COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais
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TOWERCOS<br />
O FUTURO NÃO PASSA APENAS PELO 5G<br />
CRIPTOECONOMIA: JUNTAR LIBERDADE<br />
E REGULAÇÃO NO MESMO CESTO<br />
TUDO SOBRE O 32° DIGITAL<br />
BUSINESS CONGRESS<br />
N.º <strong>246</strong> • JUNHO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />
PEDRO SIZA VIEIRA,<br />
PRESIDENTE DO 32° DIGITAL<br />
BUSINESS CONGRESS<br />
O REFORMISTA QUE NÃO<br />
GOSTA DE REVOLUÇÕES
Já submeteu os projetos da sua organização<br />
aos principais prémios de Transformação<br />
<strong>Digital</strong> em Portugal?<br />
Estão abertas as candidaturas para os prémios Portugal <strong>Digital</strong> Awards ® ,<br />
que visam distinguir organizações, públicas ou privadas, que utilizem<br />
tecnologias de informação e comunicação na transformação <strong>do</strong> seu<br />
negócio. Esta iniciativa, organizada pela Axians e a IDC Portugal,<br />
pretende, mais uma vez, premiar o que de melhor se faz em Portugal<br />
no âmbito da transformação digital.<br />
Saiba mais informações em:<br />
www.portugaldigitalawards.pt
edit orial<br />
Eduar<strong>do</strong> Fitas eduar<strong>do</strong>.fitas@accenture.com<br />
Quan<strong>do</strong> a maior oportunidade<br />
depende da maior desvantagem<br />
Ao fazer este editorial para uma edição que fala<br />
<strong>do</strong> investimento tecnologicamente exigente<br />
que o nosso país está a captar, a Fundação José<br />
Neves publicou o “Esta<strong>do</strong> da Nação 2023”. Trata-se<br />
de um estu<strong>do</strong> onde a educação e capacitação da<br />
nossa força de trabalho são analisadas de forma estruturada<br />
e profunda. E as suas conclusões deixam algum<br />
“amargo de boca”.<br />
Talvez porque a evolução tenha si<strong>do</strong> significativa<br />
nos últimos tempos, a tendência da maior parte <strong>do</strong>s<br />
membros deste ecossistema é fazerem análises demasia<strong>do</strong><br />
positivas, num setor que ainda necessita de<br />
mudanças estruturais. Mas, se fica claro que as competências<br />
digitais são críticas para entrar no merca<strong>do</strong><br />
de trabalho, “quatro em cada 10 trabalha<strong>do</strong>res portugueses<br />
estão em empregos em que, ou não utilizam<br />
tecnologias digitais, ou <strong>fazem</strong> uma utilização muito<br />
básica das mesmas. E 48% das empresas têm um nível<br />
de digitalização baixo”.<br />
Entendi<strong>do</strong> o diagnóstico da situação atual, é evidente<br />
a necessidade de acelerar a aquisição de competências<br />
digitais pela população adulta, uma vez que<br />
75% não as possui. O caminho passa por repensar e<br />
reestruturar o ensino, o que será sempre uma iniciativa<br />
de médio e longo-prazo, para a qual já vamos atrasa<strong>do</strong>s.<br />
Portugal é o país da UE com <strong>do</strong>centes mais envelheci<strong>do</strong>s<br />
e onde a carreira é menos atrativa, as escolas<br />
não estão preparadas para um ensino basea<strong>do</strong> em tecnologia<br />
e os programas não estão particularmente alinha<strong>do</strong>s<br />
com estes princípios. Se existe uma área cujo<br />
desenvolvimento se deveria definir como missão para<br />
o país é exatamente esta.<br />
A necessidade de investir na formação superior, alinhada<br />
com competências digitais e tecnológicas, uma<br />
vez que a procura existe e que o crescimento económico<br />
<strong>do</strong> país deve alicerçar-se nestas oportunidades, é<br />
cada vez mais urgente. O estu<strong>do</strong> deixa claro que “seis<br />
em cada 10 empresas interessadas nestes especialistas<br />
reportaram dificuldades de recrutamento, principalmente<br />
devi<strong>do</strong> às expectativas salariais e à falta de candidatos”.<br />
Outro da<strong>do</strong> para refletir é que, apesar da crescente<br />
procura, <strong>do</strong> potencial ainda a explorar e da escassez de<br />
recursos qualifica<strong>do</strong>s, o ganho salarial associa<strong>do</strong> a uma<br />
formação superior, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com uma formação<br />
secundária, está a atingir mínimos históricos.<br />
O que é um contrassenso. Uma das explicações mais<br />
óbvias e imediatas é a de que as empresas estão a tentar<br />
ganhar competitividade através da redução de salários<br />
para recursos qualifica<strong>do</strong>s, em vez de o fazerem<br />
por transformação das suas operações ou por crescimento<br />
no merca<strong>do</strong>.<br />
A má notícia é que rapidamente poderemos ficar<br />
sem acesso a estes recursos porque, sen<strong>do</strong> escassos,<br />
serão bem mais reconheci<strong>do</strong>s noutros merca<strong>do</strong>s. E,<br />
nesse caso, não vamos ficar com a matéria-prima necessária,<br />
nem para transformar as nossas empresas,<br />
nem para criar centros de excelência tecnológica, que<br />
podem ser fonte de crescimento económico. Se a esta<br />
redução de compensação somarmos uma carga fiscal<br />
completamente desajustada, é fácil concluir o risco<br />
que corremos, se efetivamente deixarmos de ser interessantes<br />
enquanto país para quem, com qualificações<br />
superiores, quer desenvolver carreira.<br />
Há muito que refletir, mas, independentemente<br />
das dimensões de análise, vale a pena a leitura deste<br />
trabalho, como inspiração para um movimento que<br />
se exige que seja de to<strong>do</strong>s. Esta<strong>do</strong> da Nação 2023 (https://www.joseneves.org/esta<strong>do</strong>-da-nacao-2023).•<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>246</strong><br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS 14<br />
Juan Olivera, CEO da Ericsson Portugal<br />
À CONVERSA 16<br />
Pedro Siza Vieira, presidente <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong><br />
<strong>Business</strong> <strong>Congress</strong>, acredita que tu<strong>do</strong> vai<br />
mudar quan<strong>do</strong> a geração mais qualificada<br />
de sempre estiver na liderança<br />
EM DESTAQUE 32<br />
Criptoeconomia: que liberdade depois da<br />
regulação?<br />
NEGÓCIOS 46<br />
Towercos estão a dar o máximo para<br />
recuperar o tempo perdi<strong>do</strong><br />
I TECH 44<br />
Abel Costa, managing director Portugal &<br />
Group VP da Inetum<br />
MANAGEMENT 54<br />
CIDADANIA DIGITAL 66<br />
A 29KFJN, da Fundação José Neves, tem<br />
foco na saúde mental<br />
ESPECIAL CONGRESSO 68<br />
Tu<strong>do</strong> sobre o<br />
32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
ÚLTIMAS 128<br />
16<br />
32<br />
46<br />
68<br />
Propriedade e Edição<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
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Trimestral<br />
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Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
Ontem éramos Altice Empresas.<br />
Hoje somos MEO Empresas.<br />
meoempresas.pt
a abrir<br />
6<br />
TECH HOT TOPICS<br />
DA PRÓXIMA DÉCADA<br />
METAVERSO, phygital, automação inteligente<br />
de processos, computação quântica<br />
e migração das empresas para a cloud são<br />
os hot topics tecnológicos para os próximos<br />
dez anos. Antecipa-se que poderão criar<br />
uma revolução sem precedentes, na que é<br />
considerada a segunda onda de digitalização.<br />
Esta será caracterizada pela ascensão<br />
de novas tecnologias com<br />
impacto nos modelos de<br />
negócio e nas relações<br />
entre empresas e<br />
clientes. De acor<strong>do</strong><br />
com a Minsait, 2023<br />
representa um ano<br />
de transição, de<br />
passagem da 1ª<br />
para a 2ª onda de<br />
digitalização, num<br />
cenário de grande<br />
transformação e<br />
desenvolvimento.<br />
Alguns exemplos:<br />
dentro <strong>do</strong> metaverso,<br />
os utiliza<strong>do</strong>res<br />
poderão interagir<br />
com empresas<br />
como o fariam<br />
na realidade, mas<br />
com maior flexibilidade<br />
no<br />
tempo e no espaço. A realidade aumentada,<br />
permitirá que a informação digital seja<br />
sobreposta ao mun<strong>do</strong> físico, permitin<strong>do</strong><br />
aos utiliza<strong>do</strong>res obter mais detalhes sobre<br />
certos produtos ou serviços. Já o phygital, ou<br />
seja, a integração de canais físicos e digitais<br />
através de sistemas tecnológicos avança<strong>do</strong>s,<br />
como a IoT, terá grande impacto na gestão<br />
de operações industriais•<br />
Estamos a caminho<br />
da 2ª onda de<br />
digitalização, que<br />
acontecerá já este<br />
ano – afirma a Minsait<br />
num recente<br />
estu<strong>do</strong><br />
PORTUGUESES USAM<br />
INTENSIVAMENTE<br />
SMARTPHONE E PC<br />
CERCA DE 94% <strong>do</strong>s portugueses entre os 18 e os 65 anos<br />
têm smartphone e 87% têm acesso a computa<strong>do</strong>r portátil.<br />
Mas 50% preferia passar menos tempo frente aos ecrãs,<br />
embora 52% admita que fica acordada até mais tarde<br />
por conta <strong>do</strong>s dispositivos e 63% utiliza o smartphone ao<br />
acordar. A conclusão é <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> anual da Deloitte ‘<strong>Digital</strong><br />
Consumer Trends 2022, que analisa os hábitos de utilização<br />
de produtos e serviços digitais pelos consumi<strong>do</strong>res,<br />
com entrevistas a 36 mil consumi<strong>do</strong>res, mil <strong>do</strong>s quais<br />
portugueses, provenientes de 21 países em quatro<br />
continentes. As interações sociais a partir <strong>do</strong>s dispositivos<br />
móveis ficam também patentes: 78%<br />
<strong>do</strong>s portugueses utilizam diariamente redes<br />
sociais e serviços de mensagens. Mais de 80%<br />
têm pelo menos um dispositivo liga<strong>do</strong> à internet<br />
em casa, sen<strong>do</strong> os mais comuns smart TVs<br />
(58%), consolas de jogos (39%) e dispositivos<br />
de streaming de vídeo que se conectam à<br />
TV (24%). Cerca de 72% das pessoas com<br />
smartphones ou wearables monitorizam<br />
pelo menos uma atividade nos seus<br />
dispositivos. Quanto ao 5G, apenas 16%<br />
utiliza a tecnologia com regularidade, sen<strong>do</strong><br />
que entre estes, 34% admitem não conseguir<br />
distinguir o 5G da anterior rede 4G. No<br />
streaming de vídeo, a Netflix é o serviço<br />
que mais atrai os portugueses (53%).•<br />
CURIOSIDADE<br />
MODELO DE IA JÁ DETETA CANCRO PRECOCE<br />
Uma equipa de investiga<strong>do</strong>res britânica, da Fundação Royal Marsden<br />
NHS, Instituto de Investigação <strong>do</strong> Cancro em Londres e Imperial<br />
College Lon<strong>do</strong>n, desenvolveu uma ferramenta de IA capaz de identificar<br />
cancros com precisão. O algoritmo conseguiu ser mais eficaz na deteção<br />
de nódulos cancerígenos <strong>do</strong> que os méto<strong>do</strong>s atuais de diagnóstico,<br />
permitin<strong>do</strong> identificar um cancro num estágio precoce da <strong>do</strong>ença e, por<br />
isso, acelerar tratamentos. Também identifica se crescimentos anormais<br />
de células encontra<strong>do</strong>s em TAC’s<br />
são cancerígenos. Sen<strong>do</strong> a deteção<br />
precoce um fator essencial para<br />
o sucesso no combate ao cancro,<br />
uma das principais causas de<br />
morte em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, o novo<br />
méto<strong>do</strong>, ainda numa fase inicial<br />
de desenvolvimento, poderá ser<br />
uma enorme mais-valia.•<br />
ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK
a abrir<br />
8<br />
BENEFICIAR<br />
DE SOLUÇÕES<br />
INTEROPERÁVEIS<br />
AS EMPRESAS com aplicações<br />
empresariais altamente interoperáveis<br />
ganham maior agilidade para<br />
prosperar no meio da incerteza e<br />
alcançar desempenho financeiro<br />
mais robusto. No ano passa<strong>do</strong>, as organizações<br />
com elevada interoperabilidade<br />
aumentaram as receitas seis<br />
vezes mais depressa <strong>do</strong> que os seus<br />
pares com baixa interoperabilidade.<br />
E estão preparadas para desbloquear<br />
mais cinco pontos percentuais<br />
no crescimento anual das receitas. O<br />
relatório “Value Untangled: Accelerating<br />
radical growth through interoperability”,<br />
da Accenture, entrevistou<br />
mais de 4 mil executivos C-Suite em<br />
19 indústrias de 23 países e revela<br />
que, nos últimos <strong>do</strong>is anos, uma em<br />
cada duas empresas (49%) a<strong>do</strong>tou<br />
novas tecnologias e transformou o<br />
seu negócio da forma mais rápida<br />
alguma vez registada, com 40% a<br />
transformar múltiplas partes <strong>do</strong><br />
negócio. Estas aplicações interagem<br />
facilmente entre si para permitir a<br />
partilha de da<strong>do</strong>s, maior transparência<br />
e mais facilidade<br />
na intermediação<br />
com colabora<strong>do</strong>res,<br />
de mo<strong>do</strong> a possibilitar<br />
a agilidade<br />
necessária para<br />
que as organizações<br />
tirem parti<strong>do</strong> de<br />
novas oportunidades.<br />
Recomendam-se três<br />
ações para as empresas que<br />
aspiram a melhorar a interoperabilidade:<br />
potenciar a cloud,<br />
como facilita<strong>do</strong>r fundamental<br />
da interoperabilidade;<br />
utilizar “composable<br />
tech”; e foco na colaboração<br />
•<br />
CURIOSIDADE<br />
SACERDOTE ROBÓ<strong>TIC</strong>O EM TEMPLO BUDISTA<br />
Chama-se Mindar, tem cerca de 1,95 metros, pesa 60 quilos, é sacer<strong>do</strong>te num<br />
templo budista em Quioto, no Japão, e é um robot. Para se assemelhar a uma<br />
pessoa, foi revesti<strong>do</strong> com elementos anatómicos de silicone (rosto, ombros<br />
e mãos) que se mexem quan<strong>do</strong><br />
funciona e até consegue sorrir e<br />
piscar os olhos. Já deu mais de mil<br />
palestras desde que surgiu, em 2019.<br />
Os temas trata<strong>do</strong>s são decidi<strong>do</strong>s à<br />
priori pelos clérigos responsáveis<br />
pelo templo. A ideia foi de Tensho<br />
Goto, antigo responsável pelo<br />
templo que sugeriu, em 2017, a um<br />
professor da Universidade de Osaka,<br />
a criação de uma estátua robótica,<br />
já que acreditava num budismo<br />
flexível, capaz de se adaptar aos tempos e defendeu que isso implicava<br />
desenvolver novas formas de disseminar os ensinamentos da religião.•<br />
DADOS INSUFICIENTES SÃO DESAFIO<br />
NOS OBJETIVOS ESG<br />
EMBORA a sustentabilidade ambiental continue a ser uma prioridade<br />
de negócio, os da<strong>do</strong>s insuficientes são um desafio tanto<br />
para executivos, como consumi<strong>do</strong>res, quan<strong>do</strong> se trata de alcançar<br />
metas pessoais e corporativas em termos ambientais, sociais e de<br />
governança (ESG). A conclusão é <strong>do</strong> “The ESG ultimatum: Profit or<br />
perish”, um estu<strong>do</strong> global <strong>do</strong> IBM Institute for <strong>Business</strong> Value (IBV).<br />
Revela que os executivos inquiri<strong>do</strong>s apontam a insuficiência <strong>do</strong>s<br />
da<strong>do</strong>s (41%) como o maior obstáculo ao seu progresso ESG, assim<br />
como as barreiras regulatórias (39%), normas inconsistentes (37%)<br />
e competências inadequadas (36%). Sem a capacidade de aceder,<br />
analisar e entender os da<strong>do</strong>s, as empresas lutam para<br />
oferecer maior transparência ao consumi<strong>do</strong>r – uma<br />
das principais partes interessadas<br />
– e responder às suas expectativas.<br />
Apenas quatro<br />
em cada dez consumi<strong>do</strong>res<br />
entrevista<strong>do</strong>s<br />
sentem que têm<br />
da<strong>do</strong>s suficientes para<br />
tomar decisões de<br />
Cerca de 76% <strong>do</strong>s<br />
executivos dizem<br />
que o conceito ESG<br />
é um elemento<br />
central para a<br />
sua estratégia de<br />
negócio<br />
compra (41%) ou de emprego (37%)<br />
ambientalmente sustentável. Cerca de<br />
76% <strong>do</strong>s executivos dizem que o conceito<br />
ESG é central para a sua estratégia<br />
de negócio e quase três em cada<br />
quatro (72%) veem o ESG como um<br />
facilita<strong>do</strong>r de receita e não como<br />
um centro de custos .•<br />
ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK
a abrir<br />
SOUND BITES :-b<br />
“O mun<strong>do</strong> novo, esse de que nos<br />
falava Huxley em 1932, acontece-nos<br />
agora. Nos últimos anos,<br />
primeiro timidamente, ultimamente<br />
sem pu<strong>do</strong>res, vimos<br />
proliferar as aplicações que utilizam<br />
a IA para, supostamente,<br />
melhorar a nossa vida, rasgan<strong>do</strong><br />
caminho na cada vez maior dependência<br />
da humanidade das<br />
máquinas. (…) Importará que<br />
os esforços de to<strong>do</strong>s se concentrem<br />
não em repudiar o que é<br />
inevitável, por economia de esforço,<br />
mas antes em pugnar que<br />
a utilização da IA nas nossas vidas<br />
seja eticamente garantida”<br />
Rute Serra, Expresso online,<br />
2023/05/18<br />
“Se acreditarmos que a IA pode<br />
gerar benefícios incríveis por<br />
força <strong>do</strong> salto quântico em capacidade<br />
e inovação, temos de<br />
admitir que há precisamente<br />
o mesmo potencial de danos<br />
e perigos, um salto no senti<strong>do</strong><br />
oposto. (…) Nesta fase, já é impossível<br />
meter os pés nos travões.<br />
A corrida está a alargar-se<br />
e em breve pode tornar-se menos<br />
escrupulosa. Quem chegar<br />
em último será um ovo podre,<br />
mas se os regula<strong>do</strong>res falharem,<br />
teremos mais que uma <strong>do</strong>r de<br />
barriga”<br />
Ana Rita Guerra, Dinheiro<br />
Vivo, 2023/05/16<br />
“Será sempre o ser humano a<br />
ter de definir, através de princípios<br />
éticos e de disposições<br />
legais assertivas, os limites que<br />
uma sociedade, em qualquer<br />
circunstância, deve manter.<br />
Na tecnologia, na genética, na<br />
medicina, na investigação (…).<br />
Temos é que não abdicar de o<br />
fazer”<br />
Pedro Pimentel, ECO,<br />
2023/05/11<br />
IA IMPACTA DÍVIDA DIGITAL E<br />
CRIATIVIDADE PROFISSIONAL…<br />
HÁ TRÊS INSIGHTS urgentes para os líderes que procuram<br />
compreender e a<strong>do</strong>tar a IA de forma responsável na sua<br />
organização: a dívida digital está a colocar em risco a inovação;<br />
haverá uma nova aliança entre a IA e os colabora<strong>do</strong>res;<br />
e to<strong>do</strong>s devem saber trabalhar com IA. A conclusão<br />
é <strong>do</strong> Work Trend Index 2023 – Will AI Fix Work?, estu<strong>do</strong> da<br />
Microsoft destina<strong>do</strong> a preparar os líderes e as empresas<br />
para a era da IA. O trabalho contou com a participação de<br />
mais de 31 mil pessoas, em 31 países, e analisou biliões<br />
de sinais de produtividade no Microsoft 365 e tendências<br />
laborais no LinkedIn, entre 1 de fevereiro e 14 de março de<br />
2023. Num mun<strong>do</strong> em que a criatividade é a nova produtividade,<br />
a dívida digital (eleva<strong>do</strong> fluxo de da<strong>do</strong>s, emails,<br />
reuniões e notificações) está a afetar o negócio, pelo que a<br />
utilização da IA se revela essencial. Apesar da ideia comum<br />
de que a IA poderá acabar com empregos, os colabora<strong>do</strong>res<br />
anseiam que alivie a sua carga de trabalho. No futuro,<br />
trabalhar com IA será tão natural como usar internet e PC.<br />
“Existe uma enorme oportunidade para as ferramentas<br />
impulsionadas por IA ajudarem a aliviar a dívida digital, a<br />
desenvolver novas habilitações e a capacitar os colabora<strong>do</strong>res”,<br />
diz Satya Nadella, chairman e CEO da Microsoft.•<br />
…E ASSUME-SE COMO A<br />
PRINCIPAL PRIORIDADE DAS<br />
ORGANIZAÇÕES<br />
PARA A MAIORIA <strong>do</strong>s líderes das empresas globais, a IA é<br />
a prioridade. Mais de 70% estão a privilegiar este investimento<br />
sobre qualquer outra tecnologia. Sen<strong>do</strong> que o foco<br />
imediato está em melhorar a resiliência operacional num<br />
ambiente sem precedentes. A conclusão é <strong>do</strong> “Reinventing<br />
Enterprise Operations”, da Accenture, que revela que 90%<br />
<strong>do</strong>s executivos estão a aplicar a IA para enfrentar questões<br />
de resiliência operacional, que vão desde a área financeira<br />
(89%) à cadeia de abastecimento (88%). Os da<strong>do</strong>s resultam<br />
da avaliação das organizações em seis medidas de maturidade<br />
operacional: IA, da<strong>do</strong>s, principais procedimentos,<br />
talento, colaboração entre negócio e tecnologia e experiências<br />
com stakeholders. Apesar de só 9% das 1.700 empresas<br />
que participaram no estu<strong>do</strong> terem alcança<strong>do</strong> a maturidade<br />
em todas as vertentes, as que o fizeram obtiveram uma<br />
média de margens operacionais 1,4 vezes maiores e impulsionaram<br />
a inovação de forma mais célere, apresentan<strong>do</strong><br />
uma sustentabilidade 34% mais robusta e pontuações de<br />
satisfação 30% mais altas.•<br />
IA vai ajudar a<br />
reduzir a dívida<br />
digital, com reflexos<br />
positivos na<br />
produtividade<br />
Estu<strong>do</strong> da Accenture<br />
demonstra<br />
que a IA melhora<br />
a resiliência<br />
operacional<br />
10
a abrir<br />
