Paulo:<br />

Irmãos Vitale, 2001.<br />

DEMORE, Givas (Org.). Apostila de canto. Santa Maria: Scribd, 2009/2010. 88 p. Disponível<br />

em: .<br />

Acesso em: 07 dez. 2010.<br />

INCLUSÃO social na legislação. Disponível em:<br />

. Acesso em: 17 abr. <strong>2011</strong>.<br />

LOURO, Viviane Dos Santos; ALONSO, Luis Garcia; ANDRADE, Alex Ferreira de.<br />

Educação musical e deficiência: propostas pe<strong>da</strong>gógicas. São José Dos Campos, SP: <strong>do</strong> Autor,<br />

2006.<br />

HEMSLEY, Thomas. Singing & Imagination. Oxford: Oxford University Press, 1998.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Grupo de Música Percussiva Acadêmicos <strong>da</strong> Casa Caia<strong>da</strong> - UFC: a<br />

universi<strong>da</strong>de põe o “bloco” no carnaval de rua<br />

Catherine Furta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Santos<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

batherine_84@yahoo.com.br<br />

Erwin Schrader<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

tioerwin@gmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho trata de um relato de experiência <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de formação<br />

musical e artística realiza<strong>da</strong>s pelo Grupo de Música Percussiva Acadêmicos <strong>da</strong> Casa Caia<strong>da</strong><br />

ao estrear desfilan<strong>do</strong> na aveni<strong>da</strong> principal no perío<strong>do</strong> carnavalesco em Fortaleza. O grupo é<br />

um projeto de extensão <strong>do</strong> Núcleo de Música Percussiva <strong>do</strong> curso de Música - Licenciatura <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará- UFC. O objetivo é analisar como aconteceram os processos<br />

de ensino e aprendizagem durante a organização, os ensaios e o desfile no carnaval de <strong>2011</strong>.<br />

O interesse de apresentar o grupo de música percussiva <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de na aveni<strong>da</strong> é além de<br />

uma construção artístico-musical, uma iniciativa de aproximar áreas de formação cultural<br />

como o carnaval de rua e a universi<strong>da</strong>de, poden<strong>do</strong> ser estes palcos formativos e musicais.<br />

Durante o trabalho, foram realiza<strong>do</strong>s registros em áudio e vídeo, diários de campo, entrevistas<br />

e fun<strong>da</strong>mentações com o aporte teórico de autores próximos <strong>da</strong> temática, como Matos (2008),<br />

Penna (2008), Guerreiro (2000) e Tanaka (2009). Assim, o relato contribui para os trabalhos<br />

em educação musical, refletin<strong>do</strong> sobre práticas e diálogos musicais que aproximam a cultura<br />

popular brasileira e a academia.<br />

Palavras-chave: Música Percussiva, Cultura Popular, Formação.<br />

Acadêmicos <strong>da</strong> Casa Caia<strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em 2008 como um projeto de extensão, sen<strong>do</strong> uma iniciativa <strong>da</strong> disciplina<br />

de percussão, leciona<strong>da</strong> pelo professor Ms. Erwin Schrader 1 , o projeto “Acadêmicos <strong>da</strong> Casa<br />

Caia<strong>da</strong>” faz parte <strong>do</strong> Núcleo de Música Percussiva 2 <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará e<br />

trabalha com jovens estu<strong>da</strong>ntes de escola pública, estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> curso de música e<br />

comuni<strong>da</strong>de em geral, com a coordenação e regência de Catherine Furta<strong>do</strong> 3 . A proposta <strong>do</strong><br />

grupo é desenvolver ativi<strong>da</strong>des de formação musical e produção artística em um contexto<br />

coletivo de música percussiva. Os encontros acontecem no espaço <strong>da</strong> Casa de José de<br />

1 Erwin Schrader: Mestre e <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> em Educação Brasileira pela Facul<strong>da</strong>de de Educação <strong>da</strong> UFC. Professor<br />

<strong>do</strong> curso de música e coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Núcleo de Percussão <strong>da</strong> UFC.<br />

2 Núcleo de Música Percussiva: projeto de extensão <strong>do</strong> curso de música que reúne os grupos: Acadêmicos <strong>da</strong><br />

Casa Caia<strong>da</strong>, Brincantes Cordão <strong>do</strong> Caroá e Laboratório de Construção de Instrumentos.<br />

3 Catherine Furta<strong>do</strong>: gradua<strong>da</strong> em música pela UFC. Professora, percussionista e regente <strong>do</strong> grupo Casa Caia<strong>da</strong>.<br />

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2 OA N O S<br />

Alencar 4 , to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s de 09 às 12h, com a disponibili<strong>da</strong>de de 160 instrumentos<br />

percussivos diversos para os alunos.<br />

O nome Acadêmicos <strong>da</strong> Casa Caia<strong>da</strong> foi idealiza<strong>do</strong> pelo ritmista Descartes<br />

Gadelha 5 , fazen<strong>do</strong> uma referência a casa onde morou o escritor José de Alencar, atualmente<br />

integra<strong>da</strong> ao patrimônio <strong>da</strong> UFC. No início <strong>do</strong> projeto, o Mestre Descartes Gadelha realizou<br />

várias oficinas de percussão para o grupo, empenhan<strong>do</strong>-se em compor o primeiro sambaenre<strong>do</strong><br />

“Casinha Caia<strong>da</strong>”, composto em parceria com a cantora Inês Mapurunga 6 .<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> grupo são organiza<strong>da</strong>s sobre três propostas artísticas, desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

de quatro em quatro meses ao longo <strong>do</strong> ano:<br />

• 1° quadrimestre (novembro – fevereiro) – Preparativos para o desfile<br />

carnavalesco de rua;<br />

• 2° quadrimestre (março – junho) – Preparativos, ensaios e apresentações de um<br />

espetáculo percussivo;<br />

• 3° quadrimestre (julho – outubro) – Apresentações e Preparação <strong>da</strong> Semana de<br />

Música Percussiva – SEMUP. 7<br />

O enfoque deste trabalho situa-se sobre as ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> primeiro quadrimestre de<br />

<strong>2011</strong> – O Desfile Carnavalesco – ten<strong>do</strong> como objetivo analisar os processos de ensino e<br />

aprendizagem, que permearam as ativi<strong>da</strong>des de organização para o evento carnavalesco.<br />

A Construção de um Carnaval<br />

A idealização de uma construção artística carnavalesca, com propósitos educacionais<br />

e formativos, surge a partir de uma reflexão sobre como um grupo percussivo, fun<strong>da</strong><strong>do</strong> em<br />

ambiente acadêmico, poderia participar de um evento <strong>da</strong> cultura popular. Nesse senti<strong>do</strong> foi<br />

proposto um desafio aos integrantes <strong>do</strong> projeto, que nunca desfilaram em um cortejo e não<br />

conheciam o carnaval de rua para desfilarem pela primeira vez.<br />

As ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> grupo Acadêmicos <strong>da</strong> Casa Caia<strong>da</strong> reiniciaram em janeiro de <strong>2011</strong>.<br />

O grupo resolveu desfilar com o samba-enre<strong>do</strong> “Casinha Caia<strong>da</strong>”. No instrumental percussivo<br />

disponível no acervo <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, existiam 04 sur<strong>do</strong>s graves. Em relação à quanti<strong>da</strong>de<br />

4 Casa de José de Alencar: Instituição cultural manti<strong>da</strong> pela Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará e tomba<strong>da</strong> pelo<br />

IPHAN em 1968.<br />

5 Descartes Gadelha: personali<strong>da</strong>de de grande importância a cultura carnavalesca <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Fortaleza.<br />

Fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r de várias escolas de samba e grupos de maracatus. É cearense, artista plástico e ritmista.<br />

6 Inês Mapurunga: geógrafa, cantora e compositora.<br />

7 SEMUP: Semana de Música Percussiva <strong>da</strong> UFC.<br />

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desses instrumentos, organizou-se a configuração <strong>da</strong> bateria seguin<strong>do</strong> uma proporção sugeri<strong>da</strong><br />

pelo Mestre Descartes Gadelha: 01 sur<strong>do</strong> para 01 caixa, 01 chocalho, 02 agogôs, 02<br />

tamborins, 01 repique, 01 cuíca e 01 sur<strong>do</strong> de corte, totalizan<strong>do</strong>, ao final, um grupo<br />

percussivo com 36 ritmistas.<br />

Os ensaios aconteceram to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s, mas também foi necessário realizar <strong>do</strong>is<br />

encontros, em dias de <strong>do</strong>mingo, para fazer um cortejo pelas ruas <strong>do</strong> bairro com o auxílio de<br />

um carro de som. Questões de organização também foram fun<strong>da</strong>mentais nessa etapa <strong>do</strong><br />

trabalho, direcionan<strong>do</strong> funções aos participantes <strong>do</strong> grupo, como afinar os instrumentos,<br />

preparar o figurino, organizar questões de logística, além de cui<strong>da</strong>rem <strong>do</strong>s contatos com os<br />

organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> evento carnavalesco e com o transporte para o grupo. Tais tarefas<br />

interferiram sobremaneira na sonori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> grupo, visto que essas ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

possibilitaram um convívio maior entre os integrantes, permitin<strong>do</strong> uma integração e maior<br />

tolerância para resolução de questões de organização e musical.<br />

Ao final de ca<strong>da</strong> ensaio, as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s eram conversa<strong>da</strong>s em grupo,<br />

colhen<strong>do</strong>-se os depoimentos sobre as experiências vivi<strong>da</strong>s. Nos preparativos <strong>do</strong> figurino, por<br />

exemplo, foi preciso reunir um maior número de pessoas para auxiliar na decoração <strong>da</strong>s<br />

camisas que seriam usa<strong>da</strong>s pelos ritmistas, realizan<strong>do</strong> encontros em horários extras para<br />

auxiliar as ativi<strong>da</strong>des. Uma <strong>da</strong>s integrantes <strong>do</strong> grupo relatou: “Chamei até minha mãe para<br />

aju<strong>da</strong>r a terminar as camisas.”<br />

Os Ensaios - A universi<strong>da</strong>de vira barracão<br />

Os ensaios iniciavam com uma seqüência de ativi<strong>da</strong>des de alongamento. A proposta<br />

era preparar o corpo para a longa repetição <strong>do</strong>s movimentos na execução rítmica nos<br />

instrumentos, e para a caminha<strong>da</strong> ao longo <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> durante o desfile, tentan<strong>do</strong>, ao máximo,<br />

evitar o desconforto e a queixa de <strong>do</strong>res. Nesse senti<strong>do</strong>, foi cria<strong>da</strong> uma dinâmica com os<br />

instrumentos maiores, como sur<strong>do</strong>s, que eram coloca<strong>do</strong>s nas costas <strong>do</strong>s ritmistas e com a<br />

aju<strong>da</strong> de outro colega, faziam com que os instrumentos deslizassem de forma lenta e<br />

equilibra<strong>da</strong>. Desta forma, buscava-se uma experiência de compreender o instrumento como<br />

extensão <strong>do</strong> corpo, exigin<strong>do</strong> uma maior concentração, equilíbrio e cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com o outro<br />

colega ritmista. Após o preparo corporal, foram realiza<strong>do</strong>s, oralmente, exercícios com células<br />

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rítmicas e convenções 8 <strong>do</strong> samba-enre<strong>do</strong>. Através <strong>do</strong> uso de pequenas palavras e frases, a<br />

orali<strong>da</strong>de servia de guia para o entendimento <strong>do</strong>s ritmos que seriam toca<strong>do</strong>s.<br />

Figura 1- convenção<br />

Figura 2 – ritmo <strong>do</strong> sur<strong>do</strong> de corte<br />

A figura 1 representa o momento <strong>da</strong> convenção em que to<strong>da</strong> a bateria toca junta e, a<br />

figura 2, é uma frase que exemplifica a célula rítmica <strong>do</strong> sur<strong>do</strong> de corte. Essa prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica propiciou também um trabalho com dinâmica de som no instrumento,<br />

possibilitan<strong>do</strong> aos participantes executarem os ritmos em diferentes intensi<strong>da</strong>des sonoras.<br />

Segun<strong>do</strong> Guerreiro (2000), o trabalho <strong>da</strong> linguagem percussiva baseia-se, principalmente, na<br />

transmissão oral e na imitação que acontecem através <strong>da</strong>s exaustivas repetições nos ensaios.<br />

Essas situações são favoráveis para o trabalho de criação e percepção musical, possibilitan<strong>do</strong><br />

novas maneiras de ensinar e aprender.<br />

Uma <strong>da</strong>s principais características <strong>da</strong> linguagem percussiva popular é a<br />

orali<strong>da</strong>de, a transmissão oral de conhecimento, que lhe confere o status de<br />

música popular, deixan<strong>do</strong>-a definitivamente de fora <strong>do</strong> pólo erudito. A<br />

linguagem percussiva é transmiti<strong>da</strong> por observação e audição segui<strong>da</strong>s de<br />

imitação. Trabalha principalmente com a exploração <strong>do</strong> som e com a<br />

improvisação. (GUERREIRO, 2000, p. 271)<br />

A prática <strong>da</strong> técnica instrumental foi volta<strong>da</strong> para o ensino <strong>da</strong> percussão em coletivo,<br />

inician<strong>do</strong> com um trabalho de baquetas que foram distribuí<strong>da</strong>s para ca<strong>da</strong> integrante. Em<br />

segui<strong>da</strong> foram demonstra<strong>da</strong>s formas de se segurar as baquetas, os movimentos de manuseio,<br />

além de técnicas de agili<strong>da</strong>de e rudimentos 9 . Desta forma, os movimentos e exercícios eram<br />

observa<strong>do</strong>s e executa<strong>do</strong>s, enfatizan<strong>do</strong> e interligan<strong>do</strong> as noções de dinâmicas trabalha<strong>da</strong>s<br />

anteriormente na prática <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de. Foi possível perceber que os mais experientes<br />

juntavam-se aos novatos para compartilhar alguma dica ou corrigir determina<strong>da</strong>s posturas.<br />

Esse exemplo anterior foi uma forma de iniciar um trabalho de técnica instrumental<br />

sem deixar que a aula se transformasse em um momento particular e priva<strong>do</strong> para ca<strong>da</strong> aluno,<br />

mas sim, enfatizan<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong>s trabalhos em grupo, ou seja, através <strong>do</strong> ensino<br />

coletivo <strong>da</strong> percussão.<br />

8 Convenções: terminologia utiliza<strong>da</strong> na área <strong>da</strong> percussão para indicar um arranjo rítmico que a bateria to<strong>da</strong><br />

executa ao mesmo tempo.<br />

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As vantagens pe<strong>da</strong>gógicas que eu considero são inúmeras. Como você pode,<br />

por exemplo, oferecer pra um iniciante parâmetros muito mais facilmente. A<br />

pessoa que começa, ela tem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> espelhos, como chamam. Então há<br />

pessoas que estão com as mesmas dificul<strong>da</strong>des que ela, ou com um pouco<br />

menos, mas naquele mesmo nível de aprendizagem (...) (CRUVINEL apud<br />

TOURINHO, 2005, p. 96)<br />

No término dessa ativi<strong>da</strong>de os instrumentos foram distribuí<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong> com a<br />

habili<strong>da</strong>de inicial e preferência de ca<strong>da</strong> participante, separan<strong>do</strong> o grupo em naipes para que<br />

pudessem exercitar ao máximo no instrumento escolhi<strong>do</strong>. Naquele momento, começaram a<br />

surgir líderes de naipe que organizavam os treinos e compartilhavam as habili<strong>da</strong>des.<br />

Exercícios de atenção a regência foram realiza<strong>do</strong>s e fun<strong>da</strong>mentais para desenvolver<br />

no grupo a compreensão <strong>do</strong> gestual, demonstran<strong>do</strong> os momentos de entra<strong>da</strong>s, de convenções e<br />

de finalizações <strong>da</strong> música. Através desses foi possível exercitar mu<strong>da</strong>nças de an<strong>da</strong>mento. Em<br />

alguns momentos, mantinha-se a bateria tocan<strong>do</strong> as células rítmicas <strong>do</strong> samba e através de<br />

sinalizações exercitavam-se mu<strong>da</strong>nças no an<strong>da</strong>mento possibilitan<strong>do</strong>, através <strong>da</strong> expressão <strong>do</strong><br />

corpo, novas formas de interpretação <strong>do</strong> ritmo pratica<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> Penna (2008), a música é<br />

uma obra de arte com função expressiva. Os elementos musicais não devem ser isola<strong>do</strong>s no<br />

processo de ensino e aprendizagem. A compreensão <strong>da</strong> música deve ser total, conten<strong>do</strong><br />

apreciações técnicas e subjetivas. Ao trabalhar a estrutura <strong>da</strong> música através <strong>do</strong> canto e <strong>da</strong><br />

apreciação <strong>da</strong> letra, o grupo sempre manifestava alguma reflexão quanto à dinâmica, à<br />

coreografia e às sinalizações de regência. A prática de escutar e refletir a música colaborava<br />

para que os ensaios pudessem acontecer de forma produtiva aprimoran<strong>do</strong> detalhes no decorrer<br />

<strong>da</strong>s repetições.<br />

Como linguagem artística, a música caracteriza-se por sua função<br />

expressiva. A própria forma de organização de seus elementos de<br />

linguagem- que segue princípios e padrões diferencia<strong>do</strong>s, conforme o tempo<br />

(histórico) e o espaço (social) – determina o conteú<strong>do</strong> expressivo <strong>da</strong> obra.<br />

Assim, o desafio é trabalhar os elementos musicais básicos em sua função<br />

expressiva, preservan<strong>do</strong>, mesmo nas práticas elementares, o caráter artísticoexpressivo<br />

<strong>da</strong> música. (PENNA, 2008, p. 58)<br />

Foi através desta reflexão sobre a prática de aquecimento, que criamos o que<br />

chamamos de “Esquenta 10 ” <strong>do</strong> grupo. O “esquenta” surgiu quan<strong>do</strong> uma parte <strong>da</strong> turma<br />

“brincava” com o agogô e a outra respondia com repiques durante o intervalo <strong>do</strong> ensaio. A<br />

brincadeira transformou-se em uma comunicação rítmica e, em segui<strong>da</strong>, outras pessoas<br />

9 Rudimentos: exercícios de técnica de baqueta.<br />

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aproximaram-se repetin<strong>do</strong> e tocan<strong>do</strong> os toques cria<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> Tanaka (2009), a criação<br />

acontece por repetições e destas partem as variações. No grupo, diante <strong>da</strong> bati<strong>da</strong> espontânea<br />

<strong>do</strong>s agogôs com os repiques, gerou uma repetição, transforman<strong>do</strong>-se em brincadeira e<br />

composição. Assim, a idéia evoluiu e criamos o nosso esquenta, compartilhan<strong>do</strong> e<br />

adicionan<strong>do</strong> uma coreografia que finalizou a composição com o grupo completo.<br />

Cabe lembrar que a repetição e a criação são <strong>do</strong>is momentos que<br />

praticamente se fundem nesses espaços de ensino não-formal. A criação é<br />

conseqüência <strong>da</strong> repetição, vin<strong>da</strong> em forma de variação decorrente <strong>da</strong><br />

segurança que o ritmista passa a ter, <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio suficiente para poder variar<br />

e não ter de repetir infinitamente igual. (TANAKA, 2009, p. 107)<br />

Uma extensão <strong>do</strong>s ensaios foram os cortejos. Aos <strong>do</strong>mingos, seguíamos tocan<strong>do</strong><br />

pela rua <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> bairro. Esses foram momentos que envolveram elementos<br />

formativos como: o tocar em movimento e o contato com o público na rua.<br />

E a presença dessas pessoas traduz a inserção <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de dentro<br />

<strong>do</strong> espaço educativo. Convive-se e aprende-se, também, sob os olhares<br />

dessas pessoas, aprenden<strong>do</strong>-se inclusive, a li<strong>da</strong>r com as suas interferências.<br />

O conhecimento específico que se adquire nesse espaço faz parte, também,<br />

de um saber <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, aquilo que to<strong>do</strong>s conhecem de algum mo<strong>do</strong>.<br />

(TANAKA, 2009, p. 109)<br />

Com o auxílio de um carro de som, ensaiávamos como se fosse à aveni<strong>da</strong> e, ao<br />

perceber a comuni<strong>da</strong>de como platéia, o grupo motivou-se como se estivesse durante o desfile<br />

de carnaval.<br />

O Desfile<br />

A concentração antes <strong>do</strong> desfile aconteceu no espaço <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de com alguns<br />

integrantes <strong>da</strong>n<strong>do</strong> os últimos retoques com as lantejoulas nas camisas, outros afinan<strong>do</strong> os<br />

instrumentos e conferin<strong>do</strong> a sonori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> bateria em geral. Depois almoçamos juntos e ca<strong>da</strong><br />

participante contribuiu com um prato de comi<strong>da</strong> ou bebi<strong>da</strong> para a alimentação. Isso fez com<br />

que a concentração fosse realmente um momento de integração, de socialização e cooperação.<br />

Após a refeição fizemos mais um ensaio geral e fomos vestir o figurino. O transporte chegou<br />

pontualmente e em clima de festa e muito samba chegou-se à aveni<strong>da</strong>.<br />

10 Esquenta: termo muito utiliza<strong>do</strong> para determinar o momento que a bateria toca antes de apresentar o sambaenre<strong>do</strong>.<br />

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Por ser o primeiro grupo a desfilar usan<strong>do</strong> um horário alternativo o público não havia<br />

chega<strong>do</strong> para o desfile. No nosso caso a proposta foi abrir o desfile <strong>da</strong>s escolas de samba na<br />

segun<strong>da</strong>-feira de carnaval, fazen<strong>do</strong> com isso a estréia de um grupo acadêmico no espaço <strong>da</strong><br />

cultura popular. Aproveitamos para organizar os instrumentos na posição original <strong>da</strong> bateria<br />

para o desfile. Enquanto aguar<strong>da</strong>va-se a autorização para iniciar o desfile, o grupo manteve-se<br />

concentra<strong>do</strong>, realizan<strong>do</strong> exercícios de alongamento seguin<strong>do</strong> a seqüência de ativi<strong>da</strong>des que<br />

sempre eram conduzi<strong>da</strong>s no início <strong>do</strong>s ensaios. Para o desfile foi necessário alugar um carro<br />

de som próprio para apresentar o samba-enre<strong>do</strong>, pois a prefeitura apenas disponibilizava<br />

equipamento móvel de som para os grupos ca<strong>da</strong>stra<strong>do</strong>s no desfile oficial.<br />

Após algumas horas a organização <strong>do</strong> evento solicitou que o grupo se posicionasse<br />

para o desfile. A aveni<strong>da</strong> parecia longa e pela frente uma estréia, uma apresentação, uma<br />

produção artística basea<strong>da</strong> em Educação Musical começaria. Não se sabia ao certo em que<br />

momento iniciar a bateria. Tu<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> era muito novo. Com a organização e a atenção <strong>do</strong><br />

grupo os problemas foram soluciona<strong>do</strong>s sem desgastes, com to<strong>do</strong>s colaboran<strong>do</strong> para acontecer<br />

<strong>da</strong> melhor forma. “A fórmula é bem simples: a união faz a força”. (MATOS, 2008, p. 162).<br />

Ao anunciarem pelo sistema de som a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> grupo “Acadêmicos <strong>da</strong> Casa<br />

Caia<strong>da</strong>” iniciamos o “esquenta”. Parte <strong>do</strong> público que chegava para o desfile, já parava para<br />

ver o que se passava. Ao finalizar o esquenta a bateria parava e to<strong>do</strong>s cantavam o samba<br />

enre<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> o refrão com o balançar <strong>do</strong>s chapéus. Durante o cortejo na aveni<strong>da</strong> fomos<br />

compreenden<strong>do</strong> de que forma faríamos o desfile. Decidimos fazer a seguinte seqüência: o<br />

esquenta, cantaríamos o samba-enre<strong>do</strong> e a bateria retornaria novamente acompanhan<strong>do</strong> os<br />

cantores. Foi preciso entender, no momento <strong>do</strong> desfile, como chegaríamos ao final passan<strong>do</strong><br />

por to<strong>da</strong>s essas as etapas musicais interliga<strong>da</strong>s, sem causar uma ruptura no desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> que chamamos de desfile-apresentação.<br />

O trajeto começou a ter uma estrutura defini<strong>da</strong>. Depois de a bateria tocar duas vezes<br />

o samba, dávamos uma pausa e começávamos novamente o “esquenta” ou então repetíamos<br />

apenas o vocal. Essa foi uma forma que encontramos para propiciar um pequeno descanso<br />

tanto às vocalistas, quanto ao cavaquinista e a própria bateria. Foi perceptível um<br />

aprendiza<strong>do</strong> mútuo, contínuo e eficaz, resultan<strong>do</strong> assim no final <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> a finalização <strong>do</strong><br />

samba no momento espera<strong>do</strong> e, ain<strong>da</strong> com uma brincadeira lúdica de regência, pedin<strong>do</strong> as<br />

“vibrações <strong>do</strong>s tambores” na qual com o toque e com o corpo em movimento<br />

comemorávamos a estréia no desfile carnavalesco.<br />

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Considerações finais<br />

O relato de experiência tratou <strong>do</strong>s processos de ensino e aprendizagem que<br />

aconteceram nos ensaios e no desfile <strong>do</strong> Grupo de Música Percussiva Acadêmicos <strong>da</strong> Casa<br />

Caia<strong>da</strong>. A experiência marcou as ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> grupo de percussão ao fazer interagir uma<br />

produção artística desenvolvi<strong>da</strong> no âmbito acadêmico com uma festa <strong>da</strong> cultura popular, o<br />

Carnaval de Rua <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de Fortaleza/CE.<br />

No início <strong>do</strong> artigo foi relevante explicar como surgiu a idealização de desfilar na<br />

aveni<strong>da</strong> com o grupo, tratan<strong>do</strong> sobre a participação <strong>do</strong> jovem na cultura carnavalesca de rua.<br />

Entender essa dinâmica cultural <strong>da</strong> própria ci<strong>da</strong>de aju<strong>do</strong>u-nos a elaborar ferramentas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas para intervir e contribuir musicalmente em ativi<strong>da</strong>des futuras <strong>do</strong> projeto.<br />

Portanto, deixemos para trás as práticas fixas <strong>da</strong> tradição, buscan<strong>do</strong> construir<br />

alternativas que aten<strong>da</strong>m às necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s diferentes contextos em que a<br />

educação musical pode atuar, comprometen<strong>do</strong>-se sempre com um projeto de<br />

democratização <strong>do</strong> acesso à arte e à cultura. (PENNA, 2008, p. 63)<br />

Através <strong>do</strong> conhecimento <strong>da</strong> cultura local, foi possível perceber várias maneiras em<br />

que a formação musical pode ser realiza<strong>da</strong> sem ser, obrigatoriamente, em âmbitos formais<br />

e/ou fecha<strong>do</strong>s, aos moldes tradicionais, descobrin<strong>do</strong> assim novas possibili<strong>da</strong>des que se<br />

encontram na rua, na comuni<strong>da</strong>de e na vi<strong>da</strong>.<br />

Este relato tratou de três momentos em que as práticas educacionais e as experiências<br />

culturais aconteceram. O primeiro foi A Construção de um carnaval, o segun<strong>do</strong>, A<br />

Universi<strong>da</strong>de vira Barracão e o terceiro O Desfile. No primeiro, relatamos sobre a<br />

organização <strong>do</strong> grupo para concepção <strong>do</strong> desfile, enfatizan<strong>do</strong> a importância <strong>da</strong> sistematização<br />

e <strong>da</strong> divisão de funções em equipe, colaboran<strong>do</strong> com as ativi<strong>da</strong>des em grupo.<br />

No segun<strong>do</strong> momento, relatamos o espaço <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de com um local para<br />

ensaiar, construir figurino e para concentrar a bateria, favorecen<strong>do</strong> a formação, a socialização<br />

e a construção <strong>do</strong> fazer musical. As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s nos ensaios, identifican<strong>do</strong> recursos<br />

didáticos como a orali<strong>da</strong>de, a repetição e a criação nos processos de ensino coletivo na<br />

percussão foi destaque na experiência vivi<strong>da</strong>. O espaço acadêmico foi à concentração <strong>do</strong><br />

grupo e, deste, o ponto de parti<strong>da</strong> para a apresentação na aveni<strong>da</strong>. O desfile foi outra ativi<strong>da</strong>de<br />

pe<strong>da</strong>gógica, talvez até mesmo, o momento mais espera<strong>do</strong> pelo grupo. A experiência in loco<br />

foi um marco nos processos de ensino e aprendizagem, pois tivemos contato e interagimos<br />

com a cultura popular. Desfilar na aveni<strong>da</strong> proporcionou ao grupo a vivência de um fazer<br />

artístico musical em coletivo, aprenden<strong>do</strong> além <strong>da</strong>s questões técnicas instrumentais to<strong>da</strong> uma<br />

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prática musical completa e enriquece<strong>do</strong>ra de cultura e conhecimento. “Educar e formar<br />

música através <strong>do</strong> fazer vivo”. (MATOS, 2008, p. 78)<br />

Através dessa experiência pudemos também identificar algumas dificul<strong>da</strong>des<br />

ocorri<strong>da</strong>s durante o trabalho: à desistência de 03 integrantes <strong>do</strong> grupo que por motivos<br />

religiosos não podiam desfilar e, outros 02, por optarem em viajar para as praias. Outra<br />

dificul<strong>da</strong>de foi à intervenção sonora de propagan<strong>da</strong>s nas caixas de som no momento <strong>do</strong> desfile<br />

<strong>do</strong> grupo, atrapalhan<strong>do</strong> a audição <strong>do</strong> samba-enre<strong>do</strong> em determina<strong>do</strong>s pontos na aveni<strong>da</strong>.<br />

Para o final deste relato concluímos que <strong>do</strong>s 36 ritmistas envolvi<strong>do</strong>s, parte já tinha<br />

desfila<strong>do</strong> com outros grupos na aveni<strong>da</strong>, mas revela que o desfile e os ensaios foram,<br />

consideravelmente, mais organiza<strong>do</strong>s e o sentimento de grupo foi mais consistente. Os outros<br />

que desfilaram pela primeira vez consideraram a experiência uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des mais<br />

importantes <strong>do</strong> grupo e, dessa forma, aprender a tocar samba foi bem mais fácil e diverti<strong>do</strong>.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

CRUVINEL, Flávia Maria. Educação Musical e Transformação Social: uma experiência com<br />

ensino coletivo de cor<strong>da</strong>s. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005.<br />

GUERREIRO, Goli. A trama <strong>do</strong>s tambores: a música afro-pop de Salva<strong>do</strong>r. São Paulo: Ed.34,<br />

2000.<br />

MATOS, Elvis de Azeve<strong>do</strong>. Um inventário Luminoso ou Alumiário Inventa<strong>do</strong>: uma<br />

Trajetória Humana de Musical Formação. Fortaleza: Diz Editor (a) cão, 2008.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e o seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

TANAKA, Harue. Diário de uma ritmista aprendiz. Editora <strong>da</strong> Universitária <strong>da</strong> UFPB, 2009.<br />

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2 OA N O S<br />

Licenciatura em música no Instituto Federal de Educação, Ciência e<br />

Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Belo Jardim: um exemplo de<br />

interiorização <strong>da</strong>s políticas públicas em educação musical<br />

Arlin<strong>do</strong> Mozart Vieira <strong>do</strong> Nascimento<br />

IFPE<br />

mozart.vieira@belojardim.ifpe.edu.br<br />

José Davison <strong>da</strong> Silva Júnior<br />

IFPE<br />

<strong>da</strong>vison.junior@belojardim.ifpe.edu.br<br />

Robson Rodrigues Ribeiro<br />

IFPE<br />

robson.ribeiro@belojardim.ifpe.edu.br<br />

Rosa Maria Oliveira Teixeira de Vasconcelos<br />

IFPE<br />

rosa.vasconcelos@belojardim.ifpe.edu.br<br />

Resumo: O artigo faz uma apresentação <strong>da</strong> implantação <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música<br />

no IFPE – Campus Belo Jardim, no agreste pernambucano, contextualizan<strong>do</strong>-a na história <strong>da</strong><br />

instituição e no âmbito <strong>da</strong>s políticas públicas em educação musical no Brasil. Ressalta os<br />

princípios que originaram e constituíram o curso e explana os pilares conceituais <strong>da</strong> estrutura<br />

curricular a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>. Com a criação <strong>do</strong>s Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia,<br />

esta instituição passou a oferecer cursos em nível superior, dentre os quais está o de<br />

Licenciatura em Música, que se insere no contexto <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na<br />

educação básica, como opção de formação para o professor de música.<br />

Palavras-chave: formação de professor, políticas públicas, licenciatura<br />

Introdução<br />

A interiorização é um tema que vem ocupan<strong>do</strong> espaço na agen<strong>da</strong> midiática e no<br />

discurso político. Mas, acima de tu<strong>do</strong>, é uma necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Brasil. O investimento no<br />

interior brasileiro tem o potencial não só de promover o desenvolvimento desta imensa região<br />

<strong>do</strong> país como também de aliviar a pressão sobre as capitais e sobre as grandes ci<strong>da</strong>des,<br />

sobretu<strong>do</strong> no que se relaciona com as questões econômicas e demográficas.<br />

Neste texto é apresenta<strong>do</strong> um exemplo de interiorização <strong>da</strong>s políticas públicas em<br />

educação musical através <strong>da</strong> implantação <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música no Instituto<br />

Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – campus Belo Jardim.<br />

Localiza<strong>da</strong> no agreste pernambucano, a ci<strong>da</strong>de abriga hoje o segun<strong>do</strong> curso superior de<br />

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música <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Sua criação se deu a partir de diversos fatores e princípios, os quais serão<br />

examina<strong>do</strong>s à luz <strong>da</strong> história <strong>do</strong> IFPE e <strong>da</strong>s políticas públicas para a educação musical no<br />

Brasil.<br />

Histórico<br />

O Plano de Desenvolvimento Institucional <strong>do</strong> Instituto Federal de Educação, Ciência<br />

e Tecnologia de Pernambuco (2009) traz um relato histórico de sua criação. O ano de 1909 foi<br />

o marco para a criação, em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s capitais <strong>do</strong> Brasil, de uma Escola de Aprendizes e<br />

Artífices, com o objetivo de ministrar o ensino profissional e gratuito através <strong>da</strong> formação de<br />

operários e mestres. A Escola de Pernambuco iniciou suas ativi<strong>da</strong>des em 16 de fevereiro de<br />

1910.<br />

No ano de 1937 as Escolas de Aprendizes e Artífices passaram a ser denomina<strong>da</strong>s<br />

Liceus Industriais. A Lei Orgânica <strong>do</strong> Ensino Industrial de 1942 modificou a estrutura <strong>do</strong>s<br />

Liceus, os quais passaram a oferecer o ensino médio. O ensino industrial ampliou-se para <strong>do</strong>is<br />

ciclos, o básico e o técnico, passan<strong>do</strong> a ser reconheci<strong>do</strong> como uma necessi<strong>da</strong>de para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> país.<br />

O atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco já foi<br />

denomina<strong>do</strong> como Escola de Aprendizes Artífices, Liceu Industrial de Pernambuco, Escola<br />

Técnica <strong>do</strong> Recife, Escola Técnica Federal de Pernambuco e Centro Federal de Educação<br />

Tecnológica de Pernambuco.<br />

No ano de 1999, o Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco passou a<br />

atuar na Educação Superior com cursos de formação de tecnólogos. Com a publicação <strong>da</strong> Lei<br />

Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, foi instituí<strong>da</strong> no âmbito <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Educação a<br />

Rede de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e cria<strong>do</strong>s os Institutos Federais de<br />

Educação, Ciência e Tecnologia a partir <strong>do</strong> potencial instala<strong>do</strong> nos CEFETs, nas escolas<br />

técnicas e agrotécnicas federais e nas escolas vincula<strong>da</strong>s às universi<strong>da</strong>des federais.<br />

O objetivo <strong>do</strong> Instituto é promover a educação profissional, científica e tecnológica,<br />

em to<strong>do</strong>s os seus níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, desde a educação básica à superior, consideran<strong>do</strong> o<br />

princípio <strong>da</strong> indissociabili<strong>da</strong>de entre Ensino, Pesquisa e Extensão.<br />

Políticas públicas em educação musical<br />

O momento atual é um marco histórico nas políticas públicas em educação musical<br />

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no Brasil. No dia 18 de agosto de 2008 foi sanciona<strong>da</strong> a Lei nº 11.769, que estabelece a<br />

obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música nas escolas de educação básica, a qual surge em um<br />

cenário no qual ocorreram muitas mu<strong>da</strong>nças quanto à música na escola.<br />

Na primeira metade <strong>do</strong> século XX as disciplinas Desenho, Trabalhos Manuais<br />

Música e Canto Orfeônico integravam o currículo <strong>da</strong>s escolas primárias. Até o ano de 1960<br />

existiam pouquíssimos cursos de formação de professores na área de Artes e, portanto,<br />

professores com alguma habili<strong>da</strong>de artística ou mesmo de outras áreas poderiam assumir tais<br />

disciplinas (BRASIL, 1998).<br />

Com o advento <strong>da</strong> Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nº 4.024 de 1961 houve a<br />

extinção <strong>do</strong> Canto Orfeônico e substituição pela Educação Musical, ministra<strong>da</strong> por<br />

professores de canto e instrumento que não estavam prepara<strong>do</strong>s para lecionar a nova<br />

disciplina, o que fez que diminuísse o ensino de música nas escolas. Em decorrência disso<br />

surge a necessi<strong>da</strong>de de formar professores de música (DENARDI, 2008).<br />

A Lei Nº 5.692/71 tornou obrigatório o ensino <strong>da</strong> educação artística, entretanto não<br />

especificou qual a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a ser aplica<strong>da</strong>. O caráter polivalente <strong>da</strong> educação artística se<br />

caracterizou por uma quanti<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des sem conteú<strong>do</strong>s próprios.<br />

A Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nº 9.394, de 1996, normatizou a disciplina<br />

de Artes como componente curricular obrigatório nos diversos níveis <strong>da</strong> educação básica. O<br />

ensino de artes, contu<strong>do</strong>, continuou indefini<strong>do</strong>, sem garantir nenhum tipo de mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

artística.<br />

É importante destacar que a Lei Nº 11.769 não foi aprova<strong>da</strong> na íntegra. Houve o veto<br />

no parágrafo que especificava que o ensino <strong>da</strong> música seria ministra<strong>do</strong> por professores com<br />

formação na área de Música. A música é obrigatória como disciplina na educação básica. Não<br />

há exigência para quem vai ministrar a disciplina, no entanto, precisamos formar <strong>do</strong>centes<br />

competentes para o ensino <strong>da</strong> música nas escolas.<br />

Princípios que nortearam a criação <strong>do</strong> curso<br />

A ci<strong>da</strong>de de Belo Jardim, situa<strong>da</strong> a uma distância de 183 km <strong>do</strong> Recife, é conheci<strong>da</strong><br />

na região <strong>do</strong> agreste de Pernambuco como Terra <strong>do</strong>s Músicos, seja pela tradição natural <strong>do</strong><br />

seu povo ou pelo trabalho desenvolvi<strong>do</strong> há 122 anos pela Socie<strong>da</strong>de Musical Filarmônica São<br />

Sebastião e há 75 anos pela Socie<strong>da</strong>de de Cultura Musical. Essa vocação musical <strong>da</strong> região é<br />

um fato fácil de constatar. Numa conversa informal com mora<strong>do</strong>res <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, por exemplo, é<br />

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possível se informar acerca de dezenas, talvez centenas, de jovens músicos locais que já<br />

ingressaram no merca<strong>do</strong> de trabalho, através de concursos públicos, e encontram-se atuan<strong>do</strong><br />

principalmente nas ban<strong>da</strong>s de música de corporações militares em vários lugares <strong>do</strong> Brasil.<br />

Esta situação, a princípio positiva, esconde um la<strong>do</strong> negativo. Do la<strong>do</strong> positivo, os<br />

conhecimentos musicais adquiri<strong>do</strong>s nas ban<strong>da</strong>s de música <strong>do</strong> agreste pernambucano, que<br />

configuram uma educação musical não formal, contribuem para a continui<strong>da</strong>de desta rica<br />

tradição ao mesmo tempo em que viabilizam oportuni<strong>da</strong>des de realização econômica para os<br />

jovens talentos musicais <strong>da</strong> região. Do la<strong>do</strong> negativo, a impossibili<strong>da</strong>de de cursar música<br />

formalmente em nível superior, ou em qualquer nível, numa instituição local limita<br />

severamente as opções desses jovens no ramo musical. Desta forma, os concursos militares<br />

têm si<strong>do</strong> a única alternativa prática de algum retorno econômico para muitos músicos <strong>da</strong><br />

região, pois não exigem a comprovação de educação musical formal (certifica<strong>do</strong>s, diplomas,<br />

etc.).<br />

Também é possível apontar que neste contexto a educação musical fica reduzi<strong>da</strong><br />

apenas ao seu aspecto performático numa tradição que incorpora muitos elementos <strong>da</strong><br />

disciplina militar, conforme conversas informais com integrantes <strong>do</strong>s grupos em atuação na<br />

ci<strong>da</strong>de de Belo Jardim. Além disso, através <strong>da</strong> educação musical não formal obti<strong>da</strong> nas ban<strong>da</strong>s<br />

de música, muitos jovens <strong>da</strong> região tornam-se músicos de fato, mas não de direito, pois são<br />

impedi<strong>do</strong>s de atuar profissionalmente em várias áreas <strong>da</strong> música na socie<strong>da</strong>de pela falta <strong>da</strong><br />

habilitação legal e ficam sem chance de aproveitar plenamente as oportuni<strong>da</strong>des que o atual<br />

cenário brasileiro oferece para seus profissionais.<br />

Em primeiro lugar, portanto, a criação de um curso superior de Licenciatura em<br />

Música no IFPE - campus Belo Jardim vem oportunizar a formação musical e a qualificação<br />

profissional reconheci<strong>da</strong> em nível nacional para centenas de jovens hoje impossibilita<strong>do</strong>s de<br />

desenvolver suas potenciali<strong>da</strong>des artísticas e pe<strong>da</strong>gógicas no agreste pernambucano. É<br />

importante ressaltar aqui a dificul<strong>da</strong>de de muitos desses jovens para se deslocar para a capital<br />

com a finali<strong>da</strong>de de realizar seus estu<strong>do</strong>s musicais, devi<strong>do</strong> a fatores econômicos,<br />

principalmente.<br />

Diretamente associa<strong>da</strong> à questão <strong>da</strong> vocação local está outra também pertinente: a <strong>da</strong><br />

deman<strong>da</strong> local por um curso superior de música. De acor<strong>do</strong> com o Relatório <strong>da</strong> Análise <strong>da</strong><br />

Deman<strong>da</strong> de Merca<strong>do</strong> para Implantação de Novos Cursos de Graduação, resulta<strong>do</strong> de uma<br />

pesquisa de campo realiza<strong>da</strong> pela Autarquia Educacional de Belo Jardim – AEB e Facul<strong>da</strong>de<br />

de Belo Jardim – FABEJA no ano de 2007, o curso de música foi o segun<strong>do</strong> mais cita<strong>do</strong> na<br />

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área de humanas e o terceiro mais cita<strong>do</strong> na pesquisa geral. Vale ressaltar que esta pesquisa se<br />

realizou em “vinte municípios <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco em um raio de aproxima<strong>da</strong>mente,<br />

100 km <strong>do</strong> município de Belo Jardim” (SILVA et al, 2007, p.13).<br />

A princípio, pode parecer surpreendente tal deman<strong>da</strong> por um curso tão específico e<br />

inusita<strong>do</strong> como o de música no agreste pernambucano. Entretanto, uma análise <strong>da</strong> inserção <strong>da</strong><br />

música na história e na cultura dessa região esclarece prontamente a deman<strong>da</strong> evidencia<strong>da</strong><br />

pela pesquisa acima referi<strong>da</strong>. Os grupos musicais conheci<strong>do</strong>s como “Ban<strong>da</strong> de Música”,<br />

“Ban<strong>da</strong> de Fanfarra”, “Ban<strong>da</strong> Filarmônica”, “Ban<strong>da</strong> Marcial” ou “Socie<strong>da</strong>de de Cultura<br />

Musical”, são comuns em to<strong>da</strong> essa região, assim como em to<strong>do</strong> o interior nordestino, e<br />

representam, por vezes, o único acesso <strong>da</strong> população local ao ensino e aprendizagem <strong>da</strong><br />

música, ain<strong>da</strong> que de maneira não formal. No site<br />

http://catalogoban<strong>da</strong>sdemusicape.wordpress.com/lista185pe/ encontramos uma listagem<br />

(incompleta, diga-se) de 184 ban<strong>da</strong>s em ativi<strong>da</strong>de somente no esta<strong>do</strong> de Pernambuco. É raro o<br />

município nordestino que não disponha de um grupo como este. A ci<strong>da</strong>de de Belo Jardim, por<br />

exemplo, acomo<strong>da</strong> <strong>do</strong>is desses grupos: a Socie<strong>da</strong>de Musical Filarmônica São Sebastião, que<br />

já conta 122 anos de atuação, e a Socie<strong>da</strong>de de Cultura Musical, com 75 anos de existência.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, pois, a implantação <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música no IFPE<br />

– campus Belo Jardim, vem atender a uma deman<strong>da</strong> social <strong>da</strong> região na qual a instituição está<br />

inseri<strong>da</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, a oferta de um curso superior de Licenciatura em Música no agreste<br />

de Pernambuco poderá contribuir de maneira decisiva para a qualificação profissional <strong>do</strong>s<br />

músicos que atuam nos inúmeros grupos <strong>da</strong> região e possibilitará, ao mesmo tempo, a atuação<br />

deles como professores de música, formal e legalmente habilita<strong>do</strong>s para o exercício <strong>da</strong><br />

profissão <strong>do</strong>cente.<br />

Pensan<strong>do</strong> um pouco mais além <strong>da</strong> situação musical local, verificamos que dentro <strong>do</strong><br />

cenário acadêmico nacional é possível encontrar duas opções de graduação na área de música:<br />

os bacharela<strong>do</strong>s e as licenciaturas. O bacharela<strong>do</strong> em música tem o objetivo de formar<br />

instrumentistas concertistas, cantores, regentes e compositores. O caminho natural para estes<br />

profissionais deveria ser a performance em orquestras ou grupos musicais de câmera e<br />

similares. No entanto, <strong>da</strong><strong>da</strong> a escassez de grupos orquestrais e camerísticos no Brasil, a<br />

grande maioria <strong>do</strong>s egressos desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de acaba atuan<strong>do</strong> profissionalmente como<br />

professores de instrumento em escolas de música, porém sem formação pe<strong>da</strong>gógica<br />

específica. Já a licenciatura, na maioria <strong>do</strong>s casos, tem o papel de preparar professores de<br />

música com perfil para atuar na educação básica. Os cursos de Licenciatura em Música no<br />

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Brasil, portanto, oferecem uma formação que não habilita os seus egressos para o ensino de<br />

instrumento (PENNA, 2007; MATEIRO, 2009). Podemos, assim, concluir que ambas as<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des formativas deixam a desejar quanto à formação de professores de música que<br />

possam atuar tanto no contexto geral <strong>da</strong> educação básica quanto no contexto específico <strong>do</strong><br />

ensino de instrumento, ou até em contextos não formais ou informais, que na atuali<strong>da</strong>de<br />

constituem um campo de atuação ca<strong>da</strong> vez mais amplo para o professor de música.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, um terceiro princípio que norteou a implantação <strong>do</strong> Curso de<br />

Licenciatura em Música no IFPE – campus Belo Jardim foi o de que este curso deveria aliarse<br />

a algumas instituições que estão inovan<strong>do</strong> no cenário acadêmico nacional com uma<br />

proposta curricular que seja capaz de abranger a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical para atuar<br />

tanto na educação básica quanto no ensino específico de instrumento ou em outros campos<br />

emergentes na socie<strong>da</strong>de, tais como os <strong>do</strong> setor não formal ou informal.<br />

Para tanto, outra consideração fazia-se necessária. Os cursos de graduação em<br />

música hoje, no Brasil, em sua maioria incorporam um ensino e aprendizagem musical<br />

basea<strong>do</strong>s exclusivamente na música <strong>do</strong> repertório Ocidental (a chama<strong>da</strong> música clássica ou<br />

erudita). Acerca de outras possibili<strong>da</strong>des de modelo, que inclua conteú<strong>do</strong>s “extra escolares”,<br />

“assimétricos”, “informais”, oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> cultura popular de tradição oral, Sandroni comenta:<br />

Parece-me que o emprego destas expressões denuncia antes de mais na<strong>da</strong><br />

nosso desconhecimento <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s pelos quais funcionam os varia<strong>do</strong>s<br />

aprendiza<strong>do</strong>s extra escolares. Elas refletem antes nossa ignorância sobre as<br />

“formas” e “sistemas” destes aprendiza<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que a ausência, ali, de tais<br />

atributos. Não existe educação espontânea; ela não apenas transmite cultura,<br />

a educação é ela mesma um artefato cultural, e como tal, por definição, algo<br />

de elabora<strong>do</strong>, organiza<strong>do</strong>. Que sua organização seja difícil de ver não nos<br />

autoriza a considerá-la inexistente. (SANDRONI, 2000).<br />

Em quarto lugar, portanto, a proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>do</strong> IFPE – campus Belo Jardim considera que a tradição popular <strong>do</strong> povo nordestino e<br />

brasileiro tem muito a contribuir para a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical e que é fun<strong>da</strong>mental<br />

estabelecer um diálogo entre a tradição oral e a academia. Desta forma, um aspecto<br />

importante desta proposta pe<strong>da</strong>gógica é o seu perfil desenha<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> Música Popular.<br />

Em quinto e último lugar, a implantação <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música no<br />

IFPE – campus Belo Jardim vem somar esforços com to<strong>da</strong> a área <strong>da</strong> formação de professores<br />

de música no Brasil diante <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> cria<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças recentes na LDB<br />

(9394/1996). Com o retorno <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música nas escolas <strong>da</strong> educação<br />

básica, os estabelecimentos de ensino terão três anos a partir <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta de publicação <strong>da</strong> lei para<br />

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se adequarem às exigências impostas legalmente. Diante desta reali<strong>da</strong>de, é urgente licenciar<br />

professores para atender a esta deman<strong>da</strong>.<br />

Estrutura <strong>do</strong> curso<br />

O Curso de Licenciatura em Música <strong>do</strong> IFPE – campus Belo Jardim tem como<br />

objetivo a formação de professores de música, habilitan<strong>do</strong>-os para atuar na educação básica,<br />

em escolas especializa<strong>da</strong>s de música, bem como nos campos instituí<strong>do</strong>s e emergentes no<br />

cenário musical brasileiro atual. Toman<strong>do</strong> como referência a Resolução CNE/CP Nº 01 de<br />

09/04/2002 (BRASIL, 2002), que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a<br />

Formação de Professores <strong>da</strong> Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de<br />

graduação plena, bem como outros dispositivos legais, o Curso de Licenciatura em Música <strong>do</strong><br />

IFPE – campus Belo Jardim está orienta<strong>do</strong> pelos seguintes princípios:<br />

• O ensino visan<strong>do</strong> à aprendizagem <strong>do</strong> aluno;<br />

• O acolhimento e o trato <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de;<br />

• O exercício de ativi<strong>da</strong>des de enriquecimento cultural;<br />

• O aprimoramento em práticas investigativas;<br />

• A elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares;<br />

• O uso de tecnologias <strong>da</strong> informação, <strong>da</strong> comunicação, de meto<strong>do</strong>logias e estratégias<br />

materiais de apoio;<br />

• O desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em equipe.<br />

A proposta <strong>do</strong> curso é que a formação <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente seja desenvolvi<strong>da</strong> em torno de eixos<br />

através <strong>do</strong>s quais se articulam dimensões que precisam ser contempla<strong>da</strong>s na formação<br />

profissional <strong>do</strong> professor, que sinalizam o tipo de ativi<strong>da</strong>des de ensino e aprendizagem e que<br />

materializam o planejamento e a ação <strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>res de professores. Esses eixos estão assim<br />

dispostos:<br />

1. Eixo articula<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s diferentes âmbitos de conhecimento profissional;<br />

2. Eixo articula<strong>do</strong>r <strong>da</strong> interação e <strong>da</strong> comunicação, bem como <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong><br />

autonomia profissional e intelectual;<br />

3. Eixo articula<strong>do</strong>r entre disciplinari<strong>da</strong>de e interdisciplinari<strong>da</strong>de;<br />

4. Eixo articula<strong>do</strong>r <strong>da</strong> formação comum com a formação específica;<br />

5. Eixo articula<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s conhecimentos a serem ensina<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s conhecimentos filosóficos<br />

educacionais e pe<strong>da</strong>gógicos que fun<strong>da</strong>mentam a ação educativa;<br />

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6. Eixo articula<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s dimensões teóricas e práticas.<br />

O curso está organiza<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> um padrão a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por outras licenciaturas <strong>do</strong><br />

IFPE. Este padrão se desenvolve a partir de núcleos estrutura<strong>do</strong>res que permitem, por meio de<br />

projetos integra<strong>do</strong>res, promover a autonomia <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte e a contextualização de diversos<br />

saberes, numa perspectiva que se pretende inter e transdisciplinar. Além disso, propõe uma<br />

abor<strong>da</strong>gem que privilegia a transposição didática <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e a transversali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s<br />

diferentes campos <strong>do</strong>s saberes.<br />

O corpo <strong>do</strong>cente, coletivamente, desenvolve projetos integra<strong>do</strong>res para ca<strong>da</strong> perío<strong>do</strong><br />

letivo, os quais serão vivencia<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os professores em formação, em ca<strong>da</strong><br />

componente curricular, culminan<strong>do</strong>, ao final de ca<strong>da</strong> semestre ou perío<strong>do</strong> letivo, com a<br />

socialização <strong>da</strong>s reflexões, em estu<strong>do</strong>s de caso e situações-problema vivencia<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> por ca<strong>da</strong> turma e/ou grupo de estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Núcleos de Formação que Estruturam o Curso<br />

Os componentes curriculares estão organiza<strong>do</strong>s em três núcleos que estruturam o<br />

currículo, além <strong>da</strong> prática profissional, a saber:<br />

1. O Núcleo Comum: composto pelos componentes curriculares Básicos (de saberes<br />

basilares dentro <strong>da</strong> área de conhecimento musical e que estruturam os fun<strong>da</strong>mentos<br />

necessários à construção <strong>do</strong>s demais conhecimentos específicos <strong>da</strong> música) e pelos<br />

componentes curriculares Pe<strong>da</strong>gógicos (de saberes relativos à reflexão e à prática <strong>da</strong><br />

profissão <strong>do</strong>cente). Os componentes <strong>do</strong> Núcleo Comum serão desenvolvi<strong>do</strong>s numa<br />

perspectiva integra<strong>do</strong>ra e serão trabalha<strong>do</strong>s ao longo de to<strong>da</strong> a formação.<br />

2. O Núcleo Específico: onde se concentram os conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s à formação<br />

específica <strong>do</strong>cente, seja na perspectiva <strong>do</strong> aprofun<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s conhecimentos artísticos,<br />

científicos e tecnológicos relativos à habilitação escolhi<strong>da</strong>, seja na perspectiva <strong>da</strong><br />

transposição didática <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s.<br />

3. O Núcleo Complementar: forma<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>s disciplinas complementares para a<br />

habilitação, onde serão vivencia<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s que aprofun<strong>da</strong>rão e enriquecerão a<br />

formação <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente e permitirão, também, direcionamentos para áreas de interesse<br />

particular, através <strong>da</strong>s disciplinas optativas e eletivas.<br />

Os três núcleos que compõem a organização curricular <strong>do</strong> curso são permea<strong>do</strong>s por<br />

ativi<strong>da</strong>des de Prática Profissional (Prática Pe<strong>da</strong>gógica, Estágio Curricular Supervisiona<strong>do</strong> e<br />

ativi<strong>da</strong>des acadêmico-científicas e culturais).<br />

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No seu primeiro de semestre de funcionamento (<strong>2011</strong>.1) o Curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>do</strong> IFPE – campus Belo Jardim conta com um corpo <strong>do</strong>cente de oito professores<br />

efetivos <strong>da</strong> área de música, o que permite oferecer habilitações nos seguintes instrumentos:<br />

flauta transversal, clarinete, saxofone, trompete, trombone, tuba, violão, guitarra, bateria,<br />

percussão e canto popular. Além disso, o curso conta com a presença de uma pe<strong>da</strong>goga,<br />

responsável pela estruturação e acompanhamento pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> curso, e com outros <strong>do</strong>centes<br />

<strong>da</strong> instituição que têm atua<strong>do</strong> como professores convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para componentes curriculares<br />

<strong>da</strong>s áreas de educação, meto<strong>do</strong>logia científica, informática e língua portuguesa. Nos semestres<br />

subsequentes esta prática deverá ser manti<strong>da</strong> com relação às disciplinas fora <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

musical.<br />

Considerações finais<br />

Em permanente diálogo com a reali<strong>da</strong>de social, econômica e cultural <strong>da</strong> região e<br />

contemplan<strong>do</strong> a diversi<strong>da</strong>de musical <strong>do</strong> <strong>Nordeste</strong> e <strong>do</strong> Brasil, o curso de Licenciatura em<br />

Música <strong>do</strong> IFPE – campus Belo Jardim apresenta uma proposta de formação <strong>do</strong>cente que se<br />

propõe a preparar profissionais com espírito reflexivo, imaginativo, criativo e com excelência<br />

prática em performance, capacita<strong>do</strong>s para atuar em diferentes contextos, de acor<strong>do</strong> com as<br />

deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de, seja na educação básica, em escolas especializa<strong>da</strong>s de<br />

música, em espaços não formais ou em outros campos instituí<strong>do</strong>s e emergentes onde seja<br />

requeri<strong>da</strong> a presença de um educa<strong>do</strong>r musical.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

383


2 OA N O S<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases <strong>da</strong><br />

educação nacional. Disponível em: http://www.mec.gov.br. Acesso em: 21 abr. <strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de<br />

1996, Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação, para dispor sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

música na educação básica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-<br />

2010/2008/Lei/L11769.htm. Acesso em: 21 abr. de <strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Resolução CNE/CP nº. 1/2002. Diretrizes Curriculares para a Formação de<br />

Professores <strong>da</strong> Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.<br />

Brasília, 2002. Disponível em: http://www.mec.gov.br. Acesso em 16 abr. <strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais: arte.<br />

Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

DENARDI, Christiane. Professores de música: história e perspectivas. Curitiba: Juruá, 2008.<br />

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE<br />

PERNAMBUCO. Plano de Desenvolvimento Institucional. Recife, 2009.<br />

MATEIRO, Teresa. Uma análise de projetos pe<strong>da</strong>gógicos de licenciatura em música. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 22, p. 57-66, 2009.<br />

PENNA, Maura. Não basta tocar? Discutin<strong>do</strong> a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 16, p. 49-56, 2007.<br />

SANDRONI, Carlos. Uma ro<strong>da</strong> de choro concentra<strong>da</strong>: reflexões sobre o ensino de músicas<br />

populares nas escolas. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 9., 2000, Belém. <strong>Anais</strong>... Belém: <strong>ABEM</strong>, 2000. p. 19-26.<br />

SILVA, Ivanil<strong>do</strong> Mangueira; JÚNIOR, Clovis Gomes <strong>da</strong> Silva; FERREIRA, Ricar<strong>do</strong> de<br />

Oliveira. Relatório de Análise <strong>da</strong> Deman<strong>da</strong> para Implantação de Novos Cursos de Graduação<br />

pela Autarquia Educacional <strong>do</strong> Belo Jardim. AUTARQUIA EDUCACIONAL DO BELO<br />

JARDIM(AEBJ). FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO BELO<br />

JARDIM(FABEJA). Belo Jardim, 2007.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Música como estratégia de humanização no Hospital Municipal Júlio Alves<br />

de Lira<br />

José Davison <strong>da</strong> Silva Júnior<br />

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Campus Belo Jardim<br />

<strong>da</strong>vison.junior@belojardim.ifpe.edu.br<br />

Resumo: Este trabalho apresenta um projeto de pesquisa, cujo objetivo geral é utilizar a<br />

música como estratégia para humanização <strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s no Hospital Municipal<br />

Júlio Alves de Lira. A música está inseri<strong>da</strong> em vários contextos e exerce várias funções. A<br />

questão <strong>do</strong> atendimento humaniza<strong>do</strong> tem si<strong>do</strong> pauta nas priorizações <strong>da</strong> iniciativa<br />

governamental. A prova disso é o Programa Nacional de Humanização <strong>da</strong> Assistência<br />

Hospitalar, lança<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde no ano de 2000, o qual valoriza a dimensão<br />

humana e subjetiva, presente em to<strong>do</strong> ato de assistência a saúde. Nesta proposta de<br />

humanização, a música se insere como meio para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> paciente<br />

interna<strong>do</strong> no hospital, através <strong>do</strong> fazer musical, no qual o paciente tem um papel ativo na<br />

busca de sua melhoria e alta hospitalar. Basea<strong>do</strong> no referencial teórico <strong>da</strong> Musicoterapia sobre<br />

os efeitos <strong>da</strong> música no ser humano, as experiências musicais e a identi<strong>da</strong>de sonora<br />

individual, espera-se que os pacientes relatem uma melhoria no internamento hospitalar a<br />

partir <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais vivencia<strong>da</strong>s.<br />

Palavras-chave: Música, Humanização, Internamento hospitalar.<br />

Introdução e objetivos <strong>da</strong> pesquisa<br />

A música está inseri<strong>da</strong> em vários contextos e exerce várias funções. Em nossa<br />

caminha<strong>da</strong> acadêmica e profissional utilizamos, em um primeiro momento, a música no<br />

contexto educacional, com função educativa, com o objetivo de torná-la acessível como forma<br />

de conhecimento, através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de sua teoria e história.<br />

Com o passar <strong>do</strong> tempo percebemos que a música tem um papel significativo não<br />

apenas na área educacional, mas também na área <strong>da</strong> saúde, através de efeitos fisiológicos,<br />

psicológicos, intelectuais, sociais e transcendentes. Ou seja, existem interfaces entre Música,<br />

Educação e Saúde. Apesar <strong>do</strong> objetivo imediato <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical de proporcionar ao<br />

aluno a aquisição de conhecimento e habili<strong>da</strong>des musicais, o objetivo mediato <strong>da</strong> educação<br />

musical pode ser alcançar um efeito terapêutico, principalmente se a pessoa está em uma<br />

situação de vulnerabili<strong>da</strong>de.<br />

O profissional na área <strong>da</strong> saúde busca caminhos para aliviar a <strong>do</strong>r alheia, melhorar a<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> paciente. Para este profissional, a <strong>do</strong>ença se torna um constante desafio<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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385


2 OA N O S<br />

que o projeta para novas descobertas no avanço <strong>da</strong> ciência.<br />

Nesta proposta de humanização, a música se insere como meio para a melhoria <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> paciente interna<strong>do</strong> no hospital, através <strong>do</strong> fazer musical, no qual o<br />

paciente tem um papel ativo na busca de sua melhoria e alta hospitalar. As ativi<strong>da</strong>des<br />

musicais de cantar, tocar um instrumento e ouvir música podem exercer um papel terapêutico<br />

na melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> indivíduo.<br />

O objetivo geral <strong>da</strong> pesquisa é utilizar a música como estratégia para humanização<br />

<strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s no Hospital Municipal Júlio Alves de Lira.<br />

Os objetivos específicos são: identificar as repercussões <strong>da</strong> música nas condições<br />

clínicas <strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s no Hospital Municipal Júlio Alves de Lira; averiguar a<br />

correlação entre níveis de estresse, em consequência <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de internamento, como os<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> música no Hospital Municipal Júlio Alves de Lira e; promover a<br />

interação <strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s no Hospital Municipal Júlio Alves de Lira com a equipe<br />

multidisciplinar por intermédio <strong>da</strong> música.<br />

Referencial Teórico<br />

Segun<strong>do</strong> Poch Blasco (1999), o valor terapêutico <strong>da</strong> música está no fato de a música<br />

produzir, no ser humano, efeitos biológico, fisiológico, psicológico, intelectual, social e<br />

espiritual. To<strong>da</strong>via Costa (1989) conclui que o valor terapêutico <strong>da</strong> música não está somente<br />

nos efeitos que o som pode provocar sobre o organismo e psiquismo humano, mas sim no<br />

significa<strong>do</strong> que é <strong>da</strong><strong>do</strong> à música por ca<strong>da</strong> ouvinte.<br />

Todres (2006) em um apanha<strong>do</strong> de trabalhos científicos sobre o uso <strong>da</strong> música na<br />

medicina observou que a música afeta as necessi<strong>da</strong>des físicas, emocionais, cognitivas e<br />

sociais e indivíduos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. Ao fazer referências a alguns artigos, o autor relata<br />

que a música é benéfica para pacientes com <strong>do</strong>r; alivia a ansie<strong>da</strong>de pré-operatória nas<br />

crianças; age sobre o sistema nervoso autônomo; reduz os batimentos cardíacos, a pressão<br />

arterial e a <strong>do</strong>r pós-cirúrgica; diminui a confusão e o delírio em i<strong>do</strong>sos submeti<strong>do</strong>s a cirurgias<br />

eletivas de joelho e quadril; auxilia na redução de distúrbios de humor em pacientes<br />

submeti<strong>do</strong>s a tratamento com altas <strong>do</strong>ses de quimioterapia segui<strong>do</strong> de transplante autólogo de<br />

células-tronco.<br />

A questão <strong>do</strong> atendimento humaniza<strong>do</strong> tem si<strong>do</strong> pauta nas priorizações <strong>da</strong> iniciativa<br />

governamental. A prova disso é o Programa Nacional de Humanização <strong>da</strong> Assistência<br />

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2 OA N O S<br />

Hospitalar, lança<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde no ano de 2000, o qual valoriza a dimensão<br />

humana e subjetiva, presente em to<strong>do</strong> ato de assistência a saúde. A proposta de humanização<br />

<strong>da</strong> assistência à saúde é um valor para a conquista de uma melhor quali<strong>da</strong>de de atendimento à<br />

saúde <strong>do</strong> usuário e de melhores condições de trabalho para os profissionais (BRASIL, 2001).<br />

O cui<strong>da</strong>r humaniza<strong>do</strong> implica a compreensão e a valoração <strong>da</strong> pessoa humana<br />

enquanto sujeito histórico e social. Para isso, deve-se considerar, acima de tu<strong>do</strong>, que para<br />

desencadear um processo de humanização no ambiente hospitalar, não são necessários<br />

grandes investimentos ou a<strong>da</strong>ptações no ambiente físico. É primordial que haja sensibilização<br />

com relação à problematização <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de concreta, a partir <strong>da</strong> equipe multidisciplinar<br />

(BACKES et al, 2005).<br />

Dentre os objetivos <strong>do</strong> Programa Nacional de Humanização <strong>da</strong> Assistência<br />

Hospitalar está à melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e a eficácia <strong>da</strong> atenção dispensa<strong>da</strong> aos usuários <strong>do</strong>s<br />

hospitais públicos no Brasil e conceber e implantar novas iniciativas de humanização nos<br />

hospitais que venham a beneficiar os usuários e os profissionais de saúde (BRASIL, 2001).<br />

Uma proposta de implantar novas iniciativas de humanização na área hospitalar é a utilização<br />

<strong>da</strong> música.<br />

A música será utiliza<strong>da</strong> através de ativi<strong>da</strong>de de ouvir música e/ou cantar e/ou tocar<br />

um instrumento musical. As ativi<strong>da</strong>des musicais propostas estão relaciona<strong>da</strong>s aos tipos de<br />

experiências musicais em Musicoterapia apresenta<strong>do</strong>s por Bruscia (2000), a saber:<br />

experiências de improvisação, na qual “o cliente faz música tocan<strong>do</strong> ou cantan<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong><br />

uma melodia, um ritmo, uma canção ou peça musical de improviso” (BRUSCIA, 2000, p.<br />

124); experiências re-criativas, na qual “o cliente aprende ou executa música instrumentais ou<br />

vocais ou reproduções de qualquer tipo musical apresenta<strong>do</strong> como modelo” (BRUSCIA,<br />

2000, p.126); experiências de composição, onde “o terapeuta aju<strong>da</strong> o cliente a escrever<br />

canções, letras ou peças instrumentais, ou a criar qualquer tipo de produto musical como<br />

vídeos com música ou fitas de vídeo” (BRUSCIA, 2000, p.127); experiências receptivas, na<br />

qual o cliente ouve música e responde à experiência de forma silenciosa, verbalmente ou<br />

através de outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de.<br />

O repertório utiliza<strong>do</strong> com os pacientes interna<strong>do</strong>s será escolhi<strong>do</strong> pelos próprios<br />

pacientes. De acor<strong>do</strong> com Benenzon (1985) existe uma identi<strong>da</strong>de sonora que caracteriza ca<strong>da</strong><br />

indivíduo, forma<strong>do</strong> pelas experiências musicais vivencia<strong>da</strong>s durante to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, as quais<br />

compõem a história sonora individual. Conhecer e trabalhar com o repertório que faz parte <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de sonora individual torna as ativi<strong>da</strong>des musicais mais significativas, pois resgata algo<br />

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2 OA N O S<br />

familiar ao paciente.<br />

É importante destacar que o trabalho a ser realiza<strong>do</strong> não será Musicoterapia, pois os<br />

pesquisa<strong>do</strong>res envolvi<strong>do</strong>s não são musicoterapeutas de formação, mas será uma proposta que<br />

terá um efeito terapêutico. A esse respeito, Barcellos (1999) comenta que to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des<br />

que utilizam música podem ter efeitos terapêuticos, mas única ativi<strong>da</strong>de que tem objetivos<br />

terapêuticos e se constitui em terapia é a Musicoterapia.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Pretende-se realizar uma pesquisa exploratória, descritiva, com abor<strong>da</strong>gem<br />

qualitativa, ten<strong>do</strong> em vista a subjetivi<strong>da</strong>de que envolve a relação homem música. A pesquisa<br />

qualitativa “propicia a construção de novas abor<strong>da</strong>gens, revisão e criação de novos conceitos<br />

e categorias durante a investigação” (MINAYO, 2006, p.57). Essas aberturas possíveis, no<br />

campo <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, favorecem a construção de um trabalho que propõe uma interlocução<br />

entre Ciência e Arte.<br />

O presente estu<strong>do</strong> será realiza<strong>do</strong> com os pacientes interna<strong>do</strong>s na clínica médica <strong>do</strong><br />

Hospital Municipal Júlio Alves de Lira, localiza<strong>do</strong> em Belo Jardim - PE. O referi<strong>do</strong> hospital<br />

possui a capaci<strong>da</strong>de de vinte leitos. Os pesquisa<strong>do</strong>res serão <strong>do</strong>centes e discentes <strong>do</strong> curso de<br />

Licenciatura em Música e Técnico em Enfermagem.<br />

Fará parte <strong>da</strong> pesquisa cinquenta por cento <strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s no Hospital<br />

Municipal Júlio Alves de Lira, com faixa etária acima de 18 anos i<strong>da</strong>de, que estejam<br />

conscientes e com condições clínicas e psíquicas para participar <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e concordem em<br />

participar <strong>da</strong> pesquisa através <strong>da</strong> assinatura <strong>do</strong> Termo de Consentimento Livre e Esclareci<strong>do</strong>.<br />

O principal instrumento de trabalho será a música. As ativi<strong>da</strong>des musicais que se<br />

pretende executar são o canto, e/ou audição de músicas e/ou execução de instrumentos. To<strong>da</strong>s<br />

as ativi<strong>da</strong>des serão propostas aos pacientes, os quais executarão dentro de suas possibili<strong>da</strong>des<br />

físicas e psicológicas.<br />

As preferências musicais serão escolhi<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>s respostas obti<strong>da</strong>s após a<br />

realização <strong>da</strong> primeira entrevista semi-estrutura<strong>da</strong>, que será grava<strong>da</strong> em MP3. Posteriormente<br />

será aplica<strong>da</strong> uma segun<strong>da</strong> entrevista semi-estrutura<strong>da</strong>, grava<strong>da</strong> em MP3, para identificar o<br />

efeito <strong>da</strong> música para os pacientes interna<strong>do</strong>s.<br />

Para alcançar os objetivos utilizar-se-á de três etapas: primeira, uma entrevista semiestrutura<strong>da</strong><br />

para colher informações sobre o esta<strong>do</strong> geral <strong>do</strong> paciente, sentimentos sobre o<br />

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2 OA N O S<br />

internamento e suas preferências musicais; segun<strong>da</strong>, visitas musicais nos leitos <strong>do</strong>s pacientes,<br />

utilizan<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des musicais como ouvir, e/ou cantar, e/ou tocar, um instrumento musical<br />

conforme preferências especifica<strong>da</strong>s; terceira etapa, nova entrevista para identificar condições<br />

clinicas e emocionais após vivência com a música e como se encontra os seus sentimentos<br />

sobre o internamento.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s nas entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s serão analisa<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong><br />

análise de conteú<strong>do</strong>, a qual busca interpretar o material qualitativo. A análise de conteú<strong>do</strong><br />

“visa a ultrapassar o nível <strong>do</strong> senso comum e <strong>do</strong> subjetivismo na interpretação e alcançar uma<br />

vigilância crítica ante a comunicação de <strong>do</strong>cumentos, textos literários, bibliográficos,<br />

entrevistas ou resulta<strong>do</strong>s de observação” (MINAYO, 2006, p. 308).<br />

Considerações Finais<br />

Este trabalho mostrou um resumo <strong>do</strong> projeto de pesquisa que pretende utilizar a<br />

música no contexto <strong>da</strong> saúde, para melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s pacientes interna<strong>do</strong>s.<br />

A partir <strong>da</strong> análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s e <strong>da</strong> revisão <strong>da</strong> literatura, espera-se<br />

identificar e refletir sobre os aspectos teóricos e práticos que contribuem para que a utilização<br />

<strong>da</strong> música seja um meio eficaz para a humanização <strong>do</strong> paciente interna<strong>do</strong>.<br />

Este projeto possibilitará ao estu<strong>da</strong>nte ou profissional <strong>da</strong> educação musical conhecer<br />

um novo espaço de atuação profissional, cujo objetivo será, não somente ensinar música, mas<br />

utilizá-la como um meio para melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, aproximan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> objeto de<br />

atuação <strong>da</strong> Musicoterapia, buscan<strong>do</strong> uma formação integral <strong>da</strong> pessoa. Espera-se,<br />

principalmente, que a música atue com o efeito terapêutico de melhoria <strong>do</strong> humor <strong>do</strong> paciente<br />

durante o internamento hospitalar.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BACKES, Dirce Stein; LUNARDI FILHO, Wilson Danilo; LUNARDI,Valéria Lerch. A<br />

construção de um processo interdisciplinar de humanização à luz de Freire. Revista Texto<br />

Contexto Enfermagem, Porto Alegre, n. 14, p 427-434, 2005.<br />

BARCELLOS, Lia Rejane Mendes. Cadernos de Musicoterapia 4: Etapas <strong>do</strong> processo<br />

musicoterapêutico ou para uma meto<strong>do</strong>logia de musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros,<br />

1999.<br />

BENENZON, Rolan<strong>do</strong>. Manual de Musicoterapia. Tradução de Clementina Nastari. Rio de<br />

Janeiro: Enelivros, 1985.<br />

BRASIL, Ministério <strong>da</strong> Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de<br />

Humanização <strong>da</strong> Assistência Hospitalar. Ministério <strong>da</strong> Saúde, Secretaria de Assistência à<br />

Saúde. Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2001.<br />

BRUSCIA, Kenneth. Definin<strong>do</strong> musicoterapia. Tradução de Mariza Velloso Fernandez<br />

Conde. 2ª edição. Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.<br />

COSTA, Clarice Moura. O despertar para o outro. São Paulo: Summus Editorial, 1989.<br />

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio <strong>do</strong> conhecimento: pesquisa qualitativa em<br />

saúde. 9 ed. São Paulo: Hucitec, 2006.<br />

POCH BLASCO, Serafina. Compendio de Musicoterapia. Volume I. Barcelona: Empresa<br />

Editorial Herder S.A., 1999.<br />

TODRES, David. Música é remédio para o coração. In: Jornal de Pediatria. Vol. 82. Nº 3.<br />

Rio de Janeiro: Socie<strong>da</strong>de Brasileira de Pediatria, 2006. p. 166-168.<br />

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2 OA N O S<br />

Música e computação: aprendizagem musical no âmbito <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de<br />

Manassés Bispo <strong>da</strong> Silva 1<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

mbispo2@hotmail.com<br />

Jaziel Vitalino Souza e Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

jvss@cin.ufpe.br<br />

Nelson Cavalcanti de Almei<strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

noslen<strong>da</strong>lme@gmail.com<br />

Resumo: As tecnologias computacionais têm sugeri<strong>do</strong> novas formas de pensar e organizar a<br />

educação, e novas facetas <strong>da</strong> educação à distância têm conquista<strong>do</strong> crescente espaço no<br />

processo educacional. No âmbito <strong>da</strong> educação formal, as plataformas de EAD têm si<strong>do</strong> ca<strong>da</strong><br />

vez mais sofistica<strong>da</strong>s. Entretanto, pesquisas recentes têm investiga<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong>s jogos<br />

digitais para a educação musical, estimulan<strong>do</strong> a produção de novos softwares educacionais.<br />

Sob a prerrogativa de que a tecnologia está presente no cotidiano <strong>da</strong>s pessoas, principalmente<br />

<strong>do</strong>s mais jovens, a produção destes softwares é projeta<strong>da</strong>, geralmente, para um público<br />

específico e busca atendê-lo de forma integra<strong>da</strong>, ou seja: vários softwares são desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

para diferentes tecnologias, como os celulares inteligentes, os games, o computa<strong>do</strong>r, a web<br />

etc. A especifici<strong>da</strong>de de públicos não é excludente, mas os projetos são desenvolvi<strong>do</strong>s em<br />

função de características próprias de determina<strong>do</strong> grupo de pessoas, enquanto a integração de<br />

tecnologias possibilita um alcance maior de usuários. A educação musical poderá se valer<br />

dessas tecnologias para galgar recursos à educação musical formal, ou estimular o uso de<br />

softwares [musico-educacionais] em ambiente extraescolar, no âmbito <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de, já<br />

que é possível aprender brincan<strong>do</strong>.<br />

Palavras-chave: Softwares, entretenimento, informali<strong>da</strong>de, aprendizagem musical.<br />

Introdução<br />

A Educação Musical é um fator preponderante na formação <strong>do</strong> indivíduo. Seu espaço<br />

nos currículos <strong>da</strong>s escolas brasileiras é novamente garanti<strong>do</strong> pela Lei 11.769, de 18 de agosto<br />

de 2008. Esta garantia é uma ferramenta de inclusão cultural e de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Mas, enquanto o<br />

poder público não providenciava este espaço mereci<strong>do</strong> <strong>da</strong> Educação Musical na escola<br />

pública, a rede priva<strong>da</strong> de educação incorporou em seu currículo a Educação Musical como<br />

disciplina ou como conteú<strong>do</strong> <strong>da</strong> Parte Diversifica<strong>da</strong>, de que trata o Art. 26 <strong>da</strong> atual Lei de<br />

1<br />

Parte deste trabalho também é resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> pesquisa monográfica realiza<strong>da</strong> pelo autor, durante o curso de<br />

especialização em Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Ensino <strong>da</strong> Música, realiza<strong>do</strong> no Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e<br />

Extensão (IBPEX), em 2010.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional (LDBEN – Lei 9.394/96); além disso, outros grupos<br />

sociais trataram de fazer acontecer a educação musical fora <strong>da</strong> escola, e nela conseguiram<br />

entrar. Como exemplo, podem ser cita<strong>da</strong>s as organizações não governamentais (ONGs),<br />

associações, igrejas e fun<strong>da</strong>ções de assistência social, entre outras. Almei<strong>da</strong> (2005) trata <strong>da</strong><br />

educação musical em três contextos: formal, não formal e informal. No âmbito <strong>da</strong> educação, a<br />

formali<strong>da</strong>de remete a um cumprimento obrigatório de determina<strong>da</strong>s regras e está vincula<strong>da</strong><br />

aos parâmetros curriculares <strong>da</strong> escola. Neste aspecto, entendemos que embora as tecnologias<br />

se valham <strong>do</strong> não formal e <strong>do</strong> informal, também se apoiam na formali<strong>da</strong>de, a exemplo <strong>do</strong>s<br />

Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), os quais mediam cursos à distância, em vários<br />

níveis de ensino.<br />

A educação não formal se dá num ambiente extraescolar, alude a “deman<strong>da</strong>s novas e<br />

diferentes <strong>da</strong>s que atende ordinariamente o sistema educativo” e “acolhe to<strong>do</strong>s os programas<br />

educativos que estão fora <strong>da</strong> escola”, enquanto a informali<strong>da</strong>de educacional, por sua vez, diz<br />

respeito às demais ativi<strong>da</strong>des educacionais desenvolvi<strong>da</strong>s sem parâmetros claros, sem uma<br />

organização sequencial, ou sem amparo legal (ALMEIDA, 2005, p. 51). Estes <strong>do</strong>is últimos<br />

tipos de educação – não formal e informal – são oriun<strong>do</strong>s, portanto, de um espaço<br />

extraescolar. E é este espaço que a tecnologia resgata: tanto o computa<strong>do</strong>r, quanto o celular,<br />

os games, e as próprias redes sociais são um veículo que transporta música às pessoas.<br />

Através destes meios, músicas são compartilha<strong>da</strong>s, são compostas, critica<strong>da</strong>s ou capazes de<br />

despertar o interesse pelo aprendiza<strong>do</strong> de algum instrumento. A internet, também como<br />

agente de informação, dispõe de vários aplicativos gratuitos que auxiliam a auto didática,<br />

presente principalmente na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s mais jovens. Aliás, muitos softwares são constituí<strong>do</strong>s de<br />

ativi<strong>da</strong>des didáticas intuitivas e podem despertar a atenção <strong>da</strong>s crianças. To<strong>da</strong>via, mesmo que<br />

um software seja projeta<strong>do</strong> para fins de entretenimento, possivelmente dele se extrairá<br />

elementos pe<strong>da</strong>gógicos. Portanto, este trabalho é resulta<strong>do</strong> de pesquisas realiza<strong>da</strong>s pelo Grupo<br />

de Pesquisa em Música Assisti<strong>da</strong> por Computa<strong>do</strong>r (GPMAC), <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Pernambuco (UFPE), e investiga, ain<strong>da</strong> que de forma preliminar, como se dá o processo de<br />

aprendiza<strong>do</strong> musical media<strong>do</strong> por softwares, e sugere uma prática pe<strong>da</strong>gógica musical no<br />

âmbito <strong>da</strong>s tecnologias computacionais.<br />

Entretenimento na educação musical<br />

Ao pensar em entretenimento a primeira ideia que nos surge é a de passatempo:<br />

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2 OA N O S<br />

jogos, revistas sociais, música (para relaxamento), e demais ativi<strong>da</strong>des sem um determina<strong>do</strong><br />

grau de responsabili<strong>da</strong>de, em detrimento <strong>da</strong> educação formal. Conforme Antunes (2008),<br />

Piaget defendia que a aprendizagem é mais significativa quan<strong>do</strong> o aprendiz é um sujeito ativo<br />

no processo educativo. No caso <strong>do</strong>s jogos, temos uma analogia com a reali<strong>da</strong>de, uma espécie<br />

de metáfora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real, pois os jogos funcionam como simula<strong>do</strong>res e promovem um<br />

envolvimento entre o usuário e outros indivíduos ou objetos virtuais. Desde o antigo Egito os<br />

jogos eram utiliza<strong>do</strong>s para a simulação de guerra (VILA; SANTANDER, 2003 apud<br />

HAGUENAUER, 2007), mas a pe<strong>da</strong>gogia no século presente, através <strong>da</strong>s tecnologias<br />

computacionais, tem se vali<strong>do</strong> <strong>do</strong>s jogos como um estímulo para a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e para a<br />

melhoria <strong>da</strong> educação, através de ações cooperativas. Segun<strong>do</strong> Guia e França (2005, p. 19),<br />

“as ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> jogo são meios essenciais para o desenvolvimento <strong>da</strong> representação mental e<br />

constituem importantes indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> desenvolvimento cognitivo <strong>da</strong> criança”. Também<br />

permitem “ampliar o potencial <strong>do</strong> uso de imagens, animações e interativi<strong>da</strong>de, além de<br />

resgatar o aspecto lúdico e prazeroso <strong>da</strong> aprendizagem” (HAGUENAUER, 2007, p. 2).<br />

Os softwares Guitar Hero e Digiband<br />

Para Swanwick (1994 apud NAVEDA, 2006), o uso <strong>da</strong> tecnologia computacional na<br />

educação musical alarga as possibili<strong>da</strong>des de se realizar um impacto musical direto. Dentro<br />

dessa perspectiva, poderemos citar, dentre outros, os softwares Guitar Hero, Rock Band e<br />

Digiband, simula<strong>do</strong>res de instrumentos musicais. O pioneiro Guitar Hero, cria<strong>do</strong> pela<br />

empresa norte-americana Harmonix Music Systems, simula apenas guitarra, enquanto os <strong>do</strong>is<br />

últimos simulam bateria, guitarra e contrabaixo. A interface destes jogos denuncia que foram<br />

projeta<strong>do</strong>s para entretenimento, mas, por abor<strong>da</strong>rem conteú<strong>do</strong>s musicais (com ênfase no<br />

rock), as ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> jogo facultam a construção de melodias e a percepção rítmica,<br />

provocan<strong>do</strong> no usuário sensação e experiência <strong>do</strong> fazer musical, num ambiente virtual.<br />

Ambos os softwares permitem até três joga<strong>do</strong>res, fomentan<strong>do</strong> o conceito de interação, como<br />

mostram as figuras 1 e 2, na página seguinte.<br />

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FIGURA 1 – Tela <strong>do</strong> Guitar Hero para três joga<strong>do</strong>res<br />

FIGURA 2 – Criança Jogan<strong>do</strong> Guitar Hero<br />

Como apregoa Dewey (1976), a eficácia <strong>do</strong> processo educativo deve ter como<br />

premissa a experiência. É o aprendiz como sujeito ativo no processo. Uma vez que vários<br />

softwares de entretenimento trabalham o aspecto rítmico, os professores de música podem<br />

extrair <strong>do</strong>s jogos digitais princípios pe<strong>da</strong>gógicos e estimular os alunos a utilizarem softwares<br />

musicais específicos para determina<strong>da</strong> disciplina. Esta proposição instiga maior conhecimento<br />

<strong>da</strong>s tecnologias e suas possibili<strong>da</strong>des didáticas, por parte de professores. Entretanto, este não é<br />

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o foco de discussão.<br />

Outro conceito presente em jogos é o de imersão, entendi<strong>do</strong> como um mecanismo<br />

cognitivo que transporta o indivíduo a ambientes não reais (RYAN, 2001). Embora esteja<br />

fisicamente em frente ao computa<strong>do</strong>r, o usuário passa a se ver noutro lugar, como simula o<br />

jogo (KUTOVA, 2007). Em seu blog 2 , Kutova comenta que<br />

Educação musical à distância<br />

os usuários de jogos digitais entendem imersão como um grau de<br />

envolvimento com o jogo. Esse envolvimento cresce com o tempo e é<br />

controla<strong>do</strong> por barreiras. Só é possível mu<strong>da</strong>r de um nível de envolvimento<br />

para outro através <strong>da</strong> remoção de barreiras. Porém, a remoção de barreiras,<br />

seja através <strong>da</strong> ação consciente <strong>do</strong> usuário, seja através <strong>da</strong> construção <strong>do</strong><br />

jogo, permite o aumento <strong>do</strong> envolvimento, mas não o garante.<br />

Segun<strong>do</strong> Moran (2010), a Educação à Distância (EAD) tem atendi<strong>do</strong>, num contexto<br />

formal, a indivíduos com oportuni<strong>da</strong>des fragiliza<strong>da</strong>s, geralmente por fatores econômicos. Essa<br />

deman<strong>da</strong> submeti<strong>da</strong> ao tecnicismo <strong>do</strong>s anos 40, pode ser uma <strong>da</strong>s causas <strong>do</strong> preconceito<br />

sofri<strong>do</strong> pela EAD no Brasil, aponta Moran, embora a internet venha expandin<strong>do</strong> esta<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, e tenha migra<strong>do</strong> <strong>do</strong> modelo por correspondência para o modelo digital. O autor<br />

define Educação à Distância como<br />

o processo de ensino-aprendizagem, media<strong>do</strong> por tecnologias, no qual<br />

professores e alunos estão separa<strong>do</strong>s espacial e/ou temporalmente. Apesar de<br />

não estarem juntos, de maneira presencial, eles podem estar conecta<strong>do</strong>s,<br />

interliga<strong>do</strong>s por tecnologias, principalmente as telemáticas, como a Internet.<br />

Mas também podem ser utiliza<strong>do</strong>s o correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o<br />

CD-ROM, o telefone, o fax e tecnologias semelhantes (MORAN, 2010,<br />

n.p.).<br />

Apoia<strong>da</strong> pelas novas tecnologias, a educação musical à distância pode ser concebi<strong>da</strong><br />

por duas óticas: a formal e a informal. A primeira, contempla<strong>da</strong> pelo art. 80 <strong>da</strong> LDBEN (Lei<br />

9394/96), refere-se à EAD propriamente dita. A segun<strong>da</strong> pode ser caracteriza<strong>da</strong> pelo uso de<br />

softwares educativos. Neste caso, os desenvolve<strong>do</strong>res se relacionam com os aprendizes<br />

através de uma interface gráfica de software. Muitas empresas, a exemplo <strong>da</strong> D’Accord Music<br />

Software, planejam ativi<strong>da</strong>des musicais didáticas que possam ser desenvolvi<strong>da</strong>s tanto<br />

individualmente quanto coletivamente. Individualmente, quan<strong>do</strong> um usuário instala o<br />

2<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 05 jun. 2008.<br />

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software em seu próprio computa<strong>do</strong>r ou iPhone. Já o uso coletivo <strong>do</strong>s softwares pode ocorrer<br />

nos laboratórios <strong>da</strong>s escolas, com a presença de um professor. No âmbito <strong>do</strong> uso coletivo<br />

destes softwares, a formali<strong>da</strong>de pode prevalecer 3 , mas o informal acaba conquistan<strong>do</strong> espaços<br />

media<strong>do</strong>s pelo estímulo <strong>do</strong> professor e o interesse <strong>do</strong>s alunos, visto que o processo ensinoaprendizagem<br />

transcende o ambiente escolar. Se o professor conquista o interesse <strong>do</strong> aluno<br />

em relação a um software de entretenimento, certamente o aluno tenderá a utilizar este<br />

software em ambiente extraescolar, sem obrigações de horários, e aprenderá com prazer. Vale<br />

ressaltar que os jogos já fazem parte <strong>do</strong> cotidiano de muitos alunos; por isso, o professor de<br />

música deve se atualizar quanto ao uso <strong>da</strong>s tecnologias de informação e comunicação (TICs)<br />

em sala de aula, para conduzir bem as ativi<strong>da</strong>des.<br />

Incontestavelmente, a música nunca esteve ausente <strong>da</strong>s pessoas. A atmosfera está<br />

repleta de eventos sonoros. São sons que vão se organizan<strong>do</strong> de forma não convencional.<br />

Entretanto, as reali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s novas formas de pensar, de organizar sugerem um processo<br />

educativo informal quan<strong>do</strong> uma criança instala um software instrucional de bateria em seu<br />

micro, por exemplo, e vira um ‘músico’ virtual, adentra num universo digital e abstrai a<br />

linguagem musical, constrói seu sotaque. Toca seu instrumento virtual aleatoriamente, e se<br />

realiza. Essa realização é o elo que satisfaz <strong>do</strong>is extremos: o primeiro se refere aos<br />

idealiza<strong>do</strong>res ou construtores <strong>do</strong>s softwares didáticos; o segun<strong>do</strong> diz respeito ao usuário,<br />

ávi<strong>do</strong> de novi<strong>da</strong>des tecnológicas e lazer virtual. Muitas vezes o usuário não é consciente <strong>da</strong><br />

construção <strong>do</strong> processo nem <strong>do</strong> processo em si, mas o prazer que sente ao interagir com o<br />

computa<strong>do</strong>r é o que lhe interessa. Não defendemos que o professor deve ser substituí<strong>do</strong> pelo<br />

computa<strong>do</strong>r, mas este deve ser reconheci<strong>do</strong> como uma ferramenta importante em qualquer<br />

processo educativo, inclusive no âmbito musical. Vários autores, como Fritsch (2003), Gamez<br />

(1998) e Valente (2001) também defendem que os computa<strong>do</strong>res não podem e não devem<br />

substituir o educa<strong>do</strong>r musical, embora muitos professores manifestem abstinência à a<strong>do</strong>ção<br />

dessas tecnologias.<br />

Uma vez que a interação <strong>do</strong> usuário com o computa<strong>do</strong>r, via software educativo<br />

musical pode constituir um processo educativo num âmbito informal, é salutar converter este<br />

processo para a formali<strong>da</strong>de ou para a não-formali<strong>da</strong>de. Como cita<strong>do</strong> acima, a formali<strong>da</strong>de a<br />

que nos referimos não tange ao modelo tradicional de ensino, inseri<strong>do</strong> no paradigma<br />

3 A formali<strong>da</strong>de pode prevalecer quan<strong>do</strong> as ativi<strong>da</strong>des via software forem inseri<strong>da</strong>s no cronograma de uma<br />

disciplina. Por exemplo, a ementa <strong>da</strong> disciplina de Percepção Rítmica prever aulas práticas no laboratório de<br />

informática <strong>da</strong> escola, utilizan<strong>do</strong> um software específico.<br />

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instrucionista, mas ao compromisso legal conferi<strong>do</strong> à escola. Em se tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> não<br />

formali<strong>da</strong>de, salientamos que as organizações sociais tem-se constituí<strong>do</strong> como um espaço de<br />

atuação profissional para o professor de música, conforme Almei<strong>da</strong> (2005), e podem explorar<br />

os conteú<strong>do</strong>s musicais fazen<strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s tecnologias que estejam ao alcance <strong>do</strong> público alvo.<br />

Para ilustrar a relevância <strong>da</strong> educação musical à distância, no âmbito <strong>da</strong><br />

informali<strong>da</strong>de, transcrevemos uma tag <strong>do</strong> portal <strong>da</strong> D’ accord Music Software, referente ao<br />

Bateria Player:<br />

O Bateria Player é a solução ideal para as pessoas que sempre quiseram<br />

aprender a tocar bateria, mas não têm tempo. Ele é um professor virtual que<br />

ensina a tocar bateria de forma fácil de diverti<strong>da</strong>, através de uma bateria<br />

virtual que interage com o aluno. Você pode aprender em casa, fazen<strong>do</strong> seu<br />

próprio horário e utilizan<strong>do</strong> seu computa<strong>do</strong>r 4 .<br />

Outros jogos digitais aplica<strong>do</strong>s à música, a exemplo <strong>do</strong> Music Memory e <strong>do</strong><br />

Synthesia (disponíveis no portal baixaki.com), podem auxiliar o processo educativo musical,<br />

concernente à performance instrumental. Enfim, o uso <strong>da</strong>s Tecnologias de Informação e<br />

Comunicação – TIC pode enriquecer o ambiente de aprendizagem musical, onde os<br />

indivíduos nele inseri<strong>do</strong>s interajam entre si, construin<strong>do</strong> conhecimento.<br />

A plataforma <strong>do</strong>s celulares<br />

A web nos traz a oportuni<strong>da</strong>de de romper as barreiras geográficas e temporais.<br />

Através de seu uso, pode-se compartilhar uma mesma ativi<strong>da</strong>de, seja cooperativa ou<br />

competitiva, fazer reuniões virtuais síncronas ou assíncronas, jogar simultaneamente, etc.<br />

Uma coleta de sons de um determina<strong>do</strong> ambiente pode ser realiza<strong>da</strong> a partir de um celular, por<br />

exemplo. Já que estes aparelhos tem capaci<strong>da</strong>de de gravar sons, outra possibili<strong>da</strong>de de seu uso<br />

didático é a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> afinação ou entonação vocal: mesmo que a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

gravação não seja a mais desejável, o indivíduo pode gravar e reproduzir sua voz, para<br />

análise, ou pode ain<strong>da</strong> cantar com um playback pré-grava<strong>do</strong> no celular.<br />

À medi<strong>da</strong> que o celular é reconheci<strong>do</strong> como uma espécie de microcomputa<strong>do</strong>r – pois<br />

segun<strong>do</strong> Bozzetto (2008), o aparelho que invadiu o merca<strong>do</strong> para ser apenas um telefone<br />

móvel, concentra várias possibili<strong>da</strong>des, tais como: “formas de compor, escutar, gravar,<br />

procurar músicas”, e identificar chama<strong>da</strong>s através de toques personaliza<strong>do</strong>s – podemos<br />

4 Disponível em: < http://www.<strong>da</strong>ccord.com.br/produto.php?idProduto=17>. Acesso em: 5 abr. <strong>2011</strong>.<br />

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considera-lo um recurso importante para o ensino <strong>da</strong> música, visto que a apreciação e a<br />

composição musical podem ser faculta<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> partilha de músicas ou captura de sons.<br />

Entretanto, torna-se necessária uma reflexão sobre práticas pe<strong>da</strong>gógicas musicais que<br />

contemplem a utilização destes recursos, pois promovem interação, engajamento e<br />

participativi<strong>da</strong>de.<br />

Softwares didáticos<br />

No âmbito <strong>da</strong> informali<strong>da</strong>de também se encontram os softwares desenvolvi<strong>do</strong>s para a<br />

educação musical. Categorizamos pelo menos 41 softwares disponíveis no portal baixaki.com,<br />

de acor<strong>do</strong> com a função principal à qual se destinam: ensino <strong>da</strong> composição, <strong>da</strong> teoria<br />

musical, percepção musical, além de outros programas dedica<strong>do</strong>s ao ensino de instrumentos<br />

(40% <strong>do</strong> total pesquisa<strong>do</strong>). Chamamos a atenção para o LenMus Phonascus, uma espécie de<br />

professor virtual polivalente, que trabalha a teoria <strong>da</strong> música e a percepção musical e possui<br />

um editor de partituras, com uma interface amigável. Seus cadernos de teoria, exercícios e<br />

edição de partituras são integra<strong>do</strong>s, permitin<strong>do</strong> o usuário fazer consultas ao conteú<strong>do</strong> teórico,<br />

enquanto faz um exercício de percepção (rítmica, melódica, harmônica ou cadencial). As<br />

ferramentas <strong>do</strong> LenMus, inclusive as de edição, podem estimular o aprendiz a compor. Para<br />

Keith Swanwick (2003), a composição permite que o indivíduo rompa com seu casulo e se<br />

[re]descubra no mun<strong>do</strong>. É a expressão <strong>do</strong> “eu”, o espírito cri-ativo <strong>do</strong> aprendiz. Embora o<br />

LenMus não seja configura<strong>do</strong> para o português, o professor poderá utiliza-lo em sala de aula<br />

ou estimular seu uso individual, já que o programa é intuitivo.<br />

Quanto ao uso individual de softwares musico-educativos, é importante que suas<br />

interfaces valorizem a autoaprendizagem e sejam projeta<strong>da</strong>s em parceria de pesquisa<strong>do</strong>res <strong>da</strong><br />

área de música com pesquisa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> área de computação (KRÜGER, 2000), pois o grau de<br />

satisfação <strong>do</strong> usuário será compatível com o grau de interação ofereci<strong>do</strong> pelo programa.<br />

Quanto mais satisfeito, mais o usuário imergirá, envolver-se-á com a máquina.<br />

Considerações finais<br />

A tecnologia, enquanto ferramenta pe<strong>da</strong>gógica, enquanto meio e não um fim <strong>da</strong><br />

educação, é responsável por tornar o ensino e a aprendizagem mais prazerosos. A<br />

maioria<br />

<strong>do</strong>s softwares que estão sen<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>s pelo GPMAC/UFPE permite interação <strong>do</strong> aprendiz<br />

com a máquina e têm um viés construtivista. Além disso, aludem ao Behaviorismo de<br />

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Skinner, defini<strong>do</strong> pela díade resposta-estímulo, visto que ao fazer os exercícios propostos pelo<br />

programa, o aluno é recompensa<strong>do</strong> positivamente ou negativamente, através de pontuação.<br />

Pamboukian, Grinkraut e Primerano (2008) reúnem uma série de diretrizes para o<br />

desenvolvimento e avaliação de softwares, e Swanwick (2003) sugere que a música seja<br />

ensina<strong>da</strong> musicalmente, de forma integra<strong>da</strong>, ten<strong>do</strong> o aprendiz como sujeito ativo no processo<br />

de ensino-aprendizagem. As observações destes autores fomentam uma produção de<br />

softwares musicais eficazes para o ensino <strong>da</strong> música, dentro ou fora <strong>da</strong> escola (portanto em<br />

ambientes formal e informal, respectivamente).<br />

Quanto aos jogos de entretenimento, é possível deles extrair conteú<strong>do</strong>s pe<strong>da</strong>gógicos<br />

para o ensino <strong>da</strong> música, pois os alunos já utilizam esses jogos em seus computa<strong>do</strong>res.<br />

Observa<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des educacionais conferi<strong>da</strong>s pelas tecnologias computacionais, os<br />

professores de música poderão programar ativi<strong>da</strong>des que contemplem esta reali<strong>da</strong>de.<br />

Entretanto, vale ressaltar que a ambiência informal faculta<strong>da</strong> pelos softwares parece provocar<br />

mais prazer no usuário; então, a educação musical poderá se servir dessa informali<strong>da</strong>de,<br />

inclusive para atingir quem eventualmente não tivera oportuni<strong>da</strong>de de ir a uma escola de<br />

música. Ou seja, através <strong>da</strong>s tecnologias computacionais, a educação musical poderá<br />

massificar sua clientela, sem abrir mão <strong>do</strong> fator quali<strong>da</strong>de, e também poderá utilizar os jogos<br />

educacionais e de entretenimento como recursos auxiliares para o ensino <strong>da</strong> música.<br />

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2 OA N O S<br />

Música, uma questão de atitude: um trabalho de musicalização utilizan<strong>do</strong><br />

os festivais de música popular brasileira como fio condutor <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong><br />

Luan Sodré de Souza<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

violuan@hotmail.com<br />

Resumo: Este trabalho trata-se de uma reflexão sobre o ensino de música na escola regular,<br />

basea<strong>do</strong> em um relato de experiência com alunos <strong>do</strong> 2º e 3º ano <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. Este<br />

projeto teve como foco usar os festivais de música popular brasileira e os artistas que<br />

participaram <strong>do</strong> mesmo como fio condutor <strong>do</strong> trabalho de educação musical. O projeto foi<br />

realiza<strong>do</strong> durante o ano letivo de 2010 em uma escola <strong>da</strong> rede de ensino priva<strong>do</strong> de Salva<strong>do</strong>r,<br />

com o objetivo de levar ao educan<strong>do</strong>, através <strong>da</strong> educação musical, a reflexão sobre a música<br />

e o meio em que ele vive.<br />

Palavras Chave: Educação musical, escola regular, interdisciplinari<strong>da</strong>de artística.<br />

A música na escola<br />

Quan<strong>do</strong> se começa um trabalho com música dentro <strong>do</strong> currículo escolar, uma grande<br />

dificul<strong>da</strong>de é selecionar o material. Pensar no repertório, selecionar os conteú<strong>do</strong>s, buscar a<br />

meto<strong>do</strong>logia que se enquadra melhor ao contexto, to<strong>da</strong>s essas são ações que estão diretamente<br />

liga<strong>da</strong>s ao início de to<strong>do</strong> trabalho com educação musical.<br />

Desenvolver essas ações nem sempre é tão fácil, pois depende <strong>da</strong> linha pe<strong>da</strong>gógica<br />

que a escola segue, <strong>do</strong> projeto político pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> instituição, <strong>do</strong> projeto unifica<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

escola, se houver, dentre outras implicações. Para começar a avançar a respeito dessa<br />

problemática o educa<strong>do</strong>r tem que estar muito seguro <strong>do</strong> seu papel naquela instituição, o papel<br />

<strong>da</strong> sua disciplina, e qual seria a contribuição dele para a formação <strong>da</strong>quelas crianças. O espaço<br />

<strong>da</strong> música na escola é um espaço para a criança vivenciar um processo de musicalização. E o<br />

que é musicalizar? Segun<strong>do</strong> Maura Penna:<br />

(...) musicalizar é desenvolver os instrumentos de percepção necessários<br />

para que o indivíduo possa ser sensível a música, apreendê-la, receben<strong>do</strong> o<br />

material sonoro/musical como significativo. Pois na<strong>da</strong> é significativo no<br />

vazio, mas apenas quan<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> e articula<strong>do</strong> ao quadro <strong>da</strong>s<br />

experiências acumula<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> compatível com os esquemas de percepção<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s (Penna, 2010, p. 33).<br />

Pensan<strong>do</strong> dessa forma podemos destacar palavras importantes deste texto, a palavra<br />

“sensível” que nos remete a sensibili<strong>da</strong>de musical, muito liga<strong>do</strong> a percepção musical. Outra<br />

expressão importante é “experiências acumula<strong>da</strong>s”. Experiência, segun<strong>do</strong> o Aurélio é:<br />

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Experiência. [Do lat. experientia, <strong>do</strong> v. experiri, 'experimentar'] S. F. 1. Ato<br />

ou efeito de experimentar (-se); experimento, experimentação. 2. prática <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>: É homem vivi<strong>do</strong>, cheio de experiência. 3. Habili<strong>da</strong>de, perícia, prática<br />

adquiri<strong>da</strong>s com o exercício constante duma profissão, duma arte ou ofício: É<br />

um professor com experiência, tem 20 anos de magistério. 4. Prova,<br />

demonstração, tentativa, ensaio: experiência química. 5. Filos.<br />

Experimentação (2). 6. Filos. Conhecimento que nos é transmiti<strong>do</strong> pelos<br />

senti<strong>do</strong>s. 7. Filos. Conjunto de conhecimentos individuais ou específicos que<br />

constituem aquisições vantajosas acumula<strong>da</strong>s historicamente pela<br />

humani<strong>da</strong>de (FERREIRA, 1999).<br />

Segun<strong>do</strong> Forquin (1982, apud PENNA, 2010, p. 63) não podemos esquecer que:<br />

A apreensão <strong>da</strong> obra de arte não é nunca imediata; ela supõe uma<br />

informação, uma familiarização, uma freqüentação, únicos elementos<br />

capazes de propiciar ao indivíduo esses esquemas, esses sistemas de<br />

referencia, esse programa de percepção equipa<strong>da</strong>, mais apta a criar no<br />

indivíduo o amor pela arte <strong>do</strong> que as efêmeras e ilusórias paixões à primeira<br />

vista (FORQUIN, 1982, apud PENNA, 2010, p. 63)<br />

É notável que a maior parte <strong>da</strong>s definições cita<strong>da</strong>s fazem uma ligação <strong>da</strong> experiência<br />

com a prática, palavras como familiarização, frequentação, sistemas de referência,<br />

experimentar e habili<strong>da</strong>des dá um tom de conhecimento prático ao nosso diálogo. Nesse caso<br />

podemos pensar a música na escola a partir <strong>da</strong> seguinte expressão: sensibili<strong>da</strong>de musical<br />

adquiri<strong>da</strong> através de experiências acumula<strong>da</strong>s com a prática. Como acumular essas<br />

experiências? A aula de música na escola é um lugar para a criança fazer música, tocar<br />

instrumentos, cantar, refletir, criar, experimentar, enfim, vivenciar. To<strong>da</strong>s essas são<br />

experiências significativas que serão acumula<strong>da</strong>s e utiliza<strong>da</strong>s no desenvolvimento <strong>da</strong> sua<br />

sensibili<strong>da</strong>de musical. Esse fazer musical pode e deve ser organiza<strong>do</strong> de forma que o<br />

educan<strong>do</strong> possa conhecer os conceitos musicais, mas de forma integra<strong>da</strong> a sua prática.<br />

Isso não quer dizer que o ensino de música irá preocupar-se apenas com uma<br />

execução desliga<strong>da</strong> <strong>do</strong> contexto que aquela música pertence. Fernandes (2004), faz uma<br />

citação de uma meto<strong>do</strong>logia chama<strong>da</strong> proposta triangular onde o fazer artístico articula-se<br />

com a contextualização histórica e a apreciação <strong>da</strong> obra de arte. Os PCN`s baseiam- se nessa<br />

ideia, a proposta triangular estar muito presente nas artes plásticas, porém é aplicável em<br />

qualquer área <strong>da</strong>s artes. “A “proposta triangular” está centra<strong>da</strong> em três diretrizes, através <strong>da</strong>s<br />

quais o conhecimento em arte é adquiri<strong>do</strong> com inter-relacionamento entre fazer, apreciar e<br />

contextualizar historicamente a arte” (FERNANDES, 2004, p.77).<br />

A abor<strong>da</strong>gem TECLA, que está basea<strong>da</strong> em técnica, execução, composição, literatura<br />

e apreciação traz um processo de musicalização preocupa<strong>do</strong> tanto com o fazer musical<br />

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(técnica, execução, composição), quanto com a contextualização <strong>do</strong> fazer (literatura,<br />

apreciação). As duas abor<strong>da</strong>gens não são de forma alguma opostas, eu diria que o modelo<br />

TECLA seria uma forma minuciosa de ver a Proposta triangular.<br />

(...) o objetivo específico <strong>da</strong> educação musical consiste em colocar o homem<br />

em contato com seu ambiente musical e sonoro, descobrir e ampliar os meios<br />

de expressão musical, em suma, “musicalizá-lo” de uma forma mais ampla<br />

(...). (Gainza, 1977, apud PENNA, 2010, p.48)<br />

Não podemos esquecer que a aula é de música. A Lei 11.769/2008 fala <strong>da</strong><br />

obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música nas escolas, é importante refletir as práticas de educação<br />

musical que tem si<strong>do</strong> leva<strong>da</strong>s para esse espaço. A partir dessa reflexão apresento um relato de<br />

experiência com alunos <strong>do</strong> 2º e 3º anos <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, um trabalho de música que<br />

utilizou o teatro e a <strong>da</strong>nça como ferramenta interdisciplinar para o trabalho de musicalização.<br />

Projeto Unifica<strong>do</strong> e Subprojeto de música<br />

Os festivais de música representaram em uma época <strong>da</strong> nossa história um mo<strong>do</strong> de<br />

falar, gritar e protestar contra o sistema em que vivíamos. Dentre esses festivais destaco o III<br />

Festival de Música Brasileira, em 1967, onde tivemos canções como “Domingo no parque” de<br />

Gilberto Gil e “Alegria, alegria” de Caetano Veloso, canções importantíssimas na história <strong>da</strong><br />

música popular brasileira, suas letras são carrega<strong>da</strong>s de protesto e denúncias contra o sistema<br />

<strong>da</strong> época. A música era e é um meio bastante eficaz de transmitir pensamentos e protestos<br />

camufla<strong>do</strong>s em metáforas que se delineavam em lin<strong>da</strong>s melodias. Muitos artistas tiveram a<br />

atitude de dizer o que pensava através de suas músicas e ir até os palcos de festivais tocá-las,<br />

corren<strong>do</strong> risco de serem presos e até mortos.<br />

No ano de 2010, impulsiona<strong>do</strong> pelo FEMEG (Festival de Música <strong>da</strong> Escola<br />

Girassol), evento que mobilizou to<strong>da</strong> a escola. Foi realiza<strong>do</strong> um trabalho de iniciação musical<br />

utilizan<strong>do</strong> os festivais de música popular brasileira como fio condutor <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>,<br />

trabalhan<strong>do</strong> no repertório canções de artistas que participaram desses festivais a exemplo de:<br />

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Elis Regina, Vinícius de Moraes e ain<strong>da</strong><br />

artistas que não participaram concorren<strong>do</strong>, mas, que estavam envolvi<strong>do</strong>s no processo a<br />

exemplo de Wilson Simonal. O projeto unifica<strong>do</strong> <strong>da</strong> Escola Girassol no ano de 2010 foi “A<br />

bola <strong>da</strong> vez é a atitude”, essa foi uma oportuni<strong>da</strong>de importante de mostrar que podemos<br />

expressar atitude através <strong>da</strong>s artes, e nesse caso, mais precisamente através <strong>da</strong> música.<br />

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Caracterização <strong>da</strong> turma<br />

Esse trabalho foi feito na escola Girassol, uma escola particular de Salva<strong>do</strong>r-BA que<br />

procura seguir a linha construtivista. O projeto foi forma<strong>do</strong> por alunos <strong>do</strong>s 2º e 3º ano <strong>do</strong><br />

ensino fun<strong>da</strong>mental, com faixa etária entre 7 e 8 anos de i<strong>da</strong>de. O trabalho foi desenvolvi<strong>do</strong><br />

dentro <strong>da</strong> disciplina “música e movimento”. No turno matutino foram 3 turmas <strong>do</strong> 2º ano e 3<br />

turmas <strong>do</strong> 3º ano, um total de 6 turmas, no vespertino, 1 turma <strong>do</strong> 2º ano e 1 turma <strong>do</strong> 3º ano,<br />

totalizan<strong>do</strong> 2 turmas.<br />

Os alunos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is turnos fizeram o mesmo trabalho, porém, separa<strong>do</strong>s. Esses alunos<br />

já tiveram um contato com a disciplina música nas séries anteriores. As aulas aconteceram<br />

uma vez por semana com duração de 50 minutos, as turmas tinham uma média de 25 alunos.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Estrutura <strong>da</strong>s aulas<br />

As aulas foram dividi<strong>da</strong>s basicamente em quatro momentos: começavam com uma<br />

ro<strong>da</strong> rápi<strong>da</strong>, um momento para conversar com os alunos, para eles trazerem as novi<strong>da</strong>des para<br />

ro<strong>da</strong>, além de um momento para introduzir a aula, dizer o que eles iriam fazer naquele dia. O<br />

segun<strong>do</strong> momento <strong>da</strong> aula era alguma ativi<strong>da</strong>de de integração, para o grupo ficar mais a<br />

vontade para os trabalhos posteriores.<br />

O terceiro momento <strong>da</strong> aula era o conteú<strong>do</strong> musical <strong>do</strong> dia, que poderia estar ou não<br />

fundi<strong>do</strong> com o quarto momento que seria o <strong>do</strong> repertório. No conteú<strong>do</strong> musical, trabalhamos<br />

com Pulsação e Ritmo, onde fizemos muitas ativi<strong>da</strong>des de locomoção, de tocar junto com o<br />

Cd e ativi<strong>da</strong>des de dividir o tempo usan<strong>do</strong> as partes <strong>do</strong> corpo. Em segui<strong>da</strong> trabalhamos as<br />

Proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Som (altura, intensi<strong>da</strong>de, duração e timbre), no inicio <strong>da</strong> primeira uni<strong>da</strong>de<br />

usei cartelas de duração e intensi<strong>da</strong>de, fizemos ativi<strong>da</strong>des com o corpo trabalhan<strong>do</strong> as alturas<br />

e ouvimos instrumentos diferentes. Usei esse primeiro momento para conceituar ca<strong>da</strong><br />

conteú<strong>do</strong>. Na segun<strong>da</strong> e terceira uni<strong>da</strong>de já não fazíamos essas ativi<strong>da</strong>des, trabalhávamos os<br />

conteú<strong>do</strong>s através <strong>da</strong> execução <strong>da</strong>s músicas. Os alunos executaram arranjos musicais<br />

utilizan<strong>do</strong> metalofone, baldes, pandeiros, caxixis, pau de chuva e triângulos. Os arranjos<br />

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foram cria<strong>do</strong>s com eles durante as aulas, bem como as coreografias de algumas músicas.<br />

O projeto<br />

Nesse projeto em que trabalhei como organiza<strong>do</strong>r e professor, utilizei a montagem de<br />

um musical como recurso para educação musical. Utilizamos a <strong>da</strong>nça e o teatro como<br />

ferramenta complementar <strong>do</strong> trabalho de música, sen<strong>do</strong> que os alunos foram avalia<strong>do</strong>s<br />

musicalmente.<br />

A construção de um musical revela-se como um interessante recurso no<br />

ensino <strong>da</strong> Arte, na medi<strong>da</strong> em que traz diversas possibili<strong>da</strong>des de expressão,<br />

engloban<strong>do</strong> ao mesmo tempo o canto, a <strong>da</strong>nça e a interpretação musical. A<br />

música trabalha o físico (audição, coordenação motora), o intelecto<br />

(memória, criativi<strong>da</strong>de, prontidão, concentração) e os sentimentos. A <strong>da</strong>nça<br />

li<strong>da</strong> com a consciência <strong>do</strong> corpo e <strong>do</strong> espaço ao re<strong>do</strong>r, e o teatro estimula a<br />

auto-confiança e diminui a timidez (RAMOS, 2010, p.1).<br />

A ideia era que os alunos montassem um festival de música, com as músicas<br />

trabalha<strong>da</strong>s na sala. Ca<strong>da</strong> turma representou um artista estu<strong>da</strong><strong>do</strong>. Nessa apresentação além <strong>da</strong><br />

parte musical, os alunos fizeram papéis de apresenta<strong>do</strong>res, antes de ca<strong>da</strong> apresentação eles<br />

falavam um pouco <strong>do</strong> artista. Em algumas músicas tinham coreografias cria<strong>da</strong>s por eles onde<br />

eu fiz apenas o papel de organizar as ideias <strong>do</strong>s alunos. O musical é uma forma muito eficaz<br />

de trabalhar aspectos tanto musicais como extra musicais.<br />

Os aspectos sociais por onde os alunos apresentam uma sensível melhora <strong>da</strong><br />

convivência em grupo, <strong>da</strong> confiança mútua e <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de; os aspectos<br />

psicológicos por onde, na grande maioria <strong>da</strong>s pessoas, ocorre a superação<br />

<strong>do</strong>s bloqueios e <strong>da</strong> timidez, o desenvolvimento <strong>da</strong> autoconfiança e a<br />

construção <strong>da</strong> auto-estima; os aspectos cognitivos, onde são desenvolvi<strong>do</strong>s,<br />

além de conhecimentos gerais, as habili<strong>da</strong>des de memorização, imaginação e<br />

de criação; os aspectos <strong>do</strong> desenvolvimento musical, onde se percebe um<br />

evidente crescimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de rítmica, melódica e harmônica, através<br />

<strong>da</strong> execução vocal, instrumental e <strong>da</strong> vivência corporal; e por fim os aspectos<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento artístico, revelan<strong>do</strong> que os alunos desenvolvem a<br />

expressivi<strong>da</strong>de de um mo<strong>do</strong> geral com o exercício de corpo, de execução<br />

vocal, de interpretação teatral e enfim <strong>da</strong> experiência artística e estética<br />

(DIAS; SANTA ROSA, 2007, p. 6).<br />

Esse trabalho teve basicamente três etapas: na primeira: foram seleciona<strong>do</strong>s alguns<br />

artistas que foram importantes para a história <strong>do</strong>s festivais de música no país. E que<br />

trouxessem contribuições importantes para o nosso tema ATITUDE. Nesse momento<br />

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2 OA N O S<br />

ouvimos gravações originais, conhecemos os artistas, o contexto e a história de ca<strong>da</strong> um<br />

deles, além de trabalhar alguns temas transversais como as drogas, o meio ambiente e a<br />

socie<strong>da</strong>de. Os alunos fizeram pesquisas sobre os artistas, na sala discutíamos as informações<br />

encontra<strong>da</strong>s. Essas pesquisas depois serviram de material de consulta para os alunos criarem o<br />

texto <strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>res.<br />

A segun<strong>da</strong> etapa foi a de criação <strong>do</strong>s arranjos e coreografias, to<strong>da</strong>s as turmas<br />

aprenderam to<strong>da</strong>s as músicas, bem como to<strong>da</strong>s as coreografias. Nesse momento colocávamos<br />

em pratica os conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s na primeira uni<strong>da</strong>de, pulsação e ritmo e proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

som. Na terceira etapa as músicas foram divi<strong>da</strong>s entre as turmas, a partir desse momento, os<br />

trabalhos foram específicos em ca<strong>da</strong> grupo. Começamos a preparar o roteiro <strong>da</strong> apresentação,<br />

usamos as pesquisas que foram feitas no início <strong>do</strong> projeto como material de consulta para<br />

criar ca<strong>da</strong> texto, isso foi feito por to<strong>do</strong>s os alunos em grupos, eu fiz o papel de amarrar os<br />

textos e separar em falas. Os apresenta<strong>do</strong>res foram os que tinham interesse em exercer esse<br />

papel.<br />

Considerações finais<br />

Os alunos mostraram-se muito estimula<strong>do</strong>s ao final <strong>do</strong>s trabalhos, foram feitas<br />

apresentações no teatro <strong>da</strong> escola para os pais. Nas apresentações era notável um misto de<br />

nervosismo com responsabili<strong>da</strong>de, o apoio de um colega a outro, as últimas passa<strong>da</strong>s de texto,<br />

a tensão inicial, o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> no palco, e a alegria <strong>do</strong> final. Alguns pais relataram que seus filhos<br />

ficavam em casa pesquisan<strong>do</strong> sobre artistas que foram contemporâneos deles, esses pais<br />

aproveitaram para mostrar Cd`s, ouvir com os filhos e contar histórias <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência.<br />

Muitos alunos levaram Cd`s que tinham em casa ou que a avó emprestou, foi muito<br />

bom ver que o trabalho de música tinha saí<strong>do</strong> <strong>da</strong> sala de aula e expandi<strong>do</strong> até as suas casas. A<br />

aula de música foi além <strong>do</strong>s instrumentos <strong>da</strong> sala ou <strong>da</strong> fala <strong>do</strong> professor, nesse momento a<br />

aula conseguiu atingir o mun<strong>do</strong> <strong>da</strong>quelas crianças e ampliá-lo, sen<strong>do</strong> esse o principal objetivo<br />

<strong>do</strong> curso.<br />

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Referências<br />

RAMOS, João Mauricio Santana; Coro performático de a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> Colégio Salesiano<br />

<strong>do</strong> Salva<strong>do</strong>r: a construção de um musical como recurso para a educação musical. In: IX<br />

ENCONTRO REGIONAL DA <strong>ABEM</strong> NORDESTE. 2010, Natal. Rio Grande <strong>do</strong> Norte.<br />

<strong>Anais</strong>... Natal: <strong>ABEM</strong>, 2010.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre. Editora Sulina. 2ª edição revista e<br />

amplia<strong>da</strong>. 2010<br />

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holan<strong>da</strong>, Novo Aurélio Século XXI : o dicionário <strong>da</strong> língua<br />

portuguesa; 3º ed. Totalmente revista e amplia<strong>da</strong>. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.<br />

FERNANDES, José Nunes. Normatização, estrutura e organização <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música nas<br />

escolas de educação básica <strong>do</strong> Brasil: LDBEN/96, PCN e currículos oficiais em questão.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 10, 75-87, mar. 2004.<br />

DIAS, Leila Miralva Martins; SANTA ROSA, Amélia Martins Dias. Companhia Artística<br />

Viver Bahia: identifican<strong>do</strong> os elementos educacionais na prática de musicais. In: ANPPOM:<br />

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música. Congresso <strong>da</strong> ANPPOM,<br />

XVII, 2007, São Paulo.<br />

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Música no hospital: Educação musical ou musicoterapia?<br />

Rosângela Silva <strong>do</strong> Carmo<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

zanpt@yahoo.com.br<br />

Luiz César Marques Magalhães<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

luizcesarmagalhaes@gmail.com<br />

Resumo: Este artigo tem o objetivo de discutir conceitos e ações específicas tanto <strong>da</strong><br />

educação musical aplica<strong>da</strong> em ambiente hospitalar quanto <strong>da</strong> musicoterapia, apresentan<strong>do</strong><br />

diferenças e aproximações entre ambas. Após contextualizar a escola hospitalar, serão<br />

trazi<strong>da</strong>s algumas definições de musicoterapia e de educação musical bem como ativi<strong>da</strong>des<br />

realiza<strong>da</strong>s pelo professor de música em ambiente hospitalar acompanha<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos<br />

que embasam tal prática, o mesmo sen<strong>do</strong> feito com procedimentos realiza<strong>do</strong>s em sessões<br />

musicoterápicas, apontan<strong>do</strong> os principais teóricos que fun<strong>da</strong>mentam esses procedimentos. A<br />

fun<strong>da</strong>mentação teórica estará basea<strong>da</strong>, entre outros, na pe<strong>da</strong>goga Ferreira, nos<br />

musicoterapeutas Bruscia e Barcelos; embasan<strong>do</strong> a educação musical, Dalcroze, Alencar e<br />

Arroyo e, a partir de conceitos <strong>da</strong> educação musical e <strong>da</strong> musicoterapia, discute-se uma<br />

experiência de um professor de música na escola hospitalar, eluci<strong>da</strong>n<strong>do</strong> alguns objetivos <strong>da</strong><br />

educação musical nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino. A conclusão sugere uma reflexão sobre a<br />

importância de delimitar o campo de atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical em escolas hospitalares<br />

ain<strong>da</strong> que em alguns momentos determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais resultem em respostas<br />

terapêuticas.<br />

Palavras-chave: Educação musical, musicoterapia, hospital.<br />

Introdução<br />

Nos últimos 60 anos um fato no Brasil tem chama<strong>do</strong> a atenção de profissionais <strong>da</strong><br />

educação e <strong>da</strong> saúde: a inserção de crianças e a<strong>do</strong>lescentes na escola hospitalar (BRASIL, Lei<br />

Nº 1126). Quan<strong>do</strong> em situação adversa de saúde, esta clientela necessita internar-se para<br />

realizar tratamentos diversos, há uma interrupção <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s uma vez que ficam afasta<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

escola. Consideran<strong>do</strong> o direito à educação básica (Lei 9394/96) e a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino<br />

de música na escola regular (BRASIL, Lei 11.769), crianças e a<strong>do</strong>lescentes hospitaliza<strong>do</strong>s<br />

(Resolução 41/95) tem o direito de iniciar e/ou continuar seus estu<strong>do</strong>s mesmo estan<strong>do</strong> no<br />

hospital (FONSECA, 2003).<br />

Observa-se que crianças e a<strong>do</strong>lescentes ao se internarem para realização de<br />

tratamento de saúde, interrompem vínculos importantes, como família, escola, amigos,<br />

objetos pessoais. Também passam a morar no hospital, local que, por suas próprias<br />

especifici<strong>da</strong>des e deman<strong>da</strong>s, tem aparência fria e distante. Além disso, enquanto pacientes,<br />

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elas passam a ter contato com pessoas estranhas que, utilizan<strong>do</strong> ferramentas desconheci<strong>da</strong>s,<br />

lhe aplicam medicamentos às vezes <strong>do</strong>lorosos, provocan<strong>do</strong>-lhes me<strong>do</strong>, ansie<strong>da</strong>de, insegurança<br />

(GONÇALVES, 2001).<br />

É neste contexto que se insere a escola hospitalar, apresentan<strong>do</strong> propostas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas que incorporam aprendizagem e ludici<strong>da</strong>de, possibilitan<strong>do</strong> assim momentos de<br />

alegria em meio às <strong>do</strong>res advin<strong>da</strong>s <strong>do</strong> processo de a<strong>do</strong>ecimento. Também é neste contexto que<br />

a Educação Musical pode ter um papel fun<strong>da</strong>mental, restauran<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>ente o papel de sujeito.<br />

Além disso, proporciona aprendizagem significativa, experiência estética, e prazer artístico<br />

(BRITO, 2003).<br />

A impessoali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> hospital, refleti<strong>da</strong> no branco <strong>do</strong>s jalecos, na decoração fria <strong>da</strong>s<br />

paredes e pisos, é subverti<strong>da</strong> nas ativi<strong>da</strong>des musicais criativas. Absorta no fazer <strong>da</strong> música, a<br />

criança consegue desviar o foco de sua atenção <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença para algo prazeroso, para o fluir <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. Este processo pode, em alguns momentos, suscitar emoções e sentimentos, e como<br />

resulta<strong>do</strong> acalmar, diminuir a ansie<strong>da</strong>de, ou mesmo funcionar de forma terapêutica, ain<strong>da</strong> que<br />

este não seja o objetivo <strong>do</strong> professor de música que atua em ambiente hospitalar. Assim,<br />

consideran<strong>do</strong> este elemento imanente <strong>da</strong> música que proporciona resulta<strong>do</strong>s emocionais,<br />

justifica-se a pergunta que traz o título: Música no hospital: Educação Musical ou<br />

Musicoterapia? Efetivamente esta é uma pergunta retórica, certamente o mais importante é<br />

tentar delimitar o universo de objetivos <strong>da</strong> educação musical e <strong>da</strong> musicoterapia, no senti<strong>do</strong><br />

de proporcionar clareza na identificação <strong>do</strong>s conceitos, e <strong>da</strong> atuação <strong>do</strong> professor de música<br />

neste ambiente.<br />

Conceitos de Musicoterapia e Educação Musical<br />

Não são recentes e também não são poucos os esforços emprega<strong>do</strong>s pelos<br />

profissionais <strong>da</strong> musicoterapia no senti<strong>do</strong> de definir conceitos, estabelecer objetivos e<br />

delimitar espaço de atuação dentro <strong>do</strong> universo científico enquanto área <strong>da</strong> saúde. Segun<strong>do</strong> a<br />

NAMT 1 , musicoterapia é “a utilização <strong>da</strong> música para alcançar objetivos terapêuticos:<br />

recuperação, manutenção e melhoria <strong>da</strong> saúde física e mental” (BRUSCIA, 2000, p.7).<br />

Postulan<strong>do</strong> uma definição de trabalho, Bruscia afirma que “Musicoterapia é um processo<br />

sistemático de intervenção em que o terapeuta aju<strong>da</strong> o cliente a promover a saúde utilizan<strong>do</strong><br />

1 National Association for Music Therapy<br />

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experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas<br />

de mu<strong>da</strong>nça” (2000, p.22).<br />

Segun<strong>do</strong> a Federação Mundial de Musicoterapia,<br />

Musicoterapia é a utilização <strong>da</strong> música e/ou seus elementos (som, ritmo,<br />

melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualifica<strong>do</strong>, com um cliente<br />

ou grupo, em um processo destina<strong>do</strong> a facilitar e promover comunicação,<br />

relacionamento, aprendiza<strong>do</strong>, mobilização, expressão, organização e outros<br />

objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender às necessi<strong>da</strong>des físicas,<br />

mentais, sociais e cognitivas” (UBAM 2 ).<br />

Esta é a definição mais utiliza<strong>da</strong> entre os musicoterapeutas. Talvez as principais<br />

virtudes desta definição sejam a abrangência, a limitação <strong>da</strong> prática a profissionais<br />

capacita<strong>do</strong>s e a concepção <strong>da</strong> musicoterapia não como uma prática rígi<strong>da</strong> e cristaliza<strong>da</strong>, mas,<br />

como processo “destina<strong>do</strong> a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendiza<strong>do</strong>,<br />

mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos”.<br />

Segun<strong>do</strong> as definições encontra<strong>da</strong>s na literatura, a função <strong>da</strong> musicoterapia é clara e<br />

difere consideravelmente <strong>da</strong> educação musical. Como vimos, uma está centra<strong>da</strong> no processo<br />

terapêutico e em “atender às necessi<strong>da</strong>des físicas, mentais, sociais e cognitivas” enquanto a<br />

outra está centra<strong>da</strong> na transmissão de conhecimentos e na formação <strong>do</strong> aprendiz. Segun<strong>do</strong><br />

Dalcroze, a educação musical<br />

[...] deve, e será um campo particular <strong>da</strong> música, e será na vi<strong>da</strong> efetiva,<br />

ocupan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s ritmos <strong>do</strong> ser humano, fomentan<strong>do</strong> nas crianças a liber<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s seus atos musculares e nervosos, aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a triunfar sobre as<br />

resistências e inibições, harmonizan<strong>do</strong> suas funções corporais com as <strong>do</strong><br />

pensamento (DALCROZE, 1935, s.p.).<br />

Ao tratar <strong>da</strong> educação musical na contemporanei<strong>da</strong>de, Margarete Arroyo sugere<br />

algumas definições dizen<strong>do</strong> que cabe à educação musical a<br />

[...] introdução ao estu<strong>do</strong> formal <strong>da</strong> música e to<strong>do</strong> o processo acadêmico que<br />

o segue, incluin<strong>do</strong> a graduação e pós-graduação”. “[...] o ensino e<br />

aprendizagem instrumental e outros focos”; “[...] o ensino e aprendizagem<br />

informal de música. Desse mo<strong>do</strong>, o termo abrange to<strong>da</strong>s as situações que<br />

envolvam ensino e/ou aprendizagem em música, seja no âmbito <strong>do</strong>s sistemas<br />

escolares e acadêmicos, seja fora deles” (2002).<br />

Dessa forma, consideran<strong>do</strong> a definição de educação musical acima menciona<strong>da</strong>, a<br />

aula de música realiza<strong>da</strong> em ambiente hospitalar, tem como objetivo proporcionar ensino e<br />

2 União Brasileira <strong>da</strong>s Associações de Musicoterapia.<br />

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aprendizagem musical a crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação de internamento para tratamento<br />

de saúde, contemplan<strong>do</strong>, assim, o item 9 <strong>da</strong> resolução 41/95 3 <strong>da</strong> Declaração <strong>do</strong>s Direitos <strong>da</strong><br />

Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente hospitaliza<strong>do</strong>s. Apesar de ser um novo campo de atuação para o<br />

professor de música, estas práticas tem fun<strong>da</strong>mentação legal na Lei 11.769, que trata <strong>da</strong><br />

obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música na escola regular, poden<strong>do</strong>, dessa forma, acontecer em<br />

diversos espaços, no caso específico em ambiente hospitalar. Assim sen<strong>do</strong>, consideran<strong>do</strong> o<br />

exposto pelas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a aula em<br />

ambiente hospitalar faz parte de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de educacional (BRASIL, 2001 p. 27-28),<br />

funcionan<strong>do</strong> de forma pe<strong>da</strong>gógica e engloban<strong>do</strong> também o ensino de música. Assim, para<br />

eluci<strong>da</strong>r algumas particulari<strong>da</strong>des desta prática, será apresenta<strong>da</strong> uma experiência trazen<strong>do</strong><br />

aspectos presentes em uma aula de música em um hospital.<br />

Uma experiência <strong>do</strong> ensino de música em escola hospitalar<br />

Aos seis anos de i<strong>da</strong>de, João 4 , paciente <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de de Tratamento Intensivo de um<br />

hospital em Salva<strong>do</strong>r, foi acometi<strong>do</strong> por uma <strong>do</strong>ença degenerativa cujo efeito deletério foi a<br />

estagnação <strong>do</strong> desenvolvimento de to<strong>do</strong> o seu corpo, causan<strong>do</strong> atrofia <strong>do</strong>s membros inferiores<br />

e superiores; porém, o crescimento <strong>da</strong> cabeça foi manti<strong>do</strong> e as funções cerebrais, preserva<strong>da</strong>s.<br />

Como conseqüência, além <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>do</strong>s movimentos, a atrofia comprometeu os aparelhos<br />

respiratório e fona<strong>do</strong>r, levan<strong>do</strong>-o a respirar com a aju<strong>da</strong> de aparelhos e falar com dificul<strong>da</strong>de e<br />

pouco volume.<br />

No primeiro encontro com o aluno-paciente, a professora de música encontrou um<br />

rosto a<strong>do</strong>lescente no corpo de uma criança que, apesar <strong>da</strong> <strong>do</strong>ença, encontrava motivos e<br />

disposição para sorrir e estu<strong>da</strong>r. Ao saber que teria aulas de música, João ficou muito anima<strong>do</strong><br />

e recebeu a professora com um enorme sorriso; talvez pelo fato de gostar muito de música,<br />

segun<strong>do</strong> informou sua mãe. Neste primeiro encontro, João encontrava-se deita<strong>do</strong> no leito 5 e<br />

coberto até o pescoço, deixan<strong>do</strong> à vista o aparelho que o aju<strong>da</strong>va a respirar. Por conta <strong>do</strong><br />

comprometimento vocal ocasiona<strong>do</strong> pela atrofia <strong>da</strong>s cor<strong>da</strong>s vocais, a voz <strong>do</strong> aluno era<br />

3 Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento <strong>do</strong><br />

currículo escolar durante sua permanência hospitalar.<br />

4 Nome fictício.<br />

5 Na Rede municipal de Salva<strong>do</strong>r, as aulas de música no ambiente hospitalar acontecem “tanto em salas de aula e<br />

nos leitos de hospitais, quanto em casas de apoio e <strong>do</strong>micílios” (CARMO e CUNHA, 2010).<br />

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projeta<strong>da</strong> com forte rouquidão e de forma espaça<strong>da</strong>, mas, não o impediu de dizer os títulos <strong>da</strong>s<br />

músicas que mais gostava quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> pela professora.<br />

Dar aula de música no hospital tem si<strong>do</strong> um desafio para os professores que atuam<br />

neste ambiente. Neste caso específico, além <strong>da</strong> patologia <strong>do</strong> aluno-paciente, havia um<br />

agravante: a aula aconteceu em um leito de UTI, onde os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s com a higienização foram<br />

reforça<strong>do</strong>s requeren<strong>do</strong>, além <strong>do</strong> jaleco uma capa, luvas de borracha e máscara, causan<strong>do</strong><br />

desconforto na professora para tocar violão e cantar, mas, tais procedimentos eram<br />

indispensáveis, uma vez que a imuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> aluno-paciente encontrava-se baixa, o que<br />

aumentava os riscos de contaminação.<br />

Em uma <strong>da</strong>s aulas, a professora iniciou cantan<strong>do</strong> uma canção <strong>do</strong> repertório preferi<strong>do</strong><br />

de João. O objetivo era acolhê-lo e propiciar um ambiente favorável à aprendizagem. Em<br />

segui<strong>da</strong>, falou sobre a forma <strong>da</strong> música, e, cantan<strong>do</strong> refrãos de outras canções, pediu que ele<br />

identificasse o refrão <strong>da</strong> canção “Olhan<strong>do</strong> a imensidão <strong>do</strong> mar”, que estava sen<strong>do</strong> trabalha<strong>da</strong>.<br />

Ele identificou a forma <strong>da</strong> canção e falou a letra referente ao refrão. A professora perguntou<br />

se ele gostaria de cantar o refrão <strong>da</strong> canção, João concor<strong>do</strong>u e, acompanha<strong>do</strong> pelo violão,<br />

ain<strong>da</strong> que com certa dificul<strong>da</strong>de, cantou. Ao final, João foi capaz de identificar a forma de<br />

outras canções como “Quan<strong>do</strong> a chuva passar”, interpreta<strong>da</strong> por Ivete Sangalo, e “Estou<br />

apaixona<strong>do</strong>”, interpreta<strong>da</strong> por João Paulo e Daniel.<br />

Com este breve relato não se pretende afirmar que João aprendeu “forma musical”<br />

em apenas uma aula de música, mas, mostrar uma possibili<strong>da</strong>de de trabalhar conteú<strong>do</strong>s<br />

musicais ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares que permeiam a prática exerci<strong>da</strong> pela escola<br />

hospitalar e promover o desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des propostas pela educação musical.<br />

Quan<strong>do</strong> refletimos sobre as aulas de música ministra<strong>da</strong>s a João, percebemos que o<br />

contentamento demonstra<strong>do</strong> por ele a ca<strong>da</strong> momento musical, sua interação com os conteú<strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>s e a felici<strong>da</strong>de por ter aula de música, a despeito de sua <strong>do</strong>ença e limitação, pode<br />

sugerir uma resposta no senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> aprendizagem e outra no senti<strong>do</strong> terapêutico, já que houve<br />

melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, um <strong>do</strong>s objetivos claros <strong>da</strong> musicoterapia.<br />

Entretanto, é importante não perder de vista que o principal objetivo <strong>da</strong> escola<br />

hospitalar é a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s e que, como lembra Bastião, a aprendizagem musical<br />

não pode prescindir <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de e expressivi<strong>da</strong>de que lhe é inerente: “O termo<br />

‘expressivi<strong>da</strong>de’ é utiliza<strong>do</strong> [...] para se referir às respostas ou reações <strong>do</strong> ouvinte ao<br />

transmitir o que sente, pensa e vivencia em sua experiência pessoal e única com as músicas<br />

escuta<strong>da</strong>s” (2009, p. 60). Assim, entende-se que o ensino de música no contexto <strong>da</strong> escola<br />

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hospitalar deve considerar a subjetivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> aluno-paciente, sim, mas o foco continua sen<strong>do</strong><br />

a aprendizagem, e, no caso específico, aprendizagem significativa em música.<br />

A prática <strong>do</strong> ensino de música no ambiente hospitalar vem acompanha<strong>da</strong> de<br />

especifici<strong>da</strong>des que levam em conta o contexto <strong>do</strong> local, o esta<strong>do</strong> de saúde <strong>do</strong> aluno-paciente<br />

e o preparo <strong>do</strong> professor. A orientação é que as aulas realiza<strong>da</strong>s nos leitos devem ter duração<br />

mais curta para evitar o cansaço <strong>do</strong>s alunos-pacientes. Isso significa que ativi<strong>da</strong>des e<br />

conteú<strong>do</strong>s devem ser seleciona<strong>do</strong>s e realiza<strong>do</strong>s de forma a contemplar e atender estas<br />

deman<strong>da</strong>s sem deixar de garantir a aprendizagem e continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mesmos.<br />

Questões práticas<br />

As ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s no ambiente hospitalar devem adequar-se às<br />

especifici<strong>da</strong>des <strong>do</strong> local e às limitações de saúde <strong>da</strong>s crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação de<br />

internamento. Nesse senti<strong>do</strong>, as aulas realiza<strong>da</strong>s no leito, por exemplo, funcionam de forma a<br />

atender o aluno-paciente que não está apto a deixar o local e que se encontra em situação<br />

limita<strong>da</strong> de saúde, poden<strong>do</strong> ser aula individual ou em grupo. Nesses casos, são realiza<strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des com intensa utilização <strong>da</strong> canção que segun<strong>do</strong> Alencar,<br />

[...] é um gênero musical que funde música e poesia. Cantan<strong>do</strong>, as crianças<br />

imitam o que ouvem, desenvolven<strong>do</strong> sua expressão musical, desde que essa<br />

ativi<strong>da</strong>de seja realiza<strong>da</strong> num ambiente de orientação e estímulo ao canto, à<br />

escuta, à interpretação. [...] cantan<strong>do</strong> coletivamente, aprendemos a ouvir a<br />

nós mesmos, ao outro e ao grupo como um to<strong>do</strong>. Dessa forma,<br />

desenvolvemos também aspectos <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de, como atenção,<br />

concentração, cooperação e espírito de coletivi<strong>da</strong>de (2003, p.93).<br />

Mas, se para o leigo estas podem ser considera<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de recreação ou<br />

terapêuticas, para o profissional <strong>da</strong> educação musical a reali<strong>da</strong>de é outra. Inseri<strong>da</strong>s na canção<br />

e fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> universo <strong>da</strong>s práticas musicais utiliza<strong>da</strong>s pelo professor de música em<br />

ambiente hospitalar, encontram-se também ativi<strong>da</strong>des de apreciação, análise <strong>do</strong> texto musical,<br />

audição, execução de pequenos instrumentos de percussão, criação de arranjo vocal, execução<br />

de dinâmica vocal, forma <strong>da</strong> música. Trata-se de uma prática cuja priori<strong>da</strong>de é a experiência e<br />

vivência musical valorizan<strong>do</strong> a audição, expressão, interpretação, apreciação musical<br />

(CARMO; CUNHA, 2010). Enfim, são diversas ativi<strong>da</strong>des que não necessitam de muita<br />

movimentação física para o aluno-paciente, que não pode esforçar-se fisicamente, mas, que<br />

resultam em intenso engajamento e ativi<strong>da</strong>de nas dimensões cognitiva e afetiva.<br />

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Quan<strong>do</strong>, porém, apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des próprias <strong>do</strong>s tratamentos de saúde a criança<br />

não tem restrições físicas, quaisquer ativi<strong>da</strong>des musicais que envolvam movimento corporal<br />

podem e são realiza<strong>da</strong>s. Nestes casos, trabalha-se também com jogos de mãos e copos,<br />

ativi<strong>da</strong>des de correr, pular, tocar instrumentos, fazer coreografia <strong>da</strong>s músicas, ro<strong>da</strong> dentre<br />

outras.<br />

To<strong>da</strong>s estas ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s em ambiente hospitalar devem ser construí<strong>da</strong>s a<br />

partir de méto<strong>do</strong>s e técnicas <strong>da</strong> educação musical e, portanto, ten<strong>do</strong> em vista proporcionar<br />

ensino e aprendizagem em música. Espera-se que o aluno-paciente experimente a música<br />

musicalmente, ou seja, incluin<strong>do</strong> elementos de expressivi<strong>da</strong>de, noção de afinação, ritmo,<br />

leitura e escrita musical, sempre consideran<strong>do</strong> aspectos estéticos e afetivos. O objetivo deve<br />

ser colocar o aluno em contato com o universo sonoro e assim proporcionar experiências<br />

significativas em música.<br />

Trazen<strong>do</strong> agora essas ativi<strong>da</strong>des musicais para o universo musicoterápico, Bruscia<br />

(1987), propõe técnicas em musicoterapia improvisacional, no senti<strong>do</strong> de estabelecer o<br />

objetivo clínico de ca<strong>da</strong> uma delas. Dentre as diversas técnicas podem ser destaca<strong>da</strong>s as de<br />

empatia, estruturação, intimi<strong>da</strong>de, dedução, procedimento, exploração emocional, dentre<br />

outras. Ca<strong>da</strong> uma destas técnicas são forma<strong>da</strong>s por diversas ações e situações musicais<br />

presentes também no ensino de música. Em to<strong>da</strong>s ocorre a exploração <strong>do</strong> universo sonoro e<br />

<strong>do</strong>s elementos musicais através <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> voz, <strong>do</strong> corpo, de instrumentos musicais, e de<br />

outras fontes sonoras. Enfim, utiliza-se um leque de possibili<strong>da</strong>des musicais, porém, sempre<br />

com fins terapêuticos.<br />

O musicoterapeuta é aquele profissional qualifica<strong>do</strong> para utilizar a música de forma<br />

terapêutica, realizan<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des musicais como tocar instrumentos, cantar, imitar, re-criar,<br />

criar arranjos musicais, improvisar, coreografar músicas, apreciar e compor canções, ten<strong>do</strong><br />

sempre em vista a recuperação <strong>da</strong> saúde ou melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> cliente. Assim,<br />

as intervenções feitas por ele caminham sempre na direção clínica. Desta forma, durante to<strong>da</strong><br />

a sessão de musicoterapia, o terapeuta observa o cliente e principalmente suas respostas para,<br />

a partir <strong>da</strong>í, manter ou redirecionar a ativi<strong>da</strong>de que está sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> naquele momento<br />

(BARCELLOS, 1999, p. 57). Aqui a música caminha de acor<strong>do</strong> com a necessi<strong>da</strong>de clínica <strong>do</strong><br />

paciente e este é agente ativo no processo terapêutico.<br />

O musicoterapeuta tem que acomo<strong>da</strong>r e aceitar o gosto, o trabalho e os<br />

esforços musicais <strong>do</strong> cliente, sem julgamento, porque é com esse respeito<br />

básico [...] que se pode [...] construir uma relação terapêutica (BRUSCIA,<br />

2000, p. 102).<br />

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Dessa forma, não há espaço para imposição <strong>do</strong> gosto pessoal <strong>do</strong> terapeuta e sim<br />

respeito e acolhimento <strong>do</strong> universo sonoro <strong>do</strong> cliente, pois, assim como a música pode<br />

funcionar positivamente, uma intervenção equivoca<strong>da</strong> pode gerar efeito negativo. Dessa<br />

forma, pode-se observar que to<strong>da</strong>s as técnicas musicoterápicas utilizam as mesmas ativi<strong>da</strong>des<br />

musicais encontra<strong>da</strong>s nas aulas de música, o que difere, entretanto, é o objetivo de ca<strong>da</strong> uma<br />

delas: enquanto o <strong>da</strong> educação musical é educacional o <strong>da</strong> musicoterapia é clínico.<br />

Considerações<br />

A música tem o poder de tocar o homem, de levá-lo a transcender o aqui e agora a<br />

que está submeti<strong>do</strong>: o esta<strong>do</strong> de saúde em que se encontra o aluno-paciente, o diagnóstico<br />

médico, o tratamento a que está submeti<strong>do</strong>, os efeitos colaterais resultantes de algumas dessas<br />

intervenções medicamentosas. Em alguns momentos, as práticas e ativi<strong>da</strong>des musicais afetam<br />

o aluno-paciente de tal forma e com tanta intensi<strong>da</strong>de que acaba trazen<strong>do</strong> uma resposta<br />

terapêutica. E isso é inevitável, pois, quan<strong>do</strong> a música vem e toca, ela não “pede licença” nem<br />

“avisa” previamente que vai provocar ou suscitar determina<strong>da</strong>s emoções. É invasiva,<br />

imprevisível e surpreendente.<br />

Apesar deste poder inerente <strong>da</strong> música, isso não implica que a educação musical<br />

realiza<strong>da</strong> no ambiente hospitalar possa ser associa<strong>da</strong> ou confundi<strong>da</strong> com musicoterapia. Estas<br />

são áreas distintas, embora utilizem a música como objeto de trabalho. Se há alguma<br />

afini<strong>da</strong>de entre ambas, esta localiza-se neste aspecto.<br />

As definições são incompletas por natureza. Historicamente, é comum às diferentes<br />

ciências e áreas de atuação profissional terem que se a<strong>da</strong>ptar a novas deman<strong>da</strong>s, novas<br />

descobertas e paradigmas. Assim, as fronteiras nem sempre são claramente identifica<strong>da</strong>s. No<br />

entanto, é fun<strong>da</strong>mental destacar que, enquanto a musicoterapia visa o resulta<strong>do</strong> terapêutico, a<br />

educação musical objetiva a aprendizagem em música e a formação <strong>do</strong> aprendiz. A clareza<br />

sobre a diferença existente entre estas duas áreas facilita a compreensão de ambas, além de<br />

evitar possíveis confusões sobre o tema. Ativi<strong>da</strong>des musicais são utiliza<strong>da</strong>s tanto pelo<br />

musicoterapêuta quanto pelo professor de música, pois que compartilham <strong>do</strong> mesmo objeto de<br />

trabalho. Dessa forma, é possível que em alguns momentos estas práticas se confun<strong>da</strong>m ante o<br />

olhar de um observa<strong>do</strong>r leigo. Mas um musicoterapeuta, mesmo utilizan<strong>do</strong> as mesmas<br />

ativi<strong>da</strong>des musicais usa<strong>da</strong>s na educação musical, tem clareza de que seu objetivo difere de<br />

forma contundente <strong>do</strong> objetivo <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Da mesma forma, ain<strong>da</strong> que ao utilizar<br />

as mesmas ativi<strong>da</strong>des musicais aplica<strong>da</strong>s na musicoterapia, e às vezes promoven<strong>do</strong> no aluno-<br />

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paciente, além <strong>da</strong> aprendizagem musical uma resposta terapêutica, o educa<strong>do</strong>r musical em<br />

ambiente hospitalar deve ter claro que este não deve ser o seu objetivo. Ter esta clareza é<br />

salutar para as duas áreas, no senti<strong>do</strong> de fornecer à comuni<strong>da</strong>de atendi<strong>da</strong>, aos profissionais <strong>da</strong><br />

música e à socie<strong>da</strong>de informações técnicas e específicas de ca<strong>da</strong> uma, proporcionan<strong>do</strong> uma<br />

melhor compreensão e garantin<strong>do</strong> uma atuação adequa<strong>da</strong> e eficaz tanto <strong>do</strong> musicoterapeuta<br />

quanto <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical.<br />

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Menon, 2003.<br />

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2 OA N O S<br />

GONÇALVES, A. G. Poesia na classe hospitalar: texto e contexto de crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes hospitaliza<strong>do</strong>s. 2001. 153 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação)-Facul<strong>da</strong>de de<br />

Filosofia e Ciências, Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, Marília.<br />

JACKES-DALCROZE, Emile. Le Rythme, La Musique et L’Education. Lausanne: Foetish<br />

Frère S.A. Éditeurs, 1965. p. 46-56.<br />

UBAM – União Brasileira de Musicoterapia. Definição segun<strong>do</strong> a World Federation of Music<br />

Therapy. Disponível em: http://bit.ly/fRE2dg. Acesso em: 08 de Dezembro de 2010.<br />

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O aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> trombone: abor<strong>da</strong>gem crítica de <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s<br />

Bruno Caminha Farias<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte-UERN<br />

bcfarias@hotmail.com<br />

Henderson de Jesus Rodrigues <strong>do</strong>s Santos<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte-UERN<br />

hendersonrodrigues@uern.br<br />

Resumo: O fazer musical envolve muitas habili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s quais a criativi<strong>da</strong>de é uma <strong>da</strong>s<br />

principais. Não é diferente com o ato de ensinar. Neste artigo fazemos referência à pe<strong>da</strong>gogia<br />

<strong>do</strong> instrumento, descreven<strong>do</strong> de forma crítica a construção <strong>do</strong> saber musical no trombone,<br />

analisan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s e indican<strong>do</strong> possíveis reflexões acerca <strong>da</strong> pratica pe<strong>da</strong>gógica para o<br />

trombone. Observamos que o aprendiza<strong>do</strong> instrumental muitas vezes é fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> na<br />

observação e repetição. Especificações mais precisas nos méto<strong>do</strong>s de trombone, bem como a<br />

criação de sistematização para o uso <strong>da</strong>s posições “alternativas”, podem guiar os alunos a um<br />

maior aprendiza<strong>do</strong> rumo ao fazer consciente <strong>da</strong> técnica e <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de.<br />

Palavras-chave: Trombone, pe<strong>da</strong>gogia instrumental, méto<strong>do</strong>s de trombone<br />

Introdução<br />

O ensino de um instrumento é por vezes uma prática não muito sistemática. Busca-se<br />

seguir direcionamentos presentes em méto<strong>do</strong>s já consoli<strong>da</strong><strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> tempo, mas<br />

procura-se a<strong>da</strong>ptar, sempre que possível às necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos. Tal reali<strong>da</strong>de pode ser<br />

observa<strong>da</strong> tanto no ensino individual como no coletivo. Embora este procedimento seja<br />

importante para um melhor aprendiza<strong>do</strong>, observamos que a compreensão de certos<br />

procedimentos técnicos e musicais podem se aproximar de abor<strong>da</strong>gem intuitiva. Este artigo<br />

procura refletir sobre alguns destes procedimentos no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> trombone,<br />

principalmente no uso <strong>da</strong>s “posições alternativas”.<br />

Podemos perceber que a pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> instrumento, guia<strong>da</strong> por uma forte tradição<br />

romântica, tem si<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong> no que se refere à ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> a aspectos técnicos, sen<strong>do</strong> que<br />

“as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s em sala de aula [...] não devem ser caracteriza<strong>da</strong>s apenas pela<br />

orientação prática, volta<strong>da</strong> apenas para a execução instrumental” (PAULA; BORGES, 2004,<br />

p. 41). Neste senti<strong>do</strong> esperamos que tais momentos “devem ser rega<strong>do</strong>s também pela<br />

discussão <strong>do</strong>s processos teóricos relaciona<strong>do</strong>s aos aspectos psicossomáticos, dentre outros,<br />

que norteiam a prática” (PAULA; BORGES, Op. Cit.).<br />

Sen<strong>do</strong> assim a prática <strong>da</strong> aquisição de conhecimentos técnicos em um encontro de<br />

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estu<strong>do</strong> de um instrumento deve permitir a compreensão <strong>do</strong> fazer e não apenas <strong>do</strong> quê fazer<br />

(muitas vezes sem a orientação <strong>do</strong> como fazer). Neste senti<strong>do</strong> o aprendiza<strong>do</strong> instrumental<br />

muitas vezes é fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> na observação e repetição, sem reflexão. Sobre isto nos fala<br />

Costa:<br />

O ensino instrumental, portanto, ultrapassa o treino repetitivo e as instruções<br />

detalha<strong>da</strong>s, sen<strong>do</strong> que os alunos deveriam ser encoraja<strong>do</strong>s a tocar<br />

expressivamente e não apenas com destreza desde suas primeiras lições<br />

(COSTA, 2008, p. 92).<br />

Um instrumentista com certa experiência, permite-se encontrar senti<strong>do</strong> em sua<br />

performance, mas o caminho muitas vezes percorri<strong>do</strong> por este instrumentista foi basea<strong>do</strong> no<br />

acerto e erro e não no entendimento inicial <strong>do</strong>s mecanismos de escolha <strong>da</strong> técnica, ou mesmo<br />

<strong>do</strong> entendimento <strong>da</strong>s suas capaci<strong>da</strong>des ao longo de seu aprendiza<strong>do</strong>. Esta reali<strong>da</strong>de parece<br />

estar fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> no que nos coloca Borém:<br />

De fato, parece que ain<strong>da</strong> ignoramos esse que é um <strong>do</strong>s problemas mais<br />

graves no ensino e pesquisa na área de performance musical, o qual se traduz<br />

na tradição, her<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>do</strong>s conservatórios, <strong>do</strong>s professores de não<br />

<strong>do</strong>cumentarem suas reflexões sobre a experiência de fazer e ensinar música.<br />

No mun<strong>do</strong> <strong>da</strong> performance musical, grandes instrumentistas e cantores<br />

permanecem como uma memória inacessível às gerações posteriores que não<br />

tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de ouvi-los enquanto eram ativos como intérpretes e<br />

professores (BORÉM, 2006, p. 46).<br />

Ora, se por um la<strong>do</strong> não existem relatos sóli<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong> fazer musical,<br />

por outro os méto<strong>do</strong>s muitas vezes não permitem uma compreensão <strong>do</strong>s aspectos envolvi<strong>do</strong>s<br />

no aprendiza<strong>do</strong> de certos conceitos e práticas como continua o autor:<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, os méto<strong>do</strong>s de aprendizagem <strong>do</strong>s diversos instrumentos musicais<br />

mais divulga<strong>do</strong>s não explicitam a lógica por trás de ca<strong>da</strong> estu<strong>do</strong><br />

técnicomusical e como este levará ao passo seguinte. Assim, ain<strong>da</strong><br />

pre<strong>do</strong>mina a prática instrumental repetitiva, exaustiva, aleatória e não<br />

consciente, onde os erros muitas vezes não são antecipa<strong>do</strong>s ou controla<strong>do</strong>s<br />

(BORÉM, 2006, p. 51).<br />

Isto cria um círculo no âmbito <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento, uma vez que o aluno,<br />

de posse de um méto<strong>do</strong>, não compreende os elementos necessários para um bom aprendiza<strong>do</strong><br />

e, sen<strong>do</strong> assim, recorre a um professor. Porém, este possui sua prática fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na tradição em<br />

que estu<strong>do</strong>u, muitas vezes repetin<strong>do</strong> conceitos aprendi<strong>do</strong>s de seu professor, que por sua vez<br />

também já repetiu conceitos aprendi<strong>do</strong>s, crian<strong>do</strong> um círculo auto-sustentável. Borém,<br />

recomen<strong>da</strong> uma prática que poderia ampliar as possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> instrumento<br />

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quan<strong>do</strong> diz que:<br />

Para que o trabalho envolvi<strong>do</strong> no processo de ensinar um instrumento nos<br />

seus diversos níveis–leitura, obediência e desobediência à partitura, decisões<br />

técnico-interpretativas, gestual e interação com o público – não se perca na<br />

efemeri<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s concertos ou na frágil transmissão oral de conhecimentos<br />

<strong>da</strong>s salas de aula, o professor de música deveria fazer um hábito constante <strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>cumentação <strong>da</strong> arte de ‘fazer soar a música’. Nesse senti<strong>do</strong>, os professores<br />

de instrumentos, canto e regência deveriam estabelecer uma rotina de<br />

<strong>do</strong>cumentação de sua meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> performance em texto escrito ou em<br />

gravação sonora (BOREM, 2006, p. 46).<br />

Esta <strong>do</strong>cumentação de que nos fala Borém, permitiria análises, criticas e ampliações<br />

nas meto<strong>do</strong>logias e na pe<strong>da</strong>gogia instrumental propriamente dita. O ato <strong>da</strong> pesquisa de novas<br />

possibili<strong>da</strong>des deve ser presente também na pe<strong>da</strong>gogia e no fazer instrumental. Neste senti<strong>do</strong>,<br />

nos deteremos mais adiante em relatar algumas impressões no aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> trombone.<br />

Deficiência de orientação em <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s<br />

Os <strong>do</strong>is livros que vamos tomar para este artigo, são publicações de grande<br />

relevância para o cenário trombonístico. O primeiro é o Arban's Famous Method For<br />

Trombone (Edita<strong>do</strong> por Carl Fischer), e o segun<strong>do</strong> é Daily Drills and Technical Studies for<br />

Trombone (Edita<strong>do</strong> por C.K. Schlossberg).<br />

Questões como fazer um bom alongamento corporal, a fim de evitar possíveis lesões<br />

e tensões musculares durante as várias horas de estu<strong>do</strong>; exercícios de respiração no intuito de<br />

despertar o aluno a buscar sempre uma maior capaci<strong>da</strong>de pulmonar, respiran<strong>do</strong> corretamente e<br />

mostran<strong>do</strong> que essa é a matéria prima <strong>do</strong> nosso produto final; ativi<strong>da</strong>des simples com ou sem<br />

bocal, como o “besourinho ou abelhinha” que estimula a vibração <strong>do</strong>s lábios antes de tocar;<br />

não são direcionamentos expostos em praticamente nenhum material, principalmente em<br />

português, o que geralmente só é adquiri<strong>do</strong> em aulas particulares ou em breves cursos, o que<br />

nem to<strong>do</strong>s têm acesso.<br />

Hoje em dia, com a internet qualquer pessoa pode ir a uma lan house e baixar<br />

diversos méto<strong>do</strong>s, estu<strong>do</strong>s e partituras, no entanto, a grande maioria sem um direcionamento<br />

correto de como se estu<strong>da</strong>r.<br />

O aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong>s posições no trombone também passa por um processo semelhante<br />

ao relata<strong>do</strong> anteriormente, onde comumente não há sugestões sobre como escolher uma<br />

melhor opção, entre as posições tradicionais e as chama<strong>da</strong>s “alternativas”, sen<strong>do</strong> estas<br />

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simplesmente demonstra<strong>da</strong>s em forma de tabelas ou gráficos.<br />

FIGURA 1 – Posições gerais no trombone<br />

Arban inicia seu livro enfatizan<strong>do</strong> a teoria musical e com algumas considerações<br />

gerais. Já em seus primeiros estu<strong>do</strong>s cita alguns pontos referentes às correções na vara<br />

necessárias por conseqüência <strong>da</strong>s “desafinações” em algumas parciais <strong>da</strong> série harmônica.<br />

Adiciona várias notas de mesma altura, entretanto em posições diferentes a fim de mostra ao<br />

trombonista a diferença de entonação entre essas notas.<br />

Em vários momentos <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Arban inclui posições alternativas, geralmente em<br />

passagens onde os movimentos ficam reduzi<strong>do</strong>s. Somente no capítulo de estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s escalas,<br />

na p. 62, Arban frisa sobre as posições alternativas, citan<strong>do</strong> Alan Raph (1997), onde este diz:<br />

Tocar rápi<strong>do</strong> e com clareza (diatônica ou cromaticamente) é a combinação<br />

de:<br />

1. Usar a língua enquanto a vara está em movimento (para para a<br />

emissão <strong>do</strong> som);<br />

2. Usar as posições alternativas;<br />

3. Escolher as posições alternativas em relação à estrutura rítmica <strong>da</strong><br />

passagem (RAPH apud ARBAN, 1997, p. 62).<br />

O méto<strong>do</strong> Daily Drills inicia com breves comentários, mostran<strong>do</strong> somente a divisão<br />

<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s, um rápi<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> autor e já na segun<strong>da</strong> página lança os<br />

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primeiros exercícios. Aqui, em introdução às notas, ele faz o mesmo comentário que Arban<br />

sobre a correção <strong>da</strong> vara.<br />

Uma particulari<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> no méto<strong>do</strong> de Max, é que ele inicia gra<strong>da</strong>tivamente<br />

no Sib1 (2º parcial <strong>da</strong> primeira série harmônica) descen<strong>do</strong> cromaticamente até a 7ª posição,<br />

retorna à 1ª posição e inicia novamente agora no 3º parcial, Fá2, repetin<strong>do</strong> o mesmo no 4º<br />

parcial.<br />

FIGURA 2: Exercícios no méto<strong>do</strong> de Max.<br />

Nesse âmbito ele permanece durante os 7 primeiros exercícios não ultrapassan<strong>do</strong> o<br />

limite entre o Mi1 e o Sib2, vin<strong>do</strong> adicionar a partir <strong>do</strong> 8 exercício o 5º e o 6º parcial,<br />

consideran<strong>do</strong> que o trombonista já está bem aqueci<strong>do</strong> para tocar certas notas <strong>do</strong> registro<br />

médio, o que para um aluno iniciante é muito complica<strong>do</strong>. Arban não tem essa preocupação,<br />

adicionan<strong>do</strong> o Do3 já no primeiro exercício.<br />

Outra consideração é o fato de que na prática <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> trombone por estes<br />

méto<strong>do</strong>s algumas posições são mais privilegia<strong>da</strong>s <strong>do</strong> que outras, sen<strong>do</strong> chama<strong>da</strong>s de posições<br />

tradicionais. Esta convenção cria uma categoria de posições chama<strong>da</strong>s de “alternativas”, ou<br />

seja, estas são as posições não convenciona<strong>da</strong>s. Daí decorre que o instrumentista passa a<br />

priorizar o uso <strong>da</strong>s primeiras em detrimento <strong>da</strong>s características musicais de algum trecho,<br />

vin<strong>do</strong> a utilizar as “alternativas” apenas quan<strong>do</strong> “foge à regra” de movimentação <strong>do</strong> slide.<br />

As posições tradicionais são ti<strong>da</strong>s como apoio principal para os alunos iniciantes,<br />

porém, em função <strong>do</strong> aprofun<strong>da</strong>mento de seus estu<strong>do</strong>s, muitas dúvi<strong>da</strong>s surgem, ten<strong>do</strong> em vista<br />

que esse aprofun<strong>da</strong>mento os revelará posições extras para várias notas de mesma altura em<br />

posições diferentes. Como a obtenção de notas nos instrumentos de metais é basea<strong>da</strong> nos<br />

intervalos <strong>da</strong> série harmônica, essas posições irão ser percebi<strong>da</strong>s rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Uma constatação evidente é a de que à medi<strong>da</strong> que se vai de encontro a parciais<br />

mais agu<strong>do</strong>s, várias possibili<strong>da</strong>des podem ser encontra<strong>da</strong>s. Isso ocorre devi<strong>do</strong> aos intervalos<br />

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estruturais <strong>da</strong> série harmônica que se tornam ca<strong>da</strong> vez menores <strong>do</strong> grave para o agu<strong>do</strong>. “Por<br />

exemplo, há quatro posições no êmbolo nas quais o Láb 3 pode sair (1ª, 3ª, 5ª, e 7ª)”<br />

(FONSECA, 2007, p. 99).<br />

Para o uso e seleção consciente <strong>da</strong> melhor opção a se escolher, a presença de um<br />

professor para auxiliar o aluno nesse momento é de fun<strong>da</strong>mental importância, levan<strong>do</strong> em<br />

conta que a preferência por uma destas várias posições requer certa experiência, pois vários<br />

fatores devem ser analisa<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> em vista que ca<strong>da</strong> situação é única, poden<strong>do</strong> variar em<br />

momentos distintos.<br />

Podemos traçar um paralelo entre as posições <strong>do</strong> trombone e <strong>do</strong>s instrumentos de<br />

cor<strong>da</strong>s como o violoncelo. Neste as notas podem possuir outras posições, mas não são ti<strong>da</strong>s<br />

“especiais” ou “alternativas”, somente outra forma de se fazer a mesma coisa com<br />

características musicais diferentes. Neste senti<strong>do</strong> uma passagem que poderia ser toca<strong>da</strong> na<br />

cor<strong>da</strong> lá (cor<strong>da</strong> mais fina – primeira cor<strong>da</strong>) pode ser sugeri<strong>da</strong> que se toque na cor<strong>da</strong> ré (cor<strong>da</strong><br />

logo acima – segun<strong>da</strong> cor<strong>da</strong>) para que soe mais <strong>do</strong>ce, ou favoreça a realização de um<br />

pianíssimo. No trombone estas escolhas, são de caráter muito intuitivo, não sen<strong>do</strong> abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

por muitos professores ou méto<strong>do</strong>s.<br />

Considerações finais<br />

Em ambos os méto<strong>do</strong>s não encontramos nenhuma referência à escolha de trombones<br />

diferentes para distintas práticas, nem mesmo as diferentes particulari<strong>da</strong>des que um trombone<br />

pode possuir em relação a outro, como entre o trombone tenor e o baixo.<br />

Como exemplo <strong>da</strong> importância destas informações, a escolha de um instrumento,<br />

geralmente de calibre largo, com rotor em Fá, buscan<strong>do</strong> um timbre escuro e entonação cheia,<br />

são algumas características <strong>do</strong>s trombonistas que se propõe a tocar em uma orquestra<br />

sinfônica. Já aqueles que tendem para o Jazz, para as Big Band’s, etc., comumente procuram<br />

instrumentos de calibre fino, buscan<strong>do</strong> um som mais brilhante. Essas afirmações são<br />

resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que podemos constatar no cotidiano, embora existam casos em que a escolha <strong>do</strong><br />

instrumento não é leva<strong>da</strong> em consideração pelo instrumentista. Neste senti<strong>do</strong>, a escolha pelo<br />

instrumento adequa<strong>do</strong> é essencial a fim de extrair o melhor em ca<strong>da</strong> atuação. Além disto, na<br />

construção de uma boa performance é importante levarmos em consideração o que Aquino<br />

nos coloca, uma vez que a “reflexão, análise, pesquisa musicológica, além, obviamente, <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s problemas técnicos inerentes a ca<strong>da</strong> instrumento, são etapas essenciais para se<br />

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alcançar o nível de excelência artística” (AQUINO, 2006, p. 02, grifo nosso).<br />

A pesquisa de to<strong>do</strong>s esses pontos envolvi<strong>do</strong>s na performance, revelarão mais<br />

especificamente aos músicos-trombonistas, diversos fatores que o <strong>da</strong>rão uma outra visão de<br />

como realizar sonoramente uma partitura, levan<strong>do</strong> em conta que:<br />

