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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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METAVERSO<br />

O FUTURO EM 3D<br />

5G EM PORTUGAL<br />

A HORA DA VERDADE<br />

SEMANA DOS 4 DIAS<br />

SONHO OU REALIDADE?<br />

N.º <strong>241</strong> • MARÇO 2022 | ANO 35 • PORTUGAL • 3,25€<br />

JOANA MENDONÇA,<br />

PRESIDENTE DA ANI<br />

A ARTE DE<br />

CULTIVAR IDEIAS


“Parceiro do Ano”<br />

dos 5 lí<strong>de</strong>res em Cloud. *<br />

PARTNER<br />

A Devoteam chegou a Portugal, assumindo um novo posicionamento,<br />

novas competências e um reforço do investimento no mercado tecnológico português.<br />

Com uma vasta experiência em cloud, data, <strong>de</strong>sign e cibersegurança, escolha a<br />

Devoteam e os seus 8.000 especialistas para acelerar a sua jornada digital.<br />

* Reconhecimentos Devoteam: AWS Migration Partner of the Year 2021 - France;<br />

EMEA Partner of the Year Reseller 2021 da Google Cloud; 2021 Partner of the Year France da Microsoft;<br />

Implementation Partner of the Year 20/21 <strong>de</strong> SalesForce e Global Partner Award Winner 2021 <strong>de</strong> ServiceNow.<br />

Para conhecer<br />

melhor a Devoteam,<br />

visite o website<br />

Creative tech for Better Change


edit orial<br />

Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC<br />

Um ano <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios<br />

e oportunida<strong>de</strong>s<br />

Como comemoramos em março o Dia Internacional<br />

da Mulher, volto a assumir o<br />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong>ste editorial. É mais uma honra,<br />

das muitas que tenho acumulado <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que cheguei à APDC, que me têm <strong>de</strong>safiado<br />

continuamente e levado muito além do que acreditava<br />

ser capaz. Ser mulher é justamente isso,<br />

é acreditar nas nossas capacida<strong>de</strong>s num espaço<br />

público ainda dominado por homens, como refere<br />

<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, Presi<strong>de</strong>nte da ANI, a nossa<br />

entrevistada da capa <strong>de</strong>sta edição.<br />

É que se o valor das mulheres na ciência, inovação<br />

e ambiente está <strong>de</strong>monstrado, como afirmou<br />

o secretário-geral da ONU, António Guterres,<br />

a realida<strong>de</strong> mostra que a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género<br />

nos cargos mais elevados <strong>de</strong>morará 130 anos a ser<br />

alcançada. Por isso, ainda há muito por alcançar.<br />

E os <strong>de</strong>safios não se ficam por aqui. Quando<br />

se pensava que 2022 seria sinónimo <strong>de</strong> crescimento<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento, com a aposta na dupla<br />

transição - ver<strong>de</strong> e digital – para um futuro<br />

comum mais sustentado, fomos confrontados<br />

com invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra na<br />

Europa é a mais digital <strong>de</strong> sempre, com os protagonistas<br />

a utilizarem o digital para comunicar,<br />

lançar <strong>de</strong>sinformação ou propaganda, hackear<br />

alvos ou recolher informação operacional. No<br />

momento em que escrevemos, tudo continua<br />

em aberto, mas os impactos na economia já se<br />

começam a sentir.<br />

A realida<strong>de</strong> mostra que um dos gran<strong>de</strong>s temas<br />

<strong>de</strong> 2022 é a cibersegurança, a par do 5G e do<br />

metaverso. São temas que a APDC quer <strong>de</strong>bater<br />

para preparar o futuro e, nesse contexto, avançámos<br />

com um novo projeto, que chamámos <strong>de</strong><br />

Hot Topics. Os primeiros episódios foram <strong>de</strong>dicados<br />

ao 5G, com protagonistas da linha da frente<br />

na sua implementação. Po<strong>de</strong>rá ver nesta edição<br />

quais as perspetivas para a nova tecnologia<br />

móvel. Para metaverso e tecnologias imersivas,<br />

convidámos Luís Bravo Martins, responsável<br />

<strong>de</strong>sta seção na APDC.<br />

Já po<strong>de</strong> também reservar a sua agenda para os<br />

dias 11 e 12 <strong>de</strong> maio, para o nosso 31º Digital Business<br />

Congress. O tema será “Tech & Economics<br />

– the way forward”, num evento que terá este<br />

ano como presi<strong>de</strong>nte o Dr. Paulo Portas. Vamos<br />

realizar mais uma vez um congresso em formato<br />

híbrido, voltando a contar com o know-how<br />

da RTP e dos seus dois jornalistas – João A<strong>de</strong>lino<br />

Faria e Cristina Esteves – para conduzirem dois<br />

dias <strong>de</strong> intenso <strong>de</strong>bate numa lógica <strong>de</strong> programa<br />

<strong>de</strong> televisão. Contaremos com prestigiados oradores,<br />

que vão apresentar o presente e antecipar<br />

o impacto <strong>de</strong>stes temas na socieda<strong>de</strong> e economia.<br />

Por isso, não perca! •<br />

3


sumario<br />

FICHA TÉCNICA<br />

<strong>COMUNICAÇÕES</strong> 240<br />

Proprieda<strong>de</strong> e Edição<br />

A ABRIR 6<br />

5 PERGUNTAS A 12<br />

Sofia Vaz Pires, CEO da Ericsson Portugal<br />

À CONVERSA 14<br />

<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, presi<strong>de</strong>nte do Conselho<br />

<strong>de</strong> Administração da ANI, faz da inovação o<br />

seu mantra<br />

EM DESTAQUE 26<br />

Gran<strong>de</strong>s empresas tecnológicas disputam<br />

um lugar ao Sol no... Metaverso<br />

I TECH 32<br />

Bernardo Correia, country manager Portugal<br />

da Google<br />

NEGÓCIOS 34<br />

Com o 5G já disponível, o que vai acontecer<br />

no mercado português?<br />

MANAGEMENT 44<br />

A semana dos quatro dias é uma boa i<strong>de</strong>ia,<br />

ou apenas um wishful thinking?<br />

APDC NEWS 50<br />

CIDADANIA DIGITAL 62<br />

iLoF, inovação na saú<strong>de</strong> ma<strong>de</strong> in Portugal<br />

ÚLTIMAS 64<br />

14<br />

26<br />

34<br />

44<br />

APDC – Associação Portuguesa<br />

para o Desenvolvimento das<br />

Comunicações<br />

Diretora executiva<br />

Sandra Fazenda Almeida<br />

sandra.almeida@apdc.pt<br />

Rua Tomás Ribeiro, 43, 8.º<br />

1050-225 Lisboa<br />

Tel.: 213 129 670<br />

Fax: 213 129 688<br />

Email: geral@apdc.pt<br />

NIPC: 501 607 749<br />

Diretor<br />

Eduardo Fitas<br />

eduardo.fitas@accenture.com<br />

Chefe <strong>de</strong> redação<br />

Isabel Travessa<br />

isabel.travessa@apdc.pt<br />

Secretária <strong>de</strong> redação<br />

Laura Silva<br />

laura.silva@apdc.pt<br />

Publicida<strong>de</strong><br />

Isabel Viana<br />

isabel.viana@apdc.pt<br />

Conselho editorial<br />

Abel Aguiar, Bernardo Correia, Bruno<br />

Casadinho, Carlos Leite, Eduardo Fitas,<br />

Filipa Carvalho, Francisco Febrero,<br />

Francisco Maria Balsemão, Guilherme<br />

Dias, Helena Féria, João Zúquete, José<br />

Correia, Luís Urmal Carrasqueira, Manuel<br />

Maria Correia, Marina Ramos, Miguel<br />

Almeida, Olívia Mira, Pedro Faustino,<br />

Pedro Gonçalves, Pedro Tavares, Ricardo<br />

Martinho, Rogério Carapuça, Vicente<br />

Huertas Prado e Vladimiro Feliz<br />

Edição<br />

Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />

Av. 5 <strong>de</strong> Outubro, 72, 4.º D<br />

1050-052 Lisboa<br />

Coor<strong>de</strong>nação editorial<br />

Ana Rita Ramos<br />

anarr@haveaniceday.pt<br />

Edição<br />

Teresa Ribeiro<br />

teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />

Design<br />

Mário C. Pedro<br />

marioeditorial.com<br />

Fotografia<br />

Vítor Gordo/Syncview<br />

Periodicida<strong>de</strong><br />

Trimestral<br />

Tiragem<br />

3.000 exemplares<br />

Preço <strong>de</strong> capa<br />

3,25 €<br />

Depósito legal<br />

2028/83<br />

Registo internacional<br />

ISSN 0870-4449<br />

ICS N.º 110 928<br />

4


a abrir<br />

MODELOS DE NEGÓCIO<br />

DOS NOVOS TEMPOS<br />

DEPOIS DE QUASE DOIS ANOS <strong>de</strong> disrupção<br />

provocada pela pan<strong>de</strong>mia, que<br />

resultou numa mudança na relação das<br />

pessoas com o trabalho, o consumismo,<br />

a tecnologia e o planeta, as empresas<br />

terão <strong>de</strong> saber <strong>de</strong>senhar novos<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócio. A 15ª<br />

edição das Fjord Trends,<br />

da Accenture Interactive,<br />

diz que há que repensar<br />

abordagens ao <strong>de</strong>sign,<br />

inovação e crescimento.<br />

Destacam-se cinco comportamentos<br />

e tendências que<br />

vão afetar a socieda<strong>de</strong>, a<br />

cultura e os negócios: come<br />

as you are (individualismo<br />

crescente); the end of abundance<br />

thinking (mudança<br />

no ‘pensamento <strong>de</strong> abundância’);<br />

the next frontier<br />

(potenciada pelo metaverso);<br />

this much is true<br />

(capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta<br />

imediata); e handle with<br />

care (<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> cuidar).<br />

Segundo este relatório, à<br />

medida que os consumidores<br />

reformulam todas<br />

as relações, as marcas<br />

terão <strong>de</strong> cuidar do mundo<br />

atual e construir o<br />

futuro. A chave está em<br />

compreen<strong>de</strong>r os impactos<br />

<strong>de</strong>ssas relações e<br />

aspirações e convertê-los<br />

em estratégias robustas <strong>de</strong> negócio<br />

que impulsionem a relevância<br />

e o crescimento.•<br />

Depois da pan<strong>de</strong>mia,<br />

os consumidores<br />

ten<strong>de</strong>m a<br />

reformular todas<br />

as suas relações e<br />

as marcas terão <strong>de</strong><br />

saber acompanhar<br />

PRIVACIDADE É CADA VEZ<br />

MAIS CRÍTICA<br />

A PRIVACIDADE é agora um verda<strong>de</strong>iro imperativo empresarial e<br />

uma componente crítica da confiança dos clientes nas organizações.<br />

Por isso, as empresas estão a investir forte neste âmbito e estão a<br />

conseguir obter um elevado retorno <strong>de</strong>sta aposta. O Data Privacy<br />

Benchmark 2022, da Cisco, mostra que 90% dos inquiridos não compra<br />

a uma organização que não proteja <strong>de</strong>vidamente<br />

os seus dados e 91% dizem que as certificações<br />

externas <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> são importantes no<br />

seu processo <strong>de</strong> compra. Abrangendo<br />

mais <strong>de</strong> 4.900 profissionais em 27 geografias,<br />

este relatório faz uma análise<br />

global anual das práticas empresariais<br />

relacionadas com a privacida<strong>de</strong>. Revela<br />

que 94% das organizações comunicam às<br />

suas li<strong>de</strong>ranças as métricas relacionadas<br />

com a privacida<strong>de</strong> e que os orçamentos<br />

nesta área aumentam em média 13%. Confirma<br />

ainda que alinhar a privacida<strong>de</strong> com<br />

a segurança cria vantagens financeiras e <strong>de</strong><br />

maturida<strong>de</strong> em comparação com outros<br />

mo<strong>de</strong>los. Mais <strong>de</strong> 60% dos inquiridos sente<br />

que obteve um valor empresarial significativo<br />

com a privacida<strong>de</strong>, sobretudo no que<br />

respeita à redução <strong>de</strong> atrasos nas vendas,<br />

mitigação <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> violações<br />

dos dados, habilitação da inovação, eficiência,<br />

construção <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> confiança com os<br />

clientes e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a sua empresa<br />

mais atrativa.•<br />

CURIOSIDADE<br />

TESTAR VOZ, IA<br />

E VIDEOCONFERÊNCIA NO ESPAÇO<br />

Não é ficção científica e está mesmo a acontecer: a Cisco, Amazon e Lockheed Martin<br />

uniram-se para integrar tecnologias exclusivas<br />

<strong>de</strong> interface homem-máquina na nave espacial<br />

Orion, da NASA. Querem <strong>de</strong>scobrir como po<strong>de</strong>rão<br />

os astronautas tirar partido das tecnologias <strong>de</strong> voz,<br />

IA e vi<strong>de</strong>oconferência <strong>de</strong> longa distância através <strong>de</strong><br />

tablets. Para isso criaram a solução Callisto, que será<br />

integrada na Orion durante a missão não tripulada<br />

Artemis I, em torno da Lua e <strong>de</strong> volta à Terra. A<br />

Callisto apresenta uma integração personalizada <strong>de</strong><br />

hardware e software e inclui tecnologia inovadora que<br />

permite à Alexa funcionar sem ligação à internet, e que o Webex seja executado num tablet<br />

utilizando a Deep Space Network da NASA.<br />

ILUSTRAÇÕES UNDRAW.CO


CURIOSIDADE<br />

BLACKBERRY, A MORTE<br />

DE UM ÍCONE<br />

Chegaram ao mercado em 2002, pelas mãos da<br />

Research In Motion, e rapidamente se tornaram o<br />

orgulho dos executivos <strong>de</strong> todo o mundo, sendo um<br />

verda<strong>de</strong>iro ícone. Tinham um teclado semelhante<br />

ao dos computadores e enviavam emails. Mas os<br />

Blackberry não conseguiram acompanhar o acelerado<br />

ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e chegaram<br />

agora ao fim <strong>de</strong> vida, com a marca canadiana a <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> dar suporte técnico aos ainda poucos dispositivos<br />

que po<strong>de</strong>riam estar ativos. A marca, essa, é conhecida<br />

agora por ser especializada em segurança informática.<br />

PORTUGAL: “JÓIA ESCONDIDA<br />

DA CONECTIVIDADE”<br />

PORTUGAL está muito bem posicionado para ser uma peça chave<br />

na estratégia europeia <strong>de</strong> dados. É que reúne um conjunto <strong>de</strong> condições<br />

únicas para ligar a Europa a mercados como a América do<br />

Norte, América do Sul, África e Médio Oriente/Ásia, ocupando uma<br />

posição geográfica central. O mais recente relatório da Deloitte diz<br />

mesmo que o país é uma “jóia escondida da conectivida<strong>de</strong>” europeia<br />

e que <strong>de</strong>ve aproveitar a explosão do consumo <strong>de</strong> dados para<br />

se posicionar no panorama europeu e mundial. O estudo diz que o<br />

país reúne condições únicas para atrair os maiores players tecnológicos<br />

que necessitam <strong>de</strong> expandir a sua oferta no mercado global<br />

<strong>de</strong> dados e po<strong>de</strong> beneficiar da nova visão da conectivida<strong>de</strong> da Europa,<br />

que garante financiamentos <strong>de</strong> mil milhões <strong>de</strong> euros através do<br />

Connecting Europe Facility. Aliás, gigantes como a Google e Facebook<br />

já estão a implementar uma nova geração <strong>de</strong> cabos submarinos<br />

no mercado nacional. A gran<strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> submarina, combinada<br />

com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> terrestre<br />

<strong>de</strong> alta capilarida<strong>de</strong> e redundância,<br />

que se liga aos principais<br />

hubs europeus, é outra<br />

vantagem. Acrescem<br />

os casos <strong>de</strong> sucesso<br />

<strong>de</strong> inovação nacionais,<br />

nomeadamente nas<br />

telecomunicações, setor<br />

que se tem <strong>de</strong>stacado.•<br />

Estudo diz que Portugal reune<br />

condições únicas para atrair os<br />

maiores players tecnológicos que<br />

necessitam <strong>de</strong> se expandir<br />

POTENCIAL DO 5G<br />

DEPENDE DA SUA<br />

MATURIDADE<br />

OS PRECURSORES DO 5G têm três<br />

vezes mais probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reter<br />

clientes e quase o dobro das hipóteses<br />

<strong>de</strong> aumentar a receita média por utilizador<br />

(ARPU) e a receita dos serviços<br />

móveis do que os <strong>de</strong>mais operadores.<br />

Isto porque po<strong>de</strong>m impulsionar proactivamente<br />

a inovação ao oferecer pelo<br />

menos três serviços <strong>de</strong> 5G, incluindo<br />

jogos na nuvem e RA/RV. A conclusão<br />

é do mais recente relatório do ConsumerLab<br />

da Ericsson, <strong>de</strong>nominado “Precursores<br />

do 5G”. Trata-se da 1ª análise<br />

<strong>de</strong> mercado ao 5G para consumidores<br />

a combinar dados <strong>de</strong> satisfação dos<br />

clientes com factos sobre o mercado,<br />

com base na avaliação das estratégias<br />

para a maturida<strong>de</strong> do 5G e as receitas<br />

<strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> 73 operadores em 22<br />

mercados, tendo em conta 105 critérios.<br />

São i<strong>de</strong>ntificadas quatro etapas<br />

<strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> dos prestadores <strong>de</strong><br />

serviços globais, com base na forma<br />

como utilizam o 5G para melhorar<br />

a satisfação dos consumidores e<br />

aumentar a sua quota: exploradores,<br />

potenciais, aspirantes e precursores.<br />

Estes últimos são consi<strong>de</strong>rados lí<strong>de</strong>res<br />

dos consumidores do 5G, situando-se<br />

sobretudo no Nor<strong>de</strong>ste Asiático e<br />

na América do Norte. Um terço<br />

está na Europa. Para emergirem<br />

como precursores, os<br />

operadores terão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

cobertura extensa<br />

e comunicar marcos,<br />

melhorar o marketing,<br />

a velocida<strong>de</strong>,<br />

explorar ofertas<br />

convergentes,<br />

proporcionar banda<br />

larga doméstica,<br />

inovar nos tarifários,<br />

ofecer experiências imersivas<br />

e fomentar parcerias e<br />

programas <strong>de</strong> ecossistemas.•<br />

7


a abrir<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Nada disto é por acaso e é certo<br />

que foi estrategicamente pensado,<br />

uma vez que a Ucrânia está<br />

às cegas (…) O inimigo sabe que<br />

smartphones são olhos em todo<br />

o lado e que assim são observados<br />

pelo mundo. Como estes<br />

equipamentos e a forma como<br />

comunicam são uma verda<strong>de</strong>ira<br />

autoestrada <strong>de</strong> informações, há<br />

que entupir a mesma com DDOS.<br />

O que veremos a seguir será uma<br />

lição <strong>de</strong> segurança informática<br />

(…) Será o acordar das nações no<br />

que toca à cibersegurança”<br />

Nuno Mateus-Coelho, CNN<br />

Portugal, 24/2/2022<br />

“As motivações dos cibercrimes<br />

po<strong>de</strong>m ser diversas, uma circunstância<br />

que dificulta ainda mais o<br />

seu combate. Os ataques po<strong>de</strong>m<br />

acontecer por razões <strong>de</strong> natureza<br />

política, simples vingança, espionagem<br />

industrial ou extorsão. O<br />

inimigo é invisível e dificilmente<br />

<strong>de</strong>tetável, fator que o torna muito<br />

mais perigoso”<br />

Celso Filipe, Jornal <strong>de</strong> Negócios,<br />

11/02/2022<br />

Não há nada como sermos expostos<br />

à intempérie para percebermos<br />

como nos <strong>de</strong>vemos proteger.<br />

(…) É um alerta (ataque à Vodafone)<br />

para os responsáveis das<br />

instituições todas do país perceberem<br />

que todas as questões <strong>de</strong><br />

informática e cibersegurança são<br />

estruturais da vida em socieda<strong>de</strong>.<br />

(…) Tem <strong>de</strong> haver uma coligação<br />

<strong>de</strong> competências articulada sob<br />

um comando único”<br />

José Tribolet, Jornal i,<br />

09/02/2022<br />

11/01/2022<br />

CIBERSEGURANÇA OBRIGA<br />

A TER ESTRATÉGIA E EQUIPA…<br />

A MAIORIA DAS ORGANIZAÇÕES em Portugal estão dispostas<br />

a investir mais em cibersegurança, para mitigar e<br />

prevenir ameaças, como phishing, ataques <strong>de</strong> malware e<br />

ransomware. Mas precisam <strong>de</strong> uma estratégia para esta<br />

área e <strong>de</strong> ter equipas especializadas. A conclusão é do<br />

Cyber Survey da PwC, que mostra que cerca <strong>de</strong> um terço<br />

das organizações disponibiliza menos <strong>de</strong> 50 mil euros<br />

para investir na área, embora se <strong>de</strong>va ter em conta que o<br />

tecido empresarial é sobretudo composto por PME. Sendo<br />

a estratégia crítica, porque permite proteger os ativos<br />

e estimular a confiança dos mercados, é essencial ter um<br />

orçamento <strong>de</strong>dicado à cibersegurança, que permita às<br />

organizações alavancar as iniciativas previstas com base<br />

em análises <strong>de</strong> risco, e quantificar prejuízos associados<br />

à eventuais ameaças. Terão ainda <strong>de</strong> ter competências<br />

<strong>de</strong> cibersegurança, envolvendo pessoas, processos e<br />

investimentos em novas tecnologias. Das 56 organizações<br />

<strong>de</strong> 12 setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> abrangidas pelo estudo, as três<br />

principais preocupações entre os inquiridos são danos<br />

reputacionais, indisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistemas por longos<br />

períodos e os inci<strong>de</strong>ntes que causam perdas financeiras.•<br />

… AMEAÇAS VÃO VOLTAR<br />

A CRESCER EM 2022…<br />

ATAQUES ÀS CADEIAS <strong>de</strong> abastecimento, exploração do<br />

trabalho remoto, novos intervenientes no mercado negro,<br />

alvos na nuvem e o regresso dos ataques low level são algumas<br />

das tendências mais fortes em termos <strong>de</strong> cibersegurança<br />

para 2022, antecipando-se mudanças ao nível da<br />

estratégia dos ataques direcionados, ligadas à evolução<br />

da situação na socieda<strong>de</strong>, política e economia A análise<br />

é da Kaspersky Global Research and Analysis Team<br />

(GReAT). Os investigadores estão convictos <strong>de</strong> que este<br />

ano não vai ser mais fácil em termos <strong>de</strong> cibersegurança,<br />

pelo que a preparação das equipas <strong>de</strong> TI será essencial<br />

para mitigar ameaças. A exploração do trabalho remoto<br />

será uma das mais persistentes, como forma <strong>de</strong> ace<strong>de</strong>r às<br />

re<strong>de</strong>s das empresas. Vão também aumentar os ataques à<br />

segurança na cloud e serviços subcontratados, perante a<br />

rápida adoção <strong>de</strong> arquiteturas <strong>de</strong> computação em nuvem<br />

e software baseadas em micro serviços e executadas em<br />

infraestruturas <strong>de</strong> terceiros. Também as ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> abastecimento<br />

estarão na mira, assim como.os dispositivos<br />

móveis, em especial smartphones.•<br />

Estudo revela que<br />

empresas querem<br />

investir mais em<br />

cibersegurança.<br />

Mas muitas reservam<br />

menos <strong>de</strong> 50<br />

mil euros para o<br />

efeito<br />

A exploração do<br />

trabalho remoto<br />

será um dos mais<br />

importantes alvos<br />

<strong>de</strong> ciberataques<br />

ao longo <strong>de</strong>ste<br />

ano, prevê estudo<br />

da GReAT.<br />

8


… E 55% DAS ORGANIZAÇÕES<br />

NÃO TÊM DEFESA EFETIVA<br />

MAIS DE METADE (55%) das gran<strong>de</strong>s empresas não combate<br />

os ciberataques <strong>de</strong> forma efetiva e não são capazes <strong>de</strong> localizar<br />

e corrigir as quebras <strong>de</strong> segurança rapidamente ou reduzir<br />

o seu impacto. Cerca <strong>de</strong> 81% acredita que “estar um passo<br />

à frente dos ciberatacantes é uma batalha constante e o custo<br />

é insustentável”. A conclusão é do “State of Cyber Resilience<br />

2021”, um estudo da Accenture que revela os principais traços<br />

das empresas mais resilientes contra ataques.Com base em<br />

entrevistas a mais <strong>de</strong> 4 700 executivos <strong>de</strong> todo o mundo,<br />

incluindo 100 <strong>de</strong> Portugal, o estudo mostra que apesar <strong>de</strong><br />

no último ano 82% dos entrevistados terem aumentado os<br />

seus investimentos em cibersegurança, o número <strong>de</strong> ataques<br />

bem-sucedidos – que incluem o acesso não autorizado a<br />

dados, aplicações, serviços, re<strong>de</strong>s ou dispositivos – aumentou<br />

em 31%, para uma média <strong>de</strong> 270 por empresa. Por isso, há<br />

que alargar os esforços <strong>de</strong> cibersegurança para lá dos limites<br />

da própria empresa, para chegar a todo o ecossistema, até<br />

porque os ataques indiretos – ataques bem-sucedidos a uma<br />

organização através da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor – continuam a crescer.<br />

