COMUNICAÇÕES 249 - SANDRA MAXIMIANO: UMA GESTORA DE EQUILÍBRIOS À FRENTE DA ANACOM
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NEGÓCIOS: TIK TOK NO COMBATE<br />
<strong>À</strong> <strong>DE</strong>SINFORMAÇÃO<br />
PORTUGAL DIGITAL: OS CENTROS<br />
TECNOLÓGICOS <strong>DA</strong> ACCENTURE<br />
CIBERSEGURANÇA:<br />
O QUE FALTA FAZER<br />
N.º <strong>249</strong> • MARÇO 2024 | ANO 37 • PORTUGAL • 3,25€<br />
<strong>SANDRA</strong> <strong>MAXIMIANO</strong><br />
<strong>UMA</strong> <strong>GESTORA</strong><br />
<strong>DE</strong> <strong>EQUILÍBRIOS</strong><br />
<strong>À</strong> <strong>FRENTE</strong> <strong>DA</strong> <strong>ANACOM</strong>
Submeta os projetos da sua organização aos principais<br />
prémios de Transformação Digital em Portugal!<br />
Está a decorrer a fase de candidaturas para os Portugal Digital Awards®,<br />
que visam distinguir organizações, projetos, equipas e personalidades<br />
que utilizem tecnologias de informação e comunicação na transformação<br />
do seu negócio.<br />
Esta iniciativa, organizada pela Axians e IDC Portugal, pretende dar visibilidade<br />
e reconhecimento às ideias que saíram do papel, para se transformarem em<br />
projetos que se assumem como motores de inovação, eficiência e crescimento<br />
nas organizações e na sociedade.<br />
Saiba mais informações em:<br />
www.portugaldigitalawards.pt
edit orial<br />
Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt<br />
Mulheres na Liderança<br />
O<br />
tema não é novo, bem pelo contrário: há<br />
muito que se fala na necessidade de ter<br />
mais mulheres na liderança das organizações.<br />
E debate-se sempre com mais<br />
intensidade em março, na sequência do Dia Internacional<br />
da Mulher.<br />
Todos os dados mostram que o panorama<br />
tem vindo a melhorar significativamente, especialmente<br />
nos anos mais recentes. Muito graças<br />
ao estabelecimento de quotas, que promovem a<br />
paridade de género em posições de liderança. Mérito<br />
não falta às mulheres. A questão é que só um<br />
terço chega a cargos de gestão. Este é um problema<br />
também cultural, que necessitamos de mudar<br />
rapidamente, mas que só deverá caminhar no<br />
sentido certo com a mudança de gerações.<br />
Nas TIC, tal como nos demais setores de atividade,<br />
também se tem vindo a registar um forte<br />
reforço da presença feminina, desmistificandose<br />
a ideia de que uma carreira nestas áreas é só<br />
para homens. Dados do Eurostat mostram que,<br />
em 2022, os especialistas em TIC representavam<br />
4,6% da força de trabalho da UE, com um crescimento<br />
de quase 58% em 10 anos. Mas a percentagem<br />
de mulheres no setor ficou nos 18,9%.<br />
Portugal estava acima da média, com 20,4%.<br />
Nesta edição, apresentamos casos de liderança<br />
no feminino, exemplos de sucesso que<br />
demonstram que a mudança está em curso. A<br />
começar pela nova presidente da <strong>ANACOM</strong>,<br />
que numa entrevista de vida defende que querer<br />
o impossível é a melhor forma de realizar o<br />
possível. Ou pela líder da Accenture Portugal, a<br />
primeira mulher a ocupar o cargo. Ou ainda pela<br />
diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais<br />
do TikTok Portugal e Espanha. Estes<br />
são casos inspiradores para que mais mulheres<br />
sigam a carreira no setor, promovendo um verdadeiro<br />
círculo virtuoso de mudança.<br />
Também as empresas estão cada vez mais<br />
comprometidas com a diversidade, com equipas<br />
interdisciplinares e multifacetadas. É fundamental<br />
acelerar este processo de mudança e<br />
continuar a monitorizar o progresso, bem como<br />
investir na formação e educação para a inclusão<br />
e paridade. Valorizando todos os homens e<br />
mulheres que têm liderado estes processos de<br />
transformação.<br />
Apesar dos progressos, há muito trabalho<br />
a ser feito. É essencial reconhecer que as crises<br />
económica, social, ambiental, diplomática, geracional<br />
e moral que vivemos não são fruto do<br />
acaso, mas sim de um modelo de gestão ultrapassado,<br />
que requer uma mudança de paradigma.<br />
Características tradicionalmente associadas<br />
ao género masculino, como a assertividade e<br />
competitividade, são importantes. Mas quando<br />
são sobrevalorizadas, em detrimento das características<br />
femininas, como a empatia e a flexibilidade,<br />
acabamos por obter sistemas desequilibrados<br />
e decadentes.<br />
Liderança feminina é saber ouvir, inovar, incluir<br />
todos no processo de decisão e pensar no<br />
impacto a longo prazo. É ter uma visão inclusiva<br />
e sustentável dos negócios, da economia e da<br />
sociedade. É hora de valorizar verdadeiramente<br />
estas características e promover uma liderança<br />
mais diversificada e eficaz.•<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>249</strong><br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS 12<br />
Fernando Braz, Salesforce<br />
<strong>À</strong> CONVERSA 14<br />
Sandra Maximiano,<br />
Presidente da <strong>ANACOM</strong><br />
EM <strong>DE</strong>STAQUE 28<br />
Ciberataques estão a disparar.<br />
O que fazer?<br />
I TECH 34<br />
Fernando Marta, Altice<br />
NEGÓCIOS 36<br />
A estratégia da Glintt Next<br />
PORTUGAL DIGITAL 44<br />
Accenture reforça rede nacional<br />
NEGÓCIOS 48<br />
O ‘fenómeno’ TikTok<br />
no mercado nacional<br />
CI<strong>DA</strong><strong>DA</strong>NIA DIGITAL 62<br />
@tualiza-te veio para ficar<br />
ÚLTIMAS 64<br />
14<br />
28<br />
36<br />
48<br />
Propriedade e Edição<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
Comunicações<br />
Diretora executiva<br />
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Abel Costa; Alexandre Silveira; Bernardo<br />
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Edição<br />
Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />
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Coordenação editorial<br />
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Preço de capa<br />
3,25 €<br />
Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
a abrir<br />
6<br />
SÓ 20%<br />
<strong>DA</strong>S EMPRESAS<br />
PORTUGUESAS<br />
USA IA NA<br />
CIBERSEGURANÇA<br />
APENAS uma em cada cinco empresas<br />
portuguesas recorre a soluções<br />
de cibersegurança baseadas em<br />
IA. O que mostra que é preciso<br />
fazer muito mais para preparar as<br />
organizações para as ciberameaças,<br />
com destaque para a adoção de<br />
medidas de prevenção. A integração<br />
da IA nos processos internos é ainda<br />
uma realidade longínqua para a<br />
generalidade das organizações e<br />
uma percentagem considerável<br />
(35%) desconhece os investimentos<br />
que terão de fazer no<br />
âmbito da nova diretiva<br />
europeia NIS2 (Network<br />
and Information Security<br />
Directive), que entrará<br />
em vigor no último<br />
trimestre deste ano.<br />
A conclusão é de<br />
um estudo da Microsoft.<br />
Entre as principais<br />
ciberameaças, estão o<br />
phishing (70%), softwares maliciosos<br />
com encriptação de dados e pedido<br />
de resgate (63%) e ataques de<br />
negação de serviço DDoS (29%), pela<br />
sua capacidade de explorar vulnerabilidades<br />
nas redes e dispositivos<br />
programáveis da organização e,<br />
desta forma, perturbar os serviços e<br />
recursos das aplicações. maioria das<br />
organizações nacionais.•<br />
Cerca de 35% das<br />
empresas desconhecem<br />
o investimento<br />
que terão de fazer<br />
no âmbito da nova<br />
diretiva europeia<br />
NIS2<br />
IA PO<strong>DE</strong> TRAZER 61 MIL MILHÕES<br />
AO PAÍS ATÉ 2030<br />
A MANTER-SE a atual taxa de adoção da IA em Portugal, o<br />
impacto económico total estimado da tecnologia (em VAB)<br />
chegará, até 2030, aos 61 mil milhões de euros. Mas, para<br />
tirar partido de todo o potencial da tecnologia IA, Portugal<br />
terá de resolver três questões críticas: criar um ambiente favorável<br />
à inovação; colmatar o défice de competências digitais<br />
no país; e garantir que as empresas de todas as dimensões<br />
têm acesso às tecnologias mais recentes. A conclusão<br />
é da Amazon Web Services (AWS), num estudo que revela<br />
ainda que cerca de 35% das empresas nacionais já adotou<br />
a tecnologia de IA, com um crescimento de 25% desde<br />
2022. E o impacto económico positivo da IA nas empresas é<br />
claro: 70% das que recorrem à tecnologia referem um<br />
aumento das receitas e da produtividade.<br />
Mas a utilização da IA e de<br />
outras tecnologias digitais<br />
está mais concentrada<br />
nas empresas de maior<br />
dimensão (45% em<br />
comparação com apenas<br />
32% das PME). Ainda<br />
assim, a perspetiva de<br />
Portugal relativamente<br />
aos poderes<br />
transformadores<br />
da IA reflete a dos<br />
seus homólogos<br />
europeus.•<br />
CURIOSI<strong>DA</strong><strong>DE</strong><br />
ZUCKERBERG TEM HOBBIES PERIGOSOS<br />
Está no relatório anual da Meta, a dona do Facebook. O seu fundador e<br />
líder pode morrer a qualquer momento. É que o CEO, Mark Zuckerberg,<br />
assim como outros membros da direção, têm dedicado parte de seu<br />
tempo livre a atividades<br />
consideradas de alto risco.<br />
Como desportos de combate e<br />
radicais ou a aviação. Por isso,<br />
quem elaborou o documento<br />
diz que poderá estar em<br />
causa, a qualquer momento,<br />
a sua morte. Mais: garante,<br />
que uma eventual ausência<br />
de Zuckerberg, seja por que<br />
motivo for, poderá resultar<br />
num “impacto material<br />
adverso às operações da<br />
empresa”.<br />
ILUSTRAÇÃO PCH.VECTOR/FREEPIK
CURIOSI<strong>DA</strong><strong>DE</strong><br />
CHIPS CEREBRAIS PARA AJU<strong>DA</strong>R H<strong>UMA</strong>NOS<br />
A Neuralink, startup tecnológica de Elon Musk, já colocou um implante<br />
num paciente, Noland Arbaugh (29 anos) que está paralisado. Começou<br />
por ser capaz de controlar um rato de computador apenas através do seu<br />
pensamento. Agora, já consegue jogar xadrez com a mente. A meta do<br />
multimilionário é colocar implantes<br />
com capacidade para interpretar<br />
sinais cerebrais e controlar diferentes<br />
tecnologias. Desta forma, quer ajudar<br />
pessoas que perderam a visão, o tato<br />
ou a fala, a recuperá-los. Estes chips<br />
poderão não só restaurar funções<br />
corporais como até curar doenças<br />
psiquiátricas, como a depressão.•<br />
IA GEN <strong>DE</strong>SBLOQUEIA NOVAS FORMAS<br />
<strong>DE</strong> PROTEÇÃO CONTRA CIBERATAQUES<br />
A UTILIZAÇÃO da IA generativa para fins maliciosos está a crescer<br />
e as ferramentas tradicionais de proteção já não acompanham o<br />
ritmo dessas ameaças. Mas já existem novas soluções. Na 6ª edição<br />
do seu relatório de cibersegurança, o Cyber Signals, a Microsoft diz<br />
que realiza mais de 2,5 mil milhões deteções em cloud e orientadas<br />
para a IA, por forma a proteger os seus clientes. Recomenda a<br />
utilização de políticas de acesso condicional, formação sobre táticas<br />
de engenharia social (e-mails de phishing, vishing e smishing) e a<br />
garantir que os dados permanecem privados e controlados end to<br />
end. Adicionalmente, sugere que se tire partido de ferramentas de<br />
segurança de IA generativa, e se adote uma autenticação<br />
multifator para todos os utilizadores, especialmente<br />
para funções de administrador,<br />
uma vez que reduz o risco de aquisição<br />
de contas em mais de 99%. Diz também<br />
que, em colaboração com a OpenAI,<br />
detetou e interrompeu tentativas de<br />
adversários russos, norte-coreanos,<br />
iranianos e chineses, que tentavam<br />
utilizar grandes modelos de<br />
linguagem (LLM), como o ChatGPT,<br />
para informar, melhorar e aperfeiçoar<br />
os seus ciberataques.•<br />
Recomenda-se a<br />
formação de colaboradores<br />
em táticas<br />
de engenharia<br />
social, como emails<br />
de phishing, vishing<br />
e smishing<br />
LÍ<strong>DE</strong>RES<br />
OTIMISTAS SOBRE<br />
CRESCIMENTO <strong>DA</strong>S<br />
SUAS EMPRESAS<br />
A MAIORIA dos líderes empresariais<br />
está otimista quanto ao crescimento<br />
das suas organizações em 2024.<br />
Mais: 83% planeia aumentar os investimentos<br />
em ferramentas e tecnologias<br />
digitais nos próximos 12 a 18<br />
meses, incluindo em IA, como motor<br />
de inovação e crescimento das receitas.<br />
Mais de metade pretende fazer<br />
o mesmo na área da sustentabilidade.<br />
Os dados são do “Embracing a<br />
brighter future: Investment Priorities<br />
for 2024”, um estudo do Capgemini<br />
Research Institute. As áreas de negócio<br />
estratégicas de aposta em termos<br />
de investimentos serão: experiência<br />
do cliente, inovação, talento e<br />
competências, sustentabilidade e<br />
cadeias de abastecimento. Sendo<br />
que a maioria dos líderes<br />
empresariais (56%) continua<br />
confiante no crescimento<br />
futuro das suas empresas,<br />
apesar do atual ambiente<br />
macroeconómico. Já no<br />
que diz respeito à economia<br />
a nível mundial só menos<br />
de um terço está otimista.<br />
Destaca-se ainda que os<br />
gestores percebem cada<br />
vez mais o potencial que<br />
podem obter da IA e da IA<br />
generativa para impulsionar<br />
a inovação e o crescimento<br />
das suas receitas. Em linha com<br />
esta tendência, 88% revelaram que<br />
planeiam privilegiar estas tecnologias.•<br />
ILUSTRAÇÃO PCH.VECTOR/FREEPIK<br />
7
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Investir em transformação digital<br />
significa mais do que simplesmente<br />
automatizar tarefas;<br />
significa criar um ecossistema<br />
que favoreça a inovação contínua,<br />
a eficiência e a competitividade<br />
global, para além de dinamizar<br />
ainda mais a eficiência<br />
na Administração Pública”<br />
Rui Ribeiro, Jornal Económico,<br />
18/03/2024<br />
“Num momento particularmente<br />
complexo para o País,<br />
para a Europa e para o Mundo,<br />
precisamos de líderes com coragem<br />
e espírito de sacrifício, que<br />
coloquem o bem comum acima<br />
de protagonismos e pequenas<br />
vaidades, que oiçam o outro e<br />
saibam explicar o seu ponto de<br />
vista. Que procurem pontes em<br />
vez de detonarem caminhos comuns.<br />
As mulheres sabem fazê-<br />
-lo bem. Onde estão elas?”<br />
Soledade Carvalho Duarte,<br />
CNN Portugal, 18/03/2024<br />
“O rápido crescimento da IA<br />
generativa mostra-nos que ela é<br />
um poderoso aliado. No entanto,<br />
o seu verdadeiro potencial<br />
reside no aumento da produtividade<br />
e não na desumanização<br />
dos locais de trabalho. Só se adotarmos<br />
uma abordagem centrada<br />
nas pessoas é que poderemos<br />
garantir que os avanços tecnológicos<br />
nos conduzirão a um futuro<br />
do trabalho mais produtivo e<br />
gratificante”<br />
Rui Teixeira, Expresso,<br />
01/03/2024<br />
“É fundamental aproveitar este<br />
momentum e os holofotes que estão<br />
postos na IA generativa para<br />
refletir sobre o papel que a Europa,<br />
e especificamente Portugal,<br />
poderão desempenhar nesta revolução<br />
tecnológica”<br />
Andres Ortolá, Dinheiro Vivo,<br />
24/02/2024<br />
<strong>DE</strong>SIGUAL<strong>DA</strong><strong>DE</strong>S MUNDIAIS<br />
NA CIBERSEGURANÇA<br />
NUM AMBIENTE complexo, com o mundo a enfrentar uma ordem geopolítica<br />
polarizada, a economia de cibersegurança cresceu exponencialmente,<br />
muito mais rapidamente do que a economia global geral, ultrapassando o<br />
crescimento do setor tecnológico. Mas há grandes diferenças entre os países<br />
e organizações, quando se fala em ciber-resiliência. O alerta é do Fórum Económico<br />
Mundial (FEM) no seu “Global Cybersecurity Outlook 2024”, realizado<br />
com a Accenture. Focado na cibersegurança, este relatório constata que<br />
existe uma maior “desigualdade cibernética entre as organizações que são<br />
ciber-resilientes e as que não são”. Por isso, alerta para a “clara divergência<br />
em termos de igualdade cibernética, exacerbada pelo ambiente de ameaças,<br />
as tendências macroeconómicas, a regulação da indústria e a adoção de<br />
tecnologias, que alteram o paradigma por parte de algumas organizações”.<br />
Acrescem outras barreiras, como o custo de acesso a serviços cibernéticos<br />
inovadores, ferramentas, competências e expertise, que “continuam a influenciar<br />
a capacidade do ecossistema global para construir um ciberespaço<br />
mais seguro”. Ainda assim, muitas organizações mostram um claro progresso<br />
da sua capacidade cibernética.•<br />
CONSUMIDORES VÊM<br />
CA<strong>DA</strong> VEZ MAIS POTENCIAL NA IA<br />
A IA GENERATIVA está cada vez mais presente na vida dos consumidores<br />
portugueses. Três em cada cinco (60%) conhece pelo menos uma ferramenta,<br />
sendo a mais comum o ChatGPT (54%). Mas apenas 28% a usam com<br />
regularidade, pelo menos uma vez por semana. Os dados são do Digital<br />
Consumer Trends 2023, o estudo da Deloitte que analisa os hábitos de utilização<br />
de produtos e serviços digitais pelos consumidores. Mostra ainda<br />
que mais de metade (56%) dos portugueses acredita que a IA<br />
generativa irá reduzir o número de empregos disponíveis<br />
no futuro, com 47% a admitirem estar preocupados<br />
com o facto de algumas das suas funções no local de<br />
trabalho virem a ser absorvidas por esta tecnologia.<br />
Entre os profissionais que afirmam já ter utilizado a<br />
tecnologia, 28% acreditam que o seu empregador<br />
concordaria com a utilização destas ferramentas.<br />
Dois em cada cinco<br />
Ai<br />
(40%) dizem que estariam<br />
dispostos a pagar por uma<br />
ferramenta de IA generativa<br />
para poderem fornecer respostas<br />
mais rápidas e estar<br />
mais disponíveis para tarefas<br />
que exijam mão humana.<br />
O trabalho, realizado em<br />
17 países, revela a existência<br />
de diferenças geográficas.•<br />
ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK<br />
8
a abrir<br />
NUMEROS<br />
100 MIL MILHÕES<br />
É quanto a norte-americana Intel planeia<br />
investir, em dólares, na construção e<br />
renovação de fábricas de chips em quatro<br />
Estados norte-americanos. Já garantiu 19,5<br />
mil milhões em subvenções e empréstimos<br />
federais e espera conseguir mais 25<br />
mil milhões em incentivos fiscais. Quer<br />
transformar Columbus, no estado de Ohio,<br />
no maior local de fabricação de chips de IA<br />
do mundo em 2027.<br />
18,3 MIL MILHÕES<br />
É o valor estimado da fusão entre a Orange<br />
Espanha e o grupo MásMóvil. A operação<br />
já tem luz-verde de todos os reguladores<br />
e deverá estar concluída ainda no 1º<br />
trimestre. Dará origem ao maior operador de<br />
telecomunicações espanhol, com mais de 30<br />
milhões de clientes do serviço móvel, mais de<br />
7 milhões de clientes de banda larga e mais<br />
de 2 milhões de clientes de televisão.<br />
15 MIL MILHÕES<br />
É o montante estimado, em dólares, para<br />
a parceria acordada entre a Microsoft e a<br />
Intel na produção de chips para os próximos<br />
anos. A big tech desenha os processadores e<br />
a Intel passa a produzi-los, com os analistas<br />
convictos de que se destinam a suportar<br />
a forte aposta que a tecnológica está a<br />
fazer na IA. O seu líder, Satya Nadella, diz<br />
que são essenciais para concretizar a visão<br />
de transformação da produtividade das<br />
organizações e de toda a indústria.<br />
1,84 MIL MILHÕES<br />
O total da multa, em euros, aplicada por<br />
Bruxelas à Apple. Em causa está o abuso de<br />
posição dominante no streaming de música<br />
aos utilizadores do iPad e iPhone na sua<br />
app store. A big tech aplicou restrições aos<br />
criadores de aplicações durante quase 10<br />
anos. É a terceira maior coima de sempre<br />
na área da concorrência. Só as que foram<br />
aplicadas à Google em 2017 e 2018 a<br />
superaram.<br />
42% <strong>DA</strong>S GRAN<strong>DE</strong>S EMPRESAS<br />
JÁ USA ATIVAMENTE IA<br />
CERCA de 42% das organizações com mais de mil colaboradores<br />
já utiliza a IA nos seus negócios de forma ativa, sendo<br />
que as que avançaram primeiro na adoção da tecnologia<br />
estão a liderar o caminho. Já 59% das que estão a trabalhar<br />
com IA pretendem acelerar e aumentar o seu investimento.<br />
Ainda assim, destacam que continuam a existir desafios<br />
para a adoção da IA, com destaque para a falta de colaboradores<br />
com as competências adequadas (33%), a excessiva<br />
complexidade dos dados (25%) e as preocupações éticas<br />
(23%), que continuam a inibir as empresas de adotarem<br />
tecnologias de IA nas suas operações. A conclusão é de<br />
um estudo encomendado pela IBM. Denominado “Global<br />
AI Adoption Index 2023”, revela também que a aposta em<br />
ferramentas mais acessíveis, o impulso para a automação<br />
de processos-chave e o aumento de IA embebida em aplicações<br />
de negócio prontas a utilizar são os principais fatores<br />
que estão a promover a expansão da IA a nível empresarial.<br />
Muitas empresas aproveitam a tecnologia para casos<br />
de uso com elevado impacto, como a automação de TI, o<br />
trabalho digital e o apoio ao cliente. Para 40% das empresas<br />
inquiridas que estão presas na fase experimental, antecipase<br />
que 2024 seja o ano de enfrentar e superar as barreiras<br />
de entrada desta tecnologia, como a lacuna de competências,<br />
a complexidade dos dados, a escassez de plataformas<br />
para desenvolver modelos de IA e a falta de capacidade de<br />
governança dos modelos de IA”.•<br />
O impulso para<br />
a automação de<br />
processos-chave<br />
é um dos fatores<br />
que estão a promover<br />
a expansão<br />
de IA a nível<br />
empresarial<br />
10
C O N G R E S S<br />
D<br />
I G<br />
I T A L<br />
º<br />
3 3<br />
I N E S S<br />
B U S<br />
O futuro tem de se preparar desde já! Como Digital Business Community, a APDC tem<br />
sido desde sempre uma plataforma virada para o amanhã. Um ponto de encontro de<br />
ideias, opiniões, tendências e perspetivas para acelerarem a economia e a<br />
sociedade. Há 40 anos que futurizamos e o nosso compromisso é continuar! Junte-se<br />
a nós no 33º Congresso das Comunicações para antecipar o futuro com a disrupção<br />
tecnológica. Preparados para construir uma nova era?<br />
ARLINDO OLIVEIRA<br />
Presidente do 33º Congresso<br />
Reconhecido especialista em IA, é Professor catedrático do IST,<br />
presidente do INESC e investigador do INESC-ID, entre outros<br />
cargos. Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica e de<br />
Computadores no IST e fez doutoramento na Universidade da<br />
Califórnia, em Berkeley, na mesma área. Tem centenas de artigos<br />
científicos publicou três livros e recebeu múltiplos prémios e<br />
distinções por excelência na investigação.<br />
14 – 15 maio<br />
Evento híbrido em português, com tradução simultânea para inglês.<br />
Transmissão em direto, a partir do local do Congresso.<br />
Local: Auditório Faculdade de Medicina Dentária - Lisboa<br />
congresso.apdc.pt/<br />
Siga-nos nas redes sociais:
5 perguntas<br />
FERNANDO BRAZ:<br />
A prioridade é<br />
a inovação responsável<br />
Combinada com dados e automação, a IA tem um enorme potencial<br />
para as empresas. A Salesforce aposta forte numa oferta<br />
à medida, para transformar as organizações. Fernando Braz,<br />
country leader da Salesforce Portugal, garante que o mercado<br />
está a crescer.<br />
Texto de Isabel Travessa| Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />
12<br />
Liderou o processo de entrada<br />
da Salesforce em Portugal, em<br />
meados de 2020, primeiro com um<br />
escritório e, um ano depois, com<br />
a criação de uma subsidiária. Que<br />
balanço faz da operação?<br />
A região EMEA é a que tem demonstrado<br />
um maior crescimento na empresa.<br />
Dentro desta região, a zona<br />
sul da Europa lidera o crescimento<br />
e os mercados de Itália, Espanha e<br />
Portugal são os que demonstram<br />
maior dinamismo. O mercado ibérico<br />
tem vindo a crescer, acompanhando<br />
a visão da empresa de chegar aos 50<br />
mil milhões de dólares de faturação<br />
até ao ano fiscal de 2026.<br />
A aceleração tecnológica é uma<br />
realidade e a IA está a revolucionar<br />
tudo. O que é que está a<br />
trazer de novo à vossa oferta para<br />
o mercado, nos vários segmentos<br />
onde atuam?<br />
Estamos a testemunhar uma<br />
revolução na IA que está a acelerar<br />
o crescimento dos negócios, a<br />
mudar a forma como trabalhamos, a<br />
melhorar as nossas capacidades e a<br />
imaginar novas fronteiras. Mas não<br />
basta apenas possibilitar as capacidades<br />
tecnológicas da IA generativa.<br />
Devemos dar prioridade à inovação<br />
responsável, para ajudar a orientar a<br />
forma como esta tecnologia pode e<br />
deve ser utilizada. A estratégia de IA<br />
de uma empresa é tão boa quanto<br />
a sua estratégia de dados. Dados, IA<br />
e automação, quando combinados,<br />
têm o potencial de transformar e<br />
melhorar a eficiência e a produtividade<br />
de empresas de todos os<br />
setores e de qualquer dimensão. Do<br />
ponto de vista prático, estamos a<br />
olhar para cada vertical e a adaptar a<br />
oferta para as necessidades de cada<br />
um, com a cloud específica desse<br />
setor, seja vendas, serviços, marketing,<br />
retalho, financeiro, energia ou<br />
setor público.<br />
Como define a estratégia atual<br />
da Salesforce para o mercado<br />
nacional?<br />
A estratégia orientada a nível global<br />
passa pela verticalização da oferta<br />
dos produtos Salesforce, para que<br />
respondam às necessidades específicas<br />
de cada um. Em todos, a base<br />
passa por combinar o trio mais importante<br />
IA + Dados + CRM, envoltos<br />
por aquilo a que chamamos o ‘Einstein<br />
Trust Layer’, que protege dados<br />
sensíveis e permite que as empresas<br />
possam confiar nos dados criados<br />
pelas respostas de IA generativa.<br />
Quais são as suas metas para o<br />
ano fiscal que se iniciou em fevereiro?<br />
A política da Salesforce não permite<br />
partilhar dados de mercados específicos.<br />
Mas estamos todos alinhados,<br />
acompanhando a visão da empresa<br />
de chegar aos 50 mil milhões de<br />
dólares de faturação global, até ao<br />
ano fiscal de 2026.<br />
Olhando para o tecido empresarial<br />
nacional, quais considera serem<br />
as grandes metas, particularmente<br />
nas PME, para garantir o<br />
futuro?<br />
O foco deve estar no ganho de produtividade,<br />
para que se tornem em<br />
empresas mais ágeis e competitivas,<br />
crescendo em dimensão e atuação.<br />
A Salesforce acredita que os dados, a<br />
IA e a automação, quando combinados,<br />
têm o potencial de transformar<br />
e melhorar a eficiência e a produtividade,<br />
independentemente do setor<br />
de atividade e dimensão. Por exemplo,<br />
dados da McKinsey revelam que,<br />
até 2030, a integração da IA generativa<br />
nas empresas permitirá que 30%<br />
do tempo dos colaboradores possa<br />
ser libertado para outras tarefas,<br />
aumentando assim a produtividade<br />
dos profissionais de vários setores.•
Para Fernando Braz, “não basta apenas possibilitar as capacidades tecnológicas<br />
da IA generativa. Devemos dar prioridade à inovação responsável, para ajudar a<br />
orientar a forma como esta tecnologia pode e deve ser utilizada”<br />
13
a conversa<br />
14<br />
“Não sou uma pessoa agarrada ao poder. Tenho um olhar científico sobre as coisas”
A LÍ<strong>DE</strong>R<br />
FORA<br />
<strong>DA</strong> CAIXA<br />
Conheça a nova presidente da <strong>ANACOM</strong>, Sandra<br />
Maximiano, a mulher que não se contenta com<br />
a mediocridade. Querer o impossível é a melhor<br />
maneira de realizar o possível. E, pelo caminho,<br />
ela deseja nunca deixar de aprender.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“Sempre me dediquei a projetos que me apaixonam, de diferentes áreas de intervenção pública” , afirma Sandra Maximiano,<br />
fotografada no Aquário Vasco da Gama, um dos locais de Lisboa onde se sente em casa
Sandra Maximiniano, a nova presidente da <strong>ANACOM</strong>, fala com o sangue<br />
e pensa com o coração. Cada frase é uma flecha capaz de acertar<br />
no seu ponto-alvo. Não se intimida com as novas responsabilidades,<br />
nem tão pouco com a complexidade dos compromissos e das relações<br />
humanas.<br />
Quase seguiu Belas Artes, mas trocou a vocação pela Economia. Trabalhou<br />
nos EUA com estrelas mundiais, enquanto fazia ultramaratonas,<br />
triatlo e trapézio voador. Agora que assumiu o cargo de reguladora do<br />
complexo setor das comunicações em Portugal, mostra toda o seu entusiasmo,<br />
a sua vontade de fazer a diferença. Sandra Maximiano pertence<br />
àquele grupo de mentes privilegiadas que parecem ter sempre energia<br />
para buscar mais e melhor. Tem uma vida sôfrega de ebulição. Parar não<br />
é o seu verbo.<br />
Toda a vida fugiu a galope do convencional, da rotina demolidora,<br />
e buscou sempre o sentido humano da existência. É doutorada em<br />
Economia pela Universidade de Amesterdão, professora associada de<br />
Economia no ISEG, onde é co-coordenadora do mestrado de Economia e<br />
do xLab – Behavioural Research Lab. Antes de colaborar com o ISEG, foi<br />
professora na Faculdade de Purdue e investigadora na Universidade de<br />
Chicago. Tem feito investigação em economia experimental e comportamental,<br />
economia organizacional e do trabalho, políticas públicas e<br />
gestão da informação. Explora questões relacionadas com preferências<br />
sociais e morais, diferenças de género em decisões económicas e a<br />
dinâmica da informação em ambientes competitivos e cooperativos. Usa<br />
principalmente o laboratório e experiências de campo para estudar o<br />
comportamento económico humano.<br />
Conseguirá deixar uma marca positiva à frente da <strong>ANACOM</strong>, após<br />
tantos anos de litigância? É bem provável. Quando se olha para a sua<br />
vida, é fácil dizer que o futuro sempre lhe aconteceu. É extremamente<br />
perseverante e dedicada. A sua vaidade é – sempre foi – estar viva. E<br />
fê-lo desde sempre, mostrando toda a sua irreverência. Com 18 anos,<br />
com energia invencível, começou a viajar e nunca mais parou. Sempre<br />
quis conhecer o mundo, sair do seu quintal. Os anos mais solares da sua<br />
vida viveu-os fora de Portugal, construindo a certeza de que lidar com<br />
outras culturas é uma experiência que aproxima os povos, que constrói<br />
empatia, um dos valores da sua vida. Para onde quer que ela parta, vai<br />
sempre com a alegria de menina em busca de aventuras. Para ela o trabalho<br />
é uma causa nobre. Não é um suicídio absurdo nem uma maneira<br />
de passar o tempo.<br />
Em suma, a grande obra da existência, para Sandra Maximiano, é<br />
viver intensamente.<br />
17
a conversa<br />
“Percebi que era possível<br />
passar a minha vida a estudar,<br />
mas de forma produtiva e<br />
sustentável (...) Posso dizer<br />
que passei a minha vida toda a<br />
aprender e continuo a fazê-lo”<br />
“Sinto uma grande necessidade<br />
de evoluir, sinto esse apelo.<br />
Quando entrei para a<br />
<strong>ANACOM</strong>, nos primeiros dias,<br />
em que havia muitas decisões<br />
financeiras a tomar, senti: se<br />
isto for assim todo o tempo,<br />
em seis anos vou ficar burra”<br />
18
Quando estava na idade de fazer escolhas, dizia que<br />
queria estudar até morrer. Porque é que isso era tão<br />
determinante para a sua felicidade?<br />
Porque me fazia confusão perceber que as pessoas se<br />
limitavam a trabalhar das nove às cinco. Via isso nos<br />
meus vizinhos, em muita gente que me rodeava. E não<br />
queria essa vida para mim. Não gostava daquela correria,<br />
do preparar o jantar todos os dias da mesma maneira<br />
e de não haver tempo para mais nada. Achava que<br />
as pessoas não aprendiam.<br />
Isso também diz muito sobre si, essa vontade de aprender<br />
constantemente. Tirou o curso de Economia, mas<br />
nunca quis trabalhar numa empresa… Porquê?<br />
Queria aprender até morrer. Era tão assertiva que isso<br />
irritava o meu pai. Aliás, ele que não levanta a voz, nunca<br />
discute, não lidava nada bem com isto. Só o vi duas<br />
vezes chateado na vida. Uma foi quando fez um bolo<br />
pela primeira vez e eu fui lá incomodá-lo (risos); e a outra<br />
quando eu insistia que só queria estudar. Dizia-lhe:<br />
“Acabo um curso e vou para outro, e depois para outro,<br />
e depois para outro. Não quero trabalhar!”. O meu pai<br />
achava mesmo que aquilo não podia continuar!<br />
Quando descobriu que poderia fazer isso na Academia,<br />
deve ter sido uma felicidade!<br />
Sim, percebi que era possível passar a minha vida a estudar,<br />
mas de forma produtiva e sustentável. Sem depender<br />
dos meus pais.<br />
O sonho cumpriu-se.<br />
Sim. Posso dizer que passei a minha vida toda a aprender.<br />
E continuo a fazê-lo.<br />
Isso tem muito a ver com a sua personalidade, a sua<br />
vontade de se superar, de ir buscar outras vivências,<br />
outras descobertas.<br />
Sim, totalmente. Repare: regressei a Portugal há três<br />
meses e no outro dia pensei: nos próximos seis anos<br />
tenho de tirar uma engenharia qualquer ou um curso<br />
de Direito. Sinto uma grande necessidade de evoluir,<br />
sinto esse apelo. Quando entrei para a <strong>ANACOM</strong>, nos<br />
primeiros dias em que havia muitas decisões financeiras<br />
para tomar, de gestão do dia-a-dia, senti: se isto for<br />
assim todo o tempo, em seis anos eu vou ficar burra!<br />
Mas o que encontrou foi um grande desafio? Neste setor,<br />
dificilmente sentirá a estagnação.<br />
Sim, existem muitos desafios. Mas no início assustou-<br />
-me muito perder tempo com coisinhas que não são<br />
assim tão interessantes…<br />
Já agora, uma curiosidade: quando o João Galamba a<br />
contactou por WhatsApp para a sondar para a ANA-<br />
COM, o que pensou? Que era uma mensagem de<br />
phishing?<br />
Lembro-me perfeitamente, era um sábado de julho. Eu<br />
estava a caminho da praia para fazer surf. E ele enviou<br />
uma mensagem a pedir para falar comigo por telefone.<br />
Não liguei muito, pensei que seria, sim, uma mensagem<br />
de phishing. Ou uma conta falsa. Entretanto, respondi<br />
à mensagem e combinámos um encontro na<br />
terça-feira seguinte.<br />
Ficou surpreendida com o convite?<br />
Não. A primeira coisa que lhe disse foi: “Não me venha<br />
falar da TAP!”. Foi logo a minha reação. Mas não fiquei<br />
surpreendida. Porque, em 2021, eu já tinha sido abordada<br />
para vir para a <strong>ANACOM</strong> como administradora,<br />
a convite do Mário Centeno. Mas, na altura, não me<br />
fez sentido. A minha avó tinha acabado de falecer e eu<br />
tinha vindo para Portugal abrir o laboratório em economia<br />
experimental no ISEG (o XLAB - Behavioural<br />
Research Lab). Estava muito entusiasmada com o projeto,<br />
não era o momento.<br />
Mas desta vez acabou por aceitar…<br />
Pedi algum tempo para pensar, para conversar com algumas<br />
pessoas que foram fundamentais neste processo,<br />
entre as quais a antiga presidente, a professora Fátima<br />
Barros, uma pessoa que conheço há muitos anos,<br />
e o próprio Mário Centeno. Porque precisava muito de<br />
perceber o porquê deste convite.<br />
E o que é que ele lhe disse?<br />
Ele acha que as pessoas que foram para fora e que têm<br />
grande transversalidade são muito úteis à causa pública.<br />
O que nós podemos trazer para estas organizações<br />
é a mente aberta, não estarmos fechados numa única<br />
visão. E eu sempre me dediquei a projetos que me<br />
apaixonam, de diferentes áreas de intervenção pública.<br />
O Álvaro Beleza costuma dizer que eu não sou uma<br />
pessoa agarrada ao poder. E é verdade. Tenho um olhar<br />