O intérprete apresenta um papel fun<strong>da</strong>mental na transmissão <strong>do</strong>s elementos<br />

conti<strong>do</strong>s na obra para o receptor (ouvinte), possuin<strong>do</strong> a capaci<strong>da</strong>de de<br />

acrescentar ou mesmo modificar substancialmente a mensagem conti<strong>da</strong> na<br />

partitura. Para o ouvinte, essa subjetivi<strong>da</strong>de advin<strong>da</strong> <strong>do</strong> processo<br />

interpretativo proporciona, a ca<strong>da</strong> execução <strong>da</strong> mesma obra, sua recriação<br />

como se fosse uma nova. Adicione-se a isso a constatação de não haverem<br />

duas interpretações iguais <strong>da</strong> mesma obra, ain<strong>da</strong> que o intérprete seja o<br />

mesmo (WINTER; SILVEIRA, 2006, p. 04).<br />

Essa afirmação em relação ao interprete, demonstra a necessi<strong>da</strong>de de um<br />

aprofun<strong>da</strong>mento antes, durante e depois, no que diz respeito a uma interpretação, onde esta:<br />

[...] é um processo no qual gra<strong>da</strong>tivamente vão sen<strong>do</strong> revela<strong>do</strong>s aspectos de<br />

uma imagem correspondente <strong>da</strong> obra, não sen<strong>do</strong> fecha<strong>da</strong> em si mesma, mas<br />

conecta<strong>da</strong> com diversas possibili<strong>da</strong>des que se modificam no transcorrer <strong>do</strong><br />

percurso a partir de descobertas, revelações, verificações, correções etc. Se o<br />

processo interpretativo modifica-se com o decorrer <strong>do</strong> tempo e de novas<br />

descobertas realiza<strong>da</strong>s pelo intérprete, cabe a este investigar e formular o<br />

maior número possível de questões sobre a obra (WINTER; SILVEIRA,<br />

2006, p. 05).<br />

Somente com essa investigação <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos necessários a ca<strong>da</strong> obra é que o<br />

músico poderá refletir sobre futuras soluções, aprimoramentos, etc.. Em nosso caso, se<br />

tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> trombone de vara, podemos citar diversas características referentes a esse<br />

instrumento. Uma destas seria o posicionamento e técnica <strong>da</strong> vara que pode afetar<br />

substancialmente o resulta<strong>do</strong> sonoro de uma peça. Isso por que o trombone depende de<br />

movimentos rápi<strong>do</strong>s e precisos para se chegar a um frasea<strong>do</strong> homogêneo e afina<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em<br />

vista que mesmo em an<strong>da</strong>mentos lentos, os movimentos <strong>da</strong> vara precisam ser instantâneos,<br />

evitan<strong>do</strong> pequenos glissan<strong>do</strong>s entre uma nota e outra. Fonseca reforça essa idéia afirman<strong>do</strong><br />

que, “infelizmente esses defeitos não são óbvios, mas seu resulta<strong>do</strong> é a soma de impurezas, as<br />

quais distanciam aquele músico de um tocar preciso” (FONSECA, 2007, p. 90) ten<strong>do</strong> isso<br />

refleti<strong>do</strong> diretamente no produto final.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que são muitos os fatores que podem influenciar em uma boa<br />

performance, acreditamos que a gama de possibili<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s com as posições<br />

alternativas podem auxiliar na re-criação <strong>do</strong> discurso musical. Porém faz-se necessário<br />

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identificar os momentos certos para inseri-las, pois uma utilização precipita<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mesmas,<br />

poderá acarretar uma má performance. Observamos também que especificações mais precisas<br />

nos méto<strong>do</strong>s de trombone podem guiar os alunos à um maior aprendiza<strong>do</strong> rumo ao fazer<br />

consciente <strong>da</strong> técnica e <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de.<br />

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2 OA N O S<br />

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2 OA N O S<br />

O ensino de música em escolas municipais de Vicência-PE:<br />

um relato de experiência<br />

João Rafael de Lemos<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

rafaellemos86@hotmail.com<br />

Resumo: O texto a seguir apresenta um relato de experiência com o ensino de música em<br />

escolas <strong>da</strong> rede pública municipal de Vicência-PE durante o ano de 2010, onde trabalhamos<br />

com oficinas de musicalização através <strong>da</strong> Flauta Doce, <strong>do</strong> Violão e <strong>do</strong> Canto Coral.<br />

Apresentaremos o processo de escolha <strong>da</strong>s escolas envolvi<strong>da</strong>s, o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

oficinas, o que norteou teórico-meto<strong>do</strong>logicamente o trabalho e os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. O que<br />

vinha justificar o trabalho com as oficinas de música foi a chance de aju<strong>da</strong>r nossos jovens a se<br />

descobrirem cria<strong>do</strong>res de sua própria história, com autonomia e identi<strong>da</strong>de. Esse foi um <strong>do</strong>s<br />

fios condutores de nossa prática pe<strong>da</strong>gógica, também fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> com base em um projeto<br />

já existente <strong>da</strong> Secretaria de Educação <strong>do</strong> município.<br />

Palavras-chave: Ensino de Música; Oficinas Musicais; Políticas Públicas.<br />

Introdução<br />

A ci<strong>da</strong>de de Vicência fica situa<strong>da</strong> na Zona <strong>da</strong> Mata Norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco,<br />

distante 87 km <strong>da</strong> capital Recife. Por iniciativa <strong>da</strong> Secretaria Municipal de Educação (SME)<br />

deste município, tivemos a oportuni<strong>da</strong>de de trabalhar com o ensino de música em algumas<br />

escolas <strong>da</strong> rede pública municipal através de um projeto de ação que abrigava, entre outras<br />

ativi<strong>da</strong>des artísticas, oficinas de música.<br />

O projeto “Música e Arte: Uma porta para algum lugar”, sen<strong>do</strong> uma política pública<br />

<strong>da</strong> SME coordena<strong>do</strong> pelo Departamento de Gestão de Processos de Ensino e Aprendizagem<br />

com Diferentes Tecnologias (DGPEADT) <strong>da</strong> mesma instituição, tinha como objetivo<br />

despertar no jovem estu<strong>da</strong>nte o interesse em alguma manifestação artística, oferecen<strong>do</strong> suas<br />

ativi<strong>da</strong>des em horário contrário ao turno de matrícula <strong>do</strong> aluno.<br />

O ensino de música entrou na proposta <strong>do</strong> projeto como um elemento que<br />

proporcionaria uma ampliação <strong>do</strong> universo cultural <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte participante, juntamente com<br />

oficinas de Flauta Doce, Violão e Canto Coral.<br />

Fica claro que música ain<strong>da</strong> não faz parte <strong>do</strong> currículo escolar, mas sim <strong>da</strong> proposta<br />

<strong>do</strong> projeto, o que caracteriza a não-formali<strong>da</strong>de no ensino de música. Nesse senti<strong>do</strong>, “a<br />

educação não-formal acaba sen<strong>do</strong> o único local de aprendizagem musical para os alunos”<br />

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(FELDENS, 2008, p. 1). Borges (2007a, p. 8) atenta para a necessi<strong>da</strong>de de sustentação<br />

política <strong>da</strong>s iniciativas de Educação Musical que estão acontecen<strong>do</strong> nestas redes públicas<br />

municipais de ensino. Ele aponta que as poucas iniciativas existentes são, em sua maioria,<br />

para trabalhos extracurriculares. Tais trabalhos são necessários, mas falham no<br />

proporcionamento <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações (BORGES, 2007a, p. 8).<br />

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Arte na Educação Básica<br />

apontam o quanto é importante a vivência musical no desenvolvimento <strong>da</strong> criança, porém<br />

“para que a aprendizagem <strong>da</strong> música possa ser fun<strong>da</strong>mental na formação <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos é<br />

necessário que to<strong>do</strong>s tenham a oportuni<strong>da</strong>de de participar ativamente como ouvintes,<br />

intérpretes, compositores, dentro e fora <strong>da</strong> sala de aula” (BRASIL, 2001, p. 77).<br />

O que veio justificar o trabalho com oficinas de música foi a chance de aju<strong>da</strong>r nossos<br />

jovens a se perceberem indivíduos cria<strong>do</strong>res de sua própria história, com autonomia e<br />

identi<strong>da</strong>de. Pensan<strong>do</strong> dessa forma, Souza (2008, p. 9) declara que “a maioria <strong>do</strong>s jovens<br />

necessita de música, não apenas como fun<strong>do</strong> musical, mas como elemento vivi<strong>do</strong>, <strong>do</strong> qual ela<br />

não pode ser separa<strong>da</strong>”. Esse foi um <strong>do</strong>s fios condutores de nossa prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Nosso texto a seguir trata de um relato de experiência com o ensino de música em<br />

colégios públicos <strong>do</strong> município de Vicência-PE.<br />

Escolha <strong>da</strong>s escolas e <strong>do</strong>s alunos: espaços e entraves<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais <strong>do</strong> projeto ficou a cargo de um professor<br />

de música, vincula<strong>do</strong> à equipe <strong>do</strong> DGPEADT <strong>da</strong> SME, graduan<strong>do</strong> no Curso de Licenciatura<br />

em Música pela UFPE. Por questões de disponibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente e também de transporte, as<br />

oficinas foram implementa<strong>da</strong>s em quatro escolas: a Escola Municipal Luiz Maranhão, situa<strong>da</strong><br />

na região urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; a Escola Urbano Ramos de Andrade Lima, a Escola Dr.<br />

Benjamin de Azeve<strong>do</strong> e a Escola Maria José Monteiro, situa<strong>da</strong>s na zona rural <strong>do</strong> município.<br />

Para obtenção de um resulta<strong>do</strong> final satisfatório nas oficinas fez-se necessária uma<br />

lista de materiais específicos, onde esse material seria disponibiliza<strong>do</strong> às escolas pela SME.<br />

Faziam parte desta lista: quadro branco pauta<strong>do</strong>; instrumentos de percussão; tecla<strong>do</strong>; e flautas<br />

<strong>do</strong>ces; em quanti<strong>da</strong>de suficiente para que ca<strong>da</strong> escola tivesse seu “kit música”.<br />

Em segui<strong>da</strong>, fomos às escolas onde seriam desenvolvi<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des, nas quais<br />

visitamos ca<strong>da</strong> turma sala a sala. O pré-requisito para participar <strong>da</strong>s oficinas era ser<br />

matricula<strong>do</strong> no fun<strong>da</strong>mental II (6º ao 9º anos/5ª à 8ª séries) e ter o interesse e disponibili<strong>da</strong>de<br />

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de frequentar a escola no contra turno à suas aulas regulares. Porém, a falta de caráter<br />

obrigatório soma<strong>do</strong> a entraves burocráticos interferiram na dinâmica <strong>da</strong>s oficinas que, durante<br />

o ano, sofreu com um déficit de alunos participantes.<br />

Outra dificul<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> durante o trabalho foi a falta de estrutura <strong>da</strong>s escolas<br />

para ativi<strong>da</strong>des musicais. Por exemplo: em algumas usávamos o pátio; em outras, a própria<br />

Sala de Leitura; e, em ultimo caso, conseguíamos alguma sala de aula vazia disponível no<br />

momento.<br />

Procedimentos teórico-meto<strong>do</strong>lógicos<br />

As oficinas musicais se deram de forma conjunta com ca<strong>da</strong> Instituição de Ensino, em<br />

parceria com os Coordena<strong>do</strong>res de Sala de Leitura, que eram os responsáveis por <strong>da</strong>r suporte<br />

e também relatar o nosso trabalho ao DGPEADT <strong>da</strong> SME.<br />

Os encontros com os alunos se <strong>da</strong>vam semanalmente, pela manhã ou tarde, em dia<br />

fixo, exceto em casos especiais como reposição ou ensaios para apresentação. As aulas eram,<br />

em sua maioria, práticas, com exceção de momentos onde a exposição era de cunho teórico ou<br />

de apreciação audiovisual. Tu<strong>do</strong> isso foi pensa<strong>do</strong> por que acreditávamos, dessa forma,<br />

garantir “além <strong>do</strong> treino individual, a interação com outras pessoas [...] favorecen<strong>do</strong> a<br />

aprendizagem musical, seja de forma consciente ou inconsciente” (COUTO, 2009, p. 99).<br />

Nosso plano de ação anual foi pensa<strong>do</strong> a partir de ações pré-estabeleci<strong>da</strong>s no projeto<br />

que previa, entre outras metas, <strong>da</strong>r condições para que o aluno desenvolva suas aptidões<br />

artísticas: crian<strong>do</strong>, interpretan<strong>do</strong> e refletin<strong>do</strong> sobre sua vivência musical cotidiana. Proposta<br />

também acor<strong>da</strong><strong>da</strong> por Kebach (2010, p. 7), quan<strong>do</strong> a autora aponta que “para se educar<br />

musicalmente, deve-se partir <strong>da</strong>quilo que eles [os alunos] conhecem e que faz parte de seus<br />

contextos culturais para, progressivamente, ir se oferecen<strong>do</strong> novas possibili<strong>da</strong>des de<br />

organização sonoro-musicais”.<br />

A dinâmica geral <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des se deu em três etapas. Primeiro, iniciávamos o<br />

trabalho com ativi<strong>da</strong>des lúdicas musicalizantes, fazen<strong>do</strong> o aluno ter contato com sons<br />

musicais, ain<strong>da</strong> sem instrumentos. Várias brincadeiras utiliza<strong>da</strong>s foram extraí<strong>da</strong>s <strong>do</strong> livro<br />

“Jogos e Brincadeiras Musicais” (DAUD, 2010), o qual apresenta ativi<strong>da</strong>des a serem<br />

realiza<strong>da</strong>s individualmente ou em grupo, com o objetivo de despertar a criança para a<br />

sonori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ambiente que a cerca, através de jogos que estimulam a expressão corporal, a<br />

execução de ritmos com gestos sonoros, diferencian<strong>do</strong> e organizan<strong>do</strong> livremente diversos<br />

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sons.<br />

Em segui<strong>da</strong>, trabalhávamos com ativi<strong>da</strong>des práticas de “Coro Fala<strong>do</strong>” onde, a partir<br />

de parlen<strong>da</strong> e versos populares “abrem-se os caminhos para trabalhar pe<strong>da</strong>gogicamente o<br />

<strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> linguagem musical” (PENNA, 2008, p. 195). Nesse momento, configurava-se a<br />

prática coral com o ritmo natural <strong>da</strong>s palavras, através <strong>da</strong> acentuação <strong>da</strong> fala diária.<br />

Por último, assistíamos e apreciávamos apresentações musicais eruditas e populares<br />

em diversas mídias (DVD, computa<strong>do</strong>r, CD de áudio), sempre priorizan<strong>do</strong> a cultura musical<br />

mais próxima.<br />

Antes <strong>da</strong> prática coral, os alunos tiveram acesso a conhecimentos básicos de música.<br />

Desde as proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> som e elementos musicais básicos como: melodia, harmonia e<br />

ritmo; até a família e origem de alguns <strong>do</strong>s instrumentos e também um pouco de história <strong>da</strong><br />

música.<br />

O recital de encerramento<br />

No final <strong>do</strong> ano, a pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Secretaria de Educação, foi solicita<strong>da</strong> uma apresentação<br />

<strong>do</strong>s alunos participantes <strong>da</strong>s oficinas, <strong>da</strong> qual apenas uma <strong>da</strong>s escolas, a Urbano Ramos de<br />

Andrade Lima, participou com seu grupo de alunos.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que to<strong>do</strong>s os alunos conheciam e seria viável a execução com os<br />

elementos musicais que nos eram disponíveis: voz (vozes), violão/tecla<strong>do</strong> e instrumentos de<br />

percussão (agogôs, triângulos e pandeirolas), a escolha <strong>do</strong> repertório para o recital de<br />

encerramento <strong>da</strong> oficina teve como base a cultura popular muito forte na região, de canções<br />

em ritmos tradicionais como o forró, o baião e o xote.<br />

No recital foram apresenta<strong>da</strong>s quatro canções populares, o suficiente para que os<br />

alunos dessem o máximo e realizassem, nas suas limitações técnicas de aprendizes, a sua<br />

prática musical em grupo coral, com instrumentos de percussão.<br />

Discutin<strong>do</strong> Resulta<strong>do</strong>s<br />

Durante nossas ativi<strong>da</strong>des percebemos que, no decorrer <strong>do</strong> processo, os alunos foram<br />

perden<strong>do</strong> a inibição, ao mesmo tempo em que fortaleciam entre si os laços de integração. O<br />

que resultou numa consciência de grupo que fez a diferença para a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

num <strong>da</strong><strong>do</strong> momento <strong>do</strong> processo educativo. Caso esse, ocorri<strong>do</strong> na Escola Urbano Ramos de<br />

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Andrade Lima, não acontecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma maneira nas demais escolas.<br />

Na Escola Municipal Luiz Maranhão, não conseguimos atingir uma quanti<strong>da</strong>de<br />

significativa de alunos nas oficinas, mesmo a escola oferecen<strong>do</strong>, em tese, condições para o<br />

trabalho, pois a mesma possuía instrumentos (violões) disponíveis para os estu<strong>da</strong>ntes. No caso<br />

<strong>da</strong> Escola Dr. Benjamin de Azeve<strong>do</strong>, faltava espaço adequa<strong>do</strong> no início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. O que,<br />

em curto prazo, fez com que a evasão <strong>do</strong>s alunos que tínhamos fosse impossibilitan<strong>do</strong> a<br />

realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de grupo. Já na Escola Maria José Monteiro aconteceu o pior <strong>do</strong>s<br />

casos. Éramos pouco mais de cinco alunos (por aula) para as ativi<strong>da</strong>des, número bem<br />

reduzi<strong>do</strong> em relação às demais escolas, o que nos deixou bastante preocupa<strong>do</strong>s.<br />

Diante de to<strong>do</strong>s os desafios de se iniciar um trabalho como esse no município<br />

observou-se que o foi traça<strong>do</strong> como priori<strong>da</strong>de inicial em nossos objetivos e vimos que a<br />

maioria deles, ain<strong>da</strong> assim, foi alcança<strong>da</strong>. No trabalho que realizamos com nossas turmas<br />

tivemos a oportuni<strong>da</strong>de de atender um grupo menor e mais volta<strong>do</strong> a vivenciar uma prática<br />

coral, especificamente (BORGES, 2007b, p. 4).<br />

Em contraparti<strong>da</strong> a isso, é preciso buscar um dialogo maior com essa ativi<strong>da</strong>de<br />

“nova” para o contexto <strong>da</strong> educação no município de Vicência, para que não ocorram<br />

enganos quanto à prática <strong>da</strong> educação musical, que além de obrigatória por lei a partir <strong>do</strong><br />

ano de <strong>2011</strong> (Lei 11.769/2008) é uma ativi<strong>da</strong>de que pode contribuir para que os alunos se<br />

tornem ouvintes sensíveis, ama<strong>do</strong>res talentosos ou músicos profissionais (BRASIL, 2001, p.<br />

77), sen<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> uma ferramenta multidisciplinar.<br />

Considerações finais<br />

Acreditamos muito no trabalho realiza<strong>do</strong> e na autotransformação através <strong>da</strong> música,<br />

dentro e fora <strong>da</strong> sala de aula. Por isso entendemos a escola como o meio pelo qual os alunos<br />

terão a oportuni<strong>da</strong>de de descobrirem ci<strong>da</strong>dãos e agentes transforma<strong>do</strong>res desse mun<strong>do</strong> no qual<br />

eles também fazem parte, pois<br />

Somente promoven<strong>do</strong> experiências diversifica<strong>da</strong>s de ensino <strong>da</strong> música no<br />

universo <strong>da</strong>s escolas de educação básica é que poderemos proporcionar, a<br />

uma parcela significativa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a oportuni<strong>da</strong>de de vivenciar,<br />

experimentar e compreender o fenômeno musical nas suas distintas formas<br />

de expressão (QUEIROZ; MOUSINHO, 2007, p. 70).<br />

A prática coral e instrumental deve ser incentiva<strong>da</strong> nas crianças desde ce<strong>do</strong>, para que<br />

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possamos formar melhor nossos jovens, ofertan<strong>do</strong> a eles o acesso ao conhecimento musical e<br />

suas implicações: conhecimento de mun<strong>do</strong>, de si e <strong>do</strong> outro enquanto grupo.<br />

Nesse senti<strong>do</strong> “a performance que estará presente numa educação musical dentro <strong>da</strong><br />

escola regular vai além <strong>da</strong> ideia de virtuosismo instrumental tradicionalmente conheci<strong>do</strong>”<br />

(COUTO; SANTOS, 2009, p. 122), pois percebemos que, a partir <strong>do</strong> contato com a prática<br />

musical, as crianças se viram “artistas”, não só crian<strong>do</strong>, reproduzin<strong>do</strong> e refletin<strong>do</strong> sobre suas<br />

práticas culturais, mas também desenvolven<strong>do</strong> em sua vivência cotidiana ações motiva<strong>do</strong>ras e<br />

diferencia<strong>da</strong>s, individuais e grupais. Por isso, cabe ain<strong>da</strong> nesse relato<br />

Considerar a música como uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva,<br />

e portanto social, que geralmente desencadeia a convicção de que nossos<br />

alunos podem expor, assumir suas experiências musicais e que nós podemos<br />

dialogar sobre elas. De to<strong>do</strong>s os valores que potencializam o ensino de<br />

música nos dias de hoje, esse parece ser o mais importante (SOUZA, 2004,<br />

p. 9).<br />

Consideran<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> outras experiências com o ensino de música no Ensino<br />

Fun<strong>da</strong>mental, como, por exemplo, o relato <strong>do</strong> Borges (2007b) sobre seu trabalho com Canto<br />

Coral em Florianópolis, percebemos que o trabalho realiza<strong>do</strong> em nossas escolas está passível<br />

a correções e sugestões em prol de obtermos um melhor resulta<strong>do</strong> em to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des que<br />

envolvam futuramente o ensino de música no município de Vicência-PE.<br />

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REFERÊNCIAS<br />

BORGES, Gilberto André. Educação Musical e política educacional no Brasil. Florianópolis:<br />

2007a. p. 1-11. Disponível em:<br />

Acesso em: 20 mar. <strong>2011</strong><br />

__________. Educação Musical no Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Canto Coral: uma reflexão a partir<br />

<strong>da</strong> experiência <strong>da</strong> Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. Florianópolis: 2007b. p. 1-9.<br />

Disponível em<br />

Acesso em: 20 mar. <strong>2011</strong><br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação e <strong>do</strong> Desporto. Secretaria de Educação Fun<strong>da</strong>mental.<br />

Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, 2001. v. 6: Arte.<br />

COUTO, Ana Carolina Nunes <strong>do</strong>. Música popular e aprendizagem: algumas considerações.<br />

Opus, Goiânia, v. 15, n. 2, dez. 2009, p. 89-104.<br />

COUTO, Ana Carolina Nunes <strong>do</strong>; SANTOS, Israel Rodrigues Souza. Por que vamos ensinar<br />

Música na escola? Reflexões sobre conceitos, funções e valores <strong>da</strong> Educação Musical Escolar.<br />

Opus. Goiânia, v. 15, n. 1, p. 110-125, jun. 2009.<br />

DAUD, Alliana. Jogos e brincadeiras Musicais. São Paulo: Paulinas, 2009.<br />

FELDEN, Vitória Kruger. Educação não-formal: uma possibili<strong>da</strong>de para musicalização de<br />

crianças e jovens. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 17., 2008. São Paulo. <strong>Anais</strong>... São Paulo: 2008. p. 1-6. Disponível<br />

em:<br />

. Acesso em: 04 Abril <strong>2011</strong><br />

KEBACH, Patrícia. Música na escola: um valor a ser descoberto. Mun<strong>do</strong> Jovem. Edição nº<br />

403. São Paulo, p. 7, fev. 2010.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

QUEIROZ, Luís Ricar<strong>do</strong> Silva; MARINHO, Vanil<strong>do</strong> Mousinho. Educação musical nas<br />

escolas de educação básica: caminhos possíveis para a atuação de professores não<br />

especialistas. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 17, 69-76, set. 2007.<br />

SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V.<br />

10, 7-11, mar. 2004.<br />

_______. Aprender e ensinar música no cotidiano. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

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O espetáculo ArteSemas e as práticas de educação musical em<br />

contextos governamentais não formais<br />

Andersonn Henrique Araújo<br />

andersonn.henrique@hotmail.com<br />

Resumo: Este trabalho objetiva contribuir de forma reflexiva na área de educação musical,<br />

mais especificamente em torno <strong>da</strong> construção e elaboração de espaços de trocas de<br />

conhecimentos favoráveis à construção social <strong>da</strong> educação musical. Para tal, apresentaremos<br />

como relato de experiência, as etapas e meto<strong>do</strong>logias que nortearam a montagem <strong>do</strong><br />

espetáculo ArteSemas, que aconteceu em 16 de dezembro de 2010 dentro <strong>da</strong>s comemorações<br />

<strong>da</strong> 20ª Mostra de Assistência Social de Parnamirim. Para o tema Um Novo Natal em uma<br />

Nova Casa, foi considera<strong>da</strong> a regionalização <strong>do</strong> natal, por isso um Novo Natal e as recentes<br />

melhorias estruturais nos núcleos que abrigam os serviços socioassistenciais, por isso Nova<br />

Casa. Objetivamos com este artigo incrementar as discussões em torno <strong>da</strong>s questões <strong>da</strong><br />

construção de prática musical nas políticas públicas sociais, ten<strong>do</strong> como principal proposta a<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento a partir de relações ocorri<strong>da</strong>s nas oficinas, descreven<strong>do</strong> com<br />

critici<strong>da</strong>de as ações pe<strong>da</strong>gógico-musicais desenvolvi<strong>da</strong>s. Por fim, concluímos que dentro de<br />

uma ação interdisciplinar a música e a realização de musicais nas práticas <strong>do</strong>s contextos não<br />

formais constituiu uma forma efetiva de atuação na busca pela proativi<strong>da</strong>de, estímulo à<br />

criativi<strong>da</strong>de, ao incremento <strong>da</strong> auto-estima.<br />

Palavras-chave: Educação musical não formal, serviço social, relato de experiência.<br />

Introdução<br />

A música nas práticas socioassistenciais vem se constituin<strong>do</strong> como uma ver<strong>da</strong>deira e<br />

significativa forma de atuação <strong>do</strong> professor de música. A música surge nesses contextos em<br />

intensa efervescência plural, transforman<strong>do</strong> de forma heterogênea e singular os sujeitos que<br />

participam <strong>do</strong> processo educativo. Podemos elencar alguns textos que tem como espaço de<br />

investigação o ensino de música e os serviços socioassistencia. (ARAÚJO, 2010; FERREIRA,<br />

2010; MACIEL, 2010)<br />

Araújo (2010) discute como os conhecimentos musicais <strong>do</strong>s alunos, construí<strong>do</strong>s com<br />

base nas Interações Sociais <strong>do</strong> Cotidiano dialogam com os conhecimentos acadêmicos <strong>do</strong>s<br />

monitores. Esse diálogo se constitui nem sempre é consonante e de trocas harmoniosas,<br />

haven<strong>do</strong> dispari<strong>da</strong>des e dicotomias que prejulgam o conhecimento <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r em posição<br />

hierarquicamente superior aos conhecimentos <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Em relação ao protagonismo social e o ensino musical nos serviços socioassistenciais,<br />

Ferreira (2010) afirma que a música, atuan<strong>do</strong> de forma interdisciplinar, é capaz de formar o<br />

sujeito proativo e capaz de ser protagonista de seu contexto social. Analisan<strong>do</strong> o ensino em<br />

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um Centro Social que realiza um serviço socioassistencial em parceria com a prefeitura de<br />

Campinas, no esta<strong>do</strong> de São Paulo. A aprendizagem de música constituiu parte importante<br />

para o desenvolvimento de um convívio social solidário, no qual o respeito e o compromisso<br />

ético com o coletivo exigiram um alto grau de sensibili<strong>da</strong>de. Assim, as ações musicais<br />

estavam em consonância a um <strong>do</strong>s objetivos <strong>da</strong> Política Nacional de Assistência Social, a<br />

construção e o fortalecimento <strong>do</strong>s vínculos coletivos e comunitários. (FERREIRA, 2010,<br />

p.36).<br />

A música como movimento para a emancipação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia é apresenta<strong>do</strong> por Maciel<br />

(2010) em estu<strong>do</strong>s preliminares, buscan<strong>do</strong> a compreensão <strong>do</strong>s efeitos <strong>da</strong> educação musical<br />

para esse processo. Entenden<strong>do</strong> a emancipação e a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia em uma perspectiva sociológica,<br />

o autor cita a obra de Boaventura de Sousa Santos para busca <strong>do</strong> (re)conhecimento <strong>da</strong><br />

heterogenia frente a homogenia <strong>da</strong> globalização neoliberal (SANTOS, 2010).<br />

Outro trabalho importante a ser trazi<strong>do</strong> para a discussão <strong>do</strong>s assuntos que propomos é<br />

o artigo de Rosa (2010), que relata a construção de um musical, dentro de uma perspectiva<br />

formal de ensino e seus os efeitos para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> apreensão <strong>da</strong> linguagem musical<br />

para aqueles inseri<strong>do</strong>s nas ativi<strong>da</strong>des. Iremos detalhar melhor esse trabalho posteriormente,<br />

porém cabe por enquanto enfatizar a importância de Rosa (2010) para as nossas discussões.<br />

Então, como o ensino de musica, em específico a construção de um musical, nos<br />

espaços socioassistenciais, se posiciona em uma perspectiva social, frente às questões de<br />

emancipação, autonomia, valorização <strong>da</strong> cultura pessoal, valorização <strong>do</strong> Cotidiano, interação<br />

<strong>do</strong>s saberes e efetivação <strong>da</strong> aquisição <strong>da</strong> linguagem musical? Como essa integração<br />

interdisciplinar é possível ao professor de música, que venha a trabalhar nos espaços<br />

socioassistenciais? Estas são algumas <strong>da</strong>s in<strong>da</strong>gações que pretendemos discutir nesse relato de<br />

experiência.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Para a elaboração deste trabalho utilizamos a pesquisa bibliográfica na área de<br />

educação e educação musical para que tomemos um posicionamento com critici<strong>da</strong>de frente às<br />

ações propostas, pois, pretendemos não apenas descrever as ativi<strong>da</strong>des que realizamos, mas<br />

examinar fatos ou fenômenos ocorri<strong>do</strong>s em nosso relato (TRIVIÑOS, 1987). Registramos<br />

através de fotografias para ilustrar e enriquecer nosso relato, porque entendemos que elas nos<br />

permitem captar aspectos <strong>da</strong> atuação musical, adereços e detalhes, faces e gestos que por<br />

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vezes podem passar despercebi<strong>do</strong>s. Consultamos ao diário de encontros que foi elabora<strong>do</strong> na<br />

medi<strong>da</strong> em que eram sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s ensaios e planejamentos. Para a análise de <strong>da</strong><strong>do</strong>s,<br />

usaremos o diário de encontros e bibliografias consulta<strong>da</strong>s em áreas correlatas forman<strong>do</strong> a<br />

base teórica para analisar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s capta<strong>do</strong>s.<br />

Os Serviços Socioassistenciais e educação musical<br />

Na política de assistência social em Parnamirim 1 que atua em conformi<strong>da</strong>de com a<br />

Tipificação Nacional <strong>do</strong>s Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009), são ofereci<strong>do</strong>s os<br />

seguintes serviços:<br />

I- Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes de 06 a 15 anos, SCFV-06 a 15, esse serviço é ofereci<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong>s núcleos <strong>do</strong><br />

Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil, PETI 2 ;<br />

II- Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para a<strong>do</strong>lescentes e jovens<br />

de 15 a 17 anos, ofereci<strong>do</strong> nos núcleos <strong>do</strong> PROJOVEM A<strong>do</strong>lescente;<br />

III- Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para i<strong>do</strong>sos;<br />

Os Serviços socioassistenciais atuam na população que se encontra em situação de<br />

risco: a saúde, ao desenvolvimento físico-mental, moral, espiritual e social, causa<strong>do</strong>s por<br />

fatores econômicos, histórico-sociais, etc. Portanto, os objetivos <strong>do</strong>s Serviços estão<br />

interliga<strong>do</strong>s a superação <strong>da</strong>s situações de risco de forma proativa, tornan<strong>do</strong> a família<br />

protagonista social dessa mu<strong>da</strong>nça (BRASIL, 2009). Em Parnamirim, no momento de nosso<br />

relato, o SCFV – 06 a 15 anos/PETI atendia a 1.840 usuários; o SCFV – 15 a 17<br />

anos/PROJOVEM A<strong>do</strong>lescente atendia a 1.550 usuários; e 32% <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos<br />

<strong>da</strong><br />

municipali<strong>da</strong>de participavam <strong>do</strong> SCFV para i<strong>do</strong>sos; To<strong>do</strong>s os Serviços Socioassistenciais são<br />

operacionaliza<strong>da</strong>s pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Parnamirim e cofinancia<strong>do</strong>s<br />

com verbas <strong>do</strong> governo federal brasileiro.<br />

Nos Serviços são ofereci<strong>da</strong>s oficinas de música, artes plásticas, <strong>da</strong>nça, teatro,<br />

orientação social, oficinas de profissionalização volta<strong>da</strong>s para a integração social e construção<br />

<strong>do</strong> conhecimento através de trocas coletivas.<br />

As oficinas de música têm o caráter de educação não formal. Oliveira e Harder<br />

(2008) ao estu<strong>da</strong>r de mo<strong>do</strong> comparativo o educação musical nos contextos escolares e nos<br />

trabalhos <strong>do</strong>s mestres de cultura popular, chamam de educação não-escolar aquela que<br />

1 Parnamirim, terceira maior ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, é uma <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des conurba<strong>da</strong>s a ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal, capital <strong>do</strong> RN.<br />

2 Sobre o Programa de Erradicação <strong>do</strong> Trabalho Infantil, consultar Araújo, 2010<br />

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extrapolam os espaços físicos <strong>da</strong> escola. No entendimento dessas autoras, a aprendizagem<br />

musical nesses ambientes acontece de forma lúdica sempre estimulan<strong>do</strong> a Competência<br />

Brincante, ou seja:<br />

O professor integra os conteú<strong>do</strong>s musicais e outros saberes necessários ao<br />

entendimento <strong>do</strong> aluno com aplicação e serie<strong>da</strong>de, porém o elemento lúdico<br />

é importante e é incorpora<strong>do</strong> nas ações pelo seu próprio valor educacional,<br />

recreativo, anti-estressante e relaxa<strong>do</strong>r. Essa atitude pré-disponibiliza o<br />

aluno a ações criativas e inova<strong>do</strong>ras em relação à aprendizagem e à produção<br />

em geral, e mais especialmente à aprendizagem musical (OLIVEIRA;<br />

HARDER, 2008, p. 76).<br />

Podemos observar no dia a dia <strong>da</strong>s oficinas de música nos Serviços que o elemento<br />

lúdico semi-sistemático é uma constante na prática pe<strong>da</strong>gógica (LIBÂNEO, 2010, p.89). Ao<br />

utilizar o lúdico como meto<strong>do</strong>logia de trabalho, há uma atração <strong>do</strong>s usuários para as oficinas.<br />

Neste contexto, porém, há uma dupla dimensão: se de um la<strong>do</strong> há a possibili<strong>da</strong>de de<br />

aprendizagem significativa, <strong>do</strong> outro, as emoções provoca<strong>da</strong>s pela aprendizagem entram em<br />

conflito com a reali<strong>da</strong>de de exclusão social <strong>do</strong>s participantes.<br />

As oficinas abarcam a aprendizagem de canto coral, violão popular e flauta <strong>do</strong>ce<br />

buscan<strong>do</strong> através <strong>da</strong> iniciação musical o desenvolvimento social e a superação de situações de<br />

risco. Essa possibili<strong>da</strong>de torna-se possível no momento em que na prática musical há sempre<br />

uma prática reflexiva atrela<strong>da</strong> às questões culturais, econômicos e socioassistenciais. De<br />

forma que os conteú<strong>do</strong>s são pensa<strong>do</strong>s e ensina<strong>do</strong>s buscan<strong>do</strong>-se o protagonismo e o<br />

posicionamento proativo <strong>do</strong> usuário.<br />

Exemplo dessa prática interdisciplinar onde o social, o assistencial e o musical são<br />

trabalha<strong>do</strong>s... Em uma oficina onde o canto coral trabalha<strong>do</strong>, podem-se utilizar músicas com a<br />

temática meio ambiente visan<strong>do</strong> à crítica reflexiva sobre a temática. Discutir a reali<strong>da</strong>de<br />

concreta <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s saberes curriculares fun<strong>da</strong>mentais é uma proposta de Paulo<br />

Freire (FREIRE, 2006). A discussão sobre a experiência socialmente construí<strong>da</strong> na prática<br />

comunitária é uma <strong>da</strong>s vertentes de atuação <strong>do</strong> monitor de música, em consonância com<br />

Freire que nos faz a seguinte instigação:<br />

Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de descui<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição<br />

<strong>do</strong>s riachos e <strong>do</strong>s córregos e os baixos níveis de bem-estar <strong>da</strong>s populações,<br />

os lixões e os riscos que oferecem à saúde <strong>da</strong>s gentes. Por que não há lixões<br />

no coração <strong>do</strong>s bairros ricos e mesmo puramente remedia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s centros<br />

urbanos? (FREIRE, 2006, p.30)<br />

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Portanto, também a contextualização trazen<strong>do</strong> o cotidiano social, a partir <strong>do</strong>s<br />

problemas sociais comunitários para as oficinas é uma <strong>da</strong>s formas de atuação <strong>do</strong> monitor de<br />

música. Entretanto o cotidiano <strong>do</strong>s usuários pode abarcar uma série de outros aspectos, que<br />

não sejam somente as problemáticas sociais. Pode-se trabalhar o cotidiano a partir <strong>da</strong>s<br />

experiências musicais sociais, amplian<strong>do</strong>, resgatan<strong>do</strong> e abrin<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de de um espaço<br />

propício a relação de trocas, construin<strong>do</strong> assim o conhecimento musical a partir <strong>da</strong>s<br />

experiências trazi<strong>da</strong>s pelos usuários de seus diversos contextos sociais (SOUZA, 2000).<br />

Ain<strong>da</strong> sobre a aprendizagem musical interliga<strong>da</strong> a superação <strong>da</strong>s situações de risco,<br />

podemos fazer uma conexão com o discurso de Oliveira e Harder (2008), quan<strong>do</strong> afirmam<br />

que o ensino de música nos contextos não-escolares acontece de forma holística,<br />

“consideran<strong>do</strong> a música como um meio para educar o ser humano, não um fim em si mesma”<br />

(OLIVEIRA; HARDER, 2008, p.75). Tanto para Paulo Freire, que discute o processo<br />

pe<strong>da</strong>gógico formal, quanto para Oliveira e Harder, que trata <strong>do</strong> contexto oral, há a presença <strong>da</strong><br />

aprendizagem <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s vincula<strong>do</strong>s a questões éticas e morais. A ética <strong>da</strong> superação e <strong>da</strong><br />

valorização <strong>do</strong> ser humano 3 é aprendi<strong>da</strong> nas oficinas <strong>do</strong>s Serviços concomitantemente ao<br />

aprendiza<strong>do</strong> de música, assim o “ensino de música é entremea<strong>do</strong> com atitudes morais e éticas,<br />

bem como permea<strong>da</strong> de conceitos culturais de socialização e educação geral” na busca <strong>da</strong><br />

valorização “<strong>do</strong> ensino e aprendizagem dentro <strong>do</strong> convívio social, desenvolven<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de” (OLIVEIRA; HARDER, 2008, p.75)<br />

Desafios propostos<br />

To<strong>do</strong> final de ano acontece a Mostra de Assistência Social, no qual são expostas em<br />

praça pública as ativi<strong>da</strong>des elabora<strong>da</strong>s, os artigos confecciona<strong>do</strong>s, os trabalhos realiza<strong>do</strong>s e as<br />

apresentações culturais desenvolvi<strong>da</strong>s durante o ano dentro <strong>do</strong>s núcleos <strong>do</strong>s Serviços<br />

Socioassistenciais. Além <strong>da</strong> Mostra, acontece também o festival-musical ArteSemas que é<br />

volta<strong>do</strong> para o teatro, música, <strong>da</strong>nça e artes plásticas com participantes representantes de<br />

to<strong>do</strong>s os Serviços, escolhi<strong>do</strong>s pelos próprios monitores de oficina.<br />

Em desafio a elaboração <strong>do</strong> festival ArteSemas, tínhamos a integração entre gerações<br />

que nota<strong>da</strong>mente tornou-se um entrave a convivência. Encontramos (pre)conceitos<br />

socialmente construí<strong>do</strong>s acerca de simbolismos que as gerações têm uma <strong>da</strong>s outras, seguin<strong>do</strong><br />

a seguinte perspectiva:<br />

3 Sobre a ética universal <strong>do</strong> ser humano, ver FREIRE, 2006, p.18<br />

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A ideologia <strong>do</strong>minante ain<strong>da</strong> hoje procura nos fazer crer em modelos<br />

basea<strong>do</strong>s em hierarquias e visões utilitárias e monolíticas <strong>da</strong> existência,<br />

tentan<strong>do</strong> nos naturalizar idéias arbitrárias como a de que adulto é o ser que<br />

atingiu o clímax, a maturi<strong>da</strong>de biológica, emocional e cognitiva, criança e<br />

jovem são seres em formação rumo à maturi<strong>da</strong>de, e velho/a é aquele/a que se<br />

encontra em decadência (RIBAS, 2005, p. 1).<br />

É interessante que esse fato nos foi relata<strong>do</strong> no momento em que foi realiza<strong>do</strong> o<br />

planejamento juntamente com os profissionais monitores de música, teatro, <strong>da</strong>nça e artes.<br />

Afirmou-se que os i<strong>do</strong>sos não gostavam de estar no mesmo ambiente que as crianças e jovens,<br />

pois esses últimos eram por demais “barulhentos”. Notamos o fato na prática quan<strong>do</strong> nos<br />

primeiros ensaios os jovens, crianças e i<strong>do</strong>sos ficavam separa<strong>do</strong>s por grupos de acor<strong>do</strong> com a<br />

i<strong>da</strong>de, haven<strong>do</strong> por vezes a pré-indisposição para a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des intergeracionais.<br />

Nessa perspectiva acreditamos que “é intrínseco ao ato educativo seu caráter de<br />

mediação que favorece ao desenvolvimento <strong>do</strong>s indivíduos na dinâmica sociocultural de seu<br />

grupo, sen<strong>do</strong> que o conteú<strong>do</strong> dessa mediação são os saberes e mo<strong>do</strong>s de ação.” (LIBÂNEO,<br />

2010, p. 32). As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s nos ensaios foram pensa<strong>da</strong>s na desconstrução social <strong>do</strong><br />

(pre)conceito simbológico entre as geração, objetivan<strong>do</strong> sempre as trocas de experiência<br />

musicais entre grupos, no qual to<strong>do</strong>s tinham voz para expressar sua opinião geran<strong>do</strong>,<br />

conseqüentemente, um processo de construção <strong>da</strong> aceitação <strong>da</strong> opinião musical <strong>do</strong> próximo.<br />

Na figura 1 pode-se observar uma <strong>da</strong>s apresentações que uniu as gerações, <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> e<br />

cantan<strong>do</strong> ao ritmo de batuques e ritmos brasileiros.<br />

FIGURA 1- Apresentação de canto e <strong>da</strong>nça, no<br />

qual i<strong>do</strong>sos a<strong>do</strong>lescentes e crianças participavam.<br />

Outra problemática na elaboração <strong>do</strong> ArteSemas foi a orientação que tivemos em<br />

aproveitar as potenciali<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> núcleo, ou seja, deveríamos utilizar as construções<br />

musicais realiza<strong>da</strong>s ao longo <strong>do</strong> ano, entrelaçan<strong>do</strong> assim o texto e o festival em um musical.<br />

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Encontramos dificul<strong>da</strong>de em interligar diferentes apresentações culturais em uma única trama,<br />

entretanto o que a princípio se apresentou como dificul<strong>da</strong>de tornou-se um grande suporte a<br />

troca de experiências. Trabalhamos de acor<strong>do</strong> com o cotidiano aproveitan<strong>do</strong> o máximo as<br />

experiências musicais individuais para a construção <strong>do</strong> conhecimento, como também para a<br />

construção <strong>do</strong> musical (SOUZA, 2000). Os encontros e ensaios buscaram focar-se no<br />

universo musical de ca<strong>da</strong> participante buscan<strong>do</strong> a quebra <strong>do</strong> estigma que impedia as relações<br />

intergeracionais.<br />

Desde o 2009 as prefeituras <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte tiveram que<strong>da</strong> no recebimento<br />

<strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Participação <strong>do</strong>s Municípios (FPM), assim, as prefeituras no final <strong>do</strong> ano de<br />

2010 foram diretamente atingi<strong>da</strong>s, ocorren<strong>do</strong> cortes em to<strong>do</strong>s os segmentos. Como<br />

conseqüência a educação musical nos programas sociais foi atingi<strong>da</strong> e para não infringir a lei<br />

de responsabili<strong>da</strong>de fiscal, os gestores cortaram gastos e materiais. A situação políticofinanceira<br />

na conjuntura brasileira logo atingiu o ArteSemas e as ações de educação musical<br />

que tiveram o orçamento fortemente reduzi<strong>do</strong>. 4<br />

Entretanto, com criativi<strong>da</strong>de e parcerias<br />

conseguimos contornar algumas situações, dentre as quais o aluguel <strong>do</strong> equipamento de som,<br />

<strong>do</strong> palco e <strong>da</strong> iluminação que foram empresta<strong>do</strong>s de outras secretarias <strong>da</strong> municipali<strong>da</strong>de e/ou<br />

por empresas priva<strong>da</strong>s.<br />

A operacionalização<br />

Foi deci<strong>do</strong> pela equipe de planejamento que o enre<strong>do</strong> <strong>do</strong> espetáculo seria construí<strong>do</strong><br />

em torno <strong>da</strong> regionalização <strong>do</strong> natal e que os adereços e figurinos seriam confecciona<strong>do</strong>s<br />

pelos próprios usuários. Os aspectos praieiros, o centro de lançamento de foguetes Barreira <strong>do</strong><br />

Inferno e o maior cajueiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> foram agrega<strong>do</strong>s ao enre<strong>do</strong> de forma natalina.<br />

Elaboramos o ArteSemas na perspectiva <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s usuários <strong>do</strong>s serviços<br />

(SOUZA, 2000), o enre<strong>do</strong> foi construí<strong>do</strong> em torno <strong>da</strong> regionalização <strong>do</strong> natal, a<strong>da</strong>ptan<strong>do</strong> para<br />

o cotidiano <strong>do</strong>s munícipes um enre<strong>do</strong> natalino. Os animais presentes no musical eram<br />

regionais, a estrela natalina era um foguete <strong>do</strong> Centro de Lançamento de Foguetes Barreira <strong>do</strong><br />

Inferno, a árvore de natal era o maior cajueiro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, os reis magos eram provenientes <strong>do</strong><br />

Planetário Municipal, etcs.<br />

4 http://www.tribuna<strong>do</strong>norte.com.br/noticia/ubam-diz-que-o-governo-deve-r-2-bilhoes-aos-municipios/165120<br />

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FIGURA 2- Coro fixo de jovens e a<strong>do</strong>lescentes de diversos<br />

núcleos <strong>do</strong>s Serviços Socioassistenciais em Parnamirim.<br />

O grupo era composto por um coro fixo de jovens e a<strong>do</strong>lescentes de acor<strong>do</strong> com a<br />

classificação vocal de ca<strong>da</strong> participante. Foi chama<strong>do</strong> de coro fixo, pois eram sempre os<br />

mesmos componentes que cantavam as músicas, entretanto, na última parte <strong>do</strong> espetáculo, o<br />

coro era encorpa<strong>do</strong> com os funcionários <strong>da</strong> secretaria. Assim, participaram usuários e<br />

funcionários, haven<strong>do</strong> um estreitamento na relação entre profissional e usuário <strong>do</strong> serviço.<br />

Havia também <strong>do</strong>is grupos de <strong>da</strong>nça composto por i<strong>do</strong>sos, jovens e a<strong>do</strong>lescentes que fizeram<br />

uma participação especial em uma <strong>da</strong>s músicas canta<strong>da</strong>s. Os instrumentistas convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para<br />

acompanhar o coro eram os próprios monitores de música, dentre estes, um era usuário <strong>do</strong><br />

serviço socioassistencial e participava <strong>da</strong>s oficinas de violão.<br />

Os protagonistas <strong>da</strong> história eram <strong>do</strong>is a<strong>do</strong>lescentes que juntamente com os outros<br />

participantes, freqüentavam as oficinas de teatro aprenden<strong>do</strong> noções de posicionamento de<br />

palco, postura vocal e corporei<strong>da</strong>de troca<strong>da</strong>s entre os participantes <strong>do</strong> ArteSemas.<br />

Os últimos ensaios foram conturba<strong>do</strong>s devi<strong>do</strong> a problemas de transporte, uma vez<br />

que dependíamos <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> transporte para trazer to<strong>do</strong>s os usuários participantes<br />

<strong>do</strong> ArteSemas para a secretaria. Curiosamente, no final <strong>do</strong> ano há sempre um aumento na<br />

deman<strong>da</strong> <strong>da</strong>s visitas sociais realiza<strong>da</strong>s pelas assistentes sociais <strong>da</strong> secretaria, assim, atrasamos<br />

o cronograma de ensaio. Entretanto, a apresentação alavancou fervorosas palmas que<br />

demonstrou que <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> performance, os objetivos foram alcança<strong>do</strong>s com primazia<br />

e profissionalismo entusiasmante.<br />

Como efeito positivo <strong>da</strong>s ações, podemos ain<strong>da</strong> destacar o estímulo à criativi<strong>da</strong>de e<br />

expressivi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s usuários, uma vez que eles tiveram a oportuni<strong>da</strong>de de apresentarem-se em<br />

público. Público composto em grande maioria por familiares que apreciaram com orgulho<br />

estampa<strong>do</strong> na face, ao ver suas progênies em outro contexto que não seja o <strong>da</strong> violação de<br />

direitos. Encontramos similari<strong>da</strong>des com os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por Amélia Rosa, que descreve<br />

os efeitos de um musical na prática formal <strong>do</strong> ensino:<br />

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Pudemos trabalhar diversas habili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos e verificar um<br />

crescimento significativo de aspectos como a expressivi<strong>da</strong>de musical, a<br />

consciência corporal, a prontidão, a sensibili<strong>da</strong>de rítmica e auditiva, a<br />

criativi<strong>da</strong>de e o entrosamento, além <strong>do</strong> respeito mútuo entre eles, a<br />

cooperação e o espírito de equipe. Notamos também o crescimento <strong>da</strong><br />

cumplici<strong>da</strong>de e a confiança estabeleci<strong>da</strong> entre os alunos e professores.<br />

(ROSA et al., 2010, p.7)<br />

Foi mútuo, tanto para a descrição de Amélia Rosa, quanto na nossa perspectiva, que<br />

apesar de terem distintos objetivos, ambos ambientes de educação musical através de<br />

experiência com espetáculos, proporcionaram significativas aprendizagens para os<br />

participantes. Assim, a experiência com espetáculos musicais constituiu-se uma prática eficaz<br />

de atuação meto<strong>do</strong>lógica para uma significativa atuação <strong>da</strong> educação musical.<br />

Conclusão<br />

A recente expansão <strong>da</strong> política socioassistencial nacional tem aberto discussões<br />

meto<strong>do</strong>lógicas referentes à atuação <strong>do</strong> profissional de música, seus objetivos e estratégias de<br />

atuação. A música em si, torna-se um elemento socializante capaz de tornar o sujeito proativo<br />

em sua comuni<strong>da</strong>de e protagonista de sua própria história.<br />

A atuação com espetáculos musicais se tornou uma forma interdisciplinar de<br />

eficientemente trabalhar as questões musicais e socioassistenciais necessárias aos contextos<br />

de ensino e aprendizagem nos ambientes <strong>do</strong>s Serviços governamentais. Assim, esperamos, ter<br />

contribuí<strong>do</strong> para a discussão <strong>da</strong> atuação profissional nos ambientes não formais<br />

governamentais, ten<strong>do</strong> como perspectiva a elaboração de uma sistemática em torno de um<br />

espetáculo musical, que objetive colaborar para a construção e o resgate <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>do</strong>s<br />

usuários que aprendem música nos Serviços Socioassistenciais.<br />

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Referências<br />

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Florianópolis: ANPPOM, 2010, p. 241-246.<br />

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LIBÂNEO, José Carlos. Pe<strong>da</strong>gogia e pe<strong>da</strong>gogos para quê? 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2010.<br />

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Acessa<strong>do</strong> em 02 de março de <strong>2011</strong>.<br />

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RIBAS, Maria Guimar. Educação musical entre gerações: recorte de uma pesquisa em<br />

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.<br />

Acesso em 15 de março de <strong>2011</strong>.<br />

SANTOS, Boaventura de Sousa. A universi<strong>da</strong>de no século XXI: para uma reforma<br />

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SOUZA, Jussamara (Org.). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: PPGM/UFRGS,<br />

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TRIVIÑOS, Augusto. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em<br />

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O estágio <strong>do</strong>s alunos de Licenciatura em Música em escola de Curso Livre:<br />

possibili<strong>da</strong>des e desafios sob o ponto de vista <strong>da</strong> escola<br />

Rodrigo Leite Cavalcanti<br />

Espaço <strong>da</strong> Música / Recife-PE<br />

rodrigoleitecavalcanti@hotmail.com<br />

Resumo: Esta comunicação pretende relatar minha experiência na observação <strong>do</strong>s estágios<br />

realiza<strong>do</strong>s por alunos <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Pernambuco na escola Espaço <strong>da</strong> Música – escola de música priva<strong>da</strong> que ministra cursos<br />

livres. A convivência sistemática com os estagiários nos últimos cinco anos trouxe à tona a<br />

percepção de uma reincidência de atitudes, necessi<strong>da</strong>des, conflitos e possibili<strong>da</strong>des acerca <strong>da</strong><br />

prática <strong>do</strong>cente em música, pelo menos no que tange à prática <strong>do</strong>cente em escola<br />

especializa<strong>da</strong> de música. Diante dessas constatações surgem reflexões sobre a postura <strong>da</strong>s<br />

instituições envolvi<strong>da</strong>s no acompanhamento <strong>do</strong> estágio. A falta de comunicação entre as<br />

instituições é só parte <strong>do</strong> problema que não envolve apenas questões relaciona<strong>da</strong>s à formação<br />

pe<strong>da</strong>gógica, há também problemas como os de cunho social, que pode ser ilustra<strong>da</strong> na<br />

necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> estágio como fonte de remuneração para a sobrevivência <strong>do</strong> estagiário, e ain<strong>da</strong><br />

os de prerrogativa acadêmica, que trata o ambiente fora <strong>da</strong> escola regular quase sempre como<br />

um espaço de menor importância para o exercício <strong>do</strong> magistério e sua consequente<br />

contribuição para a formação <strong>do</strong> professor. Com a reflexão e exposição <strong>do</strong> tema talvez seja<br />

possível repensar as condutas <strong>do</strong>s atores envolvi<strong>do</strong>s nesse processo.<br />

Palavras-chave: estágio, curso livre, formação de professor de música.<br />

Introdução<br />

O presente trabalho tem como objetivo abor<strong>da</strong>r o tema estágio a partir <strong>do</strong> ponto de<br />

vista <strong>da</strong> instituição acolhe<strong>do</strong>ra, no caso <strong>do</strong> estágio em ensino de música, a partir <strong>do</strong> ponto de<br />

vista <strong>da</strong> escola que recebe o estagiário. O trabalho ain<strong>da</strong> possui a especifici<strong>da</strong>de de o estágio<br />

ocorrer em uma escola especializa<strong>da</strong> de música que ministra cursos livres – contexto<br />

pe<strong>da</strong>gógico ain<strong>da</strong> pouco abor<strong>da</strong><strong>do</strong> pela academia. Muitos relatos já foram <strong>da</strong><strong>do</strong>s em relação a<br />

estágios, especialmente nos últimos 20 anos, vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> próprio estagiário e <strong>da</strong>s instituições<br />

forma<strong>do</strong>ras onde os estagiários possuem vínculo estu<strong>da</strong>ntil, no entanto, o olhar de quem<br />

coordena ou dirige as instituições acolhe<strong>do</strong>ras não tem mereci<strong>do</strong> a devi<strong>da</strong> atenção acadêmica.<br />

As instituições forma<strong>do</strong>ras (universi<strong>da</strong>des, facul<strong>da</strong>des, conservatórios, etc.) não têm atenta<strong>do</strong><br />

para a possibili<strong>da</strong>de de troca de informações com as pessoas que li<strong>da</strong>m com os estagiários no<br />

ambiente de estágio. Este trabalho pretende contribuir para uma reflexão mais atenta <strong>do</strong>s<br />

atores envolvi<strong>do</strong>s no processo <strong>do</strong> estágio em música. Estagiários, instituições forma<strong>do</strong>ras e<br />

instituições acolhe<strong>do</strong>ras podem e devem repensar suas posturas diante <strong>do</strong> estágio visan<strong>do</strong> um<br />

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melhor aproveitamento desse momento para a formação <strong>do</strong> futuro professor de música. A<br />

importância <strong>do</strong> estágio na formação <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> e sua fragili<strong>da</strong>de dentro <strong>do</strong> currículo <strong>do</strong>s<br />

cursos de Licenciatura é incontestável:<br />

É de comum acor<strong>do</strong> entre os profissionais <strong>da</strong> área de educação que a prática<br />

de ensino, incluin<strong>do</strong> o estágio, é um <strong>do</strong>s componentes curriculares mais<br />

importantes e valiosos dentro <strong>do</strong>s programas de formação <strong>do</strong>cente. Contu<strong>do</strong>,<br />

ela também é vista como um aspecto frágil, um problema logístico ou<br />

administrativo e, muitas vezes, como parte isola<strong>da</strong> e distante <strong>do</strong> currículo.<br />

(MATEIRO; SOUZA, 2008, p.8).<br />

O ambiente <strong>do</strong> estágio<br />

O ambiente em que foi realiza<strong>do</strong> e que ain<strong>da</strong> se realizam os estágios discuti<strong>do</strong>s nesta<br />

comunicação é o Espaço <strong>da</strong> Música - escola de música <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong> onde são ministra<strong>do</strong>s<br />

regularmente cursos livres de: violão, guitarra, baixo, tecla<strong>do</strong>, bateria, canto, piano, violino,<br />

flauta <strong>do</strong>ce e iniciação musical. Além <strong>do</strong>s cursos regulares também são ofereci<strong>do</strong>s cursos de<br />

curta duração, oficinas e capacitações, to<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s para área musical. Os cursos regulares<br />

são ministra<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is formatos: aulas em grupo e aulas individuais.<br />

O Espaço <strong>da</strong> Música iniciou suas ativi<strong>da</strong>des no início de 2002. Está situa<strong>do</strong> no bairro<br />

<strong>do</strong> Espinheiro, ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife, capital pernambucana. Possui atualmente cerca de 200<br />

alunos matricula<strong>do</strong>s nos diversos cursos e conta com 9 professores em seu corpo <strong>do</strong>cente,<br />

sen<strong>do</strong> que desses, 3 são ex-estagiários que foram efetiva<strong>do</strong>s. A escola ain<strong>da</strong> conta com 3<br />

estagiários em ativi<strong>da</strong>de no momento. To<strong>do</strong>s os estagiários que passaram ou ain<strong>da</strong> estão no<br />

Espaço <strong>da</strong> Música são oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco - UFPE. No decorrer<br />

<strong>do</strong>s últimos 5 anos estagiaram cerca de 20 professores que ministraram aulas especialmente<br />

de instrumentos.<br />

A preocupação constante com a quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino e com as condições de trabalho<br />

de seus professores tem feito parte <strong>da</strong> rotina <strong>do</strong>s que coordenam o Espaço <strong>da</strong> Música. Como<br />

consequência disso, após diversas reuniões e reflexões sobre a necessi<strong>da</strong>de de organização,<br />

planejamento e homogenei<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s planos de cursos, no ano de 2008 a escola tornou-se a 1ª<br />

escola de música <strong>do</strong> <strong>Nordeste</strong> licencia<strong>da</strong> pela Escola de Música e Tecnologia – EM&T, o que<br />

possibilitou o uso de to<strong>do</strong> o material didático dessa instituição que é sem dúvi<strong>da</strong> referência<br />

nacional na área de cursos livres. Durante o processo de efetivação <strong>da</strong> parceria foram<br />

envia<strong>do</strong>s para a EM&T, em São Paulo-SP, <strong>do</strong>is professores e um estagiário para que<br />

recebessem capacitação para o uso <strong>do</strong> material didático.<br />

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Outro exemplo <strong>da</strong> busca pela melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s condições de trabalho é a<br />

constante renovação de instrumentos e acessórios. O equipamento <strong>da</strong>s salas de aula com ar<br />

condiciona<strong>do</strong> e computa<strong>do</strong>res com acesso à internet, permite não somente uma expansão nas<br />

possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente, mas também proporciona um ambiente propício para<br />

pesquisa e estu<strong>do</strong>.<br />

O perfil <strong>do</strong> aluno que frequenta a escola é bem varia<strong>do</strong> quanto à faixa etária. Estão<br />

matricula<strong>do</strong>s nos diversos cursos alunos <strong>do</strong>s 2 aos 80 anos de i<strong>da</strong>de. Já em relação à situação<br />

socioeconômica há uma pre<strong>do</strong>minância de alunos de classe média, já que se trata de uma<br />

escola priva<strong>da</strong> onde são cobra<strong>do</strong>s valores de mensali<strong>da</strong>des, matrícula e material didático.<br />

Funcionamento <strong>do</strong> estágio<br />

Com a vivência de cinco anos participan<strong>do</strong> <strong>da</strong> coordenação pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> Espaço <strong>da</strong><br />

Música pude perceber certas reincidências por parte <strong>do</strong>s estagiários em diversos momentos <strong>do</strong><br />

estágio. Contu<strong>do</strong>, antes de descrever tais observações, faz-se necessária a descrição de como<br />

ocorrem tais estágios no que diz respeito às suas especifici<strong>da</strong>des.<br />

Os contratos de estágios normalmente são feitos com duração de um ano, poden<strong>do</strong><br />

ser renova<strong>do</strong> indefini<strong>da</strong>mente até a conclusão <strong>do</strong> curso, ou seja, até enquanto o estagiário<br />

mantiver seu vínculo de aluno <strong>da</strong> graduação. O contrato pode ser rescindi<strong>do</strong> a qualquer<br />

momento pelo estagiário ou pela instituição acolhe<strong>do</strong>ra.<br />

Os estágios ocorrem em momentos diversos <strong>do</strong> curso de graduação. Já foram<br />

admiti<strong>do</strong>s estagiários de 2º perío<strong>do</strong> até concluintes. Portanto, normalmente esses estágios não<br />

são curriculares, não fazem parte <strong>do</strong> processo de estágio <strong>da</strong>s disciplinas de Prática de Ensino,<br />

o que não diminui a importância dessa experiência já que, segun<strong>do</strong> Mateiro (2008, p.23) “o<br />

estágio situa<strong>do</strong> ao final <strong>do</strong> curso acaba por perder a articulação com o restante <strong>da</strong>s disciplinas,<br />

tornan<strong>do</strong>-se um elemento formativo distinto”. Entretanto, já aconteceu de alguns estagiários<br />

serem autoriza<strong>do</strong>s pelos seus orienta<strong>do</strong>res a utilizarem esse estágio como parte curricular <strong>da</strong><br />

disciplina Prática de Ensino <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música.<br />

Frequentemente os estagiários são seleciona<strong>do</strong>s por já <strong>do</strong>minarem um determina<strong>do</strong><br />

instrumento e consequentemente poderem aplicar os conhecimentos pe<strong>da</strong>gógicos adquiri<strong>do</strong>s<br />

na graduação em sua regência nas aulas desses instrumentos. Como a escola a<strong>do</strong>ta um<br />

material didático específico para ca<strong>da</strong> curso, o estagiário recebe uma série de orientações de<br />

como a escola trabalha esse material, como se dá o planejamento <strong>do</strong> curso, <strong>do</strong>s módulos e <strong>da</strong>s<br />

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aulas. Certos procedimentos de natureza didático-pe<strong>da</strong>gógica são sugeri<strong>do</strong>s para que o<br />

estagiário, ain<strong>da</strong> inexperiente, possa ter um norte em suas ações. Recursos didáticos<br />

disponíveis são apresenta<strong>do</strong>s e sugestões são ouvi<strong>da</strong>s. Contu<strong>do</strong>, a autonomia na condução <strong>da</strong>s<br />

aulas é respeita<strong>da</strong>, permitin<strong>do</strong> ao estagiário experimentar, propor o contraditório, sugerir<br />

novas condutas, enfim, ser um personagem ativo no processo <strong>da</strong> construção <strong>do</strong>s<br />

procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> escola. Desse mo<strong>do</strong>, é passa<strong>do</strong> ao estagiário o que a Lei de<br />

Diretrizes e Bases Nacional de Educação – LDB Nº 9.394/96 diz em seu Artigo 13:<br />

Os <strong>do</strong>centes incumbir-se-ão de: I – Participar <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> proposta<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> estabelecimento e ensino; II – Elaborar e cumprir plano de<br />

trabalho, segun<strong>do</strong> a proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> estabelecimento de ensino; III –<br />

Zelar pela aprendizagem <strong>do</strong>s alunos; IV – Estabelecer estratégias de<br />

recuperação para os alunos de menor rendimento; V – Ministrar os dias<br />

letivos e horas-aula estabeleci<strong>do</strong>s, além de participar integralmente <strong>do</strong>s<br />

perío<strong>do</strong>s dedica<strong>do</strong>s ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento<br />

profissional; VI – Colaborar com as ativi<strong>da</strong>des de articulação <strong>da</strong> escola com<br />

as famílias e a comuni<strong>da</strong>de. (BRASIL, 1996, art.13).<br />

Além <strong>do</strong>s aspectos pe<strong>da</strong>gógicos é trata<strong>do</strong> desde o início com os estagiários seu papel<br />

como membro de uma organização educacional priva<strong>da</strong>. Bem como já descreve Souza (1997,<br />

p.16) “as competências exigi<strong>da</strong>s vão muito além <strong>do</strong>s tradicionais cânones <strong>da</strong>s disciplinas<br />

didáticas”. Nesse momento tenta-se passar para o estagiário que profissionalismo vai além <strong>do</strong><br />

universo <strong>da</strong> sala de aula, <strong>do</strong> âmbito pe<strong>da</strong>gógico, envolve questões desde as mais simples e<br />

óbvias, como pontuali<strong>da</strong>de e frequência, até questões mais delica<strong>da</strong>s e complexas como<br />

postura ética e moral diante <strong>do</strong>s alunos, colegas e direção.<br />

Observação <strong>do</strong> estágio<br />

O estagiário começa a ministrar as aulas quase sempre para alunos iniciantes ou com<br />

pouca vivência no instrumento. Isso dá ao estagiário mais confiança com o trabalho que<br />

começa a ser desenvolvi<strong>do</strong>, evitan<strong>do</strong> situações onde o aluno mais experiente “testa” o nível de<br />

conhecimento e a técnica <strong>do</strong> estagiário, muitas vezes o inibin<strong>do</strong>.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que seus alunos vão progredin<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> curso há um natural ganho<br />

de confiança por parte <strong>do</strong> estagiário. Nesse momento ele já passa a receber alunos com nível<br />

de aprendiza<strong>do</strong> mais eleva<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> novas situações em sua vivência <strong>do</strong>cente.<br />

Percebe-se, de maneira geral, que o estagiário está muitas vezes mais foca<strong>do</strong> na<br />

questão financeira, no recebimento <strong>da</strong> bolsa-estágio, <strong>do</strong> que com a experiência <strong>do</strong>cente<br />

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propriamente dita. Não por uma questão mesquinha, mas por necessi<strong>da</strong>de de sobrevivência.<br />

Quase sempre o estagiário esgota seu tempo entre as aulas na Universi<strong>da</strong>de, aulas <strong>do</strong> estágio e<br />

aulas particulares, durante a semana, e apresentações musicais em eventos, cerimônias, festas,<br />

nos finais de semana.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, contraditoriamente, ele acaba por não valorizar a experiência<br />

<strong>do</strong>cente, deixan<strong>do</strong> passar a oportuni<strong>da</strong>de de crescer como professor, o que irá implicar na sua<br />

‘sobrevivência’ futura na profissão. Essa situação tem si<strong>do</strong> um grande entrave para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s estagiários.<br />

A percepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de econômica em que vive o estagiário deve fazer parte <strong>da</strong>s<br />

ações curriculares <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE para que o estágio<br />

extracurricular não seja apenas incentiva<strong>do</strong> como parte <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> formação <strong>do</strong><br />

estagiário, com apoio pe<strong>da</strong>gógico, mas que também tenha to<strong>do</strong> um acompanhamento social<br />

que permita ao graduan<strong>do</strong> seguir no seu curso com aproveitamento acadêmico e com suas<br />

necessi<strong>da</strong>des básicas atendi<strong>da</strong>s.<br />

Observa-se no campo pe<strong>da</strong>gógico que muitas vezes o estagiário se acomo<strong>da</strong> em<br />

uma práxis que, apesar de nova e não amadureci<strong>da</strong> suficientemente, permite ele conduzir seu<br />

trabalho como professor sem grandes atropelos. A falta de investigação, pesquisa e<br />

criativi<strong>da</strong>de têm si<strong>do</strong> recorrentes nas observações feitas até então, e quan<strong>do</strong> o estagiário é<br />

provoca<strong>do</strong> a investigar, criar novos rumos em sua práxis, há quase sempre uma resistência<br />

basea<strong>da</strong> em argumentos vazios. Esse tipo de situação tem si<strong>do</strong> contorna<strong>do</strong> em ações de médio<br />

prazo. Os exemplos práticos que ocorrem no cotidiano com os colegas e seus próprios alunos<br />

acabam por diminuir a resistência às sugestões de leitura, procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos e<br />

pesquisa.<br />

Por parte <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de percebe-se uma forte ausência em relação aos estágios<br />

extracurriculares. E mesmo nos estágios curriculares percebe-se uma dedicação exígua ao<br />

momento <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente no que diz respeito à quanti<strong>da</strong>de de disciplinas e ao tempo<br />

dedica<strong>do</strong> à preparação e vivência <strong>do</strong> estágio.<br />

Compreende-se que pelo formato a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, com apenas <strong>do</strong>is semestres dedica<strong>do</strong>s à<br />

orientação e vivência <strong>do</strong> estágio, a priori<strong>da</strong>de seja a vivência em sala de aula nas escolas<br />

regulares, em especial <strong>da</strong> rede pública de ensino. No entanto, outras experiências parecem<br />

contemplar de uma maneira mais rica a diversi<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des de atuação por parte <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes de Licenciatura em Música. Exemplo de um modelo mais diversifica<strong>do</strong> e<br />

dura<strong>do</strong>uro é o <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina - UDESC. Segun<strong>do</strong> Souza e<br />

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Mateiro (2008, p.29) na UDESC são cinco semestres dedica<strong>do</strong>s ao estágio curricular. Nos<br />

quatro semestres iniciais o “campo de estágio designa<strong>do</strong> são escolas <strong>da</strong> rede pública de<br />

ensino”. Já no último semestre “o campo de estágio é escolhi<strong>do</strong> pelo estu<strong>da</strong>nte de acor<strong>do</strong> com<br />

seus interesses”. No entanto eles são “direciona<strong>do</strong>s a realizar trabalhos em espaços<br />

educacionais não formais ou extracurriculares”, permitin<strong>do</strong> a atuação em diversos campos<br />

inclusive em escolas de música de cursos livres.<br />

Um problema percebi<strong>do</strong> na observação <strong>do</strong>s estágios foi o <strong>da</strong> completa ausência de<br />

comunicação entre a Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco e o Espaço <strong>da</strong> Música, mesmo nos<br />

casos onde o estágio foi curricular. Fialho (2008), ao pensar no momento <strong>do</strong> estágio, diz que é<br />

quan<strong>do</strong> a teoria começa a dialogar com a prática. Diz que “a relação entre o estágio em si<br />

(local, espaço, tempo, proposta) e prática pe<strong>da</strong>gógico-musical <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> na sala de aula é<br />

media<strong>da</strong> pelo professor orienta<strong>do</strong>r”. Já Mateiro (2003), a partir de <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s em<br />

pesquisa realiza<strong>da</strong> junto a acadêmicos <strong>do</strong> curso de Educação Artística <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

Estadual de Santa Catarina, descreve que “cabe ao orienta<strong>do</strong>r ‘encaminhar’ os estu<strong>da</strong>ntes às<br />

instituições de ensino”. Portanto caberia à Universi<strong>da</strong>de repensar o papel <strong>da</strong> orientação no<br />

processo <strong>do</strong>s estágios curriculares e até mesmo extracurriculares.<br />

Considerações finais<br />

Ao fazer parte <strong>da</strong> coordenação pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola de música de cursos livres<br />

Espaço <strong>da</strong> Música, pude participar ativamente nas experiências <strong>do</strong>s estágios <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong><br />

curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco nessa instituição.<br />

Foi possível perceber que há na Universi<strong>da</strong>de uma necessi<strong>da</strong>de urgente de reformulação no<br />

currículo <strong>do</strong> curso de Licenciatura especialmente no que diz respeito ao estágio curricular.<br />

Suas disciplinas precisam contemplar um número maior de semestres possibilitan<strong>do</strong> ao<br />

orienta<strong>do</strong>r diversificar as possibili<strong>da</strong>des de atuação <strong>do</strong> estagiário e permitin<strong>do</strong> que ele,<br />

orienta<strong>do</strong>r, possa ter efetivamente um diálogo com as instituições onde ocorrem os estágios,<br />

de mo<strong>do</strong> a compreender de uma forma mais intensa a reali<strong>da</strong>de vivencia<strong>da</strong> por esses<br />

estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os alunos graduan<strong>do</strong>s precisam enxergar a Prática de Ensino não<br />

apenas como uma disciplina no currículo, mas como uma possibili<strong>da</strong>de de experiência<br />

assisti<strong>da</strong> que dificilmente outrora conseguirá vivenciar, assim como o próprio estágio, seja ele<br />

curricular ou não. A falta de interesse na leitura, na pesquisa, na autocapacitação, infelizmente<br />

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tem si<strong>do</strong> observa<strong>da</strong> com mais frequência <strong>do</strong> que seria razoável. A atitude extremamente<br />

passiva <strong>do</strong>s estagiários, de mo<strong>do</strong> geral, tem si<strong>do</strong> uma marca negativa que é de certo mo<strong>do</strong><br />

justifica<strong>da</strong> pelo esgotamento <strong>do</strong> tempo desses alunos em função <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> busca pela<br />

sobrevivência.<br />

Finalmente penso que a instituição Espaço <strong>da</strong> Música, assim como to<strong>da</strong> e qualquer<br />

instituição que sirva de campo de atuação para os estágios, precisa refletir constantemente<br />

sobre o papel <strong>do</strong> estagiário, suas necessi<strong>da</strong>des e limitações, em busca de caminhos que<br />

possibilitem de fato fazer com que o estágio exerça sua função primordial que é a de ser uma<br />

ferramenta processual indispensável para a formação <strong>do</strong> professor de música.<br />

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Referências<br />

BRASIL. LDB – Lei 9394/1996. Estabelece as diretrizes e bases <strong>da</strong> educação nacional. 1996.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 14 abr.<br />

<strong>2011</strong>.<br />

MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara. (Org.). Práticas de ensinar música: legislação,<br />

planejamento, observação, registro, orientação, espaços, formação. Porto Alegre: Sulina,<br />

2008. p.8.<br />

MATEIRO, Teresa. A prática de ensino na formação de professores de música: aspectos <strong>da</strong><br />

legislação brasileira. In: MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara. (Org.). Práticas de ensinar<br />

música: legislação, planejamento, observação, registro, orientação, espaços, formação. Porto<br />

Alegre: Sulina, 2008. p.15-29.<br />

FIALHO, Vania M. A orientação <strong>do</strong> estágio na formação de professores de música. In:<br />

MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara. (Org.). Práticas de ensinar música: legislação,<br />

planejamento, observação, registro, orientação, espaços, formação. Porto Alegre: Sulina,<br />

2008. p.15-29.<br />

SOUZA, Jusamara. Da formação <strong>do</strong> profissional em Música nos cursos de Licenciatura. In: I<br />

Seminário sobre o ensino superior de artes e design no Brasil, Salva<strong>do</strong>r, 1997. p. 13-20.<br />

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O Gênero e as relações afetivas nas ban<strong>da</strong>s de música: Uma proposta de<br />

discussão sobre <strong>Nordeste</strong><br />

Marcos <strong>do</strong>s Santos Moreira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Alagoas<br />

m.moreira73@ig.com.br<br />

Resumo: O tema Música, Gênero e relações afetivas formam a razão deste paper. Tenta-se<br />

realizar uma discussão sobre questões de aprendiza<strong>do</strong> musical em grupos filarmônicos<br />

nordestinos e suas relações afetivas. Discutem-se os papéis de homens e mulheres no tempo<br />

histórico em algumas vertentes: Relações de poder, a <strong>do</strong>cência e a participação <strong>do</strong>s<br />

integrantes e seu perfil dentro de um contexto tradicional. A pesquisa é uma <strong>da</strong>s ações <strong>do</strong><br />

grupo de pesquisa “Meto<strong>do</strong>logia e Concepção Social <strong>do</strong> Ensino Coletivo Instrumental”-<br />

CNPQ/UFAL e o Instituto Piaget Portugal. Tal texto se desenvolve entre filarmônicas<br />

centenárias e é ponto de pesquisa de <strong>do</strong>utoramento na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

realiza<strong>da</strong> pelo autor deste artigo.<br />

Palavras–chave: Gênero, Educação Musical, Ban<strong>da</strong> de Música.<br />

Introdução<br />

Várias áreas <strong>do</strong> conhecimento humano como Educação, Psicologia, Sociologia,<br />

tratam sobre o tema <strong>da</strong> concepção afetivi<strong>da</strong>de, gênero, interações humanas associa<strong>da</strong>s às<br />

práticas no ensino escolar. Realizan<strong>do</strong> um paralelo com a Educação musical especificamente<br />

na educação de grupos, seja coletivo ou de agremiações, <strong>do</strong>is pontos serão abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s nesta<br />

pesquisa em an<strong>da</strong>mento, como investigação na analogia de Ensino-aprendizagem: Gênero e<br />

relações afetivas.<br />

A questão masculina e a analogia <strong>do</strong>cente como temática de pesquisa, se<br />

desenvolveu decorrente de anos anteriores de <strong>do</strong>cência em filarmônicas. Fortaleceu-se pelo<br />

convívio, deste pesquisa<strong>do</strong>r, na interação profissional com diversas agremiações de euterpes,<br />

principalmente no esta<strong>do</strong> de Sergipe, entre os anos de 2000 e 2006. Nestes anos, além de<br />

atuar como professor auxiliar, nas classes de teoria musical de um grupo de euterpe em<br />

Indiaroba, município sergipano onde lecionei por sete anos, estive em contato com centenas<br />

de discentes de diversas Ban<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região onde a prática <strong>do</strong>cente era exclusivamente<br />

masculina. Tais práticas nestas agremiações eram similares umas com as outras e a liderança<br />

<strong>do</strong>s grupos não se alternavam, sen<strong>do</strong> o mestre principal “detentor” <strong>do</strong> saber e responsável pela<br />

escolha <strong>do</strong>s monitores, geralmente homens, mesmo em instrumentos com pre<strong>do</strong>minância de<br />

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naipes femininos, a exemplo <strong>da</strong> clarineta. Outro critério <strong>da</strong> pesquisa é destacar Euterpes com<br />

atuação ininterrupta desde a sua fun<strong>da</strong>ção, fato raro em muitas filarmônicas <strong>do</strong> país. São elas:<br />

Filarmônica Carlos Gomes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Estância-Sergipe (1879), Socie<strong>da</strong>de Curica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

de Goiana-Pernambuco (1848), Lira Ceciliana de Cachoeira-Bahia (1870) e finalmente<br />

Filarmônica Santa Cecília de Marechal Deo<strong>do</strong>ro-Alagoas (1910).<br />

Mas, porque esta pre<strong>do</strong>minância? De onde vem esta tradição? E as relações <strong>do</strong> afeto<br />

são as mesmas <strong>do</strong> feminino? Como se desenvolve o processo de ensino-aprendizagem nestes<br />

grupos?<br />

Estes e outros questionamentos culminaram sobre a idéia de investigar mais uma vez<br />

sobre filarmônicas nordestinas, citan<strong>do</strong> alguns exemplos, pois é impossível verificar to<strong>da</strong>s as<br />

instituições, então focamos exemplos centenários e sem interrupção de ativi<strong>da</strong>des para assim<br />

podermos examinar seus estatutos e atas, sen<strong>do</strong> meu 2º trabalho temático 1 . O foco de pesquisa<br />

em an<strong>da</strong>mento são Ban<strong>da</strong>s nordestinas; pela própria cultura intrínseca no local que por muito<br />

tempo e ain<strong>da</strong> em muitas situações hoje se cultua a simbologia machista nesta região<br />

brasileira. Outro critério <strong>da</strong> pesquisa é destacar Euterpes com atuação ininterrupta desde a sua<br />

fun<strong>da</strong>ção, fato raro em muitas filarmônicas <strong>do</strong> país.<br />

Um breve exame inicial em algumas filarmônicas <strong>do</strong> nordeste percebe-se que muitas<br />

delas, como associação civil, preservavam nos seus estatutos restrições de participações<br />

femininas não só como musicistas quanto à contribuição de ativi<strong>da</strong>des no quadro <strong>do</strong>cente ou<br />

administrativo. Em muitas delas os Estatutos e atas foram se modifican<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à evolução<br />

político-democrático <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e a própria dita emancipação feminina.<br />

Tais pontos serão abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s ain<strong>da</strong> que de forma especificamente introdutória, na<br />

fase de construção desta pesquisa que propõe uma análise <strong>da</strong>s razões que levaram a tradição<br />

<strong>do</strong>cente masculina e a restrição de tal atuação feminina em euterpes centenárias,<br />

principalmente no que diz respeito à cultura nordestina interiorana no tempo histórico.<br />

O gênero: relações na práxis<br />

A masculini<strong>da</strong>de, segun<strong>do</strong> Dantas (1997), é um tema ain<strong>da</strong> pouco explora<strong>do</strong> nas<br />

pesquisas brasileiras. Para este autor <strong>do</strong> que se encontra como referencias bibliográficas no<br />

Brasil são bastante escassas. Afirma que:<br />

1 A temática ban<strong>da</strong> de música foi abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> dissertação de mestra<strong>do</strong> por Marcos Moreira denomina<strong>do</strong><br />

“Aspectos históricos, sociais e pe<strong>da</strong>gógicos nas filarmônicas <strong>do</strong> Divino e Nossa Senhora <strong>da</strong> Conceição <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Sergipe”, defendi<strong>da</strong> em 2007 no Programa de Pós Graduação em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

sob orientação <strong>do</strong> Prof. Joel Barbosa.<br />

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Mapean<strong>do</strong> as produções acadêmicas impulsiona<strong>da</strong>s por esses movimentos,<br />

observei lacunas importantes, reconheci<strong>da</strong>s pelos próprios autores, em relação<br />

ao universo masculino. A grande maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre gênero foi<br />

produzi<strong>da</strong> por mulheres, sobre mulheres e para mulheres... O diálogo entre estes<br />

<strong>do</strong>is conjuntos de produções ain<strong>da</strong> é incipiente (DANTAS, 1997, p.5).<br />

Para Sandra Unbehaum, socióloga <strong>da</strong> USP, Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, descreven<strong>do</strong><br />

sobre o gênero, cita:<br />

Gênero é uma linguagem, uma forma de comunicação, uma forma de ordenar o<br />

mun<strong>do</strong>, que orienta a conduta <strong>da</strong>s pessoas na maneira como elas vão se<br />

relacionar com as outras... é mais <strong>do</strong> que uma maneira como as pessoas se<br />

relacionam, é também um jeito de olhar e compreender a reali<strong>da</strong>de... O gênero<br />

nos aju<strong>da</strong> a compreender que essa maneira de organizar a socie<strong>da</strong>de – dividi<strong>da</strong><br />

em <strong>do</strong>is jeitos de ser: homem e mulher, masculinos e femininos...<br />

(UNBEHAUM, 2005, p.15).<br />

Ou ain<strong>da</strong>;<br />

O conceito de gênero, apesar de sua imprecisão teórica, diz respeito à<br />

construção cultural e simbólica <strong>da</strong>s relações entre homens e mulheres. No<br />

Ocidente, desde os gregos e passan<strong>do</strong> pelos iluministas, o valor máximo é a<br />

razão clara, objetiva, considera<strong>da</strong> atributo masculino, em confronto com a<br />

subjetivi<strong>da</strong>de obscura, identifica<strong>da</strong> ao feminino (CEMIN, 2001).<br />

Para muitos sociólogos que li<strong>da</strong>m sobre a categoria de gênero, o sistema patriarcal,<br />

associa<strong>do</strong> os caminhos estruturais históricos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, tanto <strong>do</strong> ponto de vista social<br />

propriamente dito, como econômico ratifica a hegemonia <strong>do</strong> masculino. Aludin<strong>do</strong> a Freitas<br />

(2008), Carvalho (2008), Nienow e Cemin (2008) fazem referência aos estu<strong>do</strong>s de Bourdieu<br />

(1989), na obra Questões de sociologia, onde tais características finalizam como<br />

consequências dentro de instituições sociais seja escola, instituições religiosas, associações de<br />

classe, uma <strong>do</strong>minação ou como próprio Bourdieu denomina violência simbólica. Assim,<br />

descaracteriza as naturezas biológicas, numa elaboração de contextos sócio-cultural <strong>do</strong>s<br />

papéis. Bourdieu retrata esta visão simbólica, decisivo para o termo divisão social <strong>do</strong><br />

trabalho, determinan<strong>do</strong> tais papéis através <strong>da</strong>s ações, <strong>da</strong> linguagem, <strong>do</strong>s símbolos,<br />

peremptório para impor funções masculinas e femininas na socie<strong>da</strong>de.<br />

Abrin<strong>do</strong>-se um parêntese na história de educação brasileira, relacionan<strong>do</strong> as<br />

discussões de gênero no magistério, exemplos <strong>do</strong> exercício catedrático em faixa etária infantil<br />

a partir <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de de quatro anos na pe<strong>da</strong>gogia escolar tradicional, sempre foram pauta<strong>do</strong>s ao<br />

trabalho <strong>do</strong>cente feminino, principalmente no pós-guerra (1945) com a necessi<strong>da</strong>de feminina<br />

<strong>do</strong> trabalho. No entanto, déca<strong>da</strong>s seguintes, tal panorama foi se modifican<strong>do</strong>, nas relações<br />

trabalhistas <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> gênero, em faixa mais adianta<strong>da</strong> de discentes até a fase juvenil aos<br />

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dezessete anos 2 , onde a figura <strong>do</strong> professor (masculino) passou a ser mais evidencia<strong>da</strong>.<br />

Para Auad (2006, p.19) as relações de gênero devem ser observa<strong>da</strong>s como um campo<br />

socialmente construí<strong>do</strong> onde se percebe as diferenças de como se deve analisá-lo verifican<strong>do</strong><br />

os equívocos históricos considera<strong>do</strong>s naturais e que características considera<strong>da</strong>s<br />

“naturalmente femininas ou masculinas correspondem as relações de poder”.<br />

Segun<strong>do</strong> Rabelo e Martins (2006), citan<strong>do</strong> Almei<strong>da</strong> (1996), esta forma social antiga<br />

sobre a formação e a profissão <strong>do</strong> magistério feminino no inicio <strong>do</strong> século XX no Brasil,<br />

destinava-se a forma que o lar e o bem-estar <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s filhos fossem beneficia<strong>do</strong>s por<br />

essa instrução. Assim, conclui o autor, que as mulheres poderiam e deveriam ser educa<strong>da</strong>s e<br />

instruí<strong>da</strong>s. Ain<strong>da</strong> cita que:<br />

O magistério era o caminho possível para a maioria <strong>da</strong>s mulheres brasileiras,<br />

principalmente para aquelas <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s médias <strong>da</strong> população, pois, até os anos de<br />

1930, era o único trabalho considera<strong>do</strong> digno para elas, e que podia ser atrela<strong>do</strong> às<br />

tarefas <strong>do</strong>mésticas. A sua instrução deveria ser “aproveita<strong>da</strong>” pelo mari<strong>do</strong> e pelos<br />

filhos, portanto, teria que estar atrela<strong>da</strong> às ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> lar. (RABELO; MARTINS,<br />

2006, p.15)<br />

Neste ponto é relevante citar que no Brasil até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, pela<br />

constituição paternalista brasileira, o magistério era de responsabili<strong>da</strong>de masculina.<br />

A pre<strong>do</strong>minância <strong>da</strong> profissão <strong>do</strong>cente é outra temática que também na literatura<br />

sobre a educação não difere sobre a abor<strong>da</strong>gem de gênero. No entanto, para Viana (2002,<br />

p.83) controverti<strong>da</strong>mente nos dias atuais, isto verifica de forma inversa e o homem é<br />

coadjuvante em números na profissão professor. Viana cita que:<br />

De acor<strong>do</strong> com o primeiro Censo <strong>do</strong> Professor, 14,1% <strong>da</strong> categoria é constituí<strong>da</strong> de<br />

homens e 85,7% de mulheres. Levantamento realiza<strong>do</strong> pela Confederação Nacional<br />

<strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res em Educação (CNTE)2 com 52 mil professores brasileiros mostra<br />

que 97,4% <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes de 1ª a 4ª série <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental são mulheres. Elas<br />

ocupam 80,6% <strong>da</strong>s 5ª até as 8ª séries esse ensino e 60,8% <strong>do</strong> Ensino Médio. A<br />

pesquisa <strong>da</strong> CNTE aponta ain<strong>da</strong> que entre diretores, coordena<strong>do</strong>res e supervisores<br />

liga<strong>do</strong>s à Educação Básica 90,1% são mulheres (VIANA, 2002, p.83).<br />

Mas em se tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> tema Ban<strong>da</strong> de Música esta afirmativa no que diz respeito a<br />

esta confrontação, não se alterou <strong>do</strong> século XIX até os dias atuais em sua grande maioria.<br />

Sen<strong>do</strong> assim as ban<strong>da</strong>s tem um universo consideravelmente <strong>do</strong>mínio masculino na práxis<br />

pe<strong>da</strong>gógica, ratifican<strong>do</strong> assim a tradição <strong>do</strong> ensino musical em filarmônicas, que sempre<br />

tiveram desde os primórdios de formação a figura <strong>do</strong> homem. Como aden<strong>do</strong>, exemplifican<strong>do</strong><br />

na estatística <strong>do</strong>s egressos <strong>do</strong>s cursos de formação <strong>do</strong>cente em Música no Brasil, verifica-se<br />

2 Pela LDB, Lei de Diretrizes e Base <strong>da</strong> Educação, no Brasil, promulga<strong>da</strong> em 1996 tal faixa etária compreende a<br />

Educação Infantil (Básica) e a Infanto Juvenil (Fun<strong>da</strong>mental).<br />

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atualmente um número muitas vezes superior de homens nas classes <strong>da</strong>s graduações em<br />

música-licenciatura.<br />

Isso implica concomitantemente in<strong>da</strong>gações sobre de que maneira estas práticas de<br />

ensino foram constituí<strong>da</strong>s, tanto na Educação geral, formal, como no ensino musical em<br />

filarmônicas. As relações de ensino professor-aluno além <strong>da</strong>s questões <strong>do</strong> gênero e se<br />

conceituan<strong>do</strong> relações humanas nos fazem investigar paralelamente sobre o processo <strong>da</strong><br />

afetivi<strong>da</strong>de nestes conflitos de figuras masculina e feminina em tal práxis, onde se pretende<br />

abor<strong>da</strong>r.<br />

A relação afetiva de mestres debati<strong>da</strong> principalmente na primeira i<strong>da</strong>de, na educação<br />

infantil, enfoca a afini<strong>da</strong>de de crianças que fazem parte <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar desde muito<br />

pequenas. Assim nesta questão <strong>da</strong> temática afetiva proposta para a pesquisa, embasa na<br />

relação masculini<strong>da</strong>de e pe<strong>da</strong>gogia principalmente na inclusão <strong>do</strong> mestre, liga<strong>da</strong> a analogia<br />

paterna, o homem e o universo infanto-juvenil escolar.<br />

Muitos educa<strong>do</strong>res que abor<strong>da</strong>m a questão <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de e como fatores<br />

preponderantes na aprendizagem, enfatizam suas teorias e concepções acerca <strong>do</strong>s<br />

desenvolvimentos cognitivos, intelectuais, <strong>da</strong>s emoções e de sentimentos. Permeiam as<br />

relações professor-aluno e na Música, tais fatores são liga<strong>do</strong>s muitas vezes geralmente em<br />

abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> psicologia infantil, ou como terapia ocupacional, entre outras ações.<br />

Não desmerecen<strong>do</strong> tais procedimentos, mas para teorizar sob o ponto de vista<br />

educativo, a proposta de Tese disserta<strong>da</strong> neste projeto, pretende analisar uma conjuntura que,<br />

se não inova<strong>do</strong>ra, é pouco discuti<strong>da</strong> em vista <strong>do</strong> número de trabalhos escritos. Segue a<br />

proposta denomina<strong>da</strong>: Gênero e Pe<strong>da</strong>gogia em Ban<strong>da</strong>s de Música nordestinas: Relações<br />

afetivas no ensino aprendizagem.<br />

A Ban<strong>da</strong> e o Mestre<br />

Na Ban<strong>da</strong> de Música por muitos anos esta relação escolar, no contexto de<br />

grupo/afetivi<strong>da</strong>de/gênero, de alguma forma se difere em alguns pontos relevantes e<br />

inusita<strong>do</strong>s. Sen<strong>do</strong> a liderança <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>, na sua quase totali<strong>da</strong>de, caracteriza na figura<br />

masculina <strong>do</strong> mestre desde a era colonial <strong>do</strong> país, uma analogia a figura paterna, o processo é<br />

um pouco mais rígi<strong>do</strong> de tradição militar 3 .<br />

3 As Ban<strong>da</strong>s de Música no Brasil tem tradição basea<strong>da</strong> nas ban<strong>da</strong>s militares em sua formação, indumentárias e<br />

instrumentação, desde o perío<strong>do</strong> colonial, ratifica<strong>da</strong> no Império com a chega<strong>da</strong> de D. João VI em 1808.<br />

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Nas novas meto<strong>do</strong>logias de ensino de grupos, também utiliza<strong>do</strong> no ensino coletivo, o<br />

mestre se torna um media<strong>do</strong>r e o ensino é quase auto-suficiente descentralizan<strong>do</strong> a figura<br />

“alicerce” <strong>do</strong> próprio e consequentemente tornan<strong>do</strong> o tema afetivi<strong>da</strong>de e o gênero um leque<br />

investigativo vasto. Nas filarmônicas, a priori, se contextualiza em ensino tradicional, devi<strong>do</strong><br />

às práticas de ensino conheci<strong>da</strong> desde o século XVIII e XIX, principalmente <strong>da</strong> reminiscência<br />

de cognição passa<strong>da</strong>s nos referi<strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s.<br />

Portanto, tal cunho essencialmente masculino como liderança de classe, é um ponto a<br />

ser registra<strong>do</strong> como direcionamento <strong>da</strong> pesquisa. Se o contexto afetivo já se é debati<strong>do</strong> em<br />

fases infantis com a figura <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia na socie<strong>da</strong>de de aspectos femininos, no assunto<br />

ban<strong>da</strong> de música de alguma maneira mu<strong>da</strong>-se o foco para a hipotética <strong>do</strong> ensino inicial sob<br />

cátedra masculina.<br />

Problematização e Hipóteses<br />

A Educação Musical nestes últimos anos vem alcançan<strong>do</strong> conquistas no sistema<br />

educacional <strong>do</strong> país. A reintrodução <strong>da</strong> Música no ensino regular, o aumento de cursos de<br />

graduação e pós-graduação, além de centenas de projetos governamentais e não<br />

governamentais de cunho social, onde a música consiste em ferramenta básica para o<br />

desenvolvimento de tal educação, nos faz analisar e esmiuçar os contextos que são altera<strong>do</strong>s<br />

através <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s subsequentes.<br />

Afirmamos que a própria história <strong>da</strong> música brasileira e <strong>da</strong> Educação no Brasil, no<br />

senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> formação prática e <strong>do</strong>cência registraram os caminhos percorri<strong>do</strong>s tanto na escola<br />

regular quanto em associações musicais de ensino não formal, a exemplo de Euterpes, neste<br />

processo.<br />

O que se pretende questionar, para posterior analise e comprovação:<br />

• O Gênero masculino na <strong>do</strong>cência exerce influencia na formação<br />

profissional <strong>do</strong> instrumentista ou regente após sua fase discente nestes grupos?<br />

• Houve uma reforma nos estatutos para a inclusão feminina?<br />

Quan<strong>do</strong>? Que época?<br />

• As relações afetivas, sen<strong>do</strong> um esta<strong>do</strong> interno de cunho pessoal,<br />

emocional estão intrínsecas nas formas <strong>da</strong>s práxis pe<strong>da</strong>gógicas nas Ban<strong>da</strong>s de<br />

Música existentes?<br />

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• É possível mapear as relações ensino-apredizagem musical e<br />

regular na <strong>do</strong>cência masculina, na escola e na Ban<strong>da</strong> de Música?<br />

Gênero<br />

Relações de<br />

Ensino-aprendizagem<br />

Pe<strong>da</strong>gogia de grupo<br />

nas suas regiões<br />

O processo<br />

social<br />

Relações<br />

Afetivas<br />

A práxis através<br />

<strong>do</strong>s tempos:<br />

• Participação<br />

Feminina<br />

• Participação<br />

masculina<br />

Ban<strong>da</strong>s Pesquisa<strong>da</strong>s<br />

Figura 1. Fluxograma <strong>do</strong> trabalho a ser pesquisa<strong>do</strong><br />

Abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> as características de ca<strong>da</strong> autor, relacionan<strong>do</strong>-as ao ensino-aprendizagem<br />

não só sobre o processo <strong>do</strong> gênero masculino neste foco como também as relações afetivas e<br />

pe<strong>da</strong>gógicas em questão, no que concerne ao ensino de ban<strong>da</strong>s de música.<br />

Pe<strong>da</strong>gogia e as relações afetivas<br />

Exemplifica que a concepção existente na Educação relaciona<strong>da</strong> a este assunto,<br />

determina contextos pe<strong>da</strong>gógicos encontra<strong>do</strong>s na classificação sistemática taxionômica <strong>do</strong><br />

Pe<strong>da</strong>gogo americano, Benjamim Bloom de 1972. Estes contextos pe<strong>da</strong>gógicos continuam<br />

bastante atuais e propõem a sistematização de um planejamento equilibra<strong>do</strong> e eficiente a partir<br />

de três Domínios. São eles: Domínio cognitivo; relativo aos conceitos e habili<strong>da</strong>des mentais<br />

(no caso <strong>da</strong> música, a teoria); Domínio afetivo, relativo ao conceito de apreciação, atitudes<br />

lúdicas e Domínio Psicomotor, referente às habili<strong>da</strong>des motoras (no caso <strong>da</strong> música, execução<br />

e técnica instrumental). Esse sistema de Bloom vem sen<strong>do</strong> a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong> a novas tecnologias<br />

educacionais e implica em técnicas educativas já abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s desde Gagné (1971), Risk (1972)<br />

e Briggs (2000).<br />

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Em inclusão à questão <strong>da</strong> relação afetiva não se encontra apenas em Bloom, mas em<br />

vários pe<strong>da</strong>gogos que iremos abor<strong>da</strong>r em áreas diversas <strong>do</strong> conhecimento humano onde<br />

verificamos. Segun<strong>do</strong> Risk, (1964), a “personali<strong>da</strong>de e a direção <strong>do</strong> professor são fatores<br />

poderosos para a obtenção e o desenvolvimento de resulta<strong>do</strong>s emocionais de ensino”. Isto se<br />

deve a natureza de resulta<strong>do</strong>s afetivos que são relevantes tanto para o mestre quanto para o<br />

aprendiz. Para Bloom a taxionomia <strong>do</strong>s objetivos no <strong>do</strong>mínio afetivo estabelece a<br />

Receptivi<strong>da</strong>de, que é a toma<strong>da</strong> de consciência, o estímulo e atenção seletiva; a Reação liga<strong>da</strong><br />

à aceitação, disposição de responder e satisfação <strong>da</strong> resposta; a Valorização sen<strong>do</strong> aceitação<br />

de valor e a realização pessoal. Pontos que se interligarão no processo com ensino de ban<strong>da</strong>s<br />

no texto de tese.<br />

Tal processo no caso <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s de música, para nós, de maturação, esta liga<strong>da</strong> a<br />

independência <strong>do</strong> processo de ensino e <strong>do</strong> compartilhamento de grupo que essencialmente<br />

está intrínseco nas ban<strong>da</strong>s, seja em meto<strong>do</strong>logia tradicional ou mesmo de ensino coletivo,<br />

atualiza<strong>do</strong> nestas últimas déca<strong>da</strong>s. Assim as relações sociais dentro de grupos filarmônicos,<br />

são ações de compartilhamento de intercâmbio e onde podemos verificar a afetivi<strong>da</strong>de não só<br />

na aplicação meto<strong>do</strong>lógica, mas cotidianamente entre seus participantes.<br />

Conclusão<br />

Por ser um assunto que possui poucas discussões é de fun<strong>da</strong>mental importância<br />

perceber o processo de mu<strong>da</strong>nça que gênero e relações afetivas estão intrínsecos na educação<br />

musical de grupos na atuali<strong>da</strong>de. Mesmo nas filarmônicas o perfil tende a mu<strong>da</strong>r pelo fato <strong>do</strong><br />

próprio contexto <strong>da</strong> emancipação feminina neste último século. Ain<strong>da</strong> com muitas barreiras o<br />

gênero feminino vem ocupan<strong>do</strong> espaço de destaque e na música e nas tradicionais euterpes<br />

interioranas não é diferente. A relação <strong>do</strong> mestre e a relação afetiva masculina é outro ponto<br />

em transformação. Ain<strong>da</strong> se há de discutir tais papeis e suas diferenças na práxis <strong>da</strong> formação<br />

musical e se isso causa alguma influência no processo de ensino aprendizagem. Portanto ao<br />

final desta proposta, será talvez possível levar a questão a muitas discussões e diálogos entre<br />

os educa<strong>do</strong>res musicais.<br />

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O processo de ensino e aprendizagem coletivo de violão no MOVIMENTO<br />

ECOARTE<br />

Thiago Augusto Canuto Queiroz<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UERN)<br />

tacq_bone@hotmail.com<br />

Resumo: Este trabalho consiste numa pesquisa em an<strong>da</strong>mento que buscará entender como se<br />

processa o ensino e aprendizagem coletivo de violão no Movimento Ecoarte. Apoia<strong>do</strong> nos<br />

seguintes autores: Cruvinel, (2005), Oliveira (1998), Barbosa (2004) e Tourinho (2003), entre<br />

outros, procuraremos averiguar os processos de ensino, meto<strong>do</strong>logias, conteú<strong>do</strong>s, e de que<br />

forma os alunos aprendem a tocar o violão no contexto <strong>do</strong> Ecoarte. Utilizaremos a<br />

meto<strong>do</strong>logia de estu<strong>do</strong> de caso e, como instrumentos de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, questionários com<br />

perguntas abertas, entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s, observação participante, filmagens e<br />

fotografias. Esperamos contribuir para o aperfeiçoamento <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica no<br />

Movimento em questão, bem como para a criação de bibliografia sobre o ensino coletivo em<br />

contextos não-formais, amplian<strong>do</strong> as discussões, questionamentos e soluções para a área <strong>da</strong><br />

educação musical.<br />

Palavras-Chaves: Movimento Ecoarte, Ensino Coletivo, Processo de Ensino e<br />

Aprendizagem.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Apesar <strong>da</strong> aprovação <strong>da</strong> lei nº 11. 769, sanciona<strong>da</strong> pelo presidente <strong>da</strong> república<br />

Luiz Inácio lula <strong>da</strong> Silva, em 18 de agosto de 2008, que estabelece a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

ensino de música nas escolas brasileiras, o ensino musical no Brasil ain<strong>da</strong> hoje se encontra<br />

pouco acessível ao público. Segun<strong>do</strong> Nascimento (2006), “as instituições de ensino musical<br />

gratuitas existentes não atendem à deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> procura por seus cursos, ten<strong>do</strong> que, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes, fazer algum tipo de seleção, subtrain<strong>do</strong> a oportuni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r música de muitas<br />

pessoas” (NASCIMENTO, 2006, p. 94). Por esta razão, Cruvinel (2005) afirma que:<br />

O acesso à educação musical no Brasil, ain<strong>da</strong> hoje, é um privilégio quase<br />

que exclusivo <strong>da</strong>s classes média e alta. O ensino <strong>da</strong> música no país ain<strong>da</strong> não<br />

consegue alcançar um grande número de pessoas. As escolas particulares<br />

que atuam no ensino específico de música são elitista, inacessíveis<br />

economicamente para grande parte <strong>da</strong> população brasileira. Por outro la<strong>do</strong>, a<br />

reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolas públicas é preocupante – os recursos são insuficientes<br />

para condições ideais para o desenvolvimento <strong>do</strong> processo pe<strong>da</strong>gógico. A<br />

área musical, entre outras, ain<strong>da</strong> é vista como integrante de ativi<strong>da</strong>des<br />

meramente complementares na formação <strong>do</strong> aluno, e não como parte de<br />

disciplinas prioritárias. Esses aspectos agravam a situação <strong>do</strong> ensino musical<br />

e o acesso a ele (CRUVINEL, 2006, p. 19).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Sen<strong>do</strong> assim, com o duplo intuito de amenizar esta situação e contribuir para que a<br />

educação musical e o ensino <strong>da</strong> música estejam presentes de forma sistemática e com<br />

quali<strong>da</strong>de nos diversos sistemas educacionais brasileiros, a <strong>ABEM</strong> 1 (Associação Brasileira de<br />

Educação Musical) tem desenvolvi<strong>do</strong> um importante trabalho de conscientização <strong>da</strong><br />

importância <strong>da</strong> educação musical, especialmente na educação básica, junto às políticas<br />

públicas educacionais, bem como, realiza<strong>do</strong> diversos encontros anuais de professores de<br />

música de to<strong>da</strong>s as regiões <strong>do</strong> Brasil, levantan<strong>do</strong> discussões, estratégias de ensino e publica<strong>do</strong><br />

material 2<br />

de excelente quali<strong>da</strong>de em língua portuguesa. Vale salientar que a educação<br />

musical, segun<strong>do</strong> Bertunes (2005):<br />

Desenvolve várias habili<strong>da</strong>des, dentre elas a criativi<strong>da</strong>de, a expressão, a<br />

imaginação, a comunicação verbal, aju<strong>da</strong> no desenvolvimento intelectual (...)<br />

participa no processo de desenvolvimento <strong>da</strong> formação e <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s alunos, desenvolve e enriquece a inteligência e proporciona a formação<br />

<strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de musical, através <strong>da</strong> ampliação <strong>do</strong> universo cultural <strong>do</strong>s<br />

alunos, desenvolven<strong>do</strong>-lhes o intelecto (BERTUNES, 2005, p. 21-22).<br />

Embora a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação musical brasileira não seja <strong>da</strong>s melhores conforme<br />

supracita<strong>da</strong>, o ensino coletivo de instrumentos musicais há algumas déca<strong>da</strong>s vem sen<strong>do</strong><br />

difundi<strong>do</strong> no Brasil. De iniciativas isola<strong>da</strong>s, o ensino coletivo passou na segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong><br />

século XX a ser utiliza<strong>do</strong> como estratégia de ensino em grupo, ganhan<strong>do</strong> mais espaço nas<br />

escolas especializa<strong>da</strong>s de música, tornan<strong>do</strong>-se hoje uma característica <strong>da</strong> educação musical.<br />

Segun<strong>do</strong> Cruvinel (2005), “acredita-se que a sistematização <strong>do</strong> ensino coletivo de<br />

instrumentos musicais tenha se inicia<strong>do</strong> na Europa, sen<strong>do</strong> leva<strong>da</strong> posteriormente para os<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s”. Ain<strong>da</strong> a mesma autora, referin<strong>do</strong>-se ao ensino coletivo no Brasil, afirma que<br />

“a primeira grande iniciativa de sistematização de um méto<strong>do</strong> de ensino coletivo em música<br />

no Brasil veio com o canto orfeônico (CRUVINEL, 2005, p. 69 e 70). Podemos citar também<br />

os experimentos <strong>do</strong> professor José Coelho de Almei<strong>da</strong> com formação de ban<strong>da</strong>s de música em<br />

fábricas no interior paulista no final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 e, nos anos 1970, os primeiros<br />

experimentos de ensino coletivo de cor<strong>da</strong>s por Alberto Jafé e Daisy de Lucca.<br />

Vários educa<strong>do</strong>res musicais são unânimes em afirmar que o ensino coletivo é uma<br />

porta de acesso à educação musical. A exemplo disso, Cruvinel (2005) assegura que “a<br />

1 A <strong>ABEM</strong> (Associação Brasileira de Educação Musical) é uma enti<strong>da</strong>de nacional, sem fins lucrativos, fun<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

em 1991, com o intuito de congregar profissionais e de organizar, sistematizar e sedimentar o pensamento<br />

crítico, a pesquisa e a atuação na área <strong>da</strong> educação musical.<br />

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musicalização/iniciação instrumental através <strong>do</strong> ensino coletivo, pode <strong>da</strong>r acesso a um maior<br />

número de pessoas à educação musical”. Embasa<strong>da</strong> neste pensamento, a autora chega à<br />

conclusão de que:<br />

O ensino coletivo é uma importante ferramenta para o processo de<br />

democratização <strong>do</strong> ensino musical. Alguns programas liga<strong>do</strong>s a essa<br />

filosofia de ensino vêm surgin<strong>do</strong> no país, alcançan<strong>do</strong> êxito, tanto na área<br />

pe<strong>da</strong>gógica quanto na social. Pode-se afirmar que o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> música por<br />

meio <strong>do</strong> ensino coletivo veio democratizar o acesso <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão à formação<br />

musical. (CRUVINEL, 2005, p. 19).<br />

Para Montan<strong>do</strong>n (2004) não é diferente; segun<strong>do</strong> esta educa<strong>do</strong>ra “o ensino de<br />

instrumento em grupo 3 pode ter várias funções, igualmente váli<strong>da</strong>s – formação de<br />

instrumentistas, musicalização <strong>do</strong> indivíduo e democratização <strong>do</strong> ensino de música”<br />

(MONTANDON, 2004, p. 46).<br />

A prática <strong>do</strong> ensino coletivo além de oferecer vantagens pe<strong>da</strong>gógicas, permite um<br />

aprendiza<strong>do</strong> musical agradável. Segun<strong>do</strong> Oliveira (1998):<br />

O ensino coletivo é mais estimulante para o aluno iniciante devi<strong>do</strong> ao seu<br />

maior desenvolvimento em menos tempo de aula, em decorrência <strong>da</strong>s<br />

técnicas pe<strong>da</strong>gógicas usa<strong>da</strong>s no ensino coletivo. A sonori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> grupo é<br />

mais agradável, no início, <strong>do</strong> que a sonori<strong>da</strong>de individual <strong>do</strong> aluno – minha<br />

prática desenvolvi<strong>da</strong> ao longo destes últimos anos mostrou que o<br />

aprendiza<strong>do</strong> em grupo tem como conseqüência um estímulo adicional ao<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> aluno, diminuin<strong>do</strong> consideravelmente o tempo gasto no<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s princípios básicos <strong>da</strong> técnica instrumental. Para a maioria<br />

<strong>do</strong>s iniciantes, as primeiras tentativas de produção <strong>do</strong> som nos instrumentos<br />

de cor<strong>da</strong> são extremamente desagradáveis se ouvi<strong>da</strong>s individualmente.<br />

Entretanto, se executa<strong>do</strong>s em um grande conjunto, estes sons tornam-se<br />

bastantes aceitáveis devi<strong>do</strong> á fusão <strong>da</strong>s sonori<strong>da</strong>des. O êxito inicial gera, no<br />

aluno, uma <strong>do</strong>se de satisfação pessoal bastante eleva<strong>da</strong>, estimulan<strong>do</strong>-a a<br />

continuar o aprendiza<strong>do</strong> (OLIVEIRA, 1998 apud CRUVINEL, 2005, p. 20).<br />

Ain<strong>da</strong>, segun<strong>do</strong> Oliveira (2002):<br />

O aprendiza<strong>do</strong> musical em grupo é agradável pelas seguintes razões: o<br />

aluno percebe que suas dificul<strong>da</strong>des são compartilha<strong>da</strong>s pelos colegas,<br />

evitan<strong>do</strong> desestímulos; o aluno se sente logo no início <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s,<br />

participante de uma orquestra ou de um coral e, ao conseguir executar uma<br />

peça, sua motivação aumenta; o aspecto lúdico <strong>do</strong> ensino coletivo torna-se<br />

uma poderosa força, auxilian<strong>do</strong> um aprendiza<strong>do</strong> seguro e estimulante; e por<br />

2 Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> publica<strong>da</strong> regularmente e os anais <strong>do</strong>s encontros nacionais e regionais que acontecem<br />

anualmente.<br />

3 Ou seja, o ensino coletivo. Alguns educa<strong>do</strong>res preferem denominar o ensino coletivo de ensino em grupo,<br />

principalmente os professores de piano que ministram aulas coletivas.<br />

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fim, a quali<strong>da</strong>de musical no estu<strong>do</strong> em grupo é muitas vezes superior se<br />

compara<strong>do</strong> ao individual, contribuin<strong>do</strong> para que o processo de<br />

aprendizagem seja acelera<strong>do</strong> (OLIVEIRA, 2002 apud CRUVINEL, 2005, p.<br />

78).<br />

Sobre a organização/sistematização pe<strong>da</strong>gógica e estrutural <strong>do</strong>s cursos de ensino<br />

coletivo no Brasil, Barbosa (1996), comenta que:<br />

O curso é normalmente dividi<strong>do</strong> em três fases. De um mo<strong>do</strong> geral, na<br />

primeira fase o aluno exercita os princípios básicos de produção de som,<br />

aprende as notas de fácil produção <strong>do</strong> registro médio <strong>do</strong> instrumento,<br />

trabalha um repertório fácil e aprende divisões musicais simples. Na segun<strong>da</strong><br />

fase ele aprende notas <strong>do</strong>s outros registros, trabalha um repertório mais<br />

difícil, recebe uma carga maior de exercícios técnicos instrumentais e<br />

aprende ritmos e elementos teóricos um pouco mais complexos. E na terceira<br />

fase há uma complementação <strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong>s fases anteriores, porém<br />

concentran<strong>do</strong>-se em um repertório de formas, estilos e gêneros mais<br />

varia<strong>do</strong>s, ritmicamente mais complexos, e mais exigentes <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des de<br />

se tocar em conjunto. Ca<strong>da</strong> fase está dividi<strong>da</strong> em seções onde o aprendiza<strong>do</strong><br />

é feito gradualmente. Em ca<strong>da</strong> seção é ensina<strong>do</strong> a tocar e ler uma nova nota,<br />

um ritmo, e um elemento de teoria, além de exercitar os itens já aprendi<strong>do</strong>s<br />

(BARBOSA, 1996, p. 42).<br />

Mesmo com to<strong>do</strong>s os benefícios e vantagens que o ensino coletivo pode oferecer,<br />

ain<strong>da</strong> há algumas resistências a essa filosofia de ensino 4 , principalmente por parte de<br />

professores que defendem exclusivamente o modelo de ensino tutorial <strong>do</strong> instrumento.<br />

To<strong>da</strong>via, é ca<strong>da</strong> vez maior o número de pessoas interessa<strong>da</strong>s em trabalhar dessa maneira. O<br />

ensino coletivo tem ti<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais aceitação por parte de professores e instituições de<br />

ensino no Brasil. Hoje, não é mais apenas uma ativi<strong>da</strong>de musical prática; é também, campo de<br />

ação, de pesquisa e reflexão.<br />

No Brasil, as orquestras e ban<strong>da</strong>s de música loca<strong>da</strong>s em projetos sociais, os corais de<br />

ONG’s e de instituições religiosas, e os grupos de estu<strong>da</strong>ntes e músicos ama<strong>do</strong>res, são<br />

ambientes propícios para o processo de ensino e aprendizagem musical através <strong>do</strong> ensino<br />

coletivo. Como exemplo disso, o “Movimento Ecoarte”, oriun<strong>do</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Mossoró/RN,<br />

vem desenvolven<strong>do</strong> um processo de ensino e aprendizagem coletivo de violão. Aberto a to<strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, esse Movimento (Ecoarte) tem como meta musicalizar, ou seja, oferecer o<br />

ensino musical de forma gratuita através <strong>do</strong> ensino coletivo de violão a to<strong>da</strong>s as pessoas que<br />

procuram o Movimento.<br />

4 Termo utiliza<strong>do</strong> por Cruvinel (2005).<br />

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2 OA N O S<br />

MOVIMENTO ECOARTE<br />

Cria<strong>do</strong> em agosto de 2007 por <strong>do</strong>is professores de música naturais de Mossoró/RN,<br />

ambos violonistas, o Movimento Ecoarte consiste numa ação musical independente e sem<br />

fins lucrativo. A princípio, o movimento tinha como objetivos realizar apresentações nas<br />

praças visan<strong>do</strong> a divulgação <strong>do</strong> instrumento (violão) e a formação de platéia. Entretanto,<br />

hoje, mais consistente, ou seja, ten<strong>do</strong> um trabalho já consoli<strong>da</strong><strong>do</strong> e reconheci<strong>do</strong> a nível local,<br />

o Ecoarte objetiva ensinar violão coletivamente, tirar as pessoas <strong>da</strong> ociosi<strong>da</strong>de e promover a<br />

interação de pessoas de i<strong>da</strong>des e classes sociais distintas através <strong>da</strong> música. Por meio <strong>da</strong><br />

observação participante, durante a pesquisa no ambiente <strong>do</strong> Ecoarte, observou-se que nesse<br />

Movimento deman<strong>da</strong>-se duas ações: escola de música e grupo de performance musical. A<br />

primeira ação (escola) tem a função de ensinar o aluno a tocar violão, como também,<br />

prepará-lo para um futuro ingresso no grupo de performance; a segun<strong>da</strong> (grupo de violões),<br />

tem a função de realizar apresentações musicais (concertos). Esse grupo é composto por<br />

cerca de 40 componentes, sen<strong>do</strong> a maioria fruto <strong>do</strong> trabalho desenvolvi<strong>do</strong>. Ao to<strong>do</strong>, o<br />

Ecoarte atende cerca de 100 estu<strong>da</strong>ntes, duas vezes por semana, dividi<strong>do</strong>s em 4 turmas.<br />

É notório que o “Movimento Ecoarte” tem demonstra<strong>do</strong> a sua importância como<br />

uma ação democrática <strong>do</strong> ensino musical; e, além disso, se revela<strong>do</strong> como um projeto<br />

musical além de independente, pioneiro 5 na ci<strong>da</strong>de de Mossoró, pois, diferentemente de<br />

alguns espaços de ensino de música na referi<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (por exemplo, escolas especializa<strong>da</strong>s<br />

no ensino de música), os quais têm um processo de seleção bastante excludente e um<br />

programa de curso que muitas vezes não atende às expectativas <strong>do</strong>s alunos ingressos, o<br />

Ecoarte não faz seleção e considera a “bagagem musical” <strong>do</strong>s alunos, ou seja, valoriza os<br />

diferentes “sotaques musicais” que lhes são próprios.<br />

JUSTIFICATIVA<br />

Verifican<strong>do</strong>-se a inexistência de trabalhos de cunho acadêmico sobre o ensino<br />

coletivo de instrumentos musicais em contexto Não-Formal na ci<strong>da</strong>de de Mossoró/RN e a<br />

partir <strong>da</strong> observação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s positivos que vem ten<strong>do</strong> o trabalho <strong>do</strong> “Movimento<br />

Ecoarte”: dezenas de a<strong>do</strong>lescentes, jovens, senhores e senhoras aprenden<strong>do</strong> a tocar violão de<br />

forma coletiva, alguns destes até <strong>da</strong>n<strong>do</strong> aulas particulares <strong>do</strong> instrumento, outros ten<strong>do</strong> a sua<br />

primeira experiência musical, surgiu o interesse em investigar como se processa o ensino-<br />

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2 OA N O S<br />

aprendizagem no movimento em questão. Para isso, levantou-se como problema de pesquisa<br />

a seguinte questão: como se processa o ensino-aprendiza<strong>do</strong> coletivo de violão no ambiente<br />

<strong>do</strong> “Movimento Ecoarte”? Para responder esta questão/problema se fará necessário a<br />

utilização <strong>do</strong>s seguintes referenciais: Cruvinel (2005), Oliveira (1998), Barbosa (1996,<br />

2004), Tourinho (2003) entre outros.<br />

Esta pesquisa tem como objetivos:<br />

Geral:<br />

• Investigar o processo de ensino e aprendizagem no “Movimento Ecoarte”.<br />

Específicos:<br />

• Conhecer os procedimentos práticos de ensino a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s no “Movimento Ecoarte”;<br />

• Descrever o processo investiga<strong>do</strong>;<br />

• Discutir sobre os procedimentos práticos observa<strong>do</strong>s;<br />

• Comparar o processo de ensino <strong>do</strong> movimento com a literatura analisa<strong>da</strong>.<br />

METODOLOGIA<br />

Este trabalho, cujo tema é: o ensino coletivo de violão no “Movimento Ecoarte”:<br />

uma análise <strong>do</strong>s processos de ensino e aprendizagem, por se tratar de uma pesquisa<br />

qualitativa de natureza descritiva, utilizará a meto<strong>do</strong>logia de estu<strong>do</strong> de caso, a qual<br />

freqüentemente é a mais utiliza<strong>da</strong> nesse tipo de pesquisa. Segun<strong>do</strong> Phelps e outros (1993), a<br />

característica <strong>da</strong> pesquisa descritiva é “obter informações sobre o esta<strong>do</strong> atual de um<br />

fenômeno existente, tais como condições, práticas e situações (PHELPS et al., 1993, p. 221).<br />

Apoia<strong>do</strong> nos referenciais teóricos supracita<strong>do</strong>s, buscará entender como se processa o ensino<br />

de violão no Ecoarte, bem como averiguar o trabalho realiza<strong>do</strong> no mesmo a fim de<br />

identificar os pontos positivos e negativos neste contexto. Sen<strong>do</strong> assim, com este propósito,<br />

utilizar-se-á entrevistas <strong>do</strong> tipo semi-estrutura<strong>da</strong> junto a <strong>do</strong>is professores <strong>do</strong> Movimento,<br />

questionários com perguntas abertas aos alunos, e observação para a coleta <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Após<br />

coleta<strong>do</strong>s os <strong>da</strong><strong>do</strong>s, os mesmos serão organiza<strong>do</strong>s em uni<strong>da</strong>des temáticas, analisa<strong>do</strong>s,<br />

compara<strong>do</strong>s e confronta<strong>do</strong>s com o nosso referencial teórico, e em segui<strong>da</strong>, apresenta<strong>da</strong> a<br />

conclusão.<br />

5 Pioneiro em contexto Não-Formal.<br />

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2 OA N O S<br />

Etapas <strong>da</strong> Pesquisa<br />

1 - Revisão de literatura de livros específicos de ensino coletivo, periódicos científicos,<br />

relatórios, teses e dissertações e anais de encontros científicos.<br />

2 – Elaboração e realização de entrevistas aos professores de violão, elaboração e aplicação de<br />

questionários aos alunos que estu<strong>da</strong>m/aprendem na forma coletiva.<br />

3 – Observação participante, registran<strong>do</strong> através de filmagens, fotos e anotações de campo o<br />

processo de ensino e aprendizagem.<br />

4 – Análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s na revisão de literatura, nos questionários, entrevistas e nas<br />

observações de alunos e professores.<br />

RESULTADOS<br />

Espera-se proporcionar aos professores e alunos <strong>do</strong> Movimento Ecoarte, e leitores<br />

desta pesquisa o conhecimento <strong>da</strong> situação <strong>do</strong> processo de ensino-aprendizagem investiga<strong>do</strong>,<br />

contribuir para o aperfeiçoamento <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica no Movimento em questão, assim<br />

como para a criação de bibliografia sobre o ensino coletivo no contexto não-formal,<br />

amplian<strong>do</strong> as discussões, questionamentos e soluções para a área <strong>da</strong> educação musical.<br />

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2 OA N O S<br />

REFERÊNCIAS<br />

BARBOSA, Joel. Consideran<strong>do</strong> a viabili<strong>da</strong>de de inserir música instrumental no ensino de<br />

primeiro grau. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Salva<strong>do</strong>r, n. 3, p.39-49, 1996.<br />

______. Da Capo – Méto<strong>do</strong> para o ensino coletivo e/ou individual de instrumentos de sopro e<br />

percussão. Jundiaí: Editora Keyboard, 2004.<br />

CALDEIRA, Maria; GONÇALVES, Edite; SÁ, Lurdes. Estu<strong>do</strong> de Caso. 2004/2005.<br />

Disponível em:<br />


2 OA N O S<br />

O que fazer com tanta tecnologia? Consideran<strong>do</strong> desafios e oportuni<strong>da</strong>des<br />

para aulas de música<br />

Juciane Araldi<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba (UFPB)<br />

juciane.araldi@gmail.com<br />

Resumo: Essa comunicação tem como objetivo apresentar o projeto de Policen (Programa de<br />

Apoio às Licenciaturas), desenvolvi<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong> temática educação musical e tecnologia, na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba. O projeto tem como principal objetivo potencializar a<br />

utilização de diferentes tecnologias em ações pe<strong>da</strong>gógico-musicais. Para tanto, oportuniza um<br />

espaço para discussão sobre diferentes formas de ensino e aprendizagem musical media<strong>da</strong><br />

pela tecnologia e sua aplicação em contextos reais – aulas na educação básica, aulas de<br />

instrumento musical, aulas de teoria em escolas específicas de ensino musical. Pretende-se<br />

contribuir para um melhor aproveitamento dessas ferramentas e uma maior reflexão sobre os<br />

impactos <strong>da</strong> tecnologia na pe<strong>da</strong>gogia musical. Neste texto são apresenta<strong>da</strong>s a estrutura e<br />

meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> projeto, bem como as ações em an<strong>da</strong>mento.<br />

Palavras-chave: música e tecnologia, ensino de música, projeto de ensino.<br />

Introdução<br />

Essa comunicação apresenta o projeto “Educação musical e tecnologia: desafios e<br />

oportuni<strong>da</strong>des para aulas de música” que faz parte <strong>do</strong> Programa de Apoio às Licenciaturas<br />

(PROLICEN) <strong>da</strong> UFPB, e teve início em abril de <strong>2011</strong>. O projeto tem como principal objetivo<br />

potencializar a utilização de diferentes tecnologias em ações pe<strong>da</strong>gógico-musicais. Para tanto,<br />

oportuniza um espaço para discussão sobre diferentes formas de ensino e aprendizagem<br />

musical media<strong>da</strong> pela tecnologia e sua aplicação em contextos reais – aulas na educação<br />

básica, aulas de instrumento musical, aulas de teoria em escolas específicas de ensino<br />

musical. Pretende-se contribuir para um melhor aproveitamento dessas ferramentas e uma<br />

maior reflexão sobre os impactos <strong>da</strong> tecnologia na pe<strong>da</strong>gogia musical.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista que a formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical proposta pelo curso de<br />

Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPB, contempla a atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical como<br />

instrumentista, professor de instrumento/canto e professor de música em diferentes espaços:<br />

escolas de educação básica, escolas de ensino especializa<strong>do</strong> em música, igrejas, ONGs,<br />

projetos sociais, dentre outros. As intervenções a serem propostas por este projeto poderão<br />

acontecer em diferentes espaços, além <strong>da</strong>s escolas de educação básica, preven<strong>do</strong> inclusive,<br />

uma parceria com cursos de extensão na área de música, já em an<strong>da</strong>mento nos departamentos<br />

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2 OA N O S<br />

de Educação Musical e Música, <strong>da</strong> UFPB.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, esse projeto pretende abrir um espaço para uma aproximação <strong>do</strong>s<br />

alunos <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música com a temática Educação musical e tecnologia,<br />

para pensar a efetiva utilização <strong>da</strong>s diferentes tecnologias (sites específicos de música,<br />

softwares de criação musical, softwares de treinamento auditivo) em aulas de música, seja em<br />

aulas coletivas ou aulas individuais. Para tanto, conta com a participação de quatro alunos <strong>da</strong><br />

graduação em música, sen<strong>do</strong> uma bolsista e três voluntários 1 .<br />

Para esta comunicação são trazi<strong>do</strong>s os aspectos estruturais <strong>do</strong> projeto bem como o<br />

an<strong>da</strong>mento <strong>do</strong>s primeiros meses <strong>do</strong> mesmo. Assim, esse texto está dividi<strong>do</strong> em duas partes: na<br />

primeira, os pressupostos teórico-meto<strong>do</strong>lógicos que alicerçam essa proposta e na segun<strong>da</strong> as<br />

ações previstas e o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s mesmas.<br />

Educação musical e tecnologia<br />

Ao trazer para o debate os desafios e possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> tecnologia nas<br />

aulas de música, pretende-se trazer a tona os reais impactos <strong>da</strong> tecnologia <strong>do</strong> ensino e<br />

aprendizagem musical. De acor<strong>do</strong> com Souza (2003) “as mu<strong>da</strong>nças sociais e tecnológicas<br />

trouxeram também mu<strong>da</strong>nças nas experiências musicais, contribuin<strong>do</strong> para outros mo<strong>do</strong>s de<br />

percepção e apreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e os próprios modelos de formação musical” (SOUZA,<br />

2003, p. 111). Ao discutir essas transformações, diferentes alternativas e questionamentos são<br />

aponta<strong>do</strong>s referentes aos modelos de formação musical.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Lévy (1999) ao abor<strong>da</strong>r a nova relação com o saber a partir <strong>da</strong>s<br />

transformações tecnológicas declara que “qualquer reflexão sobre o futuro <strong>da</strong> educação e de<br />

formação na cibercultura deve ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em uma análise prévia <strong>da</strong> mutação contemporânea<br />

<strong>da</strong> relação com o saber” (LÉVY, 1999, p. 157). Essa mutação pode ser percebi<strong>da</strong> no fato de<br />

que ca<strong>da</strong> vez está mais longe <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor ser o detentor de to<strong>do</strong> o conhecimento<br />

que pretende ensinar. Hoje ao apresentar uma música aos alunos, a possibili<strong>da</strong>de de uma<br />

maioria deles já conhecerem, ou já citarem outras músicas que se relacionam com a<br />

apresenta<strong>da</strong> é grande. É nesse senti<strong>do</strong> que as interações e as conexões que os usuários <strong>da</strong> rede,<br />

internet, já estabelecem no seu cotidiano, podem ser mais um elemento determinante nas<br />

estratégias meto<strong>do</strong>lógicas utiliza<strong>da</strong>s em sala de aula.<br />

A relação tecnologia e ensino de música pode ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong> de diversas maneiras.<br />

Uma delas é o entendimento <strong>do</strong>s processos de ensino e aprendizagem musical media<strong>do</strong>s pela<br />

1 Equipe: Raquel Dantas (bolsista); André Chagas; Wilame Correa; Olga Alves de Oliveira.<br />

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tecnologia que acontecem no plano informal, nas relações de auto-aprendizagem musical, nas<br />

formas como as pessoas se relacionam com a música e a tecnologia (SCHMELING, 2005;<br />

ARALDI, 2009, 2010; SOUZA, 2009). Outra, se refere às tecnologias de informação e<br />

comunicação (TICs) e sua utilização em processos de ensino e aprendizagem musical,<br />

direcionan<strong>do</strong> para abor<strong>da</strong>gens sistematiza<strong>da</strong>s ou sites e softwares cria<strong>do</strong>s especificamente<br />

para finali<strong>da</strong>des educativas (KRÜGER, 2006; FRITSCH et. al 2003). Em suma, não há<br />

dúvi<strong>da</strong>s que para se discutir e problematizar o uso <strong>da</strong> tecnologia em aulas de música, é preciso<br />

conhecer alguns aspectos técnicos e de funcionamento de algumas ferramentas, e além disso,<br />

verificar quais as possibili<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógico-musicais que podem ser explora<strong>da</strong>s a partir desse<br />

entendimento.<br />

Quan<strong>do</strong> o assunto é tecnologia, certamente o problema com estrutura, equipamentos,<br />

acesso a computa<strong>do</strong>res e internet acaba sen<strong>do</strong> muitas vezes o motivo <strong>da</strong> pouca utilização<br />

dessas ferramentas em espaços de ensino e aprendizagem musical. A esse respeito, é preciso<br />

levar em conta que, independente <strong>do</strong> professor trazer e dialogar com essas possibili<strong>da</strong>des de<br />

ouvir e fazer música media<strong>da</strong>s pela tecnologia para a sala de aula, alguns alunos já estão em<br />

contato com essas ferramentas no seu cotidiano.<br />

Um exemplo desse contato é o aparelho celular, que dentre suas funções, tem esta<strong>do</strong><br />

muito presente na vi<strong>da</strong>, principalmente de crianças e jovens, como um aparelho para ouvir<br />

música (ver. BOZZETTO, 2009). Semelhante ao celular, pensan<strong>do</strong> em aparelhos que<br />

aglutinam várias mídias, o computa<strong>do</strong>r tem si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais tanto na produção<br />

quanto divulgação musical. Alia<strong>do</strong> a isso, as possibili<strong>da</strong>des desse contato com mídias que<br />

permitam a interativi<strong>da</strong>de entre pares, tem si<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong>s e viabiliza<strong>da</strong>s nas discussões sobre<br />

ensino e aprendizagem musical media<strong>do</strong>s pelas tecnologias.<br />

No que se refere a utilização <strong>da</strong>s TICs na sala de aula, a temática já tem si<strong>do</strong> objeto<br />

de estu<strong>do</strong>s e formação em diferentes áreas <strong>do</strong> conhecimento. Cabe ressaltar uma proposta<br />

recente que é o projeto UCA – Um computa<strong>do</strong>r por aluno, que visa promover a inclusão<br />

digital nas escolas <strong>da</strong> rede pública de ensino <strong>do</strong> país (MEC). Na Paraíba o projeto está em fase<br />

de implementação, sen<strong>do</strong> contempla<strong>da</strong>s 10 escolas de to<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong>, benefician<strong>do</strong> 204<br />

professores e 4235 alunos 2 . Em João Pessoa, há uma escola contempla<strong>da</strong> e pode ser um futuro<br />

campo de atuação e parceria pe<strong>da</strong>gógica com a equipe deste Prolicen.<br />

Ações previstas<br />

2 Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s em: http://www.uca.gov.br/institucional/escolasBeneficia<strong>da</strong>s.jsp<br />

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O projeto tem como objetivos: potencializar a utilização de diferentes tecnologias em<br />

ações pe<strong>da</strong>gógico-musicais; oportunizar vivências musicais por meio <strong>da</strong> criação, execução e<br />

apreciação a partir <strong>do</strong> universo musical contemporâneo; instrumentalizar os alunos para uma<br />

apreciação musical consciente a partir <strong>da</strong>s diferentes formas de ouvir música a partir <strong>da</strong>s<br />

novas tecnologias; estimular o desenvolvimento de projetos musicais nas escolas e demais<br />

espaços de atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical.<br />

Para contemplar os objetivos propostos, e integrar os alunos <strong>da</strong> graduação em música<br />

em propostas efetivas de utilização <strong>da</strong> tecnologia em aulas de música, o projeto prevê as<br />

seguintes ações: 1) preparação e elaboração <strong>da</strong>s intervenções em escolas e demais espaços; 2)<br />

realização de workshops e oficinas nos espaços contata<strong>do</strong>s; 3) socialização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s por<br />

meio de relatos em eventos acadêmicos, bem como elaboração de possível vídeo institucional<br />

com os principais resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> intervenção.<br />

Nesse momento estamos na primeira fase, realizan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s sobre tecnologia e<br />

educação musical, com foco no impacto <strong>da</strong> internet no fazer musical contemporâneo. Além<br />

disso, buscan<strong>do</strong> parcerias com projetos de extensão <strong>do</strong> Departamento de Educação Musical<br />

(DEM), e com projetos na universi<strong>da</strong>de na área de TIC e educação, como o projeto PROUCA<br />

(Programa um computa<strong>do</strong>r por aluno). A parte mais prática em desenvolvimento consiste no<br />

teste e utilização de softwares específicos para ensino e aprendizagem musical em uni<strong>da</strong>des<br />

didáticas, primeiramente entre a equipe, motivan<strong>do</strong> o trabalho com a criação musical.<br />

A partir desses testes, iniciaremos o planejamento <strong>da</strong>s intervenções que vão ocorrer na<br />

segun<strong>da</strong> fase. Esse planejamento contará com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s trazi<strong>do</strong>s pelos parceiros que abrigarão<br />

o projeto, para que assim as intervenções aconteçam de acor<strong>do</strong> com o perfil de ca<strong>da</strong> espaço.<br />

Quanto aos pressupostos meto<strong>do</strong>lógicos para utilização e aplicação <strong>da</strong>s novas<br />

tecnologias em aulas de música, serão privilegia<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais coletivas e estarão<br />

estrutura<strong>da</strong>s sob o tripé apreciação, execução e criação musical, (SWANWICK, 2003)<br />

conforme a concepção pe<strong>da</strong>gógica mais recente entre os educa<strong>do</strong>res musicais. Essa concepção<br />

entende que “precisamos nos relacionar ativamente com a música de diferentes maneiras –<br />

tocan<strong>do</strong> e cantan<strong>do</strong>, ouvin<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong>, e compon<strong>do</strong>” (BEINEKE, 2003, p. 87). Souza<br />

(2003) reitera essa afirmação ao abor<strong>da</strong>r as dimensões <strong>do</strong> fazer musical que devem estar<br />

presentes na aula de música, quais sejam “a recepção (ouvir música), a reprodução (executar<br />

um instrumento ou cantar), a criação (compor), a informação sobre música (sobre a cultura<br />

musical e a história) e a integração com outras áreas <strong>do</strong> conhecimento, procuran<strong>do</strong> um<br />

equilíbrio entre elas (SOUZA, 2003, p. 214).<br />

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Alian<strong>do</strong> o tripé apreciação, execução e composição com os aplicativos que surgiram<br />

com os avanços tecnológicos, Galizia (2009) ressalta “podemos pensar que a gravação,<br />

produção e distribuição musicais também podem ser considera<strong>da</strong>s maneiras de se li<strong>da</strong>r com<br />

música” (GALIZIA, 2009, p. 6). No caso <strong>da</strong> composição musical, existe uma gama de<br />

softwares que podem contribuir para processos de criação musical.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, as aulas de música devem envolver práticas que vão além <strong>do</strong> “cantar e<br />

tocar instrumentos de percussão”. A audição é essencial na formação musical <strong>do</strong> aluno.<br />

Apresenta-se como base e inspiração para que ele vivencie sua prática de execução musical de<br />

forma ampla, exploran<strong>do</strong> novos materiais e novas ideias. Além disso, torna-se um subsídio<br />

para o momento <strong>da</strong> composição, onde os alunos são convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s a criar e a se colocarem nas<br />

músicas. Para que essas formas de convivência com a música – execução, audição e criação –<br />

aconteçam de forma satisfatória, é importante que o professor apresente propostas e materiais<br />

diversos.<br />

Contribuições espera<strong>da</strong>s<br />

A proposta desse projeto na UFPB teve seus primórdios nas disciplinas que já<br />

ministrei com enfoque em tecnologia e educação musical. É possível perceber alguma<br />

resistência na utilização <strong>da</strong>s diferentes tecnologias, impulsiona<strong>da</strong>s por vários fatores, dentre<br />

eles o pouco conhecimento e o pouco acesso aos equipamentos.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, existe uma deman<strong>da</strong> real <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> em música em discutir,<br />

conhecer e ver possibili<strong>da</strong>des de aplicação <strong>da</strong>s diferentes ferramentas nas aulas de música,<br />

seja no campo <strong>da</strong> musicalização ou no campo <strong>do</strong> ensino de instrumento. Oportunizar um<br />

espaço para conhecer e verificar possíveis usos <strong>da</strong>s ferramentas já disponíveis na rede, pode<br />

promover uma aproximação <strong>do</strong>s alunos <strong>da</strong> graduação com as novas tecnologias e as<br />

transformações nas formas de ouvir e fazer música, além de estabelecer maior contato com as<br />

diversas ferramentas proporciona<strong>da</strong>s pela internet.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a proposta é trabalhar com materiais acessíveis, como: softwares livres,<br />

programas interativos de música que possam ro<strong>da</strong>r em computa<strong>do</strong>res simples. Além disso, a<br />

própria utilização de equipamentos portáteis muito em voga, principalmente entre as crianças<br />

e a<strong>do</strong>lescentes na escola, <strong>do</strong>s Ipods, MP3, MP4, MP5, celulares, e muitos outros está prevista.<br />

Dessa forma, as intervenções propostas pelo projeto, terão como base a utilização <strong>da</strong><br />

tecnologia mais acessível possível, consideran<strong>do</strong> laboratórios de informática <strong>da</strong>s escolas, e<br />

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computa<strong>do</strong>res portáteis <strong>da</strong> própria equipe de execução desse projeto.<br />

Merece destaque o envolvimento apresenta<strong>do</strong> pela equipe de alunos participantes <strong>do</strong><br />

projeto, que tem si<strong>do</strong> revela<strong>do</strong>r. Ca<strong>da</strong> integrante apresenta uma relação diferente, alguns são<br />

de curiosi<strong>da</strong>de, interesse em aprender sobre a temática outros já utilizam as tecnologias em<br />

suas aulas e estão em busca de sistematizar e até mesmo criar novas ferramentas para<br />

aproximar mais a tecnologia <strong>da</strong>s aulas de música. Vale destacar a constante busca <strong>do</strong>s alunos<br />

envolvi<strong>do</strong>s no projeto, trazen<strong>do</strong> sempre novi<strong>da</strong>des para as reuniões semanais. O desafio está<br />

sen<strong>do</strong> em como organizar tanto material, ou, retoman<strong>do</strong> a questão que dá nome a esse texto “o<br />

que fazer com tanta tecnologia?”<br />

Este projeto pode contribuir para solidificar propostas já apresenta<strong>da</strong>s no projeto<br />

pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> curso de licenciatura, ao possibilitar mais um espaço de formação e atuação <strong>do</strong><br />

licencian<strong>do</strong>, em diferentes espaços. Dessa forma, essa ação pode somar na formação <strong>do</strong><br />

professor de música, promoven<strong>do</strong> uma ampliação conceitual <strong>da</strong> profissão <strong>do</strong> músico e <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r musical na contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

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Referências<br />

ARALDI, Juciane. Formação e prática musical de DJs: um estu<strong>do</strong> multicaso em Porto<br />

Alegre. 2004. Dissertação de Mestra<strong>do</strong> – Programa de Pós-Graduação em Música,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre, 2004.<br />

__________. Aprenden<strong>do</strong> a ser DJ. In: SOUZA, Jusamara (Org.) Aprender e ensinar música<br />

no cotidiano. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2009. 287 p.<br />

__________. Prática musical de DJs: um estu<strong>do</strong> sobre formação musical e tecnologia. In:<br />

SIMPÓSIO HIPERTEXTO E TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO 3., Recife. <strong>Anais</strong>...Recife:<br />

ABETHE, 2010.<br />

BEINEKE, Viviane. O ensino de flauta <strong>do</strong>ce na educação fun<strong>da</strong>mental. In: HENTSCHKE,<br />

Liane & DEL BEN, Luciana. Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula.<br />

Editora Moderna, São Paulo, 2003, p. 86- 100.<br />

BOZZETTO, Adriana. Música na palma <strong>da</strong> mão: ligações entre celular, música e juventude.<br />

In: SOUZA, Jusamara. (org) Aprender e ensinar música no cotidiano. (2ª edição) Sulina:<br />

Porto Alegre, 2009.<br />

FRITSCH, Eloi F.; FLORES, Luciano V.; MILETTO, Evandro M.; VICARI, Rosa M.;<br />

PIMENTA, Marcelo S. Software musical e sugestões de aplicação em aulas de música. In:<br />

HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana (Org.). Ensino de música: propostas para pensar e<br />

agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 141-157.<br />

GALIZIA, Fernan<strong>do</strong> Stanzione. Educação musical nas escolas de ensino fun<strong>da</strong>mental e<br />

médio: consideran<strong>do</strong> as vivências musicais <strong>do</strong>s alunos e as tecnologias digitais. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 21, 76-83, mar. 2009.<br />

KRÜGER, Susana E. Educação musical apoia<strong>da</strong> pelas novas Tecnologias de Informação e<br />

Comunicação (TIC): pesquisas, práticas e formação de <strong>do</strong>centes. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto<br />

Alegre, n. 14, 75-89, 2006.<br />

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu <strong>da</strong> Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.<br />

SCHMELING, Agnes. Cantar com as mídias eletrônicas: um estu<strong>do</strong> de caso com jovens de<br />

Porto Alegre. Dissertação de Mestra<strong>do</strong> – Programa de Pós-Graduação em Música,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre, 2005.<br />

SOUZA, Jusamara. Outras escutas <strong>da</strong> música brasileira. In: PANIZZI, Wrana; MIX, Miguel<br />

Rojas (Orgs.). Brasil desde Porto Alegre. Porto Alegre: Editora <strong>da</strong> UFRGS, p. 103-113, 2003.<br />

__________. Sobre as múltiplas formas de ler e escrever música. In: NEVES, Iara Conceição<br />

B.; SOUZA, Jusamara; SCHÄFFER, Neiva Otero; GUEDES, Paulo Coimbra; KLÜSENER,<br />

Renita. Ler e Escrever: compromisso de to<strong>da</strong>s as áreas. 4ª ed. Porto Alegre: Editora <strong>da</strong><br />

UFRGS, p. 207–216, 2003.<br />

__________. Educação musical e culturas juvenis: socialização musical, nova orali<strong>da</strong>de e<br />

outras aprendizagens musicais media<strong>da</strong>s pela tecnologia. In: ENCONTRO ANUAL DA<br />

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2 OA N O S<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL,18., Londrina.<br />

<strong>Anais</strong>...Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2009.p.521-530.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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O Social e o Musical:<br />

um estu<strong>do</strong> de caso em uma ONG de João Pessoa-PB<br />

Olga Renalli Nascimento e Barros<br />

UFPB – PIBIC/CNPq<br />

olgarenalli@gmail.com<br />

Maura Penna<br />

UFPB<br />

maurapenna@gmail.com<br />

Resumo: O trabalho relata uma pesquisa – seus aspectos meto<strong>do</strong>lógicos, análises e<br />

resulta<strong>do</strong>s – com objetivo principal de analisar práticas de ensino e aprendizagem em<br />

música em uma ONG de João Pessoa-Paraíba, na turma de Oficina de Música, onde os<br />

conteú<strong>do</strong>s musicais são trabalha<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> canto e <strong>do</strong> violão. Através <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de<br />

caso, com observações e entrevistas, pudemos perceber que os aspectos sociais, éticos e<br />

morais são privilegia<strong>do</strong>s, em detrimento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s musicais, para os quais pouca<br />

importância e tempo são <strong>da</strong><strong>do</strong>s, prejudican<strong>do</strong> assim o desenvolvimento de um<br />

aprendiza<strong>do</strong> musical significativo.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, ONG, Social.<br />

O processo aqui apresenta<strong>do</strong> é parte de uma pesquisa mais ampla que tem<br />

como objetivo principal analisar práticas de ensino e aprendizagem em música<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s em diferentes contextos no município de João Pessoa. Durante o 2º<br />

semestre de 2010, desenvolvemos um plano de trabalho que investigava os espaços nãoformais<br />

de ensino de música.<br />

Os espaços não formais abrangem ONGs, projetos sociais, associações<br />

comunitárias, igrejas, espaços diversos que oferecem cursos livres de música, de acor<strong>do</strong><br />

com Libâneo (1999), com a<strong>da</strong>ptação de Oliveira (2000). Escolhemos como contexto a<br />

ser pesquisa<strong>do</strong> uma Organização Não-Governamental que está há mais de 20 anos em<br />

ativi<strong>da</strong>de em nosso município, que chamaremos de ONG X.<br />

Com o objetivo de compreender as concepções, meto<strong>do</strong>logias e processos de<br />

ensino e aprendizagem <strong>da</strong> música nesse contexto, a estratégia de pesquisa proposta é o<br />

estu<strong>do</strong> de caso, já que pretendemos conhecer profun<strong>da</strong>mente as nuances <strong>do</strong> caso<br />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, compreenden<strong>do</strong> uma ação educativa em música que ali acontece, através <strong>do</strong><br />

entrecruzamento de diferentes fontes de <strong>da</strong><strong>do</strong>s (ANDRÉ, 2005, p. 19-22).<br />

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2 OA N O S<br />

A pesquisa bibliográfica esteve presente em to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de pesquisa, desde<br />

os estu<strong>do</strong>s preparatórios, volta<strong>do</strong>s para a meto<strong>do</strong>logia de pesquisa, até a literatura acerca<br />

<strong>do</strong> contexto educacional estu<strong>da</strong><strong>do</strong>.<br />

O principal instrumento de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi a observação <strong>da</strong> prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica. Realizamos onze observações de aulas – acompanhan<strong>do</strong> com continui<strong>da</strong>de<br />

o processo pe<strong>da</strong>gógico desenvolvi<strong>do</strong>, pelo perío<strong>do</strong> de 2 meses –, e também uma<br />

entrevista semi-estrutura<strong>da</strong> com o professor <strong>da</strong> turma escolhi<strong>da</strong>. Além disso, o<br />

levantamento e análise de <strong>do</strong>cumentos relativos à organização – como o estatuto em<br />

vigor e o material disponibiliza<strong>do</strong> on line, em seu site – foram realiza<strong>do</strong>s.<br />

O processo de análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi de cunho interpretativo, tento em vista o<br />

caráter qualitativo desta pesquisa, sen<strong>do</strong> a descrição e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s o próprio<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> pesquisa (PENNA, 2006). A análise conta ain<strong>da</strong> com um momento<br />

comparativo com a literatura a respeito <strong>do</strong> mesmo tema e <strong>do</strong> mesmo tipo de contexto,<br />

compreenden<strong>do</strong> os pontos em que os <strong>da</strong><strong>do</strong>s e análise de nossa pesquisa reforçam ou se<br />

diferenciam desses estu<strong>do</strong>s já realiza<strong>do</strong>s.<br />

As ONG’s no Brasil<br />

As ONG’s no Brasil tem seu surgimento em mea<strong>do</strong>s <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970.<br />

Durante o regime militar, muitas organizações civis atuavam como resistência e<br />

apoian<strong>do</strong> a população. Mais tarde, as que sobreviveram ao perío<strong>do</strong> de repressão pesa<strong>da</strong><br />

passaram, a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, com a Nova República, a ter um enfoque de<br />

combate à exclusão e desigual<strong>da</strong>de social, ao elitismo político e também prestan<strong>do</strong><br />

serviços à comuni<strong>da</strong>de (BUARQUE; VAINSENCHER, 2001). Assim passaram a se<br />

caracterizar, aos poucos, como o que hoje chamamos de ONG’s:<br />

O entendimento de que por si só o merca<strong>do</strong> e o Esta<strong>do</strong> não estão<br />

conseguin<strong>do</strong> resolver ou atenuar as contradições gera<strong>da</strong>s pelas<br />

desigual<strong>da</strong>des sociais e pelo crescente processo de globalização vem<br />

contribuin<strong>do</strong> para a percepção de que a superação desses problemas<br />

exige a constituição de uma nova esfera que não seja subjuga<strong>da</strong> nem<br />

aos interesses <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nem aos mecanismos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>. Nesse<br />

cenário, destaca-se o crescimento, de forma surpreendente, de um<br />

conjunto de organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, principalmente <strong>da</strong>s<br />

ONGs (CARVALHO, 2008, p. 15-16).<br />

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2 OA N O S<br />

Lívia Marques Carvalho (2008), em sua pesquisa sobre o ensino de artes em<br />

ONG’s, ao examinar muitas propostas pe<strong>da</strong>gógicas desenvolvi<strong>da</strong>s nessas organizações,<br />

observou que praticamente to<strong>da</strong>s utilizavam ativi<strong>da</strong>des artísticas em seus projetos,<br />

muitas contan<strong>do</strong> fortemente com a música. A ONG pesquisa<strong>da</strong> se encaixa hoje neste<br />

perfil.<br />

A ONG X<br />

A Organização Não-Governamental escolhi<strong>da</strong> localiza-se em um bairro antigo<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa, famoso por sua tradição cultural (grupos folclóricos,<br />

quadrilhas...). É considera<strong>do</strong> de classe média-baixa, com algumas comuni<strong>da</strong>des de<br />

extrema pobreza. Os índices de violência são altos, principalmente com o recente<br />

crescimento <strong>do</strong> tráfico e <strong>do</strong> uso de crack.<br />

Segun<strong>do</strong> o site <strong>da</strong> ONG X, esta realiza, há duas déca<strong>da</strong>s, um trabalho<br />

educacional com crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de, ten<strong>do</strong> como base o Estatuto <strong>da</strong><br />

Criança e A<strong>do</strong>lescente. Esta ONG é reconheci<strong>da</strong>, tanto pela população local quanto pelo<br />

poder público, pelo seu trabalho sério e consistente, em defesa <strong>do</strong>s direitos de crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes.<br />

Segun<strong>do</strong> o artigo 2ª <strong>do</strong> Estatuto <strong>da</strong> ONG X:<br />

[.....A ONG X] tem por objetivo a promoção e defesa <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s<br />

crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação de risco social através <strong>da</strong><br />

formação moral, intelectual e capacitação técnica a fim de favorecer<br />

sua integração na família e socie<strong>da</strong>de com vistas a uma melhor<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> (ONG X, 2006).<br />

Neste quadro, a Cartilha <strong>da</strong> ONG X afirma que uma de suas linhas de trabalho<br />

é a prevenção e combate ao trabalho infantil, com base no Estatuto <strong>da</strong> Criança e <strong>do</strong><br />

A<strong>do</strong>lescente (ECA).<br />

Atualmente, mais de 350 meninos e meninas, entre 7 e 18 anos participam <strong>da</strong><br />

instituição, através <strong>da</strong>s oficinas profissionalizantes e ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas, que são:<br />

Inclusão digital, Esportes, Artes plásticas, Lu<strong>do</strong>-pe<strong>da</strong>gógico, Dança e Música. Para ca<strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de, existe uma sala específica. Sen<strong>do</strong> assim, o espaço físico <strong>da</strong> ONG é muito<br />

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grande, contan<strong>do</strong> com várias salas, estúdio de gravação, campo de futebol, sala de<br />

<strong>da</strong>nça, atelier, pátio, campo, cozinha, refeitório, biblioteca, rádio comunitária etc.<br />

Para proporcionar to<strong>da</strong>s essas ativi<strong>da</strong>des, atualmente a ONG X conta com o<br />

apoio financeiro de secretarias <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong> município e diversas instituições e<br />

empresas priva<strong>da</strong>s. Algumas destas visitam regularmente a ONG X, para acompanhar<br />

suas ativi<strong>da</strong>des. To<strong>do</strong>s os anos, os financiamentos mu<strong>da</strong>m de acor<strong>do</strong> com os prazos <strong>do</strong>s<br />

projetos. Atualmente a ONG X não está em parceria com as universi<strong>da</strong>des para projetos<br />

de extensão, mas recebe muitos estagiários.<br />

Na área de Música, por ocasião <strong>da</strong> coleta para a pesquisa, eram ofereci<strong>da</strong>s<br />

aulas de flauta <strong>do</strong>ce, clarinete e a Oficina de Música, à escolha <strong>do</strong>s alunos. A Oficina<br />

funcionava no estúdio de ensaio/gravação <strong>da</strong> ONG X e foi a ativi<strong>da</strong>de por nós<br />

escolhi<strong>da</strong> 1 . O estúdio contava com mais de dez violões (que, inclusive, os alunos<br />

podiam levar para casa para estu<strong>da</strong>r), tecla<strong>do</strong>, bateria, equipamento de gravação, etc. Os<br />

alunos trabalhavam músicas populares, normalmente com alguma mensagem social,<br />

através <strong>do</strong> canto (principalmente), <strong>do</strong> violão ou tecla<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> formar uma grande<br />

ban<strong>da</strong>. As aulas aconteciam três vezes por semana, para ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s duas turmas – <strong>da</strong><br />

manhã e <strong>da</strong> tarde. Foi escolhi<strong>da</strong> para a pesquisa a turma <strong>da</strong> manhã (que contava com<br />

cerca de vinte alunos, de 9 a 16 anos), pela compatibili<strong>da</strong>de com os horários disponíveis<br />

para a coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, apesar de a turma <strong>da</strong> tarde ser considera<strong>da</strong> mais adianta<strong>da</strong>. Nessa<br />

turma <strong>da</strong> manhã, as aulas eram às segun<strong>da</strong>s, quartas e sextas-feiras, <strong>da</strong>s 7:30 às 11hs.<br />

As aulas de música<br />

As aulas, que deveriam começar às 7:30, começavam sempre com quarenta<br />

minutos de atraso. Normalmente, o primeiro – e mais longo – momento era de discussão<br />

sobre questões socioculturais. Depois, o professor costumava escrever a música a ser<br />

trabalha<strong>da</strong> no quadro com intenção de cifrá-la com a aju<strong>da</strong> <strong>do</strong>s alunos, para assim<br />

poderem cantar e tocar.<br />

1 Agradecemos à direção <strong>da</strong> ONG X e ao educa<strong>do</strong>r/professor e seus alunos, que participaram <strong>da</strong> pesquisa,<br />

contribuin<strong>do</strong> assim com o desenvolvimento <strong>do</strong> conhecimento em educação musical, na medi<strong>da</strong> em que<br />

nos permitiram uma maior compreensão <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des e positivi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas em<br />

música nesse contexto educativo.<br />

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Em termos de conteú<strong>do</strong>s musicais, a aula seguia como que de improviso, sem<br />

sistematização e planejamento prévio: a música era cifra<strong>da</strong> no quadro e simplesmente<br />

iam tentar tocar. O professor não se preocupava se os alunos tinham ferramentas<br />

técnicas para tocar aquela canção, nem costumava trabalhar parâmetros básicos <strong>da</strong><br />

música. Além disso, como não trabalhavam os conteú<strong>do</strong>s sistematicamente, os alunos<br />

acabavam esquecen<strong>do</strong>, de mo<strong>do</strong> que o processo de ensino-aprendizagem perdia em<br />

consistência e continui<strong>da</strong>de.<br />

Em diversas ocasiões observa<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong>s sobre algum conteú<strong>do</strong><br />

musical ou quan<strong>do</strong> o professor pedia para que os alunos tocassem, estes apresentavam<br />

sérias dificul<strong>da</strong>des e quase nunca realizavam o que era proposto ou respondiam<br />

corretamente às perguntas. A esses momentos, seguiam-se as falas <strong>do</strong> professor, como<br />

se estivesse se justifican<strong>do</strong> para a pesquisa<strong>do</strong>ra: “Fui eu que não ensinei isso a vocês?<br />

Não. Vocês que não estu<strong>da</strong>m. Já ensinei mais de mil vezes. Já era para vocês saberem<br />

isso” (Professor <strong>da</strong> ONG X). Em nenhuma <strong>da</strong>s 11 aulas observa<strong>da</strong>s a turma conseguiu<br />

tocar uma música inteira ao violão, apesar de o professor ter relata<strong>do</strong> em conversas<br />

informais que os alunos já estavam com ele há mais de um ano e que cantavam e<br />

tocavam violão. Na ver<strong>da</strong>de, conseguiam executar poucos acordes, isola<strong>da</strong>mente, sem<br />

articulá-los adequa<strong>da</strong>mente às músicas que cantavam.<br />

A aparente preocupação <strong>do</strong> professor com a presença <strong>da</strong> pesquisa<strong>do</strong>ra remete<br />

ao conheci<strong>do</strong> e inevitável efeito <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, que precisa ser considera<strong>do</strong> no<br />

planejamento <strong>da</strong> pesquisa 2 :<br />

O fato de que alguém perceba que está sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong> por outra<br />

pessoa ou por instrumentos (câmara ou grava<strong>do</strong>res, por exemplo) afeta<br />

a maneira como habitualmente se comporta em determina<strong>da</strong> situação,<br />

registra Wilkinson (1995). Ocorre, assim, o chama<strong>do</strong> efeito <strong>do</strong><br />

observa<strong>do</strong>r (ou reativi<strong>da</strong>de). (WILKINSON, 1995 apud VIANNA,<br />

2007, p.42).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o professor mostrava-se um ótimo músico. Apresentava<br />

excelente desempenho tocan<strong>do</strong> ou improvisan<strong>do</strong> com o violão ou tecla<strong>do</strong> e também em<br />

termos de afinação. Porém, não conseguiu apresentar, durante as observações, uma<br />

2 Buscan<strong>do</strong> amenizar o efeito <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, foi planeja<strong>do</strong> o acompanhamento <strong>da</strong>s aulas por <strong>do</strong>is meses,<br />

com continui<strong>da</strong>de.<br />

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sistematização <strong>da</strong>s aulas ou um planejamento reflexivo <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e ativi<strong>da</strong>des<br />

propostos em aula.<br />

O professor – que é presta<strong>do</strong>r de serviços com carteira assina<strong>da</strong> na ONG X –<br />

relatou em conversas informais que reside no mesmo bairro <strong>da</strong> ONG, o que é comum<br />

entre os educa<strong>do</strong>res de lá. Também informou que sua formação é composta por aulas de<br />

professores de instrumentos visan<strong>do</strong> à música popular, além de estu<strong>do</strong>s de apostilas,<br />

livros e internet.<br />

A ênfase nos aspectos socioculturais, éticos e morais<br />

Na ONG X, to<strong>do</strong> mês um tema (como ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, etnia, drogas...) é seleciona<strong>do</strong><br />

para ser trabalha<strong>do</strong> nas oficinas. O professor deve adequar seu plano de ensino aos<br />

temas mensais, incluin<strong>do</strong>-os nas ativi<strong>da</strong>des musicais, além de discuti-los. Normalmente,<br />

esta discussão acontecia no início <strong>da</strong> aula, levan<strong>do</strong>, muitas vezes, to<strong>da</strong> a primeira parte<br />

<strong>da</strong> aula, o que nos remete à prática tão comum em projetos sociais e ONG’s onde os<br />

temas relaciona<strong>do</strong>s à formação moral e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia costumam receber mais destaque <strong>do</strong><br />

que os conteú<strong>do</strong>s específicos (cf. CARVALHO, 2008; HIKIJI, 2006). O professor,<br />

através de filmes ou mesmo de conversas, discutia e relacionava esses temas com a vi<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong>s alunos, o que proporcionava uma boa reflexão.<br />

Essa preocupação com os aspectos sociais é prevista no próprio estatuto <strong>da</strong><br />

ONG X, que, em seu Artigo 2º, diz:<br />

[A ONG X] tem por objetivo a promoção e defesa <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s<br />

crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação de risco social através <strong>da</strong><br />

formação moral, intelectual e capacitação técnica a fim de favorecer<br />

sua integração na família e socie<strong>da</strong>de com vistas a uma melhor<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. (ONG X, 2006)<br />

O professor também estava de acor<strong>do</strong>. Em entrevista, realiza<strong>da</strong> em novembro<br />

de 2010, quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> sobre a importância <strong>da</strong>s aulas desenvolvi<strong>da</strong>s por ele,<br />

respondeu: “A importância é passar para esses educan<strong>do</strong>s um mo<strong>do</strong> de viver diferente,<br />

através <strong>da</strong> música. Conhecer o que há de bom e o que há de ruim que o mun<strong>do</strong> ensina,<br />

mas colher só o melhor”. E quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> sobre os objetivos de suas aulas, disse:<br />

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“Primeiramente, tocar com eles. E segun<strong>do</strong>, mostrar o la<strong>do</strong> social, né? E não às drogas e<br />

sim à vi<strong>da</strong>, através <strong>da</strong> música”.<br />

A ênfase nos aspectos sociais e éticos condiz com a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s<br />

ONG’s e projetos sociais. Na pesquisa de Rose Hikiji (2006) acerca <strong>do</strong> Projeto Guri,<br />

esta ênfase também é encontra<strong>da</strong>:<br />

“O objetivo não é formar um músico, mas mu<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> jovem. A<br />

música como meio”, resume Nurimar Valsecchi, maestrina e<br />

coordena<strong>do</strong>ra pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> Projeto Guri. No discurso <strong>do</strong>s<br />

proponentes <strong>do</strong>s projetos, é comum a associação entre prática musical<br />

e “recuperação de auto-estima”, “desenvolvimento de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”,<br />

“afastamento <strong>do</strong> perigo <strong>da</strong>s ruas” (HIKIJI, 2006, p. 72).<br />

Apesar de encontrarmos no Estatuto e nas falas <strong>do</strong> professor a questão <strong>da</strong><br />

formação intelectual, <strong>da</strong> capacitação técnica e <strong>da</strong> música como um objetivo em si,<br />

podemos perceber a ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> aos aspectos sociais. E, através <strong>da</strong>s observações,<br />

podemos ver que, nas aulas de música, os debates e as ativi<strong>da</strong>des sobre os temas sociais<br />

tomavam muito mais tempo <strong>do</strong> que qualquer ativi<strong>da</strong>de musical.<br />

Notamos também que, para os pais, educa<strong>do</strong>res e direção, diante <strong>da</strong> situação<br />

que os alunos vivem em casa e no seu bairro (trabalho infantil, drogas, violência...), é<br />

bastante importante conseguir que permaneçam freqüentan<strong>do</strong> a ONG, fican<strong>do</strong> longe <strong>da</strong>s<br />

adversi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> rua, nem que seja por um breve tempo. A questão de passar tempo em<br />

segurança, ten<strong>do</strong> em vista as crianças em situação de risco, e o pensamento de que<br />

“tempo ocioso” é “tempo perigoso” também são comumente encontra<strong>do</strong>s em outras<br />

ONG’s e projetos sociais (cf. HIKIJI, 2006, p. 82-87; ILARI, 2007).<br />

Era recorrente também o professor destacar que música podia ser uma<br />

profissão. Falava dele mesmo, que sua profissão era a música e que esta podia ser<br />

também a profissão <strong>do</strong>s alunos, colocan<strong>do</strong>-se como exemplo a ser segui<strong>do</strong>. Porém, isto<br />

costumava acontecer quan<strong>do</strong> os alunos não estavam muito interessa<strong>do</strong>s na aula. Nessa<br />

situação, também era comum o professor destacar que, se os alunos não apresentassem<br />

resulta<strong>do</strong>, não receberiam financiamento: “Se vocês não mostrarem que tocam, o povo<br />

de fora não envia recurso” (Professor <strong>da</strong> ONG X, durante a 3ª observação). A<br />

preocupação em mostrar os resulta<strong>do</strong>s também era <strong>do</strong> professor em relação à<br />

coordenação e direção <strong>da</strong> ONG X. Quan<strong>do</strong> estavam perto de uma possível performance<br />

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na ONG, o professor reclamou com os alunos dizen<strong>do</strong> que não poderiam se apresentar:<br />

“Ninguém aqui está tocan<strong>do</strong>. Só duas pessoas. É pouco. Assim não dá pra tocar. Vamos<br />

mostrar o quê?” (Professor <strong>da</strong> ONG X, durante a 5ª observação).<br />

Apesar de ser positivo mostrar que a música pode ser uma profissão, neste<br />

caso, a música só ganhava importância como forma de fazer os alunos prestarem<br />

atenção na aula. Havia, ain<strong>da</strong>, uma preocupação <strong>do</strong> professor com o registro <strong>do</strong>s<br />

resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s. Neste senti<strong>do</strong>, os alunos estavam gravan<strong>do</strong> um CD, compilan<strong>do</strong><br />

o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo de trabalho, porém nem to<strong>do</strong>s participavam. Na Oficina de<br />

Música, quase to<strong>do</strong>s os alunos que estavam participan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s gravações eram <strong>da</strong> turma<br />

<strong>da</strong> tarde, que, segun<strong>do</strong> o professor, era musicalmente mais avança<strong>da</strong>.<br />

Considerações finais<br />

A ONG X vem atuan<strong>do</strong> há bastante tempo em João Pessoa, desenvolven<strong>do</strong><br />

ativi<strong>da</strong>des educacionais basea<strong>da</strong>s no Estatuto <strong>da</strong> Criança <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente. O estatuto <strong>da</strong><br />

ONG propõe a promoção e defesa <strong>do</strong>s direitos <strong>da</strong>s crianças e a<strong>do</strong>lescentes em situação<br />

de risco social, através <strong>da</strong> formação moral, intelectual e capacitação técnica, com o fim<br />

de favorecer sua integração na família e na socie<strong>da</strong>de, com vistas a uma melhor<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> (ONG X, 2006).<br />

Através <strong>da</strong>s observações, foi possível perceber que os aspectos éticos e morais<br />

são realmente trabalha<strong>do</strong>s no dia a dia <strong>da</strong> instituição. Na ver<strong>da</strong>de, verificamos uma<br />

ênfase nesses aspectos, que foram enfoca<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong>s as aulas observa<strong>da</strong>s, através de<br />

músicas, discussão de filmes e, principalmente, debates – ocupan<strong>do</strong> a maior parte <strong>do</strong><br />

tempo de aula. Reconhecemos a importância <strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong> ONG X, no senti<strong>do</strong> de<br />

prover tempo em segurança para estes alunos, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhes assistência e alimentação e<br />

atuan<strong>do</strong> de forma positiva na sua formação moral, ética e social.<br />