12<br />
NUMEROS<br />
262 MIL MILHÕES<br />
É quanto os 12 empresários mais ricos<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> juntaram, em dólares, à sua<br />
fortuna, desde janeiro ao final de abril.<br />
Neste grupo, 9 vêm da tecnologia, to<strong>do</strong>s<br />
norte-americanos, e conseguiram recuperar<br />
quase 172 mil milhões de dólares para<br />
as respetivas fortunas. Os números são<br />
<strong>do</strong> ranking de bilionários da Bloomberg.<br />
Mostram que Mark Zuckerberg foi um <strong>do</strong>s<br />
multimilionários que mais viu a fortuna<br />
diminuir em 2022, por causa <strong>do</strong>s receios<br />
<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res, mas agora é um <strong>do</strong>s que<br />
mais recupera. A sua fortuna cresceu 42 mil<br />
milhões de dólares. Elon Musk, funda<strong>do</strong>r<br />
da Tesla e SpaceX, na 2ª posição <strong>do</strong> ranking,<br />
logo atrás de Bernard Arnault, chairman da<br />
Moet Hennessy Louis Vuitton, já recuperou<br />
este ano mais de 26 mil milhões de dólares,<br />
ten<strong>do</strong> uma fortuna calculada em 163 mil<br />
milhões de dólares. Também Jeff Bezos<br />
(Amazon), Steve Ballmer (ex-Microsoft) ou<br />
Larry Page (Alphabet), respetivamente nos<br />
3º, 7º e 8º lugares, viram as suas fortunas<br />
valorizarem.<br />
33,2 MIL MILHÕES<br />
É o valor, em dólares, que os gastos em<br />
IA deverão alcançar este ano na Europa.<br />
Será impulsiona<strong>do</strong> por operações mais<br />
eficientes e níveis de segurança mais<br />
eleva<strong>do</strong>s, representan<strong>do</strong> 20% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
global. A estimativa é <strong>do</strong> Global Artificial<br />
Intelligence Spending, da IDC, que<br />
considera este número significativo, ten<strong>do</strong><br />
em conta os atuais desafios económicos e<br />
políticos, a guerra na Ucrânia, o aumento<br />
da inflação, os cortes orçamentais de TI e os<br />
despedimentos anuncia<strong>do</strong>s pelas maiores<br />
tecnológicas. As despesas de IA na Zona<br />
Euro registarão uma taxa de crescimento<br />
anual composta (CAGR) de 29,6% entre<br />
2021 e 2026, em comparação com uma<br />
CAGR global de 27%. O crescimento no<br />
continente está a ser impulsiona<strong>do</strong> pela<br />
Europa Ocidental e Europa Central e<br />
Oriental.<br />
MUDANÇA CLIMÁ<strong>TIC</strong>A É VISTA<br />
COMO PRIORIDADE<br />
A MUDANÇA climática deverá ser uma prioridade para<br />
as organizações, mesmo perante o contexto mundial de<br />
incerteza. A larga maioria <strong>do</strong>s líderes executivos C-Level<br />
(CxOs), ao listar as preocupações mais prementes, classificaram<br />
a mudança climática como um <strong>do</strong>s três principais<br />
desafios, à frente de temas como a inovação, talento e<br />
dificuldades na cadeia de abastecimento. O ‘CxO Sustainability<br />
2023’, da Deloitte, questionou mais de <strong>do</strong>is mil CxOs<br />
em 24 países, sen<strong>do</strong> que 75% diz que as suas organizações<br />
aumentaram os investimentos e sustentabilidade em 2022,<br />
sen<strong>do</strong> que quase 20% o fizeram de forma significativa.<br />
Quase to<strong>do</strong>s indicam que os efeitos das alterações climáticas<br />
impactaram de alguma forma as suas organizações.<br />
Mas a dificuldade em medir o impacto ambiental e o custo<br />
das estratégias de sustentabilidade são as grandes barreiras<br />
à ação climática. Este trabalho defende que os líderes<br />
mundiais devem unir esforços para, coletivamente, gerar<br />
um impacto positivo e mensurável para a sustentabilidade<br />
<strong>do</strong> planeta. Um caminho que exige um esforço adicional<br />
para cumprir as metas já definidas. A quase totalidade<br />
<strong>do</strong>s CxOs dizem que a sua organização sentiu de alguma<br />
forma o impacto das alterações climáticas e consideram a<br />
escassez e o custo acresci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos como o principal<br />
problema que afeta as organizações (46%). Enquanto 45%<br />
destacaram uma mudança nos padrões e preferências de<br />
consumo associada às mudanças climáticas, 43% apontaram<br />
a regulamentação das emissões como outro <strong>do</strong>s<br />
principais problemas.•<br />
Estu<strong>do</strong> da Deloitte<br />
indica que efeitos<br />
das alterações<br />
climáticas impactaram<br />
quase<br />
todas as empresas<br />
inquiridas
Navigate digital disruption<br />
with help from a global<br />
digital leader.<br />
dxc.com
5 perguntas<br />
14<br />
JUAN OLIVERA:<br />
Construir uma<br />
conetividade sem limites<br />
Dentro de uma década, o 5G estará na base de uma<br />
transformação radical, com repercussões transversais a toda a<br />
sociedade. Portugal terá de recuperar o tempo perdi<strong>do</strong>, avisa o<br />
novo CEO da Ericsson Portugal, que quer ter um papel ativo nesta<br />
aceleração.<br />
Texto de Isabel Travessa| Foto de Vítor Gor<strong>do</strong>/Syncview<br />
Passou de Madrid para Lisboa.<br />
Que diferenças e semelhanças<br />
encontra entre os merca<strong>do</strong>s espanhol<br />
e português nas telecomunicações?<br />
Pela sua proximidade geográfica<br />
e características socioeconómicas,<br />
têm inúmeras semelhanças, como<br />
a grande capilaridade da fibra, boas<br />
redes móveis e a reconhecida competência<br />
e mentalidade <strong>do</strong>s cidadãos<br />
na a<strong>do</strong>ção de soluções inova<strong>do</strong>ras.<br />
Mas Portugal, embora mais estável<br />
e coeso, está a atravessar uma<br />
nova fase que Espanha já viveu há<br />
algum tempo: a procurar definir um<br />
conjunto de medidas e tendências<br />
para entrar em velocidade cruzeiro<br />
quanto às melhores práticas<br />
tecnológicas. Já Espanha passa agora<br />
por um grande processo de consolidação,<br />
evolução que poderá trazer<br />
mais M&A na Europa, incluin<strong>do</strong> em<br />
Portugal. De resto, como toda a UE,<br />
ambos precisam de regulamentação<br />
para desenvolver um merca<strong>do</strong> mais<br />
flexível e dinâmico.<br />
O que é necessário para acelerar a<br />
utilização da tecnologia 5G?<br />
Precisamos de amplificar a implementação<br />
da banda média de 5G e<br />
o lançamento de redes stand-alone<br />
(5G Access + 5G Core), para libertar o<br />
potencial da tecnologia: altas taxas<br />
de transferência de da<strong>do</strong>s, baixa latência<br />
e capacidade de suportar até<br />
1 milhão de dispositivos por km2.<br />
Esta solução é revolucionária e vai<br />
transformar a forma como comunicamos.<br />
As mudanças não se <strong>fazem</strong><br />
de um dia para o outro. Demoram a<br />
entrar em funcionamento e a serem<br />
reconhecidas. Mas daqui a uma<br />
década vamos sentir uma transformação<br />
radical, com repercussões<br />
em toda a sociedade. Há um aspeto<br />
a que temos de estar atentos, não<br />
apenas em Portugal: a implementação<br />
<strong>do</strong> 5G está a ser executada de<br />
forma mais célere que o 4G, é <strong>do</strong>is<br />
anos mais rápida, mas a Europa não<br />
está a conseguir responder a este<br />
ritmo. Corremos o risco de ficar para<br />
trás em relação aos líderes, como<br />
os EUA, Japão ou Coreia <strong>do</strong> Sul, algo<br />
que não se verificou na anterior evolução<br />
tecnológica. Por isso, temos de<br />
assumir uma posição de total foco<br />
na recuperação <strong>do</strong> tempo perdi<strong>do</strong>.<br />
Quais as suas expetativas para<br />
o consórcio com a Vodafone e<br />
Capgemini para ajudar empresas a<br />
desenvolver produtos 5G?<br />
O Vodafone Boost Lab replica o<br />
ecossistema 5G adequa<strong>do</strong> para PME<br />
e startups verificarem os benefícios<br />
da tecnologia no desenvolvimento<br />
de produtos e serviços. Estamos a<br />
trabalhar com os clientes e parceiros<br />
para trazer casos de uso e impulsionar<br />
o ecossistema end-to-end.<br />
O que mu<strong>do</strong>u, com a sua liderança,<br />
na operação nacional?<br />
É uma oportunidade extraordinária<br />
liderar a Ericsson em Portugal,<br />
neste contexto de grande aceleração<br />
tecnológica e transformação digital.<br />
Quero trazer to<strong>do</strong> o conhecimento<br />
e capacidades globais <strong>do</strong> grupo,<br />
com mais inovação e maior valor ao<br />
negócio, o apoio e dedicação <strong>do</strong>s<br />
nossos colabora<strong>do</strong>res e em estreita<br />
articulação com os parceiros.<br />
Contribuin<strong>do</strong> para que a Ericsson<br />
mantenha a posição de liderança e<br />
alcance to<strong>do</strong>s os objetivos a médio/<br />
longo prazo.<br />
Como estão a marcar os 70 anos<br />
da Ericsson em Portugal, que comemoram<br />
este ano?<br />
O propósito da Ericsson de criar<br />
conexões que tornem o inimaginável<br />
possível é o mote que impulsiona a<br />
nossa presença no país. Temos uma<br />
longa história de inovação e colaboração,<br />
ao assumirmo-nos como um<br />
ator chave na jornada de digitalização<br />
e como um cria<strong>do</strong>r de ecossistemas,<br />
um parceiro confiável de longo<br />
-prazo, um líder em 5G e tecnologias<br />
relacionadas. Estes 70 anos são um<br />
marco numa jornada extraordinária,<br />
que queremos celebrar com<br />
colabora<strong>do</strong>res, clientes e parceiros,<br />
em momentos muito especiais. Mas<br />
é fundamental ir para lá <strong>do</strong> que já<br />
foi feito. É tempo de pensar no que<br />
virá. A Ericsson continuará a trilhar<br />
novos caminhos no fornecimento de<br />
soluções e serviços móveis e na próxima<br />
década pretendemos assumir<br />
um papel cada vez mais proativo.<br />
Estamos a visualizar um mun<strong>do</strong> criativo,<br />
cuja inovação tecnológica é uma<br />
força positiva e estimulante para o<br />
bem, onde a conectividade sem limites<br />
melhora vidas, redefine negócios<br />
e é pioneira no desenvolvimento de<br />
um futuro sustentável.•
“Portugal, embora mais estável e coeso, está a atravessar uma fase que Espanha já viveu: a<br />
procurar definir medidas e tendências para entrar em velocidade cruzeiro quanto às melhores<br />
práticas tecnológicas. Já Espanha passa agora por um grande processo de consolidação”<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“Fui para Direito porque tinha a noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos são as construções sociais, que nos<br />
permitiram criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s”
TUDO<br />
EM TODO<br />
O LUGAR<br />
AO MESMO<br />
TEMPO<br />
Pedro Siza Vieira é um reformista que não gosta<br />
de revoluções. Ex-ministro da Economia, voltou<br />
à advocacia para, através <strong>do</strong> Direito, continuar<br />
a fazer o que realmente o motiva: impactar as<br />
empresas e as pessoas.<br />
TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />
FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />
17
a conversa<br />
18<br />
“Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia coleção. A<strong>do</strong>rava geografia, história – a história das sociedades. Lia imenso. Para mim, o<br />
mun<strong>do</strong> era o meu quintal. Só estava à espera de chegar lá”
Na infância, sonhava andar pelo mun<strong>do</strong>, dissecar mapas,<br />
utopias. Em adulto, olhan<strong>do</strong> para trás, tem a certeza de<br />
que conseguiu, sem nunca fugir <strong>do</strong>s caminhos que bifurcam.<br />
Pelo menos foi o que partilhou na longa entrevista<br />
que concedeu à APDC, a propósito <strong>do</strong> desafio de ser <strong>Presidente</strong><br />
<strong>do</strong> 32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong>.<br />
Encontrámo-nos numa das bonitas salas de reuniões<br />
na sede da PLMJ, onde é sócio nas áreas de bancário,<br />
financeiro e merca<strong>do</strong>s de capitais. Com 30 anos de experiência<br />
profissional, entre 2017 e 2022 desempenhou<br />
funções governativas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> ministro de Esta<strong>do</strong>, da<br />
Economia e da Transição <strong>Digital</strong> de António Costa. Nesta<br />
mesma sala, com uma vista imponente sobre Lisboa, falou<br />
<strong>do</strong>s desafios políticos que abraçou nos últimos anos<br />
como uma missão, na busca de soluções para um futuro<br />
que é sempre incerto.<br />
Pedro Siza Vieira não gosta de holofotes e não tem estilo<br />
de pistoleiro – não atira a matar. O seu temperamento<br />
pondera<strong>do</strong>, discreto, trouxe-lhe credibilidade junto <strong>do</strong>s<br />
portugueses. O tom afável, muito afável, explica o resto:<br />
uma certa unanimidade à sua volta. Isto apesar de, destoan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> coro nacional, se mostrar otimista em relação<br />
ao rumo <strong>do</strong> país.<br />
Esta entrevista oscila entre um registo pessoal e a densidade<br />
<strong>do</strong>s múltiplos assuntos profissionais de que gosta<br />
de falar. Não conversámos sobre música, de que é profun<strong>do</strong><br />
conhece<strong>do</strong>r, nem de livros, que devora desde a<br />
infância. Ainda assim, tentámos perceber quem é Pedro<br />
Siza Vieira para lá <strong>do</strong>s cargos que ocupa e percebemos<br />
que, quan<strong>do</strong> fala da primeira neta, os seus olhos se iluminam.<br />
Aqui fica o retrato de um homem que há um ano<br />
era ministro da Economia <strong>do</strong> seu país.<br />
19
a conversa<br />
“Estruturalmente, vai tu<strong>do</strong><br />
mudar muito quan<strong>do</strong>,<br />
à frente das empresas,<br />
estiverem as pessoas que,<br />
agora, já têm níveis de<br />
qualificação mais eleva<strong>do</strong>s”<br />
“Entre os 25 e os 34<br />
anos, a qualificação <strong>do</strong>s<br />
portugueses já é superior à<br />
média europeia. Portanto,<br />
quan<strong>do</strong> estas pessoas<br />
começarem a chegar aos<br />
cargos de decisão, isso<br />
terá um impacto brutal no<br />
desempenho das nossas<br />
empresas e da economia<br />
portuguesa no seu<br />
conjunto”<br />
20
Tem a vida que achou que queria ter? Quan<strong>do</strong> olha<br />
para trás, o que vê?<br />
Nunca fiz planos a régua e esquadro. A vida está sempre<br />
a surpreender-me…<br />
Quan<strong>do</strong> era pequeno não tinha ideia <strong>do</strong> que queria<br />
ser?<br />
A única coisa que queria era andar pelo mun<strong>do</strong>. Aliás,<br />
tive várias hesitações em termos profissionais, mas<br />
desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair,<br />
queria conhecer o mun<strong>do</strong>. Nunca disse que queria ser<br />
advoga<strong>do</strong>, ou bombeiro, ou astronauta. Depois, na<br />
a<strong>do</strong>lescência, foi inevitável, tive de me preocupar com<br />
o que ia estudar e aí pensei em várias áreas, <strong>do</strong> Jornalismo<br />
à Economia, e acabei por ir para Direito.<br />
Porquê Direito? O seu pai é engenheiro…<br />
Sim, eu sou o primeiro jurista da família.<br />
Com um pai engenheiro e um tio arquiteto (e logo Álvaro<br />
Siza Viera!), nunca ponderou ir para Engenharia<br />
ou Arquitetura?<br />
Para Engenharia, nunca. Arquitetura era fascinante,<br />
mas havia ali uma questão de talento. Era muito inibi<strong>do</strong>,<br />
porque na minha família toda a gente desenha. E<br />
eu também desenho, mas desenho tão mal que vi logo<br />
que não era para mim. Fui para Direito porque tinha a<br />
noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos<br />
são as construções sociais, que nos permitiram<br />
criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s.<br />
E isso andava muito à volta <strong>do</strong> Direito?<br />
Sim. Como é que aceitamos partilhar regras e princípios<br />
que se impõem a to<strong>do</strong>s e que não são dadas pela<br />
natureza? Eu sempre tive esta noção, desde muito pequeno,<br />
de que um médico estuda aquilo que a natureza<br />
criou. Tenta ver como é que funciona o corpo humano<br />
e como se tratam <strong>do</strong>enças, mas é uma coisa que já está<br />
feita. Quan<strong>do</strong> falamos de humanidades, de arte, de<br />
Direito, referimo-nos a criações da espécie humana. E<br />
isso é fascinante.<br />
Que recordações tem da sua a<strong>do</strong>lescência em Santo<br />
Tirso? A sua família tem raízes em Matosinhos, nasceu<br />
em Lisboa por acaso…<br />
Sim. O meu pai estava em Lisboa a trabalhar (trabalhava<br />
na CUF, na altura). Eu passei cá o primeiro ano de<br />
vida e depois os meus pais voltaram para Matosinhos.<br />
O meu pai, na altura, foi trabalhar para a indústria têxtil,<br />
numa época em que o setor se começou a abrir ao<br />
merca<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>r. Uma série de jovens engenheiros<br />
foram modernizar a indústria têxtil e o meu pai foi um<br />
deles. Foi diretor de produção de uma grande empresa<br />
no norte. Voltámos para Matosinhos e foi aí que cresci,<br />
na terra onde os meus pais tinham cresci<strong>do</strong> também.<br />
Depois, na minha a<strong>do</strong>lescência, mudámo-nos para<br />
Santo Tirso. Toda a minha vivência, nos primeiros anos<br />
de vida, é passada no norte, em regiões muito industrializadas,<br />
muito ligadas à vida empresarial.<br />
As suas âncoras de vida remontam a esses tempos, a<br />
esse lugares? À família? Às amizades?<br />
Com os amigos desses tempos mantenho contactos<br />
muito remotos. A família sim, é a minha verdadeira<br />
âncora.<br />
É um sítio onde regressa com regularidade…<br />
Segun<strong>do</strong> a minha mãe, com menos regularidade <strong>do</strong><br />
que devia (risos)…<br />
Tem saudades da sua infância em liberdade, muito vivida<br />
na rua, como acontecia naqueles tempos?<br />
Sim, tenho memórias muito felizes de infância, com<br />
os meus pais, os meus primos, os meus avós. Tínhamos<br />
uma família muito grande, estávamos sempre em<br />
contacto. Tínhamos uma casa com jardim, que estava<br />
sempre aberta para os meus amigos. Andávamos muito<br />
pela rua e morávamos ao pé da praia. As minhas memória<br />
de infância são cheias de ligações entre várias<br />
gerações, muito entrosamento social. Isso é algo que<br />
me deu muita autoconfiança. A partir daí, eu queria<br />
era conhecer o mun<strong>do</strong>!<br />
E conheceu? Começou a viajar ce<strong>do</strong>?<br />
Não. Na altura não se viajava como agora. O meu pai<br />
não tinha praticamente férias. E quan<strong>do</strong> tinha, saía<br />
com a minha mãe, nós não íamos. Acho que a minha<br />
primeira viagem para fora de Portugal foi a Paris, já devia<br />
ter uns 18 ou 19 anos.<br />
Mas começou a conhecer o mun<strong>do</strong> antes de viajar…<br />
Sim, isso sim. Através das leituras, da busca pelo conhecimento.<br />
Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia<br />
coleção. A<strong>do</strong>rava Geografia, História – a história das<br />
sociedades. Lia imenso. Para mim, o mun<strong>do</strong> era o meu<br />
quintal. Só estava à espera de chegar lá.<br />
Foi daí que veio a sedução pela política? A política foi<br />
algo que o seduziu desde novo?<br />
Desde sempre.<br />
Porquê?<br />
O Direito – e através dele também a política – é a maneira<br />
que os humanos encontraram para organizar as<br />
21
a conversa<br />
22<br />
sociedades. Fascina-me a forma como se organizam<br />
as comunidades, como é que comunidades de pessoas<br />
que não se conhecem tomam decisões que dizem respeito<br />
ao coletivo, como é que usam recursos em comum,<br />
como é que aplicam esses recursos, que escolhas<br />
<strong>fazem</strong>. Acho isso fascinante! A forma como inventámos<br />
a democracia, demos o direito de voto a cada vez<br />
mais pessoas, começámos a fazer escolhas coletivas já<br />
não são só para um déspota acumular poder, escolhas<br />
que têm de dar retorno a toda a comunidade.<br />
Isso é a essência da política?<br />
Sim. Não somos pessoas isoladas. Não vivemos só por<br />
nós ou pela nossa família. Beneficiamos das sociedade<br />
onde nos inserimos e, por isso, temos responsabilidades,<br />
deveríamos empenhar-nos em tarefas cívicas.<br />
Essas duas <strong>coisas</strong>, para mim, sempre estiveram muito<br />
presentes.<br />
Como foi a experiência<br />
em Macau, nos anos 90, a<br />
trabalhar com o secretário<br />
adjunto para a Administração<br />
e Justiça de Macau?<br />
Foi importante para si?<br />
Claro. Foi uma oportunidade.<br />
Alguém que queria<br />
viajar e conhecer o<br />
mun<strong>do</strong>, de repente, com<br />
24 anos, perguntam-lhe:<br />
“Queres ir para Macau?”.<br />
Claro que sim, vamos já<br />
embora, a correr! Não foi<br />
preciso pensar muito.<br />
E cresceu muito como profissional nessa altura?<br />
Sim, estive lá <strong>do</strong>is anos e meio.<br />
Regressou, porquê?<br />
Primeiro, porque nasceu-nos um filho e queríamos que<br />
ele crescesse em Portugal. Depois, senti que, profissionalmente,<br />
já não tinha muito mais espaço de progressão.<br />
Era muito confortável viver em Macau. Eu ganhava<br />
bem, mas não ia fazer muita coisa diferente <strong>do</strong> que<br />
já tinha feito naqueles <strong>do</strong>is anos. Senti que poderia começar<br />
