COMUNICAÇÕES 248 - VIRGÍNIA DIGNUM: IA RESPONSÁVEL PRECISA DE "REGRAS DE TRÂNSITO"
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MED<strong>IA</strong> CONSEGUIRÁ A EUROPA<br />
PÔR OR<strong>DE</strong>M NO CAOS?<br />
NEGÓCIOS QUANDO STARTUPS,<br />
INVESTIGAÇÃO E INDÚSTR<strong>IA</strong> SE JUNTAM<br />
EVOLVE 2 a EDIÇÃO AINDA<br />
COM MAIS PROJETOS<br />
N.º <strong>248</strong> • <strong>DE</strong>ZEMBRO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />
<strong>VIRGÍN<strong>IA</strong></strong> <strong>DIGNUM</strong>:<br />
<strong>IA</strong> <strong>RESPONSÁVEL</strong> <strong>PRECISA</strong><br />
<strong>DE</strong> ‘<strong>REGRAS</strong> <strong>DE</strong> TRÂNSITO’
edit orial<br />
Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt<br />
Um ano de realizações<br />
notáveis<br />
A<br />
inteligência artificial (<strong>IA</strong>) está na ordem<br />
do dia, pelas boas e más razões. Se, por<br />
um lado, é uma das tecnologias mais<br />
disruptivas de sempre, com o potencial<br />
para automatizar tarefas, gerar novos insights<br />
e melhorar a tomada de decisão, promovendo<br />
uma transformação sem paralelo na sociedade<br />
e na economia, por outro, é crucial reconhecer<br />
a existência de um conjunto de preocupações<br />
éticas e sociais. A capacidade da <strong>IA</strong> para reforçar<br />
preconceitos, disseminar desinformação ou<br />
violar a privacidade são algumas das questões<br />
que urge endereçar, entre muitas outras, através<br />
de uma utilização responsável e inclusiva.<br />
O tema é complexo e divide opiniões, numa<br />
altura em que ainda é impossível antecipar o<br />
total impacto da <strong>IA</strong> no mundo instável em que<br />
vivemos. Como refere a investigadora Virgínia<br />
Dignum, especialista internacional em <strong>IA</strong> responsável,<br />
que integra o grupo de alto nível da<br />
ONU sobre <strong>IA</strong>, que vai propor este ano um modelo<br />
para criar uma agência internacional que<br />
regule a tecnologia, temos de caminhar para<br />
uma regulação efetiva, que permita a reguladores,<br />
empresas e cidadãos “ter uma voz no que<br />
está a acontecer”. Na entrevista de fundo que<br />
dá nesta edição, mostra-se preocupada com a<br />
crescente dependência das pessoas destes sistemas,<br />
sem controlo democrático, e com o que<br />
vai acontecer na Europa, que está a perder vantagens.<br />
Mas já é possível ter soluções que respondem<br />
a problemas concretos, utilizando os princípios<br />
de uma <strong>IA</strong> responsável. Prova disso são os produtos<br />
que estão a ser desenvolvidos no Center<br />
for Responsible AI, o consórcio português liderado<br />
pela Unbabel que tem uma ambição global.<br />
Apresentamos um balanço deste projeto.<br />
Ou dos vencedores nacionais do WSA 2023, que<br />
representarão o país na competição mundial.<br />
Depois do verdadeiro frenesim criado em<br />
2023 em torno da <strong>IA</strong>, depois do arranque do<br />
ChatGPT, que marcou a chegada da tecnologia<br />
aos utilizadores finais, antecipa-se que 2024 seja<br />
um ano de adoção massiva de soluções. Perante<br />
estas expectativas, a APDC pretende dedicar ao<br />
longo do ano uma especial atenção ao tema. Assim,<br />
vamos realizar uma edição extra do EVOL-<br />
VE, evento anual de transformação digital da<br />
nossa associação, exclusivamente dedicado aos<br />
casos de estudo que utilizam esta tecnologia<br />
para as mais variadas áreas, da saúde à educação,<br />
passando pela indústria e pelo turismo.<br />
Estamos empenhados em acompanhar todas<br />
as mudanças e partilhar as histórias que<br />
moldarão o futuro de Portugal, num ano em que<br />
estaremos a celebrar um marco significativo: os<br />
40 anos da APDC. Além das iniciativas que teremos<br />
para comemorar quatro décadas de progresso<br />
e conquistas, vamos ainda inaugurar uma<br />
nova sede, que simboliza o nosso compromisso<br />
contínuo com o avanço tecnológico e a promoção<br />
da inovação. Estamos entusiasmados e antecipamos<br />
um ano repleto de realizações notáveis,<br />
proporcionando um ambiente estimulante<br />
para o progresso tecnológico do país. Um excelente<br />
2024 para todos!•<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>248</strong><br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS 12<br />
Sofia Marta, country manager da Google<br />
Cloud Portugal<br />
À CONVERSA 14<br />
Virgínia Dignum, a senhora Inteligência<br />
Artificial Responsável, fala de si e das suas<br />
expectativas relativamente ao futuro da <strong>IA</strong><br />
EM <strong>DE</strong>STAQUE 26<br />
Será o European Media Freedom Act a<br />
resposta para todos os problemas que<br />
hoje se colocam aos media?<br />
EM <strong>DE</strong>STAQUE 32<br />
Na 2ª edição do EVOLVE foram<br />
apresentados 17 casos de estudo de<br />
transformação digital<br />
I TECH 46<br />
Pedro Faustino, managing director<br />
da AX<strong>IA</strong>NS<br />
NEGÓCIOS 48<br />
Em Portugal, a parceria entre startups,<br />
centros de investigação e indústria está a<br />
ser levada muito a sério<br />
PORTUGAL DIGITAL 56<br />
CIDADAN<strong>IA</strong> DIGITAL 76<br />
Safeforest, o projeto que aposta na<br />
robótica para a prevenção de incêndios<br />
florestais<br />
ÚLTIMAS 78<br />
14<br />
32<br />
48<br />
56<br />
Propriedade e Edição<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
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Fotografia<br />
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Periodicidade<br />
Trimestral<br />
Tiragem<br />
3.000 exemplares<br />
Preço de capa<br />
3,25 €<br />
Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
a abrir<br />
EMPREGO EM TI<br />
CRESCE EM 2024<br />
GESTÃO <strong>DE</strong> DADOS É<br />
PRIORIDA<strong>DE</strong> PARA TER <strong>IA</strong><br />
6<br />
PORTUGAL é o 3º país, de uma lista<br />
de 44, com a maior projeção de<br />
criação de emprego nas TI para o<br />
1º trimestre de 2024. Os empregadores<br />
nacionais avançam com<br />
uma projeção de criação líquida de<br />
emprego de 57%. No entanto, 80%<br />
dos empregadores indicam que têm<br />
dificuldades em encontrar o talento<br />
de que precisam. A conclusão é do<br />
mais recente relatório<br />
da Experis,<br />
do Manpower-<br />
Group. Os<br />
valores<br />
indicam que<br />
as intenções<br />
de contratação<br />
dos<br />
empregadores<br />
de TI aumentaram<br />
10 pontos<br />
percentuais,<br />
face ao trimestre anterior, e 29<br />
pontos face a igual período de 2023.<br />
Adotada internacionalmente como<br />
um indicador de tendências do<br />
mercado de trabalho, a projeção<br />
para a criação líquida de emprego,<br />
calculada pela diferença entre a<br />
percentagem de empregadores que<br />
planeiam contratar e os que antecipam<br />
reduções de pessoal, é assim<br />
de 57%. O trabalho mostra que no<br />
período entre janeiro e março de<br />
2024, 65% planeiam contratar, 8%<br />
antecipam uma redução nas equipas<br />
e 25% tencionam manter o número<br />
de colaboradores. •<br />
Porto Rico lidera a<br />
lista dos 44 países<br />
analisados, com<br />
uma projeção de<br />
criação de emprego<br />
nas TI de 64%<br />
A GESTÃO de dados é uma prioridade para 87% dos líderes<br />
que querem implementar inteligência artificial (<strong>IA</strong>) nas<br />
suas organizações. O State of Data & Analytics, da Salesforce,<br />
construído com base num inquérito a mais de dez<br />
mil profissionais em 18 países indica que 87% dos entrevistados<br />
afirmam que os avanços na <strong>IA</strong> fazem da gestão<br />
de dados uma prioridade ainda maior. Se a segurança e<br />
fiabilidade dos dados já eram vistos como essenciais para<br />
o sucesso das iniciativas das empresas, os rápidos avanços<br />
na <strong>IA</strong> tornaram estes elementos ainda<br />
mais importantes. Para enfrentar os<br />
desafios, os especialistas estão a concentrar-se<br />
na melhoria da governance<br />
em torno dos dados e na criação de<br />
uma cultura de dados. É que o foco<br />
está em aproveitar a <strong>IA</strong> generativa<br />
para melhorar a produtividade, eficiência<br />
e aumentar receitas. E quem<br />
já fez esta aposta revela resultados,<br />
incluindo tempos mais rápidos na<br />
resolução de atendimentos ao<br />
cliente e aumentos de vendas.<br />
Cerca de 92% dos inquiridos afirmam<br />
que a necessidade de dados<br />
confiáveis é maior que nunca. E<br />
o principal desafio referido pelos inquiridos é a ameaça à<br />
segurança da informação, agravada pelo crescente volume<br />
e complexidade dos dados organizacionais.•<br />
CURIOSIDA<strong>DE</strong><br />
TERRA ELETRÓNICA ACELERA<br />
CRESCIMENTO DAS PLANTAS<br />
eSoil e é um solo bioeletrónico, adaptável ao cultivo em espaços<br />
hidropónicos, com capacidade para acelerar o crescimento de plantas.<br />
Desenvolvido por investigadores da Universidade de Linköping, na<br />
Suécia, é composto por substâncias orgânicas misturadas com um<br />
polímero condutor, usado em sensores e ecrãs OLED. No cultivo<br />
hidropónico, as plantas<br />
crescem sem solo, precisando<br />
apenas de água, nutrientes e<br />
algo a que as raízes se possam<br />
fixar. É um sistema fechado<br />
que permite a recirculação da<br />
água para que cada muda receba<br />
exatamente os nutrientes de<br />
que necessita e é adequado para<br />
o cultivo vertical.•<br />
ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />
FOTO THOR BALKHED / LINKÖPING UNIVERSITY
CURIOSIDA<strong>DE</strong><br />
<strong>IA</strong> NO FRIGORIFICO<br />
AGILIZA COZINHA<br />
Um frigorífico que sugere receitas de acordo com<br />
os ingredientes que tem? É a mais recente inovação<br />
da Samsung. O novo equipamento, o Bespoke<br />
4-Door Flex, é equipado com um ecrã LCD de 32<br />
polegadas e tem funcionalidades de <strong>IA</strong>. A fabricante<br />
diz que com o AI Family Hub+ e o sistema AI Vision<br />
Inside, que usa uma câmara interna inteligente,<br />
reconhece os itens que são colocados ou retirados<br />
do frigorifico. Também permite a personalização das<br />
receitas sugeridas de acordo com preferências ou<br />
restrições alimentares.•<br />
TRÁFEGO <strong>DE</strong> DADOS MÓVEIS<br />
TRIPLICA EM SEIS ANOS<br />
O CONSUMO médio global de dados por smartphone continua a<br />
crescer, pelo que o tráfego total de dados móveis deverá triplicar<br />
entre o final de 2023 e o final de 2029. Tudo graças às melhorias nas<br />
capacidades dos dispositivos, a um aumento no conteúdo intensivo<br />
de dados e às evoluções contínuas no desempenho das redes<br />
implementadas. As previsões são do Ericsson Mobility Report. Este<br />
relatório refere que até ao final de 2023 cerca de 20% das subscrições<br />
de serviços móveis a nível global foram já de 5G, apesar dos<br />
contínuos desafios económicos e da instabilidade geopolítica em alguns<br />
mercados. Confirma-se que os casos de uso mais comuns nos<br />
consumidores nas fases iniciais do 5G se baseiam no acesso móvel<br />
otimizado de banda larga, o acesso sem fio fixo wireless, gaming e<br />
os serviços baseados em AR/VR. Sendo evidente a forte procura<br />
por conectividade de alto desempenho, prosseguirá<br />
a expansão do 5G, com um número crescente de<br />
redes 5G autónomas a serem implementadas. O<br />
que cria oportunidades para suportar novas e<br />
mais exigentes aplicações, tanto para consumidores,<br />
como para empresas.•<br />
Relatório diz<br />
que até ao final<br />
de 2023 cerca<br />
de 20% das<br />
subscrições de<br />
serviços móveis<br />
foram de 5G<br />
ORGANIZAÇÕES<br />
‘ESQUECEM’<br />
SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong><br />
APESAR de 85% das organizações<br />
atribuírem um elevado nível de<br />
importância à concretização de<br />
objetivos de sustentabilidade, só 16%<br />
os integram nas suas estratégias. Tal<br />
situação revela uma falha alarmante<br />
na integração da sustentabilidade,<br />
sendo imperativo implementar as<br />
melhores práticas, como tornar a<br />
sustentabilidade numa prioridade,<br />
alinhá-la com a modernização<br />
tecnológica, estabelecer uma base<br />
de dados integrada, utilizar a <strong>IA</strong> para<br />
a previsão de temas relacionados<br />
com a sustentabilidade e capacitar os<br />
colaboradores. O caminho é traçado<br />
pelo Barómetro Global de Sustentabilidade,<br />
realizado pela Kyndryl<br />
em colaboração com a Microsoft,<br />
que contou com a participação de<br />
1.523 líderes nas áreas de tecnologia<br />
e sustentabilidade de diferentes<br />
setores, em 16 países da Ásia, EMEA<br />
e América. Este trabalho revela que<br />
embora os CEO e conselheiros de<br />
administração considerem a sustentabilidade<br />
e a transformação digital<br />
prioritárias, precisam de ajuda para<br />
integrar e executar<br />
programas.<br />
Cerca de 61% das<br />
empresas utilizam<br />
<strong>IA</strong> para monitorizar<br />
o consumo de<br />
energia, mas apenas<br />
34% utilizam<br />
dados atuais<br />
para prever<br />
o consumo<br />
futuro.•<br />
ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />
7
a abrir<br />
8<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Um dos problemas que detetamos<br />
na <strong>IA</strong> é que estas tecnologias<br />
mudam tão depressa, que<br />
é difícil pensá-las e ainda mais<br />
regulamentá-las. Parceiros com<br />
preocupações semelhantes, em<br />
todo o mundo, ciosos da democracia,<br />
liberdade de expressão e<br />
confiança na informação devem<br />
unir-se para estabelecer regras e<br />
diretrizes claras contra a desinformação<br />
nas plataformas”<br />
Randi Charno Levine, Expresso,<br />
2023/12/15<br />
“A novela que assaltou o setor<br />
da <strong>IA</strong> (demissão e readmissão<br />
de Sam Altman da OpenAI)<br />
nasce deste confronto entre<br />
uma oportunidade de negócio<br />
gigantesca e o risco de criar um<br />
monstro incontrolável, a possibilidade<br />
de prevenir e tratar<br />
doenças hoje incuráveis, ou levar<br />
à extinção da raça humana”<br />
André Veríssimo, ECO,<br />
2023/11/25<br />
“Digo há anos que a Europa precisa<br />
de construir um fundo de<br />
100 mil milhões para a <strong>IA</strong>, ou vai<br />
perder o comboio. (…) A Europa<br />
não tem escala para fazer testes<br />
nos mercados locais. Ou se<br />
junta realmente, com uma estratégia<br />
coletiva, para não ficar<br />
dependente de tecnologia estrangeira,<br />
ou não vai acontecer”<br />
Daniela Braga, Jornal de<br />
Negócios, 2023/11/20<br />
“Temos uma janela de oportunidade<br />
de talvez um ano para<br />
chegarmos a acordo sobre como<br />
regular estes sistemas (de <strong>IA</strong>).<br />
Tenho medo de que se prolongue<br />
além disso, porque as empresas<br />
já terão demasiado poder<br />
económico e não conseguiremos<br />
regular”<br />
Stuart Russell, Expresso,<br />
2023/11/15<br />
RESILIÊNC<strong>IA</strong> CIBERNÉTICA:<br />
OS ERROS COMUNS<br />
O MAIOR desafio que as organizações enfrentam ao lidar<br />
com o impacto de um incidente cibernético é a recuperação<br />
de sistemas e dados a partir de um backup limpo. Este é um<br />
desafio que supera outros obstáculos, como manterem-se<br />
atualizadas sobre ameaças emergentes ou ajustarem-se a<br />
regulamentações em constante mudança. A conclusão é de<br />
um estudo da Kyndryl, que indica os três erros comuns nas<br />
empresas em matéria de resiliência cibernética: frequentemente<br />
negligenciam a capacidade de recuperar rapidamente<br />
os processos de negócios essenciais, o que pode resultar<br />
em tempo de inatividade operacional, multas regulatórias<br />
ou danos à reputação da marca e perda de receita. Assim,<br />
é crucial que as empresas tenham planos e processos de<br />
recuperação de incidentes cibernéticos. O trabalho diz que<br />
um dos principais motivos que colocam em causa a construção<br />
de uma estratégia robusta de resiliência cibernética<br />
é desconhecer a diferença entre recuperação de incidentes<br />
cibernéticos e recuperação de desastres.•<br />
CEO <strong>DE</strong>SCONF<strong>IA</strong>M DA<br />
CAPACIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>FESA <strong>DE</strong><br />
CIBERATAQUES<br />
A GENERALIDA<strong>DE</strong> dos CEO, apesar de considerarem o tema da<br />
cibersegurança vital, não mostram confiança na capacidade de<br />
se protegerem de ciberataques. A conclusão é da Accenture,<br />
num estudo em que recomenda cinco ações a tomar: integrar<br />
a ciber-resiliência na estratégia empresarial desde o início;<br />
definir a responsabilidade partilhada pela cibersegurança em<br />
toda a organização; proteger o núcleo digital no centro da<br />
organização; alargar a ciber-resiliência para além das fronteiras<br />
e dos silos organizacionais; e adotar a ciber-resiliência<br />
contínua para se manter numa posição estratégica face ao<br />
mercado. Denominado “The Cyber-Resilient CEO”, o relatório<br />
baseia-se num inquérito a mil CEO de grandes organizações<br />
a nível global e aponta para a forma reativa como tratam a<br />
cibersegurança, o que resulta num maior risco de ataques e<br />
em custos mais elevados para responder e atuar perante estes<br />
incidentes. Apesar de 96% dos CEO afirmarem que a cibersegurança<br />
é fundamental para o crescimento dos seus negócios,<br />
o trabalho demonstra que 74% revelam preocupações com a<br />
capacidade das suas organizações em evitar ou minimizar os<br />
danos causados por um possível ciberataque. •<br />
Para assegurar a<br />
resiliência cibernética<br />
também<br />
é importante<br />
ter processos<br />
empresariais<br />
protegidos contra<br />
ciberataques<br />
ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />
Cerca de 60% dos<br />
CEO admitem<br />
que as suas<br />
organizações não<br />
incorporam a<br />
cibersegurança<br />
nas estratégias de<br />
negócio
Os canais mais<br />
utilizados pelos<br />
criminosos para<br />
realizar os seus<br />
ciberataques são<br />
o telemóvel, o<br />
email e o<br />
WhatsApp<br />
RECEIO EM TORNO DA FRAU<strong>DE</strong><br />
DIGITAL É ELEVADO<br />
A ESMAGADORA maioria dos portugueses temem vir a<br />
ser vítimas de fraude digital, uma vez que há técnicas<br />
cada vez mais sofisticadas de cibercrime e os ataques<br />
estão a aumentar em número. Dos que já foram alvo<br />
destes crimes, o tipo de fraude que predominou foi o<br />
roubo de dados bancários, seguido do roubo de dados<br />
pessoais e situações em que os consumidores são<br />
induzidos a acreditar que ganharam algum<br />
tipo de prémio financeiro. Telemóvel,<br />
email e WhatsApp são os canais mais<br />
utilizados. Os dados são de um<br />
estudo do SAS sobre “Faces of<br />
Fraud”, que abrangeu entrevistas<br />
a 13.500 consumidores<br />
para analisar as tendências em<br />
fraude digital, em mais de 15<br />
países em todo o mundo. Em<br />
Portugal, 88% dos consumidores<br />
revelaram temer ser vítimas<br />
de algum tipo de fraude<br />
digital, 66% acreditam que as<br />
empresas com quem lidam<br />
deveriam fazer mais para as<br />
proteger, 60% mostra-se mais<br />
cauteloso do que nunca em<br />
relação a este assunto e 51%<br />
afirmam mesmo estarem<br />
menos dispostos a partilhar<br />
os seus dados pessoais.<br />
Quase 29% dos inquiridos<br />
nacionais acreditam já ter sido<br />
vítimas de algum tipo de fraude, pelo<br />
menos uma vez, enquanto 62%<br />
dizem já ter sofrido alguma tentativa de fraude<br />
no último ano. Nesta linha, o roubo de dados bancários<br />
posiciona-se como o tipo de fraude mais comum,<br />
seguido pelo roubo de dados pessoais e situações em<br />
que os consumidores são induzidos a acreditar que<br />
ganharam algum tipo de prémio financeiro. Quanto aos<br />
canais mais utilizados pelos criminosos para realizar os<br />
seus ataques e atingir as vítimas são o telemóvel (73%), o<br />
e-mail (71%), seguido do WhatsApp (40%).<br />
NUMEROS<br />
258 MIL MILHÕES<br />
É o valor em dólares que os gastos mundiais<br />
com soberania da cloud deverão ultrapassar<br />
em 2027. Computação em cloud e a<br />
necessidade de reforçar a cibersegurança<br />
estão entre os principais motivos para<br />
procura deste tipo de soluções. A previsão<br />
é da IDC, indicando que os gastos em<br />
soberania da cloud deverão atingir uma taxa<br />
composta de crescimento anual de 26,6%.<br />
Este tipo de soluções assenta na capacidade<br />
de autodeterminação digital por nações,<br />
organizações e indivíduos, agregando a<br />
soberania de dados e a cloud soberana.<br />
142 MIL MILHÕES<br />
É o investimento total em dólares que<br />
deverá ser alcançado em 2027 em<br />
soluções de <strong>IA</strong> generativa. Sendo que a<br />
taxa de crescimento anual composta dos<br />
investimentos nestas soluções será de<br />
73,3%. Pelas contas da IDC, só em 2023 as<br />
empresas investiram quase 16 mil milhões<br />
de dólares em todo o mundo em soluções<br />
deste tipo. É que esta é uma tecnologia<br />
transformadora com implicações de longo<br />
alcance e impacto nos negócios.<br />
69 MIL MILHÕES<br />
Foi a soma que a Broadcom deu pela<br />
VMware, na que foi uma das maiores<br />
aquisições do mundo e que acaba de ser<br />
concretizada. O processo de aprovação<br />
regulatória foi complexo, com as tensões<br />
entre a China e os Estados Unidos e<br />
o reforço das medidas de controlo de<br />
exportações de chips. Pequim só deu<br />
luz-verde à operação a 21 de novembro,<br />
permitindo à multinacional norte-americana<br />
concluir o negócio antes da data-limite de<br />
26 de novembro.<br />
9
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“Em vez de se agarrar ao mundo<br />
irénico de ontem, a UE precisa<br />
de compreender as novas regras<br />
de um jogo ‘à la carte’, no que diz<br />
respeito às relações internacionais,<br />
e procurar novos parceiros<br />
para as questões fundamentais<br />
que o nosso mundo, devastado<br />
pela guerra, enfrenta”<br />
Mark Leonard, Expresso,<br />
2023/11/15<br />
“A grande vocação da <strong>IA</strong> é aumentar<br />
grandemente a nossa<br />
inteligência coletiva. (…) Uma<br />
sociedade permeada pela <strong>IA</strong><br />
funciona incomparavelmente<br />
melhor que uma sociedade sem<br />
ela. E é urgente começarmos<br />
este processo, porque os regimes<br />
totalitários, com a China à<br />
cabeça, estão bem cientes da<br />
importância da <strong>IA</strong> e utilizam-na<br />
extensivamente já hoje para os<br />
seus fins malignos”<br />
Pedro Domingos, Expresso,<br />
2023/11/10<br />
“Por si, a <strong>IA</strong> não é um mal. Pelo<br />
contrário, é suscetível de enormes<br />
benfeitorias para a Humanidade.<br />
Mas a sua utilização<br />
em prol dos interesses dos seus<br />
donos será cada vez mais um<br />
instrumento de domínio da Humanidade”<br />
Luís Moniz Pereira, Expresso,<br />
2023/11/10<br />
“Embora a tecnologia crie riscos<br />
reais de desinformação, fraude<br />
e violação da privacidade, os<br />
modernos sistemas de <strong>IA</strong> têm<br />
uma capacidade muito inferior<br />
à da inteligência humana. Muitos<br />
dos receios sobre os riscos<br />
existenciais da <strong>IA</strong> (…) revelam,<br />
acima de tudo, um desconhecimento<br />
profundo do estado<br />
atual da tecnologia”<br />
Arlindo Oliveira, Público,<br />
2023/11/06<br />
55% DOS PROFISSIONAIS USAM<br />
<strong>IA</strong> GENERATIVA SEM FORMAÇÃO<br />
MAIS <strong>DE</strong> META<strong>DE</strong> dos profissionais (55%) estão a utilizar as<br />
ferramentas de <strong>IA</strong> generativa no local de trabalho sem qualquer<br />
formação para o efeito e sem autorização da entidade<br />
patronal, porque consideram que a tecnologia ajuda na<br />
progressão de carreira. O Generative AI Snapshot Research,<br />
da Salesforce, mostra que 28% dos profissionais recorrem à<br />
<strong>IA</strong> generativa no trabalho e que 32% esperam utilizar a tecnologia<br />
para fins laborais num futuro breve, o que poderá<br />
colocar pressão sobre as empresas para adotarem políticas<br />
claras. Mas no local de trabalho há já muitos colaboradores<br />
a tirar partido de ferramentas de <strong>IA</strong> generativa não aprovadas<br />
(55%) ou totalmente proibidas (40%) pela sua entidade<br />
empregadora, embora todos reconheçam que a utilização<br />
de programas aprovados pela sua empresa assegura o uso<br />
ético e seguro da <strong>IA</strong> generativa. O estudo alerta que, ao<br />
utilizar a <strong>IA</strong> generativa no trabalho, os profissionais poderão<br />
estar envolvidos em atividades eticamente questionáveis:<br />
64% já fizeram passar resultados fornecidos pela <strong>IA</strong> como<br />
trabalho próprio e 41% estão a considerar inflacionar as<br />
suas competências de tecnologia para garantir uma oportunidade<br />
de trabalho. Mas a responsabilidade não é exclusivamente<br />
dos profissionais. A esmagadora maioria<br />
nunca recebeu ou concluiu formação<br />
em <strong>IA</strong> generativa (69%), sobre como<br />
usá-la de forma ética no local<br />
de trabalho (71%) ou com<br />
segurança (69%). Os inquiridos<br />
consideram que falta<br />
formação, acreditando<br />
também que as políticas<br />
de <strong>IA</strong> generativa existentes<br />
na sua empresa não estão<br />
claramente definidas ou são<br />
inexistentes. Isto é particularmente<br />
proeminente no<br />
setor da saúde, com 87% dos<br />
profissionais da área<br />
a nível global a alegar<br />
que as suas empresas<br />
não possuem políticas<br />
claras.•<br />
10
PRINCÍPIOS-CHAVE DA <strong>IA</strong><br />
<strong>RESPONSÁVEL</strong> NA EUROPA<br />
PARA A <strong>DE</strong>FINIÇÃO e implementação de uma estratégia de <strong>IA</strong> responsável<br />
nas organizações, há quatro princípios-chave a ter em conta: priorizar a<br />
criação de valor, apostar na comunidade, garantir que a <strong>IA</strong> funcione em<br />
todo o lado de forma eficiente e prestar contas. As recomendações constam<br />
de um estudo da IBM que explora a forma com a liderança está a<br />
mudar na era da <strong>IA</strong> no espaço europeu. Denominado como ‘Leadership in<br />
the Age of AI’, o trabalho baseou-se em entrevistas a mais de 1600 líderes<br />
seniores e executivos C-Suite no Reino Unido, França, Espanha, Alemanha,<br />
Itália e Suécia. Explora a forma como a liderança se está a transformar,<br />
à medida que as empresas da região adotam a <strong>IA</strong> generativa. Tendo<br />
