2 - Secretaria Municipal de Educação - ce
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ANA MARIA IÓRIO DIAS<br />
FLÁVIA REGINA DE GOIS TEIXEIRA<br />
(ORGANIZADORAS)<br />
VOLUME 1<br />
FORTALEZA<br />
AGOSTO, 2011
Luizianne <strong>de</strong> Oliveira Lins<br />
Prefeita <strong>de</strong> Fortaleza<br />
Ana Maria <strong>de</strong> Carvalho Fontenele<br />
Secretária <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza<br />
Jacqueline Franco Cavalcante<br />
Assessora da Secretária <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação<br />
Francisco Arlindo Araújo<br />
Coor<strong>de</strong>nador do Ensino Fundamental e Médio<br />
Flávia Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira<br />
Chefe do Departamento <strong>de</strong> Gestão Pedagógica<br />
Salmira Braga Paiva Martins<br />
Chefe do Departamento <strong>de</strong> Gestão Escolar<br />
Chefes dos Distritos <strong>de</strong> Educação<br />
Lady Lima Vieira<br />
Maria Deusimar Rios da Silva<br />
Maria do Socorro do Carmo Rodrigues<br />
Ana Elizabeth Por<strong>de</strong>us Carvalho<br />
Francisca <strong>de</strong> Assis Viana Moreira<br />
Maria do Socorro Braga<br />
EDIÇÕES SME<br />
Coor<strong>de</strong>nação Editorial<br />
Alexandre Barbalho<br />
Conselho Editorial<br />
Ana Maria <strong>de</strong> Carvalho Fontenele, Alexandre<br />
Barbalho, Ana Maria Iório Dias, Custódio Luis<br />
Silva <strong>de</strong> Almeida, Francisco José Rodrigues,<br />
Jacqueline Franco Cavalcante e Rosemary Conti<br />
Capa, projeto gráfico e edição <strong>de</strong> arte<br />
Norton Falcão<br />
Fotografia<br />
Ana Lorena Magalhães<br />
Revisão<br />
Vianney Mesquita, Ana Maria Iório Dias, Flávia<br />
Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira, Francisco Arlindo Araújo,<br />
Paulo Meireles Barguil<br />
As Diretrizes Curriculares Municipais<br />
para o Ensino Fundamental (DCM)<br />
sistematizam o que foi estabelecido<br />
na Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação<br />
Nacional (LDB, Lei nº 9394/96) e outros<br />
marcos legais que regem o sistema educacional<br />
do Brasil. Em Fortaleza, a DCM foi elaborada <strong>de</strong><br />
forma <strong>de</strong>mocrática, num pro<strong>ce</strong>sso que contou<br />
com a participação <strong>de</strong> professores, coor<strong>de</strong>nadores<br />
pedagógicos, gestores escolares, equipe<br />
técnica da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação,<br />
dos distritos <strong>de</strong> educação, bem como das secretarias<br />
<strong>de</strong> Direitos Humanos e <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong><br />
Fortaleza.<br />
A publicação que você re<strong>ce</strong>be agora apresenta<br />
o resultado <strong>de</strong>sse trabalho. Aqui, estão contidas<br />
as diretrizes curriculares gerais, além <strong>de</strong> outras<br />
informações que vão subsidiar os do<strong>ce</strong>ntes<br />
na elaboração <strong>de</strong> propostas pedagógicas para as<br />
escolas do Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino.<br />
Em articulação com as diretrizes, a Prefeitura <strong>de</strong><br />
Fortaleza também promove a formação contínua<br />
dos seus do<strong>ce</strong>ntes e técnicos <strong>de</strong> Educação. Acreditamos<br />
que, assim, motivamos sua busca permanente<br />
por estudos e pesquisas, o que contribui<br />
para qualificar ainda mais o ensino.<br />
É com essa conjunção <strong>de</strong> fatores que estamos<br />
orientando o trabalho <strong>de</strong>senvolvido nas nossas<br />
escolas, dinamizando o ensino e integrando a<br />
multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências e saberes ne<strong>ce</strong>ssários<br />
para promovermos Educação com Qualida<strong>de</strong><br />
– a educação que liberta. Assim, colaboramos<br />
para fazer com que os alunos e alunas do<br />
sistema municipal <strong>de</strong> Fortaleza sejam cada vez<br />
mais protagonistas <strong>de</strong> suas próprias histórias e da<br />
história da Cida<strong>de</strong>. Boa leitura e bom trabalho!<br />
Luizianne Lins<br />
Prefeita <strong>de</strong> Fortaleza
GRUPOS DE TRABALHO<br />
Consultoria Geral: Ana Maria Iório Dias<br />
Coor<strong>de</strong>nação Geral: Flávia Regina <strong>de</strong> Gois Teixeira<br />
PROFESSORES ASSESSORES DE ÁREAS<br />
ESPECÍFICAS:<br />
Adriana Leite Limaver<strong>de</strong> Gomes<br />
Afrânio <strong>de</strong> Araújo Coelho<br />
Alexandra Maria <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ana Karina Morais <strong>de</strong> Lira<br />
Carlos Alberto Santos <strong>de</strong> Almeida<br />
Cláudia Christina Bravo e Sá Carneiro<br />
Cláudia Pires da Costa<br />
Cleiton Batista Vascon<strong>ce</strong>los<br />
Ercília Maria Braga <strong>de</strong> Olinda<br />
Erwin Schra<strong>de</strong>r<br />
Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin<br />
Francisco Egberto <strong>de</strong> Melo<br />
Isaí<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira da Silva<br />
João Batista <strong>de</strong> Albuquerque Figueiredo<br />
José Aires <strong>de</strong> Castro Filho<br />
Lívia Márcia Tiba Rádis Baptista<br />
Maria Edvani Silva Barbosa<br />
Maria Eleni Henrique da Silva<br />
Massília Maria Lira Dias<br />
Mônica <strong>de</strong> Souza Serafim<br />
Nertan Dias Silva Maia<br />
Paulo Meireles Barguil<br />
Pollyanne Bicalho Ribeiro<br />
Raquel Crosara Maia Leite<br />
1. ELABORAÇÃO<br />
Equipe Técnica SME/SER<br />
Alessandra Áurea P. do Nascimento<br />
Alex Fabiano Nicolau <strong>de</strong> Araújo<br />
Alexandra Maria <strong>de</strong> Oliveira<br />
Alexandra Souza Costa Lima<br />
Alexandre Carlos Coelho Damas<strong>ce</strong>no<br />
Ana Claudia Portela<br />
Ana Leonilia Alves <strong>de</strong> Sousa<br />
Andrea Nunes Cavalcante<br />
Aparecida Maria Costa <strong>de</strong> Albuquerque<br />
Artur Xavier Moreira Júnior<br />
Cássia Azevedo Fernan<strong>de</strong>s Arruda<br />
César Lima Costa<br />
Clau<strong>de</strong>te da Silva Morais Frencken<br />
Clébia Parente Soares<br />
Dalmário Heitor Miranda <strong>de</strong> Abreu<br />
Diana Ribeiro Gonçalves <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Gomes<br />
Elzanir Santos Costa Moreira<br />
Fabíola Fernan<strong>de</strong>s da Silva<br />
Flávia Regina <strong>de</strong> Góis Teixeira<br />
Francilíbia Cunha Frota Teixeira<br />
Francisca Izabel Cristina Andra<strong>de</strong><br />
Francisca Suely Farias Nunes<br />
Francisco Antonio Alves Rodrigues<br />
Francisco Egberto <strong>de</strong> Melo<br />
Francisco José Rodrigues<br />
Francisco Sueudo Rodrigues<br />
Geny Lucia Salgueiro Segundo<br />
Gislana Maria do Socorro Monte do Vale<br />
Gláucia Soares Lessa<br />
Hadassa Barros Rodrigues do Nascimento<br />
Herjan Sá Pinto<br />
Isabel Maria Andra<strong>de</strong> da Silva<br />
Isaí<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira da Silva<br />
Jaefson Rodrigues <strong>de</strong> Sousa<br />
Jeane Pereira Dantas<br />
João Saldanha Nunes Filho<br />
José Lopes Bezerra<br />
José Melo <strong>de</strong> Souza<br />
Júlia Cândida Soares Menezes<br />
Karla Eveline Barata<br />
Lara Ronise <strong>de</strong> Negreiros Pinto Scipião<br />
Lu<strong>ce</strong>lane Cor<strong>de</strong>iro Nojosa <strong>de</strong> Freitas<br />
Luiziana Lima Gonzaga<br />
Márcia Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Farias<br />
Marcos Antonio Ramos<br />
Margarida Maria Men<strong>de</strong>s Leite<br />
Maria Aurinei<strong>de</strong> Ferreira Sousa<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima <strong>de</strong> La<strong>ce</strong>rda<br />
Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s César Moreira<br />
Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Martins Gomes<br />
Maria do Socorro Granja Pinheiro De Souza<br />
Maria Edvani Silva Barbosa<br />
Maria Edneia Gonçalves Quinto<br />
Maria Elizete Maciel Lima<br />
Maria Ivanei<strong>de</strong> Luna Sampaio Alves<br />
Maria José Vieira <strong>de</strong> Sousa<br />
Maria Rejane Araruna<br />
Maria Zuila Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />
Marilandia Ferreira Colaço do Carmo<br />
Marília Correia Soares<br />
Marlu<strong>ce</strong> Caetano Martins<br />
Micheline Guelry Silva Albuquerque<br />
Minervina Rufino Fernan<strong>de</strong>s<br />
Miriane Dantas Fernan<strong>de</strong>s<br />
Mônica Gue<strong>de</strong>lha Carneiro<br />
Nelson Luis Bezerra <strong>de</strong> Oliveira<br />
Neomésia Me<strong>de</strong>iros Herculano<br />
Otilio Diógenes Saldanha<br />
Patrícia Pereira <strong>de</strong> Matos<br />
Patrícia Ribeiro Feitosa Lima<br />
Paulo Pio<br />
Regia Helvis Freire <strong>de</strong> Holanda<br />
Regina Célia Mendonça Bruno<br />
Reginaldia Garcia <strong>de</strong> Carvalho<br />
Rosalina Maria Rocha Mont’alverne<br />
Sandra Ribeiro Gurgel<br />
Sandra Silva <strong>de</strong> Araújo<br />
Sandro Luz da Silva<br />
Silvana Teófilo Machado<br />
Simone <strong>de</strong> Fátima Brichta<br />
Sinara Mota Neves <strong>de</strong> Almeida<br />
Suzy Élida Lima <strong>de</strong> Almeida<br />
Taislandia <strong>de</strong> Lima Cavalcante<br />
Tânia Bezerra Soares<br />
Tereza Liduina Grigório Fernan<strong>de</strong>s<br />
Valda Albuquerque<br />
Vanda Tereza Silva da Rocha<br />
Vera Lúcia das Graças Rangel Berto<br />
Vêronica Maria Benevi<strong>de</strong>s Pedrosa<br />
Virginia Maria Giffone Almeida<br />
Vitória Régia Cor<strong>de</strong>iro Veras<br />
Wangirly Nogueira <strong>de</strong> Sousa<br />
Wellington Gomes Freitas<br />
2. COLABORAÇÃO<br />
Equipe Técnica SME/SER<br />
A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Diógenes<br />
Alessandra Gonçalves <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ana Lúcia Duarte Ferreira<br />
Angela Maria Benevi<strong>de</strong>s Pereira<br />
Angela Torquato Onofre<br />
Antonio Vul<strong>de</strong>mbergue <strong>de</strong> Carvalho Farias<br />
Arivladna Nogueira Sales Gomes<br />
Cíntia Maria Paiva Ribeiro<br />
Clari<strong>ce</strong> Gomes Costa<br />
Diana Márcia Carvalho Claudino Sileikis<br />
Domicio Zeferino <strong>de</strong> Freitas Filho<br />
Esmeraldina Januário <strong>de</strong> Sousa<br />
Francisca Emília Vasquez<br />
Francisca Gerusa Ga<strong>de</strong>lha<br />
Francisca Valéria Pinheiro<br />
Francisco Arlindo Araújo<br />
Francisco Pedro Batista<br />
Geraldo Magela <strong>de</strong> Oliveira Silva<br />
Isneida Maria <strong>de</strong> Queiroz Campos Arruda<br />
Jamisa Loreto Monte do Vale<br />
Jane Mary <strong>de</strong> Moura Gomes<br />
Jani<strong>ce</strong> Caldas Araújo<br />
Josaina Menezes Silva<br />
José Hel<strong>de</strong>r Diniz Junior<br />
Karla Bianca Martins<br />
Karla Eveline Barata <strong>de</strong> Carvalho<br />
Kátia Menezes Carneiro Siebra<br />
Ligiane Castro Lopes<br />
Márcia Alexandra Vitorino Milanez<br />
Maria Anita Timbó<br />
Maria Artemis Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Maria Eliane <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Ramos<br />
Maria Euzimar Nunes Rodrigues<br />
Maria Guaracy Paiva Caldas<br />
Maria José Santil Machado<br />
Maria José Porto <strong>de</strong> Alencar<br />
Maria Valmira Melo <strong>de</strong> Moura<br />
Mariléa <strong>de</strong> Oliveira Viana<br />
Marize Marques <strong>de</strong> Freitas<br />
Mirizan Costa Praciano<br />
Naiana Maia Lima Girão<br />
Ozélia Horácio Gonçalves Assunção<br />
Patricía Fernan<strong>de</strong>s Costa Martins<br />
Paulo Henrique Leitão dos Santos<br />
Regina Helena Benevi<strong>de</strong>s Teixeira Ponte<br />
Reudo da Silva Sales<br />
Salmira Braga Paiva Martins<br />
Selma Bessa Sales<br />
Telma Maria <strong>de</strong> Araújo Freitas<br />
Valéria Cassandra Oliveira <strong>de</strong> Lima<br />
Verônica Maria Vascon<strong>ce</strong>los Barrocas<br />
Vilma Elânia Teles do Amaral<br />
Wanna Paula Cabral<br />
Zaíra Maria <strong>de</strong> Araújo Siqueira<br />
PROFESSORES REPRESENTANTES<br />
DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO<br />
Abigail Silva <strong>de</strong> Souza<br />
Abilene <strong>de</strong> Brito Lopes<br />
A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sousa Oliveira Neta<br />
Ádla da Silva Andra<strong>de</strong><br />
Adma Maria Araújo Arruda Lira<br />
Adria Maria Barros Teles<br />
Agberto Elias Soares<br />
Ágda Maria Máximo Morais<br />
Alessandra Guimarães Palmeira Vitorino<br />
Alzenir Marques Soares<br />
Ana Clecia Eloy Ferreira<br />
Ana Cristiane Araújo dos Santos<br />
Ana Cristina <strong>de</strong> Sousa Silva<br />
Ana Jeanete <strong>de</strong> Souza<br />
Ana Li<strong>ce</strong> Vi<strong>ce</strong>nte Meneses<br />
Ana Lúcia Quirino <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ana Maria Rebelo<br />
Ana Neiry <strong>de</strong> Oliveira<br />
Ana Paula <strong>de</strong> Almeida<br />
Ana Rita Damas<strong>ce</strong>no Torres Bedoya<br />
Ana Virginia Barreto <strong>de</strong> Pontes Diniz<br />
Andréa Paula Rodrigues Barbosa<br />
Andreza Karla Pontes <strong>de</strong> França<br />
Angela Aparecida Con<strong>de</strong><br />
Angela Maria Benevi<strong>de</strong>s Pereira<br />
Antonia Cleoni<strong>ce</strong> Brito da Silva<br />
Antonia Deuzinda Rodrigues Gama<br />
Antonia Joazira R. <strong>de</strong> Abreu<br />
Antonia Val<strong>de</strong>célia Silva Gomes<br />
Antonio Adilson Frota <strong>de</strong> Carvalho<br />
Antonio Ailton Gomes da Silva<br />
Antonio Guilherme Aquiles <strong>de</strong> Carvalho<br />
Antonio Humberto Barbosa da Silva<br />
Antonio José Inácio da Silva<br />
Artur Xavier Moreira Júnior<br />
Augusto César Tavares da Silva<br />
Áurea Sandra Pinheiro Moura<br />
Auricélia Barros <strong>de</strong> Albuquerque<br />
Aurisleda Martins <strong>de</strong> Sousa<br />
Benedita França Sipriano<br />
Benedita Monteiro Teixeira<br />
Catia Menezes Carneiro Siebra<br />
Célia Maria da Silva Nascimento<br />
Christiane <strong>de</strong> Sousa Netto Pedrette
Cíntia Maria Paiva Ribeiro<br />
Claudia Maria <strong>de</strong> Sousa<br />
Climenia Matos da Costa<br />
Cristiane E. Castro Feitosa Melo<br />
Cristina Régia Narciso Nery<br />
Danielle Campos Ma<strong>ce</strong>do Gameiro<br />
Darla Viviane Sabóia Figueiredo<br />
Darlan Lima Paiva<br />
Davanil<strong>ce</strong> Diogenes Maia<br />
Dayrilane <strong>de</strong> Sousa Carneiro<br />
Diana Delne <strong>de</strong> Sales Silva<br />
Diniz Moura Ponte<br />
Dulcilene Dams<strong>ce</strong>no da Silva Figueiredo<br />
Edilana Lopes Silva<br />
Edina Ricarte Muniz<br />
Edson Emiliano <strong>de</strong> Sousa<br />
Edvana Lopes <strong>de</strong> Carvalho<br />
Elaine Alves da Silva Moraes<br />
Elenita <strong>de</strong> Araújo Miranda<br />
Eliana Alves Moreira<br />
Eliana Moreira <strong>de</strong> Oliveira<br />
Eliane Cristina dos Santos Silva<br />
Eliane Figueirêdo Viana Martins<br />
Eliene Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira Matos<br />
Elilúcia <strong>de</strong> Oliveira Bilhar<br />
Elisabeth Alessandra T. <strong>de</strong> Araújo<br />
Erasmo Belarmino da Silva<br />
Ester Nascimento <strong>de</strong> Sousa<br />
Eu<strong>de</strong>s Farias <strong>de</strong> Paula<br />
Eugênio Pa<strong>ce</strong>lli Ferreira <strong>de</strong> Araújo<br />
Evandro Castelo Branco Brasileiro<br />
Evelene Silveira Alves Sampaio<br />
Eveline Maria Marques F. Lima<br />
Everli <strong>de</strong> Sousa Eduardo<br />
Fátima Luzielma dos S. Ferreira<br />
Fernanda Cristina Rodrigues Matoso<br />
Fernanda Iara Rodrigues <strong>de</strong> Almeida<br />
Flávio <strong>de</strong> Sousa Vieira<br />
Franciano Beserra Pinto<br />
Francisca das Chagas <strong>de</strong> Sousa<br />
Francisca das Chagas Firmino <strong>de</strong> Sousa<br />
Francisca Edilma Monteiro Pinto<br />
Francisca Edna <strong>de</strong> Oliveira<br />
Francisca Eliane Rabelo Gomes<br />
Francisca Gerusa Ga<strong>de</strong>lha<br />
Francisca Idaguacira Alves<br />
Francisca Josalva Tavares Falcão<br />
Francisca Lin<strong>de</strong>rvânia Bezerra Martins<br />
Francisca Maria Angelina Ribeiro<br />
Francisca Maria Luz Coelho<br />
Francisca Selma C. Rodrigues<br />
Francisca Ticiany Barbosa Lopes<br />
Francisca Van<strong>de</strong>lena <strong>de</strong> Oliveira Coelho<br />
Francisco Assis <strong>de</strong> Mesquita Silva<br />
Francisco Beijamim <strong>de</strong> La<strong>ce</strong>rda<br />
Francisco Cleido C. Lima<br />
Francisco <strong>de</strong> Assis Barros Leal Reis<br />
Francisco Eu<strong>de</strong>s Farias da Silva<br />
Francisco José Fernan<strong>de</strong>s Barbosa<br />
Francisco José Maia Silva<br />
Francisco Ronaldo <strong>de</strong> Morais Vieira<br />
Francisco Sergio Gomes Sobral<br />
Francisco Wellington Rego<br />
Francisco Wellington Soares Monteiro<br />
Gélito Estevam da Rocha Carneiro<br />
Genilza Silva Moreira<br />
Germana Patrícia <strong>de</strong> Feitas Menezes<br />
Germana Sales Barbosa<br />
Getulio Nalmir Cavalcante Men<strong>de</strong>s Filho<br />
Gladstone Leite Paiva<br />
Glaucia Maria Brasil <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Glaucia Maria Dias Freitas<br />
Glenil<strong>ce</strong> Maria <strong>de</strong> Sousa Forte<br />
Gleume da Cunha Rodrigues<br />
Glória Ma. Silva Hamelak<br />
Guaraciara <strong>de</strong> Freitas Araújo<br />
Halysson Oliveira Dantas<br />
Helena Alves <strong>de</strong> Oliveira<br />
Herivaldo Oliveira Rocha<br />
Hermenegildo César <strong>de</strong> Almeida<br />
Hilton Laurindo Junior<br />
Iáskara Silveira <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros<br />
Ileane <strong>de</strong> Oliveira Fernan<strong>de</strong>s<br />
Isabel Maria Andra<strong>de</strong> da Silva<br />
Ismênia Maria Mesquita Batista<br />
Itamar Sampaio Moreira<br />
Ivana <strong>de</strong> Menezes Morais<br />
Ivone Monteiro Me<strong>de</strong>iros<br />
Ivonete <strong>de</strong> Freitas Cunha<br />
Ivonilson Martins Vale Borges<br />
Jacqueline <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Men<strong>de</strong>s Sosares<br />
Jacqueline G. Lins<br />
Jacqueline Ribeiro Amaral<br />
Jacqueline Souza Furtado Aquino<br />
Jandir Sampaio <strong>de</strong> Sousa<br />
Jane Eyre Viana <strong>de</strong> Sousa<br />
Jeame B. Saturão<br />
João Batista Alves Costa<br />
João Tancredo Sá Ban<strong>de</strong>ira<br />
Jonas Serafim <strong>de</strong> Sousa<br />
Joraya Sonara <strong>de</strong> Alcântara Xenofonte<br />
José Barroso Cavalcante<br />
José Carlos Tavares dos Santos<br />
José Clauber Vieira Crisóstomo<br />
José Cláudio Silva da Costa<br />
José <strong>de</strong> Ribamar Martins<br />
José Drauzio Bastos Lopes<br />
José Freitas Oliveira<br />
José Hilton <strong>de</strong> Castro<br />
José Jora<strong>ce</strong>ne Andra<strong>de</strong><br />
José Rogério Viana <strong>de</strong> Oliveira<br />
José Simião Leandro <strong>de</strong> Sousa Filho<br />
Judite Helena Lima <strong>de</strong> Albuquerque<br />
Juracy Santos <strong>de</strong> Almeida<br />
Jurema Rocha Leite<br />
Kalina Gondim <strong>de</strong> Oliveira<br />
Kátia Maria Oliveira Laurinho<br />
Laecio Santos <strong>de</strong> Sousa<br />
Lídia Pereira <strong>de</strong> Albuquerque<br />
Liduina Vidal <strong>de</strong> Almeida<br />
Liliane Lima Amorim<br />
Liliane Maria Ferreira Lima Amorim<br />
Lindalva F. Rodrigues Silva<br />
Lúcia <strong>de</strong> Fátima Raulino Alcântara<br />
Luciana Maria Cassundé <strong>de</strong> Oliveira<br />
Luciana Xavier <strong>de</strong> Campos<br />
Lúcio José <strong>de</strong> Azevêdo Lu<strong>ce</strong>na<br />
Luiza Lúlia Feitosa Simões<br />
Marcia Maria Silva Vieira<br />
Marcos <strong>de</strong> Loiola Câmara Gomes<br />
Margareth Brasileiro Nogueira<br />
Maria Alcione Bezerra Romanholi<br />
Maria Al<strong>de</strong>liane Lopes da Silva<br />
Maria Ana Nascimento Barbosa<br />
Maria Berigiany da Silva Pereira<br />
Maria Carmem G. Pessoa<br />
Maria da Con<strong>ce</strong>ição da Silva Vascon<strong>ce</strong>los<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima Gonzaga Viana<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima Alves e Silva<br />
Maria <strong>de</strong> Fatima Batista Ribeiro<br />
Maria <strong>de</strong> Fátima Costa da Silva<br />
Maria <strong>de</strong> Jesus Vaz <strong>de</strong> Sousa<br />
Maria Dinair Ribeiro Rodrigues<br />
Maria do Céu Cassimiro Sales<br />
Maria do Espirito Santo S. A. Feitosa<br />
Maria do Rosário Alves <strong>de</strong> Lima<br />
Maria do Socorro <strong>de</strong> A. Parente<br />
Maria do Socorro <strong>de</strong> Jesus Nogueira<br />
Maria do Socorro Mesquita Ribeiro<br />
Maria do Socorro Rodrigues Silva<br />
Maria do Socorro Santos da Silva<br />
Maria El<strong>de</strong>nir De Souza Moreira<br />
Maria Elizete Nunes Tavares<br />
Maria Ereneida Pontes Freire<br />
Maria Eridan <strong>de</strong> Oliveira<br />
Maria Euni<strong>ce</strong> Ramiro Lima<br />
Maria Gerviz Arruda<br />
Maria Idalva Honorato dos Santos<br />
Maria Jacilma Vieira <strong>de</strong> Sousa<br />
Maria José Esmeraldo Rolim<br />
Maria Leani Dantas Freitas<br />
Maria Leonila Eucli<strong>de</strong>s Jorge<br />
Maria Luci do Nascimento Alves<br />
Maria Lucinei<strong>de</strong> Ribeiro<br />
Maria Magda Ferreira Coutinho<br />
Maria Marluciene Ferreira Tavares<br />
Maria Mônica Feijó L. Freire<br />
Maria Patricia Morais Leal<br />
Maria Salete <strong>de</strong> Lima Bezerra<br />
Maria Saraiva da Silva<br />
Maria Scheila <strong>de</strong> Aquino<br />
Maria Selta Pereira<br />
Maria Valda Raulino Santiago<br />
Maria Valéria <strong>de</strong> Souza<br />
Maria Valmira Melo Sousa<br />
Maria Zilei<strong>de</strong> Pereira Men<strong>de</strong>s<br />
Marilac Anselmo da Silva<br />
Marisangela Santiago <strong>de</strong> Araújo<br />
Marta Leitão<br />
Marta Ximenes André Aragão<br />
Michelly Barros Andra<strong>de</strong> Sousa<br />
Morgana Men<strong>de</strong>s Costa<br />
Nara Vânia Araújo Batista<br />
Natália Maria <strong>de</strong> Freitas Dias<br />
Nazaré Cristina S. dos Santos<br />
Neuma Tomé Pinheiro<br />
Paloma <strong>de</strong> Melo Pontes<br />
Paula Viviane Con<strong>de</strong> Carvalho<br />
Paulo Henrique Torres Belo<br />
Pautilia Helena Braga Siebra<br />
Pedro Clauber Macambira<br />
Pedro Paz Lima Neto<br />
Penélope Victor Lourenço Aguiar<br />
Rachel <strong>de</strong> Sousa Rolim<br />
Raimunda Barreto <strong>de</strong> Araújo<br />
Raimunda Coelho <strong>de</strong> Albuquerque<br />
Raimunda Maria <strong>de</strong> Abreu Cor<strong>de</strong>iro<br />
Regina Cláudia Menezes Moura<br />
Regina Maria Freitas Abreu<br />
Rejane Ramos <strong>de</strong> Oliveira<br />
Rita <strong>de</strong> Cácia Soares Farias<br />
Rita <strong>de</strong> Cássia Cláudio Viana<br />
Rita <strong>de</strong> Cássia Lima Alves<br />
Roberto Antonio <strong>de</strong> Sousa<br />
Rochelly Alves do Monte<br />
Rui Cassimiro Castelo Branco<br />
Salena Rosana <strong>de</strong> Oliveira<br />
Sandra Maria Gomes Fortaleza<br />
Sandra Maria Noroes e Sousa<br />
Sandra Silva <strong>de</strong> Araújo<br />
Sandra Suely Carlos Zaranza<br />
Scheila Regina R. Costa<br />
Silvana Mesquita Cristino<br />
Silvania Ferreira Maia<br />
Silvia da Silva Lemos<br />
Simone Paz Lima<br />
Sinara Socorro Duarte da Rocha<br />
Solange Marinho Verçosa<br />
Stênio Nunes <strong>de</strong> Oliveira Lopes<br />
Suelyne Rios <strong>de</strong> Lima Tavares<br />
Susana Frutuoso<br />
Suyanne Azevedo Pessoa<br />
Tânia Maria Pimentel <strong>de</strong> Araújo<br />
Telina Ângela Ribeiro <strong>de</strong> Oliveira<br />
Telma Maria Arújo Freitas<br />
Telma Regina Rodrigues <strong>de</strong> Lima<br />
Teresa Cristina Loureiro <strong>de</strong> Lima<br />
Tereza Cristina Evangelista Pedrosa<br />
Tereza Neuman Dias Silva<br />
Tereza Quitéria Braga Rodrigues<br />
Terezinha <strong>de</strong> Sousa Costa<br />
Terezinha Neri <strong>de</strong> Azevedo<br />
Thelma Regina Vieira Nogueira<br />
Themis Mara M. do N. Oliveira Garcia<br />
Vanusa Maria da S. <strong>de</strong> Holanda<br />
Vera Lúcia Sales<br />
Veronica Maria Aires Biserra<br />
Vilma Elania Teles do Amaral<br />
Viviane Ferreira Lopes<br />
Viviane Fontenelle Bravo<br />
Wan<strong>de</strong>s Bezerra Leite<br />
Wellington Luiz Campêlo<br />
Yacira Maria Barbosa Gondim
DIRETRIZES CURRICULARES<br />
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL<br />
DO SISTEMA PÚBLICO MUNICIPAL<br />
DE ENSINO DE FORTALEZA<br />
1<br />
BREVE HISTÓRICO<br />
DAS ORIENTAÇÕES<br />
CURRICULARES PARA<br />
O ENSINO PÚBLICO<br />
MUNICIPAL DE<br />
FORTALEZA<br />
14<br />
6<br />
ANEXOS<br />
2<br />
5<br />
EIXos<br />
EPISTEMOLÓGICOS-<br />
CONCEITUAIS<br />
EIXOS<br />
OPERACIONAIS<br />
20<br />
3 4<br />
PRINCÍPIOS<br />
ESTRUTURANTES<br />
PRINCÍPIOS<br />
ESTRUTURANTES<br />
32 40
1<br />
BREVE HISTÓRICO<br />
DAS ORIENTAÇÕES<br />
CURRICULARES PARA<br />
O ENSINO PÚBLICO<br />
MUNICIPAL<br />
DE FORTALEZA
VOLUME 1<br />
BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES<br />
CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO<br />
MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />
A história da educação pública municipal <strong>de</strong> Fortaleza é bem re<strong>ce</strong>nte.<br />
Seu início ocorreu na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 30, do século passado,<br />
exatamente em maio <strong>de</strong> 1937, quando inaugurado pelo então Prefeito<br />
da Cida<strong>de</strong>, Raimundo Alencar Araripe, o Jardim da Infância do Parque<br />
da In<strong>de</strong>pendência, no espaço hoje conhecido como Cida<strong>de</strong> da Criança<br />
/ Parque da Liberda<strong>de</strong>. Era uma pequena escola criada com a finalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> realizar a alfabetização / educação <strong>de</strong> crianças. Essa escola, nos anos<br />
1960, passou a ser <strong>de</strong>nominada Escola Infantil Alba Frota, unida<strong>de</strong> escolar<br />
constituinte da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas públicas <strong>de</strong> Fortaleza.<br />
Foi com suporte nesse gesto que se iniciou a construção e organização<br />
<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> escolas com o objetivo <strong>de</strong> ofertar à população <strong>de</strong><br />
Fortaleza um serviço educacional público. Nesse começo, vale lembrar,<br />
não existia secretaria <strong>de</strong> educação no Município <strong>de</strong> Fortaleza, apenas<br />
um <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> educação, com a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> administrar<br />
um pequeno grupo <strong>de</strong> escolas. Naquele tempo, o currículo escolar acontecia<br />
somente pela ação do professor que, solitariamente, fazia escolhas<br />
<strong>de</strong> conteúdos, elegia metodologias e buscava estabele<strong>ce</strong>r possíveis articulações<br />
entre as áreas do conhecimento que trabalhava, realizando<br />
assim, na vivência do dia a dia, o seu fazer pedagógico.<br />
No final dos anos 1950, o Governo do Ceará constitui um grupo <strong>de</strong><br />
profissionais do setor educacional no Estado com o objetivo <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r<br />
uma experiência bem-su<strong>ce</strong>dida vivenciada em Minas Gerais, relativa à<br />
formulação e ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um currículo para a escola pública.<br />
É <strong>de</strong>ssa oportunida<strong>de</strong> – per<strong>ce</strong>pções e entendimentos –que se <strong>de</strong>ram os<br />
primeiros passos com vistas a pensar, organizar e formular um currículo<br />
para a escola pública no Ceará.<br />
Em 1964, o Governo do Ceará, por meio <strong>de</strong> sua <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação,<br />
lançou e apresentou O Livro da Professora – currículo para a escola<br />
primária do Ceará. Essa preciosa publicação, resultado da elaboração<br />
<strong>de</strong> equipe multidisciplinar coor<strong>de</strong>nada pela professora Luiza <strong>de</strong> Teodoro<br />
Vieira, foi um marco na história da educação no Ceará e tornou-se referência<br />
na orientação curricular da escola pública, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> seu<br />
lançamento (1964) até o início da década <strong>de</strong> 1980. Sua utilização na<br />
re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> Fortaleza não foi diferente – o livro permane<strong>ce</strong>u<br />
por muito tempo sendo utilizado para consulta por diferentes<br />
profissionais da educação municipal da Cida<strong>de</strong>.<br />
Outra iniciativa importante <strong>de</strong>u-se em 1982, quando a então <strong>de</strong>nominada<br />
<strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong> Fortaleza,<br />
preocupada com o pro<strong>ce</strong>sso educativo e com as questões ambientais<br />
da Cida<strong>de</strong>, publica o livro Educação Ambiental: uma questão <strong>de</strong> sobrevivência<br />
– Introdução a um currículo on<strong>de</strong> se ensine a conhe<strong>ce</strong>r, amar<br />
e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a vida. Nesse documento curricular a equipe formuladora<br />
propõe a professores e professoras, alunos e alunas: “Vamos estudar com<br />
atenção e carinho a natureza, vamos <strong>de</strong>scobrir os meios <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o<br />
que está sendo ameaçado e que nos ameaça também, vamos aumentar<br />
as nossas fontes <strong>de</strong> bem estar e <strong>de</strong> alegria usufruindo o que essa Natureza<br />
nos po<strong>de</strong> ofere<strong>ce</strong>r”. Esse documento curricular com foco específico<br />
na área das Ciências da Natureza e, em especial, na ne<strong>ce</strong>ssária relação<br />
<strong>de</strong> harmonia que precisa aconte<strong>ce</strong>r entre homem e natureza, conseguiu<br />
repercutir positivamente junto a professores e professoras, o que o tornou<br />
vivo, praticado na sala <strong>de</strong> aula, enrique<strong>ce</strong>ndo e redimensionando<br />
o pro<strong>ce</strong>sso ensino/aprendizagem com a largueza <strong>de</strong> seus propósitos,<br />
compreensão <strong>de</strong> mundo, pro<strong>ce</strong>dimentos pedagógicos e modos <strong>de</strong> fazer<br />
aconte<strong>ce</strong>r a vida em suas múltiplas relações.<br />
Em 1974, como forma <strong>de</strong> superar a gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r<br />
contar com professores li<strong>ce</strong>nciados para o ensino das diversas áreas do<br />
conhecimento do currículo vigente – tanto na Capital quanto no restante<br />
do Ceará – foi implantado e implementado o Telensino. E a essa<br />
modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, ne<strong>ce</strong>ssariamente, a Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Escolas Municipais<br />
<strong>de</strong> Fortaleza a<strong>de</strong>riu. Assim, o telensino permane<strong>ce</strong>u adotado na re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
escolas <strong>de</strong> Fortaleza até meados do final da década <strong>de</strong> 1990, quando foi<br />
extinto no Ceará. O currículo próprio <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> e pro<strong>ce</strong>dimentos<br />
metodológicos indicados eram formulados pela Equipe Pedagógica da<br />
extinta TV Educativa do Ceará, sob a orientação do Professor Gerardo<br />
José Campos. Dessa maneira, o currículo da escola municipal da época<br />
– 5ª a 8ª Série – era, na verda<strong>de</strong>, o currículo adotado pelo telensino.<br />
Em 1995, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />
publicou o documento: Proposta Curricular para as Séries Iniciais<br />
do Ensino Fundamental, cobrindo as seguintes áreas do currículo: Língua<br />
Portuguesa, Matemática, Ciências, Estudos Sociais e Educação Física.<br />
Esta proposta resultou <strong>de</strong> um trabalho pro<strong>ce</strong>ssual, concretizado com<br />
base em consultas e estudos realizados junto a professores e professoras<br />
das unida<strong>de</strong>s escolares da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino e com a mediação<br />
<strong>de</strong> profissionais especialistas das diferentes áreas do currículo e equipe<br />
técnica da própria <strong>Secretaria</strong>. Vale lembrar que, naquela oportunida<strong>de</strong>,<br />
não contemplou as chamadas séries finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental,<br />
porquanto estavam inseridas na modalida<strong>de</strong> telensino e tinham currículo<br />
próprio.<br />
1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />
16 | PREFEITURA DE FORTALEZA 17 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Em 2005, por ocasião dos Estudos Pedagógicos que pre<strong>ce</strong><strong>de</strong>ram o<br />
início do ano letivo, o tema Um Currículo para a Escola <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Fortaleza foi novamente abordado e discutido, quando foi proposta a revisão<br />
e atualização da Proposta <strong>de</strong> 1º ao 5º ano, há pouco mencionada e,<br />
também, a elaboração da Proposta <strong>de</strong> 6º ao 9º ano, até então inexistente,<br />
tomando-se como base os Parâmetros Curriculares Nacionais vigentes.<br />
Assim, antes da publicação <strong>de</strong>ssas diretrizes e o que elas naturalmente<br />
estabele<strong>ce</strong>m, as escolas públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza tinham como<br />
referência os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Proposta Curricular<br />
<strong>de</strong> 1995 e outros pressupostos teórico-metodológicos que embasam os<br />
pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem no ensino fundamental, para<br />
uma educação <strong>de</strong> tempo parcial ou mesmo <strong>de</strong> tempo integral, como<br />
<strong>de</strong>corrência dos cursos <strong>de</strong> formação realizados em par<strong>ce</strong>ria com o MEC<br />
e outras instituições governamentais e não governamentais.<br />
Com isto se quer afirmar que já existem algumas iniciativas que auxiliam<br />
o trabalho pedagógico <strong>de</strong>senvolvido nas escolas. Preten<strong>de</strong>-se, com<br />
base nas diretrizes apresentadas neste documento, articular essas referências<br />
e orientações proporcionando maior e melhor orientação do trabalho<br />
educativo, bem como estabele<strong>ce</strong>ndo condições teórico-pedagógicas<br />
para que os profissionais da educação – gestores, gestoras, professores e<br />
professoras, servidores técnico-administrativos, alunos e alunas – vivenciem<br />
uma educação que explicite, reconheça, compreenda e analise as<br />
transformações ocorrentes na natureza e no mundo social.<br />
Neste documento, portanto, apresentam-se a base teórica e o corpo<br />
das Diretrizes Curriculares Municipais para o Ensino Fundamental<br />
da Re<strong>de</strong> Pública <strong>de</strong> Fortaleza, em consonância com o que preconiza<br />
a LDB atual – Lei nº 9.394/96, sobretudo o artigo 26 – e com o que estabele<strong>ce</strong>m<br />
as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação<br />
Básica (Resolução CNE/CEB nº 4, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010). A publicação<br />
ora apresentada tem por base uma con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> currículo fruto <strong>de</strong> uma<br />
elaboração coletiva e a metodologia aplicada foi a da problematização,<br />
o que implica pensar e caracterizar os pro<strong>ce</strong>ssos educativos, <strong>de</strong> tal forma<br />
a respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios da prática pedagógica.<br />
Participaram da elaboração <strong>de</strong>ssas diretrizes professores e professoras<br />
representantes das diferentes áreas do currículo, coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos,<br />
gestores escolares, equipes administrativa e pedagógica da <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza e das <strong>Secretaria</strong>s Executivas<br />
Regionais/Distritos <strong>de</strong> Educação, bem como professores/assessores <strong>de</strong> IES<br />
do Ceará, integrantes da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pais e Mães pela Qualida<strong>de</strong> da Educação<br />
e da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Direitos Humanos.<br />
Para chegarmos a estas diretrizes, <strong>de</strong>senvolvemos diversas etapas <strong>de</strong><br />
trabalho, num pro<strong>ce</strong>sso intenso <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong> estudo, pesquisa, além<br />
<strong>de</strong> reflexões e <strong>de</strong>bates com base em exposições dialogadas realizadas<br />
entre a equipe técnica da SME e <strong>de</strong>mais participantes para elaboração <strong>de</strong><br />
um documento que pu<strong>de</strong>ssem referenciar as propostas pedagógicas das<br />
escolas, que <strong>ce</strong>rtamente nas<strong>ce</strong>rão em busca <strong>de</strong> respostas para a recuperação<br />
da efetiva função da escola como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
para práticas pedagógicas interdisciplinares, para um projeto <strong>de</strong><br />
vida cidadã e digna dos nossos educandos e <strong>de</strong> suas famílias.<br />
Arlindo Araújo<br />
Coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> Ensino Fundamental<br />
1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />
18 | PREFEITURA DE FORTALEZA 19 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
2<br />
EIXos<br />
EPISTEMOLÓGICOS-<br />
CONCEITUAIS<br />
2.1 Educação e Currículo 22<br />
2.2 Ensino e aprendizagem 27<br />
2.3 Disciplina e inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> 29
VOLUME 1<br />
A<br />
Epistemologia, também chamada Teoria do Conhecimento, é uma<br />
área da Filosofia que se preocupa com a investigação da natureza,<br />
fontes e valida<strong>de</strong> do conhecimento.<br />
Com âncora nas reflexões <strong>de</strong>ssa área, apresentam-se e explicitam-se,<br />
a seguir, as con<strong>ce</strong>pções consi<strong>de</strong>radas para a sustentação teórica, a fundamentação<br />
epistemológica e con<strong>ce</strong>itual, para as Diretrizes Curriculares<br />
para o Ensino Fundamental da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza:<br />
educação e currículo, ensino e aprendizagem, disciplina e inter<br />
ou transdisciplinarida<strong>de</strong>.<br />
2.1 Educação e Currículo<br />
Será que existe apenas uma teoria que possa respon<strong>de</strong>r a todas as situações<br />
vividas na instituição educativa Há algum caminho específico, seguro,<br />
que se <strong>de</strong>va seguir em educação Existe alguma trilha particular, segura,<br />
que se <strong>de</strong>va seguir em educação Qual é a resposta para estas indagações<br />
Provavelmente, conclui-se que não há uma só teoria nem apenas um<br />
caminho... Isto aconte<strong>ce</strong> porque o dinamismo e a complexida<strong>de</strong> do pro<strong>ce</strong>sso<br />
educativo ultrapassam qualquer <strong>de</strong>scrição que po<strong>de</strong>mos fazer com<br />
base num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> educação. Não existe uma só teoria que incorpore<br />
a multiplicida<strong>de</strong> dos fenômenos sociais e naturais envolvidos nas práticas<br />
educativas.<br />
Assim sendo, e pensando a educação como uma dimensão fundamental<br />
da vida humana, e a <strong>ce</strong>ntralida<strong>de</strong> do currículo nos pro<strong>ce</strong>ssos<br />
educativos, po<strong>de</strong>-se afirmar que a cada teoria <strong>de</strong> educação correspon<strong>de</strong><br />
uma teoria <strong>de</strong> currículo, <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> aprendizagem e, portanto, <strong>de</strong> ser<br />
humano e <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>, expressas nas teorias <strong>de</strong>stacadas neste documento:<br />
as teorias tradicionais; as teorias críticas e as teorias pós-críticas<br />
(SILVA, 2002) 1 .<br />
A educação é responsável pela aquisição, atualização e utilização<br />
dos conhecimentos, com aproveitamento <strong>de</strong> todos os seus tempos e espaços<br />
para promoção <strong>de</strong> aprendizagens; e, finalmente, implica que cada<br />
sujeito <strong>de</strong>ve ter uma educação escolar <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que o instrumentalize<br />
a viver num mundo em constantes transformações (DELORS, 1996) 2 .<br />
Dessa forma, a educação tem como função social primordial a incor-<br />
1<br />
SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. Documentos <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: uma introdução às teorias do<br />
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.<br />
2<br />
DELORS, Jacques et al. Educação: um tesouro a <strong>de</strong>scobrir. Relatório para a UNESCO<br />
da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília:<br />
UNESCO do Brasil/MEC, 1996.<br />
poração ativa <strong>de</strong> conhecimentos e experiências produzidas por gerações<br />
e sua socialização. O pro<strong>ce</strong>sso educativo aflora como prática e reflexão,<br />
como práxis, que liberta os homens e as mulheres do jugo das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s,<br />
da ignorância e da <strong>ce</strong>gueira do conhecimento. A educação emerge<br />
como o espaço por ex<strong>ce</strong>lência <strong>de</strong> produção do vir a ser, o locus <strong>de</strong> organização<br />
dos sentidos fundamentais para a existência, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
pessoas e comunida<strong>de</strong> humana.<br />
A educação situa-se como uma prática humana fundamental, por<br />
meio da qual os homens e as mulheres buscam realizar sua humanida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo projetos formativos, implicando a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização<br />
dos espaços educativos e a estruturação das propostas educativas<br />
e <strong>de</strong> seus conteúdos. Para se ter uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, é ne<strong>ce</strong>ssário,<br />
primeiramente, que haja o respeito à cultura local.<br />
O currículo apresenta-se como organizador do pro<strong>ce</strong>sso educacional<br />
<strong>de</strong>senvolvido na escola, e sua tarefa primordial é encarnar as intencionalida<strong>de</strong>s<br />
fundamentais do projeto educativo da socieda<strong>de</strong>. O currículo<br />
incorpora todas as ativida<strong>de</strong>s planejadas para atingir <strong>de</strong>terminados<br />
objetivos; inclui, ainda, os acontecimentos inesperados, mas dos quais<br />
se po<strong>de</strong> extrair oportunida<strong>de</strong>s para aprendizagem e também as <strong>de</strong>mais<br />
experiências pessoais, coletivas e sociais (currículo oculto 3 ), permitindo<br />
que o sujeito aprenda. É um projeto <strong>de</strong> educação que <strong>de</strong>termina o que<br />
<strong>de</strong>ve constar no currículo formal (explícito), propõe um plano <strong>de</strong> ação<br />
coerente e consistente para atingir esses objetivos – por isso supõe uma<br />
seleção do que é <strong>de</strong>sejável, planejado e também real para se ensinar em<br />
toda a escola (não apenas no interior <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> aula).<br />
É preciso consi<strong>de</strong>rar o papel relevante que têm os/as professores/professoras<br />
4 – com base em um trabalho coletivo – na seleção e no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do currículo formal, relacionando-o com o currículo oculto,<br />
<strong>de</strong>finindo ações pedagógicas que têm por base a realida<strong>de</strong> e as ne<strong>ce</strong>ssi-<br />
3<br />
Por currículo oculto, neste documento, enten<strong>de</strong>-se como um conjunto <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong>s, que nem sempre fazem parte <strong>de</strong> prescrições. Po<strong>de</strong> ocorrer na socieda<strong>de</strong> ou nas<br />
instituições escolares. Na escola, o currículo oculto nem sempre está explicitado nos<br />
documentos ou nos planos educacionais, mas apare<strong>ce</strong>m nas relações escolares (assim<br />
como nas relações sociais), nas práticas dos indivíduos – e <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas nos<br />
pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem. Conf. IN: GIROUX, Henry. Teoria crítica e<br />
resistência em educação: para além das teorias da reprodução. Petrópolis: Vozes, 1986;<br />
APPLE, Michel. I<strong>de</strong>ologia e currículo. São Paulo: Brasiliense, 1982; TORRES SANTOMÉ,<br />
Jurjo. O curriculum oculto. Porto: Porto Editora, 1995.<br />
4<br />
A utilização dos termos professor/professora indica o respeito às discussões sobre gênero.<br />
Assim, mesmo quando se utilizar o termo professor ou professores, se estará referindo a<br />
professor, professora, professores e/ou professoras. O mesmo vale para termos semelhantes:<br />
o(a) estudante, o(a) educador(a), educadores etc.<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
22 | PREFEITURA DE FORTALEZA 23 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
da<strong>de</strong>s dos estudantes, mas que ultrapassa essa realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a instrumentalizar<br />
o estudante para estabele<strong>ce</strong>r-se uma socieda<strong>de</strong> mais justa<br />
e fraterna.<br />
Historicamente, o currículo foi estruturado incorporando a lógica <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> emergente e se estabele<strong>ce</strong>u como um objeto marcado<br />
pelo ímpeto <strong>de</strong> controle e dominação do Estado e da racionalida<strong>de</strong> que<br />
se afirmou com a as<strong>ce</strong>nsão do capitalismo. O currículo e as escolas, nesses<br />
tempos, incorporaram a lógica da fábrica e da vida urbana, marcada<br />
pela industrialização e pelos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> homogeneização, próprios da<br />
linha <strong>de</strong> produção. Ele alinhou-se e expressou, na educação, as intencionalida<strong>de</strong>s<br />
fundamentais do novo projeto educativo. Nesta perspectiva,<br />
o currículo é con<strong>ce</strong>bido como o elemento organizador das diversas experiências<br />
cognitivas, psicomotoras e afetivas que ocorrem nos espaços<br />
educativos, significando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> prescrição que organiza o caminho<br />
e as experiências que serão vivenciadas pelo sujeito educativo.<br />
Atualmente, o currículo assume diferentes perspectivas e significados,<br />
articulado com os pro<strong>ce</strong>ssos socioculturais, as teorias da educação e o<br />
pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem, conforme se apresenta a seguir.<br />
As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> currículo, portanto, incluem as experiências vividas pelos<br />
estudantes, professores, técnicos, gestores e famílias, os conteúdos a<br />
serem ensinados e aprendidos, as habilida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas e a<br />
avaliação, que terminam por influir nos conteúdos e nos pro<strong>ce</strong>dimentos<br />
selecionados no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> escolarização e, assim, na formação das<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos sujeitos envolvidos.<br />
Neste documento, adotou-se um con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> currículo que incorpora<br />
as contribuições das teorias críticas, com algumas con<strong>ce</strong>pções das teorias<br />
pós-críticas, como gênero, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre<br />
outras (SILVA, 2002) 5 . Desse modo, assume-se uma inovadora compreensão<br />
sobre educação e currículo, que con<strong>ce</strong>be o ser humano numa<br />
perspectiva holística, social e historicamente constituído. Enten<strong>de</strong>-se que<br />
este ser, que busca o conhecimento <strong>de</strong> si, interage com o outro, por intermédio<br />
<strong>de</strong> linguagens variadas e organizadas em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informações,<br />
implicando crescimento e socialização do conhecimento.<br />
Assim, a vida humana se <strong>de</strong>lineia como comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve buscar<br />
projetar seus caminhos e empreendimentos, portanto, como consciência<br />
e ação responsável e comprometida consigo, com o outro e com o<br />
Planeta. Por isso, estas diretrizes estão ancoradas em valores fundamentais,<br />
como respeito ao outro, apreço por uma cultura <strong>de</strong> paz, sentimento<br />
cres<strong>ce</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> por si, pela comunida<strong>de</strong> e meio ambiente,<br />
e a cooperação como estratégia <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma nova cidadania<br />
5<br />
Op. cit.<br />
socialmente justa, ecologicamente equilibrada e sustentável.<br />
As teorias tradicionais <strong>de</strong> educação e do currículo, <strong>de</strong> fundamentação<br />
positivista, <strong>de</strong>senvolveram-se impulsionadas pelas exigências <strong>de</strong> uma<br />
formação técnico-científica, visando à preparação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra qualificada<br />
para o mercado do trabalho. O currículo se organizava <strong>de</strong> forma<br />
linear e compartimentalizada e pretendia ser neutro, evitando os temas<br />
e conteúdos político-sociais. Sua organização su<strong>ce</strong>dia <strong>de</strong> forma burocrática<br />
e or<strong>de</strong>nada, e enfatizava os con<strong>ce</strong>itos meramente técnicos, como<br />
ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização,<br />
planejamento, eficiência e objetivos, na perspectiva <strong>de</strong> quem ensina e<br />
não <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong>.<br />
As teorias curriculares críticas fundamentam-se, principalmente, no<br />
Materialismo Histórico e Dialético, e se caracterizam por colocarem em<br />
questão as relações entre educação e socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nunciando as formas<br />
<strong>de</strong> opressão e dominação que se <strong>de</strong>senvolvem na socieda<strong>de</strong> e são reproduzidas<br />
nos espaços educativos. As teorias críticas <strong>de</strong>stacam os con<strong>ce</strong>itos<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, reprodução cultural e social, po<strong>de</strong>r, classe social,<br />
capitalismo, relações sociais <strong>de</strong> produção, conscientização, emancipação<br />
e libertação, currículo oculto e resistência. Nesse horizonte teórico,<br />
os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem passam a ser (re)vistos numa<br />
perspectiva menos técnica, e assumem caráter mais político e social.<br />
As teorias pós-criticas do currículo caracterizam-se pelas abordagens<br />
microssociais e, portanto, pelos fenômenos locais. Assim, rompem com a<br />
perspectiva epistemológica dominante na Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> busca por<br />
leis gerais e universais, <strong>de</strong> forte apelo empirista e matemático, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />
a noção <strong>de</strong> que os saberes humanos são discursos elaborados em pro<strong>ce</strong>ssos<br />
intersubjetivos, marcados por microrrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. As teorias<br />
pós-críticas <strong>de</strong>stacam as noções <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diferença e diversida<strong>de</strong>,<br />
subjetivida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, significação, discurso, saber-po<strong>de</strong>r,<br />
representação, cultura, gênero e etnia; entre elas, <strong>de</strong>staca-se o multiculturalismo,<br />
por explicitar o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se fala, esclare<strong>ce</strong>ndo que há diversas<br />
culturas em uma socieda<strong>de</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> assegurarem seus<br />
direitos <strong>de</strong> existência e <strong>de</strong> expressão, inclusive nos espaços educativos.<br />
O currículo, numa perspectiva pós-crítica, é consi<strong>de</strong>rado algo produzido<br />
com base numa seleção arbitrária <strong>de</strong> conteúdos, significando, portanto,<br />
um recorte cultural <strong>de</strong> parte da realida<strong>de</strong>, feito por quem tem po<strong>de</strong>r<br />
para tanto. Assim, é ne<strong>ce</strong>ssário consi<strong>de</strong>rar haver aspectos que ficam<br />
<strong>de</strong> fora do currículo, porquanto ele se estabele<strong>ce</strong> como disputa por representar<br />
o real, e que, mediante novas disputas e negociações, outros conteúdos,<br />
fatos e fenômenos po<strong>de</strong>m ser inseridos nas composições curriculares.<br />
Ao se fazer a associação das teorias críticas e pós-críticas com o cur-<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
24 | PREFEITURA DE FORTALEZA 25 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
rículo, e na perspectiva <strong>de</strong> pensar <strong>ce</strong>nários inovadores para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> novas experiências formativas, divisa-se a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
trabalhar com um con<strong>ce</strong>ito amplo <strong>de</strong> currículo, que ultrapasse um rol <strong>de</strong><br />
conteúdos, disciplinas, métodos, experiências, objetivos, normas, e que<br />
