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jornal da biblioteca pública do paraná | Cândido<br />
31<br />
Você é um poeta carente<br />
Todos sabem disso<br />
Até seu cão com nome de anarquista sabe<br />
Você sabe que os melhores poetas do mundo são carentes<br />
E mesmo assim você acorda tateando o amor<br />
Acorda esticando os braços em busca de um corpo<br />
Mas só encontra livros de poesia espalhados na cama.<br />
Ana passou 40 anos<br />
procurando a felicidade<br />
em outras bocas<br />
em outros corpos<br />
até que conheceu os livros<br />
e descobriu que a poesia<br />
é uma árvore que abraça<br />
e dá muita sombra.<br />
Acordei agora de um pesadelo amarelo morto<br />
acordei agora com o peito gélido<br />
onde você passa noites inteiras<br />
esquiando com seu walkman azul<br />
pendurado no bolso do jeans<br />
cantando músicas daquela banda slowcore<br />
que você tanto ama e até pregou<br />
um pôster na parede do banheiro<br />
Acordei agora para escrever algo bonito<br />
que lembre teu sorriso marcado<br />
feito gado premiado dentro do meu coração<br />
Acordei agora para fumar<br />
então abri a janela do quarto e pétalas de girassóis<br />
escaparam da minha boca<br />
todos os cães da cidade<br />
latem a palavra “saudade”<br />
dentro de nuvens HQ.<br />
Diego Moraes é poeta, autor dos livros A fotografia do<br />
meu antigo amor dançando tango (2012), A solidão é<br />
um deus bêbado dando ré num trator (2013) e Eu já fui<br />
aquele cara que comprava vinte fichas e falava ‘eu te<br />
amo’ no orelhão (2015). Vive em Manaus (AM).