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10 livros que estragaram o mund - Benjamin Wiker

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DISCURSO SOBRE O MÉTODORENÉ <strong>DE</strong>SCARTES (1637)“Rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo sobre o que eu posso imaginar uma únicadúvida”— René Descartes (1596-1650)Quão agradecido você ficaria se, quando viesse conversar comigo reclamandode uma dor de cabeça, eu lhe cortasse a cabeça fora? Com certeza eu teriaresolvido o problema – permanentemente, ainda por cima! –, mas a um custo umtanto maior do que aquele que você esperava.O Discurso sobre o método de René Descartes teve um efeito parecido com esse namentalidade ocidental. O livreto de Descartes nos causou sérios danos justamente porqueparecia ser benéfico, como um touro que gentilmente se oferecesse para arrumar uma loja deporcelanas. Descartes ataca o ceticismo, mas o faz pela negação da realidade. Ele confirma aidéia da imaterialidade da alma contra todos os postulados dos materialistas grosseiros daépoca, mas o faz recriando-nos como fantasmas sem consistência alguma, presos em máquinasbarulhentas. Ele prova a existência de Deus, mas apenas porque a torna dependente do fato depensarmos que Ele existe. Por causa de suas boas intenções – se é que elas eram realmenteboas –, ele é o progenitor de todo e qualquer tipo de subjetivismo vaidoso, ele nos levou aacreditar que não somos nem um pouco diferente de robôs e ele fez da religião uma invençãodo nosso próprio ego. Muito obrigado, René.Se tomarmos Descartes por suas próprias palavras, veremos que ele estava tentando acharum caminho para longe dos céticos que rosnavam ao redor naquela época. O ceticismo é umtipo de desordem intelectual que geralmente afeta os bem nutridos e bem estudados. Ninguémque está realmente com fome está preocupado se é possível saber se o hambúrguer suculento àsua frente é real ou não. Aliás, pessoas comuns, que trabalham em condições normais detemperatura e pressão, não são nem um pouco incomodadas pelo ceticismo. Imagine umfazendeiro, vagando, perdido por aí em seus próprios pensamentos, atormentado pela idéia deque ele pode não saber o que é uma vaca em si. Ele está imerso demais na realidade para secolocar essa questão. A vaca precisa ser ordenhada e não há tempo para questionar as tetas.É de se desejar que Descartes tivesse uma vaca diante dele, encarando-o impacientemente.Não digo isso porque acho uma má idéia refutar os céticos – é inclusive um belo serviço queos filósofos podem prestar aos fazendeiros –, mas porque é uma péssima idéia refutá-los comargumentos ainda piores que os que eles apresentam. Boas intenções podem ter efeitoscolaterais.Descartes começa o Discurso sobre o método com uma piada: “O bom senso”, ele nos diz,“é a coisa mais bem distribuída do mundo, porque cada um de nós julga estar tão bem dotado

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