científico sobre as coisas. Olho para elas. Questiono.<br />
Questiono muito. Muitas vezes não estou satisfeita<br />
com determinadas práticas. Julgo que foi isso que eles<br />
viram em mim.<br />
O facto de ser independente também ajudou?<br />
Sou apartidária. Tenho, claro, as minhas convicções,<br />
mas vejo o mundo com o meu olhar científico. Nunca<br />
tive problemas em criticar quem quer que seja. E o<br />
Mário Centeno foi muito justo, muito correto. Porque<br />
eu escrevi vários textos no Expresso com muitas críticas<br />
19
a conversa<br />
quando ele era ministro das Finanças, e isso não o impediu<br />
de me convidar para esta função.<br />
E é, talvez, também por isso que ele a respeita?<br />
Sim. Admiro muito as pessoas que aceitam a crítica,<br />
veem a parte construtiva.<br />
Traz toda uma bagagem de conhecimento para acrescentar<br />
valor a <strong>ANACOM</strong>, é isso?<br />
Sim, acrescentar valor é o que pretendo. No setor das<br />
comunicações, temos de olhar também para o lado da<br />
procura, não é só para o lado da oferta. O desafio é muito<br />
grande e julgo que posso dar um contributo válido.<br />
No seu último texto de opinião no Expresso afirma que<br />
o principal valor para este ano é a empatia. Vem trazer<br />
a empatia para a <strong>ANACOM</strong>?<br />
Espero que sim! Gostava muito que as pessoas conseguissem<br />
olhar para o outro e percebessem que, se ele<br />
não entregou aquele trabalho naquela hora ou exatamente<br />
como tinha sido combinado, talvez haja algo<br />
por detrás disso. Perceber que há sempre uma razão e<br />
a razão talvez seja a pessoa<br />
não estar feliz ou motivada<br />
aqui. A empatia é<br />
muito importante nas organizações.<br />
É um valor que<br />
deveríamos ter sempre<br />
connosco.<br />
Foi na infância que forjou<br />
essa empatia? Essa sua<br />
preocupação com o outro?<br />
Há quem diga que o<br />
segredo, o mistério, está<br />
na infância. Está nessa<br />
dimensão silenciosa, submersa, escondida que todos<br />
trazemos.<br />
É de pequenino que se torce o pepino, lá diz o ditado.<br />
E não é com palavras que se faz isso. Não é porque me<br />
disseram: “Tens de te portar bem, tens de ser bondosa,<br />
tens de respeitar o outro”.<br />
A empatia é muito<br />
importante nas<br />
organizações. É um valor<br />
que devíamos ter sempre<br />
connosco<br />
E como foi crescer com um pai ausente e uma mãe muito<br />
presente? Como foram esses tempos de infância?<br />
Eu achava o máximo, sempre achei. Para mim, o facto<br />
de o meu pai ter estado fora também me fez querer<br />
conquistar o mundo. Marcou muito a minha visão da<br />
vida. Nunca vi os meus pais discutirem, nunca assisti<br />
ao rame-rame, à acomodação. Sempre que estavam<br />
juntos, parecia que estávamos de férias. Com a minha<br />
mãe sempre tivemos – eu e a minha irmã – muita cumplicidade,<br />
uma grande amizade.<br />
A vida entre Portugal e Angola foi também uma oportunidade<br />
de conhecer um outro continente e, sobretudo,<br />
uma realidade social totalmente diferente?<br />
Sim. Estávamos em plena guerra civil em Angola. Era<br />
fácil perceber as dificuldades que as pessoas tinham lá –<br />
toda a gente, porque a guerra é muito democrática nesse<br />
sentido. Isso formou a nossa visão do mundo. Não<br />
havia água nem comida para comprar, não havia luz.<br />
Íamos para a fila das senhas para os frangos. <strong>À</strong> época,<br />
vivia-se muito o racismo. <strong>À</strong> minha irmã partiram-lhe a<br />
cabeça com as pedradas que nos atiravam. Foi preciso<br />
ter muita empatia. Lembro-me de vários episódios que<br />
me marcaram. Na altura, eu fazia coleção de latas e pedia<br />
aos miúdos locais para as recolherem para mim. Em<br />
troca, eu dava-lhes comida.<br />
Uma vez, eles apanharam<br />
um saco enorme de latas,<br />
de todos os tamanhos e<br />
feitios, e eu fiquei super<br />
feliz… Mas destruíram as<br />
latas à minha frente. Cada<br />
lata. Uma a uma. Isto deixa<br />
uma marca. Foi preciso<br />
aprender que, por detrás<br />
desta atitude, havia uma<br />
razão muito forte.<br />
E os seus pais explicavam-<br />
-vos isso, tinham essa narrativa…<br />
Sim. Nos anos 80 Portugal estava ainda muito atrasado,<br />
mas para nós era um paraíso. Um paraíso, realmente.<br />
Quando chegávamos, podíamos abrir a torneira e<br />
beber água. Em Angola não havia água. Além do lixo,<br />
do esgoto a céu aberto.<br />
20<br />
Foi com os atos, com os exemplos a que assistiu, que<br />
desenvolveu o seu sentido de justiça? Em que é que ele<br />
se revela?<br />
No meu caso, a experiência que tive em Angola foi<br />
muito importante. O meu pai viveu lá 35 anos, como<br />
engenheiro de telecomunicações, na Angola Telecom.<br />
Durante todo o meu crescimento, andei entre cá e lá.<br />
Essa experiência em Angola marcou o seu posicionamento<br />
perante os problemas sociais e do mundo, não<br />
olhando apenas para o seu quintal?<br />
Sempre. Ter, genuinamente, o interesse de perceber a<br />
fundo histórias de vida de cada pessoa. O que está por<br />
detrás, como é que se chegou ali, como é que é aquela<br />
vida. A educação é muito importante, é o maior
elevador social, mas depois há<br />
também escolhas erradas, estar<br />
no sítio errado, na hora errada.<br />
Tudo isso me fascina. Tenho uma<br />
genuína preocupação social,<br />
com empatia, sem crítica. Procuro<br />
sempre perceber o porquê.<br />
O porquê é muito importante,<br />
até para definir as políticas públicas.<br />
Perceber as motivações<br />
das pessoas, sobretudo das mais<br />
vulneráveis. Perceber, por exemplo,<br />
porque é que gente pobre,<br />
que se alimenta de patas de galinha,<br />
tem um carro à porta.<br />
Foi daqui que nasceu o seu interesse<br />
pela economia comportamental<br />
e experimental?<br />
Em parte, sim. Mas também<br />
contribuíram os tempos na<br />
Universidade Católica, muito<br />
fechada, muito neoclássica, em<br />
que “isto é assim porque tem de<br />
ser assim”. Nada se questiona.<br />
Foi quase em jeito de reivindicação.<br />
Lembro-me de que, na<br />
altura, o professor Fernando<br />
Branco, que já faleceu, me disse<br />
que não me passaria a carta de<br />
recomendação para concorrer à<br />
bolsa se eu teimasse em seguir<br />
esta área do conhecimento. E eu<br />
teimei. Era o que me motivava.<br />
“Tenho uma genuína preocupação social, com empatia, sem crítica. Procuro sempre<br />
perceber o porquê. O porquê é muito importante, até para definir as políticas públicas”<br />
Foi por isso que optou por se ir<br />
embora de Portugal e ter outras<br />
experiências, abrir o mundo?<br />
Sim, sempre o quis fazer. Quando fiz 18 anos, comprei<br />
um bilhete de avião para ir passar uma temporada no<br />
sul de Inglaterra com o meu namorado e só disse à minha<br />
mãe depois. No regresso, no avião, sentei-me ao<br />
lado de uma rapariga, com cerca de 25 anos, bióloga,<br />
aluna de doutoramento, e ela trazia um póster científico<br />
que tinha apresentado numa conferência académica.<br />
Tinha escrito um paper e estava a percorrer a Europa<br />
a mostrar essa investigação. Aquilo foi uma revelação.<br />
Naquele exato momento percebi que era possível continuar<br />
a estudar, fazer um doutoramento, e viajar pelo<br />
mundo a partilhar o que escrevemos.<br />
Porque escolheu Economia? Foi a sua avó que lhe ensinou<br />
a importância de gerir a vida financeira, quando<br />
era pequenina e ia consigo ao supermercado? Ela que<br />
geria as poupanças com tanta parcimónia? Isso marcou-a<br />
nas escolhas que fez?<br />
Talvez… A minha irmã tem essa teoria, de que foi a minha<br />
avó que me influenciou. Foi com ela que percebi<br />
que adoro memorizar números, é uma espécie de hobby,<br />
não sei explicar… Descontraio a memorizar as matrículas<br />
dos carros, os números de telefone e os preços<br />
no supermercado. Quando era pequena, gostava muito<br />
de brincar com a caixa registadora, sempre gostei do<br />
contar moedas. Relaxa-me.<br />
21
a conversa<br />
22<br />
E onde entra a sua paixão pelas Belas Artes?<br />
Estive muito indecisa em ir para artes ou para ciências.<br />
Sempre gostei de muitas coisas diferentes. Ao longo<br />
da vida, a par do curso, frequentei vários ateliers, com<br />
alguns pintores conhecidos. Assim, tentei satisfazer<br />
as duas vertentes. Para mim era assustador trabalhar<br />
das nove às cinco, ou trabalhar numa consultora, num<br />
banco. Cheguei a ter um convite para trabalhar no<br />
BES, numa agência na minha rua. Seria o meu pior pesadelo.<br />
Quando recebi o convite, passei toda a minha<br />
vida futura em filme, na cabeça: “Vou ficar na rua onde<br />
sempre vivi. Fechada neste mundo”. Era tudo o que eu<br />
não queria.<br />
É notável que, na altura, tenha tido essa visão. Ter essa<br />
perceção do que não se quer.<br />
Ainda hoje não tenho problemas em abraçar desafios<br />
novos e estar aberta a outras experiências. Sei que não<br />
quero estagnar.<br />
Pelo contrário. Quer devorar<br />
o mundo de todas<br />
as formas que conseguir,<br />
sem se demitir de uma<br />
única possibilidade. O<br />
que busca quando mergulha<br />
de cabeça num novo<br />
desporto, por exemplo?<br />
Quando faz mais uma maratona?<br />
<strong>À</strong>s vezes pode parecer um<br />
bocadinho de arrogância,<br />
mas acho que é possível<br />
aprender tudo. O que me<br />
custa mais na relação com<br />
os outros é perceber que muitas pessoas não estão<br />
abertas a novas experiências.<br />
Custa-lhe perceber que elas não têm a sua perplexidade,<br />
a sua capacidade de espanto em relação ao mundo…<br />
Sim, penso sempre que, se existe um problema, temos<br />
de o solucionar. Não acho, à partida, que é impossível.<br />
Eu valorizo muito isso. Só que, depois eu arranjo uma<br />
solução para tirar aquele lacado da mesa que tenho lá<br />
em casa, arranjo um caminho, aprendo. Mas entretanto<br />
sinto que tenho de ficar especialista em tirar lacados<br />
da mesa, tenho de ler tudo sobre isso!<br />
Para mim era assustador<br />
trabalhar das nove às<br />
cinco. Cheguei a ter um<br />
convite para trabalhar na<br />
agência do BES da minha<br />
rua. Seria o pior pesadelo<br />
A pergunta é: como arranja tempo? Porque a sua lista<br />
de interesses vai da natação ao ioga, passando pela decoração<br />
e pintura de interiores, fazer velas e sabonetes,<br />
praticar triatlo, ser cronista do Expresso. Para não<br />
falar no trapézio aéreo! Como é que isso aconteceu?<br />
Eu sempre fiz desporto, desde criança. Sempre. É essencial.<br />
Quem faz desporto de competição desafia-se<br />
constantemente, tem muitos objetivos. Os desportos<br />
que fiz, muitos deles, são individuais. Vim da ginástica<br />
acrobática, fiz natação, depois comecei nas maratonas,<br />
triatlo, etc… Aos 16, 17 anos, comecei a correr muito,<br />
porque achava que tinha todo o espaço do mundo para<br />
explorar, busquei essa liberdade. Sempre tive muita resistência,<br />
sou baixinha, era muito magra. Quando fiz o<br />
doutoramento na Holanda e depois fui para os Estados<br />
Unidos, já corria em várias equipas, tive patrocínios<br />
de algumas marcas de desporto. Nos Estados Unidos,<br />
encontrei muita gente igual a mim, que fazia imenso<br />
desporto, com horários estranhos. Pensei: “I found my<br />
crowd”. Comecei a fazer longas distâncias, ultra maratonas,<br />
e claro que dei cabo destes tendões, que ligam<br />
a parte de cima do glúteo. Tive grandes lesões, várias<br />
intervenções cirúrgicas e<br />
sabia que tinha de parar<br />
de fazer competição. Estava<br />
muito frustrada. Ainda<br />
hoje é uma coisa que me<br />
custa aceitar.<br />
Foi aí que entrou o trapézio?<br />
Sim. Fui procurar algo<br />
completamente diferente,<br />
que pudesse aprender<br />
desde o início, que me<br />
desafiasse, em que não<br />
envolvesse tanto as pernas,<br />
porque eu tinha mesmo de descansar as pernas.<br />
Então, cruzei-me em Portugal com um centro de artes<br />
para acrobacias aéreas e quando regressei aos Estados<br />
Unidos pensei que tinha de arranjar um sítio para continuar<br />
com o trapézio. E descobri uma escola em Chicago,<br />
um estilo de trapézio voador, de circo, em que<br />
aprendemos a trabalhar com a gravidade. Foi ótimo!<br />
Aprendi algo totalmente novo. E isso é importantíssimo<br />
para mim. Tenho grupos de amigos completamente<br />
diferentes, com vidas quase antagónicas.<br />
Isso faz de si uma pessoa multicolor. Multidimensional.<br />
Sim. Ajuda-me a sair fora da caixa.<br />
Ter um olhar inaugural sobre as coisas? Na <strong>ANACOM</strong>,
“Julgo que a litigância (na <strong>ANACOM</strong>) já acalmou. Tem sido muito importante dialogar. Quando falamos de questões de segurança,<br />
estamos a falar da sustentabilidade do setor. Estamos todos unidos para criar um setor mais seguro”<br />
como é que essa criatividade poderá ser útil num setor<br />
que precisa tanto dela, numa fase de litigância absoluta<br />
entre os players e o regulador?<br />
Julgo que a litigância já acalmou. Tem sido muito importante<br />
dialogar. Quando falamos de questões de segurança,<br />
estamos a falar da sustentabilidade do setor.<br />
Estamos todos unidos para criar um setor mais seguro,<br />
mais resiliente. As questões da segurança proporcionam<br />
diálogo, porque é do interesse de todos, é uma<br />
preocupação comum. O regulador tem uma função e<br />
um objetivo diferente dos operadores. É natural. Mas,<br />
no meio deste desalinho, é possível encontrar um equilíbrio.<br />
Achar pontos de encontro.<br />
É isso que tem feito nestes primeiros meses?<br />
Sim. Reunir com os operadores, com os fornecedores e<br />
restantes stakeholders do setor, com organismos públicos,<br />
outros reguladores, associações de consumo. Na<br />
verdade, com toda a gente.<br />
E o que sentiu até agora? Recetividade?<br />
Sim, muita recetividade. Como havia muita tensão,<br />
muita falta de diálogo, também havia muita expectativa<br />
de tornar este diálogo eficaz.<br />
Tem defendido o conceito da eficiência dinâmica para<br />
o setor. Fale-nos deste conceito.<br />
É quando o bem-estar social é maximizado em situações<br />
de concorrência. E atinge o seu mínimo em monopólio.<br />
No setor das telecomunicações estamos num<br />
oligopólio. Não é como o setor das churrasqueiras de<br />
bairro, por exemplo, um setor verdadeiramente concorrencial:<br />
o produto é todo igual, muito homogéneo,<br />
com baixo investimento tecnológico. Nas telecomunicações<br />
estamos numa situação intermédia. Quando<br />
se aumenta o número de concorrentes, teoricamente<br />
aumenta-se o bem-estar. O problema é se, nesta passagem,<br />
se destrói a capacidade de investir. Temos que<br />
ter cuidado, sobretudo quando estamos em momentos<br />
de novas ondas tecnológicas. Devemos aumentar a<br />
concorrência, mas com cuidado, porque exige grandes<br />
investimentos. Tem de haver esse trade-off, tem de ser<br />
dinâmico.<br />
Sim, as mudanças tecnológicas são cada vez mais rápidas<br />
e exigem, por isso, cada vez mais capacidade de<br />
investimento.<br />
Julgo que devemos pensar num modelo económico de<br />
financiamento do setor. Porque o 5G pode ser realmen-<br />
23
a conversa<br />
como é que este hospital poderá<br />
usar o 6G. Não são os operadores<br />
que terão de pensar nisso.<br />
Mas os operadores não querem<br />
ouvir falar do 6G…<br />
… porque os investimentos no<br />
5G foram enormes. Onde é que<br />
poderemos potenciar o 5G ao<br />
máximo? Na educação, nas escolas,<br />
por exemplo. Ter a realidade<br />
virtual na aprendizagem,<br />
mas é preciso investir, é preciso<br />
vir mais de cima, é preciso uma<br />
visão.<br />
Na Europa até os grandes grupos<br />
estão a desinvestir. Veja-se<br />
a Vodafone. Desinvestiu em Espanha,<br />
agora vai desinvestir em<br />
Itália. A Altice está a desinvestir<br />
em Portugal.<br />
Sim, o problema é esse. O excesso<br />
de concorrência não é sustentável.<br />
24<br />
“Onde é que poderemos potenciar o 5G ao máximo? Na educação, nas escolas, por exemplo.<br />
Ter a realidade virtual na aprendizagem. Mas é preciso investir”<br />
te disruptivo: na indústria, na medicina, na educação.<br />
É brutal em todos os setores, é transversal. As externalidades<br />
positivas são enormes. O Estado tem de investir.<br />
Cada vez mais as telecomunicações têm um impacto<br />
que beneficia todos os outros setores. Temos de<br />
monetizar isso, financiar esses investimentos. Alguns<br />
deles só se concretizarão com alguma intervenção pública.<br />
Intervenção pública nacional ou europeia?<br />
Nacional. Que não tem havido. Sendo que os financiamentos<br />
nacionais recorrem a grandes fundos internacionais.<br />
Um exemplo: quando estamos a construir um<br />
novo hospital público, há que ter a visão de futuro de<br />
Quais são as suas expectativas<br />
com a entrada da Digi, olhando<br />
para o que está a acontecer no<br />
mercado espanhol?<br />
A Digi vem fazer algo que é importante<br />
em qualquer mercado:<br />
agitá-lo, sobretudo nas ofertas<br />
mais básicas. Temos falta de soluções<br />
diversificadas nas gamas<br />
baixas. O que nos falta é essa oferta de single services, de<br />
apenas internet, por exemplo. Pacotes com preços bem<br />
mais acessíveis, competitivos. Nós, enquanto regulador,<br />
temos de estar atentos às estratégias das empresas<br />
para segurar os seus próprios clientes, a práticas menos<br />
concorrenciais que vão sempre existindo, mas que agora,<br />
com o medo desta concorrência, possam ser exacerbadas.<br />
É preciso encontrar o equilíbrio.<br />
Na sua audição no parlamento, afirmou ter consciência<br />
de que a <strong>ANACOM</strong> estava internamente numa má<br />
situação. Encontrou efetivamente uma organização<br />
fragmentada, partida e desmotivada?
a conversa<br />
26<br />
Está partida, sim, está desmotivada, talvez menos do<br />
que eu pensava no início. Mas encontrei muita litigância,<br />
muita desconfiança. Mais do que desmotivação,<br />
encontrei medo. É o que sinto: as pessoas têm medo.<br />
Há também um grande desagrado com o sistema de<br />
avaliação. Senti muita ansiedade, muita falta de paciência,<br />
as pessoas agem muito na defensiva, parece<br />
que estão em avaliação permanente, como se lhes estivessem<br />
a apontar o dedo. A minha postura é dizer: “Vamos<br />
falar, vamos trabalhar<br />
na solução”.<br />
E hoje em dia os desafios<br />
que têm em mãos são<br />
muito transversais. É preciso<br />
toda a motivação interna…<br />
Sim, não podemos separar<br />
o que é a tecnologia dos<br />
cabos marinhos do setor<br />
de regulação. Temos a área<br />
do digital, supervisão, regulação,<br />
inovação. O que<br />
eu gostava, mesmo falando do Conselho de Administração,<br />
é de distribuir tarefas. Funcionar por projetos.<br />
É o caso da renovação do laboratório de Barcarena,<br />
por exemplo. É um projeto que precisa de liberdade de<br />
pensamento, de criatividade, de pessoas que pensem<br />
fora da caixa.<br />
Está a organizar a casa…<br />
Com calma, sim. Tenho muita experiência em gestão<br />
e coordenação de projetos, e de fazê-lo de forma interdisciplinar.<br />
Disse recentemente que a <strong>ANACOM</strong> tem um valioso<br />
conjunto de informação, mas que comunica mal. O<br />
que está a fazer neste aspecto?<br />
Não podemos negar uma realidade: temos públicos diferentes,<br />
temos de saber como atingi-los com linguagens<br />
distintas. Temos produtos muito interessantes,<br />
Temos de estar atentos às<br />
estratégias das empresas<br />
para segurar os seus<br />
próprios clientes. É preciso<br />
encontrar o equilíbrio<br />
como é o caso dos videocasts curtos, que são muito esclarecedores.<br />
Temos de apostar na literacia digital.<br />
Quais as principais mensagens que quer deixar aos<br />
protagonistas do mercado?<br />
Vou falar para os operadores, para os consumidores,<br />
para a oferta e para a procura. Para a oferta, quero dizer-lhes<br />
que continuem a acreditar no país. Eu sei que<br />
às vezes é difícil. Acho que podemos ser um exemplo<br />
e em muitas áreas somos<br />
até pioneiros, com certas<br />
investigações e inovações<br />
tecnológicas. É preciso<br />
investir em nova tecnologia,<br />
em inovação, mas ao<br />
mesmo tempo olhar para<br />
os consumidores com o<br />
maior respeito possível.<br />
Acho que a abordagem<br />
americana fazia muita<br />
falta em Portugal: o cliente<br />
está acima de tudo, o<br />
cliente está primeiro. Vemos<br />
isso em qualquer setor. A forma como os americanos<br />
gerem uma reclamação... Nas telecomunicações<br />
seria bom pensar no cliente, não tirar vantagem da iliteracia,<br />
que ainda é muita.<br />
E que mensagem quer deixar aos consumidores?<br />
Que procurem mais informação. Tirem tempo para ler<br />
as letras pequeninas. Procurem, comparem, exijam<br />
sempre que os operadores negoceiem convosco. E reclamem,<br />
mas com substância. Só assim o regulador poderá<br />
fazer alguma coisa. As reclamações vazias não nos<br />
servem de nada. Desejo que os consumidores busquem<br />
informação, mudem, experimentem, tirem vantagem<br />
do mercado. De dois em dois anos, quando terminam<br />
as fidelizações, experimentem outras ofertas. Lutem<br />
contra a inércia.•
em destaque<br />
É NO ATAQUE<br />
QUE ESTÁ<br />
A PREVENÇÃO<br />
O impacto dos ciberataques é cada<br />
vez mais dramático. Com a certeza<br />
de que nenhuma organização escapa<br />
à mira dos atacantes, cada vez mais<br />
sofisticados e abrangentes, a resolução<br />
das vulnerabilidades é uma prioridade<br />
absoluta. É que há muitas portas e<br />
janelas abertas no digital e só com<br />
soluções preventivas e proativas podem<br />
ser fechadas.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA FOTOS CEDI<strong>DA</strong>S E 3ALEXD/ISTOCK<br />
28
29
em destaque<br />
30<br />
Não é por acaso que a cibersegurança e a resiliência<br />
cibernética foram tema central do Fórum<br />
Económico Mundial na Cimeira de Davos de<br />
janeiro último. As ameaças no digital estão a<br />
disparar, em quantidade e em sofisticação, num mundo<br />
em profundo processo de transição geopolítica<br />
e tecnológica. E a perspetiva é que este enorme risco<br />
global aumente exponencialmente nos próximos anos,<br />
colocando em causa as cadeias mundiais de fornecimentos,<br />
as economias e as próprias democracias. Por<br />
isso, há que cerrar fileiras ao nível mundial, europeu e<br />
nacional. Com a certeza de que a resposta terá de passar<br />
por uma estratégia de ataque defensivo.<br />
O Global Cybersecurity Outlook 2024, realizado<br />
pelo Fórum Económico Mundial (WEF) e pela Accenture,<br />
mostra que no ano passado o mundo enfrentou<br />
uma ordem geopolítica polarizada, múltiplos conflitos<br />
armados, ceticismo e fervor sobre as implicações das<br />
tecnologias do futuro e uma incerteza económica global<br />
generalizada. No meio deste cenário, uma certeza:<br />
a economia da cibersegurança cresceu exponencialmente,<br />
acima da economia<br />
global e ultrapassou o<br />
crescimento do setor tecnológico.<br />
Mais de um terço<br />
das organizações sofreu<br />
pelo menos um incidente<br />
cibernético.<br />
Para 2024, num cenário<br />
global ainda mais<br />
tenso e conflituoso, espera-se<br />
que as ameaças<br />
cibernéticas sejam mais<br />
vastas e complexas. Com<br />
a agravante de ser um ano em que mais de 45 países e<br />
quase quatro mil milhões de pessoas vão às urnas para<br />
decidir quem governa mais de 50% do PIB mundial.<br />
Isto enquanto cresce a desigualdade cibernética entre<br />
organizações, setores, comunidades e países.<br />
As soluções? Em Davos foram apontadas muitas<br />
e todas passaram por um combate concertado às desigualdades,<br />
pela resolução de lacunas em competências,<br />
por uma maior colaboração internacional, por<br />
mapear e entender melhor o ecossistema cibercriminoso,<br />
ou pela aposta na utilização massiva das mais<br />
recentes tecnologias. Aqui, a inteligência artificial (IA)<br />
A economia da<br />
cibersegurança cresceu<br />
exponencialmente, acima<br />
da economia global e do<br />
setor tecnológico<br />
surge em grande destaque, porque está a revolucionar<br />
tudo, para o bem e para o mal…<br />
FAZER FACE A MAIS E MAIS CIBERAMEAÇAS<br />
Uma análise do site govtech às previsões de cibersegurança<br />
para 2024 das grandes consultoras mundiais revela<br />
que todas têm alguns temas comuns. A começar<br />
pelo impacto da IA. Do ‘lado negro’ do digital, antecipam<br />
que os ataques cibernéticos sejam mais eficazes,<br />
com os hackers a aproveitarem todo o potencial das ferramentas<br />
da IA generativa. Mas a tecnologia também<br />
assume um papel fundamental na ciberdefesa. Acresce<br />
que a necessidade de melhorar a produtividade impulsionará<br />
a adoção rápida e generalizada da GenAI.<br />
Haverá cada vez mais regulamentação, leis, políticas,<br />
privacidade de dados e regras éticas, porque o número<br />
de pessoas online vai continuar a aumentar, reforçando<br />
exponencialmente a superfície de ataque para os hackers.<br />
O cenário na Europa não é diferente. O mais recente<br />
ranking das 10 principais ciberameaças, elaborado<br />
pela ENISA, a Agência<br />
para a Cibersegurança da<br />
UE, é liderado pelo comprometimento<br />
das cadeias<br />
de fornecimentos, face às<br />
dependências do software.<br />
Seguem-se a escassez de<br />
competências; erro humano<br />
e sistemas legacy explorados<br />
nos ecossistemas ciber-físicos;<br />
exploração de<br />
sistemas não corrigidos e<br />
desatualizados; e aumento<br />
da vigilância digital. Fornecedores transfronteiriços<br />
de serviços TIC; campanhas avançadas de desinformação/operações<br />
de influência; aumento das ameaças híbridas<br />
avançadas; utilização abusiva da IA; e impacto<br />
físico das perturbações naturais/ambientais nas infraestruturas<br />
digitais críticas completam a lista.<br />
O “Worldwide Security Spending Guide”, da IDC,<br />
diz que as organizações “enfrentam níveis de ciberameaça<br />
sem precedentes, impulsionados por uma enorme<br />
e voraz economia de cibercriminalidade, pela proliferação<br />
de todas as ferramentas e serviços de ataque<br />
imagináveis na dark web e por um cenário geopolítico
Jorge Monteiro e André Baptista, co-founders da Ethiack, não duvidam de que a aplicação da nova diretiva europeia constituirá uma<br />
mudança de paradigma no âmbito da cibersegurança<br />
turbulento”. Resultado: os gastos das empresas em cibersegurança<br />
vão crescer a dois dígitos este ano (mais<br />
12,3% que em 2023).<br />
Pelo menos até 2027, esse ritmo deverá manter-se,<br />
comprovando que “a segurança é uma área-chave de<br />
investimento em TI para as organizações europeias,<br />
que terão de continuar a enfrentar a ameaça constante<br />
de ataques cibernéticos, protegendo ambientes de<br />
cloud híbrida”, além de garantirem a conformidade<br />
com as regulamentações nacionais e europeias. Um<br />
dos desafios mais imediatos, na sequência da Estratégia<br />
de Cibersegurança da UE, aprovada em 2020, é<br />
a transposição para os Estados-membros da Diretiva<br />
NIS 2, cujo prazo termina a 17 de outubro.<br />
Considerada a legislação mais abrangente de sempre<br />
na cibersegurança, representará “uma verdadeira<br />
mudança de paradigma, com pontos positivos e negativos”,<br />
como refere o CEO e co-founder da Ethiack, startup<br />
nacional que previne o cibercrime nas organizações.<br />
“Estamos no meio de várias guerras, de uma mudança<br />
digital gigantesca nas organizações, que prestam serviços<br />
e têm dados de pessoas. Vejo como positivo que a<br />
UE esteja a implementar regras que já deveriam existir<br />
há mais tempo, para garantir a privacidade dos dados<br />
e uma maior segurança das nações. Hoje, qualquer falha<br />
num serviço crítico digital, resulta num gigantesco<br />
caos na sociedade”.<br />
Certo de que a diretiva trará mais trabalho às organizações,<br />
podendo as PME ter algumas dificuldades<br />
em cumprir todas as obrigações, desdramatiza, considerando<br />
que se trata de um processo que “representa<br />
uma proposta de valor, ao garantir serviços mais seguros.<br />
A segurança tem de deixar de ser pensada como<br />
uma obrigação e um custo e passar a ser olhada como<br />
um investimento que vai dar mais valor à oferta”, defende.<br />
EXPOSIÇÃO DIGITAL <strong>DA</strong>S EMPRESAS APDC<br />
Cerca de 43% das organizações já terá definido ou revisto<br />
a política de segurança das TIC nos últimos 24<br />
meses, de acordo com dados da CNCS de 2022, que<br />
constam do ‘Relatório Cibersegurança em Portugal –<br />
Sociedade 2023”, divulgado em janeiro. O que prova<br />
que o tema está na agenda das empresas. A maioria<br />
31
em destaque<br />
32<br />
tinha recomendações documentadas sobre medidas,<br />
práticas ou procedimentos de segurança das TIC (54%),<br />
bastante acima dos 28% registados em 2019, sendo os<br />
mais relevantes os relacionados com o trabalho remoto<br />
e híbrido. Em termos de medidas efetivas tomadas, a<br />
mais comum era a autenticação através de uma palavra<br />
-passe segura (84%), backup da informação num segundo<br />
local (74%) e controlo de acesso à rede (63%). Assim<br />
como ações de sensibilização para colaboradores.<br />
Mas isso só não chega. Há muito que melhorar.<br />
A CNCS faz várias recomendações, desde as ações de<br />
sensibilização, formação e educação, à continuação da<br />
promoção e criação de estratégias e políticas de segurança<br />
de informação. Ainda refere como importante a<br />
adoção das melhores práticas de cibersegurança e acaba<br />
de lançar um Roteiro para as Capacidades Mínimas<br />
de Cibersegurança, para assegurar que as empresas desenvolvem<br />
valências técnicas, humanas e processuais,<br />
sobretudo as PME.<br />
Apesar dos esforços desenvolvidos nos últimos<br />
anos para melhorar, as empresas continuam a apresentar<br />
múltiplas vulnerabilidades.<br />
Incluindo entre<br />
as associadas da APDC.<br />
Um estudo realizado pela<br />
Ethiack ao universo de<br />
empresas da associação<br />
– mais de 120 – através<br />
de um reconhecimento<br />
passivo e não intrusivo da<br />
infraestrutura digital exposta<br />
sob 852 domínios de<br />
topo únicos, confirma-o:<br />
foram encontrados mais<br />
de 60 mil ativos expostos.<br />
Se, pela positiva, as empresas são “cada vez mais<br />
tecnológicas e digitais, caso contrário não haveria tantos<br />
domínios e ativos”, Jorge Monteiro explica que foram<br />
detetadas “fragilidades muito fáceis de corrigir”,<br />
citando os quase 20% de certificados SSL desatualizados<br />
ou os mais de 25% de informação exposta nos servidores<br />
das organizações.<br />
Destacando que “a ferramenta utilizada realiza<br />
apenas um reconhecimento preliminar da superfície<br />
de ataque externo relevante, sem ser capaz de realizar<br />
a identificação e análise de vulnerabilidade”, garante<br />
que acede apenas a informação disponível em bases de<br />
dados públicas e através de acessos legítimos a domínios<br />
web.<br />
O trabalho alerta para o caso dos certificados SSL<br />
desatualizados, por terem protocolos HTTPS inválidos.<br />
A Ethiack faz uma análise<br />
da exposição digital das<br />
associadas da APDC. SSL<br />
desatualizados foi uma das<br />
fragilidades detetadas<br />
São, por isso, “inseguros. Um invasor pode intercetar<br />
o tráfego enquanto estiver conectado à mesma rede,<br />
permitindo ataques como escutas e man-in-the-middle”.<br />
Há ainda 25,22% de arquivos de configuração dos servidores<br />
web expostos, o que os torna “mais vulneráveis<br />
a explorações”. Relativamente aos ativos utilizados pelas<br />
empresas no estudo, a maioria está localizada nos<br />
EUA (65%) e pertence à Amazon (62%).<br />
As conclusões não são muito diferentes da análise<br />
que a startup realizou às 500 maiores empresas nacionais.<br />
Dela, conclui-se que existiam 10.880 ativos<br />
digitais expostos. Mais de 20% dos servidores web expunham<br />
informações sobre a sua versão e software, as<br />
organizações desconheciam cerca de um terço dos ativos<br />
digitais expostos e mais de 10% dos certificados SSL<br />
estavam inválidos.<br />
Tendo em conta estas conclusões, a Ethiack recomenda<br />
às empresas do universo APDC a adoção de<br />
“soluções preventivas e proativas, que permitam uma<br />
melhor gestão da superfície de ataque externo”. Com<br />
destaque para duas soluções: uma ferramenta de Gestão<br />
de Superfície de Ataque<br />
Externo (EASM), que<br />
permitirá uma visão completa<br />
de toda a exposição<br />
digital, e um mapeamento<br />
de todos os ativos conhecidos<br />
e desconhecidos;<br />
bem como uma ferramenta<br />
Continuous Automated<br />
Red Teaming (CART), que<br />
combina o conhecimento<br />
de testes automatizados e<br />
manuais, permitindo uma<br />
análise contínua e precisa.<br />
“As empresas têm cada vez mais ativos e a infraestrutura<br />
digital está sempre a mudar. E são descobertas<br />
novas vulnerabilidades todos os dias. Há estudos que<br />
revelam que há mais de 80 novas irregularidades grandes<br />
e graves diárias e há criminosos que pegam nelas e<br />
começam a atacar toda a gente”, explica Jorge Monteiro.<br />
E alerta que nenhuma empresa pode estar livre de<br />
ser atacada: “Um criminoso não decide à partida qual<br />
é a empresa que vai atacar. Ataca um conjunto de IP’s e<br />
só depois, dependendo do que encontra, decide”.<br />
Por isso, as organizações devem manter-se o mais<br />
atualizadas possível em termos de ferramentas para<br />
gerir a sua presença online. Percebendo as tecnologias,<br />
as eventuais vulnerabilidades e fazendo um inventário<br />
dos seus ativos digitais. Depois, “há que testar em permanência”,<br />
alerta o gestor, que defende que “não deve-
mos ter medo de vulnerabilidades. O que<br />
devemos é aceitar que os nossos serviços<br />
e produtos vão tê-las, testar frequentemente<br />
e corrigir o mais rapidamente<br />
possível”.<br />
FECHAR JANELAS E PORTAS<br />
Mas a realidade mostra que “o tema da cibersegurança<br />
ainda não é uma prioridade<br />
ao nível das lideranças. Foi algo que apareceu<br />
muito rapidamente e que se tornou<br />
muito mais complexo”. A solução? “Pensar<br />
no digital e na cibersegurança como<br />
uma extensão do físico. Nenhum líder<br />
deixaria uma loja ou um armazém com<br />
as portas ou as janelas abertas durante a<br />
noite. Então porque é que deixa o digital?<br />
Temos de as encontrar e fechá-las o mais<br />
rapidamente possível”.<br />
Certo de que “as lideranças estão a começar<br />
a mudar, até por uma questão de<br />
gerações”, Jorge Monteiro admite que a<br />
prioridade nº1 nas empresas será sempre<br />
a de aumentar as receitas. O “desafio é<br />
saber como se consegue que a cibesegurança<br />
passe a ser uma mais-valia do produto<br />
e do serviço e não apenas um custo<br />
ou uma obrigação para estar compliance<br />
com a legislação”. Até porque “os ataques<br />
começam a ser dramáticos e com<br />
grande impacto. Só os vejo a aumentar<br />
com a IA e a automação. Cada vez mais,<br />
pode atacar-se numa escala gigantesca”.<br />
E o “atacante tem sempre vantagens em<br />
relação ao defensor, porque apenas precisa<br />
de encontrar uma janela no edifício<br />
todo. Nunca se consegue garantir 100%<br />
de segurança. Isso não existe. Mas pode fazer-se muito,<br />
com soluções que permitam testar com qualidade<br />
e encontrar vulnerabilidades”, diz o CEO da Ethiack.<br />
Que não acredita que se trate de um problema de investimento,<br />
porque “há dinheiro a ser investido em<br />
cibersegurança defensiva, como antivírus, firewalls ou<br />
VPN’s, e em cibersegurança reativa, para resolver um<br />
ataque. Mas “há muito pouco dinheiro a ser investido<br />
na prevenção”.<br />
É exatamente isso que defende a Ethiack, uma ‘defesa<br />
atacante’. “Temos de fazer uma gestão da superfície<br />
de ataque, da infraestrutura digital, para fechar<br />
as janelas e as portas. Só depois, se quisermos investir<br />
mais em cibersegurança, pomos muralhas à volta das<br />
“Não devemos ter medo de vulnerabilidades. O que devemos é aceitar que<br />
os nossos serviços e produtos vão tê-las, testar e corrigir o mais rapidamente<br />
possível”, aconselha Jorge Monteiro<br />
infraestruturas. Os testes de segurança servem para<br />
detetar os problemas, que depois terão de ser resolvidos.<br />
Muitas empresas fazem exatamente o contrário”,<br />
salienta.<br />
A missão da startup é identificar problemas de uma<br />
forma contínua, para que as organizações saibam os<br />
que têm e possam corrigi-los. Depois, fornece relatórios<br />
para cada vulnerabilidade, com guias de mitigação,<br />
cabendo à empresa corrigir os problemas, quer internamente,<br />
com os colaboradores, quer através de um<br />
parceiro que já esteja dentro do processo de transformação.<br />
Com a certeza de que o mais complexo, mesmo<br />
numa PME, é identificar o problema. Resolvê-lo não é<br />
assim tão dificil.•<br />
33
em destaque<br />
O LADO BOM <strong>DA</strong> FORÇA: ‘HACKERS DO BEM’<br />
ENGENHEIRO AERONÁUTICO, Jorge Monteiro sempre<br />
sentiu fascínio pelo cosmos e fez muita<br />
investigação. Em paralelo, como tinha o ‘bichinho’<br />
do empreendedorismo, chegou mesmo<br />
a criar uma startup na área espacial. Em 2018,<br />
o amigo de infância André Baptista, mestre<br />
em Segurança Informática, foi considerado o<br />
hacker mais valioso do mundo na competição<br />
internacional de hackers H1-202 e começou a<br />
desenvolver trabalhos na área de cibersegurança,<br />
para os quais chamou Jorge. Acabaram<br />
por perceber que poderiam desenvolver um<br />
produto e criaram,<br />
em 2020, a Ethiack.<br />
A solução, assente em IA,<br />
identifica vulnerabilidades<br />
em tempo real com 99% de<br />
precisão<br />
Depois de um ano de<br />
desenvolvimento e<br />
de testes, lançaram<br />
oficialmente a sua<br />
plataforma de cibersegurança<br />
SaaS, para<br />
ajudar as organizações<br />
a melhorar os<br />
níveis de segurança<br />
e prevenir o cibercrime, otimizando custos e<br />
recursos.<br />
Não demoraram muito a arrecadar vários<br />
prémios. Na Web Summit de 2023, a Ethiack<br />
foi uma das três grandes vencedoras do Road<br />
2 Web Summit, sendo considerada a startup<br />
“mais promissora”. Venceu a 1ª edição do<br />
Prémio Nacional de Inovação, no segmento<br />
Tecnologia. E foi a única portuguesa selecionada<br />
para integrar um grupo de 17 empresas do<br />
programa @Google for Startups Growth Academy:<br />
AI for Cybersecurity. Mais recentemente,<br />
foi um dos dois projetos portugueses vencedores<br />
na iniciativa mundial World Summit Award<br />
(WSA), na categoria de Business & Commerce.<br />
A sua plataforma, assente em IA, faz testes de<br />
segurança ofensivos contínuos, que permitem<br />
identificar vulnerabilidades em tempo real com<br />
99% de precisão e recomenda as medidas para<br />
as corrigir. Combinando automação, inteligência<br />
artificial e as competências de hackers éticos.<br />
Com dez pessoas, a meta da startup é crescer<br />
rapidamente e, por isso, estava no final de março<br />
a realizar uma ronda de investimento. Em dois<br />
anos quer chegar aos 40 a 50 colaboradores e<br />
reforçar a internacionalização,<br />
para a qual<br />
iniciou um programa de<br />
parcerias locais, porque<br />
“a cibersegurança é um<br />
mercado de confiança”.<br />
No mercado nacional,<br />
contam já com um leque<br />
de clientes que inclui<br />
a Sonae, ANA, VdA,<br />
Cegid, Lusitânia e NOS.<br />
Mas também trabalham em mercados como a<br />
Alemanha, França, Holanda, Angola e Brasil, cujas<br />
vendas representam já mais de 30% do total.<br />
O processo de venda da solução passa sempre<br />
pela mesma metodologia: a Ethiack disponibiliza<br />
gratuitamente a todas as empresas interessadas<br />
um mês de testes, para conhecerem a oferta<br />
e perceberem o seu valor. Findo esse prazo,<br />
poderão tomar uma decisão informada. “Nunca<br />
vendemos a solução sem dar valor e sem criar<br />
uma relação de confiança. É algo que valorizamos<br />
e é a nossa estratégia. As grandes organizações<br />
clientes deram-nos a oportunidade, viram a mais-<br />
34
Da equipa da Ethiack, que em breve vai crescer, fazem parte hackers éticos, que se concentram em detetar as vulnerabilidades<br />
mais graves nas empresas, que não são encontradas pelas máquinas<br />
valia face às soluções concorrentes e decidiram<br />
comprar”, explica Jorge Monteiro.<br />
A utilização de ferramentas de IA permite à startup<br />
maximizar o seu trabalho, ter mais impacto<br />
e eficiência. Como encontrar vulnerabilidades<br />
de forma muito mais precisa. “Neste momento,<br />
temos uma precisão de 99,5%, com uma margem<br />
de erro para falsos positivos de 0,5%. Isto permite,<br />
no caso de organizações digitais tecnológicas<br />
com muitos alertas diários, uma maximização<br />
dos recursos. Quando é encontrada uma vulnerabilidade,<br />
já sabem que é real”, adianta o gestor.<br />
A ideia é que 80% das vulnerabilidades sejam encontradas<br />
por máquinas, sendo que os restantes<br />
20% são resolvidos pelos ‘hackers do bem’ da<br />
Ethiack, que se podem focar nos temas mais<br />
críticos e serem criativos.<br />
Segundo o CEO e co-founder do projeto: “A<br />
IA torna-nos mais rápidos. Temos ataques e<br />
vulnerabilidades encontradas todos os dias e<br />
ataques que surgem logo após a resolução de<br />
uma vulnerabilidade. Temos de conseguir que<br />
as nossas máquinas aprendam rápido, para<br />
encontrar vulnerabilidades rapidamente”. Afinal,<br />
precisão, impacto, eficiência e velocidade<br />
são essenciais.•<br />
35
negocios<br />
TIC TAC<br />
TECH<br />
Na Glintt Next os resultados<br />
apresentam-se num período<br />
temporal que se mede em<br />
semanas. Não faz sentido<br />
fazer de outra forma quando a<br />
abordagem aos clientes assenta<br />
em dois fatores essenciais:<br />
proximidade e agilidade. Ganhar<br />
tempo é essencial.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW E ISTOCK<br />
36
37
negocios<br />
38<br />
Glintt é uma marca que o mercado já conhece há<br />
15 anos. Durante década e meia cresceu através<br />
de aquisições, lançando novas ofertas e abordando<br />
setores diversificados. Daí resultaram<br />
várias marcas. De tal forma o grupo se desenvolveu que<br />
sobreveio a necessidade de se reconfigurar, por forma<br />
a evitar a fragmentação, do ponto de vista da sua arquitetura<br />
de marcas. Foi assim que a Glintt se passou<br />
a chamar Glintt Global e a partir dela nasceram duas<br />
submarcas: a Glintt Life e a Glintt Next. Miguel Leocádio,<br />
administrador-executivo do grupo, explica o que<br />
esteve na origem desta reestruturação: “Concluímos<br />
que a fragmentação que até há pouco existia acabava<br />
por não acrescentar valor e que podia mesmo criar alguma<br />
confusão junto dos clientes. Muitos conheciam-<br />
-nos meramente pelo que fazíamos na sua área, outros<br />
não percebiam como estava organizada a nossa oferta<br />
e quais eram as nossas apostas. Numa fase em que estamos<br />
num ciclo de acelerar o nosso crescimento, para<br />
entrar em novos clientes e em novas geografias, precisávamos<br />
de maior clareza sobre a dimensão que temos,<br />
por um lado, e as nossas valências e propostas de valor,<br />
por outro”.<br />
Com a nova arquitetura, as submarcas da Glintt<br />
Global e respetivas propostas<br />
de valor passaram<br />
a ser mais fáceis de explicar,<br />
o que em si mesmo é<br />
um fator importante de<br />
competitividade. A Glintt<br />
Global apresenta-se como<br />
uma grande empresa global<br />
nas tecnologias, nos<br />
serviços, nos produtos,<br />
nas geografias e também<br />
nas indústrias para<br />
onde aponta o seu foco. A<br />
Glintt Life, uma das duas grandes marcas comerciais<br />
que criou, dirige a sua atividade para o setor da saúde<br />
e, neste momento, é líder ibérica em Healthtech. Já a<br />
Glintt Next faz consultoria tecnológica multissectorial,<br />
em Portugal e Espanha, com foco na transformação<br />
digital das grandes empresas.<br />
Com esta reorganização Miguel Leocádio, que se<br />
encontra à frente dos destinos da Glint Next, considera<br />
ser agora “mais fácil estabelecer uma comunicação<br />
individualizada” para o segmento que pretende abordar<br />
e, ao mesmo tempo, não perde a ligação ao todo<br />
que é a dimensão da Glintt Global.<br />
A Glintt Next espera crescer,<br />
até 2027, em 70% no seu<br />
volume de negócios, o que<br />
corresponde a 42 milhões<br />
de euros<br />
A Glintt Next atua nos sectores mais corporativos<br />
das grandes empresas, em áreas como as telecomunicações,<br />
banca e seguros, energia, sector público e<br />
serviços. Tem também projetos em França, Benelux e<br />
América Latina. De acordo com Miguel Leocádio, a sua<br />
ambição é entrar em novas geografias, mas essencialmente<br />
na Europa Ocidental.<br />
ABSOLUTAMENTE IMPARÁVEIS<br />
“Temos um objetivo muito ambicioso que definimos<br />
para um ciclo que vai até 2027. Definimos um crescimento<br />
bastante acelerado, de cerca de 70% ao nível<br />
do nosso volume de negócios (o que corresponde a<br />
42 milhões de euros)” – sem pestanejar, é assim que<br />
o principal responsável pelos destinos do Glintt Next<br />
fala dos planos da empresa para o futuro próximo.<br />
Apesar de elevada, a fasquia dos 70% não o assusta<br />
nem um pouco, porque tudo se vai passar de acordo<br />
com um plano em que acredita: “Esta estratégia passa<br />
essencialmente por três plataformas de crescimento:<br />
por um lado, queremos consolidar o nosso negócio em<br />
Portugal, crescer de forma mais assinalável o negócio<br />
em Espanha (temos um potencial de crescimento muito<br />
significativo) e existe uma terceira dimensão que é a<br />
da entrada na prestação de serviços a clientes noutros<br />
países europeus”.<br />
Neste momento a<br />
Glintt Next está em conversações<br />
com mais quatro<br />
países: Reino Unido,<br />
França, Suécia e Alemanha.<br />
O modelo que está<br />
a procurar desenvolver<br />
é o de joint ventures com<br />
empresas locais, por forma<br />
a abordar esses novos<br />
mercados num modelo de<br />
nearshore. O trabalho de<br />
expansão para estas novas<br />
geografias está em curso. No primeiro semestre deste<br />
ano esperam ainda formalizar as primeiras parcerias<br />
para iniciar a prestação de serviços a clientes nesses<br />
países.<br />
A ambição do crescimento em 70% não lhes dá tréguas,<br />
por isso a palavra de ordem é acelerar. E nem a<br />
eventual contração do mercado causada por fatores<br />
incontroláveis como uma guerra a decorrer na Europa<br />
por tempo indeterminado parece provocar apreensão.<br />
“Questões como essa cruzam-se com uma discussão<br />
que vem sendo recorrente, de resto muito interessante,<br />
que é a de como é que esse tipo de fatores afetam a
“Estamos muito satisfeitos com este movimento que fizemos recentemente. Está a ajudar-nos muito do ponto de vista da<br />
comunicação, no contacto com clientes, parceiros ou eventuais parceiros. A nossa mensagem para o mercado tem maior clareza”,<br />
afirma Miguel Leocádio<br />
evolução do investimento nas tecnologias digitais. E o<br />
que a realidade já nos mostrou é que, por exemplo, durante<br />
a pandemia os investimentos em tecnologia digital<br />
não seguiram uma relação totalmente proporcional<br />
com aquilo que são os ciclos económicos. Claro que há<br />
setores que estão com padrões de crescimento muito<br />
diferentes uns dos outros, mas nós acreditamos que –<br />
e os dados parecem demonstrar isso – o investimento<br />
em tecnologias digitais vai continuar a crescer todos os<br />
anos”, afirma Miguel Leocádio.<br />
Por vezes, não sendo totalmente proporcional aos<br />
ciclos de crescimento económico, que neste momento<br />
estão mais arrefecidos, o investimento em tecnologias<br />
digitais acaba por ser um pouco a alavanca e o suporte,<br />
o enabler, da criação de novos negócios, defende o<br />
gestor. De resto, na Glintt Next sabe-se que a procura<br />
na Europa se mantém acima da oferta: “Os países europeus<br />
continuam a ter escassez de talento para todos<br />
os projetos que pretendem fazer”. Essa circunstância<br />
reforça o papel das consultoras tecnológicas, habilitadas<br />
que estão a propor às empresas soluções que minimizem<br />
questões como a falta de recursos humanos.<br />
PROXIMI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> É FUN<strong>DA</strong>MENTAL<br />
O mercado está a reagir bem à recente reconfiguração<br />
da empresa Glintt Global: “Estamos muito satisfeitos<br />
com este movimento que fizemos recentemente. Está<br />
a ajudar-nos muito do ponto de vista da comunicação,<br />
no contacto com clientes, parceiros ou eventuais parceiros.<br />
A nossa mensagem para o mercado tem maior<br />
clareza. E, claro, os bons resultados que temos tido<br />
também ajudam nesta nossa nova abordagem ao mercado”,<br />
confirma o líder da Glintt Next.<br />
A proximidade com os clientes, frisa Miguel Leocádio,<br />
é fundamental e uma das características mais distintivas<br />
da empresa. Para maximizar esta relação fez-se<br />
todo um reforço de equipas ao nível mais sénior, não<br />
só para as áreas comerciais, mas também para o acompanhamento<br />
técnico dos clientes. O que estes pedem é<br />
sobretudo soluções para a gestão de canais digitais e da<br />
39
negocios<br />
40<br />
relação com os clientes, mas também para a automatização<br />
e robotização de processos, com vista à maior<br />
agilização das suas organizações. A valorização e monetização<br />
de dados é também, cada vez mais, uma área<br />
de aposta das organizações: “Hoje, as empresas têm a<br />
noção de que essa é uma matéria-prima muito valiosa,<br />
mas precisam de aprender a transformá-la para seu<br />
maior benefício”, diz Miguel Leocádio.<br />
Mas para o mundo corporativo a IA generativa será<br />
a grande área de investimento este ano. O potencial<br />
da IA é enorme, já todos perceberam isso. E este é um<br />
momento de disrupção tecnológica que muitos só encontram<br />
comparação com o advento da internet, ou das<br />
tecnologias móveis. A este propósito, Miguel Leocádio<br />
admite que “estamos num virar de página”. Por isso,<br />
a estratégia para adoção generalizada desta tecnologia<br />
está traçada na Glintt Next: “Situamos este tema em<br />
três dimensões: a produtividade individual (que pode<br />
ser afetada positivamente por esta tecnologia), a eficiência<br />
operacional das organizações (como podem<br />
evoluir e ser automatizados, reduzir tudo o que é esforço<br />
humano com menos valor acrescentado) e, por último,<br />
a perspetiva de evolução do próprio negócio dos<br />
clientes”. Esse, afirma, “é o território dos uses cases”.<br />
Hoje, grande parte dos clientes da Glintt Next quer<br />
dar passos significativos em cada uma destas dimensões.<br />
Mas o processo ainda se encontra numa fase inicial,<br />
de descoberta: “Costumamos dizer que há uma<br />
oportunidade em todas as áreas. O nosso trabalho é<br />
descobrir essa oportunidade. E isso passa por estarmos<br />
lado a lado com os nossos clientes, para descobrir<br />
qual o caso de uso mais<br />
adequado ao seu negócio.<br />
Fazemos essa descoberta,<br />
depois vemos como<br />
funciona e só a seguir podemos<br />
escalar”, afirma o<br />
gestor.<br />
Todas as empresas e<br />
organizações estão, neste<br />
âmbito, à procura do seu<br />
caminho. Encontraremse<br />
todos numa fase muito<br />
inicial torna tudo mais<br />
interessante. São os primeiros<br />
passos, mas num caminho que não vai voltar<br />
para trás. Porque, acredita-se na Glintt Next, “isto não<br />
é uma moda tecnológica”.<br />
A consultora tecnológica<br />
está muito focada no<br />
que são as 200 maiores<br />
empresas em Portugal e as<br />
500 maiores de Espanha<br />
A consultora está muito focada no que são as 200<br />
maiores empresas em Portugal e as 500 maiores em Espanha,<br />
mas à parte o mundo corporativo, tem clientes<br />
muito relevantes no setor<br />
público. Miguel Leocádio<br />
diz que, em Portugal, a<br />
atual conjuntura é única,<br />
pois o PRR trouxe ao Estado<br />
uma capacidade de<br />
investimento fora do comum.<br />
A Administração Pública<br />
(AP), conta, está a<br />
investir muito na transformação<br />
dos canais para<br />
o cidadão. E existe, nesta<br />
área, um longo caminho<br />
a percorrer. A IA está presente nas preocupações da<br />
maior parte das grandes organizações do Estado, de tal<br />
forma que, depois de implementados os projetos que
estão em curso, o cidadão vai notar a diferença. Essa é a<br />
convicção que existe na Glintt Next, uma das parceiras<br />
que colaboram na transformação digital da AP.<br />
AGILI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> E PROXIMI<strong>DA</strong><strong>DE</strong><br />
Com uma plataforma ibérica de serviços digitais, a<br />
Glintt Next apresenta um modelo operativo integrado,<br />
com colaboradores portugueses, espanhóis e de outras<br />
nacionalidades (no total são 15), incluindo muitos<br />
profissionais oriundos da América Latina. É a partir<br />
desta plataforma que as equipas da consultora tecnológica<br />
prestam serviços a todos os clientes, incluindo<br />
muitos que se encontram no espaço europeu, fora da<br />
Península Ibérica. Esta forma de trabalhar confere-<br />
-lhes dimensão e agilidade. E esse é um aspeto importante<br />
para alguns dos seus clientes, que necessitam de<br />
dimensão para escalar projetos rapidamente e implementar<br />
tecnologias.<br />
A abordagem aos clientes é muito assente nestes<br />
dois fatores: agilidade e proximidade. Não por acaso<br />
são as palavras que estão no centro da proposta de valor<br />
da consultora: “Temos o slogan ‘Glintt Next: The New<br />
with you’. ‘The new’ porque temos de trazer aquilo que é<br />
o maior potencial das novas tecnologias para resolver<br />
os desafios de quem procura os nossos serviços e ‘with<br />
you’ porque fazemo-lo de forma muito próxima com os<br />
clientes”, explica Miguel Leocádio.<br />
A relação transacional não lhes serve, não é o seu<br />
modo de atuação: “Tipicamente, temos relações de<br />
longo prazo com os clientes, onde a proximidade e o<br />
trabalho conjunto são a nossa matriz dominante”,<br />
sublinha o gestor.<br />
O portfolio de serviços e soluções alargadas que permite<br />
à consultora tecnológica usar diversas tecnologias<br />
é uma das suas mais-valias. Trabalha muito com<br />
o desenvolvimento de software, com as linguagem de<br />
programação mais procuradas, usa também a implementação<br />
de novas arquiteturas. E sim, é adepta das<br />
tecnologias de desenvolvimento rápido, do low code.<br />
Esta é uma área que, acredita a consultora, terá ainda<br />
muito espaço para ser explorada pelas empresas europeias<br />
e isso é bom, porque a Glintt Next tem uma<br />
experiência de cerca de 15 anos nesta tecnologia. Foi,<br />
com efeito, um early adopter de low code, um dos primeiros<br />
parceiros da OutSystems desde que a tecnológica<br />
iniciou a sua atividade em Portugal. Esta “experiência<br />
acumulada de 15 anos não se compra, tem de ser vivida”,<br />
afirma, de sorriso aberto, Miguel Leocádio.<br />
Para dar consistência à grande aposta que é a área<br />
de dados e IA generativa, a empresa conta com uma<br />
equipa multidisciplinar, com diversos perfis e uma dimensão<br />
adequada, para estar alinhada com as necessidades<br />
do mercado. Esta é uma área que está a mudar<br />
constantemente com a introdução de novas tecnologias<br />
e novos produtos. Por isso, na Glintt Next sabem<br />
que é necessário ganhar massa crítica e com isso acrescentar<br />
valor.<br />
Foi com estas preocupações que a Glintt Global<br />
criou um centro de excelência de dados e IA generativa.<br />
Para dar resposta adequada às necessidades das suas<br />
empresas e também afirmar-se como um dos principais<br />
players de referência na Península Ibérica.<br />
SEM PARE<strong>DE</strong>S NEM TETO<br />
“Estamos no início de uma curva de maturidade tecnológica.<br />
Por isso, decidimos ser este o momento certo<br />
para criarmos este centro, com uma capacidade mais<br />
estruturada e massa crítica para suportarmos os nossos<br />
clientes”, partilha Miguel Leocádio.<br />
O centro nasceu com cerca de 40 especialistas e<br />
41
negocios<br />
42<br />
“Costumamos dizer que há uma oportunidade em todas as áreas. O nosso<br />
trabalho é descobrir essa oportunidade”, partilha o líder da Glintt Next<br />
consultores. Muitos já estavam a trabalhar dentro da<br />
organização em áreas separadas. A ele juntaram-se<br />
também recém-licenciados, jovens que trazem aprendizagens<br />
recentes do meio académico, numa área que<br />
está a mudar todos os dias. Mas a ordem é para contratar:<br />
“Vamos ter de acelerar muito os nossos processos<br />
de contratação. Os perfis que procuramos são muito<br />
diversificados. Contratamos muito perfis tecnológicos,<br />
mas agora também com muito destaque para as<br />
áreas de dados e IA, com diversas competências associadas.<br />
Além de data scientists, precisamos de acolher<br />
na equipa pessoas com perfis mais funcionais, como<br />
designers, gestores e consultores, para alinhar competências<br />
de negócio com componentes de estratégia”,<br />
adianta o gestor.<br />
Entre outras coisas, o centro desenvolve ativos tec-<br />
nológicos, que acabam por ser aceleradores<br />
que beneficiam a oferta da Glintt Global:<br />
“Para apresentarmos uma solução a um<br />
cliente, temos de combinar diversas tecnologias.<br />
Combinar tecnologias que estão a<br />
mudar todos os dias implica criarmos a nossa<br />
competência, know-how, mas também peças<br />
que são aceleradores, que permitem que,<br />
ao entregarmos os projetos, não o façamos<br />
a partir do zero”, explica o líder da Glintt<br />
Next.<br />
A consultora ter esta valência é estrategicamente<br />
muito importante, já que o fator<br />
aceleração pretende ser uma das suas marcas<br />
distintivas. “Queremos ser muito ágeis. Não<br />
faz sentido estarmos a trabalhar para ter um<br />
resultado daqui a meses. Queremos entregar<br />
em períodos que se medem em semanas. Ver<br />
resultados que podem ser preliminares, mas<br />
que nos permitem tirar conclusões e, depois,<br />
crescer a partir dessas primeiras evidências”,<br />
afirma, muito assertivo, Miguel Leocádio.<br />
O centro de excelência da Glintt Global<br />
não existe fisicamente. Para quê paredes em<br />
betão, se o ideal é mesmo não haver divisões<br />
entre quem lá trabalha? Digital a 100%, o que<br />
tem mais perto de se assemelhar a algo sólido<br />
é mesmo a força que une as suas pessoas.<br />
De betão, só mesmo a sua sede, na Beloura,<br />
e vários escritórios espalhados pela Península Ibérica.<br />
Em Portugal, a Glintt Global tem presença em Lisboa,<br />
Porto, Coimbra, Sintra, Bragança e Açores, mas<br />
ainda no primeiro semestre deste ano o grupo abrirá<br />
novo espaço no centro da capital. Estes são lugares<br />
essencialmente para interface com clientes, reuniões<br />
estratégicas das equipas e postos de trabalho para os<br />
profissionais cujas funções requerem a sua presença<br />
física. Porém, por princípio, o talento da marca flutua.<br />
Através da sua plataforma ibérica tem grande parte das<br />
suas pessoas a trabalhar em modelo híbrido, a partir<br />
de várias geografias. Um paradigma que veio para ficar<br />
e que traz ao universo da Glintt Global, composto por<br />
1.200 colaboradores, mais diversidade, mais agilidade<br />
e até mais proximidade. Valores de que a empresa não<br />
abdica.•
AI ASSISTANT<br />
A Inteligência Artificial<br />
ao serviço das empresas<br />
A AI Assistant chegou para ajudar o seu negócio.<br />
Impulsionada pela Inteligência Artificial, pode ser<br />
uma grande ajuda na otimização dos seus processos.<br />
Gestor | 16 206 | meoempresas.pt
itech<br />
FERNANDO MARTA:<br />
Relação perfeita<br />
Trata a tecnologia como uma parceira que tem tudo para<br />
fazê-lo feliz. Por isso não se expõe, não se submete e jamais<br />
correrá o risco de criar dependência. Como em todas as relações<br />
bem-sucedidas, o importante é saber gerir os equilíbrios.<br />
Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gordo/ Syncview<br />
44<br />
Contra todas as probabilidades,<br />
o primeiro contacto mais sério<br />
que Fernando Marta, atual<br />
chefe de gabinete da presidente<br />
executiva da Altice Portugal, teve<br />
com tecnologia digital deve-o… ao<br />
avô. Hoje, não seria assim tão fora<br />
de comum, mas falamos dos anos<br />
80, do tempo em que poucos se<br />
lembrariam de oferecer um computador<br />
ao neto: “Na altura, estava<br />
a estudar Economia no ISEG e esse<br />
presente foi, de facto, um facilitador,<br />
ajudou-me a fazer os trabalhos<br />
para a faculdade”. Era um IBM, de<br />
tamanho considerável, esse caixote<br />
que o surpreendeu, deixando-lhe no<br />
espírito uma ideia que nunca abandonou:<br />
a de que as tecnologias de<br />
informação existem para melhorar a<br />
nossa vida. “Computador” e “facilitador”<br />
são, aliás, palavras que rimam.<br />
No discurso de Fernando Marta completam-se,<br />
seguem a par. Dir-se-ia<br />
que aquela primeira interação com<br />
o IBM formatou o seu olhar sobre<br />
o digital, porque na hora de fazer o<br />
elogio desta tecnologia é de facilitação<br />
e agilização que fala.<br />
O curso colocava-o na área de<br />
gestão, mas os acontecimentos acabaram<br />
por levá-lo às TI. Passou por<br />
uma multinacional do setor, depois<br />
esteve na Agência para a Modernização<br />
Administrativa. Durante 12<br />
anos ajudou à transformação digital<br />
da Administração Pública (AP),<br />
trabalho pioneiro de que se orgulha:<br />
“Tenho o espírito do servidor<br />
público, por isso gostei muito de<br />
estar na origem de projetos como<br />
o Portal do Cidadão e o autenticação.gov<br />
(um serviço que, com uma<br />
única autenticação, nos dá acesso<br />
a diversos serviços da AP). Essa foi<br />
uma das fases da minha vida que<br />
mais me fascinaram”, confessa, com<br />
um brilhozinho nos olhos.<br />
Enquanto a conversa fluía, foi interrompido<br />
algumas vezes pelo smartwatch.<br />
Calou-o, desculpando-se.<br />
Admite com tranquilidade que a tecnologia<br />
se insinua a todo o momento<br />
nas nossas vidas. Nada a fazer. E a<br />
verdade é que o reverso da medalha<br />
é bom, tem a ver com a tal eficiência<br />
que a tecnologia permite alcançar.<br />
Será que, nas férias, consegue desligar?<br />
“Nos primeiros dias, não consigo<br />
(risos). Num espaço temporal<br />
de três semanas, se calhar consigo<br />
desligar na segunda semana. Depois,<br />
à medida que me vou aproximando<br />
do regresso ao trabalho, começo a<br />
consultar mais o email”.<br />
Para Fernando Marta o importante<br />
é não ser dependente da tecnologia<br />
e isso ele sabe que não é. A prova<br />
é que se desligou das redes sociais<br />
para, entre outras coisas, ter mais<br />
tempo sem estar a olhar para um<br />
ecrã. A única rede social em que se<br />
mantém é o LinkedIn, por ser apenas<br />
de caráter profissional: “Acho<br />
importante valorizar os momentos<br />
quando estamos a vivê-los, em vez<br />
de perder tempo a postar nas redes<br />
sociais tudo o que fazemos”. Muito<br />
crítico em relação aos hábitos que<br />
se enraizaram na sociedade em<br />
torno destas redes, não hesita em<br />
dizer que “fazem mais mal do que<br />
bem”. “As pessoas”, frisa, “deviam<br />
gastar mais tempo com os amigos e<br />
com a família e quando viajam era<br />
melhor que aproveitassem bem a<br />
experiência em vez de estarem o<br />
tempo todo preocupadas com as<br />
fotos que têm de tirar para mostrar<br />
no Facebook ou no Instagram. Nos<br />
concertos vemos toda a gente com<br />
os telefones no ar, a filmar, em vez<br />
de estarem a desfrutar o espetáculo”.<br />
Este “filme” assusta-o. Em<br />
compensação, há outros que adora.<br />
Cinéfilo confesso, tem predileção<br />
por filmes de ficção científica, onde<br />
não por acaso a tecnologia explode<br />
por todo o lado, fazendo magia no<br />
ecrã. Foi a correr ver o Dune II, mas<br />
antes preparou-se e reviu o primeiro<br />
filme da série. É fã absoluto da<br />
Guerra das Estrelas. Mas há mais.<br />
Tantos! O inesquecível “Blade Runner”,<br />
por exemplo.<br />
Outra paixão sua é a música. Longe<br />
vão os tempos em que seguia, na<br />
rádio, o “Som da Frente”, o programa<br />
icónico de António Sérgio. Foi lá<br />
que descobriu This Mortal Coil, The<br />
Cure, Joy Division, U2. Agora é através<br />
do telefone que chega aos sons<br />
que mais o envolvem. Atualmente<br />
mais da área do jazz e música<br />
clássica. Tecnologia para ele é isto:<br />
trabalho e prazer. Por isso vive tão<br />
bem com ela.•
Fernando Marta é fã assumido da<br />
Apple, por isso tem um iPad e um<br />
iPhone. O portátil é da mesma marca.<br />
Além do design e usabilidade destes<br />
equipamentos, que muito aprecia,<br />
no telefone valoriza a qualidade da<br />
câmara. Detalhe que nunca poderá ser<br />
indiferente a quem, como ele, gosta de<br />
fazer fotografia. Com phones sem fios<br />
de qualidade habituou-se a ouvir música<br />
através do telemóvel, mesmo enquanto<br />
trabalha. No pulso, o smartwatch<br />
mantém-no informado sobre questões<br />
que ficam entre os dois<br />
45
portugal digital<br />
A EXCELÊNCIA<br />
EM RE<strong>DE</strong><br />
Um Centro de Tecnologia Avançada,<br />
com mais de 100 postos de trabalho,<br />
focado no desenvolvimento e entrega<br />
de soluções para clientes em todo o<br />
mundo, é a mais recente aposta da<br />
Accenture Portugal. Inaugurado em<br />
fevereiro, em Coimbra, reforça a rede<br />
tecnológica da consultora, presente<br />
em várias regiões do país.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTOS CEDI<strong>DA</strong>S E GORO<strong>DE</strong>NKOFF/ISTOCK<br />
46
47
portugal digital<br />
48<br />
O novo centro pôs foco na<br />
utilização de metodologias<br />
agile, capacidades de<br />
automação e modelos<br />
inovadores<br />
Antes de Coimbra já a Accenture tinha aberto<br />
centros tecnológicos em Braga, Aveiro, Matosinhos<br />
e Lisboa. Uns após outros, estes pólos,<br />
onde se desenvolve a expertise da marca, deram<br />
consistência e dimensão à relação estabelecida com o<br />
mercado nacional, cada vez mais intensa.<br />
Vocacionado para a utilização de metodologias agile,<br />
capacidades de automação e modelos inovadores, o<br />
novo centro de Coimbra mantém, junto dos seus promotores,<br />
as expetativas altas, conforme admite Manuela<br />
Vaz, presidente da Accenture Portugal: “A nossa<br />
estratégia passa por continuar a crescer no mercado<br />
nacional e desenvolver capacidades diferenciadoras<br />
para servir os clientes da Accenture a nível global. Os<br />
nossos centros de tecnologias avançadas (do qual faz<br />
parte o recém-inaugurado centro de Coimbra), são<br />
uma componente importante desta estratégia, na<br />
medida em que representam a nossa aproximação aos<br />
polos de talento onde queremos atrair e formar os melhores<br />
profissionais para executar a nossa estratégia.<br />
Cerca de 50% do trabalho efetuado nos nossos centros<br />
é para o mercado nacional”.<br />
Os centros de Braga, Aveiro, Matosinhos (Cloud<br />
Security Center of Excellence), além de Lisboa foram<br />
projetos tão bem-sucedidos, que a palavra de ordem<br />
tornou-se continuar a expandir: “Cada uma das apostas<br />
que fomos fazendo tem<br />
sido um sucesso. Crescimentos<br />
sustentados,<br />
criação de capacidades<br />
diferenciadoras dentro da<br />
Accenture a nível global,<br />
muita qualidade no serviço<br />
que entregamos, e isso é<br />
amplamente reconhecido<br />
pelos nossos clientes nacionais<br />
e internacionais.<br />
Iremos continuar a crescer<br />
e a desenvolver capacidades<br />
diferenciadoras no nosso país”, confirma, com<br />
entusiasmo Manuela Vaz, a primeira mulher a ocupar<br />
a liderança da Accenture Portugal, mas com uma carreira<br />
desenvolvida dentro do ecossistema Accenture<br />
ao longo de 30 anos. Uma marca fora do comum, nos<br />
tempos que correm, mas que é motivo de muito orgulho:<br />
“Entrei nesta grande empresa pela primeira vez faz<br />
agora exatamente 30 anos – pelo meio estive fora cerca<br />
de cinco anos. Tenho imenso respeito e paixão por<br />
este negócio, que nos coloca permanentemente fora<br />
da zona de conforto e num processo de aprendizagem<br />
contínuo. O mercado e os clientes evoluem e transformam-se,<br />
e nós temos obrigação de ir à frente para podermos<br />
aportar valor e fazer a diferença. Eu sou uma<br />
pessoa naturalmente desassossegada pelo que não tenho<br />
(e nunca tive) dúvidas de que que este é o meu caminho.<br />
A função que ocupo hoje é uma consequência<br />
do trabalho que fui desenvolvendo ao longo do tempo.<br />
Sempre dei o máximo em qualquer responsabilidade<br />
que ao longo do tempo fui assumindo. Fiquei naturalmente<br />
muito orgulhosa e satisfeita por a empresa ter<br />
entendido que eu era a executiva certa para liderar a<br />
Accenture Portugal neste ciclo”.<br />
Um ciclo que prevê um crescimento continuado,<br />
baseado na otimização da relação com parceiros e<br />
clientes e a que não é alheia a construção desta rede de<br />
centros de excelência, de onde se espera cheguem respostas,<br />
cada vez mais surpreendentes. O papel de uma<br />
consultora é estar sempre um passo à frente, de forma<br />
a poder contribuir para a reinvenção dos negócios dos<br />
seus clientes a nível global. Isso faz-se aportando conhecimento<br />
e talento, com base no trabalho de equipas<br />
especializadas. Atualmente a Accenture tem cerca<br />
de 5 500 pessoas em Portugal, mas continua a investir<br />
e recrutar. Apesar das dificuldades que hoje se observam<br />
no mercado de trabalho: “Estamos a ser impactados,<br />
como todas as empresas, com esta dificuldade<br />
em contratar, tanto mais que o nosso principal ativo é<br />
o nosso talento. De facto,<br />
a vinda para Portugal de<br />
empresas internacionais<br />
para criar centros de tecnologia,<br />
os nossos talentos<br />
jovens a emigrar ou a<br />
trabalhar remotamente<br />
para empresas internacionais,<br />
colocam-nos diariamente<br />
desafios neste<br />
capítulo, especialmente se<br />
procuramos pessoas com<br />
capacidades mais diferenciadoras.<br />
Compete-nos, e é o que temos feito, repensar<br />
permanentemente a proposta de valor da nossa<br />
empresa aos mais diversos níveis (propósito, tipo de<br />
trabalho, compensação, etc…), e sermos a melhor escola<br />
para o talento recém-licenciado, usando as nossas<br />
diversas academias, sendo não só consumidores, mas<br />
acima de tudo criadores de talento”.<br />
SEMPRE A CRESCER<br />
Apesar de a Accenture, a nível global ter registado, na<br />
atual conjuntura, um crescimento moderado, a subsidiária<br />
nacional continua, segundo Manuela Vaz, com
um crescimento sólido. Na apresentação<br />
de resultados do último<br />
trimestre, a Accenture reportou<br />
o segundo maior crescimento de<br />
sempre em vendas a nível global,<br />
para o qual contribuíram as vendas<br />
relacionadas com IA Generativa.<br />
Isto prova que o interesse na tecnologia<br />
que veio antecipar o futuro<br />
é elevado e reforça na consultora a<br />
convicção de que a sua estratégia<br />
no sentido de apostar forte no desenvolvimento<br />
de soluções tecnológicas<br />
estava certa. Apesar da retração<br />
da economia e até por causa<br />
dela, é necessário investir, como<br />
nunca, em transformação digital:<br />
“O comportamento dos nossos<br />
principais clientes, ao contrário<br />
do que tínhamos inicialmente previsto,<br />
foi no sentido de priorizar os<br />
grandes investimentos transformacionais<br />
que é onde a Accenture é de<br />
facto um parceiro de referência. De<br />
facto, há um potencial tremendo<br />
na informação que podemos extrair<br />
dos dados para um sem número de<br />
casos de uso, seja do ponto de vista<br />
da eficiência, do crescimento, da<br />
inovação de produto, ou no âmbito<br />
de novos negócios. Por isso este<br />
tipo de investimento vai ter um<br />
enorme impacto nas organizações e<br />
nas pessoas. É um processo acelerado<br />
que vai, de facto, provocar muita<br />
transformação”, explica Manuela Vaz.<br />
A Administração Pública pelos vistos acompanhou<br />
este espírito, num momento em que, afortunadamente,<br />
a sua capacidade de investimento é fora do comum:<br />
“Ao nível da Administração Pública em geografias<br />
como a nossa e dada a força que tem um programa<br />
como o PRR, temos assistido a grande aumento de entidades<br />
públicas a quererem de facto transformar-se<br />
com vista a prestar um melhor serviço ao cidadão”,<br />
confirma a líder da consultora.<br />
Recentemente a Accenture envolveu-se no projeto<br />
da Fábrica de Inovação em IA, em parceria com a MSF,<br />
Avanade e Unicorn Factory Lisboa. Uma aposta que<br />
Manuela Vaz justifica alegando o interesse que a Accenture<br />
tem em fazer parte do ecossistema de inovação:<br />
“A Fábrica de Inovação em IA é um modelo e um<br />
“A Fábrica de Inovação em IA (a que a Accenture se associou) é um modelo e um espaço<br />
que nos vai permitir co-inovar com o ecossistema”, comenta Manuela Vaz<br />
espaço que nos vai permitir co-inovar com o ecossistema<br />
e com os nossos clientes trazendo para a mesa<br />
aquilo que cada um dos parceiros tem de melhor para<br />
transformar as empresas portuguesas. Não inovar não<br />
é uma opção num mundo em transformação. A IA está<br />
a transformar as empresas a um ritmo muito grande. A<br />
Fábrica de Inovação em IA é o espaço e a equipa onde<br />
converge o conhecimento da tecnologia e dos negócios<br />
e onde vamos seguramente co-criar os casos de<br />
uso mais relevantes colocando os dados ao serviço de<br />
cada um dos nossos clientes, ajudando-os a liderar nas<br />
suas indústrias/segmentos”. Em suma, o importante é<br />
estar no centro de tudo, de preferência também com<br />
centros próprios, redes de excelência onde se rastreia<br />
o futuro.•<br />
49
negocios<br />
50
O PO<strong>DE</strong>R <strong>DA</strong><br />
PLATAFORMA<br />
Portugal não é exceção<br />
ao fenómeno TikTok,<br />
o preferido dos mais jovens. O seu<br />
enorme potencial está a levar a<br />
um reforço da aposta no país. A<br />
plataforma de vídeos curtos é já<br />
muito mais que entretenimento. É<br />
um poderoso canal<br />
de compras, inovação<br />
e criatividade. Segurança e<br />
transparência são dois pilares<br />
críticos.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW<br />
E DRAGOS CONDREA/ISTOCK<br />
51
negocios<br />
52<br />
Tornou-se um verdadeiro fenómeno, sobretudo<br />
entre as faixas etárias mais novas. Assume-se<br />
como uma plataforma de entretenimento, onde<br />
os utilizadores podem expressar a sua criatividade,<br />
aprender novas skills e divertirem-se. Rapidamente,<br />
tornou-se numa das redes sociais mais utilizadas do<br />
mundo. O TikTok veio para ficar e é hoje um dos alvos<br />
mais apetecidos das marcas e uma prioridade para os<br />
negócios. Incluindo em Portugal, onde já tem mais de<br />
3,3 milhões de utilizadores mensais. Agora, a plataforma<br />
está a apostar forte na sua presença no mercado<br />
nacional, que garante ter grande potencial.<br />
O TikTok foi lançado em 2018 e em 2020 conhecia<br />
uma verdadeira explosão, conquistando sobretudo a<br />
geração Z e os Millennials, ao permitir a criação e partilha<br />
de vídeos curtos, com grande aposta na música e<br />
nos desafios virais. No final de 2023, tinha mais de 1,6<br />
mil milhões de utilizadores globais, sendo 1,1 mil milhões<br />
utilizadores ativos mensais. Os rankings colocam<br />
a rede social na quinta posição entre as mais usadas, a<br />
seguir ao Facebook, Youtube, WhatsApp e Instagram.<br />
Na Europa, conta já<br />
com mais de 150 milhões<br />
de utilizadores mensais,<br />
dos quais 134 milhões na<br />
União Europeia. No final<br />
de outubro passado, a<br />
rede social anunciou ter já<br />
3,3 milhões de utilizadores<br />
mensais no mercado<br />
nacional, onde está agora<br />
a apostar de forma mais<br />
direta, embora não exista,<br />
pelo menos para já,<br />
qualquer intenção de criar<br />
uma subsidiária.<br />
Como refere Yasmina Laraudogoitia, diretora de<br />
Políticas Públicas e Relações Governamentais do Tik-<br />
Tok Portugal e Espanha, “acreditamos que Portugal é<br />
um mercado com potencial, como temos vindo a assistir.<br />
Mudámos a forma como os conteúdos são criados,<br />
descobertos e consumidos. E isso é bastante importante<br />
para as marcas, permitindo-lhes aprofundar a<br />
sua criatividade, gerar conteúdos diferentes e alcançar<br />
públicos a que, eventualmente, poderiam não chegar.<br />
Os rankings colocam a rede<br />
social na 5ª posição entre<br />
as mais usadas, a seguir<br />
ao Facebook, Youtube,<br />
WhatsApp e Instagram<br />
Vamos continuar a desenvolver com as marcas este<br />
trabalho”. É que a plataforma de vídeos curtos está,<br />
cada vez mais, a transformar-se num poderoso canal<br />
de compras.<br />
PARTILHA <strong>DE</strong> INTERESSES E DIVERSI<strong>DA</strong><strong>DE</strong><br />
Aliás, o TikTok garante mesmo que está a revolucionar<br />
o panorama do marketing digital nacional, criando “um<br />
centro dinâmico de envolvimento das empresas com<br />
consumidores”. Destacando que se trata de uma rede<br />
social de entretenimento aberta, “onde a criatividade<br />
e a autenticidade estão verdadeiramente no centro de<br />
tudo”, a responsável destaca que os conteúdos estão a<br />
deixar de ser “unidireccionais. Todos têm espaço para<br />
partilhar o seu interesse ou envolver-se com um interesse<br />
em comum, através do seu ponto de vista único,<br />
o que conduziu a uma comunidade democrática e diversificada,<br />
que é hoje a força do TikTok”.<br />
Yasmina Laraudogoitia mostra-se convicta de que<br />
“mudou a forma como os conteúdos são criados, descobertos<br />
e consumidos”, uma vez que tem um “sistema<br />
de recomendação<br />
único e uma abordagem<br />
de conteúdos gerados pela<br />
comunidade que permitem<br />
descobrir um leque<br />
diversificado de criadores,<br />
independentemente do<br />
local onde se encontram”.<br />
Por isso, destaca, “estamos<br />
constantemente a<br />
trabalhar no desenvolvimento<br />
da nossa plataforma,<br />
para dar mais ferramentas<br />
e funcionalidades<br />
aos nossos utilizadores a fim de que estes possam ampliar<br />
a sua criatividade. O TikTok é uma plataforma de<br />
entretenimento, onde os utilizadores podem expressar<br />
a sua criatividade, aprender novas skills, promover e<br />
desenvolver o seu negócio ou desfrutar de conteúdos<br />
divertidos”, acrescenta.<br />
ABOR<strong>DA</strong>GEM HOLÍSTICA AO PAÍS<br />
O reforço da segurança é uma aposta absolutamente<br />
prioritária, como destaca Yasmina Laraudogoitia:
“Desenvolvemos esforços<br />
constantes para que a nossa<br />
comunidade se sinta segura<br />
e possa explorar todo<br />
o seu potencial criativo.<br />
Mas também para que novos<br />
seguidores possam ver<br />
no TikTok o local seguro<br />
para se expressarem criativamente<br />
e fortalecerem as<br />
suas skills”.<br />
Sendo uma multinacional,<br />
tem várias sedes<br />
na Europa, nomeadamente<br />
na Irlanda, Reino Unido<br />
e França. Assim como<br />
fornecedores e parceiros,<br />
com quem trabalha de perto.<br />
É o que está a fazer em<br />
Portugal, nomeadamente<br />
para “enfrentar os desafios<br />
de longa data do setor em<br />
torno da segurança dos jovens”,<br />
numa “abordagem<br />
holística que engloba várias<br />
vertentes”, como destaca<br />
a responsável.<br />
O Tik Tok já estabeleceu<br />
no mercado nacional<br />
parcerias com a Linha Internet<br />
Segura e o projeto<br />
Miúdos Seguros na Net.<br />
“Consideramos fundamental<br />
ouvir o feedback local,<br />
o que nos vai permitir<br />
melhorar, bem como partilhar<br />
as melhores práticas,<br />
e acompanhar os desenvolvimentos emergentes no<br />
contexto local”, explica, adiantando que a MiudosSegurosNa.Net<br />
vai também adaptar vários materiais de<br />
segurança do TikTok, especificamente para o público<br />
português. Serão recursos distribuídos regularmente<br />
ao longo do ano às famílias e às instituições de ensino,<br />
para aumentar significativamente a sensibilização<br />
para todo um conjunto de recursos disponíveis que<br />
“Acreditamos que Portugal é um mercado com potencial, como temos vindo a assistir. Mudámos<br />
a forma como os conteúdos são criados, descobertos e consumidos. E isso é bastante importante<br />
para as marcas”, diz Yasmina Laraudogoitia<br />
garantem uma experiência online segura e responsável.<br />
Ainda no âmbito dessa parceria, o TikTok “vai desempenhar<br />
um papel central em grandes eventos em<br />
Portugal, focados no bem-estar e segurança digital,<br />
como a 2ª Conferência Internacional para o Bem-Estar<br />
Digital, ou uma presença significativa na Global Stop-<br />
Cyberbullying Telesummit. Acreditamos que a parceria<br />
com estes projetos faz todo o sentido e estamos muito<br />
53
negocios<br />
54<br />
contentes por ter parceiros locais, que nos ajudem na<br />
concretização da nossa missão de manter a nossa plataforma<br />
segura”.<br />
Na sequência do recente anúncio do grupo de que<br />
está a intensificar a luta contra as fake news nas eleições,<br />
o TikTok já tomou medidas para combater a desinformação<br />
nas recentes legislativas nacionais de 10<br />
de março. Assim, fez uma parceria com o Polígrafo, que<br />
ajudou a garantir que a informação da plataforma era<br />
fiável. “O Polígrafo ajudou-nos a compreender que tipo<br />
de conteúdo é desinformação e, assim, a remover de<br />
forma consistente e precisa a desinformação sobre as<br />
eleições”, refere a diretora de Políticas Públicas e Relações<br />
Governamentais do TikTok Portugal e Espanha.<br />
Tomaram ainda outras medidas, como informar os utilizadores<br />
sobre conteúdos não verificados, rotulando<br />
-os e pedindo-lhes que reconsiderassem antes de partilharem<br />
informações potencialmente enganadoras. Ou<br />
informar o criador para que soubesse que estava a criar<br />
conteúdos não verificados. Ou ainda a disponibilizar<br />
um “guia de pesquisa”, onde os utilizadores pudessem<br />
aceder a informações e recursos fiáveis em português.<br />
A plataforma não permitiu ainda promoção política<br />
paga, publicidade política<br />
ou angariação de fundos<br />
por parte de políticos e<br />
Para combater a<br />
desinformação nas recentes<br />
eleições legislativas, o<br />
TikTok fez uma parceria<br />
com o Polígrafo<br />
partidos políticos e uma<br />
“política robusta” para<br />
contas de políticos ou partidos,<br />
com várias restrições.<br />
“Em todos os momentos<br />
eleitorais, a nossa<br />
principal preocupação é<br />
combater a desinformação<br />
no contexto eleitoral,<br />
assegurando que o TikTok<br />
continua a ser um local criativo, seguro e civilizado<br />
para a nossa comunidade”, destaca Yasmina Laraudogoitia.<br />
Para preparar as eleições para o Parlamento Europeu,<br />
em junho, já foi criado na plataforma um Centro<br />
Eleitoral, de forma a que os utilizadores de cada Estado-membro<br />
possam perceber claramente o que é informação<br />
credível e fidedigna. Acrescem “as mais de 6 mil<br />
pessoas dedicadas à moderação de conteúdos, que são<br />
nativas nas línguas europeias. As nossas equipas trabalham<br />
em conjunto com a tecnologia, para garantir que<br />
estamos a aplicar de forma coerente as nossas regras<br />
para detetar e eliminar a desinformação, as operações<br />
de influência encobertas e outros conteúdos e comportamentos<br />
que podem aumentar durante um período<br />
eleitoral”.<br />
Continuarão ainda a trabalhar com organizações<br />
de verificação de factos em vários Estados-membros,<br />
assim como a investir em campanhas de literacia como<br />
estratégia de combate à desinformação. Como destaca,<br />
“em 2023, colaborámos com verificadores de factos<br />
para lançar campanhas de literacia mediática em 18<br />
países europeus, gerando mais de 220 milhões de impressões<br />
e atingindo cerca de 50 milhões de pessoas<br />
no TikTok. Este trabalho continuará este ano, estando<br />
previsto o lançamento de nove campanhas adicionais<br />
em 2024”.<br />
MAIS E MAIS SEGURANÇA E TRANSPARÊNCIA<br />
“A segurança e a transparência são dois pilares do Tik-<br />
Tok. São áreas em que trabalhamos constantemente<br />
para introduzir melhorias. Estamos muito confiantes<br />
no trabalho que temos estado a desenvolver e que vamos<br />
continuar a fazer. São<br />
áreas em constante mutação,<br />
que exigem dedicação<br />
permanente e é isso que<br />
estamos a fazer”, assegura<br />
a responsável, quando<br />
questionada sobre as novas<br />
regras europeias para<br />
as grandes plataformas,<br />
no âmbito do Digital Services<br />
Act (DSA), pelo qual<br />
foi designada como ‘Very<br />
Large Online Platform’<br />
(VLOP).<br />
Aliás, e para cumprir as regras, agora bastante mais<br />
apertadas, de proteção dos dados dos utilizadores europeus,<br />
o TikTok lançou há pouco mais de um ano o<br />
Projeto Clover. Representando um investimento de<br />
12 mil milhões de euros para a próxima década, com a<br />
abertura de três centros de dados, a sua implementação<br />
já mostra “progressos significativos”. O primeiro<br />
centro de dados foi aberto na Irlanda e está a decorrer a<br />
migração e a armazenagem dos dados dos utilizadores<br />
europeus. Também o centro da Noruega está numa fase
A responsável para Portugal e Espanha garante que “segurança e transparência são dois pilares.<br />
São áreas em que trabalhamos constantemente para introduzir melhorias. Estão em constante<br />
mutação, exigem dedicação permanente e é isso que estamos a fazer”<br />
de desenvolvimento avançada, prevendo-se que esteja<br />
em funcionamento ainda este ano.<br />
Mas a plataforma foi ainda mais longe e, no âmbito<br />
do Projecto Clover, anunciou ter contratado a NCC<br />
Group, líder em cibersegurança, como fornecedor independente<br />
de segurança. Tem como missão auditar<br />
os controlos e salvaguardas de dados, monitorizar os<br />
fluxos de dados, fornecer uma verificação independente<br />
aos protocolos de segurança e comunicar quaisquer<br />
incidentes.<br />
“O trabalho da NCC Group já começou. Para nós,<br />
esta supervisão independente e consistente, assim<br />
como as verificações dos nossos processos de segurança<br />
de dados, não terão precedentes entre os nossos<br />
concorrentes. E enquanto os nossos centros de dados<br />
ainda não estão totalmente concluídos, criámos um<br />
enclave seguro dedicado aos dados dos nossos utilizadores<br />
europeus, alojado nos EUA. Aplicamos ainda<br />
restrições adicionais ao acesso aos dados dos utilizadores<br />
europeus, incluindo o não acesso a dados restritos<br />
armazenados no nosso novo enclave de dados europeu<br />
por parte de funcionários na China”, assegura a responsável<br />
do TikTok.<br />
A plataforma está, desta forma, a responder não só<br />
às novas exigências no espaço comunitário, mas também<br />
aos receios, que surgiram, já em 2020, em torno<br />
da segurança de dados. É que, tendo em conta que é<br />
detida pelo grupo chinês ByteDance e as ligações deste<br />
a Pequim, os dados dos utilizadores poderão estar a ser<br />
partilhados com o governo chinês.<br />
Têm, desde então, surgido várias proibições à sua<br />
utilização, com destaque para os Estados Unidos, onde<br />
está em curso o processo de aprovação de um projeto<br />
de lei que visa obrigar a dona do TikTok a vender a plataforma<br />
num prazo de 180 dias, por colocar em causa<br />
a segurança nacional. Caso contrário, deixará de estar<br />
acessível naquele país. Para o TikTok, trata-se de uma<br />
proibição. E adverte para o impacto da decisão na economia,<br />
nos “sete milhões de pequenas empresas e nos<br />
170 milhões de americanos que utilizam o serviço”. É<br />
que, apesar de todas as medidas e receios, a adesão à<br />
plataforma não pára de crescer.•<br />
55
apdc news<br />
APDC & V<strong>DA</strong> | DIGITAL UNION: DIRETIVA NIS 2<br />
Ir além da teia regulatória<br />
É a mais abrangente legislação de sempre em matéria de cibersegurança no espaço europeu. Tem como prazo<br />
final de transposição o dia 17 de outubro e vai implicar alterações de tal forma profundas que as organizações<br />
têm de se preparar desde já para a mudança.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
56<br />
https://bit.ly/3vFqBeA<br />
Perante o acelerado desenvolvimento<br />
tecnológico e a crescente<br />
digitalização, que trouxeram<br />
consigo inúmeras vantagens, mas<br />
também muitas ameaças, Bruxelas<br />
avançou no final de 2020 com uma<br />
nova Estratégia de Cibersegurança<br />
para a Década Digital. Objetivo:<br />
criar uma economia digital segura,<br />
aumentar a ciber-resiliência na UE,<br />
melhorar a capacidade de resposta<br />
a incidentes e melhorar a proteção<br />
das infraestruturas críticas. A Diretiva<br />
NIS 2 faz parte desta “resposta<br />
legislativa” e implicará uma profunda<br />
alteração nas organizações. Mas não<br />
há tempo a perder.<br />
Na 9ª sessão do Digital Union, uma<br />
parceria entre a APDC e a VdA, que<br />
se realizou a 2 de abril em formato<br />
híbrido, a partir da sede da PT, em<br />
Lisboa, debateu-se a nova diretiva,<br />
a estratégia de cibersegurança<br />
do espaço europeu e os impactos<br />
esperados no mercado nacional. E<br />
as recomendações para as organizações<br />
portuguesas são claras: antecipar,<br />
capacitar e implementar. Estes<br />
são os passos necessários, num<br />
processo em que as empresas não<br />
deverão conseguir estar totalmente<br />
preparadas no prazo legal, mas já<br />
terão “identificado medidas realistas<br />
para capacitar a organização”, como<br />
afirmou no evento Inês Barros, sócia<br />
da Área de Comunicações, Proteção<br />
de Dados & Tecnologia da VdA.<br />
Num breve resumo da NIS 2 e da sua<br />
aplicação, esta responsável explicou<br />
que Bruxelas teve como meta,
Fernando Resina da Silva,<br />
Sócio da Área Comunicações, Proteção de Dados<br />
& Tecnologia, Sócio Responsável da Área PI<br />
Transacional, VdA<br />
Rogério Carapuça,<br />
Presidente APDC<br />
Inês Antas de Barros,<br />
Sócia da Área de Comunicações,<br />
Proteção de Dados & Tecnologia, VdA<br />
José Capote,<br />
Cyber Security and Privacy Officer (CSPO), Huawei<br />
André Baptista,<br />
Founder, Ethiack<br />
Joel Guerreiro,<br />
Diretor de Modernização Administrativa<br />
e Financeira, Município de Lagos<br />
Pedro Pinto,<br />
Responsável de Cibersegurança,<br />
Instituto Politécnico da Guarda<br />
Moderação:<br />
Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora Executiva, APDC<br />
Moderação: Tiago Bessa,<br />
Sócio da Área de Comunicações, Proteção<br />
de Dados & Tecnologia e da Área de PI<br />
Transacional, VdA<br />
com a Estratégia de Cibersegurança<br />
para a Década Digital, responder a<br />
um contexto de utilização de novas<br />
tecnologias e ferramentas, crescente<br />
sofisticação dos incidentes e<br />
ciberataques, maior dependência de<br />
terceiros, ambientes<br />
de armazenamento<br />
e transferência de<br />
dados mais complexos,<br />
preservação<br />
de informação<br />
sensível e partilha<br />
de grandes volumes<br />
de dados e a sua<br />
transferência para<br />
países terceiros.<br />
Perante estes “catalisadores de<br />
risco”, a NIS 2, uma das diretivas do<br />
pacote, determina um alargamento<br />
As organizações têm<br />
de capacitar, planear<br />
e implementar as<br />
necessárias mudanças<br />
a nível estratégico,<br />
jurídico e tecnológico<br />
dos setores e empresas sujeitas a<br />
regulação, assim como um reforço<br />
sem paralelo das obrigações e da<br />
responsabilização.<br />
Aliás, Inês Barros advertiu: “As alterações<br />
provocadas por esta diretiva<br />
são de tal forma<br />
profundas que a<br />
preparação deve<br />
iniciar-se o mais<br />
cedo possível”.<br />
Trata-se de uma<br />
“complexa teia<br />
regulatória”, pelo<br />
que as organizações<br />
terão de antecipar,<br />
monitorizando e<br />
acompanhando todos os desenvolvimentos<br />
regulatórios e tecnológicos,<br />
assim como capacitar os stakeholders<br />
internos e planear e implementar as<br />
mudanças necessárias, a nível estratégico,<br />
jurídico e tecnológico.<br />
COMEÇAR, E JÁ!<br />
Entre as principais alterações que a<br />
NIS 2 vem introduzir estão o alargamento<br />
do seu âmbito de aplicação<br />
a mais setores e um novo conceito<br />
de operadores de serviços digitais,<br />
que se dividem em operadores de<br />
serviços essenciais, com regras mais<br />
apertadas, e entidades importantes.<br />
Há ainda um reforço dos requisitos<br />
de segurança, uma maior proteção<br />
das cadeias de abastecimento e<br />
relação com fornecedores. As regras<br />
de supervisão vão ser mais estritas e<br />
as sanções muito mais pesadas.<br />
Também José Capote, Cyber Se-<br />
57
apdc news<br />
58<br />
curity and Privacy Officer (CSPO) da<br />
Huawei, que deu a perspetiva de um<br />
provider tecnológico, defende que<br />
é preciso “começar a trabalhar de<br />
imediato”, determinando-se as obrigações<br />
que se aplicam à organização<br />
e aos seus fornecedores. A colaboração<br />
vertical é também estratégica<br />
e um “exemplo de como a indústria<br />
trabalha em domínios similares,<br />
partilhando os seus<br />
pontos de vista”.<br />
Mais: considera<br />
mesmo que a NIS<br />
2 representará<br />
“mudanças enormes<br />
e com um<br />
custo importante.<br />
As obrigações de<br />
compliance são duras e o seu custo<br />
não poderá ser canalizado para o<br />
investimento no mercado”. Por isso,<br />
defende uma abordagem de acordo<br />
com o risco, sendo que as certificações<br />
poderiam reduzir os níveis dos<br />
gastos. Mas, para isso, será necessário<br />
definir standards harmonizados<br />
ao nível europeu.<br />
No debate que se seguiu, moderado<br />
por Sandra Fazenda Almeida (APDC)<br />
e Tiago Bessa (VdA), foi dada a perspetiva<br />
de vários players de mercado,<br />
que confirmaram que implementar<br />
as regras da NIS 2 será tudo menos<br />
fácil. Neste processo, será essencial<br />
contar com o apoio total das lideranças<br />
das organizações, conhecer bem<br />
as novas regras, requisitos e obrigações<br />
e estabelecer um roadmap de<br />
implementação. Apostar na formação<br />
dos colaboradores é também<br />
essencial para a consciencialização<br />
e a tomada de medidas preventivas.<br />
Implementar a NIS 2<br />
será complexo e implica<br />
cortar com o apoio total<br />
das lideranças das<br />
organizações<br />
Assim como encontrar talento qualificado<br />
à altura.<br />
Na autarquia de Lagos, já se está a<br />
proceder à migração para a NIS 2.<br />
Joel Guerreiro, diretor de Modernização<br />
Administrativa e Financeira,<br />
admite que o que mais o preocupa é<br />
garantir capacidade<br />
de resposta às diferentes<br />
vulnerabilidades<br />
e os prazos de<br />
reporte, que serão<br />
muito mais curtos.<br />
Admitindo que “vamos<br />
todos precisar<br />
de ajuda, porque<br />
ninguém está a salvo em termos de<br />
cibersegurança”, destaca a importância<br />
de ter um executivo municipal<br />
que está presente e apoia a implementação<br />
das medidas. Acresce que<br />
há capacidade de<br />
investir.<br />
Já a experiência<br />
de Pedro Pinto,<br />
responsável de<br />
Cibersegurança do<br />
Instituto Politécnico<br />
da Guarda, é<br />
distinta. Admite que<br />
uma das maiores<br />
dificuldades é colocar os projetos no<br />
terreno, já que a gestão de topo não<br />
está envolvida. Uma vez que a NIS<br />
2 determina uma responsabilização<br />
das administrações, haverá muito a<br />
fazer, implicando um verdadeiro processo<br />
de “mudança de cultura nas<br />
organizações”.<br />
André Baptista, founder da Ethiack,<br />
As dificuldades são<br />
muitas, desde a falta de<br />
consciencialização para<br />
o tema, aos recursos<br />
limitados das empresas<br />
startup especializada na prevenção<br />
da cibersegurança e proteção de<br />
ativos digitais, confirma que a sua<br />
experiência mostra que existe ainda<br />
“distância entre as administrações<br />
e quem trabalha”, quando deveria<br />
haver proximidade e maior facilidade<br />
de comunicação. Só assim “as<br />
lideranças ficam mais conscientes<br />
relativamente aos riscos e as vulnerabilidades<br />
que possam surgir nos<br />
seus sistemas”.<br />
Mas as maiores dificuldades com<br />
que todos se defrontam são as<br />
humanas. Não só em encontrar<br />
talento qualificado<br />
em cibersegurança,<br />
para responder aos<br />
novos desafios de<br />
um mundo digital,<br />
mas também na<br />
capacitação das<br />
pessoas da organização,<br />
evitando-se<br />
erros. “Estamos a<br />
assistir a uma transição digital muito<br />
acelerada e focamo-nos muito no<br />
problema da indústria de identificar<br />
vulnerabilidades e corrigi-las. As dores<br />
ou dificuldades dos clientes são<br />
realmente muitas, desde a clara falta<br />
de consciencialização para o tema,<br />
aos recursos limitados na área”,<br />
salienta André Baptista.•
DOT TOPICS | COM CAPGEMINI PORTUGAL<br />
Experimentar em ecossistema<br />
As empresas de grande dimensão podem ajudar ativamente startups e PME a inovar em produtos e serviços.<br />
Contribuindo, desta forma, para reforçar a economia nacional. É a meta do Vodafone Boost Lab.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
https://bit.ly/3J7uRXt<br />
Foi anunciado há pouco mais de<br />
um ano, no lançamento da Rede<br />
Nacional de Test Beds, criada<br />
no âmbito do PRR para criar polos<br />
de inovação colaborativa. A lógica é<br />
incentivar empresas a disponibilizar<br />
infraestruturas e equipamentos que<br />
permitam a startups e PME testar e<br />
experimentar produtos e serviços,<br />
acelerando a sua disponibilização<br />
comercial. Vodafone, Capgemini e<br />
Ericsson juntaram-se no Vodafone<br />
Boost Lab, centrado no potencial do<br />
5G e das futuras gerações de redes<br />
de comunicações.<br />
O projeto, que nasceu a partir de um<br />
PowerLab detido pela Vodafone, foi<br />
debatido num Dot Topics APDC, realizado<br />
em parceria com a Capgemini.<br />
Como explica João Ribas, Innovation<br />
booster da Vodafone, a ideia foi dar<br />
acesso a uma infraestrutura onde as<br />
empresas podem desenvolver, codesenvolver<br />
ou testar os seus produtos<br />
e serviços em ambiente real,<br />
sem necessidade de investimentos.<br />
Pretende-se captar soluções “que<br />
sejam potenciadas ou melhoradas<br />
pela utilização do 5G.<br />
A tecnologia 5G “traz algumas características<br />
que a tornam única”, como<br />
a baixa latência, velocidade e capacidade<br />
de ligar vários dispositivos.<br />
“Só que não basta apenas disponibilizá-la<br />
para garantir o seu sucesso.<br />
É preciso fomentá-la, fazer um<br />
encontro entre oferta de tecnologia<br />
e procura e promover casos de uso”,<br />
acrescenta Luís Muchacho, Networks<br />
director da Ericsson. É exatamente<br />
59
apdc news<br />
60<br />
Inês Pacheco,<br />
Telecom Presales Lead, Capgemini<br />
João Ribas,<br />
Innovation Booster da Vodafone<br />
Luís Muchacho,<br />
Networks Director, Ericsson<br />
Moderação: Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora Executiva, APDC<br />
isso que se pretende com o Boost<br />
Lab: “Juntar empresas e startups<br />
que querem desenvolver soluções<br />
para melhorar os seus problemas,<br />
nomeadamente a digitalização, e<br />
adaptar a tecnologia com sinergias”.<br />
A junção dos três parceiros permite,<br />
na opinião de Inês Pacheco, Telecom<br />
Presales lead da Capgemini, “oferecer<br />
um ecossistema completo em<br />
5G, necessário à experimentação<br />
deste tipo de tecnologia: a infraestrutura<br />
necessária para experimentar<br />
serviços de hosting e cloud<br />
computing, computer vision e serviços<br />
de aconselhamento, nomeadamente<br />
na área de analytics e soluções<br />
IoT”. Estão ainda envolvidas grandes<br />
empresas de referência, como a IP,<br />
Galp, EDP, Cuf, Lusíadas ou Brisa,<br />
numa lógica de agregar know-how<br />
específico. É que só falando com as<br />
várias indústrias é que se percebe a<br />
aplicabilidade dos casos.<br />
Luis Muchacho está convicto de que<br />
“tem existido um grande esforço de<br />
todas as entidades, nomeadamente<br />
as empresas envolvidas neste projeto,<br />
de expandir o 5G na componente<br />
da oferta da tecnologia”. Mas “ é necessário<br />
fazer uma<br />
aceleração ainda<br />
maior, nomeadamente<br />
quando nos<br />
comparamos com<br />
outras geografias<br />
na Europa e no<br />
resto do Mundo”.<br />
O ‘segredo do sucesso’<br />
passa pelo desenvolvimento de<br />
casos de uso que tirem partido da<br />
tecnologia para resolver problemas<br />
específicos, retirando assim valor<br />
económico. Esse “é o desafio, mas<br />
também a oportunidade, dos próximos<br />
anos”. Por isso, lança “um apelo<br />
às empresas: adiram, experimentem<br />
e testem”. Só assim se conseguirá<br />
reduzir ou encurtar o atraso face a<br />
Para acelerar é<br />
importante desenvolver<br />
casos de uso que<br />
tirem partido da nova<br />
tecnologia para resolver<br />
problemas específicos<br />
outras geografias. E vai mais longe,<br />
defendendo a criação de mais iniciativas<br />
como esta, num desafio que<br />
deverá ser nacional e que promova<br />
o desenvolvimento da economia. É<br />
que a digitalização é fundamental e<br />
os resultados do Vodafone Boost Lab<br />
mostram claramente que o mercado<br />
está a aderir. “Estamos a desbravar<br />
caminho que vale a pena continuar a<br />
fazer”, salienta.<br />
A responsável da Capgemini diz não<br />
ter dúvidas de que o que falta para<br />
as empresas adotarem a tecnologia<br />
é terem capacidade de investimento<br />
e competências tecnológicas. Ao<br />
permitir “mecanismos de fácil acesso<br />
a estas empresas, estamos a estimular<br />
a inovação e a disponibilizar<br />
soluções que integram tecnologias<br />
de última geração no mercado”, com<br />
todo o potencial de exportação que<br />
daí possa advir.<br />
No âmbito do Vodafone Boost Lab,<br />
foi lançado, entretanto, o Programa<br />
Open Innovation, uma call para startups<br />
e PME para acelerar o desenvolvimento<br />
e o teste de use cases,<br />
que acaba de fechar o processo de<br />
candidaturas. Os 22 projetos selecionados<br />
vão participar<br />
até10 de abril num<br />
bootcamp, fase<br />
destinada a identificar<br />
necessidades<br />
específicas a que os<br />
projetos devem dar<br />
resposta. Depois,<br />
será apresentado o<br />
desenho dos pilotos a desenvolver,<br />
a decorrer até junho, altura em que<br />
deverá ser organizado um Showcase<br />
Day com algumas soluções concretas<br />
que saíram do programa. Foi uma<br />
forma de dar a conhecer a oferta do<br />
test bed e mostrar que a porta está<br />
sempre aberta à inovação e à experimentação.•
DOT TOPICS | COM CAPGEMINI PORTUGAL<br />
Circularidade para garantir<br />
sustentabilidade<br />
Sendo uma componente essencial na estratégia de sustentabilidade das organizações, a aposta na circularidade<br />
já tem provas dadas. As soluções estão disponíveis e o exemplo da E-RE<strong>DE</strong>S, do grupo EDP, comprova o<br />
sucesso da sua aplicação.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
https://bit.ly/3TJdK37<br />
A<br />
sustentabilidade está na ordem<br />
do dia nas organizações e, no<br />
seu âmbito, a circularidade<br />
pode assumir-se como um motor<br />
para o futuro. Há ofertas que<br />
permitem seguir este caminho,<br />
com resultados claros em termos<br />
de melhoria de posicionamento, do<br />
processo de compras sustentáveis<br />
e do desempenho ambiental, maior<br />
competitividade e até reforço da<br />
estratégia de employer branding. É o<br />
caso do E-REDONDO, projeto inserido<br />
no programa “Close the Loop”<br />
do grupo EDP, que visa a promoção<br />
da economia circular e apresentado<br />
num Dot Topics APDC, realizado em<br />
parceria com a Capgemini.<br />
A meta da E-RE<strong>DE</strong>S era reduzir a<br />
pegada de carbono, induzir a mudança<br />
na cadeia de valor, aumentar<br />
a competitividade e responder às<br />
novas exigências regulatórias. Para<br />
a sua implementação, a empresa<br />
contou com a parceria tecnológica<br />
da Capgemini, que desenvolveu uma<br />
solução que permitiu classificar a<br />
circularidade dos ativos, a partir da<br />
avaliação de todo o seu ciclo de vida,<br />
tendo em conta critérios ambientais<br />
e económicos e a circularidade dos<br />
materiais.<br />
61
apdc news<br />
62<br />
Ana Silva,<br />
Senior Manager, Capgemini<br />
Inês Cândido Silva,<br />
Responsável pela área de Gestão<br />
da Sustentabilidade, E-RE<strong>DE</strong>S<br />
Moderação: Sandra Fazenda Almeida,<br />
Diretora Executiva, APDC<br />
Inês Cândido Silva, responsável pela<br />
área de gestão da sustentabilidade<br />
na E-RE<strong>DE</strong>S, diz que o projeto surgiu<br />
no âmbito da estratégia de sustentabilidade<br />
do grupo EDP. E visa responder<br />
a cinco grandes prioridades: a<br />
descarbonização, muito associada ao<br />
papel do setor energético; o impacto<br />
social nos territórios de atuação; os<br />
parceiros de negócio, agregando<br />
toda a cadeia de<br />
fornecimento num<br />
objetivo coletivo<br />
de criação de uma<br />
cultura ESG ((governança<br />
ambiental,<br />
social e corporativa),<br />
incluindo os colaboradores;<br />
e a defesa<br />
do planeta.<br />
“Estamos preocupados com tudo<br />
o que é eficiência associada aos<br />
recursos naturais. Tudo o que utilizamos<br />
atualmente e que colocamos<br />
na rede, que vem da extração de<br />
matérias-primas. Temos de perceber<br />
como é que o desenvolvimento de<br />
uma atividade como a da E-RE<strong>DE</strong>S<br />
pode ser efetivamente mais circular,<br />
utilizando melhor os produtos<br />
e materiais e tendo em atenção as<br />
matérias-primas críticas. Estamos<br />
também, obviamente, concentrados<br />
na proteção da biodiversidade”, explica<br />
a responsável da E-RE<strong>DE</strong>S.<br />
A gestora enumera as quatro<br />
fases essenciais do E-REDONDO: o<br />
diagnóstico do modelo circular da<br />
empresa e da sua pegada carbónica,<br />
onde a meta foi “avaliar, conhecer<br />
melhor, aprofundar toda esta temática<br />
do que já havia na rede”; a aposta<br />
em ‘valorizar’, ou seja, “perceber<br />
de que forma, ao conhecer melhor<br />
como é o modelo circular, este poderá<br />
ter melhorias, seja na gestão de<br />
Para aumentar a<br />
circularidade é preciso<br />
utilizar os materiais<br />
tendo em atenção<br />
matérias-primas<br />
críticas<br />
ativos, reutilização ou na reparação<br />
ou recondicionamento”; ‘capacitação’<br />
da organização; e desenvolvimento<br />
tecnológico.<br />
Ana Silva, senior manager da<br />
Capgemini, adianta que o projeto<br />
foi desenhado em duas grandes<br />
fases. Primeiro, identificaram-se os<br />
novos modelos de negócio. Depois,<br />
desenhou-se uma metodologia de<br />
avaliação da circularidade dos ativos,<br />
com uma solução<br />
assente em Microsoft<br />
PowerApps, que<br />
permitiu classificar<br />
a circularidade dos<br />
mesmos.<br />
Neste processo,<br />
ajudou o recurso a<br />
uma metodologia<br />
proprietária da Capgemini,<br />
o Sustainable Business Model<br />
Canvas, que permitiu “estruturar<br />
bastante as ideias e pensar quais as<br />
iniciativas que faria sentido implementar,<br />
face à realidade da E-RE<strong>DE</strong>S<br />
e para onde se gostaria de caminhar”.<br />
Foi com base neste processo<br />
que se “desenhou um roadmap de<br />
iniciativas, que permite agora ter a<br />
direção para onde a empresa deve<br />
caminhar”, acrescenta.<br />
E se o E-REDONDO se destina ao setor<br />
da energia, os seus pressupostos<br />
e metodologias aplicam-se e podem<br />
ser replicados por organizações de<br />
outros setores que tenham muitos<br />
ativos para gerir, como assegura<br />
Ana Silva. Até ao nível do reforço da<br />
estratégia de employer branding da<br />
empresa. Afinal, os consumidores<br />
estão cada vez mais atentos às práticas<br />
sustentáveis e às iniciativas de<br />
circularidade e preferem comprar a<br />
estes fornecedores de serviços.•
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technology that helps<br />
the world act together<br />
Find out more<br />
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64<br />
Para João Baracho, a inovação social passa por criar pontes e fomentar projetos win-win
cidadania<br />
que não te arrependes<br />
Não é uma ordem. Na pior das hipóteses, podemos dizer que será uma<br />
provocação o programa que o CDI Portugal concebeu para apresentar<br />
a jovens desempregados e a lojistas locais. @tualiza-te desafia uns e<br />
outros a caminhar em direção ao futuro.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTO VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
Foi no Centro de Cidadania Digital que o CDI Portugal<br />
tem a funcionar no concelho de Valongo que<br />
nasceu o projeto @tualiza-te. Desenhado para<br />
operar em parceria com o Instituto de Emprego<br />
e Formação profissional (IEFP) da zona, este programa<br />
faz o match improvável entre duas populações que<br />
à partida não associamos: a de jovens desempregados<br />
e a de comerciantes locais. Mas inovação social, a especialidade<br />
do CDI Portugal, é isto. Criar pontes e fomentar<br />
projetos win-win. Aos jovens é dada, pelos parceiros<br />
tecnológicos do CDI Portugal, formação em Marketing<br />
Digital e Tecnologia e aos lojistas apresenta-se um plano,<br />
a ser implementado por esses jovens, de transformação<br />
digital. No fim, os dois grupos saem a ganhar.<br />
João Baracho, diretor-executivo do CDI Portugal,<br />
está satisfeito. Já na terceira edição, o @tualiza-te atrai<br />
cada vez mais gente, tanto do lado da população desempregada<br />
(destina-se a pessoas até 35 anos de idade<br />
e pelo menos com o 9º ano de escolaridade), como por<br />
parte dos comerciantes: “A informação sobre o que estamos<br />
a fazer foi passando de boca em boca, até porque<br />
os resultados começaram a aparecer. Os empresários<br />
mostram-se satisfeitos, pois já podem fazer vendas online<br />
e apresentar um site diferente, e a maioria dos jovens<br />
conseguem emprego. Sabemo-lo porque trabalhamos<br />
a avaliação de impacto em todos os projetos que<br />
desenvolvemos”. Ao dar aos formandos competências<br />
novas, o programa “abre-lhes os olhos para oportunidades<br />
de trabalho que antes não tinham”, sublinha o<br />
gestor, salientando que também “houve quem tivesse<br />
optado por abrir o seu próprio negócio”.<br />
Em todas as edições, os projetos desenvolvidos no<br />
âmbito do @tualiza-te são apresentados no evento<br />
anual do CDI Portugal, o Switch to Innovation Summit,<br />
uma montra que abre uma nova etapa na vida das<br />
lojas intervencionadas e dos jovens que levaram a digitalização<br />
àqueles negócios. “Nesse evento, temos um<br />
market place onde são apresentadas as novas imagens<br />
dos negócios e se explica como funcionavam antes e<br />
o que mudou”, explica João Baracho. O efeito de toda<br />
esta intervenção, sublinha, “não se perde” e isso é um<br />
dado fundamental, pois só “quando o trabalho fica efetivo”<br />
é que se pode falar de verdadeira transformação.<br />
O sucesso do @atualiza-te não passou despercebido<br />
a outros municípios e já existem contactos para<br />
levar o programa a outros concelhos do país. De momento,<br />
o objetivo é aplicá-lo em mais três municípios.<br />
Para implementar o programa que o CDI Portugal<br />
desenhou há três anos em Valongo é preciso know-how.<br />
A seleção das lojas a beneficiar do @tualiza-te resulta<br />
de um trabalho de campo feito pela sua equipa. “É necessário<br />
fazer esta abordagem porta a porta, sensibilizar<br />
os pequenos comerciantes para este desígnio, pois<br />
numa primeira abordagem resistem à mudança, hesitam<br />
em dar acesso a certas informações sobre o seu negócio,<br />
duvidam das vantagens que vão ter com esta intervenção”,<br />
salienta o seu mentor. A organização está<br />
a especializar-se nesta forma de sedução. De tal forma<br />
que também já chamou a atenção do programa Bairros<br />
Comerciais Digitais, que está a ser implementado pelo<br />
Governo. João Baracho confirma que as conversações<br />
com vista a uma parceria já estão a decorrer. Tudo indica<br />
que haverá match. É uma questão de tempo.•<br />
65
ultimas<br />
O MAIOR PORTEFÓLIO<br />
<strong>DE</strong> PC COM IA <strong>DA</strong> INDÚSTRIA<br />
ASSUME-SE como o maior portfólio de PCs com IA<br />
da indústria, tirando partido da IA para melhorar<br />
a produtividade, a criatividade e as experiências<br />
do utilizador em ambientes de trabalho híbridos.<br />
Foi apresentado pela HP e inclui os novos PC HP<br />
Elite, os portáteis empresariais mais avançados<br />
do mundo para colaboração, e as workstations<br />
portáteis Z by HP, para definir uma nova referência<br />
em produtividade e criatividade. Foi ainda<br />
disponibilizado o AI Creation Center, a solução<br />
para estações de trabalho mais abrangente do<br />
mundo para o desenvolvimento de IA, incluindo<br />
o Z by HP AI Studio, concebido em conjunto com<br />
as bibliotecas NVIDIA NGC, permitindo a criação<br />
de IA. Assim como os primeiros PC empresariais<br />
do mundo concebidos para proteger o firmware<br />
contra os ataques de computadores quânticos,<br />
equipados com o chip HP Endpoint Security<br />
Controller (ESC), atualizado para proteger dados<br />
sensíveis no futuro. Sendo a missão da fabricante<br />
dar às empresas ferramentas para capitalizarem<br />
as potencialidades da IA e dar origem a um<br />
progresso ambicioso e significativo de todas as<br />
organizações, o lançamento deste porfólio responde<br />
a esta prioridade. Criando, ao tirar partido<br />
da IA como uma ferramenta pessoal, experiências<br />
de trabalho mais personalizadas e impactantes,<br />
revolucionando a forma como se interage com<br />
a tecnologia e uns com os outros no local de<br />
trabalho.•<br />
66<br />
INOVAÇÃO E <strong>DE</strong>SENHO <strong>DE</strong> EXPERIÊNCIAS<br />
OFERECER soluções que combinam tecnologia e sustentabilidade empresarial, para “facilitar o acesso das empresas<br />
a espaços de exploração, investigação, pensamento e a criação de ideias disruptivas com base digital”,<br />
foi o objetivo para a criação da Minsait Xtudio, uma nova unidade de inovação e desenho de experiências da<br />
Minsait em Portugal. O projeto reúne uma vasta gama de capacidades e experiências<br />
multissetoriais de inovação aplicadas ao negócio, entre estratégias phygital<br />
unicanal, desenho de produtos e serviços com base digital, ou ativação e dinamização<br />
da experiência de marca. E tem uma equipa de cerca de 150 profissionais com<br />
uma base multidisciplinar, da engenharia ao design. A Xtudio pretende ajudar a<br />
rentabilizar o investimento em transformação digital das empresas, reformulando<br />
a maneira de criar, entregar, medir e identificar o valor que as faz ser relevantes.<br />
Defende que qualquer nova tendência (tecnológica, de consumo, de valores ou<br />
comportamental) representa um espaço de oportunidade a explorar. E assume-se como um “companheiro de<br />
viagem” que ajudará a “explorar e identificar novas formas de crescimento de negócio onde a tecnologia seja<br />
um meio para impactar de forma sustentável as pessoas, a sociedade e o planeta”.•
ESTORIL OPEN EM TRANSMISSÃO TELEVISIVA HD<br />
O MAIOR evento de ténis do país foi o local escolhido para a demonstração dos benefícios e<br />
das vantagens que a tecnologia 5G oferece à transmissão de eventos desportivos, quando<br />
complementada por uma rede móvel privada virtual. O projeto resultou de uma parceria<br />
entre a MEO Empresas e a CNN Portugal, que protagonizaram a primeira<br />
transmissão televisiva HD, suportada numa rede móvel privada 5G, durante o<br />
jogo da final do Millennium Estoril Open. Face ao elevado número de dispositivos<br />
existentes no local, este foi o ambiente indicado para colocar em prova<br />
uma rede privada, especificamente desenhada e configurada para assegurar<br />
uma transmissão em direto, com condições de utilização intensiva da rede móvel,<br />
sem falhas e com altíssima qualidade. A Private Custom Network é a nova<br />
solução da MEO Empresas que suporta esta operação. Desenhada, planeada e<br />
implementada à medida das necessidades de cada empresa, permite combinar<br />
o melhor da rede móvel 5G com a exclusividade e segurança das redes<br />
privadas. Com esta solução, os clientes dos mais diversos setores – Indústria,<br />
Logística, Saúde ou Media – passam a beneficiar de uma rede 5G personalizada,<br />
integralmente dedicada às suas operações. A solução inclui ainda o acesso<br />
a um portal de self-care que vai permitir às empresas a configuração das características<br />
da conetividade em cada dispositivo ligado à rede, a parametrização<br />
de alertas e notificações, assim como a consulta de relatórios de comunicação<br />
e a execução de testes de diagnóstico de conetividade.•<br />
“AI-BELHA” AVALIA SAÚ<strong>DE</strong> <strong>DA</strong> COLMEIA ATRAVÉS DO SOM<br />
QUAL é a relação entre as abelhas e a IA? Toda, quando a tecnologia pode ajudar a monitorizar e avaliar a<br />
saúde das colmeias, através do som, contribuindo para combater o declínio das abelhas. O projeto está a<br />
ser desenvolvido pela NOS, com base numa solução inovadora, baseada em 5G e inteligência artificial (IA). A<br />
“AI-belha” é uma resposta direta ao preocupante declínio dos polinizadores em Portugal e já avançou para a<br />
fase de testes em ambiente real, com o apoio de apicultores nacionais. Trata-se de uma evolução do “Entusiasmómetro”,<br />
ferramenta lançada no NOS Alive, que mede o entusiasmo e emoção das audiências em espetáculos,<br />
através da rede 5G. Um novo desenvolvimento da mesma tecnologia pioneira de analítica de som,<br />
apoiada por IA, será agora utilizado para detetar a presença da abelha rainha e avaliar a saúde e comportamento<br />
das colmeias, um processo vital à reprodução das abelhas, os principais polinizadores do ecossistema.<br />
Os apicultores apenas têm de aproximar o<br />
seu smartphone 5G da colmeia e recolher o som<br />
emitido pelas abelhas, tal como se tratasse de<br />
uma chamada telefónica. O áudio recolhido é<br />
enviado, em tempo real, para um servidor na<br />
cloud, onde, através de IA são analisados os<br />
diversos tipos de ruído. O resultado será a identificação<br />
da presença ou ausência da abelha-rainha<br />
através do som emitido pelas abelhas, bem<br />
como a deteção de outros padrões sonoros que<br />
possam indicar sinais negativos na saúde da<br />
colmeia.•<br />
67
ultimas<br />
INOVAÇÕES<br />
TRANSFORMADORAS<br />
BASEA<strong>DA</strong>S EM <strong>DA</strong>DOS E IA<br />
AJU<strong>DA</strong>R as empresas, na era da IA, a empregarem totalmente<br />
o poder dos seus dados e obterem insights mais<br />
profundos, um crescimento mais rápido e mais eficiência<br />
é o objetivo de um conjunto de inovações transformadoras<br />
lançadas pela SAP. Os novos recursos da solução<br />
Datasphere, que incluem mais funcionalidades de IA<br />
generativa, transformam o planeamento das empresas,<br />
através de arquiteturas de dados simplificadas e interações<br />
de dados mais intuitivas. O grupo considera que<br />
estas inovações, com a parceria ampliada com a Collibra,<br />
representam um salto quântico na sua capacidade de ajudar<br />
os clientes a conduzirem transformações empresariais<br />
inteligentes através dos dados. No centro deste anúncio<br />
está a malha de dados das empresas, uma arquitetura<br />
que ajuda a garantir que os dados não são apenas um<br />
ativo, mas a base principal das iniciativas estratégicas. As<br />
inovações e a parceria anunciadas equipam as organizações<br />
para fornecerem dados expressivos aos consumidores<br />
de dados – com o contexto e a lógica de negócio intactos.<br />
Desde as novas capacidades de base de dados, de<br />
copilotos e vetores, que ajudam a garantir que o contexto<br />
da empresa permanece constante em resultados de IA<br />
generativa, a um novo gráfico de conhecimento que ajuda<br />
a ganhar perceções e padrões em dados complexos, as<br />
inovações de dados da SAP garantem que os clientes têm<br />
todo o poder dos seus dados na ponta dos dedos.•<br />
TECNOLOGIA 5G CHEGA <strong>À</strong> BARRAGEM <strong>DE</strong> CASTELO <strong>DE</strong> BO<strong>DE</strong><br />
É UM PROJETO pioneiro: um 5G Living Lab para testar a<br />
tecnologia e o seu potencial em ambiente industrial e<br />
em diferentes situações. Está instalado na barragem de<br />
Castelo de Bode, um dos mais importantes centros de<br />
produção de energia hidroelétrica do país, e resultou de<br />
uma parceria da Vodafone com a EDP. A barragem será<br />
equipada com conectividade total, envolvendo a central,<br />
a albufeira e ambiente exterior em redor de toda a<br />
instalação. Além de reforçar a cobertura e velocidade das<br />
ligações móveis, o 5G tem potencial para impulsionar uma<br />
série de novas tecnologias, incluindo realidade virtual e<br />
aumentada, ferramentas inteligentes, internet of things/<br />
everything, edge computing e automação industrial sustentável,<br />
entre outras aplicações. A transformação digital<br />
sobre conetividade 5G irá reforçar a eficiência operacional<br />
e a segurança, abrindo ainda caminho para a introdução<br />
de inovações tecnológicas que podem transformar a gestão<br />
e a manutenção destas infraestruturas críticas para<br />
a produção de energia. Os sistemas e dispositivos que já<br />
usem e possam beneficiar de tecnologias de comunicação<br />
fazem parte deste projeto-piloto, desde drones e câmaras<br />
de vídeo até sensores e óculos de realidade virtual. Com<br />
este laboratório vivo, a EDP quer criar uma montra de soluções<br />
tecnológicas e digitais que promovam e acelerem a<br />
transição energética que está a liderar.•<br />
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Sabe que o seu negócio<br />
pode ter a rede móvel mais<br />
rápida da Europa?<br />
Baseado em análise Ookla® de dados Speedtest Intelligence® 2T-3T 2023. As marcas comerciais Ookla® são usadas sob licença e reprodução autorizada.
Da consultoria estratégica<br />
às tecnologias de vanguarda,<br />
desenvolvemos experiências<br />
que transformam as organizações<br />
para o sucesso, reinventando<br />
as indústrias de forma positiva<br />
e dando forma a uma sociedade<br />
melhor para todos