incorpore a complexida<strong>de</strong> dos fenômenos ocorrentes nos espaços educativos<br />
e assuma, <strong>de</strong> forma crítica, contradições e conflitos nesses <strong>ce</strong>nários.<br />
Procura-se sinalizar para inovadoras experiências formativas, na perspectiva<br />
<strong>de</strong> conservar as contribuições das teorias críticas, sua natureza<br />
<strong>de</strong>smistificadora e emancipadora. Ao mesmo tempo, incorporam-se outras<br />
formas <strong>de</strong> ler os emergentes quadros culturais às novas subjetivida<strong>de</strong>s<br />
e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que caracterizam e expressam a cultura emergente,<br />
manifesta, <strong>de</strong>ntre outros espaços, no território escolar e curricular, como<br />
tematizadas pelas teorias pós-criticas.<br />
Estas diretrizes consi<strong>de</strong>ram as transformações sociais e culturais em<br />
curso na atual conjuntura socioeconômica e seus impactos na escola e<br />
no currículo. O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cultura, neste âmbito, assume importância<br />
<strong>ce</strong>ntral e é revisto, na perspectiva <strong>de</strong> explicar as mudanças, e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />
compreendido como conhecimento universal, patrimônio da humanida<strong>de</strong>,<br />
e assume um significado que incorpora tanto as práticas, as representações,<br />
as línguas e os costumes dos diversos grupos, como as contradições<br />
que as envolvem e que <strong>de</strong>correm das diferentes formas manifestas<br />
pelo senso comum e da vida popular cotidiana <strong>de</strong>les. Com efeito, <strong>de</strong>vemos<br />
falar <strong>de</strong> culturas, sem privilegiar uma ou a outra, compreen<strong>de</strong>ndo-as<br />
unicamente como expressões humanas socialmente estabelecidas.<br />
Este documento assume tal compreensão, <strong>de</strong>stacando a natureza política<br />
que perpassa as relações expressas por esse con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cultura.<br />
Com base nestas compreensões convergentes, abandona-se o modo <strong>de</strong><br />
ver a cultura como algo geral, genérico, abrangente, uma categoria universal,<br />
e passa-se a <strong>de</strong>scobrir na cultura o seu caráter plural, as diferenças<br />
mínimas, mas significativas, dinâmicas, diferenças que produzem outras<br />
diferenças e que, portanto, estão enredadas em tramas <strong>de</strong>terminantes da<br />
produção e reprodução <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s individuais e sociais, nos espaços<br />
escolares e curriculares. Além do respeito à cultura local, é ne<strong>ce</strong>ssário<br />
que haja uma reflexão sobre essa cultura, para que ela não se torne um<br />
fim em si mesma.<br />
Enfim, currículo, aqui, <strong>de</strong>ve ser entendido, não na a<strong>ce</strong>pção tradicional<br />
(e reduzida) <strong>de</strong> listagem <strong>de</strong> conteúdos e disciplinas, mas como um<br />
manifesto, um pacto entre a instituição escolar e a socieda<strong>de</strong> em torno<br />
<strong>de</strong> um projeto político-pedagógico, constituído mediante contribuições<br />
dos diversos segmentos envolvidos; um contrato social, que incorpora<br />
a diferença e a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> saber, on<strong>de</strong> se pactuem<br />
i<strong>de</strong>ias, valores, perfis <strong>de</strong> educadores e educandos, como pessoas,<br />
cidadãos e profissionais num mundo em permanente mudança; assim<br />
instituiu as práticas pedagógicas que consagram conhecimento, atitu<strong>de</strong>s,<br />
valores e conteúdos. Um currículo, portanto, expressa a compreensão da<br />
função social da escola como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
com foco na formação dis<strong>ce</strong>nte e do<strong>ce</strong>nte, para que possa assegurar<br />
a produção/reprodução/transformação da realida<strong>de</strong> na qual a escola<br />
está inserida, ampliando e <strong>de</strong>senvolvendo os saberes e conhecimentos<br />
da comunida<strong>de</strong> escolar, numa perspectiva social mais justa e igualitária.<br />
A escola e o currículo produzem e reproduzem discursos e normas<br />
que se articulam com <strong>de</strong>terminados significados e visões <strong>de</strong> mundo,<br />
constituindo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e subjetivida<strong>de</strong>s com base em perspectivas<br />
socioculturais mais amplas. Este fenômeno aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> modo tenso e<br />
disputado, pois os diversos grupos que integram o espaço educativo e<br />
curricular não assistem passivos a esses acontecimentos; ao contrário,<br />
reagem, estabele<strong>ce</strong>ndo outras formas <strong>de</strong> ação, com recursos e estratégias<br />
diversos, na direção do estabelecimento <strong>de</strong> novas visões, saberes, valores<br />
e significados.<br />
Desse modo, compartilha-se uma con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> currículo que abrange<br />
variadas dimensões do cotidiano escolar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as idiossincrasias dos<br />
grupos que transitam pelos territórios da escola e suas relações, passando<br />
pelos recortes da cultura, que se constituem em conteúdos das diversas<br />
disciplinas, as experiências <strong>de</strong> aprendizagens organizadas pelos educadores.<br />
Defen<strong>de</strong>-se a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> do diálogo, da participação e das ativida<strong>de</strong>s<br />
cooperadas, como formas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> conflitos, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s,<br />
e como condição ne<strong>ce</strong>ssária para que a escola e o currículo possam<br />
empreen<strong>de</strong>r no su<strong>ce</strong>sso dos que convivem nos territórios escolares e na<br />
eficácia <strong>de</strong> sua função social.<br />
2.2 Ensino e aprendizagem<br />
A educação envolve, primordialmente, os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensinar,<br />
apren<strong>de</strong>r e vivenciar. Po<strong>de</strong> ser exercida nos diversos espaços <strong>de</strong> convívio<br />
social, mas a prática educativa formal ocorre no contexto escolar e <strong>de</strong><br />
forma intencional, com objetivos, regras, espaços e tempos <strong>de</strong>terminados<br />
e com uma teoria <strong>de</strong> educação específica.<br />
Se compreen<strong>de</strong>mos a educação como ato político, então per<strong>ce</strong>bemos<br />
que ela não po<strong>de</strong> ser alienante; <strong>de</strong>ve ter uma ação libertadora e, portanto,<br />
encaminhar os sujeitos para que possam ler, interpretar e transformar<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
26 | PREFEITURA DE FORTALEZA 27 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
o mundo (FREIRE, 1998) 6 . Além disso, implica per<strong>ce</strong>ber a instituição escolar<br />
como uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem (ALARCÃO, 2003) 7 – a<br />
educação é tarefa <strong>de</strong> todos, mas à escola cabe um papel específico e<br />
fundamental: formular um projeto educativo (um projeto políticopedagógico)<br />
próprio, <strong>ce</strong>ntrado em estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ensino<br />
e <strong>de</strong> aprendizagem, com vistas à transformação educativa, material e<br />
cultural <strong>de</strong> seus sujeitos.<br />
O ensino, como ativida<strong>de</strong> escolar, é um conjunto <strong>de</strong> ações e estratégias<br />
que se realizam para <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s, con<strong>ce</strong>itos e atitu<strong>de</strong>s<br />
propostas para a formação dos estudantes; é uma ativida<strong>de</strong> direcionada<br />
por do<strong>ce</strong>ntes, voltada para a formação qualificada dos estudantes, mediante<br />
organização <strong>de</strong> um ambiente educativo, métodos, conteúdos e<br />
avaliação previamente selecionados. Ao se associar aprendizagem e valores<br />
ao ensino, se tem a Educação. Com efeito, a aprendizagem constitui<br />
essencialmente o impacto do trabalho escolar, envolvendo os conhecimentos<br />
elaborados e a ser elaborados, os conhecimentos adquiridos e<br />
as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas.<br />
Para a teoria sociointeracionista, a aprendizagem e o conhecimento<br />
são ativamente formulados e elaborados pelo sujeito que pensa e apren<strong>de</strong><br />
na interação com o meio ambiente e outros sujeitos. O(A) professor(a),<br />
então, não se limita a ser um transmissor <strong>de</strong> conhecimentos nem apenas<br />
um facilitador do <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo do estudante; ele é responsável<br />
pela relação entre ensino, aprendizagem, cultura e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sóciocognitivo. Conhe<strong>ce</strong>r os estudantes e suas realida<strong>de</strong>s, mediante<br />
ações pedagógicas e <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>rias com outras esferas do Po<strong>de</strong>r Público,<br />
torna-se fundamental para a ação do<strong>ce</strong>nte, para que se possa planejar,<br />
com garantia <strong>de</strong> tempo efetivo e qualitativo <strong>de</strong> planejamento, e propor<br />
problemas ou <strong>de</strong>safios a<strong>de</strong>quados e pertinentes ao <strong>de</strong>senvolvimento e à<br />
aprendizagem <strong>de</strong>sses estudantes.<br />
Em <strong>de</strong>corrência, no ensino é importante priorizar metodologias capazes<br />
<strong>de</strong> propiciar a elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> verificação e comprovação<br />
<strong>de</strong> hipóteses na produção do conhecimento, na argumentação<br />
capaz <strong>de</strong> prever resultados, no <strong>de</strong>senvolvimento do espírito crítico que<br />
favoreça a criativida<strong>de</strong>, a compreensão dos limites e alcan<strong>ce</strong>s lógicos das<br />
explicações propostas.<br />
Não se po<strong>de</strong> esque<strong>ce</strong>r <strong>de</strong> que existe relação entre <strong>de</strong>senvolvimento<br />
humano e aprendizagem e a forma como esses dois fenômenos são<br />
combinados. O modo como se apresentam <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado no<br />
6<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 25. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1998.<br />
7<br />
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Editora<br />
Cortez, 2003.<br />
ensino, pois <strong>de</strong>termina atitu<strong>de</strong>s teórico-metodológicas e práticas pedagógicas<br />
distintas. Neste documento, adotar-se-á uma con<strong>ce</strong>pção socioconstrutivista<br />
interacionista8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem, que<br />
se caracteriza pela conquista do conhecimento mediada por interações<br />
sociais; envolve a relação dialética entre o sujeito e a realida<strong>de</strong> no seu<br />
entorno, pressupondo que o ser humano modifica o meio, mas também<br />
é modificado por ele; mas essa relação não é passível <strong>de</strong> generalizações,<br />
implicando dizer que importante mesmo é a interação, enfatizando-se a<br />
experiência pessoal e significativa que cada pessoa estabele<strong>ce</strong>.<br />
Além disso, po<strong>de</strong>-se dizer que uma consequência <strong>de</strong>ssa visão sociointeracionista<br />
é a <strong>de</strong> que espaços e tempos escolares são locais <strong>de</strong> intercâmbio<br />
e síntese <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e <strong>de</strong> pro<strong>ce</strong>ssos pedagógicos e <strong>de</strong>vem ser trabalhados<br />
na perspectiva do ensino e da aprendizagem – mesmo aqueles<br />
em que po<strong>de</strong>m ser realizadas ativida<strong>de</strong>s “livres”. Essas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem<br />
ser planejadas e avaliadas pedagogicamente, pois constituem ex<strong>ce</strong>lentes<br />
espaços e oportunida<strong>de</strong>s para o trabalho intelectual, corporal, social e<br />
ambiental; além do prazer, essas ativida<strong>de</strong>s também têm o objetivo <strong>de</strong><br />
propiciar aos educandos contato com o mundo, o conhecimento e a<br />
informação, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolverem habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> criar, interpretar e<br />
relacionar esses conhecimentos, <strong>de</strong>senvolvendo-se e apren<strong>de</strong>ndo a dominar<br />
diversos tipos <strong>de</strong> informação.<br />
2.3 Disciplina e inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />
A disciplina, como unida<strong>de</strong> do currículo formal, aqui é entendida<br />
como um campo organizado <strong>de</strong> saberes específicos. Cada uma traz os<br />
próprios conteúdos, esquemas con<strong>ce</strong>ituais, maneira e métodos <strong>de</strong> investigação<br />
(ZABALA, 2002) 9 . A organização do conhecimento em disciplinas<br />
remonta aos primeiros esforços da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organizar<br />
a Ciência, a pesquisa e a escolarização das massas, visando ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das técnicas e à especialização do trabalho, requerida pela<br />
linha <strong>de</strong> produção fabril. Cada indivíduo e currículo particular <strong>de</strong>veriam<br />
incorporar <strong>de</strong>terminadas especialida<strong>de</strong>s e conhecimentos, implicando<br />
a fragmentação das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e distribuição do conhecimento<br />
científico e das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos aprendizes e<br />
futuros “sujeitos” sociais.<br />
8<br />
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1987;<br />
VYGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1998.<br />
9<br />
ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para<br />
o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
28 | PREFEITURA DE FORTALEZA 29 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Por ter este perfil, tornou-se impossível que uma <strong>de</strong>terminada disciplina<br />
<strong>de</strong>sse conta do contexto plural e complexo dos fenômenos a ensinar e<br />
a apren<strong>de</strong>r. Assim sendo, no âmbito da socieda<strong>de</strong> globalizada e marcada<br />
pela estrutura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s das Tecnologias da Informação e da Comunicação,<br />
a fragmentação inerente ao currículo disciplinar tornou-se um<br />
<strong>de</strong>safio a ser superado. As exigências da socieda<strong>de</strong> global e do mundo<br />
do trabalho expressam para a Ciência e para a escola e seus currículos<br />
o imperativo <strong>de</strong> estabele<strong>ce</strong>rem relações entre as partes, na perspectiva<br />
da compreensão do todo. O pensamento sobre as pessoas, a natureza e<br />
a vida social ne<strong>ce</strong>ssita tornar-se complexo e, portanto, muldimensional<br />
(MORIN, 2000) 10 .<br />
Desse modo, torna-se igualmente importante estabele<strong>ce</strong>r relações<br />
entre escola e socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira que assim como as disciplinas precisam<br />
estabele<strong>ce</strong>r relações entre si, a escola também possa se articular<br />
com a socieda<strong>de</strong> para que não seja compreendida como um apêndi<strong>ce</strong><br />
na vida do aprendiz, que ela não se feche em seus muros. Tanto a inter<br />
como a transdisciplinarida<strong>de</strong> emergem como uma efetiva interação entre<br />
disciplinas ou áreas <strong>de</strong> conhecimento e conteúdos 11 .<br />
Na interdisciplinarida<strong>de</strong>, a interação aconte<strong>ce</strong> com as disciplinas conexas,<br />
com vistas a uma noção <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> (para quê), dando uma<br />
or<strong>de</strong>m mais consistente à interação, com cooperação e diálogo efetivos<br />
entre essas disciplinas.<br />
Ressalta-se, ainda, que a transdisciplinarida<strong>de</strong> exige efetiva articulação,<br />
troca, diálogo e integração entre elementos do conhecimento <strong>de</strong><br />
áreas diversas, em busca da compreensão da complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong>.<br />
A transdiciplinarida<strong>de</strong> é, portanto, uma meta a se alcançar num prazo<br />
mais longo.<br />
Estas Diretrizes propõem um currículo, no mínimo, interdisciplinar,<br />
compreen<strong>de</strong>ndo ser isso um avanço em relação às práticas curriculares<br />
tradicionais, ancorando-se na filosofia da interdisciplinarida<strong>de</strong> e na<br />
compreensão mais ampla do termo. Caso, porém, já existam práticas<br />
transdiciplinares adotadas, elas <strong>de</strong>verão permane<strong>ce</strong>r e ser ampliadas nas<br />
propostas pedagógicas escolares.<br />
Enten<strong>de</strong>-se que há incompletu<strong>de</strong> das disciplinas, quando vistas isoladamente,<br />
e por isso exigem interação das áreas <strong>de</strong> conhecimentos, pois<br />
as relações estabelecidas entre elas asseguram uma leitura mais complexa<br />
dos fatos. A interação é, portanto, condição para se efetivar um<br />
currículo cidadão.<br />
Assim, o imperativo da inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> tem como fundamento<br />
a complexida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong>, que é ao mesmo tempo uma e<br />
diversa, e que <strong>de</strong>ve ser esclarecida mediante o esforço do diálogo intersubjetivo<br />
dos sujeitos fundamentalmente interessados em reconstituir o<br />
mundo na perspectiva <strong>de</strong> uma vida humana plena e feliz.<br />
Essa con<strong>ce</strong>pção, portanto, exige atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação entre do<strong>ce</strong>ntes<br />
e entre disciplinas, além <strong>de</strong> integração <strong>de</strong> conhecimentos visando<br />
à transformação da própria realida<strong>de</strong>; por isso, pressupõe maior e melhor<br />
qualida<strong>de</strong> do tempo <strong>de</strong> planejamento, assegurando-se as horas <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s no espaço escolar e curricular. Há, ainda, que se consi<strong>de</strong>rar<br />
o diálogo interinstitucional, por meio <strong>de</strong> projetos bem articulados, da<br />
Educação com outros segmentos organizacionais e não organizacionais:<br />
assim, por exemplo, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senvolver projetos<br />
<strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> abrangência em escolas da Re<strong>de</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza;<br />
o mesmo vale para a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Cultura, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Direitos Humanos,<br />
<strong>de</strong>ntre outras, transformando o nosso Município em uma verda<strong>de</strong>ira<br />
Cida<strong>de</strong> Educadora 12 .<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
10<br />
MORIN, Edgar. Os sete saberes ne<strong>ce</strong>ssários à educação do futuro. 2. ed. São Paulo:<br />
Cortez; Brasília: UNESCO, 2000.<br />
11<br />
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinarida<strong>de</strong> e patologia do saber. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago,<br />
1976.<br />
12<br />
Sobre a con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> Educadora, ver mais adiante, neste documento, quando<br />
da apresentação e discussão dos Eixos Referenciais do Currículo, notadamente a Educação<br />
Integral Intercultural.<br />
30 | PREFEITURA DE FORTALEZA 31 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
3<br />
PRINCÍPIOS<br />
ESTRUTURANTES<br />
3.1 Flexibilida<strong>de</strong> curricular<br />
e permeabilida<strong>de</strong> às transformações 34<br />
3.2 Inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong> 34<br />
3.3 Formação integral e integrada<br />
à realida<strong>de</strong> social 35<br />
3.4 Interculturalida<strong>de</strong> 35<br />
3.5 A<strong>ce</strong>sso, permanência bem-su<strong>ce</strong>dida<br />
e respeito à diferença (inclusão) 36<br />
3.6 Equida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong> 36<br />
3.7 Participação 37<br />
1. BREVE HISTÓRICO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO PÚBLICO MUNICIPAL DE FORTALEZA<br />
32 | PREFEITURA DE FORTALEZA 33 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Princípios, dialeticamente, constituem e são constituídos pelos valores<br />
adquiridos durante a formação pessoal, escolar, profissional, sociocultural,<br />
e que se tornam verda<strong>de</strong>iras convicções, que orientam o<br />
modo <strong>de</strong> agir e <strong>de</strong> pro<strong>ce</strong><strong>de</strong>r <strong>de</strong> cada qual. Representam os mandamentos<br />
estruturantes, que ali<strong>ce</strong>rçam a formação, o caráter, as regras <strong>de</strong> convivência,<br />
a ética etc.<br />
A perspectiva curricular aqui adotada é orientada por princípios, que<br />
representam as experiências <strong>de</strong>sdobradas em torno do conhecimento,<br />
em meio às relações sociais, que contribuem para a formação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />
dos/as estudantes e possibilitam que elaborem conhecimentos e<br />
saberes, <strong>de</strong> forma não fragmentada.<br />
Estas diretrizes adotam os princípios estruturantes na sequência<br />
<strong>de</strong>lineados:<br />
3.3 Formação integral e integrada à realida<strong>de</strong> social<br />
Formação com amplo <strong>de</strong>senvolvimento e emancipação do sujeito<br />
que, compreendido em sua multidimensionalida<strong>de</strong>, integra o corpóreo,<br />
o psíquico, o intelecto, o cultural, o político, o ético, o estético e o espiritual.<br />
Esta abordagem possibilita uma atuação <strong>de</strong> forma crítica e criativa<br />
na socieda<strong>de</strong> articulando teoria e prática na vida social. Todos os saberes<br />
apresentados ao educando <strong>de</strong>vem partir da realida<strong>de</strong> e do contexto<br />
em que ele vive e hão <strong>de</strong> ser mediados pelo conhecimento científico,<br />
elaborado ao longo dos tempos; em síntese todo conhecimento <strong>de</strong>ve se<br />
<strong>de</strong>stinar, primeiramente, para conhe<strong>ce</strong>r e interpretar a realida<strong>de</strong> em que<br />
se vive, e, posterior e simultaneamente, contribuir para transformar a realida<strong>de</strong>,<br />
a situação do educando e da socieda<strong>de</strong>.<br />
3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />
3.1 Flexibilida<strong>de</strong> curricular e permeabilida<strong>de</strong> às<br />
transformações<br />
O que se trabalha na escola hoje <strong>de</strong>ve acompanhar as mudanças<br />
ocorrentes no movimento da história humana, seja nas relações sociais,<br />
nos pro<strong>ce</strong>ssos políticos, artísticos e culturais, na economia e na tecnologia.<br />
Um currículo escolar flexível, na medida em que possibilita a inserção<br />
e a realização <strong>de</strong> inovações pedagógicas, favore<strong>ce</strong> especialmente<br />
a oferta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e conteúdos que abor<strong>de</strong>m temas <strong>de</strong> interesse dos<br />
diversos grupos, <strong>de</strong> vinculação com a comunida<strong>de</strong>, bem como outras<br />
gran<strong>de</strong>s questões da atualida<strong>de</strong>.<br />
3.2 Inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />
Optou-se pela inserção da inter ou da transdisciplinarida<strong>de</strong>, mediante<br />
articulação <strong>de</strong> efetivo planejamento vinculado entre diferentes áreas do<br />
conhecimento e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> relações entre seus conteúdos e<br />
ativida<strong>de</strong>s significativas; um conteúdo é um olhar sobre um evento da realida<strong>de</strong><br />
e, portanto, o con<strong>ce</strong>ito permite visões com suporte em vários enfoques;<br />
aqui também se incluem os projetos interinstitucionais, a que se<br />
referiu anteriormente, que po<strong>de</strong>rão ser <strong>de</strong>senvolvidos nas escolas, como<br />
parte diversificada13 do currículo.<br />
13<br />
A Base <strong>Municipal</strong> Comum e a Parte Diversificada serão discutidas no volume dois <strong>de</strong>ste<br />
documento, quando serão apresentados os Eixos Operacionais do Currículo.<br />
3.4 Interculturalida<strong>de</strong><br />
No complexo campo da cultura, há ampla potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> te<strong>ce</strong>r<br />
outros mundos possíveis. Torna-se evi<strong>de</strong>nte a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optar por<br />
outros mo<strong>de</strong>los capazes <strong>de</strong> avançar na direção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> equanimente<br />
mais justa. Para Fleuri (1998)14, a perspectiva intercultural, em<br />
sua verda<strong>de</strong>ira a<strong>ce</strong>pção, <strong>de</strong> fato, só começa quando se criam condições<br />
para a troca numa relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>. Assim, as pessoas se tornam<br />
conscientes da própria cultura no reconhecimento do outro ser. Nela<br />
se reconhe<strong>ce</strong>m as distinções culturais <strong>de</strong> cada grupo social, ao mesmo<br />
tempo em que valoriza o potencial educativo dos conflitos, a interação e<br />
reciprocida<strong>de</strong> dos grupos diferentes, como fator <strong>de</strong> enriquecimento cultural<br />
mútuo (FLEURI, 1998).<br />
A educação intercultural é a feição pedagógica <strong>de</strong>sses estudos interculturais.<br />
Caracteriza-se como uma educação que objetiva favore<strong>ce</strong>r a<br />
integração cooperativa entre as culturas, respeitando suas diferenças,<br />
bem como retoma, para o campo educativo, as relações entre os múltiplos<br />
contextos sociais e culturais. Esta proposta recomenda que se levem<br />
em conta a pluralida<strong>de</strong> e a diversida<strong>de</strong> cultural, em que o diálogo entre<br />
as culturas seja estimulado, no respeito às diferenças, na <strong>de</strong>mocratização<br />
<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e permanência <strong>de</strong> todos no âmbito escolar.<br />
Vale ainda <strong>de</strong>marcar a existência <strong>de</strong> várias maneiras <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a<br />
interculturalida<strong>de</strong> e, portanto, a educação intercultural. A escolha, aqui,<br />
é pela interculturalida<strong>de</strong> crítica e com ela há associação. Nesta, existe<br />
14<br />
FLEURI, Reinaldo Matias (Org.) Intercultura e Movimentos Sociais. Florianópolis:<br />
MOVER/NUP, 1998.<br />
34 | PREFEITURA DE FORTALEZA 35 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
um projeto que sinaliza na direção <strong>de</strong> um “com-viver” em busca <strong>de</strong> um<br />
bem viver compartilhado, solidário.<br />
Efetivamente, na interculturalida<strong>de</strong> crítica (IC), se problematizam os ali<strong>ce</strong>r<strong>ce</strong>s<br />
do Estado hegemônico, da socieda<strong>de</strong> capitalista, do seu lado oculto,<br />
que é a colonialida<strong>de</strong>. A IC contesta, <strong>de</strong> <strong>ce</strong>rto modo, este contexto social<br />
artificialmente naturalizado em que se impõem maneiras <strong>de</strong> ser, viver,<br />
saber e se relacionar. Portanto, falar em IC é se referir a <strong>de</strong>scolonialida<strong>de</strong>,<br />
como <strong>de</strong>staca Walsh (2008)15, pois que se integram no avanço essencial<br />
do <strong>de</strong>svelar do ali<strong>ce</strong>r<strong>ce</strong> <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna que precisa ser superada.<br />
A interculturalida<strong>de</strong> assim entendida, implica um projeto político, social<br />
epistêmico e ético. Problematiza as causas fundantes <strong>de</strong>ssa assimetria<br />
social e cultura atuais, buscando suprimi-las por políticas educacionais,<br />
relacionais. Um diálogo intercultural autêntico potencializa estas transformações<br />
capazes <strong>de</strong> romper com o arranjo social dominante.<br />
3.5 A<strong>ce</strong>sso, permanência bem-su<strong>ce</strong>dida e respeito à<br />
diferença (inclusão)<br />
Pressupõe o reconhecimento das diversida<strong>de</strong>s humanas, assim como<br />
suas variadas formas <strong>de</strong> interação, e a exigência <strong>de</strong> que sejam respeitadas,<br />
assegurando-se as condições ne<strong>ce</strong>ssárias para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> valores e práticas educacionais, multiculturais e interculturais, na<br />
valorização da pessoa como um prerrequisito para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e exercício da cidadania plena. Esses princípios apresentam-se na perspectiva<br />
da garantia <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e permanência bem-su<strong>ce</strong>dida na escola, o<br />
que implica a apropriação do saber por parte da totalida<strong>de</strong> dos estudantes;<br />
põe à disposição das diferentes pessoas e inteligências as condições<br />
<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>, o apoio, o acompanhamento familiar, a<br />
igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e a eliminação <strong>de</strong> barreiras físicas, morais e<br />
atitudinais, com vistas a superar as dificulda<strong>de</strong>s encontradas.<br />
3.6 Equida<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e igualda<strong>de</strong><br />
Implicam uma ligação do currículo com a realida<strong>de</strong> sociopolítica e<br />
cultural concreta dos educandos, observando-se as dimensões éticas, políticas<br />
e estéticas:<br />
15<br />
WALSH, Catherine. Interculturalidad, plurinacionalidad y <strong>de</strong>colonialidad: las insurgencias<br />
político-epistémicas <strong>de</strong> refundar el Estado. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, n. 9: 131-152,<br />
julio-diciembre 2008. ISSN 1794-2489. (tradução livre <strong>de</strong> João B. A. Figueiredo, 2008).<br />
* Ética – “justiça, solidarieda<strong>de</strong>, liberda<strong>de</strong> e autonomia; [...]<br />
respeito à dignida<strong>de</strong> da pessoa humana e <strong>de</strong> compromisso,<br />
com a promoção do bem [estar] <strong>de</strong> todos, contribuindo para<br />
combater e eliminar quaisquer manifestações <strong>de</strong> precon<strong>ce</strong>ito”<br />
16 e discriminação, seja <strong>de</strong> origem, raça, sexo, cor, ida<strong>de</strong>,<br />
classe social e quaisquer outras formas <strong>de</strong> discriminação;<br />
* Política – “reconhecimento dos direitos e <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cidadania,<br />
respeito ao bem comum e à preservação do regime<br />
<strong>de</strong>mocrático e dos recursos ambientais; [...] busca da equida<strong>de</strong><br />
(justiça) no a<strong>ce</strong>sso à educação, à saú<strong>de</strong>, ao trabalho (empregabilida<strong>de</strong>,<br />
empreen<strong>de</strong>dorismo e autonomia), aos bens<br />
culturais e outros benefícios; [...] exigência <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento para assegurar a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos entre os estudantes<br />
que apresentam diferentes ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s; [...] redução<br />
da pobreza e das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e regionais” 17 ; e<br />
* Estética – consi<strong>de</strong>ra as diferentes expressões artísticas, “cultivo<br />
da sensibilida<strong>de</strong> juntamente com o da racionalida<strong>de</strong>; [...]<br />
enriquecimento das formas <strong>de</strong> expressão e do exercício da<br />
criativida<strong>de</strong>; [...] valorização das diferentes manifestações<br />
culturais, especialmente a da cultura brasileira; [...] construção<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s plurais e solidárias” 18 . Cabe, portanto, ao<br />
profissional, buscar enfatizar as raízes culturais, tanto nacionais<br />
como locais, buscando recuperar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />
<strong>ce</strong>arense e propiciando a i<strong>de</strong>ntificação do estudante com<br />
essa abordagem e com esse conteúdo.<br />
3.7 Participação<br />
É um princípio fundador da <strong>de</strong>mocracia; implica a conscientização<br />
<strong>de</strong> ser parte integrante, em articulação com todos os grupos; sem a participação,<br />
não é possível transformar a realida<strong>de</strong>. A participação não visa<br />
apenas às questões formais <strong>de</strong> mera presença, implica o direito <strong>de</strong> ser<br />
partícipe, <strong>de</strong> ser por inteiro, diferente, <strong>de</strong> viver plenamente o sentido da<br />
16<br />
Inciso I, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />
17<br />
Inciso II, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />
18<br />
Inciso III, do art. 6º, da Resolução CNE nº 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa<br />
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> 9 (nove) anos.<br />
3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />
36 | PREFEITURA DE FORTALEZA 37 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
diversida<strong>de</strong>; implica o reconhecimento da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação<br />
como direito social, consi<strong>de</strong>rando a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s no<br />
espaço educativo e curricular.<br />
Esses princípios <strong>de</strong>vem organizar o currículo e fundamentar a abordagem<br />
<strong>de</strong> cada área, e abrem perspectivas <strong>de</strong> compreensão dos sujeitos<br />
educativos, dos objetos <strong>de</strong> estudo e do conhecimento. Dessa forma, os<br />
princípios visam a estabele<strong>ce</strong>r interações <strong>de</strong> conteúdos, com metodologias<br />
e práticas educativas, valorizando o saber, o saber-ser e o saber-fazer;<br />
estimulando o estudante a <strong>de</strong>senvolver potenciais <strong>de</strong> ser, pesquisar e<br />
adquirir saberes, com base nas experiências <strong>de</strong> vida e nas possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> formular projetos individuais e comunitários.<br />
Pressupõe um currículo para todos, mas respeitando-se as diversida<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong> forma a marcá-lo pela justeza. A liberda<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada uma conquista<br />
e uma tarefa humana fundamental, pela qual se <strong>de</strong>senvolve a autonomia.<br />
Implica, portanto, a busca pela inexistência <strong>de</strong> incongruências curriculares,<br />
<strong>de</strong> forma a não permitir intolerâncias, comparações <strong>de</strong>preciativas<br />
ou práticas segregadoras no Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza.<br />
Em cada área <strong>de</strong> conhecimento, também, serão anunciados princípios<br />
didático-pedagógicos, que i<strong>de</strong>ntificarão as inter-relações dos conteúdos do<br />
ensino e das situações <strong>de</strong> aprendizagem nos contextos das vidas social e<br />
pessoal, <strong>de</strong> modo a criar conexões ativas entre o estudante e os objetos do<br />
conhecimento, para que se alcan<strong>ce</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relacionar o aprendido<br />
e o vivido; o vivido e o aprendido com o <strong>de</strong>sejável e o conquistável.<br />
Ressalta-se a importante função da comunida<strong>de</strong> escolar como mediadora<br />
<strong>de</strong>sse pro<strong>ce</strong>sso, como quem po<strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nar as experiências ne<strong>ce</strong>ssárias<br />
e mais positivas para o educando avançar. Assim, cada segmento<br />
<strong>de</strong>ve buscar, e o sistema <strong>de</strong> ensino há <strong>de</strong> garantir, a constante atualização<br />
nos conteúdos que trabalha e a valorização pessoal e profissional.<br />
A escola, como um locus <strong>de</strong> pesquisa, envolve do<strong>ce</strong>ntes, dis<strong>ce</strong>ntes,<br />
gestores e técnicos, famílias, que fazem do cotidiano fonte inesgotável <strong>de</strong><br />
reflexão sobre as características, formas <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, a<strong>ce</strong>rca<br />
das dificulda<strong>de</strong>s do<strong>ce</strong>ntes e dis<strong>ce</strong>ntes, <strong>de</strong> forma a tornar o ensino e<br />
a aprendizagem cada vez mais significativos, em consonância com os<br />
princípios aqui apresentados.<br />
3.PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES<br />
38 | PREFEITURA DE FORTALEZA 39 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
4<br />
EIXOS<br />
REFERENCIAIS<br />
DO CURRÍCULO<br />
4.1 Educação integral intercultural: avançar<br />
na conquista da qualida<strong>de</strong> social<br />
para a escola pública <strong>de</strong> Fortaleza 47<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
4.2 Alfabetização e letramento no ensino<br />
fundamental <strong>de</strong> nove anos 52<br />
4.3 Formação <strong>de</strong> leitores 62<br />
4. 4. Inclusão digital: incorporando<br />
as tecnologias no currículo 72<br />
4.5 Educação Ambiental 80<br />
4.6 Educação especial na perspectiva<br />
da educação inclusiva no Município<br />
<strong>de</strong> Fortaleza 84<br />
4.7 Educação <strong>de</strong> jovens e adultos 101<br />
4. 8 Educação <strong>de</strong> tempo integral no sistema<br />
municipal <strong>de</strong> ensino: caminhos percorridos<br />
e perspectivas 114<br />
4.9 A avaliação, suas múltiplas funções<br />
e inter-relações com o ato educativo 122<br />
40 | PREFEITURA DE FORTALEZA 41 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
A<br />
organização curricular, como já expresso, não se resume apenas<br />
a uma sequência <strong>de</strong> disciplinas e ativida<strong>de</strong>s; incluem-se<br />
os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> planejamento vivenciados e reformulados em<br />
múltiplos espaços <strong>de</strong> aprendizagem por multípli<strong>ce</strong>s singularida<strong>de</strong>s<br />
no corpo social da escola.<br />
A organização dos tempos e dos espaços curriculares <strong>de</strong>ve ser feita<br />
<strong>de</strong> forma a não se restringir aos componentes curriculares <strong>ce</strong>ntrais obrigatórios,<br />
previstos na legislação e nas normas educacionais. A rigor, as<br />
unida<strong>de</strong>s educacionais <strong>de</strong>vem fazer, em suas ativida<strong>de</strong>s, sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
como expressão <strong>de</strong> uma cultura própria que consi<strong>de</strong>re as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> seus estudantes e seja in<strong>ce</strong>ntivadora das potencialida<strong>de</strong>s dos que as<br />
procuram. A flexibilida<strong>de</strong> curricular <strong>de</strong>ve significar um momento <strong>de</strong><br />
aproveitamento das experiências diversas que estes estudantes trazem<br />
consigo, como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus<br />
tempos e seu cotidiano.<br />
Enten<strong>de</strong>-se como sala <strong>de</strong> aula todo espaço on<strong>de</strong> a aprendizagem<br />
ocorre, ou seja, todos os ambientes <strong>de</strong> aprendizagem, como, por exemplo,<br />
a quadra poliesportiva, a biblioteca, o Laboratório <strong>de</strong> Informática<br />
Educativa, a horta, o pátio escolar, entre outros espaços. Além <strong>de</strong>stes,<br />
igualmente importantes são os locus <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s livres, o recreio, a merenda,<br />
pois constituem oportunida<strong>de</strong>s pedagógicas que não po<strong>de</strong>m ser<br />
<strong>de</strong>sperdiçadas. Todos eles se configuram como locus para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
curricular, inclusive os espaços do entorno da escola e da cida<strong>de</strong>.<br />
Tais orientações <strong>de</strong>vem estar contidas no projeto político-pedagógico <strong>de</strong><br />
cada instituição educativa.<br />
É preciso incluir, conforme cada projeto escolar, outros componentes<br />
flexíveis e variáveis que possibilitem percursos formativos e que atendam<br />
aos inúmeros interesses, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s e características dos educandos.<br />
Esta visão possibilita que a idéia e a organização do espaço curricular e<br />
físico se imbriquem e se alarguem, po<strong>de</strong>ndo incluir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
curricular ambientes físicos, didático-pedagógicos e equipamentos que<br />
não se reduzem às salas <strong>de</strong> aula.<br />
Consi<strong>de</strong>ram-se espaço educativo para atendimento ao estudante, sob<br />
a responsabilida<strong>de</strong> da escola, outras instituições escolares, bem como os<br />
espaços socioculturais e esportivo-recreativos do entorno, da cida<strong>de</strong> e<br />
mesmo da região, o que se pressupõe a existência <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> educação<br />
e <strong>de</strong> profissionais da educação dispostos a reinventar e constituir<br />
essa escola, ancorados em uma responsabilida<strong>de</strong> compartilhada com as<br />
<strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s encarregadas da gestão dos órgãos do Po<strong>de</strong>r Público.<br />
Ao tratar <strong>de</strong> currículo, a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases <strong>de</strong>finiu uma organização<br />
curricular caracterizada por: a) duração: anos, dias letivos e<br />
carga horária mínimos; b) uma base nacional comum; e c) uma parte<br />
diversificada.<br />
Des<strong>de</strong> 2007, o ensino fundamental, na re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza,<br />
está disposto em nove anos. O primeiro segmento do ensino fundamental<br />
compreen<strong>de</strong> do primeiro ao quinto ano e o segundo envolve o sexto<br />
ao nono ano. O cumprimento da carga mínima anual é <strong>de</strong> 800 horas,<br />
distribuídas em, no mínimo, 200 dias letivos <strong>de</strong> efetivo trabalho escolar.<br />
A jornada escolar no ensino fundamental <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>, no mínimo, quatro<br />
horas <strong>de</strong> trabalho efetivo em sala <strong>de</strong> aula – gradativamente, preten<strong>de</strong>-se<br />
ampliar esse número <strong>de</strong> horas até se chegar a uma educação integral, <strong>de</strong><br />
tempo integral.<br />
No que con<strong>ce</strong>rne à organização do número <strong>de</strong> estudantes por turma<br />
no ensino fundamental, recomenda-se observar o número máximo permitido<br />
na legislação vigente, para não prejudicar os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino<br />
e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
A organização curricular das instituições escolares será constituída<br />
por uma Base <strong>Municipal</strong> Comum do Ensino Fundamental, que compreen<strong>de</strong><br />
Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências Naturais,<br />
Educação Física, Educação Religiosa, Arte, Língua Estrangeira.<br />
Além disso, haverá uma Parte Diversificada, que <strong>de</strong>verá ser composta<br />
por conteúdos complementares escolhidos e <strong>de</strong>senvolvidos em cada<br />
estabelecimento escolar, baseados nos programas e projetos especiais,<br />
oriundos do MEC e <strong>de</strong> outras fontes. Se em um <strong>de</strong>terminado estabelecimento<br />
é oferecido um programa <strong>de</strong> esportes para <strong>ce</strong>rto número <strong>de</strong><br />
educandos; a instituição po<strong>de</strong> ofere<strong>ce</strong>r outro(s) tipo(s) <strong>de</strong> programa ou<br />
projeto para os <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong> tal forma que todos tenham em seu currículo<br />
uma parte diversificada.<br />
Os componentes curriculares da base comum e da parte diversificada<br />
po<strong>de</strong>m ser organizados pelos sistemas educativos, em forma <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong><br />
conhecimento, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificida<strong>de</strong><br />
dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais se<br />
<strong>de</strong>senvolvem as habilida<strong>de</strong>s indispensáveis ao exercício da cidadania,<br />
em ritmo compatível com as etapas do <strong>de</strong>senvolvimento integral do cidadão.<br />
A parte diversificada enrique<strong>ce</strong> a base comum e também <strong>de</strong>ve ser<br />
<strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong> forma transversal; não po<strong>de</strong>m se constituir em dois blocos<br />
distintos, com disciplinas específicas para cada uma <strong>de</strong>ssas partes.<br />
Uma organização curricular con<strong>ce</strong>bida mediante a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />
supõe outra forma <strong>de</strong> trabalho na escola, que consiste na<br />
seleção a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> conteúdos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, métodos,<br />
pro<strong>ce</strong>dimentos, técnicas e recursos didático-pedagógicos. Isso ocorre<br />
porque a perspectiva da articulação interdisciplinar é voltada para o<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
42 | PREFEITURA DE FORTALEZA 43 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, não apenas <strong>de</strong> conhecimentos, mas também <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s,<br />
valores e práticas.<br />
As disciplinas escolares <strong>de</strong>verão ser compreendidas como áreas <strong>de</strong><br />
conhecimento, i<strong>de</strong>ntificadas pelos respectivos conteúdos estruturantes e<br />
por seus quadros teóricos con<strong>ce</strong>ituais. Essas mesmas áreas, entretanto,<br />
<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas pressupostos para a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />
– com base nelas, as relações inter ou transdisciplinares se estabele<strong>ce</strong>m.<br />
Compreendidas <strong>de</strong>sta forma, há, portanto, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />
redimensionamento curricular, <strong>de</strong> uma nova relação entre os conteúdos<br />
e as disciplinas, permitindo:<br />
* maior articulação entre teoria e a prática;<br />
* maior participação dos envolvidos – do<strong>ce</strong>ntes, técnicos, estudantes,<br />
famílias - na dinâmica curricular;<br />
* ensaios que instituam aulas integradas, aulas <strong>de</strong> campo, seminários,<br />
ensino e vivências complementares;<br />
* ampliação dos limites <strong>de</strong> espaço (não somente o escolar, mas também<br />
do entorno da escola e dos <strong>de</strong>mais espaços da cida<strong>de</strong>), tempo e <strong>de</strong><br />
conteúdos disciplinares, tornando-os mais coletivos, interdisciplinares e<br />
interinstitucionais; e<br />
* compreensão <strong>de</strong> que o currículo é um percurso e que exige a (re)<br />
constituição permanente; por isso, a ampla participação é fundamental –<br />
para que a avaliação também seja uma constante nesse percurso.<br />
No lugar <strong>de</strong> uma gra<strong>de</strong> curricular rígida, é importante pensar uma<br />
re<strong>de</strong> interconectada que possibilite ao estudante compor o seu percurso<br />
– isso implica con<strong>ce</strong>ber o currículo como um sistema articulado <strong>de</strong><br />
conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e atitu<strong>de</strong>s formativas, <strong>de</strong> maneira que o estudante<br />
efetive conhecimentos não fragmentados. Trata-se <strong>de</strong> con<strong>ce</strong>ber<br />
o estudante como um sujeito pensante e crítico como condição para<br />
o enfrentamento <strong>de</strong> questionamentos emergentes <strong>de</strong> uma cultura geral,<br />
base <strong>de</strong> uma cultura científica.<br />
No tocante à avaliação, é preciso enten<strong>de</strong>r que se avalia e se é avaliado<br />
permanentemente, <strong>de</strong>ntro e fora da escola. No ambiente escolar, o(a)<br />
professor(a) ne<strong>ce</strong>ssita <strong>de</strong> contribuições para <strong>de</strong>senvolver um trabalho em<br />
que uma avaliação sistemática, criteriosa e objetiva seja efetivamente<br />
componente essencial dos pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem. Este<br />
tipo <strong>de</strong> avaliação compreen<strong>de</strong> um continuum do diagnóstico para tomada<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, realimentando o planejamento do ensino. Além do diagnóstico,<br />
<strong>de</strong>ve ter caráter formativo e cumulativo do <strong>de</strong>sempenho acadêmico<br />
do estudante, sendo um instrumento a serviço da aprendizagem.<br />
É preciso, pois, pensar a avaliação como um fenômeno que compreen<strong>de</strong><br />
ação e reflexão e ação. Assim, é possível também pensá-la como<br />
ação formativa, que promove as pessoas. Para isso, alguns <strong>de</strong>safios são<br />
apontados, sobretudo o <strong>de</strong> articular os resultados a essa avaliação formativa<br />
– na/pela escola. Medir simplesmente não é avaliar – avaliar é pensar<br />
sobre os dados. Então, é preciso mudar os rumos da avaliação se esta<br />
estiver na contramão dos direitos dos estudantes – afinal, que marcas se<br />
tenciona <strong>de</strong>ixar com a avaliação feita<br />
Para respon<strong>de</strong>r a essa pergunta, enten<strong>de</strong>ndo que os documentos são<br />
feitos com suporte na realida<strong>de</strong> da situação educacional, propõem-se<br />
três tipos <strong>de</strong> avaliação no ambiente educacional: avaliação e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
educação básica; avaliação institucional interna e externa; avaliação da<br />
aprendizagem.<br />
Em cada projeto pedagógico, a instituição escolar <strong>de</strong>ve observar atentamente<br />
as recomendações expressas em resolução específica do Conselho<br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação, para avaliação da aprendizagem, progressão,<br />
a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos, <strong>de</strong>ntre outros. Ela <strong>de</strong>ve também respeitar os<br />
critérios <strong>de</strong>finidos previamente.<br />
Os critérios <strong>de</strong> avaliação da aprendizagem <strong>de</strong>vem explicitar as expectativas<br />
<strong>de</strong> aprendizagem, consi<strong>de</strong>rando habilida<strong>de</strong>s e conteúdos propostos<br />
para cada área/ano. A organização lógica e interna dos conteúdos, as<br />
particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada momento da escolarida<strong>de</strong> e as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> aprendizagem constituem elementos importantes para cada etapa do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, afetivo e social em <strong>de</strong>terminada situação,<br />
na qual os estudantes tenham condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ponto<br />
<strong>de</strong> vista pessoal e social. A avaliação também <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar a lógica<br />
da inclusão, do diálogo, da conquista da autonomia, da mediação, da<br />
participação, das responsabilida<strong>de</strong>s com o coletivo.<br />
Isso significa que, além <strong>de</strong> registrar o <strong>de</strong>sempenho dos estudantes em<br />
ativida<strong>de</strong>s escritas, ações em grupo e pesquisas, o do<strong>ce</strong>nte precisa estar<br />
atento às diversas dimensões dos conteúdos, aqui <strong>de</strong>finidas em um tripé:<br />
o conhe<strong>ce</strong>r – o que inclui <strong>de</strong>finições, critérios, características, sínteses,<br />
análises, categorias, especificações e outras; o saber fazer – relacionado<br />
aos usos e práticas <strong>de</strong>finidos pela aplicabilida<strong>de</strong> dos conhecimentos e<br />
conteúdos a serem utilizados no cotidiano ou em situações a posteriori; e<br />
o saber conviver – os posicionamentos que consi<strong>de</strong>rem situações vivenciadas<br />
e assumidas com suporte nas dimensões anteriores.<br />
Igualmente importantes são a avaliação institucional interna e a avaliação<br />
<strong>de</strong> re<strong>de</strong>s da educação básica. Para a primeira, é preciso observar<br />
a regulamentação vigente, prever esta avaliação no projeto político-<br />
-pedagógico e <strong>de</strong>talhá-la no plano <strong>de</strong> gestão escolar. Deve aconte<strong>ce</strong>r<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
44 | PREFEITURA DE FORTALEZA 45 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
anualmente e pressupõe a revisão <strong>de</strong> objetivos e metas <strong>de</strong>limitados nos<br />
indicadores compatíveis com a missão da escola.<br />
A avaliação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s da educação básica é realizada por órgãos externos<br />
à escola e ao sistema educacional, englobando os resultados da<br />
avaliação institucional. Tem como finalida<strong>de</strong> sinalizar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