Por exemplo, apesar <strong>de</strong> dois terços (67%) das organizações<br />

acreditarem que o seu ecossistema é seguro, os ataques indiretos<br />

foram responsáveis por 61% <strong>de</strong> todos os ciberataques<br />

no ano passado, contra 44% no ano anterior.•<br />

A gran<strong>de</strong> maioria<br />

das empresas<br />

consi<strong>de</strong>ra que<br />

estar um passo à<br />

frente dos ciberatacantes<br />

é uma<br />

batalha <strong>de</strong> custos<br />

insustentáveis<br />

ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO<br />

NUMEROS<br />

3 MIL MILHÕES<br />

Foi a capitalização bolsista, em dólares,<br />

que a Apple alcançou na Wall Street,<br />

tornando-se na primeira 3-trillion dollar<br />

company <strong>de</strong> sempre em todo o mundo. Este<br />

valor astronómico culmina uma valorização<br />

que se iniciou em agosto <strong>de</strong> 2018, quando<br />

alcançou o bilião <strong>de</strong> dólares, e se alargou<br />

em agosto <strong>de</strong> 2021 para dois biliões. A<br />

pan<strong>de</strong>mia ajudou a big tech a levar pouco<br />

mais <strong>de</strong> 16 meses a alcançar a nova fasquia.<br />

621 MIL MILHÕES<br />

Foi o valor do investimento, em dólares,<br />

no ecossistema mundial <strong>de</strong> startups. Um<br />

recor<strong>de</strong> que mostra que o capital está a<br />

apoiar projetos com elevado potencial <strong>de</strong><br />

crescimento, que possam rapidamente<br />

transformar-se em unicórnios. Os números<br />

da CB Insights mostram que, apesar da<br />

pan<strong>de</strong>mia, o investimento mais do que<br />

duplicou. Estados Unidos, seguidos da Ásia<br />

e Europa, foram as regiões com maiores<br />

níveis <strong>de</strong> investimento.<br />

251 MIL MILHÕES<br />

Montante, em dólares, que a gigante Meta<br />

per<strong>de</strong>u em capitalização apenas num dia na<br />

Wall Street. Aconteceu a 3 <strong>de</strong> fevereiro, na<br />

sequência da apresentação dos resultados,<br />

que <strong>de</strong>sapontaram o mercado. Ainda assim,<br />

a dona do Facebook continua a ser a 8ª<br />

cotada mais valiosa nos EUA. Só o fundador,<br />

Mark Zuckerberg, que é o maior acionista,<br />

per<strong>de</strong>u 30 mil milhões <strong>de</strong> dólares.<br />

69 MIL MILHÕES<br />

É o maior investimento <strong>de</strong> sempre da<br />

Microsoft, em dólares, na compra da<br />

produtora <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ojogos Activision Blizzard.<br />

A operação é ainda a maior aquisição <strong>de</strong><br />

sempre no negócio dos jogos <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. A<br />

empresa <strong>de</strong>senvolve os populares ‘Call of<br />

Duty’, ‘World of Warcraft’ e ‘Candy Crush’,<br />

ficando a Microsoft com todo o grupo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> intelectual e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> jogos até aos estúdios <strong>de</strong> jogos.<br />

9


a abrir<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Neste momento, todas as apps<br />

são concebidas para recolherem<br />

dados ao máximo — as apps são<br />

as mulas da economia da vigilância<br />

e transportam dados dos<br />

telefones e computadores, esvaziando<br />

os alforges com dados<br />

nos servidores da Google, do Facebook,<br />

<strong>de</strong> ad tech e tudo o resto”<br />

Shoshana Zuboff, Público,<br />

09/01/2022<br />

“Repensar a organização pós<br />

-pandémica é olhar para as pequenas-gran<strong>de</strong>s<br />

oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Por um lado, moldar o mo<strong>de</strong>lo<br />

híbrido que melhor se a<strong>de</strong>qua<br />

a cada empresa, por outro,<br />

promover uma nova cultura<br />

partilhada, que aposta na capacitação<br />

digital <strong>de</strong> todos os trabalhadores<br />

e no seu sentimento <strong>de</strong><br />

pertença (…). O futuro do trabalho<br />

po<strong>de</strong> ser radioso. Importa,<br />

agora, aproveitar o momento”<br />

Guilherme Grey, ECO online,<br />

23/11/2021<br />

“Um ataque <strong>de</strong>stas dimensões<br />

a um jornal e a uma televisão é<br />

também um ataque à <strong>de</strong>mocracia,<br />

cujos fundamentos assentam<br />

precisamente na liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> informar e <strong>de</strong> ser informado”<br />

Editorial, Semanário Expresso,<br />

07/01/2022<br />

“O dinheiro e a tecnologia vão<br />

sempre chegar antes da legislação.<br />

A lei é tradicionalmente<br />

mais lenta, porque é reativa.<br />

Com o RGPD tentámos preparar-nos<br />

para o futuro (…) Mas há<br />

muitas tecnologias novas que<br />

trazem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualizar<br />

regras existentes e temos <strong>de</strong><br />

fazer isto sem impedir ou travar<br />

o processo <strong>de</strong> inovação”<br />

Vera Jourová, Público, 16/11/2021<br />

TRABALHO HÍBRIDO<br />

É INCONTORNÁVEL<br />

O TRABALHO HÍBRIDO vai tornar-se uma realida<strong>de</strong> incontornável<br />

à escala global, com a digitalização e automatização a<br />

conhecer níveis sem prece<strong>de</strong>ntes e a renovada priorização<br />

do bem-estar das pessoas. A previsão é da Microsoft, que<br />

apresentou as <strong>de</strong>z principais tendências <strong>de</strong> trabalho que<br />

marcaram 2021 e que se manterão em 2022. Assim, pelo<br />

menos meta<strong>de</strong> da mão-<strong>de</strong>-obra global está em movimento.<br />

O paradoxo do mo<strong>de</strong>lo híbrido mostra que não há uma fórmula<br />

“one-size-fits-all”, pelo que o futuro passará por dar aos<br />

colaboradores a flexibilida<strong>de</strong> para conceberem o horário <strong>de</strong><br />

trabalho que melhor se adapta às suas vidas. Já o investimento<br />

no capital social nunca foi tão importante, tendo <strong>de</strong><br />

se investir na construção <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> empatia e <strong>de</strong><br />

escuta ativa por p<strong>arte</strong> dos lí<strong>de</strong>res. Face aos imprevistos das<br />

reuniões híbridas, há que tornar a experiência <strong>de</strong> interação<br />

mais real e natural. Tal como apostar na colaboração<br />

assíncrona, uma forma <strong>de</strong> trabalhar em conjunto que não<br />

exige que as pessoas trabalhem ao mesmo tempo. Flexibilida<strong>de</strong><br />

é a palavra do ano, quer nos espaços físicos, quer nas<br />

políticas para os colaboradores.•<br />

ANALÍTICA E IA SÃO CADA VEZ<br />

MAIS CRÍTICAS<br />

A ANALÍTICA E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL são hoje verda<strong>de</strong>iramente<br />

essenciais para enfrentar os <strong>de</strong>safios, num<br />

mundo que continuará a ser marcado pela Covid 19. As<br />

alterações climáticas, o crescimento do ecomm e a continuação<br />

da transformação digital vão continuar a ser gran<strong>de</strong>s<br />

tendências, diz o SAS num estudo que realizou para ajudar<br />

a planear 2022. Entre elas está a adoção <strong>de</strong> uma IA ética,<br />

que se assume como nova vantagem competitiva, uma vez<br />

que está em todo lado e vai ter um papel cada vez mais<br />

importante nos próximos anos. Os processos <strong>de</strong> compras<br />

na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecimento são outro <strong>de</strong>safio, assim como<br />

os ataques cibernéticos indiretos, que estão a aumentar,<br />

com os invasores a explorar cada vez mais as relações <strong>de</strong><br />

confiança estabelecidas entre empresas e fornecedores.<br />

Este será também um ano <strong>de</strong> ação para a maioria das<br />

instituições na Europa em termos <strong>de</strong> clima e sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

Fornecer ao cliente uma experiência envolvente com<br />

tecnologias inteligentes, num mundo sem cookies, é outra<br />

tendência. Tal como uma abordagem para um ambiente <strong>de</strong><br />

trabalho mais flexível.•<br />

Flexibilida<strong>de</strong> é a<br />

palavra do ano do<br />

mundo laboral,<br />

quer relativamente<br />

aos espaços<br />

físicos, quer nas<br />

políticas para os<br />

colaboradores<br />

Entre as tendências<br />

para 2022<br />

i<strong>de</strong>ntificadas pelo<br />

SAS está a adoção<br />

da IA ética, algo<br />

que se consi<strong>de</strong>ra<br />

uma vantagem<br />

competitiva


EXPERIÊNCIA DE COMPRA HÍBRIDA<br />

SERÁ DOMINANTE EM 2030...<br />

TER UMA EXPERIÊNCIA <strong>de</strong> compra híbrida, disfrutar <strong>de</strong> interações<br />

e conexões sociais num ambiente físico ligado em re<strong>de</strong> e<br />

situado perto <strong>de</strong> casa e usar óculos <strong>de</strong> RA ou <strong>de</strong> RV à prova <strong>de</strong><br />

água, fatos hápticos e luvas táteis, entre outros equipamentos<br />

– estas são algumas das expetativas dos consumidores já em<br />

2030, revela o mais recente ConsumerLab da Ericsson, que<br />

aponta as <strong>de</strong>z gran<strong>de</strong>s tendências <strong>de</strong> consumo para os próximos<br />

oito anos. Na sua 11º edição, o relatório diz que um dos<br />

aspetos comuns da vida diária da maioria dos consumidores<br />

pioneiros seja uma mistura <strong>de</strong> tecnologia com conectivida<strong>de</strong>,<br />

integrada em ambientes físicos reais que potenciem experiências<br />

<strong>de</strong> compras e consumo. Será uma nova realida<strong>de</strong> híbrida<br />

para, pelo menos, 57 milhões <strong>de</strong> pessoas em 2030. Este trabalho<br />

assenta em dados <strong>de</strong> um inquérito online realizado durante<br />

outubro e novembro <strong>de</strong> 2021 a consumidores pioneiros <strong>de</strong><br />

RA, RV e assistentes digitais em 14 cida<strong>de</strong>s. Abordando as suas<br />

perspetivas, numa linha temporal até 2030, através <strong>de</strong> um<br />

shopping ficcionado “Everyspace Plaza”, os consumidores avaliaram<br />

15 infraestruturas <strong>de</strong> shoppings híbridos que aumentam<br />

a experiência física com recurso à tecnologia digital. Quatro<br />

em cinco dos inquiridos acredita que os conceitos testados<br />

estarão disponíveis, <strong>de</strong> alguma forma, em 2030.•<br />

… E COMPRAS NAS REDES<br />

SOCIAIS DISPARAM ATÉ 2025<br />

58% DA POPULAÇÃO<br />

MUNDIAL UTILIZA<br />

REDES SOCIAIS<br />

OS UTILIZADORES <strong>de</strong> plataformas<br />

digitais cresceram mais <strong>de</strong> 10% em<br />

2021, ganhando 424 milhões novos<br />

utilizadores nos últimos 12 meses. As<br />

re<strong>de</strong>s sociais contam com 4,62 milhões<br />

<strong>de</strong> utilizadores em todo o mundo,<br />

o que equivale a 58% da população<br />

mundial. Os dados são da Hootsuite,<br />

plataforma especializada na gestão <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong>s sociais, e We Are Social, agência<br />

criativa <strong>de</strong> social media, que anunciaram<br />

o “Digital 2022”, relatório que<br />

apresenta algumas tendências digitais<br />

a nível global. O estudo revela que os<br />

internautas garantem que passam<br />

quase sete horas por dia a navegar no<br />

mundo digital e <strong>de</strong>dicam em média<br />

duas horas e 27 minutos/dia às<br />

re<strong>de</strong>s sociais. Cerca <strong>de</strong> 46% dos utilizadores<br />

são mulheres, enquanto 54%<br />

são homens. O Facebook continua a<br />

ser a re<strong>de</strong> social mais usada, seguido<br />

pelo YouTube e WhatsApp.•<br />

O COMÉRCIO SOCIAL, realizado através <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> social,<br />

já representa 492 mil milhões <strong>de</strong> dólares, valor que <strong>de</strong>verá<br />

crescer para 1,2 mil milhões <strong>de</strong> dólares até 2025. Em conjunto,<br />

os millenials e a geração Z vão representar 62% <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />

comércio, antecipa um estudo da Accenture. Denominado<br />

“Why Shopping’s Set for a Social Revolution”, conclui que quase<br />

dois terços (64%) dos utilizadores <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s sociais inquiridos já<br />

fizeram pelo menos uma compra através <strong>de</strong>ssas plataformas,<br />

ou seja cerca <strong>de</strong> dois mil milhões <strong>de</strong> pessoas em todo o mundo.<br />

Esta tendência constitui nova oportunida<strong>de</strong> para as plataformas<br />

e marcas, incluindo as empresas <strong>de</strong> menor dimensão,<br />

já que 59% dos inquiridos diz estar mais propenso a apoiar<br />

PME através <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> comércio do que quando compram<br />

via sites. Há, contudo, uma barreira para alguns utilizadores,<br />

que temem que as compras não sejam protegidas ou reembolsadas.<br />

Os consumidores dos países em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

utilizam o social commerce com mais frequência.•<br />

ILUSTRAÇÃO UNDRAW.CO<br />

11


5 perguntas<br />

12<br />

SOFIA VAZ PIRES:<br />

Conciliar negócio<br />

e pessoas<br />

Des<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2021 à frente da Ericsson Portugal, Sofia Vaz<br />

Pires regressa à casa on<strong>de</strong> começou a sua carreira profissional<br />

<strong>de</strong>terminada a li<strong>de</strong>rar com autenticida<strong>de</strong> e confiança, mantendo<br />

o equilíbrio certo entre priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio e equipas.<br />

Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa| Fotos <strong>de</strong> Vítor Gordo/ Syncview<br />

Quais as suas metas como CEO da<br />

Ericsson Portugal?<br />

É com orgulho e agra<strong>de</strong>cimento que<br />

reconheço ter, ao longo da minha<br />

carreira, recordado inúmeras vezes<br />

a primeira experiência na Ericsson<br />

como uma referência <strong>de</strong> cultura<br />

organizacional, com valores humanos,<br />

éticos e profissionais únicos e<br />

excecionais. Nos cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />

que exerci, foi na Ericsson Portugal<br />

que aprendi o verda<strong>de</strong>iro sentido<br />

<strong>de</strong> walk an extra mile pelo cliente. Foi<br />

uma experiência inspiradora. Exigiu<br />

muita capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com<br />

os clientes e a habilida<strong>de</strong> para perceber<br />

a complexida<strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> um<br />

portefólio <strong>de</strong> soluções e benefícios<br />

estratégicos que respon<strong>de</strong>ssem aos<br />

seus requisitos. Chego novamente à<br />

Ericsson com o mesmo espírito colaborativo,<br />

tentando conciliar o lado<br />

humano com a gestão do negócio.<br />

Quero contribuir com uma li<strong>de</strong>rança<br />

assente na autenticida<strong>de</strong> e confiança,<br />

superação <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios diários e<br />

alcance <strong>de</strong> metas, que sejam motivo<br />

<strong>de</strong> orgulho e reconhecimento para a<br />

equipa.<br />

Passar <strong>de</strong> uma telco para um fornecedor<br />

é um <strong>de</strong>safio acrescido?<br />

É uma perspetiva complementar da<br />

mesma indústria, muito enriquecedora<br />

para mim, e uma vantagem<br />

para o negócio e equipas. A minha<br />

experiência recente num operador<br />

<strong>de</strong> referência nacional, complementada<br />

com a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />

que assumi num operador<br />

com escala mundial, permitiu-me <strong>de</strong>senvolver<br />

um profundo conhecimento<br />

sobre as priorida<strong>de</strong>s do negócio<br />

e principais pain-points dos clientes.<br />

Dessa forma, é possível garantir a<br />

entrega das melhores soluções, que<br />

respondam da forma mais a<strong>de</strong>quada<br />

às necessida<strong>de</strong>s dos clientes, para<br />

que sejam mais competitivos e se<br />

diferenciem na qualida<strong>de</strong> do que<br />

oferecem.<br />

A sua experiência internacional<br />

está a fazer a diferença?<br />

A minha experiência internacional,<br />

em várias empresas e diferentes<br />

geografias e continentes, permitiu-<br />

-me o contacto com outras culturas e<br />

o conhecimento <strong>de</strong> outras dinâmicas<br />

<strong>de</strong> mercado. Também a gestão <strong>de</strong><br />

múltiplos <strong>de</strong>safios possibilitou-me<br />

acelerar a minha curva <strong>de</strong> aprendizagem<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento pessoal<br />

e profissional. A combinação <strong>de</strong>stes<br />

múltiplos eixos resulta numa rápida<br />

adaptação a novas situações e <strong>de</strong>safios,<br />

que se traduz na minha forma<br />

<strong>de</strong> ser e estar, algo que consi<strong>de</strong>ro<br />

diferenciador, com resultados no<br />

<strong>de</strong>sempenho das equipas e do negócio.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do contexto<br />

geográfico ou da natureza da função,<br />

consi<strong>de</strong>ro que um <strong>de</strong>safio comum<br />

inerente aos cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança é<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o equilíbrio<br />

certo entre as diferentes priorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> negócio e o lado humano das<br />

organizações.<br />

É pouco comum estar uma mulher<br />

à frente <strong>de</strong> uma empresa TIC. Sente<br />

que é uma exceção à regra?<br />

A minha trajetória é o resultado <strong>de</strong><br />

muita <strong>de</strong>dicação, perseverança e<br />

<strong>de</strong>terminação. Espero <strong>de</strong> alguma<br />

forma conseguir inspirar outras<br />

jovens a seguirem os seus sonhos e,<br />

simultaneamente, contribuir para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do setor tecnológico<br />

em Portugal.<br />

Como olha para o 5G no mercado<br />

nacional?<br />

A Ericsson está preparada para<br />

implementar a solução em todo o<br />

país, amanhã, se necessário, com a<br />

melhor qualida<strong>de</strong> tecnológica. Por<br />

conhecermos tão bem o 5G - somos<br />

lí<strong>de</strong>res globais no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e implementação - estamos cientes<br />

da sua importância para a estratégia<br />

nacional <strong>de</strong> transformação digital.<br />

Para Portugal o 5G é fundamental,<br />

caso queiramos continuar na linha<br />

da frente. Nos primeiros anos <strong>de</strong><br />

implementação, os ganhos serão<br />

essencialmente <strong>de</strong> cariz económico,<br />

com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> setores estratégicos.<br />

Desenvolvemos um estudo no<br />

final <strong>de</strong> 2019, que mantém atualida<strong>de</strong>,<br />

que aponta para um impacto<br />

adicional <strong>de</strong> 3,6 mil milhões <strong>de</strong> euros<br />

na economia portuguesa até 2030,<br />

no âmbito das TIC nacionais, com<br />

mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> a recair na saú<strong>de</strong>,<br />

manufatura, energia e utilities, automóvel<br />

e segurança pública. Outros<br />

estudos indicam que o potencial <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> valor económico do 5G<br />

para Portugal aumentará exponencialmente<br />

- cerca <strong>de</strong> 17 mil milhões<br />

<strong>de</strong> euros até 2035 – beneficiando<br />

todos os setores económicos.


“Quero contribuir com uma li<strong>de</strong>rança assente<br />

na autenticida<strong>de</strong> e confiança, superação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>safios diários e alcance <strong>de</strong> metas que sejam<br />

motivo <strong>de</strong> orgulho e reconhecimento para a<br />

equipa”<br />

13


a conversa<br />

14<br />

“O nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnio é potenciar o que já existe. E o que existe é bom”


INOVAR<br />

OU<br />

INOVAR?<br />

Eis a pergunta que faz a si própria, todos os dias,<br />

<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, a primeira mulher à frente da<br />

ANI - Agência Nacional <strong>de</strong> Inovação. Ela acredita<br />

que só inovando é possível promover o aumento<br />

da competitivida<strong>de</strong> das empresas. E convicção<br />

não lhe falta.<br />

TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />

FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

15


a conversa<br />

16<br />

“Fazer é sempre mais difícil do que pensamos, mas a forma como enfrentamos as dificulda<strong>de</strong>s inerentes à função é o que faz a diferença”


Transbordante. Talvez seja uma boa palavra para <strong>de</strong>finir<br />

<strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong>, professora do Instituto Superior<br />

Técnico e presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Administração da<br />

Agência Nacional <strong>de</strong> Inovação (ANI). Com um doutoramento<br />

em Engenharia e Gestão Industrial, um mestrado<br />

em Engenharia e Gestão Tecnológica e uma licenciatura<br />

em Química Tecnológica, <strong>Joana</strong> <strong>Mendonça</strong> tem<br />

um percurso peculiar. Recebeu-nos sem cerimónias<br />

na se<strong>de</strong> da ANI, em Lisboa, on<strong>de</strong> falámos um pouco <strong>de</strong><br />

tudo, nomeadamente do estímulo do investimento em<br />

investigação e <strong>de</strong>senvolvimento e da participação em<br />

re<strong>de</strong> por p<strong>arte</strong> das empresas e entida<strong>de</strong>s do sistema<br />

científico e tecnológico.<br />

Nasceu no seio <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> cientistas, o que<br />

forjou, inescapavelmente, o seu percurso académico.<br />

Depois, o seu espírito arguto fez o resto. É a primeira<br />

mulher à frente da ANI, mas não se intimida com isso.<br />

Pelo contrário.<br />

Ouvi-la é auscultar um tempo, uma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança.<br />

Desconcerta perceber o seu pragmatismo mas,<br />

ao mesmo tempo, a sua subtileza. Ao longo <strong>de</strong>sta entrevista<br />

brindou-nos várias vezes com a sua gargalhada<br />

contagiosa e a sua atitu<strong>de</strong> genuinamente <strong>de</strong>scontraída.<br />

Tem as memórias da sua infância atafulhadas<br />

<strong>de</strong> livros e, talvez por isso, fala do futuro a olhar para<br />

o mundo inteiro. É lá o seu lugar. Mas refere-se à sua<br />

vida colocando-a entre o banal e o precioso. Sem salamaleques,<br />

sem peneiras.<br />

17


a conversa<br />

Tive uma infância como<br />

tantas outras crianças.<br />

Lembro-me que lia imenso.<br />

A aprendizagem da leitura<br />

foi uma revolução na minha<br />

vida, porque simplesmente<br />

<strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> me aborrecer.<br />

Antes da leitura era uma<br />

miúda que se aborrecia<br />

imenso. Isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

acontecer. Os meus pais<br />

são cientistas e eu tinha à<br />

minha disposição imensos<br />

livros <strong>de</strong> investigação<br />

científica<br />

18


O seu percurso é muito ligado aos temas da inovação e<br />

da engenharia. Como era a <strong>Joana</strong> em criança? Como se<br />

divertia? Como foi a sua infância?<br />

Tive uma infância como tantas outras crianças. Lembro-me<br />

que lia imenso. A aprendizagem da leitura foi<br />

uma revolução na minha vida porque, simplesmente,<br />

<strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> me aborrecer. Antes da leitura, era uma miúda<br />

que se aborrecia imenso. Isso <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> acontecer.<br />

Os meus pais são cientistas e eu tinha à disposição<br />

imensos livros <strong>de</strong> investigação científica.<br />

Ah, os seus pais são cientistas… Isso explica muita<br />

coisa.<br />

Sim. São físicos.<br />

Portanto, isso também a influenciou...<br />

Sim. Acredito que sim. Nunca pensei muito nisso.<br />

Que livros se lembra <strong>de</strong> a terem marcado?<br />

Um <strong>de</strong>les foi a história da<br />

Marie Curie. Embora o livro<br />

que li fosse um pouco<br />

romanceado, escrito pela<br />

filha, tocou-me imenso.<br />

Foi a única mulher que ganhou<br />

o Prémio Nobel em<br />

duas categorias diferentes<br />

– da Física e da Química.<br />

Porque é que a história<br />

<strong>de</strong>la a marcou?<br />

Porque é incrível! Ela vem<br />

da Polónia para a França,<br />

tinha uma inteligência<br />

surpreen<strong>de</strong>nte e teve uma vida profissional muito<br />

intensa.<br />

Não querendo o ramo<br />

do ensino ou da ciência<br />

pura, achei que a área<br />

tecnológica era aquela que<br />

me permitiria fazer coisas,<br />

pôr a mão na massa<br />

Isso justifica ter ido para Química Tecnológica!? Explique<br />

como escolheu este curso…<br />

Naquela ida<strong>de</strong> nós não sabemos ao que vamos. Mas<br />

tendo seguido Química, e não querendo o ramo do ensino<br />

nem da ciência pura, achei que a área tecnológica<br />

era aquela que me permitiria fazer coisas, pôr a mão na<br />

massa. Trabalhei muito durante o curso – era um ramo<br />

muito difícil. Acho que foi no curso que <strong>de</strong>senvolvi a<br />

minha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho. F<strong>arte</strong>i-me <strong>de</strong> trabalhar,<br />

mas nem notava, porque gostava genuinamente<br />

daquilo.<br />

Já percebi que gostou muito da universida<strong>de</strong>...<br />

Sim. Muito. Mas já abandonei a Química Tecnológica<br />

há muitos anos.<br />

Retomando o fio à meada... o que fez <strong>de</strong> marcante a<br />

seguir?<br />

Fui para a Suíça trabalhar. É curioso que para algumas<br />

pessoas o mais difícil <strong>de</strong> ir<br />

trabalhar para o estrangeiro<br />

é o regresso.<br />

O que foi fazer para a<br />

Suíça?<br />

Um estágio no âmbito <strong>de</strong><br />

um protocolo com a universida<strong>de</strong>.<br />

Na verda<strong>de</strong>, fui<br />

para a Suíça porque nasci<br />

em França e a minha primeira<br />

língua foi o francês<br />

– queria recuperar o meu<br />

francês. Só que em Berna,<br />

on<strong>de</strong> eu estive, fala-se alemão.<br />

Paciência, aprendi alemão! Também não foi mau<br />

(risos)!<br />

Reviu-se nela?<br />

Não propriamente. Mas achei o seu percurso<br />

apaixonante.<br />

Portanto, em sua casa, a curiosida<strong>de</strong> pela ciência era<br />

uma constante? O espanto perante o mundo é um reduto<br />

para on<strong>de</strong> apetece sempre regressar?<br />

A curiosida<strong>de</strong> sim, agora o espanto… Eu compreendo o<br />

que diz sobre o espanto, mas na ciência, <strong>de</strong> facto, não<br />

é bem o espanto que nos move. O espanto está geralmente<br />

associado a uma coisa mágica e na ciência isso<br />

não existe. A ciência é o resultado <strong>de</strong> muito trabalho.<br />

Eu cresci habituada à conversa sobre ciência, on<strong>de</strong> o<br />

espanto não costumava ter lugar.<br />

Esteve quanto tempo na Suíça?<br />

Um ano letivo, a estudar a síntese <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> vitamina<br />

