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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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METAVERSO

O FUTURO EM 3D

5G EM PORTUGAL

A HORA DA VERDADE

SEMANA DOS 4 DIAS

SONHO OU REALIDADE?

N.º 241 • MARÇO 2022 | ANO 35 • PORTUGAL • 3,25€

JOANA MENDONÇA,

PRESIDENTE DA ANI

A ARTE DE

CULTIVAR IDEIAS


“Parceiro do Ano”

dos 5 líderes em Cloud. *

PARTNER

A Devoteam chegou a Portugal, assumindo um novo posicionamento,

novas competências e um reforço do investimento no mercado tecnológico português.

Com uma vasta experiência em cloud, data, design e cibersegurança, escolha a

Devoteam e os seus 8.000 especialistas para acelerar a sua jornada digital.

* Reconhecimentos Devoteam: AWS Migration Partner of the Year 2021 - France;

EMEA Partner of the Year Reseller 2021 da Google Cloud; 2021 Partner of the Year France da Microsoft;

Implementation Partner of the Year 20/21 de SalesForce e Global Partner Award Winner 2021 de ServiceNow.

Para conhecer

melhor a Devoteam,

visite o website

Creative tech for Better Change


edit orial

Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC

Um ano de desafios

e oportunidades

Como comemoramos em março o Dia Internacional

da Mulher, volto a assumir o

desafio deste editorial. É mais uma honra,

das muitas que tenho acumulado desde

que cheguei à APDC, que me têm desafiado

continuamente e levado muito além do que acreditava

ser capaz. Ser mulher é justamente isso,

é acreditar nas nossas capacidades num espaço

público ainda dominado por homens, como refere

Joana Mendonça, Presidente da ANI, a nossa

entrevistada da capa desta edição.

É que se o valor das mulheres na ciência, inovação

e ambiente está demonstrado, como afirmou

o secretário-geral da ONU, António Guterres,

a realidade mostra que a igualdade de género

nos cargos mais elevados demorará 130 anos a ser

alcançada. Por isso, ainda há muito por alcançar.

E os desafios não se ficam por aqui. Quando

se pensava que 2022 seria sinónimo de crescimento

e desenvolvimento, com a aposta na dupla

transição - verde e digital – para um futuro

comum mais sustentado, fomos confrontados

com invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra na

Europa é a mais digital de sempre, com os protagonistas

a utilizarem o digital para comunicar,

lançar desinformação ou propaganda, hackear

alvos ou recolher informação operacional. No

momento em que escrevemos, tudo continua

em aberto, mas os impactos na economia já se

começam a sentir.

A realidade mostra que um dos grandes temas

de 2022 é a cibersegurança, a par do 5G e do

metaverso. São temas que a APDC quer debater

para preparar o futuro e, nesse contexto, avançámos

com um novo projeto, que chamámos de

Hot Topics. Os primeiros episódios foram dedicados

ao 5G, com protagonistas da linha da frente

na sua implementação. Poderá ver nesta edição

quais as perspetivas para a nova tecnologia

móvel. Para metaverso e tecnologias imersivas,

convidámos Luís Bravo Martins, responsável

desta seção na APDC.

Já pode também reservar a sua agenda para os

dias 11 e 12 de maio, para o nosso 31º Digital Business

Congress. O tema será “Tech & Economics

– the way forward”, num evento que terá este

ano como presidente o Dr. Paulo Portas. Vamos

realizar mais uma vez um congresso em formato

híbrido, voltando a contar com o know-how

da RTP e dos seus dois jornalistas – João Adelino

Faria e Cristina Esteves – para conduzirem dois

dias de intenso debate numa lógica de programa

de televisão. Contaremos com prestigiados oradores,

que vão apresentar o presente e antecipar

o impacto destes temas na sociedade e economia.

Por isso, não perca! •

3


sumario

FICHA TÉCNICA

COMUNICAÇÕES 240

Propriedade e Edição

A ABRIR 6

5 PERGUNTAS A 12

Sofia Vaz Pires, CEO da Ericsson Portugal

À CONVERSA 14

Joana Mendonça, presidente do Conselho

de Administração da ANI, faz da inovação o

seu mantra

EM DESTAQUE 26

Grandes empresas tecnológicas disputam

um lugar ao Sol no... Metaverso

I TECH 32

Bernardo Correia, country manager Portugal

da Google

NEGÓCIOS 34

Com o 5G já disponível, o que vai acontecer

no mercado português?

MANAGEMENT 44

A semana dos quatro dias é uma boa ideia,

ou apenas um wishful thinking?

APDC NEWS 50

CIDADANIA DIGITAL 62

iLoF, inovação na saúde made in Portugal

ÚLTIMAS 64

14

26

34

44

APDC – Associação Portuguesa

para o Desenvolvimento das

Comunicações

Diretora executiva

Sandra Fazenda Almeida

sandra.almeida@apdc.pt

Rua Tomás Ribeiro, 43, 8.º

1050-225 Lisboa

Tel.: 213 129 670

Fax: 213 129 688

Email: geral@apdc.pt

NIPC: 501 607 749

Diretor

Eduardo Fitas

eduardo.fitas@accenture.com

Chefe de redação

Isabel Travessa

isabel.travessa@apdc.pt

Secretária de redação

Laura Silva

laura.silva@apdc.pt

Publicidade

Isabel Viana

isabel.viana@apdc.pt

Conselho editorial

Abel Aguiar, Bernardo Correia, Bruno

Casadinho, Carlos Leite, Eduardo Fitas,

Filipa Carvalho, Francisco Febrero,

Francisco Maria Balsemão, Guilherme

Dias, Helena Féria, João Zúquete, José

Correia, Luís Urmal Carrasqueira, Manuel

Maria Correia, Marina Ramos, Miguel

Almeida, Olívia Mira, Pedro Faustino,

Pedro Gonçalves, Pedro Tavares, Ricardo

Martinho, Rogério Carapuça, Vicente

Huertas Prado e Vladimiro Feliz

Edição

Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda

Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D

1050-052 Lisboa

Coordenação editorial

Ana Rita Ramos

anarr@haveaniceday.pt

Edição

Teresa Ribeiro

teresaribeiro@haveaniceday.pt

Design

Mário C. Pedro

marioeditorial.com

Fotografia

Vítor Gordo/Syncview

Periodicidade

Trimestral

Tiragem

3.000 exemplares

Preço de capa

3,25 €

Depósito legal

2028/83

Registo internacional

ISSN 0870-4449

ICS N.º 110 928

4


a abrir

MODELOS DE NEGÓCIO

DOS NOVOS TEMPOS

DEPOIS DE QUASE DOIS ANOS de disrupção

provocada pela pandemia, que

resultou numa mudança na relação das

pessoas com o trabalho, o consumismo,

a tecnologia e o planeta, as empresas

terão de saber desenhar novos

modelos de negócio. A 15ª

edição das Fjord Trends,

da Accenture Interactive,

diz que há que repensar

abordagens ao design,

inovação e crescimento.

Destacam-se cinco comportamentos

e tendências que

vão afetar a sociedade, a

cultura e os negócios: come

as you are (individualismo

crescente); the end of abundance

thinking (mudança

no ‘pensamento de abundância’);

the next frontier

(potenciada pelo metaverso);

this much is true

(capacidade de resposta

imediata); e handle with

care (desejo de cuidar).

Segundo este relatório, à

medida que os consumidores

reformulam todas

as relações, as marcas

terão de cuidar do mundo

atual e construir o

futuro. A chave está em

compreender os impactos

dessas relações e

aspirações e convertê-los

em estratégias robustas de negócio

que impulsionem a relevância

e o crescimento.•

Depois da pandemia,

os consumidores

tendem a

reformular todas

as suas relações e

as marcas terão de

saber acompanhar

PRIVACIDADE É CADA VEZ

MAIS CRÍTICA

A PRIVACIDADE é agora um verdadeiro imperativo empresarial e

uma componente crítica da confiança dos clientes nas organizações.

Por isso, as empresas estão a investir forte neste âmbito e estão a

conseguir obter um elevado retorno desta aposta. O Data Privacy

Benchmark 2022, da Cisco, mostra que 90% dos inquiridos não compra

a uma organização que não proteja devidamente

os seus dados e 91% dizem que as certificações

externas de privacidade são importantes no

seu processo de compra. Abrangendo

mais de 4.900 profissionais em 27 geografias,

este relatório faz uma análise

global anual das práticas empresariais

relacionadas com a privacidade. Revela

que 94% das organizações comunicam às

suas lideranças as métricas relacionadas

com a privacidade e que os orçamentos

nesta área aumentam em média 13%. Confirma

ainda que alinhar a privacidade com

a segurança cria vantagens financeiras e de

maturidade em comparação com outros

modelos. Mais de 60% dos inquiridos sente

que obteve um valor empresarial significativo

com a privacidade, sobretudo no que

respeita à redução de atrasos nas vendas,

mitigação de perdas decorrentes de violações

dos dados, habilitação da inovação, eficiência,

construção de relações de confiança com os

clientes e capacidade de tornar a sua empresa

mais atrativa.•

CURIOSIDADE

TESTAR VOZ, IA

E VIDEOCONFERÊNCIA NO ESPAÇO

Não é ficção científica e está mesmo a acontecer: a Cisco, Amazon e Lockheed Martin

uniram-se para integrar tecnologias exclusivas

de interface homem-máquina na nave espacial

Orion, da NASA. Querem descobrir como poderão

os astronautas tirar partido das tecnologias de voz,

IA e videoconferência de longa distância através de

tablets. Para isso criaram a solução Callisto, que será

integrada na Orion durante a missão não tripulada

Artemis I, em torno da Lua e de volta à Terra. A

Callisto apresenta uma integração personalizada de

hardware e software e inclui tecnologia inovadora que

permite à Alexa funcionar sem ligação à internet, e que o Webex seja executado num tablet

utilizando a Deep Space Network da NASA.

ILUSTRAÇÕES UNDRAW.CO


CURIOSIDADE

BLACKBERRY, A MORTE

DE UM ÍCONE

Chegaram ao mercado em 2002, pelas mãos da

Research In Motion, e rapidamente se tornaram o

orgulho dos executivos de todo o mundo, sendo um

verdadeiro ícone. Tinham um teclado semelhante

ao dos computadores e enviavam emails. Mas os

Blackberry não conseguiram acompanhar o acelerado

ritmo de desenvolvimento tecnológico e chegaram

agora ao fim de vida, com a marca canadiana a deixar

de dar suporte técnico aos ainda poucos dispositivos

que poderiam estar ativos. A marca, essa, é conhecida

agora por ser especializada em segurança informática.

PORTUGAL: “JÓIA ESCONDIDA

DA CONECTIVIDADE”

PORTUGAL está muito bem posicionado para ser uma peça chave

na estratégia europeia de dados. É que reúne um conjunto de condições

únicas para ligar a Europa a mercados como a América do

Norte, América do Sul, África e Médio Oriente/Ásia, ocupando uma

posição geográfica central. O mais recente relatório da Deloitte diz

mesmo que o país é uma “jóia escondida da conectividade” europeia

e que deve aproveitar a explosão do consumo de dados para

se posicionar no panorama europeu e mundial. O estudo diz que o

país reúne condições únicas para atrair os maiores players tecnológicos

que necessitam de expandir a sua oferta no mercado global

de dados e pode beneficiar da nova visão da conectividade da Europa,

que garante financiamentos de mil milhões de euros através do

Connecting Europe Facility. Aliás, gigantes como a Google e Facebook

já estão a implementar uma nova geração de cabos submarinos

no mercado nacional. A grande conectividade submarina, combinada

com uma rede de conectividade terrestre

de alta capilaridade e redundância,

que se liga aos principais

hubs europeus, é outra

vantagem. Acrescem

os casos de sucesso

de inovação nacionais,

nomeadamente nas

telecomunicações, setor

que se tem destacado.•

Estudo diz que Portugal reune

condições únicas para atrair os

maiores players tecnológicos que

necessitam de se expandir

POTENCIAL DO 5G

DEPENDE DA SUA

MATURIDADE

OS PRECURSORES DO 5G têm três

vezes mais probabilidades de reter

clientes e quase o dobro das hipóteses

de aumentar a receita média por utilizador

(ARPU) e a receita dos serviços

móveis do que os demais operadores.

Isto porque podem impulsionar proactivamente

a inovação ao oferecer pelo

menos três serviços de 5G, incluindo

jogos na nuvem e RA/RV. A conclusão

é do mais recente relatório do ConsumerLab

da Ericsson, denominado “Precursores

do 5G”. Trata-se da 1ª análise

de mercado ao 5G para consumidores

a combinar dados de satisfação dos

clientes com factos sobre o mercado,

com base na avaliação das estratégias

para a maturidade do 5G e as receitas

de mercado de 73 operadores em 22

mercados, tendo em conta 105 critérios.

São identificadas quatro etapas

de maturidade dos prestadores de

serviços globais, com base na forma

como utilizam o 5G para melhorar

a satisfação dos consumidores e

aumentar a sua quota: exploradores,

potenciais, aspirantes e precursores.

Estes últimos são considerados líderes

dos consumidores do 5G, situando-se

sobretudo no Nordeste Asiático e

na América do Norte. Um terço

está na Europa. Para emergirem

como precursores, os

operadores terão de desenvolver

cobertura extensa

e comunicar marcos,

melhorar o marketing,

a velocidade,

explorar ofertas

convergentes,

proporcionar banda

larga doméstica,

inovar nos tarifários,

ofecer experiências imersivas

e fomentar parcerias e

programas de ecossistemas.•

7


a abrir

SOUND BITES :-b

“Nada disto é por acaso e é certo

que foi estrategicamente pensado,

uma vez que a Ucrânia está

às cegas (…) O inimigo sabe que

smartphones são olhos em todo

o lado e que assim são observados

pelo mundo. Como estes

equipamentos e a forma como

comunicam são uma verdadeira

autoestrada de informações, há

que entupir a mesma com DDOS.

O que veremos a seguir será uma

lição de segurança informática

(…) Será o acordar das nações no

que toca à cibersegurança”

Nuno Mateus-Coelho, CNN

Portugal, 24/2/2022

“As motivações dos cibercrimes

podem ser diversas, uma circunstância

que dificulta ainda mais o

seu combate. Os ataques podem

acontecer por razões de natureza

política, simples vingança, espionagem

industrial ou extorsão. O

inimigo é invisível e dificilmente

detetável, fator que o torna muito

mais perigoso”

Celso Filipe, Jornal de Negócios,

11/02/2022

Não há nada como sermos expostos

à intempérie para percebermos

como nos devemos proteger.

(…) É um alerta (ataque à Vodafone)

para os responsáveis das

instituições todas do país perceberem

que todas as questões de

informática e cibersegurança são

estruturais da vida em sociedade.

(…) Tem de haver uma coligação

de competências articulada sob

um comando único”

José Tribolet, Jornal i,

09/02/2022

11/01/2022

CIBERSEGURANÇA OBRIGA

A TER ESTRATÉGIA E EQUIPA…

A MAIORIA DAS ORGANIZAÇÕES em Portugal estão dispostas

a investir mais em cibersegurança, para mitigar e

prevenir ameaças, como phishing, ataques de malware e

ransomware. Mas precisam de uma estratégia para esta

área e de ter equipas especializadas. A conclusão é do

Cyber Survey da PwC, que mostra que cerca de um terço

das organizações disponibiliza menos de 50 mil euros

para investir na área, embora se deva ter em conta que o

tecido empresarial é sobretudo composto por PME. Sendo

a estratégia crítica, porque permite proteger os ativos

e estimular a confiança dos mercados, é essencial ter um

orçamento dedicado à cibersegurança, que permita às

organizações alavancar as iniciativas previstas com base

em análises de risco, e quantificar prejuízos associados

à eventuais ameaças. Terão ainda de ter competências

de cibersegurança, envolvendo pessoas, processos e

investimentos em novas tecnologias. Das 56 organizações

de 12 setores de atividade abrangidas pelo estudo, as três

principais preocupações entre os inquiridos são danos

reputacionais, indisponibilidade de sistemas por longos

períodos e os incidentes que causam perdas financeiras.•

… AMEAÇAS VÃO VOLTAR

A CRESCER EM 2022…

ATAQUES ÀS CADEIAS de abastecimento, exploração do

trabalho remoto, novos intervenientes no mercado negro,

alvos na nuvem e o regresso dos ataques low level são algumas

das tendências mais fortes em termos de cibersegurança

para 2022, antecipando-se mudanças ao nível da

estratégia dos ataques direcionados, ligadas à evolução

da situação na sociedade, política e economia A análise

é da Kaspersky Global Research and Analysis Team

(GReAT). Os investigadores estão convictos de que este

ano não vai ser mais fácil em termos de cibersegurança,

pelo que a preparação das equipas de TI será essencial

para mitigar ameaças. A exploração do trabalho remoto

será uma das mais persistentes, como forma de aceder às

redes das empresas. Vão também aumentar os ataques à

segurança na cloud e serviços subcontratados, perante a

rápida adoção de arquiteturas de computação em nuvem

e software baseadas em micro serviços e executadas em

infraestruturas de terceiros. Também as cadeias de abastecimento

estarão na mira, assim como.os dispositivos

móveis, em especial smartphones.•

Estudo revela que

empresas querem

investir mais em

cibersegurança.

Mas muitas reservam

menos de 50

mil euros para o

efeito

A exploração do

trabalho remoto

será um dos mais

importantes alvos

de ciberataques

ao longo deste

ano, prevê estudo

da GReAT.

8


… E 55% DAS ORGANIZAÇÕES

NÃO TÊM DEFESA EFETIVA

MAIS DE METADE (55%) das grandes empresas não combate

os ciberataques de forma efetiva e não são capazes de localizar

e corrigir as quebras de segurança rapidamente ou reduzir

o seu impacto. Cerca de 81% acredita que “estar um passo

à frente dos ciberatacantes é uma batalha constante e o custo

é insustentável”. A conclusão é do “State of Cyber Resilience

2021”, um estudo da Accenture que revela os principais traços

das empresas mais resilientes contra ataques.Com base em

entrevistas a mais de 4 700 executivos de todo o mundo,

incluindo 100 de Portugal, o estudo mostra que apesar de

no último ano 82% dos entrevistados terem aumentado os

seus investimentos em cibersegurança, o número de ataques

bem-sucedidos – que incluem o acesso não autorizado a

dados, aplicações, serviços, redes ou dispositivos – aumentou

em 31%, para uma média de 270 por empresa. Por isso, há

que alargar os esforços de cibersegurança para lá dos limites

da própria empresa, para chegar a todo o ecossistema, até

porque os ataques indiretos – ataques bem-sucedidos a uma

organização através da cadeia de valor – continuam a crescer.

