06.01.2015 Views

2 - Secretaria Municipal de Educação - ce

2 - Secretaria Municipal de Educação - ce

2 - Secretaria Municipal de Educação - ce

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ANA MARIA IÓRIO DIAS<br />

FLÁVIA REGINA DE GOIS TEIXEIRA<br />

(ORGANIZADORAS)<br />

VOLUME 1<br />

FORTALEZA<br />

AGOSTO, 2011


Luizianne <strong>de</strong> Oliveira Lins<br />

Prefeita <strong>de</strong> Fortaleza<br />

Ana Maria <strong>de</strong> Carvalho Fontenele<br />

Secretária <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza<br />

Jacqueline Franco Cavalcante<br />

Assessora da Secretária <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

Francisco Arlindo Araújo<br />

Coor<strong>de</strong>nador do Ensino Fundamental e Médio<br />

Flávia Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira<br />

Chefe do Departamento <strong>de</strong> Gestão Pedagógica<br />

Salmira Braga Paiva Martins<br />

Chefe do Departamento <strong>de</strong> Gestão Escolar<br />

Chefes dos Distritos <strong>de</strong> Educação<br />

Lady Lima Vieira<br />

Maria Deusimar Rios da Silva<br />

Maria do Socorro do Carmo Rodrigues<br />

Ana Elizabeth Por<strong>de</strong>us Carvalho<br />

Francisca <strong>de</strong> Assis Viana Moreira<br />

Maria do Socorro Braga<br />

EDIÇÕES SME<br />

Coor<strong>de</strong>nação Editorial<br />

Alexandre Barbalho<br />

Conselho Editorial<br />

Ana Maria <strong>de</strong> Carvalho Fontenele, Alexandre<br />

Barbalho, Ana Maria Iório Dias, Custódio Luis<br />

Silva <strong>de</strong> Almeida, Francisco José Rodrigues,<br />

Jacqueline Franco Cavalcante e Rosemary Conti<br />

Capa, projeto gráfico e edição <strong>de</strong> arte<br />

Norton Falcão<br />

Fotografia<br />

Ana Lorena Magalhães<br />

Revisão<br />

Vianney Mesquita, Ana Maria Iório Dias, Flávia<br />

Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira, Francisco Arlindo Araújo,<br />

Paulo Meireles Barguil<br />

As Diretrizes Curriculares Municipais<br />

para o Ensino Fundamental (DCM)<br />

sistematizam o que foi estabelecido<br />

na Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />

Nacional (LDB, Lei nº 9394/96) e outros<br />

marcos legais que regem o sistema educacional<br />

do Brasil. Em Fortaleza, a DCM foi elaborada <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>mocrática, num pro<strong>ce</strong>sso que contou<br />

com a participação <strong>de</strong> professores, coor<strong>de</strong>nadores<br />

pedagógicos, gestores escolares, equipe<br />

técnica da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação,<br />

dos distritos <strong>de</strong> educação, bem como das secretarias<br />

<strong>de</strong> Direitos Humanos e <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong><br />

Fortaleza.<br />

A publicação que você re<strong>ce</strong>be agora apresenta<br />

o resultado <strong>de</strong>sse trabalho. Aqui, estão contidas<br />

as diretrizes curriculares gerais, além <strong>de</strong> outras<br />

informações que vão subsidiar os do<strong>ce</strong>ntes<br />

na elaboração <strong>de</strong> propostas pedagógicas para as<br />

escolas do Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino.<br />

Em articulação com as diretrizes, a Prefeitura <strong>de</strong><br />

Fortaleza também promove a formação contínua<br />

dos seus do<strong>ce</strong>ntes e técnicos <strong>de</strong> Educação. Acreditamos<br />

que, assim, motivamos sua busca permanente<br />

por estudos e pesquisas, o que contribui<br />

para qualificar ainda mais o ensino.<br />

É com essa conjunção <strong>de</strong> fatores que estamos<br />

orientando o trabalho <strong>de</strong>senvolvido nas nossas<br />

escolas, dinamizando o ensino e integrando a<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências e saberes ne<strong>ce</strong>ssários<br />

para promovermos Educação com Qualida<strong>de</strong><br />

– a educação que liberta. Assim, colaboramos<br />

para fazer com que os alunos e alunas do<br />

sistema municipal <strong>de</strong> Fortaleza sejam cada vez<br />

mais protagonistas <strong>de</strong> suas próprias histórias e da<br />

história da Cida<strong>de</strong>. Boa leitura e bom trabalho!<br />

Luizianne Lins<br />

Prefeita <strong>de</strong> Fortaleza


GRUPOS DE TRABALHO<br />

Consultoria Geral: Ana Maria Iório Dias<br />

Coor<strong>de</strong>nação Geral: Flávia Regina <strong>de</strong> Gois Teixeira<br />

PROFESSORES ASSESSORES DE ÁREAS<br />

ESPECÍFICAS:<br />

Adriana Leite Limaver<strong>de</strong> Gomes<br />

Afrânio <strong>de</strong> Araújo Coelho<br />

Alexandra Maria <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ana Karina Morais <strong>de</strong> Lira<br />

Carlos Alberto Santos <strong>de</strong> Almeida<br />

Cláudia Christina Bravo e Sá Carneiro<br />

Cláudia Pires da Costa<br />

Cleiton Batista Vascon<strong>ce</strong>los<br />

Ercília Maria Braga <strong>de</strong> Olinda<br />

Erwin Schra<strong>de</strong>r<br />

Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin<br />

Francisco Egberto <strong>de</strong> Melo<br />

Isaí<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira da Silva<br />

João Batista <strong>de</strong> Albuquerque Figueiredo<br />

José Aires <strong>de</strong> Castro Filho<br />

Lívia Márcia Tiba Rádis Baptista<br />

Maria Edvani Silva Barbosa<br />

Maria Eleni Henrique da Silva<br />

Massília Maria Lira Dias<br />

Mônica <strong>de</strong> Souza Serafim<br />

Nertan Dias Silva Maia<br />

Paulo Meireles Barguil<br />

Pollyanne Bicalho Ribeiro<br />

Raquel Crosara Maia Leite<br />

1. ELABORAÇÃO<br />

Equipe Técnica SME/SER<br />

Alessandra Áurea P. do Nascimento<br />

Alex Fabiano Nicolau <strong>de</strong> Araújo<br />

Alexandra Maria <strong>de</strong> Oliveira<br />

Alexandra Souza Costa Lima<br />

Alexandre Carlos Coelho Damas<strong>ce</strong>no<br />

Ana Claudia Portela<br />

Ana Leonilia Alves <strong>de</strong> Sousa<br />

Andrea Nunes Cavalcante<br />

Aparecida Maria Costa <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Artur Xavier Moreira Júnior<br />

Cássia Azevedo Fernan<strong>de</strong>s Arruda<br />

César Lima Costa<br />

Clau<strong>de</strong>te da Silva Morais Frencken<br />

Clébia Parente Soares<br />

Dalmário Heitor Miranda <strong>de</strong> Abreu<br />

Diana Ribeiro Gonçalves <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Gomes<br />

Elzanir Santos Costa Moreira<br />

Fabíola Fernan<strong>de</strong>s da Silva<br />

Flávia Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira<br />

Francilíbia Cunha Frota Teixeira<br />

Francisca Izabel Cristina Andra<strong>de</strong><br />

Francisca Suely Farias Nunes<br />

Francisco Antonio Alves Rodrigues<br />

Francisco Egberto <strong>de</strong> Melo<br />

Francisco José Rodrigues<br />

Francisco Sueudo Rodrigues<br />

Geny Lucia Salgueiro Segundo<br />

Gislana Maria do Socorro Monte do Vale<br />

Gláucia Soares Lessa<br />

Hadassa Barros Rodrigues do Nascimento<br />

Herjan Sá Pinto<br />

Isabel Maria Andra<strong>de</strong> da Silva<br />

Isaí<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira da Silva<br />

Jaefson Rodrigues <strong>de</strong> Sousa<br />

Jeane Pereira Dantas<br />

João Saldanha Nunes Filho<br />

José Lopes Bezerra<br />

José Melo <strong>de</strong> Souza<br />

Júlia Cândida Soares Menezes<br />

Karla Eveline Barata<br />

Lara Ronise <strong>de</strong> Negreiros Pinto Scipião<br />

Lu<strong>ce</strong>lane Cor<strong>de</strong>iro Nojosa <strong>de</strong> Freitas<br />

Luiziana Lima Gonzaga<br />

Márcia Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Farias<br />

Marcos Antonio Ramos<br />

Margarida Maria Men<strong>de</strong>s Leite<br />

Maria Aurinei<strong>de</strong> Ferreira Sousa<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima <strong>de</strong> La<strong>ce</strong>rda<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s César Moreira<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martins Gomes<br />

Maria do Socorro Granja Pinheiro De Souza<br />

Maria Edvani Silva Barbosa<br />

Maria Edneia Gonçalves Quinto<br />

Maria Elizete Maciel Lima<br />

Maria Ivanei<strong>de</strong> Luna Sampaio Alves<br />

Maria José Vieira <strong>de</strong> Sousa<br />

Maria Rejane Araruna<br />

Maria Zuila Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />

Marilandia Ferreira Colaço do Carmo<br />

Marília Correia Soares<br />

Marlu<strong>ce</strong> Caetano Martins<br />

Micheline Guelry Silva Albuquerque<br />

Minervina Rufino Fernan<strong>de</strong>s<br />

Miriane Dantas Fernan<strong>de</strong>s<br />

Mônica Gue<strong>de</strong>lha Carneiro<br />

Nelson Luis Bezerra <strong>de</strong> Oliveira<br />

Neomésia Me<strong>de</strong>iros Herculano<br />

Otilio Diógenes Saldanha<br />

Patrícia Pereira <strong>de</strong> Matos<br />

Patrícia Ribeiro Feitosa Lima<br />

Paulo Pio<br />

Regia Helvis Freire <strong>de</strong> Holanda<br />

Regina Célia Mendonça Bruno<br />

Reginaldia Garcia <strong>de</strong> Carvalho<br />

Rosalina Maria Rocha Mont’alverne<br />

Sandra Ribeiro Gurgel<br />

Sandra Silva <strong>de</strong> Araújo<br />

Sandro Luz da Silva<br />

Silvana Teófilo Machado<br />

Simone <strong>de</strong> Fátima Brichta<br />

Sinara Mota Neves <strong>de</strong> Almeida<br />

Suzy Élida Lima <strong>de</strong> Almeida<br />

Taislandia <strong>de</strong> Lima Cavalcante<br />

Tânia Bezerra Soares<br />

Tereza Liduina Grigório Fernan<strong>de</strong>s<br />

Valda Albuquerque<br />

Vanda Tereza Silva da Rocha<br />

Vera Lúcia das Graças Rangel Berto<br />

Vêronica Maria Benevi<strong>de</strong>s Pedrosa<br />

Virginia Maria Giffone Almeida<br />

Vitória Régia Cor<strong>de</strong>iro Veras<br />

Wangirly Nogueira <strong>de</strong> Sousa<br />

Wellington Gomes Freitas<br />

2. COLABORAÇÃO<br />

Equipe Técnica SME/SER<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Diógenes<br />

Alessandra Gonçalves <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ana Lúcia Duarte Ferreira<br />

Angela Maria Benevi<strong>de</strong>s Pereira<br />

Angela Torquato Onofre<br />

Antonio Vul<strong>de</strong>mbergue <strong>de</strong> Carvalho Farias<br />

Arivladna Nogueira Sales Gomes<br />

Cíntia Maria Paiva Ribeiro<br />

Clari<strong>ce</strong> Gomes Costa<br />

Diana Márcia Carvalho Claudino Sileikis<br />

Domicio Zeferino <strong>de</strong> Freitas Filho<br />

Esmeraldina Januário <strong>de</strong> Sousa<br />

Francisca Emília Vasquez<br />

Francisca Gerusa Ga<strong>de</strong>lha<br />

Francisca Valéria Pinheiro<br />

Francisco Arlindo Araújo<br />

Francisco Pedro Batista<br />

Geraldo Magela <strong>de</strong> Oliveira Silva<br />

Isneida Maria <strong>de</strong> Queiroz Campos Arruda<br />

Jamisa Loreto Monte do Vale<br />

Jane Mary <strong>de</strong> Moura Gomes<br />

Jani<strong>ce</strong> Caldas Araújo<br />

Josaina Menezes Silva<br />

José Hel<strong>de</strong>r Diniz Junior<br />

Karla Bianca Martins<br />

Karla Eveline Barata <strong>de</strong> Carvalho<br />

Kátia Menezes Carneiro Siebra<br />

Ligiane Castro Lopes<br />

Márcia Alexandra Vitorino Milanez<br />

Maria Anita Timbó<br />

Maria Artemis Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Maria Eliane <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Ramos<br />

Maria Euzimar Nunes Rodrigues<br />

Maria Guaracy Paiva Caldas<br />

Maria José Santil Machado<br />

Maria José Porto <strong>de</strong> Alencar<br />

Maria Valmira Melo <strong>de</strong> Moura<br />

Mariléa <strong>de</strong> Oliveira Viana<br />

Marize Marques <strong>de</strong> Freitas<br />

Mirizan Costa Praciano<br />

Naiana Maia Lima Girão<br />

Ozélia Horácio Gonçalves Assunção<br />

Patricía Fernan<strong>de</strong>s Costa Martins<br />

Paulo Henrique Leitão dos Santos<br />

Regina Helena Benevi<strong>de</strong>s Teixeira Ponte<br />

Reudo da Silva Sales<br />

Salmira Braga Paiva Martins<br />

Selma Bessa Sales<br />

Telma Maria <strong>de</strong> Araújo Freitas<br />

Valéria Cassandra Oliveira <strong>de</strong> Lima<br />

Verônica Maria Vascon<strong>ce</strong>los Barrocas<br />

Vilma Elânia Teles do Amaral<br />

Wanna Paula Cabral<br />

Zaíra Maria <strong>de</strong> Araújo Siqueira<br />

PROFESSORES REPRESENTANTES<br />

DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO<br />

Abigail Silva <strong>de</strong> Souza<br />

Abilene <strong>de</strong> Brito Lopes<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Oliveira Neta<br />

Ádla da Silva Andra<strong>de</strong><br />

Adma Maria Araújo Arruda Lira<br />

Adria Maria Barros Teles<br />

Agberto Elias Soares<br />

Ágda Maria Máximo Morais<br />

Alessandra Guimarães Palmeira Vitorino<br />

Alzenir Marques Soares<br />

Ana Clecia Eloy Ferreira<br />

Ana Cristiane Araújo dos Santos<br />

Ana Cristina <strong>de</strong> Sousa Silva<br />

Ana Jeanete <strong>de</strong> Souza<br />

Ana Li<strong>ce</strong> Vi<strong>ce</strong>nte Meneses<br />

Ana Lúcia Quirino <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ana Maria Rebelo<br />

Ana Neiry <strong>de</strong> Oliveira<br />

Ana Paula <strong>de</strong> Almeida<br />

Ana Rita Damas<strong>ce</strong>no Torres Bedoya<br />

Ana Virginia Barreto <strong>de</strong> Pontes Diniz<br />

Andréa Paula Rodrigues Barbosa<br />

Andreza Karla Pontes <strong>de</strong> França<br />

Angela Aparecida Con<strong>de</strong><br />

Angela Maria Benevi<strong>de</strong>s Pereira<br />

Antonia Cleoni<strong>ce</strong> Brito da Silva<br />

Antonia Deuzinda Rodrigues Gama<br />

Antonia Joazira R. <strong>de</strong> Abreu<br />

Antonia Val<strong>de</strong>célia Silva Gomes<br />

Antonio Adilson Frota <strong>de</strong> Carvalho<br />

Antonio Ailton Gomes da Silva<br />

Antonio Guilherme Aquiles <strong>de</strong> Carvalho<br />

Antonio Humberto Barbosa da Silva<br />

Antonio José Inácio da Silva<br />

Artur Xavier Moreira Júnior<br />

Augusto César Tavares da Silva<br />

Áurea Sandra Pinheiro Moura<br />

Auricélia Barros <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Aurisleda Martins <strong>de</strong> Sousa<br />

Benedita França Sipriano<br />

Benedita Monteiro Teixeira<br />

Catia Menezes Carneiro Siebra<br />

Célia Maria da Silva Nascimento<br />

Christiane <strong>de</strong> Sousa Netto Pedrette


Cíntia Maria Paiva Ribeiro<br />

Claudia Maria <strong>de</strong> Sousa<br />

Climenia Matos da Costa<br />

Cristiane E. Castro Feitosa Melo<br />

Cristina Régia Narciso Nery<br />

Danielle Campos Ma<strong>ce</strong>do Gameiro<br />

Darla Viviane Sabóia Figueiredo<br />

Darlan Lima Paiva<br />

Davanil<strong>ce</strong> Diogenes Maia<br />

Dayrilane <strong>de</strong> Sousa Carneiro<br />

Diana Delne <strong>de</strong> Sales Silva<br />

Diniz Moura Ponte<br />

Dulcilene Dams<strong>ce</strong>no da Silva Figueiredo<br />

Edilana Lopes Silva<br />

Edina Ricarte Muniz<br />

Edson Emiliano <strong>de</strong> Sousa<br />

Edvana Lopes <strong>de</strong> Carvalho<br />

Elaine Alves da Silva Moraes<br />

Elenita <strong>de</strong> Araújo Miranda<br />

Eliana Alves Moreira<br />

Eliana Moreira <strong>de</strong> Oliveira<br />

Eliane Cristina dos Santos Silva<br />

Eliane Figueirêdo Viana Martins<br />

Eliene Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira Matos<br />

Elilúcia <strong>de</strong> Oliveira Bilhar<br />

Elisabeth Alessandra T. <strong>de</strong> Araújo<br />

Erasmo Belarmino da Silva<br />

Ester Nascimento <strong>de</strong> Sousa<br />

Eu<strong>de</strong>s Farias <strong>de</strong> Paula<br />

Eugênio Pa<strong>ce</strong>lli Ferreira <strong>de</strong> Araújo<br />

Evandro Castelo Branco Brasileiro<br />

Evelene Silveira Alves Sampaio<br />

Eveline Maria Marques F. Lima<br />

Everli <strong>de</strong> Sousa Eduardo<br />

Fátima Luzielma dos S. Ferreira<br />

Fernanda Cristina Rodrigues Matoso<br />

Fernanda Iara Rodrigues <strong>de</strong> Almeida<br />

Flávio <strong>de</strong> Sousa Vieira<br />

Franciano Beserra Pinto<br />

Francisca das Chagas <strong>de</strong> Sousa<br />

Francisca das Chagas Firmino <strong>de</strong> Sousa<br />

Francisca Edilma Monteiro Pinto<br />

Francisca Edna <strong>de</strong> Oliveira<br />

Francisca Eliane Rabelo Gomes<br />

Francisca Gerusa Ga<strong>de</strong>lha<br />

Francisca Idaguacira Alves<br />

Francisca Josalva Tavares Falcão<br />

Francisca Lin<strong>de</strong>rvânia Bezerra Martins<br />

Francisca Maria Angelina Ribeiro<br />

Francisca Maria Luz Coelho<br />

Francisca Selma C. Rodrigues<br />

Francisca Ticiany Barbosa Lopes<br />

Francisca Van<strong>de</strong>lena <strong>de</strong> Oliveira Coelho<br />

Francisco Assis <strong>de</strong> Mesquita Silva<br />

Francisco Beijamim <strong>de</strong> La<strong>ce</strong>rda<br />

Francisco Cleido C. Lima<br />

Francisco <strong>de</strong> Assis Barros Leal Reis<br />

Francisco Eu<strong>de</strong>s Farias da Silva<br />

Francisco José Fernan<strong>de</strong>s Barbosa<br />

Francisco José Maia Silva<br />

Francisco Ronaldo <strong>de</strong> Morais Vieira<br />

Francisco Sergio Gomes Sobral<br />

Francisco Wellington Rego<br />

Francisco Wellington Soares Monteiro<br />

Gélito Estevam da Rocha Carneiro<br />

Genilza Silva Moreira<br />

Germana Patrícia <strong>de</strong> Feitas Menezes<br />

Germana Sales Barbosa<br />

Getulio Nalmir Cavalcante Men<strong>de</strong>s Filho<br />

Gladstone Leite Paiva<br />

Glaucia Maria Brasil <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

Glaucia Maria Dias Freitas<br />

Glenil<strong>ce</strong> Maria <strong>de</strong> Sousa Forte<br />

Gleume da Cunha Rodrigues<br />

Glória Ma. Silva Hamelak<br />

Guaraciara <strong>de</strong> Freitas Araújo<br />

Halysson Oliveira Dantas<br />

Helena Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />

Herivaldo Oliveira Rocha<br />

Hermenegildo César <strong>de</strong> Almeida<br />

Hilton Laurindo Junior<br />

Iáskara Silveira <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />

Ileane <strong>de</strong> Oliveira Fernan<strong>de</strong>s<br />

Isabel Maria Andra<strong>de</strong> da Silva<br />

Ismênia Maria Mesquita Batista<br />

Itamar Sampaio Moreira<br />

Ivana <strong>de</strong> Menezes Morais<br />

Ivone Monteiro Me<strong>de</strong>iros<br />

Ivonete <strong>de</strong> Freitas Cunha<br />

Ivonilson Martins Vale Borges<br />

Jacqueline <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Men<strong>de</strong>s Sosares<br />

Jacqueline G. Lins<br />

Jacqueline Ribeiro Amaral<br />

Jacqueline Souza Furtado Aquino<br />

Jandir Sampaio <strong>de</strong> Sousa<br />

Jane Eyre Viana <strong>de</strong> Sousa<br />

Jeame B. Saturão<br />

João Batista Alves Costa<br />

João Tancredo Sá Ban<strong>de</strong>ira<br />

Jonas Serafim <strong>de</strong> Sousa<br />

Joraya Sonara <strong>de</strong> Alcântara Xenofonte<br />

José Barroso Cavalcante<br />

José Carlos Tavares dos Santos<br />

José Clauber Vieira Crisóstomo<br />

José Cláudio Silva da Costa<br />

José <strong>de</strong> Ribamar Martins<br />

José Drauzio Bastos Lopes<br />

José Freitas Oliveira<br />

José Hilton <strong>de</strong> Castro<br />

José Jora<strong>ce</strong>ne Andra<strong>de</strong><br />

José Rogério Viana <strong>de</strong> Oliveira<br />

José Simião Leandro <strong>de</strong> Sousa Filho<br />

Judite Helena Lima <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Juracy Santos <strong>de</strong> Almeida<br />

Jurema Rocha Leite<br />

Kalina Gondim <strong>de</strong> Oliveira<br />

Kátia Maria Oliveira Laurinho<br />

Laecio Santos <strong>de</strong> Sousa<br />

Lídia Pereira <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Liduina Vidal <strong>de</strong> Almeida<br />

Liliane Lima Amorim<br />

Liliane Maria Ferreira Lima Amorim<br />

Lindalva F. Rodrigues Silva<br />

Lúcia <strong>de</strong> Fátima Raulino Alcântara<br />

Luciana Maria Cassundé <strong>de</strong> Oliveira<br />

Luciana Xavier <strong>de</strong> Campos<br />

Lúcio José <strong>de</strong> Azevêdo Lu<strong>ce</strong>na<br />

Luiza Lúlia Feitosa Simões<br />

Marcia Maria Silva Vieira<br />

Marcos <strong>de</strong> Loiola Câmara Gomes<br />

Margareth Brasileiro Nogueira<br />

Maria Alcione Bezerra Romanholi<br />

Maria Al<strong>de</strong>liane Lopes da Silva<br />

Maria Ana Nascimento Barbosa<br />

Maria Berigiany da Silva Pereira<br />

Maria Carmem G. Pessoa<br />

Maria da Con<strong>ce</strong>ição da Silva Vascon<strong>ce</strong>los<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima Gonzaga Viana<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima Alves e Silva<br />

Maria <strong>de</strong> Fatima Batista Ribeiro<br />

Maria <strong>de</strong> Fátima Costa da Silva<br />

Maria <strong>de</strong> Jesus Vaz <strong>de</strong> Sousa<br />

Maria Dinair Ribeiro Rodrigues<br />

Maria do Céu Cassimiro Sales<br />

Maria do Espirito Santo S. A. Feitosa<br />

Maria do Rosário Alves <strong>de</strong> Lima<br />

Maria do Socorro <strong>de</strong> A. Parente<br />

Maria do Socorro <strong>de</strong> Jesus Nogueira<br />

Maria do Socorro Mesquita Ribeiro<br />

Maria do Socorro Rodrigues Silva<br />

Maria do Socorro Santos da Silva<br />

Maria El<strong>de</strong>nir De Souza Moreira<br />

Maria Elizete Nunes Tavares<br />

Maria Ereneida Pontes Freire<br />

Maria Eridan <strong>de</strong> Oliveira<br />

Maria Euni<strong>ce</strong> Ramiro Lima<br />

Maria Gerviz Arruda<br />

Maria Idalva Honorato dos Santos<br />

Maria Jacilma Vieira <strong>de</strong> Sousa<br />

Maria José Esmeraldo Rolim<br />

Maria Leani Dantas Freitas<br />

Maria Leonila Eucli<strong>de</strong>s Jorge<br />

Maria Luci do Nascimento Alves<br />

Maria Lucinei<strong>de</strong> Ribeiro<br />

Maria Magda Ferreira Coutinho<br />

Maria Marluciene Ferreira Tavares<br />

Maria Mônica Feijó L. Freire<br />

Maria Patricia Morais Leal<br />

Maria Salete <strong>de</strong> Lima Bezerra<br />

Maria Saraiva da Silva<br />

Maria Scheila <strong>de</strong> Aquino<br />

Maria Selta Pereira<br />

Maria Valda Raulino Santiago<br />

Maria Valéria <strong>de</strong> Souza<br />

Maria Valmira Melo Sousa<br />

Maria Zilei<strong>de</strong> Pereira Men<strong>de</strong>s<br />

Marilac Anselmo da Silva<br />

Marisangela Santiago <strong>de</strong> Araújo<br />

Marta Leitão<br />

Marta Ximenes André Aragão<br />

Michelly Barros Andra<strong>de</strong> Sousa<br />

Morgana Men<strong>de</strong>s Costa<br />

Nara Vânia Araújo Batista<br />

Natália Maria <strong>de</strong> Freitas Dias<br />

Nazaré Cristina S. dos Santos<br />

Neuma Tomé Pinheiro<br />

Paloma <strong>de</strong> Melo Pontes<br />

Paula Viviane Con<strong>de</strong> Carvalho<br />

Paulo Henrique Torres Belo<br />

Pautilia Helena Braga Siebra<br />

Pedro Clauber Macambira<br />

Pedro Paz Lima Neto<br />

Penélope Victor Lourenço Aguiar<br />

Rachel <strong>de</strong> Sousa Rolim<br />

Raimunda Barreto <strong>de</strong> Araújo<br />

Raimunda Coelho <strong>de</strong> Albuquerque<br />

Raimunda Maria <strong>de</strong> Abreu Cor<strong>de</strong>iro<br />

Regina Cláudia Menezes Moura<br />

Regina Maria Freitas Abreu<br />

Rejane Ramos <strong>de</strong> Oliveira<br />

Rita <strong>de</strong> Cácia Soares Farias<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Cláudio Viana<br />

Rita <strong>de</strong> Cássia Lima Alves<br />

Roberto Antonio <strong>de</strong> Sousa<br />

Rochelly Alves do Monte<br />

Rui Cassimiro Castelo Branco<br />

Salena Rosana <strong>de</strong> Oliveira<br />

Sandra Maria Gomes Fortaleza<br />

Sandra Maria Noroes e Sousa<br />

Sandra Silva <strong>de</strong> Araújo<br />

Sandra Suely Carlos Zaranza<br />

Scheila Regina R. Costa<br />

Silvana Mesquita Cristino<br />

Silvania Ferreira Maia<br />

Silvia da Silva Lemos<br />

Simone Paz Lima<br />

Sinara Socorro Duarte da Rocha<br />

Solange Marinho Verçosa<br />

Stênio Nunes <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />

Suelyne Rios <strong>de</strong> Lima Tavares<br />

Susana Frutuoso<br />

Suyanne Azevedo Pessoa<br />

Tânia Maria Pimentel <strong>de</strong> Araújo<br />

Telina Ângela Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />

Telma Maria Arújo Freitas<br />

Telma Regina Rodrigues <strong>de</strong> Lima<br />

Teresa Cristina Loureiro <strong>de</strong> Lima<br />

Tereza Cristina Evangelista Pedrosa<br />

Tereza Neuman Dias Silva<br />

Tereza Quitéria Braga Rodrigues<br />

Terezinha <strong>de</strong> Sousa Costa<br />

Terezinha Neri <strong>de</strong> Azevedo<br />

Thelma Regina Vieira Nogueira<br />

Themis Mara M. do N. Oliveira Garcia<br />

Vanusa Maria da S. <strong>de</strong> Holanda<br />

Vera Lúcia Sales<br />

Veronica Maria Aires Biserra<br />

Vilma Elania Teles do Amaral<br />

Viviane Ferreira Lopes<br />

Viviane Fontenelle Bravo<br />

Wan<strong>de</strong>s Bezerra Leite<br />

Wellington Luiz Campêlo<br />

Yacira Maria Barbosa Gondim


DIRETRIZES CURRICULARES<br />

PARA O ENSINO FUNDAMENTAL<br />

DO SISTEMA PÚBLICO MUNICIPAL<br />

DE ENSINO DE FORTALEZA<br />

1<br />

BREVE HISTÓRICO<br />

DAS ORIENTAÇÕES<br />

CURRICULARES PARA<br />

O ENSINO PÚBLICO<br />

MUNICIPAL DE<br />

FORTALEZA<br />

14<br />

6<br />

ANEXOS<br />

2<br />

5<br />

EIXos<br />

EPISTEMOLÓGICOS-<br />

CONCEITUAIS<br />

EIXOS<br />

OPERACIONAIS<br />

20<br />

3 4<br />

PRINCÍPIOS<br />

ESTRUTURANTES<br />

PRINCÍPIOS<br />

ESTRUTURANTES<br />

32 40


1<br />

BREVE HISTÓRICO<br />

DAS ORIENTAÇÕES<br />

CURRICULARES PARA<br />

O ENSINO PÚBLICO<br />

MUNICIPAL<br />

DE FORTALEZA


VOLUME 1<br />

BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES<br />

CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO<br />

MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />

A história da educação pública municipal <strong>de</strong> Fortaleza é bem re<strong>ce</strong>nte.<br />

Seu início ocorreu na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 30, do século passado,<br />

exatamente em maio <strong>de</strong> 1937, quando inaugurado pelo então Prefeito<br />

da Cida<strong>de</strong>, Raimundo Alencar Araripe, o Jardim da Infância do Parque<br />

da In<strong>de</strong>pendência, no espaço hoje conhecido como Cida<strong>de</strong> da Criança<br />

/ Parque da Liberda<strong>de</strong>. Era uma pequena escola criada com a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> realizar a alfabetização / educação <strong>de</strong> crianças. Essa escola, nos anos<br />

1960, passou a ser <strong>de</strong>nominada Escola Infantil Alba Frota, unida<strong>de</strong> escolar<br />

constituinte da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas públicas <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

Foi com suporte nesse gesto que se iniciou a construção e organização<br />

<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> escolas com o objetivo <strong>de</strong> ofertar à população <strong>de</strong><br />

Fortaleza um serviço educacional público. Nesse começo, vale lembrar,<br />

não existia secretaria <strong>de</strong> educação no Município <strong>de</strong> Fortaleza, apenas<br />

um <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> educação, com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administrar<br />

um pequeno grupo <strong>de</strong> escolas. Naquele tempo, o currículo escolar acontecia<br />

somente pela ação do professor que, solitariamente, fazia escolhas<br />

<strong>de</strong> conteúdos, elegia metodologias e buscava estabele<strong>ce</strong>r possíveis articulações<br />

entre as áreas do conhecimento que trabalhava, realizando<br />

assim, na vivência do dia a dia, o seu fazer pedagógico.<br />

No final dos anos 1950, o Governo do Ceará constitui um grupo <strong>de</strong><br />

profissionais do setor educacional no Estado com o objetivo <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r<br />

uma experiência bem-su<strong>ce</strong>dida vivenciada em Minas Gerais, relativa à<br />

formulação e ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um currículo para a escola pública.<br />

É <strong>de</strong>ssa oportunida<strong>de</strong> – per<strong>ce</strong>pções e entendimentos –que se <strong>de</strong>ram os<br />

primeiros passos com vistas a pensar, organizar e formular um currículo<br />

para a escola pública no Ceará.<br />

Em 1964, o Governo do Ceará, por meio <strong>de</strong> sua <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação,<br />

lançou e apresentou O Livro da Professora – currículo para a escola<br />

primária do Ceará. Essa preciosa publicação, resultado da elaboração<br />

<strong>de</strong> equipe multidisciplinar coor<strong>de</strong>nada pela professora Luiza <strong>de</strong> Teodoro<br />

Vieira, foi um marco na história da educação no Ceará e tornou-se referência<br />

na orientação curricular da escola pública, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> seu<br />

lançamento (1964) até o início da década <strong>de</strong> 1980. Sua utilização na<br />

re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> Fortaleza não foi diferente – o livro permane<strong>ce</strong>u<br />

por muito tempo sendo utilizado para consulta por diferentes<br />

profissionais da educação municipal da Cida<strong>de</strong>.<br />

Outra iniciativa importante <strong>de</strong>u-se em 1982, quando a então <strong>de</strong>nominada<br />

<strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong> Fortaleza,<br />

preocupada com o pro<strong>ce</strong>sso educativo e com as questões ambientais<br />

da Cida<strong>de</strong>, publica o livro Educação Ambiental: uma questão <strong>de</strong> sobrevivência<br />

– Introdução a um currículo on<strong>de</strong> se ensine a conhe<strong>ce</strong>r, amar<br />

e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a vida. Nesse documento curricular a equipe formuladora<br />

propõe a professores e professoras, alunos e alunas: “Vamos estudar com<br />

atenção e carinho a natureza, vamos <strong>de</strong>scobrir os meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o<br />

que está sendo ameaçado e que nos ameaça também, vamos aumentar<br />

as nossas fontes <strong>de</strong> bem estar e <strong>de</strong> alegria usufruindo o que essa Natureza<br />

nos po<strong>de</strong> ofere<strong>ce</strong>r”. Esse documento curricular com foco específico<br />

na área das Ciências da Natureza e, em especial, na ne<strong>ce</strong>ssária relação<br />

<strong>de</strong> harmonia que precisa aconte<strong>ce</strong>r entre homem e natureza, conseguiu<br />

repercutir positivamente junto a professores e professoras, o que o tornou<br />

vivo, praticado na sala <strong>de</strong> aula, enrique<strong>ce</strong>ndo e redimensionando<br />

o pro<strong>ce</strong>sso ensino/aprendizagem com a largueza <strong>de</strong> seus propósitos,<br />

compreensão <strong>de</strong> mundo, pro<strong>ce</strong>dimentos pedagógicos e modos <strong>de</strong> fazer<br />

aconte<strong>ce</strong>r a vida em suas múltiplas relações.<br />

Em 1974, como forma <strong>de</strong> superar a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r<br />

contar com professores li<strong>ce</strong>nciados para o ensino das diversas áreas do<br />

conhecimento do currículo vigente – tanto na Capital quanto no restante<br />

do Ceará – foi implantado e implementado o Telensino. E a essa<br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, ne<strong>ce</strong>ssariamente, a Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Escolas Municipais<br />

<strong>de</strong> Fortaleza a<strong>de</strong>riu. Assim, o telensino permane<strong>ce</strong>u adotado na re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolas <strong>de</strong> Fortaleza até meados do final da década <strong>de</strong> 1990, quando foi<br />

extinto no Ceará. O currículo próprio <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> e pro<strong>ce</strong>dimentos<br />

metodológicos indicados eram formulados pela Equipe Pedagógica da<br />

extinta TV Educativa do Ceará, sob a orientação do Professor Gerardo<br />

José Campos. Dessa maneira, o currículo da escola municipal da época<br />

– 5ª a 8ª Série – era, na verda<strong>de</strong>, o currículo adotado pelo telensino.<br />

Em 1995, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />

publicou o documento: Proposta Curricular para as Séries Iniciais<br />

do Ensino Fundamental, cobrindo as seguintes áreas do currículo: Língua<br />

Portuguesa, Matemática, Ciências, Estudos Sociais e Educação Física.<br />

Esta proposta resultou <strong>de</strong> um trabalho pro<strong>ce</strong>ssual, concretizado com<br />

base em consultas e estudos realizados junto a professores e professoras<br />

das unida<strong>de</strong>s escolares da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino e com a mediação<br />

<strong>de</strong> profissionais especialistas das diferentes áreas do currículo e equipe<br />

técnica da própria <strong>Secretaria</strong>. Vale lembrar que, naquela oportunida<strong>de</strong>,<br />

não contemplou as chamadas séries finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental,<br />

porquanto estavam inseridas na modalida<strong>de</strong> telensino e tinham currículo<br />

próprio.<br />

1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />

16 | PREFEITURA DE FORTALEZA 17 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Em 2005, por ocasião dos Estudos Pedagógicos que pre<strong>ce</strong><strong>de</strong>ram o<br />

início do ano letivo, o tema Um Currículo para a Escola <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />

Fortaleza foi novamente abordado e discutido, quando foi proposta a revisão<br />

e atualização da Proposta <strong>de</strong> 1º ao 5º ano, há pouco mencionada e,<br />

também, a elaboração da Proposta <strong>de</strong> 6º ao 9º ano, até então inexistente,<br />

tomando-se como base os Parâmetros Curriculares Nacionais vigentes.<br />

Assim, antes da publicação <strong>de</strong>ssas diretrizes e o que elas naturalmente<br />

estabele<strong>ce</strong>m, as escolas públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza tinham como<br />

referência os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Proposta Curricular<br />

<strong>de</strong> 1995 e outros pressupostos teórico-metodológicos que embasam os<br />

pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem no ensino fundamental, para<br />

uma educação <strong>de</strong> tempo parcial ou mesmo <strong>de</strong> tempo integral, como<br />

<strong>de</strong>corrência dos cursos <strong>de</strong> formação realizados em par<strong>ce</strong>ria com o MEC<br />

e outras instituições governamentais e não governamentais.<br />

Com isto se quer afirmar que já existem algumas iniciativas que auxiliam<br />

o trabalho pedagógico <strong>de</strong>senvolvido nas escolas. Preten<strong>de</strong>-se, com<br />

base nas diretrizes apresentadas neste documento, articular essas referências<br />

e orientações proporcionando maior e melhor orientação do trabalho<br />

educativo, bem como estabele<strong>ce</strong>ndo condições teórico-pedagógicas<br />

para que os profissionais da educação – gestores, gestoras, professores e<br />

professoras, servidores técnico-administrativos, alunos e alunas – vivenciem<br />

uma educação que explicite, reconheça, compreenda e analise as<br />

transformações ocorrentes na natureza e no mundo social.<br />

Neste documento, portanto, apresentam-se a base teórica e o corpo<br />

das Diretrizes Curriculares Municipais para o Ensino Fundamental<br />

da Re<strong>de</strong> Pública <strong>de</strong> Fortaleza, em consonância com o que preconiza<br />

a LDB atual – Lei nº 9.394/96, sobretudo o artigo 26 – e com o que estabele<strong>ce</strong>m<br />

as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação<br />

Básica (Resolução CNE/CEB nº 4, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010). A publicação<br />

ora apresentada tem por base uma con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> currículo fruto <strong>de</strong> uma<br />

elaboração coletiva e a metodologia aplicada foi a da problematização,<br />

o que implica pensar e caracterizar os pro<strong>ce</strong>ssos educativos, <strong>de</strong> tal forma<br />

a respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios da prática pedagógica.<br />

Participaram da elaboração <strong>de</strong>ssas diretrizes professores e professoras<br />

representantes das diferentes áreas do currículo, coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos,<br />

gestores escolares, equipes administrativa e pedagógica da <strong>Secretaria</strong><br />

<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza e das <strong>Secretaria</strong>s Executivas<br />

Regionais/Distritos <strong>de</strong> Educação, bem como professores/assessores <strong>de</strong> IES<br />

do Ceará, integrantes da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pais e Mães pela Qualida<strong>de</strong> da Educação<br />

e da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Direitos Humanos.<br />

Para chegarmos a estas diretrizes, <strong>de</strong>senvolvemos diversas etapas <strong>de</strong><br />

trabalho, num pro<strong>ce</strong>sso intenso <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong> estudo, pesquisa, além<br />

<strong>de</strong> reflexões e <strong>de</strong>bates com base em exposições dialogadas realizadas<br />

entre a equipe técnica da SME e <strong>de</strong>mais participantes para elaboração <strong>de</strong><br />

um documento que pu<strong>de</strong>ssem referenciar as propostas pedagógicas das<br />

escolas, que <strong>ce</strong>rtamente nas<strong>ce</strong>rão em busca <strong>de</strong> respostas para a recuperação<br />

da efetiva função da escola como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

para práticas pedagógicas interdisciplinares, para um projeto <strong>de</strong><br />

vida cidadã e digna dos nossos educandos e <strong>de</strong> suas famílias.<br />

Arlindo Araújo<br />

Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Ensino Fundamental<br />

1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />

18 | PREFEITURA DE FORTALEZA 19 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


2<br />

EIXos<br />

EPISTEMOLÓGICOS-<br />

CONCEITUAIS<br />

2.1 Educação e Currículo 22<br />

2.2 Ensino e aprendizagem 27<br />

2.3 Disciplina e inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> 29


VOLUME 1<br />

A<br />

Epistemologia, também chamada Teoria do Conhecimento, é uma<br />

área da Filosofia que se preocupa com a investigação da natureza,<br />

fontes e valida<strong>de</strong> do conhecimento.<br />

Com âncora nas reflexões <strong>de</strong>ssa área, apresentam-se e explicitam-se,<br />

a seguir, as con<strong>ce</strong>pções consi<strong>de</strong>radas para a sustentação teórica, a fundamentação<br />

epistemológica e con<strong>ce</strong>itual, para as Diretrizes Curriculares<br />

para o Ensino Fundamental da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza:<br />

educação e currículo, ensino e aprendizagem, disciplina e inter<br />

ou transdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />

2.1 Educação e Currículo<br />

Será que existe apenas uma teoria que possa respon<strong>de</strong>r a todas as situações<br />

vividas na instituição educativa Há algum caminho específico, seguro,<br />

que se <strong>de</strong>va seguir em educação Existe alguma trilha particular, segura,<br />

que se <strong>de</strong>va seguir em educação Qual é a resposta para estas indagações<br />

Provavelmente, conclui-se que não há uma só teoria nem apenas um<br />

caminho... Isto aconte<strong>ce</strong> porque o dinamismo e a complexida<strong>de</strong> do pro<strong>ce</strong>sso<br />

educativo ultrapassam qualquer <strong>de</strong>scrição que po<strong>de</strong>mos fazer com<br />

base num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação. Não existe uma só teoria que incorpore<br />

a multiplicida<strong>de</strong> dos fenômenos sociais e naturais envolvidos nas práticas<br />

educativas.<br />

Assim sendo, e pensando a educação como uma dimensão fundamental<br />

da vida humana, e a <strong>ce</strong>ntralida<strong>de</strong> do currículo nos pro<strong>ce</strong>ssos<br />

educativos, po<strong>de</strong>-se afirmar que a cada teoria <strong>de</strong> educação correspon<strong>de</strong><br />

uma teoria <strong>de</strong> currículo, <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> aprendizagem e, portanto, <strong>de</strong> ser<br />

humano e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, expressas nas teorias <strong>de</strong>stacadas neste documento:<br />

as teorias tradicionais; as teorias críticas e as teorias pós-críticas<br />

(SILVA, 2002) 1 .<br />

A educação é responsável pela aquisição, atualização e utilização<br />

dos conhecimentos, com aproveitamento <strong>de</strong> todos os seus tempos e espaços<br />

para promoção <strong>de</strong> aprendizagens; e, finalmente, implica que cada<br />

sujeito <strong>de</strong>ve ter uma educação escolar <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que o instrumentalize<br />

a viver num mundo em constantes transformações (DELORS, 1996) 2 .<br />

Dessa forma, a educação tem como função social primordial a incor-<br />

1<br />

SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Documentos <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: uma introdução às teorias do<br />

currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.<br />

2<br />

DELORS, Jacques et al. Educação: um tesouro a <strong>de</strong>scobrir. Relatório para a UNESCO<br />

da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília:<br />

UNESCO do Brasil/MEC, 1996.<br />

poração ativa <strong>de</strong> conhecimentos e experiências produzidas por gerações<br />

e sua socialização. O pro<strong>ce</strong>sso educativo aflora como prática e reflexão,<br />

como práxis, que liberta os homens e as mulheres do jugo das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s,<br />

da ignorância e da <strong>ce</strong>gueira do conhecimento. A educação emerge<br />

como o espaço por ex<strong>ce</strong>lência <strong>de</strong> produção do vir a ser, o locus <strong>de</strong> organização<br />

dos sentidos fundamentais para a existência, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pessoas e comunida<strong>de</strong> humana.<br />

A educação situa-se como uma prática humana fundamental, por<br />

meio da qual os homens e as mulheres buscam realizar sua humanida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo projetos formativos, implicando a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização<br />

dos espaços educativos e a estruturação das propostas educativas<br />

e <strong>de</strong> seus conteúdos. Para se ter uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é ne<strong>ce</strong>ssário,<br />

primeiramente, que haja o respeito à cultura local.<br />

O currículo apresenta-se como organizador do pro<strong>ce</strong>sso educacional<br />

<strong>de</strong>senvolvido na escola, e sua tarefa primordial é encarnar as intencionalida<strong>de</strong>s<br />

fundamentais do projeto educativo da socieda<strong>de</strong>. O currículo<br />

incorpora todas as ativida<strong>de</strong>s planejadas para atingir <strong>de</strong>terminados<br />

objetivos; inclui, ainda, os acontecimentos inesperados, mas dos quais<br />

se po<strong>de</strong> extrair oportunida<strong>de</strong>s para aprendizagem e também as <strong>de</strong>mais<br />

experiências pessoais, coletivas e sociais (currículo oculto 3 ), permitindo<br />

que o sujeito aprenda. É um projeto <strong>de</strong> educação que <strong>de</strong>termina o que<br />

<strong>de</strong>ve constar no currículo formal (explícito), propõe um plano <strong>de</strong> ação<br />

coerente e consistente para atingir esses objetivos – por isso supõe uma<br />

seleção do que é <strong>de</strong>sejável, planejado e também real para se ensinar em<br />

toda a escola (não apenas no interior <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> aula).<br />

É preciso consi<strong>de</strong>rar o papel relevante que têm os/as professores/professoras<br />

4 – com base em um trabalho coletivo – na seleção e no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do currículo formal, relacionando-o com o currículo oculto,<br />

<strong>de</strong>finindo ações pedagógicas que têm por base a realida<strong>de</strong> e as ne<strong>ce</strong>ssi-<br />

3<br />

Por currículo oculto, neste documento, enten<strong>de</strong>-se como um conjunto <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong><br />

atitu<strong>de</strong>s, que nem sempre fazem parte <strong>de</strong> prescrições. Po<strong>de</strong> ocorrer na socieda<strong>de</strong> ou nas<br />

instituições escolares. Na escola, o currículo oculto nem sempre está explicitado nos<br />

documentos ou nos planos educacionais, mas apare<strong>ce</strong>m nas relações escolares (assim<br />

como nas relações sociais), nas práticas dos indivíduos – e <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas nos<br />

pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem. Conf. IN: GIROUX, Henry. Teoria crítica e<br />

resistência em educação: para além das teorias da reprodução. Petrópolis: Vozes, 1986;<br />

APPLE, Michel. I<strong>de</strong>ologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982; TORRES SANTOMÉ,<br />

Jurjo. O curriculum oculto. Porto: Porto Editora, 1995.<br />

4<br />

A utilização dos termos professor/professora indica o respeito às discussões sobre gênero.<br />

Assim, mesmo quando se utilizar o termo professor ou professores, se estará referindo a<br />

professor, professora, professores e/ou professoras. O mesmo vale para termos semelhantes:<br />

o(a) estudante, o(a) educador(a), educadores etc.<br />

2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />

22 | PREFEITURA DE FORTALEZA 23 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

da<strong>de</strong>s dos estudantes, mas que ultrapassa essa realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a instrumentalizar<br />

o estudante para estabele<strong>ce</strong>r-se uma socieda<strong>de</strong> mais justa<br />

e fraterna.<br />

Historicamente, o currículo foi estruturado incorporando a lógica <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> emergente e se estabele<strong>ce</strong>u como um objeto marcado<br />

pelo ímpeto <strong>de</strong> controle e dominação do Estado e da racionalida<strong>de</strong> que<br />

se afirmou com a as<strong>ce</strong>nsão do capitalismo. O currículo e as escolas, nesses<br />

tempos, incorporaram a lógica da fábrica e da vida urbana, marcada<br />

pela industrialização e pelos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> homogeneização, próprios da<br />

linha <strong>de</strong> produção. Ele alinhou-se e expressou, na educação, as intencionalida<strong>de</strong>s<br />

fundamentais do novo projeto educativo. Nesta perspectiva,<br />

o currículo é con<strong>ce</strong>bido como o elemento organizador das diversas experiências<br />

cognitivas, psicomotoras e afetivas que ocorrem nos espaços<br />

educativos, significando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> prescrição que organiza o caminho<br />

e as experiências que serão vivenciadas pelo sujeito educativo.<br />

Atualmente, o currículo assume diferentes perspectivas e significados,<br />

articulado com os pro<strong>ce</strong>ssos socioculturais, as teorias da educação e o<br />

pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem, conforme se apresenta a seguir.<br />