B12. Depois voltei a Portugal.<br />

E o que se passou a seguir na sua vida?<br />

Entrei no ITN - instituto Tecnológico Nuclear, que agora<br />

pertence ao Técnico. Fui fazer síntese <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados<br />

<strong>de</strong> inorgânicos. Adquiri imensa experiência na Suíça,<br />

aprendi imenso. Este foi o meu primeiro emprego.<br />

E como correu?<br />

Foi um choque cultural. As formas <strong>de</strong> trabalho, a organização<br />

do laboratório, todas as ineficiências... Tudo<br />

aquilo me começou a fazer comichão. E, no alto da minha<br />

ingenuida<strong>de</strong>, pensei: “Tenho <strong>de</strong> mudar a maneira<br />

<strong>de</strong> fazer ciência em Portugal”.<br />

19


Mas essa mudança tarda a chegar…<br />

Sim. Alguém dizia que só haverá verda<strong>de</strong>ira igualda<strong>de</strong><br />

quando houver tantas mulheres incompetentes no<br />

topo das organizações como homens. Há pouco tempo,<br />

a ministra espanhola (dos Assuntos Económicos<br />

e Transformação Digital, Nadia Calviño), <strong>de</strong>cidiu <strong>de</strong>ia<br />

conversa<br />

20<br />

Que ida<strong>de</strong> tinha?<br />

25 anos. Nesta ida<strong>de</strong> acredita-se nestas coisas com<br />

toda a convicção (risos). Então candidatei-me a um<br />

mestrado <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong> Tecnologia no Técnico, com a<br />

ambição <strong>de</strong> obter ferramentas para gerir ciência com<br />

eficácia. O mestrado era coor<strong>de</strong>nado pelo atual ministro<br />

da Ciência, professor Manuel Heitor. Na carta <strong>de</strong><br />

candidatura, escrevi aquilo em que acreditava profundamente:<br />

“Quero mudar a forma como se faz ciência<br />

em Portugal!”. Ele adorou a minha carta! E na entrevista<br />

com ele – são conhecidas as entrevistas muito difíceis<br />

que faz – como sou uma leitora compulsiva, li os<br />

artigos todos <strong>de</strong>le e a entrevista não po<strong>de</strong>ria ter corrido<br />

melhor. Ele acabou por convidar-me a trabalhar com<br />

ele, para estudar inovação. Foi assim que abandonei a<br />

Química. Fui estudar inovação no sector químico.<br />

Isso fez todo o sentido na<br />

sua carreira...<br />

Sim. O mestrado associa<br />

pessoas com know-how tecnológico<br />

a ferramentas <strong>de</strong><br />

gestão para entrarem nas<br />

empresas e no mercado e<br />

gerirem tecnologia.<br />

E isso é crítico?<br />

Sim. Por isso recuperámos<br />

recentemente esse mestrado<br />

no Técnico.<br />

De certa forma o professor Manuel Heitor veio <strong>de</strong>sarrumar-lhe<br />

um bocadinho a vida. Desencaminhá-la.<br />

Totalmente. Várias vezes ao longo da vida.<br />

A mulher que é hoje é fruto do seu percurso até aqui?<br />

Ou isto é só conversa <strong>de</strong> psicanalista? Importa realmente<br />

olhar para trás?<br />

Claro que importa. Somos fruto <strong>de</strong> todas as nossas<br />

vivências.<br />

Em Portugal é difícil tomar riscos? Sobretudo se se é<br />

mulher?<br />

Sim, é verda<strong>de</strong>.<br />

Acha que o facto <strong>de</strong> ser mulher condicionou a sua vida<br />

profissional? A questão <strong>de</strong> género foi relevante no percurso<br />

que fez até aqui? Ou é daquelas mulheres que<br />

não gosta <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>stes assuntos?<br />

Temos <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>stes assuntos! Aliás, mu<strong>de</strong>i <strong>de</strong> opinião<br />

sobre isto há pouco tempo. Antes achava que isto não<br />

era questão sequer. Mas hoje acho que é. Temos <strong>de</strong> falar<br />

disto! Porque se não falarmos as coisas não mudam.<br />

Na carta <strong>de</strong> candidatura<br />

(ao mestrado <strong>de</strong> Gestão<br />

<strong>de</strong> Tecnologia no Técnico)<br />

escrevi: “Quero mudar a<br />

forma como se faz ciência<br />

em Portugal”<br />

Até porque todas, potencialmente, po<strong>de</strong>remos ter<br />

filhas...<br />

Sim. Eu tenho duas. É preciso que elas percebam a realida<strong>de</strong><br />

que vão encontrar. Nas minhas aulas – sou professora<br />

<strong>de</strong> Design Thinking no Técnico – os rapazes intervêm<br />

mais, são muito mais participativos. Isto é<br />

uma questão cultural e <strong>de</strong> educação. Eu dou umas aulas<br />

com um colega espetacular e ele no outro dia <strong>de</strong>u-<br />

-me os parabéns porque, numa das nossas aulas, eu<br />

virei-me para a turma e disse: “Agora fala uma rapariga”.<br />

E, a partir daquele momento, a dinâmica da aula<br />

<strong>de</strong>sbloqueou.<br />

Por que é que acha que isso acontece?<br />

Não lhe sei dizer. Acho que tem a ver com a forma <strong>de</strong><br />

ocupação do espaço comum. E isto não é apenas uma<br />

realida<strong>de</strong> portuguesa. Tenho<br />

muitos alunos estrangeiros,<br />

cerca <strong>de</strong> 50%, e a situação<br />

é a mesma.<br />

Como se sente sendo uma<br />

mulher num mundo <strong>de</strong><br />

homens?<br />

Tenho pensado mais nisso<br />

agora que estou nesta função.<br />

Primeiro porque estou<br />

mais exposta ao espaço<br />

público. Não tenhamos<br />

ilusões: o espaço público é<br />

dominado por homens. A<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventos a que vou, em que só ouvimos<br />

homens a falar, ou apenas uma mulher para ficar bem<br />

na fotografia, é assustador. E acontece o mesmo nas<br />

organizações. No outro dia visitei uma empresa, reuni<br />

com o conselho <strong>de</strong> administração, constituído só por<br />

homens, e comentei: “Estão a precisar <strong>de</strong> uma mulher,<br />

não?”. Ao que o lí<strong>de</strong>r me respon<strong>de</strong>u: “Pois, isso agora<br />

está na moda!”. A consciencialização <strong>de</strong> que a diversida<strong>de</strong><br />

– não só <strong>de</strong> género – é essencial nas empresas é um<br />

caminho que tem <strong>de</strong> se fazer urgentemente. A diversida<strong>de</strong><br />

na estrutura <strong>de</strong>cisiva das organizações só acontecerá<br />

se for forçada no início, porque a verda<strong>de</strong> é que há<br />

a tendência <strong>de</strong> nos ro<strong>de</strong>armos <strong>de</strong> pessoas semelhantes.<br />

Eu não era gran<strong>de</strong> fã das quotas, mas talvez seja preciso<br />

começar por aí para se introduzir a mudança.


“Não tenhamos ilusões: o espaço público é dominado por homens. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eventos a que vou, em que só ouvimos homens a<br />

falar, ou apenas uma mulher, para ficar bem na fotografia, é assustador”<br />

21


a conversa<br />

“Aquilo que é a missão da agência tem sido o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi uma oportunida<strong>de</strong> para pôr em<br />

prática muito do que tenho dito e escrito que é preciso fazer”<br />

22<br />

xar <strong>de</strong> participar em eventos em que seja a única mulher<br />

oradora. Os exemplos repetem-se todos os dias.<br />

Há umas semanas fui convidada para um evento sobre<br />

o futuro da inteligência artificial. Cinco homens,<br />

zero mulheres. O futuro da IA não tem mulheres? É um<br />

problema sistémico, por isso é que é simbólico eu ser<br />

mulher nesta função, na Agência da Inovação. É esse<br />

o simbolismo. Temos vindo a fazer um caminho, mas<br />

é preciso que as empresas e as organizações adotem a<br />

diversida<strong>de</strong> como máxima <strong>de</strong> ação.<br />

Sendo a primeira mulher a assumir o cargo <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte<br />

da ANI, sente peso por isso?<br />

Não, não sinto (risos).<br />

Responsabilida<strong>de</strong> acrescida?<br />

Isso talvez. Mas peso, não sinto. É importante e simbólico.<br />

Sendo a primeira mulher, há aquela responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que não posso falhar. Mas não me sinto nada<br />

condicionada com isto. Às vezes, até pelo contrário.<br />

Ainda a estimula mais…<br />

Exatamente (risos).<br />

Como é que veio cá parar?<br />

Fui novamente <strong>de</strong>safiada pelo professor Manuel Heitor.<br />

Ele tem-me <strong>de</strong>safiado para muitas coisas na vida.<br />

O meu trabalho <strong>de</strong> investigação e a minha abordagem<br />

como investigadora passa muito pela importância do<br />

trabalho conjunto <strong>de</strong> aproximação entre a aca<strong>de</strong>mia e<br />

a indústria. Aquilo que é a missão da agência tem sido<br />

o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi<br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pôr em prática muito do que tenho<br />

dito e escrito que é preciso fazer. Isto sim é que é<br />

responsabilida<strong>de</strong> acrescida, mais do que ser mulher! É<br />

ter trabalho científico a indicar o que é preciso fazer e<br />

agora ter o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> o fazer realmente.<br />

Como se sente perante este <strong>de</strong>safio?<br />

Fazer é sempre mais difícil do que pensamos. Mas a<br />

forma como enfrentamos as dificulda<strong>de</strong>s inerentes à<br />

função é o que faz a diferença. Vim para uma estrutura,<br />

com uma equipa espetacular, o que ajuda imenso.<br />

Que marca quer <strong>de</strong>ixar? Procura <strong>de</strong>ixar uma “cicatriz”,<br />

fazer a diferença, inscrever a sua singularida<strong>de</strong>?<br />

Uma das visões que tenho é a urgência <strong>de</strong> as organizações<br />

verem a ANI como facilitadora. Além disso, a ANI<br />

tem <strong>de</strong> ser conhecida, tem <strong>de</strong> estar virada para fora.


Quero uma ANI aberta para as organizações e uma verda<strong>de</strong>ira<br />

promotora da cooperação. Para isso, precisamos<br />

<strong>de</strong> uma agência mais inovadora nos processos,<br />

para ser um motor ativo do ecossistema, e não apenas<br />

passivo, a recolher os inputs <strong>de</strong> fora. Queremos ser um<br />

verda<strong>de</strong>iro ator do ecossistema. Quando aqui cheguei,<br />

éramos um espetador. Temos ferramentas e equipa<br />

para fazer mais.<br />

Está cá há um ano, afirmou que a sua meta é que a ANI<br />

atue como uma one-stop shop, uma espécie <strong>de</strong> balcão<br />

único para a inovação com diferentes instrumentos. O<br />

que já foi feito nesta área e como está a correr?<br />

A primeira coisa que fiz foi olhar para tudo <strong>de</strong> forma<br />

integrada, nessa lógica do one-stop-shop. Temos muitas<br />

ativida<strong>de</strong>s, que eram feitas <strong>de</strong> forma estanque, dirigidas<br />

a universos diferentes. Precisamos <strong>de</strong> ser capazes<br />

<strong>de</strong> olhar para isto como<br />

uma panóplia <strong>de</strong> instrumentos<br />

integrados. Este<br />

é o caminho que estamos<br />

a fazer. Mas não se faz <strong>de</strong><br />

um dia para o outro.<br />

A própria ANI tem <strong>de</strong> mudar<br />

internamente…<br />

Claro. Apostando na digitalização,<br />

um caminho<br />

que tinha começado, mas<br />

que nós acelerámos gran<strong>de</strong>mente.<br />

A transição digital<br />

é urgente – e estamos a fazê-la, já com a visão <strong>de</strong><br />

conjunto <strong>de</strong> que falei. Além disso, <strong>de</strong>finimos a tal visão<br />

estratégica para o mandato: a transversalida<strong>de</strong>, do<br />

front office da ANI para o exterior, e o <strong>de</strong>sígnio europeu e<br />

nacional da transição para a sustentabilida<strong>de</strong>, que tem<br />

<strong>de</strong> ser estratégica.<br />

Há imensos <strong>de</strong>safios internos…<br />

Sim. A primeira coisa que fiz, logo no meu primeiro<br />

dia, a 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2021, foi lançar um concurso interno<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias. E fiz também outra coisa simbólica:<br />

uma reunião Teams com toda a gente, na altura 93 pessoas,<br />

e pedi que todas se apresentassem. Disseram-me,<br />

<strong>de</strong>pois, que isto nunca tinha acontecido. As reuniões<br />

eram, tipicamente, unidirecionais, e não bidirecionais.<br />

Foi aí que lancei o tal programa <strong>de</strong> inovação interno.<br />

Quis dar voz às pessoas…<br />

Quis empo<strong>de</strong>rá-las. Recolhemos as i<strong>de</strong>ias e agora estamos<br />

a estudar como po<strong>de</strong>mos integrá-las. Pedimos às<br />

pessoas para proporem um plano <strong>de</strong> implementação<br />

para as suas i<strong>de</strong>ias.<br />

Os setores tradicionais<br />

portugueses são muito<br />

inovadores, ao contrário do<br />

que as pessoas pensam. A<br />

inovação é transversal<br />

A pan<strong>de</strong>mia contribuiu para que as empresas estejam<br />

a olhar mais para a inovação como aposta estratégica<br />

<strong>de</strong> futuro?<br />

O que posso dizer é que há cada vez mais empresas que<br />

olham para a inovação como sendo crítica para a sua<br />

produtivida<strong>de</strong>. Isso tem crescido, transversalmente.<br />

Temos muitos novos clientes, sobretudo PME, que nos<br />

procuram <strong>de</strong>vido aos nossos sistemas <strong>de</strong> incentivos. A<br />

visibilida<strong>de</strong> da ANI vai ajudar a promover isso.<br />

Tem referido que a inovação é um conceito difícil <strong>de</strong><br />

mensurar. Mas como é que a <strong>de</strong>fine?<br />

Gosto <strong>de</strong> citar Schumpeter, economista austríaco que<br />

em 1934 lançou um livro em que <strong>de</strong>screve a inovação<br />

como fator <strong>de</strong> mudança e crescimento nas organizações<br />

e o empreen<strong>de</strong>dor como um agente <strong>de</strong> mudança<br />

– e não apenas o dono da empresa. Gosto da noção<br />

<strong>de</strong>le, em que a inovação é<br />

uma i<strong>de</strong>ia muito ampla –<br />

inovação na estrutura, nos<br />

processos, nos produtos,<br />

no marketing, etc… Na ANI,<br />

os nossos instrumentos<br />

estão muito ligados à inovação<br />

tecnológica – para<br />

ajudar as empresas a diminuir<br />

o risco dos investimentos<br />

nesta área. Esse é<br />

o nosso papel.<br />

A criação as Zonas Livres<br />

Tecnológicas po<strong>de</strong>rá contribuir para atenuar esse<br />

risco?<br />

Não. As Zonas Livres Tecnológicas são espaços <strong>de</strong> experimentação,<br />

permitem diminuir o tempo <strong>de</strong> chegada<br />

ao mercado.<br />

Quais os setores que mais apostam na inovação?<br />

Há vários. Os têxteis, os mol<strong>de</strong>s, a metalomecânica,<br />

a mecânica <strong>de</strong> precisão – setores que tradicionalmente<br />

não associamos à inovação. Os setores tradicionais<br />

portugueses são muito inovadores, ao contrário do que<br />

as pessoas pensam. Mas a inovação é transversal – e é<br />

isso que nos tem permitido manter a competitivida<strong>de</strong>.<br />

As empresas que não inovem, no longo prazo, estão<br />

con<strong>de</strong>nadas.<br />

E no setor público? Como se inova aí?<br />

Temos uma ferramenta, as Compras Públicas para a<br />

Inovação, que permite introduzir melhorias na função<br />

pública.<br />

Essa é uma das gran<strong>de</strong>s apostas, por causa das verbas<br />

para o PRR?<br />

23


a conversa<br />

24<br />

Temos muitos <strong>de</strong>safios aí para agarrar. Cá estaremos<br />

para o fazer.<br />

Cada vez mais se fala na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar ecossistemas<br />

<strong>de</strong> parceiros, para as empresas, mesmo concorrentes<br />

entre si, criarem mais valor. E aqui, a inovação<br />

colaborativa assume um papel fundamental. Os gestores<br />

estão mais recetivos a este tipo <strong>de</strong> aposta ou o<br />

segredo ainda continua a ser a alma do negócio, sobretudo<br />

nas PME?<br />

Ainda há muitos obstáculos, mas já foi feito um longo<br />

caminho. A maior p<strong>arte</strong> dos programas da ANI são colaborativos.<br />

O facto <strong>de</strong> termos cada mais pequenas empresas<br />

a trabalhar connosco é simbólico. Há cada vez<br />

mais PME a perceber que a inovação colaborativa é crítica.<br />

Uma gran<strong>de</strong> empresa<br />

tem muito mais capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> absorver conhecimento<br />

vindo <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>,<br />

por exemplo.<br />

Por isso, é uma vantagem<br />

os nossos instrumentos<br />

serem maioritariamente<br />

colaborativos. Usufruir<br />

<strong>de</strong> conhecimento a que<br />

as PME não teriam acesso<br />

por uma questão <strong>de</strong> dimensão.<br />

Para estas empresas,<br />

os nossos interfaces<br />

são absolutamente críticos<br />

para transferência <strong>de</strong><br />

conhecimento, mas também <strong>de</strong> pessoas. É muito importante<br />

a transferência <strong>de</strong> recursos humanos <strong>de</strong> uns<br />

setores para outros.<br />

Como é que isso se conjuga num quadro <strong>de</strong> recursos<br />

limitados?<br />

A educação é crítica. Neste momento Portugal já tem<br />

mais <strong>de</strong> 50% dos jovens no ensino superior, mas temos<br />

<strong>de</strong> continuar esse esforço. E apostar na requalificação<br />

ao longo da vida – há um programa no PRR só para isso.<br />

E, claro, a atração <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> outras geografias.<br />

E somos competitivos?<br />

Se pensarmos em contratar pessoas que tragam as famílias,<br />

Portugal po<strong>de</strong> ser competitivo. A segurança é<br />

uma coisa crítica, por exemplo.<br />

Estamos a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser um país <strong>de</strong> salários baixos?<br />

Acho que sim. Espero que sim.<br />

Acha ou espera?<br />

O nosso salário médio tem aumentado, mas arrendar<br />

Termos cada vez mais PME<br />

a trabalhar connosco é<br />

simbólico. Há cada vez<br />

mais PME a perceber que<br />

a inovação colaborativa é<br />

crítica<br />

uma casa em Lisboa custa o mesmo do que arrendar<br />

uma casa em Berlim. É absurdo. Mas Portugal não é<br />

Lisboa! Outro dos <strong>de</strong>sígnios no nosso plano estratégico<br />

é atuar no reforço do Interior. Temos, por exemplo,<br />

o caso do Fundão, que é espetacular. Chaves também<br />

é um bom exemplo. O presi<strong>de</strong>nte da câmara apoiou a<br />

implementação do Laboratório Colaborativo, que está<br />

a ser um sucesso. E há muitos outros casos por esse<br />

país fora.<br />

Um dos <strong>de</strong>safios que assumiu foi o <strong>de</strong> as empresas,<br />

instituições <strong>de</strong> ensino superior e entida<strong>de</strong>s do sistema<br />

científico nacional captarem pelo menos 2 mil milhões<br />

<strong>de</strong> euros do Horizonte Europa. Como será possível<br />

alcançar esse objetivo?<br />

Nas empresas temos um<br />

enorme espaço para crescer.<br />

É a área em que temos<br />

<strong>de</strong> dar um salto maior. Estamos<br />

a trabalhar com associações<br />

empresariais,<br />

setoriais e regionais. E temos<br />

imenso potencial!<br />

Precisamos <strong>de</strong> dar apoio às<br />

empresas para se candidatarem<br />

às calls europeias.<br />

Acredita que, finalmente,<br />

Portugal tem todas as<br />

condições para uma recuperação<br />

sustentada e uma<br />

mudança real da base da nossa economia, para fazer a<br />

diferença na Europa e no mundo?<br />

Acredito que sim, se não, não estaria aqui a fazer nada<br />

(risos). Este momento pós-Covid é muito importante.<br />

Temos <strong>de</strong> agarrar as oportunida<strong>de</strong>s. Temos <strong>de</strong> ser capazes<br />

<strong>de</strong> ir para o terreno ajudar as empresas a minimizar<br />

o risco. O nosso gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnio é potenciar o que já<br />

existe – e o que existe é bom.<br />

Para terminar: do ponto <strong>de</strong> vista pessoal, o que a apaixona,<br />

o que enche a sua vida?<br />

Tenho duas filhas, uma <strong>de</strong> 16 e outra <strong>de</strong> 9 anos. Elas são<br />

o centro da minha vida. É muito importante procurar<br />

o equilíbrio entre trabalho e família. Além disso, adoro<br />

ir a concertos. Ouvir um músico em palco é ver alguém<br />

a entregar-se completamente, é um ato <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>.<br />

E adoro ler – recentemente a<strong>de</strong>ri também aos<br />

audiolivros. De resto, tenho pouco tempo para muito<br />

mais. Sou da geração que está entalada entre os filhos e<br />

os pais. Eles são a minha priorida<strong>de</strong>. •


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em <strong>de</strong>staque<br />

26


A PRÓXIMA<br />

MAGIA<br />

O metaverso, a buzzword do<br />

momento, po<strong>de</strong>rá ser uma<br />

realida<strong>de</strong> massificada em<br />

poucas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos. As<br />

gran<strong>de</strong>s empresas tecnológicas,<br />

e não só, já estão na corrida<br />

para uma visão que começa a<br />

ser construída. Aquilo que será<br />

a internet do futuro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do que se está a fazer agora. E<br />

ninguém <strong>de</strong>verá ficar <strong>de</strong> fora.<br />

TEXTO DE ANA SOFIA RODRIGUES<br />

FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

27


em <strong>de</strong>staque<br />

28<br />

O<br />

escritor britânico <strong>de</strong> ficção científica Arthur C.<br />

Clarke <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u, nos anos 70, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

qualquer tecnologia suficientemente avançada<br />

assemelha-se a magia. Em outubro passado,<br />

quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança <strong>de</strong><br />

nome da empresa que fundou <strong>de</strong> Facebook para Meta<br />

e mostrou ao mundo a sua visão do futuro, o “metaverso”<br />

assumiu-se como a próxima gran<strong>de</strong> magia. Vale<br />

a pena ver o ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> uma hora e 17 minutos “The Metaverse<br />

and How We’ll Build It Together – Connect 2021”, para<br />

percebermos um pouco do que já estava no imaginário<br />

<strong>de</strong> muitos protagonistas, mas que ganhou ali “realida<strong>de</strong>”<br />

para o cidadão comum.<br />

Mas, afinal, o que é este metaverso? Matthew Ball,<br />

um investidor <strong>de</strong> risco, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2018 estuda a fundo<br />

este tema, e que é atualmente um dos seus especialistas<br />

mais consi<strong>de</strong>rados,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que não <strong>de</strong>vemos<br />

estar à espera <strong>de</strong> “uma<br />

única e iluminada <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> metaverso, sobretudo<br />

na fase emergente<br />

em que se encontra”. Para<br />

ele, a melhor forma <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>rmos o conceito<br />