funcionamento da unida<strong>de</strong> escolar. Exemplo disso são o Sistema <strong>de</strong> Avaliação<br />
da Educação Básica (SAEB) – MEC e o Sistema Permanente <strong>de</strong><br />
Avaliação Educacional do Ceará (SPAECE), <strong>de</strong>ntre outros19.<br />
Sugere-se a<strong>de</strong>quar-se às peculiarida<strong>de</strong>s da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza,<br />
fazendo-se também uma releitura do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação no Município,<br />
ressaltando <strong>de</strong> fato o que ocorre e como o(a) professor(a) po<strong>de</strong>rá<br />
efetivar a avaliação com qualida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-se todos os reais fatores<br />
intervenientes e o que falta para que ela realmente ocorra.<br />
A avaliação, nesse caso, é um instrumento da aprendizagem, que realimenta<br />
todo o planejamento do ensino, pois tem como função diagnosticar,<br />
acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento do educando. É<br />
um motor contínuo <strong>de</strong> caráter diagnóstico, formativo e cumulativo do<br />
<strong>de</strong>sempenho acadêmico do estudante, consi<strong>de</strong>rando os aspectos quantitativos<br />
e qualitativos. Desta forma, ela possibilita tanto a a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong><br />
estudos quanto o avanço, haja vista o aproveitamento <strong>de</strong> estudos concluídos<br />
com êxito.<br />
Finalmente, é ne<strong>ce</strong>ssário acompanhar a evolução tecnológica e científica<br />
<strong>de</strong> seu tempo. A escola não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar isto sob pena <strong>de</strong><br />
se tornar obsoleta e não cumprir a sua função social <strong>de</strong> formar sujeitos<br />
preparados para pensar e enfrentar as mudanças produzidas por essa socieda<strong>de</strong>.<br />
Por isso, os laboratórios <strong>de</strong> informática educativa implantados<br />
nas unida<strong>de</strong>s escolares da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Fortaleza caracterizam-se<br />
como espaços <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula diferenciados, que possibilitam o a<strong>ce</strong>sso<br />
a novas formas <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, ensinar e <strong>de</strong>senvolver o currículo. Eles são<br />
compreendidos como ambientes <strong>de</strong> aprendizagem, sendo mais uma ferramenta<br />
<strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
A seguir serão apresentados e discutidos os eixos consi<strong>de</strong>rados relevantes<br />
para fundamentar (referenciar), orientar todas as áreas das diretrizes<br />
curriculares para a educação no Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Fortaleza, <strong>de</strong> forma a também contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
conhecimentos mais articulados, bem como habilida<strong>de</strong>s, valores e atitu<strong>de</strong>s<br />
cidadãs.<br />
4.1 Educação integral intercultural: avançar na<br />
conquista da qualida<strong>de</strong> social para a escola pública <strong>de</strong><br />
Fortaleza<br />
Ninguém escapa da educação. Em casa, na igreja ou na escola,<br />
<strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> muitos, todos nós envolvemos pedaços<br />
da nossa vida com ela – para apren<strong>de</strong>r, para ensinar, para<br />
apren<strong>de</strong>r e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para<br />
conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação.<br />
Carlos Rodrigues Brandão 20<br />
A socieda<strong>de</strong> brasileira protagoniza diversos movimentos em torno do<br />
direito à educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> socialmente referenciada, que atenda<br />
às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação integral das crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens,<br />
garantindo o direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal. Isso<br />
trouxe novos e gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios para a agenda pública do País nas três<br />
esferas do Governo, apontando para o planejamento <strong>de</strong> ações estratégicas<br />
que vislumbrem perspectivas. Cabe, portanto, ao gestor público<br />
con<strong>ce</strong><strong>de</strong>r condições objetivas – sobretudo <strong>de</strong> tempo, espaço, formação<br />
<strong>de</strong> profissionais e <strong>de</strong> recursos – que possibilitem ao estudante da escola<br />
pública ampliar sua per<strong>ce</strong>pção sobre si mesmo a respeito do mundo,<br />
<strong>de</strong>senvolvendo o próprio potencial e a singularida<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> uma<br />
educação emancipadora.<br />
O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral é polissêmico e, ao longo do tempo<br />
e da história, assumiu diferentes conotações, fruto das condições concretas<br />
em que foi produzido e das diferentes con<strong>ce</strong>pções <strong>de</strong> mundo, homem,<br />
saber e ciência que o embasaram. A fim <strong>de</strong> explicitar o significado<br />
atribuído a este con<strong>ce</strong>ito nestas diretrizes, recorre-se a Guará (2006) 21 ,<br />
quando evi<strong>de</strong>ncia três principais a<strong>ce</strong>pções para o termo em pauta:<br />
* educação integral como formação integral;<br />
* educação integral como articulação <strong>de</strong> saberes baseada em projetos<br />
integradores; e<br />
* educação integral na perspectiva do tempo integral – ampliação do<br />
tempo <strong>de</strong> permanência do estudante na escola.<br />
A idéia <strong>de</strong> educação integral que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> está associada à multidimensionalida<strong>de</strong><br />
e à historicida<strong>de</strong> do ser humano, englobando o corpó-<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
19<br />
Estão previstos o <strong>de</strong>senvolvimento e a implantação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> avaliação municipal,<br />
<strong>de</strong> forma a assegurar a elevação progressiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho no sistema <strong>de</strong> ensino.<br />
20<br />
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1985.<br />
21<br />
GUARÁ, Isa Maria F. Rosa. É imprescindível educar integralmente. Ca<strong>de</strong>rnos CENPEC,<br />
n. 2, 2006. p. 15-24.<br />
46 | PREFEITURA DE FORTALEZA 47 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
reo, psíquico, cultural, político, ético, estético e o espiritual. As experiências<br />
vividas pelos educandos no conjunto dos espaços educativos e os<br />
saberes que circulam nas relações estabelecidas são as bases do pro<strong>ce</strong>sso<br />
formativo. Nesta perspectiva, a educação integral agrega as a<strong>ce</strong>pções<br />
expostas por Guará (2006), configurando-se como formação integral intercultural,<br />
por situar-se entre culturas e saberes que se penetram. Com<br />
vistas a essa formação humana faz-se indispensável a reorganização do<br />
tempo, do espaço escolar e das ativida<strong>de</strong>s curriculares, articulando saberes<br />
em diferentes contextos e em variados espaços <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
As diretrizes curriculares aqui apresentadas inserem-se nos fins e objetivos<br />
do Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza (PME) – Lei nº 9.441,<br />
<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008 – que se propõe constituir <strong>ce</strong>nários, tempos e<br />
pro<strong>ce</strong>ssos educativos com vistas à formação integral <strong>de</strong> todos os cidadãos<br />
– crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes, jovens, adultos e idosos – à medida que incorpora<br />
as ativida<strong>de</strong>s individuais e coletivas como situações <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
reconhe<strong>ce</strong>ndo toda a cida<strong>de</strong> como locus <strong>de</strong> formação e educação.<br />
O PME tem como marco referencial os princípios da Cida<strong>de</strong> Educadora<br />
e enseja superar os <strong>de</strong>safios impressos pelas discrepâncias econômicas,<br />
sociais e culturais. Para ven<strong>ce</strong>r esta luta, é fundamental a constituição <strong>de</strong><br />
panoramas educativos com vistas à formação integral <strong>de</strong> todos os cidadãos<br />
(FORTALEZA, 2009)22. A educação é um amplo fenômeno e está presente<br />
em diversos tempos e espaços da socieda<strong>de</strong>. Portanto é importante consi<strong>de</strong>rar<br />
todas as experiências individuais e coletivas como situações <strong>de</strong><br />
aprendizagem e a cida<strong>de</strong> como locus <strong>de</strong> formação e educação.<br />
A escola, numa cida<strong>de</strong> educadora, é uma instituição que edifica pontes<br />
entre os diferentes saberes circulantes na socieda<strong>de</strong>, fortificando as<br />
bases para a qualida<strong>de</strong> da educação e para a inclusão social. A escola<br />
interliga-se a todos os equipamentos culturais, esportivos e <strong>de</strong> lazer da<br />
cida<strong>de</strong>. Da mesma forma, todos os grupos e organizações governamentais<br />
ou não governamentais são par<strong>ce</strong>iros em potencial no gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio<br />
<strong>de</strong> transformar a escola numa autêntica comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem<br />
significativa e <strong>de</strong> pesquisa.<br />
A visão aqui esposada <strong>de</strong> educação integral coinci<strong>de</strong> com o con<strong>ce</strong>ito<br />
<strong>de</strong> educação integral <strong>de</strong>fendido pelo Ministério da Educação, compreendido<br />
como ação estratégica para garantir atenção e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
integral às crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens, sujeitos <strong>de</strong> direitos que vivem<br />
uma contemporaneida<strong>de</strong> marcada por intensas transformações e exigências<br />
cres<strong>ce</strong>ntes <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento, nas relações sociais entre<br />
22<br />
FORTALEZA. Lei nº 9.441/08, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008. Aprova o Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Educação e dá outras providências. Diário Oficial do Município. Fortaleza, 05 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 2009.<br />
diferentes gerações e culturas, nas formas <strong>de</strong> comunicação, na maior<br />
exposição aos efeitos das mudanças nos planos local, regional e internacional.<br />
Ela se dará por meio da ampliação <strong>de</strong> tempos, espaços e oportunida<strong>de</strong>s<br />
educativas, que qualifiquem o pro<strong>ce</strong>sso educacional e melhorem<br />
o aprendizado dos estudantes. Não se trata, portanto, da criação ou<br />
recriação da escola como instituição total, mas da articulação dos diversos<br />
agentes sociais que já atuam na garantia <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> nossas crianças<br />
e jovens na corresponsabilida<strong>de</strong> por sua formação integral (BRASIL,<br />
2009)23, ao mesmo tempo, motivando uma inserção mais participativa,<br />
mediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conhecimentos e vivências, também <strong>de</strong><br />
idosos, para que as relações sejam edificadas sobre os saberes e a valorização<br />
das expressões culturais, propiciando aprendizagem significativa<br />
nessa fase da vida.<br />
A perspectiva <strong>de</strong> formação integral diferencia-se do i<strong>de</strong>al civilizatório<br />
e disciplinador que marcou este con<strong>ce</strong>ito no passado, pela perspectiva<br />
integradora e intercultural: tenciona-se educar no respeito às diferenças e<br />
na luta contra as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s; daí se assenta a proposta nos princípios<br />
apresentados a seguir, que se articulam também com os princípios gerais<br />
<strong>de</strong>stas diretrizes, já discutidos.<br />
4.1.1 Princípios orientadores da educação integral<br />
intercultural<br />
a) Integralida<strong>de</strong>: está associado ao princípio da totalida<strong>de</strong> (GADOT-<br />
TI, 2009)24, como é sustentado pela Teoria da Complexida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Edgar<br />
Morin (2000)25. A educação integral implica a formação integral, integrada<br />
e integradora da realida<strong>de</strong>. Por isso, é uma formação intercultural<br />
e caminha para uma perspectiva transdisciplinar 26 .<br />
23<br />
BRASIL. Educação Integral: texto referência para o <strong>de</strong>bate nacional. Brasília: MEC/<br />
SECAD, 2009. (Série Mais Educação).<br />
24<br />
GADOTTI, Moacir. Educação Integral no Brasil: inovações em pro<strong>ce</strong>sso. São Paulo:<br />
Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. (Educação Cidadã 4).<br />
25<br />
Op. cit.<br />
26<br />
De acordo com Zabala (2002, p. 33-34), “A transdisciplinarida<strong>de</strong> é o grau máximo<br />
<strong>de</strong> relações entre disciplinas, <strong>de</strong> modo que chega a ser uma integração global <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
um sistema totalizador. Esse sistema facilita uma unida<strong>de</strong> interpretativa com o objetivo<br />
<strong>de</strong> construir uma ciência que explique a realida<strong>de</strong> sem fragmentações”. Ou seja, uma<br />
abordagem transdisciplinar envolve reorganização <strong>de</strong> conhecimentos que atravessam as<br />
disciplinas, como suporte para a unificação <strong>de</strong> saberes, tanto no nível semântico quanto<br />
operativo (tanto na teoria como na prática).<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
48 | PREFEITURA DE FORTALEZA 49 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
b) Diálogo entre saberes diferenciados: trata-se <strong>de</strong> uma perspectiva<br />
pedagógica e política que supera a verticalida<strong>de</strong> na produção e socialização<br />
do saber. Recupera-se, <strong>de</strong> tal modo, o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> “equivalência <strong>de</strong><br />
saberes” proposto por Santos (1999) 27 e <strong>de</strong>fendido e vivenciado por Paulo<br />
Freire ao longo <strong>de</strong> sua obra e <strong>de</strong> sua vida. São reconhecidas as diferentes<br />
formas <strong>de</strong> saber e promove-se o confronto comunicativo entre elas.<br />
c) Centralida<strong>de</strong> da experiência e da aprendizagem significativa:<br />
os educandos, como membros atuantes na socieda<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>m ser<br />
encarados como “candidatos a”. Vivendo o presente e tendo experiências<br />
que os situem perante situações-problema, eles vão alargando os<br />
conhecimentos, enrique<strong>ce</strong>ndo-se como seres humanos e articulando significações<br />
mais profundas sobre os modos <strong>de</strong> ser e estar no mundo. Experiência<br />
é forma <strong>de</strong> interação em que agentes e situação se modificam.<br />
Os conteúdos escolares adquirem significados e os envolvem como seres<br />
plenos, levando-os a novas experiências. As verda<strong>de</strong>iras experiências envolvem<br />
cooperação e provocam modificações nos modos <strong>de</strong> sentir, pensar<br />
e agir – <strong>de</strong> viver, experimentar e apren<strong>de</strong>r.<br />
d) Ludicida<strong>de</strong> e senso estético: o <strong>de</strong>senvolvimento da sensibilida<strong>de</strong><br />
e da criativida<strong>de</strong> tem no jogo, na brinca<strong>de</strong>ira e na arte sua maneira<br />
mais plena <strong>de</strong> realização. A experiência estética e as relações e valores<br />
estabelecidos nas ativida<strong>de</strong>s lúdicas propiciam a abertura a âmbitos da<br />
realida<strong>de</strong> cada vez mais amplos e totalizadores (QUINTÁS, 1992) 28 : arte<br />
e ludicida<strong>de</strong> como lugares <strong>de</strong> encontro entre pessoas que apren<strong>de</strong>m a se<br />
conhe<strong>ce</strong>r e a conviver, no respeito mútuo.<br />
4.1.2 Con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral nas experiências<br />
com educação integral na história das idéias pedagógicas<br />
A educação integral é um tema recorrente na história das i<strong>de</strong>ias pedagógicas,<br />
tendo figurado. <strong>de</strong> forma implícita ou explícita, nos mais variados<br />
discursos pedagógicos: na paidéia grega, no i<strong>de</strong>ário <strong>de</strong> pensadores<br />
renas<strong>ce</strong>ntistas e iluministas, nos projetos confessionais, nas propostas<br />
<strong>de</strong>correntes das formulações psicogenéticas <strong>de</strong> Piaget, nas sociointeracionistas<br />
<strong>de</strong> Vygotsky, Luria, Leontiev e Wallon e nas diferentes pedagogias<br />
do movimento holístico (OLINDA, 2004) 29 . No Brasil, teve ampla<br />
27<br />
SANTOS, B. S. Da idéia <strong>de</strong> universida<strong>de</strong> à universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias. In _____. Pela mão <strong>de</strong><br />
Ali<strong>ce</strong>: o social e o político na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. 5. ed. São Paulo: Cortez. 1999.<br />
28<br />
QUINTÁS, A. L. Estética. Tradução <strong>de</strong> Jaime A. Classen. Petrópolis: Vozes, 1992.<br />
29<br />
OLINDA, Ercilia Maria Braga <strong>de</strong>. Tinta, papel e palmatória: a escola no Ceará do<br />
século XIX. Fortaleza: Museu do Ceara/<strong>Secretaria</strong> da Cultura do Estado do Ceará, 2004.<br />
repercussão nas primeiras décadas do século XX com os movimentos <strong>de</strong><br />
cunho educativo renovadores, que tinham a formação integral como um<br />
dos princípios consensuais entre suas várias correntes. A aprendizagem<br />
envolvia a reconstituição da experiência mediante a integração da teoria<br />
à prática, da vida aos conhecimentos e práticas escolares, possibilitando<br />
a autonomia moral e intelectual do aprendiz.<br />
Com amparo nesta con<strong>ce</strong>pção, surgiram diversas experiências educacionais<br />
com foco na formação integral dos estudantes, por iniciativa <strong>de</strong> governos,<br />
das quais se tomarão como exemplos as que se <strong>de</strong>stacam a seguir.<br />
Em 1922, a Lei nº 1.953, <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> agosto, reformou o ensino primário<br />
e normal do Estado do Ceará, trazendo preocupações com as dimensões<br />
intelectuais, físicas, morais e cívicas. Por toda a década <strong>de</strong> 1930 até finais<br />
da década <strong>de</strong> 1960, o <strong>ce</strong>nário educacional <strong>ce</strong>arense viveu experiências<br />
alimentadas pelo i<strong>de</strong>al da formação integral, incluindo-se a forte influência<br />
<strong>de</strong> Maria Montessori, Declory e John Dewey. Nas escolas católicas,<br />
Lubienska, discípula <strong>de</strong> Maria Montessori, Dom Bosco e Paula Francinete<br />
inspiravam práticas voltadas para a formação integral.<br />
Anísio Teixeira figurou entre os principais educadores envolvidos<br />
no i<strong>de</strong>ário escolanovista, tendo sido um dos signatários do Manifesto<br />
dos Pioneiros da Educação Nova em 1932. Criou o Centro Educacional<br />
Carneiro Ribeiro em Salvador, na década <strong>de</strong> 1950. Nesse Centro, os estudantes<br />
tinham a<strong>ce</strong>sso às ativida<strong>de</strong>s, historicamente entendidas como<br />
escolares, sendo trabalhadas nas escolas-classe, bem como outras ativida<strong>de</strong>s<br />
aconte<strong>ce</strong>ndo no que na época se chamava <strong>de</strong> contraturno escolar,<br />
no espaço que o educador <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> escola-parque. Na década <strong>de</strong><br />
1960, juntamente com Darcy Ribeiro e Ciro dos Anjos, integrou a comissão<br />
que organizou o Sistema Educacional <strong>de</strong> Brasília, oportunida<strong>de</strong> em<br />
que, inspirado na experiência <strong>de</strong> Salvador, criou vários <strong>ce</strong>ntros educacionais<br />
na mesma perspectiva.<br />
Outras experiências surgiram ao longo da história, como os <strong>ce</strong>ntros<br />
integrados <strong>de</strong> educação pública – CIEP, no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1980), os <strong>ce</strong>ntros<br />
educacionais unificados – CEU, em São Paulo (2000), entre outras,<br />
que teimam em resistir às intempéries das políticas públicas <strong>de</strong> corte<br />
social tão afeitas a modismos que têm na efemerida<strong>de</strong> sua marca registrada.<br />
Não obstante, <strong>de</strong> um lado, o caráter político-partidário associado<br />
in<strong>de</strong>vidamente às experiências pedagógicas, que <strong>de</strong>stacava a persona<br />
política, em <strong>de</strong>trimento dos resultados pedagógicos obtidos, e, <strong>de</strong> outro<br />
lado, a relação custo-benefício, entre outros motivos aventados, fizeram<br />
com que as experiências que empunhavam o estandarte da educação<br />
integral no panorama da educação brasileira naufragassem ou permane<strong>ce</strong>ssem<br />
insuladas sem alcan<strong>ce</strong> do status <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> Estado.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
50 | PREFEITURA DE FORTALEZA 51 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Mister se faz o reconhecimento da importância <strong>de</strong>stas experiências<br />
pedagógicas como tentativas <strong>de</strong> superação <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> que se tencionava<br />
mais justa e igualitária e, neste sentido, consistem legado prenhe<br />
<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para futuros empreendimentos <strong>de</strong> cunho público educacional,<br />
servindo como horizonte que instiga o movimento na busca<br />
constante <strong>de</strong> trans<strong>ce</strong>ndência para um nível superior.<br />
Ultrapassando o or<strong>de</strong>namento jurídico e os programas governamentais,<br />
ressalta-se que aspirar à educação integral implica sustentar discussões<br />
pautadas em questões pertinentes à cidadania, à autonomia, aos<br />
valores, à justiça social, à liberda<strong>de</strong> e, sobretudo, ao direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />
e <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver como pessoa. Para isso é ne<strong>ce</strong>ssário manter atualizado<br />
o <strong>de</strong>bate político-i<strong>de</strong>ológico e curricular em torno do assunto.<br />
O Plano Nacional <strong>de</strong> Educação em Direitos Humanos (PNEDH),<br />
cuja elaboração iniciou-se em 2003, sendo concluído em 2006, é uma<br />
referência para o planejamento e implementação <strong>de</strong> políticas, ações e<br />
programas voltados à consolidação <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> direitos humanos<br />
em todos os espaços, tempos e pro<strong>ce</strong>ssos sociais, expressando o compromisso<br />
do Estado com a informação, conhecimento e concretização dos<br />
direitos humanos.<br />
Nesse documento, a Educação Básica está intimamente vinculada<br />
ao con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> formação integral, à medida que se propõe efetivar a<br />
cidadania plena, unindo a elaboração <strong>de</strong> conhecimentos ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> valores, atitu<strong>de</strong>s e comportamentos, com ampla <strong>de</strong>fesa da<br />
justiça social 30 e ambiental. A educação em direitos humanos implica a<br />
divulgação, <strong>de</strong>fesa e promoção dos direitos humanos, bem como reparação<br />
dos danos por direitos violados. Sua consolidação promove o pleno<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da personalida<strong>de</strong> e dignida<strong>de</strong> humana, colaborando<br />
para uma cultura <strong>de</strong> paz, fundada na justiça social e luta contra as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
e as opressões.<br />
4.2 Alfabetização e letramento no ensino<br />
fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />
Em 2006, o Ministério da Educação (MEC) <strong>de</strong>u publicida<strong>de</strong> à Lei nº<br />
11.274/06 que <strong>de</strong>termina a inclusão, no sistema educacional brasileiro,<br />
<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> seis anos, como integrantes do ensino fundamental.<br />
Em Fortaleza, a institucionalização do ensino fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />
teve início dois anos antes.<br />
Esta mudança <strong>de</strong>finida na legislação amplia a abrangência do atendi-<br />
30<br />
Sem esque<strong>ce</strong>r <strong>de</strong> incluir temáticas referentes ao idoso, ao trabalhar os direitos humanos.<br />
mento do ensino fundamental, tendo como pressuposto a alfabetização,<br />
que, no percurso da escolarida<strong>de</strong> regular, se iniciava, anteriormente, na<br />
educação infantil.<br />
Nesse âmbito, amplia-se também a con<strong>ce</strong>pção <strong>de</strong> alfabetização além<br />
da apropriação do código escrito, passando a englobar a i<strong>de</strong>ação <strong>de</strong> letramento<br />
como domínio do sistema <strong>de</strong> leitura e escrita para o uso no<br />
contexto social escrito e oral, dando continuida<strong>de</strong> ao fortalecimento da<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e constituição da autonomia, do exercício da cidadania e do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />
Dessa forma, é papel dos educadores assegurar que a instituição escolar<br />
assuma o compromisso <strong>de</strong> se tornar espaço <strong>de</strong> efetiva aprendizagem<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento da convivência saudável, da valorização das potencialida<strong>de</strong>s<br />
e do cumprimento da sua função pública, política e social.<br />
Ao Po<strong>de</strong>r Público municipal cabe a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerenciar, efetivamente,<br />
um projeto educacional que ultrapasse a mera <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
realizador da educação formal, buscando, assim, aten<strong>de</strong>r um projeto <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento humano e <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> planetária, que compreenda<br />
as diversida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ntitárias, sociais, <strong>de</strong> gênero, étnicas, culturais, presentes<br />
e ne<strong>ce</strong>ssárias em cada região administrativa da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza.<br />
4.2.1 As singularida<strong>de</strong>s das crianças que ingressam<br />
no ensino fundamental<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> infância surgiu com a socieda<strong>de</strong> capitalista, na medida em<br />
que mudaram a inserção e o papel social da criança na sua comunida<strong>de</strong>.<br />
Mais do que um estádio, essa fase é uma categoria histórica: crianças são<br />
sujeitos sociais e históricos, marcados pelas contradições das socieda<strong>de</strong>s<br />
em que estão inseridas. São cidadãs, pessoas <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> direitos, que<br />
produzem cultura e são nela produzidas.<br />
Esse modo <strong>de</strong> ver as crianças favore<strong>ce</strong> entendê-las e também ver o<br />
mundo com base no seu ponto <strong>de</strong> vista. Reconhe<strong>ce</strong>m-se como específicos<br />
da infância o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> imaginação, a fantasia, a criação, a<br />
brinca<strong>de</strong>ira, entendida como experiência <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />
diferentes linguagens.<br />
Pensar a infância na escola e na sala <strong>de</strong> aula nessa perspectiva é um<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para o ensino fundamental que, ao longo <strong>de</strong> sua história,<br />
não consi<strong>de</strong>ra o corpo, o universo lúdico, os jogos e as brinca<strong>de</strong>iras<br />
como experiências <strong>de</strong> aprendizagem, o que implica ainda pensar nos<br />
espaços <strong>de</strong>stinados para que a criança possa viver esse tempo <strong>de</strong> vida<br />
com seus direitos e <strong>de</strong>veres assegurados.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
52 | PREFEITURA DE FORTALEZA 53 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Com efeito, na transição da educação infantil para o ensino fundamental,<br />
<strong>de</strong>ve-se garantir conhecimentos e afetos, saberes e valores, cuidados<br />
e atenção, serieda<strong>de</strong> e riso, pois tanto em uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ensino como na outra o objetivo é atuar com liberda<strong>de</strong> para assegurar a<br />
apropriação e a elaboração do conhecimento.<br />
O principal papel da escola é o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e<br />
se há <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-lo nas dimensões afetiva, cognitiva, social e psicológica.<br />
Para isso se faz ne<strong>ce</strong>ssário <strong>de</strong>finir caminhos pedagógicos nos tempos e<br />
espaços da escola e da sala <strong>de</strong> aula que favoreçam o encontro da cultura<br />
infantil, em que as crianças possam recriar as relações da socieda<strong>de</strong> na<br />
qual estão inseridas, em espaços e tempos que favoreçam a autonomia.<br />
O direito efetivo à educação das crianças <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá,<br />
principalmente, das práticas pedagógicas e <strong>de</strong> uma política da escola<br />
para a verda<strong>de</strong>ira acolhida <strong>de</strong>ssa faixa na instituição.<br />
Portanto, as crianças possuem modos próprios <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r e interagir<br />
com o mundo. Cabe aos educadores favore<strong>ce</strong>r a criação <strong>de</strong> um ambiente<br />
escolar, em que a infância possa ser vivida em toda a sua plenitu<strong>de</strong>.<br />
4.2.2 Percurso da escolarização<br />
O percurso escolar no mundo contemporâneo tornou-se parte integrante<br />
do <strong>de</strong>senvolvimento humano, supondo-se, <strong>de</strong> início, que a escola<br />
<strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r a dimensão prepon<strong>de</strong>rante <strong>de</strong> seu fazer.<br />
O ensino e a aprendizagem <strong>de</strong>verão se constituir no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
das diversas expressões: dialógica, corporal, pictográfica, musical, gráfica,<br />
oral, leitora, escritora, no estudo das diversas áreas do conhecimento,<br />
das transversalida<strong>de</strong>s, igualmente ne<strong>ce</strong>ssárias à formação do estudante<br />
do ensino fundamental. Para isso é ne<strong>ce</strong>ssário garantir a consecução dos<br />
objetivos que <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>finidos para cada ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.<br />
Assim, é imprescindível <strong>de</strong>finir a sequência, organização e aprofundamento<br />
das aprendizagens básicas nas áreas do conhecimento dos<br />
componentes do currículo. Para tanto, a garantia <strong>de</strong>sse tratamento exige<br />
a adoção dos critérios já apontados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais<br />
para o Ensino Fundamental, <strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração os conhecimentos<br />
anteriores dos estudantes, o nível <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> dos diferentes<br />
conteúdos e <strong>de</strong> aprofundamento possível <strong>de</strong> cada conteúdo/área,<br />
<strong>de</strong> forma que se possa i<strong>de</strong>ntificar o que <strong>de</strong> fato o estudante apren<strong>de</strong>u/<br />
compreen<strong>de</strong>u e com que grau <strong>de</strong> autonomia.<br />
É fundamental que a escola esteja sempre atenta para consi<strong>de</strong>rar o<br />
nível <strong>de</strong> aprendizagem dos estudantes que não passaram pela escolarização<br />
anterior ao ensino fundamental. Estes <strong>de</strong>vem ser supridos dos<br />
conhecimentos ne<strong>ce</strong>ssários para atingirem os objetivos previstos.<br />
4.2.3 A Alfabetização em diferentes contextos<br />
O con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> alfabetização, inicialmente <strong>de</strong>finia-se como aprendizagem<br />
do código, o que significava dizer que, na leitura, o objetivo era a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar os sinais gráficos, transformando-os em sons,<br />
e, na escrita, <strong>de</strong>senvolver capacida<strong>de</strong>s para codificar os sons da língua,<br />
transformando-os em sinais gráficos (letras).<br />
Na década <strong>de</strong> 1980, com os estudos <strong>de</strong> Emília Ferreiro e Ana Teberosky,<br />
houve uma quebra <strong>de</strong> paradigma em relação ao entendimento da<br />
alfabetização, cujo enfoque anterior se pautava na avaliação dos métodos<br />
<strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong>slocando-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, para a aprendizagem. A<br />
escola sai da posição <strong>de</strong> <strong>ce</strong>ntralizadora da alfabetização e recoloca o<br />
estudante como sujeito ativo no <strong>ce</strong>ntro <strong>de</strong>ssa aprendizagem, como <strong>de</strong>screveu<br />
anteriormente Piaget (1987) 31 . A ênfase <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o “como se<br />
ensina” e passa a ser o “como <strong>de</strong> fato se apren<strong>de</strong>”.<br />
As pesquisas <strong>de</strong>ssas autoras comprovam que as crianças, ao entrarem<br />
na escola regular, já trazem consigo saberes sobre a escrita em seu meio<br />
social. Consi<strong>de</strong>ram seus percursos <strong>de</strong> aprendizagem, revelando que elas<br />
pensam e elaboram hipóteses e percorrem diferentes níveis na busca da<br />
compreensão do sistema <strong>de</strong> escrita. Essa abordagem, que consi<strong>de</strong>ra o pensamento<br />
da criança <strong>de</strong> elaborar hipóteses e escrever espontaneamente,<br />
<strong>de</strong>nomina-se psicogênese da língua escrita. Cabe <strong>de</strong>stacar que essa compreensão<br />
por parte do(a) professor(a) não <strong>de</strong>verá servir como meio para<br />
classificar o estudante <strong>de</strong> acordo com os níveis <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong>scritos pelas<br />
autoras, mas que <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>sses conhecimentos ele possa propor situações<br />
didáticas <strong>de</strong>safiadoras para que a criança avan<strong>ce</strong> <strong>de</strong> um nível a outro.<br />
Em tal contexto, é relevante para o(a) professor(a) alfabetizador(a) conhe<strong>ce</strong>r<br />
os estudos da psicogênese da língua escrita, propiciando a reflexão<br />
<strong>de</strong> suas metodologias <strong>de</strong> ensino, tendo como objetivo favore<strong>ce</strong>r a<br />
elaboração <strong>de</strong> conhecimento pela criança, sem <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar seu percurso<br />
ao apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever.<br />
Progressivamente, o termo alfabetização se amplia além da apropriação<br />
do código escrito e passa a envolver o domínio dos conhecimentos<br />
que permitem o uso <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s nas práticas sociais <strong>de</strong> leitura e<br />
31<br />
Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4 ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara,<br />
1987.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
54 | PREFEITURA DE FORTALEZA 55 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
escrita, pois, como afirma Soares (2003, p. 9,12) 32 ,<br />
Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque,<br />
no quadro das atuais con<strong>ce</strong>pções psicológicas lingüísticas e<br />
psicolingüísticas <strong>de</strong> leitura e escrita, a entrada da criança (e<br />
também do adulto analfabeto) no mundo da escrita se dá simultaneamente<br />
por esses dois pro<strong>ce</strong>ssos: pela aquisição do<br />
sistema convencional <strong>de</strong> escrita – a alfabetização, e pelo <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>sse sistema em ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem<br />
a língua escrita – o letramento.<br />
4.2.4 Con<strong>ce</strong>pções norteadoras <strong>de</strong> alfabetização e<br />
letramento<br />
O mo<strong>de</strong>lo teórico do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> alfabetização inicial, que sustenta<br />
essas Diretrizes Curriculares, con<strong>ce</strong>be a aprendizagem <strong>de</strong> forma interativa.<br />
As propostas <strong>de</strong> alfabetização e letramento aqui expressas se baseiam<br />
nas con<strong>ce</strong>pções interacionista e sociointeracionista.<br />
Essas i<strong>de</strong>ias supõem que o <strong>de</strong>senvolvimento da leitura e da escrita<br />
esteja associado à formulação do conhecimento pela criança como um<br />
indivíduo em <strong>de</strong>senvolvimento e em interação com outros sujeitos. Seus<br />
principais representantes são Piaget, Vygotsky e Wallon.<br />
Piaget (1987)33, em sua teoria, reuniu novas i<strong>de</strong>ias sobre aprendizado,<br />
ao pesquisar o <strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s cognitivas. Analisando<br />
a forma como o conhecimento é assimilado, per<strong>ce</strong>beu que existe<br />
uma evolução gradativa, que varia <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminados aspectos.<br />
Alguns <strong>de</strong>stes são oriundos da maturida<strong>de</strong> emocional e física, convívio<br />
social e, principalmente, a autorregulação interna do organismo<br />
ou reequilíbrio, que se dá após cada equilíbrio. O <strong>de</strong>sequilíbrio ocorre<br />
quando um novo conhecimento é <strong>de</strong>tectado.<br />
Sua teoria está estruturada em etapas bem <strong>de</strong>finidas, que inicia no<br />
primeiro contato com o novo conhecimento, o que cria um estado problemático<br />
<strong>de</strong> conflito entre os conhecimentos em curso e o novo; em<br />
seguida, passa pela fase <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>sta problemática, po<strong>de</strong>ndo o indivíduo<br />
a<strong>de</strong>quar sua estrutura <strong>de</strong> pensamento para comportar o novo conhecimento<br />
<strong>de</strong>ntro daquilo já conhecido; como resultado da resolução<br />
do conflito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, também conhecido como reequilíbrio, assimila-se<br />
32<br />
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2003.<br />
33<br />
Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4ª ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Guanabara, 1987.<br />
o conhecimento. Além dos fatores <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio, conflito e confronto<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, este pro<strong>ce</strong>sso está <strong>ce</strong>rcado dos aspectos anteriormente citados:<br />
o indivíduo terá diferentes comportamentos <strong>de</strong> acordo com sua maturida<strong>de</strong><br />
emocional e física. Além disto, o convívio social é um intenso<br />
influenciador no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> adaptação.<br />
Na inteligência <strong>de</strong> Piaget, é <strong>de</strong>ver da escola propor ativida<strong>de</strong>s que provoquem<br />
os conflitos suficientes para ensejar a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong><br />
problemas por parte do estudante. Este <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>safiado <strong>de</strong> tal maneira<br />
que sinta o <strong>de</strong>sequilíbrio, provocando em seu organismo su<strong>ce</strong>ssivos reequilíbrios.<br />
Neste <strong>de</strong>curso <strong>de</strong> conflitos, o estudante elabora seu conhecimento,<br />
<strong>de</strong> maneira criativa. Tais conflitos estimulam o indivíduo a adotar<br />
um perfil crítico, ativo, e que busca constantemente o conhecimento.<br />
Para Vygotsky (1998) 34 , a formação su<strong>ce</strong><strong>de</strong> numa relação dialética<br />
entre o sujeito e o meio social: homem e meio se modificam por interação.<br />
A criança apren<strong>de</strong> porque faz coisas no mundo, interage. Assim a<br />
aprendizagem promove <strong>de</strong>senvolvimento, inclusive, das estruturas intelectuais,<br />
o que provoca saltos qualitativos <strong>de</strong> conhecimentos.<br />
Outro fator relevante nesta teoria é o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Proximal (ZDP) 35 , ao assinalar que a aprendizagem aconte<strong>ce</strong><br />
no intervalo entre o conhecimento real e o conhecimento potencial. Em<br />
outras palavras, a ZDP é a distância entre o que o sujeito já sabe e aquilo<br />
que ele tem potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />
É ne<strong>ce</strong>ssário ressaltar a importância da intervenção do(a) professor(a)<br />
e <strong>de</strong> outras pessoas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada sujeito. Vygotsky evi<strong>de</strong>ncia<br />
a idéia <strong>de</strong> que o ensino só é efetivo e eficaz quando a qualida<strong>de</strong><br />
do trabalho pedagógico está associada à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avanços no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do estudante.<br />
A Teoria <strong>de</strong> Desenvolvimento, <strong>de</strong> Wallon (1986) 36 , dialoga com o interacionismo<br />
<strong>de</strong> Piaget e com o sociointeracionismo <strong>de</strong> Vygotsky, e é fundamental<br />
para compreen<strong>de</strong>r a dimensão afetiva no ensino e na aprendizagem.<br />
Nessa perspectiva, o <strong>de</strong>senvolvimento aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> forma integrada, englobando<br />
os vários campos funcionais: movimentos, emoções, inteligência e a<br />
formação do eu como pessoa. Faz-se ne<strong>ce</strong>ssário, pois, que o(a) professor(a)<br />
compreenda a criança por meio <strong>de</strong> suas posturas corporais, seus <strong>de</strong>sejos,<br />
34<br />
Vygotsky, Levy S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda, 1998.<br />
35<br />
Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Proximal (ZDP) é a distância entre o <strong>de</strong>senvolvimento real, que<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminado por intermédio <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> problemas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e<br />
o nível <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento potencial, <strong>de</strong>terminado por ação <strong>de</strong> solução <strong>de</strong> problemas sob<br />
a orientação <strong>de</strong> um adulto ou em colaboração com outros companheiros (VYGOTSKY, 1998).<br />
36<br />
WALLON, Henri. Psicologia. Maria José Soraia Weber e Jaqueline Na<strong>de</strong>l Brulfert (org.).<br />
São Paulo: Ática, 1986.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
56 | PREFEITURA DE FORTALEZA 57 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
vonta<strong>de</strong>s, gestos e interações com o outro, pois é graças a essa dimensão<br />
mais expressiva da personalida<strong>de</strong> que a criança logra apren<strong>de</strong>r.<br />
Outro aspecto importante, que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado, e privilegia o<br />
campo funcional das emoções, é a afetivida<strong>de</strong> no ensino e na aprendizagem.<br />
É ne<strong>ce</strong>ssário que a criança esteja integrada afetivamente com seus<br />
colegas, com o(a) professor(a), com as ativida<strong>de</strong>s da escola e com a vida,<br />
para se sentir motivada a estudar e apren<strong>de</strong>r. As emoções constituem<br />
fator fundamental <strong>de</strong> interação da criança com o meio a que ela está intimamente<br />
ligada. A teoria propõe também uma escola engajada, inserida<br />
na socieda<strong>de</strong> e na cultura, e, ao mesmo tempo, uma escola comprometida<br />
com o <strong>de</strong>senvolvimento dos indivíduos, numa prática que integre a<br />
dimensão social e individual (GALVÃO, 1995) 37 .<br />
Ao se <strong>de</strong>finir a con<strong>ce</strong>pção sociointeracionista, consi<strong>de</strong>ra-se também<br />
a i<strong>de</strong>ação construtivista contida na Proposta Curricular <strong>de</strong> Fortaleza, elaborada<br />
em 1995, que também con<strong>ce</strong>be a criança como um ser afetivo,<br />
simbólico e social.<br />
Nessa perspectiva, a aprendizagem da Língua Portuguesa não busca<br />
apenas a <strong>de</strong>cifração ou reprodução do traçado gráfico, mas, sobretudo,<br />
um ensino e uma aprendizagem baseados na oralida<strong>de</strong> e nos gêneros,<br />
orais e escritos, uma vez que a interação na aprendizagem ocorre inevitavelmente<br />
na dimensão escolar por meio <strong>de</strong> enunciados estáveis, <strong>de</strong>senvolvidos<br />
pelos sujeitos na produção do conhecimento, como pressupõe o interacionismo<br />
sociodiscursivo, <strong>de</strong> Bronckart (2009) 38 . Con<strong>ce</strong>bem-se, <strong>de</strong>ssa<br />
forma, os diversos gêneros textuais, que circulam ampla e socialmente, e a<br />
produção textual, não os reduzindo a ativida<strong>de</strong>s estéreis <strong>de</strong> cópias.<br />
Assim como a i<strong>de</strong>ação <strong>de</strong> alfabetização evoluiu, a <strong>de</strong> leitura também<br />
se amplia, constatando que a <strong>de</strong>codificação é um dos pro<strong>ce</strong>dimentos <strong>de</strong><br />
que o estudante se utiliza para ler. Nesse outro contexto, a leitura <strong>de</strong>ixa<br />
também <strong>de</strong> ser restrita aos signos prioritariamente linguísticos, <strong>de</strong>dicando-se<br />
também atenção para a leitura em sua dimensão multifa<strong>ce</strong>tada, o<br />
que engloba a leitura <strong>de</strong> imagens nas diversas situações.<br />
Essas reflexões implicam compreen<strong>de</strong>r que a alfabetização é uma elaboração<br />
con<strong>ce</strong>itual, contínua, iniciada muito antes <strong>de</strong> a criança ir para a<br />
escola, <strong>de</strong>senvolvendo-se simultaneamente <strong>de</strong>ntro e fora da sala <strong>de</strong> aula;<br />
alfabetizar é elaborar conhecimento; para <strong>de</strong>senvolver a leitura e a escrita<br />
faz-se ne<strong>ce</strong>ssário compreen<strong>de</strong>r que os estudantes terão que lidar com<br />
37<br />
GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma con<strong>ce</strong>pção dialética do <strong>de</strong>senvolvimento infantil.<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Vozes, 1995.<br />
38<br />
BRONCKART, J. P. Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem, discurso e <strong>de</strong>senvolvimento humano.<br />
Campinas: Mercado<br />
das Letras, 2009.<br />
as características do sistema <strong>de</strong> escrita e o uso funcional da linguagem;<br />
o(a) professor(a) é mediador, com intencionalida<strong>de</strong> pedagógica.<br />
A prática pedagógica <strong>de</strong>verá priorizar a criticida<strong>de</strong>, favore<strong>ce</strong>ndo o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabele<strong>ce</strong>r relações, a inferência e<br />
a produção <strong>de</strong> sentido. Deve-se, portanto, consi<strong>de</strong>rar a função social da<br />
linguagem como base primeira para ensinar a ler e a escrever. É nessa<br />
amplitu<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve consistir a alfabetização, uma vez que não é possível<br />
trabalhar com fonemas, sílabas, palavras e frases isoladamente. Para<br />
a compreensão da língua escrita, toma-se o gênero como a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sentido da língua e ponto <strong>de</strong> partida para o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> alfabetização e<br />
letramento. É no gênero e no contexto que as palavras e, consequentemente,<br />
as letras e sílabas adquirem significação.<br />
Essa perspectiva <strong>de</strong> alfabetizar letrando só ocorre mediada pelos gêneros<br />
com aporte contextual e funcionalida<strong>de</strong>. Centrar-se na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
gêneros e nas relações mantidas entre eles e seus contextos <strong>de</strong> produção<br />
é primordial, porque “(...) é através dos gêneros que as práticas <strong>de</strong> linguagem<br />
materializam-se nas ativida<strong>de</strong>s dos aprendizes”. (SCHENEUWLY;<br />
DOLZ, 2004) 39 . Em função <strong>de</strong>ssa abordagem, alguns pontos emergem:<br />
1) compreen<strong>de</strong>r que a língua é uma elaboração histórica organizada<br />
com suporte em símbolos convencionados;<br />
2) enten<strong>de</strong>r que o momento exige a busca <strong>de</strong> equilíbrio dos princípios<br />
metodológicos consi<strong>de</strong>rados indispensáveis nas dimensões constitutivas<br />
e simultâneas da alfabetização e do letramento; e<br />
3) <strong>de</strong>senvolver intervenções didáticas essenciais para os avanços da<br />
aprendizagem.<br />
Os pressupostos até aqui reunidos nos remetem à <strong>de</strong>finição das temporalida<strong>de</strong>s,<br />
das con<strong>ce</strong>pções pedagógicas e das práticas metodológicas e avaliativas<br />
que <strong>de</strong>finirão o estado da arte da política da educação <strong>de</strong> Fortaleza.<br />
As bases que darão qualida<strong>de</strong> e sustentabilida<strong>de</strong> ao projeto educacional<br />
para o Município <strong>de</strong> Fortaleza po<strong>de</strong>m ser entendidas pela complexida<strong>de</strong>,<br />
permeabilida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>. Gera-se, <strong>de</strong>sse modo, uma gran<strong>de</strong><br />
teia, que agrega os construtos epistemológicos, as possibilida<strong>de</strong>s, ocorrências<br />
da vida cotidiana dos(as) estudantes, educadores(as), famílias e<br />
comunida<strong>de</strong>s, estabele<strong>ce</strong>ndo para tanto relações fundamentais entre os<br />
diversos sujeitos do ensino e da aprendizagem.<br />
39<br />
SCHENEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares- das práticas <strong>de</strong><br />
linguagem aos objetos <strong>de</strong> ensino. In: DOLZ, J; SCHENEUWLY, B. Gêneros orais e escritos<br />
na escola. Tradução <strong>de</strong> Roxane Rojo e Glaís Sales Cor<strong>de</strong>iro. Campinas: Mercado <strong>de</strong> Letras,<br />
2004<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
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VOLUME 1<br />
A Complexida<strong>de</strong> refere-se à formação do conhecimento e à elaboração<br />
das aprendizagens, compreen<strong>de</strong>ndo as relações estabelecidas com<br />
base na teoria do pensamento complexo, que <strong>de</strong>fine as inter-relações<br />
da parte com o todo, rompendo com a i<strong>de</strong>ia dos saberes fragmentados,<br />
lineares e sequenciados. Os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> aprendizagens das crianças,<br />
dos adoles<strong>ce</strong>ntes, dos jovens e idosos estão ancorados nas experiências<br />
a priori e a posteriori da escola, na vivência do cotidiano e nas múltiplas<br />
relações com o mundo social.<br />
A Permeabilida<strong>de</strong> indica que o pro<strong>ce</strong>sso educativo na contemporaneida<strong>de</strong><br />
está intimamente relacionado com a produção vertiginosa do<br />
conhecimento, da elaboração <strong>de</strong> teorias, con<strong>ce</strong>itos e <strong>de</strong>mandas, bem<br />
como com o surgimento <strong>de</strong> tecnologias e instrumentos a serviço da comunicação<br />
e da produção da existência humana. Perante tais fatos, que<br />
marcaram o final do século XX e início do século XXI, compete à escola<br />
<strong>de</strong>finir e ressignificar valores, con<strong>ce</strong>itos e relações, no intuito <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r-se<br />
como espaço <strong>de</strong> transformação e <strong>de</strong> mediação do permanente<br />
com o transitório.<br />
A efetivação dos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e aprendizagem tem a Continuida<strong>de</strong><br />
como elemento <strong>de</strong> sustentação para garantir a concretização<br />
dos eixos e realização dos princípios, já apresentados neste documento.<br />
Para tanto, é ne<strong>ce</strong>ssário compreen<strong>de</strong>r este princípio na organização temporal,<br />
relação e inter-relação dos tempos escolares; na ampliação dos<br />
saberes entre as diversas áreas do currículo e além do espaço escolar.<br />
Sendo assim, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser entendida como pressuposto<br />
dialógico, com base no estabelecimento <strong>de</strong> relações cada vez mais<br />
elaboradas entre os sujeitos da aprendizagem e inseridas num âmbito<br />
histórico e social.<br />
Assim, para o planejamento das intervenções pedagógicas ne<strong>ce</strong>ssárias,<br />
torna-se fundamental não apenas conhe<strong>ce</strong>r os princípios que norteiam<br />
essa proposta, mas as inter-relações com outras propostas, o apoio<br />