Por exemplo, apesar de dois terços (67%) das organizações

acreditarem que o seu ecossistema é seguro, os ataques indiretos

foram responsáveis por 61% de todos os ciberataques

no ano passado, contra 44% no ano anterior.•

A grande maioria

das empresas

considera que

estar um passo à

frente dos ciberatacantes

é uma

batalha de custos

insustentáveis

ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO

NUMEROS

3 MIL MILHÕES

Foi a capitalização bolsista, em dólares,

que a Apple alcançou na Wall Street,

tornando-se na primeira 3-trillion dollar

company de sempre em todo o mundo. Este

valor astronómico culmina uma valorização

que se iniciou em agosto de 2018, quando

alcançou o bilião de dólares, e se alargou

em agosto de 2021 para dois biliões. A

pandemia ajudou a big tech a levar pouco

mais de 16 meses a alcançar a nova fasquia.

621 MIL MILHÕES

Foi o valor do investimento, em dólares,

no ecossistema mundial de startups. Um

recorde que mostra que o capital está a

apoiar projetos com elevado potencial de

crescimento, que possam rapidamente

transformar-se em unicórnios. Os números

da CB Insights mostram que, apesar da

pandemia, o investimento mais do que

duplicou. Estados Unidos, seguidos da Ásia

e Europa, foram as regiões com maiores

níveis de investimento.

251 MIL MILHÕES

Montante, em dólares, que a gigante Meta

perdeu em capitalização apenas num dia na

Wall Street. Aconteceu a 3 de fevereiro, na

sequência da apresentação dos resultados,

que desapontaram o mercado. Ainda assim,

a dona do Facebook continua a ser a 8ª

cotada mais valiosa nos EUA. Só o fundador,

Mark Zuckerberg, que é o maior acionista,

perdeu 30 mil milhões de dólares.

69 MIL MILHÕES

É o maior investimento de sempre da

Microsoft, em dólares, na compra da

produtora de videojogos Activision Blizzard.

A operação é ainda a maior aquisição de

sempre no negócio dos jogos dedeo. A

empresa desenvolve os populares ‘Call of

Duty’, ‘World of Warcraft’ e ‘Candy Crush’,

ficando a Microsoft com todo o grupo, desde

propriedade intelectual e desenvolvimento

de jogos até aos estúdios de jogos.

9


a abrir

SOUND BITES :-b

“Neste momento, todas as apps

são concebidas para recolherem

dados ao máximo — as apps são

as mulas da economia da vigilância

e transportam dados dos

telefones e computadores, esvaziando

os alforges com dados

nos servidores da Google, do Facebook,

de ad tech e tudo o resto”

Shoshana Zuboff, Público,

09/01/2022

“Repensar a organização pós

-pandémica é olhar para as pequenas-grandes

oportunidades.

Por um lado, moldar o modelo

híbrido que melhor se adequa

a cada empresa, por outro,

promover uma nova cultura

partilhada, que aposta na capacitação

digital de todos os trabalhadores

e no seu sentimento de

pertença (…). O futuro do trabalho

pode ser radioso. Importa,

agora, aproveitar o momento”

Guilherme Grey, ECO online,

23/11/2021

“Um ataque destas dimensões

a um jornal e a uma televisão é

também um ataque à democracia,

cujos fundamentos assentam

precisamente na liberdade

de informar e de ser informado”

Editorial, Semanário Expresso,

07/01/2022

“O dinheiro e a tecnologia vão

sempre chegar antes da legislação.

A lei é tradicionalmente

mais lenta, porque é reativa.

Com o RGPD tentámos preparar-nos

para o futuro (…) Mas há

muitas tecnologias novas que

trazem a necessidade de atualizar

regras existentes e temos de

fazer isto sem impedir ou travar

o processo de inovação”

Vera Jourová, Público, 16/11/2021

TRABALHO HÍBRIDO

É INCONTORNÁVEL

O TRABALHO HÍBRIDO vai tornar-se uma realidade incontornável

à escala global, com a digitalização e automatização a

conhecer níveis sem precedentes e a renovada priorização

do bem-estar das pessoas. A previsão é da Microsoft, que

apresentou as dez principais tendências de trabalho que

marcaram 2021 e que se manterão em 2022. Assim, pelo

menos metade da mão-de-obra global está em movimento.

O paradoxo do modelo híbrido mostra que não há uma fórmula

“one-size-fits-all”, pelo que o futuro passará por dar aos

colaboradores a flexibilidade para conceberem o horário de

trabalho que melhor se adapta às suas vidas. Já o investimento

no capital social nunca foi tão importante, tendo de

se investir na construção de uma cultura de empatia e de

escuta ativa por parte dos líderes. Face aos imprevistos das

reuniões híbridas, há que tornar a experiência de interação

mais real e natural. Tal como apostar na colaboração

assíncrona, uma forma de trabalhar em conjunto que não

exige que as pessoas trabalhem ao mesmo tempo. Flexibilidade

é a palavra do ano, quer nos espaços físicos, quer nas

políticas para os colaboradores.•

ANALÍTICA E IA SÃO CADA VEZ

MAIS CRÍTICAS

A ANALÍTICA E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL são hoje verdadeiramente

essenciais para enfrentar os desafios, num

mundo que continuará a ser marcado pela Covid 19. As

alterações climáticas, o crescimento do ecomm e a continuação

da transformação digital vão continuar a ser grandes

tendências, diz o SAS num estudo que realizou para ajudar

a planear 2022. Entre elas está a adoção de uma IA ética,

que se assume como nova vantagem competitiva, uma vez

que está em todo lado e vai ter um papel cada vez mais

importante nos próximos anos. Os processos de compras

na cadeia de fornecimento são outro desafio, assim como

os ataques cibernéticos indiretos, que estão a aumentar,

com os invasores a explorar cada vez mais as relações de

confiança estabelecidas entre empresas e fornecedores.

Este será também um ano de ação para a maioria das

instituições na Europa em termos de clima e sustentabilidade.

Fornecer ao cliente uma experiência envolvente com

tecnologias inteligentes, num mundo sem cookies, é outra

tendência. Tal como uma abordagem para um ambiente de

trabalho mais flexível.•

Flexibilidade é a

palavra do ano do

mundo laboral,

quer relativamente

aos espaços

físicos, quer nas

políticas para os

colaboradores

Entre as tendências

para 2022

identificadas pelo

SAS está a adoção

da IA ética, algo

que se considera

uma vantagem

competitiva


EXPERIÊNCIA DE COMPRA HÍBRIDA

SERÁ DOMINANTE EM 2030...

TER UMA EXPERIÊNCIA de compra híbrida, disfrutar de interações

e conexões sociais num ambiente físico ligado em rede e

situado perto de casa e usar óculos de RA ou de RV à prova de

água, fatos hápticos e luvas táteis, entre outros equipamentos

– estas são algumas das expetativas dos consumidores já em

2030, revela o mais recente ConsumerLab da Ericsson, que

aponta as dez grandes tendências de consumo para os próximos

oito anos. Na sua 11º edição, o relatório diz que um dos

aspetos comuns da vida diária da maioria dos consumidores

pioneiros seja uma mistura de tecnologia com conectividade,

integrada em ambientes físicos reais que potenciem experiências

de compras e consumo. Será uma nova realidade híbrida

para, pelo menos, 57 milhões de pessoas em 2030. Este trabalho

assenta em dados de um inquérito online realizado durante

outubro e novembro de 2021 a consumidores pioneiros de

RA, RV e assistentes digitais em 14 cidades. Abordando as suas

perspetivas, numa linha temporal até 2030, através de um

shopping ficcionado “Everyspace Plaza”, os consumidores avaliaram

15 infraestruturas de shoppings híbridos que aumentam

a experiência física com recurso à tecnologia digital. Quatro

em cinco dos inquiridos acredita que os conceitos testados

estarão disponíveis, de alguma forma, em 2030.•

… E COMPRAS NAS REDES

SOCIAIS DISPARAM ATÉ 2025

58% DA POPULAÇÃO

MUNDIAL UTILIZA

REDES SOCIAIS

OS UTILIZADORES de plataformas

digitais cresceram mais de 10% em

2021, ganhando 424 milhões novos

utilizadores nos últimos 12 meses. As

redes sociais contam com 4,62 milhões

de utilizadores em todo o mundo,

o que equivale a 58% da população

mundial. Os dados são da Hootsuite,

plataforma especializada na gestão de

redes sociais, e We Are Social, agência

criativa de social media, que anunciaram

o “Digital 2022”, relatório que

apresenta algumas tendências digitais

a nível global. O estudo revela que os

internautas garantem que passam

quase sete horas por dia a navegar no

mundo digital e dedicam em média

duas horas e 27 minutos/dia às

redes sociais. Cerca de 46% dos utilizadores

são mulheres, enquanto 54%

são homens. O Facebook continua a

ser a rede social mais usada, seguido

pelo YouTube e WhatsApp.•

O COMÉRCIO SOCIAL, realizado através de uma rede social,

já representa 492 mil milhões de dólares, valor que deverá

crescer para 1,2 mil milhões de dólares até 2025. Em conjunto,

os millenials e a geração Z vão representar 62% deste tipo de

comércio, antecipa um estudo da Accenture. Denominado

“Why Shopping’s Set for a Social Revolution”, conclui que quase

dois terços (64%) dos utilizadores de redes sociais inquiridos já

fizeram pelo menos uma compra através dessas plataformas,

ou seja cerca de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo.

Esta tendência constitui nova oportunidade para as plataformas

e marcas, incluindo as empresas de menor dimensão,

já que 59% dos inquiridos diz estar mais propenso a apoiar

PME através deste tipo de comércio do que quando compram

via sites. Há, contudo, uma barreira para alguns utilizadores,

que temem que as compras não sejam protegidas ou reembolsadas.

Os consumidores dos países em desenvolvimento

utilizam o social commerce com mais frequência.•

ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO

11


5 perguntas

12

SOFIA VAZ PIRES:

Conciliar negócio

e pessoas

Desde julho de 2021 à frente da Ericsson Portugal, Sofia Vaz

Pires regressa à casa onde começou a sua carreira profissional

determinada a liderar com autenticidade e confiança, mantendo

o equilíbrio certo entre prioridades de negócio e equipas.

Texto de Isabel Travessa| Fotos de Vítor Gordo/ Syncview

Quais as suas metas como CEO da

Ericsson Portugal?

É com orgulho e agradecimento que

reconheço ter, ao longo da minha

carreira, recordado inúmeras vezes

a primeira experiência na Ericsson

como uma referência de cultura

organizacional, com valores humanos,

éticos e profissionais únicos e

excecionais. Nos cargos de liderança

que exerci, foi na Ericsson Portugal

que aprendi o verdadeiro sentido

de walk an extra mile pelo cliente. Foi

uma experiência inspiradora. Exigiu

muita capacidade de interação com

os clientes e a habilidade para perceber

a complexidade técnica de um

portefólio de soluções e benefícios

estratégicos que respondessem aos

seus requisitos. Chego novamente à

Ericsson com o mesmo espírito colaborativo,

tentando conciliar o lado

humano com a gestão do negócio.

Quero contribuir com uma liderança

assente na autenticidade e confiança,

superação de desafios diários e

alcance de metas, que sejam motivo

de orgulho e reconhecimento para a

equipa.

Passar de uma telco para um fornecedor

é um desafio acrescido?

É uma perspetiva complementar da

mesma indústria, muito enriquecedora

para mim, e uma vantagem

para o negócio e equipas. A minha

experiência recente num operador

de referência nacional, complementada

com a diversidade de responsabilidades

que assumi num operador

com escala mundial, permitiu-me desenvolver

um profundo conhecimento

sobre as prioridades do negócio

e principais pain-points dos clientes.

Dessa forma, é possível garantir a

entrega das melhores soluções, que

respondam da forma mais adequada

às necessidades dos clientes, para

que sejam mais competitivos e se

diferenciem na qualidade do que

oferecem.

A sua experiência internacional

está a fazer a diferença?

A minha experiência internacional,

em várias empresas e diferentes

geografias e continentes, permitiu-

-me o contacto com outras culturas e

o conhecimento de outras dinâmicas

de mercado. Também a gestão de

múltiplos desafios possibilitou-me

acelerar a minha curva de aprendizagem

e desenvolvimento pessoal

e profissional. A combinação destes

múltiplos eixos resulta numa rápida

adaptação a novas situações e desafios,

que se traduz na minha forma

de ser e estar, algo que considero

diferenciador, com resultados no

desempenho das equipas e do negócio.

Independentemente do contexto

geográfico ou da natureza da função,

considero que um desafio comum

inerente aos cargos de liderança é

a capacidade de manter o equilíbrio

certo entre as diferentes prioridades

de negócio e o lado humano das

organizações.

É pouco comum estar uma mulher

à frente de uma empresa TIC. Sente

que é uma exceção à regra?

A minha trajetória é o resultado de

muita dedicação, perseverança e

determinação. Espero de alguma

forma conseguir inspirar outras

jovens a seguirem os seus sonhos e,

simultaneamente, contribuir para o

desenvolvimento do setor tecnológico

em Portugal.

Como olha para o 5G no mercado

nacional?

A Ericsson está preparada para

implementar a solução em todo o

país, amanhã, se necessário, com a

melhor qualidade tecnológica. Por

conhecermos tão bem o 5G - somos

deres globais no desenvolvimento

e implementação - estamos cientes

da sua importância para a estratégia

nacional de transformação digital.

Para Portugal o 5G é fundamental,

caso queiramos continuar na linha

da frente. Nos primeiros anos de

implementação, os ganhos serão

essencialmente de cariz económico,

com a possibilidade de aumentar a

produtividade de setores estratégicos.

Desenvolvemos um estudo no

final de 2019, que mantém atualidade,

que aponta para um impacto

adicional de 3,6 mil milhões de euros

na economia portuguesa até 2030,

no âmbito das TIC nacionais, com

mais de metade a recair na saúde,

manufatura, energia e utilities, automóvel

e segurança pública. Outros

estudos indicam que o potencial de

criação de valor económico do 5G

para Portugal aumentará exponencialmente

- cerca de 17 mil milhões

de euros até 2035 – beneficiando

todos os setores económicos.


“Quero contribuir com uma liderança assente

na autenticidade e confiança, superação de

desafios diários e alcance de metas que sejam

motivo de orgulho e reconhecimento para a

equipa”

13


a conversa

14

“O nosso grande desígnio é potenciar o que já existe. E o que existe é bom”


INOVAR

OU

INOVAR?

Eis a pergunta que faz a si própria, todos os dias,

Joana Mendonça, a primeira mulher à frente da

ANI - Agência Nacional de Inovação. Ela acredita

que só inovando é possível promover o aumento

da competitividade das empresas. E convicção

não lhe falta.

TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA

FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

15


a conversa

16

“Fazer é sempre mais difícil do que pensamos, mas a forma como enfrentamos as dificuldades inerentes à função é o que faz a diferença”


Transbordante. Talvez seja uma boa palavra para definir

Joana Mendonça, professora do Instituto Superior

Técnico e presidente do Conselho de Administração da

Agência Nacional de Inovação (ANI). Com um doutoramento

em Engenharia e Gestão Industrial, um mestrado

em Engenharia e Gestão Tecnológica e uma licenciatura

em Química Tecnológica, Joana Mendonça tem

um percurso peculiar. Recebeu-nos sem cerimónias

na sede da ANI, em Lisboa, onde falámos um pouco de

tudo, nomeadamente do estímulo do investimento em

investigação e desenvolvimento e da participação em

rede por parte das empresas e entidades do sistema

científico e tecnológico.

Nasceu no seio de uma família de cientistas, o que

forjou, inescapavelmente, o seu percurso académico.

Depois, o seu espírito arguto fez o resto. É a primeira

mulher à frente da ANI, mas não se intimida com isso.

Pelo contrário.

Ouvi-la é auscultar um tempo, uma vontade de mudança.

Desconcerta perceber o seu pragmatismo mas,

ao mesmo tempo, a sua subtileza. Ao longo desta entrevista

brindou-nos várias vezes com a sua gargalhada

contagiosa e a sua atitude genuinamente descontraída.

Tem as memórias da sua infância atafulhadas

de livros e, talvez por isso, fala do futuro a olhar para

o mundo inteiro. É lá o seu lugar. Mas refere-se à sua

vida colocando-a entre o banal e o precioso. Sem salamaleques,

sem peneiras.

17


a conversa

Tive uma infância como

tantas outras crianças.

Lembro-me que lia imenso.

A aprendizagem da leitura

foi uma revolução na minha

vida, porque simplesmente

deixei de me aborrecer.

Antes da leitura era uma

miúda que se aborrecia

imenso. Isso deixou de

acontecer. Os meus pais

são cientistas e eu tinha à

minha disposição imensos

livros de investigação

científica

18


O seu percurso é muito ligado aos temas da inovação e

da engenharia. Como era a Joana em criança? Como se

divertia? Como foi a sua infância?

Tive uma infância como tantas outras crianças. Lembro-me

que lia imenso. A aprendizagem da leitura foi

uma revolução na minha vida porque, simplesmente,

deixei de me aborrecer. Antes da leitura, era uma miúda

que se aborrecia imenso. Isso deixou de acontecer.

Os meus pais são cientistas e eu tinha à disposição

imensos livros de investigação científica.

Ah, os seus pais são cientistas… Isso explica muita

coisa.

Sim. São físicos.

Portanto, isso também a influenciou...

Sim. Acredito que sim. Nunca pensei muito nisso.

Que livros se lembra de a terem marcado?

Um deles foi a história da

Marie Curie. Embora o livro

que li fosse um pouco

romanceado, escrito pela

filha, tocou-me imenso.

Foi a única mulher que ganhou

o Prémio Nobel em

duas categorias diferentes

– da Física e da Química.

Porque é que a história

dela a marcou?

Porque é incrível! Ela vem

da Polónia para a França,

tinha uma inteligência

surpreendente e teve uma vida profissional muito

intensa.

Não querendo o ramo

do ensino ou da ciência

pura, achei que a área

tecnológica era aquela que

me permitiria fazer coisas,

pôr a mão na massa

Isso justifica ter ido para Química Tecnológica!? Explique

como escolheu este curso…

Naquela idade nós não sabemos ao que vamos. Mas

tendo seguido Química, e não querendo o ramo do ensino

nem da ciência pura, achei que a área tecnológica

era aquela que me permitiria fazer coisas, pôr a mão na

massa. Trabalhei muito durante o curso – era um ramo

muito difícil. Acho que foi no curso que desenvolvi a

minha capacidade de trabalho. Fartei-me de trabalhar,

mas nem notava, porque gostava genuinamente

daquilo.

Já percebi que gostou muito da universidade...

Sim. Muito. Mas já abandonei a Química Tecnológica

há muitos anos.