é apresentá-lo como<br />

um “quase-sucessor da<br />

internet móvel”, isto por<br />

que não preten<strong>de</strong> substituí-la,<br />

mas transformá-la.<br />

“Assim como a internet móvel foi uma quase-sucessora<br />

da internet. Embora não tenha tomado o seu lugar, alterou<br />

completamente a forma como ace<strong>de</strong>mos à internet,<br />

on<strong>de</strong>, quando e porquê, assim como os equipamentos<br />

e as tecnologias que usamos, os produtos e serviços<br />

que compramos, os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> negócio, a cultura, a<br />

política... O metaverso será igualmente transformador,<br />

pois irá modificar profundamente o papel da internet<br />

nas nossas vidas”. De uma forma mais “técnica”,<br />

Matthew Ball <strong>de</strong>senvolve: “O metaverso é uma re<strong>de</strong><br />

massiva e interoperável <strong>de</strong> mundos virtuais 3D, produzidos<br />

digitalmente em tempo real, que po<strong>de</strong>m ser<br />

experimentados <strong>de</strong> forma síncrona e permanente por<br />

um número ilimitado <strong>de</strong> utilizadores, com um sentido<br />

individual <strong>de</strong> presença e com continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados,<br />

como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, histórico, direitos, objetos, comunicações<br />

ou pagamentos”.<br />

Gaming, social media,<br />

web 3.0, blockchain e<br />

tecnologias imersivas são<br />

os building blocks do que<br />

vem aí<br />

Confusos? Mark Zuckerberg apresenta-o <strong>de</strong> uma<br />

forma mais inspiracional, <strong>de</strong>stacando a diferença da<br />

imersivida<strong>de</strong> e da sensação <strong>de</strong> presença quando e on<strong>de</strong><br />

quisermos: “Tu és a experiência, não olhando apenas<br />

para ela. Conseguirás fazer quase tudo o que pu<strong>de</strong>res<br />

imaginar: estar com amigos e família, trabalhar, apren<strong>de</strong>r,<br />

jogar, comprar e criar. Seremos capazes <strong>de</strong> nos<br />

sentir presentes como se estivéssemos mesmo com as<br />

pessoas, não importa o quão distante realmente estejamos”.<br />

JÁ ESTÁ A COMEÇAR<br />

A concretização da visão completa <strong>de</strong>ste metaverso<br />

estará a décadas <strong>de</strong> distância, mas os seus primeiros<br />

capítulos já estão a ser escritos. Pequenas peças começam<br />

a ser construídas e ganham visibilida<strong>de</strong>. Luís<br />

Bravo Martins, Chief Marketing<br />

Officer da KIT-AR e<br />

responsável pela secção<br />

VR/AR - Realida<strong>de</strong> Virtual<br />

e Aumentada da APDC,<br />

explica que é o contexto<br />

atual <strong>de</strong> “convergência <strong>de</strong><br />

tecnologias exponenciais<br />

que permite pensarmos<br />

no metaverso”. Tecnologias<br />

como inteligência<br />

artificial, realida<strong>de</strong> virtual,<br />

realida<strong>de</strong> aumentada,<br />

blockchain, robótica<br />

ou computação quântica a trabalharem em conjunto<br />

começam a tornar possível muito do que se julgava<br />

pura ficção científica. “Será um futuro convergente <strong>de</strong><br />

quatro gran<strong>de</strong>s indústrias: gaming, social media, web 3.0,<br />

blockchain e tecnologias imersivas (realida<strong>de</strong> virtual e<br />

realida<strong>de</strong> aumentada). Quando hoje já se fala dos negócios<br />

do metaverso, são quase sempre ligados a uma<br />

<strong>de</strong>stas indústrias, que vão ser os building blocks do que<br />

vem aí”.<br />

Os exemplos multiplicam-se e, atualmente, já há<br />

vários projetos que po<strong>de</strong>m ser vistos como os primórdios<br />

<strong>de</strong>sse universo digital. As plataformas The Sandbox<br />

e Decentraland são consi<strong>de</strong>radas as percursoras.<br />

São universos digitais, geridos <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada<br />

e construídos <strong>de</strong> maneira colaborativa com recurso à<br />

tecnologia blockchain. Oferecem experiências imersivas<br />

3D e têm criptomoedas próprias, que permitem com-


Luís Bravo Martins, Chief Marketing Officer da KIT-AR e responsável pela secção VR/AR - Realida<strong>de</strong> Virtual e Aumentada da APDC, diz<br />

que é o contexto atual <strong>de</strong> “convergência <strong>de</strong> tecnologias exponenciais que permite pensarmos no metaverso”<br />

prar terrenos, bens e serviços nesses mundos virtuais.<br />

Os utilizadores têm a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar, comprar, ven<strong>de</strong>r<br />

e trocar bens digitais e experiências.<br />

Neste momento, existem investidores a pagar<br />

milhões por parcelas <strong>de</strong> terreno nestes mundos. Em<br />

Sandbox, uma empresa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> imobiliário<br />

virtual garantiu o seu espaço por 4,3 milhões <strong>de</strong><br />

dólares. Andrew Kiguel, CEO do Tokens.com, investiu<br />

2,5 milhões <strong>de</strong> dólares num terreno na Decentraland<br />

e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, os preços subiram entre 400% a 500%.<br />

Nessa mesma “terra”, já se viveu a noite <strong>de</strong> passagem<br />

<strong>de</strong> ano na MetaFest 2022. Foi uma festa virtual que simulou<br />

a mítica passagem <strong>de</strong> ano na Times Square, em<br />

Nova Iorque, com acesso a concertos <strong>de</strong> música exclusivos,<br />

espetáculos virtuais, lounges VIP no topo <strong>de</strong> edifícios,<br />

assim como ao feed <strong>de</strong> eventos globais realizados<br />

no mundo inteiro.<br />

EXPERIÊNCIAS TRANSVERSAIS<br />

Quando a maioria das empresas com maior valor <strong>de</strong><br />

mercado do mundo tentam ser pioneiras num novo<br />

caminho, é certo que muitas outras virão atrás. O grosso<br />

do investimento neste próximo capítulo da internet<br />

advirá dos gigantes tecnológicos mundiais. Os analistas<br />

do Goldman Sachs estimam que essas empresas,<br />

nos próximos três anos, invistam até 700 mil milhões<br />

<strong>de</strong> dólares na corrida ao metaverso. Mas já há muitas<br />

empresas <strong>de</strong> menor dimensão, e até particulares, a fazer<br />

várias experiências. O rapper Travis Scott, por exemplo,<br />

iniciou em 2020 a sua digressão com um concerto<br />

virtual no jogo Fortnite, cheio <strong>de</strong> efeitos especiais. O<br />

seu avatar cantou na ilha <strong>de</strong> Battle Royale e foi visto<br />

por mais <strong>de</strong> 12 milhões <strong>de</strong> jogadores. A Gucci já ven<strong>de</strong><br />

malas como a<strong>de</strong>reços para avatares na plataforma Roblox.<br />

A Nike adquiriu a startup RTFKT, especializada na<br />

comercialização <strong>de</strong> indumentárias virtuais. Esta startup<br />

ganhou notorieda<strong>de</strong> ao celebrar uma parceria com<br />

o artista Fewocious (<strong>de</strong> apenas 18 anos) para criar três<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ténis em formato NFT (tokens não fungíveis<br />

que, com base na tecnologia blockchain, atestam a originalida<strong>de</strong><br />

e proprieda<strong>de</strong> dos bens digitais). Em apenas<br />

sete minutos, mais <strong>de</strong> 600 pessoas compraram os pro-<br />

29


em <strong>de</strong>staque<br />

MADE IN PORTUGAL<br />

Conheça duas empresas, com se<strong>de</strong> em Portugal, que estão a participar<br />

na construção dos primeiros passos do metaverso.<br />

VIRTULEAP<br />

Cofundada, em 2018, por Amir Bozorgza<strong>de</strong>h,<br />

a startup Virtuleap tem se<strong>de</strong> em Lisboa e uma<br />

equipa 100% portuguesa. A sua app Enhance<br />

apresenta-se como um verda<strong>de</strong>iro ginásio para<br />

o cérebro. Associando as neurociências à realida<strong>de</strong><br />

virtual, <strong>de</strong>senvolve uma série <strong>de</strong> jogos que<br />

ajudam a melhorar os níveis <strong>de</strong> atenção e que<br />

são i<strong>de</strong>ais para pessoas com doenças cognitivas<br />

como Alzheimer, Perturbação <strong>de</strong> Hiperativida<strong>de</strong>/<br />

Défice <strong>de</strong> Atenção, lesões cerebrais causadas por<br />

aci<strong>de</strong>ntes ou lesões <strong>de</strong> memória causadas pela<br />

quimioterapia. São uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios cognitivos<br />

direcionados para o mental fitness, potenciados<br />

pelos benefícios da realida<strong>de</strong> virtual (RV). “A<br />

RV é uma versão mágica digital que se sobrepõe<br />

ao mundo real. É um ambiente <strong>de</strong> aprendizagem<br />

muito mais eficaz, pois além <strong>de</strong> ser a forma como<br />

eu naturalmente interajo com o mundo, é uma<br />

forma multicognitiva e experencial, em que todos<br />

os sentidos estão envolvidos e que porporciona<br />

um envolvimento incomparável”, explica Amir.<br />

Os headsets necessários para os jogos são também<br />

fonte <strong>de</strong> informação muito importante.<br />

“Têm biosensores e, através <strong>de</strong> inteligência artifical,<br />

conseguimos perceber, por exemplo, se o<br />

utilizador está concentrado, aborrecido, stressado...”,<br />

conta. “Para fins <strong>de</strong> marketing, isto po<strong>de</strong> ser<br />

diabólico, mas quando estamos a lidar com Autismo,<br />

Alzheimer, Parkinson... po<strong>de</strong> ser mágico”.<br />

30


Com 14 parcerias com instituições académicas,<br />

os dados captados são valiosos para inúmeros<br />

estudos. “Coletamos cerca <strong>de</strong> 2.000 data points a<br />

cada dois minutos... Com esses dados estamos<br />

a construir algoritmos, que po<strong>de</strong>m prever, por<br />

exemplo, aos 30 ou 40 anos, se aquela pessoa<br />

terá Alzheimer, po<strong>de</strong>ndo atrasar o processo ou<br />

mesmo revertê-lo pela sua <strong>de</strong>teção precoce.<br />

Somos uma referência e estou<br />

muito orgulhoso pelo caminho<br />

difícil que percorremos. Todos<br />

gostamos muito <strong>de</strong> tecnologia,<br />

mas temos muito respeito pelo<br />

que ela po<strong>de</strong> fazer”.•<br />

Com origem grega, a palavra Didimo significa<br />

gémeo e é isso mesmo que a sua plataforma<br />

promete e faz: um gémeo digital. Veronica lembrou-se<br />

<strong>de</strong> produzir estes avatares realistas com<br />

a convicção <strong>de</strong> “que é a única maneira <strong>de</strong> conseguirmos<br />

garantir a nossa autenticida<strong>de</strong>, sermos<br />

nós próprios em ambientes digitais. Quando<br />

vemos a nossa imagem numa plataforma digital,<br />

DIDIMO<br />

Há <strong>de</strong>z anos, quando Veronica<br />

Orvalho pensava na forma como<br />

comunicaríamos no futuro, a<br />

resposta que lhe surgia era “que<br />

iríamos usar mo<strong>de</strong>los 3D, numa<br />

nova forma <strong>de</strong> interação”. Perante<br />

esta resposta, “as pessoas<br />

achavam que eu era tirada <strong>de</strong><br />

outro planeta!”, conta. E conclui:<br />

“Agora, tantos anos <strong>de</strong>pois, estão<br />

todos a falar do metaverso, <strong>de</strong><br />

pôr pessoas em ambientes imersivos,<br />

<strong>de</strong> usarmos mo<strong>de</strong>los 3D<br />

para fazermos compras online e<br />

para falar com outras pessoas...<br />

É giro ver como uma inovação <strong>de</strong>mora, às vezes,<br />

tantos anos a ser aceite”.<br />

Em 2011, Veronica Orvalho e a sua equipa da Universida<strong>de</strong><br />

do Porto verificaram no terreno como<br />

avatares virtuais conseguiam envolver e criar<br />

empatia com doentes com autismo. Não esquece<br />

o caso <strong>de</strong> um pai que conseguiu comunicar pela<br />

primeira vez com o seu filho através do uso <strong>de</strong><br />

um dos avatares. Entusiasmada com estas possibilida<strong>de</strong>s,<br />

resolveu, em 2016, fundar a Didimo.<br />

tornamo-nos responsáveis pelas nossas ações”.<br />

Atualmente com uma equipa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 30<br />

pessoas e escritórios em Portugal, Canadá e<br />

Reino Unido, os clientes da Didimo são empresas<br />

sediadas na Europa e Estados Unidos da América,<br />

sobretudo nos setores da moda, entretenimento<br />

e comunicações e sente que “o mercado está a<br />

uns meses <strong>de</strong> explodir”. Veronica Orvalho foi finalista<br />

dos EU Prize for Women Innovators 2021,<br />

promovido pelo Conselho Europeu <strong>de</strong> Inovação.•<br />

31


em <strong>de</strong>staque<br />

32<br />

dutos, gerando 3,1 milhões <strong>de</strong> dólares para a marca. A<br />

fabricante <strong>de</strong> automóveis Hyundai anunciou, recentemente,<br />

o conceito “metamobility”. Esta mudança prevê,<br />

entre outras coisas, explorar a condução autónoma,<br />

bem como tornar os automóveis e a Mobilida<strong>de</strong> Aérea<br />

Urbana dispositivos inteligentes aptos a ace<strong>de</strong>r a espaços<br />

virtuais. A robótica irá funcionar como um meio<br />

para conectar os mundos virtual e real. “Por exemplo,<br />

um automóvel que se conecte a espaços virtuais po<strong>de</strong><br />

permitir que os utilizadores <strong>de</strong>sfrutem <strong>de</strong> várias experiências<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> virtual no veículo. Depen<strong>de</strong>ndo<br />

das necessida<strong>de</strong>s do consumidor, um veículo po<strong>de</strong> ser<br />

transformado num espaço <strong>de</strong> entretenimento, numa<br />

sala <strong>de</strong> reuniões ou até mesmo numa plataforma <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>ojogos<br />

3D”, <strong>de</strong>talhou a empresa.<br />

Os exemplos suce<strong>de</strong>m-se. A Deloitte virtualizou a<br />

sua Deloitte University e construiu um espaço imersivo<br />

on<strong>de</strong> colegas <strong>de</strong> todo o mundo se conheceram e<br />

colaboraram <strong>de</strong> forma natural, durante a pan<strong>de</strong>mia.<br />

Construíram uma experiência <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> mista, que<br />

“ressuscitou” o fundador William Deloitte e uma experiência<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> aumentada para mostrar <strong>arte</strong> 3D<br />

numa pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicada na sua nova universida<strong>de</strong> na Índia.<br />

O Aeroporto Internacional <strong>de</strong> Hong Kong criou um<br />

“gémeo virtual” para ajudar as autorida<strong>de</strong>s a agilizar a<br />

revisão <strong>de</strong> novos projetos <strong>de</strong> construção. E até mesmo<br />

uma cida<strong>de</strong> já anunciou<br />

que será a primeira neste<br />

novo “universo”: Seul<br />

planeia ter pronto, até ao<br />

final <strong>de</strong> 2022, um espaço<br />

virtual on<strong>de</strong> os sul-coreanos<br />

po<strong>de</strong>m interagir com<br />

representações digitais<br />

<strong>de</strong> pessoas e objetos. Os<br />

resi<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>rão fazer<br />

reservas, andar em autocarros<br />

turísticos, visitar recriações <strong>de</strong> locais históricos<br />

<strong>de</strong>struídos e registar queixas administrativas. Seul<br />

quer, assim, incluir todas as áreas da administração<br />

municipal e aumentar a eficiência dos funcionários<br />

públicos, superando as limitações físicas e as barreiras<br />

linguísticas...<br />

As experiências intensificam-se por todo o mundo<br />

e Portugal não é exceção. Luís Bravo Martins chama a<br />

atenção para o papel do nosso país nesta construção<br />

Em Portugal já existem<br />

mais <strong>de</strong> 100 empresas<br />

<strong>de</strong>dicadas às tecnologias<br />

imersivas<br />

do futuro. “Em Portugal, em março <strong>de</strong> 2021, havia 106<br />

empresas <strong>de</strong>dicadas a estas tecnologias imersivas (VR<br />

e AR) e, agora, já há certamente mais. Temos uma oportunida<strong>de</strong><br />

brutal, tendo em conta o ecossistema muito<br />

interessante que estamos a criar versus a nossa dimensão.<br />

Juntando a isto a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estarmos a falar<br />

<strong>de</strong> um mercado emergente, temos a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nos assumir como uma referência”. O especialista<br />

<strong>de</strong>staca o interesse transversal <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> tecnologias,<br />

uma das peças do gran<strong>de</strong> puzzle que será o metaverso.<br />

“Trazem um volume tremendo <strong>de</strong> benefícios e<br />

oportunida<strong>de</strong>s para as empresas <strong>de</strong> todos os setores e<br />

estão numa fase <strong>de</strong> enorme crescimento. No ano passado,<br />

já foram vendidos <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong><br />

realida<strong>de</strong> virtual. Sabe quantas consolas a Playstation<br />

ven<strong>de</strong>u? Cerca <strong>de</strong> seis milhões...”.<br />

GRANDES DESAFIOS<br />

As possibilida<strong>de</strong>s parecem ilimitadas. As novas experiências<br />

em termos <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, lazer e socialização,<br />

mas também a nova economia que será criada<br />

com novas profissões e oportunida<strong>de</strong>s, soam a muito<br />

atrativas. Mas os <strong>de</strong>safios que esta verda<strong>de</strong>ira revolução<br />

tecnológica traz consigo são enormes. Por um lado,<br />

tudo o que é preciso <strong>de</strong>senvolver para que o metaverso<br />

seja uma realida<strong>de</strong>. Matthew Ball agrupa em oito gran<strong>de</strong>s<br />

categorias os obstáculos<br />

que é necessário transpor:<br />

o hardware (todos os<br />

equipamentos necessários<br />

para ace<strong>de</strong>r e interagir no<br />

metaverso, como headsets,<br />

luvas, mas também câmaras<br />

industriais ou sistemas<br />

<strong>de</strong> projeção); a largura, latência<br />

e fiabilida<strong>de</strong> das re<strong>de</strong>s<br />

e a criação <strong>de</strong> todos os<br />

serviços <strong>de</strong> apoio; o gigante po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> computação exigido<br />

por funções tão exigentes como cálculo, sincronização<br />

<strong>de</strong> dados, inteligência artificial, captação <strong>de</strong> movimento<br />

ou tradução; a construção das plataformas<br />

virtuais on<strong>de</strong> as pessoas vão explorar, criar e socializar;<br />

os protocolos, os formatos e standards que permitam<br />

a interoperabilida<strong>de</strong> entre as diferentes plataformas;<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> pagamento, baseadas<br />

na tecnologia blockchain; a criação e gestão <strong>de</strong> con-


teúdos, serviços e ativos digitais ligados aos dados e<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada utlizador; a adoção <strong>de</strong> novos comportamentos<br />

sociais digitais, quer individuais, quer<br />

empresariais face a esta nova visão da vida diária. Cada<br />

um <strong>de</strong>stes “obstáculos” exigirá investimentos muito<br />

avultados, uma enorme captação <strong>de</strong> talento, um sério<br />

trabalho em conjunto para pensar nas mais variadas<br />

questões ligadas à regulação, segurança e privacida<strong>de</strong> e<br />

ainda um gran<strong>de</strong> tempo para serem solucionados.<br />

TAREFA COLETIVA<br />

Luís Bravo Martins é perentório em <strong>de</strong>stacar outra necessida<strong>de</strong><br />

urgente: “Há muitos, muitos <strong>de</strong>safios pelo<br />

caminho que precisam <strong>de</strong> ser salvaguardados e <strong>de</strong>batidos<br />

<strong>de</strong> forma muito clara. As novas ferramentas tecnológicas<br />

<strong>de</strong>vem servir-nos enquanto seres humanos e<br />

não nos penalizarem. Não costuma haver tempo para<br />

a sua adoção. Sentimos<br />

rapidamente os benefícios<br />

mas não pensamos nas<br />

suas consequências. Com<br />

o metaverso, pela primeira<br />

vez, estamos a ter tempo<br />

para pensar no que po<strong>de</strong>rá<br />

vir a ser e é mesmo importante<br />

que, <strong>de</strong>sta vez,<br />

acertemos!”. E <strong>de</strong>ixa um<br />

apelo: “Vamos todos pensar<br />

e discutir. As gran<strong>de</strong>s<br />

empresas são os lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong><br />

investigação e <strong>de</strong>senvolvimento, mas faz sentido haver<br />

outras entida<strong>de</strong>s, como associações e fundações, que<br />

discutam estes temas a nível internacional e também<br />

em conjunto com os Governos, para se pensar no interesse<br />

público”.<br />

E não exclui qualquer formação, antes pelo contrário:<br />

“Imaginemos: nós os dois estamos a passear<br />

numa rua. Cada um está com os seus óculos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong><br />

aumentada... A memória que vamos ter daquela<br />

experiência é completamente diferente, porque eu<br />

posso estar a ver uma coisa e tu a ver outra. A realida<strong>de</strong><br />

partilhada vai ser menor, por isso, em última instância,<br />

o que continua a ser a verda<strong>de</strong>? Isto implica muitas<br />

questões ligadas à verda<strong>de</strong>, à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ao eu, à<br />

partilha, à presença... por isso, hoje, são imensamente<br />

necessários profissionais <strong>de</strong> filosofia, antropologia,<br />

As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta<br />

nova revolução parecem<br />

ilimitadas, mas há um<br />

<strong>de</strong>safio que urge ganhar: o<br />

da literacia digital<br />

sociologia para olhar para isto. Precisamos que esses<br />

especialistas se juntem à discussão”.<br />

A terminar, partilha uma última preocupação ligada<br />

com a iliteracia. “O cidadão comum está um pouco<br />

a leste do que se está a passar. Ao longo <strong>de</strong>sta década,<br />

<strong>de</strong> certeza que o seguinte vai acontecer: teremos tecnologias<br />

imersivas, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver estas experiências<br />

<strong>de</strong> forma partilhada com várias pessoas, óculos<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong> virtual e óculos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> aumentada,<br />

carros voadores, carros autónomos, computação<br />

quântica, blockchain, bitcoin, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagarmos<br />

com a nossa impressão digital... Tudo já com ofertas<br />

comerciais e preços mais acessíveis. Vamos começar a<br />

ter pessoas que vão às lojas e não percebem o que está<br />

a ser oferecido... Agora já há, mas vamos escalar para<br />

uma oferta 20, 30 vezes maior... É um risco gigantesco,<br />

pois po<strong>de</strong>mos ter uma iliteracia em camadas e isto<br />

po<strong>de</strong> fazer com que haja<br />

muitas pessoas a ficarem<br />

<strong>de</strong> fora, excluídas <strong>de</strong> várias<br />

dinâmicas tecnológicas.<br />

Este tempo é precioso<br />

para pensarmos no que<br />

é que queremos que este<br />

metaverso seja. Que impactos<br />

terá? Nos espaços,<br />

no usufruto das cida<strong>de</strong>s,<br />

nas famílias, no conceito<br />

<strong>de</strong> escola, nas empresas,<br />

nas profissões... Tudo isto<br />

vai ser brutal e é muito importante a divulgação <strong>de</strong>stas<br />

novas tecnologias, pois serão elas que terão impacto<br />

profundo naquilo que será a nossa vida. As pessoas<br />

precisam <strong>de</strong> ouvir falar disto, é uma questão transversal.<br />

Se não queremos criar algo que vá ser distópico no<br />

futuro, o momento <strong>de</strong> agir é agora”.•<br />

33


itech<br />

BERNARDO CORREIA:<br />

Paixão antiga<br />

34<br />

No tempo em que não havia “nativos digitais” Bernardo Correia,<br />

<strong>de</strong> certo modo, foi um precursor. Aos cinco, já brincava<br />

com computadores, antes dos <strong>de</strong>z lançou-se na programação.<br />

A tecnologia e ele cresceram juntos e até hoje permanecem<br />

inseparáveis.<br />

Texto <strong>de</strong> Teresa Ribeiro | Fotos cedidas<br />

O PAI TRABALHAVA no Laboratório<br />

Nacional <strong>de</strong> Engenharia Civil, um<br />

dos poucos sítios em Portugal on<strong>de</strong><br />

existiam computadores a sério.<br />

Eram enormes, daqueles que ainda<br />

trabalhavam com cartões perfurados,<br />

mas tinham uma espécie <strong>de</strong><br />

vida própria que encantava Bernardo.<br />

Sempre que podia experimentava<br />

tudo. Carregava nos botões,<br />

mexia nos comandos e o ecrã ver<strong>de</strong><br />

reagia. Como a família morava mesmo<br />

ao lado do LNEC, era possível,<br />

através da janela passar um fio que<br />

vinha do laboratório e lhes levava<br />

para casa algo que quase ninguém<br />

tinha: internet. “Era uma facilida<strong>de</strong><br />

permitida ao meu pai, por causa do<br />

trabalho <strong>de</strong>le, mas que eu aproveitava<br />

também”, recorda o country<br />

manager da Google Portugal. Quando<br />

mais tar<strong>de</strong> lhe ofereceram para<br />

seu uso pessoal um ZX Spectrum<br />

ficou <strong>de</strong>finitivamente rendido aos<br />

computadores. Ainda não tinha<br />

<strong>de</strong>z anos quando fez o seu primeiro<br />

programa: “Um jogo <strong>de</strong> futebol,<br />

ridiculamente rudimentar”, recorda<br />

divertido.<br />

O namoro continuou quando o avô<br />

lhe ofereceu um Commodore Amiga<br />

500, hoje uma peça <strong>de</strong> coleção:<br />

“Foi o meu primeiro computador a<br />

sério, com imagem, som, côr, que<br />

eu adorava. Ainda tenho um cá em<br />

casa”, partilha. Ao Amiga já juntou<br />

outras peças <strong>de</strong>sse tempo: “Consegui<br />

encontrar o Spectrum em casa<br />

dos meus pais e comprei no eBay a<br />

primeira Playstation”. Diz que adora<br />

tudo o que tem a ver com a história<br />

da tecnologia digital, “a que mais<br />

mudou a capacida<strong>de</strong> das pessoas<br />

po<strong>de</strong>rem apren<strong>de</strong>r, a força mais<br />

igualitária que existe no planeta,<br />

pois permite a qualquer pessoa,<br />

em qualquer p<strong>arte</strong> do mundo, seja<br />

rico ou seja pobre, ace<strong>de</strong>r à mesma<br />

informação”. É isto que mais o<br />

fascina. Isto e o po<strong>de</strong>r que as TIC<br />

mantêm <strong>de</strong> o surpreen<strong>de</strong>r sempre.<br />

Apesar do fascínio precoce por esta<br />

área, na hora <strong>de</strong> escolher o curso<br />

optou por uma via tradicional, pois<br />

“a informática ainda era uma coisa<br />

<strong>de</strong> nicho”. Licenciou-se em Economia,<br />

mas fez carreira em Marketing.<br />

Um dia a Google contactou-o para<br />

fazer <strong>de</strong> interlocutor entre as gran<strong>de</strong>s<br />

marcas e a tecnologia. Ficou<br />

como um peixinho na água.<br />

Quando entrou, em 2008, ainda não<br />

havia Android, tinha acabado <strong>de</strong> sair<br />

o iPhone e a Google ainda não tinha<br />

lançado o seu primeiro smartphone.<br />

“Foi uma altura <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta.<br />

Encontrava-me em Londres<br />

nessa altura, num escritório on<strong>de</strong><br />

havia uns engenheiros que estavam<br />

a <strong>de</strong>senvolver essa tecnologia e eu<br />

adorava aqueles momentos em<br />

que falávamos sobre o que faziam.<br />

Foram anos absolutamente fantásticos”.<br />

De então para cá, ainda não saiu<br />

<strong>de</strong>sta espécie <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> encantamento:<br />