No entanto, enfocan<strong>do</strong> a questão específica <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica no campo <strong>da</strong><br />

educação musical, na Oficina de Música a formação intelectual e a capacitação técnica<br />

não chegavam a ser trabalha<strong>da</strong>s de forma significativa, e os conteú<strong>do</strong>s e habili<strong>da</strong>des<br />

propriamente musicais ficam em segun<strong>do</strong> plano. No pouco tempo efetivamente<br />

dedica<strong>do</strong> à música nas aulas observa<strong>da</strong>s, percebemos a falta de sistematização <strong>da</strong>s<br />

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práticas e <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, além de uma falta de continui<strong>da</strong>de no processo de ensinoaprendizagem.<br />

Consideramos que a falta <strong>da</strong> formação pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> professor e<br />

também de reflexão sobre sua própria prática podem ser fatores que influenciavam<br />

nesses limites observa<strong>do</strong>s.<br />

Cabe ressaltar que a proposta e as práticas pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong> ONG X são mais<br />

amplas e diversifica<strong>da</strong>s, e sua contribuição socioeducativa para a comuni<strong>da</strong>de atendi<strong>da</strong> é<br />

inquestionável. Dentro deste quadro maior, temos consciência de que os resulta<strong>do</strong>s de<br />

nossa pesquisa constituem a apreensão possível de um recorte <strong>da</strong>s práticas educativas<br />

musicais desenvolvi<strong>da</strong>s na ONG X, nos limites <strong>da</strong>s observações <strong>da</strong>s aulas <strong>da</strong> turma <strong>da</strong><br />

manhã <strong>da</strong> Oficina de Música, nos meses de setembro a novembro de 2010. No entanto,<br />

a prática pe<strong>da</strong>gógica desenvolvi<strong>da</strong> nesta Oficina, que constitui o caso estu<strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

configura uma experiência concreta e real de educação musical em um espaço nãoformal,<br />

que buscamos conhecer e compreender em sua especifici<strong>da</strong>de.<br />

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Referências<br />

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estu<strong>do</strong> de caso em pesquisa e avaliação<br />

educacional. Brasília: Líber Livro Editora, 2005.<br />

CARVALHO, Lívia Marques. O ensino de artes em ONGs. São Paulo: Cortez, 2008.<br />

BUARQUE, Cristina; VAINSENCHER, Semira Adler. ONGs no Brasil e a questão de<br />

gênero. Trabalhos para discussão, n. 123, nov 2001. Disponível em:<br />

http://www.fun<strong>da</strong>j.gov.br/tpd/123.html Acesso em: 10 abr. <strong>2011</strong>.<br />

HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. A música e o risco: etnografia <strong>da</strong> performance de crianças<br />

e jovens. São Paulo: Editora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, 2006.<br />

ILARI, Beatriz. Música, identi<strong>da</strong>de e relações humanas em um país mestiço:<br />

implicações para a educação musical na América Latina. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto<br />

Alegre, V. 18, 35-44, out. 2007.<br />

OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. (2000). Educação musical em transição: jeito brasileiro de<br />

musicalizar. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> VII Simpósio Paranaense de Educação Musical. VII Simpósio<br />

Paranaense de Educação Musical, Curitiba, 2000, 15-32<br />

ONG X. Estatuto local. 2006<br />

_________. Cartilha <strong>da</strong> ONG X. Disponível em: . Acesso: 25 fev.<br />

<strong>2011</strong><br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu Ensino. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2010.<br />

_____________. A análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Campina Grande: CEDUC/UEPB, 2006.<br />

Digita<strong>do</strong>.<br />

SOUZA, Jusamara. Da formação <strong>do</strong> profissional em Música nos cursos de<br />

Licenciatura. In: I Seminário sobre o Ensino Superior de Artes e Design no Brasil,<br />

1997.<br />

VIANNA, Heral<strong>do</strong> Marelim. Pesquisa em educação: a observação. Brasília: Liber<br />

Livro, 2007.<br />

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O uso de novas tecnologias no ensino prático de bateria<br />

Bruno Torres Araujo de Melo<br />

Instituto Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

brunonway@hotmail.com<br />

Resumo: O relato de experiência a seguir trata <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s administra<strong>do</strong>s, técnicas<br />

meto<strong>do</strong>lógicas e <strong>do</strong> uso de novas tecnologias e recursos aplica<strong>do</strong>s nas práticas de<br />

ensino/aprendizagem de instrumento musical (bateria), para alunos de nível médio e técnico<br />

(subsequente). Empregan<strong>do</strong> as competências de ensino de Perrenoud para diagnóstico <strong>do</strong><br />

perfil musical <strong>do</strong>s alunos e usan<strong>do</strong> como recurso a facili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comunicação entre<br />

professor/aluno via internet, aproximan<strong>do</strong> o contato com a troca de conteú<strong>do</strong>s constantes.<br />

Com auxílio <strong>da</strong>s novas tecnologias de gravações digitais (áudio e vídeo) como uma favorável<br />

ferramenta didática, temos obti<strong>do</strong> excelentes resulta<strong>do</strong>s e ótima repercussão em to<strong>da</strong><br />

instituição. Ao decorrer <strong>do</strong> processo, recebemos o aumento <strong>do</strong> interesse por parte <strong>do</strong>s alunos e<br />

a redução <strong>do</strong> número de faltas <strong>do</strong>s mesmos em relação as aulas de instrumentos.<br />

Palavras-chave: Instrumento musical, bateria, tecnologia.<br />

Introdução<br />

Vamos aqui relatar a experiência <strong>do</strong> ensino prático e teórico de bateria (instrumento<br />

musical) para o curso integra<strong>do</strong> em música de nível médio, subsequente e de extensão, que<br />

teve início no mês de maio de 2010 e ain<strong>da</strong> está em ativi<strong>da</strong>de.<br />

O planejamento didático foi elabora<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a vivência musical <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes, diagnostica<strong>da</strong> através de son<strong>da</strong>gens que buscavam conhecer melhor os gostos<br />

musicais <strong>do</strong>s mesmos devi<strong>da</strong>mente matricula<strong>do</strong>s na instituição, suas concepções <strong>do</strong>s<br />

significa<strong>do</strong>s de ritmo e música; e quais seriam suas expectativas com a disciplina. Esse<br />

levantamento foi efetua<strong>do</strong> antes <strong>da</strong>s aulas práticas e basea<strong>do</strong> nas competências de ensino de<br />

Perrenoud (2000, p. 29):<br />

Resta trabalhar a partir <strong>da</strong>s concepções <strong>do</strong>s alunos, dialogar com eles, fazer<br />

com que sejam avalia<strong>da</strong>s para aproximá-las <strong>do</strong> conhecimento científico a<br />

serem ensina<strong>do</strong>s. A competência <strong>do</strong> professor é, então, essencialmente<br />

didática. Aju<strong>da</strong>-o a fun<strong>da</strong>mentar-se nas representações prévias <strong>do</strong>s alunos,<br />

sem se fechar nelas, a encontrar um ponto de entra<strong>da</strong> em seu sistema<br />

cognitivo, uma maneira de desestabilizá-los apenas o suficiente para leva-los<br />

a reestabelecerem o equilíbrio, incorporan<strong>do</strong> novos elementos às<br />

representações existentes, reorganizan<strong>do</strong>-as se necessário (PERRENOUD,<br />

2000, p. 29).<br />

Já o planejamento de conteú<strong>do</strong>, objetivos e avaliação foi composto para que os<br />

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alunos matricula<strong>do</strong>s no curso técnico de música no instrumento obtivessem o conhecimento e<br />

aprimoramento necessários para uma melhor inserção como músico popular no merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho.<br />

O principal objetivo <strong>do</strong> ensino de bateria volta<strong>do</strong> para o merca<strong>do</strong> popular é de formar<br />

músicos críticos, expressivos, sensíveis e criativos. “A sensibili<strong>da</strong>de interpessoal pode ser tão<br />

importante quanto as habili<strong>da</strong>des técnicas trabalha<strong>da</strong>s no aprendiza<strong>do</strong> de instrumentos<br />

musicais. De na<strong>da</strong> adianta a destreza se o aprendiz não consegue interagir com o mun<strong>do</strong>”<br />

(GONH, 2003, p. 46). Sen<strong>do</strong> então a maior função para um baterista popular a de não tocar<br />

seu instrumento isola<strong>da</strong>mente, mas ter como maior tarefa unificar, com personali<strong>da</strong>de e<br />

segurança, o conjunto em que ele atue ou possa futuramente estar inseri<strong>do</strong>.<br />

Temos diversas áreas de conhecimento que estão relaciona<strong>da</strong>s com o ensino de<br />

bateria, tanto na parte teórica e prática musical <strong>do</strong> instrumento (com o foco na parte rítmica),<br />

que envolvem também o controle de coordenação motora, como ain<strong>da</strong>, e não menos<br />

importante, a psicológica. Onde a autoestima <strong>do</strong> baterista deve ser examina<strong>da</strong> e incentiva<strong>da</strong>.<br />

Além de outras questões relaciona<strong>da</strong>s com a personali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> aluno, por exemplo: o controle<br />

<strong>da</strong> ansie<strong>da</strong>de antes <strong>da</strong>s apresentações e como li<strong>da</strong>r com a timidez perante o público.<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des no Instituto Federal <strong>da</strong> Paraíba (IFPB)<br />

A meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> bateria em geral, tem início com o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

rudimentos para caixa-clara, postura, manuseio <strong>da</strong>s baquetas, percepção <strong>do</strong> pulso métrico e a<br />

relação entre impulso/apoio (acentos). Deste mo<strong>do</strong>, foi elabora<strong>da</strong> uma apostila com to<strong>do</strong> o<br />

conteú<strong>do</strong> de rudimentos, sen<strong>do</strong> esta dividi<strong>da</strong> previamente em quatro partes, uma parte para<br />

ca<strong>da</strong> semana <strong>do</strong> mês de maio. Em anexo aos rudimentos, também foi ofereci<strong>do</strong> aos alunos<br />

vídeos de curta duração com exemplos de execução de ca<strong>da</strong> rudimento (aproxima<strong>da</strong>mente 30<br />

segun<strong>do</strong>s de ca<strong>da</strong> tipo de rudimento, 40 vídeos no total). Estes vídeos foram disponibiliza<strong>do</strong>s<br />

aos alunos (via e-mail ou via pen-drive) sen<strong>do</strong> esta possibili<strong>da</strong>de de compartilhar arquivos<br />

eletrônicos de grande valia para a comunicação <strong>do</strong> professor com os alunos.<br />

As turmas, sem exceção, estu<strong>da</strong>ram a mesma apostila de uma forma que pudéssemos<br />

explorar bem seu conteú<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com o nível de ca<strong>da</strong> turma. Os alunos iniciantes que<br />

ain<strong>da</strong> não tinham familiari<strong>da</strong>de com a partitura musical foram inicia<strong>do</strong>s de uma maneira<br />

confortável com auxílio <strong>do</strong> livro: Pozzoli II. Parte - dita<strong>do</strong> rítmico. Esses alunos tiveram<br />

apoio <strong>do</strong> professor em quesitos de postura, tais como tronco, braços, pulsos, mãos, de<strong>do</strong>s e<br />

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rebote. Foi demonstra<strong>da</strong> para esta turma a tríade <strong>do</strong> baqueteamento, que envolve o ataque <strong>da</strong><br />

baqueta, seu rebote e o controle deste rebote. O professor exemplificou usan<strong>do</strong> como metáfora<br />

a atitude em controlar o quicar de uma bola de basquete, onde controlamos o movimento <strong>da</strong>s<br />

baquetas de maneira muito similar ao de conduzir uma bola de basquete quican<strong>do</strong>-a ao chão.<br />

Demonstran<strong>do</strong> também a importância entre o eixo e o posicionamento <strong>da</strong>s baquetas nas mãos<br />

<strong>do</strong>s alunos e como podemos usar a gravi<strong>da</strong>de como recurso, poupan<strong>do</strong> esforço físico.<br />

Apesar de ser um processo que pode demorar meses, ou até anos, até que o aluno<br />

obtenha a sensibili<strong>da</strong>de e o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> manuseio <strong>da</strong>s baquetas, o resulta<strong>do</strong> foi positivo e<br />

to<strong>do</strong>s internalizaram bem a importância <strong>do</strong>s fun<strong>da</strong>mentos nos movimentos <strong>do</strong> baqueteamento.<br />

Aos iniciantes (nível I) foi comenta<strong>do</strong> que ali estaríamos plantan<strong>do</strong> uma semente de palmeira<br />

imperial. Para que ela atinja aquele tamanho enorme, quem deve regar a mudinha é o próprio<br />

aluno. Quanto mais ele lembrar de regar a sua planta, estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o rebote e a postura <strong>da</strong>s suas<br />

mãos to<strong>do</strong>s os dias, mais sua palmeira poderá crescer.<br />

Aos alunos intermediários (nível II) ocorreu a mesma explicação inicial, mas com<br />

maior enfoque aos “vícios” que estes já carregavam na sua trajetória com o instrumento. O<br />

professor apontou onde estavam esses ”vícios” de postura, corrigin<strong>do</strong>-os para uma execução<br />

<strong>do</strong>s rudimentos de forma mais clara e menos tensa. Ain<strong>da</strong>, com os alunos mais avança<strong>do</strong>s<br />

(nível III) houve a possibili<strong>da</strong>de de aplicar os rudimentos de uma maneira mais musical,<br />

incorporan<strong>do</strong> locais adequa<strong>do</strong>s para sua execução em determina<strong>do</strong>s trechos musicais.<br />

Assim como os rudimentos, to<strong>do</strong>s os assuntos foram determina<strong>do</strong>s por meses, ten<strong>do</strong><br />

junho como segun<strong>do</strong> mês, e no seu conteú<strong>do</strong>, a elaboração de vira<strong>da</strong>s e criação de ritmos<br />

através de bases pré-grava<strong>da</strong>s. Os alunos receberam duas bases instrumentais envia<strong>da</strong>s por e-<br />

mail (uma no ritmo de funk e outra no ritmo de rock), grava<strong>da</strong>s pelo professor acompanha<strong>da</strong>s<br />

de metrônomo, e passaram por três semanas consecutivas ensaian<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>is temas<br />

propostos. Somente ao término deste assunto foi dito aos alunos que esses temas foram<br />

extraí<strong>do</strong>s de trilhas sonoras de jogos de videogame, causan<strong>do</strong> uma certa surpresa, tanto nos<br />

alunos avança<strong>do</strong>s, como intermediários e iniciantes.<br />

O professor tocou os temas na guitarra acompanhan<strong>do</strong> os estu<strong>da</strong>ntes, <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

sugestões na medi<strong>da</strong> em que eram elabora<strong>da</strong>s as convenções e frasea<strong>do</strong>s aplica<strong>do</strong>s à bateria<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> forma as composições. As aulas foram grava<strong>da</strong>s em <strong>do</strong>is canais (estéreo) através de um<br />

grava<strong>do</strong>r Tascan porta estúdio – II em fitas K-7. Em segui<strong>da</strong>, as fitas foram digitaliza<strong>da</strong>s no<br />

computa<strong>do</strong>r utilizan<strong>do</strong> programas de edição de áudio (Nuen<strong>do</strong> 3 e Soundforge 10), ten<strong>do</strong> o<br />

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professor na guitarra de um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Panning 1 , e <strong>do</strong> outro <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pan o aluno em sua<br />

performance na bateria. O arquivo de áudio no formato de MP3 com o produto final <strong>da</strong><br />

gravação foi encaminha<strong>do</strong> para ca<strong>da</strong> aluno por e-mail com comentários em anexo.<br />

Na última semana <strong>do</strong> mês de junho, os alunos gravaram em definitivo como forma de<br />

avaliação. Os de nível I e II, ain<strong>da</strong> com acompanhamento <strong>do</strong> professor. Os de nível III<br />

gravaram com fones de ouvi<strong>do</strong> conten<strong>do</strong> as duas faixas e metrônomo. Foram avalia<strong>do</strong>s nos<br />

seguintes quesitos com a sequencia de peso: criativi<strong>da</strong>de, pulso (an<strong>da</strong>mento), postura, groove,<br />

vira<strong>da</strong>s, segurança, interativi<strong>da</strong>de e dinâmica. As notas foram encaminha<strong>da</strong>s por e-mail com<br />

as gravações em anexo e comentários <strong>do</strong> professor e to<strong>do</strong>s obtiveram médias superiores a<br />

sete.<br />

Neste processo de gravação os alunos tiveram a possibili<strong>da</strong>de de se auto-avaliarem,<br />

escutan<strong>do</strong> suas performances fora <strong>do</strong> ambiente de sala de aula e ten<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s de<br />

aprendizagem muito benéficos. Além de servir como registro, os alunos perderam<br />

gra<strong>da</strong>tivamente a tensão em saber que estão sen<strong>do</strong> grava<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> assim muito mais<br />

autocontrole perante esta questão quan<strong>do</strong> futuramente forem gravar seus projetos em estúdios.<br />

Retoman<strong>do</strong> as ativi<strong>da</strong>des no mês de agosto e ten<strong>do</strong> como conteú<strong>do</strong> as notas<br />

fantasmas 2 aplica<strong>da</strong>s à caixa-clara, foi elabora<strong>da</strong> uma apostila extraí<strong>da</strong> <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de David<br />

Garibaldi – Future Sounds, conten<strong>do</strong> exercícios específicos envolven<strong>do</strong> a aplicação <strong>da</strong>s notas<br />

fantasmas no estilo funk. O material foi toca<strong>do</strong> na bateria pelo professor no início de ca<strong>da</strong> aula<br />

para que os alunos obtivessem o reconhecimento visual <strong>da</strong> aplicabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> exercício no<br />

instrumento, bem como a relação ao reconhecimento <strong>do</strong>s mesmos exemplifica<strong>do</strong>s em partitura<br />

na apostila referente as notas fantasmas. As lições foram dividi<strong>da</strong>s em três partes com níveis<br />

graduais de dificul<strong>da</strong>de, sen<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> nível de dificul<strong>da</strong>de estu<strong>da</strong><strong>do</strong> pela turma de respectivo<br />

nível (iniciantes, intermediários e avança<strong>do</strong>s) por três semanas. A última aula <strong>do</strong> mês de<br />

agosto foi destina<strong>da</strong> para a apreciação <strong>do</strong> vídeo <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Future Sounds que acompanha um<br />

DVD com o próprio David Garibaldi demonstran<strong>do</strong> na bateria suas técnicas com o<br />

instrumento.<br />

Com o uso <strong>do</strong> recurso <strong>da</strong> vídeo-aula temos uma observação de Ferrés (1996, p. 34):<br />

1 Balanço ou Pan - <strong>do</strong>is canais de emissão de fontes sonoras. La<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> e direito, forman<strong>do</strong> o som estéreo.<br />

2 Notas não acentua<strong>da</strong>s - toca<strong>da</strong>s com extrema suavi<strong>da</strong>de, chama<strong>da</strong>s também de notas fantasmas. Para executálas,<br />

os de<strong>do</strong>s, pulsos e braços devem estar livres de qualquer tensão. São toca<strong>da</strong>s geralmente no centro <strong>da</strong> pele <strong>da</strong><br />

caixa-clara.<br />

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O vídeo pode liberar o professor <strong>da</strong>s tarefas menos nobres, permitin<strong>do</strong>-lhe ser, antes<br />

de tu<strong>do</strong>, pe<strong>da</strong>gogo e educa<strong>do</strong>r. As tarefas mais mecânicas, como difusor de<br />

conhecimentos ou mero transmissor de informações, foram confia<strong>da</strong>s às novas<br />

tecnologias (sobretu<strong>do</strong> ao vídeo e ao computa<strong>do</strong>r), reservan<strong>do</strong>-se ao professor<br />

tarefas mais especificamente humanas: motivar condutas, orientar o trabalho <strong>do</strong>s<br />

alunos, resolver suas dúvi<strong>da</strong>s, atendê-las segun<strong>do</strong> o nível individual de<br />

aprendizagem. Nessas tarefas o professor é insubstituível. Nas demais, as máquinas<br />

podem fazer muito melhor que ele (FERRÉS, 1996, p. 34).<br />

Durante o mês de setembro os estu<strong>do</strong>s foram volta<strong>do</strong>s para a peça de maior volume,<br />

tanto físico quanto sonoro na composição de uma bateria: “O mês <strong>do</strong> bumbo”. O professor<br />

usou a quarta série <strong>do</strong> livro Pozzoli II. Parte - dita<strong>do</strong> rítmico de uma maneira inusita<strong>da</strong>. Pois<br />

ele sempre é destina<strong>do</strong> ao estu<strong>do</strong> de caixa-clara usan<strong>do</strong> ostinatos com os pés. Foi proposto a<br />

inversão destes papéis onde os alunos elaboraram os ostinatos com as mãos e aplicaram as<br />

figuras rítmicas <strong>da</strong> quarta série <strong>do</strong> livro (destina<strong>da</strong> as pausas <strong>da</strong>s semicolcheias) no bumbo <strong>da</strong><br />

bateria.<br />

Os alunos discutiram, com mediação <strong>do</strong> professor, identifican<strong>do</strong> quais figuras eram<br />

as mais usuais para serem aplica<strong>da</strong>s na peça em questão. Identifica<strong>da</strong>s as melhores figuras<br />

rítmicas, o professor pediu para que criassem uma combinação com quatro figuras diferentes<br />

e que executassem na bateria sequencialmente, forman<strong>do</strong> assim quatro compassos com uma<br />

frase bem mais longa <strong>do</strong> que as usualmente aplica<strong>da</strong>s no ensino tradicional rítmico para o<br />

bumbo <strong>da</strong> bateria. Foi uma experiência na qual os alunos não só identificaram quais grupos de<br />

notas eram mais funcionais para a execução no bumbo, como também criaram suas próprias<br />

frases e ganharam mais veloci<strong>da</strong>de e segurança na execução com o pe<strong>da</strong>l <strong>do</strong> bumbo.<br />

As frases foram escritas em partitura pelos alunos e ca<strong>da</strong> um também desenvolveu o<br />

ostinato com as mãos envolven<strong>do</strong> a caixa-clara e o chimbal para acompanhar o bumbo. O<br />

professor criou e gravou uma performance sua com o tema proposto e as performances de<br />

ca<strong>da</strong> aluno usan<strong>do</strong> um notebook com um microfone externo. Nos <strong>do</strong>is meses seguintes o<br />

professor compôs e gravou linhas de guitarras e baixo para ca<strong>da</strong> linha de bateria <strong>do</strong>s alunos.<br />

Esse material se transformou em um CD com 15 faixas e foram encaminha<strong>da</strong>s cópias para os<br />

alunos matricula<strong>do</strong>s.<br />

Dan<strong>do</strong> continui<strong>da</strong>de ao trabalho, no mês de outubro foi proposta uma apostila<br />

envolven<strong>do</strong> um ritmo nordestino (baião) e seus des<strong>do</strong>bramentos em registros de partitura.<br />

Esta apostila continha a célula rítmica básica <strong>do</strong> baião e a partir desta célula, com a inserção<br />

de outras notas, a transformação em outros estilos musicais. Assim, os alunos notaram que um<br />

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baião pode virar um Drum n’ Bass 3 facilmente. Foram expostos 16 tipos de variações com o<br />

baião em diferentes níveis. Os alunos iniciantes conseguiram tocar e internalizar o baião e o<br />

Drum n’ Bass. Os intermediários conseguiram ain<strong>da</strong> tocar esses ritmos com a condução em<br />

semicolcheias. Os avança<strong>do</strong>s conseguiram também tocar com pausas nas conduções em<br />

semicolcheias.<br />

Retomamos o processo de gravação para obtermos mais uma avaliação no mês de<br />

novembro com a apresentação de <strong>do</strong>is ritmos comuns para a bateria: o Blues e o Shuffle 4 . Os<br />

alunos escolheram um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is ritmos para a gravação depois <strong>da</strong> apresentação na bateria<br />

destes ritmos pelo professor. To<strong>do</strong>s os alunos escolheram gravar o Blues, claramente por ser<br />

um estilo musical mais familiar para to<strong>do</strong>s.<br />

Durante três semanas de ensaio os alunos gravaram um tema de blues préestabeleci<strong>do</strong>,<br />

sempre acompanha<strong>do</strong>s pelo professor na guitarra elétrica. As gravações foram<br />

envia<strong>da</strong>s para os alunos por e-mail com comentários e suas respectivas notas. To<strong>do</strong>s os alunos<br />

obtiveram uma boa performance de acor<strong>do</strong> com o seu nível e os critérios de avaliação foram<br />

de sensibili<strong>da</strong>de e segurança no tema proposto, como também a presença em sala de aula e a<br />

participação de ca<strong>da</strong> aluno no decorrer <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des.<br />

Os registros de to<strong>do</strong>s os trabalhos realiza<strong>do</strong>s durante as aulas foram grava<strong>do</strong>s em um<br />

DVD e encaminha<strong>do</strong>s para ca<strong>da</strong> aluno, com suas respectivas performances no instrumento<br />

durante to<strong>do</strong> o ano letivo, como forma de registro individual. Ain<strong>da</strong> foi elabora<strong>da</strong> uma lista de<br />

“músicas de férias” propon<strong>do</strong> músicas para os alunos. Essas músicas foram escolhi<strong>da</strong>s a partir<br />

<strong>da</strong> son<strong>da</strong>gem feita no início <strong>da</strong> experiência, respeitan<strong>do</strong> a vivencia musical <strong>do</strong>s alunos e ten<strong>do</strong><br />

a intenção em expandi-la.<br />

Em fevereiro de <strong>2011</strong>, teve o início <strong>do</strong> ano com sete alunos novatos na disciplina<br />

(sen<strong>do</strong> quatro ingressos no curso subsequente e três no ensino médio em música),<br />

estabelecemos a to<strong>do</strong>s novos horários para evitar choques com outras disciplinas cursa<strong>da</strong>s e<br />

iniciamos novamente os estu<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s rudimentos com outro tipo de abor<strong>da</strong>gem, no qual<br />

aplicamos os rudimentos nas peças <strong>da</strong> bateria e não mais somete à caixa-clara.<br />

3 Tipo de música eletrônica que surgiu em mea<strong>do</strong>s de 1990. Esse gênero é caracteriza<strong>do</strong> por bati<strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s,<br />

entre 160 e 190 bpm.<br />

4 Estilo musical que se posiciona entre o jazz e o blues.<br />

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O exercício proposto e elabora<strong>do</strong> em uma apostila continha grupos de exercícios<br />

transcritos em partitura abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os toques simples, duplos, paradiddle, flams, e drags 5<br />

aplica<strong>do</strong>s nas peças <strong>da</strong> bateria, e sen<strong>do</strong> assim, muito benéfico para uma abertura <strong>da</strong> linguagem<br />

<strong>da</strong>s vira<strong>da</strong>s <strong>do</strong> instrumento para to<strong>do</strong>s os níveis.<br />

No mês de abril deu-se início aos ensaios <strong>da</strong>s “músicas de férias” sugeri<strong>da</strong>s no ano<br />

anterior, para a gravação de um vídeo-clip com os alunos intermediários e avança<strong>do</strong>s em sua<br />

performance com as músicas seleciona<strong>da</strong>s no perío<strong>do</strong> de recesso. Alguns não levaram a sério<br />

até ver o resulta<strong>do</strong> de um vídeo grava<strong>do</strong> e edita<strong>do</strong> pelo professor <strong>da</strong> música “Spin you<br />

Around” <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> de rock-alternativo Puddle of Mudd. O vídeo foi posta<strong>do</strong> no canal de<br />

vídeos <strong>do</strong> professor no Youtube 6 e man<strong>da</strong><strong>do</strong> o link via e-mail para to<strong>do</strong>s os alunos.<br />

Deste modelo edita<strong>do</strong>, os alunos se sentiram bastante incentiva<strong>do</strong>s para fazer um<br />

trabalho no mesmo nível, mas fican<strong>do</strong> claro que o objetivo seria de se sentir acompanhan<strong>do</strong> a<br />

música <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>/artista proposto. Respeitan<strong>do</strong> assim, os “climas” sonoros e crian<strong>do</strong> com<br />

personali<strong>da</strong>de suas bati<strong>da</strong>s, “dublan<strong>do</strong>” a bateria grava<strong>da</strong> pelo artista <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>.<br />

Para a gravação <strong>da</strong>s “músicas de férias” durante o mês de abril, foi realiza<strong>da</strong> uma<br />

sequencias de ativi<strong>da</strong>des como segue: o professor grava com a câmera acopla<strong>da</strong> <strong>do</strong> notebook,<br />

sincroniza o áudio <strong>da</strong> bateria grava<strong>da</strong> pelo aluno com a faixa musical seleciona<strong>da</strong>, realiza uma<br />

pequena edição com softwares de áudio e vídeo (Logic Pro Studio 9 e iMovie), efetua o<br />

upload <strong>do</strong>s vídeos no formato de mp4 em um link priva<strong>do</strong> e disponibiliza esse link por e-mail<br />

para que o aluno assista em casa. Juntamente com o link o professor dá sugestões em partes<br />

específicas <strong>da</strong>s performances. Como: “Sinta que está acompanhan<strong>do</strong> o artista” ou ain<strong>da</strong>:<br />

“Economize notas pra não sair <strong>do</strong> tempo <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>”.<br />

Juntamente com o “música de férias”, foi coloca<strong>da</strong> uma proposta inespera<strong>da</strong><br />

apeli<strong>da</strong><strong>da</strong> de: “te meti em rouba<strong>da</strong>”. Que consiste em uma meto<strong>do</strong>logia de ensino de bateria<br />

capaz de colocar o aluno frente a um desafio muito comum para o baterista popular: o<br />

acompanhamento de artistas sem ensaio prévio. Buscan<strong>do</strong> músicas conheci<strong>da</strong>s <strong>do</strong> senso<br />

comum, o professor propõe ao aluno o desafio de ter que acompanhar a música naquele<br />

instante. Instigan<strong>do</strong> assim o pensamento intuitivo, uma maior abertura ao vocabulário rítmico<br />

e de pulso interno <strong>do</strong> baterista.<br />

5 Variações entre as manulações e distância <strong>do</strong>s toques no baqueteamento.<br />

6 http://www.youtube.com/user/btoorrez?feature=mhum#p/u/8/rR__KjC0Avw<br />

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Este material, tanto o “música de férias” como o “te meti em rouba<strong>da</strong>”, irá se<br />

transformar em <strong>do</strong>is DVD’s. Um disco conten<strong>do</strong> a performance individual e encaminha<strong>da</strong><br />

para ca<strong>da</strong> aluno, e outro sen<strong>do</strong> uma coletiva de to<strong>do</strong>s os alunos e encaminha<strong>do</strong> para a direção<br />

<strong>do</strong> núcleo, coordenação, direção de ensino e reitoria <strong>do</strong> instituto.<br />

Conclusões e reflexões<br />

Durante este processo no ensino de bateria (instrumento musical), podemos observar<br />

como os recursos tecnológicos podem facilitar a comunicação entre professor e aluno. Nunca<br />

foi tão fácil o acesso à informação e, podemos aqui enfatizar também, a rapidez de como as<br />

meto<strong>do</strong>logias em educação musical tem expandi<strong>do</strong> seus horizontes na busca muito mais <strong>do</strong><br />

musical, <strong>do</strong> respeito <strong>do</strong>s gostos, <strong>da</strong>s culturas locais e <strong>do</strong>s mun<strong>do</strong>s musicais <strong>do</strong> que o<br />

“adestramento” <strong>do</strong>s seus alunos. Não podemos descartar essas ferramentas atuais, e sim<br />

conectá-las aos méto<strong>do</strong>s mais eficazes detecta<strong>do</strong>s cientificamente pelas nossas academias de<br />

ensino.<br />

Devemos sensibilizar o aluno de música desde ce<strong>do</strong> para que ele se lembre de regar<br />

sua “palmeira”, seja com exercícios complexos de independência motora ou simplesmente<br />

lembrar-se de com cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s em relação a postura e, principalmente, sensibili<strong>da</strong>de musical. O<br />

aluno deve ser instiga<strong>do</strong> a sempre se auto-avaliar de um mo<strong>do</strong> em que ele faça um bom elo<br />

entre com o seu instrumento e se destaque no merca<strong>do</strong> por ter uma visão ampla e própria <strong>do</strong><br />

musical.<br />

A gravação <strong>do</strong>s alunos demonstra uma reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> músico que até então estava de<br />

fora <strong>da</strong>s instituições de ensino de música. Sen<strong>do</strong> uma forma de registro permanente onde será<br />

possível (re)ver erros, acertos e o quanto sua “palmeira” cresceu no decorrer <strong>do</strong>s anos.<br />

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Fotos <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> ensino médio integra<strong>do</strong> em música<br />

FIGURA 1 – Aluna iniciante <strong>do</strong><br />

ensino médio integra<strong>do</strong> em música.<br />

Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> “chá-com-pão”.<br />

FIGURA 2 – Aluna intermediária<br />

<strong>do</strong> ensino médio integra<strong>do</strong> em<br />

música. Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s rudimentos<br />

aplica<strong>do</strong>s as peças <strong>da</strong> bateria.<br />

FIGURA 3 – Aluno intermediário<br />

<strong>do</strong> ensino médio integra<strong>do</strong> em<br />

música. Gravações <strong>da</strong>s “Músicas<br />

de férias”.<br />

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Referências<br />

APOSTILA <strong>do</strong>s rudimentos. Disponível em: .<br />

Acesso em: 25 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

APOSTILA “Brincan<strong>do</strong> com o baião”. Disponível em: <br />

p.152. Acesso em: 25 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

FERRÉS, Joan. Vídeo e educação. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1996.<br />

GARIBALDI, David. Future Sounds. Disponível para <strong>do</strong>wnload em:<br />

. Acesso em: 25<br />

de abril de <strong>2011</strong>.<br />

GOHN, Daniel Marcondes. Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnológicas. São Paulo:<br />

Annablume/ Fapesp, 2003.<br />

PERRENOUD, Phillippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patricia Chittoni Ramos –<br />

Artmed, 2000. 181 p. p.29.<br />

POZZOLI. Guia teórico-prático para o ensino <strong>do</strong> dita<strong>do</strong> musical – I & II partes, Ed. Ricordi, 1983.<br />

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O Ensino de Análise Musical a Partir de Pressupostos Estéticos<br />

Andrea Mischiatti Silva<br />

IA/UNESP<br />

andrea_mischiatti@hotmail.com<br />

Dorotéa Macha<strong>do</strong> Kerr<br />

IA/UNESP<br />

<strong>do</strong>rotea@ia.unesp.br<br />

Resumo: Esta comunicação trata <strong>da</strong> pesquisa de mestra<strong>do</strong> em an<strong>da</strong>mento intitula<strong>da</strong> “A<br />

Disciplina Análise Musical em Instituições de Ensino Superior <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo”, que<br />

tem como objetivo geral verificar o esta<strong>do</strong> atual <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> disciplina nestas instituições.<br />

Abor<strong>da</strong>mos um ponto específico <strong>da</strong> investigação ora realiza<strong>da</strong>, de acor<strong>do</strong> com o qual a<br />

identificação com determina<strong>da</strong> concepção estética, por parte <strong>do</strong> analista/professor de Análise,<br />

pode influenciar a compreensão <strong>do</strong> leitor/aluno acerca de uma determina<strong>da</strong> obra musical.<br />

Conclui-se que o procedimento fenomenológico no ensino de análise, segun<strong>do</strong> demonstração<br />

de Koellreutter (1989), parece ser o mais adequa<strong>do</strong> para tentar se chegar a um conhecimento<br />

mais completo de uma obra, e deve ser incentiva<strong>do</strong> nas práticas analíticas <strong>da</strong>s diversas<br />

instituições de ensino musical.<br />

Palavras-chave: Análise musical, ensino superior, fenomenologia.<br />

1. Introdução<br />

Diferentes tentativas de se explicar a música e suas funções correspondem a<br />

transformações ideológicas não apenas <strong>do</strong> campo musical como também <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em<br />

seus vários <strong>do</strong>mínios. Para exemplificar essa ideia, pode-se verificar como as mu<strong>da</strong>nças pelas<br />

quais têm passa<strong>do</strong> a disciplina Análise Musical revelam diferentes matizes <strong>do</strong> pensamento<br />

musical ao longo <strong>do</strong>s tempos, que têm afeta<strong>do</strong>, constantemente, a relevância e significa<strong>do</strong><br />

dessa área.<br />

Realizan<strong>do</strong> uma investigação sobre os elementos que constituem uma obra musical e<br />

sobre a função que eles exercem em sua estrutura como um to<strong>do</strong>, a Análise, entre outras<br />

características, pode fun<strong>da</strong>mentar interpretações musicais, possibilitar o conhecimento <strong>da</strong><br />

linguagem de um compositor e/ou sua época, fun<strong>da</strong>mentar juízos artísticos e transformar a<br />

primeira impressão <strong>da</strong> obra musical (DAHLHAUS, 1977).<br />

Esta comunicação baseia-se na pesquisa de mestra<strong>do</strong> em an<strong>da</strong>mento intitula<strong>da</strong> “A<br />

Disciplina Análise Musical em Instituições de Ensino Superior <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de São Paulo”,<br />

financia<strong>da</strong> pela CAPES, que tem como objetivo geral verificar o esta<strong>do</strong> atual <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

disciplina nestas instituições. O estu<strong>do</strong> visa responder os seguintes questionamentos: 1) qual o<br />

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atual grau de interesse e de desempenho apresenta<strong>do</strong> pelos alunos de instituições de ensino de<br />

música, na disciplina Análise Musical?; 2) de que mo<strong>do</strong> têm si<strong>do</strong> transmiti<strong>do</strong>s os conteú<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> disciplina nestas instituições? Os resulta<strong>do</strong>s ora apresenta<strong>do</strong>s são parciais e abor<strong>da</strong>m um<br />

aspecto específico <strong>da</strong> investigação até então realiza<strong>da</strong>: diferentes concepções estéticas acerca<br />

<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> obra de arte. Parte-se <strong>da</strong> hipótese de que a identificação com determina<strong>da</strong><br />

concepção, pelo analista ou professor de Análise, pode influenciar a compreensão <strong>do</strong><br />

leitor/aluno acerca de uma determina<strong>da</strong> obra musical. Busca-se enfatizar a eficiência <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> análise fenomenológica no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s obras, segun<strong>do</strong> demonstração de<br />

Koellreutter (1989).<br />

Justifico esta pesquisa pela possibili<strong>da</strong>de de se vir a descobrir sobre o interesse e o<br />

desempenho <strong>do</strong>s alunos nesta disciplina, e se estão conecta<strong>do</strong>s à meto<strong>do</strong>logia de ensino e aos<br />

méto<strong>do</strong>s analíticos emprega<strong>do</strong>s pelos professores <strong>da</strong> área. A pesquisa também se justifica por<br />

buscar fornecer subsídios para avaliação <strong>da</strong> área e para atuação, se necessária for.<br />

2. Meto<strong>do</strong>logia e Fun<strong>da</strong>mentação Teórica<br />

O trabalho apresenta três fases distintas: 1) O levantamento de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, que envolve<br />

análise quantitativa, onde foi feita uma relação <strong>da</strong>s instituições de ensino superior de música –<br />

dentre universi<strong>da</strong>des e facul<strong>da</strong>des – existentes na ci<strong>da</strong>de de São Paulo, além <strong>da</strong> análise de seus<br />

currículos para verificação <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> Análise Musical como disciplina; 2) Investigação e<br />

estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s teóricos aponta<strong>do</strong>s na bibliografia que serve de suporte ao oferecimento <strong>da</strong><br />

disciplina, nos cursos de música encontra<strong>do</strong>s; 3) Estu<strong>do</strong> crítico e interpretativo (análise<br />

qualitativa) <strong>da</strong> situação <strong>da</strong> transmissão <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> disciplina Análise Musical, por parte<br />

<strong>do</strong>s professores, e de sua recepção, por parte <strong>do</strong>s alunos.<br />

Para a primeira fase <strong>do</strong> trabalho, os procedimentos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s foram a consulta a<br />

<strong>do</strong>cumentos, livros, sites, publicações, entre outros itens que comprovam a existência <strong>da</strong>s<br />

instituições formais incluí<strong>da</strong>s neste estu<strong>do</strong>. A investigação e estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s teóricos que embasam<br />

os cursos de Análise, fase em que atualmente encontra-se a pesquisa, por sua vez, têm si<strong>do</strong><br />

feitos com base nos modelos de Bardin (1977) e Ferreira (2002), que defendem a análise de<br />

conteú<strong>do</strong> para a identificação de temas e meto<strong>do</strong>logias emprega<strong>da</strong>s. Dentro <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

específico <strong>do</strong>s teóricos de Análise Musical, serão verifica<strong>do</strong>s que modelos têm si<strong>do</strong> mais<br />

emprega<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>centes no ensino <strong>da</strong> disciplina.<br />

A fase final <strong>do</strong> trabalho se baseará em modelos de teóricos de Musicologia, Teoria,<br />

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História <strong>da</strong> Música e Análise Musical, tais como os de Palisca (1982) – que fornece um<br />

indicativo <strong>do</strong> momento e razões <strong>da</strong> fusão ocorri<strong>da</strong> entre as disciplinas Teoria e Análise –, e<br />

Whittall (1988) e Kerman (1985) – que apresentam textos críticos sobre a disciplina. A partir<br />

destes modelos, serão utiliza<strong>da</strong>s técnicas como observação, questionários e entrevistas, a fim<br />

de se verificar e analisar como a disciplina tem si<strong>do</strong> ministra<strong>da</strong> e recebi<strong>da</strong> nestes meios, um<br />

<strong>do</strong>s objetivos <strong>da</strong> presente pesquisa. Esta constituirá um “estu<strong>do</strong> multicasos” (TRIVIÑOS,<br />

1987), em que mais de uma instituição será pesquisa<strong>da</strong> sem, no entanto, haver um estu<strong>do</strong><br />

comparativo. A avaliação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s se utilizará, essencialmente, de procedimentos<br />

analíticos, descritivos e hipotético-dedutivos a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s e conhecimentos obti<strong>do</strong>s.<br />

Na presente comunicação, discorrerei sobre as características <strong>do</strong> pensamento estético<br />

de Schleiermacher e Dilthey (CAZNOK, 1993?), Pareyson (1997) e Heidegger<br />

(FIGUEIREDO, 1994). Em segui<strong>da</strong>, procurarei relacioná-las ao fazer analítico-musical.<br />

Apresentarei, também, algumas reflexões críticas acerca <strong>da</strong> atual eficácia, na Análise, <strong>do</strong>s<br />

pressupostos teóricos aponta<strong>do</strong>s neste estu<strong>do</strong>.<br />

Finalmente, tratarei <strong>da</strong> questão específica <strong>do</strong> ensino de Análise Musical, levan<strong>do</strong>-se<br />

em conta as idéias <strong>do</strong>s autores anteriormente apresenta<strong>do</strong>s. Exemplificaremos com uma<br />

possível abor<strong>da</strong>gem de ensino de Análise Musical segun<strong>do</strong> as ideias de Koellreutter (1989).<br />

3. O Sujeito e o Objeto na Compreensão <strong>da</strong> Obra de Arte<br />

Desde o século XIX, uma explicação para o senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> obra musical tem si<strong>do</strong><br />

bastante difundi<strong>da</strong>: ela serve para traduzir os sentimentos <strong>do</strong> ouvinte por meio de sons,<br />

oferecen<strong>do</strong> uma possibili<strong>da</strong>de que as palavras escritas não seriam capaz de realizar por<br />

conterem um campo de significações limita<strong>do</strong>, enquanto a música, com sua “incorporei<strong>da</strong>de<br />

sonora” (CAZNOK, 1993?, p. 1), oferece uma abertura a múltiplas interpretações. Dois<br />

filósofos, Schleiermacher (1768-1834) e Dilthey (1833-1911), enfatizam esta concepção em<br />

uma abor<strong>da</strong>gem hermenêutica.<br />

Talvez uma <strong>da</strong>s principais diferenças entre o pensamento de ambos os autores,<br />

quanto à questão estética, seja o fato de que, para Schleiermacher, o sujeito que aprecia passa<br />

por um processo cujo fim seria o resgate <strong>do</strong>s mesmos sentimentos experimenta<strong>do</strong>s pelo artista<br />

no momento de sua criação, enquanto que, para Dilthey (em sua segun<strong>da</strong> fase), o mesmo<br />

processo levaria à compreensão <strong>da</strong> obra em si mesma. Contu<strong>do</strong>, ambas as concepções não<br />

excluem a importância <strong>do</strong> indivíduo para se chegar a tais finali<strong>da</strong>des, sen<strong>do</strong> esta uma<br />

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característica típica <strong>do</strong> pensamento romântico segun<strong>do</strong> o qual é o subjetivismo <strong>do</strong> homem o<br />

ponto de parti<strong>da</strong> para qualquer entendimento externo.<br />

Há nessas concepções, cheias de ideias próprias <strong>do</strong> Romantismo, notamos uma<br />

diferenciação entre “sujeito” e “objeto”: sujeito é um ser contemplativo, e o objeto – a obra de<br />

arte – apresenta proprie<strong>da</strong>des que a tornam capaz de interagir com o sujeito no momento <strong>da</strong><br />

contemplação. Toman<strong>do</strong>-se como exemplo o caso <strong>da</strong> música, é na melodia que o sujeito<br />

romântico melhor encontra identificação com a obra – “o sujeito está para o mun<strong>do</strong> assim<br />

como a melodia está para os outros sons” (CAZNOK, 1993?, p. 3). E quan<strong>do</strong> não existe<br />

melodia? Neste caso, o sujeito não “se encontra”, e se torna mais difícil estabelecer uma<br />

afini<strong>da</strong>de entre o ouvinte e a música, pois a ausência de melodia causa uma sensação<br />

comparável à per<strong>da</strong> de um refúgio.<br />

Os estudiosos de estética <strong>do</strong> século XX, inseri<strong>do</strong>s em suas próprias reali<strong>da</strong>des<br />

históricas, passam a incluir questões relaciona<strong>da</strong>s a esta em suas concepções filosóficas, visto<br />

que a filosofia e as artes sempre foram um reflexo <strong>da</strong>s transformações sociais e ideológicas<br />

que ocorrem ao longo <strong>do</strong>s tempos. Dois autores principais, Pareyson e Heidegger, também se<br />

voltam sobre o tema.<br />

Luigi Pareyson, filósofo italiano, em seu trabalho intitula<strong>do</strong> “Os Problemas <strong>da</strong><br />

Estética” (1997, p. 21), explica que há três definições de arte que foram consagra<strong>da</strong>s pela<br />

história: a arte como fazer, como conhecer ou como exprimir. Ele enfatiza mais a primeira<br />

definição, segun<strong>do</strong> a qual o essencial <strong>da</strong> arte é a execução, a realização, o que não a diferente<br />

muito <strong>da</strong>s demais ativi<strong>da</strong>des humanas. Assim, o autor vê como perigosa a definição de arte<br />

como “expressão <strong>do</strong>s sentimentos” – ideia, entretanto, amplamente aceita pelo pensamento<br />

romântico –, porque, para ele, arte é também expressão, consideran<strong>do</strong>-se que é impossível o<br />

sujeito que faz uma obra artística abster-se completamente de emoções e sentimentos.<br />

Em síntese, Pareyson defende que “a arte é produção e realização em senti<strong>do</strong><br />

intensivo, eminente, absoluto, a tal ponto que, com freqüência, foi, na ver<strong>da</strong>de, chama<strong>da</strong><br />

criação [...]” (PAREYSON, 1997, p. 25). No entanto, a obra não é concebi<strong>da</strong> apenas por meio<br />

<strong>do</strong> “fazer”, mas também pelo “criar antes de fazer”. A realização potencializa a ideia, mas ela<br />

é apenas um acabamento. Pareyson defende a arte como formativi<strong>da</strong>de. A palavra forma,<br />

segun<strong>do</strong> o autor, tem aqui o senti<strong>do</strong> de “formar”, pois uma obra de arte nunca está pronta, mas<br />

em processo de construção, de realização. No caso <strong>da</strong> música, isto pode ser exemplifica<strong>do</strong><br />

pelo fato de que uma peça musical só existe por meio <strong>do</strong> intérprete, que reconstrói a ideia <strong>do</strong><br />

compositor.<br />

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Na estética <strong>da</strong> formativi<strong>da</strong>de entende-se as obras como sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s de uma<br />

legali<strong>da</strong>de interna, ao mesmo tempo em que têm uma beleza artística dinâmica.<br />

Outro autor que interessa neste texto é Heidegger, que trata <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> obra de<br />

arte como sen<strong>do</strong> esta <strong>do</strong>ta<strong>da</strong> de uma espécie de vi<strong>da</strong> própria. Sua postura, perante os<br />

significa<strong>do</strong>s possíveis <strong>da</strong> obra de arte, entretanto, é diferente de tu<strong>do</strong> o que já havia si<strong>do</strong><br />

escrito a respeito até então, pois o Heidegger defende uma ver<strong>da</strong>deira emancipação <strong>da</strong> obra de<br />

arte <strong>do</strong> horizonte <strong>da</strong> estética.<br />

Figueire<strong>do</strong>, em seu livro “Escutar, Recor<strong>da</strong>r, Dizer – <strong>Encontro</strong>s Heideggerianos”, em<br />

que trata de interpretar o pensamento <strong>do</strong> filósofo alemão, explica que o autor defendia a<br />

redução <strong>da</strong> obra à condição de elemento expressivo e estimula<strong>do</strong>r de vivências sensíveis e<br />

afetivas – e esta seria a emancipação <strong>da</strong> arte (FIGUEIREDO, 1994, p. 79). O sujeito deve<br />

tornar a obra livre de qualquer uso interessa<strong>do</strong>, deixar que ela se mostre puramente como é, e<br />

permitir o confronto com a obra. Quan<strong>do</strong> a arte é emancipa<strong>da</strong> <strong>da</strong> estética, passa a haver maior<br />

valorização <strong>do</strong>s sentimentos e pensamentos <strong>do</strong> “aprecia<strong>do</strong>r” com relação à obra; logo, to<strong>da</strong>s<br />

as múltiplas impressões sobre aquela determina<strong>da</strong> obra são váli<strong>da</strong>s, até aquelas que são<br />

contrárias ao próprio princípio delas, ou ao conceito de belo (supostamente algo imutável). O<br />

belo torna-se algo móvel, variável.<br />

Caznok explica o pensamento de Heidegger segun<strong>do</strong> o qual “a obra de arte tem uma<br />

função hermenêutica, que é a revelação”. Esta acontece nos momentos de ruptura, quan<strong>do</strong><br />

alguma coisa, inespera<strong>da</strong>mente, “rasga ser invólucro e se nos apresenta não mais como<br />

coisa/objeto, mas como um mun<strong>do</strong>, como uma totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> qual nós também fazemos parte<br />

[...]” (CAZNOK, 1993?, p. 4).<br />

4. Influência e Eficácia de Pressupostos Estéticos para o Fazer Analítico-<br />

Musical<br />

Analisar uma obra musical é uma ação que envolve escolhas estéticas anteriores à<br />

própria análise e que, muitas vezes, não são percebi<strong>da</strong>s pelo sujeito. Quan<strong>do</strong> se ouve, por<br />

exemplo, o Minueto em Sol Maior de J. S. Bach tentan<strong>do</strong> compreender o que fez o<br />

compositor levar o ouvinte a uma nova ocorrência sonora na segun<strong>da</strong> parte, o foco prioriza as<br />

intenções <strong>do</strong> compositor. Pode-se ouvir esta mesma peça, em busca de reconstruí-la e<br />

compreendê-la. Há quem possa apreciar tal obra de maneira subjetiva, mas sem perder o<br />

caráter filosófico que a estética exige. Outra audição possível seria aquela em que<br />

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simplesmente se ouve, deixan<strong>do</strong> que os sons se revelem a nós em sua forma mais pura,<br />

tornan<strong>do</strong>-nos ouvintes que permitem que a obra nos transforme à sua maneira, em to<strong>da</strong> sua<br />

plenitude; neste último caso, há a ausência de um pressuposto estético. Os três exemplos de<br />

análise anteriormente referi<strong>do</strong>s são ilustrações práticas <strong>da</strong>s concepções menciona<strong>da</strong>s no<br />

presente texto.<br />

Se perguntássemos a um leigo, após a audição <strong>da</strong> peça em questão, quais foram suas<br />

impressões pessoais com relação a ela, provavelmente a resposta seria uma variação de um<br />

<strong>do</strong>s tipos de análise exemplifica<strong>do</strong>s – talvez os <strong>do</strong>is primeiros exemplos sejam ain<strong>da</strong> os mais<br />

presentes nas respostas. Até os dias atuais pre<strong>do</strong>mina a audição que poderia ser chama<strong>da</strong> de<br />

“romantiza<strong>da</strong>” <strong>da</strong> música, ou seja, centra<strong>da</strong> na percepção a partir de um sujeito sensível. Ao<br />

nos emocionarmos e nos identificarmos, por exemplo, com ca<strong>da</strong> movimento de tensão e<br />

resolução de uma melodia, como se estivéssemos acompanhan<strong>do</strong> um texto dramático,<br />

estamos nos portan<strong>do</strong> como ouvintes que apreciam a cama<strong>da</strong> externa <strong>da</strong> música, responsável<br />

por conduzir nossos sentimentos.<br />

Uma hipótese sobre a razão pela qual a música contemporânea atonal, por exemplo,<br />

não consegue encher as salas de concerto <strong>da</strong> mesma maneira que os concertos com música<br />

tonal o fazem, pode estar relaciona<strong>da</strong> a esta audição pre<strong>do</strong>minante. Por um la<strong>do</strong>, o ouvinte<br />

não consegue se identificar imediatamente com a música especificamente atonal, pois não há<br />

uma melodia que lhes possa servir de suporte, e, por outro, estes ouvintes não estão<br />

prepara<strong>do</strong>s para o “enfrentamento” <strong>do</strong> som em sua forma pura, sem um significa<strong>do</strong> palpável,<br />

que devolve ao sujeito a falta de significa<strong>do</strong> que é própria dele mesmo – como propõe<br />

Heidegger (FIGUEIREDO, 1994). Para que um indivíduo consiga realizar a audição a partir<br />

<strong>da</strong>s idéias propostas por este filósofo, seria necessária uma quebra de fortes paradigmas<br />

estabeleci<strong>do</strong>s pela mentali<strong>da</strong>de romântica. Pode-se dizer que este autor, um <strong>do</strong>s mais radicais<br />

representantes <strong>da</strong> fenomenologia, fornece ferramentas filosóficas que podem auxiliar os<br />

estu<strong>do</strong>s sobre a música contemporânea.<br />

Outro fato a ser aqui ressalta<strong>do</strong>, é o de que o ouvinte ouve, ca<strong>da</strong> vez menos, uma<br />

obra musical pensan<strong>do</strong> em seu caráter filosófico. Pareyson (1997), entretanto, enfatiza<br />

justamente este aspecto <strong>da</strong> audição. No atual fazer analítico-musical, talvez tenha mais<br />

interesse a parte de sua estética que concerne ao caráter formativo <strong>da</strong> obra de arte: ela é<br />

também expressão, mas antes de tu<strong>do</strong>, uma ideia posta em prática na forma de uma<br />

composição.<br />

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5. O Ensino de Análise Musical e a Fenomenologia<br />

De acor<strong>do</strong> com a abor<strong>da</strong>gem fenomenológica, o ponto de parti<strong>da</strong> para a compreensão<br />

de um objeto é sempre o sujeito, na concepção de pensamento acerca <strong>da</strong> estética. A seguir,<br />

apresentarei um panorama <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>da</strong> prática <strong>da</strong> Análise Musical enquanto<br />

disciplina para, em segui<strong>da</strong>, apontar a possibili<strong>da</strong>de de ensino de Análise basea<strong>da</strong> na<br />

fenomenologia, trazi<strong>da</strong> pelo teórico e educa<strong>do</strong>r musical H. J. Koellreutter (1989).<br />

O reconhecimento <strong>da</strong> Análise Musical como uma disciplina autônoma no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

música, segun<strong>do</strong> Versolato (2008, p. 16), deu-se “a partir <strong>da</strong> congruência de diversos eventos<br />

ocorri<strong>do</strong>s no âmbito não só <strong>da</strong> música, mas <strong>da</strong>s artes e <strong>da</strong> cultura como um to<strong>do</strong>”. Para<br />

corroborar esta afirmação, o autor cita as palavras de Samson, segun<strong>do</strong> as quais o progresso<br />

<strong>da</strong> Análise em direção à autonomia foi prepara<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong>, pela ascendência <strong>da</strong> obra<br />

musical como conceito cultural, que, por seu turno, esteve estreitamente liga<strong>da</strong> ao surgimento<br />

<strong>da</strong> estética musical (e crítica), à formação <strong>do</strong> cânone (com o desenvolvimento associa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> crítica textual), a uma transformação de função dentro <strong>da</strong> teoria e <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia<br />

musical e à mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s práticas composicionais (SAMSON, 2001, p. 39).<br />

Um exemplo marcante de como a análise está presente no cotidiano <strong>do</strong> músico é o<br />

fato de que o intérprete, em sua execução, necessita realizar escolhas antes de executar<br />

determina<strong>da</strong> peça; de acor<strong>do</strong> com Winter e Silveira (2006, p. 67), estas escolhas devem ser<br />

fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s, embasa<strong>da</strong>s em conhecimentos os mais diversos sobre a obra a ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />

“sejam elas teóricas, instrumentais, histórico-sociais, estilísticas, analíticas, basea<strong>da</strong>s em<br />

práticas interpretativas de época, organológicas, iconográficas etc”.<br />

Entretanto, a análise não se presta apenas a fornecer subsídios para se interpretar de<br />

mo<strong>do</strong> mais coerente. Koellreutter (1989, p. 1) assim escreve:<br />

A análise de uma obra musical tem <strong>do</strong>is objetivos principais: 1) aprofun<strong>da</strong>rse<br />

na técnica de composição <strong>do</strong> autor [...] e 2) deduzir <strong>da</strong> análise os<br />

princípios de interpretação e a aplicação de recursos interpretativos, como<br />

sejam frasea<strong>do</strong>, articulação, dinâmica, an<strong>da</strong>mento e outros, visan<strong>do</strong>, em<br />

primeiro lugar, a inteligibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> texto musical. A primeira tarefa <strong>do</strong><br />

intérprete é a de facilitar o “trabalho” <strong>do</strong> ouvinte!<br />

A análise fenomenológica visa uma interpretação de ocorrências, de fenômenos<br />

sonoros, “em que estes se definem como causa e efeito de sensações e emoções”, as quais são<br />

obrigatoriamente subjetivas. A interpretação neste tipo de análise tem como único objetivo<br />

“vivenciar as idéias musicais e de conscientizá-las de acor<strong>do</strong> com o entendimento teórico-<br />

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musical e estilístico”, conforme o grau de sensibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> analista (KOELLREUTTER, 1989,<br />

p. 1).<br />

Neste senti<strong>do</strong>, em uma prática analítica demonstra ser coerente a utilização <strong>do</strong>s<br />

princípios <strong>da</strong> fenomenologia como uma tentativa de melhor adentrar o conteú<strong>do</strong> de uma obra<br />

musical, consideran<strong>do</strong>-se a perspectiva <strong>do</strong> indivíduo que apreende, vivencia e, portanto,<br />

participa <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> obra.<br />

6. Considerações Finais<br />

No campo <strong>da</strong> música, em especial <strong>da</strong> Análise Musical, pode-se deduzir que a<br />

maneira como o analista entende o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> obra de arte, isto é, seus pressupostos<br />

estéticos, influencia em seu julgamento sobre ela. Pode-se dizer que o analista/professor de<br />

análise é, portanto, um indivíduo que repassa implicitamente a seus alunos sua maneira de<br />

entender seu principal objeto de estu<strong>do</strong>.<br />

Apesar <strong>do</strong> possível caráter cientificista <strong>da</strong> análise, esta ativi<strong>da</strong>de torna-se inviável<br />

sem o subjetivismo <strong>do</strong> indivíduo que analisa: li<strong>da</strong>mos com impressões pessoais acerca <strong>da</strong>s<br />

obras estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, ao mesmo tempo em que nos comunicamos utilizan<strong>do</strong> uma linguagem<br />

musical técnica e específica. O procedimento fenomenológico no ensino de análise, neste<br />

contexto, parece ser o mais adequa<strong>do</strong> para tentar se chegar a um conhecimento mais<br />

completo, no senti<strong>do</strong> musical, e deve ser incentiva<strong>do</strong> nas práticas analíticas <strong>da</strong>s diversas<br />

instituições de ensino musical.<br />

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Referências<br />

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CAZNOK, Y. A Linguagem Musical e a Hermenêutica – Algumas Considerações. São Paulo,<br />

SP: [s.n., 1993?]<br />

DAHLHAUS, C. Estética Musical. Trad.: Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1977.<br />

DUNSBY, J.; WHITTALL, A. Music Analysis in Theory and Practice. Londres: Faber<br />

Music, 1988.<br />

FERREIRA, N. As pesquisas denomina<strong>da</strong>s “esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> arte”. Educação e Socie<strong>da</strong>de,<br />

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Psicanalítica. São Paulo: Educ/Escuta, 1994.<br />

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KOELLREUTTER, H. J. Análise Fenomenológica <strong>do</strong> Minueto em Sol Maior de J. S. Bach.<br />

Cadernos de Estu<strong>do</strong> – Análise Musical, São Paulo, n. 1, p. 1-8, out. 1989.<br />

PAREYSON, L. Os Problemas <strong>da</strong> Estética. 3ª edição. Martins Fontes: São Paulo, 1997.<br />

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Oxford University Press, 2001, p. 35-54.<br />

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a Pesquisa Qualitativa em<br />

Educação. São Paulo: Atlas, 1987.<br />

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Paulo: [s. n.], 2008. 125 f. Disponível em .<br />

Acesso em: 25 de março de <strong>2011</strong>.<br />

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O PHI CONDUTOR: PROPORÇÃO ÁUREA E<br />

TRANSDISCIPLINARIDADE<br />

Alexandre Reche e Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

alereche@gmail.com<br />

Artur Pessoa Porpino Dias<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

arturporpino@hotmail.com<br />

Resumo: A edição piloto <strong>da</strong> pesquisa visou elaborar um conjunto de aulas, na forma de<br />

material didático transdisciplinar, apresentan<strong>do</strong> o tema <strong>da</strong> Proporção Áurea, sob o enfoque de<br />

várias disciplinas. A Proporção Áurea é considera<strong>da</strong> por muitos autores uma leitura <strong>da</strong><br />

harmonia subjacente à natureza. Com base no conceito <strong>do</strong> número áureo e sequência de<br />

Fibonacci é possível se conectar Biologia, Música, Artes, Matemática e Arquitetura. Dessa<br />

forma, o phi serve de fio condutor para o uso <strong>da</strong> transdisciplinari<strong>da</strong>de e para a conexão de um<br />

considerável volume de conhecimentos. Ten<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> uma revisão <strong>do</strong> tema <strong>da</strong> Proporção<br />

Áurea, nos concentraremos em aprofundá-lo sob o ponto de vista de sua utilização na Música.<br />

Palavras-chave: Artes, Ciência, Proporção Áurea, Transdisciplinari<strong>da</strong>de<br />

1 PASSADO DA PESQUISA<br />

A edição piloto <strong>da</strong> pesquisa, realiza<strong>da</strong> durante 2010, visou elaborar um conjunto de<br />

aulas, na forma de material didático transdisciplinar, apresentan<strong>do</strong> o tema <strong>da</strong> Proporção<br />

Áurea, sob o enfoque de várias disciplinas. Esse tema encontra uma série de aplicações em<br />

diversas áreas <strong>do</strong> conhecimento como Matemática, Letras, Biologia, bem como em outras<br />

Artes (Pintura, Arquitetura etc.). Por essa razão, esse tema transversal foi escolhi<strong>do</strong> para<br />

servir de fio condutor, partin<strong>do</strong> de outras disciplinas e conectan<strong>do</strong>-se com o cenário <strong>da</strong><br />

Música. As aulas foram ministra<strong>da</strong>s a uma turma de estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> Ensino Médio <strong>da</strong> rede<br />

pública.<br />

Entre as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> edição piloto constava a pesquisa de material para ca<strong>da</strong><br />

disciplina; programação de conteú<strong>do</strong>s para ca<strong>da</strong> aula; elaboração de instrumentos de<br />

son<strong>da</strong>gem; ministração de aulas; aplicação de son<strong>da</strong>gens (a estu<strong>da</strong>ntes e professores) e<br />

confecção de relatório <strong>da</strong> experiência. Essa edição contribuiu com a facilitação <strong>da</strong><br />

aprendizagem, tornan<strong>do</strong>-a mais significativa, observan<strong>do</strong> o tema em contextos múltiplos e sob<br />

os enfoques de várias disciplinas. No entanto, ela se configurou apenas como um início para<br />

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essa contribuição.<br />

2 PRESENTE DA PESQUISA 1<br />

Existem polêmicas em torno <strong>da</strong> temática <strong>da</strong> Proporção Áurea (representa<strong>da</strong> pela letra<br />

grega phi). Questões a respeito <strong>da</strong> comprovação <strong>do</strong> uso intuitivo <strong>do</strong> phi ao longo <strong>do</strong><br />

desenvolvimento histórico <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de causam controvérsia. MADDEN (2005, p. xii) diz<br />

que “to<strong>da</strong>s essas questões, e mais, levaram a uma longa jorna<strong>da</strong>, por entre muito mistério e<br />

intriga, meio a opiniões fortemente opostas. Contu<strong>do</strong>, temos evidências circunstanciais 2 ”. O<br />

fato <strong>do</strong> assunto ain<strong>da</strong> suscitar discussões, também nos incita a <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong>de a<br />

investigações adicionais.<br />

A proporção áurea é considera<strong>da</strong> por muitos autores uma leitura <strong>da</strong> harmonia<br />

subjacente à natureza: medi<strong>da</strong>s considera<strong>da</strong>s estéticas à fruição. Ela “expressa o<br />

relacionamento ideal entre partes desiguais” (BURDEN, 2006, p. 301). Na Figura 1 vemos<br />

um segmento de reta com extremi<strong>da</strong>des A e C. Entre eles é posiciona<strong>do</strong> um ponto B que<br />

ficará mais próximo à extremi<strong>da</strong>de A <strong>do</strong> que a C. A divisão entre o maior segmento (BC) pelo<br />

menor segmento (AB) é igual à divisão <strong>do</strong> segmento inteiro (AC) pelo segmento (BC).<br />

(BC) : (AB) = (AC) : (BC) = φ<br />

FIGURA 1 – Segmento representativo <strong>da</strong> Proporção<br />

Áurea<br />

Essa proporção também é designa<strong>da</strong> como Número Áureo, denota<strong>do</strong> pela letra grega<br />

φ (phi) e com valor aproxima<strong>do</strong> de 1,618.<br />

2.1 O Phi na Natureza<br />

Indícios indicam que podemos estabelecer relações íntimas entre a sequência de<br />

Fibonacci, o phi e a Natureza. “No início <strong>do</strong> século XX, Theo<strong>do</strong>re Cook e Andrea D'Arcy<br />

1 Em <strong>2011</strong>, o projeto <strong>da</strong> pesquisa foi aprova<strong>do</strong> em edital universitário de ações integra<strong>da</strong>s, contan<strong>do</strong> agora com<br />

a participação de <strong>do</strong>is bolsistas <strong>da</strong>s áreas de Artes (Música) e Ciências <strong>da</strong> Saúde, bem como <strong>do</strong>is professores<br />

coordena<strong>do</strong>res. Este artigo enfoca o viés toma<strong>do</strong> pelo bolsista de Música.<br />

2 All these questions, and more, compelled a long and circuitous journey, through much mystery and intrigue<br />

among strongly opposed camps (...) Nevertheless, the circumstantial evidence is compelling.<br />

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Wentworth Thompson e outros mostraram que o crescimento de muitas plantas e animais é<br />

basea<strong>do</strong> em fib [o número de Fibonacci] e o phi. 3 ”. (MADDEN, 2005, p. 13)<br />

Vejamos a fisiologia básica <strong>da</strong>s sementes de girassol. Elas se organizam sem<br />

intervalos, “(...) forman<strong>do</strong> espirais logarítmicas que tanto curvam para a esquer<strong>da</strong> como para a<br />

direita. O curioso é que os números de espirais em ca<strong>da</strong> direção são (quase sempre) números<br />

vizinhos na sequência de Fibonacci”. (BELUSSI, s.d., p. 7) Apresentan<strong>do</strong> de forma numérica,<br />

os girassóis comuns, normalmente, apresentam 89 sementes em uma direção e 55 na direção<br />

oposta. Já os girassóis gigantes, típicos <strong>do</strong> Oeste americano, comumente possuem 144<br />

sementes para um la<strong>do</strong> e 89 para o outro. (MADDEN, 2005, p. 14) Dessa forma, percebemos<br />

que tais números fazem parte <strong>da</strong> sequência de Fibonacci: 0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89,<br />

144...<br />

Outro exemplo intrigante é encontra<strong>do</strong> através <strong>da</strong> formação de espirais áureas. Estas<br />

são forma<strong>da</strong>s a partir de sucessivos retângulos áureos, como explica:<br />

Um retângulo áureo tem a interessante proprie<strong>da</strong>de de, se o dividirmos num<br />

quadra<strong>do</strong> e num retângulo, o novo retângulo é também áureo. Repetin<strong>do</strong><br />

este processo infinitamente e unin<strong>do</strong> os cantos <strong>do</strong>s quadra<strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>s,<br />

obtém-se uma espiral a que se dá o nome de espiral áureo (sic) (QUEIROZ,<br />

2007, p. 23).<br />

Dessa forma, obtemos a espiral forma<strong>da</strong> na concha <strong>do</strong> molusco Nautilus Marinho. A<br />

concha possui diversos compartimentos e sabe-se que ca<strong>da</strong> compartimento cresce<br />

gra<strong>da</strong>tivamente na mesma proporção <strong>da</strong> sequência de Fibonacci, ou seja, na proporção áurea.<br />

(ARTE E MATEMÁTICA, s.d.)<br />

FIGURA 2 - Sucessão de quadra<strong>do</strong>s postos em retângulos áureos e formação <strong>da</strong> espiral áurea.<br />

3 In the early part of the twentieth century, Theo<strong>do</strong>re Andrea Cook and D’Arcy Wentworth Thompson and<br />

others showed that the growth of many plants and animals is based on fib and phi.<br />

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O desenho <strong>do</strong> Homem Vitruviano de Leonar<strong>do</strong> <strong>da</strong> Vinci propõe dimensões para o<br />

corpo de um ser humano que se assemelham muito à proporção áurea. Algumas dessas<br />

proporções podem ser vistas na “razão entre a altura de uma pessoa e a medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> umbigo até<br />

o chão; razão entre o comprimento <strong>do</strong> braço e a medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> cotovelo até a extremi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

de<strong>do</strong> médio (...); razão entre o comprimento <strong>da</strong> perna e a medi<strong>da</strong> <strong>do</strong> joelho até o chão (...)”<br />

(QUEIROZ, 2007, p. 33)<br />

2.2 O Phi no Egito<br />

As pirâmides de Gizé, no Egito, sinalizam a presença <strong>da</strong> razão áurea em sua<br />

estrutura. Sabe-se que “a razão entre a altura de uma face e a metade <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong> base <strong>da</strong><br />

grande pirâmide é igual ao Número de Ouro” (BELUSSI, s.d., p. 2).<br />

FIGURA 3 - Relação <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> pirâmide de Gizé com o número áureo. Fonte: RIBEIRO,<br />

2009<br />

Com o tempo, medi<strong>da</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais exatas <strong>da</strong>s pirâmides de Gizé foram realiza<strong>da</strong>s<br />

e os resulta<strong>do</strong>s são surpreendentes. O fato <strong>do</strong>s egípcios terem alcança<strong>do</strong> tanta precisão através<br />

de instrumentos rudimentares de construção é, no mínimo, intrigante (MADDEN, 2005).<br />

Quanto à possível utilização <strong>do</strong> número áureo na estrutura <strong>da</strong> grande pirâmide, nos<br />

unimos a MADDEN quan<strong>do</strong> afirma: “(...) vários cientistas respeitáveis têm demonstra<strong>do</strong><br />

pontos importantes para a aproximação de uma certeza 4 ” (2005, p. 4). Tais pesquisas<br />

contribuem para comprovar essa ligação.<br />

2.3 O Phi na Grécia<br />

4 Several reputable scientists have demonstrated important points to near certainly<br />

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O filósofo grego Pitágoras (600 a.C.) realizou uma longa viagem para estu<strong>da</strong>r com<br />

sacer<strong>do</strong>tes no Egito e na Babilônia. Pitágoras retornou à Grécia e, posteriormente, à Itália,<br />

forman<strong>do</strong> uma escola de filosofia basea<strong>da</strong> na numerologia: a Escola Pitagórica. Acredita-se<br />

que os Pitagóricos tinham especial interesse por pentágonos e pentagramas. Inclusive, eles<br />

utilizavam este último como emblema de reconhecimento (MADDEN, 2005). Ligan<strong>do</strong> os<br />

pontos internos de um pentágono regular por meio de segmentos de retas, temos um<br />

pentagrama.<br />

FIGURA 4 – Relação entre o pentágono regular, pentagrama e phi<br />

Este pentagrama revela proporções interessantes. O segmento azul escuro quan<strong>do</strong><br />

soma<strong>do</strong> ao segmento verde tem o mesmo tamanho que o segmento azul claro. A combinação<br />

<strong>do</strong>s segmentos verde e azul claro é igual ao segmento vermelho. Percebemos que o segmento<br />

vermelho é uma combinação <strong>do</strong>s segmentos azul escuro, verde e azul claro.<br />

Um exemplo clássico que cui<strong>da</strong> utilizar a proporção áurea na arquitetura grega é<br />

encontra<strong>do</strong> no Parthenon. O “templo representativo <strong>do</strong> século de Péricles contém a razão de<br />

Ouro no retângulo que contém a facha<strong>da</strong>, o que revela a preocupação de realizar uma obra<br />

bela e harmoniosa” (BELUSSI, s.d., p. 2). A Figura 4 representa o templo Parthenon conti<strong>do</strong><br />

em um retângulo áureo, no qual a proporção entre o comprimento e a altura é<br />

aproxima<strong>da</strong>mente o número áureo.<br />

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FIGURA 5 – Proporção áurea encontra<strong>da</strong> no Parthenon. Fonte:<br />

MEISNER, 2010 (com legen<strong>da</strong> nossa)<br />

Embora pareça comprova<strong>da</strong> a intenção de utilizar a proporção áurea na construção <strong>da</strong><br />

facha<strong>da</strong> <strong>do</strong> templo, estudiosos conflitam na veraci<strong>da</strong>de dessa informação. “Alguns <strong>do</strong>s<br />

problemas com a análise <strong>do</strong> Parthenon são o seu mau esta<strong>do</strong> físico, o uso de desenhos que<br />

perderam as dimensões corretas e o uso de fotografias tira<strong>da</strong>s de ângulos<br />

distorci<strong>do</strong>s 5 ”(MADDEN, 2005, p. 7). Por outro la<strong>do</strong>, sabe-se que “a primeira discussão<br />

inequívoca <strong>do</strong> phi é encontra<strong>do</strong> em Elementos de Euclides, escrito no século III a.C 6 ”<br />

(MADDEN, 2005, p. 7). Essa obra, posteriormente, na Renascença, influenciou diretamente o<br />

livro de Luca Pacioli, De Divina Proportione e foi considera<strong>do</strong> por esse autor como um “guia<br />

indispensável”. (BERTATO, 2010)<br />

2.4 O Phi na Europa<br />

Com a invasão romana na Grécia e no Egito, o phi foi lentamente se espalhan<strong>do</strong> pelo<br />

Ocidente. Sabe-se que possivelmente os conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s ao phi e outros<br />

conhecimentos matemáticos foram manti<strong>do</strong>s em socie<strong>da</strong>des secretas. Durante a I<strong>da</strong>de Média,<br />

muitos estudiosos negaram a influência <strong>da</strong> proporção áurea em construções arquitetônicas,<br />

“Cowen, no entanto, pensava que poderia haver phi nos vitrais de Chartres 7 ”. (MADDEN,<br />

2005, p. 10).<br />

Já na renascença, o frade italiano Luca Pacioli deu um enorme passo para o<br />

desenvolvimento acerca <strong>da</strong> proporção áurea. Além de ter feito a primeira tradução para o<br />

italiano <strong>do</strong>s Elementos de Euclides, escreveu a obra De Divina Proportione (em português, A<br />

Divina Proporção) que trata <strong>da</strong> razão áurea. A primeira parte <strong>do</strong> livro “contém um sumário<br />

5 Some of the problems with analyzing the Parthenon have been its poor physical state, the use of drawings<br />

that lacked stated dimensions, and the use of photographs taken from distorting angles.<br />

6 The first unequivocal discussion of phi is found in Euclid’s Elements, written in the third century BC.<br />

7 Cowen, however, though there may be phi in the northern rose win<strong>do</strong>w of Chartres.<br />

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<strong>da</strong>s proposições <strong>do</strong>s Elementos de Euclides, relaciona<strong>do</strong>s com a razão áurea” (BERTATO,<br />

2010, p. xv). Aqui notamos uma autêntica conexão <strong>da</strong> arte renascentista com os<br />

conhecimentos sobre a razão áurea. Pacioli incluiu ilustrações de Leonar<strong>do</strong> <strong>da</strong> Vinci em De<br />

Divina Proportione “para fazê-lo mais instrutivo à vista’. (Pacioli, 1509, p. A ii recto apud<br />

BERTATO, 2010, p. xv)<br />

Dessa forma, temos informações para supor que sen<strong>do</strong> Leonar<strong>do</strong> <strong>da</strong> Vinci, o<br />

ilustra<strong>do</strong>r de uma obra dedica<strong>da</strong> a apontar conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s à proporção áurea,<br />

tenha utiliza<strong>do</strong> a proporção em suas próprias pinturas e desenhos. Acredita-se que a proporção<br />

áurea foi utiliza<strong>da</strong> na Monalisa, já que “apresenta o retângulo de Ouro em múltiplos locais: (a)<br />

desenhan<strong>do</strong> um retângulo à volta <strong>da</strong> face o retângulo resultante é um retângulo de Ouro; (b)<br />

dividin<strong>do</strong> este retângulo por uma linha que passe nos olhos, o novo retângulo obti<strong>do</strong> também<br />

é de Ouro e (c) as dimensões <strong>do</strong> quadro também representam a razão de Ouro” (BELUSSI,<br />

s.d., p. 4).<br />

Leonar<strong>do</strong> Pisano Fibonacci causou muita repercussão na Europa, em 1202 com a<br />

publicação <strong>do</strong> livro Liber Abaci. Ele apresentou conhecimentos de matemática arábica, a<br />

substituição <strong>do</strong>s algarismos romanos e diversos problemas matemáticos. Um desses<br />

problemas, em particular, rendeu-lhe os famosos números de Fibonacci:<br />

Quantos pares de coelhos haveria em um determina<strong>do</strong> mês, se houvesse um<br />

par imaturo inicial, ca<strong>da</strong> par necessitasse de <strong>do</strong>is meses para maturar, ca<strong>da</strong><br />

par maduro dá à luz um único par em ca<strong>da</strong> mês, e esse processo continuasse<br />

ad infinitum? 8 . (MADDEN, 2005, p. 12)<br />

A resolução <strong>do</strong> problema resulta na seguinte sequência: 1, 3, 5, 8, 13, 21, 34...<br />

Aparentemente, parece apenas uma progressão numérica, mas notamos que a partir <strong>do</strong><br />

terceiro termo <strong>da</strong> sequência, a soma <strong>do</strong> número com seu anterior será igual ao número<br />

seguinte. Por exemplo, 5 + 3 = 8; 8 + 5 = 13; 21 + 13 = 34 e assim por diante.<br />

Apesar de Liber Abaci não ter nenhuma menção ao phi, a relação entre a sequência e<br />

o número áureo está na razão entre os números. A divisão entre <strong>do</strong>is números consecutivos <strong>da</strong><br />

sequência, sen<strong>do</strong> o denomina<strong>do</strong>r <strong>da</strong> fração o primeiro, vai resultar em um número próximo a<br />

1,618. Esta relação foi descoberta por Johannes Kepler e Robert Simson, nos séculos XVIII e<br />

XIX. Assim, percebemos que 5:3 = 1,667; 8:5 = 1,600; 13:8 = 1,625 e assim por diante<br />

(MADDEN, 2005).<br />

8 How many pairs of rabbits would there be in any given month IF there were one immature pair to<br />

begin with, each pair required two months to mature, each mature pair bore a single pair each<br />

month, and this process continued ad infinitum?<br />

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3 FUTURO DA PESQUISA<br />

Ten<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> até aqui essa revisão <strong>do</strong> tema <strong>da</strong> Proporção Áurea, nos<br />

concentraremos em aprofundá-lo sob o ponto de vista de sua utilização na Música. A<br />

Proporção Áurea também é encontra<strong>da</strong> em várias aplicações musicais. As frequências<br />

musicais são basea<strong>da</strong>s em relações de Fibonacci. As composições musicais refletem muitas<br />

vezes os números de Fibonacci em seu processo de estruturação (posicionamento de clímax).<br />

Fibonacci e phi são utiliza<strong>do</strong>s na concepção de violinos (luthieria) e até mesmo na concepção<br />

de fio de alto falantes de alta quali<strong>da</strong>de (MEISNER, 2010).<br />

Em diversas obras publica<strong>da</strong>s podemos encontrar análises <strong>do</strong>s números de Fibonacci<br />

e <strong>do</strong> número áureo (Souza, 1995; Santiago, 2002). Esse também é o caso de Fib and Phi in<br />

music: the golden proportion in musical form, de Charles B. Madden. O autor analisa<br />

historicamente o uso <strong>do</strong> phi em composições desde a música medieval até a música<br />

contemporânea. A vasta análise inclui obras de alguns <strong>do</strong>s maiores compositores <strong>da</strong> história,<br />

dentre eles J. S. Bach, Mozart, Haydn, Beethoven, Chopin, Schumann, Debussy, Bartók e<br />

outros.<br />

Após a análise <strong>da</strong>s relações <strong>do</strong> phi através de uma investigação histórica, percebemos<br />

o quanto conceitos aparentemente aleatórios e paralelos parecem estar uni<strong>do</strong>s. Esta relação<br />

torna-se um atrativo em potencial para buscar a atenção <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte. O phi serve de fio<br />

condutor para o uso <strong>da</strong> transdisciplinari<strong>da</strong>de e para a conexão de um considerável volume de<br />

conhecimentos<br />

Um <strong>do</strong>s maiores desafios <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente é despertar o interesse <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes<br />

pelas aulas. Uma estratégia didática para isso é a introdução <strong>da</strong> idéia <strong>da</strong> transdisciplinari<strong>da</strong>de.<br />

WEIL a define como o “reconhecimento <strong>da</strong> interdependência de to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de” (1993, p. 31). A transdisciplinari<strong>da</strong>de é uma ferramenta capaz de conectar o ser a<br />

uma idéia maior. Com base no conceito <strong>do</strong> número áureo e sequência de Fibonacci é possível<br />

se conectar Biologia, Música, Artes, Matemática e Arquitetura. Tal conexão nos oferece<br />

matéria prima suficiente para ressignificar os conhecimentos apresenta<strong>do</strong>s em sala de aula.<br />

Dessa forma, o aluno amplia sua percepção de mun<strong>do</strong> e é estimula<strong>do</strong> a melhor compreendêlo,<br />

transpassan<strong>do</strong> as barreiras impostas por noções fragmenta<strong>da</strong>s9.<br />

9 “No meu caso, eu enxergava a maioria <strong>da</strong>s matérias apresenta<strong>da</strong>s em sala de aula, no colégio, como<br />

fragmenta<strong>da</strong>s. O conhecimento e pesquisa sobre os conceitos relaciona<strong>do</strong>s ao número áureo me abriram a<br />

mente para uma nova percepção de mun<strong>do</strong>. Eles me fizeram enxergar a rede transdisciplinar – antes invisível<br />

– presente em matérias que nos são apresenta<strong>da</strong>s. A partir dessa nova percepção, me interessei em matérias<br />

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Apesar <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> termo 'transdisciplinari<strong>da</strong>de' em Educação, a matéria continua<br />

desafian<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>res. Esse tipo de abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica ain<strong>da</strong> enseja aplicações práticas<br />

de forma planeja<strong>da</strong> e meto<strong>do</strong>lógica. O cenário disciplinar atual continua deman<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

alternativas para a ministração de conteú<strong>do</strong>s estanques e pouco conecta<strong>do</strong>s entre si. Nossa<br />

pesquisa se empenha em instaurar uma via de conexão transdisciplinar que contribua ca<strong>da</strong> vez<br />

mais com a mutação desse cenário.<br />

com as quais antes tinha incompatibili<strong>da</strong>de e desinteresse”. (Depoimento de um <strong>do</strong>s bolsistas <strong>do</strong> projeto, coautor<br />

deste artigo.)<br />

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Referências<br />

ARTE E MATEMÁTICA (Série produzi<strong>da</strong> pela TV Cultura). Episódio 7: O Número de<br />

Ouro. Site <strong>do</strong> episódio disponível em<br />

http://www.<strong>do</strong>miniopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.<strong>do</strong>?select_action=&co_obra=2<br />

0799. Acessa<strong>do</strong> em 13 de outubro de 2010. Site <strong>da</strong> série disponível em<br />

http://www.tvcultura.com.br/artematematica/. Acessa<strong>do</strong> em 13 de outubro de 2010.<br />

AUSUBEL, D. P. A Aprendizagem Significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo:<br />

Moraes, 1982.<br />

BELUSSI, Giuliano Miyaishi et al. Número de Ouro. Londrina, [S.D.]. 11f. Trabalho não<br />

publica<strong>do</strong>. Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina.<br />

BERTATO, Fábio Maia. De Divina Proportione: de Luca Pacioli (tradução anota<strong>da</strong> e<br />

comenta<strong>da</strong>). 1ª ed. Campinas: Coleção CLE, 2010. v. 56. 344 p.<br />

BURDEN, Ernest. Dicionário ilustra<strong>do</strong> <strong>da</strong> arquitetura. 2ª Edição. São Paulo: Bookman,<br />

2006.<br />

CASTRO, José de e BIELLA, Jaime. Interdisciplinari<strong>da</strong>de: riscos, desafios e encontros.<br />

Natal: SESI, 2010. Colaboração: Artemilson Alves de Lima, Gilson Gomes de Medeiros,<br />

Ilane Ferreira Cavalcante, Zilmar Rodrigues de Souza. Projeto SESI - Curso Currículo<br />

Contextualiza<strong>do</strong>. MEISNER, Gary. GodenNumber. Net. 2010. Disponível em<br />

http://www.goldennumber.net/. Acessa<strong>do</strong> em 13 de outubro de 2010.<br />

MADDEN, Charles. Fib and Phi in music: the golden proportion in musical form. Salt Lake<br />

City: High Art Press, 2005.<br />

QUEIROZ, Rosania Maria. Razão Áurea: a beleza de uma razão surpreendente. Londrina,<br />

2007. 39f. Trabalho apresenta<strong>do</strong> ao Programa de Desenvolvimento Educacional.<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual de Londrina.<br />

SANTIAGO, Diana. Proporções nos Ponteios para piano de Camargo Guarnieri: um estu<strong>do</strong><br />

sobre representações mentais em performance musical. Salva<strong>do</strong>r, 2002. Tese de Doutora<strong>do</strong><br />

em Música. Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia.<br />

SCHÖN, D. A. Educan<strong>do</strong> o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a<br />

aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.<br />

SOUZA, Elizabeth R. P. de. Elementos de Coerência no Opus 76 de Brahms. Campinas: Ed.<br />

Unicamp, 1995.<br />

WEIL, Pierre. Rumo à nova transdisciplinari<strong>da</strong>de: sistemas abertos de conhecimento. 4a<br />

Edição. São Paulo: Summus, 1993.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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abem<br />

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de Educação Musical<br />

517


2 OA N O S<br />

O planejamento de aulas de violão através <strong>da</strong> educação a distância no<br />

PROLICENMUS<br />

Bruno Westermann<br />

UFRGS<br />

brwestermann@gmail.com<br />

Edgar Marques<br />

UFRGS<br />

edgarjrmarques@gmail.com<br />

Resumo: Este artigo discute o planejamento em educação e as especifici<strong>da</strong>des deste quan<strong>do</strong><br />

aplica<strong>do</strong> à Educação a Distância (EaD). Dentre as diferenças entre o planejamento no ensino<br />

presencial e aquele realiza<strong>do</strong> na EaD, a principal característica coloca<strong>da</strong> é resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

possibili<strong>da</strong>de de alterações e intervenções no planejamento a partir <strong>do</strong> retorno <strong>da</strong><strong>do</strong> pelo aluno<br />

na realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des. Isto é algo bastante direto no ensino presencial, mas na EaD esta<br />

tarefa tem complica<strong>do</strong>res e, por isso, o planejamento se torna diferencia<strong>do</strong>. São descritas<br />

também as estratégias a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s nas aulas de violão <strong>do</strong> PROLICENMUS (UFRGS e<br />

universi<strong>da</strong>des parceiras) para li<strong>da</strong>r com essas especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> EaD e também como forma<br />

de recriar nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de estratégias de ensino de instrumento bastante comuns no ensino<br />

presencial.<br />

Palavras-chave: Planejamento em Educação Musical, Ensino de instrumentos musicais,<br />

Educação a Distância.<br />

Introdução<br />

O presente artigo tem como objetivo propor reflexões acerca <strong>do</strong> planejamento de<br />

aulas de instrumento através <strong>da</strong> Educação a Distância. Assim, num primeiro momento<br />

discutiremos o planejamento em educação e as particulari<strong>da</strong>des desta ativi<strong>da</strong>de quan<strong>do</strong><br />

inseri<strong>da</strong> no contexto <strong>da</strong> EaD. Essa descrição terá como foco as ferramentas e estratégias<br />

utiliza<strong>da</strong>s no ensino de violão a distância, a partir <strong>do</strong>s recursos disponíveis, enquanto<br />

a<strong>da</strong>ptações e recriações <strong>do</strong> modelo presencial. Consideramos aqui que, mesmo a EaD sen<strong>do</strong><br />

uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino que possui suas especifici<strong>da</strong>des e que tenha suas características<br />

próprias de planejamento, vem sen<strong>do</strong> necessário utilizar a experiência presencial como<br />

nortea<strong>do</strong>ra para este trabalho. Isto levanta a possibili<strong>da</strong>de de que, com o passar <strong>do</strong> tempo, seja<br />

possível desenvolver meto<strong>do</strong>logias a distância sem a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> ensino presencial como ponto<br />

de parti<strong>da</strong>.<br />

Planejamento e Educação a Distância<br />

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2 OA N O S<br />

A ação de planejar uma ativi<strong>da</strong>de educacional, seja a curto ou a longo prazo, envolve<br />

a reflexão sobre os propósitos e finali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quela ação (LIBÂNEO, 2002). Isso significa<br />

que, entre outras coisas, o planejamento diz respeito ao ato de pensar nos objetivos que<br />

queremos atingir com o trabalho, a importância <strong>da</strong> matéria que se ensina (e to<strong>do</strong> o<br />

conhecimento liga<strong>do</strong> a ela) e o que se pretende fazer para que os objetivos traça<strong>do</strong>s sejam<br />

cumpri<strong>do</strong>s e contribuam para o desenvolvimento de competências nos alunos envolvi<strong>do</strong>s no<br />

processo. Também podemos dizer que o planejamento em educação envolve escolhas de<br />

quais conteú<strong>do</strong>s de uma área <strong>do</strong> conhecimento serão abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s e como serão trabalha<strong>do</strong>s, a<br />

partir de fatores como o público alvo, estrutura disponível, tempo de trabalho, etc.<br />

Para Romanelli (2006), o planejamento de uma ativi<strong>da</strong>de de ensino consiste na<br />

sistematização <strong>da</strong>s situações de sala de aula, como forma de prever as ações realiza<strong>da</strong>s pelo<br />

professor. Assim, o planejamento de uma aula (ou de uma sequência de aulas) deve<br />

contemplar os objetivos <strong>da</strong>quela ação, bem como sua fun<strong>da</strong>mentação, procedimentos<br />

meto<strong>do</strong>lógicos e as formas de avaliação.<br />

A partir destas considerações, podemos dizer que o planejamento é uma tarefa<br />

bastante importante na ação educativa, pois sem ele existe uma maior probabili<strong>da</strong>de de que o<br />

ensino seja descontextualiza<strong>do</strong>, não significativo ao aluno e que não resulte em aprendizagem<br />

efetiva. Na aula de música esta situação não é diferente. Esta também pressupõe planejamento<br />

o mais detalha<strong>do</strong> possível, como forma de potencializar as possibili<strong>da</strong>des de ensino e<br />

aprendizagem desta disciplina.<br />

Entretanto, existe outra ótica <strong>do</strong> planejamento que gostaríamos de nos deter aqui,<br />

como ponto de parti<strong>da</strong> para a reflexão sobre o planejamento de aulas em determina<strong>do</strong>s<br />

modelos de EaD. Mesmo que o planejamento contemple a previsão bastante detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

situações de sala de aula, a prática de ensino (independente <strong>do</strong> ambiente educacional que<br />

estiver inseri<strong>da</strong>) nos mostra que nem sempre é possível seguir à risca aquilo que foi planeja<strong>do</strong>.<br />

In<strong>do</strong> mais além, podemos dizer que há determina<strong>do</strong>s casos em que, a partir <strong>do</strong> retorno que os<br />

alunos dão, existe a necessi<strong>da</strong>de de que a aula tome um rumo completamente diferente<br />

<strong>da</strong>quele planeja<strong>do</strong> previamente. Nessas situações, as intervenções e a<strong>da</strong>ptações de<br />

planejamento que acontecem em aulas presenciais são feitas em tempo real, a partir <strong>da</strong><br />

observação aos alunos e <strong>da</strong> avaliação por parte <strong>do</strong> professor.<br />

Na educação a distância, como em qualquer outra forma de educação, a necessi<strong>da</strong>de<br />

de planejamento prévio também é indispensável. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos utiliza<strong>do</strong>s e <strong>da</strong><br />

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2 OA N O S<br />

forma como esse ensino a distância é organiza<strong>do</strong>, a sistematização prévia <strong>da</strong>s aulas torna-se<br />

um ponto chave, já que o aluno irá interagir com ela em tempo e espaços diferentes <strong>do</strong><br />

professor. E é justamente neste ponto <strong>do</strong> planejamento, <strong>da</strong> interação <strong>do</strong> aluno com a aula e<br />

com os professores, que queremos chamar a atenção aqui. Mais detalhes sobre o planejamento<br />

e o gerenciamento de cursos a distância são encontra<strong>do</strong>s em Moore & Kearsley (2007).<br />

Em muitos casos, na EaD, as intervenções <strong>do</strong> professor e as a<strong>da</strong>ptações <strong>do</strong><br />

planejamento de aula a partir <strong>da</strong>quilo que é demonstra<strong>do</strong> pelo aluno não são possíveis de<br />

serem realiza<strong>da</strong>s em tempo real. Transcorrem-se espaços de tempo consideráveis entre a<br />

realização <strong>da</strong> aula a distância, a interação <strong>do</strong> aluno com essa aula, o retorno dele a partir <strong>do</strong><br />

que foi proposta e a avaliação que o professor faz <strong>do</strong> que foi demonstra<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong> isso,<br />

surge a seguinte questão: que tipo de estratégias podem ser utiliza<strong>da</strong>s para minimizar uma<br />

eventual inadequação entre a aula planeja<strong>da</strong> e as possibili<strong>da</strong>des de compreensão <strong>do</strong> aluno?<br />

No curso de Licenciatura em Música - mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância <strong>da</strong> UFRGS e<br />

universi<strong>da</strong>des parceiras (PROLICENMUS), as aulas a distância acontecem através de<br />

Uni<strong>da</strong>des de Estu<strong>do</strong>s semanais, que abor<strong>da</strong>m assuntos pertinentes de ca<strong>da</strong> interdisciplina 1 ,<br />

seguin<strong>do</strong> uma ordem lógica de dificul<strong>da</strong>de e aprofun<strong>da</strong>mento (WEBER, NUNES, 2009;<br />

WESTERMANN, 2010a). Na interdisciplina Seminário Integra<strong>do</strong>r - Violão, estas aulas<br />

utilizam recursos como textos, figuras, animações, fotografias, partituras, cifras de violão e,<br />

principalmente, vídeos. Este material é planeja<strong>do</strong> e produzi<strong>do</strong>, disponibiliza<strong>do</strong> na plataforma<br />

de ensino e o aluno deve basear seu estu<strong>do</strong> a partir <strong>da</strong>s indicações e demonstrações <strong>da</strong><strong>da</strong>s,<br />

auxilia<strong>do</strong> de forma bastante importante pelos tutores presenciais, nos polos onde o curso<br />

ocorre.<br />

Neste modelo, a interação entre professor e aluno ocorre através de fóruns de<br />

discussão semanais e também de vídeos de avaliação, que são grava<strong>do</strong>s pelos alunos<br />

periodicamente e são assisti<strong>do</strong>s e comenta<strong>do</strong>s pelo professor (WESTERMANN, 2010b). Ou<br />

seja, é um exemplo onde existe uma distância temporal entre a produção <strong>da</strong> aula, a interação<br />

<strong>do</strong> aluno e a avaliação <strong>do</strong> professor, a partir <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s.<br />

Uma <strong>da</strong>s estratégias utiliza<strong>da</strong>s para que os problemas oriun<strong>do</strong>s dessa distância de<br />

espaço e tempo sejam minimiza<strong>do</strong>s está na organização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e na sua escolha. São<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s, ao mesmo tempo, repertórios de níveis técnico-interpretativos diferentes, para que<br />

o próprio aluno tenha a possibili<strong>da</strong>de de realizar alterações no seu planejamento de estu<strong>do</strong>.<br />

Além disso, o ponto mais importante <strong>do</strong> planejamento <strong>da</strong>s aulas a distância diz respeito à<br />

1 Neste curso, as disciplinas são chama<strong>da</strong>s desta forma por estarem liga<strong>da</strong>s entre si em termos de planejamento.<br />

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520


2 OA N O S<br />

construção de materiais explicativos que abor<strong>da</strong>m eventuais problemas de execução que<br />

podem ocorrer durante o estu<strong>do</strong> de determina<strong>do</strong> repertório. No processo de planejamento de<br />

uma aula sobre determina<strong>do</strong> repertório, este é estu<strong>da</strong><strong>do</strong> não somente para que seja cria<strong>da</strong> uma<br />

orientação lógica para o estu<strong>do</strong>, mas também são analisa<strong>do</strong>s os trechos que eventualmente<br />

poderão representar dificul<strong>da</strong>des de execução. Esta previsão detalha<strong>da</strong> <strong>do</strong>s eventuais<br />

problemas gera<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong> é uma característica importante no planejamento de uma aula de<br />

violão a distância.<br />

Além <strong>da</strong> previsão de eventuais problemas no estu<strong>do</strong>, um <strong>do</strong>s pontos <strong>do</strong> planejamento<br />

de aulas de violão a distância diz respeito a meto<strong>do</strong>logia de trabalho. Esta, por sua vez, possui<br />

ligação direta com o tipo de recursos disponíveis para estas aulas. Por considerar isso um<br />

ponto importante <strong>do</strong> planejamento dessas aulas, traçaremos a seguir um comparativo entre as<br />

estratégias de ensino de violão na aula presencial e a recriação dessas estratégias na EaD, a<br />

partir <strong>do</strong>s recursos disponíveis.<br />

Estratégias de ensino e ferramentas nas aulas presenciais e a distância<br />

Uma ferramenta utiliza<strong>da</strong> para o ensino de instrumento, seja na educação formal,<br />

informal ou não formal, é a notação musical. Pessoas interessa<strong>da</strong>s em tocar um determina<strong>do</strong><br />

instrumento podem utilizar os diversos mo<strong>do</strong>s de escrever música para aprender. No que se<br />

refere a instrumentos acompanha<strong>do</strong>res, as cifras são um recurso bastante útil ten<strong>do</strong> em vista<br />

sua funcionali<strong>da</strong>de para aprender canções de acompanhamento, o fácil acesso a este material e<br />

a facili<strong>da</strong>de de sua decodificação. Entretanto, se a música não é conheci<strong>da</strong> pelo estu<strong>da</strong>nte,<br />

saber sua melodia, ritmo de acompanhamento se tornam uma tarefa difícil. Sen<strong>do</strong> assim, as<br />

partituras cifra<strong>da</strong>s (que consistem em uma melodia com a harmonia escrita em cifras) torna-se<br />

um recurso interessante para o ensino e aprendizagem de instrumentos musicais, sobretu<strong>do</strong><br />

instrumentos acompanha<strong>do</strong>res, como o violão.<br />

A dinâmica <strong>do</strong> ensino de instrumentos musicais tem passa<strong>do</strong> por transformações ao<br />

logo <strong>do</strong>s anos. O modelo de ensino coletivo vem se mostra<strong>do</strong> uma alternativa interessante e<br />

produtiva para ensino de violão, tanto nas licenciaturas quanto nos bacharela<strong>do</strong>s. Seja a aula<br />

tutorial ou coletiva, a imitação é uma estratégia de ensino bastante utiliza<strong>da</strong> nestes <strong>do</strong>is<br />

modelos, onde os estu<strong>da</strong>ntes têm como “espelho” o professor e seus colegas (TOURINHO,<br />

2002, 2007).<br />

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2 OA N O S<br />

A imitação pode ser trabalha<strong>da</strong> de vários mo<strong>do</strong>s, com objetivos distintos. Vamos<br />

tomar como exemplo o aluno com dificul<strong>da</strong>de em trocar os acordes de uma canção no tempo<br />

correto. O professor pode separar um pequeno trecho <strong>da</strong> música e tocar o primeiro acorde, e<br />

em segui<strong>da</strong>, o aluno tocar segun<strong>do</strong> acorde buscan<strong>do</strong> não perder fluidez. Com isto, o aluno<br />

pode praticar o ritmo <strong>do</strong> acompanhamento sem se preocupar em executar a mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong><br />

acorde e, ao mesmo tempo, desenvolver a percepção no que diz respeito ao ritmo harmônico.<br />

Professor e aluno juntos executam a música estu<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Ativi<strong>da</strong>des de imitação como repetir uma célula rítmica <strong>da</strong><strong>da</strong>, completar um trecho<br />

melódico anteriormente executa<strong>do</strong> ou um excerto de uma obra musical são alguns <strong>do</strong>s<br />

exercícios utiliza<strong>do</strong>s. Essas ativi<strong>da</strong>des deman<strong>da</strong>m controle motor, aju<strong>da</strong>m na compreensão <strong>do</strong><br />

ritmo e <strong>da</strong> pulsação, desenvolvem a percepção musical, e podem ser utiliza<strong>da</strong>s tanto no ensino<br />

tutorial quanto no ensino coletivo de violão. Contu<strong>do</strong>, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de presencial de ensino de<br />

violão, estas ativi<strong>da</strong>des podem sofrer intervenção verbal imediata por parte <strong>do</strong> professor,<br />

corrigin<strong>do</strong> e explican<strong>do</strong> aquilo que está sen<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong> em aula. Ou seja, conforme descrito<br />

no item anterior, o professor pode realizar a<strong>da</strong>ptações e intervenções no próprio planejamento,<br />

a partir <strong>do</strong> que foi apresenta<strong>do</strong> pelos alunos. Levan<strong>do</strong> em conta as especifici<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

planejamento em EaD, os próximos tópicos tratarão <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s estratégias de ensino de<br />

violão para a Educação a Distância, e a utilização <strong>da</strong>s ferramentas midiáticas para a a<strong>da</strong>ptação<br />

desta abor<strong>da</strong>gem.<br />

A a<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong> ensino de violão presencial para a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância vai<br />

depender, em parte, <strong>do</strong>s recursos midiáticos para a mediação destes conteú<strong>do</strong>s. Tourinho e<br />

Braga (2006) destacam a fun<strong>da</strong>mentação teórico-pe<strong>da</strong>gógica, escolha <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem para<br />

desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, recursos telemáticos adequa<strong>do</strong>s ao público alvo, e a<br />

preparação de alunos e professores como questões importantes para o planejamento de cursos<br />

de violão a distância. Estas recomen<strong>da</strong>ções são análogas ao planejamento de aulas na<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de presencial, contu<strong>do</strong>, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância os recursos midiáticos têm um<br />

papel importante neste planejamento.<br />

Na proposta <strong>do</strong> PROLICENMUS, o modelo de material didático abor<strong>da</strong> os<br />

conteú<strong>do</strong>s musicais de forma apreciativa, explicativa e interativa. Com o intuito de oferecer<br />

os primeiros contatos e <strong>da</strong>r parâmetro <strong>do</strong> nível de execução desejável, para ca<strong>da</strong> música <strong>do</strong><br />

repertório é disponibiliza<strong>do</strong> um vídeo <strong>da</strong> obra a ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> referencial para<br />

interpretação <strong>da</strong> obra e <strong>do</strong> nível espera<strong>do</strong> para sua execução. Para orientações mais detalha<strong>da</strong>s<br />

acerca <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> deste repertório, trechos são seleciona<strong>do</strong>s, normalmente por sua dificul<strong>da</strong>de<br />

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2 OA N O S<br />

técnica ou musical, para compor mídias digitais que são planeja<strong>da</strong>s para o ensino <strong>do</strong><br />

repertório. Vamos detalhar algumas destas mídias utiliza<strong>da</strong>s e como elas se aplicam no ensino<br />

de violão a distancia.<br />

Em um repertório com elementos polirrítmicos ou polifônicos, o aluno pode tocar<br />

separa<strong>da</strong>mente as vozes, interagin<strong>do</strong> com arquivos de áudio e partituras; animações mostram<br />

para o aluno o deslocamento sequencial <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s, auxilian<strong>do</strong> o procedimento de estu<strong>do</strong> para<br />

a troca de acordes de uma canção; vídeos são elabora<strong>do</strong>s com explicações, narra<strong>da</strong>s ou<br />

textuais, onde são feitas demonstrações <strong>do</strong> procedimento de estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> obra. Com estas<br />

ferramentas, a aprendizagem ocorre através <strong>da</strong> observação, apreciação, imitação e interação.<br />

Pode-se, por exemplo, a<strong>do</strong>tar a mesma estratégia cita<strong>da</strong> anteriormente para solucionar<br />

problemas de troca de acordes selecionan<strong>do</strong> previamente um trecho <strong>da</strong> música e deixan<strong>do</strong> no<br />

vídeo o espaço para o aluno complementar o trecho musical. Neste caso, o vídeo tem função<br />

interativa, aplican<strong>do</strong> uma ativi<strong>da</strong>de de imitação.<br />

Esta abor<strong>da</strong>gem de ensino deman<strong>da</strong> um planejamento minucioso, pois se reflete<br />

diretamente na quanti<strong>da</strong>de e na abor<strong>da</strong>gem didática <strong>do</strong>s trechos seleciona<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> ao<br />

distinto nível técnico musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes. A a<strong>da</strong>ptação destas ativi<strong>da</strong>des para a<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância, e a instruções <strong>da</strong><strong>da</strong>s ao aluno sobre o procedimento destas ativi<strong>da</strong>des<br />

devem ser detalha<strong>da</strong>s e claras, a fim de evitar interpretações equivoca<strong>da</strong>s sobre aquilo que se<br />

pretende estu<strong>da</strong>r. Segun<strong>do</strong> Moore (2007) em situações de ensino aprendizagem a distância,<br />

falhas na comunicação e compreensão podem ocorrer entre professor e aluno, “um espaço<br />

psicológico de potenciais mal entendi<strong>do</strong>s, que precisam ser corrigi<strong>do</strong>s através instrução<br />

pe<strong>da</strong>gógica e técnicas especiais de ensino” (MOORE; KEARSLEY, 2007). O diálogo,<br />

estrutura e o programa são as três variáveis que determinam extensão <strong>da</strong> interação a distância<br />

e, por isso, também devem ser leva<strong>da</strong>s em consideração ao se planejar cursos na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a<br />

distância. Além disso, neste mo<strong>do</strong> de mediação, fazer as intervenções imediatas, verbais ou<br />

não verbais sobre a execução <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte nem sempre é possível, caben<strong>do</strong> ao aluno observar<br />

criticamente o vídeo e a si mesmo para corrigir os problemas em sua execução. (TOURINHO,<br />

2007).<br />

Na estrutura <strong>do</strong> PROLICENMUS, há o suporte de tutores presenciais para o<br />

atendimento, fazen<strong>do</strong> a mediação <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s várias interdisciplinas. No que se refere<br />

ao instrumento, estes auxiliam os estu<strong>da</strong>ntes em suas dúvi<strong>da</strong>s técnico-musicais.<br />

Conclusão<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

O objetivo deste artigo foi reforçar a importância <strong>do</strong> planejamento em qualquer ação<br />

educacional e colocar as principais características desse planejamento quan<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> ao<br />

ensino de violão a distância. Da forma como é realiza<strong>do</strong> no PROLICENMUS, o ensino de<br />

violão a distância requer um planejamento minucioso, não só em relação à forma como será<br />

trabalha<strong>do</strong> determina<strong>do</strong> repertório, mas também nas formas de interação <strong>do</strong> aluno com este<br />

repertório e material didático que o media. A sistematização de uma aula de violão a distância<br />

procura prever quais serão os pontos de maior dificul<strong>da</strong>de no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno e abordá-los nas<br />

aulas, já que nesta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a percepção <strong>do</strong> aproveitamento <strong>do</strong> aluno por parte <strong>do</strong> professor<br />

não é direta e em tempo real. Desta forma, esperamos que o presente artigo contribua para a<br />

reflexão sobre a atuação <strong>do</strong>s profissionais envolvi<strong>do</strong>s na Educação Musical a Distância e<br />

também informe <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des desta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de àquelas pessoas que não possuem<br />

contato direto com ela.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BRAGA, Paulo; TOURINHO, Cristina. “Era uma casa muito engraça<strong>da</strong>...”: reflexões sobre o<br />

planejamento <strong>do</strong> ensino instrumental a distância e a criação de cursos media<strong>do</strong>s por<br />

computa<strong>do</strong>r. XVI Congresso <strong>da</strong> Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em<br />

Música – ANPPOM. <strong>Anais</strong>... Brasília, 2006.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. Goiânia: Edição <strong>do</strong> Autor, 2002.<br />

MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a distância: uma visão integra<strong>da</strong>. São<br />

Paulo: Thomson Learning, 2007.<br />

ROMANELLI, Guilherme G. B. Planejamento <strong>da</strong>s aulas de estágio. In: MATEIRO, Teresa;<br />

SOUZA, Jusamara (orgs). Práticas de Ensinar Música: legislação, planejamento, observação,<br />

registro, espaço e formação. Porto Alegre: Sulina, 2006.<br />

TOURINHO, Cristina. Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais: crenças, mitos, princípios<br />

e um pouco de história. In: XVI <strong>Encontro</strong> Nacional <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. <strong>Anais</strong>...Campo Grande, 2007.<br />

___________ A motivação e o desempenho escolar na aula de violão em grupo: influência <strong>do</strong><br />

repertório de interesse <strong>do</strong> aluno. In: ICTS - UFBA. Salva<strong>do</strong>r, n°2,dez/ 2002.<br />

WEBER, Dorcas.; NUNES, H. S. Produção de Material Didático para Educação a Distância:<br />

uma proposta para o PROLICENMUS. In: Revista Renote / Cinted – UFRGS. Porto Alegre,<br />

v. 7, nº 2, out/2009. (ISSN 1679-1916).<br />

WESTERMANN, Bruno. Fatores que influenciam a autonomia <strong>do</strong> aluno em um curso de<br />

Licenciatura em Música a Distância. 2010. 114 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música).<br />

Programa de Pós-Graduação em Música, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia: Salva<strong>do</strong>r, 2010.<br />

WESTERMANN, Bruno. Modelo de Avaliação em Violão em um curso de licenciatura em<br />

Música EAD. In: XIX Congresso Nacional <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical.<br />

<strong>Anais</strong>... Goiânia, 2010. CD-ROM.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Oficinas de formação continua<strong>da</strong> com professores de Artes <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> município de João pessoa.<br />

AlexandreMilne-Jones Náder<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

amjnader@gmai.com<br />

Resumo: As perspectivas educacionais contemporâneas e a dinâmica de aspectos culturais na<br />

socie<strong>da</strong>de têm reflexo direto nas práticas de ensino realiza<strong>da</strong>s nos distintos contextos<br />

educativos <strong>do</strong> país e, neste senti<strong>do</strong>, exige <strong>do</strong>s professores um constante processo de<br />

atualização profissional. Partin<strong>do</strong> desta perspectiva este trabalho tem por objetivo refletir<br />

sobre as principais características <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógico musical desenvolvi<strong>da</strong>s pelos<br />

professores de música atuantes nas escolas municipais de ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> município de<br />

João Pessoa-PB. A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s foi realiza<strong>da</strong> durante a formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

professores de Artes em 2009, o que possibilitou uma maior adequação <strong>do</strong> curso a suas<br />

necessi<strong>da</strong>des músico-pe<strong>da</strong>gógicas. Para reflexão e análise <strong>da</strong>s práticas utilizamos a<br />

perspectiva de autores que defendem a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s linguagens artísticas no ensino <strong>da</strong>s<br />

Artes, bem como <strong>do</strong>cumentos que servem de orientação para a prática pe<strong>da</strong>gógica em sala de<br />

aula. Nos encontros realiza<strong>do</strong>s quinzenalmente, além de participar coordenan<strong>do</strong> a formação<br />

<strong>do</strong>s professores de Música, realizei entrevistas em grupo para compreendermos melhor quais<br />

os objetivos, conceitos e coteú<strong>do</strong>s elabora<strong>do</strong>s pelos professores durante a aula de música. A<br />

partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s foi possível notar que neste município a formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

professores de Artes é fun<strong>da</strong>mental tanto para atualizá-los sobre a nova perspectiva <strong>do</strong> ensino<br />

inicia<strong>da</strong> com a lei 9394/96 quanto para fornece-lhes recursos meto<strong>do</strong>lógicos para efetivação<br />

<strong>da</strong>s aulas de música.<br />

Introdução:<br />

A formação continua<strong>da</strong> tem si<strong>do</strong> considera<strong>da</strong> na atuali<strong>da</strong>de como diretriz<br />

fun<strong>da</strong>mental para a capacitação profissional de professores, sen<strong>do</strong> amplamente enfatiza<strong>da</strong> nas<br />

políticas estabeleci<strong>da</strong>s pelo Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC) e pelos demais órgãos gestores <strong>da</strong><br />

educação nacional (secretarias municipais e estaduais de ensino, etc.), como destaca<strong>da</strong> no<br />

Plano Nacional de Metas Compromisso To<strong>do</strong>s pela Educação <strong>do</strong> MEC 1 (BRASIL, 2007).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, há uma crescente necessi<strong>da</strong>de de estabelecermos políticas consistentes<br />

de formação continua<strong>da</strong> de professores. Políticas que possibilitem aos profissionais <strong>da</strong><br />

educação estar contextualiza<strong>do</strong>s com as reali<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s diferentes universos de ensino que<br />

1 O Plano de Metas Compromisso To<strong>do</strong>s pela Educação destaca a importância <strong>da</strong> formação profissional <strong>do</strong>s<br />

professores <strong>da</strong> educação básica, enfatizan<strong>do</strong> nas suas XII e XVI diretrizes, respectivamente, que os sistemas<br />

municipais e estaduais ensino deverão “instituir programa próprio ou em regime de colaboração para formação<br />

inicial e continua<strong>da</strong> de profissionais <strong>da</strong> educação”; e “valorizar o mérito <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>da</strong> educação,<br />

representa<strong>do</strong> pelo desempenho eficiente no trabalho, dedicação, assidui<strong>da</strong>de, pontuali<strong>da</strong>de, responsabili<strong>da</strong>de,<br />

realização de projetos e trabalhos especializa<strong>do</strong>s, cursos de atualização e desenvolvimento profissional”<br />

(BRASIL, 2007, p. 1-2,.<br />

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atuam, com as necessi<strong>da</strong>des e deman<strong>da</strong>s socioculturais e com os objetivos educacionais em<br />

geral.<br />

As diferentes reali<strong>da</strong>des de ensino <strong>do</strong> país e os desafios constantes <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente<br />

nos fazem perceber que a formação profissional precisa ser entendi<strong>da</strong> como uma ação<br />

necessária e de fun<strong>da</strong>mental valor para subsidiar a atuação <strong>do</strong>s professores <strong>da</strong> educação básica<br />

e <strong>da</strong>s demais mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ensino <strong>do</strong> Brasil. É nessa direção que diferentes áreas <strong>do</strong><br />

conhecimento, incluin<strong>do</strong> a área de Música, vêm estabelecen<strong>do</strong> estratégias distintas para a<br />

formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s seus professores.<br />

Destaco neste projeto as políticas estabeleci<strong>da</strong>s pela Secretaria de Educação e<br />

Cultura <strong>do</strong> Município de João Pessoa, que tem investi<strong>do</strong>, de forma significativa, em propostas<br />

reais de formação continua<strong>da</strong>, propician<strong>do</strong> aos profissionais atuantes na educação básica<br />

caminhos consistentes para uma constante (re)definição e atualização de sua prática <strong>do</strong>cente.<br />

No caso específico <strong>do</strong> ensino música, as mu<strong>da</strong>nças estabeleci<strong>da</strong>s pela Resolução N.º<br />

009/2006, <strong>do</strong> Conselho Municipal de Educação de João Pessoa (que dispõem sobre a<br />

implantação <strong>do</strong> ensino de artes em to<strong>da</strong>s as séries e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des nos níveis infantil e<br />

fun<strong>da</strong>mental no município de João Pessoa), redefiniu completamente, a partir <strong>do</strong> ano de 2007,<br />

a estrutura então estabeleci<strong>da</strong> para a área. Tal fato tem, por conseqüência, gera<strong>do</strong> a<br />

necessi<strong>da</strong>de de um trabalho específico e direciona<strong>do</strong> para as diferentes áreas que caracterizam<br />

o abrangente campo <strong>da</strong>s artes (JOÃO PESSOA, 2006). Somente dessa forma será possível<br />

fazer com que as mu<strong>da</strong>nças não se configurem apenas no âmbito <strong>da</strong> legislação, mas que,<br />

sobretu<strong>do</strong>, elas se caracterizem na prática, no dia-a-dia de atuação <strong>do</strong>s professores nos seus<br />

contextos de ensino.<br />

O ensino <strong>da</strong> Música nas escolas passa por momentos importantes de redefinição,<br />

ten<strong>do</strong> como base a própria concepção <strong>do</strong> perfil profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Conforme<br />

tem si<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> e analisa<strong>do</strong> por estudiosos <strong>da</strong> área, os professores de música na atuali<strong>da</strong>de<br />

precisam de uma formação consistente que lhes possibilite atuar de forma contextualiza<strong>da</strong><br />

com as perspectivas <strong>da</strong> área de educação musical e com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s múltiplos espaços de<br />

ensino e aprendizagem <strong>da</strong> música (BELLOCHIO, 2003; DEL BEN, 2003; GROSSI, 2003;<br />

SOUZA, 2003;). Diante dessa reali<strong>da</strong>de, a formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s professores de música,<br />

consideran<strong>do</strong>, mais especificamente a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolas municipais de João Pessoa,<br />

precisa contemplar estratégias que possibilitem a atuação consistente <strong>do</strong>s profissionais<br />

atuantes nesse contexto.<br />

Partin<strong>do</strong> desta perspectiva este trabalho tem por objetivo levantar os principais<br />

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conceitos explicita<strong>do</strong>s pelos professores de música, durante a formação continua<strong>da</strong> de 2009<br />

<strong>do</strong> município de João Pessoa, sobre suas práticas pe<strong>da</strong>gógico musicais realiza<strong>da</strong>s no ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental. Tais concepções além de caracterizar a prática desses profissionais nos auxiliam<br />

a estabelecer objetivos concretos, a serem trabalha<strong>do</strong>s na formação continua<strong>da</strong>, visan<strong>do</strong> a<br />

efetivação <strong>da</strong> aula de música com base nos <strong>do</strong>cumentos nacionais que orientam essa prática e<br />

de acor<strong>do</strong> com perspectivas contemporaneas <strong>do</strong> ensino de música.<br />

O trabalho com professores de música <strong>do</strong> município de João Pessoa:<br />

A formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s professores de Artes vincula<strong>do</strong>s a secretaria de educação<br />

municipal de João Pessoa foi estrutura<strong>da</strong> no ano de 2009 em seis encontros, com 4 horas de<br />

duração ca<strong>da</strong>. Sen<strong>do</strong> estes ofereci<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> manhã e <strong>da</strong> tarde, para que os professores<br />

participassem no horário oposto ao perío<strong>do</strong> em que se encontravam em sala de aula. As<br />

oficinas 2 se realizaram no segun<strong>do</strong> semestre de 2009 mais especificamente nos dias 18 e 25<br />

de setembro, 09 e 23 de outubro e 13 e 27 de novembro.<br />

O primeiro momento <strong>da</strong>s oficinas, com duração de 45 minutos, era realiza<strong>do</strong> com<br />

professores de to<strong>da</strong>s as linguagens artísticas e tinha como objetivo a realização de exercícios<br />

de relaxamento, dinâmicas motivacionais e de integração <strong>do</strong> grupo. Num segun<strong>do</strong> momento,<br />

os professores tinham aulas específicas em concordância com sua habilitação.<br />

Sen<strong>do</strong> responsável pela formação continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s professores de música, no<br />

planejamento <strong>da</strong>s oficinas estabeleci como objetivo <strong>do</strong> meu trabalho promover a formação<br />

continua<strong>da</strong> <strong>do</strong>s mesmos, a partir de conteú<strong>do</strong>s e estratégias meto<strong>do</strong>lógicas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong><br />

área, ten<strong>do</strong> como base o perfil <strong>do</strong>s profissionais, a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s escolas em que atuam e os<br />

objetivos e perspectivas <strong>do</strong> ensino de música na atuali<strong>da</strong>de. Para tal tarefa foram objetivos<br />

específicos durante as ativi<strong>da</strong>des:<br />

• Proporcionar aos professores <strong>da</strong> área ferramentas necessárias para a discussão e a<br />

reflexão em torno <strong>da</strong>s questões fun<strong>da</strong>mentais que alicerçam o ensino de música nas<br />

escolas de educação básica;<br />

2 Esta denominação foi <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos coordena<strong>do</strong>res <strong>da</strong> formação <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental.<br />

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• Construir, junto com os profissionais, alternativas didático-pe<strong>da</strong>gógicas para o ensino<br />

musical, consideran<strong>do</strong> o perfil de formação desses profissionais e a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

contexto educacional em que atuam;<br />

• Favorecer o entendimento amplo <strong>da</strong>s questões fun<strong>da</strong>mentais que norteiam o campo <strong>da</strong><br />

educação musical, mais especificamente no que se refere ao ensino de música nas<br />

escolas de educação básica;<br />

• Desenvolver conteú<strong>do</strong>s específicos <strong>da</strong> área de música, possibilitan<strong>do</strong>, ao professor,<br />

uma clara compreensão <strong>do</strong>s elementos essenciais para o desenvolvimento<br />

sociocultural, cognitivo, educativo e artístico <strong>do</strong>s alunos.<br />

Os procedimentos pe<strong>da</strong>gógicos realiza<strong>do</strong>s durante os encontros incluiram discussões<br />

coletivas, videos, exposição por parte <strong>do</strong> coordena<strong>do</strong>r, além de várias práticas músicais que<br />

ocuparam a maior parte <strong>do</strong> tempo. Vale ressaltar que durante os primeiros encontros coletei<br />

depoimentos em audio para que ao decorrer <strong>da</strong>s oficinas eu redefinisse o planejamento com<br />

base nas necessi<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s.<br />

Participaram <strong>da</strong>s oficinas nove professores de música. A maioria deles, com exceção<br />

de <strong>do</strong>is professores que haviam cursa<strong>do</strong> a Licenciatura em Música, eram licencia<strong>do</strong>s em<br />

Educação Artística com habilitação em música. Alguns professores tinham além <strong>da</strong> formação<br />

em música outras habilitações em artes plásticas ou artes cênicas. Nenhum <strong>do</strong>s profissionais<br />

envolvi<strong>do</strong>s tinham participa<strong>do</strong> de cursos de pós-graduação. Vale ressaltar também que apenas<br />

a partir de 2008 eles começaram a participar <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> específica para ca<strong>da</strong><br />

linguagem artística sob a orientação <strong>do</strong> professor Dr. Luís Ricar<strong>do</strong> S. Queiroz.<br />

Como podemos notar um curso com o total de 20 horas é pouco para abor<strong>da</strong>mos de<br />

forma efetiva os objetivos pretendi<strong>do</strong>s. Porém devemos ressaltar que apesar <strong>da</strong> sua reduzi<strong>da</strong><br />

carga horária estes encontros ampliaram o leque de recursos pe<strong>da</strong>gógicos possiveis de serem<br />

trabalha<strong>do</strong>s na escola além de apresentarem uma nova perspectiva <strong>do</strong> ensino de artes no<br />

contextos escolar.<br />

Caracterização <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógico musicais pelos participantes <strong>da</strong> formação<br />

continua<strong>da</strong>.<br />

Ao questionar os professores sobre a presença <strong>da</strong> música na grade currricular <strong>do</strong><br />

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ensino fun<strong>da</strong>mental, foi unânime a opinião de que esta matéria era de grande importância para<br />

a formação global <strong>do</strong> indivíduo fazen<strong>do</strong> com que ele compreen<strong>da</strong> melhor as músicas<br />

presentes no seu cotidiano. Perguntei então como a música auxiliaria nessa formação global e<br />

obtive respostas no senti<strong>do</strong> de que um aluno quan<strong>do</strong> realiza uma prática musical trabalha<br />

questões como desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de motora, o respeito entre os colegas,<br />

comportamento e melhorarias no seu processo de aprendizagem em outras matérias.<br />

No momento seguinte pedi para me explicarem como desenvolviam as práticas<br />

musicais na escola. O primeiro ponto enfatiza<strong>do</strong> por eles foi a falta de material e de condições<br />

para efetuarem uma aula de música com quali<strong>da</strong>de. Essa quali<strong>da</strong>de como expressa por eles<br />

estava na capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor ensinar um aluno a interpretar em instrumentos como flauta<br />

<strong>do</strong>ce e percussão, músicas a serem toca<strong>da</strong>s durante os festejos <strong>da</strong> escola. Apenas uma<br />

professora discor<strong>do</strong>u dizen<strong>do</strong> a seguinte afirmação.<br />

Eu não preciso de na<strong>da</strong> disso, na minha escola até tem instrumentos<br />

<strong>da</strong> ban<strong>da</strong> de fanfarra, mas como eu não sei tocar nenhum deles, pra<br />

mim não funciona. Eu trabalho assim... to<strong>do</strong> dia tem uma rotina então<br />

eu utilizo o canto que não precisa na<strong>da</strong> disso. A gente canta na hora<br />

que chega, quan<strong>do</strong> faz a fila pro recreio. To<strong>do</strong> ano eu faço um<br />

coralzinho, sabe? Aí, no final <strong>do</strong> ano... NÃO! Isso acontece mais nos<br />

dias <strong>da</strong>s mães. Agente canta quase to<strong>do</strong>s os anos canta pras mães<br />

(depoimento de uma professora, coleta<strong>do</strong> no dia 18 de setembro de<br />

2009).<br />

Um professor com duas habilitações nos disse que não realizava ativi<strong>da</strong>des musicais<br />

pois a qualquer sinal de barulho os professores <strong>da</strong> sala vizinha reclamavam e isso fez com que<br />

ele trabalhasse mais com as artes visuais que não faziam tanto barulho. Outro ponto<br />

enfatiza<strong>do</strong> por ele foi a necessi<strong>da</strong>de de um espaço melhor para trabalhar a música.<br />

Na oficina realiza<strong>da</strong> no dia 23 de outubro tive por objetivo discutir com eles a questão<br />

<strong>da</strong> avaliação <strong>do</strong>s alunos na aula de música. Antes de expor algumas idéias com base no livro<br />

Avaliação em Música: reflexões e práticas (2003), questionei-os sobre como eram realiza<strong>da</strong>s<br />

as avaliações no campo <strong>da</strong> música e quais as ferramentas utiliza<strong>da</strong>s – sejam elas ativi<strong>da</strong>des,<br />

provas, exercícios etc.<br />

Nesse momento alguns questionaram se valia a pena a avaliação em música pois os<br />

conhecimentos referente a essa área era aprendi<strong>do</strong> no convívio social fora <strong>da</strong> escola. Como<br />

afirmou um professor:<br />

Sei não. Acho que eles já na notaram isso (aponta para os demais<br />

colegas). Eu tenho um aluno que é filho <strong>da</strong> secretária <strong>da</strong> escola, sabe<br />

quem é Dona Nega? (perguntan<strong>do</strong> a um colega se conhecia a<br />

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secretária) aquele ali é um anjo. Ele sabe o nome de pintor, conhece<br />

mesmo. Na música ele diz nomes como Caetano Veloso, Gal Costa. E<br />

quan<strong>do</strong> a gente pede trabalho, ele faz no capricho. Agora aquele<br />

aluno que só ouve Rebolation (referin<strong>do</strong>-se a uma música específica)<br />

ou música de índio... aí fica bem mais dificil.(depoimento <strong>do</strong><br />

professor, coleta<strong>do</strong> no dia 23/010/2009)<br />

Segun<strong>do</strong> a maioria <strong>do</strong>s professores envolvi<strong>do</strong>s como não trabalhavam muito com a<br />

prática musical suas avaliações eram realiza<strong>da</strong>s através de pesquisas realiza<strong>da</strong>s pelos<br />

educan<strong>do</strong>s e uma outra nota tinha por base a participação nas aulas. Muitos deles não <strong>da</strong>vam<br />

também grande importância a avaliação pois seria uma prática recorrente o diretor pedir para<br />

eles mu<strong>da</strong>rem a nota de um aluno se ele ia bem em outras matérias e reprovasse apenas na<br />

matéria de artes.<br />

Refletin<strong>do</strong> sobre a prática desses professores a partir de seus depoimentos podemos<br />

notar que para eles as aulas de música na escola são importantes na medi<strong>da</strong> em que auxiliam o<br />

desenvolvimento integral <strong>do</strong> aluno, através <strong>do</strong> trabalho <strong>da</strong> linguagem musical, além de<br />

possibilitar uma maior compreensão <strong>da</strong>s músicas que estão presentes no seu dia a dia. Nesse<br />

senti<strong>do</strong> notamos alguma similari<strong>da</strong>de com os objetivos apresenta<strong>do</strong>s nos Parâmentros<br />

Curriculares Nacionais que em suas considerações iniciais defende que,<br />

Qualquer proposta de ensino que considere essa diversi<strong>da</strong>de precisa abrir<br />

espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, aconlhen<strong>do</strong>-a,<br />

contextualizan<strong>do</strong>-a e oferecen<strong>do</strong> acesso a obras que possam ser significativas<br />

para o seu desenvolvimento pessoal em ativi<strong>da</strong>des de apreciação e produção<br />

(PCN- Arte I, p. 75).<br />

Apesar <strong>do</strong> objetivo estar de acor<strong>do</strong> com <strong>do</strong>cumentos nacionais que orientam a prática<br />

pe<strong>da</strong>gógica vemos que esses são incompatíveis com o que eles consideram uma aula séria de<br />

música, que, segun<strong>do</strong> eles, teria foco na interpretação de peças musicais em algum<br />

instrumento.<br />

Isso demonstra uma certa confusão entre os objetivos <strong>da</strong> música no contexto escolar e<br />

no espaço <strong>da</strong>s escolas especializa<strong>da</strong>s em música. Essa última sim tem um ensino de carater<br />

técnico-profissionalizante para o adestrameno no uso de partituras, com aulas de teoria<br />

musical. Este tipo de ensino que tem históricamente práticas pe<strong>da</strong>gógicas bastante<br />

questionáveis, muitas vezes, é visto como modelo de ensino sério de música. Não se trata aqui<br />

de negar o desenvolvimento técnico–instrumental, fato que muitas vezes está presente nas<br />

escolas através de projetos que visam a formação de ban<strong>da</strong>s de fanfarra ou pequenos grupos<br />

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instrumentais, mas ter consiência que na sala de aula este não deve ser o mote principal.<br />

A música também parece não ter um valor em si. Como explicita<strong>do</strong> por eles<br />

(professores) a educação musical teria a função de desenvolver aspectos relaciona<strong>do</strong>s a<br />

cordenação motora e concentração, aspectos estes que são objetivos que perpassam por to<strong>da</strong>s<br />

as matérias. Nesse senti<strong>do</strong> não se justificaria a presença <strong>da</strong> música nas escolas pois esta aula<br />

estaria apenas reforcan<strong>do</strong> aspectos já trabalha<strong>do</strong>s em outras matérias. As aulas de música<br />

devem ter por objetivo o trabalho com música evidencian<strong>do</strong> suas características e ten<strong>do</strong> esta<br />

como objeto central durante a aula. A partir <strong>do</strong>s depoimentos vemos que os professores vem a<br />

música como processo para se chegar a algo e não com um fim em si mesma.<br />

Outro ponto divergente entre o discurso e a prática <strong>do</strong>s professores refere-se ao<br />

acolhimento <strong>da</strong>s músicas presentes no cotidiano <strong>do</strong>s alunos. Apesar de expressar essa<br />

convicção em suas falas, o repertório trabalha<strong>do</strong> em sala concentra-se no que o professor já<br />

conhece ou em músicas que devem ser canta<strong>da</strong>s nos dias festivos. Essa atitude implica - por<br />

não abarcar músicas trazi<strong>da</strong>s pelos alunos - de forma negativa nas possíveis relações <strong>da</strong><br />

música que o aluno houve em casa com os conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s na escola. Neste quadro<br />

podemos caracterizar a atitude <strong>do</strong> professor por uma “surdez seletiva” em relação à produção<br />

musical <strong>do</strong> seu aluno (TOURINHO, 1998).<br />

A utiliação <strong>do</strong> canto coral nas ativi<strong>da</strong>des musicais é uma ferramenta que permite o<br />

trabalho de vários aspectos <strong>da</strong> música como afinação, prática musical coletiva, improvisação e<br />

o trabalho com músicas que os alunos trazem para a sala de aula. Mas ao relatar sua prática a<br />

professora demonstra sua utilização apenas como elemento reforça<strong>do</strong>r <strong>da</strong> rotina diária <strong>da</strong><br />

escola ou ain<strong>da</strong> presente nas festas anuais como no caso o dia <strong>da</strong>s mães.<br />

No Brasil o enfoque no canto coral na educação musical é evidencia<strong>da</strong> desde 1931<br />

com a presença <strong>do</strong> canto Orfeônico na capital <strong>do</strong> Brasil 3 . Seus objetivos 4 porém estavam<br />

longe de enfocar aspectos musicais. Para que o canto coral ocorra de forma efetiva devemos<br />

levar em conta questões como tessitura vocal adequa<strong>da</strong> aos alunos, mu<strong>da</strong> de voz nos<br />

a<strong>do</strong>lescentes e utilizar essa prática para explorarmos aspectos musicais em suas diversas<br />

possibili<strong>da</strong>des.<br />

Quanto a questão <strong>da</strong> avaliação <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> aluno, a dificul<strong>da</strong>de parece<br />

estar no carater subjetivo <strong>da</strong> música, no senti<strong>do</strong> de ser algo que li<strong>da</strong> apenas com dimensões<br />

3 Nessa época a capital <strong>do</strong> Brasil era a ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

4 Os objetivos <strong>do</strong> canto orfeônico como apresenta<strong>do</strong> por Villa-Lobos tinha por objetivo<br />

desenvolver o civismo, disciplina e a educação artística.<br />

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pessoais. Essa concepção parece derivar <strong>da</strong> ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> pelos professores ao cultivo <strong>da</strong><br />

individuali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> aluno. Como nos apresenta Del Bem:<br />

[...] os professores de música muitas vezes não se sentem no direito de<br />

avaliar a vivência ou a prática musical de seus alunos pois acreditam que<br />

essa prática estará sempre vincula<strong>da</strong> a aspectos subjetivos, aspectos estes que<br />

nem sempre poderão ser compartilha<strong>do</strong>s e, menos ain<strong>da</strong>, avalia<strong>do</strong>s ou<br />

julga<strong>do</strong>s pelo professor de música (DEL BEM, 2003,p. 185).<br />

Agin<strong>do</strong> dessa forma o professor pouco contribuirá com o desenvolvimento <strong>do</strong> aluno<br />

restan<strong>do</strong> a a ele apenas a coordenação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des musicais.<br />

Apesar de seu caracter subjetivo autores como Swanwick apresentam aspectos<br />

musicais compartilha<strong>do</strong>s que podem ser trabalha<strong>do</strong>s de forma coletiva em sala e nos quais os<br />

professores podem estabelecer metas e conteú<strong>do</strong>s a serem trabalha<strong>do</strong>s. Além de aspectos<br />

pertencentes a própria música como aponta<strong>do</strong> por Souza (2000) e Green (2002) a música<br />

enquanto fenômeno social é permea<strong>da</strong> de significa<strong>do</strong>s e funções sociais. Essa dimensão <strong>da</strong><br />

música é também um <strong>do</strong>s pontos a serem desenvolvi<strong>do</strong>s e está em sincronia com os PCNs<br />

quan<strong>do</strong> este nos apresentam em seus objetivos:<br />

valorizar as diversas culturas musicais, especialmente as brasileiras, estabelecen<strong>do</strong> relações<br />

entre a música produzi<strong>da</strong> na escola as veicula<strong>da</strong>s pelas mídias e as que são produzi<strong>da</strong>s<br />

individualmentee/ou por grupos musicais <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de e região( PCN-II, p. 81-82).<br />

Considerações Finais:<br />

Ao participar <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong> de professores de música <strong>do</strong> município de João<br />

Pessoa foi possível notar que além <strong>da</strong>s dinâmicas a serem trabalha<strong>do</strong>s em sala de aula se faz<br />

necessário nesses cursos uma contextualização <strong>do</strong> ensino de artes em suas linguagens<br />

específicas levan<strong>do</strong> em consideração seus objetivos, conteú<strong>do</strong>s e práticas que permitam uma<br />

avaliação consciente <strong>do</strong> desenvolvimento musical <strong>do</strong> aluno. Essa ação se justifica<br />

principalmente pela formação na educação artística que por tratar o ensino de artes de forma<br />

polivalente nos seus primeiros anos pouco investe em uma determina<strong>da</strong> linguagem artística.<br />

Esta questão se torna explícita quan<strong>do</strong> os professores que não tiveram uma formação em<br />

música fora <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de não se sentem aptos a <strong>da</strong>r aula de música em sua sala.<br />

O município de João Pessoa foi um <strong>do</strong>s pioneiros a implantar aulas de artes em suas<br />

linguagens específicas no ensino fun<strong>da</strong>mental porém to<strong>da</strong> essa mu<strong>da</strong>nça é muito recente<br />

exigin<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> secretaria de educação pensar ações que garantam a continuação <strong>da</strong>s aulas<br />

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de música durante to<strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, contratação por parte <strong>da</strong>s escolas de professores<br />

pertencentes as diferentes áreas artísticas e espaços para a realização de práticas musicais nas<br />

escolas.<br />

Referências:<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. A formação profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical: algumas<br />

apostas. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 8, p. 17-24, 2003.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Compromisso to<strong>do</strong>s pela educação. Brasília: MEC, 2007.<br />

Disponível em: . Acesso em: 03 jun 2007.<br />

______. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, 197. V.6: Arte.<br />

DEL BEN, Luciana. Múltiplos espaços, multidimensionali<strong>da</strong>de, conjunto de saberes: idéias<br />

para pensarmos a formação de professores de música. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 8, p.<br />

29-32, 2003.<br />

DEL BEN, Luciana; HENTSCHKE, Liane (orgs). Ensino de música: propostas para pensar e<br />

agir em sala de aula.São Paulo: Moderna, 2003.<br />

GREEN, Lucy. How popular musicians learn: a way ahead for music education. Londres:<br />

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GROSSI, Cristina. Reflexões sobre atuação profissional e merca<strong>do</strong> de trabalho na perspectiva<br />

<strong>da</strong> formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 8, p. 87-92, 2003.<br />

JOÃO PESSOA. Conselho Municipal de Educação. Resolução nº 009, de 2006. Implantação<br />

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em questão. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 8, p. 107-109, 2003.<br />

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Políticas educacionais e culturaisno limiar <strong>do</strong> século XXI. <strong>Anais</strong>, Brasília: 1998, p. 167-175.<br />

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Os saberes <strong>do</strong>centes <strong>do</strong>s Bacharéis em Piano <strong>do</strong> Recife<br />

Dayse Christina Gomes <strong>da</strong> Silva Mendes<br />

Escola Técnica de Criativi<strong>da</strong>de Musical <strong>do</strong> Recife<br />

<strong>da</strong>ysemusic@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este artigo refere-se à questão <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong>s Bacharéis em piano, <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco, quanto às suas habili<strong>da</strong>des experienciais que os tornam<br />

competentes para o ensino <strong>do</strong> instrumento. A autora faz um questionário com alunos <strong>do</strong><br />

Bacharela<strong>do</strong>, Bacharel recém forma<strong>do</strong> e professores universitários de piano a fim de<br />

investigar quais são os saberes <strong>do</strong>centes que norteiam esta prática e levanta uma importante<br />

in<strong>da</strong>gação sobre quem seria o profissional mais qualifica<strong>do</strong> à <strong>do</strong>cência: o Licencia<strong>do</strong> em<br />

música ou o Bacharel em piano? Esse tema veio à tona a partir <strong>do</strong> fato de ter si<strong>do</strong> concedi<strong>da</strong> a<br />

permissão ao Bacharel prestar concurso para professor em escolas especializa<strong>da</strong>s de música<br />

no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco.<br />

Palavras-chave: competência, <strong>do</strong>cência, bacharéis.<br />

Introdução<br />

Este texto levanta uma questão relevante: quem é mais competente para o ensino <strong>do</strong><br />

instrumento o Bacharel em piano ou o Licencia<strong>do</strong> em música? Desenvolver esta pesquisa<br />

tornou-se bastante significativa, visto que, em Recife, não há um curso de Licenciatura<br />

volta<strong>do</strong> para o ensino <strong>do</strong> piano. O que existe é o de Bacharela<strong>do</strong> e foi justamente nesse curso<br />

que os atuais alunos e professores basearam parte de seus saberes <strong>do</strong>centes.<br />

O profissional Licencia<strong>do</strong> tem o direito de exercer a função de professor de piano em<br />

escolas específicas (como conservatórios e escolas técnico-profissionalizantes), ampara<strong>do</strong><br />

pela Lei de Diretrizes e Bases desde o ano de 1996 1 ; fez-se uma exceção no ano de 2009,<br />

quan<strong>do</strong> foi realiza<strong>do</strong> um concurso para professor de música com habili<strong>da</strong>de em instrumento<br />

no Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, no qual o profissional que possuía apenas o bacharela<strong>do</strong> também<br />

tinha condições de concorrer a uma vaga de <strong>do</strong>cente. No entanto, em sen<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong>, ele<br />

precisaria regressar a Universi<strong>da</strong>de, a fim de adquirir “competência para o ensino” cursan<strong>do</strong> a<br />

Licenciatura em Música.<br />

To<strong>da</strong>via, este curso em nenhum momento apresenta disciplinas pe<strong>da</strong>gógicas no<br />

instrumento. As disciplinas práticas são apenas a um nível elementar (Instrumento auxiliar –<br />

tecla<strong>do</strong> com 4 semestres de estu<strong>do</strong>s e 2 horas semanais em grupo). Apenas ao final <strong>do</strong> curso<br />

há uma disciplina chama<strong>da</strong> prática <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música 1 e 2, a qual no primeiro semestre o<br />

aluno faz estágio em escola <strong>do</strong> ensino regular e no segun<strong>do</strong> semestre em escolas<br />

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especializa<strong>da</strong>s. “Se o trabalho <strong>do</strong>s professores exige conhecimentos específicos a sua<br />

profissão e dela oriun<strong>do</strong>s, então a formação de professores deveria, em boa parte, basear-se<br />

nesses conhecimentos”. (TARDIF, 2002, p. 241)<br />

A formação de professores é <strong>do</strong>mina<strong>da</strong> por teorias psicológicas, didáticas,<br />

pe<strong>da</strong>gógicas, mas sem nenhum tipo de relação com o ensino, com o ofício<br />

específico <strong>do</strong> professor. É necessário que a formação <strong>do</strong>cente <strong>da</strong>s<br />

Universi<strong>da</strong>des abra espaço maior para os conhecimentos práticos dentro <strong>do</strong><br />

currículo. (TARDIF, 2002, p. 241)<br />

Marques (1998, p. 62) escreve que:<br />

A dicotomia entre Bacharela<strong>do</strong> e Licenciatura se apresenta com uma grande<br />

diferença na estruturação curricular <strong>do</strong>s cursos de música. O professor de<br />

instrumento é um perfil profissional que exige em sua formação a busca de<br />

um equilíbrio entre competências pe<strong>da</strong>gógicas e músicos-instrumentais.<br />

Objetivo-Meto<strong>do</strong>logia<br />

O objetivo deste artigo é abor<strong>da</strong>r quais são os saberes que permeiam a prática para o<br />

ensino de piano <strong>do</strong>s Bacharéis em Recife. Pretende-se discorrer sobre algumas questões<br />

práticas como: objetivos para o curso, a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> inclusão de matérias pe<strong>da</strong>gógicas e,<br />

na opinião deles, quem estaria mais apto para o ensino, o Licencia<strong>do</strong> em música ou o<br />

Bacharel em piano, por fim, a análise <strong>do</strong>s saberes observa<strong>do</strong>s.<br />

A meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> para a realização deste relato incluiu os seguintes passos para<br />

a coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s:<br />

• Seleção <strong>do</strong>s participantes para a pesquisa, alunos que estavam em diferentes<br />

fases <strong>do</strong> curso de Bacharela<strong>do</strong> e professores de piano, a fim de obter uma visão<br />

panorâmica de suas práticas <strong>do</strong>centes, buscan<strong>do</strong> investigar quais são os saberes<br />

que norteiam o cotidiano <strong>do</strong> ensino de piano <strong>do</strong>s Bacharéis;<br />

• Elaboração e aplicação de um questionário direciona<strong>do</strong> a três alunos <strong>do</strong><br />

Bacharela<strong>do</strong>, um Bacharel recém forma<strong>do</strong> e três professores de piano (um que<br />

já exerceu a função de professor substituto e <strong>do</strong>is professores universitários),<br />

conten<strong>do</strong> questões relevantes que buscavam investigar e comprovar a<br />

competência adquiri<strong>da</strong> por parte <strong>do</strong>s Bacharéis no seu dia a dia.<br />

1 GROSSI, Ester. Lei de diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional, 1997.<br />

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A identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>s foi preserva<strong>da</strong> e seus depoimentos foram identifica<strong>do</strong>s<br />

como Discente e Docente segui<strong>do</strong>s de números cardinais em ordem crescente, de acor<strong>do</strong> com<br />

o tempo de curso e de carreira profissional.<br />

O curso de Bacharel em piano no Recife<br />

A finali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> curso de Bacharela<strong>do</strong> em piano <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Pernambuco é a formação de pianistas. Tem a duração de dez perío<strong>do</strong>s semestrais e carga<br />

horária de quatro horas semanais e, como qualquer instituição superior de música, é<br />

necessário que o aluno tenha um bom nível pianístico para ingresso no curso, visto que há um<br />

teste prático de habili<strong>da</strong>de no instrumento ao prestar o vestibular.<br />

Na parte prática, ca<strong>da</strong> perío<strong>do</strong> consiste em níveis gra<strong>da</strong>tivos de dificul<strong>da</strong>de técnica e<br />

virtuosística. Durante o curso, o aluno faz quatro recitais solo a ca<strong>da</strong> três perío<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> o<br />

quarto recital (de no mínimo 45 minutos) realiza<strong>do</strong> no décimo perío<strong>do</strong> por motivo de sua<br />

formatura 2 . Nesse senti<strong>do</strong>, é conveniente investigar que o conhecimento que os Bacharéis têm<br />

sobre técnica, performance pianística e monitoria supervisiona<strong>da</strong> os tornam competentes para<br />

o ensino de seu próprio instrumento, principalmente por estarem em contato diário com o seu<br />

objeto de estu<strong>do</strong>. No entanto, o curso não oferece disciplinas pe<strong>da</strong>gógicas para o ensino <strong>do</strong><br />

piano.<br />

Um professor de profissão é alguém que assume sua prática a partir <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s<br />

que ele mesmo lhe dá, é aquele que possui conhecimentos provenientes de sua própria<br />

reali<strong>da</strong>de. “Nesta perspectiva, to<strong>da</strong> pesquisa sobre o ensino tem o dever de registrar o ponto<br />

de vista <strong>do</strong>s professores, assim como os conhecimentos e o saber-fazer por eles mobiliza<strong>do</strong>s<br />

na ação cotidiana”. (TARDIF, 2002, p. 230)<br />

A pesquisa<br />

Quan<strong>do</strong> perguntamos aos pianistas sobre quais seriam seus objetivos para o curso e se<br />

havia a intenção de seguir a carreira de concertistas, suas respostas foram:<br />

“Desenvolver minha habili<strong>da</strong>de ao piano; aumentar meu repertório e entrar em ativi<strong>da</strong>des<br />

de apresentação.” (Discente 1)<br />

2 Este é um procedimento que vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> desde o ano de 2008 de acor<strong>do</strong> com depoimento <strong>do</strong>s alunos.<br />

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“Meu objetivo foi me qualificar na performance pianística... ser pianista concertista requer<br />

muito tempo e renúncia”. (Discente 2)<br />

“Aprender mais sobre o piano e sobre os compositores. Que eu pudesse ser uma ‘ponte’<br />

entre as pessoas/socie<strong>da</strong>de e a música/piano. Levar a música para as pessoas” (Discente 3)<br />

“Me aprofun<strong>da</strong>r nos conhecimentos de técnica pianística e a forma de expressar idéias<br />

musicais, no momento não está nos meus planos [ser concertista]”. (Bacharel recém forma<strong>do</strong>)<br />

“Meu objetivo foi <strong>da</strong>r início à carreira de pianista, seja como professor, seja como<br />

solista...” (Docente 1)<br />

A<strong>da</strong>ptamos esta pergunta ao professor universitário sobre o objetivo que ele tinha ao<br />

ensinar o aluno se era torná-lo um concertista ou alguém com melhores possibili<strong>da</strong>des<br />

pianísticas. Afirmou que não possuía objetivos. O aluno mesmo é quem deveria tê-los. Na<br />

reali<strong>da</strong>de, o que ele fazia era despertar no aluno a direção que ele próprio pretendia seguir.<br />

É óbvio que um <strong>do</strong>cente, ao se deparar com um aluno especialmente<br />

talentoso, procure ressaltar nele essas quali<strong>da</strong>des, mas a função <strong>do</strong> professor<br />

não é ficar hipnotizan<strong>do</strong> o discente para encontrar um determina<strong>do</strong> caminho,<br />

pois pode não ser o que ele deseja. O professor pode mostrar vere<strong>da</strong>s,<br />

alternativas, mas há um limite entre o <strong>do</strong>cente e o aluno. O <strong>do</strong>cente precisa<br />

reconhecer que tem um pequeno papel na escolha profissional <strong>do</strong> aluno.<br />

Caso ele não tenha nenhum objetivo para si, o professor pode orientá-lo,<br />

dizen<strong>do</strong>, por exemplo, que encontrará dificul<strong>da</strong>des se seguir naquela direção<br />

e não naquela outra. (Docente 3)<br />

Tanto alunos como professores revelaram que mesmo no curso de bacharela<strong>do</strong> há a<br />

necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> inclusão de matérias pe<strong>da</strong>gógicas:<br />

“Mesmo que o aluno não se especialize nesta área, conhecimento sempre vem bem.”<br />

(Discente 1)<br />

“A performance pianística juntamente com a pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> piano tornam-se uma ótima<br />

junção de conhecimentos para o merca<strong>do</strong> de trabalho tanto performático como de educa<strong>do</strong>r”.<br />

(Discente 2)<br />

“Sim. Sen<strong>do</strong> eletiva, fica a critério de ca<strong>da</strong> um escolher se é o caminho que pretende<br />

seguir. Dar ferramenta e orientação pra quem pretende ensinar é muito importante pra formar<br />

excelentes educa<strong>do</strong>res” (Discente 3)<br />

“Sim.Quase a totali<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> bacharela<strong>do</strong> tem pretensões de seguir uma carreira<br />

acadêmica”. (Bacharel recém forma<strong>do</strong>)<br />

“Não só de pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> piano assim como também literatura <strong>do</strong> piano” (Docente 1)<br />

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“Não apenas matérias eletivas, como ‘análise <strong>do</strong>s estilos’, ‘estrutura rítmica e estrutura<br />

métrica no discurso musical’, ‘dinâmica e frasea<strong>do</strong>’, por exemplo. Mas igualmente disciplinas<br />

obrigatórias como ‘didática <strong>do</strong> piano’.” (Docente 3)<br />

Com base no saber específico, fizemos a seguinte pergunta aos professores<br />

universitários: Quem tem mais competência para ensinar piano seria o Bacharel ou o<br />

Licencia<strong>do</strong> em música?<br />

O Bacharel em piano tem vantagem porque está quase to<strong>do</strong> concentra<strong>do</strong> na<br />

execução <strong>do</strong> seu instrumento, acumulan<strong>do</strong> informações e experiências junto<br />

ao seu professor e com mais possibili<strong>da</strong>de de participação no merca<strong>do</strong>. Só<br />

pela escolha de ser um bacharel diz muita coisa. Com o bacharela<strong>do</strong> o aluno<br />

se sente mais seguro, mais confiante (Docente 1)<br />

O curso de Bacharela<strong>do</strong> privilegia a ênfase específica no aprendiza<strong>do</strong><br />

instrumental, técnico interpretativo. O curso de Licenciatura por sua vez,<br />

enfoca disciplinas musicais teóricas, disciplinas pe<strong>da</strong>gógicas e as volta<strong>da</strong>s<br />

para o instrumento são apenas a um nível elementar (4 semestres de estu<strong>do</strong>s,<br />

2 horas semanais em grupo). Certamente o bacharel em piano tem muito<br />

maior competência no ensino instrumental, mas falta-lhe, entretanto,<br />

conhecimentos pe<strong>da</strong>gógicos práticos específicos, que podem vir a auxiliá-lo<br />

nesta atuação como professor. (Docente 2)<br />

Certamente o Bacharel em piano. Os cursos de licenciatura são teóricos em<br />

excesso e não se aprofun<strong>da</strong>m na prática <strong>do</strong> instrumento. Isto torna o<br />

professor inepto para esta importantíssima parte de formação <strong>do</strong>s alunos já<br />

que ele (o professor) não adquiriu o <strong>do</strong>mínio que poderá resultar na ‘função<br />

de partilha <strong>da</strong> vivência real’ de experiências práticas profun<strong>da</strong>s. Experiências<br />

e vivências práticas que realmente possa <strong>do</strong>minar, observar e repassar a seus<br />

alunos. É necessário que tenha adquiri<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> próprio sistema<br />

motor e de outros aden<strong>do</strong>s sensoriais e psicológicos indispensáveis.<br />

(Docente 3)<br />

O currículo formal <strong>da</strong> formação inicial de professores, com conteú<strong>do</strong>s e ativi<strong>da</strong>des<br />

pouco têm contribuí<strong>do</strong> para desenvolver uma identi<strong>da</strong>de profissional <strong>do</strong>cente. Os professores<br />

que ali se formam adquirem conhecimentos gerais e teóricos sobre a <strong>do</strong>cência, através de<br />

matérias como didática e psicologia <strong>da</strong> educação, porém na<strong>da</strong> especificamente sobre o que ele<br />

irá ensinar que é o seu instrumento musical. É necessário que professores e futuros<br />

professores tenham uma atitude investigativa, ou seja, “ressignificar” os processos<br />

formativos, a partir <strong>da</strong> reconsideração <strong>do</strong>s saberes necessários à <strong>do</strong>cência, colocan<strong>do</strong> a própria<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica e <strong>do</strong>cente como objeto de análise. (MARQUES, 1998)<br />

Em segui<strong>da</strong> fizemos a seguinte in<strong>da</strong>gação aos bacharéis: Durante o curso você<br />

adquiriu alguma competência para o ensino?<br />

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“Com certeza, e ain<strong>da</strong> estou conseguin<strong>do</strong>, pois até hoje ain<strong>da</strong> ensino na monitoria<br />

supervisiona<strong>do</strong> pela minha própria professora a qual nos orienta como ensinar esses alunos”<br />

(Discente 2)<br />

“Sim. No curso de extensão de música. Atualmente não há cadeiras específicas de<br />

pe<strong>da</strong>gogia pianística, porém, materiais diversos são <strong>da</strong><strong>do</strong>s pela professora de piano.”<br />

(Discente 3)<br />

“Claro, eu dei aula no curso de extensão durante 3 semestres e a experiência foi<br />

muitíssimo váli<strong>da</strong>. Tive alunos de vários níveis de desenvolvimento ao piano”. (Bacharel<br />

recém forma<strong>do</strong>)<br />

A seguinte in<strong>da</strong>gação foi feita aos <strong>do</strong>centes: A partir de quan<strong>do</strong> você adquiriu<br />

competência para o ensino, foi durante o seu curso técnico? Durante a graduação em<br />

monitoria, observan<strong>do</strong> seu professor? Ensinan<strong>do</strong> em escolas especializa<strong>da</strong>s?<br />

Já ensinei piano na UFPE por seis anos, como contrata<strong>do</strong>, atualmente não<br />

estou ensinan<strong>do</strong>. Meu conhecimento para a <strong>do</strong>cência veio em pequena parte<br />

com meu professor <strong>do</strong> Bacharela<strong>do</strong> e na maior e mais importante parte <strong>do</strong><br />

meu mestra<strong>do</strong>, lógico que esse conhecimento vai amadurecen<strong>do</strong> durante o<br />

processo de ensino em sala de aula, se aprende muito ensinan<strong>do</strong>. (Docente 1)<br />

Acredito que a habili<strong>da</strong>de para ensinar qualquer coisa depende <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio<br />

<strong>do</strong> que se quer ensinar, de experiências e de vivências. No caso específico de<br />

ensino instrumental o professor precisa ter consciência e vivência musical<br />

abrangente (mesmo que seja para ensinar criancinhas iniciantes, senão seu<br />

ensino será "pobre"). Então, creio que não se pode considerar "competência"<br />

como sen<strong>do</strong> algo estanque, que se adquire em determina<strong>do</strong> momento, e<br />

ponto final. Ela exige uma busca constante, uma curiosi<strong>da</strong>de intensa por<br />

novas técnicas, uma mente aberta para entender que nenhum aluno é igual a<br />

outro, e que novas abor<strong>da</strong>gens são necessárias a ca<strong>da</strong> momento. O professor<br />

tem que estar perpetuamente sen<strong>do</strong> aluno, aprenden<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong>. Se isso<br />

não ocorrer, e ele achar que porque já tem uma formação, já fez um estágio,<br />

já ensinou não sei quantos anos, provavelmente seu trabalho será sem vi<strong>da</strong>.<br />

Considero, portanto, impossível mensurar o quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> competência. Sintome<br />

num esta<strong>do</strong> de perpétuo renovar. Legalmente, o diploma confere<br />

"competência" legal para o trabalho, mas <strong>da</strong>í para um profissional com<br />

consciência considerar-se amadureci<strong>do</strong> e com experiência, leva-se uma<br />

vi<strong>da</strong>.(Docente 2)<br />

Eu concluí um curso de Formação de Professores, que era como se<br />

chamavam alguns <strong>do</strong>s cursos <strong>da</strong> Escola Nacional de Música, escola padrão<br />

pela qual deveriam orientar-se to<strong>do</strong>s os demais cursos de to<strong>do</strong>s os locais no<br />

Brasil. Minha pós-graduação teve início em Paris, no ano seguinte ao de<br />

minha formatura com bolsa de estu<strong>do</strong>s. Tive aulas de estruturação musical<br />

que envolvia pesa<strong>da</strong>mente, contraponto e fuga. Música de câmara era outra<br />

disciplina indispensável. Havia uma ênfase muito grande em Didática <strong>do</strong><br />

piano que exigia conhecimentos prévios <strong>da</strong> mecânica <strong>do</strong> piano, de Fisiologia<br />

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motora e aí, avançava muito então no estu<strong>do</strong>, análise concepção e<br />

reprodução de ação muscular, movimentos motores e expressivi<strong>da</strong>de<br />

musical. Na reali<strong>da</strong>de, o professor é um eterno aprendiz que,<br />

simultaneamente, é capaz de captar, gerar, desenvolver e partilhar<br />

conhecimentos. (Docente 3)<br />

Ain<strong>da</strong> sobre a construção <strong>do</strong> conhecimento para a pe<strong>da</strong>gogia <strong>do</strong> piano, este mesmo<br />

professor replicou que, se tivesse continua<strong>do</strong> a morar na Europa, seu caminho como professor<br />

teria si<strong>do</strong> outro. Como veio morar no Recife, teve de seguir determina<strong>da</strong>s etapas que,<br />

provavelmente, na Europa, não teriam si<strong>do</strong> necessárias. Narra então que, para aprender a<br />

mu<strong>da</strong>r isto, resolveu desenvolver uma didática pianística própria, que lhe possibilitasse<br />

detectar os problemas pianísticos <strong>do</strong>s alunos, sentin<strong>do</strong>-os em si mesmo. Diz ele que, no<br />

Recife, precisou adquirir os erros de técnica que os alunos faziam para, em segui<strong>da</strong>, ele<br />

mesmo praticar aquelas ações motoras equivoca<strong>da</strong>s buscan<strong>do</strong> identificar como consertá-las<br />

após já estarem automatiza<strong>do</strong>s pelos alunos. Como essas ações já estavam automatiza<strong>da</strong>s<br />

pelos alunos eles tinham muita dificul<strong>da</strong>de em perceber os próprios erros e, por isto, custavam<br />

muito a entender o que ele lhes mostrava.<br />

Esclarece que teve de fazê-lo na intenção de ser um bom professor. “Eu não queria<br />

ser um professor de Universi<strong>da</strong>de, eu queria ser um bom professor, saber o que estava<br />

acontecen<strong>do</strong> com os alunos e porque eles rendiam tão pouco”. (Docente 3)<br />

Seu trabalho, durante to<strong>do</strong>s esses anos, foi mais de pesquisa, cujo resulta<strong>do</strong>, depois<br />

de escrito, possibilitou seu ingresso como professor titular na Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Pernambuco. A tese tinha como objetivo descobrir por que os alunos praticam determina<strong>do</strong>s<br />

movimentos equivoca<strong>do</strong>s e depois dirimir ca<strong>da</strong> um desses equívocos.<br />

Em sua tese “Dificul<strong>da</strong>des de Embasamento Técnico no Desenvolvimento<br />

Pianístico”, ele discorre sobre “o conflito de coman<strong>do</strong>s motores” como um <strong>do</strong>s obstáculos<br />

mais sérios para o desenvolvimento de técnicas pianísticas expressivas e criativas. Este<br />

conflito é conseqüência <strong>da</strong> antecipação de um coman<strong>do</strong> motor, antecipação esta que se<br />

sobrepõe ao movimento que está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> e atrapalha a ambos. Esta é a razão pela qual<br />

o estu<strong>do</strong> deve ser inicialmente bem lento para que os coman<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s ações motoras não se<br />

justaponham e não interferiram uns com os outros. Para ajustar esses coman<strong>do</strong>s sucessivos ele<br />

propõe que sejam feitas representações visuais prévias através <strong>da</strong> imaginação visual de ca<strong>da</strong><br />

movimento deseja<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> ela não é bem feita, a ação que está sen<strong>do</strong> mentalmente<br />

concebi<strong>da</strong> confunde-se e atropela a ação que está sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong>. (MELLO, 1991)<br />

Percebemos que os alunos e professores em suas ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>centes se apóiam em<br />

diversas formas de saberes, dentre eles o saber <strong>da</strong> formação profissional, adquiri<strong>do</strong> na<br />

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formação inicial ou contínua; o saber experiencial, adquiri<strong>do</strong> na prática <strong>da</strong> profissão e o saber<br />

cultural her<strong>da</strong><strong>do</strong> de sua trajetória de vi<strong>da</strong>. (TARDIF, 2002, p. 297)<br />

Explanaremos agora a presença destes três saberes observa<strong>do</strong>s nas falas <strong>do</strong>s<br />

pesquisa<strong>do</strong>s:<br />

SABER DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL<br />

Monitoria supervisiona<strong>da</strong><br />

Curso de extensão universitária<br />

SABER EXPERIENCIAL<br />

Com o professor <strong>da</strong> graduação<br />

Sala de aula<br />

Mestra<strong>do</strong><br />

Saber contínuo <strong>da</strong> profissão<br />

SABER CULTURAL<br />

Trajetória profissional<br />

Experiência <strong>do</strong>cente<br />

Considerações finais<br />

O curso de Bacharela<strong>do</strong> já tem promovi<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>nças, ao propiciar o aluno ter mais<br />

experiência na prática <strong>do</strong>cente através de monitorias e cursos de extensão, com mais<br />

possibili<strong>da</strong>des de performances e amplian<strong>do</strong> o número de disciplinas de música de câmara.<br />

Mas ain<strong>da</strong> há muito por fazer. Seria também muito importante a implantação de disciplinas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas, psicologia <strong>da</strong> música e fisiologia <strong>do</strong> movimento, por exemplo. A criação de um<br />

curso de especialização e ain<strong>da</strong> um mestra<strong>do</strong> em música com habilitações específicas, com o<br />

objetivo de adquirir melhor qualificação; atualmente são muitos os que obtêm o diploma e<br />

este passa a ter um valor relativo: só aquele que demonstrar efetiva competência terá seu<br />

futuro profissional assegura<strong>do</strong>.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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542


2 OA N O S<br />

É sabi<strong>do</strong> que a UFPE já planeja a criação <strong>do</strong> curso de Licenciatura em piano. Porém,<br />

seria muito importante se houvesse entrosamento entre professores e alunos no senti<strong>do</strong> de<br />

melhorar o currículo <strong>do</strong> curso de bacharela<strong>do</strong> ou ain<strong>da</strong> ouvir a opinião destes através de<br />

questionários ou entrevistas, já que, como foi apresenta<strong>do</strong> na pesquisa, eles também têm<br />

muito a contribuir. Desta forma, é possível discutir e apresentar para os bacharéis aspectos de<br />

uma reali<strong>da</strong>de muito próxima, diminuin<strong>do</strong> as chances de teorização educacional sem senti<strong>do</strong> e<br />

destituí<strong>da</strong> de valor prático.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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543


2 OA N O S<br />

Referências<br />

GROSSI, Éster. Lei de diretrizes e bases <strong>da</strong> Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de<br />

dezembro de 1996. Rio de Janeiro, RJ. Casa Editorial Pargos. 1997.<br />

MARQUES, Ana Lúcia. Formação <strong>do</strong> professor de instrumento: grades curriculares <strong>do</strong>s<br />

cursos de bacharela<strong>do</strong> em música. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO<br />

BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 4., 1998, Salva<strong>do</strong>r. <strong>Anais</strong>... Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

Educação Musical, Salva<strong>do</strong>r: <strong>ABEM</strong>, 1998. p. 106-109.<br />

MELLO, Edson Magalhães Bandeira de. Dificul<strong>da</strong>des de embasamento <strong>da</strong> técnica pianística.<br />

Tese de concurso público de provas e títulos para cargo de professor titular. Recife:<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco, departamento de música, 121p. 1991.<br />

TARDIF, Maurice. Saberes <strong>do</strong>centes e formação profissional. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2010.<br />

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Os saberes <strong>do</strong>centes na formação inicial <strong>do</strong> professor (aluno-<strong>do</strong>cente)<br />

de educação infantil e a educação musical<br />

Adilza Raquel Cavalcanti <strong>do</strong>s Santos<br />

Secretaria de Educação de Pernambuco<br />

raquelcsantos@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo tem como propósito contribuir, de forma geral, para reflexão sobre a<br />

formação inicial <strong>do</strong>s profissionais <strong>da</strong> educação, para que eles possam atuar adequa<strong>da</strong>mente<br />

com a diversi<strong>da</strong>de de alunos presentes na sala de aula. Para tanto, mostra-se importante<br />

compreender os saberes <strong>do</strong>centes e formação inicial <strong>do</strong>s professores <strong>da</strong> educação infantil e a<br />

educação musical. Para responder a esse objetivo geral, o estu<strong>do</strong> definiu como objetivos<br />

específicos: analisar que concepções os alunos- <strong>do</strong>centes de educação infantil têm a respeito<br />

<strong>da</strong> educação musical; analisar como os alunos- <strong>do</strong>centes refletem a questão <strong>da</strong> educação<br />

musical na escola <strong>do</strong> ensino regular; investigar a educação musical na formação inicial e na<br />

escola. Dessa forma, o artigo relata a importância ou a necessi<strong>da</strong>de de se priorizar ou de se<br />

discutir à educação musical de forma mais ampla nos cursos de formação de professores, nos<br />

cursos de pe<strong>da</strong>gogia, entenden<strong>do</strong> que diante <strong>do</strong>s desafios a serem supera<strong>do</strong>s, a educação<br />

musical deve permear to<strong>da</strong>s as disciplinas que formam o professor <strong>do</strong>s anos iniciais, tornan<strong>do</strong><br />

necessário o trabalho de to<strong>do</strong>s os professores enquanto media<strong>do</strong>res no processo constitutivo<br />

de formação de uma identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente na perspectiva <strong>da</strong> educação musical.<br />

Palavras-chave: formação de professores, educação, educação musical.<br />

Introdução<br />

A formação e as práticas educativo-musicais de professores de educação infantil têm<br />

si<strong>do</strong> nossas inquietações nos últimos tempos. Pelo fato de estarmos envolvi<strong>da</strong>s com práticas<br />

pe<strong>da</strong>gógicas musicais na educação infantil e no ensino regular, percebemos a falta de<br />

conhecimento sobre os <strong>do</strong>centes em práticas pe<strong>da</strong>gógicas musicais. Em contatos e discussões<br />

frequentes sobre possibili<strong>da</strong>des musicais com professores <strong>da</strong> educação infantil nos<br />

confrontamos com importantes questões que emergem de suas falas. É evidente o discurso de<br />

muitos profissionais que trabalham com a infância sobre o que devem saber e o que não<br />

sabem sobre o que devem fazer e o que querem fazer.<br />

Este artigo vai aju<strong>da</strong>r a refletir sobre o processo de formação inicial <strong>do</strong> aluno de<br />

pe<strong>da</strong>gogia, em especifici<strong>da</strong>de, o aluno que irá trabalhar na educação infantil, não especialista<br />

em música, e suas possibili<strong>da</strong>des de construção e mediação de conhecimentos musicais.<br />