a perder outras oportunidades de crescimento<br />
profissional.<br />
Como chegou a assessor jurídico de Jorge Sampaio?<br />
Como foi a experiência?<br />
Eu era adjunto <strong>do</strong> presidente da câmara. Era muito<br />
novo, mas acho que os melhores adjuntos que podemos<br />
ter são pessoas jovens, com muita capacidade e<br />
“Tive várias hesitações em<br />
termos profissionais, mas<br />
desde pequeno que tinha<br />
esta ideia de que queria<br />
sair, queria conhecer o<br />
mun<strong>do</strong>”<br />
qualidade intelectual. Foi uma experiência muito marcante.<br />
É fascinante trabalhar numa câmara municipal,<br />
porque tem impacto imediato na vida das pessoas. E<br />
num município com a dimensão de Lisboa é um trabalho<br />
com muita complexidade e responsabilidade.<br />
Portanto, exposto a muitas tarefas diferentes. E isso é<br />
muito positivo.<br />
Na sua família falava-se de política? Havia ali um la<strong>do</strong><br />
politiza<strong>do</strong>?<br />
Não, ninguém tinha atividade política ou partidária.<br />
Então, foi o primeiro advoga<strong>do</strong> da família e o primeiro<br />
a ter ligações à política?<br />
Sim, quan<strong>do</strong> estive na câmara municipal de Lisboa acabei<br />
por me filiar no PS, mas saí logo a seguir. A minha<br />
vida não passava por ali. Aliás, a certa altura, tal como<br />
tinha saí<strong>do</strong> de Macau ao fim de <strong>do</strong>is anos, comecei a<br />
pensar que queria ter uma<br />
vida profissional autónoma.<br />
Liberdade passa por<br />
independência profissional<br />
e económica. Por isso,<br />
com 28 anos, disse: “Agora<br />
isto acabou. Agora vou ser<br />
advoga<strong>do</strong>”.<br />
Ten<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> o PS, nunca<br />
aban<strong>do</strong>nou o tal chamamento<br />
cívico…<br />
Nunca, é verdade, mas<br />
passei a ser um espeta<strong>do</strong>r<br />
comprometi<strong>do</strong>. Não<br />
tive atividade política ou partidária durante mais<br />
de 20 anos.<br />
Mas sentia a missão de serviço público?<br />
Sim, sempre acreditei que não devemos encolher os<br />
ombros. Devemos preocupar-nos com as decisões<br />
<strong>do</strong>s que governam o coletivo, não devemos deixar<br />
de estar informa<strong>do</strong>s e de ter opinião. O nosso voto<br />
conta. Devemos isso a nós próprios como cidadãos.<br />
Mas a verdade é que, durante 20 e tal anos, fui exclusivamente<br />
advoga<strong>do</strong>, dedica<strong>do</strong> aos meus clientes<br />
e às sociedades onde trabalhei, não mais <strong>do</strong> que isso.<br />
Como agora, aliás.<br />
Perguntar-lhe se é de esquerda é uma maneira de perguntar<br />
pela sua história, pela sua essência?<br />
Tenho um coração à esquerda, no senti<strong>do</strong> em que<br />
sempre fui muito sensível à situação <strong>do</strong>s mais frágeis.<br />
Sempre me interessei pela maneira como, ao longo da<br />
história, se tentou construir sociedades mais igualitá-
“Vejo a reemergência <strong>do</strong>s movimentos extremistas como um sinal de que o sistema capitalista e a democracia precisam de fazer<br />
qualquer coisa”<br />
rias, que acabassem com a ideia de estratificação e de<br />
que o destino das pessoas é determina<strong>do</strong> à nascença.<br />
Considero que essa é uma matriz de esquerda. Mas, de<br />
feitio, sou intrinsecamente modera<strong>do</strong>, incrementalista,<br />
reformista.<br />
Falou <strong>do</strong> valor da liberdade, muito associa<strong>do</strong> a uma<br />
certa direita liberal.<br />
A liberdade é um valor da democracia. Não pertence<br />
à direita nem à esquerda. A ideia de liberdade é uma<br />
ideia de autodeterminação. Sou livre para dizer “sim”<br />
ou “não” aos meus clientes, às oportunidades profissionais<br />
e, com isso, manter integridade e fidelidade<br />
aos meus valores. E isso é facilita<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> temos independência<br />
económica. Por isso, uma sociedade desigual<br />
não garante liberdade aos mais frágeis. Limita<br />
a liberdade a quem tem dinheiro. E isso é inaceitável.<br />
Mas, como disse há pouco, sou modera<strong>do</strong> de temperamento.<br />
Talvez por ser jurista não acredito em revoluções;<br />
acredito em mudanças estabelecidas no seio<br />
da democracia. Aliás, acho que a história da democracia<br />
ocidental é uma história de progresso inequívoco<br />
para a humanidade. A emancipação das classes trabalha<strong>do</strong>ras<br />
aconteceu melhor nas sociedades ocidentais<br />
<strong>do</strong> que noutras.<br />
Preocupa-o, já agora, os movimentos extremistas a<br />
subirem de tom na Europa e em Portugal?<br />
Claro. Sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os extremistas chegam ao<br />
sistema político e partidário e têm influência no voto.<br />
Isto, periodicamente, acontece na História. Sabemos<br />
que, quan<strong>do</strong> os regimes começam a falhar, quan<strong>do</strong><br />
deixam de assegurar um nível de bem-estar partilha<strong>do</strong>,<br />
geram descontentamento, geram revolta. Aparecem<br />
pessoas a oferecer revoluções, a dizer: “Estes que mandam<br />
não vos servem. Eu é que resolverei os vossos problemas”.<br />
Temos populistas de direita, como aconteceu<br />
nos fascismos nos anos 30 na Europa, mas também<br />
temos revoluções de esquerda, com os argumentos:<br />
“Trabalhamos 14 horas por dia e ganhamos um salário<br />
de fome”.<br />
Qual a solução?<br />
Quan<strong>do</strong> estas <strong>coisas</strong> acontecem, as sociedades ou<br />
conseguem reformar-se e encontrar um caminho que<br />
partilhe benefícios com to<strong>do</strong>s – como aconteceu com<br />
a construção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> social na Europa ou com o New<br />
Deal nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, com o presidente Roosevelt,<br />
que reinventou a democracia e o sistema capitalista –,<br />
ou então temos extremismos e radicalismos. Normalmente,<br />
estes acabam mal, acabam em guerras. Vejo a<br />
23
a conversa<br />
24<br />
reemergência destes movimentos extremistas como<br />
um sinal de que o sistema capitalista e a democracia<br />
precisam de fazer qualquer coisa. Espero que sejam capazes<br />
de mudar, como já fizeram no passa<strong>do</strong>. Espero<br />
que não tenhamos de passar novamente pela experiência<br />
de ser geri<strong>do</strong>s por extremistas que levam os países à<br />
miséria e à guerra.<br />
Como é que se definiria como político que foi até há<br />
pouco tempo?<br />
Eu não me defino como político. Defino-me como cidadão<br />
que exerceu temporariamente funções políticas,<br />
que é uma coisa diferente.<br />
Sentia-se um outsider?<br />
Não. Sentia-me completamente comprometi<strong>do</strong>. Tenho<br />
a noção de que, enquanto estava no governo, era<br />
político. Mas era-o temporariamente.<br />
Como avaliaria a experiência?<br />
Foi muito boa. Inesquecível.<br />
Como foi conhecer a realidade<br />
concreta <strong>do</strong> setor<br />
empresarial português?<br />
Tenho ideia de que já o<br />
conhecia. Não estive propriamente<br />
a aprender.<br />
Mas é verdade que se tem<br />
acesso a um nível de informação<br />
e de conhecimento<br />
que, noutras funções, seria<br />
muito difícil de conseguir.<br />
Foi uma experiência<br />
que me enriqueceu, também<br />
pessoalmente.<br />
Preparou-o ainda mais para voltar a ser advoga<strong>do</strong>?<br />
Não, nunca vi isso assim. Todas as experiências pelas<br />
quais vamos passan<strong>do</strong> na vida devemos vivê-las plenamente,<br />
foca<strong>do</strong>s no que estamos a fazer. E enriquecem<br />
sempre, mas nunca como plataformas para seja lá o<br />
que for. Eu, quan<strong>do</strong> era advoga<strong>do</strong>, não estava a pensar<br />
que ia ser ministro.<br />
O que gostou mais da experiência governativa? O que<br />
foi mais reconfortante?<br />
Quan<strong>do</strong> se exerce funções políticas, estamos no nível<br />
mais eleva<strong>do</strong> de serviço público, com mais impacto na<br />
vida das pessoas. Isso é muito emocionante, se quisermos<br />
pensar nas <strong>coisas</strong> assim. Depois, obviamente,<br />
tive experiências únicas, como participar no processo<br />
de decisão de assuntos com enorme relevo para o país.<br />
Ainda por cima, devi<strong>do</strong> à pandemia, vivemos momentos<br />
muito intensos, em que tínhamos de tomar decisões<br />
muito rapidamente, com muito pouca informação<br />
e com verdadeiro impacto na vida das pessoas.<br />
Conseguia <strong>do</strong>rmir?<br />
Não posso dizer que <strong>do</strong>rmisse muito.<br />
“Uma sociedade desigual<br />
não garante liberdade<br />
aos mais frágeis. Limita<br />
a liberdade a quem<br />
tem dinheiro. E isso é<br />
inaceitável”<br />
Quais são os valores na política com que se identifica?<br />
O que mais me move é organizar uma sociedade que,<br />
de forma mais eficaz, ofereça a todas as pessoas a oportunidade<br />
de realizarem os seus sonhos e aspirações,<br />
cada vez mais exigentes. Alargar as oportunidades e a<br />
capacidade concreta de cada cidadão ter acesso a bens<br />
como a educação, saúde, emprego. Isto sim, é recompensa<strong>do</strong>r.<br />
É a tarefa política mais importante. Para<br />
mim, uma sociedade democrática e capitalista tem de<br />
assegurar crescimento económico, mas é preciso que<br />
isso seja acompanha<strong>do</strong> de preocupações de coesão social.<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, não poderia ter esta<strong>do</strong> numa pasta<br />
mais interessante <strong>do</strong> que a da Economia...<br />
Gostei muito da pasta. A<br />
tarefa mais interessante<br />
como ministro da Economia<br />
é criar o contexto mais<br />
favorável possível para que<br />
as empresas possam desenvolver<br />
a sua atividade.<br />
Mas, ao mesmo tempo,<br />
assegurar uma transformação<br />
estrutural da nossa<br />
economia. Há 30 anos, a<br />
economia portuguesa especializava-se<br />
em produtos<br />
e atividades de mais<br />
baixo valor acrescenta<strong>do</strong>,<br />
que competia pelo preço baixo e, portanto, precisava<br />
de manter os custos de produção, particularmente os<br />
salários, reduzi<strong>do</strong>s. À medida que fomos educan<strong>do</strong> a<br />
população, tornou-se impossível manter este modelo.<br />
As pessoas mais educadas já não querem aceitar tarefas<br />
desqualificadas. Portanto, o trabalho que temos de<br />
fazer no país não é só garantir que as empresas funcionam<br />
bem. É incentivá-las a gerarem, cada vez mais,<br />
produtos de maior valor acrescenta<strong>do</strong>, vendi<strong>do</strong>s mais<br />
caros e que permitam melhorar os fatores de produção,<br />
designadamente o trabalho. Por outro la<strong>do</strong>, penalizar<br />
quem não acompanha este movimento.<br />
Vivemos um momento único, em que temos de aproveitar<br />
a oportunidade de transformar estruturalmente<br />
a economia?<br />
Uma transformação estrutural não é uma coisa que se
dê num estalar de de<strong>do</strong>s. Demora muito tempo, é preciso<br />
manter as políticas consistentemente, por exemplo,<br />
educar a população, investir no sistema científico<br />
e tecnológico, dar incentivos às empresas para se internacionalizarem…<br />
Isso são <strong>coisas</strong> que, ao fim de vários<br />
anos, começam a dar resulta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> olho para a<br />
estrutura produtiva da economia portuguesa de há 20<br />
anos percebo que muita coisa mu<strong>do</strong>u. Vejo muito mais<br />
orientação para os merca<strong>do</strong>s externos e uma diminuição<br />
<strong>do</strong> peso relativo <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno. Vejo pessoas<br />
muito mais qualificadas. Portanto, as <strong>coisas</strong> estão a<br />
acontecer.<br />
Mas mais devagar <strong>do</strong> que seria de esperar?<br />
Não sei se mais devagar ou mais depressa. Não partilho<br />
nada desta ideia de que a economia portuguesa está estagnada<br />
há 20 anos. Não acho que seja verdade! Uma<br />
economia estagnada é uma economia onde nada se<br />
passa. Há quem diga: em 20 anos o crescimento médio<br />
<strong>do</strong> PIB em Portugal foi na ordem de 1%. E é verdade,<br />
mas isso não significa que temos uma economia que<br />
se limitou a crescer 1%<br />
ao ano, sem que nada se<br />
passasse. É uma economia<br />
que, durante estes<br />
20 anos, teve perío<strong>do</strong>s de<br />
crescimento de produto,<br />
de destruição de produto,<br />
de novo crescimento e de<br />
nova destruição. Portanto,<br />
andámos assim, aos<br />
saltos. E, nesses saltos,<br />
houve uma alteração significativa<br />
da composição<br />
<strong>do</strong> nosso Produto Interno<br />
Bruto. Hoje, temos muito<br />
mais empresas exporta<strong>do</strong>ras,<br />
estamos a desenvolver uma economia de serviços<br />
tecnologicamente avança<strong>do</strong>s, de produção industrial<br />
cada vez mais complexa. Há 15 anos, o valor das nossas<br />
exportações era inferior a 30% <strong>do</strong> PIB e, hoje, é de 50%.<br />
Exportamos para muito mais merca<strong>do</strong>s e para merca<strong>do</strong>s<br />
muito mais exigentes. O investimento estrangeiro<br />
que atraímos é em setores tecnologicamente mais<br />
avança<strong>do</strong>s. Não é uma economia que esteve parada. É<br />
verdade que houve grupos económicos que desapareceram.<br />
Tivemos grande destruição de valor em alguns<br />
setores, mas noutros estamos a crescer. É este balanceamento<br />
que me dá nota de uma transformação estrutural.<br />
Portanto, quan<strong>do</strong> olhamos só para a média <strong>do</strong><br />
crescimento <strong>do</strong> PIB, não vemos isto.<br />
Não se conta a história toda, é isso?<br />
Não se conta a história toda.<br />
“Talvez por ser jurista não<br />
acredito em revoluções;<br />
acredito em mudanças<br />
estabelecidas no seio da<br />
democracia”<br />
Ainda assim, em termos de indica<strong>do</strong>res, a Roménia já<br />
passou à nossa frente…<br />
Se vocês forem à Roménia não vão achar que eles estão<br />
à nossa frente! Faz-se a comparação <strong>do</strong> PIB per capita<br />
relativamente à média da União Europeia (UE) e<br />
toda a média da UE está a subir. Portanto, nós temos<br />
uma economia mais madura <strong>do</strong> que esses países que<br />
ainda estão no início, ainda estão a crescer muito. Nós<br />
crescemos ao mesmo ritmo <strong>do</strong> que eles nos primeiros<br />
15 anos após a adesão à União Europeia e agora estamos<br />
a passar por este perío<strong>do</strong> de transformação. Outra<br />
questão tem a ver com a conversão <strong>do</strong> PIB per capita em<br />
paridades de poder de compra. Sabemos que 100 euros<br />
em Portugal compram muito mais <strong>coisas</strong> <strong>do</strong> que 100<br />
euros na Holanda, portanto, corrigimos o PIB português<br />
para nos aproximarmos mais da Holanda. Em termos<br />
reais, o nosso PIB é cerca de metade <strong>do</strong> que o da<br />
Holanda. Em termos de paridade de poder de compra,<br />
aproximamo-nos. A mesma coisa para a Roménia; de<br />
facto, 100 euros na Roménia compram muita coisa e<br />
essa correção também faz esse desvio. Essa métrica é<br />
importante, mas está longe<br />
de ser determinante. As<br />
métricas determinantes,<br />
as que nos mostram se estamos<br />
ou não a caminhar<br />
no senti<strong>do</strong> certo, são <strong>coisas</strong><br />
como o tipo de produção<br />
que vamos fazen<strong>do</strong>,<br />
com maior valor acrescenta<strong>do</strong>,<br />
se estamos ou não<br />
a ter uma economia mais<br />
internacionalizada, etc.<br />
Isto <strong>do</strong> ponto de visto económico.<br />
E <strong>do</strong> ponto de<br />
vista social?<br />
Do ponto de vista social temos indica<strong>do</strong>res como a<br />
escolaridade da população, indica<strong>do</strong>res de saúde, esperança<br />
de vida, qualidade ambiental, etc. Tu<strong>do</strong> isto<br />
nos mostra progressos indubitáveis. Queremos que a<br />
economia cresça para darmos melhor bem-estar e qualidade<br />
de vida à população.<br />
É um otimista? Acredita que há sempre maneira de<br />
dar a volta às dificuldades que se vão atravessan<strong>do</strong><br />
pela frente?<br />
Não sou um otimista. Mas acho que um <strong>do</strong>s grandes<br />
problemas que os portugueses têm é focarem-se apenas<br />
naquilo que acham que está mal. E <strong>fazem</strong>-no sem<br />
que isso crie um impulso de transformação. Pelo contrário,<br />
as nossas elites comprazem-se em ser cada vez<br />
mais sofisticadas e elegantes a dizer mal <strong>do</strong> país, como<br />
se o país não tivesse esperança. Isto deve vir tu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
25
a conversa<br />
26<br />
Eça e daquela ideia de que isto é uma “choldra”, onde<br />
nada há a fazer. Na verdade, não conheço nenhum líder<br />
que consiga transformar a sua organização, dizen<strong>do</strong><br />
que ela é uma desgraça e que nada vale a pena.<br />
Pegan<strong>do</strong> nas críticas, como é que olha para a taxa de<br />
execução <strong>do</strong> PRR? Ouvem-se muitas queixas e toda a<br />
gente diz que estamos muito atrasa<strong>do</strong>s.<br />
Não tenho razão para dizer que está atrasa<strong>do</strong>. Aquilo<br />
que são os desembolsos que estavam programa<strong>do</strong>s<br />
estão a ser realiza<strong>do</strong>s. Projetos públicos e priva<strong>do</strong>s de<br />
grande escala demoram muito tempo a ser prepara<strong>do</strong>s<br />
e a sair cá para fora. Ouvi no outro dia a comissária<br />
Elisa Ferreira a dizer que Portugal é, julgo eu, o quarto<br />
país mais adianta<strong>do</strong> de toda a União Europeia. Acho<br />
é que temos um problema de conceção <strong>do</strong> programa.<br />
O nosso programa foi concebi<strong>do</strong><br />
para ser executa<strong>do</strong><br />
num perío<strong>do</strong> muito curto.<br />
Os espanhóis, por exemplo,<br />
pegaram em muitas<br />
<strong>coisas</strong> que já tinham em<br />
curso e decidiram financiá-las<br />
com verbas <strong>do</strong> PRR.<br />
Com a inflação a subir,<br />
com capacidades produtivas<br />
muito comprometidas<br />
por outras <strong>coisas</strong>, temos<br />
de ir gerin<strong>do</strong> passo a passo.<br />
Este programa é muito<br />
mais inflexível <strong>do</strong> que são,<br />
normalmente, os fun<strong>do</strong>s<br />
estruturais.<br />
O que é que isso significa?<br />
Significa que estamos muito amarra<strong>do</strong>s ao que foi inicialmente<br />
defini<strong>do</strong> e a Comissão Europeia não é nada<br />
flexível para rever o tipo de projetos ou os valores com<br />
que nos comprometemos, que hoje estão muito prejudica<strong>do</strong>s<br />
pela inflação que entretanto ocorreu.<br />
Mas toda a Europa vai ter este problema de concretizar<br />
PRR até 2026, certo?<br />
Sim, toda a Europa está a ter estes problemas. Não estamos<br />
mais atrasa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os outros.<br />
O PT 2023, por sua vez, entretanto já arrancou.<br />
Sim, mas aí temos mais flexibilidade, quer em termos<br />
de tempo, quer em termos de definição <strong>do</strong>s projetos<br />
que vamos apoiar.<br />
“Não me defino como<br />
político. Defino-me como<br />
cidadão que exerceu<br />
temporariamente funções<br />
políticas, que é uma coisa<br />
diferente”<br />
Recentemente, num evento da Missão Portugal <strong>Digital</strong>,<br />
foi apresenta<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> que diz que as empresas<br />
portuguesas ainda estão numa fase embrionária<br />
<strong>do</strong> processo de transformação digital. Preocupa-o esta<br />
conclusão?<br />
Preocupa-me. Aliás, o plano de ação <strong>do</strong> Portugal <strong>Digital</strong><br />
foi lança<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eu estava no governo e, como<br />
ministro da Transição <strong>Digital</strong>, na altura, fizemos um<br />
diagnóstico muito exaustivo, quer <strong>do</strong> ponto de vista<br />
da qualificação das pessoas, quer <strong>do</strong> ponto de vista<br />
da situação das empresas e da Administração Pública.<br />
Conclusão: as tecnologias digitais já atingiram um<br />
grau de maturidade tal, que podem permitir dar saltos<br />
qualitativos muito rápi<strong>do</strong>s, mas, para isso, nós precisamos<br />
de fazer um enorme esforço de qualificação –<br />
das pessoas, das empresas e da Administração Pública.<br />
Portanto, o plano estava<br />
muito vocaciona<strong>do</strong> para<br />
melhorar as qualificações,<br />
reduzir a iliteracia digital,<br />
requalificar trabalha<strong>do</strong>res<br />
nos seus postos de trabalho,<br />
permitir às empresas<br />
utilizarem melhor as tecnologias<br />
digitais e adaptarem<br />
modelos de negócio<br />
para beneficiarem disso. E<br />
estava vocaciona<strong>do</strong> para<br />
a Administração Pública<br />
também. A convicção<br />
que tenho é que só vamos<br />
aumentar a eficiência, a<br />