“A era da internet está só<br />

a começar. Basta pensar que dos 8<br />

biliões <strong>de</strong> pessoas que vivem no planeta,<br />

apenas 5 biliões têm acesso à<br />

internet”. O futuro para ele é a IA e a<br />

automação, que libertarão os seres<br />

humanos para coisas cada vez mais<br />

estimulantes.<br />

Em casa, como seria <strong>de</strong> esperar,<br />

vive ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> tecnologia: “Não<br />

há uma divisão que não tenha um<br />

ecrã”. Mas preocupa-se com o bem-<br />

-estar digital, até porque tem três<br />

filhos ainda pequenos: “Não <strong>de</strong>ixamos<br />

que passem tempo <strong>de</strong>mais à<br />

frente <strong>de</strong> ecrãs. A Google tem ferramentas<br />

para gerir essa situação.<br />

A minha preferida é o Family Link,<br />

uma aplicação que permite controlar<br />

as horas a que eles têm acesso.<br />

E é assim que às 20.30 a internet<br />

<strong>de</strong>sliga e os telefones bloqueiam”<br />

(risos). Outra ferramenta que usa<br />

em casa é o Do Not Disturb, que<br />

<strong>de</strong>sliga todas as distrações, mantendo<br />

ativos só os canais essenciais. “O<br />

preço da liberda<strong>de</strong>”, cita o country<br />

manager da Google “é a vigilância<br />

eterna”. Este é o lema que segue<br />

para que o uso da tecnologia seja “o<br />

mais saudável possível”.<br />

Nunca se separa do seu Samsung<br />

Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha<br />

e ecrã dobrável adora e do seu<br />

portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã táctil.<br />

Last but not the least, Bernardo Correia<br />

tem brevet (para ultra-ligeiros) e<br />

quando voa também é nas asas da<br />

tecnologia, guiado pelo indispensável<br />

gps+sky<strong>de</strong>mon.•


Nunca se separa do seu Samsung<br />

Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha e<br />

ecrã dobrável adora<br />

Tem um portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã<br />

táctil, que leva para todo o lado<br />

Para fazer fotos a sério, tem uma Nikkon<br />

a sério<br />

Coleciona peças <strong>de</strong> tecnologia antigas,<br />

como este ZX Spectrum<br />

35


negocios<br />

O 5G JÁ<br />

CHEGOU:<br />

E AGORA?<br />

Com as re<strong>de</strong>s comerciais finalmente<br />

disponíveis, como se perspetiva<br />

o futuro com o 5G? Os use cases já<br />

conhecidos comprovam que será uma<br />

tecnologia disruptiva, especialmente<br />

no B2B. Para já, dão-se os primeiros<br />

passos numa jornada on<strong>de</strong> cobertura,<br />

investimento, ecossistema e oferta<br />

serão críticos.<br />

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA<br />

FOTOS DE ISTOCK E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW E CEDIDAS<br />

36


37


negocios<br />

38<br />

A<br />

rapi<strong>de</strong>z com que a NOS, a 27 <strong>de</strong> novembro último,<br />

seguida da Vodafone, a 30, e da Altice Portugal,<br />

a 1 <strong>de</strong> janeiro, disponibilizaram comercialmente<br />

as respetivas ofertas comerciais <strong>de</strong><br />

5G, comprova que os três operadores estavam mais do<br />

que preparados para um arranque há já muito esperado.<br />

E, apesar <strong>de</strong> todos os atrasos na conclusão do leilão,<br />

que colocaram Portugal na cauda da Europa no lançamento<br />

<strong>de</strong>stas re<strong>de</strong>s – foi o penúltimo país da UE27 a<br />

concluir o processo, a seguir à Lituânia – esta realida<strong>de</strong><br />

não prejudicou o <strong>de</strong>senvolvimento da nova geração<br />

móvel, face aos <strong>de</strong>mais Estados-membros.<br />

Se Portugal ficou prejudicado, foi apenas em termos<br />

<strong>de</strong> imagem. “Fizemos muito barulho durante um<br />

ano e escrevemos muita coisa. Fomos alvo, diria, <strong>de</strong><br />

alguma chacota, em alguns contextos internacionais.<br />

Éramos sempre apontados como os que escolheram<br />

um processo <strong>de</strong> leilão muito<br />

antiquado. Ninguém<br />

gosta <strong>de</strong> ouvir estas coisas<br />

e, enquanto engenheiro<br />

português, também não<br />

gostei”, admite Pedro Tavares,<br />

technology, media &<br />

telecom lea<strong>de</strong>r da Deloitte.<br />

Tendo em conta o que<br />

está a acontecer na Europa<br />

e em mercados mais <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

como a Austrália,<br />

Tailândia e EUA,<br />

geografias que conhece<br />

bem, o consultor assegura que não estamos atrasados.<br />

É que os operadores “fizeram o seu trabalho bastante<br />

bem e <strong>de</strong> forma consistente. Com tempo, preparando-se<br />

para o dia em que o leilão terminou e as licenças<br />

foram disponibilizadas. A prova disso é que no dia em<br />

que receberam o papel assinado da Anacom puseram o<br />

serviço no ar, num trabalho extraordinário <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação<br />

das suas re<strong>de</strong>s para esta nova realida<strong>de</strong>. Não per<strong>de</strong>mos<br />

absolutamente nada”.<br />

José Ro<strong>de</strong>ia, senior manager da Accenture Portugal,<br />

é da mesma opinião: “Os operadores não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />

procurar o <strong>de</strong>senvolvimento da tecnologia, através da<br />

Os operadores<br />

prepararam-se. O<br />

que explica a rapi<strong>de</strong>z<br />

com que iniciaram a<br />

comercialização do 5G<br />

utilização da re<strong>de</strong> 5G disponibilizada para testes. O<br />

que explica a rapi<strong>de</strong>z com que foi iniciada a comercialização<br />

do serviço após o fim do leilão”, acrescentando<br />

ainda que no B2B recorreram a “parceiros com experiência<br />

global, para recuperar tempo e propor e implementar<br />

soluções semelhantes ao que está a ser <strong>de</strong>senvolvido<br />

ao nível global”.<br />

MOSTRAR POTENCIAL E EVANGELIZAR<br />

Mas o que é que mudou, em concreto, com a oferta comercial<br />

do 5G, que começou por ser disponibilizado<br />

gratuitamente pelos operadores a todos os clientes <strong>de</strong><br />

todos os tarifários, a título experimental, até 31 <strong>de</strong> janeiro,<br />

e foi posteriormente alargado até 31 <strong>de</strong> março?<br />

A perceção é que, pelo menos para já, não existe ainda<br />

nada <strong>de</strong> diferenciador, até porque a oferta 5G se resume<br />

a uma maior velocida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> forma limitada às zonas<br />

que já dispõem <strong>de</strong> cobertura.<br />

“Ainda estamos num período <strong>de</strong> evangelização”,<br />

avança José Ro<strong>de</strong>ia que <strong>de</strong>ixa claro que, apesar <strong>de</strong> já ser<br />

possível aos operadores apostar no mercado B2B, com<br />

“use cases provados, alavancados<br />

em re<strong>de</strong>s 5G privadas”,<br />

o foco terá <strong>de</strong> ser<br />

agora o <strong>de</strong> trabalhar “com<br />

early-adopters que reconheçam<br />

o benefício <strong>de</strong> começar<br />

processos <strong>de</strong> transformação<br />

mais cedo e ganhar<br />

vantagem sobre os seus<br />

concorrentes”.<br />

“Os operadores lançaram,<br />

porque estavam<br />

preparados para isso, o<br />

Enhanced Mobile Broadband<br />

(eMBB), que permite mais velocida<strong>de</strong>, mas<br />

que, para a esmagadora maioria dos serviços, pouco ou<br />

nada conta. O 5G é muito mais do que isso. Foi pensado<br />

sobretudo para o B2B e é aí que acho que o trabalho<br />

foi menos bem feito, porque é extremamente complexo<br />

<strong>de</strong> se fazer. Os mercados globais não estão preparados<br />

e não foram pensados para utilizar tecnologias<br />

móveis do segmento empresarial”, acrescenta Pedro<br />

Tavares.<br />

Na sua ótica, até agora o que os operadores fizeram<br />

foi utilizar re<strong>de</strong>s móveis para oferecer voz e dados<br />

às empresas e aos seus empregados, numa “espécie <strong>de</strong>


B2B2C. Mas o 5G significa fazer B2B diretamente”,<br />

o que não existe ainda em nenhum<br />

mercado, a não ser em casos muito<br />

pontuais.<br />

“Não vemos utilização do 5G nas empresas<br />

para resolver temas como aumentar<br />

a eficiência, ou resolver problemas <strong>de</strong><br />

negócio”, assegura.<br />

No fundo, e apesar <strong>de</strong> admitir a apetência<br />

do mercado para criar use cases a<br />

uma velocida<strong>de</strong> cada vez maior, subsiste<br />

um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: “Saber como se vai monetizar<br />

estas ofertas. Por exemplo, numa<br />

fábrica 5G, on<strong>de</strong> conseguimos ver a digitalização<br />

da maioria dos processos industriais,<br />

é preciso encontrar formas <strong>de</strong> monetização.<br />

Como é que isso se ven<strong>de</strong> pelos<br />

operadores? Por quanto é que precisam<br />

<strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r? Por quanto po<strong>de</strong>m comprar os<br />

clientes?”. Mesmo nos casos das “geografias<br />

mais avançadas, on<strong>de</strong> há operadores<br />

com use cases diferenciados, ainda não fazem<br />

dinheiro com o 5G e estão muito longe<br />

disso. Todos estes processos têm uma<br />

jornada. A seu tempo, iremos encontrar<br />

as primeiras implementações com sucesso, que efetivamente<br />

resolvam problemas <strong>de</strong> negócio dos clientes<br />

B2B”. E isso só <strong>de</strong>verá acontecer com uma mudança<br />

<strong>de</strong> fundo nas re<strong>de</strong>s. Enquanto a arquitetura <strong>de</strong> re<strong>de</strong><br />

for non standalone (NSA), pouco mais é possível do que<br />

disponibilizar ofertas eMBB (maior largura <strong>de</strong> banda).<br />

Só a mudança para uma re<strong>de</strong> 5G standalone (SA), com a<br />

implementação <strong>de</strong> um core <strong>de</strong> re<strong>de</strong> totalmente diferenciado,<br />

é que permitirá dar o verda<strong>de</strong>iro salto em frente<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> soluções assentes nas novas re<strong>de</strong>s<br />

móveis, acelerando áreas como cloud, edge, IA, analítica<br />

e automação.<br />

DAR TEMPO AO TEMPO<br />

Por isso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que “é preciso dar tempo ao tempo,<br />

para que os operadores se sintam capazes, até financeiramente,<br />

para avançar”. É que o tema da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> investimento é crítico num mercado on<strong>de</strong> os players<br />

pagaram mais do que o esperado pelo espetro <strong>de</strong><br />

“Com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leilão que foi seguido, trocaram-se resultados imediatos<br />

por uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os operadores investirem <strong>de</strong> forma mais massiva<br />

em plataformas. É certo que os investimentos não vão dar para tudo”,<br />

comenta José Ro<strong>de</strong>ia, senior manager da Accenture Portugal<br />

5G, num setor já massificado e on<strong>de</strong> as receitas já pouco<br />

crescem. No total, o encaixe do leilão foi <strong>de</strong> 566,8<br />

milhões <strong>de</strong> euros: 165 milhões foram pagos pela NOS,<br />

133,2 milhões pela Vodafone e 125 milhões pela Altice.<br />

Já a Nowo investiu 70 milhões, a Dixarobil 67 milhões<br />

e a Dense Air 5,7 milhões. Estimativas do mercado antecipam<br />

que os operadores nacionais terão <strong>de</strong> investir<br />

na implantação do 5G valores entre 2,3 e 2,8 mil milhões<br />

<strong>de</strong> euros, nos próximos cinco anos.<br />

“Já foi dito várias vezes que, com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> leilão<br />

que foi seguido, se trocaram resultados imediatos por<br />

uma capacida<strong>de</strong> dos operadores investirem <strong>de</strong> forma<br />

mais massiva em plataformas que trouxessem competitivida<strong>de</strong><br />

à nossa economia. É certo que os investimentos<br />

não vão dar para tudo”, garante José Ro<strong>de</strong>ia.<br />

“Os business cases originais foram sendo revistos à medida<br />

que o leilão foi progredindo”, acrescenta Pedro<br />

Tavares, explicando que houve consequências: “A passagem<br />

do 5G non-standalone (NSA)) para o 5G standalo-<br />

39


negocios<br />

40<br />

“As obrigações <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s são muito pesadas e dissonantes<br />

entre incumbentes e novos entrantes”, adverte Pedro Tavares, technology,<br />

media & telecom lea<strong>de</strong>r da Deloitte, antecipando no tema do roaming<br />

nacional “uma disputa interessante”<br />

ne (SA), que <strong>de</strong>veria ocorrer num espaço <strong>de</strong> 12 meses,<br />

não vai seguramente ocorrer nesse timing. É preciso, <strong>de</strong><br />

alguma forma, garantir o retorno com o que se consegue<br />

fazer no 5G NSA e, a<br />

seu tempo, será pensado o<br />

Os pilotos permitem<br />

aumentar a visibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> soluções disruptivas<br />

e provar as capacida<strong>de</strong>s<br />

diferenciadoras<br />

5G SA. Provavelmente, só<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois anos”.<br />

Para já, e como <strong>de</strong>talha<br />

o responsável da Accenture,<br />

a aposta no imediato<br />

passará, “no mercado<br />

empresarial, com use cases<br />

já provados, alavancados<br />

em re<strong>de</strong>s 5G privadas,<br />

para iniciar a recuperação<br />

do investimento e respetiva<br />

monetização da tecnologia. Os pilotos em execução<br />

permitem aumentar a visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções disruptivas<br />

e provar as capacida<strong>de</strong>s diferenciadoras. No entanto,<br />

será fundamental provar a viabilida<strong>de</strong><br />

financeira e o retorno <strong>de</strong> investimento das<br />

empresas, uma vez que existirão vários custos<br />

na implementação <strong>de</strong> soluções em larga<br />

escala”.<br />

Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento, capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> inovação e gestão <strong>de</strong> talento são, para José<br />

Ro<strong>de</strong>ia, os principais fatores que vão <strong>de</strong>terminar,<br />

a prazo, que o potencial do 5G seja verda<strong>de</strong>iramente<br />

aproveitado pela economia e a<br />

socieda<strong>de</strong>. Para isso, terá <strong>de</strong> garantir-se “um<br />

clima favorável à geração <strong>de</strong> negócio, para que<br />

os operadores possam compensar e continuar<br />

a investir no <strong>de</strong>ployment da re<strong>de</strong>, e respetiva<br />

robustez, com novas fontes <strong>de</strong> receita”. Assim<br />

como ter “condições que permitam a investigação<br />

<strong>de</strong> novos use cases, <strong>de</strong>vices que permitam<br />

capturar todos os benefícios do 5G” e<br />

capacitar as pessoas na nova tecnologia.<br />

CONSTRUIR CAMINHO<br />

A fazer o seu caminho no 5G estão os operadores.<br />

No âmbito do novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> iniciativas<br />

lançado em fevereiro pela APDC, <strong>de</strong>nominado<br />

Dot Topics, um formato podcast on<strong>de</strong><br />

foram entrevistados responsáveis da Vodafone,<br />

NOS e Altice, além <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> cliente<br />

potencial, a EDP, foram <strong>de</strong>svendadas algumas<br />

estratégias e caminhos a <strong>de</strong>senvolver. Os<br />

<strong>de</strong>bates sobre o futuro com o 5G <strong>de</strong>correram<br />

em parceria com a Capgemini Engineering.<br />

Para Manuel Eanes, administrador da NOS, a “re<strong>de</strong><br />

5G não é só mais um G, mas uma revolução”, porque<br />

traz consigo quatro novas coisas cuja combinação po<strong>de</strong>rá<br />

transformar tudo:<br />

<strong>de</strong>z vezes mais velocida<strong>de</strong>,<br />

latências até menos <strong>de</strong><br />

um milissegundo, um milhão<br />

<strong>de</strong> objetos ligados por<br />

km2 e uma disponibilida<strong>de</strong><br />

e fiabilida<strong>de</strong> enormes.<br />

“Para nós, a proposta <strong>de</strong><br />

valor do 5G é muito séria.<br />

Temos como objetivo li<strong>de</strong>rar<br />

a era do 5G e estamos a<br />

trabalhar nisso há muito<br />

tempo”, assegura.<br />

Consciente <strong>de</strong> que para “construir todo este novo<br />

universo <strong>de</strong> soluções, vamos ter que fazer uma aprendizagem<br />

muito rápida”, diz haver peças fundamentais


a tomar em linha <strong>de</strong> conta. Ter um “ecossistema<br />

<strong>de</strong> inovação aberta muito forte e<br />

po<strong>de</strong>roso”, é uma <strong>de</strong>las. Fazer uma “boa<br />

leitura dos problemas práticos que tem<br />

valor resolver, tentando trazer a tecnologia<br />

a bordo para os solucionar”, é outra.<br />

Assim como “<strong>de</strong>senvolver um conjunto <strong>de</strong><br />

elementos estruturais na re<strong>de</strong>”, para respon<strong>de</strong>r<br />

às novida<strong>de</strong>s que o 5G trará na utilização<br />

<strong>de</strong> tecnologias. Trata-se, na perspetiva<br />

<strong>de</strong>ste gestor, <strong>de</strong> “tentar construir um<br />

caminho para, tão cedo quanto possível,<br />

aproveitar todo o potencial das muitas<br />

inovações que o 5G nos vai trazer ao longo<br />

dos próximos <strong>de</strong>z anos”.<br />

Na Vodafone Portugal, Henrique Fonseca,<br />

administrador responsável pela Unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Negócio Empresarial, está convicto<br />

<strong>de</strong> que no 5G tudo vai acontecer muito<br />

mais <strong>de</strong>pressa, uma vez que a tecnologia o<br />

permite, assim como os requisitos <strong>de</strong> cobertura<br />

e as funcionalida<strong>de</strong>s em velocida<strong>de</strong><br />

e, sobretudo, latência. “O 4G já nos permite<br />

latências <strong>de</strong> 40 milissegundos. Com<br />

o 5G vamos ter 1 milisegundo. Vamos chegar<br />

lá. Amanhã não vamos estar a fazer cirurgias remotas<br />

nem a ver carros a andar sozinhos. Há um caminho<br />

para lá chegar e é esse que estamos a preparar e a fazer<br />

acontecer em Portugal”.<br />

E a Vodafone tem, na<br />

“Ainda não vamos estar a fazer cirurgias remotas nem a ver carros a andar<br />

sozinhos. Há um caminho para lá chegar e é esse que estamos a preparar”,<br />

frisa Henrique Fonseca, administrador responsável pela unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio<br />

empresarial da Vodafone Portugal<br />

Construir o universo <strong>de</strong><br />

soluções possíveis vai exigir<br />

uma aprendizagem rápida.<br />

Por isso o ecossistema <strong>de</strong><br />

inovação tem <strong>de</strong> ser forte<br />

sua ótica, uma vantagem<br />

à partida, já que o grupo<br />

que integra lançou nos últimos<br />

três anos quase 20<br />

re<strong>de</strong>s 5G no mundo. Tratase<br />

<strong>de</strong> um “capital <strong>de</strong> experiência<br />

e <strong>de</strong> conhecimento<br />

acumulado que estamos<br />

a pôr ao dispor <strong>de</strong> Portugal.<br />

Quando falamos com<br />

os nossos clientes sobre<br />

o que está a acontecer nos outros mercados e o que é<br />

que fizeram com o 5G, vemos que realmente estamos<br />

a abrir o caminho para acelerar a digitalização das empresas<br />

nacionais”.<br />

A beneficiar da experiência do grupo on<strong>de</strong> se integra<br />

está também a Altice Portugal. Para o seu chief sales<br />

officer (CSO), Nuno Nunes,<br />

o grupo está a construir,<br />

<strong>de</strong>ntro do seu backbone,<br />

“uma plataforma on<strong>de</strong> os<br />

vários vendors, startups e<br />

empresas estão conectados<br />

e fazem <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

ace<strong>de</strong>ndo a todos<br />

os uses cases da Altice pelo<br />

mundo inteiro”. Com todas<br />

as re<strong>de</strong>s ligadas, sempre<br />

que houver um use case<br />

que <strong>de</strong>senvolva uma solução<br />

5G, todos os países beneficiam da informação e da<br />

respetiva experiência, assegura.<br />

“Estamos a construir soluções que o mercado pre-<br />

41


negocios<br />

42<br />

“Temos como objetivo li<strong>de</strong>rar a era do 5G e estamos a trabalhar nisso há<br />

muito tempo”, frisa Manuel Eanes, administrador da NOS<br />

cisa para que a economia e as empresas se tornem mais<br />

competitivas. A p<strong>arte</strong> da infraestrutura não é o game<br />

changer, mas o driver para transportar informação <strong>de</strong><br />

um lado para o outro. O<br />

game changer está nas plataformas<br />

on<strong>de</strong> os ven<strong>de</strong>rs<br />

que trabalham connosco<br />

constroem os use cases<br />

5G, para que <strong>de</strong>pois os<br />

possamos partilhar, quer<br />

com o mundo on<strong>de</strong> estamos,<br />

quer com os nossos<br />

clientes em Portugal”,<br />

acrescenta.<br />

Todos admitem que há<br />

ainda muitos <strong>de</strong>safios pela<br />

frente, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o 5G trará gran<strong>de</strong>s benefícios<br />

ao país. “Temos um setor e um conjunto gran<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

empresas competentes que po<strong>de</strong>m, em colaboração,<br />

Estimam-se ganhos na<br />

produtivida<strong>de</strong> na or<strong>de</strong>m<br />

dos 20% a 30% na indústria<br />

e <strong>de</strong> 25% na agricultura<br />

com a adoção do 5G<br />

ajudar a que se tire partido <strong>de</strong>sta tecnologia.<br />

A promessa é que haja ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

da or<strong>de</strong>m dos 20% a 30% na indústria,<br />

com ganhos <strong>de</strong> 50% nas linhas <strong>de</strong> montagem,<br />

e <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> na agricultura.<br />

Com estes números, estamos a ver apenas<br />

a ponta do iceberg do que será, seguramente,<br />

uma enorme transformação da nossa capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> entregar. Todos temos <strong>de</strong> fazer um<br />

processo <strong>de</strong> adaptação. Há que começar já e<br />

não esperar por amanhã para ver como é que<br />

o 5G po<strong>de</strong> ajudar a transformar as nossas vidas<br />

e os nossos negócios”, adverte o administrador<br />

da NOS.<br />

PERCEBER O VALOR DA TECNOLOGIA<br />

Para que essa transformação <strong>de</strong> fundo seja<br />

uma realida<strong>de</strong>, terá primeiro <strong>de</strong> se “enten<strong>de</strong>r<br />

o valor da tecnologia para resolver questões<br />

concretas. O problema <strong>de</strong> muitas jornadas<br />

tecnológicas é que, concetualmente, as camadas<br />

são muito bem <strong>de</strong>finidas, mas <strong>de</strong>moram<br />

muito tempo a implementar. E a paciência<br />

ou a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento esgotam-se<br />

por falta <strong>de</strong> resultados práticos. Como temos<br />

essa consciência, o que preferimos é entregar<br />

resultados <strong>de</strong>pressa, para que se possa ver o valor e que<br />

isso aju<strong>de</strong> a custear e a credibilizar os movimentos do<br />

futuro”, explica Manuel Eanes.<br />

Neste momento, e segundo<br />

o administrador<br />

da Vodafone, as soluções<br />

mais facilmente implementáveis<br />

e com resultados<br />

imediatos são as que<br />

têm a ver com realida<strong>de</strong><br />

aumentada e virtual, manutenção<br />

<strong>de</strong> máquinas<br />

nas fábricas ou, na saú<strong>de</strong>,<br />

as consultas remotas ou<br />

a monitorização remota,<br />

entre outras. Representando<br />

o 5G um “salto tecnológico”, explica que, muitas<br />

vezes, a barreira à sua adoção po<strong>de</strong> assentar não<br />

só no business case”, mas também no não querer alte-


Nuno Nunes, chief sales officer da Altice Portugal: “Estamos a construir<br />

soluções que o mercado precisa para que a economia e as empresas se<br />

tornem mais competitivas”<br />

Um fator consi<strong>de</strong>rado<br />

essencial para a aceleração<br />

da oferta do 5G no mercado<br />

nacional é o apoio público<br />

ao seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

rar o status quo e não ter a coragem <strong>de</strong> ir à<br />

frente”.<br />

Para o gestor, o 5G não é “só um <strong>de</strong>safio<br />

dos operadores, dos parceiros e do ecossistema<br />

que está à volta, mas <strong>de</strong> todos nós. É<br />

bom que cada um dos players <strong>de</strong>sta indústria<br />

faça acontecer, que fale sobre o que<br />

está a fazer e apresente resultados concretos<br />

dos uses cases que está a disponibilizar<br />

aos clientes. Porque isso ajuda o mercado<br />

e dá-lhe confiança. Nenhum <strong>de</strong> nós sozinho<br />

po<strong>de</strong> ter mais sucesso do que se toda<br />

a indústria se unir e contribuir”.<br />

A olhar para o 5G e para a sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> potenciar o negócio, nomeadamente<br />

os processos <strong>de</strong> transição energética<br />

e digital, está a gigante EDP. João<br />

Nascimento, digital global unit do grupo,<br />

conhece bem a tecnologia, até porque veio<br />

<strong>de</strong> um dos operadores <strong>de</strong> comunicações, e<br />

garante que tudo é possível. Mas o que falta<br />

é saber “qual o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> negócio que<br />

está por <strong>de</strong>trás. A tecnologia existe, a necessida<strong>de</strong> existe.<br />

Temos agora que fazer um casamento entre as duas<br />

coisas e capturar o valor”. ´<br />

O processo está apenas<br />

a começar, com a exploração<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, para <strong>de</strong>pois<br />

se po<strong>de</strong>rem criar os use cases<br />

e as provas <strong>de</strong> conceito<br />

e começar a usar a tecnologia.<br />

Para isso, o gestor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

um verda<strong>de</strong>iro “diálogo<br />

<strong>de</strong> parceria com os<br />

operadores”, percebendo<br />

com eles as oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> valor. E <strong>de</strong>ixa<br />

bem claro: “O 5G é uma<br />

tecnologia muito interessante e que traz todas as tecnologias<br />

novas com que po<strong>de</strong>remos trabalhar. Mas tem<br />

<strong>de</strong> haver racionalida<strong>de</strong> económica: em termos empresariais,<br />

temos <strong>de</strong> ver a tecnologia como um enabler <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> valor e ser exigentes nessa captura. Tecnologia<br />

sim, mas ao serviço do nosso propósito”.<br />

Um fator consi<strong>de</strong>rado<br />

essencial para a aceleração<br />

da oferta do 5G no mercado<br />

nacional, com todos<br />

os benefícios inerentes, é<br />

também o apoio público<br />

ao seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

“O governo tem também<br />

uma palavra muito relevante<br />

a dizer. Infelizmente,<br />

no nosso PRR não vimos<br />

esse sinal, coisa que<br />

aconteceu noutras geografias.<br />

Mas ainda vamos muito a tempo<br />

<strong>de</strong> corrigir. Espero que venha a haver oportunida<strong>de</strong>s<br />

e sinais <strong>de</strong> contribuição para este <strong>de</strong>senvolvimento<br />

43


negocios<br />

garantir um ecossistema completo, com a<br />

presença <strong>de</strong> operadores, network equipment provi<strong>de</strong>rs,<br />

consultoras <strong>de</strong> negócio, cloud provi<strong>de</strong>rs,<br />

software houses e universida<strong>de</strong>s. Ecossistemas<br />

com esta amplitu<strong>de</strong> estarão capacitados para<br />

<strong>de</strong>senvolver novos use cases, ser um pilar <strong>de</strong><br />

inovação nos processos <strong>de</strong> transformação digital<br />

e garantir <strong>de</strong>ployment <strong>de</strong> soluções complexas<br />

em larga escala”.<br />

44<br />

João Nascimento, digital global unit do Grupo EDP: “A tecnologia existe, a<br />

necessida<strong>de</strong> existe. Temos agora que fazer um casamento entre as duas<br />

coisas e capturar valor”<br />

e aceleração do 5G, agora que a tecnologia está disponível”,<br />

comenta Henrique Fonseca.<br />

“Os apoios públicos à inovação e à adoção da tecnologia<br />

serão essenciais<br />

para acelerar. Devem, inclusivamente,<br />

ser vistos<br />

como um investimento<br />

necessário ao posicionamento<br />

do país como um<br />

dinamizador da mudança,<br />

procurando que Portugal<br />

seja uma referência<br />

<strong>de</strong> inovação”, acrescenta<br />

José Ro<strong>de</strong>ia.<br />

Trata-se, como explica,<br />

<strong>de</strong> “acelerar programas<br />

<strong>de</strong> investigação e rollout <strong>de</strong> projetos. Já se começaram a<br />

dar os primeiros passos e a criar as primeiras parcerias<br />

que <strong>de</strong>verão ser alargadas, num futuro próximo, para<br />

Portugal tem uma curva<br />

agressiva <strong>de</strong> cobertura do<br />

país, pelo que as pessoas<br />

terão rapidamente acesso<br />

às re<strong>de</strong>s<br />

CONCORRÊNCIA VS CONSOLIDAÇÕES<br />

A cobertura do país com as re<strong>de</strong>s 5G é um dos<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios a que os operadores terão <strong>de</strong><br />

dar resposta rapidamente. Não só porque só<br />

assim po<strong>de</strong>rão trazer valor para o mercado,<br />

mas também porque, apesar dos atrasos no<br />

encerramento do leilão, governo e regulador<br />

das comunicações <strong>de</strong>ixaram claro que os prazos<br />

<strong>de</strong>finidos no regulamento se mantêm. O<br />

que significa que já em 2023 terão metas para<br />

cumprir, para que em 2025 pelo menos cerca<br />

<strong>de</strong> 90% do país já disponha <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s móveis <strong>de</strong><br />

nova geração.<br />

Manuel Eanes consi<strong>de</strong>ra mesmo que Portugal<br />

tem “uma curva muitíssimo agressiva <strong>de</strong> cobertura<br />

do país”, pelo que as pessoas terão muito rapidamente<br />

um acesso significativo às re<strong>de</strong>s. Para já, o<br />

operador já está presente<br />

em todas as capitais <strong>de</strong><br />

distrito. Concordando que<br />

o “plano <strong>de</strong> rollout do 5G é<br />

um plano muito agressivo,<br />

porque em quatro anos vamos<br />

ter que fazer o que <strong>de</strong>morámos<br />

quase <strong>de</strong>z anos<br />

no 4G”, o responsável da<br />

Vodafone garante que vai<br />

ser concretizada a meta <strong>de</strong><br />

cobertura 5G até ao final<br />

<strong>de</strong> 2025, com uma velocida<strong>de</strong>,<br />

no mínimo, <strong>de</strong> 100 Mbps.<br />

Pedro Tavares classifica mesmo as metas <strong>de</strong> “obrigações<br />

hercúleas, muito pesadas e dissonantes <strong>de</strong> co-


ACELERAR PARA COLHER BENEFÍCIOS<br />

Os números mais recentes <strong>de</strong> Bruxelas mostram<br />

que o <strong>de</strong>senvolvimento das re<strong>de</strong>s 5G na<br />

UE27 tem sido mais moroso que o previsto<br />

e que muitos Estados-membros estão ainda<br />

longe <strong>de</strong> beneficiar das suas vantagens.<br />

Apesar da cobertura ter aumentado <strong>de</strong> 14%<br />

da população (em 2020) para mais <strong>de</strong> 20%<br />

no ano passado, exce<strong>de</strong>ndo até os 50%<br />

em vários países, ainda se está longe do<br />

i<strong>de</strong>al sonhado para o espaço comunitário.<br />

As estimativas iniciais apontavam para um<br />

investimento <strong>de</strong> 400 mil milhões <strong>de</strong> euros no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do 5G até 2025, acrescentando-se<br />

um bilião <strong>de</strong> euros ao PIB europeu<br />

entre 2021 e 2025 e um potencial <strong>de</strong> criar ou<br />

transformar até 20 milhões <strong>de</strong> empregos. A<br />

pan<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Covid-19 veio baralhar tudo e<br />

a UE já garantiu que vai intensificar esforços,<br />

<strong>de</strong>pois do Tribunal <strong>de</strong> Contas Europeu ter<br />

alertado recentemente os europeus <strong>de</strong> que<br />

estão a ficar para trás e que corremos o risco<br />

<strong>de</strong> falhar as metas <strong>de</strong>finidas para 2025. Nesse<br />

ano, é suposto ter assegurada uma cobertura<br />

<strong>de</strong> 5G nas áreas urbanas e ao longo<br />

das principais vias <strong>de</strong> transporte do espaço<br />

comunitário.<br />

Portugal é, claramente, um dos países mais<br />

atrasados no processo. Mas as projeções<br />

sobre o impacto positivo do 5G na economia<br />

nacional nos próximos anos pouco ou nada<br />

se alteraram. Segundo Pedro Tavares, as<br />

previsões da Deloitte Analysis 2019, realizadas<br />

com a NOS, que apontavam para que a<br />

nova geração acrescente à economia nacional<br />

17 mil milhões <strong>de</strong> euros até 2035, mantêmse.<br />

Só nos impactos esperados por indústrias<br />

- manufaturing, wholesale, TIC, retalho, transportes<br />

e armazenamento e utilities é que se<br />

registaram variações <strong>de</strong> valores entre 10% a<br />

15%. Já um estudo divulgado pela Accenture<br />

Strategy há cerca <strong>de</strong> um ano, sobre o impacto<br />

do 5G na economia europeia, antecipa<br />

que até 2025 a nova geração móvel trará um<br />

aumento do PIB <strong>de</strong> 11 mil milhões <strong>de</strong> euros e<br />

a criação ou transformação <strong>de</strong> 260 mil postos<br />

<strong>de</strong> trabalho.•<br />

bertura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s entre os incumbentes e novos entrantes”,<br />

<strong>de</strong>stacando ainda a obrigatorieda<strong>de</strong> dos três<br />

gran<strong>de</strong>s operadores com re<strong>de</strong> terem <strong>de</strong> disponibilizar<br />

roaming nacional aos <strong>de</strong>mais concorrentes. “Avizinha-<br />

-se uma disputa interessante entre os operadores que<br />

têm obrigações legais, escritas e formais e aquilo que<br />

efetivamente vão fazer ou querer fazer”, antecipa.<br />

Neste âmbito, o tema das consolidações, que voltou<br />

a ganhar força nos últimos meses na Europa, quando<br />

em paralelo Bruxelas e Portugal tentam criar mais<br />

concorrência, facilitando a entrada <strong>de</strong> novos players no<br />

mercado, é incontornável. O responsável da Deloitte<br />

não tem dúvidas <strong>de</strong> que se assistirá a prazo, tanto na<br />

Europa como no país, a movimentos <strong>de</strong> consolidação,<br />

ao mesmo tempo que <strong>de</strong>verão surgir operadores <strong>de</strong> super-nicho,<br />

como no caso da Dixarobil, dos romenos da<br />

Digi Communications.<br />

José Ro<strong>de</strong>ia confirma esta perspetiva: “O que temos<br />

visto em alguns operadores, a nível internacional,<br />

é uma estratégia baseada em ofertas comerciais mais<br />

simples, essencialmente focadas em B2C, com preços<br />

mais baixos e estruturas <strong>de</strong> suporte otimizadas e<br />

digitalizadas. Como o fornecimento <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> comunicações<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> é bastante exigente do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> investimento, o que observamos é mais<br />

um movimento <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong> operadores, que<br />

um movimento <strong>de</strong> dispersão. Acontecendo o mesmo<br />

em Portugal, a entrada <strong>de</strong> novos players que compitam<br />

apenas por preço resulta num movimento <strong>de</strong> consolidação<br />

posterior, <strong>de</strong>ixando pelo meio uma <strong>de</strong>svalorização<br />

da indústria”.•<br />

VEJA OS 4 EPISÓDIOS DOS DOT TOPICS:<br />

EM PODCAST: https://bit.ly/3GcO8mA<br />

EM VÍDEOCAST: https://bit.ly/3GcO8mA<br />

45


management<br />

SEMANA DOS<br />

QUATRO DIAS:<br />

MENOS É MAIS?<br />

Eis o caldo: trabalho, pan<strong>de</strong>mia, millenials e<br />

tecnologia. Da mistura saíram várias receitas,<br />

com <strong>de</strong>staque para o teletrabalho. Mas há<br />

mais opções e, entre estas, a semana dos<br />

quatro dias, que já foi testada com sucesso<br />

noutras paragens. A questão está em saber se<br />

funciona em Portugal.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS DE ISTOCK (ABERTURA) E VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

46


47


management<br />

sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres), foi um dos investigadores que se<br />

<strong>de</strong>bruçou sobre o tema e acabou convencido. Em agosto,<br />

lançou o livro “Friday is the New Saturday”, on<strong>de</strong><br />

afirma que “uma semana <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> quatro dias”<br />

não só “po<strong>de</strong>rá salvar a economia” como “é uma melhor<br />

forma <strong>de</strong> organizar a economia no século XXI”.<br />

48<br />

Embora não tenha sido discutida em campanha<br />

eleitoral, a semana dos quatro dias foi equacionada<br />

pelo Partido Socialista no programa que levou<br />

a votos dia 30 <strong>de</strong> janeiro. Ao prometer nesse<br />

documento a “pon<strong>de</strong>ração da aplicabilida<strong>de</strong>” <strong>de</strong>ssa experiência<br />

“em diferentes setores”, logo os representantes<br />

das associações patronais reagiram. E não foi para<br />

apoiar a i<strong>de</strong>ia.<br />

A verda<strong>de</strong> é que este cenário não surgiu do nada.<br />

Sobretudo <strong>de</strong>pois da pan<strong>de</strong>mia, houve vários países<br />

que ensaiaram a medida. No ano passado, Espanha<br />

consi<strong>de</strong>rou a implementação da semana das 32 horas<br />

para favorecer a criação <strong>de</strong> emprego, numa fase em que<br />

o seu mercado <strong>de</strong> trabalho estava seriamente abalado<br />

pela pan<strong>de</strong>mia. Também a Escócia <strong>de</strong>cidiu testar a semana<br />

das 32 horas, inspirada em exemplos como o da<br />

Nova Zelândia, que abraçou com a bênção da própria<br />

primeira-ministra, Jacinta Ar<strong>de</strong>n, a realização <strong>de</strong> “pilotos”<br />

nesse âmbito. Houve iniciativas similares noutras<br />

geografias, mas o exemplo que mais impressionou<br />

a comunida<strong>de</strong> internacional foi o da Islândia. Aqui,<br />

não foi a pan<strong>de</strong>mia que inspirou a adoção da semana<br />

dos quatro dias, já que a experiência teve início em<br />

2015 e se <strong>de</strong>senrolou até 2019.<br />

Pioneira na matéria, a Islândia envolveu cerca <strong>de</strong><br />

1% da sua força <strong>de</strong> trabalho na iniciativa. Durante quatro<br />

anos cerca <strong>de</strong> 2.500 trabalhadores cumpriram um<br />

horário que não exce<strong>de</strong>u as 36 horas semanais, po<strong>de</strong>ndo<br />

ser concentrado em quatro dias, sem redução salarial.<br />

Este ensaio foi conduzido pelo governo islandês na<br />

capital do País, Reykjavik, e os resultados analisados<br />

pela Associação pela Sustentabilida<strong>de</strong> e Democracia<br />

da Islândia e pelo grupo Autonomy. Concluiu-se que<br />

durante este período não houve qualquer quebra na<br />

produtivida<strong>de</strong> e que o stress dos trabalhadores diminuiu,<br />

assim como o risco <strong>de</strong> burnout. O sucesso foi <strong>de</strong><br />

tal forma esmagador que, a partir <strong>de</strong> 2019, a redução<br />

<strong>de</strong> horários começou a ser negociada pelos sindicatos<br />

<strong>de</strong> forma generalizada. Atualmente, abrange cerca <strong>de</strong><br />

86% dos trabalhadores islan<strong>de</strong>ses do setor público.<br />

A maior experiência <strong>de</strong> redução da jornada laboral<br />

que até hoje foi feita tem sido objeto <strong>de</strong> estudo em universida<strong>de</strong>s,<br />

consultoras e gran<strong>de</strong>s corporações. Pedro<br />

Gomes, economista e professor em Birkbeck (Univer-<br />

EM PORTUGAL, SERÁ VIÁVEL?<br />

Por cá, esta perspetiva está longe <strong>de</strong> ser consensual.<br />

João Vieira Lopes, lí<strong>de</strong>r da Confe<strong>de</strong>ração do Comércio<br />

e Serviços <strong>de</strong> Portugal (CCP), veio a público afirmar<br />

que “não é previsível que os baixos níveis <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

consigam absorver um cenário <strong>de</strong>sses nos<br />

próximos anos, tendo em conta a estrutura empresarial<br />

portuguesa”. Faz, porém, uma ressalva para<br />

“os setores <strong>de</strong> alta tecnologia e algumas tipologias <strong>de</strong><br />

empresas”, on<strong>de</strong>, admite, o caminho para este mo<strong>de</strong>lo<br />

po<strong>de</strong>rá ser feito. A sua opinião coinci<strong>de</strong>, em traços<br />

gerais, com a dos outros representantes das confe<strong>de</strong>rações<br />

patronais.<br />

António Saraiva, presi<strong>de</strong>nte da CIP – Confe<strong>de</strong>ração<br />

Empresarial <strong>de</strong> Portugal, chegou mesmo a criticar esta<br />

iniciativa do PS, por consi<strong>de</strong>rar não ser este o momento<br />

para levantar semelhante questão. Assume, em contrapartida,<br />

que o tema é importante, pois “a qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida é um fator que influencia a produtivida<strong>de</strong>”,<br />

mas alerta para as dificulda<strong>de</strong>s da aplicação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo,<br />

“que implicaria uma mudança estrutural”. Desta<br />

forma, enten<strong>de</strong> que o tema exige reflexão, não po<strong>de</strong>ndo<br />

ser adotado precipitadamente.<br />

Os argumentos do lí<strong>de</strong>r da Associação Empresarial<br />

<strong>de</strong> Portugal são semelhantes. Luís Miguel Ribeiro diz<br />

que a adoção da semana dos quatro dias acarreta “uma<br />

alteração profunda na forma como a economia e a socieda<strong>de</strong><br />

estão organizadas”. Por isso, numa altura “em<br />

que do ponto <strong>de</strong> vista económico ainda não conseguimos<br />

alcançar os níveis da pré-pan<strong>de</strong>mia, este não é o<br />

momento para se iniciar tal discussão”.<br />

Estas opiniões não surpreen<strong>de</strong>m o advogado Tiago<br />

Piló, um dos coor<strong>de</strong>nadores da área laboral da VdA –<br />

Vieira <strong>de</strong> Almeida & Associados: “No nosso país a força<br />

<strong>de</strong> trabalho ainda se caracteriza muito pela quantida<strong>de</strong><br />

e não pela qualida<strong>de</strong>. E isso vê-se quer ao nível da força<br />

<strong>de</strong> trabalho propriamente dita, quer ao nível das chefias,<br />

que ainda estão muito agarradas à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho que recebem das suas equipas e menos ligadas<br />

à qualida<strong>de</strong>. Daí que muito dificilmente, nos próximos<br />

tempos, a redução das horas <strong>de</strong> trabalho semanais se<br />

vá tornar uma medida generalizada em Portugal”, afirma.<br />

A polémica que se gerou em torno da adoção das<br />

35 horas <strong>de</strong> trabalho pela Função Pública <strong>de</strong>monstra, a<br />

seu ver, que por enquanto, em Portugal, “este mo<strong>de</strong>lo


Para Tiago Piló, advogado da VdA, a polémica que se gerou em torno das 35 horas<br />

<strong>de</strong> trabalho na Função Pública <strong>de</strong>monstra que por enquanto em Portugal “o<br />

mo<strong>de</strong>lo da semana dos quatro dias é <strong>de</strong> muito difícil generalização”<br />

não serve e que é <strong>de</strong> muito difícil generalização”.<br />

Também advogada na VdA, Mariana Pinto Ramos<br />

chama a atenção para as questões que a redução da carga<br />

horária laboral levanta, nomeadamente ao nível das<br />

remunerações: “A primeira pergunta que se vai fazer é<br />

se haverá ajustes salariais com a adoção da semana dos<br />

quatro dias, pois à partida o salário está pensado para<br />

as 40 horas semanais”. Para que este problema não se<br />

coloque, a alternativa é concentrar as 40h em quatro<br />

dias, mas será compensador fazer jornadas <strong>de</strong> trabalho<br />

<strong>de</strong> 10 a 12 horas?<br />

Tiago Piló duvida que o trabalho concentrado tenha<br />

como resultado a mesma produtivida<strong>de</strong>: “Não foi por<br />

acaso”, argumenta, “que se generalizou a semana das<br />

40h <strong>de</strong> trabalho. É que está provado que ao fim <strong>de</strong> 8h o<br />

nosso bioritmo cai drasticamente”.<br />

Dúvidas à p<strong>arte</strong>, a verda<strong>de</strong> é que a legislação portuguesa<br />

já permite gran<strong>de</strong> multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> soluções, sublinha Mariana<br />

Pinto Ramos: “Existe a figura do horário<br />

concentrado, assim como o regime <strong>de</strong><br />

adaptabilida<strong>de</strong> e ainda o banco <strong>de</strong> horas<br />

grupal, além do part-time. Havendo consenso<br />

entre empresas e trabalhadores,<br />

qualquer uma <strong>de</strong>stas fórmulas po<strong>de</strong> ser<br />

usada para que a semana <strong>de</strong> quatro dias<br />

seja possível”.<br />

O facto <strong>de</strong> a pan<strong>de</strong>mia ter forçado a<br />

que as empresas saíssem da sua zona <strong>de</strong><br />

conforto promoveu a discussão sobre novas<br />

formas <strong>de</strong> trabalhar. Comum a quase<br />

todas está o fator flexibilida<strong>de</strong>, algo que<br />

se <strong>de</strong>scobriu ser valioso tanto para trabalhadores,<br />

como para empregadores.<br />

Do lado da força <strong>de</strong> trabalho estão, naturalmente,<br />

as facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conciliação<br />

entre as responsabilida<strong>de</strong>s profissionais<br />

e a vida familiar, mas para quem contrata<br />

os horários flexíveis po<strong>de</strong>m ser um<br />

importante fator <strong>de</strong> retenção <strong>de</strong> talento<br />

e <strong>de</strong> reputação. Mariana Pinto Ramos<br />

tem notado que “algumas empresas já<br />

revelam preocupação em tomar medidas<br />

para combater o burnout e contribuir para<br />

a redução da pegada ecológica, através da<br />

adoção do teletrabalho”, cujo impacto<br />

na redução dos movimentos diários pendulares<br />

dos seus funcionários é inquestionável.<br />

Esta sensibilida<strong>de</strong> levou vários<br />

clientes a sondar a VdA, assim que veio<br />

a público o tema da implementação da<br />

semana dos quatro dias. O que querem<br />

saber? Sobretudo se “esta é uma medida que po<strong>de</strong> ser<br />

aplicada transversalmente <strong>de</strong>ntro da organização, ou<br />

se será necessário procurar o acordo pessoa a pessoa”,<br />

esclarece Tiago Piló.<br />

ENSAIOS BEM-SUCEDIDOS<br />

Por coincidência ou talvez não, após o PS ter abordado<br />

pela primeira vez, em maio, o tema da semana dos quatro<br />

dias, houve várias empresas que <strong>de</strong>cidiram testar o<br />

mo<strong>de</strong>lo em Portugal. A Feedzai foi uma <strong>de</strong>las. Alegando<br />

que o seu CEO sempre encorajou as equipas a experimentarem<br />

coisas novas e diferentes, em agosto passado<br />

avançaram para esta fórmula nos vários escritórios<br />

que têm espalhados pelo mundo. Dalia Turner, a VP of<br />

People do unicórnio português, foi quem partilhou nos<br />

media o resultado da experiência: “O serviço aos clientes<br />

foi mantido, nada caiu por terra, todos os objetivos<br />

49


50<br />

“A primeira pergunta que se vai fazer é se haverá ajustes salariais com a semana<br />

dos quatro dias”, alerta Mariana Pinto Ramos, associada senior da VdA<br />

que pretendíamos atingir em agosto foram alcançados”,<br />

afirmou no final do verão. Apesar <strong>de</strong> terem consi<strong>de</strong>rado<br />

este ensaio positivo, na Feedzai dizem ainda<br />

não estar preparados para adotar a semana reduzida<br />

durante o ano inteiro, mas ficou já estabelecido que<br />

doravante, em agosto todos os seus 500 colaboradores<br />

vão ter, semanalmente, menos um dia <strong>de</strong> trabalho.<br />

Especializada em finanças pessoais e familiares, a<br />

Doutor Finanças foi mais uma empresa portuguesa a<br />

experimentar este mo<strong>de</strong>lo no verão passado. Tal como<br />

a Feedzai escolheu agosto e, feito o balanço, consi<strong>de</strong>rou<br />

ser esta uma experiência a repetir mas, por enquanto,<br />

só no mês em que por tradição o trabalho<br />

aperta menos.<br />

Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarem estas experiências interessantes,<br />

tanto Tiago Piló como Mariana Pinto Ramos<br />

consi<strong>de</strong>ram que lhes falta algo essencial para que se<br />

possa avaliar o verda<strong>de</strong>iro impacto <strong>de</strong>sta<br />

mudança no país - a representativida<strong>de</strong>:<br />

“A amostra é muito pequena”, afirmam.<br />

Ambos não <strong>de</strong>scartam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

a redução <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho vir a ser<br />

uma tendência a médio ou longo prazo.<br />

De resto, já existe uma iniciativa da UE<br />

para a criação <strong>de</strong> uma diretiva europeia<br />

que venha a harmonizar as legislações<br />

nacionais nesta matéria. Mas até que<br />

passe a ser uma prática generalizada, “a<br />

semana dos quatro dias <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá<br />

começar por partir <strong>de</strong> experiências<br />

concretas do empresariado. Depois o legislador<br />

vai atrás”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m.<br />

Entretanto os mo<strong>de</strong>los híbridos, que<br />

combinam o trabalho presencial e o trabalho<br />

remoto, fazem o seu caminho, ganhando<br />

cada vez mais popularida<strong>de</strong>. A<br />

sua elevada aprovação tem encorajado<br />

organizações públicas e privadas a continuar<br />

por essa via. É o caso da Farfetch.<br />

Ana Sousa, a sua VP of People, diz que na<br />

empresa se aposta na “política <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong>”<br />

e não na “redução <strong>de</strong> horários”:<br />

“Esta política, a que chamamos Making<br />

work, work for you, no fundo traduz a nossa<br />

premissa do trabalho se adaptar ao tempo<br />

<strong>de</strong> cada um e não ao contrário”, afirma.<br />

A expetativa no unicórnio português<br />

é que as suas pessoas “trabalhem 60% do<br />

seu tempo em casa e 40% no escritório”.<br />

Não duvidam <strong>de</strong> que esta “já não é uma tendência, mas<br />

uma realida<strong>de</strong>” e que “o mercado português, que foi até<br />

aqui muito conservador no que diz respeito ao regime<br />

<strong>de</strong> trabalho flexível, vai ter <strong>de</strong> se adaptar” a este novo<br />

mo<strong>de</strong>lo, “se não quiser per<strong>de</strong>r muitos dos seus colaboradores<br />

a longo prazo”.<br />

Os millenials, que já nasceram com asas, e cuja maneira<br />

<strong>de</strong> estar na vida incorpora muitas <strong>de</strong>stas mudanças<br />

na cultura do trabalho, agra<strong>de</strong>cem. Mas no país dos<br />

baixos salários, uma realida<strong>de</strong> que tanto tem frustrado<br />

esta geração, resta ainda esclarecer uma questão: po<strong>de</strong>rá<br />

a oferta <strong>de</strong> horários reduzidos vir a ser usada, em<br />

Portugal, como forma <strong>de</strong> compensação por remunerações<br />

que se quedam abaixo das expetativas? Mariana<br />

Pinto Ramos e Tiago Piló duvidam: “As empresas que o<br />

fizessem per<strong>de</strong>riam competitivida<strong>de</strong>”.•


apdc news<br />

APDC & VDA | DIGITAL UNION - ECONOMIA DOS DADOS<br />

O ‘combustível’<br />

das organizações<br />

A UE27 quer acelerar a economia <strong>de</strong> dados mas há ainda muito caminho a percorrer. As empresas <strong>de</strong>frontam-<br />

-se com diversos entraves. Saber como usar os dados para inovar e criar valor é o <strong>de</strong>safio. Excesso <strong>de</strong> regulamentação,<br />

o seu impacto na inovação e os <strong>de</strong>sequilíbrios entre países são ameaças.<br />

Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />

52<br />

youtu.be/Ya2Yn1nbAvo<br />

Precisamos <strong>de</strong> ter “empresas<br />

mais bem preparadas, que<br />

conheçam as oportunida<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>safios que existem com os dados<br />

e o que são as políticas europeias<br />

neste domínio”. O alerta é da sócia<br />

responsável da área Comunicações,<br />

Proteção <strong>de</strong> Dados & Tecnologia da<br />

VdA, no arranque da 4ª sessão da<br />

Digital Union, que <strong>de</strong>correu a 11 <strong>de</strong><br />

janeiro último. Magda Cocco, que<br />

apresentou a estratégia europeia<br />

para os dados, consi<strong>de</strong>ra que estes,<br />

em conjunto com as ferramentas<br />

tecnológicas, permitem mo<strong>de</strong>los<br />

<strong>de</strong> negócio mais inovadores, novos<br />

produtos e serviços, novos processos<br />

e tomar <strong>de</strong>cisões informadas.<br />

São “fundamentais no apoio ao<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, permitem<br />

políticas mais eficientes e precisas<br />

para resolver todos os <strong>de</strong>safios e são<br />

absolutamente core como <strong>de</strong>tonador<br />

da IA e <strong>de</strong> políticas transformadoras,<br />

levando a novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

crescimento”.<br />

Mas há ameaças e os novos <strong>de</strong>safios<br />

legais e regulatórios, apesar do<br />

potencial <strong>de</strong> crescimento dos dados<br />

na Europa ser imenso – Bruxelas antecipa<br />

que o volume global <strong>de</strong> dados<br />

cresça dos 33 zettabytes registados


Magda Cocco,<br />

Sócia responsável da área Comunicações,<br />

Proteção <strong>de</strong> Dados & Tecnologia, VdA<br />

Pedro Machado,<br />

Country Senior Director | Data Protection Officer<br />

(DPO), Grupo Ageas Portugal<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />

Diretora executiva, APDC<br />

Manuel Dias,<br />

National Technology Officer, Microsoft<br />

Ricardo Rosa,<br />

Head of Innovation, Sonae Sierra<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Tiago Bessa,<br />

Sócio da área <strong>de</strong> Comunicações, Proteção <strong>de</strong><br />

Dados & Tecnologia, PI Transacional, VdA<br />

em 2018 para 175 zetabytes em 2025.<br />

Acredita-se que com as políticas e<br />

os investimentos a<strong>de</strong>quados, seja<br />

da CE, dos Estados-membros e das<br />

empresas, a UE possa aproveitar as<br />

oportunida<strong>de</strong>s associadas à mudança<br />

<strong>de</strong> paradigma e tornar-se lí<strong>de</strong>r<br />

nos dados.<br />

Mas num ecossistema complexo<br />

como é o da economia <strong>de</strong> dados,<br />

que envolve várias entida<strong>de</strong>s em<br />

áreas como a cibersegurança,<br />

proteção <strong>de</strong> dados, concorrência,<br />

promoção <strong>de</strong> dados abertos e concorrência,<br />

“muitas vezes não existe<br />

um entendimento claro dos seus<br />

players”. Por isso, Bruxelas apresentou<br />

no final <strong>de</strong> 2020 uma estratégia<br />

para respon<strong>de</strong>r a vários <strong>de</strong>safios:<br />

fragmentação entre Estados-membros,<br />

pouca disponibilida<strong>de</strong> dos<br />

dados, dados para o bem comum,<br />

assimetrias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, qualida<strong>de</strong> e<br />

interoperabilida<strong>de</strong>, governação, infraestruturas<br />

e tecnologias, capacitação<br />

das pessoas, literacia dos dados<br />

e cibersegurança. O <strong>de</strong>safio é, no<br />

âmbito da estratégia <strong>de</strong>finida e dos<br />

múltiplos instrumentos legais, gerir<br />

as “alterações, que são<br />

muito impactantes para<br />

as empresas”.<br />

INCENTIVAR OU<br />

TRAVAR INOVAÇÃO?<br />

A estratégia comunitária<br />

é vista com otimismo<br />

pelos players, tendo em<br />

conta o enorme potencial<br />

dos dados na criação <strong>de</strong> valor<br />

para a economia e socieda<strong>de</strong>. Mas<br />

estes alertam para os enormes <strong>de</strong>safios<br />

que ainda persistem, nomeadamente<br />

o risco <strong>de</strong> se ter um quadro<br />

regulamentar <strong>de</strong>masiado extensivo,<br />

o que po<strong>de</strong>rá travar a inovação e,<br />

por essa via, a competitivida<strong>de</strong> do<br />

espaço comunitário num cenário<br />

mundial. Acrescem as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

entre Estados-membros.<br />

Manuel Dias, national technology<br />

officer da Microsoft, não tem dúvidas<br />

<strong>de</strong> que a Europa e Portugal têm um<br />

enorme potencial<br />

na utilização<br />

da informação.<br />

É preciso perceber<br />

como obter<br />

valor económico<br />

dos dados,<br />

porque “o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico e<br />

a partilha <strong>de</strong> informação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

Portugal e entre Estados-membros é<br />

um fator crucial <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.<br />

Acho muito interessante o que a<br />

Europa está a fazer. Não é apenas<br />

uma questão <strong>de</strong> tecnologia, mas <strong>de</strong><br />

regulação e <strong>de</strong> segurança e privacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> dados”.<br />

Destacando que “sem dados não<br />

A estratégia<br />

comunitária é vista<br />

com otimismo pelos<br />

players, tendo em conta<br />

o potencial dos dados<br />

na criação <strong>de</strong> valor<br />

53


apdc news<br />

54<br />

existe inteligência” e que a economia<br />

dos dados é <strong>de</strong>cisiva para <strong>de</strong>terminar<br />

“vencedores e per<strong>de</strong>dores“,<br />

Pedro Machado, country senior<br />

director e data protection officer (DPO)<br />

do Grupo Ageas Portugal, diz que as<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na Europa obrigarão<br />

a uma reflexão que po<strong>de</strong>rá levar a<br />

mais legislação e a pesados regimes<br />

sancionatórios. Há, contudo, que<br />

pensar nos efeitos do quadro regulamentar<br />

na competitivida<strong>de</strong>, até<br />

porque as empresas mais valiosas<br />

do mundo são hoje as que dominam<br />

os dados.<br />

Ricardo Rosa, head of innovation da<br />

Sonae Sierra, consi<strong>de</strong>ra que “a Europa<br />

continua confusa no conjunto<br />

<strong>de</strong> conceitos em torno dos dados.<br />

Retirar valor dos dados <strong>de</strong> negócio e<br />

<strong>de</strong> eficiência é um campeonato e os<br />

dados pessoais são outro. Quando<br />

os misturamos, dificulta tudo”,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo haver uma espécie <strong>de</strong><br />

“esquizofrenia muito real” na forma<br />

como a UE olha para o tema. Já em<br />

Portugal, apesar <strong>de</strong> um nível elevado<br />

<strong>de</strong> literacia ao nível das elites, subsiste<br />

uma “cultura <strong>de</strong> dados muito<br />

difusa sobre o valor na tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão. Ainda temos caminho a<br />

andar, em geral”.<br />

Na prática, diz que o que tem vindo<br />

a acontecer ao nível europeu, tendo<br />

em conta a forma como Bruxelas<br />

olha para o tema, é uma crescente<br />

dificulda<strong>de</strong> em perceber “on<strong>de</strong> estão<br />

as áreas cinzentas on<strong>de</strong> nos po<strong>de</strong>remos<br />

mexer, <strong>de</strong>ntro do que é criar<br />

valor para as empresas e para os<br />

clientes. O que trava a inovação, que<br />

é um dos objetivos da CE”.<br />

Neste período <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, mo<strong>de</strong>rado<br />

por Tiago Bessa, sócio da área<br />

<strong>de</strong> Comunicações,<br />

As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s na<br />

Europa po<strong>de</strong>rão levar<br />

a mais legislação e<br />

à adoção <strong>de</strong> pesados<br />

regimes sancionatórios<br />

Proteção <strong>de</strong> Dados<br />

& Tecnologia, PI<br />

Transacional, da<br />

VdA, e por Sandra<br />

Fazenda Almeida,<br />

diretora executiva<br />

da APDC, o gestor<br />

da Microsoft <strong>de</strong>ixou claro que não se<br />

trata <strong>de</strong> um problema <strong>de</strong> tecnologia,<br />

mas <strong>de</strong> cultura: “É fundamental, para<br />

que as pessoas olhem para a informação<br />

e tomem <strong>de</strong>cisões com base<br />

nela. Mas o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio é incutir<br />

essa i<strong>de</strong>ia. Aqui, o tema da formação<br />

é essencial”.<br />

A Ageas tem tido alguns <strong>de</strong>safios ao<br />

nível da integração tecnológica, tendo<br />

em conta o ecossistema gran<strong>de</strong><br />

e complexo <strong>de</strong> dados, assim como<br />

nos dados pessoais e nas obrigações<br />

<strong>de</strong> informação. “Os seguros têm tido<br />

uma viagem bastante longa. Reconhecemos<br />

que se esta viagem não<br />

for feita, não conseguimos atingir os<br />

objetivos <strong>de</strong>finidos. Mas há temas <strong>de</strong><br />

natureza tecnológica, <strong>de</strong> literacia, <strong>de</strong><br />

cultura, que são bastante complexos”,<br />

explica Pedro Machado.<br />

E o responsável da Sonae Sierra admite<br />

que ainda não é fácil monetizar<br />

os dados. “Estamos todos a apalpar<br />

terreno e a tentar encontrar a<br />

melhor forma <strong>de</strong> criar valor. Embora<br />

queira enten<strong>de</strong>r como a CE vê a<br />

lógica <strong>de</strong> partilhar dados públicos,<br />

consi<strong>de</strong>ro que não<br />

é a que faz mais<br />

sentido. Temos <strong>de</strong><br />

melhorar a relação<br />

com os clientes e<br />

com isso trazer-lhes<br />

valor. O caminho<br />

está a ser feito e<br />

não é fácil, porque se trata <strong>de</strong> uma<br />

forma diferente <strong>de</strong> pensar e atuar,<br />

que tem a ver com a transição para<br />

o digital”.•


apdc news<br />

APDC & VDA | DIGITAL UNION – CONSUMIDOR DIGITAL: NOVAS REGRAS<br />

Encontrar a fórmula<br />

para o sucesso<br />

A 1 <strong>de</strong> janeiro, entrou em vigor em todo o espaço europeu a nova legislação sobre os direitos dos consumidores,<br />

agora também no digital. Traz novida<strong>de</strong>s, mas também muitos <strong>de</strong>safios. Sobretudo para as empresas.<br />

Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />

56<br />

youtu.be/E7mrUB54j6k<br />

O<br />

novo pacote legislativo <strong>de</strong> Bruxelas<br />

começou a ser aplicado<br />

na UE27 a 1 <strong>de</strong> janeiro último,<br />

tendo como objetivo respon<strong>de</strong>r às<br />

mudanças, sobretudo no digital,<br />

criando-se novas regras para proteger<br />

o consumidor. Mas não<br />

veio resolver tudo. Há que ter em<br />

conta um quadro regulatório mais<br />

global e o ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do mercado, que é cada vez mais<br />

acelerado. De tal forma que há<br />

quem <strong>de</strong>fenda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

haver apenas um documento enquadrador<br />

e flexível, que se ajuste às<br />

condições do momento. A priorida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>veria ser dada à colaboração entre<br />

consumidores e empresas, com<br />

regras transparentes.<br />

As i<strong>de</strong>ias surgiram da 3ª sessão do<br />

ciclo ‘Digital Union’, uma parceria da<br />

APDC com a VdA, que visa abordar<br />

os gran<strong>de</strong>s temas do digital. Realizado<br />

a 23 <strong>de</strong> novembro último, teve<br />

como tema as novas regras para o<br />

consumidor digital. Catarina Mascarenhas,<br />

associada coor<strong>de</strong>nadora<br />

da VdA, apresentou os principais<br />

pontos do novo pacote legislativo,<br />

que tem como objetivo respon<strong>de</strong>r ao<br />

crescimento da economia digital com<br />

novas regras <strong>de</strong> proteção jurídica<br />

dos consumidores, criar melhores e<br />

mais eficientes mecanismos <strong>de</strong> repa-


ação e assegurar uma igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento a todos os consumidores<br />

europeus.<br />

Com a nova legislação, a harmonização<br />

máxima passa a ser o princípio,<br />

sendo que os Estados-membros não<br />

po<strong>de</strong>m legislar <strong>de</strong> forma divergente<br />

no âmbito do fornecimento e compra<br />

<strong>de</strong> conteúdos e serviços digitais.<br />

Há ainda um alargamento dos<br />

prazos dos bens fornecidos, assim<br />

como a clarificação sobre os dados<br />

pessoais como contraprestação,<br />

a aposta na sustentabilida<strong>de</strong> e na<br />

durabilida<strong>de</strong> em relação a <strong>de</strong>terminados<br />

bens. Uma das novida<strong>de</strong>s é o<br />

facto <strong>de</strong> a venda <strong>de</strong> bens surgir com<br />

serviços digitais incorporados, regulando-se<br />

<strong>de</strong>ssa forma novas realida<strong>de</strong>s<br />

para respon<strong>de</strong>r a novos requisitos<br />

<strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> e garantir uma<br />

maior proteção do consumidor no<br />

mundo digital.<br />

Fernando Resina da Silva,<br />

Partner, VdA<br />

Catarina Mascarenhas,<br />

Associada coor<strong>de</strong>nadora, VdA<br />

Carlos Mauro,<br />

Foun<strong>de</strong>r, CLOO Behavioral Insights Unit<br />

Pedro Neves,<br />

eCommerce Offer Development Manager, CTT<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />

Diretora executiva, APDC<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Tiago Bessa,<br />

Partner, VdA<br />

MANIPULAR OU MUDAR<br />

COMPORTAMENTOS?<br />

No <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>sta sessão, mo<strong>de</strong>rada<br />

por Tiago Bessa, partner da VdA,<br />

e Sandra Fazenda Almeida, diretora<br />

executiva da APDC, o foun<strong>de</strong>r<br />

da CLOO Behavioral Insights Unit<br />

começou por <strong>de</strong>stacar os perigos<br />

da tecnologia para o consumidor<br />

e os cuidados que as empresas<br />

<strong>de</strong>vem ter nesta matéria. Segundo<br />

Carlos Mauro, “a utilização das<br />

ciências comportamentais na área<br />

digital po<strong>de</strong> ser feita apenas para<br />

manipular o comportamento dos<br />

consumidores em benefício das<br />

Luís Silveira Rodrigues,<br />

Vice-Presi<strong>de</strong>nte, DECO<br />

57


apdc news<br />

empresas, mas po<strong>de</strong> também mudar<br />

os comportamentos das pessoas<br />

em temas essenciais, ajudando-as”.<br />

O problema é que, na maioria das<br />

vezes, o objetivo é mesmo manipular<br />

comportamentos.<br />

A transparência terá <strong>de</strong> ser aposta<br />

e tem <strong>de</strong> vir “das empresas e dos<br />

próprios profissionais”.<br />

O sonho, para<br />

este responsável, é<br />

“criar um sistema <strong>de</strong><br />

transparência nas<br />

plataformas, on<strong>de</strong><br />

todas as estratégias<br />

estejam explícitas,<br />

para não ficarem<br />

atrás <strong>de</strong> uma cortina, sendo o<br />

consumidor sequestrado, enquanto<br />

o regulador ignora esta utilização”,<br />

refere.<br />

Luís Silveira Rodrigues, vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

da DECO, acrescenta que é<br />

essencial que o consumidor sinta<br />

segurança. Até porque a pan<strong>de</strong>mia<br />

empurrou as pessoas para o mundo<br />

digital e o e-commerce. A legislação<br />

que agora entrou em vigor “ajuda a<br />

criar esta confiança, pelo menos nos<br />

litígios mais evi<strong>de</strong>ntes. É um trabalho<br />

sério encontrar o equilíbrio”. Mas<br />

há pontos negativos, a começar<br />

pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma hierarquia na<br />

resolução dos conflitos. “Sempre <strong>de</strong>fendi<br />

a existência <strong>de</strong> uma hierarquia<br />

Nos últimos anos<br />

registou-se um<br />

reforço dos direitos<br />

dos consumidores em<br />

Portugal<br />

<strong>de</strong> bom-senso e não um caminho<br />

obrigatório, que po<strong>de</strong> trazer para os<br />

consumidores problemas significativos”,<br />

garante.<br />

Numa perspetiva empresarial e da<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> logística nas compras online,<br />

o eCommerce offer <strong>de</strong>velopment<br />

manager dos CTT diz que “a pan<strong>de</strong>mia<br />

veio incentivar<br />

as pessoas a<br />

entrarem online, <strong>de</strong><br />

uma forma quase<br />

forçada. Passaram<br />

para um contexto<br />

<strong>de</strong> compra digital,<br />

com toda a impreparação<br />

e novida<strong>de</strong><br />

que isso trouxe. O reforço dos meios<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do consumidor é sempre<br />

bem-vindo, porque é uma nova<br />

realida<strong>de</strong>”.<br />

Mas Pedro Neves consi<strong>de</strong>ra que “há<br />

outras forças, que têm a ver com as<br />

plataformas com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado<br />

substancial e relevante. Estas po<strong>de</strong>m<br />

criar distorções na relação entre a<br />

prestação do serviço e o próprio<br />

consumidor”, criando problemas <strong>de</strong><br />

competitivida<strong>de</strong> entre as plataformas<br />

nacionais e multinacionais. Até<br />

porque as regras são distintas. Ainda<br />

assim, “o nível <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong> do<br />

e-commerce em Portugal, do ponto<br />

<strong>de</strong> vista da relação, está numa fase<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento atrasada face à<br />

Europa”.<br />

Numa perspetiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do<br />

consumidor, que é vulnerável face às<br />

múltiplas estratégias <strong>de</strong> venda das<br />

empresas, Carlos Mauro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver ética e<br />

transparência. “A gran<strong>de</strong> revolução<br />

seria dizer que se usam as ciências<br />

comportamentais <strong>de</strong> forma transparente.<br />

É o que marca a diferença da<br />

manipulação”, diz, consi<strong>de</strong>rando que<br />

as organizações <strong>de</strong>veriam clarificar<br />

as suas estratégias neste âmbito.<br />

Ainda assim, registou-se um reforço<br />

dos direitos dos consumidores nos<br />

últimos anos. Para o responsável<br />

da DECO, a relação entre consumidores<br />

e empresas tem que ser vista<br />

não num cenário <strong>de</strong> conflito, mas<br />

<strong>de</strong> colaboração, essencial para que<br />

as coisas corram bem. Com esta<br />

convicção, consi<strong>de</strong>ra que “vivemos<br />

num tempo <strong>de</strong> uma certa verborreia<br />

legislativa, quando a legislação<br />

não resolve tudo. Deveria ser mais<br />

enquadradora, para permitir uma<br />

adaptação à realida<strong>de</strong>, com flexibilida<strong>de</strong>.<br />

Infelizmente, esta é uma<br />

tendência da Europa, a <strong>de</strong> ter muitos<br />

diplomas”.•


inetum.com


apdc news<br />

WEBMORNING - INTELLIGENT WORKFLOWS<br />

Construir inteligência<br />

O tema dos fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes começa a estar no centro <strong>de</strong> todas as estratégias. Dele <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a<br />

preparação das organizações para um mercado em gran<strong>de</strong> mudança e cada vez mais digital. As soluções estão<br />

disponíveis e agora é preciso avançar em força.<br />

Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />

youtu.be/yu0FqoOeMgo<br />

conhecimento geral que o tema dos<br />

fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes, os<br />

intelligent workflows, é cada vez mais<br />

importante para as organizações.<br />

Seja numa perspetiva <strong>de</strong> automação<br />

das tarefas básicas, ou <strong>de</strong> mudar<br />

a estratégia e o<br />

contexto em que se<br />

trabalha.<br />

Paulo Rodrigues Silva,<br />

associate partner<br />

para o Financial Services<br />

Sector da IBM<br />

Consulting, <strong>de</strong>ixa<br />

claro que a nova era<br />

digital acelerou exponencialmente<br />

com a pan<strong>de</strong>mia e<br />

que, graças aos mais recentes avanços<br />

tecnológicos, está já disponível a<br />

híper automação, que abre caminho<br />

à maior produtivida<strong>de</strong>, redução <strong>de</strong><br />

As empresas já<br />

começaram a fazer<br />

mudanças significativas<br />

nos seus processos,<br />

mas só em resposta a<br />

problemas concretos<br />

A<br />

pan<strong>de</strong>mia acelerou e alterou as<br />

estratégias das empresas. Mas,<br />

para já, as gran<strong>de</strong>s mudanças<br />

resultam <strong>de</strong> fatores exógenos e<br />

iniciam-se por pequenos projetos<br />

assentes em soluções tecnológicas.<br />

Só percebidos os benefícios é que as<br />

alterações serão alargadas a toda a<br />

organização. O próximo passo terá<br />

<strong>de</strong> passar pela utilização das novas<br />

tecnologias para levar os workflows<br />

ao ecossistema, através <strong>de</strong> um processo<br />

verda<strong>de</strong>iramente colaborativo.<br />

Neste Weborning APDC, que <strong>de</strong>correu<br />

a 30 <strong>de</strong> novembro, em parceria<br />

com a IBM, ficou claro que há um recustos<br />

e geração <strong>de</strong> novas receitas.<br />

Assentando os workflows inteligentes<br />

na utilização das mais recentes<br />

tecnologias, como IA, analítica <strong>de</strong> dados,<br />

automação e machine learning,<br />

permite acrescentar capacida<strong>de</strong> aos<br />

fluxos <strong>de</strong> trabalho<br />

das organizações,<br />

suportando todas<br />

as operações e as<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas.<br />

Tendo em conta que<br />

a nova era digital<br />

trouxe inúmeros<br />

<strong>de</strong>safios às organizações,<br />

especialmente<br />

nos últimos dois anos,<br />

obrigando a repensar tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

os clientes aos trabalhadores, as<br />

tecnologias permitem “automatizar<br />

as tarefas mais repetitivas”, otimizar<br />

60


processos, minimizar riscos, reduzir<br />

custos e trazer eficiência. Além da<br />

oferta <strong>de</strong> experiências personalizadas<br />

aos clientes. Para o gestor, “este<br />

é o tempo <strong>de</strong> repensar a arquitetura<br />

e o enquadramento dos processos<br />

<strong>de</strong> negócio”.<br />

MOSTRAR VALOR ACRESCENTADO<br />

As empresas já começaram a operar<br />

uma mudança significativa nos seus<br />

processos, mas sempre em resposta<br />

a um problema concreto que têm<br />

<strong>de</strong> resolver. Por isso, há ainda muito<br />

por fazer, como ficou evi<strong>de</strong>nte no<br />

<strong>de</strong>bate entre os vários intervenientes<br />

da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor da oferta <strong>de</strong><br />

fluxos <strong>de</strong> trabalho inteligentes, mo<strong>de</strong>rado<br />

por Sandra Fazenda Almeida,<br />

diretora executiva da APDC.<br />

Guilherme Dias, sales director do<br />

SAS, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que há que olhar “para<br />

toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

começamos a recolher a informação,<br />

para tudo ser feito da forma mais<br />

rápida, sustentável, eficaz e eficiente,<br />

garantindo a entrega <strong>de</strong> valor imediato<br />

ao cliente. O que só é possível<br />

com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar as novas<br />

tecnologias para trazer valor acrescentado”.<br />

Mas os temas ligados aos intelligent<br />

workflows ainda são “encarados muitas<br />

vezes como futuristas”, avança<br />

João Fernan<strong>de</strong>s, CEO da DocDigitizer,<br />

startup tecnológica portuguesa que<br />

disponibiliza uma ferramenta baseada<br />

em IA que permite a automatização<br />

<strong>de</strong> processos documentais,<br />

sem qualquer intervenção humana,<br />

alimentando os workflows das organizações.<br />

Cabe aos fornecedores<br />

“ajudar a criar awareness”, porque<br />

sendo temas muito tecnológicos têm<br />

impactos práticos nas empresas e<br />

na economia. Mais: as máquinas não<br />

vão substituir as pessoas, para quem<br />

ficam as tarefas mais complexas,<br />

que requerem conhecimento <strong>de</strong><br />

negócio e raciocínio.<br />

Luís Ganhão, vice presi<strong>de</strong>nt solution<br />

engineering do global center of<br />

excellence da Celonis, acrescenta que<br />

“tudo começa como um <strong>de</strong>safio. Muitos<br />

dos nossos clientes não sabem o<br />

que não sabem. Não sabem que os<br />

processos não correm como gostariam<br />

ou à velocida<strong>de</strong> que querem ou<br />

com o resultado que querem”. Para<br />

o gestor, estamos “num momento da<br />

história muito importante, porque<br />

juntámos big data, IA e automação”<br />

em termos <strong>de</strong> process mining. Permite<br />

medir constantemente e em real<br />

time “como é que os processos <strong>de</strong><br />

negócio estão a ser executados”, trazendo<br />

valor acrescentado à organização,<br />

já que se “percebe a situação<br />

e reage-se <strong>de</strong> forma inteligente”.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma mudança que tem<br />