As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> currículo, portanto, incluem as experiências vividas pelos<br />

estudantes, professores, técnicos, gestores e famílias, os conteúdos a<br />

serem ensinados e aprendidos, as habilida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas e a<br />

avaliação, que terminam por influir nos conteúdos e nos pro<strong>ce</strong>dimentos<br />

selecionados no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> escolarização e, assim, na formação das<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos sujeitos envolvidos.<br />

Neste documento, adotou-se um con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> currículo que incorpora<br />

as contribuições das teorias críticas, com algumas con<strong>ce</strong>pções das teorias<br />

pós-críticas, como gênero, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre<br />

outras (SILVA, 2002) 5 . Desse modo, assume-se uma inovadora compreensão<br />

sobre educação e currículo, que con<strong>ce</strong>be o ser humano numa<br />

perspectiva holística, social e historicamente constituído. Enten<strong>de</strong>-se que<br />

este ser, que busca o conhecimento <strong>de</strong> si, interage com o outro, por intermédio<br />

<strong>de</strong> linguagens variadas e organizadas em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informações,<br />

implicando crescimento e socialização do conhecimento.<br />

Assim, a vida humana se <strong>de</strong>lineia como comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve buscar<br />

projetar seus caminhos e empreendimentos, portanto, como consciência<br />

e ação responsável e comprometida consigo, com o outro e com o<br />

Planeta. Por isso, estas diretrizes estão ancoradas em valores fundamentais,<br />

como respeito ao outro, apreço por uma cultura <strong>de</strong> paz, sentimento<br />

cres<strong>ce</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> por si, pela comunida<strong>de</strong> e meio ambiente,<br />

e a cooperação como estratégia <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma nova cidadania<br />

5<br />

Op. cit.<br />

socialmente justa, ecologicamente equilibrada e sustentável.<br />

As teorias tradicionais <strong>de</strong> educação e do currículo, <strong>de</strong> fundamentação<br />

positivista, <strong>de</strong>senvolveram-se impulsionadas pelas exigências <strong>de</strong> uma<br />

formação técnico-científica, visando à preparação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra qualificada<br />

para o mercado do trabalho. O currículo se organizava <strong>de</strong> forma<br />

linear e compartimentalizada e pretendia ser neutro, evitando os temas<br />

e conteúdos político-sociais. Sua organização su<strong>ce</strong>dia <strong>de</strong> forma burocrática<br />

e or<strong>de</strong>nada, e enfatizava os con<strong>ce</strong>itos meramente técnicos, como<br />

ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização,<br />

planejamento, eficiência e objetivos, na perspectiva <strong>de</strong> quem ensina e<br />

não <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong>.<br />

As teorias curriculares críticas fundamentam-se, principalmente, no<br />

Materialismo Histórico e Dialético, e se caracterizam por colocarem em<br />

questão as relações entre educação e socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nunciando as formas<br />

<strong>de</strong> opressão e dominação que se <strong>de</strong>senvolvem na socieda<strong>de</strong> e são reproduzidas<br />

nos espaços educativos. As teorias críticas <strong>de</strong>stacam os con<strong>ce</strong>itos<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, reprodução cultural e social, po<strong>de</strong>r, classe social,<br />

capitalismo, relações sociais <strong>de</strong> produção, conscientização, emancipação<br />

e libertação, currículo oculto e resistência. Nesse horizonte teórico,<br />

os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem passam a ser (re)vistos numa<br />

perspectiva menos técnica, e assumem caráter mais político e social.<br />

As teorias pós-criticas do currículo caracterizam-se pelas abordagens<br />

microssociais e, portanto, pelos fenômenos locais. Assim, rompem com a<br />

perspectiva epistemológica dominante na Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> busca por<br />

leis gerais e universais, <strong>de</strong> forte apelo empirista e matemático, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />

a noção <strong>de</strong> que os saberes humanos são discursos elaborados em pro<strong>ce</strong>ssos<br />

intersubjetivos, marcados por microrrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. As teorias<br />

pós-críticas <strong>de</strong>stacam as noções <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diferença e diversida<strong>de</strong>,<br />

subjetivida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, significação, discurso, saber-po<strong>de</strong>r,<br />

representação, cultura, gênero e etnia; entre elas, <strong>de</strong>staca-se o multiculturalismo,<br />

por explicitar o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se fala, esclare<strong>ce</strong>ndo que há diversas<br />

culturas em uma socieda<strong>de</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> assegurarem seus<br />

direitos <strong>de</strong> existência e <strong>de</strong> expressão, inclusive nos espaços educativos.<br />

O currículo, numa perspectiva pós-crítica, é consi<strong>de</strong>rado algo produzido<br />

com base numa seleção arbitrária <strong>de</strong> conteúdos, significando, portanto,<br />

um recorte cultural <strong>de</strong> parte da realida<strong>de</strong>, feito por quem tem po<strong>de</strong>r<br />

para tanto. Assim, é ne<strong>ce</strong>ssário consi<strong>de</strong>rar haver aspectos que ficam<br />

<strong>de</strong> fora do currículo, porquanto ele se estabele<strong>ce</strong> como disputa por representar<br />

o real, e que, mediante novas disputas e negociações, outros conteúdos,<br />

fatos e fenômenos po<strong>de</strong>m ser inseridos nas composições curriculares.<br />

Ao se fazer a associação das teorias críticas e pós-críticas com o cur-<br />

2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />

24 | PREFEITURA DE FORTALEZA 25 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

rículo, e na perspectiva <strong>de</strong> pensar <strong>ce</strong>nários inovadores para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> novas experiências formativas, divisa-se a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

trabalhar com um con<strong>ce</strong>ito amplo <strong>de</strong> currículo, que ultrapasse um rol <strong>de</strong><br />

conteúdos, disciplinas, métodos, experiências, objetivos, normas, e que<br />

incorpore a complexida<strong>de</strong> dos fenômenos ocorrentes nos espaços educativos<br />

e assuma, <strong>de</strong> forma crítica, contradições e conflitos nesses <strong>ce</strong>nários.<br />

Procura-se sinalizar para inovadoras experiências formativas, na perspectiva<br />

<strong>de</strong> conservar as contribuições das teorias críticas, sua natureza<br />

<strong>de</strong>smistificadora e emancipadora. Ao mesmo tempo, incorporam-se outras<br />

formas <strong>de</strong> ler os emergentes quadros culturais às novas subjetivida<strong>de</strong>s<br />

e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que caracterizam e expressam a cultura emergente,<br />

manifesta, <strong>de</strong>ntre outros espaços, no território escolar e curricular, como<br />

tematizadas pelas teorias pós-criticas.<br />

Estas diretrizes consi<strong>de</strong>ram as transformações sociais e culturais em<br />

curso na atual conjuntura socioeconômica e seus impactos na escola e<br />

no currículo. O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cultura, neste âmbito, assume importância<br />

<strong>ce</strong>ntral e é revisto, na perspectiva <strong>de</strong> explicar as mudanças, e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

compreendido como conhecimento universal, patrimônio da humanida<strong>de</strong>,<br />

e assume um significado que incorpora tanto as práticas, as representações,<br />

as línguas e os costumes dos diversos grupos, como as contradições<br />

que as envolvem e que <strong>de</strong>correm das diferentes formas manifestas<br />

pelo senso comum e da vida popular cotidiana <strong>de</strong>les. Com efeito, <strong>de</strong>vemos<br />

falar <strong>de</strong> culturas, sem privilegiar uma ou a outra, compreen<strong>de</strong>ndo-as<br />

unicamente como expressões humanas socialmente estabelecidas.<br />

Este documento assume tal compreensão, <strong>de</strong>stacando a natureza política<br />

que perpassa as relações expressas por esse con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cultura.<br />

Com base nestas compreensões convergentes, abandona-se o modo <strong>de</strong><br />

ver a cultura como algo geral, genérico, abrangente, uma categoria universal,<br />

e passa-se a <strong>de</strong>scobrir na cultura o seu caráter plural, as diferenças<br />

mínimas, mas significativas, dinâmicas, diferenças que produzem outras<br />

diferenças e que, portanto, estão enredadas em tramas <strong>de</strong>terminantes da<br />

produção e reprodução <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s individuais e sociais, nos espaços<br />

escolares e curriculares. Além do respeito à cultura local, é ne<strong>ce</strong>ssário<br />

que haja uma reflexão sobre essa cultura, para que ela não se torne um<br />

fim em si mesma.<br />

Enfim, currículo, aqui, <strong>de</strong>ve ser entendido, não na a<strong>ce</strong>pção tradicional<br />

(e reduzida) <strong>de</strong> listagem <strong>de</strong> conteúdos e disciplinas, mas como um<br />

manifesto, um pacto entre a instituição escolar e a socieda<strong>de</strong> em torno<br />

<strong>de</strong> um projeto político-pedagógico, constituído mediante contribuições<br />

dos diversos segmentos envolvidos; um contrato social, que incorpora<br />

a diferença e a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> saber, on<strong>de</strong> se pactuem<br />

i<strong>de</strong>ias, valores, perfis <strong>de</strong> educadores e educandos, como pessoas,<br />

cidadãos e profissionais num mundo em permanente mudança; assim<br />

instituiu as práticas pedagógicas que consagram conhecimento, atitu<strong>de</strong>s,<br />

valores e conteúdos. Um currículo, portanto, expressa a compreensão da<br />

função social da escola como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

com foco na formação dis<strong>ce</strong>nte e do<strong>ce</strong>nte, para que possa assegurar<br />

a produção/reprodução/transformação da realida<strong>de</strong> na qual a escola<br />

está inserida, ampliando e <strong>de</strong>senvolvendo os saberes e conhecimentos<br />

da comunida<strong>de</strong> escolar, numa perspectiva social mais justa e igualitária.<br />

A escola e o currículo produzem e reproduzem discursos e normas<br />

que se articulam com <strong>de</strong>terminados significados e visões <strong>de</strong> mundo,<br />

constituindo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e subjetivida<strong>de</strong>s com base em perspectivas<br />

socioculturais mais amplas. Este fenômeno aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> modo tenso e<br />

disputado, pois os diversos grupos que integram o espaço educativo e<br />

curricular não assistem passivos a esses acontecimentos; ao contrário,<br />

reagem, estabele<strong>ce</strong>ndo outras formas <strong>de</strong> ação, com recursos e estratégias<br />

diversos, na direção do estabelecimento <strong>de</strong> novas visões, saberes, valores<br />

e significados.<br />

Desse modo, compartilha-se uma con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> currículo que abrange<br />

variadas dimensões do cotidiano escolar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as idiossincrasias dos<br />

grupos que transitam pelos territórios da escola e suas relações, passando<br />

pelos recortes da cultura, que se constituem em conteúdos das diversas<br />

disciplinas, as experiências <strong>de</strong> aprendizagens organizadas pelos educadores.<br />

Defen<strong>de</strong>-se a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> do diálogo, da participação e das ativida<strong>de</strong>s<br />

cooperadas, como formas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s,<br />

e como condição ne<strong>ce</strong>ssária para que a escola e o currículo possam<br />

empreen<strong>de</strong>r no su<strong>ce</strong>sso dos que convivem nos territórios escolares e na<br />

eficácia <strong>de</strong> sua função social.<br />

2.2 Ensino e aprendizagem<br />

A educação envolve, primordialmente, os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensinar,<br />

apren<strong>de</strong>r e vivenciar. Po<strong>de</strong> ser exercida nos diversos espaços <strong>de</strong> convívio<br />

social, mas a prática educativa formal ocorre no contexto escolar e <strong>de</strong><br />

forma intencional, com objetivos, regras, espaços e tempos <strong>de</strong>terminados<br />

e com uma teoria <strong>de</strong> educação específica.<br />

Se compreen<strong>de</strong>mos a educação como ato político, então per<strong>ce</strong>bemos<br />

que ela não po<strong>de</strong> ser alienante; <strong>de</strong>ve ter uma ação libertadora e, portanto,<br />

encaminhar os sujeitos para que possam ler, interpretar e transformar<br />

2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />

26 | PREFEITURA DE FORTALEZA 27 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

o mundo (FREIRE, 1998) 6 . Além disso, implica per<strong>ce</strong>ber a instituição escolar<br />

como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem (ALARCÃO, 2003) 7 – a<br />

educação é tarefa <strong>de</strong> todos, mas à escola cabe um papel específico e<br />

fundamental: formular um projeto educativo (um projeto políticopedagógico)<br />

próprio, <strong>ce</strong>ntrado em estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ensino<br />

e <strong>de</strong> aprendizagem, com vistas à transformação educativa, material e<br />

cultural <strong>de</strong> seus sujeitos.<br />

O ensino, como ativida<strong>de</strong> escolar, é um conjunto <strong>de</strong> ações e estratégias<br />

que se realizam para <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s, con<strong>ce</strong>itos e atitu<strong>de</strong>s<br />

propostas para a formação dos estudantes; é uma ativida<strong>de</strong> direcionada<br />

por do<strong>ce</strong>ntes, voltada para a formação qualificada dos estudantes, mediante<br />

organização <strong>de</strong> um ambiente educativo, métodos, conteúdos e<br />

avaliação previamente selecionados. Ao se associar aprendizagem e valores<br />

ao ensino, se tem a Educação. Com efeito, a aprendizagem constitui<br />

essencialmente o impacto do trabalho escolar, envolvendo os conhecimentos<br />

elaborados e a ser elaborados, os conhecimentos adquiridos e<br />

as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas.<br />

Para a teoria sociointeracionista, a aprendizagem e o conhecimento<br />

são ativamente formulados e elaborados pelo sujeito que pensa e apren<strong>de</strong><br />

na interação com o meio ambiente e outros sujeitos. O(A) professor(a),<br />

então, não se limita a ser um transmissor <strong>de</strong> conhecimentos nem apenas<br />

um facilitador do <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo do estudante; ele é responsável<br />

pela relação entre ensino, aprendizagem, cultura e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sóciocognitivo. Conhe<strong>ce</strong>r os estudantes e suas realida<strong>de</strong>s, mediante<br />

ações pedagógicas e <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>rias com outras esferas do Po<strong>de</strong>r Público,<br />

torna-se fundamental para a ação do<strong>ce</strong>nte, para que se possa planejar,<br />

com garantia <strong>de</strong> tempo efetivo e qualitativo <strong>de</strong> planejamento, e propor<br />

problemas ou <strong>de</strong>safios a<strong>de</strong>quados e pertinentes ao <strong>de</strong>senvolvimento e à<br />

aprendizagem <strong>de</strong>sses estudantes.<br />

Em <strong>de</strong>corrência, no ensino é importante priorizar metodologias capazes<br />

<strong>de</strong> propiciar a elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> verificação e comprovação<br />

<strong>de</strong> hipóteses na produção do conhecimento, na argumentação<br />

capaz <strong>de</strong> prever resultados, no <strong>de</strong>senvolvimento do espírito crítico que<br />

favoreça a criativida<strong>de</strong>, a compreensão dos limites e alcan<strong>ce</strong>s lógicos das<br />

explicações propostas.<br />

Não se po<strong>de</strong> esque<strong>ce</strong>r <strong>de</strong> que existe relação entre <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano e aprendizagem e a forma como esses dois fenômenos são<br />

combinados. O modo como se apresentam <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado no<br />

6<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 25. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1998.<br />

7<br />

ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Editora<br />

Cortez, 2003.<br />

ensino, pois <strong>de</strong>termina atitu<strong>de</strong>s teórico-metodológicas e práticas pedagógicas<br />

distintas. Neste documento, adotar-se-á uma con<strong>ce</strong>pção socioconstrutivista<br />

interacionista8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem, que<br />

se caracteriza pela conquista do conhecimento mediada por interações<br />

sociais; envolve a relação dialética entre o sujeito e a realida<strong>de</strong> no seu<br />

entorno, pressupondo que o ser humano modifica o meio, mas também<br />

é modificado por ele; mas essa relação não é passível <strong>de</strong> generalizações,<br />

implicando dizer que importante mesmo é a interação, enfatizando-se a<br />

experiência pessoal e significativa que cada pessoa estabele<strong>ce</strong>.<br />

Além disso, po<strong>de</strong>-se dizer que uma consequência <strong>de</strong>ssa visão sociointeracionista<br />

é a <strong>de</strong> que espaços e tempos escolares são locais <strong>de</strong> intercâmbio<br />

e síntese <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> pro<strong>ce</strong>ssos pedagógicos e <strong>de</strong>vem ser trabalhados<br />

na perspectiva do ensino e da aprendizagem – mesmo aqueles<br />

em que po<strong>de</strong>m ser realizadas ativida<strong>de</strong>s “livres”. Essas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem<br />

ser planejadas e avaliadas pedagogicamente, pois constituem ex<strong>ce</strong>lentes<br />

espaços e oportunida<strong>de</strong>s para o trabalho intelectual, corporal, social e<br />

ambiental; além do prazer, essas ativida<strong>de</strong>s também têm o objetivo <strong>de</strong><br />

propiciar aos educandos contato com o mundo, o conhecimento e a<br />

informação, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criar, interpretar e<br />

relacionar esses conhecimentos, <strong>de</strong>senvolvendo-se e apren<strong>de</strong>ndo a dominar<br />

diversos tipos <strong>de</strong> informação.<br />

2.3 Disciplina e inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

A disciplina, como unida<strong>de</strong> do currículo formal, aqui é entendida<br />

como um campo organizado <strong>de</strong> saberes específicos. Cada uma traz os<br />

próprios conteúdos, esquemas con<strong>ce</strong>ituais, maneira e métodos <strong>de</strong> investigação<br />

(ZABALA, 2002) 9 . A organização do conhecimento em disciplinas<br />

remonta aos primeiros esforços da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar<br />

a Ciência, a pesquisa e a escolarização das massas, visando ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das técnicas e à especialização do trabalho, requerida pela<br />

linha <strong>de</strong> produção fabril. Cada indivíduo e currículo particular <strong>de</strong>veriam<br />

incorporar <strong>de</strong>terminadas especialida<strong>de</strong>s e conhecimentos, implicando<br />

a fragmentação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e distribuição do conhecimento<br />

científico e das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos aprendizes e<br />

futuros “sujeitos” sociais.<br />

8<br />

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1987;<br />

VYGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.<br />

9<br />

ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para<br />

o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />

28 | PREFEITURA DE FORTALEZA 29 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Por ter este perfil, tornou-se impossível que uma <strong>de</strong>terminada disciplina<br />

<strong>de</strong>sse conta do contexto plural e complexo dos fenômenos a ensinar e<br />

a apren<strong>de</strong>r. Assim sendo, no âmbito da socieda<strong>de</strong> globalizada e marcada<br />

pela estrutura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s das Tecnologias da Informação e da Comunicação,<br />

a fragmentação inerente ao currículo disciplinar tornou-se um<br />

<strong>de</strong>safio a ser superado. As exigências da socieda<strong>de</strong> global e do mundo<br />

do trabalho expressam para a Ciência e para a escola e seus currículos<br />

o imperativo <strong>de</strong> estabele<strong>ce</strong>rem relações entre as partes, na perspectiva<br />

da compreensão do todo. O pensamento sobre as pessoas, a natureza e<br />

a vida social ne<strong>ce</strong>ssita tornar-se complexo e, portanto, muldimensional<br />

(MORIN, 2000) 10 .<br />

Desse modo, torna-se igualmente importante estabele<strong>ce</strong>r relações<br />

entre escola e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira que assim como as disciplinas precisam<br />

estabele<strong>ce</strong>r relações entre si, a escola também possa se articular<br />

com a socieda<strong>de</strong> para que não seja compreendida como um apêndi<strong>ce</strong><br />

na vida do aprendiz, que ela não se feche em seus muros. Tanto a inter<br />

como a transdisciplinarida<strong>de</strong> emergem como uma efetiva interação entre<br />

disciplinas ou áreas <strong>de</strong> conhecimento e conteúdos 11 .<br />

Na interdisciplinarida<strong>de</strong>, a interação aconte<strong>ce</strong> com as disciplinas conexas,<br />

com vistas a uma noção <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> (para quê), dando uma<br />

or<strong>de</strong>m mais consistente à interação, com cooperação e diálogo efetivos<br />

entre essas disciplinas.<br />

Ressalta-se, ainda, que a transdisciplinarida<strong>de</strong> exige efetiva articulação,<br />

troca, diálogo e integração entre elementos do conhecimento <strong>de</strong><br />

áreas diversas, em busca da compreensão da complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong>.<br />

A transdiciplinarida<strong>de</strong> é, portanto, uma meta a se alcançar num prazo<br />

mais longo.<br />

Estas Diretrizes propõem um currículo, no mínimo, interdisciplinar,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo ser isso um avanço em relação às práticas curriculares<br />

tradicionais, ancorando-se na filosofia da interdisciplinarida<strong>de</strong> e na<br />

compreensão mais ampla do termo. Caso, porém, já existam práticas<br />

transdiciplinares adotadas, elas <strong>de</strong>verão permane<strong>ce</strong>r e ser ampliadas nas<br />

propostas pedagógicas escolares.<br />

Enten<strong>de</strong>-se que há incompletu<strong>de</strong> das disciplinas, quando vistas isoladamente,<br />

e por isso exigem interação das áreas <strong>de</strong> conhecimentos, pois<br />

as relações estabelecidas entre elas asseguram uma leitura mais complexa<br />

dos fatos. A interação é, portanto, condição para se efetivar um<br />

currículo cidadão.<br />

Assim, o imperativo da inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> tem como fundamento<br />

a complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong>, que é ao mesmo tempo uma e<br />

diversa, e que <strong>de</strong>ve ser esclarecida mediante o esforço do diálogo intersubjetivo<br />

dos sujeitos fundamentalmente interessados em reconstituir o<br />

mundo na perspectiva <strong>de</strong> uma vida humana plena e feliz.<br />

Essa con<strong>ce</strong>pção, portanto, exige atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação entre do<strong>ce</strong>ntes<br />

e entre disciplinas, além <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> conhecimentos visando<br />

à transformação da própria realida<strong>de</strong>; por isso, pressupõe maior e melhor<br />

qualida<strong>de</strong> do tempo <strong>de</strong> planejamento, assegurando-se as horas <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s no espaço escolar e curricular. Há, ainda, que se consi<strong>de</strong>rar<br />

o diálogo interinstitucional, por meio <strong>de</strong> projetos bem articulados, da<br />

Educação com outros segmentos organizacionais e não organizacionais:<br />

assim, por exemplo, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senvolver projetos<br />

<strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> abrangência em escolas da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza;<br />

o mesmo vale para a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Cultura, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Direitos Humanos,<br />

<strong>de</strong>ntre outras, transformando o nosso Município em uma verda<strong>de</strong>ira<br />

Cida<strong>de</strong> Educadora 12 .<br />

2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />

10<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes ne<strong>ce</strong>ssários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo:<br />

Cortez; Brasília: UNESCO, 2000.<br />

11<br />

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinarida<strong>de</strong> e patologia do saber. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago,<br />

1976.<br />

12<br />

Sobre a con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> Educadora, ver mais adiante, neste documento, quando<br />

da apresentação e discussão dos Eixos Referenciais do Currículo, notadamente a Educação<br />

Integral Intercultural.<br />

30 | PREFEITURA DE FORTALEZA 31 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

3<br />

PRINCÍPIOS<br />

ESTRUTURANTES<br />

3.1 Flexibilida<strong>de</strong> curricular<br />

e permeabilida<strong>de</strong> às transformações 34<br />

3.2 Inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> 34<br />

3.3 Formação integral e integrada<br />

à realida<strong>de</strong> social 35<br />

3.4 Interculturalida<strong>de</strong> 35<br />

3.5 A<strong>ce</strong>sso, permanência bem-su<strong>ce</strong>dida<br />

e respeito à diferença (inclusão) 36<br />

3.6 Equida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong> 36<br />

3.7 Participação 37<br />

1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />

32 | PREFEITURA DE FORTALEZA 33 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Princípios, dialeticamente, constituem e são constituídos pelos valores<br />

adquiridos durante a formação pessoal, escolar, profissional, sociocultural,<br />

e que se tornam verda<strong>de</strong>iras convicções, que orientam o<br />

modo <strong>de</strong> agir e <strong>de</strong> pro<strong>ce</strong><strong>de</strong>r <strong>de</strong> cada qual. Representam os mandamentos<br />

estruturantes, que ali<strong>ce</strong>rçam a formação, o caráter, as regras <strong>de</strong> convivência,<br />

a ética etc.<br />

A perspectiva curricular aqui adotada é orientada por princípios, que<br />

representam as experiências <strong>de</strong>sdobradas em torno do conhecimento,<br />

em meio às relações sociais, que contribuem para a formação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

dos/as estudantes e possibilitam que elaborem conhecimentos e<br />

saberes, <strong>de</strong> forma não fragmentada.<br />

Estas diretrizes adotam os princípios estruturantes na sequência<br />

<strong>de</strong>lineados:<br />

3.3 Formação integral e integrada à realida<strong>de</strong> social<br />

Formação com amplo <strong>de</strong>senvolvimento e emancipação do sujeito<br />

que, compreendido em sua multidimensionalida<strong>de</strong>, integra o corpóreo,<br />

o psíquico, o intelecto, o cultural, o político, o ético, o estético e o espiritual.<br />

Esta abordagem possibilita uma atuação <strong>de</strong> forma crítica e criativa<br />

na socieda<strong>de</strong> articulando teoria e prática na vida social. Todos os saberes<br />

apresentados ao educando <strong>de</strong>vem partir da realida<strong>de</strong> e do contexto<br />

em que ele vive e hão <strong>de</strong> ser mediados pelo conhecimento científico,<br />

elaborado ao longo dos tempos; em síntese todo conhecimento <strong>de</strong>ve se<br />

<strong>de</strong>stinar, primeiramente, para conhe<strong>ce</strong>r e interpretar a realida<strong>de</strong> em que<br />

se vive, e, posterior e simultaneamente, contribuir para transformar a realida<strong>de</strong>,<br />

a situação do educando e da socieda<strong>de</strong>.<br />

3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />

3.1 Flexibilida<strong>de</strong> curricular e permeabilida<strong>de</strong> às<br />

transformações<br />

O que se trabalha na escola hoje <strong>de</strong>ve acompanhar as mudanças<br />

ocorrentes no movimento da história humana, seja nas relações sociais,<br />

nos pro<strong>ce</strong>ssos políticos, artísticos e culturais, na economia e na tecnologia.<br />

Um currículo escolar flexível, na medida em que possibilita a inserção<br />

e a realização <strong>de</strong> inovações pedagógicas, favore<strong>ce</strong> especialmente<br />

a oferta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e conteúdos que abor<strong>de</strong>m temas <strong>de</strong> interesse dos<br />

diversos grupos, <strong>de</strong> vinculação com a comunida<strong>de</strong>, bem como outras<br />

gran<strong>de</strong>s questões da atualida<strong>de</strong>.<br />

3.2 Inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

Optou-se pela inserção da inter ou da transdisciplinarida<strong>de</strong>, mediante<br />

articulação <strong>de</strong> efetivo planejamento vinculado entre diferentes áreas do<br />

conhecimento e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> relações entre seus conteúdos e<br />

ativida<strong>de</strong>s significativas; um conteúdo é um olhar sobre um evento da realida<strong>de</strong><br />

e, portanto, o con<strong>ce</strong>ito permite visões com suporte em vários enfoques;<br />

aqui também se incluem os projetos interinstitucionais, a que se<br />

referiu anteriormente, que po<strong>de</strong>rão ser <strong>de</strong>senvolvidos nas escolas, como<br />

parte diversificada13 do currículo.<br />

13<br />

A Base <strong>Municipal</strong> Comum e a Parte Diversificada serão discutidas no volume dois <strong>de</strong>ste<br />

documento, quando serão apresentados os Eixos Operacionais do Currículo.<br />

3.4 Interculturalida<strong>de</strong><br />

No complexo campo da cultura, há ampla potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> te<strong>ce</strong>r<br />

outros mundos possíveis. Torna-se evi<strong>de</strong>nte a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optar por<br />

outros mo<strong>de</strong>los capazes <strong>de</strong> avançar na direção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> equanimente<br />

mais justa. Para Fleuri (1998)14, a perspectiva intercultural, em<br />

sua verda<strong>de</strong>ira a<strong>ce</strong>pção, <strong>de</strong> fato, só começa quando se criam condições<br />

para a troca numa relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>. Assim, as pessoas se tornam<br />

conscientes da própria cultura no reconhecimento do outro ser. Nela<br />

se reconhe<strong>ce</strong>m as distinções culturais <strong>de</strong> cada grupo social, ao mesmo<br />

tempo em que valoriza o potencial educativo dos conflitos, a interação e<br />

reciprocida<strong>de</strong> dos grupos diferentes, como fator <strong>de</strong> enriquecimento cultural<br />

mútuo (FLEURI, 1998).<br />

A educação intercultural é a feição pedagógica <strong>de</strong>sses estudos interculturais.<br />

Caracteriza-se como uma educação que objetiva favore<strong>ce</strong>r a<br />

integração cooperativa entre as culturas, respeitando suas diferenças,<br />

bem como retoma, para o campo educativo, as relações entre os múltiplos<br />

contextos sociais e culturais. Esta proposta recomenda que se levem<br />

em conta a pluralida<strong>de</strong> e a diversida<strong>de</strong> cultural, em que o diálogo entre<br />

as culturas seja estimulado, no respeito às diferenças, na <strong>de</strong>mocratização<br />

<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e permanência <strong>de</strong> todos no âmbito escolar.<br />

Vale ainda <strong>de</strong>marcar a existência <strong>de</strong> várias maneiras <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a<br />

interculturalida<strong>de</strong> e, portanto, a educação intercultural. A escolha, aqui,<br />

é pela interculturalida<strong>de</strong> crítica e com ela há associação. Nesta, existe<br />

14<br />

FLEURI, Reinaldo Matias (Org.) Intercultura e Movimentos Sociais. Florianópolis:<br />

MOVER/NUP, 1998.<br />

34 | PREFEITURA DE FORTALEZA 35 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

um projeto que sinaliza na direção <strong>de</strong> um “com-viver” em busca <strong>de</strong> um<br />

bem viver compartilhado, solidário.<br />

Efetivamente, na interculturalida<strong>de</strong> crítica (IC), se problematizam os ali<strong>ce</strong>r<strong>ce</strong>s<br />

do Estado hegemônico, da socieda<strong>de</strong> capitalista, do seu lado oculto,<br />

que é a colonialida<strong>de</strong>. A IC contesta, <strong>de</strong> <strong>ce</strong>rto modo, este contexto social<br />

artificialmente naturalizado em que se impõem maneiras <strong>de</strong> ser, viver,<br />

saber e se relacionar. Portanto, falar em IC é se referir a <strong>de</strong>scolonialida<strong>de</strong>,<br />

como <strong>de</strong>staca Walsh (2008)15, pois que se integram no avanço essencial<br />

do <strong>de</strong>svelar do ali<strong>ce</strong>r<strong>ce</strong> <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna que precisa ser superada.<br />

A interculturalida<strong>de</strong> assim entendida, implica um projeto político, social<br />

epistêmico e ético. Problematiza as causas fundantes <strong>de</strong>ssa assimetria<br />

social e cultura atuais, buscando suprimi-las por políticas educacionais,<br />

relacionais. Um diálogo intercultural autêntico potencializa estas transformações<br />

capazes <strong>de</strong> romper com o arranjo social dominante.<br />

3.5 A<strong>ce</strong>sso, permanência bem-su<strong>ce</strong>dida e respeito à<br />

diferença (inclusão)<br />

Pressupõe o reconhecimento das diversida<strong>de</strong>s humanas, assim como<br />

suas variadas formas <strong>de</strong> interação, e a exigência <strong>de</strong> que sejam respeitadas,<br />

assegurando-se as condições ne<strong>ce</strong>ssárias para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> valores e práticas educacionais, multiculturais e interculturais, na<br />

valorização da pessoa como um prerrequisito para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e exercício da cidadania plena. Esses princípios apresentam-se na perspectiva<br />

da garantia <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e permanência bem-su<strong>ce</strong>dida na escola, o<br />

que implica a apropriação do saber por parte da totalida<strong>de</strong> dos estudantes;<br />

põe à disposição das diferentes pessoas e inteligências as condições<br />

<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>, o apoio, o acompanhamento familiar, a<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e a eliminação <strong>de</strong> barreiras físicas, morais e<br />

atitudinais, com vistas a superar as dificulda<strong>de</strong>s encontradas.<br />

3.6 Equida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong><br />

Implicam uma ligação do currículo com a realida<strong>de</strong> sociopolítica e<br />

cultural concreta dos educandos, observando-se as dimensões éticas, políticas<br />

e estéticas:<br />

15<br />

WALSH, Catherine. Interculturalidad, plurinacionalidad y <strong>de</strong>colonialidad: las insurgencias<br />

político-epistémicas <strong>de</strong> refundar el Estado. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, n. 9: 131-152,<br />

julio-diciembre 2008. ISSN 1794-2489. (tradução livre <strong>de</strong> João B. A. Figueiredo, 2008).<br />

* Ética – “justiça, solidarieda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e autonomia; [...]<br />

respeito à dignida<strong>de</strong> da pessoa humana e <strong>de</strong> compromisso,<br />

com a promoção do bem [estar] <strong>de</strong> todos, contribuindo para<br />

combater e eliminar quaisquer manifestações <strong>de</strong> precon<strong>ce</strong>ito”<br />

16 e discriminação, seja <strong>de</strong> origem, raça, sexo, cor, ida<strong>de</strong>,<br />

classe social e quaisquer outras formas <strong>de</strong> discriminação;<br />

* Política – “reconhecimento dos direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cidadania,<br />

respeito ao bem comum e à preservação do regime<br />

<strong>de</strong>mocrático e dos recursos ambientais; [...] busca da equida<strong>de</strong><br />

(justiça) no a<strong>ce</strong>sso à educação, à saú<strong>de</strong>, ao trabalho (empregabilida<strong>de</strong>,<br />

empreen<strong>de</strong>dorismo e autonomia), aos bens<br />

culturais e outros benefícios; [...] exigência <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento para assegurar a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos entre os estudantes<br />

que apresentam diferentes ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s; [...] redução<br />

da pobreza e das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e regionais” 17 ; e<br />

* Estética – consi<strong>de</strong>ra as diferentes expressões artísticas, “cultivo<br />

da sensibilida<strong>de</strong> juntamente com o da racionalida<strong>de</strong>; [...]<br />

enriquecimento das formas <strong>de</strong> expressão e do exercício da<br />

criativida<strong>de</strong>; [...] valorização das diferentes manifestações<br />

culturais, especialmente a da cultura brasileira; [...] construção<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s plurais e solidárias” 18 . Cabe, portanto, ao<br />

profissional, buscar enfatizar as raízes culturais, tanto nacionais<br />

como locais, buscando recuperar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

<strong>ce</strong>arense e propiciando a i<strong>de</strong>ntificação do estudante com<br />

essa abordagem e com esse conteúdo.<br />

3.7 Participação<br />

É um princípio fundador da <strong>de</strong>mocracia; implica a conscientização<br />

<strong>de</strong> ser parte integrante, em articulação com todos os grupos; sem a participação,<br />

não é possível transformar a realida<strong>de</strong>. A participação não visa<br />

apenas às questões formais <strong>de</strong> mera presença, implica o direito <strong>de</strong> ser<br />

partícipe, <strong>de</strong> ser por inteiro, diferente, <strong>de</strong> viver plenamente o sentido da<br />

16<br />

Inciso I, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />

17<br />

Inciso II, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />

18<br />

Inciso III, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />

3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />

36 | PREFEITURA DE FORTALEZA 37 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

diversida<strong>de</strong>; implica o reconhecimento da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação<br />

como direito social, consi<strong>de</strong>rando a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s no<br />

espaço educativo e curricular.<br />

Esses princípios <strong>de</strong>vem organizar o currículo e fundamentar a abordagem<br />

<strong>de</strong> cada área, e abrem perspectivas <strong>de</strong> compreensão dos sujeitos<br />

educativos, dos objetos <strong>de</strong> estudo e do conhecimento. Dessa forma, os<br />

princípios visam a estabele<strong>ce</strong>r interações <strong>de</strong> conteúdos, com metodologias<br />

e práticas educativas, valorizando o saber, o saber-ser e o saber-fazer;<br />

estimulando o estudante a <strong>de</strong>senvolver potenciais <strong>de</strong> ser, pesquisar e<br />

adquirir saberes, com base nas experiências <strong>de</strong> vida e nas possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> formular projetos individuais e comunitários.<br />

Pressupõe um currículo para todos, mas respeitando-se as diversida<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong> forma a marcá-lo pela justeza. A liberda<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada uma conquista<br />

e uma tarefa humana fundamental, pela qual se <strong>de</strong>senvolve a autonomia.<br />

Implica, portanto, a busca pela inexistência <strong>de</strong> incongruências curriculares,<br />

<strong>de</strong> forma a não permitir intolerâncias, comparações <strong>de</strong>preciativas<br />

ou práticas segregadoras no Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

Em cada área <strong>de</strong> conhecimento, também, serão anunciados princípios<br />

didático-pedagógicos, que i<strong>de</strong>ntificarão as inter-relações dos conteúdos do<br />

ensino e das situações <strong>de</strong> aprendizagem nos contextos das vidas social e<br />

pessoal, <strong>de</strong> modo a criar conexões ativas entre o estudante e os objetos do<br />

conhecimento, para que se alcan<strong>ce</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar o aprendido<br />

e o vivido; o vivido e o aprendido com o <strong>de</strong>sejável e o conquistável.<br />

Ressalta-se a importante função da comunida<strong>de</strong> escolar como mediadora<br />

<strong>de</strong>sse pro<strong>ce</strong>sso, como quem po<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar as experiências ne<strong>ce</strong>ssárias<br />

e mais positivas para o educando avançar. Assim, cada segmento<br />

<strong>de</strong>ve buscar, e o sistema <strong>de</strong> ensino há <strong>de</strong> garantir, a constante atualização<br />

nos conteúdos que trabalha e a valorização pessoal e profissional.<br />

A escola, como um locus <strong>de</strong> pesquisa, envolve do<strong>ce</strong>ntes, dis<strong>ce</strong>ntes,<br />

gestores e técnicos, famílias, que fazem do cotidiano fonte inesgotável <strong>de</strong><br />

reflexão sobre as características, formas <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, a<strong>ce</strong>rca<br />

das dificulda<strong>de</strong>s do<strong>ce</strong>ntes e dis<strong>ce</strong>ntes, <strong>de</strong> forma a tornar o ensino e<br />

a aprendizagem cada vez mais significativos, em consonância com os<br />

princípios aqui apresentados.<br />

3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />

38 | PREFEITURA DE FORTALEZA 39 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

4<br />

EIXOS<br />

REFERENCIAIS<br />

DO CURRÍCULO<br />

4.1 Educação integral intercultural: avançar<br />

na conquista da qualida<strong>de</strong> social<br />

para a escola pública <strong>de</strong> Fortaleza 47<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

4.2 Alfabetização e letramento no ensino<br />

fundamental <strong>de</strong> nove anos 52<br />

4.3 Formação <strong>de</strong> leitores 62<br />

4. 4. Inclusão digital: incorporando<br />

as tecnologias no currículo 72<br />

4.5 Educação Ambiental 80<br />

4.6 Educação especial na perspectiva<br />

da educação inclusiva no Município<br />

<strong>de</strong> Fortaleza 84<br />

4.7 Educação <strong>de</strong> jovens e adultos 101<br />

4. 8 Educação <strong>de</strong> tempo integral no sistema<br />

municipal <strong>de</strong> ensino: caminhos percorridos<br />

e perspectivas 114<br />

4.9 A avaliação, suas múltiplas funções<br />

e inter-relações com o ato educativo 122<br />

40 | PREFEITURA DE FORTALEZA 41 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

A<br />

organização curricular, como já expresso, não se resume apenas<br />

a uma sequência <strong>de</strong> disciplinas e ativida<strong>de</strong>s; incluem-se<br />

os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> planejamento vivenciados e reformulados em<br />

múltiplos espaços <strong>de</strong> aprendizagem por multípli<strong>ce</strong>s singularida<strong>de</strong>s<br />

no corpo social da escola.<br />

A organização dos tempos e dos espaços curriculares <strong>de</strong>ve ser feita<br />

<strong>de</strong> forma a não se restringir aos componentes curriculares <strong>ce</strong>ntrais obrigatórios,<br />

previstos na legislação e nas normas educacionais. A rigor, as<br />

unida<strong>de</strong>s educacionais <strong>de</strong>vem fazer, em suas ativida<strong>de</strong>s, sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

como expressão <strong>de</strong> uma cultura própria que consi<strong>de</strong>re as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> seus estudantes e seja in<strong>ce</strong>ntivadora das potencialida<strong>de</strong>s dos que as<br />

procuram. A flexibilida<strong>de</strong> curricular <strong>de</strong>ve significar um momento <strong>de</strong><br />

aproveitamento das experiências diversas que estes estudantes trazem<br />

consigo, como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus<br />

tempos e seu cotidiano.<br />

Enten<strong>de</strong>-se como sala <strong>de</strong> aula todo espaço on<strong>de</strong> a aprendizagem<br />

ocorre, ou seja, todos os ambientes <strong>de</strong> aprendizagem, como, por exemplo,<br />

a quadra poliesportiva, a biblioteca, o Laboratório <strong>de</strong> Informática<br />

Educativa, a horta, o pátio escolar, entre outros espaços. Além <strong>de</strong>stes,<br />

igualmente importantes são os locus <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s livres, o recreio, a merenda,<br />

pois constituem oportunida<strong>de</strong>s pedagógicas que não po<strong>de</strong>m ser<br />

<strong>de</strong>sperdiçadas. Todos eles se configuram como locus para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

curricular, inclusive os espaços do entorno da escola e da cida<strong>de</strong>.<br />

Tais orientações <strong>de</strong>vem estar contidas no projeto político-pedagógico <strong>de</strong><br />

cada instituição educativa.<br />

É preciso incluir, conforme cada projeto escolar, outros componentes<br />

flexíveis e variáveis que possibilitem percursos formativos e que atendam<br />

aos inúmeros interesses, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s e características dos educandos.<br />

Esta visão possibilita que a idéia e a organização do espaço curricular e<br />

físico se imbriquem e se alarguem, po<strong>de</strong>ndo incluir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

curricular ambientes físicos, didático-pedagógicos e equipamentos que<br />

não se reduzem às salas <strong>de</strong> aula.<br />

Consi<strong>de</strong>ram-se espaço educativo para atendimento ao estudante, sob<br />

a responsabilida<strong>de</strong> da escola, outras instituições escolares, bem como os<br />

espaços socioculturais e esportivo-recreativos do entorno, da cida<strong>de</strong> e<br />

mesmo da região, o que se pressupõe a existência <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> educação<br />

e <strong>de</strong> profissionais da educação dispostos a reinventar e constituir<br />

essa escola, ancorados em uma responsabilida<strong>de</strong> compartilhada com as<br />

<strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s encarregadas da gestão dos órgãos do Po<strong>de</strong>r Público.<br />

Ao tratar <strong>de</strong> currículo, a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases <strong>de</strong>finiu uma organização<br />

curricular caracterizada por: a) duração: anos, dias letivos e<br />

carga horária mínimos; b) uma base nacional comum; e c) uma parte<br />

diversificada.<br />

Des<strong>de</strong> 2007, o ensino fundamental, na re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza,<br />

está disposto em nove anos. O primeiro segmento do ensino fundamental<br />

compreen<strong>de</strong> do primeiro ao quinto ano e o segundo envolve o sexto<br />

ao nono ano. O cumprimento da carga mínima anual é <strong>de</strong> 800 horas,<br />

distribuídas em, no mínimo, 200 dias letivos <strong>de</strong> efetivo trabalho escolar.<br />

A jornada escolar no ensino fundamental <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>, no mínimo, quatro<br />

horas <strong>de</strong> trabalho efetivo em sala <strong>de</strong> aula – gradativamente, preten<strong>de</strong>-se<br />

ampliar esse número <strong>de</strong> horas até se chegar a uma educação integral, <strong>de</strong><br />

tempo integral.<br />

No que con<strong>ce</strong>rne à organização do número <strong>de</strong> estudantes por turma<br />

no ensino fundamental, recomenda-se observar o número máximo permitido<br />

na legislação vigente, para não prejudicar os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino<br />

e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

A organização curricular das instituições escolares será constituída<br />

por uma Base <strong>Municipal</strong> Comum do Ensino Fundamental, que compreen<strong>de</strong><br />

Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências Naturais,<br />

Educação Física, Educação Religiosa, Arte, Língua Estrangeira.<br />

Além disso, haverá uma Parte Diversificada, que <strong>de</strong>verá ser composta<br />

por conteúdos complementares escolhidos e <strong>de</strong>senvolvidos em cada<br />

estabelecimento escolar, baseados nos programas e projetos especiais,<br />

oriundos do MEC e <strong>de</strong> outras fontes. Se em um <strong>de</strong>terminado estabelecimento<br />

é oferecido um programa <strong>de</strong> esportes para <strong>ce</strong>rto número <strong>de</strong><br />

educandos; a instituição po<strong>de</strong> ofere<strong>ce</strong>r outro(s) tipo(s) <strong>de</strong> programa ou<br />

projeto para os <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong> tal forma que todos tenham em seu currículo<br />

uma parte diversificada.<br />

Os componentes curriculares da base comum e da parte diversificada<br />

po<strong>de</strong>m ser organizados pelos sistemas educativos, em forma <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />

conhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificida<strong>de</strong><br />

dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais se<br />

<strong>de</strong>senvolvem as habilida<strong>de</strong>s indispensáveis ao exercício da cidadania,<br />

em ritmo compatível com as etapas do <strong>de</strong>senvolvimento integral do cidadão.<br />

A parte diversificada enrique<strong>ce</strong> a base comum e também <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> forma transversal; não po<strong>de</strong>m se constituir em dois blocos<br />

distintos, com disciplinas específicas para cada uma <strong>de</strong>ssas partes.<br />

Uma organização curricular con<strong>ce</strong>bida mediante a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

supõe outra forma <strong>de</strong> trabalho na escola, que consiste na<br />

seleção a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> conteúdos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, métodos,<br />

pro<strong>ce</strong>dimentos, técnicas e recursos didático-pedagógicos. Isso ocorre<br />

porque a perspectiva da articulação interdisciplinar é voltada para o<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

42 | PREFEITURA DE FORTALEZA 43 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, não apenas <strong>de</strong> conhecimentos, mas também <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s,<br />

valores e práticas.<br />

As disciplinas escolares <strong>de</strong>verão ser compreendidas como áreas <strong>de</strong><br />

conhecimento, i<strong>de</strong>ntificadas pelos respectivos conteúdos estruturantes e<br />

por seus quadros teóricos con<strong>ce</strong>ituais. Essas mesmas áreas, entretanto,<br />

<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas pressupostos para a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

– com base nelas, as relações inter ou transdisciplinares se estabele<strong>ce</strong>m.<br />

Compreendidas <strong>de</strong>sta forma, há, portanto, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

redimensionamento curricular, <strong>de</strong> uma nova relação entre os conteúdos<br />

e as disciplinas, permitindo:<br />

* maior articulação entre teoria e a prática;<br />

* maior participação dos envolvidos – do<strong>ce</strong>ntes, técnicos, estudantes,<br />

famílias - na dinâmica curricular;<br />

* ensaios que instituam aulas integradas, aulas <strong>de</strong> campo, seminários,<br />

ensino e vivências complementares;<br />

* ampliação dos limites <strong>de</strong> espaço (não somente o escolar, mas também<br />

do entorno da escola e dos <strong>de</strong>mais espaços da cida<strong>de</strong>), tempo e <strong>de</strong><br />

conteúdos disciplinares, tornando-os mais coletivos, interdisciplinares e<br />

interinstitucionais; e<br />

* compreensão <strong>de</strong> que o currículo é um percurso e que exige a (re)<br />

constituição permanente; por isso, a ampla participação é fundamental –<br />

para que a avaliação também seja uma constante nesse percurso.<br />

No lugar <strong>de</strong> uma gra<strong>de</strong> curricular rígida, é importante pensar uma<br />

re<strong>de</strong> interconectada que possibilite ao estudante compor o seu percurso<br />