em conta que a ascensão da <strong>IA</strong> generativa em 2023 foi extraordinária,<br />
2024 deverá ser de adoção massiva. Pelo que a pressão para tomar as<br />
decisões certas e liderar adequadamente está a ser sentida em todo o<br />
C-suite. Assim, 96% dos inquiridos que têm ou planeiam implementar <strong>IA</strong><br />
generativa participam na criação de novos enquadramentos setoriais éticos<br />
e de governança. Para responder à pressão crescente, os líderes empresariais<br />
inquiridos afirmam que as três maiores fontes de pressão para<br />
adotar <strong>IA</strong> generativa são, não só a concorrência ou os consumidores, mas<br />
também os colaboradores, administração e investidores. Esta pressão<br />
resulta principalmente de um desejo de modernizar e melhorar a<br />
eficiência operacional (45%), utilizando a<br />
<strong>IA</strong> para automatizar os processos<br />
rotineiros e libertar os colaboradores<br />
para assumirem<br />
tarefas de maior valor,<br />
ajudando simultaneamente<br />
a promover a<br />
inovação. Seguese<br />
o potencial<br />
da tecnologia<br />
para melhorar<br />
a experiência<br />
do cliente (43%)<br />
e aumentar os<br />
resultados das<br />
vendas (38%).•<br />
ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />
Neste estudo 95%<br />
dos inquiridos<br />
admitiram o enorme<br />
potencial que<br />
a <strong>IA</strong> generativa<br />
representa para<br />
impulsionar melhores<br />
decisões<br />
NUMEROS<br />
5,3 MIL MILHÕES<br />
É o número de subscritores de 5G que<br />
deverá ser alcançado até 2029 em todo<br />
o mundo. O crescimento previsto será<br />
de 330%, com 1,6 mil milhões de novas<br />
adesões. As contas são do Ericsson<br />
Mobility Report, que estima que só em<br />
2023 o aumento terá sido de 63%, no<br />
equivalente a 610 mil novos clientes da<br />
rede móvel de alta velocidade. Os casos de<br />
uso mais comuns nestas fases iniciais são<br />
o acesso móvel otimizado de banda larga,<br />
o acesso sem fios fixo wireless, gaming e os<br />
serviços baseados em AR/VR.<br />
5 MIL MILHÕES<br />
É quanto vai custar, em euros, aos<br />
britânicos da Zegona para passarem a<br />
controlar a Vodafone Espanha. O fundo de<br />
investimento aguarda agora as necessárias<br />
aprovações dos acionistas e dos<br />
reguladores, prevendo-se que o processo<br />
esteja concluído no primeiro semestre de<br />
2024. No âmbito do acordo, a Vodafone<br />
dará ao Zegona uma licença para usar a<br />
marca em Espanha durante um período<br />
de até dez anos.<br />
2,13 MIL MILHÕES<br />
É quanto a IBM vai dar, em dólares, pela<br />
compra das plataformas empresariais<br />
StreamSets e webMethods, da Software<br />
AG. O negócio foi alinhado com a Silver<br />
Lake, fundo que detém a maioria do<br />
capital da empresa germânica. Trata-se de<br />
plataformas de serviços de infraestruturas<br />
na cloud, que estão entre as tecnologias<br />
líderes do mercado na integração de<br />
aplicações, gestão de APIs e integração<br />
de dados. A IBM diz que o negócio<br />
vem confirmar o seu “profundo foco e<br />
investimento” em <strong>IA</strong> e cloud híbrida.<br />
11
5 perguntas<br />
12<br />
SOF<strong>IA</strong> MARTA:<br />
Criar impacto com<br />
grande abrangência<br />
Lidera a cloud da Google desde que esta se assumiu como<br />
challenger do mercado. A ambição é grande. A country manager<br />
da Google Cloud Portugal quer alcançar a liderança do negócio,<br />
tirando partido da nova era da <strong>IA</strong>.<br />
Texto de Isabel Travessa| Fotos cedidas<br />
Tem uma experiência de mais de<br />
20 anos em consultoria e grandes<br />
empresas tecnológicas. O que<br />
a levou a aceitar a liderança da<br />
Google Cloud?<br />
Foi uma decisão difícil, mas o momentum<br />
da Google Cloud é realmente<br />
incrível! Ser o challenger de mercado<br />
é um grande desafio. A Google<br />
está a investir fortemente na Google<br />
Cloud, e em particular em Portugal.<br />
Estamos ainda no início da jornada,<br />
em contraciclo relativamente à<br />
nossa concorrência: aposta no país,<br />
construção de equipa, conquista de<br />
mercado, dar a conhecer aos clientes<br />
as nossas soluções. Acredito que<br />
podemos ter um impacto muito significativo<br />
na modernização do país,<br />
com uma abrangência de mercado<br />
diversificada: as grandes organizações<br />
empresariais (como a banca,<br />
retalho, telecomunicações e energia),<br />
as empresas de pequena e média<br />
dimensão, a Administração Pública<br />
e saúde, as startups/scaleups e unicórnios,<br />
os parceiros integradores e<br />
outros fabricantes. Adicionalmente,<br />
a cultura da empresa é excecional e<br />
a equipa é fantástica!<br />
Como encara o desafio de passar<br />
para uma tecnológica, numa área<br />
onde se prevê crescente procura?<br />
Encaro este desafio com grande<br />
entusiasmo! A passagem de uma<br />
consultora para uma tecnológica é<br />
sem dúvida um desafio, mas também<br />
uma grande oportunidade de<br />
fazer parte de um setor que tem um<br />
crescimento forte e sustentável – em<br />
2023, o mercado cloud nacional está<br />
avaliado em 640 milhões de euros e,<br />
segundo as projeções da IDC, deverá<br />
atingir os mil milhões de dólares em<br />
2026. É também a oportunidade de<br />
fazer parte de uma empresa incrivelmente<br />
inovadora e pioneira nos<br />
temas revolucionários da atualidade,<br />
como a <strong>IA</strong> generativa. Há oito anos<br />
que a Google é uma “AI-first company”,<br />
integrando a <strong>IA</strong> em todos os<br />
seus produtos. Em 2017 criou um<br />
modelo de rede neuronal, chamado<br />
Transformer, que foi um passo<br />
fundamental para chegarmos onde<br />
estamos. E lançámos a 6 de dezembro<br />
o Gemini, um novo modelo que<br />
consegue processar e compreender<br />
de forma natural texto, imagens,<br />
vídeo, áudio e código. É o primeiro<br />
modelo a superar especialistas humanos<br />
em MMLU (Massive Multitask<br />
Language Understanding), um dos<br />
métodos mais populares para teste<br />
de conhecimento e capacidades de<br />
resolução de problemas em modelos<br />
de <strong>IA</strong>. Por fim, mas não menos importante,<br />
é a oportunidade de estar<br />
cada vez mais próxima dos clientes e<br />
parceiros, entender as suas necessidades<br />
e ajudá-los a alcançar os seus<br />
objetivos, que passam em grande<br />
medida pela aposta na tecnologia.<br />
Quais são as suas metas e ambições<br />
como country manager da<br />
Google Cloud Portugal?<br />
Colocar a Google Cloud como cloud<br />
número 1 em Portugal! Quero ajudar<br />
os nossos clientes a tirarem valor da<br />
utilização de cloud, como motor da<br />
sua transformação e expansão dos<br />
negócios. Ao nível da colaboração<br />
e produtividade, da modernização<br />
das suas arquiteturas, sistemas e<br />
aplicações, da forma como encaram<br />
a segurança, como governam, gerem<br />
e tiram partido dos seus dados.<br />
Sempre fomos um povo inovador,<br />
e esta nova era da <strong>IA</strong> abre uma<br />
enorme oportunidade para darmos<br />
o salto de que precisamos na nossa<br />
economia.<br />
O que é que mais a fascina no<br />
mundo do IT?<br />
O ritmo frenético, a energia, a constante<br />
aprendizagem e inovação! A<br />
tecnologia é extremamente relevante<br />
como suporte à ciência, investigação<br />
e desenvolvimento, sendo motor<br />
da evolução e inovação das sociedades.<br />
Desempenha um papel cada<br />
vez mais importante em todos os<br />
negócios, independentemente do setor<br />
ou tamanho, podendo ser usada<br />
para melhorar a eficiência, aumentar<br />
a produtividade, criar produtos e serviços<br />
e melhorar o relacionamento<br />
com os clientes. E quem não investir<br />
em tecnologia, fica para trás.<br />
Enquanto líder, quais são as suas<br />
máximas de vida?<br />
Sorrir, sempre – é importante<br />
celebrar e aproveitar a vida! Boa<br />
disposição ajuda sempre, mesmo<br />
nos momentos difíceis. Ver sempre<br />
o copo meio cheio – gosto de ver<br />
as coisas pela perspetiva positiva!<br />
E de me focar na solução e não no<br />
problema. Com foco, pragmatismo e<br />
assertividade, tudo se resolve!•
À frente da Google Cloud Portugal desde março de 2023, Sofia Marta garante ser<br />
uma otimista por natureza e de olhar para as coisas pela positiva. Afinal, “com foco,<br />
pragmatismo e assertividade, tudo se resolve!”<br />
13
a conversa<br />
14<br />
“O que digo muitas vezes aos meus alunos é que sou uma combinação muito perigosa da maneira de ser extremamente direta dos<br />
holandeses e da paixão com que os portugueses falam”
A INTELIGÊNC<strong>IA</strong><br />
ARTIFIC<strong>IA</strong>L<br />
É O QUE<br />
FIZERMOS<br />
COM ELA<br />
Quando lhe perguntam se é uma workaholic, responde que o termo<br />
que mais a define é “hobbyaholic”. A seguir explica, divertida, o<br />
que o neologismo já permite antever: que é uma apaixonada pelo<br />
que faz. Tal felicidade reflete-se na forma serena como vê o futuro<br />
da inteligência artificial. Um caminho que se faz caminhando…<br />
com responsabilidade.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA E TERESA RIBEIRO FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“Estive muitos anos a trabalhar em empresas privadas, também em <strong>IA</strong>, criando projetos de desenvolvimento em situações reais. Aí<br />
vê-se diretamente o impacto que estes sistemas têm. Isso não acontece quando se está na universidade”
Quando Virgínia Dignum se interessou por inteligência<br />
artificial, não podia imaginar que, trinta anos<br />
depois, seria esta a tecnologia mais sexy do planeta.<br />
A atenção mediática de que a sua área de especialidade<br />
está agora a ser alvo fá-la sorrir. Diz que a culpa<br />
é do marketing. Não que desdenhe do potencial da<br />
<strong>IA</strong>, mas argumenta que esta popularidade repentina<br />
deve-se às roupagens que lhe vestiram, as aplicações<br />
conversacionais que, como tops de lantejoulas,<br />
captaram a atenção pública. Professora de Ciência<br />
da Computação na Universidade de Umea, na Suécia,<br />
e professora associada na Delft University of Technology,<br />
nos Países Baixos, faz parte do órgão consultivo<br />
em <strong>IA</strong> da ONU, destinado a realizar análises<br />
e apresentar recomendações para a governação internacional<br />
da Inteligência Artificial. A sua missão é<br />
contribuir para criar a agência internacional que vai<br />
regular a utilização desta tecnologia no mundo. Um<br />
desafio que, por ser gigantesco, a estimula muito.<br />
Nasceu em Portugal, passou a viver na Holanda<br />
e agora trabalha na Suécia. Por isso, Virgínia gosta<br />
de se definir como europeia, embora da sua biografia<br />
constem também estadias em África e Austrália,<br />
onde se dedicou a projetos de desenvolvimento,<br />
sempre na área digital. Casada com um professor de<br />
<strong>IA</strong> holandês e mãe de dois filhos já adultos, espera<br />
retornar à casa de partida quando chegar à idade da<br />
reforma, pois nas geografias onde mais tem passado<br />
o seu tempo não há nada que se compare ao velho e<br />
luminoso céu azul português.<br />
17
a conversa<br />
“Neste momento podemos<br />
comparar a <strong>IA</strong> com um<br />
carro que não tem travões,<br />
nem cintos de segurança<br />
e está a ser guiado por<br />
uma pessoa que não tem<br />
carta de condução (...)<br />
Temos de insistir com as<br />
empresas que desenvolvem<br />
estes sistemas que têm de<br />
pôr cintos de segurança<br />
e travões, mas não nos<br />
podemos esquecer de que,<br />
ao mesmo tempo, temos<br />
de investigar (...) É preciso<br />
criar regras de trânsito”<br />
18
Como é que começou a interessar-se pelas tecnologias<br />
digitais?<br />
A minha mãe estudava matemática e fez um curso de<br />
computação, nos anos 70, na IBM. Achei aquilo interessantíssimo,<br />
principalmente os cartões perfurados<br />
(risos). Acabei por fazer o curso de Matemática Aplicada<br />
na Faculdade de Ciências de Lisboa e os primeiros<br />
computadores que usámos, juntamente com o Técnico<br />
(IST), no início dos anos 80, ainda funcionavam com<br />
os tais cartões perfurados. Ainda fiz programas assim.<br />
Já então estava definido na sua cabeça que queria ser<br />
programadora?<br />
Ainda não estava muito definido. A questão da matemática<br />
e da resolução de problemas de uma maneira<br />
lógica e estruturada é que me interessava.<br />
Conseguiu perceber o conceito dos cartões e dos furinhos?<br />
Acho que tinha uma ideia de que era possível descrever<br />
instruções de uma maneira tão estruturada que desse<br />
para uma máquina perceber.<br />
Fazia perguntas à sua mãe?<br />
A minha mãe não continuou na carreira de programação,<br />
foi para o ensino. Passou a ser professora de matemática.<br />
Com cinco filhos (sou a mais velha da prole)<br />
era mais fácil ser professora.<br />
Então como é que deu o salto da matemática para uma<br />
área mais digital e depois para a <strong>IA</strong>?<br />
Dei o salto para a informática através da matemática<br />
porque, naquela altura, no início dos anos 80, não<br />
havia em Portugal cursos superiores de computação<br />
ou de engenharia informática. Essa matéria começou<br />
a ser lecionada na Faculdade de Ciências, no curso de<br />
Matemática Aplicada à Computação, e no Técnico, no<br />
curso de Engenharia Informática. Como a única forma<br />
de estudar informática naquele tempo era através do<br />
curso de matemática aplicado à computação, foi o que<br />
fiz. Os primeiros anos do curso eram matemática pura.<br />
Mas logo que pude começar a escolher cadeiras, escolhi<br />
as de computação, inclusive uma cadeira de Inteligência<br />
Artificial.<br />
Já havia?<br />
Sim. O curso foi iniciado por um casal de professores, o<br />
casal Sernadas (Amílcar e Cristina), que depois esteve<br />
no Técnico, e que tinha vindo de Edimburgo, uma das<br />
primeiras zonas da Europa em que se começou a estudar<br />
a <strong>IA</strong>. Fiquei logo encantada.<br />
Pensou: é isto!<br />
Exatamente: foi assim! Acabei o curso em 87. Mais ou<br />
menos ao mesmo tempo casei-me com um holandês<br />
e comecei um mestrado em <strong>IA</strong> na Faculdade Livre de<br />
Amesterdão.<br />
Também trabalha nesta área?<br />
Sim. Conheci-o numa conferência de <strong>IA</strong> e hoje é colega<br />
de <strong>IA</strong> onde estou agora, na Universidade de na Universidade<br />
de Umea, na Suécia. Portanto, a progressão familiar<br />
e a <strong>IA</strong> têm acontecido em paralelo durante a vida<br />
toda. Tudo junto! (risos)<br />
Em criança já revelava esta vocação para as matemáticas?<br />
Sempre tive uma estrutura de pensamento muito lógica,<br />
muito estruturada. Mas em criança também<br />
brincava com bonecas. E ainda hoje faço tricô e croché<br />
(risos).<br />
Então não era “maria rapaz”...<br />
Também era um pouco. Fui escuteira desde os nove<br />
anos e cheguei à comissão nacional das guias da Associação<br />
de Guias de Portugal. Nessa fase, fazia muita<br />
atividade ao ar livre e construção de acampamentos.<br />
Uma das coisas que me interessava imenso era a logística<br />
dos acampamentos nacionais: calcular como é que<br />
se dá de comer a 500 meninas.<br />
Isso é matemática!<br />
Sem dúvida! Sempre gostei muito dessa parte da estrutura<br />
da organização. Saí das Guias de Portugal só quando<br />
fui para a Holanda (agora Países Baixos).<br />
Foi fácil adaptar-se a outro país?<br />
Houve uma experiência engraçada: aqui em Lisboa,<br />
no meu curso, 70% dos meus colegas eram mulheres<br />
porque, de facto, nos anos 70 e 80, a computação era<br />
uma ocupação feminina. A partir de certa altura é que<br />
começou a ter uma importância económica maior e aí<br />
passou de profissão feminina a profissão tipicamente<br />
masculina. Mas quando cheguei ao mestrado da Universidade<br />
Livre de Amesterdão era a única mulher da<br />
minha turma. E isso foi um choque. Não estava à espera.<br />
Mas eles facilitaram-me imenso. Como ainda não<br />
sabia falar holandês, deixaram que fizesse os<br />
exames em inglês.<br />
A <strong>IA</strong> que aprendeu na época não tem nada a ver com o<br />
que existe hoje…<br />
Não é assim tão diferente. Agora falamos imenso na<br />
<strong>IA</strong> baseada em dados, mas ao fim e ao cabo a <strong>IA</strong> são<br />
19
a conversa<br />
20<br />
os algoritmos que permitem a um computador fazer<br />
criações baseadas num modelo do mundo que construiu.<br />
Agora constroem-se esses modelos baseados em<br />
dados – dá-se milhões de exemplos ao computador. Na<br />
altura, em vez de dados, transmitíamos regras. Em vez<br />
de fornecer ao computador milhões de fotografias de<br />
cães e de gatos para depois lhe pedir: “Vê se há alguma<br />
diferença entre as duas coisas”; tentávamos explicar à<br />
máquina as diferenças entre um cão e um gato. Tinha<br />
vantagens e desvantagens. Uma das vantagens é que<br />
era muito mais transparente a maneira como o computador<br />
percebia, pois só de “olhar” para as imagens e<br />
registar as diferenças o computador não entende bem<br />
o que distingue um cão de um gato. A desvantagem é<br />
que não era tão fácil, rápida e eficiente a maneira como<br />
os modelos eram construídos. Uma das coisas que tornou<br />
possível o atual modelo foi a internet, que proporcionou<br />
dados às catadupas. E também o aumento da<br />
capacidade de processamento. Os primeiros computadores<br />
com que trabalhei, nos anos 80, tinham menos<br />
capacidade do que os nossos telefones têm agora. E,<br />
no entanto, eram computadores do tamanho de uma<br />
casa. Na verdade, os princípios<br />
das redes neuronais<br />
já existiam, não havia era<br />
esta capacidade de processar<br />
que temos agora.<br />
Depois de dez fotografias<br />
de gatos, aqueles antigos<br />
computadores ficavam<br />
entupidos (risos).<br />
É uma workaholic?<br />
Sou uma hobbyholic. Porque<br />
me é difícil distinguir<br />
entre os hobbies e o trabalho.<br />
Falar do tema da <strong>IA</strong><br />
não me cansa.<br />
Também viveu e trabalhou fora da Europa…<br />
Sim, quando acabei o mestrado na Holanda, ao mesmo<br />
tempo o meu marido acabou o doutoramento e<br />
fomos para África criar (mais ele do que eu) o curso de<br />
Computação na Universidade da Suazilândia (atual<br />
Essuatíni). Nessa altura trabalhei em várias companhias<br />
para o desenvolvimento informático básico do<br />
país. Fiz o primeiro programa de administração para o<br />
banco nacional da Suazilândia. O que havia antes eram<br />
caixas com papéis. Essa parte de apoio ao desenvolvimento<br />
social e económico foi uma experiência muito<br />
importante. Estivemos lá no início dos anos 90. Coincidiu,<br />
por exemplo, com a libertação de Nelson Mandela.<br />
Estávamos mesmo ao lado da África do Sul, e sentimos<br />
muito o impacto desses acontecimentos.<br />
O trabalho que estou agora<br />
a fazer com as Nações<br />
Unidas é o de criar os meios<br />
e a literacia para que as<br />
pessoas saibam como é que<br />
se usam estes sistemas<br />
A oportunidade de vir para Portugal aconteceu logo a<br />
seguir…<br />
É verdade. Depois viemos para Portugal, onde consegui<br />
uma bolsa de doutoramento para o Técnico no grupo<br />
da <strong>IA</strong> e o meu marido entrou para a posição de professor<br />
assistente no mesmo grupo. Estivemos cá um ano,<br />
a seguir regressámos à Holanda.<br />
Como é que foi parar à Suécia?<br />
Desafiaram-me. A Suécia tem um enorme programa<br />
financiado por uma fundação privada, que neste momento<br />
está a suportar cerca de 500 alunos de doutoramento<br />
e várias dezenas de professores, quase todos<br />
convidados para vir para a Suécia.<br />
Como foi mudar da Holanda para a Suécia?<br />
A primeira mudança de país é que é difícil. O resto é<br />
uma aventura.<br />
Depois disso tiraram um ano sabático na Austrália…<br />
Sim, em 2006. Conhecíamos lá investigadores com<br />
quem trabalhávamos bastante. Naquela altura tivemos<br />
oportunidade de ir<br />
para lá.<br />
Tem um lado de globetrotter…<br />
Quando as pessoas me<br />
perguntam de onde venho,<br />
normalmente respondo:<br />
“Sou europeia”.<br />
De facto, sou portuguesa,<br />
mas entretanto também<br />
passei a ter nacionalidade<br />
holandesa, agora vivo na<br />
Suécia…<br />
Há alguma característica<br />
sua que reconheça ser intrinsecamente portuguesa?<br />
O que eu digo muitas vezes aos meus alunos é que sou<br />
uma combinação muito perigosa da maneira de ser<br />
extremamente direta dos holandeses e da paixão com<br />
que os portugueses falam. De vez em quando, essas<br />
duas coisas combinadas dão uma bomba. Os meus alunos<br />
já têm sofrido com essa combinação (risos).<br />
Gostaria de voltar para Portugal, um dia?<br />
A próxima fase da nossa vida é provavelmente a reforma.<br />
Na reforma, sim, claro, regressamos a Portugal.<br />
Mas vir trabalhar para Portugal, neste momento, não<br />
é possível, principalmente pela maneira como a estrutura<br />
académica em Portugal está organizada. Nós não<br />
fizemos doutoramentos em Portugal, não fizemos a<br />
agregação. Nem eu, nem qualquer outro português que<br />
seja professor catedrático fora de Portugal, pode ser
“Um programa de computação não acorda de manhã e decide: ‘Hoje vou destruir a Humanidade’”<br />
integrado na academia. Quem fez a carreira académica<br />
fora de Portugal não pode entrar. O António Damásio,<br />
por exemplo, se quisesse, também não podia. Mas colaboro<br />
com muitos portugueses em projetos científicos<br />
europeus, subsidiados pelos programas de investigação<br />
da Europa.<br />
A área que escolheu neste momento e em que está a<br />
dar aulas, a da <strong>IA</strong> Responsável, chegou-lhe com a experiência<br />
e com o tempo…<br />
Só mudei para a vida académica no princípio dos anos<br />
2000. Antes, estive muitos anos a trabalhar em empresas<br />
privadas, também em <strong>IA</strong>, criando projetos de<br />
desenvolvimento em situações reais: fábricas de automóveis,<br />
bancos, supermercados, etc. Portanto, aí vêse<br />
diretamente o impacto que estes sistemas têm. Isso<br />
não acontece quando se está na universidade.<br />
O que é mais compensador, ver os impactos reais ou<br />
fazer investigação?<br />
Precisamos das duas experiências, porque às tantas o<br />
problema de ver os impactos reais é que acaba por limitar-nos<br />
na maneira como tentamos resolver esses<br />
problemas. A possibilidade de ser criativo, de fazer<br />
experimentação sem ter o impacto direto também é<br />
importante.<br />
Voltando à pergunta: foi o somatório das suas experiências<br />
que a levou a interessar-se pela <strong>IA</strong> responsável?<br />
Sim, começou a interessar-me mais. O meu doutoramento<br />
foi não tanto sobre o impacto ético, mas sobre o<br />
impacto organizacional: as empresas que introduzem<br />
programas e sistemas de <strong>IA</strong> têm de mudar a sua organização.<br />
Há quem diga, ao falar do que poderá ser a evolução da<br />
<strong>IA</strong>, que não se pode parar o vento com as mãos. Também<br />
sente isso?<br />
Creio que não. O que os media nos querem convencer é<br />
que a <strong>IA</strong> é uma coisa como o tempo: acontece. A única<br />
coisa que podemos fazer é ler o boletim meteorológico<br />
e decidir se vamos levar um guarda-chuva ou não, mas<br />
a <strong>IA</strong> não é o tempo. A <strong>IA</strong> não nos acontece. Nós fazemos<br />
esses sistemas.<br />
Mas depois pode deter-se a investigação? Porque há<br />
pessoas que não são razoáveis…<br />
Os martelos, usados na construção, também podem<br />
ser usados para agredir. Os carros, que servem para nos<br />
deslocarmos, também podem matar. Um programa<br />
de computação não acorda de manhã e decide: “Hoje<br />
vou destruir a Humanidade!”. Não funciona assim!<br />
21
a conversa<br />
“Nem eu nem qualquer outro português que seja professor catedrático fora de Portugal pode ser integrado na academia. O António<br />
Damásio, por exemplo, se quisesse não podia”<br />
22<br />
Não tenho medo que os sistemas se levantem e fiquem<br />
conscientes. Tenho medo que pessoas e organizações<br />
utilizem esses sistemas para fazer mal, isso sim.<br />
É evidente que, a prazo, os computadores vão ultrapassar<br />
as capacidades humanas. Vamos deixar de ter<br />
uma relação de igual para igual. Isso não a perturba?<br />
Também não tenho uma relação de igualdade com o<br />
carro, que anda muito mais depressa do que eu. Nem<br />
com o avião, nem mesmo com o meu telefone, ou a<br />
calculadora, que faz raízes quadradas muito melhor<br />
do que eu… Neste momento já nem sequer ensinam<br />
os alunos a calcular raízes quadradas. Não é preciso. O<br />
que é preciso é ensiná-los a perceber o que é uma raiz<br />
quadrada e para que é necessário fazer esse cálculo e<br />
quando. Ao utilizar a <strong>IA</strong>, a intenção final é nossa, portanto<br />
a responsabilidade também. Se deixo o sistema<br />
tomar decisões automaticamente, como aconteceu<br />
na Holanda – em que as finanças pediram, por lapso,<br />
a muitas famílias para devolverem os subsídios que<br />
supostamente haviam recebido de modo fraudulento<br />
durante anos. Uma imprudência que teve consequências<br />
gravíssimas, como suicídios, divórcios e por fim a<br />
queda do governo. Se deixo isso acontecer a culpa não<br />
é da <strong>IA</strong>, mas das pessoas que decidiram que o sistema<br />
poderia funcionar sem supervisão. Portanto, aí é que<br />
temos de ter muita atenção e muito esforço, não só no<br />
desenvolvimento técnico, mas principalmente no desenvolvimento<br />
sociotécnico. O trabalho que estou agora<br />
a fazer com as Nações Unidas é exatamente o de criar<br />
os meios e a literacia para que as pessoas saibam como<br />
é que se usam estes sistemas. Neste momento, podemos<br />
comparar a <strong>IA</strong> com um carro que não tem travões,<br />
nem cintos de segurança e está a ser guiado por uma<br />
pessoa que não tem carta de condução e vai por uma<br />
rua abaixo que não tem sinais de trânsito. Temos que<br />
insistir com as empresas que desenvolvem estes sistemas,<br />
que têm de pôr cintos de segurança e travões, mas<br />
não nos podemos esquecer de que ao mesmo tempo,<br />
temos de investigar ou garantir que quem está a fazê-lo<br />
tem carta de condução. Também é preciso criar as regras<br />
de trânsito.