<strong>de</strong> ser feita gradualmente, acrescenta<br />

João Fernan<strong>de</strong>s, até porque<br />

“as empresas são quase forçadas<br />

pela economia ou pelos clientes<br />

a lançarem-se no processo e não<br />

por razões estratégicas. O que não<br />

quer dizer que esta jornada não se<br />

transforma em estratégica. O que é<br />

preciso é dar o primeiro passo e ver<br />

os benefícios”.<br />

Também Guilherme Dias e Paulo Rodrigues<br />

Silva sentem esta realida<strong>de</strong>.<br />

“As gran<strong>de</strong>s mudanças nas organizações<br />

são sempre motivadas por<br />

fatores exógenos, fazendo pequenos<br />

passos <strong>de</strong> transformação. O que<br />

temos visto é que vamos fazendo<br />

pequenos projetos que <strong>de</strong>pois se<br />

vão alargando à organização, porque<br />

se vêm os benefícios”, diz o primeiro.<br />

“A minha experiência, sobretudo em<br />

Portugal, é <strong>de</strong> que algumas organizações<br />

já estão a operar uma mudança<br />

significativa nos workflows inteligentes,<br />

porque procuramos soluções<br />

para dar resposta a problemas<br />

concretos”, acrescenta o segundo.<br />

Afinal, esta é “uma mudança extraordinária”.•<br />

Paulo Rodrigues Silva,<br />

Associate Partner, Financial Services Sector,<br />

IBM Consulting<br />

Guilherme Dias,<br />

Sales Director, SAS<br />

João Fernan<strong>de</strong>s,<br />

CEO, DocDigitizer<br />

Luís Ganhão,<br />

Vice Presi<strong>de</strong>nt Solution Engineering,<br />

Global Center of Excellence, Celonis<br />

Mo<strong>de</strong>ração: Sandra Fazenda Almeida,<br />

Diretora Executiva, APDC<br />

61


apdc news<br />

WEBMORNING - CIO: AGENTES DA MUDANÇA<br />

Os ‘super-heróis’<br />

das organizações<br />

Saber como usar a tecnologia para criar valor é o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> todas as empresas. Por isso, o papel dos CIO é<br />

vital, já que têm um conjunto <strong>de</strong> competências que se interligam e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criar oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios<br />

e otimizar operações.<br />

Texto <strong>de</strong> Isabel Travessa<br />

62<br />

youtu.be/uzb2QiaL7eg<br />

Para fazer face aos <strong>de</strong>safios <strong>de</strong><br />

mercado, que obrigam a uma<br />

transição digital acelerada,<br />

num processo que se assume como<br />

uma verda<strong>de</strong>ira revolução, o papel<br />

dos CIO é absolutamente crítico. De<br />

tal forma que são mesmo consi<strong>de</strong>rados<br />

os novos ‘super-heróis’ das<br />

organizações. Não se trata apenas<br />

<strong>de</strong> introduzir tecnologia, mas sim <strong>de</strong><br />

ter um conhecimento transversal da<br />

organização para saber como usar<br />

as soluções tecnológicas para criar<br />

valor. O que implica terem <strong>de</strong> assumir<br />

um papel estratégico e contar<br />

não só com o apoio das li<strong>de</strong>ranças,<br />

mas <strong>de</strong> toda a empresa. A mudança<br />

está em marcha.<br />

No WebMorning APDC, em parceria<br />

com a Logicalis, realizado a 17 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 2021, foi apresentado o<br />

CIO Survey 2021, um inquérito global<br />

realizado pela Logicalis nos 28 países<br />

on<strong>de</strong> está presente, que conclui que<br />

os chief information officer (CIO) são<br />

verda<strong>de</strong>iros agentes <strong>de</strong> mudança<br />

nas organizações, já que não só<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sbloquear o potencial <strong>de</strong><br />

dados para impulsionar a estratégia<br />

do negócio e acelerar o crescimento,<br />

como são os responsáveis por uma<br />

cultura <strong>de</strong> inovação e pelo local <strong>de</strong><br />

trabalho digital. Nas suas priorida<strong>de</strong>s<br />

estão ainda a continuida<strong>de</strong> do<br />

negócio, a resiliência e a mitigação<br />

do risco.<br />

Neuza Alcobio, marketing & communications<br />

director da Logicalis, que<br />

apresentou as principais conclusões<br />

<strong>de</strong>ste relatório, refere que estes<br />

profissionais viram as suas responsabilida<strong>de</strong>s<br />

fortemente reforçadas<br />

na sequência da pan<strong>de</strong>mia, num<br />

conjunto <strong>de</strong> competências que<br />

se interligam. Nomeadamente na<br />

construção <strong>de</strong> uma relação com os<br />

clientes no mundo digital.<br />

Para aproveitar todo o valor dos<br />

dados, “as empresas precisam <strong>de</strong>


Neuza Alcobio,<br />

Marketing & Communications director,<br />

Logicalis<br />

Rui Ribeiro,<br />

General manager, IP Telecom<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Luís Lança,<br />

Diretor comercial, Logicalis<br />

<strong>Joana</strong> Rafael,<br />

COO, Sensei<br />

Cláudia Alho,<br />

CIO, Credibom<br />

Teresa Girbal,<br />

CIO, eSPap, I.P.<br />

Mo<strong>de</strong>ração - Sandra Fazenda Almeida,<br />

Diretora executiva, APDC<br />

agilida<strong>de</strong> tecnológica, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ganhar escala e <strong>de</strong> processos mais<br />

robustos. Os sistemas baseados<br />

em cloud po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>sempenhar<br />

um papel essencial”. O que significa<br />

maiores responsabilida<strong>de</strong>s para os<br />

CIO. Criar uma cultura <strong>de</strong> inovação,<br />

adotar soluções <strong>de</strong> colaboração robustas<br />

e garantir a continuida<strong>de</strong> do<br />

negócio, a resiliência e a mitigação<br />

do risco são outros <strong>de</strong>safios.<br />

Mas como estão as organizações a lidar<br />

com o <strong>de</strong>safio da transformação<br />

digital nos vários setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>?<br />

As visões dos oradores que participaram<br />

no <strong>de</strong>bate sobre o tema,<br />

mo<strong>de</strong>rado por Luís Lança, diretor<br />

comercial da Logicalis, e por Sandra<br />

Fazenda Almeida, diretora executiva<br />

da APDC, são muito similares.<br />

Cláudia Alho, CIO da Credibom,<br />

<strong>de</strong>staca duas gran<strong>de</strong>s dimensões/<br />

priorida<strong>de</strong>s da mudança: a tecnológica<br />

e a do mo<strong>de</strong>lo operacional. O<br />

papel do CIO, “enquanto dinamizador<br />

tecnológico que está a mudar o<br />

próprio paradigma das organizações,<br />

é o <strong>de</strong> olhar para a tecnologia como<br />

um diferenciador ao nível estratégico.<br />

Em termos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo operativo,<br />

“o paradigma é <strong>de</strong> uma estreita<br />

colaboração com negócio e IT, com<br />

a utilização <strong>de</strong> novas metodologias<br />

e funções para este novo paradigma<br />

digital”.<br />

Já para a startup portuguesa Sensei,<br />

que criou uma solução <strong>de</strong> IA para o<br />

retalho, que permite fazer compras<br />

num supermercado sem ter <strong>de</strong> parar<br />

numa caixa, a sua COO não tem<br />

dúvidas <strong>de</strong> que a pan<strong>de</strong>mia foi o<br />

maior acelerador. <strong>Joana</strong> Rafael, que<br />

é também cofundadora da Sensei,<br />

consi<strong>de</strong>ra que “trazer tecnologias<br />

como a IA e o machine learning para<br />

a loja e dar uma nova experiência ao<br />

cliente e uma gestão mais eficiente<br />

é essencial. As<br />

transformações dos<br />

últimos tempos têm,<br />

sem dúvida, acelerado<br />

esta mudança”.<br />

No caso <strong>de</strong> empresas<br />

com um<br />

histórico e sistemas<br />

legacy, saber implementar a mudança<br />

e a transformação digital é um<br />

enorme <strong>de</strong>safio, porque se trata <strong>de</strong><br />

“saber como mudar processos e não<br />

<strong>de</strong>spejar tecnologia nos processos”,<br />

como refere Rui Ribeiro. O general<br />

manager da IP Telecom partilha a<br />

opinião <strong>de</strong> que o CIO é, <strong>de</strong> facto,<br />

o novo super-herói <strong>de</strong>ntro das<br />

empresas, porque tem que perceber<br />

<strong>de</strong> negócio, tecnologia, psicologia,<br />

Enquanto dinamizador<br />

tecnológico, o CIO está<br />

a mudar o próprio<br />

paradigma das<br />

organizações<br />

logística, integração…”. E as organizações,<br />

<strong>de</strong>ntro da sua ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor,<br />

têm <strong>de</strong> colocar as áreas do IT num<br />

papel estratégico.<br />

No setor público, os <strong>de</strong>safios são similares,<br />

mas ainda mais complexos,<br />

porque há que ganhar agilida<strong>de</strong> e<br />

inovação e <strong>de</strong> mudar procedimentos<br />

e culturas. Concordando que “um<br />

CIO é um agente impulsionador da<br />

mudança e da abordagem”, Teresa<br />

Girbal, vice-presi<strong>de</strong>nte da eSPap,<br />

diz que este é um processo gradual:<br />

“ainda hoje estamos a melhorar a<br />

forma <strong>de</strong> adoção da<br />

cloud <strong>de</strong> forma segura<br />

e inteligente na<br />

AP, uma ferramenta<br />

imprescindível para<br />

a mudança”.<br />

Para Teresa Girbal,<br />

“a pan<strong>de</strong>mia foi um<br />

dos gran<strong>de</strong>s impulsionadores da tecnologia,<br />

mas também veio mostrar<br />

que é possível quebrar tabus, como<br />

a possibilida<strong>de</strong> do trabalho remoto.<br />

O que traz mais mudanças, uma vez<br />

que o trabalho tem <strong>de</strong> ser medido<br />

pelos resultados, quando os processos<br />

não se mudaram. Há ainda<br />

muito por fazer”.•<br />

63


OS QUATRO MAGNÍFICOS<br />

da iLoF<br />

Em 2019 lançaram uma start-up que é um spinoff <strong>de</strong> institutos das<br />

universida<strong>de</strong>s do Porto e <strong>de</strong> Oxford. Chamaram-lhe iLoF e o seu objetivo<br />

é revolucionar o tratamento <strong>de</strong> doenças complexas, como o Alzheimer.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDA<br />

<strong>Joana</strong> Paiva, Luís Valente, Paula Sampaio e Mehak Mumtaz juntaram o seu talento para <strong>de</strong>scobrir soluções para o tratamento <strong>de</strong><br />

doenças a que a Medicina ainda não dá resposta<br />

64


cidadania<br />

Começaram bem. O Financial Times<br />

selecionou a iLoF como um dos sete<br />

negócios mais transformadores em<br />

saú<strong>de</strong> em 2020; a CB Insights colocou-a<br />

na lista das 150 empresas mais promissoras<br />

na área da saú<strong>de</strong> digital; e a Forbes<br />

elogiou o talento dos seus fundadores. Luís<br />

Valente, formado em Engenharia Eletrotécnica<br />

(CEO), Paula Sampaio, doutorada em<br />

Bioquímica (diretora científica), <strong>Joana</strong> Paiva,<br />

doutorada em Física (diretora técnica) e<br />

Mehak Mumtaz, investigadora em Oxford<br />

(diretora <strong>de</strong> produto e operações) são os quatro<br />

magníficos que se juntaram para respon<strong>de</strong>r<br />

ao <strong>de</strong>safio lançado pelo programa da CE<br />

Wild Card, <strong>de</strong>stinado a apoiar equipas com<br />

soluções transformadoras na área da saú<strong>de</strong>.<br />

Partilhando a convicção <strong>de</strong> que é urgente<br />

mudar a forma como os medicamentos são<br />

<strong>de</strong>senvolvidos, numa época em que doenças<br />

complexas e heterogéneas como a Parkinsson<br />

e a Alzheimer estão a proliferar como nunca,<br />

juntaram o seu conhecimento. Através da<br />

Inteligência Artificial e da Fotónica, usando<br />

gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informação sobre<br />

os dados biológicos dos pacientes, começaram<br />

a criar perfis biológicos que ajudam os<br />

investigadores nos hospitais e na indústria<br />

farmacêutica a <strong>de</strong>senvolver medicamentos<br />

personalizados. Luís Valente diz que esta<br />

personalização é o futuro: “No que respeita<br />

às doenças que se manifestam <strong>de</strong> forma diferente<br />

em pacientes diferentes, o mesmo<br />

medicamento não serve para toda a gente.<br />

Daí que doenças tão complexas como<br />

Alzheimer ou certos tipos <strong>de</strong> cancro ainda<br />

não tenham cura. A indústria e a ciência<br />

precisam, <strong>de</strong>sesperadamente, <strong>de</strong><br />

formas mais eficientes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver medicamentos<br />

mais personalizados, pois são esses<br />

que funcionam neste tipo <strong>de</strong> doenças”.<br />

Os dados, sublinha Luís Valente, falam por<br />

si: “No caso da Alzheimer, nos últimos 14<br />

anos houve cerca <strong>de</strong> 400 estudos clínicos falhados<br />

e zero tratamentos com aceitação<br />

clínica, porque durante este tempo as farmacêuticas<br />

têm testado estes medicamentos<br />

na população em geral e os resultados<br />

não são estatisticamente relevantes. Por isso<br />

são postos <strong>de</strong> lado. Agora a expetativa da comunida<strong>de</strong><br />

científica é que, provavelmente,<br />

p<strong>arte</strong> dos medicamentos que já foram testados<br />

funcionam, mas não em toda a gente.<br />

Se conseguirmos <strong>de</strong>scobrir qual é a p<strong>arte</strong> da<br />

população que podia beneficiar <strong>de</strong>sses tratamentos,<br />

então seria possível aprová-los. E não<br />

resolveríamos o problema a todas as pessoas<br />

com Alzheimer, mas a p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>ssas pessoas”.<br />

Com base neste conhecimento, o CEO da iLof<br />

consi<strong>de</strong>ra “estar mais do que provado” que<br />

em doenças como Parkinsson, Alzheimer,<br />

certos tipos <strong>de</strong> cancro e até viroses como a<br />

Covid-19 “não vai haver um medicamento<br />

que trate todos os pacientes. Por isso, a indústria<br />

farmacêutica não terá alternativa se não<br />

<strong>de</strong>senvolver medicamentos que resolvam o<br />

problema parcialmente. Não é, obviamente,<br />

o que dá mais lucro, mas é a única opção”.<br />

Para proce<strong>de</strong>r à personalização dos medicamentos,<br />

a iLoF retira informação dos<br />

fluidos biológicos colhidos dos pacientes<br />

através <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> sangue. A partir<br />

daí elabora um perfil completo, com<br />

dados genómicos, proteómicos e metabolómicos,<br />

o que lhe permite capturar<br />

muita informação relevante que indique<br />

como vai o paciente reagir a um <strong>de</strong>terminado<br />

medicamento ou, no âmbito<br />

da prevenção, a <strong>de</strong>terminada doença.<br />

Vários setores <strong>de</strong> investigação ligados à saú<strong>de</strong><br />

manifestaram interesse em alinhar com a<br />

iLoF para <strong>de</strong>sbravar este caminho: “Estamos<br />

a trabalhar com dois grupos farmacêuticos<br />

mundiais e algumas biotechs no Reino Unido,<br />

nos EUA e também com alguns hospitais.<br />

Em Portugal, temos uma parceria umbilical<br />

com o hospital <strong>de</strong> S. João do Porto e a Faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> do Porto.<br />

Temos também colaborado com grupos<br />

<strong>de</strong> investigação em Lisboa, como é o caso do<br />

hospital <strong>de</strong> Amadora-Sintra e num centro <strong>de</strong><br />

investigação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra”.<br />

Investidores também não têm faltado. A iLoF<br />

já recebeu um financiamento <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong><br />

euros via CE e 1 milhão via Microsoft Ventures,<br />

o braço <strong>de</strong> investimento da Microsoft. A<br />

norte-americana Mayfield também apoia esta<br />

start-up cujo talento é maioritariamente português.<br />

Neste momento está a fechar-se uma<br />

ronda semente <strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> dólares. O futuro<br />

é <strong>de</strong>les.•<br />

65


ultimas<br />

TECNOLOGIA DOBRÁVEL CHEGA AOS SMARTPHONES<br />

HÁ UNS ANOS, dobrar e abrir o ecrã <strong>de</strong> um telemóvel parecia ser uma tarefa impossível. Mas os<br />

impressionantes avanços tecnológicos permitiram torná-la possível. O novo Huawei P50 Pocket,<br />

com um <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> dobradiça <strong>de</strong> vanguarda, multidimensional, totalmente novo e exclusivo na<br />

indústria, é já uma realida<strong>de</strong>. O seu <strong>de</strong>sign cria um encaixe perfeito quando o telefone é dobrado,<br />

ocultando qualquer dobra visível quando aberto. As animações ajustam-se automaticamente<br />

no ecrã, criando um efeito visual on<strong>de</strong> as duas meta<strong>de</strong>s do mesmo se unem e transformam<br />

num todo integrado, permitindo ver ainda mais <strong>de</strong>talhes. Promete elevada durabilida<strong>de</strong> e<br />

resistência a quedas, para proporcionar uma experiência perfeita.•<br />

INOVAR NO INTERIOR COM MAIS COMPETÊNCIAS<br />

ACELERAR A TRANSFORMAÇÃO digital e coesão territorial do Alto Alentejo,<br />

através da criação <strong>de</strong> um polo <strong>de</strong> competências em parceria com o município <strong>de</strong><br />

Ponte <strong>de</strong> Sor, on<strong>de</strong> funcionará um novo espaço <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo e inovação<br />

coberto com 5G, foi o objetivo da NOS. No novo espaço, vai criar 25 postos<br />

<strong>de</strong> trabalho altamente qualificados para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projetos e use<br />

cases no âmbito da Engenharia Informática e Eletrotécnica. O operador vai ainda,<br />

com o Instituto Politécnico <strong>de</strong> Portalegre (IPP), lançar já em 2022 um novo curso<br />

para formar talento através <strong>de</strong> um Curso Técnico Superior Profissional (CTeSP)<br />

em Programação Ágil e Segurança <strong>de</strong> Sistemas <strong>de</strong> Informação.•<br />

FOTOS CEDIDAS<br />

66


CAPACITAR EMPRESAS E PRESTADORES COM IOT<br />

CHAMA-SE IoT Accelerator Connect e assume-se<br />

como uma plataforma <strong>de</strong> IoT celular, fiável e segura,<br />

que capacita prestadores <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> comunicação<br />

e empresas em todo o mundo a redimensionar o seu<br />

negócio <strong>de</strong> IoT em <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> dispositivos.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma oferta que transforma as<br />

vendas digitais no âmbito do ecossistema <strong>de</strong> IoT, com<br />

opções <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> com um clique. A ligação<br />

dos dispositivos e a integração instantânea simplificam<br />

ainda mais e aumentam a implementação com<br />

sucesso <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> IoT empresariais, garante a<br />

Ericsson. A fabricante diz que esta oferta aborda todos<br />

os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> uma integração, transformando as<br />

vendas digitais, automatizando os processos empresariais<br />

<strong>de</strong>ntro do ecossistema <strong>de</strong> IoT e correspon<strong>de</strong>ndo<br />

às necessida<strong>de</strong>s dos utilizadores.•<br />

PROMOVER O PAÍS<br />

A UMA SÓ VELOCIDADE<br />

PROMOVER UM PAÍS a uma só velocida<strong>de</strong> e a tecnologia como ativo ao<br />

serviço <strong>de</strong> todos os portugueses é o objetivo da Altice Portugal, que<br />

diz ter já cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população no território nacional com<br />

acesso ao 5G, sendo que todos os tarifários MEO são compatíveis com<br />

a nova geração móvel. O operador tem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> janeiro a oferta<br />

5G disponível em todas as capitais <strong>de</strong> distrito, estando a <strong>de</strong>correr um<br />

período <strong>de</strong> experimentação gratuita até 31 <strong>de</strong> março, tal como as concorrentes<br />

Vodafone e NOS. O grupo assegura ter 6 milhões <strong>de</strong> casas<br />

e <strong>de</strong> empresas com fibra ótica e uma re<strong>de</strong> móvel 4G com cobertura<br />

praticamente integral da população (99,7%), incluindo nas ilhas: a<br />

Ma<strong>de</strong>ira tinha, no final <strong>de</strong> 2021, 97% <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> fibra e 99,5% <strong>de</strong><br />

cobertura móvel; e os Açores 97% <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong> fibra e 97,3% <strong>de</strong><br />

cobertura móvel 4G.•<br />

67


ultimas<br />

À PROVA DE AMBIENTES MISTOS DE APRENDIZAGEM<br />

A PANDEMIA <strong>de</strong> Covid-19 alterou para sempre o ensino e a aprendizagem, que saíram <strong>de</strong>finitivamente<br />

da sala <strong>de</strong> aula. O PC é agora uma ferramenta crítica para a aprendizagem digital e os estudantes querem<br />

dispositivos que resistam ao <strong>de</strong>sgaste diário, que os aju<strong>de</strong> a ligar-se às salas <strong>de</strong> aula digitais e que<br />

facilitem melhores resultados. Com esse objetivo, a HP lançou os portáteis HP Fortis, um novo portfólio<br />

<strong>de</strong> PC concebidos para resistir aos <strong>de</strong>safios dos novos ambientes educativos. Construído para alunos<br />

ativos e em movimento, o novo portfólio tem a resistência e durabilida<strong>de</strong> necessárias para ajudar a<br />

suportar quedas, resistir a <strong>de</strong>rrames e manter as teclas. As superfícies texturizadas tornam mais fácil<br />

para estudantes <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s agarrar e manusear estes dispositivos leves.•<br />

POTENCIAR TALENTO TECNOLÓGICO<br />

SÃO TRÊS OS PROGRAMAS Youth <strong>de</strong>stinados a estudantes <strong>de</strong> licenciatura<br />

e/ou mestrado e a recém-licenciados ou recém-mestres:<br />

o Vodafone Youth Discover Graduates vai selecionar e integrar<br />

finalistas <strong>de</strong> mestrado e recém-mestres <strong>de</strong> elevado potencial<br />

nos quadros da Vodafone Portugal, preparando-os para serem<br />

os próximos lí<strong>de</strong>res; o programa <strong>de</strong> estágios Vodafone Youth<br />

Internships – para o qual são elegíveis estudantes <strong>de</strong> licenciatura<br />

e <strong>de</strong> mestrado – tem a duração máxima <strong>de</strong> um ano e candidaturas<br />

abertas todo o ano no site da Vodafone; e Vodafone Youth<br />

Summer Internships, que <strong>de</strong>corre entre junho e setembro. Os dois<br />

primeiros realizam-se ao longo do ano, o último tem inscrições<br />

abertas até 15 <strong>de</strong> maio. Com estas iniciativas, a Vodafone vai abrir<br />

80 vagas, todas remuneradas, em áreas como big data & analytics;<br />

IT - software engineering; network (com projetos <strong>de</strong> 5G); IoT; TV; e<br />

social media, contribuindo para consolidar a empresa como tech<br />

comms company.•<br />

FOTOS CEDIDAS<br />

68


SE É PARA ENCONTRAR<br />

PROFISSIONAIS QUALIFICADOS<br />

E APOSTAR NO FUTURO<br />

DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS,<br />

QUER<br />

Aumente a competitivida<strong>de</strong> da sua empresa em upskill.pt<br />

UPskill – Digital Skills & Jobs | 2ª EDIÇÃO<br />

Já estão integrados com sucesso os novos profissionais formados na 1ª edição<br />

do Programa UPskill. Começou agora uma nova edição <strong>de</strong>sta iniciativa<br />

verda<strong>de</strong>iramente inovadora, que junta Empresas, Profissionais e Ensino<br />

Superior na requalificação em áreas TIC, essenciais para o sucesso dos vários<br />

setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Neste momento <strong>de</strong> retoma da nossa economia, seja<br />

uma Empresa a<strong>de</strong>rente <strong>de</strong>ste projeto <strong>de</strong> âmbito nacional.<br />

Saiba como em upskill.pt<br />

INICIATIVA CONJUNTA:<br />

COM O APOIO DE:

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