– isso implica con<strong>ce</strong>ber o currículo como um sistema articulado <strong>de</strong><br />

conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s formativas, <strong>de</strong> maneira que o estudante<br />

efetive conhecimentos não fragmentados. Trata-se <strong>de</strong> con<strong>ce</strong>ber<br />

o estudante como um sujeito pensante e crítico como condição para<br />

o enfrentamento <strong>de</strong> questionamentos emergentes <strong>de</strong> uma cultura geral,<br />

base <strong>de</strong> uma cultura científica.<br />

No tocante à avaliação, é preciso enten<strong>de</strong>r que se avalia e se é avaliado<br />

permanentemente, <strong>de</strong>ntro e fora da escola. No ambiente escolar, o(a)<br />

professor(a) ne<strong>ce</strong>ssita <strong>de</strong> contribuições para <strong>de</strong>senvolver um trabalho em<br />

que uma avaliação sistemática, criteriosa e objetiva seja efetivamente<br />

componente essencial dos pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem. Este<br />

tipo <strong>de</strong> avaliação compreen<strong>de</strong> um continuum do diagnóstico para tomada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, realimentando o planejamento do ensino. Além do diagnóstico,<br />

<strong>de</strong>ve ter caráter formativo e cumulativo do <strong>de</strong>sempenho acadêmico<br />

do estudante, sendo um instrumento a serviço da aprendizagem.<br />

É preciso, pois, pensar a avaliação como um fenômeno que compreen<strong>de</strong><br />

ação e reflexão e ação. Assim, é possível também pensá-la como<br />

ação formativa, que promove as pessoas. Para isso, alguns <strong>de</strong>safios são<br />

apontados, sobretudo o <strong>de</strong> articular os resultados a essa avaliação formativa<br />

– na/pela escola. Medir simplesmente não é avaliar – avaliar é pensar<br />

sobre os dados. Então, é preciso mudar os rumos da avaliação se esta<br />

estiver na contramão dos direitos dos estudantes – afinal, que marcas se<br />

tenciona <strong>de</strong>ixar com a avaliação feita<br />

Para respon<strong>de</strong>r a essa pergunta, enten<strong>de</strong>ndo que os documentos são<br />

feitos com suporte na realida<strong>de</strong> da situação educacional, propõem-se<br />

três tipos <strong>de</strong> avaliação no ambiente educacional: avaliação e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

educação básica; avaliação institucional interna e externa; avaliação da<br />

aprendizagem.<br />

Em cada projeto pedagógico, a instituição escolar <strong>de</strong>ve observar atentamente<br />

as recomendações expressas em resolução específica do Conselho<br />

<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação, para avaliação da aprendizagem, progressão,<br />

a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos, <strong>de</strong>ntre outros. Ela <strong>de</strong>ve também respeitar os<br />

critérios <strong>de</strong>finidos previamente.<br />

Os critérios <strong>de</strong> avaliação da aprendizagem <strong>de</strong>vem explicitar as expectativas<br />

<strong>de</strong> aprendizagem, consi<strong>de</strong>rando habilida<strong>de</strong>s e conteúdos propostos<br />

para cada área/ano. A organização lógica e interna dos conteúdos, as<br />

particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada momento da escolarida<strong>de</strong> e as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> aprendizagem constituem elementos importantes para cada etapa do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, afetivo e social em <strong>de</strong>terminada situação,<br />

na qual os estudantes tenham condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ponto<br />

<strong>de</strong> vista pessoal e social. A avaliação também <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a lógica<br />

da inclusão, do diálogo, da conquista da autonomia, da mediação, da<br />

participação, das responsabilida<strong>de</strong>s com o coletivo.<br />

Isso significa que, além <strong>de</strong> registrar o <strong>de</strong>sempenho dos estudantes em<br />

ativida<strong>de</strong>s escritas, ações em grupo e pesquisas, o do<strong>ce</strong>nte precisa estar<br />

atento às diversas dimensões dos conteúdos, aqui <strong>de</strong>finidas em um tripé:<br />

o conhe<strong>ce</strong>r – o que inclui <strong>de</strong>finições, critérios, características, sínteses,<br />

análises, categorias, especificações e outras; o saber fazer – relacionado<br />

aos usos e práticas <strong>de</strong>finidos pela aplicabilida<strong>de</strong> dos conhecimentos e<br />

conteúdos a serem utilizados no cotidiano ou em situações a posteriori; e<br />

o saber conviver – os posicionamentos que consi<strong>de</strong>rem situações vivenciadas<br />

e assumidas com suporte nas dimensões anteriores.<br />

Igualmente importantes são a avaliação institucional interna e a avaliação<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s da educação básica. Para a primeira, é preciso observar<br />

a regulamentação vigente, prever esta avaliação no projeto político-<br />

-pedagógico e <strong>de</strong>talhá-la no plano <strong>de</strong> gestão escolar. Deve aconte<strong>ce</strong>r<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

44 | PREFEITURA DE FORTALEZA 45 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

anualmente e pressupõe a revisão <strong>de</strong> objetivos e metas <strong>de</strong>limitados nos<br />

indicadores compatíveis com a missão da escola.<br />

A avaliação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s da educação básica é realizada por órgãos externos<br />

à escola e ao sistema educacional, englobando os resultados da<br />

avaliação institucional. Tem como finalida<strong>de</strong> sinalizar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

funcionamento da unida<strong>de</strong> escolar. Exemplo disso são o Sistema <strong>de</strong> Avaliação<br />

da Educação Básica (SAEB) – MEC e o Sistema Permanente <strong>de</strong><br />

Avaliação Educacional do Ceará (SPAECE), <strong>de</strong>ntre outros19.<br />

Sugere-se a<strong>de</strong>quar-se às peculiarida<strong>de</strong>s da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza,<br />

fazendo-se também uma releitura do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação no Município,<br />

ressaltando <strong>de</strong> fato o que ocorre e como o(a) professor(a) po<strong>de</strong>rá<br />

efetivar a avaliação com qualida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-se todos os reais fatores<br />

intervenientes e o que falta para que ela realmente ocorra.<br />

A avaliação, nesse caso, é um instrumento da aprendizagem, que realimenta<br />

todo o planejamento do ensino, pois tem como função diagnosticar,<br />

acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento do educando. É<br />

um motor contínuo <strong>de</strong> caráter diagnóstico, formativo e cumulativo do<br />

<strong>de</strong>sempenho acadêmico do estudante, consi<strong>de</strong>rando os aspectos quantitativos<br />

e qualitativos. Desta forma, ela possibilita tanto a a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong><br />

estudos quanto o avanço, haja vista o aproveitamento <strong>de</strong> estudos concluídos<br />

com êxito.<br />

Finalmente, é ne<strong>ce</strong>ssário acompanhar a evolução tecnológica e científica<br />

<strong>de</strong> seu tempo. A escola não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar isto sob pena <strong>de</strong><br />

se tornar obsoleta e não cumprir a sua função social <strong>de</strong> formar sujeitos<br />

preparados para pensar e enfrentar as mudanças produzidas por essa socieda<strong>de</strong>.<br />

Por isso, os laboratórios <strong>de</strong> informática educativa implantados<br />

nas unida<strong>de</strong>s escolares da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza caracterizam-se<br />

como espaços <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula diferenciados, que possibilitam o a<strong>ce</strong>sso<br />

a novas formas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ensinar e <strong>de</strong>senvolver o currículo. Eles são<br />

compreendidos como ambientes <strong>de</strong> aprendizagem, sendo mais uma ferramenta<br />

<strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

A seguir serão apresentados e discutidos os eixos consi<strong>de</strong>rados relevantes<br />

para fundamentar (referenciar), orientar todas as áreas das diretrizes<br />

curriculares para a educação no Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />

Fortaleza, <strong>de</strong> forma a também contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

conhecimentos mais articulados, bem como habilida<strong>de</strong>s, valores e atitu<strong>de</strong>s<br />

cidadãs.<br />

4.1 Educação integral intercultural: avançar na<br />

conquista da qualida<strong>de</strong> social para a escola pública <strong>de</strong><br />

Fortaleza<br />

Ninguém escapa da educação. Em casa, na igreja ou na escola,<br />

<strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> muitos, todos nós envolvemos pedaços<br />

da nossa vida com ela – para apren<strong>de</strong>r, para ensinar, para<br />

apren<strong>de</strong>r e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para<br />

conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação.<br />

Carlos Rodrigues Brandão 20<br />

A socieda<strong>de</strong> brasileira protagoniza diversos movimentos em torno do<br />

direito à educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> socialmente referenciada, que atenda<br />

às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação integral das crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens,<br />

garantindo o direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal. Isso<br />

trouxe novos e gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para a agenda pública do País nas três<br />

esferas do Governo, apontando para o planejamento <strong>de</strong> ações estratégicas<br />

que vislumbrem perspectivas. Cabe, portanto, ao gestor público<br />

con<strong>ce</strong><strong>de</strong>r condições objetivas – sobretudo <strong>de</strong> tempo, espaço, formação<br />

<strong>de</strong> profissionais e <strong>de</strong> recursos – que possibilitem ao estudante da escola<br />

pública ampliar sua per<strong>ce</strong>pção sobre si mesmo a respeito do mundo,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo o próprio potencial e a singularida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> uma<br />

educação emancipadora.<br />

O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral é polissêmico e, ao longo do tempo<br />

e da história, assumiu diferentes conotações, fruto das condições concretas<br />

em que foi produzido e das diferentes con<strong>ce</strong>pções <strong>de</strong> mundo, homem,<br />

saber e ciência que o embasaram. A fim <strong>de</strong> explicitar o significado<br />

atribuído a este con<strong>ce</strong>ito nestas diretrizes, recorre-se a Guará (2006) 21 ,<br />

quando evi<strong>de</strong>ncia três principais a<strong>ce</strong>pções para o termo em pauta:<br />

* educação integral como formação integral;<br />

* educação integral como articulação <strong>de</strong> saberes baseada em projetos<br />

integradores; e<br />

* educação integral na perspectiva do tempo integral – ampliação do<br />

tempo <strong>de</strong> permanência do estudante na escola.<br />

A idéia <strong>de</strong> educação integral que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> está associada à multidimensionalida<strong>de</strong><br />

e à historicida<strong>de</strong> do ser humano, englobando o corpó-<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

19<br />

Estão previstos o <strong>de</strong>senvolvimento e a implantação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> avaliação municipal,<br />

<strong>de</strong> forma a assegurar a elevação progressiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho no sistema <strong>de</strong> ensino.<br />

20<br />

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1985.<br />

21<br />

GUARÁ, Isa Maria F. Rosa. É imprescindível educar integralmente. Ca<strong>de</strong>rnos CENPEC,<br />

n. 2, 2006. p. 15-24.<br />

46 | PREFEITURA DE FORTALEZA 47 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

reo, psíquico, cultural, político, ético, estético e o espiritual. As experiências<br />

vividas pelos educandos no conjunto dos espaços educativos e os<br />

saberes que circulam nas relações estabelecidas são as bases do pro<strong>ce</strong>sso<br />

formativo. Nesta perspectiva, a educação integral agrega as a<strong>ce</strong>pções<br />

expostas por Guará (2006), configurando-se como formação integral intercultural,<br />

por situar-se entre culturas e saberes que se penetram. Com<br />

vistas a essa formação humana faz-se indispensável a reorganização do<br />

tempo, do espaço escolar e das ativida<strong>de</strong>s curriculares, articulando saberes<br />

em diferentes contextos e em variados espaços <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

As diretrizes curriculares aqui apresentadas inserem-se nos fins e objetivos<br />

do Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza (PME) – Lei nº 9.441,<br />

<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 – que se propõe constituir <strong>ce</strong>nários, tempos e<br />

pro<strong>ce</strong>ssos educativos com vistas à formação integral <strong>de</strong> todos os cidadãos<br />

– crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes, jovens, adultos e idosos – à medida que incorpora<br />

as ativida<strong>de</strong>s individuais e coletivas como situações <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

reconhe<strong>ce</strong>ndo toda a cida<strong>de</strong> como locus <strong>de</strong> formação e educação.<br />

O PME tem como marco referencial os princípios da Cida<strong>de</strong> Educadora<br />

e enseja superar os <strong>de</strong>safios impressos pelas discrepâncias econômicas,<br />

sociais e culturais. Para ven<strong>ce</strong>r esta luta, é fundamental a constituição <strong>de</strong><br />

panoramas educativos com vistas à formação integral <strong>de</strong> todos os cidadãos<br />

(FORTALEZA, 2009)22. A educação é um amplo fenômeno e está presente<br />

em diversos tempos e espaços da socieda<strong>de</strong>. Portanto é importante consi<strong>de</strong>rar<br />

todas as experiências individuais e coletivas como situações <strong>de</strong><br />

aprendizagem e a cida<strong>de</strong> como locus <strong>de</strong> formação e educação.<br />

A escola, numa cida<strong>de</strong> educadora, é uma instituição que edifica pontes<br />

entre os diferentes saberes circulantes na socieda<strong>de</strong>, fortificando as<br />

bases para a qualida<strong>de</strong> da educação e para a inclusão social. A escola<br />

interliga-se a todos os equipamentos culturais, esportivos e <strong>de</strong> lazer da<br />

cida<strong>de</strong>. Da mesma forma, todos os grupos e organizações governamentais<br />

ou não governamentais são par<strong>ce</strong>iros em potencial no gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />

<strong>de</strong> transformar a escola numa autêntica comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem<br />

significativa e <strong>de</strong> pesquisa.<br />

A visão aqui esposada <strong>de</strong> educação integral coinci<strong>de</strong> com o con<strong>ce</strong>ito<br />

<strong>de</strong> educação integral <strong>de</strong>fendido pelo Ministério da Educação, compreendido<br />

como ação estratégica para garantir atenção e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

integral às crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens, sujeitos <strong>de</strong> direitos que vivem<br />

uma contemporaneida<strong>de</strong> marcada por intensas transformações e exigências<br />

cres<strong>ce</strong>ntes <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento, nas relações sociais entre<br />

22<br />

FORTALEZA. Lei nº 9.441/08, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008. Aprova o Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />

Educação e dá outras providências. Diário Oficial do Município. Fortaleza, 05 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2009.<br />

diferentes gerações e culturas, nas formas <strong>de</strong> comunicação, na maior<br />

exposição aos efeitos das mudanças nos planos local, regional e internacional.<br />

Ela se dará por meio da ampliação <strong>de</strong> tempos, espaços e oportunida<strong>de</strong>s<br />

educativas, que qualifiquem o pro<strong>ce</strong>sso educacional e melhorem<br />

o aprendizado dos estudantes. Não se trata, portanto, da criação ou<br />

recriação da escola como instituição total, mas da articulação dos diversos<br />

agentes sociais que já atuam na garantia <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> nossas crianças<br />

e jovens na corresponsabilida<strong>de</strong> por sua formação integral (BRASIL,<br />

2009)23, ao mesmo tempo, motivando uma inserção mais participativa,<br />

mediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conhecimentos e vivências, também <strong>de</strong><br />

idosos, para que as relações sejam edificadas sobre os saberes e a valorização<br />

das expressões culturais, propiciando aprendizagem significativa<br />

nessa fase da vida.<br />

A perspectiva <strong>de</strong> formação integral diferencia-se do i<strong>de</strong>al civilizatório<br />

e disciplinador que marcou este con<strong>ce</strong>ito no passado, pela perspectiva<br />

integradora e intercultural: tenciona-se educar no respeito às diferenças e<br />

na luta contra as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s; daí se assenta a proposta nos princípios<br />

apresentados a seguir, que se articulam também com os princípios gerais<br />

<strong>de</strong>stas diretrizes, já discutidos.<br />

4.1.1 Princípios orientadores da educação integral<br />

intercultural<br />

a) Integralida<strong>de</strong>: está associado ao princípio da totalida<strong>de</strong> (GADOT-<br />

TI, 2009)24, como é sustentado pela Teoria da Complexida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Edgar<br />

Morin (2000)25. A educação integral implica a formação integral, integrada<br />

e integradora da realida<strong>de</strong>. Por isso, é uma formação intercultural<br />

e caminha para uma perspectiva transdisciplinar 26 .<br />

23<br />

BRASIL. Educação Integral: texto referência para o <strong>de</strong>bate nacional. Brasília: MEC/<br />

SECAD, 2009. (Série Mais Educação).<br />

24<br />

GADOTTI, Moacir. Educação Integral no Brasil: inovações em pro<strong>ce</strong>sso. São Paulo:<br />

Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. (Educação Cidadã 4).<br />

25<br />

Op. cit.<br />

26<br />

De acordo com Zabala (2002, p. 33-34), “A transdisciplinarida<strong>de</strong> é o grau máximo<br />

<strong>de</strong> relações entre disciplinas, <strong>de</strong> modo que chega a ser uma integração global <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um sistema totalizador. Esse sistema facilita uma unida<strong>de</strong> interpretativa com o objetivo<br />

<strong>de</strong> construir uma ciência que explique a realida<strong>de</strong> sem fragmentações”. Ou seja, uma<br />

abordagem transdisciplinar envolve reorganização <strong>de</strong> conhecimentos que atravessam as<br />

disciplinas, como suporte para a unificação <strong>de</strong> saberes, tanto no nível semântico quanto<br />

operativo (tanto na teoria como na prática).<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

48 | PREFEITURA DE FORTALEZA 49 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

b) Diálogo entre saberes diferenciados: trata-se <strong>de</strong> uma perspectiva<br />

pedagógica e política que supera a verticalida<strong>de</strong> na produção e socialização<br />

do saber. Recupera-se, <strong>de</strong> tal modo, o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> “equivalência <strong>de</strong><br />

saberes” proposto por Santos (1999) 27 e <strong>de</strong>fendido e vivenciado por Paulo<br />

Freire ao longo <strong>de</strong> sua obra e <strong>de</strong> sua vida. São reconhecidas as diferentes<br />

formas <strong>de</strong> saber e promove-se o confronto comunicativo entre elas.<br />

c) Centralida<strong>de</strong> da experiência e da aprendizagem significativa:<br />

os educandos, como membros atuantes na socieda<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>m ser<br />

encarados como “candidatos a”. Vivendo o presente e tendo experiências<br />

que os situem perante situações-problema, eles vão alargando os<br />

conhecimentos, enrique<strong>ce</strong>ndo-se como seres humanos e articulando significações<br />

mais profundas sobre os modos <strong>de</strong> ser e estar no mundo. Experiência<br />

é forma <strong>de</strong> interação em que agentes e situação se modificam.<br />

Os conteúdos escolares adquirem significados e os envolvem como seres<br />

plenos, levando-os a novas experiências. As verda<strong>de</strong>iras experiências envolvem<br />

cooperação e provocam modificações nos modos <strong>de</strong> sentir, pensar<br />

e agir – <strong>de</strong> viver, experimentar e apren<strong>de</strong>r.<br />

d) Ludicida<strong>de</strong> e senso estético: o <strong>de</strong>senvolvimento da sensibilida<strong>de</strong><br />

e da criativida<strong>de</strong> tem no jogo, na brinca<strong>de</strong>ira e na arte sua maneira<br />

mais plena <strong>de</strong> realização. A experiência estética e as relações e valores<br />

estabelecidos nas ativida<strong>de</strong>s lúdicas propiciam a abertura a âmbitos da<br />

realida<strong>de</strong> cada vez mais amplos e totalizadores (QUINTÁS, 1992) 28 : arte<br />

e ludicida<strong>de</strong> como lugares <strong>de</strong> encontro entre pessoas que apren<strong>de</strong>m a se<br />

conhe<strong>ce</strong>r e a conviver, no respeito mútuo.<br />

4.1.2 Con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral nas experiências<br />

com educação integral na história das idéias pedagógicas<br />

A educação integral é um tema recorrente na história das i<strong>de</strong>ias pedagógicas,<br />

tendo figurado. <strong>de</strong> forma implícita ou explícita, nos mais variados<br />

discursos pedagógicos: na paidéia grega, no i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> pensadores<br />

renas<strong>ce</strong>ntistas e iluministas, nos projetos confessionais, nas propostas<br />

<strong>de</strong>correntes das formulações psicogenéticas <strong>de</strong> Piaget, nas sociointeracionistas<br />

<strong>de</strong> Vygotsky, Luria, Leontiev e Wallon e nas diferentes pedagogias<br />

do movimento holístico (OLINDA, 2004) 29 . No Brasil, teve ampla<br />

27<br />

SANTOS, B. S. Da idéia <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> à universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias. In _____. Pela mão <strong>de</strong><br />

Ali<strong>ce</strong>: o social e o político na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. 5. ed. São Paulo: Cortez. 1999.<br />

28<br />

QUINTÁS, A. L. Estética. Tradução <strong>de</strong> Jaime A. Classen. Petrópolis: Vozes, 1992.<br />

29<br />

OLINDA, Ercilia Maria Braga <strong>de</strong>. Tinta, papel e palmatória: a escola no Ceará do<br />

século XIX. Fortaleza: Museu do Ceara/<strong>Secretaria</strong> da Cultura do Estado do Ceará, 2004.<br />

repercussão nas primeiras décadas do século XX com os movimentos <strong>de</strong><br />

cunho educativo renovadores, que tinham a formação integral como um<br />

dos princípios consensuais entre suas várias correntes. A aprendizagem<br />

envolvia a reconstituição da experiência mediante a integração da teoria<br />

à prática, da vida aos conhecimentos e práticas escolares, possibilitando<br />

a autonomia moral e intelectual do aprendiz.<br />

Com amparo nesta con<strong>ce</strong>pção, surgiram diversas experiências educacionais<br />

com foco na formação integral dos estudantes, por iniciativa <strong>de</strong> governos,<br />

das quais se tomarão como exemplos as que se <strong>de</strong>stacam a seguir.<br />

Em 1922, a Lei nº 1.953, <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> agosto, reformou o ensino primário<br />

e normal do Estado do Ceará, trazendo preocupações com as dimensões<br />

intelectuais, físicas, morais e cívicas. Por toda a década <strong>de</strong> 1930 até finais<br />

da década <strong>de</strong> 1960, o <strong>ce</strong>nário educacional <strong>ce</strong>arense viveu experiências<br />

alimentadas pelo i<strong>de</strong>al da formação integral, incluindo-se a forte influência<br />

<strong>de</strong> Maria Montessori, Declory e John Dewey. Nas escolas católicas,<br />

Lubienska, discípula <strong>de</strong> Maria Montessori, Dom Bosco e Paula Francinete<br />

inspiravam práticas voltadas para a formação integral.<br />

Anísio Teixeira figurou entre os principais educadores envolvidos<br />

no i<strong>de</strong>ário escolanovista, tendo sido um dos signatários do Manifesto<br />

dos Pioneiros da Educação Nova em 1932. Criou o Centro Educacional<br />

Carneiro Ribeiro em Salvador, na década <strong>de</strong> 1950. Nesse Centro, os estudantes<br />

tinham a<strong>ce</strong>sso às ativida<strong>de</strong>s, historicamente entendidas como<br />

escolares, sendo trabalhadas nas escolas-classe, bem como outras ativida<strong>de</strong>s<br />

aconte<strong>ce</strong>ndo no que na época se chamava <strong>de</strong> contraturno escolar,<br />

no espaço que o educador <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> escola-parque. Na década <strong>de</strong><br />

1960, juntamente com Darcy Ribeiro e Ciro dos Anjos, integrou a comissão<br />

que organizou o Sistema Educacional <strong>de</strong> Brasília, oportunida<strong>de</strong> em<br />

que, inspirado na experiência <strong>de</strong> Salvador, criou vários <strong>ce</strong>ntros educacionais<br />

na mesma perspectiva.<br />

Outras experiências surgiram ao longo da história, como os <strong>ce</strong>ntros<br />

integrados <strong>de</strong> educação pública – CIEP, no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1980), os <strong>ce</strong>ntros<br />

educacionais unificados – CEU, em São Paulo (2000), entre outras,<br />

que teimam em resistir às intempéries das políticas públicas <strong>de</strong> corte<br />

social tão afeitas a modismos que têm na efemerida<strong>de</strong> sua marca registrada.<br />

Não obstante, <strong>de</strong> um lado, o caráter político-partidário associado<br />

in<strong>de</strong>vidamente às experiências pedagógicas, que <strong>de</strong>stacava a persona<br />

política, em <strong>de</strong>trimento dos resultados pedagógicos obtidos, e, <strong>de</strong> outro<br />

lado, a relação custo-benefício, entre outros motivos aventados, fizeram<br />

com que as experiências que empunhavam o estandarte da educação<br />

integral no panorama da educação brasileira naufragassem ou permane<strong>ce</strong>ssem<br />

insuladas sem alcan<strong>ce</strong> do status <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> Estado.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

50 | PREFEITURA DE FORTALEZA 51 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Mister se faz o reconhecimento da importância <strong>de</strong>stas experiências<br />

pedagógicas como tentativas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> que se tencionava<br />

mais justa e igualitária e, neste sentido, consistem legado prenhe<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para futuros empreendimentos <strong>de</strong> cunho público educacional,<br />

servindo como horizonte que instiga o movimento na busca<br />

constante <strong>de</strong> trans<strong>ce</strong>ndência para um nível superior.<br />

Ultrapassando o or<strong>de</strong>namento jurídico e os programas governamentais,<br />

ressalta-se que aspirar à educação integral implica sustentar discussões<br />

pautadas em questões pertinentes à cidadania, à autonomia, aos<br />

valores, à justiça social, à liberda<strong>de</strong> e, sobretudo, ao direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

e <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver como pessoa. Para isso é ne<strong>ce</strong>ssário manter atualizado<br />

o <strong>de</strong>bate político-i<strong>de</strong>ológico e curricular em torno do assunto.<br />

O Plano Nacional <strong>de</strong> Educação em Direitos Humanos (PNEDH),<br />

cuja elaboração iniciou-se em 2003, sendo concluído em 2006, é uma<br />

referência para o planejamento e implementação <strong>de</strong> políticas, ações e<br />

programas voltados à consolidação <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> direitos humanos<br />

em todos os espaços, tempos e pro<strong>ce</strong>ssos sociais, expressando o compromisso<br />

do Estado com a informação, conhecimento e concretização dos<br />

direitos humanos.<br />

Nesse documento, a Educação Básica está intimamente vinculada<br />

ao con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral, à medida que se propõe efetivar a<br />

cidadania plena, unindo a elaboração <strong>de</strong> conhecimentos ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> valores, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos, com ampla <strong>de</strong>fesa da<br />

justiça social 30 e ambiental. A educação em direitos humanos implica a<br />

divulgação, <strong>de</strong>fesa e promoção dos direitos humanos, bem como reparação<br />

dos danos por direitos violados. Sua consolidação promove o pleno<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da personalida<strong>de</strong> e dignida<strong>de</strong> humana, colaborando<br />

para uma cultura <strong>de</strong> paz, fundada na justiça social e luta contra as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

e as opressões.<br />

4.2 Alfabetização e letramento no ensino<br />

fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />

Em 2006, o Ministério da Educação (MEC) <strong>de</strong>u publicida<strong>de</strong> à Lei nº<br />

11.274/06 que <strong>de</strong>termina a inclusão, no sistema educacional brasileiro,<br />

<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> seis anos, como integrantes do ensino fundamental.<br />

Em Fortaleza, a institucionalização do ensino fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />

teve início dois anos antes.<br />

Esta mudança <strong>de</strong>finida na legislação amplia a abrangência do atendi-<br />

30<br />

Sem esque<strong>ce</strong>r <strong>de</strong> incluir temáticas referentes ao idoso, ao trabalhar os direitos humanos.<br />

mento do ensino fundamental, tendo como pressuposto a alfabetização,<br />

que, no percurso da escolarida<strong>de</strong> regular, se iniciava, anteriormente, na<br />

educação infantil.<br />

Nesse âmbito, amplia-se também a con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> alfabetização além<br />

da apropriação do código escrito, passando a englobar a i<strong>de</strong>ação <strong>de</strong> letramento<br />

como domínio do sistema <strong>de</strong> leitura e escrita para o uso no<br />

contexto social escrito e oral, dando continuida<strong>de</strong> ao fortalecimento da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e constituição da autonomia, do exercício da cidadania e do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Dessa forma, é papel dos educadores assegurar que a instituição escolar<br />

assuma o compromisso <strong>de</strong> se tornar espaço <strong>de</strong> efetiva aprendizagem<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento da convivência saudável, da valorização das potencialida<strong>de</strong>s<br />

e do cumprimento da sua função pública, política e social.<br />

Ao Po<strong>de</strong>r Público municipal cabe a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerenciar, efetivamente,<br />

um projeto educacional que ultrapasse a mera <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

realizador da educação formal, buscando, assim, aten<strong>de</strong>r um projeto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento humano e <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> planetária, que compreenda<br />

as diversida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntitárias, sociais, <strong>de</strong> gênero, étnicas, culturais, presentes<br />

e ne<strong>ce</strong>ssárias em cada região administrativa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

4.2.1 As singularida<strong>de</strong>s das crianças que ingressam<br />

no ensino fundamental<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> infância surgiu com a socieda<strong>de</strong> capitalista, na medida em<br />

que mudaram a inserção e o papel social da criança na sua comunida<strong>de</strong>.<br />

Mais do que um estádio, essa fase é uma categoria histórica: crianças são<br />

sujeitos sociais e históricos, marcados pelas contradições das socieda<strong>de</strong>s<br />

em que estão inseridas. São cidadãs, pessoas <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> direitos, que<br />

produzem cultura e são nela produzidas.<br />

Esse modo <strong>de</strong> ver as crianças favore<strong>ce</strong> entendê-las e também ver o<br />

mundo com base no seu ponto <strong>de</strong> vista. Reconhe<strong>ce</strong>m-se como específicos<br />

da infância o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> imaginação, a fantasia, a criação, a<br />

brinca<strong>de</strong>ira, entendida como experiência <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

diferentes linguagens.<br />

Pensar a infância na escola e na sala <strong>de</strong> aula nessa perspectiva é um<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para o ensino fundamental que, ao longo <strong>de</strong> sua história,<br />

não consi<strong>de</strong>ra o corpo, o universo lúdico, os jogos e as brinca<strong>de</strong>iras<br />

como experiências <strong>de</strong> aprendizagem, o que implica ainda pensar nos<br />

espaços <strong>de</strong>stinados para que a criança possa viver esse tempo <strong>de</strong> vida<br />

com seus direitos e <strong>de</strong>veres assegurados.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

52 | PREFEITURA DE FORTALEZA 53 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Com efeito, na transição da educação infantil para o ensino fundamental,<br />

<strong>de</strong>ve-se garantir conhecimentos e afetos, saberes e valores, cuidados<br />

e atenção, serieda<strong>de</strong> e riso, pois tanto em uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ensino como na outra o objetivo é atuar com liberda<strong>de</strong> para assegurar a<br />

apropriação e a elaboração do conhecimento.<br />

O principal papel da escola é o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e<br />

se há <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-lo nas dimensões afetiva, cognitiva, social e psicológica.<br />

Para isso se faz ne<strong>ce</strong>ssário <strong>de</strong>finir caminhos pedagógicos nos tempos e<br />

espaços da escola e da sala <strong>de</strong> aula que favoreçam o encontro da cultura<br />

infantil, em que as crianças possam recriar as relações da socieda<strong>de</strong> na<br />

qual estão inseridas, em espaços e tempos que favoreçam a autonomia.<br />

O direito efetivo à educação das crianças <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá,<br />

principalmente, das práticas pedagógicas e <strong>de</strong> uma política da escola<br />

para a verda<strong>de</strong>ira acolhida <strong>de</strong>ssa faixa na instituição.<br />

Portanto, as crianças possuem modos próprios <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e interagir<br />

com o mundo. Cabe aos educadores favore<strong>ce</strong>r a criação <strong>de</strong> um ambiente<br />

escolar, em que a infância possa ser vivida em toda a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />

4.2.2 Percurso da escolarização<br />

O percurso escolar no mundo contemporâneo tornou-se parte integrante<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento humano, supondo-se, <strong>de</strong> início, que a escola<br />

<strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r a dimensão prepon<strong>de</strong>rante <strong>de</strong> seu fazer.<br />

O ensino e a aprendizagem <strong>de</strong>verão se constituir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das diversas expressões: dialógica, corporal, pictográfica, musical, gráfica,<br />

oral, leitora, escritora, no estudo das diversas áreas do conhecimento,<br />

das transversalida<strong>de</strong>s, igualmente ne<strong>ce</strong>ssárias à formação do estudante<br />

do ensino fundamental. Para isso é ne<strong>ce</strong>ssário garantir a consecução dos<br />

objetivos que <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos para cada ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />

Assim, é imprescindível <strong>de</strong>finir a sequência, organização e aprofundamento<br />

das aprendizagens básicas nas áreas do conhecimento dos<br />

componentes do currículo. Para tanto, a garantia <strong>de</strong>sse tratamento exige<br />

a adoção dos critérios já apontados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

para o Ensino Fundamental, <strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração os conhecimentos<br />

anteriores dos estudantes, o nível <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> dos diferentes<br />

conteúdos e <strong>de</strong> aprofundamento possível <strong>de</strong> cada conteúdo/área,<br />

<strong>de</strong> forma que se possa i<strong>de</strong>ntificar o que <strong>de</strong> fato o estudante apren<strong>de</strong>u/<br />

compreen<strong>de</strong>u e com que grau <strong>de</strong> autonomia.<br />

É fundamental que a escola esteja sempre atenta para consi<strong>de</strong>rar o<br />

nível <strong>de</strong> aprendizagem dos estudantes que não passaram pela escolarização<br />

anterior ao ensino fundamental. Estes <strong>de</strong>vem ser supridos dos<br />

conhecimentos ne<strong>ce</strong>ssários para atingirem os objetivos previstos.<br />

4.2.3 A Alfabetização em diferentes contextos<br />

O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> alfabetização, inicialmente <strong>de</strong>finia-se como aprendizagem<br />

do código, o que significava dizer que, na leitura, o objetivo era a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar os sinais gráficos, transformando-os em sons,<br />

e, na escrita, <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s para codificar os sons da língua,<br />

transformando-os em sinais gráficos (letras).<br />

Na década <strong>de</strong> 1980, com os estudos <strong>de</strong> Emília Ferreiro e Ana Teberosky,<br />

houve uma quebra <strong>de</strong> paradigma em relação ao entendimento da<br />

alfabetização, cujo enfoque anterior se pautava na avaliação dos métodos<br />

<strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>slocando-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, para a aprendizagem. A<br />

escola sai da posição <strong>de</strong> <strong>ce</strong>ntralizadora da alfabetização e recoloca o<br />

estudante como sujeito ativo no <strong>ce</strong>ntro <strong>de</strong>ssa aprendizagem, como <strong>de</strong>screveu<br />

anteriormente Piaget (1987) 31 . A ênfase <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o “como se<br />

ensina” e passa a ser o “como <strong>de</strong> fato se apren<strong>de</strong>”.<br />

As pesquisas <strong>de</strong>ssas autoras comprovam que as crianças, ao entrarem<br />

na escola regular, já trazem consigo saberes sobre a escrita em seu meio<br />

social. Consi<strong>de</strong>ram seus percursos <strong>de</strong> aprendizagem, revelando que elas<br />

pensam e elaboram hipóteses e percorrem diferentes níveis na busca da<br />

compreensão do sistema <strong>de</strong> escrita. Essa abordagem, que consi<strong>de</strong>ra o pensamento<br />

da criança <strong>de</strong> elaborar hipóteses e escrever espontaneamente,<br />

<strong>de</strong>nomina-se psicogênese da língua escrita. Cabe <strong>de</strong>stacar que essa compreensão<br />

por parte do(a) professor(a) não <strong>de</strong>verá servir como meio para<br />

classificar o estudante <strong>de</strong> acordo com os níveis <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong>scritos pelas<br />

autoras, mas que <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>sses conhecimentos ele possa propor situações<br />

didáticas <strong>de</strong>safiadoras para que a criança avan<strong>ce</strong> <strong>de</strong> um nível a outro.<br />

Em tal contexto, é relevante para o(a) professor(a) alfabetizador(a) conhe<strong>ce</strong>r<br />

os estudos da psicogênese da língua escrita, propiciando a reflexão<br />

<strong>de</strong> suas metodologias <strong>de</strong> ensino, tendo como objetivo favore<strong>ce</strong>r a<br />

elaboração <strong>de</strong> conhecimento pela criança, sem <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar seu percurso<br />

ao apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever.<br />

Progressivamente, o termo alfabetização se amplia além da apropriação<br />

do código escrito e passa a envolver o domínio dos conhecimentos<br />

que permitem o uso <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s nas práticas sociais <strong>de</strong> leitura e<br />

31<br />

Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4 ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara,<br />

1987.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

54 | PREFEITURA DE FORTALEZA 55 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

escrita, pois, como afirma Soares (2003, p. 9,12) 32 ,<br />

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque,<br />

no quadro das atuais con<strong>ce</strong>pções psicológicas lingüísticas e<br />

psicolingüísticas <strong>de</strong> leitura e escrita, a entrada da criança (e<br />

também do adulto analfabeto) no mundo da escrita se dá simultaneamente<br />

por esses dois pro<strong>ce</strong>ssos: pela aquisição do<br />

sistema convencional <strong>de</strong> escrita – a alfabetização, e pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>sse sistema em ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem<br />

a língua escrita – o letramento.<br />

4.2.4 Con<strong>ce</strong>pções norteadoras <strong>de</strong> alfabetização e<br />

letramento<br />

O mo<strong>de</strong>lo teórico do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> alfabetização inicial, que sustenta<br />

essas Diretrizes Curriculares, con<strong>ce</strong>be a aprendizagem <strong>de</strong> forma interativa.<br />

As propostas <strong>de</strong> alfabetização e letramento aqui expressas se baseiam<br />

nas con<strong>ce</strong>pções interacionista e sociointeracionista.<br />

Essas i<strong>de</strong>ias supõem que o <strong>de</strong>senvolvimento da leitura e da escrita<br />

esteja associado à formulação do conhecimento pela criança como um<br />

indivíduo em <strong>de</strong>senvolvimento e em interação com outros sujeitos. Seus<br />

principais representantes são Piaget, Vygotsky e Wallon.<br />

Piaget (1987)33, em sua teoria, reuniu novas i<strong>de</strong>ias sobre aprendizado,<br />

ao pesquisar o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s cognitivas. Analisando<br />

a forma como o conhecimento é assimilado, per<strong>ce</strong>beu que existe<br />

uma evolução gradativa, que varia <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminados aspectos.<br />

Alguns <strong>de</strong>stes são oriundos da maturida<strong>de</strong> emocional e física, convívio<br />

social e, principalmente, a autorregulação interna do organismo<br />

ou reequilíbrio, que se dá após cada equilíbrio. O <strong>de</strong>sequilíbrio ocorre<br />

quando um novo conhecimento é <strong>de</strong>tectado.<br />

Sua teoria está estruturada em etapas bem <strong>de</strong>finidas, que inicia no<br />

primeiro contato com o novo conhecimento, o que cria um estado problemático<br />

<strong>de</strong> conflito entre os conhecimentos em curso e o novo; em<br />

seguida, passa pela fase <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>sta problemática, po<strong>de</strong>ndo o indivíduo<br />

a<strong>de</strong>quar sua estrutura <strong>de</strong> pensamento para comportar o novo conhecimento<br />

<strong>de</strong>ntro daquilo já conhecido; como resultado da resolução<br />

do conflito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, também conhecido como reequilíbrio, assimila-se<br />

32<br />

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2003.<br />

33<br />

Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4ª ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Guanabara, 1987.<br />

o conhecimento. Além dos fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio, conflito e confronto<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, este pro<strong>ce</strong>sso está <strong>ce</strong>rcado dos aspectos anteriormente citados:<br />

o indivíduo terá diferentes comportamentos <strong>de</strong> acordo com sua maturida<strong>de</strong><br />

emocional e física. Além disto, o convívio social é um intenso<br />

influenciador no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> adaptação.<br />

Na inteligência <strong>de</strong> Piaget, é <strong>de</strong>ver da escola propor ativida<strong>de</strong>s que provoquem<br />

os conflitos suficientes para ensejar a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong><br />

problemas por parte do estudante. Este <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>safiado <strong>de</strong> tal maneira<br />

que sinta o <strong>de</strong>sequilíbrio, provocando em seu organismo su<strong>ce</strong>ssivos reequilíbrios.<br />

Neste <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> conflitos, o estudante elabora seu conhecimento,<br />

<strong>de</strong> maneira criativa. Tais conflitos estimulam o indivíduo a adotar<br />

um perfil crítico, ativo, e que busca constantemente o conhecimento.<br />

Para Vygotsky (1998) 34 , a formação su<strong>ce</strong><strong>de</strong> numa relação dialética<br />

entre o sujeito e o meio social: homem e meio se modificam por interação.<br />

A criança apren<strong>de</strong> porque faz coisas no mundo, interage. Assim a<br />

aprendizagem promove <strong>de</strong>senvolvimento, inclusive, das estruturas intelectuais,<br />

o que provoca saltos qualitativos <strong>de</strong> conhecimentos.<br />

Outro fator relevante nesta teoria é o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Proximal (ZDP) 35 , ao assinalar que a aprendizagem aconte<strong>ce</strong><br />

no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Em<br />

outras palavras, a ZDP é a distância entre o que o sujeito já sabe e aquilo<br />

que ele tem potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />

É ne<strong>ce</strong>ssário ressaltar a importância da intervenção do(a) professor(a)<br />

e <strong>de</strong> outras pessoas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada sujeito. Vygotsky evi<strong>de</strong>ncia<br />

a idéia <strong>de</strong> que o ensino só é efetivo e eficaz quando a qualida<strong>de</strong><br />

do trabalho pedagógico está associada à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avanços no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do estudante.<br />

A Teoria <strong>de</strong> Desenvolvimento, <strong>de</strong> Wallon (1986) 36 , dialoga com o interacionismo<br />

<strong>de</strong> Piaget e com o sociointeracionismo <strong>de</strong> Vygotsky, e é fundamental<br />

para compreen<strong>de</strong>r a dimensão afetiva no ensino e na aprendizagem.<br />

Nessa perspectiva, o <strong>de</strong>senvolvimento aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> forma integrada, englobando<br />

os vários campos funcionais: movimentos, emoções, inteligência e a<br />

formação do eu como pessoa. Faz-se ne<strong>ce</strong>ssário, pois, que o(a) professor(a)<br />

compreenda a criança por meio <strong>de</strong> suas posturas corporais, seus <strong>de</strong>sejos,<br />

34<br />

Vygotsky, Levy S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1998.<br />

35<br />

Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Proximal (ZDP) é a distância entre o <strong>de</strong>senvolvimento real, que<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminado por intermédio <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> problemas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e<br />

o nível <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento potencial, <strong>de</strong>terminado por ação <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> problemas sob<br />

a orientação <strong>de</strong> um adulto ou em colaboração com outros companheiros (VYGOTSKY, 1998).<br />

36<br />

WALLON, Henri. Psicologia. Maria José Soraia Weber e Jaqueline Na<strong>de</strong>l Brulfert (org.).<br />

São Paulo: Ática, 1986.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

56 | PREFEITURA DE FORTALEZA 57 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

vonta<strong>de</strong>s, gestos e interações com o outro, pois é graças a essa dimensão<br />

mais expressiva da personalida<strong>de</strong> que a criança logra apren<strong>de</strong>r.<br />

Outro aspecto importante, que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado, e privilegia o<br />

campo funcional das emoções, é a afetivida<strong>de</strong> no ensino e na aprendizagem.<br />

É ne<strong>ce</strong>ssário que a criança esteja integrada afetivamente com seus<br />

colegas, com o(a) professor(a), com as ativida<strong>de</strong>s da escola e com a vida,<br />

para se sentir motivada a estudar e apren<strong>de</strong>r. As emoções constituem<br />

fator fundamental <strong>de</strong> interação da criança com o meio a que ela está intimamente<br />

ligada. A teoria propõe também uma escola engajada, inserida<br />

na socieda<strong>de</strong> e na cultura, e, ao mesmo tempo, uma escola comprometida<br />

com o <strong>de</strong>senvolvimento dos indivíduos, numa prática que integre a<br />

dimensão social e individual (GALVÃO, 1995) 37 .<br />

Ao se <strong>de</strong>finir a con<strong>ce</strong>pção sociointeracionista, consi<strong>de</strong>ra-se também<br />

a i<strong>de</strong>ação construtivista contida na Proposta Curricular <strong>de</strong> Fortaleza, elaborada<br />

em 1995, que também con<strong>ce</strong>be a criança como um ser afetivo,<br />

simbólico e social.<br />

Nessa perspectiva, a aprendizagem da Língua Portuguesa não busca<br />

apenas a <strong>de</strong>cifração ou reprodução do traçado gráfico, mas, sobretudo,<br />

um ensino e uma aprendizagem baseados na oralida<strong>de</strong> e nos gêneros,<br />

orais e escritos, uma vez que a interação na aprendizagem ocorre inevitavelmente<br />

na dimensão escolar por meio <strong>de</strong> enunciados estáveis, <strong>de</strong>senvolvidos<br />

pelos sujeitos na produção do conhecimento, como pressupõe o interacionismo<br />

sociodiscursivo, <strong>de</strong> Bronckart (2009) 38 . Con<strong>ce</strong>bem-se, <strong>de</strong>ssa<br />

forma, os diversos gêneros textuais, que circulam ampla e socialmente, e a<br />

produção textual, não os reduzindo a ativida<strong>de</strong>s estéreis <strong>de</strong> cópias.<br />

Assim como a i<strong>de</strong>ação <strong>de</strong> alfabetização evoluiu, a <strong>de</strong> leitura também<br />

se amplia, constatando que a <strong>de</strong>codificação é um dos pro<strong>ce</strong>dimentos <strong>de</strong><br />

que o estudante se utiliza para ler. Nesse outro contexto, a leitura <strong>de</strong>ixa<br />

também <strong>de</strong> ser restrita aos signos prioritariamente linguísticos, <strong>de</strong>dicando-se<br />

também atenção para a leitura em sua dimensão multifa<strong>ce</strong>tada, o<br />

que engloba a leitura <strong>de</strong> imagens nas diversas situações.<br />

Essas reflexões implicam compreen<strong>de</strong>r que a alfabetização é uma elaboração<br />

con<strong>ce</strong>itual, contínua, iniciada muito antes <strong>de</strong> a criança ir para a<br />

escola, <strong>de</strong>senvolvendo-se simultaneamente <strong>de</strong>ntro e fora da sala <strong>de</strong> aula;<br />

alfabetizar é elaborar conhecimento; para <strong>de</strong>senvolver a leitura e a escrita<br />

faz-se ne<strong>ce</strong>ssário compreen<strong>de</strong>r que os estudantes terão que lidar com<br />

37<br />

GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma con<strong>ce</strong>pção dialética do <strong>de</strong>senvolvimento infantil.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Vozes, 1995.<br />

38<br />

BRONCKART, J. P. Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem, discurso e <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />

Campinas: Mercado<br />

das Letras, 2009.<br />

as características do sistema <strong>de</strong> escrita e o uso funcional da linguagem;<br />

o(a) professor(a) é mediador, com intencionalida<strong>de</strong> pedagógica.<br />

A prática pedagógica <strong>de</strong>verá priorizar a criticida<strong>de</strong>, favore<strong>ce</strong>ndo o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabele<strong>ce</strong>r relações, a inferência e<br />

a produção <strong>de</strong> sentido. Deve-se, portanto, consi<strong>de</strong>rar a função social da<br />

linguagem como base primeira para ensinar a ler e a escrever. É nessa<br />

amplitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve consistir a alfabetização, uma vez que não é possível<br />

trabalhar com fonemas, sílabas, palavras e frases isoladamente. Para<br />

a compreensão da língua escrita, toma-se o gênero como a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sentido da língua e ponto <strong>de</strong> partida para o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> alfabetização e<br />

letramento. É no gênero e no contexto que as palavras e, consequentemente,<br />

as letras e sílabas adquirem significação.<br />

Essa perspectiva <strong>de</strong> alfabetizar letrando só ocorre mediada pelos gêneros<br />

com aporte contextual e funcionalida<strong>de</strong>. Centrar-se na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gêneros e nas relações mantidas entre eles e seus contextos <strong>de</strong> produção<br />

é primordial, porque “(...) é através dos gêneros que as práticas <strong>de</strong> linguagem<br />

materializam-se nas ativida<strong>de</strong>s dos aprendizes”. (SCHENEUWLY;<br />

DOLZ, 2004) 39 . Em função <strong>de</strong>ssa abordagem, alguns pontos emergem:<br />

1) compreen<strong>de</strong>r que a língua é uma elaboração histórica organizada<br />

com suporte em símbolos convencionados;<br />

2) enten<strong>de</strong>r que o momento exige a busca <strong>de</strong> equilíbrio dos princípios<br />

metodológicos consi<strong>de</strong>rados indispensáveis nas dimensões constitutivas<br />

e simultâneas da alfabetização e do letramento; e<br />

3) <strong>de</strong>senvolver intervenções didáticas essenciais para os avanços da<br />

aprendizagem.<br />

Os pressupostos até aqui reunidos nos remetem à <strong>de</strong>finição das temporalida<strong>de</strong>s,<br />

das con<strong>ce</strong>pções pedagógicas e das práticas metodológicas e avaliativas<br />

que <strong>de</strong>finirão o estado da arte da política da educação <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

As bases que darão qualida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong> ao projeto educacional<br />

para o Município <strong>de</strong> Fortaleza po<strong>de</strong>m ser entendidas pela complexida<strong>de</strong>,<br />

permeabilida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>. Gera-se, <strong>de</strong>sse modo, uma gran<strong>de</strong><br />

teia, que agrega os construtos epistemológicos, as possibilida<strong>de</strong>s, ocorrências<br />

da vida cotidiana dos(as) estudantes, educadores(as), famílias e<br />

comunida<strong>de</strong>s, estabele<strong>ce</strong>ndo para tanto relações fundamentais entre os<br />

diversos sujeitos do ensino e da aprendizagem.<br />

39<br />

SCHENEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares- das práticas <strong>de</strong><br />

linguagem aos objetos <strong>de</strong> ensino. In: DOLZ, J; SCHENEUWLY, B. Gêneros orais e escritos<br />

na escola. Tradução <strong>de</strong> Roxane Rojo e Glaís Sales Cor<strong>de</strong>iro. Campinas: Mercado <strong>de</strong> Letras,<br />

2004<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

58 | PREFEITURA DE FORTALEZA 59 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

A Complexida<strong>de</strong> refere-se à formação do conhecimento e à elaboração<br />

das aprendizagens, compreen<strong>de</strong>ndo as relações estabelecidas com<br />

base na teoria do pensamento complexo, que <strong>de</strong>fine as inter-relações<br />

da parte com o todo, rompendo com a i<strong>de</strong>ia dos saberes fragmentados,<br />

lineares e sequenciados. Os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> aprendizagens das crianças,<br />

dos adoles<strong>ce</strong>ntes, dos jovens e idosos estão ancorados nas experiências<br />

a priori e a posteriori da escola, na vivência do cotidiano e nas múltiplas<br />

relações com o mundo social.<br />

A Permeabilida<strong>de</strong> indica que o pro<strong>ce</strong>sso educativo na contemporaneida<strong>de</strong><br />

está intimamente relacionado com a produção vertiginosa do<br />

conhecimento, da elaboração <strong>de</strong> teorias, con<strong>ce</strong>itos e <strong>de</strong>mandas, bem<br />

como com o surgimento <strong>de</strong> tecnologias e instrumentos a serviço da comunicação<br />

e da produção da existência humana. Perante tais fatos, que<br />

marcaram o final do século XX e início do século XXI, compete à escola<br />

<strong>de</strong>finir e ressignificar valores, con<strong>ce</strong>itos e relações, no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r-se<br />

como espaço <strong>de</strong> transformação e <strong>de</strong> mediação do permanente<br />

com o transitório.<br />

A efetivação dos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e aprendizagem tem a Continuida<strong>de</strong><br />

como elemento <strong>de</strong> sustentação para garantir a concretização<br />

dos eixos e realização dos princípios, já apresentados neste documento.<br />

Para tanto, é ne<strong>ce</strong>ssário compreen<strong>de</strong>r este princípio na organização temporal,<br />

relação e inter-relação dos tempos escolares; na ampliação dos<br />

saberes entre as diversas áreas do currículo e além do espaço escolar.<br />

Sendo assim, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser entendida como pressuposto<br />

dialógico, com base no estabelecimento <strong>de</strong> relações cada vez mais<br />

elaboradas entre os sujeitos da aprendizagem e inseridas num âmbito<br />

histórico e social.<br />

Assim, para o planejamento das intervenções pedagógicas ne<strong>ce</strong>ssárias,<br />

torna-se fundamental não apenas conhe<strong>ce</strong>r os princípios que norteiam<br />

essa proposta, mas as inter-relações com outras propostas, o apoio<br />

didático (livros e materiais), que, <strong>de</strong> forma coerente e consistente, contribuem<br />

para a prática pedagógica na alfabetização, advindos do diagnóstico,<br />

dos pro<strong>ce</strong>ssos vivenciados pelos estudantes.<br />

4.2.5 Ler e escrever em todas as áreas do<br />

conhecimento<br />

A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros está presente nas mais diversificadas áreas<br />

do conhecimento, por meio da tipologia <strong>de</strong> textos específicos, que favore<strong>ce</strong>m<br />

a mobilização <strong>de</strong> estratégias cognitivas promotoras do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> competências próprias à leitura e à escrita.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a alfabetização e o letramento uma responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos e não apenas do(a) professor(a) que ensina Português e reconhe<strong>ce</strong>ndo<br />

o valor do planejamento, propõe-se que este seja realizado<br />

<strong>de</strong> modo integrado pelas disciplinas/áreas do conhecimento. Dessa forma,<br />

ao fazer a sua proposta pedagógica, a escola <strong>de</strong>ve procurar inserir<br />

o trabalho pedagógico com os textos que circulam e são utilizados em<br />

cada área e, no seu planejamento, procurar dialogar com outras áreas, na<br />

perspectiva do letramento.<br />

Compreen<strong>de</strong>-se que, com base na <strong>de</strong>finição dos objetivos pertinentes ao<br />

aprendizado da leitura e da escrita em cada disciplina/área, as competências<br />

leitoras tornam-se mais profícuas, uma vez que saber analisar a totalida<strong>de</strong><br />

dos fatos e eventos ambientais e sociais prepara melhor para a vida, permite<br />

que o estudante se <strong>de</strong>senvolva <strong>de</strong> forma a integrar conhecimentos e vivências<br />

com ampla e direta participação no ensino e na aprendizagem.<br />

Afinal, se a prática <strong>de</strong> leitura e escrita <strong>de</strong>ve se pautar em gêneros,<br />

uma vez que a comunicação é pro<strong>ce</strong>dida por meio <strong>de</strong>las, os mapas, as<br />

tabelas, os gráficos, as legendas, as fotografias, entre outros, compõem<br />

o a<strong>ce</strong>rvo plural e infindável do qual o(a) professor(a) se valerá para o<br />

aprimoramento da linguagem e elaboração do conhecimento. Assim, o<br />

trabalho com gêneros <strong>de</strong>mandará e exigirá uma visão interdisciplinar <strong>de</strong><br />

todos os envolvidos com a educação.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a organização didática e temporal do ensino fundamental<br />

<strong>de</strong> nove anos e suas especificida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> cada ano, <strong>de</strong>fine-<br />

-se que, nos dois primeiros anos iniciais, <strong>de</strong>ve-se assegurar: “(...) a<br />

alfabetização e o letramento; o <strong>de</strong>senvolvimento das diversas formas <strong>de</strong><br />

expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a<br />

Música e <strong>de</strong>mais Artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da<br />

Matemática, da Ciência, da História e da Geografia...” (Resolução nº 07/<br />

2010, do CNE/CEB, art. 30, incisos I e II).<br />

A conquista educativa nesse nível <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>ve garantir ao estudante<br />

uma formação consistente, significativa, que lhe possa conferir<br />

condições para o exercício da cidadania ao longo da vida. Uma vez<br />

assumida a dimensão social da língua, práticas pedagógicas <strong>de</strong>vem ser<br />

ressignificadas e reinventadas para o <strong>de</strong>senvolvimento da leitura e da<br />

escrita no âmbito escolar. Tal tomada <strong>de</strong> posicionamento é fundamental<br />

para o <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong>mocrático quanto à participação<br />

da criança nas diferentes práticas sociais.<br />

Para se alcançar o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança, a ação educativa<br />

<strong>de</strong>ve ter como ponto <strong>de</strong> partida a realida<strong>de</strong> sociocultural dos estudantes,<br />

vivências, ativida<strong>de</strong>s lúdicas, o contexto da escola e da co-<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

60 | PREFEITURA DE FORTALEZA 61 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

munida<strong>de</strong>, enfim, as escolhas pedagógicas <strong>de</strong>vem ser balizadas pela<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do grupo com o qual se relaciona.<br />

O trabalho com os gêneros textuais se revela como um terreno fértil<br />

para a mobilização <strong>de</strong>ssas ações. Ao tomar os estudos dos gêneros como<br />

objeto <strong>de</strong> pauta, haverá variáveis que, inevitavelmente, <strong>de</strong>verão ser abordadas<br />

(quem fala, para quem fala, por que fala, on<strong>de</strong> fala, o que fala etc.),<br />

as quais subsidiarão a análise da linguagem sob as diferentes dimensões.<br />

Vale ressaltar, ainda, que, para a proposta educacional se efetivar em<br />

uma aprendizagem significativa e a<strong>de</strong>quada, o(a) professor(a) <strong>de</strong>ve recorrer<br />

aos parâmetros pedagógicos oferecidos. Esses parâmetros, portanto,<br />

são <strong>de</strong>preendidos <strong>de</strong> livros didáticos, <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação, conversas<br />

com os seus pares, instrumentos avaliativos e outros. Com base nisso,<br />

ele(a) verá a conveniência <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quá-los à realida<strong>de</strong> da sala <strong>de</strong> aula,<br />

julgando pela sua pertinência à <strong>de</strong>manda dos estudantes.<br />

Para efetivar as condições <strong>de</strong> alfabetização e letramento, torna-se ne<strong>ce</strong>ssário,<br />

então, possibilitar uma infraestrutura que facilite a atuação dos<br />

profissionais envolvidos, mantendo uma equipe <strong>de</strong> trabalho que assegure<br />

o intercâmbio <strong>de</strong> conhecimentos e i<strong>de</strong>ias, propiciando a reflexão das práticas<br />

do<strong>ce</strong>ntes. Ao mesmo tempo, cumpre garantir recursos didáticos para<br />

a satisfação dos objetivos educacionais, promoção <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação<br />

<strong>de</strong> maneira contínua e implantar um pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> lotação <strong>de</strong> do<strong>ce</strong>ntes<br />

com perfil alfabetizador, ofere<strong>ce</strong>ndo-lhes acompanhamento pedagógico e<br />

valorização profissional. Essas são algumas medidas imprescindíveis para<br />

aqueles que tencionam uma melhoria no ensino fundamental.<br />

4.3 Formação <strong>de</strong> leitores<br />

A leitura é uma reconstituição <strong>de</strong> sentidos complexa que envolve<br />

um contexto socio-historicamente situado. Pensar em leitura é refletir<br />

em pluralida<strong>de</strong>, heterogeneida<strong>de</strong>, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista as particularida<strong>de</strong>s<br />

que envolvem este pro<strong>ce</strong>sso porque cada leitor tem sua história, sua<br />

trajetória e objetivos.<br />

A prática <strong>de</strong> leitura aconte<strong>ce</strong> na escola e fora <strong>de</strong>la. É na escola, porém,<br />

que a leitura se realiza como objeto <strong>de</strong> estudo; é nela também que<br />

a leitura <strong>de</strong>veria se efetivar como objeto <strong>de</strong> prazer. Na escola, lê-se para<br />

interagir, pelo prazer <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r textos orais/escritos, verbais/não verbais,<br />

literários/não literários. Nela, lê-se para apren<strong>de</strong>r, conhe<strong>ce</strong>r informações,<br />

fazer algo, para interagir <strong>de</strong> maneiras diversas. Lê-se em silêncio<br />

e em voz alta, em e para todas as disciplinas. O que se precisa é se conscientizar<br />

da funcionalida<strong>de</strong> da leitura para o <strong>de</strong>senvolvimento como um<br />

leitor-cidadão crítico. É ne<strong>ce</strong>ssário saber relacionar a leitura ao projeto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, projeto <strong>de</strong> formação, para que ela não continue distante.<br />

Impõe-se repensar a escola como um espaço do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da cultura <strong>de</strong> ler.<br />

4.3.1 A escola: um espaço para divulgação<br />

e realização <strong>de</strong> projetos que envolvem a cultura <strong>de</strong> ler<br />

Na divulgação e realização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> leitura, a escola <strong>de</strong>ve assumir<br />

o seu maior papel, que é formar cidadãos reflexivos, capazes <strong>de</strong><br />

ler criticamente a socieda<strong>de</strong> da qual participam, posicionando-se diante<br />

das situações cotidianas, e investir numa política <strong>de</strong> ensino que dê maior<br />

visibilida<strong>de</strong> à cultura da leitura.<br />

Por esta razão, é preciso re<strong>de</strong>finir o papel da sala <strong>de</strong> aula, da biblioteca,<br />

da rádio escolar, dos murais, dos jornais e outros espaços da escola,<br />

pois todos eles representam o compromisso da escola com a socieda<strong>de</strong>.<br />

É preciso que a escola entenda a leitura e a produção <strong>de</strong> textos como<br />

ativida<strong>de</strong>s básicas na interação humana, pois é na e pela linguagem que<br />

há comunicação, lendo-se e produzindo-se textos em forma <strong>de</strong> gêneros,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do propósito comunicacional. Pelo fato <strong>de</strong>, justamente, ter<br />

este perfil é que essas ativida<strong>de</strong>s transitam em todas as áreas <strong>de</strong> conhecimentos,<br />

ampliando o direito <strong>de</strong> investir na formação <strong>de</strong> leitores, normalmente<br />

<strong>de</strong>legado ao(à) professor(a) <strong>de</strong> Língua Portuguesa, para todos os<br />

<strong>de</strong>mais professores, para a equipe gestora e para os pais.<br />

É importante ressaltar que, no âmbito em que a leitura é uma base, os<br />

professores têm papel relevante, porque, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das disciplinas<br />

que lecionem, <strong>de</strong>vem contribuir para a formação <strong>de</strong> leitores. Então,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros anos, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>spertar o aprendiz, criança, jovens<br />

e adultos para a <strong>de</strong>scoberta dos mais variados tipos <strong>de</strong> textos. Dessa<br />

forma, o projeto <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ve objetivar o estímulo ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da capacida<strong>de</strong> do leitor, favore<strong>ce</strong>ndo sua inserção no mundo letrado.<br />

Para que o estudante adquira o conhecimento específico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

disciplina, a fim <strong>de</strong> que ele leia os diferentes gêneros que fazem parte do seu<br />

cotidiano e dos diversos conteúdos/das diversificadas áreas, por prazer ou<br />

por ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>, é importante que ele domine as estratégias <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> textos, pois estes possuem composições diferentes, objetivos e<br />

intenções variadas. Portanto, na ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas competências e<br />

habilida<strong>de</strong>s para agir no discurso <strong>de</strong> maneira significativa, é papel <strong>de</strong> cada<br />

professor(a) mediar ações nas salas <strong>de</strong> aula que favoreçam as competências<br />

e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita, para que a aprendizagem seja satisfatória.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

62 | PREFEITURA DE FORTALEZA 63 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Ler e escrever constituem tarefas <strong>de</strong> toda a escola e <strong>de</strong> todos na escola,<br />

em todas as áreas, além <strong>de</strong> ser um compromisso do grupo gestor e da<br />

família como partes importantes para que seja estabelecida uma cultura<br />

da leitura. Com efeito, ratificam-se o compromisso e a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> toda<br />

a equipe constituinte da gestão escolar. É <strong>de</strong> fundamental importância<br />

o envolvimento <strong>de</strong> todos para a garantia da implantação do projeto <strong>de</strong><br />

leitura. Para tal, diretor, vi<strong>ce</strong>-diretor e Conselho Escolar <strong>de</strong>vem garantir<br />

espaços para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, construção <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>rvos organizados<br />

com critérios – abrangendo as distintas áreas do conhecimento – recursos<br />

materiais e tecnológicos. Ao coor<strong>de</strong>nador pedagógico, supervisor<br />

escolar, orientador educacional e professores cabe sensibilizar e mobilizar<br />

a comunida<strong>de</strong> escolar, promovendo assim a efetivação do projeto.<br />

4.3.2 Espaços <strong>de</strong> leitura na escola<br />

Consi<strong>de</strong>rando a prática <strong>de</strong> leitura e escrita como fundamento para<br />

a realização do ensino e da aprendizagem, é possível assinalar que a<br />

biblioteca escolar é, por ex<strong>ce</strong>lência, importante espaço pedagógico da<br />

escola, pois ela proporciona, mediante a educação formal e informal,<br />

a difusão do conhecimento e a promoção da leitura. Trata-se, pois, <strong>de</strong><br />

utilizá-la a serviço da comunida<strong>de</strong> local e da socieda<strong>de</strong>. Ela não <strong>de</strong>ve,<br />

porém, ser entendida como o único espaço <strong>de</strong> leitura e escrita da escola,<br />

porque também há rádio escolar, os murais, a biblioteca, a sala <strong>de</strong> aula,<br />

o jornal escolar, entre outros, e cada um <strong>de</strong>sses espaços se realiza conforme<br />

objetivos e funcionalida<strong>de</strong>s da leitura.<br />

Rádio<br />

A rádio escolar é um recurso pedagógico constituído por um pequeno<br />

estúdio <strong>de</strong> rádio e caixas <strong>de</strong> som para retransmissão. Estas são alocadas<br />

nas salas <strong>de</strong> aula e espaços estratégicos da escola, como pátio, cantina,<br />

biblioteca, quadra <strong>de</strong> esportes. A programação é feita pelos próprios estudantes<br />

e professores. Além disso, abre espaços também para a comunida<strong>de</strong>,<br />

que passa a ser fonte <strong>de</strong> informação para os programas i<strong>de</strong>alizados<br />

pelos organizadores.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> incluir o rádio como meio <strong>de</strong> comunicação na educação<br />

<strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e adultos não é por acaso, mas sim outra estratégia<br />

para se trabalhar leitura na escola. Assim, os professores e as<br />

professoras, ao usarem as potencialida<strong>de</strong>s da rádio escolar, terão possibilida<strong>de</strong>s,<br />

por exemplo, <strong>de</strong> trabalhar a escrita e a leitura com uma função<br />

social muito <strong>de</strong>finida – ler para se comunicar e ler para se ter um ouvinte.<br />

Ao contrário do que possa pare<strong>ce</strong>r, a oralida<strong>de</strong> que o rádio propaga<br />

pressupõe a escrita, pois todas as falas no rádio são escritas com ante<strong>ce</strong>dência,<br />

em forma <strong>de</strong> roteiros; em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterizar-se a oralida<strong>de</strong>,<br />

promove-se uma fala mais clara e comunicativa, inclusive para situações<br />

mais formais, ampliando a condição <strong>de</strong> escrita, explorando-se a escrita<br />

em articulação com a fala.<br />

Sabe-se que o domínio das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita é condição<br />

fundamental para uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. De tal modo, a realização<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s pedagógicas utilizando a rádio escolar, firmando<br />

par<strong>ce</strong>rias entre a escola e a comunida<strong>de</strong> local, permite uma valorização<br />

da cultura das comunida<strong>de</strong>s e do <strong>de</strong>senvolvimento do ensino e da aprendizagem,<br />

<strong>de</strong> forma simples e eficaz.<br />

Murais<br />

O quadro <strong>de</strong> avisos da escola, também conhecido como mural,<br />

po<strong>de</strong> ser composto por um a<strong>ce</strong>rvo <strong>de</strong> textos que proporciona diversas<br />

formas e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras sobre o cotidiano da escola e da<br />

comunida<strong>de</strong> do entorno. Esse portador <strong>de</strong> textos/suporte caracteriza-se<br />

como um jornal, no qual a escola veicula informes, notícias, avisos. E,<br />

como tal, essa ferramenta pedagógica constitui meio <strong>de</strong> comunicação<br />

que não é neutro, nem objetivo, mas um recorte <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados elementos,<br />

por meio do qual o texto ganha efeito e as palavras produzem<br />

sentidos e significados.<br />

Assim, a palavra impressa, manuscrita, rascunhada, os <strong>de</strong>senhos,<br />

as imagens, os recortes, confeccionados com os mais variados materiais<br />

para comunicar o cotidiano escolar, compõem os textos do mural<br />

da escola, exer<strong>ce</strong>ndo influências, materializando formas <strong>de</strong> expressão,<br />

produzindo realida<strong>de</strong>, conferindo sentido às ações pedagógicas ou<br />

não, indicando aspectos da cultura escolar.<br />

Biblioteca escolar<br />

A Biblioteca escolar proporciona vários benefícios à comunida<strong>de</strong>: a<br />

troca <strong>de</strong> informações contidas nos suportes impressos ou não impressos,<br />

meios eletrônicos, assessoria ne<strong>ce</strong>ssária ao(à) professor(a), visando ao<br />

seu <strong>de</strong>sempenho do<strong>ce</strong>nte; contribuição para o efetivo pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino<br />

e aprendizagem. É muito importante ressaltar, no entanto, que não<br />

basta ter uma boa biblioteca, é preciso ter a<strong>ce</strong>rvo, assim como não basta<br />

ter o a<strong>ce</strong>rvo na biblioteca sem um profissional atuante. Da mesma forma,<br />

não é suficiente ter projetos <strong>de</strong> leitura que não possuam um vínculo com<br />

as ativida<strong>de</strong>s da biblioteca.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

64 | PREFEITURA DE FORTALEZA 65 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Para que a biblioteca escolar <strong>de</strong>senvolva sua dinâmica <strong>de</strong> atendimento,<br />

faz-se ne<strong>ce</strong>ssária a presença <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>rvos variados e significativos, que<br />

proporcionem, <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s, o uso <strong>de</strong> múltiplas fontes <strong>de</strong><br />

informação, o <strong>de</strong>senvolvimento da criativida<strong>de</strong> do leitor, uma dinâmica<br />

<strong>de</strong> recursos e serviços.<br />

O funcionamento da biblioteca na escola é condição fundamental para<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, para que se<br />

possa, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita, propiciar aos estudantes,<br />

professores e comunida<strong>de</strong> escolar apoio à formação básica para o exercício<br />

pleno da cidadania. Este funcionamento <strong>de</strong>ve ser articulado a projetos<br />

da comunida<strong>de</strong>, do município, do estado e do Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Com vistas a investir na cultura da leitura, é válido ressaltar a articulação<br />

da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação com as escolas da Re<strong>de</strong> Pública<br />

<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, mediante implantação do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />

Biblioteca Escolar e Formação <strong>de</strong> Leitores – Projeto SIMBE.<br />

Sala <strong>de</strong> aula<br />

A prática <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> produção em sala <strong>de</strong> aula tem particularida<strong>de</strong>s,<br />

como se a<strong>ce</strong>ntua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong>ste documento. Além das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> leitura oriundas das próprias ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Língua Portuguesa,<br />

há também um espaço que se <strong>de</strong>ve ter para narração <strong>de</strong> história, para<br />

exposições <strong>de</strong> produções dos estudantes, sobretudo dos estudantes dos<br />

primeiros anos escolares. Em qualquer <strong>de</strong>stas situações, há mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

leitura que se configuram no agir do(a) professor(a).<br />

No panorama das teorias da leitura, há quatro mo<strong>de</strong>los bem <strong>de</strong>finidos.<br />

Três dão conta da relação leitor e autor, via texto (Mo<strong>de</strong>lo Linguístico, mecanicista<br />

ou tradicional, Mo<strong>de</strong>lo Psicolinguístico e Mo<strong>de</strong>lo Interacionista<br />

<strong>de</strong> leitura) e o quarto (Mo<strong>de</strong>lo Sociopsicolinguistico) <strong>de</strong>screve a situação<br />

do(a) professor(a) em sala <strong>de</strong> aula, no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> leitores.<br />

No primeiro mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Linguístico, mecanicista<br />

ou tradicional, a linguagem é vista como um sistema fechado,<br />

autônomo, constituído <strong>de</strong> componentes não relacionados entre si. Este<br />

mo<strong>de</strong>lo ancora-se na Psicologia behaviorista ou comportamentalista e<br />

no estruturalismo americano, <strong>de</strong> Bloomfield (1933, 1942) 40 , para quem<br />

a palavra está diretamente ligada à coisa a que ela remete, isto é, ao estímulo.<br />

Segundo esse autor, a semântica não era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />

no ato <strong>de</strong> ler, porque o significado não era mensurável nem observado,<br />

não po<strong>de</strong>ndo, por isso, fazer parte do plano científico. Nesta perspectiva,<br />

acredita-se que as palavras são os fatores básicos na leitura.<br />

40<br />

BLOOMFIELD, Leonard. Language. New York, 1933.<br />

São conhecidos como mo<strong>de</strong>los as<strong>ce</strong>n<strong>de</strong>ntes, os <strong>de</strong> Gough (1976) e<br />

LaBerge e Samuels (1974) 41 , que con<strong>ce</strong>biam a leitura como um pro<strong>ce</strong>sso<br />

per<strong>ce</strong>ptivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação em que o leitor buscava nos elementos linguísticos<br />

a compreensão do texto escrito, recorrendo às letras, às sílabas<br />

até chegar à frase, ao parágrafo e, consequentemente, à compreensão<br />

global do texto, resultado do pro<strong>ce</strong>dimento as<strong>ce</strong>n<strong>de</strong>nte. Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

leitura é condizente com um ensino prescritivo <strong>de</strong> língua e a aprendizagem<br />

é vista como um pro<strong>ce</strong>sso repetitivo, mecânico. Em sala <strong>de</strong> aula,<br />

o(a) professor(a) enfatiza a localização, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> elementos linguísticos<br />

no texto, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o significado, as situações comunicacionais.<br />

Ler é extrair sentido do texto.<br />

O segundo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Psicolinguístico.<br />

É calcado na teoria cognitiva. O leitor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser compreendido<br />

como uma tabula rasa; transforma-se em um pro<strong>ce</strong>ssador ativo <strong>de</strong> conhecimentos,<br />

dotado filogeneticamente <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para adquiri-lo.<br />

Sujeito e linguagem são abstraídos do contexto sócio-histórico. A leitura<br />

é entendida como busca <strong>de</strong> significado. A aprendizagem resulta <strong>de</strong> uma<br />

interação do ambiente e com as estruturas cognitivas preexistentes do<br />

indivíduo.<br />

A leitura é dinâmica e envolve negociações. O leitor formula hipóteses,<br />

testa novas hipóteses contra novas evidências, <strong>de</strong>spreza aquelas<br />

contrárias às evidências que adquirem, e avalia as não eliminadas,<br />

guiando-se por um princípio que seleciona as mais simples como sendo<br />

as melhores. Baseia-se na gramática gerativo-transformacional, contrapondo-se<br />

ao mo<strong>de</strong>lo linguístico tradicional <strong>de</strong> leitura, que tinha como<br />

referências o estruturalismo e o behaviorismo.<br />

A linguagem é con<strong>ce</strong>bida como objeto <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> suas funções<br />

sociais; constitui sistema fechado, autônomo, abstraído da historicida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>svinculado <strong>de</strong> elementos socioculturais, <strong>de</strong> seu contexto <strong>de</strong> produção<br />

e <strong>de</strong> sua atualização em comunida<strong>de</strong>s heterogêneas <strong>de</strong> fala. O sujeito /<br />

leitor é ativo e i<strong>de</strong>alista. Ainda se mantém, entretanto, isolado da socieda<strong>de</strong>,<br />

que se apresenta estática, homogênea, vazia <strong>de</strong> valores antagônicos,<br />

embora dotada <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> criativa.<br />

Para os teóricos, a leitura é entendida como um pro<strong>ce</strong>sso, o leitor<br />

como sujeito do pro<strong>ce</strong>sso do ato <strong>de</strong> ler e os conhecimentos previamente<br />

adquiridos como sendo fundamentais para a compreensão. Ler é atribuir<br />

significados ao texto. A linguagem configura-se como instrumento<br />

41<br />

GOUGH, P. B. One second of reading. In: SINGER, H.; RUDDELL, R. B. (Orgs.).<br />

Theoretical mo<strong>de</strong>ls and pro<strong>ce</strong>sses of reading. Delaware: International Reading Asso., 1976;<br />

LABERGE, D., SAMUELS, S.J. Toward a theory of automatic information pro<strong>ce</strong>ssing in<br />

reading. Cognitive Psychology, 6, 293-323, 1974.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

66 | PREFEITURA DE FORTALEZA 67 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

<strong>de</strong> comunicação e o ensino da língua como sendo <strong>de</strong>scritivo (o ensino<br />

<strong>de</strong>scritivo da língua objetiva mostrar como a língua funciona).<br />

Para Smith (1991) 42 , a leitura é um fenômeno inci<strong>de</strong>ntemente visual,<br />

pois a visão é uma condição, mas não suficiente, uma vez que a informação<br />

não estaria no texto, mas atrás dos olhos do leitor. Assim, ler é estabele<strong>ce</strong>r<br />

significados, consi<strong>de</strong>rando os conhecimentos prévios do leitor. É<br />

ainda com Smith que se apren<strong>de</strong> sobre o <strong>de</strong>sempenho das três memórias:<br />

(1) Armazenamento sensorial, lugar on<strong>de</strong> as informações ficam enquanto<br />

o cérebro toma suas <strong>de</strong>cisões; (2) Memória a curto prazo, guarda as informações,<br />

enquanto espera uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pelo cérebro quanto<br />

ao fato <strong>de</strong> essas informações ficarem ou não; e (3) Memória a longo prazo,<br />

responsável pelas informações não visuais que constituem a teoria<br />

<strong>de</strong> mundo dos leitores. O circuito é completo se as informações forem<br />

significativas para o leitor.<br />

O ter<strong>ce</strong>iro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>nomina-se Mo<strong>de</strong>lo Interacionista <strong>de</strong><br />

leitura. Nesta visão, tanto são importantes os conhecimentos trazidos no<br />

texto quanto aqueles previamente adquiridos pelo leitor. Dell Hymes<br />

(1967) 43 muito contribuiu para este mo<strong>de</strong>lo, quando sugeriu uma competência<br />

comunicativa que, por ser baseada no contexto social do sujeito,<br />

não po<strong>de</strong> ser universal. A competência, segundo ele, consiste não apenas<br />

no saber sobre a língua, mas também em como usar esse saber em<br />

situações reais <strong>de</strong> comunicação. Essa competência é influenciada pelo<br />

status dos interlocutores, pelo contexto do ato <strong>de</strong> fala, pela mensagem<br />

veiculada, como também pela forma como se produz esse ato, incluindo<br />

aí gestos, tópicos e pressuposições.<br />

Também consi<strong>de</strong>rando aspectos sociais da linguagem, Halliday<br />

(1969) 44 marca presença. Em sua abordagem etnográfica da fala, o autor<br />

preocupa-se com o modo como a pessoa fala realmente. Constatou,<br />

entre outras coisas, que a criança, antes <strong>de</strong> chegar à escola, adquire funções<br />

que apare<strong>ce</strong>m numa or<strong>de</strong>m, tal como se verifica na sequência:<br />

a) Função instrumental (usa a linguagem para obter coisas. Exemplo:<br />

Eu quero);<br />

b) Função regulatória (usa a linguagem para regular o comportamento.<br />

Exemplo: Faça como eu digo);<br />

42<br />

SMITH, Frank. Compreen<strong>de</strong>ndo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do<br />

apren<strong>de</strong>r a ler. Porto Alegre: Artmed, 1991.<br />

43<br />

HYMES, D. H. Mo<strong>de</strong>ls of the Interaction of Language and Social Setting. Journal Of<br />

Social Issues, Pennsylvania, v. 23, n. 2, 1967.<br />

44<br />

HALLIDAY, M. A. K. Language in a social perspective. Artigo apresentado para a<br />

Socieda<strong>de</strong> Lingüística da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford, Oxford, 1969.<br />

c) Função interacional (usa a linguagem para estabele<strong>ce</strong>r contato entre<br />

o eu e o tu. Exemplo: Você e eu);<br />

d) Função pessoal (usa a linguagem para expressar sua individualida<strong>de</strong>.<br />

Exemplo: Aqui, estou eu);<br />

e) Função heurística (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> investigar a realida<strong>de</strong>.<br />

Exemplo: Diga-me porque);<br />

f) Função imaginária (usa a linguagem para criar seu próprio ambiente.<br />

Exemplo: Vamos fingir); e<br />

g) Função informacional (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> comunicação,<br />

falar sobre idéias. Exemplo: Tenho algo para lhe dizer).<br />

A Psicologia Cognitiva também contribuiu para a formação <strong>de</strong>sse<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura, ao trazer à discussão o papel dos esquemas, das memórias<br />

do leitor no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> textos. Segundo Smith<br />

(1991)45, no entanto, que traz para a discussão sobre o pro<strong>ce</strong>sso da<br />

leitura problemas oriundos do acúmulo <strong>de</strong> informações visuais, quando<br />

o estudante lê cada letra <strong>de</strong> uma palavra, sobrecarrega a memória<br />

<strong>de</strong> curto termo, fenômeno por ele i<strong>de</strong>ntificado como visão <strong>de</strong> túnel. No<br />

seu entendimento, esse pro<strong>ce</strong>dimento dificulta a compreensão do texto,<br />

e, quando há interrupção no pro<strong>ce</strong>sso, apaga-se o significado, antes <strong>de</strong><br />

chegar à memória a longo termo.<br />

Goodman, em 197646, influenciado pelas pesquisas <strong>de</strong> Halliday<br />

(1969). Comunicação e função passa a nortear seus estudos sobre o ato<br />

<strong>de</strong> ler. Defen<strong>de</strong> a tese que a leitura é um pro<strong>ce</strong>sso ativo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> significado<br />

orientado pela ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. Alerta para o fato <strong>de</strong><br />

que essa ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong>rá ser satisfeita se coberta pelos discursos<br />

sociais que circulam nas socieda<strong>de</strong>s letradas.<br />

Goodman (1976) também se aprofundara mais nas reflexões a respeito<br />

das funções da linguagem, Nessa perspectiva, acres<strong>ce</strong>nta aos estudos <strong>de</strong><br />

Halliday (1969) ativida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> trabalhar a funções da linguagem.<br />

Dessa maneira, para <strong>de</strong>senvolver a função instrumental, sugere<br />

que o(a) professor(a) po<strong>de</strong> brincar <strong>de</strong> loja, <strong>de</strong> estação <strong>de</strong> trem/ônibus, <strong>de</strong><br />

posto <strong>de</strong> gasolina etc; para <strong>de</strong>senvolver a função regulatória, o educador<br />

po<strong>de</strong> trabalhar regras, sinais, direções etc; no que diz respeito à função<br />

interacional, po<strong>de</strong>-se sugerir um correio <strong>de</strong> classe, jogos envolvendo o uso<br />

<strong>de</strong> leitura etc; no tocante à função pessoal, po<strong>de</strong>-se trabalhar com livros<br />

45<br />

op. cit.<br />

46<br />

GOODMAN, Kenneth. Reading: A Psycholinguistic Guessing Game. In: SINGER, Harry;<br />

RUDDELL, Robert B. (orgs.). Theoretical Mo<strong>de</strong>ls and Pro<strong>ce</strong>sses of Reading. 2.ed.<br />

Delaware: International Reading Association, p. 496-508, 1976.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

68 | PREFEITURA DE FORTALEZA 69 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

sobre a criança e a família, fotografias etc; quanto à função heurística, o<br />

profissional po<strong>de</strong> construir caixa <strong>de</strong> questões, livros sobre con<strong>ce</strong>itos etc;<br />

com relação à função imaginativa, o(a) educador(a) po<strong>de</strong> contar histórias,<br />

fazer dramatizações etc., e quanto à função informacional, o educador<br />

po<strong>de</strong> fazer mensagens no quadro, boletins, notas etc.<br />

No que se refere à prática da leitura, a função imaginativa, que segundo<br />

Halliday é responsável pelo enunciado vamos fingir, é bastante<br />

significativa quando, por exemplo, o leitor se i<strong>de</strong>ntifica com personagens<br />

do texto lido. Quando isso aconte<strong>ce</strong>, a leitura flui melhor.<br />

Em 198447, os Goodmans ampliam o seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura. Defen<strong>de</strong>ndo<br />

uma educação igual para todos os estaduni<strong>de</strong>nses e afirmando<br />

que a educação <strong>de</strong>ve começar on<strong>de</strong> os aprendizes estão e que nas práticas<br />

da leitura <strong>de</strong>vem ser utilizados materiais que fazem parte da realida<strong>de</strong><br />

do aprendiz (úteis e relevantes para o leitor), os autores chamam a<br />

atenção para a importância do contexto socioeconômico e cultural em<br />

que o estudante foi formado e para o papel da escola na formação do<br />

estudante cidadão.<br />

Posteriormente, esse mo<strong>de</strong>lo toma uma direção muito ampliada, na<br />

medida em que começa a consi<strong>de</strong>rar o leitor como um ser social que não<br />

ne<strong>ce</strong>ssariamente faz parte do mesmo grupo social do produtor do texto,<br />

nem po<strong>de</strong> ter a mesma compreensão <strong>de</strong>le.<br />

A abordagem interacionista apresentada pelos Goodmans está baseada<br />

na teoria do <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, dos pro<strong>ce</strong>ssos da<br />

linguagem e aprendizagem da linguagem, incluindo a pesquisa sobre<br />

leitura e escrita, numa visão <strong>de</strong> aprendizagem da Psicologia Cognitiva e<br />

das relações <strong>de</strong> linguagem, pensamento e aprendizagem. Por outro lado,<br />

incluem con<strong>ce</strong>pções sobre per<strong>ce</strong>pção, cognição, teoria <strong>de</strong> esquemas e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> con<strong>ce</strong>itos.<br />

O último mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura dá conta da situação <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

leitores, e é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Sociopsicolinguístico <strong>de</strong> leitura. O<br />

foco con<strong>ce</strong>ntra-se no encontro do leitor com o documento lido, o que<br />

resulta num novo evento. Esse evento não po<strong>de</strong>, porém, ser explicado,<br />

consi<strong>de</strong>rando apenas o ponto <strong>de</strong> vista do leitor, nem o prisma do documento<br />

lido, uma vez que o ato <strong>de</strong> ler transforma ambos, e o significado<br />

é sempre uma relação entre textos e contexto (socio-histórico-cultural).<br />

A leitura é uma ativida<strong>de</strong> pessoal, social, cultural e histórica. O leitor,<br />

por meio <strong>de</strong> transações, faz um texto durante a leitura, num evento<br />

47<br />

GOODMAN, Kenneth; GOODMAN, Yetta. Reading and writing relationships:<br />

pragmatic functions. Language Arts, Urbana, National Council of Teachers of English, v.60,<br />

n. 5, p. 590-599, may. 1983.<br />

que não se concretiza apenas no contexto <strong>de</strong> sua realização; também<br />

<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas as intenções dos participantes. O papel do(a)<br />

professor(a) é fundamental, porque ele atua na Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Proximal do leitor, auxiliando-o para a leitura significativa.<br />

Nessa perspectiva, a prática <strong>de</strong> leitura será objeto <strong>de</strong> variações <strong>de</strong><br />

acordo com os objetivos do leitor e escritor, com a audiência, a proficiência<br />

da língua, a visão <strong>de</strong> mundo e o momento sócio-histórico do sujeito<br />

e do grupo. Quando a leitura é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula sugerida<br />

pelo(a) professor(a), para testar conhecimentos, e a intenção do leitor não<br />

é a mesma, esse <strong>de</strong>sencontro <strong>de</strong> objetivos po<strong>de</strong> afetar a compreensão do<br />

estudante. Além <strong>de</strong>ssa variante, também são pertinentes as características<br />

pessoais do escritor e as características do texto.<br />

É importante ressaltar que o homem e a socieda<strong>de</strong>, nessa abordagem,<br />

são organismos em permanente movimento e <strong>de</strong>senvolvimento; e as<br />

transformações são motivadas por contradições provenientes do próprio<br />

viver em socieda<strong>de</strong>.<br />

O homem humanizado pela linguagem se transforma e transmuda<br />

como sujeito e como agente sócio-histórico. Sob tal modo <strong>de</strong> ver, o homem<br />

é real e concretamente con<strong>ce</strong>bido; capaz <strong>de</strong> mudar a si e a socieda<strong>de</strong>,<br />

motivado pelas contradições que aí se vão produzindo.<br />

Fundamentando-se na teorização <strong>de</strong> Vygotsky sobre a Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Proximal, traze-se para a discussão o papel do formador<br />

<strong>de</strong> leitores críticos. Na sala <strong>de</strong> aula, o(a) professor(a) não apenas assume<br />

o papel <strong>de</strong> leitor; é também formador <strong>de</strong> leitores, papel que muitas vezes<br />

é esquecido. A Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Proximal (ZDP), como já<br />

expresso, correspon<strong>de</strong> à distância entre o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real<br />

que se costuma <strong>de</strong>terminar através da solução in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> problemas<br />

e o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial <strong>de</strong>terminado, baseado na<br />

solução <strong>de</strong> problemas.<br />

A aula <strong>de</strong> leitura<br />

Como visto, em cada prática <strong>de</strong> leitura há mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> leitura, que<br />

se representam no fazer do<strong>ce</strong>nte. Para haver um bom <strong>de</strong>sempenho na<br />

aula <strong>de</strong> leitura, é importante a escolha do gênero textual, consi<strong>de</strong>rando<br />

também o nível <strong>de</strong> ensino e o planejamento pedagógico. Para isso, é<br />

importante consi<strong>de</strong>rar a língua como fonte <strong>de</strong> legitimação <strong>de</strong> acordos<br />

e condutas sociais e como representação simbólica <strong>de</strong> experiências humanas<br />

manifestadas nas formas <strong>de</strong> sentir, pensar e agir na vida social;<br />

analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos,<br />

mediante a natureza, função, organização, estrutura, <strong>de</strong><br />

acordo com as condições <strong>de</strong> produção/re<strong>ce</strong>pção; confrontar opiniões e<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

70 | PREFEITURA DE FORTALEZA 71 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

pontos <strong>de</strong> vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal e<br />

compreen<strong>de</strong>r e usar a língua como geradora <strong>de</strong> significação e integradora<br />

da organização do mundo e da própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, como sugerem os<br />

Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong> Língua Portuguesa (1998)48.<br />

Nessa perspectiva, o estudante <strong>de</strong>ve ser compreendido como produtor<br />

<strong>de</strong> textos, aquele que po<strong>de</strong> ser entendido pelos textos que produz e que o<br />

constituem como ser humano; aquele que também é coautor na reconstituição<br />

dos significados dos textos lidos. A aula <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ve contemplar o<br />

momento lúdico da leitura e a ocasião da gramática do texto. As ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver competências individuais e coletivas, orais e<br />

escritas, verbais e não verbais. O encontro do leitor com o texto não <strong>de</strong>ve<br />

ser para busca <strong>de</strong> elementos linguísticos, mas um momento importante <strong>de</strong><br />

aprendizagem da funcionalida<strong>de</strong> da língua nas diferentes situações <strong>de</strong> comunicação.<br />

Por isto, é fundamental consi<strong>de</strong>rar os elementos pragmáticos,<br />

as estratégias <strong>de</strong> textualização, os mecanismos enunciativos, o contexto<br />

<strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> produção e os aspectos composicionais do texto. Numa<br />

perspectiva da didática do ensino <strong>de</strong> leitura, a aproximação ao texto <strong>de</strong>ve<br />

aconte<strong>ce</strong>r por meio da ludicida<strong>de</strong>; mas, também, é preciso avançar para<br />

estudar os elementos linguísticos e discursivos que acionaram os sentimentos<br />

do leitor. Para isto, <strong>de</strong>ve-se planejar a aula <strong>de</strong> forma que se possa<br />

trabalhar estes elementos, consi<strong>de</strong>rando as etapas <strong>de</strong> leitura.<br />

A primeira etapa da aula <strong>de</strong> leitura proporciona um encontro do leitor<br />

com o texto, por meio do(a) professor(a), que <strong>de</strong>ve orientar e ativar os conhecimentos<br />

prévios para facilitar a leitura. A segunda etapa caracteriza-<br />

-se pela observação e antecipação. O objetivo do formador <strong>de</strong> leitores é<br />

fazer com que o estudante se familiarize com o texto. A ter<strong>ce</strong>ira etapa<br />

da aula remete ao ato <strong>de</strong> ler com um objetivo. Igualmente importante é o<br />

momento da socialização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura. Nesse instante, o leitor<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> seu ponto <strong>de</strong> vista. Nessa fase, vê-se claramente que o texto<br />

estudado passa a ser o ponto <strong>de</strong> partida para reflexão e aprofundamento.<br />

ção entre as pessoas e o tratamento da informação. Os <strong>de</strong>sdobramentos<br />

<strong>de</strong> suas aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ram origem a um mo<strong>de</strong>lo social<br />

conhecido como socieda<strong>de</strong> do conhecimento. Nela outras formas<br />

<strong>de</strong> pensar são exigidas, baseadas na compreensão <strong>de</strong> que as pessoas<br />

<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver sua autonomia para agir e interagir na comunida<strong>de</strong>,<br />

implicando, ainda, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar <strong>de</strong> forma colaborativa,<br />

estabele<strong>ce</strong>ndo-se uma lógica <strong>de</strong> permanente ação-reflexão em re<strong>de</strong>s e<br />

teias que se refazem in<strong>ce</strong>ssantemente.<br />

Esse contexto exige uma reflexão sobre o vínculo entre tecnologia,<br />

socieda<strong>de</strong> e educação, na perspectiva da elucidação das novas relações<br />

que estão postas e, portanto, os fundamentos sociológicos, epistemológicos<br />

e pedagógicos que orientam sobre as melhores formas <strong>de</strong> utilização<br />

das tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação (TIC).<br />

A escola, como ambiente privilegiado <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong>ve incorporar<br />

as inovações tecnológicas e científicas <strong>de</strong> cada época para não se tornar<br />

obsoleta e incapaz <strong>de</strong> cumprir sua função social <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada.<br />

A inserção das TIC nas escolas é cada vez mais evi<strong>de</strong>nte em ativida<strong>de</strong>s<br />

administrativas e pedagógicas. Sua utilização, porém, é feita ainda para<br />

reforçar práticas tradicionais <strong>de</strong> ensino, ou como ativida<strong>de</strong>s complementares,<br />

sem relação sistemática e intrínseca com o currículo estabelecido.<br />

As TIC possibilitam ampla gama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, tais como: a<strong>ce</strong>sso à informação,<br />

tratamento <strong>de</strong> dados, produção multimídia e estabelecimento<br />

<strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> comunicação e colaboração entre professores e<br />

estudantes. Desse modo, as TIC <strong>de</strong>vem ser compreendidas como ferramenta<br />

<strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> natureza interdisciplinar, e, assim, po<strong>de</strong>m se<br />

constituir como elemento relevante na conquista do conhecimento e não<br />

apenas como um recurso auxiliar ao ensino.<br />

4.4.1 Histórico<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

4. 4. Inclusão digital: incorporando as tecnologias<br />

no currículo<br />

O avanço do conhecimento científico tornou possível o aparecimento<br />

<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> tecnologias, algumas voltadas para a comunica-<br />

48<br />

BRASIL. Ministério da Educação. <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Básica. Parâmetros<br />

Curriculares nacionais para o Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/<br />

SEF, 1998.<br />

O Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza iniciou sua primeira experiência<br />

com o uso das TIC em 1992, quando apresentou ao Ministério<br />

<strong>de</strong> Educação (MEC) o projeto <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> informática, como parte<br />

da proposta <strong>de</strong> implantação do Centro <strong>de</strong> Enriquecimento Curricular,<br />

instalado na Escola Dra. Francisca <strong>de</strong> Assis Canito da Frota. A proposta<br />

objetivava profissionalizar estudantes da 7ª e 8ª séries do ensino fundamental<br />

das escolas públicas municipais. Apenas em 1994, este laboratório<br />

foi implantado com cinco computadores, financiado pelo Fundo Nacional<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação (FNDE)/MEC (FORTALEZA, 2000)49.<br />

49<br />

FORTALEZA. Programa <strong>de</strong> informática educativa do sistema municipal <strong>de</strong> ensino.<br />

72 | PREFEITURA DE FORTALEZA 73 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Em 1996, a Prefeitura <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (PMF) começou a <strong>de</strong>senvolver<br />

ações voltadas para a inserção das tecnologias nas suas escolas,<br />

com o apoio do Programa Nacional <strong>de</strong> Tecnologia Educacional<br />

(PROINFO), da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação à Distância (SEAD/MEC), em par<strong>ce</strong>ria<br />

com a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação do Estado do Ceará (SEDUC-CE). O<br />

PROINFO, instituído pela Portaria nº 522, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1997, tem<br />

como objetivo promover o uso pedagógico da informática na re<strong>de</strong> pública<br />

<strong>de</strong> ensino fundamental e médio. O Programa propõe a distribuição<br />

<strong>de</strong> computadores, a formação <strong>de</strong> professores-multiplicadores e a criação<br />

dos núcleos <strong>de</strong> tecnologia educacional (NTE), em que os multiplicadores<br />

<strong>de</strong>vem formar professores, capacitando-os e preparando-os para o uso <strong>de</strong><br />

tecnologias na educação.<br />

Por meio <strong>de</strong>ste programa, em 1998, a PMF re<strong>ce</strong>beu 65 computadores,<br />

para implantação dos primeiros laboratórios <strong>de</strong> informática educativa<br />

