2 - Secretaria Municipal de Educação - ce
2 - Secretaria Municipal de Educação - ce
2 - Secretaria Municipal de Educação - ce
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
VOLUME 1<br />
da<strong>de</strong>s dos estudantes, mas que ultrapassa essa realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a instrumentalizar<br />
o estudante para estabele<strong>ce</strong>r-se uma socieda<strong>de</strong> mais justa<br />
e fraterna.<br />
Historicamente, o currículo foi estruturado incorporando a lógica <strong>de</strong><br />
uma socieda<strong>de</strong> emergente e se estabele<strong>ce</strong>u como um objeto marcado<br />
pelo ímpeto <strong>de</strong> controle e dominação do Estado e da racionalida<strong>de</strong> que<br />
se afirmou com a as<strong>ce</strong>nsão do capitalismo. O currículo e as escolas, nesses<br />
tempos, incorporaram a lógica da fábrica e da vida urbana, marcada<br />
pela industrialização e pelos pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> homogeneização, próprios da<br />
linha <strong>de</strong> produção. Ele alinhou-se e expressou, na educação, as intencionalida<strong>de</strong>s<br />
fundamentais do novo projeto educativo. Nesta perspectiva,<br />
o currículo é con<strong>ce</strong>bido como o elemento organizador das diversas experiências<br />
cognitivas, psicomotoras e afetivas que ocorrem nos espaços<br />
educativos, significando o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> prescrição que organiza o caminho<br />
e as experiências que serão vivenciadas pelo sujeito educativo.<br />
Atualmente, o currículo assume diferentes perspectivas e significados,<br />
articulado com os pro<strong>ce</strong>ssos socioculturais, as teorias da educação e o<br />
pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem, conforme se apresenta a seguir.<br />
As <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> currículo, portanto, incluem as experiências vividas pelos<br />
estudantes, professores, técnicos, gestores e famílias, os conteúdos a<br />
serem ensinados e aprendidos, as habilida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas e a<br />
avaliação, que terminam por influir nos conteúdos e nos pro<strong>ce</strong>dimentos<br />
selecionados no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> escolarização e, assim, na formação das<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos sujeitos envolvidos.<br />
Neste documento, adotou-se um con<strong>ce</strong>ito <strong>de</strong> currículo que incorpora<br />
as contribuições das teorias críticas, com algumas con<strong>ce</strong>pções das teorias<br />
pós-críticas, como gênero, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre<br />
outras (SILVA, 2002) 5 . Desse modo, assume-se uma inovadora compreensão<br />
sobre educação e currículo, que con<strong>ce</strong>be o ser humano numa<br />
perspectiva holística, social e historicamente constituído. Enten<strong>de</strong>-se que<br />
este ser, que busca o conhecimento <strong>de</strong> si, interage com o outro, por intermédio<br />
<strong>de</strong> linguagens variadas e organizadas em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informações,<br />
implicando crescimento e socialização do conhecimento.<br />
Assim, a vida humana se <strong>de</strong>lineia como comunida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve buscar<br />
projetar seus caminhos e empreendimentos, portanto, como consciência<br />
e ação responsável e comprometida consigo, com o outro e com o<br />
Planeta. Por isso, estas diretrizes estão ancoradas em valores fundamentais,<br />
como respeito ao outro, apreço por uma cultura <strong>de</strong> paz, sentimento<br />
cres<strong>ce</strong>nte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> por si, pela comunida<strong>de</strong> e meio ambiente,<br />
e a cooperação como estratégia <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma nova cidadania<br />
5<br />
Op. cit.<br />
socialmente justa, ecologicamente equilibrada e sustentável.<br />
As teorias tradicionais <strong>de</strong> educação e do currículo, <strong>de</strong> fundamentação<br />
positivista, <strong>de</strong>senvolveram-se impulsionadas pelas exigências <strong>de</strong> uma<br />
formação técnico-científica, visando à preparação <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra qualificada<br />
para o mercado do trabalho. O currículo se organizava <strong>de</strong> forma<br />
linear e compartimentalizada e pretendia ser neutro, evitando os temas<br />
e conteúdos político-sociais. Sua organização su<strong>ce</strong>dia <strong>de</strong> forma burocrática<br />
e or<strong>de</strong>nada, e enfatizava os con<strong>ce</strong>itos meramente técnicos, como<br />
ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização,<br />
planejamento, eficiência e objetivos, na perspectiva <strong>de</strong> quem ensina e<br />
não <strong>de</strong> quem apren<strong>de</strong>.<br />
As teorias curriculares críticas fundamentam-se, principalmente, no<br />
Materialismo Histórico e Dialético, e se caracterizam por colocarem em<br />
questão as relações entre educação e socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nunciando as formas<br />
<strong>de</strong> opressão e dominação que se <strong>de</strong>senvolvem na socieda<strong>de</strong> e são reproduzidas<br />
nos espaços educativos. As teorias críticas <strong>de</strong>stacam os con<strong>ce</strong>itos<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, reprodução cultural e social, po<strong>de</strong>r, classe social,<br />
capitalismo, relações sociais <strong>de</strong> produção, conscientização, emancipação<br />
e libertação, currículo oculto e resistência. Nesse horizonte teórico,<br />
os pro<strong>ce</strong>ssos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem passam a ser (re)vistos numa<br />
perspectiva menos técnica, e assumem caráter mais político e social.<br />
As teorias pós-criticas do currículo caracterizam-se pelas abordagens<br />
microssociais e, portanto, pelos fenômenos locais. Assim, rompem com a<br />
perspectiva epistemológica dominante na Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong> busca por<br />
leis gerais e universais, <strong>de</strong> forte apelo empirista e matemático, e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />
a noção <strong>de</strong> que os saberes humanos são discursos elaborados em pro<strong>ce</strong>ssos<br />
intersubjetivos, marcados por microrrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. As teorias<br />
pós-críticas <strong>de</strong>stacam as noções <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, alterida<strong>de</strong>, diferença e diversida<strong>de</strong>,<br />
subjetivida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, significação, discurso, saber-po<strong>de</strong>r,<br />
representação, cultura, gênero e etnia; entre elas, <strong>de</strong>staca-se o multiculturalismo,<br />
por explicitar o lugar <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se fala, esclare<strong>ce</strong>ndo que há diversas<br />
culturas em uma socieda<strong>de</strong>, na perspectiva <strong>de</strong> assegurarem seus<br />
direitos <strong>de</strong> existência e <strong>de</strong> expressão, inclusive nos espaços educativos.<br />
O currículo, numa perspectiva pós-crítica, é consi<strong>de</strong>rado algo produzido<br />
com base numa seleção arbitrária <strong>de</strong> conteúdos, significando, portanto,<br />
um recorte cultural <strong>de</strong> parte da realida<strong>de</strong>, feito por quem tem po<strong>de</strong>r<br />
para tanto. Assim, é ne<strong>ce</strong>ssário consi<strong>de</strong>rar haver aspectos que ficam<br />
<strong>de</strong> fora do currículo, porquanto ele se estabele<strong>ce</strong> como disputa por representar<br />
o real, e que, mediante novas disputas e negociações, outros conteúdos,<br />
fatos e fenômenos po<strong>de</strong>m ser inseridos nas composições curriculares.<br />
Ao se fazer a associação das teorias críticas e pós-críticas com o cur-<br />
2.EIXOS EPISTEMOLÓGICO-CONCEITUAIS<br />
24 | PREFEITURA DE FORTALEZA 25 | SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO