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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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em destaque 32 dutos, gerando 3,1 milhões de dólares para a marca. A fabricante de automóveis Hyundai anunciou, recentemente, o conceito “metamobility”. Esta mudança prevê, entre outras coisas, explorar a condução autónoma, bem como tornar os automóveis e a Mobilidade Aérea Urbana dispositivos inteligentes aptos a aceder a espaços virtuais. A robótica irá funcionar como um meio para conectar os mundos virtual e real. “Por exemplo, um automóvel que se conecte a espaços virtuais pode permitir que os utilizadores desfrutem de várias experiências de realidade virtual no veículo. Dependendo das necessidades do consumidor, um veículo pode ser transformado num espaço de entretenimento, numa sala de reuniões ou até mesmo numa plataforma de videojogos 3D”, detalhou a empresa. Os exemplos sucedem-se. A Deloitte virtualizou a sua Deloitte University e construiu um espaço imersivo onde colegas de todo o mundo se conheceram e colaboraram de forma natural, durante a pandemia. Construíram uma experiência de realidade mista, que “ressuscitou” o fundador William Deloitte e uma experiência de realidade aumentada para mostrar arte 3D numa parede dedicada na sua nova universidade na Índia. O Aeroporto Internacional de Hong Kong criou um “gémeo virtual” para ajudar as autoridades a agilizar a revisão de novos projetos de construção. E até mesmo uma cidade já anunciou que será a primeira neste novo “universo”: Seul planeia ter pronto, até ao final de 2022, um espaço virtual onde os sul-coreanos podem interagir com representações digitais de pessoas e objetos. Os residentes poderão fazer reservas, andar em autocarros turísticos, visitar recriações de locais históricos destruídos e registar queixas administrativas. Seul quer, assim, incluir todas as áreas da administração municipal e aumentar a eficiência dos funcionários públicos, superando as limitações físicas e as barreiras linguísticas... As experiências intensificam-se por todo o mundo e Portugal não é exceção. Luís Bravo Martins chama a atenção para o papel do nosso país nesta construção Em Portugal já existem mais de 100 empresas dedicadas às tecnologias imersivas do futuro. “Em Portugal, em março de 2021, havia 106 empresas dedicadas a estas tecnologias imersivas (VR e AR) e, agora, já há certamente mais. Temos uma oportunidade brutal, tendo em conta o ecossistema muito interessante que estamos a criar versus a nossa dimensão. Juntando a isto a oportunidade de estarmos a falar de um mercado emergente, temos a possibilidade de nos assumir como uma referência”. O especialista destaca o interesse transversal deste tipo de tecnologias, uma das peças do grande puzzle que será o metaverso. “Trazem um volume tremendo de benefícios e oportunidades para as empresas de todos os setores e estão numa fase de enorme crescimento. No ano passado, já foram vendidos dez milhões de dispositivos de realidade virtual. Sabe quantas consolas a Playstation vendeu? Cerca de seis milhões...”. GRANDES DESAFIOS As possibilidades parecem ilimitadas. As novas experiências em termos de educação, saúde, lazer e socialização, mas também a nova economia que será criada com novas profissões e oportunidades, soam a muito atrativas. Mas os desafios que esta verdadeira revolução tecnológica traz consigo são enormes. Por um lado, tudo o que é preciso desenvolver para que o metaverso seja uma realidade. Matthew Ball agrupa em oito grandes categorias os obstáculos que é necessário transpor: o hardware (todos os equipamentos necessários para aceder e interagir no metaverso, como headsets, luvas, mas também câmaras industriais ou sistemas de projeção); a largura, latência e fiabilidade das redes e a criação de todos os serviços de apoio; o gigante poder de computação exigido por funções tão exigentes como cálculo, sincronização de dados, inteligência artificial, captação de movimento ou tradução; a construção das plataformas virtuais onde as pessoas vão explorar, criar e socializar; os protocolos, os formatos e standards que permitam a interoperabilidade entre as diferentes plataformas; o desenvolvimento de formas de pagamento, baseadas na tecnologia blockchain; a criação e gestão de con-

teúdos, serviços e ativos digitais ligados aos dados e identidade de cada utlizador; a adoção de novos comportamentos sociais digitais, quer individuais, quer empresariais face a esta nova visão da vida diária. Cada um destes “obstáculos” exigirá investimentos muito avultados, uma enorme captação de talento, um sério trabalho em conjunto para pensar nas mais variadas questões ligadas à regulação, segurança e privacidade e ainda um grande tempo para serem solucionados. TAREFA COLETIVA Luís Bravo Martins é perentório em destacar outra necessidade urgente: “Há muitos, muitos desafios pelo caminho que precisam de ser salvaguardados e debatidos de forma muito clara. As novas ferramentas tecnológicas devem servir-nos enquanto seres humanos e não nos penalizarem. Não costuma haver tempo para a sua adoção. Sentimos rapidamente os benefícios mas não pensamos nas suas consequências. Com o metaverso, pela primeira vez, estamos a ter tempo para pensar no que poderá vir a ser e é mesmo importante que, desta vez, acertemos!”. E deixa um apelo: “Vamos todos pensar e discutir. As grandes empresas são os líderes de investigação e desenvolvimento, mas faz sentido haver outras entidades, como associações e fundações, que discutam estes temas a nível internacional e também em conjunto com os Governos, para se pensar no interesse público”. E não exclui qualquer formação, antes pelo contrário: “Imaginemos: nós os dois estamos a passear numa rua. Cada um está com os seus óculos de realidade aumentada... A memória que vamos ter daquela experiência é completamente diferente, porque eu posso estar a ver uma coisa e tu a ver outra. A realidade partilhada vai ser menor, por isso, em última instância, o que continua a ser a verdade? Isto implica muitas questões ligadas à verdade, à identidade, ao eu, à partilha, à presença... por isso, hoje, são imensamente necessários profissionais de filosofia, antropologia, As possibilidades desta nova revolução parecem ilimitadas, mas há um desafio que urge ganhar: o da literacia digital sociologia para olhar para isto. Precisamos que esses especialistas se juntem à discussão”. A terminar, partilha uma última preocupação ligada com a iliteracia. “O cidadão comum está um pouco a leste do que se está a passar. Ao longo desta década, de certeza que o seguinte vai acontecer: teremos tecnologias imersivas, possibilidade de ver estas experiências de forma partilhada com várias pessoas, óculos de realidade virtual e óculos de realidade aumentada, carros voadores, carros autónomos, computação quântica, blockchain, bitcoin, possibilidade de pagarmos com a nossa impressão digital... Tudo já com ofertas comerciais e preços mais acessíveis. Vamos começar a ter pessoas que vão às lojas e não percebem o que está a ser oferecido... Agora já há, mas vamos escalar para uma oferta 20, 30 vezes maior... É um risco gigantesco, pois podemos ter uma iliteracia em camadas e isto pode fazer com que haja muitas pessoas a ficarem de fora, excluídas de várias dinâmicas tecnológicas. Este tempo é precioso para pensarmos no que é que queremos que este metaverso seja. Que impactos terá? Nos espaços, no usufruto das cidades, nas famílias, no conceito de escola, nas empresas, nas profissões... Tudo isto vai ser brutal e é muito importante a divulgação destas novas tecnologias, pois serão elas que terão impacto profundo naquilo que será a nossa vida. As pessoas precisam de ouvir falar disto, é uma questão transversal. Se não queremos criar algo que vá ser distópico no futuro, o momento de agir é agora”.• 33

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