(LIE), em seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino. Outra ação importante foi a formação<br />

<strong>de</strong> professores no Curso <strong>de</strong> Especialização em Informática Educativa, realizado<br />

em par<strong>ce</strong>ria com a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação (FACED) da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral do Ceará (UFC), para, posteriormente, assumirem a função<br />

<strong>de</strong> multiplicador nos LIE.<br />

A criação do Centro <strong>de</strong> Referência do Professor (CRP), em 2000,<br />

<strong>de</strong>u início à consolidação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> Informática Educativa no<br />

Município <strong>de</strong> Fortaleza. O CRP nas<strong>ce</strong>u <strong>de</strong> uma par<strong>ce</strong>ria entre a PMF e a<br />

UFC, por meio do Laboratório Multimeios/FACED. O NTE <strong>de</strong> Fortaleza<br />

foi instalado junto ao CRP. Até 2005, foram implantados 83 laboratórios<br />

e formados <strong>ce</strong>rca <strong>de</strong> 200 professores para atuação nos LIE. Nesse mesmo<br />

ano, a PMF implementou em sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino a política <strong>de</strong> software<br />

livre, migrando do sistema operacional Windows para o sistema Linux.<br />

Nesse período, foram realizadas ações voltadas à formação dos professores<br />

para o uso do software livre nos laboratórios.<br />

Em 2007, o MEC resolve ampliar as atribuições do PROINFO, por<br />

meio do Decreto Presi<strong>de</strong>ncial nº 6.300, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro daquele ano,<br />

passando a ser <strong>de</strong>nominado Programa Nacional <strong>de</strong> Tecnologia Educacional,<br />

que “(...) promoverá o uso pedagógico das tecnologias <strong>de</strong> informação<br />

e comunicação nas re<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> educação básica” (BRASIL,<br />

2007). Apesar <strong>de</strong> instituir o programa, o PROINFO não apresenta diretrizes<br />

para integração das TIC no currículo escolar.<br />

Em Fortaleza, os documentos que norteiam a utilização das TIC na<br />

Educação são o Programa <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Informática Educativa (PMIE)<br />

e as Diretrizes da Informática Educativa, apesar <strong>de</strong> não se constituírem<br />

como documentos oficiais. O PMIE dissemina a con<strong>ce</strong>pção do uso das<br />

Fortaleza: SME, 2000.<br />

TIC na elaboração do conhecimento. O computador e as mídias <strong>de</strong>verão<br />

ser usados como meio e nunca como fim, consi<strong>de</strong>rando o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos componentes curriculares. Desta forma, as diretrizes do LIE<br />

<strong>de</strong>verão estar <strong>de</strong> acordo com o PMIE.<br />

4.4.2 O currículo escolar e as TIC<br />

Na socieda<strong>de</strong> do conhecimento, a integração das TIC ao currículo<br />

escolar é consi<strong>de</strong>rada um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para os sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />

Ne<strong>ce</strong>ssita-se reestruturar e ressignificar um mo<strong>de</strong>lo vigente <strong>de</strong> currículo,<br />

que organiza o conhecimento <strong>de</strong> forma fragmentada, com teores distribuídos<br />

em compartimentos, que não se articulam e se integram, per<strong>de</strong>ndo-se,<br />

assim, a compreensão integral <strong>de</strong> ser humano.<br />

A relação entre as TIC e educação é modificada ao longo do tempo.<br />

Duas gran<strong>de</strong>s abordagens, já apresentadas nessas Diretrizes, <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>radas nesta discussão: a tradicional e a interacionista. Na abordagem<br />

tradicional, compreen<strong>de</strong>m-se as TIC, numa visão puramente instrumental<br />

e <strong>de</strong> suporte ao ensino. Nessa con<strong>ce</strong>pção, a tecnologia é empregada<br />

<strong>de</strong> forma mecânica, auxiliando a exposição <strong>de</strong> conteúdos por parte<br />

do(a) professor(a) ou a realização <strong>de</strong> exercícios do lado do estudante. Essa<br />

forma <strong>de</strong> utilização baseia-se nos con<strong>ce</strong>itos <strong>de</strong> máquina <strong>de</strong> ensinar e instrução<br />

programada, conforme pressupostos skinnerianos. Dessa forma, o<br />

conteúdo a ser ensinado <strong>de</strong>ve ser subdividido em pequenos módulos sequenciais<br />

e estruturados <strong>de</strong> forma lógica, <strong>de</strong> acordo com a perspectiva<br />

pedagógica <strong>de</strong> quem planejou a elaboração do material instrucional.<br />

Na abordagem interacionista, as TIC são compreendidas como ferramentas<br />

que favore<strong>ce</strong>m os estudantes na busca do seu conhecimento, mediados<br />

pelo(a) professor(a). Além <strong>de</strong> serem um suporte ao ensino, estas<br />

tecnologias, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa abordagem, propiciam formas inovadoras <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r con<strong>ce</strong>itos científicos <strong>de</strong> maneira significativa, propiciando<br />

ao/à professor(a) e ao/à estudante simular, praticar e vivenciar as mais<br />

diversas situações <strong>de</strong> aprendizagens. O foco está na aprendizagem, não<br />

na instrução. O conhecimento não é simplesmente transmitido ao estudante<br />

<strong>de</strong> forma pronta, mas constituído por este, na medida em que<br />

entra em contato com diversas representações e faz experimentações <strong>de</strong><br />

forma simulada, levanta e testa hipóteses sobre os princípios científicos<br />

explorados. Ocorre uma transformação da lógica educacional, em que<br />

estudantes e professores assumem diferentes papéis, sujeitos que apren<strong>de</strong>m<br />

e sujeitos que ensinam, formando uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> colaborativa <strong>de</strong><br />

formulação do conhecimento.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

74 | PREFEITURA DE FORTALEZA 75 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Com estes fundamentos, torna-se importante valorizar e discutir experiências<br />

constituídas no cotidiano escolar, pois nestas ativida<strong>de</strong>s os<br />

professores buscam significar as TIC na formulação do conhecimento.<br />

Apresentam-se a seguir aspectos consi<strong>de</strong>rados importantes nas práticas<br />

pedagógicas com uso das TIC. Esta discussão estará pautada nas experiências<br />

<strong>de</strong>senvolvidas pelos professores do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />

<strong>de</strong> Fortaleza. As práticas pedagógicas atuais não po<strong>de</strong>m prescindir<br />

das contribuições das TIC. A implantação dos LIE nas unida<strong>de</strong>s escolares<br />

representa instrumento <strong>de</strong> mudança e ruptura com as práticas pedagógicas<br />

tradicionais conquistadas historicamente.<br />

Os estudantes do século XXI convivem com uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologias<br />

e informações por meio da Internet, televisão, DVD e vi<strong>de</strong>ogames.<br />

Estes estudantes têm contato com múltiplas formas <strong>de</strong> representar o<br />

conhecimento, que se baseiam não somente no registro oral (fala) e escrito<br />

(texto), mas envolvem representações audiovisuais, como imagens,<br />

filmes, músicas, animações e até mesmo táteis e cinestésicas. Amplia-se<br />

o a<strong>ce</strong>sso à informação, possibilitando novas formas <strong>de</strong> criação, comunicação<br />

e expressão do conhecimento. O estudante assume um papel ativo<br />

no pro<strong>ce</strong>sso educativo, construindo caminhos, com base nos próprios interesses<br />

e curiosida<strong>de</strong>s. Mesmo com todo esse a<strong>ce</strong>sso à informação pelo<br />

estudante, no contexto escolar, é importante que o(a) professor(a) possa<br />

atuar para uma transposição didática que estimule a transferência <strong>de</strong> conhecimento<br />

pelo(a) estudante do seu cotidiano para as ativida<strong>de</strong>s escolares.<br />

Assim sendo, a escola assume papel importante na articulação <strong>de</strong>sses<br />

conhecimentos prévios e sua prática educativa. Para a atuação nessa<br />

socieda<strong>de</strong> envolta em tecnologia, faz-se mister que o(a) professor(a) se<br />

aproprie <strong>de</strong>sses recursos e compreenda como utilizá-los em benefício<br />

<strong>de</strong> sua prática pedagógica. Portanto, é imprescindível criar condições <strong>de</strong><br />

uso frequente <strong>de</strong> TIC na escola pelo(a) professor(a), garantindo a<strong>ce</strong>sso à<br />

internet e formação contínua.<br />

Essa característica ativa dos estudantes também se manifesta na autoria<br />

dos sujeitos, ao publicarem notícias e imagens, passando <strong>de</strong> consumidores<br />

para produtores <strong>de</strong> informação. Além disso, essa produção não<br />

ocorre <strong>de</strong> forma isolada, mas em re<strong>de</strong>, propiciando troca <strong>de</strong> informação<br />

e colaboração além dos limites geográficos e temporais.<br />

Por meio do uso das TIC, o fluxo <strong>de</strong> comunicação entre professores<br />

e estudantes é facilitado pela linguagem que permeia os pro<strong>ce</strong>ssos sociocognitivos,<br />

ampliando o a<strong>ce</strong>sso às informações nos diversos gêneros<br />

textuais, como jornais, revistas, rádio, cinema, ví<strong>de</strong>o etc., auxiliando o<br />

pensamento humano na exposição <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias e, ao mesmo tempo,<br />

aumentando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão para melhor apreensão da realida<strong>de</strong>,<br />

não sendo mais ne<strong>ce</strong>ssária a preocupação com a memorização <strong>de</strong><br />

textos, uma vez que as ferramentas computacionais realizam tão bem<br />

essa função.<br />

As práticas pedagógicas mediadas pelas TIC contribuem para socializar<br />

o conhecimento produzido em diversas áreas curriculares, sob vários gêneros<br />

textuais, num pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> autoria e coautoria que, aos poucos, fortale<strong>ce</strong><br />

a autonomia <strong>de</strong> cada sujeito. Pensar as TIC para contribuir na produção<br />

textual, é con<strong>ce</strong>bê-las como aporte que po<strong>de</strong>rá ancorar as experiências dos<br />

professores sob abertura para uma produção intelectual autônoma.<br />

Relacionar as TIC a uma dimensão curricular mais ampla que respeite<br />

a subjetivida<strong>de</strong> humana é buscar <strong>de</strong>senvolver lógicas inerentes a cada<br />

realida<strong>de</strong> escolar <strong>de</strong> modo a comunicar-se individualmente com os sujeitos<br />

aprendizes e usar capacida<strong>de</strong>s intelectuais, promovendo assim significados<br />

inovadores sobre o ato <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r. Neste contexto, o<br />

currículo não po<strong>de</strong> mais ser pensado <strong>de</strong> forma rígida e linear. O uso das<br />

TIC na escola <strong>de</strong>ve favore<strong>ce</strong>r a compreensão <strong>de</strong> um currículo hipertextual,<br />

articulado com as várias realida<strong>de</strong>s e diferentes saberes.<br />

Essas tecnologias contribuem tanto na formulação <strong>de</strong> questões oriundas<br />

das diferentes áreas do conhecimento, como nas possíveis respostas<br />

dadas a essas questões. Dessa forma, as TIC facilitarão reflexões em torno<br />

<strong>de</strong> um fazer pedagógico crítico-reflexivo, não esgotando as possibilida<strong>de</strong>s<br />

pedagógicas <strong>de</strong> pensar os problemas sob diferentes ângulos.<br />

Além disso, as TIC ampliam os espaços e os tempos <strong>de</strong> aprendizagens,<br />

auxiliando no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas integradas e interdisciplinares,<br />

por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos colaborativos e proporcionando<br />

opções e respostas educativas diversificadas. Essas transformações<br />

exigem mudanças no ensino e na gestão da sala <strong>de</strong> aula. O fazer rotineiro<br />

da escola <strong>de</strong>ve ser um espaço <strong>de</strong> experiência, <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.<br />

O uso <strong>de</strong>ssas tecnologias <strong>de</strong>ve estar associado ao Projeto Político-<br />

-Pedagógico da escola, que inclui o Plano <strong>de</strong> Ação do LIE. Também <strong>de</strong>ve<br />

ne<strong>ce</strong>ssariamente estar articulado com o currículo escolar e o planejamento<br />

do(a) professor(a), permitindo a interação <strong>de</strong> todos os profissionais<br />

da escola e um planejamento participativo. Esse uso das TIC é con<strong>ce</strong>bido<br />

não somente como algo planejável, mas também como aplicável e ne<strong>ce</strong>ssário<br />

na busca do conhecimento50.<br />

De acordo com a con<strong>ce</strong>pção adotada nesta proposta, as TIC não<br />

constituem área <strong>de</strong> ensino. Elas são consi<strong>de</strong>radas como ferramentas a<br />

50<br />

Deve-se, também in<strong>ce</strong>ntivar ações <strong>de</strong> inclusão digital entre jovens e idosos na utilização<br />

do computador e outras mídias, na navegação da internet – tendo os cuidados <strong>de</strong>vidos em<br />

relação às dificulda<strong>de</strong>s visuais, e estimulando a recuperação da memória social, mediante<br />

narração <strong>de</strong> histórias e <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> vida.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

76 | PREFEITURA DE FORTALEZA 77 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

serviço do conhecimento. Nesta perspectiva, não cabe elencar conteúdos<br />

próprios a serem <strong>de</strong>senvolvidos, mas utilizar as TIC como suporte aos<br />

diversos conteúdos <strong>de</strong> todas as áreas curriculares, articuladas e integradas<br />

entre si <strong>de</strong> forma interdisciplinar.<br />

Po<strong>de</strong>m ser apontadas práticas pedagógicas que inserem as TIC como<br />

ferramentas <strong>de</strong> caráter disciplinar. Uma possibilida<strong>de</strong> é o uso <strong>de</strong> objetos<br />

educacionais digitais ou softwares livres em áreas específicas do conhecimento,<br />

tais como Matemática, Língua Portuguesa ou Ciências. Po<strong>de</strong>m<br />

ser citados objetos tais como: Histórias Fantásticas (http://www.proativa.<br />

virtual.ufc.br/oa/historias/) para <strong>de</strong>senvolvimento da produção textual; É<br />

o bicho (http://www.proativa.virtual.ufc.br/oa/ehobicho/ehobicho.html)<br />

para compreensão das operações aritméticas; Conhe<strong>ce</strong>ndo o Universo<br />

(http://www.proativa.virtual.ufc.br/oa/universo/universo.html) para exploração<br />

do Sistema Solar e softwares livres, como o Geogebra (http://www.<br />

geogebra.org/cms/pt_BR) ou o GCompris (http://gcompris.net/-pt-br-).<br />

Tais recursos são consi<strong>de</strong>rados diferenciados, por se caracterizarem<br />

como dinâmicos e multimidiáticos, incorporando recursos <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, áudio,<br />

imagem, animação e simulação que po<strong>de</strong>m ser usados para sensibilização,<br />

aprofundamento ou sistematização <strong>de</strong> conteúdos curriculares.<br />

Outra forma <strong>de</strong> utilização é o trabalho com projetos. Como exemplo,<br />

cita-se o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um projeto colaborativo com um(a)<br />

professor(a) <strong>de</strong> história e <strong>de</strong>zoito estudantes <strong>de</strong> 7º ano <strong>de</strong> três diferentes<br />

turmas <strong>de</strong> uma escola do sistema municipal <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Fortaleza, utilizando<br />

um ambiente colaborativo <strong>de</strong>nominado SÓCRATES (www.virtual.<br />

ufc.br/socrates). No projeto, intitulado Nosso bairro tem história, os estudantes<br />

realizaram pesquisas sobre aspectos do bairro em que a escola<br />

estava localizada e publicaram seus resultados usando as ferramentas <strong>de</strong><br />

fórum e portfólio do ambiente. Professores <strong>de</strong> outras disciplinas foram se<br />

engajando, <strong>de</strong>ntre os quais se po<strong>de</strong> mencionar os <strong>de</strong> Ciências, Geografia,<br />

Matemática, Arte-Educação e <strong>de</strong> Língua Portuguesa, essencial pela ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> orientar a escrita dos estudantes. Outras ativida<strong>de</strong>s também<br />

foram utilizadas, tais como: aulas <strong>de</strong> campo; ativida<strong>de</strong>s individuais e em<br />

grupo; pesquisas em diversas fontes; entrevistas; coleta <strong>de</strong> documentos;<br />

análise <strong>de</strong> fotografias antigas e re<strong>ce</strong>ntes (SILVA et. al, 2007) 51 . O projeto<br />

revela aspectos importantes para a compreensão sobre como integrar as<br />

TIC ao currículo, tais como a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong> várias<br />

tecnologias e ativida<strong>de</strong>s, bem como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />

51<br />

SILVA, M. A. da; VENTURA, P. P. B.; SOUZA, C. <strong>de</strong> F.; CASTRO FILHO, J. A.; VIANA<br />

JÚNIOR, G. S.; ROCHA, B. T. S. da. Criação e Acompanhamento <strong>de</strong> Projetos Colaborativos<br />

no Ambiente SÓCRATES. In: XXVII Congresso da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Computação,<br />

2007, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Porto Alegre: v. 01. p. 305-313. Disponível em http://www.br-ie.org/<br />

pub/in<strong>de</strong>x.php/wie/article/view/932/918. A<strong>ce</strong>sso em 05 fev. 2011.<br />

aprendizagem e interação não comumente experimentadas na escola. O<br />

trabalho com projetos po<strong>de</strong> ser potencializado com o uso <strong>de</strong> ferramentas<br />

diversas para interação e para produção e publicação <strong>de</strong> materiais na<br />

Internet, tais como programas <strong>de</strong> comunicação instantânea (MSN, Gtalk,<br />

Meebo); ambientes colaborativos (blogs, portais) e re<strong>de</strong>s sociais (Orkut,<br />

Fa<strong>ce</strong>book, Youtube, Twitter). Nesse caso, trabalha-se com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> autoria<br />

por parte dos estudantes, que po<strong>de</strong>m produzir seus textos, ví<strong>de</strong>os,<br />

áudios relacionados ao trabalho escolar e disponibilizá-los para uma<br />

comunida<strong>de</strong> mais ampla do que a da escola.<br />

Na escola, o uso das TIC sugere inúmeras possibilida<strong>de</strong>s para promover<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento curricular. O uso <strong>de</strong>stas tecnologias não<br />

<strong>de</strong>ve ser algo contingencial. As diferentes formas <strong>de</strong> mídias e tecnologias<br />

tais como o livro didático, a Internet, o rádio, o ví<strong>de</strong>o, as mídias<br />

móveis e a TV <strong>de</strong>vem ser exploradas com o objetivo <strong>de</strong> agregar suas<br />

diversas funcionalida<strong>de</strong>s, promovendo novas possibilida<strong>de</strong>s educativas<br />

na escola.<br />

A avaliação <strong>de</strong>ve estar inserida no <strong>de</strong>senvolvimento das áreas curriculares,<br />

po<strong>de</strong>ndo o(a) professor(a) escolher algumas ativida<strong>de</strong>s nas quais usa<br />

ferramentas tecnológicas durante o conjunto <strong>de</strong> atos avaliativos, visto que<br />

a avaliação <strong>de</strong>ve ser compreendida como pro<strong>ce</strong>sso e nunca como fim.<br />

Nesse quadro <strong>de</strong> inovação tecnológica, é ne<strong>ce</strong>ssário ofere<strong>ce</strong>r ao/à<br />

professor(a) uma formação continuada e em serviço que possibilite conhe<strong>ce</strong>r<br />

tecnologias e mídias, suas funcionalida<strong>de</strong>s e contribuições para<br />

a educação, a prática do planejamento pedagógico das tecnologias em<br />

suas escolas e o a<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> recursos tecnológicos na sua prática. A formação<br />

<strong>de</strong>ve estar voltada ao domínio pedagógico das TIC, <strong>de</strong> forma contextualizada,<br />

subsidiando, teórica e metodologicamente, uma prática<br />

voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um currículo flexível, multicultural,<br />

colaboracionista e <strong>de</strong> autoria dos estudantes.<br />

Várias ações são, hoje, <strong>de</strong>senvolvidas na forma <strong>de</strong> projetos, como Um<br />

Computador na Escola, Robótica e Rádio Escola, entretanto, é ne<strong>ce</strong>ssário<br />

que ações como essas possam ser possibilitadas para as <strong>de</strong>mais escolas<br />

do Município.<br />

O uso das TIC <strong>de</strong>ve ser incorporado ao fazer pedagógico <strong>de</strong> todos<br />

os professores nas diversas áreas do currículo e em todos os níveis da<br />

educação. Deve estar integrado ao planejamento das ações pedagógicas<br />

dos diversos componentes curriculares. Assim, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário propiciar<br />

ao(à) professor(a) do LIE espaço e tempo <strong>de</strong> planejamento junto aos<br />

professores <strong>de</strong> todas as séries ou disciplinas do currículo escolar, para<br />

que esse trabalho colaborativo favoreça o <strong>de</strong>senvolvimento intelectual<br />

dos estudantes e a busca constante por diferentes saberes.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

78 | PREFEITURA DE FORTALEZA 79 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

4.5 Educação Ambiental<br />

O <strong>de</strong>stino comum nos conclama a buscar um novo começo.<br />

Isto requer uma mudança na mente e no coração.<br />

Requer um novo sentido <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência global e <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> universal.<br />

(Carta da Terra) 52<br />

A Educação Ambiental como lugar <strong>de</strong> reflexão-ação, <strong>de</strong> práxis, nas<br />

escolas municipais <strong>de</strong> Fortaleza, <strong>de</strong>ve ter como contexto a sensibilização<br />

e a vivência/experiência das pessoas sobre as questões ambientais,<br />

estimulando a relação afetiva com a cida<strong>de</strong>, com o ambiente, ampliando<br />

a compreensão da magnitu<strong>de</strong> dos problemas ambientais globais e suas<br />

consequências no âmbito local. Para tanto, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário te<strong>ce</strong>r re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre pessoas, escolas, comunida<strong>de</strong>s, instituições<br />

e Po<strong>de</strong>r Público, cultivando a compreensão da cida<strong>de</strong> como patrimônio<br />

ambiental natural e constuído, histórico arquitetônico, político-institucional,<br />

criativo e formativo, educativo e <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> direitos e responsabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> todos.<br />

As con<strong>ce</strong>pções e princípios apresentados <strong>de</strong>correm principalmente<br />

do Programa <strong>de</strong> Educação Ambiental <strong>de</strong> Fortaleza – “Onda Ver<strong>de</strong>”, feito<br />

coletivamente por iniciativa da SEMAM – <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> do Meio<br />

Ambiente e Controle Urbano <strong>de</strong> Fortaleza em par<strong>ce</strong>ria com a <strong>Secretaria</strong><br />

<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza – SME e as secretarias executivas<br />

regionais - SERs, por meio <strong>de</strong> representações das escolas, socieda<strong>de</strong> civil,<br />

associações <strong>de</strong> bairros, ONGs que tratam do meio ambiente, <strong>de</strong>ntre<br />

outros segmentos representados.<br />

Nesse escopo, acres<strong>ce</strong>ntam-se também dois valores requeridos por<br />

Leonardo Boff, imprescindíveis ao contexto <strong>de</strong>ssa reflexão, quais sejam:<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> e o cuidado. Destacam-se, ainda, como proposições<br />

essenciais para aten<strong>de</strong>r uma ne<strong>ce</strong>ssária perspectiva educativa dialógica<br />

freireana: a amorosida<strong>de</strong>, a humilda<strong>de</strong>, a fé e esperança no ser humano<br />

e uma atitu<strong>de</strong> crítica ante a realida<strong>de</strong> a ser transformada.<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> é um con<strong>ce</strong>ito amplo e compõe-se <strong>de</strong> entendimentos<br />

diferenciados, po<strong>de</strong>ndo conter diversas compreensões, no entanto,<br />

com origem no pensamento <strong>de</strong> Leonardo Boff, enfatiza-se o fato <strong>de</strong> que<br />

uma proposta <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> sustentável tem, sobretudo, uma dimensão<br />

52<br />

CONSELHO DA TERRA. La Carta <strong>de</strong> la Terra: valores y principios para un futuro<br />

sostenible. San Jose, Costa Rica: [Conselho da Terra], 1998.<br />

política e ética, baseada em questões como: a satisfação das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

básicas (justiça social); a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a tecnologia contribuir para a<br />

solução dos problemas socioambientais (mediante novos recursos, usos e<br />

pro<strong>ce</strong>dimentos); a mudança no padrão <strong>de</strong> consumo; e a <strong>de</strong>mocratização.<br />

A sustentabilida<strong>de</strong> alcança, então, o lado mais objetivo da questão<br />

ambiental como o caráter material da produção da vida e assume os<br />

aspectos social, político, cultural, artístico, da natureza, do planeta e da<br />

vida <strong>de</strong> cada um.<br />

O cuidado diz respeito aos aspectos subjetivos, como atitu<strong>de</strong>s, valores<br />

éticos e espirituais que acompanham todo esse pro<strong>ce</strong>sso sem os quais<br />

a própria sustentabilida<strong>de</strong> não aconte<strong>ce</strong> ou não se garante a médio e<br />

longo prazo. Representa uma relação sensível, <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>, respeitosa<br />

e não agressiva para com a realida<strong>de</strong>, sendo, portanto, não <strong>de</strong>strutiva.<br />

Esses dois valores <strong>de</strong>vem ser assumidos <strong>de</strong> forma inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na<br />

perspectiva <strong>de</strong> uma relação ambiental dialógica entre presente e futuro,<br />

para garantir a vida do planeta e das espécies.<br />

Salienta-se, neste sentido, a relevância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar os conhecimentos<br />

e saberes populares, as relações essenciais entre diferentes e<br />

diferenças, a valorização da afetivida<strong>de</strong>/amorosida<strong>de</strong> no <strong>ce</strong>nário constituinte<br />

<strong>de</strong> uma lógica realmente ambiental que dialogue com o entorno e<br />

potencialize o diálogo entre tudo e todos. Dessa maneira, uma Educação<br />

Ambiental Dialógica, ou seja, referenciada por Paulo Freire, amplia as<br />

condições propostas <strong>de</strong> uma práxis ambiental pautada no cuidado, no<br />

respeito, numa cultura da sustentabilida<strong>de</strong> (FIGUEIREDO, 2003) 53 .<br />

Partindo <strong>de</strong>ssa premissa, as transformações éticas, <strong>de</strong> valores, comportamentos<br />

e atitu<strong>de</strong>s diante <strong>de</strong> uma nova realida<strong>de</strong> a ser estabelecida,<br />

são imprescindíveis para a elaboração e a incorporação <strong>de</strong> outro paradigma<br />

ambiental, que ne<strong>ce</strong>ssariamente <strong>de</strong>ve ser compreendido e pensado<br />

com envolvimento e participação <strong>de</strong> todos.<br />

A Educação Ambiental como eixo referencial no currículo escolar tem<br />

base na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> in<strong>ce</strong>ntivar a reflexão sobre a complexida<strong>de</strong> da interlocução<br />

do pensar com o agir local/global, enten<strong>de</strong>ndo que todos os eventos<br />

ocorrentes na natureza, on<strong>de</strong> quer que sejam, estão inter-relacionados e<br />

afetam todo o Planeta. Indica vários caminhos possíveis para a transformação<br />

da estrutura escolar, quer seja por meio <strong>de</strong> uma nova forma <strong>de</strong> se<br />

relacionar com o conhecimento, quer seja na relação da escola com o<br />

conjunto <strong>de</strong> instituições presentes na socieda<strong>de</strong>.<br />

53<br />

FIGUEIREDO, J. B. A. Educação Ambiental dialógica e representações sociais da água<br />

em cultura sertaneja nor<strong>de</strong>stina: uma contribuição à consciência ambiental em Irauçuba-<br />

CE (Brasil). Tese (Doutorado em Ciências Biológicas / Ecologia / Educação Ambiental).<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos, São Carlos-SP, 2003.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

80 | PREFEITURA DE FORTALEZA 81 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

No intuito <strong>de</strong> percorrer caminhos que apontam para a vivência <strong>de</strong> outro<br />

paradigma ambiental, a escola, através da Educação nessa temática,<br />

po<strong>de</strong> propiciar que cada área do conhecimento enxergue as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> um trabalho transversal, inter e/ou transdisciplinar com o tema<br />

Meio Ambiente, aproximando-se cada vez mais da pedagogia vivencial/<br />

experiencial e afastando-se da pedagogia exclusivamente informativa,<br />

cognitiva, realizando, assim, <strong>de</strong> modo precípuo, sua função <strong>de</strong> sistematização<br />

e disseminação do conhecimento socialmente produzido.<br />

A escola inserida na cida<strong>de</strong> precisa, ainda, se compreen<strong>de</strong>r como<br />

espaço <strong>de</strong> relações ambientais, que se qualificam e se traduzem nas suas<br />

práticas cotidianas como, por exemplo, as relações <strong>de</strong> convivialida<strong>de</strong>,<br />

controle do uso dos materiais, uso racional da água e energia, as questões<br />

relacionadas a higiene, segurança alimentar e nutricional, coleta<br />

seletiva, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Além disso, a feitura da Educação Ambiental na escola po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve<br />

dialogar com as mais amplas propostas, campanhas e programas governamentais<br />

e não governamentais em âmbitos nacional, estadual, regional<br />

e intermunicipal, fortale<strong>ce</strong>ndo-os e sendo por eles fortalecido, reunindo<br />

reflexões e práticas marcadamente ambientalistas e educacionais,<br />

<strong>de</strong> maneira a integrar-se nas políticas públicas <strong>de</strong> meio ambiente e áreas<br />

afins, como saú<strong>de</strong>, saneamento, esporte e lazer, cultura, turismo, controle<br />

urbano, habitação, transporte e energia, <strong>de</strong>ntre outras.<br />

Na busca <strong>de</strong> dar corporeida<strong>de</strong> a essas intenções e estimular o movimento<br />

<strong>de</strong> realizá- las, a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser compreendida também como:<br />

(...) pro<strong>ce</strong>sso que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão<br />

crítica e global do ambiente, para elucidar valores e<br />

<strong>de</strong>senvolver atitu<strong>de</strong>s que lhes permitam adotar uma posição<br />

consciente e participativa a respeito das questões relacionadas<br />

com a conservação e a<strong>de</strong>quada utilização dos recursos naturais,<br />

para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a eliminação da<br />

pobreza extrema e do consumismo <strong>de</strong>senfreado. A Educação<br />

Ambiental visa à construção <strong>de</strong> relações sociais, econômicas<br />

e culturais capazes <strong>de</strong> respeitar e incorporar as diferenças,<br />

(minorias étnicas, populações tradicionais), a perspectiva da<br />

mulher, e a liberda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>cidir caminhos alternativos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável respeitando os limites dos ecossistemas,<br />

substrato <strong>de</strong> nossa própria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência<br />

como espécie. (MEDINA, 1998, p.18) 54 .<br />

54<br />

MEDINA, N. M. As cida<strong>de</strong>s como <strong>ce</strong>ntro <strong>de</strong> convivência e <strong>de</strong> construção das<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s éticas. Educação ambiental em <strong>ce</strong>ntros urbanos: a problemática da<br />

Com pauta nos con<strong>ce</strong>itos e i<strong>de</strong>ias apresentadas, a Educação Ambiental<br />

nas escolas municipais <strong>de</strong> Fortaleza referencia-se ao longo do seu<br />

estabelecimento em três eixos <strong>de</strong> sustentação: o fortalecimento da relação<br />

entre teoria e prática, na perspectiva da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conteúdos<br />

curriculares para subsidiar propostas pedagógicas significativas para a<br />

escola; formação continuada <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> educação e estudantes,<br />

baseada nas dimensões global e local; na sustentabilida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>ndo<br />

a escola como dimensão educativa ampla, referencial na perspectiva da<br />

cida<strong>de</strong> educadora.<br />

A educação, bem como a escola, não se representam em si mesmas,<br />

mas se constituem em seus segmentos, <strong>de</strong> tal forma que todas as intenções<br />

e ações planejadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da participação <strong>de</strong> cada um na<br />

conquista coletiva para realizarem a Educação Ambiental como eixo referencial<br />

do currículo.<br />

Assume-se, então, nas Diretrizes Curriculares do Município <strong>de</strong> Fortaleza,<br />

a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Educação Ambiental como eixo referencial ultrapassa<br />

a perspectiva <strong>de</strong> tema transversal no currículo e se amplia para<br />

integrar na mesma dimensão o cidadão, a escola e a cida<strong>de</strong>.<br />

Nesse âmbito, em consonância com os fundamentos ora referidos,<br />

evi<strong>de</strong>ncia-se o pensamento <strong>de</strong> Loureiro (2004, p. 73)55:<br />

Em síntese, po<strong>de</strong>mos afirmar que o objetivo primordial<br />

da Educação Ambiental é revolucionar os indivíduos em<br />

suas subjetivida<strong>de</strong>s e práticas nas estruturas sociais-naturais<br />

existentes. Ou seja, estabele<strong>ce</strong>r pro<strong>ce</strong>ssos educativos que favoreçam<br />

a realização do movimento <strong>de</strong> constante construção<br />

do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e <strong>de</strong><br />

modo emancipado. Em termos concretos, isso significa atuar<br />

criticamente na superação das relações sociais vigentes, na<br />

conformação <strong>de</strong> uma ética que possa se afirmar como “ecológica”<br />

e na objetivação <strong>de</strong> um patamar societário que seja<br />

a expressão <strong>de</strong> ruptura com os padrões dominadores que caracterizam<br />

a contemporaneida<strong>de</strong>.<br />

Assim posto, privilegiar somente um dos aspectos que<br />

formam a nossa espécie ou separar o social do ecológico e o<br />

todo das partes é reducionismo, o que pouco contribui para<br />

uma visão educacional integradora e complexa do mundo.<br />

(LOUREIRO, 2004, p. 73).<br />

incorporação <strong>de</strong> valores éticos. Florianópolis: mimeografado, 1998.<br />

55<br />

LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo:<br />

Cortez, 2004.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

82 | PREFEITURA DE FORTALEZA 83 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Em razão dos contextos apresentados, as Diretrizes Curriculares do Município<br />

<strong>de</strong> Fortaleza apontam o eixo <strong>de</strong> Educação Ambiental aqui proposto<br />

numa perspectiva dialógica e numa leitura educacional integradora, inclusiva<br />

e <strong>de</strong> múltiplas <strong>de</strong>terminações entre a escola e a cida<strong>de</strong> educadora.<br />

4.6 Educação especial na perspectiva da educação<br />

inclusiva no Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />

A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza ofere<strong>ce</strong> às escolas<br />

orientações quanto ao trabalho da educação especial no sistema regular<br />

<strong>de</strong> ensino, com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para a elaboração da proposta pedagógica<br />

da escola fundamentada na perspectiva da educação inclusiva.<br />

Este documento objetiva ofere<strong>ce</strong>r diretrizes que garantam a matrícula<br />

do estudante com <strong>de</strong>ficiência, transtorno global do <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação nas salas regulares. Para isso, propõe<br />

a oferta do atendimento educacional especializado a esse alunado, <strong>de</strong><br />

acordo com as orientações da atual Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial<br />

na perspectiva da Educação Inclusiva/2008. Além da oferta do<br />

AEE nas escolas regulares, o sistema municipal <strong>de</strong> ensino compreen<strong>de</strong><br />

a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar disponíveis outros serviços, como a presença<br />

do intérprete na sala <strong>de</strong> aula, on<strong>de</strong> há estudantes surdos matriculados,<br />

e ainda <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> apoio para aqueles estudantes que <strong>de</strong>le<br />

ne<strong>ce</strong>ssitam para a realização <strong>de</strong> cuidados pessoais <strong>de</strong> alimentação, higienização<br />

e locomoção.<br />

As Diretrizes da Educação Especial garantem não apenas o a<strong>ce</strong>sso e a permanência<br />

<strong>de</strong>sse alunado, mas, sobretudo, um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Para isso<br />

ofere<strong>ce</strong> o atendimento complementar ou suplementar nas salas multifuncionais,<br />

objetivando a eliminação das barreiras <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento.<br />

A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação tem como compromisso fortale<strong>ce</strong>r as<br />

unida<strong>de</strong>s escolares na implementação <strong>de</strong> uma política educacional que responda<br />

às diferenças presentes nas escolas, contribuindo para a erradicação do analfabetismo,<br />

a elevação da escolarida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>lineação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />

que consi<strong>de</strong>rem também a diversida<strong>de</strong> e a melhoria do convívio entre jovens,<br />

adultos e idosos.<br />

transformações sociais, políticas e econômicas, como também a uma su<strong>ce</strong>ssão<br />

<strong>de</strong> avanços tecnológicos e culturais. Na história da educação especial,<br />

sobressai o paradigma clínico-médico, que enfatiza a hereditarieda<strong>de</strong><br />

como fator causal das <strong>de</strong>ficiências. Nessa visão, as crianças com <strong>de</strong>ficiência<br />

intelectual dificilmente seriam educáveis, exigindo cuidados que somente<br />

po<strong>de</strong>riam ser ofertados pela Medicina. Essa visão ocorreu durante<br />

a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, caracterizando o mo<strong>de</strong>lo clínico-médico<br />

e legitimando a institucionalização da pessoa com <strong>de</strong>ficiência (BUENO,<br />

1993; BEYER, 2006; LEITÃO, 2008; RIBEIRO e BAUMEL, 2003) 56 .<br />

O segundo paradigma, <strong>de</strong>finido como a “versão escolar” do paradigma<br />

clínico-médico, vigorou na década <strong>de</strong> 1950 e, mais fortemente, na <strong>de</strong><br />

1960. O paradigma sistêmico compreen<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ficiência como um produto<br />

do sistema escolar, buscando um espaço <strong>de</strong> confluência <strong>de</strong> grupos<br />

homogêneos, como a melhor forma <strong>de</strong> lidar com essa situação. Dessa<br />

maneira, a <strong>de</strong>ficiência apresentada pelo estudante é avaliada com base<br />

na proposta escolar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um parâmetro normativo estabelecido, constituído<br />

pelo currículo, com base na pedagogia especial (BEYER, 2006).<br />

Beyer (2006, p. 23) apresenta a seguinte opinião a respeito do paradigma<br />

sistêmico:<br />

A limitação individual torna-se intensa e implica fracasso<br />

diante das <strong>de</strong>mandas da vida social [...] São muito comuns<br />

as situações <strong>de</strong> avaliação em que os alunos com situação <strong>de</strong><br />

fracasso escolar (repetência, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

etc.) passam por um pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> culpabilização. O <strong>de</strong>do indicador<br />

volta-se (para alívio do professor e da escola) para<br />

o aluno, <strong>de</strong>notando que ele é ou foi incapaz diante das exigências<br />

do currículo escolar, com resultados frustrantes para<br />

o próprio aluno e sua família. (BEYER, 2006, p. 23)<br />

De acordo com esse paradigma, o sistema escolar <strong>de</strong> ensino não sabe<br />

ou não quer educar esses estudantes: isto é, aqueles que não apresentam<br />

<strong>de</strong>sempenho satisfatório <strong>de</strong> acordo com o currículo são incorporados ao<br />

sistema escolar especial. Assim, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progressão <strong>de</strong>sses<br />

estudantes na escola comum, com base em pro<strong>ce</strong>dimentos avaliativos<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

4.6.1 Paradigmas da Educação Especial<br />

As con<strong>ce</strong>pções históricas sobre a pessoa com <strong>de</strong>ficiência evi<strong>de</strong>nciam<br />

paradigmas característicos, estreitamente relacionados a <strong>de</strong>terminadas<br />

56<br />

BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno<br />

diferente. São Paulo: EDUC, 1993; BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola <strong>de</strong><br />

alunos com ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s especiais. Porto Alegre: Mediação, 2006; LEITÃO, V. M.<br />

Instituições, campanhas e lutas: história da educação especial no Ceará. Fortaleza:<br />

Edições UFC, 2008; RIBEIRO, M. L. S.; BAUMEL, R. C. R. <strong>de</strong> C. Educação Especial: do<br />

querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003.<br />

84 | PREFEITURA DE FORTALEZA 85 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

seletivos, são oferecidas opções com um programa curricular apropriado,<br />

ou seja, os estudantes são encaminhados para a escola regular ou<br />

para a escola especial colaborando para o isolamento e a exclusão social<br />

da pessoa com <strong>de</strong>ficiência, <strong>de</strong>limitando um espaço físico e social, com a<br />

conotação <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pósito”, para os consi<strong>de</strong>rados rejeitados e fracassados,<br />

incapazes <strong>de</strong> acompanhar o currículo regular (BEYER, 2006).<br />

O seguinte é o paradigma sociológico, resultante das expectativas sociais,<br />

da maneira que a <strong>de</strong>ficiência é interpretada pela reação do grupo<br />

social, que predominou na década <strong>de</strong> 1960 e, principalmente, na <strong>de</strong><br />

1970. A forma como o grupo reage à <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> se manifestar por<br />

intermédio do precon<strong>ce</strong>ito ou da compreensão individual. Cumpre mencionar<br />

as repercussões nocivas do precon<strong>ce</strong>ito, que impe<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pleno do estudante <strong>de</strong> modo <strong>de</strong>cisivo. A projeção do fracasso<br />

escolar, por exemplo, na forma do precon<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> que a criança não<br />

seria capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r na escola regular por causa <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>ficiência<br />

ou <strong>de</strong> sua limitação individual (BEYER, 2006) 57 .<br />

É importante evi<strong>de</strong>nciar a noção <strong>de</strong> que, na década <strong>de</strong> 1970, se <strong>de</strong>stacou<br />

o princípio filosófico da Normalização, fundamento do movimento<br />

<strong>de</strong> integração, que se opunha às ações <strong>de</strong> caráter segregador por muitos<br />

tempos vigentes. Segundo esse pre<strong>ce</strong>ito,<br />

Normalizar não significa tornar o ex<strong>ce</strong>pcional normal, mas<br />

que a ele sejam oferecidas condições <strong>de</strong> vida idênticas às que<br />

as outras pessoas re<strong>ce</strong>bem. Devem ser a<strong>ce</strong>itas com suas <strong>de</strong>ficiências,<br />

pois é normal que toda e qualquer socieda<strong>de</strong> tenha<br />

pessoas com <strong>de</strong>ficiências diversas. Ao mesmo tempo é preciso<br />

ensinar o <strong>de</strong>ficiente a conviver com sua <strong>de</strong>ficiência. Ensiná-lo<br />

a levar uma vida tão normal quanto possível, beneficiando-se<br />

das ofertas <strong>de</strong> serviço e das oportunida<strong>de</strong>s existentes na socieda<strong>de</strong><br />

em que vive. (RIBEIRO e BAUMEL, 2003, p. 43) 58 .<br />

Inspirado no pensamento marxista 59 , o paradigma crítico-materialista<br />

aborda a forma como a <strong>de</strong>ficiência é vista em uma socieda<strong>de</strong> voltada<br />

57<br />

Op. cit.<br />

58<br />

Op. cit.<br />

59<br />

Karl Heinrich Marx nas<strong>ce</strong>u em Trier, atual Alemanha Oci<strong>de</strong>ntal, em 1818 e morreu<br />

em Londres, em 1883. Foi um intelectual e revolucionário alemão, que atuava como<br />

economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista e fundou a Doutrina Comunista<br />

Mo<strong>de</strong>rna. Em 1847, redigiu, com F. Engles, o Manifesto Comunista, mais tar<strong>de</strong> chamado <strong>de</strong><br />

Marxismo, que propunha a <strong>de</strong>rrubada da classe dominante, a burguesia, por meio <strong>de</strong> uma<br />

revolução do proletariado.<br />

para o bem produtivo, em que o po<strong>de</strong>r aquisitivo e <strong>de</strong> consumo das<br />

pessoas é supervalorizado, consi<strong>de</strong>rando-se uma pessoa com <strong>de</strong>ficiência,<br />

portanto, sem condições <strong>de</strong> produzir. Essa con<strong>ce</strong>pção fundamenta-<br />

-se em aspectos da realida<strong>de</strong> social das pessoas com <strong>de</strong>ficiência, como<br />

os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> empobrecimento, dominação econômica e tomada <strong>de</strong><br />

consciência (BEYER, 2006).<br />

A história da educação das pessoas com <strong>de</strong>ficiência passa por paradigmas<br />

característicos <strong>de</strong> políticas segregacionistas, no entanto, na Declaração<br />

<strong>de</strong> Salamanca (1994), inaugura-se um mo<strong>de</strong>lo inovador, o paradigma<br />

inclusivo, que advoga o a<strong>ce</strong>sso e a permanência <strong>de</strong> estudantes da<br />

educação especial em escolas regulares. A comunida<strong>de</strong> internacional se<br />

reuniu em Salamanca com o intuito <strong>de</strong> reforçar a Declaração Universal<br />

dos Direitos Humanos (1948), nesse tempo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> opções para a<br />

inclusão social e aperfeiçoamento das ajudas técnicas para as pessoas<br />

com <strong>de</strong>ficiência (BRASIL, 1994; FARIAS; MAIA, 2007; GUGEL, 2007) 60 .<br />

É importante assim conhe<strong>ce</strong>r e contextualizar a Educação Especial<br />

conforme a filosofia da inclusão, que se contrapõe vigorosamente à histórica<br />

exclusão e segregação das pessoas com <strong>de</strong>ficiência. Na década <strong>de</strong><br />

1990, a educação <strong>de</strong>sse alunado foi impulsionada sob essa nova perspectiva.<br />

O novo paradigma da inclusão surge como reação contrária ao<br />

princípio <strong>de</strong> integração e sua efetivação prática enseja muitas controvérsias<br />

e discussões.<br />

A evolução <strong>de</strong> paradigmas marcou a história da educação especial,<br />

culminando com a proposta <strong>de</strong> educação inclusiva, como tentativa <strong>de</strong><br />

eliminar as situações <strong>de</strong> exclusão em que ainda se encontram muitos<br />

estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação. No lugar <strong>de</strong> adaptar essas pessoas à socieda<strong>de</strong>,<br />

apregoa-se, na atualida<strong>de</strong>, o imperativo <strong>de</strong> adaptar a socieda<strong>de</strong><br />

a essas pessoas.<br />

As mudanças na educação especial, ancoradas nos direitos humanos,<br />

que proclama a igualda<strong>de</strong> entre todos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das<br />

condições sociais, culturais, físicas, intelectuais e sensoriais das pessoas,<br />

ocorreram com base na compreensão <strong>de</strong> que todos os estudantes têm<br />

o direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r juntos em um espaço escolar comum. Esse novo<br />

paradigma implica o enfrentamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios pelos sistemas <strong>de</strong> ensino,<br />

com vistas a superar práticas pedagógicas exclu<strong>de</strong>ntes, e propor opções<br />

que acolham a diferença <strong>de</strong> todo e qualquer estudante.<br />

60<br />

BRASIL. Ministério <strong>de</strong> Educação. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial. Brasília,<br />

DF: MEC/SEESP, 1994; FARIAS, S. S. P.; MAIA, S. R. O surdo<strong>ce</strong>go e o paradigma da inclusão.<br />

Inclusão: Revista da Educação Especial, Brasília, n. 4, p. 26-29, jun. 2007; GUGEL, M. A.<br />

G. Pessoas com <strong>de</strong>ficiência e o direito ao trabalho. Florianópolis: Obra Jurídica, 2007.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

86 | PREFEITURA DE FORTALEZA 87 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

A constituição <strong>de</strong> sistemas educacionais inclusivos <strong>de</strong>mandará da escola<br />

a promoção <strong>de</strong> mudanças estruturais, administrativas, pedagógicas<br />

e culturais, para que todos os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos<br />

globais do <strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação possam ser<br />

atendidos em suas especificida<strong>de</strong>s.<br />

O pro<strong>ce</strong>sso inclusivo estabele<strong>ce</strong> que a escola <strong>de</strong>ve estar preparada<br />

para acolher todos os estudantes, respeitando as suas limitações, subjetivida<strong>de</strong>s<br />

e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais, sociais, religiosas, sexuais e geracionais.<br />

O fracasso escolar é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos (gestores, professores,<br />

auxiliares, pais e estudantes), contrariando assim o paradigma da integração,<br />

em que o estudante ne<strong>ce</strong>ssita se adaptar às exigências da escola. A<br />

convivência escolar na inclusão cria um rico campo <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

em que as crianças <strong>de</strong>senvolvem habilida<strong>de</strong>s como tolerância e a<strong>ce</strong>itação<br />

do outro, valores importantes para sua vida social.<br />

A inclusão <strong>de</strong>sses estudantes na escola exige uma preparação dos<br />

colegas para uma convivência igualitária e pacífica, enfatizando a importância<br />

da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as experiências concretas <strong>de</strong> seus estudantes.<br />