eficácia e a transparência<br />
da Administração Pública se usarmos as tecnologias<br />
digitais, com reinvenção de processos. Ainda assim,<br />
se compararmos os valores agora, com os de há três ou<br />
quatro anos, percebemos que fizemos progressos consideráveis,<br />
em praticamente todas as áreas.<br />
O estu<strong>do</strong> aponta vários problemas: a iliteracia, sobretu<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>s empresários, a fraca capacidade de investimento<br />
e a falta de estratégia.<br />
Mas a falta de estratégia tem a ver com as baixas qualificações.<br />
Temos um problema de base que é a qualificação<br />
<strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong> empresarial. Somos um país<br />
que só nos últimos 50 anos é que começou a investir<br />
na educação. A nossa classe empresarial é hiper-talentosa,<br />
hiper-empreende<strong>do</strong>ra, mexe-se o mais possível,<br />
mas quan<strong>do</strong> as qualificações de base têm limitações,<br />
as pessoas têm tetos naturais relativamente ao patamar<br />
onde conseguem chegar. Isso limita o potencial
de crescimento da economia portuguesa.<br />
Não podemos deitar fora<br />
a classe empresarial que temos. Há<br />
que ajudá-la a fazer o caminho.<br />
Como é que isso se resolve? Como é<br />
que se acelera?<br />
Estruturalmente, vai tu<strong>do</strong> mudar<br />
muito quan<strong>do</strong>, à frente das empresas,<br />
estiverem as pessoas que,<br />
agora, já têm níveis de qualificação<br />
mais elevadas. Entre os 25 e os 34<br />
anos, a qualificação <strong>do</strong>s portugueses<br />
já é superior à média europeia.<br />
Portanto, quan<strong>do</strong> estas pessoas<br />
começarem a chegar aos cargos de<br />
decisão, isso terá um impacto brutal<br />
no desempenho das nossas empresas<br />
e da economia portuguesa<br />
no seu conjunto.<br />
E tem havi<strong>do</strong> um esforço <strong>do</strong> país<br />
em formar as pessoas, reabilitar as<br />
que lá estão, requalificá-las.<br />
Sim, mas é preciso fazer mais. Há<br />
uma coisa que se sabe: quanto mais<br />
educadas são as pessoas, mais disponibilidade<br />
têm para continuarem<br />
a aprender ao longo da vida. Os<br />
processos de requalificação, reskilling,<br />
upskilling e regresso à escola ou<br />
à universidade é muito mais utiliza<strong>do</strong><br />
por quem já tem boa educação de base. Uma pessoa<br />
que não passou <strong>do</strong> sexto ou <strong>do</strong> nono ano, depois de<br />
20 ou 30 anos, tem muita dificuldade em aceitar que<br />
vai aprender com pessoas mais novas. Tem me<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
conhecimento.<br />
É uma questão de gerações?<br />
É uma questão de gerações, sim. À medida que vamos<br />
ven<strong>do</strong> as gerações mais qualificadas a substituírem as<br />
outras, vamos assistin<strong>do</strong> a saltos qualitativos, mas que<br />
demoram muito tempo. Não nos esqueçamos de que<br />
os países de leste, quan<strong>do</strong> aderiram à União Europeia,<br />
tinham níveis de qualificação média muito superiores<br />
aos que nós temos agora. Portanto, obviamente que<br />
“A globalização foi uma escolha política feita há 30 anos, depois <strong>do</strong> fim da Guerra Fria,<br />
pensan<strong>do</strong> que isso facilitaria a paz mundial. Mas hoje sabemos que não é assim”<br />
estão muito mais capacita<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que nós para agarrar<br />
as oportunidades. E isso é uma coisa que nos deve fazer<br />
pensar muito. Outro grande problema é que as nossas<br />
organizações – as públicas mas também as privadas –<br />
têm muito pouca disponibilidade para aceitarem mudanças.<br />
Pior: rejeitam a entrada de novo talento.<br />
Quer explicar melhor?<br />
O meu filho mais velho é engenheiro e, ao fim de ano<br />
e meio de ter i<strong>do</strong> trabalhar para fora, contou-me que a<br />
maior diferença que via não era na remuneração, mas<br />
sim na maneira como era trata<strong>do</strong> nas empresas. Dizia-<br />
-me: “Em Portugal tinha a noção de que os meus chefes<br />
me tratavam como se me fizessem um favor em pagar-<br />
27
a conversa<br />
28<br />
-me o salário. Basicamente, tinham as regras feitas e as<br />
tarefas definidas e eu tinha de executar, aceitar e pronto.<br />
Mas aqui é diferente, aquilo que me dizem é que tenho<br />
de alcançar resulta<strong>do</strong>s, e quem define o processo<br />
sou eu”. O que ele sente é que nas empresas portuguesas<br />
o contexto é muito adverso, no que diz respeito à<br />
progressão de carreira e aos desafios profissionais que<br />
lhe são lança<strong>do</strong>s.<br />
Tem to<strong>do</strong>s os filhos a trabalhar fora?<br />
Não, porque o terceiro ainda não tem idade para ir.<br />
Este é o grande problema da nossa economia: agora<br />
que começámos a qualificar o capital humano, não demonstramos<br />
capacidade de o absorver. Não é um tema<br />
de impostos, não é apenas um tema de salários. É sobretu<strong>do</strong><br />
a maneira como dizemos aos mais novos que<br />
contamos com o contributo deles nas empresas.<br />
Somos o país da Web Summit, temos um ecossistema<br />
empreende<strong>do</strong>r florescente, batemos recordes de<br />
investimento estrangeiro<br />
em centros de competências<br />
tecnológicos, o nosso<br />
talento é muito procura<strong>do</strong>.<br />
Mas temos um grande<br />
problema ao nível <strong>do</strong> talento.<br />
Não só somos procura<strong>do</strong>s<br />
pelo nosso talento, como<br />
também somos um país<br />
onde as empresas internacionais<br />
sabem que, se<br />
criarem aqui centros de<br />
operações tecnológicos ou<br />
industriais, conseguem<br />
atrair facilmente talento de outros países porque as<br />
pessoas gostam de vir para cá trabalhar.<br />
Temos todas as razões para acreditar, apesar da conjuntura<br />
complicada que vivemos neste momento?<br />
Acho que sim. Aliás, acho que a conjuntura não está<br />
assim tão complicada, porque temos a economia a<br />
crescer, temos forte criação de emprego. Os problemas<br />
que temos são muito diferentes <strong>do</strong>s que tínhamos há<br />
12 ou 13 anos. Nessa altura, as dificuldades eram de<br />
subocupação da nossa capacidade, tínhamos mais<br />
pessoas <strong>do</strong> que empregos disponíveis, casas vazias<br />
que ninguém queria comprar, investimento em baixo,<br />
a economia que não crescia, etc. Hoje o que temos é<br />
uma economia que cresce e que cria emprego. Não há<br />
pessoas para os lugares disponíveis, as casas tornam-se<br />
caras, porque há mais procura <strong>do</strong> que oferta. Acho que<br />
isto são melhores problemas <strong>do</strong> que tivemos no passa<strong>do</strong>,<br />
sem dúvida.<br />
“Não partilho nada desta<br />
ideia de que a economia<br />
portuguesa está estagnada<br />
há 20 anos. Não acho que<br />
seja verdade!”<br />
Ainda é possível à Europa liderar em termos tecnológicos,<br />
ten<strong>do</strong> em conta os enormes avanços de outras<br />
geografias, particularmente os EUA e a China? Parece<br />
que andamos sempre a reboque. Veja-se o exemplo<br />
das ajudas diretas às empresas: só reagimos depois de<br />
Washington avançar com um mega pacote para proteger<br />
as suas empresas…<br />
Há meia dúzia de anos, a Europa começou a perceber<br />
que estava numa situação muito difícil <strong>do</strong> ponto de<br />
visto económico e tecnológico, porque o modelo europeu<br />
é extremamente frágil estrategicamente. A nível<br />
tecnológico, nós liderávamos certos setores, como a<br />
automóvel, os transportes, etc. Mas as tecnologias <strong>do</strong><br />
futuro não as <strong>do</strong>minávamos – estavam a ser desenvolvidas<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na China. Portanto, passámos<br />
a ser toma<strong>do</strong>res de tecnologia. Isto é gravíssimo.<br />
Se não detemos o maior valor, não somos capazes de<br />
gerar excedentes para pagar o nível de vida <strong>do</strong>s europeus.<br />
Há uma década que se sente isto como um problema:<br />
a perda da liderança tecnológica. Além disso,<br />
temos uma dependência<br />
estratégica absolutamente<br />
decisiva de matérias-primas<br />
e de componentes,<br />
de energia, recursos minerais,<br />
componentes críticos<br />
em vários setores. Começámos<br />
a perceber que<br />
comprávamos tu<strong>do</strong> fora.<br />
E a guerra veio a agudizar<br />
esse sentimento, não foi?<br />
A guerra e a pandemia.<br />
Fizeram-nos perceber que<br />
nos faltavam <strong>coisas</strong> essenciais<br />
para a vida das nossas populações. E esta noção<br />
de fragilidade e de dependência estratégica já lá estava.<br />
Somos um continente sem capacidade militar, o<br />
que é complica<strong>do</strong>, porque estamos dependentes <strong>do</strong><br />
exterior. A Europa sempre dependeu da proteção <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
E o que está a ser feito?<br />
Em 2021 aprovámos um pacote de 750 mil milhões de<br />
euros para investir em tecnologias digitais na autonomia<br />
e resiliência estratégica e na transição climática.<br />
É isso que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estão a fazer agora. Mas<br />
como eles têm uma união política muito forte, quan<strong>do</strong><br />
tomam uma decisão, avançam muito depressa. O problema<br />
da Europa é que to<strong>do</strong>s os países europeus – qualquer<br />
um deles, mesmo a Alemanha – são demasia<strong>do</strong><br />
pequenos para serem internacionais. Só em conjunto é<br />
que temos dimensão para enfrentar os desafios globais<br />
com os quais nos comprometamos, mas não temos
Imagine uma ação<br />
climática com impacto<br />
exponencial.<br />
Através da tecnologia<br />
e da colaboração global,<br />
é Possível.<br />
A Ericsson está a criar um mun<strong>do</strong> com<br />
conectividade ilimitada, onde a tecnologia<br />
móvel abre novas possibilidades para<br />
um futuro sustentável.<br />
ericsson.com/imaginepossible
a conversa<br />
30<br />
ainda uma união política. Esse é o problema. Se quisermos<br />
determinar o nosso destino coletivo, precisamos<br />
de ganhar capacidade política que, neste momento,<br />
não temos.<br />
Deixar de pensar a 27 e começar a pensar como uma<br />
única entidade?<br />
Exatamente.<br />
A pandemia e a guerra estão a acabar com a globalização<br />
económica e a reforçar a globalização digital?<br />
Não sei. O que vejo – com as reações ao TikTok nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e a forma como, na China, também não<br />
entram certos produtos e serviços digitais – é que nos<br />
merca<strong>do</strong>s digitais há uma barreira entre quem acredita<br />
numa internet livre e quem acredita num mun<strong>do</strong><br />
digital fecha<strong>do</strong> e controla<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s. Portanto,<br />
não acho que exista propriamente globalização.<br />
Aquilo que determina esta “desglobalização”, ou<br />
esta fragmentação, é a constatação de que a China<br />
e a Rússia não partilham<br />
<strong>do</strong>s nossos valores. O modelo<br />
de economia global<br />
que construímos nos últimos<br />
30 anos – que criou<br />
a ideia de que tínhamos<br />
uma espécie de contexto<br />
que favorecia a paz e a<br />
convivência pacata entre<br />
nações partilhan<strong>do</strong><br />
os mesmos valores – não<br />
tem razão de ser. Portanto,<br />
é preciso repensar<br />
tu<strong>do</strong>. A globalização<br />
foi uma escolha política<br />
feita há 30 anos, depois <strong>do</strong> fim da Guerra Fria, pensan<strong>do</strong><br />
que isso facilitaria a paz mundial. Mas hoje<br />
sabemos que não é assim.<br />
Como é que imagina a Europa <strong>do</strong> pós guerra? Mais forte<br />
e mais unida?<br />
Ou a Europa sai disto mais unida e com mais capacidade<br />
política, ou vai entrar num grande perío<strong>do</strong><br />
de decadência. Não apenas de decadência relativa.<br />
Aquela decadência de não sermos capazes de manter<br />
o nível de bem-estar a que as populações europeias se<br />
habituaram. Para que tal não aconteça, precisamos<br />
de capacidade política. O grande problema que temos<br />
é que a atual forma de funcionamento europeia torna<br />
difícil tomar decisões e fazer as reformas de que<br />
precisamos no processo de decisão. Temos, dentro da<br />
união Europeia, perspetivas muito diferentes sobre o<br />
que deve ser o futuro. Isso preocupa-me. É a coisa que<br />
me preocupa mais.<br />
“As nossas elites<br />
comprazem-se em ser cada<br />
vez mais sofisticadas e<br />
elegantes a dizer mal <strong>do</strong><br />
país, como se o país não<br />
tivesse esperança”<br />
O que precisamos de mudar?<br />
Precisarmos de ter capacidade orçamental reforçada<br />
para fazermos investimentos. Veja-se, por exemplo,<br />
as ligações energéticas ou ferroviárias. Diz-se assim:<br />
“Vamos fazer estas ligações de infraestruturas entre os<br />
esta<strong>do</strong>s membros, mas cada um paga a sua parte”. Mas<br />
depois, quan<strong>do</strong> algum país não quer, não avançam.<br />
Portanto, precisamos de ter capacidade de decisão e<br />
execução orçamental, capacidade política a nível central.<br />
Isso implica que a União Europeia tenha capacidade<br />
orçamental acrescida. Sou, por exemplo, adepto<br />
de haver um subsídio de desemprego europeu. Não sei<br />
se a Segurança Social não deveria ser europeia, porque<br />
os meus filhos estão a pagar as pensões <strong>do</strong>s holandeses.<br />
Estão a descontar, mas não para a Segurança Social <strong>do</strong>s<br />
portugueses. Esse é um problema.<br />
Essa é uma ideia da Europa muito diferente.<br />
Se temos liberdade de circulação de pessoas e um merca<strong>do</strong><br />
único, isso significa que os cidadãos europeus vão<br />
para as regiões que criam<br />
mais e melhor emprego e,<br />
a meu ver, desejável.<br />
portanto, as regiões mais<br />
pobres têm menos capacidades<br />
de gerar recursos<br />
para sustentar as suas populações.<br />
Se nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s não houvesse uma<br />
Segurança Social federal,<br />
as pensões das pessoas <strong>do</strong><br />
Missouri ou <strong>do</strong> Arkansas<br />
não eram pagas.<br />
É um caminho a fazer?<br />
É uma evolução possível e,<br />
Porque é que aceitou este desafio de presidir ao <strong>Congress</strong>o<br />
da APDC?<br />
Apesar <strong>do</strong>s lamentos, <strong>fazem</strong>os <strong>coisas</strong> <strong>excecionais</strong> a<br />
nível tecnológico. É bom termos um momento de celebração<br />
deste caminho. Quan<strong>do</strong> era ministro da Economia,<br />
não tinha a responsabilidade das telecomunicações,<br />
mas tinha a clara noção de que não seríamos<br />
competitivos se não tivéssemos tecnologias de comunicação<br />
e de informação de primeiro mun<strong>do</strong>.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, como vê o papel de associações como<br />
a APDC?<br />
São gera<strong>do</strong>res de ecossistemas. Organizações onde os<br />
diversos stakeholders numa cadeia de valor se sentam à<br />
mesma mesa para facilitar as discussões que têm mesmo<br />
de acontecer. O que uma associação como a vossa<br />
faz, é criar pontos de diálogo e de contacto.•
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em destaque<br />
NO MEIO É QUE<br />
ESTÁ A VIRTUDE<br />
Como será a criptoeconomia <strong>do</strong> futuro? Até<br />
agora uma reserva de valor sem intermediários,<br />
vai passar a ser fortemente regulada. Para os<br />
players desta jovem indústria ainda à procura<br />
da sua identidade, tu<strong>do</strong> dependerá da pressão<br />
regulatória. Equilíbrio é a palavra-chave. Mas<br />
também o grande desafio.<br />
TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/SYNCVIEW, ISTOCK E CEDIDAS<br />
32
33
em destaque<br />
34<br />
Era inevitável: foi aprova<strong>do</strong> a 9 de junho o diploma<br />
que vem regular o merca<strong>do</strong> de criptoativos<br />
em território europeu. O MiCA será aplicável a<br />
to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s-membros a partir de 30 de dezembro<br />
de 2024. Com ele, e to<strong>do</strong> o pacote associa<strong>do</strong>,<br />
Bruxelas foi, tal como aconteceu no RGPD, pioneira a<br />
nível mundial neste tipo de medidas. Que são aplaudidas<br />
por muitos, incluin<strong>do</strong> pelos players <strong>do</strong> setor, porque<br />
credibilizar é essencial, sobretu<strong>do</strong> depois <strong>do</strong>s mais<br />
recentes escândalos. Tu<strong>do</strong> dependerá da sua aplicação<br />
em concreto, que não deverá travar a inovação e o desenvolvimento<br />
da criptoeconomia.<br />
O ano de 2022 foi uma espécie de ‘annus horribilis’<br />
para o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos. O colapso de gigantes<br />
como a Terra, 3AC, Celsius, FTX ou a BlockFi, numa<br />
derrocada em cadeia, colocou esta indústria no centro<br />
de to<strong>do</strong>s os escrutínios. Falou-se numa espécie de destruição<br />
criativa, para separar ‘o trigo <strong>do</strong> joio’, e de ‘inverno<br />
cripto’. Houve até quem vaticinasse o fim deste<br />
jovem setor, que surgiu por volta de 2008, quan<strong>do</strong> a<br />
tecnologia permitiu a criação da primeira criptomoeda,<br />
e a mais relevante e famosa desde então, a bitcoin.<br />
A verdade é que a criptoeconomia continua florescente<br />
e de boa saúde e as<br />
criptomoedas são transacionadas<br />
um pouco por<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, mesmo depois<br />
<strong>do</strong>s colapsos na banca<br />
norte-americana de várias<br />
instituições ligadas a este<br />
merca<strong>do</strong>, já nos últimos<br />
meses. A procura é tanta<br />
que, em maio, a bitcoin já<br />
apresentava uma valorização<br />
de mais de 70%. Mas, em paralelo, a necessidade<br />
de regulação sobre este merca<strong>do</strong> tornou-se inevitável.<br />
“Há, claramente, interligações dentro <strong>do</strong> ecossistema<br />
entre um conjunto de entidades. Uma das conclusões<br />
que se retirou <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> é que muitos <strong>do</strong>s<br />
projetos estavam liga<strong>do</strong>s entre si, pelo que o colapso de<br />
um acabou por desencadear uma reação de rede, que<br />
ficou muito visível. A verdade é que ninguém espera<br />
que este processo de construção da criptoeconomia já<br />
tenha termina<strong>do</strong>. Provavelmente, existirão mais casos<br />
de entidades que se achava que eram de confiança, credíveis<br />
e com projetos sóli<strong>do</strong>s, que garantiam os ativos,<br />
Os ecossistemas das<br />
cripto e da própria web3<br />
e blockchain continuam à<br />
procura da sua identidade<br />
que ainda vão falhar”, antecipa Jorge Silva Martins, da<br />
CS’Associa<strong>do</strong>s.<br />
À PROCURA DA IDENTIDADE<br />
Para o responsável pela área de prática de Tecnologia,<br />
Da<strong>do</strong>s e Inovação <strong>Digital</strong> da sociedade de advoga<strong>do</strong>s,<br />
“o ecossistema das cripto e o próprio ecossistema da<br />
web3 e blockchain continuam à procura da sua identidade,<br />
que tem si<strong>do</strong> muito alterada e ajustada ao longo<br />
<strong>do</strong>s anos”. Agora, passará a depender cada vez mais<br />
da “pressão regulatória”, que será exercida sobre este<br />
merca<strong>do</strong>. Como explica, “até agora conseguiu-se montar<br />
um ecossistema relativamente descentraliza<strong>do</strong><br />
e à margem de alguma regulação, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> setor<br />
financeiro e bancário. O que está em causa, quan<strong>do</strong> falamos<br />
em cripto e blockchain, é a promessa de devolver<br />
novamente aos utiliza<strong>do</strong>res os ideais da internet original:<br />
muito descentralizada, peer to peer, aberta e democrática”,<br />
em resposta a uma internet que estava cada<br />
vez mais centralizada, controlada e concentrada, com<br />
a entrada das big tech e um “modelo de negócio assente<br />
em publicidade e da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res, ocupan<strong>do</strong><br />
o centro <strong>do</strong> ecossistema digital com as suas plataformas”.<br />
“O grande encanto<br />
e fascínio desta suposta<br />
web3, como lhe têm chama<strong>do</strong>,<br />
e das cripto, é devolver<br />
de novo o poder aos<br />
utiliza<strong>do</strong>res. Permitir que<br />
possam participar ativamente<br />
na construção <strong>do</strong><br />
ecossistema. Que possam<br />
até, com a tokenização,<br />
ser proprietários de uma parte da comunidade e não<br />
apenas destinatários de publicidade. Mas este merca<strong>do</strong><br />
tem agora um momento incontornável, o da pressão<br />
regulatória. A evolução vai depender muito <strong>do</strong> modelo<br />
regulatório implementa<strong>do</strong>”, acrescenta.<br />
Pedro Borges, co-founder e CEO da Criptoloja, a primeira<br />
fintech portuguesa de compra e venda de criptomoedas<br />
registada no Banco de Portugal, na sequência<br />
