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METAVERSO<br />
O FUTURO EM 3D<br />
5G EM PORTUGAL<br />
A HORA DA VERDADE<br />
SEMANA DOS 4 DIAS<br />
SONHO OU REALIDADE?<br />
N.º <strong>241</strong> • MARÇO 2022 | ANO 35 • PORTUGAL • 3,25€<br />
JOANA MENDONÇA,<br />
PRESIDENTE DA ANI<br />
A ARTE DE<br />
CULTIVAR IDEIAS
“Parceiro do Ano”<br />
dos 5 lí<strong>de</strong>res em Cloud. *<br />
PARTNER<br />
A Devoteam chegou a Portugal, assumindo um novo posicionamento,<br />
novas competências e um reforço do investimento no mercado tecnológico português.<br />
Com uma vasta experiência em cloud, data, <strong>de</strong>sign e cibersegurança, escolha a<br />
Devoteam e os seus 8.000 especialistas para acelerar a sua jornada digital.<br />
* Reconhecimentos Devoteam: AWS Migration Partner of the Year 2021 - France;<br />
EMEA Partner of the Year Reseller 2021 da Google Cloud; 2021 Partner of the Year France da Microsoft;<br />
Implementation Partner of the Year 20/21 <strong>de</strong> SalesForce e Global Partner Award Winner 2021 <strong>de</strong> ServiceNow.<br />
Para conhecer<br />
melhor a Devoteam,<br />
visite o website<br />
Creative tech for Better Change
edit orial<br />
Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC<br />
Um ano <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios<br />
e oportunida<strong>de</strong>s<br />
Como comemoramos em março o Dia Internacional<br />
da Mulher, volto a assumir o<br />
<strong>de</strong>safio <strong>de</strong>ste editorial. É mais uma honra,<br />
das muitas que tenho acumulado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que cheguei à APDC, que me têm <strong>de</strong>safiado<br />
continuamente e levado muito além do que acreditava<br />
ser capaz. Ser mulher é justamente isso,<br />
é acreditar nas nossas capacida<strong>de</strong>s num espaço<br />
público ainda dominado por homens, como refere<br />
<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, Presi<strong>de</strong>nte da ANI, a nossa<br />
entrevistada da capa <strong>de</strong>sta edição.<br />
É que se o valor das mulheres na ciência, inovação<br />
e ambiente está <strong>de</strong>monstrado, como afirmou<br />
o secretário-geral da ONU, António Guterres,<br />
a realida<strong>de</strong> mostra que a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género<br />
nos cargos mais elevados <strong>de</strong>morará 130 anos a ser<br />
alcançada. Por isso, ainda há muito por alcançar.<br />
E os <strong>de</strong>safios não se ficam por aqui. Quando<br />
se pensava que 2022 seria sinónimo <strong>de</strong> crescimento<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento, com a aposta na dupla<br />
transição - ver<strong>de</strong> e digital – para um futuro<br />
comum mais sustentado, fomos confrontados<br />
com invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra na<br />
Europa é a mais digital <strong>de</strong> sempre, com os protagonistas<br />
a utilizarem o digital para comunicar,<br />
lançar <strong>de</strong>sinformação ou propaganda, hackear<br />
alvos ou recolher informação operacional. No<br />
momento em que escrevemos, tudo continua<br />
em aberto, mas os impactos na economia já se<br />
começam a sentir.<br />
A realida<strong>de</strong> mostra que um dos gran<strong>de</strong>s temas<br />
<strong>de</strong> 2022 é a cibersegurança, a par do 5G e do<br />
metaverso. São temas que a APDC quer <strong>de</strong>bater<br />
para preparar o futuro e, nesse contexto, avançámos<br />
com um novo projeto, que chamámos <strong>de</strong><br />
Hot Topics. Os primeiros episódios foram <strong>de</strong>dicados<br />
ao 5G, com protagonistas da linha da frente<br />
na sua implementação. Po<strong>de</strong>rá ver nesta edição<br />
quais as perspetivas para a nova tecnologia<br />
móvel. Para metaverso e tecnologias imersivas,<br />
convidámos Luís Bravo Martins, responsável<br />
<strong>de</strong>sta seção na APDC.<br />
Já po<strong>de</strong> também reservar a sua agenda para os<br />
dias 11 e 12 <strong>de</strong> maio, para o nosso 31º Digital Business<br />
Congress. O tema será “Tech & Economics<br />
– the way forward”, num evento que terá este<br />
ano como presi<strong>de</strong>nte o Dr. Paulo Portas. Vamos<br />
realizar mais uma vez um congresso em formato<br />
híbrido, voltando a contar com o know-how<br />
da RTP e dos seus dois jornalistas – João A<strong>de</strong>lino<br />
Faria e Cristina Esteves – para conduzirem dois<br />
dias <strong>de</strong> intenso <strong>de</strong>bate numa lógica <strong>de</strong> programa<br />
<strong>de</strong> televisão. Contaremos com prestigiados oradores,<br />
que vão apresentar o presente e antecipar<br />
o impacto <strong>de</strong>stes temas na socieda<strong>de</strong> e economia.<br />
Por isso, não perca! •<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> 240<br />
Proprieda<strong>de</strong> e Edição<br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS A 12<br />
Sofia Vaz Pires, CEO da Ericsson Portugal<br />
À CONVERSA 14<br />
<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Conselho<br />
<strong>de</strong> Administração da ANI, faz da inovação o<br />
seu mantra<br />
EM DESTAQUE 26<br />
Gran<strong>de</strong>s empresas tecnológicas disputam<br />
um lugar ao Sol no... Metaverso<br />
I TECH 32<br />
Bernardo Correia, country manager Portugal<br />
da Google<br />
NEGÓCIOS 34<br />
Com o 5G já disponível, o que vai acontecer<br />
no mercado português?<br />
MANAGEMENT 44<br />
A semana dos quatro dias é uma boa i<strong>de</strong>ia,<br />
ou apenas um wishful thinking?<br />
APDC NEWS 50<br />
CIDADANIA DIGITAL 62<br />
iLoF, inovação na saú<strong>de</strong> ma<strong>de</strong> in Portugal<br />
ÚLTIMAS 64<br />
14<br />
26<br />
34<br />
44<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
Comunicações<br />
Diretora executiva<br />
Sandra Fazenda Almeida<br />
sandra.almeida@apdc.pt<br />
Rua Tomás Ribeiro, 43, 8.º<br />
1050-225 Lisboa<br />
Tel.: 213 129 670<br />
Fax: 213 129 688<br />
Email: geral@apdc.pt<br />
NIPC: 501 607 749<br />
Diretor<br />
Eduardo Fitas<br />
eduardo.fitas@accenture.com<br />
Chefe <strong>de</strong> redação<br />
Isabel Travessa<br />
isabel.travessa@apdc.pt<br />
Secretária <strong>de</strong> redação<br />
Laura Silva<br />
laura.silva@apdc.pt<br />
Publicida<strong>de</strong><br />
Isabel Viana<br />
isabel.viana@apdc.pt<br />
Conselho editorial<br />
Abel Aguiar, Bernardo Correia, Bruno<br />
Casadinho, Carlos Leite, Eduardo Fitas,<br />
Filipa Carvalho, Francisco Febrero,<br />
Francisco Maria Balsemão, Guilherme<br />
Dias, Helena Féria, João Zúquete, José<br />
Correia, Luís Urmal Carrasqueira, Manuel<br />
Maria Correia, Marina Ramos, Miguel<br />
Almeida, Olívia Mira, Pedro Faustino,<br />
Pedro Gonçalves, Pedro Tavares, Ricardo<br />
Martinho, Rogério Carapuça, Vicente<br />
Huertas Prado e Vladimiro Feliz<br />
Edição<br />
Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />
Av. 5 <strong>de</strong> Outubro, 72, 4.º D<br />
1050-052 Lisboa<br />
Coor<strong>de</strong>nação editorial<br />
Ana Rita Ramos<br />
anarr@haveaniceday.pt<br />
Edição<br />
Teresa Ribeiro<br />
teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />
Design<br />
Mário C. Pedro<br />
marioeditorial.com<br />
Fotografia<br />
Vítor Gordo/Syncview<br />
Periodicida<strong>de</strong><br />
Trimestral<br />
Tiragem<br />
3.000 exemplares<br />
Preço <strong>de</strong> capa<br />
3,25 €<br />
Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
a abrir<br />
MODELOS DE NEGÓCIO<br />
DOS NOVOS TEMPOS<br />
DEPOIS DE QUASE DOIS ANOS <strong>de</strong> disrupção<br />
provocada pela pan<strong>de</strong>mia, que<br />
resultou numa mudança na relação das<br />
pessoas com o trabalho, o consumismo,<br />
a tecnologia e o planeta, as empresas<br />
terão <strong>de</strong> saber <strong>de</strong>senhar novos<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócio. A 15ª<br />
edição das Fjord Trends,<br />
da Accenture Interactive,<br />
diz que há que repensar<br />
abordagens ao <strong>de</strong>sign,<br />
inovação e crescimento.<br />
Destacam-se cinco comportamentos<br />
e tendências que<br />
vão afetar a socieda<strong>de</strong>, a<br />
cultura e os negócios: come<br />
as you are (individualismo<br />
crescente); the end of abundance<br />
thinking (mudança<br />
no ‘pensamento <strong>de</strong> abundância’);<br />
the next frontier<br />
(potenciada pelo metaverso);<br />
this much is true<br />
(capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta<br />
imediata); e handle with<br />
care (<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cuidar).<br />
Segundo este relatório, à<br />
medida que os consumidores<br />
reformulam todas<br />
as relações, as marcas<br />
terão <strong>de</strong> cuidar do mundo<br />
atual e construir o<br />
futuro. A chave está em<br />
compreen<strong>de</strong>r os impactos<br />
<strong>de</strong>ssas relações e<br />
aspirações e convertê-los<br />
em estratégias robustas <strong>de</strong> negócio<br />
que impulsionem a relevância<br />
e o crescimento.•<br />
Depois da pan<strong>de</strong>mia,<br />
os consumidores<br />
ten<strong>de</strong>m a<br />
reformular todas<br />
as suas relações e<br />
as marcas terão <strong>de</strong><br />
saber acompanhar<br />
PRIVACIDADE É CADA VEZ<br />
MAIS CRÍTICA<br />
A PRIVACIDADE é agora um verda<strong>de</strong>iro imperativo empresarial e<br />
uma componente crítica da confiança dos clientes nas organizações.<br />
Por isso, as empresas estão a investir forte neste âmbito e estão a<br />
conseguir obter um elevado retorno <strong>de</strong>sta aposta. O Data Privacy<br />
Benchmark 2022, da Cisco, mostra que 90% dos inquiridos não compra<br />
a uma organização que não proteja <strong>de</strong>vidamente<br />
os seus dados e 91% dizem que as certificações<br />
externas <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> são importantes no<br />
seu processo <strong>de</strong> compra. Abrangendo<br />
mais <strong>de</strong> 4.900 profissionais em 27 geografias,<br />
este relatório faz uma análise<br />
global anual das práticas empresariais<br />
relacionadas com a privacida<strong>de</strong>. Revela<br />
que 94% das organizações comunicam às<br />
suas li<strong>de</strong>ranças as métricas relacionadas<br />
com a privacida<strong>de</strong> e que os orçamentos<br />
nesta área aumentam em média 13%. Confirma<br />
ainda que alinhar a privacida<strong>de</strong> com<br />
a segurança cria vantagens financeiras e <strong>de</strong><br />
maturida<strong>de</strong> em comparação com outros<br />
mo<strong>de</strong>los. Mais <strong>de</strong> 60% dos inquiridos sente<br />
que obteve um valor empresarial significativo<br />
com a privacida<strong>de</strong>, sobretudo no que<br />
respeita à redução <strong>de</strong> atrasos nas vendas,<br />
mitigação <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> violações<br />
dos dados, habilitação da inovação, eficiência,<br />
construção <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> confiança com os<br />
clientes e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a sua empresa<br />
mais atrativa.•<br />
CURIOSIDADE<br />
TESTAR VOZ, IA<br />
E VIDEOCONFERÊNCIA NO ESPAÇO<br />
Não é ficção científica e está mesmo a acontecer: a Cisco, Amazon e Lockheed Martin<br />
uniram-se para integrar tecnologias exclusivas<br />
<strong>de</strong> interface homem-máquina na nave espacial<br />
Orion, da NASA. Querem <strong>de</strong>scobrir como po<strong>de</strong>rão<br />
os astronautas tirar partido das tecnologias <strong>de</strong> voz,<br />
IA e vi<strong>de</strong>oconferência <strong>de</strong> longa distância através <strong>de</strong><br />
tablets. Para isso criaram a solução Callisto, que será<br />
integrada na Orion durante a missão não tripulada<br />
Artemis I, em torno da Lua e <strong>de</strong> volta à Terra. A<br />
Callisto apresenta uma integração personalizada <strong>de</strong><br />
hardware e software e inclui tecnologia inovadora que<br />
permite à Alexa funcionar sem ligação à internet, e que o Webex seja executado num tablet<br />
utilizando a Deep Space Network da NASA.<br />
ILUSTRAÇÕES UNDRAW.CO
CURIOSIDADE<br />
BLACKBERRY, A MORTE<br />
DE UM ÍCONE<br />
Chegaram ao mercado em 2002, pelas mãos da<br />
Research In Motion, e rapidamente se tornaram o<br />
orgulho dos executivos <strong>de</strong> todo o mundo, sendo um<br />
verda<strong>de</strong>iro ícone. Tinham um teclado semelhante<br />
ao dos computadores e enviavam emails. Mas os<br />
Blackberry não conseguiram acompanhar o acelerado<br />
ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e chegaram<br />
agora ao fim <strong>de</strong> vida, com a marca canadiana a <strong>de</strong>ixar<br />
<strong>de</strong> dar suporte técnico aos ainda poucos dispositivos<br />
que po<strong>de</strong>riam estar ativos. A marca, essa, é conhecida<br />
agora por ser especializada em segurança informática.<br />
PORTUGAL: “JÓIA ESCONDIDA<br />
DA CONECTIVIDADE”<br />
PORTUGAL está muito bem posicionado para ser uma peça chave<br />
na estratégia europeia <strong>de</strong> dados. É que reúne um conjunto <strong>de</strong> condições<br />
únicas para ligar a Europa a mercados como a América do<br />
Norte, América do Sul, África e Médio Oriente/Ásia, ocupando uma<br />
posição geográfica central. O mais recente relatório da Deloitte diz<br />
mesmo que o país é uma “jóia escondida da conectivida<strong>de</strong>” europeia<br />
e que <strong>de</strong>ve aproveitar a explosão do consumo <strong>de</strong> dados para<br />
se posicionar no panorama europeu e mundial. O estudo diz que o<br />
país reúne condições únicas para atrair os maiores players tecnológicos<br />
que necessitam <strong>de</strong> expandir a sua oferta no mercado global<br />
<strong>de</strong> dados e po<strong>de</strong> beneficiar da nova visão da conectivida<strong>de</strong> da Europa,<br />
que garante financiamentos <strong>de</strong> mil milhões <strong>de</strong> euros através do<br />
Connecting Europe Facility. Aliás, gigantes como a Google e Facebook<br />
já estão a implementar uma nova geração <strong>de</strong> cabos submarinos<br />
no mercado nacional. A gran<strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> submarina, combinada<br />
com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> terrestre<br />
<strong>de</strong> alta capilarida<strong>de</strong> e redundância,<br />
que se liga aos principais<br />
hubs europeus, é outra<br />
vantagem. Acrescem<br />
os casos <strong>de</strong> sucesso<br />
<strong>de</strong> inovação nacionais,<br />
nomeadamente nas<br />
telecomunicações, setor<br />
que se tem <strong>de</strong>stacado.•<br />
Estudo diz que Portugal reune<br />
condições únicas para atrair os<br />
maiores players tecnológicos que<br />
necessitam <strong>de</strong> se expandir<br />
POTENCIAL DO 5G<br />
DEPENDE DA SUA<br />
MATURIDADE<br />
OS PRECURSORES DO 5G têm três<br />
vezes mais probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reter<br />
clientes e quase o dobro das hipóteses<br />
<strong>de</strong> aumentar a receita média por utilizador<br />
(ARPU) e a receita dos serviços<br />
móveis do que os <strong>de</strong>mais operadores.<br />
Isto porque po<strong>de</strong>m impulsionar proactivamente<br />
a inovação ao oferecer pelo<br />
menos três serviços <strong>de</strong> 5G, incluindo<br />
jogos na nuvem e RA/RV. A conclusão<br />
é do mais recente relatório do ConsumerLab<br />
da Ericsson, <strong>de</strong>nominado “Precursores<br />
do 5G”. Trata-se da 1ª análise<br />
<strong>de</strong> mercado ao 5G para consumidores<br />
a combinar dados <strong>de</strong> satisfação dos<br />
clientes com factos sobre o mercado,<br />
com base na avaliação das estratégias<br />
para a maturida<strong>de</strong> do 5G e as receitas<br />
<strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> 73 operadores em 22<br />
mercados, tendo em conta 105 critérios.<br />
São i<strong>de</strong>ntificadas quatro etapas<br />
<strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> dos prestadores <strong>de</strong><br />
serviços globais, com base na forma<br />
como utilizam o 5G para melhorar<br />
a satisfação dos consumidores e<br />
aumentar a sua quota: exploradores,<br />
potenciais, aspirantes e precursores.<br />
Estes últimos são consi<strong>de</strong>rados lí<strong>de</strong>res<br />
dos consumidores do 5G, situando-se<br />
sobretudo no Nor<strong>de</strong>ste Asiático e<br />
na América do Norte. Um terço<br />
está na Europa. Para emergirem<br />
como precursores, os<br />
operadores terão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
cobertura extensa<br />
e comunicar marcos,<br />
melhorar o marketing,<br />
a velocida<strong>de</strong>,<br />
explorar ofertas<br />
convergentes,<br />
proporcionar banda<br />
larga doméstica,<br />
inovar nos tarifários,<br />
ofecer experiências imersivas<br />
e fomentar parcerias e<br />
programas <strong>de</strong> ecossistemas.•<br />
7
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Nada disto é por acaso e é certo<br />
que foi estrategicamente pensado,<br />
uma vez que a Ucrânia está<br />
às cegas (…) O inimigo sabe que<br />
smartphones são olhos em todo<br />
o lado e que assim são observados<br />
pelo mundo. Como estes<br />
equipamentos e a forma como<br />
comunicam são uma verda<strong>de</strong>ira<br />
autoestrada <strong>de</strong> informações, há<br />
que entupir a mesma com DDOS.<br />
O que veremos a seguir será uma<br />
lição <strong>de</strong> segurança informática<br />
(…) Será o acordar das nações no<br />
que toca à cibersegurança”<br />
Nuno Mateus-Coelho, CNN<br />
Portugal, 24/2/2022<br />
“As motivações dos cibercrimes<br />
po<strong>de</strong>m ser diversas, uma circunstância<br />
que dificulta ainda mais o<br />
seu combate. Os ataques po<strong>de</strong>m<br />
acontecer por razões <strong>de</strong> natureza<br />
política, simples vingança, espionagem<br />
industrial ou extorsão. O<br />
inimigo é invisível e dificilmente<br />
<strong>de</strong>tetável, fator que o torna muito<br />
mais perigoso”<br />
Celso Filipe, Jornal <strong>de</strong> Negócios,<br />
11/02/2022<br />
Não há nada como sermos expostos<br />
à intempérie para percebermos<br />
como nos <strong>de</strong>vemos proteger.<br />
(…) É um alerta (ataque à Vodafone)<br />
para os responsáveis das<br />
instituições todas do país perceberem<br />
que todas as questões <strong>de</strong><br />
informática e cibersegurança são<br />
estruturais da vida em socieda<strong>de</strong>.<br />
(…) Tem <strong>de</strong> haver uma coligação<br />
<strong>de</strong> competências articulada sob<br />
um comando único”<br />
José Tribolet, Jornal i,<br />
09/02/2022<br />
11/01/2022<br />
CIBERSEGURANÇA OBRIGA<br />
A TER ESTRATÉGIA E EQUIPA…<br />
A MAIORIA DAS ORGANIZAÇÕES em Portugal estão dispostas<br />
a investir mais em cibersegurança, para mitigar e<br />
prevenir ameaças, como phishing, ataques <strong>de</strong> malware e<br />
ransomware. Mas precisam <strong>de</strong> uma estratégia para esta<br />
área e <strong>de</strong> ter equipas especializadas. A conclusão é do<br />
Cyber Survey da PwC, que mostra que cerca <strong>de</strong> um terço<br />
das organizações disponibiliza menos <strong>de</strong> 50 mil euros<br />
para investir na área, embora se <strong>de</strong>va ter em conta que o<br />
tecido empresarial é sobretudo composto por PME. Sendo<br />
a estratégia crítica, porque permite proteger os ativos<br />
e estimular a confiança dos mercados, é essencial ter um<br />
orçamento <strong>de</strong>dicado à cibersegurança, que permita às<br />
organizações alavancar as iniciativas previstas com base<br />
em análises <strong>de</strong> risco, e quantificar prejuízos associados<br />
à eventuais ameaças. Terão ainda <strong>de</strong> ter competências<br />
<strong>de</strong> cibersegurança, envolvendo pessoas, processos e<br />
investimentos em novas tecnologias. Das 56 organizações<br />
<strong>de</strong> 12 setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> abrangidas pelo estudo, as três<br />
principais preocupações entre os inquiridos são danos<br />
reputacionais, indisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistemas por longos<br />
períodos e os inci<strong>de</strong>ntes que causam perdas financeiras.•<br />
… AMEAÇAS VÃO VOLTAR<br />
A CRESCER EM 2022…<br />
ATAQUES ÀS CADEIAS <strong>de</strong> abastecimento, exploração do<br />
trabalho remoto, novos intervenientes no mercado negro,<br />
alvos na nuvem e o regresso dos ataques low level são algumas<br />
das tendências mais fortes em termos <strong>de</strong> cibersegurança<br />
para 2022, antecipando-se mudanças ao nível da<br />
estratégia dos ataques direcionados, ligadas à evolução<br />
da situação na socieda<strong>de</strong>, política e economia A análise<br />
é da Kaspersky Global Research and Analysis Team<br />
(GReAT). Os investigadores estão convictos <strong>de</strong> que este<br />
ano não vai ser mais fácil em termos <strong>de</strong> cibersegurança,<br />
pelo que a preparação das equipas <strong>de</strong> TI será essencial<br />
para mitigar ameaças. A exploração do trabalho remoto<br />
será uma das mais persistentes, como forma <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r às<br />
re<strong>de</strong>s das empresas. Vão também aumentar os ataques à<br />
segurança na cloud e serviços subcontratados, perante a<br />
rápida adoção <strong>de</strong> arquiteturas <strong>de</strong> computação em nuvem<br />
e software baseadas em micro serviços e executadas em<br />
infraestruturas <strong>de</strong> terceiros. Também as ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> abastecimento<br />
estarão na mira, assim como.os dispositivos<br />
móveis, em especial smartphones.•<br />
Estudo revela que<br />
empresas querem<br />
investir mais em<br />
cibersegurança.<br />
Mas muitas reservam<br />
menos <strong>de</strong> 50<br />
mil euros para o<br />
efeito<br />
A exploração do<br />
trabalho remoto<br />
será um dos mais<br />
importantes alvos<br />
<strong>de</strong> ciberataques<br />
ao longo <strong>de</strong>ste<br />
ano, prevê estudo<br />
da GReAT.<br />
8
… E 55% DAS ORGANIZAÇÕES<br />
NÃO TÊM DEFESA EFETIVA<br />
MAIS DE METADE (55%) das gran<strong>de</strong>s empresas não combate<br />
os ciberataques <strong>de</strong> forma efetiva e não são capazes <strong>de</strong> localizar<br />
e corrigir as quebras <strong>de</strong> segurança rapidamente ou reduzir<br />
o seu impacto. Cerca <strong>de</strong> 81% acredita que “estar um passo<br />
à frente dos ciberatacantes é uma batalha constante e o custo<br />
é insustentável”. A conclusão é do “State of Cyber Resilience<br />
2021”, um estudo da Accenture que revela os principais traços<br />
das empresas mais resilientes contra ataques.Com base em<br />
entrevistas a mais <strong>de</strong> 4 700 executivos <strong>de</strong> todo o mundo,<br />
incluindo 100 <strong>de</strong> Portugal, o estudo mostra que apesar <strong>de</strong><br />
no último ano 82% dos entrevistados terem aumentado os<br />
seus investimentos em cibersegurança, o número <strong>de</strong> ataques<br />
bem-sucedidos – que incluem o acesso não autorizado a<br />
dados, aplicações, serviços, re<strong>de</strong>s ou dispositivos – aumentou<br />
em 31%, para uma média <strong>de</strong> 270 por empresa. Por isso, há<br />
que alargar os esforços <strong>de</strong> cibersegurança para lá dos limites<br />
da própria empresa, para chegar a todo o ecossistema, até<br />
porque os ataques indiretos – ataques bem-sucedidos a uma<br />
organização através da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor – continuam a crescer.<br />
Por exemplo, apesar <strong>de</strong> dois terços (67%) das organizações<br />
acreditarem que o seu ecossistema é seguro, os ataques indiretos<br />
foram responsáveis por 61% <strong>de</strong> todos os ciberataques<br />
no ano passado, contra 44% no ano anterior.•<br />
A gran<strong>de</strong> maioria<br />
das empresas<br />
consi<strong>de</strong>ra que<br />
estar um passo à<br />
frente dos ciberatacantes<br />
é uma<br />
batalha <strong>de</strong> custos<br />
insustentáveis<br />
ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO<br />
NUMEROS<br />
3 MIL MILHÕES<br />
Foi a capitalização bolsista, em dólares,<br />
que a Apple alcançou na Wall Street,<br />
tornando-se na primeira 3-trillion dollar<br />
company <strong>de</strong> sempre em todo o mundo. Este<br />
valor astronómico culmina uma valorização<br />
que se iniciou em agosto <strong>de</strong> 2018, quando<br />
alcançou o bilião <strong>de</strong> dólares, e se alargou<br />
em agosto <strong>de</strong> 2021 para dois biliões. A<br />
pan<strong>de</strong>mia ajudou a big tech a levar pouco<br />
mais <strong>de</strong> 16 meses a alcançar a nova fasquia.<br />
621 MIL MILHÕES<br />
Foi o valor do investimento, em dólares,<br />
no ecossistema mundial <strong>de</strong> startups. Um<br />
recor<strong>de</strong> que mostra que o capital está a<br />
apoiar projetos com elevado potencial <strong>de</strong><br />
crescimento, que possam rapidamente<br />
transformar-se em unicórnios. Os números<br />
da CB Insights mostram que, apesar da<br />
pan<strong>de</strong>mia, o investimento mais do que<br />
duplicou. Estados Unidos, seguidos da Ásia<br />
e Europa, foram as regiões com maiores<br />
níveis <strong>de</strong> investimento.<br />
251 MIL MILHÕES<br />
Montante, em dólares, que a gigante Meta<br />
per<strong>de</strong>u em capitalização apenas num dia na<br />
Wall Street. Aconteceu a 3 <strong>de</strong> fevereiro, na<br />
sequência da apresentação dos resultados,<br />
que <strong>de</strong>sapontaram o mercado. Ainda assim,<br />
a dona do Facebook continua a ser a 8ª<br />
cotada mais valiosa nos EUA. Só o fundador,<br />
Mark Zuckerberg, que é o maior acionista,<br />
per<strong>de</strong>u 30 mil milhões <strong>de</strong> dólares.<br />
69 MIL MILHÕES<br />
É o maior investimento <strong>de</strong> sempre da<br />
Microsoft, em dólares, na compra da<br />
produtora <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ojogos Activision Blizzard.<br />
A operação é ainda a maior aquisição <strong>de</strong><br />
sempre no negócio dos jogos <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. A<br />
empresa <strong>de</strong>senvolve os populares ‘Call of<br />
Duty’, ‘World of Warcraft’ e ‘Candy Crush’,<br />
ficando a Microsoft com todo o grupo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong> intelectual e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> jogos até aos estúdios <strong>de</strong> jogos.<br />
9
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Neste momento, todas as apps<br />
são concebidas para recolherem<br />
dados ao máximo — as apps são<br />
as mulas da economia da vigilância<br />
e transportam dados dos<br />
telefones e computadores, esvaziando<br />
os alforges com dados<br />
nos servidores da Google, do Facebook,<br />
<strong>de</strong> ad tech e tudo o resto”<br />
Shoshana Zuboff, Público,<br />
09/01/2022<br />
“Repensar a organização pós<br />
-pandémica é olhar para as pequenas-gran<strong>de</strong>s<br />
oportunida<strong>de</strong>s.<br />
Por um lado, moldar o mo<strong>de</strong>lo<br />
híbrido que melhor se a<strong>de</strong>qua<br />
a cada empresa, por outro,<br />
promover uma nova cultura<br />
partilhada, que aposta na capacitação<br />
digital <strong>de</strong> todos os trabalhadores<br />
e no seu sentimento <strong>de</strong><br />
pertença (…). O futuro do trabalho<br />
po<strong>de</strong> ser radioso. Importa,<br />
agora, aproveitar o momento”<br />
Guilherme Grey, ECO online,<br />
23/11/2021<br />
“Um ataque <strong>de</strong>stas dimensões<br />
a um jornal e a uma televisão é<br />
também um ataque à <strong>de</strong>mocracia,<br />
cujos fundamentos assentam<br />
precisamente na liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> informar e <strong>de</strong> ser informado”<br />
Editorial, Semanário Expresso,<br />
07/01/2022<br />
“O dinheiro e a tecnologia vão<br />
sempre chegar antes da legislação.<br />
A lei é tradicionalmente<br />
mais lenta, porque é reativa.<br />
Com o RGPD tentámos preparar-nos<br />
para o futuro (…) Mas há<br />
muitas tecnologias novas que<br />
trazem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualizar<br />
regras existentes e temos <strong>de</strong><br />
fazer isto sem impedir ou travar<br />
o processo <strong>de</strong> inovação”<br />
Vera Jourová, Público, 16/11/2021<br />
TRABALHO HÍBRIDO<br />
É INCONTORNÁVEL<br />
O TRABALHO HÍBRIDO vai tornar-se uma realida<strong>de</strong> incontornável<br />
à escala global, com a digitalização e automatização a<br />
conhecer níveis sem prece<strong>de</strong>ntes e a renovada priorização<br />
do bem-estar das pessoas. A previsão é da Microsoft, que<br />
apresentou as <strong>de</strong>z principais tendências <strong>de</strong> trabalho que<br />
marcaram 2021 e que se manterão em 2022. Assim, pelo<br />
menos meta<strong>de</strong> da mão-<strong>de</strong>-obra global está em movimento.<br />
O paradoxo do mo<strong>de</strong>lo híbrido mostra que não há uma fórmula<br />
“one-size-fits-all”, pelo que o futuro passará por dar aos<br />
colaboradores a flexibilida<strong>de</strong> para conceberem o horário <strong>de</strong><br />
trabalho que melhor se adapta às suas vidas. Já o investimento<br />
no capital social nunca foi tão importante, tendo <strong>de</strong><br />
se investir na construção <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> empatia e <strong>de</strong><br />
escuta ativa por p<strong>arte</strong> dos lí<strong>de</strong>res. Face aos imprevistos das<br />
reuniões híbridas, há que tornar a experiência <strong>de</strong> interação<br />
mais real e natural. Tal como apostar na colaboração<br />
assíncrona, uma forma <strong>de</strong> trabalhar em conjunto que não<br />
exige que as pessoas trabalhem ao mesmo tempo. Flexibilida<strong>de</strong><br />
é a palavra do ano, quer nos espaços físicos, quer nas<br />
políticas para os colaboradores.•<br />
ANALÍTICA E IA SÃO CADA VEZ<br />
MAIS CRÍTICAS<br />
A ANALÍTICA E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL são hoje verda<strong>de</strong>iramente<br />
essenciais para enfrentar os <strong>de</strong>safios, num<br />
mundo que continuará a ser marcado pela Covid 19. As<br />
alterações climáticas, o crescimento do ecomm e a continuação<br />
da transformação digital vão continuar a ser gran<strong>de</strong>s<br />
tendências, diz o SAS num estudo que realizou para ajudar<br />
a planear 2022. Entre elas está a adoção <strong>de</strong> uma IA ética,<br />
que se assume como nova vantagem competitiva, uma vez<br />
que está em todo lado e vai ter um papel cada vez mais<br />
importante nos próximos anos. Os processos <strong>de</strong> compras<br />
na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecimento são outro <strong>de</strong>safio, assim como<br />
os ataques cibernéticos indiretos, que estão a aumentar,<br />
com os invasores a explorar cada vez mais as relações <strong>de</strong><br />
confiança estabelecidas entre empresas e fornecedores.<br />
Este será também um ano <strong>de</strong> ação para a maioria das<br />
instituições na Europa em termos <strong>de</strong> clima e sustentabilida<strong>de</strong>.<br />
Fornecer ao cliente uma experiência envolvente com<br />
tecnologias inteligentes, num mundo sem cookies, é outra<br />
tendência. Tal como uma abordagem para um ambiente <strong>de</strong><br />
trabalho mais flexível.•<br />
Flexibilida<strong>de</strong> é a<br />
palavra do ano do<br />
mundo laboral,<br />
quer relativamente<br />
aos espaços<br />
físicos, quer nas<br />
políticas para os<br />
colaboradores<br />
Entre as tendências<br />
para 2022<br />
i<strong>de</strong>ntificadas pelo<br />
SAS está a adoção<br />
da IA ética, algo<br />
que se consi<strong>de</strong>ra<br />
uma vantagem<br />
competitiva
EXPERIÊNCIA DE COMPRA HÍBRIDA<br />
SERÁ DOMINANTE EM 2030...<br />
TER UMA EXPERIÊNCIA <strong>de</strong> compra híbrida, disfrutar <strong>de</strong> interações<br />
e conexões sociais num ambiente físico ligado em re<strong>de</strong> e<br />
situado perto <strong>de</strong> casa e usar óculos <strong>de</strong> RA ou <strong>de</strong> RV à prova <strong>de</strong><br />
água, fatos hápticos e luvas táteis, entre outros equipamentos<br />
– estas são algumas das expetativas dos consumidores já em<br />
2030, revela o mais recente ConsumerLab da Ericsson, que<br />
aponta as <strong>de</strong>z gran<strong>de</strong>s tendências <strong>de</strong> consumo para os próximos<br />
oito anos. Na sua 11º edição, o relatório diz que um dos<br />
aspetos comuns da vida diária da maioria dos consumidores<br />
pioneiros seja uma mistura <strong>de</strong> tecnologia com conectivida<strong>de</strong>,<br />
integrada em ambientes físicos reais que potenciem experiências<br />
<strong>de</strong> compras e consumo. Será uma nova realida<strong>de</strong> híbrida<br />
para, pelo menos, 57 milhões <strong>de</strong> pessoas em 2030. Este trabalho<br />
assenta em dados <strong>de</strong> um inquérito online realizado durante<br />
outubro e novembro <strong>de</strong> 2021 a consumidores pioneiros <strong>de</strong><br />
RA, RV e assistentes digitais em 14 cida<strong>de</strong>s. Abordando as suas<br />
perspetivas, numa linha temporal até 2030, através <strong>de</strong> um<br />
shopping ficcionado “Everyspace Plaza”, os consumidores avaliaram<br />
15 infraestruturas <strong>de</strong> shoppings híbridos que aumentam<br />
a experiência física com recurso à tecnologia digital. Quatro<br />
em cinco dos inquiridos acredita que os conceitos testados<br />
estarão disponíveis, <strong>de</strong> alguma forma, em 2030.•<br />
… E COMPRAS NAS REDES<br />
SOCIAIS DISPARAM ATÉ 2025<br />
58% DA POPULAÇÃO<br />
MUNDIAL UTILIZA<br />
REDES SOCIAIS<br />
OS UTILIZADORES <strong>de</strong> plataformas<br />
digitais cresceram mais <strong>de</strong> 10% em<br />
2021, ganhando 424 milhões novos<br />
utilizadores nos últimos 12 meses. As<br />
re<strong>de</strong>s sociais contam com 4,62 milhões<br />
<strong>de</strong> utilizadores em todo o mundo,<br />
o que equivale a 58% da população<br />
mundial. Os dados são da Hootsuite,<br />
plataforma especializada na gestão <strong>de</strong><br />
re<strong>de</strong>s sociais, e We Are Social, agência<br />
criativa <strong>de</strong> social media, que anunciaram<br />
o “Digital 2022”, relatório que<br />
apresenta algumas tendências digitais<br />
a nível global. O estudo revela que os<br />
internautas garantem que passam<br />
quase sete horas por dia a navegar no<br />
mundo digital e <strong>de</strong>dicam em média<br />
duas horas e 27 minutos/dia às<br />
re<strong>de</strong>s sociais. Cerca <strong>de</strong> 46% dos utilizadores<br />
são mulheres, enquanto 54%<br />
são homens. O Facebook continua a<br />
ser a re<strong>de</strong> social mais usada, seguido<br />
pelo YouTube e WhatsApp.•<br />
O COMÉRCIO SOCIAL, realizado através <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> social,<br />
já representa 492 mil milhões <strong>de</strong> dólares, valor que <strong>de</strong>verá<br />
crescer para 1,2 mil milhões <strong>de</strong> dólares até 2025. Em conjunto,<br />
os millenials e a geração Z vão representar 62% <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />
comércio, antecipa um estudo da Accenture. Denominado<br />
“Why Shopping’s Set for a Social Revolution”, conclui que quase<br />
dois terços (64%) dos utilizadores <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais inquiridos já<br />
fizeram pelo menos uma compra através <strong>de</strong>ssas plataformas,<br />
ou seja cerca <strong>de</strong> dois mil milhões <strong>de</strong> pessoas em todo o mundo.<br />
Esta tendência constitui nova oportunida<strong>de</strong> para as plataformas<br />
e marcas, incluindo as empresas <strong>de</strong> menor dimensão,<br />
já que 59% dos inquiridos diz estar mais propenso a apoiar<br />
PME através <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> comércio do que quando compram<br />
via sites. Há, contudo, uma barreira para alguns utilizadores,<br />
que temem que as compras não sejam protegidas ou reembolsadas.<br />
Os consumidores dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />
utilizam o social commerce com mais frequência.•<br />
ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO<br />
11
5 perguntas<br />
12<br />
SOFIA VAZ PIRES:<br />
Conciliar negócio<br />
e pessoas<br />
Des<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2021 à frente da Ericsson Portugal, Sofia Vaz<br />
Pires regressa à casa on<strong>de</strong> começou a sua carreira profissional<br />
<strong>de</strong>terminada a li<strong>de</strong>rar com autenticida<strong>de</strong> e confiança, mantendo<br />
o equilíbrio certo entre priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio e equipas.<br />
Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa| Fotos <strong>de</strong> Vítor Gordo/ Syncview<br />
Quais as suas metas como CEO da<br />
Ericsson Portugal?<br />
É com orgulho e agra<strong>de</strong>cimento que<br />
reconheço ter, ao longo da minha<br />
carreira, recordado inúmeras vezes<br />
a primeira experiência na Ericsson<br />
como uma referência <strong>de</strong> cultura<br />
organizacional, com valores humanos,<br />
éticos e profissionais únicos e<br />
excecionais. Nos cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />
que exerci, foi na Ericsson Portugal<br />
que aprendi o verda<strong>de</strong>iro sentido<br />
<strong>de</strong> walk an extra mile pelo cliente. Foi<br />
uma experiência inspiradora. Exigiu<br />
muita capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com<br />
os clientes e a habilida<strong>de</strong> para perceber<br />
a complexida<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> um<br />
portefólio <strong>de</strong> soluções e benefícios<br />
estratégicos que respon<strong>de</strong>ssem aos<br />
seus requisitos. Chego novamente à<br />
Ericsson com o mesmo espírito colaborativo,<br />
tentando conciliar o lado<br />
humano com a gestão do negócio.<br />
Quero contribuir com uma li<strong>de</strong>rança<br />
assente na autenticida<strong>de</strong> e confiança,<br />
superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios diários e<br />
alcance <strong>de</strong> metas, que sejam motivo<br />
<strong>de</strong> orgulho e reconhecimento para a<br />
equipa.<br />
Passar <strong>de</strong> uma telco para um fornecedor<br />
é um <strong>de</strong>safio acrescido?<br />
É uma perspetiva complementar da<br />
mesma indústria, muito enriquecedora<br />
para mim, e uma vantagem<br />
para o negócio e equipas. A minha<br />
experiência recente num operador<br />
<strong>de</strong> referência nacional, complementada<br />
com a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />
que assumi num operador<br />
com escala mundial, permitiu-me <strong>de</strong>senvolver<br />
um profundo conhecimento<br />
sobre as priorida<strong>de</strong>s do negócio<br />
e principais pain-points dos clientes.<br />
Dessa forma, é possível garantir a<br />
entrega das melhores soluções, que<br />
respondam da forma mais a<strong>de</strong>quada<br />
às necessida<strong>de</strong>s dos clientes, para<br />
que sejam mais competitivos e se<br />
diferenciem na qualida<strong>de</strong> do que<br />
oferecem.<br />
A sua experiência internacional<br />
está a fazer a diferença?<br />
A minha experiência internacional,<br />
em várias empresas e diferentes<br />
geografias e continentes, permitiu-<br />
-me o contacto com outras culturas e<br />
o conhecimento <strong>de</strong> outras dinâmicas<br />
<strong>de</strong> mercado. Também a gestão <strong>de</strong><br />
múltiplos <strong>de</strong>safios possibilitou-me<br />
acelerar a minha curva <strong>de</strong> aprendizagem<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento pessoal<br />
e profissional. A combinação <strong>de</strong>stes<br />
múltiplos eixos resulta numa rápida<br />
adaptação a novas situações e <strong>de</strong>safios,<br />
que se traduz na minha forma<br />
<strong>de</strong> ser e estar, algo que consi<strong>de</strong>ro<br />
diferenciador, com resultados no<br />
<strong>de</strong>sempenho das equipas e do negócio.<br />
In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do contexto<br />
geográfico ou da natureza da função,<br />
consi<strong>de</strong>ro que um <strong>de</strong>safio comum<br />
inerente aos cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança é<br />
a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o equilíbrio<br />
certo entre as diferentes priorida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> negócio e o lado humano das<br />
organizações.<br />
É pouco comum estar uma mulher<br />
à frente <strong>de</strong> uma empresa TIC. Sente<br />
que é uma exceção à regra?<br />
A minha trajetória é o resultado <strong>de</strong><br />
muita <strong>de</strong>dicação, perseverança e<br />
<strong>de</strong>terminação. Espero <strong>de</strong> alguma<br />
forma conseguir inspirar outras<br />
jovens a seguirem os seus sonhos e,<br />
simultaneamente, contribuir para o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do setor tecnológico<br />
em Portugal.<br />
Como olha para o 5G no mercado<br />
nacional?<br />
A Ericsson está preparada para<br />
implementar a solução em todo o<br />
país, amanhã, se necessário, com a<br />
melhor qualida<strong>de</strong> tecnológica. Por<br />
conhecermos tão bem o 5G - somos<br />
lí<strong>de</strong>res globais no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e implementação - estamos cientes<br />
da sua importância para a estratégia<br />
nacional <strong>de</strong> transformação digital.<br />
Para Portugal o 5G é fundamental,<br />
caso queiramos continuar na linha<br />
da frente. Nos primeiros anos <strong>de</strong><br />
implementação, os ganhos serão<br />
essencialmente <strong>de</strong> cariz económico,<br />
com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a<br />
produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> setores estratégicos.<br />
Desenvolvemos um estudo no<br />
final <strong>de</strong> 2019, que mantém atualida<strong>de</strong>,<br />
que aponta para um impacto<br />
adicional <strong>de</strong> 3,6 mil milhões <strong>de</strong> euros<br />
na economia portuguesa até 2030,<br />
no âmbito das TIC nacionais, com<br />
mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> a recair na saú<strong>de</strong>,<br />
manufatura, energia e utilities, automóvel<br />
e segurança pública. Outros<br />
estudos indicam que o potencial <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> valor económico do 5G<br />
para Portugal aumentará exponencialmente<br />
- cerca <strong>de</strong> 17 mil milhões<br />
<strong>de</strong> euros até 2035 – beneficiando<br />
todos os setores económicos.
“Quero contribuir com uma li<strong>de</strong>rança assente<br />
na autenticida<strong>de</strong> e confiança, superação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>safios diários e alcance <strong>de</strong> metas que sejam<br />
motivo <strong>de</strong> orgulho e reconhecimento para a<br />
equipa”<br />
13
a conversa<br />
14<br />
“O nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnio é potenciar o que já existe. E o que existe é bom”
INOVAR<br />
OU<br />
INOVAR?<br />
Eis a pergunta que faz a si própria, todos os dias,<br />
<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, a primeira mulher à frente da<br />
ANI - Agência Nacional <strong>de</strong> Inovação. Ela acredita<br />
que só inovando é possível promover o aumento<br />
da competitivida<strong>de</strong> das empresas. E convicção<br />
não lhe falta.<br />
TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“Fazer é sempre mais difícil do que pensamos, mas a forma como enfrentamos as dificulda<strong>de</strong>s inerentes à função é o que faz a diferença”
Transbordante. Talvez seja uma boa palavra para <strong>de</strong>finir<br />
<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, professora do Instituto Superior<br />
Técnico e presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Administração da<br />
Agência Nacional <strong>de</strong> Inovação (ANI). Com um doutoramento<br />
em Engenharia e Gestão Industrial, um mestrado<br />
em Engenharia e Gestão Tecnológica e uma licenciatura<br />
em Química Tecnológica, <strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong> tem<br />
um percurso peculiar. Recebeu-nos sem cerimónias<br />
na se<strong>de</strong> da ANI, em Lisboa, on<strong>de</strong> falámos um pouco <strong>de</strong><br />
tudo, nomeadamente do estímulo do investimento em<br />
investigação e <strong>de</strong>senvolvimento e da participação em<br />
re<strong>de</strong> por p<strong>arte</strong> das empresas e entida<strong>de</strong>s do sistema<br />
científico e tecnológico.<br />
Nasceu no seio <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> cientistas, o que<br />
forjou, inescapavelmente, o seu percurso académico.<br />
Depois, o seu espírito arguto fez o resto. É a primeira<br />
mulher à frente da ANI, mas não se intimida com isso.<br />
Pelo contrário.<br />
Ouvi-la é auscultar um tempo, uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança.<br />
Desconcerta perceber o seu pragmatismo mas,<br />
ao mesmo tempo, a sua subtileza. Ao longo <strong>de</strong>sta entrevista<br />
brindou-nos várias vezes com a sua gargalhada<br />
contagiosa e a sua atitu<strong>de</strong> genuinamente <strong>de</strong>scontraída.<br />
Tem as memórias da sua infância atafulhadas<br />
<strong>de</strong> livros e, talvez por isso, fala do futuro a olhar para<br />
o mundo inteiro. É lá o seu lugar. Mas refere-se à sua<br />
vida colocando-a entre o banal e o precioso. Sem salamaleques,<br />
sem peneiras.<br />
17
a conversa<br />
Tive uma infância como<br />
tantas outras crianças.<br />
Lembro-me que lia imenso.<br />
A aprendizagem da leitura<br />
foi uma revolução na minha<br />
vida, porque simplesmente<br />
<strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> me aborrecer.<br />
Antes da leitura era uma<br />
miúda que se aborrecia<br />
imenso. Isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />
acontecer. Os meus pais<br />
são cientistas e eu tinha à<br />
minha disposição imensos<br />
livros <strong>de</strong> investigação<br />
científica<br />
18
O seu percurso é muito ligado aos temas da inovação e<br />
da engenharia. Como era a <strong>Joana</strong> em criança? Como se<br />
divertia? Como foi a sua infância?<br />
Tive uma infância como tantas outras crianças. Lembro-me<br />
que lia imenso. A aprendizagem da leitura foi<br />
uma revolução na minha vida porque, simplesmente,<br />
<strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> me aborrecer. Antes da leitura, era uma miúda<br />
que se aborrecia imenso. Isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> acontecer.<br />
Os meus pais são cientistas e eu tinha à disposição<br />
imensos livros <strong>de</strong> investigação científica.<br />
Ah, os seus pais são cientistas… Isso explica muita<br />
coisa.<br />
Sim. São físicos.<br />
Portanto, isso também a influenciou...<br />
Sim. Acredito que sim. Nunca pensei muito nisso.<br />
Que livros se lembra <strong>de</strong> a terem marcado?<br />
Um <strong>de</strong>les foi a história da<br />
Marie Curie. Embora o livro<br />
que li fosse um pouco<br />
romanceado, escrito pela<br />
filha, tocou-me imenso.<br />
Foi a única mulher que ganhou<br />
o Prémio Nobel em<br />
duas categorias diferentes<br />
– da Física e da Química.<br />
Porque é que a história<br />
<strong>de</strong>la a marcou?<br />
Porque é incrível! Ela vem<br />
da Polónia para a França,<br />
tinha uma inteligência<br />
surpreen<strong>de</strong>nte e teve uma vida profissional muito<br />
intensa.<br />
Não querendo o ramo<br />
do ensino ou da ciência<br />
pura, achei que a área<br />
tecnológica era aquela que<br />
me permitiria fazer coisas,<br />
pôr a mão na massa<br />
Isso justifica ter ido para Química Tecnológica!? Explique<br />
como escolheu este curso…<br />
Naquela ida<strong>de</strong> nós não sabemos ao que vamos. Mas<br />
tendo seguido Química, e não querendo o ramo do ensino<br />
nem da ciência pura, achei que a área tecnológica<br />
era aquela que me permitiria fazer coisas, pôr a mão na<br />
massa. Trabalhei muito durante o curso – era um ramo<br />
muito difícil. Acho que foi no curso que <strong>de</strong>senvolvi a<br />
minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho. F<strong>arte</strong>i-me <strong>de</strong> trabalhar,<br />
mas nem notava, porque gostava genuinamente<br />
daquilo.<br />
Já percebi que gostou muito da universida<strong>de</strong>...<br />
Sim. Muito. Mas já abandonei a Química Tecnológica<br />
há muitos anos.<br />
Retomando o fio à meada... o que fez <strong>de</strong> marcante a<br />
seguir?<br />
Fui para a Suíça trabalhar. É curioso que para algumas<br />
pessoas o mais difícil <strong>de</strong> ir<br />
trabalhar para o estrangeiro<br />
é o regresso.<br />
O que foi fazer para a<br />
Suíça?<br />
Um estágio no âmbito <strong>de</strong><br />
um protocolo com a universida<strong>de</strong>.<br />
Na verda<strong>de</strong>, fui<br />
para a Suíça porque nasci<br />
em França e a minha primeira<br />
língua foi o francês<br />
– queria recuperar o meu<br />
francês. Só que em Berna,<br />
on<strong>de</strong> eu estive, fala-se alemão.<br />
Paciência, aprendi alemão! Também não foi mau<br />
(risos)!<br />
Reviu-se nela?<br />
Não propriamente. Mas achei o seu percurso<br />
apaixonante.<br />
Portanto, em sua casa, a curiosida<strong>de</strong> pela ciência era<br />
uma constante? O espanto perante o mundo é um reduto<br />
para on<strong>de</strong> apetece sempre regressar?<br />
A curiosida<strong>de</strong> sim, agora o espanto… Eu compreendo o<br />
que diz sobre o espanto, mas na ciência, <strong>de</strong> facto, não<br />
é bem o espanto que nos move. O espanto está geralmente<br />
associado a uma coisa mágica e na ciência isso<br />
não existe. A ciência é o resultado <strong>de</strong> muito trabalho.<br />
Eu cresci habituada à conversa sobre ciência, on<strong>de</strong> o<br />
espanto não costumava ter lugar.<br />
Esteve quanto tempo na Suíça?<br />
Um ano letivo, a estudar a síntese <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> vitamina<br />
B12. Depois voltei a Portugal.<br />
E o que se passou a seguir na sua vida?<br />
Entrei no ITN - instituto Tecnológico Nuclear, que agora<br />
pertence ao Técnico. Fui fazer síntese <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados<br />
<strong>de</strong> inorgânicos. Adquiri imensa experiência na Suíça,<br />
aprendi imenso. Este foi o meu primeiro emprego.<br />
E como correu?<br />
Foi um choque cultural. As formas <strong>de</strong> trabalho, a organização<br />
do laboratório, todas as ineficiências... Tudo<br />
aquilo me começou a fazer comichão. E, no alto da minha<br />
ingenuida<strong>de</strong>, pensei: “Tenho <strong>de</strong> mudar a maneira<br />
<strong>de</strong> fazer ciência em Portugal”.<br />
19
Mas essa mudança tarda a chegar…<br />
Sim. Alguém dizia que só haverá verda<strong>de</strong>ira igualda<strong>de</strong><br />
quando houver tantas mulheres incompetentes no<br />
topo das organizações como homens. Há pouco tempo,<br />
a ministra espanhola (dos Assuntos Económicos<br />
e Transformação Digital, Nadia Calviño), <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>ia<br />
conversa<br />
20<br />
Que ida<strong>de</strong> tinha?<br />
25 anos. Nesta ida<strong>de</strong> acredita-se nestas coisas com<br />
toda a convicção (risos). Então candidatei-me a um<br />
mestrado <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Tecnologia no Técnico, com a<br />
ambição <strong>de</strong> obter ferramentas para gerir ciência com<br />
eficácia. O mestrado era coor<strong>de</strong>nado pelo atual ministro<br />
da Ciência, professor Manuel Heitor. Na carta <strong>de</strong><br />
candidatura, escrevi aquilo em que acreditava profundamente:<br />
“Quero mudar a forma como se faz ciência<br />
em Portugal!”. Ele adorou a minha carta! E na entrevista<br />
com ele – são conhecidas as entrevistas muito difíceis<br />
que faz – como sou uma leitora compulsiva, li os<br />
artigos todos <strong>de</strong>le e a entrevista não po<strong>de</strong>ria ter corrido<br />
melhor. Ele acabou por convidar-me a trabalhar com<br />
ele, para estudar inovação. Foi assim que abandonei a<br />
Química. Fui estudar inovação no sector químico.<br />
Isso fez todo o sentido na<br />
sua carreira...<br />
Sim. O mestrado associa<br />
pessoas com know-how tecnológico<br />
a ferramentas <strong>de</strong><br />
gestão para entrarem nas<br />
empresas e no mercado e<br />
gerirem tecnologia.<br />
E isso é crítico?<br />
Sim. Por isso recuperámos<br />
recentemente esse mestrado<br />
no Técnico.<br />
De certa forma o professor Manuel Heitor veio <strong>de</strong>sarrumar-lhe<br />
um bocadinho a vida. Desencaminhá-la.<br />
Totalmente. Várias vezes ao longo da vida.<br />
A mulher que é hoje é fruto do seu percurso até aqui?<br />
Ou isto é só conversa <strong>de</strong> psicanalista? Importa realmente<br />
olhar para trás?<br />
Claro que importa. Somos fruto <strong>de</strong> todas as nossas<br />
vivências.<br />
Em Portugal é difícil tomar riscos? Sobretudo se se é<br />
mulher?<br />
Sim, é verda<strong>de</strong>.<br />
Acha que o facto <strong>de</strong> ser mulher condicionou a sua vida<br />
profissional? A questão <strong>de</strong> género foi relevante no percurso<br />
que fez até aqui? Ou é daquelas mulheres que<br />
não gosta <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>stes assuntos?<br />
Temos <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>stes assuntos! Aliás, mu<strong>de</strong>i <strong>de</strong> opinião<br />
sobre isto há pouco tempo. Antes achava que isto não<br />
era questão sequer. Mas hoje acho que é. Temos <strong>de</strong> falar<br />
disto! Porque se não falarmos as coisas não mudam.<br />
Na carta <strong>de</strong> candidatura<br />
(ao mestrado <strong>de</strong> Gestão<br />
<strong>de</strong> Tecnologia no Técnico)<br />
escrevi: “Quero mudar a<br />
forma como se faz ciência<br />
em Portugal”<br />
Até porque todas, potencialmente, po<strong>de</strong>remos ter<br />
filhas...<br />
Sim. Eu tenho duas. É preciso que elas percebam a realida<strong>de</strong><br />
que vão encontrar. Nas minhas aulas – sou professora<br />
<strong>de</strong> Design Thinking no Técnico – os rapazes intervêm<br />
mais, são muito mais participativos. Isto é<br />
uma questão cultural e <strong>de</strong> educação. Eu dou umas aulas<br />
com um colega espetacular e ele no outro dia <strong>de</strong>u-<br />
-me os parabéns porque, numa das nossas aulas, eu<br />
virei-me para a turma e disse: “Agora fala uma rapariga”.<br />
E, a partir daquele momento, a dinâmica da aula<br />
<strong>de</strong>sbloqueou.<br />
Por que é que acha que isso acontece?<br />
Não lhe sei dizer. Acho que tem a ver com a forma <strong>de</strong><br />
ocupação do espaço comum. E isto não é apenas uma<br />
realida<strong>de</strong> portuguesa. Tenho<br />
muitos alunos estrangeiros,<br />
cerca <strong>de</strong> 50%, e a situação<br />
é a mesma.<br />
Como se sente sendo uma<br />
mulher num mundo <strong>de</strong><br />
homens?<br />
Tenho pensado mais nisso<br />
agora que estou nesta função.<br />
Primeiro porque estou<br />
mais exposta ao espaço<br />
público. Não tenhamos<br />
ilusões: o espaço público é<br />
dominado por homens. A<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventos a que vou, em que só ouvimos<br />
homens a falar, ou apenas uma mulher para ficar bem<br />
na fotografia, é assustador. E acontece o mesmo nas<br />
organizações. No outro dia visitei uma empresa, reuni<br />
com o conselho <strong>de</strong> administração, constituído só por<br />
homens, e comentei: “Estão a precisar <strong>de</strong> uma mulher,<br />
não?”. Ao que o lí<strong>de</strong>r me respon<strong>de</strong>u: “Pois, isso agora<br />
está na moda!”. A consciencialização <strong>de</strong> que a diversida<strong>de</strong><br />
– não só <strong>de</strong> género – é essencial nas empresas é um<br />
caminho que tem <strong>de</strong> se fazer urgentemente. A diversida<strong>de</strong><br />
na estrutura <strong>de</strong>cisiva das organizações só acontecerá<br />
se for forçada no início, porque a verda<strong>de</strong> é que há<br />
a tendência <strong>de</strong> nos ro<strong>de</strong>armos <strong>de</strong> pessoas semelhantes.<br />
Eu não era gran<strong>de</strong> fã das quotas, mas talvez seja preciso<br />
começar por aí para se introduzir a mudança.
“Não tenhamos ilusões: o espaço público é dominado por homens. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventos a que vou, em que só ouvimos homens a<br />
falar, ou apenas uma mulher, para ficar bem na fotografia, é assustador”<br />
21
a conversa<br />
“Aquilo que é a missão da agência tem sido o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi uma oportunida<strong>de</strong> para pôr em<br />
prática muito do que tenho dito e escrito que é preciso fazer”<br />
22<br />
xar <strong>de</strong> participar em eventos em que seja a única mulher<br />
oradora. Os exemplos repetem-se todos os dias.<br />
Há umas semanas fui convidada para um evento sobre<br />
o futuro da inteligência artificial. Cinco homens,<br />
zero mulheres. O futuro da IA não tem mulheres? É um<br />
problema sistémico, por isso é que é simbólico eu ser<br />
mulher nesta função, na Agência da Inovação. É esse<br />
o simbolismo. Temos vindo a fazer um caminho, mas<br />
é preciso que as empresas e as organizações adotem a<br />
diversida<strong>de</strong> como máxima <strong>de</strong> ação.<br />
Sendo a primeira mulher a assumir o cargo <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />
da ANI, sente peso por isso?<br />
Não, não sinto (risos).<br />
Responsabilida<strong>de</strong> acrescida?<br />
Isso talvez. Mas peso, não sinto. É importante e simbólico.<br />
Sendo a primeira mulher, há aquela responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> que não posso falhar. Mas não me sinto nada<br />
condicionada com isto. Às vezes, até pelo contrário.<br />
Ainda a estimula mais…<br />
Exatamente (risos).<br />
Como é que veio cá parar?<br />
Fui novamente <strong>de</strong>safiada pelo professor Manuel Heitor.<br />
Ele tem-me <strong>de</strong>safiado para muitas coisas na vida.<br />
O meu trabalho <strong>de</strong> investigação e a minha abordagem<br />
como investigadora passa muito pela importância do<br />
trabalho conjunto <strong>de</strong> aproximação entre a aca<strong>de</strong>mia e<br />
a indústria. Aquilo que é a missão da agência tem sido<br />
o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi<br />
uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr em prática muito do que tenho<br />
dito e escrito que é preciso fazer. Isto sim é que é<br />
responsabilida<strong>de</strong> acrescida, mais do que ser mulher! É<br />
ter trabalho científico a indicar o que é preciso fazer e<br />
agora ter o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> o fazer realmente.<br />
Como se sente perante este <strong>de</strong>safio?<br />
Fazer é sempre mais difícil do que pensamos. Mas a<br />
forma como enfrentamos as dificulda<strong>de</strong>s inerentes à<br />
função é o que faz a diferença. Vim para uma estrutura,<br />
com uma equipa espetacular, o que ajuda imenso.<br />
Que marca quer <strong>de</strong>ixar? Procura <strong>de</strong>ixar uma “cicatriz”,<br />
fazer a diferença, inscrever a sua singularida<strong>de</strong>?<br />
Uma das visões que tenho é a urgência <strong>de</strong> as organizações<br />
verem a ANI como facilitadora. Além disso, a ANI<br />
tem <strong>de</strong> ser conhecida, tem <strong>de</strong> estar virada para fora.
Quero uma ANI aberta para as organizações e uma verda<strong>de</strong>ira<br />
promotora da cooperação. Para isso, precisamos<br />
<strong>de</strong> uma agência mais inovadora nos processos,<br />
para ser um motor ativo do ecossistema, e não apenas<br />
passivo, a recolher os inputs <strong>de</strong> fora. Queremos ser um<br />
verda<strong>de</strong>iro ator do ecossistema. Quando aqui cheguei,<br />
éramos um espetador. Temos ferramentas e equipa<br />
para fazer mais.<br />
Está cá há um ano, afirmou que a sua meta é que a ANI<br />
atue como uma one-stop shop, uma espécie <strong>de</strong> balcão<br />
único para a inovação com diferentes instrumentos. O<br />
que já foi feito nesta área e como está a correr?<br />
A primeira coisa que fiz foi olhar para tudo <strong>de</strong> forma<br />
integrada, nessa lógica do one-stop-shop. Temos muitas<br />
ativida<strong>de</strong>s, que eram feitas <strong>de</strong> forma estanque, dirigidas<br />
a universos diferentes. Precisamos <strong>de</strong> ser capazes<br />
<strong>de</strong> olhar para isto como<br />
uma panóplia <strong>de</strong> instrumentos<br />
integrados. Este<br />
é o caminho que estamos<br />
a fazer. Mas não se faz <strong>de</strong><br />
um dia para o outro.<br />
A própria ANI tem <strong>de</strong> mudar<br />
internamente…<br />
Claro. Apostando na digitalização,<br />
um caminho<br />
que tinha começado, mas<br />
que nós acelerámos gran<strong>de</strong>mente.<br />
A transição digital<br />
é urgente – e estamos a fazê-la, já com a visão <strong>de</strong><br />
conjunto <strong>de</strong> que falei. Além disso, <strong>de</strong>finimos a tal visão<br />
estratégica para o mandato: a transversalida<strong>de</strong>, do<br />
front office da ANI para o exterior, e o <strong>de</strong>sígnio europeu e<br />
nacional da transição para a sustentabilida<strong>de</strong>, que tem<br />
<strong>de</strong> ser estratégica.<br />
Há imensos <strong>de</strong>safios internos…<br />
Sim. A primeira coisa que fiz, logo no meu primeiro<br />
dia, a 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2021, foi lançar um concurso interno<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. E fiz também outra coisa simbólica:<br />
uma reunião Teams com toda a gente, na altura 93 pessoas,<br />
e pedi que todas se apresentassem. Disseram-me,<br />
<strong>de</strong>pois, que isto nunca tinha acontecido. As reuniões<br />
eram, tipicamente, unidirecionais, e não bidirecionais.<br />
Foi aí que lancei o tal programa <strong>de</strong> inovação interno.<br />
Quis dar voz às pessoas…<br />
Quis empo<strong>de</strong>rá-las. Recolhemos as i<strong>de</strong>ias e agora estamos<br />
a estudar como po<strong>de</strong>mos integrá-las. Pedimos às<br />
pessoas para proporem um plano <strong>de</strong> implementação<br />
para as suas i<strong>de</strong>ias.<br />
Os setores tradicionais<br />
portugueses são muito<br />
inovadores, ao contrário do<br />
que as pessoas pensam. A<br />
inovação é transversal<br />
A pan<strong>de</strong>mia contribuiu para que as empresas estejam<br />
a olhar mais para a inovação como aposta estratégica<br />
<strong>de</strong> futuro?<br />
O que posso dizer é que há cada vez mais empresas que<br />
olham para a inovação como sendo crítica para a sua<br />
produtivida<strong>de</strong>. Isso tem crescido, transversalmente.<br />
Temos muitos novos clientes, sobretudo PME, que nos<br />
procuram <strong>de</strong>vido aos nossos sistemas <strong>de</strong> incentivos. A<br />
visibilida<strong>de</strong> da ANI vai ajudar a promover isso.<br />
Tem referido que a inovação é um conceito difícil <strong>de</strong><br />
mensurar. Mas como é que a <strong>de</strong>fine?<br />
Gosto <strong>de</strong> citar Schumpeter, economista austríaco que<br />
em 1934 lançou um livro em que <strong>de</strong>screve a inovação<br />
como fator <strong>de</strong> mudança e crescimento nas organizações<br />
e o empreen<strong>de</strong>dor como um agente <strong>de</strong> mudança<br />
– e não apenas o dono da empresa. Gosto da noção<br />
<strong>de</strong>le, em que a inovação é<br />
uma i<strong>de</strong>ia muito ampla –<br />
inovação na estrutura, nos<br />
processos, nos produtos,<br />
no marketing, etc… Na ANI,<br />
os nossos instrumentos<br />
estão muito ligados à inovação<br />
tecnológica – para<br />
ajudar as empresas a diminuir<br />
o risco dos investimentos<br />
nesta área. Esse é<br />
o nosso papel.<br />
A criação as Zonas Livres<br />
Tecnológicas po<strong>de</strong>rá contribuir para atenuar esse<br />
risco?<br />
Não. As Zonas Livres Tecnológicas são espaços <strong>de</strong> experimentação,<br />
permitem diminuir o tempo <strong>de</strong> chegada<br />
ao mercado.<br />
Quais os setores que mais apostam na inovação?<br />
Há vários. Os têxteis, os mol<strong>de</strong>s, a metalomecânica,<br />
a mecânica <strong>de</strong> precisão – setores que tradicionalmente<br />
não associamos à inovação. Os setores tradicionais<br />
portugueses são muito inovadores, ao contrário do que<br />
as pessoas pensam. Mas a inovação é transversal – e é<br />
isso que nos tem permitido manter a competitivida<strong>de</strong>.<br />
As empresas que não inovem, no longo prazo, estão<br />
con<strong>de</strong>nadas.<br />
E no setor público? Como se inova aí?<br />
Temos uma ferramenta, as Compras Públicas para a<br />
Inovação, que permite introduzir melhorias na função<br />
pública.<br />
Essa é uma das gran<strong>de</strong>s apostas, por causa das verbas<br />
para o PRR?<br />
23
a conversa<br />
24<br />
Temos muitos <strong>de</strong>safios aí para agarrar. Cá estaremos<br />
para o fazer.<br />
Cada vez mais se fala na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar ecossistemas<br />
<strong>de</strong> parceiros, para as empresas, mesmo concorrentes<br />
entre si, criarem mais valor. E aqui, a inovação<br />
colaborativa assume um papel fundamental. Os gestores<br />
estão mais recetivos a este tipo <strong>de</strong> aposta ou o<br />
segredo ainda continua a ser a alma do negócio, sobretudo<br />
nas PME?<br />
Ainda há muitos obstáculos, mas já foi feito um longo<br />
caminho. A maior p<strong>arte</strong> dos programas da ANI são colaborativos.<br />
O facto <strong>de</strong> termos cada mais pequenas empresas<br />
a trabalhar connosco é simbólico. Há cada vez<br />
mais PME a perceber que a inovação colaborativa é crítica.<br />
Uma gran<strong>de</strong> empresa<br />
tem muito mais capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> absorver conhecimento<br />
vindo <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>,<br />
por exemplo.<br />
Por isso, é uma vantagem<br />
os nossos instrumentos<br />
serem maioritariamente<br />
colaborativos. Usufruir<br />
<strong>de</strong> conhecimento a que<br />
as PME não teriam acesso<br />
por uma questão <strong>de</strong> dimensão.<br />
Para estas empresas,<br />
os nossos interfaces<br />
são absolutamente críticos<br />
para transferência <strong>de</strong><br />
conhecimento, mas também <strong>de</strong> pessoas. É muito importante<br />
a transferência <strong>de</strong> recursos humanos <strong>de</strong> uns<br />
setores para outros.<br />
Como é que isso se conjuga num quadro <strong>de</strong> recursos<br />
limitados?<br />
A educação é crítica. Neste momento Portugal já tem<br />
mais <strong>de</strong> 50% dos jovens no ensino superior, mas temos<br />
<strong>de</strong> continuar esse esforço. E apostar na requalificação<br />
ao longo da vida – há um programa no PRR só para isso.<br />
E, claro, a atração <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> outras geografias.<br />
E somos competitivos?<br />
Se pensarmos em contratar pessoas que tragam as famílias,<br />
Portugal po<strong>de</strong> ser competitivo. A segurança é<br />
uma coisa crítica, por exemplo.<br />
Estamos a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser um país <strong>de</strong> salários baixos?<br />
Acho que sim. Espero que sim.<br />
Acha ou espera?<br />
O nosso salário médio tem aumentado, mas arrendar<br />
Termos cada vez mais PME<br />
a trabalhar connosco é<br />
simbólico. Há cada vez<br />
mais PME a perceber que<br />
a inovação colaborativa é<br />
crítica<br />
uma casa em Lisboa custa o mesmo do que arrendar<br />
uma casa em Berlim. É absurdo. Mas Portugal não é<br />
Lisboa! Outro dos <strong>de</strong>sígnios no nosso plano estratégico<br />
é atuar no reforço do Interior. Temos, por exemplo,<br />
o caso do Fundão, que é espetacular. Chaves também<br />
é um bom exemplo. O presi<strong>de</strong>nte da câmara apoiou a<br />
implementação do Laboratório Colaborativo, que está<br />
a ser um sucesso. E há muitos outros casos por esse<br />
país fora.<br />
Um dos <strong>de</strong>safios que assumiu foi o <strong>de</strong> as empresas,<br />
instituições <strong>de</strong> ensino superior e entida<strong>de</strong>s do sistema<br />
científico nacional captarem pelo menos 2 mil milhões<br />
<strong>de</strong> euros do Horizonte Europa. Como será possível<br />
alcançar esse objetivo?<br />
Nas empresas temos um<br />
enorme espaço para crescer.<br />
É a área em que temos<br />
<strong>de</strong> dar um salto maior. Estamos<br />
a trabalhar com associações<br />