didático (livros e materiais), que, <strong>de</strong> forma coerente e consistente, contribuem<br />
para a prática pedagógica na alfabetização, advindos do diagnóstico,<br />
dos pro<strong>ce</strong>ssos vivenciados pelos estudantes.<br />
4.2.5 Ler e escrever em todas as áreas do<br />
conhecimento<br />
A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros está presente nas mais diversificadas áreas<br />
do conhecimento, por meio da tipologia <strong>de</strong> textos específicos, que favore<strong>ce</strong>m<br />
a mobilização <strong>de</strong> estratégias cognitivas promotoras do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> competências próprias à leitura e à escrita.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a alfabetização e o letramento uma responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> todos e não apenas do(a) professor(a) que ensina Português e reconhe<strong>ce</strong>ndo<br />
o valor do planejamento, propõe-se que este seja realizado<br />
<strong>de</strong> modo integrado pelas disciplinas/áreas do conhecimento. Dessa forma,<br />
ao fazer a sua proposta pedagógica, a escola <strong>de</strong>ve procurar inserir<br />
o trabalho pedagógico com os textos que circulam e são utilizados em<br />
cada área e, no seu planejamento, procurar dialogar com outras áreas, na<br />
perspectiva do letramento.<br />
Compreen<strong>de</strong>-se que, com base na <strong>de</strong>finição dos objetivos pertinentes ao<br />
aprendizado da leitura e da escrita em cada disciplina/área, as competências<br />
leitoras tornam-se mais profícuas, uma vez que saber analisar a totalida<strong>de</strong><br />
dos fatos e eventos ambientais e sociais prepara melhor para a vida, permite<br />
que o estudante se <strong>de</strong>senvolva <strong>de</strong> forma a integrar conhecimentos e vivências<br />
com ampla e direta participação no ensino e na aprendizagem.<br />
Afinal, se a prática <strong>de</strong> leitura e escrita <strong>de</strong>ve se pautar em gêneros,<br />
uma vez que a comunicação é pro<strong>ce</strong>dida por meio <strong>de</strong>las, os mapas, as<br />
tabelas, os gráficos, as legendas, as fotografias, entre outros, compõem<br />
o a<strong>ce</strong>rvo plural e infindável do qual o(a) professor(a) se valerá para o<br />
aprimoramento da linguagem e elaboração do conhecimento. Assim, o<br />
trabalho com gêneros <strong>de</strong>mandará e exigirá uma visão interdisciplinar <strong>de</strong><br />
todos os envolvidos com a educação.<br />
Enten<strong>de</strong>ndo a organização didática e temporal do ensino fundamental<br />
<strong>de</strong> nove anos e suas especificida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> cada ano, <strong>de</strong>fine-<br />
-se que, nos dois primeiros anos iniciais, <strong>de</strong>ve-se assegurar: “(...) a<br />
alfabetização e o letramento; o <strong>de</strong>senvolvimento das diversas formas <strong>de</strong><br />
expressão, incluindo o aprendizado da Língua Portuguesa, a Literatura, a<br />
Música e <strong>de</strong>mais Artes, a Educação Física, assim como o aprendizado da<br />
Matemática, da Ciência, da História e da Geografia...” (Resolução nº 07/<br />
2010, do CNE/CEB, art. 30, incisos I e II).<br />
A conquista educativa nesse nível <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>ve garantir ao estudante<br />
uma formação consistente, significativa, que lhe possa conferir<br />
condições para o exercício da cidadania ao longo da vida. Uma vez<br />
assumida a dimensão social da língua, práticas pedagógicas <strong>de</strong>vem ser<br />
ressignificadas e reinventadas para o <strong>de</strong>senvolvimento da leitura e da<br />
escrita no âmbito escolar. Tal tomada <strong>de</strong> posicionamento é fundamental<br />
para o <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong>mocrático quanto à participação<br />
da criança nas diferentes práticas sociais.<br />
Para se alcançar o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança, a ação educativa<br />
<strong>de</strong>ve ter como ponto <strong>de</strong> partida a realida<strong>de</strong> sociocultural dos estudantes,<br />
vivências, ativida<strong>de</strong>s lúdicas, o contexto da escola e da co-<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
60 | PREFEITURA DE FORTALEZA 61 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
munida<strong>de</strong>, enfim, as escolhas pedagógicas <strong>de</strong>vem ser balizadas pela<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do grupo com o qual se relaciona.<br />
O trabalho com os gêneros textuais se revela como um terreno fértil<br />
para a mobilização <strong>de</strong>ssas ações. Ao tomar os estudos dos gêneros como<br />
objeto <strong>de</strong> pauta, haverá variáveis que, inevitavelmente, <strong>de</strong>verão ser abordadas<br />
(quem fala, para quem fala, por que fala, on<strong>de</strong> fala, o que fala etc.),<br />
as quais subsidiarão a análise da linguagem sob as diferentes dimensões.<br />
Vale ressaltar, ainda, que, para a proposta educacional se efetivar em<br />
uma aprendizagem significativa e a<strong>de</strong>quada, o(a) professor(a) <strong>de</strong>ve recorrer<br />
aos parâmetros pedagógicos oferecidos. Esses parâmetros, portanto,<br />
são <strong>de</strong>preendidos <strong>de</strong> livros didáticos, <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação, conversas<br />
com os seus pares, instrumentos avaliativos e outros. Com base nisso,<br />
ele(a) verá a conveniência <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quá-los à realida<strong>de</strong> da sala <strong>de</strong> aula,<br />
julgando pela sua pertinência à <strong>de</strong>manda dos estudantes.<br />
Para efetivar as condições <strong>de</strong> alfabetização e letramento, torna-se ne<strong>ce</strong>ssário,<br />
então, possibilitar uma infraestrutura que facilite a atuação dos<br />
profissionais envolvidos, mantendo uma equipe <strong>de</strong> trabalho que assegure<br />
o intercâmbio <strong>de</strong> conhecimentos e i<strong>de</strong>ias, propiciando a reflexão das práticas<br />
do<strong>ce</strong>ntes. Ao mesmo tempo, cumpre garantir recursos didáticos para<br />
a satisfação dos objetivos educacionais, promoção <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> maneira contínua e implantar um pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> lotação <strong>de</strong> do<strong>ce</strong>ntes<br />
com perfil alfabetizador, ofere<strong>ce</strong>ndo-lhes acompanhamento pedagógico e<br />
valorização profissional. Essas são algumas medidas imprescindíveis para<br />
aqueles que tencionam uma melhoria no ensino fundamental.<br />
4.3 Formação <strong>de</strong> leitores<br />
A leitura é uma reconstituição <strong>de</strong> sentidos complexa que envolve<br />
um contexto socio-historicamente situado. Pensar em leitura é refletir<br />
em pluralida<strong>de</strong>, heterogeneida<strong>de</strong>, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista as particularida<strong>de</strong>s<br />
que envolvem este pro<strong>ce</strong>sso porque cada leitor tem sua história, sua<br />
trajetória e objetivos.<br />
A prática <strong>de</strong> leitura aconte<strong>ce</strong> na escola e fora <strong>de</strong>la. É na escola, porém,<br />
que a leitura se realiza como objeto <strong>de</strong> estudo; é nela também que<br />
a leitura <strong>de</strong>veria se efetivar como objeto <strong>de</strong> prazer. Na escola, lê-se para<br />
interagir, pelo prazer <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r textos orais/escritos, verbais/não verbais,<br />
literários/não literários. Nela, lê-se para apren<strong>de</strong>r, conhe<strong>ce</strong>r informações,<br />
fazer algo, para interagir <strong>de</strong> maneiras diversas. Lê-se em silêncio<br />
e em voz alta, em e para todas as disciplinas. O que se precisa é se conscientizar<br />
da funcionalida<strong>de</strong> da leitura para o <strong>de</strong>senvolvimento como um<br />
leitor-cidadão crítico. É ne<strong>ce</strong>ssário saber relacionar a leitura ao projeto<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, projeto <strong>de</strong> formação, para que ela não continue distante.<br />
Impõe-se repensar a escola como um espaço do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da cultura <strong>de</strong> ler.<br />
4.3.1 A escola: um espaço para divulgação<br />
e realização <strong>de</strong> projetos que envolvem a cultura <strong>de</strong> ler<br />
Na divulgação e realização <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> leitura, a escola <strong>de</strong>ve assumir<br />
o seu maior papel, que é formar cidadãos reflexivos, capazes <strong>de</strong><br />
ler criticamente a socieda<strong>de</strong> da qual participam, posicionando-se diante<br />
das situações cotidianas, e investir numa política <strong>de</strong> ensino que dê maior<br />
visibilida<strong>de</strong> à cultura da leitura.<br />
Por esta razão, é preciso re<strong>de</strong>finir o papel da sala <strong>de</strong> aula, da biblioteca,<br />
da rádio escolar, dos murais, dos jornais e outros espaços da escola,<br />
pois todos eles representam o compromisso da escola com a socieda<strong>de</strong>.<br />
É preciso que a escola entenda a leitura e a produção <strong>de</strong> textos como<br />
ativida<strong>de</strong>s básicas na interação humana, pois é na e pela linguagem que<br />
há comunicação, lendo-se e produzindo-se textos em forma <strong>de</strong> gêneros,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do propósito comunicacional. Pelo fato <strong>de</strong>, justamente, ter<br />
este perfil é que essas ativida<strong>de</strong>s transitam em todas as áreas <strong>de</strong> conhecimentos,<br />
ampliando o direito <strong>de</strong> investir na formação <strong>de</strong> leitores, normalmente<br />
<strong>de</strong>legado ao(à) professor(a) <strong>de</strong> Língua Portuguesa, para todos os<br />
<strong>de</strong>mais professores, para a equipe gestora e para os pais.<br />
É importante ressaltar que, no âmbito em que a leitura é uma base, os<br />
professores têm papel relevante, porque, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das disciplinas<br />
que lecionem, <strong>de</strong>vem contribuir para a formação <strong>de</strong> leitores. Então,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros anos, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>spertar o aprendiz, criança, jovens<br />
e adultos para a <strong>de</strong>scoberta dos mais variados tipos <strong>de</strong> textos. Dessa<br />
forma, o projeto <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ve objetivar o estímulo ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da capacida<strong>de</strong> do leitor, favore<strong>ce</strong>ndo sua inserção no mundo letrado.<br />
Para que o estudante adquira o conhecimento específico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
disciplina, a fim <strong>de</strong> que ele leia os diferentes gêneros que fazem parte do seu<br />
cotidiano e dos diversos conteúdos/das diversificadas áreas, por prazer ou<br />
por ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>, é importante que ele domine as estratégias <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> textos, pois estes possuem composições diferentes, objetivos e<br />
intenções variadas. Portanto, na ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas competências e<br />
habilida<strong>de</strong>s para agir no discurso <strong>de</strong> maneira significativa, é papel <strong>de</strong> cada<br />
professor(a) mediar ações nas salas <strong>de</strong> aula que favoreçam as competências<br />
e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita, para que a aprendizagem seja satisfatória.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
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VOLUME 1<br />
Ler e escrever constituem tarefas <strong>de</strong> toda a escola e <strong>de</strong> todos na escola,<br />
em todas as áreas, além <strong>de</strong> ser um compromisso do grupo gestor e da<br />
família como partes importantes para que seja estabelecida uma cultura<br />
da leitura. Com efeito, ratificam-se o compromisso e a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> toda<br />
a equipe constituinte da gestão escolar. É <strong>de</strong> fundamental importância<br />
o envolvimento <strong>de</strong> todos para a garantia da implantação do projeto <strong>de</strong><br />
leitura. Para tal, diretor, vi<strong>ce</strong>-diretor e Conselho Escolar <strong>de</strong>vem garantir<br />
espaços para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, construção <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>rvos organizados<br />
com critérios – abrangendo as distintas áreas do conhecimento – recursos<br />
materiais e tecnológicos. Ao coor<strong>de</strong>nador pedagógico, supervisor<br />
escolar, orientador educacional e professores cabe sensibilizar e mobilizar<br />
a comunida<strong>de</strong> escolar, promovendo assim a efetivação do projeto.<br />
4.3.2 Espaços <strong>de</strong> leitura na escola<br />
Consi<strong>de</strong>rando a prática <strong>de</strong> leitura e escrita como fundamento para<br />
a realização do ensino e da aprendizagem, é possível assinalar que a<br />
biblioteca escolar é, por ex<strong>ce</strong>lência, importante espaço pedagógico da<br />
escola, pois ela proporciona, mediante a educação formal e informal,<br />
a difusão do conhecimento e a promoção da leitura. Trata-se, pois, <strong>de</strong><br />
utilizá-la a serviço da comunida<strong>de</strong> local e da socieda<strong>de</strong>. Ela não <strong>de</strong>ve,<br />
porém, ser entendida como o único espaço <strong>de</strong> leitura e escrita da escola,<br />
porque também há rádio escolar, os murais, a biblioteca, a sala <strong>de</strong> aula,<br />
o jornal escolar, entre outros, e cada um <strong>de</strong>sses espaços se realiza conforme<br />
objetivos e funcionalida<strong>de</strong>s da leitura.<br />
Rádio<br />
A rádio escolar é um recurso pedagógico constituído por um pequeno<br />
estúdio <strong>de</strong> rádio e caixas <strong>de</strong> som para retransmissão. Estas são alocadas<br />
nas salas <strong>de</strong> aula e espaços estratégicos da escola, como pátio, cantina,<br />
biblioteca, quadra <strong>de</strong> esportes. A programação é feita pelos próprios estudantes<br />
e professores. Além disso, abre espaços também para a comunida<strong>de</strong>,<br />
que passa a ser fonte <strong>de</strong> informação para os programas i<strong>de</strong>alizados<br />
pelos organizadores.<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> incluir o rádio como meio <strong>de</strong> comunicação na educação<br />
<strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e adultos não é por acaso, mas sim outra estratégia<br />
para se trabalhar leitura na escola. Assim, os professores e as<br />
professoras, ao usarem as potencialida<strong>de</strong>s da rádio escolar, terão possibilida<strong>de</strong>s,<br />
por exemplo, <strong>de</strong> trabalhar a escrita e a leitura com uma função<br />
social muito <strong>de</strong>finida – ler para se comunicar e ler para se ter um ouvinte.<br />
Ao contrário do que possa pare<strong>ce</strong>r, a oralida<strong>de</strong> que o rádio propaga<br />
pressupõe a escrita, pois todas as falas no rádio são escritas com ante<strong>ce</strong>dência,<br />
em forma <strong>de</strong> roteiros; em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>scaracterizar-se a oralida<strong>de</strong>,<br />
promove-se uma fala mais clara e comunicativa, inclusive para situações<br />
mais formais, ampliando a condição <strong>de</strong> escrita, explorando-se a escrita<br />
em articulação com a fala.<br />
Sabe-se que o domínio das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita é condição<br />
fundamental para uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. De tal modo, a realização<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s pedagógicas utilizando a rádio escolar, firmando<br />
par<strong>ce</strong>rias entre a escola e a comunida<strong>de</strong> local, permite uma valorização<br />
da cultura das comunida<strong>de</strong>s e do <strong>de</strong>senvolvimento do ensino e da aprendizagem,<br />
<strong>de</strong> forma simples e eficaz.<br />
Murais<br />
O quadro <strong>de</strong> avisos da escola, também conhecido como mural,<br />
po<strong>de</strong> ser composto por um a<strong>ce</strong>rvo <strong>de</strong> textos que proporciona diversas<br />
formas e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras sobre o cotidiano da escola e da<br />
comunida<strong>de</strong> do entorno. Esse portador <strong>de</strong> textos/suporte caracteriza-se<br />
como um jornal, no qual a escola veicula informes, notícias, avisos. E,<br />
como tal, essa ferramenta pedagógica constitui meio <strong>de</strong> comunicação<br />
que não é neutro, nem objetivo, mas um recorte <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados elementos,<br />
por meio do qual o texto ganha efeito e as palavras produzem<br />
sentidos e significados.<br />
Assim, a palavra impressa, manuscrita, rascunhada, os <strong>de</strong>senhos,<br />
as imagens, os recortes, confeccionados com os mais variados materiais<br />
para comunicar o cotidiano escolar, compõem os textos do mural<br />
da escola, exer<strong>ce</strong>ndo influências, materializando formas <strong>de</strong> expressão,<br />
produzindo realida<strong>de</strong>, conferindo sentido às ações pedagógicas ou<br />
não, indicando aspectos da cultura escolar.<br />
Biblioteca escolar<br />
A Biblioteca escolar proporciona vários benefícios à comunida<strong>de</strong>: a<br />
troca <strong>de</strong> informações contidas nos suportes impressos ou não impressos,<br />
meios eletrônicos, assessoria ne<strong>ce</strong>ssária ao(à) professor(a), visando ao<br />
seu <strong>de</strong>sempenho do<strong>ce</strong>nte; contribuição para o efetivo pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino<br />
e aprendizagem. É muito importante ressaltar, no entanto, que não<br />
basta ter uma boa biblioteca, é preciso ter a<strong>ce</strong>rvo, assim como não basta<br />
ter o a<strong>ce</strong>rvo na biblioteca sem um profissional atuante. Da mesma forma,<br />
não é suficiente ter projetos <strong>de</strong> leitura que não possuam um vínculo com<br />
as ativida<strong>de</strong>s da biblioteca.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
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VOLUME 1<br />
Para que a biblioteca escolar <strong>de</strong>senvolva sua dinâmica <strong>de</strong> atendimento,<br />
faz-se ne<strong>ce</strong>ssária a presença <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>rvos variados e significativos, que<br />
proporcionem, <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s, o uso <strong>de</strong> múltiplas fontes <strong>de</strong><br />
informação, o <strong>de</strong>senvolvimento da criativida<strong>de</strong> do leitor, uma dinâmica<br />
<strong>de</strong> recursos e serviços.<br />
O funcionamento da biblioteca na escola é condição fundamental para<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, para que se<br />
possa, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita, propiciar aos estudantes,<br />
professores e comunida<strong>de</strong> escolar apoio à formação básica para o exercício<br />
pleno da cidadania. Este funcionamento <strong>de</strong>ve ser articulado a projetos<br />
da comunida<strong>de</strong>, do município, do estado e do Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Com vistas a investir na cultura da leitura, é válido ressaltar a articulação<br />
da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação com as escolas da Re<strong>de</strong> Pública<br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, mediante implantação do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong><br />
Biblioteca Escolar e Formação <strong>de</strong> Leitores – Projeto SIMBE.<br />
Sala <strong>de</strong> aula<br />
A prática <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> produção em sala <strong>de</strong> aula tem particularida<strong>de</strong>s,<br />
como se a<strong>ce</strong>ntua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong>ste documento. Além das ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> leitura oriundas das próprias ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Língua Portuguesa,<br />
há também um espaço que se <strong>de</strong>ve ter para narração <strong>de</strong> história, para<br />
exposições <strong>de</strong> produções dos estudantes, sobretudo dos estudantes dos<br />
primeiros anos escolares. Em qualquer <strong>de</strong>stas situações, há mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
leitura que se configuram no agir do(a) professor(a).<br />
No panorama das teorias da leitura, há quatro mo<strong>de</strong>los bem <strong>de</strong>finidos.<br />
Três dão conta da relação leitor e autor, via texto (Mo<strong>de</strong>lo Linguístico, mecanicista<br />
ou tradicional, Mo<strong>de</strong>lo Psicolinguístico e Mo<strong>de</strong>lo Interacionista<br />
<strong>de</strong> leitura) e o quarto (Mo<strong>de</strong>lo Sociopsicolinguistico) <strong>de</strong>screve a situação<br />
do(a) professor(a) em sala <strong>de</strong> aula, no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> leitores.<br />
No primeiro mo<strong>de</strong>lo, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Linguístico, mecanicista<br />
ou tradicional, a linguagem é vista como um sistema fechado,<br />
autônomo, constituído <strong>de</strong> componentes não relacionados entre si. Este<br />
mo<strong>de</strong>lo ancora-se na Psicologia behaviorista ou comportamentalista e<br />
no estruturalismo americano, <strong>de</strong> Bloomfield (1933, 1942) 40 , para quem<br />
a palavra está diretamente ligada à coisa a que ela remete, isto é, ao estímulo.<br />
Segundo esse autor, a semântica não era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />
no ato <strong>de</strong> ler, porque o significado não era mensurável nem observado,<br />
não po<strong>de</strong>ndo, por isso, fazer parte do plano científico. Nesta perspectiva,<br />
acredita-se que as palavras são os fatores básicos na leitura.<br />
40<br />
BLOOMFIELD, Leonard. Language. New York, 1933.<br />
São conhecidos como mo<strong>de</strong>los as<strong>ce</strong>n<strong>de</strong>ntes, os <strong>de</strong> Gough (1976) e<br />
LaBerge e Samuels (1974) 41 , que con<strong>ce</strong>biam a leitura como um pro<strong>ce</strong>sso<br />
per<strong>ce</strong>ptivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação em que o leitor buscava nos elementos linguísticos<br />
a compreensão do texto escrito, recorrendo às letras, às sílabas<br />
até chegar à frase, ao parágrafo e, consequentemente, à compreensão<br />
global do texto, resultado do pro<strong>ce</strong>dimento as<strong>ce</strong>n<strong>de</strong>nte. Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
leitura é condizente com um ensino prescritivo <strong>de</strong> língua e a aprendizagem<br />
é vista como um pro<strong>ce</strong>sso repetitivo, mecânico. Em sala <strong>de</strong> aula,<br />
o(a) professor(a) enfatiza a localização, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> elementos linguísticos<br />
no texto, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o significado, as situações comunicacionais.<br />
Ler é extrair sentido do texto.<br />
O segundo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Psicolinguístico.<br />
É calcado na teoria cognitiva. O leitor <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser compreendido<br />
como uma tabula rasa; transforma-se em um pro<strong>ce</strong>ssador ativo <strong>de</strong> conhecimentos,<br />
dotado filogeneticamente <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para adquiri-lo.<br />
Sujeito e linguagem são abstraídos do contexto sócio-histórico. A leitura<br />
é entendida como busca <strong>de</strong> significado. A aprendizagem resulta <strong>de</strong> uma<br />
interação do ambiente e com as estruturas cognitivas preexistentes do<br />
indivíduo.<br />
A leitura é dinâmica e envolve negociações. O leitor formula hipóteses,<br />
testa novas hipóteses contra novas evidências, <strong>de</strong>spreza aquelas<br />
contrárias às evidências que adquirem, e avalia as não eliminadas,<br />
guiando-se por um princípio que seleciona as mais simples como sendo<br />
as melhores. Baseia-se na gramática gerativo-transformacional, contrapondo-se<br />
ao mo<strong>de</strong>lo linguístico tradicional <strong>de</strong> leitura, que tinha como<br />
referências o estruturalismo e o behaviorismo.<br />
A linguagem é con<strong>ce</strong>bida como objeto <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> suas funções<br />
sociais; constitui sistema fechado, autônomo, abstraído da historicida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>svinculado <strong>de</strong> elementos socioculturais, <strong>de</strong> seu contexto <strong>de</strong> produção<br />
e <strong>de</strong> sua atualização em comunida<strong>de</strong>s heterogêneas <strong>de</strong> fala. O sujeito /<br />
leitor é ativo e i<strong>de</strong>alista. Ainda se mantém, entretanto, isolado da socieda<strong>de</strong>,<br />
que se apresenta estática, homogênea, vazia <strong>de</strong> valores antagônicos,<br />
embora dotada <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> criativa.<br />
Para os teóricos, a leitura é entendida como um pro<strong>ce</strong>sso, o leitor<br />
como sujeito do pro<strong>ce</strong>sso do ato <strong>de</strong> ler e os conhecimentos previamente<br />
adquiridos como sendo fundamentais para a compreensão. Ler é atribuir<br />
significados ao texto. A linguagem configura-se como instrumento<br />
41<br />
GOUGH, P. B. One second of reading. In: SINGER, H.; RUDDELL, R. B. (Orgs.).<br />
Theoretical mo<strong>de</strong>ls and pro<strong>ce</strong>sses of reading. Delaware: International Reading Asso., 1976;<br />
LABERGE, D., SAMUELS, S.J. Toward a theory of automatic information pro<strong>ce</strong>ssing in<br />
reading. Cognitive Psychology, 6, 293-323, 1974.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
66 | PREFEITURA DE FORTALEZA 67 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
<strong>de</strong> comunicação e o ensino da língua como sendo <strong>de</strong>scritivo (o ensino<br />
<strong>de</strong>scritivo da língua objetiva mostrar como a língua funciona).<br />
Para Smith (1991) 42 , a leitura é um fenômeno inci<strong>de</strong>ntemente visual,<br />
pois a visão é uma condição, mas não suficiente, uma vez que a informação<br />
não estaria no texto, mas atrás dos olhos do leitor. Assim, ler é estabele<strong>ce</strong>r<br />
significados, consi<strong>de</strong>rando os conhecimentos prévios do leitor. É<br />
ainda com Smith que se apren<strong>de</strong> sobre o <strong>de</strong>sempenho das três memórias:<br />
(1) Armazenamento sensorial, lugar on<strong>de</strong> as informações ficam enquanto<br />
o cérebro toma suas <strong>de</strong>cisões; (2) Memória a curto prazo, guarda as informações,<br />
enquanto espera uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pelo cérebro quanto<br />
ao fato <strong>de</strong> essas informações ficarem ou não; e (3) Memória a longo prazo,<br />
responsável pelas informações não visuais que constituem a teoria<br />
<strong>de</strong> mundo dos leitores. O circuito é completo se as informações forem<br />
significativas para o leitor.<br />
O ter<strong>ce</strong>iro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>nomina-se Mo<strong>de</strong>lo Interacionista <strong>de</strong><br />
leitura. Nesta visão, tanto são importantes os conhecimentos trazidos no<br />
texto quanto aqueles previamente adquiridos pelo leitor. Dell Hymes<br />
(1967) 43 muito contribuiu para este mo<strong>de</strong>lo, quando sugeriu uma competência<br />
comunicativa que, por ser baseada no contexto social do sujeito,<br />
não po<strong>de</strong> ser universal. A competência, segundo ele, consiste não apenas<br />
no saber sobre a língua, mas também em como usar esse saber em<br />
situações reais <strong>de</strong> comunicação. Essa competência é influenciada pelo<br />
status dos interlocutores, pelo contexto do ato <strong>de</strong> fala, pela mensagem<br />
veiculada, como também pela forma como se produz esse ato, incluindo<br />
aí gestos, tópicos e pressuposições.<br />
Também consi<strong>de</strong>rando aspectos sociais da linguagem, Halliday<br />
(1969) 44 marca presença. Em sua abordagem etnográfica da fala, o autor<br />
preocupa-se com o modo como a pessoa fala realmente. Constatou,<br />
entre outras coisas, que a criança, antes <strong>de</strong> chegar à escola, adquire funções<br />
que apare<strong>ce</strong>m numa or<strong>de</strong>m, tal como se verifica na sequência:<br />
a) Função instrumental (usa a linguagem para obter coisas. Exemplo:<br />
Eu quero);<br />
b) Função regulatória (usa a linguagem para regular o comportamento.<br />
Exemplo: Faça como eu digo);<br />
42<br />
SMITH, Frank. Compreen<strong>de</strong>ndo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do<br />
apren<strong>de</strong>r a ler. Porto Alegre: Artmed, 1991.<br />
43<br />
HYMES, D. H. Mo<strong>de</strong>ls of the Interaction of Language and Social Setting. Journal Of<br />
Social Issues, Pennsylvania, v. 23, n. 2, 1967.<br />
44<br />
HALLIDAY, M. A. K. Language in a social perspective. Artigo apresentado para a<br />
Socieda<strong>de</strong> Lingüística da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford, Oxford, 1969.<br />
c) Função interacional (usa a linguagem para estabele<strong>ce</strong>r contato entre<br />
o eu e o tu. Exemplo: Você e eu);<br />
d) Função pessoal (usa a linguagem para expressar sua individualida<strong>de</strong>.<br />
Exemplo: Aqui, estou eu);<br />
e) Função heurística (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> investigar a realida<strong>de</strong>.<br />
Exemplo: Diga-me porque);<br />
f) Função imaginária (usa a linguagem para criar seu próprio ambiente.<br />
Exemplo: Vamos fingir); e<br />
g) Função informacional (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> comunicação,<br />
falar sobre idéias. Exemplo: Tenho algo para lhe dizer).<br />
A Psicologia Cognitiva também contribuiu para a formação <strong>de</strong>sse<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura, ao trazer à discussão o papel dos esquemas, das memórias<br />
do leitor no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> textos. Segundo Smith<br />
(1991)45, no entanto, que traz para a discussão sobre o pro<strong>ce</strong>sso da<br />
leitura problemas oriundos do acúmulo <strong>de</strong> informações visuais, quando<br />
o estudante lê cada letra <strong>de</strong> uma palavra, sobrecarrega a memória<br />
<strong>de</strong> curto termo, fenômeno por ele i<strong>de</strong>ntificado como visão <strong>de</strong> túnel. No<br />
seu entendimento, esse pro<strong>ce</strong>dimento dificulta a compreensão do texto,<br />
e, quando há interrupção no pro<strong>ce</strong>sso, apaga-se o significado, antes <strong>de</strong><br />
chegar à memória a longo termo.<br />
Goodman, em 197646, influenciado pelas pesquisas <strong>de</strong> Halliday<br />
(1969). Comunicação e função passa a nortear seus estudos sobre o ato<br />
<strong>de</strong> ler. Defen<strong>de</strong> a tese que a leitura é um pro<strong>ce</strong>sso ativo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> significado<br />
orientado pela ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. Alerta para o fato <strong>de</strong><br />
que essa ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong>rá ser satisfeita se coberta pelos discursos<br />
sociais que circulam nas socieda<strong>de</strong>s letradas.<br />
Goodman (1976) também se aprofundara mais nas reflexões a respeito<br />
das funções da linguagem, Nessa perspectiva, acres<strong>ce</strong>nta aos estudos <strong>de</strong><br />
Halliday (1969) ativida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> trabalhar a funções da linguagem.<br />
Dessa maneira, para <strong>de</strong>senvolver a função instrumental, sugere<br />
que o(a) professor(a) po<strong>de</strong> brincar <strong>de</strong> loja, <strong>de</strong> estação <strong>de</strong> trem/ônibus, <strong>de</strong><br />
posto <strong>de</strong> gasolina etc; para <strong>de</strong>senvolver a função regulatória, o educador<br />
po<strong>de</strong> trabalhar regras, sinais, direções etc; no que diz respeito à função<br />
interacional, po<strong>de</strong>-se sugerir um correio <strong>de</strong> classe, jogos envolvendo o uso<br />
<strong>de</strong> leitura etc; no tocante à função pessoal, po<strong>de</strong>-se trabalhar com livros<br />
45<br />
op. cit.<br />
46<br />
GOODMAN, Kenneth. Reading: A Psycholinguistic Guessing Game. In: SINGER, Harry;<br />
RUDDELL, Robert B. (orgs.). Theoretical Mo<strong>de</strong>ls and Pro<strong>ce</strong>sses of Reading. 2.ed.<br />
Delaware: International Reading Association, p. 496-508, 1976.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
68 | PREFEITURA DE FORTALEZA 69 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
sobre a criança e a família, fotografias etc; quanto à função heurística, o<br />
profissional po<strong>de</strong> construir caixa <strong>de</strong> questões, livros sobre con<strong>ce</strong>itos etc;<br />
com relação à função imaginativa, o(a) educador(a) po<strong>de</strong> contar histórias,<br />
fazer dramatizações etc., e quanto à função informacional, o educador<br />
po<strong>de</strong> fazer mensagens no quadro, boletins, notas etc.<br />
No que se refere à prática da leitura, a função imaginativa, que segundo<br />
Halliday é responsável pelo enunciado vamos fingir, é bastante<br />
significativa quando, por exemplo, o leitor se i<strong>de</strong>ntifica com personagens<br />
do texto lido. Quando isso aconte<strong>ce</strong>, a leitura flui melhor.<br />
Em 198447, os Goodmans ampliam o seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura. Defen<strong>de</strong>ndo<br />
uma educação igual para todos os estaduni<strong>de</strong>nses e afirmando<br />
que a educação <strong>de</strong>ve começar on<strong>de</strong> os aprendizes estão e que nas práticas<br />
da leitura <strong>de</strong>vem ser utilizados materiais que fazem parte da realida<strong>de</strong><br />
do aprendiz (úteis e relevantes para o leitor), os autores chamam a<br />
atenção para a importância do contexto socioeconômico e cultural em<br />
que o estudante foi formado e para o papel da escola na formação do<br />
estudante cidadão.<br />
Posteriormente, esse mo<strong>de</strong>lo toma uma direção muito ampliada, na<br />
medida em que começa a consi<strong>de</strong>rar o leitor como um ser social que não<br />
ne<strong>ce</strong>ssariamente faz parte do mesmo grupo social do produtor do texto,<br />
nem po<strong>de</strong> ter a mesma compreensão <strong>de</strong>le.<br />
A abordagem interacionista apresentada pelos Goodmans está baseada<br />
na teoria do <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem, dos pro<strong>ce</strong>ssos da<br />
linguagem e aprendizagem da linguagem, incluindo a pesquisa sobre<br />
leitura e escrita, numa visão <strong>de</strong> aprendizagem da Psicologia Cognitiva e<br />
das relações <strong>de</strong> linguagem, pensamento e aprendizagem. Por outro lado,<br />
incluem con<strong>ce</strong>pções sobre per<strong>ce</strong>pção, cognição, teoria <strong>de</strong> esquemas e<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> con<strong>ce</strong>itos.<br />
O último mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura dá conta da situação <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />
leitores, e é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lo Sociopsicolinguístico <strong>de</strong> leitura. O<br />
foco con<strong>ce</strong>ntra-se no encontro do leitor com o documento lido, o que<br />
resulta num novo evento. Esse evento não po<strong>de</strong>, porém, ser explicado,<br />
consi<strong>de</strong>rando apenas o ponto <strong>de</strong> vista do leitor, nem o prisma do documento<br />
lido, uma vez que o ato <strong>de</strong> ler transforma ambos, e o significado<br />
é sempre uma relação entre textos e contexto (socio-histórico-cultural).<br />
A leitura é uma ativida<strong>de</strong> pessoal, social, cultural e histórica. O leitor,<br />
por meio <strong>de</strong> transações, faz um texto durante a leitura, num evento<br />
47<br />
GOODMAN, Kenneth; GOODMAN, Yetta. Reading and writing relationships:<br />
pragmatic functions. Language Arts, Urbana, National Council of Teachers of English, v.60,<br />
n. 5, p. 590-599, may. 1983.<br />
que não se concretiza apenas no contexto <strong>de</strong> sua realização; também<br />
<strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas as intenções dos participantes. O papel do(a)<br />
professor(a) é fundamental, porque ele atua na Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Proximal do leitor, auxiliando-o para a leitura significativa.<br />
Nessa perspectiva, a prática <strong>de</strong> leitura será objeto <strong>de</strong> variações <strong>de</strong><br />
acordo com os objetivos do leitor e escritor, com a audiência, a proficiência<br />
da língua, a visão <strong>de</strong> mundo e o momento sócio-histórico do sujeito<br />
e do grupo. Quando a leitura é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula sugerida<br />
pelo(a) professor(a), para testar conhecimentos, e a intenção do leitor não<br />
é a mesma, esse <strong>de</strong>sencontro <strong>de</strong> objetivos po<strong>de</strong> afetar a compreensão do<br />
estudante. Além <strong>de</strong>ssa variante, também são pertinentes as características<br />
pessoais do escritor e as características do texto.<br />
É importante ressaltar que o homem e a socieda<strong>de</strong>, nessa abordagem,<br />
são organismos em permanente movimento e <strong>de</strong>senvolvimento; e as<br />
transformações são motivadas por contradições provenientes do próprio<br />
viver em socieda<strong>de</strong>.<br />
O homem humanizado pela linguagem se transforma e transmuda<br />
como sujeito e como agente sócio-histórico. Sob tal modo <strong>de</strong> ver, o homem<br />
é real e concretamente con<strong>ce</strong>bido; capaz <strong>de</strong> mudar a si e a socieda<strong>de</strong>,<br />
motivado pelas contradições que aí se vão produzindo.<br />
Fundamentando-se na teorização <strong>de</strong> Vygotsky sobre a Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Proximal, traze-se para a discussão o papel do formador<br />
<strong>de</strong> leitores críticos. Na sala <strong>de</strong> aula, o(a) professor(a) não apenas assume<br />
o papel <strong>de</strong> leitor; é também formador <strong>de</strong> leitores, papel que muitas vezes<br />
é esquecido. A Zona <strong>de</strong> Desenvolvimento Proximal (ZDP), como já<br />
expresso, correspon<strong>de</strong> à distância entre o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento real<br />
que se costuma <strong>de</strong>terminar através da solução in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> problemas<br />
e o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial <strong>de</strong>terminado, baseado na<br />
solução <strong>de</strong> problemas.<br />
A aula <strong>de</strong> leitura<br />
Como visto, em cada prática <strong>de</strong> leitura há mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> leitura, que<br />
se representam no fazer do<strong>ce</strong>nte. Para haver um bom <strong>de</strong>sempenho na<br />
aula <strong>de</strong> leitura, é importante a escolha do gênero textual, consi<strong>de</strong>rando<br />
também o nível <strong>de</strong> ensino e o planejamento pedagógico. Para isso, é<br />
importante consi<strong>de</strong>rar a língua como fonte <strong>de</strong> legitimação <strong>de</strong> acordos<br />
e condutas sociais e como representação simbólica <strong>de</strong> experiências humanas<br />
manifestadas nas formas <strong>de</strong> sentir, pensar e agir na vida social;<br />
analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos,<br />
mediante a natureza, função, organização, estrutura, <strong>de</strong><br />
acordo com as condições <strong>de</strong> produção/re<strong>ce</strong>pção; confrontar opiniões e<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
70 | PREFEITURA DE FORTALEZA 71 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
pontos <strong>de</strong> vista sobre as diferentes manifestações da linguagem verbal e<br />
compreen<strong>de</strong>r e usar a língua como geradora <strong>de</strong> significação e integradora<br />
da organização do mundo e da própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, como sugerem os<br />
Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong> Língua Portuguesa (1998)48.<br />
Nessa perspectiva, o estudante <strong>de</strong>ve ser compreendido como produtor<br />
<strong>de</strong> textos, aquele que po<strong>de</strong> ser entendido pelos textos que produz e que o<br />
constituem como ser humano; aquele que também é coautor na reconstituição<br />
dos significados dos textos lidos. A aula <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>ve contemplar o<br />
momento lúdico da leitura e a ocasião da gramática do texto. As ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver competências individuais e coletivas, orais e<br />
escritas, verbais e não verbais. O encontro do leitor com o texto não <strong>de</strong>ve<br />
ser para busca <strong>de</strong> elementos linguísticos, mas um momento importante <strong>de</strong><br />
aprendizagem da funcionalida<strong>de</strong> da língua nas diferentes situações <strong>de</strong> comunicação.<br />
Por isto, é fundamental consi<strong>de</strong>rar os elementos pragmáticos,<br />
as estratégias <strong>de</strong> textualização, os mecanismos enunciativos, o contexto<br />
<strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> produção e os aspectos composicionais do texto. Numa<br />
perspectiva da didática do ensino <strong>de</strong> leitura, a aproximação ao texto <strong>de</strong>ve<br />
aconte<strong>ce</strong>r por meio da ludicida<strong>de</strong>; mas, também, é preciso avançar para<br />
estudar os elementos linguísticos e discursivos que acionaram os sentimentos<br />
do leitor. Para isto, <strong>de</strong>ve-se planejar a aula <strong>de</strong> forma que se possa<br />
trabalhar estes elementos, consi<strong>de</strong>rando as etapas <strong>de</strong> leitura.<br />
A primeira etapa da aula <strong>de</strong> leitura proporciona um encontro do leitor<br />
com o texto, por meio do(a) professor(a), que <strong>de</strong>ve orientar e ativar os conhecimentos<br />
prévios para facilitar a leitura. A segunda etapa caracteriza-<br />
-se pela observação e antecipação. O objetivo do formador <strong>de</strong> leitores é<br />
fazer com que o estudante se familiarize com o texto. A ter<strong>ce</strong>ira etapa<br />
da aula remete ao ato <strong>de</strong> ler com um objetivo. Igualmente importante é o<br />
momento da socialização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura. Nesse instante, o leitor<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> seu ponto <strong>de</strong> vista. Nessa fase, vê-se claramente que o texto<br />
estudado passa a ser o ponto <strong>de</strong> partida para reflexão e aprofundamento.<br />
ção entre as pessoas e o tratamento da informação. Os <strong>de</strong>sdobramentos<br />
<strong>de</strong> suas aplicações e funcionalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ram origem a um mo<strong>de</strong>lo social<br />
conhecido como socieda<strong>de</strong> do conhecimento. Nela outras formas<br />
<strong>de</strong> pensar são exigidas, baseadas na compreensão <strong>de</strong> que as pessoas<br />
<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver sua autonomia para agir e interagir na comunida<strong>de</strong>,<br />
implicando, ainda, ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar <strong>de</strong> forma colaborativa,<br />
estabele<strong>ce</strong>ndo-se uma lógica <strong>de</strong> permanente ação-reflexão em re<strong>de</strong>s e<br />
teias que se refazem in<strong>ce</strong>ssantemente.<br />
Esse contexto exige uma reflexão sobre o vínculo entre tecnologia,<br />
socieda<strong>de</strong> e educação, na perspectiva da elucidação das novas relações<br />
que estão postas e, portanto, os fundamentos sociológicos, epistemológicos<br />
e pedagógicos que orientam sobre as melhores formas <strong>de</strong> utilização<br />
das tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação (TIC).<br />
A escola, como ambiente privilegiado <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong>ve incorporar<br />
as inovações tecnológicas e científicas <strong>de</strong> cada época para não se tornar<br />
obsoleta e incapaz <strong>de</strong> cumprir sua função social <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada.<br />
A inserção das TIC nas escolas é cada vez mais evi<strong>de</strong>nte em ativida<strong>de</strong>s<br />
administrativas e pedagógicas. Sua utilização, porém, é feita ainda para<br />
reforçar práticas tradicionais <strong>de</strong> ensino, ou como ativida<strong>de</strong>s complementares,<br />
sem relação sistemática e intrínseca com o currículo estabelecido.<br />
As TIC possibilitam ampla gama <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, tais como: a<strong>ce</strong>sso à informação,<br />
tratamento <strong>de</strong> dados, produção multimídia e estabelecimento<br />
<strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong> comunicação e colaboração entre professores e<br />
estudantes. Desse modo, as TIC <strong>de</strong>vem ser compreendidas como ferramenta<br />
<strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> natureza interdisciplinar, e, assim, po<strong>de</strong>m se<br />
constituir como elemento relevante na conquista do conhecimento e não<br />
apenas como um recurso auxiliar ao ensino.<br />
4.4.1 Histórico<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
4. 4. Inclusão digital: incorporando as tecnologias<br />
no currículo<br />
O avanço do conhecimento científico tornou possível o aparecimento<br />
<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> tecnologias, algumas voltadas para a comunica-<br />
48<br />
BRASIL. Ministério da Educação. <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Básica. Parâmetros<br />
Curriculares nacionais para o Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/<br />
SEF, 1998.<br />
O Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza iniciou sua primeira experiência<br />
com o uso das TIC em 1992, quando apresentou ao Ministério<br />
<strong>de</strong> Educação (MEC) o projeto <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> informática, como parte<br />
da proposta <strong>de</strong> implantação do Centro <strong>de</strong> Enriquecimento Curricular,<br />
instalado na Escola Dra. Francisca <strong>de</strong> Assis Canito da Frota. A proposta<br />
objetivava profissionalizar estudantes da 7ª e 8ª séries do ensino fundamental<br />
das escolas públicas municipais. Apenas em 1994, este laboratório<br />
foi implantado com cinco computadores, financiado pelo Fundo Nacional<br />
<strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação (FNDE)/MEC (FORTALEZA, 2000)49.<br />
49<br />
FORTALEZA. Programa <strong>de</strong> informática educativa do sistema municipal <strong>de</strong> ensino.<br />
72 | PREFEITURA DE FORTALEZA 73 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Em 1996, a Prefeitura <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (PMF) começou a <strong>de</strong>senvolver<br />
ações voltadas para a inserção das tecnologias nas suas escolas,<br />
com o apoio do Programa Nacional <strong>de</strong> Tecnologia Educacional<br />
(PROINFO), da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação à Distância (SEAD/MEC), em par<strong>ce</strong>ria<br />
com a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação do Estado do Ceará (SEDUC-CE). O<br />
PROINFO, instituído pela Portaria nº 522, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1997, tem<br />
como objetivo promover o uso pedagógico da informática na re<strong>de</strong> pública<br />
<strong>de</strong> ensino fundamental e médio. O Programa propõe a distribuição<br />
<strong>de</strong> computadores, a formação <strong>de</strong> professores-multiplicadores e a criação<br />
dos núcleos <strong>de</strong> tecnologia educacional (NTE), em que os multiplicadores<br />
<strong>de</strong>vem formar professores, capacitando-os e preparando-os para o uso <strong>de</strong><br />
tecnologias na educação.<br />
Por meio <strong>de</strong>ste programa, em 1998, a PMF re<strong>ce</strong>beu 65 computadores,<br />
para implantação dos primeiros laboratórios <strong>de</strong> informática educativa<br />
(LIE), em seis unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino. Outra ação importante foi a formação<br />
<strong>de</strong> professores no Curso <strong>de</strong> Especialização em Informática Educativa, realizado<br />
em par<strong>ce</strong>ria com a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação (FACED) da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Ceará (UFC), para, posteriormente, assumirem a função<br />
<strong>de</strong> multiplicador nos LIE.<br />
A criação do Centro <strong>de</strong> Referência do Professor (CRP), em 2000,<br />
<strong>de</strong>u início à consolidação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> Informática Educativa no<br />
Município <strong>de</strong> Fortaleza. O CRP nas<strong>ce</strong>u <strong>de</strong> uma par<strong>ce</strong>ria entre a PMF e a<br />
UFC, por meio do Laboratório Multimeios/FACED. O NTE <strong>de</strong> Fortaleza<br />
foi instalado junto ao CRP. Até 2005, foram implantados 83 laboratórios<br />
e formados <strong>ce</strong>rca <strong>de</strong> 200 professores para atuação nos LIE. Nesse mesmo<br />
ano, a PMF implementou em sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino a política <strong>de</strong> software<br />
livre, migrando do sistema operacional Windows para o sistema Linux.<br />
Nesse período, foram realizadas ações voltadas à formação dos professores<br />
para o uso do software livre nos laboratórios.<br />
Em 2007, o MEC resolve ampliar as atribuições do PROINFO, por<br />
meio do Decreto Presi<strong>de</strong>ncial nº 6.300, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro daquele ano,<br />
passando a ser <strong>de</strong>nominado Programa Nacional <strong>de</strong> Tecnologia Educacional,<br />
que “(...) promoverá o uso pedagógico das tecnologias <strong>de</strong> informação<br />
e comunicação nas re<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> educação básica” (BRASIL,<br />
2007). Apesar <strong>de</strong> instituir o programa, o PROINFO não apresenta diretrizes<br />
para integração das TIC no currículo escolar.<br />
Em Fortaleza, os documentos que norteiam a utilização das TIC na<br />
Educação são o Programa <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Informática Educativa (PMIE)<br />
e as Diretrizes da Informática Educativa, apesar <strong>de</strong> não se constituírem<br />
como documentos oficiais. O PMIE dissemina a con<strong>ce</strong>pção do uso das<br />
Fortaleza: SME, 2000.<br />
TIC na elaboração do conhecimento. O computador e as mídias <strong>de</strong>verão<br />
ser usados como meio e nunca como fim, consi<strong>de</strong>rando o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
dos componentes curriculares. Desta forma, as diretrizes do LIE<br />
<strong>de</strong>verão estar <strong>de</strong> acordo com o PMIE.<br />
4.4.2 O currículo escolar e as TIC<br />
Na socieda<strong>de</strong> do conhecimento, a integração das TIC ao currículo<br />
escolar é consi<strong>de</strong>rada um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio para os sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />
Ne<strong>ce</strong>ssita-se reestruturar e ressignificar um mo<strong>de</strong>lo vigente <strong>de</strong> currículo,<br />
que organiza o conhecimento <strong>de</strong> forma fragmentada, com teores distribuídos<br />
em compartimentos, que não se articulam e se integram, per<strong>de</strong>ndo-se,<br />
assim, a compreensão integral <strong>de</strong> ser humano.<br />
A relação entre as TIC e educação é modificada ao longo do tempo.<br />
Duas gran<strong>de</strong>s abordagens, já apresentadas nessas Diretrizes, <strong>de</strong>vem ser<br />
consi<strong>de</strong>radas nesta discussão: a tradicional e a interacionista. Na abordagem<br />
tradicional, compreen<strong>de</strong>m-se as TIC, numa visão puramente instrumental<br />
e <strong>de</strong> suporte ao ensino. Nessa con<strong>ce</strong>pção, a tecnologia é empregada<br />
<strong>de</strong> forma mecânica, auxiliando a exposição <strong>de</strong> conteúdos por parte<br />
do(a) professor(a) ou a realização <strong>de</strong> exercícios do lado do estudante. Essa<br />
forma <strong>de</strong> utilização baseia-se nos con<strong>ce</strong>itos <strong>de</strong> máquina <strong>de</strong> ensinar e instrução<br />