Retomando o fio à meada... o que fez de marcante a

seguir?

Fui para a Suíça trabalhar. É curioso que para algumas

pessoas o mais difícil de ir

trabalhar para o estrangeiro

é o regresso.

O que foi fazer para a

Suíça?

Um estágio no âmbito de

um protocolo com a universidade.

Na verdade, fui

para a Suíça porque nasci

em França e a minha primeira

língua foi o francês

– queria recuperar o meu

francês. Só que em Berna,

onde eu estive, fala-se alemão.

Paciência, aprendi alemão! Também não foi mau

(risos)!

Reviu-se nela?

Não propriamente. Mas achei o seu percurso

apaixonante.

Portanto, em sua casa, a curiosidade pela ciência era

uma constante? O espanto perante o mundo é um reduto

para onde apetece sempre regressar?

A curiosidade sim, agora o espanto… Eu compreendo o

que diz sobre o espanto, mas na ciência, de facto, não

é bem o espanto que nos move. O espanto está geralmente

associado a uma coisa mágica e na ciência isso

não existe. A ciência é o resultado de muito trabalho.

Eu cresci habituada à conversa sobre ciência, onde o

espanto não costumava ter lugar.

Esteve quanto tempo na Suíça?

Um ano letivo, a estudar a síntese de derivados de vitamina

B12. Depois voltei a Portugal.

E o que se passou a seguir na sua vida?

Entrei no ITN - instituto Tecnológico Nuclear, que agora

pertence ao Técnico. Fui fazer síntese de derivados

de inorgânicos. Adquiri imensa experiência na Suíça,

aprendi imenso. Este foi o meu primeiro emprego.

E como correu?

Foi um choque cultural. As formas de trabalho, a organização

do laboratório, todas as ineficiências... Tudo

aquilo me começou a fazer comichão. E, no alto da minha

ingenuidade, pensei: “Tenho de mudar a maneira

de fazer ciência em Portugal”.

19


Mas essa mudança tarda a chegar…

Sim. Alguém dizia que só haverá verdadeira igualdade

quando houver tantas mulheres incompetentes no

topo das organizações como homens. Há pouco tempo,

a ministra espanhola (dos Assuntos Económicos

e Transformação Digital, Nadia Calviño), decidiu deia

conversa

20

Que idade tinha?

25 anos. Nesta idade acredita-se nestas coisas com

toda a convicção (risos). Então candidatei-me a um

mestrado de Gestão de Tecnologia no Técnico, com a

ambição de obter ferramentas para gerir ciência com

eficácia. O mestrado era coordenado pelo atual ministro

da Ciência, professor Manuel Heitor. Na carta de

candidatura, escrevi aquilo em que acreditava profundamente:

“Quero mudar a forma como se faz ciência

em Portugal!”. Ele adorou a minha carta! E na entrevista

com ele – são conhecidas as entrevistas muito difíceis

que faz – como sou uma leitora compulsiva, li os

artigos todos dele e a entrevista não poderia ter corrido

melhor. Ele acabou por convidar-me a trabalhar com

ele, para estudar inovação. Foi assim que abandonei a

Química. Fui estudar inovação no sector químico.

Isso fez todo o sentido na

sua carreira...

Sim. O mestrado associa

pessoas com know-how tecnológico

a ferramentas de

gestão para entrarem nas

empresas e no mercado e

gerirem tecnologia.

E isso é crítico?

Sim. Por isso recuperámos

recentemente esse mestrado

no Técnico.

De certa forma o professor Manuel Heitor veio desarrumar-lhe

um bocadinho a vida. Desencaminhá-la.

Totalmente. Várias vezes ao longo da vida.

A mulher que é hoje é fruto do seu percurso até aqui?

Ou isto é só conversa de psicanalista? Importa realmente

olhar para trás?

Claro que importa. Somos fruto de todas as nossas

vivências.

Em Portugal é difícil tomar riscos? Sobretudo se se é

mulher?

Sim, é verdade.

Acha que o facto de ser mulher condicionou a sua vida

profissional? A questão de género foi relevante no percurso

que fez até aqui? Ou é daquelas mulheres que

não gosta de falar destes assuntos?

Temos de falar destes assuntos! Aliás, mudei de opinião

sobre isto há pouco tempo. Antes achava que isto não

era questão sequer. Mas hoje acho que é. Temos de falar

disto! Porque se não falarmos as coisas não mudam.

Na carta de candidatura

(ao mestrado de Gestão

de Tecnologia no Técnico)

escrevi: “Quero mudar a

forma como se faz ciência

em Portugal”

Até porque todas, potencialmente, poderemos ter

filhas...

Sim. Eu tenho duas. É preciso que elas percebam a realidade

que vão encontrar. Nas minhas aulas – sou professora

de Design Thinking no Técnico – os rapazes intervêm

mais, são muito mais participativos. Isto é

uma questão cultural e de educação. Eu dou umas aulas

com um colega espetacular e ele no outro dia deu-

-me os parabéns porque, numa das nossas aulas, eu

virei-me para a turma e disse: “Agora fala uma rapariga”.

E, a partir daquele momento, a dinâmica da aula

desbloqueou.

Por que é que acha que isso acontece?

Não lhe sei dizer. Acho que tem a ver com a forma de

ocupação do espaço comum. E isto não é apenas uma

realidade portuguesa. Tenho

muitos alunos estrangeiros,

cerca de 50%, e a situação

é a mesma.

Como se sente sendo uma

mulher num mundo de

homens?

Tenho pensado mais nisso

agora que estou nesta função.

Primeiro porque estou

mais exposta ao espaço

público. Não tenhamos

ilusões: o espaço público é

dominado por homens. A

quantidade de eventos a que vou, em que só ouvimos

homens a falar, ou apenas uma mulher para ficar bem

na fotografia, é assustador. E acontece o mesmo nas

organizações. No outro dia visitei uma empresa, reuni

com o conselho de administração, constituído só por

homens, e comentei: “Estão a precisar de uma mulher,

não?”. Ao que o líder me respondeu: “Pois, isso agora

está na moda!”. A consciencialização de que a diversidade

– não só de género – é essencial nas empresas é um

caminho que tem de se fazer urgentemente. A diversidade

na estrutura decisiva das organizações só acontecerá

se for forçada no início, porque a verdade é que há

a tendência de nos rodearmos de pessoas semelhantes.

Eu não era grande fã das quotas, mas talvez seja preciso

começar por aí para se introduzir a mudança.


“Não tenhamos ilusões: o espaço público é dominado por homens. A quantidade de eventos a que vou, em que só ouvimos homens a

falar, ou apenas uma mulher, para ficar bem na fotografia, é assustador”

21


a conversa

“Aquilo que é a missão da agência tem sido o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi uma oportunidade para pôr em

prática muito do que tenho dito e escrito que é preciso fazer”

22

xar de participar em eventos em que seja a única mulher

oradora. Os exemplos repetem-se todos os dias.

Há umas semanas fui convidada para um evento sobre

o futuro da inteligência artificial. Cinco homens,

zero mulheres. O futuro da IA não tem mulheres? É um

problema sistémico, por isso é que é simbólico eu ser

mulher nesta função, na Agência da Inovação. É esse

o simbolismo. Temos vindo a fazer um caminho, mas

é preciso que as empresas e as organizações adotem a

diversidade como máxima de ação.

Sendo a primeira mulher a assumir o cargo de Presidente

da ANI, sente peso por isso?

Não, não sinto (risos).

Responsabilidade acrescida?

Isso talvez. Mas peso, não sinto. É importante e simbólico.

Sendo a primeira mulher, há aquela responsabilidade

de que não posso falhar. Mas não me sinto nada

condicionada com isto. Às vezes, até pelo contrário.

Ainda a estimula mais…

Exatamente (risos).

Como é que veio cá parar?

Fui novamente desafiada pelo professor Manuel Heitor.

Ele tem-me desafiado para muitas coisas na vida.

O meu trabalho de investigação e a minha abordagem

como investigadora passa muito pela importância do

trabalho conjunto de aproximação entre a academia e

a indústria. Aquilo que é a missão da agência tem sido

o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi

uma oportunidade de pôr em prática muito do que tenho

dito e escrito que é preciso fazer. Isto sim é que é

responsabilidade acrescida, mais do que ser mulher! É

ter trabalho científico a indicar o que é preciso fazer e

agora ter o desafio de o fazer realmente.

Como se sente perante este desafio?

Fazer é sempre mais difícil do que pensamos. Mas a

forma como enfrentamos as dificuldades inerentes à

função é o que faz a diferença. Vim para uma estrutura,

com uma equipa espetacular, o que ajuda imenso.

Que marca quer deixar? Procura deixar uma “cicatriz”,

fazer a diferença, inscrever a sua singularidade?

Uma das visões que tenho é a urgência de as organizações

verem a ANI como facilitadora. Além disso, a ANI

tem de ser conhecida, tem de estar virada para fora.


Quero uma ANI aberta para as organizações e uma verdadeira

promotora da cooperação. Para isso, precisamos

de uma agência mais inovadora nos processos,

para ser um motor ativo do ecossistema, e não apenas

passivo, a recolher os inputs de fora. Queremos ser um

verdadeiro ator do ecossistema. Quando aqui cheguei,

éramos um espetador. Temos ferramentas e equipa

para fazer mais.

Está cá há um ano, afirmou que a sua meta é que a ANI

atue como uma one-stop shop, uma espécie de balcão

único para a inovação com diferentes instrumentos. O

que já foi feito nesta área e como está a correr?

A primeira coisa que fiz foi olhar para tudo de forma

integrada, nessa lógica do one-stop-shop. Temos muitas

atividades, que eram feitas de forma estanque, dirigidas

a universos diferentes. Precisamos de ser capazes

de olhar para isto como

uma panóplia de instrumentos

integrados. Este

é o caminho que estamos

a fazer. Mas não se faz de

um dia para o outro.

A própria ANI tem de mudar

internamente…

Claro. Apostando na digitalização,

um caminho

que tinha começado, mas

que nós acelerámos grandemente.

A transição digital

é urgente – e estamos a fazê-la, já com a visão de

conjunto de que falei. Além disso, definimos a tal visão

estratégica para o mandato: a transversalidade, do

front office da ANI para o exterior, e o desígnio europeu e

nacional da transição para a sustentabilidade, que tem

de ser estratégica.

Há imensos desafios internos…

Sim. A primeira coisa que fiz, logo no meu primeiro

dia, a 3 de maio de 2021, foi lançar um concurso interno

de ideias. E fiz também outra coisa simbólica:

uma reunião Teams com toda a gente, na altura 93 pessoas,

e pedi que todas se apresentassem. Disseram-me,

depois, que isto nunca tinha acontecido. As reuniões

eram, tipicamente, unidirecionais, e não bidirecionais.

Foi aí que lancei o tal programa de inovação interno.

Quis dar voz às pessoas…

Quis empoderá-las. Recolhemos as ideias e agora estamos

a estudar como podemos integrá-las. Pedimos às

pessoas para proporem um plano de implementação

para as suas ideias.

Os setores tradicionais

portugueses são muito

inovadores, ao contrário do

que as pessoas pensam. A

inovação é transversal

A pandemia contribuiu para que as empresas estejam

a olhar mais para a inovação como aposta estratégica

de futuro?

O que posso dizer é que há cada vez mais empresas que

olham para a inovação como sendo crítica para a sua

produtividade. Isso tem crescido, transversalmente.

Temos muitos novos clientes, sobretudo PME, que nos

procuram devido aos nossos sistemas de incentivos. A

visibilidade da ANI vai ajudar a promover isso.

Tem referido que a inovação é um conceito difícil de

mensurar. Mas como é que a define?

Gosto de citar Schumpeter, economista austríaco que

em 1934 lançou um livro em que descreve a inovação

como fator de mudança e crescimento nas organizações

e o empreendedor como um agente de mudança

– e não apenas o dono da empresa. Gosto da noção

dele, em que a inovação é

uma ideia muito ampla –

inovação na estrutura, nos

processos, nos produtos,

no marketing, etc… Na ANI,

os nossos instrumentos

estão muito ligados à inovação

tecnológica – para

ajudar as empresas a diminuir

o risco dos investimentos

nesta área. Esse é

o nosso papel.

A criação as Zonas Livres

Tecnológicas poderá contribuir para atenuar esse

risco?

Não. As Zonas Livres Tecnológicas são espaços de experimentação,

permitem diminuir o tempo de chegada

ao mercado.

Quais os setores que mais apostam na inovação?

Há vários. Os têxteis, os moldes, a metalomecânica,

a mecânica de precisão – setores que tradicionalmente

não associamos à inovação. Os setores tradicionais

portugueses são muito inovadores, ao contrário do que

as pessoas pensam. Mas a inovação é transversal – e é

isso que nos tem permitido manter a competitividade.

As empresas que não inovem, no longo prazo, estão

condenadas.

E no setor público? Como se inova aí?

Temos uma ferramenta, as Compras Públicas para a

Inovação, que permite introduzir melhorias na função

pública.

Essa é uma das grandes apostas, por causa das verbas

para o PRR?

23


a conversa

24

Temos muitos desafios aí para agarrar. Cá estaremos

para o fazer.

Cada vez mais se fala na necessidade de criar ecossistemas

de parceiros, para as empresas, mesmo concorrentes

entre si, criarem mais valor. E aqui, a inovação

colaborativa assume um papel fundamental. Os gestores

estão mais recetivos a este tipo de aposta ou o

segredo ainda continua a ser a alma do negócio, sobretudo

nas PME?

Ainda há muitos obstáculos, mas já foi feito um longo

caminho. A maior parte dos programas da ANI são colaborativos.

O facto de termos cada mais pequenas empresas

a trabalhar connosco é simbólico. Há cada vez

mais PME a perceber que a inovação colaborativa é crítica.

Uma grande empresa

tem muito mais capacidade

de absorver conhecimento

vindo de uma universidade,

por exemplo.

Por isso, é uma vantagem

os nossos instrumentos

serem maioritariamente

colaborativos. Usufruir

de conhecimento a que

as PME não teriam acesso

por uma questão de dimensão.

Para estas empresas,

os nossos interfaces

são absolutamente críticos

para transferência de

conhecimento, mas também de pessoas. É muito importante

a transferência de recursos humanos de uns

setores para outros.

Como é que isso se conjuga num quadro de recursos

limitados?

A educação é crítica. Neste momento Portugal já tem

mais de 50% dos jovens no ensino superior, mas temos

de continuar esse esforço. E apostar na requalificação

ao longo da vida – há um programa no PRR só para isso.

E, claro, a atração de recursos de outras geografias.

E somos competitivos?

Se pensarmos em contratar pessoas que tragam as famílias,

Portugal pode ser competitivo. A segurança é

uma coisa crítica, por exemplo.

Estamos a deixar de ser um país de salários baixos?

Acho que sim. Espero que sim.

Acha ou espera?

O nosso salário médio tem aumentado, mas arrendar

Termos cada vez mais PME

a trabalhar connosco é

simbólico. Há cada vez

mais PME a perceber que

a inovação colaborativa é

crítica

uma casa em Lisboa custa o mesmo do que arrendar

uma casa em Berlim. É absurdo. Mas Portugal não é

Lisboa! Outro dos desígnios no nosso plano estratégico

é atuar no reforço do Interior. Temos, por exemplo,

o caso do Fundão, que é espetacular. Chaves também

é um bom exemplo. O presidente da câmara apoiou a

implementação do Laboratório Colaborativo, que está

a ser um sucesso. E há muitos outros casos por esse

país fora.

Um dos desafios que assumiu foi o de as empresas,

instituições de ensino superior e entidades do sistema

científico nacional captarem pelo menos 2 mil milhões

de euros do Horizonte Europa. Como será possível

alcançar esse objetivo?

Nas empresas temos um

enorme espaço para crescer.

É a área em que temos

de dar um salto maior. Estamos

a trabalhar com associações

empresariais,

setoriais e regionais. E temos

imenso potencial!

Precisamos de dar apoio às

empresas para se candidatarem

às calls europeias.

Acredita que, finalmente,

Portugal tem todas as

condições para uma recuperação

sustentada e uma

mudança real da base da nossa economia, para fazer a

diferença na Europa e no mundo?

Acredito que sim, se não, não estaria aqui a fazer nada

(risos). Este momento pós-Covid é muito importante.

Temos de agarrar as oportunidades. Temos de ser capazes

de ir para o terreno ajudar as empresas a minimizar

o risco. O nosso grande desígnio é potenciar o que já

existe – e o que existe é bom.

Para terminar: do ponto de vista pessoal, o que a apaixona,

o que enche a sua vida?

Tenho duas filhas, uma de 16 e outra de 9 anos. Elas são

o centro da minha vida. É muito importante procurar

o equilíbrio entre trabalho e família. Além disso, adoro

ir a concertos. Ouvir um músico em palco é ver alguém

a entregar-se completamente, é um ato de generosidade.

E adoro ler – recentemente aderi também aos

audiolivros. De resto, tenho pouco tempo para muito

mais. Sou da geração que está entalada entre os filhos e

os pais. Eles são a minha prioridade. •


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em destaque

26


A PRÓXIMA

MAGIA

O metaverso, a buzzword do

momento, poderá ser uma

realidade massificada em

poucas dezenas de anos. As

grandes empresas tecnológicas,

e não só, já estão na corrida

para uma visão que começa a

ser construída. Aquilo que será

a internet do futuro depende

do que se está a fazer agora. E

ninguém deverá ficar de fora.

TEXTO DE ANA SOFIA RODRIGUES

FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

27


em destaque

28

O

escritor britânico de ficção científica Arthur C.

Clarke defendeu, nos anos 70, a ideia de que

qualquer tecnologia suficientemente avançada

assemelha-se a magia. Em outubro passado,

quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança de

nome da empresa que fundou de Facebook para Meta

e mostrou ao mundo a sua visão do futuro, o “metaverso”

assumiu-se como a próxima grande magia. Vale

a pena ver o vídeo de uma hora e 17 minutos “The Metaverse

and How We’ll Build It Together – Connect 2021”, para

percebermos um pouco do que já estava no imaginário

de muitos protagonistas, mas que ganhou ali “realidade

para o cidadão comum.

Mas, afinal, o que é este metaverso? Matthew Ball,

um investidor de risco, que desde 2018 estuda a fundo

este tema, e que é atualmente um dos seus especialistas

mais considerados,

defende que não devemos

estar à espera de “uma

única e iluminada definição

de metaverso, sobretudo

na fase emergente

em que se encontra”. Para

ele, a melhor forma de

compreendermos o conceito

é apresentá-lo como

um “quase-sucessor da

internet móvel”, isto por

que não pretende substituí-la,

mas transformá-la.

“Assim como a internet móvel foi uma quase-sucessora

da internet. Embora não tenha tomado o seu lugar, alterou

completamente a forma como acedemos à internet,

onde, quando e porquê, assim como os equipamentos

e as tecnologias que usamos, os produtos e serviços

que compramos, os modelos de negócio, a cultura, a

política... O metaverso será igualmente transformador,

pois irá modificar profundamente o papel da internet

nas nossas vidas”. De uma forma mais “técnica”,

Matthew Ball desenvolve: “O metaverso é uma rede

massiva e interoperável de mundos virtuais 3D, produzidos

digitalmente em tempo real, que podem ser

experimentados de forma síncrona e permanente por

um número ilimitado de utilizadores, com um sentido

individual de presença e com continuidade de dados,

como identidade, histórico, direitos, objetos, comunicações

ou pagamentos”.

Gaming, social media,

web 3.0, blockchain e

tecnologias imersivas são

os building blocks do que

vem aí

Confusos? Mark Zuckerberg apresenta-o de uma

forma mais inspiracional, destacando a diferença da

imersividade e da sensação de presença quando e onde

quisermos: “Tu és a experiência, não olhando apenas

para ela. Conseguirás fazer quase tudo o que puderes

imaginar: estar com amigos e família, trabalhar, aprender,

jogar, comprar e criar. Seremos capazes de nos

sentir presentes como se estivéssemos mesmo com as

pessoas, não importa o quão distante realmente estejamos”.

JÁ ESTÁ A COMEÇAR

A concretização da visão completa deste metaverso

estará a décadas de distância, mas os seus primeiros

capítulos já estão a ser escritos. Pequenas peças começam

a ser construídas e ganham visibilidade. Luís

Bravo Martins, Chief Marketing

Officer da KIT-AR e

responsável pela secção

VR/AR - Realidade Virtual

e Aumentada da APDC,

explica que é o contexto

atual de “convergência de

tecnologias exponenciais

que permite pensarmos

no metaverso”. Tecnologias

como inteligência

artificial, realidade virtual,

realidade aumentada,

blockchain, robótica

ou computação quântica a trabalharem em conjunto

começam a tornar possível muito do que se julgava

pura ficção científica. “Será um futuro convergente de

quatro grandes indústrias: gaming, social media, web 3.0,

blockchain e tecnologias imersivas (realidade virtual e

realidade aumentada). Quando hoje já se fala dos negócios

do metaverso, são quase sempre ligados a uma

destas indústrias, que vão ser os building blocks do que

vem aí”.

Os exemplos multiplicam-se e, atualmente, já há

vários projetos que podem ser vistos como os primórdios

desse universo digital. As plataformas The Sandbox

e Decentraland são consideradas as percursoras.

São universos digitais, geridos de forma descentralizada

e construídos de maneira colaborativa com recurso à

tecnologia blockchain. Oferecem experiências imersivas

3D e têm criptomoedas próprias, que permitem com-


Luís Bravo Martins, Chief Marketing Officer da KIT-AR e responsável pela secção VR/AR - Realidade Virtual e Aumentada da APDC, diz

que é o contexto atual de “convergência de tecnologias exponenciais que permite pensarmos no metaverso”

prar terrenos, bens e serviços nesses mundos virtuais.

Os utilizadores têm a liberdade de criar, comprar, vender

e trocar bens digitais e experiências.

Neste momento, existem investidores a pagar

milhões por parcelas de terreno nestes mundos. Em

Sandbox, uma empresa de desenvolvimento de imobiliário

virtual garantiu o seu espaço por 4,3 milhões de

dólares. Andrew Kiguel, CEO do Tokens.com, investiu

2,5 milhões de dólares num terreno na Decentraland

e, desde então, os preços subiram entre 400% a 500%.

Nessa mesma “terra”, já se viveu a noite de passagem

de ano na MetaFest 2022. Foi uma festa virtual que simulou

a mítica passagem de ano na Times Square, em

Nova Iorque, com acesso a concertos de música exclusivos,

espetáculos virtuais, lounges VIP no topo de edifícios,

assim como ao feed de eventos globais realizados

no mundo inteiro.

EXPERIÊNCIAS TRANSVERSAIS

Quando a maioria das empresas com maior valor de

mercado do mundo tentam ser pioneiras num novo

caminho, é certo que muitas outras virão atrás. O grosso

do investimento neste próximo capítulo da internet

advirá dos gigantes tecnológicos mundiais. Os analistas

do Goldman Sachs estimam que essas empresas,

nos próximos três anos, invistam até 700 mil milhões

de dólares na corrida ao metaverso. Mas já há muitas

empresas de menor dimensão, e até particulares, a fazer

várias experiências. O rapper Travis Scott, por exemplo,

iniciou em 2020 a sua digressão com um concerto

virtual no jogo Fortnite, cheio de efeitos especiais. O

seu avatar cantou na ilha de Battle Royale e foi visto

por mais de 12 milhões de jogadores. A Gucci já vende

malas como adereços para avatares na plataforma Roblox.

A Nike adquiriu a startup RTFKT, especializada na

comercialização de indumentárias virtuais. Esta startup

ganhou notoriedade ao celebrar uma parceria com

o artista Fewocious (de apenas 18 anos) para criar três

modelos de ténis em formato NFT (tokens não fungíveis

que, com base na tecnologia blockchain, atestam a originalidade

e propriedade dos bens digitais). Em apenas

sete minutos, mais de 600 pessoas compraram os pro-

29


em destaque

MADE IN PORTUGAL

Conheça duas empresas, com sede em Portugal, que estão a participar

na construção dos primeiros passos do metaverso.

VIRTULEAP

Cofundada, em 2018, por Amir Bozorgzadeh,

a startup Virtuleap tem sede em Lisboa e uma

equipa 100% portuguesa. A sua app Enhance

apresenta-se como um verdadeiro ginásio para

o cérebro. Associando as neurociências à realidade

virtual, desenvolve uma série de jogos que

ajudam a melhorar os níveis de atenção e que

são ideais para pessoas com doenças cognitivas

como Alzheimer, Perturbação de Hiperatividade/

Défice de Atenção, lesões cerebrais causadas por

acidentes ou lesões de memória causadas pela

quimioterapia. São uma série de desafios cognitivos

direcionados para o mental fitness, potenciados

pelos benefícios da realidade virtual (RV). “A

RV é uma versão mágica digital que se sobrepõe

ao mundo real. É um ambiente de aprendizagem

muito mais eficaz, pois além de ser a forma como

eu naturalmente interajo com o mundo, é uma

forma multicognitiva e experencial, em que todos

os sentidos estão envolvidos e que porporciona

um envolvimento incomparável”, explica Amir.

Os headsets necessários para os jogos são também

fonte de informação muito importante.

“Têm biosensores e, através de inteligência artifical,

conseguimos perceber, por exemplo, se o

utilizador está concentrado, aborrecido, stressado...”,

conta. “Para fins de marketing, isto pode ser

diabólico, mas quando estamos a lidar com Autismo,

Alzheimer, Parkinson... pode ser mágico”.

30


Com 14 parcerias com instituições académicas,

os dados captados são valiosos para inúmeros

estudos. “Coletamos cerca de 2.000 data points a

cada dois minutos... Com esses dados estamos

a construir algoritmos, que podem prever, por

exemplo, aos 30 ou 40 anos, se aquela pessoa

terá Alzheimer, podendo atrasar o processo ou

mesmo revertê-lo pela sua deteção precoce.

Somos uma referência e estou

muito orgulhoso pelo caminho

difícil que percorremos. Todos

gostamos muito de tecnologia,

mas temos muito respeito pelo

que ela pode fazer”.•

Com origem grega, a palavra Didimo significa

gémeo e é isso mesmo que a sua plataforma

promete e faz: um gémeo digital. Veronica lembrou-se

de produzir estes avatares realistas com

a convicção de “que é a única maneira de conseguirmos

garantir a nossa autenticidade, sermos

nós próprios em ambientes digitais. Quando

vemos a nossa imagem numa plataforma digital,

DIDIMO

dez anos, quando Veronica

Orvalho pensava na forma como

comunicaríamos no futuro, a

resposta que lhe surgia era “que

iríamos usar modelos 3D, numa

nova forma de interação”. Perante

esta resposta, “as pessoas

achavam que eu era tirada de

outro planeta!”, conta. E conclui:

“Agora, tantos anos depois, estão

todos a falar do metaverso, de

pôr pessoas em ambientes imersivos,

de usarmos modelos 3D

para fazermos compras online e

para falar com outras pessoas...

É giro ver como uma inovação demora, às vezes,

tantos anos a ser aceite”.

Em 2011, Veronica Orvalho e a sua equipa da Universidade

do Porto verificaram no terreno como

avatares virtuais conseguiam envolver e criar

empatia com doentes com autismo. Não esquece

o caso de um pai que conseguiu comunicar pela

primeira vez com o seu filho através do uso de

um dos avatares. Entusiasmada com estas possibilidades,

resolveu, em 2016, fundar a Didimo.

tornamo-nos responsáveis pelas nossas ações”.

Atualmente com uma equipa de mais de 30

pessoas e escritórios em Portugal, Canadá e

Reino Unido, os clientes da Didimo são empresas

sediadas na Europa e Estados Unidos da América,

sobretudo nos setores da moda, entretenimento

e comunicações e sente que “o mercado está a

uns meses de explodir”. Veronica Orvalho foi finalista

dos EU Prize for Women Innovators 2021,

promovido pelo Conselho Europeu de Inovação.•

31


em destaque

32

dutos, gerando 3,1 milhões de dólares para a marca. A

fabricante de automóveis Hyundai anunciou, recentemente,

o conceito “metamobility”. Esta mudança prevê,

entre outras coisas, explorar a condução autónoma,

bem como tornar os automóveis e a Mobilidade Aérea

Urbana dispositivos inteligentes aptos a aceder a espaços

virtuais. A robótica irá funcionar como um meio

para conectar os mundos virtual e real. “Por exemplo,

um automóvel que se conecte a espaços virtuais pode

permitir que os utilizadores desfrutem de várias experiências

de realidade virtual no veículo. Dependendo

das necessidades do consumidor, um veículo pode ser

transformado num espaço de entretenimento, numa

sala de reuniões ou até mesmo numa plataforma de videojogos

3D”, detalhou a empresa.

Os exemplos sucedem-se. A Deloitte virtualizou a

sua Deloitte University e construiu um espaço imersivo

onde colegas de todo o mundo se conheceram e

colaboraram de forma natural, durante a pandemia.

Construíram uma experiência de realidade mista, que

“ressuscitou” o fundador William Deloitte e uma experiência

de realidade aumentada para mostrar arte 3D

numa parede dedicada na sua nova universidade na Índia.

O Aeroporto Internacional de Hong Kong criou um

“gémeo virtual” para ajudar as autoridades a agilizar a

revisão de novos projetos de construção. E até mesmo

uma cidade já anunciou

que será a primeira neste

novo “universo”: Seul

planeia ter pronto, até ao

final de 2022, um espaço

virtual onde os sul-coreanos

podem interagir com

representações digitais

de pessoas e objetos. Os

residentes poderão fazer

reservas, andar em autocarros

turísticos, visitar recriações de locais históricos

destruídos e registar queixas administrativas. Seul

quer, assim, incluir todas as áreas da administração

municipal e aumentar a eficiência dos funcionários

públicos, superando as limitações físicas e as barreiras

linguísticas...

As experiências intensificam-se por todo o mundo

e Portugal não é exceção. Luís Bravo Martins chama a

atenção para o papel do nosso país nesta construção

Em Portugal já existem

mais de 100 empresas

dedicadas às tecnologias

imersivas

do futuro. “Em Portugal, em março de 2021, havia 106

empresas dedicadas a estas tecnologias imersivas (VR

e AR) e, agora, já há certamente mais. Temos uma oportunidade

brutal, tendo em conta o ecossistema muito

interessante que estamos a criar versus a nossa dimensão.

Juntando a isto a oportunidade de estarmos a falar

de um mercado emergente, temos a possibilidade

de nos assumir como uma referência”. O especialista

destaca o interesse transversal deste tipo de tecnologias,

uma das peças do grande puzzle que será o metaverso.

“Trazem um volume tremendo de benefícios e

oportunidades para as empresas de todos os setores e

estão numa fase de enorme crescimento. No ano passado,

já foram vendidos dez milhões de dispositivos de

realidade virtual. Sabe quantas consolas a Playstation

vendeu? Cerca de seis milhões...”.

GRANDES DESAFIOS

As possibilidades parecem ilimitadas. As novas experiências

em termos de educação, saúde, lazer e socialização,

mas também a nova economia que será criada

com novas profissões e oportunidades, soam a muito

atrativas. Mas os desafios que esta verdadeira revolução

tecnológica traz consigo são enormes. Por um lado,

tudo o que é preciso desenvolver para que o metaverso

seja uma realidade. Matthew Ball agrupa em oito grandes

categorias os obstáculos

que é necessário transpor:

o hardware (todos os

equipamentos necessários

para aceder e interagir no

metaverso, como headsets,

luvas, mas também câmaras

industriais ou sistemas

de projeção); a largura, latência

e fiabilidade das redes

e a criação de todos os

serviços de apoio; o gigante poder de computação exigido

por funções tão exigentes como cálculo, sincronização

de dados, inteligência artificial, captação de movimento

ou tradução; a construção das plataformas

virtuais onde as pessoas vão explorar, criar e socializar;

os protocolos, os formatos e standards que permitam

a interoperabilidade entre as diferentes plataformas;

o desenvolvimento de formas de pagamento, baseadas

na tecnologia blockchain; a criação e gestão de con-


teúdos, serviços e ativos digitais ligados aos dados e

identidade de cada utlizador; a adoção de novos comportamentos

sociais digitais, quer individuais, quer

empresariais face a esta nova visão da vida diária. Cada

um destes “obstáculos” exigirá investimentos muito

avultados, uma enorme captação de talento, um sério

trabalho em conjunto para pensar nas mais variadas

questões ligadas à regulação, segurança e privacidade e

ainda um grande tempo para serem solucionados.

TAREFA COLETIVA

Luís Bravo Martins é perentório em destacar outra necessidade

urgente: “Há muitos, muitos desafios pelo

caminho que precisam de ser salvaguardados e debatidos

de forma muito clara. As novas ferramentas tecnológicas

devem servir-nos enquanto seres humanos e

não nos penalizarem. Não costuma haver tempo para

a sua adoção. Sentimos

rapidamente os benefícios

mas não pensamos nas

suas consequências. Com

o metaverso, pela primeira

vez, estamos a ter tempo

para pensar no que pode

vir a ser e é mesmo importante

que, desta vez,

acertemos!”. E deixa um

apelo: “Vamos todos pensar

e discutir. As grandes

empresas são os líderes de

investigação e desenvolvimento, mas faz sentido haver

outras entidades, como associações e fundações, que

discutam estes temas a nível internacional e também

em conjunto com os Governos, para se pensar no interesse

público”.

E não exclui qualquer formação, antes pelo contrário:

“Imaginemos: nós os dois estamos a passear

numa rua. Cada um está com os seus óculos de realidade

aumentada... A memória que vamos ter daquela

experiência é completamente diferente, porque eu

posso estar a ver uma coisa e tu a ver outra. A realidade

partilhada vai ser menor, por isso, em última instância,

o que continua a ser a verdade? Isto implica muitas

questões ligadas à verdade, à identidade, ao eu, à

partilha, à presença... por isso, hoje, são imensamente

necessários profissionais de filosofia, antropologia,

As possibilidades desta

nova revolução parecem

ilimitadas, mas há um

desafio que urge ganhar: o

da literacia digital

sociologia para olhar para isto. Precisamos que esses

especialistas se juntem à discussão”.

A terminar, partilha uma última preocupação ligada

com a iliteracia. “O cidadão comum está um pouco

a leste do que se está a passar. Ao longo desta década,

de certeza que o seguinte vai acontecer: teremos tecnologias

imersivas, possibilidade de ver estas experiências

de forma partilhada com várias pessoas, óculos

de realidade virtual e óculos de realidade aumentada,

carros voadores, carros autónomos, computação

quântica, blockchain, bitcoin, possibilidade de pagarmos

com a nossa impressão digital... Tudo já com ofertas

comerciais e preços mais acessíveis. Vamos começar a

ter pessoas que vão às lojas e não percebem o que está

a ser oferecido... Agora já há, mas vamos escalar para

uma oferta 20, 30 vezes maior... É um risco gigantesco,

pois podemos ter uma iliteracia em camadas e isto

pode fazer com que haja

muitas pessoas a ficarem

de fora, excluídas de várias

dinâmicas tecnológicas.

Este tempo é precioso

para pensarmos no que

é que queremos que este

metaverso seja. Que impactos

terá? Nos espaços,

no usufruto das cidades,

nas famílias, no conceito

de escola, nas empresas,

nas profissões... Tudo isto

vai ser brutal e é muito importante a divulgação destas

novas tecnologias, pois serão elas que terão impacto

profundo naquilo que será a nossa vida. As pessoas

precisam de ouvir falar disto, é uma questão transversal.

Se não queremos criar algo que vá ser distópico no

futuro, o momento de agir é agora”.•

33


itech

BERNARDO CORREIA:

Paixão antiga

34

No tempo em que não havia “nativos digitais” Bernardo Correia,

de certo modo, foi um precursor. Aos cinco, já brincava

com computadores, antes dos dez lançou-se na programação.

A tecnologia e ele cresceram juntos e até hoje permanecem

inseparáveis.

Texto de Teresa Ribeiro | Fotos cedidas

O PAI TRABALHAVA no Laboratório

Nacional de Engenharia Civil, um

dos poucos sítios em Portugal onde

existiam computadores a sério.

Eram enormes, daqueles que ainda

trabalhavam com cartões perfurados,

mas tinham uma espécie de

vida própria que encantava Bernardo.

Sempre que podia experimentava

tudo. Carregava nos botões,

mexia nos comandos e o ecrã verde

reagia. Como a família morava mesmo

ao lado do LNEC, era possível,

através da janela passar um fio que

vinha do laboratório e lhes levava

para casa algo que quase ninguém

tinha: internet. “Era uma facilidade

permitida ao meu pai, por causa do

trabalho dele, mas que eu aproveitava

também”, recorda o country

manager da Google Portugal. Quando

mais tarde lhe ofereceram para

seu uso pessoal um ZX Spectrum

ficou definitivamente rendido aos

computadores. Ainda não tinha

dez anos quando fez o seu primeiro

programa: “Um jogo de futebol,

ridiculamente rudimentar”, recorda

divertido.

O namoro continuou quando o avô

lhe ofereceu um Commodore Amiga

500, hoje uma peça de coleção:

“Foi o meu primeiro computador a

sério, com imagem, som, côr, que

eu adorava. Ainda tenho um cá em

casa”, partilha. Ao Amiga já juntou

outras peças desse tempo: “Consegui

encontrar o Spectrum em casa

dos meus pais e comprei no eBay a

primeira Playstation”. Diz que adora

tudo o que tem a ver com a história

da tecnologia digital, “a que mais

mudou a capacidade das pessoas

poderem aprender, a força mais

igualitária que existe no planeta,

pois permite a qualquer pessoa,

em qualquer parte do mundo, seja

rico ou seja pobre, aceder à mesma

informação”. É isto que mais o

fascina. Isto e o poder que as TIC

mantêm de o surpreender sempre.

Apesar do fascínio precoce por esta

área, na hora de escolher o curso

optou por uma via tradicional, pois

“a informática ainda era uma coisa

de nicho”. Licenciou-se em Economia,

mas fez carreira em Marketing.

Um dia a Google contactou-o para

fazer de interlocutor entre as grandes

marcas e a tecnologia. Ficou

como um peixinho na água.

Quando entrou, em 2008, ainda não

havia Android, tinha acabado de sair

o iPhone e a Google ainda não tinha

lançado o seu primeiro smartphone.

“Foi uma altura de grande descoberta.

Encontrava-me em Londres

nessa altura, num escritório onde

havia uns engenheiros que estavam

a desenvolver essa tecnologia e eu

adorava aqueles momentos em

que falávamos sobre o que faziam.

Foram anos absolutamente fantásticos”.

De então para cá, ainda não saiu

desta espécie de estado de encantamento:

“A era da internet está só

a começar. Basta pensar que dos 8

biliões de pessoas que vivem no planeta,

apenas 5 biliões têm acesso à

internet”. O futuro para ele é a IA e a

automação, que libertarão os seres

humanos para coisas cada vez mais

estimulantes.

Em casa, como seria de esperar,

vive rodeado de tecnologia: “Não

há uma divisão que não tenha um

ecrã”. Mas preocupa-se com o bem-

-estar digital, até porque tem três

filhos ainda pequenos: “Não deixamos

que passem tempo demais à

frente de ecrãs. A Google tem ferramentas

para gerir essa situação.

A minha preferida é o Family Link,

uma aplicação que permite controlar

as horas a que eles têm acesso.

E é assim que às 20.30 a internet

desliga e os telefones bloqueiam”

(risos). Outra ferramenta que usa

em casa é o Do Not Disturb, que

desliga todas as distrações, mantendo

ativos só os canais essenciais. “O

preço da liberdade”, cita o country

manager da Google “é a vigilância

eterna”. Este é o lema que segue

para que o uso da tecnologia seja “o

mais saudável possível”.

Nunca se separa do seu Samsung

Galaxy Flit 3, cujo modelo em concha

e ecrã dobrável adora e do seu

portátil da Google, de ecrã táctil.

Last but not the least, Bernardo Correia

tem brevet (para ultra-ligeiros) e

quando voa também é nas asas da

tecnologia, guiado pelo indispensável

gps+skydemon.•


Nunca se separa do seu Samsung

Galaxy Flit 3, cujo modelo em concha e

ecrã dobrável adora

Tem um portátil da Google, de ecrã

táctil, que leva para todo o lado

Para fazer fotos a sério, tem uma Nikkon

a sério

Coleciona peças de tecnologia antigas,

como este ZX Spectrum

35


negocios

O 5G JÁ

CHEGOU:

E AGORA?

Com as redes comerciais finalmente

disponíveis, como se perspetiva

o futuro com o 5G? Os use cases já

conhecidos comprovam que será uma

tecnologia disruptiva, especialmente

no B2B. Para já, dão-se os primeiros

passos numa jornada onde cobertura,

investimento, ecossistema e oferta

serão críticos.

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA

FOTOS DE ISTOCK E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW E CEDIDAS

36


37


negocios

38

A

rapidez com que a NOS, a 27 de novembro último,

seguida da Vodafone, a 30, e da Altice Portugal,

a 1 de janeiro, disponibilizaram comercialmente

as respetivas ofertas comerciais de

5G, comprova que os três operadores estavam mais do

que preparados para um arranque há já muito esperado.

E, apesar de todos os atrasos na conclusão do leilão,

que colocaram Portugal na cauda da Europa no lançamento

destas redes – foi o penúltimo país da UE27 a

concluir o processo, a seguir à Lituânia – esta realidade

não prejudicou o desenvolvimento da nova geração

móvel, face aos demais Estados-membros.

Se Portugal ficou prejudicado, foi apenas em termos

de imagem. “Fizemos muito barulho durante um

ano e escrevemos muita coisa. Fomos alvo, diria, de

alguma chacota, em alguns contextos internacionais.

Éramos sempre apontados como os que escolheram

um processo de leilão muito

antiquado. Ninguém

gosta de ouvir estas coisas

e, enquanto engenheiro

português, também não

gostei”, admite Pedro Tavares,

technology, media &

telecom leader da Deloitte.

Tendo em conta o que

está a acontecer na Europa

e em mercados mais desenvolvidos,

como a Austrália,

Tailândia e EUA,

geografias que conhece

bem, o consultor assegura que não estamos atrasados.

É que os operadores “fizeram o seu trabalho bastante

bem e de forma consistente. Com tempo, preparando-se

para o dia em que o leilão terminou e as licenças

foram disponibilizadas. A prova disso é que no dia em

que receberam o papel assinado da Anacom puseram o

serviço no ar, num trabalho extraordinário de adequação

das suas redes para esta nova realidade. Não perdemos

absolutamente nada”.

José Rodeia, senior manager da Accenture Portugal,

é da mesma opinião: “Os operadores não deixaram de

procurar o desenvolvimento da tecnologia, através da

Os operadores

prepararam-se. O

que explica a rapidez

com que iniciaram a

comercialização do 5G

utilização da rede 5G disponibilizada para testes. O

que explica a rapidez com que foi iniciada a comercialização

do serviço após o fim do leilão”, acrescentando

ainda que no B2B recorreram a “parceiros com experiência

global, para recuperar tempo e propor e implementar

soluções semelhantes ao que está a ser desenvolvido

ao nível global”.

MOSTRAR POTENCIAL E EVANGELIZAR

Mas o que é que mudou, em concreto, com a oferta comercial

do 5G, que começou por ser disponibilizado

gratuitamente pelos operadores a todos os clientes de

todos os tarifários, a título experimental, até 31 de janeiro,

e foi posteriormente alargado até 31 de março?

A perceção é que, pelo menos para já, não existe ainda

nada de diferenciador, até porque a oferta 5G se resume

a uma maior velocidade e de forma limitada às zonas

que já dispõem de cobertura.

“Ainda estamos num período de evangelização”,

avança José Rodeia que deixa claro que, apesar de já ser

possível aos operadores apostar no mercado B2B, com

“use cases provados, alavancados

em redes 5G privadas”,

o foco terá de ser

agora o de trabalhar “com

early-adopters que reconheçam

o benefício de começar

processos de transformação

mais cedo e ganhar

vantagem sobre os seus

concorrentes”.

“Os operadores lançaram,

porque estavam

preparados para isso, o

Enhanced Mobile Broadband

(eMBB), que permite mais velocidade, mas

que, para a esmagadora maioria dos serviços, pouco ou

nada conta. O 5G é muito mais do que isso. Foi pensado

sobretudo para o B2B e é aí que acho que o trabalho

foi menos bem feito, porque é extremamente complexo

de se fazer. Os mercados globais não estão preparados

e não foram pensados para utilizar tecnologias

móveis do segmento empresarial”, acrescenta Pedro

Tavares.

Na sua ótica, até agora o que os operadores fizeram

foi utilizar redes móveis para oferecer voz e dados

às empresas e aos seus empregados, numa “espécie de


B2B2C. Mas o 5G significa fazer B2B diretamente”,

o que não existe ainda em nenhum

mercado, a não ser em casos muito

pontuais.

“Não vemos utilização do 5G nas empresas

para resolver temas como aumentar

a eficiência, ou resolver problemas de

negócio”, assegura.

No fundo, e apesar de admitir a apetência

do mercado para criar use cases a

uma velocidade cada vez maior, subsiste

um grande desafio: “Saber como se vai monetizar

estas ofertas. Por exemplo, numa

fábrica 5G, onde conseguimos ver a digitalização

da maioria dos processos industriais,

é preciso encontrar formas de monetização.

Como é que isso se vende pelos

operadores? Por quanto é que precisam

de vender? Por quanto podem comprar os

clientes?”. Mesmo nos casos das “geografias

mais avançadas, onde há operadores

com use cases diferenciados, ainda não fazem

dinheiro com o 5G e estão muito longe

disso. Todos estes processos têm uma

jornada. A seu tempo, iremos encontrar

as primeiras implementações com sucesso, que efetivamente

resolvam problemas de negócio dos clientes

B2B”. E isso só deverá acontecer com uma mudança

de fundo nas redes. Enquanto a arquitetura de rede

for non standalone (NSA), pouco mais é possível do que

disponibilizar ofertas eMBB (maior largura de banda).

Só a mudança para uma rede 5G standalone (SA), com a

implementação de um core de rede totalmente diferenciado,

é que permitirá dar o verdadeiro salto em frente

no desenvolvimento de soluções assentes nas novas redes

móveis, acelerando áreas como cloud, edge, IA, analítica

e automação.

DAR TEMPO AO TEMPO

Por isso, defende que “é preciso dar tempo ao tempo,

para que os operadores se sintam capazes, até financeiramente,

para avançar”. É que o tema da capacidade

de investimento é crítico num mercado onde os players

pagaram mais do que o esperado pelo espetro de

“Com o modelo de leilão que foi seguido, trocaram-se resultados imediatos

por uma capacidade de os operadores investirem de forma mais massiva

em plataformas. É certo que os investimentos não vão dar para tudo”,

comenta José Rodeia, senior manager da Accenture Portugal

5G, num setor já massificado e onde as receitas já pouco

crescem. No total, o encaixe do leilão foi de 566,8

milhões de euros: 165 milhões foram pagos pela NOS,

133,2 milhões pela Vodafone e 125 milhões pela Altice.

Já a Nowo investiu 70 milhões, a Dixarobil 67 milhões

e a Dense Air 5,7 milhões. Estimativas do mercado antecipam

que os operadores nacionais terão de investir

na implantação do 5G valores entre 2,3 e 2,8 mil milhões

de euros, nos próximos cinco anos.

“Já foi dito várias vezes que, com o modelo de leilão

que foi seguido, se trocaram resultados imediatos por

uma capacidade dos operadores investirem de forma

mais massiva em plataformas que trouxessem competitividade

à nossa economia. É certo que os investimentos

não vão dar para tudo”, garante José Rodeia.

“Os business cases originais foram sendo revistos à medida

que o leilão foi progredindo”, acrescenta Pedro

Tavares, explicando que houve consequências: “A passagem

do 5G non-standalone (NSA)) para o 5G standalo-

39


negocios

40

“As obrigações de cobertura de redes são muito pesadas e dissonantes

entre incumbentes e novos entrantes”, adverte Pedro Tavares, technology,

media & telecom leader da Deloitte, antecipando no tema do roaming

nacional “uma disputa interessante”

ne (SA), que deveria ocorrer num espaço de 12 meses,

não vai seguramente ocorrer nesse timing. É preciso, de

alguma forma, garantir o retorno com o que se consegue

fazer no 5G NSA e, a

seu tempo, será pensado o

Os pilotos permitem

aumentar a visibilidade

de soluções disruptivas

e provar as capacidades

diferenciadoras

5G SA. Provavelmente, só

dentro de dois anos”.

Para já, e como detalha

o responsável da Accenture,

a aposta no imediato

passará, “no mercado

empresarial, com use cases

já provados, alavancados

em redes 5G privadas,

para iniciar a recuperação

do investimento e respetiva

monetização da tecnologia. Os pilotos em execução

permitem aumentar a visibilidade de soluções disruptivas

e provar as capacidades diferenciadoras. No entanto,

será fundamental provar a viabilidade

financeira e o retorno de investimento das

empresas, uma vez que existirão vários custos

na implementação de soluções em larga

escala”.

Capacidade de investimento, capacidade

de inovação e gestão de talento são, para José

Rodeia, os principais fatores que vão determinar,

a prazo, que o potencial do 5G seja verdadeiramente

aproveitado pela economia e a

sociedade. Para isso, terá de garantir-se “um

clima favorável à geração de negócio, para que

os operadores possam compensar e continuar

a investir no deployment da rede, e respetiva

robustez, com novas fontes de receita”. Assim

como ter “condições que permitam a investigação

de novos use cases, devices que permitam

capturar todos os benefícios do 5G” e

capacitar as pessoas na nova tecnologia.

CONSTRUIR CAMINHO

A fazer o seu caminho no 5G estão os operadores.

No âmbito do novo modelo de iniciativas

lançado em fevereiro pela APDC, denominado

Dot Topics, um formato podcast onde

foram entrevistados responsáveis da Vodafone,

NOS e Altice, além de um grande cliente

potencial, a EDP, foram desvendadas algumas

estratégias e caminhos a desenvolver. Os

debates sobre o futuro com o 5G decorreram

em parceria com a Capgemini Engineering.

Para Manuel Eanes, administrador da NOS, a “rede

5G não é só mais um G, mas uma revolução”, porque

traz consigo quatro novas coisas cuja combinação pode

transformar tudo:

dez vezes mais velocidade,

latências até menos de

um milissegundo, um milhão

de objetos ligados por

km2 e uma disponibilidade

e fiabilidade enormes.

“Para nós, a proposta de

valor do 5G é muito séria.

Temos como objetivo liderar

a era do 5G e estamos a

trabalhar nisso há muito

tempo”, assegura.

Consciente de que para “construir todo este novo

universo de soluções, vamos ter que fazer uma aprendizagem

muito rápida”, diz haver peças fundamentais


a tomar em linha de conta. Ter um “ecossistema

de inovação aberta muito forte e

poderoso”, é uma delas. Fazer uma “boa

leitura dos problemas práticos que tem

valor resolver, tentando trazer a tecnologia

a bordo para os solucionar”, é outra.

Assim como “desenvolver um conjunto de

elementos estruturais na rede”, para responder

às novidades que o 5G trará na utilização

de tecnologias. Trata-se, na perspetiva

deste gestor, de “tentar construir um

caminho para, tão cedo quanto possível,

aproveitar todo o potencial das muitas

inovações que o 5G nos vai trazer ao longo

dos próximos dez anos”.

Na Vodafone Portugal, Henrique Fonseca,

administrador responsável pela Unidade

de Negócio Empresarial, está convicto

de que no 5G tudo vai acontecer muito

mais depressa, uma vez que a tecnologia o

permite, assim como os requisitos de cobertura

e as funcionalidades em velocidade

e, sobretudo, latência. “O 4G já nos permite

latências de 40 milissegundos. Com

o 5G vamos ter 1 milisegundo. Vamos chegar

lá. Amanhã não vamos estar a fazer cirurgias remotas

nem a ver carros a andar sozinhos. Há um caminho

para lá chegar e é esse que estamos a preparar e a fazer

acontecer em Portugal”.

E a Vodafone tem, na

“Ainda não vamos estar a fazer cirurgias remotas nem a ver carros a andar

sozinhos. Há um caminho para lá chegar e é esse que estamos a preparar”,

frisa Henrique Fonseca, administrador responsável pela unidade de negócio

empresarial da Vodafone Portugal

Construir o universo de

soluções possíveis vai exigir

uma aprendizagem rápida.

Por isso o ecossistema de

inovação tem de ser forte

sua ótica, uma vantagem

à partida, já que o grupo

que integra lançou nos últimos

três anos quase 20

redes 5G no mundo. Tratase

de um “capital de experiência

e de conhecimento

acumulado que estamos

a pôr ao dispor de Portugal.

Quando falamos com

os nossos clientes sobre

o que está a acontecer nos outros mercados e o que é

que fizeram com o 5G, vemos que realmente estamos

a abrir o caminho para acelerar a digitalização das empresas

nacionais”.

A beneficiar da experiência do grupo onde se integra

está também a Altice Portugal. Para o seu chief sales

officer (CSO), Nuno Nunes,

o grupo está a construir,

dentro do seu backbone,

“uma plataforma onde os

vários vendors, startups e

empresas estão conectados

e fazem desenvolvimento,

acedendo a todos

os uses cases da Altice pelo

mundo inteiro”. Com todas

as redes ligadas, sempre

que houver um use case

que desenvolva uma solução

5G, todos os países beneficiam da informação e da

respetiva experiência, assegura.

“Estamos a construir soluções que o mercado pre-

41


negocios

42

“Temos como objetivo liderar a era do 5G e estamos a trabalhar nisso há

muito tempo”, frisa Manuel Eanes, administrador da NOS

cisa para que a economia e as empresas se tornem mais

competitivas. A parte da infraestrutura não é o game

changer, mas o driver para transportar informação de

um lado para o outro. O

game changer está nas plataformas

onde os venders

que trabalham connosco

constroem os use cases

5G, para que depois os

possamos partilhar, quer

com o mundo onde estamos,

quer com os nossos

clientes em Portugal”,

acrescenta.

Todos admitem que há

ainda muitos desafios pela

frente, mas defendem que o 5G trará grandes benefícios

ao país. “Temos um setor e um conjunto grande de

empresas competentes que podem, em colaboração,

Estimam-se ganhos na

produtividade na ordem

dos 20% a 30% na indústria

e de 25% na agricultura

com a adoção do 5G

ajudar a que se tire partido desta tecnologia.

A promessa é que haja ganhos de produtividade

da ordem dos 20% a 30% na indústria,

com ganhos de 50% nas linhas de montagem,

e de 25% de produtividade na agricultura.

Com estes números, estamos a ver apenas

a ponta do iceberg do que será, seguramente,

uma enorme transformação da nossa capacidade

de entregar. Todos temos de fazer um

processo de adaptação. Há que começar já e

não esperar por amanhã para ver como é que

o 5G pode ajudar a transformar as nossas vidas

e os nossos negócios”, adverte o administrador

da NOS.

PERCEBER O VALOR DA TECNOLOGIA

Para que essa transformação de fundo seja

uma realidade, terá primeiro de se “entender

o valor da tecnologia para resolver questões

concretas. O problema de muitas jornadas

tecnológicas é que, concetualmente, as camadas

são muito bem definidas, mas demoram

muito tempo a implementar. E a paciência

ou a capacidade de investimento esgotam-se

por falta de resultados práticos. Como temos

essa consciência, o que preferimos é entregar

resultados depressa, para que se possa ver o valor e que

isso ajude a custear e a credibilizar os movimentos do

futuro”, explica Manuel Eanes.

Neste momento, e segundo

o administrador

da Vodafone, as soluções

mais facilmente implementáveis

e com resultados

imediatos são as que

têm a ver com realidade

aumentada e virtual, manutenção

de máquinas

nas fábricas ou, na saúde,

as consultas remotas ou

a monitorização remota,

entre outras. Representando

o 5G um “salto tecnológico”, explica que, muitas

vezes, a barreira à sua adoção pode assentar não

só no business case”, mas também no não querer alte-


Nuno Nunes, chief sales officer da Altice Portugal: “Estamos a construir

soluções que o mercado precisa para que a economia e as empresas se

tornem mais competitivas”

Um fator considerado

essencial para a aceleração

da oferta do 5G no mercado

nacional é o apoio público

ao seu desenvolvimento

rar o status quo e não ter a coragem de ir à

frente”.

Para o gestor, o 5G não é “só um desafio

dos operadores, dos parceiros e do ecossistema

que está à volta, mas de todos nós. É

bom que cada um dos players desta indústria

faça acontecer, que fale sobre o que

está a fazer e apresente resultados concretos

dos uses cases que está a disponibilizar

aos clientes. Porque isso ajuda o mercado

e dá-lhe confiança. Nenhum de nós sozinho

pode ter mais sucesso do que se toda

a indústria se unir e contribuir”.

A olhar para o 5G e para a sua capacidade

de potenciar o negócio, nomeadamente

os processos de transição energética

e digital, está a gigante EDP. João

Nascimento, digital global unit do grupo,

conhece bem a tecnologia, até porque veio

de um dos operadores de comunicações, e

garante que tudo é possível. Mas o que falta

é saber “qual o modelo de negócio que

está por detrás. A tecnologia existe, a necessidade existe.

Temos agora que fazer um casamento entre as duas

coisas e capturar o valor”. ´

O processo está apenas

a começar, com a exploração

de ideias, para depois

se poderem criar os use cases

e as provas de conceito

e começar a usar a tecnologia.

Para isso, o gestor defende

um verdadeiro “diálogo

de parceria com os

operadores”, percebendo

com eles as oportunidades

de criação de valor. E deixa

bem claro: “O 5G é uma

tecnologia muito interessante e que traz todas as tecnologias

novas com que poderemos trabalhar. Mas tem

de haver racionalidade económica: em termos empresariais,

temos de ver a tecnologia como um enabler de

criação de valor e ser exigentes nessa captura. Tecnologia

sim, mas ao serviço do nosso propósito”.

Um fator considerado

essencial para a aceleração

da oferta do 5G no mercado

nacional, com todos

os benefícios inerentes, é

também o apoio público

ao seu desenvolvimento.

“O governo tem também

uma palavra muito relevante

a dizer. Infelizmente,

no nosso PRR não vimos

esse sinal, coisa que

aconteceu noutras geografias.

Mas ainda vamos muito a tempo

de corrigir. Espero que venha a haver oportunidades

e sinais de contribuição para este desenvolvimento

43


negocios

garantir um ecossistema completo, com a

presença de operadores, network equipment providers,

consultoras de negócio, cloud providers,

software houses e universidades. Ecossistemas

com esta amplitude estarão capacitados para

desenvolver novos use cases, ser um pilar de

inovação nos processos de transformação digital

e garantir deployment de soluções complexas

em larga escala”.

44

João Nascimento, digital global unit do Grupo EDP: “A tecnologia existe, a

necessidade existe. Temos agora que fazer um casamento entre as duas

coisas e capturar valor”

e aceleração do 5G, agora que a tecnologia está disponível”,

comenta Henrique Fonseca.

“Os apoios públicos à inovação e à adoção da tecnologia

serão essenciais

para acelerar. Devem, inclusivamente,

ser vistos

como um investimento

necessário ao posicionamento

do país como um

dinamizador da mudança,

procurando que Portugal

seja uma referência

de inovação”, acrescenta

José Rodeia.

Trata-se, como explica,

de “acelerar programas

de investigação e rollout de projetos. Já se começaram a

dar os primeiros passos e a criar as primeiras parcerias

que deverão ser alargadas, num futuro próximo, para

Portugal tem uma curva

agressiva de cobertura do

país, pelo que as pessoas

terão rapidamente acesso

às redes

CONCORRÊNCIA VS CONSOLIDAÇÕES

A cobertura do país com as redes 5G é um dos

grandes desafios a que os operadores terão de

dar resposta rapidamente. Não só porque só

assim poderão trazer valor para o mercado,

mas também porque, apesar dos atrasos no

encerramento do leilão, governo e regulador

das comunicações deixaram claro que os prazos

definidos no regulamento se mantêm. O

que significa que já em 2023 terão metas para

cumprir, para que em 2025 pelo menos cerca

de 90% do país já disponha de redes móveis de

nova geração.

Manuel Eanes considera mesmo que Portugal

tem “uma curva muitíssimo agressiva de cobertura

do país”, pelo que as pessoas terão muito rapidamente

um acesso significativo às redes. Para já, o

operador já está presente

em todas as capitais de

distrito. Concordando que

o “plano de rollout do 5G é

um plano muito agressivo,

porque em quatro anos vamos

ter que fazer o que demorámos

quase dez anos

no 4G”, o responsável da

Vodafone garante que vai

ser concretizada a meta de

cobertura 5G até ao final

de 2025, com uma velocidade,

no mínimo, de 100 Mbps.

Pedro Tavares classifica mesmo as metas de “obrigações

hercúleas, muito pesadas e dissonantes de co-


ACELERAR PARA COLHER BENEFÍCIOS

Os números mais recentes de Bruxelas mostram

que o desenvolvimento das redes 5G na

UE27 tem sido mais moroso que o previsto

e que muitos Estados-membros estão ainda

longe de beneficiar das suas vantagens.

Apesar da cobertura ter aumentado de 14%

da população (em 2020) para mais de 20%

no ano passado, excedendo até os 50%

em vários países, ainda se está longe do

ideal sonhado para o espaço comunitário.

As estimativas iniciais apontavam para um

investimento de 400 mil milhões de euros no

desenvolvimento do 5G até 2025, acrescentando-se

um bilião de euros ao PIB europeu

entre 2021 e 2025 e um potencial de criar ou

transformar até 20 milhões de empregos. A

pandemia de Covid-19 veio baralhar tudo e

a UE já garantiu que vai intensificar esforços,

depois do Tribunal de Contas Europeu ter

alertado recentemente os europeus de que

estão a ficar para trás e que corremos o risco

de falhar as metas definidas para 2025. Nesse

ano, é suposto ter assegurada uma cobertura

de 5G nas áreas urbanas e ao longo

das principais vias de transporte do espaço

comunitário.

Portugal é, claramente, um dos países mais

atrasados no processo. Mas as projeções

sobre o impacto positivo do 5G na economia

nacional nos próximos anos pouco ou nada

se alteraram. Segundo Pedro Tavares, as

previsões da Deloitte Analysis 2019, realizadas

com a NOS, que apontavam para que a

nova geração acrescente à economia nacional

17 mil milhões de euros até 2035, mantêmse.

Só nos impactos esperados por indústrias

- manufaturing, wholesale, TIC, retalho, transportes

e armazenamento e utilities é que se

registaram variações de valores entre 10% a

15%. Já um estudo divulgado pela Accenture

Strategy há cerca de um ano, sobre o impacto

do 5G na economia europeia, antecipa

que até 2025 a nova geração móvel trará um

aumento do PIB de 11 mil milhões de euros e

a criação ou transformação de 260 mil postos

de trabalho.•

bertura de redes entre os incumbentes e novos entrantes”,

destacando ainda a obrigatoriedade dos três

grandes operadores com rede terem de disponibilizar

roaming nacional aos demais concorrentes. “Avizinha-

-se uma disputa interessante entre os operadores que

têm obrigações legais, escritas e formais e aquilo que

efetivamente vão fazer ou querer fazer”, antecipa.

Neste âmbito, o tema das consolidações, que voltou

a ganhar força nos últimos meses na Europa, quando

em paralelo Bruxelas e Portugal tentam criar mais

concorrência, facilitando a entrada de novos players no

mercado, é incontornável. O responsável da Deloitte

não tem dúvidas de que se assistirá a prazo, tanto na

Europa como no país, a movimentos de consolidação,

ao mesmo tempo que deverão surgir operadores de super-nicho,

como no caso da Dixarobil, dos romenos da

Digi Communications.

José Rodeia confirma esta perspetiva: “O que temos

visto em alguns operadores, a nível internacional,

é uma estratégia baseada em ofertas comerciais mais

simples, essencialmente focadas em B2C, com preços

mais baixos e estruturas de suporte otimizadas e

digitalizadas. Como o fornecimento de serviço de comunicações

de qualidade é bastante exigente do ponto

de vista de investimento, o que observamos é mais

um movimento de consolidação de operadores, que

um movimento de dispersão. Acontecendo o mesmo

em Portugal, a entrada de novos players que compitam

apenas por preço resulta num movimento de consolidação

posterior, deixando pelo meio uma desvalorização

da indústria”.•

VEJA OS 4 EPISÓDIOS DOS DOT TOPICS:

EM PODCAST: https://bit.ly/3GcO8mA

EM VÍDEOCAST: https://bit.ly/3GcO8mA

45


management

SEMANA DOS

QUATRO DIAS:

MENOS É MAIS?

Eis o caldo: trabalho, pandemia, millenials e

tecnologia. Da mistura saíram várias receitas,

com destaque para o teletrabalho. Mas há

mais opções e, entre estas, a semana dos

quatro dias, que já foi testada com sucesso

noutras paragens. A questão está em saber se

funciona em Portugal.

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS DE ISTOCK (ABERTURA) E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW

46


47


management

sidade de Londres), foi um dos investigadores que se

debruçou sobre o tema e acabou convencido. Em agosto,

lançou o livro “Friday is the New Saturday”, onde

afirma que “uma semana de trabalho de quatro dias”

não só “poderá salvar a economia” como “é uma melhor

forma de organizar a economia no século XXI”.

48

Embora não tenha sido discutida em campanha

eleitoral, a semana dos quatro dias foi equacionada

pelo Partido Socialista no programa que levou

a votos dia 30 de janeiro. Ao prometer nesse

documento a “ponderação da aplicabilidadedessa experiência

“em diferentes setores”, logo os representantes

das associações patronais reagiram. E não foi para

apoiar a ideia.

A verdade é que este cenário não surgiu do nada.

Sobretudo depois da pandemia, houve vários países

que ensaiaram a medida. No ano passado, Espanha

considerou a implementação da semana das 32 horas

para favorecer a criação de emprego, numa fase em que

o seu mercado de trabalho estava seriamente abalado

pela pandemia. Também a Escócia decidiu testar a semana

das 32 horas, inspirada em exemplos como o da

Nova Zelândia, que abraçou com a bênção da própria

primeira-ministra, Jacinta Arden, a realização de “pilotos”

nesse âmbito. Houve iniciativas similares noutras

geografias, mas o exemplo que mais impressionou

a comunidade internacional foi o da Islândia. Aqui,

não foi a pandemia que inspirou a adoção da semana

dos quatro dias, já que a experiência teve início em

2015 e se desenrolou até 2019.

Pioneira na matéria, a Islândia envolveu cerca de

1% da sua força de trabalho na iniciativa. Durante quatro

anos cerca de 2.500 trabalhadores cumpriram um

horário que não excedeu as 36 horas semanais, podendo

ser concentrado em quatro dias, sem redução salarial.

Este ensaio foi conduzido pelo governo islandês na

capital do País, Reykjavik, e os resultados analisados

pela Associação pela Sustentabilidade e Democracia

da Islândia e pelo grupo Autonomy. Concluiu-se que

durante este período não houve qualquer quebra na

produtividade e que o stress dos trabalhadores diminuiu,

assim como o risco de burnout. O sucesso foi de

tal forma esmagador que, a partir de 2019, a redução

de horários começou a ser negociada pelos sindicatos

de forma generalizada. Atualmente, abrange cerca de

86% dos trabalhadores islandeses do setor público.

A maior experiência de redução da jornada laboral

que até hoje foi feita tem sido objeto de estudo em universidades,

consultoras e grandes corporações. Pedro

Gomes, economista e professor em Birkbeck (Univer-

EM PORTUGAL, SERÁ VIÁVEL?

Por cá, esta perspetiva está longe de ser consensual.

João Vieira Lopes, líder da Confederação do Comércio

e Serviços de Portugal (CCP), veio a público afirmar

que “não é previsível que os baixos níveis de produtividade

consigam absorver um cenário desses nos

próximos anos, tendo em conta a estrutura empresarial

portuguesa”. Faz, porém, uma ressalva para

“os setores de alta tecnologia e algumas tipologias de

empresas”, onde, admite, o caminho para este modelo

poderá ser feito. A sua opinião coincide, em traços

gerais, com a dos outros representantes das confederações

patronais.

António Saraiva, presidente da CIP – Confederação

Empresarial de Portugal, chegou mesmo a criticar esta

iniciativa do PS, por considerar não ser este o momento

para levantar semelhante questão. Assume, em contrapartida,

que o tema é importante, pois “a qualidade

de vida é um fator que influencia a produtividade”,

mas alerta para as dificuldades da aplicação deste modelo,

“que implicaria uma mudança estrutural”. Desta

forma, entende que o tema exige reflexão, não podendo

ser adotado precipitadamente.

Os argumentos do líder da Associação Empresarial

de Portugal são semelhantes. Luís Miguel Ribeiro diz

que a adoção da semana dos quatro dias acarreta “uma

alteração profunda na forma como a economia e a sociedade

estão organizadas”. Por isso, numa altura “em

que do ponto de vista económico ainda não conseguimos

alcançar os níveis da pré-pandemia, este não é o

momento para se iniciar tal discussão”.

Estas opiniões não surpreendem o advogado Tiago

Piló, um dos coordenadores da área laboral da VdA –

Vieira de Almeida & Associados: “No nosso país a força

de trabalho ainda se caracteriza muito pela quantidade

e não pela qualidade. E isso vê-se quer ao nível da força

de trabalho propriamente dita, quer ao nível das chefias,

que ainda estão muito agarradas à quantidade de

trabalho que recebem das suas equipas e menos ligadas

à qualidade. Daí que muito dificilmente, nos próximos

tempos, a redução das horas de trabalho semanais se

vá tornar uma medida generalizada em Portugal”, afirma.

A polémica que se gerou em torno da adoção das

35 horas de trabalho pela Função Pública demonstra, a

seu ver, que por enquanto, em Portugal, “este modelo


Para Tiago Piló, advogado da VdA, a polémica que se gerou em torno das 35 horas

de trabalho na Função Pública demonstra que por enquanto em Portugal “o

modelo da semana dos quatro dias é de muito difícil generalização”

não serve e que é de muito difícil generalização”.

Também advogada na VdA, Mariana Pinto Ramos

chama a atenção para as questões que a redução da carga

horária laboral levanta, nomeadamente ao nível das

remunerações: “A primeira pergunta que se vai fazer é

se haverá ajustes salariais com a adoção da semana dos

quatro dias, pois à partida o salário está pensado para

as 40 horas semanais”. Para que este problema não se

coloque, a alternativa é concentrar as 40h em quatro

dias, mas será compensador fazer jornadas de trabalho

de 10 a 12 horas?

Tiago Piló duvida que o trabalho concentrado tenha

como resultado a mesma produtividade: “Não foi por

acaso”, argumenta, “que se generalizou a semana das

40h de trabalho. É que está provado que ao fim de 8h o

nosso bioritmo cai drasticamente”.

Dúvidas à parte, a verdade é que a legislação portuguesa

já permite grande multiplicidade

de soluções, sublinha Mariana

Pinto Ramos: “Existe a figura do horário

concentrado, assim como o regime de

adaptabilidade e ainda o banco de horas

grupal, além do part-time. Havendo consenso

entre empresas e trabalhadores,

qualquer uma destas fórmulas pode ser

usada para que a semana de quatro dias

seja possível”.

O facto de a pandemia ter forçado a

que as empresas saíssem da sua zona de

conforto promoveu a discussão sobre novas

formas de trabalhar. Comum a quase

todas está o fator flexibilidade, algo que

se descobriu ser valioso tanto para trabalhadores,

como para empregadores.

Do lado da força de trabalho estão, naturalmente,

as facilidades de conciliação

entre as responsabilidades profissionais

e a vida familiar, mas para quem contrata

os horários flexíveis podem ser um

importante fator de retenção de talento

e de reputação. Mariana Pinto Ramos

tem notado que “algumas empresas já

revelam preocupação em tomar medidas

para combater o burnout e contribuir para

a redução da pegada ecológica, através da

adoção do teletrabalho”, cujo impacto

na redução dos movimentos diários pendulares

dos seus funcionários é inquestionável.

Esta sensibilidade levou vários

clientes a sondar a VdA, assim que veio

a público o tema da implementação da

semana dos quatro dias. O que querem

saber? Sobretudo se “esta é uma medida que pode ser

aplicada transversalmente dentro da organização, ou

se será necessário procurar o acordo pessoa a pessoa”,

esclarece Tiago Piló.

ENSAIOS BEM-SUCEDIDOS

Por coincidência ou talvez não, após o PS ter abordado

pela primeira vez, em maio, o tema da semana dos quatro

dias, houve várias empresas que decidiram testar o

modelo em Portugal. A Feedzai foi uma delas. Alegando

que o seu CEO sempre encorajou as equipas a experimentarem

coisas novas e diferentes, em agosto passado

avançaram para esta fórmula nos vários escritórios

que têm espalhados pelo mundo. Dalia Turner, a VP of

People do unicórnio português, foi quem partilhou nos

media o resultado da experiência: “O serviço aos clientes

foi mantido, nada caiu por terra, todos os objetivos

49


50

“A primeira pergunta que se vai fazer é se haverá ajustes salariais com a semana

dos quatro dias”, alerta Mariana Pinto Ramos, associada senior da VdA

que pretendíamos atingir em agosto foram alcançados”,

afirmou no final do verão. Apesar de terem considerado

este ensaio positivo, na Feedzai dizem ainda

não estar preparados para adotar a semana reduzida

durante o ano inteiro, mas ficou já estabelecido que

doravante, em agosto todos os seus 500 colaboradores

vão ter, semanalmente, menos um dia de trabalho.

Especializada em finanças pessoais e familiares, a

Doutor Finanças foi mais uma empresa portuguesa a

experimentar este modelo no verão passado. Tal como

a Feedzai escolheu agosto e, feito o balanço, considerou

ser esta uma experiência a repetir mas, por enquanto,

só no mês em que por tradição o trabalho

aperta menos.

Apesar de considerarem estas experiências interessantes,

tanto Tiago Piló como Mariana Pinto Ramos

consideram que lhes falta algo essencial para que se

possa avaliar o verdadeiro impacto desta

mudança no país - a representatividade:

“A amostra é muito pequena”, afirmam.

Ambos não descartam a possibilidade de

a redução de horas de trabalho vir a ser

uma tendência a médio ou longo prazo.

De resto, já existe uma iniciativa da UE

para a criação de uma diretiva europeia

que venha a harmonizar as legislações

nacionais nesta matéria. Mas até que

passe a ser uma prática generalizada, “a

semana dos quatro dias de trabalho deverá

começar por partir de experiências

concretas do empresariado. Depois o legislador

vai atrás”, defendem.

Entretanto os modelos híbridos, que

combinam o trabalho presencial e o trabalho

remoto, fazem o seu caminho, ganhando

cada vez mais popularidade. A

sua elevada aprovação tem encorajado

organizações públicas e privadas a continuar

por essa via. É o caso da Farfetch.

Ana Sousa, a sua VP of People, diz que na

empresa se aposta na “política de flexibilidade

e não na “redução de horários”:

“Esta política, a que chamamos Making

work, work for you, no fundo traduz a nossa

premissa do trabalho se adaptar ao tempo

de cada um e não ao contrário”, afirma.

A expetativa no unicórnio português

é que as suas pessoas “trabalhem 60% do

seu tempo em casa e 40% no escritório”.

Não duvidam de que esta “já não é uma tendência, mas

uma realidade” e que “o mercado português, que foi até

aqui muito conservador no que diz respeito ao regime

de trabalho flexível, vai ter de se adaptar” a este novo

modelo, “se não quiser perder muitos dos seus colaboradores

a longo prazo”.

Os millenials, que já nasceram com asas, e cuja maneira

de estar na vida incorpora muitas destas mudanças

na cultura do trabalho, agradecem. Mas no país dos

baixos salários, uma realidade que tanto tem frustrado

esta geração, resta ainda esclarecer uma questão: pode

a oferta de horários reduzidos vir a ser usada, em

Portugal, como forma de compensação por remunerações

que se quedam abaixo das expetativas? Mariana

Pinto Ramos e Tiago Piló duvidam: “As empresas que o

fizessem perderiam competitividade”.•


apdc news

APDC & VDA | DIGITAL UNION - ECONOMIA DOS DADOS

O ‘combustível’

das organizações

A UE27 quer acelerar a economia de dados mas há ainda muito caminho a percorrer. As empresas defrontam-

-se com diversos entraves. Saber como usar os dados para inovar e criar valor é o desafio. Excesso de regulamentação,

o seu impacto na inovação e os desequilíbrios entre países são ameaças.

Texto de Isabel Travessa

52

youtu.be/Ya2Yn1nbAvo

Precisamos de ter “empresas

mais bem preparadas, que

conheçam as oportunidades e

desafios que existem com os dados

e o que são as políticas europeias

neste domínio”. O alerta é da sócia

responsável da área Comunicações,

Proteção de Dados & Tecnologia da

VdA, no arranque da 4ª sessão da

Digital Union, que decorreu a 11 de

janeiro último. Magda Cocco, que

apresentou a estratégia europeia

para os dados, considera que estes,

em conjunto com as ferramentas

tecnológicas, permitem modelos

de negócio mais inovadores, novos

produtos e serviços, novos processos

e tomar decisões informadas.

São “fundamentais no apoio ao

processo de decisão, permitem

políticas mais eficientes e precisas

para resolver todos os desafios e são

absolutamente core como detonador

da IA e de políticas transformadoras,

levando a novas oportunidades de

crescimento”.

Mas há ameaças e os novos desafios

legais e regulatórios, apesar do

potencial de crescimento dos dados

na Europa ser imenso – Bruxelas antecipa

que o volume global de dados

cresça dos 33 zettabytes registados


Magda Cocco,

Sócia responsável da área Comunicações,

Proteção de Dados & Tecnologia, VdA

Pedro Machado,

Country Senior Director | Data Protection Officer

(DPO), Grupo Ageas Portugal

Moderação - Sandra Fazenda Almeida,

Diretora executiva, APDC

Manuel Dias,

National Technology Officer, Microsoft

Ricardo Rosa,

Head of Innovation, Sonae Sierra

Moderação - Tiago Bessa,

Sócio da área de Comunicações, Proteção de

Dados & Tecnologia, PI Transacional, VdA

em 2018 para 175 zetabytes em 2025.

Acredita-se que com as políticas e

os investimentos adequados, seja

da CE, dos Estados-membros e das

empresas, a UE possa aproveitar as

oportunidades associadas à mudança

de paradigma e tornar-se líder

nos dados.

Mas num ecossistema complexo

como é o da economia de dados,

que envolve várias entidades em

áreas como a cibersegurança,

proteção de dados, concorrência,

promoção de dados abertos e concorrência,

“muitas vezes não existe

um entendimento claro dos seus

players”. Por isso, Bruxelas apresentou

no final de 2020 uma estratégia

para responder a vários desafios:

fragmentação entre Estados-membros,

pouca disponibilidade dos

dados, dados para o bem comum,

assimetrias de poder, qualidade e

interoperabilidade, governação, infraestruturas

e tecnologias, capacitação

das pessoas, literacia dos dados

e cibersegurança. O desafio é, no

âmbito da estratégia definida e dos

múltiplos instrumentos legais, gerir

as “alterações, que são

muito impactantes para

as empresas”.

INCENTIVAR OU

TRAVAR INOVAÇÃO?

A estratégia comunitária

é vista com otimismo

pelos players, tendo em

conta o enorme potencial

dos dados na criação de valor

para a economia e sociedade. Mas

estes alertam para os enormes desafios

que ainda persistem, nomeadamente

o risco de se ter um quadro

regulamentar demasiado extensivo,

o que poderá travar a inovação e,

por essa via, a competitividade do

espaço comunitário num cenário

mundial. Acrescem as desigualdades

entre Estados-membros.

Manuel Dias, national technology

officer da Microsoft, não tem dúvidas

de que a Europa e Portugal têm um

enorme potencial

na utilização

da informação.

É preciso perceber

como obter

valor económico

dos dados,

porque “o

desenvolvimento

económico e

a partilha de informação dentro de

Portugal e entre Estados-membros é

um fator crucial de competitividade.

Acho muito interessante o que a

Europa está a fazer. Não é apenas

uma questão de tecnologia, mas de

regulação e de segurança e privacidade

de dados”.

Destacando que “sem dados não

A estratégia

comunitária é vista

com otimismo pelos

players, tendo em conta

o potencial dos dados

na criação de valor

53


apdc news

54

existe inteligência” e que a economia

dos dados é decisiva para determinar

“vencedores e perdedores“,

Pedro Machado, country senior

director e data protection officer (DPO)

do Grupo Ageas Portugal, diz que as

desigualdades na Europa obrigarão

a uma reflexão que poderá levar a

mais legislação e a pesados regimes

sancionatórios. Há, contudo, que

pensar nos efeitos do quadro regulamentar

na competitividade, até

porque as empresas mais valiosas

do mundo são hoje as que dominam

os dados.

Ricardo Rosa, head of innovation da

Sonae Sierra, considera que “a Europa

continua confusa no conjunto

de conceitos em torno dos dados.

Retirar valor dos dados de negócio e

de eficiência é um campeonato e os

dados pessoais são outro. Quando

os misturamos, dificulta tudo”,

defendendo haver uma espécie de

“esquizofrenia muito real” na forma

como a UE olha para o tema. Já em

Portugal, apesar de um nível elevado

de literacia ao nível das elites, subsiste

uma “cultura de dados muito

difusa sobre o valor na tomada de

decisão. Ainda temos caminho a

andar, em geral”.

Na prática, diz que o que tem vindo

a acontecer ao nível europeu, tendo

em conta a forma como Bruxelas

olha para o tema, é uma crescente

dificuldade em perceber “onde estão

as áreas cinzentas onde nos poderemos

mexer, dentro do que é criar

valor para as empresas e para os

clientes. O que trava a inovação, que

é um dos objetivos da CE”.

Neste período de debate, moderado

por Tiago Bessa, sócio da área

de Comunicações,

As desigualdades na

Europa poderão levar

a mais legislação e

à adoção de pesados

regimes sancionatórios

Proteção de Dados

& Tecnologia, PI

Transacional, da

VdA, e por Sandra

Fazenda Almeida,

diretora executiva

da APDC, o gestor

da Microsoft deixou claro que não se

trata de um problema de tecnologia,

mas de cultura: “É fundamental, para

que as pessoas olhem para a informação

e tomem decisões com base

nela. Mas o grande desafio é incutir

essa ideia. Aqui, o tema da formação

é essencial”.

A Ageas tem tido alguns desafios ao

nível da integração tecnológica, tendo

em conta o ecossistema grande

e complexo de dados, assim como

nos dados pessoais e nas obrigações

de informação. “Os seguros têm tido

uma viagem bastante longa. Reconhecemos

que se esta viagem não

for feita, não conseguimos atingir os

objetivos definidos. Mas há temas de

natureza tecnológica, de literacia, de

cultura, que são bastante complexos”,

explica Pedro Machado.

E o responsável da Sonae Sierra admite

que ainda não é fácil monetizar

os dados. “Estamos todos a apalpar

terreno e a tentar encontrar a

melhor forma de criar valor. Embora

queira entender como a CE vê a

lógica de partilhar dados públicos,

considero que não

é a que faz mais

sentido. Temos de

melhorar a relação

com os clientes e

com isso trazer-lhes

valor. O caminho

está a ser feito e

não é fácil, porque se trata de uma

forma diferente de pensar e atuar,

que tem a ver com a transição para

o digital”.•


apdc news

APDC & VDA | DIGITAL UNION – CONSUMIDOR DIGITAL: NOVAS REGRAS

Encontrar a fórmula

para o sucesso

A 1 de janeiro, entrou em vigor em todo o espaço europeu a nova legislação sobre os direitos dos consumidores,

agora também no digital. Traz novidades, mas também muitos desafios. Sobretudo para as empresas.

Texto de Isabel Travessa

56

youtu.be/E7mrUB54j6k

O

novo pacote legislativo de Bruxelas

começou a ser aplicado

na UE27 a 1 de janeiro último,

tendo como objetivo responder às

mudanças, sobretudo no digital,

criando-se novas regras para proteger

o consumidor. Mas não

veio resolver tudo. Há que ter em

conta um quadro regulatório mais

global e o ritmo de desenvolvimento

do mercado, que é cada vez mais

acelerado. De tal forma que há

quem defenda a necessidade de

haver apenas um documento enquadrador

e flexível, que se ajuste às

condições do momento. A prioridade

deveria ser dada à colaboração entre

consumidores e empresas, com

regras transparentes.

As ideias surgiram da 3ª sessão do

ciclo ‘Digital Union’, uma parceria da

APDC com a VdA, que visa abordar

os grandes temas do digital. Realizado

a 23 de novembro último, teve

como tema as novas regras para o

consumidor digital. Catarina Mascarenhas,

associada coordenadora

da VdA, apresentou os principais

pontos do novo pacote legislativo,

que tem como objetivo responder ao

crescimento da economia digital com

novas regras de proteção jurídica

dos consumidores, criar melhores e

mais eficientes mecanismos de repa-


ação e assegurar uma igualdade de

tratamento a todos os consumidores

europeus.

Com a nova legislação, a harmonização

máxima passa a ser o princípio,

sendo que os Estados-membros não

podem legislar de forma divergente

no âmbito do fornecimento e compra

de conteúdos e serviços digitais.

Há ainda um alargamento dos

prazos dos bens fornecidos, assim

como a clarificação sobre os dados

pessoais como contraprestação,

a aposta na sustentabilidade e na

durabilidade em relação a determinados

bens. Uma das novidades é o

facto de a venda de bens surgir com

serviços digitais incorporados, regulando-se

dessa forma novas realidades

para responder a novos requisitos

de conformidade e garantir uma

maior proteção do consumidor no

mundo digital.

Fernando Resina da Silva,

Partner, VdA

Catarina Mascarenhas,

Associada coordenadora, VdA

Carlos Mauro,

Founder, CLOO Behavioral Insights Unit

Pedro Neves,

eCommerce Offer Development Manager, CTT

Moderação - Sandra Fazenda Almeida,

Diretora executiva, APDC

Moderação - Tiago Bessa,

Partner, VdA

MANIPULAR OU MUDAR

COMPORTAMENTOS?

No debate desta sessão, moderada

por Tiago Bessa, partner da VdA,

e Sandra Fazenda Almeida, diretora

executiva da APDC, o founder

da CLOO Behavioral Insights Unit

começou por destacar os perigos

da tecnologia para o consumidor

e os cuidados que as empresas

devem ter nesta matéria. Segundo

Carlos Mauro, “a utilização das

ciências comportamentais na área

digital pode ser feita apenas para

manipular o comportamento dos

consumidores em benefício das

Luís Silveira Rodrigues,

Vice-Presidente, DECO

57


apdc news

empresas, mas pode também mudar

os comportamentos das pessoas

em temas essenciais, ajudando-as”.

O problema é que, na maioria das

vezes, o objetivo é mesmo manipular

comportamentos.

A transparência terá de ser aposta

e tem de vir “das empresas e dos

próprios profissionais”.

O sonho, para

este responsável, é

“criar um sistema de

transparência nas

plataformas, onde

todas as estratégias

estejam explícitas,

para não ficarem

atrás de uma cortina, sendo o

consumidor sequestrado, enquanto

o regulador ignora esta utilização”,

refere.

Luís Silveira Rodrigues, vice-presidente

da DECO, acrescenta que é

essencial que o consumidor sinta

segurança. Até porque a pandemia

empurrou as pessoas para o mundo

digital e o e-commerce. A legislação

que agora entrou em vigor “ajuda a

criar esta confiança, pelo menos nos

litígios mais evidentes. É um trabalho

sério encontrar o equilíbrio”. Mas

há pontos negativos, a começar

pela definição de uma hierarquia na

resolução dos conflitos. “Sempre defendi

a existência de uma hierarquia

Nos últimos anos

registou-se um

reforço dos direitos

dos consumidores em

Portugal

de bom-senso e não um caminho

obrigatório, que pode trazer para os

consumidores problemas significativos”,

garante.

Numa perspetiva empresarial e da

rede de logística nas compras online,

o eCommerce offer development

manager dos CTT diz que “a pandemia

veio incentivar

as pessoas a

entrarem online, de

uma forma quase

forçada. Passaram

para um contexto

de compra digital,

com toda a impreparação

e novidade

que isso trouxe. O reforço dos meios

de defesa do consumidor é sempre

bem-vindo, porque é uma nova

realidade”.

Mas Pedro Neves considera que “há

outras forças, que têm a ver com as

plataformas com poder de mercado

substancial e relevante. Estas podem

criar distorções na relação entre a

prestação do serviço e o próprio

consumidor”, criando problemas de

competitividade entre as plataformas

nacionais e multinacionais. Até

porque as regras são distintas. Ainda

assim, “o nível de maturidade do

e-commerce em Portugal, do ponto

de vista da relação, está numa fase

de desenvolvimento atrasada face à

Europa”.

Numa perspetiva de defesa do

consumidor, que é vulnerável face às

múltiplas estratégias de venda das

empresas, Carlos Mauro defende

a necessidade de haver ética e

transparência. “A grande revolução

seria dizer que se usam as ciências

comportamentais de forma transparente.

É o que marca a diferença da

manipulação”, diz, considerando que

as organizações deveriam clarificar

as suas estratégias neste âmbito.

Ainda assim, registou-se um reforço

dos direitos dos consumidores nos

últimos anos. Para o responsável

da DECO, a relação entre consumidores

e empresas tem que ser vista

não num cenário de conflito, mas

de colaboração, essencial para que

as coisas corram bem. Com esta

convicção, considera que “vivemos

num tempo de uma certa verborreia

legislativa, quando a legislação

não resolve tudo. Deveria ser mais

enquadradora, para permitir uma

adaptação à realidade, com flexibilidade.

Infelizmente, esta é uma

tendência da Europa, a de ter muitos

diplomas”.•


inetum.com


apdc news

WEBMORNING - INTELLIGENT WORKFLOWS

Construir inteligência

O tema dos fluxos de trabalho inteligentes começa a estar no centro de todas as estratégias. Dele depende a

preparação das organizações para um mercado em grande mudança e cada vez mais digital. As soluções estão

disponíveis e agora é preciso avançar em força.

Texto de Isabel Travessa

youtu.be/yu0FqoOeMgo

conhecimento geral que o tema dos

fluxos de trabalho inteligentes, os

intelligent workflows, é cada vez mais

importante para as organizações.

Seja numa perspetiva de automação

das tarefas básicas, ou de mudar

a estratégia e o

contexto em que se

trabalha.

Paulo Rodrigues Silva,

associate partner

para o Financial Services

Sector da IBM

Consulting, deixa

claro que a nova era

digital acelerou exponencialmente

com a pandemia e

que, graças aos mais recentes avanços

tecnológicos, está já disponível a

híper automação, que abre caminho

à maior produtividade, redução de

As empresas já

começaram a fazer

mudanças significativas

nos seus processos,

mas só em resposta a

problemas concretos

A

pandemia acelerou e alterou as

estratégias das empresas. Mas,

para já, as grandes mudanças

resultam de fatores exógenos e

iniciam-se por pequenos projetos

assentes em soluções tecnológicas.

Só percebidos os benefícios é que as

alterações serão alargadas a toda a

organização. O próximo passo terá

de passar pela utilização das novas

tecnologias para levar os workflows

ao ecossistema, através de um processo

verdadeiramente colaborativo.

Neste Weborning APDC, que decorreu

a 30 de novembro, em parceria

com a IBM, ficou claro que há um recustos

e geração de novas receitas.

Assentando os workflows inteligentes

na utilização das mais recentes

tecnologias, como IA, analítica de dados,

automação e machine learning,

permite acrescentar capacidade aos

fluxos de trabalho

das organizações,

suportando todas

as operações e as

decisões tomadas.

Tendo em conta que

a nova era digital

trouxe inúmeros

desafios às organizações,

especialmente

nos últimos dois anos,

obrigando a repensar tudo, desde

os clientes aos trabalhadores, as

tecnologias permitem “automatizar

as tarefas mais repetitivas”, otimizar

60


processos, minimizar riscos, reduzir

custos e trazer eficiência. Além da

oferta de experiências personalizadas

aos clientes. Para o gestor, “este

é o tempo de repensar a arquitetura

e o enquadramento dos processos

de negócio”.

MOSTRAR VALOR ACRESCENTADO

As empresas já começaram a operar

uma mudança significativa nos seus

processos, mas sempre em resposta

a um problema concreto que têm

de resolver. Por isso, há ainda muito

por fazer, como ficou evidente no

debate entre os vários intervenientes

da cadeia de valor da oferta de

fluxos de trabalho inteligentes, moderado

por Sandra Fazenda Almeida,

diretora executiva da APDC.

Guilherme Dias, sales director do

SAS, defende que há que olhar “para

toda a cadeia de valor, desde que

começamos a recolher a informação,

para tudo ser feito da forma mais

rápida, sustentável, eficaz e eficiente,

garantindo a entrega de valor imediato

ao cliente. O que só é possível

com a capacidade de usar as novas

tecnologias para trazer valor acrescentado”.

Mas os temas ligados aos intelligent

workflows ainda são “encarados muitas

vezes como futuristas”, avança

João Fernandes, CEO da DocDigitizer,

startup tecnológica portuguesa que

disponibiliza uma ferramenta baseada

em IA que permite a automatização

de processos documentais,

sem qualquer intervenção humana,

alimentando os workflows das organizações.

Cabe aos fornecedores

“ajudar a criar awareness”, porque

sendo temas muito tecnológicos têm

impactos práticos nas empresas e

na economia. Mais: as máquinas não

vão substituir as pessoas, para quem

ficam as tarefas mais complexas,

que requerem conhecimento de

negócio e raciocínio.

Luís Ganhão, vice president solution

engineering do global center of

excellence da Celonis, acrescenta que

“tudo começa como um desafio. Muitos

dos nossos clientes não sabem o

que não sabem. Não sabem que os

processos não correm como gostariam

ou à velocidade que querem ou

com o resultado que querem”. Para

o gestor, estamos “num momento da

história muito importante, porque

juntámos big data, IA e automação”

em termos de process mining. Permite

medir constantemente e em real

time “como é que os processos de

negócio estão a ser executados”, trazendo

valor acrescentado à organização,

já que se “percebe a situação

e reage-se de forma inteligente”.

Trata-se de uma mudança que tem

de ser feita gradualmente, acrescenta

João Fernandes, até porque

“as empresas são quase forçadas

pela economia ou pelos clientes

a lançarem-se no processo e não

por razões estratégicas. O que não

quer dizer que esta jornada não se

transforma em estratégica. O que é

preciso é dar o primeiro passo e ver

os benefícios”.

Também Guilherme Dias e Paulo Rodrigues

Silva sentem esta realidade.

“As grandes mudanças nas organizações

são sempre motivadas por

fatores exógenos, fazendo pequenos

passos de transformação. O que

temos visto é que vamos fazendo

pequenos projetos que depois se

vão alargando à organização, porque

se vêm os benefícios”, diz o primeiro.

“A minha experiência, sobretudo em

Portugal, é de que algumas organizações

já estão a operar uma mudança

significativa nos workflows inteligentes,

porque procuramos soluções

para dar resposta a problemas

concretos”, acrescenta o segundo.

Afinal, esta é “uma mudança extraordinária”.•

Paulo Rodrigues Silva,

Associate Partner, Financial Services Sector,

IBM Consulting

Guilherme Dias,

Sales Director, SAS

João Fernandes,

CEO, DocDigitizer

Luís Ganhão,

Vice President Solution Engineering,

Global Center of Excellence, Celonis

Moderação: Sandra Fazenda Almeida,

Diretora Executiva, APDC

61


apdc news

WEBMORNING - CIO: AGENTES DA MUDANÇA

Os ‘super-heróis’

das organizações

Saber como usar a tecnologia para criar valor é o desafio de todas as empresas. Por isso, o papel dos CIO é

vital, já que têm um conjunto de competências que se interligam e o poder de criar oportunidades de negócios

e otimizar operações.

Texto de Isabel Travessa

62

youtu.be/uzb2QiaL7eg

Para fazer face aos desafios de

mercado, que obrigam a uma

transição digital acelerada,

num processo que se assume como

uma verdadeira revolução, o papel

dos CIO é absolutamente crítico. De

tal forma que são mesmo considerados

os novos ‘super-heróis’ das

organizações. Não se trata apenas

de introduzir tecnologia, mas sim de

ter um conhecimento transversal da

organização para saber como usar

as soluções tecnológicas para criar

valor. O que implica terem de assumir

um papel estratégico e contar

não só com o apoio das lideranças,

mas de toda a empresa. A mudança

está em marcha.

No WebMorning APDC, em parceria

com a Logicalis, realizado a 17 de novembro

de 2021, foi apresentado o

CIO Survey 2021, um inquérito global

realizado pela Logicalis nos 28 países

onde está presente, que conclui que

os chief information officer (CIO) são

verdadeiros agentes de mudança

nas organizações, já que não só

podem desbloquear o potencial de

dados para impulsionar a estratégia

do negócio e acelerar o crescimento,

como são os responsáveis por uma

cultura de inovação e pelo local de

trabalho digital. Nas suas prioridades

estão ainda a continuidade do

negócio, a resiliência e a mitigação

do risco.

Neuza Alcobio, marketing & communications

director da Logicalis, que

apresentou as principais conclusões

deste relatório, refere que estes

profissionais viram as suas responsabilidades

fortemente reforçadas

na sequência da pandemia, num

conjunto de competências que

se interligam. Nomeadamente na

construção de uma relação com os

clientes no mundo digital.

Para aproveitar todo o valor dos

dados, “as empresas precisam de


Neuza Alcobio,

Marketing & Communications director,

Logicalis

Rui Ribeiro,

General manager, IP Telecom

Moderação - Luís Lança,

Diretor comercial, Logicalis

Joana Rafael,

COO, Sensei

Cláudia Alho,

CIO, Credibom

Teresa Girbal,

CIO, eSPap, I.P.

Moderação - Sandra Fazenda Almeida,

Diretora executiva, APDC

agilidade tecnológica, capacidade de

ganhar escala e de processos mais

robustos. Os sistemas baseados

em cloud poderão desempenhar

um papel essencial”. O que significa

maiores responsabilidades para os

CIO. Criar uma cultura de inovação,

adotar soluções de colaboração robustas

e garantir a continuidade do

negócio, a resiliência e a mitigação

do risco são outros desafios.

Mas como estão as organizações a lidar

com o desafio da transformação

digital nos vários setores de atividade?

As visões dos oradores que participaram

no debate sobre o tema,

moderado por Luís Lança, diretor

comercial da Logicalis, e por Sandra

Fazenda Almeida, diretora executiva

da APDC, são muito similares.

Cláudia Alho, CIO da Credibom,

destaca duas grandes dimensões/

prioridades da mudança: a tecnológica

e a do modelo operacional. O

papel do CIO, “enquanto dinamizador

tecnológico que está a mudar o

próprio paradigma das organizações,

é o de olhar para a tecnologia como

um diferenciador ao nível estratégico.

Em termos de modelo operativo,

“o paradigma é de uma estreita

colaboração com negócio e IT, com

a utilização de novas metodologias

e funções para este novo paradigma

digital”.

Já para a startup portuguesa Sensei,

que criou uma solução de IA para o

retalho, que permite fazer compras

num supermercado sem ter de parar

numa caixa, a sua COO não tem

dúvidas de que a pandemia foi o

maior acelerador. Joana Rafael, que

é também cofundadora da Sensei,

considera que “trazer tecnologias

como a IA e o machine learning para

a loja e dar uma nova experiência ao

cliente e uma gestão mais eficiente

é essencial. As

transformações dos

últimos tempos têm,

sem dúvida, acelerado

esta mudança”.

No caso de empresas

com um

histórico e sistemas

legacy, saber implementar a mudança

e a transformação digital é um

enorme desafio, porque se trata de

“saber como mudar processos e não

despejar tecnologia nos processos”,

como refere Rui Ribeiro. O general

manager da IP Telecom partilha a

opinião de que o CIO é, de facto,

o novo super-herói dentro das

empresas, porque tem que perceber

de negócio, tecnologia, psicologia,

Enquanto dinamizador

tecnológico, o CIO está

a mudar o próprio

paradigma das

organizações

logística, integração…”. E as organizações,

dentro da sua cadeia de valor,

têm de colocar as áreas do IT num

papel estratégico.

No setor público, os desafios são similares,

mas ainda mais complexos,

porque há que ganhar agilidade e

inovação e de mudar procedimentos

e culturas. Concordando que “um

CIO é um agente impulsionador da

mudança e da abordagem”, Teresa

Girbal, vice-presidente da eSPap,

diz que este é um processo gradual:

“ainda hoje estamos a melhorar a

forma de adoção da

cloud de forma segura

e inteligente na

AP, uma ferramenta

imprescindível para

a mudança”.

Para Teresa Girbal,

“a pandemia foi um

dos grandes impulsionadores da tecnologia,

mas também veio mostrar

que é possível quebrar tabus, como

a possibilidade do trabalho remoto.

O que traz mais mudanças, uma vez

que o trabalho tem de ser medido

pelos resultados, quando os processos

não se mudaram. Há ainda

muito por fazer”.•

63


OS QUATRO MAGNÍFICOS

da iLoF

Em 2019 lançaram uma start-up que é um spinoff de institutos das

universidades do Porto e de Oxford. Chamaram-lhe iLoF e o seu objetivo

é revolucionar o tratamento de doenças complexas, como o Alzheimer.

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDA

Joana Paiva, Luís Valente, Paula Sampaio e Mehak Mumtaz juntaram o seu talento para descobrir soluções para o tratamento de

doenças a que a Medicina ainda não dá resposta

64


cidadania

Começaram bem. O Financial Times

selecionou a iLoF como um dos sete

negócios mais transformadores em

saúde em 2020; a CB Insights colocou-a

na lista das 150 empresas mais promissoras

na área da saúde digital; e a Forbes

elogiou o talento dos seus fundadores. Luís

Valente, formado em Engenharia Eletrotécnica

(CEO), Paula Sampaio, doutorada em

Bioquímica (diretora científica), Joana Paiva,

doutorada em Física (diretora técnica) e

Mehak Mumtaz, investigadora em Oxford

(diretora de produto e operações) são os quatro

magníficos que se juntaram para responder

ao desafio lançado pelo programa da CE

Wild Card, destinado a apoiar equipas com

soluções transformadoras na área da saúde.

Partilhando a convicção de que é urgente

mudar a forma como os medicamentos são

desenvolvidos, numa época em que doenças

complexas e heterogéneas como a Parkinsson

e a Alzheimer estão a proliferar como nunca,

juntaram o seu conhecimento. Através da

Inteligência Artificial e da Fotónica, usando

grandes quantidades de informação sobre

os dados biológicos dos pacientes, começaram

a criar perfis biológicos que ajudam os

investigadores nos hospitais e na indústria

farmacêutica a desenvolver medicamentos

personalizados. Luís Valente diz que esta

personalização é o futuro: “No que respeita

às doenças que se manifestam de forma diferente

em pacientes diferentes, o mesmo

medicamento não serve para toda a gente.

Daí que doenças tão complexas como

Alzheimer ou certos tipos de cancro ainda

não tenham cura. A indústria e a ciência

precisam, desesperadamente, de

formas mais eficientes de desenvolver medicamentos

mais personalizados, pois são esses

que funcionam neste tipo de doenças”.

Os dados, sublinha Luís Valente, falam por

si: “No caso da Alzheimer, nos últimos 14

anos houve cerca de 400 estudos clínicos falhados

e zero tratamentos com aceitação

clínica, porque durante este tempo as farmacêuticas

têm testado estes medicamentos

na população em geral e os resultados

não são estatisticamente relevantes. Por isso

são postos de lado. Agora a expetativa da comunidade

científica é que, provavelmente,

parte dos medicamentos que já foram testados

funcionam, mas não em toda a gente.

Se conseguirmos descobrir qual é a parte da

população que podia beneficiar desses tratamentos,

então seria possível aprová-los. E não

resolveríamos o problema a todas as pessoas

com Alzheimer, mas a parte dessas pessoas”.

Com base neste conhecimento, o CEO da iLof

considera “estar mais do que provado” que

em doenças como Parkinsson, Alzheimer,

certos tipos de cancro e até viroses como a

Covid-19 “não vai haver um medicamento

que trate todos os pacientes. Por isso, a indústria

farmacêutica não terá alternativa se não

desenvolver medicamentos que resolvam o

problema parcialmente. Não é, obviamente,

o que dá mais lucro, mas é a única opção”.

Para proceder à personalização dos medicamentos,

a iLoF retira informação dos

fluidos biológicos colhidos dos pacientes

através de amostras de sangue. A partir

daí elabora um perfil completo, com

dados genómicos, proteómicos e metabolómicos,

o que lhe permite capturar

muita informação relevante que indique

como vai o paciente reagir a um determinado

medicamento ou, no âmbito

da prevenção, a determinada doença.

Vários setores de investigação ligados à saúde

manifestaram interesse em alinhar com a

iLoF para desbravar este caminho: “Estamos

a trabalhar com dois grupos farmacêuticos

mundiais e algumas biotechs no Reino Unido,

nos EUA e também com alguns hospitais.

Em Portugal, temos uma parceria umbilical

com o hospital de S. João do Porto e a Faculdade

de Medicina da Universidade do Porto.

Temos também colaborado com grupos

de investigação em Lisboa, como é o caso do

hospital de Amadora-Sintra e num centro de

investigação da Universidade de Coimbra”.

Investidores também não têm faltado. A iLoF

já recebeu um financiamento de 2 milhões de

euros via CE e 1 milhão via Microsoft Ventures,

o braço de investimento da Microsoft. A

norte-americana Mayfield também apoia esta

start-up cujo talento é maioritariamente português.

Neste momento está a fechar-se uma

ronda semente de 4 milhões de dólares. O futuro

é deles.•

65


ultimas

TECNOLOGIA DOBRÁVEL CHEGA AOS SMARTPHONES

HÁ UNS ANOS, dobrar e abrir o ecrã de um telemóvel parecia ser uma tarefa impossível. Mas os

impressionantes avanços tecnológicos permitiram torná-la possível. O novo Huawei P50 Pocket,

com um design de dobradiça de vanguarda, multidimensional, totalmente novo e exclusivo na

indústria, é já uma realidade. O seu design cria um encaixe perfeito quando o telefone é dobrado,

ocultando qualquer dobra visível quando aberto. As animações ajustam-se automaticamente

no ecrã, criando um efeito visual onde as duas metades do mesmo se unem e transformam

num todo integrado, permitindo ver ainda mais detalhes. Promete elevada durabilidade e

resistência a quedas, para proporcionar uma experiência perfeita.•

INOVAR NO INTERIOR COM MAIS COMPETÊNCIAS

ACELERAR A TRANSFORMAÇÃO digital e coesão territorial do Alto Alentejo,

através da criação de um polo de competências em parceria com o município de

Ponte de Sor, onde funcionará um novo espaço de empreendedorismo e inovação

coberto com 5G, foi o objetivo da NOS. No novo espaço, vai criar 25 postos

de trabalho altamente qualificados para o desenvolvimento de projetos e use

cases no âmbito da Engenharia Informática e Eletrotécnica. O operador vai ainda,

com o Instituto Politécnico de Portalegre (IPP), lançar já em 2022 um novo curso

para formar talento através de um Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP)

em Programação Ágil e Segurança de Sistemas de Informação.•

FOTOS CEDIDAS

66


CAPACITAR EMPRESAS E PRESTADORES COM IOT

CHAMA-SE IoT Accelerator Connect e assume-se

como uma plataforma de IoT celular, fiável e segura,

que capacita prestadores de serviços de comunicação

e empresas em todo o mundo a redimensionar o seu

negócio de IoT em dezenas de milhões de dispositivos.

Trata-se de uma oferta que transforma as

vendas digitais no âmbito do ecossistema de IoT, com

opções de conectividade com um clique. A ligação

dos dispositivos e a integração instantânea simplificam

ainda mais e aumentam a implementação com

sucesso de projetos de IoT empresariais, garante a

Ericsson. A fabricante diz que esta oferta aborda todos

os desafios de uma integração, transformando as

vendas digitais, automatizando os processos empresariais

dentro do ecossistema de IoT e correspondendo

às necessidades dos utilizadores.•

PROMOVER O PAÍS

A UMA SÓ VELOCIDADE

PROMOVER UM PAÍS a uma só velocidade e a tecnologia como ativo ao

serviço de todos os portugueses é o objetivo da Altice Portugal, que

diz ter já cerca de metade da população no território nacional com

acesso ao 5G, sendo que todos os tarifários MEO são compatíveis com

a nova geração móvel. O operador tem desde 1 de janeiro a oferta

5G disponível em todas as capitais de distrito, estando a decorrer um

período de experimentação gratuita até 31 de março, tal como as concorrentes

Vodafone e NOS. O grupo assegura ter 6 milhões de casas

e de empresas com fibra ótica e uma rede móvel 4G com cobertura

praticamente integral da população (99,7%), incluindo nas ilhas: a

Madeira tinha, no final de 2021, 97% de cobertura de fibra e 99,5% de

cobertura móvel; e os Açores 97% de cobertura de fibra e 97,3% de

cobertura móvel 4G.•

67


ultimas

À PROVA DE AMBIENTES MISTOS DE APRENDIZAGEM

A PANDEMIA de Covid-19 alterou para sempre o ensino e a aprendizagem, que saíram definitivamente

da sala de aula. O PC é agora uma ferramenta crítica para a aprendizagem digital e os estudantes querem

dispositivos que resistam ao desgaste diário, que os ajude a ligar-se às salas de aula digitais e que

facilitem melhores resultados. Com esse objetivo, a HP lançou os portáteis HP Fortis, um novo portfólio

de PC concebidos para resistir aos desafios dos novos ambientes educativos. Construído para alunos

ativos e em movimento, o novo portfólio tem a resistência e durabilidade necessárias para ajudar a

suportar quedas, resistir a derrames e manter as teclas. As superfícies texturizadas tornam mais fácil

para estudantes de todas as idades agarrar e manusear estes dispositivos leves.•

POTENCIAR TALENTO TECNOLÓGICO

SÃO TRÊS OS PROGRAMAS Youth destinados a estudantes de licenciatura

e/ou mestrado e a recém-licenciados ou recém-mestres:

o Vodafone Youth Discover Graduates vai selecionar e integrar

finalistas de mestrado e recém-mestres de elevado potencial

nos quadros da Vodafone Portugal, preparando-os para serem

os próximos líderes; o programa de estágios Vodafone Youth

Internships – para o qual são elegíveis estudantes de licenciatura

e de mestrado – tem a duração máxima de um ano e candidaturas

abertas todo o ano no site da Vodafone; e Vodafone Youth

Summer Internships, que decorre entre junho e setembro. Os dois

primeiros realizam-se ao longo do ano, o último tem inscrições

abertas até 15 de maio. Com estas iniciativas, a Vodafone vai abrir

80 vagas, todas remuneradas, em áreas como big data & analytics;

IT - software engineering; network (com projetos de 5G); IoT; TV; e

social media, contribuindo para consolidar a empresa como tech

comms company.•

FOTOS CEDIDAS

68


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