empresariais,<br />
setoriais e regionais. E temos<br />
imenso potencial!<br />
Precisamos <strong>de</strong> dar apoio às<br />
empresas para se candidatarem<br />
às calls europeias.<br />
Acredita que, finalmente,<br />
Portugal tem todas as<br />
condições para uma recuperação<br />
sustentada e uma<br />
mudança real da base da nossa economia, para fazer a<br />
diferença na Europa e no mundo?<br />
Acredito que sim, se não, não estaria aqui a fazer nada<br />
(risos). Este momento pós-Covid é muito importante.<br />
Temos <strong>de</strong> agarrar as oportunida<strong>de</strong>s. Temos <strong>de</strong> ser capazes<br />
<strong>de</strong> ir para o terreno ajudar as empresas a minimizar<br />
o risco. O nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnio é potenciar o que já<br />
existe – e o que existe é bom.<br />
Para terminar: do ponto <strong>de</strong> vista pessoal, o que a apaixona,<br />
o que enche a sua vida?<br />
Tenho duas filhas, uma <strong>de</strong> 16 e outra <strong>de</strong> 9 anos. Elas são<br />
o centro da minha vida. É muito importante procurar<br />
o equilíbrio entre trabalho e família. Além disso, adoro<br />
ir a concertos. Ouvir um músico em palco é ver alguém<br />
a entregar-se completamente, é um ato <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>.<br />
E adoro ler – recentemente a<strong>de</strong>ri também aos<br />
audiolivros. De resto, tenho pouco tempo para muito<br />
mais. Sou da geração que está entalada entre os filhos e<br />
os pais. Eles são a minha priorida<strong>de</strong>. •
QUE É REAL<br />
A MÁXIMA VELOCIDADE<br />
EXPERIMENTA<br />
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Sabe mais em meo.pt/5G
em <strong>de</strong>staque<br />
26
A PRÓXIMA<br />
MAGIA<br />
O metaverso, a buzzword do<br />
momento, po<strong>de</strong>rá ser uma<br />
realida<strong>de</strong> massificada em<br />
poucas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos. As<br />
gran<strong>de</strong>s empresas tecnológicas,<br />
e não só, já estão na corrida<br />
para uma visão que começa a<br />
ser construída. Aquilo que será<br />
a internet do futuro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />
do que se está a fazer agora. E<br />
ninguém <strong>de</strong>verá ficar <strong>de</strong> fora.<br />
TEXTO DE ANA SOFIA RODRIGUES<br />
FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
27
em <strong>de</strong>staque<br />
28<br />
O<br />
escritor britânico <strong>de</strong> ficção científica Arthur C.<br />
Clarke <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u, nos anos 70, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />
qualquer tecnologia suficientemente avançada<br />
assemelha-se a magia. Em outubro passado,<br />
quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança <strong>de</strong><br />
nome da empresa que fundou <strong>de</strong> Facebook para Meta<br />
e mostrou ao mundo a sua visão do futuro, o “metaverso”<br />
assumiu-se como a próxima gran<strong>de</strong> magia. Vale<br />
a pena ver o ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> uma hora e 17 minutos “The Metaverse<br />
and How We’ll Build It Together – Connect 2021”, para<br />
percebermos um pouco do que já estava no imaginário<br />
<strong>de</strong> muitos protagonistas, mas que ganhou ali “realida<strong>de</strong>”<br />
para o cidadão comum.<br />
Mas, afinal, o que é este metaverso? Matthew Ball,<br />
um investidor <strong>de</strong> risco, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2018 estuda a fundo<br />
este tema, e que é atualmente um dos seus especialistas<br />
mais consi<strong>de</strong>rados,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que não <strong>de</strong>vemos<br />
estar à espera <strong>de</strong> “uma<br />
única e iluminada <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> metaverso, sobretudo<br />
na fase emergente<br />
em que se encontra”. Para<br />
ele, a melhor forma <strong>de</strong><br />
compreen<strong>de</strong>rmos o conceito<br />
é apresentá-lo como<br />
um “quase-sucessor da<br />
internet móvel”, isto por<br />
que não preten<strong>de</strong> substituí-la,<br />
mas transformá-la.<br />
“Assim como a internet móvel foi uma quase-sucessora<br />
da internet. Embora não tenha tomado o seu lugar, alterou<br />
completamente a forma como ace<strong>de</strong>mos à internet,<br />
on<strong>de</strong>, quando e porquê, assim como os equipamentos<br />
e as tecnologias que usamos, os produtos e serviços<br />
que compramos, os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócio, a cultura, a<br />
política... O metaverso será igualmente transformador,<br />
pois irá modificar profundamente o papel da internet<br />
nas nossas vidas”. De uma forma mais “técnica”,<br />
Matthew Ball <strong>de</strong>senvolve: “O metaverso é uma re<strong>de</strong><br />
massiva e interoperável <strong>de</strong> mundos virtuais 3D, produzidos<br />
digitalmente em tempo real, que po<strong>de</strong>m ser<br />
experimentados <strong>de</strong> forma síncrona e permanente por<br />
um número ilimitado <strong>de</strong> utilizadores, com um sentido<br />
individual <strong>de</strong> presença e com continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados,<br />
como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, histórico, direitos, objetos, comunicações<br />
ou pagamentos”.<br />
Gaming, social media,<br />
web 3.0, blockchain e<br />
tecnologias imersivas são<br />
os building blocks do que<br />
vem aí<br />
Confusos? Mark Zuckerberg apresenta-o <strong>de</strong> uma<br />
forma mais inspiracional, <strong>de</strong>stacando a diferença da<br />
imersivida<strong>de</strong> e da sensação <strong>de</strong> presença quando e on<strong>de</strong><br />
quisermos: “Tu és a experiência, não olhando apenas<br />
para ela. Conseguirás fazer quase tudo o que pu<strong>de</strong>res<br />
imaginar: estar com amigos e família, trabalhar, apren<strong>de</strong>r,<br />
jogar, comprar e criar. Seremos capazes <strong>de</strong> nos<br />
sentir presentes como se estivéssemos mesmo com as<br />
pessoas, não importa o quão distante realmente estejamos”.<br />
JÁ ESTÁ A COMEÇAR<br />
A concretização da visão completa <strong>de</strong>ste metaverso<br />
estará a décadas <strong>de</strong> distância, mas os seus primeiros<br />
capítulos já estão a ser escritos. Pequenas peças começam<br />
a ser construídas e ganham visibilida<strong>de</strong>. Luís<br />
Bravo Martins, Chief Marketing<br />
Officer da KIT-AR e<br />
responsável pela secção<br />
VR/AR - Realida<strong>de</strong> Virtual<br />
e Aumentada da APDC,<br />
explica que é o contexto<br />
atual <strong>de</strong> “convergência <strong>de</strong><br />
tecnologias exponenciais<br />
que permite pensarmos<br />
no metaverso”. Tecnologias<br />
como inteligência<br />
artificial, realida<strong>de</strong> virtual,<br />
realida<strong>de</strong> aumentada,<br />
blockchain, robótica<br />
ou computação quântica a trabalharem em conjunto<br />
começam a tornar possível muito do que se julgava<br />
pura ficção científica. “Será um futuro convergente <strong>de</strong><br />
quatro gran<strong>de</strong>s indústrias: gaming, social media, web 3.0,<br />
blockchain e tecnologias imersivas (realida<strong>de</strong> virtual e<br />
realida<strong>de</strong> aumentada). Quando hoje já se fala dos negócios<br />
do metaverso, são quase sempre ligados a uma<br />
<strong>de</strong>stas indústrias, que vão ser os building blocks do que<br />
vem aí”.<br />
Os exemplos multiplicam-se e, atualmente, já há<br />
vários projetos que po<strong>de</strong>m ser vistos como os primórdios<br />
<strong>de</strong>sse universo digital. As plataformas The Sandbox<br />
e Decentraland são consi<strong>de</strong>radas as percursoras.<br />
São universos digitais, geridos <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada<br />
e construídos <strong>de</strong> maneira colaborativa com recurso à<br />
tecnologia blockchain. Oferecem experiências imersivas<br />
3D e têm criptomoedas próprias, que permitem com-
Luís Bravo Martins, Chief Marketing Officer da KIT-AR e responsável pela secção VR/AR - Realida<strong>de</strong> Virtual e Aumentada da APDC, diz<br />
que é o contexto atual <strong>de</strong> “convergência <strong>de</strong> tecnologias exponenciais que permite pensarmos no metaverso”<br />
prar terrenos, bens e serviços nesses mundos virtuais.<br />
Os utilizadores têm a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar, comprar, ven<strong>de</strong>r<br />
e trocar bens digitais e experiências.<br />
Neste momento, existem investidores a pagar<br />
milhões por parcelas <strong>de</strong> terreno nestes mundos. Em<br />
Sandbox, uma empresa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> imobiliário<br />
virtual garantiu o seu espaço por 4,3 milhões <strong>de</strong><br />
dólares. Andrew Kiguel, CEO do Tokens.com, investiu<br />
2,5 milhões <strong>de</strong> dólares num terreno na Decentraland<br />
e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, os preços subiram entre 400% a 500%.<br />
Nessa mesma “terra”, já se viveu a noite <strong>de</strong> passagem<br />
<strong>de</strong> ano na MetaFest 2022. Foi uma festa virtual que simulou<br />
a mítica passagem <strong>de</strong> ano na Times Square, em<br />
Nova Iorque, com acesso a concertos <strong>de</strong> música exclusivos,<br />
espetáculos virtuais, lounges VIP no topo <strong>de</strong> edifícios,<br />
assim como ao feed <strong>de</strong> eventos globais realizados<br />
no mundo inteiro.<br />
EXPERIÊNCIAS TRANSVERSAIS<br />
Quando a maioria das empresas com maior valor <strong>de</strong><br />
mercado do mundo tentam ser pioneiras num novo<br />
caminho, é certo que muitas outras virão atrás. O grosso<br />
do investimento neste próximo capítulo da internet<br />
advirá dos gigantes tecnológicos mundiais. Os analistas<br />
do Goldman Sachs estimam que essas empresas,<br />
nos próximos três anos, invistam até 700 mil milhões<br />
<strong>de</strong> dólares na corrida ao metaverso. Mas já há muitas<br />
empresas <strong>de</strong> menor dimensão, e até particulares, a fazer<br />
várias experiências. O rapper Travis Scott, por exemplo,<br />
iniciou em 2020 a sua digressão com um concerto<br />
virtual no jogo Fortnite, cheio <strong>de</strong> efeitos especiais. O<br />
seu avatar cantou na ilha <strong>de</strong> Battle Royale e foi visto<br />
por mais <strong>de</strong> 12 milhões <strong>de</strong> jogadores. A Gucci já ven<strong>de</strong><br />
malas como a<strong>de</strong>reços para avatares na plataforma Roblox.<br />
A Nike adquiriu a startup RTFKT, especializada na<br />
comercialização <strong>de</strong> indumentárias virtuais. Esta startup<br />
ganhou notorieda<strong>de</strong> ao celebrar uma parceria com<br />
o artista Fewocious (<strong>de</strong> apenas 18 anos) para criar três<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ténis em formato NFT (tokens não fungíveis<br />
que, com base na tecnologia blockchain, atestam a originalida<strong>de</strong><br />
e proprieda<strong>de</strong> dos bens digitais). Em apenas<br />
sete minutos, mais <strong>de</strong> 600 pessoas compraram os pro-<br />
29
em <strong>de</strong>staque<br />
MADE IN PORTUGAL<br />
Conheça duas empresas, com se<strong>de</strong> em Portugal, que estão a participar<br />
na construção dos primeiros passos do metaverso.<br />
VIRTULEAP<br />
Cofundada, em 2018, por Amir Bozorgza<strong>de</strong>h,<br />
a startup Virtuleap tem se<strong>de</strong> em Lisboa e uma<br />
equipa 100% portuguesa. A sua app Enhance<br />
apresenta-se como um verda<strong>de</strong>iro ginásio para<br />
o cérebro. Associando as neurociências à realida<strong>de</strong><br />
virtual, <strong>de</strong>senvolve uma série <strong>de</strong> jogos que<br />
ajudam a melhorar os níveis <strong>de</strong> atenção e que<br />
são i<strong>de</strong>ais para pessoas com doenças cognitivas<br />
como Alzheimer, Perturbação <strong>de</strong> Hiperativida<strong>de</strong>/<br />
Défice <strong>de</strong> Atenção, lesões cerebrais causadas por<br />
aci<strong>de</strong>ntes ou lesões <strong>de</strong> memória causadas pela<br />
quimioterapia. São uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios cognitivos<br />
direcionados para o mental fitness, potenciados<br />
pelos benefícios da realida<strong>de</strong> virtual (RV). “A<br />
RV é uma versão mágica digital que se sobrepõe<br />
ao mundo real. É um ambiente <strong>de</strong> aprendizagem<br />
muito mais eficaz, pois além <strong>de</strong> ser a forma como<br />
eu naturalmente interajo com o mundo, é uma<br />
forma multicognitiva e experencial, em que todos<br />
os sentidos estão envolvidos e que porporciona<br />
um envolvimento incomparável”, explica Amir.<br />
Os headsets necessários para os jogos são também<br />
fonte <strong>de</strong> informação muito importante.<br />
“Têm biosensores e, através <strong>de</strong> inteligência artifical,<br />
conseguimos perceber, por exemplo, se o<br />
utilizador está concentrado, aborrecido, stressado...”,<br />
conta. “Para fins <strong>de</strong> marketing, isto po<strong>de</strong> ser<br />
diabólico, mas quando estamos a lidar com Autismo,<br />
Alzheimer, Parkinson... po<strong>de</strong> ser mágico”.<br />
30
Com 14 parcerias com instituições académicas,<br />
os dados captados são valiosos para inúmeros<br />
estudos. “Coletamos cerca <strong>de</strong> 2.000 data points a<br />
cada dois minutos... Com esses dados estamos<br />
a construir algoritmos, que po<strong>de</strong>m prever, por<br />
exemplo, aos 30 ou 40 anos, se aquela pessoa<br />
terá Alzheimer, po<strong>de</strong>ndo atrasar o processo ou<br />
mesmo revertê-lo pela sua <strong>de</strong>teção precoce.<br />
Somos uma referência e estou<br />
muito orgulhoso pelo caminho<br />
difícil que percorremos. Todos<br />
gostamos muito <strong>de</strong> tecnologia,<br />
mas temos muito respeito pelo<br />
que ela po<strong>de</strong> fazer”.•<br />
Com origem grega, a palavra Didimo significa<br />
gémeo e é isso mesmo que a sua plataforma<br />
promete e faz: um gémeo digital. Veronica lembrou-se<br />
<strong>de</strong> produzir estes avatares realistas com<br />
a convicção <strong>de</strong> “que é a única maneira <strong>de</strong> conseguirmos<br />
garantir a nossa autenticida<strong>de</strong>, sermos<br />
nós próprios em ambientes digitais. Quando<br />
vemos a nossa imagem numa plataforma digital,<br />
DIDIMO<br />
Há <strong>de</strong>z anos, quando Veronica<br />
Orvalho pensava na forma como<br />
comunicaríamos no futuro, a<br />
resposta que lhe surgia era “que<br />
iríamos usar mo<strong>de</strong>los 3D, numa<br />
nova forma <strong>de</strong> interação”. Perante<br />
esta resposta, “as pessoas<br />
achavam que eu era tirada <strong>de</strong><br />
outro planeta!”, conta. E conclui:<br />
“Agora, tantos anos <strong>de</strong>pois, estão<br />
todos a falar do metaverso, <strong>de</strong><br />
pôr pessoas em ambientes imersivos,<br />
<strong>de</strong> usarmos mo<strong>de</strong>los 3D<br />
para fazermos compras online e<br />
para falar com outras pessoas...<br />
É giro ver como uma inovação <strong>de</strong>mora, às vezes,<br />
tantos anos a ser aceite”.<br />
Em 2011, Veronica Orvalho e a sua equipa da Universida<strong>de</strong><br />
do Porto verificaram no terreno como<br />
avatares virtuais conseguiam envolver e criar<br />
empatia com doentes com autismo. Não esquece<br />
o caso <strong>de</strong> um pai que conseguiu comunicar pela<br />
primeira vez com o seu filho através do uso <strong>de</strong><br />
um dos avatares. Entusiasmada com estas possibilida<strong>de</strong>s,<br />
resolveu, em 2016, fundar a Didimo.<br />
tornamo-nos responsáveis pelas nossas ações”.<br />
Atualmente com uma equipa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30<br />
pessoas e escritórios em Portugal, Canadá e<br />
Reino Unido, os clientes da Didimo são empresas<br />
sediadas na Europa e Estados Unidos da América,<br />
sobretudo nos setores da moda, entretenimento<br />
e comunicações e sente que “o mercado está a<br />
uns meses <strong>de</strong> explodir”. Veronica Orvalho foi finalista<br />
dos EU Prize for Women Innovators 2021,<br />
promovido pelo Conselho Europeu <strong>de</strong> Inovação.•<br />
31
em <strong>de</strong>staque<br />
32<br />
dutos, gerando 3,1 milhões <strong>de</strong> dólares para a marca. A<br />
fabricante <strong>de</strong> automóveis Hyundai anunciou, recentemente,<br />
o conceito “metamobility”. Esta mudança prevê,<br />
entre outras coisas, explorar a condução autónoma,<br />
bem como tornar os automóveis e a Mobilida<strong>de</strong> Aérea<br />
Urbana dispositivos inteligentes aptos a ace<strong>de</strong>r a espaços<br />
virtuais. A robótica irá funcionar como um meio<br />
para conectar os mundos virtual e real. “Por exemplo,<br />
um automóvel que se conecte a espaços virtuais po<strong>de</strong><br />
permitir que os utilizadores <strong>de</strong>sfrutem <strong>de</strong> várias experiências<br />
<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> virtual no veículo. Depen<strong>de</strong>ndo<br />
das necessida<strong>de</strong>s do consumidor, um veículo po<strong>de</strong> ser<br />
transformado num espaço <strong>de</strong> entretenimento, numa<br />
sala <strong>de</strong> reuniões ou até mesmo numa plataforma <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ojogos<br />
3D”, <strong>de</strong>talhou a empresa.<br />
Os exemplos suce<strong>de</strong>m-se. A Deloitte virtualizou a<br />
sua Deloitte University e construiu um espaço imersivo<br />
on<strong>de</strong> colegas <strong>de</strong> todo o mundo se conheceram e<br />
colaboraram <strong>de</strong> forma natural, durante a pan<strong>de</strong>mia.<br />
Construíram uma experiência <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> mista, que<br />
“ressuscitou” o fundador William Deloitte e uma experiência<br />
<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> aumentada para mostrar <strong>arte</strong> 3D<br />
numa pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicada na sua nova universida<strong>de</strong> na Índia.<br />
O Aeroporto Internacional <strong>de</strong> Hong Kong criou um<br />
“gémeo virtual” para ajudar as autorida<strong>de</strong>s a agilizar a<br />
revisão <strong>de</strong> novos projetos <strong>de</strong> construção. E até mesmo<br />
uma cida<strong>de</strong> já anunciou<br />
que será a primeira neste<br />
novo “universo”: Seul<br />
planeia ter pronto, até ao<br />
final <strong>de</strong> 2022, um espaço<br />
virtual on<strong>de</strong> os sul-coreanos<br />
po<strong>de</strong>m interagir com<br />
representações digitais<br />
<strong>de</strong> pessoas e objetos. Os<br />
resi<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>rão fazer<br />
reservas, andar em autocarros<br />
turísticos, visitar recriações <strong>de</strong> locais históricos<br />
<strong>de</strong>struídos e registar queixas administrativas. Seul<br />
quer, assim, incluir todas as áreas da administração<br />
municipal e aumentar a eficiência dos funcionários<br />
públicos, superando as limitações físicas e as barreiras<br />
linguísticas...<br />
As experiências intensificam-se por todo o mundo<br />
e Portugal não é exceção. Luís Bravo Martins chama a<br />
atenção para o papel do nosso país nesta construção<br />
Em Portugal já existem<br />
mais <strong>de</strong> 100 empresas<br />
<strong>de</strong>dicadas às tecnologias<br />
imersivas<br />
do futuro. “Em Portugal, em março <strong>de</strong> 2021, havia 106<br />
empresas <strong>de</strong>dicadas a estas tecnologias imersivas (VR<br />
e AR) e, agora, já há certamente mais. Temos uma oportunida<strong>de</strong><br />
brutal, tendo em conta o ecossistema muito<br />
interessante que estamos a criar versus a nossa dimensão.<br />
Juntando a isto a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarmos a falar<br />
<strong>de</strong> um mercado emergente, temos a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> nos assumir como uma referência”. O especialista<br />
<strong>de</strong>staca o interesse transversal <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> tecnologias,<br />
uma das peças do gran<strong>de</strong> puzzle que será o metaverso.<br />
“Trazem um volume tremendo <strong>de</strong> benefícios e<br />
oportunida<strong>de</strong>s para as empresas <strong>de</strong> todos os setores e<br />
estão numa fase <strong>de</strong> enorme crescimento. No ano passado,<br />
já foram vendidos <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong><br />
realida<strong>de</strong> virtual. Sabe quantas consolas a Playstation<br />
ven<strong>de</strong>u? Cerca <strong>de</strong> seis milhões...”.<br />
GRANDES DESAFIOS<br />
As possibilida<strong>de</strong>s parecem ilimitadas. As novas experiências<br />
em termos <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, lazer e socialização,<br />
mas também a nova economia que será criada<br />
com novas profissões e oportunida<strong>de</strong>s, soam a muito<br />
atrativas. Mas os <strong>de</strong>safios que esta verda<strong>de</strong>ira revolução<br />
tecnológica traz consigo são enormes. Por um lado,<br />
tudo o que é preciso <strong>de</strong>senvolver para que o metaverso<br />
seja uma realida<strong>de</strong>. Matthew Ball agrupa em oito gran<strong>de</strong>s<br />
categorias os obstáculos<br />
que é necessário transpor:<br />
o hardware (todos os<br />
equipamentos necessários<br />
para ace<strong>de</strong>r e interagir no<br />
metaverso, como headsets,<br />
luvas, mas também câmaras<br />
industriais ou sistemas<br />
<strong>de</strong> projeção); a largura, latência<br />
e fiabilida<strong>de</strong> das re<strong>de</strong>s<br />
e a criação <strong>de</strong> todos os<br />
serviços <strong>de</strong> apoio; o gigante po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> computação exigido<br />
por funções tão exigentes como cálculo, sincronização<br />
<strong>de</strong> dados, inteligência artificial, captação <strong>de</strong> movimento<br />
ou tradução; a construção das plataformas<br />
virtuais on<strong>de</strong> as pessoas vão explorar, criar e socializar;<br />
os protocolos, os formatos e standards que permitam<br />
a interoperabilida<strong>de</strong> entre as diferentes plataformas;<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> pagamento, baseadas<br />
na tecnologia blockchain; a criação e gestão <strong>de</strong> con-
teúdos, serviços e ativos digitais ligados aos dados e<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada utlizador; a adoção <strong>de</strong> novos comportamentos<br />
sociais digitais, quer individuais, quer<br />
empresariais face a esta nova visão da vida diária. Cada<br />
um <strong>de</strong>stes “obstáculos” exigirá investimentos muito<br />
avultados, uma enorme captação <strong>de</strong> talento, um sério<br />
trabalho em conjunto para pensar nas mais variadas<br />
questões ligadas à regulação, segurança e privacida<strong>de</strong> e<br />
ainda um gran<strong>de</strong> tempo para serem solucionados.<br />
TAREFA COLETIVA<br />
Luís Bravo Martins é perentório em <strong>de</strong>stacar outra necessida<strong>de</strong><br />
urgente: “Há muitos, muitos <strong>de</strong>safios pelo<br />
caminho que precisam <strong>de</strong> ser salvaguardados e <strong>de</strong>batidos<br />
<strong>de</strong> forma muito clara. As novas ferramentas tecnológicas<br />
<strong>de</strong>vem servir-nos enquanto seres humanos e<br />
não nos penalizarem. Não costuma haver tempo para<br />
a sua adoção. Sentimos<br />
rapidamente os benefícios<br />
mas não pensamos nas<br />
suas consequências. Com<br />
o metaverso, pela primeira<br />
vez, estamos a ter tempo<br />
para pensar no que po<strong>de</strong>rá<br />
vir a ser e é mesmo importante<br />
que, <strong>de</strong>sta vez,<br />
acertemos!”. E <strong>de</strong>ixa um<br />
apelo: “Vamos todos pensar<br />
e discutir. As gran<strong>de</strong>s<br />
empresas são os lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />
investigação e <strong>de</strong>senvolvimento, mas faz sentido haver<br />
outras entida<strong>de</strong>s, como associações e fundações, que<br />
discutam estes temas a nível internacional e também<br />
em conjunto com os Governos, para se pensar no interesse<br />
público”.<br />
E não exclui qualquer formação, antes pelo contrário:<br />
“Imaginemos: nós os dois estamos a passear<br />
numa rua. Cada um está com os seus óculos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />
aumentada... A memória que vamos ter daquela<br />
experiência é completamente diferente, porque eu<br />
posso estar a ver uma coisa e tu a ver outra. A realida<strong>de</strong><br />
partilhada vai ser menor, por isso, em última instância,<br />
o que continua a ser a verda<strong>de</strong>? Isto implica muitas<br />
questões ligadas à verda<strong>de</strong>, à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ao eu, à<br />
partilha, à presença... por isso, hoje, são imensamente<br />
necessários profissionais <strong>de</strong> filosofia, antropologia,<br />
As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta<br />
nova revolução parecem<br />
ilimitadas, mas há um<br />
<strong>de</strong>safio que urge ganhar: o<br />
da literacia digital<br />
sociologia para olhar para isto. Precisamos que esses<br />
especialistas se juntem à discussão”.<br />
A terminar, partilha uma última preocupação ligada<br />
com a iliteracia. “O cidadão comum está um pouco<br />
a leste do que se está a passar. Ao longo <strong>de</strong>sta década,<br />
<strong>de</strong> certeza que o seguinte vai acontecer: teremos tecnologias<br />
imersivas, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver estas experiências<br />
<strong>de</strong> forma partilhada com várias pessoas, óculos<br />
<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> virtual e óculos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> aumentada,<br />
carros voadores, carros autónomos, computação<br />
quântica, blockchain, bitcoin, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagarmos<br />
com a nossa impressão digital... Tudo já com ofertas<br />
comerciais e preços mais acessíveis. Vamos começar a<br />