programada, conforme pressupostos skinnerianos. Dessa forma, o<br />
conteúdo a ser ensinado <strong>de</strong>ve ser subdividido em pequenos módulos sequenciais<br />
e estruturados <strong>de</strong> forma lógica, <strong>de</strong> acordo com a perspectiva<br />
pedagógica <strong>de</strong> quem planejou a elaboração do material instrucional.<br />
Na abordagem interacionista, as TIC são compreendidas como ferramentas<br />
que favore<strong>ce</strong>m os estudantes na busca do seu conhecimento, mediados<br />
pelo(a) professor(a). Além <strong>de</strong> serem um suporte ao ensino, estas<br />
tecnologias, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa abordagem, propiciam formas inovadoras <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>r con<strong>ce</strong>itos científicos <strong>de</strong> maneira significativa, propiciando<br />
ao/à professor(a) e ao/à estudante simular, praticar e vivenciar as mais<br />
diversas situações <strong>de</strong> aprendizagens. O foco está na aprendizagem, não<br />
na instrução. O conhecimento não é simplesmente transmitido ao estudante<br />
<strong>de</strong> forma pronta, mas constituído por este, na medida em que<br />
entra em contato com diversas representações e faz experimentações <strong>de</strong><br />
forma simulada, levanta e testa hipóteses sobre os princípios científicos<br />
explorados. Ocorre uma transformação da lógica educacional, em que<br />
estudantes e professores assumem diferentes papéis, sujeitos que apren<strong>de</strong>m<br />
e sujeitos que ensinam, formando uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> colaborativa <strong>de</strong><br />
formulação do conhecimento.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
74 | PREFEITURA DE FORTALEZA 75 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Com estes fundamentos, torna-se importante valorizar e discutir experiências<br />
constituídas no cotidiano escolar, pois nestas ativida<strong>de</strong>s os<br />
professores buscam significar as TIC na formulação do conhecimento.<br />
Apresentam-se a seguir aspectos consi<strong>de</strong>rados importantes nas práticas<br />
pedagógicas com uso das TIC. Esta discussão estará pautada nas experiências<br />
<strong>de</strong>senvolvidas pelos professores do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino<br />
<strong>de</strong> Fortaleza. As práticas pedagógicas atuais não po<strong>de</strong>m prescindir<br />
das contribuições das TIC. A implantação dos LIE nas unida<strong>de</strong>s escolares<br />
representa instrumento <strong>de</strong> mudança e ruptura com as práticas pedagógicas<br />
tradicionais conquistadas historicamente.<br />
Os estudantes do século XXI convivem com uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tecnologias<br />
e informações por meio da Internet, televisão, DVD e vi<strong>de</strong>ogames.<br />
Estes estudantes têm contato com múltiplas formas <strong>de</strong> representar o<br />
conhecimento, que se baseiam não somente no registro oral (fala) e escrito<br />
(texto), mas envolvem representações audiovisuais, como imagens,<br />
filmes, músicas, animações e até mesmo táteis e cinestésicas. Amplia-se<br />
o a<strong>ce</strong>sso à informação, possibilitando novas formas <strong>de</strong> criação, comunicação<br />
e expressão do conhecimento. O estudante assume um papel ativo<br />
no pro<strong>ce</strong>sso educativo, construindo caminhos, com base nos próprios interesses<br />
e curiosida<strong>de</strong>s. Mesmo com todo esse a<strong>ce</strong>sso à informação pelo<br />
estudante, no contexto escolar, é importante que o(a) professor(a) possa<br />
atuar para uma transposição didática que estimule a transferência <strong>de</strong> conhecimento<br />
pelo(a) estudante do seu cotidiano para as ativida<strong>de</strong>s escolares.<br />
Assim sendo, a escola assume papel importante na articulação <strong>de</strong>sses<br />
conhecimentos prévios e sua prática educativa. Para a atuação nessa<br />
socieda<strong>de</strong> envolta em tecnologia, faz-se mister que o(a) professor(a) se<br />
aproprie <strong>de</strong>sses recursos e compreenda como utilizá-los em benefício<br />
<strong>de</strong> sua prática pedagógica. Portanto, é imprescindível criar condições <strong>de</strong><br />
uso frequente <strong>de</strong> TIC na escola pelo(a) professor(a), garantindo a<strong>ce</strong>sso à<br />
internet e formação contínua.<br />
Essa característica ativa dos estudantes também se manifesta na autoria<br />
dos sujeitos, ao publicarem notícias e imagens, passando <strong>de</strong> consumidores<br />
para produtores <strong>de</strong> informação. Além disso, essa produção não<br />
ocorre <strong>de</strong> forma isolada, mas em re<strong>de</strong>, propiciando troca <strong>de</strong> informação<br />
e colaboração além dos limites geográficos e temporais.<br />
Por meio do uso das TIC, o fluxo <strong>de</strong> comunicação entre professores<br />
e estudantes é facilitado pela linguagem que permeia os pro<strong>ce</strong>ssos sociocognitivos,<br />
ampliando o a<strong>ce</strong>sso às informações nos diversos gêneros<br />
textuais, como jornais, revistas, rádio, cinema, ví<strong>de</strong>o etc., auxiliando o<br />
pensamento humano na exposição <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias e, ao mesmo tempo,<br />
aumentando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão para melhor apreensão da realida<strong>de</strong>,<br />
não sendo mais ne<strong>ce</strong>ssária a preocupação com a memorização <strong>de</strong><br />
textos, uma vez que as ferramentas computacionais realizam tão bem<br />
essa função.<br />
As práticas pedagógicas mediadas pelas TIC contribuem para socializar<br />
o conhecimento produzido em diversas áreas curriculares, sob vários gêneros<br />
textuais, num pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> autoria e coautoria que, aos poucos, fortale<strong>ce</strong><br />
a autonomia <strong>de</strong> cada sujeito. Pensar as TIC para contribuir na produção<br />
textual, é con<strong>ce</strong>bê-las como aporte que po<strong>de</strong>rá ancorar as experiências dos<br />
professores sob abertura para uma produção intelectual autônoma.<br />
Relacionar as TIC a uma dimensão curricular mais ampla que respeite<br />
a subjetivida<strong>de</strong> humana é buscar <strong>de</strong>senvolver lógicas inerentes a cada<br />
realida<strong>de</strong> escolar <strong>de</strong> modo a comunicar-se individualmente com os sujeitos<br />
aprendizes e usar capacida<strong>de</strong>s intelectuais, promovendo assim significados<br />
inovadores sobre o ato <strong>de</strong> ensinar e apren<strong>de</strong>r. Neste contexto, o<br />
currículo não po<strong>de</strong> mais ser pensado <strong>de</strong> forma rígida e linear. O uso das<br />
TIC na escola <strong>de</strong>ve favore<strong>ce</strong>r a compreensão <strong>de</strong> um currículo hipertextual,<br />
articulado com as várias realida<strong>de</strong>s e diferentes saberes.<br />
Essas tecnologias contribuem tanto na formulação <strong>de</strong> questões oriundas<br />
das diferentes áreas do conhecimento, como nas possíveis respostas<br />
dadas a essas questões. Dessa forma, as TIC facilitarão reflexões em torno<br />
<strong>de</strong> um fazer pedagógico crítico-reflexivo, não esgotando as possibilida<strong>de</strong>s<br />
pedagógicas <strong>de</strong> pensar os problemas sob diferentes ângulos.<br />
Além disso, as TIC ampliam os espaços e os tempos <strong>de</strong> aprendizagens,<br />
auxiliando no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas integradas e interdisciplinares,<br />
por meio do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos colaborativos e proporcionando<br />
opções e respostas educativas diversificadas. Essas transformações<br />
exigem mudanças no ensino e na gestão da sala <strong>de</strong> aula. O fazer rotineiro<br />
da escola <strong>de</strong>ve ser um espaço <strong>de</strong> experiência, <strong>de</strong> ensino e aprendizagem.<br />
O uso <strong>de</strong>ssas tecnologias <strong>de</strong>ve estar associado ao Projeto Político-<br />
-Pedagógico da escola, que inclui o Plano <strong>de</strong> Ação do LIE. Também <strong>de</strong>ve<br />
ne<strong>ce</strong>ssariamente estar articulado com o currículo escolar e o planejamento<br />
do(a) professor(a), permitindo a interação <strong>de</strong> todos os profissionais<br />
da escola e um planejamento participativo. Esse uso das TIC é con<strong>ce</strong>bido<br />
não somente como algo planejável, mas também como aplicável e ne<strong>ce</strong>ssário<br />
na busca do conhecimento50.<br />
De acordo com a con<strong>ce</strong>pção adotada nesta proposta, as TIC não<br />
constituem área <strong>de</strong> ensino. Elas são consi<strong>de</strong>radas como ferramentas a<br />
50<br />
Deve-se, também in<strong>ce</strong>ntivar ações <strong>de</strong> inclusão digital entre jovens e idosos na utilização<br />
do computador e outras mídias, na navegação da internet – tendo os cuidados <strong>de</strong>vidos em<br />
relação às dificulda<strong>de</strong>s visuais, e estimulando a recuperação da memória social, mediante<br />
narração <strong>de</strong> histórias e <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> vida.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
76 | PREFEITURA DE FORTALEZA 77 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
serviço do conhecimento. Nesta perspectiva, não cabe elencar conteúdos<br />
próprios a serem <strong>de</strong>senvolvidos, mas utilizar as TIC como suporte aos<br />
diversos conteúdos <strong>de</strong> todas as áreas curriculares, articuladas e integradas<br />
entre si <strong>de</strong> forma interdisciplinar.<br />
Po<strong>de</strong>m ser apontadas práticas pedagógicas que inserem as TIC como<br />
ferramentas <strong>de</strong> caráter disciplinar. Uma possibilida<strong>de</strong> é o uso <strong>de</strong> objetos<br />
educacionais digitais ou softwares livres em áreas específicas do conhecimento,<br />
tais como Matemática, Língua Portuguesa ou Ciências. Po<strong>de</strong>m<br />
ser citados objetos tais como: Histórias Fantásticas (http://www.proativa.<br />
virtual.ufc.br/oa/historias/) para <strong>de</strong>senvolvimento da produção textual; É<br />
o bicho (http://www.proativa.virtual.ufc.br/oa/ehobicho/ehobicho.html)<br />
para compreensão das operações aritméticas; Conhe<strong>ce</strong>ndo o Universo<br />
(http://www.proativa.virtual.ufc.br/oa/universo/universo.html) para exploração<br />
do Sistema Solar e softwares livres, como o Geogebra (http://www.<br />
geogebra.org/cms/pt_BR) ou o GCompris (http://gcompris.net/-pt-br-).<br />
Tais recursos são consi<strong>de</strong>rados diferenciados, por se caracterizarem<br />
como dinâmicos e multimidiáticos, incorporando recursos <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, áudio,<br />
imagem, animação e simulação que po<strong>de</strong>m ser usados para sensibilização,<br />
aprofundamento ou sistematização <strong>de</strong> conteúdos curriculares.<br />
Outra forma <strong>de</strong> utilização é o trabalho com projetos. Como exemplo,<br />
cita-se o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um projeto colaborativo com um(a)<br />
professor(a) <strong>de</strong> história e <strong>de</strong>zoito estudantes <strong>de</strong> 7º ano <strong>de</strong> três diferentes<br />
turmas <strong>de</strong> uma escola do sistema municipal <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Fortaleza, utilizando<br />
um ambiente colaborativo <strong>de</strong>nominado SÓCRATES (www.virtual.<br />
ufc.br/socrates). No projeto, intitulado Nosso bairro tem história, os estudantes<br />
realizaram pesquisas sobre aspectos do bairro em que a escola<br />
estava localizada e publicaram seus resultados usando as ferramentas <strong>de</strong><br />
fórum e portfólio do ambiente. Professores <strong>de</strong> outras disciplinas foram se<br />
engajando, <strong>de</strong>ntre os quais se po<strong>de</strong> mencionar os <strong>de</strong> Ciências, Geografia,<br />
Matemática, Arte-Educação e <strong>de</strong> Língua Portuguesa, essencial pela ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> orientar a escrita dos estudantes. Outras ativida<strong>de</strong>s também<br />
foram utilizadas, tais como: aulas <strong>de</strong> campo; ativida<strong>de</strong>s individuais e em<br />
grupo; pesquisas em diversas fontes; entrevistas; coleta <strong>de</strong> documentos;<br />
análise <strong>de</strong> fotografias antigas e re<strong>ce</strong>ntes (SILVA et. al, 2007) 51 . O projeto<br />
revela aspectos importantes para a compreensão sobre como integrar as<br />
TIC ao currículo, tais como a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong> várias<br />
tecnologias e ativida<strong>de</strong>s, bem como a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />
51<br />
SILVA, M. A. da; VENTURA, P. P. B.; SOUZA, C. <strong>de</strong> F.; CASTRO FILHO, J. A.; VIANA<br />
JÚNIOR, G. S.; ROCHA, B. T. S. da. Criação e Acompanhamento <strong>de</strong> Projetos Colaborativos<br />
no Ambiente SÓCRATES. In: XXVII Congresso da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Computação,<br />
2007, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Porto Alegre: v. 01. p. 305-313. Disponível em http://www.br-ie.org/<br />
pub/in<strong>de</strong>x.php/wie/article/view/932/918. A<strong>ce</strong>sso em 05 fev. 2011.<br />
aprendizagem e interação não comumente experimentadas na escola. O<br />
trabalho com projetos po<strong>de</strong> ser potencializado com o uso <strong>de</strong> ferramentas<br />
diversas para interação e para produção e publicação <strong>de</strong> materiais na<br />
Internet, tais como programas <strong>de</strong> comunicação instantânea (MSN, Gtalk,<br />
Meebo); ambientes colaborativos (blogs, portais) e re<strong>de</strong>s sociais (Orkut,<br />
Fa<strong>ce</strong>book, Youtube, Twitter). Nesse caso, trabalha-se com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> autoria<br />
por parte dos estudantes, que po<strong>de</strong>m produzir seus textos, ví<strong>de</strong>os,<br />
áudios relacionados ao trabalho escolar e disponibilizá-los para uma<br />
comunida<strong>de</strong> mais ampla do que a da escola.<br />
Na escola, o uso das TIC sugere inúmeras possibilida<strong>de</strong>s para promover<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento curricular. O uso <strong>de</strong>stas tecnologias não<br />
<strong>de</strong>ve ser algo contingencial. As diferentes formas <strong>de</strong> mídias e tecnologias<br />
tais como o livro didático, a Internet, o rádio, o ví<strong>de</strong>o, as mídias<br />
móveis e a TV <strong>de</strong>vem ser exploradas com o objetivo <strong>de</strong> agregar suas<br />
diversas funcionalida<strong>de</strong>s, promovendo novas possibilida<strong>de</strong>s educativas<br />
na escola.<br />
A avaliação <strong>de</strong>ve estar inserida no <strong>de</strong>senvolvimento das áreas curriculares,<br />
po<strong>de</strong>ndo o(a) professor(a) escolher algumas ativida<strong>de</strong>s nas quais usa<br />
ferramentas tecnológicas durante o conjunto <strong>de</strong> atos avaliativos, visto que<br />
a avaliação <strong>de</strong>ve ser compreendida como pro<strong>ce</strong>sso e nunca como fim.<br />
Nesse quadro <strong>de</strong> inovação tecnológica, é ne<strong>ce</strong>ssário ofere<strong>ce</strong>r ao/à<br />
professor(a) uma formação continuada e em serviço que possibilite conhe<strong>ce</strong>r<br />
tecnologias e mídias, suas funcionalida<strong>de</strong>s e contribuições para<br />
a educação, a prática do planejamento pedagógico das tecnologias em<br />
suas escolas e o a<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> recursos tecnológicos na sua prática. A formação<br />
<strong>de</strong>ve estar voltada ao domínio pedagógico das TIC, <strong>de</strong> forma contextualizada,<br />
subsidiando, teórica e metodologicamente, uma prática<br />
voltada para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um currículo flexível, multicultural,<br />
colaboracionista e <strong>de</strong> autoria dos estudantes.<br />
Várias ações são, hoje, <strong>de</strong>senvolvidas na forma <strong>de</strong> projetos, como Um<br />
Computador na Escola, Robótica e Rádio Escola, entretanto, é ne<strong>ce</strong>ssário<br />
que ações como essas possam ser possibilitadas para as <strong>de</strong>mais escolas<br />
do Município.<br />
O uso das TIC <strong>de</strong>ve ser incorporado ao fazer pedagógico <strong>de</strong> todos<br />
os professores nas diversas áreas do currículo e em todos os níveis da<br />
educação. Deve estar integrado ao planejamento das ações pedagógicas<br />
dos diversos componentes curriculares. Assim, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário propiciar<br />
ao(à) professor(a) do LIE espaço e tempo <strong>de</strong> planejamento junto aos<br />
professores <strong>de</strong> todas as séries ou disciplinas do currículo escolar, para<br />
que esse trabalho colaborativo favoreça o <strong>de</strong>senvolvimento intelectual<br />
dos estudantes e a busca constante por diferentes saberes.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
78 | PREFEITURA DE FORTALEZA 79 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
4.5 Educação Ambiental<br />
O <strong>de</strong>stino comum nos conclama a buscar um novo começo.<br />
Isto requer uma mudança na mente e no coração.<br />
Requer um novo sentido <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência global e <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> universal.<br />
(Carta da Terra) 52<br />
A Educação Ambiental como lugar <strong>de</strong> reflexão-ação, <strong>de</strong> práxis, nas<br />
escolas municipais <strong>de</strong> Fortaleza, <strong>de</strong>ve ter como contexto a sensibilização<br />
e a vivência/experiência das pessoas sobre as questões ambientais,<br />
estimulando a relação afetiva com a cida<strong>de</strong>, com o ambiente, ampliando<br />
a compreensão da magnitu<strong>de</strong> dos problemas ambientais globais e suas<br />
consequências no âmbito local. Para tanto, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário te<strong>ce</strong>r re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> entre pessoas, escolas, comunida<strong>de</strong>s, instituições<br />
e Po<strong>de</strong>r Público, cultivando a compreensão da cida<strong>de</strong> como patrimônio<br />
ambiental natural e constuído, histórico arquitetônico, político-institucional,<br />
criativo e formativo, educativo e <strong>de</strong> lazer, <strong>de</strong> direitos e responsabilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> todos.<br />
As con<strong>ce</strong>pções e princípios apresentados <strong>de</strong>correm principalmente<br />
do Programa <strong>de</strong> Educação Ambiental <strong>de</strong> Fortaleza – “Onda Ver<strong>de</strong>”, feito<br />
coletivamente por iniciativa da SEMAM – <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> do Meio<br />
Ambiente e Controle Urbano <strong>de</strong> Fortaleza em par<strong>ce</strong>ria com a <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza – SME e as secretarias executivas<br />
regionais - SERs, por meio <strong>de</strong> representações das escolas, socieda<strong>de</strong> civil,<br />
associações <strong>de</strong> bairros, ONGs que tratam do meio ambiente, <strong>de</strong>ntre<br />
outros segmentos representados.<br />
Nesse escopo, acres<strong>ce</strong>ntam-se também dois valores requeridos por<br />
Leonardo Boff, imprescindíveis ao contexto <strong>de</strong>ssa reflexão, quais sejam:<br />
a sustentabilida<strong>de</strong> e o cuidado. Destacam-se, ainda, como proposições<br />
essenciais para aten<strong>de</strong>r uma ne<strong>ce</strong>ssária perspectiva educativa dialógica<br />
freireana: a amorosida<strong>de</strong>, a humilda<strong>de</strong>, a fé e esperança no ser humano<br />
e uma atitu<strong>de</strong> crítica ante a realida<strong>de</strong> a ser transformada.<br />
A sustentabilida<strong>de</strong> é um con<strong>ce</strong>ito amplo e compõe-se <strong>de</strong> entendimentos<br />
diferenciados, po<strong>de</strong>ndo conter diversas compreensões, no entanto,<br />
com origem no pensamento <strong>de</strong> Leonardo Boff, enfatiza-se o fato <strong>de</strong> que<br />
uma proposta <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> sustentável tem, sobretudo, uma dimensão<br />
52<br />
CONSELHO DA TERRA. La Carta <strong>de</strong> la Terra: valores y principios para un futuro<br />
sostenible. San Jose, Costa Rica: [Conselho da Terra], 1998.<br />
política e ética, baseada em questões como: a satisfação das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
básicas (justiça social); a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a tecnologia contribuir para a<br />
solução dos problemas socioambientais (mediante novos recursos, usos e<br />
pro<strong>ce</strong>dimentos); a mudança no padrão <strong>de</strong> consumo; e a <strong>de</strong>mocratização.<br />
A sustentabilida<strong>de</strong> alcança, então, o lado mais objetivo da questão<br />
ambiental como o caráter material da produção da vida e assume os<br />
aspectos social, político, cultural, artístico, da natureza, do planeta e da<br />
vida <strong>de</strong> cada um.<br />
O cuidado diz respeito aos aspectos subjetivos, como atitu<strong>de</strong>s, valores<br />
éticos e espirituais que acompanham todo esse pro<strong>ce</strong>sso sem os quais<br />
a própria sustentabilida<strong>de</strong> não aconte<strong>ce</strong> ou não se garante a médio e<br />
longo prazo. Representa uma relação sensível, <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>, respeitosa<br />
e não agressiva para com a realida<strong>de</strong>, sendo, portanto, não <strong>de</strong>strutiva.<br />
Esses dois valores <strong>de</strong>vem ser assumidos <strong>de</strong> forma inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte na<br />
perspectiva <strong>de</strong> uma relação ambiental dialógica entre presente e futuro,<br />
para garantir a vida do planeta e das espécies.<br />
Salienta-se, neste sentido, a relevância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar os conhecimentos<br />
e saberes populares, as relações essenciais entre diferentes e<br />
diferenças, a valorização da afetivida<strong>de</strong>/amorosida<strong>de</strong> no <strong>ce</strong>nário constituinte<br />
<strong>de</strong> uma lógica realmente ambiental que dialogue com o entorno e<br />
potencialize o diálogo entre tudo e todos. Dessa maneira, uma Educação<br />
Ambiental Dialógica, ou seja, referenciada por Paulo Freire, amplia as<br />
condições propostas <strong>de</strong> uma práxis ambiental pautada no cuidado, no<br />
respeito, numa cultura da sustentabilida<strong>de</strong> (FIGUEIREDO, 2003) 53 .<br />
Partindo <strong>de</strong>ssa premissa, as transformações éticas, <strong>de</strong> valores, comportamentos<br />
e atitu<strong>de</strong>s diante <strong>de</strong> uma nova realida<strong>de</strong> a ser estabelecida,<br />
são imprescindíveis para a elaboração e a incorporação <strong>de</strong> outro paradigma<br />
ambiental, que ne<strong>ce</strong>ssariamente <strong>de</strong>ve ser compreendido e pensado<br />
com envolvimento e participação <strong>de</strong> todos.<br />
A Educação Ambiental como eixo referencial no currículo escolar tem<br />
base na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> in<strong>ce</strong>ntivar a reflexão sobre a complexida<strong>de</strong> da interlocução<br />
do pensar com o agir local/global, enten<strong>de</strong>ndo que todos os eventos<br />
ocorrentes na natureza, on<strong>de</strong> quer que sejam, estão inter-relacionados e<br />
afetam todo o Planeta. Indica vários caminhos possíveis para a transformação<br />
da estrutura escolar, quer seja por meio <strong>de</strong> uma nova forma <strong>de</strong> se<br />
relacionar com o conhecimento, quer seja na relação da escola com o<br />
conjunto <strong>de</strong> instituições presentes na socieda<strong>de</strong>.<br />
53<br />
FIGUEIREDO, J. B. A. Educação Ambiental dialógica e representações sociais da água<br />
em cultura sertaneja nor<strong>de</strong>stina: uma contribuição à consciência ambiental em Irauçuba-<br />
CE (Brasil). Tese (Doutorado em Ciências Biológicas / Ecologia / Educação Ambiental).<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Carlos, São Carlos-SP, 2003.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
80 | PREFEITURA DE FORTALEZA 81 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
No intuito <strong>de</strong> percorrer caminhos que apontam para a vivência <strong>de</strong> outro<br />
paradigma ambiental, a escola, através da Educação nessa temática,<br />
po<strong>de</strong> propiciar que cada área do conhecimento enxergue as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> um trabalho transversal, inter e/ou transdisciplinar com o tema<br />
Meio Ambiente, aproximando-se cada vez mais da pedagogia vivencial/<br />
experiencial e afastando-se da pedagogia exclusivamente informativa,<br />
cognitiva, realizando, assim, <strong>de</strong> modo precípuo, sua função <strong>de</strong> sistematização<br />
e disseminação do conhecimento socialmente produzido.<br />
A escola inserida na cida<strong>de</strong> precisa, ainda, se compreen<strong>de</strong>r como<br />
espaço <strong>de</strong> relações ambientais, que se qualificam e se traduzem nas suas<br />
práticas cotidianas como, por exemplo, as relações <strong>de</strong> convivialida<strong>de</strong>,<br />
controle do uso dos materiais, uso racional da água e energia, as questões<br />
relacionadas a higiene, segurança alimentar e nutricional, coleta<br />
seletiva, <strong>de</strong>ntre outros.<br />
Além disso, a feitura da Educação Ambiental na escola po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve<br />
dialogar com as mais amplas propostas, campanhas e programas governamentais<br />
e não governamentais em âmbitos nacional, estadual, regional<br />
e intermunicipal, fortale<strong>ce</strong>ndo-os e sendo por eles fortalecido, reunindo<br />
reflexões e práticas marcadamente ambientalistas e educacionais,<br />
<strong>de</strong> maneira a integrar-se nas políticas públicas <strong>de</strong> meio ambiente e áreas<br />
afins, como saú<strong>de</strong>, saneamento, esporte e lazer, cultura, turismo, controle<br />
urbano, habitação, transporte e energia, <strong>de</strong>ntre outras.<br />
Na busca <strong>de</strong> dar corporeida<strong>de</strong> a essas intenções e estimular o movimento<br />
<strong>de</strong> realizá- las, a Educação Ambiental <strong>de</strong>ve ser compreendida também como:<br />
(...) pro<strong>ce</strong>sso que consiste em propiciar às pessoas uma compreensão<br />
crítica e global do ambiente, para elucidar valores e<br />
<strong>de</strong>senvolver atitu<strong>de</strong>s que lhes permitam adotar uma posição<br />
consciente e participativa a respeito das questões relacionadas<br />
com a conservação e a<strong>de</strong>quada utilização dos recursos naturais,<br />
para a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a eliminação da<br />
pobreza extrema e do consumismo <strong>de</strong>senfreado. A Educação<br />
Ambiental visa à construção <strong>de</strong> relações sociais, econômicas<br />
e culturais capazes <strong>de</strong> respeitar e incorporar as diferenças,<br />
(minorias étnicas, populações tradicionais), a perspectiva da<br />
mulher, e a liberda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>cidir caminhos alternativos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento sustentável respeitando os limites dos ecossistemas,<br />
substrato <strong>de</strong> nossa própria possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevivência<br />
como espécie. (MEDINA, 1998, p.18) 54 .<br />
54<br />
MEDINA, N. M. As cida<strong>de</strong>s como <strong>ce</strong>ntro <strong>de</strong> convivência e <strong>de</strong> construção das<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s éticas. Educação ambiental em <strong>ce</strong>ntros urbanos: a problemática da<br />
Com pauta nos con<strong>ce</strong>itos e i<strong>de</strong>ias apresentadas, a Educação Ambiental<br />
nas escolas municipais <strong>de</strong> Fortaleza referencia-se ao longo do seu<br />
estabelecimento em três eixos <strong>de</strong> sustentação: o fortalecimento da relação<br />
entre teoria e prática, na perspectiva da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conteúdos<br />
curriculares para subsidiar propostas pedagógicas significativas para a<br />
escola; formação continuada <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> educação e estudantes,<br />
baseada nas dimensões global e local; na sustentabilida<strong>de</strong>, enten<strong>de</strong>ndo<br />
a escola como dimensão educativa ampla, referencial na perspectiva da<br />
cida<strong>de</strong> educadora.<br />
A educação, bem como a escola, não se representam em si mesmas,<br />
mas se constituem em seus segmentos, <strong>de</strong> tal forma que todas as intenções<br />
e ações planejadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da participação <strong>de</strong> cada um na<br />
conquista coletiva para realizarem a Educação Ambiental como eixo referencial<br />
do currículo.<br />
Assume-se, então, nas Diretrizes Curriculares do Município <strong>de</strong> Fortaleza,<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Educação Ambiental como eixo referencial ultrapassa<br />
a perspectiva <strong>de</strong> tema transversal no currículo e se amplia para<br />
integrar na mesma dimensão o cidadão, a escola e a cida<strong>de</strong>.<br />
Nesse âmbito, em consonância com os fundamentos ora referidos,<br />
evi<strong>de</strong>ncia-se o pensamento <strong>de</strong> Loureiro (2004, p. 73)55:<br />
Em síntese, po<strong>de</strong>mos afirmar que o objetivo primordial<br />
da Educação Ambiental é revolucionar os indivíduos em<br />
suas subjetivida<strong>de</strong>s e práticas nas estruturas sociais-naturais<br />
existentes. Ou seja, estabele<strong>ce</strong>r pro<strong>ce</strong>ssos educativos que favoreçam<br />
a realização do movimento <strong>de</strong> constante construção<br />
do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e <strong>de</strong><br />
modo emancipado. Em termos concretos, isso significa atuar<br />
criticamente na superação das relações sociais vigentes, na<br />
conformação <strong>de</strong> uma ética que possa se afirmar como “ecológica”<br />
e na objetivação <strong>de</strong> um patamar societário que seja<br />
a expressão <strong>de</strong> ruptura com os padrões dominadores que caracterizam<br />
a contemporaneida<strong>de</strong>.<br />
Assim posto, privilegiar somente um dos aspectos que<br />
formam a nossa espécie ou separar o social do ecológico e o<br />
todo das partes é reducionismo, o que pouco contribui para<br />
uma visão educacional integradora e complexa do mundo.<br />
(LOUREIRO, 2004, p. 73).<br />
incorporação <strong>de</strong> valores éticos. Florianópolis: mimeografado, 1998.<br />
55<br />
LOUREIRO, C. F. B. Trajetória e fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo:<br />
Cortez, 2004.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
82 | PREFEITURA DE FORTALEZA 83 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Em razão dos contextos apresentados, as Diretrizes Curriculares do Município<br />
<strong>de</strong> Fortaleza apontam o eixo <strong>de</strong> Educação Ambiental aqui proposto<br />
numa perspectiva dialógica e numa leitura educacional integradora, inclusiva<br />
e <strong>de</strong> múltiplas <strong>de</strong>terminações entre a escola e a cida<strong>de</strong> educadora.<br />
4.6 Educação especial na perspectiva da educação<br />
inclusiva no Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />
A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza ofere<strong>ce</strong> às escolas<br />
orientações quanto ao trabalho da educação especial no sistema regular<br />
<strong>de</strong> ensino, com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para a elaboração da proposta pedagógica<br />
da escola fundamentada na perspectiva da educação inclusiva.<br />
Este documento objetiva ofere<strong>ce</strong>r diretrizes que garantam a matrícula<br />
do estudante com <strong>de</strong>ficiência, transtorno global do <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação nas salas regulares. Para isso, propõe<br />
a oferta do atendimento educacional especializado a esse alunado, <strong>de</strong><br />
acordo com as orientações da atual Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial<br />
na perspectiva da Educação Inclusiva/2008. Além da oferta do<br />
AEE nas escolas regulares, o sistema municipal <strong>de</strong> ensino compreen<strong>de</strong><br />
a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar disponíveis outros serviços, como a presença<br />
do intérprete na sala <strong>de</strong> aula, on<strong>de</strong> há estudantes surdos matriculados,<br />
e ainda <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> apoio para aqueles estudantes que <strong>de</strong>le<br />
ne<strong>ce</strong>ssitam para a realização <strong>de</strong> cuidados pessoais <strong>de</strong> alimentação, higienização<br />
e locomoção.<br />
As Diretrizes da Educação Especial garantem não apenas o a<strong>ce</strong>sso e a permanência<br />
<strong>de</strong>sse alunado, mas, sobretudo, um ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Para isso<br />
ofere<strong>ce</strong> o atendimento complementar ou suplementar nas salas multifuncionais,<br />
objetivando a eliminação das barreiras <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento.<br />
A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação tem como compromisso fortale<strong>ce</strong>r as<br />
unida<strong>de</strong>s escolares na implementação <strong>de</strong> uma política educacional que responda<br />
às diferenças presentes nas escolas, contribuindo para a erradicação do analfabetismo,<br />
a elevação da escolarida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>lineação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />
que consi<strong>de</strong>rem também a diversida<strong>de</strong> e a melhoria do convívio entre jovens,<br />
adultos e idosos.<br />
transformações sociais, políticas e econômicas, como também a uma su<strong>ce</strong>ssão<br />
<strong>de</strong> avanços tecnológicos e culturais. Na história da educação especial,<br />
sobressai o paradigma clínico-médico, que enfatiza a hereditarieda<strong>de</strong><br />
como fator causal das <strong>de</strong>ficiências. Nessa visão, as crianças com <strong>de</strong>ficiência<br />
intelectual dificilmente seriam educáveis, exigindo cuidados que somente<br />
po<strong>de</strong>riam ser ofertados pela Medicina. Essa visão ocorreu durante<br />
a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, caracterizando o mo<strong>de</strong>lo clínico-médico<br />
e legitimando a institucionalização da pessoa com <strong>de</strong>ficiência (BUENO,<br />
1993; BEYER, 2006; LEITÃO, 2008; RIBEIRO e BAUMEL, 2003) 56 .<br />
O segundo paradigma, <strong>de</strong>finido como a “versão escolar” do paradigma<br />
clínico-médico, vigorou na década <strong>de</strong> 1950 e, mais fortemente, na <strong>de</strong><br />
1960. O paradigma sistêmico compreen<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ficiência como um produto<br />
do sistema escolar, buscando um espaço <strong>de</strong> confluência <strong>de</strong> grupos<br />
homogêneos, como a melhor forma <strong>de</strong> lidar com essa situação. Dessa<br />
maneira, a <strong>de</strong>ficiência apresentada pelo estudante é avaliada com base<br />
na proposta escolar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um parâmetro normativo estabelecido, constituído<br />
pelo currículo, com base na pedagogia especial (BEYER, 2006).<br />
Beyer (2006, p. 23) apresenta a seguinte opinião a respeito do paradigma<br />
sistêmico:<br />
A limitação individual torna-se intensa e implica fracasso<br />
diante das <strong>de</strong>mandas da vida social [...] São muito comuns<br />
as situações <strong>de</strong> avaliação em que os alunos com situação <strong>de</strong><br />
fracasso escolar (repetência, dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
etc.) passam por um pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> culpabilização. O <strong>de</strong>do indicador<br />
volta-se (para alívio do professor e da escola) para<br />
o aluno, <strong>de</strong>notando que ele é ou foi incapaz diante das exigências<br />
do currículo escolar, com resultados frustrantes para<br />
o próprio aluno e sua família. (BEYER, 2006, p. 23)<br />
De acordo com esse paradigma, o sistema escolar <strong>de</strong> ensino não sabe<br />
ou não quer educar esses estudantes: isto é, aqueles que não apresentam<br />
<strong>de</strong>sempenho satisfatório <strong>de</strong> acordo com o currículo são incorporados ao<br />
sistema escolar especial. Assim, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progressão <strong>de</strong>sses<br />
estudantes na escola comum, com base em pro<strong>ce</strong>dimentos avaliativos<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
4.6.1 Paradigmas da Educação Especial<br />
As con<strong>ce</strong>pções históricas sobre a pessoa com <strong>de</strong>ficiência evi<strong>de</strong>nciam<br />
paradigmas característicos, estreitamente relacionados a <strong>de</strong>terminadas<br />
56<br />
BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno<br />
diferente. São Paulo: EDUC, 1993; BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola <strong>de</strong><br />
alunos com ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s especiais. Porto Alegre: Mediação, 2006; LEITÃO, V. M.<br />
Instituições, campanhas e lutas: história da educação especial no Ceará. Fortaleza:<br />
Edições UFC, 2008; RIBEIRO, M. L. S.; BAUMEL, R. C. R. <strong>de</strong> C. Educação Especial: do<br />
querer ao fazer. São Paulo: Avercamp, 2003.<br />
84 | PREFEITURA DE FORTALEZA 85 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
seletivos, são oferecidas opções com um programa curricular apropriado,<br />
ou seja, os estudantes são encaminhados para a escola regular ou<br />
para a escola especial colaborando para o isolamento e a exclusão social<br />
da pessoa com <strong>de</strong>ficiência, <strong>de</strong>limitando um espaço físico e social, com a<br />
conotação <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pósito”, para os consi<strong>de</strong>rados rejeitados e fracassados,<br />
incapazes <strong>de</strong> acompanhar o currículo regular (BEYER, 2006).<br />
O seguinte é o paradigma sociológico, resultante das expectativas sociais,<br />
da maneira que a <strong>de</strong>ficiência é interpretada pela reação do grupo<br />
social, que predominou na década <strong>de</strong> 1960 e, principalmente, na <strong>de</strong><br />
1970. A forma como o grupo reage à <strong>de</strong>ficiência po<strong>de</strong> se manifestar por<br />
intermédio do precon<strong>ce</strong>ito ou da compreensão individual. Cumpre mencionar<br />
as repercussões nocivas do precon<strong>ce</strong>ito, que impe<strong>de</strong>m o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pleno do estudante <strong>de</strong> modo <strong>de</strong>cisivo. A projeção do fracasso<br />
escolar, por exemplo, na forma do precon<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> que a criança não<br />
seria capaz <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r na escola regular por causa <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>ficiência<br />
ou <strong>de</strong> sua limitação individual (BEYER, 2006) 57 .<br />
É importante evi<strong>de</strong>nciar a noção <strong>de</strong> que, na década <strong>de</strong> 1970, se <strong>de</strong>stacou<br />
o princípio filosófico da Normalização, fundamento do movimento<br />
<strong>de</strong> integração, que se opunha às ações <strong>de</strong> caráter segregador por muitos<br />
tempos vigentes. Segundo esse pre<strong>ce</strong>ito,<br />
Normalizar não significa tornar o ex<strong>ce</strong>pcional normal, mas<br />
que a ele sejam oferecidas condições <strong>de</strong> vida idênticas às que<br />
as outras pessoas re<strong>ce</strong>bem. Devem ser a<strong>ce</strong>itas com suas <strong>de</strong>ficiências,<br />
pois é normal que toda e qualquer socieda<strong>de</strong> tenha<br />
pessoas com <strong>de</strong>ficiências diversas. Ao mesmo tempo é preciso<br />
ensinar o <strong>de</strong>ficiente a conviver com sua <strong>de</strong>ficiência. Ensiná-lo<br />
a levar uma vida tão normal quanto possível, beneficiando-se<br />
das ofertas <strong>de</strong> serviço e das oportunida<strong>de</strong>s existentes na socieda<strong>de</strong><br />
em que vive. (RIBEIRO e BAUMEL, 2003, p. 43) 58 .<br />
Inspirado no pensamento marxista 59 , o paradigma crítico-materialista<br />
aborda a forma como a <strong>de</strong>ficiência é vista em uma socieda<strong>de</strong> voltada<br />
57<br />
Op. cit.<br />
58<br />
Op. cit.<br />
59<br />
Karl Heinrich Marx nas<strong>ce</strong>u em Trier, atual Alemanha Oci<strong>de</strong>ntal, em 1818 e morreu<br />
em Londres, em 1883. Foi um intelectual e revolucionário alemão, que atuava como<br />
economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista e fundou a Doutrina Comunista<br />
Mo<strong>de</strong>rna. Em 1847, redigiu, com F. Engles, o Manifesto Comunista, mais tar<strong>de</strong> chamado <strong>de</strong><br />
Marxismo, que propunha a <strong>de</strong>rrubada da classe dominante, a burguesia, por meio <strong>de</strong> uma<br />
revolução do proletariado.<br />
para o bem produtivo, em que o po<strong>de</strong>r aquisitivo e <strong>de</strong> consumo das<br />
pessoas é supervalorizado, consi<strong>de</strong>rando-se uma pessoa com <strong>de</strong>ficiência,<br />
portanto, sem condições <strong>de</strong> produzir. Essa con<strong>ce</strong>pção fundamenta-<br />
-se em aspectos da realida<strong>de</strong> social das pessoas com <strong>de</strong>ficiência, como<br />
os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> empobrecimento, dominação econômica e tomada <strong>de</strong><br />
consciência (BEYER, 2006).<br />
A história da educação das pessoas com <strong>de</strong>ficiência passa por paradigmas<br />
característicos <strong>de</strong> políticas segregacionistas, no entanto, na Declaração<br />
<strong>de</strong> Salamanca (1994), inaugura-se um mo<strong>de</strong>lo inovador, o paradigma<br />
inclusivo, que advoga o a<strong>ce</strong>sso e a permanência <strong>de</strong> estudantes da<br />
educação especial em escolas regulares. A comunida<strong>de</strong> internacional se<br />
reuniu em Salamanca com o intuito <strong>de</strong> reforçar a Declaração Universal<br />
dos Direitos Humanos (1948), nesse tempo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> opções para a<br />
inclusão social e aperfeiçoamento das ajudas técnicas para as pessoas<br />
com <strong>de</strong>ficiência (BRASIL, 1994; FARIAS; MAIA, 2007; GUGEL, 2007) 60 .<br />
É importante assim conhe<strong>ce</strong>r e contextualizar a Educação Especial<br />
conforme a filosofia da inclusão, que se contrapõe vigorosamente à histórica<br />
exclusão e segregação das pessoas com <strong>de</strong>ficiência. Na década <strong>de</strong><br />
1990, a educação <strong>de</strong>sse alunado foi impulsionada sob essa nova perspectiva.<br />
O novo paradigma da inclusão surge como reação contrária ao<br />
princípio <strong>de</strong> integração e sua efetivação prática enseja muitas controvérsias<br />
e discussões.<br />
A evolução <strong>de</strong> paradigmas marcou a história da educação especial,<br />
culminando com a proposta <strong>de</strong> educação inclusiva, como tentativa <strong>de</strong><br />
eliminar as situações <strong>de</strong> exclusão em que ainda se encontram muitos<br />
estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação. No lugar <strong>de</strong> adaptar essas pessoas à socieda<strong>de</strong>,<br />
apregoa-se, na atualida<strong>de</strong>, o imperativo <strong>de</strong> adaptar a socieda<strong>de</strong><br />
a essas pessoas.<br />
As mudanças na educação especial, ancoradas nos direitos humanos,<br />
que proclama a igualda<strong>de</strong> entre todos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das<br />
condições sociais, culturais, físicas, intelectuais e sensoriais das pessoas,<br />
ocorreram com base na compreensão <strong>de</strong> que todos os estudantes têm<br />
o direito <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r juntos em um espaço escolar comum. Esse novo<br />
paradigma implica o enfrentamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios pelos sistemas <strong>de</strong> ensino,<br />
com vistas a superar práticas pedagógicas exclu<strong>de</strong>ntes, e propor opções<br />
que acolham a diferença <strong>de</strong> todo e qualquer estudante.<br />
60<br />
BRASIL. Ministério <strong>de</strong> Educação. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial. Brasília,<br />
DF: MEC/SEESP, 1994; FARIAS, S. S. P.; MAIA, S. R. O surdo<strong>ce</strong>go e o paradigma da inclusão.<br />
Inclusão: Revista da Educação Especial, Brasília, n. 4, p. 26-29, jun. 2007; GUGEL, M. A.<br />
G. Pessoas com <strong>de</strong>ficiência e o direito ao trabalho. Florianópolis: Obra Jurídica, 2007.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
86 | PREFEITURA DE FORTALEZA 87 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
A constituição <strong>de</strong> sistemas educacionais inclusivos <strong>de</strong>mandará da escola<br />
a promoção <strong>de</strong> mudanças estruturais, administrativas, pedagógicas<br />
e culturais, para que todos os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos<br />
globais do <strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação possam ser<br />
atendidos em suas especificida<strong>de</strong>s.<br />
O pro<strong>ce</strong>sso inclusivo estabele<strong>ce</strong> que a escola <strong>de</strong>ve estar preparada<br />
para acolher todos os estudantes, respeitando as suas limitações, subjetivida<strong>de</strong>s<br />
e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais, sociais, religiosas, sexuais e geracionais.<br />
O fracasso escolar é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos (gestores, professores,<br />
auxiliares, pais e estudantes), contrariando assim o paradigma da integração,<br />
em que o estudante ne<strong>ce</strong>ssita se adaptar às exigências da escola. A<br />
convivência escolar na inclusão cria um rico campo <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
em que as crianças <strong>de</strong>senvolvem habilida<strong>de</strong>s como tolerância e a<strong>ce</strong>itação<br />
do outro, valores importantes para sua vida social.<br />
A inclusão <strong>de</strong>sses estudantes na escola exige uma preparação dos<br />
colegas para uma convivência igualitária e pacífica, enfatizando a importância<br />
da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as experiências concretas <strong>de</strong> seus estudantes.<br />
Também é muito importante envolver os pais para que compreendam,<br />
a<strong>ce</strong>item e colaborem para a tarefa fundamental da escola: a<br />
aprendizagem dos estudantes. A escola começa então a repensar a qualida<strong>de</strong><br />
da prática do<strong>ce</strong>nte, a organização curricular e suas estratégias <strong>de</strong><br />
avaliação da aprendizagem. A inclusão responsabiliza a escola, a família<br />
e a socieda<strong>de</strong> por uma educação com oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
para todos, num espaço físico, afetivo e social capaz <strong>de</strong> acolher indistintamente<br />
a diversida<strong>de</strong> humana (RIBEIRO e BAUMEL, 2003) 61 .<br />
A Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial, com efeito, numa perspectiva<br />
inclusiva (2008), <strong>de</strong>termina que os estudantes, público-alvo da educação<br />
especial, <strong>de</strong>vem ser atendidos em suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais<br />
específicas em um espaço para esse fim, <strong>de</strong> forma que a segregação em<br />
instituições especializadas <strong>de</strong>ve então ser substituída por uma abordagem<br />
na qual a pessoa com <strong>de</strong>ficiência possa <strong>de</strong>senvolver suas potencialida<strong>de</strong>s<br />
no ensino regular (BATISTA, 2005; MAGALHÃES, 2002) 62 .<br />
Na <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Fortaleza, o atendimento<br />
a essas especificida<strong>de</strong>s implicará a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliar a oferta do<br />
atendimento educacional especializado nas escolas municipais, com vis-<br />
61<br />
Op. cit.<br />
62<br />
BATISTA, C. A. M. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para<br />
a <strong>de</strong>ficiência mental. Brasília: MEC/SEESP, 2005; MAGALHÃES, R. <strong>de</strong> C. B. P. (Org.).<br />
Reflexões sobre a diferença: uma introdução à educação especial. Fortaleza: Edições<br />
Demócrito Rocha, 2002.<br />
tas à eliminação das barreiras impostas pelas <strong>de</strong>ficiências físicas, sensoriais<br />
e intelectuais, e transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento. Aten<strong>de</strong>rá<br />
também os estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, esses com o<br />
objetivo <strong>de</strong> promover o enriquecimento curricular.<br />
Rompendo as barreiras do precon<strong>ce</strong>ito, as pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />
saem dos espaços institucionalizados em que foram historicamente confinadas<br />
para ocupar locus sociais comuns, inclusive no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />
Este <strong>de</strong>safio pressupõe uma extensa mudança em nossas tradicionais<br />
práticas pedagógicas, incitando-nos a i<strong>de</strong>ntificar as dificulda<strong>de</strong>s e a<br />
buscar ativamente as soluções (BLANCO, 1995) 63 .<br />
4.6.2 Educação especial em Fortaleza: um pouco da<br />
história<br />
No ano <strong>de</strong> 1992, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação e Cultura do Município <strong>de</strong><br />
Fortaleza criou o Serviço <strong>de</strong> Educação Especial na estrutura organizacional<br />
do Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento Curricular - DDC 64 . Naquele<br />
ano, uma equipe <strong>de</strong> profissionais realizava um trabalho <strong>de</strong> orientação às<br />
escolas em relação aos encaminhamentos dos estudantes com <strong>de</strong>ficiência<br />
para as instituições especiais conveniadas.<br />
No ano <strong>de</strong> 1993, fundamentada na proposta da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação<br />
Especial- SEESP/MEC, o Município iniciou um trabalho <strong>de</strong> atendimento<br />
aos estudantes com histórico <strong>de</strong> multirrepetência com a implantação<br />
<strong>de</strong> cinco salas <strong>de</strong> apoio pedagógico-SAPs 65 . Além do atendimento<br />
aos estudantes com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem matriculados nas escolas<br />
públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza, esse espaço possibilitou que estudantes<br />
com <strong>de</strong>ficiência tivessem a<strong>ce</strong>sso à escolarização na sala <strong>de</strong> aula<br />
comum, ainda que em número reduzido.<br />
A filosofia do projeto retrocitado embasava-se no respeito às diferenças<br />
e no direito à igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Para tanto, a então <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>de</strong> Educação e Cultura do Município investiu na formação continuada<br />
dos professores, utilizando-se dos conhecimentos teórico-práticos da<br />
63<br />
BLANCO, R. Inovação e recursos educacionais na sala <strong>de</strong> aula. In: COOL, C.; PALÁCIOS,<br />
J.; MARCHESI, A. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
educacionais especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 1995. p. 307-321.<br />
64<br />
O Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento Curricular na organização da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong><br />
Educação e Cultura do Município tinha como função a organização e acompanhamento<br />
curricular à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />
65<br />
Sala <strong>de</strong> Apoio Pedagógico: projeto criado para aten<strong>de</strong>r alunos com <strong>de</strong>ficiência e<br />
dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem matriculados em escolas públicas municipais <strong>de</strong> Fortaleza.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
88 | PREFEITURA DE FORTALEZA 89 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
psicogênese da leitura e da escrita, tendo como foco o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
contínuo, afetivo e psicomotor do estudante.<br />
Para o <strong>de</strong>senvolvimento da prática pedagógica, foi ofertada aos professores<br />
formação continuada em oficinas e palestras para aprofundamento<br />