Também é muito importante envolver os pais para que compreendam,<br />

a<strong>ce</strong>item e colaborem para a tarefa fundamental da escola: a<br />

aprendizagem dos estudantes. A escola começa então a repensar a qualida<strong>de</strong><br />

da prática do<strong>ce</strong>nte, a organização curricular e suas estratégias <strong>de</strong><br />

avaliação da aprendizagem. A inclusão responsabiliza a escola, a família<br />

e a socieda<strong>de</strong> por uma educação com oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

para todos, num espaço físico, afetivo e social capaz <strong>de</strong> acolher indistintamente<br />

a diversida<strong>de</strong> humana (RIBEIRO e BAUMEL, 2003) 61 .<br />

A Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial, com efeito, numa perspectiva<br />

inclusiva (2008), <strong>de</strong>termina que os estudantes, público-alvo da educação<br />

especial, <strong>de</strong>vem ser atendidos em suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais<br />

específicas em um espaço para esse fim, <strong>de</strong> forma que a segregação em<br />

instituições especializadas <strong>de</strong>ve então ser substituída por uma abordagem<br />

na qual a pessoa com <strong>de</strong>ficiência possa <strong>de</strong>senvolver suas potencialida<strong>de</strong>s<br />

no ensino regular (BATISTA, 2005; MAGALHÃES, 2002) 62 .<br />

Na <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza, o atendimento<br />

a essas especificida<strong>de</strong>s implicará a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar a oferta do<br />

atendimento educacional especializado nas escolas municipais, com vis-<br />

61<br />

Op. cit.<br />

62<br />

BATISTA, C. A. M. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para<br />

a <strong>de</strong>ficiência mental. Brasília: MEC/SEESP, 2005; MAGALHÃES, R. <strong>de</strong> C. B. P. (Org.).<br />

Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Edições<br />

Demócrito Rocha, 2002.<br />

tas à eliminação das barreiras impostas pelas <strong>de</strong>ficiências físicas, sensoriais<br />

e intelectuais, e transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento. Aten<strong>de</strong>rá<br />

também os estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, esses com o<br />

objetivo <strong>de</strong> promover o enriquecimento curricular.<br />

Rompendo as barreiras do precon<strong>ce</strong>ito, as pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />

saem dos espaços institucionalizados em que foram historicamente confinadas<br />

para ocupar locus sociais comuns, inclusive no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Este <strong>de</strong>safio pressupõe uma extensa mudança em nossas tradicionais<br />

práticas pedagógicas, incitando-nos a i<strong>de</strong>ntificar as dificulda<strong>de</strong>s e a<br />

buscar ativamente as soluções (BLANCO, 1995) 63 .<br />

4.6.2 Educação especial em Fortaleza: um pouco da<br />

história<br />

No ano <strong>de</strong> 1992, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong><br />

Fortaleza criou o Serviço <strong>de</strong> Educação Especial na estrutura organizacional<br />

do Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento Curricular - DDC 64 . Naquele<br />

ano, uma equipe <strong>de</strong> profissionais realizava um trabalho <strong>de</strong> orientação às<br />

escolas em relação aos encaminhamentos dos estudantes com <strong>de</strong>ficiência<br />

para as instituições especiais conveniadas.<br />

No ano <strong>de</strong> 1993, fundamentada na proposta da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

Especial- SEESP/MEC, o Município iniciou um trabalho <strong>de</strong> atendimento<br />

aos estudantes com histórico <strong>de</strong> multirrepetência com a implantação<br />

<strong>de</strong> cinco salas <strong>de</strong> apoio pedagógico-SAPs 65 . Além do atendimento<br />

aos estudantes com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem matriculados nas escolas<br />

públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza, esse espaço possibilitou que estudantes<br />

com <strong>de</strong>ficiência tivessem a<strong>ce</strong>sso à escolarização na sala <strong>de</strong> aula<br />

comum, ainda que em número reduzido.<br />

A filosofia do projeto retrocitado embasava-se no respeito às diferenças<br />

e no direito à igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Para tanto, a então <strong>Secretaria</strong><br />

<strong>de</strong> Educação e Cultura do Município investiu na formação continuada<br />

dos professores, utilizando-se dos conhecimentos teórico-práticos da<br />

63<br />

BLANCO, R. Inovação e recursos educacionais na sala <strong>de</strong> aula. In: COOL, C.; PALÁCIOS,<br />

J.; MARCHESI, A. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 1995. p. 307-321.<br />

64<br />

O Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento Curricular na organização da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong><br />

Educação e Cultura do Município tinha como função a organização e acompanhamento<br />

curricular à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

65<br />

Sala <strong>de</strong> Apoio Pedagógico: projeto criado para aten<strong>de</strong>r alunos com <strong>de</strong>ficiência e<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem matriculados em escolas públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

88 | PREFEITURA DE FORTALEZA 89 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

psicogênese da leitura e da escrita, tendo como foco o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

contínuo, afetivo e psicomotor do estudante.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da prática pedagógica, foi ofertada aos professores<br />

formação continuada em oficinas e palestras para aprofundamento<br />

na área específica da educação especial. Para uma prática do<strong>ce</strong>nte<br />

efetiva, o Serviço <strong>de</strong> Educação Especial do Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Curricular – DDC realizava acompanhamentos sistemáticos às<br />

escolas, com o objetivo <strong>de</strong> orientar os professores que atuavam nas salas<br />

<strong>de</strong> apoio, bem como para aqueles que trabalhavam nas salas <strong>de</strong> aula<br />

com estudantes com <strong>de</strong>ficiência e/ou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Em 1994, com a publicação do documento da Política Nacional <strong>de</strong><br />

Educação Especial, o Município intensificou a discussão sobre o atendimento<br />

ao estudante com <strong>de</strong>ficiência na escola regular. Nesse período, iniciou-se<br />

a orientação a<strong>ce</strong>rca do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> integração nas escolas regulares.<br />

Essas orientações provocaram o surgimento <strong>de</strong> uma con<strong>ce</strong>pção sobre<br />

o atendimento escolar a essas pessoas, favore<strong>ce</strong>ndo a ampliação das SAPs<br />

e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> essa sala aten<strong>de</strong>r os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, com<br />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaborar com a inclusão escolar <strong>de</strong>sse alunado.<br />

Nos anos 1990, foram intensas as discussões sobre a integração do<br />

estudante à escola comum. Nesse período, vários documentos internacionais<br />

e nacionais questionavam o mo<strong>de</strong>lo integrador e proclamavam<br />

a inclusão <strong>de</strong> modo irrestrito. Com a disseminação do movimento <strong>de</strong> inclusão,<br />

o sistema <strong>de</strong> ensino municipal passou a matricular maior número<br />

<strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, sendo ne<strong>ce</strong>ssário rever sua organização<br />

escolar. Essa revisão consolidou-se após as orientações das Diretrizes<br />

para a Educação Especial na Educação Básica, <strong>de</strong> acordo com a Resolução<br />

CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, que orienta:<br />

Os sistemas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem matricular todos os alunos,<br />

cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos<br />

educandos com ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais especiais, assegurando<br />

as condições ne<strong>ce</strong>ssárias para uma educação <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> para todos. (BRASIL, 2001).<br />

No período <strong>de</strong> 2000 a 2006, o Projeto Educar na Diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvido<br />

em países do MERCOSUL (Argentina, Brasil, Chile, Paraguai<br />

e Uruguai) em par<strong>ce</strong>ria com o MEC/SEESP escolheu Fortaleza como um<br />

dos municípios polo do Estado do Ceará para implantar o Projeto Educar<br />

na Diversida<strong>de</strong>. Mencionado projeto objetivava disseminar a política<br />

<strong>de</strong> inclusão em 20 municípios <strong>de</strong> abrangência fomentando discussões e<br />

ações em torno do pro<strong>ce</strong>sso inclusivo.<br />

Em 2005, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação do Estado do Ceará e a <strong>Secretaria</strong><br />

<strong>de</strong> Educação do Município <strong>de</strong> Fortaleza indicaram três escolas pilotos<br />

para implantação do referido projeto, objetivando <strong>de</strong>senvolver pro<strong>ce</strong>ssos<br />

e materiais <strong>de</strong> formação, que aten<strong>de</strong>ssem a diversida<strong>de</strong> nas escolas<br />

regulares. As escolas indicadas para o projeto re<strong>ce</strong>beram material <strong>de</strong> formação<br />

disponibilizado pela SEESP/MEC, tendo apoio técnico dos profissionais<br />

responsáveis por sua operacionalização.<br />

Após aprofundamento teórico, foram organizados encontros com técnicos<br />

da SEDUC, SEDAS e SERs e escolas-piloto contempladas pelo projeto,<br />

com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientar e apresentar referido projeto, bem como orientar<br />

oficinas pedagógicas que seriam realizadas nas escolas escolhidas: EMEIF<br />

Sobreira <strong>de</strong> Amorim - SER III, EMEIF Belarmina Campos - SER II e EMEIF<br />

Anísio Teixeira - SER VI. Essas ações permitiram a estruturação prévia das<br />

oficinas pedagógicas para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto em 2006.<br />

No ano <strong>de</strong> 2006, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação – SME recomendou<br />

a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um calendário específico para matricula <strong>de</strong> estudantes<br />

com <strong>de</strong>ficiência. Essa orientação ocasionou <strong>de</strong>manda significativa<br />

<strong>de</strong> estudantes, provocando ações <strong>de</strong> reorganização da re<strong>de</strong> com o<br />

propósito <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar os prédios escolares e ainda ofere<strong>ce</strong>r atendimento<br />

pedagógico <strong>de</strong> acordo com as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes. Nesse período,<br />

foram intensas as ações <strong>de</strong> formação dos professores das SAPs e salas<br />

<strong>de</strong> aula comum, com o objetivo <strong>de</strong> garantir o a<strong>ce</strong>sso e a permanência do<br />

estudante com <strong>de</strong>ficiência na sala comum.<br />

Des<strong>de</strong> 2007, o Município <strong>de</strong> Fortaleza realiza estudos e formação<br />

em atendimento educacional especializado – AEE, com o objetivo <strong>de</strong><br />

fortale<strong>ce</strong>r a prática do<strong>ce</strong>nte dos professores das SAPs. Essas ações visam a<br />

aten<strong>de</strong>r as exigências quanto à formação específica do(a) professor(a) da<br />

educação especial, sendo estas expressas na Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />

Especial – PNEE (2008), numa perspectiva da educação inclusiva.<br />

A atual Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial orienta os sistemas <strong>de</strong><br />

ensino a ofere<strong>ce</strong>r o atendimento educacional especializado (AEE) para<br />

os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, <strong>de</strong> modo complementar ou suplementar<br />

ao ensino comum.<br />

Conforme a proposta inclusiva o AEE tem como finalida<strong>de</strong>:<br />

Ser um serviço da Educação Especial que: i<strong>de</strong>ntifica, elabora<br />

e organiza recursos pedagógicos e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> que<br />

eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos,<br />

consi<strong>de</strong>rando as suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s específicas. As ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvidas no atendimento educacional especializado<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

90 | PREFEITURA DE FORTALEZA 91 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

diferenciam-se daquelas realizadas na sala <strong>de</strong> aula comum,<br />

não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento<br />

complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com<br />

vistas à autonomia e in<strong>de</strong>pendência na escola e fora <strong>de</strong>la.<br />

(BRASIL, 2008, p. 16).<br />

Quanto à formação <strong>de</strong> professores, ainda em 2007, foi ofertado pelo<br />

MEC/SEESP/UFC o primeiro curso <strong>de</strong> aperfeiçoamento em AEE para professores<br />

<strong>de</strong> escolas públicas municipais em vários estados brasileiros.<br />

Fortaleza, um dos municípios-polo, <strong>ce</strong>rtificou 17 professores das salas<br />

<strong>de</strong> apoio pedagógico. Em 2008, com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disseminar os conhecimentos<br />

teórico-práticos sobre o AEE com os <strong>de</strong>mais professores da<br />

educação especial da re<strong>de</strong> municipal, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação promoveu<br />

uma formação em serviço <strong>de</strong> modo presencial para 68 professores.<br />

Essa formação foi realizada por professores articuladores da re<strong>de</strong> municipal<br />

<strong>de</strong> Fortaleza, que estavam participando do curso promovido pelo<br />

MEC/SEESP/UFC. Teve como objetivo redimensionar as funções <strong>de</strong>ste<br />

profissional no atendimento ao estudante público-alvo da educação especial,<br />

que passou a ser atendido exclusivamente nas salas <strong>de</strong> recursos<br />

multifuncionais-SRM, como orienta a PNEE. Nesse ano, também foi dada<br />

continuida<strong>de</strong> à Formação Nacional para Professores em Atendimento<br />

Educacional Especializado, em nível <strong>de</strong> aperfeiçoamento promovido,<br />

pelo MEC/SEESP/UFC, sendo contemplados seis professores da re<strong>de</strong> municipal<br />

<strong>de</strong> Fortaleza.<br />

Em 2010, o curso <strong>de</strong> formação em AEE promovido pelo MEC/SEESP/<br />

UFC passou a ser <strong>de</strong> especialização, com a participação <strong>de</strong> 125 professores-cursistas<br />

das salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais <strong>de</strong> Fortaleza, distribuídos<br />

em seis turmas.<br />

Consoante o documento da Política Nacional, a <strong>Secretaria</strong> orienta os<br />

sistemas <strong>de</strong> ensino com vistas a garantir os plenos direitos dos estudantes<br />

matriculados em sua re<strong>de</strong> municipal, ofere<strong>ce</strong>ndo, quando ne<strong>ce</strong>ssário, o<br />

atendimento educacional especializado. Atualmente a re<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong><br />

70 salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais no espaço da escola on<strong>de</strong> o estudante<br />

está matriculado. O atendimento é realizado no turno inverso ao<br />

da sala <strong>de</strong> aula comum, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino. O<br />

Município mantém ainda par<strong>ce</strong>rias com instituições especializadas mediante<br />

convênios para <strong>ce</strong>ssão <strong>de</strong> professores. Para isso orienta que essas<br />

instituições ofereçam o atendimento educacional especializado <strong>de</strong> modo<br />

complementar ao da sala <strong>de</strong> aula comum.<br />

4.6.3 Articulação com a Política Nacional <strong>de</strong><br />

Educação Especial<br />

A educação especial no Município <strong>de</strong> Fortaleza segue as diretrizes<br />

da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na perspectiva da educação<br />

inclusiva (2008), que tem como finalida<strong>de</strong> assegurar a inclusão escolar<br />

<strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, orientando os sistemas <strong>de</strong> ensino a<br />

promoverem respostas às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais especiais, por intermédio<br />

<strong>de</strong> atendimento educacional especializado. Esse atendimento é<br />

compreendido como complementar e/ou suplementar ao ensino regular,<br />

possibilitando aos estudantes incluídos o a<strong>ce</strong>sso ao currículo comum. O<br />

documento orienta no sentido <strong>de</strong> que<br />

(...) os sistemas <strong>de</strong> ensino para garantir: a<strong>ce</strong>sso ao ensino<br />

regular, com participação, aprendizagem e continuida<strong>de</strong> nos<br />

níveis mais elevados do ensino; transversalida<strong>de</strong> da modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> educação especial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil até a<br />

educação superior; oferta do atendimento educacional especializado;<br />

formação <strong>de</strong> professores para o atendimento educacional<br />

especializado e <strong>de</strong>mais profissionais da educação para<br />

a inclusão; participação da família e da comunida<strong>de</strong>; a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong><br />

arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas<br />

comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação<br />

das políticas públicas. (BRASIL, 2008, p.14)66.<br />

As salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais apresentam-se como um espaço que<br />

ofere<strong>ce</strong> o atendimento educacional especializado – AEE, cujo objetivo é<br />

“(...) i<strong>de</strong>ntificar, elaborar, e organizar recursos pedagógicos e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>,<br />

que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes,<br />

consi<strong>de</strong>rando suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s específicas.” (BRASIL, 2008, p. 10).<br />

O AEE <strong>de</strong>ve ser ofertado em todas as etapas e modalida<strong>de</strong>s da educação<br />

básica. É organizado para suprir as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento<br />

e à participação dos estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtorno<br />

global <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação nas escolas<br />

comuns. Constitui oferta obrigatória dos sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />

Este serviço é oferecido, preferencialmente, na escola comum, no<br />

contraturno da sala <strong>de</strong> aula. Caso não haja esse atendimento na escola<br />

66<br />

BRASIL. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.<br />

Revista da Educação Especial: Inclusão (Edição Especial), Brasília, v. 4, n. 1, Janeiro/<br />

Junho 2008.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

92 | PREFEITURA DE FORTALEZA 93 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

em que o estudante está matriculado, ele po<strong>de</strong>rá ser encaminhado para<br />

uma unida<strong>de</strong> escolar da circunvizinhança que disponha <strong>de</strong>ste serviço.<br />

Esse encaminhamento <strong>de</strong>verá ser realizado pelo Núcleo Gestor e Coor<strong>de</strong>nação<br />

Pedagógica da escola em que o estudante está matriculado<br />

<strong>de</strong> forma articulada com a equipe <strong>de</strong> educação especial da <strong>Secretaria</strong><br />

Executiva Regional.<br />

O AEE tem como público alvo:<br />

* Estudantes com <strong>de</strong>ficiência – aqueles com impedimentos <strong>de</strong><br />

longo prazo <strong>de</strong> natureza física, intelectual ou sensorial que po<strong>de</strong>m<br />

obstruir/dificultar sua participação plena e efetiva na socieda<strong>de</strong><br />

diante <strong>de</strong> barreiras que esta lhes impõem, ao interagirem em<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com as <strong>de</strong>mais pessoas (ONU, 2001)67.<br />

* Estudantes com transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento –<br />

aqueles que apresentam um quadro <strong>de</strong> alterações no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

neuropsicomotor, comprometimento nas relações<br />

sociais, na comunicação ou estereotipia motora. Incluem-se<br />

nessa <strong>de</strong>finição estudantes com autismo clássico, síndrome<br />

<strong>de</strong> Asperger, síndrome <strong>de</strong> Rett, transtorno <strong>de</strong>sintegrativo da<br />

infância (psicose infantil) e transtornos invasivos sem outra<br />

especificação 68 (BRASIL, 2008) 69 ; e<br />

* Estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação – estes <strong>de</strong>vem<br />

ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento<br />

curricular <strong>de</strong>senvolvidas no âmbito <strong>de</strong> suas<br />

escolas em interfa<strong>ce</strong> com as instituições <strong>de</strong> ensino superior,<br />

institutos voltados ao <strong>de</strong>senvolvimento e promoção da pesquisa,<br />

das artes, dos esportes, entre outros.<br />

Vale ressaltar que esse atendimento se diferencia das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvidas na sala comum, pois, enquanto esta trabalha<br />

os conteúdos curriculares propriamente ditos, o AEE disponibiliza<br />

os meios ne<strong>ce</strong>ssários <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento.<br />

Portanto, o AEE não substitui a escolarização obrigatória e<br />

não se caracteriza como aula <strong>de</strong> reforço ou apoio temporário.<br />

O trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelo AEE consi<strong>de</strong>ra as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

cada estudante com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação. Para superar as barreiras linguísticas,<br />

cognitivas, con<strong>ce</strong>ituais, físicas, visuais, <strong>de</strong>ntre outras, o(a) professor(a) <strong>de</strong><br />

AEE <strong>de</strong>verá observar quais os recursos, linguagens e ativida<strong>de</strong>s mais a<strong>de</strong>quadas<br />

para cada especificida<strong>de</strong>.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

67<br />

ONU. Declaração Internacional <strong>de</strong> Montreal sobre Inclusão. Canadá, 2001.<br />

Disponível em: . A<strong>ce</strong>sso em: 26 set.<br />

2009<br />

68<br />

Autismo clássico: o autismo é explicado e <strong>de</strong>scrito como um conjunto <strong>de</strong> transtornos<br />

qualitativos <strong>de</strong> funções envolvidas no <strong>de</strong>senvolvimento humano. Po<strong>de</strong> haver atraso no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da interação social e da comunicação.<br />

Síndrome <strong>de</strong> Asperger: diferentemente do autismo, é possível não existir atrasos<br />

significativos no <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, na linguagem, no comportamento adaptativo,<br />

à ex<strong>ce</strong>ção da interação social, e na curiosida<strong>de</strong> pelo ambiente na infância.<br />

Síndrome <strong>de</strong> Rett: <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> múltiplos <strong>de</strong>ficits após um período <strong>de</strong><br />

funcionamento normal nos primeiros meses <strong>de</strong> vida. Desa<strong>ce</strong>leração do crescimento do<br />

perímetro <strong>ce</strong>fálico. Perda das habilida<strong>de</strong>s voluntárias das mãos adquiridas anteriormente,<br />

e posterior <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> movimentos estereotipados semelhantes a lavar ou tor<strong>ce</strong>r<br />

as mãos. O interesse social diminui após os primeiros anos <strong>de</strong> manifestação do quadro,<br />

embora possa se <strong>de</strong>senvolver mais tar<strong>de</strong>. Prejuízo severo do <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem<br />

expressiva ou re<strong>ce</strong>ptiva.<br />

Transtorno <strong>de</strong>sintegrativo da Infância: as crianças presentam <strong>de</strong>ficits sociais e<br />

comunicativos e aspectos comportamentais geralmente observados no Autismo. As perdas<br />

clinicamente significativas das habilida<strong>de</strong>s já adquiridas em pelo menos duas áreas:<br />

linguagem expressiva ou re<strong>ce</strong>ptiva, habilida<strong>de</strong>s sociais ou comportamento adaptativo,<br />

controle intestinal ou vesical, jogos ou habilida<strong>de</strong>s motoras.<br />

Transtornos invasivos sem outra especificação: existe prejuízo severo no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da interação social recíproca ou <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação verbal e<br />

não verbal ou comportamentos, interesses e ativida<strong>de</strong>s estereotipados.<br />

(Fonte: BRASIL. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar Transtornos<br />

Globais do Desenvolvimento. Fortaleza: MEC\SEESP\UFC, 2010).<br />

69<br />

Op. Cit.<br />

94 | PREFEITURA DE FORTALEZA 95 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

De acordo com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> cada estudante, há<br />

uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos pedagógicos e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento.<br />

O atendimento educacional especializado dos estudantes com sur<strong>de</strong>z<br />

é organizado em três momentos pedagógicos: AEE <strong>de</strong> Libras, AEE em<br />

Libras e AEE para o ensino da Língua Portuguesa na modalida<strong>de</strong> escrita.<br />

No atendimento para os estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual, são ofertados<br />

o Sistema Braille, soroban, orientação e mobilida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong> funcional<br />

da visão e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida autônoma. Já no caso dos estudantes com<br />

<strong>de</strong>ficiência física são disponibilizados os recursos da comunicação alternativa<br />

e aumentativa, tecnologia assistiva e recursos <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>.<br />

Para os estudantes com <strong>de</strong>ficiência intelectual, é ofertado o AEE com o<br />

objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver os pro<strong>ce</strong>ssos mentais superiores e as ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> vida autônoma. O AEE também ofere<strong>ce</strong> programas <strong>de</strong> enriquecimento<br />

curricular para os estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação.<br />

A Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na perspectiva da educação<br />

inclusiva (2008) orienta que, para atuar na sala <strong>de</strong> recursos multifuncionais,<br />

o(a) professor(a) <strong>de</strong>ve ter formação inicial em Pedagogia,<br />

pós-graduação em Educação Especial e conhecimentos específicos da<br />

área, adquiridos em cursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento e/ou <strong>de</strong> especialização.<br />

De acordo com as orientações da PNEE, a formação <strong>de</strong>sse profissional<br />

inclui alguns conteúdos específicos, tais como: sistema Braille, informática<br />

aplicada à produção Braille, recursos tecnológicos e informática<br />

aplicada à <strong>de</strong>ficiência visual (sintetizadores <strong>de</strong> voz, lupas eletrônicas,<br />

magnificadores <strong>de</strong> tela para baixa visão), produção Braille e adaptação<br />

<strong>de</strong> material impresso em tinta, recursos ópticos e não ópticos para baixa<br />

visão, técnica <strong>de</strong> uso do soroban, adaptação <strong>de</strong> livros didáticos e <strong>de</strong><br />

literatura para pessoas <strong>ce</strong>gas, avaliação funcional da visão, orientação<br />

e mobilida<strong>de</strong> para pessoas <strong>ce</strong>gas, escrita cursiva, grafia do nome e assinatura<br />

em tinta para pessoas <strong>ce</strong>gas, tecnologia assistiva: comunicação<br />

alternativa, informática a<strong>ce</strong>ssível, materiais pedagógicos adaptados, mobiliário<br />

a<strong>ce</strong>ssível, língua brasileira <strong>de</strong> sinais-LIBRAS, Língua Portuguesa<br />

para estudantes com sur<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>senho universal, comunicação para o estudante<br />

surdo-<strong>ce</strong>go (BRASIL, 2008) 70 .<br />

Além dos conhecimentos retrocitados, o(a) professor(a) <strong>de</strong>verá planejar<br />

e selecionar ativida<strong>de</strong>s, avaliar o <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem dos<br />

estudantes e estabele<strong>ce</strong>r par<strong>ce</strong>rias para aten<strong>de</strong>r as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s do estudante.<br />

Esses aspectos <strong>de</strong>verão ser privilegiados na elaboração dos planos<br />

<strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> forma articulada com o(a) professor(a) da sala comum.<br />

O/A professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá apresentar o perfil <strong>de</strong> articulador da<br />

educação inclusiva junto à escola e à comunida<strong>de</strong> escolar na elaboração<br />

70<br />

Op. cit.<br />

do projeto político-pedagógico, embora suas ativida<strong>de</strong>s se diferenciem<br />

das realizadas pelo(a) professor(a) em sala <strong>de</strong> aula. O professor(a) do AEE<br />

<strong>de</strong>verá <strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong>, respeito e ética para lidar com a diversida<strong>de</strong><br />

humana (FORTALEZA, 2009) 71 .<br />

O/A professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá pautar seu trabalho na metodologia<br />

<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> caso. Com base no estudo <strong>de</strong> caso, o(a) professor(a) dará<br />

início à elaboração do plano <strong>de</strong> atendimento. Para o estudo <strong>de</strong> caso, ele<br />

<strong>de</strong>verá avaliar o estudante em diferentes ambientes; sala <strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong><br />

recursos multifuncional e familiar. A avaliação objetiva colher informações<br />

sobre os seguintes aspectos: <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, linguagem,<br />

afetivo-social, psicomotor, assim como os comportamentos e atitu<strong>de</strong>s em<br />

situação <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

No âmbito da sala <strong>de</strong> recursos multifuncionais, o(a) professor(a) terá<br />

como suportes instrumentais e registros dos diversos aspectos observados,<br />

po<strong>de</strong>ndo utilizar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que i<strong>de</strong>ntifiquem a real condição do<br />

estudante nos aspectos já expressos.<br />

Dentro da sala comum, o(a) professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá avaliar a relação<br />

do estudante com o conhecimento, se ele ne<strong>ce</strong>ssita <strong>de</strong> materiais e<br />

equipamentos para a<strong>ce</strong>ssar esse conhecimento, assim como sua interação<br />

com os colegas e se ele <strong>de</strong>monstra atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência ou autonomia<br />

em relação ao/à professor(a) e como repon<strong>de</strong> as suas solicitações.<br />

Na família, a avaliação <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar as atitu<strong>de</strong>s do estudante em<br />

relação às ativida<strong>de</strong>s domiciliares, se ele <strong>de</strong>monstra autonomia ou <strong>de</strong>pendência,<br />

investigar como é o relacionamento dos componentes com<br />

ele, se estes manifestam superproteção ou abandono, se eles acreditam<br />

no potencial do estudante e na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar as barreiras<br />

impostas pela <strong>de</strong>ficiência.<br />

4.6.4 A educação especial e a organização dos<br />

serviços <strong>de</strong> apoio ao ensino comum<br />

A educação especial <strong>de</strong>ve prover as escolas municipais <strong>de</strong> profissionais<br />

<strong>de</strong> apoio, para que os estudantes possam ser atendidos quanto à<br />

promoção da a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>, da locomoção e <strong>de</strong> atenção aos cuidados<br />

pessoais <strong>de</strong> alimentação e higiene, bem como comunicacional (Nota<br />

Técnica No. 19/2010/MEC/SEESP). Segundo a nota técnica mencionada,<br />

para a organização e oferta do serviço <strong>de</strong> apoio, consi<strong>de</strong>ram-se os seguintes<br />

profissionais: <strong>de</strong> apoio para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> locomoção, higiene,<br />

71<br />

FORTALEZA. Diretrizes para sala <strong>de</strong> atendimento educacional especializado.<br />

Fortaleza: <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação e Assistência Social – SEDAS, 2009.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

96 | PREFEITURA DE FORTALEZA 97 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

alimentação e auxílio individualizado aos estudantes que não realizam<br />

essas ativida<strong>de</strong>s com in<strong>de</strong>pendência. Esse apoio ocorre conforme as especificida<strong>de</strong>s<br />

apresentadas pelo estudante, relacionadas à sua condição<br />

<strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> e não à <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. A educação especial também<br />

<strong>de</strong>ve prever profissionais especializados, tais como intérprete <strong>de</strong> libras,<br />

que <strong>de</strong>verá atuar em sala <strong>de</strong> aula e eventos ligados ao ensino, para realizar<br />

a interpretação por meio da língua <strong>de</strong> sinais.<br />

A inserção do estudante com <strong>de</strong>ficiência no ensino regular <strong>de</strong>lineia um<br />

quadro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s mudanças na educação e constitui uma trajetória educacional<br />

favorável ao princípio fundamental da educação inclusiva que<br />

consiste na diversida<strong>de</strong> social, na qual todos apren<strong>de</strong>m juntos, partilhando<br />

<strong>de</strong> um ambiente comum e compartilhando experiências <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

As escolas inclusivas <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar que cada pessoa apren<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo<br />

peculiar, <strong>de</strong> tal modo que ela precisa ser reconhecida no seu modo individual,<br />

para que se possa estabele<strong>ce</strong>r estratégias e recursos apropriados <strong>de</strong><br />

acordo com suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s, no intuito <strong>de</strong> garantir sua plena participação<br />

em um ambiente plural como a sala <strong>de</strong> aula.<br />

Nessa perspectiva inclusiva <strong>de</strong> forma irrestrita, o Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />

estabele<strong>ce</strong> par<strong>ce</strong>rias com <strong>ce</strong>ntros especializados 72 na formação <strong>de</strong><br />

professores, bem como recomenda a realização <strong>de</strong> uma avaliação inicial<br />

para encaminhamento dos estudantes as salas <strong>de</strong> aula comum e para o<br />

atendimento educacional especializado.<br />

4.6.5 Objetivos da educação especial<br />

A educação especial é uma modalida<strong>de</strong> da educação escolar que<br />

assegura recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente<br />

para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns<br />

casos, substituir os serviços educacionais comuns. Dessa forma, avaliza<br />

a educação escolar e o <strong>de</strong>senvolvimento pleno das potencialida<strong>de</strong>s dos<br />

educandos que apresentam <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação em todas as etapas e modalida<strong>de</strong>s<br />

da educação básica (RIBEIRO; BAUMEL, 2003) 73 .<br />

Assim, ações prioritárias <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas pelas Diretrizes Municipais<br />

<strong>de</strong> Educação com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a inclusão escolar <strong>de</strong>sse alunado,<br />

<strong>de</strong>monstrando compromisso e flexibilida<strong>de</strong> para que a aprendizagem possa<br />

ser amplamente consolidada. Para esse propósito constitui como objetivos:<br />

72<br />

Centros <strong>de</strong> referência em educação e atendimento especializado do Estado do Ceará –<br />

CREAECE,órgão público estadual <strong>de</strong>stinado ao atendimento <strong>de</strong> alunos da educação especial.<br />

73<br />

Op. cit.<br />

* possibilitar a transversalida<strong>de</strong> da educação especial a partir<br />

da educação infantil, para que cada criança tenha a<strong>ce</strong>sso<br />

pleno ao conhecimento e <strong>de</strong>senvolva todas as suas potencialida<strong>de</strong>s,<br />

seja no ambiente escolar, seja na vida diária;<br />

* efetuar avaliação inicial pedagógica pelos professores das<br />

salas <strong>de</strong> atendimento educacional especializado visando à<br />

inclusão <strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes, jovens e adultos público-<br />

-alvo da educação especial;<br />

* garantir o atendimento educacional especializado como<br />

instrumento, complemento ou suplemento que <strong>de</strong>ve estar<br />

presente em todas as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino para os estudantes<br />

que <strong>de</strong>la ne<strong>ce</strong>ssitem;<br />

* favore<strong>ce</strong>r a formação continuada <strong>de</strong> professores para o<br />

atendimento educacional especializado, a fim adquirir subsídios<br />

para uma prática pedagógica baseada na valorização da<br />

diversida<strong>de</strong> humana, no respeito pelas diferenças individuais<br />

e no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> acolher todas as pessoas;<br />

* assegurar a presença <strong>de</strong> intérprete e instrutor <strong>de</strong> Libras, nas<br />

escolas comuns, para que possa aten<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente os<br />

estudantes com sur<strong>de</strong>z na sua primeira língua;<br />

* assegurar a presença do profissional <strong>de</strong> apoio nas escolas<br />

com estudantes que apresentam limitações físicas ou transtornos<br />

globais do <strong>de</strong>senvolvimento, visando ao seu a<strong>ce</strong>sso e<br />

permanência na escola;<br />

* prover material pedagógico ampliado e\ou transcrito para<br />

o Braille, para aten<strong>de</strong>r as especificida<strong>de</strong>s do estudante <strong>de</strong>ficiente<br />

visual;<br />

* avalizar o uso da comunicação alternativa, para aten<strong>de</strong>r as<br />

ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fala e <strong>de</strong><br />

escrita;<br />

* tornar disponível transporte adaptado às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s do<br />

educando, para favore<strong>ce</strong>r o seu a<strong>ce</strong>sso à escola e aos serviços<br />

<strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> que ne<strong>ce</strong>ssitar;<br />

* responsabilizar-se pela participação da família e da comunida<strong>de</strong><br />

nas escolhas e <strong>de</strong>cisões, principalmente no que diz<br />

respeito ao pro<strong>ce</strong>sso educacional para promover a inclusão<br />

escolar e social;<br />

* promover a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> arquitetônica, nos mobiliários e<br />

equipamentos das escolas, para que os estudantes com <strong>de</strong>ficiência<br />

possam nela transitar; e<br />

* articular políticas públicas com outros setores em função<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

98 | PREFEITURA DE FORTALEZA 99 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes para consolidar o que já se<br />

encontra previsto em legislação nacional e internacional sobre<br />

a educação especial.<br />

Estas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>monstram o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong><br />

um pro<strong>ce</strong>sso inclusivo a<strong>de</strong>quado às diferentes ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

apresentadas pelos estudantes na contemporaneida<strong>de</strong> educacional,<br />

<strong>de</strong> maneira ampla, para todos os estudantes.<br />

4.6.6 Orientações para as salas <strong>de</strong> recursos<br />

multifuncionais<br />

As salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais – SRM são espaços localizados<br />

nas escolas da re<strong>de</strong> municipal do ensino <strong>de</strong> Fortaleza para a realização<br />

do atendimento educacional especializado. Elas aten<strong>de</strong>m os estudantes<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada escola e aqueles <strong>de</strong> outras em uma mesma abrangência,<br />

cujas instituições escolares ainda não ofereçam o AEE. Nas SRM, os estudantes<br />

são atendidos no contraturno por professor(a) especializado(a). O<br />

atendimento é realizado por meio do estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> cada estudante,<br />

e objetiva i<strong>de</strong>ntificar as potencialida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s, como também<br />

suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s funcionais, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar um plano <strong>de</strong><br />

atendimento que venha aten<strong>de</strong>r as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste estudante, para<br />

que ele supere as barreiras impostas pela <strong>de</strong>ficiência.<br />

É função do(a) professor(a) do AEE organizar a composição e a quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> atendimentos ne<strong>ce</strong>ssários ao estudante na SRM, fazer a seleção<br />

<strong>de</strong> recursos e materiais, possibilitar a aquisição, produção ou<br />

adaptação <strong>de</strong> materiais, para que os estudantes possam apren<strong>de</strong>r segundo<br />

suas habilida<strong>de</strong>s e funcionalida<strong>de</strong>s. A permanência do estudante na<br />

SRM <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento em sala <strong>de</strong> aula e, na escola, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do estudante é per<strong>ce</strong>bido pelos avanços obtidos, o que<br />

po<strong>de</strong>rá prolongar ou antecipar o seu <strong>de</strong>sligamento na referida sala.<br />

Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir o a<strong>ce</strong>sso ao estudante público-alvo da<br />

educação especial às escolas comuns, a SME orienta sobre matrícula antecipada<br />

para esse grupo <strong>de</strong> estudantes no ensino fundamental.<br />

Para garantir a permanência do estudante da educação especial, a<br />

escola <strong>de</strong>ve promover a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> na estrutura física, construindo<br />

rampas, portas largas, banheiro adaptado, sinalizações espaciais e <strong>de</strong> comunicações<br />

(CAA, Libras, Braille, Libras táctil, tadoma, informática a<strong>ce</strong>ssível,<br />

texto ampliado, relevo e outros); adaptações nos mobiliários e no<br />

transporte, a fim <strong>de</strong> possibilitar o a<strong>ce</strong>sso do estudante com <strong>de</strong>ficiência a<br />

todas as <strong>de</strong>pendências da escola, promovendo sua autonomia.<br />

Na sala <strong>de</strong> recurso multifuncional, o material didático e pedagógico<br />

a<strong>ce</strong>ssível consta <strong>de</strong> jogos pedagógicos, brinquedos, livros em Braille,<br />

softwares educativos, plano inclinado, recursos ópticos (lupa) e <strong>de</strong> comunicação<br />

adaptados que eliminem as barreiras no pro<strong>ce</strong>sso ensino e<br />

aprendizagem, respeitando a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada estudante incluído.<br />

A a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> se configura na a<strong>de</strong>quação arquitetônica ou estrutural<br />

<strong>de</strong> espaço físico reservado à instalação e funcionamento <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> recursos<br />

multifuncionais; a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> sanitários, alargamento <strong>de</strong> portas e<br />

vias <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso, construção <strong>de</strong> rampas, instalação <strong>de</strong> corrimão e colocação<br />

<strong>de</strong> sinalização tátil e visual e aquisição <strong>de</strong> mobiliário a<strong>ce</strong>ssível, ca<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> rodas, material <strong>de</strong>sportivo a<strong>ce</strong>ssível e recursos <strong>de</strong> tecnologia assistiva.<br />

As orientações aqui apresentadas visam a ofere<strong>ce</strong>r às escolas subsídios<br />

para a inclusão escolar do estudante público-alvo da educação especial.<br />

4.7 Educação <strong>de</strong> jovens e adultos<br />

A educação <strong>de</strong> jovens e adultos é uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>stinada<br />

àqueles(as) que por alguma razão não tiveram a<strong>ce</strong>sso à educação<br />

escolar ou que apresentam <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> em seus estudos. Objetiva<br />

<strong>de</strong>senvolver nos(as) educandos(as) o exercício da autonomia, a consciência<br />

crítica e a melhor compreensão do mundo, com vistas a sua inserção<br />

participativa nos espaços sociais nos quais está inserido(a).<br />

Possibilita ao jovem, adulto e idoso aperfeiçoarem conhecimentos<br />

adquiridos na educação não formal ao longo da vida, por meio da troca<br />

<strong>de</strong> experiências, propiciando o a<strong>ce</strong>sso a novas e múltiplas configurações<br />

do mundo do trabalho e da cultura.<br />

Os termos “jovens, adultos e idosos” indicam que, em todas as ida<strong>de</strong>s,<br />

é possível obter conhecimentos e valores que contribuam para a sua<br />

realização e o progressivo aperfeiçoamento <strong>de</strong> sua prática social.<br />

A educação <strong>de</strong> jovens e adultos como uma área <strong>de</strong> estudo específica<br />

é re<strong>ce</strong>nte, embora a sua prática tenha se iniciado no Brasil colonial,<br />

com o trabalho dos jesuítas, que buscavam a catequização das populações<br />

nativas e a faziam com base no ensino da Língua Portuguesa e das<br />

primeiras letras. Foi apenas em 1931, porém, com a reforma Francisco<br />

Campos, que se teve apresentada a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar instrumentos<br />

<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> dos estudos para a população adulta. Três anos <strong>de</strong>pois,<br />

na Constituição <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1934, a educação <strong>de</strong> adultos passou a<br />

ser mencionada como um dos objetivos <strong>de</strong> interesse nacional. Nos anos<br />

1930, contudo, além <strong>de</strong> menções legais, nada <strong>de</strong> expressivo ocorreu<br />

para a educação <strong>de</strong> jovens e adultos. As ações mais significativas su<strong>ce</strong>-<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

100 | PREFEITURA DE FORTALEZA 101 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

<strong>de</strong>ram na década posterior, ainda que por meio da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> campanhas<br />

para a educação <strong>de</strong> adoles<strong>ce</strong>ntes e <strong>de</strong> adultos, como forma <strong>de</strong> combater<br />

o analfabetismo no País. Era urgente, entretanto, se fazer algo, pois que,<br />

<strong>de</strong> acordo com o re<strong>ce</strong>nseamento <strong>de</strong> 1940, 55% da população brasileira,<br />

maior <strong>de</strong> 18 anos, era analfabeta. E o analfabetismo era apontado como<br />

indicador do atraso dos países e causa da pobreza no Ter<strong>ce</strong>iro Mundo.<br />

Na década <strong>de</strong> 1940, o sistema público <strong>de</strong> educação elementar expandiu<br />

o seu atendimento aos adultos, criando as primeiras escolas supletivas<br />

no Brasil. Em 1945, foi instituída UNESCO, que se <strong>de</strong>dicou a<br />

estimular a realização <strong>de</strong> programas nacionais <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> adultos<br />

analfabetos nas “regiões atrasadas” do Mundo. O Governo brasileiro<br />

criou, em 1947, a Campanha <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Adultos, que visava a promover<br />

a alfabetização, o ensino primário e, por fim, a capacitação profissional<br />

<strong>de</strong> adultos.<br />

Uma gran<strong>de</strong> transformação na educação <strong>de</strong> adultos começou a se<br />

manifestar no inicio da década <strong>de</strong> 1960, época em que o educador pernambucano<br />

Paulo Freire propôs uma reformulação pedagógica do ensino<br />

<strong>de</strong> adultos, baseada nos princípios da educação popular. A proposta<br />

<strong>de</strong> Freire vem valorizar a ética do educador e a bagagem cultural<br />

do educando. Em vez <strong>de</strong> trabalhar com cartilhas prontas, Freire propôs<br />

aos(as) educadores(as) que buscassem compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> dos(as)<br />

educandos(as), partindo do universo cultural <strong>de</strong> cada um(a), para a<strong>de</strong>quarem<br />

o estudo da escrita e da leitura à problematização <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>.<br />

Com o advento do regime militar em 1964, a educação popular passou<br />

a ser reprimida, pois o Governo consi<strong>de</strong>rava uma ameaça à or<strong>de</strong>m<br />

pública. Em seu lugar, os militares instituíram o Movimento Brasileiro <strong>de</strong><br />

Alfabetização (Mobral). O Mobral adaptou alguns dos pro<strong>ce</strong>dimentos da<br />

educação popular, mas evitava problematizar a realida<strong>de</strong> dos estudantes,<br />

procurando integrá-la a uma realida<strong>de</strong> mais “mo<strong>de</strong>rna”, i<strong>de</strong>alizada pelo<br />

Governo. Apesar da repressão que sofriam, algumas entida<strong>de</strong>s espalhadas<br />

pelo Brasil continuavam promovendo a educação popular.<br />

Por ocasião da abertura política da década <strong>de</strong> 1980, a população intensificou<br />

as críticas ao Mobral, consi<strong>de</strong>rando-o ultrapassado. O Mobral foi<br />

extinto em 1985 e substituído pela Fundação Educar, que passou a financiar<br />

iniciativas <strong>de</strong> governos locais, entida<strong>de</strong>s civis e empresas conveniadas.<br />

Em 1990, o Governo extinguiu a Fundação Educar e, a partir <strong>de</strong> então,<br />

se priorizou o financiamento do ensino fundamental compreendido<br />

na faixa etária <strong>de</strong> sete aos 14 anos. Com isso, a educação <strong>de</strong> jovens<br />

e adultos ficou restrita a iniciativas públicas <strong>de</strong> estados e municípios,<br />

além <strong>de</strong> iniciativas privadas. No final da década <strong>de</strong> 1990, o Governo<br />

brasileiro preocupou-se em estabele<strong>ce</strong>r diretrizes para a educação <strong>de</strong><br />

jovens e adultos no País. Depois <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> estudos, o Ministério<br />

da Educação lançou a Proposta Curricular para a Educação <strong>de</strong> Jovens e<br />

Adultos, em 2001.<br />

Em julho <strong>de</strong> 1997, ocorreu em Hamburgo a V Conferência Internacional<br />

<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Pessoas Jovens e Adultas (CONFINTEA). Esta causou<br />

um bom impacto no Brasil, por meio dos diálogos potencializados nas<br />

reuniões preparatórias, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando inclusive a criação <strong>de</strong> fóruns estaduais<br />

e planejamento <strong>de</strong> encontros anuais. Já ocorreram 11 encontros<br />

nacionais – ENEJA.<br />

Neste movimento <strong>de</strong> fortale<strong>ce</strong>r as discussões em torno da modalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> EJA, o Ministério da Educação amplia a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate nacional por<br />

meio da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Continuada, Alfabetização e Diversida<strong>de</strong><br />

(SECAD), criada em 2004. Nela estão reunidos temas como alfabetização<br />

e educação <strong>de</strong> jovens e adultos, educação do campo, educação<br />

ambiental, educação em direitos humanos, educação escolar indígena e<br />

diversida<strong>de</strong> étnico-racial.<br />

A Resolução CD/FNDE n º 65, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, regulamenta<br />

a Agenda Territorial <strong>de</strong> Desenvolvimento Integrado <strong>de</strong> Alfabetização e<br />

Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos (Agenda Territorial <strong>de</strong> EJA), e consolida as<br />

estratégias para articulação territorial das ações <strong>de</strong> alfabetização e <strong>de</strong> educação<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos, valendo-se <strong>de</strong> análise diagnóstica, <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

objetivos e metas que subsidiem a implementação e gestão <strong>de</strong>stas ações.<br />

Em 2008, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos passou a ser financiada<br />

com recursos do FUNDEB e, em 2009, pela Resolução nº 51/09, a educação<br />

<strong>de</strong> jovens e adultos inseriu-se no Programa Nacional do Livro Didático<br />

(PNLDEJA).<br />

Nos últimos anos, milhões <strong>de</strong> jovens e adultos voltaram a estudar,<br />

mas muitos <strong>de</strong>les ainda enfrentam gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s materiais <strong>de</strong><br />

se inserir e permane<strong>ce</strong>r na escola. Por isso, todos, cidadãos e cidadãs<br />

brasileiros(as), precisam empenhar-se na obtenção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong>mocrática, em que todos possam ter a<strong>ce</strong>sso a uma educação <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>. Do mesmo modo, a escola há que repensar suas práticas e organização<br />

para fazer frente aos <strong>de</strong>safios que a EJA apresenta, com respeito<br />

às capacida<strong>de</strong>s, inter-relações culturais e <strong>de</strong>senvolvimento intelectual<br />

dos sujeitos, ante as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, as peculiarida<strong>de</strong>s<br />

visuais, auditivas e motoras.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

102 | PREFEITURA DE FORTALEZA 103 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

4.7.1 A educação <strong>de</strong> jovens e adultos no Município<br />

<strong>de</strong> Fortaleza<br />

A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza oferta, <strong>de</strong> forma sistemática,<br />

a educação <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1976 para o 1º segmento<br />

<strong>de</strong> EJA, tendo sido ampliada a oferta com a implantação do 2º segmento<br />

em 2008. Mesmo com as adversida<strong>de</strong>s que a modalida<strong>de</strong> enfrenta, ela<br />

apresentou, no ano <strong>de</strong> 2010, uma matrícula <strong>de</strong> 18.500 educandos(as)<br />

entre os dois segmentos do ensino fundamental.<br />

A oferta da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EJA, no primeiro e segundo segmentos<br />

do ensino fundamental, constitui, <strong>de</strong>ntre outras, a busca da garantia do<br />

direito à educação para pessoas que não tiveram a<strong>ce</strong>sso à escola ou por<br />

motivo(s) diversos tiveram que abandoná-la, e que carregam um histórico<br />

significativo <strong>de</strong> repetência ou <strong>de</strong> idas e vindas à escola em busca<br />

<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e renda, carregando em suas bagagens<br />

emocionais o estigma <strong>de</strong> baixa autoestima e <strong>de</strong> perfil socioeconômico<br />

<strong>de</strong>ficitário, apresentando a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo pedagógico próprio,<br />

que privilegia situações <strong>de</strong> aprendizagem a<strong>de</strong>quadas às referidas<br />

especificida<strong>de</strong> do(a) educando(a).<br />

No Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos está<br />

estruturada em segmentos, cujo <strong>de</strong>talhamento é apresentado a seguir.<br />