ter pessoas que vão às lojas e não percebem o que está<br />
a ser oferecido... Agora já há, mas vamos escalar para<br />
uma oferta 20, 30 vezes maior... É um risco gigantesco,<br />
pois po<strong>de</strong>mos ter uma iliteracia em camadas e isto<br />
po<strong>de</strong> fazer com que haja<br />
muitas pessoas a ficarem<br />
<strong>de</strong> fora, excluídas <strong>de</strong> várias<br />
dinâmicas tecnológicas.<br />
Este tempo é precioso<br />
para pensarmos no que<br />
é que queremos que este<br />
metaverso seja. Que impactos<br />
terá? Nos espaços,<br />
no usufruto das cida<strong>de</strong>s,<br />
nas famílias, no conceito<br />
<strong>de</strong> escola, nas empresas,<br />
nas profissões... Tudo isto<br />
vai ser brutal e é muito importante a divulgação <strong>de</strong>stas<br />
novas tecnologias, pois serão elas que terão impacto<br />
profundo naquilo que será a nossa vida. As pessoas<br />
precisam <strong>de</strong> ouvir falar disto, é uma questão transversal.<br />
Se não queremos criar algo que vá ser distópico no<br />
futuro, o momento <strong>de</strong> agir é agora”.•<br />
33
itech<br />
BERNARDO CORREIA:<br />
Paixão antiga<br />
34<br />
No tempo em que não havia “nativos digitais” Bernardo Correia,<br />
<strong>de</strong> certo modo, foi um precursor. Aos cinco, já brincava<br />
com computadores, antes dos <strong>de</strong>z lançou-se na programação.<br />
A tecnologia e ele cresceram juntos e até hoje permanecem<br />
inseparáveis.<br />
Texto <strong>de</strong> Teresa Ribeiro | Fotos cedidas<br />
O PAI TRABALHAVA no Laboratório<br />
Nacional <strong>de</strong> Engenharia Civil, um<br />
dos poucos sítios em Portugal on<strong>de</strong><br />
existiam computadores a sério.<br />
Eram enormes, daqueles que ainda<br />
trabalhavam com cartões perfurados,<br />
mas tinham uma espécie <strong>de</strong><br />
vida própria que encantava Bernardo.<br />
Sempre que podia experimentava<br />
tudo. Carregava nos botões,<br />
mexia nos comandos e o ecrã ver<strong>de</strong><br />
reagia. Como a família morava mesmo<br />
ao lado do LNEC, era possível,<br />
através da janela passar um fio que<br />
vinha do laboratório e lhes levava<br />
para casa algo que quase ninguém<br />
tinha: internet. “Era uma facilida<strong>de</strong><br />
permitida ao meu pai, por causa do<br />
trabalho <strong>de</strong>le, mas que eu aproveitava<br />
também”, recorda o country<br />
manager da Google Portugal. Quando<br />
mais tar<strong>de</strong> lhe ofereceram para<br />
seu uso pessoal um ZX Spectrum<br />
ficou <strong>de</strong>finitivamente rendido aos<br />
computadores. Ainda não tinha<br />
<strong>de</strong>z anos quando fez o seu primeiro<br />
programa: “Um jogo <strong>de</strong> futebol,<br />
ridiculamente rudimentar”, recorda<br />
divertido.<br />
O namoro continuou quando o avô<br />
lhe ofereceu um Commodore Amiga<br />
500, hoje uma peça <strong>de</strong> coleção:<br />
“Foi o meu primeiro computador a<br />
sério, com imagem, som, côr, que<br />
eu adorava. Ainda tenho um cá em<br />
casa”, partilha. Ao Amiga já juntou<br />
outras peças <strong>de</strong>sse tempo: “Consegui<br />
encontrar o Spectrum em casa<br />
dos meus pais e comprei no eBay a<br />
primeira Playstation”. Diz que adora<br />
tudo o que tem a ver com a história<br />
da tecnologia digital, “a que mais<br />
mudou a capacida<strong>de</strong> das pessoas<br />
po<strong>de</strong>rem apren<strong>de</strong>r, a força mais<br />
igualitária que existe no planeta,<br />
pois permite a qualquer pessoa,<br />
em qualquer p<strong>arte</strong> do mundo, seja<br />
rico ou seja pobre, ace<strong>de</strong>r à mesma<br />
informação”. É isto que mais o<br />
fascina. Isto e o po<strong>de</strong>r que as TIC<br />
mantêm <strong>de</strong> o surpreen<strong>de</strong>r sempre.<br />
Apesar do fascínio precoce por esta<br />
área, na hora <strong>de</strong> escolher o curso<br />
optou por uma via tradicional, pois<br />
“a informática ainda era uma coisa<br />
<strong>de</strong> nicho”. Licenciou-se em Economia,<br />
mas fez carreira em Marketing.<br />
Um dia a Google contactou-o para<br />
fazer <strong>de</strong> interlocutor entre as gran<strong>de</strong>s<br />
marcas e a tecnologia. Ficou<br />
como um peixinho na água.<br />
Quando entrou, em 2008, ainda não<br />
havia Android, tinha acabado <strong>de</strong> sair<br />
o iPhone e a Google ainda não tinha<br />
lançado o seu primeiro smartphone.<br />
“Foi uma altura <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta.<br />
Encontrava-me em Londres<br />
nessa altura, num escritório on<strong>de</strong><br />
havia uns engenheiros que estavam<br />
a <strong>de</strong>senvolver essa tecnologia e eu<br />
adorava aqueles momentos em<br />
que falávamos sobre o que faziam.<br />
Foram anos absolutamente fantásticos”.<br />
De então para cá, ainda não saiu<br />
<strong>de</strong>sta espécie <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> encantamento:<br />
“A era da internet está só<br />
a começar. Basta pensar que dos 8<br />
biliões <strong>de</strong> pessoas que vivem no planeta,<br />
apenas 5 biliões têm acesso à<br />
internet”. O futuro para ele é a IA e a<br />
automação, que libertarão os seres<br />
humanos para coisas cada vez mais<br />
estimulantes.<br />
Em casa, como seria <strong>de</strong> esperar,<br />
vive ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> tecnologia: “Não<br />
há uma divisão que não tenha um<br />
ecrã”. Mas preocupa-se com o bem-<br />
-estar digital, até porque tem três<br />
filhos ainda pequenos: “Não <strong>de</strong>ixamos<br />
que passem tempo <strong>de</strong>mais à<br />
frente <strong>de</strong> ecrãs. A Google tem ferramentas<br />
para gerir essa situação.<br />
A minha preferida é o Family Link,<br />
uma aplicação que permite controlar<br />
as horas a que eles têm acesso.<br />
E é assim que às 20.30 a internet<br />
<strong>de</strong>sliga e os telefones bloqueiam”<br />
(risos). Outra ferramenta que usa<br />
em casa é o Do Not Disturb, que<br />
<strong>de</strong>sliga todas as distrações, mantendo<br />
ativos só os canais essenciais. “O<br />
preço da liberda<strong>de</strong>”, cita o country<br />
manager da Google “é a vigilância<br />
eterna”. Este é o lema que segue<br />
para que o uso da tecnologia seja “o<br />
mais saudável possível”.<br />
Nunca se separa do seu Samsung<br />
Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha<br />
e ecrã dobrável adora e do seu<br />
portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã táctil.<br />
Last but not the least, Bernardo Correia<br />
tem brevet (para ultra-ligeiros) e<br />
quando voa também é nas asas da<br />
tecnologia, guiado pelo indispensável<br />
gps+sky<strong>de</strong>mon.•
Nunca se separa do seu Samsung<br />
Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha e<br />
ecrã dobrável adora<br />
Tem um portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã<br />
táctil, que leva para todo o lado<br />
Para fazer fotos a sério, tem uma Nikkon<br />
a sério<br />
Coleciona peças <strong>de</strong> tecnologia antigas,<br />
como este ZX Spectrum<br />
35
negocios<br />
O 5G JÁ<br />
CHEGOU:<br />
E AGORA?<br />
Com as re<strong>de</strong>s comerciais finalmente<br />
disponíveis, como se perspetiva<br />
o futuro com o 5G? Os use cases já<br />
conhecidos comprovam que será uma<br />
tecnologia disruptiva, especialmente<br />
no B2B. Para já, dão-se os primeiros<br />
passos numa jornada on<strong>de</strong> cobertura,<br />
investimento, ecossistema e oferta<br />
serão críticos.<br />
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS DE ISTOCK E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW E CEDIDAS<br />
36
37
negocios<br />
38<br />
A<br />
rapi<strong>de</strong>z com que a NOS, a 27 <strong>de</strong> novembro último,<br />
seguida da Vodafone, a 30, e da Altice Portugal,<br />
a 1 <strong>de</strong> janeiro, disponibilizaram comercialmente<br />
as respetivas ofertas comerciais <strong>de</strong><br />
5G, comprova que os três operadores estavam mais do<br />
que preparados para um arranque há já muito esperado.<br />
E, apesar <strong>de</strong> todos os atrasos na conclusão do leilão,<br />
que colocaram Portugal na cauda da Europa no lançamento<br />
<strong>de</strong>stas re<strong>de</strong>s – foi o penúltimo país da UE27 a<br />
concluir o processo, a seguir à Lituânia – esta realida<strong>de</strong><br />
não prejudicou o <strong>de</strong>senvolvimento da nova geração<br />
móvel, face aos <strong>de</strong>mais Estados-membros.<br />
Se Portugal ficou prejudicado, foi apenas em termos<br />
<strong>de</strong> imagem. “Fizemos muito barulho durante um<br />
ano e escrevemos muita coisa. Fomos alvo, diria, <strong>de</strong><br />
alguma chacota, em alguns contextos internacionais.<br />
Éramos sempre apontados como os que escolheram<br />
um processo <strong>de</strong> leilão muito<br />
antiquado. Ninguém<br />
gosta <strong>de</strong> ouvir estas coisas<br />
e, enquanto engenheiro<br />
português, também não<br />
gostei”, admite Pedro Tavares,<br />
technology, media &<br />
telecom lea<strong>de</strong>r da Deloitte.<br />
Tendo em conta o que<br />
está a acontecer na Europa<br />
e em mercados mais <strong>de</strong>senvolvidos,<br />
como a Austrália,<br />
Tailândia e EUA,<br />
geografias que conhece<br />
bem, o consultor assegura que não estamos atrasados.<br />
É que os operadores “fizeram o seu trabalho bastante<br />
bem e <strong>de</strong> forma consistente. Com tempo, preparando-se<br />
para o dia em que o leilão terminou e as licenças<br />
foram disponibilizadas. A prova disso é que no dia em<br />
que receberam o papel assinado da Anacom puseram o<br />
serviço no ar, num trabalho extraordinário <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação<br />
das suas re<strong>de</strong>s para esta nova realida<strong>de</strong>. Não per<strong>de</strong>mos<br />
absolutamente nada”.<br />
José Ro<strong>de</strong>ia, senior manager da Accenture Portugal,<br />
é da mesma opinião: “Os operadores não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />
procurar o <strong>de</strong>senvolvimento da tecnologia, através da<br />
Os operadores<br />
prepararam-se. O<br />
que explica a rapi<strong>de</strong>z<br />
com que iniciaram a<br />
comercialização do 5G<br />
utilização da re<strong>de</strong> 5G disponibilizada para testes. O<br />
que explica a rapi<strong>de</strong>z com que foi iniciada a comercialização<br />
do serviço após o fim do leilão”, acrescentando<br />
ainda que no B2B recorreram a “parceiros com experiência<br />
global, para recuperar tempo e propor e implementar<br />
soluções semelhantes ao que está a ser <strong>de</strong>senvolvido<br />
ao nível global”.<br />
MOSTRAR POTENCIAL E EVANGELIZAR<br />
Mas o que é que mudou, em concreto, com a oferta comercial<br />
do 5G, que começou por ser disponibilizado<br />
gratuitamente pelos operadores a todos os clientes <strong>de</strong><br />
todos os tarifários, a título experimental, até 31 <strong>de</strong> janeiro,<br />
e foi posteriormente alargado até 31 <strong>de</strong> março?<br />
A perceção é que, pelo menos para já, não existe ainda<br />
nada <strong>de</strong> diferenciador, até porque a oferta 5G se resume<br />
a uma maior velocida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> forma limitada às zonas<br />
que já dispõem <strong>de</strong> cobertura.<br />
“Ainda estamos num período <strong>de</strong> evangelização”,<br />
avança José Ro<strong>de</strong>ia que <strong>de</strong>ixa claro que, apesar <strong>de</strong> já ser<br />
possível aos operadores apostar no mercado B2B, com<br />
“use cases provados, alavancados<br />
em re<strong>de</strong>s 5G privadas”,<br />
o foco terá <strong>de</strong> ser<br />
agora o <strong>de</strong> trabalhar “com<br />
early-adopters que reconheçam<br />
o benefício <strong>de</strong> começar<br />
processos <strong>de</strong> transformação<br />
mais cedo e ganhar<br />
vantagem sobre os seus<br />
concorrentes”.<br />
“Os operadores lançaram,<br />
porque estavam<br />
preparados para isso, o<br />
Enhanced Mobile Broadband<br />
(eMBB), que permite mais velocida<strong>de</strong>, mas<br />
que, para a esmagadora maioria dos serviços, pouco ou<br />
nada conta. O 5G é muito mais do que isso. Foi pensado<br />
sobretudo para o B2B e é aí que acho que o trabalho<br />
foi menos bem feito, porque é extremamente complexo<br />
<strong>de</strong> se fazer. Os mercados globais não estão preparados<br />
e não foram pensados para utilizar tecnologias<br />
móveis do segmento empresarial”, acrescenta Pedro<br />
Tavares.<br />
Na sua ótica, até agora o que os operadores fizeram<br />
foi utilizar re<strong>de</strong>s móveis para oferecer voz e dados<br />
às empresas e aos seus empregados, numa “espécie <strong>de</strong>
B2B2C. Mas o 5G significa fazer B2B diretamente”,<br />
o que não existe ainda em nenhum<br />
mercado, a não ser em casos muito<br />
pontuais.<br />
“Não vemos utilização do 5G nas empresas<br />
para resolver temas como aumentar<br />
a eficiência, ou resolver problemas <strong>de</strong><br />
negócio”, assegura.<br />
No fundo, e apesar <strong>de</strong> admitir a apetência<br />
do mercado para criar use cases a<br />
uma velocida<strong>de</strong> cada vez maior, subsiste<br />
um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: “Saber como se vai monetizar<br />
estas ofertas. Por exemplo, numa<br />
fábrica 5G, on<strong>de</strong> conseguimos ver a digitalização<br />
da maioria dos processos industriais,<br />
é preciso encontrar formas <strong>de</strong> monetização.<br />
Como é que isso se ven<strong>de</strong> pelos<br />
operadores? Por quanto é que precisam<br />
<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r? Por quanto po<strong>de</strong>m comprar os<br />
clientes?”. Mesmo nos casos das “geografias<br />
mais avançadas, on<strong>de</strong> há operadores<br />
com use cases diferenciados, ainda não fazem<br />
dinheiro com o 5G e estão muito longe<br />
disso. Todos estes processos têm uma<br />
jornada. A seu tempo, iremos encontrar<br />
as primeiras implementações com sucesso, que efetivamente<br />
resolvam problemas <strong>de</strong> negócio dos clientes<br />
B2B”. E isso só <strong>de</strong>verá acontecer com uma mudança<br />
<strong>de</strong> fundo nas re<strong>de</strong>s. Enquanto a arquitetura <strong>de</strong> re<strong>de</strong><br />
for non standalone (NSA), pouco mais é possível do que<br />
disponibilizar ofertas eMBB (maior largura <strong>de</strong> banda).<br />
Só a mudança para uma re<strong>de</strong> 5G standalone (SA), com a<br />
implementação <strong>de</strong> um core <strong>de</strong> re<strong>de</strong> totalmente diferenciado,<br />
é que permitirá dar o verda<strong>de</strong>iro salto em frente<br />
no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> soluções assentes nas novas re<strong>de</strong>s<br />
móveis, acelerando áreas como cloud, edge, IA, analítica<br />
e automação.<br />
DAR TEMPO AO TEMPO<br />
Por isso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que “é preciso dar tempo ao tempo,<br />
para que os operadores se sintam capazes, até financeiramente,<br />
para avançar”. É que o tema da capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> investimento é crítico num mercado on<strong>de</strong> os players<br />
pagaram mais do que o esperado pelo espetro <strong>de</strong><br />
“Com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leilão que foi seguido, trocaram-se resultados imediatos<br />
por uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os operadores investirem <strong>de</strong> forma mais massiva<br />
em plataformas. É certo que os investimentos não vão dar para tudo”,<br />
comenta José Ro<strong>de</strong>ia, senior manager da Accenture Portugal<br />
5G, num setor já massificado e on<strong>de</strong> as receitas já pouco<br />
crescem. No total, o encaixe do leilão foi <strong>de</strong> 566,8<br />
milhões <strong>de</strong> euros: 165 milhões foram pagos pela NOS,<br />
133,2 milhões pela Vodafone e 125 milhões pela Altice.<br />
Já a Nowo investiu 70 milhões, a Dixarobil 67 milhões<br />
e a Dense Air 5,7 milhões. Estimativas do mercado antecipam<br />
que os operadores nacionais terão <strong>de</strong> investir<br />
na implantação do 5G valores entre 2,3 e 2,8 mil milhões<br />
<strong>de</strong> euros, nos próximos cinco anos.<br />
“Já foi dito várias vezes que, com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leilão<br />
que foi seguido, se trocaram resultados imediatos por<br />
uma capacida<strong>de</strong> dos operadores investirem <strong>de</strong> forma<br />
mais massiva em plataformas que trouxessem competitivida<strong>de</strong><br />
à nossa economia. É certo que os investimentos<br />
não vão dar para tudo”, garante José Ro<strong>de</strong>ia.<br />
“Os business cases originais foram sendo revistos à medida<br />
que o leilão foi progredindo”, acrescenta Pedro<br />
Tavares, explicando que houve consequências: “A passagem<br />
do 5G non-standalone (NSA)) para o 5G standalo-<br />
39
negocios<br />
40<br />
“As obrigações <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s são muito pesadas e dissonantes<br />
entre incumbentes e novos entrantes”, adverte Pedro Tavares, technology,<br />
media & telecom lea<strong>de</strong>r da Deloitte, antecipando no tema do roaming<br />
nacional “uma disputa interessante”<br />
ne (SA), que <strong>de</strong>veria ocorrer num espaço <strong>de</strong> 12 meses,<br />
não vai seguramente ocorrer nesse timing. É preciso, <strong>de</strong><br />
alguma forma, garantir o retorno com o que se consegue<br />
fazer no 5G NSA e, a<br />
seu tempo, será pensado o<br />
Os pilotos permitem<br />
aumentar a visibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> soluções disruptivas<br />
e provar as capacida<strong>de</strong>s<br />
diferenciadoras<br />
5G SA. Provavelmente, só<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois anos”.<br />
Para já, e como <strong>de</strong>talha<br />
o responsável da Accenture,<br />
a aposta no imediato<br />
passará, “no mercado<br />
empresarial, com use cases<br />
já provados, alavancados<br />
em re<strong>de</strong>s 5G privadas,<br />
para iniciar a recuperação<br />
do investimento e respetiva<br />
monetização da tecnologia. Os pilotos em execução<br />
permitem aumentar a visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções disruptivas<br />
e provar as capacida<strong>de</strong>s diferenciadoras. No entanto,<br />
será fundamental provar a viabilida<strong>de</strong><br />
financeira e o retorno <strong>de</strong> investimento das<br />
empresas, uma vez que existirão vários custos<br />
na implementação <strong>de</strong> soluções em larga<br />
escala”.<br />
Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento, capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> inovação e gestão <strong>de</strong> talento são, para José<br />
Ro<strong>de</strong>ia, os principais fatores que vão <strong>de</strong>terminar,<br />
a prazo, que o potencial do 5G seja verda<strong>de</strong>iramente<br />
aproveitado pela economia e a<br />
socieda<strong>de</strong>. Para isso, terá <strong>de</strong> garantir-se “um<br />
clima favorável à geração <strong>de</strong> negócio, para que<br />
os operadores possam compensar e continuar<br />
a investir no <strong>de</strong>ployment da re<strong>de</strong>, e respetiva<br />
robustez, com novas fontes <strong>de</strong> receita”. Assim<br />
como ter “condições que permitam a investigação<br />
<strong>de</strong> novos use cases, <strong>de</strong>vices que permitam<br />
capturar todos os benefícios do 5G” e<br />
capacitar as pessoas na nova tecnologia.<br />
CONSTRUIR CAMINHO<br />
A fazer o seu caminho no 5G estão os operadores.<br />
No âmbito do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> iniciativas<br />
lançado em fevereiro pela APDC, <strong>de</strong>nominado<br />
Dot Topics, um formato podcast on<strong>de</strong><br />
foram entrevistados responsáveis da Vodafone,<br />
NOS e Altice, além <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> cliente<br />
potencial, a EDP, foram <strong>de</strong>svendadas algumas<br />
estratégias e caminhos a <strong>de</strong>senvolver. Os<br />
<strong>de</strong>bates sobre o futuro com o 5G <strong>de</strong>correram<br />
em parceria com a Capgemini Engineering.<br />
Para Manuel Eanes, administrador da NOS, a “re<strong>de</strong><br />
5G não é só mais um G, mas uma revolução”, porque<br />
traz consigo quatro novas coisas cuja combinação po<strong>de</strong>rá<br />
transformar tudo:<br />
<strong>de</strong>z vezes mais velocida<strong>de</strong>,<br />
latências até menos <strong>de</strong><br />
um milissegundo, um milhão<br />
<strong>de</strong> objetos ligados por<br />
km2 e uma disponibilida<strong>de</strong><br />
e fiabilida<strong>de</strong> enormes.<br />
“Para nós, a proposta <strong>de</strong><br />
valor do 5G é muito séria.<br />
Temos como objetivo li<strong>de</strong>rar<br />
a era do 5G e estamos a<br />
trabalhar nisso há muito<br />
tempo”, assegura.<br />
Consciente <strong>de</strong> que para “construir todo este novo<br />
universo <strong>de</strong> soluções, vamos ter que fazer uma aprendizagem<br />
muito rápida”, diz haver peças fundamentais
a tomar em linha <strong>de</strong> conta. Ter um “ecossistema<br />
<strong>de</strong> inovação aberta muito forte e<br />
po<strong>de</strong>roso”, é uma <strong>de</strong>las. Fazer uma “boa<br />
leitura dos problemas práticos que tem<br />
valor resolver, tentando trazer a tecnologia<br />
a bordo para os solucionar”, é outra.<br />
Assim como “<strong>de</strong>senvolver um conjunto <strong>de</strong><br />
elementos estruturais na re<strong>de</strong>”, para respon<strong>de</strong>r<br />
às novida<strong>de</strong>s que o 5G trará na utilização<br />
<strong>de</strong> tecnologias. Trata-se, na perspetiva<br />
<strong>de</strong>ste gestor, <strong>de</strong> “tentar construir um<br />
caminho para, tão cedo quanto possível,<br />
aproveitar todo o potencial das muitas<br />
inovações que o 5G nos vai trazer ao longo<br />
dos próximos <strong>de</strong>z anos”.<br />
Na Vodafone Portugal, Henrique Fonseca,<br />
administrador responsável pela Unida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Negócio Empresarial, está convicto<br />
<strong>de</strong> que no 5G tudo vai acontecer muito<br />
mais <strong>de</strong>pressa, uma vez que a tecnologia o<br />
permite, assim como os requisitos <strong>de</strong> cobertura<br />
e as funcionalida<strong>de</strong>s em velocida<strong>de</strong><br />
e, sobretudo, latência. “O 4G já nos permite<br />
latências <strong>de</strong> 40 milissegundos. Com<br />
o 5G vamos ter 1 milisegundo. Vamos chegar<br />
lá. Amanhã não vamos estar a fazer cirurgias remotas<br />
nem a ver carros a andar sozinhos. Há um caminho<br />
para lá chegar e é esse que estamos a preparar e a fazer<br />
acontecer em Portugal”.<br />
E a Vodafone tem, na<br />
“Ainda não vamos estar a fazer cirurgias remotas nem a ver carros a andar<br />
sozinhos. Há um caminho para lá chegar e é esse que estamos a preparar”,<br />
frisa Henrique Fonseca, administrador responsável pela unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio<br />
empresarial da Vodafone Portugal<br />
Construir o universo <strong>de</strong><br />
soluções possíveis vai exigir<br />
uma aprendizagem rápida.<br />
Por isso o ecossistema <strong>de</strong><br />
inovação tem <strong>de</strong> ser forte<br />
sua ótica, uma vantagem<br />
à partida, já que o grupo<br />
que integra lançou nos últimos<br />
três anos quase 20<br />
re<strong>de</strong>s 5G no mundo. Tratase<br />
<strong>de</strong> um “capital <strong>de</strong> experiência<br />
e <strong>de</strong> conhecimento<br />
acumulado que estamos<br />
a pôr ao dispor <strong>de</strong> Portugal.<br />
Quando falamos com<br />
os nossos clientes sobre<br />
o que está a acontecer nos outros mercados e o que é<br />
que fizeram com o 5G, vemos que realmente estamos<br />
a abrir o caminho para acelerar a digitalização das empresas<br />
nacionais”.<br />
A beneficiar da experiência do grupo on<strong>de</strong> se integra<br />
está também a Altice Portugal. Para o seu chief sales<br />
officer (CSO), Nuno Nunes,<br />
o grupo está a construir,<br />
<strong>de</strong>ntro do seu backbone,<br />
“uma plataforma on<strong>de</strong> os<br />
vários vendors, startups e<br />
empresas estão conectados<br />
e fazem <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
ace<strong>de</strong>ndo a todos<br />
os uses cases da Altice pelo<br />
mundo inteiro”. Com todas<br />
as re<strong>de</strong>s ligadas, sempre<br />
que houver um use case<br />
que <strong>de</strong>senvolva uma solução<br />
5G, todos os países beneficiam da informação e da<br />
respetiva experiência, assegura.<br />
“Estamos a construir soluções que o mercado pre-<br />
41
negocios<br />
42<br />
“Temos como objetivo li<strong>de</strong>rar a era do 5G e estamos a trabalhar nisso há<br />
muito tempo”, frisa Manuel Eanes, administrador da NOS<br />
cisa para que a economia e as empresas se tornem mais<br />
competitivas. A p<strong>arte</strong> da infraestrutura não é o game<br />
changer, mas o driver para transportar informação <strong>de</strong><br />
um lado para o outro. O<br />
game changer está nas plataformas<br />
on<strong>de</strong> os ven<strong>de</strong>rs<br />
que trabalham connosco<br />
constroem os use cases<br />
5G, para que <strong>de</strong>pois os<br />
possamos partilhar, quer<br />
com o mundo on<strong>de</strong> estamos,<br />
quer com os nossos<br />
clientes em Portugal”,<br />
acrescenta.<br />
Todos admitem que há<br />
ainda muitos <strong>de</strong>safios pela<br />
frente, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o 5G trará gran<strong>de</strong>s benefícios<br />
ao país. “Temos um setor e um conjunto gran<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
empresas competentes que po<strong>de</strong>m, em colaboração,<br />
Estimam-se ganhos na<br />
produtivida<strong>de</strong> na or<strong>de</strong>m<br />
dos 20% a 30% na indústria<br />
e <strong>de</strong> 25% na agricultura<br />
com a adoção do 5G<br />
ajudar a que se tire partido <strong>de</strong>sta tecnologia.<br />
A promessa é que haja ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />
da or<strong>de</strong>m dos 20% a 30% na indústria,<br />
com ganhos <strong>de</strong> 50% nas linhas <strong>de</strong> montagem,<br />
e <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> na agricultura.<br />
Com estes números, estamos a ver apenas<br />
a ponta do iceberg do que será, seguramente,<br />
uma enorme transformação da nossa capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> entregar. Todos temos <strong>de</strong> fazer um<br />
processo <strong>de</strong> adaptação. Há que começar já e<br />
não esperar por amanhã para ver como é que<br />
o 5G po<strong>de</strong> ajudar a transformar as nossas vidas<br />
e os nossos negócios”, adverte o administrador<br />
da NOS.<br />
PERCEBER O VALOR DA TECNOLOGIA<br />
Para que essa transformação <strong>de</strong> fundo seja<br />
uma realida<strong>de</strong>, terá primeiro <strong>de</strong> se “enten<strong>de</strong>r<br />
o valor da tecnologia para resolver questões<br />
concretas. O problema <strong>de</strong> muitas jornadas<br />
tecnológicas é que, concetualmente, as camadas<br />
são muito bem <strong>de</strong>finidas, mas <strong>de</strong>moram<br />
muito tempo a implementar. E a paciência<br />
ou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento esgotam-se<br />
por falta <strong>de</strong> resultados práticos. Como temos<br />
essa consciência, o que preferimos é entregar<br />
resultados <strong>de</strong>pressa, para que se possa ver o valor e que<br />
isso aju<strong>de</strong> a custear e a credibilizar os movimentos do<br />
futuro”, explica Manuel Eanes.<br />
Neste momento, e segundo<br />
o administrador<br />
da Vodafone, as soluções<br />
mais facilmente implementáveis<br />
e com resultados<br />
imediatos são as que<br />
têm a ver com realida<strong>de</strong><br />
aumentada e virtual, manutenção<br />
<strong>de</strong> máquinas<br />
nas fábricas ou, na saú<strong>de</strong>,<br />
as consultas remotas ou<br />
a monitorização remota,<br />
entre outras. Representando<br />
o 5G um “salto tecnológico”, explica que, muitas<br />
vezes, a barreira à sua adoção po<strong>de</strong> assentar não<br />
só no business case”, mas também no não querer alte-
Nuno Nunes, chief sales officer da Altice Portugal: “Estamos a construir<br />
soluções que o mercado precisa para que a economia e as empresas se<br />
tornem mais competitivas”<br />
Um fator consi<strong>de</strong>rado<br />
essencial para a aceleração<br />
da oferta do 5G no mercado<br />
nacional é o apoio público<br />
ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />
rar o status quo e não ter a coragem <strong>de</strong> ir à<br />
frente”.<br />
Para o gestor, o 5G não é “só um <strong>de</strong>safio<br />
dos operadores, dos parceiros e do ecossistema<br />
que está à volta, mas <strong>de</strong> todos nós. É<br />
bom que cada um dos players <strong>de</strong>sta indústria<br />
faça acontecer, que fale sobre o que<br />
está a fazer e apresente resultados concretos<br />
dos uses cases que está a disponibilizar<br />
aos clientes. Porque isso ajuda o mercado<br />
e dá-lhe confiança. Nenhum <strong>de</strong> nós sozinho<br />
po<strong>de</strong> ter mais sucesso do que se toda<br />
a indústria se unir e contribuir”.<br />
A olhar para o 5G e para a sua capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> potenciar o negócio, nomeadamente<br />
os processos <strong>de</strong> transição energética<br />
e digital, está a gigante EDP. João<br />
Nascimento, digital global unit do grupo,<br />
conhece bem a tecnologia, até porque veio<br />
<strong>de</strong> um dos operadores <strong>de</strong> comunicações, e<br />
garante que tudo é possível. Mas o que falta<br />
é saber “qual o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio que<br />
está por <strong>de</strong>trás. A tecnologia existe, a necessida<strong>de</strong> existe.<br />
Temos agora que fazer um casamento entre as duas<br />
coisas e capturar o valor”. ´<br />
O processo está apenas<br />
a começar, com a exploração<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, para <strong>de</strong>pois<br />
se po<strong>de</strong>rem criar os use cases<br />
e as provas <strong>de</strong> conceito<br />
e começar a usar a tecnologia.<br />
Para isso, o gestor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
um verda<strong>de</strong>iro “diálogo<br />
<strong>de</strong> parceria com os<br />
operadores”, percebendo<br />
com eles as oportunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor. E <strong>de</strong>ixa<br />
bem claro: “O 5G é uma<br />
tecnologia muito interessante e que traz todas as tecnologias<br />
novas com que po<strong>de</strong>remos trabalhar. Mas tem<br />
<strong>de</strong> haver racionalida<strong>de</strong> económica: em termos empresariais,<br />
temos <strong>de</strong> ver a tecnologia como um enabler <strong>de</strong><br />
criação <strong>de</strong> valor e ser exigentes nessa captura. Tecnologia<br />
sim, mas ao serviço do nosso propósito”.<br />
Um fator consi<strong>de</strong>rado<br />
essencial para a aceleração<br />
da oferta do 5G no mercado<br />
nacional, com todos<br />
os benefícios inerentes, é<br />
também o apoio público<br />
ao seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
“O governo tem também<br />
uma palavra muito relevante<br />
a dizer. Infelizmente,<br />
no nosso PRR não vimos<br />
esse sinal, coisa que<br />
aconteceu noutras geografias.<br />
Mas ainda vamos muito a tempo<br />
<strong>de</strong> corrigir. Espero que venha a haver oportunida<strong>de</strong>s<br />
e sinais <strong>de</strong> contribuição para este <strong>de</strong>senvolvimento<br />
43
negocios<br />
garantir um ecossistema completo, com a<br />
presença <strong>de</strong> operadores, network equipment provi<strong>de</strong>rs,<br />
consultoras <strong>de</strong> negócio, cloud provi<strong>de</strong>rs,<br />
software houses e universida<strong>de</strong>s. Ecossistemas<br />
com esta amplitu<strong>de</strong> estarão capacitados para<br />
<strong>de</strong>senvolver novos use cases, ser um pilar <strong>de</strong><br />
inovação nos processos <strong>de</strong> transformação digital<br />
e garantir <strong>de</strong>ployment <strong>de</strong> soluções complexas<br />
em larga escala”.<br />
44<br />
João Nascimento, digital global unit do Grupo EDP: “A tecnologia existe, a<br />
necessida<strong>de</strong> existe. Temos agora que fazer um casamento entre as duas<br />
coisas e capturar valor”<br />
e aceleração do 5G, agora que a tecnologia está disponível”,<br />
comenta Henrique Fonseca.<br />
“Os apoios públicos à inovação e à adoção da tecnologia<br />
serão essenciais<br />
para acelerar. Devem, inclusivamente,<br />
ser vistos<br />
como um investimento<br />
necessário ao posicionamento<br />
do país como um<br />
dinamizador da mudança,<br />
procurando que Portugal<br />
seja uma referência<br />
<strong>de</strong> inovação”, acrescenta<br />
José Ro<strong>de</strong>ia.<br />
Trata-se, como explica,<br />
<strong>de</strong> “acelerar programas<br />
<strong>de</strong> investigação e rollout <strong>de</strong> projetos. Já se começaram a<br />
dar os primeiros passos e a criar as primeiras parcerias<br />
que <strong>de</strong>verão ser alargadas, num futuro próximo, para<br />
Portugal tem uma curva<br />
agressiva <strong>de</strong> cobertura do<br />
país, pelo que as pessoas<br />
terão rapidamente acesso<br />
às re<strong>de</strong>s<br />
CONCORRÊNCIA VS CONSOLIDAÇÕES<br />
A cobertura do país com as re<strong>de</strong>s 5G é um dos<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios a que os operadores terão <strong>de</strong><br />
dar resposta rapidamente. Não só porque só<br />
assim po<strong>de</strong>rão trazer valor para o mercado,<br />
mas também porque, apesar dos atrasos no<br />
encerramento do leilão, governo e regulador<br />
das comunicações <strong>de</strong>ixaram claro que os prazos<br />
<strong>de</strong>finidos no regulamento se mantêm. O<br />
que significa que já em 2023 terão metas para<br />
cumprir, para que em 2025 pelo menos cerca<br />
<strong>de</strong> 90% do país já disponha <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s móveis <strong>de</strong><br />
nova geração.<br />
Manuel Eanes consi<strong>de</strong>ra mesmo que Portugal<br />
tem “uma curva muitíssimo agressiva <strong>de</strong> cobertura<br />
do país”, pelo que as pessoas terão muito rapidamente<br />
um acesso significativo às re<strong>de</strong>s. Para já, o<br />
operador já está presente<br />
em todas as capitais <strong>de</strong><br />
distrito. Concordando que<br />
o “plano <strong>de</strong> rollout do 5G é<br />
um plano muito agressivo,<br />
porque em quatro anos vamos<br />
ter que fazer o que <strong>de</strong>morámos<br />
quase <strong>de</strong>z anos<br />
no 4G”, o responsável da<br />
Vodafone garante que vai<br />
ser concretizada a meta <strong>de</strong><br />
cobertura 5G até ao final<br />
<strong>de</strong> 2025, com uma velocida<strong>de</strong>,<br />
no mínimo, <strong>de</strong> 100 Mbps.<br />
Pedro Tavares classifica mesmo as metas <strong>de</strong> “obrigações<br />
hercúleas, muito pesadas e dissonantes <strong>de</strong> co-
ACELERAR PARA COLHER BENEFÍCIOS<br />
Os números mais recentes <strong>de</strong> Bruxelas mostram<br />
que o <strong>de</strong>senvolvimento das re<strong>de</strong>s 5G na<br />
UE27 tem sido mais moroso que o previsto<br />
e que muitos Estados-membros estão ainda<br />
longe <strong>de</strong> beneficiar das suas vantagens.<br />
Apesar da cobertura ter aumentado <strong>de</strong> 14%<br />
da população (em 2020) para mais <strong>de</strong> 20%<br />
no ano passado, exce<strong>de</strong>ndo até os 50%<br />
em vários países, ainda se está longe do<br />
i<strong>de</strong>al sonhado para o espaço comunitário.<br />
As estimativas iniciais apontavam para um<br />
investimento <strong>de</strong> 400 mil milhões <strong>de</strong> euros no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do 5G até 2025, acrescentando-se<br />
um bilião <strong>de</strong> euros ao PIB europeu<br />
entre 2021 e 2025 e um potencial <strong>de</strong> criar ou<br />
transformar até 20 milhões <strong>de</strong> empregos. A<br />
pan<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Covid-19 veio baralhar tudo e<br />
a UE já garantiu que vai intensificar esforços,<br />
<strong>de</strong>pois do Tribunal <strong>de</strong> Contas Europeu ter<br />
alertado recentemente os europeus <strong>de</strong> que<br />
estão a ficar para trás e que corremos o risco<br />
<strong>de</strong> falhar as metas <strong>de</strong>finidas para 2025. Nesse<br />
ano, é suposto ter assegurada uma cobertura<br />
<strong>de</strong> 5G nas áreas urbanas e ao longo<br />
das principais vias <strong>de</strong> transporte do espaço<br />
comunitário.<br />
Portugal é, claramente, um dos países mais<br />
atrasados no processo. Mas as projeções<br />
sobre o impacto positivo do 5G na economia<br />
nacional nos próximos anos pouco ou nada<br />
se alteraram. Segundo Pedro Tavares, as<br />
previsões da Deloitte Analysis 2019, realizadas<br />
com a NOS, que apontavam para que a<br />
nova geração acrescente à economia nacional<br />
17 mil milhões <strong>de</strong> euros até 2035, mantêmse.<br />
Só nos impactos esperados por indústrias<br />
- manufaturing, wholesale, TIC, retalho, transportes<br />
e armazenamento e utilities é que se<br />
registaram variações <strong>de</strong> valores entre 10% a<br />
15%. Já um estudo divulgado pela Accenture<br />
Strategy há cerca <strong>de</strong> um ano, sobre o impacto<br />
do 5G na economia europeia, antecipa<br />
que até 2025 a nova geração móvel trará um<br />
aumento do PIB <strong>de</strong> 11 mil milhões <strong>de</strong> euros e<br />
a criação ou transformação <strong>de</strong> 260 mil postos<br />
<strong>de</strong> trabalho.•<br />
bertura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s entre os incumbentes e novos entrantes”,<br />
<strong>de</strong>stacando ainda a obrigatorieda<strong>de</strong> dos três<br />
gran<strong>de</strong>s operadores com re<strong>de</strong> terem <strong>de</strong> disponibilizar<br />
roaming nacional aos <strong>de</strong>mais concorrentes. “Avizinha-<br />
-se uma disputa interessante entre os operadores que<br />
têm obrigações legais, escritas e formais e aquilo que<br />
efetivamente vão fazer ou querer fazer”, antecipa.<br />
Neste âmbito, o tema das consolidações, que voltou<br />
a ganhar força nos últimos meses na Europa, quando<br />
em paralelo Bruxelas e Portugal tentam criar mais<br />
concorrência, facilitando a entrada <strong>de</strong> novos players no<br />
mercado, é incontornável. O responsável da Deloitte<br />
não tem dúvidas <strong>de</strong> que se assistirá a prazo, tanto na<br />
Europa como no país, a movimentos <strong>de</strong> consolidação,<br />
ao mesmo tempo que <strong>de</strong>verão surgir operadores <strong>de</strong> super-nicho,<br />
como no caso da Dixarobil, dos romenos da<br />
Digi Communications.<br />
José Ro<strong>de</strong>ia confirma esta perspetiva: “O que temos<br />
visto em alguns operadores, a nível internacional,<br />
é uma estratégia baseada em ofertas comerciais mais<br />
simples, essencialmente focadas em B2C, com preços<br />
mais baixos e estruturas <strong>de</strong> suporte otimizadas e<br />
digitalizadas. Como o fornecimento <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> comunicações<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é bastante exigente do ponto<br />
<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> investimento, o que observamos é mais<br />
um movimento <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> operadores, que<br />
um movimento <strong>de</strong> dispersão. Acontecendo o mesmo<br />
em Portugal, a entrada <strong>de</strong> novos players que compitam<br />
apenas por preço resulta num movimento <strong>de</strong> consolidação<br />
posterior, <strong>de</strong>ixando pelo meio uma <strong>de</strong>svalorização<br />
da indústria”.•<br />
VEJA OS 4 EPISÓDIOS DOS DOT TOPICS:<br />
EM PODCAST: https://bit.ly/3GcO8mA<br />
EM VÍDEOCAST: https://bit.ly/3GcO8mA<br />
45
management<br />
SEMANA DOS<br />
QUATRO DIAS:<br />
MENOS É MAIS?<br />
Eis o caldo: trabalho, pan<strong>de</strong>mia, millenials e<br />
tecnologia. Da mistura saíram várias receitas,<br />
com <strong>de</strong>staque para o teletrabalho. Mas há<br />
mais opções e, entre estas, a semana dos<br />
quatro dias, que já foi testada com sucesso<br />
noutras paragens. A questão está em saber se<br />
funciona em Portugal.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS DE ISTOCK (ABERTURA) E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
46
47
management<br />
sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres), foi um dos investigadores que se<br />
<strong>de</strong>bruçou sobre o tema e acabou convencido. Em agosto,<br />
lançou o livro “Friday is the New Saturday”, on<strong>de</strong><br />
afirma que “uma semana <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> quatro dias”<br />
não só “po<strong>de</strong>rá salvar a economia” como “é uma melhor<br />
forma <strong>de</strong> organizar a economia no século XXI”.<br />
48<br />
Embora não tenha sido discutida em campanha<br />
eleitoral, a semana dos quatro dias foi equacionada<br />
pelo Partido Socialista no programa que levou<br />
a votos dia 30 <strong>de</strong> janeiro. Ao prometer nesse<br />
documento a “pon<strong>de</strong>ração da aplicabilida<strong>de</strong>” <strong>de</strong>ssa experiência<br />
“em diferentes setores”, logo os representantes<br />
das associações patronais reagiram. E não foi para<br />
apoiar a i<strong>de</strong>ia.<br />
A verda<strong>de</strong> é que este cenário não surgiu do nada.<br />
Sobretudo <strong>de</strong>pois da pan<strong>de</strong>mia, houve vários países<br />
que ensaiaram a medida. No ano passado, Espanha<br />
consi<strong>de</strong>rou a implementação da semana das 32 horas<br />
para favorecer a criação <strong>de</strong> emprego, numa fase em que<br />
o seu mercado <strong>de</strong> trabalho estava seriamente abalado<br />
pela pan<strong>de</strong>mia. Também a Escócia <strong>de</strong>cidiu testar a semana<br />
das 32 horas, inspirada em exemplos como o da<br />
Nova Zelândia, que abraçou com a bênção da própria<br />
primeira-ministra, Jacinta Ar<strong>de</strong>n, a realização <strong>de</strong> “pilotos”<br />
nesse âmbito. Houve iniciativas similares noutras<br />
geografias, mas o exemplo que mais impressionou<br />
a comunida<strong>de</strong> internacional foi o da Islândia. Aqui,<br />
não foi a pan<strong>de</strong>mia que inspirou a adoção da semana<br />
dos quatro dias, já que a experiência teve início em<br />
2015 e se <strong>de</strong>senrolou até 2019.<br />
Pioneira na matéria, a Islândia envolveu cerca <strong>de</strong><br />
1% da sua força <strong>de</strong> trabalho na iniciativa. Durante quatro<br />
anos cerca <strong>de</strong> 2.500 trabalhadores cumpriram um<br />
horário que não exce<strong>de</strong>u as 36 horas semanais, po<strong>de</strong>ndo<br />
ser concentrado em quatro dias, sem redução salarial.<br />
Este ensaio foi conduzido pelo governo islandês na<br />
capital do País, Reykjavik, e os resultados analisados<br />
pela Associação pela Sustentabilida<strong>de</strong> e Democracia<br />
da Islândia e pelo grupo Autonomy. Concluiu-se que<br />
durante este período não houve qualquer quebra na<br />
produtivida<strong>de</strong> e que o stress dos trabalhadores diminuiu,<br />
assim como o risco <strong>de</strong> burnout. O sucesso foi <strong>de</strong><br />
tal forma esmagador que, a partir <strong>de</strong> 2019, a redução<br />
<strong>de</strong> horários começou a ser negociada pelos sindicatos<br />
<strong>de</strong> forma generalizada. Atualmente, abrange cerca <strong>de</strong><br />
86% dos trabalhadores islan<strong>de</strong>ses do setor público.<br />
A maior experiência <strong>de</strong> redução da jornada laboral<br />
que até hoje foi feita tem sido objeto <strong>de</strong> estudo em universida<strong>de</strong>s,<br />
consultoras e gran<strong>de</strong>s corporações. Pedro<br />
Gomes, economista e professor em Birkbeck (Univer-<br />
EM PORTUGAL, SERÁ VIÁVEL?<br />
Por cá, esta perspetiva está longe <strong>de</strong> ser consensual.<br />
João Vieira Lopes, lí<strong>de</strong>r da Confe<strong>de</strong>ração do Comércio<br />
e Serviços <strong>de</strong> Portugal (CCP), veio a público afirmar<br />
que “não é previsível que os baixos níveis <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />
consigam absorver um cenário <strong>de</strong>sses nos<br />
próximos anos, tendo em conta a estrutura empresarial<br />
portuguesa”. Faz, porém, uma ressalva para<br />
“os setores <strong>de</strong> alta tecnologia e algumas tipologias <strong>de</strong><br />
empresas”, on<strong>de</strong>, admite, o caminho para este mo<strong>de</strong>lo<br />
po<strong>de</strong>rá ser feito. A sua opinião coinci<strong>de</strong>, em traços<br />
gerais, com a dos outros representantes das confe<strong>de</strong>rações<br />
patronais.<br />
António Saraiva, presi<strong>de</strong>nte da CIP – Confe<strong>de</strong>ração<br />
Empresarial <strong>de</strong> Portugal, chegou mesmo a criticar esta<br />
iniciativa do PS, por consi<strong>de</strong>rar não ser este o momento<br />
para levantar semelhante questão. Assume, em contrapartida,<br />
que o tema é importante, pois “a qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> vida é um fator que influencia a produtivida<strong>de</strong>”,<br />
mas alerta para as dificulda<strong>de</strong>s da aplicação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo,<br />
“que implicaria uma mudança estrutural”. Desta<br />
forma, enten<strong>de</strong> que o tema exige reflexão, não po<strong>de</strong>ndo<br />
ser adotado precipitadamente.<br />
Os argumentos do lí<strong>de</strong>r da Associação Empresarial<br />
<strong>de</strong> Portugal são semelhantes. Luís Miguel Ribeiro diz<br />
que a adoção da semana dos quatro dias acarreta “uma<br />
alteração profunda na forma como a economia e a socieda<strong>de</strong><br />
estão organizadas”. Por isso, numa altura “em<br />
que do ponto <strong>de</strong> vista económico ainda não conseguimos<br />
alcançar os níveis da pré-pan<strong>de</strong>mia, este não é o<br />
momento para se iniciar tal discussão”.<br />
Estas opiniões não surpreen<strong>de</strong>m o advogado Tiago<br />
Piló, um dos coor<strong>de</strong>nadores da área laboral da VdA –<br />
Vieira <strong>de</strong> Almeida & Associados: “No nosso país a força<br />
<strong>de</strong> trabalho ainda se caracteriza muito pela quantida<strong>de</strong><br />
e não pela qualida<strong>de</strong>. E isso vê-se quer ao nível da força<br />
<strong>de</strong> trabalho propriamente dita, quer ao nível das chefias,<br />
que ainda estão muito agarradas à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
trabalho que recebem das suas equipas e menos ligadas<br />
à qualida<strong>de</strong>. Daí que muito dificilmente, nos próximos<br />
tempos, a redução das horas <strong>de</strong> trabalho semanais se<br />
vá tornar uma medida generalizada em Portugal”, afirma.<br />
A polémica que se gerou em torno da adoção das<br />
35 horas <strong>de</strong> trabalho pela Função Pública <strong>de</strong>monstra, a<br />
seu ver, que por enquanto, em Portugal, “este mo<strong>de</strong>lo
Para Tiago Piló, advogado da VdA, a polémica que se gerou em torno das 35 horas<br />
<strong>de</strong> trabalho na Função Pública <strong>de</strong>monstra que por enquanto em Portugal “o<br />
mo<strong>de</strong>lo da semana dos quatro dias é <strong>de</strong> muito difícil generalização”<br />
não serve e que é <strong>de</strong> muito difícil generalização”.<br />
Também advogada na VdA, Mariana Pinto Ramos<br />
chama a atenção para as questões que a redução da carga<br />
horária laboral levanta, nomeadamente ao nível das<br />
remunerações: “A primeira pergunta que se vai fazer é<br />
se haverá ajustes salariais com a adoção da semana dos<br />
quatro dias, pois à partida o salário está pensado para<br />
as 40 horas semanais”. Para que este problema não se<br />
coloque, a alternativa é concentrar as 40h em quatro<br />
dias, mas será compensador fazer jornadas <strong>de</strong> trabalho<br />
<strong>de</strong> 10 a 12 horas?<br />
Tiago Piló duvida que o trabalho concentrado tenha<br />
como resultado a mesma produtivida<strong>de</strong>: “Não foi por<br />
acaso”, argumenta, “que se generalizou a semana das<br />
40h <strong>de</strong> trabalho. É que está provado que ao fim <strong>de</strong> 8h o<br />
nosso bioritmo cai drasticamente”.<br />
Dúvidas à p<strong>arte</strong>, a verda<strong>de</strong> é que a legislação portuguesa<br />
já permite gran<strong>de</strong> multiplicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> soluções, sublinha Mariana<br />
Pinto Ramos: “Existe a figura do horário<br />
concentrado, assim como o regime <strong>de</strong><br />
adaptabilida<strong>de</strong> e ainda o banco <strong>de</strong> horas<br />
grupal, além do part-time. Havendo consenso<br />
entre empresas e trabalhadores,<br />
qualquer uma <strong>de</strong>stas fórmulas po<strong>de</strong> ser<br />
usada para que a semana <strong>de</strong> quatro dias<br />
seja possível”.<br />
O facto <strong>de</strong> a pan<strong>de</strong>mia ter forçado a<br />
que as empresas saíssem da sua zona <strong>de</strong><br />
conforto promoveu a discussão sobre novas<br />
formas <strong>de</strong> trabalhar. Comum a quase<br />
todas está o fator flexibilida<strong>de</strong>, algo que<br />
se <strong>de</strong>scobriu ser valioso tanto para trabalhadores,<br />
como para empregadores.<br />
Do lado da força <strong>de</strong> trabalho estão, naturalmente,<br />
as facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conciliação<br />
entre as responsabilida<strong>de</strong>s profissionais<br />
e a vida familiar, mas para quem contrata<br />
os horários flexíveis po<strong>de</strong>m ser um<br />
importante fator <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> talento<br />
e <strong>de</strong> reputação. Mariana Pinto Ramos<br />
tem notado que “algumas empresas já<br />
revelam preocupação em tomar medidas<br />
para combater o burnout e contribuir para<br />
a redução da pegada ecológica, através da<br />
adoção do teletrabalho”, cujo impacto<br />
na redução dos movimentos diários pendulares<br />
dos seus funcionários é inquestionável.<br />
Esta sensibilida<strong>de</strong> levou vários<br />
clientes a sondar a VdA, assim que veio<br />
a público o tema da implementação da<br />
semana dos quatro dias. O que querem<br />
saber? Sobretudo se “esta é uma medida que po<strong>de</strong> ser<br />
aplicada transversalmente <strong>de</strong>ntro da organização, ou<br />
se será necessário procurar o acordo pessoa a pessoa”,<br />
esclarece Tiago Piló.<br />
ENSAIOS BEM-SUCEDIDOS<br />
Por coincidência ou talvez não, após o PS ter abordado<br />
pela primeira vez, em maio, o tema da semana dos quatro<br />
dias, houve várias empresas que <strong>de</strong>cidiram testar o<br />
mo<strong>de</strong>lo em Portugal. A Feedzai foi uma <strong>de</strong>las. Alegando<br />
que o seu CEO sempre encorajou as equipas a experimentarem<br />
coisas novas e diferentes, em agosto passado<br />
avançaram para esta fórmula nos vários escritórios<br />
que têm espalhados pelo mundo. Dalia Turner, a VP of<br />
People do unicórnio português, foi quem partilhou nos<br />
media o resultado da experiência: “O serviço aos clientes<br />
foi mantido, nada caiu por terra, todos os objetivos<br />
49
50<br />
“A primeira pergunta que se vai fazer é se haverá ajustes salariais com a semana<br />
dos quatro dias”, alerta Mariana Pinto Ramos, associada senior da VdA<br />
que pretendíamos atingir em agosto foram alcançados”,<br />
afirmou no final do verão. Apesar <strong>de</strong> terem consi<strong>de</strong>rado<br />
este ensaio positivo, na Feedzai dizem ainda<br />
não estar preparados para adotar a semana reduzida<br />
durante o ano inteiro, mas ficou já estabelecido que<br />