da entrada em vigor, em 2020, da lei que transpõe para<br />
o ordenamento jurídico nacional a diretiva europeia de<br />
combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento<br />
<strong>do</strong> terrorismo, diz que o merca<strong>do</strong> já estava em
Pragmático, Jorge Silva Martins, responsável pela área de prática de Tecnologia, Da<strong>do</strong>s e Inovação <strong>Digital</strong> da CS’Associa<strong>do</strong>s, adverte:<br />
“Ninguém espera que este processo de construção da criptoeconomia já tenha termina<strong>do</strong>”<br />
correção mesmo antes <strong>do</strong>s colapsos de 2022 e desdramatiza<br />
a situação: “Obviamente que estes momentos<br />
não foram bons. Estamos a falar de pessoas que utilizaram<br />
o setor para fazer vigarices. Correu mal. A crise da<br />
criptoeconomia resultou de fraudes feitas por pessoas,<br />
como acontece nas demais indústrias. Não foi uma crise<br />
da tecnologia ou uma falha que, isso sim, seria extremamente<br />
grave. E mesmo que tivéssemos outro nível<br />
de regulação, poderia acontecer. Se há indústria que é<br />
regulada é a financeira, e falências não faltam. Não faz<br />
senti<strong>do</strong> usar o argumento da falta de regulação, por ser<br />
um mun<strong>do</strong> à parte”, assegura este responsável.<br />
O gestor admite que a corretora passou por momentos<br />
muito difíceis, sobretu<strong>do</strong> pelos entraves coloca<strong>do</strong>s<br />
pela banca nacional na abertura de contas, que inviabilizaram<br />
a operação, e diz que se não fosse a entrada<br />
para o capital “<strong>do</strong>s nossos sócios brasileiros, provavelmente<br />
não teríamos sobrevivi<strong>do</strong>”. Refere-se aos brasileiros<br />
da 2TM, que gere a maior plataforma de criptomoedas<br />
da América Latina, que ficou com a maioria <strong>do</strong><br />
capital da empresa no ano passa<strong>do</strong> (acabam de alterar<br />
o nome da Criptoloja para Merca<strong>do</strong> Bitcoin).<br />
Asseguran<strong>do</strong> que ainda hoje “o grande desafio<br />
continua a ser os bancos”, não poupa críticas a esta<br />
situação: “Num país que criou regulação específica<br />
e que permite que a empresa esteja em atividade, é<br />
uma completa subversão <strong>do</strong> sistema. E só há três razões<br />
para isto, não vejo mais nenhuma: incompetência<br />
para perceber aquilo com que estão a lidar; preguiça,<br />
pensan<strong>do</strong> que se é cripto vai dar chatice, e mais grave,<br />
falta de confiança no regula<strong>do</strong>r. Os bancos sabem que<br />
somos regula<strong>do</strong>s exatamente pela mesma entidade<br />
que os regula a eles e, de certeza, de forma ainda mais<br />
minuciosa. Mas devo dizer que se há entidade com<br />
quem as <strong>coisas</strong> têm corri<strong>do</strong> muito bem é com o Banco<br />
de Portugal”.<br />
A fintech continua, para já, a dedicar-se apenas ao<br />
merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s particulares, “basicamente por uma razão:<br />
o compliance em empresas é tão pesa<strong>do</strong>, que preferimos<br />
não abrir contas. Mas não há impedimento<br />
legal”. O principal perfil de clientes é, normalmente,<br />
de quem percebe pouco deste mun<strong>do</strong>, mas “que chega<br />
por causa da bitcoin, a principal moeda e a mais antiga,<br />
que é uma reserva de valor absolutamente incrível.<br />
35
em destaque<br />
36<br />
Para Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral, professor assistente da CATÓLICA-LISBON, “a possibilidade de<br />
criar merca<strong>do</strong>s secundários disponíveis, em tempo real, tornará a economia mais eficiente”<br />
É um ativo de refúgio, que preserva valor para o longo<br />
-prazo, é finito e com força monetária enorme, porque<br />
é dificil minerá-lo e as quantidades estão pré-estabelecidas.<br />
Qualquer pessoa pode sair <strong>do</strong> sistema tradicional<br />
e ter a sua ‘barra de ouro’ digital, a bitcoin”.<br />
Jorge Silva Martins confirma esta corrida às bitcoins,<br />
por uma simples razão: “A principal diferença<br />
entre a bitcoin e as altcoins – como a Ether e a Ripple<br />
– é que a primeira é totalmente<br />
descentralizada. O<br />
protocolo foi contruí<strong>do</strong><br />
de raiz e é autoexecutável,<br />
não há a possibilidade<br />
de interferir com a forma<br />
como a criptomoeda<br />
é criada e distribuída. O<br />
que significa que se torna<br />
num ativo digital de valor<br />
singular, pelo facto de estar<br />
muito menos sujeito a<br />
intervenção exterior. Dispõe,<br />
portanto, de um valor que as outras cripto não<br />
têm, porque estão sujeitas e vulneráveis não só à volatilidade<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mas, e principalmente, à circunstância<br />
de estarem sujeitas a uma alteração repentina<br />
das regras <strong>do</strong> jogo”.<br />
A principal diferença entre<br />
a bitcoin e as altcoins –<br />
como a Ether ou Ripple<br />
– é que a primeira é<br />
totalmente descentralizada<br />
REGULAR PARA<br />
CREDIBILIZAR<br />
Pedro Borges considera que<br />
“os ativos da criptoeconomia<br />
precisam muito de regulação,<br />
porque há muita<br />
coisa no merca<strong>do</strong> que não<br />
passa de um mero nome<br />
ou símbolo. Já há regulação<br />
para se saber de onde vem<br />
o dinheiro para comprar,<br />
através das regras de branqueamento<br />
de capitais.<br />
Agora, vai ficar ainda mais<br />
completa”. Mais, considera<br />
que o trabalho que foi feito<br />
na Europa é muito positivo,<br />
ao contrário <strong>do</strong> que aconteceu<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s:<br />
“O MiCA não protege só<br />
o investi<strong>do</strong>r, abarca tu<strong>do</strong>,<br />
desde a emissão de um token<br />
ou uma stablecoin, até à sua<br />
venda. A Europa fez o trabalho<br />
que devia fazer e regulou de A a Z. Não consigo<br />
lembrar-me de nada que não esteja regula<strong>do</strong>”.<br />
O funda<strong>do</strong>r da fintech não tem dúvidas de que “neste<br />
momento, a regulação credibiliza a atividade. Excesso<br />
de regulação haverá seguramente, mas é uma questão<br />
de opinião. Alguma é confusa e nem toda é boa. Mas,<br />
nesta altura, precisamos dela. Esperemos que, com o<br />
tempo, venha a ser aprimorada. Não está completa,<br />
mas deverá ir-se ajustan<strong>do</strong>”.<br />
Também o responsável<br />
da CS’ Associa<strong>do</strong>s destaca<br />
a necessidade de ter de se<br />
garantir um equilíbrio entre<br />
regulação e inovação:<br />
“Saber até onde regular é<br />
um <strong>do</strong>s grandes desafios.<br />
Temos vários diplomas<br />
que estão a ser discuti<strong>do</strong>s,<br />
ou prestes a ser aprova<strong>do</strong>s,<br />
que vão criar um enquadramento<br />
jurídico complexo, feito em várias camadas<br />
de muitas destas realidades. Vão existir entropias.<br />
Diria que a dificuldade será encontrar esse ponto de<br />
equilíbrio, que ainda ninguém sabe exatamente onde<br />
está”.<br />
Terá ainda que se “perceber se a regulação não levará
a uma nova centralização. Se forem cria<strong>do</strong>s requisitos<br />
que sejam regras prudenciais, comportamentais e um<br />
nível de escrutínio regulatório e de supervisão sobre<br />
tu<strong>do</strong> o que são projetos nestas áreas, significa que a capacidade<br />
para responder e cumprir esses requisitos vai<br />
afastar totalmente o regresso às origens da internet. Ao<br />
invés de voltarmos a uma internet descentralizada, que<br />
era a ambição, vamos ter um conjunto de entidades<br />
a centralizar o ecossistema. Ficaremos circunscritos,<br />
novamente, a um conjunto restrito de players. Serão as<br />
novas big tech”, assegura.<br />
Há também, na sua perspetiva, a necessidade de<br />
saber onde estão os limites da regulação: “Talvez não<br />
tenhamos ti<strong>do</strong> tempo suficiente para que a tecnologia<br />
fizesse o seu caminho, até com o apoio <strong>do</strong>s próprios<br />
regula<strong>do</strong>res e legisla<strong>do</strong>res, com estratégias que promovessem<br />
e fomentassem a inovação e quadros regulatórios<br />
descomplica<strong>do</strong>s.<br />
Corremos aqui o risco de,<br />
em algumas matérias, vir a<br />
regulação resolver problemas<br />
que, na verdade, ou<br />
ainda não existem, ou não<br />
são ainda merece<strong>do</strong>res de<br />
uma intervenção regulatória<br />
com esta densidade. Só<br />
o tempo o dirá”.<br />
Para manter pessoas,<br />
empresas e investimentos<br />
na criptoeconomia<br />
é preciso dar-lhes<br />
previsibilidade<br />
MICA: UM PASSO<br />
PIONEIRO<br />
Ainda assim, o ecossistema<br />
das criptomoedas europeu terá pelo menos um ano<br />
e meio até à entrada em vigor <strong>do</strong> MiCA (Markets in Crypto<br />
Assets). Com a sua publicação no passa<strong>do</strong> dia 9 de junho,<br />
no Jornal Oficial da UE, algumas das disposições<br />
serão aplicáveis aos Esta<strong>do</strong>s-membros a partir de 30 de<br />
junho de 2024 e as restantes a partir de 30 de dezembro<br />
<strong>do</strong> mesmo ano. Com ele, a Europa é a primeira região<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> a introduzir um regulamento abrangente<br />
para os criptoativos.<br />
A proposta inicial foi apresentada em setembro de<br />
2020, integran<strong>do</strong> a “Estratégia Financeira <strong>Digital</strong>” da<br />
Comissão Europeia, que inclui um pacote legislativo<br />
mais amplo sobre os serviços financeiros, como o <strong>Digital</strong><br />
Operational Resilience Act (DORA) e o Pilot DLT, já<br />
em curso, assim como o Transfer of Funds Regulation<br />
(TFR), que se aplica às transferências de criptoativos<br />
e garante a transparência financeira dessas transações.<br />
O MiCA vem estabelecer um quadro regulatório<br />
para o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos, identifican<strong>do</strong> os vários<br />
tipos de atividades e crian<strong>do</strong> uma regulamentação<br />
específica. Visa trazer estabilidade legal, com regras<br />
para to<strong>do</strong>s os criptoativos que não estejam abrangi<strong>do</strong>s<br />
pela atual legislação <strong>do</strong>s serviços financeiros, assim<br />
como proteger os consumi<strong>do</strong>res/investi<strong>do</strong>res, ao garantir<br />
que os seus direitos são similares aos de outros<br />
produtos e serviços regula<strong>do</strong>s, no âmbito <strong>do</strong> setor financeiro.<br />
Pretende-se ainda dar suporte à inovação<br />
tecnológica e estabilidade ao sistema financeiro, ao<br />
estabelecer regras que mitigam os riscos associa<strong>do</strong>s à<br />
utilização e comercialização das cripto, promoven<strong>do</strong>se<br />
um level playing field.<br />
Como destacou no congresso da APDC, a 9 de maio,<br />
Hélder Rosalino, administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal,<br />
“o que vai acontecer é que quem opera com criptoativos,<br />
as entidades que oferecem plataformas e serviços<br />
(CASP), passarão a estar sujeitos ao regulamento.<br />
Serão supervisionadas ao<br />
nível nacional por uma<br />
entidade. Isso vai permitir<br />
que este merca<strong>do</strong> passe a<br />
funcionar de forma regulada<br />
e harmonizada no espaço<br />
europeu. É um passo<br />
importante”.<br />
A Autoridade Europeia<br />
<strong>do</strong>s Valores Mobiliários<br />
e <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>s (ESMA)<br />
criará, de acor<strong>do</strong> com o regulamento,<br />
um registo público<br />
para presta<strong>do</strong>res de<br />
serviços de criptoativos que operam na UE sem autorização.<br />
E terá poderes para intervir, proibir ou restringir<br />
as plataformas criptográficas que não protegerem adequadamente<br />
os investi<strong>do</strong>res, ameaçarem a integridade<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ou a estabilidade financeira.<br />
“Os princípios <strong>do</strong> MiCA são váli<strong>do</strong>s. Existia, de facto,<br />
um problema. Mas a vida <strong>do</strong>s regulamentos é feita<br />
na sua implementação. Tu<strong>do</strong> aquilo que era legítimo<br />
regular pode tornar-se ilegítimo na execução e implementação.<br />
Espero que não venha afundar o ecossistema,<br />
mas sim impulsioná-lo. Tem de tomar-se uma<br />
decisão sobre o que se quer fazer. Para manter as pessoas,<br />
as empresas e os investimentos temos de lhes dar<br />
estabilidade e previsibilidade”, alerta o especialista da<br />
sociedade de advoga<strong>do</strong>s.<br />
E há mais novidades: recentemente, a 16 de maio,<br />
o Conselho da UE, no âmbito <strong>do</strong> combate ao branqueamento<br />
de capitais, a<strong>do</strong>tou regras para tornar as<br />
transferências de criptoativos rastreáveis, evitan<strong>do</strong><br />
37
em destaque<br />
38<br />
a utilização indevida de<br />
criptoativos para atividades<br />
ilegais. Assim, alargou<br />
as regras de informação da<br />
transferência de fun<strong>do</strong>s às<br />
transferências de criptoativos,<br />
fican<strong>do</strong> os presta<strong>do</strong>res<br />
destes serviços obriga<strong>do</strong>s a<br />
recolher e a tornar acessíveis<br />
informações sobre origina<strong>do</strong>res<br />
e destinatários<br />
das transferências de criptoativos<br />
que processam, independentemente<br />
<strong>do</strong> montante<br />
a transacionar.<br />
Projeto já em curso desde<br />
23 de março é o DLT Pilot<br />
Regime, a primeira sandbox<br />
pan-Europeia para testar o<br />
DLT em infraestruturas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro tradicional.<br />
É que Bruxelas tem como meta preparar a economia<br />
europeia para utilização de tecnologias inova<strong>do</strong>ras<br />
como a DLT (Decentralized Ledger Technology), cujo<br />
exemplo mais conheci<strong>do</strong> é a blockchain.<br />
Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral, professor assistente da<br />
CATÓLICA-LISBON, diz que é a “primeira abordagem<br />
na utilização <strong>do</strong>s tokens, ou seja, a tokenização em blockchain,<br />
para ações, obrigações<br />
e um tipo de fun<strong>do</strong>s<br />
especiais. O que significa<br />
que direitos de propriedade<br />
associa<strong>do</strong>s às empresas<br />
podem ser tokeniza<strong>do</strong>s,<br />
crian<strong>do</strong>-se merca<strong>do</strong>s secundários<br />
disponíveis em<br />
tempo real, o que torna a<br />
economia mais eficiente.<br />
Como o <strong>do</strong>cente explicou,<br />
também no congresso<br />
da APDC, “o Pilot DLT é o primeiro passo que<br />
a Europa dá na gestão <strong>do</strong> direito de propriedade, que<br />
permite começar a mexer em ativos reais, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> das<br />
<strong>coisas</strong>, as empresas, e da dívida, as obrigações. É só o<br />
início”. O que se espera – a Suíça já avançou nesse senti<strong>do</strong><br />
– é uma “alteração da lei, para que to<strong>do</strong>s os produtos<br />
financeiros possam passar por esta tecnologia. Isto<br />
“O que vai acontecer é que quem opera com criptoativos, as entidades que oferecem<br />
plataformas e serviços, serão supervisionadas ao nível nacional por uma entidade. Isso vai<br />
permitir que este merca<strong>do</strong> passe a funcionar de forma regulada”, afirma Hélder Rosalino,<br />
administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal<br />
Recentemente, o Conselho<br />
da UE a<strong>do</strong>tou regras para<br />
tornar as transferências de<br />
criptoativos rastreáveis<br />
vai criar uma enorme oportunidade e uma disrupção<br />
em toda a infraestrutura financeira”.<br />
O futuro passará pela “tokenização <strong>do</strong>s ativos reais<br />
e de qualquer tipo de direito. No dia em que isso acontecer,<br />
a forma como transacionamos e <strong>fazem</strong>os negócio<br />
será muito mais simples e terá muito menos risco.<br />
É assim que criamos valor económico, porque se diminuem<br />
os custos de transações e estas tornam-nas mais<br />
simples. Estamos a falar<br />
de transição ao nível <strong>do</strong><br />
ecossistema.”<br />
EURO DIGITAL<br />
EM MARCHA<br />
Em paralelo à regulação<br />
da criptoeconomia, os<br />
últimos meses têm si<strong>do</strong><br />
marca<strong>do</strong>s pelo debate em<br />
torno <strong>do</strong> euro digital. Os<br />
<strong>do</strong>is temas até têm si<strong>do</strong>,<br />
de alguma forma, mistura<strong>do</strong>s, muito embora sejam<br />
totalmente distintos. A própria presidente <strong>do</strong> Banco<br />
Central Europeu, Christine Lagarde, que desde sempre<br />
esteve contra as cripto, chegou a dizer em dezembro<br />
que as criptomoedas não valiam nada e que deviam ser<br />
fortemente reguladas, sen<strong>do</strong> o euro digital uma solução<br />
muito mais segura, já que se trata de uma moeda
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*A cor <strong>do</strong> portátil pode variar em função <strong>do</strong> modelo.
em destaque<br />
40<br />
digital <strong>do</strong> banco central. “Garanto que no dia em que<br />
tivermos uma moeda digital <strong>do</strong> banco central, será<br />
muito diferente de muitas outras <strong>coisas</strong>”, afirmou.<br />
Em fevereiro, a líder <strong>do</strong> FMI, Kristalina Georgieva,<br />
referia também, a propósito da necessidade de regulação<br />
urgente da criptoeconomia, que havia ainda muita<br />
confusão sobre dinheiro digital. “O primeiro objetivo<br />
<strong>do</strong> FMI é deixar claras as diferenças entre Moedas Digitais<br />
de Bancos Centrais, que são apoiadas pelo Esta<strong>do</strong>,<br />
e as criptomoedas e stablecoins”. As primeiras têm<br />
“confiabilidade” e “espaço razoável na economia”, enquanto<br />
os criptoativos “são investimentos especulativos<br />
de alto risco, não são dinheiro.”<br />
As posições não espantam os players <strong>do</strong> ecossistema<br />
cripto, até porque desde sempre o sistema financeiro<br />
tradicional se tem mostra<strong>do</strong> contra este novo merca<strong>do</strong>.<br />
“O que temos assisti<strong>do</strong> é a uma reação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
ao desenvolvimento <strong>do</strong> ecossistema cripto”, avança<br />
Jorge Silva Martins, que salienta que são realidades<br />
distintas, que não se substituem e que vão coexistir.<br />
Para o advoga<strong>do</strong>, “não<br />
há <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s.<br />
Têm de convergir. Mas<br />
vão convergir para termos<br />
o quê? O euro digital traz<br />
algo de completamente diferente<br />
daquilo de que falamos,<br />
quan<strong>do</strong> falamos de<br />
criptomoedas (e, principalmente,<br />
de bitcoin): um<br />
modelo centraliza<strong>do</strong>, que<br />
coloca inúmeras questões<br />
relacionadas, por exemplo,<br />
com a possibilidade de traceability das transações<br />
e <strong>do</strong>s seus autores, com a eventual possibilidade de estarmos<br />
perante dinheiro programável e, em paralelo,<br />
com um certo desincentivo à inovação por parte <strong>do</strong>s<br />
bancos no que se refere aos serviços de pagamentos a<br />
disponibilizar aos seus clientes. Além disso, na minha<br />
opinião, a pergunta central está ainda por responder:<br />
que problema vem, efetivamente, o euro digital resolver<br />
?”.<br />
A realidade é que, tal como noutras geografias estão<br />
a ser criadas moedas digitais de bancos centrais, também<br />
na Europa está em marcha o processo para criar<br />
o euro digital. O BCE arrancou com o projeto em 2020<br />
e está agora na fase de investigação, a estudar as suas<br />
características. Até final <strong>do</strong> ano, o Conselho de Governa<strong>do</strong>res<br />
deverá aprovar esta fase, entran<strong>do</strong>-se depois<br />
numa terceira, de realização, para se criarem as condições<br />
tecnológicas para a emissão <strong>do</strong> euro digital. Espera-se<br />
que em 2025 já se possa arrancar em concreto.<br />
Uma das preocupações<br />
é manter o papel <strong>do</strong>s<br />
bancos centrais enquanto<br />
âncora <strong>do</strong>s sistemas de<br />
pagamentos<br />
Para o administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal, uma<br />
das preocupações com o euro digital, face ao declínio<br />
da utilização da moeda física, e perante o surgimento<br />
muito rápi<strong>do</strong> de moedas digitais privadas, é “manter o<br />
papel <strong>do</strong>s bancos centrais enquanto âncora <strong>do</strong>s sistemas<br />
de pagamentos”.<br />
É que hoje, embora as notas sejam a âncora <strong>do</strong> sistema<br />
de pagamentos, o que se utiliza são sistemas de<br />
pagamentos <strong>do</strong>s bancos e das marcas internacionais,<br />
sen<strong>do</strong> cada vez maior a dependência da Europa das<br />
grandes empresas tecnológicas norte-americanas e <strong>do</strong>s<br />
sistemas de pagamentos chineses. Entre as gigantes<br />
globais de sistemas de pagamentos, três são <strong>do</strong>s EUA<br />
(Mastercard, Visa e PayPal) e duas são chinesas (Alipay<br />
e UnionPay). As cinco são responsáveis por mais de<br />
<strong>do</strong>is terços das transações de pagamentos com cartão<br />
na Europa.<br />
Com o euro digital, que “será disponibiliza<strong>do</strong> ao<br />
público em geral, incluin<strong>do</strong> empresas, para ser utiliza<strong>do</strong><br />
nos pagamentos no retalho, cria-se “um sistema<br />
de pagamentos eletrónico<br />
único na Europa, coisa<br />
que hoje não existe. Será<br />
isento de risco e vai coexistir<br />
com soluções de pagamentos<br />
privadas”, garante<br />
o representante <strong>do</strong> banco<br />
central.<br />
A ideia é ainda de “contribuir<br />
para a autonomia<br />
estratégica e a eficiência<br />
económica da Europa.<br />
Hoje, não temos verdadeiramente<br />
uma marca de pagamentos europeia, nem<br />
sequer temos um sistema de pagamentos integra<strong>do</strong>,<br />
que seja incluí<strong>do</strong> em todas as soluções que os bancos<br />
oferecem para pagamentos”.<br />
Hélder Rosalino não tem dúvidas de que será “um<br />
projeto importante para os bancos centrais, as autoridades<br />
monetárias e os Esta<strong>do</strong>s. Os bancos centrais,<br />
que têm funções essenciais para o funcionamento da<br />
economia, desde a definição e implementação da política<br />
monetária até à garantia da estabilidade financeira,<br />
têm de ter a capacidade de manter um papel na<br />
emissão monetária. Se não o tiverem, as funções ficam<br />
esvaziadas. A principal razão pela qual os bancos centrais<br />
estão a desenvolver os seus projetos é porque querem<br />
preservar o seu papel nas políticas económicas que<br />
estão sob a sua responsabilidade, além de simplificar,<br />
com uma solução única e universal, ao invés de se lidar<br />
com vários sistemas de pagamento”.•
Promova a Transformação <strong>Digital</strong> da sua empresa<br />
com a campanha Fast Track<br />
Entrega em duas semanas<br />
Wi-Fi 6 | LAN Switches | Data Center Switches | Routers<br />
MSP | Healthcare | Retail | Finance | ISP | Manufacturing | Hospitality<br />
Campanha Fast Track<br />
3.0
em destaque<br />
42<br />
BREVE GLOSSÁRIO<br />
DO MUNDO CRIPTO<br />
ALTCOINS – são todas as criptomoedas além da<br />
bitcoin, ou seja, moedas alternativas.<br />
BITCOIN – é a primeira e a maior criptomoeda <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> em valor de merca<strong>do</strong>. A rede da bitcoin<br />
foi criada em 2009, por Satoshi Nakamoto, uma<br />
figura misteriosa que ninguém conhece. No white<br />
paper da moeda refere-se que é um sistema<br />
eletrónico de pagamentos basea<strong>do</strong> em prova<br />
criptográfica, em vez de confiança, permitin<strong>do</strong><br />
que duas partes interessadas transacionem<br />
diretamente entre si, sem necessidade de um<br />
intermediário.<br />
BLOCKCHAIN – é um <strong>do</strong>s tipos de DLT, uma tecnologia<br />
que permite armazenar informação em<br />
blocos, liga<strong>do</strong>s entre si, por ordem cronológica.<br />
Habitualmente, a blockchain inclui uma componente<br />
de criptografia e fórmulas matemáticas<br />
que garantem que a informação guardada não<br />
pode ser adulterada. É o tipo de tecnologia que<br />
está habitualmente na base <strong>do</strong>s criptoativos,<br />
como a bitcoin ou a ether, da plataforma blockchain<br />
Ethereum, cujas transações ficam registadas<br />
em blocos da rede.<br />
CRIPTOATIVOS - são representações digitais de valores<br />
ou de direitos que podem ser transferi<strong>do</strong>s e<br />
armazena<strong>do</strong>s eletronicamente. Apesar de poderem<br />
ser usa<strong>do</strong>s para pagamentos, são sobretu<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong>s como ativos de investimento. O mais<br />
conheci<strong>do</strong> é a bitcoin.<br />
DEFI OU DECENTRALIZED FINANCE – é o termo usa<strong>do</strong><br />
para representar serviços e produtos financeiros<br />
construí<strong>do</strong>s sobre uma rede blockchain, através<br />
de contratos inteligentes. O objetivo é dispensar<br />
o controle de intermediários, como bancos e<br />
instituições financeiras.<br />
DLT OU DISTRIBUTED LEDGER TECHNOLOGY - é uma<br />
tecnologia de registo descentraliza<strong>do</strong> de informação.<br />
Na prática, a informação é armazenada com<br />
recurso a uma rede de bases de da<strong>do</strong>s, detida<br />
por várias entidades, sem que exista um administra<strong>do</strong>r<br />
central.<br />
ETHER – é a segunda e a mais importante criptomoeda<br />
da rede Ethereum, uma plataforma descentralizada,<br />
que foi criada em 2013, por Vitalik<br />
Buterin, não apenas para os pagamentos digitais,<br />
mas também como plataforma que servisse de<br />
suporte à criação de outros aplicativos relaciona<strong>do</strong>s<br />
com a descentralização, como os smart<br />
contracts e, mais tarde, NFTs.<br />
NFT’S OU NON-FUNGIBLE TOKENS - são representações<br />
digitais de algo único, como obras de arte, músicas<br />
e capas históricas de revistas. Ao adquirir um<br />
NFT, compra-se um registo de computa<strong>do</strong>r que<br />
contém o registo de um objeto, sen<strong>do</strong> por isso<br />
um certifica<strong>do</strong> digital de propriedade.<br />
SMART CONTRACTS - são contratos digitais com códigos<br />
de programação autoexecutáveis utiliza<strong>do</strong>s<br />
para firmar um acor<strong>do</strong> ou negociação. É menos<br />
burocrático, garante mais segurança e transparência<br />
e, por estar numa rede blokchain, não<br />
pode ser adultera<strong>do</strong>.<br />
STABLECOINS – são criptoativos cujo valor é estável<br />
e vincula<strong>do</strong> a um ativo como uma moeda real.<br />
Foram concebidas para reduzir a volatilidade de<br />
criptomoedas não vinculadas, como a bitcoin,<br />
cujo valor pode mudar de forma brusca em pouquíssimo<br />
tempo.<br />
TOKENS – significa, no universo <strong>do</strong>s criptoativos,<br />
a representação digital de um ativo com a utilização<br />
de tecnologia de contabilidade distribuída<br />
(blockchain). Todas as criptomoedas são tokens,<br />
mas nem to<strong>do</strong>s os tokens são criptomoedas.<br />
Estas são consideradas payment tokens. Há ainda<br />
os utility tokens, que oferecem alguma utilidade,<br />
como descontos em produtos específicos, acesso<br />
a um serviço exclusivo, direito a voto e outros<br />
benefícios. Os fan tokens, ativos digitais de clubes<br />
de futebol, são exemplos de utility tokens.•
Somos a marca<br />
que deixamos<br />
e a marca<br />
que queremos deixar<br />
O nosso propósito é impulsionar o seu<br />
negócio, deixan<strong>do</strong> uma marca na sociedade<br />
e geran<strong>do</strong> um impacto imediato no seu crescimento.<br />
Phygital Payments Cloud Data Cybersecurity
itech<br />
44<br />
ABEL COSTA:<br />
O engenheiro que<br />
aprendeu a andar<br />
nas nuvens<br />
Sim, é uma metáfora. As nuvens <strong>do</strong> título simbolizam a imaterialidade.<br />
Característica que pode ser atribuída à informática,<br />
mas nunca a circuitos eletrónicos, cabos e ferros de soldar,<br />
as <strong>coisas</strong> que faziam e ainda <strong>fazem</strong> as delícias de Abel Costa.<br />
Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gor<strong>do</strong>/Syncview<br />
Nada de carrinhos, caricas ou jogos<br />
de bola. O que mais empolgava o<br />
atual managing director Portugal &<br />
Group VP da Inetum em miú<strong>do</strong>, era<br />
descobrir como aquela energia, que<br />
animava certos objetos, funcionava.<br />
Aos dez anos deitou a luz de casa<br />
abaixo, ao fazer uma experiência:<br />
“Achava muita piada às luzes<br />
pisca-pisca de Natal e então um dia<br />
peguei numa daquelas lâmpadas e<br />
liguei diretamente à ficha para ver o<br />
que acontecia. É claro que com uma<br />
carga de 220 volts, aquilo explodiu”<br />
(risos).<br />
Essa curiosidade por tu<strong>do</strong> o que<br />
tinha a ver com eletricidade e eletrónica<br />
tinha a ver com a profissão<br />
<strong>do</strong> pai, que fazia instalações numa<br />
companhia de telefones. Lá em<br />
casa havia sempre fios, telefones<br />
estraga<strong>do</strong>s, materiais em que o via<br />
trabalhar na oficina que improvisara<br />
na adega. Abel a<strong>do</strong>rava lá estar e<br />
aos poucos foi perceben<strong>do</strong> como<br />
tu<strong>do</strong> aquilo funcionava.<br />
Aos 12 anos conquistou o direito<br />
a ter a sua própria bancada de<br />
trabalho, lugar onde passou não só<br />
a replicar muito <strong>do</strong> que aprendera<br />
com o pai, mas a construir sistemas<br />
da sua autoria. Aos 14 já fazia disso<br />
negócio. “Comecei a vender alguns<br />
aparelhos eletrónicos aos amigos.<br />
O meu top de vendas (risos), onde<br />
ganhei algum dinheiro, foi um sistema<br />
de luzes psicadélicas para festas<br />
de garagem”. Era sempre o técnico<br />
de som e de luzes, nessas festas,<br />
às vezes também DJ, funções que<br />
ajudavam, em muito, a incrementar<br />
a sua popularidade.<br />
A sua veia empreende<strong>do</strong>ra levou-o,<br />
não muito depois, a outro sucesso<br />
de vendas, inspira<strong>do</strong> numa série,<br />
muito popular, que passava na TV,<br />
a Knight Rider, cujo protagonista<br />
tinha um carro inteligente, que falava<br />
e andava sozinho. Esse carro, de<br />
linhas aerodinâmicas, tinha à frente<br />
umas luzes que piscavam sempre<br />
que “falava” com o <strong>do</strong>no. Calculou<br />
que esse sistema não fosse muito<br />
diferente <strong>do</strong> que concebera para<br />
as suas luzes psicadélicas e meteu<br />
mãos à obra. Objetivo? Produzir dispositivos<br />
que os amigos pudessem<br />
aplicar nas motas: “Hoje diria que,<br />
mais pimba, aquilo não<br />
podia ser (risos), mas na altura foi<br />
um enorme sucesso”.<br />
Claro que no ensino secundário<br />
Abel escolheu como disciplina<br />
opcional “eletricidade”. E quan<strong>do</strong><br />
chegou a hora de ingressar na universidade,<br />
não hesitou: matriculouse<br />
no curso de Engenharia Eletrónica<br />
e Telecomunicações. Tu<strong>do</strong> lhe<br />
correu sobre rodas até ao momento<br />
em que quis entrar no merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho: “Constatei que no norte<br />
não havia saída para a eletrónica.<br />
Natural de Monção, crescera em<br />
Barcelos, estudara em Aveiro e <strong>do</strong>s<br />
seus planos não constava, à partida,<br />
vir para Lisboa, um destino que<br />
lhe parecia, aos 20 e poucos anos,<br />
muito distante. Mas foi o que aconteceu:<br />
“Encontrei-me cá com um<br />
ex-colega de curso, que trabalhava<br />
na Compuquali (a empresa que veio<br />
a dar origem à atual Inetum). Por<br />
acaso ele veio acompanha<strong>do</strong> pelo<br />
então diretor da empresa e numa<br />
breve conversa, sem que eu tivesse<br />
sequer um CV para mostrar, fui<br />
contrata<strong>do</strong>”. Aceitou aquela oferta<br />
de trabalho sem saber o que ia<br />
fazer: “Sabia que era uma empresa<br />
fornece<strong>do</strong>ra da HP e pensei: se o<br />
meu ex-colega de curso se adaptou,<br />
eu também me vou adaptar”.<br />
Começou como forma<strong>do</strong>r de sistemas<br />
operativos. E como de informática<br />
percebia pouco, estu<strong>do</strong>u muito<br />
para poder assumir esse papel. Correu<br />
tão bem, que ainda não tinha<br />
passa<strong>do</strong> um ano, já fazia administração<br />
de sistemas operativos.<br />
Na verdade, como engenheiro, nunca<br />
chegou a trabalhar. Mas percebeu<br />
que a informática era o futuro,<br />
por isso rendeu-se.<br />
Hoje, diz que não pode viver sem<br />
ela. Não se separa <strong>do</strong> telemóvel,<br />
não dispensa o portátil e confia<br />
em tu<strong>do</strong> o que o smartwatch lhe<br />
diz quan<strong>do</strong> vai correr (faz trail nos<br />
tempos livres). Passa 10h por dia a<br />
olhar para ecrãs e não se queixa.<br />
Mas quan<strong>do</strong> tem tempo e oportunidade<br />
para cuidar da horta e <strong>do</strong><br />
jardim, não há Instagram, Twitter<br />
ou qualquer outro tipo de sedução<br />
cibernética que o desvie. A<strong>do</strong>ra pôr<br />
as mãos na terra, ou não descendesse<br />
de agricultores. E como não<br />
há nada como o primeiro amor,<br />
a eletrónica não ficou esquecida:<br />
“Sempre que alguma coisa se avaria<br />
em casa, sou eu que resolvo!•, confessa,<br />
de sorriso cúmplice.•
Não se separa <strong>do</strong> Android (um Samsung<br />
Note 20 Ultra 5G) nem para<br />
<strong>do</strong>rmir. É ele que o desperta to<strong>do</strong>s os<br />
dias<br />
Tem um HP Elite Book, mas que em<br />
breve será substituí<strong>do</strong> pelo Surface<br />
Laptop Studio, da Microsoft<br />
O Fénix, que traz sempre no pulso,<br />
controla a sua performance desportiva<br />
como ninguém<br />
45
negocios<br />
46
PARA<br />
O 5G<br />
E MAIS<br />
ALÉM!<br />
As tower companies ou<br />
towercos nasceram para<br />
libertar as opera<strong>do</strong>ras<br />
de telecomunicações de<br />
encargos com as suas<br />
redes de infraestruturas,<br />
mas também para<br />
lhes dar o chão de que<br />
precisam para levantar<br />
voo. No advento <strong>do</strong> 5G,<br />
estão a dar o máximo<br />
para recuperar o tempo<br />
perdi<strong>do</strong>.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO<br />
FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />
47
negocios<br />
48<br />
Quan<strong>do</strong> ficou concluí<strong>do</strong> o<br />
leilão de 5G, em outubro<br />
de 2021, to<strong>do</strong>s respiraram<br />
de alívio. Tinha si<strong>do</strong> uma<br />
longa espera, com muito nervosismo<br />
à mistura. Temia-se o pior:<br />
que com o atraso provoca<strong>do</strong> pelo<br />
desfecho tardio <strong>do</strong> leilão, as opera<strong>do</strong>ras<br />
ficassem muito para trás,<br />
relativamente às suas congéneres<br />
europeias, na implementação<br />
das novas redes. Passa<strong>do</strong> cerca de<br />
ano e meio já é possível avaliar se<br />
os estragos desse compasso de espera<br />
foram tão relevantes como<br />
se antecipava. Até ao fim de 2023<br />
há deadlines que é preciso cumprir<br />
quanto às obrigações de cobertura<br />
que estão associadas ao espectro<br />
que cada uma das opera<strong>do</strong>ras<br />
conseguiu ganhar e esse é um tech<br />
plan que depende, em muito, <strong>do</strong><br />
trabalho das towerco. Como é que<br />
elas se estão a sair? João Mora, que<br />
acaba de assumir a função de managing<br />
director da Cellnex Portugal,<br />
diz que a empresa conseguiu,<br />
em grande medida, recuperar o<br />
tempo perdi<strong>do</strong>: “Fizemo-lo através<br />
de uma instalação bastante<br />
acelerada e adaptação das nossas<br />
infraestruturas para conseguirem<br />
albergar o 5G”. Para este desafio, a<br />
palavra de ordem é aceleração: “Já<br />
fizemos mais de 3 mil adaptações<br />
aos nossos sites para os <strong>do</strong>tar de<br />
tecnologia 5G e as opera<strong>do</strong>ras que<br />
são nossas clientes continuam em<br />
ritmos bastante acelera<strong>do</strong>s de implementação de toda<br />
a tecnologia (antenas, equipamentos de rádio, todas as<br />
infraestruturas de backbone que permitem depois a disponibilização<br />
<strong>do</strong> 5G). A sua perceção é de que, embora<br />
os prazos a cumprir sejam exigentes, tu<strong>do</strong> vai correr<br />
bem: “Temos uma equipa fantástica, de mais de 60 pessoas,<br />
que dão o seu máximo, e um conjunto de parceiros<br />
muito experientes e profissionais que nos dão apoio<br />
de campo”, explica, para justificar o seu otimismo.<br />
A Cellnex, que foi a primeira empresa europeia a<br />
construir uma rede de empresas de torres e que se mantém<br />
até hoje líder <strong>do</strong> setor, gere em Portugal mais de 6<br />
mil infraestruturas de vários tipos. Entrou no merca<strong>do</strong><br />
“Apesar de não ter si<strong>do</strong> tão dramático como se previa, o atraso <strong>do</strong> leilão <strong>do</strong> 5G não foi<br />
fácil de gerir”, partilha Paolo Favaro<br />
nacional quan<strong>do</strong>, em janeiro de 2020, comprou à Altice<br />
Europe 25% da sua posição na Omtel, a sua empresa<br />
de torres no merca<strong>do</strong> nacional. Mais tarde, adquiriu<br />
a Omtel na totalidade e também a NOS Towering (da<br />
NOS). A estes investimentos foram-se soman<strong>do</strong> outras<br />
operações, como a compra de torres de telecomunicações<br />
à Altice, à ONI e à NOS.<br />
Desde que começou a sua atividade no merca<strong>do</strong> nacional<br />
já realizou, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s que divulgou na última<br />
edição <strong>do</strong> <strong>Congress</strong>o da APDC, “mais de 3 mil intervenções”<br />
e, das infraestruturas que adicionou à rede<br />
nacional, “90% são fora <strong>do</strong>s grandes centros urbanos”.<br />
Para o desenvolvimento da rede de 5G em Portugal,
At Nokia we create<br />
technology that helps<br />
the world act together
negocios<br />
50<br />
a Cellnex estabeleceu também<br />
“uma parceria estratégica de<br />
longo prazo” com a opera<strong>do</strong>ra<br />
romena Digi. Após o leilão<br />
realiza<strong>do</strong> em 2021, ficou com<br />
lotes de espectro, asseguran<strong>do</strong><br />
assim a entrada no merca<strong>do</strong><br />
português. Esta parceria inclui<br />
a implementação de 2 mil PoPs<br />
(points of presence) até final deste<br />
ano.<br />
ALINHADOS PELO MESMO<br />
OBJETIVO<br />
Paolo Favaro, managing director<br />
da Vantage Towers, um spin off<br />
da Vodafone, também estabeleceu<br />
como prioridade ajudar ao<br />
“cumprimento das obrigações<br />
que estão ligadas ao leilão <strong>do</strong><br />
5G” pelas opera<strong>do</strong>ras suas clientes:<br />
“Estamos muito foca<strong>do</strong>s na<br />
construção <strong>do</strong>s sites novos que<br />
serão necessários. Esses sites<br />
são para zonas que não tinham<br />
cobertura, ou que não tinham<br />
cobertura adequada. Estamos<br />
a gerir to<strong>do</strong> este processo, end<br />
to end, no que respeita à gestão<br />
da construção e à ligação à rede<br />
elétrica”.<br />
Ten<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> a sua atividade<br />
em 2020, a Vantage Towers<br />
já está presente em oito países.<br />
No merca<strong>do</strong> nacional tem como<br />
clientes todas as opera<strong>do</strong>ras que<br />
estão a funcionar no setor e já<br />
apresenta no seu portfólio 3.500<br />
sites intervenciona<strong>do</strong>s. Paolo Favaro diz que, “apesar<br />
de não ter si<strong>do</strong> tão dramático como se previa, o atraso<br />
<strong>do</strong> leilão <strong>do</strong> 5G não foi fácil de gerir”. Factores como<br />
a guerra na Ucrânia e a inflação tornaram tu<strong>do</strong> muito<br />
mais complica<strong>do</strong>: “Com a guerra, os custos <strong>do</strong> aço<br />
e da energia dispararam. Depois da pandemia surgiu<br />
este problema e a mistura <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is foi explosiva. Tivemos<br />
de trabalhar muito para fazer uma revisão <strong>do</strong> processo<br />
to<strong>do</strong> em termos de custos, para que se pudesse<br />
cumprir com o prazo de entregas e com as expetativas<br />
<strong>do</strong>s clientes relativamente a custos. Necessitámos de<br />
otimizar o processo”, desabafa o managing director da<br />
Vantage Towers.<br />
“O 5G é um projeto prioritário para o nosso país, mas temos outras tecnologias nas<br />
nossas infraestruturas, como a IoT, que permitem prestar serviços bastante diversos”,<br />
salienta João Mora<br />
Paolo Favaro refere também os problemas de fornecimento<br />
de materiais que foi, e ainda está a ser, necessário<br />
enfrentar. A ligação à rede elétrica, um processo<br />
muito demora<strong>do</strong> e que não se pode começar sem que<br />
antes se determinem os sítios certos para se construir<br />
os sites, está a colocar muita pressão na equipa, salienta:<br />
“Tu<strong>do</strong> começou atrasa<strong>do</strong>. A E-REDES, que está a<br />
gerir este processo, esteve muito ocupada e não só por<br />
causa <strong>do</strong> 5G. Há muitas <strong>coisas</strong> a acontecer, muitos investimentos<br />
por causa <strong>do</strong> PRR e todas essas <strong>coisas</strong> precisam<br />
de atenção”.<br />
Stress à parte, a verdade é que o setor está em alta.
Sim, temos<br />
a net móvel 5G<br />
mais rápida<br />
de Portugal e não só<br />
O 5G da NOS em Lisboa ou no Porto<br />
é ainda mais rápi<strong>do</strong> que o mais rápi<strong>do</strong><br />
de Londres, Paris ou Barcelona<br />
5G mais rápi<strong>do</strong> de Portugal basea<strong>do</strong> em análise Ookla® de da<strong>do</strong>s Speedtest Intelligence® 3T-4T 2022.<br />
Comparação entre cidades baseada em análise NOS de da<strong>do</strong>s Speedtest Intelligence® 3T-4T 2022 de<br />
velocidade mediana de <strong>do</strong>wnload 5G em Lisboa e Distrito <strong>do</strong> Porto vs. velocidade mediana de <strong>do</strong>wnload 5G<br />
em Londres, Paris e Barcelona. As marcas comerciais Ookla® são usadas sob licença e reprodução autorizada.
