September 2005 - Association Comenius
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HELENA ALFA I AT E<br />
Helena Alfaiate<br />
Escola Superior de Educação de Santarém/Portugal<br />
Era uma vez......duas jovens estudantes<br />
portuguesas que acordaram numa terra muito<br />
distante da sua: Mechelen (Bélgica). Com<br />
expectativa continuaram a explorar o local,<br />
aí depararam-se com uma vasta diferença<br />
cultural, e embora possuíssem formas de<br />
pensar diferentes, reuniram-se apenas com o<br />
único objectivo: o de tratar a violência e<br />
alargar a representações acerca do conceito<br />
da mesma. Nessa noite tiveram a<br />
oportunidade de se conhecer e perceber<br />
como tinham ido ali parar. Partiram, então,<br />
em busca de uma nova visão acerca da<br />
violência em meio escolar e pelo caminho<br />
adquiriram uma nova identidade – a<br />
identidade europeia. Identidade essa que<br />
cada vez faz mais sentido numa comunidade<br />
aberta e flexível como a União Europeia.<br />
Faziam parte de um Programa Intensivo<br />
Erasmus, que tinha duas vertentes. A<br />
primeira semana passou pela parte teórica e<br />
a segunda semana pela prática. Desta forma,<br />
no primeiro dia procurou-se descobrir quais<br />
as faces de violência e qual a sua origem,<br />
tendo-se elaborado, através de equipas<br />
multiculturais, um esquema representativo<br />
do que era a violência, suas causas e formas.<br />
Uma das causas apontadas para o despoletar<br />
da violência foi a distribuição das riquezas e<br />
assim, foi-lhes proposto um jogo que<br />
consistia perceber a repartição da população<br />
mundial pela riqueza, sendo cada cadeira<br />
representava uma parte da riqueza. Este jogo<br />
possibilitou compreender os desequilíbrios<br />
demográficos, económicos e ecológicos<br />
entre os diferentes continentes. Ao anoitecer<br />
foram surpreendidos por um festival<br />
Eurovisão preparado pelos representantes de<br />
Madrid, em que todos participaram, tendo as<br />
representantes portuguesas ficado no<br />
honradíssimo terceiro lugar, representando o<br />
grupo musical “ Los del Rio”.<br />
No dia seguinte, caminharam todos para a<br />
universidade, dispostos a trabalhar mais uma<br />
vez as questões acerca da violência. Assim,<br />
foi traçada uma linha que dividia a sala em<br />
partes iguais, e à medida que a monitora<br />
nomeava acções cada um posicionava-se<br />
conforme considera-se se estas eram actos<br />
violentos ou não, permitindo ver as<br />
diferenças de opinião baseadas nas<br />
diferentes culturas. Posteriormente, tiveram<br />
oportunidade de aprender a “linguagem da<br />
girafa”, que baseava-se na comunicação não<br />
violenta de factos, sentimentos, necessidades<br />
44 | Cormenius Journal<br />
Era uma vez...<br />
e desejos, mostrando a importância de um<br />
mediador que teria como funções promover<br />
o conhecimento do grupo, uma boa forma de<br />
comunicação entre os membros e a gestão<br />
dos conflitos. Nesta noite, houve a animação<br />
dos representantes da Holanda, que consistiu<br />
em diversas dinâmicas de grupo que<br />
poderiam vir a ser utilizadas juntos de<br />
crianças.<br />
No terceiro dia intensivo, foi-lhes<br />
proporcionado a desconstrução do conceito<br />
de violência, através de oradores<br />
privilegiados, levando a uma alteração das<br />
concepções que cada um possuía no início<br />
do programa. Chegada a noite, as<br />
representantes da Suécia deram-lhes a provar<br />
um pouco da sua comida e bebida, assim<br />
como a aprendizagem de uma música e de<br />
dinâmicas de grupo típicas suecas.<br />
No quarto dia, partiram rumo a um local<br />
cuja história transmitia uma violência<br />
extrema – Campo de Concentração<br />
Brendonk. Aqui foi-lhes permitido reviver o<br />
sofrimento daqueles que deram a vida para<br />
que todos fossem livres. Tratando-se de um<br />
local que a todos causou tristeza e angústia,<br />
o que levou a pensar que a prevenção da<br />
violência é algo prioritário junto de crianças,<br />
na medida, em que estes são os homens e<br />
mulheres de amanhã. À noite as<br />
representantes Irlandesas prendaram-nas<br />
com a oportunidade de provarmos a sua<br />
famosa bebida – a cerveja. Chegado o fimde-semana,<br />
partiram à descoberta de<br />
Bruxelas. Ali puderam observar a construção<br />
das casas, as ruas, os agrupamentos urbanos,<br />
as lojas e os monumentos, vendo estes como<br />
factores que podem contribuir para a<br />
violência.<br />
Depois de um merecido descanso, voltaram<br />
a encontrar-se e em grupos de dois<br />
elementos foram visitar escolas primárias da<br />
cidade de Mechelen, com o objectivo de<br />
observar o comportamento dos alunos e<br />
professores e perceber o funcionamento da<br />
escola. À tarde, foi-lhes apresentado o<br />
projecto “Linkedness” que se baseava no<br />
princípio de religar as crianças para prevenir<br />
a delinquência. Religar no sentido de voltar<br />
a ligá-las a elas próprias, aos outros, ao<br />
ambiente e à sociedade. Esta nova visão,<br />
permitiu-lhes percepcionar a realidade da<br />
delinquência numa outra perspectiva. A<br />
animação desta noite partiu dos<br />
representantes de Valência e Barcelona, que<br />
os levaram a conhecer Espanha, através de<br />
música e gastronomia diversificada.<br />
Os dois dias seguintes foram inteiramente<br />
dedicados a workshops práticos onde lhes<br />
eram fornecidas pistas acerca das estratégias<br />
a utilizar na prevenção da violência junto de<br />
crianças. Assim, passaram pela experiência<br />
da educação física, da educação musical, do<br />
treino da inteligência emocional e do<br />
exercício de artes marciais. Na primeira<br />
noite foi a oportunidade das portuguesas<br />
darem a conhecer o seu país, organizando<br />
uma gincana que se intitulava “Viagem a<br />
Portugal”.<br />
O momento seguinte foi a construção, em<br />
grupos multiculturais, de um projecto de<br />
intervenção que pudesse responder à<br />
necessidade de combater a violência em<br />
meio escolar. No entanto, e apesar das<br />
estudantes portuguesas se terem empenhado<br />
bastante na concepção deste, sentiram que<br />
através das técnicas em Educação Social<br />
teriam ido mais além e criado algo com mais<br />
substância. Para além disso, ainda existia o<br />
factor língua, que dificultava a expressão das<br />
suas ideias. A última animação coube aos<br />
representantes belgas, que lhes<br />
proporcionaram dois Workshops, acerca das<br />
duas coisas mais típicas do país: chocolate e<br />
cerveja.<br />
Chegou, assim, o dia da<br />
apresentação dos projectos. Todos<br />
aparentavam algum nervosismo e apesar das<br />
expectativas das representantes de Portugal<br />
não serem muito positivas, alguns dos<br />
trabalhos apresentados possuíam bastante<br />
qualidade técnica e científica. Na noite da<br />
despedida, todos os participantes e<br />
professores foram jantar a um restaurante<br />
típico de Mechelen, onde receberam a<br />
confirmação de que o seu sonho estava a<br />
chegar ao fim: o certificado de participação.<br />
No dia seguinte quando acordaram estavam<br />
de partida para o seu país Natal, levando na<br />
sua bagagem novos amigos, uma visão mais<br />
alargada do que é a violência e acima de<br />
tudo uma identidade europeia muito mais<br />
demarcada.<br />
“Vitória, vitória acabou-se a história!”