doravante, em agosto todos os seus 500 colaboradores<br />
vão ter, semanalmente, menos um dia <strong>de</strong> trabalho.<br />
Especializada em finanças pessoais e familiares, a<br />
Doutor Finanças foi mais uma empresa portuguesa a<br />
experimentar este mo<strong>de</strong>lo no verão passado. Tal como<br />
a Feedzai escolheu agosto e, feito o balanço, consi<strong>de</strong>rou<br />
ser esta uma experiência a repetir mas, por enquanto,<br />
só no mês em que por tradição o trabalho<br />
aperta menos.<br />
Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarem estas experiências interessantes,<br />
tanto Tiago Piló como Mariana Pinto Ramos<br />
consi<strong>de</strong>ram que lhes falta algo essencial para que se<br />
possa avaliar o verda<strong>de</strong>iro impacto <strong>de</strong>sta<br />
mudança no país - a representativida<strong>de</strong>:<br />
“A amostra é muito pequena”, afirmam.<br />
Ambos não <strong>de</strong>scartam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
a redução <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho vir a ser<br />
uma tendência a médio ou longo prazo.<br />
De resto, já existe uma iniciativa da UE<br />
para a criação <strong>de</strong> uma diretiva europeia<br />
que venha a harmonizar as legislações<br />
nacionais nesta matéria. Mas até que<br />
passe a ser uma prática generalizada, “a<br />
semana dos quatro dias <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá<br />
começar por partir <strong>de</strong> experiências<br />
concretas do empresariado. Depois o legislador<br />
vai atrás”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m.<br />
Entretanto os mo<strong>de</strong>los híbridos, que<br />
combinam o trabalho presencial e o trabalho<br />
remoto, fazem o seu caminho, ganhando<br />
cada vez mais popularida<strong>de</strong>. A<br />
sua elevada aprovação tem encorajado<br />
organizações públicas e privadas a continuar<br />
por essa via. É o caso da Farfetch.<br />
Ana Sousa, a sua VP of People, diz que na<br />
empresa se aposta na “política <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong>”<br />
e não na “redução <strong>de</strong> horários”:<br />
“Esta política, a que chamamos Making<br />
work, work for you, no fundo traduz a nossa<br />
premissa do trabalho se adaptar ao tempo<br />
<strong>de</strong> cada um e não ao contrário”, afirma.<br />
A expetativa no unicórnio português<br />
é que as suas pessoas “trabalhem 60% do<br />
seu tempo em casa e 40% no escritório”.<br />
Não duvidam <strong>de</strong> que esta “já não é uma tendência, mas<br />
uma realida<strong>de</strong>” e que “o mercado português, que foi até<br />
aqui muito conservador no que diz respeito ao regime<br />
<strong>de</strong> trabalho flexível, vai ter <strong>de</strong> se adaptar” a este novo<br />
mo<strong>de</strong>lo, “se não quiser per<strong>de</strong>r muitos dos seus colaboradores<br />
a longo prazo”.<br />
Os millenials, que já nasceram com asas, e cuja maneira<br />
<strong>de</strong> estar na vida incorpora muitas <strong>de</strong>stas mudanças<br />
na cultura do trabalho, agra<strong>de</strong>cem. Mas no país dos<br />
baixos salários, uma realida<strong>de</strong> que tanto tem frustrado<br />
esta geração, resta ainda esclarecer uma questão: po<strong>de</strong>rá<br />
a oferta <strong>de</strong> horários reduzidos vir a ser usada, em<br />
Portugal, como forma <strong>de</strong> compensação por remunerações<br />
que se quedam abaixo das expetativas? Mariana<br />
Pinto Ramos e Tiago Piló duvidam: “As empresas que o<br />
fizessem per<strong>de</strong>riam competitivida<strong>de</strong>”.•
apdc news<br />
APDC & VDA | DIGITAL UNION - ECONOMIA DOS DADOS<br />
O ‘combustível’<br />
das organizações<br />
A UE27 quer acelerar a economia <strong>de</strong> dados mas há ainda muito caminho a percorrer. As empresas <strong>de</strong>frontam-<br />
-se com diversos entraves. Saber como usar os dados para inovar e criar valor é o <strong>de</strong>safio. Excesso <strong>de</strong> regulamentação,<br />
o seu impacto na inovação e os <strong>de</strong>sequilíbrios entre países são ameaças.<br />
Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />
52<br />
youtu.be/Ya2Yn1nbAvo<br />
Precisamos <strong>de</strong> ter “empresas<br />
mais bem preparadas, que<br />
conheçam as oportunida<strong>de</strong>s e<br />
<strong>de</strong>safios que existem com os dados<br />
e o que são as políticas europeias<br />
neste domínio”. O alerta é da sócia<br />
responsável da área Comunicações,<br />
Proteção <strong>de</strong> Dados & Tecnologia da<br />
VdA, no arranque da 4ª sessão da<br />
Digital Union, que <strong>de</strong>correu a 11 <strong>de</strong><br />
janeiro último. Magda Cocco, que<br />
apresentou a estratégia europeia<br />
para os dados, consi<strong>de</strong>ra que estes,<br />
em conjunto com as ferramentas<br />
tecnológicas, permitem mo<strong>de</strong>los<br />
<strong>de</strong> negócio mais inovadores, novos<br />
produtos e serviços, novos processos<br />
e tomar <strong>de</strong>cisões informadas.<br />
São “fundamentais no apoio ao<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, permitem<br />
políticas mais eficientes e precisas<br />
para resolver todos os <strong>de</strong>safios e são<br />
absolutamente core como <strong>de</strong>tonador<br />
da IA e <strong>de</strong> políticas transformadoras,<br />
levando a novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
crescimento”.<br />
Mas há ameaças e os novos <strong>de</strong>safios<br />
legais e regulatórios, apesar do<br />
potencial <strong>de</strong> crescimento dos dados<br />
na Europa ser imenso – Bruxelas antecipa<br />
que o volume global <strong>de</strong> dados<br />
cresça dos 33 zettabytes registados
Magda Cocco,<br />
Sócia responsável da área Comunicações,<br />
Proteção <strong>de</strong> Dados & Tecnologia, VdA<br />
Pedro Machado,<br />
Country Senior Director | Data Protection Officer<br />
(DPO), Grupo Ageas Portugal<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora executiva, APDC<br />
Manuel Dias,<br />
National Technology Officer, Microsoft<br />
Ricardo Rosa,<br />
Head of Innovation, Sonae Sierra<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Tiago Bessa,<br />
Sócio da área <strong>de</strong> Comunicações, Proteção <strong>de</strong><br />
Dados & Tecnologia, PI Transacional, VdA<br />
em 2018 para 175 zetabytes em 2025.<br />
Acredita-se que com as políticas e<br />
os investimentos a<strong>de</strong>quados, seja<br />
da CE, dos Estados-membros e das<br />
empresas, a UE possa aproveitar as<br />
oportunida<strong>de</strong>s associadas à mudança<br />
<strong>de</strong> paradigma e tornar-se lí<strong>de</strong>r<br />
nos dados.<br />
Mas num ecossistema complexo<br />
como é o da economia <strong>de</strong> dados,<br />
que envolve várias entida<strong>de</strong>s em<br />
áreas como a cibersegurança,<br />
proteção <strong>de</strong> dados, concorrência,<br />
promoção <strong>de</strong> dados abertos e concorrência,<br />
“muitas vezes não existe<br />
um entendimento claro dos seus<br />
players”. Por isso, Bruxelas apresentou<br />
no final <strong>de</strong> 2020 uma estratégia<br />
para respon<strong>de</strong>r a vários <strong>de</strong>safios:<br />
fragmentação entre Estados-membros,<br />
pouca disponibilida<strong>de</strong> dos<br />
dados, dados para o bem comum,<br />
assimetrias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, qualida<strong>de</strong> e<br />
interoperabilida<strong>de</strong>, governação, infraestruturas<br />
e tecnologias, capacitação<br />
das pessoas, literacia dos dados<br />
e cibersegurança. O <strong>de</strong>safio é, no<br />
âmbito da estratégia <strong>de</strong>finida e dos<br />
múltiplos instrumentos legais, gerir<br />
as “alterações, que são<br />
muito impactantes para<br />
as empresas”.<br />
INCENTIVAR OU<br />
TRAVAR INOVAÇÃO?<br />
A estratégia comunitária<br />
é vista com otimismo<br />
pelos players, tendo em<br />
conta o enorme potencial<br />
dos dados na criação <strong>de</strong> valor<br />
para a economia e socieda<strong>de</strong>. Mas<br />
estes alertam para os enormes <strong>de</strong>safios<br />
que ainda persistem, nomeadamente<br />
o risco <strong>de</strong> se ter um quadro<br />
regulamentar <strong>de</strong>masiado extensivo,<br />
o que po<strong>de</strong>rá travar a inovação e,<br />
por essa via, a competitivida<strong>de</strong> do<br />
espaço comunitário num cenário<br />
mundial. Acrescem as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />
entre Estados-membros.<br />
Manuel Dias, national technology<br />
officer da Microsoft, não tem dúvidas<br />
<strong>de</strong> que a Europa e Portugal têm um<br />
enorme potencial<br />
na utilização<br />
da informação.<br />
É preciso perceber<br />
como obter<br />
valor económico<br />
dos dados,<br />
porque “o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento<br />
económico e<br />
a partilha <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
Portugal e entre Estados-membros é<br />
um fator crucial <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.<br />
Acho muito interessante o que a<br />
Europa está a fazer. Não é apenas<br />
uma questão <strong>de</strong> tecnologia, mas <strong>de</strong><br />
regulação e <strong>de</strong> segurança e privacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> dados”.<br />
Destacando que “sem dados não<br />
A estratégia<br />
comunitária é vista<br />
com otimismo pelos<br />
players, tendo em conta<br />
o potencial dos dados<br />
na criação <strong>de</strong> valor<br />
53
apdc news<br />
54<br />
existe inteligência” e que a economia<br />
dos dados é <strong>de</strong>cisiva para <strong>de</strong>terminar<br />
“vencedores e per<strong>de</strong>dores“,<br />
Pedro Machado, country senior<br />
director e data protection officer (DPO)<br />
do Grupo Ageas Portugal, diz que as<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na Europa obrigarão<br />
a uma reflexão que po<strong>de</strong>rá levar a<br />
mais legislação e a pesados regimes<br />
sancionatórios. Há, contudo, que<br />
pensar nos efeitos do quadro regulamentar<br />
na competitivida<strong>de</strong>, até<br />
porque as empresas mais valiosas<br />
do mundo são hoje as que dominam<br />
os dados.<br />
Ricardo Rosa, head of innovation da<br />
Sonae Sierra, consi<strong>de</strong>ra que “a Europa<br />
continua confusa no conjunto<br />
<strong>de</strong> conceitos em torno dos dados.<br />
Retirar valor dos dados <strong>de</strong> negócio e<br />
<strong>de</strong> eficiência é um campeonato e os<br />
dados pessoais são outro. Quando<br />
os misturamos, dificulta tudo”,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo haver uma espécie <strong>de</strong><br />
“esquizofrenia muito real” na forma<br />
como a UE olha para o tema. Já em<br />
Portugal, apesar <strong>de</strong> um nível elevado<br />
<strong>de</strong> literacia ao nível das elites, subsiste<br />
uma “cultura <strong>de</strong> dados muito<br />
difusa sobre o valor na tomada <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão. Ainda temos caminho a<br />
andar, em geral”.<br />
Na prática, diz que o que tem vindo<br />
a acontecer ao nível europeu, tendo<br />
em conta a forma como Bruxelas<br />
olha para o tema, é uma crescente<br />
dificulda<strong>de</strong> em perceber “on<strong>de</strong> estão<br />
as áreas cinzentas on<strong>de</strong> nos po<strong>de</strong>remos<br />
mexer, <strong>de</strong>ntro do que é criar<br />
valor para as empresas e para os<br />
clientes. O que trava a inovação, que<br />
é um dos objetivos da CE”.<br />
Neste período <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, mo<strong>de</strong>rado<br />
por Tiago Bessa, sócio da área<br />
<strong>de</strong> Comunicações,<br />
As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na<br />
Europa po<strong>de</strong>rão levar<br />
a mais legislação e<br />
à adoção <strong>de</strong> pesados<br />
regimes sancionatórios<br />
Proteção <strong>de</strong> Dados<br />
& Tecnologia, PI<br />
Transacional, da<br />
VdA, e por Sandra<br />
Fazenda Almeida,<br />
diretora executiva<br />
da APDC, o gestor<br />
da Microsoft <strong>de</strong>ixou claro que não se<br />
trata <strong>de</strong> um problema <strong>de</strong> tecnologia,<br />
mas <strong>de</strong> cultura: “É fundamental, para<br />
que as pessoas olhem para a informação<br />
e tomem <strong>de</strong>cisões com base<br />
nela. Mas o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio é incutir<br />
essa i<strong>de</strong>ia. Aqui, o tema da formação<br />
é essencial”.<br />
A Ageas tem tido alguns <strong>de</strong>safios ao<br />
nível da integração tecnológica, tendo<br />
em conta o ecossistema gran<strong>de</strong><br />
e complexo <strong>de</strong> dados, assim como<br />
nos dados pessoais e nas obrigações<br />
<strong>de</strong> informação. “Os seguros têm tido<br />
uma viagem bastante longa. Reconhecemos<br />
que se esta viagem não<br />
for feita, não conseguimos atingir os<br />
objetivos <strong>de</strong>finidos. Mas há temas <strong>de</strong><br />
natureza tecnológica, <strong>de</strong> literacia, <strong>de</strong><br />
cultura, que são bastante complexos”,<br />
explica Pedro Machado.<br />
E o responsável da Sonae Sierra admite<br />
que ainda não é fácil monetizar<br />
os dados. “Estamos todos a apalpar<br />
terreno e a tentar encontrar a<br />
melhor forma <strong>de</strong> criar valor. Embora<br />
queira enten<strong>de</strong>r como a CE vê a<br />
lógica <strong>de</strong> partilhar dados públicos,<br />
consi<strong>de</strong>ro que não<br />
é a que faz mais<br />
sentido. Temos <strong>de</strong><br />
melhorar a relação<br />
com os clientes e<br />
com isso trazer-lhes<br />
valor. O caminho<br />
está a ser feito e<br />
não é fácil, porque se trata <strong>de</strong> uma<br />
forma diferente <strong>de</strong> pensar e atuar,<br />
que tem a ver com a transição para<br />
o digital”.•
apdc news<br />
APDC & VDA | DIGITAL UNION – CONSUMIDOR DIGITAL: NOVAS REGRAS<br />
Encontrar a fórmula<br />
para o sucesso<br />
A 1 <strong>de</strong> janeiro, entrou em vigor em todo o espaço europeu a nova legislação sobre os direitos dos consumidores,<br />
agora também no digital. Traz novida<strong>de</strong>s, mas também muitos <strong>de</strong>safios. Sobretudo para as empresas.<br />
Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />
56<br />
youtu.be/E7mrUB54j6k<br />
O<br />
novo pacote legislativo <strong>de</strong> Bruxelas<br />
começou a ser aplicado<br />
na UE27 a 1 <strong>de</strong> janeiro último,<br />
tendo como objetivo respon<strong>de</strong>r às<br />
mudanças, sobretudo no digital,<br />
criando-se novas regras para proteger<br />
o consumidor. Mas não<br />
veio resolver tudo. Há que ter em<br />
conta um quadro regulatório mais<br />
global e o ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do mercado, que é cada vez mais<br />
acelerado. De tal forma que há<br />
quem <strong>de</strong>fenda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
haver apenas um documento enquadrador<br />
e flexível, que se ajuste às<br />
condições do momento. A priorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>veria ser dada à colaboração entre<br />
consumidores e empresas, com<br />
regras transparentes.<br />
As i<strong>de</strong>ias surgiram da 3ª sessão do<br />
ciclo ‘Digital Union’, uma parceria da<br />
APDC com a VdA, que visa abordar<br />
os gran<strong>de</strong>s temas do digital. Realizado<br />
a 23 <strong>de</strong> novembro último, teve<br />
como tema as novas regras para o<br />
consumidor digital. Catarina Mascarenhas,<br />
associada coor<strong>de</strong>nadora<br />
da VdA, apresentou os principais<br />
pontos do novo pacote legislativo,<br />
que tem como objetivo respon<strong>de</strong>r ao<br />
crescimento da economia digital com<br />
novas regras <strong>de</strong> proteção jurídica<br />
dos consumidores, criar melhores e<br />
mais eficientes mecanismos <strong>de</strong> repa-
ação e assegurar uma igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento a todos os consumidores<br />
europeus.<br />
Com a nova legislação, a harmonização<br />
máxima passa a ser o princípio,<br />
sendo que os Estados-membros não<br />
po<strong>de</strong>m legislar <strong>de</strong> forma divergente<br />
no âmbito do fornecimento e compra<br />
<strong>de</strong> conteúdos e serviços digitais.<br />
Há ainda um alargamento dos<br />
prazos dos bens fornecidos, assim<br />
como a clarificação sobre os dados<br />
pessoais como contraprestação,<br />
a aposta na sustentabilida<strong>de</strong> e na<br />
durabilida<strong>de</strong> em relação a <strong>de</strong>terminados<br />
bens. Uma das novida<strong>de</strong>s é o<br />
facto <strong>de</strong> a venda <strong>de</strong> bens surgir com<br />
serviços digitais incorporados, regulando-se<br />
<strong>de</strong>ssa forma novas realida<strong>de</strong>s<br />
para respon<strong>de</strong>r a novos requisitos<br />
<strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> e garantir uma<br />
maior proteção do consumidor no<br />
mundo digital.<br />
Fernando Resina da Silva,<br />
Partner, VdA<br />
Catarina Mascarenhas,<br />
Associada coor<strong>de</strong>nadora, VdA<br />
Carlos Mauro,<br />
Foun<strong>de</strong>r, CLOO Behavioral Insights Unit<br />
Pedro Neves,<br />
eCommerce Offer Development Manager, CTT<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora executiva, APDC<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Tiago Bessa,<br />
Partner, VdA<br />
MANIPULAR OU MUDAR<br />
COMPORTAMENTOS?<br />
No <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>sta sessão, mo<strong>de</strong>rada<br />
por Tiago Bessa, partner da VdA,<br />
e Sandra Fazenda Almeida, diretora<br />
executiva da APDC, o foun<strong>de</strong>r<br />
da CLOO Behavioral Insights Unit<br />
começou por <strong>de</strong>stacar os perigos<br />
da tecnologia para o consumidor<br />
e os cuidados que as empresas<br />
<strong>de</strong>vem ter nesta matéria. Segundo<br />
Carlos Mauro, “a utilização das<br />
ciências comportamentais na área<br />
digital po<strong>de</strong> ser feita apenas para<br />
manipular o comportamento dos<br />
consumidores em benefício das<br />
Luís Silveira Rodrigues,<br />
Vice-Presi<strong>de</strong>nte, DECO<br />
57
apdc news<br />
empresas, mas po<strong>de</strong> também mudar<br />
os comportamentos das pessoas<br />
em temas essenciais, ajudando-as”.<br />
O problema é que, na maioria das<br />
vezes, o objetivo é mesmo manipular<br />
comportamentos.<br />
A transparência terá <strong>de</strong> ser aposta<br />
e tem <strong>de</strong> vir “das empresas e dos<br />
próprios profissionais”.<br />
O sonho, para<br />
este responsável, é<br />
“criar um sistema <strong>de</strong><br />
transparência nas<br />
plataformas, on<strong>de</strong><br />
todas as estratégias<br />
estejam explícitas,<br />
para não ficarem<br />
atrás <strong>de</strong> uma cortina, sendo o<br />
consumidor sequestrado, enquanto<br />
o regulador ignora esta utilização”,<br />
refere.<br />
Luís Silveira Rodrigues, vice-presi<strong>de</strong>nte<br />
da DECO, acrescenta que é<br />
essencial que o consumidor sinta<br />
segurança. Até porque a pan<strong>de</strong>mia<br />
empurrou as pessoas para o mundo<br />
digital e o e-commerce. A legislação<br />
que agora entrou em vigor “ajuda a<br />
criar esta confiança, pelo menos nos<br />
litígios mais evi<strong>de</strong>ntes. É um trabalho<br />
sério encontrar o equilíbrio”. Mas<br />
há pontos negativos, a começar<br />
pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma hierarquia na<br />
resolução dos conflitos. “Sempre <strong>de</strong>fendi<br />
a existência <strong>de</strong> uma hierarquia<br />
Nos últimos anos<br />
registou-se um<br />
reforço dos direitos<br />
dos consumidores em<br />
Portugal<br />
<strong>de</strong> bom-senso e não um caminho<br />
obrigatório, que po<strong>de</strong> trazer para os<br />
consumidores problemas significativos”,<br />
garante.<br />
Numa perspetiva empresarial e da<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> logística nas compras online,<br />
o eCommerce offer <strong>de</strong>velopment<br />
manager dos CTT diz que “a pan<strong>de</strong>mia<br />
veio incentivar<br />
as pessoas a<br />
entrarem online, <strong>de</strong><br />
uma forma quase<br />
forçada. Passaram<br />
para um contexto<br />
<strong>de</strong> compra digital,<br />
com toda a impreparação<br />
e novida<strong>de</strong><br />
que isso trouxe. O reforço dos meios<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do consumidor é sempre<br />
bem-vindo, porque é uma nova<br />
realida<strong>de</strong>”.<br />
Mas Pedro Neves consi<strong>de</strong>ra que “há<br />
outras forças, que têm a ver com as<br />
plataformas com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado<br />
substancial e relevante. Estas po<strong>de</strong>m<br />
criar distorções na relação entre a<br />
prestação do serviço e o próprio<br />
consumidor”, criando problemas <strong>de</strong><br />
competitivida<strong>de</strong> entre as plataformas<br />
nacionais e multinacionais. Até<br />
porque as regras são distintas. Ainda<br />
assim, “o nível <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> do<br />
e-commerce em Portugal, do ponto<br />
<strong>de</strong> vista da relação, está numa fase<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atrasada face à<br />
Europa”.<br />
Numa perspetiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do<br />
consumidor, que é vulnerável face às<br />
múltiplas estratégias <strong>de</strong> venda das<br />
empresas, Carlos Mauro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver ética e<br />
transparência. “A gran<strong>de</strong> revolução<br />
seria dizer que se usam as ciências<br />
comportamentais <strong>de</strong> forma transparente.<br />
É o que marca a diferença da<br />
manipulação”, diz, consi<strong>de</strong>rando que<br />
as organizações <strong>de</strong>veriam clarificar<br />
as suas estratégias neste âmbito.<br />
Ainda assim, registou-se um reforço<br />
dos direitos dos consumidores nos<br />
últimos anos. Para o responsável<br />
da DECO, a relação entre consumidores<br />
e empresas tem que ser vista<br />
não num cenário <strong>de</strong> conflito, mas<br />
<strong>de</strong> colaboração, essencial para que<br />
as coisas corram bem. Com esta<br />
convicção, consi<strong>de</strong>ra que “vivemos<br />
num tempo <strong>de</strong> uma certa verborreia<br />
legislativa, quando a legislação<br />
não resolve tudo. Deveria ser mais<br />
enquadradora, para permitir uma<br />
adaptação à realida<strong>de</strong>, com flexibilida<strong>de</strong>.<br />
Infelizmente, esta é uma<br />
tendência da Europa, a <strong>de</strong> ter muitos<br />
diplomas”.•
inetum.com
apdc news<br />
WEBMORNING - INTELLIGENT WORKFLOWS<br />
Construir inteligência<br />
O tema dos fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes começa a estar no centro <strong>de</strong> todas as estratégias. Dele <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a<br />
preparação das organizações para um mercado em gran<strong>de</strong> mudança e cada vez mais digital. As soluções estão<br />
disponíveis e agora é preciso avançar em força.<br />
Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />
youtu.be/yu0FqoOeMgo<br />
conhecimento geral que o tema dos<br />
fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes, os<br />
intelligent workflows, é cada vez mais<br />
importante para as organizações.<br />
Seja numa perspetiva <strong>de</strong> automação<br />
das tarefas básicas, ou <strong>de</strong> mudar<br />
a estratégia e o<br />
contexto em que se<br />
trabalha.<br />
Paulo Rodrigues Silva,<br />
associate partner<br />
para o Financial Services<br />
Sector da IBM<br />
Consulting, <strong>de</strong>ixa<br />
claro que a nova era<br />
digital acelerou exponencialmente<br />
com a pan<strong>de</strong>mia e<br />
que, graças aos mais recentes avanços<br />
tecnológicos, está já disponível a<br />
híper automação, que abre caminho<br />
à maior produtivida<strong>de</strong>, redução <strong>de</strong><br />
As empresas já<br />
começaram a fazer<br />
mudanças significativas<br />
nos seus processos,<br />
mas só em resposta a<br />
problemas concretos<br />
A<br />
pan<strong>de</strong>mia acelerou e alterou as<br />
estratégias das empresas. Mas,<br />
para já, as gran<strong>de</strong>s mudanças<br />
resultam <strong>de</strong> fatores exógenos e<br />
iniciam-se por pequenos projetos<br />
assentes em soluções tecnológicas.<br />
Só percebidos os benefícios é que as<br />
alterações serão alargadas a toda a<br />
organização. O próximo passo terá<br />
<strong>de</strong> passar pela utilização das novas<br />
tecnologias para levar os workflows<br />
ao ecossistema, através <strong>de</strong> um processo<br />
verda<strong>de</strong>iramente colaborativo.<br />
Neste Weborning APDC, que <strong>de</strong>correu<br />
a 30 <strong>de</strong> novembro, em parceria<br />
com a IBM, ficou claro que há um recustos<br />
e geração <strong>de</strong> novas receitas.<br />
Assentando os workflows inteligentes<br />
na utilização das mais recentes<br />
tecnologias, como IA, analítica <strong>de</strong> dados,<br />
automação e machine learning,<br />
permite acrescentar capacida<strong>de</strong> aos<br />
fluxos <strong>de</strong> trabalho<br />
das organizações,<br />
suportando todas<br />
as operações e as<br />
<strong>de</strong>cisões tomadas.<br />
Tendo em conta que<br />
a nova era digital<br />
trouxe inúmeros<br />
<strong>de</strong>safios às organizações,<br />
especialmente<br />
nos últimos dois anos,<br />
obrigando a repensar tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
os clientes aos trabalhadores, as<br />
tecnologias permitem “automatizar<br />
as tarefas mais repetitivas”, otimizar<br />
60
processos, minimizar riscos, reduzir<br />
custos e trazer eficiência. Além da<br />
oferta <strong>de</strong> experiências personalizadas<br />
aos clientes. Para o gestor, “este<br />
é o tempo <strong>de</strong> repensar a arquitetura<br />
e o enquadramento dos processos<br />
<strong>de</strong> negócio”.<br />