negocios<br />
MAIS RESILIÊNCIA, S.F.F.<br />
AO CONTRÁRIO da Vantage Towers e da Cellnex,<br />
que apostaram em infraestruturas de rede<br />
móvel, a FastFiber tem tecnologia de rede<br />
fixa, com infraestruturas de fibra ótica. Presente<br />
num debate com a Cellnex e a Vantage<br />
Towers, sobre o futuro <strong>do</strong> setor, no âmbito<br />
da última edição <strong>do</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
da APDC – a FastFiber, na pessoa <strong>do</strong> seu CEO,<br />
Pedro Rocha, manifestou preocupação pela<br />
ainda pouco resiliente rede de infraestruturas<br />
civis <strong>do</strong> país. Segun<strong>do</strong> o CEO, esta vulnerabilidade<br />
inibirá os opera<strong>do</strong>res upper scalers de<br />
fazer grandes investimentos: “Hoje, Portugal<br />
é visto como porta de entrada de conectividade<br />
de grandes da<strong>do</strong>s, com implementação<br />
de data centres e com a atracagem de cabos<br />
submarinos que ligam a Europa, a América,<br />
África e Mediterrâneo. Esses opera<strong>do</strong>res têm<br />
uma exigência de qualidade de rede de fibra<br />
que é significativa. As nossas redes de fibra<br />
são boas, mas ainda não estão preparadas<br />
para esse grau de exigência, por causa das<br />
infraestruturas civis onde se deslocam. Ainda<br />
há muita rede de fibra que está assente em<br />
traça<strong>do</strong> aéreo e que tem de migrar para<br />
traça<strong>do</strong> em conduta. Sem essa resiliência da<br />
rede, as opera<strong>do</strong>ras não investirão”, frisou.<br />
Apesar deste S.O.S., Pedro Rocha não se<br />
queixa: “Temos uma rede de fibra que ocupa<br />
92% <strong>do</strong> território nacional e uma taxa de<br />
penetração de mais de 85% de to<strong>do</strong>s os lares<br />
existentes no país”, afirma. Falta só subir a<br />
fasquia e não perder as oportunidades que<br />
se abrem ao país no plano da conectividade<br />
internacional.•<br />
52<br />
Os analistas dizem que será inevitável assistir-se, a prazo,<br />
a um processo de concentração destes opera<strong>do</strong>res<br />
de redes, uma vez que o merca<strong>do</strong> não vai chegar para<br />
to<strong>do</strong>s e a fiberização tem os seus limites físicos, mas<br />
a verdade é que esse cenário não preocupa estes <strong>do</strong>is<br />
players. João Mora diz que o que vê é “uma crescente<br />
necessidade de instalação de mais equipamentos” nas<br />
suas infraestruturas, sublinhan<strong>do</strong> que, além <strong>do</strong> 5G, há<br />
novas tecnologias a reclamar espaço nas redes que gere<br />
e constrói: “O 5G é um projeto prioritário para o país,<br />
mas temos outras tecnologias nas nossas infraestruturas,<br />
como a rede de IoT, que permite aqui em Portugal,<br />
através <strong>do</strong>s mais de 3 mil sites que temos com essa<br />
tecnologia, prestar serviços bastante diversos, como<br />
IA para detetar fugas de água, ou fazer localização de<br />
animais em terrenos agrícolas. Essas tecnologias também<br />
permitem to<strong>do</strong> um ecossistema de conta<strong>do</strong>res<br />
digitais, de monitorização de veículos como bicicletas<br />
e trotinetas. Na área <strong>do</strong>s resíduos existe, igualmente,<br />
um conjunto de aplicações muito interessantes. No<br />
seu conjunto, estas funcionalidades são uma mais-valia<br />
para o país”, enumera, com entusiasmo. Só o tema<br />
das smart cities, refere, assegura um número sem fim de<br />
oportunidades para as towercos.<br />
O discurso <strong>do</strong> managing director da Vantage Towers<br />
não é muito diferente: “O nosso merca<strong>do</strong> ainda<br />
está a ser cria<strong>do</strong>, portanto estamos longe da saturação.<br />
Há muitos projetos a andar e que estão a ser planea<strong>do</strong>s<br />
para o futuro. Podemos mesmo dizer que o merca<strong>do</strong><br />
ainda está imaturo”, sublinha Paolo Favaro. “Se<br />
estivéssemos a falar de opera<strong>do</strong>ras”, acrescenta, “seria<br />
diferente, porque esse merca<strong>do</strong> já existe há cerca de 30<br />
anos. E não por acaso estamos a ver, hoje em dia, muitas<br />
fusões a acontecerem entre opera<strong>do</strong>ras”.<br />
Ao contrário, consideram Paolo e João, o merca<strong>do</strong><br />
onde as towerco se movem ainda é sexy. “Há inúmeros<br />
players que estão a entrar”, salienta Paolo. De facto, há<br />
infraestruturas que podem oferecer a novos players, há<br />
smart cities a precisar <strong>do</strong>s seus serviços para soluções<br />
cada vez mais desafiantes. Isto significa que, no horizonte,<br />
se perfilam novos paradigmas por explorar. De<br />
resto, no jargão das tower companies existe o acrónimo<br />
OTMO, que significa Other Than Mobile Operators. Ao<br />
contrário das opera<strong>do</strong>ras de telecomunicações, grandes<br />
pesos pesa<strong>do</strong>s que existem em número limita<strong>do</strong>,<br />
os OTMO poderão ser mais que muitos. E embora, individualmente,<br />
não tragam grandes investimentos ao<br />
setor, assegurarão múltiplos pequenos e médios projetos.<br />
Ou seja, uma constelação de oportunidades que<br />
iluminará o caminho às towerco ainda durante muitos<br />
anos. Para já, este merca<strong>do</strong> está pujante. E o futuro,<br />
longe de ser uma ameaça, insinua-se risonho.•
management<br />
54
CENTENNIALS<br />
O NÓ<br />
GÓRDIO DAS<br />
CONTRATAÇÕES<br />
As características <strong>do</strong>s centennials não<br />
nasceram de geração espontânea. Se é<br />
complica<strong>do</strong> contratá-los e ainda mais<br />
difícil retê-los é porque há fatores que os<br />
levam a ser como são. As responsabilidades,<br />
claro, dividem-se entre eles e a geração que<br />
os recruta.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />
Como em todas as situações que<br />
se complicam, aqui não há inocentes.<br />
As queixas de ambos os<br />
la<strong>do</strong>s existem e parecem consistentes,<br />
de tal forma que visto de fora<br />
este conflito mais parece um nó górdio:<br />
com os centennials (jovens nasci<strong>do</strong>s<br />
entre 1997 e 2010) a queixarem-se de<br />
que não lhes oferecem as condições de<br />
trabalho que entendem merecer e os<br />
emprega<strong>do</strong>res a acusar a mais recente<br />
geração a entrar no merca<strong>do</strong> laboral –<br />
também conhecida por Geração Z – de<br />
ser preguiçosa, demasia<strong>do</strong> exigente e<br />
incapaz de “vestir a camisola”.<br />
Diogo Santos, associate partner da<br />
Deloitte Portugal, diz que este diferen<strong>do</strong><br />
é reflexo de um evidente generation<br />
gap entre quem contrata e quem é contrata<strong>do</strong>.<br />
Na verdade, uma breve análise<br />
<strong>do</strong>s factos dá-lhe razão. Se é certo que,<br />
como disse Ortega Y Gasset, “o homem<br />
é o homem e a sua circunstância”, basta<br />
consultar o fio <strong>do</strong> tempo para perce-<br />
55
management<br />
56<br />
ber o que determinou as diferenças entre as gerações<br />
que compõem hoje o merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />
Os baby boomers (nasci<strong>do</strong>s entre 1945 e 1964) que<br />
ainda restam no ativo, estão a chegar à idade da reforma.<br />
Últimos representantes da geração que inventou<br />
os hippies e a cultura <strong>do</strong> flower power, quan<strong>do</strong> chegaram<br />
ao merca<strong>do</strong> de trabalho em Portugal ainda era<br />
fácil encontrar um bom emprego desde que se tivesse<br />
uma licenciatura, por isso a competição e o carreirismo<br />
não pautavam o comportamento da maioria. Já os<br />
que vieram a seguir (nasci<strong>do</strong>s entre 1965 e 1981) e hoje<br />
ocupam a maioria <strong>do</strong>s lugares de liderança, assumiram<br />
uma atitude radicalmente diferente. Designada por<br />
Geração X, foi dela que nasceram os yuppies, jovens que<br />
fizeram carreira no merca<strong>do</strong> financeiro e que tinham<br />
por meta enriquecer antes <strong>do</strong>s 40.<br />
Chegada ao merca<strong>do</strong> de trabalho nos anos 90,<br />
quan<strong>do</strong> a economia ocidental se encontrava pujante,<br />
foi esta a geração que mu<strong>do</strong>u o senti<strong>do</strong> da palavra “ambição”<br />
(antes considerada um defeito) e pôs o termo<br />
“competitividade” no mapa. Foi também com ela que<br />
a expressão “workaholic” se popularizou. Diogo Santos<br />
ajuda a contextualizar: “Esta geração sentia que tinha<br />
de investir no início da carreira para ter retorno mais<br />
tarde. E que, para manter a sua competitividade salarial,<br />
tinha de apostar na carreira”. Mas “essa pressa<br />
de chegar/ para não chegar tarde” esbarrou numa crise<br />
económica, que contraiu violentamente o merca<strong>do</strong> de<br />
trabalho.<br />
Os millenials, também conheci<strong>do</strong>s como Geração<br />
Y (nasci<strong>do</strong>s entre 1982 e 1994), quan<strong>do</strong> chegaram ao<br />
merca<strong>do</strong> de trabalho encontraram muitos escombros,<br />
exemplos de vidas precárias, alguns casos que acompanharam<br />
de perto, no seio familiar. Perceberam que<br />
o sucesso depende de múltiplos fatores, nem to<strong>do</strong>s<br />
edificantes. Vozes como a de Sir Paul Collier, professor<br />
de Economia e de Política Pública na Blavatnik School<br />
of Government, da Universidade de Oxford, que acusam<br />
“os negócios” de terem coloca<strong>do</strong> “os lucros acima<br />
<strong>do</strong> propósito, não confian<strong>do</strong> na sua força de trabalho”,<br />
o que resultou na “polarização entre uma minoria que<br />
teve muito sucesso e uma maioria que não o conseguiu”,<br />
foram ouvidas e o tema <strong>do</strong> “propósito” começou<br />
a emergir no mindset <strong>do</strong>s millenials como um objetivo de<br />
vida.<br />
A cereja no topo <strong>do</strong> bolo foi a pandemia que veio a<br />
seguir. Não admira que esta geração seja descrita pelos<br />
analistas como pessimista. Diogo Santos refere que,<br />
num estu<strong>do</strong> da Deloitte, foi essa a avaliação que se fez:<br />
“As pessoas desta geração (os centennials) querem construir<br />
uma vida com menos desafios e mais felicidade”, defende<br />
Frederico Canto e Castro, empresário de 29 anos<br />
“Por terem sofri<strong>do</strong> na pele certos problemas, os millenials,<br />
de acor<strong>do</strong> com os estu<strong>do</strong>s que fizemos, são mais<br />
pessimistas que a geração seguinte”.<br />
Na geração Y, que está agora na casa <strong>do</strong>s trinta, e<br />
de acor<strong>do</strong> com os mais recentes estu<strong>do</strong>s da Deloitte,<br />
existe “maior pragmatismo”. Herdaram <strong>do</strong>s pais o espírito<br />
competitivo, algo que continua a ser necessário<br />
em tempos de crise, mas já não esperam encontrar<br />
um pote de ouro no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> arco-íris. Segun<strong>do</strong> Diogo<br />
Santos, são os que colocam “maior foco naquilo que<br />
é o confortable living wage”, ou seja, a expetativa de ter<br />
um salário que lhes assegure a qualidade de vida que<br />
acham que devem ter.<br />
MAIS DO QUE DINHEIRO, FELICIDADE<br />
Com os millenials, o mun<strong>do</strong> laboral ganhou literacia digital.<br />
Não sen<strong>do</strong> nativa, esta geração habituou-se à tecnologia<br />
muito ce<strong>do</strong> na vida. E, ao contrário <strong>do</strong>s pais,
que acederam alegremente a viver para trabalhar, os Y<br />
aprenderam, ao ver exemplos entre os mais velhos, que<br />
nem to<strong>do</strong>s os que dão o corpo e a alma pelo trabalho<br />
são bem-sucedi<strong>do</strong>s. Por isso, trouxeram para cima da<br />
mesa o tema <strong>do</strong> work-life-balance.<br />
É neste contexto que entra em cena a Geração Z. Os<br />
enfants terribles que andam a pôr os emprega<strong>do</strong>res loucos.<br />
O que é que estes miú<strong>do</strong>s querem? Mais <strong>do</strong> que dinheiro,<br />
felicidade: “As pessoas desta geração acreditam<br />
que o caminho anterior não é o caminho certo. Querem<br />
construir uma vida com menos desafios e mais felicidade”<br />
– quem o afirma é Frederico Canto e Castro,<br />
um empresário de 29 anos, chairman da agência de modelos<br />
Sonder e CEO da Seekers, empresa cujo produto é<br />
o Life Mba, um programa educativo que Frederico define<br />
como “de partilha de conhecimentos e ferramentas<br />
que são essenciais para a vida, mas não são ensinadas<br />
na escola”. Literacia financeira, saúde mental e gestão<br />
de tempo são algumas das matérias <strong>do</strong> Life Mba.<br />
A sua idade coloca-o na zona de fronteira entre os<br />
millenials e os Z, por isso diz que os entende bem e partilha<br />
os seus valores. Como emprega<strong>do</strong>r, assegura que<br />
nunca teve razões de queixa: “A partir <strong>do</strong> momento em<br />
que uma pessoa sente que o seu trabalho tem um impacto<br />
muito direto na vida <strong>do</strong>s outros e que está ativamente<br />
a melhorar algo, envolve-se no projeto. Se tiver<br />
autonomia para fazer o seu trabalho e apoio da liderança,<br />
a parte emocional está lá praticamente toda”, responde,<br />
dan<strong>do</strong> a entender que é o que se passa com as<br />
suas equipas. Assume, porém, que a questão <strong>do</strong> salário<br />
não pode ser escamoteada: “Esta geração, ao contrário<br />
de outras, não está só à procura de receber um salário,<br />
mas claro que se tu<strong>do</strong> dependesse apenas <strong>do</strong> salário<br />
emocional, então as pessoas dedicavam-se a hobbies”.<br />
Relativamente a este tema, Frederico Canto e Castro<br />
é frontal: “Visto que estamos numa guerra por talento<br />
tão forte, as empresas não podem pensar só nas suas<br />
obrigações perante os acionistas. Têm de pagar às pessoas<br />
aquilo que elas merecem”.<br />
<strong>Presidente</strong> da ANJE (Associação Nacional de Jovens<br />
Empresários) há três anos, Alexandre Meirelles tem<br />
ideias muito definidas sobre esta tensão latente entre<br />
emprega<strong>do</strong>res e jovens em início de carreira: “Não<br />
concor<strong>do</strong> que esta geração seja preguiçosa, que queira<br />
fazer pouco e que esteja sempre a reivindicar. Acho é<br />
que estamos perante uma geração muito mais bem informada<br />
e que percebeu que tem outro tipo de direitos<br />
(que se calhar a geração anterior ainda não tinha<br />
percebi<strong>do</strong>). Por isso há que dar espaço a estes jovens.<br />
O presidente da ANJE, Alexandre Meirelles, não tem dúvidas:<br />
“Quan<strong>do</strong> eles (os centennials) se queixam de que não há<br />
condições, o que dizem, na essência, é que não há bons salários<br />
para eles”<br />
Quan<strong>do</strong> eles se queixam de que não há condições, o<br />
que dizem, na essência, é que não há bons salários para<br />
eles”.<br />
Alexandre Meirelles afirma que esta crise tem um<br />
nome: “transição geracional”. E acredita que, em vez<br />
de problema, estes jovens são a solução para a economia<br />
nacional: “Esta geração está muito bem preparada<br />
para estar em cargos de tomada de decisão, tanto no<br />
público como no priva<strong>do</strong>”. A disrupção que os centennials<br />
trouxerem à máquina <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e às empresas<br />
será, na opinião <strong>do</strong> presidente da ANJE, um fator-chave<br />
para mudar a economia <strong>do</strong> país: “Temos um país de<br />
PME e culturalmente com problemas a nível empresarial.<br />
Não existe, por exemplo, uma cultura empresarial<br />
de fusões, aquisições, joint ventures, smart money, capital<br />
estratégico. Nestes pontos, a nova geração está muito<br />
mais bem preparada. E nós precisamos de dar dimensão<br />
à nossa economia. Nas startups não se importam<br />
57
management<br />
de ter menos participação numa coisa maior. Preferem<br />
esse caminho <strong>do</strong> que ter uma grande participação<br />
numa coisa mais pequena. Isto revela uma diferença<br />
de mentalidade brutal. E em termos de contribuição<br />
para o PIB, esta atitude face à posse <strong>do</strong> capital faz enorme<br />
diferença”.<br />
58<br />
NÃO SÃO PIORES, SÃO DIFERENTES<br />
Segun<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> “Gen z and Millenial Survey 2022”<br />
da Deloitte, basea<strong>do</strong> num inquérito feito, entre novembro<br />
de 2021 e abril de 2022, a 14.808 centennials e<br />
8.412 millenials de 46 países, ambas as gerações sofrem<br />
de ansiedade financeira e preferem trabalho com mais<br />
propósito e flexível. Muitos sentem-se burned out, por<br />
terem de acumular, em diversos casos, <strong>do</strong>is empregos<br />
para se sustentarem. Esta circunstância sensibilizou<br />
muitas empresas para a importância de desenvolverem<br />
programas de proteção da saúde mental no meio<br />
laboral.<br />
A oferta de melhor salário, work-life-balance, mais<br />
suporte à saúde física e mental, oportunidades de carreira,<br />
formação e a prossecução de políticas sustentáveis<br />
são as melhores estratégias para os atrair e reter<br />
– também revela este estu<strong>do</strong>.<br />
Como é que tu<strong>do</strong> isto se materializa? Com salários<br />
mais eleva<strong>do</strong>s, mas também com horários flexíveis.<br />
Frederico Canto e Castro diz que tem to<strong>do</strong>s os seus colabora<strong>do</strong>res<br />
em regime de full time remote e sabe o quanto<br />
isso é valoriza<strong>do</strong> pelas suas equipas. Como é que<br />
esta apetência se compagina com a oferta tradicional<br />
das empresas? Diogo Santos tem a noção de que é uma<br />
tendência com repercussões “gigantescas” nas organizações.<br />
Mas o que fazer quan<strong>do</strong> há escassez de talento<br />
e são os candidatos que lideram as contratações? O<br />
partner da Deloitte diz que os empresários se têm de<br />
adaptar aos novos tempos: “Se calhar, a força de trabalho<br />
que têm de passar a considerar deverá ser uma pool<br />
variada, constituída por subcontrata<strong>do</strong>s, freelancers e<br />
pessoas que <strong>fazem</strong> parte <strong>do</strong>s quadros”.<br />
A geração Z, diz Diogo Santos, “não é pior nem melhor<br />
<strong>do</strong> que as anteriores. É diferente”. Por isso, antes<br />
de começar a julgá-la, é importante tentar percebê-la:<br />
“Mudar mais frequentemente de emprego – uma das<br />
características que mais lhe criticam – não deve ser visto<br />
como sinónimo de falta de compromisso. Não é por<br />
uma pessoa mudar de emprego de <strong>do</strong>is em <strong>do</strong>is anos<br />
que é menos dedicada <strong>do</strong> que uma que permanece<br />
numa empresa há dez. Esta geração tem é uma expetativa<br />
diferente relativamente àquilo que pensa que é<br />
melhor para o seu futuro profissional. Acha que é importante<br />
a diversidade de experiências e alargar a sua<br />
rede de contactos”, sublinha.<br />
Diogo Santos, partner da Deloitte, sobre a geração Z: “Mudar<br />
mais frequentemente de emprego – umas das características<br />
que mais lhe criticam – não deve ser visto como sinónimo de<br />
falta de compromisso”<br />
Também se diz <strong>do</strong>s centennials que, por preferirem<br />
trabalhar em remoto, são menos comprometi<strong>do</strong>s e só<br />
pensam no seu conforto, algo que, mais uma vez, Diogo<br />
Santos desmonta: “Falamos de uma geração que é<br />
nativa digital, com licenciaturas e partes de mestra<strong>do</strong>s<br />
feitas em digital. To<strong>do</strong>s os trabalhos de grupo que fizeram<br />
foi em contexto digital. Então porque é que, no<br />
contexto profissional, isso é negativo?”.<br />
A resistência a esta nova maneira de estar no trabalho<br />
existe por parte <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>res, mas a realidade<br />
é o que é. E, entretanto, o turnover estrutural <strong>do</strong><br />
merca<strong>do</strong>, em áreas como a tecnologia, já é superior a<br />
20%. O que é que isto indica? “Que os instrumentos de<br />
retenção que funcionavam para pessoas que tinham<br />
como premissa ficar dez ou 15 anos na mesma empresa<br />
não podem ser os mesmos para as pessoas que assumem<br />
que querem mudar a cada <strong>do</strong>is anos”, responde<br />
Diogo Santos. Apetece dizer: “Elementar, meu caro<br />
Watson!”.•
portugal digital<br />
ALFREDO,<br />
O MORDOMO QUE<br />
FALTAVA AO SETOR<br />
IMOBILIÁRIO<br />
A história da Alfre<strong>do</strong> AI tem um ponto de partida<br />
que é um clássico: um grupo de jovens, acaba<strong>do</strong>s<br />
de sair da universidade, tropeça numa dificuldade<br />
que inspira uma ideia. O resto, já o mun<strong>do</strong><br />
conhece. Do “momento Eureka” ao presente, foi<br />
sempre a subir.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS VÍTOR GORDO/SYNCVIEW<br />
60
61
portugal digital<br />
62<br />
O<br />
tempo passa a correr. Já lá vão mais de quatro<br />
anos, desde o dia em que Guilherme Farinha,<br />
Mário Gamas e Gonçalo Abreu descobriram que<br />
enfrentavam as mesmas dificuldades. Queriam<br />
iniciar uma nova etapa nas suas vidas, que passava por<br />
encontrar uma casa para morar à medida das suas possibilidades<br />
e desejos, mas não era fácil resolver a questão<br />
tão depressa quanto imaginavam. A razão era simples:<br />
não existia muita informação disponível sobre o<br />
merca<strong>do</strong> imobiliário a que pudessem aceder. E mesmo<br />
recorren<strong>do</strong> a promotores imobiliários, a situação não<br />
melhorava substancialmente. Esse vazio, concluíram,<br />
só queria dizer uma coisa: que nem os profissionais <strong>do</strong><br />
setor tinham ao seu dispor informação tratada, que<br />
lhes facilitasse o trabalho e robustecesse o apoio presta<strong>do</strong><br />
aos seus clientes.<br />
Guilherme, Mário e Gonçalo, ex-alunos <strong>do</strong> Instituto<br />
Superior Técnico (IST), tinham background estatístico<br />
e tecnológico para somar 2+2 e identificar ali uma<br />
oportunidade de negócio. Foi o que aconteceu. Como<br />
quase sempre sucede com as boas histórias de inovação,<br />
os seus interesses pessoais<br />
e capacidades técnicas<br />
ficaram alinha<strong>do</strong>s por<br />
mero acaso, mas não desperdiçaram<br />
a feliz conjunção<br />
astral.<br />
Juntos desenharam a<br />
primeira versão <strong>do</strong> que viria<br />
a tornar-se o algoritmo<br />
de estimativas mais utiliza<strong>do</strong><br />
em Portugal. Mas<br />
era necessário fazer uma<br />
aproximação ao setor. Em<br />
outubro desse ano essa oportunidade surgiu através <strong>do</strong><br />
Salão Imobiliário de Portugal, que se realizava na FIL.<br />
Foi durante essa exposição, a partir de conversas tidas<br />
com profissionais <strong>do</strong> ramo, que lhes surgiu a ideia para<br />
o primeiro produto: um estu<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> residencial<br />
potencia<strong>do</strong> por inteligência artificial.<br />
De repente, de ex-colegas passavam a sócios e como<br />
mantinham ligação ao Instituto Superior Técnico, com<br />
a bênção de alguns professores, lançaram a startup Alfre<strong>do</strong><br />
AI, integra<strong>do</strong>s na comunidade de spin off <strong>do</strong> IST.<br />
O nome Alfre<strong>do</strong> foi escolhi<strong>do</strong> porque lhes pareceu<br />
ser muito adequa<strong>do</strong> para um mor<strong>do</strong>mo, figura que enquadra<br />
bem as funções para que o algoritmo foi desenha<strong>do</strong>:<br />
“O mote da empresa sempre foi ajudar, facilitar<br />
e dar tempo de volta às pessoas e de facto foi com esse<br />
objetivo que concebemos o Alfre<strong>do</strong>. Ele é quase um<br />
Como quase sempre sucede<br />
com as boas histórias<br />
de inovação, interesses<br />
pessoais e capacidades<br />
técnicas estavam alinha<strong>do</strong>s<br />
mor<strong>do</strong>mo que ajuda na parte chata <strong>do</strong> trabalho, que<br />
é o da coleção, extração e análise de da<strong>do</strong>s”, explica<br />
Gonçalo Abreu. O antropomorfismo que o nome sugere<br />
aju<strong>do</strong>u, segun<strong>do</strong> o co-founder, a transmitir ao setor<br />
imobiliário a ideia de que esta ferramenta existia para<br />
ajudar os seus profissionais.<br />
Hoje, a Alfre<strong>do</strong> AI já tem concorrentes, mas quan<strong>do</strong><br />
começou, a inteligência artificial quase não era<br />
usada no merca<strong>do</strong> imobiliário, por isso foi fácil entrar<br />
a pés juntos. Em menos de <strong>do</strong>is anos a startup conquistou<br />
cerca de 2000 clientes, entre analistas, media<strong>do</strong>res<br />
imobiliários, avalia<strong>do</strong>res, banca e fun<strong>do</strong>s de investimento.<br />
Esta rápida adesão foi o maior indica<strong>do</strong>r que<br />
poderia haver da necessidade de ferramentas com tecnologia<br />
baseada em IA no setor.<br />
ALGORITMOS “HAND MADE”<br />
Olhan<strong>do</strong> à distância para o caminho percorri<strong>do</strong>, Gonçalo<br />
Abreu não disfarça o orgulho: “O Alfre<strong>do</strong>, ao ser a<br />
primeira ferramenta <strong>do</strong> género dedicada a este setor,<br />
aju<strong>do</strong>u a melhorar muito os seus processos. Trouxe<br />
novos méto<strong>do</strong>s, novos conhecimentos,<br />
aumentou a<br />
eficiência, popularizou no<br />
país o uso de estatística no<br />
imobiliário e isso é muito<br />
importante”.<br />
O sucesso não lhes<br />
tem da<strong>do</strong> descanso, pelo<br />
contrário. Benefician<strong>do</strong><br />
da proximidade com as<br />
faculdades de engenharia<br />
onde a inteligência artificial<br />
nasceu e está a ser<br />
desenvolvida em Portugal, a Alfre<strong>do</strong> AI tenta manter-se<br />
na vanguarda, trazen<strong>do</strong> novos produtos para o<br />
merca<strong>do</strong> imobiliário e aperfeiçoan<strong>do</strong> o serviço que já<br />
disponibiliza. A concorrência crescente que atualmente<br />
enfrenta, não assusta: “Diria que acima de tu<strong>do</strong> temos<br />
a nosso favor <strong>do</strong>is vértices: a nossa qualidade algorítmica<br />
– usamos algoritmos que foram totalmente<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s pela nossa equipa, não usamos versões<br />
de prateleira, que já existem feitas. A nossa segunda<br />
qualidade é a facilidade de uso: os nossos clientes conseguem,<br />
por exemplo, ver tu<strong>do</strong> o que pretendem consultar<br />
numa só plataforma, o que é bastante funcional.<br />
Dizem que a nossa ferramenta parece desenhada por<br />
pessoas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário para o merca<strong>do</strong> imobiliário<br />
e isso deixa-nos muito sartisfeitos”, comenta<br />
Gonçalo Abreu.