Chamaremos neste artigo o estu<strong>da</strong>nte de pe<strong>da</strong>gogia de aluno-<strong>do</strong>cente, pois são estu<strong>da</strong>ntes<br />

ain<strong>da</strong> em formação.<br />

Quan<strong>do</strong> pensamos na formação inicial de alunos-<strong>do</strong>centes para atuação na educação<br />

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2 OA N O S<br />

infantil, logo refletimos sobre a condição profissional desse sujeito, a imagem que vem à tona<br />

é a forma de tratamento social sob denominações diversas. Em relação ao estatuto profissional<br />

<strong>do</strong> professor de educação infantil, existem complexi<strong>da</strong>des nas relações sócio-históricas que os<br />

transversalizam. São questões que envolvem a formação, a prática educativa e a condição de<br />

profissionalização <strong>do</strong> professor. Por isso, a necessi<strong>da</strong>de de se trabalhar a educação musical<br />

nos cursos de formação.<br />

De acor<strong>do</strong> com Bellochio (2003), tais formas de reconhecimento contribuem para<br />

gerar desprestígio profissional, passan<strong>do</strong> pela crença de que o professor <strong>do</strong>s anos iniciais de<br />

escolarização, pelo fato de trabalhar com sujeitos que estão inician<strong>do</strong> sua aprendizagem, não<br />

necessita de muitos conhecimentos, o que é uma inver<strong>da</strong>de. No caso <strong>da</strong> música, não basta<br />

gostar de crianças e de música, é preciso saber e saber fazer. Dessa forma, é preciso que se<br />

compreen<strong>da</strong> que nas práticas educativas <strong>do</strong> professor articulem-se saberes específicos e<br />

saberes pe<strong>da</strong>gógicos, conhecimentos sobre e para a educação.<br />

Consideran<strong>do</strong> a formação inicial e <strong>da</strong>s práticas educativas <strong>do</strong>s professores de<br />

educação infantil, na educação musical, sentimos a necessi<strong>da</strong>de de investigar algumas<br />

concepções e compreender a tarefa desse professor, cuja ação e representação profissional é<br />

única diante <strong>do</strong>s alunos. A ênfase maior, como fica em evidência, é que esse aluno-<strong>do</strong>cente<br />

será um profissional <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de escolar de ensino e, assim, como em to<strong>da</strong>s as demais<br />

profissões, é preciso haver uma sóli<strong>da</strong> formação inicial e continua<strong>da</strong>.<br />

Ain<strong>da</strong> sobre o que justifica a nossa escolha, focamos o trabalho no eixo <strong>da</strong> formação<br />

de professores na educação musical e seus saberes <strong>do</strong>centes, relembran<strong>do</strong> as políticas que<br />

sustentaram e, atualmente, orientam a formação e as práticas na escola.<br />

Em 1931, quan<strong>do</strong> foi aprova<strong>da</strong> a Lei de Diretrizes e bases <strong>da</strong> Educação<br />

Nacional (Lei nº 5.692/71), a formação em nível médio para o magistério <strong>da</strong>s<br />

quatros primeiras séries <strong>do</strong> 1º grau tornou-se uma habilitação<br />

profissionalizante <strong>do</strong> 2º grau, entre tantas outras habilitações profissionais.<br />

No ensino de arte, consoli<strong>do</strong>u-se a polivalência <strong>da</strong>s áreas artísticas – música,<br />

teatro e artes plásticas - como referência meto<strong>do</strong>lógica a ser assumi<strong>da</strong> pela<br />

área na escola. A educação artística foi incluí<strong>da</strong> no currículo escolar de 1º e<br />

2º graus. A partir <strong>da</strong> 5ª série, a escola deverá contar com o professor de<br />

educação artística, preferencialmente polivalente no 1º grau, fican<strong>do</strong> as<br />

classes <strong>da</strong>s séries anteriores (incluin<strong>do</strong> aí a educação pré- escolar) sob a<br />

responsabili<strong>da</strong>de de um professor uni<strong>do</strong>cente (BELLOCHIO, 2002, p. 126).<br />

Bellochio (2003) afirma que na época, não existia curso superior para a formação de<br />

professores para os anos iniciais de escolarização. Os cursos de pe<strong>da</strong>gogia, no Brasil, passam<br />

a assumir essa identi<strong>da</strong>de a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s anos 1970. A formação ficava por conta <strong>do</strong><br />

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magistério, sen<strong>do</strong> que este, na maioria <strong>da</strong>s vezes, tinha como proposta meto<strong>do</strong>lógica a<br />

coletânea de canções de rotina e para <strong>da</strong>tas comemorativas, dificultan<strong>do</strong> ao professor a<br />

construção de visões diferencia<strong>da</strong>s com relação a outras possibili<strong>da</strong>des de realização <strong>da</strong><br />

música na escola. A autora ressalta ain<strong>da</strong> que, atualmente, somos regi<strong>do</strong>s pela Lei de<br />

Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96, cujo art. 26, parágrafo 2º<br />

estabelece: “O ensino <strong>da</strong> arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos<br />

níveis <strong>da</strong> educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural <strong>do</strong>s alunos”. Em<br />

consequência, o Documento 6 <strong>do</strong>s Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), refere-se ao<br />

ensino <strong>da</strong> arte para o primeiro e segun<strong>do</strong> ciclos no ensino fun<strong>da</strong>mental, especifican<strong>do</strong> que o<br />

mesmo deverá ser trabalha<strong>do</strong> na escola a partir <strong>da</strong>s áreas de <strong>da</strong>nça, teatro, artes visuais e<br />

música. Essa orientação, ao certo, nos leva a pensar na formação profissional de professores<br />

para assumir tais campos <strong>do</strong> conhecimento com habilitação específica.<br />

Em 2008, a Lei 11.679 estabelece a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música nas<br />

escolas de educação básica, alteran<strong>do</strong> o art. 26 <strong>da</strong> LDB. A aprovação <strong>da</strong> Lei foi, sem dúvi<strong>da</strong>,<br />

uma grande conquista para a área de educação musical no País. To<strong>da</strong>via, há também grandes<br />

desafios que precisam ser enfrenta<strong>do</strong>s para que possamos, de fato, ter propostas consistentes<br />

de ensino de música nas escolas de educação básica.<br />

Assim, toman<strong>do</strong> como referência os estu<strong>do</strong>s de Bellochio (2002), compreendemos<br />

que, por um la<strong>do</strong>, temos a música presente no cotidiano de nossas vi<strong>da</strong>s, impulsionan<strong>do</strong> várias<br />

formas de nos relacionarmos com o mun<strong>do</strong>; por outro, ain<strong>da</strong> não temos um processo<br />

suficientemente articula<strong>do</strong> e refleti<strong>do</strong>, que possamos entender e significar como a educação<br />

formal na formação de professores e na escola. Esse problema se agrava nos anos iniciais de<br />

escolarização, cujo espaço profissional tem si<strong>do</strong> ocupa<strong>do</strong> por profissionais de nível médio e<br />

superior que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, também não desenvolveram conhecimentos musicais na<br />

sua formação profissional.<br />

Nossa pretensão neste artigo é socializar o projeto de pesquisa sobre os saberes<br />

<strong>do</strong>centes na formação inicial <strong>do</strong> aluno-<strong>do</strong>cente na educação infantil e educação musical, cujo<br />

objetivo geral é compreender os saberes <strong>do</strong>centes e formação inicial <strong>do</strong>s professores de<br />

educação infantil e a educação musical. Os objetivos específicos estão assim defini<strong>do</strong>s:<br />

analisar que concepções os alunos-<strong>do</strong>centes de educação infantil têm a respeito <strong>da</strong> educação<br />

musical; analisar como eles refletem a questão <strong>da</strong> educação musical na escola <strong>do</strong> ensino<br />

regular; investigar a educação musical na formação inicial e na escola.<br />

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Revisão de Literatura<br />

Tardif (2002), quan<strong>do</strong> trata <strong>do</strong>s “saberes <strong>do</strong>centes”, a<strong>do</strong>ta um ampla conotação para<br />

o termo “saber” engloban<strong>do</strong> os conhecimentos, as competências, as habili<strong>da</strong>des (ou aptidões)<br />

e as atitudes, isto é, o que se costuma chamar de saber, saber fazer e saber ser. Para ele, os<br />

professores quan<strong>do</strong> atuam utilizam “os saberes <strong>da</strong> formação profissional”, “os saberes <strong>da</strong>s<br />

disciplinas”, “os saberes curriculares” e os “saberes <strong>da</strong> experiência”. O autor afirma ain<strong>da</strong><br />

que:<br />

O saber <strong>do</strong>s professores é plural, compósito, heterogêneo, porque envolve,<br />

no próprio exercício <strong>do</strong> trabalho conhecimentos e um saber fazer bastante<br />

diversos, provenientes de fontes varia<strong>da</strong>s e, provavelmente, de natureza<br />

diferente. (...) O saber <strong>do</strong>s professores contém conhecimentos e um saberfazer<br />

cuja origem social é patente. Por exemplo, alguns deles provêm <strong>da</strong><br />

família <strong>do</strong> professor, <strong>da</strong> escola que o formou e de sua cultura pessoal; outros<br />

vêm <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des ou <strong>da</strong>s escolas normais; outros estão liga<strong>do</strong>s à<br />

instituição (programas, regras, princípios pe<strong>da</strong>gógicos, objetivos,<br />

finali<strong>da</strong>des, etc.); outros ain<strong>da</strong> provêm <strong>do</strong>s pares, <strong>do</strong>s cursos de reciclagem,<br />

etc. Nesse senti<strong>do</strong>, o saber profissional está, de certo mo<strong>do</strong>, na confluência<br />

de vários saberes oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> instituição escolar, <strong>do</strong>s outros<br />

atores educacionais, <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, etc. (p. 18-19).<br />

Tardif (2002) destaca que não se deve confundir os saberes profissionais com os<br />

conhecimentos transmiti<strong>do</strong>s no âmbito <strong>da</strong> formação universitária, pois, segun<strong>do</strong> ele, a prática<br />

profissional nunca é um espaço de aplicação <strong>do</strong>s conhecimentos universitários, mas ela é, na<br />

melhor <strong>da</strong>s hipóteses, um processo de filtração que os dilui e os transforma em função <strong>da</strong>s<br />

exigências <strong>do</strong> trabalho; sen<strong>do</strong>, na pior <strong>da</strong>s hipóteses, um muro contra o qual vêm se jogar e<br />

morrer conhecimentos universitários considera<strong>do</strong>s inúteis, sem relação com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

trabalho <strong>do</strong>cente diário nem com os contextos concretos de exercício <strong>da</strong> função <strong>do</strong>cente. Em<br />

relação ao ensino basea<strong>do</strong> na lógica disciplinar, o autor afirma que:<br />

Ele se limita, na maioria <strong>da</strong>s vezes, a fornecer-lhes conhecimentos<br />

proposicionais, informações, mas sem executar um trabalho profun<strong>do</strong> sobre<br />

os filtros cognitivos, sociais e afetivos através <strong>do</strong>s quais os futuros<br />

professores recebem e processam essas informações. [...] eles terminam sua<br />

formação sem terem si<strong>do</strong> abala<strong>do</strong>s em suas crenças, e são essas crenças que<br />

vão reatualizar no momento de aprenderem a profissão na prática e serão<br />

habitualmente reforça<strong>da</strong>s pela socialização na função de professor e pelo<br />

grupo de trabalho nas escolas, a começar pelos professores experientes (p.<br />

273).<br />

Hentschke (2003) afirma que no contexto <strong>da</strong> “profissionalização <strong>do</strong> oficio <strong>do</strong><br />

professor”, os saberes <strong>do</strong>centes que fun<strong>da</strong>mentam e caracterizam a <strong>do</strong>cência, tornam-se foco<br />

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de estu<strong>do</strong>, com a finali<strong>da</strong>de de se caracterizar um corpo de saberes inerentes à profissão de<br />

professor. Eles devem explicitar os saberes necessários para a constituição de seu oficio. Essa<br />

profissionalização implica a constituição de um repertório de conhecimentos específicos para<br />

o ensino, que deverão ser socializa<strong>do</strong>s profissionalmente, ou seja, levará os educa<strong>do</strong>res que<br />

partilham o mesmo conjunto de experiências e saberes a formarem uma comuni<strong>da</strong>de de<br />

pensamento.<br />

Se tratan<strong>do</strong> agora <strong>do</strong>s saberes <strong>do</strong>centes em relação à música na educação infantil, nos<br />

remetemos a Brito (2003), quan<strong>do</strong> diz que no cotidiano <strong>da</strong> educação infantil brasileira, a<br />

música vem atenden<strong>do</strong> propósitos diversos, segun<strong>do</strong> concepções pe<strong>da</strong>gógicas que vigoraram<br />

(ou vigoram), em nosso país no decorrer <strong>do</strong> tempo. Ain<strong>da</strong> percebemos fortes resquícios de<br />

uma concepção de que utilizou a música - ou melhor, dizen<strong>do</strong>, a canção - como de hábitos e<br />

atitudes, disciplina, condicionamento <strong>da</strong> rotina, comemorações de <strong>da</strong>tas diversas, etc.<br />

As considerações de Brito (2003) parecem-nos oportunas para pensar que o trabalho<br />

realiza<strong>do</strong> na área de música reflete problemas que somam a ausência de profissionais<br />

especializa<strong>do</strong>s a pouca (ou nenhuma) formação musical <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res responsáveis pela<br />

educação infantil, consequência de um sistema educacional que se descui<strong>do</strong>u quase por<br />

completo <strong>da</strong> educação estética de muitas gerações. Reflete, igualmente, a necessi<strong>da</strong>de de<br />

repensar a concepção enraiza<strong>da</strong>, e muitas vezes ultrapassa<strong>da</strong>, que se tem de música, assim<br />

como a necessi<strong>da</strong>de de conhecer e respeitar o processo de desenvolvimento musical <strong>da</strong>s<br />

crianças.<br />

Para a grande maioria <strong>da</strong>s pessoas, incluin<strong>do</strong> os educa<strong>do</strong>res (especialistas ou não), a<br />

música era e é entendi<strong>da</strong> como “algo pronto”, caben<strong>do</strong> a nós a tarefa máxima de interpretá-la.<br />

Concor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com Brito (2003), ensinar música, a partir dessa ótica, significa ensinar a<br />

reproduzir e interpretar músicas, desconsideran<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de de experimentar,<br />

improvisar, inventar como ferramenta pe<strong>da</strong>gógica de fun<strong>da</strong>mental importância no processo de<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento musical.<br />

Beyer (2003) traz uma reflexão importante sobre as certezas e incertezas<br />

apresenta<strong>da</strong>s pelos professores quan<strong>do</strong> têm a oportuni<strong>da</strong>de de rever e pensar obre suas<br />

práticas musicais na escola. Pode-se perceber que as mu<strong>da</strong>nças ocorrem na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

dinâmica que se estabelece entre os saberes que ca<strong>da</strong> um diz ter - suas certezas - e os saberes<br />

que diz não ter – as incertezas.<br />

É interessante notar que, <strong>do</strong>s muitos saberes trata<strong>do</strong>s na academia, nem to<strong>do</strong>s são<br />

apropria<strong>do</strong>s pelos professores como de seu <strong>do</strong>mínio. De acor<strong>do</strong> com Beyer (2003), constrói-<br />

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se, assim um mosaico de certezas e incertezas que leva o professor a construir seu percurso<br />

pe<strong>da</strong>gógico na escola, propician<strong>do</strong> um espaço maior ou menor de reflexão sobre essas<br />

práticas, conforme a proporção de seus questionamentos e de sua busca de alternativas para<br />

solucioná-los.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Consideran<strong>do</strong> que o objeto <strong>da</strong> presente investigação é analisar e compreender como<br />

se dá a prática pe<strong>da</strong>gógica musical <strong>do</strong>s professores <strong>da</strong> educação infantil, optamos por usar<br />

uma abor<strong>da</strong>gem de natureza qualitativa, uma vez que, o próprio caráter <strong>do</strong> objeto a ser<br />

estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, requer uma análise que se interessa muito mais pelos processos <strong>do</strong> que<br />

simplesmente pelos resulta<strong>do</strong>s ou produtos.<br />

Podemos salientar, ain<strong>da</strong>, que um <strong>do</strong>s motivos de se pesquisar lançan<strong>do</strong> mão <strong>da</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem qualitativa deve-se ao fato de considerar que as pessoas agem em função de suas<br />

crenças e de seus valores, determinan<strong>do</strong> comportamentos que não são facilmente<br />

interpretáveis. Assim, na tentativa de “desvendá-los” é que optamos por essa abor<strong>da</strong>gem em<br />

nosso estu<strong>do</strong>, uma vez que vemos nesse enfoque a possibili<strong>da</strong>de de compreender a ação<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> professor de educação infantil na sua reali<strong>da</strong>de social, que é dinâmica e está<br />

em constante transformação.<br />

A opção por alunos-<strong>do</strong>centes de educação infantil não especialista em música, nos<br />

cursos de pe<strong>da</strong>gogia, justifica-se em virtude de acreditarmos que o trabalho que será<br />

desenvolvi<strong>do</strong> por esses professores em sala de aula pode contribuir decisivamente na<br />

construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> aluno e fun<strong>da</strong>mentar a sua prática pe<strong>da</strong>gógica, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe uma<br />

orientação musical ou atuan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de perpetuar a educação musical em sala de aula.<br />

Assim, a prática <strong>do</strong>cente desse futuro professor constitui-se numa importante fonte de<br />

investigação, pois dessa prática vão emergir vários elementos que nos permitirão<br />

compreender a formação inicial desse professor.<br />

O nosso interesse situa-se na perspectiva de compreendermos como a discussão<br />

sobre a educação musical têm se <strong>da</strong><strong>do</strong> em outros espaços ou em outras momentos, nos cursos<br />

de formação de professores, uma vez que acreditamos que a educação musical para to<strong>do</strong>s ou a<br />

educação inclusiva, se concretizará também, a partir de uma mu<strong>da</strong>nça de atitude no saberfazer<br />

<strong>do</strong> professor.<br />

Quanto à seleção <strong>do</strong> campo a ser pesquisa<strong>do</strong>, compreendemos, de acor<strong>do</strong> com<br />

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Minayo (1999, p. 105), que este é “o recorte espacial correspondente à abrangência, em<br />

termos empíricos, <strong>do</strong> recorte teórico correspondente ao objeto <strong>da</strong> investigação”. Diante disso,<br />

o campo de pesquisa será entendi<strong>do</strong> como a parte de um to<strong>do</strong>, que possui características<br />

próprias, mas que, ao mesmo tempo, representa essa totali<strong>da</strong>de. Assim, a pesquisa será<br />

realiza<strong>da</strong> em duas universi<strong>da</strong>des e a mesma será toma<strong>da</strong> como um to<strong>do</strong>, enquanto a sala de<br />

aula e a prática pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong>s alunos-<strong>do</strong>centes de educação infantil serão as partes em<br />

relação a esse to<strong>do</strong>, na fase <strong>do</strong>s estágios, já que os mesmos ain<strong>da</strong> não exercem a função<br />

<strong>do</strong>cente.<br />

Como o nosso olhar está volta<strong>do</strong> para compreender como as discussões sobre os<br />

saberes <strong>do</strong>centes têm se <strong>da</strong><strong>do</strong> no espaço <strong>da</strong> sala de aula, nos cursos de Pe<strong>da</strong>gogia, optamos<br />

inicialmente por selecionar duas universi<strong>da</strong>des. Para a seleção <strong>da</strong> primeira universi<strong>da</strong>de,<br />

utilizamos como critério fun<strong>da</strong>mental de escolha, aquela instituição onde é possível perceber<br />

com mais clareza e distinção que a discussão sobre a educação musical <strong>do</strong> <strong>do</strong>cente tem si<strong>do</strong><br />

prioriza<strong>da</strong> na proposta curricular, procuran<strong>do</strong> perceber se os outros professores que não<br />

trabalham diretamente com disciplinas específicas, também estão discutin<strong>do</strong> questões<br />

relaciona<strong>da</strong>s à educação musical. Para a seleção <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, optamos por<br />

selecionar aquela que apresenta em seu currículo apenas uma disciplina eletiva que trata a<br />

questão <strong>da</strong> educação musical, o que se justifica pelo fato de querermos compreender como<br />

estão às discussões sobre a educação musical, numa instituição onde, pelo menos<br />

aparentemente, parece ain<strong>da</strong> não priorizar a formação de professores para trabalhar com a<br />

educação musical.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s serão coleta<strong>do</strong>s a partir de observações, entrevistas e análise <strong>do</strong>cumental,<br />

onde estes contribuirão para desvelar a reali<strong>da</strong>de pesquisa<strong>da</strong>. Neste intento, buscaremos na<br />

observação, através <strong>do</strong> contato direto com o aluno de pe<strong>da</strong>gogia, captar várias situações ou<br />

fenômenos, registran<strong>do</strong> falas, comportamentos e ações em anotações de campo que se<br />

constituirão num material rico para posteriores análises. Nas observações de aula, tentaremos<br />

captar através <strong>da</strong>s falas e atitudes, como os mesmos alunos-<strong>do</strong>centes trazem para a sala de<br />

aula as discussões sobre a educação musical ou sobre a educação musical inclusiva.<br />

Optaremos por realizar entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s por possibilitarem abor<strong>da</strong>r<br />

livremente alguns temas e por requererem <strong>do</strong>s sujeitos algumas respostas previamente<br />

formula<strong>da</strong>s. Logo, privilegiamos a entrevista semi-estrutura<strong>da</strong> porque esta, ao mesmo tempo<br />

em que valoriza a presença <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r, oferece to<strong>da</strong>s as perspectivas possíveis para que o<br />

informante alcance a liber<strong>da</strong>de e a espontanei<strong>da</strong>de necessárias, enriquecen<strong>do</strong> a investigação.<br />

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2 OA N O S<br />

Entrevistaremos coordena<strong>do</strong>res, professores e alunos <strong>do</strong>s cursos de pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong>s<br />

duas universi<strong>da</strong>des. Ao to<strong>do</strong> a equipe de trabalho contará com 13 integrantes de ca<strong>da</strong><br />

instituição, sen<strong>do</strong> três professores, oito alunos e <strong>do</strong>is coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s cursos de pe<strong>da</strong>gogia.<br />

Outro procedimento meto<strong>do</strong>lógico de pesquisa a ser utiliza<strong>do</strong> é a análise <strong>do</strong>cumental.<br />

Dessa forma, elegeremos como <strong>do</strong>cumentos para análise os planos de aula, planos de curso e<br />

a proposta curricular <strong>do</strong> curso. A análise desses <strong>do</strong>cumentos possibilitará o contato com<br />

materiais que podem caracterizar-se como fontes para compreendermos como a discussão<br />

sobre a educação musical têm se <strong>da</strong><strong>do</strong> em sala de aula, visto que estão diretamente liga<strong>do</strong>s à<br />

atuação <strong>do</strong> professor de educação infantil.<br />

No tratamento <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s, no qual buscaremos mapear e categorizar as temáticas<br />

procuraremos ultrapassar a incerteza, na tentativa de sair <strong>do</strong> empírico, no esforço de superar a<br />

abstração e subjetivi<strong>da</strong>de, a fim de manter uma relação dinâmica e integra<strong>do</strong>ra às descobertas,<br />

que no dizer de Minayo (1999) é uma fase que tem por finali<strong>da</strong>de ampliar a compreensão de<br />

contextos culturais com significações e senti<strong>do</strong>s que vão além <strong>da</strong> dimensão espontânea <strong>da</strong>s<br />

mensagens.<br />

A pesquisa iniciará no mês de agosto de <strong>2011</strong> e sua previsão para término será<br />

fevereiro de 2012.<br />

Considerações finais<br />

Atualmente estamos viven<strong>do</strong> num contexto social dinâmico que exige <strong>do</strong>s cursos de<br />

formação novos requerimentos, levan<strong>do</strong>-o a repensar o seu compromisso social e político, na<br />

formação de alunos ci<strong>da</strong>dãos/ci<strong>da</strong>dãs mais críticos e autônomos, capazes de assumir posturas<br />

e fazer escolhas, diante <strong>da</strong>s incertezas que constitui as socie<strong>da</strong>des contemporâneas.<br />

Dessa forma, é nosso interesse aqui discutir a importância ou a necessi<strong>da</strong>de de se<br />

priorizar ou de se discutir a educação musical de forma mais ampla nos cursos de formação de<br />

professores, uma vez que entendemos que diante <strong>do</strong>s desafios a serem supera<strong>do</strong>s, a educação<br />

musical deve permear to<strong>da</strong>s as disciplinas que formam o professor <strong>do</strong>s anos iniciais, tornan<strong>do</strong><br />

necessário o trabalho de to<strong>do</strong>s os professores enquanto media<strong>do</strong>res no processo constitutivo<br />

de formação de uma identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente na perspectiva <strong>da</strong> educação musical.<br />

As escolas demonstram carência de recursos e orientações musicais que<br />

definitivamente possam contribuir para o desenvolvimento musical <strong>do</strong>s alunos e <strong>do</strong>s<br />

professores. Esses apresentam dificul<strong>da</strong>des em situações práticas relaciona<strong>da</strong>s com os<br />

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2 OA N O S<br />

elementos musicais e quase sempre se desanimam com propostas as quais vão além <strong>da</strong>s que já<br />

realizam com seus alunos. Esta reali<strong>da</strong>de exige uma iniciativa de formação musical aos<br />

professores e demonstra uma deman<strong>da</strong> por profissionais capacita<strong>do</strong>s, prepara<strong>do</strong>s para a<br />

<strong>do</strong>cência na educação infantil. Faz-se necessária a busca <strong>da</strong> estruturação de meios que<br />

fomentem alternativas meto<strong>do</strong>lógicas de ensino de música e que aten<strong>da</strong>m a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

escolas de educação infantil. No entanto, os estu<strong>do</strong>s e pesquisas sobre a formação e a prática<br />

<strong>do</strong>cente têm mostra<strong>do</strong> que os cursos de formação inicial não têm prepara<strong>do</strong> os professores, de<br />

mo<strong>do</strong> efetivo e competente, para li<strong>da</strong>r de forma criativa com a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s situações <strong>da</strong><br />

prática profissional, parece existir uma desvinculação entre os conteú<strong>do</strong>s de formação e a<br />

reali<strong>da</strong>de escolar, <strong>da</strong>í resultan<strong>do</strong>, na prática, um sentimento de insegurança nos professores<br />

frente às diferentes situações vivi<strong>da</strong>s no cotidiano escolar.<br />

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Referências<br />

BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. Educação musical e professores <strong>do</strong>s anos iniciais de<br />

escolarização: formação inicial e práticas educativas. In: HENTSCHKE, Liane; DEL BEN,<br />

Luciana (Org.). Ensino de Música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo:<br />

Moderna, 2003. p. 127-139.<br />

__________. Escola – Licenciatura em Música- Pe<strong>da</strong>gogia: compartilhan<strong>do</strong> espaços e saberes<br />

na formação inicial de professores. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 7, p. 41-48, 2002.<br />

BEYER, Esther; KEBACH, Patrícia. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Música - Experiências de Apreciação<br />

Musical. Porto Alegre: Mediação, 2009.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação e <strong>do</strong> Desporto. Referencial Curricular Nacional para<br />

educação infantil. v.3. Brasília: MEC/SEF, 1998.<br />

BRITO, Teca de Alencar. Música na Educação infantil. Propostas para a formação integral <strong>da</strong><br />

criança. São Paulo: Peirópolis, 2003.<br />

HENTSCHKE, Liane; SOUZA, Jusamara (Org.). Avaliação em Música: Reflexões e práticas.<br />

São Paulo: Moderna, 2003.<br />

HENTSCHKE, Liane; DEL BEN, Luciana (Org.). Ensino de Música: Propostas para pensar e<br />

agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio <strong>do</strong> conhecimento: Pesquisa Qualitativa em<br />

Saúde. 6. Ed. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Abrasco, 1999.<br />

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Professor <strong>da</strong> pré-escola. V. II. Fun<strong>da</strong>ção Roberto Marinho.<br />

São Paulo: Globo, 1992.<br />

TARDIF, Maurice. Saberes <strong>do</strong>centes e formação profissional. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2002.<br />

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Os cenários <strong>da</strong> educação não formal na educação musical<br />

Maria Soares de Macê<strong>do</strong><br />

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnológica <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte - IFRN<br />

maria.soares@ifrn.edu.br<br />

Sami Tarik Soares Martins<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte - UFRN<br />

samitarik7@yahoo.com.br<br />

Resumo: Este trabalho objetiva situar a educação não formal nos vários cenários construí<strong>do</strong>s<br />

pela Educação Musical. Consideran<strong>do</strong> que o ser humano encontra-se em processo de<br />

construção de identi<strong>da</strong>de pessoal e social, a Educação musical contribui com a formação<br />

integral <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão e sua inserção social, buscan<strong>do</strong> nos diversos cenários <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

social e cultural, valorizar e interagir os saberes adquiri<strong>do</strong>s, aplican<strong>do</strong>-os na transformação <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de em que vivem, respeitan<strong>do</strong> a diversi<strong>da</strong>de humana, possibilitan<strong>do</strong> que os indivíduos<br />

interajam entre si, por meio de suas diferenças, como podemos ver no relato sobre a Oficina<br />

de Percussão Kizambe, desenvolvi<strong>da</strong> no Brasil e em Cabo Verde.<br />

Palavras-chave: Educação musical; Educação não formal; Percussão.<br />

Introdução<br />

O presente trabalho apresenta um recorte <strong>da</strong> construção <strong>do</strong> Trabalho de Conclusão de<br />

Curso de Licenciatura em Música que destaca a produção <strong>do</strong> conhecimento na educação não<br />

formal, focalizan<strong>do</strong> a educação musical, a fim de discutir a prática pe<strong>da</strong>gógica nessa ativi<strong>da</strong>de<br />

educacional, sua importância no e para o processo de formação <strong>do</strong> sujeito, ci<strong>da</strong>dão capaz de<br />

intervir na socie<strong>da</strong>de, visan<strong>do</strong> sua interação a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s características desse<br />

processo.<br />

A educação não formal promove uma intervenção na reali<strong>da</strong>de, como ação<br />

normativa, comprometi<strong>da</strong> com o fazer, basila<strong>da</strong> nos quatro pilares <strong>da</strong> educação, propostos<br />

pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI: aprender a conhecer;<br />

aprender a fazer; aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros e aprender a ser,<br />

necessitan<strong>do</strong> então, <strong>do</strong> suporte e <strong>da</strong> análise social desenvolvi<strong>da</strong> por outras áreas de<br />

conhecimento.<br />

Para desenvolver ativi<strong>da</strong>des de educação não formal precisamos literalmente, como<br />

dizia Paulo Freire, “mover-se no mun<strong>do</strong>” (FREIRE, 1996, p.19). O ser humano quan<strong>do</strong> nasce,<br />

antes <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> linguagem fala<strong>da</strong> ele se apropria <strong>da</strong> motrici<strong>da</strong>de para adquirir<br />

experiências. Nesse senti<strong>do</strong>, a educação não formal também favorece as pessoas com<br />

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necessi<strong>da</strong>des educacionais especiais que, de acor<strong>do</strong> com suas possibili<strong>da</strong>des físicas, também<br />

tem o seu “mover-se no mun<strong>do</strong>”.<br />

Os movimentos expressivos <strong>do</strong> nosso corpo identificam a necessi<strong>da</strong>de natural que o<br />

ser humano tem tanto de expor seus sentimentos e pensamentos como para manifestar ou<br />

expandir suas emoções, sem pronunciar uma palavra, mas através de simples movimentos de<br />

expressão corporal.<br />

Nessa perspectiva, este trabalho pretende identificar os saberes necessários à ação<br />

pe<strong>da</strong>gógica na educação não formal, ten<strong>do</strong> como laboratório vivo a Oficina de Percussão<br />

Kizambe.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s dessa oficina poderão trazer reflexões e contribuições para o desafio de<br />

inovar a educação musical fora <strong>da</strong> educação formal, conhecimento esse que não é estático,<br />

mas dinâmico, em constante transformação, uma vez que a socie<strong>da</strong>de moderna apresenta<br />

deman<strong>da</strong>s sócio-educacionais que ultrapassam os limites formais e regulares <strong>da</strong> escola.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a “Pe<strong>da</strong>gogia para a Libertação” protagoniza<strong>da</strong> por Paulo Freire<br />

aponta para a educação como uma solução para transformar as diferentes formas de miséria,<br />

bem como promover aos excluí<strong>do</strong>s acesso à socie<strong>da</strong>de, o que acarreta mu<strong>da</strong>nças no conceito<br />

<strong>da</strong> educação. Com isso, criam-se novos espaços de educação, a exemplo <strong>da</strong>s OSCIPs, ONGs,<br />

igrejas, clubes etc., extrapolan<strong>do</strong> os limites <strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem escolar.<br />

Daí, a importância de se estu<strong>da</strong>r a educação não formal, a fim de possibilitar a<br />

sistematização, reorganização e construção de conhecimentos com ações orienta<strong>da</strong>s e<br />

intencionais.<br />

Suscitan<strong>do</strong> controvérsias, McLuhan declarou há mais de 30 anos que o mun<strong>do</strong> seria<br />

transforma<strong>do</strong> numa “Aldeia Global” com os avanços <strong>da</strong>s telecomunicações e a informatização<br />

(CABOCLO; TRINDADE, 1998, p.25). Hoje, além de transforma<strong>do</strong>, o mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong> e<br />

“antena<strong>do</strong>” provoca profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças na psicologia humana.<br />

Dentro desse contexto, induzi<strong>da</strong> pela globalização e pelo desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

tecnologias de comunicação e de informação, a nossa educação precisa vencer uma série de<br />

paradigmas chegan<strong>do</strong> à redefinição <strong>da</strong> sua Proposta Pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Com isso, pode-se perceber um aluno capaz de desenvolver seu potencial individual,<br />

por meio <strong>da</strong> construção de competências como nos orientam os Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais – PCNs, que nos dizem que<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica deve refletir o melhor equacionamento possível entre<br />

recursos humanos, financeiros, técnicos, didáticos e físicos, para garantir<br />

tempos, espaços, situações de interação, formas de organização <strong>da</strong><br />

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aprendizagem e de inserção <strong>da</strong> escola no seu ambiente social, que promovam<br />

a aquisição <strong>do</strong>s conhecimentos, competências e valores previstos na lei,<br />

apresenta<strong>do</strong>s nestas diretrizes, e constantes <strong>da</strong> sua proposta pe<strong>da</strong>gógica.<br />

(BRASIL, 1999, p. 126).<br />

Além disso, entender a Educação como comportamento essencial <strong>da</strong>s estratégias<br />

socioeconômicas, para atingir melhores padrões de quali<strong>da</strong>de, competitivi<strong>da</strong>de e<br />

produtivi<strong>da</strong>de nessa socie<strong>da</strong>de, parece ser fun<strong>da</strong>mental. Nesse senti<strong>do</strong>, a televisão, o<br />

computa<strong>do</strong>r, a internet, assim como as igrejas, as associações de bairros, as bibliotecas, enfim,<br />

to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> que pulsa no contexto físico-ambiental vem oportunizan<strong>do</strong>, sem dúvi<strong>da</strong>, a<br />

ampliação e o intercâmbio de conhecimentos sobre o homem, suas obras, descobertas e fatos,<br />

levan<strong>do</strong> ao estabelecimento de novos padrões de comportamento. A questão é onde e como<br />

administrar o que vamos aprender, ver, ouvir, sentir e expressar-se nas mais diversas<br />

linguagens, principalmente na linguagem musical, no contexto apresenta<strong>do</strong> pela era <strong>da</strong><br />

informação e <strong>do</strong> conhecimento?<br />

Os cenários construí<strong>do</strong>s pela educação não formal será a resposta correta? Talvez!...<br />

A educação não formal é um termo de certa forma, ambíguo, permite múltiplos usos.<br />

É usa<strong>do</strong> para definir ações, relações entre indivíduos ou é emprega<strong>do</strong> como um conceito de<br />

organização institucional. Para Gohn (2001), educação não formal são práticas que capacitam<br />

os indivíduos tanto para solução de problemas coletivos como para a aprendizagem de<br />

habili<strong>da</strong>des para o trabalho, de conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong> escolarização formal, de direitos, de recursos<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s na e pela mídia, de convívio social, famílias e comuni<strong>da</strong>de como um to<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Gohn, a meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> na educação não formal,<br />

É um <strong>do</strong>s pontos mais fracos na educação não formal [...]. De to<strong>da</strong> forma, na<br />

educação não formal as meto<strong>do</strong>logias são, usualmente, planifica<strong>da</strong>s<br />

previamente segun<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>s prescritos nas leis. [...] Na educação não<br />

formal, as meto<strong>do</strong>logias opera<strong>da</strong>s no processo de aprendizagem parte <strong>da</strong><br />

cultura <strong>do</strong>s indivíduos e <strong>do</strong>s grupos. O méto<strong>do</strong> nasce a partir de<br />

problematização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana; os conteú<strong>do</strong>s emergem a partir <strong>do</strong>s temas<br />

que se colocam como necessi<strong>da</strong>des, carências, desafios, obstáculos ou ações<br />

empreende<strong>do</strong>ras a serem realiza<strong>da</strong>s; [...] O méto<strong>do</strong> passa pela sistematização<br />

<strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de agir e de pensar o mun<strong>do</strong> que circun<strong>da</strong> as pessoas. Penetra-se,<br />

portanto no campo <strong>do</strong> simbólico, <strong>da</strong>s orientações e representações que<br />

conferem senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> às ações humanas. Supõe a existência <strong>da</strong><br />

motivação <strong>da</strong>s pessoas que participam. Ela não se subordina às estruturas<br />

burocráticas. É dinâmica. (GOHN, 2001, p. 45)<br />

Os cenários públicos, atualmente, constituem-se de grupos socioculturais com<br />

formações histórico-culturais com diferenças de gênero, raça, orientação sexual e religiosa<br />

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que impulsionam as injustiças, desigual<strong>da</strong>des e discriminações e em constante busca por um<br />

empoderamento cultural objetivan<strong>do</strong>, portanto, o respeito e a valorização <strong>da</strong>s diferenças,<br />

principalmente de desenvolvimento tecnológico.<br />

Neste senti<strong>do</strong> Koellreutter já dizia que:<br />

Como a arte em geral, também a música, na nova socie<strong>da</strong>de, deveria ter<br />

principalmente a função de humanizar a civilização tecnológica. Dessa<br />

maneira, a música se tornaria um instrumento de modificação através de<br />

processos estéticos. Assim sen<strong>do</strong>, a escola interdisciplinar de música deveria<br />

colocar a questão de como diferenciar os elementos estéticos e musicais de<br />

acor<strong>do</strong> com as várias formas de aspectos humanos e sociais<br />

(KOELLREUTTER, 1977, p. 01).<br />

Portanto, necessário se faz, a discussão sobre a formação <strong>do</strong> músico para atuar nos<br />

cenários não formais construí<strong>do</strong>s pela socie<strong>da</strong>de, promoven<strong>do</strong> a reflexão acerca <strong>do</strong>s avanços<br />

em ritmo alucinante em to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des humanas.<br />

Nesta trilha orientativa a aprendizagem musical adquiri<strong>da</strong> na Oficina de Percussão<br />

Kizambe contribui com a formação integral <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão e sua inserção social valoriza<strong>da</strong> pela<br />

interação não formal nos diversos cenários produzi<strong>do</strong>s.<br />

Oficinas de Percussão Kizambe<br />

O Kizambe é um Núcleo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa de Percussão que surgiu em 2008<br />

com a união <strong>do</strong>s percussionistas e compositores Dudu Campos e Sami Tarik, na ci<strong>da</strong>de de<br />

Natal-RN, que desenvolve um trabalho de pesquisa com a musica de percussão<br />

“experimental”, característica sempre presente nas composições de ca<strong>da</strong> um. Nas oficinas de<br />

percussão popular e na busca de novos timbres, fica marca<strong>da</strong> a presença <strong>do</strong> constante uso de<br />

materiais reaproveitáveis.<br />

A 1ª oficina realiza<strong>da</strong> foi em um espaço comercial denomina<strong>do</strong> “O Sanduiwich”<br />

localiza<strong>do</strong> em Natal-RN, Brasil, que apesar de ser inadequa<strong>do</strong> para uma oficina de percussão,<br />

foi de grande valia para vali<strong>da</strong>r a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia quanto ao ato de “prender a<br />

atenção” <strong>do</strong>s participantes, além de estar em contato com um público realmente leigo no<br />

assunto.<br />

Para o público de 25 participantes leigos, forma<strong>do</strong> em sua maioria de jovens e<br />

adultos, foram desenvolvi<strong>da</strong>s dinâmicas para que atender as dificul<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s oficineiros. A<br />

percepção <strong>do</strong>s participantes leigos foi satisfatória consideran<strong>do</strong> ser uma primeira experiência<br />

rítmica/musical, bem como, a interação musical que de acor<strong>do</strong> com o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

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meto<strong>do</strong>logia ficou comprova<strong>do</strong> que deveria incentivá-los ca<strong>da</strong> vez mais a experienciar a<br />

utilização <strong>do</strong>s efeitos de percussão direcionan<strong>do</strong> a mu<strong>da</strong>nça de abor<strong>da</strong>gem no decorrer <strong>da</strong><br />

oficina.<br />

Consciente de que os objetivos propostos foram atingi<strong>do</strong>s o percussionista Sami<br />

Tarik construiu uma parceria com a Universi<strong>da</strong>de de Cabo Verde para realização <strong>da</strong> Oficina<br />

naquele país.<br />

Assim surgiu a 2ª oficina que ocorreu no país de Cabo Verde, na Ilha de Santiago, na<br />

Casa <strong>da</strong> Música, espaço <strong>da</strong> própria Universi<strong>da</strong>de de Cabo Verde-UNICV destina<strong>do</strong> às práticas<br />

musicais.<br />

Nessa oficina o público forma<strong>do</strong> por uma faixa etária diferencia<strong>da</strong>, composta por<br />

crianças e adultos, em maioria adultos, com uma característica marcante que era a presença de<br />

pais e filhos. Por ser uma ilha turística havia pessoas de diferentes nacionali<strong>da</strong>des, como<br />

alemães, angolanos e brasileiros além <strong>do</strong>s cabo-verdianos.<br />

Mesmo com o público receptivo, a princípio houve resistência à inserção na<br />

produção <strong>do</strong> som por temerem atrapalhar o processo que estavam vivencian<strong>do</strong> até o momento<br />

em que foi utiliza<strong>da</strong> a voz como recurso para aproximação nos exercícios percussivos. O<br />

momento de maior descontração foi na improvisação pelos participantes na formação <strong>da</strong>s<br />

estruturas musicais propostas pelas vivências.<br />

A 3ª edição <strong>da</strong> oficina foi ministra<strong>da</strong> também no país de Cabo Verde, só que desta<br />

vez na Ilha <strong>do</strong> Sal, numa Escola de Música <strong>do</strong> município chama<strong>da</strong> “Tututa”. O público foi em<br />

sua maioria de crianças.<br />

Os cabo-verdianos foram bastante receptivos, pois não é comum a realização de<br />

trabalhos formata<strong>do</strong>s com o intuito de despertar na população a importância <strong>da</strong> educação<br />

musical e o desenvolvimento <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de no país.<br />

Meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong> oficina<br />

A meto<strong>do</strong>logia usa<strong>da</strong> nessa oficina foi a aula-espetáculo o que proporcionou uma<br />

sala cheia de crianças e to<strong>da</strong>s elas em silêncio, prestan<strong>do</strong> atenção e interagin<strong>do</strong> no momento<br />

certo. A melhor resposta foi a <strong>do</strong> público infantil pela sinceri<strong>da</strong>de e cumplici<strong>da</strong>de diante <strong>da</strong>s<br />

vivências, permitin<strong>do</strong> uma maior interação com o canto e nas participações percussivas. Isso<br />

flui quan<strong>do</strong> são valoriza<strong>da</strong>s as habili<strong>da</strong>des <strong>do</strong> ser humano onde a busca <strong>da</strong> perfeição não deve<br />

existir e sim a intenção de aproximação e interação <strong>do</strong> público.<br />

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O material <strong>da</strong> oficina foi acondiciona<strong>do</strong> numa “bambona” plástica. Lá estavam<br />

efeitos de percussão tais como chocalho, sino, sementes, molas, apitos, conduíte de energia,<br />

moringa, baquetas, pandeiros, ganzá, caxixes, kalimba, blocos sonoros, pandeirola e tambor<br />

de plástico (material reaproveita<strong>do</strong>).<br />

Além <strong>do</strong>s instrumentos de percussão foram utiliza<strong>do</strong>s equipamentos eletroeletrônicos<br />

tais como caixas de som, microfones, pedestais, mesa de som, estabiliza<strong>do</strong>r e transforma<strong>do</strong>r<br />

de energia, além de pe<strong>da</strong>is eletrônicos com suas respectivas fontes e cabos que possibilitam a<br />

mu<strong>da</strong>nça de timbres, amplificação, força e nitidez no som, além de gravações em tempo real,<br />

que acabou sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s pontos fortes <strong>da</strong> oficina. É prudente conhecer a acústica <strong>do</strong> local,<br />

fazer alguns ajustes no equipamento de som, como reverbes, níveis de compressão, entre<br />

outros.<br />

1º momento - a oficina começa com um solo improvisa<strong>do</strong> com um pandeiro de couro<br />

que tem sua culminância na gravação de um ciclo rítmico. Esse ritmo é uma mistura <strong>do</strong><br />

Techno com o Zambê - ritmo proveniente <strong>da</strong> cultura norte-rio-grandense. Em segui<strong>da</strong> começa<br />

um improviso com o pandeiro de nylon que também termina sen<strong>do</strong> grava<strong>do</strong>. Dessa maneira<br />

obtém-se uma rica base rítmica, que permite o uso de outros instrumentos como o ganzá,<br />

poden<strong>do</strong> também aplicar um canto de apresentação, bastante encontra<strong>do</strong> no zambê que se<br />

baseia em perguntas e respostas, provocan<strong>do</strong> uma interação com os participantes <strong>da</strong> oficina. O<br />

objetivo dessa performance é mostrar que eles estarão livres para se expressar naquele<br />

momento. A oficina acontece o mais próximo possível <strong>do</strong>s participantes onde a formali<strong>da</strong>de<br />

não será prioriza<strong>da</strong>. Essa atitude faz com que eles se mantenham alerta e entusiasma<strong>do</strong>s com<br />

o que está por vir.<br />

2º momento – os participantes ficam senta<strong>do</strong>s no chão para que possam relaxar ao<br />

som de uma moringa. Os exercícios de relaxamento se baseiam na Yoga. Uma série de<br />

alongamentos e ativi<strong>da</strong>des de relaxamento é proposta para que os participantes estejam aptos<br />

a suportar a carga física no decorrer <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> as tensões e os problemas<br />

particulares e “entran<strong>do</strong> de cabeça” no tema sugeri<strong>do</strong>.<br />

Logo após o relaxamento eles são orienta<strong>do</strong>s a usar sons corporais como estalos e<br />

palmas. Em segui<strong>da</strong> inicia-se um conto sonoro (estória conta<strong>da</strong> por quem está ministran<strong>do</strong> a<br />

oficina) de uma len<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Mahura. Acredita-se que a referi<strong>da</strong> len<strong>da</strong> tem sua origem na<br />

África e por esse motivo devemos ter uma atenção especial com os timbres e instrumentos<br />

usa<strong>do</strong>s como recurso para trazer os participantes ao imaginário deseja<strong>do</strong>. Essa história é<br />

conta<strong>da</strong> com o auxílio de loops que formam um ciclo rítmico produzi<strong>do</strong> com uma moringa,<br />

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2 OA N O S<br />

uma kalimba e uma mola. Para intensificar a participação na oficina usa-se uma série de<br />

efeitos percussivos que lembram sons de pássaros, rio, vento, chuva, que nos remetem a<br />

natureza, além de sons abstratos.<br />

O diferencial nesse momento é a participação <strong>da</strong>s crianças através de sons corporais,<br />

além de experimentarem os efeitos de percussão e de utilizarem o canto na canção intitula<strong>da</strong><br />

Dumbaiê, <strong>do</strong> grupo Co<strong>do</strong>na, uma espécie de mantra africano, interagin<strong>do</strong> diretamente com o<br />

conto sonoro conduzi<strong>do</strong> pelo facilita<strong>do</strong>r.<br />

3º momento - essa etapa <strong>da</strong> oficina foi destina<strong>da</strong> ao aprimoramento <strong>da</strong> percepção<br />

rítmica. Para iniciar foi executa<strong>do</strong> um coco, ritmo típico <strong>do</strong> nordeste brasileiro, utilizan<strong>do</strong> um<br />

ganzá para a variação de intensi<strong>da</strong>de de acor<strong>do</strong> com os tempos fortes e fracos <strong>do</strong> ritmo e o<br />

tambor de plástico que forma a base <strong>do</strong> ritmo com sons graves e médio agu<strong>do</strong>s, utiliza<strong>do</strong><br />

também para a base rítmica por alcançar frequências graves e de médio agu<strong>do</strong> num volume de<br />

som considera<strong>do</strong> alto além <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de utilizá-lo para o transporte <strong>do</strong>s instrumentos <strong>da</strong><br />

oficina. Outro instrumento utiliza<strong>do</strong> é o agogô ou bloco sonoro, que pode ser substituí<strong>do</strong> de<br />

uma maneira mais alternativa com a utilização de duas garrafas de vidro de tamanhos<br />

diferentes. O objetivo <strong>da</strong> utilização desse instrumento é provocar no participante <strong>da</strong> oficina a<br />

noção demarcação <strong>do</strong> tempo. O quarto instrumento é uma cor<strong>da</strong> cheia de chocalhos de cabra,<br />

que pode ser substituí<strong>do</strong> por uma pandeirola que é um instrumento mais facilmente<br />

encontra<strong>do</strong>. O objetivo <strong>da</strong> utilização desses <strong>do</strong>is instrumentos é provocar no participante a<br />

capaci<strong>da</strong>de de perceber o contratempo. Para <strong>da</strong>r a canção um esboço melódico, podemos<br />

utilizar canos de energia, que podem ser utiliza<strong>do</strong>s com uma técnica próxima a <strong>da</strong> gaita, pois<br />

o som é produzi<strong>do</strong> pela expiração e pela inspiração com a boca. No conto sonoro esse mesmo<br />

material é utiliza<strong>do</strong> de maneira diferente, os participantes giram o cano de energia que tem<br />

boa flexibili<strong>da</strong>de, e dessa forma produzem sons que se parecem com o vento. Por fim no<br />

canto, usa-se a “Cantiga <strong>do</strong> Sapo de Jackson <strong>do</strong> Pandeiro” por ser interativa com perguntas e<br />

respostas, além de ser uma composição de um percussionista popular. To<strong>do</strong>s esses elementos<br />

em conjunto exemplificam de maneira clara a divisão rítmica, dentro de uma roupagem<br />

basea<strong>da</strong> na performance <strong>do</strong>s artistas populares brasileiros.<br />

4º momento – aplica-se a dinâmica <strong>do</strong> “Mané Pipoca” que se caracteriza como um<br />

brinque<strong>do</strong> canta<strong>do</strong>. À voz e ao movimento corporal junta-se a percussão como um jogo de<br />

fato, com regras a seguir e graus de dificul<strong>da</strong>des a vencer.<br />

5º momento – é a montagem <strong>do</strong> “Ijexá”, ritmo musical presente nos afoxés, onde é<br />

grava<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> passo para construção <strong>do</strong> ritmo, ain<strong>da</strong> com a proposta de utilizar os loops.<br />

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Como se assemelha a um exercício de memorização promove a repetição <strong>da</strong>s bati<strong>da</strong>s e o<br />

revezamento <strong>do</strong>s instrumentos entre os participantes. O exercício tem sua finalização quan<strong>do</strong><br />

o loop é desliga<strong>do</strong> e os participantes seguem de maneira independente sem o loop como<br />

“muletas” e nesse momento os participantes que estão sem instrumento são incentiva<strong>do</strong>s a<br />

interagir com palmas e cantan<strong>do</strong>.<br />

6º momento – é a hora de tirar dúvi<strong>da</strong>s, responder perguntas e avaliar a oficina como<br />

um to<strong>do</strong>.<br />

To<strong>do</strong> esse processo participativo e interacional desenvolvem noções sobre a<br />

percussão que através <strong>da</strong>s vivências aju<strong>da</strong>m o ser humano a se integrar ao seu contexto<br />

sociocultural através <strong>da</strong> música.<br />

Conclusões<br />

Mais <strong>do</strong> que trabalhar conceitos, pretende-se criar um espaço de autoconhecimento,<br />

debate e reflexão sobre atitudes e padrões de comportamento que promovem a educação<br />

musical. Para tal, utilizam-se meto<strong>do</strong>logias participativas que valorizam a experiência e o<br />

conhecimento de ca<strong>da</strong> participante, motivan<strong>do</strong> a partilha e a aprendizagem mútua.<br />

Contu<strong>do</strong>, o ser em desenvolvimento deverá ter em si o sentimento de inquietude, o<br />

sentimento que faz <strong>do</strong> homem um ser inacaba<strong>do</strong>, to<strong>da</strong>via sedento de que a ca<strong>da</strong> dia possa<br />

chegar a novos conhecimentos, vislumbrá-los com sereni<strong>da</strong>de, respeito e coragem, partin<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> nossa própria cultura, <strong>da</strong>s nossas experiências pessoais, colocan<strong>do</strong> o “outro” no centro <strong>da</strong><br />

compreensão onde o diálogo nos faz entender que somos diferentes.<br />

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Referências<br />

Referências<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fun<strong>da</strong>mental. Parâmetros curriculares nacionais: ensino<br />

médio: bases legais. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. 188 p.<br />

CABOCLO, Eliana Tereza de Andrade Freitas; TRINDADE, Maria de Lourdes de Araújo.<br />

Multiplici<strong>da</strong>de: ca<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de uma constelação. Salto para o Futuro: Reflexões sobre a<br />

educação no próximo milênio. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério <strong>da</strong><br />

Educação e <strong>do</strong> Desporto. SEED, 1998. 96 p.<br />

DELORS, Jacques. Et al. Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO <strong>da</strong><br />

Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 9ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília,<br />

DF: MEC: UNESCO, 2004.<br />

FREIRE, Paulo. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:<br />

Paz e Terra, 1996.<br />

GOHN, Maria <strong>da</strong> Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o<br />

Associativismo <strong>do</strong> terceiro setor. 2ª ed. São Paulo, Cortez, 2001.<br />

KOELLREUTTER, Hans-Joachim. O ensino <strong>da</strong> música num mun<strong>do</strong> modifica<strong>do</strong>. In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong><br />

I Simpósio Internacional de Compositores. 1977. Disponível em: < http://www.latinoamericamusica.net/ensenanza/koell-ensino-po.html>.<br />

Acesso em: 12 abr. <strong>2011</strong>.<br />

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Percepção Musical: Aspectos recorrentes nas práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />

aplica<strong>da</strong>s no ensino superior no Brasil<br />

Larissa Martins de Lima<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

martinsdelima@gmail.com<br />

Resumo: O presente artigo pretende destacar algumas discussões em torno <strong>do</strong>s moldes em<br />

que é conduzi<strong>da</strong> a disciplina de Percepção Musical nas instituições de ensino superior no<br />

Brasil, destacan<strong>do</strong> aspectos recorrentes nas práticas pe<strong>da</strong>gógicas aplica<strong>da</strong>s em sala de aula,<br />

com relação à utilização de estratégias, ferramentas e repertórios por parte <strong>do</strong>s professores e o<br />

que pensam os pesquisa<strong>do</strong>res sobre essas escolhas. A revisão de literatura aponta para o<br />

distanciamento que se configura entre a referi<strong>da</strong> disciplina e a prática musical. Com base<br />

nessas informações é possível constatar a dicotomia existente entre o que tem si<strong>do</strong> feito em<br />

sala de aula e o que tem si<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> na literatura acadêmica. Uma reflexão sobre esses<br />

elementos pode trazer novas perspectivas para a disciplina de Percepção Musical, no que se<br />

refere tanto a problemas meto<strong>do</strong>lógicos quanto curriculares.<br />

Palavras-chave: Percepção musical, Educação musical, Práticas pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

1. Introdução<br />

Este artigo é basea<strong>do</strong> numa revisão de literatura preliminar sobre o que tem si<strong>do</strong><br />

discuti<strong>do</strong> na academia a respeito <strong>da</strong> disciplina de Percepção Musical nos cursos superiores de<br />

música <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des brasileiras. Tal revisão é parte integrante de pesquisa em an<strong>da</strong>mento<br />

com foco de estu<strong>do</strong> sobre a referi<strong>da</strong> disciplina. 1<br />

A disciplina de Percepção Musical tem si<strong>do</strong> alvo de discussões recentes na literatura<br />

acadêmica produzi<strong>da</strong> no Brasil. O resulta<strong>do</strong> de tais reflexões aponta para uma série de<br />

críticas, principalmente no que se refere às práticas pe<strong>da</strong>gógicas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s pelos professores <strong>da</strong><br />

disciplina (PANARO, 2010, p. 360): uma abor<strong>da</strong>gem demasia<strong>do</strong> fragmenta<strong>da</strong> que vem<br />

conduzin<strong>do</strong> a disciplina de Percepção Musical ao longo de sua história nas instituições de<br />

ensino superior de música <strong>do</strong> Brasil (GROSSI, 2001). Paralelamente a essa reali<strong>da</strong>de, o<br />

debate acadêmico tem levanta<strong>do</strong> questões pertinentes sobre a disciplina de Percepção Musical<br />

e propostas interessantes surgem na literatura produzi<strong>da</strong> recentemente, no entanto, muitas<br />

dessas propostas permanecem no papel. Por que as discussões sobre o ensino <strong>da</strong> Percepção<br />

1 Pesquisa em an<strong>da</strong>mento desenvolvi<strong>da</strong> na área de Educação Musical pelo programa de Pós-Graduação em<br />

Música <strong>da</strong> UFBA, com auxílio Capes, procuran<strong>do</strong> investigar aspectos recorrentes <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas em<br />

Percepção Musical no ensino superior, suas deficiências e principais problemas relata<strong>do</strong>s na bibliografia. No<br />

decorrer <strong>da</strong> pesquisa, estratégias de ensino serão repensa<strong>da</strong>s com a finali<strong>da</strong>de de restaurar as conexões entre os<br />

conteú<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>s em Percepção Musical e a prática musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.<br />

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Musical levanta<strong>da</strong>s na academia não chegam à sala de aula? Poderíamos buscar uma possível<br />

justificativa para esse fenômeno no fato de que as escolas de música <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des no<br />

Brasil estão mais comprometi<strong>da</strong>s com o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> que com o processo de aprendizagem,<br />

“despenden<strong>do</strong> mais tempo em formar agentes reprodutores – os alunos – <strong>do</strong> que trabalhar a<br />

música como saber e fonte gera<strong>do</strong>ra de conhecimento” (BERNARDES, 2001, p. 581), isso<br />

dentro de um contexto geral que é aponta<strong>do</strong> por Freire:<br />

No Brasil [...] têm prevaleci<strong>do</strong> currículos que se modelam, prioritariamente,<br />

segun<strong>do</strong> o paradigma que Domingues (1986) identifica como técnico-linear<br />

e que refletem uma concepção de educação que Saviani (1989) identifica<br />

como humanista tradicional. São currículos cuja ênfase está no professor,<br />

considera<strong>do</strong> detentor <strong>do</strong> conhecimento a ser transmiti<strong>do</strong>. O objetivo<br />

principal desses currículos é a habilitação técnica, visan<strong>do</strong> à a<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong><br />

indivíduo à socie<strong>da</strong>de (FREIRE, 2001, p. 69-70).<br />

Essa postura, a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pelas instituições e seus currículos, é refleti<strong>da</strong> numa<br />

abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica que prioriza demasia<strong>da</strong>mente o conhecimento técnico <strong>da</strong> música, um<br />

conhecimento que parece não estabelecer vínculos com o fazer musical, como alguns autores<br />

apontam: uma ausência de conexão entre as aulas de percepção e a prática <strong>do</strong> instrumentista.<br />

[Verifica-se] carência de maior conexão entre a prática <strong>do</strong> instrumentista e<br />

àquela <strong>da</strong>s aulas [de percepção musical], não porque os materiais disponíveis<br />

não se apliquem ao desenvolvimento necessário <strong>do</strong> intérprete, mas porque<br />

ain<strong>da</strong> não houve, por parte <strong>do</strong>s professores de instrumento e <strong>do</strong>s próprios<br />

estu<strong>da</strong>ntes, uma consciência de que, tanto solfejo quanto o dita<strong>do</strong>, podem ser<br />

incorpora<strong>do</strong>s ao estu<strong>do</strong> diário <strong>do</strong> instrumento (BORTZ, 2007, p. 85).<br />

Pesquisas acerca <strong>do</strong> ensino de percepção musical tradicional o caracterizam como<br />

“fragmenta<strong>do</strong>, descontextualiza<strong>do</strong>, mecânico e distante <strong>da</strong> própria ‘música’” (NETO, 2010, p.<br />

164). O que levou a esse distanciamento? Como re-estabelecer o vínculo entre a disciplina de<br />

Percepção Musical e a prática musical? Segue-se um levantamento <strong>do</strong>s aspectos recorrentes<br />

nas práticas pe<strong>da</strong>gógicas aplica<strong>da</strong>s na disciplina de Percepção Musical no ensino superior no<br />

Brasil.<br />

2. Estratégias e ferramentas: características <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica<br />

corrente utiliza<strong>da</strong> na disciplina de Percepção Musical.<br />

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Pesquisas recentes sobre o ensino <strong>da</strong> Percepção Musical têm mostra<strong>do</strong> que a<br />

abor<strong>da</strong>gem geralmente pratica<strong>da</strong> em sala de aula é restrita ao trabalho <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> musical de<br />

forma ‘atomiza<strong>da</strong>’ ou ‘atomística’, como denominam alguns autores (BARBOSA, 2005, p.<br />

92). Isso significa que os elementos técnicos <strong>da</strong> música (escalas, acordes, intervalos,<br />

progressões, cadências, etc.) são toma<strong>do</strong>s como uni<strong>da</strong>des significativas e trabalha<strong>do</strong>s de<br />

forma isola<strong>da</strong> <strong>do</strong> contexto musical, restringin<strong>do</strong> a aula de Percepção Musical à realização de<br />

treinamento para a percepção e discriminação desses elementos. Essa abor<strong>da</strong>gem se faz<br />

presente não apenas nas aulas, mas também nos testes aplica<strong>do</strong>s – o que tem si<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> com<br />

certa preocupação por autores, como Grossi (2001) e França (2003), que destacam a ineficácia<br />

desse tipo de teste por não revelar o potencial musical <strong>do</strong> indivíduo. Barbosa (2005, p. 97)<br />

afirma que esse tipo de teste, onde a fragmentação <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> é utiliza<strong>da</strong> como uma forma<br />

de avaliar ca<strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de adquiri<strong>da</strong>, segue a corrente <strong>da</strong> educação que prega a clareza quanto<br />

aos objetivos específicos a serem avalia<strong>do</strong>s, e que não seria este o cerne <strong>do</strong>s problemas que<br />

envolvem a disciplina de Percepção Musical.<br />

Ao discorrer sobre os atributos ou “dimensões” <strong>da</strong> música, Levitin (2006, p. 26)<br />

afirma que “estes atributos são separáveis. Ca<strong>da</strong> um pode ser varia<strong>do</strong> sem alterar os demais, o<br />

que permite estu<strong>da</strong>r um deles de ca<strong>da</strong> vez, razão pela qual podemos pensar neles como<br />

dimensões” 2 , o que justificaria sim uma abor<strong>da</strong>gem compartimenta<strong>da</strong> para fins de assimilação<br />

de ca<strong>da</strong> um desses atributos ou dimensões. Contu<strong>do</strong>, restringir o processo de aprendizagem na<br />

Percepção Musical unicamente a este tipo de abor<strong>da</strong>gem não possibilita ao indivíduo fazer as<br />

conexões entre as dimensões <strong>da</strong> música. Para melhor compreender o que isto significa é<br />

importante destacar aqui o que diz Swanwick sobre “princípios de educação musical”:<br />

Um <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> professor de música é trazer a consciência musical <strong>do</strong><br />

último para o primeiro plano. [...] A menor uni<strong>da</strong>de musical significativa é a<br />

frase ou o gesto, não um intervalo, tempo ou compasso. [...] Olhar um<br />

eficiente professor de música trabalhan<strong>do</strong> (em vez de um “treina<strong>do</strong>r” ou<br />

“instrutor”) é observar esse forte senso de intenção musical relaciona<strong>do</strong> com<br />

propósitos educacionais: as técnicas são usa<strong>da</strong>s para fins musicais, o<br />

conhecimento de fatos informa a compreensão musical (SWANWICK,<br />

2003, p. 57-58).<br />

2 LEVITIN, Daniel. “Em busca <strong>da</strong> mente musical”. In “Em busca <strong>da</strong> mente musical: ensaios sobre os processos<br />

cognitivos em música – <strong>da</strong> percepção à produção”. Beatriz Senoi Ilari (org). Curitiba: Ed. Da UFPR, 2006, p. 26.<br />

Levitin enumera sete atributos ou dimensões musicais: altura, ritmo, an<strong>da</strong>mento, contorno, timbre, volume,<br />

localização espacial. Para Levitin essas dimensões também variam em profundi<strong>da</strong>de e complexi<strong>da</strong>de, o que deve<br />

ser observa<strong>do</strong> em sala de aula a ca<strong>da</strong> exercício realiza<strong>do</strong>, onde ca<strong>da</strong> contato entre o estu<strong>da</strong>nte e o objeto musical<br />

gera uma nova perspectiva de percepção <strong>da</strong>queles elementos.<br />

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Estu<strong>da</strong>r os atributos <strong>da</strong> música separa<strong>da</strong>mente pode ser uma estratégia num<br />

determina<strong>do</strong> estágio <strong>da</strong> aprendizagem para atingir determina<strong>do</strong>s objetivos, o que não deve ser<br />

encara<strong>do</strong> como o processo de aprendizagem em si. Permanecer nesse estágio consistiria em<br />

abrir mão de outras estratégias importantes que levam a outras etapas <strong>do</strong> processo de<br />

aprendizagem musical em Percepção, que teria por objetivo <strong>do</strong>tar o indivíduo <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

de atribuir senti<strong>do</strong> ao material sonoro percebi<strong>do</strong>.<br />

As pesquisas mostram que as práticas pe<strong>da</strong>gógicas aplica<strong>da</strong>s na disciplina de<br />

percepção musical privilegiam ativi<strong>da</strong>des basea<strong>da</strong>s em reconhecimento e reprodução<br />

(BERNARDES, 2001), e o uso de dita<strong>do</strong> e solfejo são os procedimentos didáticos mais<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s.<br />

Freire (2003) destaca a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> professor em “pesquisar outras ativi<strong>da</strong>des que<br />

associem o ouvir, compreender, decodificar o objeto sonoro para uma percepção musical mais<br />

efetiva e com resulta<strong>do</strong>s satisfatórios”. Além disso, a ativi<strong>da</strong>de de percepção através <strong>do</strong> dita<strong>do</strong><br />

se concentra na repetição e não acontece em tempo real, o que a torna um processo distinto <strong>do</strong><br />

processo realiza<strong>do</strong> na performance prática.<br />

[As ativi<strong>da</strong>des] devem ser estrutura<strong>da</strong>s com base no tempo de resolução <strong>do</strong><br />

ouvi<strong>do</strong> contribuin<strong>do</strong> para que o tempo de resolução entre um estímulo<br />

musical e sua resposta seja ca<strong>da</strong> vez mais contíguo. [...] Devem preparar o<br />

estu<strong>da</strong>nte para interação imediata entre estímulo e resposta, permitin<strong>do</strong> uma<br />

percepção volta<strong>da</strong> para a sincronia de detalhes musicais, como afinação,<br />

articulação, timbre e dinâmica (FREIRE, 2008).<br />

3. Escolhen<strong>do</strong> o repertório a ser trabalha<strong>do</strong><br />

O uso de exemplos musicais estereotipa<strong>do</strong>s (composições feitas pelos professores<br />

para uso exclusivo em sala de aula), ao invés <strong>da</strong> própria literatura musical, é visto como um<br />

problema por parte <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res (BARBOSA, 2007), por se tratar de um contexto<br />

artificial. O ‘conforto’ proporciona<strong>do</strong> pela “memorização de chavões”, como coloca<strong>do</strong> por<br />

Gerling (1995), <strong>da</strong>ria lugar ao estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> partitura.<br />

Proponho que no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> teoria o texto é a partitura musical. Tu<strong>do</strong> que for<br />

inferi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> texto poderá vir a se constituir no corpo teórico por<br />

dedução, constatação e avaliação, chegan<strong>do</strong>-se então a possíveis conclusões.<br />

Esta proposta [...] oportuniza um processo de auto-aprendizagem, de<br />

participação ativa, <strong>do</strong> desenvolvimento de padrões de pensamento e de<br />

descoberta (GERLING, 1995, p. 25).<br />

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Como inserir no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> Percepção Musical tal proposta? O estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> partitura<br />

poderia ser compreendi<strong>do</strong> aqui como a inclusão <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório como uma fonte de<br />

ativi<strong>da</strong>des e exercícios em contraposição a uma abor<strong>da</strong>gem estritamente foca<strong>da</strong> em exemplos<br />

cria<strong>do</strong>s especificamente para sala de aula. Dentro dessa proposta cabe uma outra discussão:<br />

que repertório seria utiliza<strong>do</strong>? Algumas abor<strong>da</strong>gens “apontam para a pre<strong>do</strong>minância <strong>do</strong><br />

sistema tonal no material musical utiliza<strong>do</strong> pela disciplina em detrimento <strong>da</strong>s inovações<br />

trazi<strong>da</strong>s pelo séc. XX e pela música contemporânea” (ZAGONEL, 1998). Para esta<br />

recorrência existe uma justificativa usa<strong>da</strong> por alguns professores de Percepção Musical, que<br />

seria “a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> conhecimento e vivência <strong>da</strong> música dita tradicional para, a partir <strong>da</strong>í,<br />

entrar em contato com a música mais inova<strong>do</strong>ra” (FOLONI, 2005). Confirman<strong>do</strong> esse padrão<br />

pode-se citar:<br />

Se tomarmos como exemplo os currículos <strong>do</strong>s Cursos Superiores de Música,<br />

veremos que, habitualmente, eles têm se centra<strong>do</strong> na cultura ‘tradicional’<br />

européia, principalmente <strong>do</strong>s séculos XVIII e XIX, em cujos modelos são<br />

apoia<strong>da</strong>s as técnicas, conteú<strong>do</strong>s, concepções, etc., abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s nos currículos<br />

(FREIRE, 2001, p. 70).<br />

Nesse contexto “as músicas representativas <strong>da</strong>s culturas brasileiras têm ocupa<strong>do</strong><br />

pouco ou nenhum espaço, o que é facilmente observável através <strong>do</strong> repertório utiliza<strong>do</strong>”<br />

(FREIRE, 2001, p. 50). 3<br />

É importante mostrar a visão de outros educa<strong>do</strong>res musicais sobre a questão <strong>do</strong><br />

repertório. Widmer (1972), por exemplo, já apontava a possibili<strong>da</strong>de de uma abor<strong>da</strong>gem<br />

apoia<strong>da</strong> em convicções contrárias a essa visão cronológica sobre o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório,<br />

defenden<strong>do</strong> que “o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> arte deve partir <strong>da</strong> vivência <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de para trás; deve partir<br />

<strong>do</strong> complexo familiar, <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sonoro que ca<strong>da</strong> um carrega em si [...]”.<br />

Atualmente, a discussão sobre o repertório a ser utiliza<strong>do</strong> em sala de aula mostra que<br />

[...] ain<strong>da</strong> existe um grande preconceito ou mesmo inexperiência, por parte<br />

de alguns [professores], em a<strong>do</strong>tar um repertório que inclua música popular,<br />

músicas de outras culturas (<strong>do</strong> cancioneiro, <strong>do</strong> romanceiro, folclóricas, <strong>da</strong><br />

cultura popular etc.), pregões ou mesmo de músicas presentes na mídia<br />

(propagan<strong>da</strong>s, jingles, de comunicação de massa). Lembran<strong>do</strong> que existem<br />

outras implicações neste tipo de postura acadêmica e que a escolha <strong>do</strong>(s)<br />

<strong>do</strong>cente(s) sobre determina<strong>do</strong> repertório enseja um amplo debate<br />

(TANAKA, 2010).<br />

3 Freire refere-se à expressão ‘culturas brasileiras’ no plural por admitir que “não temos uma cultura homogênea,<br />

mas um teci<strong>do</strong> cultural complexo e diversifica<strong>do</strong>.”<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

4. Considerações finais<br />

A partir <strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong> aponta<strong>do</strong> pelos pesquisa<strong>do</strong>res sobre o tema Percepção<br />

Musical, pode-se colocar que é de caráter urgente a inserção desta disciplina nas discussões<br />

curriculares, visto que os programas e ementas enfatizam um treinamento auditivo que<br />

privilegia um número restrito de ativi<strong>da</strong>des 4 e onde o <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> escrita musical é o principal<br />

critério de avaliação. Em seu modelo educacional, Swanwick (2003) mostra que a música<br />

tanto oferece quanto necessita de abor<strong>da</strong>gens múltiplas – técnica, execução, composição,<br />

literatura e apreciação constituem abor<strong>da</strong>gens que propiciam uma vivência mais completa <strong>da</strong><br />

música e a construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> musical por parte de ca<strong>da</strong> indivíduo. Por isso, deve-se<br />

considerar que a disciplina de Percepção Musical necessita diversificar mais suas estratégias<br />

de ensino, disponibilizan<strong>do</strong> aos estu<strong>da</strong>ntes diferentes formas de apreender os conteú<strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>s em sala de aula.<br />

A questão <strong>do</strong>s repertórios deve ser repensa<strong>da</strong> no senti<strong>do</strong> de proporcionar a ampliação<br />

<strong>da</strong> escuta através <strong>da</strong> comparação de materiais musicais contrastantes 5 , construin<strong>do</strong> um saber<br />

musical de mo<strong>do</strong> ativo e crítico, que articula conhecimentos históricos, estilísticos, culturais, e<br />

que também considera o conteú<strong>do</strong> expressivo e afetivo <strong>do</strong> material musical. Não devemos<br />

esquecer que “a interface entre mentes e música é o foco <strong>do</strong> envolvimento musical, e,<br />

sobretu<strong>do</strong> <strong>da</strong> educação musical”, ou seja, “as experiências são media<strong>da</strong>s por mentes que<br />

interpretam” 6 , sen<strong>do</strong> assim, considerar as experiências musicais que os estu<strong>da</strong>ntes carregam,<br />

a saber, o contexto musical em que o indivíduo está inseri<strong>do</strong>, torna-se imprescindível para<br />

estabelecer o diálogo entre os vários repertórios. Essas são questões que compõem e, portanto,<br />

devem ser considera<strong>da</strong>s na estrutura currículo-professor-estu<strong>da</strong>nte.<br />

Admitir o distanciamento entre a disciplina e a prática musical certamente é primeiro<br />

passo em direção à reavaliação <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s em sala de aula. Repensar<br />

critérios e formas de avaliação também figura entre os pontos importantes dessa discussão,<br />

que precisa ser amplia<strong>da</strong> e difundi<strong>da</strong> entre os professores, convocan<strong>do</strong> a participação <strong>do</strong>s<br />

mesmos dentro desse processo, para que surjam propostas pe<strong>da</strong>gógicas que não fiquem<br />

4 Como menciona Barbosa (2007) as ativi<strong>da</strong>des em Percepção Musical se resumem à realização de solfejo,<br />

dita<strong>do</strong>s e exercícios rítmicos.<br />

5 A abor<strong>da</strong>gem pratica<strong>da</strong> por Freire em apreciação musical, onde a comparação de materiais sonoros é<br />

considera<strong>da</strong> uma estratégia básica, pode servir de parâmetro para o redirecionamento <strong>da</strong> disciplina de percepção<br />

musical. Cf. FREIRE 2001, p.71.<br />

6 SWANWICK, 2003, pp. 44-45.<br />

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2 OA N O S<br />

apenas no papel e que possam, de fato, ser aplica<strong>da</strong>s em sala de aula. É preciso mais diálogo<br />

entre a academia e a sala de aula. É preciso quebrar padrões recorrentes de atuação<br />

profissional e repensar práticas pe<strong>da</strong>gógicas que aproximem a percepção musical <strong>da</strong> sala de<br />

aula com a prática musical, onde “a percepção <strong>do</strong> estímulo sensorial possa vir a ser<br />

reconheci<strong>da</strong>, armazena<strong>da</strong>, codifica<strong>da</strong> e interpreta<strong>da</strong>, deixan<strong>do</strong> de ser mero estímulo e<br />

passan<strong>do</strong> a ter significa<strong>do</strong> musical” (GERLING, 1995, p. 22) – o que de fato justifica a<br />

importância dessa disciplina.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BARBOSA, Maria Flávia Silveira. Percepção Musical sob novo enfoque: a escola de<br />

Vigotsky. Música Hodie, vol. 5, n. 2, 2005, p. 91-105. Disponível em:<br />

. Acesso em: 13 abril<br />

<strong>2011</strong>.<br />

BARBOSA, Maria Flavia S. Percepção Musical: Aproximações. In: ENCONTRO ANUAL<br />

DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, XVI, 2007. Campo<br />

Grande. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XVI <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> e Congresso <strong>Regional</strong> <strong>da</strong> ISME na América<br />

Latina. Campo Grande: <strong>ABEM</strong>, 2007.<br />

BERNADES, Virgínia. A música <strong>da</strong>s Escolas de Música: A percepção musical sob a ótica <strong>da</strong><br />

linguagem. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E<br />

PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, XIII, 2001, Belo Horizonte. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XIII <strong>Encontro</strong><br />

Nacional <strong>da</strong> ANPPOM, vol. II. Belo Horizonte: ANPPOM, 2001, p. 579-586.<br />

BORTZ, Graziela. Três aspectos <strong>da</strong> cognição na performance musical. In: SIMPÓSIO DE<br />

COGNIÇÃO E ARTE MUSICAIS INTERNACIONAL, III, 2007, Salva<strong>do</strong>r. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> III<br />

SINCAM. Salva<strong>do</strong>r: EDUFBA, 2007, p. 83-87.<br />

FOLONI, Taís Helena P. A percepção musical através <strong>da</strong> música contemporânea. In:<br />

ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL,<br />

XIV, Belo Horizonte. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XIV <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Belo Horizonte: <strong>ABEM</strong>,<br />

2005.<br />

FRANÇA, Cecília Cavalieri. Percepção e compreensão musicais: implicações para o<br />

vestibular de música. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE<br />

PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, XIV, 2003, Porto Alegre. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XIV<br />

Congresso <strong>da</strong> ANPPOM. Porto Alegre: ANPPOM, 2003.<br />

FREIRE, Van<strong>da</strong> L. Bellard. Currículos, apreciação musical e culturas brasileiras. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 6, 2001, pp. 69-72.<br />

FREIRE, Ricar<strong>do</strong> Doura<strong>do</strong>. Avaliação <strong>do</strong> Dita<strong>do</strong> Musical como ferramenta didática na<br />

percepção musical. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE<br />

PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, XIV, 2003, Porto Alegre. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XIV<br />

<strong>Encontro</strong> Nacional <strong>da</strong> ANPPOM. Porto Alegre: ANPPOM, 2003.<br />

FREIRE, Ricar<strong>do</strong> Doura<strong>do</strong>. Caracterização <strong>do</strong> processo de Ação Simultânea (AS) na<br />

performance e percepção em tempo real. In: SIMPÓSIO DE COGNIÇÃO E ARTES<br />

MUSICAIS, 4, 2008, São Paulo. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> SINCAM4. São Paulo, 2008.<br />

GERLING, Cristina C. Bases para uma meto<strong>do</strong>logia de percepção musical e estruturação no<br />

3º grau. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, n. 2, 1995, p. 21-26.<br />

GROSSI, Cristina. Avaliação <strong>da</strong> Percepção musical na perspectiva <strong>da</strong>s dimensões <strong>da</strong><br />

experiência cultural. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, n. 6, 2001, p. 49-58.<br />

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571


2 OA N O S<br />

LEVITIN, Daniel. Em busca <strong>da</strong> mente musical. In: ILARI, Beatriz Senoi (org). Em busca <strong>da</strong><br />

mente musical: ensaios sobre os processos cognitivos em música – <strong>da</strong> percepção à produção.<br />

Curitiba: Ed. Da UFPR, 2006.<br />

NETO, Darcy Alcântara. Aprendizagens em percepção musical: um estu<strong>do</strong> de caso com<br />

alunos de um curso superior de música popular. In: I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-<br />

GRADUANDOS EM MÚSICA; XV COLÓQUIO DO PROGRAMA DE PÓS-<br />

GRADUAÇÃO EM MÚSICA DA UNIRIO, 2010, Rio de Janeiro. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> I SIMPOM, Rio<br />

de Janeiro, 2010, p. 164-173. Disponível em:<br />

< http://www.unirio.br/simpom/textos/SIMPOM-<strong>Anais</strong>-2010-DarcyAlcantara.pdf>. Acesso<br />

em: 13 abril <strong>2011</strong>.<br />

PANARO, Pablo. Percepção Musical: principais críticas e propostas meto<strong>do</strong>lógicas. In: I<br />

SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-GRADUANDOS EM MÚSICA; XV COLÓQUIO DO<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA DA UNIRIO, 2010, Rio de Janeiro.<br />

<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> I SIMPOM, Rio de Janeiro, 2010, p. 360-369. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

13 abril <strong>2011</strong>.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina Tourinho<br />

(trad.) São Paulo: Moderna, 2003.<br />

TANAKA, Harue. Pensan<strong>do</strong> ‘to<strong>da</strong>s as músicas’ em Percepção Musical. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>,<br />

Natal, 2010. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 14 abril <strong>2011</strong>.<br />

WIDMER, Ernst. ENTROcamentos SONoros: ensaio a uma didática <strong>da</strong> música<br />

contemporânea. Tese apresenta<strong>da</strong> em Concurso ao cargo de Professor Titular. Salva<strong>do</strong>r:<br />

EMAC, UFBA. 1972<br />

ZAGONEL, B. Do gesto ao musical: jogos e exercícios práticos para um ensino<br />

contemporâneo <strong>da</strong> música. In: <strong>ABEM</strong>, Série Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação Musical, n.4,<br />

Salva<strong>do</strong>r, 1998.<br />

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2 OA N O S<br />

Políticas Públicas para a Educação Musical: <strong>do</strong>s Jesuítas à Lei 11.769/2008<br />

Valdiene Carneiro Pereira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

valdienecpereira@gmail.com<br />

Maria <strong>da</strong> Conceição Carrilho de Aguiar<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco<br />

aguiarcarrilho@hotmail.com<br />

Resumo: Esse trabalho teve o objetivo de analisar as políticas públicas para a educação<br />

musical no Brasil, desde a época <strong>da</strong> Colônia até os dias atuais, com ênfase nas três principais<br />

leis <strong>do</strong> ensino no país, bem como na Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008. A pesquisa<br />

<strong>do</strong>cumental e bibliográfica utiliza<strong>da</strong> possibilitou o contato direto com obras, <strong>do</strong>cumentos e<br />

artigos que tratam <strong>do</strong> tema estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> imprescindível para a realização <strong>da</strong> análise<br />

proposta. Os resulta<strong>do</strong>s permitiram uma breve sistematização <strong>da</strong>s políticas públicas para a<br />

educação musical no Brasil, contribuin<strong>do</strong> para a ampliação <strong>da</strong>s discussões sobre a legislação<br />

pertinente ao ensino de música brasileiro.<br />

Palavras-chave: legislação educacional, ensino de música, educação musical.<br />

Introdução<br />

Nos últimos anos tem-se intensifica<strong>do</strong> o debate sobre o currículo, principalmente<br />

devi<strong>do</strong> à Lei 9.394/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional.<br />

Segun<strong>do</strong> Neide Esperidião, “[...] a renovação <strong>da</strong>s escolas, com base na construção de um<br />

novo currículo condizente com o nosso momento histórico, é fun<strong>da</strong>mental para a<br />

contemporanei<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação.” (ESPERIDIÃO, 2002, p. 73)<br />

Esse artigo objetivou analisar as políticas públicas para a educação musical no Brasil,<br />

desde a época <strong>da</strong> Colônia até os dias atuais, com ênfase nas três principais leis <strong>do</strong> ensino no<br />

país: LDBEN 4.024/1961, Lei <strong>do</strong> Ensino de 1º e 2º graus – 5.692/1971 e LDBEN 9.394/1996,<br />

bem como na Lei 11.769 de 18/08/2008, que trata <strong>da</strong> obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música na<br />

educação básica, alteran<strong>do</strong> a LDBEN 9.394/1996.<br />

Foi utiliza<strong>da</strong> como caminho meto<strong>do</strong>lógico a pesquisa qualitativa com abor<strong>da</strong>gem na<br />

pesquisa <strong>do</strong>cumental e bibliográfica. A análise <strong>da</strong>s políticas públicas para o ensino de música<br />

no Brasil possibilita uma melhor compreensão <strong>da</strong> atual situação <strong>da</strong> educação musical no país,<br />

fomentan<strong>do</strong> discussões e reflexões que contribuam para a realização de ações efetivas para o<br />

aprimoramento <strong>do</strong> ensino de música brasileiro.<br />

Do Canto <strong>do</strong>s Nativos ao Canto Orfeônico<br />

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2 OA N O S<br />

Os primeiros preceitos sobre Educação Musical no Brasil foram trazi<strong>do</strong>s pelos<br />

Jesuítas, cujas primeiras missões chegaram a solo brasileiro a partir de 1549. A pe<strong>da</strong>gogia<br />

Jesuítica era codifica<strong>da</strong> pela Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu ou Plano de<br />

Estu<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Companhia de Jesus, conheci<strong>da</strong> como Ratio Studiorum – um manual<br />

pormenoriza<strong>do</strong> conten<strong>do</strong> as regras sobre os papéis <strong>do</strong>s membros, professores e alunos, além<br />

de tratar <strong>da</strong> organização, administração escolar e meto<strong>do</strong>logia de ensino. Sua divisão básica<br />

era constituí<strong>da</strong> em três cursos: Letras e Humani<strong>da</strong>des, Filosofia e Ciências – também<br />

chama<strong>do</strong> de curso de Artes, e Teologia ou Ciências Sagra<strong>da</strong>s. (BORTOLOTI, 2003, p. 2, 4)<br />

A Ratio Studiorum sofreu algumas adequações curriculares para se a<strong>da</strong>ptar à<br />

reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> colônia brasileira <strong>da</strong>s quais destacamos os aldeamentos, a<strong>da</strong>ptação apresenta<strong>da</strong><br />

por volta de 1556 pelo chefe <strong>da</strong> missão brasileira – Padre Manoel <strong>da</strong> Nóbrega. Com a<br />

implantação <strong>do</strong>s aldeamentos, os índios deveriam se locomover para um local escolhi<strong>do</strong> pelos<br />

padres e lá seriam catequiza<strong>do</strong>s. Esta também foi uma alternativa para enfrentar a mobili<strong>da</strong>de<br />

de muitas tribos já visita<strong>da</strong>s e evangeliza<strong>da</strong>s (BORTOLOTI, 2003, p. 11-14). Os aldeamentos<br />

têm relação direta com o ensino de música durante o perío<strong>do</strong> colonial brasileiro, pois<br />

[...] o primeiro artefato utiliza<strong>do</strong> para auxiliar o trabalho nos aldeamentos foi<br />

a música. Nóbrega conhecia o efeito que esta tinha sobre o espírito e a<br />

atração que exercia sobre os índios. [...]<br />

[...] O ensino <strong>da</strong> música também passou a fazer parte <strong>do</strong>s colégios. Foi<br />

através <strong>do</strong>s meninos órfãos que os jesuítas introduziram a educação musical<br />

no Brasil. (BORTOLOTI, 2003, p. 15-16)<br />

Os Jesuítas são expulsos <strong>do</strong> Brasil pelo Marquês de Pombal, Primeiro-ministro de<br />

Portugal de 1750 a 1777, que reformará o ensino brasileiro através <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Reforma<br />

Pombalina. Segun<strong>do</strong> Alícia Loureiro, a música continuará presente nas escolas durante o<br />

restante <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, ain<strong>da</strong> com forte conotação religiosa, muito liga<strong>da</strong> às<br />

características e formas <strong>da</strong> música europeia e evidente influência <strong>do</strong> canto gregoriano<br />

(LOUREIRO, 2003, p. 45).<br />

O perío<strong>do</strong> Imperial traz o Decreto 1.331 de 17/02/1854, Reforma Couto Ferraz. O<br />

Artigo 47 <strong>do</strong> decreto afirma que o ensino primário <strong>da</strong>s escolas púbicas, além <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s<br />

obrigatórios, pode compreender também noções de música e exercícios de canto. O Artigo 49<br />

deixa claro que a música será ministra<strong>da</strong> obrigatoriamente somente nas classes de instrução<br />

primária superior (1854, p. 35).<br />

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O Colégio Pedro II, na Corte <strong>do</strong> Rio de Janeiro, já tinha a música como um<br />

componente curricular. Márcia Costa, citan<strong>do</strong> Dória 1 (1937), afirma que:<br />

Escragnolle Dória [...] menciona o Colégio <strong>do</strong>s Órfãos de São Pedro, cria<strong>do</strong><br />

em 1739, pelo Bispo D. Frei Antônio de Gua<strong>da</strong>lupe e que mais tarde<br />

receberia o nome de Colégio de Dom Pedro Segun<strong>do</strong>, com a finali<strong>da</strong>de de<br />

atender a “órfãos de pouca i<strong>da</strong>de, ensinan<strong>do</strong>-os a ler, escrever, contar, rezar,<br />

(...) a música e instrumentos musicais utiliza<strong>do</strong>s nas cerimônias <strong>da</strong> Igreja<br />

Católica” (Doria, 1937). [...]<br />

Verifica-se que, antecipan<strong>do</strong>-se ao Decreto, o Colégio Pedro II já tem no seu<br />

currículo o ensino de música desde a sua criação em 1837. (COSTA, 2005,<br />

p. 1023-1024)<br />

O perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> Primeira República dá grande importância para a educação, pois “o<br />

Esta<strong>do</strong> brasileiro devia, enquanto compromisso ético, moral e, sabemos, de cunho econômico,<br />

instruir o povo, pois as massas ignotas constituíam ver<strong>da</strong>deiro freio ao progresso nacional”<br />

(BORGES, 2007, p. 4).<br />

O Decreto Federal 981 – Reforma Benjamin Constant – foi publica<strong>do</strong> em<br />

08/11/1890. O parágrafo único <strong>do</strong> Art. 12 desse decreto afirma que:<br />

Paragrapho unico. O curso <strong>da</strong> Escola Normal comprehenderá as seguintes<br />

disciplinas: Portuguez, noções de litteratura nacional e elementos de lingua<br />

latina; Francez; Geographia e historia, particularmente <strong>do</strong> Brazil;<br />

Matematica elementar; Mechanica e astronomia; Physica e chimica;<br />

Biologia; Sociologia e moral; Noções de agronomia; Desenho; Musica;<br />

Gymnastica; Calligraphia; Trabalhos manuaes (para homens); Trabalhos de<br />

agulha (para senhoras) [...].<br />

Art. 14. Só podem exercer o magisterio publico primario os alumnos ou<br />

os gradua<strong>do</strong>s pela Escola Normal. (DECRETO 981/1890, grifo nosso)<br />

Pela primeira vez, passa-se a exigir a formação especializa<strong>da</strong> em música para o<br />

professor. Segun<strong>do</strong> Rosa Fuks, até a implementação <strong>da</strong> Lei 5.692/1971, a escola forma<strong>do</strong>ra de<br />

professores se chamava Escola Normal (FUKS, 1991, p. 26).<br />

No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1920, foi cria<strong>da</strong> uma comissão para elaborar um Programa de<br />

Música para as escolas <strong>da</strong> Prefeitura <strong>do</strong> Distrito Federal. Fizeram parte dessa Comissão<br />

Francisco Braga – autor <strong>do</strong> Hino à Bandeira Nacional, Eulina de Nazareth – filha <strong>do</strong><br />

1 DORIA, Escragnolle. Memória Histórica <strong>do</strong> Collegio de Pedro Segun<strong>do</strong>. Comemorativa <strong>do</strong> 1º Centenário <strong>do</strong><br />

Collegio de Pedro Segun<strong>do</strong>. Rio de Janeiro: publicação official sob os auspícos <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Educação,<br />

1937.<br />

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2 OA N O S<br />

compositor Ernesto Nazareth e Sylvio Salema Garção Ribeiro – compositor e educa<strong>do</strong>r. Rosa<br />

Fuks atesta que:<br />

[...] Podemos, portanto, afirmar que a proposta Braga – Salema – Nazareth<br />

organizou o ensino vocal e instrumental <strong>da</strong>s escolas. Tu<strong>do</strong> isso nos indica a<br />

existência, nos anos 20, de uma política de educação musical e de um<br />

interesse governamental a respeito <strong>da</strong> sistematização dessa forma de ensino<br />

(FUKS, 2007, p. 20).<br />

A Educação Musical nas escolas brasileiras foi diretamente influencia<strong>da</strong> pela política<br />

educacional <strong>do</strong> Governo de Getúlio Vargas (1930 – 1945). Com a publicação <strong>do</strong> Decreto<br />

19.890 de 18/04/1931, Reforma Francisco Campos, a disciplina de música passa a ser<br />

obrigatória no primeiro curso seria<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino secundário, chama<strong>do</strong> de fun<strong>da</strong>mental (Art.<br />

3º), apesar de não ser prescrita na Lei a carga horária <strong>da</strong> disciplina. Dessa forma, o canto<br />

coletivo – que sempre fez parte <strong>da</strong> escola brasileira, a partir <strong>da</strong>quela <strong>da</strong>ta seria chama<strong>do</strong> de<br />

Canto Orfeônico. Foi um grande avanço, pois as aulas de música, que só eram prescritas para<br />

o ensino primário, agora também fariam parte <strong>do</strong> ensino secundário. É nesse contexto que<br />

surge a Proposta Villa-Lobos para o ensino de música – o canto orfeônico.<br />

O canto orfeônico é uma prática coletiva de música vocal desenvolvi<strong>da</strong> na Europa no<br />

século XIX, cuja pe<strong>da</strong>gogia tem um marcante teor nacionalista, tanto em relação aos<br />

exercícios desenvolvi<strong>do</strong>s, quanto ao repertório executa<strong>do</strong>. É relevante ressaltar que o canto<br />

orfeônico difere <strong>do</strong> canto coral, que prioriza o desenvolvimento musical e artístico. O canto<br />

orfeônico tem como objetivo a promoção de valores morais, éticos e cívicos através de uma<br />

educação musical socializa<strong>do</strong>ra, se constituin<strong>do</strong> num méto<strong>do</strong> de ensino musical que tem como<br />

propósito a formação de público consumi<strong>do</strong>r de arte no Brasil, viabilizan<strong>do</strong> a formação de um<br />

gosto estético semelhante nas regiões brasileiras, apesar de suas diversi<strong>da</strong>des culturais<br />

(SOUZA, 2008, p. 1, 3, 4).<br />

É impossível falar <strong>do</strong> canto orfeônico sem mencionar o SEMA 2 [...],<br />

instituição que foi cria<strong>da</strong> em 1932 por Anísio Teixeira [...]. O SEMA e Villa-<br />

Lobos – seu primeiro diretor – organizaram, então, um esquema de<br />

orientação volta<strong>do</strong> para os professores de música. Sabe-se que to<strong>do</strong>s estes<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s visavam a fazer com que a nossa escola, principalmente a pública,<br />

participasse cantan<strong>do</strong> <strong>da</strong> exacerbação nacionalista que então reinava [...].<br />

Portanto, esta massa anônima, que seria obriga<strong>da</strong> a participar <strong>da</strong>s<br />

gigantescas concentrações orfeônicas <strong>da</strong> época, tornou-se o alvo desta<br />

meto<strong>do</strong>logia cujos objetivos eram, segun<strong>do</strong> Villa-Lobos, desenvolver, em<br />

2 SEMA: Serviço de Música e Canto Orfeônico; 1933, Superintendência de Educação Musical e Artística; 1936<br />

Serviço de Educação Musical e Artística.<br />

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2 OA N O S<br />

ordem de importância: 1º - a disciplina; 2º - o civismo e 3º - a educação<br />

artística. Através destes objetivos, evidencia-se que o SEMA executou<br />

uma política disciplina<strong>do</strong>ra, utilizan<strong>do</strong>, para isto, recursos musicais<br />

modernistas. (FUKS, 1991, p.119-120, grifo nosso)<br />

Em 09/04/1942 foi publica<strong>do</strong> o Decreto-Lei 4.244 – Reforma Capanema. O Canto<br />

Orfeônico – que fazia parte <strong>do</strong> curso ginasial – estava conti<strong>do</strong> no Capítulo VII, que trata <strong>da</strong><br />

Educação Moral e Cívica. O parágrafo quarto <strong>do</strong> Art. 23 orienta que “A prática <strong>do</strong> canto<br />

orfeônico de senti<strong>do</strong> patriótico é obrigatória nos estabelecimentos de ensino secundário para<br />

to<strong>do</strong>s os alunos de primeiro e de segun<strong>do</strong> ciclo.” A afirmativa deixa evidente que o ensino de<br />

música na Reforma Capanema visava objetivos além <strong>da</strong> formação musical <strong>do</strong>s alunos.<br />

Ideologicamente há tentativas de revisão e conversão, mas, no entanto,<br />

aspectos <strong>da</strong> política educacional, infra-estrutura e fun<strong>da</strong>mentos que<br />

caracterizam o Regime Vargas são ain<strong>da</strong> determinantes para as linhas de<br />

educação musical no Brasil nos anos posteriores (SOUZA, 2007, p.17).<br />

O Decreto-Lei 8.529 de 02/01/1946 estabelece no currículo escolar <strong>do</strong> curso primário<br />

elementar e <strong>do</strong> curso primário complementar a disciplina de Canto Orfeônico (Art. 7º e Art.<br />

8º).<br />

Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional 4.024/1961<br />

A Constituição Brasileira de 1946 foi o alicerce para o início de um longo processo<br />

começa<strong>do</strong> em 1948 para a elaboração <strong>da</strong> primeira Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação<br />

Nacional. A sanção <strong>da</strong> Lei 4.024/1961 aconteceu treze anos depois <strong>do</strong> princípio <strong>da</strong>s<br />

discussões.<br />

O foco <strong>da</strong> LDBEN de 1961 foi a organização <strong>do</strong>s sistemas de ensino: educação préprimária;<br />

ensino primário; educação de grau médio, abrangen<strong>do</strong>, os cursos secundários,<br />

técnicos (industrial, agrícola e comercial) e de formação de professores para o ensino primário<br />

e pré-primário; e o ensino superior. (Artigos 23, 34, 47 e 66)<br />

[...] com o advento <strong>da</strong> Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional<br />

4.024/61, foi extinto o Canto Orfeônico nas escolas, e em seu lugar foi<br />

introduzi<strong>da</strong> a Educação Musical. Na reali<strong>da</strong>de, só em 1962 a Educação<br />

Musical veio a ser introduzi<strong>da</strong> formalmente, regulamenta<strong>da</strong> pelo Parecer<br />

383, e posteriormente, pelo Decreto 61.400, de 22.09.1967. A partir <strong>da</strong>í, o<br />

ensino <strong>da</strong> Música passou a decair sensivelmente, pois os professores de<br />

canto e instrumentos musicais diversos, que adentravam as salas de<br />

aula, nem sempre tinham preparação didática e pe<strong>da</strong>gógica apropria<strong>da</strong>.<br />

(DENARDI, 2008, p. 30-31, grifo nosso).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Lei <strong>do</strong> Ensino de 1º e 2º graus 5.692/1971<br />

A Lei 5.692, de 11/08/1971, foi gera<strong>da</strong> sob o regime militar e assumiu um caráter<br />

tecnicista. Um <strong>do</strong>s objetivos dessa lei foi prover a formação de mão-de-obra qualifica<strong>da</strong> para<br />

atender às exigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho brasileiro, em expansão naquela época. Eram<br />

necessárias alterações no currículo <strong>da</strong>s escolas, entre as quais mu<strong>da</strong>nças no ensino de música.<br />

O Artigo 7º <strong>da</strong> Lei 5.692/1971 afirma que “será obrigatória a inclusão de Educação<br />

Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos<br />

plenos <strong>do</strong>s estabelecimentos de lº e 2º graus”. O texto <strong>da</strong> lei não deixa claro quais linguagens<br />

seriam contempla<strong>da</strong>s pela Educação Artística.<br />

Gra<strong>da</strong>tivamente são emiti<strong>do</strong>s pareceres e resoluções <strong>do</strong> Conselho Federal de<br />

Educação (CFE) que demarcam as chama<strong>da</strong>s grandes divisões <strong>da</strong> Arte – Artes Plásticas, Artes<br />

Cênicas, Música e Desenho, que passam a ser vistas como integrantes <strong>do</strong> campo <strong>da</strong> Educação<br />

Artística. Com relação à música, limitá-la à teoria musical ou ao canto coral não atenderia à<br />

expectativa <strong>do</strong> que seria um contexto mais amplo e novo de Educação Artística. (PENNA,<br />

2008, p. 121-122)<br />

Mônica Uriarte e Paulo Chiesa afirmam que essa busca de integração <strong>da</strong>s dimensões<br />

<strong>da</strong> arte exige uma polivalência <strong>do</strong> professor. Por esse motivo, as escolas voltam-se às outras<br />

dimensões <strong>da</strong> arte, excluin<strong>do</strong> a música como uma arte que pode ser vivencia<strong>da</strong> e<br />

experimenta<strong>da</strong> para o crescimento <strong>do</strong> aluno. (URIARTE; CHIESA, 2009, p. 4-5). O enfoque<br />

polivalente <strong>do</strong> ensino de Educação Artística levou a um esvaziamento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s próprios<br />

<strong>da</strong> linguagem de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s artes, geran<strong>do</strong> diminuição na quali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino e<br />

disseminan<strong>do</strong> a ideia de que somente era necessária a proposição de ativi<strong>da</strong>des espontâneas,<br />

experimentais, para que os alunos aprendessem Arte.<br />

Segun<strong>do</strong> Rosa Fuks, esse enfoque antecede à Lei 5.692/1971 e foi difundi<strong>do</strong> no país<br />

pela Escolinha de Arte <strong>do</strong> Brasil, cria<strong>da</strong> no Rio de Janeiro em 1948 como um centro<br />

divulga<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s propostas de Arte-educação origina<strong>da</strong>s nas artes plásticas. Essas propostas<br />

enfatizavam a criativi<strong>da</strong>de e a expressão pessoal. No caso específico <strong>da</strong> música, essa<br />

tendência foi reforça<strong>da</strong> em 1952 com a criação <strong>do</strong> Centro de Estu<strong>do</strong>s de Iniciação Musical<br />

Liddy Mignone <strong>do</strong> Conservatório Brasileiro de Música, que se valia <strong>do</strong>s preceitos <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />

pró-criativi<strong>da</strong>de, utiliza<strong>do</strong>s nas artes plásticas, aplica<strong>do</strong>s ao ensino de música. Dessa forma, a<br />

Lei 5.692/1971 só veio oficializar e reforçar a pró-criativi<strong>da</strong>de, uma tendência já <strong>do</strong>minante<br />

na prática pe<strong>da</strong>gógica (FUKS, 1991, p. 124, 125, 158-160).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação Nacional 9.394/1996<br />

O fim <strong>do</strong> regime militar e o processo de redemocratização <strong>do</strong> país nos anos 80<br />

fizeram emergir a questão <strong>da</strong> educação no Brasil. Em dezembro de 1988, foi apresenta<strong>do</strong> à<br />

Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s o primeiro projeto <strong>da</strong> nova Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação<br />

Nacional. Na sua elaboração, o projeto contou com a participação de várias enti<strong>da</strong>des<br />

representativas <strong>da</strong> área de educação organiza<strong>da</strong>s no Fórum Nacional em Defesa <strong>da</strong> Escola<br />

Pública. A partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong>s anos 90, são intensifica<strong>da</strong>s as ações no senti<strong>do</strong> de<br />

ajustar as políticas educacionais ao processo de reforma <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro, conforme<br />

recomen<strong>da</strong>ções de instituições internacionais, como o Banco Mundial, decorrentes de<br />

compromissos assumi<strong>do</strong>s pelo governo brasileiro, em especial a Conferência Mundial de<br />

Educação para To<strong>do</strong>s que resultou na elaboração <strong>do</strong> Plano Decenal de Educação para To<strong>do</strong>s<br />

(1993-2003). O primeiro projeto foi suplanta<strong>do</strong> e esvazia<strong>do</strong> pelo projeto apresenta<strong>do</strong> no<br />

Sena<strong>do</strong> por Darcy Ribeiro e esse segun<strong>do</strong> projeto foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo governo. Sua segun<strong>da</strong><br />

versão se constituiu a base <strong>do</strong> texto <strong>da</strong> LDBEN 9.394, aprova<strong>da</strong> e promulga<strong>da</strong> em<br />

20/12/1996, depois de oito anos de tramitação (PENNA, 2008, p. 125-126).<br />

O Art.26, §2º <strong>da</strong> LDBEN 9.394/1996 estabelece que “O ensino <strong>da</strong> arte constituirá<br />

componente curricular obrigatório, nos diversos níveis <strong>da</strong> educação básica, de forma a<br />

promover o desenvolvimento cultural <strong>do</strong>s alunos.” O ensino de Artes está garanti<strong>do</strong>, mas<br />

persiste a indefinição. Isso deixa claro que o ensino de música nas escolas não está assegura<strong>do</strong><br />

em nenhuma <strong>da</strong>s leis – LDBEN 4.024/1961, Lei 5.692/1971 e LDBEN 9.394/1996.<br />

Com a aprovação <strong>da</strong> Lei 11.769 de 18/11/2008, vivemos um momento histórico em<br />

relação ao ensino de música no Brasil, pois a música deverá ser conteú<strong>do</strong> obrigatório, mas<br />

não exclusivo, modifican<strong>do</strong> o conti<strong>do</strong> no parágrafo segun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Artigo 26 <strong>da</strong> LDBEN<br />

9.394/1996. É uma grande conquista para o ensino de música no Brasil.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a Lei 11.769/2008 também abre espaço para um retrocesso em<br />

relação à formação inicial para o professor de música no Brasil, pois apresenta as seguintes<br />

razões para o veto ao segun<strong>do</strong> parágrafo <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> lei, conforme a mensagem 622 de 18 de<br />

agosto de 2008 <strong>da</strong> Subchefia para Assuntos Jurídicos <strong>da</strong> Casa Civil <strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong><br />

República: a música é uma prática social e, no país, existem diversos profissionais que atuam<br />

sem formação acadêmica; estes profissionais estariam impossibilita<strong>do</strong>s de atuar na <strong>do</strong>cência<br />

se lhes fosse requeri<strong>da</strong> a licenciatura; não há exigência de formação específica para Biologia,<br />

Matemática e outras disciplinas.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

É ver<strong>da</strong>de que há profissionais atuantes na área de música sem formação acadêmica.<br />

Entretanto, a história mostrou que o comprometimento na formação inicial <strong>do</strong> professor de<br />

música só trouxe prejuízos à educação musical no Brasil.<br />

No caso <strong>do</strong>s detentores <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> notório saber, a LDBEN 9.394/1996 prevê no<br />

parágrafo único <strong>do</strong> Art. 66 que “poderá suprir a existência de título acadêmico”, desde que<br />

“reconheci<strong>do</strong> por universi<strong>da</strong>de com curso de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em área afim”, ou seja, a própria lei já<br />

estabelece a regulamentação para esta situação, designan<strong>do</strong> as universi<strong>da</strong>des como<br />

instituições devi<strong>da</strong>mente qualifica<strong>da</strong>s e responsáveis por conferir o título para o exercício <strong>do</strong><br />

magistério superior.<br />

O Artigo 62 <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> lei preceitua que “a formação de <strong>do</strong>centes para atuar na<br />

educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em<br />

universi<strong>da</strong>des e institutos superiores de educação” e o ain<strong>da</strong> o Art. 65, “a formação <strong>do</strong>cente,<br />

exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas”<br />

fican<strong>do</strong> clara a necessi<strong>da</strong>de de uma formação específica para o exercício <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência, para o<br />

qual o professor deverá ter <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s saberes específicos e pe<strong>da</strong>gógicos,<br />

impreterivelmente.<br />

Considerações Finais<br />

Durante o estu<strong>do</strong> sobre as políticas públicas para a Educação Musical no Brasil, foi<br />

constata<strong>do</strong> que persiste a indefinição no ensino de Artes, em virtude <strong>da</strong>s diversas linguagens<br />

artísticas que poderiam ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela escola, apesar <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> ensino estar garanti<strong>do</strong> na<br />

educação básica. Por outro la<strong>do</strong>, isso deixa claro que o ensino de música nas escolas não está<br />

assegura<strong>do</strong> em nenhuma <strong>da</strong>s leis – LDBEN 4.024/1961, Lei 5.692/1971 e LDBEN<br />

9.394/1996.<br />

Novos horizontes são aponta<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> Lei 11.769/2008, que<br />

modifica o conti<strong>do</strong> no parágrafo segun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Art. 26 <strong>da</strong> LDBEN 9.394/1996, fazen<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

música conteú<strong>do</strong> obrigatório, mas não exclusivo, <strong>da</strong> Educação Básica. Portanto, é necessário<br />

investir na formação inicial e continua<strong>da</strong> <strong>do</strong> professor de música no Brasil, pois<br />

[...] a formação <strong>do</strong> professor não se esgota apenas no <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong><br />

linguagem musical, sen<strong>do</strong> indispensável uma perspectiva pe<strong>da</strong>gógica que o<br />

prepare para compreender a especifici<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> contexto educativo e lhe<br />

dê recursos para a sua atuação <strong>do</strong>cente e para a construção de alternativas<br />

meto<strong>do</strong>lógicas (PENNA, 2007, grifo nosso).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

A quali<strong>da</strong>de na educação, que inclui também a formação <strong>do</strong> professor, é uma <strong>da</strong>s<br />

condições necessárias para que o ensino de música atinja resulta<strong>do</strong>s satisfatórios, contribuin<strong>do</strong><br />

para o enriquecimento <strong>da</strong> cultura <strong>do</strong> povo brasileiro.<br />

Essa pesquisa teve a finali<strong>da</strong>de de contribuir para a ampliação <strong>da</strong>s discussões sobre<br />

as políticas públicas para a Educação Musical no Brasil, sem a pretensão de esgotar o debate<br />

sobre o objeto de estu<strong>do</strong>.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

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______. Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a re<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s arts. 29, 30, 32 e 87 <strong>da</strong><br />

Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases <strong>da</strong> educação<br />

nacional, dispon<strong>do</strong> sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fun<strong>da</strong>mental, com<br />

matrícula obrigatória a partir <strong>do</strong>s 6 (seis) anos de i<strong>da</strong>de. Disponível em:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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de Educação Musical<br />

582


2 OA N O S<br />

www6.sena<strong>do</strong>.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=253755. Acesso em: 22 abr.<br />

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1996, Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> Educação, para dispor sobre a obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

música na educação básica. Disponível em: www6.sena<strong>do</strong>.gov.br/legislacao/<br />

ListaPublicacoes.action?id=257518. Acesso em: 22 abr. 2009.<br />

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X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Pós-Graduação em Música Contemporânea (Lato Sensu): Uma Proposta de<br />

Curso com Ênfase em Práticas Interpretativas <strong>do</strong>s Séculos XX e XXI<br />

Cleber <strong>da</strong> Silveira Campos<br />

Escola de Música <strong>da</strong> UFRN<br />

clebercampos@musica.ufrn.br<br />

Zilmar Rodrigues de Souza<br />

Escola de Música <strong>da</strong> UFRN<br />

zilmar@musica.ufrn.br<br />

Resumo: Este relato trata de um curso de especialização em an<strong>da</strong>mento na EMUFRN, o qual<br />

busca consoli<strong>da</strong>r a idéia de que a produção artística, com ênfase na performance <strong>da</strong> música<br />

contemporânea, deve ser resultante de um intenso estu<strong>do</strong>, análise, pesquisa e reflexão advin<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s processos de preparação <strong>da</strong>s obras musicais referentes a este contexto. Este curso busca<br />

suprir a falta de formação especializa<strong>da</strong> na área musical foca<strong>do</strong> no campo <strong>da</strong>s práticas<br />

interpretativas (performance), mais especificamente na análise/execução de obras <strong>do</strong>s séculos<br />

XX e XXI.<br />

Palavras-chave: Práticas Interpretativas, Música Contemporânea, Performance<br />

1. Introdução<br />

Diversos pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> meio musical buscam associar o papel atual <strong>da</strong> música,<br />

frente à socie<strong>da</strong>de contemporânea, às mais diversas formas de manifestação, priorizan<strong>do</strong> a<br />

ênfase no ensino musical à socie<strong>da</strong>de cultural (FONTERRADA, 2005; QUEIROZ, 2004).<br />

Mais especificamente no campo <strong>da</strong> pesquisa, em relação às ativi<strong>da</strong>des em nível de<br />

pós-graduação na área musical, é importante destacar que nos EUA, por exemplo, os estu<strong>do</strong>s<br />

em nível de <strong>do</strong>utoramento para instrumentistas, cantores e maestros, foram primeiramente<br />

acolhi<strong>do</strong>s nos programas denomina<strong>do</strong>s "guar<strong>da</strong>-chuva”, que conferiam o grau de Education<br />

Degree (Ed. D), equivalente ao Ph.D nas demais áreas <strong>da</strong> ciência. A criação de um título<br />

exclusivo para a área musical se deu a partir <strong>do</strong> ano de 1959, com a criação <strong>do</strong> grau de Doctor<br />

of Musical Arts (DMA).<br />

No Brasil, ocorre um maior distanciamento entre a natureza <strong>do</strong>s conservatórios e <strong>da</strong>s<br />

universi<strong>da</strong>des, onde respectivamente, o foco se dá nas práticas interpretativas, mas sem<br />

ativi<strong>da</strong>de de pesquisa acadêmica (conservatórios) e uma maior ênfase nos trabalhos de<br />

pesquisa na área <strong>da</strong> teoria musical (universi<strong>da</strong>des), apresentan<strong>do</strong> assim uma menor ênfase à<br />

“performance <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong>”, o que evidencia ain<strong>da</strong> a antiga discussão entre a "práxis" e a<br />

teoria.<br />

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Muito embora este cenário esteja se modifican<strong>do</strong>, poden<strong>do</strong> ser constata<strong>do</strong><br />

principalmente a partir <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong>s cursos de graduação (bacharela<strong>do</strong>) em música nas<br />

universi<strong>da</strong>des (inclusive com ênfase na música popular), onde são ofereci<strong>da</strong>s várias<br />

habilitações específicas para instrumentistas, cantores e regentes, observamos que a produção<br />

científica na área <strong>da</strong> performance musical é praticamente insignificante se compara<strong>do</strong> as<br />

outras áreas <strong>do</strong> conhecimento. Ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> Palisca (1984 apud AQUINO, 2003, p. 5)<br />

afirma que “mais <strong>do</strong> que nunca, precisamos desenvolver o pesquisa<strong>do</strong>r no músico e o músico<br />

no pesquisa<strong>do</strong>r”.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, se faz necessário um projeto de curso onde o foco se dá no campo <strong>da</strong>s<br />

práticas interpretativas com <strong>do</strong>cumentação regulamenta<strong>da</strong>, ou seja, a formalização <strong>do</strong>s<br />

procedimentos de preparação e execução de uma obra nos moldes acadêmicos (artigos<br />

científicos com ênfase crítica/analítica <strong>do</strong>s procedimentos de performance, por exemplo).<br />

Mais especificamente, a sistematização <strong>do</strong>s processos de interpretação de uma obra musical<br />

relaciona<strong>do</strong> às nuances que envolvem desde a produção de concertos assim como a confecção<br />

de memoriais escritos nos moldes <strong>da</strong> pesquisa acadêmica/científica, pertinentes ao âmbito<br />

musical.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o curso aqui apresenta<strong>do</strong> busca proporcionar elementos que<br />

contribuam para subsidiar, de maneira eminentemente prática e contextualiza<strong>da</strong>, a<br />

performance musical-científica e ain<strong>da</strong> relativiza<strong>da</strong> ao contexto <strong>da</strong> música “atual”, ou seja, a<br />

música composta no perío<strong>do</strong> que compreende os séculos XX e XXI.<br />

2. Necessi<strong>da</strong>de e importância <strong>do</strong> curso para IES, região e área <strong>do</strong><br />

conhecimento<br />

Com a implementação deste curso em “Práticas Interpretativas em Música <strong>do</strong>s<br />

séculos XX e XXI”, almeja-se à ampliação <strong>da</strong> oferta <strong>do</strong>s cursos de pós-graduação <strong>da</strong> UFRN,<br />

mais especificamente, com ênfase na performance <strong>da</strong> música contemporânea.<br />

Destaca-se também o fato de que o mesmo estará vincula<strong>do</strong> a especialização <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>centes e ex-discentes <strong>da</strong> nossa própria instituição, relaciona<strong>do</strong> às especifici<strong>da</strong>des atuais<br />

oferta<strong>da</strong>s na área <strong>da</strong> educação em ensino superior.<br />

No que diz respeito a temática <strong>do</strong> projeto, essa importância se <strong>da</strong> sobre o ponto de<br />

vista de que a Escola de Música <strong>da</strong> UFRN (EMUFRN) deve exercer um papel fun<strong>da</strong>mental na<br />

formação atual de músicos, com características específicas para atender as deman<strong>da</strong>s de<br />

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profissionais <strong>da</strong> esfera merca<strong>do</strong>lógica atual.<br />

Assim, referin<strong>do</strong>-se principalmente aos avanços <strong>da</strong>s áreas de atuação deste<br />

profissional, a qual requer ca<strong>da</strong> vez mais a aquisição de conhecimento específico para sua<br />

inserção, acreditamos que a instituição não deve centrar suas ações apenas nos seguimentos<br />

<strong>do</strong>s cursos atuais ofereci<strong>do</strong>s (básico, técnico e graduação), mas sim como uma escola de<br />

música já reconheci<strong>da</strong> e consagra<strong>da</strong>, deve estender suas possibili<strong>da</strong>des de ensino e atuação<br />

para os cursos de pós-graduação (Lato Sensu) buscan<strong>do</strong> também as bases para breve<br />

implementação <strong>do</strong>s cursos de mestra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> (Stricto Sensu) na área específica <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

3. Objetivos <strong>do</strong> Curso<br />

3.1 Objetivo geral<br />

Dar continui<strong>da</strong>de à formação de musicistas com graduação em música (bacharela<strong>do</strong>,<br />

licenciatura ou educação artística com habilitação em música) de mo<strong>do</strong> que os mesmos<br />

possam atuar como solistas, cameristas e regentes, muni<strong>do</strong>s de ferramentas que possibilitem<br />

uma correta e minuciosa interpretação musical no âmbito <strong>do</strong> panorama <strong>da</strong> música<br />

contemporânea, pauta<strong>do</strong>s numa prática reflexiva e analítica.<br />

3.2 Objetivos Específicos:<br />

a) ampliar os mecanismos para soluções interpretativas e gestuais, por meio <strong>do</strong><br />

aprofun<strong>da</strong>mento e aperfeiçoamento <strong>da</strong>s técnicas de estu<strong>do</strong> aplica<strong>da</strong>s ao repertório <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

em questão;<br />

b) realizar levantamento de obras que utilizem tais recursos de instrumentação,<br />

executá-las e classificá-las de acor<strong>do</strong> com os méto<strong>do</strong>s analíticos (tipos e processos de<br />

escritura <strong>da</strong> partitura, por exemplo) desenvolvi<strong>do</strong>s durante o projeto;<br />

c) desenvolver recursos que possibilitem ao músico compreender o contexto no qual<br />

está inseri<strong>do</strong>, relativo aos saberes envolvi<strong>do</strong>s numa postura ética e profissional, assim como<br />

os aspectos psicológicos e outros temas que envolvem sua performance no palco;<br />

d) estu<strong>da</strong>r e refletir sobre as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> músico prático em questão associa<strong>da</strong>s<br />

ao atual merca<strong>do</strong> de trabalho, o qual exige ca<strong>da</strong> vez mais deste profissional uma atuação<br />

versátil e empreende<strong>do</strong>ra, enfatizan<strong>do</strong> a qualificação desses musicistas de maneira consonante<br />

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com as atuais deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de;<br />

musical.<br />

e) fomentar a produção de artigos sobre a técnica instrumental e interpretação<br />

4. Meto<strong>do</strong>logia<br />

O regime didático <strong>do</strong> curso está organiza<strong>do</strong> através <strong>da</strong> distribuição <strong>da</strong> carga horária<br />

de ca<strong>da</strong> disciplina em forma de disposição modular. Essa distribuição está relaciona<strong>da</strong> a<br />

quanti<strong>da</strong>de de horas presenciais aloca<strong>da</strong>s por módulos (40 horas/aula por módulo).<br />

Um <strong>do</strong>s aspectos a serem contempla<strong>do</strong>s nessa proposta pe<strong>da</strong>gógica é a<br />

contextualização <strong>do</strong>s alunos com as ativi<strong>da</strong>des de pesquisa em práticas interpretativas,<br />

exerci<strong>da</strong>s em caráter atual, foca<strong>do</strong> na interpretação de obras com ênfase no repertório musical<br />

<strong>do</strong>s séculos XX e XXI.<br />

A inserção <strong>do</strong>s futuros alunos no universo <strong>do</strong> trabalho interpretativo/musical aparece<br />

nesse panorama como meta principal. Neste senti<strong>do</strong>, será mediante a compreensão e<br />

simulação <strong>do</strong> seu próprio cenário que se <strong>da</strong>rá a contextualização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares<br />

objetiva<strong>do</strong>s. Acredita-se que esses componentes serão significativos se proporcionarem as<br />

competências relativas à atuação qualitativa de nossos alunos no merca<strong>do</strong> profissional e ain<strong>da</strong><br />

evidenciarem em que momento, no futuro profissional, tais elementos <strong>da</strong> aprendizagem<br />

tornar-se-ão indispensáveis para a compreensão de sua prática artística/operacional.<br />

O trato interdisciplinar no processo de construção <strong>do</strong> conhecimento aqui também tem<br />

priori<strong>da</strong>de no projeto, por considerarmos fun<strong>da</strong>mental o estabelecimento <strong>da</strong>s relações entre os<br />

componentes a serem estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s e o contexto social e étnico-cultural, atualmente requisita<strong>do</strong>s<br />

no campo de atuação profissional <strong>do</strong>s músicos em questão.<br />

Assim, os componentes curriculares <strong>do</strong> curso serão desenvolvi<strong>do</strong>s em torno de<br />

"Projetos Temáticos" estabeleci<strong>do</strong>s em comum acor<strong>do</strong> entre aluno e professor/orienta<strong>do</strong>r, de<br />

mo<strong>do</strong> a contemplar a interdisciplinari<strong>da</strong>de objetiva<strong>da</strong> pelo curso.<br />

Em termos de implementação, cabe a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> orientação e execução<br />

desses projetos ao corpo <strong>do</strong>cente, composto por professores lota<strong>do</strong>s na EMUFRN bem como<br />

por professores ou pesquisa<strong>do</strong>res pertencentes a outras IES vincula<strong>do</strong>s ao programa.<br />

Devemos ain<strong>da</strong> ressaltar que durante to<strong>do</strong> o curso, o aluno será supervisiona<strong>do</strong> por<br />

um professor-orienta<strong>do</strong>r, referente a sua área de atuação ofereci<strong>do</strong> pelo programa (professores<br />

de Regência, Canto e Instrumento), o qual poderá eventualmente ser substituí<strong>do</strong>, caso seja <strong>do</strong><br />

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interesse de uma <strong>da</strong>s partes e acor<strong>da</strong><strong>do</strong> por ambas.<br />

Logo, acreditamos que ao se estu<strong>da</strong>r e compreender os processos de determina<strong>da</strong><br />

obra musical sob orientação especializa<strong>da</strong>, torna-se possível abor<strong>da</strong>r aspectos históricos,<br />

técnicos, estruturais e interpretativos sem tratar esses componentes de maneira estanque e<br />

isola<strong>da</strong>. Busca-se ao trabalhar nessa perspectiva, a possibili<strong>da</strong>de de integração desses<br />

conteú<strong>do</strong>s com os componentes curriculares apresenta<strong>do</strong>s, integran<strong>do</strong> assim as ativi<strong>da</strong>des<br />

interpretativas/musicais entre sujeito e fenômeno a serem estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s, respectivamente.<br />

Para permitir a execução <strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica, o processo de<br />

ensino/aprendizagem se amplia para além <strong>do</strong> espaço de sala de aula. As ativi<strong>da</strong>des formativas<br />

se articulam em uma estrutura flexível e integra<strong>do</strong>ra, composta por disciplinas teóricas e<br />

ateliês de experimentação (oficinas/ativi<strong>da</strong>des laboratoriais).<br />

Entende-se por ativi<strong>da</strong>des laboratoriais aquelas de natureza prática, ou seja,<br />

ativi<strong>da</strong>des que proporcionem uma vasta quanti<strong>da</strong>de de opções ao aluno como forma de<br />

enriquecer o seu desenvolvimento prático. Os laboratórios são oportuni<strong>da</strong>des para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> prática musical <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> em questão.<br />

Além <strong>do</strong>s grupos que possam vir a se formar conforme as características <strong>do</strong>s alunos<br />

matricula<strong>do</strong>s, o programa ain<strong>da</strong> contará com a seguinte estrutura de suporte já ofereci<strong>da</strong> e<br />

implementa<strong>da</strong> na EMUFRN para a prática musical, a saber:<br />

a) Orquestra Sinfônica <strong>da</strong> UFRN: forma<strong>da</strong> por alunos e professores;<br />

b) Grupo de Percussão <strong>da</strong> UFRN: forma<strong>do</strong> por alunos <strong>do</strong>s cursos técnico, graduação<br />

e especialização;<br />

c) Madrigal: um <strong>do</strong>s mais antigos grupos vocais <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte;<br />

d) Cellos UFRN: forma<strong>do</strong> por alunos <strong>da</strong> instituição.<br />

5. Público Alvo<br />

O curso é destina<strong>do</strong> a gradua<strong>do</strong>s em música (bacharela<strong>do</strong>, licenciatura ou educação<br />

artística com habilitação em música) que estejam buscan<strong>do</strong> aperfeiçoamento nas áreas de<br />

canto, regência e instrumento musical (cor<strong>da</strong>s, piano e percussão).<br />

6. Carga Horária e Estrutura Curricular<br />

O curso terá uma carga horária total de 360 hs/aula. O mesmo será ministra<strong>do</strong> por<br />

professores <strong>da</strong> EMUFRN e professores convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s de outras IES.<br />

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A estrutura curricular está foca<strong>da</strong> na disposição modular, subdividi<strong>da</strong> em: Disciplinas<br />

Modulares Específicas e Disciplinas Modulares Coletivas, integra<strong>da</strong>s por projetos temáticos<br />

com a seguinte disposição abaixo:<br />

Perío<strong>do</strong>: 21/02/11 a 01/02/12<br />

01 módulo específico com CH igual a 40 horas (encontros semanais distribuí<strong>do</strong>s<br />

durante o curso);<br />

08 módulos coletivos com CH igual a 40 horas - Turno: 2ª a 6ª <strong>da</strong>s 18h às 22h –<br />

sába<strong>do</strong> <strong>da</strong>s 8h às 12h (uma semana por mês);<br />

01 módulo específico com CH para elaboração e apresentação <strong>do</strong> Trabalho de<br />

Conclusão de Curso (TCC).<br />

7. Disposição Modular (10 Módulos)<br />

7.1 Disciplinas Modulares Específicas (01 Módulo com CH igual à 40 horas)<br />

MÓDULOS COMPONENTES CURRICULARES CH<br />

I<br />

TÓPICOS ESPECIAIS EM PRÁTICAS INTERPRETATIVAS - PROF. INST.<br />

(REGÊNCIA, CANTO, INSTRUMENTO) 40<br />

TABELA 1 – Tabela conten<strong>do</strong> as especificações como componente curricular e carga horária.<br />

7.2 Disciplinas Modulares Coletivas (08 Módulos com CH igual à 40 horas)<br />

MÓDULOS COMPONENTES CURRICULARES CH<br />

II<br />

FUNDAMENTOS DA PESQUISA EM MÚSICA<br />

40<br />

III<br />

PSICOLOGIA DA PERFORMANCE<br />

40<br />

IV<br />

ATELIER DE GRAVAÇÃO MUSICAL<br />

40<br />

V<br />

TÓPICOS ESPECIAIS EM HISTÓRIA E<br />

ESTILO MUSICAL (SÉC. XX E XXI) 40<br />

VI<br />

INFORMÁTICA EM MÚSICA<br />

40<br />

VII<br />

MÚSICA E EMPREENDEDORISMO<br />

40<br />

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VIII<br />

ESTUDOS DIRIGIDOS EM PRÁTICA INTERPRETATIVAS<br />

40<br />

IX<br />

TÓPICOS ESPECIAIS EM SEMINÁRIOS AVANÇADOS 40<br />

TABELA 2 – Tabela conten<strong>do</strong> as especificações como componente curricular e carga horária <strong>do</strong>s módulos<br />

coletivos.<br />

7.3 Trabalho de Conclusão de Curso (01 Módulo com CH igual à 0 horas)<br />

MÓDULOS COMPONENTES CURRICULARES CH<br />

X<br />

APRESENTAÇÃO DO PROJETO ARTÍSTICO ORIENTADO (M( ARTIGO,<br />

ARTIGO, PALESTRA E RECITAL 0<br />

TABELA 3 – Tabela conten<strong>do</strong> as especificações como componente curricular e carga horária <strong>do</strong>s módulo de<br />

conclusão <strong>do</strong> curso.<br />

8. Estratégias e Instrumentos de Avaliação<br />

A avaliação <strong>da</strong>r-se-á num contexto eminentemente teórico/prático, ou seja, a partir<br />

<strong>da</strong>s evidências de desempenho na execução de práticas musicais como recitais, concertos,<br />

testes e provas em situações-problema, contextualiza<strong>da</strong>s no respectivo processo <strong>da</strong> prática<br />

musical.<br />

Os instrumentos utiliza<strong>do</strong>s no processo de avaliação deverão refletir a natureza<br />

essencial <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de em questão, condizen<strong>do</strong> com a lógica <strong>da</strong> formação por competências, o<br />

que pressupõe a revisão <strong>do</strong>s modelos tradicionais <strong>da</strong> ação pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Serão utiliza<strong>do</strong>s, dentre outros, os seguintes instrumentos e estratégias avaliativas:<br />

a) Observação de desempenho;<br />

b) Testes de conhecimentos e habili<strong>da</strong>des;<br />

c) Exercícios de simulação;<br />

d) Produção de textos;<br />

e) Seminários;<br />

f) Aplicação de situação-problema;<br />

g) Execução de projeto.<br />

O desempenho <strong>do</strong> aluno será expresso na forma de conceito, relaciona<strong>do</strong>s às<br />

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seguintes notas:<br />

A – Ótimo (9,0 a 10,0)<br />

B – Bom (7,0 a 8,9)<br />

C – Regular (5,0 a 6,9)<br />

D – Insuficiente (3,0 a 4,9)<br />

E – Fraco (1,0 a 2,9)<br />

I – Incompleto<br />

O conceito “I” (incompleto) será atribuí<strong>do</strong> ao aluno que, por motivo alheio à sua<br />

vontade, deixar de completar uma parcela <strong>do</strong>s trabalhos requeri<strong>do</strong>s pela disciplina. Nesse<br />

caso, o aluno deverá completar a parcela no prazo estabeleci<strong>do</strong> pelo professor responsável<br />

pela disciplina, indican<strong>do</strong>-se um prazo máximo de 30 (trinta) dias após o término <strong>da</strong> mesma.<br />

Para aprovação em ca<strong>da</strong> disciplina, será exigi<strong>do</strong> o conceito mínimo “C”, e freqüência<br />

mínima de 75%. Para aprovação no curso, será exigi<strong>do</strong> conceito final mínimo “B” e<br />

freqüência não inferior a 75%. O conceito final no curso será calcula<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> média<br />

aritmética, obti<strong>da</strong> pela soma <strong>da</strong>s notas nas disciplinas e dividi<strong>da</strong> por dez (total de<br />

disciplinas/módulos), transforma<strong>do</strong>, em segui<strong>da</strong>, no conceito.<br />

O desligamento <strong>do</strong> aluno <strong>do</strong> curso, a ser homologa<strong>do</strong> pela Comissão de Pesquisa e<br />

Pós-Graduação <strong>da</strong> EMUFRN, deverá ocorrer a partir <strong>da</strong> ocorrência de pelo menos duas <strong>da</strong>s<br />

situações a seguir:<br />

a) Ser reprova<strong>do</strong> 1 (uma) vez nos módulo/disciplinas integralizantes;<br />

b) Ter ultrapassa<strong>do</strong> o prazo máximo de duração deste curso;<br />

c) Deixar de realizar o trancamento <strong>do</strong> curso;<br />

d) Ter insucesso na apresentação <strong>da</strong> disciplina final intitula<strong>da</strong> “Apresentação <strong>do</strong><br />

Projeto Artístico Orienta<strong>do</strong> (Artigo, Palestra e Recital)”.<br />

9. Controle de Frequência<br />

A freqüência mínima exigi<strong>da</strong> é de 75% <strong>da</strong> carga horária total de aulas em ca<strong>da</strong><br />

módulo/disciplina. A forma de controle se <strong>da</strong>rá através de anotação <strong>da</strong>s presenças <strong>do</strong>s alunos<br />

em diário de classe pelo professor.<br />

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10. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)<br />

O trabalho final de Conclusão de Curso (TCC), a ser apresenta<strong>do</strong> pelo aluno como<br />

quesito final de integralização, deverá constar de três partes: concerto, antecedi<strong>do</strong> de uma<br />

palestra e a apresentação escrita de um artigo científico versan<strong>do</strong> sobre questões específicas<br />

encontra<strong>da</strong>s na obra a ser executa<strong>da</strong>.<br />

A <strong>da</strong>ta para apresentação <strong>do</strong> TCC (concerto, palestra e a apresentação <strong>do</strong> artigo), será<br />

fixa<strong>da</strong> pela Coordenação <strong>do</strong> Curso de acor<strong>do</strong> com o cronograma <strong>da</strong> disciplina “Estu<strong>do</strong>s<br />

Dirigi<strong>do</strong>s em Práticas Interpretativas”. Fica a critério <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> coordenação, a concessão de<br />

no máximo mais 30 (trinta) dias ao candi<strong>da</strong>to que, por motivos justificáveis, deixar de<br />

apresentar os trabalhos no perío<strong>do</strong> supracita<strong>do</strong>.<br />

11. Certificação<br />

Após a apresentação <strong>do</strong>s mesmos (devi<strong>da</strong>mente aprova<strong>do</strong>s por comissão constituí<strong>da</strong><br />

de três professores e presidi<strong>da</strong> pelo professor orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> trabalho), será concedi<strong>do</strong> ao<br />

participante <strong>do</strong> Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”, o título de “Especialista em Música<br />

com ênfase em Práticas Interpretativas <strong>do</strong>s Séculos XX e XXI” pela Pró-Reitoria de Pós-<br />

Graduação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte.<br />

O Certifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso será emiti<strong>do</strong> pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação <strong>da</strong> UFRN.<br />

12. Indica<strong>do</strong>res de Desempenho<br />

a) Número de alunos a serem ׃forma<strong>do</strong>s 20 alunos por turma;<br />

20% ׃permiti<strong>do</strong> b) Índice médio de evasão<br />

c) Produção ׃Científica produção de trabalho final (Artigo/Comunicação e Recital);<br />

d) Submissão <strong>do</strong>s trabalhos em eventos científicos pelos alunos em seminários<br />

internos e congressos;<br />

e) Produção de textos específicos para eventuais publicações em eventos de âmbito<br />

nacional;<br />

f) Média de desempenho <strong>do</strong>s ׃alunos para aprovação no curso o aluno deverá ter<br />

conceito final mínimo B e freqüência não inferior a 75% <strong>do</strong> total.<br />

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13. Conclusão<br />

Os próximos passos <strong>do</strong> projeto apontam para o desenvolvimento de uma<br />

sistematização de um conjunto de conceitos abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> estratégias multidisciplinares,<br />

envolven<strong>do</strong> os módulos de característica teórica aplica<strong>do</strong>s a "práxis" <strong>do</strong> músico atual.<br />

Acreditamos que, através desta sistematização, pretende-se vincular a idéia <strong>da</strong><br />

conciliação <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s instrumentos musicais com a utilização de ferramentas atuais para<br />

as práticas interpretativas, como por exemplo, recursos tecnológicos que permitam<br />

implementar a gravação/escuta qualifica<strong>da</strong> <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s e processos de preparação de uma<br />

obra.<br />

Dessa forma, a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> projeto deverá buscar uma morfologia característica<br />

<strong>do</strong>s processos musicais, através de sistematização meto<strong>do</strong>lógica e organizacional desses<br />

estu<strong>do</strong>s onde os resulta<strong>do</strong>s deverão ser apresenta<strong>do</strong>s na forma de recitais embasa<strong>do</strong>s nas<br />

respectivas fun<strong>da</strong>mentações teóricas de ca<strong>da</strong> caso.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

AQUINO, Felipe. Práticas Interpretativas e a Pesquisa em Música: Dilemas e Propostas. In:<br />

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 14.,<br />

2003, Porto Alegre. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> XIV Congresso <strong>da</strong> ANPPOM. Porto Alegre, 2003, p. 1-10.<br />

CAMPOS, Cleber; MANZOLLI, Jônatas. Sistemas Interativos Musicais Aplica<strong>do</strong>s a<br />

Percussão Media<strong>da</strong>. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO<br />

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UDESC, 2010. p. 1155-1199.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. A Educação Musical no Brasil: algumas<br />

considerações. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE<br />

EDUCAÇÃO MUSICAL, 2., 1993, Porto Alegre. <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> II <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>.<br />

Porto Alegre: 1993, p. 69-83.<br />

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De Tramas e Fios: um Ensaio Sobre Música e<br />

Educação. São Paulo: Ed. UNESP, 2005.<br />

PALISCA, Claude. The chalenges of music teaching in higher education. In: AUSTRALIAN<br />

SYMPOSIUM ON MUSIC IN TERTIARY EDUCATION, 1984, Nedlands. <strong>Anais</strong>...<br />

Nedlands, 1984. p. 132-146.<br />

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Prática de ensino em música: um momento para a ‘universi<strong>da</strong>de’ acontecer<br />

Vilma de Oliveira Silva fogaça<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

Resumo: Esse trabalho relata uma pesquisa de mestra<strong>do</strong> que, na realização de um estu<strong>do</strong> de<br />

caso com um aluno <strong>da</strong> disciplina Prática de Ensino (MUS 185), desenvolveu o conceito <strong>do</strong><br />

modelo brasileiro de universi<strong>da</strong>de: a articulação <strong>do</strong> trinômio ensino-pesquisa-extensão, a<br />

partir <strong>do</strong> princípio constitucional <strong>da</strong> ‘indissociabili<strong>da</strong>de’. O artigo, além de demonstrar os<br />

procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos para que esse ideário universitário fosse possível em uma<br />

pesquisa, traz a reflexão sobre a importância desse formato na formação <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> em<br />

música, a partir <strong>do</strong> momento em que ele se compreende como agente estudioso <strong>do</strong><br />

conhecimento, media<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conhecimento e compartilha<strong>do</strong>r desse conhecimento com a<br />

socie<strong>da</strong>de, aqui representa<strong>da</strong> pelos alunos <strong>da</strong> extensão.<br />

Palavras-chave: pesquisa-ensino-extensão; pesquisa; estágio supervisiona<strong>do</strong> em música.<br />

1 Introdução<br />

O modelo brasileiro de universi<strong>da</strong>de orienta que a universi<strong>da</strong>de, para cumprir de<br />

forma plena seu papel perante o desenvolvimento de novos saberes e o ensino desses saberes,<br />

e, em relação ao benefício que poderá servia à socie<strong>da</strong>de, seja constituí<strong>da</strong>s por três instâncias:<br />

ensino, pesquisa e extensão. O fato de ter três instâncias, não significa que deve haver<br />

fragmentação no corpo universitário, ao contrário, elas se completam e dão senti<strong>do</strong> ao<br />

conceito ver<strong>da</strong>deiro de “Universi<strong>da</strong>de” no Brasil, através, <strong>do</strong> princípio constitucional <strong>da</strong><br />

‘indissociabili<strong>da</strong>de’ (art. 207).<br />

A partir <strong>da</strong>s prerrogativas legais que orientam os objetivos <strong>do</strong>s estágios<br />

supervisiona<strong>do</strong>s curriculares, como é possível exercer a articulação ensino-pesquisa-extensão<br />

e quais implicações esse formato trás à formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical? Essa reflexão é<br />

necessária para avaliarmos se, a formação que os cursos de Licenciatura em Música oferecem,<br />

se aproximam ou se afastam <strong>do</strong> projeto meto<strong>do</strong>lógico universitário brasileiro e quais possíveis<br />

ganhos ou per<strong>da</strong>s esse licencian<strong>do</strong> estará obten<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s diferentes processos de estágio<br />

e de como eles estão articula<strong>do</strong> à universi<strong>da</strong>de.<br />

A pesquisa de mestra<strong>do</strong> que inspirou esse artigo intitula-se “Criativi<strong>da</strong>de Musical:<br />

Abor<strong>da</strong>gem PONTES no desenvolvimento <strong>da</strong>s competências articulatórias na formação <strong>do</strong><br />

professor de música”. O objetivo geral era desenvolver as competências articulatórias <strong>do</strong><br />

estagiário, para que fosse capaz de construir ‘pontes’ de articulação com o objetivo (de<br />

maneira enfática) exercer o ensino criativo em música e desenvolver a criativi<strong>da</strong>de musical <strong>do</strong><br />

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aluno. A pesquisa foi fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> em Alencar (1986) 1 , Freire (1998), Gainza (1983) 2 ,<br />

Koutsoupi<strong>do</strong>u (2008) 3 , Pimenta (2006) 4 , Swanwick (2003), entre outros autores.<br />

2 Universi<strong>da</strong>de: o princípio <strong>da</strong> “indissociabili<strong>da</strong>de”<br />

O modelo brasileiro de proposta pe<strong>da</strong>gógica para a universi<strong>da</strong>de está descrito no<br />

artigo 207 <strong>da</strong> constituição brasileira: Art. 207: “As universi<strong>da</strong>des gozam de autonomia<br />

didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao<br />

princípio de indissociabili<strong>da</strong>de entre ensino, pesquisa e extensão.” (grifo meu). Esse princípio<br />

traz muitas implicações ao conceito de “Universi<strong>da</strong>de” e no exercício universitário perante o<br />

graduan<strong>do</strong>, o pesquisa<strong>do</strong>r e a socie<strong>da</strong>de. Porém, antes de tratarmos dessa questão, iremos<br />

verificar alguns conceitos.<br />

Valêncio (1999/2000) lembra a maneira simples e desmistifica<strong>da</strong> que Botomé (1996)<br />

sintetiza o objetivo <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de: “Em relação a isso, Botomé (1996) 5 nos recor<strong>da</strong>: a<br />

missão <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de é produzir conhecimento e torna-lo acessível.” (p. 74). O ensino é<br />

representa<strong>do</strong> pelo segmento <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de que cui<strong>da</strong> <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimento<br />

científico produzi<strong>do</strong>, a partir <strong>da</strong> transmissão desse conhecimento aos seus educan<strong>do</strong>s em nível<br />

de graduação, com o objetivo de formar futuros profissionais e pesquisa<strong>do</strong>res para estarem a<br />

serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de através <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho e científico-cultural. Por sua vez,<br />

segmento de pesquisa tem por objetivo produzir novos conhecimentos. Dos mestres aos<br />

educan<strong>do</strong>s, o empenho comum na produção científica através <strong>da</strong> pesquisa, aproxima <strong>do</strong>centes<br />

e discentes. A produção de conhecimento científico visa servir à socie<strong>da</strong>de em diferentes<br />

instâncias <strong>da</strong> utilização desse conhecimento.<br />

É possível que a ‘extensão’ seja o segmento com maior número de incompreensões a<br />

seu respeito, por vezes, nem a própria comuni<strong>da</strong>de acadêmica demonstra saber <strong>do</strong> que se<br />

trata. Muitas vezes,é ti<strong>da</strong> como um espaço gera<strong>do</strong>r de recursos financeiros para auxiliar a<br />

manutenção <strong>da</strong> instituição à qual está vincula<strong>da</strong>, ou, um espaço apenas para treinar os futuros<br />

profissionais (licencian<strong>do</strong> e bacharelan<strong>do</strong>s) para o exercício de sua profissão por meio de<br />

1 ALENCAR, Maria Eunice Soriano de. Psicologia <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.<br />

2 GAINZA, Violeta H. de. A improvisação musical. Buenos Aires: Ricordi. 1983.<br />

3 KOUTSOUPIDOU, Theano. Effects os differete teaching styles on the development of music cretivity: Insights<br />

from interviews with music specalists. In: Music scientiae the journal of the European Society forthe cognitive<br />

sciences of music. vol. XII. number: 2. Bruxelles: Press Universitaires Bruxelles. 2008. p. 331-330.<br />

4 PIMENTA, Selma Garri<strong>do</strong>. O estágio na formação de professores: uni<strong>da</strong>de teoria e prática? 7. Ed. São Paulo:<br />

Cortez, 2006.<br />

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disciplinas que utilizem esse segmento para a prática ou estágios. Não que essas utilizações<br />

estejam equivoca<strong>da</strong>s por completo, o equívoco é resumi-las apenas a estes fins, em ver<strong>da</strong>de,<br />

esses deveriam ser “meios” para o fim maior: o compartilhamento <strong>do</strong> conhecimento.<br />

A extensão <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de é o braço <strong>da</strong> instituição que alcança o seu principal fim,<br />

a quem se destina o uso-fruto <strong>do</strong> saber e conhecimento aprendi<strong>do</strong> e produzi<strong>do</strong> por ela, bem<br />

como, coincidentemente, é sua maior mantene<strong>do</strong>ra: a socie<strong>da</strong>de. A universi<strong>da</strong>de estende-se à<br />

socie<strong>da</strong>de através de serviços presta<strong>do</strong>s à comuni<strong>da</strong>de, numa via de mão dupla: a universi<strong>da</strong>de<br />

serve à socie<strong>da</strong>de e essa, se dispões a cooperar com sua própria utilização para o<br />

aperfeiçoamento <strong>do</strong> ensino e <strong>da</strong> pesquisa. É na extensão que o conhecimento e saber<br />

construí<strong>do</strong> faz a intervenção na reali<strong>da</strong>de. É através <strong>da</strong> extensão que a socie<strong>da</strong>de também faz<br />

intervenções diretas na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de por meio de uma participação ativa nesse<br />

espaço.<br />

A importância <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>s três instâncias não apenas de maneira individual,<br />

mas como partes de um ‘to<strong>do</strong>’, de um único conceito é que tornará possível esse ideário<br />

pe<strong>da</strong>gógico-político-social no Brasil, perante o comprometimento com o conhecimento e com<br />

a nação brasileira: “Ensino-Pesquisa-Extensão apresentam-se, no âmbito <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des<br />

públicas brasileiras, como uma de suas maiores virtudes e expressão de compromisso social.”<br />

(MARTINS, 2008) 6 .<br />

2.2 A “indissociabili<strong>da</strong>de”: implicações conceituais<br />

A “indissociabili<strong>da</strong>de” ocorre a partir <strong>da</strong> compreensão que um determina<strong>do</strong> objeto que<br />

depen<strong>da</strong> <strong>da</strong> existência de partes menores, deixa de existir, caso se perca uma <strong>da</strong>s partes. Não<br />

significa, entretanto, que as parte sejam indissociáveis entre si, que não possam se separar, significa<br />

que o objeto perde sua classificação conceitual quan<strong>do</strong> as partes se separam. O conceito é que<br />

depende <strong>da</strong> indissociabili<strong>da</strong>de, ou seja, pelas prerrogativas legais, disso depende o status de<br />

“universi<strong>da</strong>de”:<br />

A proposição <strong>da</strong> nova LDB/96, apesar de manter o ensino superior com a missão<br />

de transmitir o conhecimento já existente, abre uma perspectiva para as instituições<br />

com status de universi<strong>da</strong>de na medi<strong>da</strong> em que as reconhece como instituições que<br />

devem manter e contemplar o trinômio ensino-pesquisa-extensão. Esse modelo<br />

5 BOTOMÉ, Silvio. Pesquisa aliena<strong>da</strong> e ensino alienante: o equívoco <strong>da</strong> extensão universitária. Petrópolis /<br />

São Carlos / Caxias <strong>do</strong> Sul: Ed Vozes / Edufscar / Educs, 1996.<br />

6 Esse texto encontra-se avulso e disponível em: . Acessa<strong>do</strong> em: 12/03/<strong>2011</strong>.<br />

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brasileiro de universi<strong>da</strong>de deverá organizar-se pe<strong>da</strong>gógica e tecnicamente a partir<br />

<strong>da</strong> indissociabili<strong>da</strong>de entre ensino, pesquisa e extensão. (BEMVENUTI;<br />

HUPFFER, 2002).<br />

No caso <strong>da</strong> “universi<strong>da</strong>de”, se for seguir a prerrogativa constitucional e a recomen<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />

LDB/96, seria necessário que to<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de fosse constituí<strong>da</strong> sobre esse ‘tripé’, pesquisaensino-extensão,<br />

e que as partes estivessem articula<strong>da</strong>s entre si. To<strong>da</strong>via, além de brechas na lei e<br />

hoje termos universi<strong>da</strong>des com apenas duas instâncias (ensino e pesquisa, ou, pesquisa e extensão),<br />

existe um problema na efetivação <strong>da</strong> indissociabili<strong>da</strong>de e articulação <strong>da</strong>s partes constituintes:<br />

Defrontamo-nos, pois, com vários problemas oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> efetivação histórica de<br />

um ‘tripé’ universitário - no qual ca<strong>da</strong> ‘pé’ tomou o seu próprio rumo - o que, na<br />

prática, sugere um antagonismo com a concepção de indissociabili<strong>da</strong>de.<br />

(VALÊNCIO, 1999/2000, p. 74).<br />

Como podemos perceber, manter o trinômio efetivo e articula<strong>do</strong> no exercício de<br />

‘existência' conceitual e prática <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, não é uma tarefa simples. Exige que um grande<br />

número de pessoas estejam foca<strong>da</strong>s no conceito de universi<strong>da</strong>de como ‘um to<strong>do</strong>’ (dentro <strong>da</strong>s<br />

especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> área) e não em uni<strong>da</strong>des isola<strong>da</strong>s. Foi pensan<strong>do</strong> nessa articulação, em como<br />

manter viva a indissociabili<strong>da</strong>de, que foi realiza<strong>da</strong> uma experiência com um aluno <strong>da</strong> disciplina<br />

Prática de Ensino (MUS 185), na Escola de Música <strong>da</strong> UFBA (EMUS/UFBA).<br />

3 Estágio Supervisiona<strong>do</strong> em Música<br />

O estágio curricular supervisiona<strong>do</strong> é o momento específico <strong>do</strong> processo educativo<br />

profissionalizante onde, o futuro profissional terá a oportuni<strong>da</strong>de de ‘experimentar’ o campo <strong>da</strong><br />

profissão, conjugan<strong>do</strong> para isso, seus conhecimentos teóricos com o exercício <strong>da</strong> prática. Segun<strong>do</strong> a<br />

lei que rege os estágios curriculares o objetivo <strong>do</strong> estágio supervisiona<strong>do</strong> é:<br />

Estágio é ato educativo escolar supervisiona<strong>do</strong>, desenvolvi<strong>do</strong> no ambiente de<br />

trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educan<strong>do</strong>s que estejam<br />

freqüentan<strong>do</strong> o ensino regular em instituições de educação superior, de educação<br />

profissional, de ensino médio, <strong>da</strong> educação especial e <strong>do</strong>s anos finais <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental, na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de profissional <strong>da</strong> educação de jovens e adultos.<br />

(BRASIL, 2008).<br />

O objetivo <strong>do</strong> estágio supervisiona<strong>do</strong> é preparar o futuro profissional em campo, to<strong>da</strong>via,<br />

no que isso se traduz aos profissionais <strong>da</strong>s áreas de licenciatura? Primeiro, pode-se usar uma<br />

terminologia específica para esses casos que indicam a área <strong>do</strong> estágio, assim, em cursos de<br />

licenciaturas (tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r em nível superior) “as expressões estágio, prática<br />

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de ensino e prática pe<strong>da</strong>gógica são utiliza<strong>da</strong>s na área de formação <strong>do</strong>cente para denominar as<br />

ativi<strong>da</strong>des de ensino realiza<strong>da</strong>s em sala de aula.”. (MATEIRO, 2006, p. 15). Para Mateiro (2006) a<br />

relação <strong>do</strong> estágio supervisiona<strong>do</strong> com a formação <strong>do</strong> professor é:<br />

[...] um espaço que possibilita ao estu<strong>da</strong>nte, futuro professor, observar, analisar,<br />

atuar e refletir sobre as tarefas características de sua profissão. Essas ações estão<br />

inseri<strong>da</strong>s assim, no que denominamos de prática de ensino, uma vez que o estágio é<br />

o ponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> experiência de campo e em campo que permitirá ao<br />

licencian<strong>do</strong> experimentar a prática de ensinar e se comprometer com a profissão de<br />

ser professor. (p. 17).<br />

A articulação teórico-prática é, segun<strong>do</strong> Mateiro (2006), uma discussão presente em to<strong>do</strong>s<br />

os <strong>do</strong>cumentos oficiais e pode ser representa<strong>da</strong> por <strong>do</strong>is tipos de visões: a “aplicacionista <strong>da</strong>s<br />

teorias” que valoriza os conhecimentos acadêmicos; e a “ativista <strong>da</strong> prática” que valoriza o fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico, discurse que se mantém longe <strong>da</strong> reflexão teórica. Entretanto, Oliveira (2008) defende<br />

o equilíbrio e igual valorização entre a teoria e a prática, demonstran<strong>do</strong> isso ao afirmar que a práxis<br />

educacional é: “entendi<strong>da</strong> como relação dinâmica entre teoria e prática, ou seja, teoria/prática.” (p.<br />

03).<br />

É de responsabili<strong>da</strong>de acadêmica promover no licencian<strong>do</strong> em música o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s competências didáticos-pe<strong>da</strong>gógicas, <strong>do</strong> entendimento acerca <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> magistério em<br />

diversas instâncias (contextuais, <strong>do</strong> indivíduo, políticas, epistemológicas, entre outras), <strong>da</strong><br />

construção de seu pensamento filosófico-político acerca <strong>da</strong> educação musical e <strong>do</strong> conhecimento de<br />

teorias e meto<strong>do</strong>logias sobre educação musical, bem como, a capaci<strong>da</strong>de de crias meios e méto<strong>do</strong>s<br />

para serem aplica<strong>do</strong>s adequa<strong>do</strong>s às singulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s situações de ensino.<br />

4 A Pesquisa: a ‘universi<strong>da</strong>de’ acontecen<strong>do</strong>...<br />

Por meio de concurso público a pesquisa<strong>do</strong>ra assumiu o cargo de professora auxiliar<br />

(regime temporário) na EMUS/UFBA e assumiu a disciplina Prática de Ensino (MUS 185). Um <strong>do</strong>s<br />

orientan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano letivo 2009 (“Jean”) 7 se tornou objeto de estu<strong>do</strong> de caso para a pesquisa de<br />

mestra<strong>do</strong> “Criativi<strong>da</strong>de Musical: Abor<strong>da</strong>gem PONTES no desenvolvimento <strong>da</strong>s competências<br />

7 Pseudônimo.<br />

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articulatórias <strong>do</strong> professor de música em formação” (2010). O campo de estágio foi o IMIT 8 , curso<br />

de extensão na EMUS/UFBA.<br />

Em desenvolvimento desde o ano 2001, Al<strong>da</strong> Oliveira (2008) define a Abor<strong>da</strong>gem<br />

PONTES:<br />

[...] é uma proposta de reflexão teórica centra<strong>da</strong> na racionali<strong>da</strong>de prática, que visa<br />

aju<strong>da</strong>r na formação de professores de música, desenvolven<strong>do</strong> uma atitude <strong>do</strong>cente<br />

interativa e colabora<strong>do</strong>ra, através de articulações pe<strong>da</strong>gógicas no processo de<br />

ensino e aprendizagem. (p. 04).<br />

Esse referencial teórico foi muito adequa<strong>do</strong> à pesquisa porque a “criativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica”<br />

é assunto de tratamento <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem desde a sua concepção: “Li<strong>da</strong> com criativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica,<br />

com postura <strong>do</strong>cente, adequação e aproximação estratégica aos alunos, às instituições, e também<br />

com o aproveitamento <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des [...]” (idem). Além disso, o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ‘pontes’ 9 fez com<br />

que a pesquisa<strong>do</strong>ra tivesse uma ação <strong>do</strong>cente pontual para a pesquisa.<br />

4.1 A articulação na pesquisa<br />

Sumariamente, a articulação é o que faz ter senti<strong>do</strong> a indissociabili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> trinômio<br />

ensino-pesquisa-extensão. A articulação pe<strong>da</strong>gógica faz com que o ‘conhecimento e o saber’ circule<br />

nos três segmentos <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. Al<strong>da</strong> Oliveira define “articulação pe<strong>da</strong>gógica” como: “[...] to<strong>do</strong><br />

o percurso no processo de ensino e aprendizagem (movimento) em direção à construção <strong>do</strong><br />

conhecimento necessário para solucionar problemas, que é realiza<strong>do</strong> na práxis educativa entre<br />

indivíduos” (OLIVEIRA, 2008, grifo meu). O “movimento em direção” significa que há de onde<br />

sair e onde chegar. Se o ‘tripé’ é indissociável, significa que “ca<strong>da</strong> pé” deve chegar junto com os<br />

demais ao destino.<br />

A articulação <strong>da</strong>s três instâncias universitárias nesse projeto foi fruto de um de uma<br />

necessi<strong>da</strong>de de vivenciar a proposta brasileira meto<strong>do</strong>lógica-pe<strong>da</strong>gógica de ensino universitário.<br />

Para funcionar com plenitude e consciência <strong>da</strong> dimensão <strong>do</strong> trabalho a ser realiza<strong>do</strong>, foi preciso<br />

trazer à luz <strong>do</strong> entendimento de ca<strong>da</strong> participante <strong>do</strong> projeto o que se tratava e como se <strong>da</strong>ria a<br />

articulação ensino-pesquisa-extensão.<br />

Antes, ao pensar no projeto, orienta<strong>do</strong>ra de mestra<strong>do</strong> <strong>da</strong> pesquisa<strong>do</strong>ra colocou to<strong>da</strong> a<br />

dimensão <strong>da</strong>s ações de pesquisa e articulatórias entre as instâncias para que o projeto acontecesse.<br />

8 Iniciação Musical com Introdução ao Tecla<strong>do</strong>: o foco instrumental é o piano: o foco de estu<strong>do</strong> instrumental é o piano,<br />

to<strong>da</strong>via, a experimentação musical se dá através <strong>da</strong> vivência com vários instrumentos: marimba, metalofones,<br />

xilofones, atabaques, tecla<strong>do</strong>s e instrumentos de percussão diversos.<br />

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Em um trabalho foca<strong>do</strong> em “articulações pe<strong>da</strong>gógicas”, esta seria a ‘grande articulação’, a que<br />

abarcaria a existência <strong>do</strong> projeto em si. A pesquisa<strong>do</strong>ra, na função de professora orienta<strong>do</strong>ra, levou<br />

ao estagiário a proposta de participação no projeto, informan<strong>do</strong>-o acerca <strong>do</strong> mesmo, in<strong>da</strong>gan<strong>do</strong><br />

sobre seu entendimento <strong>do</strong> que seja pesquisa, ensino, extensão e universi<strong>da</strong>de, colocan<strong>do</strong>-o a par <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de que seria assumir esse compromisso e <strong>da</strong>s contribuições que seriam presta<strong>da</strong>s à<br />

pesquisa na área de Educação Musical, caso ele aceitasse dispor sua participação.<br />

Houve o diálogo informativo com os pais <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> estagiário, sobre a participação de<br />

seus filhos no projeto. Foi explica<strong>do</strong> o que era o projeto, mas antes, foi esclareci<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong> que é<br />

o ensino de música na extensão e que os alunos <strong>do</strong>s projetos não faziam parte apenas de cursos<br />

isola<strong>do</strong>s, mas de uma instituição maior de ensino-aprendizagem e pesquisa, eles faziam parte <strong>da</strong><br />

Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia.<br />

Poden<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s olharem o projeto através de lentes limpas, claras acerca <strong>do</strong> projeto, <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de e <strong>do</strong>s papéis de ca<strong>da</strong> um, era o momento de focar. Focar foi o ato de estabelecer<br />

objetivos precisos a ser desenvolvi<strong>do</strong> em/por ca<strong>da</strong> nível <strong>do</strong> segmento universitário. Afirma<strong>do</strong>s os<br />

objetivos, foi preciso manter o foco em ca<strong>da</strong> um deles e entre eles. Os objetivos específico de ca<strong>da</strong><br />

um, tinham uma conexão com os objetivos <strong>da</strong>s outras instâncias.<br />

Para que se possa ter uma cena harmônica <strong>da</strong> articulação entre ensino-pesquisa-extensão é<br />

preciso que haja conexão, sincronia e uni<strong>da</strong>de nos atores envolvi<strong>do</strong>s. As partes dão início à sua<br />

participação no desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa de acor<strong>do</strong> com as prerrogativas de seus papéis na<br />

universi<strong>da</strong>de e no projeto. O resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> recor<strong>da</strong>ção, reflexão e crítica de uma cena/aula poderá,<br />

manter, reorientar ou modificar a continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> roteiro.<br />

4.2 Detalhamento <strong>da</strong>s ações de pesquisa<br />

A professora-orienta<strong>do</strong>ra deu início à formação <strong>do</strong> estagiário no referencial teórico<br />

“Abor<strong>da</strong>gem PONTES” (2008, 2001) estruturan<strong>do</strong> junto a ele, os objetivos <strong>do</strong> estágio, com ênfase<br />

especial no desenvolvimento <strong>da</strong>s mentes criativas musicais <strong>do</strong>s alunos, partin<strong>do</strong> de ativi<strong>da</strong>des de<br />

improvisação/composição.<br />

O estagiário, em tempo real de aula, construía as ‘pontes’ de articulação e mantinha uma<br />

atenção especialmente volta<strong>da</strong> para observação <strong>da</strong> linguagem simbólica usa<strong>da</strong> pelos alunos em<br />

relação as ativi<strong>da</strong>des de improvisação e aos resulta<strong>do</strong>s criativos musicais. Depois de articulações no<br />

senti<strong>do</strong> de conquistar os alunos para o fazer criativo musical; esses, antes bem resistentes,<br />

9 Metáfora cria<strong>da</strong> por Al<strong>da</strong> Oliveira que se traduz como “articulações pe<strong>da</strong>gógicas”.<br />

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começaram a expor suas idéias musicais através <strong>da</strong> linguagem musical e oral, permitin<strong>do</strong> se<br />

envolverem no processo criativo musical, participan<strong>do</strong> ativamente com suas produções musicais no<br />

processo de aprendizagem musical. A pesquisa<strong>do</strong>ra, por sua vez, observou, registrou, refletiu,<br />

analisou, reconstruiu sua idéias, conceitos e planos, e seguiu o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa<br />

realizan<strong>do</strong> intervenções meto<strong>do</strong>lógicas para a coleta e análise de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, a fim de verificar se a<br />

Abor<strong>da</strong>gem PONTES foi uma ferramenta útil no desenvolvimento de competências articulatórias de<br />

um estagiário com o fim de desenvolver a mente criativa musical de seus alunos de música.<br />

Por fim, a pesquisa<strong>do</strong>ra verificou que, de fato, a Abor<strong>da</strong>gem PONTES foi uma ferramenta<br />

eficiente no desenvolvimento <strong>da</strong> mente criativa musical <strong>do</strong> aluno, quanto no desenvolvimento de<br />

estratégias pe<strong>da</strong>gógicas criativas no licencian<strong>do</strong>, durante o seu estágio em música. Esses resulta<strong>do</strong>s<br />

estão registra<strong>do</strong>s em instrumentos de coletas de <strong>da</strong><strong>do</strong>s como: materiais áudio-visuais, entrevistas<br />

semi-estrutura<strong>da</strong>s e fichas de observação de um observa<strong>do</strong>r independente.<br />

5 Conclusões<br />

O processo de realização <strong>da</strong> pesquisa de pós-graduação no estágio supervisiona<strong>do</strong> de um<br />

licencian<strong>do</strong> foi fun<strong>da</strong>mental para a formação <strong>do</strong> professor-pesquisa<strong>do</strong>r. Jean foi instiga<strong>do</strong> a<br />

desenvolver o espírito investigativo e sua critici<strong>da</strong>de, a partir <strong>do</strong> seu envolvimento com a pesquisa e<br />

<strong>do</strong> conhecimento de to<strong>da</strong>s as ações investigativas e analíticas a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s pela meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong><br />

pesquisa. Para Freire (1996) não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, um é o co-fazer <strong>do</strong><br />

outro, se completa e realiza no fazer <strong>do</strong> outro: “Pesquiso para constatar, constatan<strong>do</strong> intervenho,<br />

intervin<strong>do</strong> educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ain<strong>da</strong> não conheço e comunicar e<br />

anunciar a novi<strong>da</strong>de.” (p. 32). A ativi<strong>da</strong>de de pesquisa é a mola mostra <strong>do</strong> ensino, é preciso<br />

entendê-la não apenas como coadjuvante <strong>do</strong> processo de ensinar, mas como fun<strong>da</strong>mental ao<br />

processo. Sua relação com o ensino é retroalimentar: a pesquisa alimenta o ensino, e processos de<br />

ensino alimentam a pesquisa.<br />

Ao encontrar-se envolvi<strong>do</strong> de maneira direta nos três segmentos: ensino-pesquisaextensão;<br />

Jean construiu uma compreensão racional e prática <strong>do</strong> modelo de universi<strong>da</strong>de brasileira,<br />

a partir <strong>do</strong> princípio constitucional <strong>da</strong> ‘indissociabili<strong>da</strong>de’. Ao compartilhar de maneira direta o<br />

saber desenvolvi<strong>do</strong> e ensina<strong>do</strong> pela universi<strong>da</strong>de, ele entendeu a extensão como uma questão de<br />

compromisso social; também, como um segmento necessário e fun<strong>da</strong>mental para a universi<strong>da</strong>de,<br />

pois, é <strong>da</strong> participação efetiva <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, que são descobertas novas<br />

questões, necessi<strong>da</strong>des, soluções e que surgem as inspirações para novas pesquisas. Jean colaborou<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

de forma ativa no cumprimento <strong>do</strong> compromisso social que a universi<strong>da</strong>de tem, de levar à socie<strong>da</strong>de<br />

os benefícios <strong>do</strong> ensino e <strong>da</strong>s pesquisas por ela desenvolvi<strong>da</strong>, além de ter entendi<strong>do</strong> que a<br />

comuni<strong>da</strong>de pode ter participação enfática na colaboração com as pesquisas e construção <strong>do</strong> saber.<br />

A estrutura <strong>do</strong> ensino universitário brasileiro (ensino-pesquisa-extensão) faz parte <strong>do</strong><br />

ideário brasileiro de educação. É dever sócio-político-educacional lutarmos pelo acontecimento<br />

pleno <strong>do</strong> conceito brasileiro de “universi<strong>da</strong>de”, pela oferta de um ensino público, gratuito e de<br />

quali<strong>da</strong>de, pela partilha <strong>do</strong>s saberes e contra ações políticas que visam a manutenção de um status<br />

quo desigual, injusto e ignorante.<br />

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Referências<br />

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Unisinos: institucionalizan<strong>do</strong> a extensão universitária com vistas à indissociabili<strong>da</strong>de.<br />

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. Acesso<br />

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.<br />

15/03/<strong>2011</strong>.<br />

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Disponível em: . Acessa<strong>do</strong> em: 30/09/2008.<br />

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em Música: Educação Musical). [262 fls]. Programa de Pós-graduação em Música <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia. Salva<strong>do</strong>r, 2010.<br />

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de Janeiro: Paz e Terra, 1998.<br />

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Cultura Acadêmica: UNESP, 2008, v. 01, p. 102-115.<br />

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legislação brasileira. In: MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara (Org.). Práticas de ensinar<br />

música: legislação, planejamento, observação, registro, orientação, espaços, formação. Porto<br />

Alegre; Sulina, 2006. p. 15-27.<br />

OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. Pontes Educacionais em Música. No Prelo. Salva<strong>do</strong>r: P&A, 2008.<br />

ROMANELLI, Guilheme. G. B. Planejamento de aulas de estágio. In: MATEIRO, Teresa.;<br />

SOUZA, Jusamara. (Org.) Práticas de ensinar música: legislação, planejamento, observação,<br />

registro, orientação, espaços, formação. Porto Alegre; Sulina, 2006. p. 130-142.<br />

SOUZA, Jusamara; MATEIRO, Teresa. As interpretações <strong>da</strong> legislação: o estágio curricular<br />

em música nas universi<strong>da</strong>des brasileiras. In: MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara (Org.).<br />

Práticas de ensinar música: legislação, planejamento, observação, registro, orientação,<br />

espaços, formação. Porto Alegre; Sulina, 2006. p. 28-56.<br />

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2 OA N O S<br />

VALÊNCIO, Norma. F. L. <strong>da</strong> S. A indissociabili<strong>da</strong>de entre Ensino/Pesquisa/Extensão:<br />

ver<strong>da</strong>des e mentiras sobre o pensar e o fazer <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Pública no Brasil. In: Revista<br />

Proposta. 1999/2000. Disponível em:<br />

. Acesso em: 01/03/<strong>2011</strong>.<br />

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Prática de Ensino versus século XXI: ações frente à reali<strong>da</strong>de<br />

contemporânea<br />

Simone Braga<br />

UFBA – FACESA<br />

moninhabraga@gmail.com<br />

Lívia Cunha<br />

FACESA<br />

tuka23c@hotmail.com<br />

Claudio Costa<br />

FACESA<br />

claudioacosta@hotmail.com<br />

Resumo: O século XXI caracteriza-se por um perío<strong>do</strong> de grandes mu<strong>da</strong>nças que apresenta<br />

implicações na educação musical, ao exigir profissionais capacita<strong>do</strong>s para atuar nos múltiplos<br />

contextos educacionais. Os cursos de licenciatura tornam-se responsáveis por uma parcela<br />

significativa desta formação, por meio <strong>da</strong>s ações <strong>do</strong>s componentes curriculares. Neste<br />

contexto, o presente artigo tem por objetivo apresentar as ativi<strong>da</strong>des composição musical e<br />

registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas, desenvolvi<strong>da</strong>s em Prática de Ensino III, por duas óticas: a <strong>do</strong>s<br />

propósitos <strong>da</strong> educa<strong>do</strong>ra e a <strong>da</strong>s considerações <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s. Ao cruzar o parecer <strong>da</strong><br />

educa<strong>do</strong>ra com o <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, nota-se como resulta<strong>do</strong> a articulação entre conhecimentos<br />

teóricos e práticos, diálogo com outros componentes curriculares, desenvolvimento de<br />

competências musicais e <strong>do</strong>centes, além de favorecer a elaboração de ativi<strong>da</strong>des musicais e o<br />

registro dessas para a utilização didática.<br />

Palavras-chave: composição musical, prática de ensino, registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas.<br />

Introdução<br />

A pós-moderni<strong>da</strong>de caracteriza-se por grandes mu<strong>da</strong>nças em diversas esferas como a<br />

economia, a política, a diversi<strong>da</strong>de sociocultural, a difusão <strong>da</strong>s redes sociais, os avanços<br />

científicos e tecnológicos, a (re) definição de valores, o crescimento demográfico, entre<br />

outros. Tais mu<strong>da</strong>nças apresentam implicações no ensino musical <strong>do</strong> qual emergem novas<br />

exigências educativas, sobretu<strong>do</strong> na formação de profissionais capacita<strong>do</strong>s para atuar na área.<br />

Diante desta reali<strong>da</strong>de, é oportuno desenvolver interferências didáticas que proporcionem<br />

formação pe<strong>da</strong>gógico-musical em adequação às características pós-modernas, a exemplo <strong>da</strong><br />

experiência realiza<strong>da</strong> no componente curricular Prática de Ensino III (ensino médio),<br />

desenvolvi<strong>da</strong> no segun<strong>do</strong> semestre de 2010, com alunos <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música<br />

<strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Evangélica de Salva<strong>do</strong>r (FACESA), na ci<strong>da</strong>de de Salva<strong>do</strong>r.<br />

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Com o objetivo de desenvolver competências musicais como a execução, apreciação<br />

e criação musicais, e competências <strong>do</strong>centes volta<strong>da</strong>s para o ensino médio, como o pensar,<br />

refletir e utilizar as possibili<strong>da</strong>des musicais di<strong>da</strong>ticamente foram aplica<strong>da</strong>s duas ativi<strong>da</strong>des: 1)<br />

composição musical; 2) registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas, apresenta<strong>da</strong>s a seguir por duas óticas:<br />

a <strong>do</strong>s propósitos <strong>da</strong> educa<strong>do</strong>ra e a <strong>da</strong>s considerações <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Prática de Ensino versus formação pe<strong>da</strong>gógico-musical<br />

De acor<strong>do</strong> com pesquisas realiza<strong>da</strong>s por educa<strong>do</strong>res musicais (QUEIROZ,<br />

MARINHO, 2009; SOUZA, DEL BEN, 2009; FIGUEIREDO, 2010), a formação pe<strong>da</strong>gógica<br />

musical é uma questão complexa, visto que o perfil <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cursos de Licenciatura<br />

em Música apresenta heterogenei<strong>da</strong>de quanto às necessi<strong>da</strong>des e aos níveis de conhecimento<br />

musical. Com relação às habili<strong>da</strong>des instrumentais, alguns <strong>do</strong>minam instrumentos<br />

harmônicos, enquanto outros instrumentos melódicos ou percussivos, paralelamente aos que<br />

desenvolveram habili<strong>da</strong>des vocais. O conhecimento prático musical nem sempre se<br />

fun<strong>da</strong>menta em princípios teóricos. Neste contexto, os componentes curriculares tornam-se<br />

responsáveis por parcela significativa desta formação, ao propiciar o desenvolvimento<br />

musical como suporte para a articulação com a atuação <strong>do</strong>cente, sobretu<strong>do</strong> na disciplina<br />

Prática de Ensino, uma <strong>da</strong>s principais bases para a formação pe<strong>da</strong>gógico-musical.<br />

Esta, compreendi<strong>da</strong> como o centro <strong>da</strong> formação, cria condições pe<strong>da</strong>gógicas para a<br />

atuação em sala de aula. Tais condições dizem respeito ao desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des<br />

práticas musicais direciona<strong>da</strong>s para as diversas situações de aprendizagem basea<strong>da</strong>s em<br />

leitura e discussão de textos e <strong>do</strong>cumentos <strong>da</strong> área, teorias, méto<strong>do</strong>s e princípios filosóficomusicais,<br />

além <strong>do</strong> desenvolvimento de técnicas de elaboração de condução de aulas por meio<br />

de planos de curso e de aula.<br />

Atualmente, há o direcionamento, em graus diferencia<strong>do</strong>s, a depender <strong>da</strong>s propostas<br />

<strong>da</strong>s instituições de ensino superior, para que a Prática de Ensino considere questões de<br />

política educacional mais ampla como o papel sociopolítico <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical, além de<br />

objetivar um professor reflexivo, por intermédio <strong>do</strong> desenvolvimento de competências para a<br />

sua atuação. Neste contexto, Perrenoud (2000) considera competência como a capaci<strong>da</strong>de de<br />

mobilizar varia<strong>do</strong>s recursos cognitivos para enfrentar situações diversas nas diferentes<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des educacionais como a educação básica (ensino infantil, fun<strong>da</strong>mental e médio).<br />

Com relação à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino, Beineke (2004) aponta para o preparo muitas<br />

vezes descontextualiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola pública. Enquanto Buchmann (2008) associa<br />

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este descompasso à inexistência de um programa escolar a ser segui<strong>do</strong> em ca<strong>da</strong> etapa ou ano<br />

no ensino musical na educação básica, a falta de preparação no que se refere a li<strong>da</strong>r com as<br />

diversas diferenças em um espaço em franca ampliação, em virtude a Lei 11.769/2008 e a<br />

falta de interação contínua entre professor orienta<strong>do</strong>r e educan<strong>do</strong>, no perío<strong>do</strong> <strong>do</strong>s estágios<br />

supervisiona<strong>do</strong>s, para o registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s.<br />

Na proposta desenvolvi<strong>da</strong> pelo curso, na qual a experiência foi desenvolvi<strong>da</strong>, parte<br />

destas situações e interações é apresenta<strong>da</strong> semestralmente, organiza<strong>da</strong> por mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des (1º<br />

semestre: ensino infantil; 2º semestre: ensino fun<strong>da</strong>mental; 3º semestre: ensino médio; 4º<br />

semestre: projetos sociais), complementa<strong>da</strong> pela realização de Estágios de Observação, ao<br />

oportunizar o desenvolvimento de competências para atuação <strong>do</strong>cente e conhecer diferentes<br />

reali<strong>da</strong>des, sobretu<strong>do</strong> na educação básica. A observação gera a reflexão sobre as práticas<br />

assisti<strong>da</strong>s de ensino musical e a discussão sobre as ativi<strong>da</strong>des práticas realiza<strong>da</strong>s nas aulas,<br />

ten<strong>do</strong> como foco o fazer e o criar musical.<br />

Albino e Lima (2008) afirmam ser necessária a formação instrumental mais sóli<strong>da</strong><br />

em detrimento <strong>da</strong> formação pe<strong>da</strong>gógica, afinal, antes de professores, somos músicos. Neste<br />

contexto, as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s na Prática de Ensino deverão propiciar o fazer musical, por<br />

meio <strong>da</strong> execução, apreciação e criação musical, contextualiza<strong>da</strong> a técnica e a teoria,<br />

articula<strong>da</strong>s com outros componentes curriculares. A articulação se faz necessária, pois, como<br />

propor e orientar di<strong>da</strong>ticamente propostas educacionais musicais como o uso <strong>do</strong> canto a várias<br />

vozes, por exemplo, sem a compreensão <strong>do</strong>s tipos de textura musical? Ou propor o uso de<br />

ostinatos sem a compreensão <strong>do</strong> seu significa<strong>do</strong>? Compreender e conhecer um conteú<strong>do</strong><br />

musical facilita a seleção e planejamento <strong>da</strong> aula, além de partir <strong>do</strong> pressuposto<br />

epistemológico <strong>do</strong> conhecimento musical, precedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Com o objetivo de desenvolver competências musicais como a execução, apreciação<br />

e criação musicais, e competências <strong>do</strong>centes volta<strong>da</strong>s para o Ensino Médio, como o pensar,<br />

refletir e utilizar as possibili<strong>da</strong>des musicais di<strong>da</strong>ticamente, aplicaram-se duas ativi<strong>da</strong>des na<br />

Prática de Ensino III (ensino médio), apresenta<strong>da</strong>s a seguir.<br />

Ativi<strong>da</strong>de 1 - Composição musical: ferramenta para a sala de aula<br />

A composição é uma ativi<strong>da</strong>de musical que possibilita a conexão de saberes prévios<br />

com os adquiri<strong>do</strong>s, por permitir a participação ativa <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong>s suas<br />

experiências anteriores ao explorar diversos elementos musicais como parâmetros sonoros,<br />

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formas, tonali<strong>da</strong>des, mo<strong>do</strong>s, entre outros. Segun<strong>do</strong> Beineke (2008), educa<strong>do</strong>res e<br />

pesquisa<strong>do</strong>res reconhecem que pela composição os educan<strong>do</strong>s podem manifestar suas idéias<br />

musicais de forma própria, ao revelar como pensam musicalmente. Em concordância,<br />

Hentschke (1996, p. 31) considera que “a ativi<strong>da</strong>de de composição se constitui no melhor<br />

meio de adquirir conhecimento musical porque o indivíduo é capaz de tomar mais decisões,<br />

ele tem a oportuni<strong>da</strong>de de transformar o objeto”.<br />

Na formação pe<strong>da</strong>gógico-musical, a ativi<strong>da</strong>de torna possível o fazer musical e a<br />

associação com as orientações pe<strong>da</strong>gógicas desenvolvi<strong>da</strong>s. Nesta formação, deve-se estimular<br />

o fazer musical para oferecer subsídios para uma prática <strong>do</strong>cente na qual o professor ensine<br />

música musicalmente (SWANWICK, 2003). Apoia<strong>da</strong> neste contexto, desenvolveu-se a<br />

ativi<strong>da</strong>de de composição musical, em curso de licenciatura em música, no componente<br />

curricular Prática de Ensino.<br />

A ativi<strong>da</strong>de foi realiza<strong>da</strong> em quatro etapas: 1) Composição musical; 2) Apresentação<br />

<strong>da</strong> obra musical para a turma; 3) Elaboração coletiva de ativi<strong>da</strong>des didáticas a serem<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s em aulas de música <strong>do</strong> ensino médio com base nas composições; 4) Registro<br />

<strong>da</strong>s composições em CD e teve como objetivos: 1) desenvolver atitude musical cria<strong>do</strong>ra e<br />

criativa, capaz de manipular e articular a criação com a execução musical; 2) relacionar e<br />

transferir conhecimentos musicais responsáveis pela articulação de saberes prévios aos<br />

adquiri<strong>do</strong>s no contexto acadêmico; 3) conhecer o processo de gravação musical; 4)<br />

desenvolver competências para a atuação <strong>do</strong>cente.<br />

O que dizem os educan<strong>do</strong>s sobre a ativi<strong>da</strong>de?<br />

A solicitação de composições no componente curricular Prática de Ensino III<br />

favoreceu compreender que a ação de compor pode ser de fácil acesso a qualquer estu<strong>da</strong>nte de<br />

música. Apesar <strong>da</strong> insegurança de alguns no momento de compor, o resulta<strong>do</strong> demonstrou ser<br />

ativi<strong>da</strong>de possível de ser realiza<strong>da</strong> por to<strong>do</strong>s, além de servir como recurso a se explorar em<br />

sala de aula, com diferentes materiais e formas de compor, para extrair conteú<strong>do</strong>s musicais.<br />

As criações, apresenta<strong>da</strong>s individualmente para to<strong>da</strong> a turma, transformaram-se em um<br />

desafio, visto que foi uma experiência nova para uma parcela significativa de educan<strong>do</strong>s.<br />

No decorrer <strong>da</strong>s apresentações, observou-se uma varie<strong>da</strong>de de gêneros e ritmos, além<br />

de composições vocais e instrumentais, que foram contagian<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a turma. Tais<br />

composições serviram de objeto de análise, realiza<strong>da</strong> em pequenos grupos, para a extração de<br />

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conteú<strong>do</strong>s a se desenvolverem em aulas de música no ensino médio. Como um leque que se<br />

abre, assim aconteceu na análise realiza<strong>da</strong> por ca<strong>da</strong> grupo. Em ca<strong>da</strong> peça analisa<strong>da</strong>, foram<br />

identifica<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s como timbre, duração, intensi<strong>da</strong>de, ritmo, an<strong>da</strong>mento e a letra para a<br />

elaboração de ativi<strong>da</strong>des didáticas.<br />

A etapa posterior, o registro <strong>da</strong>s composições em estúdio de gravação, serviu de<br />

experiência e conhecimento <strong>do</strong> processo de gravação musical em estúdio.<br />

Ativi<strong>da</strong>de 2 - Registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas desenvolvi<strong>da</strong>s na aula<br />

As ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s na Prática de Ensino proporcionaram a análise <strong>do</strong>s<br />

elementos inseri<strong>do</strong>s na construção de uma aula, bem como criaram condições para a<br />

elaboração de ativi<strong>da</strong>des para a atuação posterior <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s. A análise possibilita<br />

articular as ações efetiva<strong>da</strong>s com a execução de planos de curso e de aula, além de provocar o<br />

registro dessas.<br />

A ação de registrar, apesar <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s em escrever, é<br />

ferramenta que permite organizar o pensamento, oportunizar a consciência <strong>do</strong> fazer<br />

pe<strong>da</strong>gógico, sistematizar caminhos meto<strong>do</strong>lógicos e verificar to<strong>do</strong> o processo percorri<strong>do</strong> pelo<br />

educan<strong>do</strong> e o seu envolvimento com a prática pe<strong>da</strong>gógica. De acor<strong>do</strong> com Zabalza (2004), o<br />

registro também é uma forma de estabelecer distanciamento reflexivo <strong>do</strong> nosso mo<strong>do</strong> de<br />

atuar. Contu<strong>do</strong>, a escolha <strong>da</strong> forma de registro depende <strong>do</strong> contexto educacional, <strong>da</strong> natureza<br />

e característica <strong>do</strong> que se vai registrar e <strong>do</strong>s objetivos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.<br />

Se a pretensão é desenvolver o processo criativo pelas composições didáticas, como<br />

a ativi<strong>da</strong>de anterior, é mais coerente o uso <strong>do</strong> registro sonoro. Mas, se a intenção é o<br />

desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des para a pesquisa, é adequa<strong>da</strong> a a<strong>do</strong>ção de formas de registros<br />

acadêmicos como artigos, fichamento, resenha, entre outros. Neste senti<strong>do</strong>, há registros<br />

específicos para ca<strong>da</strong> tipo de situação, como a ficha de observação, memorial <strong>do</strong> estágio,<br />

narrativa biográfica, memórias e diários de aula, portfólios, relatórios de estágio, entre outros.<br />

As oportuni<strong>da</strong>des de registro e a mescla desses acentuam as possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des para a escrita, sobretu<strong>do</strong> articula<strong>da</strong> com a reflexão.<br />

As ativi<strong>da</strong>des práticas realiza<strong>da</strong>s em sala foram registra<strong>da</strong>s com os objetivos de<br />

desenvolver a <strong>do</strong>cumentação escrita, ter ativi<strong>da</strong>des como referências para atuação futura e<br />

desenvolver habili<strong>da</strong>des para a elaboração de um plano, pela identificação e descrição <strong>do</strong>s<br />

seguintes elementos: ativi<strong>da</strong>de, recursos, descrição, faixa etária a ser aplica<strong>da</strong>, objetivos geral<br />

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e específicos, conteú<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s (atitudinais, conceituais e procedimentais) e<br />

repertório.<br />

O que dizem os educan<strong>do</strong>s sobre a ativi<strong>da</strong>de?<br />

A disciplina abor<strong>da</strong> teoricamente uma aula e as habili<strong>da</strong>des musicais a serem<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s, ten<strong>do</strong> como base <strong>do</strong>cumentos como a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), artigos<br />

<strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical (<strong>ABEM</strong>), entre outros. A experiência de<br />

registrar tais ativi<strong>da</strong>des foi a forma de guar<strong>da</strong>r as experiências como educan<strong>do</strong>s e ver a<br />

eficácia <strong>da</strong> aula elabora<strong>da</strong>, poden<strong>do</strong> ajustá-las para a sua utilização com um determina<strong>do</strong><br />

grupo, possibilitan<strong>do</strong> assim um guia rápi<strong>do</strong> de aulas pré-prontas, além de articular com as<br />

teorias estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s no componente curricular Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação III.<br />

As dificul<strong>da</strong>des para registrar as ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s, sobretu<strong>do</strong> em assimilar e<br />

separar os conteú<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s (atitudinais, conceituais e procedimentais) foram diluí<strong>da</strong>s<br />

com o passar <strong>do</strong> tempo e com o auxílio <strong>da</strong> educa<strong>do</strong>ra. O registro favoreceu a elaboração de<br />

miniaulas, ministra<strong>da</strong>s para to<strong>da</strong> a turma, além de favorecer: 1) a elaboração de aulas para o<br />

ensino médio; 2) a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>s aulas para outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des educacionais, como o ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental I e II; 3) sugestões de ativi<strong>da</strong>des criativas para trabalhar com a<strong>do</strong>lescentes; 4)<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de observar a aula e registrá-la; 5) desenvolvimento de<br />

vivências musicais pela percepção <strong>do</strong> corpo, ritmo, pulsação, an<strong>da</strong>mento e percepção<br />

auditiva.<br />

Considerações finais<br />

As ativi<strong>da</strong>des de compor e registrar ações didáticas são competências necessárias<br />

para a atuação pe<strong>da</strong>gógico-musical contemporânea e possibilitam o ensinar de forma musical,<br />

conforme a literatura consulta<strong>da</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> os educan<strong>do</strong>s, a motivação para a composição contribui para desenvolver<br />

conteú<strong>do</strong>s musicais, além de articulá-los com a reali<strong>da</strong>de sociocultural encontra<strong>da</strong> na sala de<br />

aula. Para a educa<strong>do</strong>ra, serviu para desenvolver habili<strong>da</strong>des discentes musicais e fun<strong>da</strong>mentálas<br />

com as orientações oferta<strong>da</strong>s em outros componentes <strong>da</strong> matriz curricular <strong>do</strong> curso, a<br />

exemplo <strong>da</strong> Literatura e Estruturação Musical, Percepção, História <strong>da</strong> Música, entre outros.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Em relação aos registros, os educan<strong>do</strong>s consideraram oportunos para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> habili<strong>da</strong>de de escrita e a possibili<strong>da</strong>de de <strong>do</strong>cumentar ativi<strong>da</strong>des didáticas<br />

musicais. Em concordância, a educa<strong>do</strong>ra acrescenta que possibilitou verificar o<br />

comprometimento e o desenvolvimento discente na disciplina.<br />

Tais considerações, realiza<strong>da</strong>s pela educa<strong>do</strong>ra e educan<strong>do</strong>s, permitem concluir que a<br />

aplicação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des possibilitou a articulação entre conhecimentos teóricos e práticos,<br />

diálogo com outras disciplinas, a exemplo <strong>do</strong> diálogo com Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Educação III,<br />

compreensão e comparação com as aulas assisti<strong>da</strong>s no Estágio de Observação, além de<br />

fornecer referências para a elaboração de ativi<strong>da</strong>des musicais e o registro dessas para a<br />

utilização didática posterior.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ALBINO, César; LIMA, Sônia Albano de. A aplicação <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> aprendizagem<br />

significativa de Ausubel na prática improvisatória. Opus, Goiânia, v. 14, n. 2, p. 115-133, dez.<br />

2008. Disponível na internet: http://www.anppom.com.br/opus/opus14/207/207-Albano-<br />

Albino.htm. Acesso em 20 de fev. de <strong>2011</strong>.<br />

BEINEKE, Viviane. A composição no ensino de música: perspectivas de pesquisa e<br />

tendências atuais. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 20, 19-32, set. 2008.<br />

__________. As práticas de ensino no contexto <strong>do</strong> núcleo de educação musical <strong>da</strong> UDESC:<br />

forman<strong>do</strong> professores para a escola pública. In: <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> Associação Brasileira de<br />

Educação Musical, 8., 2004: Rio de Janeiro. <strong>Anais</strong>... Rio de Janeiro, 2004.<br />

BUCHMANN, Letícia. Construção <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência em música no estágio supervisiona<strong>do</strong>: um<br />

estu<strong>do</strong> na UFSM. 2008. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>. Universi<strong>da</strong>de Federal de Santa Maria.<br />

Disponível em: http://w3.ufsm.br/ppge/diss_leticiabuchmann_08.pdf. Acesso em 14 de fev.<br />

de <strong>2011</strong>.<br />

HENTSCHKE, Liane. A Teoria Espiral de Swanwick como Fun<strong>da</strong>mentação para uma<br />

Proposta Curricular. In: <strong>Anais</strong> <strong>do</strong> 5º <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Londrina: 1996, p.171-185.<br />

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed,<br />

2000.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Trad.: Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

ZABALZA, Miguel A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento<br />

profissional. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2004.<br />

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Prática musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho: assistencialismo ou<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia?<br />

Gisele Ferreira de Lima<br />

Facul<strong>da</strong>de de Educação Teológica<br />

gisele_ffl@hotmail.com<br />

Íris Emanuella de Castro Nascimento<br />

Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho<br />

iris.e.castro@gmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho constitui-se numa investigação na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho,<br />

objetivan<strong>do</strong> conhecer o perfil de sua prática musical no que se refere à natureza de seu caráter,<br />

se de cunho assistencialista ou ci<strong>da</strong>dão. Objetivamos ain<strong>da</strong> compreender a natureza <strong>da</strong>s<br />

ONGs, sua prática musical, identificar o perfil <strong>do</strong>s assisti<strong>do</strong>s pela Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho<br />

e a função social <strong>da</strong> mesma. Fez-se necessário pesquisar sobre as aulas de música e suas<br />

contribuições na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s alunos. A meto<strong>do</strong>logia trata de um estu<strong>do</strong> de caso que consiste em<br />

uma pesquisa concentra<strong>da</strong> no estu<strong>do</strong> de um caso particular, considera<strong>do</strong> representativo de um<br />

conjunto de casos análogos. Como resulta<strong>do</strong>, se estabelece um perfil assistencial ci<strong>da</strong>dão<br />

articula<strong>do</strong> com as descrições <strong>do</strong> campo de estu<strong>do</strong>. Espera-se compreender o caráter<br />

assistencial ou ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> prática musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho e suscitar<br />

investigações em ambientes similares, visto a importância que tais instituições representam na<br />

promoção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>do</strong> grupo social em que estão inseri<strong>da</strong>s.<br />

Palavras-chave: Prática musical, assistencialismo, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Introdução<br />

Os desequilíbrios sociais presentes no Brasil contemporâneo tem estimula<strong>do</strong> o<br />

crescimento de ações de sua socie<strong>da</strong>de civil volta<strong>da</strong>s a contribuir para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong>de. Ações estas, ci<strong>da</strong>dãs e/ou assistencialistas, que auxiliam o Esta<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> de<br />

atender às deman<strong>da</strong>s sociais necessita<strong>da</strong>s. Dentre os assuntos que rodeiam as ONGs o<br />

possível assistencialismo tem si<strong>do</strong> bastante discorri<strong>do</strong> pelos estu<strong>da</strong>ntes, pesquisa<strong>do</strong>res e<br />

profissionais envolvi<strong>do</strong>s em áreas de conhecimentos que estu<strong>da</strong>m a socie<strong>da</strong>de. A preocupação<br />

em não perpetuar o processo de acomo<strong>da</strong>ção entre os que dão assistência e os assisti<strong>do</strong>s, tem<br />

gera<strong>do</strong> reflexões entre os pesquisa<strong>do</strong>res desses contextos. Procuraremos na trajetória desta<br />

pesquisa traçar predica<strong>do</strong>s típicos de ca<strong>da</strong> denominação de ONGs e conseqüentemente, que<br />

tipo de ativi<strong>da</strong>de se insere nessas denominações. Em meio às possibili<strong>da</strong>des de ativi<strong>da</strong>des nos<br />

espaços dessas instituições destacaremos a prática musical. A prática musical no contexto <strong>da</strong>s<br />

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2 OA N O S<br />

ONGs tem si<strong>do</strong> aceito como um recurso educativo bastante utiliza<strong>do</strong> por instituições sem fins<br />

lucrativos como meio de integração social, promoção de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, entre outros.<br />

O referencial teórico a respeito <strong>da</strong> prática musical em ONGs, fun<strong>da</strong>menta-se no<br />

entendimento de Kleber (2006), que em sua tese de Doutora<strong>do</strong> abor<strong>do</strong>u sobre a prática<br />

musical em ONGs, por meio de <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s de caso no contexto urbano brasileiro. Carvalho<br />

(2008) trata a expansão em to<strong>do</strong> território nacional de projetos sociais que têm nas linguagens<br />

artísticas o eixo fun<strong>da</strong>mental, a partir <strong>do</strong> qual estruturam suas ativi<strong>da</strong>des, e ain<strong>da</strong>, abor<strong>da</strong> a<br />

prática musical. Fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> nestes pensamentos cita<strong>do</strong>s, Kater (2004) trata a música e a<br />

educação como elementos de integração social, como produtos de construção humana, de cuja<br />

conjugação pode resultar uma ferramenta original de formação, capaz de promover tanto<br />

processos de conhecimento quanto de autoconhecimento, geralmente composto por crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes priva<strong>do</strong>s de seus direitos fun<strong>da</strong>mentais.<br />

Ain<strong>da</strong> mergulha<strong>do</strong> nessa conjuntura, encontra-se a essência desse estu<strong>do</strong>: A Prática<br />

Musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho no que diz respeito à caracterização como ativi<strong>da</strong>de<br />

de cunho assistencialista ou ci<strong>da</strong>dã. Essa temática se justifica por investigar uma instituição<br />

que possui uma importante função social para os indivíduos que dela são assisti<strong>do</strong>s, além<br />

disso, alarga investigações foca<strong>da</strong>s nas ativi<strong>da</strong>des assistencialistas e ci<strong>da</strong>dãs; poden<strong>do</strong> ain<strong>da</strong><br />

promover a elaboração de trabalhos que investiguem ambientes similares.<br />

Caracterização <strong>da</strong>s ONGs<br />

Ao longo <strong>do</strong>s anos, as ONGs assumiram posturas ou princípios distintos, que<br />

levaram as mesmas a se organizarem de maneiras diferentes, e, consequentemente, a<br />

receberem denominações diversas, dentre as quais destacamos as <strong>do</strong> tipo assistencialista,<br />

desenvolvimentista e ci<strong>da</strong>dã. Um desafio vivi<strong>do</strong> por essas organizações tem si<strong>do</strong> atender a<br />

deman<strong>da</strong> tão diversifica<strong>da</strong>, no que se refere a problemáticas sociais, visan<strong>do</strong>, sobretu<strong>do</strong>, a<br />

solução <strong>da</strong>s mesmas. Pelo simples senso comum é perceptível que o termo ci<strong>da</strong>dã vem <strong>da</strong><br />

palavra ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia significa “um status concedi<strong>do</strong> àqueles que são membros<br />

integrais de uma socie<strong>da</strong>de. To<strong>do</strong>s aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos<br />

direitos e obrigações pertinentes ao status” (MARSHALL, apud OLIVEIRA, 2003, p. 82).<br />

Contu<strong>do</strong>, trataremos em nossa pesquisa, ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia não apenas como o gozo <strong>do</strong>s<br />

direitos políticos, mas principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento social <strong>do</strong>s<br />

indivíduos. Desenvolvimento este, objetiva<strong>do</strong> e promovi<strong>do</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s ONGs,<br />

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denomina<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>dãs. As ONGs <strong>do</strong> tipo ci<strong>da</strong>dã, mais focaliza<strong>da</strong>s pela mídia, pelos projetos<br />

sociais e pelas associações, estabelecem um vínculo maior com o Esta<strong>do</strong>, uma vez que muitas<br />

de suas ativi<strong>da</strong>des são de responsabili<strong>da</strong>de deste. Elas objetivam, principalmente, a promoção<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e a garantia <strong>do</strong>s direitos sociais, assumin<strong>do</strong> um papel político complementar. De<br />

acor<strong>do</strong> com Pogrebinschi:<br />

Esse complemento ocorre através de ações efetivas, no que diz<br />

respeito à organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, pois nesse caso não está<br />

clara a diferença entre assistentes e assisti<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s os<br />

envolvi<strong>do</strong>s no processo são partes integrantes <strong>do</strong> mesmo contexto<br />

social, possibilitan<strong>do</strong> que os projetos sejam realistas e aten<strong>da</strong>m de<br />

forma comunitária garante que ação <strong>da</strong> organização se desenvolva<br />

segun<strong>do</strong> princípios democráticos de participação (POGREBINSCHI,<br />

2004 apud BARBOSA, 2007, p. 34).<br />

São nestas ONGs que observamos a crescente implantação <strong>da</strong> trajetória musical,<br />

como um meio de proporcionar a integração social e a consciência ci<strong>da</strong>dã. Este ensino está<br />

estreitamente relaciona<strong>do</strong> aos processos educacionais gerais desenvolvi<strong>do</strong>s no âmbito <strong>da</strong>s<br />

ONGs, particularmente a ci<strong>da</strong>dã, e suas peculiari<strong>da</strong>des vão determinar e caracterizar o próprio<br />

tipo de ONG na qual está inseri<strong>do</strong>. Contrapon<strong>do</strong>-se ao termo ci<strong>da</strong>dã, a nomenclatura<br />

assistencialista apresenta-se com um perfil consideravelmente distinto. Enquanto a expressão<br />

ci<strong>da</strong>dã tem si<strong>do</strong> sinônimo de práticas que visam à emancipação <strong>do</strong> sujeito, resultan<strong>do</strong> de uma<br />

expressiva independência individual. A terminologia assistencialismo tem si<strong>do</strong> sinônimo de<br />

ações que se configuram em dependência, caracterizam por uma acomo<strong>da</strong>ção por parte <strong>do</strong>s<br />

assisti<strong>do</strong>s para com os que promovem assistência. Essa relação de dependência impossibilita<br />

ain<strong>da</strong> que de maneira inconsciente que o sujeito adquira o status de ci<strong>da</strong>dão. De acor<strong>do</strong> com<br />

Barbosa (2007, p.34):<br />

Quan<strong>do</strong> as ONGs assumem um papel de estímulo afetivo, essas<br />

organizações agem de maneira assistencialista, poden<strong>do</strong> criar uma<br />

dependência real por parte <strong>do</strong>s assisti<strong>do</strong>s. Assim, ain<strong>da</strong> que essas<br />

instituições se assumam como ci<strong>da</strong>dãs, suas condutas assistencialistas<br />

afastam-na <strong>do</strong> fun<strong>da</strong>mento democrático de participação (BARBOSA,<br />

2007, p. 34).<br />

Entende-se pelo termo democrático de participação, ou democracia participativa um<br />

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modelo participativo que pretende existência de efetivos mecanismos de controle <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de civil sob a administração pública. A circunstância de dependência pode ter si<strong>do</strong><br />

reflexo <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Paternalistas, preocupação vivi<strong>da</strong> até nos dias atuais.<br />

O esta<strong>do</strong> de bem estar social, entre outros avanços conquista<strong>do</strong>s no<br />

século XX, passou a ser considera<strong>do</strong> um “problema”, sen<strong>do</strong> inclusive<br />

aponta<strong>do</strong> como “causa” de muitos <strong>do</strong>s nossos males. Segun<strong>do</strong> essa<br />

ótica, foram os “gastos generosos” <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s de Bem Estar que<br />

causaram os déficits fiscais <strong>do</strong>s países que a<strong>do</strong>taram; e foram esses<br />

Esta<strong>do</strong>s “paternalistas” que estimularam o desemprego e alimentaram<br />

a “preguiça”, impedin<strong>do</strong> uma “saudável” competitivi<strong>da</strong>de entre<br />

pessoas (SOARES, 2004, p. 1-2).<br />

Segun<strong>do</strong> Barbosa (2007, pg. 35) “ações emergenciais não devem ser confundi<strong>da</strong>s<br />

com políticas sociais de restituição <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de humana”, pois visa apenas minimizar uma<br />

circunstância de carência temporária. Tal benefício consiste geralmente em auxilio material<br />

ou financeiro volta<strong>do</strong> a suprir uma necessi<strong>da</strong>de imediata como alimentação, saúde, habitação,<br />

etc. Essa prática origina um vínculo de dependência entre quem tem o poder <strong>do</strong>s serviços<br />

sociais e seus usuários, estabelecen<strong>do</strong> neste último um papel de acomo<strong>da</strong>ção. Contu<strong>do</strong>, a<br />

assistência temporária, característica principal desse tipo de instituição, não as torna inferiores<br />

as ação as ONGs <strong>do</strong> tipo ci<strong>da</strong>dã, mesmo porque, muitas vezes se faz importante suprir<br />

necessi<strong>da</strong>des básicas de comuni<strong>da</strong>des necessita<strong>da</strong>s.<br />

A prática educativa desenvolvi<strong>da</strong> nas ONGs pode ser entendi<strong>da</strong> como um meio de<br />

socializar a educação. Mais uma característica <strong>da</strong> relação <strong>da</strong>s ONGs com a educação “era o<br />

fato de que tais processos educacionais eram absolutamente desliga<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s processos<br />

educativos oficiais, ou seja, <strong>do</strong>s sistemas públicos de ensino” (Cadernos de Pesquisa, nº 112,<br />

2001 pg. 76). A prática educativa era ao mesmo tempo um ato de organização e mobilização<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. A preocupação <strong>da</strong>s ONGs com a educação como um to<strong>do</strong> é uma temática<br />

recente. A inquietação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de por uma educação democratiza<strong>da</strong> pode ter impulsiona<strong>do</strong><br />

o surgimento dessas instituições na socie<strong>da</strong>de. “As ONGs brasileiras e seu envolvimento com<br />

o campo <strong>da</strong> educação não é novo. Alias esse envolvimento está na razão mesma <strong>do</strong> seu<br />

nascimento”. (OLIVEIRA, pg. 75).<br />

Dentre esses trabalhos de cunho educacional destacamos: A Prática Musical. Sen<strong>do</strong> a<br />

música uma <strong>da</strong>s artes que tem sua parcela de contribuição no sucesso na educação de crianças<br />

e a<strong>do</strong>lescentes.<br />

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Nesse senti<strong>do</strong>, Ana Mae Barbosa (2000, p. 14), em entrevista que trata<br />

de alternativas na área de educação para o século XXI, destaca o<br />

sucesso que algumas ONGs estão obten<strong>do</strong> na educação de crianças em<br />

situação de pobreza, reconhece o papel de relevo que as artes vêm<br />

desempenhan<strong>do</strong> nestes empreendimentos (CARVALHO, 2008,<br />

pg.31).<br />

A presença de práticas educacionais, no caso, a educação musical, nas instituições<br />

sem fins lucrativos na socie<strong>da</strong>de civil se justifica pela importância que a educação tem para a<br />

vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

Fun<strong>da</strong>mentação teórica<br />

A prática musical, em nossa socie<strong>da</strong>de, é um fenômeno observa<strong>do</strong> em diferentes<br />

contextos, tanto em instituições públicas e particulares, quanto em organizações filantrópicas.<br />

A importância que a música tem para a vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> ser humano tem impulsiona<strong>do</strong>, junto com<br />

outros fatores, para a proliferação <strong>da</strong> prática musical.<br />

São inúmeros os projetos de ações sociais existentes no âmbito dessas organizações,<br />

e uma significativa porcentagem deles utilizam a prática musical, como recurso para atingir<br />

seus objetivos, sobretu<strong>do</strong>, a Integração social e a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Em muitos <strong>do</strong>s projetos de ações sociais existentes vemos a música<br />

presente, quase sempre, entretanto, na condição prática de elemento de<br />

integração social, o que alias ela proporciona com excelência e de<br />

maneira própria. (KATER, 2004, 44).<br />

Percebe-se, então, que as práticas musicais desenvolvi<strong>da</strong>s em instituições<br />

filantrópicas, como no nosso caso a Casa <strong>do</strong> Caminho, podem vir a desempenhar um<br />

importante papel nos programas por ela oferta<strong>do</strong>s.<br />

No entanto, Kleber (2006, p. 122) chama nossa atenção para o fato de que:<br />

O processo pe<strong>da</strong>gógico-musical nas ONGs pode ser pensa<strong>do</strong> como um<br />

fenômeno social envolven<strong>do</strong> essas diferentes dimensões e contextos e,<br />

portanto, um fato social total, não se reduzin<strong>do</strong> a um processo de<br />

ensino e aprendizagem musical, ain<strong>da</strong> que considera<strong>do</strong> na sua<br />

multiplici<strong>da</strong>de (KLEBER, 2006, p.122).<br />

Assim sen<strong>do</strong>, a prática musical desenvolvi<strong>da</strong> em ONGs deve estar inteiramente<br />

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relaciona<strong>da</strong> às propostas ou objetivos gerais <strong>da</strong> própria organização. Dessa forma, a<br />

instituição <strong>do</strong> tipo assistencialista é aquela que muitas vezes se restringe a questões sociais no<br />

que diz respeito à sobrevivência, não inserin<strong>do</strong> o indivíduo na socie<strong>da</strong>de, mas simplesmente o<br />

financia. Porém, ONGs ci<strong>da</strong>dãs não funcionam dessa forma, esse tipo de organização está<br />

interessa<strong>da</strong> em promover transformação social, mu<strong>da</strong>nça de valores, vi<strong>da</strong> digna, etc.<br />

Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho<br />

Essa Fun<strong>da</strong>ção localiza-se no município de Mossoró- RN. Foi instituí<strong>da</strong> em oito de<br />

Abril de 2000 por um grupo de voluntários preocupa<strong>do</strong>s em proporcionar, aos residentes <strong>do</strong>s<br />

bairros Barrocas e Cajazeiras a promoção sócio-econômica-cultural, ou seja, desenvolvimento<br />

<strong>do</strong>s indivíduos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em vários aspectos de suas vi<strong>da</strong>s, totalizan<strong>do</strong> hoje 140 famílias<br />

contempla<strong>da</strong>s com as ações <strong>do</strong> Projeto Educar.<br />

O Projeto Educar, em sua estrutura básica de ação, é constituí<strong>do</strong> por 7 (sete)<br />

programas, objetivan<strong>do</strong> contemplar a família como um to<strong>do</strong> a partir de uma forma<br />

segmenta<strong>da</strong> de estipulação e cumprimento de metas, a fim de que se atinja a totali<strong>da</strong>de a partir<br />

<strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong>des. As metas (programas) estão classifica<strong>da</strong>s ora por faixa etária (crianças,<br />

jovens e adultos), ora por segmentos (pais, gestantes e i<strong>do</strong>sos).<br />

Dentre os sete programas <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> instituição destacamos O Programa Ci<strong>da</strong>dão<br />

cuja finali<strong>da</strong>de é promover a afirmação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, estruturan<strong>do</strong> módulos de alfabetização<br />

de jovens e adultos, acompanhamento e reforço escolar para crianças e jovens, através <strong>da</strong><br />

oferta de cursos diversos de capacitação (inglês, informática, pré-vestibular, garçom, biscuit,<br />

ponto cruz, culinária, artesanato, capoeira, literatura, cultura e arte) e de realização de<br />

palestras e seminários sobre direitos/deveres humanos e sociais volta<strong>do</strong>s ao desenvolvimento<br />

ético e moral <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão. É nesse programa que está incluí<strong>da</strong> a prática musical com o Grupo<br />

<strong>Regional</strong> Novos Caminhos que é o objeto de estu<strong>do</strong>. O público-alvo são os participantes <strong>do</strong><br />

Projeto Educar, indistintamente de faixa etária, cujo atendimento se <strong>da</strong>rá a critério <strong>da</strong><br />

deman<strong>da</strong>.<br />

Benefícios <strong>da</strong> Prática Musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho<br />

As aulas de música eram feitas dentro <strong>do</strong> repertório escolhi<strong>do</strong> para as apresentações<br />

<strong>do</strong> grupo, no geral músicas regionais: xote, xaxa<strong>do</strong>, marcha junina, etc. A faixa etária variava<br />

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entre 8 a 13 anos e tocam flauta <strong>do</strong>ce ou percussão.<br />

Com alunos dessa faixa etária aproxima<strong>da</strong>mente e utilizan<strong>do</strong> a flauta <strong>do</strong>ce e<br />

percussão buscou-se formar um grupo de flauta e percussão. Dentre várias coisas que pude<br />

observar teve uma que me chamou à atenção, o fato de que os alunos mais comporta<strong>do</strong>s,<br />

calmos, com boas notas e bons comportamentos na escola e na Fun<strong>da</strong>ção, escolheram tocar<br />

flauta <strong>do</strong>ce e os mais teimosos, agita<strong>do</strong>s, que não <strong>da</strong>vam muito valor aos estu<strong>do</strong>s, não se<br />

comportavam bem na escola e na Fun<strong>da</strong>ção escolheram tocar percussão.<br />

A oportuni<strong>da</strong>de de aprender um instrumento gera na criança ou no a<strong>do</strong>lescente<br />

perspectiva de vi<strong>da</strong>. A criança reconhece que tem uma habili<strong>da</strong>de, reconhece que pode ser<br />

admira<strong>do</strong> por aquilo que faz e o resulta<strong>do</strong> é seu reconhecimento pessoal. O fato de a prática<br />

musical ocorrer de forma coletiva às crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção é envolvi<strong>do</strong> por<br />

sentimentos de pertencimento, visibili<strong>da</strong>de; se reconhece como um elemento importante<br />

dentro <strong>do</strong> grupo, etc.<br />

O benefício que a prática musical produz na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s caracteriza-se como<br />

uma prática ci<strong>da</strong>dã, uma ativi<strong>da</strong>de que promove mu<strong>da</strong>nça social, auto-estima, consciência<br />

crítica, conhecimento <strong>do</strong>s direitos, reconstrução pessoal, transformação social, transformação<br />

de valores, construção de identi<strong>da</strong>de, não pode se caracterizar como assistencialista.<br />

Para mensurarmos com mais precisão que possíveis resulta<strong>do</strong>s positivos a prática<br />

musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho poderia promover, observamos Lima (2009), que em<br />

sua pesquisa estabeleceu quatro categorias, ou seja, quatro expressões para representar as<br />

funções sociais <strong>da</strong> educação musical em ONGs: 1) Mu<strong>da</strong>nça Social, 2) Construção de<br />

Identi<strong>da</strong>de, 3) Consciência Política e 4) Conhecimento Musical. Acreditamos que são na<br />

concretização dessas categorias na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> indivíduo, que ocorre a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Prática<br />

Musical como uma ativi<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã. E pudemos constatar que tal consoli<strong>da</strong>ção tem si<strong>do</strong><br />

concretiza<strong>da</strong> na trajetória <strong>do</strong> ensino de música na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho e<br />

consequentemente o qualifican<strong>do</strong> como uma ativi<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã.<br />

Apesar <strong>da</strong> prática musical na Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho possuir um caráter ci<strong>da</strong>dã,<br />

pelo desenvolvimento que proporciona aos educan<strong>do</strong>s, algumas ações que rodeiam<br />

indiretamente a prática musical podem se configurar ações de essência assistencialistas, ou<br />

emergenciais: as assistências <strong>da</strong><strong>da</strong>s através <strong>da</strong> Petrobrás <strong>do</strong>an<strong>do</strong> os instrumentos musicais, o<br />

lanche que é servi<strong>do</strong> no intervalo entre as aulas, o far<strong>da</strong>mento <strong>da</strong><strong>do</strong> para as aulas, a aju<strong>da</strong> de<br />

custo quan<strong>do</strong> forem se apresentar, ou até mesmo, o caderno, o lápis, a borracha, entre outros,<br />

se configura como tipo de assistência. Podemos confirmar tal pensamento relembran<strong>do</strong> o<br />

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2 OA N O S<br />

entendimento a respeito de ações assistencialistas ou emergenciais exposto no primeiro<br />

capitulo, no qual entende assistencialismo como ativi<strong>da</strong>des que assumem um papel de<br />

estímulo afetivo, poden<strong>do</strong> criar uma dependência; e emergenciais que visam apenas<br />

minimizar uma circunstancia de carência temporária.<br />

Considerações Finais<br />

Na trajetória dessa pesquisa buscou-se compreender a Prática Musical na Fun<strong>da</strong>ção<br />

Casa <strong>do</strong> Caminho no que se refere ao seu caráter assistencialista ou ci<strong>da</strong>dã, consideran<strong>do</strong> que<br />

é a contribuição que o assisti<strong>do</strong> recebe que a caracteriza como uma ativi<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã ou<br />

assistencialista. Consideramos então a Prática Musical como uma ativi<strong>da</strong>de ci<strong>da</strong>dã haja vista,<br />

contribuir para o desenvolvimento <strong>do</strong> assisti<strong>do</strong> na socie<strong>da</strong>de, não gerar indivíduos<br />

acomo<strong>da</strong><strong>do</strong>s nem tão pouco dependentes. Tomamos como fun<strong>da</strong>mento para investigar a nossa<br />

problemática não apenas a expressão ONG ci<strong>da</strong>dã ou assistencialista, mas também, atentamos<br />

à idéia sugeri<strong>da</strong> pelas próprias terminologias ci<strong>da</strong>dãs que nos remetem à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, e<br />

assistencialismo, que nos remete a práticas que se caracterizam por promoverem dependência<br />

entre assisti<strong>do</strong>s e instituição.<br />

Um fato importante no decurso desta monografia consiste em atestar que a Prática<br />

Musical independente <strong>do</strong> contexto emprega<strong>do</strong>, exerce uma postura ci<strong>da</strong>dã, haja vista a<br />

influência positiva que a música provoca na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s que dela se apropria. Pude-se ain<strong>da</strong><br />

compreender que uma ONG não necessariamente, se rotula como ci<strong>da</strong>dã ou assistencialista já<br />

que a mesma pode simultaneamente promover ações de caráter tanto assistencialista como<br />

ci<strong>da</strong>dã. Um exemplo seria a instituição foco de nossa pesquisa que ao mesmo tempo oferece<br />

ativi<strong>da</strong>des tipicamente assistencialistas como a distribuição de sopa, para as famílias <strong>do</strong><br />

bairro; em contraparti<strong>da</strong> há cinco anos promove ativi<strong>da</strong>de musical que pelas contribuições<br />

bio-psico-sociais promove inegavelmente o desenvolvimento social <strong>do</strong>s assisti<strong>do</strong>s.<br />

Torna-se evidente o caráter ci<strong>da</strong>dão que a Prática Musical exerce no contexto <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção. Isto se confirma, ao observar alunos que começaram a estu<strong>da</strong>r música e hoje<br />

ensinam na própria instituição. Dentre eles destacamos <strong>do</strong>is jovens que hoje são alunos <strong>do</strong><br />

Conservatório de Música D’alva Stela Nogueira Freire, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Norte - UERN, localiza<strong>do</strong> no município de Mossoró/RN. Não se esquecen<strong>do</strong> <strong>da</strong>s<br />

mu<strong>da</strong>nças de hábitos, valores, disciplina, perspectivas de vi<strong>da</strong>, auto-estima, interação social,<br />

etc., promovi<strong>do</strong>s pela Prática Musical.<br />

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Espera-se ter consegui<strong>do</strong> realizar de maneira satisfatória, lógica e coerente o proposto<br />

no início desta pesquisa: investigar a prática musical na Instituição em estu<strong>do</strong>,<br />

compreenden<strong>do</strong> seu caráter assistencialista ou ci<strong>da</strong>dão. Desejamos que os assuntos aqui<br />

expostos tenham forneci<strong>do</strong> ao leitor informações necessárias para que as conclusões sejam<br />

corrobora<strong>da</strong>s pelos mesmos quan<strong>do</strong> apreenderem a essência desse trabalho. Certifique-se a<br />

importância social <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Casa <strong>do</strong> Caminho no contexto social em que ela está inseri<strong>da</strong>,<br />

e sua imensurável contribuição na promoção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>do</strong>s seus assisti<strong>do</strong>s.<br />

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Referências<br />

BARBOSA, Ie<strong>da</strong> Maria <strong>da</strong> Silva Pinto. Socie<strong>da</strong>de civil brasileira: ação, articulação e<br />

mobilização. Revista <strong>do</strong> Terceiro Setor, 2007, p. 34-38. Referencial Teórico<br />

CARVALHO, Lívia Margues. Quem ensina artes nas ONGs? São Paulo: Cortez, 2008.<br />

Brasília/DF: Instituto de Ensino Superior de Brasília, IESB, Relações Internacionais, 2005.<br />

KATER, Carlos. O que podemos esperar <strong>da</strong> educação musical em projetos de ação sociais.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, v. 10, p. 43-51, 2004.<br />

KLEBER, Magali. A prática de educação musical em ONG’s: <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s de caso no<br />

contexto urbano brasileiro. Tese (<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>) Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Instituto de Artes, Departamento de música. Porto Alegre, 2006.<br />

LIMA, Gisele Ferreira. As funções <strong>da</strong> educação musical em ONGs. Monografia (Licenciatura<br />

em Música). Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN. Facul<strong>da</strong>de de Letras<br />

e Artes – FALA. Mossoró, RN, 2009.<br />

OLIVEIRA, Al<strong>da</strong>. Atuação profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical: terceiro setor. Revista <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 8, p. 93-99, 2003.<br />

OLIVEIRA, Anna Cynthia. As organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e as ONGs de educação.<br />

Cadernos de pesquisa, nº 112, 2001, pg. 61-83.<br />

SOARES, Laura Tavares. Globalização e o papel <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> na proteção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. In: II<br />

Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária: Cal<strong>da</strong>s Novas/GO, novembro de 2004.<br />

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Práticas e experiências no terceiro setor: ativi<strong>da</strong>des musicais no Grupo<br />

Mulheres em Ação<br />

1<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

amjnader@gmail.com<br />

Evandro Hallyson Dantas Pereira 2<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

hallyson<strong>da</strong>ntase@hotmail.com<br />

José Magnal<strong>do</strong> de Moura Araújo 3<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

magnal<strong>do</strong>araujo@live.com<br />

Resumo: A utilização <strong>da</strong> música no trabalho de inserção social ou no desenvolvimento<br />

integral <strong>do</strong> ser humano tem se apresenta<strong>do</strong> como uma importante e eficiente ferramenta de<br />

trabalho em espaços <strong>do</strong> terceiro setor. Por esta ótica, o artigo aqui apresenta<strong>do</strong> consiste em<br />

um relato de experiência <strong>da</strong> oficina de Música realiza<strong>da</strong> no PDA Margari<strong>da</strong> Alves 4 , no Bairro<br />

Dom Jaime Câmara em Mossoró. O programa nasceu <strong>da</strong> parceria entre a Visão Mundial 5 com<br />

a enti<strong>da</strong>de executora: Grupo Mulheres em Ação 6 , e tem como um de seus objetivos: oferecer<br />

ativi<strong>da</strong>des de Arte Educação para crianças e a<strong>do</strong>lescentes, residentes nas 26 comuni<strong>da</strong>des<br />

atendi<strong>da</strong>s pelo programa. A oficina de música é uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s e tem como<br />

finali<strong>da</strong>de ser uma ferramenta de desenvolvimento social. Sen<strong>do</strong> o responsável pela parte<br />

musical dessa ONG, comento neste trabalho especificamente a prática em conjunto de flauta<strong>do</strong>ce,<br />

percussão e violão. Realizan<strong>do</strong> este trabalho há mais de um ano, foi possível perceber<br />

que o trabalho musical contextualiza<strong>do</strong> à vivência <strong>do</strong>s alunos pode auxiliar tanto na sua<br />

formação crítica, enriquecen<strong>do</strong> seus parâmetros de análise, quanto na sua inserção social<br />

através de práticas musicais coletivas e apresentações.<br />

Palavras-chave: terceiro setor, educação musical.<br />

Introdução<br />

1 Prof. Ms. <strong>do</strong> Curso de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. Orienta<strong>do</strong>r <strong>da</strong> pesquisa.<br />

2 Graduan<strong>do</strong> em Música pela Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN.<br />

3 Graduan<strong>do</strong> em Música pela Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte – UERN.<br />

4 Programa de Desenvolvimento de área: meto<strong>do</strong>logia de trabalho utiliza<strong>da</strong> pela Visão Mundial em mais de 100<br />

países à tecnologia PDA fortalece nas comuni<strong>da</strong>des as noções de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, mobilização comunitária e defesa de<br />

direitos, com foco nas áreas de educação, saúde e segurança alimentar, desenvolvimento econômico,<br />

agroecologia, organização comunitária, promoção de justiça, formação sociopolítica e compromisso cristão,<br />

além de socorro e reabilitação em situações de emergência, visan<strong>do</strong> o Desenvolvimento Transforma<strong>do</strong>r<br />

Sustentável.<br />

5 A Visão Mundial é uma organização não governamental cristã, brasileira, de desenvolvimento, promoção de<br />

justiça e assistência, que, combaten<strong>do</strong> as causas <strong>da</strong> pobreza, trabalha com crianças, famílias e comuni<strong>da</strong>des a fim<br />

de que alcancem seu potencial pleno. Dedica-se a trabalhar la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> com as populações mais vulneráveis e a<br />

servir a to<strong>da</strong>s as pessoas, sem distinção de religião, raça, etnia ou gênero.<br />

6 Enti<strong>da</strong>de Feminista cria<strong>da</strong> desde 1994 sem fins lucrativos. Com objetivo de trabalhar com Mulheres, Crianças e<br />

A<strong>do</strong>lescentes em situação de risco.<br />

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As diversas práticas que envolvem o processo de ensino e aprendizagem de música<br />

no terceiro setor, especificamente em ONGs, vêm sen<strong>do</strong> fortemente debati<strong>da</strong>s na área de<br />

educação musical. As ativi<strong>da</strong>des musicais, nesses espaços, muitas vezes além de corresponder<br />

a objetivos musicais devem ain<strong>da</strong> contribuir para metas estabeleci<strong>da</strong>s pela enti<strong>da</strong>de, neste<br />

caso propiciar ativi<strong>da</strong>des de inserção social, principalmente no merca<strong>do</strong> de trabalho, bem<br />

como desenvolver um olhar crítico a respeito <strong>da</strong> situação em que vivem (KLEBER, 2006;<br />

WILLE, 2005; OLIVEIRA, 2003).<br />

Por conceber a música como uma ferramenta de transformação social e de<br />

desenvolvimento cognitivo, muitas ONGs possuem práticas musicais plurais, com o foco no<br />

desenvolvimento de ci<strong>da</strong>dãos mais prepara<strong>do</strong>s e críticos para as vivências no mun<strong>do</strong><br />

contemporâneo e não apenas musicaliza<strong>do</strong>s para execução de instrumentos e performances<br />

artísticas, o que torna esse processo mais complexo. Kleber (2008) a respeito desta questão<br />

apresenta que:<br />

De maneira geral, as ONGs são campos emergentes de novos perfis<br />

profissionais e caracterizam-se por serem organizações que trabalham com<br />

conteú<strong>do</strong>s flexíveis, ancora<strong>do</strong>s em deman<strong>da</strong>s emergenciais <strong>do</strong>s sujeitos e de<br />

suas comuni<strong>da</strong>des. Por serem voláteis, enquanto instituição, as ações<br />

socioculturais são constantemente redefini<strong>da</strong>s, próximas às deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> prática. Assim, a cultura que permeia o trabalho sócio-educativo está<br />

mais próximo <strong>do</strong>s atores sociais envolvi<strong>do</strong>s, o que se constitui em um fator<br />

significativo na construção <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des individuais e coletivas<br />

(KLEBER, 2008, p. 8).<br />

Neste senti<strong>do</strong>, há a necessi<strong>da</strong>de de pensar novas práticas pe<strong>da</strong>gógicas musicais para o<br />

ensino em contextos não formais, pois ain<strong>da</strong> existem tabus a serem quebra<strong>do</strong>s entre<br />

educa<strong>do</strong>res e organizações que trabalham com oficina de música a respeito de quais estilos<br />

e/ou gêneros musicais devem ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s ou não nos repertórios, quais letras devem ser<br />

canta<strong>da</strong>s, e outras diversas questões. Diante dessa discussão, os principais envolvi<strong>do</strong>s nessa<br />

relação, as crianças e jovens mostram-se ca<strong>da</strong> vez mais imponentes no que diz respeito à<br />

escolha de repertório e as formas de ensino e aprendizagem, o que leva muitos educa<strong>do</strong>res a<br />

levar em consideração músicas que fazem parte <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong>s jovens e que atraem e<br />

contribui com a freqüência e a participação nas aulas de música. Segun<strong>do</strong> Penna (2008):<br />

Ultrapassar a oposição entre a música popular e erudita e suas formas de<br />

ensino-aprendizagem, em prol de uma concepção ampla de música que<br />

considere to<strong>da</strong> a multiplici<strong>da</strong>de de manifestações como significativa, é<br />

condição indispensável para um projeto de democratização no acesso à arte e<br />

à cultura (PENNA, 2008, p.63).<br />

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Toman<strong>do</strong> como base as dificul<strong>da</strong>des ain<strong>da</strong> enfrenta<strong>da</strong>s no ensino e aprendizagem de<br />

música no contexto não formal este artigo aqui apresenta<strong>do</strong> tem por objetivo discutir as<br />

principais estratégias, processos e situações em que ocorre o aprendiza<strong>do</strong> musical no Grupo<br />

Mulheres em Ação, em específico no grupo Som <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O Grupo Mulheres em Ação é uma organização feminista cria<strong>da</strong> no ano de 1994,<br />

instituí<strong>da</strong> legalmente em 2002, que tem em sua missão ser instrumento de luta, mobilização e<br />

organização <strong>da</strong>s mulheres no bairro Nova Vi<strong>da</strong> e no município de Mossoró. Sua trajetória é<br />

marca<strong>da</strong> pela coragem e criativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quelas que integram o enfrentamento <strong>da</strong>s várias<br />

formas de opressão e <strong>do</strong>minação que marcam a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres em nossa ci<strong>da</strong>de.<br />

O Grupo além de desenvolver ativi<strong>da</strong>des no senti<strong>do</strong> de promover a consciência social<br />

valorizan<strong>do</strong> o papel <strong>da</strong> mulher dentro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de desenvolve ativi<strong>da</strong>des de arte-educação<br />

em Parceria com a Visão Mundial através <strong>do</strong> PDA, e nesse contexto a música é utiliza<strong>da</strong><br />

como uma <strong>da</strong>s principais ferramentas.<br />

As práticas musicais na ONG Mulheres em Ação<br />

Ten<strong>do</strong> como base os conhecimentos já adquiri<strong>do</strong>s pelos a<strong>do</strong>lescentes em seu<br />

cotidiano e em outros grupos como o pau e lata 7 e o pifarinha 8 e as suas necessi<strong>da</strong>des de<br />

embasamento teórico musical, as ativi<strong>da</strong>des de música no Grupo Mulheres em Ação buscam<br />

orientá-los na sistematização <strong>do</strong>s conhecimentos já adquiri<strong>do</strong>s, trabalhan<strong>do</strong> em consonância<br />

com o desenvolvimento de sua educação global, discutin<strong>do</strong> temáticas sociais relaciona<strong>da</strong>s às<br />

suas vivências, como violência, sexuali<strong>da</strong>de, direitos <strong>da</strong>s crianças e a<strong>do</strong>lescentes e diversos<br />

outros temas transversais que circun<strong>da</strong>m a vi<strong>da</strong> de to<strong>do</strong>s e que contribuem com seu<br />

desenvolvimento ci<strong>da</strong>dão.<br />

As oficinas de música são desenvolvi<strong>da</strong>s semanalmente no horário intermediário de<br />

17h30min as 19h00min na sede <strong>da</strong> COOPERMUPS 9 , dividi<strong>da</strong>s em ativi<strong>da</strong>des de flauta-<strong>do</strong>ce,<br />

percussão e violão, ten<strong>do</strong> como público alvo jovens <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de Nova vi<strong>da</strong> e adjacentes.<br />

Não existem pré-requisitos musicais para se inscrever nas ativi<strong>da</strong>des de música, mas, para<br />

7 O Pau e Lata é um projeto de educação musical que teve início em 1996 na ci<strong>da</strong>de de Maceió/AL, há 14 anos<br />

desenvolve vivências de confecção de instrumentos de sucata e ban<strong>da</strong> rítmica em parceria com instituições<br />

públicas, priva<strong>da</strong>s e filantrópicas, realizan<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des sócio-educativas com crianças, jovens e adultos em<br />

municípios <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte e Alagoas.<br />

8<br />

Ban<strong>da</strong> de Pífaro cria<strong>da</strong> em 2005 por a<strong>do</strong>lescentes Inscritos no PDA, com o intuito de resgatar a música<br />

folclórica Brasileira.<br />

9 Cooperativa de Mulheres Presta<strong>do</strong>ras de Serviço.<br />

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participar <strong>do</strong> projeto devem estar obrigatoriamente matricula<strong>do</strong>s na escola de ensino regular e<br />

possua algum interesse de participar <strong>da</strong>s oficinas.<br />

Como forma de integrar os a<strong>do</strong>lescentes que já possuíam habili<strong>da</strong>des suficientes para<br />

a performance musical, foi cria<strong>do</strong> o grupo de música Som <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> 10 . Dedica<strong>do</strong> a<br />

apresentações públicas, o grupo possui seis meses de existência e conta com um número de 15<br />

jovens, entre eles alunos de violão, flauta <strong>do</strong>ce e percussão.<br />

As situações de ensino e aprendizagem no grupo de música ocorrem tanto de forma<br />

sistematiza<strong>da</strong>s (pelo educa<strong>do</strong>r) abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> conhecimentos teóricos necessários a performance<br />

musical, como também em situações de ensino coletivo, no qual os mais experientes orientam<br />

os menos experientes, e como incentivo ao protagonismo juvenil 11 alguns jovens são<br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s a auxiliar o educa<strong>do</strong>r no planejamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e na execução <strong>da</strong>s oficinas,<br />

para que, a partir dessa prática, eles possam se tornar multiplica<strong>do</strong>res de conhecimento.<br />

Os repertórios estão diretamente relaciona<strong>do</strong>s às temáticas sociais abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas<br />

oficinas e os conteú<strong>do</strong>s fazem parte <strong>da</strong>s vivências musicais deles. Os arranjos <strong>da</strong>s músicas são<br />

construí<strong>do</strong>s coletivamente, em um primeiro momento são analisa<strong>do</strong>s auditivamente os<br />

arranjos originais e posteriormente as possibili<strong>da</strong>des musicais de arranjo começam a ser<br />

sugeri<strong>da</strong>s pelo educa<strong>do</strong>r e pelos membros, e essa construção é discuti<strong>da</strong> em grupo para<br />

analisar qual a melhor interpretação de determina<strong>da</strong> música.<br />

As principais práticas de ensino ocorrem por imitação e transmissão oral. O educa<strong>do</strong>r<br />

executa o ritmo no instrumento e os demais repetem. Esse processo é desenvolvi<strong>do</strong> nas três<br />

oficinas. A análise auditiva <strong>da</strong>s músicas aju<strong>da</strong> bastante na criação <strong>do</strong>s arranjos e na<br />

assimilação <strong>da</strong>s músicas e, de acor<strong>do</strong> com as dificul<strong>da</strong>des motoras de como executar o<br />

instrumento e/ou dúvi<strong>da</strong>s recorrentes a teoria musical, na medi<strong>da</strong> em que vão surgin<strong>do</strong>, o<br />

educa<strong>do</strong>r vai orienta<strong>do</strong> o grupo abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s necessários para assimilação,<br />

executan<strong>do</strong> jogos musicais, práticas de exercícios, objetivan<strong>do</strong> um melhor resulta<strong>do</strong> na prática<br />

musical.<br />

Como forma de divulgar as ações <strong>do</strong> Grupo Mulheres em Ação uma vez ao mês é<br />

realiza<strong>da</strong> a Feira de Economia Solidária 12 , espaço dedica<strong>do</strong> a apresentação e performance <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de flauta, percussão e violão, onde to<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s<br />

10 Grupo cria<strong>do</strong> com os alunos mais desenvolvi<strong>do</strong>s musicalmente <strong>da</strong>s três oficinas (flauta <strong>do</strong>ce, violão e<br />

percussão).<br />

11 Quan<strong>do</strong> me refiro ao termo protagonismo juvenil, enfatizo o indivíduo como responsável por seu crescimento<br />

intelectual, social, afetivo. Responsável por suas decisões e ações.<br />

12 Evento promovi<strong>do</strong> uma vez ao mês pelo Grupo Mulheres em Ação com intuito de comercializar os produtos<br />

<strong>da</strong> COOPERMUPS e também divulgar as ações <strong>do</strong> Grupo Mulheres em ação em Parceria com a Visão Mundial.<br />

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durante um mês de oficina é apresenta<strong>do</strong> como produto. Ten<strong>do</strong> está mesma visão, outras<br />

possibili<strong>da</strong>des de apresentações <strong>do</strong>s produtos musicais foram cria<strong>da</strong>s, as turnês juninas e<br />

natalinas percorren<strong>do</strong> 12 comuni<strong>da</strong>des rurais e urbanas atendi<strong>da</strong>s pelo programa onde os<br />

jovens apresentam músicas dedica<strong>da</strong>s a essas <strong>da</strong>tas comemorativas e parte <strong>do</strong> seu repertório já<br />

construí<strong>do</strong> de samba-reggae, funk e baião a outros jovens que não tem acesso a esses gêneros<br />

<strong>da</strong> música.<br />

Considerações Finais<br />

O terceiro setor tem se desenvolvi<strong>do</strong> de forma considerável, não somente em número,<br />

mas, em ativi<strong>da</strong>des artístico-culturais que, juntamente com outros objetivos, buscam sanar<br />

problemas advin<strong>do</strong>s de um sistema público que não exerce suas ativi<strong>da</strong>des de forma a atender<br />

as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Percebe-se o uso <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de música como ferramenta de inclusão social. Contu<strong>do</strong>,<br />

essas ativi<strong>da</strong>des artísticas estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s com um novo perfil, pois os<br />

profissionais que atuam nessa área estão ca<strong>da</strong> vez mais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos no senti<strong>do</strong> de atender as<br />

necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quela reali<strong>da</strong>de, buscan<strong>do</strong> maneiras de desenvolver o trabalho de forma que os<br />

participantes sejam estimula<strong>do</strong>s a sempre participarem e contribuírem com o crescimento<br />

cultural local quanto pessoal.<br />

Fazen<strong>do</strong> referência a essas afirmações, podemos explanar os resulta<strong>do</strong>s prévios <strong>da</strong>s<br />

oficinas de flauta <strong>do</strong>ce, violão, percussão e o Grupo Som <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>, aos quais temos relatos <strong>do</strong>s<br />

alunos mostran<strong>do</strong> qual a real importância dessas ativi<strong>da</strong>des em suas vi<strong>da</strong>s.<br />

Pois, como o projeto visa não somente a construção <strong>do</strong> saber musical, busca fomentar<br />

a construção <strong>do</strong> saber social, onde esses jovens tenham perspectivas de vi<strong>da</strong> e profissional.<br />

No que diz respeito às ativi<strong>da</strong>des musicais, é percebi<strong>do</strong> um resulta<strong>do</strong> significativo,<br />

verifican<strong>do</strong> que os objetivos <strong>do</strong> projeto estão sen<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>s. Esse resulta<strong>do</strong> é verifica<strong>do</strong> e<br />

quantiza<strong>do</strong> no momento <strong>da</strong>s apresentações musicais, seja na Feira de Economia Solidária, em<br />

outros eventos <strong>da</strong> própria instituição ou até mesmo em apresentações que são desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

por meio de pedi<strong>do</strong>s de outras Instituições.<br />

Em relatos colhi<strong>do</strong>s pelo professor <strong>da</strong>s três mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, é notória a satisfação por<br />

parte <strong>do</strong>s alunos. Em uma entrevista feita com eles, selecionamos apenas uma <strong>da</strong>s perguntas<br />

feita para os alunos: o que vocês acham <strong>da</strong> oficina de música?<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Um <strong>do</strong>s alunos aponta que “a oficina é muito legal e de quali<strong>da</strong>de, conseguimos<br />

aproveitar o bastante dela”. Outro diz o seguinte: “conseguimos sempre revisar os assuntos<br />

que estamos com dificul<strong>da</strong>de e melhorar o que a gente já sabe”.<br />

Diante desses breves comentários, é visível que as oficinas de música estão<br />

corroboran<strong>do</strong> para um melhor desenvolvimento musical <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BRITO, Teca Alencar de. Um passo a mais: educação musical como parte de um projeto de<br />

educação complementar. In: <strong>Encontro</strong> anual <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação Musical,<br />

XI. 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... s.p..<br />

KLEBER, Magali Oliveira. Práticas musicais em ONGs: possibili<strong>da</strong>de de inclusão social e o<br />

exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. In: Revista de História e Estu<strong>do</strong>s Culturais. Vol. 5. Ano V. nº2.<br />

Disponível em: . Acesso em: 23/03/<strong>2011</strong>.<br />

_____. Educação musical e ONGs: <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s de caso no contexto urbano brasileiro.<br />

Revista EM PAUTA, Porto Alegre, v. 7, n. 29, p. 113-143, 2006.<br />

PENNA, Maura. Música(s) e seu Ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008.<br />

_____. Desafios para a educação musical: ultrapassar oposições e promover o diálogo.<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Porto Alegre, V. 13, 35-43, mar. 2006.<br />

WILLE, Regiana Blank. Educação musical formal, não formal ou informal: um estu<strong>do</strong> sobre<br />

processos de aprendizagem musical de a<strong>do</strong>lescentes. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, Belo Horizonte, n.<br />

13, p. 39-48, 2005.<br />

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Recursos de produção e difusão musical pela Internet: relato de experiência<br />

Henderson de Jesus Rodrigues <strong>do</strong>s Santos<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte-UERN<br />

hendersonrodrigues@uern.br<br />

Resumo: Relatamos a realização de uma oficina com a temática apresenta<strong>da</strong> no título. A<br />

oficina teve lugar na SBPC regional em 2010 e foi desenvolvi<strong>da</strong> junto a alunos <strong>da</strong> rede de<br />

ensino básico, entre 12 a 15 anos, como o objetivo de iniciá-los em ativi<strong>da</strong>des de apreciação e<br />

composição musical. Os pressupostos teóricos que nortearam a meto<strong>do</strong>logia aplica<strong>da</strong> dizem<br />

respeito à utilização de um aspecto <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> aluno: a tecnologia, como ponto de parti<strong>da</strong><br />

para experiências musicais, conforme Galizia (2009). Neste relato desenvolvemos a idéia de<br />

um olhar diferencia<strong>do</strong> ao termo “experiências prévias <strong>do</strong>s alunos”, de uso tão corrente quan<strong>do</strong><br />

se fala em educação musical para jovens e a<strong>do</strong>lescentes. Na implementação <strong>do</strong> curso foi<br />

possível dialogarmos com produções <strong>da</strong> indústria cultural, como o Rap, o Funk, o Rock, entre<br />

outros. As ativi<strong>da</strong>des de apreciação e composição realiza<strong>da</strong>s, permitiram perceber uma<br />

ampliação por parte <strong>do</strong>s alunos <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de criação musical, bem como uma reestruturação<br />

de seus conceitos quanto à música e sua abrangência.<br />

Palavras-Chave: Educação musical, Internet, cotidiano<br />

Conceitualização <strong>da</strong> experiência<br />

A Educação musical, nas últimas déca<strong>da</strong>s, buscou construir a importância <strong>da</strong><br />

utilização <strong>do</strong> conhecimento prévio <strong>do</strong> aluno em qualquer processo de ensino/aprendizagem. É<br />

importante notar que o conhecimento prévio <strong>do</strong> aluno faz parte de seu cotidiano e, portanto, a<br />

utilização deste pressupõe o uso <strong>da</strong>quele. Além disto, somos seres de múltiplos contextos e<br />

que elementos específicos de um local nem sempre fazem parte <strong>do</strong> contexto em outro local.<br />

Ain<strong>da</strong> de forma amplia<strong>da</strong>, a própria reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Brasil já impõe diversos contextos, culturas,<br />

dinâmicas e sotaques (Cf. BENEDETTI; KERR, 2008).<br />

Muitos professores <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> acreditam que ativi<strong>da</strong>des musicais a partir de<br />

músicas folclóricas ou cantigas de ro<strong>da</strong> ou outro tipo de fazer musical corporal, possam por si<br />

só nortear o fazer musical. Por outro la<strong>do</strong> existem os que acreditem que a música de mídia<br />

como forró ou funk, tenha também tal função. Mas, mesmo sen<strong>do</strong> inegável o potencial<br />

educacional conti<strong>do</strong> nestas ativi<strong>da</strong>des, seriam elas representações <strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong>s alunos?<br />

O conhecimento é um bem social, e como tal, sempre será manifesta<strong>do</strong> no meio<br />

social e para este; neste senti<strong>do</strong> são importantes as palavras de Queiroz quan<strong>do</strong> diz que “a<br />

educação musical brasileira tem foca<strong>do</strong> sua atenção sobre os diferentes universos musicais <strong>do</strong><br />

nosso país, buscan<strong>do</strong> inter-relacionar aspectos mais abrangentes, ‘plurais’, <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

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música com particulari<strong>da</strong>des que configuram a nossa identi<strong>da</strong>de” (QUEIROZ, 2004, p. 99). É<br />

certo que alguns professores de música bem que gostariam de ver to<strong>do</strong>s os que cantam em<br />

shows de ban<strong>da</strong>s diversas desenvolverem várias vozes, bem como os instrumentistas<br />

estivessem len<strong>do</strong> partitura, mas a identi<strong>da</strong>de de que fala Queiroz leva-nos a investigar como<br />

se dá o desenvolvimento musical nos cotidianos brasileiros.<br />

Não foi apenas a partir de Swanwick que tomamos a consciência <strong>da</strong> importância <strong>do</strong><br />

cotidiano para a educação musical e mesmo depois <strong>do</strong>s principais textos deste educa<strong>do</strong>r,<br />

muita coisa já mu<strong>do</strong>u nos cotidianos. Os princípios de Swanwick (2003) ain<strong>da</strong> permanecem,<br />

mas a partir de quais ativi<strong>da</strong>des ou como poderemos representar o cotidiano <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes, jovens e adultos de nossa época?<br />

Se admitirmos que a música é ensina<strong>da</strong> na maioria <strong>da</strong>s vezes a a<strong>do</strong>lescentes e jovens<br />

(sem querer excluir o ensino <strong>da</strong> música a adultos) e que por ensino de música não estamos<br />

necessariamente direciona<strong>do</strong>s ao ensino de um instrumento, poderemos perceber que um <strong>do</strong>s<br />

aspectos comuns a to<strong>do</strong>s os jovens e a<strong>do</strong>lescentes é a tecnologia.<br />

De fato, a maioria <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e jovens sabem utilizar um computa<strong>do</strong>r, ou<br />

possuem um celular e utilizam as câmeras <strong>do</strong>s celulares. A socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de tem uma<br />

relação com a tecnologia muito mais desenvolvi<strong>da</strong> que a de épocas passa<strong>da</strong>s. Basta<br />

percebermos que aquelas brincadeiras de criança na rua, corren<strong>do</strong>, forman<strong>do</strong> ro<strong>da</strong>s, estão<br />

sen<strong>do</strong> gra<strong>da</strong>tivamente substituí<strong>da</strong>s por horas na Internet, ou no celular.<br />

As tecnologias, hoje no Brasil, se constituem uma característica marcante <strong>do</strong>s<br />

cotidianos <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes e jovens. Com um olhar mais atento perceberemos que<br />

quan<strong>do</strong> falamos de novas tecnologias, não indicamos o acesso apenas, mas a influência que a<br />

tecnologia tem causa<strong>do</strong> no cotidiano <strong>do</strong>s brasileiros, tenham acesso ou não.<br />

Ora, se acreditamos que a música folclórica e midiática representa parte <strong>do</strong> cotidiano<br />

de alunos de música, sabemos que muito mais as ferramentas tecnológicas. E não é a toa que<br />

mesmo a música de mídia se vale de alta tecnologia para ser difundi<strong>da</strong> (basta olhar os shows<br />

de qualquer grande ban<strong>da</strong>). A própria música de concerto <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de utiliza as tecnologias<br />

em várias correntes como a computer music ou a música eletroacústica.<br />

Neste senti<strong>do</strong> propomos um olhar diferente no que diz respeito às experiências<br />

prévias <strong>do</strong>s alunos. Ou seja, não é apenas o tipo ou gênero de música que ele costuma ouvir,<br />

mas como ele se utiliza <strong>da</strong> música para estreitar suas relações sociais, ou ain<strong>da</strong>, os meios<br />

pelos quais ele cria e re-cria o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> fazer 1 música em seu cotidiano.<br />

1<br />

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2 OA N O S<br />

Galizia coloca bem a questão <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s tecnologias digitais quan<strong>do</strong> diz que<br />

“pautar o ensino de música em tecnologias implica alguns desafios iniciais” (GALIZIA, 2009,<br />

p. 81). Este ato será sem dúvi<strong>da</strong> uma busca por mu<strong>da</strong>nças meto<strong>do</strong>lógicas e conceituais no que<br />

diz respeito ao fazer e ao ensinar música. O autor, comentan<strong>do</strong> sobre <strong>da</strong><strong>do</strong>s de utilização de<br />

tecnologia pelos jovens e a<strong>do</strong>lescentes comenta que:<br />

independentemente <strong>da</strong> classe social a que pertença, a maioria <strong>da</strong>s crianças de<br />

hoje tem acesso à internet, o que significa ter acesso a inúmeras músicas de<br />

diversas culturas, além de informação sobre essas músicas em sites, blogs ou<br />

por meio de colegas em softwares de bate-papo. Essas músicas são baixa<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> Internet, em sua maioria, de forma gratuita por meio de amigos, sites<br />

(como MySpace ou outros) ou softwares de compartilhamento e são<br />

reproduzi<strong>da</strong>s por meio de aparelhos de MP3 (GALIZIA, 2009, p. 80).<br />

É neste senti<strong>do</strong> que inserimos este relato de experiência, ten<strong>do</strong> a meto<strong>do</strong>logia <strong>da</strong><br />

oficina pauta<strong>da</strong> nestes conceitos como veremos mais adiante.<br />

Caracterização <strong>da</strong> oficina<br />

A experiência de que trata esta comunicação se deu em um curso proposto à 61 a<br />

reunião <strong>do</strong> SBPC no perío<strong>do</strong> de 14 a 16 de Abril de 2010, realiza<strong>do</strong> em Mossoró no Campus<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. O curso abor<strong>do</strong>u as possibili<strong>da</strong>des de<br />

produção e difusão de músicas por meio de recursos tecnológicos disponíveis. O material<br />

didático não previa longos textos, ou mesmo a utilização de instrumentos musicais em sala de<br />

aula, e o curso teria que ser realiza<strong>do</strong> em um prazo de <strong>do</strong>is dias, sen<strong>do</strong> uma carga horária de 8<br />

horas no total. Além disto, o curso procurou demonstrar a construção musical de pequenas<br />

trilhas sonoras que poderiam ser utiliza<strong>da</strong>s em vídeos cria<strong>do</strong>s pelos alunos.<br />

O público alvo <strong>da</strong> proposta eram alunos <strong>da</strong> rede básica de ensino e que<br />

possivelmente não tinham formação musical específica. O tempo de curso era restrito e,<br />

portanto, foi escolhi<strong>do</strong> como objetivo principal <strong>do</strong> curso, o desenvolvimento <strong>do</strong>s assuntos<br />

centrais volta<strong>do</strong>s ao despertar para as possibili<strong>da</strong>des existentes, bem como motivá-los para<br />

ampliar seus conhecimentos em curso específico de formação musical.<br />

Além <strong>do</strong> exposto, foi-nos informa<strong>do</strong> que os alunos seriam escolhi<strong>do</strong>s para cursar as<br />

oficinas de acor<strong>do</strong> com critérios <strong>do</strong> evento e que, sen<strong>do</strong> assim, o aluno não teria a<br />

Com o termo “fazer”, estamos nos referin<strong>do</strong> às diversas maneiras de vivenciar a<br />

música, ou seja, tocan<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> ou aprecian<strong>do</strong>.<br />

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oportuni<strong>da</strong>de de escolher o curso que gostaria de realizar. Neste senti<strong>do</strong> vemos que a oficina<br />

deveria simular as condições encontra<strong>da</strong>s nas escolas regulares com a implantação <strong>da</strong> lei<br />

11.769, ou seja, a música com caráter de obrigatorie<strong>da</strong>de para os que fossem escolhi<strong>do</strong>s a<br />

fazer a oficina proposta.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, as escolhas meto<strong>do</strong>lógicas levaram ao uso <strong>da</strong> tecnologia como<br />

ferramenta para o desenvolvimento <strong>da</strong>s metas didáticas. Porém era necessário observar o que<br />

nos diz Almei<strong>da</strong> e Junior quan<strong>do</strong> observam que se a tecnologia for utiliza<strong>da</strong> apenas como<br />

modismo, sem um plano pe<strong>da</strong>gógico defini<strong>do</strong> estará fa<strong>da</strong><strong>da</strong> ao fracasso, uma vez que esta<br />

deverá ser encara<strong>da</strong> como necessi<strong>da</strong>de social <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s nos últimos anos<br />

(ALMEIDA; JUNIOR, 2000).<br />

A organização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> foi pauta<strong>da</strong> sobre o eixo apreciação-composição. Seria<br />

necessário apresentar ferramentas simples, para que o aluno pudesse se sentir estimula<strong>do</strong> a<br />

experimentar tanto no decorrer <strong>do</strong> curso quanto após sua realização. Como apoio ao ato de<br />

criação musical foram abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s conceitos básicos de criação de animação, como linha de<br />

tempo, transição de cena etc.<br />

Neste senti<strong>do</strong> foi defini<strong>do</strong> que a criação musical ficaria apoia<strong>da</strong> na manipulação de<br />

amostras musicais ou partes de músicas baixa<strong>da</strong>s pelos alunos e por partes grava<strong>da</strong>s por eles<br />

em seus celulares ou mp4. Os aplicativos apresenta<strong>do</strong>s foram o Movie Maker, que já vem em<br />

algumas versões <strong>do</strong> Win<strong>do</strong>ws, o Free Audio Editor, que embora em inglês, possui<br />

possibili<strong>da</strong>de de tradução e uma interface intuitiva, o Photo Stage Slide Show Producer, que é<br />

uma ferramenta para criação de vídeo a partir de fotos. Além destas ferramentas que são<br />

gratuitas e de fácil manipulação, incentivamos os alunos a utilizarem as ferramentas de seus<br />

celulares ou câmeras digitais.<br />

Além <strong>da</strong> produção de músicas e vídeos (seja por animação ou por edição)<br />

entendemos a necessi<strong>da</strong>de de envolver esta produção no cotidiano <strong>do</strong> aluno, ou seja, era<br />

necessário que este conteú<strong>do</strong> recebesse significação nas relações sociais <strong>do</strong>s alunos e,<br />

portanto, ampliamos a proposta para as possibili<strong>da</strong>des de difusão deste material por meio de<br />

mensagens <strong>do</strong> celular (torpe<strong>do</strong>s), e-mails, comuni<strong>da</strong>des de relacionamento como MySpace,<br />

Orkut, Tweeter, You Tube, entre outros.<br />

Desenvolvimento <strong>do</strong> curso e resulta<strong>do</strong>s<br />

O curso se deu como programa<strong>do</strong>, a partir de material <strong>do</strong>s próprios alunos e <strong>da</strong>s<br />

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2 OA N O S<br />

demonstrações <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de manipulação de fotos, vídeos, músicas baixa<strong>da</strong>s e<br />

grava<strong>da</strong>s por eles. Embora os equipamentos disponíveis para a realização <strong>da</strong> proposta não<br />

permitissem que to<strong>do</strong>s os alunos pudessem estar ao computa<strong>do</strong>r, buscamos estimular a<br />

participação de to<strong>do</strong>s por meio de criações e apreciações coletivas. Além disto, o aluno teria<br />

que se sentir muito à vontade para expor suas idéias e críticas, o que foi consegui<strong>do</strong> por meio<br />

de uma abor<strong>da</strong>gem positiva e linguagem próxima a deles.<br />

Na implementação desta proposta foi possível dialogarmos com produções <strong>da</strong><br />

indústria cultural, como o Rap, o Funk, o Rock, entre outros. A apreciação musical<br />

desenvolvi<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> base para o processo de ensino-aprendizagem, recebeu atenção especial<br />

tanto quanto o processo composicional.<br />

Além disto a possibili<strong>da</strong>de de difundirmos o material usa<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> Internet no<br />

decorrer <strong>do</strong> curso permitiu construir significa<strong>do</strong> social ao conteú<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>. Relatamos<br />

inclusive que alguns alunos demonstraram produções já desenvolvi<strong>da</strong>s por eles e posta<strong>da</strong>s em<br />

sites como You Tube antes <strong>da</strong> realização <strong>do</strong> curso, demonstran<strong>do</strong> como este conteú<strong>do</strong> é<br />

acessível a eles e permitiu a ampliação <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong> proposta.<br />

O uso <strong>da</strong>s novas tecnologias de informação e comunicação está intimamente liga<strong>do</strong><br />

ao desenvolvimento <strong>da</strong> música de vanguar<strong>da</strong>, especificamente aquelas que utilizam processos<br />

digitais de criação musical, <strong>da</strong>s quais são exemplos a música eletroacústica, as músicas de<br />

“DJ”, a tecno-music, entre outras. Porém não podemos permitir que se crie uma visão<br />

fetichista que a partir <strong>da</strong> tecnologia tu<strong>do</strong> é possível. Os conceitos próprios <strong>da</strong> música e, no<br />

caso desta experiência, os <strong>da</strong> produção digital <strong>da</strong> música, embora possam ser experimenta<strong>do</strong>s<br />

pelo uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r de forma simples, não são e não devem ser trata<strong>do</strong>s como simplistas<br />

ou, na visão estabeleci<strong>da</strong> em muitas escolas, como ultrapassa<strong>da</strong>. Um instrumento musical não<br />

pode ser substituí<strong>do</strong> pelo som sintético em loop, e nem o uso indiscrimina<strong>do</strong> de software de<br />

criação de sons substituirá a criativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> compositor. Haverá um espaço para ambos na<br />

construção <strong>do</strong> discurso musical e é importante que o desenvolvimento didático musical<br />

aborde tais questões quan<strong>do</strong> forem pertinentes.<br />

Acreditamos que a compreensão <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong>s conceitos musicais inclui a<br />

valorização <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des timbrísticas e <strong>da</strong> gama de sonori<strong>da</strong>des que podem formar um<br />

objeto sonoro, além é claro <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de que muitos gêneros trazem. Porem é necessário<br />

que o conteú<strong>do</strong> e os conceitos possam ser re-significa<strong>do</strong>s pelos alunos de mo<strong>do</strong> a se inserirem<br />

em suas relações sociais e em seus cotidianos.<br />

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Referências<br />

ALMEIDA, Fernan<strong>do</strong> José; FONSECA Jr., Fernan<strong>do</strong> Moraes. Proinfo: Projetos e ambientes<br />

inova<strong>do</strong>res. Secretaria de Educação a distância. Brasília: MEC/Seed, 2000.<br />

BENEDETTI, Kátia Simone; KERR, Dorotéa Macha<strong>do</strong>. O papel <strong>do</strong> conhecimento musical<br />

cotidiano na educação musical formal a partir de uma abor<strong>da</strong>gem sócio-histórica. Porto<br />

Alegre: Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, n. 20, Setembro 2008.<br />

GALIZIA, Fernan<strong>do</strong> Stanzione. Educação musical nas escolas de ensino fun<strong>da</strong>mental e<br />

médio: consideran<strong>do</strong> as vivências musicais <strong>do</strong>s alunos e as tecnologias digitais. Porto Alegre:<br />

Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, n. 21, Março 2009.<br />

QUEIROZ, Luis Ricar<strong>do</strong> Silva. Educação musical e cultura: singulari<strong>da</strong>de e plurali<strong>da</strong>de<br />

cultural no ensino e aprendizagem <strong>da</strong> música. Porto Alegre: Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, n. 10, Março<br />

2004.<br />

SWANWICK, Keith. Ensinan<strong>do</strong> música musicalmente. Tradução de Al<strong>da</strong> Oliveira e Cristina<br />

Tourinho. São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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Reflexões sobre a elaboração de material didático para aulas de violão a<br />

distância<br />

Giann Mendes Ribeiro<br />

IFRN/UERN/UFRGS/CAPES<br />

giannribeiro@gmail.com<br />

Eddy Lincoln Freitas de Souza<br />

IFCE<br />

lincolnviolonista@hotamail.com<br />

Resumo: O presente artigo pretende relatar a elaboração <strong>do</strong> material didático para um projeto<br />

piloto que está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> como parte de uma pesquisa-ação, que objetiva investigar os<br />

processos autodetermina<strong>do</strong>s em aulas de violão na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância. Fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> no<br />

referencial teórico de Deci e Ryan (2004) e Reeve (2006), o material didático foi concebi<strong>do</strong><br />

na base de uma estrutura de aprendizagem flexível, com o objetivo de promover a satisfação<br />

<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des psicológicas básicas de autonomia, competência e relacionamento. Até o<br />

presente momento temos identifica<strong>do</strong> uma boa aceitação <strong>do</strong> material didático por parte <strong>do</strong>s<br />

alunos, especialmente em virtude <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de opções para o processo de aprendizagem.<br />

O material didático foi pensa<strong>do</strong> para ser utiliza<strong>do</strong> na abor<strong>da</strong>gem <strong>do</strong> ensino<br />

coletivo/colaborativo, que estimula a interação entre os estu<strong>da</strong>ntes. Para esse estu<strong>do</strong> a<br />

videoconferência é o principal meio de comunicação entre os alunos e o professor.<br />

Palavras-chave: material didático, aprendizagem flexível, violão a distância.<br />

1. Introdução<br />

O número de instituições que vem pratican<strong>do</strong> a EAD no Brasil tem cresci<strong>do</strong><br />

consideravelmente nos últimos anos. Especificamente na área de música há poucos anos é que<br />

realmente começou a criação de cursos credencia<strong>do</strong>s no país, sen<strong>do</strong> os cursos superiores de<br />

música implanta<strong>do</strong>s pela Universi<strong>da</strong>de Aberta <strong>do</strong> Brasil nos anos de 2007 e 2008, atenden<strong>do</strong><br />

os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Bahia, Acre, e São Paulo (UAB/MEC, 2006; Portal<br />

SEB/MEC, 2006). Esses cursos são coordena<strong>do</strong>s pela UFRGS, UFSCar e a UNB.<br />

Os trabalhos acadêmicos na Pós-Graduação sobre a temática começaram a ser<br />

intensifica<strong>do</strong>s no mesmo perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> criação <strong>do</strong>s cursos anteriormente cita<strong>do</strong>s<br />

(HENDERSON, 2007; BRAGA, 2009; GONH, 2009; KRÜGUER, 2010; WESTERMAN,<br />

2010). Outras experiências vêm sen<strong>do</strong> comunica<strong>da</strong>s nos últimos quatro encontros <strong>da</strong><br />

Associação Brasileira de Educação Musical, e na Associação de Pesquisa e Pós-Graduação<br />

em Música (RIBEIRO, 2010; BRAGA, 2010; TOURINHO, 2009; NARITA, 2009; ROSSIT e<br />

SANTIAGO, 2009).<br />

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2 OA N O S<br />

Diante deste quadro é que foi idealiza<strong>da</strong> a elaboração <strong>do</strong> material didático para uma<br />

pesquisa-ação cujo objetivo didático é proporcionar flexibili<strong>da</strong>de para o suprimento <strong>da</strong>s<br />

necessi<strong>da</strong>des psicológicas básicas de autonomia, competência e relacionamento <strong>do</strong>s alunos. A<br />

idéia de elaborar o material específico para atender as necessi<strong>da</strong>des psicológicas básicas<br />

surgiu a partir <strong>do</strong> meu principal problema de pesquisa: Como o senso motivacional de<br />

autodeterminação pode influenciar o aprendiza<strong>do</strong> instrumental num curso de violão a<br />

distância? O objetivo deste artigo é descrever o processo de elaboração <strong>do</strong> material didático e<br />

comunicar alguns resulta<strong>do</strong>s preliminares alcança<strong>do</strong>s até o presente momento. A pesquisapiloto<br />

terá duração de seis semanas, sen<strong>do</strong> que, no momento, encontramo-nos na quarta<br />

semana.<br />

2. Perfil <strong>do</strong>s alunos<br />

Considerei importante antes de iniciar a construção <strong>do</strong> material impresso, <strong>da</strong>r<br />

senti<strong>do</strong> aos textos a partir <strong>da</strong> história de vi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s alunos. Busquei conhecer os perfis <strong>do</strong>s<br />

alunos, suas preferências musicais, as experiências prévias e os níveis de conhecimento<br />

musical <strong>do</strong>s alunos, suas expectativas e metas profissionais, o estilo motivacional para a<br />

aprendizagem instrumental (Violão), antes <strong>do</strong> iniciar o estu<strong>do</strong> piloto. Para Fernandez (2009),<br />

o processo de produção de um material significativo precisa envolver o autor, o leitor e o<br />

texto, não sen<strong>do</strong> possível dispensar a preocupação com a a<strong>da</strong>ptação significativa <strong>do</strong> texto para<br />

o contexto em questão (FERNANDEZ, 2009).<br />

Para o piloto foi realiza<strong>da</strong> duas sessões de entrevistas com os alunos <strong>da</strong> prática<br />

instrumental II em violão <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UERN). O intervalo entre as duas sessões foi de um mês. A primeira<br />

entrevista ocorreu em Agosto 2010, perío<strong>do</strong> na qual o projeto piloto estava sen<strong>do</strong> planeja<strong>do</strong>.<br />

Participam desse estu<strong>do</strong> sete estu<strong>da</strong>ntes, sen<strong>do</strong> seis <strong>do</strong> sexo masculino e uma <strong>do</strong><br />

feminino. A distribuição por faixas de i<strong>da</strong>de são: três participantes com menos de vinte anos,<br />

<strong>do</strong>is de vinte e cinco anos e os outros <strong>do</strong>is com vinte e oito e trinta e três anos de i<strong>da</strong>de. Não<br />

houve nenhum critério de seleção para participar dessa pesquisa, ou seja, to<strong>do</strong>s os alunos <strong>da</strong><br />

prática instrumental II estão envolvi<strong>do</strong>s. Ressalto que to<strong>do</strong>s foram plenamente esclareci<strong>do</strong>s<br />

numa apresentação formal que as aulas a ser ministra<strong>da</strong> a distância, se tratam de um trabalho 1<br />

acadêmico que tem como objetivo investigar os processos motivacionais autodetermina<strong>do</strong>s na<br />

1 To<strong>do</strong>s os alunos receberam a versão até então elabora<strong>da</strong> <strong>do</strong> projeto de pesquisa “A motivação para aprender<br />

nas aulas coletivas de violão a distância”<br />

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aprendizagem instrumental (violão) na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância realiza<strong>da</strong> no contexto<br />

universitário, especificamente no curso de licenciatura em música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. O trabalho de campo está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> especificamente nas aulas<br />

<strong>da</strong> disciplina de prática instrumental em violão. Busco assemelhar o modelo meto<strong>do</strong>lógico<br />

dessa pesquisa ao <strong>da</strong> pesquisa-ação integral, na qual é basea<strong>da</strong> na perspectiva implicante entre<br />

atores e autores (MORIN, 2004).<br />

3. Caminhos construí<strong>do</strong>s para a elaboração <strong>do</strong> material didático<br />

Como elaborar um material didático específico para as minhas questões de pesquisa<br />

alinha<strong>da</strong>s com as mais recentes propostas didáticas para o ensino de instrumento na<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância? Será que é possível atender as perspectivas <strong>do</strong>s alunos?<br />

Consideran<strong>do</strong> o estágio <strong>da</strong>s mais recentes tecnologias de informação e comunicação<br />

(TICs) e as possibili<strong>da</strong>des educativas delas decorrentes, o ambiente online vem sen<strong>do</strong><br />

amplamente discuti<strong>do</strong> na presente déca<strong>da</strong>. Algumas investigações têm revela<strong>do</strong> que essa<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de requer <strong>do</strong>s alunos iniciativas, tornan<strong>do</strong>-os mais ativos e menos controla<strong>do</strong>s pelos<br />

professores. Para Peters (2004), o modelo online abre espaço para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

aprendizagem autorregula<strong>da</strong>:<br />

Sem sua iniciativa e ativi<strong>da</strong>des, o processo de aprendizagem não poderia se<br />

<strong>da</strong>r ou seria seriamente prejudica<strong>do</strong>. Sua independência e autorregulação<br />

são, por assim dizer, parte integrante <strong>do</strong> sistema. Essa característica em<br />

particular deve ser considera<strong>da</strong> um importante trunfo de aprendizagem online<br />

(PETERS, 2004, p. 197).<br />

Embora as características acima descritas sejam importantes para o sucesso <strong>do</strong> aluno<br />

virtual, não podemos esperar que to<strong>do</strong>s sejam capazes de agir de maneira autorregula<strong>da</strong>.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, algumas pesquisas sinalizam que o papel <strong>do</strong> professor é fun<strong>da</strong>mental para li<strong>da</strong>r<br />

com as necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos que mais precisam de intervenções as quais os levem a ser<br />

mais autônomos (PALLOFF; PRATT, 2005; BELLONI, 2006; MOORE; KEARSLEY 2008).<br />

Tourinho (2009) descreveu como os materiais didáticos <strong>da</strong> disciplina de violão estão<br />

sen<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong>s e planeja<strong>do</strong>s no cenário de <strong>do</strong>is cursos de licenciatura em música na<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EAD no Brasil. Para a autora o modelo tradicional <strong>da</strong>s aulas de instrumento<br />

musical ain<strong>da</strong> parece ser um tabu enfrenta<strong>do</strong> pela mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância (TOURINHO,<br />

2009). Acredito que esse impasse também se dá pelo modelo semipresencial pratica<strong>do</strong> nos<br />

cursos de graduação em música na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância <strong>do</strong> país. Nesses modelos o<br />

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professor de música nem sempre observa e corrige o aluno de imediato, em oposição às aulas<br />

presenciais de instrumento.<br />

Para minimizar os possíveis problemas causa<strong>do</strong>s pela falta de interação entre<br />

professores e alunos, Tourinho (2009) relatou que o material didático nos cursos de música <strong>da</strong><br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a distância <strong>da</strong> UFRGS e <strong>da</strong> UNB, foi reelabora<strong>do</strong> de maneira auto-instrucional<br />

para minimizar as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntes. Além <strong>do</strong> professor tutor (que<br />

elabora o material didático) e o tutor a distância (que orienta o aluno pela plataforma de<br />

ensino), foi cria<strong>da</strong> a figura <strong>do</strong> tutor itinerante em virtude <strong>da</strong> carência de professores<br />

habilita<strong>do</strong>s, e que nem sempre há nas ci<strong>da</strong>des onde estão sen<strong>do</strong> ofereci<strong>do</strong>s esses cursos. Essas<br />

estratégias inicialmente apontaram possibili<strong>da</strong>des para esse modelo de ensino, em oposição à<br />

descrença de muitos professores de instrumento (TOURINHO, 2009).<br />

Na preparação <strong>do</strong> material impresso optei pelo modelo sociointeracionista 2 , ou seja,<br />

meu papel principal foi de organizar situações de aprendizagem. A comunicação dialógica<br />

entre o aluno/ professor e o texto se fez presente por entender que a educação possibilita<br />

inserção crítica <strong>do</strong> homem no mun<strong>do</strong>, que por meio <strong>da</strong> construção coletiva <strong>do</strong> conhecimento<br />

teremos condições de transformar uma determina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Nessa concepção preparei o<br />

material didático de mo<strong>do</strong> aberto a diferentes interpretações, respeitan<strong>do</strong> as diferentes<br />

vivências tentan<strong>do</strong> atribuir significa<strong>do</strong>s para os alunos.<br />

Para esse estu<strong>do</strong> piloto a maior parte <strong>da</strong>s aulas terá como base lições elabora<strong>da</strong>s em<br />

material impresso, mídia de DVD, e um site cria<strong>do</strong> especificamente para ampliar as<br />

possibili<strong>da</strong>des de acesso aos materiais anteriormente cita<strong>do</strong>. Baseio-me na abor<strong>da</strong>gem<br />

pe<strong>da</strong>gógica centra<strong>da</strong> no aluno (FERNADEZ, 2009). Nesse senti<strong>do</strong> parto <strong>do</strong> universo <strong>do</strong>s<br />

conhecimentos <strong>do</strong>s alunos para elaborar os materiais.<br />

Utilizamos videoconferências 3 , assemelhan<strong>do</strong>-se com o modelo de observação e<br />

correção imediata <strong>do</strong> modelo presencial. Os alunos ain<strong>da</strong> devem participar de uma lista de<br />

discussão, que é uma ferramenta assíncrona bastante utiliza<strong>da</strong> em cursos a distância, na qual<br />

os alunos poderão dirimir possíveis dúvi<strong>da</strong>s referentes às lições ou ao próprio curso. A<br />

primeira aula foi destina<strong>da</strong> para o aluno receber orientação sobre como utilizar o material<br />

impresso, o DVD e o site <strong>do</strong> curso.<br />

2 “Esse modelo pensa nos leitores em situação real” (FERNANDEZ, 2009. p. 398).<br />

3 Esta pesquisa está utilizan<strong>do</strong> a estrutura <strong>do</strong> laboratório de música <strong>do</strong> IFRN/Campus Mossoró para realizar o<br />

curso, por essa instituição atender à infra-estrutura necessária para a ação proposta.<br />

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3.1 O material impresso e o DVD<br />

Nas pesquisas e práticas em educação a distância, percebem-se distintas situações,<br />

características e concepções dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino. Sua evolução é dividi<strong>da</strong> por Moore<br />

e Kearsley, (2008) em pelo menos cinco gerações, que inicia com a instrução por<br />

correspondência até o ensino e o aprendiza<strong>do</strong> online nos dias atuais. Essa evolução<br />

atualmente tem si<strong>do</strong> organiza<strong>da</strong> por muitos autores, por etapas ou on<strong>da</strong>s, pelo fato dessas<br />

fases não terem um caráter estanque. Mesmo com to<strong>da</strong>s as transformações tecnológicas pelo<br />

qual a EAD passou, o material impresso ain<strong>da</strong> faz presente para a maioria <strong>do</strong>s programas<br />

dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de nos dias atuais (PALHARES, 2009; FERNANDEZ, 2009).<br />

Assistimos novas possibili<strong>da</strong>des de trabalharmos com a mídia escrita. Nos dias atuais<br />

é possível dispensarmos a tradicional estante de partituras e o livro impresso para estu<strong>da</strong>rmos<br />

com sofistica<strong>do</strong>s tablet PC’s para músicos 4 . Porém dentre os recursos utiliza<strong>do</strong>s na escolha <strong>do</strong><br />

material didático, optei também pelo material impresso devi<strong>do</strong> a dificul<strong>da</strong>des de acesso a<br />

internet por parte de alguns alunos que não moram na mesma ci<strong>da</strong>de aonde eles estu<strong>da</strong>m e<br />

onde estão sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong>s as videoconferências. Outro problema que considerei foi o fato<br />

quem nem to<strong>do</strong>s os alunos possuem um computa<strong>do</strong>r pessoal para organizar os seus horários<br />

de estu<strong>do</strong>s, não sen<strong>do</strong> possível somente usar o computa<strong>do</strong>r como ferramenta para o estu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s textos e partituras musicais.<br />

O material para o estu<strong>do</strong> piloto foi organiza<strong>do</strong> em lições correspondente ao primeiro<br />

módulo de um curso previsto para ser realiza<strong>do</strong> na sua totali<strong>da</strong>de em três módulos. Esse<br />

material foi pensan<strong>do</strong> para interagir com vídeos autorais e gravações previamente autoriza<strong>da</strong>s<br />

disponibiliza<strong>do</strong>s em uma mídia de DVD. Para aproximar esse material ao nosso foco de<br />

pesquisa sugeri varia<strong>da</strong>s formas de criar, tocar, interpretar e estu<strong>da</strong>r o violão. Foi preciso<br />

refletir como o material didático poderia suscitar no aluno a percepção de haver escolhi<strong>do</strong><br />

suas próprias ações, típicas de ambientes promotores de flexibili<strong>da</strong>de, que promovem a<br />

autonomia <strong>do</strong>s alunos. Saliento que nesse estu<strong>do</strong> a autonomia é enfatiza<strong>da</strong> no contexto <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s sobre motivação, sob a perspectiva <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Autodeterminação (RYAN e DECI,<br />

2000b; 2004; REEVE, 2006), contrapon<strong>do</strong>-se ao senti<strong>do</strong> restrito de “independência”,<br />

aprendizagem individual, ou isolamento, levan<strong>do</strong>-se em consideração os desafios<br />

epistemológicos e tecnológicos que se apresentam para os educa<strong>do</strong>res musicais<br />

contemporâneos, convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-os a repensarem suas práxis.<br />

4 Ver um modelo de tablet: http://www.youtube.com/watch?v=F_QxZJERPI8&feature=related<br />

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No material impresso foram sugeri<strong>do</strong>s alguns termos fáceis de ser encontra<strong>do</strong>s nos<br />

sites de busca amplamente divulga<strong>do</strong>s no formato de vídeos 5 na internet.<br />

As músicas sugeri<strong>da</strong>s para o estu<strong>do</strong> nas lições devem ser escolhi<strong>da</strong>s pelos próprios<br />

estu<strong>da</strong>ntes. Tentei selecionar músicas capazes de gerar esforços para <strong>do</strong>minar desafios em<br />

níveis ótimos. Os desafios em níveis ótimos são aqueles apropria<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de uma determina<strong>da</strong> pessoa, ou seja, esses desafios não podem ser nem<br />

demasia<strong>da</strong>mente além de nossas capaci<strong>da</strong>des como também demasia<strong>da</strong>mente facilita<strong>da</strong>.<br />

Quan<strong>do</strong> participamos de uma tarefa cujo grau de dificul<strong>da</strong>de e complexi<strong>da</strong>de encontra-se<br />

precisamente no nível de nossas habili<strong>da</strong>des atuais, experimentamos então o mais forte<br />

interesse e o maior envolvimento possível com a nossa necessi<strong>da</strong>de de competência (REEVE,<br />

2006).<br />

3.2 Videoconferências/ Fóruns de relacionamento<br />

Os modelos de ensino a distância foca<strong>do</strong>s em conteú<strong>do</strong>s prontos parecem ser, para<br />

muitos programas, mais rentáveis <strong>do</strong> que os modelos colaborativos, que precisam de mais<br />

tempo para mediação, bem como de acompanhamento de professores. Estu<strong>do</strong>s revelam que<br />

ativi<strong>da</strong>des a distância, se bem feitas, conferem autonomia aos alunos e, se associa<strong>da</strong>s a<br />

ativi<strong>da</strong>des colaborativas, podem compor um conjunto de estratégias combina<strong>da</strong>s muito<br />

interessantes e dinâmicas (MORAN 2008).<br />

Para li<strong>da</strong>r com os possíveis problemas de necessi<strong>da</strong>de de relacionamento e sensações<br />

de solidão ou aban<strong>do</strong>no entre professores e alunos e alunos entre si, destaco a<br />

videoconferência e os fóruns de relacionamento virtual como ferramentas alia<strong>da</strong>s para suprir<br />

tal necessi<strong>da</strong>de.<br />

A literatura tem aponta<strong>do</strong> que, quan<strong>do</strong> as relações interpessoais apoiam os indivíduos<br />

em suas necessi<strong>da</strong>des de relacionamento, eles têm um melhor desempenho, e as ocorrências<br />

de dificul<strong>da</strong>de psicológica diminuem. Para Reeve (2006):<br />

A interação com os outros é a condição primeira que envolve a necessi<strong>da</strong>de<br />

de relacionamento, pelo menos à medi<strong>da</strong> que essas interações prometem a<br />

quem nelas se engaja a possibili<strong>da</strong>de de ter relações calorosas, de afeto, de<br />

preocupação mútua [...] As relações que não envolvem o afeto, a apreciação,<br />

a aceitação e a valorização não satisfazem à necessi<strong>da</strong>de de relacionamento<br />

(REEVE, 2006, p. 77).<br />

5 Esses vídeos são fáceis de ser visualiza<strong>do</strong> livremente, possibilitan<strong>do</strong> os estu<strong>da</strong>ntes estarem em contato com<br />

uma grande varie<strong>da</strong>de de gravações de intérpretes de violão na atuali<strong>da</strong>de.<br />

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Diante <strong>do</strong> argumento <strong>do</strong> autor, não é qualquer relação que garantirá o suprimento <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de relacionamento. As videoconferências e os fóruns por si só também não<br />

podem garantir que a necessi<strong>da</strong>de de relacionamento seja supri<strong>da</strong>. Em consonância com essa<br />

necessi<strong>da</strong>de psicológica, enfoquei em termos de didática <strong>do</strong> instrumento musical o ensino<br />

coletivo por sua característica colaborativa. As relações proporciona<strong>da</strong>s entre o professor/<br />

alunos, e alunos entre si, a socialização, a colaboração, a motivação, o ambiente lúdico<br />

provoca<strong>do</strong>s por essa abor<strong>da</strong>gem de ensino são aspectos relevantes aponta<strong>do</strong>s por educa<strong>do</strong>res<br />

musicais para uma prática efetiva de preocupação mútua (BRAGA, 2010; CRUVINEL, 2005;<br />

TOURINHO, 1996).<br />

4. Considerações<br />

A história <strong>da</strong> EAD tem si<strong>do</strong> marca<strong>da</strong> por momentos de pouco reconhecimento. Ao<br />

longo dessa história os materiais didáticos para essa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de também sofreram sérias<br />

conseqüências. Hoje assistimos um crescimento exponencial <strong>da</strong> EAD e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de<br />

criação de materiais didáticos. Especificamente na área de música, a produção de materiais<br />

didáticos para EAD ain<strong>da</strong> se encontra em fase embrionária, não sen<strong>do</strong> possível<br />

vislumbrarmos uma produção e elaboração significativa. Destaco as iniciativas <strong>do</strong>s cursos de<br />

licenciatura em música a distância <strong>da</strong> UFRGS, UFSCar e <strong>da</strong> UNB quem vem discutin<strong>do</strong>,<br />

redefinin<strong>do</strong> a construção de seus materiais didáticos.<br />

Espero que a presente investigação possa levantar questões que apontem novos<br />

caminhos preparatórios de materiais didáticos para a concretização de outras pesquisas em<br />

música a distância, possibilitan<strong>do</strong>, de maneira mais ampla, que a socie<strong>da</strong>de tenha acesso a um<br />

conhecimento contextualiza<strong>do</strong> com a reali<strong>da</strong>de dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino.<br />

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BRAGA, Paulo David Amorim. Oficina de violão a distância: estrutura de ensino e padrões<br />

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BRAGA, Paulo David; RIBEIRO, Giann Mendes. Trabalho colaborativo em um curso<br />

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172 1 CD-ROM.<br />

BRAGA, Simone Marques. Ensino e formação musical a distância: breve levantamento <strong>da</strong>s<br />

pesquisas realiza<strong>da</strong>s. In: XX CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE<br />

PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 2010, Florianópolis. Santa Catarina.<br />

<strong>Anais</strong>... ANPPOM, 2010.465-470 1 CD-ROM.<br />

CRUVINEL, Flavia Maria. Educação Musical e Transformação Social: uma experiência com<br />

ensino coletivo de cor<strong>da</strong>s. Goiânia, ICBC, 2005.<br />

FERNANDEZ, Consuelo Teresa. Os méto<strong>do</strong>s de preparação de material impresso para EAD.<br />

In: LITTO, Fredric Michael e FORMIGA, Marcos (Orgs.). Educação a Distância: o Esta<strong>do</strong><br />

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GONH, Daniel Marcondes. Educação musical a distância: Propostas para o ensino e<br />

aprendizagem de percussão. São Paulo, 2009. 191 f: Tese (Doutora<strong>do</strong> em Ciências <strong>da</strong><br />

Comunicação) Programa de Pós-Graduação em Ciências <strong>da</strong> Comunicação <strong>da</strong> USP. São Paulo,<br />

2009.<br />

HENDERSON FILHO, José Ruy. Formação continua<strong>da</strong> de professores de música em<br />

ambiente de ensino e aprendizagem online. Porto Alegre 2007. 250 f: Tese (Doutora<strong>do</strong> em<br />

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Sul, Porto Alegre, 2007.<br />

KRÜGER, Susana E. A percepção de <strong>do</strong>centes sobre a formação continua<strong>da</strong> em educação<br />

musical, apoia<strong>da</strong> pela Educação a Distância, num contexto orquestral. São Paulo 2010. 310<br />

f: Tese (Doutora<strong>do</strong> em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia<br />

Universi<strong>da</strong>de Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.<br />

MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos, BEHRENS, Maril<strong>da</strong>. Novas tecnologias e<br />

mediação pe<strong>da</strong>gógica. 14ª ed. São Paulo: Papirus, 2008.<br />

MORIN, A. Pesquisa-ação integral e sistêmica: uma antropope<strong>da</strong>gogia renova<strong>da</strong>. Trad.<br />

Michel Thiollent. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.<br />

MOORE, Michael e Kearsley Greg. Educação a distância: uma visão integra<strong>da</strong>. São Paulo:<br />

Cengage Learning, 2008.<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

NARITA, Flávia Motoyama. Colaboração virtual: uma prática musical real na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de a<br />

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PALHARES. Roberto. Aprendizagem por correspondência. In: LITTO, Fredric Michael e<br />

FORMIGA, Marcos (Orgs.). Educação a Distância: o Esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> Arte. São Paulo: Pearson<br />

Education, p.48-55, 2009.<br />

PALLOFF, Rena M. e PRATT, Keith. O aluno virtual: Um guia para trabalhar com<br />

estu<strong>da</strong>ntes on-line. Tradução de Vinícius Figueira. Porto Alegre: Artmed, 2004.<br />

PETERS, Otto. A educação a distância em transição. Tradução Leila F. de Souza Mendes.<br />

São Leopol<strong>do</strong>-RS: Unisinos, 2004.<br />

REEVE, Johnmarshall. Motivação e Emoção. Tradução de Luís Antônio Farjar<strong>do</strong> Pontes e<br />

Stella Macha<strong>do</strong>. Rio de Janeiro: LCT, 2006.<br />

RYAN, R. M.; DECI, E. L. An overview of self-determination theory: an organismicdialectical<br />

perspective. In.:DECI, E. L.; RYAN, R. M. Handbook of self-determination<br />

research. Rochester: University of Rochester Press, 2004. p. 3-33.<br />

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ROSSIT, Fernan<strong>do</strong>. H. A; SANTIAGO, Glauber L. A. In: XVIII ENCONTRO DA<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 2009, Londrina. Paraná.<br />

<strong>Anais</strong>... Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2009. p. 490-498 1 CD-ROM.<br />

TOURINHO, Ana Cristina G.S. A motivação e o desempenho escolar na aula de violão em<br />

grupo: influência <strong>do</strong> repertório de interesse <strong>do</strong> aluno. Salva<strong>do</strong>r. 1995. 138f. Dissertação<br />

(Mestra<strong>do</strong> em Música), Programa de Pós-Graduação em Música <strong>da</strong> UFBA, Salva<strong>do</strong>r, BA.<br />

______. Violão nos cursos de Licenciatura EAD: possibili<strong>da</strong>des de um material interativo. In:<br />

XVIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 2009,<br />

Londrina. Paraná. <strong>Anais</strong>... Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2009.p. 1266-1272. 1 CD-ROM.<br />

WESTERMAN, Bruno. Fatores que influência a autonomia <strong>do</strong> aluno de violão em um curso<br />

de licenciatura em música a distância. Salva<strong>do</strong>r, 2010. 124 f: Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em<br />

Música) Programa de Pós-Graduação em Música <strong>da</strong> UFBA. Salva<strong>do</strong>r, 2010.<br />

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Reflexões sobre a formação <strong>do</strong> professor de música no Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC<br />

João Emanoel Ancelmo Benvenuto<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

emanoelben@gmail.com<br />

Resumo: O presente artigo tem como objetivo abor<strong>da</strong>r um estu<strong>do</strong> em an<strong>da</strong>mento sobre o<br />

processo de formação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical no curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará, com sede em Fortaleza, que tem como meta investigar quais<br />

são os fatores envolvi<strong>do</strong>s na construção <strong>da</strong> afini<strong>da</strong>de com a prática <strong>do</strong>cente. Além disso, tem<br />

como intuito entender os caminhos que fazem parte <strong>do</strong> processo formação e identificação <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r musical com o ofício de professor. Investigan<strong>do</strong> o momento de Estágio Curricular<br />

em música, busco pesquisar quais os sujeitos envolvi<strong>do</strong>s que tem participação ativa na<br />

construção e criação desse significa<strong>do</strong> pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Palavras-chave: Estágio Supervisiona<strong>do</strong>, formação de professor, ensino de música.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Ao ser aprova<strong>do</strong> no curso de Educação Musical <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

(UFC), para primeira turma de 2006, fiquei extasia<strong>do</strong> porque enfim teria uma formação mais<br />

sóli<strong>da</strong> no campo musical e entraria definitivamente na profissão de músico. Contu<strong>do</strong>, no<br />

decorrer <strong>do</strong> curso algo foi se transforman<strong>do</strong>. Entrei com um pensamento sobre o que era<br />

música e saí com outras visões sobre o que a área de Educação Musical poderia me<br />

proporcionar. Enquanto o processo de formação musical ocorria, ocorriam também mu<strong>da</strong>nças<br />

pessoais a respeito de como eu compreendia o que era ser músico.<br />

Esta concepção instaura<strong>da</strong> à medi<strong>da</strong> que os conhecimentos em Educação Musical<br />

iam se concretizan<strong>do</strong> modificavam a minha percepção sobre a diferenciação que fazia entre<br />

ser músico e ser professor de música. Ao mesmo tempo, percebi que uma ativi<strong>da</strong>de não<br />

invali<strong>da</strong>va a outra, pelo contrário, havia uma estreita relação de interdependência em ambas<br />

as áreas: a ativi<strong>da</strong>de de execução musical conten<strong>do</strong> um caráter direciona<strong>do</strong> à utilização e ao<br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> instrumento e a ativi<strong>da</strong>de de ensino na qual emergia uma maior reflexão sobre a<br />

atuação pe<strong>da</strong>gógica.<br />

A partir deste sentimento de complementari<strong>da</strong>de apresenta<strong>do</strong>, decidi investigar o<br />

processo formativo pelo qual passei concentran<strong>do</strong>-me no momento <strong>do</strong> Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong>. O presente artigo abor<strong>da</strong>, portanto, o trabalho de pesquisa que estou<br />

desenvolven<strong>do</strong> no qual busco compreender quais são os principais fatores que determinam a<br />

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afini<strong>da</strong>de <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical para com a <strong>do</strong>cência, a partir <strong>da</strong> formação recebi<strong>da</strong> no Curso<br />

de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC, com sede em Fortaleza.<br />

O Papel <strong>do</strong> Estágio Supervisiona<strong>do</strong> na Formação Docente<br />

A importância <strong>do</strong> estágio como componente curricular está no fato de levar os<br />

licencian<strong>do</strong>s para escola objetivan<strong>do</strong> estimular a compreensão <strong>da</strong> dinâmica <strong>do</strong> cotidiano<br />

escolar e a reflexão sobre a prática <strong>do</strong>cente. A experiência vivi<strong>da</strong> no espaço escolar permite<br />

um contato mais próximo com a profissão e direciona o olhar <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte para as exigências<br />

que permeiam o dia-a-dia <strong>do</strong> professor.<br />

O ensino de música é uma área que ain<strong>da</strong> está se estruturan<strong>do</strong> como componente<br />

curricular obrigatório na disciplina de Arte <strong>da</strong>s escolas. Benvenuto esclarece que:<br />

[...] o ensino de música retoma o seu caráter de componente curricular<br />

obrigatório no espaço escolar, a partir <strong>da</strong> recente aprovação <strong>da</strong> lei nº 11.769<br />

que trata <strong>da</strong> “obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino de música, como conteú<strong>do</strong> não<br />

exclusivo <strong>do</strong> componente curricular Artes”. Dessa forma, é extremamente<br />

relevante conhecer o percurso formativo <strong>do</strong> músico-educa<strong>do</strong>r no senti<strong>do</strong> de<br />

orientar uma ação mais ampla na formação de professores de música, o que<br />

será necessário para atender à deman<strong>da</strong> cria<strong>da</strong> por essa lei. (BENVENUTO,<br />

2010, p.808)<br />

A inserção <strong>do</strong> ensino de música como componente curricular na grande maioria <strong>do</strong>s<br />

espaços escolares ain<strong>da</strong> carece de reflexões. Devi<strong>do</strong> a isso, são várias as questões oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

prática de Estágio Supervisiona<strong>do</strong> em Música que evidenciam a complexi<strong>da</strong>de de interações<br />

existentes na escola como ambiente de formação e que podem ser condensa<strong>da</strong>s nas seguintes<br />

in<strong>da</strong>gações: Como ocorre a construção <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência em Música no estágio supervisiona<strong>do</strong>?<br />

Como se forma a identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical?<br />

Numa perspectiva ideal de ensino e aprendizagem, a passagem pela disciplina de<br />

estágio deve proporcionar ao estu<strong>da</strong>nte uma visão ampla sobre a ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente,<br />

contribuin<strong>do</strong> para uma gradual formação na área de ensino à medi<strong>da</strong> que experiências com a<br />

prática educativa passam a constituir o processo de formação <strong>do</strong> Músico-Educa<strong>do</strong>r.<br />

Algumas características podem ser assinala<strong>da</strong>s no desenvolvimento <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nteestagiário<br />

no curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC como, por exemplo: o momento de<br />

visita à escola no intuito de conhecer o espaço de trabalho como um to<strong>do</strong> (alunos, professores,<br />

direção, funcionários, comuni<strong>da</strong>de, etc.); a elaboração e organização <strong>do</strong> plano de aula semanal<br />

como forma de preparação didática e reflexão sobre a prática de ensino; as leituras de<br />

referência indica<strong>da</strong>s pelo orienta<strong>do</strong>r de estágio para melhor direcionamento <strong>do</strong> trabalho; as<br />

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discussões sobre a prática em reuniões semanais coletivas na orientação de estágio; a<br />

produção <strong>do</strong> Relatório de Estágio como forma de registro <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s; a<br />

confecção de um artigo descreven<strong>do</strong> as experiências vivencia<strong>da</strong>s, incentivan<strong>do</strong> no estagiário o<br />

olhar de pesquisa<strong>do</strong>r; entre outros.<br />

De acor<strong>do</strong> com as orientações <strong>da</strong>s Resoluções <strong>do</strong> Conselho Nacional de Educação<br />

CNE/CP 1/2002 e 2/2002, que discutem sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a<br />

Formação de Professores <strong>da</strong> Educação Básica e, também, a duração e a carga horária <strong>do</strong>s<br />

cursos de Licenciatura, se pode perceber a flexibili<strong>da</strong>de existente na organização <strong>do</strong> estágio<br />

supervisiona<strong>do</strong>. Pelos apontamentos previstos no Parecer CNE/CP 2/2002, a orientação<br />

coloca<strong>da</strong> diz respeito à formação de professores para Educação Básica, em nível superior,<br />

definin<strong>do</strong> uma carga horária de, no mínimo, 2.800 horas, sen<strong>do</strong> que 400 destas horas seriam<br />

destina<strong>da</strong>s à realização <strong>do</strong> estágio curricular supervisiona<strong>do</strong>. Este ponto reflete a atenção <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pelas diretrizes de ensino para a vivência <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente ain<strong>da</strong> na facul<strong>da</strong>de como forma<br />

de proporcionar uma maior definição por parte <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte, aproximan<strong>do</strong>-o com o exercício<br />

<strong>do</strong> magistério. (BUCHMANN, 2008)<br />

Com relação ao estágio supervisiona<strong>do</strong> em Música, pode-se afirmar que ele é um<br />

ponto de parti<strong>da</strong> no processo de desenvolvimento <strong>da</strong> afini<strong>da</strong>de com a profissão <strong>do</strong>cente. Além<br />

disso, a disciplina de Estágio tem como desafio articular os saberes adquiri<strong>do</strong>s nos anos<br />

anteriores de formação, buscan<strong>do</strong>, assim, a união <strong>da</strong> teoria com a prática.<br />

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS<br />

O Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso de Música <strong>da</strong> UFC<br />

A proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC revela uma<br />

ideologia diferencia<strong>da</strong>, opon<strong>do</strong>-se ao ensino tradicional de música costumeiramente exerci<strong>do</strong><br />

nos ambientes de formação musical existentes na ci<strong>da</strong>de de Fortaleza. Por isso desponta como<br />

um elemento investigativo importante no processo de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente. Esse<br />

posicionamento crítico sobre o exercício <strong>do</strong>cente promove algumas mu<strong>da</strong>nças de parâmetros<br />

na percepção <strong>do</strong>s alunos a respeito de sua atuação pe<strong>da</strong>gógica.<br />

É importante dizer que grande parte <strong>da</strong>s características inova<strong>do</strong>ras conti<strong>da</strong>s no PPP<br />

<strong>do</strong> curso são frutos de experiências anteriores, formula<strong>da</strong>s durante o processo de inserção <strong>da</strong><br />

prática acadêmica de ensino musical na UFC, pois resultou de um processo inverso em que<br />

um curso de extensão em música funcionou durante 10 anos, antes <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> curso<br />

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superior de música. Apesar <strong>da</strong> aparente contradição, isto proporcionou um laboratório<br />

musicalmente rico em que os futuros professores <strong>da</strong> licenciatura puderam refletir sobre quais<br />

as questões mais relevantes envolvi<strong>da</strong>s na formação <strong>do</strong>s futuros educa<strong>do</strong>res musicais (SILVA,<br />

2009). Ain<strong>da</strong> analisan<strong>do</strong> o processo de estruturação <strong>do</strong> Curso de Música <strong>da</strong> UFC, Silva<br />

afirma: “[...] o curso de educação musical her<strong>do</strong>u de sua trajetória, partin<strong>do</strong> <strong>da</strong> extensão para<br />

o curso superior, bem como <strong>da</strong> trajetória de seus agentes, a articulação entre teoria e prática,<br />

caminhan<strong>do</strong> ambas em uma via de mão única.” (SILVA, 2009, p.102).<br />

Alguns fatores apresenta<strong>do</strong>s no PPP <strong>do</strong> curso de Música <strong>da</strong> UFC se destacam pelo<br />

grau de influência que exercem na formação <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte e na definição <strong>da</strong> escolha pela<br />

atuação <strong>do</strong>cente como, por exemplo, as questões cita<strong>da</strong>s por em Matos, que aponta “aspectos<br />

específicos relevantes que tangenciam a formação <strong>do</strong> Educa<strong>do</strong>r Musical na instituição:<br />

abolição <strong>do</strong> Teste de Habili<strong>da</strong>de Específica; a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> de Solfejo Relativo; ênfase<br />

nas práticas musicais coletivas, em especial para o canto coral.” (MATOS, 2010, p.3)<br />

A respeito <strong>da</strong> opção de exclusão <strong>do</strong> teste de aptidão para ingresso no Curso de<br />

Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFC há uma justificativa publica<strong>da</strong> no site <strong>do</strong> Instituto de Cultura<br />

e Arte (ICA), Uni<strong>da</strong>de Acadêmica na qual está inseri<strong>do</strong> o Curso de Música, onde estão<br />

explicita<strong>do</strong>s alguns pontos <strong>do</strong> PPP que evidenciam o porquê desta decisão:<br />

Não é realiza<strong>do</strong> teste específico de aptidão uma vez que o Projeto Político<br />

Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> curso tem como objetivo formar o músico-professor (agente<br />

multiplica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conhecimento musical). Para esta formação, aprender com<br />

as dificul<strong>da</strong>des em um ambiente heterogêneo é uma importante estratégia<br />

pe<strong>da</strong>gógica. O conhecimento musical ain<strong>da</strong> é algo de difícil acesso, de<br />

maneira que um teste de aptidão muitas vezes reflete a desigual<strong>da</strong>de de<br />

oportuni<strong>da</strong>des para aqueles que desejam estu<strong>da</strong>r música. O empenho para<br />

superar limitações socialmente impostas não pode ser aferi<strong>do</strong> em um<br />

teste de aptidão. (UFC, Instituto de Cultura e Arte) 1<br />

A atitude de exclusão <strong>do</strong> teste de aptidão durante o processo seletivo é uma ação<br />

mais democrática para o estu<strong>da</strong>nte que quer ingressar no curso de música, ten<strong>do</strong> em vista que<br />

o acesso a formação musical não é algo disponível na maioria <strong>da</strong>s escolas brasileiras.<br />

1 Grifo <strong>do</strong> autor.<br />

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Um Novo Olhar sobre o Estágio Supervisiona<strong>do</strong><br />

A maioria <strong>da</strong>s orientações de estágio se limita em balizar o trabalho <strong>do</strong>s estagiários<br />

em um único ambiente formativo, ten<strong>do</strong> como fun<strong>da</strong>mento para esta prática reunir a açãope<strong>da</strong>gógica,<br />

num esforço conjunto de educa<strong>do</strong>res e educan<strong>do</strong>s, em apenas uma instituição de<br />

ensino. É bem ver<strong>da</strong>de que acontecem resulta<strong>do</strong>s positivos com este tipo de experiência<br />

<strong>do</strong>cente, mas a exclusivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atuação em uma única escola também pode limitar a<br />

possibili<strong>da</strong>de de se obter outras vivências que enriqueceriam ain<strong>da</strong> mais o diálogo no que<br />

concerne a formação <strong>do</strong> estagiário. Penso mesmo que a vantagem deste procedimento de<br />

restrição a um espaço escolar é apenas para facilitar o trabalho de acompanhamento <strong>do</strong>s<br />

estagiários pelo professor orienta<strong>do</strong>r e não como ferramenta para auxiliar o estagiário no<br />

processo de descoberta <strong>da</strong> <strong>do</strong>cência.<br />

Não quero dizer com isso que os alunos-estagiários deveriam mu<strong>da</strong>r continuamente<br />

de escolas com intuito de enriquecer sua formação <strong>do</strong>cente. Pelo contrário, o estagiário deve<br />

permanecer o maior tempo possível na mesma escola – <strong>do</strong>is anos – para poder analisar o<br />

processo de construção <strong>do</strong>cente de forma gradual. Penso apenas que não se deve limitar a<br />

discussão sobre a prática pe<strong>da</strong>gógica na formação <strong>do</strong> estagiário a somente uma reali<strong>da</strong>de<br />

escolar. Assim, a distribuição <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> mesma turma em várias escolas parece ser<br />

uma estratégia de enriquecimento desta experiência. O próprio PPP <strong>do</strong> curso de Licenciatura<br />

em Música <strong>da</strong> UFC esclarece que:<br />

Numa perspectiva ideal o estu<strong>da</strong>nte deverá permanecer durante to<strong>do</strong> o<br />

perío<strong>do</strong> de estágio na mesma escola e nesta deverá implantar um projeto de<br />

musicalização que será acompanha<strong>do</strong> e avalia<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>centes <strong>da</strong> escola no<br />

qual o mesmo se desenvolve em conjunto com os <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> Curso de<br />

Educação Musical <strong>da</strong> UFC. (UFC, Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico, 2005)<br />

É importante ressaltar o papel <strong>do</strong>s estagiários nas escolas públicas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />

Fortaleza, atuan<strong>do</strong> em grupo (duplas, trios) na inserção <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> curricular de música<br />

disseminan<strong>do</strong> a aprendizagem musical. O fato de distribuir os estagiários em diferentes<br />

escolas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de possibilita o acesso ao conhecimento musical a um maior número de alunos<br />

<strong>da</strong> rede pública, partilhan<strong>do</strong> e democratizan<strong>do</strong> o ensino de música de maneira amplia<strong>da</strong> a<br />

outras instituições, não limitan<strong>do</strong> a aprendizagem <strong>da</strong> construção <strong>do</strong>cente a um único espaço.<br />

A definição por agir em uma única escola, como elemento facilita<strong>do</strong>r na atuação <strong>da</strong><br />

orientação, acaba limitan<strong>do</strong> a capaci<strong>da</strong>de de apropriação <strong>do</strong>s estagiários de vivenciar práticas<br />

<strong>do</strong>centes varia<strong>da</strong>s e restringin<strong>do</strong> o debate pe<strong>da</strong>gógico a um único ambiente educacional.<br />

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Através <strong>da</strong>s minhas próprias experiências e também de outros colegas, posso afirmar com<br />

convicção que o que proporciona o desenvolvimento <strong>do</strong> estagiário é a reflexão a partir <strong>da</strong><br />

prática, é o debate entre os pares e professores, são as trocas de informações de acertos e<br />

erros, é o enriquecimento pe<strong>da</strong>gógico por meio <strong>da</strong>s experiências vivi<strong>da</strong>s por outros colegas.<br />

Poderão aparecer críticas como “O estagiário estará atuan<strong>do</strong> sozinho, sem<br />

acompanhamento”, “o professor orienta<strong>do</strong>r não terá condições de acompanhar o<br />

desenvolvimento de to<strong>do</strong>s os estagiários”, “É algo que sobrecarregará as funções <strong>do</strong><br />

orienta<strong>do</strong>r de estágio supervisiona<strong>do</strong>”. Contu<strong>do</strong>, pode-se constatar que com esta atitude o<br />

professor não estará regen<strong>do</strong> solitário neste caminho de aprendiza<strong>do</strong>, pois to<strong>do</strong>s os sujeitos<br />

estarão envolvi<strong>do</strong>s no processo de descoberta e o encontro semanal <strong>do</strong> Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong> é o momento ideal para socialização destes conhecimentos. As trocas de<br />

informações e as vivências não serão exclusivas <strong>do</strong> professor para com os alunos, mas sim de<br />

to<strong>do</strong>s para to<strong>do</strong>s, tiran<strong>do</strong> o professor <strong>do</strong> papel de personagem central no direcionamento <strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong> e colocan<strong>do</strong> os alunos como responsáveis pela própria construção de seu<br />

conhecimento a partir <strong>da</strong>s reflexões sobre sua ação em sala de aula.<br />

Compreen<strong>do</strong> que não se está destacan<strong>do</strong> a disciplina de estágio supervisiona<strong>do</strong> como<br />

a única responsável por este sentimento de afini<strong>da</strong>de com a prática <strong>do</strong>cente, afinal, serão um<br />

conjunto de saberes vivencia<strong>do</strong>s durante a licenciatura que irão participar <strong>do</strong> processo de<br />

formação deste agente. To<strong>da</strong>via, uma vez que a disciplina de estágio contempla a realização<br />

<strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente propriamente dita, esta torna-se decisiva para a construção <strong>da</strong>quilo que<br />

aqui estamos chaman<strong>do</strong> de “identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente”.<br />

O Papel <strong>do</strong> Orienta<strong>do</strong>r de Estágio na Construção <strong>do</strong> Novo Docente<br />

Além <strong>da</strong> prática em sala de aula, um ponto a se destacar <strong>do</strong> estágio supervisiona<strong>do</strong> é<br />

a questão <strong>da</strong> orientação, compreendi<strong>da</strong> como um momento de “mediação de processos<br />

reflexivos necessários à construção de novos conhecimentos, permitin<strong>do</strong> a iniciação<br />

profissional e o engajamento com a reali<strong>da</strong>de escolar.” (BUCHMANN, 2008, p.33)<br />

Segun<strong>do</strong> Mattana (apud BUCHMANN, 2008) o papel <strong>do</strong> supervisor no estágio é de<br />

suma importância, pois ele tem como função: 1) Conhecer o trabalho efetiva<strong>do</strong> no curso, tanto<br />

em termos de conteú<strong>do</strong>s, como de meto<strong>do</strong>logias, como de posturas preconiza<strong>da</strong>s para seu<br />

egresso; 2) Acompanhar e orientar os alunos estagiários no senti<strong>do</strong> de integrar estas<br />

experiências em formação, ao desempenho requeri<strong>do</strong> pela prática em situação real de atuação<br />

profissional; 3) Estimular seu aluno a construir novos conhecimentos, ten<strong>do</strong> como<br />

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fun<strong>da</strong>mento a reflexão sobre a ação realiza<strong>da</strong>; 4) Incentivar os estagiários a registrarem suas<br />

práticas, a refletirem sobre elas e a partilharem esses registros; 5) Oferecer uma vasta e rica<br />

produção teórica <strong>da</strong> área, para melhor fun<strong>da</strong>mentar a reflexão sobre a prática.<br />

Outro ponto importante a destacar, se refere à produção e divulgação de<br />

conhecimentos partin<strong>do</strong> <strong>da</strong>s vivências e reflexões sobre o estágio. Apesar <strong>do</strong>s empecilhos<br />

culturalmente impostos na constituição <strong>do</strong> hábito <strong>da</strong> escrita pela socie<strong>da</strong>de brasileira, o<br />

estagiário no Curso de Música <strong>da</strong> UFC é incentiva<strong>do</strong> a cultivar e a incorporar a prática <strong>do</strong><br />

registro escrito, pois, este material coleta<strong>do</strong>, constituirá em uma fonte de investigação para<br />

elaboração de um trabalho posterior ou servirá como referência de consulta na formação<br />

outros profissionais <strong>da</strong> área.<br />

Contribuições a partir <strong>da</strong> experiência <strong>do</strong> estágio supervisiona<strong>do</strong><br />

Com base nas leituras sobre a temática e na formação que recebi, posso acrescentar<br />

algumas considerações a respeito <strong>da</strong> prática que vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong> no estágio<br />

supervisiona<strong>do</strong> que envolve o ensino de música, buscan<strong>do</strong> vislumbrar algumas estratégias<br />

para aprimorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação promovi<strong>da</strong> no curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong><br />

UFC.<br />

Os encontros semanais <strong>da</strong> disciplina de estágio devem proporcionar aos alunos um<br />

ambiente receptivo de reflexão, ten<strong>do</strong> como foco a prática pe<strong>da</strong>gógica exerci<strong>da</strong> pelos<br />

estagiários. Ao criar um espaço de aprendizagem envolvente, com abertura para o debate, os<br />

estagiários se sentirão à vontade para discutir: o plano de aula estabeleci<strong>do</strong>, o planejamento<br />

mensal para a escola, as dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s nas aulas ministra<strong>da</strong>s, expor sugestões aos<br />

outros colegas estagiários, apontar críticas e sugerir modificações de procedimentos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos para o crescimento <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> grupo, compartilhar opiniões, idéias e leituras.<br />

A necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> visita <strong>do</strong> professor orienta<strong>do</strong>r a instituição de ensino em que o<br />

estagiário está inseri<strong>do</strong> é de fun<strong>da</strong>mental importância não somente para que este avalie a<br />

abor<strong>da</strong>gem didático-pe<strong>da</strong>gógica aplica<strong>da</strong> pelo estagiário, mas também para esclarecer a<br />

direção <strong>da</strong> escola sobre o trabalho desenvolvi<strong>do</strong> pelo mesmo legitiman<strong>do</strong> a parceria entre<br />

escola e universi<strong>da</strong>de; amplian<strong>do</strong> as perspectivas de contribuição <strong>do</strong> pensamento que é<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong> na academia, chegan<strong>do</strong> até a escola e espalhan<strong>do</strong> para a comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>n<strong>do</strong>, assim,<br />

vali<strong>da</strong>de ao trabalho que vem sen<strong>do</strong> feito pelo estagiário com a devi<strong>da</strong> mediação e orientação<br />

<strong>do</strong> coordena<strong>do</strong>r <strong>da</strong> disciplina, demonstran<strong>do</strong> para a gestão escolar a serie<strong>da</strong>de dedica<strong>da</strong> à<br />

prática <strong>do</strong>cente.<br />

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A realização <strong>do</strong> estágio em grupo (dupla, trios) é um relevante ponto de apoio na<br />

atuação em sala de aula, crian<strong>do</strong> nos estu<strong>da</strong>ntes-estagiários a noção de segurança necessária<br />

para momento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente. O trabalho organiza<strong>do</strong> em grupo potencializa a formação<br />

<strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que aprendem a trabalhar em equipe. Entretanto, no último semestre <strong>da</strong><br />

experiência de estágio seria interessante que o licencia<strong>do</strong> começasse a trabalhar<br />

individualmente para adquirir a autoconfiança na prática pe<strong>da</strong>gógica e, também, vivenciar as<br />

dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> estiver ministran<strong>do</strong> aulas sozinho.<br />

O aspecto de compromisso nas diretrizes <strong>do</strong> curso, no Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico e<br />

também no papel exerci<strong>do</strong> pelos professores de maneira engaja<strong>da</strong> e com serie<strong>da</strong>de possibilita<br />

um maior envolvimento por parte <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes com a proposta educacional <strong>do</strong> curso e influi<br />

diretamente na concepção de professor que se pretende formar. Pude perceber até este ponto<br />

<strong>da</strong> pesquisa que este tipo de postura durante o contexto formativo proporciona a construção de<br />

uma bagagem de conhecimentos teórico-práticos, sen<strong>do</strong>, portanto, fator decisivo para o<br />

engajamento <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> na profissão <strong>do</strong>cente.<br />

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA<br />

A investigação seguirá procedimentos indica<strong>do</strong>s pela abor<strong>da</strong>gem de pesquisa <strong>do</strong> tipo<br />

qualitativa por considerar o ambiente estu<strong>da</strong><strong>do</strong> como fonte direta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Desse mo<strong>do</strong>, as<br />

informações coleta<strong>da</strong>s durante a pesquisa refletirão diretamente o mo<strong>do</strong> de pensar e agir <strong>do</strong>s<br />

professores e <strong>do</strong>s outros agentes educativos envolvi<strong>do</strong>s no que diz respeito ao processo de<br />

identificação com a ativi<strong>da</strong>de musical <strong>do</strong>cente.<br />

Para melhor compreensão sobre as competências inerentes a investigação qualitativa<br />

<strong>do</strong> objeto estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, no entendimento <strong>da</strong>s diversas pessoas que fazem parte <strong>do</strong> processo<br />

formação e apropriação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical com o ofício de professor e na busca pelos<br />

sujeitos que tem participação ativa na construção e criação desse significa<strong>do</strong> pe<strong>da</strong>gógico, os<br />

embasamentos <strong>da</strong> pesquisa serão fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s por meio de entrevistas e <strong>da</strong> observação<br />

participante em visitas e relatos de campo.<br />

Durante o perío<strong>do</strong> de um ano, anseio entrevistar e acompanhar o trabalho<br />

desenvolvi<strong>do</strong> por quatro estagiários <strong>da</strong> disciplina de Estágio Supervisiona<strong>do</strong> <strong>do</strong> curso de<br />

Licenciatura em Educação Musical <strong>da</strong> UFC, com intuito de analisar, através de outras<br />

vivências <strong>do</strong>centes, como ocorre este processo de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r<br />

musical.<br />

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2 OA N O S<br />

Os procedimentos para a escolha desses estagiários envolvi<strong>do</strong>s na pesquisa se<br />

fun<strong>da</strong>mentarão na aplicação de um texto-reflexivo redigi<strong>do</strong> pelos alunos matricula<strong>do</strong>s na<br />

disciplina de Estágio Supervisiona<strong>do</strong>, no qual irão abor<strong>da</strong>r as experiências de ensino e<br />

aprendizagem advin<strong>do</strong>s <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Além desses estagiários, preten<strong>do</strong> trazer reflexões pessoais acerca <strong>do</strong> meu próprio<br />

processo de formação enquanto músico-educa<strong>do</strong>r, estabelecen<strong>do</strong> um diálogo entre a minha<br />

vivência e as experiências individuais <strong>do</strong>s sujeitos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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de Educação Musical<br />

654


2 OA N O S<br />

Referências<br />

BENVENUTO, João Emanoel Ancelmo. Educação Musical no Contexto Escolar: Identi<strong>da</strong>de<br />

e Atuação <strong>do</strong> Educa<strong>do</strong>r Musical. Congresso Anual <strong>da</strong> Associação Brasileira de Educação<br />

Musical, 19, Goiânia, 2010. <strong>Anais</strong>... Goiânia: UFG, 2010. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 10 de Mar. de <strong>2011</strong>.<br />

BUCHMANN, Letícia Taís. A Construção <strong>da</strong> Docência em Música no Estágio<br />

Supervisiona<strong>do</strong>: Um Estu<strong>do</strong> na UFSM. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação) – Programa de<br />

Pós-Graduação em Educação, Área de Concentração em Educação e Artes. Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal de Santa Maria, 2008.<br />

MATOS, Elvis de Azeve<strong>do</strong>. Educação Musical na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará: um<br />

Projeto Institucional, um Desafio Coletivo. Natal: ENCONTRO REGIONAL NORDESTE<br />

DA <strong>ABEM</strong>, 9, 2010. <strong>Anais</strong>... Natal: UFRN, 2010. Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 11 de Abr. de <strong>2011</strong><br />

SILVA, Maria Goretti Herculano. Cotidianos Sonoros na Constituição <strong>do</strong> Habitus e <strong>do</strong><br />

Campo Pe<strong>da</strong>gógico Musical: Um Estu<strong>do</strong> a Partir <strong>do</strong>s Relatos de Vi<strong>da</strong> de Professores <strong>da</strong> UFC.<br />

Dissertação de Mestra<strong>do</strong> (Mestra<strong>do</strong> em Educação) – Programa de Pós-Graduação em<br />

Educação. Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará, 2009.<br />

UFC, Projeto Político Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso de Educação Musical. Disponível em:<br />

http://www.prograd.ufc.br/index.php?option=com_<strong>do</strong>cman&task=cat_view&gid=73&Itemid<br />

=82, acesso em: 04 de Abr. De 2010.<br />

UFC, Página <strong>do</strong> Instituto de Cultura e Arte. Disponível em:<br />

. Acesso em: 04 de Abr. De 2010.<br />

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Relações intrapessoais e interpessoais na aprendizagem musical<br />

realiza<strong>da</strong> em grupo<br />

Tais Dantas<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia<br />

tais.<strong>da</strong>ntas@hotmail.com<br />

Resumo: Este artigo traz um recorte <strong>da</strong> pesquisa de mestra<strong>do</strong> em educação musical realiza<strong>do</strong><br />

na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, sob a orientação <strong>do</strong> Professor Doutor Luiz César<br />

Magalhães, que investigou as relações intrapessoais e interpessoais em aulas de música<br />

realiza<strong>da</strong>s coletivamente. A pesquisa investigou, dentre outros fatores, as inter-relações<br />

existentes no grupo que interferem nas construções intra e interpessoais e sua interface com o<br />

autoconceito acadêmico em aulas de música em grupo. A pesquisa utilizou como aporte<br />

teórico contribuições no campo <strong>da</strong> educação musical, psicologia <strong>da</strong> educação, psicologia<br />

social e a psicologia <strong>da</strong> música. A investigação foi desenvolvi<strong>da</strong> por meio de um estu<strong>do</strong> de<br />

caso em uma escola <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental, em duas turmas <strong>da</strong> 5ª série que participam <strong>da</strong>s<br />

coletivas de instrumentos de cor<strong>da</strong>s na disciplina Artes. Além <strong>da</strong> observação <strong>da</strong>s aulas,<br />

realizou-se entrevistas com 21 alunos que frequentam as aulas de música. Ao longo <strong>do</strong><br />

trabalho evidenciaram-se fatores que influenciam a formação <strong>do</strong> autoconceito acadêmico na<br />

aprendizagem musical, como: o papel <strong>do</strong>s colegas <strong>da</strong> classe como “outros significantes”; a<br />

observação e comparação entre estu<strong>da</strong>ntes e percepção de desempenho.<br />

Palavras-chave: aprendizagem musical, relações intrapessoais e interpessoais, autoconceito.<br />

Apresentação<br />

Os estu<strong>do</strong>s sobre aspectos psicossociais presentes na aprendizagem musical realiza<strong>da</strong><br />

em grupo se constituíram no foco central <strong>da</strong> pesquisa de mestra<strong>do</strong>. O principal objetivo <strong>da</strong><br />

pesquisa foi investigar a existência de uma possível interface entre a interação entre alunos e<br />

aspectos como a motivação, a auto-estima e o desenvolvimento social <strong>do</strong>s alunos. Esta<br />

relevância pôde ser observa<strong>da</strong> no campo <strong>do</strong> ensino coletivo de instrumentos musicais por se<br />

tratar de um ambiente onde o indivíduo reforça suas relações interpessoais, contribuin<strong>do</strong> para<br />

o seu desenvolvimento psicossocial e para a sua formação como ser humano, acarretan<strong>do</strong> em<br />

ganhos para a aprendizagem musical.<br />

As diversas possibili<strong>da</strong>des de relações de aprendizagem existente no contexto de<br />

aprendizagem, a saber, relação professor-aluno e aluno-aluno, levaram a delimitação <strong>da</strong><br />

pesquisa na observação <strong>da</strong>s relações interpessoais entre alunos e suas contribuições para a<br />

aprendizagem. Contu<strong>do</strong>, o desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa apontou para a existência de outro<br />

relevante conceito, o de “relações intrapessoais”, que se define como as relações consigo<br />

mesmo, a percepção que a pessoa tem de si mesma sobre suas potenciali<strong>da</strong>des e limitações. A<br />

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princípio, o conceito de intrapessoal nos conduz ao entendimento de que estas relações dizem<br />

respeito apenas a questões intrínsecas ao indivíduo. Porém, verifica-se que, no caso <strong>da</strong><br />

aprendizagem musical realiza<strong>da</strong> coletivamente, as relações inter e intrapessoais interagem e se<br />

articulam de forma recíproca conduzin<strong>do</strong> à construção de importantes estruturas cognitivas na<br />

aquisição de conhecimentos musicais.<br />

Apesar <strong>da</strong>s inúmeras abor<strong>da</strong>gens que as relações inter e intrapessoais inspiram em<br />

diversos campos, destacam-se em especial as contribuições que estu<strong>do</strong>s e pesquisas sérias<br />

vêm acrescentan<strong>do</strong> aos processos de ensino e aprendizagem. Assim, este trabalho buscou<br />

orientar-se por parâmetros que dizem respeito aos processos cognitivos em música bem como<br />

às relações desenvolvi<strong>da</strong>s nestes processos.<br />

Propon<strong>do</strong> um recorte desta pesquisa, o trabalho aqui apresenta<strong>do</strong> foca as interrelações<br />

existentes em sala de aula e que interferem nas construções intra e interpessoais e sua<br />

correlação com o autoconceito acadêmico em aulas de música realiza<strong>da</strong>s em grupo.<br />

Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

A pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong> por meio de um estu<strong>do</strong> de caso exploratório realiza<strong>do</strong><br />

com professores <strong>do</strong> ensino coletivo e com alunos de duas turmas <strong>do</strong> 6º ano <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental II que participam <strong>da</strong>s aulas de instrumentos de cor<strong>da</strong>s, ofereci<strong>da</strong>s na grade<br />

curricular como opção na disciplina Artes.<br />

A entrevista espontânea e foca<strong>da</strong> foram utiliza<strong>da</strong>s como instrumento de coleta de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s. De acor<strong>do</strong> com Yin (2006, p. 117), a entrevista espontânea nos permite tanto obter<br />

informações sobre o fato relaciona<strong>do</strong> ao assunto, quanto obter a opinião <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />

sobre determina<strong>do</strong>s eventos, e inclusive utilizar as interpretações apresenta<strong>da</strong>s pelos<br />

respondentes como base para uma nova pesquisa. Estrategicamente, a entrevista espontânea<br />

realiza<strong>da</strong> com os professores serviu como base para a investigação com os alunos. Para a<br />

obtenção <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s junto aos alunos utilizou-se a entrevista foca<strong>da</strong>, a partir de questões<br />

estrutura<strong>da</strong>s. Esta mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de entrevista mostrou-se mais adequa<strong>da</strong>, uma vez que um <strong>do</strong>s<br />

propósitos desta entrevista pode ser “simplesmente corroborar com certos fatos que você já<br />

acredita terem si<strong>do</strong> estabeleci<strong>do</strong>s (e não in<strong>da</strong>gar sobre outros tópicos de natureza mais ampla<br />

e espontânea)” (Yin, 2006, p.118).<br />

Para análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s utilizaram-se como aporte teórico para os elementos<br />

investiga<strong>do</strong>s as contribuições <strong>da</strong>s seguintes áreas: educação musical, psicologia <strong>da</strong> educação,<br />

psicologia social e a psicologia <strong>da</strong> música.<br />

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Ressalta-se que neste texto são apresenta<strong>do</strong>s e foca<strong>do</strong>s aspectos relaciona<strong>do</strong>s à<br />

construção <strong>do</strong> autoconceito em relação às questões intra e interpessoais no espaço de sala de<br />

aula de música.<br />

Relações intra e interpessoais e a construção <strong>do</strong> autoconceito em música:<br />

pressupostos teóricos<br />

Quan<strong>do</strong> nascemos não sabemos muito a nosso respeito. No decorrer <strong>do</strong> nosso<br />

crescimento e nossa aprendizagem nos deparamos com alguns conceitos que nossos pais nos<br />

mostram sobre nós mesmos, a estes se acrescentam outras definições que nós construímos ao<br />

longo <strong>do</strong> tempo basea<strong>da</strong>s na observação de outras pessoas com quem convivemos. Esses<br />

conceitos vão se agregan<strong>do</strong> a nossa imagem ao longo <strong>do</strong> tempo, e desta forma vamos crian<strong>do</strong><br />

o autoconceito (DANTAS, 2010, p.). Assim, ao chegar à escola a criança já traz consigo o<br />

registro de uma auto-imagem, fruto <strong>da</strong>s relações desenvolvi<strong>da</strong>s com pais e familiares. Ao<br />

abor<strong>da</strong>r questões como autoconceito e auto-estima no âmbito <strong>da</strong> sala de aula, Moysés (2007,<br />

p. 21-22) observa que para entender tais construções é preciso observar as diversas influências<br />

como o contexto socioeconômico e cultural, o grupo, a família e as interações interpares.<br />

Diante destas verificações, a orientação basilar deste trabalho se deu a partir <strong>da</strong><br />

observação <strong>da</strong> influência <strong>da</strong>s relações intra e interpessoais em uma classe de ensino coletivo<br />

sobre o autoconceito e sua interface com a aprendizagem musical.<br />

No espaço escolar, nas interações ocorri<strong>da</strong>s em sala de aula o aluno está<br />

constantemente realizan<strong>do</strong> observações sobre si mesmo e sobre os outros. Através destes<br />

processos de avaliação, próprios e de terceiros, ele também vai construin<strong>do</strong> seu autoconceito.<br />

“Como a própria palavra denota, o autoconceito procede de processos cognitivos. Como to<strong>do</strong><br />

processo de percepção, está sujeito a uma série de fatores externos e internos à própria<br />

pessoa” (Moysés, 2007, p. 18). Rodrigues (2006, p. 173), abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a educação inclusiva,<br />

levanta questionamentos acerca <strong>do</strong> conhecimento humano, fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> numa perspectiva<br />

sócio construtivista basea<strong>do</strong> em Vygotsky (1983), o autor acredita que a transformação <strong>do</strong><br />

indivíduo se processa por meio <strong>da</strong>s relações inter e intrapessoais que se estabelecem<br />

reciprocamente.<br />

As crianças e a<strong>do</strong>lescentes estão continuamente perguntan<strong>do</strong> a si mesmos<br />

‘como estou in<strong>do</strong>?’ Elas medem as reações verbais e não-verbais <strong>da</strong>s pessoas<br />

significativas – pais e outros membros <strong>da</strong> família nos primeiros anos, e<br />

amigos, colegas e professores mais tarde – para fazer julgamentos. Os alunos<br />

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comparam seu desempenho a seus próprios padrões e ao desempenho <strong>do</strong>s<br />

pares (WOOFOLK, 2000, p. 78).<br />

As pessoas inseri<strong>da</strong>s neste contexto atuam como “outros significantes”, uma vez que<br />

o indivíduo estabelece relações significativas para a formação de sua identi<strong>da</strong>de. Esta relação<br />

na aprendizagem musical em grupo se constrói de maneira semelhante, pois o ambiente<br />

possui os mesmos elementos forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> autoconceito, ou seja, alunos e professores, e o<br />

desempenho escolar que é <strong>da</strong><strong>do</strong> pela evolução <strong>do</strong> aluno no desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des<br />

musicais.<br />

O autoconceito não é forma<strong>do</strong> apenas a partir de uma perspectiva pessoal de<br />

julgamento, as ideias e opiniões externaliza<strong>da</strong>s por outras pessoas a nosso respeito também<br />

fazem parte <strong>da</strong> construção. Moysés (2005, p. 26) destaca a relevância <strong>da</strong>s pessoas que a<br />

criança considera importantes, como pais e “outros significantes”, para a formação <strong>do</strong><br />

autoconceito e <strong>da</strong> auto-estima. A autora afirma ain<strong>da</strong> que a partir <strong>da</strong>s relações desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

com estas pessoas é que “a criança estabelece as relações mais significativas para a formação<br />

de sua identi<strong>da</strong>de. Em suas mãos estão o poder e o controle e, em consequência, a aprovação e<br />

a recompensa ou a reprovação e o castigo” (MOYSÉS, 2005, p. 26). A influência destas<br />

pessoas se dá por meio <strong>da</strong> importância que elas representam para o indivíduo e <strong>da</strong>s reações<br />

gera<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> aprovação ou reprovação elaboran<strong>do</strong> um conceito positivo ou negativo de<br />

si mesmo. Desta forma, transpon<strong>do</strong> estas relações para a aula de música em grupo, pode-se<br />

afirmar que as atitudes e opiniões <strong>do</strong>s professores e colegas numa aula de música influenciam<br />

diretamente ou indiretamente na formação <strong>do</strong> autoconceito <strong>do</strong> aluno.<br />

Sobre a formação <strong>do</strong> autoconceito, Antunes (2007, p. 20-21) chama a atenção para os<br />

rótulos que são impostos às crianças, que muitas vezes lhes tira a oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> autoexploração,<br />

uma vez que depositam extrema confiança nos adultos e acabam por aceitar estes<br />

rótulos sem fazer algum questionamento sobre seu próprio conceito. Contu<strong>do</strong> estes rótulos<br />

podem estar corretos ou não, e “é por essa razão que a escola precisa aju<strong>da</strong>r to<strong>da</strong> criança a se<br />

autoconhecer, pois assim sentir-se-á apoia<strong>da</strong> em bases firmes sobre as quais construirá sua<br />

vi<strong>da</strong> e saberá identificar o que necessita ser mu<strong>da</strong><strong>do</strong> e como realizar essa mu<strong>da</strong>nça”<br />

(ANTUNES, 2007, p. 21). Não basta apenas, para a escola, construir um ambiente onde<br />

alunos e professores se respeitem, é preciso também desenvolver uma postura crítica nos<br />

alunos de forma que ele possa, por si mesmo, desenvolver sua auto-imagem.<br />

A aprendizagem musical realiza<strong>da</strong> em grupo, seja ela realiza<strong>da</strong> numa aula coletiva de<br />

instrumento ou qualquer ouro grupo, proporciona aos alunos a oportuni<strong>da</strong>de de se depararem<br />

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com a heterogenei<strong>da</strong>de, fazen<strong>do</strong> com que se confrontem com a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> outro a to<strong>do</strong> o<br />

momento, pois ca<strong>da</strong> aluno traz consigo sua história e sua cultura que é compartilha<strong>da</strong> com os<br />

demais. Na aprendizagem musical, assim como em qualquer ambiente escolar, o aluno está<br />

exposto a diversas referências que influenciam a formação <strong>do</strong> seu autoconceito, muitas vezes<br />

ele vê o professor como um referencial de ideal e o colega como um espelho, em que ele pode<br />

se projetar. Contu<strong>do</strong> Antunes (2007, p. 21) ressalta que “se existe coerência e congruência<br />

entre a maneira como se vê e os anseios <strong>do</strong> que desejaria ser, apresentará um desenvolvimento<br />

equilibra<strong>do</strong> e integra<strong>do</strong>.” O autor segue enfatizan<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>s professores<br />

deven<strong>do</strong> ensinar a criança a se conhecer e buscar seus ideais.<br />

Abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a relação entre autoconceito e auto-estima Moysés (2007, p. 27) afirma<br />

que “a auto-estima representa o nível de satisfação que a pessoa sente quan<strong>do</strong> se confronta<br />

com o seu autoconceito.” A auto-estima diz respeito ao julgamento pessoal, positivo ou<br />

negativo, que a pessoa faz de si mesma, “em termos práticos, a auto-estima se revela como a<br />

disposição que temos para nos ver como pessoas merece<strong>do</strong>ras de respeito e capazes de<br />

enfrentar os desafios básicos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (MOYSÉS, 2007, p. 19). Guilhard (2002, p. 12)<br />

enfatiza diversos aspectos que contribuem para a formação <strong>da</strong> auto-estima, em especial<br />

destacam-se aqueles que dizem respeito às interações sociais:<br />

Auto-estima é produzi<strong>da</strong> por uma história de reforçamento positivo social,<br />

em que a pessoa tem seus comportamentos reforça<strong>do</strong>s pelo outro; [...] Autoestima<br />

só se desenvolve a partir <strong>da</strong> inserção <strong>da</strong> pessoa num contexto social e<br />

esse desenvolvimento é proporcional à capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> meio social (<strong>do</strong>s pais,<br />

família etc.) de prover reforça<strong>do</strong>res positivos para seus membros (filhos, por<br />

ex.) (GUILHARD, 2002, p. 12).<br />

Para Humpreys (2001, p. 16) a auto-estima possui duas dimensões principais, são<br />

elas: o sentimento de ser ama<strong>do</strong> e o sentimento de ser capaz. Para o autor estas dimensões <strong>da</strong><br />

auto-estima podem ser percebi<strong>da</strong>s no comportamento <strong>da</strong> criança, e cita os seguintes<br />

exemplos: a criança que demonstra um comportamento agressivo e que costuma chamar a<br />

atenção pode ter dúvi<strong>da</strong>s sobre a sua capaci<strong>da</strong>de de ser ama<strong>da</strong>; a criança perfeccionista que<br />

evita o fracasso, que se irrita com os erros e com as provas escolares pode estar em dúvi<strong>da</strong><br />

sobre a sua capaci<strong>da</strong>de. Humpreys acrescenta ain<strong>da</strong> que a auto-estima <strong>do</strong>s pais e professores<br />

também será refleti<strong>da</strong> na formação <strong>da</strong> auto-estima <strong>da</strong> criança, “os pais e professores com<br />

auto-estima eleva<strong>da</strong> vão induzir uma auto-estima eleva<strong>da</strong> nas crianças, mas o inverso também<br />

é ver<strong>da</strong>deiro” (HUMPREYS, 2001, p. 16).<br />

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Outro ponto importante volta<strong>do</strong> para a construção <strong>do</strong> conceito intrapessoal e<br />

interpessoal refere-se ao campo <strong>da</strong>s inteligências múltiplas propostas por Gardner, inseri<strong>da</strong>s<br />

no campo <strong>da</strong>s inteligências pessoais. O autor refere-se à inteligência intrapessoal como sen<strong>do</strong><br />

“a capaci<strong>da</strong>de de a pessoa se conhecer, de ter um modelo individual de trabalho eficiente –<br />

incluin<strong>do</strong> ai os próprios desejos, me<strong>do</strong>s e capaci<strong>da</strong>des - e de usar estas informações com<br />

eficiência para regular a própria vi<strong>da</strong>” (GARDNER, 2001, p. 58). Já a inteligência<br />

interpessoal “denota a capaci<strong>da</strong>de de entender as intenções as motivações e os desejos <strong>do</strong><br />

próximo e, consequentemente, de trabalhar de mo<strong>do</strong> eficiente com terceiros” (Idem, p. 57).<br />

A percepção de desempenho entre alunos e a construção <strong>do</strong> autoconceito<br />

As interações pessoais proporciona<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> aprendizagem musical em grupo<br />

são destaca<strong>da</strong>s por diversos autores. De acor<strong>do</strong> com Moraes (1997, p. 71) o principal produto<br />

<strong>do</strong> ensino coletivo como proposta meto<strong>do</strong>lógica é o desenvolvimento <strong>da</strong>s atitudes <strong>do</strong>s alunos<br />

tanto em termos musicais quanto sociais. Dentre as inúmeras vantagens apresenta<strong>da</strong> por esta<br />

meto<strong>do</strong>logia, Cruvinel (2005, p. 95) enfatiza “a interação entre os alunos, o despertar <strong>da</strong><br />

socialização, a cooperação, a motivação, o rendimento e o ambiente lúdico provoca<strong>do</strong> por esta<br />

interação, entre outros aspectos.”<br />

É possível verificar numa aula de instrumento em grupo alunos fazen<strong>do</strong> observações<br />

sobre o seu desempenho e o desempenho <strong>do</strong>s outros. Essas observações podem ser externa<strong>da</strong>s<br />

através de brincadeiras, <strong>da</strong> correção de erros, <strong>da</strong> cooperação chaman<strong>do</strong> a atenção <strong>do</strong> professor<br />

apontan<strong>do</strong> quem errou, entre outras observações.<br />

Por meio <strong>do</strong> questionamento em relação à forma como os alunos viam seu<br />

desempenho, esta pesquisa objetivou verificar a construção <strong>do</strong> autoconceito musical. O<br />

autoconceito foi abor<strong>da</strong><strong>do</strong> sob a ótica <strong>da</strong> educação como autoconceito acadêmico, para tanto,<br />

“enten<strong>da</strong>-se por autoconceito acadêmico, aquilo que o aluno pensa de si próprio, sobre o seu<br />

desempenho e rendimento escolar e que lhe é forneci<strong>do</strong> pelas notas que tem e pela atitude que<br />

os professores, pais e colegas a<strong>do</strong>tam em relação a ele” (SENOS; DINIZ 1998, p. 268).<br />

O autoconceito acadêmico e sua relação com a motivação têm si<strong>do</strong> alvo de discussão<br />

entre diversos autores, a exemplo de Senos (1997), Moysés (2007), Silva e Braga (2009). É<br />

muito delica<strong>do</strong> afirmar se o rendimento escolar interfere na auto-estima ou se a auto-estima<br />

influencia no nível de rendimento escolar, ressalta Moysés (2007, p. 38), de acor<strong>do</strong> com a<br />

autora as pessoas que possuem uma percepção positiva de si mesma, se sentem mais<br />

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confiantes e têm uma boa expectativa para o sucesso, acabam se sain<strong>do</strong> bem. Contu<strong>do</strong>, há<br />

sempre que se destacar que inúmeros outros aspectos podem influenciar tais fatores.<br />

Para verificar a construção <strong>do</strong> autoconceito, que também surge a partir <strong>da</strong>s<br />

observações e comparações entre os alunos, foi pergunta<strong>do</strong> se eles comparavam o seu<br />

desempenho com o desempenho <strong>do</strong>s demais colegas, e como os mesmos observavam esse<br />

desempenho musical em relação aos demais. Os alunos foram identifica<strong>do</strong>s como AEC (aluno<br />

<strong>do</strong> ensino coletivo) e classifica<strong>do</strong>s em relação à ordem de entrevista, as respostas foram<br />

transcritas no quadro a seguir:<br />

Quadro 1 – Observação de desempenho musical pessoal.<br />

Aluno<br />

AEC 1<br />

AEC 2<br />

AEC 3<br />

AEC 4<br />

AEC 5<br />

AEC 6<br />

AEC 7<br />

AEC 8<br />

AEC 9<br />

AEC 10<br />

AEC 11<br />

AEC 12<br />

AEC 13<br />

AEC 14<br />

AEC 15<br />

AEC 16<br />

Como você vê seu desempenho em relação ao desempenho <strong>do</strong>s seus colegas?<br />

Um bom desempenho (porém afirma não fazer esse tipo de observação).<br />

Mais ou menos, bem legal pelo menos.<br />

Afirma não fazer esse tipo de observação.<br />

Afirma não fazer esse tipo de observação.<br />

Bem.<br />

Mesmo desempenho.<br />

Toco bem.<br />

Afirma não fazer esse tipo de observação.<br />

Afirma não fazer esse tipo de observação.<br />

Com os elogios e críticas <strong>do</strong>s professores.<br />

Que eles aprendem melhor que eu.<br />

Às vezes me sinto burra comparan<strong>do</strong> com os colegas.<br />

Um pouco atrasa<strong>do</strong>.<br />

Muito bem.<br />

Bem, porque nós aprendemos juntos e somos bem desenvolvi<strong>do</strong>s.<br />

Às vezes igualmente na aprendizagem e também quan<strong>do</strong> vejo alguém melhor<br />

que eu, estu<strong>do</strong> mais.<br />

AEC 17<br />

AEC 18<br />

AEC 19<br />

Não respondeu.<br />

To<strong>do</strong>s iguais.<br />

Bem. Acho que em algumas músicas eu acompanho bem, e sempre tento me<br />

igualar.<br />

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AEC 20<br />

AEC 21<br />

Não respondeu.<br />

Igual.<br />

Fonte: Dantas (2010, p. 120).<br />

A maioria <strong>do</strong>s alunos entrevista<strong>do</strong>s realiza comparações entre o seu desempenho e o<br />