MOSTRAR VALOR ACRESCENTADO<br />
As empresas já começaram a operar<br />
uma mudança significativa nos seus<br />
processos, mas sempre em resposta<br />
a um problema concreto que têm<br />
<strong>de</strong> resolver. Por isso, há ainda muito<br />
por fazer, como ficou evi<strong>de</strong>nte no<br />
<strong>de</strong>bate entre os vários intervenientes<br />
da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor da oferta <strong>de</strong><br />
fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes, mo<strong>de</strong>rado<br />
por Sandra Fazenda Almeida,<br />
diretora executiva da APDC.<br />
Guilherme Dias, sales director do<br />
SAS, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que há que olhar “para<br />
toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
começamos a recolher a informação,<br />
para tudo ser feito da forma mais<br />
rápida, sustentável, eficaz e eficiente,<br />
garantindo a entrega <strong>de</strong> valor imediato<br />
ao cliente. O que só é possível<br />
com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar as novas<br />
tecnologias para trazer valor acrescentado”.<br />
Mas os temas ligados aos intelligent<br />
workflows ainda são “encarados muitas<br />
vezes como futuristas”, avança<br />
João Fernan<strong>de</strong>s, CEO da DocDigitizer,<br />
startup tecnológica portuguesa que<br />
disponibiliza uma ferramenta baseada<br />
em IA que permite a automatização<br />
<strong>de</strong> processos documentais,<br />
sem qualquer intervenção humana,<br />
alimentando os workflows das organizações.<br />
Cabe aos fornecedores<br />
“ajudar a criar awareness”, porque<br />
sendo temas muito tecnológicos têm<br />
impactos práticos nas empresas e<br />
na economia. Mais: as máquinas não<br />
vão substituir as pessoas, para quem<br />
ficam as tarefas mais complexas,<br />
que requerem conhecimento <strong>de</strong><br />
negócio e raciocínio.<br />
Luís Ganhão, vice presi<strong>de</strong>nt solution<br />
engineering do global center of<br />
excellence da Celonis, acrescenta que<br />
“tudo começa como um <strong>de</strong>safio. Muitos<br />
dos nossos clientes não sabem o<br />
que não sabem. Não sabem que os<br />
processos não correm como gostariam<br />
ou à velocida<strong>de</strong> que querem ou<br />
com o resultado que querem”. Para<br />
o gestor, estamos “num momento da<br />
história muito importante, porque<br />
juntámos big data, IA e automação”<br />
em termos <strong>de</strong> process mining. Permite<br />
medir constantemente e em real<br />
time “como é que os processos <strong>de</strong><br />
negócio estão a ser executados”, trazendo<br />
valor acrescentado à organização,<br />
já que se “percebe a situação<br />
e reage-se <strong>de</strong> forma inteligente”.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma mudança que tem<br />
<strong>de</strong> ser feita gradualmente, acrescenta<br />
João Fernan<strong>de</strong>s, até porque<br />
“as empresas são quase forçadas<br />
pela economia ou pelos clientes<br />
a lançarem-se no processo e não<br />
por razões estratégicas. O que não<br />
quer dizer que esta jornada não se<br />
transforma em estratégica. O que é<br />
preciso é dar o primeiro passo e ver<br />
os benefícios”.<br />
Também Guilherme Dias e Paulo Rodrigues<br />
Silva sentem esta realida<strong>de</strong>.<br />
“As gran<strong>de</strong>s mudanças nas organizações<br />
são sempre motivadas por<br />
fatores exógenos, fazendo pequenos<br />
passos <strong>de</strong> transformação. O que<br />
temos visto é que vamos fazendo<br />
pequenos projetos que <strong>de</strong>pois se<br />
vão alargando à organização, porque<br />
se vêm os benefícios”, diz o primeiro.<br />
“A minha experiência, sobretudo em<br />
Portugal, é <strong>de</strong> que algumas organizações<br />
já estão a operar uma mudança<br />
significativa nos workflows inteligentes,<br />
porque procuramos soluções<br />
para dar resposta a problemas<br />
concretos”, acrescenta o segundo.<br />
Afinal, esta é “uma mudança extraordinária”.•<br />
Paulo Rodrigues Silva,<br />
Associate Partner, Financial Services Sector,<br />
IBM Consulting<br />
Guilherme Dias,<br />
Sales Director, SAS<br />
João Fernan<strong>de</strong>s,<br />
CEO, DocDigitizer<br />
Luís Ganhão,<br />
Vice Presi<strong>de</strong>nt Solution Engineering,<br />
Global Center of Excellence, Celonis<br />
Mo<strong>de</strong>ração: Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora Executiva, APDC<br />
61
apdc news<br />
WEBMORNING - CIO: AGENTES DA MUDANÇA<br />
Os ‘super-heróis’<br />
das organizações<br />
Saber como usar a tecnologia para criar valor é o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> todas as empresas. Por isso, o papel dos CIO é<br />
vital, já que têm um conjunto <strong>de</strong> competências que se interligam e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />
e otimizar operações.<br />
Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />
62<br />
youtu.be/uzb2QiaL7eg<br />
Para fazer face aos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong><br />
mercado, que obrigam a uma<br />
transição digital acelerada,<br />
num processo que se assume como<br />
uma verda<strong>de</strong>ira revolução, o papel<br />
dos CIO é absolutamente crítico. De<br />
tal forma que são mesmo consi<strong>de</strong>rados<br />
os novos ‘super-heróis’ das<br />
organizações. Não se trata apenas<br />
<strong>de</strong> introduzir tecnologia, mas sim <strong>de</strong><br />
ter um conhecimento transversal da<br />
organização para saber como usar<br />
as soluções tecnológicas para criar<br />
valor. O que implica terem <strong>de</strong> assumir<br />
um papel estratégico e contar<br />
não só com o apoio das li<strong>de</strong>ranças,<br />
mas <strong>de</strong> toda a empresa. A mudança<br />
está em marcha.<br />
No WebMorning APDC, em parceria<br />
com a Logicalis, realizado a 17 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 2021, foi apresentado o<br />
CIO Survey 2021, um inquérito global<br />
realizado pela Logicalis nos 28 países<br />
on<strong>de</strong> está presente, que conclui que<br />
os chief information officer (CIO) são<br />
verda<strong>de</strong>iros agentes <strong>de</strong> mudança<br />
nas organizações, já que não só<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sbloquear o potencial <strong>de</strong><br />
dados para impulsionar a estratégia<br />
do negócio e acelerar o crescimento,<br />
como são os responsáveis por uma<br />
cultura <strong>de</strong> inovação e pelo local <strong>de</strong><br />
trabalho digital. Nas suas priorida<strong>de</strong>s<br />
estão ainda a continuida<strong>de</strong> do<br />
negócio, a resiliência e a mitigação<br />
do risco.<br />
Neuza Alcobio, marketing & communications<br />
director da Logicalis, que<br />
apresentou as principais conclusões<br />
<strong>de</strong>ste relatório, refere que estes<br />
profissionais viram as suas responsabilida<strong>de</strong>s<br />
fortemente reforçadas<br />
na sequência da pan<strong>de</strong>mia, num<br />
conjunto <strong>de</strong> competências que<br />
se interligam. Nomeadamente na<br />
construção <strong>de</strong> uma relação com os<br />
clientes no mundo digital.<br />
Para aproveitar todo o valor dos<br />
dados, “as empresas precisam <strong>de</strong>
Neuza Alcobio,<br />
Marketing & Communications director,<br />
Logicalis<br />
Rui Ribeiro,<br />
General manager, IP Telecom<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Luís Lança,<br />
Diretor comercial, Logicalis<br />
<strong>Joana</strong> Rafael,<br />
COO, Sensei<br />
Cláudia Alho,<br />
CIO, Credibom<br />
Teresa Girbal,<br />
CIO, eSPap, I.P.<br />
Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora executiva, APDC<br />
agilida<strong>de</strong> tecnológica, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ganhar escala e <strong>de</strong> processos mais<br />
robustos. Os sistemas baseados<br />
em cloud po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>sempenhar<br />
um papel essencial”. O que significa<br />
maiores responsabilida<strong>de</strong>s para os<br />
CIO. Criar uma cultura <strong>de</strong> inovação,<br />
adotar soluções <strong>de</strong> colaboração robustas<br />
e garantir a continuida<strong>de</strong> do<br />
negócio, a resiliência e a mitigação<br />
do risco são outros <strong>de</strong>safios.<br />
Mas como estão as organizações a lidar<br />
com o <strong>de</strong>safio da transformação<br />
digital nos vários setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>?<br />
As visões dos oradores que participaram<br />
no <strong>de</strong>bate sobre o tema,<br />
mo<strong>de</strong>rado por Luís Lança, diretor<br />
comercial da Logicalis, e por Sandra<br />
Fazenda Almeida, diretora executiva<br />
da APDC, são muito similares.<br />
Cláudia Alho, CIO da Credibom,<br />
<strong>de</strong>staca duas gran<strong>de</strong>s dimensões/<br />
priorida<strong>de</strong>s da mudança: a tecnológica<br />
e a do mo<strong>de</strong>lo operacional. O<br />
papel do CIO, “enquanto dinamizador<br />
tecnológico que está a mudar o<br />
próprio paradigma das organizações,<br />
é o <strong>de</strong> olhar para a tecnologia como<br />
um diferenciador ao nível estratégico.<br />
Em termos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo operativo,<br />
“o paradigma é <strong>de</strong> uma estreita<br />
colaboração com negócio e IT, com<br />
a utilização <strong>de</strong> novas metodologias<br />
e funções para este novo paradigma<br />
digital”.<br />
Já para a startup portuguesa Sensei,<br />
que criou uma solução <strong>de</strong> IA para o<br />
retalho, que permite fazer compras<br />
num supermercado sem ter <strong>de</strong> parar<br />
numa caixa, a sua COO não tem<br />
dúvidas <strong>de</strong> que a pan<strong>de</strong>mia foi o<br />
maior acelerador. <strong>Joana</strong> Rafael, que<br />
é também cofundadora da Sensei,<br />
consi<strong>de</strong>ra que “trazer tecnologias<br />
como a IA e o machine learning para<br />
a loja e dar uma nova experiência ao<br />
cliente e uma gestão mais eficiente<br />
é essencial. As<br />
transformações dos<br />
últimos tempos têm,<br />
sem dúvida, acelerado<br />
esta mudança”.<br />
No caso <strong>de</strong> empresas<br />
com um<br />
histórico e sistemas<br />
legacy, saber implementar a mudança<br />
e a transformação digital é um<br />
enorme <strong>de</strong>safio, porque se trata <strong>de</strong><br />
“saber como mudar processos e não<br />
<strong>de</strong>spejar tecnologia nos processos”,<br />
como refere Rui Ribeiro. O general<br />
manager da IP Telecom partilha a<br />
opinião <strong>de</strong> que o CIO é, <strong>de</strong> facto,<br />
o novo super-herói <strong>de</strong>ntro das<br />
empresas, porque tem que perceber<br />
<strong>de</strong> negócio, tecnologia, psicologia,<br />
Enquanto dinamizador<br />
tecnológico, o CIO está<br />
a mudar o próprio<br />
paradigma das<br />
organizações<br />
logística, integração…”. E as organizações,<br />
<strong>de</strong>ntro da sua ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor,<br />
têm <strong>de</strong> colocar as áreas do IT num<br />
papel estratégico.<br />
No setor público, os <strong>de</strong>safios são similares,<br />
mas ainda mais complexos,<br />
porque há que ganhar agilida<strong>de</strong> e<br />
inovação e <strong>de</strong> mudar procedimentos<br />
e culturas. Concordando que “um<br />
CIO é um agente impulsionador da<br />
mudança e da abordagem”, Teresa<br />
Girbal, vice-presi<strong>de</strong>nte da eSPap,<br />
diz que este é um processo gradual:<br />
“ainda hoje estamos a melhorar a<br />
forma <strong>de</strong> adoção da<br />
cloud <strong>de</strong> forma segura<br />
e inteligente na<br />
AP, uma ferramenta<br />
imprescindível para<br />
a mudança”.<br />
Para Teresa Girbal,<br />
“a pan<strong>de</strong>mia foi um<br />
dos gran<strong>de</strong>s impulsionadores da tecnologia,<br />
mas também veio mostrar<br />
que é possível quebrar tabus, como<br />
a possibilida<strong>de</strong> do trabalho remoto.<br />
O que traz mais mudanças, uma vez<br />
que o trabalho tem <strong>de</strong> ser medido<br />
pelos resultados, quando os processos<br />
não se mudaram. Há ainda<br />
muito por fazer”.•<br />
63
OS QUATRO MAGNÍFICOS<br />
da iLoF<br />
Em 2019 lançaram uma start-up que é um spinoff <strong>de</strong> institutos das<br />
universida<strong>de</strong>s do Porto e <strong>de</strong> Oxford. Chamaram-lhe iLoF e o seu objetivo<br />
é revolucionar o tratamento <strong>de</strong> doenças complexas, como o Alzheimer.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDA<br />
<strong>Joana</strong> Paiva, Luís Valente, Paula Sampaio e Mehak Mumtaz juntaram o seu talento para <strong>de</strong>scobrir soluções para o tratamento <strong>de</strong><br />
doenças a que a Medicina ainda não dá resposta<br />
64
cidadania<br />
Começaram bem. O Financial Times<br />
selecionou a iLoF como um dos sete<br />
negócios mais transformadores em<br />
saú<strong>de</strong> em 2020; a CB Insights colocou-a<br />
na lista das 150 empresas mais promissoras<br />
na área da saú<strong>de</strong> digital; e a Forbes<br />
elogiou o talento dos seus fundadores. Luís<br />
Valente, formado em Engenharia Eletrotécnica<br />
(CEO), Paula Sampaio, doutorada em<br />
Bioquímica (diretora científica), <strong>Joana</strong> Paiva,<br />
doutorada em Física (diretora técnica) e<br />
Mehak Mumtaz, investigadora em Oxford<br />
(diretora <strong>de</strong> produto e operações) são os quatro<br />
magníficos que se juntaram para respon<strong>de</strong>r<br />
ao <strong>de</strong>safio lançado pelo programa da CE<br />
Wild Card, <strong>de</strong>stinado a apoiar equipas com<br />
soluções transformadoras na área da saú<strong>de</strong>.<br />
Partilhando a convicção <strong>de</strong> que é urgente<br />
mudar a forma como os medicamentos são<br />
<strong>de</strong>senvolvidos, numa época em que doenças<br />
complexas e heterogéneas como a Parkinsson<br />
e a Alzheimer estão a proliferar como nunca,<br />
juntaram o seu conhecimento. Através da<br />
Inteligência Artificial e da Fotónica, usando<br />
gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informação sobre<br />
os dados biológicos dos pacientes, começaram<br />
a criar perfis biológicos que ajudam os<br />
investigadores nos hospitais e na indústria<br />
farmacêutica a <strong>de</strong>senvolver medicamentos<br />
personalizados. Luís Valente diz que esta<br />
personalização é o futuro: “No que respeita<br />
às doenças que se manifestam <strong>de</strong> forma diferente<br />
em pacientes diferentes, o mesmo<br />
medicamento não serve para toda a gente.<br />
Daí que doenças tão complexas como<br />
Alzheimer ou certos tipos <strong>de</strong> cancro ainda<br />
não tenham cura. A indústria e a ciência<br />
precisam, <strong>de</strong>sesperadamente, <strong>de</strong><br />
formas mais eficientes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver medicamentos<br />
mais personalizados, pois são esses<br />
que funcionam neste tipo <strong>de</strong> doenças”.<br />
Os dados, sublinha Luís Valente, falam por<br />
si: “No caso da Alzheimer, nos últimos 14<br />
anos houve cerca <strong>de</strong> 400 estudos clínicos falhados<br />
e zero tratamentos com aceitação<br />
clínica, porque durante este tempo as farmacêuticas<br />
têm testado estes medicamentos<br />
na população em geral e os resultados<br />
não são estatisticamente relevantes. Por isso<br />
são postos <strong>de</strong> lado. Agora a expetativa da comunida<strong>de</strong><br />
científica é que, provavelmente,<br />
p<strong>arte</strong> dos medicamentos que já foram testados<br />
funcionam, mas não em toda a gente.<br />
Se conseguirmos <strong>de</strong>scobrir qual é a p<strong>arte</strong> da<br />
população que podia beneficiar <strong>de</strong>sses tratamentos,<br />
então seria possível aprová-los. E não<br />
resolveríamos o problema a todas as pessoas<br />
com Alzheimer, mas a p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>ssas pessoas”.<br />
Com base neste conhecimento, o CEO da iLof<br />
consi<strong>de</strong>ra “estar mais do que provado” que<br />
em doenças como Parkinsson, Alzheimer,<br />
certos tipos <strong>de</strong> cancro e até viroses como a<br />
Covid-19 “não vai haver um medicamento<br />
que trate todos os pacientes. Por isso, a indústria<br />
farmacêutica não terá alternativa se não<br />
<strong>de</strong>senvolver medicamentos que resolvam o<br />
problema parcialmente. Não é, obviamente,<br />
o que dá mais lucro, mas é a única opção”.<br />
Para proce<strong>de</strong>r à personalização dos medicamentos,<br />
a iLoF retira informação dos<br />
fluidos biológicos colhidos dos pacientes<br />
através <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> sangue. A partir<br />
daí elabora um perfil completo, com<br />
dados genómicos, proteómicos e metabolómicos,<br />
o que lhe permite capturar<br />
muita informação relevante que indique<br />
como vai o paciente reagir a um <strong>de</strong>terminado<br />
medicamento ou, no âmbito<br />
da prevenção, a <strong>de</strong>terminada doença.<br />
Vários setores <strong>de</strong> investigação ligados à saú<strong>de</strong><br />
manifestaram interesse em alinhar com a<br />
iLoF para <strong>de</strong>sbravar este caminho: “Estamos<br />
a trabalhar com dois grupos farmacêuticos<br />
mundiais e algumas biotechs no Reino Unido,<br />
nos EUA e também com alguns hospitais.<br />
Em Portugal, temos uma parceria umbilical<br />
com o hospital <strong>de</strong> S. João do Porto e a Faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Porto.<br />
Temos também colaborado com grupos<br />
<strong>de</strong> investigação em Lisboa, como é o caso do<br />
hospital <strong>de</strong> Amadora-Sintra e num centro <strong>de</strong><br />
investigação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra”.<br />
Investidores também não têm faltado. A iLoF<br />
já recebeu um financiamento <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong><br />
euros via CE e 1 milhão via Microsoft Ventures,<br />
o braço <strong>de</strong> investimento da Microsoft. A<br />
norte-americana Mayfield também apoia esta<br />
start-up cujo talento é maioritariamente português.<br />
Neste momento está a fechar-se uma<br />
ronda semente <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> dólares. O futuro<br />
é <strong>de</strong>les.•<br />
65
ultimas<br />
TECNOLOGIA DOBRÁVEL CHEGA AOS SMARTPHONES<br />
HÁ UNS ANOS, dobrar e abrir o ecrã <strong>de</strong> um telemóvel parecia ser uma tarefa impossível. Mas os<br />
impressionantes avanços tecnológicos permitiram torná-la possível. O novo Huawei P50 Pocket,<br />
com um <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> dobradiça <strong>de</strong> vanguarda, multidimensional, totalmente novo e exclusivo na<br />
indústria, é já uma realida<strong>de</strong>. O seu <strong>de</strong>sign cria um encaixe perfeito quando o telefone é dobrado,<br />
ocultando qualquer dobra visível quando aberto. As animações ajustam-se automaticamente<br />
no ecrã, criando um efeito visual on<strong>de</strong> as duas meta<strong>de</strong>s do mesmo se unem e transformam<br />
num todo integrado, permitindo ver ainda mais <strong>de</strong>talhes. Promete elevada durabilida<strong>de</strong> e<br />
resistência a quedas, para proporcionar uma experiência perfeita.•<br />
INOVAR NO INTERIOR COM MAIS COMPETÊNCIAS<br />
ACELERAR A TRANSFORMAÇÃO digital e coesão territorial do Alto Alentejo,<br />
através da criação <strong>de</strong> um polo <strong>de</strong> competências em parceria com o município <strong>de</strong><br />
Ponte <strong>de</strong> Sor, on<strong>de</strong> funcionará um novo espaço <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo e inovação<br />
coberto com 5G, foi o objetivo da NOS. No novo espaço, vai criar 25 postos<br />
<strong>de</strong> trabalho altamente qualificados para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos e use<br />
cases no âmbito da Engenharia Informática e Eletrotécnica. O operador vai ainda,<br />
com o Instituto Politécnico <strong>de</strong> Portalegre (IPP), lançar já em 2022 um novo curso<br />
para formar talento através <strong>de</strong> um Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP)<br />
em Programação Ágil e Segurança <strong>de</strong> Sistemas <strong>de</strong> Informação.•<br />
FOTOS CEDIDAS<br />
66
CAPACITAR EMPRESAS E PRESTADORES COM IOT<br />
CHAMA-SE IoT Accelerator Connect e assume-se<br />
como uma plataforma <strong>de</strong> IoT celular, fiável e segura,<br />
que capacita prestadores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação<br />
e empresas em todo o mundo a redimensionar o seu<br />
negócio <strong>de</strong> IoT em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dispositivos.<br />
Trata-se <strong>de</strong> uma oferta que transforma as<br />
vendas digitais no âmbito do ecossistema <strong>de</strong> IoT, com<br />
opções <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> com um clique. A ligação<br />
dos dispositivos e a integração instantânea simplificam<br />
ainda mais e aumentam a implementação com<br />
sucesso <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> IoT empresariais, garante a<br />
Ericsson. A fabricante diz que esta oferta aborda todos<br />
os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> uma integração, transformando as<br />
vendas digitais, automatizando os processos empresariais<br />
<strong>de</strong>ntro do ecossistema <strong>de</strong> IoT e correspon<strong>de</strong>ndo<br />
às necessida<strong>de</strong>s dos utilizadores.•<br />
PROMOVER O PAÍS<br />
A UMA SÓ VELOCIDADE<br />
PROMOVER UM PAÍS a uma só velocida<strong>de</strong> e a tecnologia como ativo ao<br />
serviço <strong>de</strong> todos os portugueses é o objetivo da Altice Portugal, que<br />
diz ter já cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população no território nacional com<br />
acesso ao 5G, sendo que todos os tarifários MEO são compatíveis com<br />
a nova geração móvel. O operador tem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> janeiro a oferta<br />
5G disponível em todas as capitais <strong>de</strong> distrito, estando a <strong>de</strong>correr um<br />
período <strong>de</strong> experimentação gratuita até 31 <strong>de</strong> março, tal como as concorrentes<br />
Vodafone e NOS. O grupo assegura ter 6 milhões <strong>de</strong> casas<br />
e <strong>de</strong> empresas com fibra ótica e uma re<strong>de</strong> móvel 4G com cobertura<br />
praticamente integral da população (99,7%), incluindo nas ilhas: a<br />
Ma<strong>de</strong>ira tinha, no final <strong>de</strong> 2021, 97% <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> fibra e 99,5% <strong>de</strong><br />
cobertura móvel; e os Açores 97% <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> fibra e 97,3% <strong>de</strong><br />
cobertura móvel 4G.•<br />
67
ultimas<br />
À PROVA DE AMBIENTES MISTOS DE APRENDIZAGEM<br />
A PANDEMIA <strong>de</strong> Covid-19 alterou para sempre o ensino e a aprendizagem, que saíram <strong>de</strong>finitivamente<br />
da sala <strong>de</strong> aula. O PC é agora uma ferramenta crítica para a aprendizagem digital e os estudantes querem<br />
dispositivos que resistam ao <strong>de</strong>sgaste diário, que os aju<strong>de</strong> a ligar-se às salas <strong>de</strong> aula digitais e que<br />
facilitem melhores resultados. Com esse objetivo, a HP lançou os portáteis HP Fortis, um novo portfólio<br />
<strong>de</strong> PC concebidos para resistir aos <strong>de</strong>safios dos novos ambientes educativos. Construído para alunos<br />
ativos e em movimento, o novo portfólio tem a resistência e durabilida<strong>de</strong> necessárias para ajudar a<br />
suportar quedas, resistir a <strong>de</strong>rrames e manter as teclas. As superfícies texturizadas tornam mais fácil<br />
para estudantes <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s agarrar e manusear estes dispositivos leves.•<br />
POTENCIAR TALENTO TECNOLÓGICO<br />
SÃO TRÊS OS PROGRAMAS Youth <strong>de</strong>stinados a estudantes <strong>de</strong> licenciatura<br />
e/ou mestrado e a recém-licenciados ou recém-mestres:<br />
o Vodafone Youth Discover Graduates vai selecionar e integrar<br />
finalistas <strong>de</strong> mestrado e recém-mestres <strong>de</strong> elevado potencial<br />
nos quadros da Vodafone Portugal, preparando-os para serem<br />
os próximos lí<strong>de</strong>res; o programa <strong>de</strong> estágios Vodafone Youth<br />
Internships – para o qual são elegíveis estudantes <strong>de</strong> licenciatura<br />
e <strong>de</strong> mestrado – tem a duração máxima <strong>de</strong> um ano e candidaturas<br />
abertas todo o ano no site da Vodafone; e Vodafone Youth<br />
Summer Internships, que <strong>de</strong>corre entre junho e setembro. Os dois<br />
primeiros realizam-se ao longo do ano, o último tem inscrições<br />
abertas até 15 <strong>de</strong> maio. Com estas iniciativas, a Vodafone vai abrir<br />
80 vagas, todas remuneradas, em áreas como big data & analytics;<br />
IT - software engineering; network (com projetos <strong>de</strong> 5G); IoT; TV; e<br />
social media, contribuindo para consolidar a empresa como tech<br />
comms company.•<br />
FOTOS CEDIDAS<br />
68
SE É PARA ENCONTRAR<br />
PROFISSIONAIS QUALIFICADOS<br />
E APOSTAR NO FUTURO<br />
DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS,<br />
QUER<br />
Aumente a competitivida<strong>de</strong> da sua empresa em upskill.pt<br />
UPskill – Digital Skills & Jobs | 2ª EDIÇÃO<br />
Já estão integrados com sucesso os novos profissionais formados na 1ª edição<br />
do Programa UPskill. Começou agora uma nova edição <strong>de</strong>sta iniciativa<br />
verda<strong>de</strong>iramente inovadora, que junta Empresas, Profissionais e Ensino<br />
Superior na requalificação em áreas TIC, essenciais para o sucesso dos vários<br />
setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Neste momento <strong>de</strong> retoma da nossa economia, seja<br />
uma Empresa a<strong>de</strong>rente <strong>de</strong>ste projeto <strong>de</strong> âmbito nacional.<br />
Saiba como em upskill.pt<br />
INICIATIVA CONJUNTA:<br />
COM O APOIO DE: