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COMUNICAÇÕES 248 - VIRGÍNIA DIGNUM: IA RESPONSÁVEL PRECISA DE "REGRAS DE TRÂNSITO"

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MED<strong>IA</strong> CONSEGUIRÁ A EUROPA<br />

PÔR OR<strong>DE</strong>M NO CAOS?<br />

NEGÓCIOS QUANDO STARTUPS,<br />

INVESTIGAÇÃO E INDÚSTR<strong>IA</strong> SE JUNTAM<br />

EVOLVE 2 a EDIÇÃO AINDA<br />

COM MAIS PROJETOS<br />

N.º <strong>248</strong> • <strong>DE</strong>ZEMBRO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />

<strong>VIRGÍN<strong>IA</strong></strong> <strong>DIGNUM</strong>:<br />

<strong>IA</strong> <strong>RESPONSÁVEL</strong> <strong>PRECISA</strong><br />

<strong>DE</strong> ‘<strong>REGRAS</strong> <strong>DE</strong> TRÂNSITO’


edit orial<br />

Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt<br />

Um ano de realizações<br />

notáveis<br />

A<br />

inteligência artificial (<strong>IA</strong>) está na ordem<br />

do dia, pelas boas e más razões. Se, por<br />

um lado, é uma das tecnologias mais<br />

disruptivas de sempre, com o potencial<br />

para automatizar tarefas, gerar novos insights<br />

e melhorar a tomada de decisão, promovendo<br />

uma transformação sem paralelo na sociedade<br />

e na economia, por outro, é crucial reconhecer<br />

a existência de um conjunto de preocupações<br />

éticas e sociais. A capacidade da <strong>IA</strong> para reforçar<br />

preconceitos, disseminar desinformação ou<br />

violar a privacidade são algumas das questões<br />

que urge endereçar, entre muitas outras, através<br />

de uma utilização responsável e inclusiva.<br />

O tema é complexo e divide opiniões, numa<br />

altura em que ainda é impossível antecipar o<br />

total impacto da <strong>IA</strong> no mundo instável em que<br />

vivemos. Como refere a investigadora Virgínia<br />

Dignum, especialista internacional em <strong>IA</strong> responsável,<br />

que integra o grupo de alto nível da<br />

ONU sobre <strong>IA</strong>, que vai propor este ano um modelo<br />

para criar uma agência internacional que<br />

regule a tecnologia, temos de caminhar para<br />

uma regulação efetiva, que permita a reguladores,<br />

empresas e cidadãos “ter uma voz no que<br />

está a acontecer”. Na entrevista de fundo que<br />

dá nesta edição, mostra-se preocupada com a<br />

crescente dependência das pessoas destes sistemas,<br />

sem controlo democrático, e com o que<br />

vai acontecer na Europa, que está a perder vantagens.<br />

Mas já é possível ter soluções que respondem<br />

a problemas concretos, utilizando os princípios<br />

de uma <strong>IA</strong> responsável. Prova disso são os produtos<br />

que estão a ser desenvolvidos no Center<br />

for Responsible AI, o consórcio português liderado<br />

pela Unbabel que tem uma ambição global.<br />

Apresentamos um balanço deste projeto.<br />

Ou dos vencedores nacionais do WSA 2023, que<br />

representarão o país na competição mundial.<br />

Depois do verdadeiro frenesim criado em<br />

2023 em torno da <strong>IA</strong>, depois do arranque do<br />

ChatGPT, que marcou a chegada da tecnologia<br />

aos utilizadores finais, antecipa-se que 2024 seja<br />

um ano de adoção massiva de soluções. Perante<br />

estas expectativas, a APDC pretende dedicar ao<br />

longo do ano uma especial atenção ao tema. Assim,<br />

vamos realizar uma edição extra do EVOL-<br />

VE, evento anual de transformação digital da<br />

nossa associação, exclusivamente dedicado aos<br />

casos de estudo que utilizam esta tecnologia<br />

para as mais variadas áreas, da saúde à educação,<br />

passando pela indústria e pelo turismo.<br />

Estamos empenhados em acompanhar todas<br />

as mudanças e partilhar as histórias que<br />

moldarão o futuro de Portugal, num ano em que<br />

estaremos a celebrar um marco significativo: os<br />

40 anos da APDC. Além das iniciativas que teremos<br />

para comemorar quatro décadas de progresso<br />

e conquistas, vamos ainda inaugurar uma<br />

nova sede, que simboliza o nosso compromisso<br />

contínuo com o avanço tecnológico e a promoção<br />

da inovação. Estamos entusiasmados e antecipamos<br />

um ano repleto de realizações notáveis,<br />

proporcionando um ambiente estimulante<br />

para o progresso tecnológico do país. Um excelente<br />

2024 para todos!•<br />

3


sumario<br />

FICHA TÉCNICA<br />

<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>248</strong><br />

A ABRIR 6<br />

5 PERGUNTAS 12<br />

Sofia Marta, country manager da Google<br />

Cloud Portugal<br />

À CONVERSA 14<br />

Virgínia Dignum, a senhora Inteligência<br />

Artificial Responsável, fala de si e das suas<br />

expectativas relativamente ao futuro da <strong>IA</strong><br />

EM <strong>DE</strong>STAQUE 26<br />

Será o European Media Freedom Act a<br />

resposta para todos os problemas que<br />

hoje se colocam aos media?<br />

EM <strong>DE</strong>STAQUE 32<br />

Na 2ª edição do EVOLVE foram<br />

apresentados 17 casos de estudo de<br />

transformação digital<br />

I TECH 46<br />

Pedro Faustino, managing director<br />

da AX<strong>IA</strong>NS<br />

NEGÓCIOS 48<br />

Em Portugal, a parceria entre startups,<br />

centros de investigação e indústria está a<br />

ser levada muito a sério<br />

PORTUGAL DIGITAL 56<br />

CIDADAN<strong>IA</strong> DIGITAL 76<br />

Safeforest, o projeto que aposta na<br />

robótica para a prevenção de incêndios<br />

florestais<br />

ÚLTIMAS 78<br />

14<br />

32<br />

48<br />

56<br />

Propriedade e Edição<br />

APDC – Associação Portuguesa<br />

para o Desenvolvimento das<br />

Comunicações<br />

Diretora executiva<br />

Sandra Fazenda Almeida<br />

sandra.almeida@apdc.pt<br />

Av. João XXI, 78<br />

1000-304 Lisboa<br />

Tel.: 213 129 670<br />

Fax: 213 129 688<br />

Email: geral@apdc.pt<br />

NIPC: 501 607 749<br />

Chefe de redação<br />

Isabel Travessa<br />

isabel.travessa@apdc.pt<br />

Secretária de redação<br />

Laura Silva<br />

laura.silva@apdc.pt<br />

Publicidade<br />

Isabel Viana<br />

isabel.viana@apdc.pt<br />

Conselho editorial<br />

Abel Costa; Alexandre Silveira; Bernardo<br />

Correia; Bruno Santos; Filipa Carvalho;<br />

Francisco Maria Balsemão; Guilherme Dias;<br />

Helena Féria; José Manuel Paraíso; Manuel<br />

Maria Correia; Marina Ramos; Miguel<br />

Almeida; Nuno Saramago; Olivia Mira;<br />

Pedro Faustino; Pedro Gonçalves; Pedro<br />

Tavares; Rogério Carapuça; Sérgio Catalão;<br />

Vicente Huertas<br />

Edição<br />

Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />

Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D<br />

1050-052 Lisboa<br />

Coordenação editorial<br />

Ana Rita Ramos<br />

anarr@haveaniceday.pt<br />

Edição<br />

Teresa Ribeiro<br />

teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />

Design<br />

Mário C. Pedro<br />

marioeditorial.com<br />

Fotografia<br />

Vítor Gordo/Syncview<br />

Periodicidade<br />

Trimestral<br />

Tiragem<br />

3.000 exemplares<br />

Preço de capa<br />

3,25 €<br />

Depósito legal<br />

2028/83<br />

Registo internacional<br />

ISSN 0870-4449<br />

ICS N.º 110 928<br />

4


a abrir<br />

EMPREGO EM TI<br />

CRESCE EM 2024<br />

GESTÃO <strong>DE</strong> DADOS É<br />

PRIORIDA<strong>DE</strong> PARA TER <strong>IA</strong><br />

6<br />

PORTUGAL é o 3º país, de uma lista<br />

de 44, com a maior projeção de<br />

criação de emprego nas TI para o<br />

1º trimestre de 2024. Os empregadores<br />

nacionais avançam com<br />

uma projeção de criação líquida de<br />

emprego de 57%. No entanto, 80%<br />

dos empregadores indicam que têm<br />

dificuldades em encontrar o talento<br />

de que precisam. A conclusão é do<br />

mais recente relatório<br />

da Experis,<br />

do Manpower-<br />

Group. Os<br />

valores<br />

indicam que<br />

as intenções<br />

de contratação<br />

dos<br />

empregadores<br />

de TI aumentaram<br />

10 pontos<br />

percentuais,<br />

face ao trimestre anterior, e 29<br />

pontos face a igual período de 2023.<br />

Adotada internacionalmente como<br />

um indicador de tendências do<br />

mercado de trabalho, a projeção<br />

para a criação líquida de emprego,<br />

calculada pela diferença entre a<br />

percentagem de empregadores que<br />

planeiam contratar e os que antecipam<br />

reduções de pessoal, é assim<br />

de 57%. O trabalho mostra que no<br />

período entre janeiro e março de<br />

2024, 65% planeiam contratar, 8%<br />

antecipam uma redução nas equipas<br />

e 25% tencionam manter o número<br />

de colaboradores. •<br />

Porto Rico lidera a<br />

lista dos 44 países<br />

analisados, com<br />

uma projeção de<br />

criação de emprego<br />

nas TI de 64%<br />

A GESTÃO de dados é uma prioridade para 87% dos líderes<br />

que querem implementar inteligência artificial (<strong>IA</strong>) nas<br />

suas organizações. O State of Data & Analytics, da Salesforce,<br />

construído com base num inquérito a mais de dez<br />

mil profissionais em 18 países indica que 87% dos entrevistados<br />

afirmam que os avanços na <strong>IA</strong> fazem da gestão<br />

de dados uma prioridade ainda maior. Se a segurança e<br />

fiabilidade dos dados já eram vistos como essenciais para<br />

o sucesso das iniciativas das empresas, os rápidos avanços<br />

na <strong>IA</strong> tornaram estes elementos ainda<br />

mais importantes. Para enfrentar os<br />

desafios, os especialistas estão a concentrar-se<br />

na melhoria da governance<br />

em torno dos dados e na criação de<br />

uma cultura de dados. É que o foco<br />

está em aproveitar a <strong>IA</strong> generativa<br />

para melhorar a produtividade, eficiência<br />

e aumentar receitas. E quem<br />

já fez esta aposta revela resultados,<br />

incluindo tempos mais rápidos na<br />

resolução de atendimentos ao<br />

cliente e aumentos de vendas.<br />

Cerca de 92% dos inquiridos afirmam<br />

que a necessidade de dados<br />

confiáveis é maior que nunca. E<br />

o principal desafio referido pelos inquiridos é a ameaça à<br />

segurança da informação, agravada pelo crescente volume<br />

e complexidade dos dados organizacionais.•<br />

CURIOSIDA<strong>DE</strong><br />

TERRA ELETRÓNICA ACELERA<br />

CRESCIMENTO DAS PLANTAS<br />

eSoil e é um solo bioeletrónico, adaptável ao cultivo em espaços<br />

hidropónicos, com capacidade para acelerar o crescimento de plantas.<br />

Desenvolvido por investigadores da Universidade de Linköping, na<br />

Suécia, é composto por substâncias orgânicas misturadas com um<br />

polímero condutor, usado em sensores e ecrãs OLED. No cultivo<br />

hidropónico, as plantas<br />

crescem sem solo, precisando<br />

apenas de água, nutrientes e<br />

algo a que as raízes se possam<br />

fixar. É um sistema fechado<br />

que permite a recirculação da<br />

água para que cada muda receba<br />

exatamente os nutrientes de<br />

que necessita e é adequado para<br />

o cultivo vertical.•<br />

ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />

FOTO THOR BALKHED / LINKÖPING UNIVERSITY


CURIOSIDA<strong>DE</strong><br />

<strong>IA</strong> NO FRIGORIFICO<br />

AGILIZA COZINHA<br />

Um frigorífico que sugere receitas de acordo com<br />

os ingredientes que tem? É a mais recente inovação<br />

da Samsung. O novo equipamento, o Bespoke<br />

4-Door Flex, é equipado com um ecrã LCD de 32<br />

polegadas e tem funcionalidades de <strong>IA</strong>. A fabricante<br />

diz que com o AI Family Hub+ e o sistema AI Vision<br />

Inside, que usa uma câmara interna inteligente,<br />

reconhece os itens que são colocados ou retirados<br />

do frigorifico. Também permite a personalização das<br />

receitas sugeridas de acordo com preferências ou<br />

restrições alimentares.•<br />

TRÁFEGO <strong>DE</strong> DADOS MÓVEIS<br />

TRIPLICA EM SEIS ANOS<br />

O CONSUMO médio global de dados por smartphone continua a<br />

crescer, pelo que o tráfego total de dados móveis deverá triplicar<br />

entre o final de 2023 e o final de 2029. Tudo graças às melhorias nas<br />

capacidades dos dispositivos, a um aumento no conteúdo intensivo<br />

de dados e às evoluções contínuas no desempenho das redes<br />

implementadas. As previsões são do Ericsson Mobility Report. Este<br />

relatório refere que até ao final de 2023 cerca de 20% das subscrições<br />

de serviços móveis a nível global foram já de 5G, apesar dos<br />

contínuos desafios económicos e da instabilidade geopolítica em alguns<br />

mercados. Confirma-se que os casos de uso mais comuns nos<br />

consumidores nas fases iniciais do 5G se baseiam no acesso móvel<br />

otimizado de banda larga, o acesso sem fio fixo wireless, gaming e<br />

os serviços baseados em AR/VR. Sendo evidente a forte procura<br />

por conectividade de alto desempenho, prosseguirá<br />

a expansão do 5G, com um número crescente de<br />

redes 5G autónomas a serem implementadas. O<br />

que cria oportunidades para suportar novas e<br />

mais exigentes aplicações, tanto para consumidores,<br />

como para empresas.•<br />

Relatório diz<br />

que até ao final<br />

de 2023 cerca<br />

de 20% das<br />

subscrições de<br />

serviços móveis<br />

foram de 5G<br />

ORGANIZAÇÕES<br />

‘ESQUECEM’<br />

SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong><br />

APESAR de 85% das organizações<br />

atribuírem um elevado nível de<br />

importância à concretização de<br />

objetivos de sustentabilidade, só 16%<br />

os integram nas suas estratégias. Tal<br />

situação revela uma falha alarmante<br />

na integração da sustentabilidade,<br />

sendo imperativo implementar as<br />

melhores práticas, como tornar a<br />

sustentabilidade numa prioridade,<br />

alinhá-la com a modernização<br />

tecnológica, estabelecer uma base<br />

de dados integrada, utilizar a <strong>IA</strong> para<br />

a previsão de temas relacionados<br />

com a sustentabilidade e capacitar os<br />

colaboradores. O caminho é traçado<br />

pelo Barómetro Global de Sustentabilidade,<br />

realizado pela Kyndryl<br />

em colaboração com a Microsoft,<br />

que contou com a participação de<br />

1.523 líderes nas áreas de tecnologia<br />

e sustentabilidade de diferentes<br />

setores, em 16 países da Ásia, EMEA<br />

e América. Este trabalho revela que<br />

embora os CEO e conselheiros de<br />

administração considerem a sustentabilidade<br />

e a transformação digital<br />

prioritárias, precisam de ajuda para<br />

integrar e executar<br />

programas.<br />

Cerca de 61% das<br />

empresas utilizam<br />

<strong>IA</strong> para monitorizar<br />

o consumo de<br />

energia, mas apenas<br />

34% utilizam<br />

dados atuais<br />

para prever<br />

o consumo<br />

futuro.•<br />

ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />

7


a abrir<br />

8<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Um dos problemas que detetamos<br />

na <strong>IA</strong> é que estas tecnologias<br />

mudam tão depressa, que<br />

é difícil pensá-las e ainda mais<br />

regulamentá-las. Parceiros com<br />

preocupações semelhantes, em<br />

todo o mundo, ciosos da democracia,<br />

liberdade de expressão e<br />

confiança na informação devem<br />

unir-se para estabelecer regras e<br />

diretrizes claras contra a desinformação<br />

nas plataformas”<br />

Randi Charno Levine, Expresso,<br />

2023/12/15<br />

“A novela que assaltou o setor<br />

da <strong>IA</strong> (demissão e readmissão<br />

de Sam Altman da OpenAI)<br />

nasce deste confronto entre<br />

uma oportunidade de negócio<br />

gigantesca e o risco de criar um<br />

monstro incontrolável, a possibilidade<br />

de prevenir e tratar<br />

doenças hoje incuráveis, ou levar<br />

à extinção da raça humana”<br />

André Veríssimo, ECO,<br />

2023/11/25<br />

“Digo há anos que a Europa precisa<br />

de construir um fundo de<br />

100 mil milhões para a <strong>IA</strong>, ou vai<br />

perder o comboio. (…) A Europa<br />

não tem escala para fazer testes<br />

nos mercados locais. Ou se<br />

junta realmente, com uma estratégia<br />

coletiva, para não ficar<br />

dependente de tecnologia estrangeira,<br />

ou não vai acontecer”<br />

Daniela Braga, Jornal de<br />

Negócios, 2023/11/20<br />

“Temos uma janela de oportunidade<br />

de talvez um ano para<br />

chegarmos a acordo sobre como<br />

regular estes sistemas (de <strong>IA</strong>).<br />

Tenho medo de que se prolongue<br />

além disso, porque as empresas<br />

já terão demasiado poder<br />

económico e não conseguiremos<br />

regular”<br />

Stuart Russell, Expresso,<br />

2023/11/15<br />

RESILIÊNC<strong>IA</strong> CIBERNÉTICA:<br />

OS ERROS COMUNS<br />

O MAIOR desafio que as organizações enfrentam ao lidar<br />

com o impacto de um incidente cibernético é a recuperação<br />

de sistemas e dados a partir de um backup limpo. Este é um<br />

desafio que supera outros obstáculos, como manterem-se<br />

atualizadas sobre ameaças emergentes ou ajustarem-se a<br />

regulamentações em constante mudança. A conclusão é de<br />

um estudo da Kyndryl, que indica os três erros comuns nas<br />

empresas em matéria de resiliência cibernética: frequentemente<br />

negligenciam a capacidade de recuperar rapidamente<br />

os processos de negócios essenciais, o que pode resultar<br />

em tempo de inatividade operacional, multas regulatórias<br />

ou danos à reputação da marca e perda de receita. Assim,<br />

é crucial que as empresas tenham planos e processos de<br />

recuperação de incidentes cibernéticos. O trabalho diz que<br />

um dos principais motivos que colocam em causa a construção<br />

de uma estratégia robusta de resiliência cibernética<br />

é desconhecer a diferença entre recuperação de incidentes<br />

cibernéticos e recuperação de desastres.•<br />

CEO <strong>DE</strong>SCONF<strong>IA</strong>M DA<br />

CAPACIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>FESA <strong>DE</strong><br />

CIBERATAQUES<br />

A GENERALIDA<strong>DE</strong> dos CEO, apesar de considerarem o tema da<br />

cibersegurança vital, não mostram confiança na capacidade de<br />

se protegerem de ciberataques. A conclusão é da Accenture,<br />

num estudo em que recomenda cinco ações a tomar: integrar<br />

a ciber-resiliência na estratégia empresarial desde o início;<br />

definir a responsabilidade partilhada pela cibersegurança em<br />

toda a organização; proteger o núcleo digital no centro da<br />

organização; alargar a ciber-resiliência para além das fronteiras<br />

e dos silos organizacionais; e adotar a ciber-resiliência<br />

contínua para se manter numa posição estratégica face ao<br />

mercado. Denominado “The Cyber-Resilient CEO”, o relatório<br />

baseia-se num inquérito a mil CEO de grandes organizações<br />

a nível global e aponta para a forma reativa como tratam a<br />

cibersegurança, o que resulta num maior risco de ataques e<br />

em custos mais elevados para responder e atuar perante estes<br />

incidentes. Apesar de 96% dos CEO afirmarem que a cibersegurança<br />

é fundamental para o crescimento dos seus negócios,<br />

o trabalho demonstra que 74% revelam preocupações com a<br />

capacidade das suas organizações em evitar ou minimizar os<br />

danos causados por um possível ciberataque. •<br />

Para assegurar a<br />

resiliência cibernética<br />

também<br />

é importante<br />

ter processos<br />

empresariais<br />

protegidos contra<br />

ciberataques<br />

ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />

Cerca de 60% dos<br />

CEO admitem<br />

que as suas<br />

organizações não<br />

incorporam a<br />

cibersegurança<br />

nas estratégias de<br />

negócio


Os canais mais<br />

utilizados pelos<br />

criminosos para<br />

realizar os seus<br />

ciberataques são<br />

o telemóvel, o<br />

email e o<br />

WhatsApp<br />

RECEIO EM TORNO DA FRAU<strong>DE</strong><br />

DIGITAL É ELEVADO<br />

A ESMAGADORA maioria dos portugueses temem vir a<br />

ser vítimas de fraude digital, uma vez que há técnicas<br />

cada vez mais sofisticadas de cibercrime e os ataques<br />

estão a aumentar em número. Dos que já foram alvo<br />

destes crimes, o tipo de fraude que predominou foi o<br />

roubo de dados bancários, seguido do roubo de dados<br />

pessoais e situações em que os consumidores são<br />

induzidos a acreditar que ganharam algum<br />

tipo de prémio financeiro. Telemóvel,<br />

email e WhatsApp são os canais mais<br />

utilizados. Os dados são de um<br />

estudo do SAS sobre “Faces of<br />

Fraud”, que abrangeu entrevistas<br />

a 13.500 consumidores<br />

para analisar as tendências em<br />

fraude digital, em mais de 15<br />

países em todo o mundo. Em<br />

Portugal, 88% dos consumidores<br />

revelaram temer ser vítimas<br />

de algum tipo de fraude<br />

digital, 66% acreditam que as<br />

empresas com quem lidam<br />

deveriam fazer mais para as<br />

proteger, 60% mostra-se mais<br />

cauteloso do que nunca em<br />

relação a este assunto e 51%<br />

afirmam mesmo estarem<br />

menos dispostos a partilhar<br />

os seus dados pessoais.<br />

Quase 29% dos inquiridos<br />

nacionais acreditam já ter sido<br />

vítimas de algum tipo de fraude, pelo<br />

menos uma vez, enquanto 62%<br />

dizem já ter sofrido alguma tentativa de fraude<br />

no último ano. Nesta linha, o roubo de dados bancários<br />

posiciona-se como o tipo de fraude mais comum,<br />

seguido pelo roubo de dados pessoais e situações em<br />

que os consumidores são induzidos a acreditar que<br />

ganharam algum tipo de prémio financeiro. Quanto aos<br />

canais mais utilizados pelos criminosos para realizar os<br />

seus ataques e atingir as vítimas são o telemóvel (73%), o<br />

e-mail (71%), seguido do WhatsApp (40%).<br />

NUMEROS<br />

258 MIL MILHÕES<br />

É o valor em dólares que os gastos mundiais<br />

com soberania da cloud deverão ultrapassar<br />

em 2027. Computação em cloud e a<br />

necessidade de reforçar a cibersegurança<br />

estão entre os principais motivos para<br />

procura deste tipo de soluções. A previsão<br />

é da IDC, indicando que os gastos em<br />

soberania da cloud deverão atingir uma taxa<br />

composta de crescimento anual de 26,6%.<br />

Este tipo de soluções assenta na capacidade<br />

de autodeterminação digital por nações,<br />

organizações e indivíduos, agregando a<br />

soberania de dados e a cloud soberana.<br />

142 MIL MILHÕES<br />

É o investimento total em dólares que<br />

deverá ser alcançado em 2027 em<br />

soluções de <strong>IA</strong> generativa. Sendo que a<br />

taxa de crescimento anual composta dos<br />

investimentos nestas soluções será de<br />

73,3%. Pelas contas da IDC, só em 2023 as<br />

empresas investiram quase 16 mil milhões<br />

de dólares em todo o mundo em soluções<br />

deste tipo. É que esta é uma tecnologia<br />

transformadora com implicações de longo<br />

alcance e impacto nos negócios.<br />

69 MIL MILHÕES<br />

Foi a soma que a Broadcom deu pela<br />

VMware, na que foi uma das maiores<br />

aquisições do mundo e que acaba de ser<br />

concretizada. O processo de aprovação<br />

regulatória foi complexo, com as tensões<br />

entre a China e os Estados Unidos e<br />

o reforço das medidas de controlo de<br />

exportações de chips. Pequim só deu<br />

luz-verde à operação a 21 de novembro,<br />

permitindo à multinacional norte-americana<br />

concluir o negócio antes da data-limite de<br />

26 de novembro.<br />

9


a abrir<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Em vez de se agarrar ao mundo<br />

irénico de ontem, a UE precisa<br />

de compreender as novas regras<br />

de um jogo ‘à la carte’, no que diz<br />

respeito às relações internacionais,<br />

e procurar novos parceiros<br />

para as questões fundamentais<br />

que o nosso mundo, devastado<br />

pela guerra, enfrenta”<br />

Mark Leonard, Expresso,<br />

2023/11/15<br />

“A grande vocação da <strong>IA</strong> é aumentar<br />

grandemente a nossa<br />

inteligência coletiva. (…) Uma<br />

sociedade permeada pela <strong>IA</strong><br />

funciona incomparavelmente<br />

melhor que uma sociedade sem<br />

ela. E é urgente começarmos<br />

este processo, porque os regimes<br />

totalitários, com a China à<br />

cabeça, estão bem cientes da<br />

importância da <strong>IA</strong> e utilizam-na<br />

extensivamente já hoje para os<br />

seus fins malignos”<br />

Pedro Domingos, Expresso,<br />

2023/11/10<br />

“Por si, a <strong>IA</strong> não é um mal. Pelo<br />

contrário, é suscetível de enormes<br />

benfeitorias para a Humanidade.<br />

Mas a sua utilização<br />

em prol dos interesses dos seus<br />

donos será cada vez mais um<br />

instrumento de domínio da Humanidade”<br />

Luís Moniz Pereira, Expresso,<br />

2023/11/10<br />

“Embora a tecnologia crie riscos<br />

reais de desinformação, fraude<br />

e violação da privacidade, os<br />

modernos sistemas de <strong>IA</strong> têm<br />

uma capacidade muito inferior<br />

à da inteligência humana. Muitos<br />

dos receios sobre os riscos<br />

existenciais da <strong>IA</strong> (…) revelam,<br />

acima de tudo, um desconhecimento<br />

profundo do estado<br />

atual da tecnologia”<br />

Arlindo Oliveira, Público,<br />

2023/11/06<br />

55% DOS PROFISSIONAIS USAM<br />

<strong>IA</strong> GENERATIVA SEM FORMAÇÃO<br />

MAIS <strong>DE</strong> META<strong>DE</strong> dos profissionais (55%) estão a utilizar as<br />

ferramentas de <strong>IA</strong> generativa no local de trabalho sem qualquer<br />

formação para o efeito e sem autorização da entidade<br />

patronal, porque consideram que a tecnologia ajuda na<br />

progressão de carreira. O Generative AI Snapshot Research,<br />

da Salesforce, mostra que 28% dos profissionais recorrem à<br />

<strong>IA</strong> generativa no trabalho e que 32% esperam utilizar a tecnologia<br />

para fins laborais num futuro breve, o que poderá<br />

colocar pressão sobre as empresas para adotarem políticas<br />

claras. Mas no local de trabalho há já muitos colaboradores<br />

a tirar partido de ferramentas de <strong>IA</strong> generativa não aprovadas<br />

(55%) ou totalmente proibidas (40%) pela sua entidade<br />

empregadora, embora todos reconheçam que a utilização<br />

de programas aprovados pela sua empresa assegura o uso<br />

ético e seguro da <strong>IA</strong> generativa. O estudo alerta que, ao<br />

utilizar a <strong>IA</strong> generativa no trabalho, os profissionais poderão<br />

estar envolvidos em atividades eticamente questionáveis:<br />

64% já fizeram passar resultados fornecidos pela <strong>IA</strong> como<br />

trabalho próprio e 41% estão a considerar inflacionar as<br />

suas competências de tecnologia para garantir uma oportunidade<br />

de trabalho. Mas a responsabilidade não é exclusivamente<br />

dos profissionais. A esmagadora maioria<br />

nunca recebeu ou concluiu formação<br />

em <strong>IA</strong> generativa (69%), sobre como<br />

usá-la de forma ética no local<br />

de trabalho (71%) ou com<br />

segurança (69%). Os inquiridos<br />

consideram que falta<br />

formação, acreditando<br />

também que as políticas<br />

de <strong>IA</strong> generativa existentes<br />

na sua empresa não estão<br />

claramente definidas ou são<br />

inexistentes. Isto é particularmente<br />

proeminente no<br />

setor da saúde, com 87% dos<br />

profissionais da área<br />

a nível global a alegar<br />

que as suas empresas<br />

não possuem políticas<br />

claras.•<br />

10


PRINCÍPIOS-CHAVE DA <strong>IA</strong><br />

<strong>RESPONSÁVEL</strong> NA EUROPA<br />

PARA A <strong>DE</strong>FINIÇÃO e implementação de uma estratégia de <strong>IA</strong> responsável<br />

nas organizações, há quatro princípios-chave a ter em conta: priorizar a<br />

criação de valor, apostar na comunidade, garantir que a <strong>IA</strong> funcione em<br />

todo o lado de forma eficiente e prestar contas. As recomendações constam<br />

de um estudo da IBM que explora a forma com a liderança está a<br />

mudar na era da <strong>IA</strong> no espaço europeu. Denominado como ‘Leadership in<br />

the Age of AI’, o trabalho baseou-se em entrevistas a mais de 1600 líderes<br />

seniores e executivos C-Suite no Reino Unido, França, Espanha, Alemanha,<br />

Itália e Suécia. Explora a forma como a liderança se está a transformar,<br />

à medida que as empresas da região adotam a <strong>IA</strong> generativa. Tendo<br />

em conta que a ascensão da <strong>IA</strong> generativa em 2023 foi extraordinária,<br />

2024 deverá ser de adoção massiva. Pelo que a pressão para tomar as<br />

decisões certas e liderar adequadamente está a ser sentida em todo o<br />

C-suite. Assim, 96% dos inquiridos que têm ou planeiam implementar <strong>IA</strong><br />

generativa participam na criação de novos enquadramentos setoriais éticos<br />

e de governança. Para responder à pressão crescente, os líderes empresariais<br />

inquiridos afirmam que as três maiores fontes de pressão para<br />

adotar <strong>IA</strong> generativa são, não só a concorrência ou os consumidores, mas<br />

também os colaboradores, administração e investidores. Esta pressão<br />

resulta principalmente de um desejo de modernizar e melhorar a<br />

eficiência operacional (45%), utilizando a<br />

<strong>IA</strong> para automatizar os processos<br />

rotineiros e libertar os colaboradores<br />

para assumirem<br />

tarefas de maior valor,<br />

ajudando simultaneamente<br />

a promover a<br />

inovação. Seguese<br />

o potencial<br />

da tecnologia<br />

para melhorar<br />

a experiência<br />

do cliente (43%)<br />

e aumentar os<br />

resultados das<br />

vendas (38%).•<br />

ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK<br />

Neste estudo 95%<br />

dos inquiridos<br />

admitiram o enorme<br />

potencial que<br />

a <strong>IA</strong> generativa<br />

representa para<br />

impulsionar melhores<br />

decisões<br />

NUMEROS<br />

5,3 MIL MILHÕES<br />

É o número de subscritores de 5G que<br />

deverá ser alcançado até 2029 em todo<br />

o mundo. O crescimento previsto será<br />

de 330%, com 1,6 mil milhões de novas<br />

adesões. As contas são do Ericsson<br />

Mobility Report, que estima que só em<br />

2023 o aumento terá sido de 63%, no<br />

equivalente a 610 mil novos clientes da<br />

rede móvel de alta velocidade. Os casos de<br />

uso mais comuns nestas fases iniciais são<br />

o acesso móvel otimizado de banda larga,<br />

o acesso sem fios fixo wireless, gaming e os<br />

serviços baseados em AR/VR.<br />

5 MIL MILHÕES<br />

É quanto vai custar, em euros, aos<br />

britânicos da Zegona para passarem a<br />

controlar a Vodafone Espanha. O fundo de<br />

investimento aguarda agora as necessárias<br />

aprovações dos acionistas e dos<br />

reguladores, prevendo-se que o processo<br />

esteja concluído no primeiro semestre de<br />

2024. No âmbito do acordo, a Vodafone<br />

dará ao Zegona uma licença para usar a<br />

marca em Espanha durante um período<br />

de até dez anos.<br />

2,13 MIL MILHÕES<br />

É quanto a IBM vai dar, em dólares, pela<br />

compra das plataformas empresariais<br />

StreamSets e webMethods, da Software<br />

AG. O negócio foi alinhado com a Silver<br />

Lake, fundo que detém a maioria do<br />

capital da empresa germânica. Trata-se de<br />

plataformas de serviços de infraestruturas<br />

na cloud, que estão entre as tecnologias<br />

líderes do mercado na integração de<br />

aplicações, gestão de APIs e integração<br />

de dados. A IBM diz que o negócio<br />

vem confirmar o seu “profundo foco e<br />

investimento” em <strong>IA</strong> e cloud híbrida.<br />

11


5 perguntas<br />

12<br />

SOF<strong>IA</strong> MARTA:<br />

Criar impacto com<br />

grande abrangência<br />

Lidera a cloud da Google desde que esta se assumiu como<br />

challenger do mercado. A ambição é grande. A country manager<br />

da Google Cloud Portugal quer alcançar a liderança do negócio,<br />

tirando partido da nova era da <strong>IA</strong>.<br />

Texto de Isabel Travessa| Fotos cedidas<br />

Tem uma experiência de mais de<br />

20 anos em consultoria e grandes<br />

empresas tecnológicas. O que<br />

a levou a aceitar a liderança da<br />

Google Cloud?<br />

Foi uma decisão difícil, mas o momentum<br />

da Google Cloud é realmente<br />

incrível! Ser o challenger de mercado<br />

é um grande desafio. A Google<br />

está a investir fortemente na Google<br />

Cloud, e em particular em Portugal.<br />

Estamos ainda no início da jornada,<br />

em contraciclo relativamente à<br />

nossa concorrência: aposta no país,<br />

construção de equipa, conquista de<br />

mercado, dar a conhecer aos clientes<br />

as nossas soluções. Acredito que<br />

podemos ter um impacto muito significativo<br />

na modernização do país,<br />

com uma abrangência de mercado<br />

diversificada: as grandes organizações<br />

empresariais (como a banca,<br />

retalho, telecomunicações e energia),<br />

as empresas de pequena e média<br />

dimensão, a Administração Pública<br />

e saúde, as startups/scaleups e unicórnios,<br />

os parceiros integradores e<br />

outros fabricantes. Adicionalmente,<br />

a cultura da empresa é excecional e<br />

a equipa é fantástica!<br />

Como encara o desafio de passar<br />

para uma tecnológica, numa área<br />

onde se prevê crescente procura?<br />

Encaro este desafio com grande<br />

entusiasmo! A passagem de uma<br />

consultora para uma tecnológica é<br />

sem dúvida um desafio, mas também<br />

uma grande oportunidade de<br />

fazer parte de um setor que tem um<br />

crescimento forte e sustentável – em<br />

2023, o mercado cloud nacional está<br />

avaliado em 640 milhões de euros e,<br />

segundo as projeções da IDC, deverá<br />

atingir os mil milhões de dólares em<br />

2026. É também a oportunidade de<br />

fazer parte de uma empresa incrivelmente<br />

inovadora e pioneira nos<br />

temas revolucionários da atualidade,<br />

como a <strong>IA</strong> generativa. Há oito anos<br />

que a Google é uma “AI-first company”,<br />

integrando a <strong>IA</strong> em todos os<br />

seus produtos. Em 2017 criou um<br />

modelo de rede neuronal, chamado<br />

Transformer, que foi um passo<br />

fundamental para chegarmos onde<br />

estamos. E lançámos a 6 de dezembro<br />

o Gemini, um novo modelo que<br />

consegue processar e compreender<br />

de forma natural texto, imagens,<br />

vídeo, áudio e código. É o primeiro<br />

modelo a superar especialistas humanos<br />

em MMLU (Massive Multitask<br />

Language Understanding), um dos<br />

métodos mais populares para teste<br />

de conhecimento e capacidades de<br />

resolução de problemas em modelos<br />

de <strong>IA</strong>. Por fim, mas não menos importante,<br />

é a oportunidade de estar<br />

cada vez mais próxima dos clientes e<br />

parceiros, entender as suas necessidades<br />

e ajudá-los a alcançar os seus<br />

objetivos, que passam em grande<br />

medida pela aposta na tecnologia.<br />

Quais são as suas metas e ambições<br />

como country manager da<br />

Google Cloud Portugal?<br />

Colocar a Google Cloud como cloud<br />

número 1 em Portugal! Quero ajudar<br />

os nossos clientes a tirarem valor da<br />

utilização de cloud, como motor da<br />

sua transformação e expansão dos<br />

negócios. Ao nível da colaboração<br />

e produtividade, da modernização<br />

das suas arquiteturas, sistemas e<br />

aplicações, da forma como encaram<br />

a segurança, como governam, gerem<br />

e tiram partido dos seus dados.<br />

Sempre fomos um povo inovador,<br />

e esta nova era da <strong>IA</strong> abre uma<br />

enorme oportunidade para darmos<br />

o salto de que precisamos na nossa<br />

economia.<br />

O que é que mais a fascina no<br />

mundo do IT?<br />

O ritmo frenético, a energia, a constante<br />

aprendizagem e inovação! A<br />

tecnologia é extremamente relevante<br />

como suporte à ciência, investigação<br />

e desenvolvimento, sendo motor<br />

da evolução e inovação das sociedades.<br />

Desempenha um papel cada<br />

vez mais importante em todos os<br />

negócios, independentemente do setor<br />

ou tamanho, podendo ser usada<br />

para melhorar a eficiência, aumentar<br />

a produtividade, criar produtos e serviços<br />

e melhorar o relacionamento<br />

com os clientes. E quem não investir<br />

em tecnologia, fica para trás.<br />

Enquanto líder, quais são as suas<br />

máximas de vida?<br />

Sorrir, sempre – é importante<br />

celebrar e aproveitar a vida! Boa<br />

disposição ajuda sempre, mesmo<br />

nos momentos difíceis. Ver sempre<br />

o copo meio cheio – gosto de ver<br />

as coisas pela perspetiva positiva!<br />

E de me focar na solução e não no<br />

problema. Com foco, pragmatismo e<br />

assertividade, tudo se resolve!•


À frente da Google Cloud Portugal desde março de 2023, Sofia Marta garante ser<br />

uma otimista por natureza e de olhar para as coisas pela positiva. Afinal, “com foco,<br />

pragmatismo e assertividade, tudo se resolve!”<br />

13


a conversa<br />

14<br />

“O que digo muitas vezes aos meus alunos é que sou uma combinação muito perigosa da maneira de ser extremamente direta dos<br />

holandeses e da paixão com que os portugueses falam”


A INTELIGÊNC<strong>IA</strong><br />

ARTIFIC<strong>IA</strong>L<br />

É O QUE<br />

FIZERMOS<br />

COM ELA<br />

Quando lhe perguntam se é uma workaholic, responde que o termo<br />

que mais a define é “hobbyaholic”. A seguir explica, divertida, o<br />

que o neologismo já permite antever: que é uma apaixonada pelo<br />

que faz. Tal felicidade reflete-se na forma serena como vê o futuro<br />

da inteligência artificial. Um caminho que se faz caminhando…<br />

com responsabilidade.<br />

TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA E TERESA RIBEIRO FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

15


a conversa<br />

16<br />

“Estive muitos anos a trabalhar em empresas privadas, também em <strong>IA</strong>, criando projetos de desenvolvimento em situações reais. Aí<br />

vê-se diretamente o impacto que estes sistemas têm. Isso não acontece quando se está na universidade”


Quando Virgínia Dignum se interessou por inteligência<br />

artificial, não podia imaginar que, trinta anos<br />

depois, seria esta a tecnologia mais sexy do planeta.<br />

A atenção mediática de que a sua área de especialidade<br />

está agora a ser alvo fá-la sorrir. Diz que a culpa<br />

é do marketing. Não que desdenhe do potencial da<br />

<strong>IA</strong>, mas argumenta que esta popularidade repentina<br />

deve-se às roupagens que lhe vestiram, as aplicações<br />

conversacionais que, como tops de lantejoulas,<br />

captaram a atenção pública. Professora de Ciência<br />

da Computação na Universidade de Umea, na Suécia,<br />

e professora associada na Delft University of Technology,<br />

nos Países Baixos, faz parte do órgão consultivo<br />

em <strong>IA</strong> da ONU, destinado a realizar análises<br />

e apresentar recomendações para a governação internacional<br />

da Inteligência Artificial. A sua missão é<br />

contribuir para criar a agência internacional que vai<br />

regular a utilização desta tecnologia no mundo. Um<br />

desafio que, por ser gigantesco, a estimula muito.<br />

Nasceu em Portugal, passou a viver na Holanda<br />

e agora trabalha na Suécia. Por isso, Virgínia gosta<br />

de se definir como europeia, embora da sua biografia<br />

constem também estadias em África e Austrália,<br />

onde se dedicou a projetos de desenvolvimento,<br />

sempre na área digital. Casada com um professor de<br />

<strong>IA</strong> holandês e mãe de dois filhos já adultos, espera<br />

retornar à casa de partida quando chegar à idade da<br />

reforma, pois nas geografias onde mais tem passado<br />

o seu tempo não há nada que se compare ao velho e<br />

luminoso céu azul português.<br />

17


a conversa<br />

“Neste momento podemos<br />

comparar a <strong>IA</strong> com um<br />

carro que não tem travões,<br />

nem cintos de segurança<br />

e está a ser guiado por<br />

uma pessoa que não tem<br />

carta de condução (...)<br />

Temos de insistir com as<br />

empresas que desenvolvem<br />

estes sistemas que têm de<br />

pôr cintos de segurança<br />

e travões, mas não nos<br />

podemos esquecer de que,<br />

ao mesmo tempo, temos<br />

de investigar (...) É preciso<br />

criar regras de trânsito”<br />

18


Como é que começou a interessar-se pelas tecnologias<br />

digitais?<br />

A minha mãe estudava matemática e fez um curso de<br />

computação, nos anos 70, na IBM. Achei aquilo interessantíssimo,<br />

principalmente os cartões perfurados<br />

(risos). Acabei por fazer o curso de Matemática Aplicada<br />

na Faculdade de Ciências de Lisboa e os primeiros<br />

computadores que usámos, juntamente com o Técnico<br />

(IST), no início dos anos 80, ainda funcionavam com<br />

os tais cartões perfurados. Ainda fiz programas assim.<br />

Já então estava definido na sua cabeça que queria ser<br />

programadora?<br />

Ainda não estava muito definido. A questão da matemática<br />

e da resolução de problemas de uma maneira<br />

lógica e estruturada é que me interessava.<br />

Conseguiu perceber o conceito dos cartões e dos furinhos?<br />

Acho que tinha uma ideia de que era possível descrever<br />

instruções de uma maneira tão estruturada que desse<br />

para uma máquina perceber.<br />

Fazia perguntas à sua mãe?<br />

A minha mãe não continuou na carreira de programação,<br />

foi para o ensino. Passou a ser professora de matemática.<br />

Com cinco filhos (sou a mais velha da prole)<br />

era mais fácil ser professora.<br />

Então como é que deu o salto da matemática para uma<br />

área mais digital e depois para a <strong>IA</strong>?<br />

Dei o salto para a informática através da matemática<br />

porque, naquela altura, no início dos anos 80, não<br />

havia em Portugal cursos superiores de computação<br />

ou de engenharia informática. Essa matéria começou<br />

a ser lecionada na Faculdade de Ciências, no curso de<br />

Matemática Aplicada à Computação, e no Técnico, no<br />

curso de Engenharia Informática. Como a única forma<br />

de estudar informática naquele tempo era através do<br />

curso de matemática aplicado à computação, foi o que<br />

fiz. Os primeiros anos do curso eram matemática pura.<br />

Mas logo que pude começar a escolher cadeiras, escolhi<br />

as de computação, inclusive uma cadeira de Inteligência<br />

Artificial.<br />

Já havia?<br />

Sim. O curso foi iniciado por um casal de professores, o<br />

casal Sernadas (Amílcar e Cristina), que depois esteve<br />

no Técnico, e que tinha vindo de Edimburgo, uma das<br />

primeiras zonas da Europa em que se começou a estudar<br />

a <strong>IA</strong>. Fiquei logo encantada.<br />

Pensou: é isto!<br />

Exatamente: foi assim! Acabei o curso em 87. Mais ou<br />

menos ao mesmo tempo casei-me com um holandês<br />

e comecei um mestrado em <strong>IA</strong> na Faculdade Livre de<br />

Amesterdão.<br />

Também trabalha nesta área?<br />

Sim. Conheci-o numa conferência de <strong>IA</strong> e hoje é colega<br />

de <strong>IA</strong> onde estou agora, na Universidade de na Universidade<br />

de Umea, na Suécia. Portanto, a progressão familiar<br />

e a <strong>IA</strong> têm acontecido em paralelo durante a vida<br />

toda. Tudo junto! (risos)<br />

Em criança já revelava esta vocação para as matemáticas?<br />

Sempre tive uma estrutura de pensamento muito lógica,<br />

muito estruturada. Mas em criança também<br />

brincava com bonecas. E ainda hoje faço tricô e croché<br />

(risos).<br />

Então não era “maria rapaz”...<br />

Também era um pouco. Fui escuteira desde os nove<br />

anos e cheguei à comissão nacional das guias da Associação<br />

de Guias de Portugal. Nessa fase, fazia muita<br />

atividade ao ar livre e construção de acampamentos.<br />

Uma das coisas que me interessava imenso era a logística<br />

dos acampamentos nacionais: calcular como é que<br />

se dá de comer a 500 meninas.<br />

Isso é matemática!<br />

Sem dúvida! Sempre gostei muito dessa parte da estrutura<br />

da organização. Saí das Guias de Portugal só quando<br />

fui para a Holanda (agora Países Baixos).<br />

Foi fácil adaptar-se a outro país?<br />

Houve uma experiência engraçada: aqui em Lisboa,<br />

no meu curso, 70% dos meus colegas eram mulheres<br />

porque, de facto, nos anos 70 e 80, a computação era<br />

uma ocupação feminina. A partir de certa altura é que<br />

começou a ter uma importância económica maior e aí<br />

passou de profissão feminina a profissão tipicamente<br />

masculina. Mas quando cheguei ao mestrado da Universidade<br />

Livre de Amesterdão era a única mulher da<br />

minha turma. E isso foi um choque. Não estava à espera.<br />

Mas eles facilitaram-me imenso. Como ainda não<br />

sabia falar holandês, deixaram que fizesse os<br />

exames em inglês.<br />

A <strong>IA</strong> que aprendeu na época não tem nada a ver com o<br />

que existe hoje…<br />

Não é assim tão diferente. Agora falamos imenso na<br />

<strong>IA</strong> baseada em dados, mas ao fim e ao cabo a <strong>IA</strong> são<br />

19


a conversa<br />

20<br />

os algoritmos que permitem a um computador fazer<br />

criações baseadas num modelo do mundo que construiu.<br />

Agora constroem-se esses modelos baseados em<br />

dados – dá-se milhões de exemplos ao computador. Na<br />

altura, em vez de dados, transmitíamos regras. Em vez<br />

de fornecer ao computador milhões de fotografias de<br />

cães e de gatos para depois lhe pedir: “Vê se há alguma<br />

diferença entre as duas coisas”; tentávamos explicar à<br />

máquina as diferenças entre um cão e um gato. Tinha<br />

vantagens e desvantagens. Uma das vantagens é que<br />

era muito mais transparente a maneira como o computador<br />

percebia, pois só de “olhar” para as imagens e<br />

registar as diferenças o computador não entende bem<br />

o que distingue um cão de um gato. A desvantagem é<br />

que não era tão fácil, rápida e eficiente a maneira como<br />

os modelos eram construídos. Uma das coisas que tornou<br />

possível o atual modelo foi a internet, que proporcionou<br />

dados às catadupas. E também o aumento da<br />

capacidade de processamento. Os primeiros computadores<br />

com que trabalhei, nos anos 80, tinham menos<br />

capacidade do que os nossos telefones têm agora. E,<br />

no entanto, eram computadores do tamanho de uma<br />

casa. Na verdade, os princípios<br />

das redes neuronais<br />

já existiam, não havia era<br />

esta capacidade de processar<br />

que temos agora.<br />

Depois de dez fotografias<br />

de gatos, aqueles antigos<br />

computadores ficavam<br />

entupidos (risos).<br />

É uma workaholic?<br />

Sou uma hobbyholic. Porque<br />

me é difícil distinguir<br />

entre os hobbies e o trabalho.<br />

Falar do tema da <strong>IA</strong><br />

não me cansa.<br />

Também viveu e trabalhou fora da Europa…<br />

Sim, quando acabei o mestrado na Holanda, ao mesmo<br />

tempo o meu marido acabou o doutoramento e<br />

fomos para África criar (mais ele do que eu) o curso de<br />

Computação na Universidade da Suazilândia (atual<br />

Essuatíni). Nessa altura trabalhei em várias companhias<br />

para o desenvolvimento informático básico do<br />

país. Fiz o primeiro programa de administração para o<br />

banco nacional da Suazilândia. O que havia antes eram<br />

caixas com papéis. Essa parte de apoio ao desenvolvimento<br />

social e económico foi uma experiência muito<br />

importante. Estivemos lá no início dos anos 90. Coincidiu,<br />

por exemplo, com a libertação de Nelson Mandela.<br />

Estávamos mesmo ao lado da África do Sul, e sentimos<br />

muito o impacto desses acontecimentos.<br />

O trabalho que estou agora<br />

a fazer com as Nações<br />

Unidas é o de criar os meios<br />

e a literacia para que as<br />

pessoas saibam como é que<br />

se usam estes sistemas<br />

A oportunidade de vir para Portugal aconteceu logo a<br />

seguir…<br />

É verdade. Depois viemos para Portugal, onde consegui<br />

uma bolsa de doutoramento para o Técnico no grupo<br />

da <strong>IA</strong> e o meu marido entrou para a posição de professor<br />

assistente no mesmo grupo. Estivemos cá um ano,<br />

a seguir regressámos à Holanda.<br />

Como é que foi parar à Suécia?<br />

Desafiaram-me. A Suécia tem um enorme programa<br />

financiado por uma fundação privada, que neste momento<br />

está a suportar cerca de 500 alunos de doutoramento<br />

e várias dezenas de professores, quase todos<br />

convidados para vir para a Suécia.<br />

Como foi mudar da Holanda para a Suécia?<br />

A primeira mudança de país é que é difícil. O resto é<br />

uma aventura.<br />

Depois disso tiraram um ano sabático na Austrália…<br />

Sim, em 2006. Conhecíamos lá investigadores com<br />

quem trabalhávamos bastante. Naquela altura tivemos<br />

oportunidade de ir<br />

para lá.<br />

Tem um lado de globetrotter…<br />

Quando as pessoas me<br />

perguntam de onde venho,<br />

normalmente respondo:<br />

“Sou europeia”.<br />

De facto, sou portuguesa,<br />

mas entretanto também<br />

passei a ter nacionalidade<br />

holandesa, agora vivo na<br />

Suécia…<br />

Há alguma característica<br />

sua que reconheça ser intrinsecamente portuguesa?<br />

O que eu digo muitas vezes aos meus alunos é que sou<br />

uma combinação muito perigosa da maneira de ser<br />

extremamente direta dos holandeses e da paixão com<br />

que os portugueses falam. De vez em quando, essas<br />

duas coisas combinadas dão uma bomba. Os meus alunos<br />

já têm sofrido com essa combinação (risos).<br />

Gostaria de voltar para Portugal, um dia?<br />

A próxima fase da nossa vida é provavelmente a reforma.<br />

Na reforma, sim, claro, regressamos a Portugal.<br />

Mas vir trabalhar para Portugal, neste momento, não<br />

é possível, principalmente pela maneira como a estrutura<br />

académica em Portugal está organizada. Nós não<br />

fizemos doutoramentos em Portugal, não fizemos a<br />

agregação. Nem eu, nem qualquer outro português que<br />

seja professor catedrático fora de Portugal, pode ser


“Um programa de computação não acorda de manhã e decide: ‘Hoje vou destruir a Humanidade’”<br />

integrado na academia. Quem fez a carreira académica<br />

fora de Portugal não pode entrar. O António Damásio,<br />

por exemplo, se quisesse, também não podia. Mas colaboro<br />

com muitos portugueses em projetos científicos<br />

europeus, subsidiados pelos programas de investigação<br />

da Europa.<br />

A área que escolheu neste momento e em que está a<br />

dar aulas, a da <strong>IA</strong> Responsável, chegou-lhe com a experiência<br />

e com o tempo…<br />

Só mudei para a vida académica no princípio dos anos<br />

2000. Antes, estive muitos anos a trabalhar em empresas<br />

privadas, também em <strong>IA</strong>, criando projetos de<br />

desenvolvimento em situações reais: fábricas de automóveis,<br />

bancos, supermercados, etc. Portanto, aí vêse<br />

diretamente o impacto que estes sistemas têm. Isso<br />

não acontece quando se está na universidade.<br />

O que é mais compensador, ver os impactos reais ou<br />

fazer investigação?<br />

Precisamos das duas experiências, porque às tantas o<br />

problema de ver os impactos reais é que acaba por limitar-nos<br />

na maneira como tentamos resolver esses<br />

problemas. A possibilidade de ser criativo, de fazer<br />

experimentação sem ter o impacto direto também é<br />

importante.<br />

Voltando à pergunta: foi o somatório das suas experiências<br />

que a levou a interessar-se pela <strong>IA</strong> responsável?<br />

Sim, começou a interessar-me mais. O meu doutoramento<br />

foi não tanto sobre o impacto ético, mas sobre o<br />

impacto organizacional: as empresas que introduzem<br />

programas e sistemas de <strong>IA</strong> têm de mudar a sua organização.<br />

Há quem diga, ao falar do que poderá ser a evolução da<br />

<strong>IA</strong>, que não se pode parar o vento com as mãos. Também<br />

sente isso?<br />

Creio que não. O que os media nos querem convencer é<br />

que a <strong>IA</strong> é uma coisa como o tempo: acontece. A única<br />

coisa que podemos fazer é ler o boletim meteorológico<br />

e decidir se vamos levar um guarda-chuva ou não, mas<br />

a <strong>IA</strong> não é o tempo. A <strong>IA</strong> não nos acontece. Nós fazemos<br />

esses sistemas.<br />

Mas depois pode deter-se a investigação? Porque há<br />

pessoas que não são razoáveis…<br />

Os martelos, usados na construção, também podem<br />

ser usados para agredir. Os carros, que servem para nos<br />

deslocarmos, também podem matar. Um programa<br />

de computação não acorda de manhã e decide: “Hoje<br />

vou destruir a Humanidade!”. Não funciona assim!<br />

21


a conversa<br />

“Nem eu nem qualquer outro português que seja professor catedrático fora de Portugal pode ser integrado na academia. O António<br />

Damásio, por exemplo, se quisesse não podia”<br />

22<br />

Não tenho medo que os sistemas se levantem e fiquem<br />

conscientes. Tenho medo que pessoas e organizações<br />

utilizem esses sistemas para fazer mal, isso sim.<br />

É evidente que, a prazo, os computadores vão ultrapassar<br />

as capacidades humanas. Vamos deixar de ter<br />

uma relação de igual para igual. Isso não a perturba?<br />

Também não tenho uma relação de igualdade com o<br />

carro, que anda muito mais depressa do que eu. Nem<br />

com o avião, nem mesmo com o meu telefone, ou a<br />

calculadora, que faz raízes quadradas muito melhor<br />

do que eu… Neste momento já nem sequer ensinam<br />

os alunos a calcular raízes quadradas. Não é preciso. O<br />

que é preciso é ensiná-los a perceber o que é uma raiz<br />

quadrada e para que é necessário fazer esse cálculo e<br />

quando. Ao utilizar a <strong>IA</strong>, a intenção final é nossa, portanto<br />

a responsabilidade também. Se deixo o sistema<br />

tomar decisões automaticamente, como aconteceu<br />

na Holanda – em que as finanças pediram, por lapso,<br />

a muitas famílias para devolverem os subsídios que<br />

supostamente haviam recebido de modo fraudulento<br />

durante anos. Uma imprudência que teve consequências<br />

gravíssimas, como suicídios, divórcios e por fim a<br />

queda do governo. Se deixo isso acontecer a culpa não<br />

é da <strong>IA</strong>, mas das pessoas que decidiram que o sistema<br />

poderia funcionar sem supervisão. Portanto, aí é que<br />

temos de ter muita atenção e muito esforço, não só no<br />

desenvolvimento técnico, mas principalmente no desenvolvimento<br />

sociotécnico. O trabalho que estou agora<br />

a fazer com as Nações Unidas é exatamente o de criar<br />

os meios e a literacia para que as pessoas saibam como<br />

é que se usam estes sistemas. Neste momento, podemos<br />

comparar a <strong>IA</strong> com um carro que não tem travões,<br />

nem cintos de segurança e está a ser guiado por uma<br />

pessoa que não tem carta de condução e vai por uma<br />

rua abaixo que não tem sinais de trânsito. Temos que<br />

insistir com as empresas que desenvolvem estes sistemas,<br />

que têm de pôr cintos de segurança e travões, mas<br />

não nos podemos esquecer de que ao mesmo tempo,<br />

temos de investigar ou garantir que quem está a fazê-lo<br />

tem carta de condução. Também é preciso criar as regras<br />

de trânsito.


Pegando na metáfora do carro: poderá acontecer, no<br />

futuro, tudo isto evoluir para um carro de condução<br />

autónoma…<br />

Os carros de condução autónoma não começam a trabalhar<br />

sem ninguém lhes dar uma ordem para começar.<br />

Nessa altura temos de ter capacidade de garantir<br />

que os carros de condução autónoma têm carta de condução<br />

para saberem o que estão a fazer…<br />

Quem se dedica a estas áreas certamente que, em algum<br />

momento, se há-de interrogar sobre se o ser humano,<br />

em geral, tem idoneidade para lidar com tecnologias<br />

que nos podem levar a situações extremas...<br />

Sim, essa é uma questão extraordinariamente importante<br />

e devemos fazer uma reflexão contínua sobre<br />

esse assunto, mas ao mesmo tempo, também temos de<br />

ter humildade. Com as discussões que surgiram sobre<br />

a OpenAI, a ideia que eu começo a ter é que as pessoas<br />

envolvidas nisto, ao mais alto nível, começam a sentirse<br />

deuses que têm a capacidade de decidir sobre estes<br />

sistemas e sobre a Humanidade. As discussões sobre a<br />

mudança na direção da OpenAI são descritas como um<br />

problema da Humanidade, quando isto é só uma guerra<br />

entre administradores.<br />

Trata-se de manter a atenção<br />

no desenvolvimento<br />

da <strong>IA</strong> de forma exagerada.<br />

Temos de ter a humildade<br />

de pensar que isto não é<br />

bem assim…<br />

2023 foi o ano do boom da<br />

<strong>IA</strong>. Toda a gente acordou<br />

para o potencial desta<br />

tecnologia. E, de repente,<br />

a realidade aumentada,<br />

de que tanto se falava, o<br />

cloud computing, todas essas áreas, saíram do foco.<br />

Parece que a <strong>IA</strong> secou tudo à volta. Como explica este<br />

fenómeno?<br />

Marketing, dinheiro (risos)… A grande diferença do<br />

momento em que estamos agora e o que acontecia há<br />

cerca de um ano é que qualquer pessoa no mundo tem<br />

agora a oportunidade de interagir com sistemas que, à<br />

primeira vista, reagem de uma forma quase humana.<br />

O ChatGPT, o Bard e afins, são aplicações feitas sobre<br />

aplicações de <strong>IA</strong>. Sem essas aplicações, que associaram<br />

a conversação humana à <strong>IA</strong>, a evidência de que estávamos<br />

a falar com uma máquina era muito maior.<br />

Está tudo feito de forma<br />

a aliciar-nos a trabalhar<br />

com os sistemas de <strong>IA</strong>. A<br />

questão é que isto dá muito<br />

dinheiro...<br />

Isso significa o quê?<br />

Estas aplicações que usam a linguagem são feitas para<br />

criar uma ilusão. Por um lado, têm por objetivo mostrar<br />

que é possível interagir com o sistema, da mesma maneira<br />

que interagimos uns com os outros e, assim, podemos<br />

todos beneficiar com isso. Isso é positivo. Mas<br />

também há uma forma negativa de ver a questão: eles<br />

querem-nos viciar e controlar. Porque é que o ChatGPT<br />

diz “desculpa”? A máquina não conhece o conceito,<br />

por isso não devia ter de pedir desculpa. O Google não<br />

diz desculpa quando se engana a dar uma resposta…<br />

Está tudo feito de forma a aliciar-nos a trabalhar com<br />

estes sistemas. A questão é que isto depois dá muito dinheiro…<br />

Em termos de computação, os sistemas de <strong>IA</strong><br />

são extremamente pesados, portanto as empresas têm<br />

toda a vantagem em que haja cada vez mais sistemas<br />

de <strong>IA</strong> para venderem cada vez mais máquinas.<br />

O que é que a preocupa mais?<br />

Estamos a ficar muito dependentes. Já estávamos dependentes<br />

das redes sociais, que são de empresas em<br />

que não temos controlo democrático. Não temos capacidades<br />

democráticas de intervir nelas, porque são<br />

empresas privadas, comerciais, com fins lucrativos.<br />

Podem fazer o que quiserem.<br />

Temos de caminhar no sentido da regulação…<br />

Sim. Tem de ser uma regulação efetiva, que ao mesmo<br />

tempo permita aos reguladores,<br />

às empresas e ao<br />

cidadão comum ter voz<br />

no que está a acontecer.<br />

Não pode ser, como essas<br />

empresas querem, só uma<br />

questão de autorregulação.<br />

Também não podem<br />

ser os Estados, unilateralmente,<br />

a estabelecer<br />

as regras. Temos de caminhar<br />

para um diálogo que<br />

envolva também os cidadãos.<br />

Participou na parte inicial da conceção do AI Act.<br />

Acha que a Europa vai no bom caminho?<br />

Se me tivessem feito essa pergunta há duas semanas,<br />

dizia que sim, mas neste momento estou com imenso<br />

medo do que estas guerras podem implicar. Uma das<br />

grandes bases do AI Act é que temos de regular os riscos,<br />

independentemente da tecnologia. Se existe risco,<br />

o risco tem de ser regulado e garantido. É como com os<br />

carros: não interessa se são a diesel ou elétricos. Têm<br />

de ter travões. O AI Act estava bastante bem definido,<br />

mas há uns meses alguém resolveu modificar o texto e<br />

introduzir uma especificidade tecnológica que só tem<br />

criado confusão. Neste momento, estou preocupada<br />

com o que vai sair daqui. Entretanto, a China já tem<br />

regulação, os EUA também e a Europa está a perder a<br />

vantagem.<br />

23


a conversa<br />

Uma das questões que se levanta é que a regulação vai<br />

ser muita má para a inovação…<br />

Voltando ao exemplo dos carros: quem é que quer andar<br />

num carro sem travões? Se tomarmos a regulação a<br />

sério, continuamos a poder desenvolver a tecnologia,<br />

tendo muito maior capacidade de garantir a segurança<br />

no que estamos a fazer. A regulação também pode, por<br />

outro lado, ser uma rampa de lançamento de inovação.<br />

Tenho estado a trabalhar na UE nas regras para <strong>IA</strong> de<br />

confiança, mas também trabalhei com a UNESCO nas<br />

regras para a ética. Nesses grupos, é bastante fácil concordar<br />

que a <strong>IA</strong> deve ser justa e dar garantia de privacidade.<br />

Toda a gente concorda com estes princípios. O<br />

que é extremamente difícil e não há, neste momento,<br />

capacidade de inovação suficiente é dizer: o que é que<br />

isso quer dizer quando estou a escrever o meu código?<br />

Tem a ver com a regulação, mas também com a implementação.<br />

Como posso garantir que o meu sistema é<br />

mais justo do que outro? Por enquanto ainda não podemos<br />

garantir, de forma matemática, que o que eu estou<br />

a fazer é justo. Como é que vou medir? É nisto que<br />

precisamos de inovação.<br />

Aqueles que têm vindo a público com ideias realmente<br />

assustadoras sobre o que a <strong>IA</strong> pode fazer no futuro,<br />

acha que em boa parte é marketing?<br />

Não é marketing, mas é uma maneira de focar a atenção<br />

num problema que não é real neste momento. Enquanto<br />

estamos todos a olhar para as citações do “terminator”,<br />

receando que a <strong>IA</strong> nos matará a todos quando<br />

acordarmos de manhã, ninguém está a tomar atenção<br />

ao que se está a fazer agora. Porque está tudo assustado<br />

com o que vai acontecer, potencialmente, talvez daqui<br />

a 100 anos e, entretanto, fazem o que quiserem.<br />

Sendo uma especialista na área, sabe muito mais do<br />

que a esmagadora maioria das pessoas. Esse conhecimento<br />

não é também uma fonte de inquietação? Ou<br />

pelo contrário?<br />

Acaba por ser “pelo contrário”. O que tento fazer nesses<br />

órgãos em que estou envolvida é demonstrar que nós<br />

somos responsáveis, não temos que estar a pôr medo e<br />

foco na máquina em si: afinal fomos nós que a fizemos.<br />

Temos de ter mais consciência da nossa responsabilidade<br />

e isso passa pela questão de decidirmos se vamos<br />

implementar <strong>IA</strong> nesta situação, ou não. Em muitos casos,<br />

teremos de ser capazes de dizer “não”. Neste momento,<br />

não temos a capacidade, ou as garantias, que o<br />

sistema seja usado de maneira certa – portanto, o melhor<br />

que temos a fazer é não o implementar.<br />

Disse, numa entrevista recente, que tem de haver regulação<br />

ao nível das empresas, dos setores, dos países<br />

e das regiões, com uma coordenação ao nível global,<br />

onde a futura agência da ONU terá uma palavra a dizer...<br />

Exatamente. Não se pode pensar que vamos fazer uma<br />

regulação de um tamanho único, que serve para tudo.<br />

Temos de ter em conta as diferentes realidades e situações.<br />

Uma regulação que se faz para um sistema médico<br />

não é igual à que se faz para aplicações financeiras.<br />

Temos de ter a capacidade de traduzir os princípios éticos<br />

e sociais de forma diferente para cada área. Tomando<br />

em conta também os contextos culturais. A ONU<br />

não vai decidir de maneira uniforme quais são a regras<br />

a observar por todos, mas sim uma forma de coordenar<br />

e integrar o que se faz num sítio e noutro. O que o secretário-geral<br />

nos pediu, foi: “Definam estruturas adequadas<br />

para este organismo internacional. Tendo em<br />

atenção o que são riscos e o que são oportunidades”.<br />

Também estamos a definir quais serão as funções deste<br />

organismo: deverá ter funções de monitorização, de<br />

sancionamento, de emergência. Se um dia tudo correr<br />

mal, deverá funcionar como uma Cruz Vermelha Internacional.<br />

É o que estamos a fazer neste momento.<br />

Quando se assume que, tecnicamente, ainda não é<br />

possível encontrar soluções para a implementação de<br />

certas coisas, no fundo o que se está a dizer é que em<br />

certas questões não se pode avançar em termos de regulação…<br />

Mas a regulação não tem de ser só sobre a técnica.<br />

A <strong>IA</strong> não é só uma questão de engenharia. A <strong>IA</strong>,<br />

neste momento, é um sistema social. Inclui as partes<br />

técnicas, mas também inclui as organizações, os engenheiros,<br />

os utilizadores, os juristas. Se não há possibilidade<br />

de resolver as coisas de forma técnica, tem de se<br />

resolver de outra maneira.<br />

Falando do nosso país: acha que esta instabilidade política<br />

poderá pôr em risco projetos como o consórcio<br />

liderado pela Unbabel?<br />

Penso que os consórcios que já estão a trabalhar não<br />

serão afetados. Mas estou extremamente preocupada<br />

com a instabilidade política não só em Portugal, mas<br />

também no mundo. Dentro dos próximos 12 meses vai<br />

haver eleições em 85 países. A <strong>IA</strong> vai ajudar pessoas a<br />

criar notícias falsas, portanto por aí vamos ver a utilização<br />

da <strong>IA</strong> que reflete a inconsciência das pessoas e<br />

o oportunismo. Esta instabilidade vai certamente influenciar<br />

a forma como o desenvolvimento desta tecnologia<br />

vai continuar.<br />

Essa instabilidade poderá influenciar medidas mais<br />

duras de controlo e regulação?<br />

Pode ter esse efeito ou o contrário. Depende para que<br />

lado a instabilidade política vai pender.•<br />

24


As nossas melhores<br />

soluções começam consigo<br />

As nossas soluções digitais para o setor da saúde<br />

garantem o acesso à informação certa, no momento<br />

certo e pelas pessoas certas. Mais agilidade, mais<br />

eficiência, maior inovação e a garantia de conformidade<br />

com os requisitos regulamentares e de segurança.<br />

Descubra mais em cgi.com


EUROP<br />

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os int<br />

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TEXT<br />

em destaque|digital union<br />

26


EAN MED<strong>IA</strong> FREEDOM ACT<br />

NSEGUIRÁ<br />

E PROTEGER<br />

4° PO<strong>DE</strong>R?<br />

a comunicação em roda livre,<br />

eresses dos media tradicionais,<br />

próprios cidadãos, têm de ser<br />

lados antes que o caos se instale.<br />

te disso, a Comissão Europeia<br />

entou a proposta que tenta pôr<br />

m no setor que é um dos mais<br />

rtantes pilares da democracia.<br />

O <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW<br />

27


em destaque|digital union<br />

28<br />

Sabe-se que há décadas o jornalismo tem vindo a<br />

perder a sua influência, de tal forma que o epíteto<br />

de 4º poder, que ganhou nos seus tempos<br />

áureos, já poucas vezes é invocado com convicção.<br />

Os canais de comunicação alternativos, com<br />

destaque para as redes sociais, estão a desviar as audiências<br />

dos meios de comunicação tradicionais e isso<br />

não só abriu uma crise profunda no setor, com títulos<br />

históricos a desaparecer e muitos outros a definhar,<br />

como deu oportunidade a que entidades, nem sempre<br />

idóneas, emergissem no palco mediático. Mas desde<br />

que o trumpismo validou as fake news como alternativa<br />

aceitável à verdade dos factos, e se soube como estas<br />

têm servido para manipular a opinião pública, influenciando<br />

até o resultado de eleições em países democráticos,<br />

soaram os alarmes.<br />

Para proteger os meios de comunicação social de<br />

referência e o jornalismo de qualidade, cujo papel é reconhecido<br />

como essencial na defesa da democracia, a<br />

Comissão Europeia avançou em setembro de 2022 com<br />

uma proposta de regulamento que está agora em apreciação,<br />

o European Media Freedom Act. Tudo apontando<br />

para que este processo seja fechado em breve,<br />

uma vez que o Parlamento<br />

Europeu e o Conselho<br />

Europeu já aprovaram<br />

uma posição comum relativamente<br />

ao documento,<br />

e sabe-se que quando<br />

for aplicado vai impactar<br />

transversalmente todo o<br />

setor dos media nos Estados-membros,<br />

incluindo<br />

as grandes plataformas<br />

online.<br />

Para analisar esta proposta<br />

de Bruxelas, a APDC, em parceria com a VdA,<br />

organizou a 8ª sessão do Digital Union, um ciclo de<br />

iniciativas sobre os temas europeus ligados às TIC.<br />

Nesta sessão, apresentada por Fernando Resina da Silva<br />

(sócio responsável pela área de PI Transacional e da<br />

área de Comunicações, Proteção de Dados e Tecnologia<br />

da VdA) e Sandra Fazenda Almeida (diretora executiva<br />

da APDC), o jurista Tiago Bessa (sócio responsável pela<br />

área de Informática, Comunicação e Tecnologia e pela<br />

área de PI Transacional da VdA) escalpelizou o diploma<br />

e António José Teixeira (diretor de informação da RTP),<br />

Nuno Santos (diretor da CNN Portugal) juntamente<br />

O tema da produção e<br />

divulgação de notícias<br />

geradas por <strong>IA</strong> deu ao<br />

European Media Freedom<br />

Act um caráter de urgência<br />

com Ricardo Costa (diretor de informação da SIC) participaram<br />

num debate conduzido pelo presidente da<br />

APDC, Rogério Carapuça.<br />

Na sua intervenção, Fernando Resina da Silva deixou<br />

claro o quanto é importante, nos tempos que correm,<br />

que “o 4º poder tenha defesas”. Independência,<br />

qualidade, transparência e liberdade de informar são<br />

as condições que, acredita, o Media European Fredom<br />

Act vem acautelar numa altura em que se junta à discussão<br />

sobre a situação dos media, em geral, e do jornalismo<br />

em particular, o tema da produção e divulgação<br />

de notícias geradas por <strong>IA</strong>.<br />

PROTEGER UM BEM ESSENC<strong>IA</strong>L<br />

Será o novo diploma da Comissão Europeia uma resposta<br />

eficaz para todas as questões que se colocam à<br />

volta da produção, divulgação e consumo de informação<br />

e da forma como o mercado dos media está a evoluir?<br />

Tiago Bessa veio a seguir apresentar uma análise<br />

detalhada da proposta da comissão para tentar responder<br />

a esta questão. Chamou a atenção para o facto<br />

de, sendo um regulamento, a partir do momento<br />

em que seja aprovado o Media European Freedom Act<br />

aplicar-se-á diretamente<br />

nos 27 Estados-membros,<br />

assegurando assim a harmonização<br />

da uniformização<br />

das regras aplicáveis.<br />

Lembrou que as “propostas<br />

legislativas não vêm<br />

do nada”, que têm sempre<br />

“um contexto político e<br />

preocupações subjacentes”<br />

e que quando Ursula<br />

von der Leyen veio a público<br />

dizer que “não podemos<br />

tratar os órgãos de comunicação social como qualquer<br />

tipo de negócio”, foi esclarecedor. Revelou que está<br />

muito presente na Comissão Europeia a consciência<br />

de que “a independência e a liberdade que deles emana<br />

é fundamental para os valores que são defendidos pela<br />

UE”. Prova disso foi a série de iniciativas legislativas<br />

entretanto aprovadas para reforçar o setor dos media.<br />

“Tanto para combater a desinformação, como para reforçar<br />

a segurança física dos jornalistas e o pluralismo<br />

do jornalismo”.<br />

O European Media Freedom Act nasceu a partir deste<br />

contexto e, sublinhou Tiago Bessa, é uma proposta que


Nuno Santos (CNN Portugal), Ricardo Costa (SIC) e António José Teixeira (RTP), no debate moderado por Rogério Carapuça (APDC)<br />

revelaram preocupação quanto à real eficácia de algumas medidas previstas no regulamento comunitário que está em discussão<br />

Fernando Resina da Silva: novas regras<br />

vão acautelar a independência e<br />

qualidade dos media<br />

Sandra Fazenda Almeida: pela sua<br />

importância, temática dos media está na<br />

agenda da APDC<br />

Tiago Bessa: sendo um regulamento, o<br />

European Media Freedom Act aplicar-se-á<br />

na UE27<br />

Os três diretores de informação deixaram no ar a certeza de que os desafios que hoje se<br />

colocam aos órgãos de comunicação social não deixam sequer entrever o que trará o futuro<br />

29


em destaque|digital union<br />

30<br />

se orienta em torno de quatro eixos: a independência<br />

editorial, o aumento da transparência, a proteção dos<br />

conteúdos nas plataformas online e a cooperação entre<br />

entidades nacionais e europeias.<br />

As principais novidades que o advogado da VdA<br />

identificou neste documento são medidas que visam<br />

proteger a independência editorial dos fornecedores<br />

de serviços de comunicação social, através de uma série<br />

de direitos que lhes são reconhecidos. Uma das propostas<br />

é a da proibição de medidas adotadas pelo Estado<br />

ou por entidades privadas que tenham como efeito<br />

a interferência nas políticas e decisões editoriais. Tiago<br />

Bessa também referiu como relevante a proibição de<br />

“quaisquer tentativas de revelação de informações,<br />

incluindo as fontes utilizadas pelos jornalistas”, bem<br />

como “a instalação de mecanismos de vigilância e de<br />

espionagem dos fornecedores de serviços de comunicação<br />

social”.<br />

No reforço da proteção da atividade jornalística independente<br />

também existe a preocupação de o legislador<br />

“ obrigar os Estados<br />

-membros a ter mecanismos<br />

que permitam aos<br />

fornecedores de serviços<br />

de comunicação social<br />

recorrerem rapidamente<br />

a uma entidade quando<br />

sentirem os seus direitos<br />

violados”, apontou Tiago<br />

Bessa.<br />

A obrigação de assegurar<br />

a divulgação de informação<br />

sobre os proprietários<br />

dos órgãos de comunicação social também é outra<br />

medida relevante nesta proposta, que visa despistar<br />

conflitos de interesse que possam afetar a independência<br />

editorial.<br />

Existe outra novidade relevante nesta proposta da<br />

comissão, desta feita relativamente à moderação de<br />

conteúdos pelas plataformas digitais, que determina<br />

que essa moderação não se pode basear unicamente<br />

em decisões algorítmicas, sendo pois necessário haver<br />

recursos humanos que façam essa avaliação.<br />

Além do Comité Europeu dos Serviços de Comunicação<br />

Social, uma entidade que já existe e cuja margem<br />

de manobra a CE pretende alargar, o European Media<br />

Freedom Act cria uma figura nova, a do Grupo de Peritos,<br />

que terá representantes da indústria do setor e da<br />

sociedade civil, cuja função é a de assessorar e fiscalizar<br />

a atividade regulatória do comité.<br />

Este conjunto de medidas que Tiago Bessa destacou<br />

para análise foram o mote para a discussão que veio a<br />

seguir entre os representantes de três dos maiores players<br />

do setor da comunicação social em Portugal. Como<br />

A obrigação de divulgar<br />

informação sobre os<br />

proprietários dos órgãos<br />

de comunicação social está<br />

prevista no documento<br />

profissionais do terreno, revelaram sobretudo preocupação<br />

quanto à real eficácia de algumas delas. E no ar<br />

deixaram a certeza de que os desafios que hoje se colocam<br />

ao setor não deixam, sequer, entrever o que se<br />

seguirá no futuro.<br />

PONTAS SOLTAS<br />

“A autonomia não é apenas uma questão regulamentar,<br />

a autonomia também tem a ver com a sustentabilidade<br />

dos projetos em que estamos” – António José<br />

Teixeira, cuja intervenção abriu o debate, pôs o dedo<br />

na ferida, sublinhando que legislar é importante, mas<br />

não é tudo. Admitindo que “em Portugal ainda temos<br />

um ecossistema de baixo risco, ou risco médio quando<br />

se olha para questões de pluralismo e autonomia<br />

editorial”, realça que em contrapartida “a transparência<br />

da propriedade é uma questão crítica” no país:<br />

“Podemos ter atores no mercado cuja razão de ser não<br />

conhecemos e que obviamente prejudicam a saúde e a<br />

convivência dos vários projetos”. Nesse sentido saúda<br />

o facto de o diploma comunitário<br />

pretender introduzir<br />

normas que promovem<br />

a transparência<br />

quanto à propriedade dos<br />

órgãos de comunicação<br />

social, pois esse é um fator<br />

de confiança, que favorece<br />

a independência editorial<br />

e tem repercussões não só<br />

na “saúde da democracia,<br />

mas também na saúde das<br />

empresas”, porque “a confiança<br />

do mercado também depende disso e o facto de<br />

todos respeitarmos regras semelhantes introduz uma<br />

convivência mais saudável”.<br />

Partilhando as mesmas preocupações, Ricardo Costa<br />

apontou o dedo ao regulador: “Nós temos um problema<br />

não na lei, mas no controlo, que é totalmente<br />

ineficaz”. E cita exemplos: “O Álvaro Sobrinho foi dono<br />

de um jornal em Portugal durante vários anos e a Isabel<br />

dos Santos não teve um canal de TV por um triz, embora<br />

não cumprisse nenhuma regra de compliance para<br />

poder ser dona de um órgão de comunicação social”.<br />

Mas a questão da falta de transparência da propriedade<br />

dos órgãos de comunicação social sendo crítica,<br />

não foi o que o diretor de informação da SIC identificou<br />

como o principal problema do setor. “As grandes<br />

plataformas online”, frisa, “é que alteraram totalmente<br />

o ecossistema de media”, pois nunca antes tinham surgido<br />

no mercado “empresas com um poder global tão<br />

grande como estas empresas transnacionais, que têm<br />

controlo nos vários vetores da cadeia de produção, distribuição<br />

e consumo, porque produzem software, são


plataformas de distribuição, são plataformas de venda<br />

de publicidade e de medição de audiências”.<br />

Como fazer para subsistir face a tão imenso poderio?<br />

Nuno Santos confessou que o que mais o inquieta<br />

“é se os media convencionais têm capacidade para ir ao<br />

mercado e conseguir captar receitas suficientes para<br />

manter o mesmo tipo de atividade. A verdade, sublinha,<br />

é que “aconteceram imensas coisas para as quais<br />

os media convencionais, os reguladores e os Estados<br />

não estavam preparados. E isso faz pensar: com tudo<br />

aquilo que temos à nossa frente e não conhecemos,<br />

será que estamos preparados para o que vem a seguir?”<br />

Mesmo para o que já está a acontecer, Ricardo Costa<br />

tem dúvidas de que os players convencionais do setor<br />

estejam preparados: “Com todo o respeito pelo Direito<br />

e muito respeito pelo Jornalismo, se não percebermos<br />

a lógica das plataformas, não estamos a perceber do<br />

que estamos a falar”. Um dado relevante é que, sublinha,<br />

“as plataformas não jogam na ilegalidade, jogam<br />

numa coisa que é muito mais inteligente: estão à frente<br />

da lei. Havia um claim<br />

que se usava muito em<br />

Silicon Valley, quando estas<br />

empresas começaram,<br />

que era: ‘Move fast and break<br />

things” e esse é o lema da<br />

maior parte das tecnológicas,<br />

porque entendem – e<br />

em parte têm razão – que<br />

a regulação pode limitar a<br />

criatividade e a inovação.<br />

É muito difícil contrariar<br />

este princípio, porque é<br />

verdadeiro”.<br />

No âmbito da <strong>IA</strong>, lembrou, uma das discussões gira<br />

precisamente em torno das iniciativas europeias que<br />

se estão a tomar no sentido de regular este mercado:<br />

“O que se diz é que se a Europa regular demais todo o<br />

crescimento da <strong>IA</strong> vai surgir nos EUA ou na China e coloca<br />

a Europa numa situação complicada”.<br />

António José Teixeira concorda que “a globalização<br />

é muito difícil de regular e estas grandes plataformas<br />

talvez sejam a expressão máxima desta globalização”.<br />

Perante a transnacionalidade destas organizações, “o<br />

que fazer”, pergunta, “se existe sempre escapatória”?<br />

Em relação à dificuldade de encontrar abordagens<br />

que se adequem à nova realidade que a tecnologia trouxe,<br />

o diretor da CNN Portugal chamou a atenção para as<br />

assimetrias que certas leis involuntariamente geram no<br />

mercado: “No dia de reflexão”, exemplificou, “por lei os<br />

media estão proibidos de dar notícias sobre a campanha<br />

eleitoral, mas nos sites está lá tudo”. Isto, salienta, “diz<br />

muito sobre o trabalho que não foi feito pelos reguladores<br />

face às mudanças que ocorreram no mundo”.<br />

A sustentabilidade das<br />

empresas jornalísticas foi<br />

identificada como o maior<br />

problema da comunicação<br />

social em Portugal<br />

A figura do regulador europeu, que o European Media<br />

Fredom Act pretende reforçar, também suscitou<br />

comentários, nomeadamente de Ricardo Costa, que<br />

sublinhou o muito cuidado que se deve ter em assegurar<br />

a sua efetiva independência. A propósito de regulação,<br />

também frisou a necessidade de se repensar o tipo<br />

de intervenção que os reguladores devem ter em questões<br />

como a concentração de empresas convencionais<br />

de media, já que as grandes plataformas transnacionais<br />

não são sujeitas a qualquer tipo de restrições.<br />

Sobre a qualidade do jornalismo que hoje se pratica,<br />

Nuno Santos identificou a sustentabilidade das<br />

empresas jornalísticas como o maior problema da comunicação<br />

social em Portugal e deixou uma pergunta<br />

no ar: “Se as receitas que as empresas de media geram<br />

não forem suficientes para produzirem bom jornalismo,<br />

como vai ser?”<br />

Por seu turno, António José Teixeira trouxe à discussão<br />

o tema da velocidade, que considera muito crítica<br />

no jornalismo. “Não podemos desguarnecer uma<br />

frente quase instantânea<br />

da atualidade”, sob pena<br />

de “pôr em causa a sobrevivência<br />

do jornalismo e a<br />

sua justificação”, salientou.<br />

“Mas precisamos de<br />

libertar jornalistas para<br />

fazer jornalismo mais lento,<br />

que acrescente valor”.<br />

O problema, hoje em dia,<br />

é ter de gerir as duas frentes,<br />

adianta.<br />

Nuno Santos refere a<br />

necessidade de se estar presente em múltiplos canais:<br />

“É preciso pôr no ar um canal de 24h de informação, é<br />

preciso ter sempre atualizado um site, é preciso produzir<br />

posts para as redes sociais e fazer os jornais generalistas,<br />

que têm outro ritmo”.<br />

Só é possível responder a tudo isto com recurso à<br />

tecnologia. Ricardo Costa admite que tecnologia e jornalismo<br />

sempre andaram de mãos dadas e que por isso<br />

as novas tecnologias não são o inimigo, pelo contrário.<br />

Mesmo o uso de inteligência artificial para escrever<br />

notícias, desde que meramente factuais, como as da<br />

meteorologia, as que divulgam resultados desportivos<br />

ou a performance das bolsas, não lhe desperta qualquer<br />

objeção. O que é preciso é corrigir as assimetrias que<br />

hoje se observam no mercado, ajustando as leis, dando<br />

condições aos reguladores para exercerem as suas<br />

funções e proteger a atividade dos jornalistas. Para que<br />

as notícias sobre a morte anunciada do jornalismo não<br />

passem de simples fake news.•<br />

31


em destaque|evolve<br />

PARTILHAR,<br />

INSPIRAR<br />

E ACELERAR<br />

MUDANÇA<br />

Multiplicam-se os projetos de<br />

transformação digital. E há muitas<br />

ideias inovadoras, que ajudam<br />

as organizações a acelerar os seus<br />

processos de mudança através<br />

da tecnologia, para garantir o<br />

sucesso num futuro cada vez mais<br />

incerto. Na 2ª edição do EVOLVE,<br />

apresentaram-se 17 casos de<br />

estudo, assim como as respetivas<br />

propostas de valor, oportunidades<br />

e dificuldades.<br />

TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

32


33


em destaque|evolve<br />

Para o presidente da APDC, é fundamental mostrar exemplos de transformação digital, para que todos possam aprender e inspirar-se<br />

com os casos que estão a ser implementados no mercado nacional, avançando desta forma com os seus processos de mudança<br />

34<br />

Dar a conhecer vários projetos de inovação digital<br />

nas mais variadas áreas e setores de atividade,<br />

já implementados ou em fase de implementação,<br />

foi o objetivo da edição de 2023 do<br />

EVOLVE – Digital Transformation Summit. Sendo a<br />

transição para o digital uma meta transversal a toda a<br />

economia e sociedade, os exemplos apresentados – que<br />

resultam de verdadeiras parcerias entre as tecnológicas<br />

e as organizações – permitiram uma partilha de conhecimentos<br />

com o mercado, inspirando as organizações<br />

a avançarem com os seus processos. É que fazer uma<br />

transição digital não se resume apenas a usar as novas<br />

ferramentas tecnológicas. Vai muito além disso, envolvendo<br />

uma total transformação, que terá de ter em<br />

conta o ecossistema e o que se perspetiva para o futuro.<br />

Do ambiente à educação, passando pela saúde ou a indústria,<br />

entre outros, os 17 estudos de caso mostraram<br />

que a tecnologia pode ser altamente transformadora.<br />

“A transformação digital é uma mudança organizacional,<br />

de modelos de negócio, promovida pela tecnologia<br />

e com o objetivo de aumentar o desempenho<br />

da organização”. A afirmação é de Rogério Carapuça,<br />

Presidente da APDC, na abertura do evento, que voltou<br />

a ser realizado em parceria com a CNN Portugal,<br />

contando com Ana Sofia Cardoso, TV Host CNN Prime<br />

Time na CNN Portugal, e Pedro Santos Guerreiro, diretor<br />

executivo da CNN Portugal, como hosts.<br />

Para o líder da APDC, os temas de gestão são, no<br />

âmbito da transição digital, críticos às empresas, porque<br />

se trata de um processo “com um objetivo determinado<br />

de aumentar o desempenho das organizações.<br />

O que significa que a transformação digital tem de ser<br />

medida para conseguir ser gerida”.<br />

“Estes são os conceitos básicos que queremos ver<br />

sempre num projeto de transformação digital. Pelo<br />

que é fundamental, porque é com exemplos que aprendemos,<br />

mostrar os casos implementados em Portugal,<br />

para que outros saibam como é que se devem posicionar<br />

e o que devem fazer para inspirar a sua ação”,<br />

acrescentou. Deixando claro que “é por isso que fazemos<br />

o EVOLVE, que é um fórum de transformação<br />

digital, mostrando casos reais que estão a acontecer,<br />

com clientes reais e com os associados APDC como<br />

motores deste processo”.<br />

CONHECIMENTO NÃO TEM DONO,<br />

TEM BENEFICIÁRIOS<br />

São iniciativas como o EVOLVE que permitem desenvolver<br />

as capacidades analíticas e críticas dos líderes<br />

empresariais. Acresce que integra múltiplas perspeti-


Para acelerar a transformação digital da Administração Pública, Mário Campolargo lança um repto<br />

ao setor das TIC: “Ajudem-nos neste exercício”<br />

São iniciativas como o<br />

EVOLVE que permitem<br />

desenvolver capacidades<br />

críticas dos líderes<br />

empresariais<br />

vas, que permitem “alavancar a inteligência coletiva,<br />

para aprendermos com os sucessos e erros, os nossos<br />

e os dos outros”- a afirmação é do secretário de Estado<br />

da Digitalização e da Modernização Administrativa.<br />

Para Mário Campolargo, “na era em que os dados, a informação<br />

e o conhecimento convergem a uma velocidade<br />

incrível, o conhecimento já não tem donos. Tem,<br />

de facto, apenas beneficiários”.<br />

É que o processo<br />

de transformação chegará<br />

a todas as entidades,<br />

tendo os seus líderes um<br />

papel importante a desempenhar,<br />

como “embaixadores<br />

das suas empresas<br />

e criadores de moldes de<br />

decisão”, para a definição<br />

de uma visão, missão, dos<br />

recursos necessários e dos<br />

vários modos para a alcançar.<br />

Há ainda, na sua<br />

perspetiva, que “dar mais voz aos gestores intermédios<br />

e trabalhadores de primeira linha. Sem o seu feedback,<br />

estaremos condenados a uma espécie de miopia que a<br />

distância ao terreno e à sua realidade inevitavelmente<br />

pode produzir”, pois é a eles que compete “fazer a<br />

articulação entre a visão e estratégia desenhadas pelos<br />

líderes e a sua transposição para os domínios concretos<br />

em que as empresas fazem os seus negócios. São também<br />

eles que têm de mobilizar a linha da frente para<br />

atingir os objetivos, tendo assim uma posição privilegiada<br />

para gerir e implementar a mudança, antecipar<br />

tendências e enfrentar<br />

todos os desafios do negócio”.<br />

Para o governante, nenhum<br />

líder pode esquecer<br />

o ‘porquê’ de querer avançar<br />

com a transformação<br />

digital: as pessoas. São elas<br />

o “foco comum. Por mais<br />

algoritmos que coloquemos<br />

no processo de trabalho,<br />

por maior que seja<br />

a facilidade de utilização<br />

e tratamento de dados,<br />

ou a utilização de tecnologias como a <strong>IA</strong>, nada consegue<br />

ainda rivalizar com a inteligência natural, mesmo<br />

quando está em patamares medianos”.<br />

“Quero encorajar todos a digitalizar e a fazê-lo ati-<br />

35


em destaque|evolve<br />

36<br />

vamente, porque precisamos de tornar a nossa vida<br />

mais fácil, conveniente e mais bela. O digital pode ajudar-nos<br />

nisso, mas apenas ajudar, não será capaz de o<br />

fazer por nós. Esse é o trabalho da liderança humana,<br />

de motivar as pessoas a auto-superarem-se, utilizando<br />

as ferramentas que têm ao seu dispor, incluindo todas<br />

as ferramentas tecnológicas”, considera.<br />

Neste âmbito, também a Administração Pública<br />

tem pautado a sua atuação “por uma tentativa constante<br />

de identificar os desafios e os problemas e apresentar<br />

soluções que simplifiquem a vida das pessoas,<br />

das empresas e promovam a transformação digital do<br />

país”. Sempre “em diálogo com todos os agentes de diferentes<br />

setores. Por isso, deixo um repto: ajudem-me<br />

neste exercício, façam parte dele”, remata.<br />

MENTE ABERTA À MUDANÇA<br />

Mas como se antecipa o futuro, no âmbito da inexorável<br />

transformação digital das organizações? Especialista<br />

nesta área, Paulo<br />

Cardoso do Amaral, que<br />

pelo 2º ano consecutivo<br />

Os estudos de caso<br />

apresentados nesta edição<br />

ajudam a criar propostas<br />

de valor que podem ditar o<br />

sucesso das organizações<br />

foi o Coordenador Científico<br />

do EVOLVE, garante<br />

que “não basta olhar para<br />

as tecnologias e usá-las.<br />

É preciso fazer as contas<br />

seguintes, determinando<br />

em que medida o ambiente<br />

competitivo poderá ou<br />

não ser favorável para se<br />

ter sucesso”.<br />

Na sua perspetiva, os<br />

estudos de caso apresentados permitem “perceber as<br />

dificuldades e as oportunidades que a tecnologia nos<br />

dá e a evolução que possibilita, ajudando a criar uma<br />

boa proposta de valor, que poderá ditar o sucesso de<br />

uma organização no futuro. Mas só isto não chega, até<br />

porque propostas de valor com tecnologia já existem<br />

há muito tempo e nem todas deram certo. É preciso ter<br />

cuidado”, neste “momento que estamos a viver, particularmente<br />

importante, porque a revolução digital vai<br />

acontecer ao país e à estrutura económica, com impacto<br />

nas empresas e na estratégia”.<br />

Há que saber “o que aí vem em termos de ambiente<br />

competitivo” para se poder avançar com um processo<br />

de mudança, utilizando de forma diferente a tecnologia,<br />

pois só assim se garantirá o futuro. “Temos de<br />

saber como usar a tecnologia para fazer diferente, ser<br />

inovador no que ainda não foi experimentado”, considera.<br />

Os casos apresentados permitem “partilhar exemplos<br />

que podem acelerar o processo de aprendizagem,<br />

para que quem vá utilizar a tecnologia saiba onde é que<br />

estão as vantagens e oportunidades, assim como as<br />

dificuldades”. Mas é preciso ir mais além, contextualizando<br />

o negócio e a estratégia, para ver se é favorável<br />

e “tentar encontrar propostas de valor que utilizem<br />

ao máximo as suas potencialidades para fazer coisas<br />

novas e diferentes. Isso requer aprendizagem e a visão<br />

do test and fail das startups”.<br />

Para este responsável, Portugal tem o problema da<br />

sua pequena dimensão, numa UE com “uma visão draconiana<br />

de regulação. Não ganhamos vantagens com a<br />

economia de escala da Europa. Prova disso é que as big<br />

tech estão todas do outro lado do Atlântico e deste lado<br />

não tem havido oportunidades”. Pelo que “a capacidade<br />

de crescer rapidamente num país com a nossa dimensão<br />

tem dificuldades próprias. Significa que temos<br />

de pensar em que medida é que vamos ter sucesso com<br />

as novas tecnologias”.<br />

Cada vez mais, “ganhar<br />

dinheiro com as novas<br />

tecnologias passa muito<br />

por efeitos de rede. Todos<br />

os modelos implicam ter<br />

alguma escala. Temos de<br />

encontrar formas de rentabilizar<br />

a proposta de valor,<br />

olhando sempre para<br />

o que é o equilíbrio competitivo<br />

em que estamos<br />

a trabalhar”. E “uma boa<br />

parte do nosso raciocínio<br />

vai ser treinar a forma de<br />

criar valor”, porque “as tecnologias que vamos utilizar<br />

amanhã para o nosso sucesso não são as que estamos a<br />

usar hoje” e o que “vem aí é ecossistémico”.<br />

Portugal já está a desenhar uma estratégia nacional<br />

para lhe responder, o que “significa que há várias<br />

entidades que vão entrar nesta equação e que podem<br />

alterar o ambiente competitivo. Uma delas, muito<br />

importante, é a AP, que é o sustentáculo do funcionamento<br />

da economia regulada: se funciona bem, temos<br />

sucesso, se funciona mal, vai complicar a vida a<br />

todos”, alerta.<br />

Mas esta estratégia está também ligada às decisões<br />

de Bruxelas. “Os regulamentos estão a levar a Europa<br />

para um ambiente competitivo muito mais nivelado,<br />

o que significa que as nossas empresas já não dependem<br />

só dos nossos reguladores”, comenta o especialista,<br />

deixando claro que “o mundo está a mudar, assim<br />

como as cadeias de valor”, num conjunto de alterações<br />

ecossistémicas em que até passará a ser possível “dese-


Paulo Cardoso do Amaral, que voltou a ser o coordenador científico da iniciativa, avisa que há que saber usar<br />

a tecnologia para fazer diferente<br />

nhar ecossistemas de raiz, o que nunca aconteceu. Até<br />

agora, os ecossistemas foram sempre consequência do<br />

que são as várias empresas a competir. Mas vamos poder<br />

criá-los by design, definir a regulação e só a seguir é<br />

que as empresas vão competir entre si, tentando a sua<br />

sorte. Para o fazer, têm de perceber bem em que ecossistema<br />

estão a trabalhar e como é que ele pode evoluir”.<br />

Tendo em conta esta visão, dentro de um ano ou<br />

dois, espera ter “exemplos que começam a olhar para<br />

a transformação da cadeia de valor e o desenho do<br />

ecossistema, em particular os ecossistemas auto-executáveis.<br />

A tecnologia por detrás disto chama-se web3<br />

e já não blockchain e a abordagem chama-se tokenização.<br />

Está na altura de começarmos todos a pensar nisso,<br />

porque as oportunidades são inúmeras, tal como<br />

quando nos anos 90 aconteceu com a web”. Por isso, recomenda<br />

que se estudem os casos, mas com a “mente<br />

aberta à mudança, porque o que aí vem é excitante”.•<br />

Ana Sofia Cardoso e Pedro Guerreiro, jornalistas da CNN<br />

Portugal, foram de novo os hosts desta 2ª edição do EVOLVE<br />

https://bit.ly/47mXWHV<br />

https://bit.ly/47nQZXj<br />

https://bit.ly/47nR8Kl<br />

37


em destaque|evolve<br />

38


17 ESTUDOS <strong>DE</strong> CASO<br />

PARA ALAVANCAR<br />

INTELIGÊNC<strong>IA</strong> COLETIVA<br />

1<br />

PLATAFORMA DIGITAL RESERVAS<br />

DA BIOSFERA <strong>DE</strong> PORTUGAL<br />

AX<strong>IA</strong>NS | UNIVERSIDA<strong>DE</strong> NOVA <strong>DE</strong><br />

LISBOA<br />

É UM PROJETO pioneiro para acelerar<br />

e amplificar o impacto dos planos<br />

traçados para as 12 Reservas da<br />

Biosfera portuguesas e foi proposto<br />

pela comunidade científica nacional<br />

para ajudar a UNESCO. Maria Fernanda<br />

Rollo, Professora Catedrática<br />

da Universidade Nova de Lisboa,<br />

diz que ao cuidar das reservas<br />

da biosfera “estamos a garantir o<br />

nosso futuro. O projeto destina-se<br />

a valorizar estas reservas, com um<br />

portal dinâmico e partilhado, para<br />

ir mais longe. A nossa ambição é do<br />

tamanho do mundo. Sendo a Axians<br />

o parceiro, queremos fazer muito<br />

mais do que já temos. A revolução<br />

digital é brutal e o seu potencial, com<br />

um parceiro tecnológico, é enorme”.<br />

Assim, foi criada a Plataforma Digital<br />

Reservas da Biosfera de Portugal,<br />

que dá a conhecer a realidade dos<br />

territórios, “um espaço para dar<br />

visibilidade, colocando os territórios<br />

no palco mundial, com a importância<br />

universal que merecem e com<br />

impacto no futuro do nosso planeta”,<br />

explica Sónia Frazão, business developer<br />

manager da Axians. E, como<br />

não havia uma solução tecnológica<br />

no mercado pronta a entregar, foi<br />

necessário “desenhar uma à medida<br />

da ambição do projeto. Foi o que<br />

fizemos, numa relação de parceria”,<br />

acrescenta. Esta solução permite<br />

aos gestores das reservas disporem<br />

de um conjunto de ferramentas<br />

de capacitação, gestão, partilha e<br />

colaboração, desafiando as várias<br />

comunidades (como residentes e<br />

turistas) a apoiar e agir sobre estes<br />

territórios.<br />

2<br />

DIGITALIZAÇÃO DO ENSINO COMO<br />

PILAR <strong>DE</strong> UM FUTURO MAIS<br />

PROMISSOR<br />

MEO EMPRESAS | INSTITUTO P<strong>IA</strong>GET<br />

A TRANSFORMAÇÃO digital foi um<br />

objetivo estratégico definido pelo<br />

Instituto Piaget, num processo de<br />

mudança em várias frentes. Jorge<br />

Patrício, diretor comercial B2B da<br />

MEO Empresas, explica que os pilares<br />

do projeto foram a digitalização de<br />

processos, com a criação de uma<br />

plataforma digital, a par da gestão<br />

documental, das plataformas colaborativas<br />

e da mobilidade, com wifi de<br />

alta capacidade. “Usámos tecnologia<br />

de ponta para colocar todos os polos<br />

com conetividade de alta qualidade.<br />

E temos mais projetos, com recurso a<br />

big data, <strong>IA</strong>, cibersegurança ou energias<br />

verdes, ligadas à sensorização e<br />

gestão remota da eficiência energética.<br />

Todos desenvolvidos em rede”,<br />

salienta. Um ano depois da sua implementação,<br />

a instituição tem “uma<br />

flexibilidade que dá uma capacidade<br />

de resposta sem paralelo”, refere Luis<br />

Moreira, coordenador executivo para<br />

as áreas da Qualidade, IT e Investigação<br />

do Instituto Piaget. “As mudanças<br />

foram verdadeiramente profundas.<br />

Além da alteração tecnológica, foi<br />

necessário capacitar pessoas, rever<br />

processos e procedimentos. Não há<br />

transformação numa sala de aula colocando<br />

apenas a tecnologia à disposição<br />

do professor. Exige formação.<br />

Foi um processo transversal a toda a<br />

organização, com ganhos de tempo e<br />

qualidade que beneficiam a comunidade.<br />

Não esperava que o processo<br />

fosse tão doloroso. A cultura é o mais<br />

difícil de vencer e a nossa mudança<br />

foi radical e teve muitas resistências<br />

internas. Mas hoje não há a menor<br />

dúvida da facilidade que traz à vida<br />

de todos”, salienta.<br />

Romper com a<br />

cultura instalada<br />

é um processo<br />

complexo mas<br />

necessário<br />

39


em destaque|evolve<br />

40<br />

3<br />

O POTENC<strong>IA</strong>L DO 5G NA EDUCAÇÃO<br />

VODAFONE | ESCOLA SECUNDÁR<strong>IA</strong><br />

CAMILO CASTELO BRANCO<br />

ATRAVÉS da rede 5G da Vodafone<br />

e de óculos de realidade virtual,<br />

os alunos da Escola Secundária<br />

Camilo Castelo Branco, em Vila Real,<br />

tiveram a oportunidade de assistir<br />

remotamente a uma intervenção,<br />

filmada em 360º, de vários oradores.<br />

Acederam ainda a uma pequena<br />

biografia de Camilo Castelo Branco,<br />

contada “na primeira pessoa”, no<br />

âmbito da qual percorreram virtualmente<br />

a casa do escritor, situada<br />

em Famalicão. O estudo de caso foi<br />

desenvolvido há menos de um ano,<br />

evidenciando o potencial do 5G e da<br />

RV na Educação. Como afirma Sérgio<br />

Silva, sales and business director da<br />

Cycloid, a “tecnologia por si só não<br />

faz a diferença. Tem de ter capacidade<br />

de inovar e transformar a educação.<br />

Conseguimos, de uma forma<br />

simples e rápida, conciliar as novas<br />

tecnologias – com recurso à rede 5G,<br />

computação, cloud e <strong>IA</strong> – para ir ao<br />

encontro de uma solução inovadora<br />

de ensino. A tecnologia traz valor<br />

e os benefícios como soluções de<br />

realidade virtual são percetíveis”. A<br />

meta foi mostrar “como é que pode<br />

o ensino do futuro ser diferente,<br />

fazendo-se melhor e extraindo mais<br />

valor. Foi um grande insight ter<br />

professores e alunos nativos digitais.<br />

O papel da tecnologia na edução<br />

está em debate e o 5G acaba por<br />

trazer um layer de disponibilidade<br />

tecnológica para o futuro. A forma<br />

como o conteúdo e a formação é<br />

apresentada ao aluno transforma<br />

a aprendizagem, que é vivida na 1ª<br />

pessoa”, acrescenta Nuno Bastos,<br />

manager de Go2Market empresarial<br />

da Vodafone.<br />

4<br />

INDÚSTR<strong>IA</strong> 4.0 COM 5G: UM CASO<br />

<strong>DE</strong> INOVAÇÃO<br />

NOK<strong>IA</strong> | ALTICE | NOVA<strong>DE</strong>LTA<br />

É UM PROJETO piloto da Indústria<br />

4.0 que usa uma rede 5G privada<br />

para controlar robôs inteligentes no<br />

chão de fábrica, um braço robótico,<br />

um veículo autónomo e um digital<br />

twin 3D. Esta solução integrada foi<br />

demonstrada em exclusivo para a<br />

Novadelta, unidade industrial do<br />

Grupo Nabeiro. Trouxe ao processo<br />

produtivo maior eficiência, segurança<br />

e qualidade, com uma plataforma<br />

de conetividade industrial que possibilita<br />

automação, fiabilidade, previsibilidade<br />

e segurança nos processos<br />

de fabrico. João Nunes, industrial<br />

director da Novadelta, diz que “com<br />

a ajuda dos parceiros, foi o momento<br />

certo para avançar com o piloto.<br />

Estamos agora na fase de implementação.<br />

Abriram-se novos mundos<br />

e criou-se a confiança de que<br />

queremos mais e que vale a pena<br />

experimentar”. Sendo as exigências<br />

de complexidade e diversidade de<br />

produtos e cadeias logísticas cada<br />

vez maiores no grupo, “só é possível<br />

dar resposta com digitalização”.<br />

Mário Seborro, diretor comercial da<br />

Altice, refere que “o grande objetivo<br />

do piloto foi apoiar a Novadelta no<br />

caminho da transformação digital e<br />

operacional, garantindo mais eficiência<br />

e melhores produtos finais. No<br />

caso da indústria, vivemos um novo<br />

paradigma, onde o homem tende a<br />

não dar instruções à máquina, mas a<br />

fazer recomendações aos humanos”.<br />

Marco Raposo, campus wireless<br />

sales manager da Nokia, acrescenta<br />

que trouxeram “uma solução e um<br />

conjunto de tecnologias com tempos<br />

de implementação muito mais<br />

rápidos, para dar vantagem competitiva.<br />

Há um tempo de inovação e<br />

outro de investimento. A automação<br />

e visibilidade do negócio em tempo<br />

real vão permitir aumentar a rentabilidade”.<br />

5<br />

MANUTENÇÃO PREDITIVA EM<br />

AMBIENTE <strong>DE</strong> REFINAR<strong>IA</strong><br />

CAPGEMINI | GALP<br />

ANTECIPAR os problemas dos equipamentos<br />

e atuar preventivamente<br />

em ambiente de refinaria era uma<br />

necessidade da Galp. A resposta foi<br />

a implementação de um modelo<br />

preditivo, com um dashboard por<br />

equipamento, para deteção de anomalias,<br />

obtendo-se alertas prévios<br />

de desvios à operação normal. “A refinaria<br />

de Sines é o maior complexo<br />

industrial do país e o mais difícil de<br />

operar. A nossa ambição é utilizar a<br />

transformação digital como alavanca<br />

de mudança do negócio. Queremos<br />

construir um green energy hub<br />

e este projeto é um dos primeiros<br />

passos para reduzir o nosso impacto<br />

ambiental e ter operações mais<br />

seguras e mais eficientes”, explica<br />

Bruno Teles, head of operational &<br />

digital excellence, Galp. Havia que<br />

dar resposta a dois desafios – integrar<br />

a camada OT com a camada IT e<br />

limpar os dados industriais – que já<br />

foram endereçados, o que permi-


tiu obter “metas de performance<br />

muito importantes para a gestão<br />

da mudança”, acrescenta. Bruno<br />

Santos, hybrid intelligence country<br />

director da Capgemini Engineering,<br />

explica que “o projeto passou por<br />

duas fases: a primeira, de conceito,<br />

para testar os objetivos: a segunda,<br />

do roll-out, com a implementação de<br />

modelos de machine learning. Isto só<br />

se faz com pessoas para implementar<br />

estas ideias e iniciativas e por<br />

capacidade de integração”. Na sua<br />

ótica, a indústria tem “um caminho<br />

grande de transformação digital por<br />

fazer. É um processo associado às<br />

linhas de produção, onde estão a<br />

ser dados os primeiros passos, pela<br />

complexidade que acarreta, mas<br />

também pela tecnologia que implica.<br />

Temos tecnologias novas, como o<br />

5G, AI e IoT, que permitem acelerar”.<br />

6<br />

INTERFACE DIGITAL <strong>DE</strong><br />

ENGAGEMENT E COLABORAÇÃO<br />

SALESFORCE | MONERIS<br />

O PROJETO consiste numa plataforma<br />

que permite digitalizar processos<br />

e cria uma interface de engagement<br />

e colaboração. A solução permite,<br />

na interface interna da Moneris, que<br />

os contabilistas e gestores tenham<br />

acesso a toda a informação relevante<br />

sobre clientes, às tarefas desempenhadas<br />

e a desempenhar e ao<br />

histórico de interações, além da colaboração<br />

entre departamentos ou o<br />

contacto direto com o cliente. Automatizar<br />

workflows e medir de forma<br />

automática KPIs relevantes, com<br />

ganhos de eficiência operacional,<br />

são outras vantagens. Já na interface<br />

externa, criou-se um portal onde os<br />

clientes podem, em modo self-service,<br />

consultar documentos, partilhar<br />

informação com os contabilistas,<br />

ter acesso a informação relevante e<br />

facilmente entrar em contacto com a<br />

empresa. Tratou-se, segundo Carlos<br />

Duarte de Oliveira, founder &<br />

chairman da Moneris, de “elevar<br />

o paradigma do sistema de contabilidade,<br />

mudando a forma tradicional<br />

de desenvolver a atividade,<br />

crescendo, gerando valor e retendo<br />

e atraindo colaboradores”. O que<br />

implicava uma “transformação digital<br />

assente em plataformas eficientes.<br />

Encontrámos na Salesforce a solução<br />

que não nos obrigava a inventar a<br />

roda”. Tiago Machado, sales manager<br />

da Salesforce, explica que neste<br />

perfil de projetos “há que ter um<br />

objetivo de negócio muito claro, para<br />

delinear um business case e um processo<br />

de transformação. A Moneris<br />

tem um business case muito claro e<br />

vamos acompanhá-la na medição<br />

das metas que definiu, além de<br />

introduzirmos novas funcionalidades<br />

e inovações, e de potenciar a <strong>IA</strong><br />

generativa no modelo, o que poderá<br />

ser um game changer no negócio”.<br />

7<br />

OBSERVABILIDA<strong>DE</strong> INTELIGENTE:<br />

UM CASO NA BANCA<br />

INETUM | CGD<br />

A INTRODUÇÃO de uma solução<br />

líder em observabilidade inteligente<br />

na CGD permitiu uma mudança de<br />

paradigma na instituição bancária,<br />

em termos de análise de dados e de<br />

capacidade de resposta. Com acesso<br />

a dados contextualizados sobre o<br />

desempenho dos sistemas e a jornada<br />

dos seus clientes, a instituição<br />

passou a compreender as causas de<br />

raiz, podendo desta forma antecipar<br />

comportamentos e oferecer aos<br />

clientes uma experiência mais rica<br />

e sustentável. A plataforma de inteligência<br />

de software é baseada em<br />

<strong>IA</strong> e automação e permitiu já “uma<br />

transformação muito interessante.<br />

Começámos a dar os primeiros<br />

passos e hoje conseguimos ver já<br />

um conjunto de informação que nos<br />

permite atuar antecipadamente. Percebemos<br />

todo o caminho do cliente<br />

e, com a utilização da <strong>IA</strong>, temos uma<br />

capacidade enorme para ver todos<br />

os eventos, olhar para tendências e<br />

resolver”, explica Nuno Pedrosa, IT<br />

coordinator da CGD, que admite que<br />

o processo “obrigou a uma mudança<br />

de cultura dentro da organização”.<br />

Sandra Monraia, sales director da<br />

Inetum, diz que “projetos como este<br />

permitem reduzir as falhas e eliminá-las,<br />

evitando a perda de clientes,<br />

não apenas na área financeira, mas<br />

em todos os setores”. A identificação<br />

dos problemas de forma<br />

automática, através da utilização de<br />

<strong>IA</strong>, “faz toda a diferença”, ainda mais<br />

porque a solução também encontra<br />

remédios. Além de reduzir a “inatividade,<br />

os custos operacionais, eliminar<br />

ferramentas antigas e deixar de<br />

existir uma dependência de equipas<br />

especializadas. Depois, há benefícios<br />

intangíveis, como a reputação da<br />

marca e a redução do risco de perda<br />

de clientes”.<br />

A transformação<br />

digital pode ser<br />

um game changer<br />

num negócio, se<br />

implementada no<br />

timing certo<br />

41


em destaque|evolve<br />

42<br />

8<br />

DIGITALISM - PROGRAMA <strong>DE</strong><br />

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO<br />

RETALHO<br />

ACCENTURE | WORTEN<br />

A DIFERENC<strong>IA</strong>ÇÃO face ao mercado,<br />

com um posicionamento de “empresa<br />

digital, com lojas físicas e um<br />

toque humano”, complementado<br />

pela visão de uma “loja tudo-em-um”<br />

para todas as necessidades (com<br />

uma visão integrada de uma gama<br />

virtualmente infinita de produtos e<br />

serviços), foi o objetivo estratégico<br />

da Worten. Para o alcançar, foi criada<br />

uma solução de transformação<br />

total da arquitetura de TI, para criar<br />

a necessária flexibilidade e agilidade.<br />

Esta arquitetura Darwin, que<br />

alavanca os princípios de micro-serviços<br />

e da cloud, permite separar as<br />

camadas de interação com o cliente<br />

das camadas transacionais e dos<br />

sistemas analíticos, para que cada<br />

uma evolua de forma independente<br />

e à velocidade exigida. O projeto está<br />

em fase de implementação e Felipe<br />

Ferreira, head of digital transformation<br />

da Worten, diz que “desde que<br />

começámos o programa, os principais<br />

indicadores da organização<br />

estão a reforçar-se”. Para o gestor,<br />

“transformar as experiências de<br />

clientes e colaboradores é o nosso<br />

foco e o digital tem um poder desbloqueador<br />

enorme, porque permite<br />

fazer a quadratura do círculo: criar<br />

o melhor ambiente para trabalhar,<br />

com informação fluida; e ser o<br />

melhor lugar para comprar, usando<br />

tecnologia e estando mais próximo<br />

dos clientes”. Miguel Veloso, senior<br />

manager na área de Retalho e<br />

Consumo da Accenture, acrescenta<br />

que esta iniciativa “tem uma enorme<br />

abrangência e profundidade. É uma<br />

transformação total e de grande<br />

envergadura. Os principais desafios<br />

que enfrentámos foi na rapidez da<br />

sua execução”.<br />

9<br />

PROCESS MINING NA OTIMIZAÇÃO<br />

DA LOGÍSTICA E PROCUREMENT<br />

CELONIS | MOTA ENGIL<br />

GARANTIR a otimização do processo<br />

de logística e de procurement da<br />

Mota Engil era o objetivo, tendo sido<br />

desenvolvida uma aplicação de process<br />

minning. Foram ainda definidos<br />

os KPIs estratégicos a monitorizar,<br />

de acordo com os eixos da compliance,<br />

produtividade e spend reduction,<br />

com focalização em use cases mais<br />

relevantes. “O process mining é algo<br />

de verdadeiramente inovador nos<br />

nossos processos e uma ferramenta<br />

para ganhar capacidade e transformar.<br />

Temos um plano estratégico<br />

a cumprir até 2026 e dois dos cinco<br />

eixos inserem-se na abordagem do<br />

process mining: eficiência e inovação.<br />

Havia um claro business case para a<br />

implementação do process mining da<br />

Celonis. O desafio que temos hoje é<br />

garantir um verdadeiro impacto na<br />

organização e captar o valor que é<br />

gerado, da monetização. Queríamos<br />

uma solução que fosse um game<br />

changer na otimização de processos,<br />

tempos e redução de custos. É uma<br />

mudança radical, que numa 2ª fase<br />

vamos estender a outros processos”,<br />

explica Filipe Morla, head of Transformatio<br />

da Mota-Engil. Rui Peixoto,<br />

process mining lead da empresa,<br />

acrescenta que com a solução, “mais<br />

do que uma mera plataforma, temos<br />

a capacidade de acompanhar os<br />

processos do início ao fim, de todas<br />

as atividades e de ter uma visão mais<br />

clara. Vemos onde podemos melhorar<br />

e podemos analisar e avaliar<br />

todos os processos e sub-processos”.<br />

Paulo da Silva, strategic account<br />

executive da Celonis, confirma que<br />

“uma das grandes componentes da<br />

solução é a capacidade de medição<br />

do impacto da utilização da ferramenta<br />

no negócio e na organização.<br />

Este é um ponto importante e a<br />

dificuldade é ter pessoas dispostas<br />

a isso”.<br />

10<br />

IMPLEMENTAÇÃO <strong>DE</strong> MO<strong>DE</strong>LO <strong>DE</strong><br />

LOGÍSTICA INTELIGENTE<br />

GLINTT | CLC - COMPANH<strong>IA</strong> LOGÍSTICA<br />

<strong>DE</strong> COMBUSTÍVEIS<br />

O <strong>DE</strong>SAFIO era evoluir digitalmente,<br />

a partir de um conjunto de processos<br />

importantes que eram realizados<br />

recorrendo a aplicações desenvolvidas<br />

empiricamente em excel. Com<br />

a ajuda da Nexllence by Glintt foi<br />

possível dar o salto, incorporando<br />

conhecimento assente em pessoas<br />

para dentro de algoritmos e sistemas<br />

e eliminando dependências críticas.<br />

Entre os benefícios já obtidos<br />

estão: os cálculos mais detalhados e<br />

de rápido acesso; a maior agilidade<br />

na comunicação entre áreas; e a<br />

obtenção, atempada e com menor<br />

esforço, de informação relevante<br />

e de qualidade para uma melhor<br />

tomada de decisão. Foi um projeto<br />

complexo, mas “bem-sucedido, pois<br />

trouxe maior eficiência, eliminando-


se processos redundantes. Pusemos<br />

as pessoas a trabalhar no conhecimento<br />

da informação e não na sua<br />

criação, integraram-se os processos<br />

contabilísticos e garantiu-se o<br />

reforço da fiabilidade, eliminando<br />

erros do sistema. Na automatização,<br />

o processo mais complexo, foi um<br />

passo gigantesco. Hoje, estamos<br />

muito mais produtivos e eficazes na<br />

tomada de decisão”, destaca José<br />

Eduardo Sequeira Nunes, administrador-delegado<br />

da CLC. Tratou-se,<br />

nas palavras de Nelson Teodoro,<br />

chief commercial officer, da Nexllence<br />

powered by GLINTT, “de<br />

um projeto único”. Conhecer este<br />

negócio “foi difícil”, afirmou, “porque<br />

é muito específico e o desafio foi<br />

adquirir esse know-how – estamos a<br />

falar de ter algoritmos de química.<br />

Olhando ao triângulo clássico de<br />

pessoas, processos e tecnologia, a<br />

primeira não tem limites. Foram as<br />

pessoas que acabaram por fazer a<br />

diferença e determinar o sucesso da<br />

sua implementação”.<br />

11<br />

SOLUÇÃO <strong>DE</strong> ANÁLISE <strong>DE</strong> DADOS<br />

ILIMITADA NA SAÚ<strong>DE</strong><br />

DXC TECHNOLOGY | LUSÍADAS SAÚ<strong>DE</strong><br />

O PROJETO teve como objetivo a<br />

migração da Lusíadas Saúde para<br />

uma solução de análise de dados<br />

ilimitada, através de Azure Synapse,<br />

depois de identificada a necessidade<br />

de substituição de ferramentas de<br />

hardware e software dispersas pelo<br />

grupo. A nova solução permite uma<br />

camada de business intelligence e de<br />

analítica avançada sem paralelo e<br />

os benefícios já são evidentes em<br />

termos de desempenho e escalabilidade<br />

automática. A melhoria da<br />

performance já é superior a 20%, com<br />

total escalabilidade e elasticidade, o<br />

que permite adicionar, sempre que<br />

necessário, novos serviços e novos<br />

casos de uso decorrentes das necessidades.<br />

Como explica Filipe Pereira,<br />

business intelligence manager da<br />

Lusíadas Saúde, tudo decorreu da<br />

“exigência de uma crescente rapidez<br />

no processamento de dados e da<br />

necessidade de dar resposta ao<br />

crescimento orgânico do grupo”.<br />

Assim, “implementou-se um projeto<br />

de migração para a cloud para maior<br />

flexibilidade”, num processo que<br />

decorreu de forma célere e organizada,<br />

graças à parceria com a DXC.<br />

A solução está dimensionada para<br />

as necessidades, mas “vai crescendo<br />

com a atividade da Lusíadas Saúde.<br />

Sendo na área da saúde, tivemos<br />

ainda de ter uma grande preocupação<br />

com o acesso aos dados e a sua<br />

disponibilização. Era importante,<br />

porque o grupo ia dar o primeiro<br />

passo fora do perímetro do seu data<br />

center, evoluindo para a cloud. Foi<br />

necessário pensar, desenhar e acordar<br />

como seria a governance dos dados”,<br />

salienta Dina Gaspar, Account<br />

Executive da DXC Technologies.<br />

12<br />

EVICR.NET - BASE <strong>DE</strong> DADOS<br />

EUROPE<strong>IA</strong> EM OFTALMOLOG<strong>IA</strong><br />

CGI | EVICR.NET<br />

A I<strong>DE</strong><strong>IA</strong> foi criar uma iniciativa a longo-prazo<br />

destinada a recolher dados<br />

anonimizados e estudos, agregando<br />

-os no EVICR.net, uma rede europeia<br />

de centros de investigação clínica em<br />

oftalmologia, já com 98 centros de<br />

17 países, dedicada à realização de<br />

investigação clínica multinacional.<br />

Assim, foi criada uma plataforma tecnológica<br />

comum para reutilização de<br />

dados para fins de investigação clínica,<br />

que responde aos requisitos de<br />

privacidade, segurança e regulação,<br />

associados à partilha de dados entre<br />

instituições e países. É privilegiada a<br />

informação em formato de imagem.<br />

Como refere Luis Mendes, investigador<br />

e técnico de desenvolvimento de<br />

software da AIBILI - Associação para<br />

Investigação Biomédica e Inovação<br />

em Luz e Imagem, “vivemos numa<br />

época em que para desenvolver algoritmos<br />

de <strong>IA</strong> é preciso um grande<br />

volume de dados com qualidade. A<br />

ideia da plataforma é disponibilizar<br />

dados padronizados para serem<br />

utilizados por farmacêuticas e<br />

investigadores, a partir de realidades<br />

computacionais completamente diferentes,<br />

para partilha de informação”.<br />

Assim, recorreu-se a uma “plataforma<br />

cloud, usando diversos componentes<br />

para guardar as imagens<br />

oftalmológicas de alta qualidade, e a<br />

tecnologia para garantir a acessibilidade<br />

correta dos dados, definindo-<br />

-se quem acede a quê, assim como<br />

a encriptação dos dados, seja onde<br />

a informação está guardada, seja<br />

quando está em trânsito”, acrescenta<br />

Paulo Pena, director consulting da<br />

CGI, para quem se trata de “uma iniciativa<br />

de fundo, para ter uma base<br />

de dados, onde seguramente haverá<br />

mais desafios associados, que vão<br />

surgindo com o tempo”.<br />

Business<br />

intelligence e<br />

analítica avançada<br />

podem substituir<br />

ferramentas<br />

de hardware e<br />

software dispersas<br />

43


em destaque|evolve<br />

44<br />

13<br />

DATACENTER AS-A-SERVICE/<br />

CLOUD PRIVADA<br />

HPE | FI<strong>DE</strong>LIDA<strong>DE</strong><br />

TUDO começou com a necessidade<br />

de transformar os centros de dados<br />

de produção e de disaster recovery<br />

da Fidelidade, impulsionando o<br />

alinhamento entre TI e os objetivos<br />

da seguradora. O projeto envolveu<br />

a passagem de um modelo tradicional<br />

de compra para um modelo<br />

as-a-service, através de cloud privada,<br />

e o aproveitamento/migração dos<br />

equipamentos do centro de dados<br />

principal para um disaster recovery. A<br />

solução, implementada há um ano,<br />

tem benefícios: como o suporte ao<br />

rápido crescimento, alinhamento<br />

dos custos ao consumo, contribuição<br />

para as metas de sustentabilidade<br />

e melhoria da eficiência das operações<br />

de TI e gestão do centro de<br />

dados. Esta adoção de um modelo<br />

as a service é considerado por Luís<br />

Bernardes, da Direção de Operações<br />

& Procurement da Fidelidade, como<br />

“importante, pois tem características<br />

de gestão diária e financeiras muito<br />

mais interessantes, além da capacidade<br />

de evoluir de acordo com<br />

as necessidades e vantagens em<br />

termos de custos e controlo sobre<br />

as incidências”. A expetativa é que a<br />

solução, “através das ferramentas de<br />

<strong>IA</strong> que foram introduzidas, contextualizadas<br />

a este negócio, nos ajude<br />

a tomar decisões”. Dennis Teixeira,<br />

southern Europe head of HPE Green-<br />

Lake Channel Sales & Portugal head<br />

of HPE Services and Greenlake Sales,<br />

confirma que o modelo “é muito<br />

mais ajustado aos requisitos de performance.<br />

Traduz-se em poupanças<br />

financeiras, é escalável, tem capacidade<br />

e permite acomodar necessidades<br />

imediatas de crescimento, com<br />

redução da complexidade de gestão<br />

e total controlo e segurança. São aspetos<br />

inovadores e diferenciadores<br />

valorizados pelo cliente”.<br />

14<br />

PLATAFORMA <strong>DE</strong> VOTO ELETRÓNICO<br />

MINSAIT | OR<strong>DE</strong>M DOS ADVOGADOS<br />

COM um processo organizacional<br />

complexo e eleições em formato<br />

analógico realizadas de três em três<br />

anos para os órgãos nacionais e<br />

regionais e para a Caixa de Previdência<br />

dos Advogados e Solicitadores,<br />

a Ordem dos Advogados decidiu<br />

avançar com uma solução de voto<br />

eletrónico. Estava na altura “de dar<br />

o passo em frente, dada a complexidade<br />

do processo logístico. Até<br />

porque os advogados já trabalhavam<br />

em plataformas desmaterializadas”,<br />

como salienta Luís Ferreira, diretor<br />

de IT da Ordem dos Advogados. As<br />

eleições de 2019 já decorreram no<br />

novo formato, assente numa solução<br />

da Minsait, sendo o “foco essencial<br />

a confiança, centrando-se a preocupação<br />

nos processos de segurança”.<br />

Depois da “curva de aprendizagem,<br />

o processo é irreversível”. Rute Arez,<br />

da área da Administração Pública da<br />

Minsait, confirma que a plataforma<br />

de voto eletrónico da empresa “tendo<br />

por base a segurança, com encriptação<br />

em tecnologia blockchain,<br />

permite dar suporte a um processo<br />

eleitoral, do início ao fim, de forma<br />

presencial e online e vai evoluindo e<br />

acompanhando o mercado. No caso<br />

da Ordem dos Advogados, optou-se<br />

por um processo totalmente online.<br />

Em termos de fases do projeto,<br />

estivemos com a Comissão Eleitoral<br />

a definir requisitos e especificidades,<br />

a que se seguiram os testes.<br />

Definido o processo, a solução foi<br />

transferida para a cloud, simulandose<br />

uma eleição. Houve depois todo<br />

o acompanhamento do processo<br />

eleitoral, com produção de reports<br />

diários e a comunicação final dos<br />

resultados. Foi dado ainda suporte à<br />

empresa de auditoria que auditou os<br />

resultados”.<br />

15<br />

SEGURANÇA <strong>DE</strong> TI PARA CENTRO<br />

<strong>DE</strong> DADOS MAIS SUSTENTÁVEL DA<br />

EUROPA<br />

KYNDRYL | START CAMPUS<br />

ESTÁ em implementação e assumese<br />

como um projeto de resiliência<br />

cibernética. Destina-se à Start<br />

Campus, responsável pelo desenvolvimento<br />

do SINES 4.0, um campus<br />

localizado em Sines de centros de<br />

dados Hyperscaler, com uma capacidade<br />

até 495 MW e um investimento<br />

de até 3,5 mil milhões de euros. Será<br />

um dos maiores campus de centros<br />

de dados da Europa e destina-se a<br />

responder à procura crescente de<br />

grandes empresas internacionais de<br />

tecnologia. Segundo Rui Oliveira Neves,<br />

administrador da Start Campus,<br />

“estamos a falar da nova geração<br />

de centros de dados, com níveis<br />

de eficiência energética e consumo<br />

de água otimizados, com base em<br />

energias renováveis. Precisamos de<br />

modelos de negócios sustentáveis e<br />

ambição, colocando Portugal como<br />

líder europeu na capacidade de


tratamento de dados, numa perspetiva<br />

de infraestruturas. O valor<br />

acrescentado disso é grande para o<br />

país. E a segurança é fundamental,<br />

quer de cibersegurança, quer física,<br />

para dar confiança aos clientes, porque<br />

os riscos são cada vez maiores”.<br />

O parceiro é a Kyndryl, que está a<br />

“trabalhar no desenho da segurança<br />

de IT, num processo complexo<br />

focado na sustentabilidade, próxima<br />

do zero em termos de consumos<br />

energéticos”, explica Paulo Coelho,<br />

director da Kyndryl Practices Leader<br />

for Portugal. Para o gestor, “temos<br />

de ver a estratégia de sustentabilidade<br />

que as empresas têm no país<br />

e internacionalmente, porque o país<br />

tem uma localização estratégica na<br />

Europa. A segurança do IT traz uma<br />

vantagem, tal como a sustentabilidade.<br />

Nestas componentes, o maior<br />

desafio é sempre o financeiro, mas o<br />

que nos motivou foi o projeto em si<br />

e a sua globalidade”.<br />

16<br />

API ENTERPRISE (RE)<br />

ARCHITECTURE<br />

GOOGLE | NOS<br />

COM um negócio cada vez mais<br />

dinâmico e digital e um contexto<br />

competitivo e sem fronteiras, a NOS<br />

redesenhou a sua estratégia de<br />

integração e APIs. Objetivo: tornar-se<br />

mais veloz, segura e preparada para<br />

as revoluções digitais. A estratégia<br />

sustenta a entrega de serviços aos<br />

clientes, suportando os diversos<br />

canais e produtos oferecidos. Depois<br />

da fase de arranque, o operador está<br />

agora a implementar uma solução<br />

global e híbrida para todas as empresas<br />

do grupo, tirando partido das<br />

mais modernas práticas de governo,<br />

automação, cibersegurança e experiência<br />

de desenvolvimento. “Nos<br />

serviços que entregamos, precisamos<br />

de saber lidar com um mundo<br />

em alteração permanente. As APIs<br />

têm permitido isso: navegar no mundo<br />

dos OTT e estabelecer parcerias.<br />

E podemos dar passos adicionais,<br />

nesta ‘melodia’ que queremos construir”,<br />

assegura João Ferreira, diretor<br />

de Desenvolvimento de Produto B2C<br />

da NOS. Tudo sustentado num “shift<br />

transformacional das pessoas, o que<br />

é um acelerador grande de experimentação”.<br />

Renato Gomes, account<br />

executive de Telecommunications<br />

and Services da Google confirma que<br />

“responder com agilidade, quando<br />

a velocidade de mudança é enorme,<br />

coloca um grande desafio às organizações.<br />

As plataformas, estratégias,<br />

frameworks e gestão de APIs dão<br />

capacidade de resposta. Temos de<br />

pensar nas APIs como formas não<br />

só de começar a executar modernização,<br />

mas também de passar a ter<br />

modelos de negócio assentes nestas<br />

soluções”.<br />

17<br />

PEOPLE DIGITAL TRANSFORMATION<br />

JOURNEY<br />

SAP | EDP<br />

ATRAVÉS de uma parceria tecnológica<br />

com a SAP, a EDP avançou<br />

com uma jornada de transformação<br />

digital das suas pessoas, um processo<br />

que abrangeu toda a operação,<br />

nacional e internacional. E os<br />

resultados estão à vista, diz António<br />

Ferro, head of Digital at People &<br />

Num contexto<br />

global e cada vez<br />

mais concorrencial,<br />

tirar partido das<br />

tecnologias de nova<br />

geração é crítico<br />

para todas as<br />

organizações<br />

Organizational Development Global<br />

Unit da elétrica: “O que vemos é a<br />

aproximação da área de recursos<br />

humanos aos desafios do negócio.<br />

Há um shift para um contexto muito<br />

mais estratégico, pois estamos a<br />

criar a otimização do futuro, muito<br />

mais inovadora e eficiente”. A ambição<br />

é “evoluir e acelerar o contexto<br />

do digital na organização. A aposta é<br />

não só no crescimento em termos de<br />

funções, mas na cultura e desenvolvimento<br />

das pessoas e na colaboração,<br />

porque vivemos num novo<br />

normal. A simbiose de colaboração<br />

que junta equipas de negócio, de IT<br />

e de parceiros, é fundamental”. O<br />

gestor diz que foram definidas “três<br />

drives importantes, que são a nossa<br />

ambição: eficiência, com redesenho<br />

de processos; não descurar o contexto<br />

da experiência do colaborador;<br />

e a componente analítica, porque<br />

a informação é tudo”. Filipa Correia<br />

Rodrigues, successfactors senior<br />

account executive da SAP, confirma<br />

que a solução da tecnológica implementada<br />

na EDP “foi um enabler para<br />

fazer o seu caminho. A flexibilidade<br />

é essencial para as empresas terem<br />

uma força de trabalho preparada<br />

para o futuro e tem de ser ajustada<br />

a cada caso. Permite dar informação<br />

de suporte estratégico para a tomada<br />

de decisões e ajudar a encontrar<br />

as valências para colocar as pessoas<br />

no sítio certo”.•


negocios<br />

A COMBINAÇÃO<br />

PERFEITA PARA<br />

INOVAR<br />

Criar um modelo de colaboração por<br />

produto com impacto nas pessoas,<br />

utilizando <strong>IA</strong> responsável, foi a ideia. Com<br />

um máximo possível de ligações e uma<br />

ambição global. Os próximos dois anos<br />

serão de intensa execução no Center for<br />

Responsible AI.<br />

TEXTO <strong>DE</strong> ISABEL TRAVESSA<br />

FOTOS <strong>DE</strong> VÍTOR GORDO/SYNCVIEW E iSTOCK<br />

46


47


negocios<br />

48<br />

O<br />

projeto foi anunciado na edição de 2022 da Web<br />

Summit. A ambição é desenvolver pelo menos<br />

21 produtos com <strong>IA</strong> responsável até 2025 e gerar<br />

250 milhões de euros em exportações até 2030,<br />

com a criação de 210 postos de trabalho altamente<br />

qualificados. Pouco mais de um ano depois do arranque,<br />

o Center for Responsible AI, que junta startups a<br />

centros de investigação e grandes grupos industriais,<br />

num modelo verdadeiramente colaborativo e inovador,<br />

já tem resultados concretos. Reiterando as metas e<br />

objetivos, os seus stakeholders começam agora a pensar<br />

a longo prazo.<br />

Posicionar Portugal na vanguarda da inteligência<br />

artificial (<strong>IA</strong>) responsável é o compromisso do consórcio.<br />

O que passa por desenvolver produtos com impacto<br />

concreto na vida das pessoas. Para isso, conta com<br />

um investimento total de 78 milhões de euros, dos<br />

quais 51,5 milhões são financiados pelo Plano de Recuperação<br />

e Resiliência (PRR). No final de novembro,<br />

havia já 20 produtos identificados,<br />

sendo que nove<br />

já agregavam uma startup,<br />

um centro de investigação<br />

e um grupo industrial – o<br />

modelo ideal do projeto,<br />

sendo responsáveis pela<br />

criação de 90 postos de<br />

trabalho, altamente qualificados.<br />

A meta é agora<br />

acelerar.<br />

RETER E ATRAIR TALEN-<br />

TO<br />

Tudo começou por iniciativa de dois unicórnios de origem<br />

portuguesa, a Unbabel e a Feezai, e dois dos seus<br />

co-fundadores: Paulo Dimas, vice-presidente de inovação<br />

de produto da Unbabel e agora também CEO do<br />

consórcio, e Pedro Bizarro, chief science officer da Feedzai.<br />

Ambos trabalhavam há muitos anos na área da <strong>IA</strong><br />

e queriam criar “uma massa crítica de talento em <strong>IA</strong><br />

responsável”, explica Paulo Dimas. “Essencialmente,<br />

foi a nossa primeira motivação: fazer com que o talento<br />

nacional nestas áreas fique no país, continuando a<br />

aprender, a avançar e a valorizar-se com os melhores.<br />

Além de se poder atrair pessoas de referência, que estão<br />

lá fora, a regressarem, permitindo criar um futuro<br />

de vanguarda na <strong>IA</strong>”, diz.<br />

“Sentimos que era a oportunidade para avançar. Temos<br />

muito pouco tempo para fazer coisas que não são<br />

essenciais ao nosso negócio, mas achámos que o valor<br />

que ia ser criado era suficientemente grande para dedicarmos<br />

atenção a esta iniciativa. Até porque a questão<br />

da criação da atração de talento é absolutamente fun-<br />

Objetivo: desenvolver pelo<br />

menos 21 produtos com<br />

<strong>IA</strong> responsável até 2025 e<br />

gerar 250 milhões de euros<br />

em exportações até 2030<br />

damental”, acrescenta.<br />

Quando avançou, o projeto juntava, além destes<br />

unicórnios, mais nove startups - Sword Health, Apres,<br />

Automaise, Emotai, NeuralShift, Priberam, Visor.ai,<br />

YData e Youverse. Assim como oito centros de investigação<br />

de Lisboa, Porto e Coimbra - Fundação Champalimaud,<br />

CISUC, FEUP, Fraunhofer Portugal AICOS,<br />

INESC-ID, IST, IST-ID/ISR e Instituto de Telecomunicações.<br />

E cinco líderes de indústria portugueses nas<br />

áreas das Ciências da Vida, Turismo e Retalho - Bial,<br />

Centro Hospitalar de São João, Luz Saúde, Grupo Pestana<br />

e Sonae, a par da sociedade de advogados VdA.<br />

Uma combinação de stakeholders que é justificada por<br />

Paulo Dimas pelos objetivos definidos à partida: “A<br />

ideia foi ter um modelo que permitisse uma colaboração<br />

por produtos, pelo que era muito importante que<br />

criássemos o máximo de ligações possíveis. É um modelo<br />

onde se junta uma startup de <strong>IA</strong> que desenvolve o<br />

produto, a um ou mais centros de investigação e, idealmente,<br />

a um líder de indústria. O objetivo do centro<br />

é essencialmente criar produtos que cheguem à vida<br />

das pessoas, que respondam<br />

a problemas reais. No<br />

fundo, juntamos as três<br />

perspetivas – do produto<br />

em si, da necessidade de<br />

criar valor económico e de<br />

fazer crescer a economia<br />

nacional e as exportações<br />

e o emprego”.<br />

Formalizado o consórcio,<br />

foi preciso apostar<br />

em criar as necessárias<br />

ligações entre os parceiros.<br />

Assim, logo em janeiro de 2023 organizou-se um<br />

evento de kick off, juntando todos à mesma mesa e a<br />

“as coisas aconteceram de forma espontânea”, como<br />

refere o gestor, até porque o consórcio reúne empresas<br />

industriais visionárias, que estão entre as mais inovadoras<br />

do país. Resultado, logo ali foram identificados<br />

dois potenciais produtos a desenvolver.<br />

FALAR A MESMA LÍNGUA<br />

Paulo Dimas diz não ter dúvidas de que se “está a criar<br />

um espaço de colaboração muito virtuoso. Estão todos<br />

a aprender a falar a mesma língua, sempre a partir do<br />

problema e não da tecnologia. Estamos a ter muitas<br />

colaborações”, citando exemplos em que startups como<br />

a Sword Health, que no início estava reticente em trabalhar<br />

com centros de investigação, achando que não<br />

tinham a velocidade de que precisava. Ou de centros de<br />

investigação, que acabaram por perceber que têm de ir<br />

além da investigação e da produção de papers, criando<br />

ligações com startups e com líderes de indústria.<br />

“Quando se juntam estas valências, a conversa


Paulo Dimas: “Quando as pessoas estão entusiasmadas, há resultados, tanto mais que<br />

a <strong>IA</strong> é determinante para a competitividade a nível global”<br />

fica completamente diferente.<br />

Todos ficam muito curiosos em<br />

perceber qual é o problema da<br />

Bial ou da Sonae e todos querem<br />

ajudar. No final, tem sempre a<br />

ver com pessoas: quando estão<br />

entusiasmadas, há resultados.<br />

Ainda mais que a <strong>IA</strong> é determinante<br />

para a competitividade ao<br />

nível global”, destaca.<br />

Os resultados falam por si,<br />

tendo em conta o principal KPI<br />

usado para medir o sucesso da<br />

iniciativa: o número de produtos<br />

em desenvolvimento que<br />

já juntam as três valências. O<br />

consórcio tinha no início de<br />

2023 um total de 18 produtos<br />

identificados, dos quais apenas<br />

dois juntavam as três valências<br />

(startup, centro de investigação<br />

e grupo industrial). No final de<br />

novembro, já havia nove produtos<br />

com as três valências, cinco<br />

com parcerias com centros de<br />

investigação e seis com líderes<br />

de indústria. Todos tinham fases<br />

distintas de desenvolvimento,<br />

sendo que uns nasceram já<br />

no consórcio e outros estão a<br />

ser aumentados com <strong>IA</strong> no seu<br />

âmbito.<br />

Uma coisa é certa: “Todos<br />

partem sempre de problemas<br />

reais de mercado e assentam<br />

nos princípios de uma <strong>IA</strong> responsável,<br />

que tem como pilares<br />

a equidade, explicabilidade que<br />

leva à confiança, privacidade e sustentabilidade ou eficiência<br />

energética – que é um dos temas muito presentes<br />

– porque estes modelos consomem cada vez mais<br />

energia”, salienta o líder do consórcio. E exemplifica:<br />

“com a passagem do GPT3 para o GPT4, o consumo<br />

energético aumentou 40 vezes no treino do modelo.<br />

São estimativas feitas por investigadores e não pela<br />

OpenAI, que mostram um crescimento exponencial de<br />

consumo, porque o volume de dados cada vez é maior<br />

e a dimensão dos modelos também, o que leva a um<br />

consumo de energia absolutamente extraordinário”.<br />

Tendo em conta estes pilares, o Center for Responsible<br />

AI está a realizar “um trabalho de educação das<br />

startups para a necessidade de usarem a <strong>IA</strong> de forma<br />

responsável. No fundo, estamos a criar uma cultura de<br />

desenvolvimento de produtos baseados numa <strong>IA</strong> que<br />

parte logo destes princípios”.<br />

FALHAR É COMPONENTE ESSENC<strong>IA</strong>L<br />

Paulo Dimas é um defensor acérrimo do ‘modelo startup’,<br />

que tem o ‘ingrediente’ certo para o mundo tecnológico:<br />

“introduz um sentido de urgência que faz com<br />

que as coisas tenham de acontecer num determinado<br />

intervalo de tempo. É o modelo que, no fundo, domina<br />

49


negocios<br />

50<br />

o mundo. Todas as grandes big tech começaram por ser<br />

startups com a dimensão das que trabalham connosco.<br />

Falha-se rápido, o tempo de vida está sempre contado<br />

e, portanto, ou se atinge o market fit, ou então… paciência…”<br />

Por isso, considera natural que, no âmbito do projeto,<br />

existam startups que vão falhar: “Faz parte do modelo.<br />

Se não se falhar, não se está a arriscar... Esta é uma<br />

componente importante. Já os consórcios, que partem<br />

de grandes empresas multinacionais com milhares de<br />

trabalhadores, de certa forma desvirtuam os fatores de<br />

inovação e de risco. Não têm esta necessidade de avançar<br />

rápido”.<br />

Paulo Dimas não tem dúvidas de que o Centro de<br />

<strong>IA</strong> Responsável poderá fazer a diferença para Portugal:<br />

“Como é que nós podemos fazer crescer a nossa economia?<br />

Tem de ser através de produtos com escala e é isso<br />

que estamos a criar aqui: produtos que tenham uma<br />

ambição global. Aplicamos um modelo de gestão de<br />

produto que tem várias dimensões, como a sua viabilidade”.<br />

Aliás, são mesmo realizadas sessões com os líderes<br />

das startups para os “desafiar a pensar sempre em<br />

como é que o produto se torna global. Somos pequenos,<br />

mas se olharmos para fora e se tivermos o coaching<br />

de pessoas mais experientes,<br />

vamos conseguir”.<br />

Para a economia crescer,<br />

é preciso ter produtos com<br />

escala. É essa a ambição do<br />

consórcio. Sempre com uma<br />

<strong>IA</strong> responsável<br />

Não é por acaso que o<br />

projeto junta pessoas mais<br />

experientes e com sucesso<br />

em termos internacionais,<br />

como a Unbabel, Feedzai<br />

ou a Sword Health. O CEO<br />

do consórcio assegura que<br />

“trazer estas pessoas para<br />

a conversa, muda logo<br />

a perspetiva das startups<br />

mais pequenas. Temos de<br />

transferir esta experiência dos maiores para os mais<br />

pequenos, porque isso aumenta muito a possibilidade<br />

de sucesso destes produtos”.<br />

Acresce que o projeto junta especialistas de renome<br />

na área através dos vários espaços de discussão que<br />

foram criados. É o caso do Scientific Board, que junta<br />

António Damásio, Isabel Trancoso, Francisco Pereira e<br />

Pedro Saleiro, grupo de ‘notáveis’ que define a agenda<br />

científica do consórcio, sendo que no caso do António<br />

Damásio, traz ainda “uma função inspiradora de olhar<br />

para o futuro com a <strong>IA</strong>”. Neste âmbito, serão realizados<br />

em 2024 workshops relacionadas com os quatro<br />

pilares da <strong>IA</strong> responsável e um quinto sobre o tema<br />

dos modelos de linguagem de grande escala, os LLMs,<br />

“porque há muito conhecimento e talento dentro do<br />

consórcio”.<br />

Existe ainda um Comité de Ética, para os temas<br />

legais e éticos, que junta Virgínia Dignum, uma verdadeira<br />

autoridade no tema, assim como Magda Cocco,<br />

da VdA, e Helena Moniz, da Unbabel. No seu âmbito,<br />

já foi realizado, em 2023, um workshop sobre as perspetivas<br />

de legal and etical. Outro fórum de discussão é a<br />

Comissão Executiva do consórcio, onde, segundo Paulo<br />

Dimas, “as palavras-chave são o sentido de urgência<br />

e a velocidade”. É que o mote é “avançar rápido com<br />

o que é preciso fazer”, sempre com “um mindset muito<br />

product centric. Aplicamos as técnicas de produto mais<br />

avançadas ao nível da validação do produto nas várias<br />

dimensões de risco e incutimos este espírito de acordo<br />

com as melhores práticas nesta área”, assegura.<br />

Paulo Dimas garante que está tudo a correr dentro<br />

do previsto, apesar de alguns atrasos no arranque, fruto<br />

de “tramitações burocráticas”, que afetaram, por<br />

exemplo, a capacidade dos centros de investigação. “O<br />

projeto está a ganhar cada vez mais velocidade. Estamos<br />

a oito trimestres do fim e acreditamos que, não<br />

sabendo se vamos atingir os 100%, vamos, de certeza,<br />

fazer grandes avanços. É esse o nosso objetivo. É uma<br />

curva de aprendizagem”.<br />

Garantindo que serão “oito trimestres mais intensos<br />

de execução”, o importante é “não perder velocidade<br />

e pensar mais à frente, no pós-2025. No final,<br />

faremos um balanço. Se<br />

calhar, 50% dos produtos<br />

não vão atingir o que prevíamos<br />

no início, e três<br />

a cinco produtos serão<br />

campeões internacionais.<br />

Daí a importância de não<br />

sermos um consórcio monoproduto<br />

e de criar este<br />

ecossistema dinâmico. Estamos<br />

a aprender e a pensar<br />

em como é que vamos<br />

evoluir, como poderemos<br />

ter um modelo mais dinâmico de produtos, que permita<br />

ajustar mais rapidamente a tecnologia ao problema.<br />

Esta é uma discussão mais estratégica que está a<br />

começar”, remata.<br />

Sobre a recente aprovação do <strong>IA</strong> Act, que vai regular<br />

a tecnologia na Europa, o gestor mostra-se satisfeito<br />

com o texto que saiu do acordo entre Conselho e Parlamento<br />

e pelo facto da UE ser agora a região mais avançada<br />

do Mundo neste âmbito. Uma das conquistas, na<br />

sua opinião, foi o avanço na eliminação das barreiras<br />

ao desenvolvimento de modelos de linguagem abertos<br />

de grande escala. Este foi um dos principais pontos<br />

defendidos na carta de posicionamento apresentada<br />

pelo consórcio, que foi subscrita também pela APDC,<br />

divulgada no início de novembro. Nela, defendiam-se<br />

pelo menos cinco alterações à proposta de texto. Paulo<br />

Dimas diz que se aguarda agora o texto final para uma<br />

análise mais detalhada.•


ASSEGURAR O FUTURO COM SOLUÇÕES RESPONSÁVEIS<br />

O Responsible AI Forum 2023, o primeiro<br />

grande evento do Center for Responsible<br />

AI, que decorreu a 25 de novembro, juntou<br />

o neurocientista António Damásio a Arlindo<br />

Oliveira, coordenador da Estratégia<br />

Nacional da <strong>IA</strong>, num debate imperdível.<br />

Em análise a consciência: a das pessoas<br />

e, potencialmente, a das máquinas. As<br />

opiniões divergiram, claro está, mas ficou<br />

em aberto outro tema: o de quem controlará<br />

uma <strong>IA</strong> cada vez mais complexa e<br />

evoluída. Antes, Virgínia Dignum destacou<br />

a importância de desenvolver e garantir<br />

uma <strong>IA</strong> responsável.<br />

Para demonstrar que é possível desenvolver<br />

produtos que tenham impacto na vida<br />

das pessoas e das organizações, assentes<br />

em <strong>IA</strong> responsável, a iniciativa contou com<br />

uma demonstração de dez soluções que<br />

estão a ser desenvolvidas no âmbito do<br />

consórcio. Com os produtos para a área<br />

das ciências de vida em grande destaque.<br />

Eis os casos que foram apresentados e os<br />

respetivos promotores:<br />

Sword AI Telerehabilitation<br />

Os problemas músculo-esqueléticos afetam<br />

50% das pessoas e são a primeira causa de<br />

perda de produtividade no mundo. Estima-se<br />

que cada paciente aguarde, em média, oito<br />

semanas para ter acesso à fisioterapia. Esta<br />

plataforma tecnológica, alimentada por <strong>IA</strong>,<br />

permite que o paciente faça remotamente a<br />

sua terapia, a partir da prescrição do médico.<br />

Pretende-se que este modelo de telereabilitação<br />

se transforme num novo padrão de<br />

cuidados, criando o efeito de escala para o<br />

acesso a cuidados de qualidade.<br />

Promotores: Sword Health, Centro Hospitalar<br />

Universitário de São João, Pestana Hotel<br />

Group e Sonae<br />

HALO - Silently Controlled Language<br />

Generation<br />

Há situações em que as pessoas não conseguem<br />

falar e até escrever, como os doentes<br />

com esclerose lateral amiotrófica (ELA). Para<br />

responder a estes casos, esta solução de <strong>IA</strong><br />

combina uma interface neural não invasiva<br />

com modelos de linguagem de grande<br />

dimensão, sensíveis ao contexto, permitindo<br />

aos doentes que perderam a capacidade de<br />

comunicar uma “comunicação silenciosa”.<br />

Luís Correia foi o primeiro paciente com ELA<br />

a testar o Halo com sucesso.<br />

Promotores: Unbabel, Instituto de<br />

Telecomunicações, Fundação Champalimaud,<br />

Fraunhofer, INESC-ID, ISR-Lisboa e Hospital<br />

de São João<br />

Monitio: Media Monitoring Intelligence<br />

Num mundo onde a produção de dados<br />

dispara todos os dias, é necessário promover<br />

o acesso aos dados de uma forma justa,<br />

sustentável, explicável e anonimizada. Esta<br />

plataforma inteligente de análise de dados<br />

simplifica o processo de investigação e<br />

conhecimento nas ciências da vida, farmacêutica<br />

e jurídica, permitindo aos utilizadores<br />

descobrir novas relações, formular hipóteses<br />

e tomar decisões.<br />

Promotores: Priberam e B<strong>IA</strong>L<br />

Emotai Smart App<br />

A saúde mental é um tema que assume<br />

crescente importância e que precisa de ser<br />

repensado, nomeadamente em termos de<br />

soluções, impacto e engagement. Esta solução,<br />

totalmente personalizada e adaptada, alimentada<br />

por <strong>IA</strong>, destina-se a prevenir ativamente<br />

o esgotamento e a ansiedade, de uma forma<br />

totalmente personalizada e costumizada.<br />

Promotores: Emotai, Sonae e INESC-ID Lisboa<br />

Affine Knowledge Discovery<br />

A multiplicidade de legislação, a sua complexidade<br />

e atualização são um problema<br />

real para os juristas e advogados. Para dar<br />

resposta a este problema, foi criado este<br />

51


negocios<br />

52<br />

sistema inteligente para pesquisa jurídica.<br />

Reconhece toda a legislação nacional, através<br />

do acesso a bases de dados públicas e<br />

não públicas. Além de permitir pesquisas,<br />

faz sínteses dos documentos e responde a<br />

questões sobre a legislação aplicável a casos<br />

concretos, fazendo interações entre disposições<br />

legais.<br />

Promotores: Neuralshift, INESC-ID e VdA<br />

Cultural-Aware Multilingual<br />

Customer Service<br />

A interação com os mais variados clientes,<br />

vindos de culturas e países distintos, coloca<br />

aos centros de atendimento das empresas,<br />

nas mais variadas áreas, enormes desafios<br />

em termos de capacidade e de eficiência de<br />

resposta. Esta solução dá resposta a esse<br />

problema, fazendo não só a tradução da língua,<br />

mas também, com recurso à <strong>IA</strong> generativa<br />

e ao conhecimento de linguistas profissionais<br />

e nativos, a análise e reformulação<br />

do contexto cultural das línguas utilizada,<br />

tendo em conta expressões idiomáticas e<br />

referências culturais específicas de cada<br />

idioma.<br />

Promotores: Unbabel e Grupo Pestana<br />

Automation Flows<br />

Nos contact centers das grandes empresas<br />

apenas 3% das conversações são supervisionadas<br />

e ainda são auditadas manualmente.<br />

Esta solução assume-se como o primeiro<br />

software de auditoria de <strong>IA</strong> responsável para<br />

suporte ao cliente, permitindo às empresas<br />

ter visibilidade em tempo real e garantir a<br />

conformidade com regulamentos e protocolos<br />

existentes de <strong>IA</strong> ou novos. Garante ainda<br />

integrações e automações que podem criar<br />

ligações com os clientes, de acordo com as<br />

regras de cada companhia.<br />

Promotores: Visor.AI, INESC-ID e Sonae<br />

Support Genius<br />

Trabalhar num call center é duro para os<br />

trabalhadores, que reportam altas taxas<br />

de fadiga tecnológica, cansaço cognitivo e<br />

exaustão emocional. As maiores pressões<br />

são sentidas no canal de voz, onde se regista<br />

uma alta taxa de rotatividade de pessoas.<br />

Concebida para reduzir o problema, maximizar<br />

a produtividade das equipas e melhorar<br />

a eficiência, foi criada esta solução de<br />

active listening, baseada em <strong>IA</strong>, que fornece<br />

informação em tempo real, eliminando a<br />

necessidade de pesquisas manuais. Pretende-se<br />

que o modelo aprenda automaticamente<br />

e por si.<br />

Promotores: Automaise, Sonae e CISUC –<br />

Centro de Informática e Sistemas da Universidade<br />

de Coimbra<br />

Data Democratization<br />

Um dos problemas com que as organizações<br />

se debatem no acesso aos dados é<br />

fazer a sua análise com precisão e segurança.<br />

O que compromete os resultados,<br />

a produtividade e abre a porta a temas de<br />

compliance. Esta solução permite um acesso<br />

fácil aos dados de toda a equipa, facilitando<br />

a tomada de decisão informada. Endereça<br />

assim o desafio do acesso aos dados e cria<br />

um repositório central de dados, garantindo<br />

a privacidade dos mesmos.<br />

Promotores: YData, Sonae e Fraunhofer<br />

YooniK RID<br />

A identificação digital ainda não é conveniente,<br />

segura ou privada. Além do tempo<br />

que demoramos a provar quem somos.<br />

Estima-se que cada pessoa passe, em<br />

média, mais de um ano a comprovar a sua<br />

identidade. Perante esta realidade, como<br />

combinar tudo e garantir a melhor solução?<br />

Através de um novo protocolo de autenticação<br />

biométrica, que permite aos negócios<br />

controlar o processo de autenticação e às<br />

pessoas os seus dados. A solução usa um<br />

conjunto de serviços biométricos, privados,<br />

seguros, justos e explicáveis, capazes de<br />

fazer uma correspondência facial e usar o<br />

rosto como chave de entrada em serviços<br />

como banca digital, supermercados, hotéis,<br />

aeroportos ou hospitais.<br />

Promotores: Youverse, Grupo Pestana e<br />

Sonae


itech<br />

54<br />

PEDRO FAUSTINO:<br />

Paixão controlada<br />

Começou a vida profissional, imagine-se, a contar ovelhas.<br />

Uma experiência que jamais esquecerá. Depois foram outros<br />

os “bichos” que lhe tomaram os dias, as noites e os fins de<br />

semana. Mas com regras, porque a vida não se passa só em<br />

frente a um ecrã de computador.<br />

Texto de Teresa Ribeiro | Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />

Foi, como todos os miúdos que se<br />

tornaram adolescentes na década<br />

de 80, um apaixonado pelo<br />

ZX Spectrum. E lembra-se bem de<br />

ficar a jogar o Pac Man e o Jet Man,<br />

os seus jogos favoritos, madrugada<br />

adentro, às escondidas dos pais:<br />

“Apagava a luz do quarto e punha<br />

o computador ligado por detrás da<br />

cama, para não se ver a claridade<br />

que irradiava”, recorda, divertido.<br />

Com essa experiência, o atual managing<br />

director da Axians aprendeu<br />

precocemente quanto o ecrã de um<br />

dispositivo eletrónico pode viciar e<br />

alienar os seus utilizadores. Uma<br />

lição que lhe ficou para a vida.<br />

Apesar daquele fascínio que sentiu<br />

na adolescência, na hora de<br />

escolher o que queria ser quando<br />

fosse grande optou pela área de<br />

economia e gestão. Licenciou-se<br />

em Economia, em 1994, em pleno<br />

boom do financiamento comunitário<br />

a Portugal e, na altura, surgiu-lhe<br />

a oportunidade de trabalhar como<br />

auditor no INGA (Instituto Nacional<br />

de Garantia Agrícola), a agência estatal<br />

que geria os fundos que eram<br />

canalizados para a agricultura. A sua<br />

função era, como lhe explicaram no<br />

primeiro dia, fazer a auditoria aos<br />

agricultores que recebiam subsídios<br />

comunitários ao abrigo da medida<br />

“Ovinos e Caprinos”. Aquilo soou-lhe<br />

a missão de grande responsabilidade,<br />

que o encheu de orgulho, mas<br />

quando perguntou qual era o protocolo<br />

a seguir, percebeu que, afinal,<br />

o que lhe pediam era para ir para<br />

o campo… contar ovelhas: “Como<br />

cada agricultor recebia em função<br />

do número de ovelhas e cabras que<br />

tinha, explicaram-me que o controlo<br />

era feito mesmo assim”, conta<br />

Pedro Faustino, por entre risos. Diz<br />

que correu o país de norte a sul, de<br />

exploração em exploração, a contar<br />

ovelhas. Uma experiência que jamais<br />

esquecerá, mas que o colocava<br />

muito aquém das suas expetativas.<br />

Quando se apercebeu de que o<br />

financiamento comunitário, em vez<br />

de contribuir para a modernização<br />

da agricultura, só servia para estimular<br />

o consumo, nomeadamente<br />

dos jeeps que na época inundaram<br />

o parque automóvel nacional, desiludiu-se<br />

de vez.<br />

Pouco tempo depois, surgiu-lhe<br />

uma oportunidade para mudar de<br />

vida. Despediu-se das paisagens<br />

bucólicas do campo, passou pela<br />

Sinfic, Movensis e GE, e entrou por<br />

uma porta igualmente inesperada,<br />

a de uma empresa de software,<br />

a Novabase. Na faculdade tinha<br />

aprendido uns rudimentos de programação:<br />

“Fazíamos umas coisas,<br />

sem muita graça, no quadro das<br />

aulas, em Pascal”, recorda. Antes<br />

disso, também tinha feito um curso<br />

de programação, através do qual<br />

conseguiu, com grande satisfação<br />

sua, pôr um jogo do galo a funcionar<br />

em Basic. Eram estas as suas<br />

skills técnicas. Mas tal não o impediu<br />

de se tornar gestor de produto:<br />

“Tive a sorte de encontrar naquela<br />

pequena tecnológica portuguesa<br />

muita gente que me ajudou. Ainda<br />

hoje, passados 30 anos, uso muito<br />

do que aprendi nesse tempo, até<br />

porque (brinca) as leis da física são<br />

as mesmas”.<br />

Desde então, a tecnologia e ele<br />

nunca mais se deixaram. O que o<br />

fascina nela, acima de tudo, é a capacidade<br />

que tem de transformar o<br />

mundo. Sabe também que pode tornar-se<br />

“numa arma e num enorme<br />

fator de desequilíbrio social”, mas<br />

defende que “cada um de nós tem a<br />

responsabilidade de contribuir para<br />

atenuar e combater esse efeito”.<br />

Pedro Faustino admite que, se tivesse<br />

feito o seu percurso profissional<br />

noutra área, “teria, certamente,<br />

uma mundivisão diferente, menos<br />

abrangente”, porque trabalhar em<br />

tecnologia permite-lhe contactar<br />

“com todas as indústrias e todos os<br />

setores, todas as formas de pensar”.<br />

Ele gosta disso, gosta que a tecnologia<br />

lhe abra os horizontes e lhe dê<br />

ferramentas para contribuir para<br />

um mundo melhor. Mas a lição que<br />

aprendeu em garoto nunca esqueceu:<br />

“Não sou um geek, um adicto<br />

tecnológico, ou gadget dependente.<br />

Aliás, até há oito meses, tomava os<br />

meus apontamentos num caderno<br />

em papel, por muito que me<br />

tentassem convencer a usar um<br />

ipad (risos). Também sou incapaz de<br />

ler um e-book. Este fim de semana<br />

fui à livraria e trouxe dez livros<br />

num saco. Gosto de manusear, de<br />

marcar os livros, de os colocar na<br />

estante”, confessa. São exemplos<br />

que revelam que, apesar de ser um<br />

apaixonado por tecnologia, o managing<br />

director da Axians faz questão<br />

de viver fora da bolha tecnológica.<br />

Porque a vida é para desfrutar em<br />

pleno: online e offline.•


Usa um iPhone 11, mas teve<br />

de se certificar do modelo durante<br />

a entrevista, o que diz muito acerca<br />

do seu desprendimento em relação<br />

ao telemóvel: algo que considera<br />

indispensável, mas que não passa<br />

de uma ferramenta<br />

Só há oito meses deixou de tirar<br />

apontamentos num caderno em papel,<br />

quando finalmente encontrou um book<br />

digital que na sua opinião simula na<br />

perfeição o “feeling físico” do papel. Foi<br />

assim que passou a usar o Remarkable<br />

55


portugal digital<br />

56


O NOSSO TALENTO<br />

VAI A CONCURSO!<br />

A APDC fez a call nacional e mais uma vez os<br />

projetos para o World Summit Awards Portugal, uma<br />

iniciativa que a associação promove todos os anos,<br />

surgiram em cascata, provando que não há limites<br />

para a criatividade nacional. Já são conhecidos os<br />

finalistas portugueses que vão agora ser avaliados<br />

pelo grande júri do WSA.<br />

TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTO iSTOCK<br />

57


portugal digital<br />

Todos os anos a APDC tem liderado em Portugal<br />

este processo de convocação de participantes e<br />

posterior apuramento dos finalistas que poderão<br />

participar no World Summit Awards (WSA).<br />

Com o objetivo de promover a inovação digital local,<br />

mas em particular aquela que revela<br />

potencial para mudar o mundo, o<br />

WSA é um evento a que qualquer empreendedor<br />

social aspira chegar.<br />

A final da atual edição realiza-se<br />

já no próximo mês de abril, no Chile.<br />

Os oito projetos vão ser agora avaliados pelo júri online<br />

do WSA. Desta fase de apuramento sairá a shortlist que<br />

posteriormente o WSA Grand Jury ajuizará com vista<br />

a apurar os projetos vencedores dos cerca de 180 países<br />

envolvidos nesta iniciativa. São estes que vão pisar<br />

o palco do próximo WSA Global Congress. E entre<br />

Portugal presented by<br />

Portugal<br />

presented by<br />

discursos inspirados e demonstrações impressivas travarão<br />

a derradeira batalha, pela conquista do título de<br />

Global Champion de cada uma das oito categorias em<br />

competição.<br />

O momento é, pois, de pura expectativa, para os projetos<br />

nacionais escolhidos pela APDC,<br />

representantes do talento português<br />

neste concurso. São eles Literary Highways<br />

(categoria Culture & Heritage),<br />

Multicare Vitality (categoria Health &<br />

Well-Being), I<strong>DE</strong> Social Hub (categoria<br />

Inclusion & Empowerment), Ethiack (categoria Business<br />

& Commerce), Dams at your fingertips (categoria<br />

Environment & Green Energy), DigitAll (categoria Learning<br />

& Education), Deep Neuronic (categoria Urbanization<br />

& Smart Settlements) e MOSAICO (categoria Government<br />

& Citizen Engagement).•<br />

58<br />

<strong>DE</strong>MOCRATIZAR A<br />

PUBLICAÇÃO <strong>DE</strong> LIVROS<br />

O Literary Highways é uma plataforma<br />

inovadora, que visa facilitar<br />

a vida a todos os que sonham<br />

um dia publicar um livro. Funciona<br />

como uma autêntica estação<br />

central que estabelece pontes<br />

entre autores, livrarias, leitores e<br />

mercados, pois encarrega-se da<br />

impressão, distribuição e venda<br />

das obras. Ligado ao Clube de<br />

Autores, uma grande plataforma<br />

de publicação mundial, entrou no<br />

mercado português em março.<br />

Tem parcerias com mais de dez<br />

centros de impressão espalhados<br />

pelo mundo e vende as suas<br />

obras através de dezenas de<br />

plataformas, rompendo com o<br />

statuo quo.<br />

Ricardo Almeida, CEO do projeto,<br />

diz que a procura deste serviço<br />

superou todas as expectativas:<br />

“Temos hoje cerca de 100 mil<br />

livros publicados por autores<br />

de todos os países lusófonos, o<br />

que equivale a 20% de todos os<br />

livros anualmente publicados em<br />

língua portuguesa”. Os seus utilizadores,<br />

assegura, “não precisam<br />

de investir absolutamente nada”<br />

para verem a sua obra publicada,<br />

uma vez que “a publicação no<br />

Clube de Autores é 100% gratuita<br />

e a confeção dos livros é sob<br />

demanda, o que quer dizer que<br />

só são impressos apenas depois<br />

da venda ocorrer, sem tiragem<br />

mínima definida”.<br />

Inicialmente, os utilizadores do<br />

Literary Highways eram, segundo<br />

Ricardo Almeida, “essencialmente<br />

autores” mas depois começou a<br />

notar-se o interesse de pequenas<br />

editoras: “São empresas locais,<br />

que ao publicarem os seus títulos<br />

no Clube de Autores, conseguem<br />

atingir públicos noutros países<br />

espalhados pelo mundo”.<br />

Essa democratização é o efeito<br />

de um sistema como o de<br />

Literary Highways. Onde não há<br />

portas fechadas nem quaisquer<br />

outras barreiras que se interponham<br />

entre autores e leitores.<br />

Neste processo é a gigantesca<br />

diversidade cultural da Humanidade<br />

que ganha espaço.<br />

APREN<strong>DE</strong>R A VIVER<br />

MELHOR<br />

O Multicare Vitality é uma<br />

aplicação que visa a promoção<br />

de um estilo de vida mais saudável.<br />

Para o efeito, incentiva os<br />

seus utilizadores a conhecer e a<br />

melhorar a sua saúde, recorrendo<br />

à gamificação. “O programa<br />

Vitality”, explica Bárbara Faria,<br />

head of Business Development<br />

da Multicare, “conta com mais<br />

de 25 anos de experiência e está<br />

presente em mais de 20 mercados,<br />

tendo já chegado a mais de<br />

30 milhões de pessoas”.<br />

Inicialmente foi desenvolvido<br />

pela seguradora sul-africana<br />

Discovery, mas passou a estar<br />

disponível em Portugal através<br />

da app Multicare Vitality. Diz Bárbara<br />

que a Multicare é “a única<br />

seguradora de saúde portuguesa<br />

que recompensa os seus clientes<br />

por conhecerem melhor a sua<br />

saúde e adotarem hábitos mais<br />

saudáveis”. Essa é a originalidade<br />

da proposta.


Portugal presented by<br />

Portugal<br />

presented by<br />

LEARNING & EDUCATION<br />

BUSINESS & COMMERCE<br />

GOVERNMENT &<br />

CITIZEN ENGAGEMENT<br />

SMART SETTLEMENTS<br />

& URBANIZATION<br />

INCLUSION &<br />

EMPOWERMENT<br />

HEALTH & WELL BEING<br />

ENVIRONMENT & GREEN<br />

ENERGY<br />

CULTURE & TOURISM<br />

Disponível para todos os clientes<br />

da Multicare/Fidelidade “que detenham<br />

um seguro de saúde ou<br />

vida elegível”, este programa foi<br />

lançado em Portugal em outubro<br />

de 2020. Atualmente conta com<br />

mais de 12% de utilizadores registados<br />

e em outubro deste ano<br />

“42% dos utilizadores já tinham<br />

efetuado 7500 passos num dia<br />

ou completaram um objetivo de<br />

estilo de vida”, assegura a head<br />

of Business Development da<br />

Multicare.<br />

O Multicare Vitality disponibiliza<br />

dois tipos de objetivos semanais:<br />

atividade física e estilos de vida.<br />

Para atingir o objetivo semanal<br />

de atividade física, os utilizadores<br />

têm de realizar uma determinada<br />

atividade contabilizada<br />

através do número de passos ou<br />

do ritmo cardíaco médio para<br />

uma determinada duração. No<br />

objetivo semanal de estilo de<br />

vida, os utilizadores são desafiados<br />

a alterar e adquirir hábitos<br />

saudáveis em categorias como<br />

sono, nutrição ou saúde mental,<br />

através do conhecimento de<br />

conteúdos e questionários nas<br />

diferentes categorias.<br />

Para controlo das performances<br />

dos utilizadores, a app Multicare<br />

Vitality sincroniza a atividade<br />

física e os passos diretamente<br />

de outras aplicações de exercício,<br />

como o Google Fit, o Apple<br />

Health, ou de alguns relógios.<br />

Nos objetivos de estilos de vida o<br />

utilizador regista diretamente na<br />

aplicação a sua conclusão.<br />

OLHOS EM TODO<br />

O LADO<br />

Com o Deep Neuronic é possível<br />

identificar autonomamente<br />

mais de 100 objetos diferentes<br />

em 30 situações diversas, desde<br />

comportamentos quotidianos,<br />

a potenciais ameaças, como<br />

vandalismo, assaltos ou incêndios,<br />

o que é verdadeiramente<br />

inovador. Esta capacidade vem<br />

simplificar em muito os processos<br />

de vigilância e supervisão.<br />

Adaptável às infraestruturas já<br />

existentes, destaca-se como uma<br />

escolha personalizável e económica,<br />

que em breve apresentará<br />

novos desenvolvimentos. Bruno<br />

Degardin, co-fundador e CTO do<br />

projeto, anuncia já para 2024 um<br />

novo produto, complementar<br />

a este sistema, que permitirá<br />

a qualquer utilizador e cliente<br />

“desenhar o seu próprio modelo<br />

de inteligência artificial, sem<br />

necessidade de ter conhecimentos<br />

técnicos”. Uma inovação que<br />

corrobora a sua tese de que “um<br />

sistema de inteligência artificial<br />

não tem de ser uma solução<br />

generalista, pois cada ambiente,<br />

cada estabelecimento e cliente<br />

são diferentes e únicos”.<br />

Flexibilidade é mesmo a característica<br />

que Bruno Degardin gosta<br />

de salientar neste sistema: “O<br />

Deep Neuronic”, sublinha, “tem<br />

permitido satisfazer as necessidades<br />

dos clientes até com situações<br />

extremamente específicas,<br />

ou seja, permite adicionar novas<br />

59


portugal digital<br />

60<br />

situações em casos de uso, mas<br />

também remover o que é desnecessário,<br />

de modo a otimizar ao<br />

máximo o ambiente capturado<br />

pelo sistema de videovigilância”.<br />

Este novo sistema foi lançado no<br />

final de 2022 e hoje conta, sobretudo,<br />

com clientes nas áreas de<br />

transportação, retalho e cidades<br />

inteligentes.<br />

INCLUSÃO E<br />

COMPETITIVIDA<strong>DE</strong><br />

<strong>DE</strong> MÃOS DADAS<br />

Para colmatar a falta de competências<br />

digitais, o programa<br />

DigitALL, aprovado pelo Ministério<br />

da Educação, aposta<br />

na melhoria das competências<br />

digitais das crianças, tanto em<br />

ambiente escolar, como através<br />

da autoaprendizagem. Como um<br />

projeto educativo tem de envolver<br />

professores e alunos, este<br />

programa, que é disponibilizado<br />

gratuitamente pela Fundação<br />

Vodafone Portugal, também se<br />

dirige aos docentes, capacitando-os<br />

no ensino STEM, através<br />

da aprendizagem colaborativa,<br />

experimental e interativa proporcionada<br />

pela plataforma DigitALL.<br />

No contexto escolar, o projeto assenta<br />

numa colaboração estreita<br />

com agrupamentos de escolas e<br />

municípios, fornecendo materiais<br />

pedagógicos inovadores para<br />

melhorar a literacia dos alunos.<br />

A funcionalidade “DigitALL em<br />

casa” permite, por seu turno, o<br />

envolvimento dos utilizadores<br />

em atividades abertas, realçando<br />

a inclusão e competitividade na<br />

era digital. Segundo Ana Mesquita<br />

Veríssimo, Culture, Property,<br />

Sustainability and Foundation senior<br />

manager da Vodafone, “este<br />

ano letivo o DigitALL já chegou<br />

a 100 escolas, de norte a sul do<br />

país”, o que corresponde ao envolvimento<br />

de “500 professores e<br />

25 monitores, responsáveis pela<br />

formação presencial semanal em<br />

salas de aula”.<br />

As escolas integradas no projeto,<br />

pertencentes a 18 agrupamentos<br />

escolares de 17 municípios,<br />

foram selecionadas através de<br />

um processo de candidaturas<br />

que ocorreu a nível nacional.<br />

Mas no total e de acordo com<br />

Ana Mesquita Veríssimo, “esta<br />

plataforma já conta com mais de<br />

23 mil utilizadores ativos”, um<br />

universo que já permite aferir o<br />

seu sucesso. De acordo com a<br />

Culture, Property, Sustainability<br />

and Foundation senior manager<br />

da Vodafone, “o impacto positivo<br />

deste programa tem sido<br />

reconhecido pelos professores e<br />

encarregados de Educação, bem<br />

como pelos alunos”.<br />

Contribuir para o desenvolvimento<br />

e reforço das competências<br />

digitais dos jovens e dos professores<br />

é uma das áreas estratégicas<br />

da Fundação Vodafone, por<br />

isso o DigitALL vai continuar a<br />

fazer a diferença.<br />

POR UM MUNDO<br />

MELHOR<br />

A mentora do I<strong>DE</strong> Social Hub<br />

acredita que inclusão, diversidade<br />

e equidade se podem<br />

conseguir através de um sistema<br />

organizado. Com o objetivo de<br />

promover a igualdade de oportunidades<br />

e o trabalho digno<br />

para todos, mediante a colaboração<br />

e a realização de parcerias<br />

com empresas, organizações e<br />

pessoas, o I<strong>DE</strong> Social Hub atua<br />

em diversos contextos – locais,<br />

regionais e nacionais – no apoio<br />

a grupos minoritários. Elisangela<br />

Souza, founder e CEO deste projeto<br />

diz que se trata, afinal, de uma<br />

“social tech que visa transformar<br />

empresas e pessoas”, sensibilizando-as<br />

para estes temas. Em<br />

setembro passado realizou-se o<br />

seu primeiro evento e de acordo<br />

com Elisangela “foi um sucesso.<br />

Reuniu mais de 100 participantes<br />

de empresas nacionais e internacionais,<br />

que compartilharam as<br />

suas experiências e visões sobre<br />

inclusão, diversidade e equidade,<br />

num esforço notável para<br />

promover uma mudança profunda<br />

nas práticas corporativas. A<br />

ideia é espalhar a palavra, cruzar<br />

experiências, sensibilizar. Mas<br />

a estratégia do I<strong>DE</strong> Social Hub<br />

passa sobretudo pela promoção<br />

do impacto social através de três<br />

pilares: a mobilidade social, a<br />

inclusão digital e a empregabilidade.<br />

Atuando com o foco em<br />

mulheres, pessoas com mais<br />

de 50 anos, etnias, imigrantes e<br />

pessoas com deficiência, procura<br />

através da capacitação dar-lhes<br />

visibilidade, integrando-os no<br />

mundo corporativo. O objetivo é<br />

estender a sua ação a todo o país<br />

e mais tarde internacionalizar<br />

para o Brasil e África.<br />

FAZER PREVISÕES SEM<br />

BOLA <strong>DE</strong> CRISTAL<br />

Dams at Your Finger Tips é o<br />

nome de uma plataforma de<br />

monitorização, controlo e apoio<br />

à decisão que recorre a big data,<br />

<strong>IA</strong>, IoT, redes LoRaWAN e até<br />

imagens de satélite. Toda a tecnologia<br />

que pode contribuir para<br />

uma recolha de informação mais<br />

rigorosa e o cálculo de probabi-


lidades está aqui, à disposição,<br />

para procedimentos como a<br />

monitorização da qualidade das<br />

águas, a previsão de padrões de<br />

enchimento e descarga de barragens,<br />

cruciais para uma gestão<br />

proativa, particularmente durante<br />

eventos extremos. Todos os dados<br />

que Dams at Your Finger Tips<br />

recolhe são enviados diretamente<br />

para uma plataforma cloud segura,<br />

de alta velocidade e escalável.<br />

Mais: estas tecnologias, em<br />

conjunto com o desenvolvimento,<br />

a decorrer, de um gémeo digital,<br />

permitem a representação virtual<br />

das infraestruturas, o que facilita<br />

a observação atempada e a mitigação<br />

de problemas estruturais.<br />

A Águas do Norte, entidade que<br />

lançou este sistema, já tem todas<br />

as barragens que se encontram<br />

sob sua responsabilidade a serem<br />

monitorizadas desta forma.<br />

José Machado Vale, presidente<br />

do Conselho de Administração da<br />

Águas do Norte diz que a resposta<br />

ao Dams at Your Finger Tips<br />

“tem sido extraordinariamente<br />

positiva. O reconhecimento por<br />

parte dos utilizadores e de todas<br />

as partes interessadas, bem<br />

como os prémios conquistados,<br />

como é o caso dos WSA 2023, são<br />

indicadores claros da valorização<br />

desta inovação e dos benefícios<br />

que a digitalização proporciona<br />

na gestão das barragens”. Sublinhando<br />

que “a digitalização das<br />

barragens não se limita a aprimorar<br />

a eficiência operacional, mas<br />

também contribui significativamente<br />

para a segurança, sustentabilidade<br />

e gestão proativa e<br />

integrada dos recursos hídricos”,<br />

José Machado Vale realça ainda<br />

o potencial transformador desta<br />

nova ferramenta: “A capacidade<br />

de prever e antecipar cenários futuros,<br />

a resposta ágil a emergências<br />

e a promoção da cooperação<br />

entre diferentes entidades” são<br />

valências que apontam para “um<br />

caminho promissor”.<br />

CIBERSEGURANÇA B2B<br />

É uma plataforma revolucionária,<br />

que utiliza uma combinação<br />

única de hacking humano e de<br />

máquinas para assegurar uma<br />

proteção abrangente. A Ethiack<br />

identifica vulnerabilidades com<br />

uma precisão de 99% e garante<br />

uma monitorização contínua. A<br />

sua abordagem simbiótica com<br />

recurso a <strong>IA</strong> e machine learning<br />

permite poupanças de custos ao<br />

mesmo tempo que oferece funcionalidades<br />

de fácil utilização.<br />

Numa época em que os ataques<br />

cibernéticos tendem a crescer<br />

cada vez mais, Jorge Monteiro,<br />

co-founder e CEO da Ethiack,<br />

diz que é tempo de se passar<br />

de uma estratégia defensiva e<br />

reativa para uma abordagem<br />

ofensiva. Nesse sentido, “sendo<br />

uma plataforma de cibersegurança<br />

proativa, a Ethiack permite<br />

às organizações testar os seus<br />

ativos digitais de forma contínua<br />

e precisa, de maneira a identificar<br />

vulnerabilidades e poder agir<br />

sobre elas”.<br />

A Ethiack, refere Jorge Monteiro,<br />

“está no mercado há um ano e<br />

já detetou mais de 20 mil vulnerabilidades”.<br />

Aos dias de hoje a<br />

plataforma, segundo o seu CEO,<br />

“protege mais de 15 mil ativos<br />

digitais diariamente”, em setores<br />

tão críticos como retalho, energia,<br />

finanças e aeroportos.<br />

PARA UMA AP<br />

MAIS EFICIENTE<br />

O MOSAICO consiste num modelo<br />

comum para o desenho e desenvolvimento<br />

de serviços públicos<br />

digitais. Lançado a 7 de outubro<br />

de 2022, contou logo com a<br />

adesão do Instituto de Registos e<br />

Notariado (INR), que apresentou<br />

o seu projeto-piloto no mês de<br />

lançamento. Iniciativa da Agência<br />

para a Modernização Administrativa<br />

(AMA), esta é uma importante<br />

ferramenta de trabalho para os<br />

especialistas da Administração Pública<br />

(AP), pois “para proporcionar<br />

uma experiência diferenciada na<br />

interação com o governo é crucial<br />

que os serviços públicos digitais<br />

sejam concebidos e desenvolvidos<br />

de acordo com um modelo<br />

padrão em todas as instituições<br />

públicas”, refere fonte da AMA.<br />

Neste momento o foco tem sido<br />

a divulgação desta solução junto<br />

das entidades públicas, bem<br />

como a sua melhoria através<br />

da incorporação de insights e<br />

contribuições de novos usuários.<br />

O objetivo é que o MOSAICO se<br />

torne um “paradigma padrão<br />

claro, mas adaptável, que todas<br />

as pessoas possam utilizar para<br />

satisfazer a procura premente do<br />

governo por transformação digital”,<br />

informa a agência estatal.<br />

A ambição é, pois, tornar este<br />

instrumento uma referência exclusiva<br />

para a evolução dos serviços<br />

públicos digitais, de modo a que<br />

funcione como um elemento<br />

agregador, mas também versátil e<br />

colaborativo. Do lado do cidadão é<br />

esperar que esta homogeneização<br />

seja sentida e percebida como um<br />

elemento facilitador na sua relação<br />

com a Administração Pública.•<br />

61


apdc news<br />

ACORDO APDC, GOVERNO E INSTITUIÇÕES <strong>DE</strong> ENSINO SUPERIOR<br />

Programa UPSkill renovado<br />

por mais três edições<br />

Desde 2020, já foram formadas em TIC cerca de 1.700 pessoas para necessidades concretas nas empresas. O<br />

projeto vai ter novas edições, pois provou ser uma fórmula inovadora de sucesso. As parcerias são a chave.<br />

Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo<br />

62<br />

Reportagem:<br />

https://bit.ly/3S6mX4T<br />

Vídeo:<br />

https://bit.ly/3NOKHJj<br />

Fotos:<br />

https://bit.ly/3tH34sM<br />

A APDC, o governo – através do IEFP,<br />

e um conjunto de Instituições de<br />

Ensino Superior (CCISP - Conselho<br />

Coordenador dos Institutos Superiores<br />

Politécnicos; ISCTE - Instituto<br />

Universitário de Lisboa e FCUL - Faculdade<br />

de Ciências da Universidade<br />

de Lisboa) vão prolongar por mais<br />

três edições o Programa UPskill -<br />

Digital Skills & Jobs. O acordo já foi<br />

assinado e visa dar continuidade<br />

a uma iniciativa de requalificação<br />

nacional inovadora, já que responde<br />

a necessidades concretas de talento<br />

TIC das empresas.<br />

O protocolo de renovação do programa<br />

foi assinado a 18 de dezembro,<br />

num evento que reuniu os líderes<br />

das várias entidades envolvidas e<br />

onde ficou claro que esta é uma<br />

iniciativa de referência, que importa<br />

replicar em todos os setores de atividade,<br />

incluindo os mais tradicionais.<br />

Até agora, nas três edições realizadas<br />

desde 2020, o UPskill já formou<br />

cerca de 1.700 pessoas vindas das<br />

mais variadas áreas, sendo que a<br />

maioria foi contratada pelas empresas<br />

envolvidas.<br />

A ambição é continuar a reforçar<br />

a formação em áreas tecnológicas<br />

de elevada procura no mercado,


numa conjuntura em que esta cresce<br />

exponencialmente. E, em paralelo,<br />

contribuir para a qualificação e requalificação<br />

de pessoas para as TIC,<br />

criando oportunidades de carreira<br />

numa área de futuro.<br />

Na assinatura<br />

da renovação do<br />

acordo, as instituições<br />

de Ensino<br />

Superior signatárias<br />

manifestaram ainda<br />

o seu interesse e<br />

disponibilidade no<br />

sentido de passar a<br />

atribuir às formações do UPskill um<br />

sistema de atribuição de créditos<br />

(ECTS). Com isso, pretendem facilitar<br />

A ambição é continuar<br />

a reforçar a formação<br />

em áreas tecnológicas<br />

de elevada procura no<br />

mercado<br />

aos formandos que frequentaram<br />

o programa a continuidade da sua<br />

formação no âmbito do Ensino Superior,<br />

se assim o entenderem.<br />

Para o vice-presidente do IEFP,<br />

Bernardo de Sousa, trata-se de uma<br />

“aposta clara no presente<br />

e no futuro”,<br />

tendo em conta a<br />

velocidade da mudança<br />

e o impacto<br />

que a evolução<br />

tecnológica está a<br />

ter na economia<br />

e na sociedade. O<br />

objetivo é que o programa impacte<br />

todo o país, as suas regiões, empresas<br />

e pessoas.<br />

Já estamos a receber<br />

candidaturas das<br />

empresas para a 4ª edição<br />

do UPskill. Se precisa de<br />

talento qualificado júnior,<br />

participe nesta iniciativa!<br />

Contacte a APDC e<br />

informe-nos das suas<br />

necessidades específicas<br />

de recursos TIC. Consulte<br />

o site upskill.pt e envie<br />

email para<br />

empresa@upskill.pt<br />

63


apdc news<br />

“Desde a montagem do programa<br />

que temos parceiros e entidades<br />

empenhadas no seu desenvolvimento.<br />

Têm sido peças fundamentais”,<br />

acrescentou Rogério Carapuça,<br />

salientando as “características especiais”<br />

da iniciativa, que “não forma<br />

pessoas em abstrato para empregos<br />

que possam ou não<br />

existir, mas sim para<br />

empresas em concreto.<br />

O presidente<br />

da APDC considerou<br />

ainda que “as<br />

próximas edições<br />

decorrerão num<br />

contexto económico<br />

diferente e muito desafiante, com<br />

duas guerras e uma inflação muito<br />

alta. É um contexto complexo para<br />

este programa, já considerado uma<br />

prática europeia de excelência”.<br />

Já para Maria de Lurdes Rodrigues,<br />

reitora do ISCTE, o UPskill “faz parte<br />

de um movimento mais abrangente<br />

que o país tem necessidade de fazer”<br />

em termos de formação, já que num<br />

cenário em que o PRR aposta forte<br />

na formação, há muitas iniciativas<br />

que são “pouco pensadas e em<br />

excesso”, e muito distantes do objetivo<br />

fundamental, uma verdadeira<br />

requalificação de pessoas. Por isso, o<br />

programa “é suficientemente estruturado<br />

para permitir aos formandos<br />

ter uma certificação com valor de<br />

O programa responde<br />

aos anseios dos<br />

formandos, mas<br />

também às necessidades<br />

reais da economia<br />

mercado e para responder às necessidades<br />

deste. Talvez tenhamos<br />

alguma coisa a aprender com este<br />

exemplo”, frisou.<br />

A iniciativa permitiu ainda, na<br />

perspetiva de Carlos Mata, vice-presidente<br />

do IPS - Instituto Politécnico<br />

de Setúbal e em representação do<br />

CCISP, um reforço<br />

ainda maior das<br />

sinergias da rede<br />

nacional de politécnicos<br />

com as empresas,<br />

fortalecendo a<br />

cooperação entre<br />

as partes. Aliás, já<br />

foram mesmo lançadas<br />

várias pós-graduações em temas<br />

considerados relevantes, assim<br />

como mais Cursos Técnicos Superiores<br />

Profissionais (CTeSP).<br />

DAR BASES PARA EVOLUIR<br />

Também Luís Carriço, diretor da<br />

FCUL, confirma que o UPSkill permitiu<br />

“um conjunto de experiências<br />

interessantes” e deu resposta a<br />

“necessidades que era preciso resolver,<br />

com uma estruturação que não<br />

se encontra numa série de outras<br />

iniciativas que estão a acontecer.<br />

O caminho não é formar pessoas a<br />

metro para as TIC, mas sim garantir<br />

formações estruturadas como esta,<br />

que têm futuro”.<br />

Acresce que este perfil de iniciativas<br />

“ajuda a influenciar a forma como as<br />

universidades e politécnicos terão<br />

de se organizar e ter uma maior<br />

aproximação às empresas. Não<br />

podem existir universidades que só<br />

se preocupam consigo mesmas. Isto<br />

vai acabar em breve e programas<br />

como este estão a ajudar a levantar<br />

a questão, tornando percetível que<br />

universidades e empresas têm de<br />

trabalhar em conjunto”.<br />

Seguiu-se uma conversa entre a<br />

diretora executiva da APDC, Sandra<br />

Fazenda Almeida, e dois formandos<br />

que participaram na 1ª edição do<br />

UPskill. André Santos, contratado<br />

pela Capgemini, e David Alvim, que<br />

trabalha na Accenture, destacaram<br />

a importância desta formação e<br />

salientaram as ferramentas proporcionadas,<br />

que preparam os formandos<br />

para ficarem mais autónomos<br />

e procurarem em permanência um<br />

maior conhecimento, ganhando<br />

capacidade para enfrentar novos<br />

desafios no domínio das TIC. O que<br />

é essencial, tendo em conta que o<br />

mercado é muito dinâmico e as tecnologias<br />

estão sempre a evoluir.<br />

O sucesso do UPskill foi destacado<br />

pelo secretário de Estado do<br />

Trabalho, Miguel Fontes, para quem<br />

o programa “responde aos anseios<br />

dos formandos, mas também às<br />

necessidades reais da economia e<br />

da sociedade, ao permitir acelerar<br />

a formação e disponibilizar um<br />

contingente de pessoas qualificadas<br />

à medida. As empresas foram<br />

chamadas desde a primeira hora a<br />

identificar as suas necessidades e a<br />

construírem conjuntamente com as<br />

IES as formações. É isso que torna o<br />

programa bem-sucedido”. Assim, há<br />

que “insistir neste paradigma, que<br />

assenta o nosso perfil de especialização<br />

na produção de produtos e<br />

serviços de alto valor económico, forçando<br />

a que a economia se mova a<br />

um ritmo mais acelerado. Não só nas<br />

TIC, mas nos setores tradicionais de<br />

emprego intensivo, onde é essencial<br />

ter mão-de-obra qualificada”. Para<br />

este responsável, “o modelo está<br />

testado, já demostrou e funciona”.•<br />

64


AL<strong>IA</strong>NÇA PARA A IGUALDA<strong>DE</strong> NAS TIC<br />

APDC colabora no reforço<br />

de mulheres na tecnologia<br />

A associação juntou-se a uma rede que agrega cerca de 200 organizações em torno de um objetivo comum:<br />

aumentar a participação das mulheres na área tecnológica, através da promoção de um vasto leque de<br />

iniciativas.<br />

Texto de Isabel Travessa<br />

NO ÂMBITO do 3º Encontro da<br />

Aliança para a Igualdade nas TIC,<br />

que decorreu a 14 de dezembro, a<br />

APDC aderiu a este movimento. Uma<br />

iniciativa que tem vindo a promover<br />

a inclusão digital das mulheres e<br />

o reforço da sua participação nas<br />

engenharias e nas tecnologias,<br />

consolidando e estruturando formas<br />

de cooperação sistemáticas e de divulgação<br />

do trabalho realizado pelas<br />

entidades parceiras.<br />

Esta aliança, a que aderiu na mesma<br />

altura a NTT Data, entende que a<br />

transição digital vai impor, necessariamente,<br />

o aumento da participação<br />

de mulheres. Por isso, assume-se<br />

como uma plataforma agregadora<br />

em torno deste objetivo, contando<br />

com uma rede de cerca de 200 organizações,<br />

entre entidades parceiras,<br />

instituições de ensino superior e<br />

escolas básicas e secundárias.<br />

O projeto foi formalizado há dois<br />

anos pelo governo, na sequência<br />

do envolvimento das entidades<br />

governamentais, universidades e<br />

empresas no programa ‘Engenheiras<br />

Por Um Dia’. Assume-se como<br />

o maior cluster para a promoção da<br />

igualdade nas TIC, com iniciativas<br />

para o aumento da participação de<br />

mulheres no setor.<br />

Este programa já chegou a 12.455<br />

jovens dos ensinos básico e secundário,<br />

através de atividades práticas<br />

laboratoriais, sessões de role model<br />

e mentoria. As entidades aderentes,<br />

Reportagem:<br />

https://bit.ly/3NLjd79<br />

incluindo a APDC, assumem um<br />

conjunto de compromissos e contribuem<br />

para a concretização do Eixo 3<br />

“Desenvolvimento científico e tecnológico<br />

igualitário, inclusivo e orientado<br />

para o futuro” da Estratégia<br />

Nacional para a Igualdade e a Não<br />

Discriminação 2018-2030 “Portugal+<br />

Igual”. Com destaque para a cooperação<br />

de forma ativa e muito concreta<br />

para promover o objetivo mais<br />

genérico de combate à segregação<br />

sexual nas escolhas educativas e nas<br />

profissões, nas suas várias dimen-<br />

sões. Outras metas são promover<br />

o alargamento, cobertura nacional<br />

e eficácia das parcerias institucionais<br />

do ‘Engenheiras Por Um Dia’,<br />

mobilizar e estabelecer pontes entre<br />

as entidades parceiras, dinamizar a<br />

operacionalização das atividades e<br />

iniciativas e disponibilizar materiais<br />

de informação e sensibilização, bem<br />

como dados estatísticos relevantes,<br />

entre outros.•<br />

65


apdc news<br />

PORTUGAL AS A TECH HUB<br />

Intensificar ligações e partilha<br />

de know-how<br />

Juntar líderes de empresas TIC presentes no mercado nacional, algumas com investimentos em centros de<br />

competência tecnológicos, a inovadores, empreendedores e empresas internacionais potencialmente interessadas<br />

em instalar-se no país foi o objetivo de mais um ‘Portugal as a Tech Hub’.<br />

Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />

66<br />

Reportagem:<br />

https://bit.ly/3NSzRSG<br />

Fotos:<br />

https://bit.ly/3vlDvOl<br />

ESTA INIC<strong>IA</strong>TIVA, que resultou de<br />

uma parceria entre a APDC e a AICEP<br />

Portugal Global, decorreu pelo terceiro<br />

ano consecutivo, à margem da<br />

Web Summit. Estiveram presentes os<br />

protagonistas do ecossistema digital,<br />

numa conversa informal sobre o presente<br />

e o futuro do setor e do país,<br />

potenciando desta forma novas<br />

oportunidades de negócio e de colaboração<br />

entre os vários envolvidos.<br />

Todos os convidados da APDC eram<br />

responsáveis dos patrocinadores<br />

anuais da associação, onde esteve o<br />

novo presidente da AICEP, Filipe Santos<br />

Costa, assim como o presidente<br />

da APDC, Rogério Carapuça.<br />

O secretário de Estado da Internacionalização,<br />

Bernardo Ivo Cruz, na sua<br />

intervenção, considerou a transformação<br />

digital “uma grande tempestade<br />

pela qual todos estamos a atravessar”.<br />

Mas, tendo em conta que as<br />

velocidades a que está a ser feita são<br />

completamente distintas, dependendo<br />

de cada organização, defendeu a<br />

necessidade de criar condições para<br />

que todos consigam ultrapassar a


Resultado de uma parceria<br />

entre a APDC e o AICEP,<br />

o evento realizou-se pelo<br />

terceiro ano consecutivo<br />

tempestade de forma similar. Para<br />

isso, será necessário apostar em<br />

iniciativas como esta, que promovem<br />

a colaboração e a aproximação entre<br />

todos os intervenientes.<br />

Recorde-se que o governante, na tomada<br />

de posse da nova administração<br />

da AICEP, enumerou como um<br />

dos objetivos essenciais, para que<br />

a internacionalização da economia<br />

continue a contribuir para a competitividade<br />

do país, a aposta em aprofundar<br />

os mecanismos de atração e<br />

retenção de investimento, criando as<br />

condições necessárias ao acolhimento<br />

de investimento produtivo.•<br />

67


apdc news<br />

APDC & VDA | DIGITAL UNION: PACOTE CONETIVIDA<strong>DE</strong><br />

Quem vai pagar as redes<br />

gigabit na UE?<br />

Bruxelas tem um pacote com três projetos distintos para acelerar as redes gigabit no espaço comunitário. Mas<br />

há críticas de vários quadrantes e o tema do investimento está no centro do debate, com telcos e big tech a<br />

esgrimirem argumentos.<br />

Texto de Isabel Travessa<br />

68<br />

Reportagem:<br />

https://bit.ly/41LqBp2<br />

Vídeo:<br />

https://bit.ly/3H8eoBk<br />

ESTÁ EM MARCHA a negociação e<br />

aprovação do Pacote Conectividade,<br />

proposta da Comissão Europeia que<br />

tem como meta construir rapidamente<br />

as infraestruturas de alta velocidade<br />

em toda a União Europeia,<br />

alcançando assim as ambiciosas<br />

metas da Década Digital. O mercado<br />

aguarda com expectativa a sua<br />

entrada em vigor, mas subsistem<br />

temas que geram desacordos entre<br />

os players. Na 7ª Sessão do Digital<br />

Union, um ciclo de webinars sobre<br />

o digital realizado pela APDC, em<br />

parceria com a VdA, realizado a 31<br />

de outubro, debateu-se o projeto e o<br />

seu impacto.<br />

“Com o Pacote Conectividade, a<br />

UE quer ultrapassar os desafios da<br />

implementação de infraestruturas<br />

de comunicações, que é lenta e<br />

dispendiosa. E fornecer às entidades<br />

nacionais orientações sobre o acesso<br />

às redes, incentivando a partilha de


Fernando Resina da Silva<br />

Sócio da Área Comunicações, Proteção de Dados<br />

& Tecnologia, Sócio Responsável da Área PI<br />

Transacional, VdA<br />

Ana Amoroso das Neves<br />

Head of the Internet Governance Office, FCT –<br />

Fundação para a Ciência e a Tecnologia<br />

Pedro Mota Soares<br />

Secretário Geral, APRITEL<br />

João de Araújo Ferraz<br />

Associado da área de ICT, VdA<br />

Helena Martins<br />

Head of Government Affairs and Public Policy –<br />

Portugal, Google<br />

Moderação Sandra Fazenda Almeida<br />

Diretora Executiva, APDC<br />

infraestruturas e o abandono de tecnologias<br />

antigas”, começou por referir<br />

Fernando Resina da Silva - sócio<br />

da Área Comunicações, Proteção de<br />

Dados & Tecnologia, Sócio Responsável<br />

da Área PI Transacional da VdA,<br />

no arranque deste webinar.<br />

O advogado destacou<br />

ainda as críticas<br />

ao projeto, nomeadamente<br />

entre os<br />

operadores europeus,<br />

sobre a intenção<br />

de Bruxelas em<br />

“forçar a partilha de<br />

redes, em vez de<br />

criar mecanismos<br />

para incentivar essa partilha”. Ou<br />

“estabelecer uma regulação ex-ante,<br />

quando o setor deve ser governado<br />

por normas da concorrência, ex-post,<br />

e a própria CE tem defendido isso”.<br />

Ou ainda de excluir as “infraestruturas<br />

nacionais críticas” e de ignorar<br />

quem é que vai pagar estes elevados<br />

investimentos.<br />

João Ferraz, associado da área de ICT<br />

da VdA, fez uma apresentação do<br />

O mercado aguarda<br />

com expectativa a<br />

entrada em vigor das<br />

novas regras, mas<br />

subsistem desacordos<br />

entre os players<br />

projeto europeu, que se insere num<br />

dos quatro eixos do amplo programa<br />

Década Digital, com o qual Bruxelas<br />

definiu múltiplas metas a alcançar<br />

até 2030 nas áreas de skills, governança,<br />

negócios e infraestruturas.<br />

Surge precisamente para cumprir o<br />

objetivo de garantir<br />

conetividade<br />

gigabit para todos<br />

e cobertura de alta<br />

velocidade móvel<br />

(pelo menos de 5G)<br />

em todo o lado.<br />

Em cima da mesa<br />

estão três documentos:<br />

proposta de<br />

Regulamento Infraestruturas Gigabit,<br />

que estabelece regras para permitir<br />

uma implantação mais rápida,<br />

barata e eficaz de redes gigabit;<br />

projeto de Recomendação Gigabit,<br />

com orientações sobre as condições<br />

de acesso às redes de comunicações<br />

dos operadores com poder de mercado<br />

significativo (PMS), incentivar o<br />

abandono das tecnologias clássicas<br />

e garantir a implantação acelerada<br />

Moderação Tiago Bessa<br />

Sócio da Área de Comunicações, Proteção de<br />

Dados & Tecnologia, PI Transacional, VdA<br />

das redes gigabit; e consulta pública<br />

exploratória sobre o futuro da conetividade<br />

e das suas infraestruturas.<br />

RAZÕES <strong>DE</strong> UNS E <strong>DE</strong> OUTROS<br />

Nesta consulta, há aspetos convergentes<br />

nas quase 400 respostas dos<br />

players: necessidade de inovação<br />

e investimento eficiente em novas<br />

redes; aproveitamento do mercado<br />

único para impulsionar a inovação<br />

e investimento, através da simplificação<br />

e harmonização da legislação<br />

aplicável na UE, sobretudo no espetro;<br />

e segurança das redes, com o<br />

aumento das tensões geopolíticas.<br />

69


apdc news<br />

70<br />

No tema da fair contribution, que envolve<br />

a eventual contribuição das big<br />

tech para o investimento nas redes,<br />

as opiniões foram muito divergentes.<br />

“Os operadores consideram que<br />

há necessidade de investir e que<br />

não devem ser só eles os envolvidos,<br />

pois as big tech utilizam grande parte<br />

da banda disponível.<br />

Há ainda temas<br />

de neutralidade da<br />

rede e o modelo<br />

para a partilha de<br />

custos e quem é<br />

que deve pagar. O<br />

debate vai continuar”,<br />

garante o<br />

responsável.<br />

No debate que<br />

se seguiu, moderado por Sandra<br />

Fazenda Almeida, diretora executiva<br />

da APDC, e Tiago Bessa, sócio da<br />

área de Comunicações, Proteção de<br />

Dados & Tecnologia, PI Transacional<br />

da VdA, ficaram claras as diferenças<br />

e divergências, consoante o perfil<br />

dos players de mercado.<br />

Helena Martins, head of Government<br />

Affairs and Public Policy da Google<br />

Portugal, está preocupada pelo facto<br />

de os operadores de telecomunicações<br />

continuarem a defender uma<br />

posição de imposição de uma contribuição<br />

às gigantes tecnológicas. Trata-se<br />

de um “problema de premissa.<br />

As telcos alegam que precisam de<br />

financiamento para preencher um<br />

gap de investimento de centenas de<br />

milhões de euros para construir as<br />

redes de próxima geração. Mas, na<br />

nossa opinião, o tema tem de ser visto<br />

noutra perspetiva: o investimento<br />

ainda não foi feito e, de acordo com<br />

o histórico dessas empresas, isso<br />

vai acontecer no desenvolvimento<br />

normal dos negócios”.<br />

No tema da fair<br />

contribution, em termos<br />

de investimento nas<br />

redes, as posições das<br />

telcos e das big tech são<br />

divergentes<br />

“Na verdade, existe uma relação<br />

simbiótica entre os fornecedores<br />

de conteúdos e aplicações, como<br />

a Google, e telcos. As primeiras<br />

investem nos serviços e, a partir<br />

daí, os utilizadores têm interesse<br />

em contratar planos tarifários para<br />

poderem aceder a esses conteúdos.<br />

Por isso, há complementaridade,<br />

pelo<br />

que não existe um<br />

problema de mercado”,<br />

remata.<br />

Já os operadores<br />

têm uma visão<br />

distinta. Pedro Mota<br />

Soares, secretáriogeral<br />

da Apritel,<br />

garante que o tema<br />

de fundo é conseguir garantir na<br />

Europa as condições que promovam<br />

o desenvolvimento das redes, para<br />

não ficar atrás de outras regiões do<br />

mundo. Tal implica um esforço de<br />

investimento muito elevado. Só nas<br />

redes 5G, a previsão de investimento<br />

é de 300 mil milhões de euros, pelo<br />

que “há que criar todas as condições<br />

para que esta aposta<br />

seja real, porque<br />

mudará a forma de<br />

viver e trabalhar”.<br />

Existindo na UE seis<br />

gigantes tecnológicas<br />

que utilizam<br />

56% das redes, o<br />

que gera um enorme<br />

esforço, que vai aumentar ainda<br />

mais, defende que é “importante que<br />

haja uma justa contribuição de todos<br />

os que utilizam as redes, para garantir<br />

o objetivo de continuar a fazer o<br />

investimento de que Portugal e a Europa<br />

precisam. O jogo, de facto, fica<br />

muitas vezes desequilibrado. Não<br />

há level playing field. Os operadores<br />

O tema da fair share<br />

está a complicar os<br />

debates em torno de<br />

uma human centric<br />

internet<br />

estão sujeitos a regulação e pagam<br />

taxas e as big tech não, quando usam<br />

significativamente a rede. Tem se ser<br />

aplicado o princípio de uma contribuição<br />

justa, onde todos contribuam<br />

de forma adequada”.<br />

Também Ana Amoroso das Neves,<br />

head of the Internet Governance<br />

Office da FCT - Fundação para a<br />

Ciência e a Tecnologia, diz que “estamos<br />

a começar um período muito<br />

curioso na governação da internet a<br />

nível mundial”, com múltiplos pactos<br />

e acordos. A Europa, por sua vez,<br />

“tenta dar as suas respostas, num<br />

esforço para equilibrar um mercado<br />

dominado pelas big tech norte-americanas,<br />

que estão a contribuir para<br />

um aumento do tráfego de uma<br />

forma brutal, por serem grandes<br />

fornecedores de conteúdos”.<br />

São gigantes que dominam o mercado<br />

mundial, num cenário de uma<br />

internet cada vez mais imersiva e<br />

uma produção de dados a disparar.<br />

“Os providers têm alguns problemas<br />

em acompanhar esta necessidade<br />

tão grande de acesso a mais dados,<br />

o que provoca esta<br />

dialética sobre<br />

quem paga o quê<br />

e onde está o consumidor.<br />

Há aqui<br />

muitas questões e<br />

a existência de um<br />

fair share é a discussão<br />

do momento”,<br />

refere, admitindo que o tema está<br />

mesmo “a influenciar e a complicar<br />

os debates em torno de uma human<br />

centric internet”.•


DOT TOPICS APDC | COM VODAFONE PORTUGAL<br />

Trazer inovação de fora<br />

para dentro<br />

Reforçar o ecossistema empreendedor nacional é o objetivo do Vodafone Power Lab. Há quase 15 anos que<br />

apoia startups de base tecnológica. Já são mais de 200 e, a um nível mais profundo, cerca de 60.<br />

Texto de Isabel Travessa<br />

Em podcast:<br />

https://spoti.fi/3H6TFxJ<br />

Em vídeocast:<br />

https://bit.ly/48K2l9b<br />

ASSUME-SE como um hub de inovação<br />

e de empreendedorismo digital<br />

e fornece múltiplos recursos aos<br />

inovadores do mercado nacional.<br />

Agora, com as aprendizagens que<br />

retirou de uma década e meia de<br />

experiência, está a avançar com mais<br />

novidades, como adiantou a líder do<br />

programa Vodafone Power Lab, no<br />

mais recente Dot Topics APDC. Um<br />

episódio divulgado a 4 de dezembro,<br />

onde participou o CEO de uma das<br />

empresas apoiadas, a Follow Inspiration,<br />

que opera nas áreas de robótica,<br />

reconhecimento de imagem e <strong>IA</strong>.<br />

No “fervilhante mundo do empreendedorismo<br />

português”, como<br />

começou por referir Sandra Fazenda<br />

Almeida, diretora executiva da APDC<br />

e moderadora deste novo episódio<br />

dos Dot Topics, realizado em parceria<br />

com a Vodafone, o Power Lab assume<br />

um papel de relevo. ‘Nascido’<br />

em 2009, tem desempenhado “um<br />

papel crucial no apoio às startups<br />

e na criação de oportunidades de<br />

negócio, assim como no estabelecimento<br />

de parcerias e colaborações”,<br />

como avançou Filipa Pontes, responsável<br />

pelo Vodafone Power Lab.<br />

71


apdc news<br />

72<br />

Todo o projeto está estruturado para<br />

ajudar as startups a crescer num<br />

mercado muito competitivo, através<br />

da oferta de “recursos valiosos,<br />

como o programa de mentoria<br />

anual, o acesso a infraestruturas<br />

de pesquisa e desenvolvimento e, o<br />

mais importante, uma rede alargada<br />

de contactos”, acrescenta a mesma<br />

responsável.<br />

“Ao apoiar startups tecnológicas e<br />

empreendedores, estamos também<br />

a dar suporte ao desenvolvimento<br />

de soluções que vão beneficiar<br />

empresas, todo o ecossistema onde<br />

estão inseridas e a sociedade em<br />

geral. A nossa principal missão é<br />

trazer inovação de fora para dentro<br />

de casa, promovê-la e potenciar o<br />

progresso tecnológico, em Portugal<br />

e além-fronteiras”, explica ainda,<br />

adiantando que todo o ecossistema<br />

Vodafone já está a tirar proveito<br />

disso, seja a empresa e os seus<br />

colaboradores, sejam os parceiros,<br />

clientes e fornecedores.<br />

Um projeto que está desde 2018<br />

a ser desenvolvido no Vodafone<br />

Power Lab é a Follow Inspiration. O<br />

seu CEO e fundador, Luís de Matos,<br />

avança que “é a prova em como o<br />

empreendedorismo feito dentro da<br />

universidade pode<br />

sair para o mundo<br />

empresarial”. Tudo<br />

começou quando<br />

estava a terminar a<br />

licenciatura em engenharia<br />

informática,<br />

na Universidade<br />

da Beira interior, e<br />

quis terminar essa etapa a criar algo<br />

de útil.<br />

“Fazendo das fraquezas fortalezas”,<br />

porque estava em cadeira de rodas,<br />

criou uma tecnologia que permitiu<br />

desenvolver um carrinho de<br />

compras autónomo para pessoas<br />

A Microsoft considerou<br />

a tecnologia da Follow<br />

Inspiration a terceira<br />

melhor a nível mundial<br />

com mobilidade reduzida. Com ele,<br />

esteve em muitos concursos de<br />

empreendedorismo, acabando por<br />

ganhar alguns. Em 2012, ano da criação<br />

oficial da empresa, a Microsoft<br />

considerou a tecnologia da Follow<br />

Inspiration como a terceira melhor<br />

a nível mundial. E “foi aí que tudo<br />

começou”.<br />

Hoje, a empresa<br />

assume-se como um<br />

“produtor de robótica<br />

100% português,<br />

com várias tipologias,<br />

sempre com a<br />

mesma dinâmica:<br />

termos robôs de<br />

interação com pessoas e robôs de<br />

transporte 100% autónomo”, explica<br />

o fundador. Depois, “para vencer a<br />

barreira do ‘ser pequeno’, o que só<br />

é possível com uma interligação a<br />

grandes empresas nacionais”, aderiu<br />

ao Vodafone Power Lab, ‘casando’ os<br />

interesses entre a sua expertise e o<br />

ecossistema empresarial do grupo,<br />

para irem ao mercado em conjunto.<br />

O projeto está agora totalmente<br />

direcionado para a indústria.<br />

“Temos robótica de transporte desde<br />

os 100 kg até às três toneladas, o<br />

típico empilhador que costumamos<br />

ver dentro<br />

do armazém, mas<br />

autónomo, feito<br />

em Portugal e com<br />

tecnologia nacional”,<br />

para clientes<br />

como a AutoEuropa,<br />

Continental, Delta<br />

ou Sonae, comenta<br />

Luís de Matos. E já olham lá para<br />

fora, porque a evolução “passa sempre<br />

muito por abrir mais mercado<br />

e implementar a tecnologia, mas<br />

estando sempre à procura de novas<br />

realidades dentro da automação e<br />

da robótica autónoma e inteligente.<br />

Este projeto está<br />

estruturado para<br />

ajudar as startups<br />

e empreendedores a<br />

crescer num mercado<br />

muito competitivo<br />

Para conseguir ir ao encontro não<br />

só de processos de trabalho mais<br />

produtivos, como abordando os<br />

temas da responsabilidade social e<br />

do ambiente”.<br />

São estes casos de sucesso que<br />

inspiram o Vodafone Power Lab a<br />

fazer cada vez mais. E muitas das<br />

soluções estão já<br />

a ser implementadas<br />

internamente<br />

pela Vodafone e os<br />

seus parceiros. Por<br />

isso, vão alargar o<br />

programa anual de<br />

mentoria e de apoio<br />

a startups tecnológicas,<br />

que conta com diversos benefícios<br />

e a alocação de mentores especializados.<br />

Têm ainda um espaço de<br />

co-working, dedicado aos projetos,<br />

onde as equipas podem trabalhar<br />

e o ‘Get in the Ring’, uma grande<br />

competição anual para encontrar<br />

soluções tecnológicas inovadoras<br />

para desafios atuais.•


WEBMORNING APDC | COM ALTICE LABS<br />

Como é que a <strong>IA</strong> generativa<br />

nos pode ajudar?<br />

O ChatGPT colocou a <strong>IA</strong> no centro das atenções. Mas a verdade é que nas empresas já se multiplicavam as<br />

ferramentas para tirar partido desta tecnologia disruptiva. E há ofertas que simplificam a sua adoção.<br />

Texto de Isabel Travessa<br />

Reportagem:<br />

https://bit.ly/47ozKVC<br />

Vídeo:<br />

https://bit.ly/41IPWA3<br />

APESAR da Inteligência Artificial (<strong>IA</strong>)<br />

existir há muito, acompanhando o<br />

nascimento da informática e dos<br />

computadores, a verdade é que o<br />

lançamento do ChatGPT, em novembro<br />

de 2022, acabou por ser o verdadeiro<br />

catalisador, com a sua oferta<br />

de uma <strong>IA</strong> generativa para todos. No<br />

mercado nacional, cresce o número<br />

de soluções para fazer chegar, de<br />

forma simples, as vantagens destas<br />

ferramentas às empresas.<br />

No mais recente WebMorning APDC<br />

em parceria com a Altice Labs,<br />

realizado a 24 de outubro, foram<br />

apresentadas as ofertas desenvolvidas<br />

pelo grupo Altice. Apesar de<br />

Jorge Miguel Sousa, head of Unified<br />

Communications, Virtual Assistants<br />

& M2M/IoT Managed Connectivity<br />

da Altice Labs, não ter dúvidas de<br />

que o lançamento do ChatGPT, da<br />

OpenAI, ter sido o “catalisador muito<br />

forte” da utilização da <strong>IA</strong> generativa<br />

pela sociedade em geral. Mesmo<br />

não tendo havido, do ponto de vista<br />

académico ou tecnológico, uma<br />

grande revolução, “o facto é que a <strong>IA</strong><br />

já estava a ser utilizada em muitos<br />

produtos e serviços”, sublinhou. E<br />

os exemplos são muitos, desde uma<br />

simples utilização do Google Maps,<br />

73


apdc news<br />

74<br />

que tem por detrás uma <strong>IA</strong> que<br />

faz recomendações dos melhores<br />

trajetos e consegue saber o que<br />

são tendências e comportamentos<br />

dos próprios utilizadores, até às<br />

pesquisas na internet ou num site,<br />

que usam técnicas de <strong>IA</strong> para, com<br />

segmentação dos utilizadores, chegarem<br />

à melhor solução.<br />

Nas empresas, o gestor garante que<br />

um mercado altamente competitivo<br />

está a levar a uma adoção crescente<br />

de ferramentas de <strong>IA</strong> e a reforçar a<br />

experiência do utilizador, de uma<br />

forma cada vez mais personalizada,<br />

contextualizada e em tempo real. Em<br />

paralelo, estas soluções estão também<br />

a contribuir para reduzir custos<br />

operacionais que possam existir na<br />

relação entre o utilizador e a empresa,<br />

entre outras situações.<br />

“As ferramentas são<br />

diversas, desde uma<br />

tendência muito<br />

forte de serviços de<br />

selfcare a interfaces<br />

de voz de forma<br />

natural, à classificação<br />

do cliente e<br />

de qual o seu nível<br />

de satisfação. Há capacidade de ajustamento<br />

e permitem a criação de<br />

insights sobre o que está a acontecer,<br />

numa perspetiva mais abrangente,<br />

O mercado está a<br />

utilizar cada vez mais<br />

as ferramentas de <strong>IA</strong> e<br />

a reforçar a experiência<br />

dos utilizadores<br />

de tendências de contacto”, explica.<br />

Trata-se que “um conjunto de ferramentas<br />

críticas que as empresas podem<br />

adotar para serem mais ágeis e<br />

mais eficazes. Não podem ter medo,<br />

têm é de perceber<br />

quais são os seus<br />

problemas e aquilo<br />

que são as expetativas<br />

dos clientes,<br />

para poderem usar<br />

estas soluções da<br />

forma adequada”.<br />

Acresce todo o<br />

potencial da <strong>IA</strong> generativa, que tem<br />

na sua base os modelos LLM (large<br />

language models).<br />

Jorge Sousa admite, porém, que<br />

“sendo a <strong>IA</strong> uma área com grandes<br />

desafios”, vai obrigar a “bastante<br />

regulação”. É que em modelos como<br />

o ChatGPT, não se<br />

conhecem as fontes<br />

de treino, pelo que<br />

podem ser<br />

utilizados para “criar<br />

comportamentos ou<br />

controlar e influenciar<br />

fortemente<br />

a perceção das<br />

pessoas sobre algumas realidades e<br />

factos. Tem de haver uma regulação<br />

forte, para garantir que esta tecnologia,<br />

que é fundamental e terá uma<br />

A Altice apostou<br />

na criação de<br />

uma plataforma<br />

conversacional, em low<br />

code, a que chamou<br />

BOTSholl<br />

imensa aplicabilidade em qualquer<br />

setor de atividade, possa ser usada<br />

sem riscos. Aqui, os reguladores têm<br />

um papel forte”, alerta.<br />

Cada empresa “terá de pesar entre<br />

os riscos inerentes e as vantagens<br />

da adoção para o negócio” da <strong>IA</strong>. E,<br />

para facilitar esse processo, particularmente<br />

nas PME, eliminando<br />

barreiras, como a necessidade de<br />

ter skills altamente especializadas, a<br />

Altice tem vindo a apostar na criação<br />

de uma plataforma que chamou de<br />

BOTShool. Trata-se de uma conversational<br />

platform, em low code, que<br />

dá uma ferramenta simples, através<br />

da qual se pode desenhar, de forma<br />

autónoma, um assistente virtual<br />

para a relação com os clientes, com<br />

garantia de multicanalidade.<br />

A plataforma está<br />

agora a evoluir, com<br />

a introdução da <strong>IA</strong><br />

generativa, apostando-se<br />

numa maior<br />

humanização na<br />

forma como a informação<br />

é apresentada aos clientes.<br />

Em paralelo, permitirá às empresas<br />

tirar partido da maior capacidade<br />

e inteligência das soluções desenvolvidas<br />

pelas big tech. No fundo,<br />

assume-se como um “facilitador de<br />

fazer chegar este tipo de modelos de<br />

<strong>IA</strong> generativa (como o ChatGPT, Bard<br />

e Big) à indústria”, podendo escolher-se<br />

o modelo que melhor serve o<br />

propósito de cada organização.•


76<br />

“Não existem recursos humanos para limpar a floresta a nível nacional, daí ter nascido esta ideia”, explica o CEO da Ingeniarius


cidadania<br />

SAFEFOREST:<br />

robótica na prevenção<br />

de fogos<br />

Seria uma espécie de tropa de choque ao serviço da floresta. Uma<br />

vez no terreno, “soldados”- robots limpariam os terrenos arborizados,<br />

eliminando a vegetação que funciona como combustível, quando<br />

deflagram incêndios. A ideia, por ser boa, está a tornar-se realidade.<br />

TEXTO <strong>DE</strong> TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDA<br />

O<br />

Instituto de Sistemas e Robótica, da Universidade<br />

de Coimbra, já andava envolvido num<br />

projeto que recorria à robótica para a prevenção<br />

de fogos, quando decidiu tomar a iniciativa de<br />

criar um consórcio para o desenvolvimento de uma<br />

solução robusta para este problema. Juntou a Associação<br />

para o Desenvolvimento Aerodinâmico Industrial<br />

(ADAI), a SILVAPOR (empresa da área florestal),<br />

a Carnegie Mellon University (CMU), uma das mais<br />

importantes universidades americanas na área da robótica,<br />

e convidou a Ingeniarius (empresa portuguesa<br />

especializada em soluções para robótica móvel) para<br />

liderar um projeto que se veio a chamar Safeforest.<br />

De 2019, ano em que a iniciativa foi lançada, até<br />

meados de 2023, esta ideia ganhou forma, com a participação<br />

ativa do programa CMU Portugal, que visa<br />

estabelecer relações entre entidades portuguesas e a<br />

CMU. Micael Couceiro, CEO da Ingeniarius, diz que<br />

este período foi dedicado ao desenvolvimento da “capacidade<br />

de locomoção” destes robots “todo o terreno”.<br />

Falta ainda afinar “a componente de perceção/<br />

ação”, para que as máquinas aprendam, através de <strong>IA</strong>,<br />

a distinguir quais os elementos da floresta que devem<br />

ser removidos.<br />

No futuro, o objetivo, frisa Micael Couceiro, é dotar<br />

o país com um número de máquinas suficiente<br />

para suprir a falta de recursos que hoje se verifica: “Não<br />

existem recursos humanos para limpar a floresta a nível<br />

nacional, daí ter nascido esta ideia”. Sublinhando<br />

que neste caso não se trata de substituir humanos por<br />

robots, o CEO da Ingeniarius diz que a plataforma Safeforest<br />

terá sempre de ser operada por humanos e que<br />

as máquinas vão, isso sim, dar assistência aos profissionais<br />

que operam no terreno, contribuindo para uma<br />

maior eficácia e segurança destas intervenções.<br />

Com as alterações climáticas e a subida média da<br />

temperatura do ar, os incêndios florestais tendem a<br />

ocorrer com maior gravidade de ano para ano, daí que<br />

a expetativa seja a de que o Safeforest possa percorrer<br />

o seu last mile e tornar-se um ativo disponível para a<br />

prevenção de fogos: “Existem agora esforços no plano<br />

europeu para levar este projeto para o próximo patamar.<br />

Há cerca de seis meses, estabelecemos um consórcio<br />

europeu, que envolve uma dúzia de parceiros de<br />

vários países. Alguns são entidades como bombeiros e<br />

serviços de proteção civil, ou seja, organizações constituídas<br />

por utilizadores finais da nossa tecnologia. O<br />

objetivo é maturar a tecnologia”, melhorando a performance<br />

destes “soldados”- robots.<br />

Se o projeto evoluir favoravelmente, tanto do ponto<br />

de vista tecnológico, como ao nível da sua produção,<br />

Micael Couceiro estima que os robots a que ajudou a dar<br />

“vida” possam começar a ser comercializados e a chegar<br />

ao terreno dentro de quatro anos.•<br />

77


ultimas<br />

SABE COMO ESCOLHER UM MONITOR?<br />

A ESCOLHA de um monitor é uma decisão importante, pois pode ter um impacto significativo na experiência<br />

de trabalho ou diversão. Por isso, é importante considerar quais as necessidades específicas na hora<br />

da compra. A HP avançou com algumas sugestões para uma melhor opção. Assim, a escolha do tamanho<br />

do ecrã depende das preferências pessoais e do perfil de utilização: um jogador prefere uma experiência<br />

mais envolvente e gosta de um monitor maior, tal como quem o usa para trabalhar, especialmente em situações<br />

que têm a ver com aplicações de design ou edição de vídeo. Terá ainda de ter-se em conta a taxa<br />

de atualização, ou seja, o número de vezes por segundo que o ecrã é atualizado, assim como o tempo que<br />

o ecrã demora a mudar de uma cor para outra. Também os ângulos de visão determinam o quão bem o<br />

ecrã pode ser visto a partir de diferentes ângulos. Sem esquecer a resolução, que determina o número de<br />

pixels no ecrã, e a gama de cores que pode reproduzir. A fabricante disponibiliza uma ampla gama de monitores<br />

para gamers e utilizadores profissionais, que atendem às diferentes necessidades e orçamentos.•<br />

78<br />

<strong>DE</strong>SCOBRIR STARTUPS MAIS INOVADORAS<br />

CHAMA-SE aliança Alaian e pretende ajudar a descobrir as mais disruptivas startups com inovações em<br />

5G, que possam transformar a forma como as pessoas se ligam e vivem na era digital. A NOS foi o operador<br />

mais recente a juntar-se ao projeto, que integra oito das maiores empresas<br />

de telecomunicações a nível mundial. Encontrar startups com potencial<br />

para reinventar o setor das telecomunicações e disponibilizar-lhes ferramentas,<br />

conhecimento e acesso exclusivo a tecnologia, apoiado pela maior aliança<br />

de empresas de telecomunicações do mundo, é a ambição. Nomeadamente<br />

através do seu programa de Open Innovation, que dá acesso aos candidatos<br />

a um ecossistema global de tecnologia, infraestrutura e investimento, bem<br />

como à rede da Alaian, com presença em 65 mercados e mais de mil milhões<br />

de clientes. A Alaian foi criada em abril de 2022, assumindo-se como uma<br />

aliança única entre nove das maiores operadoras do mundo. NOS, Cellnex, KPN, MTN, Omantel, Orange,<br />

STC, Telefonica e Windtre.•


ROBUSTECER PROJETO EDUCACIONAL INOVADOR<br />

A MEO associou-se à Escola 42, um projeto educacional inovador que visa transformar a próxima geração de talento<br />

TIC. Fortalecendo o seu programa de responsabilidade social corporativa, assente na concretização de parcerias<br />

com impacto positivo na comunidade local, a marca do grupo Altice pretende com esta parceria acelerar o<br />

desenvolvimento do projeto 42 Porto, disponibilizando o que virá a ser o futuro espaço desta escola no Porto. A<br />

Escola 42 Porto é uma iniciativa de natureza filantrópica em que não é exigida qualquer propina aos alunos. Com<br />

um forte caráter inclusivo e um modelo pedagógico inovador,<br />

assente num sistema gamificado de projetos e desafios, permite<br />

total liberdade aos seus alunos e promove a aprendizagem<br />

e partilha entre pares. A equipa responsável pela Escola 42 já<br />

tinha colaborado com a Altice no projeto TUMO, em Coimbra.<br />

Agora, reforça no novo projeto, que é diferenciado e direcionado<br />

para pessoas a partir dos 17 anos e que, além das competências<br />

técnicas em diversas áreas da programação, trabalha<br />

a capacidade, a determinação, a autonomia e a resiliência dos<br />

seus alunos. Fundada em Paris, em 2013, a Escola 42 é considerada<br />

uma das melhores escolas de programação do mundo.<br />

Está presente em mais de 50 cidades.•<br />

ACELERAR EFICIÊNC<strong>IA</strong> NA FÓRMULA UM<br />

ACELERAR a eficiência operacional e desbloquear novas perceções, baseadas<br />

em dados, com vista à melhoria do desempenho, é o objetivo de uma parceria<br />

plurianual realizada entre a SAP e a equipa de Fórmula Um Mercedes-AMG<br />

PETRONAS. O projeto, com início em 2024, utiliza a<br />

solução SAP S/4HANA Cloud, que serve como base<br />

tecnológica, permitindo explorar a forma como<br />

a <strong>IA</strong> e as soluções de processamento na cloud<br />

da SAP podem ajudar a equipa a fundamentar e<br />

prever decisões, bem como a otimizar recursos e a<br />

preparar a sua infraestrutura de TI para o futuro.<br />

Sendo a eficiência a pedra angular do êxito na Fórmula<br />

Um, dominar o desafio dos custos limitados<br />

e otimizar a complexidade da cadeia de abastecimento<br />

são duas das áreas em que esta parceria<br />

se concentrará. A equipa de F1 Mercedes-AMG PE-<br />

TRONAS utilizará a solução SAP S/4HANA Finance<br />

para alocar, poupar e utilizar os recursos de forma<br />

mais eficiente. E com a tecnologia de <strong>IA</strong> incorporada da SAP Business AI, poderá<br />

prever os custos e predizer as necessidades do orçamento final, para além<br />

de otimizar tanto a cadeia de abastecimento, como os artigos em stock.•<br />

79


ultimas<br />

NOVA RESPOSTA AOS CIBERATAQUES<br />

CHAMA-SE Secure Future Initiative e é uma nova iniciativa que visa responder de forma global à crescente<br />

velocidade, escala e sofisticação crescente dos ciberataques. Trata-se de um passo da Microsoft para dar<br />

continuidade à que será a próxima geração de proteção de cibersegurança. Terá três pilares centrados na<br />

cibersegurança baseada na <strong>IA</strong>, nos avanços na engenharia de software fundamental e na defesa de uma<br />

aplicação mais forte das normas internacionais para proteger os civis das ciberameaças. Pretende-se desenvolver<br />

um “escudo” de cibersegurança baseado em <strong>IA</strong>, que terá como propósito a proteção de clientes e<br />

países. A rede global de datacenters e a utilização de modelos avançados de <strong>IA</strong> colocam a tecnológica numa<br />

posição de destaque quanto à oportunidade de colocar esta tecnologia ao serviço da cibersegurança.•<br />

TECNOLOG<strong>IA</strong> <strong>DE</strong> CHATBOTS AINDA MAIS REFORÇADA<br />

A BOTSchool tem uma nova versão, que resultou da introdução da Generative AI. Esta plataforma<br />

de inteligência conversacional desenvolvida pela Altice Labs, sendo de low-code, tem como objetivo<br />

facilitar o acesso à tecnologia de criação e gestão de chatbots, tanto às empresas como à sociedade<br />

em geral. Desenvolvida desde 2019, tem acompanhado a evolução das novas tecnologias e da<br />

própria sociedade, apresentando um elevado potencial para autoaprendizagem e workflows colaborativos<br />

mais alargados, trazendo um valor acrescentado para os utilizadores. Para acompanhar as<br />

evoluções registadas na <strong>IA</strong> e <strong>IA</strong> generativa, a plataforma lança agora a funcionalidade Generative AI<br />

Capability. Esta evolução traz a integração de novos modelos de linguagem e de <strong>IA</strong> capazes de simplificar<br />

a interação entre humanos e máquinas, bem como aumentar o nível de automação, desde as<br />

tarefas mais simples, aos cenários mais complexos.•<br />

80


MANTEMOS<br />

A EUROPA<br />

CONECTADA,<br />

com uma infraestrutura<br />

sustentável<br />

Na Vantage Towers ajudamos a alcançar uma Europa digital<br />

e verdadeiramente sustentável.<br />

Estamos totalmente comprometidos com a construção<br />

de uma sociedade conectada em benefício de todos,<br />

centrando a nossa ação numa infraestrutura mais ecológica.<br />

Associámo-nos à start-up finlandesa Ecotelligent para construir<br />

torres de telecomunicações com estrutura de madeira.<br />

Desta forma, procuramos proteger o meio ambiente e reduzir<br />

as nossas emissões de CO2.<br />

As torres de madeira são naturais, esteticamente agradáveis<br />

e emitem significativamente menos CO2 do que as torres<br />

de aço ou de betão com tamanho e funcionalidades<br />

semelhantes, em linha com o objetivo da descarbonização<br />

da economia.<br />

A nossa rede sustentável pode ajudar a proporcionar uma<br />

conectividade inteligente a milhões de pessoas e contribuir<br />

para a construção de um futuro melhor para todos.<br />

Juntos, aceleramos rumo a uma Europa conectada de forma<br />

sustentável.<br />

www.vantagetowers.com

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