Pegando na metáfora do carro: poderá acontecer, no<br />
futuro, tudo isto evoluir para um carro de condução<br />
autónoma…<br />
Os carros de condução autónoma não começam a trabalhar<br />
sem ninguém lhes dar uma ordem para começar.<br />
Nessa altura temos de ter capacidade de garantir<br />
que os carros de condução autónoma têm carta de condução<br />
para saberem o que estão a fazer…<br />
Quem se dedica a estas áreas certamente que, em algum<br />
momento, se há-de interrogar sobre se o ser humano,<br />
em geral, tem idoneidade para lidar com tecnologias<br />
que nos podem levar a situações extremas...<br />
Sim, essa é uma questão extraordinariamente importante<br />
e devemos fazer uma reflexão contínua sobre<br />
esse assunto, mas ao mesmo tempo, também temos de<br />
ter humildade. Com as discussões que surgiram sobre<br />
a OpenAI, a ideia que eu começo a ter é que as pessoas<br />
envolvidas nisto, ao mais alto nível, começam a sentirse<br />
deuses que têm a capacidade de decidir sobre estes<br />
sistemas e sobre a Humanidade. As discussões sobre a<br />
mudança na direção da OpenAI são descritas como um<br />
problema da Humanidade, quando isto é só uma guerra<br />
entre administradores.<br />
Trata-se de manter a atenção<br />
no desenvolvimento<br />
da <strong>IA</strong> de forma exagerada.<br />
Temos de ter a humildade<br />
de pensar que isto não é<br />
bem assim…<br />
2023 foi o ano do boom da<br />
<strong>IA</strong>. Toda a gente acordou<br />
para o potencial desta<br />
tecnologia. E, de repente,<br />
a realidade aumentada,<br />
de que tanto se falava, o<br />
cloud computing, todas essas áreas, saíram do foco.<br />
Parece que a <strong>IA</strong> secou tudo à volta. Como explica este<br />
fenómeno?<br />
Marketing, dinheiro (risos)… A grande diferença do<br />
momento em que estamos agora e o que acontecia há<br />
cerca de um ano é que qualquer pessoa no mundo tem<br />
agora a oportunidade de interagir com sistemas que, à<br />
primeira vista, reagem de uma forma quase humana.<br />
O ChatGPT, o Bard e afins, são aplicações feitas sobre<br />
aplicações de <strong>IA</strong>. Sem essas aplicações, que associaram<br />
a conversação humana à <strong>IA</strong>, a evidência de que estávamos<br />
a falar com uma máquina era muito maior.<br />
Está tudo feito de forma<br />
a aliciar-nos a trabalhar<br />
com os sistemas de <strong>IA</strong>. A<br />
questão é que isto dá muito<br />
dinheiro...<br />
Isso significa o quê?<br />
Estas aplicações que usam a linguagem são feitas para<br />
criar uma ilusão. Por um lado, têm por objetivo mostrar<br />
que é possível interagir com o sistema, da mesma maneira<br />
que interagimos uns com os outros e, assim, podemos<br />
todos beneficiar com isso. Isso é positivo. Mas<br />
também há uma forma negativa de ver a questão: eles<br />
querem-nos viciar e controlar. Porque é que o ChatGPT<br />
diz “desculpa”? A máquina não conhece o conceito,<br />
por isso não devia ter de pedir desculpa. O Google não<br />
diz desculpa quando se engana a dar uma resposta…<br />
Está tudo feito de forma a aliciar-nos a trabalhar com<br />
estes sistemas. A questão é que isto depois dá muito dinheiro…<br />
Em termos de computação, os sistemas de <strong>IA</strong><br />
são extremamente pesados, portanto as empresas têm<br />
toda a vantagem em que haja cada vez mais sistemas<br />
de <strong>IA</strong> para venderem cada vez mais máquinas.<br />
O que é que a preocupa mais?<br />
Estamos a ficar muito dependentes. Já estávamos dependentes<br />
das redes sociais, que são de empresas em<br />
que não temos controlo democrático. Não temos capacidades<br />
democráticas de intervir nelas, porque são<br />
empresas privadas, comerciais, com fins lucrativos.<br />
Podem fazer o que quiserem.<br />
Temos de caminhar no sentido da regulação…<br />
Sim. Tem de ser uma regulação efetiva, que ao mesmo<br />
tempo permita aos reguladores,<br />
às empresas e ao<br />
cidadão comum ter voz<br />
no que está a acontecer.<br />
Não pode ser, como essas<br />
empresas querem, só uma<br />
questão de autorregulação.<br />
Também não podem<br />
ser os Estados, unilateralmente,<br />
a estabelecer<br />
as regras. Temos de caminhar<br />
para um diálogo que<br />
envolva também os cidadãos.<br />
Participou na parte inicial da conceção do AI Act.<br />
Acha que a Europa vai no bom caminho?<br />
Se me tivessem feito essa pergunta há duas semanas,<br />
dizia que sim, mas neste momento estou com imenso<br />
medo do que estas guerras podem implicar. Uma das<br />
grandes bases do AI Act é que temos de regular os riscos,<br />
independentemente da tecnologia. Se existe risco,<br />
o risco tem de ser regulado e garantido. É como com os<br />
carros: não interessa se são a diesel ou elétricos. Têm<br />
de ter travões. O AI Act estava bastante bem definido,<br />
mas há uns meses alguém resolveu modificar o texto e<br />
introduzir uma especificidade tecnológica que só tem<br />
criado confusão. Neste momento, estou preocupada<br />
com o que vai sair daqui. Entretanto, a China já tem<br />
regulação, os EUA também e a Europa está a perder a<br />
vantagem.<br />
23
a conversa<br />
Uma das questões que se levanta é que a regulação vai<br />
ser muita má para a inovação…<br />
Voltando ao exemplo dos carros: quem é que quer andar<br />
num carro sem travões? Se tomarmos a regulação a<br />
sério, continuamos a poder desenvolver a tecnologia,<br />
tendo muito maior capacidade de garantir a segurança<br />
no que estamos a fazer. A regulação também pode, por<br />
outro lado, ser uma rampa de lançamento de inovação.<br />
Tenho estado a trabalhar na UE nas regras para <strong>IA</strong> de<br />
confiança, mas também trabalhei com a UNESCO nas<br />
regras para a ética. Nesses grupos, é bastante fácil concordar<br />
que a <strong>IA</strong> deve ser justa e dar garantia de privacidade.<br />
Toda a gente concorda com estes princípios. O<br />
que é extremamente difícil e não há, neste momento,<br />
capacidade de inovação suficiente é dizer: o que é que<br />
isso quer dizer quando estou a escrever o meu código?<br />
Tem a ver com a regulação, mas também com a implementação.<br />
Como posso garantir que o meu sistema é<br />
mais justo do que outro? Por enquanto ainda não podemos<br />
garantir, de forma matemática, que o que eu estou<br />
a fazer é justo. Como é que vou medir? É nisto que<br />
precisamos de inovação.<br />
Aqueles que têm vindo a público com ideias realmente<br />
assustadoras sobre o que a <strong>IA</strong> pode fazer no futuro,<br />
acha que em boa parte é marketing?<br />
Não é marketing, mas é uma maneira de focar a atenção<br />
num problema que não é real neste momento. Enquanto<br />
estamos todos a olhar para as citações do “terminator”,<br />
receando que a <strong>IA</strong> nos matará a todos quando<br />
acordarmos de manhã, ninguém está a tomar atenção<br />
ao que se está a fazer agora. Porque está tudo assustado<br />
com o que vai acontecer, potencialmente, talvez daqui<br />
a 100 anos e, entretanto, fazem o que quiserem.<br />
Sendo uma especialista na área, sabe muito mais do<br />
que a esmagadora maioria das pessoas. Esse conhecimento<br />
não é também uma fonte de inquietação? Ou<br />
pelo contrário?<br />
Acaba por ser “pelo contrário”. O que tento fazer nesses<br />
órgãos em que estou envolvida é demonstrar que nós<br />
somos responsáveis, não temos que estar a pôr medo e<br />
foco na máquina em si: afinal fomos nós que a fizemos.<br />
Temos de ter mais consciência da nossa responsabilidade<br />
e isso passa pela questão de decidirmos se vamos<br />
implementar <strong>IA</strong> nesta situação, ou não. Em muitos casos,<br />
teremos de ser capazes de dizer “não”. Neste momento,<br />
não temos a capacidade, ou as garantias, que o<br />
sistema seja usado de maneira certa – portanto, o melhor<br />
que temos a fazer é não o implementar.<br />
Disse, numa entrevista recente, que tem de haver regulação<br />
ao nível das empresas, dos setores, dos países<br />
e das regiões, com uma coordenação ao nível global,<br />
onde a futura agência da ONU terá uma palavra a dizer...<br />
Exatamente. Não se pode pensar que vamos fazer uma<br />
regulação de um tamanho único, que serve para tudo.<br />
Temos de ter em conta as diferentes realidades e situações.<br />
Uma regulação que se faz para um sistema médico<br />
não é igual à que se faz para aplicações financeiras.<br />
Temos de ter a capacidade de traduzir os princípios éticos<br />
e sociais de forma diferente para cada área. Tomando<br />
em conta também os contextos culturais. A ONU<br />
não vai decidir de maneira uniforme quais são a regras<br />
a observar por todos, mas sim uma forma de coordenar<br />
e integrar o que se faz num sítio e noutro. O que o secretário-geral<br />
nos pediu, foi: “Definam estruturas adequadas<br />
para este organismo internacional. Tendo em<br />
atenção o que são riscos e o que são oportunidades”.<br />
Também estamos a definir quais serão as funções deste<br />
organismo: deverá ter funções de monitorização, de<br />
sancionamento, de emergência. Se um dia tudo correr<br />
mal, deverá funcionar como uma Cruz Vermelha Internacional.<br />
É o que estamos a fazer neste momento.<br />
Quando se assume que, tecnicamente, ainda não é<br />
possível encontrar soluções para a implementação de<br />
certas coisas, no fundo o que se está a dizer é que em<br />
certas questões não se pode avançar em termos de regulação…<br />
Mas a regulação não tem de ser só sobre a técnica.<br />
A <strong>IA</strong> não é só uma questão de engenharia. A <strong>IA</strong>,<br />
neste momento, é um sistema social. Inclui as partes<br />
técnicas, mas também inclui as organizações, os engenheiros,<br />
os utilizadores, os juristas. Se não há possibilidade<br />
de resolver as coisas de forma técnica, tem de se<br />
resolver de outra maneira.<br />
Falando do nosso país: acha que esta instabilidade política<br />
poderá pôr em risco projetos como o consórcio<br />
liderado pela Unbabel?<br />
Penso que os consórcios que já estão a trabalhar não<br />
serão afetados. Mas estou extremamente preocupada<br />
com a instabilidade política não só em Portugal, mas<br />
também no mundo. Dentro dos próximos 12 meses vai<br />
haver eleições em 85 países. A <strong>IA</strong> vai ajudar pessoas a<br />
criar notícias falsas, portanto por aí vamos ver a utilização<br />
da <strong>IA</strong> que reflete a inconsciência das pessoas e<br />
o oportunismo. Esta instabilidade vai certamente influenciar<br />
a forma como o desenvolvimento desta tecnologia<br />
vai continuar.<br />
Essa instabilidade poderá influenciar medidas mais<br />
duras de controlo e regulação?<br />
Pode ter esse efeito ou o contrário. Depende para que<br />
lado a instabilidade política vai pender.•<br />
24
As nossas melhores<br />
soluções começam consigo<br />
As nossas soluções digitais para o setor da saúde<br />
garantem o acesso à informação certa, no momento<br />
certo e pelas pessoas certas. Mais agilidade, mais<br />
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com os requisitos regulamentares e de segurança.<br />
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TEXT<br />
em destaque|digital union<br />
26
EAN MED<strong>IA</strong> FREEDOM ACT<br />
NSEGUIRÁ<br />
E PROTEGER<br />
4° PO<strong>DE</strong>R?<br />
a comunicação em roda livre,<br />
eresses dos media tradicionais,<br />
próprios cidadãos, têm de ser<br />
lados antes que o caos se instale.<br />
te disso, a Comissão Europeia<br />
entou a proposta que tenta pôr<br />
m no setor que é um dos mais<br />
rtantes pilares da democracia.<br />
O <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW<br />
27
em destaque|digital union<br />
28<br />
Sabe-se que há décadas o jornalismo tem vindo a<br />
perder a sua influência, de tal forma que o epíteto<br />
de 4º poder, que ganhou nos seus tempos<br />
áureos, já poucas vezes é invocado com convicção.<br />
Os canais de comunicação alternativos, com<br />
destaque para as redes sociais, estão a desviar as audiências<br />
dos meios de comunicação tradicionais e isso<br />
não só abriu uma crise profunda no setor, com títulos<br />
históricos a desaparecer e muitos outros a definhar,<br />
como deu oportunidade a que entidades, nem sempre<br />
idóneas, emergissem no palco mediático. Mas desde<br />
que o trumpismo validou as fake news como alternativa<br />
aceitável à verdade dos factos, e se soube como estas<br />
têm servido para manipular a opinião pública, influenciando<br />
até o resultado de eleições em países democráticos,<br />
soaram os alarmes.<br />
Para proteger os meios de comunicação social de<br />
referência e o jornalismo de qualidade, cujo papel é reconhecido<br />
como essencial na defesa da democracia, a<br />
Comissão Europeia avançou em setembro de 2022 com<br />
uma proposta de regulamento que está agora em apreciação,<br />
o European Media Freedom Act. Tudo apontando<br />
para que este processo seja fechado em breve,<br />
uma vez que o Parlamento<br />
Europeu e o Conselho<br />
Europeu já aprovaram<br />
uma posição comum relativamente<br />
ao documento,<br />
e sabe-se que quando<br />
for aplicado vai impactar<br />
transversalmente todo o<br />
setor dos media nos Estados-membros,<br />
incluindo<br />
as grandes plataformas<br />
online.<br />
Para analisar esta proposta<br />
de Bruxelas, a APDC, em parceria com a VdA,<br />
organizou a 8ª sessão do Digital Union, um ciclo de<br />
iniciativas sobre os temas europeus ligados às TIC.<br />
Nesta sessão, apresentada por Fernando Resina da Silva<br />
(sócio responsável pela área de PI Transacional e da<br />
área de Comunicações, Proteção de Dados e Tecnologia<br />
da VdA) e Sandra Fazenda Almeida (diretora executiva<br />
da APDC), o jurista Tiago Bessa (sócio responsável pela<br />
área de Informática, Comunicação e Tecnologia e pela<br />
área de PI Transacional da VdA) escalpelizou o diploma<br />
e António José Teixeira (diretor de informação da RTP),<br />
Nuno Santos (diretor da CNN Portugal) juntamente<br />
O tema da produção e<br />
divulgação de notícias<br />
geradas por <strong>IA</strong> deu ao<br />
European Media Freedom<br />
Act um caráter de urgência<br />
com Ricardo Costa (diretor de informação da SIC) participaram<br />
num debate conduzido pelo presidente da<br />
APDC, Rogério Carapuça.<br />
Na sua intervenção, Fernando Resina da Silva deixou<br />
claro o quanto é importante, nos tempos que correm,<br />
que “o 4º poder tenha defesas”. Independência,<br />
qualidade, transparência e liberdade de informar são<br />
as condições que, acredita, o Media European Fredom<br />
Act vem acautelar numa altura em que se junta à discussão<br />
sobre a situação dos media, em geral, e do jornalismo<br />
em particular, o tema da produção e divulgação<br />
de notícias geradas por <strong>IA</strong>.<br />
PROTEGER UM BEM ESSENC<strong>IA</strong>L<br />
Será o novo diploma da Comissão Europeia uma resposta<br />
eficaz para todas as questões que se colocam à<br />
volta da produção, divulgação e consumo de informação<br />
e da forma como o mercado dos media está a evoluir?<br />
Tiago Bessa veio a seguir apresentar uma análise<br />
detalhada da proposta da comissão para tentar responder<br />
a esta questão. Chamou a atenção para o facto<br />
de, sendo um regulamento, a partir do momento<br />
em que seja aprovado o Media European Freedom Act<br />
aplicar-se-á diretamente<br />
nos 27 Estados-membros,<br />
assegurando assim a harmonização<br />
da uniformização<br />
das regras aplicáveis.<br />
Lembrou que as “propostas<br />
legislativas não vêm<br />
do nada”, que têm sempre<br />
“um contexto político e<br />
preocupações subjacentes”<br />
e que quando Ursula<br />
von der Leyen veio a público<br />
dizer que “não podemos<br />
tratar os órgãos de comunicação social como qualquer<br />
tipo de negócio”, foi esclarecedor. Revelou que está<br />
muito presente na Comissão Europeia a consciência<br />
de que “a independência e a liberdade que deles emana<br />
é fundamental para os valores que são defendidos pela<br />
UE”. Prova disso foi a série de iniciativas legislativas<br />
entretanto aprovadas para reforçar o setor dos media.<br />
“Tanto para combater a desinformação, como para reforçar<br />
a segurança física dos jornalistas e o pluralismo<br />
do jornalismo”.<br />
O European Media Freedom Act nasceu a partir deste<br />
contexto e, sublinhou Tiago Bessa, é uma proposta que
Nuno Santos (CNN Portugal), Ricardo Costa (SIC) e António José Teixeira (RTP), no debate moderado por Rogério Carapuça (APDC)<br />
revelaram preocupação quanto à real eficácia de algumas medidas previstas no regulamento comunitário que está em discussão<br />
Fernando Resina da Silva: novas regras<br />
vão acautelar a independência e<br />
qualidade dos media<br />
Sandra Fazenda Almeida: pela sua<br />
importância, temática dos media está na<br />
agenda da APDC<br />
Tiago Bessa: sendo um regulamento, o<br />
European Media Freedom Act aplicar-se-á<br />
na UE27<br />
Os três diretores de informação deixaram no ar a certeza de que os desafios que hoje se<br />
colocam aos órgãos de comunicação social não deixam sequer entrever o que trará o futuro<br />
29
em destaque|digital union<br />
30<br />
se orienta em torno de quatro eixos: a independência<br />
editorial, o aumento da transparência, a proteção dos<br />
conteúdos nas plataformas online e a cooperação entre<br />
entidades nacionais e europeias.<br />
As principais novidades que o advogado da VdA<br />
identificou neste documento são medidas que visam<br />
proteger a independência editorial dos fornecedores<br />
de serviços de comunicação social, através de uma série<br />
de direitos que lhes são reconhecidos. Uma das propostas<br />
é a da proibição de medidas adotadas pelo Estado<br />
ou por entidades privadas que tenham como efeito<br />
a interferência nas políticas e decisões editoriais. Tiago<br />
Bessa também referiu como relevante a proibição de<br />
“quaisquer tentativas de revelação de informações,<br />
incluindo as fontes utilizadas pelos jornalistas”, bem<br />
como “a instalação de mecanismos de vigilância e de<br />
espionagem dos fornecedores de serviços de comunicação<br />
social”.<br />
No reforço da proteção da atividade jornalística independente<br />
também existe a preocupação de o legislador<br />
“ obrigar os Estados<br />
-membros a ter mecanismos<br />
que permitam aos<br />
fornecedores de serviços<br />
de comunicação social<br />
recorrerem rapidamente<br />
a uma entidade quando<br />
sentirem os seus direitos<br />
violados”, apontou Tiago<br />
Bessa.<br />
A obrigação de assegurar<br />
a divulgação de informação<br />
sobre os proprietários<br />
dos órgãos de comunicação social também é outra<br />
medida relevante nesta proposta, que visa despistar<br />
conflitos de interesse que possam afetar a independência<br />
editorial.<br />
Existe outra novidade relevante nesta proposta da<br />
comissão, desta feita relativamente à moderação de<br />
conteúdos pelas plataformas digitais, que determina<br />
que essa moderação não se pode basear unicamente<br />
em decisões algorítmicas, sendo pois necessário haver<br />
recursos humanos que façam essa avaliação.<br />
Além do Comité Europeu dos Serviços de Comunicação<br />
Social, uma entidade que já existe e cuja margem<br />
de manobra a CE pretende alargar, o European Media<br />
Freedom Act cria uma figura nova, a do Grupo de Peritos,<br />
que terá representantes da indústria do setor e da<br />
sociedade civil, cuja função é a de assessorar e fiscalizar<br />
a atividade regulatória do comité.<br />
Este conjunto de medidas que Tiago Bessa destacou<br />
para análise foram o mote para a discussão que veio a<br />
seguir entre os representantes de três dos maiores players<br />
do setor da comunicação social em Portugal. Como<br />
A obrigação de divulgar<br />
informação sobre os<br />
proprietários dos órgãos<br />
de comunicação social está<br />
prevista no documento<br />
profissionais do terreno, revelaram sobretudo preocupação<br />
quanto à real eficácia de algumas delas. E no ar<br />
deixaram a certeza de que os desafios que hoje se colocam<br />
ao setor não deixam, sequer, entrever o que se<br />
seguirá no futuro.<br />
PONTAS SOLTAS<br />
“A autonomia não é apenas uma questão regulamentar,<br />
a autonomia também tem a ver com a sustentabilidade<br />
dos projetos em que estamos” – António José<br />
Teixeira, cuja intervenção abriu o debate, pôs o dedo<br />
na ferida, sublinhando que legislar é importante, mas<br />
não é tudo. Admitindo que “em Portugal ainda temos<br />
um ecossistema de baixo risco, ou risco médio quando<br />
se olha para questões de pluralismo e autonomia<br />
editorial”, realça que em contrapartida “a transparência<br />
da propriedade é uma questão crítica” no país:<br />
“Podemos ter atores no mercado cuja razão de ser não<br />
conhecemos e que obviamente prejudicam a saúde e a<br />
convivência dos vários projetos”. Nesse sentido saúda<br />
o facto de o diploma comunitário<br />
pretender introduzir<br />
normas que promovem<br />
a transparência<br />
quanto à propriedade dos<br />
órgãos de comunicação<br />
social, pois esse é um fator<br />
de confiança, que favorece<br />
a independência editorial<br />
e tem repercussões não só<br />
na “saúde da democracia,<br />
mas também na saúde das<br />
empresas”, porque “a confiança<br />
do mercado também depende disso e o facto de<br />
todos respeitarmos regras semelhantes introduz uma<br />
convivência mais saudável”.<br />
Partilhando as mesmas preocupações, Ricardo Costa<br />
apontou o dedo ao regulador: “Nós temos um problema<br />
não na lei, mas no controlo, que é totalmente<br />
ineficaz”. E cita exemplos: “O Álvaro Sobrinho foi dono<br />
de um jornal em Portugal durante vários anos e a Isabel<br />
dos Santos não teve um canal de TV por um triz, embora<br />
não cumprisse nenhuma regra de compliance para<br />
poder ser dona de um órgão de comunicação social”.<br />
Mas a questão da falta de transparência da propriedade<br />
dos órgãos de comunicação social sendo crítica,<br />
não foi o que o diretor de informação da SIC identificou<br />
como o principal problema do setor. “As grandes<br />
plataformas online”, frisa, “é que alteraram totalmente<br />
o ecossistema de media”, pois nunca antes tinham surgido<br />
no mercado “empresas com um poder global tão<br />
grande como estas empresas transnacionais, que têm<br />
controlo nos vários vetores da cadeia de produção, distribuição<br />
e consumo, porque produzem software, são
plataformas de distribuição, são plataformas de venda<br />
de publicidade e de medição de audiências”.<br />
Como fazer para subsistir face a tão imenso poderio?<br />
Nuno Santos confessou que o que mais o inquieta<br />
“é se os media convencionais têm capacidade para ir ao<br />
mercado e conseguir captar receitas suficientes para<br />
manter o mesmo tipo de atividade. A verdade, sublinha,<br />
é que “aconteceram imensas coisas para as quais<br />
os media convencionais, os reguladores e os Estados<br />
não estavam preparados. E isso faz pensar: com tudo<br />
aquilo que temos à nossa frente e não conhecemos,<br />
será que estamos preparados para o que vem a seguir?”<br />
Mesmo para o que já está a acontecer, Ricardo Costa<br />
tem dúvidas de que os players convencionais do setor<br />
estejam preparados: “Com todo o respeito pelo Direito<br />
e muito respeito pelo Jornalismo, se não percebermos<br />
a lógica das plataformas, não estamos a perceber do<br />
que estamos a falar”. Um dado relevante é que, sublinha,<br />
“as plataformas não jogam na ilegalidade, jogam<br />
numa coisa que é muito mais inteligente: estão à frente<br />
da lei. Havia um claim<br />
que se usava muito em<br />
Silicon Valley, quando estas<br />
empresas começaram,<br />
que era: ‘Move fast and break<br />
things” e esse é o lema da<br />
maior parte das tecnológicas,<br />
porque entendem – e<br />
em parte têm razão – que<br />
a regulação pode limitar a<br />
criatividade e a inovação.<br />
É muito difícil contrariar<br />
este princípio, porque é<br />
verdadeiro”.<br />
No âmbito da <strong>IA</strong>, lembrou, uma das discussões gira<br />
precisamente em torno das iniciativas europeias que<br />
se estão a tomar no sentido de regular este mercado:<br />
“O que se diz é que se a Europa regular demais todo o<br />
crescimento da <strong>IA</strong> vai surgir nos EUA ou na China e coloca<br />
a Europa numa situação complicada”.<br />
António José Teixeira concorda que “a globalização<br />
é muito difícil de regular e estas grandes plataformas<br />
talvez sejam a expressão máxima desta globalização”.<br />
Perante a transnacionalidade destas organizações, “o<br />
que fazer”, pergunta, “se existe sempre escapatória”?<br />
Em relação à dificuldade de encontrar abordagens<br />
que se adequem à nova realidade que a tecnologia trouxe,<br />
o diretor da CNN Portugal chamou a atenção para as<br />
assimetrias que certas leis involuntariamente geram no<br />
mercado: “No dia de reflexão”, exemplificou, “por lei os<br />
media estão proibidos de dar notícias sobre a campanha<br />
eleitoral, mas nos sites está lá tudo”. Isto, salienta, “diz<br />
muito sobre o trabalho que não foi feito pelos reguladores<br />
face às mudanças que ocorreram no mundo”.<br />
A sustentabilidade das<br />
empresas jornalísticas foi<br />
identificada como o maior<br />
problema da comunicação<br />
social em Portugal<br />
A figura do regulador europeu, que o European Media<br />
Fredom Act pretende reforçar, também suscitou<br />
comentários, nomeadamente de Ricardo Costa, que<br />
sublinhou o muito cuidado que se deve ter em assegurar<br />
a sua efetiva independência. A propósito de regulação,<br />
também frisou a necessidade de se repensar o tipo<br />
de intervenção que os reguladores devem ter em questões<br />
como a concentração de empresas convencionais<br />
de media, já que as grandes plataformas transnacionais<br />
não são sujeitas a qualquer tipo de restrições.<br />
Sobre a qualidade do jornalismo que hoje se pratica,<br />
Nuno Santos identificou a sustentabilidade das<br />
empresas jornalísticas como o maior problema da comunicação<br />
social em Portugal e deixou uma pergunta<br />
no ar: “Se as receitas que as empresas de media geram<br />
não forem suficientes para produzirem bom jornalismo,<br />
como vai ser?”<br />
Por seu turno, António José Teixeira trouxe à discussão<br />
o tema da velocidade, que considera muito crítica<br />
no jornalismo. “Não podemos desguarnecer uma<br />
frente quase instantânea<br />
da atualidade”, sob pena<br />
de “pôr em causa a sobrevivência<br />
do jornalismo e a<br />
sua justificação”, salientou.<br />
“Mas precisamos de<br />
libertar jornalistas para<br />
fazer jornalismo mais lento,<br />
que acrescente valor”.<br />
O problema, hoje em dia,<br />
é ter de gerir as duas frentes,<br />
adianta.<br />
Nuno Santos refere a<br />
necessidade de se estar presente em múltiplos canais:<br />
“É preciso pôr no ar um canal de 24h de informação, é<br />
preciso ter sempre atualizado um site, é preciso produzir<br />
posts para as redes sociais e fazer os jornais generalistas,<br />
que têm outro ritmo”.<br />
Só é possível responder a tudo isto com recurso à<br />
tecnologia. Ricardo Costa admite que tecnologia e jornalismo<br />
sempre andaram de mãos dadas e que por isso<br />
as novas tecnologias não são o inimigo, pelo contrário.<br />
Mesmo o uso de inteligência artificial para escrever<br />
notícias, desde que meramente factuais, como as da<br />
meteorologia, as que divulgam resultados desportivos<br />
ou a performance das bolsas, não lhe desperta qualquer<br />
objeção. O que é preciso é corrigir as assimetrias que<br />
hoje se observam no mercado, ajustando as leis, dando<br />
condições aos reguladores para exercerem as suas<br />
funções e proteger a atividade dos jornalistas. Para que<br />
as notícias sobre a morte anunciada do jornalismo não<br />
passem de simples fake news.•<br />
31
em destaque|evolve<br />
PARTILHAR,<br />
INSPIRAR<br />
E ACELERAR<br />
MUDANÇA<br />
Multiplicam-se os projetos de<br />
transformação digital. E há muitas<br />
ideias inovadoras, que ajudam<br />
as organizações a acelerar os seus<br />
processos de mudança através<br />
da tecnologia, para garantir o<br />
sucesso num futuro cada vez mais<br />
incerto. Na 2ª edição do EVOLVE,<br />
apresentaram-se 17 casos de<br />
estudo, assim como as respetivas<br />
propostas de valor, oportunidades<br />
e dificuldades.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
32
33
em destaque|evolve<br />
Para o presidente da APDC, é fundamental mostrar exemplos de transformação digital, para que todos possam aprender e inspirar-se<br />
com os casos que estão a ser implementados no mercado nacional, avançando desta forma com os seus processos de mudança<br />
34<br />
Dar a conhecer vários projetos de inovação digital<br />
nas mais variadas áreas e setores de atividade,<br />
já implementados ou em fase de implementação,<br />
foi o objetivo da edição de 2023 do<br />
EVOLVE – Digital Transformation Summit. Sendo a<br />
transição para o digital uma meta transversal a toda a<br />
economia e sociedade, os exemplos apresentados – que<br />
resultam de verdadeiras parcerias entre as tecnológicas<br />
e as organizações – permitiram uma partilha de conhecimentos<br />
com o mercado, inspirando as organizações<br />
a avançarem com os seus processos. É que fazer uma<br />
transição digital não se resume apenas a usar as novas<br />
ferramentas tecnológicas. Vai muito além disso, envolvendo<br />
uma total transformação, que terá de ter em<br />
conta o ecossistema e o que se perspetiva para o futuro.<br />
Do ambiente à educação, passando pela saúde ou a indústria,<br />
entre outros, os 17 estudos de caso mostraram<br />
que a tecnologia pode ser altamente transformadora.<br />
“A transformação digital é uma mudança organizacional,<br />
de modelos de negócio, promovida pela tecnologia<br />
e com o objetivo de aumentar o desempenho<br />
da organização”. A afirmação é de Rogério Carapuça,<br />
Presidente da APDC, na abertura do evento, que voltou<br />
a ser realizado em parceria com a CNN Portugal,<br />
contando com Ana Sofia Cardoso, TV Host CNN Prime<br />
Time na CNN Portugal, e Pedro Santos Guerreiro, diretor<br />
executivo da CNN Portugal, como hosts.<br />
Para o líder da APDC, os temas de gestão são, no<br />
âmbito da transição digital, críticos às empresas, porque<br />
se trata de um processo “com um objetivo determinado<br />
de aumentar o desempenho das organizações.<br />
O que significa que a transformação digital tem de ser<br />
medida para conseguir ser gerida”.<br />
“Estes são os conceitos básicos que queremos ver<br />
sempre num projeto de transformação digital. Pelo<br />
que é fundamental, porque é com exemplos que aprendemos,<br />
mostrar os casos implementados em Portugal,<br />
para que outros saibam como é que se devem posicionar<br />
e o que devem fazer para inspirar a sua ação”,<br />
acrescentou. Deixando claro que “é por isso que fazemos<br />
o EVOLVE, que é um fórum de transformação<br />
digital, mostrando casos reais que estão a acontecer,<br />
com clientes reais e com os associados APDC como<br />
motores deste processo”.<br />
CONHECIMENTO NÃO TEM DONO,<br />
TEM BENEFICIÁRIOS<br />
São iniciativas como o EVOLVE que permitem desenvolver<br />
as capacidades analíticas e críticas dos líderes<br />
empresariais. Acresce que integra múltiplas perspeti-
Para acelerar a transformação digital da Administração Pública, Mário Campolargo lança um repto<br />
ao setor das TIC: “Ajudem-nos neste exercício”<br />
São iniciativas como o<br />
EVOLVE que permitem<br />
desenvolver capacidades<br />
críticas dos líderes<br />
empresariais<br />
vas, que permitem “alavancar a inteligência coletiva,<br />
para aprendermos com os sucessos e erros, os nossos<br />
e os dos outros”- a afirmação é do secretário de Estado<br />
da Digitalização e da Modernização Administrativa.<br />
Para Mário Campolargo, “na era em que os dados, a informação<br />
e o conhecimento convergem a uma velocidade<br />
incrível, o conhecimento já não tem donos. Tem,<br />
de facto, apenas beneficiários”.<br />
É que o processo<br />
de transformação chegará<br />
a todas as entidades,<br />
tendo os seus líderes um<br />
papel importante a desempenhar,<br />
como “embaixadores<br />
das suas empresas<br />
e criadores de moldes de<br />
decisão”, para a definição<br />
de uma visão, missão, dos<br />
recursos necessários e dos<br />
vários modos para a alcançar.<br />
Há ainda, na sua<br />
perspetiva, que “dar mais voz aos gestores intermédios<br />
e trabalhadores de primeira linha. Sem o seu feedback,<br />
estaremos condenados a uma espécie de miopia que a<br />
distância ao terreno e à sua realidade inevitavelmente<br />
pode produzir”, pois é a eles que compete “fazer a<br />
articulação entre a visão e estratégia desenhadas pelos<br />
líderes e a sua transposição para os domínios concretos<br />
em que as empresas fazem os seus negócios. São também<br />
eles que têm de mobilizar a linha da frente para<br />
atingir os objetivos, tendo assim uma posição privilegiada<br />
para gerir e implementar a mudança, antecipar<br />
tendências e enfrentar<br />
todos os desafios do negócio”.<br />
Para o governante, nenhum<br />
líder pode esquecer<br />
o ‘porquê’ de querer avançar<br />
com a transformação<br />
digital: as pessoas. São elas<br />
o “foco comum. Por mais<br />
algoritmos que coloquemos<br />
no processo de trabalho,<br />
por maior que seja<br />
a facilidade de utilização<br />
e tratamento de dados,<br />
ou a utilização de tecnologias como a <strong>IA</strong>, nada consegue<br />
ainda rivalizar com a inteligência natural, mesmo<br />
quando está em patamares medianos”.<br />
“Quero encorajar todos a digitalizar e a fazê-lo ati-<br />
35
em destaque|evolve<br />
36<br />
vamente, porque precisamos de tornar a nossa vida<br />
mais fácil, conveniente e mais bela. O digital pode ajudar-nos<br />
nisso, mas apenas ajudar, não será capaz de o<br />
fazer por nós. Esse é o trabalho da liderança humana,<br />
de motivar as pessoas a auto-superarem-se, utilizando<br />
as ferramentas que têm ao seu dispor, incluindo todas<br />
as ferramentas tecnológicas”, considera.<br />
Neste âmbito, também a Administração Pública<br />
tem pautado a sua atuação “por uma tentativa constante<br />
de identificar os desafios e os problemas e apresentar<br />
soluções que simplifiquem a vida das pessoas,<br />
das empresas e promovam a transformação digital do<br />
país”. Sempre “em diálogo com todos os agentes de diferentes<br />
setores. Por isso, deixo um repto: ajudem-me<br />
neste exercício, façam parte dele”, remata.<br />
MENTE ABERTA À MUDANÇA<br />
Mas como se antecipa o futuro, no âmbito da inexorável<br />
transformação digital das organizações? Especialista<br />
nesta área, Paulo<br />
Cardoso do Amaral, que<br />
pelo 2º ano consecutivo<br />
Os estudos de caso<br />
apresentados nesta edição<br />
ajudam a criar propostas<br />
de valor que podem ditar o<br />
sucesso das organizações<br />
foi o Coordenador Científico<br />
do EVOLVE, garante<br />
que “não basta olhar para<br />
as tecnologias e usá-las.<br />
É preciso fazer as contas<br />
seguintes, determinando<br />
em que medida o ambiente<br />
competitivo poderá ou<br />
não ser favorável para se<br />
ter sucesso”.<br />
Na sua perspetiva, os<br />
estudos de caso apresentados permitem “perceber as<br />
dificuldades e as oportunidades que a tecnologia nos<br />
dá e a evolução que possibilita, ajudando a criar uma<br />
boa proposta de valor, que poderá ditar o sucesso de<br />
uma organização no futuro. Mas só isto não chega, até<br />
porque propostas de valor com tecnologia já existem<br />
há muito tempo e nem todas deram certo. É preciso ter<br />
cuidado”, neste “momento que estamos a viver, particularmente<br />
importante, porque a revolução digital vai<br />
acontecer ao país e à estrutura económica, com impacto<br />
nas empresas e na estratégia”.<br />
Há que saber “o que aí vem em termos de ambiente<br />
competitivo” para se poder avançar com um processo<br />
de mudança, utilizando de forma diferente a tecnologia,<br />
pois só assim se garantirá o futuro. “Temos de<br />
saber como usar a tecnologia para fazer diferente, ser<br />
inovador no que ainda não foi experimentado”, considera.<br />
Os casos apresentados permitem “partilhar exemplos<br />
que podem acelerar o processo de aprendizagem,<br />
para que quem vá utilizar a tecnologia saiba onde é que<br />
estão as vantagens e oportunidades, assim como as<br />
dificuldades”. Mas é preciso ir mais além, contextualizando<br />
o negócio e a estratégia, para ver se é favorável<br />
e “tentar encontrar propostas de valor que utilizem<br />
ao máximo as suas potencialidades para fazer coisas<br />
novas e diferentes. Isso requer aprendizagem e a visão<br />
do test and fail das startups”.<br />
Para este responsável, Portugal tem o problema da<br />
sua pequena dimensão, numa UE com “uma visão draconiana<br />
de regulação. Não ganhamos vantagens com a<br />
economia de escala da Europa. Prova disso é que as big<br />
tech estão todas do outro lado do Atlântico e deste lado<br />
não tem havido oportunidades”. Pelo que “a capacidade<br />
de crescer rapidamente num país com a nossa dimensão<br />
tem dificuldades próprias. Significa que temos<br />
de pensar em que medida é que vamos ter sucesso com<br />
as novas tecnologias”.<br />
Cada vez mais, “ganhar<br />
dinheiro com as novas<br />
tecnologias passa muito<br />
por efeitos de rede. Todos<br />
os modelos implicam ter<br />
alguma escala. Temos de<br />
encontrar formas de rentabilizar<br />
a proposta de valor,<br />
olhando sempre para<br />
o que é o equilíbrio competitivo<br />
em que estamos<br />
a trabalhar”. E “uma boa<br />
parte do nosso raciocínio<br />
vai ser treinar a forma de<br />
criar valor”, porque “as tecnologias que vamos utilizar<br />
amanhã para o nosso sucesso não são as que estamos a<br />
usar hoje” e o que “vem aí é ecossistémico”.<br />
Portugal já está a desenhar uma estratégia nacional<br />
para lhe responder, o que “significa que há várias<br />
entidades que vão entrar nesta equação e que podem<br />
alterar o ambiente competitivo. Uma delas, muito<br />
importante, é a AP, que é o sustentáculo do funcionamento<br />
da economia regulada: se funciona bem, temos<br />
sucesso, se funciona mal, vai complicar a vida a<br />
todos”, alerta.<br />
Mas esta estratégia está também ligada às decisões<br />
de Bruxelas. “Os regulamentos estão a levar a Europa<br />
para um ambiente competitivo muito mais nivelado,<br />
o que significa que as nossas empresas já não dependem<br />
só dos nossos reguladores”, comenta o especialista,<br />
deixando claro que “o mundo está a mudar, assim<br />
como as cadeias de valor”, num conjunto de alterações<br />
ecossistémicas em que até passará a ser possível “dese-
Paulo Cardoso do Amaral, que voltou a ser o coordenador científico da iniciativa, avisa que há que saber usar<br />
a tecnologia para fazer diferente<br />
nhar ecossistemas de raiz, o que nunca aconteceu. Até<br />
agora, os ecossistemas foram sempre consequência do<br />
que são as várias empresas a competir. Mas vamos poder<br />
criá-los by design, definir a regulação e só a seguir é<br />
que as empresas vão competir entre si, tentando a sua<br />
sorte. Para o fazer, têm de perceber bem em que ecossistema<br />
estão a trabalhar e como é que ele pode evoluir”.<br />
Tendo em conta esta visão, dentro de um ano ou<br />
dois, espera ter “exemplos que começam a olhar para<br />
a transformação da cadeia de valor e o desenho do<br />
ecossistema, em particular os ecossistemas auto-executáveis.<br />
A tecnologia por detrás disto chama-se web3<br />
e já não blockchain e a abordagem chama-se tokenização.<br />
Está na altura de começarmos todos a pensar nisso,<br />
porque as oportunidades são inúmeras, tal como<br />
quando nos anos 90 aconteceu com a web”. Por isso, recomenda<br />
que se estudem os casos, mas com a “mente<br />
aberta à mudança, porque o que aí vem é excitante”.•<br />
Ana Sofia Cardoso e Pedro Guerreiro, jornalistas da CNN<br />
Portugal, foram de novo os hosts desta 2ª edição do EVOLVE<br />
https://bit.ly/47mXWHV<br />
https://bit.ly/47nQZXj<br />
https://bit.ly/47nR8Kl<br />
37
em destaque|evolve<br />
38
17 ESTUDOS <strong>DE</strong> CASO<br />
PARA ALAVANCAR<br />
INTELIGÊNC<strong>IA</strong> COLETIVA<br />
1<br />
PLATAFORMA DIGITAL RESERVAS<br />
DA BIOSFERA <strong>DE</strong> PORTUGAL<br />
AX<strong>IA</strong>NS | UNIVERSIDA<strong>DE</strong> NOVA <strong>DE</strong><br />
LISBOA<br />
É UM PROJETO pioneiro para acelerar<br />
e amplificar o impacto dos planos<br />
traçados para as 12 Reservas da<br />
Biosfera portuguesas e foi proposto<br />
pela comunidade científica nacional<br />
para ajudar a UNESCO. Maria Fernanda<br />
Rollo, Professora Catedrática<br />
da Universidade Nova de Lisboa,<br />
diz que ao cuidar das reservas<br />
da biosfera “estamos a garantir o<br />
nosso futuro. O projeto destina-se<br />
a valorizar estas reservas, com um<br />
portal dinâmico e partilhado, para<br />
ir mais longe. A nossa ambição é do<br />
tamanho do mundo. Sendo a Axians<br />
o parceiro, queremos fazer muito<br />
mais do que já temos. A revolução<br />
digital é brutal e o seu potencial, com<br />
um parceiro tecnológico, é enorme”.<br />
Assim, foi criada a Plataforma Digital<br />
Reservas da Biosfera de Portugal,<br />
que dá a conhecer a realidade dos<br />
territórios, “um espaço para dar<br />
visibilidade, colocando os territórios<br />
no palco mundial, com a importância<br />
universal que merecem e com<br />
impacto no futuro do nosso planeta”,<br />
explica Sónia Frazão, business developer<br />
manager da Axians. E, como<br />
não havia uma solução tecnológica<br />
no mercado pronta a entregar, foi<br />
necessário “desenhar uma à medida<br />
da ambição do projeto. Foi o que<br />
fizemos, numa relação de parceria”,<br />
acrescenta. Esta solução permite<br />
aos gestores das reservas disporem<br />
de um conjunto de ferramentas<br />
de capacitação, gestão, partilha e<br />
colaboração, desafiando as várias<br />
comunidades (como residentes e<br />
turistas) a apoiar e agir sobre estes<br />
territórios.<br />
2<br />
DIGITALIZAÇÃO DO ENSINO COMO<br />
PILAR <strong>DE</strong> UM FUTURO MAIS<br />
PROMISSOR<br />
MEO EMPRESAS | INSTITUTO P<strong>IA</strong>GET<br />
A TRANSFORMAÇÃO digital foi um<br />
objetivo estratégico definido pelo<br />
Instituto Piaget, num processo de<br />
mudança em várias frentes. Jorge<br />
Patrício, diretor comercial B2B da<br />
MEO Empresas, explica que os pilares<br />
do projeto foram a digitalização de<br />
processos, com a criação de uma<br />
plataforma digital, a par da gestão<br />
documental, das plataformas colaborativas<br />
e da mobilidade, com wifi de<br />
alta capacidade. “Usámos tecnologia<br />
de ponta para colocar todos os polos<br />
com conetividade de alta qualidade.<br />
E temos mais projetos, com recurso a<br />
big data, <strong>IA</strong>, cibersegurança ou energias<br />
verdes, ligadas à sensorização e<br />
gestão remota da eficiência energética.<br />
Todos desenvolvidos em rede”,<br />
salienta. Um ano depois da sua implementação,<br />
a instituição tem “uma<br />
flexibilidade que dá uma capacidade<br />
de resposta sem paralelo”, refere Luis<br />
Moreira, coordenador executivo para<br />
as áreas da Qualidade, IT e Investigação<br />
do Instituto Piaget. “As mudanças<br />
foram verdadeiramente profundas.<br />
Além da alteração tecnológica, foi<br />
necessário capacitar pessoas, rever<br />
processos e procedimentos. Não há<br />
transformação numa sala de aula colocando<br />
apenas a tecnologia à disposição<br />
do professor. Exige formação.<br />
Foi um processo transversal a toda a<br />
organização, com ganhos de tempo e<br />
qualidade que beneficiam a comunidade.<br />
Não esperava que o processo<br />
fosse tão doloroso. A cultura é o mais<br />
difícil de vencer e a nossa mudança<br />
foi radical e teve muitas resistências<br />
internas. Mas hoje não há a menor<br />
dúvida da facilidade que traz à vida<br />
de todos”, salienta.<br />
Romper com a<br />
cultura instalada<br />
é um processo<br />
complexo mas<br />
necessário<br />
39
em destaque|evolve<br />
40<br />
3<br />
O POTENC<strong>IA</strong>L DO 5G NA EDUCAÇÃO<br />
VODAFONE | ESCOLA SECUNDÁR<strong>IA</strong><br />
CAMILO CASTELO BRANCO<br />
ATRAVÉS da rede 5G da Vodafone<br />
e de óculos de realidade virtual,<br />
os alunos da Escola Secundária<br />
Camilo Castelo Branco, em Vila Real,<br />
tiveram a oportunidade de assistir<br />
remotamente a uma intervenção,<br />
filmada em 360º, de vários oradores.<br />
Acederam ainda a uma pequena<br />
biografia de Camilo Castelo Branco,<br />
contada “na primeira pessoa”, no<br />
âmbito da qual percorreram virtualmente<br />
a casa do escritor, situada<br />
em Famalicão. O estudo de caso foi<br />
desenvolvido há menos de um ano,<br />
evidenciando o potencial do 5G e da<br />
RV na Educação. Como afirma Sérgio<br />
Silva, sales and business director da<br />
Cycloid, a “tecnologia por si só não<br />
faz a diferença. Tem de ter capacidade<br />
de inovar e transformar a educação.<br />
Conseguimos, de uma forma<br />
simples e rápida, conciliar as novas<br />
tecnologias – com recurso à rede 5G,<br />
computação, cloud e <strong>IA</strong> – para ir ao<br />
encontro de uma solução inovadora<br />
de ensino. A tecnologia traz valor<br />
e os benefícios como soluções de<br />
realidade virtual são percetíveis”. A<br />
meta foi mostrar “como é que pode<br />
o ensino do futuro ser diferente,<br />
fazendo-se melhor e extraindo mais<br />
valor. Foi um grande insight ter<br />
professores e alunos nativos digitais.<br />
O papel da tecnologia na edução<br />
está em debate e o 5G acaba por<br />
trazer um layer de disponibilidade<br />
tecnológica para o futuro. A forma<br />
como o conteúdo e a formação é<br />
apresentada ao aluno transforma<br />
a aprendizagem, que é vivida na 1ª<br />
pessoa”, acrescenta Nuno Bastos,<br />
manager de Go2Market empresarial<br />
da Vodafone.<br />
4<br />
INDÚSTR<strong>IA</strong> 4.0 COM 5G: UM CASO<br />
<strong>DE</strong> INOVAÇÃO<br />
NOK<strong>IA</strong> | ALTICE | NOVA<strong>DE</strong>LTA<br />
É UM PROJETO piloto da Indústria<br />
4.0 que usa uma rede 5G privada<br />
para controlar robôs inteligentes no<br />
chão de fábrica, um braço robótico,<br />
um veículo autónomo e um digital<br />
twin 3D. Esta solução integrada foi<br />
demonstrada em exclusivo para a<br />
Novadelta, unidade industrial do<br />
Grupo Nabeiro. Trouxe ao processo<br />
produtivo maior eficiência, segurança<br />
e qualidade, com uma plataforma<br />
de conetividade industrial que possibilita<br />
automação, fiabilidade, previsibilidade<br />
e segurança nos processos<br />
de fabrico. João Nunes, industrial<br />
director da Novadelta, diz que “com<br />
a ajuda dos parceiros, foi o momento<br />
certo para avançar com o piloto.<br />
Estamos agora na fase de implementação.<br />
Abriram-se novos mundos<br />
e criou-se a confiança de que<br />
queremos mais e que vale a pena<br />
experimentar”. Sendo as exigências<br />
de complexidade e diversidade de<br />
produtos e cadeias logísticas cada<br />
vez maiores no grupo, “só é possível<br />
dar resposta com digitalização”.<br />
Mário Seborro, diretor comercial da<br />
Altice, refere que “o grande objetivo<br />
do piloto foi apoiar a Novadelta no<br />
caminho da transformação digital e<br />
operacional, garantindo mais eficiência<br />
e melhores produtos finais. No<br />
caso da indústria, vivemos um novo<br />
paradigma, onde o homem tende a<br />
não dar instruções à máquina, mas a<br />
fazer recomendações aos humanos”.<br />
Marco Raposo, campus wireless<br />
sales manager da Nokia, acrescenta<br />
que trouxeram “uma solução e um<br />
conjunto de tecnologias com tempos<br />
de implementação muito mais<br />
rápidos, para dar vantagem competitiva.<br />
Há um tempo de inovação e<br />
outro de investimento. A automação<br />
e visibilidade do negócio em tempo<br />
real vão permitir aumentar a rentabilidade”.<br />
5<br />
MANUTENÇÃO PREDITIVA EM<br />
AMBIENTE <strong>DE</strong> REFINAR<strong>IA</strong><br />
CAPGEMINI | GALP<br />
ANTECIPAR os problemas dos equipamentos<br />
e atuar preventivamente<br />
em ambiente de refinaria era uma<br />
necessidade da Galp. A resposta foi<br />
a implementação de um modelo<br />
preditivo, com um dashboard por<br />
equipamento, para deteção de anomalias,<br />
obtendo-se alertas prévios<br />
de desvios à operação normal. “A refinaria<br />
de Sines é o maior complexo<br />
industrial do país e o mais difícil de<br />
operar. A nossa ambição é utilizar a<br />
transformação digital como alavanca<br />
de mudança do negócio. Queremos<br />
construir um green energy hub<br />
e este projeto é um dos primeiros<br />
passos para reduzir o nosso impacto<br />
ambiental e ter operações mais<br />
seguras e mais eficientes”, explica<br />
Bruno Teles, head of operational &<br />
digital excellence, Galp. Havia que<br />
dar resposta a dois desafios – integrar<br />
a camada OT com a camada IT e<br />
limpar os dados industriais – que já<br />
foram endereçados, o que permi-
tiu obter “metas de performance<br />
muito importantes para a gestão<br />
da mudança”, acrescenta. Bruno<br />
Santos, hybrid intelligence country<br />
director da Capgemini Engineering,<br />
explica que “o projeto passou por<br />
duas fases: a primeira, de conceito,<br />
para testar os objetivos: a segunda,<br />
do roll-out, com a implementação de<br />
modelos de machine learning. Isto só<br />
se faz com pessoas para implementar<br />
estas ideias e iniciativas e por<br />
capacidade de integração”. Na sua<br />
ótica, a indústria tem “um caminho<br />
grande de transformação digital por<br />
fazer. É um processo associado às<br />
linhas de produção, onde estão a<br />
ser dados os primeiros passos, pela<br />
complexidade que acarreta, mas<br />
também pela tecnologia que implica.<br />
Temos tecnologias novas, como o<br />
5G, AI e IoT, que permitem acelerar”.<br />
6<br />
INTERFACE DIGITAL <strong>DE</strong><br />
ENGAGEMENT E COLABORAÇÃO<br />
SALESFORCE | MONERIS<br />
O PROJETO consiste numa plataforma<br />
que permite digitalizar processos<br />
e cria uma interface de engagement<br />
e colaboração. A solução permite,<br />
na interface interna da Moneris, que<br />
os contabilistas e gestores tenham<br />
acesso a toda a informação relevante<br />
sobre clientes, às tarefas desempenhadas<br />
e a desempenhar e ao<br />
histórico de interações, além da colaboração<br />
entre departamentos ou o<br />
contacto direto com o cliente. Automatizar<br />
workflows e medir de forma<br />
automática KPIs relevantes, com<br />
ganhos de eficiência operacional,<br />
são outras vantagens. Já na interface<br />
externa, criou-se um portal onde os<br />
clientes podem, em modo self-service,<br />
consultar documentos, partilhar<br />
informação com os contabilistas,<br />
ter acesso a informação relevante e<br />
facilmente entrar em contacto com a<br />
empresa. Tratou-se, segundo Carlos<br />
Duarte de Oliveira, founder &<br />
chairman da Moneris, de “elevar<br />
o paradigma do sistema de contabilidade,<br />
mudando a forma tradicional<br />
de desenvolver a atividade,<br />
crescendo, gerando valor e retendo<br />
e atraindo colaboradores”. O que<br />
implicava uma “transformação digital<br />
assente em plataformas eficientes.<br />
Encontrámos na Salesforce a solução<br />
que não nos obrigava a inventar a<br />
roda”. Tiago Machado, sales manager<br />
da Salesforce, explica que neste<br />
perfil de projetos “há que ter um<br />
objetivo de negócio muito claro, para<br />
delinear um business case e um processo<br />
de transformação. A Moneris<br />
tem um business case muito claro e<br />
vamos acompanhá-la na medição<br />
das metas que definiu, além de<br />
introduzirmos novas funcionalidades<br />
e inovações, e de potenciar a <strong>IA</strong><br />
generativa no modelo, o que poderá<br />
ser um game changer no negócio”.<br />
7<br />
OBSERVABILIDA<strong>DE</strong> INTELIGENTE:<br />
UM CASO NA BANCA<br />
INETUM | CGD<br />
A INTRODUÇÃO de uma solução<br />
líder em observabilidade inteligente<br />
na CGD permitiu uma mudança de<br />
paradigma na instituição bancária,<br />
em termos de análise de dados e de<br />
capacidade de resposta. Com acesso<br />
a dados contextualizados sobre o<br />
desempenho dos sistemas e a jornada<br />
dos seus clientes, a instituição<br />
passou a compreender as causas de<br />
raiz, podendo desta forma antecipar<br />
comportamentos e oferecer aos<br />
clientes uma experiência mais rica<br />
e sustentável. A plataforma de inteligência<br />
de software é baseada em<br />
<strong>IA</strong> e automação e permitiu já “uma<br />
transformação muito interessante.<br />
Começámos a dar os primeiros<br />
passos e hoje conseguimos ver já<br />
um conjunto de informação que nos<br />
permite atuar antecipadamente. Percebemos<br />
todo o caminho do cliente<br />
e, com a utilização da <strong>IA</strong>, temos uma<br />
capacidade enorme para ver todos<br />
os eventos, olhar para tendências e<br />
resolver”, explica Nuno Pedrosa, IT<br />
coordinator da CGD, que admite que<br />
o processo “obrigou a uma mudança<br />
de cultura dentro da organização”.<br />
Sandra Monraia, sales director da<br />
Inetum, diz que “projetos como este<br />
permitem reduzir as falhas e eliminá-las,<br />
evitando a perda de clientes,<br />
não apenas na área financeira, mas<br />
em todos os setores”. A identificação<br />
dos problemas de forma<br />
automática, através da utilização de<br />
<strong>IA</strong>, “faz toda a diferença”, ainda mais<br />
porque a solução também encontra<br />
remédios. Além de reduzir a “inatividade,<br />
os custos operacionais, eliminar<br />
ferramentas antigas e deixar de<br />
existir uma dependência de equipas<br />
especializadas. Depois, há benefícios<br />
intangíveis, como a reputação da<br />
marca e a redução do risco de perda<br />
de clientes”.<br />
A transformação<br />
digital pode ser<br />
um game changer<br />
num negócio, se<br />
implementada no<br />
timing certo<br />
41
em destaque|evolve<br />
42<br />
8<br />
DIGITALISM - PROGRAMA <strong>DE</strong><br />
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO<br />
RETALHO<br />
ACCENTURE | WORTEN<br />
A DIFERENC<strong>IA</strong>ÇÃO face ao mercado,<br />
com um posicionamento de “empresa<br />
digital, com lojas físicas e um<br />
toque humano”, complementado<br />
pela visão de uma “loja tudo-em-um”<br />
para todas as necessidades (com<br />
uma visão integrada de uma gama<br />
virtualmente infinita de produtos e<br />
serviços), foi o objetivo estratégico<br />
da Worten. Para o alcançar, foi criada<br />
uma solução de transformação<br />
total da arquitetura de TI, para criar<br />
a necessária flexibilidade e agilidade.<br />
Esta arquitetura Darwin, que<br />
alavanca os princípios de micro-serviços<br />
e da cloud, permite separar as<br />
camadas de interação com o cliente<br />
das camadas transacionais e dos<br />
sistemas analíticos, para que cada<br />
uma evolua de forma independente<br />
e à velocidade exigida. O projeto está<br />
em fase de implementação e Felipe<br />
Ferreira, head of digital transformation<br />
da Worten, diz que “desde que<br />
começámos o programa, os principais<br />
indicadores da organização<br />
estão a reforçar-se”. Para o gestor,<br />
“transformar as experiências de<br />
clientes e colaboradores é o nosso<br />
foco e o digital tem um poder desbloqueador<br />
enorme, porque permite<br />
fazer a quadratura do círculo: criar<br />
o melhor ambiente para trabalhar,<br />
com informação fluida; e ser o<br />
melhor lugar para comprar, usando<br />
tecnologia e estando mais próximo<br />
dos clientes”. Miguel Veloso, senior<br />
manager na área de Retalho e<br />
Consumo da Accenture, acrescenta<br />
que esta iniciativa “tem uma enorme<br />
abrangência e profundidade. É uma<br />
transformação total e de grande<br />
envergadura. Os principais desafios<br />
que enfrentámos foi na rapidez da<br />
sua execução”.<br />
9<br />
PROCESS MINING NA OTIMIZAÇÃO<br />
DA LOGÍSTICA E PROCUREMENT<br />
CELONIS | MOTA ENGIL<br />
GARANTIR a otimização do processo<br />
de logística e de procurement da<br />
Mota Engil era o objetivo, tendo sido<br />
desenvolvida uma aplicação de process<br />
minning. Foram ainda definidos<br />
os KPIs estratégicos a monitorizar,<br />
de acordo com os eixos da compliance,<br />
produtividade e spend reduction,<br />
com focalização em use cases mais<br />
relevantes. “O process mining é algo<br />
de verdadeiramente inovador nos<br />
nossos processos e uma ferramenta<br />
para ganhar capacidade e transformar.<br />
Temos um plano estratégico<br />
a cumprir até 2026 e dois dos cinco<br />
eixos inserem-se na abordagem do<br />
process mining: eficiência e inovação.<br />
Havia um claro business case para a<br />
implementação do process mining da<br />
Celonis. O desafio que temos hoje é<br />
garantir um verdadeiro impacto na<br />
organização e captar o valor que é<br />
gerado, da monetização. Queríamos<br />
uma solução que fosse um game<br />
changer na otimização de processos,<br />
tempos e redução de custos. É uma<br />
mudança radical, que numa 2ª fase<br />
vamos estender a outros processos”,<br />
explica Filipe Morla, head of Transformatio<br />
da Mota-Engil. Rui Peixoto,<br />
process mining lead da empresa,<br />
acrescenta que com a solução, “mais<br />
do que uma mera plataforma, temos<br />
a capacidade de acompanhar os<br />
processos do início ao fim, de todas<br />
as atividades e de ter uma visão mais<br />
clara. Vemos onde podemos melhorar<br />
e podemos analisar e avaliar<br />
todos os processos e sub-processos”.<br />
Paulo da Silva, strategic account<br />
executive da Celonis, confirma que<br />
“uma das grandes componentes da<br />
solução é a capacidade de medição<br />
do impacto da utilização da ferramenta<br />
no negócio e na organização.<br />
Este é um ponto importante e a<br />
dificuldade é ter pessoas dispostas<br />
a isso”.<br />
10<br />
IMPLEMENTAÇÃO <strong>DE</strong> MO<strong>DE</strong>LO <strong>DE</strong><br />
LOGÍSTICA INTELIGENTE<br />
GLINTT | CLC - COMPANH<strong>IA</strong> LOGÍSTICA<br />
<strong>DE</strong> COMBUSTÍVEIS<br />
O <strong>DE</strong>SAFIO era evoluir digitalmente,<br />
a partir de um conjunto de processos<br />
importantes que eram realizados<br />
recorrendo a aplicações desenvolvidas<br />
empiricamente em excel. Com<br />
a ajuda da Nexllence by Glintt foi<br />
possível dar o salto, incorporando<br />
conhecimento assente em pessoas<br />
para dentro de algoritmos e sistemas<br />
e eliminando dependências críticas.<br />
Entre os benefícios já obtidos<br />
estão: os cálculos mais detalhados e<br />
de rápido acesso; a maior agilidade<br />
na comunicação entre áreas; e a<br />
obtenção, atempada e com menor<br />
esforço, de informação relevante<br />
e de qualidade para uma melhor<br />
tomada de decisão. Foi um projeto<br />
complexo, mas “bem-sucedido, pois<br />
trouxe maior eficiência, eliminando-
se processos redundantes. Pusemos<br />
as pessoas a trabalhar no conhecimento<br />
da informação e não na sua<br />
criação, integraram-se os processos<br />
contabilísticos e garantiu-se o<br />
reforço da fiabilidade, eliminando<br />
erros do sistema. Na automatização,<br />
o processo mais complexo, foi um<br />
passo gigantesco. Hoje, estamos<br />
muito mais produtivos e eficazes na<br />
tomada de decisão”, destaca José<br />
Eduardo Sequeira Nunes, administrador-delegado<br />
da CLC. Tratou-se,<br />
nas palavras de Nelson Teodoro,<br />
chief commercial officer, da Nexllence<br />
powered by GLINTT, “de<br />
um projeto único”. Conhecer este<br />
negócio “foi difícil”, afirmou, “porque<br />
é muito específico e o desafio foi<br />
adquirir esse know-how – estamos a<br />
falar de ter algoritmos de química.<br />
Olhando ao triângulo clássico de<br />
pessoas, processos e tecnologia, a<br />
primeira não tem limites. Foram as<br />
pessoas que acabaram por fazer a<br />
diferença e determinar o sucesso da<br />
sua implementação”.<br />
11<br />
SOLUÇÃO <strong>DE</strong> ANÁLISE <strong>DE</strong> DADOS<br />
ILIMITADA NA SAÚ<strong>DE</strong><br />
DXC TECHNOLOGY | LUSÍADAS SAÚ<strong>DE</strong><br />
O PROJETO teve como objetivo a<br />
migração da Lusíadas Saúde para<br />
uma solução de análise de dados<br />
ilimitada, através de Azure Synapse,<br />
depois de identificada a necessidade<br />
de substituição de ferramentas de<br />
hardware e software dispersas pelo<br />
grupo. A nova solução permite uma<br />
camada de business intelligence e de<br />
analítica avançada sem paralelo e<br />
os benefícios já são evidentes em<br />
termos de desempenho e escalabilidade<br />
automática. A melhoria da<br />
performance já é superior a 20%, com<br />
total escalabilidade e elasticidade, o<br />
que permite adicionar, sempre que<br />
necessário, novos serviços e novos<br />
casos de uso decorrentes das necessidades.<br />
Como explica Filipe Pereira,<br />
business intelligence manager da<br />
Lusíadas Saúde, tudo decorreu da<br />
“exigência de uma crescente rapidez<br />
no processamento de dados e da<br />
necessidade de dar resposta ao<br />
crescimento orgânico do grupo”.<br />
Assim, “implementou-se um projeto<br />
de migração para a cloud para maior<br />
flexibilidade”, num processo que<br />
decorreu de forma célere e organizada,<br />
graças à parceria com a DXC.<br />
A solução está dimensionada para<br />
as necessidades, mas “vai crescendo<br />
com a atividade da Lusíadas Saúde.<br />
Sendo na área da saúde, tivemos<br />
ainda de ter uma grande preocupação<br />
com o acesso aos dados e a sua<br />
disponibilização. Era importante,<br />
porque o grupo ia dar o primeiro<br />
passo fora do perímetro do seu data<br />
center, evoluindo para a cloud. Foi<br />
necessário pensar, desenhar e acordar<br />
como seria a governance dos dados”,<br />
salienta Dina Gaspar, Account<br />
Executive da DXC Technologies.<br />
12<br />
EVICR.NET - BASE <strong>DE</strong> DADOS<br />
EUROPE<strong>IA</strong> EM OFTALMOLOG<strong>IA</strong><br />
CGI | EVICR.NET<br />
A I<strong>DE</strong><strong>IA</strong> foi criar uma iniciativa a longo-prazo<br />
destinada a recolher dados<br />
anonimizados e estudos, agregando<br />
-os no EVICR.net, uma rede europeia<br />
de centros de investigação clínica em<br />
oftalmologia, já com 98 centros de<br />
17 países, dedicada à realização de<br />
investigação clínica multinacional.<br />
Assim, foi criada uma plataforma tecnológica<br />
comum para reutilização de<br />
dados para fins de investigação clínica,<br />
que responde aos requisitos de<br />
privacidade, segurança e regulação,<br />
associados à partilha de dados entre<br />
instituições e países. É privilegiada a<br />
informação em formato de imagem.<br />
Como refere Luis Mendes, investigador<br />
e técnico de desenvolvimento de<br />
software da AIBILI - Associação para<br />
Investigação Biomédica e Inovação<br />
em Luz e Imagem, “vivemos numa<br />
época em que para desenvolver algoritmos<br />
de <strong>IA</strong> é preciso um grande<br />
volume de dados com qualidade. A<br />
ideia da plataforma é disponibilizar<br />
dados padronizados para serem<br />
utilizados por farmacêuticas e<br />
investigadores, a partir de realidades<br />
computacionais completamente diferentes,<br />
para partilha de informação”.<br />
Assim, recorreu-se a uma “plataforma<br />
cloud, usando diversos componentes<br />
para guardar as imagens<br />
oftalmológicas de alta qualidade, e a<br />
tecnologia para garantir a acessibilidade<br />
correta dos dados, definindo-<br />
-se quem acede a quê, assim como<br />
a encriptação dos dados, seja onde<br />
a informação está guardada, seja<br />
quando está em trânsito”, acrescenta<br />
Paulo Pena, director consulting da<br />
CGI, para quem se trata de “uma iniciativa<br />
de fundo, para ter uma base<br />
de dados, onde seguramente haverá<br />
mais desafios associados, que vão<br />
surgindo com o tempo”.<br />
Business<br />
intelligence e<br />
analítica avançada<br />
podem substituir<br />
ferramentas<br />
de hardware e<br />
software dispersas<br />
43
em destaque|evolve<br />
44<br />
13<br />
DATACENTER AS-A-SERVICE/<br />
CLOUD PRIVADA<br />
HPE | FI<strong>DE</strong>LIDA<strong>DE</strong><br />
TUDO começou com a necessidade<br />
de transformar os centros de dados<br />
de produção e de disaster recovery<br />
da Fidelidade, impulsionando o<br />
alinhamento entre TI e os objetivos<br />
da seguradora. O projeto envolveu<br />
a passagem de um modelo tradicional<br />
de compra para um modelo<br />
as-a-service, através de cloud privada,<br />
e o aproveitamento/migração dos<br />
equipamentos do centro de dados<br />
principal para um disaster recovery. A<br />
solução, implementada há um ano,<br />
tem benefícios: como o suporte ao<br />
rápido crescimento, alinhamento<br />
dos custos ao consumo, contribuição<br />
para as metas de sustentabilidade<br />
e melhoria da eficiência das operações<br />
de TI e gestão do centro de<br />
dados. Esta adoção de um modelo<br />
as a service é considerado por Luís<br />
Bernardes, da Direção de Operações<br />
& Procurement da Fidelidade, como<br />
“importante, pois tem características<br />
de gestão diária e financeiras muito<br />
mais interessantes, além da capacidade<br />
de evoluir de acordo com<br />
as necessidades e vantagens em<br />
termos de custos e controlo sobre<br />
as incidências”. A expetativa é que a<br />
solução, “através das ferramentas de<br />
<strong>IA</strong> que foram introduzidas, contextualizadas<br />
a este negócio, nos ajude<br />
a tomar decisões”. Dennis Teixeira,<br />
southern Europe head of HPE Green-<br />
Lake Channel Sales & Portugal head<br />
of HPE Services and Greenlake Sales,<br />
confirma que o modelo “é muito<br />
mais ajustado aos requisitos de performance.<br />
Traduz-se em poupanças<br />
financeiras, é escalável, tem capacidade<br />
e permite acomodar necessidades<br />
imediatas de crescimento, com<br />
redução da complexidade de gestão<br />
e total controlo e segurança. São aspetos<br />
inovadores e diferenciadores<br />
valorizados pelo cliente”.<br />
14<br />
PLATAFORMA <strong>DE</strong> VOTO ELETRÓNICO<br />
MINSAIT | OR<strong>DE</strong>M DOS ADVOGADOS<br />
COM um processo organizacional<br />
complexo e eleições em formato<br />
analógico realizadas de três em três<br />
anos para os órgãos nacionais e<br />
regionais e para a Caixa de Previdência<br />
dos Advogados e Solicitadores,<br />
a Ordem dos Advogados decidiu<br />
avançar com uma solução de voto<br />
eletrónico. Estava na altura “de dar<br />
o passo em frente, dada a complexidade<br />
do processo logístico. Até<br />
porque os advogados já trabalhavam<br />
em plataformas desmaterializadas”,<br />
como salienta Luís Ferreira, diretor<br />
de IT da Ordem dos Advogados. As<br />
eleições de 2019 já decorreram no<br />
novo formato, assente numa solução<br />
da Minsait, sendo o “foco essencial<br />
a confiança, centrando-se a preocupação<br />
nos processos de segurança”.<br />
Depois da “curva de aprendizagem,<br />
o processo é irreversível”. Rute Arez,<br />
da área da Administração Pública da<br />
Minsait, confirma que a plataforma<br />
de voto eletrónico da empresa “tendo<br />
por base a segurança, com encriptação<br />
em tecnologia blockchain,<br />
permite dar suporte a um processo<br />
eleitoral, do início ao fim, de forma<br />
presencial e online e vai evoluindo e<br />
acompanhando o mercado. No caso<br />
da Ordem dos Advogados, optou-se<br />
por um processo totalmente online.<br />
Em termos de fases do projeto,<br />
estivemos com a Comissão Eleitoral<br />
a definir requisitos e especificidades,<br />
a que se seguiram os testes.<br />
Definido o processo, a solução foi<br />
transferida para a cloud, simulandose<br />
uma eleição. Houve depois todo<br />
o acompanhamento do processo<br />
eleitoral, com produção de reports<br />
diários e a comunicação final dos<br />
resultados. Foi dado ainda suporte à<br />
empresa de auditoria que auditou os<br />
resultados”.<br />
15<br />
SEGURANÇA <strong>DE</strong> TI PARA CENTRO<br />
<strong>DE</strong> DADOS MAIS SUSTENTÁVEL DA<br />
EUROPA<br />
KYNDRYL | START CAMPUS<br />
ESTÁ em implementação e assumese<br />
como um projeto de resiliência<br />
cibernética. Destina-se à Start<br />
Campus, responsável pelo desenvolvimento<br />
do SINES 4.0, um campus<br />
localizado em Sines de centros de<br />
dados Hyperscaler, com uma capacidade<br />
até 495 MW e um investimento<br />
de até 3,5 mil milhões de euros. Será<br />
um dos maiores campus de centros<br />
de dados da Europa e destina-se a<br />
responder à procura crescente de<br />
grandes empresas internacionais de<br />
tecnologia. Segundo Rui Oliveira Neves,<br />
administrador da Start Campus,<br />
“estamos a falar da nova geração<br />
de centros de dados, com níveis<br />
de eficiência energética e consumo<br />
de água otimizados, com base em<br />
energias renováveis. Precisamos de<br />
modelos de negócios sustentáveis e<br />
ambição, colocando Portugal como<br />
líder europeu na capacidade de
tratamento de dados, numa perspetiva<br />
de infraestruturas. O valor<br />
acrescentado disso é grande para o<br />
país. E a segurança é fundamental,<br />
quer de cibersegurança, quer física,<br />
para dar confiança aos clientes, porque<br />
os riscos são cada vez maiores”.<br />
O parceiro é a Kyndryl, que está a<br />
“trabalhar no desenho da segurança<br />
de IT, num processo complexo<br />
focado na sustentabilidade, próxima<br />
do zero em termos de consumos<br />
energéticos”, explica Paulo Coelho,<br />
director da Kyndryl Practices Leader<br />
for Portugal. Para o gestor, “temos<br />
de ver a estratégia de sustentabilidade<br />
que as empresas têm no país<br />
e internacionalmente, porque o país<br />
tem uma localização estratégica na<br />
Europa. A segurança do IT traz uma<br />
vantagem, tal como a sustentabilidade.<br />
Nestas componentes, o maior<br />
desafio é sempre o financeiro, mas o<br />
que nos motivou foi o projeto em si<br />
e a sua globalidade”.<br />
16<br />
API ENTERPRISE (RE)<br />
ARCHITECTURE<br />
GOOGLE | NOS<br />
COM um negócio cada vez mais<br />
dinâmico e digital e um contexto<br />
competitivo e sem fronteiras, a NOS<br />
redesenhou a sua estratégia de<br />
integração e APIs. Objetivo: tornar-se<br />
mais veloz, segura e preparada para<br />
as revoluções digitais. A estratégia<br />
sustenta a entrega de serviços aos<br />
clientes, suportando os diversos<br />
canais e produtos oferecidos. Depois<br />
da fase de arranque, o operador está<br />
agora a implementar uma solução<br />
global e híbrida para todas as empresas<br />
do grupo, tirando partido das<br />
mais modernas práticas de governo,<br />
automação, cibersegurança e experiência<br />
de desenvolvimento. “Nos<br />
serviços que entregamos, precisamos<br />
de saber lidar com um mundo<br />
em alteração permanente. As APIs<br />
têm permitido isso: navegar no mundo<br />
dos OTT e estabelecer parcerias.<br />
E podemos dar passos adicionais,<br />
nesta ‘melodia’ que queremos construir”,<br />
assegura João Ferreira, diretor<br />
de Desenvolvimento de Produto B2C<br />
da NOS. Tudo sustentado num “shift<br />
transformacional das pessoas, o que<br />
é um acelerador grande de experimentação”.<br />
Renato Gomes, account<br />
executive de Telecommunications<br />
and Services da Google confirma que<br />
“responder com agilidade, quando<br />
a velocidade de mudança é enorme,<br />
coloca um grande desafio às organizações.<br />
As plataformas, estratégias,<br />
frameworks e gestão de APIs dão<br />
capacidade de resposta. Temos de<br />
pensar nas APIs como formas não<br />
só de começar a executar modernização,<br />
mas também de passar a ter<br />
modelos de negócio assentes nestas<br />
soluções”.<br />
17<br />
PEOPLE DIGITAL TRANSFORMATION<br />
JOURNEY<br />
SAP | EDP<br />
ATRAVÉS de uma parceria tecnológica<br />
com a SAP, a EDP avançou<br />
com uma jornada de transformação<br />
digital das suas pessoas, um processo<br />
que abrangeu toda a operação,<br />
nacional e internacional. E os<br />
resultados estão à vista, diz António<br />
Ferro, head of Digital at People &<br />
Num contexto<br />
global e cada vez<br />
mais concorrencial,<br />
tirar partido das<br />
tecnologias de nova<br />
geração é crítico<br />
para todas as<br />
organizações<br />
Organizational Development Global<br />
Unit da elétrica: “O que vemos é a<br />
aproximação da área de recursos<br />
humanos aos desafios do negócio.<br />
Há um shift para um contexto muito<br />
mais estratégico, pois estamos a<br />
criar a otimização do futuro, muito<br />
mais inovadora e eficiente”. A ambição<br />
é “evoluir e acelerar o contexto<br />
do digital na organização. A aposta é<br />
não só no crescimento em termos de<br />
funções, mas na cultura e desenvolvimento<br />
das pessoas e na colaboração,<br />
porque vivemos num novo<br />
normal. A simbiose de colaboração<br />
que junta equipas de negócio, de IT<br />
e de parceiros, é fundamental”. O<br />
gestor diz que foram definidas “três<br />
drives importantes, que são a nossa<br />
ambição: eficiência, com redesenho<br />
de processos; não descurar o contexto<br />
da experiência do colaborador;<br />
e a componente analítica, porque<br />
a informação é tudo”. Filipa Correia<br />
Rodrigues, successfactors senior<br />
account executive da SAP, confirma<br />
que a solução da tecnológica implementada<br />
na EDP “foi um enabler para<br />
fazer o seu caminho. A flexibilidade<br />
é essencial para as empresas terem<br />
uma força de trabalho preparada<br />
para o futuro e tem de ser ajustada<br />
a cada caso. Permite dar informação<br />
de suporte estratégico para a tomada<br />
de decisões e ajudar a encontrar<br />
as valências para colocar as pessoas<br />
no sítio certo”.•
negocios<br />
A COMBINAÇÃO<br />
PERFEITA PARA<br />
INOVAR<br />
Criar um modelo de colaboração por<br />
produto com impacto nas pessoas,<br />
utilizando <strong>IA</strong> responsável, foi a ideia. Com<br />
um máximo possível de ligações e uma<br />
ambição global. Os próximos dois anos<br />
serão de intensa execução no Center for<br />
Responsible AI.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW E iSTOCK<br />
46
47
negocios<br />
48<br />
O<br />
projeto foi anunciado na edição de 2022 da Web<br />
Summit. A ambição é desenvolver pelo menos<br />
21 produtos com <strong>IA</strong> responsável até 2025 e gerar<br />
250 milhões de euros em exportações até 2030,<br />
com a criação de 210 postos de trabalho altamente<br />
qualificados. Pouco mais de um ano depois do arranque,<br />
o Center for Responsible AI, que junta startups a<br />
centros de investigação e grandes grupos industriais,<br />
num modelo verdadeiramente colaborativo e inovador,<br />
já tem resultados concretos. Reiterando as metas e<br />
objetivos, os seus stakeholders começam agora a pensar<br />
a longo prazo.<br />
Posicionar Portugal na vanguarda da inteligência<br />
artificial (<strong>IA</strong>) responsável é o compromisso do consórcio.<br />
O que passa por desenvolver produtos com impacto<br />
concreto na vida das pessoas. Para isso, conta com<br />
um investimento total de 78 milhões de euros, dos<br />
quais 51,5 milhões são financiados pelo Plano de Recuperação<br />
e Resiliência (PRR). No final de novembro,<br />
havia já 20 produtos identificados,<br />
sendo que nove<br />
já agregavam uma startup,<br />
um centro de investigação<br />
e um grupo industrial – o<br />
modelo ideal do projeto,<br />
sendo responsáveis pela<br />
criação de 90 postos de<br />
trabalho, altamente qualificados.<br />
A meta é agora<br />
acelerar.<br />
RETER E ATRAIR TALEN-<br />
TO<br />
Tudo começou por iniciativa de dois unicórnios de origem<br />
portuguesa, a Unbabel e a Feezai, e dois dos seus<br />
co-fundadores: Paulo Dimas, vice-presidente de inovação<br />
de produto da Unbabel e agora também CEO do<br />
consórcio, e Pedro Bizarro, chief science officer da Feedzai.<br />
Ambos trabalhavam há muitos anos na área da <strong>IA</strong><br />
e queriam criar “uma massa crítica de talento em <strong>IA</strong><br />
responsável”, explica Paulo Dimas. “Essencialmente,<br />
foi a nossa primeira motivação: fazer com que o talento<br />
nacional nestas áreas fique no país, continuando a<br />
aprender, a avançar e a valorizar-se com os melhores.<br />
Além de se poder atrair pessoas de referência, que estão<br />
lá fora, a regressarem, permitindo criar um futuro<br />
de vanguarda na <strong>IA</strong>”, diz.<br />
“Sentimos que era a oportunidade para avançar. Temos<br />
muito pouco tempo para fazer coisas que não são<br />
essenciais ao nosso negócio, mas achámos que o valor<br />
que ia ser criado era suficientemente grande para dedicarmos<br />
atenção a esta iniciativa. Até porque a questão<br />
da criação da atração de talento é absolutamente fun-<br />
Objetivo: desenvolver pelo<br />
menos 21 produtos com<br />
<strong>IA</strong> responsável até 2025 e<br />
gerar 250 milhões de euros<br />
em exportações até 2030<br />
damental”, acrescenta.<br />
Quando avançou, o projeto juntava, além destes<br />
unicórnios, mais nove startups - Sword Health, Apres,<br />
Automaise, Emotai, NeuralShift, Priberam, Visor.ai,<br />
YData e Youverse. Assim como oito centros de investigação<br />
de Lisboa, Porto e Coimbra - Fundação Champalimaud,<br />
CISUC, FEUP, Fraunhofer Portugal AICOS,<br />
INESC-ID, IST, IST-ID/ISR e Instituto de Telecomunicações.<br />
E cinco líderes de indústria portugueses nas<br />
áreas das Ciências da Vida, Turismo e Retalho - Bial,<br />
Centro Hospitalar de São João, Luz Saúde, Grupo Pestana<br />
e Sonae, a par da sociedade de advogados VdA.<br />
Uma combinação de stakeholders que é justificada por<br />
Paulo Dimas pelos objetivos definidos à partida: “A<br />
ideia foi ter um modelo que permitisse uma colaboração<br />
por produtos, pelo que era muito importante que<br />
criássemos o máximo de ligações possíveis. É um modelo<br />
onde se junta uma startup de <strong>IA</strong> que desenvolve o<br />
produto, a um ou mais centros de investigação e, idealmente,<br />
a um líder de indústria. O objetivo do centro<br />
é essencialmente criar produtos que cheguem à vida<br />
das pessoas, que respondam<br />
a problemas reais. No<br />
fundo, juntamos as três<br />
perspetivas – do produto<br />
em si, da necessidade de<br />
criar valor económico e de<br />
fazer crescer a economia<br />
nacional e as exportações<br />
e o emprego”.<br />
Formalizado o consórcio,<br />
foi preciso apostar<br />
em criar as necessárias<br />
ligações entre os parceiros.<br />
Assim, logo em janeiro de 2023 organizou-se um<br />
evento de kick off, juntando todos à mesma mesa e a<br />
“as coisas aconteceram de forma espontânea”, como<br />
refere o gestor, até porque o consórcio reúne empresas<br />
industriais visionárias, que estão entre as mais inovadoras<br />
do país. Resultado, logo ali foram identificados<br />
dois potenciais produtos a desenvolver.<br />
FALAR A MESMA LÍNGUA<br />
Paulo Dimas diz não ter dúvidas de que se “está a criar<br />
um espaço de colaboração muito virtuoso. Estão todos<br />
a aprender a falar a mesma língua, sempre a partir do<br />
problema e não da tecnologia. Estamos a ter muitas<br />
colaborações”, citando exemplos em que startups como<br />
a Sword Health, que no início estava reticente em trabalhar<br />
com centros de investigação, achando que não<br />
tinham a velocidade de que precisava. Ou de centros de<br />
investigação, que acabaram por perceber que têm de ir<br />
além da investigação e da produção de papers, criando<br />
ligações com startups e com líderes de indústria.<br />
“Quando se juntam estas valências, a conversa
Paulo Dimas: “Quando as pessoas estão entusiasmadas, há resultados, tanto mais que<br />
a <strong>IA</strong> é determinante para a competitividade a nível global”<br />
fica completamente diferente.<br />
Todos ficam muito curiosos em<br />
perceber qual é o problema da<br />
Bial ou da Sonae e todos querem<br />
ajudar. No final, tem sempre a<br />
ver com pessoas: quando estão<br />
entusiasmadas, há resultados.<br />
Ainda mais que a <strong>IA</strong> é determinante<br />
para a competitividade ao<br />
nível global”, destaca.<br />
Os resultados falam por si,<br />
tendo em conta o principal KPI<br />
usado para medir o sucesso da<br />
iniciativa: o número de produtos<br />
em desenvolvimento que<br />
já juntam as três valências. O<br />
consórcio tinha no início de<br />
2023 um total de 18 produtos<br />
identificados, dos quais apenas<br />
dois juntavam as três valências<br />
(startup, centro de investigação<br />
e grupo industrial). No final de<br />
novembro, já havia nove produtos<br />
com as três valências, cinco<br />
com parcerias com centros de<br />
investigação e seis com líderes<br />
de indústria. Todos tinham fases<br />
distintas de desenvolvimento,<br />
sendo que uns nasceram já<br />
no consórcio e outros estão a<br />
ser aumentados com <strong>IA</strong> no seu<br />
âmbito.<br />
Uma coisa é certa: “Todos<br />
partem sempre de problemas<br />
reais de mercado e assentam<br />
nos princípios de uma <strong>IA</strong> responsável,<br />
que tem como pilares<br />
a equidade, explicabilidade que<br />
leva à confiança, privacidade e sustentabilidade ou eficiência<br />
energética – que é um dos temas muito presentes<br />
– porque estes modelos consomem cada vez mais<br />
energia”, salienta o líder do consórcio. E exemplifica:<br />
“com a passagem do GPT3 para o GPT4, o consumo<br />
energético aumentou 40 vezes no treino do modelo.<br />
São estimativas feitas por investigadores e não pela<br />
OpenAI, que mostram um crescimento exponencial de<br />
consumo, porque o volume de dados cada vez é maior<br />
e a dimensão dos modelos também, o que leva a um<br />
consumo de energia absolutamente extraordinário”.<br />
Tendo em conta estes pilares, o Center for Responsible<br />
AI está a realizar “um trabalho de educação das<br />
startups para a necessidade de usarem a <strong>IA</strong> de forma<br />
responsável. No fundo, estamos a criar uma cultura de<br />
desenvolvimento de produtos baseados numa <strong>IA</strong> que<br />
parte logo destes princípios”.<br />
FALHAR É COMPONENTE ESSENC<strong>IA</strong>L<br />
Paulo Dimas é um defensor acérrimo do ‘modelo startup’,<br />
que tem o ‘ingrediente’ certo para o mundo tecnológico:<br />
“introduz um sentido de urgência que faz com<br />
que as coisas tenham de acontecer num determinado<br />
intervalo de tempo. É o modelo que, no fundo, domina<br />
49
negocios<br />
50<br />
o mundo. Todas as grandes big tech começaram por ser<br />
startups com a dimensão das que trabalham connosco.<br />
Falha-se rápido, o tempo de vida está sempre contado<br />
e, portanto, ou se atinge o market fit, ou então… paciência…”<br />
Por isso, considera natural que, no âmbito do projeto,<br />
existam startups que vão falhar: “Faz parte do modelo.<br />
Se não se falhar, não se está a arriscar... Esta é uma<br />
componente importante. Já os consórcios, que partem<br />
de grandes empresas multinacionais com milhares de<br />
trabalhadores, de certa forma desvirtuam os fatores de<br />
inovação e de risco. Não têm esta necessidade de avançar<br />
rápido”.<br />
Paulo Dimas não tem dúvidas de que o Centro de<br />
<strong>IA</strong> Responsável poderá fazer a diferença para Portugal:<br />
“Como é que nós podemos fazer crescer a nossa economia?<br />
Tem de ser através de produtos com escala e é isso<br />
que estamos a criar aqui: produtos que tenham uma<br />
ambição global. Aplicamos um modelo de gestão de<br />
produto que tem várias dimensões, como a sua viabilidade”.<br />
Aliás, são mesmo realizadas sessões com os líderes<br />
das startups para os “desafiar a pensar sempre em<br />
como é que o produto se torna global. Somos pequenos,<br />
mas se olharmos para fora e se tivermos o coaching<br />
de pessoas mais experientes,<br />
vamos conseguir”.<br />
Para a economia crescer,<br />
é preciso ter produtos com<br />
escala. É essa a ambição do<br />
consórcio. Sempre com uma<br />
<strong>IA</strong> responsável<br />
Não é por acaso que o<br />
projeto junta pessoas mais<br />
experientes e com sucesso<br />
em termos internacionais,<br />
como a Unbabel, Feedzai<br />
ou a Sword Health. O CEO<br />
do consórcio assegura que<br />
“trazer estas pessoas para<br />
a conversa, muda logo<br />
a perspetiva das startups<br />
mais pequenas. Temos de<br />
transferir esta experiência dos maiores para os mais<br />
pequenos, porque isso aumenta muito a possibilidade<br />
de sucesso destes produtos”.<br />
Acresce que o projeto junta especialistas de renome<br />
na área através dos vários espaços de discussão que<br />
foram criados. É o caso do Scientific Board, que junta<br />
António Damásio, Isabel Trancoso, Francisco Pereira e<br />
Pedro Saleiro, grupo de ‘notáveis’ que define a agenda<br />
científica do consórcio, sendo que no caso do António<br />
Damásio, traz ainda “uma função inspiradora de olhar<br />
para o futuro com a <strong>IA</strong>”. Neste âmbito, serão realizados<br />
em 2024 workshops relacionadas com os quatro<br />
pilares da <strong>IA</strong> responsável e um quinto sobre o tema<br />
dos modelos de linguagem de grande escala, os LLMs,<br />
“porque há muito conhecimento e talento dentro do<br />
consórcio”.<br />
Existe ainda um Comité de Ética, para os temas<br />
legais e éticos, que junta Virgínia Dignum, uma verdadeira<br />
autoridade no tema, assim como Magda Cocco,<br />
da VdA, e Helena Moniz, da Unbabel. No seu âmbito,<br />
já foi realizado, em 2023, um workshop sobre as perspetivas<br />
de legal and etical. Outro fórum de discussão é a<br />
Comissão Executiva do consórcio, onde, segundo Paulo<br />
Dimas, “as palavras-chave são o sentido de urgência<br />
e a velocidade”. É que o mote é “avançar rápido com<br />
o que é preciso fazer”, sempre com “um mindset muito<br />
product centric. Aplicamos as técnicas de produto mais<br />
avançadas ao nível da validação do produto nas várias<br />
dimensões de risco e incutimos este espírito de acordo<br />
com as melhores práticas nesta área”, assegura.<br />
Paulo Dimas garante que está tudo a correr dentro<br />
do previsto, apesar de alguns atrasos no arranque, fruto<br />
de “tramitações burocráticas”, que afetaram, por<br />
exemplo, a capacidade dos centros de investigação. “O<br />
projeto está a ganhar cada vez mais velocidade. Estamos<br />
a oito trimestres do fim e acreditamos que, não<br />
sabendo se vamos atingir os 100%, vamos, de certeza,<br />
fazer grandes avanços. É esse o nosso objetivo. É uma<br />
curva de aprendizagem”.<br />
Garantindo que serão “oito trimestres mais intensos<br />
de execução”, o importante é “não perder velocidade<br />
e pensar mais à frente, no pós-2025. No final,<br />
faremos um balanço. Se<br />
calhar, 50% dos produtos<br />
não vão atingir o que prevíamos<br />
no início, e três<br />
a cinco produtos serão<br />
campeões internacionais.<br />
Daí a importância de não<br />
sermos um consórcio monoproduto<br />
e de criar este<br />
ecossistema dinâmico. Estamos<br />
a aprender e a pensar<br />
em como é que vamos<br />
evoluir, como poderemos<br />
ter um modelo mais dinâmico de produtos, que permita<br />
ajustar mais rapidamente a tecnologia ao problema.<br />
Esta é uma discussão mais estratégica que está a<br />
começar”, remata.<br />
Sobre a recente aprovação do <strong>IA</strong> Act, que vai regular<br />
a tecnologia na Europa, o gestor mostra-se satisfeito<br />
com o texto que saiu do acordo entre Conselho e Parlamento<br />
e pelo facto da UE ser agora a região mais avançada<br />
do Mundo neste âmbito. Uma das conquistas, na<br />
sua opinião, foi o avanço na eliminação das barreiras<br />
ao desenvolvimento de modelos de linguagem abertos<br />
de grande escala. Este foi um dos principais pontos<br />
defendidos na carta de posicionamento apresentada<br />
pelo consórcio, que foi subscrita também pela APDC,<br />
divulgada no início de novembro. Nela, defendiam-se<br />
pelo menos cinco alterações à proposta de texto. Paulo<br />
Dimas diz que se aguarda agora o texto final para uma<br />
análise mais detalhada.•
ASSEGURAR O FUTURO COM SOLUÇÕES RESPONSÁVEIS<br />
O Responsible AI Forum 2023, o primeiro<br />
grande evento do Center for Responsible<br />
AI, que decorreu a 25 de novembro, juntou<br />
o neurocientista António Damásio a Arlindo<br />
Oliveira, coordenador da Estratégia<br />
Nacional da <strong>IA</strong>, num debate imperdível.<br />
Em análise a consciência: a das pessoas<br />
e, potencialmente, a das máquinas. As<br />
opiniões divergiram, claro está, mas ficou<br />
em aberto outro tema: o de quem controlará<br />
uma <strong>IA</strong> cada vez mais complexa e<br />
evoluída. Antes, Virgínia Dignum destacou<br />
a importância de desenvolver e garantir<br />
uma <strong>IA</strong> responsável.<br />
Para demonstrar que é possível desenvolver<br />
produtos que tenham impacto na vida<br />
das pessoas e das organizações, assentes<br />
em <strong>IA</strong> responsável, a iniciativa contou com<br />
uma demonstração de dez soluções que<br />
estão a ser desenvolvidas no âmbito do<br />
consórcio. Com os produtos para a área<br />
das ciências de vida em grande destaque.<br />
Eis os casos que foram apresentados e os<br />
respetivos promotores:<br />
Sword AI Telerehabilitation<br />
Os problemas músculo-esqueléticos afetam<br />
50% das pessoas e são a primeira causa de<br />
perda de produtividade no mundo. Estima-se<br />
que cada paciente aguarde, em média, oito<br />
semanas para ter acesso à fisioterapia. Esta<br />
plataforma tecnológica, alimentada por <strong>IA</strong>,<br />
permite que o paciente faça remotamente a<br />
sua terapia, a partir da prescrição do médico.<br />
Pretende-se que este modelo de telereabilitação<br />
se transforme num novo padrão de<br />
cuidados, criando o efeito de escala para o<br />
acesso a cuidados de qualidade.<br />
Promotores: Sword Health, Centro Hospitalar<br />
Universitário de São João, Pestana Hotel<br />
Group e Sonae<br />
HALO - Silently Controlled Language<br />
Generation<br />
Há situações em que as pessoas não conseguem<br />
falar e até escrever, como os doentes<br />
com esclerose lateral amiotrófica (ELA). Para<br />
responder a estes casos, esta solução de <strong>IA</strong><br />
combina uma interface neural não invasiva<br />
com modelos de linguagem de grande<br />
dimensão, sensíveis ao contexto, permitindo<br />
aos doentes que perderam a capacidade de<br />
comunicar uma “comunicação silenciosa”.<br />
Luís Correia foi o primeiro paciente com ELA<br />
a testar o Halo com sucesso.<br />
Promotores: Unbabel, Instituto de<br />
Telecomunicações, Fundação Champalimaud,<br />
Fraunhofer, INESC-ID, ISR-Lisboa e Hospital<br />
de São João<br />
Monitio: Media Monitoring Intelligence<br />
Num mundo onde a produção de dados<br />
dispara todos os dias, é necessário promover<br />
o acesso aos dados de uma forma justa,<br />
sustentável, explicável e anonimizada. Esta<br />
plataforma inteligente de análise de dados<br />
simplifica o processo de investigação e<br />
conhecimento nas ciências da vida, farmacêutica<br />
e jurídica, permitindo aos utilizadores<br />
descobrir novas relações, formular hipóteses<br />
e tomar decisões.<br />
Promotores: Priberam e B<strong>IA</strong>L<br />
Emotai Smart App<br />
A saúde mental é um tema que assume<br />
crescente importância e que precisa de ser<br />
repensado, nomeadamente em termos de<br />
soluções, impacto e engagement. Esta solução,<br />
totalmente personalizada e adaptada, alimentada<br />
por <strong>IA</strong>, destina-se a prevenir ativamente<br />
o esgotamento e a ansiedade, de uma forma<br />
totalmente personalizada e costumizada.<br />
Promotores: Emotai, Sonae e INESC-ID Lisboa<br />
Affine Knowledge Discovery<br />
A multiplicidade de legislação, a sua complexidade<br />
e atualização são um problema<br />
real para os juristas e advogados. Para dar<br />
resposta a este problema, foi criado este<br />
51
negocios<br />
52<br />
sistema inteligente para pesquisa jurídica.<br />
Reconhece toda a legislação nacional, através<br />
do acesso a bases de dados públicas e<br />
não públicas. Além de permitir pesquisas,<br />
faz sínteses dos documentos e responde a<br />
questões sobre a legislação aplicável a casos<br />
concretos, fazendo interações entre disposições<br />
legais.<br />
Promotores: Neuralshift, INESC-ID e VdA<br />
Cultural-Aware Multilingual<br />
Customer Service<br />
A interação com os mais variados clientes,<br />
vindos de culturas e países distintos, coloca<br />
aos centros de atendimento das empresas,<br />
nas mais variadas áreas, enormes desafios<br />
em termos de capacidade e de eficiência de<br />
resposta. Esta solução dá resposta a esse<br />
problema, fazendo não só a tradução da língua,<br />
mas também, com recurso à <strong>IA</strong> generativa<br />
e ao conhecimento de linguistas profissionais<br />
e nativos, a análise e reformulação<br />
do contexto cultural das línguas utilizada,<br />
tendo em conta expressões idiomáticas e<br />
referências culturais específicas de cada<br />
idioma.<br />
Promotores: Unbabel e Grupo Pestana<br />
Automation Flows<br />
Nos contact centers das grandes empresas<br />
apenas 3% das conversações são supervisionadas<br />
e ainda são auditadas manualmente.<br />
Esta solução assume-se como o primeiro<br />
software de auditoria de <strong>IA</strong> responsável para<br />
suporte ao cliente, permitindo às empresas<br />
ter visibilidade em tempo real e garantir a<br />
conformidade com regulamentos e protocolos<br />
existentes de <strong>IA</strong> ou novos. Garante ainda<br />
integrações e automações que podem criar<br />
ligações com os clientes, de acordo com as<br />
regras de cada companhia.<br />
Promotores: Visor.AI, INESC-ID e Sonae<br />
Support Genius<br />
Trabalhar num call center é duro para os<br />
trabalhadores, que reportam altas taxas<br />
de fadiga tecnológica, cansaço cognitivo e<br />
exaustão emocional. As maiores pressões<br />
são sentidas no canal de voz, onde se regista<br />
uma alta taxa de rotatividade de pessoas.<br />
Concebida para reduzir o problema, maximizar<br />
a produtividade das equipas e melhorar<br />
a eficiência, foi criada esta solução de<br />
active listening, baseada em <strong>IA</strong>, que fornece<br />
informação em tempo real, eliminando a<br />
necessidade de pesquisas manuais. Pretende-se<br />
que o modelo aprenda automaticamente<br />
e por si.<br />
Promotores: Automaise, Sonae e CISUC –<br />
Centro de Informática e Sistemas da Universidade<br />
de Coimbra<br />
Data Democratization<br />
Um dos problemas com que as organizações<br />
se debatem no acesso aos dados é<br />
fazer a sua análise com precisão e segurança.<br />
O que compromete os resultados,<br />
a produtividade e abre a porta a temas de<br />
compliance. Esta solução permite um acesso<br />
fácil aos dados de toda a equipa, facilitando<br />
a tomada de decisão informada. Endereça<br />
assim o desafio do acesso aos dados e cria<br />
um repositório central de dados, garantindo<br />
a privacidade dos mesmos.<br />
Promotores: YData, Sonae e Fraunhofer<br />
YooniK RID<br />
A identificação digital ainda não é conveniente,<br />
segura ou privada. Além do tempo<br />
que demoramos a provar quem somos.<br />
Estima-se que cada pessoa passe, em<br />
média, mais de um ano a comprovar a sua<br />
identidade. Perante esta realidade, como<br />
combinar tudo e garantir a melhor solução?<br />
Através de um novo protocolo de autenticação<br />
biométrica, que permite aos negócios<br />
controlar o processo de autenticação e às<br />
pessoas os seus dados. A solução usa um<br />
conjunto de serviços biométricos, privados,<br />
seguros, justos e explicáveis, capazes de<br />
fazer uma correspondência facial e usar o<br />
rosto como chave de entrada em serviços<br />
como banca digital, supermercados, hotéis,<br />
aeroportos ou hospitais.<br />
Promotores: Youverse, Grupo Pestana e<br />
Sonae
itech<br />
54<br />
PEDRO FAUSTINO:<br />
Paixão controlada<br />
Começou a vida profissional, imagine-se, a contar ovelhas.<br />
Uma experiência que jamais esquecerá. Depois foram outros<br />
os “bichos” que lhe tomaram os dias, as noites e os fins de<br />
semana. Mas com regras, porque a vida não se passa só em<br />
frente a um ecrã de computador.<br />
Texto de Teresa Ribeiro | Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />
Foi, como todos os miúdos que se<br />
tornaram adolescentes na década<br />
de 80, um apaixonado pelo<br />
ZX Spectrum. E lembra-se bem de<br />
ficar a jogar o Pac Man e o Jet Man,<br />
os seus jogos favoritos, madrugada<br />
adentro, às escondidas dos pais:<br />
“Apagava a luz do quarto e punha<br />
o computador ligado por detrás da<br />
cama, para não se ver a claridade<br />
que irradiava”, recorda, divertido.<br />
Com essa experiência, o atual managing<br />
director da Axians aprendeu<br />
precocemente quanto o ecrã de um<br />
dispositivo eletrónico pode viciar e<br />
alienar os seus utilizadores. Uma<br />
lição que lhe ficou para a vida.<br />
Apesar daquele fascínio que sentiu<br />
na adolescência, na hora de<br />
escolher o que queria ser quando<br />
fosse grande optou pela área de<br />
economia e gestão. Licenciou-se<br />
em Economia, em 1994, em pleno<br />
boom do financiamento comunitário<br />
a Portugal e, na altura, surgiu-lhe<br />
a oportunidade de trabalhar como<br />
auditor no INGA (Instituto Nacional<br />
de Garantia Agrícola), a agência estatal<br />
que geria os fundos que eram<br />
canalizados para a agricultura. A sua<br />
função era, como lhe explicaram no<br />
primeiro dia, fazer a auditoria aos<br />
agricultores que recebiam subsídios<br />
comunitários ao abrigo da medida<br />
“Ovinos e Caprinos”. Aquilo soou-lhe<br />
a missão de grande responsabilidade,<br />
que o encheu de orgulho, mas<br />
quando perguntou qual era o protocolo<br />
a seguir, percebeu que, afinal,<br />
o que lhe pediam era para ir para<br />
o campo… contar ovelhas: “Como<br />
cada agricultor recebia em função<br />
do número de ovelhas e cabras que<br />
tinha, explicaram-me que o controlo<br />
era feito mesmo assim”, conta<br />
Pedro Faustino, por entre risos. Diz<br />
que correu o país de norte a sul, de<br />
exploração em exploração, a contar<br />
ovelhas. Uma experiência que jamais<br />
esquecerá, mas que o colocava<br />
muito aquém das suas expetativas.<br />
Quando se apercebeu de que o<br />
financiamento comunitário, em vez<br />
de contribuir para a modernização<br />
da agricultura, só servia para estimular<br />
o consumo, nomeadamente<br />
dos jeeps que na época inundaram<br />
o parque automóvel nacional, desiludiu-se<br />
de vez.<br />
Pouco tempo depois, surgiu-lhe<br />
uma oportunidade para mudar de<br />
vida. Despediu-se das paisagens<br />
bucólicas do campo, passou pela<br />
Sinfic, Movensis e GE, e entrou por<br />
uma porta igualmente inesperada,<br />
a de uma empresa de software,<br />
a Novabase. Na faculdade tinha<br />
aprendido uns rudimentos de programação:<br />
“Fazíamos umas coisas,<br />
sem muita graça, no quadro das<br />
aulas, em Pascal”, recorda. Antes<br />
disso, também tinha feito um curso<br />
de programação, através do qual<br />
conseguiu, com grande satisfação<br />
sua, pôr um jogo do galo a funcionar<br />
em Basic. Eram estas as suas<br />
skills técnicas. Mas tal não o impediu<br />
de se tornar gestor de produto:<br />
“Tive a sorte de encontrar naquela<br />
pequena tecnológica portuguesa<br />
muita gente que me ajudou. Ainda<br />
hoje, passados 30 anos, uso muito<br />
do que aprendi nesse tempo, até<br />
porque (brinca) as leis da física são<br />
as mesmas”.<br />
Desde então, a tecnologia e ele<br />
nunca mais se deixaram. O que o<br />
fascina nela, acima de tudo, é a capacidade<br />
que tem de transformar o<br />
mundo. Sabe também que pode tornar-se<br />
“numa arma e num enorme<br />
fator de desequilíbrio social”, mas<br />
defende que “cada um de nós tem a<br />
responsabilidade de contribuir para<br />
atenuar e combater esse efeito”.<br />
Pedro Faustino admite que, se tivesse<br />
feito o seu percurso profissional<br />
noutra área, “teria, certamente,<br />
uma mundivisão diferente, menos<br />
abrangente”, porque trabalhar em<br />
tecnologia permite-lhe contactar<br />
“com todas as indústrias e todos os<br />
setores, todas as formas de pensar”.<br />
Ele gosta disso, gosta que a tecnologia<br />
lhe abra os horizontes e lhe dê<br />
ferramentas para contribuir para<br />
um mundo melhor. Mas a lição que<br />
aprendeu em garoto nunca esqueceu:<br />
“Não sou um geek, um adicto<br />
tecnológico, ou gadget dependente.<br />
Aliás, até há oito meses, tomava os<br />
meus apontamentos num caderno<br />
em papel, por muito que me<br />
tentassem convencer a usar um<br />
ipad (risos). Também sou incapaz de<br />
ler um e-book. Este fim de semana<br />
fui à livraria e trouxe dez livros<br />
num saco. Gosto de manusear, de<br />
marcar os livros, de os colocar na<br />
estante”, confessa. São exemplos<br />
que revelam que, apesar de ser um<br />
apaixonado por tecnologia, o managing<br />
director da Axians faz questão<br />
de viver fora da bolha tecnológica.<br />
Porque a vida é para desfrutar em<br />
pleno: online e offline.•
Usa um iPhone 11, mas teve<br />
de se certificar do modelo durante<br />
a entrevista, o que diz muito acerca<br />
do seu desprendimento em relação<br />
ao telemóvel: algo que considera<br />
indispensável, mas que não passa<br />
de uma ferramenta<br />
Só há oito meses deixou de tirar<br />
apontamentos num caderno em papel,<br />
quando finalmente encontrou um book<br />
digital que na sua opinião simula na<br />
perfeição o “feeling físico” do papel. Foi<br />
assim que passou a usar o Remarkable<br />
55
portugal digital<br />
56
O NOSSO TALENTO<br />
VAI A CONCURSO!<br />
A APDC fez a call nacional e mais uma vez os<br />
projetos para o World Summit Awards Portugal, uma<br />
iniciativa que a associação promove todos os anos,<br />
surgiram em cascata, provando que não há limites<br />
para a criatividade nacional. Já são conhecidos os<br />
finalistas portugueses que vão agora ser avaliados<br />
pelo grande júri do WSA.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTO iSTOCK<br />
57
portugal digital<br />
Todos os anos a APDC tem liderado em Portugal<br />
este processo de convocação de participantes e<br />
posterior apuramento dos finalistas que poderão<br />
participar no World Summit Awards (WSA).<br />
Com o objetivo de promover a inovação digital local,<br />
mas em particular aquela que revela<br />
potencial para mudar o mundo, o<br />
WSA é um evento a que qualquer empreendedor<br />
social aspira chegar.<br />
A final da atual edição realiza-se<br />
já no próximo mês de abril, no Chile.<br />
Os oito projetos vão ser agora avaliados pelo júri online<br />
do WSA. Desta fase de apuramento sairá a shortlist que<br />
posteriormente o WSA Grand Jury ajuizará com vista<br />
a apurar os projetos vencedores dos cerca de 180 países<br />
envolvidos nesta iniciativa. São estes que vão pisar<br />
o palco do próximo WSA Global Congress. E entre<br />
Portugal presented by<br />
Portugal<br />
presented by<br />
discursos inspirados e demonstrações impressivas travarão<br />
a derradeira batalha, pela conquista do título de<br />
Global Champion de cada uma das oito categorias em<br />
competição.<br />
O momento é, pois, de pura expectativa, para os projetos<br />
nacionais escolhidos pela APDC,<br />
representantes do talento português<br />
neste concurso. São eles Literary Highways<br />
(categoria Culture & Heritage),<br />
Multicare Vitality (categoria Health &<br />
Well-Being), I<strong>DE</strong> Social Hub (categoria<br />
Inclusion & Empowerment), Ethiack (categoria Business<br />
& Commerce), Dams at your fingertips (categoria<br />
Environment & Green Energy), DigitAll (categoria Learning<br />
& Education), Deep Neuronic (categoria Urbanization<br />
& Smart Settlements) e MOSAICO (categoria Government<br />
& Citizen Engagement).•<br />
58<br />
<strong>DE</strong>MOCRATIZAR A<br />
PUBLICAÇÃO <strong>DE</strong> LIVROS<br />
O Literary Highways é uma plataforma<br />
inovadora, que visa facilitar<br />
a vida a todos os que sonham<br />
um dia publicar um livro. Funciona<br />
como uma autêntica estação<br />
central que estabelece pontes<br />
entre autores, livrarias, leitores e<br />
mercados, pois encarrega-se da<br />
impressão, distribuição e venda<br />
das obras. Ligado ao Clube de<br />
Autores, uma grande plataforma<br />
de publicação mundial, entrou no<br />
mercado português em março.<br />
Tem parcerias com mais de dez<br />
centros de impressão espalhados<br />
pelo mundo e vende as suas<br />
obras através de dezenas de<br />
plataformas, rompendo com o<br />
statuo quo.<br />
Ricardo Almeida, CEO do projeto,<br />
diz que a procura deste serviço<br />
superou todas as expectativas:<br />
“Temos hoje cerca de 100 mil<br />
livros publicados por autores<br />
de todos os países lusófonos, o<br />
que equivale a 20% de todos os<br />
livros anualmente publicados em<br />
língua portuguesa”. Os seus utilizadores,<br />
assegura, “não precisam<br />
de investir absolutamente nada”<br />
para verem a sua obra publicada,<br />
uma vez que “a publicação no<br />
Clube de Autores é 100% gratuita<br />
e a confeção dos livros é sob<br />
demanda, o que quer dizer que<br />
só são impressos apenas depois<br />
da venda ocorrer, sem tiragem<br />
mínima definida”.<br />
Inicialmente, os utilizadores do<br />
Literary Highways eram, segundo<br />
Ricardo Almeida, “essencialmente<br />
autores” mas depois começou a<br />
notar-se o interesse de pequenas<br />
editoras: “São empresas locais,<br />
que ao publicarem os seus títulos<br />
no Clube de Autores, conseguem<br />
atingir públicos noutros países<br />
espalhados pelo mundo”.<br />
Essa democratização é o efeito<br />
de um sistema como o de<br />
Literary Highways. Onde não há<br />
portas fechadas nem quaisquer<br />
outras barreiras que se interponham<br />
entre autores e leitores.<br />
Neste processo é a gigantesca<br />
diversidade cultural da Humanidade<br />
que ganha espaço.<br />
APREN<strong>DE</strong>R A VIVER<br />
MELHOR<br />
O Multicare Vitality é uma<br />
aplicação que visa a promoção<br />
de um estilo de vida mais saudável.<br />
Para o efeito, incentiva os<br />
seus utilizadores a conhecer e a<br />
melhorar a sua saúde, recorrendo<br />
à gamificação. “O programa<br />
Vitality”, explica Bárbara Faria,<br />
head of Business Development<br />
da Multicare, “conta com mais<br />
de 25 anos de experiência e está<br />
presente em mais de 20 mercados,<br />
tendo já chegado a mais de<br />
30 milhões de pessoas”.<br />
Inicialmente foi desenvolvido<br />
pela seguradora sul-africana<br />
Discovery, mas passou a estar<br />
disponível em Portugal através<br />
da app Multicare Vitality. Diz Bárbara<br />
que a Multicare é “a única<br />
seguradora de saúde portuguesa<br />
que recompensa os seus clientes<br />
por conhecerem melhor a sua<br />
saúde e adotarem hábitos mais<br />
saudáveis”. Essa é a originalidade<br />
da proposta.
Portugal presented by<br />
Portugal<br />
presented by<br />
LEARNING & EDUCATION<br />
BUSINESS & COMMERCE<br />
GOVERNMENT &<br />
CITIZEN ENGAGEMENT<br />
SMART SETTLEMENTS<br />
& URBANIZATION<br />
INCLUSION &<br />
EMPOWERMENT<br />
HEALTH & WELL BEING<br />
ENVIRONMENT & GREEN<br />
ENERGY<br />
CULTURE & TOURISM<br />
Disponível para todos os clientes<br />
da Multicare/Fidelidade “que detenham<br />
um seguro de saúde ou<br />
vida elegível”, este programa foi<br />
lançado em Portugal em outubro<br />
de 2020. Atualmente conta com<br />
mais de 12% de utilizadores registados<br />
e em outubro deste ano<br />
“42% dos utilizadores já tinham<br />
efetuado 7500 passos num dia<br />
ou completaram um objetivo de<br />
estilo de vida”, assegura a head<br />
of Business Development da<br />
Multicare.<br />
O Multicare Vitality disponibiliza<br />
dois tipos de objetivos semanais:<br />
atividade física e estilos de vida.<br />
Para atingir o objetivo semanal<br />
de atividade física, os utilizadores<br />
têm de realizar uma determinada<br />
atividade contabilizada<br />
através do número de passos ou<br />
do ritmo cardíaco médio para<br />
uma determinada duração. No<br />
objetivo semanal de estilo de<br />
vida, os utilizadores são desafiados<br />
a alterar e adquirir hábitos<br />
saudáveis em categorias como<br />
sono, nutrição ou saúde mental,<br />
através do conhecimento de<br />
conteúdos e questionários nas<br />
diferentes categorias.<br />
Para controlo das performances<br />
dos utilizadores, a app Multicare<br />
Vitality sincroniza a atividade<br />
física e os passos diretamente<br />
de outras aplicações de exercício,<br />
como o Google Fit, o Apple<br />
Health, ou de alguns relógios.<br />
Nos objetivos de estilos de vida o<br />
utilizador regista diretamente na<br />
aplicação a sua conclusão.<br />
OLHOS EM TODO<br />
O LADO<br />
Com o Deep Neuronic é possível<br />
identificar autonomamente<br />
mais de 100 objetos diferentes<br />
em 30 situações diversas, desde<br />
comportamentos quotidianos,<br />
a potenciais ameaças, como<br />
vandalismo, assaltos ou incêndios,<br />
o que é verdadeiramente<br />
inovador. Esta capacidade vem<br />
simplificar em muito os processos<br />
de vigilância e supervisão.<br />
Adaptável às infraestruturas já<br />
existentes, destaca-se como uma<br />
escolha personalizável e económica,<br />
que em breve apresentará<br />
novos desenvolvimentos. Bruno<br />
Degardin, co-fundador e CTO do<br />
projeto, anuncia já para 2024 um<br />
novo produto, complementar<br />
a este sistema, que permitirá<br />
a qualquer utilizador e cliente<br />
“desenhar o seu próprio modelo<br />
de inteligência artificial, sem<br />
necessidade de ter conhecimentos<br />
técnicos”. Uma inovação que<br />
corrobora a sua tese de que “um<br />
sistema de inteligência artificial<br />
não tem de ser uma solução<br />
generalista, pois cada ambiente,<br />
cada estabelecimento e cliente<br />
são diferentes e únicos”.<br />
Flexibilidade é mesmo a característica<br />
que Bruno Degardin gosta<br />
de salientar neste sistema: “O<br />
Deep Neuronic”, sublinha, “tem<br />
permitido satisfazer as necessidades<br />
dos clientes até com situações<br />
extremamente específicas,<br />
ou seja, permite adicionar novas<br />
59
portugal digital<br />
60<br />
situações em casos de uso, mas<br />
também remover o que é desnecessário,<br />
de modo a otimizar ao<br />
máximo o ambiente capturado<br />
pelo sistema de videovigilância”.<br />
Este novo sistema foi lançado no<br />
final de 2022 e hoje conta, sobretudo,<br />
com clientes nas áreas de<br />
transportação, retalho e cidades<br />
inteligentes.<br />
INCLUSÃO E<br />
COMPETITIVIDA<strong>DE</strong><br />
<strong>DE</strong> MÃOS DADAS<br />
Para colmatar a falta de competências<br />
digitais, o programa<br />
DigitALL, aprovado pelo Ministério<br />
da Educação, aposta<br />
na melhoria das competências<br />
digitais das crianças, tanto em<br />
ambiente escolar, como através<br />
da autoaprendizagem. Como um<br />
projeto educativo tem de envolver<br />
professores e alunos, este<br />
programa, que é disponibilizado<br />
gratuitamente pela Fundação<br />
Vodafone Portugal, também se<br />
dirige aos docentes, capacitando-os<br />
no ensino STEM, através<br />
da aprendizagem colaborativa,<br />
experimental e interativa proporcionada<br />
pela plataforma DigitALL.<br />
No contexto escolar, o projeto assenta<br />
numa colaboração estreita<br />
com agrupamentos de escolas e<br />
municípios, fornecendo materiais<br />
pedagógicos inovadores para<br />
melhorar a literacia dos alunos.<br />
A funcionalidade “DigitALL em<br />
casa” permite, por seu turno, o<br />
envolvimento dos utilizadores<br />
em atividades abertas, realçando<br />
a inclusão e competitividade na<br />
era digital. Segundo Ana Mesquita<br />
Veríssimo, Culture, Property,<br />
Sustainability and Foundation senior<br />
manager da Vodafone, “este<br />
ano letivo o DigitALL já chegou<br />
a 100 escolas, de norte a sul do<br />
país”, o que corresponde ao envolvimento<br />
de “500 professores e<br />
25 monitores, responsáveis pela<br />
formação presencial semanal em<br />
salas de aula”.<br />
As escolas integradas no projeto,<br />
pertencentes a 18 agrupamentos<br />
escolares de 17 municípios,<br />
foram selecionadas através de<br />
um processo de candidaturas<br />
que ocorreu a nível nacional.<br />
Mas no total e de acordo com<br />
Ana Mesquita Veríssimo, “esta<br />
plataforma já conta com mais de<br />
23 mil utilizadores ativos”, um<br />
universo que já permite aferir o<br />
seu sucesso. De acordo com a<br />
Culture, Property, Sustainability<br />
and Foundation senior manager<br />
da Vodafone, “o impacto positivo<br />
deste programa tem sido<br />
reconhecido pelos professores e<br />
encarregados de Educação, bem<br />
como pelos alunos”.<br />
Contribuir para o desenvolvimento<br />
e reforço das competências<br />
digitais dos jovens e dos professores<br />
é uma das áreas estratégicas<br />
da Fundação Vodafone, por<br />
isso o DigitALL vai continuar a<br />
fazer a diferença.<br />
POR UM MUNDO<br />
MELHOR<br />
A mentora do I<strong>DE</strong> Social Hub<br />
acredita que inclusão, diversidade<br />
e equidade se podem<br />
conseguir através de um sistema<br />
organizado. Com o objetivo de<br />
promover a igualdade de oportunidades<br />
e o trabalho digno<br />
para todos, mediante a colaboração<br />
e a realização de parcerias<br />
com empresas, organizações e<br />
pessoas, o I<strong>DE</strong> Social Hub atua<br />
em diversos contextos – locais,<br />
regionais e nacionais – no apoio<br />
a grupos minoritários. Elisangela<br />
Souza, founder e CEO deste projeto<br />
diz que se trata, afinal, de uma<br />
“social tech que visa transformar<br />
empresas e pessoas”, sensibilizando-as<br />
para estes temas. Em<br />
setembro passado realizou-se o<br />
seu primeiro evento e de acordo<br />
com Elisangela “foi um sucesso.<br />
Reuniu mais de 100 participantes<br />
de empresas nacionais e internacionais,<br />
que compartilharam as<br />
suas experiências e visões sobre<br />
inclusão, diversidade e equidade,<br />
num esforço notável para<br />
promover uma mudança profunda<br />
nas práticas corporativas. A<br />
ideia é espalhar a palavra, cruzar<br />
experiências, sensibilizar. Mas<br />
a estratégia do I<strong>DE</strong> Social Hub<br />
passa sobretudo pela promoção<br />
do impacto social através de três<br />
pilares: a mobilidade social, a<br />
inclusão digital e a empregabilidade.<br />
Atuando com o foco em<br />
mulheres, pessoas com mais<br />
de 50 anos, etnias, imigrantes e<br />
pessoas com deficiência, procura<br />
através da capacitação dar-lhes<br />
visibilidade, integrando-os no<br />
mundo corporativo. O objetivo é<br />
estender a sua ação a todo o país<br />
e mais tarde internacionalizar<br />
para o Brasil e África.<br />
FAZER PREVISÕES SEM<br />
BOLA <strong>DE</strong> CRISTAL<br />
Dams at Your Finger Tips é o<br />
nome de uma plataforma de<br />
monitorização, controlo e apoio<br />
à decisão que recorre a big data,<br />
<strong>IA</strong>, IoT, redes LoRaWAN e até<br />
imagens de satélite. Toda a tecnologia<br />
que pode contribuir para<br />
uma recolha de informação mais<br />
rigorosa e o cálculo de probabi-
lidades está aqui, à disposição,<br />
para procedimentos como a<br />
monitorização da qualidade das<br />
águas, a previsão de padrões de<br />
enchimento e descarga de barragens,<br />
cruciais para uma gestão<br />
proativa, particularmente durante<br />
eventos extremos. Todos os dados<br />
que Dams at Your Finger Tips<br />
recolhe são enviados diretamente<br />
para uma plataforma cloud segura,<br />
de alta velocidade e escalável.<br />
Mais: estas tecnologias, em<br />
conjunto com o desenvolvimento,<br />
a decorrer, de um gémeo digital,<br />
permitem a representação virtual<br />
das infraestruturas, o que facilita<br />
a observação atempada e a mitigação<br />
de problemas estruturais.<br />
A Águas do Norte, entidade que<br />
lançou este sistema, já tem todas<br />
as barragens que se encontram<br />
sob sua responsabilidade a serem<br />
monitorizadas desta forma.<br />
José Machado Vale, presidente<br />
do Conselho de Administração da<br />
Águas do Norte diz que a resposta<br />
ao Dams at Your Finger Tips<br />
“tem sido extraordinariamente<br />
positiva. O reconhecimento por<br />
parte dos utilizadores e de todas<br />
as partes interessadas, bem<br />
como os prémios conquistados,<br />
como é o caso dos WSA 2023, são<br />
indicadores claros da valorização<br />
desta inovação e dos benefícios<br />
que a digitalização proporciona<br />
na gestão das barragens”. Sublinhando<br />
que “a digitalização das<br />
barragens não se limita a aprimorar<br />
a eficiência operacional, mas<br />
também contribui significativamente<br />
para a segurança, sustentabilidade<br />
e gestão proativa e<br />
integrada dos recursos hídricos”,<br />
José Machado Vale realça ainda<br />
o potencial transformador desta<br />
nova ferramenta: “A capacidade<br />
de prever e antecipar cenários futuros,<br />
a resposta ágil a emergências<br />
e a promoção da cooperação<br />
entre diferentes entidades” são<br />
valências que apontam para “um<br />
caminho promissor”.<br />
CIBERSEGURANÇA B2B<br />
É uma plataforma revolucionária,<br />
que utiliza uma combinação<br />
única de hacking humano e de<br />
máquinas para assegurar uma<br />
proteção abrangente. A Ethiack<br />
identifica vulnerabilidades com<br />
uma precisão de 99% e garante<br />
uma monitorização contínua. A<br />
sua abordagem simbiótica com<br />
recurso a <strong>IA</strong> e machine learning<br />
permite poupanças de custos ao<br />
mesmo tempo que oferece funcionalidades<br />
de fácil utilização.<br />
Numa época em que os ataques<br />
cibernéticos tendem a crescer<br />
cada vez mais, Jorge Monteiro,<br />
co-founder e CEO da Ethiack,<br />
diz que é tempo de se passar<br />
de uma estratégia defensiva e<br />
reativa para uma abordagem<br />
ofensiva. Nesse sentido, “sendo<br />
uma plataforma de cibersegurança<br />
proativa, a Ethiack permite<br />
às organizações testar os seus<br />
ativos digitais de forma contínua<br />
e precisa, de maneira a identificar<br />
vulnerabilidades e poder agir<br />
sobre elas”.<br />
A Ethiack, refere Jorge Monteiro,<br />
“está no mercado há um ano e<br />
já detetou mais de 20 mil vulnerabilidades”.<br />
Aos dias de hoje a<br />
plataforma, segundo o seu CEO,<br />
“protege mais de 15 mil ativos<br />
digitais diariamente”, em setores<br />
tão críticos como retalho, energia,<br />
finanças e aeroportos.<br />
PARA UMA AP<br />
MAIS EFICIENTE<br />
O MOSAICO consiste num modelo<br />
comum para o desenho e desenvolvimento<br />
de serviços públicos<br />
digitais. Lançado a 7 de outubro<br />
de 2022, contou logo com a<br />
adesão do Instituto de Registos e<br />
Notariado (INR), que apresentou<br />
o seu projeto-piloto no mês de<br />
lançamento. Iniciativa da Agência<br />
para a Modernização Administrativa<br />
(AMA), esta é uma importante<br />
ferramenta de trabalho para os<br />
especialistas da Administração Pública<br />
(AP), pois “para proporcionar<br />
uma experiência diferenciada na<br />
interação com o governo é crucial<br />
que os serviços públicos digitais<br />
sejam concebidos e desenvolvidos<br />
de acordo com um modelo<br />
padrão em todas as instituições<br />
públicas”, refere fonte da AMA.<br />
Neste momento o foco tem sido<br />
a divulgação desta solução junto<br />
das entidades públicas, bem<br />
como a sua melhoria através<br />
da incorporação de insights e<br />
contribuições de novos usuários.<br />
O objetivo é que o MOSAICO se<br />
torne um “paradigma padrão<br />
claro, mas adaptável, que todas<br />
as pessoas possam utilizar para<br />
satisfazer a procura premente do<br />
governo por transformação digital”,<br />
informa a agência estatal.<br />
A ambição é, pois, tornar este<br />
instrumento uma referência exclusiva<br />
para a evolução dos serviços<br />
públicos digitais, de modo a que<br />
funcione como um elemento<br />
agregador, mas também versátil e<br />
colaborativo. Do lado do cidadão é<br />
esperar que esta homogeneização<br />
seja sentida e percebida como um<br />
elemento facilitador na sua relação<br />
com a Administração Pública.•<br />
61
apdc news<br />
ACORDO APDC, GOVERNO E INSTITUIÇÕES <strong>DE</strong> ENSINO SUPERIOR<br />
Programa UPSkill renovado<br />
por mais três edições<br />
Desde 2020, já foram formadas em TIC cerca de 1.700 pessoas para necessidades concretas nas empresas. O<br />
projeto vai ter novas edições, pois provou ser uma fórmula inovadora de sucesso. As parcerias são a chave.<br />
Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo<br />
62<br />
Reportagem:<br />
https://bit.ly/3S6mX4T<br />
Vídeo:<br />
https://bit.ly/3NOKHJj<br />
Fotos:<br />
https://bit.ly/3tH34sM<br />
A APDC, o governo – através do IEFP,<br />
e um conjunto de Instituições de<br />
Ensino Superior (CCISP - Conselho<br />
Coordenador dos Institutos Superiores<br />
Politécnicos; ISCTE - Instituto<br />
Universitário de Lisboa e FCUL - Faculdade<br />
de Ciências da Universidade<br />
de Lisboa) vão prolongar por mais<br />
três edições o Programa UPskill -<br />
Digital Skills & Jobs. O acordo já foi<br />
assinado e visa dar continuidade<br />
a uma iniciativa de requalificação<br />
nacional inovadora, já que responde<br />
a necessidades concretas de talento<br />
TIC das empresas.<br />
O protocolo de renovação do programa<br />
foi assinado a 18 de dezembro,<br />
num evento que reuniu os líderes<br />
das várias entidades envolvidas e<br />
onde ficou claro que esta é uma<br />
iniciativa de referência, que importa<br />
replicar em todos os setores de atividade,<br />
incluindo os mais tradicionais.<br />
Até agora, nas três edições realizadas<br />
desde 2020, o UPskill já formou<br />
cerca de 1.700 pessoas vindas das<br />
mais variadas áreas, sendo que a<br />
maioria foi contratada pelas empresas<br />
envolvidas.<br />
A ambição é continuar a reforçar<br />
a formação em áreas tecnológicas<br />
de elevada procura no mercado,
numa conjuntura em que esta cresce<br />
exponencialmente. E, em paralelo,<br />
contribuir para a qualificação e requalificação<br />
de pessoas para as TIC,<br />
criando oportunidades de carreira<br />
numa área de futuro.<br />
Na assinatura<br />
da renovação do<br />
acordo, as instituições<br />
de Ensino<br />
Superior signatárias<br />
manifestaram ainda<br />
o seu interesse e<br />
disponibilidade no<br />
sentido de passar a<br />
atribuir às formações do UPskill um<br />
sistema de atribuição de créditos<br />
(ECTS). Com isso, pretendem facilitar<br />
A ambição é continuar<br />
a reforçar a formação<br />
em áreas tecnológicas<br />
de elevada procura no<br />
mercado<br />
aos formandos que frequentaram<br />
o programa a continuidade da sua<br />
formação no âmbito do Ensino Superior,<br />
se assim o entenderem.<br />
Para o vice-presidente do IEFP,<br />
Bernardo de Sousa, trata-se de uma<br />
“aposta clara no presente<br />
e no futuro”,<br />
tendo em conta a<br />
velocidade da mudança<br />
e o impacto<br />
que a evolução<br />
tecnológica está a<br />
ter na economia<br />
e na sociedade. O<br />
objetivo é que o programa impacte<br />
todo o país, as suas regiões, empresas<br />
e pessoas.<br />
Já estamos a receber<br />
candidaturas das<br />
empresas para a 4ª edição<br />
do UPskill. Se precisa de<br />
talento qualificado júnior,<br />
participe nesta iniciativa!<br />
Contacte a APDC e<br />
informe-nos das suas<br />
necessidades específicas<br />
de recursos TIC. Consulte<br />
o site upskill.pt e envie<br />
email para<br />
empresa@upskill.pt<br />
63
apdc news<br />
“Desde a montagem do programa<br />
que temos parceiros e entidades<br />
empenhadas no seu desenvolvimento.<br />
Têm sido peças fundamentais”,<br />
acrescentou Rogério Carapuça,<br />
salientando as “características especiais”<br />
da iniciativa, que “não forma<br />
pessoas em abstrato para empregos<br />
que possam ou não<br />
existir, mas sim para<br />
empresas em concreto.<br />
O presidente<br />
da APDC considerou<br />
ainda que “as<br />
próximas edições<br />
decorrerão num<br />
contexto económico<br />
diferente e muito desafiante, com<br />
duas guerras e uma inflação muito<br />
alta. É um contexto complexo para<br />
este programa, já considerado uma<br />
prática europeia de excelência”.<br />
Já para Maria de Lurdes Rodrigues,<br />
reitora do ISCTE, o UPskill “faz parte<br />
de um movimento mais abrangente<br />
que o país tem necessidade de fazer”<br />
em termos de formação, já que num<br />
cenário em que o PRR aposta forte<br />
na formação, há muitas iniciativas<br />
que são “pouco pensadas e em<br />
excesso”, e muito distantes do objetivo<br />
fundamental, uma verdadeira<br />
requalificação de pessoas. Por isso, o<br />
programa “é suficientemente estruturado<br />
para permitir aos formandos<br />
ter uma certificação com valor de<br />
O programa responde<br />
aos anseios dos<br />
formandos, mas<br />
também às necessidades<br />
reais da economia<br />
mercado e para responder às necessidades<br />
deste. Talvez tenhamos<br />
alguma coisa a aprender com este<br />
exemplo”, frisou.<br />
A iniciativa permitiu ainda, na<br />
perspetiva de Carlos Mata, vice-presidente<br />
do IPS - Instituto Politécnico<br />
de Setúbal e em representação do<br />
CCISP, um reforço<br />
ainda maior das<br />
sinergias da rede<br />
nacional de politécnicos<br />
com as empresas,<br />
fortalecendo a<br />
cooperação entre<br />
as partes. Aliás, já<br />
foram mesmo lançadas<br />
várias pós-graduações em temas<br />
considerados relevantes, assim<br />
como mais Cursos Técnicos Superiores<br />
Profissionais (CTeSP).<br />
DAR BASES PARA EVOLUIR<br />
Também Luís Carriço, diretor da<br />
FCUL, confirma que o UPSkill permitiu<br />
“um conjunto de experiências<br />
interessantes” e deu resposta a<br />
“necessidades que era preciso resolver,<br />
com uma estruturação que não<br />
se encontra numa série de outras<br />
iniciativas que estão a acontecer.<br />
O caminho não é formar pessoas a<br />
metro para as TIC, mas sim garantir<br />
formações estruturadas como esta,<br />
que têm futuro”.<br />
Acresce que este perfil de iniciativas<br />
“ajuda a influenciar a forma como as<br />
universidades e politécnicos terão<br />
de se organizar e ter uma maior<br />
aproximação às empresas. Não<br />
podem existir universidades que só<br />
se preocupam consigo mesmas. Isto<br />
vai acabar em breve e programas<br />
como este estão a ajudar a levantar<br />
a questão, tornando percetível que<br />
universidades e empresas têm de<br />
trabalhar em conjunto”.<br />
Seguiu-se uma conversa entre a<br />
diretora executiva da APDC, Sandra<br />
Fazenda Almeida, e dois formandos<br />
que participaram na 1ª edição do<br />
UPskill. André Santos, contratado<br />
pela Capgemini, e David Alvim, que<br />
trabalha na Accenture, destacaram<br />
a importância desta formação e<br />
salientaram as ferramentas proporcionadas,<br />
que preparam os formandos<br />
para ficarem mais autónomos<br />
e procurarem em permanência um<br />
maior conhecimento, ganhando<br />
capacidade para enfrentar novos<br />
desafios no domínio das TIC. O que<br />
é essencial, tendo em conta que o<br />
mercado é muito dinâmico e as tecnologias<br />
estão sempre a evoluir.<br />
O sucesso do UPskill foi destacado<br />
pelo secretário de Estado do<br />
Trabalho, Miguel Fontes, para quem<br />
o programa “responde aos anseios<br />
dos formandos, mas também às<br />
necessidades reais da economia e<br />
da sociedade, ao permitir acelerar<br />
a formação e disponibilizar um<br />
contingente de pessoas qualificadas<br />
à medida. As empresas foram<br />
chamadas desde a primeira hora a<br />
identificar as suas necessidades e a<br />
construírem conjuntamente com as<br />
IES as formações. É isso que torna o<br />
programa bem-sucedido”. Assim, há<br />
que “insistir neste paradigma, que<br />
assenta o nosso perfil de especialização<br />
na produção de produtos e<br />
serviços de alto valor económico, forçando<br />
a que a economia se mova a<br />
um ritmo mais acelerado. Não só nas<br />
TIC, mas nos setores tradicionais de<br />
emprego intensivo, onde é essencial<br />
ter mão-de-obra qualificada”. Para<br />
este responsável, “o modelo está<br />
testado, já demostrou e funciona”.•<br />
64
AL<strong>IA</strong>NÇA PARA A IGUALDA<strong>DE</strong> NAS TIC<br />
APDC colabora no reforço<br />
de mulheres na tecnologia<br />
A associação juntou-se a uma rede que agrega cerca de 200 organizações em torno de um objetivo comum:<br />
aumentar a participação das mulheres na área tecnológica, através da promoção de um vasto leque de<br />
iniciativas.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
NO ÂMBITO do 3º Encontro da<br />
Aliança para a Igualdade nas TIC,<br />
que decorreu a 14 de dezembro, a<br />
APDC aderiu a este movimento. Uma<br />
iniciativa que tem vindo a promover<br />
a inclusão digital das mulheres e<br />
o reforço da sua participação nas<br />
engenharias e nas tecnologias,<br />
consolidando e estruturando formas<br />
de cooperação sistemáticas e de divulgação<br />
do trabalho realizado pelas<br />
entidades parceiras.<br />
Esta aliança, a que aderiu na mesma<br />
altura a NTT Data, entende que a<br />
transição digital vai impor, necessariamente,<br />
o aumento da participação<br />
de mulheres. Por isso, assume-se<br />
como uma plataforma agregadora<br />
em torno deste objetivo, contando<br />
com uma rede de cerca de 200 organizações,<br />
entre entidades parceiras,<br />
instituições de ensino superior e<br />
escolas básicas e secundárias.<br />
O projeto foi formalizado há dois<br />
anos pelo governo, na sequência<br />
do envolvimento das entidades<br />
governamentais, universidades e<br />
empresas no programa ‘Engenheiras<br />
Por Um Dia’. Assume-se como<br />
o maior cluster para a promoção da<br />
igualdade nas TIC, com iniciativas<br />
para o aumento da participação de<br />
mulheres no setor.<br />
Este programa já chegou a 12.455<br />
jovens dos ensinos básico e secundário,<br />
através de atividades práticas<br />
laboratoriais, sessões de role model<br />
e mentoria. As entidades aderentes,<br />
Reportagem:<br />
https://bit.ly/3NLjd79<br />
incluindo a APDC, assumem um<br />
conjunto de compromissos e contribuem<br />
para a concretização do Eixo 3<br />
“Desenvolvimento científico e tecnológico<br />
igualitário, inclusivo e orientado<br />
para o futuro” da Estratégia<br />
Nacional para a Igualdade e a Não<br />
Discriminação 2018-2030 “Portugal+<br />
Igual”. Com destaque para a cooperação<br />
de forma ativa e muito concreta<br />
para promover o objetivo mais<br />
genérico de combate à segregação<br />
sexual nas escolhas educativas e nas<br />
profissões, nas suas várias dimen-<br />
sões. Outras metas são promover<br />
o alargamento, cobertura nacional<br />
e eficácia das parcerias institucionais<br />
do ‘Engenheiras Por Um Dia’,<br />
mobilizar e estabelecer pontes entre<br />
as entidades parceiras, dinamizar a<br />
operacionalização das atividades e<br />
iniciativas e disponibilizar materiais<br />
de informação e sensibilização, bem<br />
como dados estatísticos relevantes,<br />
entre outros.•<br />
65
apdc news<br />
PORTUGAL AS A TECH HUB<br />
Intensificar ligações e partilha<br />
de know-how<br />
Juntar líderes de empresas TIC presentes no mercado nacional, algumas com investimentos em centros de<br />
competência tecnológicos, a inovadores, empreendedores e empresas internacionais potencialmente interessadas<br />
em instalar-se no país foi o objetivo de mais um ‘Portugal as a Tech Hub’.<br />
Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />
66<br />
Reportagem:<br />
https://bit.ly/3NSzRSG<br />
Fotos:<br />
https://bit.ly/3vlDvOl<br />
ESTA INIC<strong>IA</strong>TIVA, que resultou de<br />
uma parceria entre a APDC e a AICEP<br />
Portugal Global, decorreu pelo terceiro<br />
ano consecutivo, à margem da<br />
Web Summit. Estiveram presentes os<br />
protagonistas do ecossistema digital,<br />
numa conversa informal sobre o presente<br />
e o futuro do setor e do país,<br />
potenciando desta forma novas<br />
oportunidades de negócio e de colaboração<br />
entre os vários envolvidos.<br />
Todos os convidados da APDC eram<br />
responsáveis dos patrocinadores<br />
anuais da associação, onde esteve o<br />
novo presidente da AICEP, Filipe Santos<br />
Costa, assim como o presidente<br />
da APDC, Rogério Carapuça.<br />
O secretário de Estado da Internacionalização,<br />
Bernardo Ivo Cruz, na sua<br />
intervenção, considerou a transformação<br />
digital “uma grande tempestade<br />
pela qual todos estamos a atravessar”.<br />
Mas, tendo em conta que as<br />
velocidades a que está a ser feita são<br />
completamente distintas, dependendo<br />
de cada organização, defendeu a<br />
necessidade de criar condições para<br />
que todos consigam ultrapassar a
Resultado de uma parceria<br />
entre a APDC e o AICEP,<br />
o evento realizou-se pelo<br />
terceiro ano consecutivo<br />
tempestade de forma similar. Para<br />
isso, será necessário apostar em<br />
iniciativas como esta, que promovem<br />
a colaboração e a aproximação entre<br />
todos os intervenientes.<br />
Recorde-se que o governante, na tomada<br />
de posse da nova administração<br />
da AICEP, enumerou como um<br />
dos objetivos essenciais, para que<br />
a internacionalização da economia<br />
continue a contribuir para a competitividade<br />
do país, a aposta em aprofundar<br />
os mecanismos de atração e<br />
retenção de investimento, criando as<br />
condições necessárias ao acolhimento<br />
de investimento produtivo.•<br />
67
apdc news<br />
APDC & VDA | DIGITAL UNION: PACOTE CONETIVIDA<strong>DE</strong><br />
Quem vai pagar as redes<br />
gigabit na UE?<br />
Bruxelas tem um pacote com três projetos distintos para acelerar as redes gigabit no espaço comunitário. Mas<br />
há críticas de vários quadrantes e o tema do investimento está no centro do debate, com telcos e big tech a<br />
esgrimirem argumentos.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
68<br />
Reportagem:<br />
https://bit.ly/41LqBp2<br />
Vídeo:<br />
https://bit.ly/3H8eoBk<br />
ESTÁ EM MARCHA a negociação e<br />
aprovação do Pacote Conectividade,<br />
proposta da Comissão Europeia que<br />
tem como meta construir rapidamente<br />
as infraestruturas de alta velocidade<br />
em toda a União Europeia,<br />
alcançando assim as ambiciosas<br />
metas da Década Digital. O mercado<br />
aguarda com expectativa a sua<br />
entrada em vigor, mas subsistem<br />
temas que geram desacordos entre<br />
os players. Na 7ª Sessão do Digital<br />
Union, um ciclo de webinars sobre<br />
o digital realizado pela APDC, em<br />
parceria com a VdA, realizado a 31<br />
de outubro, debateu-se o projeto e o<br />
seu impacto.<br />
“Com o Pacote Conectividade, a<br />
UE quer ultrapassar os desafios da<br />
implementação de infraestruturas<br />
de comunicações, que é lenta e<br />
dispendiosa. E fornecer às entidades<br />
nacionais orientações sobre o acesso<br />
às redes, incentivando a partilha de
Fernando Resina da Silva<br />
Sócio da Área Comunicações, Proteção de Dados<br />
& Tecnologia, Sócio Responsável da Área PI<br />
Transacional, VdA<br />
Ana Amoroso das Neves<br />
Head of the Internet Governance Office, FCT –<br />
Fundação para a Ciência e a Tecnologia<br />
Pedro Mota Soares<br />
Secretário Geral, APRITEL<br />
João de Araújo Ferraz<br />
Associado da área de ICT, VdA<br />
Helena Martins<br />
Head of Government Affairs and Public Policy –<br />
Portugal, Google<br />
Moderação Sandra Fazenda Almeida<br />
Diretora Executiva, APDC<br />
infraestruturas e o abandono de tecnologias<br />
antigas”, começou por referir<br />
Fernando Resina da Silva - sócio<br />
da Área Comunicações, Proteção de<br />
Dados & Tecnologia, Sócio Responsável<br />
da Área PI Transacional da VdA,<br />
no arranque deste webinar.<br />
O advogado destacou<br />
ainda as críticas<br />
ao projeto, nomeadamente<br />
entre os<br />
operadores europeus,<br />
sobre a intenção<br />
de Bruxelas em<br />
“forçar a partilha de<br />
redes, em vez de<br />
criar mecanismos<br />
para incentivar essa partilha”. Ou<br />
“estabelecer uma regulação ex-ante,<br />
quando o setor deve ser governado<br />
por normas da concorrência, ex-post,<br />
e a própria CE tem defendido isso”.<br />
Ou ainda de excluir as “infraestruturas<br />
nacionais críticas” e de ignorar<br />
quem é que vai pagar estes elevados<br />
investimentos.<br />
João Ferraz, associado da área de ICT<br />
da VdA, fez uma apresentação do<br />
O mercado aguarda<br />
com expectativa a<br />
entrada em vigor das<br />
novas regras, mas<br />
subsistem desacordos<br />
entre os players<br />
projeto europeu, que se insere num<br />
dos quatro eixos do amplo programa<br />
Década Digital, com o qual Bruxelas<br />
definiu múltiplas metas a alcançar<br />
até 2030 nas áreas de skills, governança,<br />
negócios e infraestruturas.<br />
Surge precisamente para cumprir o<br />
objetivo de garantir<br />
conetividade<br />
gigabit para todos<br />
e cobertura de alta<br />
velocidade móvel<br />
(pelo menos de 5G)<br />
em todo o lado.<br />
Em cima da mesa<br />
estão três documentos:<br />
proposta de<br />
Regulamento Infraestruturas Gigabit,<br />
que estabelece regras para permitir<br />
uma implantação mais rápida,<br />
barata e eficaz de redes gigabit;<br />
projeto de Recomendação Gigabit,<br />
com orientações sobre as condições<br />
de acesso às redes de comunicações<br />
dos operadores com poder de mercado<br />
significativo (PMS), incentivar o<br />
abandono das tecnologias clássicas<br />
e garantir a implantação acelerada<br />
Moderação Tiago Bessa<br />
Sócio da Área de Comunicações, Proteção de<br />
Dados & Tecnologia, PI Transacional, VdA<br />
das redes gigabit; e consulta pública<br />
exploratória sobre o futuro da conetividade<br />
e das suas infraestruturas.<br />
RAZÕES <strong>DE</strong> UNS E <strong>DE</strong> OUTROS<br />
Nesta consulta, há aspetos convergentes<br />
nas quase 400 respostas dos<br />
players: necessidade de inovação<br />
e investimento eficiente em novas<br />
redes; aproveitamento do mercado<br />
único para impulsionar a inovação<br />
e investimento, através da simplificação<br />
e harmonização da legislação<br />
aplicável na UE, sobretudo no espetro;<br />
e segurança das redes, com o<br />
aumento das tensões geopolíticas.<br />
69
apdc news<br />
70<br />
No tema da fair contribution, que envolve<br />
a eventual contribuição das big<br />
tech para o investimento nas redes,<br />
as opiniões foram muito divergentes.<br />
“Os operadores consideram que<br />
há necessidade de investir e que<br />
não devem ser só eles os envolvidos,<br />
pois as big tech utilizam grande parte<br />
da banda disponível.<br />
Há ainda temas<br />
de neutralidade da<br />
rede e o modelo<br />
para a partilha de<br />
custos e quem é<br />
que deve pagar. O<br />
debate vai continuar”,<br />
garante o<br />
responsável.<br />
No debate que<br />
se seguiu, moderado por Sandra<br />
Fazenda Almeida, diretora executiva<br />
da APDC, e Tiago Bessa, sócio da<br />
área de Comunicações, Proteção de<br />
Dados & Tecnologia, PI Transacional<br />
da VdA, ficaram claras as diferenças<br />
e divergências, consoante o perfil<br />
dos players de mercado.<br />
Helena Martins, head of Government<br />
Affairs and Public Policy da Google<br />
Portugal, está preocupada pelo facto<br />
de os operadores de telecomunicações<br />
continuarem a defender uma<br />
posição de imposição de uma contribuição<br />
às gigantes tecnológicas. Trata-se<br />
de um “problema de premissa.<br />
As telcos alegam que precisam de<br />
financiamento para preencher um<br />
gap de investimento de centenas de<br />
milhões de euros para construir as<br />
redes de próxima geração. Mas, na<br />
nossa opinião, o tema tem de ser visto<br />
noutra perspetiva: o investimento<br />
ainda não foi feito e, de acordo com<br />
o histórico dessas empresas, isso<br />
vai acontecer no desenvolvimento<br />
normal dos negócios”.<br />
No tema da fair<br />
contribution, em termos<br />
de investimento nas<br />
redes, as posições das<br />
telcos e das big tech são<br />
divergentes<br />
“Na verdade, existe uma relação<br />
simbiótica entre os fornecedores<br />
de conteúdos e aplicações, como<br />
a Google, e telcos. As primeiras<br />
investem nos serviços e, a partir<br />
daí, os utilizadores têm interesse<br />
em contratar planos tarifários para<br />
poderem aceder a esses conteúdos.<br />
Por isso, há complementaridade,<br />
pelo<br />
que não existe um<br />
problema de mercado”,<br />
remata.<br />
Já os operadores<br />
têm uma visão<br />
distinta. Pedro Mota<br />
Soares, secretáriogeral<br />
da Apritel,<br />
garante que o tema<br />
de fundo é conseguir garantir na<br />
Europa as condições que promovam<br />
o desenvolvimento das redes, para<br />
não ficar atrás de outras regiões do<br />
mundo. Tal implica um esforço de<br />
investimento muito elevado. Só nas<br />
redes 5G, a previsão de investimento<br />
é de 300 mil milhões de euros, pelo<br />
que “há que criar todas as condições<br />
para que esta aposta<br />
seja real, porque<br />
mudará a forma de<br />
viver e trabalhar”.<br />
Existindo na UE seis<br />
gigantes tecnológicas<br />
que utilizam<br />
56% das redes, o<br />
que gera um enorme<br />
esforço, que vai aumentar ainda<br />
mais, defende que é “importante que<br />
haja uma justa contribuição de todos<br />
os que utilizam as redes, para garantir<br />
o objetivo de continuar a fazer o<br />
investimento de que Portugal e a Europa<br />
precisam. O jogo, de facto, fica<br />
muitas vezes desequilibrado. Não<br />
há level playing field. Os operadores<br />
O tema da fair share<br />
está a complicar os<br />
debates em torno de<br />
uma human centric<br />
internet<br />
estão sujeitos a regulação e pagam<br />
taxas e as big tech não, quando usam<br />
significativamente a rede. Tem se ser<br />
aplicado o princípio de uma contribuição<br />
justa, onde todos contribuam<br />
de forma adequada”.<br />
Também Ana Amoroso das Neves,<br />
head of the Internet Governance<br />
Office da FCT - Fundação para a<br />
Ciência e a Tecnologia, diz que “estamos<br />
a começar um período muito<br />
curioso na governação da internet a<br />
nível mundial”, com múltiplos pactos<br />
e acordos. A Europa, por sua vez,<br />
“tenta dar as suas respostas, num<br />
esforço para equilibrar um mercado<br />
dominado pelas big tech norte-americanas,<br />
que estão a contribuir para<br />
um aumento do tráfego de uma<br />
forma brutal, por serem grandes<br />
fornecedores de conteúdos”.<br />
São gigantes que dominam o mercado<br />
mundial, num cenário de uma<br />
internet cada vez mais imersiva e<br />
uma produção de dados a disparar.<br />
“Os providers têm alguns problemas<br />
em acompanhar esta necessidade<br />
tão grande de acesso a mais dados,<br />
o que provoca esta<br />
dialética sobre<br />
quem paga o quê<br />
e onde está o consumidor.<br />
Há aqui<br />
muitas questões e<br />
a existência de um<br />
fair share é a discussão<br />
do momento”,<br />
refere, admitindo que o tema está<br />
mesmo “a influenciar e a complicar<br />
os debates em torno de uma human<br />
centric internet”.•
DOT TOPICS APDC | COM VODAFONE PORTUGAL<br />
Trazer inovação de fora<br />
para dentro<br />
Reforçar o ecossistema empreendedor nacional é o objetivo do Vodafone Power Lab. Há quase 15 anos que<br />
apoia startups de base tecnológica. Já são mais de 200 e, a um nível mais profundo, cerca de 60.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
Em podcast:<br />
https://spoti.fi/3H6TFxJ<br />
Em vídeocast:<br />
https://bit.ly/48K2l9b<br />
ASSUME-SE como um hub de inovação<br />
e de empreendedorismo digital<br />
e fornece múltiplos recursos aos<br />
inovadores do mercado nacional.<br />
Agora, com as aprendizagens que<br />
retirou de uma década e meia de<br />
experiência, está a avançar com mais<br />
novidades, como adiantou a líder do<br />
programa Vodafone Power Lab, no<br />
mais recente Dot Topics APDC. Um<br />
episódio divulgado a 4 de dezembro,<br />
onde participou o CEO de uma das<br />
empresas apoiadas, a Follow Inspiration,<br />
que opera nas áreas de robótica,<br />
reconhecimento de imagem e <strong>IA</strong>.<br />
No “fervilhante mundo do empreendedorismo<br />
português”, como<br />
começou por referir Sandra Fazenda<br />
Almeida, diretora executiva da APDC<br />
e moderadora deste novo episódio<br />
dos Dot Topics, realizado em parceria<br />
com a Vodafone, o Power Lab assume<br />
um papel de relevo. ‘Nascido’<br />
em 2009, tem desempenhado “um<br />
papel crucial no apoio às startups<br />
e na criação de oportunidades de<br />
negócio, assim como no estabelecimento<br />
de parcerias e colaborações”,<br />
como avançou Filipa Pontes, responsável<br />
pelo Vodafone Power Lab.<br />
71
apdc news<br />
72<br />
Todo o projeto está estruturado para<br />
ajudar as startups a crescer num<br />
mercado muito competitivo, através<br />
da oferta de “recursos valiosos,<br />
como o programa de mentoria<br />
anual, o acesso a infraestruturas<br />
de pesquisa e desenvolvimento e, o<br />
mais importante, uma rede alargada<br />
de contactos”, acrescenta a mesma<br />
responsável.<br />
“Ao apoiar startups tecnológicas e<br />
empreendedores, estamos também<br />
a dar suporte ao desenvolvimento<br />
de soluções que vão beneficiar<br />
empresas, todo o ecossistema onde<br />
estão inseridas e a sociedade em<br />
geral. A nossa principal missão é<br />
trazer inovação de fora para dentro<br />
de casa, promovê-la e potenciar o<br />
progresso tecnológico, em Portugal<br />
e além-fronteiras”, explica ainda,<br />
adiantando que todo o ecossistema<br />
Vodafone já está a tirar proveito<br />
disso, seja a empresa e os seus<br />
colaboradores, sejam os parceiros,<br />
clientes e fornecedores.<br />
Um projeto que está desde 2018<br />
a ser desenvolvido no Vodafone<br />
Power Lab é a Follow Inspiration. O<br />
seu CEO e fundador, Luís de Matos,<br />
avança que “é a prova em como o<br />
empreendedorismo feito dentro da<br />
universidade pode<br />
sair para o mundo<br />
empresarial”. Tudo<br />
começou quando<br />
estava a terminar a<br />
licenciatura em engenharia<br />
informática,<br />
na Universidade<br />
da Beira interior, e<br />
quis terminar essa etapa a criar algo<br />
de útil.<br />
“Fazendo das fraquezas fortalezas”,<br />
porque estava em cadeira de rodas,<br />
criou uma tecnologia que permitiu<br />
desenvolver um carrinho de<br />
compras autónomo para pessoas<br />
A Microsoft considerou<br />
a tecnologia da Follow<br />
Inspiration a terceira<br />
melhor a nível mundial<br />
com mobilidade reduzida. Com ele,<br />
esteve em muitos concursos de<br />
empreendedorismo, acabando por<br />
ganhar alguns. Em 2012, ano da criação<br />
oficial da empresa, a Microsoft<br />
considerou a tecnologia da Follow<br />
Inspiration como a terceira melhor<br />
a nível mundial. E “foi aí que tudo<br />
começou”.<br />
Hoje, a empresa<br />
assume-se como um<br />
“produtor de robótica<br />
100% português,<br />
com várias tipologias,<br />
sempre com a<br />
mesma dinâmica:<br />
termos robôs de<br />
interação com pessoas e robôs de<br />
transporte 100% autónomo”, explica<br />
o fundador. Depois, “para vencer a<br />
barreira do ‘ser pequeno’, o que só<br />
é possível com uma interligação a<br />
grandes empresas nacionais”, aderiu<br />
ao Vodafone Power Lab, ‘casando’ os<br />
interesses entre a sua expertise e o<br />
ecossistema empresarial do grupo,<br />
para irem ao mercado em conjunto.<br />
O projeto está agora totalmente<br />
direcionado para a indústria.<br />
“Temos robótica de transporte desde<br />
os 100 kg até às três toneladas, o<br />
típico empilhador que costumamos<br />
ver dentro<br />
do armazém, mas<br />
autónomo, feito<br />
em Portugal e com<br />
tecnologia nacional”,<br />
para clientes<br />
como a AutoEuropa,<br />
Continental, Delta<br />
ou Sonae, comenta<br />
Luís de Matos. E já olham lá para<br />
fora, porque a evolução “passa sempre<br />
muito por abrir mais mercado<br />
e implementar a tecnologia, mas<br />
estando sempre à procura de novas<br />
realidades dentro da automação e<br />
da robótica autónoma e inteligente.<br />
Este projeto está<br />
estruturado para<br />
ajudar as startups<br />
e empreendedores a<br />
crescer num mercado<br />
muito competitivo<br />
Para conseguir ir ao encontro não<br />
só de processos de trabalho mais<br />
produtivos, como abordando os<br />
temas da responsabilidade social e<br />
do ambiente”.<br />
São estes casos de sucesso que<br />
inspiram o Vodafone Power Lab a<br />
fazer cada vez mais. E muitas das<br />
soluções estão já<br />
a ser implementadas<br />
internamente<br />
pela Vodafone e os<br />
seus parceiros. Por<br />
isso, vão alargar o<br />
programa anual de<br />
mentoria e de apoio<br />
a startups tecnológicas,<br />
que conta com diversos benefícios<br />
e a alocação de mentores especializados.<br />
Têm ainda um espaço de<br />
co-working, dedicado aos projetos,<br />
onde as equipas podem trabalhar<br />
e o ‘Get in the Ring’, uma grande<br />
competição anual para encontrar<br />
soluções tecnológicas inovadoras<br />
para desafios atuais.•
WEBMORNING APDC | COM ALTICE LABS<br />
Como é que a <strong>IA</strong> generativa<br />
nos pode ajudar?<br />
O ChatGPT colocou a <strong>IA</strong> no centro das atenções. Mas a verdade é que nas empresas já se multiplicavam as<br />
ferramentas para tirar partido desta tecnologia disruptiva. E há ofertas que simplificam a sua adoção.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
Reportagem:<br />
https://bit.ly/47ozKVC<br />
Vídeo:<br />
https://bit.ly/41IPWA3<br />
APESAR da Inteligência Artificial (<strong>IA</strong>)<br />
existir há muito, acompanhando o<br />
nascimento da informática e dos<br />
computadores, a verdade é que o<br />
lançamento do ChatGPT, em novembro<br />
de 2022, acabou por ser o verdadeiro<br />
catalisador, com a sua oferta<br />
de uma <strong>IA</strong> generativa para todos. No<br />
mercado nacional, cresce o número<br />
de soluções para fazer chegar, de<br />
forma simples, as vantagens destas<br />
ferramentas às empresas.<br />
No mais recente WebMorning APDC<br />
em parceria com a Altice Labs,<br />
realizado a 24 de outubro, foram<br />
apresentadas as ofertas desenvolvidas<br />
pelo grupo Altice. Apesar de<br />
Jorge Miguel Sousa, head of Unified<br />
Communications, Virtual Assistants<br />
& M2M/IoT Managed Connectivity<br />
da Altice Labs, não ter dúvidas de<br />
que o lançamento do ChatGPT, da<br />
OpenAI, ter sido o “catalisador muito<br />
forte” da utilização da <strong>IA</strong> generativa<br />
pela sociedade em geral. Mesmo<br />
não tendo havido, do ponto de vista<br />
académico ou tecnológico, uma<br />
grande revolução, “o facto é que a <strong>IA</strong><br />
já estava a ser utilizada em muitos<br />
produtos e serviços”, sublinhou. E<br />
os exemplos são muitos, desde uma<br />
simples utilização do Google Maps,<br />
73
apdc news<br />
74<br />
que tem por detrás uma <strong>IA</strong> que<br />
faz recomendações dos melhores<br />
trajetos e consegue saber o que<br />
são tendências e comportamentos<br />
dos próprios utilizadores, até às<br />
pesquisas na internet ou num site,<br />
que usam técnicas de <strong>IA</strong> para, com<br />
segmentação dos utilizadores, chegarem<br />
à melhor solução.<br />
Nas empresas, o gestor garante que<br />
um mercado altamente competitivo<br />
está a levar a uma adoção crescente<br />
de ferramentas de <strong>IA</strong> e a reforçar a<br />
experiência do utilizador, de uma<br />
forma cada vez mais personalizada,<br />
contextualizada e em tempo real. Em<br />
paralelo, estas soluções estão também<br />
a contribuir para reduzir custos<br />
operacionais que possam existir na<br />
relação entre o utilizador e a empresa,<br />
entre outras situações.<br />
“As ferramentas são<br />
diversas, desde uma<br />
tendência muito<br />
forte de serviços de<br />
selfcare a interfaces<br />
de voz de forma<br />
natural, à classificação<br />
do cliente e<br />
de qual o seu nível<br />
de satisfação. Há capacidade de ajustamento<br />
e permitem a criação de<br />
insights sobre o que está a acontecer,<br />
numa perspetiva mais abrangente,<br />
O mercado está a<br />
utilizar cada vez mais<br />
as ferramentas de <strong>IA</strong> e<br />
a reforçar a experiência<br />
dos utilizadores<br />
de tendências de contacto”, explica.<br />
Trata-se que “um conjunto de ferramentas<br />
críticas que as empresas podem<br />
adotar para serem mais ágeis e<br />
mais eficazes. Não podem ter medo,<br />
têm é de perceber<br />
quais são os seus<br />
problemas e aquilo<br />
que são as expetativas<br />
dos clientes,<br />
para poderem usar<br />
estas soluções da<br />
forma adequada”.<br />
Acresce todo o<br />
potencial da <strong>IA</strong> generativa, que tem<br />
na sua base os modelos LLM (large<br />
language models).<br />
Jorge Sousa admite, porém, que<br />
“sendo a <strong>IA</strong> uma área com grandes<br />
desafios”, vai obrigar a “bastante<br />
regulação”. É que em modelos como<br />
o ChatGPT, não se<br />
conhecem as fontes<br />
de treino, pelo que<br />
podem ser<br />
utilizados para “criar<br />
comportamentos ou<br />
controlar e influenciar<br />
fortemente<br />
a perceção das<br />
pessoas sobre algumas realidades e<br />
factos. Tem de haver uma regulação<br />
forte, para garantir que esta tecnologia,<br />
que é fundamental e terá uma<br />
A Altice apostou<br />
na criação de<br />
uma plataforma<br />
conversacional, em low<br />
code, a que chamou<br />
BOTSholl<br />
imensa aplicabilidade em qualquer<br />
setor de atividade, possa ser usada<br />
sem riscos. Aqui, os reguladores têm<br />
um papel forte”, alerta.<br />
Cada empresa “terá de pesar entre<br />
os riscos inerentes e as vantagens<br />
da adoção para o negócio” da <strong>IA</strong>. E,<br />
para facilitar esse processo, particularmente<br />
nas PME, eliminando<br />
barreiras, como a necessidade de<br />
ter skills altamente especializadas, a<br />
Altice tem vindo a apostar na criação<br />
de uma plataforma que chamou de<br />
BOTShool. Trata-se de uma conversational<br />
platform, em low code, que<br />
dá uma ferramenta simples, através<br />
da qual se pode desenhar, de forma<br />
autónoma, um assistente virtual<br />
para a relação com os clientes, com<br />
garantia de multicanalidade.<br />
A plataforma está<br />
agora a evoluir, com<br />
a introdução da <strong>IA</strong><br />
generativa, apostando-se<br />
numa maior<br />
humanização na<br />
forma como a informação<br />
é apresentada aos clientes.<br />
Em paralelo, permitirá às empresas<br />
tirar partido da maior capacidade<br />
e inteligência das soluções desenvolvidas<br />
pelas big tech. No fundo,<br />
assume-se como um “facilitador de<br />
fazer chegar este tipo de modelos de<br />
<strong>IA</strong> generativa (como o ChatGPT, Bard<br />
e Big) à indústria”, podendo escolher-se<br />
o modelo que melhor serve o<br />
propósito de cada organização.•
76<br />
“Não existem recursos humanos para limpar a floresta a nível nacional, daí ter nascido esta ideia”, explica o CEO da Ingeniarius
cidadania<br />
SAFEFOREST:<br />
robótica na prevenção<br />
de fogos<br />
Seria uma espécie de tropa de choque ao serviço da floresta. Uma<br />
vez no terreno, “soldados”- robots limpariam os terrenos arborizados,<br />
eliminando a vegetação que funciona como combustível, quando<br />
deflagram incêndios. A ideia, por ser boa, está a tornar-se realidade.<br />
TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDA<br />
O<br />
Instituto de Sistemas e Robótica, da Universidade<br />
de Coimbra, já andava envolvido num<br />
projeto que recorria à robótica para a prevenção<br />
de fogos, quando decidiu tomar a iniciativa de<br />
criar um consórcio para o desenvolvimento de uma<br />
solução robusta para este problema. Juntou a Associação<br />
para o Desenvolvimento Aerodinâmico Industrial<br />
(ADAI), a SILVAPOR (empresa da área florestal),<br />
a Carnegie Mellon University (CMU), uma das mais<br />
importantes universidades americanas na área da robótica,<br />
e convidou a Ingeniarius (empresa portuguesa<br />
especializada em soluções para robótica móvel) para<br />
liderar um projeto que se veio a chamar Safeforest.<br />
De 2019, ano em que a iniciativa foi lançada, até<br />
meados de 2023, esta ideia ganhou forma, com a participação<br />
ativa do programa CMU Portugal, que visa<br />
estabelecer relações entre entidades portuguesas e a<br />
CMU. Micael Couceiro, CEO da Ingeniarius, diz que<br />
este período foi dedicado ao desenvolvimento da “capacidade<br />
de locomoção” destes robots “todo o terreno”.<br />
Falta ainda afinar “a componente de perceção/<br />
ação”, para que as máquinas aprendam, através de <strong>IA</strong>,<br />
a distinguir quais os elementos da floresta que devem<br />
ser removidos.<br />
No futuro, o objetivo, frisa Micael Couceiro, é dotar<br />
o país com um número de máquinas suficiente<br />
para suprir a falta de recursos que hoje se verifica: “Não<br />
existem recursos humanos para limpar a floresta a nível<br />
nacional, daí ter nascido esta ideia”. Sublinhando<br />
que neste caso não se trata de substituir humanos por<br />
robots, o CEO da Ingeniarius diz que a plataforma Safeforest<br />
terá sempre de ser operada por humanos e que<br />
as máquinas vão, isso sim, dar assistência aos profissionais<br />
que operam no terreno, contribuindo para uma<br />
maior eficácia e segurança destas intervenções.<br />
Com as alterações climáticas e a subida média da<br />
temperatura do ar, os incêndios florestais tendem a<br />
ocorrer com maior gravidade de ano para ano, daí que<br />
a expetativa seja a de que o Safeforest possa percorrer<br />
o seu last mile e tornar-se um ativo disponível para a<br />
prevenção de fogos: “Existem agora esforços no plano<br />
europeu para levar este projeto para o próximo patamar.<br />
Há cerca de seis meses, estabelecemos um consórcio<br />
europeu, que envolve uma dúzia de parceiros de<br />
vários países. Alguns são entidades como bombeiros e<br />
serviços de proteção civil, ou seja, organizações constituídas<br />
por utilizadores finais da nossa tecnologia. O<br />
objetivo é maturar a tecnologia”, melhorando a performance<br />
destes “soldados”- robots.<br />
Se o projeto evoluir favoravelmente, tanto do ponto<br />
de vista tecnológico, como ao nível da sua produção,<br />
Micael Couceiro estima que os robots a que ajudou a dar<br />
“vida” possam começar a ser comercializados e a chegar<br />
ao terreno dentro de quatro anos.•<br />
77
ultimas<br />
SABE COMO ESCOLHER UM MONITOR?<br />
A ESCOLHA de um monitor é uma decisão importante, pois pode ter um impacto significativo na experiência<br />
de trabalho ou diversão. Por isso, é importante considerar quais as necessidades específicas na hora<br />
da compra. A HP avançou com algumas sugestões para uma melhor opção. Assim, a escolha do tamanho<br />
do ecrã depende das preferências pessoais e do perfil de utilização: um jogador prefere uma experiência<br />
mais envolvente e gosta de um monitor maior, tal como quem o usa para trabalhar, especialmente em situações<br />
que têm a ver com aplicações de design ou edição de vídeo. Terá ainda de ter-se em conta a taxa<br />
de atualização, ou seja, o número de vezes por segundo que o ecrã é atualizado, assim como o tempo que<br />
o ecrã demora a mudar de uma cor para outra. Também os ângulos de visão determinam o quão bem o<br />
ecrã pode ser visto a partir de diferentes ângulos. Sem esquecer a resolução, que determina o número de<br />
pixels no ecrã, e a gama de cores que pode reproduzir. A fabricante disponibiliza uma ampla gama de monitores<br />
para gamers e utilizadores profissionais, que atendem às diferentes necessidades e orçamentos.•<br />
78<br />
<strong>DE</strong>SCOBRIR STARTUPS MAIS INOVADORAS<br />
CHAMA-SE aliança Alaian e pretende ajudar a descobrir as mais disruptivas startups com inovações em<br />
5G, que possam transformar a forma como as pessoas se ligam e vivem na era digital. A NOS foi o operador<br />
mais recente a juntar-se ao projeto, que integra oito das maiores empresas<br />
de telecomunicações a nível mundial. Encontrar startups com potencial<br />
para reinventar o setor das telecomunicações e disponibilizar-lhes ferramentas,<br />
conhecimento e acesso exclusivo a tecnologia, apoiado pela maior aliança<br />
de empresas de telecomunicações do mundo, é a ambição. Nomeadamente<br />
através do seu programa de Open Innovation, que dá acesso aos candidatos<br />
a um ecossistema global de tecnologia, infraestrutura e investimento, bem<br />
como à rede da Alaian, com presença em 65 mercados e mais de mil milhões<br />
de clientes. A Alaian foi criada em abril de 2022, assumindo-se como uma<br />
aliança única entre nove das maiores operadoras do mundo. NOS, Cellnex, KPN, MTN, Omantel, Orange,<br />
STC, Telefonica e Windtre.•
ROBUSTECER PROJETO EDUCACIONAL INOVADOR<br />
A MEO associou-se à Escola 42, um projeto educacional inovador que visa transformar a próxima geração de talento<br />
TIC. Fortalecendo o seu programa de responsabilidade social corporativa, assente na concretização de parcerias<br />
com impacto positivo na comunidade local, a marca do grupo Altice pretende com esta parceria acelerar o<br />
desenvolvimento do projeto 42 Porto, disponibilizando o que virá a ser o futuro espaço desta escola no Porto. A<br />
Escola 42 Porto é uma iniciativa de natureza filantrópica em que não é exigida qualquer propina aos alunos. Com<br />
um forte caráter inclusivo e um modelo pedagógico inovador,<br />
assente num sistema gamificado de projetos e desafios, permite<br />
total liberdade aos seus alunos e promove a aprendizagem<br />
e partilha entre pares. A equipa responsável pela Escola 42 já<br />
tinha colaborado com a Altice no projeto TUMO, em Coimbra.<br />
Agora, reforça no novo projeto, que é diferenciado e direcionado<br />
para pessoas a partir dos 17 anos e que, além das competências<br />
técnicas em diversas áreas da programação, trabalha<br />
a capacidade, a determinação, a autonomia e a resiliência dos<br />
seus alunos. Fundada em Paris, em 2013, a Escola 42 é considerada<br />
uma das melhores escolas de programação do mundo.<br />
Está presente em mais de 50 cidades.•<br />
ACELERAR EFICIÊNC<strong>IA</strong> NA FÓRMULA UM<br />
ACELERAR a eficiência operacional e desbloquear novas perceções, baseadas<br />
em dados, com vista à melhoria do desempenho, é o objetivo de uma parceria<br />
plurianual realizada entre a SAP e a equipa de Fórmula Um Mercedes-AMG<br />
PETRONAS. O projeto, com início em 2024, utiliza a<br />
solução SAP S/4HANA Cloud, que serve como base<br />
tecnológica, permitindo explorar a forma como<br />
a <strong>IA</strong> e as soluções de processamento na cloud<br />
da SAP podem ajudar a equipa a fundamentar e<br />
prever decisões, bem como a otimizar recursos e a<br />
preparar a sua infraestrutura de TI para o futuro.<br />
Sendo a eficiência a pedra angular do êxito na Fórmula<br />
Um, dominar o desafio dos custos limitados<br />
e otimizar a complexidade da cadeia de abastecimento<br />
são duas das áreas em que esta parceria<br />
se concentrará. A equipa de F1 Mercedes-AMG PE-<br />
TRONAS utilizará a solução SAP S/4HANA Finance<br />
para alocar, poupar e utilizar os recursos de forma<br />
mais eficiente. E com a tecnologia de <strong>IA</strong> incorporada da SAP Business AI, poderá<br />
prever os custos e predizer as necessidades do orçamento final, para além<br />
de otimizar tanto a cadeia de abastecimento, como os artigos em stock.•<br />
79
ultimas<br />
NOVA RESPOSTA AOS CIBERATAQUES<br />
CHAMA-SE Secure Future Initiative e é uma nova iniciativa que visa responder de forma global à crescente<br />
velocidade, escala e sofisticação crescente dos ciberataques. Trata-se de um passo da Microsoft para dar<br />
continuidade à que será a próxima geração de proteção de cibersegurança. Terá três pilares centrados na<br />
cibersegurança baseada na <strong>IA</strong>, nos avanços na engenharia de software fundamental e na defesa de uma<br />
aplicação mais forte das normas internacionais para proteger os civis das ciberameaças. Pretende-se desenvolver<br />
um “escudo” de cibersegurança baseado em <strong>IA</strong>, que terá como propósito a proteção de clientes e<br />
países. A rede global de datacenters e a utilização de modelos avançados de <strong>IA</strong> colocam a tecnológica numa<br />
posição de destaque quanto à oportunidade de colocar esta tecnologia ao serviço da cibersegurança.•<br />
TECNOLOG<strong>IA</strong> <strong>DE</strong> CHATBOTS AINDA MAIS REFORÇADA<br />
A BOTSchool tem uma nova versão, que resultou da introdução da Generative AI. Esta plataforma<br />
de inteligência conversacional desenvolvida pela Altice Labs, sendo de low-code, tem como objetivo<br />
facilitar o acesso à tecnologia de criação e gestão de chatbots, tanto às empresas como à sociedade<br />
em geral. Desenvolvida desde 2019, tem acompanhado a evolução das novas tecnologias e da<br />
própria sociedade, apresentando um elevado potencial para autoaprendizagem e workflows colaborativos<br />
mais alargados, trazendo um valor acrescentado para os utilizadores. Para acompanhar as<br />
evoluções registadas na <strong>IA</strong> e <strong>IA</strong> generativa, a plataforma lança agora a funcionalidade Generative AI<br />
Capability. Esta evolução traz a integração de novos modelos de linguagem e de <strong>IA</strong> capazes de simplificar<br />
a interação entre humanos e máquinas, bem como aumentar o nível de automação, desde as<br />
tarefas mais simples, aos cenários mais complexos.•<br />
80
MANTEMOS<br />
A EUROPA<br />
CONECTADA,<br />
com uma infraestrutura<br />
sustentável<br />
Na Vantage Towers ajudamos a alcançar uma Europa digital<br />
e verdadeiramente sustentável.<br />
Estamos totalmente comprometidos com a construção<br />
de uma sociedade conectada em benefício de todos,<br />
centrando a nossa ação numa infraestrutura mais ecológica.<br />
Associámo-nos à start-up finlandesa Ecotelligent para construir<br />
torres de telecomunicações com estrutura de madeira.<br />
Desta forma, procuramos proteger o meio ambiente e reduzir<br />
as nossas emissões de CO2.<br />
As torres de madeira são naturais, esteticamente agradáveis<br />
e emitem significativamente menos CO2 do que as torres<br />
de aço ou de betão com tamanho e funcionalidades<br />
semelhantes, em linha com o objetivo da descarbonização<br />
da economia.<br />
A nossa rede sustentável pode ajudar a proporcionar uma<br />
conectividade inteligente a milhões de pessoas e contribuir<br />
para a construção de um futuro melhor para todos.<br />
Juntos, aceleramos rumo a uma Europa conectada de forma<br />
sustentável.<br />
www.vantagetowers.com