2 - Secretaria Municipal de Educação - ce
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VOLUME 1<br />
<strong>de</strong> comunicação e o ensino da língua como sendo <strong>de</strong>scritivo (o ensino<br />
<strong>de</strong>scritivo da língua objetiva mostrar como a língua funciona).<br />
Para Smith (1991) 42 , a leitura é um fenômeno inci<strong>de</strong>ntemente visual,<br />
pois a visão é uma condição, mas não suficiente, uma vez que a informação<br />
não estaria no texto, mas atrás dos olhos do leitor. Assim, ler é estabele<strong>ce</strong>r<br />
significados, consi<strong>de</strong>rando os conhecimentos prévios do leitor. É<br />
ainda com Smith que se apren<strong>de</strong> sobre o <strong>de</strong>sempenho das três memórias:<br />
(1) Armazenamento sensorial, lugar on<strong>de</strong> as informações ficam enquanto<br />
o cérebro toma suas <strong>de</strong>cisões; (2) Memória a curto prazo, guarda as informações,<br />
enquanto espera uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão pelo cérebro quanto<br />
ao fato <strong>de</strong> essas informações ficarem ou não; e (3) Memória a longo prazo,<br />
responsável pelas informações não visuais que constituem a teoria<br />
<strong>de</strong> mundo dos leitores. O circuito é completo se as informações forem<br />
significativas para o leitor.<br />
O ter<strong>ce</strong>iro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong>nomina-se Mo<strong>de</strong>lo Interacionista <strong>de</strong><br />
leitura. Nesta visão, tanto são importantes os conhecimentos trazidos no<br />
texto quanto aqueles previamente adquiridos pelo leitor. Dell Hymes<br />
(1967) 43 muito contribuiu para este mo<strong>de</strong>lo, quando sugeriu uma competência<br />
comunicativa que, por ser baseada no contexto social do sujeito,<br />
não po<strong>de</strong> ser universal. A competência, segundo ele, consiste não apenas<br />
no saber sobre a língua, mas também em como usar esse saber em<br />
situações reais <strong>de</strong> comunicação. Essa competência é influenciada pelo<br />
status dos interlocutores, pelo contexto do ato <strong>de</strong> fala, pela mensagem<br />
veiculada, como também pela forma como se produz esse ato, incluindo<br />
aí gestos, tópicos e pressuposições.<br />
Também consi<strong>de</strong>rando aspectos sociais da linguagem, Halliday<br />
(1969) 44 marca presença. Em sua abordagem etnográfica da fala, o autor<br />
preocupa-se com o modo como a pessoa fala realmente. Constatou,<br />
entre outras coisas, que a criança, antes <strong>de</strong> chegar à escola, adquire funções<br />
que apare<strong>ce</strong>m numa or<strong>de</strong>m, tal como se verifica na sequência:<br />
a) Função instrumental (usa a linguagem para obter coisas. Exemplo:<br />
Eu quero);<br />
b) Função regulatória (usa a linguagem para regular o comportamento.<br />
Exemplo: Faça como eu digo);<br />
42<br />
SMITH, Frank. Compreen<strong>de</strong>ndo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do<br />
apren<strong>de</strong>r a ler. Porto Alegre: Artmed, 1991.<br />
43<br />
HYMES, D. H. Mo<strong>de</strong>ls of the Interaction of Language and Social Setting. Journal Of<br />
Social Issues, Pennsylvania, v. 23, n. 2, 1967.<br />
44<br />
HALLIDAY, M. A. K. Language in a social perspective. Artigo apresentado para a<br />
Socieda<strong>de</strong> Lingüística da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford, Oxford, 1969.<br />
c) Função interacional (usa a linguagem para estabele<strong>ce</strong>r contato entre<br />
o eu e o tu. Exemplo: Você e eu);<br />
d) Função pessoal (usa a linguagem para expressar sua individualida<strong>de</strong>.<br />
Exemplo: Aqui, estou eu);<br />
e) Função heurística (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> investigar a realida<strong>de</strong>.<br />
Exemplo: Diga-me porque);<br />
f) Função imaginária (usa a linguagem para criar seu próprio ambiente.<br />
Exemplo: Vamos fingir); e<br />
g) Função informacional (usa a linguagem como meio <strong>de</strong> comunicação,<br />
falar sobre idéias. Exemplo: Tenho algo para lhe dizer).<br />
A Psicologia Cognitiva também contribuiu para a formação <strong>de</strong>sse<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leitura, ao trazer à discussão o papel dos esquemas, das memórias<br />
do leitor no pro<strong>ce</strong>sso <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> textos. Segundo Smith<br />
(1991)45, no entanto, que traz para a discussão sobre o pro<strong>ce</strong>sso da<br />
leitura problemas oriundos do acúmulo <strong>de</strong> informações visuais, quando<br />
o estudante lê cada letra <strong>de</strong> uma palavra, sobrecarrega a memória<br />
<strong>de</strong> curto termo, fenômeno por ele i<strong>de</strong>ntificado como visão <strong>de</strong> túnel. No<br />
seu entendimento, esse pro<strong>ce</strong>dimento dificulta a compreensão do texto,<br />
e, quando há interrupção no pro<strong>ce</strong>sso, apaga-se o significado, antes <strong>de</strong><br />
chegar à memória a longo termo.<br />
Goodman, em 197646, influenciado pelas pesquisas <strong>de</strong> Halliday<br />
(1969). Comunicação e função passa a nortear seus estudos sobre o ato<br />
<strong>de</strong> ler. Defen<strong>de</strong> a tese que a leitura é um pro<strong>ce</strong>sso ativo <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> significado<br />
orientado pela ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação. Alerta para o fato <strong>de</strong><br />
que essa ne<strong>ce</strong>ssida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong>rá ser satisfeita se coberta pelos discursos<br />
sociais que circulam nas socieda<strong>de</strong>s letradas.<br />
Goodman (1976) também se aprofundara mais nas reflexões a respeito<br />
das funções da linguagem, Nessa perspectiva, acres<strong>ce</strong>nta aos estudos <strong>de</strong><br />
Halliday (1969) ativida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> trabalhar a funções da linguagem.<br />
Dessa maneira, para <strong>de</strong>senvolver a função instrumental, sugere<br />
que o(a) professor(a) po<strong>de</strong> brincar <strong>de</strong> loja, <strong>de</strong> estação <strong>de</strong> trem/ônibus, <strong>de</strong><br />
posto <strong>de</strong> gasolina etc; para <strong>de</strong>senvolver a função regulatória, o educador<br />
po<strong>de</strong> trabalhar regras, sinais, direções etc; no que diz respeito à função<br />
interacional, po<strong>de</strong>-se sugerir um correio <strong>de</strong> classe, jogos envolvendo o uso<br />
<strong>de</strong> leitura etc; no tocante à função pessoal, po<strong>de</strong>-se trabalhar com livros<br />
45<br />
op. cit.<br />
46<br />
GOODMAN, Kenneth. Reading: A Psycholinguistic Guessing Game. In: SINGER, Harry;<br />
RUDDELL, Robert B. (orgs.). Theoretical Mo<strong>de</strong>ls and Pro<strong>ce</strong>sses of Reading. 2.ed.<br />
Delaware: International Reading Association, p. 496-508, 1976.<br />
4. EIXOS REFERENCIAIS DO CURRÍCULO<br />
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