<strong>do</strong>s colegas e através <strong>da</strong>s comparações vai estabelecen<strong>do</strong> elementos para verificar o seu nível<br />

de desempenho e, dentre outras variáveis, formular um autoconceito. A partir <strong>da</strong>s respostas<br />

pôde-se verificar que estas observações influenciam na formação <strong>do</strong> autoconceito, uma vez<br />

que a observação acaba por gerar parâmetros sobre os quais é construí<strong>da</strong> a sua imagem como<br />

instrumentista. Esta constatação vem corroborar com a idéia de Woofolk (2000, p. 78): as<br />

comparações que o aluno faz entre seu desempenho e o <strong>do</strong>s demais alunos <strong>da</strong> turma também<br />

influenciam na construção <strong>do</strong> autoconceito<br />

Contribuições e reflexões<br />

Nas interações ocorri<strong>da</strong>s na sala de aula estão presentes importantes fatores que<br />

contribuem para a formação <strong>do</strong> autoconceito <strong>do</strong> aluno. Por se tratar de um trabalho volta<strong>do</strong><br />

para a educação musical esta pesquisa debruçou-se especialmente sobre o autoconceito<br />

acadêmico, que diz respeito à percepção <strong>do</strong> aluno em relação ao seu desempenho escolar, e<br />

que tem ligação com a motivação e a formação <strong>da</strong> auto-estima. Além <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>s<br />

avaliações e <strong>da</strong> opinião <strong>do</strong> professor, entre outros aspectos, um <strong>do</strong>s fatores que contribuem<br />

para esta construção, é a comparação com os outros colegas que servem como parâmetro, uma<br />

vez que os alunos sempre estão realizan<strong>do</strong> observações entre si. Embora, muitas vezes, essa<br />

comparação possa gerar uma percepção negativa de si mesmo para aqueles que consideram<br />

seu desempenho inferior em relação aos demais, este parâmetro pode servir como um<br />

impulso, empenhan<strong>do</strong>-se para obter um melhor desempenho no instrumento, surgin<strong>do</strong> como<br />

uma forma de manutenção e proteção <strong>da</strong> auto-estima, e consequente influência sobre a<br />

motivação.<br />

Com a realização <strong>do</strong> trabalho foi possível refletir sobre fatores que influenciam a<br />

formação e manutenção <strong>do</strong> autoconceito musical <strong>do</strong>s alunos e consequentemente a motivação<br />

no processo de aprendizagem observa<strong>da</strong> no ensino coletivo. É reconheci<strong>da</strong> a importância <strong>do</strong>s<br />

professores e <strong>do</strong>s colegas <strong>da</strong> classe de ensino coletivo como “outros significantes”. Desta<br />

maneira sabe-se que a opinião <strong>da</strong>s pessoas que participam <strong>do</strong> processo de ensino e<br />

aprendizagem tem incalculável valor. Em especial destaca-se a atuação <strong>do</strong> professor de<br />

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música e suas atitudes frente a seus alunos, bem como a maneira como intermedeia as<br />

relações entre os estu<strong>da</strong>ntes. Entende-se que “alunos com uma atitude positiva face às suas<br />

tarefas escolares, têm na reali<strong>da</strong>de melhores resulta<strong>do</strong>s e consequentemente, um autoconceito<br />

acadêmico reforça<strong>do</strong>” (SENOS; DINIZ 1998, p. 02). O oposto também se confirma no fato de<br />

que o aluno que não se sente confiante diante de suas capaci<strong>da</strong>des costuma desenvolver uma<br />

auto-estima baixa e consequente desmotivação para os estu<strong>do</strong>s, fato que pode ser refleti<strong>do</strong> em<br />

qualquer ambiente escolar inclusive nos estu<strong>do</strong>s musicais.<br />

Contu<strong>do</strong>, dialogan<strong>do</strong> com Moysés (2007, p. 21) entende-se que não é possível tratar<br />

aspectos como auto-estima o autoconceito de uma forma linear, já que “a rede de influências<br />

<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s interpsicológicos é muito mais ampla <strong>do</strong> que se pode supor à primeira vista.”<br />

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Referências<br />

ANTUNES, Celso. Relações interpessoais e auto-estima: a sala de aula como um espaço <strong>do</strong><br />

crescimento integral. Fascículo 16. Petrópolis: Vozes, 2007.<br />

CRUVINEL, Flávia Maria. Educação musical e transformação social: uma experiência com<br />

ensino coletivo de cor<strong>da</strong>s. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cultura, 2005.<br />

DANTAS, Tais. Ensino coletivo de instrumentos musicais: motivação, auto-estima e as<br />

interações na aprendizagem musical em grupo. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) – Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal <strong>da</strong> Bahia. Salva<strong>do</strong>r: 2010.<br />

GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformula<strong>do</strong>. Tradução de Intelligence<br />

Reframed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.<br />

GUILHARDI, Hélio José. Auto-estima, autoconfiança e responsabili<strong>da</strong>de. TCR. Disponível<br />

em: < http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/helio/Autoestima_conf_respons.pdf>.<br />

Acesso em: 26 abr. 2009.<br />

HUMPREYS, Toni. Auto-estima: a chave para a educação de seu filho. São Paulo: Groud,<br />

2001.<br />

MORAES, Abel. Ensino Instrumental em grupo: uma introdução. Música Hoje, Belo<br />

Horizonte, V. 4, p. 70-78, 1997.<br />

MOYSÉS, Lúcia. A auto-estima se constrói passo a passo. Campinas: Papirus, 2005.<br />

RODRIGUES, David. Inclusão e educação: <strong>do</strong>ze olhares sobre a educação inclusiva. São<br />

Paulo: Summus, 2006.<br />

SENOS, Jorge. Identi<strong>da</strong>de social, auto-estima e resulta<strong>do</strong>s escolares. Análise Psicológica.<br />

[online]. Março 1997, vol.15, no.1. Disponível em:<br />

. Acesso em: 22 mar. 2009.<br />

SENOS, Jorge; DINIZ, Tereza. Auto-estima, resulta<strong>do</strong>s escolares e indisciplina: Estu<strong>do</strong><br />

exploratório numa amostra de a<strong>do</strong>lescentes. Análise Psicológica. [online]. Junho 1998, vol.16,<br />

no. 2. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2009.<br />

SILVA, Tais Dantas; BRAGA, Simone Marques. Identi<strong>da</strong>de social e motivação no<br />

desenvolvimento musical: relato de experiência. In: ENCONTRO NACIONAL DA<br />

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL, 18., 2009, Curitiba. <strong>Anais</strong>...<br />

Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2009, p. 697-703.<br />

WOOFOLK, Anita E. Psicologia <strong>da</strong> educação. Porto Alegre: Artemed, 2000.<br />

YIN, Robert K. Estu<strong>do</strong> de caso: planejamento e méto<strong>do</strong>s. Tradução de Daniel Grassi. 3. ed.<br />

Porto Alegre: Bookman, 2005.<br />

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“Sempre fiz zoa<strong>da</strong> com música na igreja, mas nunca toquei na<strong>da</strong>”: calouros,<br />

perfis e a percepção de si no curso de Graduação em Música<br />

Marco Tole<strong>do</strong><br />

UFC - Sobral<br />

marcotole<strong>do</strong>@ufc.br<br />

Leonar<strong>do</strong> Borne<br />

UFC - Sobral<br />

leo@ufc.br<br />

Guillermo Tinoco Caceres<br />

UFC - Sobral<br />

guillermotin@yahoo.com.br<br />

Marcelo Mateus de Oliveira<br />

UFC - Sobral<br />

marcelosuetam@gmail.com<br />

Simone Santos Sousa<br />

UFC - Sobral<br />

simsousa@yahoo.com.br<br />

Joana D’arc Almei<strong>da</strong> Teles<br />

UFC - Sobral<br />

Joana_<strong>do</strong>arco@hotmail.com<br />

Resumo: Esta pesquisa em an<strong>da</strong>mento visa identificar o perfil <strong>do</strong>s alunos calouros <strong>do</strong> curso<br />

de Música – Licenciatura <strong>da</strong> UFC – campus de Sobral. Para obter tais informações, recorreuse<br />

a um protocolo de pesquisa basea<strong>do</strong> na análise de questionários realiza<strong>do</strong>s com 30<br />

estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> curso, portfólio com autoavaliações, escritos e mensagens posta<strong>da</strong>s em<br />

um ambiente virtual <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de, bem como anotações realiza<strong>da</strong>s por <strong>do</strong>centes durante a<br />

Semana de Integração <strong>da</strong> Música. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s apontam, generalizan<strong>do</strong>, que os nossos estu<strong>da</strong>ntes<br />

são: homens e mulheres de i<strong>da</strong>de até 29 anos; oriun<strong>do</strong>s tanto na ci<strong>da</strong>de sede <strong>do</strong> curso quanto<br />

de outras locali<strong>da</strong>des; que souberam <strong>do</strong> curso através <strong>da</strong> internet ou por amigos; que optaram<br />

por fazer um curso de música desde o início <strong>do</strong> SiSU, marcan<strong>do</strong>-o como primeira opção;<br />

optaram por estu<strong>da</strong>r um instrumento harmônico e, por assim dizer, de mais fácil acesso; já<br />

tinham contato com a música antes <strong>do</strong> curso; e, para concluir, há um grande movimento<br />

individual de superação de problemas para poder realizar o seus estu<strong>do</strong>s de maneira adequa<strong>da</strong><br />

e satisfatória.<br />

Palavras-chave: Perfis de calouros, percepção de si, ensino superior de música.<br />

Introdução<br />

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Na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará - UFC, as discussões sobre a criação de um curso<br />

superior em música iniciam ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 1950 e começam a tomar forma a partir <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 1980, perío<strong>do</strong> de grande efervescência no campo musical <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Fortaleza.<br />

Em 1996, foi cria<strong>do</strong> um curso de extensão em formação musical (SILVA, 2009) que, em<br />

2003, <strong>da</strong>ria início ao processo de elaboração de uma proposta de criação <strong>do</strong>, então, curso de<br />

Educação Musical, atual curso de Música – Licenciatura, aprova<strong>do</strong> em 2005. Sua primeira<br />

turma de forman<strong>do</strong>s é de 2009, mesmo ano <strong>da</strong> criação <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> Curso de Música <strong>da</strong><br />

universi<strong>da</strong>de, desta vez no campus Cariri. Em 2010 é cria<strong>do</strong> o curso de Música <strong>do</strong> campus de<br />

Sobral mediante a Resolução nº 12/CONSUNI, de 27 de maio.<br />

Com a lei 11.769/2008, que torna a música componente curricular obrigatório na<br />

escola, vemos nos cursos de Licenciatura em Música a oportuni<strong>da</strong>de de atender a deman<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

formação de profissionais para as escolas. Enquanto isso, o REUNI, programa <strong>do</strong> governo<br />

federal para apoio a planos de Reestruturação e Expansão <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des Federais<br />

brasileiras viabiliza a criação e reestruturação de cursos de graduação nas universi<strong>da</strong>des<br />

federais em to<strong>do</strong> o país. Neste contexto, estu<strong>da</strong>ntes de música de Sobral/CE, ten<strong>do</strong> à frente a<br />

Escola de Música Maestro José Wilson Brasil, começam um movimento para a criação de um<br />

curso superior em Música na sua ci<strong>da</strong>de. Aproveitan<strong>do</strong> a visita <strong>do</strong> então Presidente <strong>da</strong><br />

República, Luiz Inácio Lula <strong>da</strong> Silva, à ci<strong>da</strong>de em setembro de 2009, para a soleni<strong>da</strong>de de<br />

inauguração de <strong>do</strong>is novos campi <strong>do</strong> Instituto Federal <strong>do</strong> Ceará (IFCE), os estu<strong>da</strong>ntes pedem a<br />

criação <strong>do</strong> curso.<br />

Durante a soleni<strong>da</strong>de, algumas pessoas empunharam uma faixa em que<br />

pediam a criação <strong>do</strong> curso de Música no campus <strong>da</strong> UFC em Sobral. Lula<br />

perguntou ao reitor, Jesual<strong>do</strong> Farias, se era possível atender ao pedi<strong>do</strong>. Com<br />

a espera<strong>da</strong> resposta positiva, Lula pediu: “Então levante e balance a cabeça<br />

três vezes que é possível fazer”, sob o som <strong>do</strong>s aplausos <strong>da</strong> platéia<br />

(BOMFIM, 2009).<br />

A primeira turma de estu<strong>da</strong>ntes iniciou no ano de <strong>2011</strong>, com quarenta vagas e<br />

ingresso anual. O curso funciona no perío<strong>do</strong> noturno, sen<strong>do</strong> a primeira licenciatura a ser<br />

ofereci<strong>da</strong> por esta uni<strong>da</strong>de acadêmica (MORAIS et al, 2009).<br />

Ain<strong>da</strong> que o interesse em graduar-se em música usualmente venha de pessoas com<br />

conhecimento e treinamento musical prévio, prevê-se no PPP <strong>do</strong> curso o ingresso de<br />

estu<strong>da</strong>ntes no ensino superior com conhecimentos elementares ou sem bagagem práticoteórica<br />

em música, fato possível pela não a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> teste de habili<strong>da</strong>de específica, ou teste de<br />

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aptidão, como parte <strong>do</strong> processo seletivo. Esses estu<strong>da</strong>ntes, portanto, terão a iniciação musical<br />

formal ao ingressar no curso.<br />

Enquanto <strong>do</strong>centes <strong>do</strong> curso, comungamos o pensamento que é interessante que o<br />

discente, além de ser professor em formação, tenha em mente, através <strong>da</strong> experiência, as<br />

peculiari<strong>da</strong>des <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> de música, seu ritmo de desenvolvimento e de seus colegas,<br />

fatores esses que estão diretamente relaciona<strong>do</strong>s à prática que ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte exercerá no<br />

futuro. Tardif e Lessard (2005) apontam para a <strong>do</strong>cência como uma indissolubili<strong>da</strong>de entre<br />

ativi<strong>da</strong>de, status e experiência. Os autores salientam que essa experiência pode ocorrer tanto<br />

no momento <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>cente quanto nos momentos formativos, como é o<br />

caso <strong>do</strong> curso de música <strong>da</strong> UFC, onde há possível heterogenei<strong>da</strong>de de conhecimentos e<br />

habili<strong>da</strong>des musicais <strong>do</strong>s ingressantes.<br />

Uma dessas peculiari<strong>da</strong>des surgiu em uma ro<strong>da</strong> de conversa na Semana de<br />

Integração <strong>da</strong> Música 1 de <strong>2011</strong> através <strong>da</strong> fala de um estu<strong>da</strong>nte:<br />

“Sempre fiz zoa<strong>da</strong> com música na igreja, mas nunca toquei na<strong>da</strong>”<br />

Essa fala e a de outros alunos iniciaram um debate informal entre os <strong>do</strong>centes acerca<br />

<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de e de quão diferencia<strong>do</strong>s são os discentes, a sua história de vi<strong>da</strong> e a sua<br />

motivação para estu<strong>da</strong>r música. Da<strong>da</strong> essa reali<strong>da</strong>de, uma in<strong>da</strong>gação primordial surgiu: quem<br />

é o nosso aluno recém ingresso na primeira turma <strong>do</strong> curso? A partir <strong>da</strong>í, diversas outras<br />

questões surgiram em nossos encontros <strong>do</strong>centes: qual a reali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> nosso aluno? O que o<br />

motivou a escolher o curso de Música – Licenciatura em detrimento de outros ofereci<strong>do</strong>s na<br />

região de Sobral e na própria UFC em Fortaleza ou na UFPI? Qual a percepção de si que ele<br />

constrói perante o curso, os professores e os alunos?<br />

As experiências na área<br />

Mateiro e Borghetti (2007) realizaram um estu<strong>do</strong> no qual buscaram identificar a<br />

identi<strong>da</strong>de, os conhecimentos musicais e a escolha profissional de um grupo alunos recém<br />

ingressos no curso de licenciatura <strong>da</strong> UDESC, no esta<strong>do</strong> de Santa Catarina, no ano de 2005. A<br />

reali<strong>da</strong>de então descrita apontava para calouros que buscavam aprimorar seus conhecimentos<br />

musicais e, consequentemente por estarem matricula<strong>do</strong>s em um curso de licenciatura, serem<br />

professores particulares de instrumento musical. O fato interessante é que, assim como ocorre<br />

1 A Semana de Integração <strong>da</strong> Música foi realiza<strong>da</strong> na primeira semana de aula, e tinha como propósito apresentar<br />

a UFC e o Curso de Música aos discentes. Na sua organização, contou com palestras, oficinas de instrumentos<br />

musicais, oficinas de ambientação coral, discussão sobre o PPP e sobre o movimento estu<strong>da</strong>ntil.<br />

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de forma semelhante no curso de Música <strong>da</strong> UFC/Sobral, o curso <strong>da</strong> UDESC tem por<br />

pretensão formar profissionais capazes de promover a “consoli<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> conhecimento<br />

musical junto à rede escolar, às instituições culturais e a grupos artísticos. Deverá, de mo<strong>do</strong><br />

geral, desenvolver as competências musicais, pe<strong>da</strong>gógicas, intelectuais, sociais e políticas<br />

inerentes à formação <strong>do</strong> professor” (UDESC, 2007 p.03).<br />

Enquanto corpo <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> curso de Música <strong>da</strong> UFC/Sobral, começamos a perceber<br />

que há relação direta <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de catarinense com a reali<strong>da</strong>de cearense. Iniciamos uma série<br />

de debates que resultou em questões fun<strong>da</strong>mentais para a realização <strong>do</strong> nosso curso face à<br />

nossa reali<strong>da</strong>de. Poderíamos chamar a nossa reali<strong>da</strong>de de peculiar, pois até o momento não<br />

temos conhecimento de nenhuma outra IES pública brasileira que, para ingresso no seu curso<br />

de música, não seja necessária prova de aptidão em música. Soma-se a essa característica o<br />

fato de que to<strong>da</strong>s as vagas para ingresso na UFC são realiza<strong>da</strong>s através <strong>do</strong> SiSU 2 , o que<br />

promove uma mobili<strong>da</strong>de muito maior por parte <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes interessa<strong>do</strong>s, conforme aponta<br />

o Reitor <strong>da</strong> UFC (UFC, <strong>2011</strong>).<br />

Caminhos Meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Pela dificul<strong>da</strong>de de estabelecer uma investigação livre de variáveis e devi<strong>do</strong> à<br />

complexi<strong>da</strong>de de tal fenômeno recorremos ao estu<strong>do</strong> de caso como estratégia de pesquisa<br />

(YIN, 2005). Além <strong>do</strong> mais, o estu<strong>do</strong> de caso nos permitirá a utilização de diversos méto<strong>do</strong>s<br />

de investigação que nos serão úteis para o desenvolvimento de to<strong>do</strong> o longo desta pesquisa.<br />

Para buscar respostas que subsidiem nosso estu<strong>do</strong> e, consequentemente, nossas<br />

práticas <strong>do</strong>centes e ações acadêmicas, realizamos um questionário com, além de <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

básicos de identificação como nome e <strong>da</strong>ta de nascimento, perguntas abertas tratan<strong>do</strong> sobre as<br />

opções <strong>do</strong> SiSU, local de origem e de moradia, contato prévio com a música, razão <strong>da</strong> escolha<br />

<strong>do</strong> curso e <strong>do</strong> instrumento, bem como sucinta análise <strong>da</strong> sua participação <strong>do</strong> curso.<br />

Solicitamos a to<strong>do</strong>s que quisessem participar desse estu<strong>do</strong> que respondessem a esse<br />

questionário. Foram retorna<strong>do</strong>s 30 questionários preenchi<strong>do</strong>s, o que perfaz 75% <strong>do</strong>s discentes<br />

ingressantes e 79% <strong>do</strong>s alunos ativos.<br />

Adicionalmente, contamos com anotações realiza<strong>da</strong>s por <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s professores<br />

durante a Semana de Integração <strong>da</strong> Música, porém esses <strong>da</strong><strong>do</strong>s eram apenas parciais, pois não<br />

2 O Sistema de Seleção Unifica<strong>da</strong> é, desde 2010, a única maneira a<strong>do</strong>ta<strong>da</strong> pela UFC para o ingresso de calouros.<br />

Os candi<strong>da</strong>tos devem prestar o Exame Nacional para o Ensino Médio e efetuar uma inscrição na plataforma <strong>do</strong><br />

SiSU indican<strong>do</strong> duas opções de cursos de graduação, tecnólogo ou técnico em qualquer IES ou IF no Brasil que<br />

participe dessa mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de seleção.<br />

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estavam presentes to<strong>do</strong>s os estu<strong>da</strong>ntes matricula<strong>do</strong>s no curso 3 . Para completar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

disponíveis, foram disponibiliza<strong>da</strong>s autoavaliações que ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte entregou na disciplina<br />

de Percepção e Solfejo I.<br />

Após a tabulação desses <strong>da</strong><strong>do</strong>s, buscaremos analisá-los à luz <strong>da</strong> meto<strong>do</strong>logia<br />

qualitativa. Apoiamo-nos na proposição de Bog<strong>da</strong>n & Biklen (2006) sobre as cinco<br />

características <strong>da</strong> pesquisa qualitativa, a saber: 1) a fonte <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s é o ambiente natural e não<br />

uma situação laboratorial; 2) é descritiva, narra a reali<strong>da</strong>de; 3) é foca<strong>da</strong> mais no processo que<br />

no produto; 4) é indutiva, sua análise não foca a confirmação de hipóteses ou teorias; 5) é<br />

preocupa<strong>da</strong> com o significa<strong>do</strong> e com a perspectiva que as pessoas dão à vi<strong>da</strong> e to<strong>do</strong>s os<br />

componentes desta.<br />

Tabulação <strong>do</strong>s Da<strong>do</strong>s<br />

Da<strong>do</strong>s básicos <strong>do</strong> grupo<br />

Inicialmente fez-se o levantamento <strong>do</strong> gênero <strong>do</strong>s alunos. Como já dito, o grupo<br />

totaliza 30 estu<strong>da</strong>ntes, <strong>do</strong>s quais apenas oito são mulheres, ou seja, 27%.<br />

O gráfico abaixo mostra que a faixa etária <strong>do</strong>s alunos é bastante diversifica<strong>da</strong>, no<br />

entanto sem diferenças significativas entre elas. Percebe-se que o número de estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong><br />

categoria com menos de 20 anos se iguala ao número <strong>da</strong> categoria entre 20 e 24 anos, ambas<br />

com 27% ca<strong>da</strong>. A categoria com o número menor de estu<strong>da</strong>ntes é de 30 anos ou mais com<br />

17% e a categoria com maior representativi<strong>da</strong>de é a de 25 a 29 anos, totalizan<strong>do</strong> 30% <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes.<br />

10<br />

8<br />

6<br />

30 anos ou<br />

mais<br />

25 a 29 anos<br />

4<br />

2<br />

0<br />

I<strong>da</strong>de<br />

20 a 24 anos<br />

menos de 20<br />

anos<br />

FIGURA 1 – Faixa etária<br />

3 Por problemas amplamente divulga<strong>do</strong>s na mídia nacional acerca <strong>do</strong> ENEM 2010, o SiSU <strong>2011</strong> teve seu<br />

calendário adia<strong>do</strong>, o que colidiu com o calendário acadêmico <strong>da</strong> UFC. O resulta<strong>do</strong> disso foram estu<strong>da</strong>ntes (em<br />

torno de 20% <strong>da</strong> turma) ingressan<strong>do</strong> no curso oficialmente apenas na terceira semana letiva.<br />

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Já quanto à origem geográfica, 57% <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes não são oriun<strong>do</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />

Sobral, sede <strong>do</strong> curso. O mapa abaixo nos mostra as ci<strong>da</strong>des de onde vêm esses estu<strong>da</strong>ntes.<br />

6<br />

5<br />

Fortaleza<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

Itapipoca<br />

Cruz<br />

TianguàFrecheirinhaTaperuaba<br />

St. Quitéria Massapê<br />

estu<strong>da</strong>n<br />

tes<br />

0<br />

Fortaleza<br />

Massapê<br />

FIGURA 2 – Origem geográfica<br />

Desses estu<strong>da</strong>ntes oriun<strong>do</strong>s de outras ci<strong>da</strong>des (17), seis se mu<strong>da</strong>ram para Sobral e<br />

um, proveniente de Fortaleza, se mu<strong>do</strong>u para o município de Cariré contabilizan<strong>do</strong> 11<br />

estu<strong>da</strong>ntes que, mesmo após o início <strong>da</strong>s aulas, ain<strong>da</strong> continuam moran<strong>do</strong> fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />

Sobral. O mapa abaixo mostra as ci<strong>da</strong>des de residência atual destes estu<strong>da</strong>ntes e a distância<br />

que os mesmos percorrem de suas residências até a Universi<strong>da</strong>de.<br />

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FIGURA 3 – Mapa <strong>do</strong>s municípios e distritos de residência <strong>do</strong>s alunos e suas respectivas distâncias até o campus<br />

UFC/Sobral (FONTE: IPECE)<br />

Do interesse à chega<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de<br />

Amigos<br />

SISU<br />

EM Sobral<br />

Imprensa<br />

Internet<br />

FIGURA 4 – Formas de<br />

conhecimento <strong>do</strong> curso<br />

Em se tratan<strong>do</strong> <strong>da</strong> forma que ca<strong>da</strong> discente tomou conhecimento <strong>do</strong> curso de Música<br />

<strong>do</strong> campus de Sobral, o gráfico acima mostra que 50% <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes souberam <strong>da</strong> existência<br />

diretamente através <strong>do</strong> SiSU. Outros 24% ficaram informa<strong>do</strong>s através de amigos, enquanto<br />

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que 17% citam a internet como forma de ciência. Desses, cinco alunos que indicam a internet<br />

como fonte <strong>da</strong> informação sobre o curso, quatro citam o próprio site de UFC como local de<br />

acesso a essa informação. Observou-se que a Escola de Música de Sobral também foi a<br />

responsável pela informação de três alunos e somente um aluno obteve a informação graças à<br />

imprensa local citan<strong>do</strong> o jornal <strong>da</strong> prefeitura de Sobral.<br />

No SiSU os candi<strong>da</strong>tos podem optar por até <strong>do</strong>is cursos que desejam cursar. Em<br />

análise a essas opções, observa-se que, como demonstra o gráfico abaixo, 73% <strong>do</strong>s alunos<br />

escolheram música como primeira opção, enquanto que para os 27% restantes a música estava<br />

assinala<strong>da</strong> como segun<strong>da</strong> opção.<br />

Musica<br />

Outras<br />

FIGURA 5 – Opções <strong>do</strong> SiSU<br />

Os instrumentos musicais<br />

A prática de expressão vocal coletiva é o eixo condutor <strong>da</strong> formação <strong>do</strong><br />

Licencia<strong>do</strong> em Educação Musical na UFC Campus de Fortaleza. O Curso de<br />

Educação Musical Campus de Sobral, manterá, também, o mesmo caráter de<br />

obrigatorie<strong>da</strong>de para a expressão vocal” (MORAES et al, 2009, p. 13).<br />

Além desta prática vocal obrigatória descrita no PPP <strong>do</strong> curso, existem quatro<br />

práticas instrumentais disponíveis para os alunos <strong>da</strong> primeira turma, a saber: violão, tecla<strong>do</strong>,<br />

instrumentos de cor<strong>da</strong>s fricciona<strong>da</strong>s e instrumentos de sopro. Após a Semana de Integração <strong>da</strong><br />

Música ca<strong>da</strong> aluno teve que escolher uma dentre elas e, uma vez feita a opção, se engajar<br />

durante quatro semestres a um aprofun<strong>da</strong>mento técnico-instrumental. Abaixo se encontra o<br />

gráfico com essas escolhas.<br />

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9<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

cor<strong>da</strong>s<br />

sopros<br />

tecla<strong>do</strong><br />

violão<br />

Figura 6: Escolha <strong>do</strong> Instrumento<br />

O gráfico nos mostra que a grande maioria, 47%, optou pelo violão como<br />

instrumento para a prática instrumental, enquanto que 30% escolheu o tecla<strong>do</strong>, 17% cor<strong>da</strong>s<br />

fricciona<strong>da</strong>s e somente 10% escolheu os instrumentos de sopro.<br />

Influência Musical trazi<strong>da</strong> pelos alunos<br />

Diversos autores, como O’Neill (1996) e Slobo<strong>da</strong> et al (2007), afirmam que além <strong>da</strong>s<br />

competências cognitivas individuais para o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> música, existem os aspectos<br />

sociais. Dentre os diversos aspectos sociais, eles observam como os mais evidentes, a<br />

influência <strong>do</strong>s pais, amigos, professores e instituições ensino.<br />

Outra fonte de influência oriun<strong>da</strong> <strong>do</strong>s aspectos sociais para o aprendiza<strong>do</strong> musical<br />

não menciona<strong>da</strong> pelos autores supracita<strong>do</strong>s vem sen<strong>do</strong> coloca<strong>da</strong> em evidência por estu<strong>do</strong>s<br />

mais recentes. Freitas (2008), através de uma pesquisa com os estu<strong>da</strong>ntes <strong>do</strong>s cursos de<br />

música <strong>da</strong> Unirio, mostra que a função <strong>da</strong> Igreja é bastante relevante para com a Educação<br />

Musical brasileira atualmente.<br />

Visan<strong>do</strong> identificar os espaços de educação musical por onde passaram nossos<br />

estu<strong>da</strong>ntes antes <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de, solicitamos que eles falassem sobre o contato<br />

com a música prévio à graduação. Entre os 30 alunos ingressos nesta primeira turma, 80%<br />

receberam alguma formação musical, seja ela institucionaliza<strong>da</strong> ou não. Consequentemente,<br />

20% <strong>do</strong>s alunos não tiveram qualquer tipo de formação musical anterior ao curso. As<br />

maneiras de contato com a música cita<strong>da</strong>s são: estu<strong>do</strong> autodidático, 40% de indicações; igreja,<br />

32%; cursos e festivais, 27%; escola de música, 17%; através de amigos e família, 17%; coral,<br />

também com 17 %; ban<strong>da</strong>s de música, com 13%, e aulas particulares, com 3% 4 .<br />

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Sobre a percepção de si<br />

Foi solicita<strong>do</strong> aos alunos que descrevessem brevemente a sua participação no curso<br />

de música. As respostas foram soma<strong>da</strong>s às autoavaliações que havia no portfólio <strong>da</strong> disciplina<br />

Percepção e Solfejo. Há, basicamente, <strong>do</strong>is tipos de respostas <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntes. A<br />

primeira diz respeito às dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s para cursar a graduação, representan<strong>do</strong><br />

33,4% <strong>do</strong>s questionários entregues. A outra trata <strong>da</strong> superação de dificul<strong>da</strong>des que são<br />

indica<strong>da</strong>s por eles, totalizan<strong>do</strong> 30% <strong>da</strong>s respostas. Isso está em acor<strong>do</strong> com o relata<strong>do</strong> na<br />

autoavaliação de Percepção e Solfejo, onde 50% <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes falam <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des na<br />

pergunta “Como você avalia o seu desenvolvimento na disciplina” (o número de<br />

autoavaliações entregues é 36), e 38,9% fala <strong>da</strong>s maneiras que superam as dificul<strong>da</strong>des.<br />

Análise <strong>do</strong> Perfil ou Discussão <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

Percebe-se uma diversi<strong>da</strong>de no perfil social <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes. Identificamos uma faixa<br />

etária de 17 a 52 anos, onde se constata haver, simultaneamente, estu<strong>da</strong>ntes recém saí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

ensino médio e entran<strong>do</strong> diretamente na Universi<strong>da</strong>de e alunos já profissionais, já com nível<br />

superior ou cursan<strong>do</strong> outra graduação concomitantemente.<br />

Verificamos que a grande maioria 47% <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes escolheu o violão como<br />

instrumento, segui<strong>do</strong> pelo tecla<strong>do</strong> com 30%. Contrariamente ao espera<strong>do</strong> inicial, onde os<br />

alunos provenientes <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Região teriam expressiva representativi<strong>da</strong>de, não tivemos a<br />

procura espera<strong>da</strong>. Após esse estu<strong>do</strong>, verificamos que grande parte <strong>do</strong>s candi<strong>da</strong>tos que<br />

obtiveram a aprovação no SiSU não foram os músicos provenientes dessas ban<strong>da</strong>s ou <strong>da</strong><br />

Escola de Música de Sobral. Entre os alunos, somente um participa ativamente como mestre<br />

de ban<strong>da</strong> e outros três que participaram em algum momento de suas vi<strong>da</strong>s de uma ban<strong>da</strong> de<br />

música.<br />

Percebeu-se que a escolha <strong>do</strong> violão como instrumento para o curso deveu-se ao<br />

contato com música anterior relata<strong>do</strong> por esses estu<strong>da</strong>ntes, em sua maioria de forma<br />

autodi<strong>da</strong>ta. Vemos o violão como instrumento de fácil acesso e de ampla divulgação pela<br />

própria música popular. Outro fator que parece ter influência na escolha <strong>do</strong> violão e <strong>do</strong><br />

tecla<strong>do</strong> foi o interesse demonstra<strong>do</strong> na utilização desses instrumentos como recurso para o<br />

ensino de música, que representa 47% <strong>do</strong>s alunos.<br />

4 As indicações ultrapassam 100% ten<strong>do</strong> em vista que um estu<strong>da</strong>nte poderia se referir a mais de uma forma de<br />

contato.<br />

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Quanto à percepção de si, notamos o claro diálogo <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s,<br />

como a deman<strong>da</strong> de trabalho e a distância entre sua moradia e a sede <strong>do</strong> curso:<br />

É claro que preciso melhorar muito o meu crescimento neste curso, pois<br />

encontro muitas dificul<strong>da</strong>des, principalmente de tempo. Moro a 72 km <strong>da</strong><br />

sede de Sobral 5 e encontro barreiras inclusive para chegar até a universi<strong>da</strong>de.<br />

Isso prejudica, e muito, a minha aprendizagem. Eu gostaria de ter tempo pra<br />

dedicar a grupos de estu<strong>do</strong> e programas <strong>do</strong> curso, mas infelizmente isso não<br />

é possível. O único tempo para estu<strong>da</strong>r é depois <strong>da</strong> aula, quan<strong>do</strong> eu chego<br />

em casa, depois <strong>da</strong>s 23:30 (14M23).<br />

A superação [<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des] acontecerá pela organização <strong>do</strong> tempo e<br />

concentração nas leituras, memorização, estu<strong>do</strong> e reflexões (18F33).<br />

Percebi que o desânimo, geralmente, é por causa <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des, mas<br />

acredito que o crescimento vem com o tempo e muita prática. (10F27).<br />

É interessante notar que grande parte deles fala <strong>da</strong> superação <strong>do</strong>s problemas, não se<br />

aten<strong>do</strong> unicamente às dificul<strong>da</strong>des. Isso está em consonância com o que disse Pizzinato<br />

(2003) sobre os brasileiros que, ain<strong>da</strong> que possuam contratempos em suas vi<strong>da</strong>s, geralmente<br />

pensam positivamente e buscam soluções, não se aten<strong>do</strong> às mazelas e desânimos provoca<strong>do</strong>s<br />

pelas dificul<strong>da</strong>des.<br />

Conclusão<br />

Quem é o nosso aluno recém ingresso na primeira turma <strong>do</strong> curso?<br />

Essa foi a nossa in<strong>da</strong>gação inicial que motivou esse estu<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s<br />

calouros <strong>do</strong> curso de Música – Licenciatura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará – campus de<br />

Sobral. Pudemos constatar, através <strong>da</strong>s falas de nossos alunos na Semana de Integração <strong>da</strong><br />

Música, <strong>do</strong>s questionários distribuí<strong>do</strong>s e <strong>da</strong> autoavaliação realiza<strong>da</strong> na disciplina de Percepção<br />

e Solfejo, que há uma grande heterogenei<strong>da</strong>de entre eles, o que não é na<strong>da</strong> diferente <strong>do</strong><br />

espera<strong>do</strong> de uma turma de mais de 30 alunos.<br />

Entretanto podemos generalizar o nosso aluna<strong>do</strong> <strong>da</strong> seguinte maneira: homem; com<br />

i<strong>da</strong>de até 29 anos; oriun<strong>do</strong>s tanto na ci<strong>da</strong>de sede <strong>do</strong> curso quanto de outras locali<strong>da</strong>des,<br />

inclusive <strong>da</strong> capital <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, onde há outros <strong>do</strong>is cursos de graduação em música; que<br />

souberam <strong>do</strong> curso através <strong>da</strong> internet ou por amigos, ain<strong>da</strong> que a Universi<strong>da</strong>de tenha se<br />

empenha<strong>do</strong> em divulgá-lo através de seus meios de comunicação e de feiras <strong>da</strong>s profissões;<br />

5 Ain<strong>da</strong> que a distância seja grande (72 km), o local onde esse aluno reside é um distrito que ain<strong>da</strong> faz parte <strong>do</strong><br />

município de Sobral.<br />

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que optaram por fazer um curso de música desde o início <strong>do</strong> SiSU, marcan<strong>do</strong>-o como<br />

primeira opção; optaram por estu<strong>da</strong>r um instrumento harmônico e, por assim dizer, de mais<br />

fácil acesso; já tinham contato com a música antes <strong>do</strong> curso, ten<strong>do</strong>, inclusive, realiza<strong>do</strong> aulas,<br />

cursos e festivais; e, para concluir, ain<strong>da</strong> que a grande maioria traga à tona as dificul<strong>da</strong>des de<br />

se cursar uma graduação em música, há um grande movimento individual de superação desses<br />

problemas para poder realizar o seus estu<strong>do</strong>s de maneira adequa<strong>da</strong> e satisfatória.<br />

Sabemos que esse estu<strong>do</strong> não <strong>da</strong>rá conta de to<strong>da</strong>s as in<strong>da</strong>gações que surgirem, porém<br />

já decorre desses aspectos outros questionamentos vin<strong>do</strong>uros, como por exemplo por que o<br />

público oriun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s de música <strong>da</strong> Região e <strong>da</strong> Escola de Música de Sobral não<br />

constituiu uma parcela significativa dessa turma? Quais são as expectativas desses alunos para<br />

com o seu curso? Dentro dessas expectativas, a profissionalização está inclusa e, se está,<br />

existe uma pretensão profissional que esteja conivente com o objetivo <strong>do</strong> curso, que é formar<br />

professores de música para atuar em diversos segmentos <strong>da</strong> educação?<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação Qualitativa em Educação: uma Introdução à<br />

Teoria e aos méto<strong>do</strong>s. Porto: Porto Editora, 2006.<br />

BOMFIM, G. “Agora chegou a vez <strong>do</strong> Norte e <strong>Nordeste</strong>”. O POVO Online – Política, set,<br />

2009. Disponível em: http://www.opovo.com.br/www/opovo/politica/908691.html. Acesso<br />

em: 12 abr <strong>2011</strong>.<br />

FREITAS, Débora. Educação Musical Formal, Não-Formal e Informal: um estu<strong>do</strong> sobre<br />

processos de ensino <strong>da</strong> música nas igrejas evangélicas <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Monografia de<br />

conclusão de licenciatura em música. Rio de Janeiro: Unirio, 2008.<br />

MATEIRO, Teresa; BORGHETTI, Juliana. Identi<strong>da</strong>de, conhecimentos musicas e escolha<br />

profissional: um estu<strong>do</strong> com estu<strong>da</strong>ntes de licenciatura em música. Musica Hodie, Goiânia, v.<br />

7, n. 2, p.89-108, 2007.<br />

MORAES, M. I. S.; ALBUQUERQUE, L. B.; MATOS, E. A.; SCHRADER, E. Educação<br />

musical-licenciatura: projeto pe<strong>da</strong>gógico para implantação. Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará –<br />

Campus de Sobral. Fortaleza, 2009.<br />

O’NEIL, Susa. Factors influencing children’s motivation and achivement during the first year<br />

of instrumental music tuiton. Thesis. University of Keele, 1996.<br />

PIZZINATO, A<strong>do</strong>lfo. Identificar(se) na pós-moderni<strong>da</strong>de: etnici<strong>da</strong>de e globalização. In:<br />

GUARESCHI et al (Org.). Psicologia em Questão: reflexões sobre a contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

Porto Alegre: Edipucrs, 2003.<br />

SILVA, M. G. H. Cotidianos sonoros na constituição <strong>do</strong> habitus e <strong>do</strong> campo pe<strong>da</strong>gógico<br />

musical: um estu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s relatos de vi<strong>da</strong> de professores <strong>da</strong> UFC. Dissertação de<br />

Mestra<strong>do</strong>. Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, UFC, Fortaleza, 2009.<br />

SLOBODA, John; LEHMANN, Andreas; Woody, Robert. Psychology for Musicians:<br />

understanding and acquiring the skills. Oxford: Oxford Press. 2007.<br />

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O Trabalho Docente: elementos para uma teoria <strong>da</strong><br />

profissão interativa. Porto Alegre: Vozes, 2005.<br />

UDESC – Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina. Projeto Político-Pe<strong>da</strong>gógico <strong>do</strong> Curso<br />

de Licenciatura em Música, 2007.<br />

UFC – Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará (Ed.). Entrevista com o Reitor Jesual<strong>do</strong> Farias. Jornal<br />

<strong>da</strong> UFC. N. 36. Fortaleza, p. 03-03. 10 jan. <strong>2011</strong>.<br />

YIN, Robert K. Estu<strong>do</strong> de caso: planejamento e méto<strong>do</strong>s. Porto Alegre, Bookman, 2001.<br />

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Tecnologias e Práticas de Pesquisa na Educação Musical de Pernambuco<br />

em <strong>2011</strong><br />

André Vieira Sono<strong>da</strong><br />

Núcleo de Etnomusicologia <strong>da</strong> UFPE<br />

sono<strong>da</strong><strong>do</strong>c@gmail.com<br />

Resumo: Levantamento e análise <strong>do</strong> quadro situacional <strong>do</strong>s professores de música <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Pernambuco – PE frente ao conhecimento de tecnologias, seu emprego como subsídio<br />

didático na educação musical e o envolvimento destes profissionais com pesquisa e produção<br />

científica. Fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong> em pesquisa de campo (em an<strong>da</strong>mento), conhecimentos empíricos,<br />

análise bibliográfica e de tecnologias musicais, objetiva, fun<strong>da</strong>mentalmente, suscitar uma<br />

reavaliação <strong>da</strong> área de música acerca <strong>da</strong> formação acadêmica <strong>do</strong> ensino superior frente às<br />

novas deman<strong>da</strong>s de merca<strong>do</strong> e políticas institucionais comprometi<strong>da</strong>s com produção<br />

intelectual de professores. Emprega técnicas de questionário e observação direta para<br />

elaboração e análise de gráficos representativos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de educacional e científica de<br />

professores particulares e de escolas especializa<strong>da</strong>s em música. Os conhecimentos decorrentes<br />

desta investigação possivelmente contribuirão para o desenvolvimento educacional,<br />

profissional e científico nos âmbitos qualitativo e quantitativo, favorecen<strong>do</strong> novas dimensões<br />

aos conceitos de educação e pesquisa em música.<br />

Palavras-chave: Tecnologia Musical, Formação Superior em Música, Pernambuco.<br />

A Pesquisa<br />

Lecionan<strong>do</strong> aspectos relaciona<strong>do</strong>s com tecnologias musicais (SONODA, 2008;<br />

VALLE, 2007; EVEREST, 2001), percebí em <strong>2011</strong> que a análise <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong>s<br />

professores sobre tecnologias, subsídios de pesquisa e produção científica, além <strong>do</strong> percentual<br />

de emprego dessas tecnologias na educação musical, poderia fornecer <strong>da</strong><strong>do</strong>s para<br />

aprimoramentos que possibilitassem mu<strong>da</strong>nças na área acadêmica em prol de<br />

desenvolvimentos qualitativos e quantitativos de instituições, pesquisas e profissionais.<br />

Partin<strong>do</strong> de pressupostos bibliográficos sobre o uso de tecnologias na área de música<br />

(MYERS, 1992; GOHN, 2001; MILETO et al., 2004; SONODA, 2010) e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />

a<strong>da</strong>ptação acadêmica frente às novas deman<strong>da</strong>s merca<strong>do</strong>lógicas (ZAGONEL, 2001), além <strong>da</strong><br />

pequena relação entre professores de música e práticas de pesquisas (GOMES, 2008), foi<br />

elabora<strong>do</strong> um questionário para aplicação entre professores particulares e de Escolas<br />

especializa<strong>da</strong>s de música 1 , visan<strong>do</strong> a elaboração de gráficos para análises e possíveis<br />

constatações acerca <strong>do</strong>s benefícios <strong>do</strong> uso de tecnologias na educação musical. A pesquisa<br />

1 Por exemplo, conservatórios, escolas particulares de música de nível médio (instrumentos, canto, percepção, teoria musical, etc).<br />

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emprega, portanto, méto<strong>do</strong> comparativo, técnicas de questionários e observação direta<br />

(LAKATOS; MARCONI, 1994, p.221-222).<br />

A definição <strong>da</strong> amostragem é orienta<strong>da</strong> por <strong>do</strong>is pontos básicos, professores<br />

particulares de música de diferentes disciplinas como: teoria, percepção, canto, instrumentos,<br />

etc. e professores de instituições públicas ou priva<strong>da</strong>s de ensino de música em nível médio <strong>da</strong>s<br />

mesmas disciplinas.<br />

Com a análise <strong>do</strong> emprego de tecnologias na educação musical, bem como <strong>do</strong> índice<br />

de conhecimento destas e <strong>do</strong>s procedimentos de pesquisa por professores de música em<br />

Pernambuco - PE, objetiva-se constituir um quadro preciso desses conhecimentos<br />

tecnológicos e científicos entre educa<strong>do</strong>res musicais <strong>do</strong> ensino médio e técnico de música.<br />

Estes percentuais podem fornecer <strong>da</strong><strong>do</strong>s importantes sobre que tecnologias (GOHN,<br />

2001; MILETO, et al., 2004; SONODA, 2010) se mostram mais, ou menos, eficazes para a<br />

prática <strong>da</strong> educação musical; possíveis a<strong>da</strong>ptações curriculares de cursos superiores de música<br />

frente às necessi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> atual (ZAGONEL, 2001); políticas de formação de<br />

professores como pesquisa<strong>do</strong>res (GOMES, 2008); questões de formação e atuação de<br />

professores de música no ensino médio e técnico (DEL BEN, 2003; PENNA, 2002), etc.<br />

O resulta<strong>do</strong> desta análise, além de possibilitar mu<strong>da</strong>nças significativas em estruturas<br />

curriculares, pode favorecer desenvolvimentos científicos e acadêmicos diretos na educação<br />

musical e, indiretos, na área de música de forma geral.<br />

Conhecimento de Tecnologias entre Professores de Música<br />

Apesar <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> pesquisa ter levanta<strong>do</strong>, até o presente momento, apenas um<br />

parâmetro parcial, visto o pequeno percentual de entrevista<strong>do</strong>s 2 , é curioso analisarmos<br />

algumas informações quan<strong>do</strong> as dispomos em gráficos.<br />

O questionário foi estrutura<strong>do</strong> com duas questões. A primeira é subdividi<strong>da</strong> em duas<br />

partes, ou seja, quais <strong>da</strong>s tecnologias descritas são conheci<strong>da</strong>s pelo professor entrevista<strong>do</strong> e<br />

quais delas já foram usa<strong>da</strong>s, por ele, como subsídio didático.<br />

Na análise parcial dessa questão, observa-se que, acerca de softwares de editoração<br />

musical, como o Encore, o Finale e o Sibelius, o percentual de conhecimento entre<br />

professores de música fica entre 85% e 100%.<br />

2 Até o momento, a amostragem foi de 20 professores de música de Instituições como o Conservatório Pernambucano de Música (CPM),<br />

Centro de Difusão e Realizações Musicais (CDRM/ SESC-Pernambuco), Centro Profissionalizante de Criativi<strong>da</strong>de Musical <strong>do</strong> Recife<br />

(CPCMR), além de professores particulares de diversas disciplinas como teoria, violão, guitarra, canto, piano, etc.<br />

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Os softwares de reconhecimento sonoro e de imagens de partituras para elaboração de<br />

notação musical, como o Audioscore e o Smartscore, são conheci<strong>do</strong>s por poucos professores<br />

(entre 5% e 10%) e os softwares para análise de espectro sonoro, como RTA, FFT,<br />

Spectrogram e Sonogram, variam de 0% a 10%.<br />

O Earmaster, volta<strong>do</strong> para estu<strong>do</strong>s de percepção, é conheci<strong>do</strong> por 15% e o Band in a<br />

Box, usa<strong>do</strong> para sequenciamento MIDI e estu<strong>do</strong>s de improvisação ou prática de conjunto, um<br />

pouco mais de 40%.<br />

O Pro Tools, cria<strong>do</strong> há cerca de 20 anos atrás e considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s softwares mais<br />

emprega<strong>do</strong>s em estúdios de gravação, só foi reconheci<strong>do</strong> por 50% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, como<br />

demonstra o gráfico abaixo.<br />

TABELA 1 – Softwares conheci<strong>do</strong>s entre professores de música. Análise<br />

Percentual (%) - (Recife – PE/ Abril – <strong>2011</strong>).<br />

Quan<strong>do</strong> analisamos o conhecimento <strong>do</strong>s professores de música acerca de outras<br />

tecnologias, como grava<strong>do</strong>res e reprodutores, observamos que, apesar de tecnologias digitais<br />

serem mais emprega<strong>da</strong>s, a exemplo de DVD, e-mail e MP3, o VHS ain<strong>da</strong> é mais conheci<strong>do</strong><br />

que os vídeos em formatos digitais.<br />

Apesar <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de má interpretação <strong>do</strong> questionário, problemas como<br />

“erros”, representam apenas pequenos percentuais <strong>do</strong> total <strong>da</strong>s respostas. Até porque, parece<br />

inconcebível considerarmos que a tecnologia de MP3 não seja conheci<strong>da</strong> por 100% <strong>do</strong>s<br />

entrevista<strong>do</strong>s, por exemplo.<br />

A tecnologia de K7, também é mais conheci<strong>da</strong> que formatos digitais como o MD, o<br />

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ADAT (SONODA, 2010. p. 76), etc. Outra curiosi<strong>da</strong>de, foi um índice inespera<strong>do</strong> de<br />

conhecimento <strong>da</strong>s tecnologias de grava<strong>do</strong>res analógicos de fita magnética, a exemplo <strong>do</strong>s<br />

grava<strong>do</strong>res Nagra, Revox, Studer (MYERS, 1992, p. 54), etc., tecnologias em crescente<br />

desuso desde a déca<strong>da</strong> de 1980, apesar <strong>da</strong> excelente quali<strong>da</strong>de em registros sonoros. O gráfico<br />

segue abaixo.<br />

TABELA 2 – Tecnologias conheci<strong>da</strong>s por professores de música. Análise<br />

Percentual (%) - (Recife – PE/ Abril – <strong>2011</strong>).<br />

Emprego de Tecnologias como Ferramentas Didáticas no Ensino e Pesquisa<br />

de Música<br />

Analisan<strong>do</strong> o emprego dessas tecnologias na educação musical, verificamos que o e-<br />

mail, o CD, o DVD e os vídeos digitais, atualmente, representam percentual entre 65% e 75%.<br />

O Finale e o Encore cerca de 55% e as fitas VHS e K7 (GOHN, 2001, p. 05; SONODA,<br />

2010. p. 76), aproxima<strong>da</strong>mente, 25% <strong>do</strong> total.<br />

Apesar deste quadro nos apresentar bons percentuais <strong>do</strong> emprego de reprodutores<br />

(Players) na prática <strong>da</strong> educação musical, é preocupante perceber que tecnologias para<br />

mapeamento, análise e exibição gráfica <strong>do</strong> som em tempo real, a exemplo <strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>res<br />

RTA, FFT, Melodyne, Spectrogramas, Sonogramas, etc. ain<strong>da</strong> são pouco utiliza<strong>da</strong>s, embora<br />

pudessem, fun<strong>da</strong>mentalmente, proporcionar análises gráficas precisas <strong>do</strong> som, favorecen<strong>do</strong><br />

inova<strong>do</strong>ras perspectivas e possibili<strong>da</strong>des em estu<strong>do</strong>s e pesquisas na área <strong>da</strong> música, como<br />

demonstra<strong>do</strong> no gráfico abaixo.<br />

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TABELA 3 – Tecnologias emprega<strong>da</strong>s pelos professores como subsídio didático na educação musical.<br />

Análise Percentual (%) - (Recife – PE/ Abril – <strong>2011</strong>).<br />

É importante lembrarmos que a utilização mais frequente <strong>do</strong> Encore e <strong>do</strong> Finale na<br />

educação musical levou cerca de 20 anos desde o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 até hoje. Talvez, em<br />

uma análise otimista, tenhamos que aguar<strong>da</strong>r, ao menos, uma déca<strong>da</strong> para observarmos um<br />

emprego mais expressivo <strong>da</strong>s tecnologias de mapeamento sonoro para produção de partituras<br />

ou gráficos em tempo real.<br />

Práticas de Pesquisa entre Professores de Música<br />

Na segun<strong>da</strong> questão, foi analisa<strong>do</strong> o nível de conhecimento <strong>do</strong>s professores<br />

entrevista<strong>do</strong>s acerca de instituições federais, escolas de música, programas de qualificação de<br />

periódicos, bases de <strong>da</strong><strong>do</strong>s científicos e programas de pós-graduação. Os quais foram<br />

dispostos em forma de siglas.<br />

Compuseram a referi<strong>da</strong> questão, universi<strong>da</strong>des federais com cursos de pós-graduação<br />

em música com conceitos superiores a 4 na última avaliação trienal; conceitos A1 e A2 de<br />

periódicos científicos constantes no QUALIS; a base de <strong>da</strong><strong>do</strong>s SciELO; periódicos<br />

importantes <strong>da</strong> área de música com QUALIS A2 e B1, a exemplo <strong>da</strong> Per Musi (UFMG) e <strong>da</strong><br />

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OPUS (Belo Horizonte/ Porto Alegre); o Núcleo de Computação Sônica (NCS) <strong>do</strong><br />

Departamento de Música – UFPE, além de Instituições de Ensino de Música amplamente<br />

conheci<strong>da</strong>s na Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife, como o Conservatório Pernambucano de Música (CPM) e o<br />

Centro Profissionalizante de Criativi<strong>da</strong>de Musical <strong>do</strong> Recife (CPCMR).<br />

Embora a pequena amostragem possa favorecer resulta<strong>do</strong>s imprecisos acerca <strong>do</strong><br />

conhecimento <strong>do</strong>s professores, é preocupante perceber o pequeno conhecimento sobre tópicos<br />

relaciona<strong>do</strong>s à pesquisa e pós-graduação em música entre estes profissionais, já que muitos<br />

foram aprova<strong>do</strong>s em concursos que exigem formação superior (graduação) e, portanto, podem<br />

ser considera<strong>do</strong>s público potencial para cursos de Pós-Graduação.<br />

Algumas questões merecem comentários. Inicialmente, apenas em um questionário<br />

(representan<strong>do</strong> 5% <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s), a sigla A2 foi marca<strong>da</strong> como conheci<strong>da</strong>. Entretanto, é<br />

improvável que alguém saiba o que significa A2, sem saber o que significa A1. Já que, neste<br />

mesmo questionário, a sigla A1 não foi marca<strong>da</strong>, indican<strong>do</strong> que a mesma não é conheci<strong>da</strong><br />

pelo professor em questão.<br />

As siglas PPG (Programa de Pós-Graduação), QUALIS, Avaliação Trienal, ABET<br />

(Associação Brasileira de Etnomusicologia) e NCS (Núcleo de Computação Sônica <strong>do</strong> -<br />

UFPE) se mostraram conheci<strong>do</strong>s por menos de 20% <strong>do</strong>s professores, indican<strong>do</strong>, entre outras<br />

coisas, tanto um pequeno percentual de envolvimento com práticas de pesquisa e publicação<br />

científica, quanto uma defeituosa difusão, na graduação em música, sobre políticas, estruturas,<br />

programas, conceitos, etc., relaciona<strong>do</strong>s à pesquisa científica.<br />

Outro detalhe curioso é a grande diferença percentual entre os professores que<br />

afirmam saber o significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> ABET (5%) em relação aos que afirmam conhecer o <strong>da</strong><br />

<strong>ABEM</strong> (75%).<br />

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TABELA 4 – Percentual de Instituições Federais/ Escolas de Música/ Periódicos Científicos/ Bases de<br />

Da<strong>do</strong>s e Programas de Qualificação de Periódicos Científicos conheci<strong>do</strong>s entre professores de música.<br />

Análise Percentual (%) - (Recife – PE/ Abril – <strong>2011</strong>).<br />

Mediante as constatações, até o momento, três pontos de fun<strong>da</strong>mental importância<br />

poderiam nos orientar para um possível salto qualitativo e quantitativo na educação musical<br />

<strong>do</strong> Brasil.<br />

Em primeiro lugar, uma maior difusão <strong>do</strong>s softwares e subsídios tecnológicos, antes<br />

raramente emprega<strong>do</strong>s no ensino de música e hoje considera<strong>do</strong>s comuns, embora ain<strong>da</strong> pouco<br />

utiliza<strong>do</strong>s em salas de aula, pesquisas, etc.<br />

Em segun<strong>do</strong> lugar, uma maior preocupação com o desenvolvimento <strong>da</strong> graduação,<br />

buscan<strong>do</strong> a criação de cursos que tenham, tanto relações mais próximas de deman<strong>da</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>lógicas atuais (ZAGONEL, 2001), quanto maior abrangência em relação a contextos<br />

que mantêm relação indireta com a música, possibilitan<strong>do</strong> formações superiores em âmbitos<br />

não convencionais desta área.<br />

Em terceiro lugar, a criação de programas de adequação sistemática de corpos<br />

<strong>do</strong>centes e discentes, infra-estruturas e grades curriculares no senti<strong>do</strong> de uma produtivi<strong>da</strong>de<br />

científica mais condizente com a ativi<strong>da</strong>de de ensino e pesquisa em música.<br />

Se relacionássemos pontos importantes para um desenvolvimento educacional ideal na<br />

área de música, seriam opções inquestionáveis:<br />

a) Maior colaboração entre alunos, professores, coordenações, etc. na construção de<br />

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2 OA N O S<br />

departamentos de música, realmente, comprometi<strong>do</strong>s com seus objetivos científicos, além de<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s em termos educacionais, artísticos e de pesquisa.<br />

b) Criação de cursos volta<strong>do</strong>s para deman<strong>da</strong>s atuais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Fato que<br />

provavelmente, conduziria os departamentos de música, pelo menos em parte, a uma maior<br />

proximi<strong>da</strong>de com tecnologias, favorecen<strong>do</strong> a ampliação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de pesquisa em torno<br />

de contextos musicais contemporâneos.<br />

c) Disciplinas que abor<strong>da</strong>ssem processos e ativi<strong>da</strong>des de pesquisa, conduzin<strong>do</strong> o<br />

estu<strong>da</strong>nte ao contato com tais práticas desde a graduação. É inadmissível, um profissional<br />

forma<strong>do</strong> desconhecer possibili<strong>da</strong>des e técnicas de pesquisa; formas de captação de recursos,<br />

além de estratégias e normas para elaboração de projetos e trabalhos científicos (ABNT);<br />

tipos e estruturas de funcionamento de programas de fomento, etc.<br />

d) Palestras sistemáticas ou um fórum permanente de estu<strong>do</strong>s e debates acerca <strong>do</strong>s<br />

processos de avaliação a que o departamento, os professores e alunos estão sujeitos;<br />

mecanismos de classificação como o Qualis; avaliação trienal (CAPES); linhas e bolsas de<br />

pesquisa; formas de participação em congressos, etc.<br />

e) Criação de grupos de pesquisa em âmbitos de competência <strong>do</strong> departamento.<br />

Atualmente, a condição social e intelectual de um professor não condiz com um indivíduo que<br />

se ausenta <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de pesquisa, principalmente, no ensino superior.<br />

f) Construção e manutenção de vínculos institucionais para a criação de cursos de pósgraduação;<br />

possibili<strong>da</strong>des de intercâmbios, etc.<br />

g) Construção de laboratórios e adequação de infra-estruturas em salas de aulas.<br />

h) Criação de periódicos científicos e programas ou mecanismos editoriais seria<strong>do</strong>s.<br />

Atualmente, é possível criar sites que tenham periodici<strong>da</strong>de de publicação (publicação<br />

seria<strong>da</strong>) com ISSN 3 , facilitan<strong>do</strong> o reconhecimento <strong>da</strong> produção e oficialização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

de pesquisa.<br />

i) Criação de acervos fonográficos ou de vídeo com entrevistas, <strong>do</strong>cumentários,<br />

palestras, reuniões, congressos ou mesmo aulas ocorri<strong>da</strong>s no departamento para pesquisas<br />

futuras.<br />

Finalizan<strong>do</strong> esta lista, que é bem mais complexa <strong>do</strong> que parece, vale lembrar <strong>da</strong><br />

importância <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s tecnologias como ferramentas didáticas. Os softwares são parte<br />

importante, mas não podemos esquecer <strong>do</strong>s benefícios <strong>do</strong> uso de vídeo e tecnologias de áudio.<br />

3 Ver: http://www.ibict.br/secao.php?cat=ISSN<br />

686<br />

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2 OA N O S<br />

Tais subsídios são estratégias excelentes de exposição, além de indica<strong>da</strong>s como elementos<br />

auxiliares para o próprio processo de ensino.<br />

Aprimoramento <strong>da</strong> Graduação em Música<br />

Apesar destes avanços tecnológicos, é importante percebermos a pequena relação que<br />

cursos de música mantêm com os processos de ensino de tecnologias, principalmente, em<br />

níveis de graduação e pós-graduação. Este fato nos remete à seguinte questão: será que<br />

instituições de ensino de música não deveriam educar profissionais para atuação em áreas<br />

distintas <strong>da</strong>s convencionais? (ZAGONEL, 2001).<br />

Parece incoerente admitirmos profissionais sem formação musical em processos de<br />

gravação; sonorização; criação musical para jogos; desenvolvimento de softwares de música;<br />

emissoras de rádio; etc. Esta mesma incoerência surge em áreas que mantêm relação mais<br />

estreita com a música ou são, essencialmente, interdisciplinares, como engenharia de áudio,<br />

musicoterapia, produção musical, etc.<br />

Na análise <strong>da</strong> área, frente à expansão <strong>da</strong>s fronteiras profissionais <strong>do</strong>s músicos, parece<br />

haver uma lógica perfeita de causa e efeito, assim, se músicos profissionais não ocupam<br />

setores diversos <strong>da</strong>queles tradicionalmente estabeleci<strong>do</strong>s na música, ao menos em parte,<br />

parece ser consequência <strong>do</strong>s âmbitos de formação acadêmica disponíveis.<br />

Com a criação de um curso de tecnologia musical no Departamento de Música <strong>da</strong><br />

UFPE, possivelmente, presenciaríamos grandes deman<strong>da</strong>s, além <strong>do</strong> estabelecimento de um<br />

nível de qualificação técnica para o merca<strong>do</strong> profissional, a exemplo <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> na UFPR<br />

(ZAGONEL, 2001). Em Pernambuco, este merca<strong>do</strong> já é bem estrutura<strong>do</strong> em termos de<br />

deman<strong>da</strong> profissional, assim como o de produção musical. Nestes casos, o próprio<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> já justificaria tais investimentos.<br />

Só para exemplificar, frequentemente sabemos de projetos veta<strong>do</strong>s por inadequação à<br />

normas de editais; fun<strong>do</strong>s de investimentos deixam de ser utiliza<strong>do</strong>s por falta de projetos, etc.<br />

Estes fatos, indubitavelmente, podem ser atribuí<strong>do</strong>s à uma área com profissionalização<br />

defeituosa ou inadequa<strong>da</strong>, mesmo consideran<strong>do</strong> que fatores diversos podem contribuir para<br />

tanto.<br />

Diversas outras áreas relaciona<strong>da</strong>s à música também não dispõem, ou tem<br />

pouquíssimas opções, de cursos de graduação ou pós-graduação. Por exemplo, produção<br />

musical e fonográfica; acústica; luthieria; engenharia de áudio; música brasileira;<br />

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etnomusicologia; musicologia; educação musical, etc. para não mencionar outras, ain<strong>da</strong> mais<br />

distantes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de atual, como administração musical; marketing musical; filosofia em<br />

música; informática para a música; física <strong>da</strong> música, etc.<br />

Apesar de esforços isola<strong>do</strong>s serem perceptíveis neste senti<strong>do</strong>, o pequeno<br />

desenvolvimento em termos gerais, é evidente. Em nosso Esta<strong>do</strong>, por exemplo, podemos<br />

conviver com disciplinas eletivas com potenciais para se transformarem em cursos superiores,<br />

a exemplo de História <strong>da</strong> Música Popular Brasileira; Música e Cultura; Música e Socie<strong>da</strong>de,<br />

etc., em um departamento (UFPE) no qual ain<strong>da</strong> não há um mestra<strong>do</strong> ou <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em área<br />

nenhuma.<br />

O próprio campo de pesquisa em música se desenvolve muito lentamente, se<br />

compara<strong>do</strong> aos parâmetros de crescimento de outras áreas como ciências biológicas,<br />

astronomia e física 4 , por exemplo. Departamentos de música, em to<strong>do</strong> o país, existem quase<br />

sem expressivi<strong>da</strong>de no quadro brasileiro e menos ain<strong>da</strong> no internacional.<br />

Salvo poucas exceções, como os exemplares Departamentos de Música <strong>da</strong> UFRGS,<br />

UNIRIO, UNICAMP, UFBA, além <strong>da</strong>queles com possibili<strong>da</strong>des de atingir níveis de<br />

excelência em curtos espaços de tempo, como os <strong>da</strong> UFPB, UFMG, USP, UNESP, UFPR,<br />

UFRJ, UDESC, UFG, UNB, uma política de produção científica sóli<strong>da</strong> e uma preocupação<br />

constante com os pontos que influenciam a análise <strong>da</strong> CAPES não parecem ser entendi<strong>do</strong>s<br />

como priori<strong>da</strong>de científica. Não por acaso, é comum presenciarmos músicos e professores<br />

forma<strong>do</strong>s que desconhecem o fato <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de intelectual ser um <strong>do</strong>s itens constantes de<br />

avaliação <strong>da</strong> CAPES.<br />

Analisan<strong>do</strong> a última avaliação trienal <strong>da</strong> Pós-Graduação em Música (CAPES 2007-<br />

2009), podemos perceber como este quadro se mostra pouco desenvolvi<strong>do</strong> se compararmos a<br />

totali<strong>da</strong>de de Departamentos de Música <strong>do</strong> país em contraposição à quanti<strong>da</strong>de de PPG´s em<br />

Música classifica<strong>do</strong>s como de excelência (conceito 5 ou superior).<br />

4 Ver: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=12673<br />

688<br />

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TABELA 5 – CAPES. Fonte: http://www.capes.gov.br/component/content/article/44-<br />

avaliacao/4355-planilhas-comparativas-<strong>da</strong>-avaliacao-trienal-2010.<br />

Assim, a condição atual <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s departamentos de música parece demonstrar<br />

interesses e compromissos científicos pouco ambiciosos, sem falar no âmbito individual <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>centes. Poucos professores se mantêm envolvi<strong>do</strong>s constantemente com pesquisa e produção<br />

científica, fato tão essencial para a ativi<strong>da</strong>de intelectual de professor quanto demonstrativo de<br />

um compromisso condizente com sua condição científica, social e profissional.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que presenciamos políticas públicas de investimentos que priorizam<br />

departamentos mais bem qualifica<strong>do</strong>s, somos testemunhas <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de ascensão entre<br />

níveis na escala de qualificação <strong>da</strong> CAPES. Este fato parece demonstrar mais claramente a<br />

dificul<strong>da</strong>de de organização de ca<strong>da</strong> departamento de música, <strong>do</strong> que suas próprias capaci<strong>da</strong>des<br />

científicas, uma vez que é possível encontrarmos excelentes professores/ pesquisa<strong>do</strong>res nestes<br />

núcleos.<br />

Para muitos, a notícia <strong>do</strong> jornal O Globo de 14/09/2010, intitula<strong>da</strong>: “CAPES reprova<br />

75 cursos de mestra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> 5 ”, não representa um <strong>da</strong><strong>do</strong> preocupante. Entretanto,<br />

avaliações com nota 1 (um) 6 e 2 (<strong>do</strong>is) 7 , não parecem representar compromissos científicos<br />

muito elabora<strong>do</strong>s. Evidentemente, estes números representam uma análise <strong>do</strong> total de PPG´s<br />

no Brasil, o que não diminui a serie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> problema na área de música.<br />

5 Ver: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2010/09/14/capes-reprova-75-cursos-de-mestra<strong>do</strong>-<strong>do</strong>utora<strong>do</strong>-<br />

917627997.asp<br />

6 09 PPG´s <strong>do</strong>s 75 reprova<strong>do</strong>s.<br />

7 66 PPG´s <strong>do</strong>s 75.<br />

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Em minha limita<strong>da</strong> condição de avaliação, considero exemplares os esforços<br />

científicos de alguns professores de Departamentos de Música como os <strong>da</strong> UFPB, UFPE,<br />

UFMG, UFRJ, além de outros Departamentos, ain<strong>da</strong> sem uma avaliação de excelência na<br />

classificação <strong>da</strong> CAPES ou mesmo sem uma pós-graduação. Tais professores nos dão indícios<br />

<strong>do</strong> caminho ideal para um professor/ pesquisa<strong>do</strong>r em prol de um desenvolvimento acadêmico<br />

e científico, além de demonstrar que, para o sistema de avaliação em pauta, esforços<br />

individuais não são suficientes para garantir os resulta<strong>do</strong>s necessários para um departamento<br />

de música que almeje um nível de excelência.<br />

Conclusão<br />

Apesar <strong>da</strong> pesquisa ain<strong>da</strong> não ter elabora<strong>do</strong> um mapeamento mais significativo em<br />

termos quantitativos, outras análises podem derivar <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s consegui<strong>do</strong>s até o momento.<br />

Posteriormente, teremos um quadro tanto mais preciso, quanto mais demonstrativo <strong>da</strong>s<br />

necessi<strong>da</strong>des de adequações em cursos; capacitações; programas de difusão de conhecimentos<br />

sobre pesquisa e pós-graduação entre professores, etc.<br />

Com expectativa de realização de 1000 questionários na Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Recife em um<br />

perío<strong>do</strong> de um ano, teremos um quadro mais preciso desta Ci<strong>da</strong>de, possibilitan<strong>do</strong> o início <strong>do</strong><br />

mapeamento no interior, iniciativa que deverá compor um quadro geral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no prazo<br />

aproxima<strong>do</strong> de 02 (<strong>do</strong>is) anos.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

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2 OA N O S<br />

SONODA, A. V. Processos Fonográficos e Música de Tradição Oral em Pernambuco.<br />

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Formação Profissional. In: X ENCONTRO ANUAL DA <strong>ABEM</strong>. 2001, Uberlândia. <strong>Anais</strong>.<br />

Uberlândia: 2001.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Trajetórias formativas de músicos: deslocamento geográfico, social e<br />

musical<br />

Pedro Rogério<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará<br />

pedromusica@yahoo.com.br<br />

Resumo: A viagem como um princípio na formação <strong>do</strong> habitus de músicos é o que apresenta<br />

este trabalho oriun<strong>do</strong> <strong>da</strong> tese intitula<strong>da</strong> “A viagem com um princípio na formação <strong>do</strong> habitus<br />

<strong>do</strong>s músicos que na déca<strong>da</strong> de 1970 ficaram conheci<strong>do</strong>s como ‘Pessoal <strong>do</strong> Ceará’”. A<br />

pesquisa se debruçou sobre a trajetória de três músicos de itinerários diversos, mas oriun<strong>do</strong>s<br />

<strong>da</strong> mesma geração de intelectuais e artistas cearenses que ficou conheci<strong>da</strong> como Pessoal <strong>do</strong><br />

Ceará, a saber: Manassés Lourenço de Sousa, Raimun<strong>do</strong> Fagner Cândi<strong>do</strong> Lopes e Rodger<br />

Franco de Rogério. A investigação foi realiza<strong>da</strong> através de entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s,<br />

complementa<strong>da</strong> com depoimentos de sujeitos-informantes. Foram analisa<strong>da</strong>s essas trajetórias<br />

desde a origem social até a definição sócio-profissional consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> no campo social.<br />

Identificou-se que os agentes apresentaram como ponto comum o fato <strong>da</strong> viagem operar<br />

mu<strong>da</strong>nças centrais em suas condições de músicos. A praxiologia de Pierre Bourdieu,<br />

forneceu, com os conceitos de habitus, capitais e campo, as ferramentas necessárias para<br />

iluminar o deslocamento geográfico como um caminho de mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> habitus e <strong>do</strong>s capitais<br />

de músicos e que, portanto, redefiniram a posição <strong>do</strong>s agentes no campo musical.<br />

Palavras-chave: Habitus musical, campo musical, capital musical.<br />

Apresentação<br />

O trabalho que aqui apresentamos refere-se à parte <strong>da</strong>s conclusões <strong>da</strong> tese intitula<strong>da</strong><br />

“A viagem com um princípio na formação <strong>do</strong> habitus <strong>do</strong>s músicos que na déca<strong>da</strong> de 1970<br />

ficaram conheci<strong>do</strong>s como Pessoal <strong>do</strong> Ceará” aprova<strong>da</strong> em março de <strong>2011</strong>. As primeiras<br />

questões levanta<strong>da</strong>s surgiram na pesquisa de mestra<strong>do</strong> cujo título é “Pessoal <strong>do</strong> Ceará:<br />

formação de um habitus e de um campo musical na déca<strong>da</strong> de 1970”, apresenta<strong>da</strong> ao<br />

Programa de Pós-Graduação em Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará (UFC) e<br />

aprova<strong>da</strong> em dezembro de 2006. Por ocasião <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> trabalho, percebemos que o<br />

deslocamento destes artistas de suas ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Ceará rumo à capital Fortaleza e<br />

mesmo <strong>do</strong>s que nasceram em Fortaleza, mas também arrumaram as malas e partiram para<br />

Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo trouxe novas formas de compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

requisitan<strong>do</strong> disposições incorpora<strong>da</strong>s que nem sempre estavam em ação, o que encetou a<br />

pesquisa <strong>do</strong>utoral <strong>da</strong> qual apresentamos parte <strong>da</strong>s conclusões neste artigo. As perguntas que<br />

nos nortearam no trabalho foram: 1. O que mu<strong>da</strong>? 2. Como mu<strong>da</strong>? 3. Quais as conseqüências<br />

<strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça?<br />

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Retornan<strong>do</strong> ao primeiro trabalho de pesquisa por ocasião <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> queremos<br />

ressaltar a utilização <strong>da</strong> praxiologia de Pierre Bourdieu, que nos forneceu ferramentas<br />

sociológicas de grande força explicativa. Os conceitos deste sociólogo nos levaram à<br />

compreensão <strong>da</strong> formação de um campo e de um habitus musical cearense nas déca<strong>da</strong>s de<br />

1960 e 1970. Utilizamos uma visão distancia<strong>da</strong> e fizemos o exercício de nos colocar no lugar,<br />

por exemplo, <strong>do</strong> radialista e produtor paulista Walter Silva que - ven<strong>do</strong> dezenas de cearenses<br />

liga<strong>do</strong>s à música, chegan<strong>do</strong> em um mesmo perío<strong>do</strong> em São Paulo (final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960 e<br />

início de 1970), trazen<strong>do</strong> na bagagem participação em festivais e identificação com o público<br />

de estu<strong>da</strong>ntes universitários - os viu como uni<strong>da</strong>de.<br />

O espaço universitário proporcionou uma vivência política e cultural muito intensa<br />

nos já candi<strong>da</strong>tos a artistas levan<strong>do</strong>-os a identificações mútuas decorrentes de seus habitus<br />

semelhantes e no caso particular, não somente pelo fato de serem originários <strong>da</strong> classe média,<br />

mas também pela forma de iniciação musical e relação com o ambiente musical familiar. O<br />

habitus funcionou como uma senha invisível de comunicação que os atraiu para espaços<br />

comuns decorrentes de escolhas semelhantes.<br />

Estes jovens compositores desenvolveram espetáculos e se apresentaram na ci<strong>da</strong>de,<br />

ain<strong>da</strong> muito liga<strong>do</strong>s ao ambiente universitário. Assim, um novo espaço musical começou a se<br />

delinear a partir na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará e mais fortemente a partir <strong>do</strong> Diretório<br />

Acadêmico de Arquitetura que tinha como presidente o estu<strong>da</strong>nte Fausto Nilo – este que se<br />

tornou uma <strong>da</strong>s principais referências artísticas brasileiras. Neste perío<strong>do</strong> os jovens ávi<strong>do</strong>s por<br />

novi<strong>da</strong>des estéticas conhecem e se identificam em grande medi<strong>da</strong> com as propostas musicais<br />

bossa-novistas, <strong>da</strong> Tropicália, <strong>do</strong> Clube <strong>da</strong> Esquina, <strong>do</strong>s Beatles e <strong>do</strong>s Rolling Stones. Alguns<br />

se identificam mais com a bossa nova e outros mais com o rock, mas to<strong>do</strong>s percebem e<br />

internalizam em parte os significa<strong>do</strong>s estéticos advin<strong>do</strong>s destas manifestações. O centro <strong>do</strong><br />

significa<strong>do</strong> estético destes grupos era justamente a mu<strong>da</strong>nça, a ruptura, a quebra <strong>do</strong>s tabus.<br />

Após utilizamos uma leitura macro-sociológica com o objetivo de visualizar um<br />

campo específico musical, fizemos um movimento em direção a uma análise em escala<br />

individual, justamente para evidenciar essas diferenças sempre lembra<strong>da</strong>s pelos próprios<br />

artistas, ain<strong>da</strong> que, se necessário, retomemos a análise em grande escala. Nesse senti<strong>do</strong>, o<br />

sociólogo Bernard Lahire (2006) vem iluminar aspectos importantes <strong>da</strong>s diferenças inter e<br />

intrapessoais. Nas palavras <strong>do</strong> autor:<br />

A plurali<strong>da</strong>de de disposições e de competências , por um la<strong>do</strong>, a varie<strong>da</strong>de<br />

de contextos de sua efetivação, por outro, é que podem explicar<br />

sociologicamente a variação de comportamentos de um mesmo indivíduo, ou<br />

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de um mesmo grupo de indivíduos, em função de campos de práticas, de<br />

proprie<strong>da</strong>des <strong>do</strong> contexto de ação ou de circunstâncias mais singulares <strong>da</strong><br />

prática. (LAHIRE, 2006, p. 18)<br />

Os comportamentos desses indivíduos em situação de mobili<strong>da</strong>de social ascendente<br />

são menos previsíveis estatisticamente que os imóveis, que perpetuam em sua vi<strong>da</strong> adulta as<br />

condições sociais e culturais originais. (LAHIRE, 2006, p.24)<br />

Este estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s agentes em mobili<strong>da</strong>de geográfica e social também explicitará suas<br />

individuali<strong>da</strong>des; ou seja, mesmo oriun<strong>do</strong>s de um mesmo campo social e musical o habitus<br />

não se apresenta como um bloco homogêneo, imutável. A dinâmica <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> arte e <strong>do</strong>s<br />

artistas na diversi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> campo social revela diferenciações importantes para a compreensão<br />

<strong>da</strong> formação destes músicos cearenses.<br />

Lahire (2006, p. 18) nos aju<strong>da</strong> a compreender que:<br />

(...) Em vez de pressupor a influência sistemática de um passa<strong>do</strong> incorpora<strong>do</strong><br />

necessariamente coerente sobre os comportamentos individuais presentes,<br />

mais <strong>do</strong> que imaginar que to<strong>do</strong> nosso passa<strong>do</strong>, como um bloco ou uma<br />

síntese homogênea (sob a forma de um sistema de disposições ou de<br />

valores), pesa a to<strong>do</strong> momento sobre to<strong>da</strong>s as nossas situações vivi<strong>da</strong>s, o<br />

sociólogo pode in<strong>da</strong>gar-se sobre o desencadeamento ou nãodesencadeamento,<br />

a implementação ou estagnação, pelos diversos contextos<br />

de ação, de disposições e de competências incorpora<strong>da</strong>s. (LAHIRE, 2006,<br />

p.18)<br />

A análise revelou singulari<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s agentes que têm seus nasce<strong>do</strong>uros em suas<br />

socializações por vezes her<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>do</strong>s pais como, por exemplo: Fagner que é filho de um<br />

libanês comerciante; esta habili<strong>da</strong>de com o comércio será exterioriza<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> ao se inserir<br />

no merca<strong>do</strong> fonográfico Fagner chega a ser diretor de uma multinacional. O pai de Belchior<br />

era uma <strong>da</strong>s pessoas que tinha a melhor caligrafia de Coreaú e por isso chegou a ser uma<br />

figura de referência na quali<strong>da</strong>de de Juiz de Paz. Belchior é amplamente reconheci<strong>do</strong> –<br />

inclusive por seus pares – por esta intimi<strong>da</strong>de com as palavras, certamente her<strong>da</strong><strong>da</strong>s de seu pai<br />

e <strong>do</strong>s seminários onde estu<strong>do</strong>u. Segun<strong>do</strong> a pesquisa<strong>do</strong>ra Carlos (2007, p. 11) “as canções de<br />

Belchior representam um ver<strong>da</strong>deiro ‘caso de amor’ com a palavra”. Professor Oscar Costa<br />

Sousa, pai de Ednar<strong>do</strong>, foi um reconheci<strong>do</strong> professor na ci<strong>da</strong>de Fortaleza, <strong>do</strong>no de uma escola<br />

onde durante um perío<strong>do</strong> morou com os filhos, logo família e escola eram literalmente um só<br />

espaço. Esta situação promoveu em Ednar<strong>do</strong> uma intimi<strong>da</strong>de com temas liga<strong>do</strong>s à<br />

intelectuali<strong>da</strong>de como a Pa<strong>da</strong>ria Espiritual e a releitura vanguardista de cordéis muito<br />

aprecia<strong>da</strong> pelos intelectuais brasileiros. Rodger, filho de uma professora que ficou viúva<br />

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quan<strong>do</strong> o primogênito tinha apenas 09 anos de i<strong>da</strong>de, manteve sua carreira sempre muito<br />

liga<strong>da</strong> ao ambiente acadêmico – herança materna reforça<strong>da</strong> pela orfan<strong>da</strong>de paterna. O pai de<br />

Manassés era um agricultor que viu no talento <strong>do</strong> filho, ain<strong>da</strong> criança, uma forma deste<br />

sobreviver, o levou de Maranguape para a Praça <strong>do</strong> Ferreira, em Fortaleza, para o então<br />

menino Manassés tocar com o violão <strong>do</strong> irmão mais velho; com isso conseguiu angariar<br />

dinheiro para comprar o primeiro violão <strong>do</strong> filho; ou seja, Manassés, ain<strong>da</strong> muito ce<strong>do</strong><br />

aprendeu que ser músico poderia ser o caminho de sobrevivência. O músico maranguapense<br />

aproveitou praticamente to<strong>da</strong>s as oportuni<strong>da</strong>des para, mostran<strong>do</strong> sua destreza no instrumento,<br />

ganhar o pão de ca<strong>da</strong> dia, como faz até hoje. Estes exemplos expostos ilustram em que<br />

direção caminha nosso trabalho de análise; perceberemos a complexi<strong>da</strong>de destas trajetórias<br />

que não se resumem a causa e efeito, pelo contrário, são vivências em movimento que<br />

guar<strong>da</strong>m coerências e incoerências, consonâncias e dissonâncias, o que desvelará um habitus<br />

em movimento, em mu<strong>da</strong>nça. Assim como se modificam no tempo e no espaço as condições<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s e as configurações relacionais, os agentes mu<strong>da</strong>m suas estratégias, acumulam, gastam e<br />

desgastam, capitalizam, convertem e se diferenciam em uma socie<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez mais<br />

diferencia<strong>da</strong>.<br />

Sair de uma ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Nordeste</strong> em direção aos grandes centros <strong>do</strong> país revela a<br />

coragem <strong>do</strong>s aventureiros musicais em encarar to<strong>da</strong>s as diferenças, não somente particulares<br />

mas, também de ordem política e social. O Esta<strong>do</strong>, que é o detentor <strong>do</strong> maior capital<br />

simbólico, com a força de impor os rumos de to<strong>da</strong> a nação, faz investimentos que transforma<br />

a capital em lugar <strong>do</strong> capital (BOURDIEU, 1997, p. 162). As hierarquias entre as regiões <strong>do</strong><br />

país são observáveis nas condições físicas <strong>do</strong>s lugares e, concomitantemente, estão inscritas<br />

nas estruturas mentais <strong>do</strong>s indivíduos, o que gera muitos incômo<strong>do</strong>s entre os nativos e os<br />

forasteiros. As formas de relacionamento revela<strong>da</strong>s pelo sotaque, pelo gestual, pelas roupas,<br />

jeito de olhar e que se traduzem na forma de ser e estar no mun<strong>do</strong> se transformam em<br />

obstáculos inter e intrapessoais para os agentes.<br />

As rotas <strong>do</strong>s artistas-peregrinos guar<strong>da</strong>vam vários desafios que foram identifica<strong>do</strong>s<br />

como importantes para o conhecimento e reconhecimento <strong>do</strong> campo e suas forças: a<br />

identificação <strong>da</strong>s batalhas trava<strong>da</strong>s entre os pares, algumas vezes vela<strong>da</strong>s e outras vezes<br />

declara<strong>da</strong>s; as hierarquias defini<strong>da</strong>s pelo volume de capitais; as estratégias de legitimação de<br />

ca<strong>da</strong> indivíduo. Os agentes-ciganos <strong>da</strong> música perceberam o que “o sucesso nas disputas<br />

depende <strong>do</strong> capital acumula<strong>do</strong> (sob suas diferentes espécies)” (BOURDIEU, 1997, p. 165).<br />

Contu<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s os desafios se traduziram em aprendiza<strong>do</strong>s individuais e na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s<br />

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suas escolhas. A certeza de seguir viagem, para alguns, encaran<strong>do</strong> as lutas dentro <strong>do</strong> campo; e<br />

para outros uma diminuição de investimentos buscan<strong>do</strong> outras estratégias fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

fonográfico. As jorna<strong>da</strong>s revelaram a força <strong>do</strong> habitus funcionan<strong>do</strong> como uma bússola que<br />

guiou as escolhas, de um la<strong>do</strong> conforme o contexto de socialização primário e, de outro la<strong>do</strong>,<br />

de acor<strong>do</strong> com a interação destas predisposições com a plurali<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des que se<br />

apresentou para ca<strong>da</strong> um no caminho.<br />

Narrativas canta<strong>da</strong>s<br />

Vamos aqui trazer as letras de algumas canções que narram os artistas em viagem ou<br />

que revelam uma nova perspectiva <strong>do</strong> agente por estar em deslocamento. Esta é uma<br />

confirmação <strong>da</strong> relevância <strong>do</strong> tema na trajetória formativa <strong>do</strong>s músicos, pois a canção traduz<br />

uma forma de leitura <strong>do</strong> próprio artista. Não por acaso muitos artistas trazem para suas<br />

canções a viagem como fonte de inspiração para suas narrativas. Muitas músicas apresentam<br />

o próprio cantor em viagem, descreven<strong>do</strong> sua trajetória na quali<strong>da</strong>de de um músico que se<br />

lança na estra<strong>da</strong> e se dispõe a conhecer novas reali<strong>da</strong>des, seja <strong>da</strong> nova paisagem urbana, <strong>do</strong><br />

impacto com o ambiente merca<strong>do</strong>lógico, seja <strong>da</strong> sau<strong>da</strong>de aumenta<strong>da</strong> pela distância, que narra<br />

a terra natal e a olha de um novo ponto de vista.<br />

As canções são a exteriori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> interiori<strong>da</strong>de estrutura<strong>da</strong>, que põem à mostra um<br />

“sistema de esquemas gera<strong>do</strong>res de práticas” (BOURDIEU, 2007), visto que – como nos<br />

explica Bourdieu – “nas disposições <strong>do</strong> habitus, se encontra inevitavelmente inscrita to<strong>da</strong> a<br />

estrutura <strong>do</strong> sistema <strong>da</strong>s condições tal como ela se realiza na experiência de uma condição que<br />

ocupa determina<strong>da</strong> posição nessa estrutura (...)” (BOURDIEU, 2007).<br />

O cantar na quali<strong>da</strong>de de uma ativi<strong>da</strong>de simbólica exerce uma função organiza<strong>do</strong>ra<br />

<strong>da</strong> ação e produz novas formas de comportamento. A música exerce uma função interpessoal,<br />

visto que coloca o artista em interação com o meio, mas exerce também uma função<br />

intrapessoal, pois participa <strong>do</strong> processo de interiorização <strong>da</strong>s novas formas de relacionamento.<br />

O artista que canta sua nova reali<strong>da</strong>de é encontra<strong>do</strong> em uma <strong>da</strong>s faixas <strong>do</strong> discomarco<br />

“Meu corpo minha embalagem to<strong>do</strong> gasto na viagem – Pessoal <strong>do</strong> Ceará”.<br />

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FIGURA 1 - Capa e contracapa <strong>do</strong> disco Meu corpo minha embalagem to<strong>do</strong> gasto na vigem.<br />

FIGURA 2 - parte interna <strong>da</strong>s capas <strong>do</strong> disco “Meu corpo minha embalagem to<strong>do</strong> gasto na viagem”<br />

Trazen<strong>do</strong> as canções <strong>do</strong> disco-marco “Meu corpo minha embalagem to<strong>do</strong> gasto na<br />

viagem – Pessoal <strong>do</strong> Ceará”, encontramos “Cavalo-Ferro” de Fagner e Ricar<strong>do</strong> Bezerra que<br />

descreve justamente a primeira viagem de Fagner para Brasília, ci<strong>da</strong>de que o lançou<br />

definitivamente no campo musical brasileiro.<br />

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CAVALO FERRO<br />

(Fagner e Ricar<strong>do</strong> Bezerra)<br />

Monta<strong>do</strong> num cavalo ferro<br />

Vivi campos verdes, me enterro<br />

Em terras trópico-americanas<br />

Trópico-americanas, trópico-americanas<br />

E no meio de tu<strong>do</strong>, num lugar ain<strong>da</strong> mu<strong>do</strong><br />

Concreto ferro, sur<strong>do</strong> e cego<br />

Por dentro desse velho, desse velho<br />

Desse velho mun<strong>do</strong><br />

Pulsan<strong>do</strong> num segun<strong>do</strong> letal<br />

No planalto central<br />

Onde se divide, se divide, se divide<br />

O bem e o mal<br />

Vou achar o meu caminho de volta<br />

Pode ser certo, pode ser direto<br />

Caminho certo sem perigo, sem perigo<br />

Sem perigo, sem perigo fatal.<br />

para a pesquisa:<br />

Trazemos as palavras <strong>do</strong> próprio letrista de “Cavalo Ferro” colhi<strong>da</strong>s em entrevista<br />

“Cavalo Ferro” foi uma coisa que veio assim direto no Anísio [bar que se<br />

localizava na beira-mar e que foi um <strong>do</strong>s principais pontos de encontro<br />

desses artistas], eu pedi o bloco de notas <strong>do</strong> garçom e a caneta e ali mesmo<br />

veio, sabe... porque tem música que você constrói, você tira um bloco, puxa<br />

<strong>da</strong>li, puxa <strong>da</strong>qui, de acolá, troca verso. “Cavalo Ferro” não, foi, veio direto,<br />

direto, direto, verso por verso, um atrás <strong>do</strong> outro, o que o Fagner fez foi<br />

algumas repetições e tirou uns três antes que tinha no final que eu nem me<br />

lembro mais e ela foi inspira<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> dele em Brasília. Ele tinha acaba<strong>do</strong><br />

de vir de Brasília, ain<strong>da</strong> na época <strong>da</strong> dureza, veio de ônibus e o “Cavalo<br />

Ferro” na<strong>da</strong> mais era que um velho... sei lá... expresso de luxo desses <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

que ele tinha vin<strong>do</strong> sacolejan<strong>do</strong> de lá pra cá, no começo de vi<strong>da</strong>, e Brasília<br />

era naquela época <strong>da</strong> efervescência, regime militar e tal tem to<strong>da</strong>s aquelas<br />

referências liga<strong>da</strong>s... muito sutis, né, <strong>da</strong> história de Brasília, <strong>do</strong> regime<br />

militar e que na época a censura, qualquer coisa ela queria <strong>da</strong>r o pitaco dela e<br />

em “Cavalo Ferro” ela não se <strong>da</strong>n<strong>do</strong> por satisfeita de aprovar aquilo <strong>do</strong> jeito<br />

que tava, man<strong>do</strong>u trocar se decide por se divide, e como são palavras<br />

pareci<strong>da</strong>s, cá pra nós, não diferencia muito uma <strong>da</strong> outra, então são as coisas<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> história, né?” (Ricar<strong>do</strong> Bezerra, 6 de junho de 2006).<br />

A canção “Cavalo Ferro” nos traz as seguintes temáticas: viagem (i<strong>da</strong>), o planalto<br />

central – nota<strong>da</strong>mente Brasília – como centro de decisões <strong>do</strong>s destinos <strong>da</strong> nação e a volta <strong>da</strong><br />

viagem. O artista vai ao centro <strong>do</strong> poder, olha, vive, sente, analisa e traduz suas impressões<br />

em canção. Neste senti<strong>do</strong> podemos falar que a Música Popular Brasileira funciona como uma<br />

sociologia, onde o artista é o pesquisa<strong>do</strong>r que vai a campo, coleta os <strong>da</strong><strong>do</strong>s e os organiza<br />

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esteticamente. Particularmente os cantores e compositores <strong>do</strong> Pessoal <strong>do</strong> Ceará são indivíduos<br />

letra<strong>do</strong>s que desenvolvem reflexões sobre as situações políticas e culturais <strong>do</strong> país e também<br />

sobre suas relações com o merca<strong>do</strong> e as mídias. Por isso estas canções vêm confirman<strong>do</strong> o<br />

que já analisamos durante o texto.<br />

Ain<strong>da</strong> com o disco-marco encontramos mais uma canção que é especialmente<br />

importante para verificarmos a relevância <strong>do</strong> tema em pauta; trata-se de Ingazeiras de<br />

Ednar<strong>do</strong>. Um artista descreven<strong>do</strong> a viagem de outro artista.<br />

INGAZEIRAS<br />

(Ednar<strong>do</strong>)<br />

Nasci<strong>do</strong> pela Ingazeiras<br />

Cria<strong>do</strong> no ôco <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

Meus sonhos descen<strong>do</strong> ladeiras<br />

Varan<strong>do</strong> cancelas<br />

Abrin<strong>do</strong> porteiras<br />

Sem ter o espanto <strong>da</strong> morte<br />

Nem <strong>do</strong> ronco <strong>do</strong> trovão<br />

O sul, a sorte, a estra<strong>da</strong> me seduz<br />

É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz<br />

É ouro em pó, é ouro em pó<br />

É ouro em pó que reluz<br />

O sul, a sorte, a estra<strong>da</strong> me seduz.<br />

Esta é a primeira faixa <strong>do</strong> “la<strong>do</strong> A” <strong>do</strong> long-play referência para este trabalho. O disco<br />

traz no título o tema <strong>da</strong> viagem – Meu corpo minha embalagem to<strong>do</strong> gasto na viagem – e abre<br />

com uma canção que trata <strong>do</strong> mesmo tema. “Ingazeiras” foi composta para o artista plástico<br />

cearense Aldemir Martins. Os artistas Belchior, Ednar<strong>do</strong>, Rodger e Téti integravam a equipe<br />

<strong>do</strong> programa de entrevistas “Proposta” na TV Cultura de São Paulo. A função <strong>do</strong>s<br />

compositores era recolher informações que seriam abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s no programa, com esses <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

compor um música e apresentar durante o programa. Aldemir Martins ao contar sua história<br />

de vi<strong>da</strong> para Ednar<strong>do</strong> colocou em destaque essa vontade de sair <strong>do</strong> “oco <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” e com o<br />

desejo de realização de seus sonhos varar cancelas, abrir porteiras. Para isto precisou ser<br />

destemi<strong>do</strong>, “sem ter o espanto <strong>da</strong> morte, nem <strong>do</strong> ronco <strong>do</strong> trovão”, pois a força de sedução <strong>do</strong><br />

sul, <strong>da</strong> sorte e <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> são mais fortes. A transmutação <strong>do</strong> desejo em reali<strong>da</strong>de é o ouro<br />

deste artista plástico. O seu “ouro em pó” que reluz como um oásis em meio as dificul<strong>da</strong>des e<br />

limitações de sua origem social se encontrava na coragem de sair e efetivar seus sonhos.<br />

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Conclusão: o que e como mu<strong>da</strong> e quais as consequências <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça?<br />

Agora podemos responder objetivamente às perguntas feitas na introdução deste<br />

trabalho, para depois desenvolvê-las no decorrer de nossas conclusões. O que mu<strong>da</strong> com as<br />

viagens? Mu<strong>da</strong> principalmente a forma como o agente percebe o campo musical e mais<br />

especificamente o centro legitima<strong>do</strong>r de consagra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Música Popular Brasileira, ou seja,<br />

mu<strong>da</strong> a perspectiva, o que possibilita enxergar aspectos <strong>do</strong> campo que antes não era possível.<br />

Como mu<strong>da</strong>? Mu<strong>da</strong> viajan<strong>do</strong>, in<strong>do</strong> ao centro <strong>do</strong> campo musical-merca<strong>do</strong>lógico. Quais as<br />

conseqüências <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça? A mu<strong>da</strong>nça geográfica altera concomitantemente a posição <strong>do</strong><br />

agente no espaço social; e, para o que nos interessa, mu<strong>da</strong> a definição profissional <strong>do</strong> músico<br />

dentro <strong>do</strong> campo. Desta forma, podemos ain<strong>da</strong> afirmar que mu<strong>da</strong> a percepção de si mesmo<br />

dentro <strong>do</strong> campo.<br />

Estamos operan<strong>do</strong> no campo musical, logo é importante termos em vista que as<br />

principais variáveis deste espaço são as relações que os próprios agentes estabelecem,<br />

compreenden<strong>do</strong> que o campo se estrutura a partir destas relações. Estes agentes são músicos,<br />

são intermediários, são instituições e, de certa maneira, o público que faz a (primeira)<br />

recepção. Uma <strong>da</strong>s estratégias que estes músicos utilizaram e que é central para a acumulação<br />

de capitais e para a mobili<strong>da</strong>de no espaço social – o que implica em um sistema de<br />

disposições (habitus) em transformação – foi a viagem.<br />

A viagem consiste em uma estratégia de longo prazo e contribui para a construção <strong>do</strong><br />

habitus profissional <strong>do</strong> músico. O extenso perío<strong>do</strong> em viagem mu<strong>da</strong> substancialmente a vi<strong>da</strong><br />

destes agentes, no senti<strong>do</strong> <strong>da</strong> ascendência social, o que se constitui em uma estratégia de<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong> status original. Esta forma de atuação no campo - a viagem - guar<strong>da</strong> uma lógica<br />

própria, que é a transformação de um deslocamento físico – na geografia – em um<br />

deslocamento social. Entre as possibili<strong>da</strong>des de progressão no interior deste campo,<br />

constatamos que a viagem foi uma estratégia fun<strong>da</strong>mental para estes agentes. E, para nós, a<br />

análise <strong>da</strong>s trajetórias <strong>do</strong>s viajantes se constituiu em um recurso para a compreensão deste<br />

campo musical.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social <strong>do</strong> julgamento. São Paulo: Edusp; Porto<br />

Alegra, RS: Zouk, 2007.<br />

______. A miséria <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Petrópolis : Vozes, 1997.<br />

CARLOS, Josely T. Muito Além de Apenas um Rapaz Latino-Americano Vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Interior:<br />

investimentos interdiscursivos <strong>da</strong>s canções de Belchior. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) –<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Ceará, Centro de Humani<strong>da</strong>des, Programa de Pós-Graduação em<br />

Linguística Aplica<strong>da</strong>, Fortaleza, 2007.<br />

LAHIRE, B. A cultura <strong>do</strong>s indivíduos. Porto Alegre: Artmed, 2006.<br />

ROGÉRIO, Pedro. Pessoal <strong>do</strong> Ceará: habitus e campo musical na déca<strong>da</strong> de 1970. Fortaleza:<br />

Edições UFC, 2008.<br />

______. Pessoal <strong>do</strong> Ceará: formação de um Habitus na déca<strong>da</strong> de 70. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>)<br />

– Universi<strong>da</strong>de Fedral <strong>do</strong> Ceará, Centro de Humani<strong>da</strong>des, Programa de Pós-Graduação em<br />

Educação Brasileira – Fortaleza, 2006.<br />

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2 OA N O S<br />

Transmissão musical na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa de João Pessoa<br />

Pedro Henrique Macha<strong>do</strong> Freire<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

pepemddm@hotmail.com<br />

Wênia Xavier de Medeiros<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte<br />

wenia2@yahoo.com<br />

Resumo: Este artigo surgiu basea<strong>do</strong> em uma experiência de educação musical na esfera<br />

pública a nível municipal. O trabalho desenvolvi<strong>do</strong> refere-se às aulas/apresentações musicais<br />

com crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> Escola Municipal Nazinha Barbosa na<br />

ci<strong>da</strong>de de João Pessoa na Paraíba. O objetivo <strong>do</strong> trabalho é compreender os processos e<br />

situações <strong>da</strong> transmissão musical na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa, além de contribuir com<br />

a produção bibliográfica neste segmento, que ain<strong>da</strong> se encontra carente de pesquisas. Foram<br />

utiliza<strong>do</strong>s como instrumentos de coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s a observação participante, registro<br />

fotográfico, pesquisa bibliográfica e <strong>do</strong>cumental. O movimento de ban<strong>da</strong>s marciais surgiu<br />

possivelmente nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s principais meios de transmissão musical no<br />

Brasil. Na Paraíba, o investimento público em recursos materiais <strong>do</strong>s últimos anos juntamente<br />

à obrigatorie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na escola no Brasil pela lei 11.769/2008, culminaram<br />

na criação <strong>da</strong> Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa.<br />

Palavras-chave: Ban<strong>da</strong> Marcial Escolar, Transmissão Musical, Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha<br />

Barbosa<br />

Introdução<br />

Esta pesquisa surgiu a partir <strong>da</strong>s aulas ministra<strong>da</strong>s na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa<br />

<strong>da</strong> Escola Municipal Nazinha Barbosa, localiza<strong>da</strong> na comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Bairro São José na<br />

ci<strong>da</strong>de de João Pessoa, Paraíba. Atualmente, percebe-se que o movimento <strong>da</strong> tradição <strong>da</strong><br />

ban<strong>da</strong> marcial escolar tem perdi<strong>do</strong> força em diversos esta<strong>do</strong>s Brasileiros. No entanto, na<br />

ci<strong>da</strong>de de João Pessoa, ocorre um processo justamente inverso na área, com grande<br />

investimento financeiro. Nos últimos anos, segun<strong>do</strong> o Coordena<strong>do</strong>r Júlio César Rufo <strong>da</strong><br />

Coordenação <strong>da</strong>s Ban<strong>da</strong>s e Música <strong>da</strong> Secretaria de Educação e Cultura (SEDEC) <strong>do</strong><br />

Município de João Pessoa, foram investi<strong>do</strong>s nos últimos anos, mais de <strong>do</strong>is milhões de reais<br />

em instrumentos musicais como trombones, trompetes, eufônios, tubas, trompas, tímpanos,<br />

xilofones, glockenspiel (bells), campanas (tubular bells), bombos, pratos a <strong>do</strong>is, caixas, tam<br />

tans e outros, equipan<strong>do</strong> mais de sessenta ban<strong>da</strong>s marciais municipais. O movimento musical<br />

na ci<strong>da</strong>de tem-se intensifica<strong>do</strong> com desfiles, campeonatos, copas, eventos escolares e de<br />

festivi<strong>da</strong>des públicas em geral.<br />

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As Ban<strong>da</strong>s Marciais<br />

A Ban<strong>da</strong> Marcial na<strong>da</strong> mais é que uma ban<strong>da</strong> de marcha que segue características<br />

militares. Essa origem vem <strong>do</strong>s antigos exércitos europeus, que usavam a ban<strong>da</strong> como<br />

instrumento de orientação e incentivo moral para as tropas em batalhas e, a partir de um toque<br />

pré estabeleci<strong>do</strong>, obedeciam às ordens superiores, como por exemple avançar e recuar.<br />

A formação atual <strong>da</strong> Ban<strong>da</strong> Marcial, que abrange apenas <strong>do</strong>is naipes, surgiu com a<br />

necessi<strong>da</strong>de de redução <strong>da</strong>s Grandes Ban<strong>da</strong>s Filarmônicas. A ban<strong>da</strong> tem na via publica seu<br />

principal ambiente de apresentação. O uso apenas de instrumentos de metais e percussão<br />

torna mais viável a atuação acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong> marcha. Esta simplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> formação estética<br />

<strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s marciais tornou este meio bastante acessível, sen<strong>do</strong> assim, bastante a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por<br />

instituições como escolas e quartéis. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s a ban<strong>da</strong> marcial é muito comum nas<br />

escolas e universi<strong>da</strong>des e no Reino Uni<strong>do</strong> nos quartéis militares.<br />

De uma forma geral, as ban<strong>da</strong>s marciais são dividi<strong>da</strong>s em três segmentos que provém<br />

<strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s sinfônicas e ban<strong>da</strong>s de música: A Ban<strong>da</strong> de Desfile, que é encarrega<strong>da</strong> de<br />

comportar os eventos de desfiles cívicos e festivi<strong>da</strong>des; a Ban<strong>da</strong> de Campeonatos, que são<br />

ban<strong>da</strong>s prepara<strong>da</strong>s para competições onde são julga<strong>da</strong>s a partir de vários critérios, e as ban<strong>da</strong>s<br />

Drum Corps e Brass Corps. Este último estilo nasceu nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Nele, as ban<strong>da</strong>s<br />

fazem evoluções coreográficas concomitantemente com a execução instrumental <strong>da</strong>s peças,<br />

sen<strong>do</strong> muito comum em eventos In<strong>do</strong>r, como abertura e intervalos de jogos.<br />

No Brasil, segun<strong>do</strong> Barbosa (1996, p. 41), a maioria <strong>do</strong>s instrumentistas de sopro que<br />

trabalham profissionalmente em ban<strong>da</strong>s militares, civis, ou orquestras recebeu sua formação<br />

elementar em ban<strong>da</strong>s. As ban<strong>da</strong>s de música tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s meios mais utiliza<strong>do</strong>s no ensino<br />

elementar <strong>da</strong> musica instrumental, de sopro e percussão, no nosso País.<br />

Em João Pessoa prevalecem os <strong>do</strong>is primeiros seguimentos, Ban<strong>da</strong> de desfile e<br />

Ban<strong>da</strong> de campeonatos, já que é bastante tradicional na ci<strong>da</strong>de os desfiles de 7 de setembro<br />

em comemoração à Independência <strong>do</strong> Brasil e os campeonatos a nível municipal, estadual e<br />

regional. Atualmente há apenas uma ban<strong>da</strong> que trabalha no estilo Drum e Brass Corps: a<br />

Ban<strong>da</strong> Castro Alves.<br />

A Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa<br />

João Pessoa possui pelo sistema municipal de ensino, noventa e seis escolas públicas<br />

de ensino fun<strong>da</strong>mental e médio e trinta e cinco CREI´s (Centros de Referência de Educação<br />

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Infantil – creches para crianças até cinco anos). Estas escolas e CREI´s estão dividi<strong>da</strong>s e<br />

distribuí<strong>da</strong>s em nove pólos pelos diversos bairros <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. O pólo seis compreende os<br />

bairros <strong>do</strong> Padré Zé, Man<strong>da</strong>caru, Bairro <strong>do</strong>s Ipês, 13 de maio, Bairro <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, Bessa e<br />

Bairro São José. A Escola Municipal Nazinha Barbosa é uma <strong>da</strong>s treze escolas <strong>do</strong> pólo seis,<br />

localiza<strong>da</strong> à Rua Edmun<strong>do</strong> Filho, 65, no Bairro de São José.<br />

A escola, que em 2005 passou por uma enchente, mu<strong>do</strong>u-se para o endereço atual<br />

com prédio reforma<strong>do</strong> com dezenove salas, laboratório de informática, biblioteca, diretoria,<br />

secretaria, refeitório e ginásio. A escola funciona nos três turnos e, no ano de 2010, possuíam<br />

em seu quadro novecentos e trinta alunos e cerca de cem servi<strong>do</strong>res, entre professores e<br />

pessoal administrativo.<br />

FIGURA 1: Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa com o Regente Pedro<br />

Freire. Foto: Wênia Xavier<br />

A Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa (FIG. 1) surgiu no início de 2010, quan<strong>do</strong> a<br />

Escola municipal Nazinha Barbosa foi incluí<strong>da</strong> entre as vinte e três escolas contempla<strong>da</strong>s pela<br />

Prefeitura Municipal de João Pessoa com a criação de novas ban<strong>da</strong>s, a partir <strong>da</strong> efetivação <strong>da</strong><br />

lei 11.769/2008 que torna obrigatório o ensino de música na escola, culminan<strong>do</strong> no<br />

surgimento <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>. A escola recebeu um alto investimento com instrumental e far<strong>da</strong>mento<br />

para a ban<strong>da</strong>.<br />

Estrutura<br />

A ban<strong>da</strong> está dividi<strong>da</strong> em <strong>do</strong>is naipes: o naipe de sopros, forma<strong>do</strong> por instrumentos de<br />

metais e o naipe de percussão. A Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa é composta por sub-naipes<br />

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de trompetes, trombones, eufônio e tuba, no naipe de metais e caixas, bombos e pratos, no<br />

naipe de percussão. A Ban<strong>da</strong> é composta por alunos <strong>da</strong> escola, <strong>do</strong> 4º ou 9º ano <strong>do</strong> ensino<br />

fun<strong>da</strong>mental, com cerca de vinte e cinco integrantes de dez a dezesseis anos de i<strong>da</strong>de, com<br />

exceção de um integrantes de vinte e quatro anos, que fazia parte <strong>do</strong> programa Pró-Jovem <strong>do</strong><br />

Governo Federal.<br />

Apresentações<br />

A escola está situa<strong>da</strong> na comuni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Bairro São José, onde o acesso aos bens e<br />

meios culturais não chegam com facili<strong>da</strong>de. Nesse senti<strong>do</strong>, a ban<strong>da</strong> marcial Nazinha Barbosa<br />

é, muitas vezes, a única alternativa musical <strong>da</strong>quele bairro e de bairros vizinhos e o único<br />

meio de se aprender música <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de.<br />

A Ban<strong>da</strong> está incluí<strong>da</strong> em distintos eventos, como os desfiles cívicos <strong>do</strong> mês de<br />

setembro, etapas <strong>da</strong> Copa Municipal de Ban<strong>da</strong>s, Campeonato Paraibano de Ban<strong>da</strong>s e<br />

Fanfarras, eventos realiza<strong>do</strong>s pela Secretaria de Educação e Cultura <strong>do</strong> Município (SEDEC),<br />

além de eventos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> escola.<br />

No ano de 2010, a ban<strong>da</strong> participou <strong>do</strong> Desfile Cívico <strong>do</strong> pólo cinco, realiza<strong>do</strong> no<br />

Parque Solon de Lucena e foi premia<strong>da</strong> na I Copa Municipal de Ban<strong>da</strong>s com o 1º lugar na<br />

categoria Regente. A Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa foi considera<strong>da</strong> uma boa surpresa para<br />

a coordenação de Ban<strong>da</strong>s <strong>da</strong> SEDEC, pelos resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s num curto espaço de<br />

tempo e, pelo espaço não favorável que se encontra, numa comuni<strong>da</strong>de carente e marca<strong>da</strong><br />

pela violência urbana, principalmente causa<strong>da</strong> pelo uso e tráfico de drogas.<br />

As aulas e ensaios<br />

Os ensaios e aulas são coletivos e acontecem na própria escola, alterna<strong>do</strong>s entre sala<br />

de aula e ginásio <strong>da</strong> escola, sen<strong>do</strong> por algumas vezes, realiza<strong>do</strong>s em uma pequena praça em<br />

frente à escola. As aulas foram ministra<strong>da</strong>s com uma frequência de quatro vezes por semana,<br />

sen<strong>do</strong>, ca<strong>da</strong> uma delas, com uma hora e meia de duração. As aulas eram dividi<strong>da</strong>s em quatro<br />

momentos durante a semana, sen<strong>do</strong>, a primeira aula <strong>da</strong> semana teórica, onde to<strong>do</strong>s os alunos<br />

se fazem presentes. Num segun<strong>do</strong> momento, são trabalha<strong>da</strong>s as técnicas musicais e<br />

instrumentais apenas com o naipe de sopros. O mesmo acontece na terceira aula agora, dessa<br />

vez com o naipe de percussão. Na quarta aula <strong>da</strong> semana, a aula é dividi<strong>da</strong> entre o trabalho de<br />

ordem uni<strong>da</strong> e um ensaio com os <strong>do</strong>is naipes juntos, ou seja, a ban<strong>da</strong> marcial completa. A<br />

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ordem uni<strong>da</strong> é uma ativi<strong>da</strong>de de ordem militar, onde é feito o treinamento de marcha. Nela é<br />

trabalha<strong>da</strong> a harmonia visual <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> através <strong>do</strong> equilíbrio e sincronia de movimentos a<br />

partir de um coman<strong>do</strong> de voz (por exemplo: marcha, meia-volta volver, sinais de auto,<br />

senti<strong>do</strong>). Em to<strong>do</strong>s esses momentos, a meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> é através <strong>do</strong> ensino coletivo de<br />

instrumentos.<br />

O ensino coletivo de instrumento<br />

A meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> ensino coletivo de instrumentos musicais consiste em ministrar<br />

aulas ao mesmo tempo para vários alunos. Sobre os benefícios <strong>do</strong> ensino coletivo de<br />

instrumento, Joel Barbosa destaca que<br />

o ensino coletivo gera certo entusiasmo no aluno por fazê-lo sentir-se parte<br />

de um grupo, facilita o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alunos menos talentosos, causa uma<br />

competição saudável entre os alunos em busca sua posição musical no<br />

grupo, desenvolve as habili<strong>da</strong>des de se tocar em conjunto desde o início <strong>do</strong><br />

aprendiza<strong>do</strong>, e proporciona um contato exemplar com as diferentes texturas<br />

e formas musicais (BARBOSA, 1996, p. 41).<br />

Num ambiente de ban<strong>da</strong>, é raro o ensino individual <strong>do</strong> instrumento, principalmente<br />

pela quanti<strong>da</strong>de de instrumentistas que tem que ser orienta<strong>do</strong>s, quase sempre, por apenas um<br />

profissional. Além disso, o ensino coletivo de instrumento pode ser uma importante<br />

ferramenta <strong>do</strong> processo de socialização <strong>do</strong> ensino musical democratizan<strong>do</strong> o acesso <strong>do</strong><br />

ci<strong>da</strong>dão à formação musical.<br />

No Brasil, nomes como Alberto Jaffé (pioneiro no Ensino Coletivo de Cor<strong>da</strong>s), José<br />

Coelho de Almei<strong>da</strong> (pioneiro <strong>do</strong> Ensino Coletivo de Sopros), Pedro Cameron, Maria de<br />

Lourdes Junqueira, Diana Santiago, Al<strong>da</strong> Oliveira, Cristina Tourinho, Joel Barbosa, Maria<br />

Isabel Montan<strong>do</strong>n, Abel Moraes, João Maurício Galin<strong>do</strong>, entre outros, utilizam o ensino<br />

coletivo como meto<strong>do</strong>logia eficiente na iniciação instrumental (CRUVINEL, 2008, p. 6).<br />

Um méto<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> referência para este tipo de ensino nos sopros e na percussão<br />

de ban<strong>da</strong>s marciais é o méto<strong>do</strong> Da Capo de Joel Barbosa, fruto de sua tese de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong><br />

intitula<strong>da</strong> “Uma A<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong>s Méto<strong>do</strong>s Americanos de Instrução para Ban<strong>da</strong>s para a<br />

Educação Musical Brasileira, utilizan<strong>do</strong> Melodias Brasileiras 1 ” Sobre o a meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong> Da Capo Nascimento (2006, p. 97) comenta que,<br />

1 An A<strong>da</strong>ptation of American Band Instruction Methods to Brazilian Music Education, Using Brazilian<br />

Melodies (Barbosa, 1994).<br />

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o primeiro fator diferencial e o mais importante é o uso de professores<br />

especialistas nos instrumentos. No méto<strong>do</strong> “Da Capo”, um único professor<br />

assume o papel de ministrar to<strong>do</strong>s os instrumentos. Segun<strong>do</strong> o professor Joel<br />

Barbosa essa configuração de professores especialistas seria a ideal, porém<br />

um pouco mais onerosa (NASCIMENTO, 2006, p. 97)<br />

O ensino coletivo se torna uma ferramenta indispensável no dia a dia de trabalho.<br />

Numa aula coletiva ca<strong>da</strong> aluno se encontra muito menos exposto, porém, pode passar<br />

despercebi<strong>do</strong> algum equivoco ou vícios técnicos. Por outro la<strong>do</strong>, o aluno já aprende<br />

concomitante com a prática de conjunto e se auto-corrigin<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s colegas. O que não<br />

significa, na nossa opinião, que este tipo de prática seja a ideal, pelo contrário, é preciso<br />

encontrar uma forma complementar de observar as dificul<strong>da</strong>des individuais de ca<strong>da</strong> aluno.<br />

Esse trabalho em paralelo se faz fun<strong>da</strong>mental se observarmos também que o regente, em sua<br />

maioria, não <strong>do</strong>mina as técnicas de to<strong>do</strong>s os instrumentos.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Montan<strong>do</strong>n (2006, p. 44) comenta que as questões como “O que <strong>da</strong>r na<br />

aula em grupo? Como <strong>da</strong>r aulas em grupo? Que material usar? Qual o melhor número de<br />

alunos para ca<strong>da</strong> grupo? Para qual faixa etária o ensino em grupo é mais adequa<strong>do</strong>? Para que<br />

nível é mais adequa<strong>do</strong>?” são as de maior interesse <strong>do</strong>s professores.<br />

A autora salienta ain<strong>da</strong> que o crescente interesse pelo ensino coletivo faz senti<strong>do</strong> se<br />

observarmos a necessi<strong>da</strong>de de renovações na área de ensino de instrumento, a pressão que o<br />

professor de instrumento recebe por parte <strong>da</strong> direção <strong>da</strong>s instituições de ensino (ou mesmo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>), bem como, a ausência de cursos de preparação específica para professores de<br />

instrumentos em grande parte <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des brasileiras<br />

A transmissão musical na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa<br />

A educação musical desenvolvi<strong>da</strong> em uma ban<strong>da</strong> escolar deve ser a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> ao<br />

contexto em que se está inseri<strong>da</strong>. É fato que não se pode impor uma educação formal a uma<br />

comuni<strong>da</strong>de que vive em meio às diferenças e inúmeras dificul<strong>da</strong>des. Sem contar que, neste<br />

caso, a ban<strong>da</strong> é uma ativi<strong>da</strong>de paralela, e não consta na grade curricular <strong>da</strong> escola.<br />

Resumi<strong>da</strong>mente define-se como educação formal, aquela em que a<br />

aprendizagem é institucionaliza<strong>da</strong> de maneira gradual e estrutura<strong>da</strong><br />

hierarquicamente, poden<strong>do</strong> ou não receber orientação governamental. Como<br />

exemplos, podemos citar as escolas de música municipais, estaduais,<br />

conservatórios particulares e outros. A educação não-formal caracteriza-se<br />

por envolver processos diferencia<strong>do</strong>s de transmissão de conhecimentos, não<br />

possuin<strong>do</strong> currículo preestabeleci<strong>do</strong>, conteú<strong>do</strong> programático e sistemas de<br />

avaliação e reprovação. (BENEDITO, 2008).<br />

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O ensino na Ban<strong>da</strong> Marcial vai depender de situações, e pode variar a partir <strong>do</strong> aluno,<br />

<strong>da</strong> ban<strong>da</strong> ou <strong>do</strong> lugar em que esta situa<strong>da</strong>. Também não podemos aban<strong>do</strong>nar to<strong>da</strong> a parte<br />

formal <strong>do</strong> ensino, já que além de uma ação <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> na escola e na comuni<strong>da</strong>de, também<br />

deve haver, mesmo que em paralelo, uma preocupação com a formação musical de ca<strong>da</strong><br />

indivíduo.<br />

A transmissão musical na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa é feita de forma muito<br />

especial, ten<strong>do</strong> em vista que as crianças estão ten<strong>do</strong> pela primeira vez acesso à educação<br />

musical, muitas vezes ten<strong>do</strong> pela primeira vez acesso à cultura, e por vezes não muito raro,<br />

to<strong>da</strong> sua formação inicial vai ser feita dentro <strong>da</strong>quele ambiente.<br />

Outro fator que difere este ensino é que, ao mesmo tempo, que se está inician<strong>do</strong> na<br />

música, o aluno tem que realizar apresentações musicais, pois, a ban<strong>da</strong> tem a obrigação de<br />

estar em ativi<strong>da</strong>de nos eventos escolares. Assim, os processos de ensino-aprendizagem e de<br />

execução instrumental e performance têm que ser trabalha<strong>do</strong>s quase que simultaneamente.<br />

Desta forma, a transmissão começa com a priorização <strong>do</strong> instrumento, e a teoria sen<strong>do</strong><br />

secundária introduzi<strong>da</strong> a partir dele.<br />

No inicio, a transmissão musical é feita de forma quase totalmente oral, sen<strong>do</strong> usa<strong>do</strong><br />

apenas um quadro negro para auxiliar com utilização de símbolos e nomes <strong>da</strong>s notas. Para a<br />

percussão são passa<strong>do</strong>s exercícios de iniciação à técnica básica e coordenação motora de<br />

controle <strong>da</strong>s baquetas. Já com os instrumentistas de sopros, as notas musicais são passa<strong>da</strong>s<br />

com suas respectivas alturas e posteriormente suas posições manuais e corpóreas no<br />

instrumento a ser toca<strong>do</strong>, com isto são realiza<strong>do</strong>s exercícios de escalas e arpejo.<br />

Um ponto complica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> trabalho com os instrumentos de metais é a transposições<br />

<strong>do</strong>s instrumentos. Por exemplo, o aluno de trompete aprende a escala de Dó maior sem saber<br />

que, na ver<strong>da</strong>de, esta executan<strong>do</strong> uma escala de Si bemol maior. Isso dificulta o trabalho <strong>do</strong>s<br />

instrumentos de sopro em paralelo, pois trombones e tubas trabalham com notas reais (DÓ =<br />

DÓ) e trompetes e eufônios com notas transpostas em SI bemol maior (DO = SI b.).<br />

São utiliza<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s tradicionais <strong>da</strong> iniciação musical, tanto no ensino instrumental<br />

quanto no teórico. Como o trabalho inicial é feito com um aluna<strong>do</strong> praticamente leigo e que<br />

necessita de um aprendiza<strong>do</strong> para uma rápi<strong>da</strong> e sustentável execução <strong>do</strong> instrumento, são<br />

feitas a<strong>da</strong>ptações de méto<strong>do</strong>s, tratan<strong>do</strong> os méto<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s com uma linguagem acessível aos<br />

alunos. Muitas vezes o aluno não tem acesso ao livro original, apenas aos exercícios<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>do</strong>s. São usa<strong>do</strong>s os méto<strong>do</strong>s; Complete Method for Trumpete (2007) de Jean Baptiste<br />

Arban, para instrumentos de metais; Stick Control for Snare Drum (1963) de George<br />

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2 OA N O S<br />

Lawrence Stone, para percussão; Méto<strong>do</strong> para caixa clara (1996) de Ney Rosauro e Guia<br />

teórico prático para o ensino <strong>do</strong> dita<strong>do</strong> musical (1983) de Hector Pozzoli.<br />

Mas, a maior inovação com a ban<strong>da</strong> marcial Nazinha Barbosa foi a utilização de uma<br />

a<strong>da</strong>ptação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> Suzuki 2 , que trata exatamente de um aprendiza<strong>do</strong> musical prático que<br />

antecede o conhecimento teórico. A memória visual e auditiva é primordial nesse<br />

aprendiza<strong>do</strong>. Como o desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho exige este imediato trabalho de execução,<br />

percebemos já haver um méto<strong>do</strong> de ensino que abor<strong>da</strong>ria as mesmas necessi<strong>da</strong>des, não só<br />

com a mesma filosofia de educação musical como de educação social, e que os resulta<strong>do</strong>s já<br />

eram comprova<strong>do</strong>s com excelência.<br />

A execução prática deste méto<strong>do</strong> foi feito, inicialmente, <strong>da</strong> forma mais similar<br />

possível, e depois desenvolvi<strong>do</strong> trechos de acompanhamento, este sen<strong>do</strong> reveza<strong>do</strong> entre os<br />

instrumentos o que faz desenvolver a pratica de musica de câmara. A primeira lição <strong>do</strong> livro<br />

de Suzuki Volume I, por exemplo, é executa<strong>do</strong> pela ban<strong>da</strong> com uma a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> seguinte<br />

forma: os instrumentos de sopros quase sempre em uníssono (por vezes a tuba participa <strong>do</strong><br />

acompanhamento) e a percussão indica as variações com cadências. Nestas cadências, a caixa<br />

indica o ritmo exato <strong>da</strong> variação a ser toca<strong>da</strong>. Alem <strong>da</strong>s variações originais também foram<br />

incluí<strong>da</strong>s outras variações, como por exemplo, uma valsa e um baião. Também é usa<strong>do</strong> na<br />

transmissão musical, a utilização de palavras e frases simples para assimilação <strong>da</strong> frase<br />

musical rítmica, esse artifício é usa<strong>do</strong> tanto no méto<strong>do</strong> Suzuki como nas demais execuções e<br />

exercícios musicais.<br />

Conclusão<br />

A partir deste relato de experiência, percebe-se que a ban<strong>da</strong> marcial desempenha um<br />

papel fun<strong>da</strong>mental como instrumento de acesso à cultura. A contextualização <strong>da</strong>s situações de<br />

transmissão musical permite uma melhor compreensão <strong>do</strong>s atores sociais que participam deste<br />

processo, além <strong>da</strong> função social que a música desempenha naquela comuni<strong>da</strong>de. O apoio<br />

público na viabilização <strong>da</strong> aquisição de instrumentos musicais, acessórios e recursos humanos<br />

tem si<strong>do</strong> primordial na criação e manutenção <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s em João Pessoa. É possível<br />

2 Shiniki Suzuki foi um japonês que desenvolveu um méto<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em que to<strong>da</strong>s as crianças nascem com<br />

potenciali<strong>da</strong>des que são desenvolvi<strong>da</strong>s através <strong>do</strong> contato com o meio. Assim como o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> língua<br />

materna, que se desenvolve naturalmente pela repetição e só mais tarde ao ingressar na escola a criança<br />

aprenderá a ler e escrever, assim também é a música e o talento não é um acaso <strong>do</strong> nascimento, mas fruto <strong>do</strong><br />

meio onde o homem vive.<br />

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compreender, nesta descrição, as bases sobre as quais é construí<strong>do</strong> e transmiti<strong>do</strong> o<br />

conhecimento no processo de ensino e aprendizagem na Ban<strong>da</strong> Marcial Nazinha Barbosa.<br />

Apesar <strong>da</strong> utilização de alguns méto<strong>do</strong>s de introdução ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento, evidenciouse<br />

que a aplicação <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> ativo de Suzuki, foi eficiente na celeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assimilação <strong>do</strong>s<br />

conteú<strong>do</strong>s musicais como um to<strong>do</strong>. O ensino coletivo de instrumento revelou-se como a<br />

forma mais eficaz na aprendizagem musical <strong>do</strong>s alunos.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

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recomen<strong>do</strong>u que alunos <strong>da</strong> Escola Nazinha Barbosa não saiam <strong>da</strong>s salas. 07 de outubro de<br />

2010. Disponível em <br />

Acesso em 17 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

BARBOSA, Joel Luís <strong>da</strong> Silva. An a<strong>da</strong>ptation of American band instruction methods to<br />

Brazilian music education, using Brazilian melodies. University of Washington-Seattle. Tese<br />

de Doutora<strong>do</strong>. 1994.<br />

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grau. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. nº 03, Junho de 1996. Disponível em<br />

Acesso em 17 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

BENEDITO, Celso. Curso de capacitação para Mestres de Filarmônicas: o prenúncio de uma<br />

proposta curricular para formação <strong>do</strong> mestre de ban<strong>da</strong>s de música . CONGRESSO DA<br />

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 18,<br />

2008, Salva<strong>do</strong>r, <strong>Anais</strong>... Salva<strong>do</strong>r, ANPPOM, 2008. p. 507 – 511.<br />

CLICK RN. PMJP inaugura novo prédio <strong>da</strong> Escola Nazinha Barbosa. 17 de agosto de 2005.<br />

Disponível em<br />

Acesso em 17 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

CRUVINEL, Flávia Maria. O Ensino Coletivo de Instrumentos Musicais na Educação<br />

Básica:compromisso com a escola a partir de propostas significativas de Ensino Musical. In:<br />

ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO MUSICAL 3,<br />

2008, Brasília. <strong>Anais</strong>... Brasília, 21 a 23 de agosto de 2008. p. 1 – 13.<br />

NASCIMENTO, Marco Antônio Tole<strong>do</strong>. O ensino coletivo de instrumentos musicais na<br />

ban<strong>da</strong> de música. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E<br />

PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA, 16, 2006, Brasília. <strong>Anais</strong>... Brasília: ANPPOM, 2006. p.<br />

94 – 98.<br />

POZZOLI, Hector. Guia Teórico Prático para o ensino <strong>do</strong> dita<strong>do</strong> musical. São Paulo:<br />

Ricordi, 1983.<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Escolas Municipais de João Pessoa.<br />

Disponível em Acesso em 17 de abril de <strong>2011</strong><br />

ROSAURO, Ney. Complete Method for Snare Drum. Levels I, II, III and IV. USA: Pró-<br />

Percussão, 1996.<br />

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2 OA N O S<br />

STONE, George Lawrence. Stick Control for Snare Drum. Ran<strong>do</strong>lph, MA, USA: George B.<br />

Stone & Son. Inc., 1963.<br />

SUZUKI, Shinichi. Suzuki Violin School. Miami,Flóri<strong>da</strong>, USA: Warner Bros publications,<br />

1978<br />

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Transmissão musical no Grupo de Capoeira Ginga Nação: relações entre<br />

significa<strong>do</strong>s e práticas<br />

Tiago Lima de Gusmão<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

tiagolimav7@yahoo.com.br<br />

Resumo: Esta comunicação apresenta um projeto de pesquisa cujo objetivo consiste em<br />

compreender como se dão os processos de transmissão musical no contexto de ro<strong>da</strong>s, aulas e<br />

treinos <strong>do</strong> Grupo Capoeira Ginga Nação. Trata-se de um grupo que mescla os estilos de<br />

capoeira regional e angola e tem atuação em diversos espaços <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa. A<br />

capoeira tem, na contemporanei<strong>da</strong>de, a música como um elemento essencial, exercen<strong>do</strong><br />

diversas funções em suas práticas. Esta manifestação <strong>da</strong> cultura popular tem si<strong>do</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

diversas áreas <strong>do</strong> conhecimento, contu<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> tem si<strong>do</strong> relativamente pouco abor<strong>da</strong><strong>da</strong> pela<br />

educação musical. Autores como Abib (2004, p. 89-110), e Santana (2009, p. 52–75) têm<br />

evidencia<strong>do</strong> a sua pe<strong>da</strong>gogia diferencia<strong>da</strong>, calca<strong>da</strong> nos valores civilizatórios afro-brasileiros.<br />

O méto<strong>do</strong> de investigação utiliza<strong>do</strong> será o estu<strong>do</strong> de caso de abor<strong>da</strong>gem qualitativa.<br />

Palavras-chave: Capoeira, Educação Musical, Transmissão Musical.<br />

Introdução<br />

Através de um projeto de pesquisa de mestra<strong>do</strong> me proponho a realizar um estu<strong>do</strong> de<br />

caso qualitativo, cujo como objetivo central, consiste em compreender os processos de<br />

transmissão de música no Grupo Capoeira Ginga Nação. Para isso, foram delinea<strong>do</strong>s os<br />

seguintes objetivos específicos: investigar os significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> fazer musical para os membros<br />

<strong>do</strong> grupo estu<strong>da</strong><strong>do</strong>; verificar como acontecem as práticas de transmissão de música no Grupo;<br />

relacionar as práticas de transmissão de música <strong>do</strong> Grupo aos significa<strong>do</strong>s musicais atribuí<strong>do</strong>s<br />

por seus membros, ten<strong>do</strong> em foco os conhecimentos, habili<strong>da</strong>des e atitudes eleitos como<br />

necessários à formação destes.<br />

A capoeira é uma manifestação <strong>da</strong> cultura popular de muitas dimensões,<br />

mesclan<strong>do</strong> entre outros aspectos, música, brincadeira, jogo, <strong>da</strong>nça, luta, esporte, ritual,<br />

teatralização,cultura (REAL, 2006; SIMÕES, 2008; VERÍSSIMO, 2001), se mostran<strong>do</strong><br />

diversa, como descreve Abib:<br />

Não existiu uma matriz, ou centro irradia<strong>do</strong>r único que pudesse ser<br />

considera<strong>do</strong> como o local de surgimento <strong>da</strong> capoeira. Ela brotou<br />

espontaneamente e com formas diferencia<strong>da</strong>s em diferentes locais pelo país,<br />

materializan<strong>do</strong>, porém, uma memória e um saber coletivos que<br />

caracterizavam a ancestrali<strong>da</strong>de de milhões de homens e mulheres que,<br />

vin<strong>do</strong>s de África, traziam e cultivavam um pe<strong>da</strong>ço dela no Brasil. (ABIB,<br />

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2 OA N O S<br />

2004, p. 96).<br />

No seu desenvolvimento, tem passa<strong>do</strong> por grandes mu<strong>da</strong>nças nos significa<strong>do</strong>s e<br />

valorações de suas distintas dimensões e práticas, ao se relacionar com os momentos<br />

históricos, espaços sociais ocupa<strong>do</strong>s e visões de seus agentes. Duas <strong>da</strong>s principais mu<strong>da</strong>nças<br />

foram, de um la<strong>do</strong>, a visão <strong>da</strong> capoeira como esporte, símbolo <strong>da</strong> nação, relaciona<strong>da</strong> ao<br />

movimento <strong>da</strong> Capoeira <strong>Regional</strong>, cria<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 30 pelo Mestre Bimba e reforça<strong>da</strong> pelo<br />

Esta<strong>do</strong> Novo; de outro, a visão desta enquanto cultura, resistência étnica, e folclore,<br />

relaciona<strong>da</strong> à Capoeira Angola, firman<strong>do</strong>-se na déca<strong>da</strong> de 80 e através <strong>da</strong> qual a capoeira se<br />

lança ao mun<strong>do</strong> na déca<strong>da</strong> de 90 (VIEIRA; ASSUNÇÃO, 2008, p. 9-19). Consideran<strong>do</strong> a<br />

abrangência <strong>da</strong>s relações <strong>da</strong> música com muitas dimensões e práticas <strong>da</strong> capoeira, acredito<br />

que estas mu<strong>da</strong>nças tenham ti<strong>do</strong> grande influência sobre os significa<strong>do</strong>s, papeis e valores<br />

atribuí<strong>do</strong>s àquela, nestes distintos contextos, bem como aos conhecimentos, habili<strong>da</strong>des e<br />

atitudes musicais eleitos como necessários à formação de seus membros.<br />

Sintetizan<strong>do</strong> os papéis atribuí<strong>do</strong>s por um grupo de agentes desta manifestação às<br />

musicali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s ro<strong>da</strong>s de capoeira, Real pontua:<br />

• o fato <strong>da</strong> capoeira pratica<strong>da</strong> hoje ser fun<strong>da</strong>mentalmente caracteriza<strong>da</strong> pela<br />

presença <strong>da</strong> música;<br />

• a idéia de que as músicas influenciam no desempenho <strong>da</strong>s funções, <strong>do</strong> jogo ter<br />

mais harmonia e <strong>do</strong> cara se soltar mais, de fazer com que os capoeiristas sejam<br />

alegres, parecen<strong>do</strong> formar uma família;<br />

• a possibili<strong>da</strong>de de demonstrar que a capoeira vai além <strong>da</strong> movimentação<br />

corporal;<br />

• a possibili<strong>da</strong>de de colocar to<strong>do</strong>s numa mesma consciência, crian<strong>do</strong> um<br />

contexto de comunicação ou elo com o cosmo;<br />

• a história <strong>da</strong> capoeira ou função narrativa. (REAL, 2006, 170-174)<br />

O interesse inicial por esta pesquisa surgiu <strong>da</strong> observação <strong>da</strong> peculiari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> grupo Capoeira Ginga Nação, o qual mescla e alterna, sistematicamente,<br />

vivencias e fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Capoeira Angola e <strong>da</strong> <strong>Regional</strong> nos treinos, ro<strong>da</strong>s e aulas de<br />

música. Em conversas preliminares com o professor Ligeirinho, cria<strong>do</strong>r e responsável pelo<br />

Grupo, ele conta que esta é a forma como ele se identifica com a capoeira, a qual denomina de<br />

“capoeiragem”. Ligeirinho faz referência a como ela foi introduzi<strong>da</strong> na Paraíba pelo mestre<br />

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Zumbi Bahia na déca<strong>da</strong> de setenta, sem se prender a rótulos. Esta forma de capoeira, segun<strong>do</strong><br />

ele, perdurou até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos oitenta entre os grupos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Silva (2005) realizou<br />

uma pesquisa com diversos grupos de capoeira de João Pessoa e os resulta<strong>do</strong>s levaram-na a<br />

fazer as seguintes afirmações em relação ao que ela considera ser o perío<strong>do</strong> de oficialização<br />

<strong>da</strong> capoeira na Paraíba, em 1978:<br />

Quan<strong>do</strong> questionei sobre o estilo de capoeira a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelo Mestre Zumbi<br />

Bahia, seus alunos relatam que ele não assumia seguir nenhum estilo, se<br />

Angola ou <strong>Regional</strong>. No entanto, suas características o faziam crer que o<br />

mestre era um exímio angoleiro, mas que também sabia jogar muito bem a<br />

Capoeira <strong>Regional</strong>. Para seus adeptos, o estilo de capoeira era indiferente<br />

naquela época (SILVA, 2005, p. 88).<br />

Sinaliza, ain<strong>da</strong>, para a coerência <strong>do</strong> exposto pelo professor Ligeirinho, quan<strong>do</strong><br />

afirma, “Apesar de conhecermos a segmentação Angola e <strong>Regional</strong> e de alguns grupos se<br />

intitularem adeptos destes segmentos, seus movimentos pouco se parecem com a tradição”<br />

(SILVA, 2005, p. 96).<br />

O estilo <strong>da</strong> capoeira, ou como alguns capoeiristas preferem, as diferentes<br />

representações <strong>da</strong> capoeira (FERNANDES, 2003, p. 4) trazem códigos próprios de condutas,<br />

formas de apresentação <strong>da</strong>s hierarquias internas, no jogo e na execução de seus instrumentos,<br />

repertórios, diferentes baterias/orquestra de instrumentos e estilos musicais.<br />

Acredito ser relevante a investigação <strong>do</strong>s processos de transmissão de música deste<br />

Grupo, que apresenta, ao que me parece, uma certa ruptura na tendência <strong>do</strong>s grupos de<br />

capoeira, não só locais mas no âmbito nacional, como expressam Luis Renato e Renato<br />

Röhrig:<br />

O desenvolvimento <strong>do</strong>s grandes grupos de capoeira, com sua organização<br />

empresarial e sua estratégia agressiva de expansão para o interior <strong>do</strong> Brasil e<br />

para outros países, chegou a causar apreensão nos estudiosos quanto à<br />

possibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> desaparecimento <strong>da</strong>s ricas manifestações <strong>da</strong> capoeiragem<br />

nas comuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Brasil e nas periferias <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des.<br />

Dessa forma, a ação <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des liga<strong>da</strong>s à difusão <strong>da</strong> cultura e,<br />

principalmente, <strong>do</strong>s órgãos governamentais que atuam na área, precisa<br />

pautar-se pelo princípio de que não há uma capoeira apenas, mas capoeiras,<br />

no plural. Preservar essa diversi<strong>da</strong>de e difundir uma cultura de tolerância é<br />

preservar um cenário em que ca<strong>da</strong> manifestação particular <strong>da</strong> capoeira<br />

encontra seu lugar (VIEIRA; ASSUNÇÃO, 2008, p. 17).<br />

Desta forma levanto o seguinte problema de pesquisa: como e por quais processos de<br />

transmissão, os significa<strong>do</strong>s musicais, no contexto de ro<strong>da</strong>s, aulas e treinos <strong>do</strong> Grupo de<br />

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Capoeira Ginga Nação, relacionam-se aos conhecimentos, habili<strong>da</strong>des e atitudes eleitos<br />

como necessários à formação de seus membros.<br />

Justificativa<br />

A área de educação musical tem amplia<strong>do</strong> o seu leque de estu<strong>do</strong>s e práticas, e tem<br />

estreita<strong>do</strong> diálogos com as ciências humanas, entre outras áreas de conhecimento. Sobre isso,<br />

como Souza comenta:<br />

Esse interesse está volta<strong>do</strong> para a construção de teorias explicativas na área<br />

de educação musical que partam de instrumentos e práticas meto<strong>do</strong>lógicas<br />

próprias. Por isso as discussões sobre o objeto de estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> área, a natureza<br />

<strong>do</strong> conhecimento pe<strong>da</strong>gógico-musical e suas inter-relações com outras áreas<br />

<strong>do</strong> conhecimento são tão relevantes. (SOUZA, 2007, p. 30).<br />

Um ponto que acredito ser relevante <strong>da</strong> pesquisa é a possibili<strong>da</strong>de de melhor<br />

compreensão para uma melhor interação entre as práticas <strong>da</strong> educação musical e desta<br />

manifestação popular que, hoje, é pratica<strong>da</strong>/vivencia<strong>da</strong> por centenas de milhares de pessoas,<br />

nos cinco continentes (VIEIRA; ASSUNÇÃO, 2008, p. 9) e que tem como característica<br />

marcante a música, ten<strong>do</strong> esta vários papéis estruturais nas suas práticas, alguns já<br />

menciona<strong>do</strong>s.<br />

A revisão de literatura até o momento realiza<strong>da</strong>, no campo <strong>da</strong> educação musical e<br />

capoeira localizei apenas a tese de Santana (2009) e nenhuma dissertação.<br />

Acredito ser relevante a investigação <strong>do</strong>s processos de transmissão de música <strong>do</strong> Grupo<br />

em questão, por este apresentar uma certa ruptura na tendência <strong>do</strong>s grupos de capoeira, não só<br />

locais, mas no âmbito nacional ao se identificar com a linha de capoeira introduzi<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong><br />

de setenta na Paraíba, transitan<strong>do</strong> entre os “mun<strong>do</strong>s” <strong>da</strong> capoeira <strong>Regional</strong> e <strong>da</strong> Capoeira<br />

Angola, as quais, a literatura explora<strong>da</strong> aponta diferentes formas de transmissão e significa<strong>do</strong>s<br />

atribuí<strong>do</strong>s às suas práticas.<br />

Objetivos <strong>da</strong> Pesquisa<br />

Objetivo Geral<br />

Compreender como e por quais processos de transmissão, os significa<strong>do</strong>s musicais,<br />

no contexto de ro<strong>da</strong>s, aulas e treinos <strong>do</strong> Grupo de Capoeira Ginga Nação, relacionam-se aos<br />

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conhecimentos, habili<strong>da</strong>des e atitudes eleitos como necessários à formação de seus membros.<br />

Objetivos Específicos<br />

• Investigar os significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> fazer musical para os membros <strong>do</strong> Grupo;<br />

• Verificar como acontecem as práticas de transmissão musicais <strong>do</strong> Grupo;<br />

• Relacionar as práticas de transmissão de música <strong>do</strong> Grupo aos significa<strong>do</strong>s musicais<br />

atribuí<strong>do</strong>s por seus membros.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

O Grupo Capoeira Ginga Brasil tem atua<strong>do</strong> em diversos bairros de João Pessoa,<br />

como Bancários, Mangabeira, Man<strong>da</strong>caru, Funcionários, entre outros, através de projetos<br />

sociais, associações, Centros <strong>da</strong> Juventude, escolas públicas e ONGs. Segun<strong>do</strong> o professor<br />

Ligeirinho 2 , o Grupo conta com aproxima<strong>da</strong>mente mil alunos, <strong>do</strong>s quais, muitos vivenciam a<br />

capoeira dentro de programação conjunta com outras ativi<strong>da</strong>des, em diversos projetos. Cerca<br />

de trezentos têm uma ligação mais direta com o Grupo, ten<strong>do</strong> procura<strong>do</strong> algum destes espaços<br />

especificamente para ter aulas de capoeira.<br />

Será realiza<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> de caso ten<strong>do</strong> a entrevista semi-estrutura<strong>da</strong> e a observação<br />

enquanto técnicas para a construção <strong>do</strong> material empírico. Buscarei me aproximar de uma<br />

compreensão <strong>do</strong> fenômeno estu<strong>da</strong><strong>do</strong> consideran<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong> que os sujeitos que<br />

serão pesquisa<strong>do</strong>s lhes confere – conforme prevê a pesquisa qualitativa e o méto<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>.<br />

2 Entrevista grava<strong>da</strong> por mim, em setembro de 2010.<br />

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Pesquisa. 2003 Disponível em:<br />

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REAL, Márcio Penna Corte. As Musicali<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Ro<strong>da</strong>s de Capoeira(s): diálogos<br />

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SILVA, Patícia Morais <strong>da</strong>. O Processo Embranquecimento <strong>da</strong> Capoeira em João Pessoa.<br />

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SOUZA, Jusamara. Pensar a educação musical como ciência: a participação <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> na<br />

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VERÍSSIMO, Maria de Fátima Santos. Os Moleques de Sinhá: as representações <strong>da</strong> capoeira<br />

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Capoeira. Revista Textos <strong>do</strong> Brasil, Brasília, pág. 9-19 edição. 14, 2008. Disponível em:<br />

. Acesso em:08/082010<br />

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2 OA N O S<br />

A flauta <strong>do</strong>ce como vivência musical na escola de ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

Aline Regina <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

reginasax@yahoo.com.br<br />

Catarina Aracelle Porto <strong>do</strong> Nascimento<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

catarinaaracelle@yahoo.com.br<br />

Patrícia Valdelice <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

patyclarinete@musica.ufrn.br<br />

RESUMO: Este trabalho apresenta o relato de uma experiência desenvolvi<strong>da</strong> no<br />

Estágio Supervisiona<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso de Graduação em Música – Licenciatura Plena em<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN) - realiza<strong>do</strong> no 7º ano<br />

<strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental II no turno vespertino <strong>da</strong> Escola Municipal Irmã Arcângela<br />

situa<strong>da</strong> na Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal – RN sob a supervisão <strong>da</strong> Professora Titular Catarina<br />

Aracelle Porto <strong>do</strong> Nascimento. Este estágio representa ativi<strong>da</strong>de curricular obrigatória e<br />

constitui um eixo integra<strong>do</strong>r de formação, ten<strong>do</strong> como objetivo oferecer aos discentes a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de fazer uma análise de to<strong>do</strong> o processo de formação, fun<strong>da</strong>mentan<strong>do</strong> a<br />

<strong>do</strong>cência de acor<strong>do</strong> com os pressupostos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s durante o curso, bem como subsidiar<br />

a prática <strong>do</strong> discente na medi<strong>da</strong> em que possibilita ao licencian<strong>do</strong> aproximar-se <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> gestão e <strong>da</strong> sala de aula. Foram ministra<strong>da</strong>s aulas de flauta <strong>do</strong>ce<br />

soprano com o objetivo de iniciar a prática musical <strong>do</strong>s alunos ten<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> a<br />

apresentação de um concerto no Espaço Cultural <strong>da</strong> escola.<br />

Palavras-chave: Flauta Doce, Educação Musical e Ensino Fun<strong>da</strong>mental.<br />

A FLAUTA DOCE: UM MEIO PEDAGÓGICO<br />

Cuervo e Pedrini nos falam que “utilizar a flauta <strong>do</strong>ce como uma <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des no ensino de música é abrir caminhos de exploração e criação, quebrar<br />

pré-conceitos, valorizar as preferências musicais <strong>do</strong>s alunos, sem deixar de ampliá-las.”<br />

(CUERVO; PEDRINI, 2010, p. 53). Além disso, ela é um instrumento de maior<br />

acessibili<strong>da</strong>de em aspectos financeiros e diante <strong>do</strong> ambiente escolar que nos foi <strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

escolhemos este recurso como estratégia para o início <strong>da</strong> vivência musical <strong>do</strong>s alunos.<br />

A Flauta <strong>do</strong>ce nos permite uma prática musical coletiva proporcionan<strong>do</strong> a<br />

socialização e interação <strong>da</strong> criança com o meio, fazen<strong>do</strong> com que ela se sinta<br />

pertencente a um grupo e descobrin<strong>do</strong> novos valores. Amplia-se também seu mun<strong>do</strong><br />

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sonoro através de experimentações e proporciona o desenvolvimento <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

musical.<br />

Outro aspecto trabalha<strong>do</strong> por este instrumento é a memorização através <strong>da</strong><br />

iniciação <strong>da</strong> técnica de execução e <strong>da</strong> leitura <strong>do</strong> repertório, desenvolven<strong>do</strong> assim, a<br />

coordenação motora, a consciência de grupo, a autoestima, a capaci<strong>da</strong>de auditiva e a<br />

sensibili<strong>da</strong>de.<br />

A partir <strong>da</strong> iniciação <strong>da</strong> musicalização com a flauta <strong>do</strong>ce é possível progredir<br />

nos estu<strong>do</strong>s de outros instrumentos de sopro, como por exemplo, o saxofone e a flauta<br />

transversal, que possuem semelhanças com a colocação <strong>da</strong>s mãos, ten<strong>do</strong> em vista que<br />

ela desenvolve a consciência motora, a postura, a disciplina e a criativi<strong>da</strong>de.<br />

COM A MÃO NA FLAUTA<br />

A Escola Municipal Irmã Arcângela pertence à Secretaria Municipal de<br />

Educação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. A referi<strong>da</strong> escola está<br />

situa<strong>da</strong> na Rua São Pedro, Nº 180 no bairro Igapó, Natal-RN. O bairro de Igapó<br />

localiza-se na zona norte <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal-RN e possui diversos problemas sociais<br />

como as drogas, sen<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>s rotas principais para a distribuição e consumo delas,<br />

também possui um perfil econômico bastante baixo, onde seus mora<strong>do</strong>res são operários<br />

de fábricas e indústrias e convivem com a falta de saneamento básico e uma infraestrutura<br />

de melhor quali<strong>da</strong>de. As turmas são dividi<strong>da</strong>s entre turnos matutino,<br />

vespertino e noturno, onde no turno matutino funcionam as turmas <strong>do</strong> primeiro (1º) ao<br />

quinto (5º) ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental I, no turno vespertino trabalha-se com turmas <strong>do</strong><br />

sexto (6º) ao nono (9º) ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental II, e no turno noturno há turmas <strong>do</strong><br />

EJA (Educação de Jovens e Adultos).<br />

Este trabalho foi realiza<strong>do</strong> no sétimo (7º) Ano A <strong>do</strong> turno vespertino. A<br />

seguinte turma tinha vinte e oito alunos, to<strong>do</strong>s advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> próprio bairro <strong>da</strong> zona<br />

urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal-RN. Os alunos, em sua maioria, se encontravam vulneráveis<br />

socialmente e possuíam uma faixa etária entre dez a treze anos de i<strong>da</strong>de.<br />

De acor<strong>do</strong> com Beineke:<br />

Aprende-se música fazen<strong>do</strong> música. Aprende-se música também<br />

falan<strong>do</strong> sobre música, analisan<strong>do</strong>, refletin<strong>do</strong> sobre ela, mas a vivência<br />

musical sempre precisa estar presente. Para que isso aconteça, é<br />

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necessário que a produção musical <strong>do</strong>s alunos seja valoriza<strong>da</strong> em sala<br />

de aula. (BEINEKE, 2003, p. 87)<br />

Desprezar o mun<strong>do</strong> sonoro que o aluno traz para a sala de aula é negar a<br />

continui<strong>da</strong>de de construção <strong>do</strong> conhecimento, pois esses sons o norteiam para suas<br />

experimentações e produções musicais.<br />

Utilizan<strong>do</strong> esses conhecimentos prévios, selecionamos músicas que fazem<br />

parte <strong>do</strong> cotidiano destes alunos, além de ampliar seus repertórios oportunizan<strong>do</strong> a<br />

descoberta de novos gêneros musicais.<br />

Beineke afirma que:<br />

[...] os conteú<strong>do</strong>s sempre são trabalha<strong>do</strong>s com base no repertório<br />

seleciona<strong>do</strong>, isto é, não se parte especificamente de conceitos,<br />

objetivos ou conteú<strong>do</strong>s pré-determina<strong>do</strong>s, mas <strong>da</strong> própria música.<br />

Assim, o centro <strong>do</strong> trabalho é o próprio fazer musical, que pode ser<br />

complementa<strong>do</strong> com informações sobre as músicas trabalha<strong>da</strong>s, mas<br />

sem que se invertam essas posições. (BEINEKE, 2003, p. 88)<br />

O repertório escolhi<strong>do</strong> teve como objetivo resgatar a canção folclórica que é<br />

tão ausente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sonoro destes alunos, além de peças volta<strong>da</strong>s para <strong>da</strong>tas<br />

comemorativas pertencentes ao seu conhecimento e músicas que ampliaram a<br />

diversi<strong>da</strong>de cultural deles. No processo de aprendizagem <strong>da</strong> linguagem musical<br />

associamos a teoria musical com a prática na flauta <strong>do</strong>ce, ou seja, o conhecimento era<br />

vivencia<strong>do</strong> por eles através <strong>do</strong> manuseio <strong>do</strong> instrumento musical, amplian<strong>do</strong> assim, seus<br />

mun<strong>do</strong>s sonoros e seus fatores psicomotores.<br />

O conjunto <strong>da</strong>s obras musicais trabalha<strong>da</strong>s foi: Noite Feliz (Joseph Mohr e<br />

Franz Xaver Gruber), O Trem de ferro (Autor desconheci<strong>do</strong>), Bambalalão (Autor<br />

desconheci<strong>do</strong>), Mulher Rendeira (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Tema <strong>da</strong> IX<br />

Sinfonia – Ode à alegria (Ludwing Van Beethoven). Este repertório foi seleciona<strong>do</strong><br />

basea<strong>do</strong> na fase de observação <strong>da</strong>s aulas.<br />

As aulas <strong>da</strong> professora titular começaram a ser observa<strong>da</strong>s no segun<strong>do</strong><br />

semestre de <strong>do</strong>is mil e dez, onde ca<strong>da</strong> aula tinha cinquenta minutos de duração. Eram<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s assuntos relaciona<strong>do</strong>s à leitura e notação musical. As observações<br />

contribuíram de forma direta na nossa posição em sala de aula, pois com esse perío<strong>do</strong><br />

podemos sentir como seria a nossa abor<strong>da</strong>gem, além de já estarmos familiariza<strong>do</strong>s com<br />

a turma e eles conosco.<br />

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As flautas <strong>do</strong>ces soprano foram adquiri<strong>da</strong>s pela escola através <strong>da</strong> verba <strong>do</strong><br />

Programa Dinheiro Direta na Escola (PDDE) 1 , o qual é um programa de assistência<br />

financeira que vem para as escolas públicas de educação básica estadual e municipal.<br />

Pelo fato <strong>do</strong>s instrumentos pertencerem à escola, os alunos não podiam levá-las<br />

para casa, ten<strong>do</strong> acesso à prática apenas em sala de aula. Trabalhamos primeiramente<br />

com as notas <strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong> nesta ordem: sol, lá, si, dó e ré. Estas notas foram<br />

trabalha<strong>da</strong>s com jogos lúdicos em aulas coletivas.<br />

Encontramos alguns obstáculos, como os horários, pois só tínhamos 50<br />

minutos. A professora titular resolveu o problema preenchen<strong>do</strong> os horários vagos de<br />

outras disciplinas com as aulas de flauta <strong>do</strong>ce. Outro desafio foi controlar a ansie<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s alunos, pois estes eram motiva<strong>do</strong>s pela curiosi<strong>da</strong>de e pela vontade de aprender nas<br />

aulas de música, queren<strong>do</strong> tocar sempre, não esperan<strong>do</strong> a vez <strong>do</strong>s outros. Na turma,<br />

encontramos um aluno que já tocava flauta <strong>do</strong>ce e transversal, resultan<strong>do</strong> na competição<br />

deste com os demais. Resolvemos essa questão crian<strong>do</strong> uma segun<strong>da</strong> voz para as<br />

músicas, além de pedir que ele executasse junto com os outros, porém tocan<strong>do</strong> na flauta<br />

transversal.<br />

Após o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo de aprendizagem <strong>da</strong> flauta <strong>do</strong>ce, sentimos a<br />

necessi<strong>da</strong>de de expandir o limite físico <strong>da</strong> sala de aula buscan<strong>do</strong> partilhar a música com<br />

to<strong>da</strong> a escola. Isso se deu através de um concerto apresenta<strong>do</strong> no Espaço Cultural, que é<br />

a culminância <strong>do</strong>s trabalhos de to<strong>do</strong> o ano letivo.<br />

Este evento foi usa<strong>do</strong> também como uma <strong>da</strong>s formas de avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizagem, tanto <strong>do</strong>s alunos como <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente, como nos afirma Brito: “[...]<br />

to<strong>do</strong> processo de trabalho bem orienta<strong>do</strong> resulta em crescimento, aquisição de<br />

competências e habili<strong>da</strong>des, ampliação <strong>do</strong> repertório, <strong>do</strong> universo cultural etc.” (BRITO,<br />

2003, p. 198).<br />

Compreendemos que a avaliação deve permear as ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas,<br />

principalmente na relação professor-aluno e nos conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s neste espaço.<br />

Portanto, a intervenção <strong>do</strong> professor favorece a construir as mediações necessárias para<br />

o conhecimento <strong>do</strong> aluno.<br />

Segun<strong>do</strong> Hentschke e Del Ben,<br />

[...] a melhor forma de avaliar a aprendizagem musical <strong>do</strong>s alunos é<br />

investigan<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> suas práticas musicais. O conhecimento e a<br />

1 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) é uma medi<strong>da</strong> provisória nº 2.178-36 de 24 de Agosto de<br />

2001dentro <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Nacional de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (FNDE) que estabelece recursos<br />

financeiros para o custeio de escolas de educação especial.<br />

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compreensão musicais <strong>do</strong>s alunos serão revela<strong>do</strong>s nas suas próprias<br />

ações musicais, pelas ativi<strong>da</strong>des de composição, execução e/ou<br />

apreciação. A partir dessa concepção, a avaliação passa a focalizar não<br />

os aspectos emocionais ou pessoais <strong>do</strong>s alunos, mas os produtos<br />

musicais provenientes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de composição, execução e<br />

apreciação. (HENTSCHKE; DEL BEN, 2003, p. 186).<br />

ANALISANDO A MELODIA<br />

A concepção de ensino-aprendizagem mostra a importância <strong>da</strong><br />

criativi<strong>da</strong>de assumi<strong>da</strong> e que os conceitos fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s necessitam <strong>da</strong> união <strong>da</strong> teoriaprática.<br />

Faz-se necessário o respeito aos níveis de amadurecimento e aos conhecimentos<br />

prévios <strong>do</strong>s alunos, para assim construir uma aprendizagem significativa. O fato de<br />

existir apresentações na comuni<strong>da</strong>de escolar foi a mola propulsora para que os alunos se<br />

dedicassem ca<strong>da</strong> vez mais, para mostrar um bom trabalho aos seus pais, colegas e<br />

professores. Dentro dessa perspectiva, os esforços <strong>do</strong>s alunos mostram o ver<strong>da</strong>deiro<br />

intuito deste trabalho, consistin<strong>do</strong> no crescimento contínuo e individual de ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s<br />

participantes. Compreendemos que tais alunos tornam-se seres ativos <strong>da</strong> produção<br />

artística musical, tornan<strong>do</strong>-se aprecia<strong>do</strong>res, observa<strong>do</strong>res, críticos, admira<strong>do</strong>res e<br />

consumi<strong>do</strong>res de arte em geral, sem podermos esquecer a sua inserção e promoção<br />

social.<br />

Conclui-se que os objetivos estabeleci<strong>do</strong>s foram atingi<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> ao apoio e<br />

flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>do</strong> pela instituição, pois sem uma parceria <strong>da</strong>s escolas e professores,<br />

nenhum trabalho se concretizaria. Além <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> supervisora de<br />

estágio, que esteve sempre disponível para to<strong>da</strong>s as horas nos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a flexibili<strong>da</strong>de de<br />

trabalhar em sua sala de aula e de trocarmos experiências, pois esta prática é<br />

fun<strong>da</strong>mental. Portanto, é de extrema importância esta vivência em sala de aula, pois<br />

contribui para os futuros professores de música através <strong>da</strong> experiência adquiri<strong>da</strong> em<br />

sala, proporcionan<strong>do</strong> um contato direto com a reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> aluno e <strong>da</strong> escola, no<br />

qual o professor é educa<strong>do</strong>r, facilita<strong>do</strong>r e é capaz de transformar a informação em<br />

conhecimento.<br />

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2 OA N O S<br />

REFERÊNCIAS<br />

BEINEKE, Viviane. O Ensino de flauta <strong>do</strong>ce na Educação Fun<strong>da</strong>mental. In:<br />

HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del (Org.) Ensino de música: Propostas para<br />

pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. Cap. 5: p. 86 – 100.<br />

BRASIL. Disponível em: .<br />

Acesso em: 16 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria<br />

<strong>da</strong> Educação Fun<strong>da</strong>mental – 3 ed.- Brasília: A Secretaria, 2001.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: Propostas para a formação<br />

integral <strong>da</strong> criança. São Paulo: Editora Peiropólis, 2003.<br />

CUERVO, Luciane; PEDRINI, Juliana. Flautean<strong>do</strong> e crian<strong>do</strong>: experiências e reflexões<br />

sobre criativi<strong>da</strong>de na aula de música. Música na educação básica, Porto Alegre, vol. 2,<br />

n. 2, p. 48 – 61, 2010.<br />

HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del. O Ensino de flauta <strong>do</strong>ce na Educação<br />

Fun<strong>da</strong>mental. In: HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del (Org.) Ensino de música:<br />

Propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. Cap. 11: p. 176<br />

– 189.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, (Coleção magistério/Série<br />

formação <strong>do</strong> professor). 1994. Cap. 9: p .232 - 241.<br />

MED, Bohumil. Teoria <strong>da</strong> Música. 4 ed. revisa<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>. Brasília/DF: Musimed,<br />

1996.<br />

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A formação musical <strong>do</strong> professor de música: saberes prévios ao ingresso<br />

nos cursos de licenciatura em música<br />

Paulo Henrique Lopes de Alcântara<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

pauloetnomus@gmail.com<br />

Gleice Kelly Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

gleiceflauta@yahoo.com.br<br />

Resumo: Neste trabalho, apresentamos a importância de um estu<strong>do</strong> que analise a formação <strong>do</strong><br />

aluno anterior ao seu ingresso na universi<strong>da</strong>de, em seus múltiplos contextos, como um <strong>do</strong>s<br />

fatores atuantes na construção <strong>do</strong>s seus saberes e de sua futura atuação profissional como<br />

professor. Objetivamos identificar os motivos que levam os estu<strong>da</strong>ntes de música <strong>da</strong> UFPE a<br />

optar pelo curso de licenciatura, mesmo sem o desejo de se profissionalizar nesta área,<br />

contribuin<strong>do</strong> para a compreensão <strong>da</strong>s retenções e evasões presentes no curso. Portanto, a<br />

formação <strong>do</strong> futuro profissional de educação musical se inicia antes de seu ingresso na<br />

Universi<strong>da</strong>de, pois o meio social, suas necessi<strong>da</strong>des, suas perspectivas são fatores que se<br />

somam ao posterior curso de graduação no processo de formação <strong>do</strong>cente.<br />

Palavras-chave: formação inicial, licenciatura em música, saberes.<br />

Introdução<br />

A formação de professores de música inclui, entre outros aspectos, os saberes<br />

necessários a essa profissão. Em reflexão apresenta<strong>da</strong> sobre esse tema, Hentschke, Azeve<strong>do</strong> e<br />

Araújo (2006) consideram que “to<strong>da</strong> profissão necessita de um corpo de saberes que a<br />

caracterize [por isso] identificar a natureza <strong>do</strong>s saberes <strong>do</strong>centes e o seu 'repertório de<br />

conhecimentos' é relevante para valorização epistemológica, social e política <strong>da</strong> profissão <strong>do</strong><br />

professor” (HENTSCHKE; AZEVEDO; ARAÚJO, 2006, p. 51).<br />

É nesse senti<strong>do</strong> que o grupo de pesquisa 1 em educação musical, inicia<strong>do</strong> em 2009 na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE, está desenvolven<strong>do</strong> uma pesquisa que tem<br />

como objetivo a análise <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso de licenciatura em música <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

instituição. A investigação apresenta, também, como meta, identificar as motivações que<br />

levam os alunos a procurar o curso, mesmo sem o desejo de se profissionalizar naquela área,<br />

aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, desta forma, a identificar as possíveis razões <strong>da</strong>s retenções e evasões presentes no<br />

1 Grupo de Pesquisa “Formação e atuação profissional de professores de música”, ca<strong>da</strong>stra<strong>do</strong> no CNPq.<br />

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curso. O presente texto constitui-se de uma <strong>da</strong>s vertentes <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> projeto, avalian<strong>do</strong><br />

especificamente a formação anterior à universi<strong>da</strong>de, <strong>do</strong>s alunos em questão.<br />

Partimos <strong>do</strong> pressuposto que a vivência cultural <strong>do</strong> aluno anterior à universi<strong>da</strong>de irá<br />

influenciar as suas perspectivas profissionais e contribuir para construção de seus saberes<br />

durante sua formação acadêmica, interferin<strong>do</strong> na sua futura qualificação profissional.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

No ano de 2010, o Departamento de Música <strong>da</strong> UFPE apresentava um número de<br />

343 alunos matricula<strong>do</strong>s no curso de licenciatura, dentre os quais 178 responderam a um<br />

questionário elabora<strong>do</strong> pelo grupo de pesquisa, que apresenta um caráter quanti-qualitativo,<br />

propon<strong>do</strong> o mapeamento destes alunos para um posterior aprofun<strong>da</strong>mento por meio de<br />

entrevistas.<br />

Num primeiro momento fizemos a análise quantitativa <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Dentre as mais<br />

diversas abor<strong>da</strong>gens etnográficas <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, nos propomos a avaliar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

referentes à formação anterior <strong>do</strong>s alunos em questão, aqui expostos através de um gráfico<br />

basea<strong>do</strong> em relações percentuais. A partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>is alunos foram seleciona<strong>do</strong>s<br />

para realização de entrevistas, aqui identifica<strong>do</strong>s como “D” e “H”, ambos <strong>do</strong> sexo masculino.<br />

A etapa seguinte <strong>da</strong> pesquisa se constituiu no diálogo com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong>s<br />

entrevistas realiza<strong>da</strong>s.<br />

Análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

Mais <strong>da</strong> metade <strong>do</strong>s alunos (56%) que participaram <strong>da</strong> pesquisa iniciaram seus<br />

estu<strong>do</strong>s em escolas especializa<strong>da</strong>s no ensino de música, pre<strong>do</strong>minantemente volta<strong>da</strong>s para a<br />

prática instrumental (Conservatório Pernambucano de Música, Centro de Educação Musical<br />

de Olin<strong>da</strong>, Escola Técnica Estadual de Criativi<strong>da</strong>de Musical, etc.), o que atesta uma<br />

diversi<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s na região metropolitana <strong>do</strong> Recife, conforme<br />

apresentamos na Figura 1. Essas escolas são destina<strong>da</strong>s à preparação de músicos para as<br />

ban<strong>da</strong>s e orquestras <strong>do</strong>s mais diversos contextos e gêneros musicais, contribuin<strong>do</strong> para a<br />

formação musical <strong>do</strong>s futuros estu<strong>da</strong>ntes universitários de música, que buscam, em sua grande<br />

maioria, o ensino superior visan<strong>do</strong> a ampliação de suas possibili<strong>da</strong>des profissionais.<br />

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Escolas de Música<br />

17%<br />

7% 4% 3%<br />

Escolas de Educação<br />

Básica<br />

Ban<strong>da</strong>s<br />

Aula Particular<br />

STXXB<br />

12%<br />

1%<br />

56%<br />

Outros<br />

Autodi<strong>da</strong>ta<br />

Figura 1 – Formação anterior <strong>do</strong>s alunos de licenciatura em música <strong>da</strong> UFPE<br />

A formação inicial desses estu<strong>da</strong>ntes, to<strong>da</strong>via, não se limita a instituições<br />

especializa<strong>da</strong>s no ensino de música. Dos alunos entrevista<strong>do</strong>s, 17 % iniciaram os seus estu<strong>do</strong>s<br />

por meio de aulas particulares. Sobre isso, Mateiro (2007) afirma que<br />

Os locais de aprendizagem foram sen<strong>do</strong> (re) inventa<strong>do</strong>s no decorrer <strong>do</strong>s<br />

anos. É possível ter aulas de música nas casas particulares <strong>do</strong>s professores,<br />

em escolas específicas, em conservatórios, na igreja, nos bairros<br />

comunitários, nos cursos de extensão universitária, através de projetos<br />

sociais, entre outros. (MATEIRO, 2007, p. 183).<br />

Em muitos casos as escolas de música e conservatórios atuam como um campo<br />

intermediário entre essas aulas particulares e o ensino superior de música.<br />

Apenas 1% <strong>do</strong>s alunos são oriun<strong>do</strong>s de escolas <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, o que<br />

comprova a atual deficiência <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na escola básica e de sua pequena<br />

contribuição para a formação musical <strong>do</strong>s jovens. Observan<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s de pesquisas anteriores,<br />

constatamos a pouca contribuição <strong>da</strong> escola na formação <strong>do</strong>s músicos, por não apresentar o<br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> música dentro de sua estrutura curricular (MATEIRO, 2007, p. 183).<br />

Compartilhan<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma ideia, Amato afirma que<br />