na área específica da educação especial. Para uma prática do<strong>ce</strong>nte<br />
efetiva, o Serviço <strong>de</strong> Educação Especial do Departamento <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
Curricular – DDC realizava acompanhamentos sistemáticos às<br />
escolas, com o objetivo <strong>de</strong> orientar os professores que atuavam nas salas<br />
<strong>de</strong> apoio, bem como para aqueles que trabalhavam nas salas <strong>de</strong> aula<br />
com estudantes com <strong>de</strong>ficiência e/ou dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Em 1994, com a publicação do documento da Política Nacional <strong>de</strong><br />
Educação Especial, o Município intensificou a discussão sobre o atendimento<br />
ao estudante com <strong>de</strong>ficiência na escola regular. Nesse período, iniciou-se<br />
a orientação a<strong>ce</strong>rca do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> integração nas escolas regulares.<br />
Essas orientações provocaram o surgimento <strong>de</strong> uma con<strong>ce</strong>pção sobre<br />
o atendimento escolar a essas pessoas, favore<strong>ce</strong>ndo a ampliação das SAPs<br />
e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> essa sala aten<strong>de</strong>r os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, com<br />
a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaborar com a inclusão escolar <strong>de</strong>sse alunado.<br />
Nos anos 1990, foram intensas as discussões sobre a integração do<br />
estudante à escola comum. Nesse período, vários documentos internacionais<br />
e nacionais questionavam o mo<strong>de</strong>lo integrador e proclamavam<br />
a inclusão <strong>de</strong> modo irrestrito. Com a disseminação do movimento <strong>de</strong> inclusão,<br />
o sistema <strong>de</strong> ensino municipal passou a matricular maior número<br />
<strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, sendo ne<strong>ce</strong>ssário rever sua organização<br />
escolar. Essa revisão consolidou-se após as orientações das Diretrizes<br />
para a Educação Especial na Educação Básica, <strong>de</strong> acordo com a Resolução<br />
CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, que orienta:<br />
Os sistemas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>vem matricular todos os alunos,<br />
cabendo às escolas organizarem-se para o atendimento aos<br />
educandos com ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais especiais, assegurando<br />
as condições ne<strong>ce</strong>ssárias para uma educação <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> para todos. (BRASIL, 2001).<br />
No período <strong>de</strong> 2000 a 2006, o Projeto Educar na Diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvido<br />
em países do MERCOSUL (Argentina, Brasil, Chile, Paraguai<br />
e Uruguai) em par<strong>ce</strong>ria com o MEC/SEESP escolheu Fortaleza como um<br />
dos municípios polo do Estado do Ceará para implantar o Projeto Educar<br />
na Diversida<strong>de</strong>. Mencionado projeto objetivava disseminar a política<br />
<strong>de</strong> inclusão em 20 municípios <strong>de</strong> abrangência fomentando discussões e<br />
ações em torno do pro<strong>ce</strong>sso inclusivo.<br />
Em 2005, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação do Estado do Ceará e a <strong>Secretaria</strong><br />
<strong>de</strong> Educação do Município <strong>de</strong> Fortaleza indicaram três escolas pilotos<br />
para implantação do referido projeto, objetivando <strong>de</strong>senvolver pro<strong>ce</strong>ssos<br />
e materiais <strong>de</strong> formação, que aten<strong>de</strong>ssem a diversida<strong>de</strong> nas escolas<br />
regulares. As escolas indicadas para o projeto re<strong>ce</strong>beram material <strong>de</strong> formação<br />
disponibilizado pela SEESP/MEC, tendo apoio técnico dos profissionais<br />
responsáveis por sua operacionalização.<br />
Após aprofundamento teórico, foram organizados encontros com técnicos<br />
da SEDUC, SEDAS e SERs e escolas-piloto contempladas pelo projeto,<br />
com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientar e apresentar referido projeto, bem como orientar<br />
oficinas pedagógicas que seriam realizadas nas escolas escolhidas: EMEIF<br />
Sobreira <strong>de</strong> Amorim - SER III, EMEIF Belarmina Campos - SER II e EMEIF<br />
Anísio Teixeira - SER VI. Essas ações permitiram a estruturação prévia das<br />
oficinas pedagógicas para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto em 2006.<br />
No ano <strong>de</strong> 2006, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação – SME recomendou<br />
a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um calendário específico para matricula <strong>de</strong> estudantes<br />
com <strong>de</strong>ficiência. Essa orientação ocasionou <strong>de</strong>manda significativa<br />
<strong>de</strong> estudantes, provocando ações <strong>de</strong> reorganização da re<strong>de</strong> com o<br />
propósito <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar os prédios escolares e ainda ofere<strong>ce</strong>r atendimento<br />
pedagógico <strong>de</strong> acordo com as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes. Nesse período,<br />
foram intensas as ações <strong>de</strong> formação dos professores das SAPs e salas<br />
<strong>de</strong> aula comum, com o objetivo <strong>de</strong> garantir o a<strong>ce</strong>sso e a permanência do<br />
estudante com <strong>de</strong>ficiência na sala comum.<br />
Des<strong>de</strong> 2007, o Município <strong>de</strong> Fortaleza realiza estudos e formação<br />
em atendimento educacional especializado – AEE, com o objetivo <strong>de</strong><br />
fortale<strong>ce</strong>r a prática do<strong>ce</strong>nte dos professores das SAPs. Essas ações visam a<br />
aten<strong>de</strong>r as exigências quanto à formação específica do(a) professor(a) da<br />
educação especial, sendo estas expressas na Política Nacional <strong>de</strong> Educação<br />
Especial – PNEE (2008), numa perspectiva da educação inclusiva.<br />
A atual Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial orienta os sistemas <strong>de</strong><br />
ensino a ofere<strong>ce</strong>r o atendimento educacional especializado (AEE) para<br />
os estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, <strong>de</strong> modo complementar ou suplementar<br />
ao ensino comum.<br />
Conforme a proposta inclusiva o AEE tem como finalida<strong>de</strong>:<br />
Ser um serviço da Educação Especial que: i<strong>de</strong>ntifica, elabora<br />
e organiza recursos pedagógicos e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> que<br />
eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos,<br />
consi<strong>de</strong>rando as suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s específicas. As ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>senvolvidas no atendimento educacional especializado<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
90 | PREFEITURA DE FORTALEZA 91 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
diferenciam-se daquelas realizadas na sala <strong>de</strong> aula comum,<br />
não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento<br />
complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com<br />
vistas à autonomia e in<strong>de</strong>pendência na escola e fora <strong>de</strong>la.<br />
(BRASIL, 2008, p. 16).<br />
Quanto à formação <strong>de</strong> professores, ainda em 2007, foi ofertado pelo<br />
MEC/SEESP/UFC o primeiro curso <strong>de</strong> aperfeiçoamento em AEE para professores<br />
<strong>de</strong> escolas públicas municipais em vários estados brasileiros.<br />
Fortaleza, um dos municípios-polo, <strong>ce</strong>rtificou 17 professores das salas<br />
<strong>de</strong> apoio pedagógico. Em 2008, com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> disseminar os conhecimentos<br />
teórico-práticos sobre o AEE com os <strong>de</strong>mais professores da<br />
educação especial da re<strong>de</strong> municipal, a <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação promoveu<br />
uma formação em serviço <strong>de</strong> modo presencial para 68 professores.<br />
Essa formação foi realizada por professores articuladores da re<strong>de</strong> municipal<br />
<strong>de</strong> Fortaleza, que estavam participando do curso promovido pelo<br />
MEC/SEESP/UFC. Teve como objetivo redimensionar as funções <strong>de</strong>ste<br />
profissional no atendimento ao estudante público-alvo da educação especial,<br />
que passou a ser atendido exclusivamente nas salas <strong>de</strong> recursos<br />
multifuncionais-SRM, como orienta a PNEE. Nesse ano, também foi dada<br />
continuida<strong>de</strong> à Formação Nacional para Professores em Atendimento<br />
Educacional Especializado, em nível <strong>de</strong> aperfeiçoamento promovido,<br />
pelo MEC/SEESP/UFC, sendo contemplados seis professores da re<strong>de</strong> municipal<br />
<strong>de</strong> Fortaleza.<br />
Em 2010, o curso <strong>de</strong> formação em AEE promovido pelo MEC/SEESP/<br />
UFC passou a ser <strong>de</strong> especialização, com a participação <strong>de</strong> 125 professores-cursistas<br />
das salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais <strong>de</strong> Fortaleza, distribuídos<br />
em seis turmas.<br />
Consoante o documento da Política Nacional, a <strong>Secretaria</strong> orienta os<br />
sistemas <strong>de</strong> ensino com vistas a garantir os plenos direitos dos estudantes<br />
matriculados em sua re<strong>de</strong> municipal, ofere<strong>ce</strong>ndo, quando ne<strong>ce</strong>ssário, o<br />
atendimento educacional especializado. Atualmente a re<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong><br />
70 salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais no espaço da escola on<strong>de</strong> o estudante<br />
está matriculado. O atendimento é realizado no turno inverso ao<br />
da sala <strong>de</strong> aula comum, em todos os níveis e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino. O<br />
Município mantém ainda par<strong>ce</strong>rias com instituições especializadas mediante<br />
convênios para <strong>ce</strong>ssão <strong>de</strong> professores. Para isso orienta que essas<br />
instituições ofereçam o atendimento educacional especializado <strong>de</strong> modo<br />
complementar ao da sala <strong>de</strong> aula comum.<br />
4.6.3 Articulação com a Política Nacional <strong>de</strong><br />
Educação Especial<br />
A educação especial no Município <strong>de</strong> Fortaleza segue as diretrizes<br />
da Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na perspectiva da educação<br />
inclusiva (2008), que tem como finalida<strong>de</strong> assegurar a inclusão escolar<br />
<strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação, orientando os sistemas <strong>de</strong> ensino a<br />
promoverem respostas às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s educacionais especiais, por intermédio<br />
<strong>de</strong> atendimento educacional especializado. Esse atendimento é<br />
compreendido como complementar e/ou suplementar ao ensino regular,<br />
possibilitando aos estudantes incluídos o a<strong>ce</strong>sso ao currículo comum. O<br />
documento orienta no sentido <strong>de</strong> que<br />
(...) os sistemas <strong>de</strong> ensino para garantir: a<strong>ce</strong>sso ao ensino<br />
regular, com participação, aprendizagem e continuida<strong>de</strong> nos<br />
níveis mais elevados do ensino; transversalida<strong>de</strong> da modalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> educação especial <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a educação infantil até a<br />
educação superior; oferta do atendimento educacional especializado;<br />
formação <strong>de</strong> professores para o atendimento educacional<br />
especializado e <strong>de</strong>mais profissionais da educação para<br />
a inclusão; participação da família e da comunida<strong>de</strong>; a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong><br />
arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas<br />
comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação<br />
das políticas públicas. (BRASIL, 2008, p.14)66.<br />
As salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais apresentam-se como um espaço que<br />
ofere<strong>ce</strong> o atendimento educacional especializado – AEE, cujo objetivo é<br />
“(...) i<strong>de</strong>ntificar, elaborar, e organizar recursos pedagógicos e <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>,<br />
que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes,<br />
consi<strong>de</strong>rando suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s específicas.” (BRASIL, 2008, p. 10).<br />
O AEE <strong>de</strong>ve ser ofertado em todas as etapas e modalida<strong>de</strong>s da educação<br />
básica. É organizado para suprir as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento<br />
e à participação dos estudantes com <strong>de</strong>ficiência, transtorno<br />
global <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação nas escolas<br />
comuns. Constitui oferta obrigatória dos sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />
Este serviço é oferecido, preferencialmente, na escola comum, no<br />
contraturno da sala <strong>de</strong> aula. Caso não haja esse atendimento na escola<br />
66<br />
BRASIL. Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.<br />
Revista da Educação Especial: Inclusão (Edição Especial), Brasília, v. 4, n. 1, Janeiro/<br />
Junho 2008.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
92 | PREFEITURA DE FORTALEZA 93 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
em que o estudante está matriculado, ele po<strong>de</strong>rá ser encaminhado para<br />
uma unida<strong>de</strong> escolar da circunvizinhança que disponha <strong>de</strong>ste serviço.<br />
Esse encaminhamento <strong>de</strong>verá ser realizado pelo Núcleo Gestor e Coor<strong>de</strong>nação<br />
Pedagógica da escola em que o estudante está matriculado<br />
<strong>de</strong> forma articulada com a equipe <strong>de</strong> educação especial da <strong>Secretaria</strong><br />
Executiva Regional.<br />
O AEE tem como público alvo:<br />
* Estudantes com <strong>de</strong>ficiência – aqueles com impedimentos <strong>de</strong><br />
longo prazo <strong>de</strong> natureza física, intelectual ou sensorial que po<strong>de</strong>m<br />
obstruir/dificultar sua participação plena e efetiva na socieda<strong>de</strong><br />
diante <strong>de</strong> barreiras que esta lhes impõem, ao interagirem em<br />
igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições com as <strong>de</strong>mais pessoas (ONU, 2001)67.<br />
* Estudantes com transtornos globais do <strong>de</strong>senvolvimento –<br />
aqueles que apresentam um quadro <strong>de</strong> alterações no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
neuropsicomotor, comprometimento nas relações<br />
sociais, na comunicação ou estereotipia motora. Incluem-se<br />
nessa <strong>de</strong>finição estudantes com autismo clássico, síndrome<br />
<strong>de</strong> Asperger, síndrome <strong>de</strong> Rett, transtorno <strong>de</strong>sintegrativo da<br />
infância (psicose infantil) e transtornos invasivos sem outra<br />
especificação 68 (BRASIL, 2008) 69 ; e<br />
* Estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação – estes <strong>de</strong>vem<br />
ter a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enriquecimento<br />
curricular <strong>de</strong>senvolvidas no âmbito <strong>de</strong> suas<br />
escolas em interfa<strong>ce</strong> com as instituições <strong>de</strong> ensino superior,<br />
institutos voltados ao <strong>de</strong>senvolvimento e promoção da pesquisa,<br />
das artes, dos esportes, entre outros.<br />
Vale ressaltar que esse atendimento se diferencia das ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>senvolvidas na sala comum, pois, enquanto esta trabalha<br />
os conteúdos curriculares propriamente ditos, o AEE disponibiliza<br />
os meios ne<strong>ce</strong>ssários <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento.<br />
Portanto, o AEE não substitui a escolarização obrigatória e<br />
não se caracteriza como aula <strong>de</strong> reforço ou apoio temporário.<br />
O trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelo AEE consi<strong>de</strong>ra as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
cada estudante com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação. Para superar as barreiras linguísticas,<br />
cognitivas, con<strong>ce</strong>ituais, físicas, visuais, <strong>de</strong>ntre outras, o(a) professor(a) <strong>de</strong><br />
AEE <strong>de</strong>verá observar quais os recursos, linguagens e ativida<strong>de</strong>s mais a<strong>de</strong>quadas<br />
para cada especificida<strong>de</strong>.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
67<br />
ONU. Declaração Internacional <strong>de</strong> Montreal sobre Inclusão. Canadá, 2001.<br />
Disponível em: . A<strong>ce</strong>sso em: 26 set.<br />
2009<br />
68<br />
Autismo clássico: o autismo é explicado e <strong>de</strong>scrito como um conjunto <strong>de</strong> transtornos<br />
qualitativos <strong>de</strong> funções envolvidas no <strong>de</strong>senvolvimento humano. Po<strong>de</strong> haver atraso no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da interação social e da comunicação.<br />
Síndrome <strong>de</strong> Asperger: diferentemente do autismo, é possível não existir atrasos<br />
significativos no <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, na linguagem, no comportamento adaptativo,<br />
à ex<strong>ce</strong>ção da interação social, e na curiosida<strong>de</strong> pelo ambiente na infância.<br />
Síndrome <strong>de</strong> Rett: <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> múltiplos <strong>de</strong>ficits após um período <strong>de</strong><br />
funcionamento normal nos primeiros meses <strong>de</strong> vida. Desa<strong>ce</strong>leração do crescimento do<br />
perímetro <strong>ce</strong>fálico. Perda das habilida<strong>de</strong>s voluntárias das mãos adquiridas anteriormente,<br />
e posterior <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> movimentos estereotipados semelhantes a lavar ou tor<strong>ce</strong>r<br />
as mãos. O interesse social diminui após os primeiros anos <strong>de</strong> manifestação do quadro,<br />
embora possa se <strong>de</strong>senvolver mais tar<strong>de</strong>. Prejuízo severo do <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem<br />
expressiva ou re<strong>ce</strong>ptiva.<br />
Transtorno <strong>de</strong>sintegrativo da Infância: as crianças presentam <strong>de</strong>ficits sociais e<br />
comunicativos e aspectos comportamentais geralmente observados no Autismo. As perdas<br />
clinicamente significativas das habilida<strong>de</strong>s já adquiridas em pelo menos duas áreas:<br />
linguagem expressiva ou re<strong>ce</strong>ptiva, habilida<strong>de</strong>s sociais ou comportamento adaptativo,<br />
controle intestinal ou vesical, jogos ou habilida<strong>de</strong>s motoras.<br />
Transtornos invasivos sem outra especificação: existe prejuízo severo no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento da interação social recíproca ou <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação verbal e<br />
não verbal ou comportamentos, interesses e ativida<strong>de</strong>s estereotipados.<br />
(Fonte: BRASIL. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar Transtornos<br />
Globais do Desenvolvimento. Fortaleza: MEC\SEESP\UFC, 2010).<br />
69<br />
Op. Cit.<br />
94 | PREFEITURA DE FORTALEZA 95 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
De acordo com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> educacional <strong>de</strong> cada estudante, há<br />
uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos pedagógicos e modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento.<br />
O atendimento educacional especializado dos estudantes com sur<strong>de</strong>z<br />
é organizado em três momentos pedagógicos: AEE <strong>de</strong> Libras, AEE em<br />
Libras e AEE para o ensino da Língua Portuguesa na modalida<strong>de</strong> escrita.<br />
No atendimento para os estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual, são ofertados<br />
o Sistema Braille, soroban, orientação e mobilida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong> funcional<br />
da visão e ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida autônoma. Já no caso dos estudantes com<br />
<strong>de</strong>ficiência física são disponibilizados os recursos da comunicação alternativa<br />
e aumentativa, tecnologia assistiva e recursos <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>.<br />
Para os estudantes com <strong>de</strong>ficiência intelectual, é ofertado o AEE com o<br />
objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver os pro<strong>ce</strong>ssos mentais superiores e as ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> vida autônoma. O AEE também ofere<strong>ce</strong> programas <strong>de</strong> enriquecimento<br />
curricular para os estudantes com altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação.<br />
A Política Nacional <strong>de</strong> Educação Especial na perspectiva da educação<br />
inclusiva (2008) orienta que, para atuar na sala <strong>de</strong> recursos multifuncionais,<br />
o(a) professor(a) <strong>de</strong>ve ter formação inicial em Pedagogia,<br />
pós-graduação em Educação Especial e conhecimentos específicos da<br />
área, adquiridos em cursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento e/ou <strong>de</strong> especialização.<br />
De acordo com as orientações da PNEE, a formação <strong>de</strong>sse profissional<br />
inclui alguns conteúdos específicos, tais como: sistema Braille, informática<br />
aplicada à produção Braille, recursos tecnológicos e informática<br />
aplicada à <strong>de</strong>ficiência visual (sintetizadores <strong>de</strong> voz, lupas eletrônicas,<br />
magnificadores <strong>de</strong> tela para baixa visão), produção Braille e adaptação<br />
<strong>de</strong> material impresso em tinta, recursos ópticos e não ópticos para baixa<br />
visão, técnica <strong>de</strong> uso do soroban, adaptação <strong>de</strong> livros didáticos e <strong>de</strong><br />
literatura para pessoas <strong>ce</strong>gas, avaliação funcional da visão, orientação<br />
e mobilida<strong>de</strong> para pessoas <strong>ce</strong>gas, escrita cursiva, grafia do nome e assinatura<br />
em tinta para pessoas <strong>ce</strong>gas, tecnologia assistiva: comunicação<br />
alternativa, informática a<strong>ce</strong>ssível, materiais pedagógicos adaptados, mobiliário<br />
a<strong>ce</strong>ssível, língua brasileira <strong>de</strong> sinais-LIBRAS, Língua Portuguesa<br />
para estudantes com sur<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>senho universal, comunicação para o estudante<br />
surdo-<strong>ce</strong>go (BRASIL, 2008) 70 .<br />
Além dos conhecimentos retrocitados, o(a) professor(a) <strong>de</strong>verá planejar<br />
e selecionar ativida<strong>de</strong>s, avaliar o <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem dos<br />
estudantes e estabele<strong>ce</strong>r par<strong>ce</strong>rias para aten<strong>de</strong>r as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s do estudante.<br />
Esses aspectos <strong>de</strong>verão ser privilegiados na elaboração dos planos<br />
<strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> forma articulada com o(a) professor(a) da sala comum.<br />
O/A professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá apresentar o perfil <strong>de</strong> articulador da<br />
educação inclusiva junto à escola e à comunida<strong>de</strong> escolar na elaboração<br />
70<br />
Op. cit.<br />
do projeto político-pedagógico, embora suas ativida<strong>de</strong>s se diferenciem<br />
das realizadas pelo(a) professor(a) em sala <strong>de</strong> aula. O professor(a) do AEE<br />
<strong>de</strong>verá <strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong>, respeito e ética para lidar com a diversida<strong>de</strong><br />
humana (FORTALEZA, 2009) 71 .<br />
O/A professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá pautar seu trabalho na metodologia<br />
<strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> caso. Com base no estudo <strong>de</strong> caso, o(a) professor(a) dará<br />
início à elaboração do plano <strong>de</strong> atendimento. Para o estudo <strong>de</strong> caso, ele<br />
<strong>de</strong>verá avaliar o estudante em diferentes ambientes; sala <strong>de</strong> aula, sala <strong>de</strong><br />
recursos multifuncional e familiar. A avaliação objetiva colher informações<br />
sobre os seguintes aspectos: <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo, linguagem,<br />
afetivo-social, psicomotor, assim como os comportamentos e atitu<strong>de</strong>s em<br />
situação <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
No âmbito da sala <strong>de</strong> recursos multifuncionais, o(a) professor(a) terá<br />
como suportes instrumentais e registros dos diversos aspectos observados,<br />
po<strong>de</strong>ndo utilizar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que i<strong>de</strong>ntifiquem a real condição do<br />
estudante nos aspectos já expressos.<br />
Dentro da sala comum, o(a) professor(a) do AEE <strong>de</strong>verá avaliar a relação<br />
do estudante com o conhecimento, se ele ne<strong>ce</strong>ssita <strong>de</strong> materiais e<br />
equipamentos para a<strong>ce</strong>ssar esse conhecimento, assim como sua interação<br />
com os colegas e se ele <strong>de</strong>monstra atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência ou autonomia<br />
em relação ao/à professor(a) e como repon<strong>de</strong> as suas solicitações.<br />
Na família, a avaliação <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar as atitu<strong>de</strong>s do estudante em<br />
relação às ativida<strong>de</strong>s domiciliares, se ele <strong>de</strong>monstra autonomia ou <strong>de</strong>pendência,<br />
investigar como é o relacionamento dos componentes com<br />
ele, se estes manifestam superproteção ou abandono, se eles acreditam<br />
no potencial do estudante e na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar as barreiras<br />
impostas pela <strong>de</strong>ficiência.<br />
4.6.4 A educação especial e a organização dos<br />
serviços <strong>de</strong> apoio ao ensino comum<br />
A educação especial <strong>de</strong>ve prover as escolas municipais <strong>de</strong> profissionais<br />
<strong>de</strong> apoio, para que os estudantes possam ser atendidos quanto à<br />
promoção da a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong>, da locomoção e <strong>de</strong> atenção aos cuidados<br />
pessoais <strong>de</strong> alimentação e higiene, bem como comunicacional (Nota<br />
Técnica No. 19/2010/MEC/SEESP). Segundo a nota técnica mencionada,<br />
para a organização e oferta do serviço <strong>de</strong> apoio, consi<strong>de</strong>ram-se os seguintes<br />
profissionais: <strong>de</strong> apoio para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> locomoção, higiene,<br />
71<br />
FORTALEZA. Diretrizes para sala <strong>de</strong> atendimento educacional especializado.<br />
Fortaleza: <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação e Assistência Social – SEDAS, 2009.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
96 | PREFEITURA DE FORTALEZA 97 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
alimentação e auxílio individualizado aos estudantes que não realizam<br />
essas ativida<strong>de</strong>s com in<strong>de</strong>pendência. Esse apoio ocorre conforme as especificida<strong>de</strong>s<br />
apresentadas pelo estudante, relacionadas à sua condição<br />
<strong>de</strong> funcionalida<strong>de</strong> e não à <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência. A educação especial também<br />
<strong>de</strong>ve prever profissionais especializados, tais como intérprete <strong>de</strong> libras,<br />
que <strong>de</strong>verá atuar em sala <strong>de</strong> aula e eventos ligados ao ensino, para realizar<br />
a interpretação por meio da língua <strong>de</strong> sinais.<br />
A inserção do estudante com <strong>de</strong>ficiência no ensino regular <strong>de</strong>lineia um<br />
quadro <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s mudanças na educação e constitui uma trajetória educacional<br />
favorável ao princípio fundamental da educação inclusiva que<br />
consiste na diversida<strong>de</strong> social, na qual todos apren<strong>de</strong>m juntos, partilhando<br />
<strong>de</strong> um ambiente comum e compartilhando experiências <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
As escolas inclusivas <strong>de</strong>vem consi<strong>de</strong>rar que cada pessoa apren<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo<br />
peculiar, <strong>de</strong> tal modo que ela precisa ser reconhecida no seu modo individual,<br />
para que se possa estabele<strong>ce</strong>r estratégias e recursos apropriados <strong>de</strong><br />
acordo com suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s, no intuito <strong>de</strong> garantir sua plena participação<br />
em um ambiente plural como a sala <strong>de</strong> aula.<br />
Nessa perspectiva inclusiva <strong>de</strong> forma irrestrita, o Município <strong>de</strong> Fortaleza<br />
estabele<strong>ce</strong> par<strong>ce</strong>rias com <strong>ce</strong>ntros especializados 72 na formação <strong>de</strong><br />
professores, bem como recomenda a realização <strong>de</strong> uma avaliação inicial<br />
para encaminhamento dos estudantes as salas <strong>de</strong> aula comum e para o<br />
atendimento educacional especializado.<br />
4.6.5 Objetivos da educação especial<br />
A educação especial é uma modalida<strong>de</strong> da educação escolar que<br />
assegura recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente<br />
para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns<br />
casos, substituir os serviços educacionais comuns. Dessa forma, avaliza<br />
a educação escolar e o <strong>de</strong>senvolvimento pleno das potencialida<strong>de</strong>s dos<br />
educandos que apresentam <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação em todas as etapas e modalida<strong>de</strong>s<br />
da educação básica (RIBEIRO; BAUMEL, 2003) 73 .<br />
Assim, ações prioritárias <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas pelas Diretrizes Municipais<br />
<strong>de</strong> Educação com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover a inclusão escolar <strong>de</strong>sse alunado,<br />
<strong>de</strong>monstrando compromisso e flexibilida<strong>de</strong> para que a aprendizagem possa<br />
ser amplamente consolidada. Para esse propósito constitui como objetivos:<br />
72<br />
Centros <strong>de</strong> referência em educação e atendimento especializado do Estado do Ceará –<br />
CREAECE,órgão público estadual <strong>de</strong>stinado ao atendimento <strong>de</strong> alunos da educação especial.<br />
73<br />
Op. cit.<br />
* possibilitar a transversalida<strong>de</strong> da educação especial a partir<br />
da educação infantil, para que cada criança tenha a<strong>ce</strong>sso<br />
pleno ao conhecimento e <strong>de</strong>senvolva todas as suas potencialida<strong>de</strong>s,<br />
seja no ambiente escolar, seja na vida diária;<br />
* efetuar avaliação inicial pedagógica pelos professores das<br />
salas <strong>de</strong> atendimento educacional especializado visando à<br />
inclusão <strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes, jovens e adultos público-<br />
-alvo da educação especial;<br />
* garantir o atendimento educacional especializado como<br />
instrumento, complemento ou suplemento que <strong>de</strong>ve estar<br />
presente em todas as modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino para os estudantes<br />
que <strong>de</strong>la ne<strong>ce</strong>ssitem;<br />
* favore<strong>ce</strong>r a formação continuada <strong>de</strong> professores para o<br />
atendimento educacional especializado, a fim adquirir subsídios<br />
para uma prática pedagógica baseada na valorização da<br />
diversida<strong>de</strong> humana, no respeito pelas diferenças individuais<br />
e no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> acolher todas as pessoas;<br />
* assegurar a presença <strong>de</strong> intérprete e instrutor <strong>de</strong> Libras, nas<br />
escolas comuns, para que possa aten<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente os<br />
estudantes com sur<strong>de</strong>z na sua primeira língua;<br />
* assegurar a presença do profissional <strong>de</strong> apoio nas escolas<br />
com estudantes que apresentam limitações físicas ou transtornos<br />
globais do <strong>de</strong>senvolvimento, visando ao seu a<strong>ce</strong>sso e<br />
permanência na escola;<br />
* prover material pedagógico ampliado e\ou transcrito para<br />
o Braille, para aten<strong>de</strong>r as especificida<strong>de</strong>s do estudante <strong>de</strong>ficiente<br />
visual;<br />
* avalizar o uso da comunicação alternativa, para aten<strong>de</strong>r as<br />
ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fala e <strong>de</strong><br />
escrita;<br />
* tornar disponível transporte adaptado às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s do<br />
educando, para favore<strong>ce</strong>r o seu a<strong>ce</strong>sso à escola e aos serviços<br />
<strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> que ne<strong>ce</strong>ssitar;<br />
* responsabilizar-se pela participação da família e da comunida<strong>de</strong><br />
nas escolhas e <strong>de</strong>cisões, principalmente no que diz<br />
respeito ao pro<strong>ce</strong>sso educacional para promover a inclusão<br />
escolar e social;<br />
* promover a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> arquitetônica, nos mobiliários e<br />
equipamentos das escolas, para que os estudantes com <strong>de</strong>ficiência<br />
possam nela transitar; e<br />
* articular políticas públicas com outros setores em função<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
98 | PREFEITURA DE FORTALEZA 99 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
das ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes para consolidar o que já se<br />
encontra previsto em legislação nacional e internacional sobre<br />
a educação especial.<br />
Estas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>monstram o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong><br />
um pro<strong>ce</strong>sso inclusivo a<strong>de</strong>quado às diferentes ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
apresentadas pelos estudantes na contemporaneida<strong>de</strong> educacional,<br />
<strong>de</strong> maneira ampla, para todos os estudantes.<br />
4.6.6 Orientações para as salas <strong>de</strong> recursos<br />
multifuncionais<br />
As salas <strong>de</strong> recursos multifuncionais – SRM são espaços localizados<br />
nas escolas da re<strong>de</strong> municipal do ensino <strong>de</strong> Fortaleza para a realização<br />
do atendimento educacional especializado. Elas aten<strong>de</strong>m os estudantes<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada escola e aqueles <strong>de</strong> outras em uma mesma abrangência,<br />
cujas instituições escolares ainda não ofereçam o AEE. Nas SRM, os estudantes<br />
são atendidos no contraturno por professor(a) especializado(a). O<br />
atendimento é realizado por meio do estudo <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> cada estudante,<br />
e objetiva i<strong>de</strong>ntificar as potencialida<strong>de</strong>s e habilida<strong>de</strong>s, como também<br />
suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s funcionais, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar um plano <strong>de</strong><br />
atendimento que venha aten<strong>de</strong>r as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste estudante, para<br />
que ele supere as barreiras impostas pela <strong>de</strong>ficiência.<br />
É função do(a) professor(a) do AEE organizar a composição e a quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> atendimentos ne<strong>ce</strong>ssários ao estudante na SRM, fazer a seleção<br />
<strong>de</strong> recursos e materiais, possibilitar a aquisição, produção ou<br />
adaptação <strong>de</strong> materiais, para que os estudantes possam apren<strong>de</strong>r segundo<br />
suas habilida<strong>de</strong>s e funcionalida<strong>de</strong>s. A permanência do estudante na<br />
SRM <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento em sala <strong>de</strong> aula e, na escola, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do estudante é per<strong>ce</strong>bido pelos avanços obtidos, o que<br />
po<strong>de</strong>rá prolongar ou antecipar o seu <strong>de</strong>sligamento na referida sala.<br />
Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir o a<strong>ce</strong>sso ao estudante público-alvo da<br />
educação especial às escolas comuns, a SME orienta sobre matrícula antecipada<br />
para esse grupo <strong>de</strong> estudantes no ensino fundamental.<br />
Para garantir a permanência do estudante da educação especial, a<br />
escola <strong>de</strong>ve promover a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> na estrutura física, construindo<br />
rampas, portas largas, banheiro adaptado, sinalizações espaciais e <strong>de</strong> comunicações<br />
(CAA, Libras, Braille, Libras táctil, tadoma, informática a<strong>ce</strong>ssível,<br />
texto ampliado, relevo e outros); adaptações nos mobiliários e no<br />
transporte, a fim <strong>de</strong> possibilitar o a<strong>ce</strong>sso do estudante com <strong>de</strong>ficiência a<br />
todas as <strong>de</strong>pendências da escola, promovendo sua autonomia.<br />
Na sala <strong>de</strong> recurso multifuncional, o material didático e pedagógico<br />
a<strong>ce</strong>ssível consta <strong>de</strong> jogos pedagógicos, brinquedos, livros em Braille,<br />
softwares educativos, plano inclinado, recursos ópticos (lupa) e <strong>de</strong> comunicação<br />
adaptados que eliminem as barreiras no pro<strong>ce</strong>sso ensino e<br />
aprendizagem, respeitando a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada estudante incluído.<br />
A a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> se configura na a<strong>de</strong>quação arquitetônica ou estrutural<br />
<strong>de</strong> espaço físico reservado à instalação e funcionamento <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> recursos<br />
multifuncionais; a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> sanitários, alargamento <strong>de</strong> portas e<br />
vias <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso, construção <strong>de</strong> rampas, instalação <strong>de</strong> corrimão e colocação<br />
<strong>de</strong> sinalização tátil e visual e aquisição <strong>de</strong> mobiliário a<strong>ce</strong>ssível, ca<strong>de</strong>ira<br />
<strong>de</strong> rodas, material <strong>de</strong>sportivo a<strong>ce</strong>ssível e recursos <strong>de</strong> tecnologia assistiva.<br />
As orientações aqui apresentadas visam a ofere<strong>ce</strong>r às escolas subsídios<br />
para a inclusão escolar do estudante público-alvo da educação especial.<br />
4.7 Educação <strong>de</strong> jovens e adultos<br />
A educação <strong>de</strong> jovens e adultos é uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>stinada<br />
àqueles(as) que por alguma razão não tiveram a<strong>ce</strong>sso à educação<br />
escolar ou que apresentam <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> em seus estudos. Objetiva<br />
<strong>de</strong>senvolver nos(as) educandos(as) o exercício da autonomia, a consciência<br />
crítica e a melhor compreensão do mundo, com vistas a sua inserção<br />
participativa nos espaços sociais nos quais está inserido(a).<br />
Possibilita ao jovem, adulto e idoso aperfeiçoarem conhecimentos<br />
adquiridos na educação não formal ao longo da vida, por meio da troca<br />
<strong>de</strong> experiências, propiciando o a<strong>ce</strong>sso a novas e múltiplas configurações<br />
do mundo do trabalho e da cultura.<br />
Os termos “jovens, adultos e idosos” indicam que, em todas as ida<strong>de</strong>s,<br />
é possível obter conhecimentos e valores que contribuam para a sua<br />
realização e o progressivo aperfeiçoamento <strong>de</strong> sua prática social.<br />
A educação <strong>de</strong> jovens e adultos como uma área <strong>de</strong> estudo específica<br />
é re<strong>ce</strong>nte, embora a sua prática tenha se iniciado no Brasil colonial,<br />
com o trabalho dos jesuítas, que buscavam a catequização das populações<br />
nativas e a faziam com base no ensino da Língua Portuguesa e das<br />
primeiras letras. Foi apenas em 1931, porém, com a reforma Francisco<br />
Campos, que se teve apresentada a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar instrumentos<br />
<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> dos estudos para a população adulta. Três anos <strong>de</strong>pois,<br />
na Constituição <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1934, a educação <strong>de</strong> adultos passou a<br />
ser mencionada como um dos objetivos <strong>de</strong> interesse nacional. Nos anos<br />
1930, contudo, além <strong>de</strong> menções legais, nada <strong>de</strong> expressivo ocorreu<br />
para a educação <strong>de</strong> jovens e adultos. As ações mais significativas su<strong>ce</strong>-<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
100 | PREFEITURA DE FORTALEZA 101 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
<strong>de</strong>ram na década posterior, ainda que por meio da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> campanhas<br />
para a educação <strong>de</strong> adoles<strong>ce</strong>ntes e <strong>de</strong> adultos, como forma <strong>de</strong> combater<br />
o analfabetismo no País. Era urgente, entretanto, se fazer algo, pois que,<br />
<strong>de</strong> acordo com o re<strong>ce</strong>nseamento <strong>de</strong> 1940, 55% da população brasileira,<br />
maior <strong>de</strong> 18 anos, era analfabeta. E o analfabetismo era apontado como<br />
indicador do atraso dos países e causa da pobreza no Ter<strong>ce</strong>iro Mundo.<br />
Na década <strong>de</strong> 1940, o sistema público <strong>de</strong> educação elementar expandiu<br />
o seu atendimento aos adultos, criando as primeiras escolas supletivas<br />
no Brasil. Em 1945, foi instituída UNESCO, que se <strong>de</strong>dicou a<br />
estimular a realização <strong>de</strong> programas nacionais <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> adultos<br />
analfabetos nas “regiões atrasadas” do Mundo. O Governo brasileiro<br />
criou, em 1947, a Campanha <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Adultos, que visava a promover<br />
a alfabetização, o ensino primário e, por fim, a capacitação profissional<br />
<strong>de</strong> adultos.<br />
Uma gran<strong>de</strong> transformação na educação <strong>de</strong> adultos começou a se<br />
manifestar no inicio da década <strong>de</strong> 1960, época em que o educador pernambucano<br />
Paulo Freire propôs uma reformulação pedagógica do ensino<br />
<strong>de</strong> adultos, baseada nos princípios da educação popular. A proposta<br />
<strong>de</strong> Freire vem valorizar a ética do educador e a bagagem cultural<br />
do educando. Em vez <strong>de</strong> trabalhar com cartilhas prontas, Freire propôs<br />
aos(as) educadores(as) que buscassem compreen<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> dos(as)<br />
educandos(as), partindo do universo cultural <strong>de</strong> cada um(a), para a<strong>de</strong>quarem<br />
o estudo da escrita e da leitura à problematização <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>.<br />
Com o advento do regime militar em 1964, a educação popular passou<br />
a ser reprimida, pois o Governo consi<strong>de</strong>rava uma ameaça à or<strong>de</strong>m<br />
pública. Em seu lugar, os militares instituíram o Movimento Brasileiro <strong>de</strong><br />
Alfabetização (Mobral). O Mobral adaptou alguns dos pro<strong>ce</strong>dimentos da<br />
educação popular, mas evitava problematizar a realida<strong>de</strong> dos estudantes,<br />
procurando integrá-la a uma realida<strong>de</strong> mais “mo<strong>de</strong>rna”, i<strong>de</strong>alizada pelo<br />
Governo. Apesar da repressão que sofriam, algumas entida<strong>de</strong>s espalhadas<br />
pelo Brasil continuavam promovendo a educação popular.<br />
Por ocasião da abertura política da década <strong>de</strong> 1980, a população intensificou<br />
as críticas ao Mobral, consi<strong>de</strong>rando-o ultrapassado. O Mobral foi<br />
extinto em 1985 e substituído pela Fundação Educar, que passou a financiar<br />
iniciativas <strong>de</strong> governos locais, entida<strong>de</strong>s civis e empresas conveniadas.<br />
Em 1990, o Governo extinguiu a Fundação Educar e, a partir <strong>de</strong> então,<br />
se priorizou o financiamento do ensino fundamental compreendido<br />
na faixa etária <strong>de</strong> sete aos 14 anos. Com isso, a educação <strong>de</strong> jovens<br />
e adultos ficou restrita a iniciativas públicas <strong>de</strong> estados e municípios,<br />
além <strong>de</strong> iniciativas privadas. No final da década <strong>de</strong> 1990, o Governo<br />
brasileiro preocupou-se em estabele<strong>ce</strong>r diretrizes para a educação <strong>de</strong><br />
jovens e adultos no País. Depois <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> estudos, o Ministério<br />
da Educação lançou a Proposta Curricular para a Educação <strong>de</strong> Jovens e<br />
Adultos, em 2001.<br />
Em julho <strong>de</strong> 1997, ocorreu em Hamburgo a V Conferência Internacional<br />
<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Pessoas Jovens e Adultas (CONFINTEA). Esta causou<br />
um bom impacto no Brasil, por meio dos diálogos potencializados nas<br />
reuniões preparatórias, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando inclusive a criação <strong>de</strong> fóruns estaduais<br />
e planejamento <strong>de</strong> encontros anuais. Já ocorreram 11 encontros<br />
nacionais – ENEJA.<br />
Neste movimento <strong>de</strong> fortale<strong>ce</strong>r as discussões em torno da modalida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> EJA, o Ministério da Educação amplia a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate nacional por<br />
meio da <strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Continuada, Alfabetização e Diversida<strong>de</strong><br />
(SECAD), criada em 2004. Nela estão reunidos temas como alfabetização<br />
e educação <strong>de</strong> jovens e adultos, educação do campo, educação<br />
ambiental, educação em direitos humanos, educação escolar indígena e<br />
diversida<strong>de</strong> étnico-racial.<br />
A Resolução CD/FNDE n º 65, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, regulamenta<br />
a Agenda Territorial <strong>de</strong> Desenvolvimento Integrado <strong>de</strong> Alfabetização e<br />
Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos (Agenda Territorial <strong>de</strong> EJA), e consolida as<br />
estratégias para articulação territorial das ações <strong>de</strong> alfabetização e <strong>de</strong> educação<br />
<strong>de</strong> jovens e adultos, valendo-se <strong>de</strong> análise diagnóstica, <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
objetivos e metas que subsidiem a implementação e gestão <strong>de</strong>stas ações.<br />
Em 2008, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos passou a ser financiada<br />
com recursos do FUNDEB e, em 2009, pela Resolução nº 51/09, a educação<br />
<strong>de</strong> jovens e adultos inseriu-se no Programa Nacional do Livro Didático<br />
(PNLDEJA).<br />
Nos últimos anos, milhões <strong>de</strong> jovens e adultos voltaram a estudar,<br />
mas muitos <strong>de</strong>les ainda enfrentam gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s materiais <strong>de</strong><br />
se inserir e permane<strong>ce</strong>r na escola. Por isso, todos, cidadãos e cidadãs<br />
brasileiros(as), precisam empenhar-se na obtenção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong>mocrática, em que todos possam ter a<strong>ce</strong>sso a uma educação <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. Do mesmo modo, a escola há que repensar suas práticas e organização<br />
para fazer frente aos <strong>de</strong>safios que a EJA apresenta, com respeito<br />
às capacida<strong>de</strong>s, inter-relações culturais e <strong>de</strong>senvolvimento intelectual<br />
dos sujeitos, ante as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem, as peculiarida<strong>de</strong>s<br />
visuais, auditivas e motoras.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
102 | PREFEITURA DE FORTALEZA 103 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
4.7.1 A educação <strong>de</strong> jovens e adultos no Município<br />
<strong>de</strong> Fortaleza<br />
A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza oferta, <strong>de</strong> forma sistemática,<br />
a educação <strong>de</strong> jovens e adultos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1976 para o 1º segmento<br />
<strong>de</strong> EJA, tendo sido ampliada a oferta com a implantação do 2º segmento<br />
em 2008. Mesmo com as adversida<strong>de</strong>s que a modalida<strong>de</strong> enfrenta, ela<br />
apresentou, no ano <strong>de</strong> 2010, uma matrícula <strong>de</strong> 18.500 educandos(as)<br />
entre os dois segmentos do ensino fundamental.<br />
A oferta da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EJA, no primeiro e segundo segmentos<br />
do ensino fundamental, constitui, <strong>de</strong>ntre outras, a busca da garantia do<br />
direito à educação para pessoas que não tiveram a<strong>ce</strong>sso à escola ou por<br />
motivo(s) diversos tiveram que abandoná-la, e que carregam um histórico<br />
significativo <strong>de</strong> repetência ou <strong>de</strong> idas e vindas à escola em busca<br />
<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e renda, carregando em suas bagagens<br />
emocionais o estigma <strong>de</strong> baixa autoestima e <strong>de</strong> perfil socioeconômico<br />
<strong>de</strong>ficitário, apresentando a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo pedagógico próprio,<br />
que privilegia situações <strong>de</strong> aprendizagem a<strong>de</strong>quadas às referidas<br />
especificida<strong>de</strong> do(a) educando(a).<br />
No Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos está<br />
estruturada em segmentos, cujo <strong>de</strong>talhamento é apresentado a seguir.<br />
1º Segmento – contempla do 1º ao 5º ano do ensino fundamental,<br />
e está organizado nas seguintes etapas:<br />
∙ EJA I – correspon<strong>de</strong> ao 1º ano do ensino fundamental;<br />
∙ EJA II – correspon<strong>de</strong> ao 2º e 3º anos do ensino<br />
fundamental; e<br />
∙ EJA III – correspon<strong>de</strong> ao 4º e 5º anos do ensino<br />
fundamental.<br />
2º Segmento - contempla do 6º ao 9º ano do ensino fundamental,<br />
e está organizado nas seguintes etapas:<br />
∙ EJA IV – correspon<strong>de</strong> ao 6º e 7º anos do ensino fundamental; e<br />
∙ EJA V – correspon<strong>de</strong> ao 8º e 9º anos do ensino fundamental.<br />
No primeiro segmento, tem-se as seguintes áreas do conhecimento:<br />
Língua Portuguesa, Matemática e Estudo da Socieda<strong>de</strong> e da Natureza.<br />
Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar a gradação <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e abrangência dos conteúdos<br />
experienciados nestes contextos <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
A proposta <strong>de</strong> atuação do(a) educador(a) da educação <strong>de</strong> jovens e<br />
adultos, no segundo segmento do ensino fundamental, está organizada<br />
por área do conhecimento: Linguagens e Códigos e suas Tecnologias,<br />
Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e Matemática<br />
e suas Tecnologias. Incluem-se, nessas áreas, os estudos <strong>de</strong> Historia<br />
Afro-brasileira e indígena, estabelecidos pela Lei nº 10.639, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> janeiro<br />
<strong>de</strong> 2003, e a obrigatorieda<strong>de</strong> do estudo <strong>de</strong> uma língua estrangeira<br />
em EJA IV e V, <strong>de</strong> acordo com a Resolução CNE/CEB n o 1, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 2000. Essa perspectiva <strong>de</strong> atuação do<strong>ce</strong>nte torna possível maior aproximação<br />
entre educador(a) e educando(a), condição fundamental para<br />
uma prática educativa reflexiva e dialógica.<br />
A organização das expectativas do ensino e aprendizagem <strong>de</strong> forma<br />
aproximada entre as áreas do conhecimento favore<strong>ce</strong> a inter ou transdisciplinarida<strong>de</strong><br />
da proposta curricular <strong>de</strong> EJA, cabendo, porém, ao<br />
educador(a), mapear entre elas os conteúdos que sejam pertinentes à<br />
realida<strong>de</strong> social e cognitiva do(a) educando(a), tornando essa ação um<br />
ponto <strong>de</strong> partida, visando a atingir o conhecimento pretendido nas unida<strong>de</strong>s<br />
significativas <strong>de</strong> cada área.<br />
Nesse âmbito, a educação <strong>de</strong> jovens e adultos é expressa como possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aprendizagem significativa, favore<strong>ce</strong>ndo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pleno da cidadania, cumprindo a tarefa <strong>de</strong> disseminar discussões entre<br />
os seus profissionais e dis<strong>ce</strong>ntes sobre questões pertinentes à realida<strong>de</strong><br />
sociocultural brasileira, como a pluralida<strong>de</strong> cultural e a discriminação<br />
a que gran<strong>de</strong> parte da população está sujeita, as questões éticas, como<br />
a dignida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, a preservação ambiental<br />
e a sexualida<strong>de</strong>, entre outras, contribuindo para a formação <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> com princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
Além disso, a educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos <strong>de</strong>ve levar em<br />
conta as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s e especificida<strong>de</strong>s das pessoas envolvidas e <strong>de</strong> sua<br />
condição no <strong>de</strong>senvolvimento social, cultural, político e econômico, respeitando<br />
seu direito <strong>de</strong> viver dignamente todas as etapas da vida e <strong>de</strong><br />
exer<strong>ce</strong>r sua cidadania, realização e bem-estar em todo o curso <strong>de</strong> sua<br />
vida, por meio do a<strong>ce</strong>sso aos conhecimentos socialmente produzidos.<br />
Para tanto, se faz ne<strong>ce</strong>ssária a ampliação da oferta do atendimento<br />
escolar ao jovem, adulto e idoso, utilizando, além das escolas, outros<br />
espaços da cida<strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>rias com a socieda<strong>de</strong> civil, bem<br />
como a formação permanente <strong>de</strong> técnicos, professores, estudantes e <strong>de</strong>mais<br />
membros da comunida<strong>de</strong> escolar sobre temas relativos ao pro<strong>ce</strong>sso<br />
natural e sociocultural <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ser humano (notadamente<br />
sobre amadurecimento e envelhecimento) e a<strong>ce</strong>rca <strong>de</strong> conteúdos e metodologias<br />
<strong>de</strong> ensino, próprios a cada ida<strong>de</strong>.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
104 | PREFEITURA DE FORTALEZA 105 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
4.7.2 Princípios epistemopedagógicos<br />
A <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza assume como pressupostos<br />
para a EJA os fundamentos da Educação Popular, com base em<br />
Paulo Freire. Nesta perspectiva, a Educação Popular configura-se como<br />
um modo <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> atuar que expressa uma estreita vinculação entre<br />
os pro<strong>ce</strong>ssos educativos e as lutas e os anseios da classe trabalhadora.<br />
A formação básica para o cidadão <strong>de</strong>ve aconte<strong>ce</strong>r mediante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do atendimento às <strong>de</strong>mandas específicas <strong>de</strong> jovens, adultos<br />
e idosos trabalhadores, contribuindo para sua compreensão e inclusão<br />
no mundo do trabalho. Isso inclui, <strong>de</strong>ntre outros: o pleno domínio da<br />
leitura, da escrita e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e<br />
social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que<br />
se fundamenta a socieda<strong>de</strong>; o fortalecimento dos vínculos da família, <strong>de</strong><br />
solidarieda<strong>de</strong> humana e <strong>de</strong> tolerância recíproca na vida social; o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> autoestima no estudante, fortale<strong>ce</strong>ndo a confiança na sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, a sistematização e a consolidação das experiências<br />
<strong>de</strong> vida e os conhecimentos já adquiridos pelos jovens, adultos<br />
e idosos; o estímulo para o exercício da autonomia social, política e<br />
intelectual, com responsabilida<strong>de</strong>, pensamento crítico, aperfeiçoamento<br />
e convivência em diferentes espaços sociais; a relação teoria e prática no<br />
estudo das disciplinas e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s relacionadas<br />
com o uso <strong>de</strong> tecnologias e com os fundamentos científico-tecnológicos<br />
dos pro<strong>ce</strong>ssos produtivos; e o <strong>de</strong>senvolvimento da cidadania, po<strong>de</strong>ndo<br />
usufruir dos bens materiais e culturais existentes no meio em que vivem.<br />
Para tanto, pauta suas con<strong>ce</strong>pções e práticas nos Princípios Epistemopedagógicos<br />
que se <strong>de</strong>stacam a seguir.<br />
Flexibilida<strong>de</strong>: refere-se à abordagem curricular, à organização dos<br />
espaços e tempos <strong>de</strong> ensino e aprendizagem. Neste sentido, flexibilida<strong>de</strong><br />
jamais implica posição <strong>de</strong> relaxamento no que se refere à serieda<strong>de</strong> com<br />
que se <strong>de</strong>ve tratar estas questões. De outra parte, implica maior dinamismo<br />
e disponibilida<strong>de</strong> para o novo, para a criativida<strong>de</strong> e a fim <strong>de</strong> integrar<br />
os <strong>de</strong>mais princípios.<br />
A flexibilida<strong>de</strong> curricular <strong>de</strong>ve significar um momento <strong>de</strong> aproveitamento<br />
das experiências diversas que os(as) educandos(as) trazem consigo,<br />
como, por exemplo, os modos pelos quais eles trabalham seus tempos<br />
e seu cotidiano. A flexibilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá aten<strong>de</strong>r a esta tipificação do<br />
tempo mediante combinações entre ensino presencial e não presencial,<br />
nos mol<strong>de</strong>s da Pedagogia da Alternância, ativida<strong>de</strong>s extraclasse em sintonia<br />
com temas da vida cotidiana dos(as) educandos(as), tornando-se<br />
elementos geradores <strong>de</strong> um currículo ativo e dinâmico.<br />
Dialogicida<strong>de</strong>: princípio político, epistemológico e metodológico<br />
orientador do diálogo na troca <strong>de</strong> saberes entre os sujeitos do pro<strong>ce</strong>sso<br />
educativo, pautando-se no respeito às diferenças.<br />
A dialogicida<strong>de</strong> juntamente com a interdisciplinarida<strong>de</strong>, na busca<br />
da transdisciplinarida<strong>de</strong>, constituem dois princípios educacionais básicos<br />
que <strong>de</strong>vem sustentar qualquer proposta educacional fundamentada<br />
nos pressupostos da educação popular, com base em Paulo Freire, que<br />
consi<strong>de</strong>ra o diálogo horizontal, o respeito ao conhecimento prévio dos<br />
envolvidos no pro<strong>ce</strong>sso educativo, sua cultura e seu papel social, como<br />
fundamentais na apreensão do conhecimento.<br />
Participação: induz à ação <strong>de</strong> estar junto, <strong>de</strong> compartilhar, <strong>de</strong> interagir,<br />
e envolver-se com a atuação coletiva.<br />
Transmitir ou re<strong>ce</strong>ber informações não configura em si um ato <strong>de</strong><br />
aprendizado <strong>de</strong> conhecimento. Para que o conhecimento ocorra, mesmo<br />
quando o indivíduo está aparentemente só, é preciso que ele dialogue<br />
com o objeto que quer conhe<strong>ce</strong>r (objeto cognoscível). É por esta, e não<br />
por outra razão, que na educação do tipo “bancária” não há conhecimento<br />
verda<strong>de</strong>iro, mas sim mera assimilação mnemônica <strong>de</strong> informações. O<br />
conhecimento verda<strong>de</strong>iro é aquele que transforma o ser apren<strong>de</strong>nte.<br />
Horizontalida<strong>de</strong>: a relação educador(a) e educando(a) assume uma<br />
expressão não hierarquizada, mesmo reconhe<strong>ce</strong>ndo as diferenças nas<br />
funções, papéis e saberes.<br />
Para que haja aprendizado real, é preciso que o(a) do<strong>ce</strong>nte estimule<br />
o(a) educando(a), não importa <strong>de</strong> que nível <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimento<br />
e escolarida<strong>de</strong>, a participar com a sua ativida<strong>de</strong> intelectual,<br />
curiosa, indagadora, irrequieta, criadora e até mesmo perturbadora <strong>de</strong><br />
quem quer cada vez mais conhe<strong>ce</strong>r. Isto se dá numa posição <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> intenções e <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> que ninguém é absolutamente<br />
ignorante, nem totalmente sábio. Por isto, se apren<strong>de</strong> ao ensinar e se<br />
ensina ao apren<strong>de</strong>r.<br />
Autonomia: capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização, gestão <strong>de</strong> sua própria<br />
aprendizagem, formação do pensamento crítico na leitura da realida<strong>de</strong> e<br />
expressão da própria opinião sobre os fatos.<br />
A igualda<strong>de</strong> e a liberda<strong>de</strong> tornam-se, pois, pressupostos fundamentais<br />
do direito à educação, da autonomização dos educandos(as), sobretudo<br />
nas socieda<strong>de</strong>s politicamente <strong>de</strong>mocráticas e socialmente <strong>de</strong>sejosas<br />
<strong>de</strong> uma melhor redistribuição das riquezas entre os grupos sociais e entre<br />
os sujeitos que as compõem e as expressam. Assim, a EJA ne<strong>ce</strong>ssita<br />
ser pensada como proposta pedagógica própria, a fim <strong>de</strong> criar situações<br />
educativas especificas capazes <strong>de</strong> satisfazer as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
<strong>de</strong> jovens, adultos e idosos.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
106 | PREFEITURA DE FORTALEZA 107 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Criticida<strong>de</strong>: leitura e interpretação da realida<strong>de</strong>, na busca da razão<br />
<strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> forma reflexiva, consubstanciando a educação como um ato político.<br />
A educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos traz como ênfase a formação <strong>de</strong><br />
cidadãos(ãs) críticos e participativos, sujeitos conscientes <strong>de</strong> seus direitos<br />
e <strong>de</strong>veres, capazes <strong>de</strong> contribuir na transformação da socieda<strong>de</strong>. Deixa <strong>de</strong><br />
ser uma educação para suprir o tempo perdido e passa a ser uma educação<br />
permanente, ou seja, uma educação que <strong>de</strong>ve aconte<strong>ce</strong>r ao longo <strong>de</strong> toda<br />
a vida, garantindo ampla formação, respeitando a dimensão holística do<br />
ser humano e garantindo seu prosseguimento nos estudos.<br />
Na reflexão pedagógica sobre essa modalida<strong>de</strong> educativa, tem especial<br />
relevância a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> suas dimensões social, ética e política. O<br />
i<strong>de</strong>ário da educação popular <strong>de</strong>staca o valor educativo do diálogo e da<br />
participação, a consi<strong>de</strong>ração do(a) educando(a) como sujeito portador <strong>de</strong><br />
saberes, que <strong>de</strong>vem ser reconhecidos. Educadores(as) <strong>de</strong> jovens, adultos e<br />
idosos i<strong>de</strong>ntificados com esses princípios têm procurado, nos últimos anos,<br />
reformular suas práticas pedagógicas, atualizando-as ante novas exigências<br />
culturais e novas contribuições das teorias educacionais.<br />
Contextualização: nos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, na prática<br />
educativa freireana, torna-se imprescindível, já que em sua essência<br />
se caracteriza como a ne<strong>ce</strong>ssária relação entre os saberes do cotidiano,<br />
“o mundo vivido” dos(as) educandos(as) com os saberes acadêmicos,<br />
“mundo pensado”.<br />
Na contextualização dos conteúdos, preten<strong>de</strong>-se formular significâncias<br />
dos saberes aprendidos e ensinados. Neste movimento, tem-se a<br />
inter-relação dos conteúdos próprios dos saberes sistematizados e a valorização<br />
dos saberes dos educandos(as), que passam a ser vistos como<br />
conteúdos a serem trabalhados no ensino e na aprendizagem.<br />
A inserção dos problemas vivenciados pelos educandos(as), como conteúdo<br />
a ser trabalhado, requer dos educadores(as) um conhecimento prévio<br />
da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses sujeitos. Ao problematizar suas realida<strong>de</strong>s, por meio <strong>de</strong><br />
um pro<strong>ce</strong>sso dialógico, educadores(as) e educandos(as) vão estabele<strong>ce</strong>ndo<br />
uma relação <strong>de</strong> par<strong>ce</strong>ria entre os vários saberes e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação<br />
dos sujeitos por meio da compreensão das várias realida<strong>de</strong>s.<br />
Quando são valorizados os saberes práticos dos(as) educandos(as), e<br />
sua interação com os saberes acadêmicos, po<strong>de</strong>-se tornar a aprendizagem<br />
mais prazerosa, afetiva e significativa, estimulando a reflexão dos(as)<br />
educandos(as) <strong>de</strong> sua situação real <strong>de</strong> vida, social, cultural econômica,<br />
possibilitando a formação <strong>de</strong> cidadãos críticos, participativos e atuantes<br />
na transformação <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong>. Por isso, a avaliação no primeiro<br />
e segundo segmentos do ensino fundamental na educação <strong>de</strong> jovens,<br />
adultos e idosos será sempre um instrumento a serviço da aprendizagem,<br />
realimentando o planejamento do ensino, com função <strong>de</strong> diagnóstico,<br />
acompanhamento e <strong>de</strong>senvolvimento do estudante, <strong>de</strong> acordo com os<br />
objetivos do curso.<br />
Ao assumir a incompletu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada ser que se apresenta, nas palavras<br />
<strong>de</strong> Paulo Freire, como “a vocação ontológica <strong>de</strong> ser-mais”, potencializa-se<br />
o cuidado com a educação dos jovens, adultos e idosos como sendo uma<br />
educação permanente que se apresenta <strong>de</strong> acordo com a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>,<br />
numa oferta a<strong>de</strong>quada e formatação própria para atendimento <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>mandas<br />
específicas, fazendo-se ne<strong>ce</strong>ssário um repensar constante quanto<br />
à ne<strong>ce</strong>ssária contextualização, as configurações dos tempos, espaços<br />
e práticas (pedagógica, avaliação, planejamento etc.) apropriadas a essa<br />
modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Compreen<strong>de</strong>-se, pois, que a EJA, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua singularida<strong>de</strong>,<br />
se apresenta plena na consecução dos objetivos a que se propõe:<br />
formação humana emancipatória, reflexiva, crítica e transformadora.<br />
Os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>sta modalida<strong>de</strong>, no Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino, apontam<br />
para a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> da elaboração <strong>de</strong> uma política permanente <strong>de</strong> formação<br />
continuada em serviço, para os sujeitos que atuam na EJA, uma vez que não<br />
há oferta, por meio das universida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> uma formação inicial específica<br />
para aqueles que atuam nesta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Configura-se também<br />
como imprescindível maior suporte para as escolas que ofertam a modalida<strong>de</strong>,<br />
garantindo melhores estruturas físicas, <strong>de</strong> recursos materiais, <strong>de</strong> pessoal<br />
<strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> suporte para o acompanhamento pedagógico. Neste regime<br />
<strong>de</strong> urgência que se preten<strong>de</strong> superar, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário, enquanto isto manter<br />
uma relação a<strong>de</strong>quada entre <strong>de</strong>manda e oferta <strong>de</strong> matrículas, inclusive com<br />
a oferta <strong>de</strong> EJA em diferentes turnos <strong>de</strong> funcionamento da escola. Ressalta-se,<br />
ainda, a observância da flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga horária <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong>,<br />
mas garantindo-se um conjunto <strong>de</strong> componentes curriculares, <strong>de</strong> acordo<br />
com a Base <strong>Municipal</strong> Comum e a Parte Diversificada, or<strong>de</strong>nados quanto à<br />
sequência e ao tempo ne<strong>ce</strong>ssários para o seu <strong>de</strong>senvolvimento, com objetivos,<br />
amplitu<strong>de</strong> e profundida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quados às possibilida<strong>de</strong>s e ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
dos estudantes, <strong>de</strong> acordo com as normas vigentes. Deverão também prever<br />
a<strong>de</strong>quação, metodologias, adaptação e flexibilida<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r aos estudantes<br />
com <strong>de</strong>ficiência.<br />
A organização das expectativas do ensino e aprendizagem <strong>de</strong> forma<br />
aproximada entre as áreas do conhecimento favore<strong>ce</strong> a inter ou a<br />
transdisciplinarida<strong>de</strong> da proposta curricular <strong>de</strong> EJA, cabendo, porém,<br />
ao/à professor(a) mapear entre elas os conteúdos que sejam pertinentes<br />
à realida<strong>de</strong> social e cognitiva do(a) educando(a), tornando essa ação um<br />
ponto <strong>de</strong> partida, visando atingir o conhecimento pretendido nas unida<strong>de</strong>s<br />
significativas <strong>de</strong> cada área.<br />
A educação <strong>de</strong> jovens e adultos, com efeito, se expressa como possi-<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
108 | PREFEITURA DE FORTALEZA 109 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
bilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem significativa, favore<strong>ce</strong>ndo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pleno da cidadania, cumprindo a tarefa <strong>de</strong> disseminar discussões entre<br />
os seus profissionais e dis<strong>ce</strong>ntes sobre questões pertinentes à realida<strong>de</strong><br />
sociocultural brasileira, como a pluralida<strong>de</strong> cultural e a discriminação<br />
a que gran<strong>de</strong> parte da população está sujeita, as questões éticas, como<br />
a dignida<strong>de</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, a preservação ambiental<br />
e a sexualida<strong>de</strong>, a a<strong>ce</strong>ssibilida<strong>de</strong> para pessoas com <strong>de</strong>ficiência e<br />
mobilida<strong>de</strong> reduzida, <strong>de</strong>ntre outras, contribuindo para que se estabeleça<br />
uma socieda<strong>de</strong> com princípios <strong>de</strong>mocráticos.<br />
4.7.3 Princípios metodológicos<br />
Na perspectiva freireana, a con<strong>ce</strong>pção metodológica contempla os<br />
princípios da horizontalida<strong>de</strong>, da ética, da leitura <strong>de</strong> mundo que pre<strong>ce</strong><strong>de</strong><br />
a leitura da palavra; da valorização da oralida<strong>de</strong>, da coletivida<strong>de</strong>, do conhecimento<br />
prévio e da crença na capacida<strong>de</strong> continua <strong>de</strong> aprendizagem<br />
dos sujeitos educativos. Para a implementação <strong>de</strong> uma prática educativa<br />
que cubra esses princípios, se faz ne<strong>ce</strong>ssário observar os seguintes passos:<br />
Investigação – busca conjunta entre educador(a) e educando(a) das<br />
questões e temas mais significativos da vida do(a) educando(a), <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
seu universo vocabular e da comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele vive;<br />
Tematização – momento da tomada <strong>de</strong> consciência do mundo, mediante<br />
a análise dos significados sociais dos temas e pontos suscitados; e<br />
Problematização – etapa em que o(a) educador(a) <strong>de</strong>safia e inspira<br />
o(a) educando(a) a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma<br />
postura critico-reflexiva.<br />
Com o intuito <strong>de</strong> exemplificar opções efetivas <strong>de</strong> vivência/experiência<br />
da proposta <strong>de</strong> Paulo Freire para a EJA, apresenta-se em seguida um conjunto<br />
<strong>de</strong> pro<strong>ce</strong>dimentos que <strong>de</strong>talham os passos possíveis <strong>de</strong> aplicação com vistas<br />
a implementar uma educação i<strong>de</strong>ntificada com os postulados freireanos.<br />
Para a EJA 1, apresenta-se a proposta <strong>de</strong> alfabetização que Paulo Freire<br />
(1985;1998) 74 legou, <strong>de</strong>scrita na sequência, a ser aprofundada quando da (re)<br />
elaboração das propostas pedagógicas nas escolas e nos encontros formativos.<br />
1ª fase: levantamento do universo vocabular do grupo;<br />
2ª fase: escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios <strong>de</strong><br />
riqueza fonética, dificulda<strong>de</strong>s fonéticas;<br />
3ª fase: criação <strong>de</strong> situações existenciais características do grupo;<br />
74<br />
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 16 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e<br />
Terra, 1985; FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,<br />
1998<br />
4ª fase: criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para<br />
os <strong>de</strong>bates; e<br />
5ª fase: criação <strong>de</strong> fichas <strong>de</strong> palavras para a <strong>de</strong>composição das famílias<br />
fonéticas correspon<strong>de</strong>ntes às palavras geradoras.<br />
Num rápido <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> alguns aspectos da proposta, na reafirmação<br />
da escolha neste documento, informa-se que Paulo Freire propõe<br />
sua aplicação tendo em conta a relevância da leitura <strong>de</strong> mundo pre<strong>ce</strong><strong>de</strong>r<br />
a leitura da palavra. Assim, <strong>de</strong>stacam-se:<br />
* investigação das palavras geradoras – inicia-se por meio<br />
<strong>de</strong> uma pesquisa que <strong>de</strong>fine o universo vocabular dos(as)<br />
educandos(as). Isto ocorre por intermédio <strong>de</strong> conversas informais<br />
e pesquisas efetivadas na comunida<strong>de</strong> do entorno<br />
da escola, da origem dos(as) educandos(as), o(a) educador(a)<br />
observa os vocábulos mais vivenciados/<strong>de</strong>batidos pelos(as)<br />
educandos(as) e a comunida<strong>de</strong>. Assim seleciona as palavras<br />
geradoras/temas geradores que servirão <strong>de</strong> base para o trabalho<br />
em sala. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavras geradoras/temas geradores<br />
po<strong>de</strong> variar. Depois <strong>de</strong> composto o universo das palavras<br />
geradoras/temas geradores, elas/eles são apresentada(o)s<br />
em cartazes com imagens ou algo que carregue esta simbologia.<br />
Então, nos círculos <strong>de</strong> cultura 75 , se inicia uma discussão<br />
para significá-las na realida<strong>de</strong> daquela turma;<br />
* as palavras novas – usando as famílias silábicas agora conhecidas,<br />
o grupo forma palavras novas;<br />
* a conscientização – um ponto fundamental do método é<br />
o diálogo sobre os diversos temas que <strong>de</strong>correm das palavras<br />
geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar/educar não po<strong>de</strong> se<br />
restringir aos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> codificação e <strong>de</strong>codificação. Dessa<br />
forma, o objetivo da alfabetização/educação <strong>de</strong> jovens, adultos<br />
e idosos é promover a conscientização a<strong>ce</strong>rca dos problemas<br />
cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento<br />
da realida<strong>de</strong> social potencializando sua transformação.<br />
75<br />
Os círculos <strong>de</strong> cultura po<strong>de</strong>m ser entendidos numa perspectiva em que as pessoas<br />
reunidas numa disposição circular, na qual todos(as) se vêem igualmente e sem que alguém<br />
tome um lugar proeminente, se elabora o conhecimento por meio do diálogo. Para que isto<br />
ocorra, há uma disposição prévia do grupo tecida por meio da opção <strong>de</strong>mocrática, crítica<br />
e voluntária <strong>de</strong> se organizarem neste contexto para uma aprendizagem par<strong>ce</strong>ira. Salientase<br />
aqui a relevância das ativida<strong>de</strong>s em grupo para Paulo Freire. Segundo ele, a verda<strong>de</strong>ira<br />
aprendizagem só ocorre na relação com o(a) outro(a), com o mundo. Afirmava ainda que,<br />
somente na par<strong>ce</strong>ria efetiva, se po<strong>de</strong> transformar as condições opressoras e exclu<strong>de</strong>ntes do<br />
mundo <strong>de</strong> hoje. Daí a importância da aprendizagem em grupos, em círculos <strong>de</strong> cultura.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
110 | PREFEITURA DE FORTALEZA 111 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Em continuida<strong>de</strong> à escolarização, propõe-se uma releitura da proposta<br />
freireana, adaptando-a a EJA 2 e 3. Nestas, po<strong>de</strong>-se implementar as<br />
ativida<strong>de</strong>s didático-pedagógicas, tendo como mo<strong>de</strong>lo a sequência:<br />
a) investigação dos temas geradores – inicia-se pelo levantamento<br />
das situações-limites 76 inerentes ao lugar <strong>de</strong> origem<br />
dos(as) educandos(as) e/ou do entorno da escola. Isto po<strong>de</strong><br />
ser realizado em visitas, conversas informais, observações e<br />
pesquisas em par<strong>ce</strong>ria, educandos(as) e educadores(as). Estes<br />
caracterizam os temas geradores mais vivenciados/<strong>de</strong>batidos<br />
pelos(as) educandos(as) e a comunida<strong>de</strong>, e carregam em si<br />
questões essenciais à comunida<strong>de</strong> escolar. Esses temas geradores<br />
servirão <strong>de</strong> base para a abordagem dos conteúdos<br />
nas diversas áreas do conhecimento, contextualizando-os e<br />
problematizando criticamente a realida<strong>de</strong>, potencializando<br />
opções e soluções. Nos círculos <strong>de</strong> cultura, vivencia-se o diálogo<br />
para (re)significá-los na realida<strong>de</strong> daquela turma e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />
a ligação com os conteúdos a serem trabalhados;<br />
b) a incorporação dos <strong>de</strong>safios das situações-limites –<br />
uma vez i<strong>de</strong>ntificado, cada tema gerador passa a ser estudado<br />
em sua problematização, contexto <strong>de</strong> origem, contextos <strong>de</strong><br />
interlocução, entendimento literal, entendimento simbólico,<br />
questões afins etc. Portanto, o tema gerador é tratado como<br />
intermediário para a aprendizagem <strong>de</strong> conhecimentos/conteúdos,<br />
por meio <strong>de</strong> um diálogo com a realida<strong>de</strong> do entorno;<br />
c) os novos <strong>de</strong>safios – ao dialogar a<strong>ce</strong>rca dos temas geradores,<br />
enseja-se o momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar os limites da situação,<br />
problematizando as questões e propondo opções que redun<strong>de</strong>m<br />
em atos-limites, meios superadores das dificulda<strong>de</strong>s<br />
i<strong>de</strong>ntificadas mediante um conjunto <strong>de</strong> informações, conhecimentos<br />
e saberes potencializados por meio da dialógica; e<br />
d) a conscientização – um ponto fundamental da proposta<br />
freireana é a dialogia a<strong>ce</strong>rca dos diversos temas surgidos.<br />
Reafirma-se que, para Paulo Freire, educar está além da codificação<br />
e <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> palavras e con<strong>ce</strong>itos. O principal<br />
76<br />
Situações-limites po<strong>de</strong>m ser entendidas como situações extremas, os obstáculos e<br />
barreiras que precisam ser vencidas ao longo das vidas pessoal e social. Diante <strong>de</strong>las,<br />
as pessoas têm várias atitu<strong>de</strong>s: per<strong>ce</strong>bem-nas como obstáculo intransponível ou que não<br />
querem transpor; ou ainda como algo que precisa ser superado. Ante as situações-limites,<br />
ao assumir uma posição crítica perante o mundo, em ações <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>nominadas por<br />
Freire <strong>de</strong> “atos-limites”, somos capazes <strong>de</strong> transpor a fronteira entre “o ser e o ser mais”,<br />
ampliando a liberda<strong>de</strong> dos oprimidos e <strong>de</strong>scobrindo o “inédito-viável”, o “sonho possível”.<br />
objetivo da proposta é possibilitar a conscientização/politização<br />
a<strong>ce</strong>rca das relações <strong>de</strong> opressão e <strong>de</strong> libertação que po<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong>correr da reflexão a<strong>ce</strong>rca da realida<strong>de</strong> local/global que<br />
po<strong>de</strong> fomentar uma ação transformadora da realida<strong>de</strong> social.<br />
A prática educativa freireana requer algumas compreensões que <strong>de</strong>vem<br />
ser <strong>de</strong>senvolvidas pelos agentes que nela atuam, <strong>de</strong>ntre as quais<br />
se <strong>de</strong>stacam a confiança na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e ensinar.<br />
Coerentemente com essa atitu<strong>de</strong>, é fundamental procurar conhe<strong>ce</strong>r<br />
os(as) educandos(as), suas expectativas, sua cultura, as características e<br />
problemas <strong>de</strong> seu entorno próximo, suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Os conhecimentos prévios são os fundamentos da constituição <strong>de</strong> outros<br />
significados e sentidos para o que se apren<strong>de</strong> e ensina. Para respon<strong>de</strong>r<br />
as especificida<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as), se faz ne<strong>ce</strong>ssário buscar<br />
conhe<strong>ce</strong>r os conteúdos apresentados, por estes, por meio <strong>de</strong> seus saberes<br />
cotidianos e que <strong>de</strong>verão ser trabalhados no ensino e na aprendizagem.<br />
Com clareza e segurança quanto aos objetivos e conteúdos educativos<br />
que integram um projeto pedagógico, que leva em consi<strong>de</strong>ração<br />
as várias realida<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as), sua expressão cultural, suas<br />
várias formas <strong>de</strong> conhe<strong>ce</strong>r e diversificados saberes, constituídos <strong>de</strong> suas<br />
práticas cotidianas <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>finir, para cada caso específico, as melhores<br />
estratégias e conteúdos a serem trabalhados com os(as) educandos(as)<br />
em seus pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem.<br />
4.7.4 Eixos temáticos<br />
Os eixos temáticos são gran<strong>de</strong>s temas, cuja abordagem perpassa todas<br />
as áreas do conhecimento. Com origem no eixo, o(a) educador(a)<br />
articula os conteúdos <strong>de</strong> modo a provocar a discussão, o <strong>de</strong>bate e a reflexão,<br />
visando ao aprofundamento na compreensão do(a) educando(a) em<br />
relação ao assunto abordado. Exibe-se como proposta <strong>de</strong> eixos temáticos<br />
a serem trabalhados em todos os segmentos da EJA:<br />
* i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, cultura, gênero e etnia;<br />
* organização social e relações sociais;<br />
* meio ambiente e cidadania;<br />
* trabalho, tecnologia, consumo e sustentabilida<strong>de</strong>;<br />
* saú<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida; e<br />
* cultura <strong>de</strong> paz.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
112 | PREFEITURA DE FORTALEZA 113 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
Desse modo, o eixo temático constitui meio para uma abordagem<br />
interdisciplinar, focada na transdisciplinarida<strong>de</strong>, uma vez que possibilita<br />
a contextualização por meio do diálogo entre os saberes dos(as)<br />
educando(as) e os conteúdos próprios dos saberes sistematizados.<br />
Finalizando, evoca-se que a educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) é<br />
uma modalida<strong>de</strong> que visa, neste momento histórico, ao atendimento <strong>de</strong><br />
jovens, adultos e idosos que, por diferentes motivos, tiveram impossibilitado<br />
noutro momento o a<strong>ce</strong>sso à educação escolarizada, e queiram se<br />
qualificar permanentemente, com base na condição <strong>de</strong> incompletu<strong>de</strong> do<br />
ser humano. E, com esta compreensão, traz-se como gran<strong>de</strong> princípio a<br />
educação dialógica e emancipatória que se dá ao longo <strong>de</strong> toda a vida.<br />
4. 8 Educação <strong>de</strong> tempo integral no sistema<br />
municipal <strong>de</strong> ensino: caminhos percorridos e<br />
perspectivas<br />
A educação integral com atendimento em tempo integral está presente<br />
na legislação brasileira. A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 configura<br />
o or<strong>de</strong>namento constitucional-legal que sustenta a educação em tempo<br />
integral na perspectiva da formação integral. A Carta Magna situa a educação<br />
como o primeiro dos <strong>de</strong>z direitos sociais (Art. 6°). A educação é,<br />
portanto, um direito propiciador dos <strong>de</strong>mais.<br />
Ao anunciar os direitos, a Constituição aponta a complementarida<strong>de</strong><br />
entre políticas, promovidas e in<strong>ce</strong>ntivadas com a colaboração da socieda<strong>de</strong>,<br />
que têm por objetivo forne<strong>ce</strong>r ao homem uma formação integral.<br />
Após a aprovação da Lei nº 9.394, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1996 (LDB),<br />
são retomadas as discussões sobre a ampliação da jornada escolar diária,<br />
com vistas à concretização do pro<strong>ce</strong>sso educativo na perspectiva da<br />
formação integral das crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens da escola pública.<br />
A LDB preconiza como referência, uma jornada <strong>de</strong>, no mínimo, quatro<br />
horas <strong>de</strong> trabalho efetivo em sala <strong>de</strong> aula, indicando a perspectiva <strong>de</strong><br />
ampliação do tempo escolar diário no ensino fundamental, como um<br />
i<strong>de</strong>al a ser perseguido pelos sistemas <strong>de</strong> ensino (Artigos 34 e 87). Ao fazer<br />
este indicativo, a LDB sinaliza para a discussão em torno da relação entre<br />
educação integral e tempo integral. A educação integral po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser<br />
realizada na jornada mínima, mas, sem dúvida, para os estudantes da escola<br />
pública, a ampliação da jornada escolar para, no mínimo, sete horas<br />
implica novas oportunida<strong>de</strong>s educativas e experiências enrique<strong>ce</strong>doras,<br />
antes distantes.<br />
O atendimento em tempo integral, ensejando orientação no cumprimento<br />
dos <strong>de</strong>veres escolares, prática <strong>de</strong> esportes, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s artísticas e alimentação a<strong>de</strong>quada, é um avanço significativo<br />
para diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e ampliar <strong>de</strong>mocraticamente as<br />
oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
A Lei nº 8.069, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1990, que institui o Estatuto da<br />
Criança e do Adoles<strong>ce</strong>nte, em seu Capítulo V, artigo 53, complementa a<br />
proposição <strong>de</strong> obrigatorieda<strong>de</strong> do a<strong>ce</strong>sso e da permanência na escola,<br />
reconhe<strong>ce</strong>ndo que o <strong>de</strong>senvolvimento integral da criança e do adoles<strong>ce</strong>nte<br />
requer uma forma específica <strong>de</strong> proteção e, por isso, propõe um<br />
sistema articulado e integrado <strong>de</strong> atenção a esse público, do qual a escola<br />
faz parte.<br />
O Plano Nacional <strong>de</strong> Educação (PNE – Lei nº 10.172/01) orienta o<br />
atendimento em tempo integral com práticas <strong>de</strong> esportes, ativida<strong>de</strong>s artísticas<br />
e alimentação a<strong>de</strong>quada como meio para diminuir as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
sociais e ampliar <strong>de</strong>mocraticamente as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
O PNE assegura, ainda, como meta para o ensino fundamental a<br />
ampliação, progressiva da jornada escolar, visando a expandir a escola<br />
<strong>de</strong> tempo integral, que abranja um período <strong>de</strong> pelo menos sete horas diárias,<br />
com previsão <strong>de</strong> professores e funcionários em número suficiente<br />
para atendimento aos estudantes.<br />
A Lei nº 11.494/2007, que instituiu o FUNDEB, ampliou as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> educação integral ao diferenciar os coeficientes<br />
<strong>de</strong> remuneração das matrículas, não apenas por modalida<strong>de</strong> e etapa da<br />
educação básica, mas também pela ampliação da jornada escolar associando<br />
maiores per<strong>ce</strong>ntuais <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> recursos, evi<strong>de</strong>nciando<br />
uma tentativa <strong>de</strong> garantir o real direito à educação em tempo integral.<br />
A garantia <strong>de</strong> recursos para o tempo integral, por meio do FUNDEB,<br />
constitui um marco histórico do ponto <strong>de</strong> vista legal e da sustentabilida<strong>de</strong><br />
orçamentária para a conquista do direito ao ensino fundamental em<br />
tempo integral.<br />
Ressalta-se, porém, o fato <strong>de</strong> que o incremento <strong>de</strong> recursos por meio<br />
do FUNDEB para a ampliação da jornada escolar, com foco na formação<br />
integral, ainda é insuficiente para realizar as ativida<strong>de</strong>s em sua extensão.<br />
É ne<strong>ce</strong>ssária a complementarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa política no âmbito municipal,<br />
uma vez que o direito à educação integral em tempo integral só se efetiva<br />
com sustentabilida<strong>de</strong> quando acompanhado por consistente provisão <strong>de</strong><br />
recursos públicos previstos em lei.<br />
O Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação (PDE – Decreto nº<br />
6.094/07) também indica como uma das suas diretrizes a ampliação das<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> permanência do educando sob responsabilida<strong>de</strong> da escola<br />
além da jornada escolar regular (Artigo 2º, inciso VII).<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
114 | PREFEITURA DE FORTALEZA 115 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
O Decreto Presi<strong>de</strong>ncial nº 7.083, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2010, que dispõe<br />
sobre a educação integral no âmbito do Programa Mais Educação,<br />
representa um importante passo na ampliação, para o mínimo <strong>de</strong> sete<br />
horas diárias, do tempo <strong>de</strong> permanência <strong>de</strong> crianças, adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens<br />
matriculados em escola pública, com o objetivo <strong>de</strong> contribuir para<br />
a melhoria da aprendizagem.<br />
O Programa Mais Educação se efetiva por intermédio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> acompanhamento pedagógico, experimentação e investigação científica,<br />
cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital, educação econômica,<br />
comunicação e uso <strong>de</strong> mídias, meio ambiente, direitos humanos,<br />
práticas <strong>de</strong> prevenção aos agravos à saú<strong>de</strong>, promoção da saú<strong>de</strong> e da<br />
alimentação saudável, entre outras – <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>ntro do espaço<br />
escolar, ou fora <strong>de</strong>le, utilizando-se dos equipamentos e estabelecimentos<br />
públicos (como <strong>ce</strong>ntros comunitários, bibliotecas públicas, praças,<br />
parques, museus e cinemas etc), com orientação pedagógica da escola,<br />
procurando articular as disciplinas/áreas do currículo com os diferentes<br />
conhecimentos e práticas socioculturais.<br />
De acordo com Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação<br />
Básica instituídas pela Resolução nº 4, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010,<br />
do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação (Art. 12), cabe aos sistemas educacionais,<br />
em geral, <strong>de</strong>finir o programa <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> tempo parcial diurno<br />
(matutino ou vespertino), parcial noturno, e integral (turno e contraturno<br />
ou turno único com jornada escolar <strong>de</strong> sete horas, no mínimo, durante<br />
todo o período letivo), haja vista a amplitu<strong>de</strong> do papel socioeducativo<br />
atribuído ao conjunto orgânico da educação básica, o que requer outra<br />
organização e gestão do trabalho pedagógico.<br />
A Resolução n° 07, <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010, que fixa Diretrizes<br />
Curriculares para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> nove anos, a serem observadas<br />
na organização curricular dos sistemas <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> suas unida<strong>de</strong>s<br />
escolares, reafirma o aumento progressivo da carga horária escolar como<br />
um i<strong>de</strong>al a ser buscado pelos sistemas <strong>de</strong> ensino.<br />
Art. 36 [...]<br />
Parágrafo único: As escolas e, solidariamente, os sistemas <strong>de</strong><br />
ensino, conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento<br />
da carga horária mínima diária e, consequentemente,<br />
da carga horária anual, com vistas à maior qualificação do<br />
pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, tendo como horizonte o<br />
atendimento escolar em período integral.<br />
Art. 37 - A proposta educacional da escola <strong>de</strong> tempo integral<br />
promoverá a ampliação <strong>de</strong> tempos, espaços e oportunida<strong>de</strong>s<br />
educativas e o compartilhamento da tarefa <strong>de</strong> educar e cuidar<br />
entre os profissionais da escola e <strong>de</strong> outras áreas, as famílias<br />
e outros atores sociais, sob a coor<strong>de</strong>nação da escola e <strong>de</strong><br />
seus professores, visando alcançar a melhoria da qualida<strong>de</strong><br />
da aprendizagem e da convivência social e diminuir as diferenças<br />
<strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao conhecimento e aos bens culturais, em<br />
especial entre as populações socialmente mais vulneráveis.<br />
4.8.1 Caminhos percorridos<br />
Experiências <strong>de</strong> ampliação do tempo <strong>de</strong> permanência diária das crianças<br />
na escola estão registradas na história <strong>de</strong> algumas unida<strong>de</strong>s escolares<br />
do Sistema Público <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza. Estas experiências<br />
aconte<strong>ce</strong>ram <strong>de</strong> forma espontânea, por iniciativa da própria comunida<strong>de</strong><br />
escolar e, em geral, tinham foco na alfabetização.<br />
Destaca-se a experiência da EMEIF João Germano da Ponte Neto,<br />
com o projeto <strong>de</strong>nominado “Aquarelinha Integral”, que tinha como objetivo<br />
ampliar o tempo <strong>de</strong> permanência das crianças <strong>de</strong> 1º e 2º anos do<br />
ensino fundamental, <strong>de</strong> 4h para 8h, por meio <strong>de</strong> um “Bloco Vivencial<br />
Alfabetizador”. As vivências, além <strong>de</strong> favore<strong>ce</strong>r o a<strong>ce</strong>sso a um rico universo<br />
linguístico, <strong>de</strong>veriam também propiciar à criança oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
operar concretamente sobre a língua, <strong>de</strong> maneira produtiva e funcional.<br />
Para o <strong>de</strong>senvolvimento da proposta pedagógica do Projeto Aquarelinha<br />
Integral, foram criados vários ambientes, possibilitando a interação<br />
da criança com símbolos, <strong>de</strong>senhos, pinturas, sinais gráficos e jogos,<br />
mantendo um contato permanente com a palavra escrita e falada. Os<br />
conteúdos básicos para essa fase do ensino eram trabalhados <strong>de</strong> forma<br />
lúdica por meio <strong>de</strong> vivências corporais, artísticas, ecológicas, <strong>de</strong> socialização,<br />
da escrita, dos números, dos sons e da fantasia.<br />
Em 2008, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação fez a<strong>de</strong>são com a participação<br />
<strong>de</strong> 100 (<strong>ce</strong>m) escolas, ao Programa Mais Educação do Governo<br />
Fe<strong>de</strong>ral, que tem por finalida<strong>de</strong> contribuir para a melhoria da aprendizagem<br />
por meio da ampliação do tempo <strong>de</strong> permanência <strong>de</strong> crianças,<br />
adoles<strong>ce</strong>ntes e jovens matriculados em escola pública, mediante oferta<br />
<strong>de</strong> educação básica em tempo integral. O Mais Educação possibilitou<br />
a ampliação do tempo educativo <strong>de</strong> quatro para sete horas diárias, ampliando<br />
ainda, as oportunida<strong>de</strong>s educativas mediante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s selecionadas a critério da comunida<strong>de</strong> escolar em consonância<br />
com a proposta pedagógica da escola, referenciadas nas ativida<strong>de</strong>s<br />
propostas pelo Ministério da Educação, que integram os seguintes<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
116 | PREFEITURA DE FORTALEZA 117 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
macrocampos: acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e<br />
lazer, direitos humanos e educação, cultura e artes, cultura digital, promoção<br />
da saú<strong>de</strong>, comunicação e uso <strong>de</strong> mídias.<br />
A a<strong>de</strong>são das escolas ao Programa Mais Educação foi se ampliando gradativamente.<br />
Em 2011, 194 escolas municipais participam do programa e<br />
realizam o atendimento em jornada ampliada para um grupo <strong>de</strong> estudantes<br />
que varia entre 100(<strong>ce</strong>m) e 400(quatro<strong>ce</strong>ntos) em cada unida<strong>de</strong> escolar.<br />
A experiência do Programa Mais Educação favore<strong>ce</strong>u uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
cidadã, a i<strong>de</strong>ntificação do aluno com a própria comunida<strong>de</strong> e com a cida<strong>de</strong>.<br />
Possibilitou, ainda, mudanças qualitativas em diversos aspectos do<br />
cotidiano escolar, <strong>de</strong>ntre as quais se <strong>de</strong>stacam: a recuperação da alegria<br />
do aluno em estar na escola; o aumento da frequência e participação<br />
nas ativida<strong>de</strong>s educativas; a melhoria da aprendizagem e <strong>de</strong>sempenho<br />
acadêmico; a elevação da autoestima dos alunos e <strong>de</strong> suas famílias; a<br />
ampliação da visão dos professores sobre as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s formativas dos<br />
alunos na perspectiva da formação integral; a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> outros<br />
espaços <strong>de</strong> aprendizagem além da escola; e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas<br />
rotinas <strong>de</strong> participação das famílias na escola.<br />
4.8.2 O currículo na educação <strong>de</strong> tempo integral –<br />
novos caminhos<br />
Conscientes das limitações impostas pelo tempo escolar na dinâmica<br />
diária atual, em adição às novas <strong>de</strong>mandas sociais advindas do avanço<br />
científico-tecnológico no séc. XXI, consi<strong>de</strong>rando, ainda, a realida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social em que se encontra significativa par<strong>ce</strong>la da<br />
população <strong>de</strong> Fortaleza, a <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação – SME <strong>de</strong>senvolve<br />
ao longo dos últimos anos ações para minimizar os problemas<br />
estruturais históricos, empreen<strong>de</strong> esforços para superar as dificulda<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> rendimento escolar e ofertar à população um serviço educacional <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> social, capaz <strong>de</strong> provocar mudanças e operar transformações<br />
significativas na vida das pessoas.<br />
Visando permanentemente à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, nestas<br />
diretrizes, propõe-se a implementação progressiva <strong>de</strong> educação em regime<br />
<strong>de</strong> tempo integral com a ampliação do tempo educativo diário para<br />
no mínimo sete horas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, sob a responsabilida<strong>de</strong> da escola.<br />
A ampliação da jornada escolar ofere<strong>ce</strong>rá possibilida<strong>de</strong>s para que os estudantes<br />
<strong>de</strong>senvolvam saberes, habilida<strong>de</strong>s e competências por meio <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem estar previstas no projeto político-pedagógico da<br />
escola. Para a concretização do projeto educativo <strong>de</strong> educação integral<br />
em tempo integral, o currículo escolar <strong>de</strong>verá dialogar com a cultura local,<br />
consi<strong>de</strong>rando o con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> educadora, partindo do princípio <strong>de</strong><br />
que as experiências educacionais que colaboram para a formação integral<br />
dos estudantes se <strong>de</strong>senvolvem <strong>de</strong>ntro e fora do espaço escolar e que outros<br />
profissionais, além dos professores incubir-se-ão da tarefa <strong>de</strong> educar.<br />
Con<strong>ce</strong>ber um currículo numa perspectiva <strong>de</strong> educação integral em<br />
tempo integral implica, como já manifestado, no reconhecimento da<br />
existência <strong>de</strong> vários saberes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os legitimados pela socieda<strong>de</strong> através<br />
das instituições <strong>de</strong> cunho acadêmico, no qual a escola se insere tradicionalmente,<br />
como também os saberes populares, cuja origem ocorre na<br />
própria comunida<strong>de</strong>.<br />
Em meio à interação <strong>de</strong>stes saberes, aconte<strong>ce</strong> a formação dos estudantes,<br />
que apren<strong>de</strong>ndo os rituais característicos <strong>de</strong>stes campos <strong>de</strong><br />
conhecimento, formam e são formados pela cultura. Para Vieira Pinto<br />
(1979) 77 , “(...) o ser humano é um filhote da cultura do seu tempo que<br />
se faz e refaz por um longo pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> hominização”. O ser humano,<br />
diferentemente dos outros seres, não tem seu ser garantido ao nas<strong>ce</strong>r. Ele<br />
é inconcluso e tem consciência disto (FREIRE, 1979) 78 . Oliveira (2006) 79<br />
ajuda a enten<strong>de</strong>r que o ser humano é sempre e continuamente interpelado/convocado<br />
a ser. Por sua inconclusão, é um eterno advento. Conquistar<br />
sua humanida<strong>de</strong> é uma tarefa que se realiza na história no contato/<br />
comunhão com os outros.<br />
O reconhecimento efetivo da dinâmica constitutiva do humano e da<br />
importância do diálogo entre os saberes diversos é condição essencial<br />
para pensar a formação humana numa perspectiva integral.<br />
Uma proposta curricular que avança nesta compreensão <strong>de</strong> sujeito<br />
em interação dialética e histórica com os seus, com a natureza, numa<br />
comunida<strong>de</strong> que se incorpora numa socieda<strong>de</strong> que se quer cada vez<br />
mais humana, justa e solidária, exige um mo<strong>de</strong>lo curricular também dinâmico,<br />
aberto às múltiplas contribuições e que consi<strong>de</strong>re o estudante<br />
na sua multidimensionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeito.<br />
São apresentados, a seguir, os eixos estruturantes para a formação<br />
integral em tempo integral com sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>verão ser<br />
acres<strong>ce</strong>ntadas à base comum do currículo para o Ensino Fundamental:<br />
A organização curricular aqui <strong>de</strong>fendida se efetiva na articulação<br />
77<br />
VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e Existência: problemas filosóficos da pesquisa<br />
científica. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1979.<br />
78<br />
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberda<strong>de</strong>. 17. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e<br />
Terra, 1979.<br />
79<br />
OLIVEIRA, Roberto Cardoso <strong>de</strong>. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília: Paralelo<br />
15; São Paulo: UNESP, 2006.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
118 | PREFEITURA DE FORTALEZA 119 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
EIXOS EXTRUTURANTES<br />
Letramento<br />
Acompanhamento<br />
pedagógico<br />
Educação ambiental<br />
Esporte e lazer<br />
Direitos humanos em<br />
Educação<br />
ATIVIDADES<br />
Leitura e produção <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> gêneros diferentes<br />
Nas diferentes áreas do conhecimento, <strong>de</strong> acordo com<br />
as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s da escola<br />
Com-Vida / Agenda 21 na escola – Educação para a<br />
sustentabilida<strong>de</strong><br />
Horta escolar e/ou comunitária<br />
Recreação/Lazer<br />
Voleibol<br />
Basquetebol<br />
Basquete <strong>de</strong> rua<br />
Futebol<br />
Futsal<br />
Han<strong>de</strong>bol<br />
Tênis <strong>de</strong> mesa<br />
Judô<br />
Karatê<br />
Taekwondo<br />
Xadrez tradicional<br />
Xadrez virtual<br />
Ginástica rítmica<br />
Direitos Humanos e ambiente escolar<br />
Jornal escolar<br />
Rádio escolar<br />
Comunicação e uso <strong>de</strong> mídias Histórias em quadrinhos<br />
Fotografia<br />
Ví<strong>de</strong>o<br />
Investigação no campo das Laboratórios, feiras e projetos científicos<br />
ciências<br />
Fonte: Resolução nº 20/2011-FNDE.<br />
VOLUME 1<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
Cultura e artes<br />
Leitura<br />
Banda fanfarra<br />
Canto coral<br />
Hip-hop<br />
Danças<br />
Teatro<br />
Pintura<br />
Grafite<br />
Desenho<br />
Percussão<br />
Capoeira<br />
Flauta do<strong>ce</strong><br />
Cineclube<br />
Práticas cir<strong>ce</strong>nses<br />
Cultura digital<br />
Software educacional/Linux educacional<br />
Informática e tecnologia da informação (Proinfo e/ou<br />
laboratório <strong>de</strong> informática)<br />
Ambiente <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais<br />
Promoção da saú<strong>de</strong><br />
Promoção da Saú<strong>de</strong> e prevenção <strong>de</strong> doenças e agravos<br />
120 | PREFEITURA DE FORTALEZA 121 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
com as diversas áreas do conhecimento, saberes acadêmicos, saberes<br />
cotidianos e populares. Para o atendimento em tempo integral, a proposição<br />
é que cada escola elabore coletivamente o plano <strong>de</strong> atendimento<br />
em consonância com o seu projeto político-pedagógico – PPP, prevendo<br />
o quantitativo <strong>de</strong> estudantes que serão atendidos, a partir <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong><br />
– interna e externa, mediante a organização <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e seleção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse dos estudantes. Este atendimento<br />
<strong>de</strong>verá ser ampliado progressivamente até a sua universalização.<br />
4.9 A avaliação, suas múltiplas funções e interrelações<br />
com o ato educativo<br />
No campo educacional brasileiro, a avaliação é objeto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
discussões e entendimentos diversos pelos agentes envolvidos nos pro<strong>ce</strong>ssos<br />
avaliativos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as instâncias institucionais fe<strong>de</strong>ral, estaduais,<br />
e municipais que a regulamentam até a comunida<strong>de</strong> escolar que<br />
a interpreta e vivencia.<br />
Avaliar é uma conquista humana que se esten<strong>de</strong> do campo científico<br />
às práticas cotidianas. Além <strong>de</strong> um pro<strong>ce</strong>dimento técnico, a avaliação<br />
inclui questões subja<strong>ce</strong>ntes ao seu fazer, tais como: as crenças, posições<br />
i<strong>de</strong>ológicas, culturais, sociais e políticas que <strong>de</strong>terminam as escolhas,<br />
opções e critérios para sua realização.<br />
Neste âmbito, avaliar implica um pro<strong>ce</strong>sso complexo <strong>de</strong> relações e<br />
inter-relações que consi<strong>de</strong>ra significativamente a parte e o todo numa<br />
relação dialógica entre as teorias e as práticas.<br />
Dessa forma, algumas questões se expressam como norteadoras para<br />
a compreensão e a <strong>de</strong>finição do contexto on<strong>de</strong> se pro<strong>ce</strong>ssa a avaliação,<br />
dando- lhe, assim, significados e finalida<strong>de</strong>s, quais sejam: Quem avalia;<br />
Por que avalia; Para que avalia; Quais aspectos da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem<br />
ser avaliados; Em que critérios a avaliação está embasada; Quais instrumentos<br />
<strong>de</strong>vem ser utilizados; Quais os tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões tomadas a<br />
partir dos resultados da avaliação<br />
O ato <strong>de</strong> avaliar tem um significado muito profundo, à medida que<br />
enseja a todos os envolvidos no pro<strong>ce</strong>sso educativo momentos <strong>de</strong> reflexão<br />
sobre a própria prática e as aprendizagens realizadas. Faz-se ne<strong>ce</strong>ssário,<br />
então, redimensionar a prática <strong>de</strong> avaliação no contexto escolar.<br />
Então, não só o estudante, mas também o(a) professor(a) e todos os envolvidos<br />
na prática pedagógica po<strong>de</strong>m, por meio <strong>de</strong>la, refletir sobre a<br />
própria evolução na conquista do conhecimento.<br />
Pensar e fazer o ato avaliativo numa dimensão ampla que envolva as<br />
condições sociais, humanas e ambientais requer dos educadores, família,<br />
comunida<strong>de</strong> e socieda<strong>de</strong> uma postura reflexiva, interativa e dialógica,<br />
consi<strong>de</strong>rando o espaço e tempo do cotidiano escolar.<br />
Buscando uma nova configuração para a avaliação da aprendizagem<br />
no âmbito escolar, exige-se por parte dos envolvidos a tomada <strong>de</strong> consciência<br />
sobre a distinção entre os atos <strong>de</strong> examinar a aprendizagem e<br />
pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> avaliação.<br />
Luckesi (2005) 80 aponta que ainda é muito enfático nas ações cotidianas<br />
da escola o ato <strong>de</strong> examinar, com foco no <strong>de</strong>sempenho final e<br />
na classificação do estudante em uma escala, acarretando, consequentemente,<br />
a exclusão temporária e/ou <strong>de</strong>finitiva dos que não alcançam o<br />
resultado esperado.<br />
Enten<strong>de</strong>ndo a avaliação num enfoque pro<strong>ce</strong>ssual e como ferramenta<br />
básica que integra o currículo escolar, esta assume aspectos que, ne<strong>ce</strong>ssariamente<br />
compreendidos, terá como motivação <strong>de</strong> forma predominante<br />
um resultado que têm objetivos e metas a serem alcançadas su<strong>ce</strong>ssivamente.<br />
Sendo assim, diferentemente da realização apenas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
avaliativas (provas orais e escritas, exames, testes, <strong>de</strong>ntre outros) o pro<strong>ce</strong>sso<br />
<strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>ve assumir <strong>de</strong> forma indissociável o caráter diagnóstico,<br />
formativo e somativo, que a caracteriza.<br />
O caráter diagnóstico da avaliação vai qualificar o contexto, características<br />
e nível on<strong>de</strong> se encontra o estudante em qualquer momento do<br />
seu percurso, a fim <strong>de</strong> subsidiar algumas sequências <strong>de</strong> trabalho e estratégias<br />
<strong>de</strong> ação bem mais adaptadas às suas ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s, prerrequisitos<br />
e interesses. Os resultados obtidos dos diagnósticos nortearão todo o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do ensino, nas diversas áreas, componentes da proposta<br />
pedagógica da escola.<br />
A avaliação formativa apresenta-se como orientadora e reorientadora<br />
do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> elaboração do conhecimento, exigindo dos professores<br />
e estudantes a criação <strong>de</strong> uma relação dialógica entre o ensinar e o<br />
apren<strong>de</strong>r, pois sinalizará para ambos o nível <strong>de</strong> aprendizagem atual e as<br />
perspectivas <strong>de</strong> avanço. Tem, portanto, como foco o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e a construção da autonomia por parte do estudante. Nesse sentido,<br />
é preciso que o estudante seja informado dos conteúdos que <strong>de</strong>verá<br />
apren<strong>de</strong>r e dos objetivos que precisará alcançar, assim como os critérios<br />
que serão adotados para verificar e analisar seus avanços <strong>de</strong> aprendizagem.<br />
Professores e estudantes enten<strong>de</strong>m, assim, que a avaliação é essencial<br />
para dar continuida<strong>de</strong> aos percursos do ensino e da aprendizagem. As<br />
80<br />
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e<br />
proposições. São Paulo: Cortez, 2005.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
122 | PREFEITURA DE FORTALEZA 123 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
notas obtidas como resultados das verificações da aprendizagem apenas<br />
sinalizarão a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um pro<strong>ce</strong>sso e não serão vistas como fim último.<br />
Evi<strong>de</strong>ncia-se, pois, na avaliação formativa, a importância das relações<br />
dialógicas, a autoavaliação e a recuperação, quando ne<strong>ce</strong>ssária, como<br />
práticas que <strong>de</strong>vem subsidiar, cotidianamente, as ações avaliativas e <strong>de</strong><br />
(re)planejamento.<br />
As relações dialógicas visam à discussão, compreensão e aprofundamento<br />
<strong>de</strong> questões pedagógicas experienciadas por todos os segmentos<br />
da escola que, a partir <strong>de</strong>las, tomam consciência do contexto e, corresponsavelmente<br />
traçam novas estratégias <strong>de</strong> trabalho e metas a serem<br />
alcançadas. No caso <strong>de</strong> professores e estudantes, estes também avaliam<br />
constantemente suas práticas <strong>de</strong> ensino e aprendizagem na busca <strong>de</strong><br />
avanços e/ou superação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s. Para tanto, <strong>de</strong>ntre as estratégias<br />
utilizadas, salienta-se a recuperação paralela, compreen<strong>de</strong>ndo esta<br />
como imediata à ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> apresentada.<br />
Reconhe<strong>ce</strong>ndo o valor da autoavaliação, individual e/ou grupal para<br />
a construção da autonomia dos sujeitos, sua emancipação em relação<br />
à produção do seu conhecimento e do compromisso que se estabele<strong>ce</strong><br />
diante dos objetivos a serem alcançados, tal prática <strong>de</strong>ve ser inserida e<br />
vivenciada significativamente no contexto escolar.<br />
O aspecto formativo pelo sentido, pelas características e princípios<br />
subja<strong>ce</strong>ntes a sua prática <strong>de</strong>staca-se na avaliação da aprendizagem escolar<br />
como elemento imprescindível a uma pedagogia diferenciada, on<strong>de</strong><br />
os pro<strong>ce</strong>ssos individuais e coletivos são sempre consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
seus métodos e ritmos particulares, proporcionando a verda<strong>de</strong>ira inclusão,<br />
sempre evi<strong>de</strong>nciando os pro<strong>ce</strong>ssos e não o produto.<br />
A avaliação somativa expressa o resultado da aprendizagem do estudante<br />
em momento específico, que po<strong>de</strong> ser compreendido ao final <strong>de</strong><br />
um ciclo, bimestre, semestre, etapa, ano escolar etc. O caráter somativo<br />
da avaliação tem como propósito forne<strong>ce</strong>r as informações ne<strong>ce</strong>ssárias<br />
aos registros do <strong>de</strong>sempenho do estudante ao longo <strong>de</strong> sua vida escolar,<br />
e, além <strong>de</strong> somente classificá-los, assume a função <strong>de</strong> ser um importante<br />
registro para i<strong>de</strong>ntificação do <strong>de</strong>sempenho escolar, consi<strong>de</strong>rando os tempos<br />
da organização curricular. Possui caráter e objetivos diferenciados da<br />
avaliação diagnóstica e formativa, no entanto, estabele<strong>ce</strong> uma relação<br />
dialógica entre ambas, subsidiando a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a trajetória<br />
escolar do estudante. Essa informação po<strong>de</strong>rá ser expressa <strong>de</strong> várias formas<br />
– notas, con<strong>ce</strong>itos, relatórios, portfólios, pontos – <strong>de</strong>ntre outros.<br />
No sistema público municipal, no que diz respeito ao ensino fundamental,<br />
compreen<strong>de</strong>-se que essa avaliação, que ocorre precipuamente<br />
nos espaços educativos tem como enfoque tanto o aspecto formativo<br />
pro<strong>ce</strong>ssual quanto o somativo dos resultados apresentados como registro<br />
do <strong>de</strong>sempenho dos estudantes e mediado pelos professores.<br />
A avaliação discutida neste documento <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada nos seus<br />
aspectos con<strong>ce</strong>ituais referidos anteriormente, nos marcos legais tratados<br />
a seguir, bem como nos aspectos pro<strong>ce</strong>dimentais que estão no título -<br />
Avaliação do pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem para o ensino fundamental<br />
- que serão objeto <strong>de</strong> resolução do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação.<br />
Em referência aos marcos legais, na legislação vigente, em âmbito nacional<br />
e municipal, apontam-se alguns aspectos relevantes no que con<strong>ce</strong>rne<br />
à avaliação que fundamentam esta proposta, indicados a seguir.<br />
Em relação às dimensões da avaliação, o Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação,<br />
pela Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010, que <strong>de</strong>fine as<br />
Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, em seu art. 47, parágrafo<br />
2º, trata a avaliação da aprendizagem como<br />
(...) o conjunto <strong>de</strong> conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s, atitu<strong>de</strong>s, valores<br />
e emoções que os sujeitos do pro<strong>ce</strong>sso educativo projetam<br />
para si <strong>de</strong> modo integrado e articulado com aqueles princípios<br />
<strong>de</strong>finidos para a Educação Básica, redimensionados para cada<br />
uma <strong>de</strong> suas etapas, bem assim no projeto político pedagógico<br />
da escola. [...]<br />
Art. 52. A avaliação institucional interna <strong>de</strong>ve ser prevista<br />
no projeto político-pedagógico e <strong>de</strong>talhada no plano <strong>de</strong> gestão,<br />
realizada anualmente, levando em consi<strong>de</strong>ração as orientações<br />
contidas na regulamentação legal vigente, para rever<br />
o conjunto <strong>de</strong> objetivos e metas a serem concretizados, mediante<br />
ação dos diversos segmentos da socieda<strong>de</strong> educativa, o<br />
que pressupõe <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> indicadores compatíveis com a<br />
missão da escola, além <strong>de</strong> clareza quanto ao que seja qualida<strong>de</strong><br />
social da aprendizagem e da escola. (imprimiu-se <strong>de</strong>staque)<br />
Institucionalmente, é importante cada sistema <strong>de</strong> ensino acompanhar<br />
e registrar o seu <strong>de</strong>sempenho amplo mediante programas avaliativos que<br />
contemplem os objetivos, metas, ações e ativida<strong>de</strong>s previamente estabelecidos<br />
com alcan<strong>ce</strong> <strong>de</strong> longo, médio e curto prazo.<br />
Como propostas <strong>de</strong> avaliação institucional, citam-se: avaliação dos<br />
programas <strong>de</strong> formação profissional (continuada, em serviço, aperfeiçoamento,<br />
à distância etc.), avaliação <strong>de</strong> cargos e carreira, avaliação da<br />
<strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> e dos Distritos <strong>de</strong> Educação, avaliação da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
escolas, da gestão escolar, e ainda a <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos estudantes ma-<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
124 | PREFEITURA DE FORTALEZA 125 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
triculados na re<strong>de</strong> pública municipal <strong>de</strong> ensino, quando o foco for avaliar<br />
o sistema educacional.<br />
A avaliação institucional externa visa a avaliar os sistemas educacionais,<br />
os sistemas <strong>de</strong> ensino, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escola, a formação dos<br />
profissionais em educação, a participação da comunida<strong>de</strong> escolar e da<br />
família nos organismos colegiados, tudo isso objetivando a melhoria da<br />
qualida<strong>de</strong> da educação e da aprendizagem dos estudantes. Os pro<strong>ce</strong>dimentos<br />
<strong>de</strong> avaliação adotados pelos professores e pela escola serão<br />
articulados às avaliações realizadas em nível nacional e às congêneres<br />
nos diferentes estados e municípios (Art. 33, da Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13<br />
<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2010).<br />
O Plano <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação, no que se refere à avaliação da<br />
aprendizagem, <strong>de</strong>ntro dos seus objetivos e metas/ações, estabele<strong>ce</strong>: assegurar<br />
a elevação progressiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho em todo o sistema <strong>de</strong><br />
ensino por meio <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> monitoramento e correção dos indicadores<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho pela Provinha Brasil, do SAEB, do SPAECE e do<br />
sistema <strong>de</strong> avaliação municipal que venha a ser <strong>de</strong>senvolvido.<br />
A avaliação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Educação Básica ocorre periodicamente,<br />
é realizada por órgãos externos à escola e engloba<br />
os resultados da avaliação institucional, sendo que os<br />
resultados <strong>de</strong>ssa avaliação sinalizam para a socieda<strong>de</strong> se a<br />
escola apresenta qualida<strong>de</strong> suficiente para continuar funcionando<br />
como está. (Art. 53, Resolução nº 04, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 2010). (imprimiu-se <strong>de</strong>staque).<br />
No ensino fundamental, o índi<strong>ce</strong> <strong>de</strong> Desenvolvimento da Educação<br />
Básica (IDEB) é indicador <strong>de</strong> bom <strong>de</strong>sempenho, bem como melhorias e<br />
<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> políticas públicas para a superação <strong>de</strong> baixos índi<strong>ce</strong>s apresentados<br />
pelas escolas.<br />
Em relação à avaliação no contexto escolar, evi<strong>de</strong>ncia-se a Resolução<br />
nº 07/2010 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Educação – CNE/CEB, que fixa Diretrizes<br />
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental <strong>de</strong> nove anos<br />
e <strong>de</strong>fine em seus artigos 32, 34, e os incisos I e II do artigo 35, como a<br />
avaliação <strong>de</strong>ve ocorrer na escola.<br />
Art. 32 A avaliação dos estudantes, a ser realizada pelos professores<br />
e pela escola como parte integrante da proposta curricular<br />
e da implementação do currículo, é redimensionadora<br />
da ação pedagógica e <strong>de</strong>ve:<br />
I – assumir um caráter pro<strong>ce</strong>ssual, formativo e participativo,<br />
ser contínua, cumulativa e diagnóstica, com vistas a:<br />
a) i<strong>de</strong>ntificar potencialida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e <strong>de</strong>tectar problemas <strong>de</strong> ensino;<br />
b) subsidiar <strong>de</strong>cisões sobre a utilização <strong>de</strong> estratégias e abordagens<br />
<strong>de</strong> acordo com as ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s dos estudantes, criar condições <strong>de</strong><br />
intervir <strong>de</strong> modo imediato e a mais longo prazo para sanar dificulda<strong>de</strong>s<br />
e redirecionar o trabalho do<strong>ce</strong>nte;<br />
c) manter a família informada sobre o <strong>de</strong>sempenho dos estudantes;<br />
d) reconhe<strong>ce</strong>r o direito do estudante e da família <strong>de</strong> discutir<br />
os resultados <strong>de</strong> avaliação, inclusive em instâncias superiores<br />
à escola, revendo pro<strong>ce</strong>dimentos sempre que as reivindicações<br />
forem pro<strong>ce</strong><strong>de</strong>ntes.<br />
II – utilizar vários instrumentos e pro<strong>ce</strong>dimentos, tais como a<br />
observação, o registro <strong>de</strong>scritivo e reflexivo, os trabalhos individuais<br />
e coletivos, os portfólios, exercícios, provas, questionários,<br />
<strong>de</strong>ntre outros, tendo em conta a sua a<strong>de</strong>quação à faixa<br />
etária e às características <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do educando;<br />
III – fazer prevale<strong>ce</strong>r os aspectos qualitativos da aprendizagem<br />
do estudante sobre os quantitativos, bem como os resultados<br />
ao longo do período sobre os <strong>de</strong> eventuais provas<br />
finais, tal com <strong>de</strong>termina a alínea “a” do inciso V do art. 24<br />
da Lei nº 9.394/96;<br />
IV – assegurar tempos e espaços diversos para que os estudantes<br />
com menor rendimento tenham condições <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vidamente<br />
atendidos ao longo do ano letivo;<br />
V – prover, obrigatoriamente, períodos <strong>de</strong> recuperação, <strong>de</strong><br />
preferência paralelos ao período letivo, como <strong>de</strong>termina a Lei<br />
nº 9.394/96;<br />
VI – assegurar tempos e espaços <strong>de</strong> reposição dos conteúdos<br />
curriculares, ao longo do ano letivo, aos estudantes com frequência<br />
insuficiente, evitando, sempre que possível, a retenção<br />
por faltas;<br />
VII – possibilitar a a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos para os estudantes<br />
com <strong>de</strong>fasagem ida<strong>de</strong>-série. [...]<br />
Art. 34 Os sistemas, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e os projetos político-<br />
-pedagógicos das escolas <strong>de</strong>vem expressar com clareza o que<br />
é esperado dos estudantes em relação à sua aprendizagem.<br />
Art. 35 (...)<br />
Parágrafo único. A melhoria dos resultados <strong>de</strong> aprendizagem<br />
dos estudantes e da qualida<strong>de</strong> da educação obriga:<br />
I – os sistemas <strong>de</strong> ensino a incrementarem os dispositivos da<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
126 | PREFEITURA DE FORTALEZA 127 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
carreira e <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> exercício e valorização do magistério<br />
e dos <strong>de</strong>mais profissionais da educação e a ofere<strong>ce</strong>rem<br />
os recursos e apoios que <strong>de</strong>mandam as escolas e seus profissionais<br />
para melhorar a sua atuação;<br />
II – as escolas a uma apreciação mais ampla das oportunida<strong>de</strong>s<br />
educativas por elas oferecidas aos educandos, reforçando<br />
a sua responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propiciar renovadas oportunida<strong>de</strong>s<br />
e in<strong>ce</strong>ntivos aos que <strong>de</strong>las mais ne<strong>ce</strong>ssitem.<br />
Em conformida<strong>de</strong> com a Resolução nº 7/2010 citada, os indicativos contidos<br />
em seu âmbito prevale<strong>ce</strong>m na compreensão do pro<strong>ce</strong>sso avaliativo<br />
estabelecido pelo Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza e, cabe a<br />
este, ainda, estabele<strong>ce</strong>r suas diretrizes e normas para a organização e funcionamento<br />
da avaliação da aprendizagem no âmbito da sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas.<br />
Na Resolução nº 001/2009, do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />
Fortaleza, que trata do ensino fundamental, em seu artigo 5º, está explícito<br />
que o objetivo da formação básica do cidadão é o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, com o pleno domínio da leitura, da escrita<br />
e do cálculo; a compreensão do ambiente natural e social, do sistema<br />
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta<br />
a socieda<strong>de</strong>; o <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem, a<br />
aquisição <strong>de</strong> conhecimentos e habilida<strong>de</strong>s e a formação <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e<br />
valores; fortalecimento dos vínculos da família, os laços <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
humana e <strong>de</strong> tolerância recíproca na vida social. É preciso consi<strong>de</strong>rar, no<br />
entanto, o <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r como primordial<br />
para a formação <strong>de</strong>sse cidadão, pois o ato <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> que vive em constante mudança torna-se imperativo. Os estudantes<br />
gostam <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, sendo assim, a ênfase não <strong>de</strong>ve ser dada ao<br />
ensino, mas à aprendizagem.<br />
O capítulo III da referida Resolução, no que trata do pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação,<br />
<strong>de</strong>ixa claro que esta é um “instrumento da aprendizagem”, e que realimenta<br />
todo o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> planejamento do ensino, “(...) tendo, pois a função <strong>de</strong> diagnosticar,<br />
acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento do estudante.”<br />
Essa perspectiva <strong>de</strong> avaliação só se reconhe<strong>ce</strong> como parte imprescindível<br />
do currículo escolar se ela estiver contida no seu sentido amplo nas<br />
diretrizes curriculares ou, no seu sentido específico, no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação<br />
que se realiza no seio da escola pautado na sua proposta pedagógica.<br />
No âmbito da escola pública municipal <strong>de</strong> Fortaleza, faz-se ne<strong>ce</strong>ssário<br />
<strong>de</strong>terminar pro<strong>ce</strong>dimentos que favoreçam a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do pro<strong>ce</strong>sso<br />
avaliativo que aconte<strong>ce</strong> <strong>de</strong> forma diversa, quando se consi<strong>de</strong>ra as<br />
especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada segmento do ensino fundamental.<br />
4.9.1 Avaliação do ensino e da aprendizagem para<br />
o ensino fundamental<br />
Tomando como base o sentido e o propósito da avaliação ora evi<strong>de</strong>nciados,<br />
este documento apresenta-se abrangendo três aspectos básicos:<br />
finalida<strong>de</strong>s, princípios e pro<strong>ce</strong>dimentos metodológicos operacionais.<br />
As finalida<strong>de</strong>s e princípios dizem respeito à fundamentação teórica<br />
subja<strong>ce</strong>nte à práxis da avaliação. Os pro<strong>ce</strong>dimentos metodológicos operacionais<br />
referem-se ao “fazer” e à sua organização nas unida<strong>de</strong>s escolares.<br />
a) Finalida<strong>de</strong>s<br />
* A avaliação é um instrumento a serviço da aprendizagem, realimentando<br />
todo o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> planejamento do ensino, tendo, pois, a<br />
função formativa (diagnóstica e pro<strong>ce</strong>ssual), participativa e somativa, a<br />
fim <strong>de</strong> acompanhar e possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento das potencialida<strong>de</strong>s<br />
do estudante;<br />
* a avaliação servirá como referência à análise das propostas pedagógicas,<br />
realizando-se como acompanhamento contínuo e sistemático dos<br />
objetivos <strong>de</strong>finidos em cada segmento <strong>de</strong> ensino, disciplina ou área <strong>de</strong><br />
conhecimento; e<br />
* a obtenção <strong>de</strong> informações da aprendizagem do estudante dar-se-á<br />
pela adoção <strong>de</strong> formas diferentes e instrumentos <strong>de</strong> avaliação, que contemplem<br />
as especificida<strong>de</strong>s das áreas do conhecimento.<br />
b) Princípios 81<br />
* Investigação – a escola como locus <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong>ve estimular e<br />
garantir a busca e a compreensão dos pro<strong>ce</strong>ssos envolvidos nas relações<br />
<strong>de</strong> ensino e aprendizagem;<br />
* provisorieda<strong>de</strong> – a dinâmica do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ensinar e do<br />
apren<strong>de</strong>r implica que a escola <strong>de</strong>ve estar aberta e atenta à dinâmica do<br />
pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem; e<br />
* complementarida<strong>de</strong> – as su<strong>ce</strong>ssivas e gradativas provocações<br />
ocorridas na dinâmica do pro<strong>ce</strong>sso ensino aprendizagem são condições básicas<br />
para acompanhamento da trajetória da ação e do pensamento do estudante,<br />
a fim <strong>de</strong> complementar as hipóteses sobre o seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
c) Pro<strong>ce</strong>dimentos metodológico-operacionais<br />
* Para efeito <strong>de</strong> organização e registro do <strong>de</strong>sempenho escolar do<br />
estudante, o ano letivo será dividido em quatro etapas;<br />
* o registro do <strong>de</strong>sempenho do estudante do 1º (primeiro) e 2º (segun-<br />
81<br />
Adaptação <strong>de</strong> HOFFMAN, J. M. L. Avaliação Mediadora. Porto<br />
Alegre: Ed. Mediação, 1997.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
128 | PREFEITURA DE FORTALEZA 129 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
do) anos será expresso no Relatório;<br />
* o registro do <strong>de</strong>sempenho do estudante do 3º (ter<strong>ce</strong>iro) ao 9º (nono)<br />
anos será expresso em notas 82 com variação em escala <strong>de</strong> zero a <strong>de</strong>z;<br />
* o(a) professor(a) <strong>de</strong> cada disciplina/área do conhecimento <strong>de</strong>verá<br />
realizar no mínimo três situações avaliativas por etapa, consi<strong>de</strong>rando-se<br />
avaliação parcial do conhecimento; avaliação global do conhecimento e<br />
outras ativida<strong>de</strong>s avaliativas correlatas;<br />
* o acompanhamento do <strong>de</strong>sempenho do estudante será registrado<br />
em instrumentos próprios para este fim;<br />
* durante cada etapa, ao se constatar dificulda<strong>de</strong>s na aprendizagem, o(a)<br />
professor(a) <strong>de</strong>verá trabalhar com ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recuperação paralela, a fim <strong>de</strong><br />
que o estudante possa caminhar progressivamente nas etapas subsequentes;<br />
* a quarta etapa é obrigatória a todos os estudantes;<br />
* para efeito <strong>de</strong> promoção, o estudante <strong>de</strong>verá atingir no mínimo a<br />
nota seis em cada disciplina/área do conhecimento e frequência mínima<br />
<strong>de</strong> 75% (setenta e cinco por <strong>ce</strong>nto) do total <strong>de</strong> horas letivas;<br />
* a recuperação final será realizada ao término do ano escolar e antes<br />
do início do ano escolar seguinte;<br />
* para efeito <strong>de</strong> promoção, após a recuperação final, o estudante <strong>de</strong>verá<br />
atingir no mínimo a nota seis;<br />
* o resultado final do <strong>de</strong>sempenho escolar do estudante será a média<br />
aritmética simples obtida com o somatório das notas das quatro etapas; e<br />
* cabe ao sistema <strong>de</strong> ensino e à escola garantirem condições para efetivar<br />
o pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> recuperação paralela e a recuperação final, <strong>de</strong>vendo estas<br />
indicações estar contidas nos documentos oficiais da <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong><br />
<strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Fortaleza - SME, do Conselho <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong><br />
Fortaleza – CME, na proposta pedagógica e no regimento <strong>de</strong> cada escola.<br />
A avaliação da aprendizagem <strong>de</strong>ve ser realizada cumprindo critérios que<br />
darão unida<strong>de</strong> para todo o ensino fundamental, entretanto, as modalida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) e educação especial serão apresentadas<br />
nos seus pro<strong>ce</strong>ssos avaliativos consi<strong>de</strong>rando as suas especificida<strong>de</strong>s.<br />
4.9.1.1 Avaliação da aprendizagem <strong>de</strong> estudantes<br />
da Educação Especial<br />
Para o estudante com <strong>de</strong>ficiência, a avaliação apresenta características<br />
específicas. Os pro<strong>ce</strong>dimentos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>vem produzir situações<br />
apropriadas para a evolução da aprendizagem, elevação da autoestima<br />
do estudante, colaborando, assim, para um histórico escolar<br />
satisfatório. A finalida<strong>de</strong> principal da avaliação <strong>de</strong>ve consistir em analisar<br />
as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem do estudante<br />
com <strong>de</strong>ficiência, pon<strong>de</strong>rando a<strong>ce</strong>rca dos recursos educacionais ne<strong>ce</strong>ssários<br />
em benefício da sua aprendizagem.<br />
Quando o(a) professor(a) i<strong>de</strong>ntifica que o estudante se <strong>de</strong>para com<br />
obstáculos na realização das ativida<strong>de</strong>s ou per<strong>ce</strong>be que <strong>de</strong>las não participa,<br />
torna-se ne<strong>ce</strong>ssária a rápida intervenção <strong>de</strong>sse profissional e da<br />
equipe escolar. Dentre as possibilida<strong>de</strong>s envolvidas, esse estudante po<strong>de</strong>:<br />
ne<strong>ce</strong>ssitar <strong>de</strong> mais tempo, em comparação aos outros estudantes, para<br />
realizar a ativida<strong>de</strong>; requerer material introdutório mais simples ou mais<br />
concreto; solicitar a provisão <strong>de</strong> meios especiais <strong>de</strong> a<strong>ce</strong>sso ao currículo,<br />
como material em Braille, intérprete e instrutor <strong>de</strong> Libras, equipamentos<br />
especiais <strong>de</strong> comunicação alternativa, jogos pedagógicos adaptados,<br />
<strong>de</strong>ntre outros (SÃO PAULO, 2007) 83 .<br />
Dessa forma, são sugeridos os seguintes pro<strong>ce</strong>dimentos e instrumentos<br />
<strong>de</strong> avaliação: i) observação e registros das ativida<strong>de</strong>s diárias do estudante,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong> forma individual e/ou coletiva, sistemática ou<br />
ocasional. Devem envolver outros espaços <strong>de</strong> aprendizagem além da<br />
sala <strong>de</strong> aula (o recreio, a merenda, a chegada e saída da escola e as relações<br />
interpessoais, as aulas <strong>de</strong> Educação Física, a biblioteca, o laboratório<br />
<strong>de</strong> informática educativa com programas a<strong>ce</strong>ssíveis etc.; ii) portfolios<br />
contendo ativida<strong>de</strong>s no ca<strong>de</strong>rno, folhas <strong>de</strong> exercícios, <strong>de</strong>senhos e outros<br />
trabalhos realizados em sala <strong>de</strong> aula, sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> contextualizá-los; iii) entrevistas sob a forma <strong>de</strong> relações dialógicas<br />
entre avaliador e avaliado, compartilhando informações para o mesmo<br />
objetivo; iv) registros no diário <strong>de</strong> classe, relatórios, fichas ou similares<br />
contendo indicadores on<strong>de</strong> os avaliadores registrem suas observações; v)<br />
utilizar a autoavaliação <strong>de</strong> maneira que o estudante se ache valorizado,<br />
e que seu <strong>de</strong>senvolvimento individual seja reconhecido, contribuindo<br />
sobremaneira para sua autoestima.<br />
A avaliação <strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência intelectual visa ao conhecimento<br />
<strong>de</strong> seus avanços no entendimento dos conteúdos curriculares<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
82<br />
A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sses critérios foi realizada com base numa pesquisa feita por amostragem<br />
na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas do Sistema <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Fortaleza, em setembro <strong>de</strong> 2010.<br />
83<br />
SÃO PAULO. Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem <strong>de</strong> Alunos com<br />
Ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s Educacionais Especiais. São Paulo: SME, 2007.<br />
130 | PREFEITURA DE FORTALEZA 131 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
durante o ano letivo <strong>de</strong> trabalho, consi<strong>de</strong>rando seu ritmo <strong>de</strong> aprendizagem,<br />
como já é previsto para os <strong>de</strong>mais estudantes.<br />
Em ambos os casos, ao iniciar um novo período letivo, o que interessa<br />
é a aprendizagem obtida e que os estudantes com ou sem <strong>de</strong>ficiência sejam<br />
vistos pelo que apren<strong>de</strong>ram no ano anterior, pois nenhum conhecimento<br />
é aprendido sem base no que se conhe<strong>ce</strong>u antes, consi<strong>de</strong>rando as<br />
características da aprendizagem, como: o ritmo, os níveis <strong>de</strong> abstração e<br />
os alcan<strong>ce</strong>s possíveis da aprendizagem (BEYER, 2006 84 ; BRASIL, 2007 85 ).<br />
A avaliação da aprendizagem <strong>de</strong> estudantes <strong>ce</strong>gos e/ou com baixa visão<br />
<strong>de</strong>ve ser feita a partir do seu próprio referencial e não do referencial<br />
do vi<strong>de</strong>nte. O <strong>de</strong>ficiente visual com perda total ou parcial <strong>de</strong>ve ter, à sua<br />
disposição, na escola, a<strong>ce</strong>sso ao código Braille e ao material em relevo<br />
como recurso imprescindível para a sua aprendizagem (BRASIL, 2005a) 86 .<br />
Estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual requerem mais tempo, não só<br />
para completar suas tarefas escolares, como também para o pro<strong>ce</strong>sso<br />
<strong>de</strong> avaliação. Um dos cuidados ne<strong>ce</strong>ssários é o uso da linguagem, com<br />
instruções mais objetivas e específicas para uma maior compreensão,<br />
especialmente durante as ativida<strong>de</strong>s avaliativas. Uma criança não é mais<br />
ou menos capaz por ser <strong>ce</strong>ga. É <strong>de</strong> fundamental importância que o(a)<br />
professor(a) invista em conteúdos bem <strong>de</strong>finidos, métodos e técnicas<br />
a<strong>de</strong>quadas, material didático apropriado, enriquecimento <strong>de</strong> informações<br />
reais e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e criação (BRASIL, 2001) 87 .<br />
Estudantes com <strong>de</strong>ficiência visual têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reorganizar<br />
o cérebro <strong>de</strong>senvolvendo um senso <strong>de</strong> audição diferenciado para compensar<br />
a falta da visão, dando-lhe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r falas<br />
rápidas muito além do que a pessoa que enxerga po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r,<br />
potencializando a sua memória auditiva.<br />
A mão, para a pessoa <strong>ce</strong>ga, assume um papel protagonista em seu <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
pois é pela experimentação do tato manual que alguém<br />
privado <strong>de</strong> visão obtém uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> informações do ambiente e<br />
garante o <strong>de</strong>senvolvimento normal do aspecto cognitivo. Como o Sistema<br />
Braille está baseado no tato e utiliza um método mais fácil e rápido<br />
84<br />
op. cit.<br />
85<br />
BRASIL, 2007. Aspectos legais e orientação pedagógica. FÁVERO, A. G.; PANTOJA,<br />
L <strong>de</strong> M.; MANTOAN, M. T. E. (coords.) São Paulo: MEC/SEESP, 2007.<br />
86<br />
BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
educacionais <strong>de</strong> alunos <strong>ce</strong>gos e <strong>de</strong> alunos com baixa visão. ARANHA, Maria Salete<br />
Fábio (org.). Brasília: Ministério da Educação/<strong>Secretaria</strong> <strong>de</strong> Educação Especial, 2005a.<br />
87<br />
BRASIL. Programa <strong>de</strong> Capacitação <strong>de</strong> Recursos Humanos do Ensino Fundamental:<br />
<strong>de</strong>ficiência visual. v. 2. Fascículo IV. BRUNO, Marilda Moraes Garcia; MOTA, Maria Glória<br />
Batista da (coords.). Colaboração Instituto Benjamin Constant. Brasília-DF: MEC/SEESP, 2001.<br />
que é o sintético, o tato distingue efetivamente a letra e não o conjunto<br />
simples que constitui a palavra, e muito menos o conjunto complexo que<br />
forma a frase. Portanto, ao ler, a criança <strong>ce</strong>ga sintetiza mais rapidamente<br />
no momento da compreensão textual.<br />
No momento <strong>de</strong> instituir critérios avaliativos para o estudante com<br />
sur<strong>de</strong>z, o(a) professor(a) <strong>de</strong>verá ter o cuidado <strong>de</strong> não supervalorizar os<br />
erros da estrutura formal da língua portuguesa, em razão das diferenças<br />
que caracterizam a língua <strong>de</strong> sinais no momento em que fazemos comparações<br />
com nossa língua.<br />
Na avaliação da produção escrita dos estudantes surdos em Língua<br />
Portuguesa, os professores precisam ser orientados para: o estudante ter<br />
a<strong>ce</strong>sso ao dicionário e ao intérprete; na avaliação do conhecimento, os<br />
critérios <strong>de</strong>vem ser compatíveis com as características inerentes ao estudante<br />
surdo; maior relevância do conteúdo (nível semântico), do aspecto<br />
cognitivo <strong>de</strong> sua linguagem, coerência e sequência lógica das i<strong>de</strong>ias; a<br />
forma da linguagem (nível morfossintático) <strong>de</strong>ve ser avaliada com maior<br />
flexibilida<strong>de</strong>, valorizando o uso <strong>de</strong> termos da oração, como termos essenciais,<br />
termos complementares e, por último, termos a<strong>ce</strong>ssórios, não sendo<br />
muito exigido o que diz respeito ao elemento coesivo (BRASIL, 2005b) 88 .<br />
Os estudantes com <strong>de</strong>ficiências físicas são beneficiados com algumas<br />
modificações no ambiente físico, nos materiais e equipamentos utilizados<br />
para a ativida<strong>de</strong> escolar. Aqueles que não apresentarem <strong>de</strong>ficiência<br />
intelectual po<strong>de</strong>m utilizar-se dos mesmos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> avaliação empregados<br />
com estudantes sem <strong>de</strong>ficiência, po<strong>de</strong>ndo, entretanto, se mostrarem<br />
ne<strong>ce</strong>ssárias algumas modificações no pro<strong>ce</strong>sso avaliativo para um<br />
<strong>de</strong>terminado estudante cuja condição física seja um fator limitativo da<br />
sua capacida<strong>de</strong>, resultado <strong>de</strong> lesões neurológicas. Nesse caso, <strong>ce</strong>rtamente<br />
<strong>de</strong>verá, aumentar o tempo requerido durante o pro<strong>ce</strong>dimento <strong>de</strong> avaliação<br />
(WILSON, 1971) 89 .<br />
O estudante que tem gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma comunicação<br />
oral funcional po<strong>de</strong> ser bastante beneficiado por formas alternativas<br />
<strong>de</strong> comunicação social, tais como: por escrito, com o uso <strong>de</strong><br />
quadros <strong>de</strong> conversação (ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> signos, livros <strong>de</strong> comunicação,<br />
os quais são ca<strong>de</strong>rnos ou livros que contêm figuras correspon<strong>de</strong>ntes a<br />
substantivos, adjetivos, verbos, advérbios mais comumente utilizados na<br />
88<br />
BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
educacionais especiais <strong>de</strong> alunos surdos: saberes e práticas da inclusão. ARANHA,<br />
Maria Salete Fábio (org.). Brasília – DF: MEC/SEESP, 2005b.<br />
89<br />
WILSON, M. Crianças com <strong>de</strong>ficiência física e neurológicas. In : DUNN, L. M. Crianças<br />
Ex<strong>ce</strong>pcionais – Seus Problemas, Sua Educação. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ao livro Técnico S. A.,<br />
1971.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
132 | PREFEITURA DE FORTALEZA 133 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
linguagem coloquial do cotidiano), mediante o uso <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong> palavras<br />
com figuras, <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong> escrever, <strong>de</strong> computador (WILSON, 1971).<br />
As altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação caracterizam-se pela elevada potencialida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> aptidões, talentos e habilida<strong>de</strong>s evi<strong>de</strong>nciada no alto <strong>de</strong>sempenho<br />
nas diversas áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, nos seguintes aspectos isolados<br />
ou combinados (BRASIL, 2005c, p.12) 90 :<br />
Tipo intelectual – apresenta flexibilida<strong>de</strong> e fluência <strong>de</strong> pensamento,<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento abstrato para fazer associações, produção<br />
i<strong>de</strong>ativa, rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> pensamento, compreensão e memória elevada, capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> resolver e lidar com problemas;<br />
Tipo acadêmico – evi<strong>de</strong>ncia aptidão acadêmica específica, atenção,<br />
con<strong>ce</strong>ntração; rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> aprendizagem, boa memória, gosto e motivação<br />
pelas disciplinas acadêmicas <strong>de</strong> seu interesse; habilida<strong>de</strong> para avaliar, sintetizar<br />
e organizar o conhecimento; capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção acadêmica;<br />
Tipo Criativo – relaciona-se às características <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>, imaginação,<br />
capacida<strong>de</strong> para resolver problemas <strong>de</strong> forma diferente e inovadora,<br />
sensibilida<strong>de</strong> para as situações ambientais, po<strong>de</strong>ndo reagir e produzir<br />
diferentemente e, até <strong>de</strong> modo extravagante; sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio diante<br />
da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fatos; facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoexpressão, fluência e flexibilida<strong>de</strong>;<br />
Tipo Social – revela capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e caracteriza-se por<br />
<strong>de</strong>monstrar sensibilida<strong>de</strong> interpessoal, atitu<strong>de</strong> cooperativa, sociabilida<strong>de</strong><br />
expressiva, habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trato com pessoas diversas e grupos para<br />
estabele<strong>ce</strong>r relações sociais, per<strong>ce</strong>pção acurada das situações <strong>de</strong> grupo,<br />
capacida<strong>de</strong> para resolver situações sociais complexas, alto po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> persuasão<br />
e <strong>de</strong> influência no grupo;<br />
Tipo Talento Especial – po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar tanto na área das artes<br />
plásticas, musicais, como dramáticas, literárias ou cênicas, evi<strong>de</strong>nciando<br />
habilida<strong>de</strong>s especiais para essas ativida<strong>de</strong>s e alto <strong>de</strong>sempenho; e<br />
Tipo Psicomotor – <strong>de</strong>staca-se por apresentar habilida<strong>de</strong> e interesse<br />
pelas ativida<strong>de</strong>s psicomotoras, evi<strong>de</strong>nciando <strong>de</strong>sempenho fora do comum<br />
em velocida<strong>de</strong>, agilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos, força, resistência, controle<br />
e coor<strong>de</strong>nação motora.<br />
O estudante com altas habilida<strong>de</strong>s/ superdotação po<strong>de</strong> apresentar<br />
falta <strong>de</strong> interesse e/ou motivação para os estudos acadêmicos, rotina escolar<br />
ou dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento com os colegas, o que po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um rendimento escolar inferior.<br />
O pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> avaliação para essa clientela mere<strong>ce</strong> cuidados, no<br />
sentido <strong>de</strong> que o(a) professor(a) possa dar ênfase às informações trazi-<br />
90<br />
BRASIL. Desenvolvendo competências para o atendimento às ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong>s<br />
educacionais especiais <strong>de</strong> alunos com altas habilida<strong>de</strong>s e superdotação: saberes e<br />
práticas da inclusão. ARANHA, Maria Salete Fábio (org.). Brasília – DF: MEC/SEESP, 2005c.<br />
das pelo estudante, i<strong>de</strong>ntificar suas potencialida<strong>de</strong>s, respeitar seus estilos<br />
pessoais, sua maturida<strong>de</strong> intelectual e possibilitar a<strong>ce</strong>leração <strong>de</strong> estudos,<br />
caso seja confirmada sua habilida<strong>de</strong> superior (BRASIL, 2005c) 91 .<br />
A avaliação da aprendizagem é <strong>de</strong> natureza complexa, principalmente<br />
em se tratando <strong>de</strong> estudantes com <strong>de</strong>ficiência, que apresentam níveis<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem amplamente diversificados. A avaliação<br />
do <strong>de</strong>sempenho escolar <strong>de</strong>sses estudantes evi<strong>de</strong>ncia a ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> variadas opções para avaliar, consi<strong>de</strong>rando e estimulando suas<br />
capacida<strong>de</strong>s, a fim <strong>de</strong> se efetivar a inclusão escolar.<br />
4.9.1.2 Avaliação na educação <strong>de</strong> jovens e adultos - EJA<br />
A educação <strong>de</strong> jovens e adultos (EJA) é uma modalida<strong>de</strong> que visa ao<br />
atendimento a jovens, adultos e idosos que não tiveram a<strong>ce</strong>sso à escola<br />
ou que não concluíram os estudos. Tem como princípio a educação dialógica<br />
e emancipadora que se dá ao longo da vida. A avaliação, nesse<br />
contexto, constitui-se num pro<strong>ce</strong>sso amplo, que possa indicar os avanços<br />
e as dificulda<strong>de</strong>s dos(as) educandos(as) ao longo do ensino fundamental<br />
e, sobretudo, tenha critérios claros e <strong>de</strong>finidos, além <strong>de</strong> previamente discutidos<br />
tanto pelos(as) educandos(as) quanto pelos (as) educadores (as).<br />
Na EJA I, o(a) educador(a) <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> professor(a)/<br />
alfabetizador(a) <strong>de</strong> forma efetiva, a fim <strong>de</strong> que o (a) educando (a) consiga<br />
alcançar o domínio da leitura, da escrita e da Matemática que lhe permita<br />
prosseguir na turma <strong>de</strong> EJA II com maior <strong>de</strong>senvoltura e confiança, recuperando<br />
assim a autoestima. A avaliação, na EJA I e II, será feita mediante relatório<br />
com registro do <strong>de</strong>sempenho do (a) educando (a), bimestralmente.<br />
Na EJA III <strong>de</strong>verão ser reforçados os conhecimentos sobre a natureza e<br />
a socieda<strong>de</strong>, o domínio da leitura, da escrita, das operações matemáticas,<br />
uma vez que este nível fechará o primeiro segmento do ensino fundamental.<br />
Na EJA IV e V, o (a) educando (a) <strong>de</strong>verá consolidar os conhecimentos básicos<br />
nas áreas <strong>de</strong> Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza,<br />
Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.<br />
A sistemática <strong>de</strong> avaliação na EJA III, IV e V seguirá as orientações propostas<br />
pela <strong>Secretaria</strong> <strong>Municipal</strong> <strong>de</strong> Educação para o ensino fundamental.<br />
A avaliação <strong>de</strong> educandos(as) com <strong>de</strong>ficiência, transtornos globais do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e altas habilida<strong>de</strong>s/superdotação matriculados (as) em<br />
EJA <strong>de</strong>verá seguir as orientações da educação especial apresentadas no<br />
documento das Diretrizes Curriculares.<br />
Os pro<strong>ce</strong>dimentos avaliativos <strong>de</strong>vem envolver a análise dos pro<strong>ce</strong>s-<br />
91<br />
I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m nota <strong>de</strong> rodapé anterior.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
134 | PREFEITURA DE FORTALEZA 135 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
VOLUME 1<br />
sos e dos resultados sob dois eixos: a do(a) educador(a), para refletir sobre<br />
como realizou a mediação dos estudos do(a) educando(a) e para<br />
i<strong>de</strong>ntificar suas dificulda<strong>de</strong>s e avanços (autoavaliação).<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
136 | PREFEITURA DE FORTALEZA 137 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO