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Jefferson Del Rios

2015-jdr-ourinhos

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11<br />

INTRODUÇÃO<br />

Essa cidade lembro-a de sempre. Mais particularmente<br />

em quadros que ficaram fixados pela memória –<br />

indeléveis fotografias, instantâneos passados.<br />

(Pedro Nava, Galo das Trevas – Memórias/5)<br />

Este livro começou a ser trabalhado numa tarde gelada de julho de<br />

1989 nos arquivos da Estrada de Ferro Sorocabana (Fepasa), em São Paulo.<br />

Entre papéis esquecidos, esperava encontrar vestígios de Ourinhos nos<br />

trilhos da ferrovia que, no começo do século, seguia o café interior paulista<br />

adentro. Mas vasculhar documentos é a parte material e objetiva do projeto.<br />

Os motivos emocionais que me levaram a ele são bem anteriores. Existe um<br />

conto do argentino Júlio Cortázar – “O Outro Céu” – em que o personagem,<br />

visivelmente o autor, perambula por uma zona boêmia parisiense. Entre um<br />

bar e outro, uma esquina e outra, ele penetra na fantasia e no tempo para<br />

evocar um lugar mais ou menos igual, uma certa Passaje Guemes de Buenos<br />

Aires que considera o “território incerto onde já há tanto tempo fui deixar<br />

a infância como um terno usado”. Cortázar, como se sabe, passou os<br />

últimos 30 anos de sua vida em Paris.<br />

A lembrança do conto me ocorre ao caminhar pelas ruas da cidade<br />

onde nasci e me criei até os 19 anos e que jamais deixei de frequentar. Dez,<br />

vinte e tantos anos se passaram e o adulto procura, e reencontra, fachadas<br />

com relevos, portões de ferro, calçadas com ladrilhos estampados de losangos.<br />

Tudo intacto numa Ourinhos que se amplia e verticaliza. A janela colorida<br />

de vidro fosco e granulado, o jardim em que até as rosas miúdas parecem<br />

as mesmas ou a varanda de uma rua transversal, essas cenas mudas<br />

trazem um tempo parado. É sempre reconfortador porque algo permanece<br />

identificável mas, ao mesmo tempo, estranho e ilusório. No fundo, a cidade<br />

e o observador não são mais os mesmos.<br />

Essas as razões prosaicas do livro. Havia porém a necessidade de<br />

transformar sensações íntimas e andanças evocativas em testemunhos e<br />

informações. O nativo que regressa tem a curiosidade suplementar do jornalista.<br />

Estava intrigado, como sempre esteve, porque Ourinhos desconhece<br />

muito de sua origem, o que se reflete até no pormenor de ignorar quem foi o<br />

cidadão Mello Peixoto que mereceu ter seu nome perpetuado na praça prin-

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