1º Segmento – contempla do 1º ao 5º ano do ensino fundamental,<br />

e está organizado nas seguintes etapas:<br />

∙ EJA I – correspon<strong>de</strong> ao 1º ano do ensino fundamental;<br />

∙ EJA II – correspon<strong>de</strong> ao 2º e 3º anos do ensino<br />

fundamental; e<br />

∙ EJA III – correspon<strong>de</strong> ao 4º e 5º anos do ensino<br />

fundamental.<br />

2º Segmento - contempla do 6º ao 9º ano do ensino fundamental,<br />

e está organizado nas seguintes etapas:<br />

∙ EJA IV – correspon<strong>de</strong> ao 6º e 7º anos do ensino fundamental; e<br />

∙ EJA V – correspon<strong>de</strong> ao 8º e 9º anos do ensino fundamental.<br />

No primeiro segmento, tem-se as seguintes áreas do conhecimento:<br />

Língua Portuguesa, Matemática e Estudo da Socieda<strong>de</strong> e da Natureza.<br />

Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar a gradação <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e abrangência dos conteúdos<br />

experienciados nestes contextos <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

A proposta <strong>de</strong> atuação do(a) educador(a) da educação <strong>de</strong> jovens e<br />

adultos, no segundo segmento do ensino fundamental, está organizada<br />

por área do conhecimento: Linguagens e Códigos e suas Tecnologias,<br />

Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e Matemática<br />

e suas Tecnologias. Incluem-se, nessas áreas, os estudos <strong>de</strong> Historia<br />

Afro-brasileira e indígena, estabelecidos pela Lei nº 10.639, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> janeiro<br />

<strong>de</strong> 2003, e a obrigatorieda<strong>de</strong> do estudo <strong>de</strong> uma língua estrangeira<br />

em EJA IV e V, <strong>de</strong> acordo com a Resolução CNE/CEB n o 1, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 2000. Essa perspectiva <strong>de</strong> atuação do<strong>ce</strong>nte torna possível maior aproximação<br />

entre educador(a) e educando(a), condição fundamental para<br />

uma prática educativa reflexiva e dialógica.<br />

A organização das expectativas do ensino e aprendizagem <strong>de</strong> forma<br />

aproximada entre as áreas do conhecimento favore<strong>ce</strong> a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />

da proposta curricular <strong>de</strong> EJA, cabendo, porém, ao<br />

educador(a), mapear entre elas os conteúdos que sejam pertinentes à<br />

realida<strong>de</strong> social e cognitiva do(a) educando(a), tornando essa ação um<br />

ponto <strong>de</strong> partida, visando a atingir o conhecimento pretendido nas unida<strong>de</strong>s<br />

significativas <strong>de</strong> cada área.<br />

Nesse âmbito, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos é expressa como possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aprendizagem significativa, favore<strong>ce</strong>ndo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pleno da cidadania, cumprindo a tarefa <strong>de</strong> disseminar discussões entre<br />

os seus profissionais e dis<strong>ce</strong>ntes sobre questões pertinentes à realida<strong>de</strong><br />

sociocultural brasileira, como a pluralida<strong>de</strong> cultural e a discriminação<br />

a que gran<strong>de</strong> parte da população está sujeita, as questões éticas, como<br />

a dignida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, a preservação ambiental<br />

e a sexualida<strong>de</strong>, entre outras, contribuindo para a formação <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> com princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

Além disso, a educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos <strong>de</strong>ve levar em<br />

conta as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s e especificida<strong>de</strong>s das pessoas envolvidas e <strong>de</strong> sua<br />

condição no <strong>de</strong>senvolvimento social, cultural, político e econômico, respeitando<br />

seu direito <strong>de</strong> viver dignamente todas as etapas da vida e <strong>de</strong><br />

exer<strong>ce</strong>r sua cidadania, realização e bem-estar em todo o curso <strong>de</strong> sua<br />

vida, por meio do a<strong>ce</strong>sso aos conhecimentos socialmente produzidos.<br />

Para tanto, se faz ne<strong>ce</strong>ssária a ampliação da oferta do atendimento<br />

escolar ao jovem, adulto e idoso, utilizando, além das escolas, outros<br />

espaços da cida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>rias com a socieda<strong>de</strong> civil, bem<br />

como a formação permanente <strong>de</strong> técnicos, professores, estudantes e <strong>de</strong>mais<br />

membros da comunida<strong>de</strong> escolar sobre temas relativos ao pro<strong>ce</strong>sso<br />

natural e sociocultural <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano (notadamente<br />

sobre amadurecimento e envelhecimento) e a<strong>ce</strong>rca <strong>de</strong> conteúdos e metodologias<br />

<strong>de</strong> ensino, próprios a cada ida<strong>de</strong>.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

104 | PREFEITURA DE FORTALEZA 105 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

4.7.2 Princípios epistemopedagógicos<br />

A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza assume como pressupostos<br />

para a EJA os fundamentos da Educação Popular, com base em<br />

Paulo Freire. Nesta perspectiva, a Educação Popular configura-se como<br />

um modo <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> atuar que expressa uma estreita vinculação entre<br />

os pro<strong>ce</strong>ssos educativos e as lutas e os anseios da classe trabalhadora.<br />

A formação básica para o cidadão <strong>de</strong>ve aconte<strong>ce</strong>r mediante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do atendimento às <strong>de</strong>mandas específicas <strong>de</strong> jovens, adultos<br />

e idosos trabalhadores, contribuindo para sua compreensão e inclusão<br />

no mundo do trabalho. Isso inclui, <strong>de</strong>ntre outros: o pleno domínio da<br />

leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e<br />

social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que<br />

se fundamenta a socieda<strong>de</strong>; o fortalecimento dos vínculos da família, <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong> humana e <strong>de</strong> tolerância recíproca na vida social; o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> autoestima no estudante, fortale<strong>ce</strong>ndo a confiança na sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, a sistematização e a consolidação das experiências<br />

<strong>de</strong> vida e os conhecimentos já adquiridos pelos jovens, adultos<br />

e idosos; o estímulo para o exercício da autonomia social, política e<br />

intelectual, com responsabilida<strong>de</strong>, pensamento crítico, aperfeiçoamento<br />

e convivência em diferentes espaços sociais; a relação teoria e prática no<br />

estudo das disciplinas e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s relacionadas<br />

com o uso <strong>de</strong> tecnologias e com os fundamentos científico-tecnológicos<br />

dos pro<strong>ce</strong>ssos produtivos; e o <strong>de</strong>senvolvimento da cidadania, po<strong>de</strong>ndo<br />

usufruir dos bens materiais e culturais existentes no meio em que vivem.<br />

Para tanto, pauta suas con<strong>ce</strong>pções e práticas nos Princípios Epistemopedagógicos<br />

que se <strong>de</strong>stacam a seguir.<br />

Flexibilida<strong>de</strong>: refere-se à abordagem curricular, à organização dos<br />

espaços e tempos <strong>de</strong> ensino e aprendizagem. Neste sentido, flexibilida<strong>de</strong><br />

jamais implica posição <strong>de</strong> relaxamento no que se refere à serieda<strong>de</strong> com<br />

que se <strong>de</strong>ve tratar estas questões. De outra parte, implica maior dinamismo<br />

e disponibilida<strong>de</strong> para o novo, para a criativida<strong>de</strong> e a fim <strong>de</strong> integrar<br />

os <strong>de</strong>mais princípios.<br />

A flexibilida<strong>de</strong> curricular <strong>de</strong>ve significar um momento <strong>de</strong> aproveitamento<br />

das experiências diversas que os(as) educandos(as) trazem consigo,<br />

como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos<br />

e seu cotidiano. A flexibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá aten<strong>de</strong>r a esta tipificação do<br />

tempo mediante combinações entre ensino presencial e não presencial,<br />

nos mol<strong>de</strong>s da Pedagogia da Alternância, ativida<strong>de</strong>s extraclasse em sintonia<br />

com temas da vida cotidiana dos(as) educandos(as), tornando-se<br />

elementos geradores <strong>de</strong> um currículo ativo e dinâmico.<br />

Dialogicida<strong>de</strong>: princípio político, epistemológico e metodológico<br />

orientador do diálogo na troca <strong>de</strong> saberes entre os sujeitos do pro<strong>ce</strong>sso<br />

educativo, pautando-se no respeito às diferenças.<br />

A dialogicida<strong>de</strong> juntamente com a interdisciplinarida<strong>de</strong>, na busca<br />

da transdisciplinarida<strong>de</strong>, constituem dois princípios educacionais básicos<br />

que <strong>de</strong>vem sustentar qualquer proposta educacional fundamentada<br />

nos pressupostos da educação popular, com base em Paulo Freire, que<br />

consi<strong>de</strong>ra o diálogo horizontal, o respeito ao conhecimento prévio dos<br />

envolvidos no pro<strong>ce</strong>sso educativo, sua cultura e seu papel social, como<br />

fundamentais na apreensão do conhecimento.<br />

Participação: induz à ação <strong>de</strong> estar junto, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> interagir,<br />

e envolver-se com a atuação coletiva.<br />

Transmitir ou re<strong>ce</strong>ber informações não configura em si um ato <strong>de</strong><br />

aprendizado <strong>de</strong> conhecimento. Para que o conhecimento ocorra, mesmo<br />

quando o indivíduo está aparentemente só, é preciso que ele dialogue<br />

com o objeto que quer conhe<strong>ce</strong>r (objeto cognoscível). É por esta, e não<br />

por outra razão, que na educação do tipo “bancária” não há conhecimento<br />

verda<strong>de</strong>iro, mas sim mera assimilação mnemônica <strong>de</strong> informações. O<br />

conhecimento verda<strong>de</strong>iro é aquele que transforma o ser apren<strong>de</strong>nte.<br />

Horizontalida<strong>de</strong>: a relação educador(a) e educando(a) assume uma<br />

expressão não hierarquizada, mesmo reconhe<strong>ce</strong>ndo as diferenças nas<br />

funções, papéis e saberes.<br />

Para que haja aprendizado real, é preciso que o(a) do<strong>ce</strong>nte estimule<br />

o(a) educando(a), não importa <strong>de</strong> que nível <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento<br />

e escolarida<strong>de</strong>, a participar com a sua ativida<strong>de</strong> intelectual,<br />

curiosa, indagadora, irrequieta, criadora e até mesmo perturbadora <strong>de</strong><br />

quem quer cada vez mais conhe<strong>ce</strong>r. Isto se dá numa posição <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> intenções e <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> que ninguém é absolutamente<br />

ignorante, nem totalmente sábio. Por isto, se apren<strong>de</strong> ao ensinar e se<br />

ensina ao apren<strong>de</strong>r.<br />

Autonomia: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização, gestão <strong>de</strong> sua própria<br />

aprendizagem, formação do pensamento crítico na leitura da realida<strong>de</strong> e<br />

expressão da própria opinião sobre os fatos.<br />

A igualda<strong>de</strong> e a liberda<strong>de</strong> tornam-se, pois, pressupostos fundamentais<br />

do direito à educação, da autonomização dos educandos(as), sobretudo<br />

nas socieda<strong>de</strong>s politicamente <strong>de</strong>mocráticas e socialmente <strong>de</strong>sejosas<br />

<strong>de</strong> uma melhor redistribuição das riquezas entre os grupos sociais e entre<br />

os sujeitos que as compõem e as expressam. Assim, a EJA ne<strong>ce</strong>ssita<br />

ser pensada como proposta pedagógica própria, a fim <strong>de</strong> criar situações<br />

educativas especificas capazes <strong>de</strong> satisfazer as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

<strong>de</strong> jovens, adultos e idosos.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

106 | PREFEITURA DE FORTALEZA 107 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Criticida<strong>de</strong>: leitura e interpretação da realida<strong>de</strong>, na busca da razão<br />

<strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> forma reflexiva, consubstanciando a educação como um ato político.<br />

A educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos traz como ênfase a formação <strong>de</strong><br />

cidadãos(ãs) críticos e participativos, sujeitos conscientes <strong>de</strong> seus direitos<br />

e <strong>de</strong>veres, capazes <strong>de</strong> contribuir na transformação da socieda<strong>de</strong>. Deixa <strong>de</strong><br />

ser uma educação para suprir o tempo perdido e passa a ser uma educação<br />

permanente, ou seja, uma educação que <strong>de</strong>ve aconte<strong>ce</strong>r ao longo <strong>de</strong> toda<br />

a vida, garantindo ampla formação, respeitando a dimensão holística do<br />

ser humano e garantindo seu prosseguimento nos estudos.<br />

Na reflexão pedagógica sobre essa modalida<strong>de</strong> educativa, tem especial<br />

relevância a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> suas dimensões social, ética e política. O<br />

i<strong>de</strong>ário da educação popular <strong>de</strong>staca o valor educativo do diálogo e da<br />

participação, a consi<strong>de</strong>ração do(a) educando(a) como sujeito portador <strong>de</strong><br />

saberes, que <strong>de</strong>vem ser reconhecidos. Educadores(as) <strong>de</strong> jovens, adultos e<br />

idosos i<strong>de</strong>ntificados com esses princípios têm procurado, nos últimos anos,<br />

reformular suas práticas pedagógicas, atualizando-as ante novas exigências<br />

culturais e novas contribuições das teorias educacionais.<br />

Contextualização: nos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, na prática<br />

educativa freireana, torna-se imprescindível, já que em sua essência<br />

se caracteriza como a ne<strong>ce</strong>ssária relação entre os saberes do cotidiano,<br />

“o mundo vivido” dos(as) educandos(as) com os saberes acadêmicos,<br />

“mundo pensado”.<br />

Na contextualização dos conteúdos, preten<strong>de</strong>-se formular significâncias<br />

dos saberes aprendidos e ensinados. Neste movimento, tem-se a<br />

inter-relação dos conteúdos próprios dos saberes sistematizados e a valorização<br />

dos saberes dos educandos(as), que passam a ser vistos como<br />

conteúdos a serem trabalhados no ensino e na aprendizagem.<br />

A inserção dos problemas vivenciados pelos educandos(as), como conteúdo<br />

a ser trabalhado, requer dos educadores(as) um conhecimento prévio<br />

da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses sujeitos. Ao problematizar suas realida<strong>de</strong>s, por meio <strong>de</strong><br />

um pro<strong>ce</strong>sso dialógico, educadores(as) e educandos(as) vão estabele<strong>ce</strong>ndo<br />

uma relação <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>ria entre os vários saberes e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação<br />

dos sujeitos por meio da compreensão das várias realida<strong>de</strong>s.<br />

Quando são valorizados os saberes práticos dos(as) educandos(as), e<br />

sua interação com os saberes acadêmicos, po<strong>de</strong>-se tornar a aprendizagem<br />

mais prazerosa, afetiva e significativa, estimulando a reflexão dos(as)<br />

educandos(as) <strong>de</strong> sua situação real <strong>de</strong> vida, social, cultural econômica,<br />

possibilitando a formação <strong>de</strong> cidadãos críticos, participativos e atuantes<br />

na transformação <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>. Por isso, a avaliação no primeiro<br />

e segundo segmentos do ensino fundamental na educação <strong>de</strong> jovens,<br />

adultos e idosos será sempre um instrumento a serviço da aprendizagem,<br />

realimentando o planejamento do ensino, com função <strong>de</strong> diagnóstico,<br />

acompanhamento e <strong>de</strong>senvolvimento do estudante, <strong>de</strong> acordo com os<br />

objetivos do curso.<br />

Ao assumir a incompletu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada ser que se apresenta, nas palavras<br />

<strong>de</strong> Paulo Freire, como “a vocação ontológica <strong>de</strong> ser-mais”, potencializa-se<br />

o cuidado com a educação dos jovens, adultos e idosos como sendo uma<br />

educação permanente que se apresenta <strong>de</strong> acordo com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>,<br />

numa oferta a<strong>de</strong>quada e formatação própria para atendimento <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas<br />

específicas, fazendo-se ne<strong>ce</strong>ssário um repensar constante quanto<br />

à ne<strong>ce</strong>ssária contextualização, as configurações dos tempos, espaços<br />

e práticas (pedagógica, avaliação, planejamento etc.) apropriadas a essa<br />

modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Compreen<strong>de</strong>-se, pois, que a EJA, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua singularida<strong>de</strong>,<br />

se apresenta plena na consecução dos objetivos a que se propõe:<br />

formação humana emancipatória, reflexiva, crítica e transformadora.<br />

Os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong>, no Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, apontam<br />

para a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> da elaboração <strong>de</strong> uma política permanente <strong>de</strong> formação<br />

continuada em serviço, para os sujeitos que atuam na EJA, uma vez que não<br />

há oferta, por meio das universida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> uma formação inicial específica<br />

para aqueles que atuam nesta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Configura-se também<br />

como imprescindível maior suporte para as escolas que ofertam a modalida<strong>de</strong>,<br />

garantindo melhores estruturas físicas, <strong>de</strong> recursos materiais, <strong>de</strong> pessoal<br />

<strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> suporte para o acompanhamento pedagógico. Neste regime<br />

<strong>de</strong> urgência que se preten<strong>de</strong> superar, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário, enquanto isto manter<br />

uma relação a<strong>de</strong>quada entre <strong>de</strong>manda e oferta <strong>de</strong> matrículas, inclusive com<br />

a oferta <strong>de</strong> EJA em diferentes turnos <strong>de</strong> funcionamento da escola. Ressalta-se,<br />

ainda, a observância da flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga horária <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong>,<br />

mas garantindo-se um conjunto <strong>de</strong> componentes curriculares, <strong>de</strong> acordo<br />

com a Base <strong>Municipal</strong> Comum e a Parte Diversificada, or<strong>de</strong>nados quanto à<br />

sequência e ao tempo ne<strong>ce</strong>ssários para o seu <strong>de</strong>senvolvimento, com objetivos,<br />

amplitu<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quados às possibilida<strong>de</strong>s e ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

dos estudantes, <strong>de</strong> acordo com as normas vigentes. Deverão também prever<br />

a<strong>de</strong>quação, metodologias, adaptação e flexibilida<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r aos estudantes<br />

com <strong>de</strong>ficiência.<br />

A organização das expectativas do ensino e aprendizagem <strong>de</strong> forma<br />

aproximada entre as áreas do conhecimento favore<strong>ce</strong> a inter ou a<br />

transdisciplinarida<strong>de</strong> da proposta curricular <strong>de</strong> EJA, cabendo, porém,<br />

ao/à professor(a) mapear entre elas os conteúdos que sejam pertinentes<br />

à realida<strong>de</strong> social e cognitiva do(a) educando(a), tornando essa ação um<br />

ponto <strong>de</strong> partida, visando atingir o conhecimento pretendido nas unida<strong>de</strong>s<br />

significativas <strong>de</strong> cada área.<br />

A educação <strong>de</strong> jovens e adultos, com efeito, se expressa como possi-<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

108 | PREFEITURA DE FORTALEZA 109 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

bilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem significativa, favore<strong>ce</strong>ndo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

pleno da cidadania, cumprindo a tarefa <strong>de</strong> disseminar discussões entre<br />

os seus profissionais e dis<strong>ce</strong>ntes sobre questões pertinentes à realida<strong>de</strong><br />

sociocultural brasileira, como a pluralida<strong>de</strong> cultural e a discriminação<br />

a que gran<strong>de</strong> parte da população está sujeita, as questões éticas, como<br />

a dignida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, a preservação ambiental<br />

e a sexualida<strong>de</strong>, a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> para pessoas com <strong>de</strong>ficiência e<br />

mobilida<strong>de</strong> reduzida, <strong>de</strong>ntre outras, contribuindo para que se estabeleça<br />

uma socieda<strong>de</strong> com princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />

4.7.3 Princípios metodológicos<br />

Na perspectiva freireana, a con<strong>ce</strong>pção metodológica contempla os<br />

princípios da horizontalida<strong>de</strong>, da ética, da leitura <strong>de</strong> mundo que pre<strong>ce</strong><strong>de</strong><br />

a leitura da palavra; da valorização da oralida<strong>de</strong>, da coletivida<strong>de</strong>, do conhecimento<br />

prévio e da crença na capacida<strong>de</strong> continua <strong>de</strong> aprendizagem<br />

dos sujeitos educativos. Para a implementação <strong>de</strong> uma prática educativa<br />

que cubra esses princípios, se faz ne<strong>ce</strong>ssário observar os seguintes passos:<br />

Investigação – busca conjunta entre educador(a) e educando(a) das<br />

questões e temas mais significativos da vida do(a) educando(a), <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

seu universo vocabular e da comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele vive;<br />

Tematização – momento da tomada <strong>de</strong> consciência do mundo, mediante<br />

a análise dos significados sociais dos temas e pontos suscitados; e<br />

Problematização – etapa em que o(a) educador(a) <strong>de</strong>safia e inspira<br />

o(a) educando(a) a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma<br />

postura critico-reflexiva.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> exemplificar opções efetivas <strong>de</strong> vivência/experiência<br />

da proposta <strong>de</strong> Paulo Freire para a EJA, apresenta-se em seguida um conjunto<br />

<strong>de</strong> pro<strong>ce</strong>dimentos que <strong>de</strong>talham os passos possíveis <strong>de</strong> aplicação com vistas<br />

a implementar uma educação i<strong>de</strong>ntificada com os postulados freireanos.<br />

Para a EJA 1, apresenta-se a proposta <strong>de</strong> alfabetização que Paulo Freire<br />

(1985;1998) 74 legou, <strong>de</strong>scrita na sequência, a ser aprofundada quando da (re)<br />

elaboração das propostas pedagógicas nas escolas e nos encontros formativos.<br />

1ª fase: levantamento do universo vocabular do grupo;<br />

2ª fase: escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios <strong>de</strong><br />

riqueza fonética, dificulda<strong>de</strong>s fonéticas;<br />

3ª fase: criação <strong>de</strong> situações existenciais características do grupo;<br />

74<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 16 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e<br />

Terra, 1985; FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />

1998<br />

4ª fase: criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para<br />

os <strong>de</strong>bates; e<br />

5ª fase: criação <strong>de</strong> fichas <strong>de</strong> palavras para a <strong>de</strong>composição das famílias<br />

fonéticas correspon<strong>de</strong>ntes às palavras geradoras.<br />

Num rápido <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> alguns aspectos da proposta, na reafirmação<br />

da escolha neste documento, informa-se que Paulo Freire propõe<br />

sua aplicação tendo em conta a relevância da leitura <strong>de</strong> mundo pre<strong>ce</strong><strong>de</strong>r<br />

a leitura da palavra. Assim, <strong>de</strong>stacam-se:<br />

* investigação das palavras geradoras – inicia-se por meio<br />

<strong>de</strong> uma pesquisa que <strong>de</strong>fine o universo vocabular dos(as)<br />

educandos(as). Isto ocorre por intermédio <strong>de</strong> conversas informais<br />

e pesquisas efetivadas na comunida<strong>de</strong> do entorno<br />

da escola, da origem dos(as) educandos(as), o(a) educador(a)<br />

observa os vocábulos mais vivenciados/<strong>de</strong>batidos pelos(as)<br />

educandos(as) e a comunida<strong>de</strong>. Assim seleciona as palavras<br />

geradoras/temas geradores que servirão <strong>de</strong> base para o trabalho<br />

em sala. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavras geradoras/temas geradores<br />

po<strong>de</strong> variar. Depois <strong>de</strong> composto o universo das palavras<br />

geradoras/temas geradores, elas/eles são apresentada(o)s<br />

em cartazes com imagens ou algo que carregue esta simbologia.<br />

Então, nos círculos <strong>de</strong> cultura 75 , se inicia uma discussão<br />

para significá-las na realida<strong>de</strong> daquela turma;<br />

* as palavras novas – usando as famílias silábicas agora conhecidas,<br />

o grupo forma palavras novas;<br />

* a conscientização – um ponto fundamental do método é<br />

o diálogo sobre os diversos temas que <strong>de</strong>correm das palavras<br />

geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar/educar não po<strong>de</strong> se<br />

restringir aos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> codificação e <strong>de</strong>codificação. Dessa<br />

forma, o objetivo da alfabetização/educação <strong>de</strong> jovens, adultos<br />

e idosos é promover a conscientização a<strong>ce</strong>rca dos problemas<br />

cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento<br />

da realida<strong>de</strong> social potencializando sua transformação.<br />

75<br />

Os círculos <strong>de</strong> cultura po<strong>de</strong>m ser entendidos numa perspectiva em que as pessoas<br />

reunidas numa disposição circular, na qual todos(as) se vêem igualmente e sem que alguém<br />

tome um lugar proeminente, se elabora o conhecimento por meio do diálogo. Para que isto<br />

ocorra, há uma disposição prévia do grupo tecida por meio da opção <strong>de</strong>mocrática, crítica<br />

e voluntária <strong>de</strong> se organizarem neste contexto para uma aprendizagem par<strong>ce</strong>ira. Salientase<br />

aqui a relevância das ativida<strong>de</strong>s em grupo para Paulo Freire. Segundo ele, a verda<strong>de</strong>ira<br />

aprendizagem só ocorre na relação com o(a) outro(a), com o mundo. Afirmava ainda que,<br />

somente na par<strong>ce</strong>ria efetiva, se po<strong>de</strong> transformar as condições opressoras e exclu<strong>de</strong>ntes do<br />

mundo <strong>de</strong> hoje. Daí a importância da aprendizagem em grupos, em círculos <strong>de</strong> cultura.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

110 | PREFEITURA DE FORTALEZA 111 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Em continuida<strong>de</strong> à escolarização, propõe-se uma releitura da proposta<br />

freireana, adaptando-a a EJA 2 e 3. Nestas, po<strong>de</strong>-se implementar as<br />

ativida<strong>de</strong>s didático-pedagógicas, tendo como mo<strong>de</strong>lo a sequência:<br />

a) investigação dos temas geradores – inicia-se pelo levantamento<br />

das situações-limites 76 inerentes ao lugar <strong>de</strong> origem<br />

dos(as) educandos(as) e/ou do entorno da escola. Isto po<strong>de</strong><br />

ser realizado em visitas, conversas informais, observações e<br />

pesquisas em par<strong>ce</strong>ria, educandos(as) e educadores(as). Estes<br />

caracterizam os temas geradores mais vivenciados/<strong>de</strong>batidos<br />

pelos(as) educandos(as) e a comunida<strong>de</strong>, e carregam em si<br />

questões essenciais à comunida<strong>de</strong> escolar. Esses temas geradores<br />

servirão <strong>de</strong> base para a abordagem dos conteúdos<br />

nas diversas áreas do conhecimento, contextualizando-os e<br />

problematizando criticamente a realida<strong>de</strong>, potencializando<br />

opções e soluções. Nos círculos <strong>de</strong> cultura, vivencia-se o diálogo<br />

para (re)significá-los na realida<strong>de</strong> daquela turma e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />

a ligação com os conteúdos a serem trabalhados;<br />

b) a incorporação dos <strong>de</strong>safios das situações-limites –<br />

uma vez i<strong>de</strong>ntificado, cada tema gerador passa a ser estudado<br />

em sua problematização, contexto <strong>de</strong> origem, contextos <strong>de</strong><br />

interlocução, entendimento literal, entendimento simbólico,<br />

questões afins etc. Portanto, o tema gerador é tratado como<br />

intermediário para a aprendizagem <strong>de</strong> conhecimentos/conteúdos,<br />

por meio <strong>de</strong> um diálogo com a realida<strong>de</strong> do entorno;<br />

c) os novos <strong>de</strong>safios – ao dialogar a<strong>ce</strong>rca dos temas geradores,<br />

enseja-se o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar os limites da situação,<br />

problematizando as questões e propondo opções que redun<strong>de</strong>m<br />

em atos-limites, meios superadores das dificulda<strong>de</strong>s<br />

i<strong>de</strong>ntificadas mediante um conjunto <strong>de</strong> informações, conhecimentos<br />

e saberes potencializados por meio da dialógica; e<br />

d) a conscientização – um ponto fundamental da proposta<br />

freireana é a dialogia a<strong>ce</strong>rca dos diversos temas surgidos.<br />

Reafirma-se que, para Paulo Freire, educar está além da codificação<br />

e <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> palavras e con<strong>ce</strong>itos. O principal<br />

76<br />

Situações-limites po<strong>de</strong>m ser entendidas como situações extremas, os obstáculos e<br />

barreiras que precisam ser vencidas ao longo das vidas pessoal e social. Diante <strong>de</strong>las,<br />

as pessoas têm várias atitu<strong>de</strong>s: per<strong>ce</strong>bem-nas como obstáculo intransponível ou que não<br />

querem transpor; ou ainda como algo que precisa ser superado. Ante as situações-limites,<br />

ao assumir uma posição crítica perante o mundo, em ações <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>nominadas por<br />

Freire <strong>de</strong> “atos-limites”, somos capazes <strong>de</strong> transpor a fronteira entre “o ser e o ser mais”,<br />

ampliando a liberda<strong>de</strong> dos oprimidos e <strong>de</strong>scobrindo o “inédito-viável”, o “sonho possível”.<br />

objetivo da proposta é possibilitar a conscientização/politização<br />

a<strong>ce</strong>rca das relações <strong>de</strong> opressão e <strong>de</strong> libertação que po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>correr da reflexão a<strong>ce</strong>rca da realida<strong>de</strong> local/global que<br />

po<strong>de</strong> fomentar uma ação transformadora da realida<strong>de</strong> social.<br />

A prática educativa freireana requer algumas compreensões que <strong>de</strong>vem<br />

ser <strong>de</strong>senvolvidas pelos agentes que nela atuam, <strong>de</strong>ntre as quais<br />

se <strong>de</strong>stacam a confiança na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e ensinar.<br />

Coerentemente com essa atitu<strong>de</strong>, é fundamental procurar conhe<strong>ce</strong>r<br />

os(as) educandos(as), suas expectativas, sua cultura, as características e<br />

problemas <strong>de</strong> seu entorno próximo, suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Os conhecimentos prévios são os fundamentos da constituição <strong>de</strong> outros<br />

significados e sentidos para o que se apren<strong>de</strong> e ensina. Para respon<strong>de</strong>r<br />

as especificida<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as), se faz ne<strong>ce</strong>ssário buscar<br />

conhe<strong>ce</strong>r os conteúdos apresentados, por estes, por meio <strong>de</strong> seus saberes<br />

cotidianos e que <strong>de</strong>verão ser trabalhados no ensino e na aprendizagem.<br />

Com clareza e segurança quanto aos objetivos e conteúdos educativos<br />

que integram um projeto pedagógico, que leva em consi<strong>de</strong>ração<br />

as várias realida<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as), sua expressão cultural, suas<br />

várias formas <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r e diversificados saberes, constituídos <strong>de</strong> suas<br />

práticas cotidianas <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>finir, para cada caso específico, as melhores<br />

estratégias e conteúdos a serem trabalhados com os(as) educandos(as)<br />

em seus pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem.<br />

4.7.4 Eixos temáticos<br />

Os eixos temáticos são gran<strong>de</strong>s temas, cuja abordagem perpassa todas<br />

as áreas do conhecimento. Com origem no eixo, o(a) educador(a)<br />

articula os conteúdos <strong>de</strong> modo a provocar a discussão, o <strong>de</strong>bate e a reflexão,<br />

visando ao aprofundamento na compreensão do(a) educando(a) em<br />

relação ao assunto abordado. Exibe-se como proposta <strong>de</strong> eixos temáticos<br />

a serem trabalhados em todos os segmentos da EJA:<br />

* i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, cultura, gênero e etnia;<br />

* organização social e relações sociais;<br />

* meio ambiente e cidadania;<br />

* trabalho, tecnologia, consumo e sustentabilida<strong>de</strong>;<br />

* saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; e<br />

* cultura <strong>de</strong> paz.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

112 | PREFEITURA DE FORTALEZA 113 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

Desse modo, o eixo temático constitui meio para uma abordagem<br />

interdisciplinar, focada na transdisciplinarida<strong>de</strong>, uma vez que possibilita<br />

a contextualização por meio do diálogo entre os saberes dos(as)<br />

educando(as) e os conteúdos próprios dos saberes sistematizados.<br />

Finalizando, evoca-se que a educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) é<br />

uma modalida<strong>de</strong> que visa, neste momento histórico, ao atendimento <strong>de</strong><br />

jovens, adultos e idosos que, por diferentes motivos, tiveram impossibilitado<br />

noutro momento o a<strong>ce</strong>sso à educação escolarizada, e queiram se<br />

qualificar permanentemente, com base na condição <strong>de</strong> incompletu<strong>de</strong> do<br />

ser humano. E, com esta compreensão, traz-se como gran<strong>de</strong> princípio a<br />

educação dialógica e emancipatória que se dá ao longo <strong>de</strong> toda a vida.<br />

4. 8 Educação <strong>de</strong> tempo integral no sistema<br />

municipal <strong>de</strong> ensino: caminhos percorridos e<br />

perspectivas<br />

A educação integral com atendimento em tempo integral está presente<br />

na legislação brasileira. A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 configura<br />

o or<strong>de</strong>namento constitucional-legal que sustenta a educação em tempo<br />

integral na perspectiva da formação integral. A Carta Magna situa a educação<br />

como o primeiro dos <strong>de</strong>z direitos sociais (Art. 6°). A educação é,<br />

portanto, um direito propiciador dos <strong>de</strong>mais.<br />

Ao anunciar os direitos, a Constituição aponta a complementarida<strong>de</strong><br />

entre políticas, promovidas e in<strong>ce</strong>ntivadas com a colaboração da socieda<strong>de</strong>,<br />

que têm por objetivo forne<strong>ce</strong>r ao homem uma formação integral.<br />

Após a aprovação da Lei nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996 (LDB),<br />

são retomadas as discussões sobre a ampliação da jornada escolar diária,<br />

com vistas à concretização do pro<strong>ce</strong>sso educativo na perspectiva da<br />

formação integral das crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens da escola pública.<br />

A LDB preconiza como referência, uma jornada <strong>de</strong>, no mínimo, quatro<br />

horas <strong>de</strong> trabalho efetivo em sala <strong>de</strong> aula, indicando a perspectiva <strong>de</strong><br />

ampliação do tempo escolar diário no ensino fundamental, como um<br />

i<strong>de</strong>al a ser perseguido pelos sistemas <strong>de</strong> ensino (Artigos 34 e 87). Ao fazer<br />

este indicativo, a LDB sinaliza para a discussão em torno da relação entre<br />

educação integral e tempo integral. A educação integral po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser<br />

realizada na jornada mínima, mas, sem dúvida, para os estudantes da escola<br />

pública, a ampliação da jornada escolar para, no mínimo, sete horas<br />

implica novas oportunida<strong>de</strong>s educativas e experiências enrique<strong>ce</strong>doras,<br />

antes distantes.<br />

O atendimento em tempo integral, ensejando orientação no cumprimento<br />

dos <strong>de</strong>veres escolares, prática <strong>de</strong> esportes, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s artísticas e alimentação a<strong>de</strong>quada, é um avanço significativo<br />

para diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e ampliar <strong>de</strong>mocraticamente as<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

A Lei nº 8.069, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1990, que institui o Estatuto da<br />

Criança e do Adoles<strong>ce</strong>nte, em seu Capítulo V, artigo 53, complementa a<br />

proposição <strong>de</strong> obrigatorieda<strong>de</strong> do a<strong>ce</strong>sso e da permanência na escola,<br />

reconhe<strong>ce</strong>ndo que o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e do adoles<strong>ce</strong>nte<br />

requer uma forma específica <strong>de</strong> proteção e, por isso, propõe um<br />

sistema articulado e integrado <strong>de</strong> atenção a esse público, do qual a escola<br />

faz parte.<br />

O Plano Nacional <strong>de</strong> Educação (PNE – Lei nº 10.172/01) orienta o<br />

atendimento em tempo integral com práticas <strong>de</strong> esportes, ativida<strong>de</strong>s artísticas<br />

e alimentação a<strong>de</strong>quada como meio para diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

sociais e ampliar <strong>de</strong>mocraticamente as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

O PNE assegura, ainda, como meta para o ensino fundamental a<br />

ampliação, progressiva da jornada escolar, visando a expandir a escola<br />

<strong>de</strong> tempo integral, que abranja um período <strong>de</strong> pelo menos sete horas diárias,<br />

com previsão <strong>de</strong> professores e funcionários em número suficiente<br />

para atendimento aos estudantes.<br />

A Lei nº 11.494/2007, que instituiu o FUNDEB, ampliou as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> educação integral ao diferenciar os coeficientes<br />

<strong>de</strong> remuneração das matrículas, não apenas por modalida<strong>de</strong> e etapa da<br />

educação básica, mas também pela ampliação da jornada escolar associando<br />

maiores per<strong>ce</strong>ntuais <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> recursos, evi<strong>de</strong>nciando<br />

uma tentativa <strong>de</strong> garantir o real direito à educação em tempo integral.<br />

A garantia <strong>de</strong> recursos para o tempo integral, por meio do FUNDEB,<br />

constitui um marco histórico do ponto <strong>de</strong> vista legal e da sustentabilida<strong>de</strong><br />

orçamentária para a conquista do direito ao ensino fundamental em<br />

tempo integral.<br />

Ressalta-se, porém, o fato <strong>de</strong> que o incremento <strong>de</strong> recursos por meio<br />

do FUNDEB para a ampliação da jornada escolar, com foco na formação<br />

integral, ainda é insuficiente para realizar as ativida<strong>de</strong>s em sua extensão.<br />

É ne<strong>ce</strong>ssária a complementarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa política no âmbito municipal,<br />

uma vez que o direito à educação integral em tempo integral só se efetiva<br />

com sustentabilida<strong>de</strong> quando acompanhado por consistente provisão <strong>de</strong><br />

recursos públicos previstos em lei.<br />

O Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação (PDE – Decreto nº<br />

6.094/07) também indica como uma das suas diretrizes a ampliação das<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> permanência do educando sob responsabilida<strong>de</strong> da escola<br />

além da jornada escolar regular (Artigo 2º, inciso VII).<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

114 | PREFEITURA DE FORTALEZA 115 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

O Decreto Presi<strong>de</strong>ncial nº 7.083, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2010, que dispõe<br />

sobre a educação integral no âmbito do Programa Mais Educação,<br />

representa um importante passo na ampliação, para o mínimo <strong>de</strong> sete<br />

horas diárias, do tempo <strong>de</strong> permanência <strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens<br />

matriculados em escola pública, com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para<br />

a melhoria da aprendizagem.<br />

O Programa Mais Educação se efetiva por intermédio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> acompanhamento pedagógico, experimentação e investigação científica,<br />

cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital, educação econômica,<br />

comunicação e uso <strong>de</strong> mídias, meio ambiente, direitos humanos,<br />

práticas <strong>de</strong> prevenção aos agravos à saú<strong>de</strong>, promoção da saú<strong>de</strong> e da<br />

alimentação saudável, entre outras – <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>ntro do espaço<br />

escolar, ou fora <strong>de</strong>le, utilizando-se dos equipamentos e estabelecimentos<br />

públicos (como <strong>ce</strong>ntros comunitários, bibliotecas públicas, praças,<br />

parques, museus e cinemas etc), com orientação pedagógica da escola,<br />

procurando articular as disciplinas/áreas do currículo com os diferentes<br />

conhecimentos e práticas socioculturais.<br />

De acordo com Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação<br />

Básica instituídas pela Resolução nº 4, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010,<br />

do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação (Art. 12), cabe aos sistemas educacionais,<br />

em geral, <strong>de</strong>finir o programa <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> tempo parcial diurno<br />

(matutino ou vespertino), parcial noturno, e integral (turno e contraturno<br />

ou turno único com jornada escolar <strong>de</strong> sete horas, no mínimo, durante<br />

todo o período letivo), haja vista a amplitu<strong>de</strong> do papel socioeducativo<br />

atribuído ao conjunto orgânico da educação básica, o que requer outra<br />

organização e gestão do trabalho pedagógico.<br />

A Resolução n° 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa Diretrizes<br />

Curriculares para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> nove anos, a serem observadas<br />

na organização curricular dos sistemas <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> suas unida<strong>de</strong>s<br />

escolares, reafirma o aumento progressivo da carga horária escolar como<br />

um i<strong>de</strong>al a ser buscado pelos sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />

Art. 36 [...]<br />

Parágrafo único: As escolas e, solidariamente, os sistemas <strong>de</strong><br />

ensino, conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento<br />

da carga horária mínima diária e, consequentemente,<br />

da carga horária anual, com vistas à maior qualificação do<br />

pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, tendo como horizonte o<br />

atendimento escolar em período integral.<br />

Art. 37 - A proposta educacional da escola <strong>de</strong> tempo integral<br />

promoverá a ampliação <strong>de</strong> tempos, espaços e oportunida<strong>de</strong>s<br />

educativas e o compartilhamento da tarefa <strong>de</strong> educar e cuidar<br />

entre os profissionais da escola e <strong>de</strong> outras áreas, as famílias<br />

e outros atores sociais, sob a coor<strong>de</strong>nação da escola e <strong>de</strong><br />

seus professores, visando alcançar a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />

da aprendizagem e da convivência social e diminuir as diferenças<br />

<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento e aos bens culturais, em<br />

especial entre as populações socialmente mais vulneráveis.<br />

4.8.1 Caminhos percorridos<br />

Experiências <strong>de</strong> ampliação do tempo <strong>de</strong> permanência diária das crianças<br />

na escola estão registradas na história <strong>de</strong> algumas unida<strong>de</strong>s escolares<br />

do Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza. Estas experiências<br />

aconte<strong>ce</strong>ram <strong>de</strong> forma espontânea, por iniciativa da própria comunida<strong>de</strong><br />

escolar e, em geral, tinham foco na alfabetização.<br />

Destaca-se a experiência da EMEIF João Germano da Ponte Neto,<br />

com o projeto <strong>de</strong>nominado “Aquarelinha Integral”, que tinha como objetivo<br />

ampliar o tempo <strong>de</strong> permanência das crianças <strong>de</strong> 1º e 2º anos do<br />

ensino fundamental, <strong>de</strong> 4h para 8h, por meio <strong>de</strong> um “Bloco Vivencial<br />

Alfabetizador”. As vivências, além <strong>de</strong> favore<strong>ce</strong>r o a<strong>ce</strong>sso a um rico universo<br />

linguístico, <strong>de</strong>veriam também propiciar à criança oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

operar concretamente sobre a língua, <strong>de</strong> maneira produtiva e funcional.<br />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da proposta pedagógica do Projeto Aquarelinha<br />

Integral, foram criados vários ambientes, possibilitando a interação<br />

da criança com símbolos, <strong>de</strong>senhos, pinturas, sinais gráficos e jogos,<br />

mantendo um contato permanente com a palavra escrita e falada. Os<br />

conteúdos básicos para essa fase do ensino eram trabalhados <strong>de</strong> forma<br />

lúdica por meio <strong>de</strong> vivências corporais, artísticas, ecológicas, <strong>de</strong> socialização,<br />

da escrita, dos números, dos sons e da fantasia.<br />

Em 2008, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação fez a<strong>de</strong>são com a participação<br />

<strong>de</strong> 100 (<strong>ce</strong>m) escolas, ao Programa Mais Educação do Governo<br />

Fe<strong>de</strong>ral, que tem por finalida<strong>de</strong> contribuir para a melhoria da aprendizagem<br />

por meio da ampliação do tempo <strong>de</strong> permanência <strong>de</strong> crianças,<br />

adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens matriculados em escola pública, mediante oferta<br />

<strong>de</strong> educação básica em tempo integral. O Mais Educação possibilitou<br />

a ampliação do tempo educativo <strong>de</strong> quatro para sete horas diárias, ampliando<br />

ainda, as oportunida<strong>de</strong>s educativas mediante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s selecionadas a critério da comunida<strong>de</strong> escolar em consonância<br />

com a proposta pedagógica da escola, referenciadas nas ativida<strong>de</strong>s<br />

propostas pelo Ministério da Educação, que integram os seguintes<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

116 | PREFEITURA DE FORTALEZA 117 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

macrocampos: acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e<br />

lazer, direitos humanos e educação, cultura e artes, cultura digital, promoção<br />

da saú<strong>de</strong>, comunicação e uso <strong>de</strong> mídias.<br />

A a<strong>de</strong>são das escolas ao Programa Mais Educação foi se ampliando gradativamente.<br />

Em 2011, 194 escolas municipais participam do programa e<br />

realizam o atendimento em jornada ampliada para um grupo <strong>de</strong> estudantes<br />

que varia entre 100(<strong>ce</strong>m) e 400(quatro<strong>ce</strong>ntos) em cada unida<strong>de</strong> escolar.<br />

A experiência do Programa Mais Educação favore<strong>ce</strong>u uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cidadã, a i<strong>de</strong>ntificação do aluno com a própria comunida<strong>de</strong> e com a cida<strong>de</strong>.<br />

Possibilitou, ainda, mudanças qualitativas em diversos aspectos do<br />

cotidiano escolar, <strong>de</strong>ntre as quais se <strong>de</strong>stacam: a recuperação da alegria<br />

do aluno em estar na escola; o aumento da frequência e participação<br />

nas ativida<strong>de</strong>s educativas; a melhoria da aprendizagem e <strong>de</strong>sempenho<br />

acadêmico; a elevação da autoestima dos alunos e <strong>de</strong> suas famílias; a<br />

ampliação da visão dos professores sobre as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s formativas dos<br />

alunos na perspectiva da formação integral; a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> outros<br />

espaços <strong>de</strong> aprendizagem além da escola; e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas<br />

rotinas <strong>de</strong> participação das famílias na escola.<br />

4.8.2 O currículo na educação <strong>de</strong> tempo integral –<br />

novos caminhos<br />

Conscientes das limitações impostas pelo tempo escolar na dinâmica<br />

diária atual, em adição às novas <strong>de</strong>mandas sociais advindas do avanço<br />

científico-tecnológico no séc. XXI, consi<strong>de</strong>rando, ainda, a realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social em que se encontra significativa par<strong>ce</strong>la da<br />

população <strong>de</strong> Fortaleza, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação – SME <strong>de</strong>senvolve<br />

ao longo dos últimos anos ações para minimizar os problemas<br />

estruturais históricos, empreen<strong>de</strong> esforços para superar as dificulda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> rendimento escolar e ofertar à população um serviço educacional <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> social, capaz <strong>de</strong> provocar mudanças e operar transformações<br />

significativas na vida das pessoas.<br />

Visando permanentemente à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, nestas<br />

diretrizes, propõe-se a implementação progressiva <strong>de</strong> educação em regime<br />

<strong>de</strong> tempo integral com a ampliação do tempo educativo diário para<br />

no mínimo sete horas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, sob a responsabilida<strong>de</strong> da escola.<br />

A ampliação da jornada escolar ofere<strong>ce</strong>rá possibilida<strong>de</strong>s para que os estudantes<br />

<strong>de</strong>senvolvam saberes, habilida<strong>de</strong>s e competências por meio <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem estar previstas no projeto político-pedagógico da<br />

escola. Para a concretização do projeto educativo <strong>de</strong> educação integral<br />

em tempo integral, o currículo escolar <strong>de</strong>verá dialogar com a cultura local,<br />

consi<strong>de</strong>rando o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> educadora, partindo do princípio <strong>de</strong><br />

que as experiências educacionais que colaboram para a formação integral<br />

dos estudantes se <strong>de</strong>senvolvem <strong>de</strong>ntro e fora do espaço escolar e que outros<br />

profissionais, além dos professores incubir-se-ão da tarefa <strong>de</strong> educar.<br />

Con<strong>ce</strong>ber um currículo numa perspectiva <strong>de</strong> educação integral em<br />

tempo integral implica, como já manifestado, no reconhecimento da<br />

existência <strong>de</strong> vários saberes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os legitimados pela socieda<strong>de</strong> através<br />

das instituições <strong>de</strong> cunho acadêmico, no qual a escola se insere tradicionalmente,<br />

como também os saberes populares, cuja origem ocorre na<br />

própria comunida<strong>de</strong>.<br />

Em meio à interação <strong>de</strong>stes saberes, aconte<strong>ce</strong> a formação dos estudantes,<br />

que apren<strong>de</strong>ndo os rituais característicos <strong>de</strong>stes campos <strong>de</strong><br />

conhecimento, formam e são formados pela cultura. Para Vieira Pinto<br />

(1979) 77 , “(...) o ser humano é um filhote da cultura do seu tempo que<br />

se faz e refaz por um longo pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> hominização”. O ser humano,<br />

diferentemente dos outros seres, não tem seu ser garantido ao nas<strong>ce</strong>r. Ele<br />

é inconcluso e tem consciência disto (FREIRE, 1979) 78 . Oliveira (2006) 79<br />

ajuda a enten<strong>de</strong>r que o ser humano é sempre e continuamente interpelado/convocado<br />

a ser. Por sua inconclusão, é um eterno advento. Conquistar<br />

sua humanida<strong>de</strong> é uma tarefa que se realiza na história no contato/<br />

comunhão com os outros.<br />

O reconhecimento efetivo da dinâmica constitutiva do humano e da<br />

importância do diálogo entre os saberes diversos é condição essencial<br />

para pensar a formação humana numa perspectiva integral.<br />

Uma proposta curricular que avança nesta compreensão <strong>de</strong> sujeito<br />

em interação dialética e histórica com os seus, com a natureza, numa<br />

comunida<strong>de</strong> que se incorpora numa socieda<strong>de</strong> que se quer cada vez<br />

mais humana, justa e solidária, exige um mo<strong>de</strong>lo curricular também dinâmico,<br />

aberto às múltiplas contribuições e que consi<strong>de</strong>re o estudante<br />

na sua multidimensionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeito.<br />

São apresentados, a seguir, os eixos estruturantes para a formação<br />

integral em tempo integral com sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>verão ser<br />

acres<strong>ce</strong>ntadas à base comum do currículo para o Ensino Fundamental:<br />

A organização curricular aqui <strong>de</strong>fendida se efetiva na articulação<br />

77<br />

VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência: problemas filosóficos da pesquisa<br />

científica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979.<br />

78<br />

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 17. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e<br />

Terra, 1979.<br />

79<br />

OLIVEIRA, Roberto Cardoso <strong>de</strong>. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília: Paralelo<br />

15; São Paulo: UNESP, 2006.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

118 | PREFEITURA DE FORTALEZA 119 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


EIXOS EXTRUTURANTES<br />

Letramento<br />

Acompanhamento<br />

pedagógico<br />

Educação ambiental<br />

Esporte e lazer<br />

Direitos humanos em<br />

Educação<br />

ATIVIDADES<br />

Leitura e produção <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> gêneros diferentes<br />

Nas diferentes áreas do conhecimento, <strong>de</strong> acordo com<br />

as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s da escola<br />

Com-Vida / Agenda 21 na escola – Educação para a<br />

sustentabilida<strong>de</strong><br />

Horta escolar e/ou comunitária<br />

Recreação/Lazer<br />

Voleibol<br />

Basquetebol<br />

Basquete <strong>de</strong> rua<br />

Futebol<br />

Futsal<br />

Han<strong>de</strong>bol<br />

Tênis <strong>de</strong> mesa<br />

Judô<br />

Karatê<br />

Taekwondo<br />

Xadrez tradicional<br />

Xadrez virtual<br />

Ginástica rítmica<br />

Direitos Humanos e ambiente escolar<br />

Jornal escolar<br />

Rádio escolar<br />

Comunicação e uso <strong>de</strong> mídias Histórias em quadrinhos<br />

Fotografia<br />

Ví<strong>de</strong>o<br />

Investigação no campo das Laboratórios, feiras e projetos científicos<br />

ciências<br />

Fonte: Resolução nº 20/2011-FNDE.<br />

VOLUME 1<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

Cultura e artes<br />

Leitura<br />

Banda fanfarra<br />

Canto coral<br />

Hip-hop<br />

Danças<br />

Teatro<br />

Pintura<br />

Grafite<br />

Desenho<br />

Percussão<br />

Capoeira<br />

Flauta do<strong>ce</strong><br />

Cineclube<br />

Práticas cir<strong>ce</strong>nses<br />

Cultura digital<br />

Software educacional/Linux educacional<br />

Informática e tecnologia da informação (Proinfo e/ou<br />

laboratório <strong>de</strong> informática)<br />

Ambiente <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais<br />

Promoção da saú<strong>de</strong><br />

Promoção da Saú<strong>de</strong> e prevenção <strong>de</strong> doenças e agravos<br />

120 | PREFEITURA DE FORTALEZA 121 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

com as diversas áreas do conhecimento, saberes acadêmicos, saberes<br />

cotidianos e populares. Para o atendimento em tempo integral, a proposição<br />

é que cada escola elabore coletivamente o plano <strong>de</strong> atendimento<br />

em consonância com o seu projeto político-pedagógico – PPP, prevendo<br />

o quantitativo <strong>de</strong> estudantes que serão atendidos, a partir <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong><br />

– interna e externa, mediante a organização <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e seleção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse dos estudantes. Este atendimento<br />

<strong>de</strong>verá ser ampliado progressivamente até a sua universalização.<br />

4.9 A avaliação, suas múltiplas funções e interrelações<br />

com o ato educativo<br />

No campo educacional brasileiro, a avaliação é objeto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

discussões e entendimentos diversos pelos agentes envolvidos nos pro<strong>ce</strong>ssos<br />

avaliativos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as instâncias institucionais fe<strong>de</strong>ral, estaduais,<br />

e municipais que a regulamentam até a comunida<strong>de</strong> escolar que<br />

a interpreta e vivencia.<br />

Avaliar é uma conquista humana que se esten<strong>de</strong> do campo científico<br />

às práticas cotidianas. Além <strong>de</strong> um pro<strong>ce</strong>dimento técnico, a avaliação<br />

inclui questões subja<strong>ce</strong>ntes ao seu fazer, tais como: as crenças, posições<br />

i<strong>de</strong>ológicas, culturais, sociais e políticas que <strong>de</strong>terminam as escolhas,<br />

opções e critérios para sua realização.<br />

Neste âmbito, avaliar implica um pro<strong>ce</strong>sso complexo <strong>de</strong> relações e<br />

inter-relações que consi<strong>de</strong>ra significativamente a parte e o todo numa<br />

relação dialógica entre as teorias e as práticas.<br />

Dessa forma, algumas questões se expressam como norteadoras para<br />

a compreensão e a <strong>de</strong>finição do contexto on<strong>de</strong> se pro<strong>ce</strong>ssa a avaliação,<br />

dando- lhe, assim, significados e finalida<strong>de</strong>s, quais sejam: Quem avalia;<br />

Por que avalia; Para que avalia; Quais aspectos da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem<br />

ser avaliados; Em que critérios a avaliação está embasada; Quais instrumentos<br />

<strong>de</strong>vem ser utilizados; Quais os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões tomadas a<br />

partir dos resultados da avaliação<br />

O ato <strong>de</strong> avaliar tem um significado muito profundo, à medida que<br />

enseja a todos os envolvidos no pro<strong>ce</strong>sso educativo momentos <strong>de</strong> reflexão<br />

sobre a própria prática e as aprendizagens realizadas. Faz-se ne<strong>ce</strong>ssário,<br />

então, redimensionar a prática <strong>de</strong> avaliação no contexto escolar.<br />

Então, não só o estudante, mas também o(a) professor(a) e todos os envolvidos<br />

na prática pedagógica po<strong>de</strong>m, por meio <strong>de</strong>la, refletir sobre a<br />

própria evolução na conquista do conhecimento.<br />

Pensar e fazer o ato avaliativo numa dimensão ampla que envolva as<br />

condições sociais, humanas e ambientais requer dos educadores, família,<br />

comunida<strong>de</strong> e socieda<strong>de</strong> uma postura reflexiva, interativa e dialógica,<br />

consi<strong>de</strong>rando o espaço e tempo do cotidiano escolar.<br />

Buscando uma nova configuração para a avaliação da aprendizagem<br />

no âmbito escolar, exige-se por parte dos envolvidos a tomada <strong>de</strong> consciência<br />

sobre a distinção entre os atos <strong>de</strong> examinar a aprendizagem e<br />

pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> avaliação.<br />

Luckesi (2005) 80 aponta que ainda é muito enfático nas ações cotidianas<br />

da escola o ato <strong>de</strong> examinar, com foco no <strong>de</strong>sempenho final e<br />

na classificação do estudante em uma escala, acarretando, consequentemente,<br />

a exclusão temporária e/ou <strong>de</strong>finitiva dos que não alcançam o<br />

resultado esperado.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo a avaliação num enfoque pro<strong>ce</strong>ssual e como ferramenta<br />

básica que integra o currículo escolar, esta assume aspectos que, ne<strong>ce</strong>ssariamente<br />

compreendidos, terá como motivação <strong>de</strong> forma predominante<br />

um resultado que têm objetivos e metas a serem alcançadas su<strong>ce</strong>ssivamente.<br />

Sendo assim, diferentemente da realização apenas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

avaliativas (provas orais e escritas, exames, testes, <strong>de</strong>ntre outros) o pro<strong>ce</strong>sso<br />

<strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>ve assumir <strong>de</strong> forma indissociável o caráter diagnóstico,<br />

formativo e somativo, que a caracteriza.<br />

O caráter diagnóstico da avaliação vai qualificar o contexto, características<br />

e nível on<strong>de</strong> se encontra o estudante em qualquer momento do<br />

seu percurso, a fim <strong>de</strong> subsidiar algumas sequências <strong>de</strong> trabalho e estratégias<br />

<strong>de</strong> ação bem mais adaptadas às suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s, prerrequisitos<br />

e interesses. Os resultados obtidos dos diagnósticos nortearão todo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do ensino, nas diversas áreas, componentes da proposta<br />

pedagógica da escola.<br />

A avaliação formativa apresenta-se como orientadora e reorientadora<br />

do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> elaboração do conhecimento, exigindo dos professores<br />

e estudantes a criação <strong>de</strong> uma relação dialógica entre o ensinar e o<br />

apren<strong>de</strong>r, pois sinalizará para ambos o nível <strong>de</strong> aprendizagem atual e as<br />

perspectivas <strong>de</strong> avanço. Tem, portanto, como foco o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e a construção da autonomia por parte do estudante. Nesse sentido,<br />

é preciso que o estudante seja informado dos conteúdos que <strong>de</strong>verá<br />

apren<strong>de</strong>r e dos objetivos que precisará alcançar, assim como os critérios<br />

que serão adotados para verificar e analisar seus avanços <strong>de</strong> aprendizagem.<br />

Professores e estudantes enten<strong>de</strong>m, assim, que a avaliação é essencial<br />

para dar continuida<strong>de</strong> aos percursos do ensino e da aprendizagem. As<br />

80<br />

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e<br />

proposições. São Paulo: Cortez, 2005.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

122 | PREFEITURA DE FORTALEZA 123 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

notas obtidas como resultados das verificações da aprendizagem apenas<br />

sinalizarão a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um pro<strong>ce</strong>sso e não serão vistas como fim último.<br />

Evi<strong>de</strong>ncia-se, pois, na avaliação formativa, a importância das relações<br />

dialógicas, a autoavaliação e a recuperação, quando ne<strong>ce</strong>ssária, como<br />

práticas que <strong>de</strong>vem subsidiar, cotidianamente, as ações avaliativas e <strong>de</strong><br />

(re)planejamento.<br />

As relações dialógicas visam à discussão, compreensão e aprofundamento<br />

<strong>de</strong> questões pedagógicas experienciadas por todos os segmentos<br />

da escola que, a partir <strong>de</strong>las, tomam consciência do contexto e, corresponsavelmente<br />

traçam novas estratégias <strong>de</strong> trabalho e metas a serem<br />

alcançadas. No caso <strong>de</strong> professores e estudantes, estes também avaliam<br />

constantemente suas práticas <strong>de</strong> ensino e aprendizagem na busca <strong>de</strong><br />

avanços e/ou superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s. Para tanto, <strong>de</strong>ntre as estratégias<br />

utilizadas, salienta-se a recuperação paralela, compreen<strong>de</strong>ndo esta<br />

como imediata à ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> apresentada.<br />

Reconhe<strong>ce</strong>ndo o valor da autoavaliação, individual e/ou grupal para<br />

a construção da autonomia dos sujeitos, sua emancipação em relação<br />

à produção do seu conhecimento e do compromisso que se estabele<strong>ce</strong><br />

diante dos objetivos a serem alcançados, tal prática <strong>de</strong>ve ser inserida e<br />

vivenciada significativamente no contexto escolar.<br />

O aspecto formativo pelo sentido, pelas características e princípios<br />

subja<strong>ce</strong>ntes a sua prática <strong>de</strong>staca-se na avaliação da aprendizagem escolar<br />

como elemento imprescindível a uma pedagogia diferenciada, on<strong>de</strong><br />

os pro<strong>ce</strong>ssos individuais e coletivos são sempre consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

seus métodos e ritmos particulares, proporcionando a verda<strong>de</strong>ira inclusão,<br />

sempre evi<strong>de</strong>nciando os pro<strong>ce</strong>ssos e não o produto.<br />

A avaliação somativa expressa o resultado da aprendizagem do estudante<br />

em momento específico, que po<strong>de</strong> ser compreendido ao final <strong>de</strong><br />

um ciclo, bimestre, semestre, etapa, ano escolar etc. O caráter somativo<br />

da avaliação tem como propósito forne<strong>ce</strong>r as informações ne<strong>ce</strong>ssárias<br />

aos registros do <strong>de</strong>sempenho do estudante ao longo <strong>de</strong> sua vida escolar,<br />

e, além <strong>de</strong> somente classificá-los, assume a função <strong>de</strong> ser um importante<br />

registro para i<strong>de</strong>ntificação do <strong>de</strong>sempenho escolar, consi<strong>de</strong>rando os tempos<br />

da organização curricular. Possui caráter e objetivos diferenciados da<br />

avaliação diagnóstica e formativa, no entanto, estabele<strong>ce</strong> uma relação<br />

dialógica entre ambas, subsidiando a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a trajetória<br />

escolar do estudante. Essa informação po<strong>de</strong>rá ser expressa <strong>de</strong> várias formas<br />

– notas, con<strong>ce</strong>itos, relatórios, portfólios, pontos – <strong>de</strong>ntre outros.<br />

No sistema público municipal, no que diz respeito ao ensino fundamental,<br />

compreen<strong>de</strong>-se que essa avaliação, que ocorre precipuamente<br />

nos espaços educativos tem como enfoque tanto o aspecto formativo<br />

pro<strong>ce</strong>ssual quanto o somativo dos resultados apresentados como registro<br />

do <strong>de</strong>sempenho dos estudantes e mediado pelos professores.<br />

A avaliação discutida neste documento <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada nos seus<br />

aspectos con<strong>ce</strong>ituais referidos anteriormente, nos marcos legais tratados<br />

a seguir, bem como nos aspectos pro<strong>ce</strong>dimentais que estão no título -<br />

Avaliação do pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem para o ensino fundamental<br />

- que serão objeto <strong>de</strong> resolução do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação.<br />

Em referência aos marcos legais, na legislação vigente, em âmbito nacional<br />

e municipal, apontam-se alguns aspectos relevantes no que con<strong>ce</strong>rne<br />

à avaliação que fundamentam esta proposta, indicados a seguir.<br />

Em relação às dimensões da avaliação, o Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação,<br />

pela Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010, que <strong>de</strong>fine as<br />

Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, em seu art. 47, parágrafo<br />

2º, trata a avaliação da aprendizagem como<br />

(...) o conjunto <strong>de</strong> conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s, valores<br />

e emoções que os sujeitos do pro<strong>ce</strong>sso educativo projetam<br />

para si <strong>de</strong> modo integrado e articulado com aqueles princípios<br />

<strong>de</strong>finidos para a Educação Básica, redimensionados para cada<br />

uma <strong>de</strong> suas etapas, bem assim no projeto político pedagógico<br />

da escola. [...]<br />

Art. 52. A avaliação institucional interna <strong>de</strong>ve ser prevista<br />

no projeto político-pedagógico e <strong>de</strong>talhada no plano <strong>de</strong> gestão,<br />

realizada anualmente, levando em consi<strong>de</strong>ração as orientações<br />

contidas na regulamentação legal vigente, para rever<br />

o conjunto <strong>de</strong> objetivos e metas a serem concretizados, mediante<br />

ação dos diversos segmentos da socieda<strong>de</strong> educativa, o<br />

que pressupõe <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> indicadores compatíveis com a<br />

missão da escola, além <strong>de</strong> clareza quanto ao que seja qualida<strong>de</strong><br />

social da aprendizagem e da escola. (imprimiu-se <strong>de</strong>staque)<br />

Institucionalmente, é importante cada sistema <strong>de</strong> ensino acompanhar<br />

e registrar o seu <strong>de</strong>sempenho amplo mediante programas avaliativos que<br />

contemplem os objetivos, metas, ações e ativida<strong>de</strong>s previamente estabelecidos<br />

com alcan<strong>ce</strong> <strong>de</strong> longo, médio e curto prazo.<br />

Como propostas <strong>de</strong> avaliação institucional, citam-se: avaliação dos<br />

programas <strong>de</strong> formação profissional (continuada, em serviço, aperfeiçoamento,<br />

à distância etc.), avaliação <strong>de</strong> cargos e carreira, avaliação da<br />

<strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> e dos Distritos <strong>de</strong> Educação, avaliação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escolas, da gestão escolar, e ainda a <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos estudantes ma-<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

124 | PREFEITURA DE FORTALEZA 125 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

triculados na re<strong>de</strong> pública municipal <strong>de</strong> ensino, quando o foco for avaliar<br />

o sistema educacional.<br />

A avaliação institucional externa visa a avaliar os sistemas educacionais,<br />

os sistemas <strong>de</strong> ensino, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escola, a formação dos<br />

profissionais em educação, a participação da comunida<strong>de</strong> escolar e da<br />

família nos organismos colegiados, tudo isso objetivando a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong> da educação e da aprendizagem dos estudantes. Os pro<strong>ce</strong>dimentos<br />

<strong>de</strong> avaliação adotados pelos professores e pela escola serão<br />

articulados às avaliações realizadas em nível nacional e às congêneres<br />

nos diferentes estados e municípios (Art. 33, da Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13<br />

<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010).<br />

O Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação, no que se refere à avaliação da<br />

aprendizagem, <strong>de</strong>ntro dos seus objetivos e metas/ações, estabele<strong>ce</strong>: assegurar<br />

a elevação progressiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho em todo o sistema <strong>de</strong><br />

ensino por meio <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> monitoramento e correção dos indicadores<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho pela Provinha Brasil, do SAEB, do SPAECE e do<br />

sistema <strong>de</strong> avaliação municipal que venha a ser <strong>de</strong>senvolvido.<br />

A avaliação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Básica ocorre periodicamente,<br />

é realizada por órgãos externos à escola e engloba<br />

os resultados da avaliação institucional, sendo que os<br />

resultados <strong>de</strong>ssa avaliação sinalizam para a socieda<strong>de</strong> se a<br />

escola apresenta qualida<strong>de</strong> suficiente para continuar funcionando<br />

como está. (Art. 53, Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 2010). (imprimiu-se <strong>de</strong>staque).<br />

No ensino fundamental, o índi<strong>ce</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação<br />

Básica (IDEB) é indicador <strong>de</strong> bom <strong>de</strong>sempenho, bem como melhorias e<br />

<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> políticas públicas para a superação <strong>de</strong> baixos índi<strong>ce</strong>s apresentados<br />

pelas escolas.<br />

Em relação à avaliação no contexto escolar, evi<strong>de</strong>ncia-se a Resolução<br />

nº 07/2010 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação – CNE/CEB, que fixa Diretrizes<br />

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />

e <strong>de</strong>fine em seus artigos 32, 34, e os incisos I e II do artigo 35, como a<br />

avaliação <strong>de</strong>ve ocorrer na escola.<br />

Art. 32 A avaliação dos estudantes, a ser realizada pelos professores<br />

e pela escola como parte integrante da proposta curricular<br />

e da implementação do currículo, é redimensionadora<br />

da ação pedagógica e <strong>de</strong>ve:<br />

I – assumir um caráter pro<strong>ce</strong>ssual, formativo e participativo,<br />

ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:<br />

a) i<strong>de</strong>ntificar potencialida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e <strong>de</strong>tectar problemas <strong>de</strong> ensino;<br />

b) subsidiar <strong>de</strong>cisões sobre a utilização <strong>de</strong> estratégias e abordagens<br />

<strong>de</strong> acordo com as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes, criar condições <strong>de</strong><br />

intervir <strong>de</strong> modo imediato e a mais longo prazo para sanar dificulda<strong>de</strong>s<br />

e redirecionar o trabalho do<strong>ce</strong>nte;<br />

c) manter a família informada sobre o <strong>de</strong>sempenho dos estudantes;<br />

d) reconhe<strong>ce</strong>r o direito do estudante e da família <strong>de</strong> discutir<br />

os resultados <strong>de</strong> avaliação, inclusive em instâncias superiores<br />

à escola, revendo pro<strong>ce</strong>dimentos sempre que as reivindicações<br />

forem pro<strong>ce</strong><strong>de</strong>ntes.<br />

II – utilizar vários instrumentos e pro<strong>ce</strong>dimentos, tais como a<br />

observação, o registro <strong>de</strong>scritivo e reflexivo, os trabalhos individuais<br />

e coletivos, os portfólios, exercícios, provas, questionários,<br />

<strong>de</strong>ntre outros, tendo em conta a sua a<strong>de</strong>quação à faixa<br />

etária e às características <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do educando;<br />

III – fazer prevale<strong>ce</strong>r os aspectos qualitativos da aprendizagem<br />

do estudante sobre os quantitativos, bem como os resultados<br />

ao longo do período sobre os <strong>de</strong> eventuais provas<br />

finais, tal com <strong>de</strong>termina a alínea “a” do inciso V do art. 24<br />

da Lei nº 9.394/96;<br />

IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os estudantes<br />

com menor rendimento tenham condições <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vidamente<br />

atendidos ao longo do ano letivo;<br />

V – prover, obrigatoriamente, períodos <strong>de</strong> recuperação, <strong>de</strong><br />

preferência paralelos ao período letivo, como <strong>de</strong>termina a Lei<br />

nº 9.394/96;<br />

VI – assegurar tempos e espaços <strong>de</strong> reposição dos conteúdos<br />

curriculares, ao longo do ano letivo, aos estudantes com frequência<br />

insuficiente, evitando, sempre que possível, a retenção<br />

por faltas;<br />

VII – possibilitar a a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos para os estudantes<br />

com <strong>de</strong>fasagem ida<strong>de</strong>-série. [...]<br />

Art. 34 Os sistemas, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e os projetos político-<br />

-pedagógicos das escolas <strong>de</strong>vem expressar com clareza o que<br />

é esperado dos estudantes em relação à sua aprendizagem.<br />

Art. 35 (...)<br />

Parágrafo único. A melhoria dos resultados <strong>de</strong> aprendizagem<br />

dos estudantes e da qualida<strong>de</strong> da educação obriga:<br />

I – os sistemas <strong>de</strong> ensino a incrementarem os dispositivos da<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

126 | PREFEITURA DE FORTALEZA 127 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

carreira e <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> exercício e valorização do magistério<br />

e dos <strong>de</strong>mais profissionais da educação e a ofere<strong>ce</strong>rem<br />

os recursos e apoios que <strong>de</strong>mandam as escolas e seus profissionais<br />

para melhorar a sua atuação;<br />

II – as escolas a uma apreciação mais ampla das oportunida<strong>de</strong>s<br />

educativas por elas oferecidas aos educandos, reforçando<br />

a sua responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propiciar renovadas oportunida<strong>de</strong>s<br />

e in<strong>ce</strong>ntivos aos que <strong>de</strong>las mais ne<strong>ce</strong>ssitem.<br />

Em conformida<strong>de</strong> com a Resolução nº 7/2010 citada, os indicativos contidos<br />

em seu âmbito prevale<strong>ce</strong>m na compreensão do pro<strong>ce</strong>sso avaliativo<br />

estabelecido pelo Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza e, cabe a<br />

este, ainda, estabele<strong>ce</strong>r suas diretrizes e normas para a organização e funcionamento<br />

da avaliação da aprendizagem no âmbito da sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas.<br />

Na Resolução nº 001/2009, do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />

Fortaleza, que trata do ensino fundamental, em seu artigo 5º, está explícito<br />

que o objetivo da formação básica do cidadão é o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, com o pleno domínio da leitura, da escrita<br />

e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema<br />

político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta<br />

a socieda<strong>de</strong>; o <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, a<br />

aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s e a formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e<br />

valores; fortalecimento dos vínculos da família, os laços <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

humana e <strong>de</strong> tolerância recíproca na vida social. É preciso consi<strong>de</strong>rar, no<br />

entanto, o <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r como primordial<br />

para a formação <strong>de</strong>sse cidadão, pois o ato <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

socieda<strong>de</strong> que vive em constante mudança torna-se imperativo. Os estudantes<br />

gostam <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, sendo assim, a ênfase não <strong>de</strong>ve ser dada ao<br />

ensino, mas à aprendizagem.<br />

O capítulo III da referida Resolução, no que trata do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação,<br />

<strong>de</strong>ixa claro que esta é um “instrumento da aprendizagem”, e que realimenta<br />

todo o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> planejamento do ensino, “(...) tendo, pois a função <strong>de</strong> diagnosticar,<br />

acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento do estudante.”<br />

Essa perspectiva <strong>de</strong> avaliação só se reconhe<strong>ce</strong> como parte imprescindível<br />

do currículo escolar se ela estiver contida no seu sentido amplo nas<br />

diretrizes curriculares ou, no seu sentido específico, no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação<br />

que se realiza no seio da escola pautado na sua proposta pedagógica.<br />

No âmbito da escola pública municipal <strong>de</strong> Fortaleza, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário<br />

<strong>de</strong>terminar pro<strong>ce</strong>dimentos que favoreçam a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do pro<strong>ce</strong>sso<br />

avaliativo que aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> forma diversa, quando se consi<strong>de</strong>ra as<br />

especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada segmento do ensino fundamental.<br />

4.9.1 Avaliação do ensino e da aprendizagem para<br />

o ensino fundamental<br />

Tomando como base o sentido e o propósito da avaliação ora evi<strong>de</strong>nciados,<br />

este documento apresenta-se abrangendo três aspectos básicos:<br />

finalida<strong>de</strong>s, princípios e pro<strong>ce</strong>dimentos metodológicos operacionais.<br />

As finalida<strong>de</strong>s e princípios dizem respeito à fundamentação teórica<br />

subja<strong>ce</strong>nte à práxis da avaliação. Os pro<strong>ce</strong>dimentos metodológicos operacionais<br />

referem-se ao “fazer” e à sua organização nas unida<strong>de</strong>s escolares.<br />

a) Finalida<strong>de</strong>s<br />

* A avaliação é um instrumento a serviço da aprendizagem, realimentando<br />

todo o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> planejamento do ensino, tendo, pois, a<br />

função formativa (diagnóstica e pro<strong>ce</strong>ssual), participativa e somativa, a<br />

fim <strong>de</strong> acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento das potencialida<strong>de</strong>s<br />

do estudante;<br />

* a avaliação servirá como referência à análise das propostas pedagógicas,<br />

realizando-se como acompanhamento contínuo e sistemático dos<br />

objetivos <strong>de</strong>finidos em cada segmento <strong>de</strong> ensino, disciplina ou área <strong>de</strong><br />

conhecimento; e<br />

* a obtenção <strong>de</strong> informações da aprendizagem do estudante dar-se-á<br />

pela adoção <strong>de</strong> formas diferentes e instrumentos <strong>de</strong> avaliação, que contemplem<br />

as especificida<strong>de</strong>s das áreas do conhecimento.<br />

b) Princípios 81<br />

* Investigação – a escola como locus <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve estimular e<br />

garantir a busca e a compreensão dos pro<strong>ce</strong>ssos envolvidos nas relações<br />

<strong>de</strong> ensino e aprendizagem;<br />

* provisorieda<strong>de</strong> – a dinâmica do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ensinar e do<br />

apren<strong>de</strong>r implica que a escola <strong>de</strong>ve estar aberta e atenta à dinâmica do<br />

pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem; e<br />

* complementarida<strong>de</strong> – as su<strong>ce</strong>ssivas e gradativas provocações<br />

ocorridas na dinâmica do pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem são condições básicas<br />

para acompanhamento da trajetória da ação e do pensamento do estudante,<br />

a fim <strong>de</strong> complementar as hipóteses sobre o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

c) Pro<strong>ce</strong>dimentos metodológico-operacionais<br />

* Para efeito <strong>de</strong> organização e registro do <strong>de</strong>sempenho escolar do<br />

estudante, o ano letivo será dividido em quatro etapas;<br />

* o registro do <strong>de</strong>sempenho do estudante do 1º (primeiro) e 2º (segun-<br />

81<br />

Adaptação <strong>de</strong> HOFFMAN, J. M. L. Avaliação Mediadora. Porto<br />

Alegre: Ed. Mediação, 1997.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

128 | PREFEITURA DE FORTALEZA 129 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

do) anos será expresso no Relatório;<br />

* o registro do <strong>de</strong>sempenho do estudante do 3º (ter<strong>ce</strong>iro) ao 9º (nono)<br />

anos será expresso em notas 82 com variação em escala <strong>de</strong> zero a <strong>de</strong>z;<br />

* o(a) professor(a) <strong>de</strong> cada disciplina/área do conhecimento <strong>de</strong>verá<br />

realizar no mínimo três situações avaliativas por etapa, consi<strong>de</strong>rando-se<br />

avaliação parcial do conhecimento; avaliação global do conhecimento e<br />

outras ativida<strong>de</strong>s avaliativas correlatas;<br />

* o acompanhamento do <strong>de</strong>sempenho do estudante será registrado<br />

em instrumentos próprios para este fim;<br />

* durante cada etapa, ao se constatar dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, o(a)<br />

professor(a) <strong>de</strong>verá trabalhar com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recuperação paralela, a fim <strong>de</strong><br />

que o estudante possa caminhar progressivamente nas etapas subsequentes;<br />

* a quarta etapa é obrigatória a todos os estudantes;<br />

* para efeito <strong>de</strong> promoção, o estudante <strong>de</strong>verá atingir no mínimo a<br />

nota seis em cada disciplina/área do conhecimento e frequência mínima<br />

<strong>de</strong> 75% (setenta e cinco por <strong>ce</strong>nto) do total <strong>de</strong> horas letivas;<br />

* a recuperação final será realizada ao término do ano escolar e antes<br />

do início do ano escolar seguinte;<br />

* para efeito <strong>de</strong> promoção, após a recuperação final, o estudante <strong>de</strong>verá<br />

atingir no mínimo a nota seis;<br />

* o resultado final do <strong>de</strong>sempenho escolar do estudante será a média<br />

aritmética simples obtida com o somatório das notas das quatro etapas; e<br />

* cabe ao sistema <strong>de</strong> ensino e à escola garantirem condições para efetivar<br />

o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> recuperação paralela e a recuperação final, <strong>de</strong>vendo estas<br />

indicações estar contidas nos documentos oficiais da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong><br />

<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza - SME, do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />

Fortaleza – CME, na proposta pedagógica e no regimento <strong>de</strong> cada escola.<br />

A avaliação da aprendizagem <strong>de</strong>ve ser realizada cumprindo critérios que<br />

darão unida<strong>de</strong> para todo o ensino fundamental, entretanto, as modalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) e educação especial serão apresentadas<br />

nos seus pro<strong>ce</strong>ssos avaliativos consi<strong>de</strong>rando as suas especificida<strong>de</strong>s.<br />

4.9.1.1 Avaliação da aprendizagem <strong>de</strong> estudantes<br />

da Educação Especial<br />

Para o estudante com <strong>de</strong>ficiência, a avaliação apresenta características<br />

específicas. Os pro<strong>ce</strong>dimentos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>vem produzir situações<br />

apropriadas para a evolução da aprendizagem, elevação da autoestima<br />

do estudante, colaborando, assim, para um histórico escolar<br />

satisfatório. A finalida<strong>de</strong> principal da avaliação <strong>de</strong>ve consistir em analisar<br />

as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem do estudante<br />

com <strong>de</strong>ficiência, pon<strong>de</strong>rando a<strong>ce</strong>rca dos recursos educacionais ne<strong>ce</strong>ssários<br />

em benefício da sua aprendizagem.<br />

Quando o(a) professor(a) i<strong>de</strong>ntifica que o estudante se <strong>de</strong>para com<br />

obstáculos na realização das ativida<strong>de</strong>s ou per<strong>ce</strong>be que <strong>de</strong>las não participa,<br />

torna-se ne<strong>ce</strong>ssária a rápida intervenção <strong>de</strong>sse profissional e da<br />

equipe escolar. Dentre as possibilida<strong>de</strong>s envolvidas, esse estudante po<strong>de</strong>:<br />

ne<strong>ce</strong>ssitar <strong>de</strong> mais tempo, em comparação aos outros estudantes, para<br />

realizar a ativida<strong>de</strong>; requerer material introdutório mais simples ou mais<br />

concreto; solicitar a provisão <strong>de</strong> meios especiais <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao currículo,<br />

como material em Braille, intérprete e instrutor <strong>de</strong> Libras, equipamentos<br />

especiais <strong>de</strong> comunicação alternativa, jogos pedagógicos adaptados,<br />

<strong>de</strong>ntre outros (SÃO PAULO, 2007) 83 .<br />

Dessa forma, são sugeridos os seguintes pro<strong>ce</strong>dimentos e instrumentos<br />

<strong>de</strong> avaliação: i) observação e registros das ativida<strong>de</strong>s diárias do estudante,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> forma individual e/ou coletiva, sistemática ou<br />

ocasional. Devem envolver outros espaços <strong>de</strong> aprendizagem além da<br />

sala <strong>de</strong> aula (o recreio, a merenda, a chegada e saída da escola e as relações<br />

interpessoais, as aulas <strong>de</strong> Educação Física, a biblioteca, o laboratório<br />

<strong>de</strong> informática educativa com programas a<strong>ce</strong>ssíveis etc.; ii) portfolios<br />

contendo ativida<strong>de</strong>s no ca<strong>de</strong>rno, folhas <strong>de</strong> exercícios, <strong>de</strong>senhos e outros<br />

trabalhos realizados em sala <strong>de</strong> aula, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> contextualizá-los; iii) entrevistas sob a forma <strong>de</strong> relações dialógicas<br />

entre avaliador e avaliado, compartilhando informações para o mesmo<br />

objetivo; iv) registros no diário <strong>de</strong> classe, relatórios, fichas ou similares<br />

contendo indicadores on<strong>de</strong> os avaliadores registrem suas observações; v)<br />

utilizar a autoavaliação <strong>de</strong> maneira que o estudante se ache valorizado,<br />

e que seu <strong>de</strong>senvolvimento individual seja reconhecido, contribuindo<br />

sobremaneira para sua autoestima.<br />

A avaliação <strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência intelectual visa ao conhecimento<br />

<strong>de</strong> seus avanços no entendimento dos conteúdos curriculares<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

82<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sses critérios foi realizada com base numa pesquisa feita por amostragem<br />

na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza, em setembro <strong>de</strong> 2010.<br />

83<br />

SÃO PAULO. Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem <strong>de</strong> Alunos com<br />

Ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s Educacionais Especiais. São Paulo: SME, 2007.<br />

130 | PREFEITURA DE FORTALEZA 131 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

durante o ano letivo <strong>de</strong> trabalho, consi<strong>de</strong>rando seu ritmo <strong>de</strong> aprendizagem,<br />

como já é previsto para os <strong>de</strong>mais estudantes.<br />

Em ambos os casos, ao iniciar um novo período letivo, o que interessa<br />

é a aprendizagem obtida e que os estudantes com ou sem <strong>de</strong>ficiência sejam<br />

vistos pelo que apren<strong>de</strong>ram no ano anterior, pois nenhum conhecimento<br />

é aprendido sem base no que se conhe<strong>ce</strong>u antes, consi<strong>de</strong>rando as<br />

características da aprendizagem, como: o ritmo, os níveis <strong>de</strong> abstração e<br />

os alcan<strong>ce</strong>s possíveis da aprendizagem (BEYER, 2006 84 ; BRASIL, 2007 85 ).<br />

A avaliação da aprendizagem <strong>de</strong> estudantes <strong>ce</strong>gos e/ou com baixa visão<br />

<strong>de</strong>ve ser feita a partir do seu próprio referencial e não do referencial<br />

do vi<strong>de</strong>nte. O <strong>de</strong>ficiente visual com perda total ou parcial <strong>de</strong>ve ter, à sua<br />

disposição, na escola, a<strong>ce</strong>sso ao código Braille e ao material em relevo<br />

como recurso imprescindível para a sua aprendizagem (BRASIL, 2005a) 86 .<br />

Estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual requerem mais tempo, não só<br />

para completar suas tarefas escolares, como também para o pro<strong>ce</strong>sso<br />

<strong>de</strong> avaliação. Um dos cuidados ne<strong>ce</strong>ssários é o uso da linguagem, com<br />

instruções mais objetivas e específicas para uma maior compreensão,<br />

especialmente durante as ativida<strong>de</strong>s avaliativas. Uma criança não é mais<br />

ou menos capaz por ser <strong>ce</strong>ga. É <strong>de</strong> fundamental importância que o(a)<br />

professor(a) invista em conteúdos bem <strong>de</strong>finidos, métodos e técnicas<br />

a<strong>de</strong>quadas, material didático apropriado, enriquecimento <strong>de</strong> informações<br />

reais e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e criação (BRASIL, 2001) 87 .<br />

Estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reorganizar<br />

o cérebro <strong>de</strong>senvolvendo um senso <strong>de</strong> audição diferenciado para compensar<br />

a falta da visão, dando-lhe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r falas<br />

rápidas muito além do que a pessoa que enxerga po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r,<br />

potencializando a sua memória auditiva.<br />

A mão, para a pessoa <strong>ce</strong>ga, assume um papel protagonista em seu <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

pois é pela experimentação do tato manual que alguém<br />

privado <strong>de</strong> visão obtém uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> informações do ambiente e<br />

garante o <strong>de</strong>senvolvimento normal do aspecto cognitivo. Como o Sistema<br />

Braille está baseado no tato e utiliza um método mais fácil e rápido<br />

84<br />

op. cit.<br />

85<br />

BRASIL, 2007. Aspectos legais e orientação pedagógica. FÁVERO, A. G.; PANTOJA,<br />

L <strong>de</strong> M.; MANTOAN, M. T. E. (coords.) São Paulo: MEC/SEESP, 2007.<br />

86<br />

BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

educacionais <strong>de</strong> alunos <strong>ce</strong>gos e <strong>de</strong> alunos com baixa visão. ARANHA, Maria Salete<br />

Fábio (org.). Brasília: Ministério da Educação/<strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Especial, 2005a.<br />

87<br />

BRASIL. Programa <strong>de</strong> Capacitação <strong>de</strong> Recursos Humanos do Ensino Fundamental:<br />

<strong>de</strong>ficiência visual. v. 2. Fascículo IV. BRUNO, Marilda Moraes Garcia; MOTA, Maria Glória<br />

Batista da (coords.). Colaboração Instituto Benjamin Constant. Brasília-DF: MEC/SEESP, 2001.<br />

que é o sintético, o tato distingue efetivamente a letra e não o conjunto<br />

simples que constitui a palavra, e muito menos o conjunto complexo que<br />

forma a frase. Portanto, ao ler, a criança <strong>ce</strong>ga sintetiza mais rapidamente<br />

no momento da compreensão textual.<br />

No momento <strong>de</strong> instituir critérios avaliativos para o estudante com<br />

sur<strong>de</strong>z, o(a) professor(a) <strong>de</strong>verá ter o cuidado <strong>de</strong> não supervalorizar os<br />

erros da estrutura formal da língua portuguesa, em razão das diferenças<br />

que caracterizam a língua <strong>de</strong> sinais no momento em que fazemos comparações<br />

com nossa língua.<br />

Na avaliação da produção escrita dos estudantes surdos em Língua<br />

Portuguesa, os professores precisam ser orientados para: o estudante ter<br />

a<strong>ce</strong>sso ao dicionário e ao intérprete; na avaliação do conhecimento, os<br />

critérios <strong>de</strong>vem ser compatíveis com as características inerentes ao estudante<br />

surdo; maior relevância do conteúdo (nível semântico), do aspecto<br />

cognitivo <strong>de</strong> sua linguagem, coerência e sequência lógica das i<strong>de</strong>ias; a<br />

forma da linguagem (nível morfossintático) <strong>de</strong>ve ser avaliada com maior<br />

flexibilida<strong>de</strong>, valorizando o uso <strong>de</strong> termos da oração, como termos essenciais,<br />

termos complementares e, por último, termos a<strong>ce</strong>ssórios, não sendo<br />

muito exigido o que diz respeito ao elemento coesivo (BRASIL, 2005b) 88 .<br />

Os estudantes com <strong>de</strong>ficiências físicas são beneficiados com algumas<br />

modificações no ambiente físico, nos materiais e equipamentos utilizados<br />

para a ativida<strong>de</strong> escolar. Aqueles que não apresentarem <strong>de</strong>ficiência<br />

intelectual po<strong>de</strong>m utilizar-se dos mesmos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> avaliação empregados<br />

com estudantes sem <strong>de</strong>ficiência, po<strong>de</strong>ndo, entretanto, se mostrarem<br />

ne<strong>ce</strong>ssárias algumas modificações no pro<strong>ce</strong>sso avaliativo para um<br />

<strong>de</strong>terminado estudante cuja condição física seja um fator limitativo da<br />

sua capacida<strong>de</strong>, resultado <strong>de</strong> lesões neurológicas. Nesse caso, <strong>ce</strong>rtamente<br />

<strong>de</strong>verá, aumentar o tempo requerido durante o pro<strong>ce</strong>dimento <strong>de</strong> avaliação<br />

(WILSON, 1971) 89 .<br />

O estudante que tem gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma comunicação<br />

oral funcional po<strong>de</strong> ser bastante beneficiado por formas alternativas<br />

<strong>de</strong> comunicação social, tais como: por escrito, com o uso <strong>de</strong><br />

quadros <strong>de</strong> conversação (ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> signos, livros <strong>de</strong> comunicação,<br />

os quais são ca<strong>de</strong>rnos ou livros que contêm figuras correspon<strong>de</strong>ntes a<br />

substantivos, adjetivos, verbos, advérbios mais comumente utilizados na<br />

88<br />

BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais <strong>de</strong> alunos surdos: saberes e práticas da inclusão. ARANHA,<br />

Maria Salete Fábio (org.). Brasília – DF: MEC/SEESP, 2005b.<br />

89<br />

WILSON, M. Crianças com <strong>de</strong>ficiência física e neurológicas. In : DUNN, L. M. Crianças<br />

Ex<strong>ce</strong>pcionais – Seus Problemas, Sua Educação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ao livro Técnico S. A.,<br />

1971.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

132 | PREFEITURA DE FORTALEZA 133 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

linguagem coloquial do cotidiano), mediante o uso <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> palavras<br />

com figuras, <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong> escrever, <strong>de</strong> computador (WILSON, 1971).<br />

As altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação caracterizam-se pela elevada potencialida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aptidões, talentos e habilida<strong>de</strong>s evi<strong>de</strong>nciada no alto <strong>de</strong>sempenho<br />

nas diversas áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, nos seguintes aspectos isolados<br />

ou combinados (BRASIL, 2005c, p.12) 90 :<br />

Tipo intelectual – apresenta flexibilida<strong>de</strong> e fluência <strong>de</strong> pensamento,<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento abstrato para fazer associações, produção<br />

i<strong>de</strong>ativa, rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> pensamento, compreensão e memória elevada, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> resolver e lidar com problemas;<br />

Tipo acadêmico – evi<strong>de</strong>ncia aptidão acadêmica específica, atenção,<br />

con<strong>ce</strong>ntração; rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> aprendizagem, boa memória, gosto e motivação<br />

pelas disciplinas acadêmicas <strong>de</strong> seu interesse; habilida<strong>de</strong> para avaliar, sintetizar<br />

e organizar o conhecimento; capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção acadêmica;<br />

Tipo Criativo – relaciona-se às características <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>, imaginação,<br />

capacida<strong>de</strong> para resolver problemas <strong>de</strong> forma diferente e inovadora,<br />

sensibilida<strong>de</strong> para as situações ambientais, po<strong>de</strong>ndo reagir e produzir<br />

diferentemente e, até <strong>de</strong> modo extravagante; sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio diante<br />

da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fatos; facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoexpressão, fluência e flexibilida<strong>de</strong>;<br />

Tipo Social – revela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e caracteriza-se por<br />

<strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong> interpessoal, atitu<strong>de</strong> cooperativa, sociabilida<strong>de</strong><br />

expressiva, habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trato com pessoas diversas e grupos para<br />

estabele<strong>ce</strong>r relações sociais, per<strong>ce</strong>pção acurada das situações <strong>de</strong> grupo,<br />

capacida<strong>de</strong> para resolver situações sociais complexas, alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> persuasão<br />

e <strong>de</strong> influência no grupo;<br />

Tipo Talento Especial – po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar tanto na área das artes<br />

plásticas, musicais, como dramáticas, literárias ou cênicas, evi<strong>de</strong>nciando<br />

habilida<strong>de</strong>s especiais para essas ativida<strong>de</strong>s e alto <strong>de</strong>sempenho; e<br />

Tipo Psicomotor – <strong>de</strong>staca-se por apresentar habilida<strong>de</strong> e interesse<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s psicomotoras, evi<strong>de</strong>nciando <strong>de</strong>sempenho fora do comum<br />

em velocida<strong>de</strong>, agilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos, força, resistência, controle<br />

e coor<strong>de</strong>nação motora.<br />

O estudante com altas habilida<strong>de</strong>s/ superdotação po<strong>de</strong> apresentar<br />

falta <strong>de</strong> interesse e/ou motivação para os estudos acadêmicos, rotina escolar<br />

ou dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento com os colegas, o que po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um rendimento escolar inferior.<br />

O pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação para essa clientela mere<strong>ce</strong> cuidados, no<br />

sentido <strong>de</strong> que o(a) professor(a) possa dar ênfase às informações trazi-<br />

90<br />

BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />

educacionais especiais <strong>de</strong> alunos com altas habilida<strong>de</strong>s e superdotação: saberes e<br />

práticas da inclusão. ARANHA, Maria Salete Fábio (org.). Brasília – DF: MEC/SEESP, 2005c.<br />

das pelo estudante, i<strong>de</strong>ntificar suas potencialida<strong>de</strong>s, respeitar seus estilos<br />

pessoais, sua maturida<strong>de</strong> intelectual e possibilitar a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos,<br />

caso seja confirmada sua habilida<strong>de</strong> superior (BRASIL, 2005c) 91 .<br />

A avaliação da aprendizagem é <strong>de</strong> natureza complexa, principalmente<br />

em se tratando <strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, que apresentam níveis<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem amplamente diversificados. A avaliação<br />

do <strong>de</strong>sempenho escolar <strong>de</strong>sses estudantes evi<strong>de</strong>ncia a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> variadas opções para avaliar, consi<strong>de</strong>rando e estimulando suas<br />

capacida<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> se efetivar a inclusão escolar.<br />

4.9.1.2 Avaliação na educação <strong>de</strong> jovens e adultos - EJA<br />

A educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) é uma modalida<strong>de</strong> que visa ao<br />

atendimento a jovens, adultos e idosos que não tiveram a<strong>ce</strong>sso à escola<br />

ou que não concluíram os estudos. Tem como princípio a educação dialógica<br />

e emancipadora que se dá ao longo da vida. A avaliação, nesse<br />

contexto, constitui-se num pro<strong>ce</strong>sso amplo, que possa indicar os avanços<br />

e as dificulda<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as) ao longo do ensino fundamental<br />

e, sobretudo, tenha critérios claros e <strong>de</strong>finidos, além <strong>de</strong> previamente discutidos<br />

tanto pelos(as) educandos(as) quanto pelos (as) educadores (as).<br />

Na EJA I, o(a) educador(a) <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> professor(a)/<br />

alfabetizador(a) <strong>de</strong> forma efetiva, a fim <strong>de</strong> que o (a) educando (a) consiga<br />

alcançar o domínio da leitura, da escrita e da Matemática que lhe permita<br />

prosseguir na turma <strong>de</strong> EJA II com maior <strong>de</strong>senvoltura e confiança, recuperando<br />

assim a autoestima. A avaliação, na EJA I e II, será feita mediante relatório<br />

com registro do <strong>de</strong>sempenho do (a) educando (a), bimestralmente.<br />

Na EJA III <strong>de</strong>verão ser reforçados os conhecimentos sobre a natureza e<br />

a socieda<strong>de</strong>, o domínio da leitura, da escrita, das operações matemáticas,<br />

uma vez que este nível fechará o primeiro segmento do ensino fundamental.<br />

Na EJA IV e V, o (a) educando (a) <strong>de</strong>verá consolidar os conhecimentos básicos<br />

nas áreas <strong>de</strong> Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza,<br />

Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.<br />

A sistemática <strong>de</strong> avaliação na EJA III, IV e V seguirá as orientações propostas<br />

pela <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação para o ensino fundamental.<br />

A avaliação <strong>de</strong> educandos(as) com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação matriculados (as) em<br />

EJA <strong>de</strong>verá seguir as orientações da educação especial apresentadas no<br />

documento das Diretrizes Curriculares.<br />

Os pro<strong>ce</strong>dimentos avaliativos <strong>de</strong>vem envolver a análise dos pro<strong>ce</strong>s-<br />

91<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m nota <strong>de</strong> rodapé anterior.<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

134 | PREFEITURA DE FORTALEZA 135 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO


VOLUME 1<br />

sos e dos resultados sob dois eixos: a do(a) educador(a), para refletir sobre<br />

como realizou a mediação dos estudos do(a) educando(a) e para<br />

i<strong>de</strong>ntificar suas dificulda<strong>de</strong>s e avanços (autoavaliação).<br />

4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />

136 | PREFEITURA DE FORTALEZA 137 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!