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Premio Ascensores Enor 2014 / Texto Fredy Massad.pdf

Libro de la VI edición del Premio de Arquitectura Ascensores Enor 2014 Texto «Autocrítica. Resistencia» por Fredy Massad

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VI <strong>Premio</strong> de Arquitectura <strong>Ascensores</strong> <strong>Enor</strong><br />

a ou derivadas dos seus edifícios e das que se deriva invariavelmente a evidência<br />

de que a arquitetura se converteu numa perigosa e perversa ferramenta,<br />

a cumplicidade destes famosos arquitetos com sistemas políticos<br />

e económicos corruptos e a ruína intelectual que para a disciplina implicou<br />

esta espetacular miragem de omnipotência e saturação arquitetónica.<br />

A inquestionada legitimidade atribuída ao carisma pessoal acabou por<br />

devastar a força da combatividade crítica para este sistema e seus produtos.<br />

O processo famacrático consolidou-se graças à colaboração de muitos<br />

cérebros e atores do debate arquitetónico que poderiam ter proposto<br />

uma frente clara e rigorosa de resistência mas preferiram tornar-se em<br />

súbditos, trasladando para um segundo —e completamente manipulado e<br />

frivolizado— segundo plano a reflexão, outorgando assim a essa elite arquitetónica<br />

(e aos aspirantes a esse status e aos fervorosos crentes da famacracia)<br />

carta-branca para atuar à vontade, carecer de posicionamentos<br />

ideológicos e intelectuais consistentes ou mudá-los para sua melhor conveniência<br />

(em função do encargo-cliente-vaivém da atualidade) enquanto<br />

eles lucravam atuando eficientemente como encobertos publicitários ou<br />

refugiavam-se numa fuga melancólica para esse «melhor tempo intelectual<br />

passado». Cómoda posição a destes últimos que, por um lado, evitava-lhes<br />

os trabalhos e riscos que implica uma entrada em conflito com o sistema<br />

em poder e por outro lado, talvez, situava-os numa posição discreta a<br />

partir da qual, passado algum tempo, podiam elevar a voz num sentido ou<br />

noutro, segundo esses edifícios tivessem tido sucesso ou fracasso, desde<br />

essa facilidade que permite ter desnecessariamente razão quando se fala<br />

de patentíssimas evidências.<br />

Em ambos os casos, o protagonismo e ubiquidade desta arquitetura<br />

estrela e suas figuras supôs a ignoração de uma produção paralela de<br />

arquitetura que, por carecer da grandeur icónica e da fotogenia indispensáveis,<br />

não parecia merecer ser valorizada nem por meios nem por<br />

trendsetters-gurus a cargo de eventos, instituições, prémios...<br />

iii.<br />

Se o poder estabelecido que fixou a agenda da arquitetura dos últimos<br />

cinco lustros apostou por entronizar alguns arquitetos como regentes e<br />

criar sobre a marcha outras estrelas que cumpriram com os necessários<br />

requisitos para continuar a prolongar essa dinâmica de egos e o poder que<br />

lhes outorgava a sua fama, a chegada da recessão económica levou alguns<br />

desses gurus acima mencionados a entender que, em vez de autocrítica, o<br />

que fazia falta era levar a cabo uma mudança de atores, a fim de não ter<br />

de verem-se forçados a mudar o modelo. A queda e ruína da famacracia<br />

ameaçava levar demasiado por diante.<br />

41<br />

Preâmbulo

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