Atualmente o ensino de música nas escolas regulares é escasso, o que nos<br />

leva a refletir que a educação musical dentro <strong>da</strong> disciplina arte faz parte<br />

meramente de manuais e propostas curriculares veicula<strong>da</strong>s por órgãos<br />

governamentais. Apesar de a educação musical estar implícita na disciplina<br />

arte, componente obrigatório <strong>da</strong> educação básica, ela sobrevive muitas vezes<br />

de forma oculta. (AMATO, 2006, p. 161-162).<br />

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2 OA N O S<br />

Faz-se necessário, portanto, pesquisas posteriores sobre uma possível mu<strong>da</strong>nça nesse<br />

quadro, proporciona<strong>da</strong> pela lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008, que oficializa o ensino de<br />

música nas escolas de educação básica.<br />

A contribuição <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s de música para formação desses estu<strong>da</strong>ntes é bastante<br />

significativa, corresponden<strong>do</strong> a 12% <strong>do</strong>s alunos pesquisa<strong>do</strong>s, principalmente tratan<strong>do</strong>-se de<br />

alunos provenientes <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> interior. Historicamente, o esta<strong>do</strong> de Pernambuco possui<br />

uma forte tradição na formação de ban<strong>da</strong>s, tanto no interior quanto na capital. Antigas ban<strong>da</strong>s,<br />

algumas seculares, estão ain<strong>da</strong> presentes no cenário musical pernambucano (SILVA, 1998,<br />

p.73). Essas ban<strong>da</strong>s, desde suas origens até os dias de hoje, atuam como ver<strong>da</strong>deiros núcleos<br />

de formação de músicos, capacitan<strong>do</strong>-os para um posterior ingresso nas instituições<br />

especializa<strong>da</strong>s no ensino de música (Conservatórios, Escolas de Música, Universi<strong>da</strong>de, etc.).<br />

Leonar<strong>do</strong> Dantas Silva expressa a importância histórica <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s no processo de ensinoaprendizagem<br />

musical ao afirmar que ao her<strong>da</strong>r “a disciplina e organização <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s<br />

militares, sob a liderança de um mestre experiente, as ban<strong>da</strong>s civis foram os grandes<br />

conservatórios de formação musical espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> país.” (SILVA, 1988, p. 67).<br />

Dos licencian<strong>do</strong>s que participaram <strong>da</strong> pesquisa, 7% estu<strong>da</strong>ram inicialmente em um<br />

Seminário Teológico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, instituição volta<strong>da</strong> ao ensino de teologia e música, destina<strong>da</strong><br />

a preparar jovens para os serviços religiosos <strong>da</strong>s igrejas batistas, o que atesta a forte influência<br />

religiosa na formação de músicos, uma vez que boa parte destes iniciou seus estu<strong>do</strong>s em<br />

igrejas <strong>da</strong> qual faziam parte.<br />

Entre os perfis de alunos descritos por Elizabeth Travassos, em pesquisa realiza<strong>da</strong><br />

com os licencian<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Unirio, podemos encontrar o “músico de congregação religiosa”, cuja<br />

concepção e prática musical, dentro <strong>do</strong> contexto religioso, exercem grande influência no seu<br />

processo de formação acadêmica, sen<strong>do</strong> assim descritos pela autora:<br />

Trata-se de um fiel de igreja protestante que teve iniciação musical na igreja<br />

e nela atua profissionalmente (com ou sem remuneração, pouco importa).<br />

Pode estar liga<strong>do</strong> também ao merca<strong>do</strong> musical especializa<strong>do</strong> em música<br />

sacra. De qualquer forma, a igreja ou a religião tendem a absorver o interesse<br />

musical. (TRAVASSOS, 2002, p. 16).<br />

O entrevista<strong>do</strong> D tem as características <strong>do</strong>s integrantes desse grupo de “músicos de<br />

congregação religiosa”, conforme seu depoimento:<br />

Antes eu só tocava tecla<strong>do</strong> na igreja, mesmo... e <strong>da</strong>va algumas aulas<br />

particulares. Eu trabalhava com isso, na área de música. (ENTREVISTADO<br />

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“D”).<br />

Dentre os discentes questiona<strong>do</strong>s, 3% afirmaram o início autodi<strong>da</strong>ta <strong>do</strong>s seus<br />

estu<strong>do</strong>s musicais (em casa, na internet, em shows, em bares, na rua, etc.), o que comprova a<br />

multiplici<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des de aprendiza<strong>do</strong> nestas circunstâncias. Ao ser pergunta<strong>do</strong><br />

sobre uma possível formação anterior a Universi<strong>da</strong>de, o entrevista<strong>do</strong> afirma:<br />

O meu conhecimento é totalmente popular e de rua. Depois de muito tempo<br />

tocan<strong>do</strong>, sei lá, umas pecinhas mesmo, é que eu passei a estu<strong>da</strong>r mesmo de<br />

maneira formal. Então aí eu entrei para uma escola, uma oficina de música<br />

perto <strong>da</strong> minha casa e me preparei para fazer o vestibular.<br />

(ENTREVISTADO “H”).<br />

A partir <strong>do</strong> relato deste discente, podemos ver o quanto o convívio social atua como<br />

fator decisivo para formação desses músicos. Geralmente a partir <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência quan<strong>do</strong> a<br />

convivência com amigos e grupos específicos torna-se mais intensa, o interesse musical tornase<br />

mais significativo, de mo<strong>do</strong> que essa forma de estu<strong>do</strong> é mol<strong>da</strong><strong>da</strong> pelas necessi<strong>da</strong>des e<br />

objetivos pessoais (LACORTE; GALVÃO, 2007, p. 33).<br />

Outro fator importante corresponde a oportuni<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s a esses alunos através<br />

de projetos sociais nas comuni<strong>da</strong>des em que vivem, abrin<strong>do</strong> possibili<strong>da</strong>des para um futuro<br />

estu<strong>do</strong> acadêmico. “Uma formação que, apesar de dizerem ser individual e sem professor<br />

('aprendi sozinho'), aparece liga<strong>da</strong> à convivência social, às oportuni<strong>da</strong>des e às motivações<br />

encontra<strong>da</strong>s em seu meio.” (GOMES, 2003, p. 26).<br />

Esses estu<strong>da</strong>ntes que iniciam sua formação musical de maneira autodi<strong>da</strong>ta veem a<br />

universi<strong>da</strong>de como uma grande possibili<strong>da</strong>de de formalização de seus estu<strong>do</strong>s.<br />

Considerações finais<br />

A formação <strong>do</strong> futuro profissional de educação musical se inicia antes de seu<br />

ingresso na Universi<strong>da</strong>de, pois o meio social, suas necessi<strong>da</strong>des, suas perspectivas são fatores<br />

que se somam ao posterior curso de graduação no processo de formação <strong>do</strong>cente. Este último<br />

é a sistematização de um processo de construção inicia<strong>do</strong> geralmente fora <strong>do</strong> espaço escolar,<br />

pois o ensino de música ain<strong>da</strong> não possui lugar efetivo dentro <strong>da</strong>s estruturas curriculares <strong>da</strong>s<br />

escolas básicas e, por isso, encontra nos mais diversos meios e contextos, múltiplas formas de<br />

construção. Acreditamos que o tipo de formação musical que antecede à Universi<strong>da</strong>de possui<br />

uma considerável influência nos direcionamentos acadêmicos <strong>do</strong>s alunos nos cursos de<br />

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Licenciatura em Música, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de de tal mapeamento como forma de compreensão<br />

<strong>do</strong> processo de construção <strong>do</strong>s saberes e <strong>da</strong>s perspectivas profissionais <strong>do</strong>s futuros professores<br />

de música.<br />

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Referências<br />

AMATO, Rita de Cássia Fucci. Breve retrospectiva histórica e desafios <strong>do</strong> ensino de música<br />

na educação básica brasileira. Opus, Goiânia, v. 12, p. 144-166, dez. 2006.<br />

GOMES, Celso Henrique Sousa. Formação e atuação de músicos de rua: possibili<strong>da</strong>des de<br />

atuação e de caminhos formativos. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 8, p. 25-28, mar. 2003.<br />

HENTSCHKE, Liane; AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho C. de; ARAÚJO, Rosane<br />

Car<strong>do</strong>so de. Os saberes <strong>do</strong>centes na formação <strong>do</strong> professor: perspectivas teóricas para a<br />

educação musical. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 15, p. 49-58, set. 2006.<br />

LACORTE, Simone; GALVÃO, Afonso. “Processos de aprendizagem de músicos populares:<br />

um estu<strong>do</strong> exploratório”. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 17, p. 29-38, set. 2007.<br />

MATEIRO, Teresa. Do tocar ao ensinar: o caminho <strong>da</strong> escolha. Opus, Goiânia, v.13, n. 2, p.<br />

175-196, dez. 2007.<br />

SILVA, Leonar<strong>do</strong> Dantas (Org.). Ban<strong>da</strong>s musicais de Pernambuco: origens e repertório.<br />

Recife: Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, Secretaria <strong>do</strong> Trabalho e Ação Social, Fun<strong>do</strong> de<br />

Amparo ao Trabalha<strong>do</strong>r, 1998.<br />

TRAVASSOS, Elizabeth. Perfis culturais de estu<strong>da</strong>ntes de música. In: CONGRESSO DA<br />

SEÇÃO LATINO AMERICANA DA INTERNATIONAL ASSOCIATION THE STUDY<br />

OF POPULAR MUSIC, 4., 2002. Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> México. Actas... Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> México: 2002.<br />

Disponível em: < http://www.hist.puc.cl/historia/iaspmla.html >. Acesso em: 16 fev. 2009.<br />

Entrevistas<br />

ALUNO “D”. Entrevista<strong>do</strong> pelos autores em 15 de Fevereiro de 2010, Recife (PE).<br />

ALUNO “H”. Entrevista<strong>do</strong> pelos autores em 17 de Fevereiro de 2010, Recife (PE).<br />

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A implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC – Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre<br />

Elder Gomes <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre<br />

eldergomes@ufac.br<br />

Resumo: O trabalho apresenta<strong>do</strong> se propõe a relatar a implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC –<br />

Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre. Propõe-se que o<br />

laboratório seja um espaço que ofereça projetos de ensino na área de iniciação musical, ensino<br />

coletivo de instrumentos e formação de grupos musicais residentes. Sua intenção não é a<br />

realização de estágios, que ficarão a cargo <strong>da</strong>s escolas de formação básica. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

pretende-se, por meio de sua criação, possibilitar também a instrumentação pe<strong>da</strong>gógica e<br />

didática necessária para o desenvolvimento destas ativi<strong>da</strong>des, além de fornecer um espaço<br />

adequa<strong>do</strong> à formação prática <strong>do</strong> futuro educa<strong>do</strong>r musical. Atualmente, o laboratório se<br />

encontra em fase de implantação, com inauguração prevista para o final deste ano.<br />

Palavras-chave: Laboratórios de educação musical; formação <strong>do</strong>cente; práticas pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

Introdução<br />

O trabalho que se apresenta é destina<strong>do</strong> a discutir a implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC –<br />

Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre. Aqui, pretende-se<br />

levantar questões acerca <strong>da</strong> proposta <strong>do</strong> laboratório, como seus objetivos, seu público alvo e<br />

sua estrutura.<br />

O LabEM começou a ser elabora<strong>do</strong> nos últimos anos, no âmbito <strong>do</strong> Curso de<br />

Licenciatura em Música. O curso, que é recente, possui uma formação volta<strong>da</strong> especialmente<br />

para a educação musical, mas ain<strong>da</strong> existem grandes dificul<strong>da</strong>des de implantação de projetos<br />

liga<strong>do</strong>s à área na universi<strong>da</strong>de, por conta <strong>da</strong> inexistência de um espaço adequa<strong>do</strong> para a<br />

formação <strong>do</strong>cente. De fato, o correto seria falar em espaços, no plural, devi<strong>do</strong> à grande<br />

diversi<strong>da</strong>de de atuações e ações possíveis em educação musical, como nos apresenta Kater<br />

(2004). Diante <strong>do</strong> exposto, emergem alguns questionamentos fun<strong>da</strong>mentais para um curso de<br />

licenciatura em música: como criar estes espaços? Como possibilitar que o futuro educa<strong>do</strong>r<br />

musical tenha acesso, durante sua formação, com diferentes formas de educação musical?<br />

Neste senti<strong>do</strong>, vem-se pensan<strong>do</strong> na criação de um laboratório que possa suprir esta deman<strong>da</strong>,<br />

assim como fizeram outras universi<strong>da</strong>des, como UDESC (MÜLLER, 2005), UFSCar (JOLY<br />

et al., 2007) e UnB (AZEVEDO et al., 2008), para citar algumas.<br />

Atualmente, o LabEM se encontra em fase de implantação. A solicitação de compra<br />

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2 OA N O S<br />

de instrumentos já foi realiza<strong>da</strong> pela Coordenação <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música e<br />

espera-se que até o final <strong>do</strong> ano esta fase possa se concretizar. A proposta, como veremos a<br />

seguir, é que o laboratório seja um <strong>do</strong>s espaços de formação prática para o discente, de mo<strong>do</strong><br />

que ele possa participar e desenvolver as ativi<strong>da</strong>des práticas <strong>da</strong>s disciplinas <strong>do</strong> eixo de<br />

educação musical em seu espaço.<br />

A proposta <strong>do</strong> LabEM/UFAC<br />

A idéia <strong>da</strong> criação de um laboratório para educação musical surge a partir <strong>da</strong><br />

deman<strong>da</strong> <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente no âmbito <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> em música.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, foi pensa<strong>do</strong> um espaço que pudesse proporcionar este exercício, vincula<strong>do</strong><br />

prioritariamente às disciplinas <strong>do</strong> eixo de educação musical: Educação Musical I, II, III, IV e<br />

V, além <strong>da</strong>s disciplinas Prática de Ensino em Música I e II. Para que fique claro, cabe aqui<br />

uma breve menção: o Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC possui, em sua estrutura<br />

curricular, disciplinas distintas de Prática de Ensino em Música e Estágio Supervisiona<strong>do</strong> em<br />

Música. Isso porque se pensou nos estágios sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s estritamente nas escolas de<br />

formação básica, mas se sentiu necessi<strong>da</strong>de de que houvessem outras disciplinas volta<strong>da</strong>s para<br />

a prática pe<strong>da</strong>gógica em música em diversos espaços, embora seja permiti<strong>da</strong> a realização <strong>do</strong>s<br />

estágios em laboratórios <strong>da</strong> própria universi<strong>da</strong>de, conforme a Resolução CNE/CES nº<br />

02/2004 1 . Assim surge a disciplina de Prática de Ensino em Música, cuja ementa propõe a<br />

reflexão sobre as possibili<strong>da</strong>des de atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r em escolas específicas, projetos de<br />

ação social e no próprio laboratório.<br />

Diante disto, o laboratório representa a concretização de um espaço próprio para<br />

receber os projetos de extensão e ensino liga<strong>do</strong>s ao eixo de educação musical na universi<strong>da</strong>de,<br />

sejam eles permanentes ou pontuais, além de possibilitar a realização de ativi<strong>da</strong>des práticas<br />

<strong>da</strong>s disciplinas <strong>do</strong> eixo de educação musical. Logo, seu público alvo são os alunos <strong>do</strong> Curso<br />

de Licenciatura em Música, bem como o público que será beneficia<strong>do</strong> por suas ações –<br />

crianças, a<strong>do</strong>lescentes e adultos <strong>do</strong> município de Rio Branco.<br />

A proposta <strong>do</strong> LabEM, a priori, incide sobre três premissas: a) iniciação musical; b)<br />

projetos de ensino coletivo de instrumentos; c) formação de grupos musicais.<br />

¹ “§ 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realiza<strong>do</strong> na própria Instituição de Ensino Superior, mediante<br />

laboratórios que congreguem as diversas ordens correspondentes às diferentes técnicas composicionais, de meios<br />

acústicos, eletro-acústicos e experimentais, interdiciplinares e <strong>do</strong>s conhecimentos e <strong>da</strong> expressão estética, bem<br />

como de regência e de outras ativi<strong>da</strong>des inerentes à área de música, em suas múltiplas manifestações.” (BRASIL,<br />

2004, p. 10).<br />

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A iniciação musical, proposta de qualquer laboratório liga<strong>do</strong> à disciplina, é um<br />

trabalho que se estende sobre a questão <strong>da</strong> formação básica em música para crianças, jovens e<br />

adultos, e que precede à performance. Com relação ao ensino coletivo de instrumentos, neste<br />

momento foram pensa<strong>da</strong>s ações liga<strong>da</strong>s ao ensino de violão e flauta <strong>do</strong>ce, mas,<br />

posteriormente, pretende-se abranger também instrumentos de metais, madeiras e arcos. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, a formação de grupos musicais residentes de cunho pe<strong>da</strong>gógico é o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s ações anteriores. Uma situação semelhante a respeito <strong>da</strong> criação de grupos musicais com<br />

essas características foi descrita por uma equipe <strong>da</strong> UFSCar, acerca <strong>da</strong> formação de uma<br />

orquestra comunitária (JOLY et al., 2002; JOLY, 2002).<br />

Por fim, é importante lembrar, ain<strong>da</strong>, que o LabEM/UFAC não pretende extinguir<br />

outras possíveis ações em educação musical, como aquelas liga<strong>da</strong>s às escolas de formação<br />

básica. Sua proposta é, também, agregar tais ações, possibilitan<strong>do</strong> a criação de um núcleo<br />

permanente e apropria<strong>do</strong> para suas realizações, através de um espaço para a instrumentação<br />

pe<strong>da</strong>gógica e didática no âmbito <strong>da</strong>s disciplinas relaciona<strong>da</strong>s à área 2 .<br />

Estrutura <strong>do</strong> LabEM/UFAC: instrumentos e equipamentos solicita<strong>do</strong>s<br />

A criação <strong>do</strong> LabEM prevê inicialmente a aquisição de instrumentos e equipamentos<br />

que permitam a realização de projetos de ensino e extensão em educação musical na<br />

universi<strong>da</strong>de, no âmbito <strong>da</strong> proposta já apresenta<strong>da</strong>. Neste momento, por meio de processos<br />

administrativos encaminha<strong>do</strong>s pela Coordenação <strong>do</strong> Curso, foram solicita<strong>do</strong>s os seguintes<br />

instrumentos:<br />

• Conjunto instrumental Orff de percussão: xilofones baixo, contralto e soprano;<br />

metalofones contralto e sopranino;<br />

• Pequena percussão: conjunto de sinos, carrilhão, ganzás, blocos sonoros,<br />

triângulos, reco-recos, platinelas, cocos, castanholas, claves, afoxés, cabuletes, sinos,<br />

pandeiros, sur<strong>do</strong>s e pratos;<br />

• Flautas-<strong>do</strong>ce contralto e soprano;<br />

• Violões.<br />

Também foram solicita<strong>do</strong>s um computa<strong>do</strong>r, um home-theater e um <strong>da</strong>ta-show, para<br />

fins didáticos.<br />

2 Recentemente, tem-se pensa<strong>do</strong> na possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criação de núcleos de educação musical vincula<strong>do</strong>s ao<br />

Programa Mais Educação, junto às escolas de ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> município, nos moldes <strong>do</strong> LabEM/UFAC.<br />

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Algumas reflexões<br />

A criação de um espaço próprio para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas em<br />

educação musical no Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC vem a suprir uma deman<strong>da</strong><br />

existente entre as disciplinas <strong>da</strong> área. De fato, o Conselho Nacional de Educação prevê a<br />

realização de 400 horas de prática enquanto componente curricular para os cursos de<br />

licenciatura (CNE, 2002, p. 9), além de 400 horas destina<strong>da</strong>s ao estágio supervisiona<strong>do</strong> 3 .<br />

Além <strong>do</strong> mais, como sugere Nóvoa, a formação se dá “através de um trabalho de<br />

reflexivi<strong>da</strong>de crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identi<strong>da</strong>de<br />

pessoal.” (NÓVOA apud BELLOCHIO, 2003, p. 19). Neste senti<strong>do</strong>, em um curso de<br />

licenciatura em música pode-se admitir por prática a própria prática <strong>do</strong>cente, que deverá,<br />

então, permear to<strong>da</strong> a formação <strong>do</strong> indivíduo.<br />

Viviane Beineke (2001) demonstrou em sua dissertação de mestra<strong>do</strong> os problemas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à prática pe<strong>da</strong>gógica em música, ao estu<strong>da</strong>r o caso de três professoras <strong>da</strong><br />

educação básica. Para a autora,<br />

A relação entre teoria e prática pe<strong>da</strong>gógica configura um tema polêmico que,<br />

historicamente, é discuti<strong>do</strong> por educa<strong>do</strong>res e pesquisa<strong>do</strong>res. Na área de<br />

educação são aponta<strong>da</strong>s lacunas entre os processos de formação de<br />

professores e os problemas concretos que eles encontram na reali<strong>da</strong>de<br />

escolar. Um <strong>do</strong>s questionamentos deriva<strong>do</strong>s dessa problemática refere-se à<br />

relevância <strong>do</strong>s conhecimentos difundi<strong>do</strong>s nos cursos de formação, pela<br />

dificul<strong>da</strong>de de sua aplicação <strong>do</strong>s mesmos na prática de ensino. (BEINEKE,<br />

2001, p. 88).<br />

Assim, durante a prática, “o profissional vai construin<strong>do</strong> um repertório de exemplos,<br />

imagens, compreensões e ações que vão sen<strong>do</strong> incorpora<strong>do</strong>s aos seus conhecimentos práticos”<br />

e é com base neste repertório que ele resolve a situação em que se encontra no cotidiano<br />

(SCHÖN apud BEINEKE, 2001, p. 93). A prática pe<strong>da</strong>gógica em música, portanto, não deve<br />

se restringir somente ao final <strong>da</strong> graduação ou quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> colocação profissional <strong>do</strong> aluno<br />

forma<strong>do</strong> pela universi<strong>da</strong>de. Ela deve, antes, proporcionar o contato <strong>do</strong> aluno com diferentes<br />

públicos, diferentes possibili<strong>da</strong>des, a fim de favorecer a criação deste repertório, e é<br />

justamente sobre este aspecto que o LabEM/UFAC se faz importante.<br />

Considerações finais<br />

3 O Parecer CNE/CP nº 09/2007 sugere redução para 300 horas de estágio supervisiona<strong>do</strong>, mas ain<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong><br />

homologação. Disponível em: . Acesso em: 14<br />

de Maio de <strong>2011</strong>.<br />

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O LabEM/UFAC, que atualmente se encontra em fase de implantação, é uma<br />

proposta que visa consoli<strong>da</strong>r um espaço próprio para a formação prática <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical,<br />

no âmbito <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC. É importante ressaltar, uma vez<br />

mais, que o laboratório não pretende excluir outras ações em educação musical, como aquelas<br />

liga<strong>da</strong>s à escola de formação básica, tampouco significa um espaço para a realização <strong>do</strong>s<br />

estágios curriculares, uma vez que estes devem ser realiza<strong>do</strong>s no ambiente escolar, como é<br />

apresenta<strong>do</strong> nas ementas <strong>do</strong> curso. Isto se deve pela definição de laboratório, que,<br />

propriamente, é um ambiente artificial e rigorosamente controla<strong>do</strong> (LAKATOS; MARCONI,<br />

2005, p. 191).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o LabEM/UFAC prevê a agregação destas ações, de mo<strong>do</strong> a<br />

possibilitar a instrumentação pe<strong>da</strong>gógica e didática necessária para que estas sejam realiza<strong>da</strong>s.<br />

Para tanto, é necessário o aperfeiçoamento <strong>do</strong>s elos estabeleci<strong>do</strong>s entre a universi<strong>da</strong>de e a<br />

escola, de mo<strong>do</strong> a promover a melhoria <strong>da</strong>s ações já desenvolvi<strong>da</strong>s e propor novas formas de<br />

atuação.<br />

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Referências<br />

AZEVEDO, M. C. C. C.; GROSSI, C.; MONTANDON, M. I. Formatos alternativos para a<br />

prática de ensino em música: a experiência <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília. In: MATEIRO, T.;<br />

SOUZA, J. (orgs.). Práticas de Ensinar Música: Legislação, Planejamento, Observação,<br />

Registro, Orientação, Espaços e Formação. – Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. pp. 65-83.<br />

BEINEKE, V. Teoria e prática pe<strong>da</strong>gógica: encontros e desencontros na formação de<br />

professores. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 06, pp. 87-95, setembro de 2001.<br />

BELLOCHIO, C. R. A formação profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical: algumas apostas. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 08, pp. 17-24, março de 2003.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno.<br />

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1, p. 9.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação<br />

Superior. Resolução CNE/CES nº 02/2004. Diário Oficial <strong>da</strong> União. Brasília, 12 de março de<br />

2004, Seção 1, p. 10. Disponível em: . Acesso em: 14 de Maio de <strong>2011</strong>.<br />

JOLY, I. Z. L.; KATER, C. E.; SANTIAGO, G. L. A. Projeto Pe<strong>da</strong>gógico de Curso de<br />

Graduação: Licenciatura em Música com habilitação em Educação Musical. – São Carlos:<br />

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JOLY, I. Z. L.; JOLY, M. C. L.; PENTEADO, E. D. L.; SANTIAGO, G. L. A. Formação de<br />

orquestras com crianças de classes populares: uma proposta para a constituição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

In: ENCONTRO ANUAL DA <strong>ABEM</strong>, 11, 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... <strong>ABEM</strong>. Natal: <strong>ABEM</strong>.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

15 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

JOLY, I. Z. L. Zoa<strong>da</strong> Brasileira: uma alegria cultural a partir <strong>do</strong> contato com nossas raízes<br />

culturais. In: ENCONTRO ANUAL DA <strong>ABEM</strong>, 11, 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... <strong>ABEM</strong>. Natal:<br />

<strong>ABEM</strong>. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

15 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Meto<strong>do</strong>logia Científica. 6ª Edição –<br />

São Paulo: Editora Atlas, 2005.<br />

KATER, C. O que podemos esperar <strong>da</strong> educação musical em projetos de ação social. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 10, pp. 43-51, março de 2004.<br />

MÜLLER, V. Por uma educação musical implica<strong>da</strong> com os mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong> de seus cenários<br />

de atuação. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 12, pp. 43-47, março de 2005.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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738


2 OA N O S<br />

A MÚSICA INSTRUMENTAL VAI À ESCOLA<br />

POR MEIO DO SAXOFONE<br />

Draylton Siqueira Silva<br />

IFPB<br />

drayltonsax@gmail.com<br />

Resumo: O Grupo de Sax foi cria<strong>do</strong> em setembro de 2007, a partir <strong>da</strong>s aulas de Artes em uma<br />

turma <strong>do</strong> Curso Técnico Integra<strong>do</strong> ao Ensino Médio em Eletrotécnica. O ensino musical no<br />

Brasil ain<strong>da</strong> se encontra deficiente quanto a sua disponibili<strong>da</strong>de ao público em geral. As<br />

instituições de ensino musical gratuitas existentes não atendem à deman<strong>da</strong>, ten<strong>do</strong> que, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, realizar algum tipo de seleção, subtrain<strong>do</strong> dessa forma a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

um significativo número de pessoas estu<strong>da</strong>r música. Nos últimos anos, disciplinas de<br />

Educação Artística foram subtraí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino público regular de nosso país<br />

(NASCIMENTO, 2006). Dentro desse contexto, surgiu a idéia de aproximar a música<br />

instrumental <strong>do</strong> jovem e <strong>do</strong> público em geral, como forma de despertar o gosto pela música,<br />

por meio de apresentações musicais didáticas. Ativi<strong>da</strong>des vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s a partir de<br />

pesquisa bibliográfica, elaboração de materiais didáticos, apresentação usan<strong>do</strong> <strong>da</strong>tashow,<br />

vídeos sobre o grupo; além de ensaios semanais e apresentações musicais, entre elas: Projeto<br />

Terça Tem na Estação Ciência Cabo Branco em Outubro/2010, Colégio IRB em<br />

Novembro/2010, Escola Municipal Ana Cristina Rolim em Novembro/2010.<br />

Palavras-chave: : Música Instrumental, Educação, Saxofone.<br />

Introdução<br />

O ensino musical formal no Brasil ain<strong>da</strong> se encontra deficiente quanto a sua<br />

disponibili<strong>da</strong>de ao público em geral. As instituições de ensino musical gratuitas existentes não<br />

atendem à deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> procura por seus cursos, ten<strong>do</strong> que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, realizar<br />

algum tipo de seleção, tiran<strong>do</strong> dessa forma a oportuni<strong>da</strong>de de um significativo número de<br />

pessoas de estu<strong>da</strong>r música. Nos últimos anos, disciplinas de Educação Artística foram<br />

retira<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino público regular <strong>do</strong> Brasil.(NASCIMENTO, 2006).<br />

A educação musical contemporânea deman<strong>da</strong> a construção de novas práticas<br />

que dêem conta <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de experiências musicais que as pessoas<br />

estão vivencian<strong>do</strong> na socie<strong>da</strong>de atual. Assim, transitar entre o escolar e o<br />

extra-escolar, o “formal” e o “informal”, o cotidiano e o institucional, tornase<br />

um exercício de ruptura com modelos arraiga<strong>do</strong>s que teimam em manter<br />

separa<strong>da</strong>s esferas que na experiência vivi<strong>da</strong> dialogam (ARROYO, 2000).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, é possível entender que a educação musical desenvolvi<strong>da</strong> a partir de práticas<br />

informais, pode ser considera<strong>da</strong> hoje um espaço latente de educação musical, bem como um<br />

caminho a mais que se abre para a educação e integração de crianças e jovens na socie<strong>da</strong>de<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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739


2 OA N O S<br />

(SANTOS, 2008). Hummes (2004) ao refletir sobre o ensino de música e as suas funções na<br />

socie<strong>da</strong>de e em particular na escola, destaca os varia<strong>do</strong>s suportes em que a música está<br />

presente no século XXI. Ela está nos meios de comunicação, nos telefones convencionais e<br />

celulares, na internet, vídeos, lojas, bares, nos alto-falantes, nos consultórios médicos, nos<br />

recreios escolares, enfim, em quase to<strong>do</strong>s os locais em que estamos e em meios que<br />

utilizamos para nos comunicarmos ou nos divertirmos. Também, se faz presente nos rituais de<br />

exaltação a determina<strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des e nos eventos mais varia<strong>do</strong>s possíveis.<br />

Allan Merriam (1964) apud Hummes (2004) classificou as funções sociais <strong>da</strong> música<br />

em categorias, que tem si<strong>do</strong> considera<strong>da</strong>s para a reflexão de vários autores, dentre as quais<br />

destacam-se: Função de expressão emocional; Função <strong>do</strong> prazer estético; Função de<br />

divertimento, entretenimento; Função de comunicação; Função de representação simbólica;<br />

Função de reação física; Função de impor conformi<strong>da</strong>de às normas Sociais; Função de<br />

vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s instituições sociais e <strong>do</strong>s rituais religiosos; Função de contribuição para a<br />

continui<strong>da</strong>de e estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura; Função de contribuição para a integração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

No contexto deste estu<strong>do</strong>, destacamos a Função de contribuição para a continui<strong>da</strong>de e<br />

estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura, visan<strong>do</strong> divulgar a música instrumental nas escolas municipais de<br />

João Pessoa, oferecen<strong>do</strong> desta forma aos alunos a oportuni<strong>da</strong>de de estabelecer um vínculo<br />

maior com o público que em contraparti<strong>da</strong> apreciará a performance musical.<br />

O Grupo de Sax (IFPPB) foi cria<strong>do</strong> em setembro de 2007 a partir <strong>da</strong>s aulas de Artes<br />

ministra<strong>da</strong>s em uma turma <strong>do</strong> 1º Ano <strong>do</strong> Curso Técnico Integra<strong>do</strong> ao Ensino Médio em<br />

Eletrotécnica. Este projeto tem como objetivo aproximar a música instrumental <strong>do</strong> jovem e<br />

<strong>do</strong> público em geral, despertan<strong>do</strong> dessa forma o gosto pela música instrumental, além de<br />

possibilitar o acesso às ferramentas que edifiquem e aprofundem sua visão de mun<strong>do</strong> e<br />

contribuam para o seu crescimento intelectual e artístico. Ain<strong>da</strong>, ter conhecimento sobre o<br />

instrumento a ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, em especial o saxofone.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

O trabalho está sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> a partir de encontros semanais com duração de<br />

três horas, elaboração de materiais didáticos, apresentação em PowerPoint, vídeos sobre o<br />

grupo, apresentações musicais didáticas em escola municipais, como também a participação<br />

em eventos e projetos.<br />

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I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Entre as ativi<strong>da</strong>des práticas realiza<strong>da</strong>s temos: aquecimento com notas longas (com crescen<strong>do</strong><br />

e diminuen<strong>do</strong>); escalas e arpejos em to<strong>da</strong>s as tonali<strong>da</strong>des com o objetivo de tocar to<strong>do</strong>s os<br />

susteni<strong>do</strong>s e to<strong>do</strong>s os bemóis com a mesma naturali<strong>da</strong>de que se toca o tom de dó maior;<br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s escalas e arpejos em diferentes articulações e execução de leitura a primeira vista.<br />

Com relação ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório, faz-se necessário: 1. certificar-se bem <strong>da</strong>s notas a<br />

serem toca<strong>da</strong>s (tonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música); 2. trabalhar a divisão rítmica; 3. compreender to<strong>da</strong>s as<br />

articulações; 4. Estar atento às dinâmicas; estar atento aos sinais de expressão; 6. estu<strong>da</strong>r a<br />

princípio, de forma lenta e para chegar no tempo metronômico determina<strong>do</strong>; 7. Interpretar a<br />

música com a orientação <strong>do</strong> professor. Os alunos iniciam o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento a partir de<br />

aulas coletivas e utilizam alguns instrumentos que são <strong>da</strong> própria instituição, outros <strong>do</strong>s<br />

próprios alunos e outros empresta<strong>do</strong>s pelo professor. No momento fazem parte <strong>do</strong> grupo cinco<br />

alunos que tocam saxofone e quatro alunos que fazem parte <strong>da</strong> base (bateria, baixo, guitarra e<br />

percussão). Esses alunos são oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cursos de música <strong>do</strong> IFPB, <strong>do</strong>s outros cursos que<br />

não são de música também <strong>do</strong> IFPB (Técnico Integra<strong>do</strong> Em Eletrônica, Técnico Integra<strong>do</strong> Em<br />

Eletrotécnica , Engenharia Elétrica) e também <strong>do</strong>s cursos de extensão de música que são<br />

ofereci<strong>do</strong>s a comuni<strong>da</strong>de (oficinas de saxofone). O repertório trabalha<strong>do</strong> tem como base a<br />

música popular brasileira como “Wave” e “Chega de Sau<strong>da</strong>de” de Tom Jobim, músicas<br />

regionais como “Algodão” de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e “Feira de Mangaio” de Sivuca,<br />

além de músicas internacionais como Missão Impossível de Lalo Schifrin, And I Love Her de<br />

John Lennon e Paul Maccartney.<br />

Conclusão<br />

Em to<strong>da</strong>s as apresentações que o grupo tem realiza<strong>do</strong> verifica-se uma aceitação positiva <strong>do</strong><br />

público, enquanto alunos <strong>da</strong>s escolas e/ou <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em geral demonstram um especial<br />

interesse de participar <strong>do</strong> grupo e, conseqüente, interesse de aprender a tocar o saxofone.<br />

Pode-se destacar, ain<strong>da</strong>, a importância <strong>da</strong> socialização <strong>do</strong> conhecimento bem como a<br />

divulgação <strong>do</strong>s Cursos Técnicos Integra<strong>do</strong> e Subsequentes em Instrumento Musical oferta<strong>do</strong>s<br />

pela Instituição.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ARROYO, Margarete. Transitan<strong>do</strong> entre o “formal” e o “informal”: um relato sobre a<br />

formação de educa<strong>do</strong>res musicais. In: SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 7., 2000, Paraná. <strong>Anais</strong>, Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2000, p. 77 – 90.<br />

CAPISTRANO, Rodrigo. Apostila completa sobre o saxofone. Apostila versão 06/2008.<br />

HOLANDA, Costa; MACIEL, Jardilino. Méto<strong>do</strong> básico para sax alto. In:Projeto<br />

Fortalecimento Musical, Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará – Secretaria <strong>da</strong> Cultura. Sistema<br />

Estadual de Ban<strong>da</strong>s de Música – Apostila edita<strong>da</strong> em Setembro/2008, disponível em<br />

www.secult.ce.gov.br.<br />

HUMMES, Júlia Maria. Por que é importante o ensino de música? Considerações sobre<br />

as funções <strong>da</strong> música na socie<strong>da</strong>de e na escola. Porto Alegre: Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, vol. 11,<br />

17-25, set. 2004.<br />

MASCI, Drº Cyro. Respiração. Disponível em: www.masci.com.br/respira.html. Acesso em:<br />

23 de novembro de 2005.<br />

MERRIAM, A. O. The anthropology of music. Evanston: Northwestern University Press,<br />

1964.<br />

NASCIMENTO, Marco Antonio Tole<strong>do</strong>. Congresso <strong>da</strong> Associação Nacional de Pesquisa e<br />

Pós-graduação em Música (ANPPOM) Brasília – 2006.<br />

RUSSO, Amadeu. Méto<strong>do</strong> completo de saxofone. São Paulo: Irmãos Vitale.<br />

SANTOS, Carla Pereira. Educação Musical no Âmbito <strong>do</strong>s Projetos Sociais: Reflexões e<br />

Práticas. In: <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> e Congresso <strong>Regional</strong> <strong>da</strong> ISME na América<br />

Latina16, 2007. Mato Grosso <strong>do</strong> Sul. <strong>Anais</strong>. Mato Grosso <strong>do</strong> Sul: Editora Universitária<br />

UFMS.<br />

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2 OA N O S<br />

Aspectos multimo<strong>da</strong>is na Interpretação Musical: Importância <strong>da</strong><br />

gestuali<strong>da</strong>de para o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica pianística<br />

Marina Maluli César<br />

Facul<strong>da</strong>de de Filosofia, Letras e Ciências Humanas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo.<br />

marina.maluli@gmail.com<br />

Resumo: No ensino <strong>do</strong> piano muitas questões podem ser levanta<strong>da</strong>s a respeito <strong>da</strong> importância<br />

e significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica pianística. Ain<strong>da</strong> que uma definição comum não seja fácil de mapear,<br />

de um mo<strong>do</strong> geral a técnica é coloca<strong>da</strong> em oposição à ideia de interpretação musical. Esta<br />

oposição cria problemas de diversas ordens que vão desde a falta de atenção <strong>do</strong> aluno durante<br />

a execução <strong>do</strong>s exercícios de caráter mais técnico até a dificul<strong>da</strong>de de vencer determina<strong>do</strong>s<br />

problemas interpretativos em obras que exigem um maior <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> técnica anteriormente<br />

adquiri<strong>da</strong>. A ideia <strong>da</strong> aprendizagem gestual exposta aqui tem por pressuposto o fato de que<br />

em to<strong>do</strong> tipo de linguagem o ato comunicativo envolve diversos parâmetros, estan<strong>do</strong> presente<br />

tanto os de ordem sonora quanto háptico-visual. Estes parâmetros sensitivos consistem alguns<br />

exemplos <strong>do</strong> que denominamos mo<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> que a linguagem musical é um exemplo de<br />

resultante de uma interação multimo<strong>da</strong>l.<br />

Palavras-chave: Interpretação musical, Multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, Técnica Pianística.<br />

Introdução<br />

Consideran<strong>do</strong> a interpretação ou performance <strong>da</strong> música instrumental como sen<strong>do</strong> a<br />

comunicação de um texto essencialmente não-verbal, foca<strong>do</strong> <strong>da</strong> interação entre o som e o<br />

tempo, implican<strong>do</strong> entretanto em outros parâmetros além <strong>do</strong>s estritamente sonoros,<br />

pretendemos neste trabalho tecer analogias entre os resulta<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com outras<br />

formas de comunicação, as quais já incluem questões levanta<strong>da</strong>s pela multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, e a<br />

análise <strong>do</strong> porquê devemos considerar também na música tais parâmetros como constituintes<br />

<strong>da</strong> mensagem. Ten<strong>do</strong> isto em vista o objetivo deste artigo é colocar em relevo algumas<br />

questões sobre a importância <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de ser leva<strong>da</strong> em conta durante o ensino <strong>do</strong> piano<br />

em um aspecto mais amplo, ou seja, como um ponto de convergência em que devem estar<br />

presentes tanto questões de interpretação quanto o aprendiza<strong>do</strong> técnico.<br />

Multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de na Música<br />

Segun<strong>do</strong> a teoria <strong>da</strong> multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de desenvolvi<strong>da</strong> por Kress e Van Leeuwen em em<br />

Multimo<strong>da</strong>l Discourse: the modes and media of contemporary communication temos que o<br />

texto multimo<strong>da</strong>l é aquele que se realiza por mais de um código semiótico, ou em que um<br />

conjunto de mo<strong>do</strong>s semióticos está envolvi<strong>do</strong> em to<strong>da</strong> produção e leitura <strong>do</strong> texto sen<strong>do</strong><br />

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mo<strong>do</strong>s são entendi<strong>do</strong>s aqui como recursos semióticos que permitem a realização simultânea<br />

de discursos e tipos de (inter)ação. Ain<strong>da</strong> dentro desta definição teríamos como exemplos de<br />

mo<strong>do</strong>s as linguagens musical, verbal e visual. Assim, o discurso multimo<strong>da</strong>l pode ser<br />

defini<strong>do</strong>, como aquele em que palavras, sons e imagens (assim como gestos) podem ser<br />

usa<strong>do</strong>s no mesmo discurso.<br />

A partir destas considerações a multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de teria um papel fun<strong>da</strong>mental para os<br />

estu<strong>do</strong>s musicais vin<strong>do</strong> de encontro ao pensamento sintetiza<strong>do</strong> nas palavras de Merleau-Ponty<br />

A percepção sinestésica é a regra, e, se não percebemos isso,é porque o saber<br />

científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a ouvir e, em<br />

geral, a sentir, para deduzir de nossa organização corporal e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tal<br />

como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir (MERLEAU-<br />

PONTY, 1945 p. 308).<br />

Ten<strong>do</strong> isto em vista, podemos dizer que interpretação musical implica em vários<br />

fatores que vão além <strong>da</strong> percepção auditiva e que, no caso <strong>do</strong>s instrumentistas, dizem respeito<br />

principalmente ao gestual apreendi<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> de um instrumento específico. Para um<br />

instrumentista isto é obti<strong>do</strong> através <strong>do</strong> treino muscular e de reflexos, realiza<strong>do</strong> por muitos<br />

anos através de observações, imitações e experimentações constantes com a finali<strong>da</strong>de de<br />

mapear e internalizar os sons e timbres obti<strong>do</strong>s com ca<strong>da</strong> movimento expressivo <strong>do</strong> corpo em<br />

contato com o instrumento, de acor<strong>do</strong> com as necessi<strong>da</strong>des timbrísticas e estilísticas de um<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> repertório musical. Isto ocorre porque o movimento corporal direciona<strong>do</strong><br />

expressivamente ou, em outras palavras, o gestual realiza<strong>do</strong> pelo intérprete, ain<strong>da</strong> que<br />

incorpora<strong>do</strong> por este de forma subjetiva, está em relação direta com o tipo de articulação e<br />

timbre obti<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> neste ponto bastante semelhante à ideia de colocação e mo<strong>do</strong>s de<br />

projeção <strong>da</strong> voz por um falante ao se comunicar ou proferir um discurso. Também é<br />

importante frisar que a importância <strong>do</strong> gesto no discurso musical vai além <strong>do</strong> uso feito deste<br />

por um instrumentista, sen<strong>do</strong> também um <strong>do</strong>s aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> composição,<br />

recepção musical, assim como lutheria e tecnologia musical, uma vez que provoca reflexos na<br />

escuta realiza<strong>da</strong>, se constituin<strong>do</strong> um ponto de ligação entre a significação <strong>do</strong> som e sua<br />

materiali<strong>da</strong>de.<br />

Técnica versus Musicali<strong>da</strong>de<br />

Durante muito tempo, a ponto mesmo de se caracterizar como uma prática de ensino, o<br />

ensino <strong>da</strong> técnica pianística se opôs ao desenvolvimento <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de. Dentro deste<br />

contexto seria necessário em um primeiro momento desenvolver a musicali<strong>da</strong>de, em um<br />

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senti<strong>do</strong> em geral extremamente abstrato, para, de acor<strong>do</strong> com as dificul<strong>da</strong>des técnicas<br />

encontra<strong>da</strong>s durante este percurso, serem trabalha<strong>da</strong>s questões técnicas pontuais. Assim, o<br />

exercício de escalas, arpejos, notas repeti<strong>da</strong>s, etc é visto como um instrumento acessório ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de. Segun<strong>do</strong> Marum, esta prática tem algumas consequências<br />

visivelmente prejudiciais sen<strong>do</strong> uma consequência direta <strong>da</strong> falta de esclarecimento sobre o<br />

significa<strong>do</strong> e real importância <strong>do</strong> desenvolvimento técnico no ensino <strong>do</strong> piano.<br />

Observamos que para superar suas deficiências técnica, muitos jovens<br />

praticam por meses o mesmo repertório, sem perceber que com isso estão<br />

cultivan<strong>do</strong> suas restrições físicas e limitan<strong>do</strong> seus conhecimentos musicais.<br />

Assim, surgem problemas físicos inerentes <strong>da</strong> prática errônea, como vícios<br />

de postura, tensões desnecessárias, tendinites e lesões por esforço repetitivo.<br />

(MARUM, 2010, p. 16)<br />

Pode-se dizer que uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des principais está no que associamos ao<br />

Dominar os conhecimentos musicais, desenvolvê-los na própria<br />

experiência, vivenciá-los a ponto de poder expressá-los com a fluidez<br />

necessária à boa interpretação de uma obra musical é tarefa muito complexa.<br />

Igualmente difícil é o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s movimentos necessários à execução <strong>do</strong><br />

instrumento, de acor<strong>do</strong> com a interpretação deseja<strong>da</strong>. (RICHERME, 1997,<br />

p. 11)<br />

Dentro deste cenário pode-se retomar a noção <strong>da</strong> aprendizagem gestual como um<br />

parâmetro para um desenvolvimento integral <strong>do</strong> instrumentista enquanto intérprete. Citan<strong>do</strong><br />

novamente Marum está se tornan<strong>do</strong> tendência entre os pe<strong>da</strong>gogos contemporâneos a<br />

conclusão de que há uma uni<strong>da</strong>de entre a personali<strong>da</strong>de musical e a técnica utiliza<strong>da</strong> pelo<br />

intérprete consideran<strong>do</strong> aqui que o gesto se constitui um to<strong>do</strong> indivisível para onde<br />

convergem outros parâmetros geralmente analisa<strong>do</strong>s separa<strong>da</strong>mente como harmonia, ritmo,<br />

tempo, rubato, articulação, dinâmica e frasea<strong>do</strong>.<br />

Desta forma a prática <strong>do</strong>s exercícios técnicos, quan<strong>do</strong> trabalha<strong>da</strong> de forma consciente<br />

e dirigi<strong>da</strong>, se torna uma ferramenta capaz de conjugar a rede constituí<strong>da</strong> por tais relações. A<br />

forma como esta aproximação se dá tem uma base que se constitui no próprio mecanismo de<br />

funcionamento <strong>da</strong> mão humana.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> análise de algumas dificul<strong>da</strong>des técnicas encontra<strong>da</strong>s<br />

pelos estu<strong>da</strong>ntes de música dentro <strong>do</strong> contexto de aprendizagem de um instrumento musical, o<br />

que implica desenvolvimento tanto motor quanto de análise e percepção <strong>do</strong>s sons, estan<strong>do</strong><br />

estes associa<strong>do</strong>s a determina<strong>do</strong>s gestos. De mo<strong>do</strong> a realizar tal pesquisa, foram registra<strong>do</strong>s por<br />

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meio de gravação em vídeo diferentes momentos de uma interpretação feita ao piano de<br />

trechos de obras escolhi<strong>da</strong>s a partir de dificul<strong>da</strong>des técnicas específicas a serem considera<strong>da</strong>s.<br />

A partir de então realiza-se um trabalho que analisa a sequencia de gestos e sua importância<br />

para a assimilação <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de inerente a ca<strong>da</strong> trecho de mo<strong>do</strong> a, em um momento<br />

posterior, associá-los à sua disposição ao longo <strong>da</strong> peça em algo que pode ser considera<strong>do</strong><br />

como uma espécie de sintaxe gestual. As conclusões são parciais na medi<strong>da</strong> em que têm como<br />

objetivo final acrescentar uma segun<strong>da</strong> análise que inclua a comparação de como se deu a<br />

resolução de uma mesma dificul<strong>da</strong>de por diferentes alunos uma vez que a construção de um<br />

repertório gestual se faz neste encontro entre as características <strong>do</strong> instrumento, no caso o<br />

piano, e as possibili<strong>da</strong>des de amplitude de movimentos físicos alia<strong>do</strong>s ao desenvolvimento<br />

musical <strong>do</strong> executante.<br />

Conclusão<br />

As mãos humanas podem ser considera<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> compara<strong>da</strong>s a outras partes <strong>do</strong><br />

corpo, como órgãos tanto de ação quanto de recepção. Nossas mãos são usa<strong>da</strong>s para mol<strong>da</strong>r o<br />

mun<strong>do</strong> ao mesmo tempo em que recebemos informações sobre ele. Sob este ponto de vista a<br />

mão pode ser considera<strong>da</strong>s como o mais prático <strong>do</strong>s nossos órgãos perceptivos na medi<strong>da</strong> em<br />

que exige uma postura ativa.<br />

Assim, podemos dizer que durante o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> piano nossas mãos precisam<br />

incorporar o "mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sons" e <strong>da</strong> música. Esta busca passa por uma definição mais precisa<br />

de técnica musical, associa<strong>da</strong> em geral a um conceito puramente mecânico, e por vezes<br />

depreciativo, como se um músico pudesse tocar um instrumento sem estar atento aos sons<br />

associa<strong>do</strong>s ao movimento. Este conceito é leva<strong>do</strong> ao extremo quan<strong>do</strong> consideramos por<br />

exemplo o mo<strong>do</strong> como ocorre o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> improvisação vocal na música Indiana, pois<br />

aqui não há mais um instrumento (no senti<strong>do</strong> de que ele não é externo ao músico) e no entanto<br />

os gestos continuam presentes, como se tocan<strong>do</strong> um instrumento invisível.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

DAVIDSON, J. W. Visual Perception of Performance Manner in the Movements of Solo<br />

Musicians. Psychology of Music, v. 21, p. 103–113, 1993.<br />

KRESS, G; VAN LEEUWEN. T. Multimo<strong>da</strong>l Discourse: the modes and media of<br />

contemporary communication. Bloomsbury: Oxford University Press, 2001. 152 p.<br />

MARUM, N. Técnica Avança<strong>da</strong> para Pianístas: conceitos e relações técnico-musicais nos 51<br />

exercícios para piano de Johannes Brahms. São Paulo: Ed. UNESP, 2010. 230 p.<br />

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia <strong>da</strong> percepção (C. Moura, Trad.). São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1945.<br />

RICHERME, C. A técnica pianística: Uma abor<strong>da</strong>gem científica. São João <strong>da</strong> Boa Vista, SP:<br />

AIR Musical Editora, 1997. 294 p.<br />

SAGONEL, B. O que é Gesto Musical. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992. 63 p.<br />

SUDNOW, D. Ways of the hand: The Organization of Improvised Conduct. New York:<br />

Harper Colophon Books, 1981. 155 p.<br />

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Cantos de uma nova sala de aula: contribuições <strong>da</strong> rede social Orkut à<br />

prática <strong>do</strong> Canto<br />

Wal<strong>do</strong>miro Ribeiro Nogueira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

wal<strong>do</strong>miro_ribeiro@hotmail.com<br />

Crislany Viana <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

crislany_viana@hotmail.com<br />

Resumo: Ca<strong>da</strong> vez mais, a Internet tem se torna<strong>do</strong> um instrumento de fácil acesso e grande<br />

difusora <strong>do</strong> conhecimento. As pessoas interagem, discutem, trocam materiais e experiências<br />

relaciona<strong>do</strong>s aos mais diversos assuntos. As redes sociais são uma <strong>da</strong>s principais ferramentas<br />

dessa interação de troca de informações. Dentro dessas redes o Orkut é uma <strong>da</strong>s que mais se<br />

destaca, seja por sua populari<strong>da</strong>de entre os brasileiros ou pela sua dinâmica de utilização.<br />

Nele, os usuários podem criar e participar de comuni<strong>da</strong>des virtuais, espaço organiza<strong>do</strong> para<br />

debater, discutir e partilhar materiais entre os usuários de interesse em comum. Para o cantor<br />

iniciante ou profissional, as comuni<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à técnica vocal tornam-se um espaço<br />

alternativo na busca <strong>do</strong> conhecimento e de troca de experiências. A presente pesquisa em<br />

an<strong>da</strong>mento tem a finali<strong>da</strong>de de analisar, catalogar e reunir em um único espaço virtual to<strong>do</strong><br />

material recolhi<strong>do</strong> nas comuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Orkut, difundin<strong>do</strong>-o, bem como conhecer o perfil de<br />

seus usuários e de que forma esse espaço tem contribuí<strong>do</strong> à formação de ca<strong>da</strong> um.<br />

Palavras-chave: Canto, Orkut, Técnica Vocal<br />

Introdução<br />

A internet é uma ferramenta ca<strong>da</strong> vez mais presente na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s brasileiros e assume<br />

um papel importante, tornan<strong>do</strong>-se quase que indispensável para a socie<strong>da</strong>de hoje, diminuin<strong>do</strong><br />

a distância entre as pessoas, possibilitan<strong>do</strong> uma rede de troca de informações entre os<br />

indivíduos. Sen<strong>do</strong> assim, a rede mundial de internet torna-se um atrativo à educação, sen<strong>do</strong><br />

uma media<strong>do</strong>ra entre o conhecimento e o indivíduo, dentro ou fora <strong>da</strong> sala de aula, tornan<strong>do</strong><br />

por vezes dispensável a presença de um professor. Para Moran (1997),<br />

A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação <strong>do</strong>s alunos pela<br />

novi<strong>da</strong>de e pelas possibili<strong>da</strong>des inesgotáveis de pesquisa que oferece. Ela<br />

aju<strong>da</strong> a desenvolver a intuição, a flexibili<strong>da</strong>de mental, a a<strong>da</strong>ptação a ritmos<br />

diferentes. A Internet permite a pesquisa individual, em que ca<strong>da</strong> aluno<br />

avança em seu próprio ritmo, e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a<br />

aprendizagem colaborativa.<br />

A internet possibilita o auto-aprendiza<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong> vasto acervo que contém,<br />

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transforman<strong>do</strong>-se em uma ver<strong>da</strong>deira biblioteca virtual, uma nova sala de aula. A esse<br />

respeito, o Professor Adilson Cabral diz:<br />

A internet não pode ser apenas apresenta<strong>da</strong> como uma grande fonte de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre os mais diversos assuntos, sem que se perceba que se<br />

transformou também o mo<strong>do</strong> de produzir conhecimento. É a partir<br />

desta clareza que se devem estabelecer os paradigmas e conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

educação <strong>do</strong> futuro.<br />

aprendiza<strong>do</strong>:<br />

Já para Cruz (2000), a internet possui as seguintes características em relação ao<br />

Interativi<strong>da</strong>de: o utiliza<strong>do</strong>r pode escolher a forma como "navegar" na<br />

informação. Produtivi<strong>da</strong>de: a hipótese de troca de informação entre<br />

utiliza<strong>do</strong>res aumenta a produtivi<strong>da</strong>de. Atuali<strong>da</strong>de: os <strong>do</strong>cumentos<br />

estão em permanente construção, pois, dessa forma são úteis e<br />

rentáveis. Economia: ao acessarmos um site <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

estamos ven<strong>do</strong> essa informação ao preço de uma chama<strong>da</strong> local.<br />

Globali<strong>da</strong>de: assim que nos ligamos à Internet, podemos ter acesso a<br />

to<strong>da</strong> informação que quisermos.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a escassez de material que aborde sobre técnica vocal, sempre foi um<br />

grande problema para os cantores. Apesar <strong>da</strong> crescente deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> literatura especializa<strong>da</strong><br />

em nosso idioma a respeito <strong>do</strong> assunto, ain<strong>da</strong> existem muitas barreiras que impedem o acesso<br />

desse material a grande parte <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de canto. Seja pelo alto preço, ou até mesmo pela<br />

falta desses materiais nas estantes <strong>da</strong>s bibliotecas e livrarias. Sen<strong>do</strong> assim, a internet passa a<br />

contribuir como um “almanaque” de informações, onde é possível encontrar um mun<strong>do</strong> de<br />

possibili<strong>da</strong>des na busca <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Dentro desse mun<strong>do</strong> interativo, encontram-se as redes sociais, que hoje figuram entre<br />

os sites mais acessa<strong>do</strong>s no Brasil, a exemplo <strong>do</strong> Orkut que foi cria<strong>do</strong> em 2004 e tem o Brasil<br />

com o maior numero de usuários, cerca 52 milhões, contra 06 milhões que acessam o<br />

Facebook outra grande rede social no mun<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a revista online INFO.<br />

Além de proporcionar entretenimento, divulgar eventos, e favorecer a interação entre<br />

pessoas de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, no Orkut podem ser encontra<strong>do</strong>s vídeos aulas de instrumentos, de<br />

teoria musical, história <strong>da</strong> música, canto, entre outros, possibilitan<strong>do</strong> ao músico iniciante o<br />

acesso a muito material, inclusive livros e partituras para <strong>do</strong>wnload em apenas um click.<br />

No Orkut, são encontra<strong>da</strong>s as comuni<strong>da</strong>des, um espaço de interação entre os<br />

usuários, onde é possível encontrar uma extensa varie<strong>da</strong>de de materiais, como apostilas sobre<br />

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fisiologia e higiene vocal, exercícios teóricos e práticos, inclusive vocalizes para <strong>do</strong>wnloads,<br />

além de vídeos aulas sobre canto, partituras, playbacks e debates em torno de efeitos vocais<br />

como falsete, trina<strong>do</strong>, drives, vibrato, inclusive com exemplos; além de diversas técnicas,<br />

como técnica <strong>do</strong> Belting (técnica utiliza<strong>da</strong> nos musicais <strong>da</strong> Broadway, Bel canto (utiliza<strong>do</strong> nas<br />

óperas, especialmente de compositores como Puccini, Verdi, Donizetti e Rossini), Black<br />

(utiliza<strong>do</strong> na música gospel) popular, entre outras. A respeito <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des virtuais Lévy<br />

(1996) relata:<br />

Uma comuni<strong>da</strong>de virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma<br />

base de afini<strong>da</strong>de por intermédio de sistemas de comunicação<br />

telemáticos. Seus membros estão reuni<strong>do</strong>s pelos mesmos núcleos de<br />

interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, continente, não é<br />

mais nem um ponto de parti<strong>da</strong>, nem uma coerção.<br />

Pela sua grande utilização e fácil acessibili<strong>da</strong>de, o Orkut torna-se uma grande<br />

biblioteca virtual, uma ferramenta importante para o ensino de canto. Mais que uma simples<br />

rede de contatos e de entretenimento, ele assume um papel importante no que diz respeito à<br />

dinâmica de interação entre pessoas de diversos perfis, sejam estes leigos, pesquisa<strong>do</strong>res,<br />

professores, entre outros, o que favorece uma ativa troca de arquivos, informações e<br />

conhecimentos entre os usuários <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, o que colabora significativamente para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica vocal, especialmente <strong>do</strong> canto. O Orkut, sob esse ponto de vista, passa<br />

a ser uma nova sala de aula, um novo caminho que possibilita o acesso de informações,<br />

anteriormente de <strong>do</strong>mínio de poucos.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, esse projeto de pesquisa visa investigar a rede social Orkut como uma<br />

ferramenta de acessibili<strong>da</strong>de à prática <strong>do</strong> canto, fazen<strong>do</strong> uma análise de como esta vem<br />

contribuin<strong>do</strong> na formação <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte de canto e profissionais que já atuam como cantores.<br />

Favorecerá, assim, o intercâmbio de informações e materiais entre os usuários dessa<br />

ferramenta <strong>da</strong> internet. É também seu objetivo mapear e analisar quais e quantas comuni<strong>da</strong>des<br />

abor<strong>da</strong> o assunto, com a finali<strong>da</strong>de de catalogá-las e extrair materiais que auxiliem para a<br />

formação profissional, como vídeo aulas, partituras, artigos, méto<strong>do</strong>s, áudios, tentan<strong>do</strong> suprir<br />

uma carência que ain<strong>da</strong> existe entre o conhecimento e indivíduos, quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

de canto.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Para atingir os objetivos <strong>do</strong> projeto, o mesmo será dividi<strong>do</strong> em cinco etapas, que<br />

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serão organiza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

• Primeira etapa:<br />

A princípio serão pesquisa<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des sobre técnica vocal, as quais<br />

serão cataloga<strong>da</strong>s por assuntos (temas em comum) e quanti<strong>da</strong>de de usuários. A partir de então<br />

será feita uma entrevista através de formulário via Orkut e email, com o proprietário <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, sobre sua formação musical e seu objetivo em torno <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

• Segun<strong>da</strong> etapa:<br />

Em segui<strong>da</strong> serão pesquisa<strong>do</strong>s os diversos materiais compartilha<strong>do</strong>s nessas<br />

comuni<strong>da</strong>des, seguin<strong>do</strong> a seguinte ordem:<br />

-apostilas,<br />

-méto<strong>do</strong>s (partituras),<br />

-possíveis livros para <strong>do</strong>wnload.<br />

-áudio para treinamento vocal (exercício de vocalize),<br />

-vídeo aulas,<br />

-outros (irão ser incluí<strong>da</strong>s opiniões e sugestões de bibliografias pelos usuários dentro<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em torno de um assunto, quan<strong>do</strong> for pertinente, tais como efeitos vocais, os<br />

diversos tipos de canto, etc. Além de citações de literaturas).<br />

• Terceira Etapa:<br />

Serão entrevista<strong>do</strong>s os usuários que utilizam as comuni<strong>da</strong>des no Orkut, a fim<br />

de verificar o perfil desses usuários; bem como verificar como o Orkut tem contribuí<strong>do</strong> à sua<br />

formação musical. Essas entrevistas serão feitas através de formulários via Orkut e email.<br />

• Quarta Etapa:<br />

Análise <strong>do</strong> material e checagem <strong>da</strong>s fontes <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> <strong>do</strong>s materiais.<br />

• Quinta Etapa:<br />

Catalogação e disponibilização de to<strong>do</strong> material em uma única comuni<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> Orkut, viabilizan<strong>do</strong>-os aos participantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des analisa<strong>da</strong>s e publicação em<br />

revistas especializa<strong>da</strong>s.<br />

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Considerações Finais<br />

É um grande desafio o percurso de um aspirante a cantor. As barreiras que<br />

existem entre o conhecimento e esses indivíduos aumentam ain<strong>da</strong> mais quan<strong>do</strong> se fala em<br />

conhecimento fora <strong>da</strong> educação formal <strong>da</strong>s escolas de canto; sem dúvi<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>r e ter acesso<br />

a informações sobre técnica vocal torna-se um percurso árduo, fazen<strong>do</strong> com que inclusive<br />

“cantores” <strong>da</strong> noite, de igrejas e de tantos outros lugares, acabem estragan<strong>do</strong> aos poucos suas<br />

vozes por falta de informações. Informações quase escassas em nossas bibliotecas e livrarias.<br />

O presente projeto visa contribuir para a difusão <strong>do</strong> conhecimento, propon<strong>do</strong> levar<br />

informação a partir <strong>da</strong> ferramenta interativa Orkut, crian<strong>do</strong> uma comuni<strong>da</strong>de virtual, que além<br />

de disponibilizar materiais seguros sobre o canto, torne-se um espaço alternativo de<br />

informações coerentes, pois entendemos que a socialização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa deva<br />

acontecer além <strong>do</strong>s meios tradicionais, como apresentação em congressos e eventos similares<br />

ou em revistas especializa<strong>da</strong>s, por isso incluirá os ambientes virtuais, uma vez que nosso<br />

campo de pesquisa faz parte desse contexto.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

AGUIARI, Vinicius. Orkut é 8 vezes maior que facebook no Brasil. Revista INFO Online,<br />

ago. 2010. Disponível em: .<br />

Acesso em: 13 abr. <strong>2011</strong>.<br />

CABRAL, Adilson. Apoteose e Apocalipse: internet e educação no Brasil. Disponível em:<br />

Acesso em: 23 nov. 2010.<br />

CRUZ, D. M. Introdução a Mídia e Conhecimento. Apostila <strong>do</strong> Curso de Especialização para<br />

Gestores de Instituições de Ensino Técnico <strong>do</strong> SENAI, Turma 4. Disciplina 1 <strong>do</strong> terceiro<br />

Módulo. Florianópolis: PPGEP/LED, 2000.<br />

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.<br />

MORAN, J. Manoel. Como utilizar a internet na educação. Revista Ciência <strong>da</strong> Informação,<br />

Brasília, n. 2, p. 146-153, 1997. Disponível em:<br />

< http://www.eca.usp.br/prof/moran/internet.htm#pesquisa>. Acesso em: 25 nov. 2010.<br />

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Como o acesso à informática e sua utilização podem auxiliar no ensino e<br />

aprendizagem <strong>da</strong> educação musical? Novos caminhos para a musicalização<br />

na educação básica<br />

Gleice Kelly Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

gleiceflauta@yahoo.com.br<br />

Victor Luiz Barbosa de Andrade<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

victor.luiz.ufpe@gmail.com<br />

Érico Henrique <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

ericohenrique44@yahoo.com.br<br />

Resumo: A informática está presente em to<strong>do</strong>s os ambientes influencian<strong>do</strong> no<br />

comportamento <strong>da</strong>s pessoas que a utilizam, se refletin<strong>do</strong> no contexto escolar como uma nova<br />

possibili<strong>da</strong>de para educação musical na escola básica. Mas poucos professores se deram conta<br />

dessa importante ferramenta. Logo, este trabalho tem como objetivo apontar novos caminhos<br />

para musicalização com o auxílio <strong>da</strong> informática dentro <strong>da</strong> sala de aula. Em to<strong>do</strong> o Brasil<br />

podemos apontar várias iniciativas para criação de softwares e para sua aplicabili<strong>da</strong>de no<br />

cotidiano escolar. Grande parte destes softwares é disponibiliza<strong>da</strong> gratuitamente na internet.<br />

Três desses programas foram seleciona<strong>do</strong>s para análise neste trabalho, sen<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong>s seus<br />

recursos pe<strong>da</strong>gógicos para uma possível utilização no processo ensino-aprendizagem musical.<br />

Palavras-chave: informática, musicalização, educação básica.<br />

Introdução<br />

A informática está presente no nosso cotidiano. Em to<strong>do</strong>s os ambientes já é possível<br />

perceber sua influência. A to<strong>do</strong> o momento somos bombardea<strong>do</strong>s por novas tecnologias que<br />

nos impulsionam a utilizá-las com uma freqüência ca<strong>da</strong> vez maior. Segun<strong>do</strong> Miran<strong>da</strong> (2006)<br />

Nestes últimos dez anos, o merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> informática tem investi<strong>do</strong> de forma<br />

acelera<strong>da</strong> na ven<strong>da</strong> de computa<strong>do</strong>res para o ambiente <strong>do</strong>méstico, o que tem<br />

contribuí<strong>do</strong> para acelerar mu<strong>da</strong>nças importantes no cotidiano que se refletem<br />

no ambiente de trabalho, na escola e nas relações familiares. (MIRANDA,<br />

2006, p. 24).<br />

No ambiente escolar, a utilização <strong>da</strong> informática pode ser uma ferramenta importante<br />

no processo educacional por facilitar o acesso <strong>do</strong>s alunos às novas informações e permitin<strong>do</strong><br />

interações com outras culturas.<br />

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Alguns professores, que já utilizam com maior freqüência e de algum mo<strong>do</strong><br />

a informática, indicam algumas idéias positivas relativas à troca de<br />

experiências, tanto no uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r quanto nas ativi<strong>da</strong>des trabalha<strong>da</strong>s<br />

com alunos. Percebem que este aparelho quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> de forma<br />

contextualiza<strong>da</strong>, pode aju<strong>da</strong>r na resolução de situações - problema, nas<br />

ativi<strong>da</strong>des de aprendizagem ou no acesso a informações. Tornan<strong>do</strong> o<br />

ambiente <strong>da</strong> sala de aula mais dinâmico e o aluno mais interessa<strong>do</strong>.<br />

(MIRANDA, 2006, p. 68).<br />

Por isso, os investimentos <strong>do</strong> governo para o acesso de professores e alunos à<br />

informática têm si<strong>do</strong> bastante significativos, grande parte <strong>da</strong>s escolas públicas possuem<br />

laboratórios de informática, o que comprova a possibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> seu uso na educação básica.<br />

Mais recentemente por meio <strong>do</strong> proinfo 1 e <strong>do</strong>s parâmetros curriculares, o<br />

governo brasileiro tem indica<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />

nas escolas, afirman<strong>do</strong> que devem “apontar a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de trabalhos que contemplem o uso <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />

<strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong> informação, para que to<strong>do</strong>s, alunos e professores,<br />

possam delas se apropriar e participar, bem como criticá-las e/ou delas<br />

usufruir. (MIRANDA apud OLIVEIRA, 2006, p. 50).<br />

Na educação musical a informática ain<strong>da</strong> é pouco utiliza<strong>da</strong>, pois “pouquíssimos<br />

professores de música se deram conta <strong>do</strong> quanto eles e seus alunos podem se beneficiar com a<br />

incorporação desta tecnologia em suas aulas” (GULLART). Contu<strong>do</strong>, pode ser um recurso<br />

importante. Os recursos referentes à tecnologia musical podem auxiliar no ensino <strong>do</strong> canto, <strong>da</strong><br />

composição e de instrumentos, além de estimular a criativi<strong>da</strong>de.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

No ano de 2002 foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong> o Grupo de Pesquisa em Música Assisti<strong>da</strong> por<br />

Computa<strong>do</strong>r (GPMAC) que apresenta como linha de estu<strong>do</strong>, dentre outras, o desenvolvimento<br />

de ferramentas para o ensino e a aprendizagem <strong>da</strong> música. Em 2010 iniciamos nossas<br />

pesquisas a partir de uma listagem de softwares que podem ser utiliza<strong>do</strong>s na educação musical<br />

e na escola de educação básica. Esta catalogação foi feita com o auxílio <strong>da</strong> internet e livros<br />

especializa<strong>do</strong>s em tecnologia musical. Dos softwares encontra<strong>do</strong>s apenas três foram<br />

seleciona<strong>do</strong>s para abor<strong>da</strong>gem nesse trabalho, classifica<strong>do</strong>s por categorias aqui expostas em<br />

tabela, utilizan<strong>do</strong> o critério <strong>da</strong> gratui<strong>da</strong>de.<br />

1<br />

É um programa educacional com o objetivo de promover o uso pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> informática na rede pública de<br />

educação básica. O programa leva às escolas computa<strong>do</strong>res, recursos digitais e conteú<strong>do</strong>s educacionais.<br />

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2 OA N O S<br />

A pesquisa 2 encontra-se em an<strong>da</strong>mento, e resultará em um posterior mapeamento <strong>da</strong>s<br />

condições materiais e humanas <strong>da</strong>s escolas <strong>do</strong> Recife em relação à futura utilização dessas<br />

novas tecnologias para o ensino de música.<br />

Novos Recursos para Musicalização<br />

Com a lei nº 11. 769 de agosto de 2008, que regulamenta o ensino de música nas<br />

escolas de educação básica, a necessi<strong>da</strong>de por novos recursos para o ensino <strong>da</strong> música<br />

aumentou. Grande parte <strong>da</strong>s escolas ain<strong>da</strong> não está prepara<strong>da</strong> para receber a musicalização em<br />

seu currículo obrigatório. “No Brasil, a Educação Musical no Ensino Básico é pouco<br />

explora<strong>da</strong> devi<strong>do</strong> à falta de instrumentos musicais”. (FICHEMAN et al. , 2004, p. 497). Logo<br />

surgem as dúvi<strong>da</strong>s: como tornar a aula participativa e criativa sem esses materiais? Uma <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des seria a utilização <strong>da</strong> informática, já que o investimento e o acesso a esse<br />

recurso vêm aumentan<strong>do</strong>. Em to<strong>do</strong> o Brasil já existem iniciativas para criação de softwares e<br />

para sua aplicabili<strong>da</strong>de em sala de aula. A utilização <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, além de aju<strong>da</strong>r nas aulas<br />

de música, resolve o problema <strong>do</strong> sucateamento que estas máquinas vêm sofren<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à<br />

falta de preparação <strong>do</strong>s professores para seu uso. “Novamente os recursos tecnológicos são<br />

introduzi<strong>do</strong>s no ambiente escolar sem que haja uma discussão sobre os critérios e objetivos de<br />

utilização pe<strong>da</strong>gógica desses por parte <strong>do</strong>s professores e coordena<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s escolas”.<br />

(MIRANDA, 2006, p. 52).<br />

A partir desta perspectiva realizamos uma listagem de softwares, e percebemos que<br />

grande parte deles é escrita no idioma inglês, mas que também há aqueles em língua<br />

portuguesa. Dos três programas analisa<strong>do</strong>s neste trabalho, <strong>do</strong>is apresentam-se no idioma<br />

inglês e um em português. Os três apresentam uma interface simples e de fácil manuseio. Os<br />

em idioma inglês podem também ser utiliza<strong>do</strong>s de forma interdisciplinar, como recurso para<br />

as aulas de língua inglesa, pois mesmo possuin<strong>do</strong> uma interface simples é necessária a<br />

orientação <strong>do</strong> professor.<br />

O computa<strong>do</strong>r não resolve to<strong>do</strong>s os problemas nem substitui o professor, como<br />

afirma Coscarelli:<br />

É importante deixar claro que os bons resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> nova tecnologia<br />

dependem <strong>do</strong> uso que se faz dela, de como e com que finali<strong>da</strong>de ela está<br />

sen<strong>do</strong> usa<strong>da</strong>. Não se pode esperar que o computa<strong>do</strong>r faça tu<strong>do</strong> sozinho. Ele<br />

2<br />

Sob a orientação <strong>do</strong> Prof. Dr. Nelson Cavalcanti de Almei<strong>da</strong><br />

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2 OA N O S<br />

traz informações e recursos, cabe ao professor planejar a aplicação deles em<br />

sala de aula. (COSCARELLI, 1998, p. 41).<br />

Portanto, se faz necessário um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s programas disponíveis para uma eficiente<br />

aplicação em sala de aula.<br />

Segue abaixo uma tabela com nome e descrição <strong>do</strong>s softwares seleciona<strong>do</strong>s.<br />

Categoria Softwares Principais funções<br />

Jogos Note attack É um jogo que aju<strong>da</strong> a memorizar quais símbolos<br />

representam quais notas musicais em uma partitura. Para<br />

jogar pode - se utilizar o tecla<strong>do</strong> <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r ou, se<br />

preferir, um controla<strong>do</strong>r MIDI 3 . O jogo utiliza tanto a<br />

clave de sol quanto a de fá e possui configurações de<br />

veloci<strong>da</strong>de, timbre e extensão.<br />

Treinamento<br />

Auditivo<br />

Solfege<br />

As funções <strong>do</strong> programa abrangem as duas principais<br />

partes <strong>da</strong> música: a teórica e a prática. Na parte teórica<br />

têm-se escalas maiores, menores (harmônicas e<br />

melódicas). Na prática, o reconhecimento de intervalos e<br />

acordes. O Programa disponibiliza, ain<strong>da</strong>, sete tipos de<br />

teste avaliativos.<br />

Composição HighC É uma Ferramenta para criação musical. É um<br />

seqüencia<strong>do</strong>r, sintetiza<strong>do</strong>r e mixa<strong>do</strong>r. Seu objetivo é fazer<br />

com que a composição musical seja tão simples e direta<br />

como traçar linhas.<br />

Esses softwares são <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de grandes recursos viabiliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo ensinoaprendizagem<br />

musical, além de serem ofereci<strong>do</strong>s gratuitamente na internet. Tu<strong>do</strong> isto<br />

fortalece nossa indicação para que eles sejam utiliza<strong>do</strong>s como excelentes ferramentas para os<br />

educa<strong>do</strong>res.<br />

O programa Note attack, <strong>da</strong> categoria jogos, pode ser utiliza<strong>do</strong> para trabalhar a<br />

atenção <strong>do</strong>s alunos. Por se tratar de um jogo, possui regras referentes à teoria musical. Esse<br />

programa faz uma brincadeira na qual as notas se movimentam horizontalmente no<br />

pentagrama. O usuário terá que identificá-las. Também é possível a escolha de diferentes<br />

timbres.<br />

O software Solfege, para treinamento auditivo, trabalha as várias percepções,<br />

despertan<strong>do</strong> o ouvi<strong>do</strong> musical <strong>do</strong>s alunos e reforçan<strong>do</strong> as questões teóricas.<br />

3<br />

Nome genérico <strong>da</strong><strong>do</strong> a qualquer equipamento MIDI que possa ser utiliza<strong>do</strong> para coman<strong>da</strong>r outros<br />

equipamentos.<br />

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O programa HighC, <strong>da</strong> categoria composição, é um programa que estimula a<br />

criativi<strong>da</strong>de em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, pois possibilita que a criança pratique a composição de<br />

maneira lúdica, ou seja, o professor deve orientar o aluno para que ele faça um desenho e, a<br />

partir deste, o programa responderá com uma composição musical. O aluno não terá,<br />

necessariamente, que ter conhecimentos teóricos musicais prévios.<br />

Considerações finais<br />

A informática é muito importante para o ensino - aprendizagem <strong>da</strong>s diversas áreas<br />

musicais, tais como: canto, percepção, solfejo, teoria e composição. A escolha <strong>do</strong>s programas<br />

deve ser feita de forma criteriosa, pois eles são apenas auxílios que devem facilitar o processo<br />

pe<strong>da</strong>gógico, se bem emprega<strong>da</strong> em sala de aula. Além <strong>do</strong>s conhecimentos musicais, ela<br />

possibilita a interação com outras disciplinas e estimula a criativi<strong>da</strong>de.<br />

Com a disponibili<strong>da</strong>de de um grande número de programas gratuitos, as escolas<br />

possuem a sua disposição um novo caminho para a musicalização na educação básica.<br />

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Referências<br />

COSCARELLI, Carla Viana. O uso <strong>da</strong> informática como instrumento de ensino –<br />

aprendizagem. Presença pe<strong>da</strong>gógica. V.4, nº 20, p. 37-45, mar. / abr. 1998.<br />

FICHEMAN, Irene Karaguilla; LOPES, Roseli de Deus; SUSANA, Ester Krüger; NETO,<br />

Oswal<strong>do</strong> Bassani. Portal Edumusical. In: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação,<br />

15. , 2004, Amazonas. <strong>Anais</strong>. Amazonas: SBIE, 2004. p. 497 – 506.<br />

GULLART, Diana. Como a informática aju<strong>da</strong> o ensino de canto? Disponível em:<br />

http://www.dianagoulart.pro.br/texto_informatica_canto_popular. php. Acesso em: 22 nov.<br />

2010.<br />

MIRANDA, Raquel Gianolla. Informática na Educação: representações sócias <strong>do</strong> cotidiano.<br />

3. ed. São Paulo, Cortez, 2006.<br />

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O Ensino de Música e a Formação Estética na Educação de Jovens e<br />

Adultos: Um estu<strong>do</strong> no Centro Municipal de Educação e Saúde Professor<br />

José Sobreira de Amorim<br />

Patrícia Lílian de Sales Rocha<br />

Prefeitura Municipal de Fortaleza<br />

patricialilian_3@hotmail.com<br />

Resumo: Desde o advento <strong>da</strong> Revolução Industrial é crescente o apelo <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação de massa à padronização <strong>do</strong> gosto musical, à limitação <strong>da</strong>s sensações estéticas e<br />

até mesmo à alienação ideológica, promovi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> oferta indiscrimina<strong>da</strong> de produtos<br />

pelo merca<strong>do</strong> fonográfico. Através deste trabalho, pretende-se investigar como o ensino de<br />

música pode contribuir para o processo de formação estética <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Educação de<br />

Jovens e Adultos (2º segmento) <strong>do</strong> Centro Municipal de Educação e Saúde (CMES) Professor<br />

José Sobreira de Amorim. Propõe-se analisar vivências musicais cotidianas, democratizar o<br />

acesso a um acervo musical amplo, diversifica<strong>do</strong> e fomentar discussões/reflexões sobre a<br />

influência <strong>da</strong> Indústria Cultural no cotidiano escolar. Com esta pesquisa pretende-se<br />

contribuir com as discussões a respeito <strong>da</strong> Educação Musical no tocante à formação estética,<br />

humana e às múltiplas finali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> ensino de música no ambiente escolar.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, Formação Estética, Educação de Jovens e Adultos.<br />

1. Introdução<br />

1.1 Formação Estética<br />

Desde sua origem, com os padres Jesuítas nas escolas brasileiras, até os dias atuais, no<br />

ensino contextualiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea, a Educação Musical nas escolas tem<br />

colabora<strong>do</strong> com a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento integral <strong>do</strong> indivíduo, visan<strong>do</strong> melhores<br />

formas de convívio e organização social. O ensino de música no ambiente escolar está<br />

intimamente comprometi<strong>do</strong> com a formação humana e dentre suas muitas funções, inclui a<br />

educação estética.<br />

O fazer artístico de uma socie<strong>da</strong>de revela características de sua própria estrutura<br />

organizacional. Assim também o é com as produções musicais <strong>do</strong>s povos. Estes imprimem<br />

em suas obras as formas e peculiari<strong>da</strong>des de sua política, economia, costumes e crenças.<br />

Nesse ínterim, realizar escutas orienta<strong>da</strong>s na perspectiva <strong>do</strong> gênero, <strong>do</strong> estilo musical de<br />

épocas ou de uma determina<strong>da</strong> região, de um determina<strong>do</strong> artista, seria um exercício de<br />

análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de? Refletir a respeito de música nessa perspectiva trataria <strong>do</strong> repensar nosso<br />

próprio comportamento social? Seria possível, através <strong>da</strong> Educação Musical, subsidiar<br />

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pessoas de senso crítico para a compreensão e consequente transformação <strong>do</strong> meio ao qual<br />

interferimos com nossa existência?<br />

Sabemos que a elaboração <strong>do</strong> gosto e a concepção estética <strong>do</strong>s indivíduos estão<br />

intrinsecamente liga<strong>da</strong>s ao contexto sociocultural no qual estão inseri<strong>do</strong>s. Obviamente os<br />

estu<strong>da</strong>ntes trazem consigo suas próprias concepções de natureza sensível-cognitiva a respeito<br />

de música. Pretende-se, então, alargar esse caminho de conhecimento, não no intuito de<br />

induzi-los ou conformá-los a determina<strong>do</strong> gênero musical, mas na intenção de democratizar o<br />

acesso às produções músico-culturais brasileiras como proposta de educação estética.<br />

1.2 Educação de Jovens e Adultos<br />

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), enquanto mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino, assiste<br />

pessoas que não tiveram acesso à educação básica ou tiveram interrupções nesse processo.<br />

Suas funções prioritárias são de reparação desse direito nega<strong>do</strong> e de qualificação através <strong>da</strong><br />

educação permanente.<br />

Nas salas de aula <strong>da</strong> EJA, encontramos grandes discrepâncias no tocante às condições<br />

educacionais, às motivações pessoais, aos níveis de escolari<strong>da</strong>de e faixa etária <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes,<br />

fato que exige de nós educa<strong>do</strong>res tratamentos pe<strong>da</strong>gógicos e meto<strong>do</strong>lógicos compatíveis com<br />

as especifici<strong>da</strong>des diagnostica<strong>da</strong>s.<br />

Nesse contexto, para um ensino significativo de artes e de música, to<strong>da</strong>s essas<br />

questões devem ser conheci<strong>da</strong>s, considera<strong>da</strong>s e media<strong>da</strong>s.<br />

“Um desafio que se coloca para educa<strong>do</strong>res/as musicais que preten<strong>da</strong>m<br />

trabalhar ou atuem na EJA é justamente encontrar as conexões de gostos,<br />

desejos, repertório, aprimoramento técnico, <strong>do</strong>s/as estu<strong>da</strong>ntes de diferentes<br />

gerações, dentro de um espaço de ensino de música significativo.” (RIBAS,<br />

2006).<br />

Possibilitar novas experienciações estéticas é oferecer uma via de compreensão <strong>do</strong>s<br />

conflitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, contemplan<strong>do</strong> a função<br />

equaliza<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> EJA, “que rege a igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des na perspectiva de oferecer aos<br />

indivíduos novas inserções no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, na vi<strong>da</strong> social, nos espaços <strong>da</strong> estética e<br />

nos canais de participação.” (SOEK, 2009, p. 44).<br />

2. Objetivos<br />

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2.1 Geral<br />

Verificar os hábitos de escuta musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> EJA (2º segmento), no<br />

CMES Professor José Sobreira de Amorim. Analisar como a audição desse repertório pode<br />

interferir em seus processos de formação humana e na construção de significa<strong>do</strong>s no exercício<br />

de leitura e construção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social. Busca-se, ain<strong>da</strong>, desenvolver uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

formação estética, a partir <strong>do</strong> acesso orienta<strong>do</strong> a repertórios que contemplem a diversi<strong>da</strong>de<br />

cultural, étnica e regional brasileira.<br />

2.1 Específicos<br />

2.1.1 Identificar os gêneros musicais presentes na prática de escuta musical <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes e os níveis de senso crítico e reflexivo dessa ativi<strong>da</strong>de;<br />

2.1.2 Identificar os significa<strong>do</strong>s simbólicos que os produtos difundi<strong>do</strong>s pelas mídias têm<br />

para os estu<strong>da</strong>ntes;<br />

2.1.3 Investigar a influência <strong>da</strong> música na construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de social desses jovens<br />

e adultos;<br />

2.1.4 Desenvolver procedimentos didático-pe<strong>da</strong>gógico-musicais que proporcionem a<br />

multiformi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sentir e <strong>do</strong> pensar <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, através <strong>da</strong> escuta musical orienta<strong>da</strong>.<br />

3. Pressupostos Teóricos<br />

O desenvolvimento tecnológico advin<strong>do</strong> pós Revolução Industrial contribuiu,<br />

consideravelmente, para divulgação de produtos artísticos, inclusive musicais. No entanto, o<br />

fato não garantiu acesso ao conhecimento cultural, e para sua aquisição, parece não ser<br />

bastante consumir a criação tecnológica. É preciso ter acesso à informação, eiva<strong>da</strong> de senso<br />

crítico e reflexivo, de forma a pretender o respeito à heterogenei<strong>da</strong>de quanto ao gosto artístico<br />

<strong>do</strong> indivíduo e suas inferências biológicas, individuais e sociais.<br />

O consumi<strong>do</strong>r que tem ao alcance apenas produtos ofereci<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>, está, em<br />

última análise, impossibilita<strong>do</strong> de exercer sua livre escolha. Esse fato solapa-lhe a criativi<strong>da</strong>de<br />

e a espontanei<strong>da</strong>de expressiva, dificultan<strong>do</strong> o surgimento de novos artistas populares.<br />

Os PCN’s - Parâmetros Curriculares Nacionais - de Artes para o Ensino Médio, os<br />

quais são diretrizes para a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA (2º segmento), iniciam suas orientações para o<br />

ensino de Artes <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

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“Conhecer Artes no Ensino Médio significa os alunos apropriarem-se de<br />

saberes culturais e estéticos inseri<strong>do</strong>s nas práticas de produção e apreciação<br />

artísticas, fun<strong>da</strong>mentais para a formação e o desempenho social <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão.<br />

Na escola de Ensino Médio, continuar a promover o desenvolvimento<br />

cultural e estético <strong>do</strong>s alunos com quali<strong>da</strong>de, no âmbito <strong>da</strong> educação básica,<br />

pode favorecer-lhes o interesse por novas possibili<strong>da</strong>des de aprendiza<strong>do</strong>, de<br />

ações, de trabalho com a arte ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.”<br />

Compreender como a Educação Musical pode contribuir nesse processo, encontra-se<br />

em consonância com o pensamento de educa<strong>do</strong>res que tratam <strong>da</strong> questão estética enquanto<br />

proposta de formação humana. É o caso <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical Hans-Joachim Koellreutter<br />

(LOUREIRO, 2003 apud KOELLREUTTER, 1998) que afirma ser a arte um fator<br />

preponderante de estética e de humanização <strong>do</strong> processo civiliza<strong>do</strong>r. Ain<strong>da</strong> a esse respeito,<br />

Fusari e Ferraz explicam:<br />

“Entretanto, para desabrochar, esse sentimento estético necessita de uma<br />

orientação que respon<strong>da</strong> às suas principais metas, sem perder de vista os<br />

propósitos mais progressistas de transformação social (e não mero<br />

ajustamento à socie<strong>da</strong>de). O que importa é trabalhar atitudes analíticas, para<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes ultrapassem o senso comum e adquiram posicionamentos<br />

mais críticos.” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 62).<br />

Este trabalho baseia-se, ain<strong>da</strong>, nas premissas <strong>do</strong> Plano Nacional de Cultura (PNC), Lei<br />

nº. 12.343, de 2 de dezembro de 2010, que, dentre seus objetivos, busca reconhecer e<br />

valorizar a diversi<strong>da</strong>de cultural, étnica e regional brasileira; valorizar e difundir criações<br />

artísticas e bens culturais; estimular a presença <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> cultura no ambiente<br />

educacional, assim como, estimular o pensamento crítico e reflexivo em torno <strong>do</strong>s valores<br />

simbólicos.<br />

4. Procedimentos Meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Para construção de teorias e levantamento de hipóteses, pretende-se a<strong>do</strong>tar as<br />

meto<strong>do</strong>logias qualitativa e quantitativa, uma vez que, ambas, complementam-se em suas<br />

especifici<strong>da</strong>des na busca <strong>do</strong> conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de observa<strong>da</strong>.<br />

A primeira abor<strong>da</strong>gem justifica-se pela necessi<strong>da</strong>de de diagnosticar hábitos de escuta<br />

musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, descrevê-los e interpretá-los, durante o ano letivo de <strong>2011</strong>, tempo<br />

previsto para realização <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Através <strong>da</strong> observação participante, busca-se descrever atitudes, valores, crenças e<br />

hábitos para atingir os objetivos <strong>da</strong> investigação. Segun<strong>do</strong> Lüdke e André (1986), nessa forma<br />

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de observar o problema, o homem não é um objeto a mais no seu contexto social. Pelo<br />

contrário, ele interage, interpreta e elabora senti<strong>do</strong>s a partir de sua própria leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

Pela própria natureza <strong>do</strong> objeto investiga<strong>do</strong>, julga-se, ain<strong>da</strong>, necessária a aplicação de<br />

questionários visan<strong>do</strong> à obtenção de <strong>da</strong><strong>do</strong>s quanto à reali<strong>da</strong>de sociocultural <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Esse instrumento será de fun<strong>da</strong>mental importância no tocante à fidedigni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

informações levanta<strong>da</strong>s e auxiliará na organização, mensuração e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s.<br />

Pretende-se, ain<strong>da</strong>, realizar o procedimento de vali<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> questionário. Entende-se<br />

esta medi<strong>da</strong> como forma de garantir a aplicação de um instrumento consistente, claro, preciso<br />

e eficaz em seu objetivo de subsidiar a confecção <strong>do</strong> relatório final.<br />

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Referências<br />

BRASIL, Ministério <strong>da</strong> Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 2000.<br />

BRASIL, Ministério <strong>da</strong> Cultura. Plano Nacional de Cultura – PNC. Brasília: Lei nº. 12.343<br />

de 2 de dezembro de 2010.<br />

DALBÉRIO, Osval<strong>do</strong> e DALBÉRIO, Maria Célia Borges. Meto<strong>do</strong>logia Científica: Desafios e<br />

Caminhos. São Paulo: Paulus, 2009. 264 p. (Coleção educação superior).<br />

FUSARI, Maria Felismin<strong>da</strong> de Resende & FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Tole<strong>do</strong>. Arte<br />

na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 2001. 157 p. (Coleção Magistério 2º Grau).<br />

LOUREIRO, ALÍCIA MARIA ALMEIDA. O Ensino de Música na Escola Fun<strong>da</strong>mental.<br />

São Paulo: Papirus, 2003. 235 p.<br />

LUDKE, M. e ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: abor<strong>da</strong>gens qualitativas. São Paulo: EPU,<br />

1986. 100 p.<br />

RIBAS, Maria Guiomar de Carvalho. Música e Intergeracionali<strong>da</strong>de na Educação de Jovens e<br />

Adultos, 2006. Disponível em <br />

Acesso em 11 de maio. <strong>2011</strong>.<br />

SOEK, Ana Maria; CHAVES, Sônia Maria e HARACEMIV, Tânia Stoltz. Mediação<br />

Pe<strong>da</strong>gógica na Alfabetização de Jovens e Adultos. Curitiba: Positivo, 2009. 79 p.<br />

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O Professor de piano e o méto<strong>do</strong>: uma análise sobre os critérios utiliza<strong>do</strong>s<br />

na escolha de um méto<strong>do</strong> de piano<br />

Lindberg Luiz <strong>da</strong> Silva Leandro<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

lindbergluiz@bol.com.br<br />

Josélia Ramalho Vieira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

jramalhovieira@yahoo.com.br<br />

Resumo: Nesta pesquisa em an<strong>da</strong>mento para o trabalho de conclusão de curso (Licenciatura<br />

em Música com habilitação em piano) na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba, investigaremos os<br />

materiais didáticos que os professores particulares de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa utilizam<br />

para seus alunos iniciantes de piano. Para isto será utiliza<strong>do</strong> um survey (estu<strong>do</strong> de<br />

levantamento) <strong>do</strong> tipo interseccional A indicação <strong>do</strong>s professores será feita através <strong>da</strong> amostra<br />

“bola de neve”. No que diz respeito ao modelo <strong>do</strong> questionário aplica<strong>do</strong>, tomamos por base o<br />

trabalho de OLIVEIRA (2009). Neste trabalho serão expostos os objetivos, meto<strong>do</strong>logia e os<br />

resulta<strong>do</strong>s pretendi<strong>do</strong>s desta pesquisa em an<strong>da</strong>mento.<br />

Palavras-chave: Méto<strong>do</strong> de piano, Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> piano, survey.<br />

Introdução<br />

O material didático para o estu<strong>do</strong> de piano não faz apenas com que o aluno apren<strong>da</strong> o<br />

instrumento, mas também com que, através dele, o aluno conheça a melhor maneira de tocar o<br />

instrumento (acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong> professor) e possa se identificar com ele através <strong>da</strong>s músicas<br />

apresenta<strong>da</strong>s.<br />

Dependen<strong>do</strong> de sua identificação com o material aplica<strong>do</strong>, o aluno irá ou não se<br />

desenvolver <strong>da</strong> forma adequa<strong>da</strong>, o que mostra que o material exerce certa influência sobre sua<br />

veloci<strong>da</strong>de de aprendiza<strong>do</strong>. A interferência <strong>do</strong> professor no processo de aprendizagem é<br />

indispensável, pois ele conduzirá o aluno por caminhos que o ajudem no aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

técnica pianística, atingin<strong>do</strong> níveis eleva<strong>do</strong>s, sem agredir sua saúde física, bem como fazer<br />

com que o aluno toque as peças propostas <strong>da</strong> maneira mais fácil, tornan<strong>do</strong> assim o ensino <strong>do</strong><br />

instrumento algo prazeroso.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, quais critérios são utiliza<strong>do</strong>s por professores particulares de piano na<br />

escolha <strong>do</strong> material didático - correntemente chama<strong>do</strong> de “méto<strong>do</strong> de piano” - para seus<br />

alunos iniciantes?<br />

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Revisão Bibliográfica<br />

Pesquisas feitas com alguns professores de piano em Porto Alegre (RS), por Oliveira,<br />

Santos e Hentschke (2009, p.79), revelam algumas informações sobre seus materiais<br />

didáticos:<br />

Com relação à utilização de algum material didático específico com os<br />

alunos de piano, 77% os professores afirmaram a<strong>do</strong>tar algum tipo. Nessa<br />

questão, muitos professores mencionaram vários compêndios, em geral<br />

para iniciantes (94%), segui<strong>do</strong> para alunos intermediários (72%) e<br />

avança<strong>do</strong>s (43%). Dentre as obras mais cita<strong>da</strong>s, encontram-se aquelas de<br />

Alice Botelho e Leila Fletcher (OLIVEIRA; SANTOS; HENTSCHKE,<br />

2009, p. 79, grifo meu).<br />

Esta pesquisa mostra que os professores de piano entrevista<strong>do</strong>s (94%) possuem mais<br />

materiais para alunos iniciantes e têm preferência por <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s: Meu Piano é Diverti<strong>do</strong>,<br />

de Alice Botelho, e Piano Course, de Leila Fletcher.<br />

Buscan<strong>do</strong> conhecer um pouco mais sobre o material didático destas duas autoras,<br />

fizemos uma pesquisa na internet 1 , consideran<strong>do</strong> esta uma ferramenta que viabiliza o rápi<strong>do</strong><br />

acesso às informações destes produtos.<br />

O méto<strong>do</strong> de piano de Alice Botelho (Meu Piano é Diverti<strong>do</strong>) é anuncia<strong>do</strong> em um<br />

site na internet desta maneira:<br />

Iniciar o estu<strong>do</strong> com a Clave de Sol e de Fá ao mesmo tempo, torna o<br />

aprendiza<strong>do</strong> mais fácil, pois os alunos não precisam decorar as notas em<br />

outra clave depois que já as conhecem tão bem na Clave de Sol evitan<strong>do</strong><br />

assim confusão e comparações indevi<strong>da</strong>s.<br />

Neste mesmo site, encontramos também o méto<strong>do</strong> <strong>da</strong> Leila Fletcher (Piano Course),<br />

em inglês. Há também uma breve descrição deste material 2 :<br />

Peças cativantes e interessantes desde o início. Partes de dueto disponíveis<br />

em 19 peças e 3 peças de rotina que ampliam a experiência musical <strong>do</strong>s<br />

alunos e aumentam o interesse para o primeiro recital. Esta nova edição<br />

continua a oferecer a mesma abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> som, mas com<br />

dedilha<strong>do</strong>s edita<strong>do</strong>s para reduzir a dependência nos números <strong>do</strong>s dedilha<strong>do</strong>,<br />

muitas ilustrações também foram moderniza<strong>do</strong>s . (tradução minha).<br />

1 .<br />

Acesso em 20 nov. 2010.<br />

2 . Acesso em 05<br />

out. 2010.<br />

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2 OA N O S<br />

É importante salientar a preocupação <strong>da</strong> autora com a revisão nos dedilha<strong>do</strong>s, “para<br />

reduzir a dependência <strong>do</strong> aluno” aos números <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s, evitan<strong>do</strong> assim que o aluno fique<br />

preso a ver números, sem ler as notas. Isso é muito comum quan<strong>do</strong> a partitura contém muitos<br />

dedilha<strong>do</strong>s. Caso o professor não fique atento a isso, verá mais à frente que o aluno não está<br />

len<strong>do</strong> a partitura, e sim os números, o que irá deixá-lo dependente <strong>do</strong>s dedilha<strong>do</strong>s e sem<br />

prática na leitura.<br />

Sobre o que os professores mais utilizavam para alunos de nível médio/avança<strong>do</strong>, em<br />

Porto Alegre, Oliveira, Santos, e Hentschke destacam:<br />

Nos níveis intermediário e avança<strong>do</strong>, os autores mais destaca<strong>do</strong>s pelos<br />

professores foram os <strong>do</strong> repertório “erudito tradicional”, como: Bach,<br />

Czerny, Chopin, Hanon, Schumann, Cramer, Beethoven, Clementi e<br />

Burgmüller, entre outros. Alguns desses méto<strong>do</strong>s (Leila Fletcher, Czerny,<br />

Hanon, por exemplo) foram identifica<strong>do</strong>s por SANTIAGO e FALCÃO<br />

(1995) como aqueles emprega<strong>do</strong>s na formação de 22 professores de piano<br />

atuantes em instituições públicas <strong>do</strong> país. (OLIVEIRA; SANTOS;<br />

HENTSCHKE, 2009, p.79).<br />

Estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s nos mostram que ain<strong>da</strong> há certa resistência (ou preferência) por méto<strong>do</strong>s<br />

tradicionais <strong>do</strong> ensino de piano.<br />

Sobre o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> leitura de partituras durante o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> piano, na introdução<br />

de sua dissertação de mestra<strong>do</strong>, Furlan (2007, p.3), lança duas perguntas:<br />

• Por que alguns alunos de música aprendem com facili<strong>da</strong>de a ler partitura<br />

enquanto outros passam a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> com dificul<strong>da</strong>des para cumprir essa<br />

tarefa ‘à primeira vista’?<br />

• A razão dessa dificul<strong>da</strong>de está na capaci<strong>da</strong>de de aprendizagem <strong>do</strong> aluno,<br />

na visão que o músico-educa<strong>do</strong>r tem acerca <strong>do</strong> processo de aprendizagem <strong>da</strong><br />

lecto-escrita musical que se traduz em seu méto<strong>do</strong> de ensino, ou em algum<br />

outro fator? (FURLAN, 2007, p.3).<br />

Ao tratar <strong>da</strong> lecto-escrita 3 musical ao piano, a autora diz que o ensino <strong>do</strong> piano é<br />

paralelo ao de partitura. Aqui, o problema está nas dificul<strong>da</strong>des existentes. Em primeiro, qual<br />

o motivo <strong>da</strong> grande divergência <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de aprendiza<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong>, onde está a razão<br />

desta dificul<strong>da</strong>de.<br />

De uma maneira geral, nos materiais didáticos existentes, a leitura de partitura é<br />

disposta num grau de dificul<strong>da</strong>de gra<strong>da</strong>tivo, o que permite ao aluno crescer na leitura à<br />

medi<strong>da</strong> que vão passan<strong>do</strong> as lições.<br />

3 Capaci<strong>da</strong>de de ler e escrever.<br />

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Objetivos<br />

Este projeto de pesquisa tem por objetivo geral fazer um levantamento <strong>do</strong>s materiais<br />

didáticos para alunos iniciantes utiliza<strong>do</strong>s por professores particulares de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />

João Pessoa.<br />

Os objetivos específicos organizam-se <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

• Verificar os critérios de escolha <strong>do</strong> material didático;<br />

• Analisar a linha meto<strong>do</strong>lógica presente em ca<strong>da</strong> méto<strong>do</strong> de piano utiliza<strong>do</strong>;<br />

• Investigar se e como o professor elabora seus próprios materiais;<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A meto<strong>do</strong>logia a ser emprega<strong>da</strong> nesta pesquisa será o survey (estu<strong>do</strong> de levantamento).<br />

Segun<strong>do</strong> Babbie (1999), surveys são muito semelhantes a censos, mas deles se diferenciam<br />

porque examinam somente uma amostra <strong>da</strong> população (enquanto o censo geralmente implica<br />

uma enumeração <strong>da</strong> população to<strong>da</strong>). Surveys são muito utiliza<strong>do</strong>s em pesquisas políticas<br />

(para avaliação <strong>da</strong> intenção de voto, por exemplo). A meto<strong>do</strong>logia survey tem importante<br />

papel nas pesquisas de opinião e levantamentos estatísticos que visam identificar<br />

determina<strong>da</strong>s situações e que, em muitos casos, atende como base de informações a outros<br />

tipos de pesquisa. Dentre as principais características <strong>da</strong> pesquisa survey destacam-se:<br />

• gerar <strong>da</strong><strong>do</strong>s precisos e confiáveis que permitam análise estatística;<br />

• medir opiniões, atitudes, preferências, comportamentos de um determina<strong>do</strong> grupo<br />

de indivíduos;<br />

• medir os segmentos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, estiman<strong>do</strong> seu potencial ou volume de negócios.<br />

O levantamento/survey se diferencia <strong>do</strong>s outros tipos de pesquisa nos seguintes<br />

aspectos:<br />

• Não visa uma mu<strong>da</strong>nça de ordem psicossocial.<br />

• A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s é feita diretamente no local onde está sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> a pesquisa.<br />

Já a pesquisa bibliográfica ou <strong>do</strong>cumental é feita através de fontes de papel.<br />

• É uma coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s indireta. É realiza<strong>do</strong> com muitas pessoas e generaliza seu<br />

resulta<strong>do</strong>. O estu<strong>do</strong> de caso não inclui muitas pessoas.<br />

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• É uma abor<strong>da</strong>gem quantitativa, diferencian<strong>do</strong>-se, assim, <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso, que é<br />

qualitativa.<br />

O survey utiliza<strong>do</strong> será <strong>do</strong> tipo interseccional, ten<strong>do</strong> em vista que, “em um único<br />

momento, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram colhi<strong>do</strong>s <strong>da</strong> amostra seleciona<strong>da</strong>” (OLIVEIRA, 2009, p. 33).<br />

A indicação <strong>do</strong>s professores será feita através <strong>da</strong> amostra “bola de neve”, onde ca<strong>da</strong><br />

professor irá indicar outro até atingirmos o número de 15 participantes.<br />

Estes responderão um questionário auto administra<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong> no modelo de Oliveira<br />

(2009, p. 125), com algumas alterações que visam satisfazer os nossos objetivos. As questões<br />

tratarão sobre:<br />

• Formação profissional;<br />

• Perfil <strong>do</strong>s alunos;<br />

• Tipo de aula (individual ou coletiva);<br />

• Escolha <strong>do</strong>s materiais didáticos para os alunos iniciantes de piano;<br />

• Forma e frequência com que o professor adquire novos materiais;<br />

• Conteú<strong>do</strong>s contempla<strong>do</strong>s;<br />

• Abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica presente no material didático e nas aulas;<br />

• Como é utiliza<strong>do</strong> o material nas aulas (planos de aula);<br />

O questionário será entregue pessoalmente a ca<strong>da</strong> participante. Apesar <strong>da</strong><br />

possibili<strong>da</strong>de de envio pelo correio, optamos por entregar pessoalmente, pois, ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong><br />

ele, “no geral, a visita <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, na entrega <strong>do</strong> questionário, ou na coleta, ou ambos,<br />

parece produzir uma taxa maior de questionários respondi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> se usa apenas o<br />

correio”. (BABBIE, 1999, p. 248).<br />

A preferência por este tipo de questionário se explica por seu alcance e por sua<br />

facili<strong>da</strong>de, pois, segun<strong>do</strong> Oliveira (2009, p. 33) “alcança um número maior de pessoas”.<br />

Num <strong>da</strong><strong>do</strong> momento, chama<strong>do</strong> “pré-teste”, o questionário será experimenta<strong>do</strong> com<br />

professores que não participarão <strong>da</strong> pesquisa, para sabermos como ele irá funcionar e, com os<br />

resulta<strong>do</strong>s deste pré-teste, faremos os devi<strong>do</strong>s ajustes para que o questionário seja aplica<strong>do</strong>..<br />

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Conclusão<br />

Com esta pesquisa almejamos conhecer o material didático utiliza<strong>do</strong> pelos alguns<br />

professores de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa. Acreditamos que a pesquisa <strong>do</strong> tipo survey<br />

possa ampliar o conhecimento <strong>do</strong> perfil deste profissional trazen<strong>do</strong> à luz informações<br />

importantes que poderão ser úteis na formação e práticas de professores, futuros e/ou<br />

contemporâneos e abrin<strong>do</strong> caminho para outras pesquisas<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BABBIE, Earl. Méto<strong>do</strong>s de pesquisas de survey. Tradução de Guilherme Cezarino. Belo<br />

Horizonte: Editora UFMG, 1999.<br />

BOTELHO, Alice. Meu piano é diverti<strong>do</strong>. Ricordi. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 24 nov. 2010.<br />

CASA Vitale. 1939. Site cria<strong>do</strong> em 2007. Vende instrumentos musicais e diversos outros<br />

produtos <strong>do</strong> gênero. Disponível em: . Acesso em: 23 nov.<br />

2010.<br />

FLETCHER, Leila. Piano Course. Cana<strong>da</strong>: Mayfair Montgomery Publishing. 2002.<br />

FREE note. 1990. Vende instrumentos musicais e diversos outros produtos <strong>do</strong> gênero.<br />

Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2010.<br />

FURLAN, Lenita Portilho. Aprendizagem <strong>da</strong> lecto-escrita musical ao piano: um diálogo com<br />

a psicogênese <strong>da</strong> língua escrita. 2007. 142 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música - Programa de<br />

Pós-Graduação em Música) - Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, São Paulo,<br />

2007.<br />

MUSICALLE instrumentos. 2010. Vende instrumentos musicais e diversos outros produtos<br />

<strong>do</strong> gênero. Disponível em: . Acesso em: 23 nov.<br />

2010.<br />

OLIVEIRA, Karla Dias de. Professores de piano: um estu<strong>do</strong> sobre o perfil de formação e<br />

atuação em Porto Alegre/RS. 2007. 141f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música – Programa de<br />

Pós-Graduação em Música) – Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Porto Alegre, 2007.<br />

OLIVEIRA, Karla Dias de; SANTOS, Regina Antunes Teixeira <strong>do</strong>s; HENTSCHKE, Liane,<br />

Um perfil de formação e de atuação de professores de piano. Per Musi, Belo Horizonte, n.20,<br />

p.74-82. 2009.<br />

SANTIAGO, Diana; FALCÃO, Lília Maria Gomes. Perfil <strong>do</strong> professor de piano nas<br />

instituições de ensino superior <strong>do</strong> Brasil. In.: ENCONTRO ANUAL DA ANPPOM, 8., 1995,<br />

João Pessoa. <strong>Anais</strong>... Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 22 nov. 2010.<br />

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Perfil <strong>do</strong>s alunos de licenciatura em música: trabalho e religião na<br />

formação de futuros <strong>do</strong>centes<br />

Priscila Daniele <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

Bolsista PIBIC/CNPq/UFPE<br />

irprisca@hotmail.com<br />

Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco - UFPE<br />

cmgabr@yahoo.com.br<br />

Resumo: Com o objetivo de traçar o perfil <strong>do</strong>s alunos de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE,<br />

iniciamos uma pesquisa que tem como objetivos específicos identificar quais são as<br />

diferenças mais significativas entre os licencian<strong>do</strong>s; identificar as motivações que determinam<br />

a escolha <strong>do</strong> curso no vestibular e analisar se houve alteração nessa motivação após a<br />

aprovação <strong>da</strong> lei nº 11.769. O projeto ain<strong>da</strong> está em desenvolvimento, por isso traremos aqui a<br />

análise parcial de alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s que foram possíveis obter, a partir <strong>da</strong>s respostas ao<br />

questionário aplica<strong>do</strong> e de entrevistas realiza<strong>da</strong>s com alguns estu<strong>da</strong>ntes que se dispuseram a<br />

participar <strong>da</strong> pesquisa, enfocan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is aspectos, quais sejam: trabalho e religião. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

aqui apresenta<strong>do</strong>s indicam para uma compreensão mais detalha<strong>da</strong> dessas reali<strong>da</strong>des vigentes<br />

em nosso meio, ao mesmo tempo em que incentivam para um direcionamento, por parte <strong>da</strong><br />

própria instituição, em considerar os alunos a partir de suas individuali<strong>da</strong>des e não de<br />

generalizações equivoca<strong>da</strong>s que são, na maioria <strong>da</strong>s vezes, um <strong>do</strong>s principais causa<strong>do</strong>res de<br />

retenção, desmotivação e desistência nos diversos cursos.<br />

Palavras-chave: Formação inicial, trabalho, religião.<br />

Introdução<br />

O presente artigo é resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> em 2009, no Departamento de<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco, com o objetivo de traçar o perfil <strong>do</strong>s alunos<br />

de Licenciatura em Música, além de se configurar como o campo de iniciação científica de<br />

um grupo de alunos de licenciatura dessa mesma universi<strong>da</strong>de. Os objetivos específicos <strong>do</strong><br />

projeto são: identificar quais são as diferenças mais significativas entre os licencian<strong>do</strong>s;<br />

identificar as motivações que determinam a escolha <strong>do</strong> curso no vestibular e analisar se houve<br />

alteração nessa motivação após a aprovação <strong>da</strong> lei nº 11.769.<br />

O projeto ain<strong>da</strong> está em desenvolvimento, por isso traremos aqui a análise parcial de<br />

alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s que foram possíveis obter, a partir <strong>da</strong>s respostas ao questionário aplica<strong>do</strong> e de<br />

entrevistas realiza<strong>da</strong>s com alguns estu<strong>da</strong>ntes que se dispuseram a participar <strong>da</strong> pesquisa,<br />

enfocan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is aspectos, quais sejam: trabalho e religião.<br />

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Referencial Teórico-meto<strong>do</strong>lógico<br />

O projeto se enquadra no paradigma de pesquisa qualitativo, embora tenham si<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos, na fase inicial <strong>da</strong> pesquisa. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos foram<br />

coleta<strong>do</strong>s por meio de um questionário aplica<strong>do</strong> aos alunos matricula<strong>do</strong>s no curso no ano de<br />

2010, que incluía questões sobre ano de ingresso, <strong>da</strong><strong>do</strong>s pessoais e profissionais, entre outros.<br />

A partir <strong>da</strong>s categorias já propostas no questionário, foram seleciona<strong>do</strong>s alguns estu<strong>da</strong>ntes<br />

para a realização de entrevistas, aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, assim, as informações socializa<strong>da</strong>s<br />

inicialmente.<br />

Para compreendermos a diversi<strong>da</strong>de evidente no perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso de<br />

Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE, recorremos ao conceito de ecologia de saberes,<br />

apresenta<strong>do</strong> por Santos (2004), quan<strong>do</strong> discute sobre a sociologia <strong>da</strong>s ausências. Em um<br />

contexto em que a diversi<strong>da</strong>de é uma característica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea, onde as<br />

experiências estão qualifica<strong>da</strong>s não somente numa área específica, mas também em diversas<br />

outras, é espera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s futuros profissionais que busquem mais conhecimentos. Para o autor,<br />

no entanto, as instituições formativas priorizam alguns conhecimentos, naturalizan<strong>do</strong>-os no<br />

espaço acadêmico.<br />

Dentre os principais aspectos analisa<strong>do</strong>s nesta pesquisa, destacaremos alguns pontos<br />

que poderão caracterizar o grupo, como i<strong>da</strong>de, gênero, religião, formação anterior, entre<br />

outros. Além disso, procuramos compreender os motivos que levam uma pessoa a se<br />

matricular no curso de Licenciatura, sem querer ser professor. Identifica<strong>da</strong>s essas motivações,<br />

faremos uma análise comparativa com as motivações <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que ingressaram no curso<br />

depois <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> Lei 11.769.<br />

Durante as entrevistas feitas com alguns alunos que se dispuseram a colaborar com a<br />

pesquisa detectamos, entre as motivações, a busca pela especialização em um curso superior<br />

na área de música, um pouco menos exigente no exame seletivo <strong>do</strong> que o bacharela<strong>do</strong>.<br />

Alguns, por não haverem si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong>s no bacharela<strong>do</strong>, optaram pela licenciatura. Outros<br />

demonstraram, ain<strong>da</strong>, o intuito de continuar matricula<strong>do</strong> na licenciatura enquanto cursavam<br />

disciplinas referentes ao bacharela<strong>do</strong>.<br />

Outro aspecto observa<strong>do</strong> foi a demora significativa de alguns alunos que ain<strong>da</strong> não<br />

concluíram o curso, postergan<strong>do</strong> as disciplinas que lhe aparecem como obrigatórias. Olhamos<br />

com mais atenção este aspecto, principalmente após a oficialização <strong>da</strong> Resolução 09/2009 <strong>da</strong><br />

UFPE, que restringe de maneira incisiva o tempo <strong>do</strong>s alunos em um perío<strong>do</strong> máximo para a<br />

conclusão <strong>do</strong> curso (ver COSTA et al., 2010).<br />

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Com as informações socializa<strong>da</strong>s nas entrevistas, foi possível enumerar alguns<br />

pontos que possivelmente aju<strong>da</strong>rão a entender os motivos que levam alguém a demorar tanto<br />

tempo em um curso. Os entrevista<strong>do</strong>s elencaram seus motivos particulares, suas necessi<strong>da</strong>des<br />

mais vitais e o desejo de conclusão, apesar <strong>da</strong> estendi<strong>da</strong> permanência na Universi<strong>da</strong>de.<br />

Embora houvesse particulari<strong>da</strong>des, foi possível perceber aspectos semelhantes, especialmente<br />

no que se refere às ativi<strong>da</strong>des profissionais, desistência de algumas disciplinas, trancamento e<br />

incompatibili<strong>da</strong>de de horários, que agrupamos na categoria trabalho.<br />

Relações entre trabalho e educação<br />

A relação entre permanência no curso e trabalho foi evidencia<strong>do</strong> como ponto<br />

recorrente em to<strong>do</strong>s as entrevistas. Segun<strong>do</strong> Morato (2009, f. 17), “começar a trabalhar ce<strong>do</strong> e<br />

sem se formar – poden<strong>do</strong>, portanto, trabalhar enquanto se gradua em música – é um fenômeno<br />

que tem caracteriza<strong>do</strong> a profissão em música na contemporanei<strong>da</strong>de”. Ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> a<br />

autora, não se pode desconsiderar esse fato na sua formação superior.<br />

O tema trabalho e a sua conciliação com a educação vem sen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong> em<br />

diferentes perspectivas, por alguns autores, dentre eles Saviani (2007). Para esse autor, em<br />

uma perspectiva ontológica, o ser <strong>do</strong> homem é profun<strong>da</strong>mente atrela<strong>do</strong> ao ser <strong>do</strong> trabalho,<br />

sen<strong>do</strong> o trabalho e a educação, ativi<strong>da</strong>des exclusivas <strong>do</strong> ser humano. Historicamente, o<br />

fenômeno <strong>da</strong> separação entre trabalho e educação ocorre com a “apropriação priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> terra,<br />

provocan<strong>do</strong> a ruptura <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de vigente nas comuni<strong>da</strong>des primitivas” (SAVIANI, 2007, p.<br />

155).<br />

Essa reflexão entre trabalho e educação não é algo recente. É possível identificá-la<br />

em Aristóteles, que considerava “como próprio <strong>do</strong> homem o pensar, contemplar, [e reputava]<br />

o ato produtivo, o trabalho, como uma ativi<strong>da</strong>de não digna de homens livres” (SAVIANI,<br />

2007, p. 153).<br />

No percurso histórico, a divisão em classes sociais vai se refletir também na<br />

educação. Para esse autor,<br />

Essa origem separatista ain<strong>da</strong> conduz significativamente a forma de pensar e<br />

o processo natural <strong>do</strong> que conhecemos como educação institucionaliza<strong>da</strong><br />

versus trabalho. A educação <strong>do</strong>s membros <strong>da</strong> classe que dispõe de ócio, de<br />

lazer, de tempo livre passa a organizar-se na forma escolar, contrapon<strong>do</strong>-se a<br />

educação <strong>da</strong> maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho.<br />

(SAVIANI, 2007, p.156).<br />

A partir <strong>da</strong>í, a educação poderia assumir duas vertentes. Aquela que caminhava<br />

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paralelamente ao trabalho e a que se destinava à educação intelectual, que prevaleceu e<br />

mantém essa posição até os dias de hoje.<br />

Visto a partir <strong>do</strong> contexto <strong>da</strong> educação intelectual, o trabalho aparece como uma<br />

interferência negativa na formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s, pois “atrasa” o seu percurso acadêmico.<br />

No entanto, consideramos que as exigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho agem diretamente na<br />

formação destes profissionais que necessitam trabalhar enquanto cursam a graduação,<br />

direcionan<strong>do</strong>-os nas escolhas <strong>da</strong>s disciplinas e ativi<strong>da</strong>des acadêmicas. Dessa forma, é<br />

requeri<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio não apenas teórico, mas, sobretu<strong>do</strong> a evidente compreensão de como o<br />

saber se articula com o processo produtivo. Nesse senti<strong>do</strong>, temos de maneira explícita a<br />

necessi<strong>da</strong>de de criarmos meios eficazes para uma junção efetiva dessas duas correntes:<br />

trabalho e educação.<br />

A religião e a sua influência sobre a escolha <strong>do</strong> curso<br />

Outro aspecto a ser analisa<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no questionário entregue aos<br />

alunos de Licenciatura em Música, diz respeito à religião. Dos 178 alunos que responderam<br />

ao questionário, 115 se identificaram como membros de uma religião, sen<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s cristãs, o<br />

que se configura como um <strong>da</strong><strong>do</strong> significativo.<br />

Embora encontremos autores como Mateiro (2007) que, em estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> na<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina com os alunos de licenciatura em música, não<br />

identificou a religião como influência tão determinante (apenas <strong>do</strong>is sujeitos, representan<strong>do</strong><br />

4% <strong>da</strong> amostra <strong>da</strong> pesquisa) sobre a formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s, a religião tem si<strong>do</strong> aponta<strong>da</strong><br />

como um <strong>do</strong>s fatores determinantes na formação musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de música (ver<br />

CERESER, 2003).<br />

Na presente pesquisa foi possível tecer um paralelo significativo entre a influência<br />

religiosa e a formação <strong>do</strong> grupo estu<strong>da</strong><strong>do</strong>. Pudemos inferir que à medi<strong>da</strong> que a escola básica<br />

não desempenha mais o seu papel de inicia<strong>do</strong>ra musical, os espaços de formação vão se<br />

modifican<strong>do</strong> e se amplian<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais, incluin<strong>do</strong> assim, as igrejas.<br />

A igreja ou os espaços religiosos permanecem como responsáveis pela formação<br />

anterior de muitos de nossos estu<strong>da</strong>ntes, não sen<strong>do</strong> essa situação apenas característica <strong>do</strong><br />

tempo atual. Durante o percurso histórico <strong>da</strong> música, encontramos a interação <strong>da</strong> religião com<br />

a formação musical <strong>do</strong>s alunos, haja vista a importância <strong>do</strong>s monges copistas <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média,<br />

<strong>do</strong>s conservatórios <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> barroco que recolhiam crianças, em sua maioria orfãs, e a partir<br />

<strong>da</strong> formação sistemática que recebiam nesses espaços, geralmente liga<strong>do</strong>s a uma instituição<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

religiosa, eram introduzi<strong>da</strong>s na socie<strong>da</strong>de como ver<strong>da</strong>deiros “<strong>do</strong>utores” em música por<br />

concentrarem, durante anos de estu<strong>do</strong>s, as teorias e práticas musicais.<br />

Para entender a presença significativa de cristãos professos em nossos cursos e<br />

detalhar quais as influências <strong>da</strong> religião no momento em que é necessário optar por um curso,<br />

no vestibular, realizaremos entrevistas com os estu<strong>da</strong>ntes que se identificaram como<br />

religiosos.<br />

Considerações finais<br />

Os questionamentos apresenta<strong>do</strong>s nesta comunicação sobre o perfil <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s<br />

e a formação desses futuros <strong>do</strong>centes não são restritos apenas à área de educação musical, mas<br />

são encontra<strong>do</strong>s, também, nas demais áreas de conhecimento. E, embora tenhamos nos deti<strong>do</strong><br />

apenas nos aspectos relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho e, consequentemente, no prolongamento <strong>do</strong><br />

tempo utiliza<strong>do</strong> para concluir o curso, e na religião como parte integrante <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong><br />

licencia<strong>do</strong> em música <strong>da</strong> UFPE, é importante salientar que outros pontos que caracterizam a<br />

diversi<strong>da</strong>de existente entre os alunos <strong>do</strong> curso, sejam eles questões relaciona<strong>da</strong>s ao gênero,<br />

formação anterior, atuação profissional, entre outros, serão analisa<strong>do</strong>s posteriormente.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s indicam para uma compreensão mais detalha<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

contexto <strong>do</strong> curso de licenciatura em música, ao mesmo tempo em que incentivam para um<br />

direcionamento, por parte <strong>da</strong> própria instituição, em considerar os alunos a partir de suas<br />

individuali<strong>da</strong>des e não de generalizações equivoca<strong>da</strong>s que são, na maioria <strong>da</strong>s vezes, um <strong>do</strong>s<br />

principais causa<strong>do</strong>res de retenção, desmotivação e desistência nos diversos cursos.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

CERESER, Cristina Mie Ito. A formação de professores de Música sob a ótica <strong>do</strong>s alunos de<br />

Licenciatura. 2003. 152f. Dissertação. (Mestra<strong>do</strong> em Música) - Instituto de Artes,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre.<br />

COSTA, Rebeca Juliana Farias <strong>da</strong> et al. Acesso e permanência no curso de Licenciatura em<br />

Música: subsídios para políticas de formação. In: ENCONTRO REGIONAL DA <strong>ABEM</strong>, 9.,<br />

2010, Natal. <strong>Anais</strong>... Natal: 2010, p. 1-7.<br />

MATEIRO, Teresa. Do tocar ao ensinar: o caminho <strong>da</strong> escolha. Opus, Goiânia, v. 13, n. 2,<br />

p.175-196, dez. 2007.<br />

MORATO, Cíntia Thais. Estu<strong>da</strong>r e trabalhar durante a graduação em música: construin<strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong>s sobre a formação profissional <strong>do</strong> músico e <strong>do</strong> professor de música. 2009. 307f. Tese.<br />

(Doutora<strong>do</strong> em Música) - Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Porto Alegre.<br />

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia <strong>da</strong>s ausências e uma sociologia <strong>da</strong>s<br />

emergências. In. SANTOS, Boaventura de Sousa. Conhecimento prudente para uma vi<strong>da</strong><br />

decente: ‘um discurso sobre as ciências’ revisita<strong>do</strong>. São Paulo: Cortez, 2004. p. 777-821<br />

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e Educação: fun<strong>da</strong>mentos ontológicos e históricos. Rev.<br />

Brasileira de Educação, Caxambu-MG, jan/2007.<br />

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Quem canta, seus males espanta: o canto coral no Programa Mais<br />

Educação em escolas municipais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa<br />

Alan de Araújo de Brito<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

alanaraujosax@hotmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho consiste na apresentação de um projeto de pesquisa que procura<br />

investigar como se dá o ensino <strong>do</strong> canto coral no Programa Mais Educação na ci<strong>da</strong>de de João<br />

Pessoa. São abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, inicialmente, através de fontes <strong>do</strong>cumentais oficiais, as<br />

especifici<strong>da</strong>des e delimitações <strong>do</strong> Programa, que tem como principal objetivo induzir a<br />

expansão <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva <strong>da</strong> Educação Integral. Mostramos que nas 82<br />

escolas assisti<strong>da</strong>s pelo Programa em João Pessoa, as ativi<strong>da</strong>des estão a cargo de monitores<br />

voluntários que nem sempre possuem experiência <strong>do</strong>cente, permitin<strong>do</strong> práticas muito<br />

diferencia<strong>da</strong>s. Expomos que o canto coral constitui uma relevante manifestação educativomusical<br />

e uma significativa ferramenta de ação social poden<strong>do</strong> contribuir expressivamente<br />

com o desenvolvimento musical <strong>do</strong> aluno. Discutimos se a implantação <strong>do</strong> Programa está<br />

coerente com a perspectiva <strong>da</strong> educação integral, concluin<strong>do</strong> que a proposta <strong>do</strong> Mais<br />

Educação é váli<strong>da</strong>, condicionalmente, poden<strong>do</strong> contribuir para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> presença <strong>da</strong><br />

música nas escolas.<br />

Palavras-chave: Programa Mais Educação, Canto Coral, Educação Integral.<br />

Introdução<br />

O Programa Mais Educação (ME) é uma ação <strong>do</strong> Plano de Desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Educação (PDE), como uma estratégia <strong>do</strong> Governo Federal para induzir a expansão <strong>da</strong><br />

jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva <strong>da</strong> Educação Integral. O objetivo <strong>do</strong> Programa é contribuir para<br />

a melhoria <strong>da</strong> aprendizagem por meio <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> permanência de crianças, a<strong>do</strong>lescentes<br />

e jovens matricula<strong>do</strong>s em escola básica, visan<strong>do</strong> contribuir tanto para a diminuição <strong>da</strong>s<br />

desigual<strong>da</strong>des educacionais, quanto para a valorização <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural brasileira<br />

(BRASIL, 2010a).<br />

Instituí<strong>do</strong> pela Portaria Interministerial n° 17/2007 e pelo Decreto n° 7.083, de 27 de<br />

janeiro de 2010, o Programa busca fomentar o diálogo entre os conteú<strong>do</strong>s escolares e os<br />

saberes locais, procuran<strong>do</strong> superar o processo de escolarização centra<strong>do</strong> na figura <strong>da</strong> escola,<br />

não a entenden<strong>do</strong> como único espaço de aprendizagem, mas integran<strong>do</strong> nesse processo de<br />

educação à família e à comuni<strong>da</strong>de, objetivan<strong>do</strong> construir uma educação que pressupõe a<br />

aprendizagem atrela<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong> e ao universo de interesses e de possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos<br />

(BRASIL, 2010b).<br />

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2 OA N O S<br />

Fazem parte dessa ação o Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC), o Ministério <strong>do</strong><br />

Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, o<br />

Ministério <strong>do</strong> Esporte, o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, o Ministério <strong>da</strong> Cultura, o Ministério<br />

<strong>da</strong> Defesa, a Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>da</strong> União (BRASIL, 2010a).<br />

A Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que instituiu o Plano Nacional de Educação<br />

(PNE), retoma e aquilata a Educação Integral como possibili<strong>da</strong>de de formação integral <strong>do</strong><br />

aluno, que pressupõe uma relação de aprendizagem para a vi<strong>da</strong>, uma aprendizagem<br />

significativa e ci<strong>da</strong>dã. O PNE apresenta como meta a ampliação progressiva <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong><br />

escolar para um perío<strong>do</strong> de, pelo menos, 7 horas diárias, além de promover a participação <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des na gestão <strong>da</strong>s escolas, incentivan<strong>do</strong> a instituição de Conselhos Escolares<br />

(BRASIL, 2001)<br />

Na perspectiva <strong>da</strong> ampliação de tempos e espaços, o ME oferece ativi<strong>da</strong>des educativas<br />

dividi<strong>da</strong>s em macrocampos com suas respectivas ativi<strong>da</strong>des específicas. Ca<strong>da</strong> escola pode<br />

escolher três ou quatro macrocampos para, a partir destes, optar por cinco ou seis ativi<strong>da</strong>des<br />

para serem desenvolvi<strong>da</strong>s com os alunos. Os macrocampos são: Acompanhamento<br />

pe<strong>da</strong>gógico 1 ; meio ambiente; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes;<br />

cultura digital; promoção <strong>da</strong> saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo <strong>da</strong>s<br />

ciências <strong>da</strong> natureza; e educação econômica.<br />

Para a inscrição <strong>do</strong>s alunos no Programa, é recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> às escolas que estabeleçam<br />

critérios claros e transparentes para a gra<strong>da</strong>tiva ampliação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva<br />

<strong>da</strong> Educação Integral. O critério de seleção segue algumas priori<strong>da</strong>des (BRASIL, 2010a):<br />

· estu<strong>da</strong>ntes que apresentam defasagem i<strong>da</strong>de/ano;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s séries finais <strong>da</strong> 1ª fase <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental (4º e/ou 5º anos), onde existe<br />

maior saí<strong>da</strong> extemporânea de estu<strong>da</strong>ntes na transição para a 2ª fase;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s séries finais <strong>da</strong> 2ª fase <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental (8º e/ou 9º anos), onde existe<br />

um alto índice de aban<strong>do</strong>no após a conclusão;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes de anos/séries onde são detecta<strong>do</strong>s índices de evasão e/ou repetência e assim<br />

sucessivamente; e<br />

1 O macrocampo “Acompanhamento Pe<strong>da</strong>gógico” é obrigatório para to<strong>da</strong>s as escolas, deven<strong>do</strong> haver pelo menos<br />

uma ativi<strong>da</strong>de no Plano de Trabalho (BRASIL, 2010a, p.11).<br />

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· estu<strong>da</strong>ntes que desempenham papel de lideranças congrega<strong>do</strong>ras em relação aos seus<br />

colegas.<br />

Nesta pesquisa, buscaremos conhecer as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de Canto Coral, que<br />

tem como principal objetivo promover a iniciação musical através <strong>do</strong> canto e propiciar ao<br />

aluno condições para o aprimoramento de técnicas vocais, tornan<strong>do</strong>-o capaz de expressar-se<br />

com liber<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> música, além de contribuir para a formação <strong>do</strong> ouvinte (BRASIL,<br />

2010a, p. 26).<br />

Diante desse fato, nortearei minha pesquisa pelo seguinte questionamento: como se dá<br />

o ensino <strong>do</strong> canto coral no Programa Mais Educação na ci<strong>da</strong>de de João Pessoa? O<br />

município conta, atualmente, com 82 escolas assisti<strong>da</strong>s pelo Programa com várias ativi<strong>da</strong>des<br />

que são ministra<strong>da</strong>s por educa<strong>do</strong>res de perfis diversos: uns são gradua<strong>do</strong>s ou graduan<strong>do</strong>s na<br />

área, outros possuem conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s informalmente, e ain<strong>da</strong> há os que trabalham<br />

sem nenhuma experiência anterior na área. Portanto, buscaremos conhecer esse espaço que<br />

consideramos ser rico para o desenvolvimento <strong>do</strong> aluno e através <strong>do</strong> qual a música se faz<br />

presente na escola.<br />

A pesquisa será realiza<strong>da</strong> em duas escolas <strong>do</strong> município de João Pessoa onde se insere<br />

o ME e, especificamente, a ativi<strong>da</strong>de Canto Coral. Como critério de escolha <strong>da</strong>s escolas,<br />

selecionarei <strong>do</strong>is contextos diferentes: uma escola onde o monitor <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de Canto Coral<br />

tem alguma experiência acadêmica em Música; outra em que o monitor não tem formação na<br />

área, nem experiência específica com o Canto Coral.<br />

Como coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, realizarei observações durante oito aulas em sequência,<br />

durante pelo menos <strong>do</strong>is meses, ministra<strong>da</strong>s por esses <strong>do</strong>is monitores distintos em formação,<br />

ten<strong>do</strong> como objetivo verificar a participação e o envolvimento <strong>da</strong> turma, bem como a<br />

meto<strong>do</strong>logia emprega<strong>da</strong> por eles. Também farei entrevistas semi estrutura<strong>da</strong>s com <strong>do</strong>is<br />

monitores, ten<strong>do</strong> como foco a compreensão de concepções sobre a educação musical e o canto<br />

coral, a formação e a experiência <strong>do</strong>s monitores.<br />

O canto coral como ferramenta social<br />

O canto coral constitui uma relevante manifestação educativo-musical e uma<br />

significativa ferramenta de ação social. Essa afirmação é praticamente unânime entre os atores<br />

educativos dessa prática musical, que vêem o canto coral como um forte agente de auxílio ao<br />

crescimento pessoal e de inclusão social. Segun<strong>do</strong> Fucci Amato (2007),<br />

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O coral desvela-se assim como uma extraordinária ferramenta para<br />

estabelecer uma densa rede de configurações sócio-culturais com os elos <strong>da</strong><br />

valorização <strong>da</strong> própria individuali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> outro e <strong>do</strong><br />

respeito <strong>da</strong>s relações interpessoais, em um comprometimento de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e cooperação. To<strong>da</strong>s essas interfaces inerentes ao<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho de educação musical em corais contribuem<br />

para a inclusão e integração social. (FUCCI AMATO, 2007, p. 7)<br />

Na maior parte <strong>do</strong>s casos, o grupo coral constitui a única escola de música <strong>do</strong>s<br />

coralistas, sen<strong>do</strong> possível trabalhar com vários elementos musicais, como: técnica vocal,<br />

leitura musical, solfejo, an<strong>da</strong>mentos, intensi<strong>da</strong>des, rítmica etc. Ou seja, é um espaço onde é<br />

possível, de forma prazerosa, promover a vivência musical. Para isso, o regente ou<br />

responsável pela prática <strong>do</strong> canto coral deve estar sensível a essas possibili<strong>da</strong>des, pois,<br />

[...] para que os resulta<strong>do</strong>s almeja<strong>do</strong>s sejam alcança<strong>do</strong>s, o regente acaba<br />

desenvolven<strong>do</strong> diversos trabalhos de educação musical, informan<strong>do</strong><br />

conceitos históricos, sociais e técnicos de música e desenvolven<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des<br />

que criem um padrão de consciência musical. (FUCCI AMATO, 2007, p. 9)<br />

No ME, to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>de, incluin<strong>do</strong> o canto coral estão a cargo de monitores,<br />

também chama<strong>do</strong>s de oficineiros, que podem ser: profissionais <strong>da</strong> educação, educa<strong>do</strong>res<br />

populares, estu<strong>da</strong>ntes, agentes culturais ou ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>ntes universitários com formação<br />

específica nos macrocampos, observan<strong>do</strong>-se a Lei nº 9.608/1998, que dispõe sobre o serviço<br />

voluntário. Penna (2010), em sua pesquisa sobre o Programa Mais Educação, discute que a<br />

descentralização na implementação <strong>do</strong> programa, que deixa a seleção <strong>do</strong>s monitores nas mãos<br />

de professores comunitários 2 , nem sempre garante uma seleção adequa<strong>da</strong>, permitin<strong>do</strong>, assim,<br />

práticas muito diferencia<strong>da</strong>s.<br />

Acreditamos, portanto, que o Programa Mais Educação é relevante para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> aluno, porém, é preciso analisar se a forma como ele vem sen<strong>do</strong><br />

implanta<strong>do</strong> está coerente com a perspectiva <strong>da</strong> educação de tempo integral – objetivo maior<br />

<strong>do</strong> Programa –, pois o ME não tem atendi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os alunos (imprescindível para educação<br />

de tempo integral), e os profissionais que ministram as ativi<strong>da</strong>des, muitas vezes, não têm<br />

formação e/ou experiência <strong>do</strong>cente. No caso <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, especificamente <strong>do</strong> canto<br />

coral, é preciso observar quem, como e o quê está sen<strong>do</strong> ensina<strong>do</strong> aos educan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Programa<br />

Mais Educação.<br />

2 O professor comunitário é um educa<strong>do</strong>r designa<strong>do</strong> pela prefeitura, responsável pela operacionalização<br />

<strong>do</strong> ME na escola.<br />

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2 OA N O S<br />

Concluin<strong>do</strong>, entendemos que a proposta <strong>do</strong> ME é váli<strong>da</strong>, poden<strong>do</strong> consoli<strong>da</strong>r a<br />

presença <strong>da</strong> música nas escolas. Porém, defendemos que sua implementação, assim como a<br />

proposta <strong>da</strong> educação de tempo integral não pode ser realiza<strong>da</strong> de qualquer forma. Por isso<br />

esperamos com a pesquisa conhecermos melhor o que vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> no espaço<br />

escolar <strong>do</strong> Programa Mais Educação.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm Acesso em<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

21 abr. <strong>2011</strong>.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Fun<strong>do</strong> Nacional de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação.<br />

Manual de educação integral para obtenção de apoio financeiro através <strong>do</strong> Programa<br />

Dinheiro Direto na Escola – PDDE, no exercício de 2010. 2010a. Disponível em:<br />

www.fnde.gov.br/index.php/...manualpdde2010educacaointegral/<strong>do</strong>wnload Acesso em: 04<br />

out. 2010.<br />

_______. Decreto 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação.<br />

2010b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-<br />

2010/2010/Decreto/D7083.htm Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

BRASIL. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9608.htm Acesso em 21 abr.<br />

<strong>2011</strong>.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Gabinete <strong>do</strong> Ministro. Portaria Normativa Interministerial<br />

n° 17, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa Mais Educação... Disponível em:<br />

http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?<strong>da</strong>ta=26/04/2007&jornal=1&pagina=5&to<br />

talArquivos=88 Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

_______. Decreto 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação.<br />

2010b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-<br />

2010/2010/Decreto/D7083.htm Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

FUCCI AMATO, Rita. O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical. Opus,<br />

Goiânia, v.13, n. 1, p. 75 - 96, jun 2007. Disponível em:<br />

http://www.anppom.com.br/opus/opus13/07/07-Amato.pdf Acesso em: 02 nov. 2010<br />

GUARÁ, Isa Maria F. Rosa. Educação integral: articulação de projetos e espaços de<br />

aprendizagem. Centro de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.<br />

s/d. Disponível em: http://www.cenpec.org.br/modules/xt_conteu<strong>do</strong>/index.php?id=46 Acesso<br />

em: 04 out. 2010.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

PENNA, Maura. Educação Musical e Educação Integral: a música no Programa Mais<br />

Educação. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 19., 2010, Goiânia. <strong>Anais</strong>... Goiânia: <strong>ABEM</strong>, 2010. CD-Rom.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Videoconferência interativa: proposta <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s novas tecnologias para a<br />

educação musical e o intercambio cultural à distancia entre Brasil e<br />

Argentina<br />

Leonar<strong>do</strong> Medina<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte - UFRN<br />

palangaman@gmail.com<br />

Resumo: O seguinte trabalho tem como objetivo <strong>da</strong>r conhecimento <strong>da</strong> recente criação de um<br />

projeto parceria entre a Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte e<br />

o Programa Provincial de Orquestas Infanto-Juveniles de Men<strong>do</strong>za, <strong>da</strong> Argentina. O projeto<br />

visa aulas à distância de violoncelo, musicalização e prática orquestral à crianças desse<br />

programa. O vínculo nasce com a vin<strong>da</strong> para o Brasil para fazer estu<strong>do</strong>s de Pós-Graduação<br />

deste pesquisa<strong>do</strong>r, ex-professor e fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r desse programa. Para isso se parte <strong>do</strong> fato <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de que essas crianças têm de acessar a informação musical de quali<strong>da</strong>de, como a<br />

existente atualmente na EMUFRN. A continuação se propõe o modelo de trabalho previsto,<br />

ten<strong>do</strong> em conta a utilização <strong>do</strong>s novos recursos tecnológicos disponíveis, para lograr atingir os<br />

objetivos de vencer a barreira <strong>da</strong> distância e conseguir um intercâmbio cultural, pe<strong>da</strong>gógico e<br />

musical, vivencial e significativo, entre Brasil e Argentina.<br />

Palavras-chave: ensino de música a distância, videoconferência, violoncelo.<br />

Introdução e Justificativa:<br />

O projeto nasce <strong>da</strong>s múltiplas idéias para problemas a resolver dentro <strong>do</strong> ensino,<br />

musicalização, e sobre to<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica de instrumentos que compõem os programas de<br />

orquestras infantis em Men<strong>do</strong>za, Argentina. Faz mais de <strong>do</strong>is anos que este pesquisa<strong>do</strong>r<br />

realiza estu<strong>do</strong>s numa Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Brasil, onde se dispõe de várias oportuni<strong>da</strong>des de<br />

acesso a diferentes possibili<strong>da</strong>des de informação musical, ao re<strong>do</strong>r <strong>da</strong> música erudita, popular,<br />

orquestral, de câmera e pe<strong>da</strong>gogia musical. Ca<strong>da</strong> vez que então ele retorna na Argentina para<br />

realizar cursos e contra prestações <strong>da</strong> bolsa de estu<strong>do</strong>s, tem <strong>da</strong><strong>do</strong> conta de que existe pouco<br />

tempo para levar boa parte dessa informação em forma vivencial e significante aos alunos.<br />

Isto cria uma lacuna comunicacional, que cultural e pe<strong>da</strong>gogicamente é imper<strong>do</strong>ável neste<br />

novo século, “a Era <strong>da</strong>s Comunicações”.<br />

Para solucionar esta problemática, surgiu a idéia junto como os coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Programa em Men<strong>do</strong>za, de começar um projeto de pesquisa e ensino para aplicar a<br />

denomina<strong>da</strong> educação à distancia, através de, principalmente, aulas por vídeo conferência,<br />

acompanha<strong>da</strong>s de seguimento e material de apoio. Chamamos de "videoconferência", ao<br />

sistema que nos permite levar a cabo o encontro de várias pessoas situa<strong>da</strong>s em lugares<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

distantes, e estabelecer uma conversação como o fariam se to<strong>da</strong>s se encontrassem reuni<strong>da</strong>s<br />

numa sala juntas, comunican<strong>do</strong>-se nos <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s mediante o uso de sinais de áudio e<br />

vídeo. Isto cria um novo paradigma <strong>do</strong> relacionamento entre professor e aluno.<br />

Educação a distância é a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de educação que envolve ensino, mas,<br />

para favorecer a aprendizagem, prescinde a relação professor – aluno no<br />

ambiente tradicional <strong>da</strong> aula. Ela tem como característica básica a<br />

comunicação entre professor e aluno realizan<strong>do</strong>-se a través de outros meios.<br />

(SOUZA, 2004, p. 4)<br />

A videoconferência oferece hoje em dia uma solução accessível a esse problema de<br />

lacuna de comunicação, com sistemas que permitem o transmitir e receber informação visual<br />

e sonora entre pontos ou zonas diferentes evitan<strong>do</strong>, assim, os gastos e a per<strong>da</strong> de tempo que<br />

implicam o trasla<strong>do</strong> físico <strong>da</strong>s pessoas. Graças ao desenvolvimento <strong>da</strong> tecnologia, este<br />

recurso, antes impensa<strong>do</strong> para nossa reali<strong>da</strong>de educacional, devi<strong>do</strong> a seus eleva<strong>do</strong>s preços e<br />

pouca quali<strong>da</strong>de, agora é uma reali<strong>da</strong>de tangível e com tu<strong>do</strong> a custos ca<strong>da</strong> vez mais baixos e<br />

com sinais de melhor quali<strong>da</strong>de. Isto é porque antigamente tínhamos que dispor de aparatos<br />

de fabricação especial, e contratar serviços de satélite a preços exorbitantes por minuto, e em<br />

cambio agora é utiliza<strong>da</strong> a Internet e equipamentos muito mais accessíveis, como webcams e<br />

notebooks. Quem não experimentou já, o pelo menos ouviu falar de programas como<br />

“Messenger” o “Skype”? Eles dispõem de serviço de vídeo conferência, são de livre aceso e<br />

fácil utilização. Este novo século traz consigo uma carga muito importante de acesso a novas<br />

informações e ferramentas a traves <strong>da</strong>s diversas tecnologias, que podem ser facilmente<br />

aplicáveis para melhorar o nível de intercâmbio cultural e educacional. É necessário começar<br />

a utilizá-las e iniciar um processo vanguardista de “modernização educativa”, neste caso<br />

através <strong>da</strong> música.<br />

[...] é notável o auge alcança<strong>do</strong> pela educação a distância e a auto-formação.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a utili<strong>da</strong>de que a internet apresenta é enorme. A interativi<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s conhecimentos, a comunicação em tempo real entre usuários de diversos<br />

países ou culturas, a possibili<strong>da</strong>de de se contatar diretamente com os<br />

professores e tutores, etc., fazem <strong>do</strong> ensino através <strong>da</strong> Rede, suponha talvez<br />

um <strong>do</strong>s maiores aportes técnicos à difusão <strong>da</strong> cultura. Como <strong>do</strong>centes e<br />

pesquisa<strong>do</strong>res, entendemos que este é um novo campo aberto à<br />

experimentação e à análise que não podemos depreciar. (GÓMEZ;<br />

HEREDIA, 2000, p.2)<br />

Objetivos:<br />

Podemos mencionar três objetivos concretos:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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1) Conseguir desenvolver um curso completo de ensino a distância de violoncelo,<br />

escalas, teoria musical e leitura, com interesse para o resto <strong>do</strong>s instrumentos <strong>da</strong> orquestra,<br />

com a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino a distancia, incluin<strong>do</strong> duas avaliações e certifica<strong>do</strong> final com<br />

carga horária de 72 horas cátedra.<br />

2) Obter um intercâmbio cultural, pe<strong>da</strong>gógico e musical, que resulte vivencial e<br />

significativo entre Brasil (a través <strong>da</strong> UFRN) e Argentina, representa<strong>da</strong> pelos já menciona<strong>do</strong>s<br />

Programas de orquestras de Men<strong>do</strong>za.<br />

3) Iniciar o processo vanguardista de “modernização educativa”, através <strong>da</strong> utilização<br />

<strong>da</strong> videoconferência, a internet e as novas tecnologias, para o melhoramento <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

música mediante experiências de acesso igualitário.<br />

Proposta de trabalho:<br />

Para conseguir o objetivo de <strong>da</strong>r acesso a uma informação de quali<strong>da</strong>de e de valor, se<br />

propõe a realização de um curso completo a distância, de oito (8) aulas, contan<strong>do</strong> com duas<br />

(2) avaliações, um recital e entrega de certifica<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>. Se bem, algumas etapas técnicas<br />

<strong>do</strong> processo são complexas, a tabela 1 indica o material necessário para efetuar uma<br />

videoconferência entre as duas partes menciona<strong>da</strong>s, é dizer por um la<strong>do</strong> que a UFRN já<br />

dispõe <strong>da</strong> sua sala de videoconferências; e pelo outro, os salões de aulas na província de<br />

Men<strong>do</strong>za que apropria<strong>da</strong>mente sejam escolhi<strong>do</strong>s para adequar e efetuar a colocação <strong>do</strong><br />

sistema portátil de videoconferência:<br />

Tabela 1: Comparação <strong>da</strong> configuração e equipamento necessário <strong>do</strong>s<br />

sistemas de videoconferência a ser utiliza<strong>do</strong>s.<br />

Configuração<br />

<strong>do</strong> Sistema de<br />

Vídeo<br />

Conferência<br />

Esquema<br />

físico<br />

Dispositivo de<br />

visualização<br />

típico<br />

Câmeras<br />

Quanti<strong>da</strong>de<br />

de<br />

participantes<br />

Microfones/<br />

Alto-falantes<br />

Habitação<br />

prepara<strong>da</strong><br />

(como a<br />

disponível na<br />

UFRN)<br />

Grande sala<br />

de<br />

conferência<br />

com conexão<br />

a internet.<br />

Projetores ou<br />

grandes<br />

monitores de<br />

TV.<br />

Geralmente<br />

mais de<br />

uma câmera<br />

Grande<br />

quanti<strong>da</strong>de de<br />

pessoas<br />

Muitos<br />

microfones e<br />

vários altofalantes<br />

Sistema<br />

Portável<br />

(como o que<br />

se pensa<br />

Qualquer sala<br />

de aulas<br />

disponível,<br />

que tenha<br />

Uma TV<br />

grande (com<br />

entra<strong>da</strong> de<br />

monitor o<br />

Uma única<br />

câmera<br />

Pequeno<br />

grupo de<br />

pessoas<br />

Geralmente só<br />

um microfone<br />

e um altofalante.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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organizar em<br />

Men<strong>do</strong>za)<br />

conexão a<br />

internet.<br />

HDMI) o um<br />

projetor.<br />

Tarefas concretas e cronograma:<br />

As seguintes tarefas resultam imprescindíveis e necessárias para levar a cabo o<br />

projeto:<br />

- Sincronização <strong>do</strong>s tempos e definição <strong>da</strong>s <strong>da</strong>tas e horários para as aulas de videoconferência.<br />

- Escolha <strong>do</strong>s espaços adequa<strong>do</strong>s em Men<strong>do</strong>za para realizar ca<strong>da</strong> aula ou encontro.<br />

- Acondicionamento <strong>da</strong> sala, visan<strong>do</strong> a disposição <strong>do</strong>s espaços para colocar as cadeiras,<br />

câmera, som, luzes para iluminação, tapar janelas para evitar luzes que “quebrem” a imagem,<br />

etc.<br />

- Instalação <strong>do</strong>s equipamentos necessários para a vídeo conferência: câmera, microfone, altofalantes,<br />

amplifica<strong>do</strong>r, projetor ou TV de más de 22”, conexão de internet normal 2.0, de pelo<br />

menos 512 Kbps de veloci<strong>da</strong>de.<br />

- Criação <strong>do</strong> material de apoio.<br />

- Realização de oito (8) aulas, uma pelo mês, ten<strong>do</strong> duas (2) avaliações: uma parcial, e a<br />

última final, global e recital.<br />

- Criação de uma conta de email conjunta e de um foro web page, para comunicação, despejar<br />

dúvi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s alunos, antecipar ativi<strong>da</strong>des e tarefas de aula, intercambiar material e<br />

experiências, etc.<br />

Tabela 2: Cronograma de ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> projeto<br />

Ativi<strong>da</strong>des/Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Planificação de aulas<br />

Criação de material de apoio<br />

Aula nº 1 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 2 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 3 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 4 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Avaliação Parcial<br />

Aula nº 5 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 6 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 7 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 8 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Avaliação Final – Global e Recital<br />

Considerações Finais:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto de que “acesso e senso crítico são palavras chaves para a<br />

compreensão de novos processos de ensino e aprendizagem” (GOHN, 2010, p. 18) é nossa<br />

obrigação como educa<strong>do</strong>res garantir a oportuni<strong>da</strong>de de novos e varia<strong>do</strong>s conhecimentos, a<br />

nossos alunos. Nesse projeto isso se concreta por meio <strong>da</strong> tecnologia <strong>da</strong> videoconferência e a<br />

utilização <strong>do</strong>s novos recursos comunicacionais na Internet, que são ferramentas muito<br />

utiliza<strong>da</strong>s e de fun<strong>da</strong>mental importância para as novas gerações. To<strong>do</strong>s já conhecemos que<br />

agora to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> se comunica através <strong>da</strong> internet, e que na rede existe informação de<br />

quali<strong>da</strong>de de livre acesso, mas o fato de utilizarmos isso plenamente, como educa<strong>do</strong>res, é um<br />

desafio que nos toca, e devemos tomar. Este projeto visa à possibili<strong>da</strong>de de crianças de outras<br />

reali<strong>da</strong>des interagirem com novos conhecimentos que são de imenso valor para eles pela suas<br />

necessi<strong>da</strong>des de motivação e técnico musicais. Finalmente, e ao mesmo tempo, vai permitir<br />

conhecer e intercambiar experiências com jovens de Macaíba, com outros professores, e com<br />

grupos musicais que permitirão o fato de poder conhecer mais intimamente elementos <strong>da</strong> rica<br />

cultura brasileira, de forma real e livre de preconceitos. Por outro la<strong>do</strong> a EMUFRN expandiria<br />

suas possibili<strong>da</strong>des não só a outras regiões <strong>do</strong> país, se não que se transformaria numa<br />

embaixa<strong>do</strong>ra de conhecimentos para o mun<strong>do</strong>, o que já significa um grande logro para<br />

qualquer centro educativo. Achamos que por to<strong>do</strong> isso, o projeto resultaria positivo para<br />

ambas as partes.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Referências:<br />

DEVERICH, Robin Kay. Distance Learning Strategies for Strings, 2006. Disponível em:<br />

http://www.violinonline.com/Distance_Learning_Strategies_for_Strings.pdf. Acesso em:<br />

20/03/<strong>2011</strong><br />

GOHN, Daniel Marcondes. Educação musical a distância propostas para o ensino e<br />

aprendizagem de percussão, 2010. Disponível em:<br />

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-13042010-225230/pt-br.php. Acesso<br />

em: 21/03/<strong>2011</strong><br />

GÓMEZ, Ángel Muller; HEREDIA, Leonor V. Moreno. Enseñanza Musical en Internet:<br />

Descripción de un proyecto em marcha, 2000. Disponível em:<br />

http://musica.rediris.es/leeme/revista/mulleretal00.pdf. Acesso em: 25/03/<strong>2011</strong><br />

SOUZA, Cássia Virgínia Coelho de. Educação Musical a Distancia para professores <strong>da</strong>s<br />

series iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. Revista Em Pauta, Porto Alegre, v. 15, n. 24, p. 107-<br />

142, 2004.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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Videoconferência interativa: proposta <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s novas tecnologias para a<br />

educação musical e o intercambio cultural à distancia entre Brasil e<br />

Argentina<br />

Leonar<strong>do</strong> Medina<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte - UFRN<br />

palangaman@gmail.com<br />

Resumo: O seguinte trabalho tem como objetivo <strong>da</strong>r conhecimento <strong>da</strong> recente criação de um<br />

projeto parceria entre a Escola de Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte e<br />

o Programa Provincial de Orquestas Infanto-Juveniles de Men<strong>do</strong>za, <strong>da</strong> Argentina. O projeto<br />

visa aulas à distância de violoncelo, musicalização e prática orquestral à crianças desse<br />

programa. O vínculo nasce com a vin<strong>da</strong> para o Brasil para fazer estu<strong>do</strong>s de Pós-Graduação<br />

deste pesquisa<strong>do</strong>r, ex-professor e fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r desse programa. Para isso se parte <strong>do</strong> fato <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de que essas crianças têm de acessar a informação musical de quali<strong>da</strong>de, como a<br />

existente atualmente na EMUFRN. A continuação se propõe o modelo de trabalho previsto,<br />

ten<strong>do</strong> em conta a utilização <strong>do</strong>s novos recursos tecnológicos disponíveis, para lograr atingir os<br />

objetivos de vencer a barreira <strong>da</strong> distância e conseguir um intercâmbio cultural, pe<strong>da</strong>gógico e<br />

musical, vivencial e significativo, entre Brasil e Argentina.<br />

Palavras-chave: ensino de música a distância, videoconferência, violoncelo.<br />

Introdução e Justificativa:<br />

O projeto nasce <strong>da</strong>s múltiplas idéias para problemas a resolver dentro <strong>do</strong> ensino,<br />

musicalização, e sobre to<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica de instrumentos que compõem os programas de<br />

orquestras infantis em Men<strong>do</strong>za, Argentina. Faz mais de <strong>do</strong>is anos que este pesquisa<strong>do</strong>r<br />

realiza estu<strong>do</strong>s numa Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Brasil, onde se dispõe de várias oportuni<strong>da</strong>des de<br />

acesso a diferentes possibili<strong>da</strong>des de informação musical, ao re<strong>do</strong>r <strong>da</strong> música erudita, popular,<br />

orquestral, de câmera e pe<strong>da</strong>gogia musical. Ca<strong>da</strong> vez que então ele retorna na Argentina para<br />

realizar cursos e contra prestações <strong>da</strong> bolsa de estu<strong>do</strong>s, tem <strong>da</strong><strong>do</strong> conta de que existe pouco<br />

tempo para levar boa parte dessa informação em forma vivencial e significante aos alunos.<br />

Isto cria uma lacuna comunicacional, que cultural e pe<strong>da</strong>gogicamente é imper<strong>do</strong>ável neste<br />

novo século, “a Era <strong>da</strong>s Comunicações”.<br />

Para solucionar esta problemática, surgiu a idéia junto como os coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Programa em Men<strong>do</strong>za, de começar um projeto de pesquisa e ensino para aplicar a<br />

denomina<strong>da</strong> educação à distancia, através de, principalmente, aulas por vídeo conferência,<br />

acompanha<strong>da</strong>s de seguimento e material de apoio. Chamamos de "videoconferência", ao<br />

sistema que nos permite levar a cabo o encontro de várias pessoas situa<strong>da</strong>s em lugares<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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distantes, e estabelecer uma conversação como o fariam se to<strong>da</strong>s se encontrassem reuni<strong>da</strong>s<br />

numa sala juntas, comunican<strong>do</strong>-se nos <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s mediante o uso de sinais de áudio e<br />

vídeo. Isto cria um novo paradigma <strong>do</strong> relacionamento entre professor e aluno.<br />

Educação a distância é a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de educação que envolve ensino, mas,<br />

para favorecer a aprendizagem, prescinde a relação professor – aluno no<br />

ambiente tradicional <strong>da</strong> aula. Ela tem como característica básica a<br />

comunicação entre professor e aluno realizan<strong>do</strong>-se a través de outros meios.<br />

(SOUZA, 2004, p. 4)<br />

A videoconferência oferece hoje em dia uma solução accessível a esse problema de<br />

lacuna de comunicação, com sistemas que permitem o transmitir e receber informação visual<br />

e sonora entre pontos ou zonas diferentes evitan<strong>do</strong>, assim, os gastos e a per<strong>da</strong> de tempo que<br />

implicam o trasla<strong>do</strong> físico <strong>da</strong>s pessoas. Graças ao desenvolvimento <strong>da</strong> tecnologia, este<br />

recurso, antes impensa<strong>do</strong> para nossa reali<strong>da</strong>de educacional, devi<strong>do</strong> a seus eleva<strong>do</strong>s preços e<br />

pouca quali<strong>da</strong>de, agora é uma reali<strong>da</strong>de tangível e com tu<strong>do</strong> a custos ca<strong>da</strong> vez mais baixos e<br />

com sinais de melhor quali<strong>da</strong>de. Isto é porque antigamente tínhamos que dispor de aparatos<br />

de fabricação especial, e contratar serviços de satélite a preços exorbitantes por minuto, e em<br />

cambio agora é utiliza<strong>da</strong> a Internet e equipamentos muito mais accessíveis, como webcams e<br />

notebooks. Quem não experimentou já, o pelo menos ouviu falar de programas como<br />

“Messenger” o “Skype”? Eles dispõem de serviço de vídeo conferência, são de livre aceso e<br />

fácil utilização. Este novo século traz consigo uma carga muito importante de acesso a novas<br />

informações e ferramentas a traves <strong>da</strong>s diversas tecnologias, que podem ser facilmente<br />

aplicáveis para melhorar o nível de intercâmbio cultural e educacional. É necessário começar<br />

a utilizá-las e iniciar um processo vanguardista de “modernização educativa”, neste caso<br />

através <strong>da</strong> música.<br />

[...] é notável o auge alcança<strong>do</strong> pela educação a distância e a auto-formação.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a utili<strong>da</strong>de que a internet apresenta é enorme. A interativi<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s conhecimentos, a comunicação em tempo real entre usuários de diversos<br />

países ou culturas, a possibili<strong>da</strong>de de se contatar diretamente com os<br />

professores e tutores, etc., fazem <strong>do</strong> ensino através <strong>da</strong> Rede, suponha talvez<br />

um <strong>do</strong>s maiores aportes técnicos à difusão <strong>da</strong> cultura. Como <strong>do</strong>centes e<br />

pesquisa<strong>do</strong>res, entendemos que este é um novo campo aberto à<br />

experimentação e à análise que não podemos depreciar. (GÓMEZ;<br />

HEREDIA, 2000, p.2)<br />

Objetivos:<br />

Podemos mencionar três objetivos concretos:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

1) Conseguir desenvolver um curso completo de ensino a distância de violoncelo,<br />

escalas, teoria musical e leitura, com interesse para o resto <strong>do</strong>s instrumentos <strong>da</strong> orquestra,<br />

com a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino a distancia, incluin<strong>do</strong> duas avaliações e certifica<strong>do</strong> final com<br />

carga horária de 72 horas cátedra.<br />

2) Obter um intercâmbio cultural, pe<strong>da</strong>gógico e musical, que resulte vivencial e<br />

significativo entre Brasil (a través <strong>da</strong> UFRN) e Argentina, representa<strong>da</strong> pelos já menciona<strong>do</strong>s<br />

Programas de orquestras de Men<strong>do</strong>za.<br />

3) Iniciar o processo vanguardista de “modernização educativa”, através <strong>da</strong> utilização<br />

<strong>da</strong> videoconferência, a internet e as novas tecnologias, para o melhoramento <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong><br />

música mediante experiências de acesso igualitário.<br />

Proposta de trabalho:<br />

Para conseguir o objetivo de <strong>da</strong>r acesso a uma informação de quali<strong>da</strong>de e de valor, se<br />

propõe a realização de um curso completo a distância, de oito (8) aulas, contan<strong>do</strong> com duas<br />

(2) avaliações, um recital e entrega de certifica<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>. Se bem, algumas etapas técnicas<br />

<strong>do</strong> processo são complexas, a tabela 1 indica o material necessário para efetuar uma<br />

videoconferência entre as duas partes menciona<strong>da</strong>s, é dizer por um la<strong>do</strong> que a UFRN já<br />

dispõe <strong>da</strong> sua sala de videoconferências; e pelo outro, os salões de aulas na província de<br />

Men<strong>do</strong>za que apropria<strong>da</strong>mente sejam escolhi<strong>do</strong>s para adequar e efetuar a colocação <strong>do</strong><br />

sistema portátil de videoconferência:<br />

Tabela 1: Comparação <strong>da</strong> configuração e equipamento necessário <strong>do</strong>s<br />

sistemas de videoconferência a ser utiliza<strong>do</strong>s.<br />

Configuração<br />

<strong>do</strong> Sistema de<br />

Vídeo<br />

Conferência<br />

Esquema<br />

físico<br />

Dispositivo de<br />

visualização<br />

típico<br />

Câmeras<br />

Quanti<strong>da</strong>de<br />

de<br />

participantes<br />

Microfones/<br />

Alto-falantes<br />

Habitação<br />

prepara<strong>da</strong><br />

(como a<br />

disponível na<br />

UFRN)<br />

Grande sala<br />

de<br />

conferência<br />

com conexão<br />

a internet.<br />

Projetores ou<br />

grandes<br />

monitores de<br />

TV.<br />

Geralmente<br />

mais de<br />

uma câmera<br />

Grande<br />

quanti<strong>da</strong>de de<br />

pessoas<br />

Muitos<br />

microfones e<br />

vários altofalantes<br />

Sistema<br />

Portável<br />

(como o que<br />

se pensa<br />

Qualquer sala<br />

de aulas<br />

disponível,<br />

que tenha<br />

Uma TV<br />

grande (com<br />

entra<strong>da</strong> de<br />

monitor o<br />

Uma única<br />

câmera<br />

Pequeno<br />

grupo de<br />

pessoas<br />

Geralmente só<br />

um microfone<br />

e um altofalante.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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organizar em<br />

Men<strong>do</strong>za)<br />

conexão a<br />

internet.<br />

HDMI) o um<br />

projetor.<br />

Tarefas concretas e cronograma:<br />

As seguintes tarefas resultam imprescindíveis e necessárias para levar a cabo o<br />

projeto:<br />

- Sincronização <strong>do</strong>s tempos e definição <strong>da</strong>s <strong>da</strong>tas e horários para as aulas de videoconferência.<br />

- Escolha <strong>do</strong>s espaços adequa<strong>do</strong>s em Men<strong>do</strong>za para realizar ca<strong>da</strong> aula ou encontro.<br />

- Acondicionamento <strong>da</strong> sala, visan<strong>do</strong> a disposição <strong>do</strong>s espaços para colocar as cadeiras,<br />

câmera, som, luzes para iluminação, tapar janelas para evitar luzes que “quebrem” a imagem,<br />

etc.<br />

- Instalação <strong>do</strong>s equipamentos necessários para a vídeo conferência: câmera, microfone, altofalantes,<br />

amplifica<strong>do</strong>r, projetor ou TV de más de 22”, conexão de internet normal 2.0, de pelo<br />

menos 512 Kbps de veloci<strong>da</strong>de.<br />

- Criação <strong>do</strong> material de apoio.<br />

- Realização de oito (8) aulas, uma pelo mês, ten<strong>do</strong> duas (2) avaliações: uma parcial, e a<br />

última final, global e recital.<br />

- Criação de uma conta de email conjunta e de um foro web page, para comunicação, despejar<br />

dúvi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s alunos, antecipar ativi<strong>da</strong>des e tarefas de aula, intercambiar material e<br />

experiências, etc.<br />

Tabela 2: Cronograma de ativi<strong>da</strong>des <strong>do</strong> projeto<br />

Ativi<strong>da</strong>des/Mês 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Planificação de aulas<br />

Criação de material de apoio<br />

Aula nº 1 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 2 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 3 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 4 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Avaliação Parcial<br />

Aula nº 5 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 6 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 7 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Aula nº 8 (incluin<strong>do</strong> o acondicionamento de sala)<br />

Avaliação Final – Global e Recital<br />

Considerações Finais:<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

795


2 OA N O S<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto de que “acesso e senso crítico são palavras chaves para a<br />

compreensão de novos processos de ensino e aprendizagem” (GOHN, 2010, p. 18) é nossa<br />

obrigação como educa<strong>do</strong>res garantir a oportuni<strong>da</strong>de de novos e varia<strong>do</strong>s conhecimentos, a<br />

nossos alunos. Nesse projeto isso se concreta por meio <strong>da</strong> tecnologia <strong>da</strong> videoconferência e a<br />

utilização <strong>do</strong>s novos recursos comunicacionais na Internet, que são ferramentas muito<br />

utiliza<strong>da</strong>s e de fun<strong>da</strong>mental importância para as novas gerações. To<strong>do</strong>s já conhecemos que<br />

agora to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> se comunica através <strong>da</strong> internet, e que na rede existe informação de<br />

quali<strong>da</strong>de de livre acesso, mas o fato de utilizarmos isso plenamente, como educa<strong>do</strong>res, é um<br />

desafio que nos toca, e devemos tomar. Este projeto visa à possibili<strong>da</strong>de de crianças de outras<br />

reali<strong>da</strong>des interagirem com novos conhecimentos que são de imenso valor para eles pela suas<br />

necessi<strong>da</strong>des de motivação e técnico musicais. Finalmente, e ao mesmo tempo, vai permitir<br />

conhecer e intercambiar experiências com jovens de Macaíba, com outros professores, e com<br />

grupos musicais que permitirão o fato de poder conhecer mais intimamente elementos <strong>da</strong> rica<br />

cultura brasileira, de forma real e livre de preconceitos. Por outro la<strong>do</strong> a EMUFRN expandiria<br />

suas possibili<strong>da</strong>des não só a outras regiões <strong>do</strong> país, se não que se transformaria numa<br />

embaixa<strong>do</strong>ra de conhecimentos para o mun<strong>do</strong>, o que já significa um grande logro para<br />

qualquer centro educativo. Achamos que por to<strong>do</strong> isso, o projeto resultaria positivo para<br />

ambas as partes.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

796


2 OA N O S<br />

Referências:<br />

DEVERICH, Robin Kay. Distance Learning Strategies for Strings, 2006. Disponível em:<br />

http://www.violinonline.com/Distance_Learning_Strategies_for_Strings.pdf. Acesso em:<br />

20/03/<strong>2011</strong><br />

GOHN, Daniel Marcondes. Educação musical a distância propostas para o ensino e<br />

aprendizagem de percussão, 2010. Disponível em:<br />

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-13042010-225230/pt-br.php. Acesso<br />

em: 21/03/<strong>2011</strong><br />

GÓMEZ, Ángel Muller; HEREDIA, Leonor V. Moreno. Enseñanza Musical en Internet:<br />

Descripción de un proyecto em marcha, 2000. Disponível em:<br />

http://musica.rediris.es/leeme/revista/mulleretal00.pdf. Acesso em: 25/03/<strong>2011</strong><br />

SOUZA, Cássia Virgínia Coelho de. Educação Musical a Distancia para professores <strong>da</strong>s<br />

series iniciais <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental. Revista Em Pauta, Porto Alegre, v. 15, n. 24, p. 107-<br />

