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¿Popular, pop, populachera? - iaspm-al

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<strong>¿Popular</strong>, <strong>pop</strong>, <strong>pop</strong>ulachera? El dilema de las músicas <strong>pop</strong>ulares en Amércia Latina<br />

lembrou o médico Alfredo Oliveira (1999: 293), “o<br />

público veio em massa, superlotando o auditório<br />

do Colégio”, observando ainda que, embora fosse<br />

inici<strong>al</strong>mente um recit<strong>al</strong> de poemas e músicas, o<br />

espetáculo tornou-se “uma atração mais music<strong>al</strong><br />

do que poética”. O evento, ide<strong>al</strong>izado pelos poetas<br />

Rosenildo Franco e Ruy Barata e apoiado pelo<br />

grupo das Irmãs Maristas, responsável pela administração<br />

do colégio, constituiu-se de maior importância<br />

em razão da divulgação que obteve nos<br />

meios jorn<strong>al</strong>ísticos locais, que o anunciava como<br />

representativo do que havia de mais moderno em<br />

música e poesia no Pará. 2<br />

Foi um dos poucos momentos em que se conseguiu<br />

reunir um número significativo de pessoas,<br />

entre artistas e público, para uma apresentação do<br />

gênero, depois dos traumáticos anos imediatamente<br />

posteriores ao golpe civil-militar de 1964. Muitos<br />

artistas que se apresentaram em “Os Menestréis”,<br />

como os poetas Ruy Barata e João de Jesus Paes<br />

Loureiro e o músico Cleodon Gondim, haviam sido<br />

presos, perseguidos ou ficaram sob constante investigação<br />

dos militares e civis responsáveis pela<br />

repressão no Pará. Um ano antes, mesmo com a<br />

negativa da censura, haviam conseguido reunir um<br />

bom número de pessoas no pequeno auditório loc<strong>al</strong>izado<br />

no quint<strong>al</strong> da antiga sede da União Aca-<br />

2 _ A Província do Pará. Belém, 6/5/1967, 1º Card.: 6.<br />

dêmica Paraense (UAP), com o sugestivo título de<br />

“Show da Verdade Com Cantoria e Razão” (Costa<br />

2008: 39-41).<br />

Entre os participantes, destaque para João de<br />

Jesus Paes Loureiro, à época um double de poeta<br />

e compositor, ex-diretor do Departamento de Arte<br />

Popular da UAP, ligado ao CPC da UNE. Já conhecido<br />

nos meios culturais da juventude paraense,<br />

organizando as atividades daquele departamento,<br />

ele teve confiscado o seu primeiro livro de poesias<br />

pouco antes de seu lançamento, previsto para o dia<br />

2 de abril de 1964, durante o II Seminário Latino<br />

Americano de Reforma e Democratização do Ensino<br />

Superior (SLARDES). Programado para se estender<br />

do dia 30 de março ao dia 5 de abril, no seminário<br />

seriam discutidas <strong>al</strong>gumas demandas do movimento<br />

estudantil, como o fim das cátedras, a ampliação<br />

do número de vagas, a qu<strong>al</strong>ificação docente e<br />

o direito a 1/3 nas decisões colegiadas. Contudo, o<br />

evento foi interrompido dramaticamente em razão<br />

do golpe civil-militar daquele ano (Nunes 2004).<br />

No Tarefa, João de Jesus Paes Loureiro, qu<strong>al</strong><br />

um híbrido de poeta lírico e engajado, tematizava<br />

tanto o amor, como em Poema de Amor, dedicado a<br />

sua amada Violeta Refk<strong>al</strong>efsky:<br />

Do <strong>al</strong>to da gávea da Vila da Barca<br />

Gritei:<br />

amor<br />

Como quem grita:<br />

terra!<br />

Alguém t<strong>al</strong>vez quisesse<br />

Que eu gritasse:<br />

guerra...<br />

Mas hoje e sempre et semper<br />

Quis gritar:<br />

Amor!<br />

Um vasto grito de amor<br />

Que arrebatasse os tímpanos da noite.<br />

Desse de beber a toda humanidade.<br />

E deflagradas lutas<br />

Permaneçam. (Loureiro, 2001: 400)<br />

Como também expressava seu engajamento através<br />

do poema Oferenda:<br />

Eis a tarefa: arar o solo<br />

Soergo a pá. Verso.<br />

Cavo.<br />

Terra do plantio.<br />

Da colheita.<br />

Sou lavrador<br />

lavrando o amor<br />

lavrando a dor<br />

Plantando pés de esperança.<br />

Canaviais.<br />

Meu livro: ar<br />

pão<br />

do povo!<br />

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