142, 2004.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Quem canta, seus males espanta: o canto coral no Programa Mais<br />

Educação em escolas municipais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa<br />

Alan de Araújo de Brito<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

alanaraujosax@hotmail.com<br />

Resumo: O presente trabalho consiste na apresentação de um projeto de pesquisa que procura<br />

investigar como se dá o ensino <strong>do</strong> canto coral no Programa Mais Educação na ci<strong>da</strong>de de João<br />

Pessoa. São abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s, inicialmente, através de fontes <strong>do</strong>cumentais oficiais, as<br />

especifici<strong>da</strong>des e delimitações <strong>do</strong> Programa, que tem como principal objetivo induzir a<br />

expansão <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva <strong>da</strong> Educação Integral. Mostramos que nas 82<br />

escolas assisti<strong>da</strong>s pelo Programa em João Pessoa, as ativi<strong>da</strong>des estão a cargo de monitores<br />

voluntários que nem sempre possuem experiência <strong>do</strong>cente, permitin<strong>do</strong> práticas muito<br />

diferencia<strong>da</strong>s. Expomos que o canto coral constitui uma relevante manifestação educativomusical<br />

e uma significativa ferramenta de ação social poden<strong>do</strong> contribuir expressivamente<br />

com o desenvolvimento musical <strong>do</strong> aluno. Discutimos se a implantação <strong>do</strong> Programa está<br />

coerente com a perspectiva <strong>da</strong> educação integral, concluin<strong>do</strong> que a proposta <strong>do</strong> Mais<br />

Educação é váli<strong>da</strong>, condicionalmente, poden<strong>do</strong> contribuir para a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> presença <strong>da</strong><br />

música nas escolas.<br />

Palavras-chave: Programa Mais Educação, Canto Coral, Educação Integral.<br />

Introdução<br />

O Programa Mais Educação (ME) é uma ação <strong>do</strong> Plano de Desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Educação (PDE), como uma estratégia <strong>do</strong> Governo Federal para induzir a expansão <strong>da</strong><br />

jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva <strong>da</strong> Educação Integral. O objetivo <strong>do</strong> Programa é contribuir para<br />

a melhoria <strong>da</strong> aprendizagem por meio <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> permanência de crianças, a<strong>do</strong>lescentes<br />

e jovens matricula<strong>do</strong>s em escola básica, visan<strong>do</strong> contribuir tanto para a diminuição <strong>da</strong>s<br />

desigual<strong>da</strong>des educacionais, quanto para a valorização <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de cultural brasileira<br />

(BRASIL, 2010a).<br />

Instituí<strong>do</strong> pela Portaria Interministerial n° 17/2007 e pelo Decreto n° 7.083, de 27 de<br />

janeiro de 2010, o Programa busca fomentar o diálogo entre os conteú<strong>do</strong>s escolares e os<br />

saberes locais, procuran<strong>do</strong> superar o processo de escolarização centra<strong>do</strong> na figura <strong>da</strong> escola,<br />

não a entenden<strong>do</strong> como único espaço de aprendizagem, mas integran<strong>do</strong> nesse processo de<br />

educação à família e à comuni<strong>da</strong>de, objetivan<strong>do</strong> construir uma educação que pressupõe a<br />

aprendizagem atrela<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong> e ao universo de interesses e de possibili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s alunos<br />

(BRASIL, 2010b).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Fazem parte dessa ação o Ministério <strong>da</strong> Educação (MEC), o Ministério <strong>do</strong><br />

Desenvolvimento Social e Combate a Fome, o Ministério <strong>da</strong> Ciência e Tecnologia, o<br />

Ministério <strong>do</strong> Esporte, o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, o Ministério <strong>da</strong> Cultura, o Ministério<br />

<strong>da</strong> Defesa, a Controla<strong>do</strong>ria Geral <strong>da</strong> União (BRASIL, 2010a).<br />

A Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que instituiu o Plano Nacional de Educação<br />

(PNE), retoma e aquilata a Educação Integral como possibili<strong>da</strong>de de formação integral <strong>do</strong><br />

aluno, que pressupõe uma relação de aprendizagem para a vi<strong>da</strong>, uma aprendizagem<br />

significativa e ci<strong>da</strong>dã. O PNE apresenta como meta a ampliação progressiva <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong><br />

escolar para um perío<strong>do</strong> de, pelo menos, 7 horas diárias, além de promover a participação <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des na gestão <strong>da</strong>s escolas, incentivan<strong>do</strong> a instituição de Conselhos Escolares<br />

(BRASIL, 2001)<br />

Na perspectiva <strong>da</strong> ampliação de tempos e espaços, o ME oferece ativi<strong>da</strong>des educativas<br />

dividi<strong>da</strong>s em macrocampos com suas respectivas ativi<strong>da</strong>des específicas. Ca<strong>da</strong> escola pode<br />

escolher três ou quatro macrocampos para, a partir destes, optar por cinco ou seis ativi<strong>da</strong>des<br />

para serem desenvolvi<strong>da</strong>s com os alunos. Os macrocampos são: Acompanhamento<br />

pe<strong>da</strong>gógico 1 ; meio ambiente; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes;<br />

cultura digital; promoção <strong>da</strong> saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo <strong>da</strong>s<br />

ciências <strong>da</strong> natureza; e educação econômica.<br />

Para a inscrição <strong>do</strong>s alunos no Programa, é recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> às escolas que estabeleçam<br />

critérios claros e transparentes para a gra<strong>da</strong>tiva ampliação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> escolar na perspectiva<br />

<strong>da</strong> Educação Integral. O critério de seleção segue algumas priori<strong>da</strong>des (BRASIL, 2010a):<br />

· estu<strong>da</strong>ntes que apresentam defasagem i<strong>da</strong>de/ano;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s séries finais <strong>da</strong> 1ª fase <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental (4º e/ou 5º anos), onde existe<br />

maior saí<strong>da</strong> extemporânea de estu<strong>da</strong>ntes na transição para a 2ª fase;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s séries finais <strong>da</strong> 2ª fase <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental (8º e/ou 9º anos), onde existe<br />

um alto índice de aban<strong>do</strong>no após a conclusão;<br />

· estu<strong>da</strong>ntes de anos/séries onde são detecta<strong>do</strong>s índices de evasão e/ou repetência e assim<br />

sucessivamente; e<br />

1 O macrocampo “Acompanhamento Pe<strong>da</strong>gógico” é obrigatório para to<strong>da</strong>s as escolas, deven<strong>do</strong> haver pelo menos<br />

uma ativi<strong>da</strong>de no Plano de Trabalho (BRASIL, 2010a, p.11).<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

· estu<strong>da</strong>ntes que desempenham papel de lideranças congrega<strong>do</strong>ras em relação aos seus<br />

colegas.<br />

Nesta pesquisa, buscaremos conhecer as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de Canto Coral, que<br />

tem como principal objetivo promover a iniciação musical através <strong>do</strong> canto e propiciar ao<br />

aluno condições para o aprimoramento de técnicas vocais, tornan<strong>do</strong>-o capaz de expressar-se<br />

com liber<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> música, além de contribuir para a formação <strong>do</strong> ouvinte (BRASIL,<br />

2010a, p. 26).<br />

Diante desse fato, nortearei minha pesquisa pelo seguinte questionamento: como se dá<br />

o ensino <strong>do</strong> canto coral no Programa Mais Educação na ci<strong>da</strong>de de João Pessoa? O<br />

município conta, atualmente, com 82 escolas assisti<strong>da</strong>s pelo Programa com várias ativi<strong>da</strong>des<br />

que são ministra<strong>da</strong>s por educa<strong>do</strong>res de perfis diversos: uns são gradua<strong>do</strong>s ou graduan<strong>do</strong>s na<br />

área, outros possuem conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s informalmente, e ain<strong>da</strong> há os que trabalham<br />

sem nenhuma experiência anterior na área. Portanto, buscaremos conhecer esse espaço que<br />

consideramos ser rico para o desenvolvimento <strong>do</strong> aluno e através <strong>do</strong> qual a música se faz<br />

presente na escola.<br />

A pesquisa será realiza<strong>da</strong> em duas escolas <strong>do</strong> município de João Pessoa onde se insere<br />

o ME e, especificamente, a ativi<strong>da</strong>de Canto Coral. Como critério de escolha <strong>da</strong>s escolas,<br />

selecionarei <strong>do</strong>is contextos diferentes: uma escola onde o monitor <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de Canto Coral<br />

tem alguma experiência acadêmica em Música; outra em que o monitor não tem formação na<br />

área, nem experiência específica com o Canto Coral.<br />

Como coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s, realizarei observações durante oito aulas em sequência,<br />

durante pelo menos <strong>do</strong>is meses, ministra<strong>da</strong>s por esses <strong>do</strong>is monitores distintos em formação,<br />

ten<strong>do</strong> como objetivo verificar a participação e o envolvimento <strong>da</strong> turma, bem como a<br />

meto<strong>do</strong>logia emprega<strong>da</strong> por eles. Também farei entrevistas semi estrutura<strong>da</strong>s com <strong>do</strong>is<br />

monitores, ten<strong>do</strong> como foco a compreensão de concepções sobre a educação musical e o canto<br />

coral, a formação e a experiência <strong>do</strong>s monitores.<br />

O canto coral como ferramenta social<br />

O canto coral constitui uma relevante manifestação educativo-musical e uma<br />

significativa ferramenta de ação social. Essa afirmação é praticamente unânime entre os atores<br />

educativos dessa prática musical, que vêem o canto coral como um forte agente de auxílio ao<br />

crescimento pessoal e de inclusão social. Segun<strong>do</strong> Fucci Amato (2007),<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

O coral desvela-se assim como uma extraordinária ferramenta para<br />

estabelecer uma densa rede de configurações sócio-culturais com os elos <strong>da</strong><br />

valorização <strong>da</strong> própria individuali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de <strong>do</strong> outro e <strong>do</strong><br />

respeito <strong>da</strong>s relações interpessoais, em um comprometimento de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e cooperação. To<strong>da</strong>s essas interfaces inerentes ao<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> trabalho de educação musical em corais contribuem<br />

para a inclusão e integração social. (FUCCI AMATO, 2007, p. 7)<br />

Na maior parte <strong>do</strong>s casos, o grupo coral constitui a única escola de música <strong>do</strong>s<br />

coralistas, sen<strong>do</strong> possível trabalhar com vários elementos musicais, como: técnica vocal,<br />

leitura musical, solfejo, an<strong>da</strong>mentos, intensi<strong>da</strong>des, rítmica etc. Ou seja, é um espaço onde é<br />

possível, de forma prazerosa, promover a vivência musical. Para isso, o regente ou<br />

responsável pela prática <strong>do</strong> canto coral deve estar sensível a essas possibili<strong>da</strong>des, pois,<br />

[...] para que os resulta<strong>do</strong>s almeja<strong>do</strong>s sejam alcança<strong>do</strong>s, o regente acaba<br />

desenvolven<strong>do</strong> diversos trabalhos de educação musical, informan<strong>do</strong><br />

conceitos históricos, sociais e técnicos de música e desenvolven<strong>do</strong> ativi<strong>da</strong>des<br />

que criem um padrão de consciência musical. (FUCCI AMATO, 2007, p. 9)<br />

No ME, to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>de, incluin<strong>do</strong> o canto coral estão a cargo de monitores,<br />

também chama<strong>do</strong>s de oficineiros, que podem ser: profissionais <strong>da</strong> educação, educa<strong>do</strong>res<br />

populares, estu<strong>da</strong>ntes, agentes culturais ou ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>ntes universitários com formação<br />

específica nos macrocampos, observan<strong>do</strong>-se a Lei nº 9.608/1998, que dispõe sobre o serviço<br />

voluntário. Penna (2010), em sua pesquisa sobre o Programa Mais Educação, discute que a<br />

descentralização na implementação <strong>do</strong> programa, que deixa a seleção <strong>do</strong>s monitores nas mãos<br />

de professores comunitários 2 , nem sempre garante uma seleção adequa<strong>da</strong>, permitin<strong>do</strong>, assim,<br />

práticas muito diferencia<strong>da</strong>s.<br />

Acreditamos, portanto, que o Programa Mais Educação é relevante para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> aluno, porém, é preciso analisar se a forma como ele vem sen<strong>do</strong><br />

implanta<strong>do</strong> está coerente com a perspectiva <strong>da</strong> educação de tempo integral – objetivo maior<br />

<strong>do</strong> Programa –, pois o ME não tem atendi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os alunos (imprescindível para educação<br />

de tempo integral), e os profissionais que ministram as ativi<strong>da</strong>des, muitas vezes, não têm<br />

formação e/ou experiência <strong>do</strong>cente. No caso <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música, especificamente <strong>do</strong> canto<br />

coral, é preciso observar quem, como e o quê está sen<strong>do</strong> ensina<strong>do</strong> aos educan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Programa<br />

Mais Educação.<br />

2 O professor comunitário é um educa<strong>do</strong>r designa<strong>do</strong> pela prefeitura, responsável pela operacionalização<br />

<strong>do</strong> ME na escola.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

Concluin<strong>do</strong>, entendemos que a proposta <strong>do</strong> ME é váli<strong>da</strong>, poden<strong>do</strong> consoli<strong>da</strong>r a<br />

presença <strong>da</strong> música nas escolas. Porém, defendemos que sua implementação, assim como a<br />

proposta <strong>da</strong> educação de tempo integral não pode ser realiza<strong>da</strong> de qualquer forma. Por isso<br />

esperamos com a pesquisa conhecermos melhor o que vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> no espaço<br />

escolar <strong>do</strong> Programa Mais Educação.<br />

Referências<br />

BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm Acesso em<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

21 abr. <strong>2011</strong>.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Fun<strong>do</strong> Nacional de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação.<br />

Manual de educação integral para obtenção de apoio financeiro através <strong>do</strong> Programa<br />

Dinheiro Direto na Escola – PDDE, no exercício de 2010. 2010a. Disponível em:<br />

www.fnde.gov.br/index.php/...manualpdde2010educacaointegral/<strong>do</strong>wnload Acesso em: 04<br />

out. 2010.<br />

_______. Decreto 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação.<br />

2010b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-<br />

2010/2010/Decreto/D7083.htm Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

BRASIL. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário.<br />

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9608.htm Acesso em 21 abr.<br />

<strong>2011</strong>.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Gabinete <strong>do</strong> Ministro. Portaria Normativa Interministerial<br />

n° 17, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa Mais Educação... Disponível em:<br />

http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?<strong>da</strong>ta=26/04/2007&jornal=1&pagina=5&to<br />

talArquivos=88 Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

_______. Decreto 7.083, de 27 de janeiro de 2010. Dispõe sobre o Programa Mais Educação.<br />

2010b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-<br />

2010/2010/Decreto/D7083.htm Acesso em: 03 nov. 2010.<br />

FUCCI AMATO, Rita. O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical. Opus,<br />

Goiânia, v.13, n. 1, p. 75 - 96, jun 2007. Disponível em:<br />

http://www.anppom.com.br/opus/opus13/07/07-Amato.pdf Acesso em: 02 nov. 2010<br />

GUARÁ, Isa Maria F. Rosa. Educação integral: articulação de projetos e espaços de<br />

aprendizagem. Centro de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.<br />

s/d. Disponível em: http://www.cenpec.org.br/modules/xt_conteu<strong>do</strong>/index.php?id=46 Acesso<br />

em: 04 out. 2010.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

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2 OA N O S<br />

PENNA, Maura. Educação Musical e Educação Integral: a música no Programa Mais<br />

Educação. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 19., 2010, Goiânia. <strong>Anais</strong>... Goiânia: <strong>ABEM</strong>, 2010. CD-Rom.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

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2 OA N O S<br />

Perfil <strong>do</strong>s alunos de licenciatura em música: trabalho e religião na<br />

formação de futuros <strong>do</strong>centes<br />

Priscila Daniele <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

Bolsista PIBIC/CNPq/UFPE<br />

irprisca@hotmail.com<br />

Cristiane Maria Galdino de Almei<strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco - UFPE<br />

cmgabr@yahoo.com.br<br />

Resumo: Com o objetivo de traçar o perfil <strong>do</strong>s alunos de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE,<br />

iniciamos uma pesquisa que tem como objetivos específicos identificar quais são as<br />

diferenças mais significativas entre os licencian<strong>do</strong>s; identificar as motivações que determinam<br />

a escolha <strong>do</strong> curso no vestibular e analisar se houve alteração nessa motivação após a<br />

aprovação <strong>da</strong> lei nº 11.769. O projeto ain<strong>da</strong> está em desenvolvimento, por isso traremos aqui a<br />

análise parcial de alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s que foram possíveis obter, a partir <strong>da</strong>s respostas ao<br />

questionário aplica<strong>do</strong> e de entrevistas realiza<strong>da</strong>s com alguns estu<strong>da</strong>ntes que se dispuseram a<br />

participar <strong>da</strong> pesquisa, enfocan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is aspectos, quais sejam: trabalho e religião. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

aqui apresenta<strong>do</strong>s indicam para uma compreensão mais detalha<strong>da</strong> dessas reali<strong>da</strong>des vigentes<br />

em nosso meio, ao mesmo tempo em que incentivam para um direcionamento, por parte <strong>da</strong><br />

própria instituição, em considerar os alunos a partir de suas individuali<strong>da</strong>des e não de<br />

generalizações equivoca<strong>da</strong>s que são, na maioria <strong>da</strong>s vezes, um <strong>do</strong>s principais causa<strong>do</strong>res de<br />

retenção, desmotivação e desistência nos diversos cursos.<br />

Palavras-chave: Formação inicial, trabalho, religião.<br />

Introdução<br />

O presente artigo é resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> em 2009, no Departamento de<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco, com o objetivo de traçar o perfil <strong>do</strong>s alunos<br />

de Licenciatura em Música, além de se configurar como o campo de iniciação científica de<br />

um grupo de alunos de licenciatura dessa mesma universi<strong>da</strong>de. Os objetivos específicos <strong>do</strong><br />

projeto são: identificar quais são as diferenças mais significativas entre os licencian<strong>do</strong>s;<br />

identificar as motivações que determinam a escolha <strong>do</strong> curso no vestibular e analisar se houve<br />

alteração nessa motivação após a aprovação <strong>da</strong> lei nº 11.769.<br />

O projeto ain<strong>da</strong> está em desenvolvimento, por isso traremos aqui a análise parcial de<br />

alguns <strong>da</strong><strong>do</strong>s que foram possíveis obter, a partir <strong>da</strong>s respostas ao questionário aplica<strong>do</strong> e de<br />

entrevistas realiza<strong>da</strong>s com alguns estu<strong>da</strong>ntes que se dispuseram a participar <strong>da</strong> pesquisa,<br />

enfocan<strong>do</strong> <strong>do</strong>is aspectos, quais sejam: trabalho e religião.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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Referencial Teórico-meto<strong>do</strong>lógico<br />

O projeto se enquadra no paradigma de pesquisa qualitativo, embora tenham si<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos, na fase inicial <strong>da</strong> pesquisa. Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s quantitativos foram<br />

coleta<strong>do</strong>s por meio de um questionário aplica<strong>do</strong> aos alunos matricula<strong>do</strong>s no curso no ano de<br />

2010, que incluía questões sobre ano de ingresso, <strong>da</strong><strong>do</strong>s pessoais e profissionais, entre outros.<br />

A partir <strong>da</strong>s categorias já propostas no questionário, foram seleciona<strong>do</strong>s alguns estu<strong>da</strong>ntes<br />

para a realização de entrevistas, aprofun<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, assim, as informações socializa<strong>da</strong>s<br />

inicialmente.<br />

Para compreendermos a diversi<strong>da</strong>de evidente no perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso de<br />

Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFPE, recorremos ao conceito de ecologia de saberes,<br />

apresenta<strong>do</strong> por Santos (2004), quan<strong>do</strong> discute sobre a sociologia <strong>da</strong>s ausências. Em um<br />

contexto em que a diversi<strong>da</strong>de é uma característica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea, onde as<br />

experiências estão qualifica<strong>da</strong>s não somente numa área específica, mas também em diversas<br />

outras, é espera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s futuros profissionais que busquem mais conhecimentos. Para o autor,<br />

no entanto, as instituições formativas priorizam alguns conhecimentos, naturalizan<strong>do</strong>-os no<br />

espaço acadêmico.<br />

Dentre os principais aspectos analisa<strong>do</strong>s nesta pesquisa, destacaremos alguns pontos<br />

que poderão caracterizar o grupo, como i<strong>da</strong>de, gênero, religião, formação anterior, entre<br />

outros. Além disso, procuramos compreender os motivos que levam uma pessoa a se<br />

matricular no curso de Licenciatura, sem querer ser professor. Identifica<strong>da</strong>s essas motivações,<br />

faremos uma análise comparativa com as motivações <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes que ingressaram no curso<br />

depois <strong>da</strong> implementação <strong>da</strong> Lei 11.769.<br />

Durante as entrevistas feitas com alguns alunos que se dispuseram a colaborar com a<br />

pesquisa detectamos, entre as motivações, a busca pela especialização em um curso superior<br />

na área de música, um pouco menos exigente no exame seletivo <strong>do</strong> que o bacharela<strong>do</strong>.<br />

Alguns, por não haverem si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong>s no bacharela<strong>do</strong>, optaram pela licenciatura. Outros<br />

demonstraram, ain<strong>da</strong>, o intuito de continuar matricula<strong>do</strong> na licenciatura enquanto cursavam<br />

disciplinas referentes ao bacharela<strong>do</strong>.<br />

Outro aspecto observa<strong>do</strong> foi a demora significativa de alguns alunos que ain<strong>da</strong> não<br />

concluíram o curso, postergan<strong>do</strong> as disciplinas que lhe aparecem como obrigatórias. Olhamos<br />

com mais atenção este aspecto, principalmente após a oficialização <strong>da</strong> Resolução 09/2009 <strong>da</strong><br />

UFPE, que restringe de maneira incisiva o tempo <strong>do</strong>s alunos em um perío<strong>do</strong> máximo para a<br />

conclusão <strong>do</strong> curso (ver COSTA et al., 2010).<br />

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Com as informações socializa<strong>da</strong>s nas entrevistas, foi possível enumerar alguns<br />

pontos que possivelmente aju<strong>da</strong>rão a entender os motivos que levam alguém a demorar tanto<br />

tempo em um curso. Os entrevista<strong>do</strong>s elencaram seus motivos particulares, suas necessi<strong>da</strong>des<br />

mais vitais e o desejo de conclusão, apesar <strong>da</strong> estendi<strong>da</strong> permanência na Universi<strong>da</strong>de.<br />

Embora houvesse particulari<strong>da</strong>des, foi possível perceber aspectos semelhantes, especialmente<br />

no que se refere às ativi<strong>da</strong>des profissionais, desistência de algumas disciplinas, trancamento e<br />

incompatibili<strong>da</strong>de de horários, que agrupamos na categoria trabalho.<br />

Relações entre trabalho e educação<br />

A relação entre permanência no curso e trabalho foi evidencia<strong>do</strong> como ponto<br />

recorrente em to<strong>do</strong>s as entrevistas. Segun<strong>do</strong> Morato (2009, f. 17), “começar a trabalhar ce<strong>do</strong> e<br />

sem se formar – poden<strong>do</strong>, portanto, trabalhar enquanto se gradua em música – é um fenômeno<br />

que tem caracteriza<strong>do</strong> a profissão em música na contemporanei<strong>da</strong>de”. Ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong> a<br />

autora, não se pode desconsiderar esse fato na sua formação superior.<br />

O tema trabalho e a sua conciliação com a educação vem sen<strong>do</strong> discuti<strong>da</strong> em<br />

diferentes perspectivas, por alguns autores, dentre eles Saviani (2007). Para esse autor, em<br />

uma perspectiva ontológica, o ser <strong>do</strong> homem é profun<strong>da</strong>mente atrela<strong>do</strong> ao ser <strong>do</strong> trabalho,<br />

sen<strong>do</strong> o trabalho e a educação, ativi<strong>da</strong>des exclusivas <strong>do</strong> ser humano. Historicamente, o<br />

fenômeno <strong>da</strong> separação entre trabalho e educação ocorre com a “apropriação priva<strong>da</strong> <strong>da</strong> terra,<br />

provocan<strong>do</strong> a ruptura <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de vigente nas comuni<strong>da</strong>des primitivas” (SAVIANI, 2007, p.<br />

155).<br />

Essa reflexão entre trabalho e educação não é algo recente. É possível identificá-la<br />

em Aristóteles, que considerava “como próprio <strong>do</strong> homem o pensar, contemplar, [e reputava]<br />

o ato produtivo, o trabalho, como uma ativi<strong>da</strong>de não digna de homens livres” (SAVIANI,<br />

2007, p. 153).<br />

No percurso histórico, a divisão em classes sociais vai se refletir também na<br />

educação. Para esse autor,<br />

Essa origem separatista ain<strong>da</strong> conduz significativamente a forma de pensar e<br />

o processo natural <strong>do</strong> que conhecemos como educação institucionaliza<strong>da</strong><br />

versus trabalho. A educação <strong>do</strong>s membros <strong>da</strong> classe que dispõe de ócio, de<br />

lazer, de tempo livre passa a organizar-se na forma escolar, contrapon<strong>do</strong>-se a<br />

educação <strong>da</strong> maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho.<br />

(SAVIANI, 2007, p.156).<br />

A partir <strong>da</strong>í, a educação poderia assumir duas vertentes. Aquela que caminhava<br />

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paralelamente ao trabalho e a que se destinava à educação intelectual, que prevaleceu e<br />

mantém essa posição até os dias de hoje.<br />

Visto a partir <strong>do</strong> contexto <strong>da</strong> educação intelectual, o trabalho aparece como uma<br />

interferência negativa na formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s, pois “atrasa” o seu percurso acadêmico.<br />

No entanto, consideramos que as exigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho agem diretamente na<br />

formação destes profissionais que necessitam trabalhar enquanto cursam a graduação,<br />

direcionan<strong>do</strong>-os nas escolhas <strong>da</strong>s disciplinas e ativi<strong>da</strong>des acadêmicas. Dessa forma, é<br />

requeri<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio não apenas teórico, mas, sobretu<strong>do</strong> a evidente compreensão de como o<br />

saber se articula com o processo produtivo. Nesse senti<strong>do</strong>, temos de maneira explícita a<br />

necessi<strong>da</strong>de de criarmos meios eficazes para uma junção efetiva dessas duas correntes:<br />

trabalho e educação.<br />

A religião e a sua influência sobre a escolha <strong>do</strong> curso<br />

Outro aspecto a ser analisa<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no questionário entregue aos<br />

alunos de Licenciatura em Música, diz respeito à religião. Dos 178 alunos que responderam<br />

ao questionário, 115 se identificaram como membros de uma religião, sen<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s cristãs, o<br />

que se configura como um <strong>da</strong><strong>do</strong> significativo.<br />

Embora encontremos autores como Mateiro (2007) que, em estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> na<br />

Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Santa Catarina com os alunos de licenciatura em música, não<br />

identificou a religião como influência tão determinante (apenas <strong>do</strong>is sujeitos, representan<strong>do</strong><br />

4% <strong>da</strong> amostra <strong>da</strong> pesquisa) sobre a formação <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s, a religião tem si<strong>do</strong> aponta<strong>da</strong><br />

como um <strong>do</strong>s fatores determinantes na formação musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de música (ver<br />

CERESER, 2003).<br />

Na presente pesquisa foi possível tecer um paralelo significativo entre a influência<br />

religiosa e a formação <strong>do</strong> grupo estu<strong>da</strong><strong>do</strong>. Pudemos inferir que à medi<strong>da</strong> que a escola básica<br />

não desempenha mais o seu papel de inicia<strong>do</strong>ra musical, os espaços de formação vão se<br />

modifican<strong>do</strong> e se amplian<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais, incluin<strong>do</strong> assim, as igrejas.<br />

A igreja ou os espaços religiosos permanecem como responsáveis pela formação<br />

anterior de muitos de nossos estu<strong>da</strong>ntes, não sen<strong>do</strong> essa situação apenas característica <strong>do</strong><br />

tempo atual. Durante o percurso histórico <strong>da</strong> música, encontramos a interação <strong>da</strong> religião com<br />

a formação musical <strong>do</strong>s alunos, haja vista a importância <strong>do</strong>s monges copistas <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média,<br />

<strong>do</strong>s conservatórios <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> barroco que recolhiam crianças, em sua maioria orfãs, e a partir<br />

<strong>da</strong> formação sistemática que recebiam nesses espaços, geralmente liga<strong>do</strong>s a uma instituição<br />

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religiosa, eram introduzi<strong>da</strong>s na socie<strong>da</strong>de como ver<strong>da</strong>deiros “<strong>do</strong>utores” em música por<br />

concentrarem, durante anos de estu<strong>do</strong>s, as teorias e práticas musicais.<br />

Para entender a presença significativa de cristãos professos em nossos cursos e<br />

detalhar quais as influências <strong>da</strong> religião no momento em que é necessário optar por um curso,<br />

no vestibular, realizaremos entrevistas com os estu<strong>da</strong>ntes que se identificaram como<br />

religiosos.<br />

Considerações finais<br />

Os questionamentos apresenta<strong>do</strong>s nesta comunicação sobre o perfil <strong>do</strong>s licencian<strong>do</strong>s<br />

e a formação desses futuros <strong>do</strong>centes não são restritos apenas à área de educação musical, mas<br />

são encontra<strong>do</strong>s, também, nas demais áreas de conhecimento. E, embora tenhamos nos deti<strong>do</strong><br />

apenas nos aspectos relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho e, consequentemente, no prolongamento <strong>do</strong><br />

tempo utiliza<strong>do</strong> para concluir o curso, e na religião como parte integrante <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong><br />

licencia<strong>do</strong> em música <strong>da</strong> UFPE, é importante salientar que outros pontos que caracterizam a<br />

diversi<strong>da</strong>de existente entre os alunos <strong>do</strong> curso, sejam eles questões relaciona<strong>da</strong>s ao gênero,<br />

formação anterior, atuação profissional, entre outros, serão analisa<strong>do</strong>s posteriormente.<br />

Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s aqui apresenta<strong>do</strong>s indicam para uma compreensão mais detalha<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

contexto <strong>do</strong> curso de licenciatura em música, ao mesmo tempo em que incentivam para um<br />

direcionamento, por parte <strong>da</strong> própria instituição, em considerar os alunos a partir de suas<br />

individuali<strong>da</strong>des e não de generalizações equivoca<strong>da</strong>s que são, na maioria <strong>da</strong>s vezes, um <strong>do</strong>s<br />

principais causa<strong>do</strong>res de retenção, desmotivação e desistência nos diversos cursos.<br />

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Referências<br />

CERESER, Cristina Mie Ito. A formação de professores de Música sob a ótica <strong>do</strong>s alunos de<br />

Licenciatura. 2003. 152f. Dissertação. (Mestra<strong>do</strong> em Música) - Instituto de Artes,<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre.<br />

COSTA, Rebeca Juliana Farias <strong>da</strong> et al. Acesso e permanência no curso de Licenciatura em<br />

Música: subsídios para políticas de formação. In: ENCONTRO REGIONAL DA <strong>ABEM</strong>, 9.,<br />

2010, Natal. <strong>Anais</strong>... Natal: 2010, p. 1-7.<br />

MATEIRO, Teresa. Do tocar ao ensinar: o caminho <strong>da</strong> escolha. Opus, Goiânia, v. 13, n. 2,<br />

p.175-196, dez. 2007.<br />

MORATO, Cíntia Thais. Estu<strong>da</strong>r e trabalhar durante a graduação em música: construin<strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong>s sobre a formação profissional <strong>do</strong> músico e <strong>do</strong> professor de música. 2009. 307f. Tese.<br />

(Doutora<strong>do</strong> em Música) - Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Porto Alegre.<br />

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia <strong>da</strong>s ausências e uma sociologia <strong>da</strong>s<br />

emergências. In. SANTOS, Boaventura de Sousa. Conhecimento prudente para uma vi<strong>da</strong><br />

decente: ‘um discurso sobre as ciências’ revisita<strong>do</strong>. São Paulo: Cortez, 2004. p. 777-821<br />

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e Educação: fun<strong>da</strong>mentos ontológicos e históricos. Rev.<br />

Brasileira de Educação, Caxambu-MG, jan/2007.<br />

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O Professor de piano e o méto<strong>do</strong>: uma análise sobre os critérios utiliza<strong>do</strong>s<br />

na escolha de um méto<strong>do</strong> de piano<br />

Lindberg Luiz <strong>da</strong> Silva Leandro<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

lindbergluiz@bol.com.br<br />

Josélia Ramalho Vieira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba<br />

jramalhovieira@yahoo.com.br<br />

Resumo: Nesta pesquisa em an<strong>da</strong>mento para o trabalho de conclusão de curso (Licenciatura<br />

em Música com habilitação em piano) na Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Paraíba, investigaremos os<br />

materiais didáticos que os professores particulares de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa utilizam<br />

para seus alunos iniciantes de piano. Para isto será utiliza<strong>do</strong> um survey (estu<strong>do</strong> de<br />

levantamento) <strong>do</strong> tipo interseccional A indicação <strong>do</strong>s professores será feita através <strong>da</strong> amostra<br />

“bola de neve”. No que diz respeito ao modelo <strong>do</strong> questionário aplica<strong>do</strong>, tomamos por base o<br />

trabalho de OLIVEIRA (2009). Neste trabalho serão expostos os objetivos, meto<strong>do</strong>logia e os<br />

resulta<strong>do</strong>s pretendi<strong>do</strong>s desta pesquisa em an<strong>da</strong>mento.<br />

Palavras-chave: Méto<strong>do</strong> de piano, Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> piano, survey.<br />

Introdução<br />

O material didático para o estu<strong>do</strong> de piano não faz apenas com que o aluno apren<strong>da</strong> o<br />

instrumento, mas também com que, através dele, o aluno conheça a melhor maneira de tocar o<br />

instrumento (acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong> professor) e possa se identificar com ele através <strong>da</strong>s músicas<br />

apresenta<strong>da</strong>s.<br />

Dependen<strong>do</strong> de sua identificação com o material aplica<strong>do</strong>, o aluno irá ou não se<br />

desenvolver <strong>da</strong> forma adequa<strong>da</strong>, o que mostra que o material exerce certa influência sobre sua<br />

veloci<strong>da</strong>de de aprendiza<strong>do</strong>. A interferência <strong>do</strong> professor no processo de aprendizagem é<br />

indispensável, pois ele conduzirá o aluno por caminhos que o ajudem no aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

técnica pianística, atingin<strong>do</strong> níveis eleva<strong>do</strong>s, sem agredir sua saúde física, bem como fazer<br />

com que o aluno toque as peças propostas <strong>da</strong> maneira mais fácil, tornan<strong>do</strong> assim o ensino <strong>do</strong><br />

instrumento algo prazeroso.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, quais critérios são utiliza<strong>do</strong>s por professores particulares de piano na<br />

escolha <strong>do</strong> material didático - correntemente chama<strong>do</strong> de “méto<strong>do</strong> de piano” - para seus<br />

alunos iniciantes?<br />

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Revisão Bibliográfica<br />

Pesquisas feitas com alguns professores de piano em Porto Alegre (RS), por Oliveira,<br />

Santos e Hentschke (2009, p.79), revelam algumas informações sobre seus materiais<br />

didáticos:<br />

Com relação à utilização de algum material didático específico com os<br />

alunos de piano, 77% os professores afirmaram a<strong>do</strong>tar algum tipo. Nessa<br />

questão, muitos professores mencionaram vários compêndios, em geral<br />

para iniciantes (94%), segui<strong>do</strong> para alunos intermediários (72%) e<br />

avança<strong>do</strong>s (43%). Dentre as obras mais cita<strong>da</strong>s, encontram-se aquelas de<br />

Alice Botelho e Leila Fletcher (OLIVEIRA; SANTOS; HENTSCHKE,<br />

2009, p. 79, grifo meu).<br />

Esta pesquisa mostra que os professores de piano entrevista<strong>do</strong>s (94%) possuem mais<br />

materiais para alunos iniciantes e têm preferência por <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s: Meu Piano é Diverti<strong>do</strong>,<br />

de Alice Botelho, e Piano Course, de Leila Fletcher.<br />

Buscan<strong>do</strong> conhecer um pouco mais sobre o material didático destas duas autoras,<br />

fizemos uma pesquisa na internet 1 , consideran<strong>do</strong> esta uma ferramenta que viabiliza o rápi<strong>do</strong><br />

acesso às informações destes produtos.<br />

O méto<strong>do</strong> de piano de Alice Botelho (Meu Piano é Diverti<strong>do</strong>) é anuncia<strong>do</strong> em um<br />

site na internet desta maneira:<br />

Iniciar o estu<strong>do</strong> com a Clave de Sol e de Fá ao mesmo tempo, torna o<br />

aprendiza<strong>do</strong> mais fácil, pois os alunos não precisam decorar as notas em<br />

outra clave depois que já as conhecem tão bem na Clave de Sol evitan<strong>do</strong><br />

assim confusão e comparações indevi<strong>da</strong>s.<br />

Neste mesmo site, encontramos também o méto<strong>do</strong> <strong>da</strong> Leila Fletcher (Piano Course),<br />

em inglês. Há também uma breve descrição deste material 2 :<br />

Peças cativantes e interessantes desde o início. Partes de dueto disponíveis<br />

em 19 peças e 3 peças de rotina que ampliam a experiência musical <strong>do</strong>s<br />

alunos e aumentam o interesse para o primeiro recital. Esta nova edição<br />

continua a oferecer a mesma abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica <strong>do</strong> som, mas com<br />

dedilha<strong>do</strong>s edita<strong>do</strong>s para reduzir a dependência nos números <strong>do</strong>s dedilha<strong>do</strong>,<br />

muitas ilustrações também foram moderniza<strong>do</strong>s . (tradução minha).<br />

1 .<br />

Acesso em 20 nov. 2010.<br />

2 . Acesso em 05<br />

out. 2010.<br />

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É importante salientar a preocupação <strong>da</strong> autora com a revisão nos dedilha<strong>do</strong>s, “para<br />

reduzir a dependência <strong>do</strong> aluno” aos números <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s, evitan<strong>do</strong> assim que o aluno fique<br />

preso a ver números, sem ler as notas. Isso é muito comum quan<strong>do</strong> a partitura contém muitos<br />

dedilha<strong>do</strong>s. Caso o professor não fique atento a isso, verá mais à frente que o aluno não está<br />

len<strong>do</strong> a partitura, e sim os números, o que irá deixá-lo dependente <strong>do</strong>s dedilha<strong>do</strong>s e sem<br />

prática na leitura.<br />

Sobre o que os professores mais utilizavam para alunos de nível médio/avança<strong>do</strong>, em<br />

Porto Alegre, Oliveira, Santos, e Hentschke destacam:<br />

Nos níveis intermediário e avança<strong>do</strong>, os autores mais destaca<strong>do</strong>s pelos<br />

professores foram os <strong>do</strong> repertório “erudito tradicional”, como: Bach,<br />

Czerny, Chopin, Hanon, Schumann, Cramer, Beethoven, Clementi e<br />

Burgmüller, entre outros. Alguns desses méto<strong>do</strong>s (Leila Fletcher, Czerny,<br />

Hanon, por exemplo) foram identifica<strong>do</strong>s por SANTIAGO e FALCÃO<br />

(1995) como aqueles emprega<strong>do</strong>s na formação de 22 professores de piano<br />

atuantes em instituições públicas <strong>do</strong> país. (OLIVEIRA; SANTOS;<br />

HENTSCHKE, 2009, p.79).<br />

Estes <strong>da</strong><strong>do</strong>s nos mostram que ain<strong>da</strong> há certa resistência (ou preferência) por méto<strong>do</strong>s<br />

tradicionais <strong>do</strong> ensino de piano.<br />

Sobre o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> leitura de partituras durante o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> piano, na introdução<br />

de sua dissertação de mestra<strong>do</strong>, Furlan (2007, p.3), lança duas perguntas:<br />

• Por que alguns alunos de música aprendem com facili<strong>da</strong>de a ler partitura<br />

enquanto outros passam a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> com dificul<strong>da</strong>des para cumprir essa<br />

tarefa ‘à primeira vista’?<br />

• A razão dessa dificul<strong>da</strong>de está na capaci<strong>da</strong>de de aprendizagem <strong>do</strong> aluno,<br />

na visão que o músico-educa<strong>do</strong>r tem acerca <strong>do</strong> processo de aprendizagem <strong>da</strong><br />

lecto-escrita musical que se traduz em seu méto<strong>do</strong> de ensino, ou em algum<br />

outro fator? (FURLAN, 2007, p.3).<br />

Ao tratar <strong>da</strong> lecto-escrita 3 musical ao piano, a autora diz que o ensino <strong>do</strong> piano é<br />

paralelo ao de partitura. Aqui, o problema está nas dificul<strong>da</strong>des existentes. Em primeiro, qual<br />

o motivo <strong>da</strong> grande divergência <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de aprendiza<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong>, onde está a razão<br />

desta dificul<strong>da</strong>de.<br />

De uma maneira geral, nos materiais didáticos existentes, a leitura de partitura é<br />

disposta num grau de dificul<strong>da</strong>de gra<strong>da</strong>tivo, o que permite ao aluno crescer na leitura à<br />

medi<strong>da</strong> que vão passan<strong>do</strong> as lições.<br />

3 Capaci<strong>da</strong>de de ler e escrever.<br />

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Objetivos<br />

Este projeto de pesquisa tem por objetivo geral fazer um levantamento <strong>do</strong>s materiais<br />

didáticos para alunos iniciantes utiliza<strong>do</strong>s por professores particulares de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de<br />

João Pessoa.<br />

Os objetivos específicos organizam-se <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

• Verificar os critérios de escolha <strong>do</strong> material didático;<br />

• Analisar a linha meto<strong>do</strong>lógica presente em ca<strong>da</strong> méto<strong>do</strong> de piano utiliza<strong>do</strong>;<br />

• Investigar se e como o professor elabora seus próprios materiais;<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A meto<strong>do</strong>logia a ser emprega<strong>da</strong> nesta pesquisa será o survey (estu<strong>do</strong> de levantamento).<br />

Segun<strong>do</strong> Babbie (1999), surveys são muito semelhantes a censos, mas deles se diferenciam<br />

porque examinam somente uma amostra <strong>da</strong> população (enquanto o censo geralmente implica<br />

uma enumeração <strong>da</strong> população to<strong>da</strong>). Surveys são muito utiliza<strong>do</strong>s em pesquisas políticas<br />

(para avaliação <strong>da</strong> intenção de voto, por exemplo). A meto<strong>do</strong>logia survey tem importante<br />

papel nas pesquisas de opinião e levantamentos estatísticos que visam identificar<br />

determina<strong>da</strong>s situações e que, em muitos casos, atende como base de informações a outros<br />

tipos de pesquisa. Dentre as principais características <strong>da</strong> pesquisa survey destacam-se:<br />

• gerar <strong>da</strong><strong>do</strong>s precisos e confiáveis que permitam análise estatística;<br />

• medir opiniões, atitudes, preferências, comportamentos de um determina<strong>do</strong> grupo<br />

de indivíduos;<br />

• medir os segmentos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, estiman<strong>do</strong> seu potencial ou volume de negócios.<br />

O levantamento/survey se diferencia <strong>do</strong>s outros tipos de pesquisa nos seguintes<br />

aspectos:<br />

• Não visa uma mu<strong>da</strong>nça de ordem psicossocial.<br />

• A coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s é feita diretamente no local onde está sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> a pesquisa.<br />

Já a pesquisa bibliográfica ou <strong>do</strong>cumental é feita através de fontes de papel.<br />

• É uma coleta de <strong>da</strong><strong>do</strong>s indireta. É realiza<strong>do</strong> com muitas pessoas e generaliza seu<br />

resulta<strong>do</strong>. O estu<strong>do</strong> de caso não inclui muitas pessoas.<br />

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de Educação Musical<br />

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2 OA N O S<br />

• É uma abor<strong>da</strong>gem quantitativa, diferencian<strong>do</strong>-se, assim, <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de caso, que é<br />

qualitativa.<br />

O survey utiliza<strong>do</strong> será <strong>do</strong> tipo interseccional, ten<strong>do</strong> em vista que, “em um único<br />

momento, os <strong>da</strong><strong>do</strong>s foram colhi<strong>do</strong>s <strong>da</strong> amostra seleciona<strong>da</strong>” (OLIVEIRA, 2009, p. 33).<br />

A indicação <strong>do</strong>s professores será feita através <strong>da</strong> amostra “bola de neve”, onde ca<strong>da</strong><br />

professor irá indicar outro até atingirmos o número de 15 participantes.<br />

Estes responderão um questionário auto administra<strong>do</strong>, basea<strong>do</strong> no modelo de Oliveira<br />

(2009, p. 125), com algumas alterações que visam satisfazer os nossos objetivos. As questões<br />

tratarão sobre:<br />

• Formação profissional;<br />

• Perfil <strong>do</strong>s alunos;<br />

• Tipo de aula (individual ou coletiva);<br />

• Escolha <strong>do</strong>s materiais didáticos para os alunos iniciantes de piano;<br />

• Forma e frequência com que o professor adquire novos materiais;<br />

• Conteú<strong>do</strong>s contempla<strong>do</strong>s;<br />

• Abor<strong>da</strong>gem meto<strong>do</strong>lógica presente no material didático e nas aulas;<br />

• Como é utiliza<strong>do</strong> o material nas aulas (planos de aula);<br />

O questionário será entregue pessoalmente a ca<strong>da</strong> participante. Apesar <strong>da</strong><br />

possibili<strong>da</strong>de de envio pelo correio, optamos por entregar pessoalmente, pois, ain<strong>da</strong> segun<strong>do</strong><br />

ele, “no geral, a visita <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, na entrega <strong>do</strong> questionário, ou na coleta, ou ambos,<br />

parece produzir uma taxa maior de questionários respondi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> se usa apenas o<br />

correio”. (BABBIE, 1999, p. 248).<br />

A preferência por este tipo de questionário se explica por seu alcance e por sua<br />

facili<strong>da</strong>de, pois, segun<strong>do</strong> Oliveira (2009, p. 33) “alcança um número maior de pessoas”.<br />

Num <strong>da</strong><strong>do</strong> momento, chama<strong>do</strong> “pré-teste”, o questionário será experimenta<strong>do</strong> com<br />

professores que não participarão <strong>da</strong> pesquisa, para sabermos como ele irá funcionar e, com os<br />

resulta<strong>do</strong>s deste pré-teste, faremos os devi<strong>do</strong>s ajustes para que o questionário seja aplica<strong>do</strong>..<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

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Conclusão<br />

Com esta pesquisa almejamos conhecer o material didático utiliza<strong>do</strong> pelos alguns<br />

professores de piano <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de João Pessoa. Acreditamos que a pesquisa <strong>do</strong> tipo survey<br />

possa ampliar o conhecimento <strong>do</strong> perfil deste profissional trazen<strong>do</strong> à luz informações<br />

importantes que poderão ser úteis na formação e práticas de professores, futuros e/ou<br />

contemporâneos e abrin<strong>do</strong> caminho para outras pesquisas<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

BABBIE, Earl. Méto<strong>do</strong>s de pesquisas de survey. Tradução de Guilherme Cezarino. Belo<br />

Horizonte: Editora UFMG, 1999.<br />

BOTELHO, Alice. Meu piano é diverti<strong>do</strong>. Ricordi. Disponível em:<br />

. Acesso<br />

em: 24 nov. 2010.<br />

CASA Vitale. 1939. Site cria<strong>do</strong> em 2007. Vende instrumentos musicais e diversos outros<br />

produtos <strong>do</strong> gênero. Disponível em: . Acesso em: 23 nov.<br />

2010.<br />

FLETCHER, Leila. Piano Course. Cana<strong>da</strong>: Mayfair Montgomery Publishing. 2002.<br />

FREE note. 1990. Vende instrumentos musicais e diversos outros produtos <strong>do</strong> gênero.<br />

Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2010.<br />

FURLAN, Lenita Portilho. Aprendizagem <strong>da</strong> lecto-escrita musical ao piano: um diálogo com<br />

a psicogênese <strong>da</strong> língua escrita. 2007. 142 f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música - Programa de<br />

Pós-Graduação em Música) - Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, São Paulo,<br />

2007.<br />

MUSICALLE instrumentos. 2010. Vende instrumentos musicais e diversos outros produtos<br />

<strong>do</strong> gênero. Disponível em: . Acesso em: 23 nov.<br />

2010.<br />

OLIVEIRA, Karla Dias de. Professores de piano: um estu<strong>do</strong> sobre o perfil de formação e<br />

atuação em Porto Alegre/RS. 2007. 141f. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Música – Programa de<br />

Pós-Graduação em Música) – Instituto de Artes, Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Porto Alegre, 2007.<br />

OLIVEIRA, Karla Dias de; SANTOS, Regina Antunes Teixeira <strong>do</strong>s; HENTSCHKE, Liane,<br />

Um perfil de formação e de atuação de professores de piano. Per Musi, Belo Horizonte, n.20,<br />

p.74-82. 2009.<br />

SANTIAGO, Diana; FALCÃO, Lília Maria Gomes. Perfil <strong>do</strong> professor de piano nas<br />

instituições de ensino superior <strong>do</strong> Brasil. In.: ENCONTRO ANUAL DA ANPPOM, 8., 1995,<br />

João Pessoa. <strong>Anais</strong>... Disponível em:<br />

.<br />

Acesso em: 22 nov. 2010.<br />

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O Ensino de Música e a Formação Estética na Educação de Jovens e<br />

Adultos: Um estu<strong>do</strong> no Centro Municipal de Educação e Saúde Professor<br />

José Sobreira de Amorim<br />

Patrícia Lílian de Sales Rocha<br />

Prefeitura Municipal de Fortaleza<br />

patricialilian_3@hotmail.com<br />

Resumo: Desde o advento <strong>da</strong> Revolução Industrial é crescente o apelo <strong>do</strong>s meios de<br />

comunicação de massa à padronização <strong>do</strong> gosto musical, à limitação <strong>da</strong>s sensações estéticas e<br />

até mesmo à alienação ideológica, promovi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> oferta indiscrimina<strong>da</strong> de produtos<br />

pelo merca<strong>do</strong> fonográfico. Através deste trabalho, pretende-se investigar como o ensino de<br />

música pode contribuir para o processo de formação estética <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Educação de<br />

Jovens e Adultos (2º segmento) <strong>do</strong> Centro Municipal de Educação e Saúde (CMES) Professor<br />

José Sobreira de Amorim. Propõe-se analisar vivências musicais cotidianas, democratizar o<br />

acesso a um acervo musical amplo, diversifica<strong>do</strong> e fomentar discussões/reflexões sobre a<br />

influência <strong>da</strong> Indústria Cultural no cotidiano escolar. Com esta pesquisa pretende-se<br />

contribuir com as discussões a respeito <strong>da</strong> Educação Musical no tocante à formação estética,<br />

humana e às múltiplas finali<strong>da</strong>des <strong>do</strong> ensino de música no ambiente escolar.<br />

Palavras-chave: Educação Musical, Formação Estética, Educação de Jovens e Adultos.<br />

1. Introdução<br />

1.1 Formação Estética<br />

Desde sua origem, com os padres Jesuítas nas escolas brasileiras, até os dias atuais, no<br />

ensino contextualiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea, a Educação Musical nas escolas tem<br />

colabora<strong>do</strong> com a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento integral <strong>do</strong> indivíduo, visan<strong>do</strong> melhores<br />

formas de convívio e organização social. O ensino de música no ambiente escolar está<br />

intimamente comprometi<strong>do</strong> com a formação humana e dentre suas muitas funções, inclui a<br />

educação estética.<br />

O fazer artístico de uma socie<strong>da</strong>de revela características de sua própria estrutura<br />

organizacional. Assim também o é com as produções musicais <strong>do</strong>s povos. Estes imprimem<br />

em suas obras as formas e peculiari<strong>da</strong>des de sua política, economia, costumes e crenças.<br />

Nesse ínterim, realizar escutas orienta<strong>da</strong>s na perspectiva <strong>do</strong> gênero, <strong>do</strong> estilo musical de<br />

épocas ou de uma determina<strong>da</strong> região, de um determina<strong>do</strong> artista, seria um exercício de<br />

análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de? Refletir a respeito de música nessa perspectiva trataria <strong>do</strong> repensar nosso<br />

próprio comportamento social? Seria possível, através <strong>da</strong> Educação Musical, subsidiar<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

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2 OA N O S<br />

pessoas de senso crítico para a compreensão e consequente transformação <strong>do</strong> meio ao qual<br />

interferimos com nossa existência?<br />

Sabemos que a elaboração <strong>do</strong> gosto e a concepção estética <strong>do</strong>s indivíduos estão<br />

intrinsecamente liga<strong>da</strong>s ao contexto sociocultural no qual estão inseri<strong>do</strong>s. Obviamente os<br />

estu<strong>da</strong>ntes trazem consigo suas próprias concepções de natureza sensível-cognitiva a respeito<br />

de música. Pretende-se, então, alargar esse caminho de conhecimento, não no intuito de<br />

induzi-los ou conformá-los a determina<strong>do</strong> gênero musical, mas na intenção de democratizar o<br />

acesso às produções músico-culturais brasileiras como proposta de educação estética.<br />

1.2 Educação de Jovens e Adultos<br />

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), enquanto mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de ensino, assiste<br />

pessoas que não tiveram acesso à educação básica ou tiveram interrupções nesse processo.<br />

Suas funções prioritárias são de reparação desse direito nega<strong>do</strong> e de qualificação através <strong>da</strong><br />

educação permanente.<br />

Nas salas de aula <strong>da</strong> EJA, encontramos grandes discrepâncias no tocante às condições<br />

educacionais, às motivações pessoais, aos níveis de escolari<strong>da</strong>de e faixa etária <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes,<br />

fato que exige de nós educa<strong>do</strong>res tratamentos pe<strong>da</strong>gógicos e meto<strong>do</strong>lógicos compatíveis com<br />

as especifici<strong>da</strong>des diagnostica<strong>da</strong>s.<br />

Nesse contexto, para um ensino significativo de artes e de música, to<strong>da</strong>s essas<br />

questões devem ser conheci<strong>da</strong>s, considera<strong>da</strong>s e media<strong>da</strong>s.<br />

“Um desafio que se coloca para educa<strong>do</strong>res/as musicais que preten<strong>da</strong>m<br />

trabalhar ou atuem na EJA é justamente encontrar as conexões de gostos,<br />

desejos, repertório, aprimoramento técnico, <strong>do</strong>s/as estu<strong>da</strong>ntes de diferentes<br />

gerações, dentro de um espaço de ensino de música significativo.” (RIBAS,<br />

2006).<br />

Possibilitar novas experienciações estéticas é oferecer uma via de compreensão <strong>do</strong>s<br />

conflitos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea através <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s, contemplan<strong>do</strong> a função<br />

equaliza<strong>do</strong>ra <strong>da</strong> EJA, “que rege a igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des na perspectiva de oferecer aos<br />

indivíduos novas inserções no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, na vi<strong>da</strong> social, nos espaços <strong>da</strong> estética e<br />

nos canais de participação.” (SOEK, 2009, p. 44).<br />

2. Objetivos<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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2.1 Geral<br />

Verificar os hábitos de escuta musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> EJA (2º segmento), no<br />

CMES Professor José Sobreira de Amorim. Analisar como a audição desse repertório pode<br />

interferir em seus processos de formação humana e na construção de significa<strong>do</strong>s no exercício<br />

de leitura e construção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social. Busca-se, ain<strong>da</strong>, desenvolver uma meto<strong>do</strong>logia de<br />

formação estética, a partir <strong>do</strong> acesso orienta<strong>do</strong> a repertórios que contemplem a diversi<strong>da</strong>de<br />

cultural, étnica e regional brasileira.<br />

2.1 Específicos<br />

2.1.1 Identificar os gêneros musicais presentes na prática de escuta musical <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>da</strong>ntes e os níveis de senso crítico e reflexivo dessa ativi<strong>da</strong>de;<br />

2.1.2 Identificar os significa<strong>do</strong>s simbólicos que os produtos difundi<strong>do</strong>s pelas mídias têm<br />

para os estu<strong>da</strong>ntes;<br />

2.1.3 Investigar a influência <strong>da</strong> música na construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de social desses jovens<br />

e adultos;<br />

2.1.4 Desenvolver procedimentos didático-pe<strong>da</strong>gógico-musicais que proporcionem a<br />

multiformi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sentir e <strong>do</strong> pensar <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, através <strong>da</strong> escuta musical orienta<strong>da</strong>.<br />

3. Pressupostos Teóricos<br />

O desenvolvimento tecnológico advin<strong>do</strong> pós Revolução Industrial contribuiu,<br />

consideravelmente, para divulgação de produtos artísticos, inclusive musicais. No entanto, o<br />

fato não garantiu acesso ao conhecimento cultural, e para sua aquisição, parece não ser<br />

bastante consumir a criação tecnológica. É preciso ter acesso à informação, eiva<strong>da</strong> de senso<br />

crítico e reflexivo, de forma a pretender o respeito à heterogenei<strong>da</strong>de quanto ao gosto artístico<br />

<strong>do</strong> indivíduo e suas inferências biológicas, individuais e sociais.<br />

O consumi<strong>do</strong>r que tem ao alcance apenas produtos ofereci<strong>do</strong>s pelo merca<strong>do</strong>, está, em<br />

última análise, impossibilita<strong>do</strong> de exercer sua livre escolha. Esse fato solapa-lhe a criativi<strong>da</strong>de<br />

e a espontanei<strong>da</strong>de expressiva, dificultan<strong>do</strong> o surgimento de novos artistas populares.<br />

Os PCN’s - Parâmetros Curriculares Nacionais - de Artes para o Ensino Médio, os<br />

quais são diretrizes para a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de EJA (2º segmento), iniciam suas orientações para o<br />

ensino de Artes <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

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“Conhecer Artes no Ensino Médio significa os alunos apropriarem-se de<br />

saberes culturais e estéticos inseri<strong>do</strong>s nas práticas de produção e apreciação<br />

artísticas, fun<strong>da</strong>mentais para a formação e o desempenho social <strong>do</strong> ci<strong>da</strong>dão.<br />

Na escola de Ensino Médio, continuar a promover o desenvolvimento<br />

cultural e estético <strong>do</strong>s alunos com quali<strong>da</strong>de, no âmbito <strong>da</strong> educação básica,<br />

pode favorecer-lhes o interesse por novas possibili<strong>da</strong>des de aprendiza<strong>do</strong>, de<br />

ações, de trabalho com a arte ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.”<br />

Compreender como a Educação Musical pode contribuir nesse processo, encontra-se<br />

em consonância com o pensamento de educa<strong>do</strong>res que tratam <strong>da</strong> questão estética enquanto<br />

proposta de formação humana. É o caso <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical Hans-Joachim Koellreutter<br />

(LOUREIRO, 2003 apud KOELLREUTTER, 1998) que afirma ser a arte um fator<br />

preponderante de estética e de humanização <strong>do</strong> processo civiliza<strong>do</strong>r. Ain<strong>da</strong> a esse respeito,<br />

Fusari e Ferraz explicam:<br />

“Entretanto, para desabrochar, esse sentimento estético necessita de uma<br />

orientação que respon<strong>da</strong> às suas principais metas, sem perder de vista os<br />

propósitos mais progressistas de transformação social (e não mero<br />

ajustamento à socie<strong>da</strong>de). O que importa é trabalhar atitudes analíticas, para<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes ultrapassem o senso comum e adquiram posicionamentos<br />

mais críticos.” (FUSARI; FERRAZ, 2001, p. 62).<br />

Este trabalho baseia-se, ain<strong>da</strong>, nas premissas <strong>do</strong> Plano Nacional de Cultura (PNC), Lei<br />

nº. 12.343, de 2 de dezembro de 2010, que, dentre seus objetivos, busca reconhecer e<br />

valorizar a diversi<strong>da</strong>de cultural, étnica e regional brasileira; valorizar e difundir criações<br />

artísticas e bens culturais; estimular a presença <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> cultura no ambiente<br />

educacional, assim como, estimular o pensamento crítico e reflexivo em torno <strong>do</strong>s valores<br />

simbólicos.<br />

4. Procedimentos Meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Para construção de teorias e levantamento de hipóteses, pretende-se a<strong>do</strong>tar as<br />

meto<strong>do</strong>logias qualitativa e quantitativa, uma vez que, ambas, complementam-se em suas<br />

especifici<strong>da</strong>des na busca <strong>do</strong> conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de observa<strong>da</strong>.<br />

A primeira abor<strong>da</strong>gem justifica-se pela necessi<strong>da</strong>de de diagnosticar hábitos de escuta<br />

musical <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes, descrevê-los e interpretá-los, durante o ano letivo de <strong>2011</strong>, tempo<br />

previsto para realização <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Através <strong>da</strong> observação participante, busca-se descrever atitudes, valores, crenças e<br />

hábitos para atingir os objetivos <strong>da</strong> investigação. Segun<strong>do</strong> Lüdke e André (1986), nessa forma<br />

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de observar o problema, o homem não é um objeto a mais no seu contexto social. Pelo<br />

contrário, ele interage, interpreta e elabora senti<strong>do</strong>s a partir de sua própria leitura <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />

Pela própria natureza <strong>do</strong> objeto investiga<strong>do</strong>, julga-se, ain<strong>da</strong>, necessária a aplicação de<br />

questionários visan<strong>do</strong> à obtenção de <strong>da</strong><strong>do</strong>s quanto à reali<strong>da</strong>de sociocultural <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Esse instrumento será de fun<strong>da</strong>mental importância no tocante à fidedigni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

informações levanta<strong>da</strong>s e auxiliará na organização, mensuração e análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s.<br />

Pretende-se, ain<strong>da</strong>, realizar o procedimento de vali<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> questionário. Entende-se<br />

esta medi<strong>da</strong> como forma de garantir a aplicação de um instrumento consistente, claro, preciso<br />

e eficaz em seu objetivo de subsidiar a confecção <strong>do</strong> relatório final.<br />

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Referências<br />

BRASIL, Ministério <strong>da</strong> Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 2000.<br />

BRASIL, Ministério <strong>da</strong> Cultura. Plano Nacional de Cultura – PNC. Brasília: Lei nº. 12.343<br />

de 2 de dezembro de 2010.<br />

DALBÉRIO, Osval<strong>do</strong> e DALBÉRIO, Maria Célia Borges. Meto<strong>do</strong>logia Científica: Desafios e<br />

Caminhos. São Paulo: Paulus, 2009. 264 p. (Coleção educação superior).<br />

FUSARI, Maria Felismin<strong>da</strong> de Resende & FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Tole<strong>do</strong>. Arte<br />

na Educação Escolar. São Paulo: Cortez, 2001. 157 p. (Coleção Magistério 2º Grau).<br />

LOUREIRO, ALÍCIA MARIA ALMEIDA. O Ensino de Música na Escola Fun<strong>da</strong>mental.<br />

São Paulo: Papirus, 2003. 235 p.<br />

LUDKE, M. e ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: abor<strong>da</strong>gens qualitativas. São Paulo: EPU,<br />

1986. 100 p.<br />

RIBAS, Maria Guiomar de Carvalho. Música e Intergeracionali<strong>da</strong>de na Educação de Jovens e<br />

Adultos, 2006. Disponível em <br />

Acesso em 11 de maio. <strong>2011</strong>.<br />

SOEK, Ana Maria; CHAVES, Sônia Maria e HARACEMIV, Tânia Stoltz. Mediação<br />

Pe<strong>da</strong>gógica na Alfabetização de Jovens e Adultos. Curitiba: Positivo, 2009. 79 p.<br />

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Como o acesso à informática e sua utilização podem auxiliar no ensino e<br />

aprendizagem <strong>da</strong> educação musical? Novos caminhos para a musicalização<br />

na educação básica<br />

Gleice Kelly Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

gleiceflauta@yahoo.com.br<br />

Victor Luiz Barbosa de Andrade<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

victor.luiz.ufpe@gmail.com<br />

Érico Henrique <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE<br />

ericohenrique44@yahoo.com.br<br />

Resumo: A informática está presente em to<strong>do</strong>s os ambientes influencian<strong>do</strong> no<br />

comportamento <strong>da</strong>s pessoas que a utilizam, se refletin<strong>do</strong> no contexto escolar como uma nova<br />

possibili<strong>da</strong>de para educação musical na escola básica. Mas poucos professores se deram conta<br />

dessa importante ferramenta. Logo, este trabalho tem como objetivo apontar novos caminhos<br />

para musicalização com o auxílio <strong>da</strong> informática dentro <strong>da</strong> sala de aula. Em to<strong>do</strong> o Brasil<br />

podemos apontar várias iniciativas para criação de softwares e para sua aplicabili<strong>da</strong>de no<br />

cotidiano escolar. Grande parte destes softwares é disponibiliza<strong>da</strong> gratuitamente na internet.<br />

Três desses programas foram seleciona<strong>do</strong>s para análise neste trabalho, sen<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong>s seus<br />

recursos pe<strong>da</strong>gógicos para uma possível utilização no processo ensino-aprendizagem musical.<br />

Palavras-chave: informática, musicalização, educação básica.<br />

Introdução<br />

A informática está presente no nosso cotidiano. Em to<strong>do</strong>s os ambientes já é possível<br />

perceber sua influência. A to<strong>do</strong> o momento somos bombardea<strong>do</strong>s por novas tecnologias que<br />

nos impulsionam a utilizá-las com uma freqüência ca<strong>da</strong> vez maior. Segun<strong>do</strong> Miran<strong>da</strong> (2006)<br />

Nestes últimos dez anos, o merca<strong>do</strong> <strong>da</strong> informática tem investi<strong>do</strong> de forma<br />

acelera<strong>da</strong> na ven<strong>da</strong> de computa<strong>do</strong>res para o ambiente <strong>do</strong>méstico, o que tem<br />

contribuí<strong>do</strong> para acelerar mu<strong>da</strong>nças importantes no cotidiano que se refletem<br />

no ambiente de trabalho, na escola e nas relações familiares. (MIRANDA,<br />

2006, p. 24).<br />

No ambiente escolar, a utilização <strong>da</strong> informática pode ser uma ferramenta importante<br />

no processo educacional por facilitar o acesso <strong>do</strong>s alunos às novas informações e permitin<strong>do</strong><br />

interações com outras culturas.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

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Alguns professores, que já utilizam com maior freqüência e de algum mo<strong>do</strong><br />

a informática, indicam algumas idéias positivas relativas à troca de<br />

experiências, tanto no uso <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r quanto nas ativi<strong>da</strong>des trabalha<strong>da</strong>s<br />

com alunos. Percebem que este aparelho quan<strong>do</strong> usa<strong>do</strong> de forma<br />

contextualiza<strong>da</strong>, pode aju<strong>da</strong>r na resolução de situações - problema, nas<br />

ativi<strong>da</strong>des de aprendizagem ou no acesso a informações. Tornan<strong>do</strong> o<br />

ambiente <strong>da</strong> sala de aula mais dinâmico e o aluno mais interessa<strong>do</strong>.<br />

(MIRANDA, 2006, p. 68).<br />

Por isso, os investimentos <strong>do</strong> governo para o acesso de professores e alunos à<br />

informática têm si<strong>do</strong> bastante significativos, grande parte <strong>da</strong>s escolas públicas possuem<br />

laboratórios de informática, o que comprova a possibili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> seu uso na educação básica.<br />

Mais recentemente por meio <strong>do</strong> proinfo 1 e <strong>do</strong>s parâmetros curriculares, o<br />

governo brasileiro tem indica<strong>do</strong> a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />

nas escolas, afirman<strong>do</strong> que devem “apontar a necessi<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de trabalhos que contemplem o uso <strong>da</strong>s novas tecnologias<br />

<strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong> informação, para que to<strong>do</strong>s, alunos e professores,<br />

possam delas se apropriar e participar, bem como criticá-las e/ou delas<br />

usufruir. (MIRANDA apud OLIVEIRA, 2006, p. 50).<br />

Na educação musical a informática ain<strong>da</strong> é pouco utiliza<strong>da</strong>, pois “pouquíssimos<br />

professores de música se deram conta <strong>do</strong> quanto eles e seus alunos podem se beneficiar com a<br />

incorporação desta tecnologia em suas aulas” (GULLART). Contu<strong>do</strong>, pode ser um recurso<br />

importante. Os recursos referentes à tecnologia musical podem auxiliar no ensino <strong>do</strong> canto, <strong>da</strong><br />

composição e de instrumentos, além de estimular a criativi<strong>da</strong>de.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

No ano de 2002 foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong> o Grupo de Pesquisa em Música Assisti<strong>da</strong> por<br />

Computa<strong>do</strong>r (GPMAC) que apresenta como linha de estu<strong>do</strong>, dentre outras, o desenvolvimento<br />

de ferramentas para o ensino e a aprendizagem <strong>da</strong> música. Em 2010 iniciamos nossas<br />

pesquisas a partir de uma listagem de softwares que podem ser utiliza<strong>do</strong>s na educação musical<br />

e na escola de educação básica. Esta catalogação foi feita com o auxílio <strong>da</strong> internet e livros<br />

especializa<strong>do</strong>s em tecnologia musical. Dos softwares encontra<strong>do</strong>s apenas três foram<br />

seleciona<strong>do</strong>s para abor<strong>da</strong>gem nesse trabalho, classifica<strong>do</strong>s por categorias aqui expostas em<br />

tabela, utilizan<strong>do</strong> o critério <strong>da</strong> gratui<strong>da</strong>de.<br />

1<br />

É um programa educacional com o objetivo de promover o uso pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> informática na rede pública de<br />

educação básica. O programa leva às escolas computa<strong>do</strong>res, recursos digitais e conteú<strong>do</strong>s educacionais.<br />

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2 OA N O S<br />

A pesquisa 2 encontra-se em an<strong>da</strong>mento, e resultará em um posterior mapeamento <strong>da</strong>s<br />

condições materiais e humanas <strong>da</strong>s escolas <strong>do</strong> Recife em relação à futura utilização dessas<br />

novas tecnologias para o ensino de música.<br />

Novos Recursos para Musicalização<br />

Com a lei nº 11. 769 de agosto de 2008, que regulamenta o ensino de música nas<br />

escolas de educação básica, a necessi<strong>da</strong>de por novos recursos para o ensino <strong>da</strong> música<br />

aumentou. Grande parte <strong>da</strong>s escolas ain<strong>da</strong> não está prepara<strong>da</strong> para receber a musicalização em<br />

seu currículo obrigatório. “No Brasil, a Educação Musical no Ensino Básico é pouco<br />

explora<strong>da</strong> devi<strong>do</strong> à falta de instrumentos musicais”. (FICHEMAN et al. , 2004, p. 497). Logo<br />

surgem as dúvi<strong>da</strong>s: como tornar a aula participativa e criativa sem esses materiais? Uma <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des seria a utilização <strong>da</strong> informática, já que o investimento e o acesso a esse<br />

recurso vêm aumentan<strong>do</strong>. Em to<strong>do</strong> o Brasil já existem iniciativas para criação de softwares e<br />

para sua aplicabili<strong>da</strong>de em sala de aula. A utilização <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r, além de aju<strong>da</strong>r nas aulas<br />

de música, resolve o problema <strong>do</strong> sucateamento que estas máquinas vêm sofren<strong>do</strong> devi<strong>do</strong> à<br />

falta de preparação <strong>do</strong>s professores para seu uso. “Novamente os recursos tecnológicos são<br />

introduzi<strong>do</strong>s no ambiente escolar sem que haja uma discussão sobre os critérios e objetivos de<br />

utilização pe<strong>da</strong>gógica desses por parte <strong>do</strong>s professores e coordena<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s escolas”.<br />

(MIRANDA, 2006, p. 52).<br />

A partir desta perspectiva realizamos uma listagem de softwares, e percebemos que<br />

grande parte deles é escrita no idioma inglês, mas que também há aqueles em língua<br />

portuguesa. Dos três programas analisa<strong>do</strong>s neste trabalho, <strong>do</strong>is apresentam-se no idioma<br />

inglês e um em português. Os três apresentam uma interface simples e de fácil manuseio. Os<br />

em idioma inglês podem também ser utiliza<strong>do</strong>s de forma interdisciplinar, como recurso para<br />

as aulas de língua inglesa, pois mesmo possuin<strong>do</strong> uma interface simples é necessária a<br />

orientação <strong>do</strong> professor.<br />

O computa<strong>do</strong>r não resolve to<strong>do</strong>s os problemas nem substitui o professor, como<br />

afirma Coscarelli:<br />

É importante deixar claro que os bons resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> nova tecnologia<br />

dependem <strong>do</strong> uso que se faz dela, de como e com que finali<strong>da</strong>de ela está<br />

sen<strong>do</strong> usa<strong>da</strong>. Não se pode esperar que o computa<strong>do</strong>r faça tu<strong>do</strong> sozinho. Ele<br />

2<br />

Sob a orientação <strong>do</strong> Prof. Dr. Nelson Cavalcanti de Almei<strong>da</strong><br />

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2 OA N O S<br />

traz informações e recursos, cabe ao professor planejar a aplicação deles em<br />

sala de aula. (COSCARELLI, 1998, p. 41).<br />

Portanto, se faz necessário um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s programas disponíveis para uma eficiente<br />

aplicação em sala de aula.<br />

Segue abaixo uma tabela com nome e descrição <strong>do</strong>s softwares seleciona<strong>do</strong>s.<br />

Categoria Softwares Principais funções<br />

Jogos Note attack É um jogo que aju<strong>da</strong> a memorizar quais símbolos<br />

representam quais notas musicais em uma partitura. Para<br />

jogar pode - se utilizar o tecla<strong>do</strong> <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r ou, se<br />

preferir, um controla<strong>do</strong>r MIDI 3 . O jogo utiliza tanto a<br />

clave de sol quanto a de fá e possui configurações de<br />

veloci<strong>da</strong>de, timbre e extensão.<br />

Treinamento<br />

Auditivo<br />

Solfege<br />

As funções <strong>do</strong> programa abrangem as duas principais<br />

partes <strong>da</strong> música: a teórica e a prática. Na parte teórica<br />

têm-se escalas maiores, menores (harmônicas e<br />

melódicas). Na prática, o reconhecimento de intervalos e<br />

acordes. O Programa disponibiliza, ain<strong>da</strong>, sete tipos de<br />

teste avaliativos.<br />

Composição HighC É uma Ferramenta para criação musical. É um<br />

seqüencia<strong>do</strong>r, sintetiza<strong>do</strong>r e mixa<strong>do</strong>r. Seu objetivo é fazer<br />

com que a composição musical seja tão simples e direta<br />

como traçar linhas.<br />

Esses softwares são <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de grandes recursos viabiliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo ensinoaprendizagem<br />

musical, além de serem ofereci<strong>do</strong>s gratuitamente na internet. Tu<strong>do</strong> isto<br />

fortalece nossa indicação para que eles sejam utiliza<strong>do</strong>s como excelentes ferramentas para os<br />

educa<strong>do</strong>res.<br />

O programa Note attack, <strong>da</strong> categoria jogos, pode ser utiliza<strong>do</strong> para trabalhar a<br />

atenção <strong>do</strong>s alunos. Por se tratar de um jogo, possui regras referentes à teoria musical. Esse<br />

programa faz uma brincadeira na qual as notas se movimentam horizontalmente no<br />

pentagrama. O usuário terá que identificá-las. Também é possível a escolha de diferentes<br />

timbres.<br />

O software Solfege, para treinamento auditivo, trabalha as várias percepções,<br />

despertan<strong>do</strong> o ouvi<strong>do</strong> musical <strong>do</strong>s alunos e reforçan<strong>do</strong> as questões teóricas.<br />

3<br />

Nome genérico <strong>da</strong><strong>do</strong> a qualquer equipamento MIDI que possa ser utiliza<strong>do</strong> para coman<strong>da</strong>r outros<br />

equipamentos.<br />

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O programa HighC, <strong>da</strong> categoria composição, é um programa que estimula a<br />

criativi<strong>da</strong>de em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s, pois possibilita que a criança pratique a composição de<br />

maneira lúdica, ou seja, o professor deve orientar o aluno para que ele faça um desenho e, a<br />

partir deste, o programa responderá com uma composição musical. O aluno não terá,<br />

necessariamente, que ter conhecimentos teóricos musicais prévios.<br />

Considerações finais<br />

A informática é muito importante para o ensino - aprendizagem <strong>da</strong>s diversas áreas<br />

musicais, tais como: canto, percepção, solfejo, teoria e composição. A escolha <strong>do</strong>s programas<br />

deve ser feita de forma criteriosa, pois eles são apenas auxílios que devem facilitar o processo<br />

pe<strong>da</strong>gógico, se bem emprega<strong>da</strong> em sala de aula. Além <strong>do</strong>s conhecimentos musicais, ela<br />

possibilita a interação com outras disciplinas e estimula a criativi<strong>da</strong>de.<br />

Com a disponibili<strong>da</strong>de de um grande número de programas gratuitos, as escolas<br />

possuem a sua disposição um novo caminho para a musicalização na educação básica.<br />

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Referências<br />

COSCARELLI, Carla Viana. O uso <strong>da</strong> informática como instrumento de ensino –<br />

aprendizagem. Presença pe<strong>da</strong>gógica. V.4, nº 20, p. 37-45, mar. / abr. 1998.<br />

FICHEMAN, Irene Karaguilla; LOPES, Roseli de Deus; SUSANA, Ester Krüger; NETO,<br />

Oswal<strong>do</strong> Bassani. Portal Edumusical. In: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação,<br />

15. , 2004, Amazonas. <strong>Anais</strong>. Amazonas: SBIE, 2004. p. 497 – 506.<br />

GULLART, Diana. Como a informática aju<strong>da</strong> o ensino de canto? Disponível em:<br />

http://www.dianagoulart.pro.br/texto_informatica_canto_popular. php. Acesso em: 22 nov.<br />

2010.<br />

MIRANDA, Raquel Gianolla. Informática na Educação: representações sócias <strong>do</strong> cotidiano.<br />

3. ed. São Paulo, Cortez, 2006.<br />

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Cantos de uma nova sala de aula: contribuições <strong>da</strong> rede social Orkut à<br />

prática <strong>do</strong> Canto<br />

Wal<strong>do</strong>miro Ribeiro Nogueira<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

wal<strong>do</strong>miro_ribeiro@hotmail.com<br />

Crislany Viana <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

crislany_viana@hotmail.com<br />

Resumo: Ca<strong>da</strong> vez mais, a Internet tem se torna<strong>do</strong> um instrumento de fácil acesso e grande<br />

difusora <strong>do</strong> conhecimento. As pessoas interagem, discutem, trocam materiais e experiências<br />

relaciona<strong>do</strong>s aos mais diversos assuntos. As redes sociais são uma <strong>da</strong>s principais ferramentas<br />

dessa interação de troca de informações. Dentro dessas redes o Orkut é uma <strong>da</strong>s que mais se<br />

destaca, seja por sua populari<strong>da</strong>de entre os brasileiros ou pela sua dinâmica de utilização.<br />

Nele, os usuários podem criar e participar de comuni<strong>da</strong>des virtuais, espaço organiza<strong>do</strong> para<br />

debater, discutir e partilhar materiais entre os usuários de interesse em comum. Para o cantor<br />

iniciante ou profissional, as comuni<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à técnica vocal tornam-se um espaço<br />

alternativo na busca <strong>do</strong> conhecimento e de troca de experiências. A presente pesquisa em<br />

an<strong>da</strong>mento tem a finali<strong>da</strong>de de analisar, catalogar e reunir em um único espaço virtual to<strong>do</strong><br />

material recolhi<strong>do</strong> nas comuni<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Orkut, difundin<strong>do</strong>-o, bem como conhecer o perfil de<br />

seus usuários e de que forma esse espaço tem contribuí<strong>do</strong> à formação de ca<strong>da</strong> um.<br />

Palavras-chave: Canto, Orkut, Técnica Vocal<br />

Introdução<br />

A internet é uma ferramenta ca<strong>da</strong> vez mais presente na vi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s brasileiros e assume<br />

um papel importante, tornan<strong>do</strong>-se quase que indispensável para a socie<strong>da</strong>de hoje, diminuin<strong>do</strong><br />

a distância entre as pessoas, possibilitan<strong>do</strong> uma rede de troca de informações entre os<br />

indivíduos. Sen<strong>do</strong> assim, a rede mundial de internet torna-se um atrativo à educação, sen<strong>do</strong><br />

uma media<strong>do</strong>ra entre o conhecimento e o indivíduo, dentro ou fora <strong>da</strong> sala de aula, tornan<strong>do</strong><br />

por vezes dispensável a presença de um professor. Para Moran (1997),<br />

A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação <strong>do</strong>s alunos pela<br />

novi<strong>da</strong>de e pelas possibili<strong>da</strong>des inesgotáveis de pesquisa que oferece. Ela<br />

aju<strong>da</strong> a desenvolver a intuição, a flexibili<strong>da</strong>de mental, a a<strong>da</strong>ptação a ritmos<br />

diferentes. A Internet permite a pesquisa individual, em que ca<strong>da</strong> aluno<br />

avança em seu próprio ritmo, e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a<br />

aprendizagem colaborativa.<br />

A internet possibilita o auto-aprendiza<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong> vasto acervo que contém,<br />

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transforman<strong>do</strong>-se em uma ver<strong>da</strong>deira biblioteca virtual, uma nova sala de aula. A esse<br />

respeito, o Professor Adilson Cabral diz:<br />

A internet não pode ser apenas apresenta<strong>da</strong> como uma grande fonte de<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s sobre os mais diversos assuntos, sem que se perceba que se<br />

transformou também o mo<strong>do</strong> de produzir conhecimento. É a partir<br />

desta clareza que se devem estabelecer os paradigmas e conteú<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

educação <strong>do</strong> futuro.<br />

aprendiza<strong>do</strong>:<br />

Já para Cruz (2000), a internet possui as seguintes características em relação ao<br />

Interativi<strong>da</strong>de: o utiliza<strong>do</strong>r pode escolher a forma como "navegar" na<br />

informação. Produtivi<strong>da</strong>de: a hipótese de troca de informação entre<br />

utiliza<strong>do</strong>res aumenta a produtivi<strong>da</strong>de. Atuali<strong>da</strong>de: os <strong>do</strong>cumentos<br />

estão em permanente construção, pois, dessa forma são úteis e<br />

rentáveis. Economia: ao acessarmos um site <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,<br />

estamos ven<strong>do</strong> essa informação ao preço de uma chama<strong>da</strong> local.<br />

Globali<strong>da</strong>de: assim que nos ligamos à Internet, podemos ter acesso a<br />

to<strong>da</strong> informação que quisermos.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a escassez de material que aborde sobre técnica vocal, sempre foi um<br />

grande problema para os cantores. Apesar <strong>da</strong> crescente deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> literatura especializa<strong>da</strong><br />

em nosso idioma a respeito <strong>do</strong> assunto, ain<strong>da</strong> existem muitas barreiras que impedem o acesso<br />

desse material a grande parte <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes de canto. Seja pelo alto preço, ou até mesmo pela<br />

falta desses materiais nas estantes <strong>da</strong>s bibliotecas e livrarias. Sen<strong>do</strong> assim, a internet passa a<br />

contribuir como um “almanaque” de informações, onde é possível encontrar um mun<strong>do</strong> de<br />

possibili<strong>da</strong>des na busca <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Dentro desse mun<strong>do</strong> interativo, encontram-se as redes sociais, que hoje figuram entre<br />

os sites mais acessa<strong>do</strong>s no Brasil, a exemplo <strong>do</strong> Orkut que foi cria<strong>do</strong> em 2004 e tem o Brasil<br />

com o maior numero de usuários, cerca 52 milhões, contra 06 milhões que acessam o<br />

Facebook outra grande rede social no mun<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a revista online INFO.<br />

Além de proporcionar entretenimento, divulgar eventos, e favorecer a interação entre<br />

pessoas de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, no Orkut podem ser encontra<strong>do</strong>s vídeos aulas de instrumentos, de<br />

teoria musical, história <strong>da</strong> música, canto, entre outros, possibilitan<strong>do</strong> ao músico iniciante o<br />

acesso a muito material, inclusive livros e partituras para <strong>do</strong>wnload em apenas um click.<br />

No Orkut, são encontra<strong>da</strong>s as comuni<strong>da</strong>des, um espaço de interação entre os<br />

usuários, onde é possível encontrar uma extensa varie<strong>da</strong>de de materiais, como apostilas sobre<br />

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fisiologia e higiene vocal, exercícios teóricos e práticos, inclusive vocalizes para <strong>do</strong>wnloads,<br />

além de vídeos aulas sobre canto, partituras, playbacks e debates em torno de efeitos vocais<br />

como falsete, trina<strong>do</strong>, drives, vibrato, inclusive com exemplos; além de diversas técnicas,<br />

como técnica <strong>do</strong> Belting (técnica utiliza<strong>da</strong> nos musicais <strong>da</strong> Broadway, Bel canto (utiliza<strong>do</strong> nas<br />

óperas, especialmente de compositores como Puccini, Verdi, Donizetti e Rossini), Black<br />

(utiliza<strong>do</strong> na música gospel) popular, entre outras. A respeito <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des virtuais Lévy<br />

(1996) relata:<br />

Uma comuni<strong>da</strong>de virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma<br />

base de afini<strong>da</strong>de por intermédio de sistemas de comunicação<br />

telemáticos. Seus membros estão reuni<strong>do</strong>s pelos mesmos núcleos de<br />

interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, continente, não é<br />

mais nem um ponto de parti<strong>da</strong>, nem uma coerção.<br />

Pela sua grande utilização e fácil acessibili<strong>da</strong>de, o Orkut torna-se uma grande<br />

biblioteca virtual, uma ferramenta importante para o ensino de canto. Mais que uma simples<br />

rede de contatos e de entretenimento, ele assume um papel importante no que diz respeito à<br />

dinâmica de interação entre pessoas de diversos perfis, sejam estes leigos, pesquisa<strong>do</strong>res,<br />

professores, entre outros, o que favorece uma ativa troca de arquivos, informações e<br />

conhecimentos entre os usuários <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, o que colabora significativamente para o<br />

aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica vocal, especialmente <strong>do</strong> canto. O Orkut, sob esse ponto de vista, passa<br />

a ser uma nova sala de aula, um novo caminho que possibilita o acesso de informações,<br />

anteriormente de <strong>do</strong>mínio de poucos.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, esse projeto de pesquisa visa investigar a rede social Orkut como uma<br />

ferramenta de acessibili<strong>da</strong>de à prática <strong>do</strong> canto, fazen<strong>do</strong> uma análise de como esta vem<br />

contribuin<strong>do</strong> na formação <strong>do</strong> estu<strong>da</strong>nte de canto e profissionais que já atuam como cantores.<br />

Favorecerá, assim, o intercâmbio de informações e materiais entre os usuários dessa<br />

ferramenta <strong>da</strong> internet. É também seu objetivo mapear e analisar quais e quantas comuni<strong>da</strong>des<br />

abor<strong>da</strong> o assunto, com a finali<strong>da</strong>de de catalogá-las e extrair materiais que auxiliem para a<br />

formação profissional, como vídeo aulas, partituras, artigos, méto<strong>do</strong>s, áudios, tentan<strong>do</strong> suprir<br />

uma carência que ain<strong>da</strong> existe entre o conhecimento e indivíduos, quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

de canto.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Para atingir os objetivos <strong>do</strong> projeto, o mesmo será dividi<strong>do</strong> em cinco etapas, que<br />

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2 OA N O S<br />

serão organiza<strong>da</strong>s <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

• Primeira etapa:<br />

A princípio serão pesquisa<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des sobre técnica vocal, as quais<br />

serão cataloga<strong>da</strong>s por assuntos (temas em comum) e quanti<strong>da</strong>de de usuários. A partir de então<br />

será feita uma entrevista através de formulário via Orkut e email, com o proprietário <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, sobre sua formação musical e seu objetivo em torno <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

• Segun<strong>da</strong> etapa:<br />

Em segui<strong>da</strong> serão pesquisa<strong>do</strong>s os diversos materiais compartilha<strong>do</strong>s nessas<br />

comuni<strong>da</strong>des, seguin<strong>do</strong> a seguinte ordem:<br />

-apostilas,<br />

-méto<strong>do</strong>s (partituras),<br />

-possíveis livros para <strong>do</strong>wnload.<br />

-áudio para treinamento vocal (exercício de vocalize),<br />

-vídeo aulas,<br />

-outros (irão ser incluí<strong>da</strong>s opiniões e sugestões de bibliografias pelos usuários dentro<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em torno de um assunto, quan<strong>do</strong> for pertinente, tais como efeitos vocais, os<br />

diversos tipos de canto, etc. Além de citações de literaturas).<br />

• Terceira Etapa:<br />

Serão entrevista<strong>do</strong>s os usuários que utilizam as comuni<strong>da</strong>des no Orkut, a fim<br />

de verificar o perfil desses usuários; bem como verificar como o Orkut tem contribuí<strong>do</strong> à sua<br />

formação musical. Essas entrevistas serão feitas através de formulários via Orkut e email.<br />

• Quarta Etapa:<br />

Análise <strong>do</strong> material e checagem <strong>da</strong>s fontes <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> <strong>do</strong>s materiais.<br />

• Quinta Etapa:<br />

Catalogação e disponibilização de to<strong>do</strong> material em uma única comuni<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> Orkut, viabilizan<strong>do</strong>-os aos participantes <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des analisa<strong>da</strong>s e publicação em<br />

revistas especializa<strong>da</strong>s.<br />

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2 OA N O S<br />

Considerações Finais<br />

É um grande desafio o percurso de um aspirante a cantor. As barreiras que<br />

existem entre o conhecimento e esses indivíduos aumentam ain<strong>da</strong> mais quan<strong>do</strong> se fala em<br />

conhecimento fora <strong>da</strong> educação formal <strong>da</strong>s escolas de canto; sem dúvi<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>r e ter acesso<br />

a informações sobre técnica vocal torna-se um percurso árduo, fazen<strong>do</strong> com que inclusive<br />

“cantores” <strong>da</strong> noite, de igrejas e de tantos outros lugares, acabem estragan<strong>do</strong> aos poucos suas<br />

vozes por falta de informações. Informações quase escassas em nossas bibliotecas e livrarias.<br />

O presente projeto visa contribuir para a difusão <strong>do</strong> conhecimento, propon<strong>do</strong> levar<br />

informação a partir <strong>da</strong> ferramenta interativa Orkut, crian<strong>do</strong> uma comuni<strong>da</strong>de virtual, que além<br />

de disponibilizar materiais seguros sobre o canto, torne-se um espaço alternativo de<br />

informações coerentes, pois entendemos que a socialização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> pesquisa deva<br />

acontecer além <strong>do</strong>s meios tradicionais, como apresentação em congressos e eventos similares<br />

ou em revistas especializa<strong>da</strong>s, por isso incluirá os ambientes virtuais, uma vez que nosso<br />

campo de pesquisa faz parte desse contexto.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

AGUIARI, Vinicius. Orkut é 8 vezes maior que facebook no Brasil. Revista INFO Online,<br />

ago. 2010. Disponível em: .<br />

Acesso em: 13 abr. <strong>2011</strong>.<br />

CABRAL, Adilson. Apoteose e Apocalipse: internet e educação no Brasil. Disponível em:<br />

Acesso em: 23 nov. 2010.<br />

CRUZ, D. M. Introdução a Mídia e Conhecimento. Apostila <strong>do</strong> Curso de Especialização para<br />

Gestores de Instituições de Ensino Técnico <strong>do</strong> SENAI, Turma 4. Disciplina 1 <strong>do</strong> terceiro<br />

Módulo. Florianópolis: PPGEP/LED, 2000.<br />

LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Ed. 34, 1996.<br />

MORAN, J. Manoel. Como utilizar a internet na educação. Revista Ciência <strong>da</strong> Informação,<br />

Brasília, n. 2, p. 146-153, 1997. Disponível em:<br />

< http://www.eca.usp.br/prof/moran/internet.htm#pesquisa>. Acesso em: 25 nov. 2010.<br />

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Aspectos multimo<strong>da</strong>is na Interpretação Musical: Importância <strong>da</strong><br />

gestuali<strong>da</strong>de para o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica pianística<br />

Marina Maluli César<br />

Facul<strong>da</strong>de de Filosofia, Letras e Ciências Humanas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo.<br />

marina.maluli@gmail.com<br />

Resumo: No ensino <strong>do</strong> piano muitas questões podem ser levanta<strong>da</strong>s a respeito <strong>da</strong> importância<br />

e significa<strong>do</strong> <strong>da</strong> técnica pianística. Ain<strong>da</strong> que uma definição comum não seja fácil de mapear,<br />

de um mo<strong>do</strong> geral a técnica é coloca<strong>da</strong> em oposição à ideia de interpretação musical. Esta<br />

oposição cria problemas de diversas ordens que vão desde a falta de atenção <strong>do</strong> aluno durante<br />

a execução <strong>do</strong>s exercícios de caráter mais técnico até a dificul<strong>da</strong>de de vencer determina<strong>do</strong>s<br />

problemas interpretativos em obras que exigem um maior <strong>do</strong>mínio <strong>da</strong> técnica anteriormente<br />

adquiri<strong>da</strong>. A ideia <strong>da</strong> aprendizagem gestual exposta aqui tem por pressuposto o fato de que<br />

em to<strong>do</strong> tipo de linguagem o ato comunicativo envolve diversos parâmetros, estan<strong>do</strong> presente<br />

tanto os de ordem sonora quanto háptico-visual. Estes parâmetros sensitivos consistem alguns<br />

exemplos <strong>do</strong> que denominamos mo<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong> que a linguagem musical é um exemplo de<br />

resultante de uma interação multimo<strong>da</strong>l.<br />

Palavras-chave: Interpretação musical, Multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, Técnica Pianística.<br />

Introdução<br />

Consideran<strong>do</strong> a interpretação ou performance <strong>da</strong> música instrumental como sen<strong>do</strong> a<br />

comunicação de um texto essencialmente não-verbal, foca<strong>do</strong> <strong>da</strong> interação entre o som e o<br />

tempo, implican<strong>do</strong> entretanto em outros parâmetros além <strong>do</strong>s estritamente sonoros,<br />

pretendemos neste trabalho tecer analogias entre os resulta<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com outras<br />

formas de comunicação, as quais já incluem questões levanta<strong>da</strong>s pela multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de, e a<br />

análise <strong>do</strong> porquê devemos considerar também na música tais parâmetros como constituintes<br />

<strong>da</strong> mensagem. Ten<strong>do</strong> isto em vista o objetivo deste artigo é colocar em relevo algumas<br />

questões sobre a importância <strong>da</strong> gestuali<strong>da</strong>de ser leva<strong>da</strong> em conta durante o ensino <strong>do</strong> piano<br />

em um aspecto mais amplo, ou seja, como um ponto de convergência em que devem estar<br />

presentes tanto questões de interpretação quanto o aprendiza<strong>do</strong> técnico.<br />

Multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de na Música<br />

Segun<strong>do</strong> a teoria <strong>da</strong> multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de desenvolvi<strong>da</strong> por Kress e Van Leeuwen em em<br />

Multimo<strong>da</strong>l Discourse: the modes and media of contemporary communication temos que o<br />

texto multimo<strong>da</strong>l é aquele que se realiza por mais de um código semiótico, ou em que um<br />

conjunto de mo<strong>do</strong>s semióticos está envolvi<strong>do</strong> em to<strong>da</strong> produção e leitura <strong>do</strong> texto sen<strong>do</strong><br />

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mo<strong>do</strong>s são entendi<strong>do</strong>s aqui como recursos semióticos que permitem a realização simultânea<br />

de discursos e tipos de (inter)ação. Ain<strong>da</strong> dentro desta definição teríamos como exemplos de<br />

mo<strong>do</strong>s as linguagens musical, verbal e visual. Assim, o discurso multimo<strong>da</strong>l pode ser<br />

defini<strong>do</strong>, como aquele em que palavras, sons e imagens (assim como gestos) podem ser<br />

usa<strong>do</strong>s no mesmo discurso.<br />

A partir destas considerações a multimo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de teria um papel fun<strong>da</strong>mental para os<br />

estu<strong>do</strong>s musicais vin<strong>do</strong> de encontro ao pensamento sintetiza<strong>do</strong> nas palavras de Merleau-Ponty<br />

A percepção sinestésica é a regra, e, se não percebemos isso,é porque o saber<br />

científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a ouvir e, em<br />

geral, a sentir, para deduzir de nossa organização corporal e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tal<br />

como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir (MERLEAU-<br />

PONTY, 1945 p. 308).<br />

Ten<strong>do</strong> isto em vista, podemos dizer que interpretação musical implica em vários<br />

fatores que vão além <strong>da</strong> percepção auditiva e que, no caso <strong>do</strong>s instrumentistas, dizem respeito<br />

principalmente ao gestual apreendi<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> de um instrumento específico. Para um<br />

instrumentista isto é obti<strong>do</strong> através <strong>do</strong> treino muscular e de reflexos, realiza<strong>do</strong> por muitos<br />

anos através de observações, imitações e experimentações constantes com a finali<strong>da</strong>de de<br />

mapear e internalizar os sons e timbres obti<strong>do</strong>s com ca<strong>da</strong> movimento expressivo <strong>do</strong> corpo em<br />

contato com o instrumento, de acor<strong>do</strong> com as necessi<strong>da</strong>des timbrísticas e estilísticas de um<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong> repertório musical. Isto ocorre porque o movimento corporal direciona<strong>do</strong><br />

expressivamente ou, em outras palavras, o gestual realiza<strong>do</strong> pelo intérprete, ain<strong>da</strong> que<br />

incorpora<strong>do</strong> por este de forma subjetiva, está em relação direta com o tipo de articulação e<br />

timbre obti<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> neste ponto bastante semelhante à ideia de colocação e mo<strong>do</strong>s de<br />

projeção <strong>da</strong> voz por um falante ao se comunicar ou proferir um discurso. Também é<br />

importante frisar que a importância <strong>do</strong> gesto no discurso musical vai além <strong>do</strong> uso feito deste<br />

por um instrumentista, sen<strong>do</strong> também um <strong>do</strong>s aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> composição,<br />

recepção musical, assim como lutheria e tecnologia musical, uma vez que provoca reflexos na<br />

escuta realiza<strong>da</strong>, se constituin<strong>do</strong> um ponto de ligação entre a significação <strong>do</strong> som e sua<br />

materiali<strong>da</strong>de.<br />

Técnica versus Musicali<strong>da</strong>de<br />

Durante muito tempo, a ponto mesmo de se caracterizar como uma prática de ensino, o<br />

ensino <strong>da</strong> técnica pianística se opôs ao desenvolvimento <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de. Dentro deste<br />

contexto seria necessário em um primeiro momento desenvolver a musicali<strong>da</strong>de, em um<br />

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senti<strong>do</strong> em geral extremamente abstrato, para, de acor<strong>do</strong> com as dificul<strong>da</strong>des técnicas<br />

encontra<strong>da</strong>s durante este percurso, serem trabalha<strong>da</strong>s questões técnicas pontuais. Assim, o<br />

exercício de escalas, arpejos, notas repeti<strong>da</strong>s, etc é visto como um instrumento acessório ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de. Segun<strong>do</strong> Marum, esta prática tem algumas consequências<br />

visivelmente prejudiciais sen<strong>do</strong> uma consequência direta <strong>da</strong> falta de esclarecimento sobre o<br />

significa<strong>do</strong> e real importância <strong>do</strong> desenvolvimento técnico no ensino <strong>do</strong> piano.<br />

Observamos que para superar suas deficiências técnica, muitos jovens<br />

praticam por meses o mesmo repertório, sem perceber que com isso estão<br />

cultivan<strong>do</strong> suas restrições físicas e limitan<strong>do</strong> seus conhecimentos musicais.<br />

Assim, surgem problemas físicos inerentes <strong>da</strong> prática errônea, como vícios<br />

de postura, tensões desnecessárias, tendinites e lesões por esforço repetitivo.<br />

(MARUM, 2010, p. 16)<br />

Pode-se dizer que uma <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des principais está no que associamos ao<br />

Dominar os conhecimentos musicais, desenvolvê-los na própria<br />

experiência, vivenciá-los a ponto de poder expressá-los com a fluidez<br />

necessária à boa interpretação de uma obra musical é tarefa muito complexa.<br />

Igualmente difícil é o <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s movimentos necessários à execução <strong>do</strong><br />

instrumento, de acor<strong>do</strong> com a interpretação deseja<strong>da</strong>. (RICHERME, 1997,<br />

p. 11)<br />

Dentro deste cenário pode-se retomar a noção <strong>da</strong> aprendizagem gestual como um<br />

parâmetro para um desenvolvimento integral <strong>do</strong> instrumentista enquanto intérprete. Citan<strong>do</strong><br />

novamente Marum está se tornan<strong>do</strong> tendência entre os pe<strong>da</strong>gogos contemporâneos a<br />

conclusão de que há uma uni<strong>da</strong>de entre a personali<strong>da</strong>de musical e a técnica utiliza<strong>da</strong> pelo<br />

intérprete consideran<strong>do</strong> aqui que o gesto se constitui um to<strong>do</strong> indivisível para onde<br />

convergem outros parâmetros geralmente analisa<strong>do</strong>s separa<strong>da</strong>mente como harmonia, ritmo,<br />

tempo, rubato, articulação, dinâmica e frasea<strong>do</strong>.<br />

Desta forma a prática <strong>do</strong>s exercícios técnicos, quan<strong>do</strong> trabalha<strong>da</strong> de forma consciente<br />

e dirigi<strong>da</strong>, se torna uma ferramenta capaz de conjugar a rede constituí<strong>da</strong> por tais relações. A<br />

forma como esta aproximação se dá tem uma base que se constitui no próprio mecanismo de<br />

funcionamento <strong>da</strong> mão humana.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A meto<strong>do</strong>logia utiliza<strong>da</strong> parte <strong>da</strong> análise de algumas dificul<strong>da</strong>des técnicas encontra<strong>da</strong>s<br />

pelos estu<strong>da</strong>ntes de música dentro <strong>do</strong> contexto de aprendizagem de um instrumento musical, o<br />

que implica desenvolvimento tanto motor quanto de análise e percepção <strong>do</strong>s sons, estan<strong>do</strong><br />

estes associa<strong>do</strong>s a determina<strong>do</strong>s gestos. De mo<strong>do</strong> a realizar tal pesquisa, foram registra<strong>do</strong>s por<br />

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meio de gravação em vídeo diferentes momentos de uma interpretação feita ao piano de<br />

trechos de obras escolhi<strong>da</strong>s a partir de dificul<strong>da</strong>des técnicas específicas a serem considera<strong>da</strong>s.<br />

A partir de então realiza-se um trabalho que analisa a sequencia de gestos e sua importância<br />

para a assimilação <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de inerente a ca<strong>da</strong> trecho de mo<strong>do</strong> a, em um momento<br />

posterior, associá-los à sua disposição ao longo <strong>da</strong> peça em algo que pode ser considera<strong>do</strong><br />

como uma espécie de sintaxe gestual. As conclusões são parciais na medi<strong>da</strong> em que têm como<br />

objetivo final acrescentar uma segun<strong>da</strong> análise que inclua a comparação de como se deu a<br />

resolução de uma mesma dificul<strong>da</strong>de por diferentes alunos uma vez que a construção de um<br />

repertório gestual se faz neste encontro entre as características <strong>do</strong> instrumento, no caso o<br />

piano, e as possibili<strong>da</strong>des de amplitude de movimentos físicos alia<strong>do</strong>s ao desenvolvimento<br />

musical <strong>do</strong> executante.<br />

Conclusão<br />

As mãos humanas podem ser considera<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> compara<strong>da</strong>s a outras partes <strong>do</strong><br />

corpo, como órgãos tanto de ação quanto de recepção. Nossas mãos são usa<strong>da</strong>s para mol<strong>da</strong>r o<br />

mun<strong>do</strong> ao mesmo tempo em que recebemos informações sobre ele. Sob este ponto de vista a<br />

mão pode ser considera<strong>da</strong>s como o mais prático <strong>do</strong>s nossos órgãos perceptivos na medi<strong>da</strong> em<br />

que exige uma postura ativa.<br />

Assim, podemos dizer que durante o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> piano nossas mãos precisam<br />

incorporar o "mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s sons" e <strong>da</strong> música. Esta busca passa por uma definição mais precisa<br />

de técnica musical, associa<strong>da</strong> em geral a um conceito puramente mecânico, e por vezes<br />

depreciativo, como se um músico pudesse tocar um instrumento sem estar atento aos sons<br />

associa<strong>do</strong>s ao movimento. Este conceito é leva<strong>do</strong> ao extremo quan<strong>do</strong> consideramos por<br />

exemplo o mo<strong>do</strong> como ocorre o aprendiza<strong>do</strong> <strong>da</strong> improvisação vocal na música Indiana, pois<br />

aqui não há mais um instrumento (no senti<strong>do</strong> de que ele não é externo ao músico) e no entanto<br />

os gestos continuam presentes, como se tocan<strong>do</strong> um instrumento invisível.<br />

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Referências<br />

DAVIDSON, J. W. Visual Perception of Performance Manner in the Movements of Solo<br />

Musicians. Psychology of Music, v. 21, p. 103–113, 1993.<br />

KRESS, G; VAN LEEUWEN. T. Multimo<strong>da</strong>l Discourse: the modes and media of<br />

contemporary communication. Bloomsbury: Oxford University Press, 2001. 152 p.<br />

MARUM, N. Técnica Avança<strong>da</strong> para Pianístas: conceitos e relações técnico-musicais nos 51<br />

exercícios para piano de Johannes Brahms. São Paulo: Ed. UNESP, 2010. 230 p.<br />

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia <strong>da</strong> percepção (C. Moura, Trad.). São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1945.<br />

RICHERME, C. A técnica pianística: Uma abor<strong>da</strong>gem científica. São João <strong>da</strong> Boa Vista, SP:<br />

AIR Musical Editora, 1997. 294 p.<br />

SAGONEL, B. O que é Gesto Musical. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992. 63 p.<br />

SUDNOW, D. Ways of the hand: The Organization of Improvised Conduct. New York:<br />

Harper Colophon Books, 1981. 155 p.<br />

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2 OA N O S<br />

A MÚSICA INSTRUMENTAL VAI À ESCOLA<br />

POR MEIO DO SAXOFONE<br />

Draylton Siqueira Silva<br />

IFPB<br />

drayltonsax@gmail.com<br />

Resumo: O Grupo de Sax foi cria<strong>do</strong> em setembro de 2007, a partir <strong>da</strong>s aulas de Artes em uma<br />

turma <strong>do</strong> Curso Técnico Integra<strong>do</strong> ao Ensino Médio em Eletrotécnica. O ensino musical no<br />

Brasil ain<strong>da</strong> se encontra deficiente quanto a sua disponibili<strong>da</strong>de ao público em geral. As<br />

instituições de ensino musical gratuitas existentes não atendem à deman<strong>da</strong>, ten<strong>do</strong> que, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, realizar algum tipo de seleção, subtrain<strong>do</strong> dessa forma a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

um significativo número de pessoas estu<strong>da</strong>r música. Nos últimos anos, disciplinas de<br />

Educação Artística foram subtraí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino público regular de nosso país<br />

(NASCIMENTO, 2006). Dentro desse contexto, surgiu a idéia de aproximar a música<br />

instrumental <strong>do</strong> jovem e <strong>do</strong> público em geral, como forma de despertar o gosto pela música,<br />

por meio de apresentações musicais didáticas. Ativi<strong>da</strong>des vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s a partir de<br />

pesquisa bibliográfica, elaboração de materiais didáticos, apresentação usan<strong>do</strong> <strong>da</strong>tashow,<br />

vídeos sobre o grupo; além de ensaios semanais e apresentações musicais, entre elas: Projeto<br />

Terça Tem na Estação Ciência Cabo Branco em Outubro/2010, Colégio IRB em<br />

Novembro/2010, Escola Municipal Ana Cristina Rolim em Novembro/2010.<br />

Palavras-chave: : Música Instrumental, Educação, Saxofone.<br />

Introdução<br />

O ensino musical formal no Brasil ain<strong>da</strong> se encontra deficiente quanto a sua<br />

disponibili<strong>da</strong>de ao público em geral. As instituições de ensino musical gratuitas existentes não<br />

atendem à deman<strong>da</strong> <strong>da</strong> procura por seus cursos, ten<strong>do</strong> que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, realizar<br />

algum tipo de seleção, tiran<strong>do</strong> dessa forma a oportuni<strong>da</strong>de de um significativo número de<br />

pessoas de estu<strong>da</strong>r música. Nos últimos anos, disciplinas de Educação Artística foram<br />

retira<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino público regular <strong>do</strong> Brasil.(NASCIMENTO, 2006).<br />

A educação musical contemporânea deman<strong>da</strong> a construção de novas práticas<br />

que dêem conta <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de de experiências musicais que as pessoas<br />

estão vivencian<strong>do</strong> na socie<strong>da</strong>de atual. Assim, transitar entre o escolar e o<br />

extra-escolar, o “formal” e o “informal”, o cotidiano e o institucional, tornase<br />

um exercício de ruptura com modelos arraiga<strong>do</strong>s que teimam em manter<br />

separa<strong>da</strong>s esferas que na experiência vivi<strong>da</strong> dialogam (ARROYO, 2000).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, é possível entender que a educação musical desenvolvi<strong>da</strong> a partir de práticas<br />

informais, pode ser considera<strong>da</strong> hoje um espaço latente de educação musical, bem como um<br />

caminho a mais que se abre para a educação e integração de crianças e jovens na socie<strong>da</strong>de<br />

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(SANTOS, 2008). Hummes (2004) ao refletir sobre o ensino de música e as suas funções na<br />

socie<strong>da</strong>de e em particular na escola, destaca os varia<strong>do</strong>s suportes em que a música está<br />

presente no século XXI. Ela está nos meios de comunicação, nos telefones convencionais e<br />

celulares, na internet, vídeos, lojas, bares, nos alto-falantes, nos consultórios médicos, nos<br />

recreios escolares, enfim, em quase to<strong>do</strong>s os locais em que estamos e em meios que<br />

utilizamos para nos comunicarmos ou nos divertirmos. Também, se faz presente nos rituais de<br />

exaltação a determina<strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des e nos eventos mais varia<strong>do</strong>s possíveis.<br />

Allan Merriam (1964) apud Hummes (2004) classificou as funções sociais <strong>da</strong> música<br />

em categorias, que tem si<strong>do</strong> considera<strong>da</strong>s para a reflexão de vários autores, dentre as quais<br />

destacam-se: Função de expressão emocional; Função <strong>do</strong> prazer estético; Função de<br />

divertimento, entretenimento; Função de comunicação; Função de representação simbólica;<br />

Função de reação física; Função de impor conformi<strong>da</strong>de às normas Sociais; Função de<br />

vali<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s instituições sociais e <strong>do</strong>s rituais religiosos; Função de contribuição para a<br />

continui<strong>da</strong>de e estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura; Função de contribuição para a integração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

No contexto deste estu<strong>do</strong>, destacamos a Função de contribuição para a continui<strong>da</strong>de e<br />

estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura, visan<strong>do</strong> divulgar a música instrumental nas escolas municipais de<br />

João Pessoa, oferecen<strong>do</strong> desta forma aos alunos a oportuni<strong>da</strong>de de estabelecer um vínculo<br />

maior com o público que em contraparti<strong>da</strong> apreciará a performance musical.<br />

O Grupo de Sax (IFPPB) foi cria<strong>do</strong> em setembro de 2007 a partir <strong>da</strong>s aulas de Artes<br />

ministra<strong>da</strong>s em uma turma <strong>do</strong> 1º Ano <strong>do</strong> Curso Técnico Integra<strong>do</strong> ao Ensino Médio em<br />

Eletrotécnica. Este projeto tem como objetivo aproximar a música instrumental <strong>do</strong> jovem e<br />

<strong>do</strong> público em geral, despertan<strong>do</strong> dessa forma o gosto pela música instrumental, além de<br />

possibilitar o acesso às ferramentas que edifiquem e aprofundem sua visão de mun<strong>do</strong> e<br />

contribuam para o seu crescimento intelectual e artístico. Ain<strong>da</strong>, ter conhecimento sobre o<br />

instrumento a ser estu<strong>da</strong><strong>do</strong>, em especial o saxofone.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

O trabalho está sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> a partir de encontros semanais com duração de<br />

três horas, elaboração de materiais didáticos, apresentação em PowerPoint, vídeos sobre o<br />

grupo, apresentações musicais didáticas em escola municipais, como também a participação<br />

em eventos e projetos.<br />

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Entre as ativi<strong>da</strong>des práticas realiza<strong>da</strong>s temos: aquecimento com notas longas (com crescen<strong>do</strong><br />

e diminuen<strong>do</strong>); escalas e arpejos em to<strong>da</strong>s as tonali<strong>da</strong>des com o objetivo de tocar to<strong>do</strong>s os<br />

susteni<strong>do</strong>s e to<strong>do</strong>s os bemóis com a mesma naturali<strong>da</strong>de que se toca o tom de dó maior;<br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong>s escalas e arpejos em diferentes articulações e execução de leitura a primeira vista.<br />

Com relação ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> repertório, faz-se necessário: 1. certificar-se bem <strong>da</strong>s notas a<br />

serem toca<strong>da</strong>s (tonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> música); 2. trabalhar a divisão rítmica; 3. compreender to<strong>da</strong>s as<br />

articulações; 4. Estar atento às dinâmicas; estar atento aos sinais de expressão; 6. estu<strong>da</strong>r a<br />

princípio, de forma lenta e para chegar no tempo metronômico determina<strong>do</strong>; 7. Interpretar a<br />

música com a orientação <strong>do</strong> professor. Os alunos iniciam o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> instrumento a partir de<br />

aulas coletivas e utilizam alguns instrumentos que são <strong>da</strong> própria instituição, outros <strong>do</strong>s<br />

próprios alunos e outros empresta<strong>do</strong>s pelo professor. No momento fazem parte <strong>do</strong> grupo cinco<br />

alunos que tocam saxofone e quatro alunos que fazem parte <strong>da</strong> base (bateria, baixo, guitarra e<br />

percussão). Esses alunos são oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cursos de música <strong>do</strong> IFPB, <strong>do</strong>s outros cursos que<br />

não são de música também <strong>do</strong> IFPB (Técnico Integra<strong>do</strong> Em Eletrônica, Técnico Integra<strong>do</strong> Em<br />

Eletrotécnica , Engenharia Elétrica) e também <strong>do</strong>s cursos de extensão de música que são<br />

ofereci<strong>do</strong>s a comuni<strong>da</strong>de (oficinas de saxofone). O repertório trabalha<strong>do</strong> tem como base a<br />

música popular brasileira como “Wave” e “Chega de Sau<strong>da</strong>de” de Tom Jobim, músicas<br />

regionais como “Algodão” de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e “Feira de Mangaio” de Sivuca,<br />

além de músicas internacionais como Missão Impossível de Lalo Schifrin, And I Love Her de<br />

John Lennon e Paul Maccartney.<br />

Conclusão<br />

Em to<strong>da</strong>s as apresentações que o grupo tem realiza<strong>do</strong> verifica-se uma aceitação positiva <strong>do</strong><br />

público, enquanto alunos <strong>da</strong>s escolas e/ou <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de em geral demonstram um especial<br />

interesse de participar <strong>do</strong> grupo e, conseqüente, interesse de aprender a tocar o saxofone.<br />

Pode-se destacar, ain<strong>da</strong>, a importância <strong>da</strong> socialização <strong>do</strong> conhecimento bem como a<br />

divulgação <strong>do</strong>s Cursos Técnicos Integra<strong>do</strong> e Subsequentes em Instrumento Musical oferta<strong>do</strong>s<br />

pela Instituição.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

ARROYO, Margarete. Transitan<strong>do</strong> entre o “formal” e o “informal”: um relato sobre a<br />

formação de educa<strong>do</strong>res musicais. In: SIMPÓSIO PARANAENSE DE EDUCAÇÃO<br />

MUSICAL, 7., 2000, Paraná. <strong>Anais</strong>, Londrina: <strong>ABEM</strong>, 2000, p. 77 – 90.<br />

CAPISTRANO, Rodrigo. Apostila completa sobre o saxofone. Apostila versão 06/2008.<br />

HOLANDA, Costa; MACIEL, Jardilino. Méto<strong>do</strong> básico para sax alto. In:Projeto<br />

Fortalecimento Musical, Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ceará – Secretaria <strong>da</strong> Cultura. Sistema<br />

Estadual de Ban<strong>da</strong>s de Música – Apostila edita<strong>da</strong> em Setembro/2008, disponível em<br />

www.secult.ce.gov.br.<br />

HUMMES, Júlia Maria. Por que é importante o ensino de música? Considerações sobre<br />

as funções <strong>da</strong> música na socie<strong>da</strong>de e na escola. Porto Alegre: Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>, vol. 11,<br />

17-25, set. 2004.<br />

MASCI, Drº Cyro. Respiração. Disponível em: www.masci.com.br/respira.html. Acesso em:<br />

23 de novembro de 2005.<br />

MERRIAM, A. O. The anthropology of music. Evanston: Northwestern University Press,<br />

1964.<br />

NASCIMENTO, Marco Antonio Tole<strong>do</strong>. Congresso <strong>da</strong> Associação Nacional de Pesquisa e<br />

Pós-graduação em Música (ANPPOM) Brasília – 2006.<br />

RUSSO, Amadeu. Méto<strong>do</strong> completo de saxofone. São Paulo: Irmãos Vitale.<br />

SANTOS, Carla Pereira. Educação Musical no Âmbito <strong>do</strong>s Projetos Sociais: Reflexões e<br />

Práticas. In: <strong>Encontro</strong> Anual <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong> e Congresso <strong>Regional</strong> <strong>da</strong> ISME na América<br />

Latina16, 2007. Mato Grosso <strong>do</strong> Sul. <strong>Anais</strong>. Mato Grosso <strong>do</strong> Sul: Editora Universitária<br />

UFMS.<br />

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2 OA N O S<br />

A implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC – Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre<br />

Elder Gomes <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre<br />

eldergomes@ufac.br<br />

Resumo: O trabalho apresenta<strong>do</strong> se propõe a relatar a implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC –<br />

Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre. Propõe-se que o<br />

laboratório seja um espaço que ofereça projetos de ensino na área de iniciação musical, ensino<br />

coletivo de instrumentos e formação de grupos musicais residentes. Sua intenção não é a<br />

realização de estágios, que ficarão a cargo <strong>da</strong>s escolas de formação básica. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

pretende-se, por meio de sua criação, possibilitar também a instrumentação pe<strong>da</strong>gógica e<br />

didática necessária para o desenvolvimento destas ativi<strong>da</strong>des, além de fornecer um espaço<br />

adequa<strong>do</strong> à formação prática <strong>do</strong> futuro educa<strong>do</strong>r musical. Atualmente, o laboratório se<br />

encontra em fase de implantação, com inauguração prevista para o final deste ano.<br />

Palavras-chave: Laboratórios de educação musical; formação <strong>do</strong>cente; práticas pe<strong>da</strong>gógicas.<br />

Introdução<br />

O trabalho que se apresenta é destina<strong>do</strong> a discutir a implantação <strong>do</strong> LabEM/UFAC –<br />

Laboratório de Educação Musical <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Acre. Aqui, pretende-se<br />

levantar questões acerca <strong>da</strong> proposta <strong>do</strong> laboratório, como seus objetivos, seu público alvo e<br />

sua estrutura.<br />

O LabEM começou a ser elabora<strong>do</strong> nos últimos anos, no âmbito <strong>do</strong> Curso de<br />

Licenciatura em Música. O curso, que é recente, possui uma formação volta<strong>da</strong> especialmente<br />

para a educação musical, mas ain<strong>da</strong> existem grandes dificul<strong>da</strong>des de implantação de projetos<br />

liga<strong>do</strong>s à área na universi<strong>da</strong>de, por conta <strong>da</strong> inexistência de um espaço adequa<strong>do</strong> para a<br />

formação <strong>do</strong>cente. De fato, o correto seria falar em espaços, no plural, devi<strong>do</strong> à grande<br />

diversi<strong>da</strong>de de atuações e ações possíveis em educação musical, como nos apresenta Kater<br />

(2004). Diante <strong>do</strong> exposto, emergem alguns questionamentos fun<strong>da</strong>mentais para um curso de<br />

licenciatura em música: como criar estes espaços? Como possibilitar que o futuro educa<strong>do</strong>r<br />

musical tenha acesso, durante sua formação, com diferentes formas de educação musical?<br />

Neste senti<strong>do</strong>, vem-se pensan<strong>do</strong> na criação de um laboratório que possa suprir esta deman<strong>da</strong>,<br />

assim como fizeram outras universi<strong>da</strong>des, como UDESC (MÜLLER, 2005), UFSCar (JOLY<br />

et al., 2007) e UnB (AZEVEDO et al., 2008), para citar algumas.<br />

Atualmente, o LabEM se encontra em fase de implantação. A solicitação de compra<br />

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2 OA N O S<br />

de instrumentos já foi realiza<strong>da</strong> pela Coordenação <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música e<br />

espera-se que até o final <strong>do</strong> ano esta fase possa se concretizar. A proposta, como veremos a<br />

seguir, é que o laboratório seja um <strong>do</strong>s espaços de formação prática para o discente, de mo<strong>do</strong><br />

que ele possa participar e desenvolver as ativi<strong>da</strong>des práticas <strong>da</strong>s disciplinas <strong>do</strong> eixo de<br />

educação musical em seu espaço.<br />

A proposta <strong>do</strong> LabEM/UFAC<br />

A idéia <strong>da</strong> criação de um laboratório para educação musical surge a partir <strong>da</strong><br />

deman<strong>da</strong> <strong>do</strong> exercício <strong>da</strong> prática <strong>do</strong>cente no âmbito <strong>da</strong> formação <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong> em música.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, foi pensa<strong>do</strong> um espaço que pudesse proporcionar este exercício, vincula<strong>do</strong><br />

prioritariamente às disciplinas <strong>do</strong> eixo de educação musical: Educação Musical I, II, III, IV e<br />

V, além <strong>da</strong>s disciplinas Prática de Ensino em Música I e II. Para que fique claro, cabe aqui<br />

uma breve menção: o Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC possui, em sua estrutura<br />

curricular, disciplinas distintas de Prática de Ensino em Música e Estágio Supervisiona<strong>do</strong> em<br />

Música. Isso porque se pensou nos estágios sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s estritamente nas escolas de<br />

formação básica, mas se sentiu necessi<strong>da</strong>de de que houvessem outras disciplinas volta<strong>da</strong>s para<br />

a prática pe<strong>da</strong>gógica em música em diversos espaços, embora seja permiti<strong>da</strong> a realização <strong>do</strong>s<br />

estágios em laboratórios <strong>da</strong> própria universi<strong>da</strong>de, conforme a Resolução CNE/CES nº<br />

02/2004 1 . Assim surge a disciplina de Prática de Ensino em Música, cuja ementa propõe a<br />

reflexão sobre as possibili<strong>da</strong>des de atuação <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r em escolas específicas, projetos de<br />

ação social e no próprio laboratório.<br />

Diante disto, o laboratório representa a concretização de um espaço próprio para<br />

receber os projetos de extensão e ensino liga<strong>do</strong>s ao eixo de educação musical na universi<strong>da</strong>de,<br />

sejam eles permanentes ou pontuais, além de possibilitar a realização de ativi<strong>da</strong>des práticas<br />

<strong>da</strong>s disciplinas <strong>do</strong> eixo de educação musical. Logo, seu público alvo são os alunos <strong>do</strong> Curso<br />

de Licenciatura em Música, bem como o público que será beneficia<strong>do</strong> por suas ações –<br />

crianças, a<strong>do</strong>lescentes e adultos <strong>do</strong> município de Rio Branco.<br />

A proposta <strong>do</strong> LabEM, a priori, incide sobre três premissas: a) iniciação musical; b)<br />

projetos de ensino coletivo de instrumentos; c) formação de grupos musicais.<br />

¹ “§ 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realiza<strong>do</strong> na própria Instituição de Ensino Superior, mediante<br />

laboratórios que congreguem as diversas ordens correspondentes às diferentes técnicas composicionais, de meios<br />

acústicos, eletro-acústicos e experimentais, interdiciplinares e <strong>do</strong>s conhecimentos e <strong>da</strong> expressão estética, bem<br />

como de regência e de outras ativi<strong>da</strong>des inerentes à área de música, em suas múltiplas manifestações.” (BRASIL,<br />

2004, p. 10).<br />

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A iniciação musical, proposta de qualquer laboratório liga<strong>do</strong> à disciplina, é um<br />

trabalho que se estende sobre a questão <strong>da</strong> formação básica em música para crianças, jovens e<br />

adultos, e que precede à performance. Com relação ao ensino coletivo de instrumentos, neste<br />

momento foram pensa<strong>da</strong>s ações liga<strong>da</strong>s ao ensino de violão e flauta <strong>do</strong>ce, mas,<br />

posteriormente, pretende-se abranger também instrumentos de metais, madeiras e arcos. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, a formação de grupos musicais residentes de cunho pe<strong>da</strong>gógico é o resulta<strong>do</strong> espera<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s ações anteriores. Uma situação semelhante a respeito <strong>da</strong> criação de grupos musicais com<br />

essas características foi descrita por uma equipe <strong>da</strong> UFSCar, acerca <strong>da</strong> formação de uma<br />

orquestra comunitária (JOLY et al., 2002; JOLY, 2002).<br />

Por fim, é importante lembrar, ain<strong>da</strong>, que o LabEM/UFAC não pretende extinguir<br />

outras possíveis ações em educação musical, como aquelas liga<strong>da</strong>s às escolas de formação<br />

básica. Sua proposta é, também, agregar tais ações, possibilitan<strong>do</strong> a criação de um núcleo<br />

permanente e apropria<strong>do</strong> para suas realizações, através de um espaço para a instrumentação<br />

pe<strong>da</strong>gógica e didática no âmbito <strong>da</strong>s disciplinas relaciona<strong>da</strong>s à área 2 .<br />

Estrutura <strong>do</strong> LabEM/UFAC: instrumentos e equipamentos solicita<strong>do</strong>s<br />

A criação <strong>do</strong> LabEM prevê inicialmente a aquisição de instrumentos e equipamentos<br />

que permitam a realização de projetos de ensino e extensão em educação musical na<br />

universi<strong>da</strong>de, no âmbito <strong>da</strong> proposta já apresenta<strong>da</strong>. Neste momento, por meio de processos<br />

administrativos encaminha<strong>do</strong>s pela Coordenação <strong>do</strong> Curso, foram solicita<strong>do</strong>s os seguintes<br />

instrumentos:<br />

• Conjunto instrumental Orff de percussão: xilofones baixo, contralto e soprano;<br />

metalofones contralto e sopranino;<br />

• Pequena percussão: conjunto de sinos, carrilhão, ganzás, blocos sonoros,<br />

triângulos, reco-recos, platinelas, cocos, castanholas, claves, afoxés, cabuletes, sinos,<br />

pandeiros, sur<strong>do</strong>s e pratos;<br />

• Flautas-<strong>do</strong>ce contralto e soprano;<br />

• Violões.<br />

Também foram solicita<strong>do</strong>s um computa<strong>do</strong>r, um home-theater e um <strong>da</strong>ta-show, para<br />

fins didáticos.<br />

2 Recentemente, tem-se pensa<strong>do</strong> na possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criação de núcleos de educação musical vincula<strong>do</strong>s ao<br />

Programa Mais Educação, junto às escolas de ensino fun<strong>da</strong>mental <strong>do</strong> município, nos moldes <strong>do</strong> LabEM/UFAC.<br />

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Algumas reflexões<br />

A criação de um espaço próprio para o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des práticas em<br />

educação musical no Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC vem a suprir uma deman<strong>da</strong><br />

existente entre as disciplinas <strong>da</strong> área. De fato, o Conselho Nacional de Educação prevê a<br />

realização de 400 horas de prática enquanto componente curricular para os cursos de<br />

licenciatura (CNE, 2002, p. 9), além de 400 horas destina<strong>da</strong>s ao estágio supervisiona<strong>do</strong> 3 .<br />

Além <strong>do</strong> mais, como sugere Nóvoa, a formação se dá “através de um trabalho de<br />

reflexivi<strong>da</strong>de crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identi<strong>da</strong>de<br />

pessoal.” (NÓVOA apud BELLOCHIO, 2003, p. 19). Neste senti<strong>do</strong>, em um curso de<br />

licenciatura em música pode-se admitir por prática a própria prática <strong>do</strong>cente, que deverá,<br />

então, permear to<strong>da</strong> a formação <strong>do</strong> indivíduo.<br />

Viviane Beineke (2001) demonstrou em sua dissertação de mestra<strong>do</strong> os problemas<br />

relaciona<strong>do</strong>s à prática pe<strong>da</strong>gógica em música, ao estu<strong>da</strong>r o caso de três professoras <strong>da</strong><br />

educação básica. Para a autora,<br />

A relação entre teoria e prática pe<strong>da</strong>gógica configura um tema polêmico que,<br />

historicamente, é discuti<strong>do</strong> por educa<strong>do</strong>res e pesquisa<strong>do</strong>res. Na área de<br />

educação são aponta<strong>da</strong>s lacunas entre os processos de formação de<br />

professores e os problemas concretos que eles encontram na reali<strong>da</strong>de<br />

escolar. Um <strong>do</strong>s questionamentos deriva<strong>do</strong>s dessa problemática refere-se à<br />

relevância <strong>do</strong>s conhecimentos difundi<strong>do</strong>s nos cursos de formação, pela<br />

dificul<strong>da</strong>de de sua aplicação <strong>do</strong>s mesmos na prática de ensino. (BEINEKE,<br />

2001, p. 88).<br />

Assim, durante a prática, “o profissional vai construin<strong>do</strong> um repertório de exemplos,<br />

imagens, compreensões e ações que vão sen<strong>do</strong> incorpora<strong>do</strong>s aos seus conhecimentos práticos”<br />

e é com base neste repertório que ele resolve a situação em que se encontra no cotidiano<br />

(SCHÖN apud BEINEKE, 2001, p. 93). A prática pe<strong>da</strong>gógica em música, portanto, não deve<br />

se restringir somente ao final <strong>da</strong> graduação ou quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> colocação profissional <strong>do</strong> aluno<br />

forma<strong>do</strong> pela universi<strong>da</strong>de. Ela deve, antes, proporcionar o contato <strong>do</strong> aluno com diferentes<br />

públicos, diferentes possibili<strong>da</strong>des, a fim de favorecer a criação deste repertório, e é<br />

justamente sobre este aspecto que o LabEM/UFAC se faz importante.<br />

Considerações finais<br />

3 O Parecer CNE/CP nº 09/2007 sugere redução para 300 horas de estágio supervisiona<strong>do</strong>, mas ain<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong><br />

homologação. Disponível em: . Acesso em: 14<br />

de Maio de <strong>2011</strong>.<br />

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O LabEM/UFAC, que atualmente se encontra em fase de implantação, é uma<br />

proposta que visa consoli<strong>da</strong>r um espaço próprio para a formação prática <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical,<br />

no âmbito <strong>do</strong> Curso de Licenciatura em Música <strong>da</strong> UFAC. É importante ressaltar, uma vez<br />

mais, que o laboratório não pretende excluir outras ações em educação musical, como aquelas<br />

liga<strong>da</strong>s à escola de formação básica, tampouco significa um espaço para a realização <strong>do</strong>s<br />

estágios curriculares, uma vez que estes devem ser realiza<strong>do</strong>s no ambiente escolar, como é<br />

apresenta<strong>do</strong> nas ementas <strong>do</strong> curso. Isto se deve pela definição de laboratório, que,<br />

propriamente, é um ambiente artificial e rigorosamente controla<strong>do</strong> (LAKATOS; MARCONI,<br />

2005, p. 191).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, o LabEM/UFAC prevê a agregação destas ações, de mo<strong>do</strong> a<br />

possibilitar a instrumentação pe<strong>da</strong>gógica e didática necessária para que estas sejam realiza<strong>da</strong>s.<br />

Para tanto, é necessário o aperfeiçoamento <strong>do</strong>s elos estabeleci<strong>do</strong>s entre a universi<strong>da</strong>de e a<br />

escola, de mo<strong>do</strong> a promover a melhoria <strong>da</strong>s ações já desenvolvi<strong>da</strong>s e propor novas formas de<br />

atuação.<br />

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2 OA N O S<br />

Referências<br />

AZEVEDO, M. C. C. C.; GROSSI, C.; MONTANDON, M. I. Formatos alternativos para a<br />

prática de ensino em música: a experiência <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília. In: MATEIRO, T.;<br />

SOUZA, J. (orgs.). Práticas de Ensinar Música: Legislação, Planejamento, Observação,<br />

Registro, Orientação, Espaços e Formação. – Porto Alegre: Editora Sulina, 2008. pp. 65-83.<br />

BEINEKE, V. Teoria e prática pe<strong>da</strong>gógica: encontros e desencontros na formação de<br />

professores. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 06, pp. 87-95, setembro de 2001.<br />

BELLOCHIO, C. R. A formação profissional <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r musical: algumas apostas. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 08, pp. 17-24, março de 2003.<br />

BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno.<br />

Resolução CNE/CP nº 02/2002. Diário Oficial <strong>da</strong> União. Brasília, 4 de março de 2002, Seção<br />

1, p. 9.<br />

_______. Ministério <strong>da</strong> Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação<br />

Superior. Resolução CNE/CES nº 02/2004. Diário Oficial <strong>da</strong> União. Brasília, 12 de março de<br />

2004, Seção 1, p. 10. Disponível em: . Acesso em: 14 de Maio de <strong>2011</strong>.<br />

JOLY, I. Z. L.; KATER, C. E.; SANTIAGO, G. L. A. Projeto Pe<strong>da</strong>gógico de Curso de<br />

Graduação: Licenciatura em Música com habilitação em Educação Musical. – São Carlos:<br />

UFSCar, 2007.<br />

JOLY, I. Z. L.; JOLY, M. C. L.; PENTEADO, E. D. L.; SANTIAGO, G. L. A. Formação de<br />

orquestras com crianças de classes populares: uma proposta para a constituição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

In: ENCONTRO ANUAL DA <strong>ABEM</strong>, 11, 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... <strong>ABEM</strong>. Natal: <strong>ABEM</strong>.<br />

Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

15 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

JOLY, I. Z. L. Zoa<strong>da</strong> Brasileira: uma alegria cultural a partir <strong>do</strong> contato com nossas raízes<br />

culturais. In: ENCONTRO ANUAL DA <strong>ABEM</strong>, 11, 2002, Natal. <strong>Anais</strong>... <strong>ABEM</strong>. Natal:<br />

<strong>ABEM</strong>. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

15 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Meto<strong>do</strong>logia Científica. 6ª Edição –<br />

São Paulo: Editora Atlas, 2005.<br />

KATER, C. O que podemos esperar <strong>da</strong> educação musical em projetos de ação social. Revista<br />

<strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 10, pp. 43-51, março de 2004.<br />

MÜLLER, V. Por uma educação musical implica<strong>da</strong> com os mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong> de seus cenários<br />

de atuação. Revista <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong>. Porto Alegre, Vol. 12, pp. 43-47, março de 2005.<br />

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A formação musical <strong>do</strong> professor de música: saberes prévios ao ingresso<br />

nos cursos de licenciatura em música<br />

Paulo Henrique Lopes de Alcântara<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

pauloetnomus@gmail.com<br />

Gleice Kelly Luiz <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

gleiceflauta@yahoo.com.br<br />

Resumo: Neste trabalho, apresentamos a importância de um estu<strong>do</strong> que analise a formação <strong>do</strong><br />

aluno anterior ao seu ingresso na universi<strong>da</strong>de, em seus múltiplos contextos, como um <strong>do</strong>s<br />

fatores atuantes na construção <strong>do</strong>s seus saberes e de sua futura atuação profissional como<br />

professor. Objetivamos identificar os motivos que levam os estu<strong>da</strong>ntes de música <strong>da</strong> UFPE a<br />

optar pelo curso de licenciatura, mesmo sem o desejo de se profissionalizar nesta área,<br />

contribuin<strong>do</strong> para a compreensão <strong>da</strong>s retenções e evasões presentes no curso. Portanto, a<br />

formação <strong>do</strong> futuro profissional de educação musical se inicia antes de seu ingresso na<br />

Universi<strong>da</strong>de, pois o meio social, suas necessi<strong>da</strong>des, suas perspectivas são fatores que se<br />

somam ao posterior curso de graduação no processo de formação <strong>do</strong>cente.<br />

Palavras-chave: formação inicial, licenciatura em música, saberes.<br />

Introdução<br />

A formação de professores de música inclui, entre outros aspectos, os saberes<br />

necessários a essa profissão. Em reflexão apresenta<strong>da</strong> sobre esse tema, Hentschke, Azeve<strong>do</strong> e<br />

Araújo (2006) consideram que “to<strong>da</strong> profissão necessita de um corpo de saberes que a<br />

caracterize [por isso] identificar a natureza <strong>do</strong>s saberes <strong>do</strong>centes e o seu 'repertório de<br />

conhecimentos' é relevante para valorização epistemológica, social e política <strong>da</strong> profissão <strong>do</strong><br />

professor” (HENTSCHKE; AZEVEDO; ARAÚJO, 2006, p. 51).<br />

É nesse senti<strong>do</strong> que o grupo de pesquisa 1 em educação musical, inicia<strong>do</strong> em 2009 na<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco – UFPE, está desenvolven<strong>do</strong> uma pesquisa que tem<br />

como objetivo a análise <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso de licenciatura em música <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

instituição. A investigação apresenta, também, como meta, identificar as motivações que<br />

levam os alunos a procurar o curso, mesmo sem o desejo de se profissionalizar naquela área,<br />

aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong>, desta forma, a identificar as possíveis razões <strong>da</strong>s retenções e evasões presentes no<br />

1 Grupo de Pesquisa “Formação e atuação profissional de professores de música”, ca<strong>da</strong>stra<strong>do</strong> no CNPq.<br />

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2 OA N O S<br />

curso. O presente texto constitui-se de uma <strong>da</strong>s vertentes <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> projeto, avalian<strong>do</strong><br />

especificamente a formação anterior à universi<strong>da</strong>de, <strong>do</strong>s alunos em questão.<br />

Partimos <strong>do</strong> pressuposto que a vivência cultural <strong>do</strong> aluno anterior à universi<strong>da</strong>de irá<br />

influenciar as suas perspectivas profissionais e contribuir para construção de seus saberes<br />

durante sua formação acadêmica, interferin<strong>do</strong> na sua futura qualificação profissional.<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

No ano de 2010, o Departamento de Música <strong>da</strong> UFPE apresentava um número de<br />

343 alunos matricula<strong>do</strong>s no curso de licenciatura, dentre os quais 178 responderam a um<br />

questionário elabora<strong>do</strong> pelo grupo de pesquisa, que apresenta um caráter quanti-qualitativo,<br />

propon<strong>do</strong> o mapeamento destes alunos para um posterior aprofun<strong>da</strong>mento por meio de<br />

entrevistas.<br />

Num primeiro momento fizemos a análise quantitativa <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s. Dentre as mais<br />

diversas abor<strong>da</strong>gens etnográficas <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, nos propomos a avaliar os <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

referentes à formação anterior <strong>do</strong>s alunos em questão, aqui expostos através de um gráfico<br />

basea<strong>do</strong> em relações percentuais. A partir <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>is alunos foram seleciona<strong>do</strong>s<br />

para realização de entrevistas, aqui identifica<strong>do</strong>s como “D” e “H”, ambos <strong>do</strong> sexo masculino.<br />

A etapa seguinte <strong>da</strong> pesquisa se constituiu no diálogo com os <strong>da</strong><strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s a partir <strong>da</strong>s<br />

entrevistas realiza<strong>da</strong>s.<br />

Análise <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

Mais <strong>da</strong> metade <strong>do</strong>s alunos (56%) que participaram <strong>da</strong> pesquisa iniciaram seus<br />

estu<strong>do</strong>s em escolas especializa<strong>da</strong>s no ensino de música, pre<strong>do</strong>minantemente volta<strong>da</strong>s para a<br />

prática instrumental (Conservatório Pernambucano de Música, Centro de Educação Musical<br />

de Olin<strong>da</strong>, Escola Técnica Estadual de Criativi<strong>da</strong>de Musical, etc.), o que atesta uma<br />

diversi<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s na região metropolitana <strong>do</strong> Recife, conforme<br />

apresentamos na Figura 1. Essas escolas são destina<strong>da</strong>s à preparação de músicos para as<br />

ban<strong>da</strong>s e orquestras <strong>do</strong>s mais diversos contextos e gêneros musicais, contribuin<strong>do</strong> para a<br />

formação musical <strong>do</strong>s futuros estu<strong>da</strong>ntes universitários de música, que buscam, em sua grande<br />

maioria, o ensino superior visan<strong>do</strong> a ampliação de suas possibili<strong>da</strong>des profissionais.<br />

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Escolas de Música<br />

17%<br />

7% 4% 3%<br />

Escolas de Educação<br />

Básica<br />

Ban<strong>da</strong>s<br />

Aula Particular<br />

STXXB<br />

12%<br />

1%<br />

56%<br />

Outros<br />

Autodi<strong>da</strong>ta<br />

Figura 1 – Formação anterior <strong>do</strong>s alunos de licenciatura em música <strong>da</strong> UFPE<br />

A formação inicial desses estu<strong>da</strong>ntes, to<strong>da</strong>via, não se limita a instituições<br />

especializa<strong>da</strong>s no ensino de música. Dos alunos entrevista<strong>do</strong>s, 17 % iniciaram os seus estu<strong>do</strong>s<br />

por meio de aulas particulares. Sobre isso, Mateiro (2007) afirma que<br />

Os locais de aprendizagem foram sen<strong>do</strong> (re) inventa<strong>do</strong>s no decorrer <strong>do</strong>s<br />

anos. É possível ter aulas de música nas casas particulares <strong>do</strong>s professores,<br />

em escolas específicas, em conservatórios, na igreja, nos bairros<br />

comunitários, nos cursos de extensão universitária, através de projetos<br />

sociais, entre outros. (MATEIRO, 2007, p. 183).<br />

Em muitos casos as escolas de música e conservatórios atuam como um campo<br />

intermediário entre essas aulas particulares e o ensino superior de música.<br />

Apenas 1% <strong>do</strong>s alunos são oriun<strong>do</strong>s de escolas <strong>do</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e médio, o que<br />

comprova a atual deficiência <strong>do</strong> ensino <strong>da</strong> música na escola básica e de sua pequena<br />

contribuição para a formação musical <strong>do</strong>s jovens. Observan<strong>do</strong> <strong>da</strong><strong>do</strong>s de pesquisas anteriores,<br />

constatamos a pouca contribuição <strong>da</strong> escola na formação <strong>do</strong>s músicos, por não apresentar o<br />

estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> música dentro de sua estrutura curricular (MATEIRO, 2007, p. 183).<br />

Compartilhan<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma ideia, Amato afirma que<br />

Atualmente o ensino de música nas escolas regulares é escasso, o que nos<br />

leva a refletir que a educação musical dentro <strong>da</strong> disciplina arte faz parte<br />

meramente de manuais e propostas curriculares veicula<strong>da</strong>s por órgãos<br />

governamentais. Apesar de a educação musical estar implícita na disciplina<br />

arte, componente obrigatório <strong>da</strong> educação básica, ela sobrevive muitas vezes<br />

de forma oculta. (AMATO, 2006, p. 161-162).<br />

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Faz-se necessário, portanto, pesquisas posteriores sobre uma possível mu<strong>da</strong>nça nesse<br />

quadro, proporciona<strong>da</strong> pela lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008, que oficializa o ensino de<br />

música nas escolas de educação básica.<br />

A contribuição <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s de música para formação desses estu<strong>da</strong>ntes é bastante<br />

significativa, corresponden<strong>do</strong> a 12% <strong>do</strong>s alunos pesquisa<strong>do</strong>s, principalmente tratan<strong>do</strong>-se de<br />

alunos provenientes <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> interior. Historicamente, o esta<strong>do</strong> de Pernambuco possui<br />

uma forte tradição na formação de ban<strong>da</strong>s, tanto no interior quanto na capital. Antigas ban<strong>da</strong>s,<br />

algumas seculares, estão ain<strong>da</strong> presentes no cenário musical pernambucano (SILVA, 1998,<br />

p.73). Essas ban<strong>da</strong>s, desde suas origens até os dias de hoje, atuam como ver<strong>da</strong>deiros núcleos<br />

de formação de músicos, capacitan<strong>do</strong>-os para um posterior ingresso nas instituições<br />

especializa<strong>da</strong>s no ensino de música (Conservatórios, Escolas de Música, Universi<strong>da</strong>de, etc.).<br />

Leonar<strong>do</strong> Dantas Silva expressa a importância histórica <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s no processo de ensinoaprendizagem<br />

musical ao afirmar que ao her<strong>da</strong>r “a disciplina e organização <strong>da</strong>s ban<strong>da</strong>s<br />

militares, sob a liderança de um mestre experiente, as ban<strong>da</strong>s civis foram os grandes<br />

conservatórios de formação musical espalha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> país.” (SILVA, 1988, p. 67).<br />

Dos licencian<strong>do</strong>s que participaram <strong>da</strong> pesquisa, 7% estu<strong>da</strong>ram inicialmente em um<br />

Seminário Teológico <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, instituição volta<strong>da</strong> ao ensino de teologia e música, destina<strong>da</strong><br />

a preparar jovens para os serviços religiosos <strong>da</strong>s igrejas batistas, o que atesta a forte influência<br />

religiosa na formação de músicos, uma vez que boa parte destes iniciou seus estu<strong>do</strong>s em<br />

igrejas <strong>da</strong> qual faziam parte.<br />

Entre os perfis de alunos descritos por Elizabeth Travassos, em pesquisa realiza<strong>da</strong><br />

com os licencian<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Unirio, podemos encontrar o “músico de congregação religiosa”, cuja<br />

concepção e prática musical, dentro <strong>do</strong> contexto religioso, exercem grande influência no seu<br />

processo de formação acadêmica, sen<strong>do</strong> assim descritos pela autora:<br />

Trata-se de um fiel de igreja protestante que teve iniciação musical na igreja<br />

e nela atua profissionalmente (com ou sem remuneração, pouco importa).<br />

Pode estar liga<strong>do</strong> também ao merca<strong>do</strong> musical especializa<strong>do</strong> em música<br />

sacra. De qualquer forma, a igreja ou a religião tendem a absorver o interesse<br />

musical. (TRAVASSOS, 2002, p. 16).<br />

O entrevista<strong>do</strong> D tem as características <strong>do</strong>s integrantes desse grupo de “músicos de<br />

congregação religiosa”, conforme seu depoimento:<br />

Antes eu só tocava tecla<strong>do</strong> na igreja, mesmo... e <strong>da</strong>va algumas aulas<br />

particulares. Eu trabalhava com isso, na área de música. (ENTREVISTADO<br />

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“D”).<br />

Dentre os discentes questiona<strong>do</strong>s, 3% afirmaram o início autodi<strong>da</strong>ta <strong>do</strong>s seus<br />

estu<strong>do</strong>s musicais (em casa, na internet, em shows, em bares, na rua, etc.), o que comprova a<br />

multiplici<strong>da</strong>de de possibili<strong>da</strong>des de aprendiza<strong>do</strong> nestas circunstâncias. Ao ser pergunta<strong>do</strong><br />

sobre uma possível formação anterior a Universi<strong>da</strong>de, o entrevista<strong>do</strong> afirma:<br />

O meu conhecimento é totalmente popular e de rua. Depois de muito tempo<br />

tocan<strong>do</strong>, sei lá, umas pecinhas mesmo, é que eu passei a estu<strong>da</strong>r mesmo de<br />

maneira formal. Então aí eu entrei para uma escola, uma oficina de música<br />

perto <strong>da</strong> minha casa e me preparei para fazer o vestibular.<br />

(ENTREVISTADO “H”).<br />

A partir <strong>do</strong> relato deste discente, podemos ver o quanto o convívio social atua como<br />

fator decisivo para formação desses músicos. Geralmente a partir <strong>da</strong> a<strong>do</strong>lescência quan<strong>do</strong> a<br />

convivência com amigos e grupos específicos torna-se mais intensa, o interesse musical tornase<br />

mais significativo, de mo<strong>do</strong> que essa forma de estu<strong>do</strong> é mol<strong>da</strong><strong>da</strong> pelas necessi<strong>da</strong>des e<br />

objetivos pessoais (LACORTE; GALVÃO, 2007, p. 33).<br />

Outro fator importante corresponde a oportuni<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s a esses alunos através<br />

de projetos sociais nas comuni<strong>da</strong>des em que vivem, abrin<strong>do</strong> possibili<strong>da</strong>des para um futuro<br />

estu<strong>do</strong> acadêmico. “Uma formação que, apesar de dizerem ser individual e sem professor<br />

('aprendi sozinho'), aparece liga<strong>da</strong> à convivência social, às oportuni<strong>da</strong>des e às motivações<br />

encontra<strong>da</strong>s em seu meio.” (GOMES, 2003, p. 26).<br />

Esses estu<strong>da</strong>ntes que iniciam sua formação musical de maneira autodi<strong>da</strong>ta veem a<br />

universi<strong>da</strong>de como uma grande possibili<strong>da</strong>de de formalização de seus estu<strong>do</strong>s.<br />

Considerações finais<br />

A formação <strong>do</strong> futuro profissional de educação musical se inicia antes de seu<br />

ingresso na Universi<strong>da</strong>de, pois o meio social, suas necessi<strong>da</strong>des, suas perspectivas são fatores<br />

que se somam ao posterior curso de graduação no processo de formação <strong>do</strong>cente. Este último<br />

é a sistematização de um processo de construção inicia<strong>do</strong> geralmente fora <strong>do</strong> espaço escolar,<br />

pois o ensino de música ain<strong>da</strong> não possui lugar efetivo dentro <strong>da</strong>s estruturas curriculares <strong>da</strong>s<br />

escolas básicas e, por isso, encontra nos mais diversos meios e contextos, múltiplas formas de<br />

construção. Acreditamos que o tipo de formação musical que antecede à Universi<strong>da</strong>de possui<br />

uma considerável influência nos direcionamentos acadêmicos <strong>do</strong>s alunos nos cursos de<br />

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Licenciatura em Música, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de de tal mapeamento como forma de compreensão<br />

<strong>do</strong> processo de construção <strong>do</strong>s saberes e <strong>da</strong>s perspectivas profissionais <strong>do</strong>s futuros professores<br />

de música.<br />

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Referências<br />

AMATO, Rita de Cássia Fucci. Breve retrospectiva histórica e desafios <strong>do</strong> ensino de música<br />

na educação básica brasileira. Opus, Goiânia, v. 12, p. 144-166, dez. 2006.<br />

GOMES, Celso Henrique Sousa. Formação e atuação de músicos de rua: possibili<strong>da</strong>des de<br />

atuação e de caminhos formativos. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 8, p. 25-28, mar. 2003.<br />

HENTSCHKE, Liane; AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho C. de; ARAÚJO, Rosane<br />

Car<strong>do</strong>so de. Os saberes <strong>do</strong>centes na formação <strong>do</strong> professor: perspectivas teóricas para a<br />

educação musical. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 15, p. 49-58, set. 2006.<br />

LACORTE, Simone; GALVÃO, Afonso. “Processos de aprendizagem de músicos populares:<br />

um estu<strong>do</strong> exploratório”. Revista <strong>da</strong> Abem, Porto Alegre, v. 17, p. 29-38, set. 2007.<br />

MATEIRO, Teresa. Do tocar ao ensinar: o caminho <strong>da</strong> escolha. Opus, Goiânia, v.13, n. 2, p.<br />

175-196, dez. 2007.<br />

SILVA, Leonar<strong>do</strong> Dantas (Org.). Ban<strong>da</strong>s musicais de Pernambuco: origens e repertório.<br />

Recife: Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Pernambuco, Secretaria <strong>do</strong> Trabalho e Ação Social, Fun<strong>do</strong> de<br />

Amparo ao Trabalha<strong>do</strong>r, 1998.<br />

TRAVASSOS, Elizabeth. Perfis culturais de estu<strong>da</strong>ntes de música. In: CONGRESSO DA<br />

SEÇÃO LATINO AMERICANA DA INTERNATIONAL ASSOCIATION THE STUDY<br />

OF POPULAR MUSIC, 4., 2002. Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> México. Actas... Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> México: 2002.<br />

Disponível em: < http://www.hist.puc.cl/historia/iaspmla.html >. Acesso em: 16 fev. 2009.<br />

Entrevistas<br />

ALUNO “D”. Entrevista<strong>do</strong> pelos autores em 15 de Fevereiro de 2010, Recife (PE).<br />

ALUNO “H”. Entrevista<strong>do</strong> pelos autores em 17 de Fevereiro de 2010, Recife (PE).<br />

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A flauta <strong>do</strong>ce como vivência musical na escola de ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

Aline Regina <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

reginasax@yahoo.com.br<br />

Catarina Aracelle Porto <strong>do</strong> Nascimento<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

catarinaaracelle@yahoo.com.br<br />

Patrícia Valdelice <strong>da</strong> Silva<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN)<br />

patyclarinete@musica.ufrn.br<br />

RESUMO: Este trabalho apresenta o relato de uma experiência desenvolvi<strong>da</strong> no<br />

Estágio Supervisiona<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso de Graduação em Música – Licenciatura Plena em<br />

Música <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN) - realiza<strong>do</strong> no 7º ano<br />

<strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental II no turno vespertino <strong>da</strong> Escola Municipal Irmã Arcângela<br />

situa<strong>da</strong> na Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal – RN sob a supervisão <strong>da</strong> Professora Titular Catarina<br />

Aracelle Porto <strong>do</strong> Nascimento. Este estágio representa ativi<strong>da</strong>de curricular obrigatória e<br />

constitui um eixo integra<strong>do</strong>r de formação, ten<strong>do</strong> como objetivo oferecer aos discentes a<br />

oportuni<strong>da</strong>de de fazer uma análise de to<strong>do</strong> o processo de formação, fun<strong>da</strong>mentan<strong>do</strong> a<br />

<strong>do</strong>cência de acor<strong>do</strong> com os pressupostos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s durante o curso, bem como subsidiar<br />

a prática <strong>do</strong> discente na medi<strong>da</strong> em que possibilita ao licencian<strong>do</strong> aproximar-se <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> gestão e <strong>da</strong> sala de aula. Foram ministra<strong>da</strong>s aulas de flauta <strong>do</strong>ce<br />

soprano com o objetivo de iniciar a prática musical <strong>do</strong>s alunos ten<strong>do</strong> como resulta<strong>do</strong> a<br />

apresentação de um concerto no Espaço Cultural <strong>da</strong> escola.<br />

Palavras-chave: Flauta Doce, Educação Musical e Ensino Fun<strong>da</strong>mental.<br />

A FLAUTA DOCE: UM MEIO PEDAGÓGICO<br />

Cuervo e Pedrini nos falam que “utilizar a flauta <strong>do</strong>ce como uma <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des no ensino de música é abrir caminhos de exploração e criação, quebrar<br />

pré-conceitos, valorizar as preferências musicais <strong>do</strong>s alunos, sem deixar de ampliá-las.”<br />

(CUERVO; PEDRINI, 2010, p. 53). Além disso, ela é um instrumento de maior<br />

acessibili<strong>da</strong>de em aspectos financeiros e diante <strong>do</strong> ambiente escolar que nos foi <strong>da</strong><strong>do</strong>,<br />

escolhemos este recurso como estratégia para o início <strong>da</strong> vivência musical <strong>do</strong>s alunos.<br />

A Flauta <strong>do</strong>ce nos permite uma prática musical coletiva proporcionan<strong>do</strong> a<br />

socialização e interação <strong>da</strong> criança com o meio, fazen<strong>do</strong> com que ela se sinta<br />

pertencente a um grupo e descobrin<strong>do</strong> novos valores. Amplia-se também seu mun<strong>do</strong><br />

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sonoro através de experimentações e proporciona o desenvolvimento <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />

musical.<br />

Outro aspecto trabalha<strong>do</strong> por este instrumento é a memorização através <strong>da</strong><br />

iniciação <strong>da</strong> técnica de execução e <strong>da</strong> leitura <strong>do</strong> repertório, desenvolven<strong>do</strong> assim, a<br />

coordenação motora, a consciência de grupo, a autoestima, a capaci<strong>da</strong>de auditiva e a<br />

sensibili<strong>da</strong>de.<br />

A partir <strong>da</strong> iniciação <strong>da</strong> musicalização com a flauta <strong>do</strong>ce é possível progredir<br />

nos estu<strong>do</strong>s de outros instrumentos de sopro, como por exemplo, o saxofone e a flauta<br />

transversal, que possuem semelhanças com a colocação <strong>da</strong>s mãos, ten<strong>do</strong> em vista que<br />

ela desenvolve a consciência motora, a postura, a disciplina e a criativi<strong>da</strong>de.<br />

COM A MÃO NA FLAUTA<br />

A Escola Municipal Irmã Arcângela pertence à Secretaria Municipal de<br />

Educação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte. A referi<strong>da</strong> escola está<br />

situa<strong>da</strong> na Rua São Pedro, Nº 180 no bairro Igapó, Natal-RN. O bairro de Igapó<br />

localiza-se na zona norte <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal-RN e possui diversos problemas sociais<br />

como as drogas, sen<strong>do</strong> uma <strong>da</strong>s rotas principais para a distribuição e consumo delas,<br />

também possui um perfil econômico bastante baixo, onde seus mora<strong>do</strong>res são operários<br />

de fábricas e indústrias e convivem com a falta de saneamento básico e uma infraestrutura<br />

de melhor quali<strong>da</strong>de. As turmas são dividi<strong>da</strong>s entre turnos matutino,<br />

vespertino e noturno, onde no turno matutino funcionam as turmas <strong>do</strong> primeiro (1º) ao<br />

quinto (5º) ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental I, no turno vespertino trabalha-se com turmas <strong>do</strong><br />

sexto (6º) ao nono (9º) ano <strong>do</strong> Ensino Fun<strong>da</strong>mental II, e no turno noturno há turmas <strong>do</strong><br />

EJA (Educação de Jovens e Adultos).<br />

Este trabalho foi realiza<strong>do</strong> no sétimo (7º) Ano A <strong>do</strong> turno vespertino. A<br />

seguinte turma tinha vinte e oito alunos, to<strong>do</strong>s advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong> próprio bairro <strong>da</strong> zona<br />

urbana <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Natal-RN. Os alunos, em sua maioria, se encontravam vulneráveis<br />

socialmente e possuíam uma faixa etária entre dez a treze anos de i<strong>da</strong>de.<br />

De acor<strong>do</strong> com Beineke:<br />

Aprende-se música fazen<strong>do</strong> música. Aprende-se música também<br />

falan<strong>do</strong> sobre música, analisan<strong>do</strong>, refletin<strong>do</strong> sobre ela, mas a vivência<br />

musical sempre precisa estar presente. Para que isso aconteça, é<br />

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necessário que a produção musical <strong>do</strong>s alunos seja valoriza<strong>da</strong> em sala<br />

de aula. (BEINEKE, 2003, p. 87)<br />

Desprezar o mun<strong>do</strong> sonoro que o aluno traz para a sala de aula é negar a<br />

continui<strong>da</strong>de de construção <strong>do</strong> conhecimento, pois esses sons o norteiam para suas<br />

experimentações e produções musicais.<br />

Utilizan<strong>do</strong> esses conhecimentos prévios, selecionamos músicas que fazem<br />

parte <strong>do</strong> cotidiano destes alunos, além de ampliar seus repertórios oportunizan<strong>do</strong> a<br />

descoberta de novos gêneros musicais.<br />

Beineke afirma que:<br />

[...] os conteú<strong>do</strong>s sempre são trabalha<strong>do</strong>s com base no repertório<br />

seleciona<strong>do</strong>, isto é, não se parte especificamente de conceitos,<br />

objetivos ou conteú<strong>do</strong>s pré-determina<strong>do</strong>s, mas <strong>da</strong> própria música.<br />

Assim, o centro <strong>do</strong> trabalho é o próprio fazer musical, que pode ser<br />

complementa<strong>do</strong> com informações sobre as músicas trabalha<strong>da</strong>s, mas<br />

sem que se invertam essas posições. (BEINEKE, 2003, p. 88)<br />

O repertório escolhi<strong>do</strong> teve como objetivo resgatar a canção folclórica que é<br />

tão ausente <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> sonoro destes alunos, além de peças volta<strong>da</strong>s para <strong>da</strong>tas<br />

comemorativas pertencentes ao seu conhecimento e músicas que ampliaram a<br />

diversi<strong>da</strong>de cultural deles. No processo de aprendizagem <strong>da</strong> linguagem musical<br />

associamos a teoria musical com a prática na flauta <strong>do</strong>ce, ou seja, o conhecimento era<br />

vivencia<strong>do</strong> por eles através <strong>do</strong> manuseio <strong>do</strong> instrumento musical, amplian<strong>do</strong> assim, seus<br />

mun<strong>do</strong>s sonoros e seus fatores psicomotores.<br />

O conjunto <strong>da</strong>s obras musicais trabalha<strong>da</strong>s foi: Noite Feliz (Joseph Mohr e<br />

Franz Xaver Gruber), O Trem de ferro (Autor desconheci<strong>do</strong>), Bambalalão (Autor<br />

desconheci<strong>do</strong>), Mulher Rendeira (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Tema <strong>da</strong> IX<br />

Sinfonia – Ode à alegria (Ludwing Van Beethoven). Este repertório foi seleciona<strong>do</strong><br />

basea<strong>do</strong> na fase de observação <strong>da</strong>s aulas.<br />

As aulas <strong>da</strong> professora titular começaram a ser observa<strong>da</strong>s no segun<strong>do</strong><br />

semestre de <strong>do</strong>is mil e dez, onde ca<strong>da</strong> aula tinha cinquenta minutos de duração. Eram<br />

abor<strong>da</strong><strong>do</strong>s assuntos relaciona<strong>do</strong>s à leitura e notação musical. As observações<br />

contribuíram de forma direta na nossa posição em sala de aula, pois com esse perío<strong>do</strong><br />

podemos sentir como seria a nossa abor<strong>da</strong>gem, além de já estarmos familiariza<strong>do</strong>s com<br />

a turma e eles conosco.<br />

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As flautas <strong>do</strong>ces soprano foram adquiri<strong>da</strong>s pela escola através <strong>da</strong> verba <strong>do</strong><br />

Programa Dinheiro Direta na Escola (PDDE) 1 , o qual é um programa de assistência<br />

financeira que vem para as escolas públicas de educação básica estadual e municipal.<br />

Pelo fato <strong>do</strong>s instrumentos pertencerem à escola, os alunos não podiam levá-las<br />

para casa, ten<strong>do</strong> acesso à prática apenas em sala de aula. Trabalhamos primeiramente<br />

com as notas <strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong> nesta ordem: sol, lá, si, dó e ré. Estas notas foram<br />

trabalha<strong>da</strong>s com jogos lúdicos em aulas coletivas.<br />

Encontramos alguns obstáculos, como os horários, pois só tínhamos 50<br />

minutos. A professora titular resolveu o problema preenchen<strong>do</strong> os horários vagos de<br />

outras disciplinas com as aulas de flauta <strong>do</strong>ce. Outro desafio foi controlar a ansie<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong>s alunos, pois estes eram motiva<strong>do</strong>s pela curiosi<strong>da</strong>de e pela vontade de aprender nas<br />

aulas de música, queren<strong>do</strong> tocar sempre, não esperan<strong>do</strong> a vez <strong>do</strong>s outros. Na turma,<br />

encontramos um aluno que já tocava flauta <strong>do</strong>ce e transversal, resultan<strong>do</strong> na competição<br />

deste com os demais. Resolvemos essa questão crian<strong>do</strong> uma segun<strong>da</strong> voz para as<br />

músicas, além de pedir que ele executasse junto com os outros, porém tocan<strong>do</strong> na flauta<br />

transversal.<br />

Após o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo de aprendizagem <strong>da</strong> flauta <strong>do</strong>ce, sentimos a<br />

necessi<strong>da</strong>de de expandir o limite físico <strong>da</strong> sala de aula buscan<strong>do</strong> partilhar a música com<br />

to<strong>da</strong> a escola. Isso se deu através de um concerto apresenta<strong>do</strong> no Espaço Cultural, que é<br />

a culminância <strong>do</strong>s trabalhos de to<strong>do</strong> o ano letivo.<br />

Este evento foi usa<strong>do</strong> também como uma <strong>da</strong>s formas de avaliação <strong>da</strong><br />

aprendizagem, tanto <strong>do</strong>s alunos como <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong>cente, como nos afirma Brito: “[...]<br />

to<strong>do</strong> processo de trabalho bem orienta<strong>do</strong> resulta em crescimento, aquisição de<br />

competências e habili<strong>da</strong>des, ampliação <strong>do</strong> repertório, <strong>do</strong> universo cultural etc.” (BRITO,<br />

2003, p. 198).<br />

Compreendemos que a avaliação deve permear as ativi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas,<br />

principalmente na relação professor-aluno e nos conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s neste espaço.<br />

Portanto, a intervenção <strong>do</strong> professor favorece a construir as mediações necessárias para<br />

o conhecimento <strong>do</strong> aluno.<br />

Segun<strong>do</strong> Hentschke e Del Ben,<br />

[...] a melhor forma de avaliar a aprendizagem musical <strong>do</strong>s alunos é<br />

investigan<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong> suas práticas musicais. O conhecimento e a<br />

1 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) é uma medi<strong>da</strong> provisória nº 2.178-36 de 24 de Agosto de<br />

2001dentro <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Nacional de Desenvolvimento <strong>da</strong> Educação (FNDE) que estabelece recursos<br />

financeiros para o custeio de escolas de educação especial.<br />

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compreensão musicais <strong>do</strong>s alunos serão revela<strong>do</strong>s nas suas próprias<br />

ações musicais, pelas ativi<strong>da</strong>des de composição, execução e/ou<br />

apreciação. A partir dessa concepção, a avaliação passa a focalizar não<br />

os aspectos emocionais ou pessoais <strong>do</strong>s alunos, mas os produtos<br />

musicais provenientes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de composição, execução e<br />

apreciação. (HENTSCHKE; DEL BEN, 2003, p. 186).<br />

ANALISANDO A MELODIA<br />

A concepção de ensino-aprendizagem mostra a importância <strong>da</strong><br />

criativi<strong>da</strong>de assumi<strong>da</strong> e que os conceitos fun<strong>da</strong>menta<strong>do</strong>s necessitam <strong>da</strong> união <strong>da</strong> teoriaprática.<br />

Faz-se necessário o respeito aos níveis de amadurecimento e aos conhecimentos<br />

prévios <strong>do</strong>s alunos, para assim construir uma aprendizagem significativa. O fato de<br />

existir apresentações na comuni<strong>da</strong>de escolar foi a mola propulsora para que os alunos se<br />

dedicassem ca<strong>da</strong> vez mais, para mostrar um bom trabalho aos seus pais, colegas e<br />

professores. Dentro dessa perspectiva, os esforços <strong>do</strong>s alunos mostram o ver<strong>da</strong>deiro<br />

intuito deste trabalho, consistin<strong>do</strong> no crescimento contínuo e individual de ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s<br />

participantes. Compreendemos que tais alunos tornam-se seres ativos <strong>da</strong> produção<br />

artística musical, tornan<strong>do</strong>-se aprecia<strong>do</strong>res, observa<strong>do</strong>res, críticos, admira<strong>do</strong>res e<br />

consumi<strong>do</strong>res de arte em geral, sem podermos esquecer a sua inserção e promoção<br />

social.<br />

Conclui-se que os objetivos estabeleci<strong>do</strong>s foram atingi<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> ao apoio e<br />

flexibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>do</strong> pela instituição, pois sem uma parceria <strong>da</strong>s escolas e professores,<br />

nenhum trabalho se concretizaria. Além <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> supervisora de<br />

estágio, que esteve sempre disponível para to<strong>da</strong>s as horas nos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a flexibili<strong>da</strong>de de<br />

trabalhar em sua sala de aula e de trocarmos experiências, pois esta prática é<br />

fun<strong>da</strong>mental. Portanto, é de extrema importância esta vivência em sala de aula, pois<br />

contribui para os futuros professores de música através <strong>da</strong> experiência adquiri<strong>da</strong> em<br />

sala, proporcionan<strong>do</strong> um contato direto com a reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> aluno e <strong>da</strong> escola, no<br />

qual o professor é educa<strong>do</strong>r, facilita<strong>do</strong>r e é capaz de transformar a informação em<br />

conhecimento.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

862


2 OA N O S<br />

REFERÊNCIAS<br />

BEINEKE, Viviane. O Ensino de flauta <strong>do</strong>ce na Educação Fun<strong>da</strong>mental. In:<br />

HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del (Org.) Ensino de música: Propostas para<br />

pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. Cap. 5: p. 86 – 100.<br />

BRASIL. Disponível em: .<br />

Acesso em: 16 de abril de <strong>2011</strong>.<br />

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Ministério <strong>da</strong> Educação. Secretaria<br />

<strong>da</strong> Educação Fun<strong>da</strong>mental – 3 ed.- Brasília: A Secretaria, 2001.<br />

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: Propostas para a formação<br />

integral <strong>da</strong> criança. São Paulo: Editora Peiropólis, 2003.<br />

CUERVO, Luciane; PEDRINI, Juliana. Flautean<strong>do</strong> e crian<strong>do</strong>: experiências e reflexões<br />

sobre criativi<strong>da</strong>de na aula de música. Música na educação básica, Porto Alegre, vol. 2,<br />

n. 2, p. 48 – 61, 2010.<br />

HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del. O Ensino de flauta <strong>do</strong>ce na Educação<br />

Fun<strong>da</strong>mental. In: HENTSCHKE, Liane; BEN, Luciana Del (Org.) Ensino de música:<br />

Propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. Cap. 11: p. 176<br />

– 189.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, (Coleção magistério/Série<br />

formação <strong>do</strong> professor). 1994. Cap. 9: p .232 - 241.<br />

MED, Bohumil. Teoria <strong>da</strong> Música. 4 ed. revisa<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>. Brasília/DF: Musimed,<br />

1996.<br />

X <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>da</strong> <strong>ABEM</strong><br />

I <strong>Encontro</strong> <strong>Regional</strong> <strong>Nordeste</strong> <strong>do</strong>s Professores de Música <strong>do</strong>s IF's<br />

I Fórum Pernambucano de Educação Musical<br />

Recife - 02 a 04 de junho de <strong>2011</strong><br />

abem<br />

Associação Brasileira<br />

de Educação Musical<br />

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