A Alfre<strong>do</strong> AI já está a expandir para fora <strong>do</strong> país. No Reino Uni<strong>do</strong> esta equipa já conquistou o Global Entrepeneur Award, patrocina<strong>do</strong><br />
pelo governo inglês<br />
Hoje o Alfre<strong>do</strong> funciona em três vértices: ajuda à<br />
conceção de estu<strong>do</strong>s de merca<strong>do</strong> – essenciais na angariação<br />
de novos clientes e nos processos de avaliação.<br />
Disponibiliza um módulo de meta search e analítica,<br />
onde os utiliza<strong>do</strong>res da plataforma conseguem ver tendências<br />
macro e micro económicas e colocar as suas<br />
próprias perguntas. Questões como: “Quero comparar<br />
as dinâmicas <strong>do</strong> Bairro Alto e <strong>do</strong> Bairro Azul, no que<br />
diz respeito a apartamentos<br />
T2 e T3”, podem ser facilmente<br />
respondidas. Em<br />
cima disto os utiliza<strong>do</strong>res<br />
conseguem ter um acesso<br />
360 graus a tu<strong>do</strong> o que<br />
está no merca<strong>do</strong>, poupan<strong>do</strong><br />
tempo que gastariam a<br />
consultar várias plataformas<br />
com informações duplicadas<br />
e eventualmente<br />
menos consistentes. O<br />
terceiro vértice <strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong><br />
é o da geração de leads de negócio: hoje há muitos players<br />
no merca<strong>do</strong> português que têm sites sobre avaliação<br />
imóvel (são aplicações online, todas dinâmicas, que<br />
conseguem fazer uma estimativa <strong>do</strong> imóvel na hora.<br />
A Alfre<strong>do</strong> AI desenhou o<br />
algoritmo de estimativas<br />
que diz ser o mais utiliza<strong>do</strong><br />
em Portugal<br />
Ferramentas que ajudam, a quem está no merca<strong>do</strong>, a<br />
ter mais negócio). A maior parte destas aplicações têm<br />
tecnologia Alfre<strong>do</strong> AI.<br />
Para não <strong>do</strong>rmir sobre o sucesso alcança<strong>do</strong>, a equipa<br />
de investigação da startup faz muitas ciclos de literação<br />
(desenvolve um conjunto de funcionalidades, recebe<br />
feedback <strong>do</strong>s potenciais utiliza<strong>do</strong>res e com base na<br />
informação recolhida altera ou aperfeiçoa o produto).<br />
Uma das funcionalidades<br />
que lançou há cerca de um<br />
ano, “algo que ficou muito<br />
próximo <strong>do</strong> primeiro produto<br />
<strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong> que não<br />
chegou a ser lança<strong>do</strong>”, detalha<br />
Gonçalo Abreu, foi o<br />
identifica<strong>do</strong>r de oportunidades<br />
para investi<strong>do</strong>res,<br />
ferramenta concebida a<br />
pensar sobretu<strong>do</strong> nos fun<strong>do</strong>s<br />
de investimento que<br />
querem perceber quais as<br />
oportunidades que vão emergir no merca<strong>do</strong>.<br />
Outro projeto deste spin off <strong>do</strong> IST é o Observatório<br />
<strong>do</strong> Alojamento Estudantil, que foi lança<strong>do</strong> em parceria<br />
com o Ministério da Ciência e da Tecnologia. Trata-se<br />
63
portugal digital<br />
64<br />
A startup também desenvolveu o Índice de Preços Residencial, um<br />
<strong>do</strong>cumento aberto ao público, que permite compreender as dinâmicas de<br />
merca<strong>do</strong> mensais, em cada uma das capitais de distrito<br />
de uma plataforma <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que, como o nome indica,<br />
funciona como observatório para o merca<strong>do</strong> de<br />
arrendamento de quartos para os alunos que se estão a<br />
candidatar, ou já estão, no Ensino Superior. Esta plataforma<br />
é pública e resume um conjunto de estatísticas<br />
e analíticas para todas as<br />
cidades <strong>do</strong> país.<br />
A startup também desenvolveu<br />
o Índice de Preços<br />
Residencial, um <strong>do</strong>cumento<br />
aberto ao público<br />
que permite compreender<br />
as dinâmicas de merca<strong>do</strong><br />
mensais em cada uma das<br />
20 capitais de distrito portuguesas.<br />
Algo que, frisa<br />
Gonçalo, “em 2018 gostaríamos,<br />
enquanto cidadãos,<br />
de encontrar disponível para consulta, mas que<br />
não havia”.<br />
Fazem questão de usar<br />
algoritmos totalmente<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s pela equipa,<br />
algo que – dizem – faz a<br />
diferença<br />
OLÁ, EUROPA<br />
Atualmente, com mais de 10 mil utiliza<strong>do</strong>res ativos, a<br />
Alfre<strong>do</strong> AI inclui na sua carteira de clientes as empresas<br />
líderes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário nacional (ERA, Remax<br />
e Century 21), entre muitos outros players. Gonçalo<br />
Abreu não hesita em afirmar que hoje “a<br />
venda e a compra de imóveis estão profundamente<br />
ligadas aos algoritmos de IA que auxiliam<br />
os profissionais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> na avaliação<br />
de propriedades, análise de ofertas e identificação<br />
de tendências em concelhos, freguesias<br />
e bairros”. Por outras palavras, com o tempo, a<br />
inovação que Gonçalo e os seus sócios trouxeram<br />
ao setor foi de tal forma transforma<strong>do</strong>ra,<br />
que hoje os profissionais liga<strong>do</strong>s à imobiliária<br />
já não concebem o seu trabalho no dia a dia<br />
sem o auxílio destas ferramentas.<br />
Portugal foi um excelente laboratório para<br />
a Alfre<strong>do</strong> AI, mas como Gonçalo já assumiu<br />
num artigo que divulgou publicamente, a visão<br />
desta equipa de empreende<strong>do</strong>res nunca<br />
se limitou ao merca<strong>do</strong> português: “Embora o<br />
merca<strong>do</strong> nacional seja uma boa rampa de lançamento,<br />
para uma empresa tecnológica é importante<br />
expandir os seus horizontes de forma a poder<br />
aproveitar a escalabilidade das soluções de software e<br />
algoritmia”, escreveu.<br />
No terceiro trimestre <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> decidiram<br />
avançar para o merca<strong>do</strong> internacional com uma nova<br />
marca, chamada Propdata.<br />
Começaram por<br />
Espanha e Reino Uni<strong>do</strong>,<br />
onde se estrearam da melhor<br />
forma, ao conquistar<br />
o Global Entrepeneur<br />
Award, patrocina<strong>do</strong> pelo<br />
governo inglês. Querem,<br />
a curto prazo, alcançar<br />
nestes merca<strong>do</strong>s a mesma<br />
consistência obtida em<br />
solo português, por isso<br />
estão, pela primeira vez, a<br />
contratar para a área de negócio. Em 2018 eram três,<br />
hoje a equipa é composta por sete pessoas, mas como<br />
se vê, não ficará por aqui.<br />
A médio prazo a ideia é expandir para mais merca<strong>do</strong>s,<br />
a longo prazo, diz Gonçalo, “a Propdata será uma<br />
marca europeia”. Talvez nessa altura o Alfre<strong>do</strong> perca o<br />
nome. Se acontecer, será por uma boa causa: a da consagração<br />
internacional.•
66<br />
“Precisamos de mitigar o estigma que ainda envolve a saúde mental, de agir contra a incapacidade de falar sobre este assunto”,<br />
argumenta Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves
cidadania<br />
29KFJN a “senha” da Fundação<br />
José Neves para a saúde mental<br />
Parece um código e em certo senti<strong>do</strong> não deixa de ser. Porque como to<strong>do</strong>s<br />
os códigos, esta combinação de letras e números serve para dar um acesso.<br />
No caso, 29KFJN introduz-nos no programa de desenvolvimento pessoal da<br />
Fundação José Neves, cujo foco é a saúde mental.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDAS<br />
A<br />
designação 29k é a <strong>do</strong> programa<br />
original, de origem sueca, que<br />
foi cria<strong>do</strong> para levar a to<strong>do</strong>s,<br />
através de uma app gratuita –<br />
disponível tanto no sistema operativo<br />
IOS, como em Android – um curso de<br />
desenvolvimento pessoal. O conteú<strong>do</strong><br />
desse programa é basea<strong>do</strong> em técnicas<br />
como a Terapia Cognitivo-Comportamental<br />
e a Teoria de Aceitação e Compromisso,<br />
cientificamente validadas. Compreende<br />
vídeos, meditações e exercícios e conta<br />
com a colaboração de embaixa<strong>do</strong>res da app, figuras<br />
públicas que participaram neste curso e se disponibilizaram<br />
para partilhar a sua experiência, contribuin<strong>do</strong><br />
para desmistificar um assunto, em torno <strong>do</strong> qual ainda<br />
existem muitos preconceitos.<br />
Com a discussão sobre o aumento <strong>do</strong>s problemas<br />
de saúde mental, impulsiona<strong>do</strong> pela pandemia, particularmente<br />
entre os jovens, a fazer manchetes nos<br />
jornais nacionais, a Fundação José Neves interessou-<br />
-se em trazer este programa para Portugal: “Precisamos<br />
de mitigar o estigma que ainda envolve a saúde mental,<br />
de agir contra a incapacidade de falar sobre este<br />
assunto”, argumenta Carlos Oliveira, presidente da<br />
fundação, explican<strong>do</strong> que além de captar utiliza<strong>do</strong>res,<br />
a iniciativa pretende contribuir para a desmistificação<br />
<strong>do</strong> tema.<br />
Adapta<strong>do</strong> para a língua portuguesa, ao programa<br />
29KFJN já aderiram mais de 60 mil pessoas, uma marca<br />
considerada por Carlos Oliveira “muito positiva”:<br />
“Já registámos mais de 60 mil meditações, mais de 70<br />
mil atividades, mais de 40 mil testes, mais de 56 mil<br />
lições <strong>do</strong>s cursos”, detalha com entusiasmo.<br />
Por questões de privacidade o 29KFJN<br />
não faz trakking de informação: “Queremos<br />
mostrar a quem decide fazer o<br />
programa que este é um espaço seguro,<br />
onde a recolha de da<strong>do</strong>s é mínima<br />
e totalmente controlada pelo utiliza<strong>do</strong>r”,<br />
explica o presidente da Fundação<br />
José Neves. Por este motivo não é<br />
possível apurar quais os perfis que maioritariamente<br />
se inscrevem no 29KFJN,<br />
nem o impacto que o programa tem nos seus<br />
frequenta<strong>do</strong>res. Por enquanto só o feedback que<br />
estes deixam na app, num espaço cria<strong>do</strong> para o efeito,<br />
pode dar uma ideia sobre os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no decurso<br />
desta experiência em termos de autoconhecimento,<br />
crescimento pessoal e bem-estar psicológico.<br />
Num terreno onde a confiança é fundamental, as métricas<br />
poderão, segun<strong>do</strong> Carlos Oliveira, ser feitas mais<br />
tarde, com validação científica.<br />
Por enquanto, o objetivo é conquistar cada vez<br />
mais utiliza<strong>do</strong>res, nomeadamente entre as camadas<br />
muito jovens (existe um segmento <strong>do</strong> programa inteiramente<br />
dedica<strong>do</strong> à faixa etária compreendida entre<br />
os 15 e os 20 anos) e esperar que as várias ferramentas<br />
que este programa disponibiliza façam a diferença. No<br />
comunica<strong>do</strong> que a Fundação José Neves divulgou no<br />
lançamento <strong>do</strong> 29KFJN, lê-se: “Acreditamos que o desenvolvimento<br />
pessoal tem o poder de mudar e transformar<br />
o mun<strong>do</strong>. É por isso que a dimensão humana<br />
está inscrita na fundação desde o primeiro momento,<br />
no seu quarto pilar. A pandemia só veio demonstrar a<br />
importância <strong>do</strong> autoconhecimento para atingirmos<br />
to<strong>do</strong> o nosso potencial e alcançarmos uma vida plena,<br />
feliz e equilibrada”. A semente está lançada.•<br />
67
<strong>32º</strong><br />
<strong>Digital</strong><br />
<strong>Business</strong><br />
<strong>Congress</strong><br />
Pessoas<br />
da disru
: as protagonistas<br />
pção
70 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Pessoas no centro<br />
de tu<strong>do</strong><br />
O mun<strong>do</strong> está a mudar a grande velocidade e na base dessa<br />
profunda transformação está uma aceleração tecnológica sem<br />
precedentes, que traz múltiplos desafios e incógnitas, mas<br />
também inúmeras oportunidades e possibilidades. No centro<br />
desta grande disrupção, que é hoje o novo normal, estão as<br />
pessoas. Porque são elas que têm de controlar o processo de<br />
inovação e recolher to<strong>do</strong>s os seus benefícios.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
Fotos de Vítor Gor<strong>do</strong> e Filipa Bernar<strong>do</strong> /SYNCVIEW<br />
Os <strong>do</strong>is dias <strong>do</strong> congresso da APDC, com o<br />
mote “Disruptions: The Great <strong>Digital</strong> Tech<br />
(R)Evolutions”, foram de reflexão, partilha de<br />
ideias, conhecimentos e de construção de<br />
cenários de futuro. Ninguém tem dúvidas<br />
de que o acelera<strong>do</strong> avanço tecnológico está<br />
a transformar profundamente tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s<br />
e urge definir as melhores estratégias para<br />
construir um amanhã mais sustentável, colaborativo,<br />
justo e solidário.<br />
Portugal tem todas as condições para ser<br />
um vence<strong>do</strong>r neste novo mun<strong>do</strong>, posicionan<strong>do</strong>-se<br />
no panorama europeu e até<br />
mundial como um player de relevo. Os<br />
fun<strong>do</strong>s europeus são uma enorme oportunidade<br />
para uma mudança estrutural e o<br />
processo está em marcha e a ganhar velocidade.<br />
Caberá a to<strong>do</strong>s, Esta<strong>do</strong> e setor priva<strong>do</strong>,<br />
em parceria e ecossistema, trabalharem<br />
para aproveitar esta que é uma das maiores<br />
oportunidades que o país alguma vez teve.<br />
Esta edição <strong>do</strong> congresso da APDC voltou<br />
a realizar-se num formato de programa de<br />
televisão, graças à parceria e apoio da RTP,<br />
decorren<strong>do</strong> em formato híbri<strong>do</strong> – online e<br />
presencial – a partir <strong>do</strong> auditório da Faculdade<br />
de Medicina Dentária de Lisboa. E registou<br />
um novo número recorde de participantes:<br />
mais de 9.700, <strong>do</strong>s quais mais de 700<br />
presenciais e os restantes online, seja através<br />
da plataforma <strong>do</strong> congresso (web e mobile),<br />
seja via streaming no website APDC,<br />
no YouTube APDC ou no Tek Sapo.<br />
O PODER DA TECNOLOGIA<br />
Para mostrar o poder da tecnologia, Rogério<br />
Carapuça abriu o congresso com um<br />
discurso produzi<strong>do</strong> por inteligência artificial<br />
(IA), escrito num minuto pelo ChatGPT.<br />
Este exemplo, de acor<strong>do</strong> com o presidente<br />
da APDC, ilustra claramente as disrupções a<br />
que estamos a assistir e que estão a “transformar<br />
de forma muito profunda a forma<br />
como trabalhamos, desenvolvemos atividades<br />
e nos relacionamos uns com os outros”.<br />
E não devemos ter me<strong>do</strong> da IA, porque<br />
“o que nos diferencia de tu<strong>do</strong> é a nossa<br />
alma”, considerou o presidente da Câmara
Rogério Carapuça (APDC) deu o mote ao congresso, na sessão de abertura,<br />
onde participaram também Carlos Moedas (CML) e Pedro Siza Vieira<br />
(presidente <strong>do</strong> congresso). Já o <strong>Presidente</strong> da República, na sua mensagem,<br />
colocou várias questões a que se impõe uma resposta urgente, na atual<br />
conjuntura de enormes mudanças
72 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Municipal de Lisboa, para quem a disrupção<br />
é hoje “tecnologia, criar e inovar”, num<br />
processo de “inovação que cria merca<strong>do</strong>s<br />
e produtos de que as pessoas precisam”.<br />
Para Carlos Moedas, esta inovação disruptiva<br />
acontece sobretu<strong>do</strong> nas cidades, porque<br />
é nelas que “podemos cruzar diferentes<br />
ideias, formas de pensar e pessoas”, graças à<br />
sua diversidade, ao seu ritmo e à sua identidade<br />
própria. Que, no caso de Lisboa, chama<br />
de “alma pragmática portuguesa”.<br />
Estes são “tempos de mudança muito<br />
acelerada. Quase não temos tempo para<br />
nos adaptar e sentimos dificuldade em<br />
perceber o senti<strong>do</strong> desta mudança. Provavelmente,<br />
esse é mesmo o tema da disrupção”,<br />
acrescentou Pedro Siza Vieira, alertan<strong>do</strong><br />
para uma realidade que revela que “as<br />
mudanças não são apenas na forma como<br />
as tecnologias digitais se impõem na nossa<br />
vida de forma muito rápida”. “Estamos”, salientou,<br />
“a assistir a uma reorganização da<br />
economia global, depois <strong>do</strong> modelo <strong>do</strong>s últimos<br />
20 a 30 anos, que assentou na ideia<br />
de globalização”, que “se trouxe um crescimento<br />
económico inédito ao mun<strong>do</strong>, foi<br />
também manifestan<strong>do</strong> a acumulação de<br />
riscos e tensões na economia e na organização<br />
mundial, que se tornaram agora muito<br />
evidentes”.<br />
Para o <strong>Presidente</strong> <strong>do</strong> <strong>32º</strong> congresso, “a globalização<br />
foi muito importante, mas teve os<br />
seus perde<strong>do</strong>res, como Portugal, o que causou<br />
um choque brutal à nossa economia,<br />
levan<strong>do</strong> à sua mudança”. Neste momento<br />
“as mudanças que estão em curso estão<br />
a traduzir-se em vantagens para o país.<br />
Não é por acaso que as nossas exportações<br />
têm bati<strong>do</strong> as previsões e que temos<br />
ti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s maiores números de IDE da<br />
UE. São tempos de grandes oportunidades<br />
e temos hoje mais condições para as<br />
aproveitar <strong>do</strong> que alguma vez tivemos”,<br />
considerou.<br />
Mas estaremos a aproveitar os benefícios<br />
e as vantagens <strong>do</strong>s avanços tecnológicos?<br />
Não estaremos a esquecer as pessoas? Estas<br />
foram algumas das questões colocadas<br />
pelo <strong>Presidente</strong> da República na sua intervenção,<br />
em que considerou que as tecnologias<br />
não são ameaças, mas sim oportunidades.<br />
O desafio está, para Marcelo<br />
Rebelo de Sousa, em liderar a revolução<br />
tecnológica “sem atingir a coesão social<br />
e o que já é hoje um panorama de muitas<br />
desigualdades”, sen<strong>do</strong> colaborativo,<br />
reforçan<strong>do</strong> a solidariedade e olhan<strong>do</strong>, em<br />
Asahi Beverages, Ex-Group Chief Disrup<br />
abor<strong>do</strong>u o impacto das disrupções nos c<br />
e os caminhos que se colocam às empre<br />
“Tokens e a cria<br />
o papel da banc
tion Officer,<br />
onsumi<strong>do</strong>res<br />
sas<br />
Pedro Faustino defende que, numa conjuntura de<br />
disrupção, o país terá de criar mais riqueza e as empresas<br />
terão de assumir o papel de ativistas económicos<br />
ção de valor económico” esteve em debate nesta sessão, onde<br />
a centrou as discussões. Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral foi o KNS
74 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Debate sobre a forma como as disrupções<br />
estão a mudar o mo<strong>do</strong> como trabalhamos e<br />
lideramos. David Rimmer (DXC) deu o mote<br />
Os líderes nacionais da Ericsson e da Nokia<br />
juntaram-se aos responsáveis da Galp e da<br />
Accenture para refletir sobre a aposta na<br />
sustentabilidade em to<strong>do</strong>s os negócios<br />
primeiro lugar, para as pessoas.<br />
O certo é que “vivemos tempos espantosos”,<br />
onde o “papel da tecnologia<br />
nunca foi tão importante”,<br />
realçou Kellie Barnes. Para a exgroup<br />
chief Disruption Officer da<br />
Asahi Beverages, os sinais que se<br />
vêm hoje a emergir e que vão definir<br />
tu<strong>do</strong> nos próximos anos, deixam<br />
claro que “os consumi<strong>do</strong>res querem<br />
mais experiências que lhes tragam<br />
felicidade” e “exigem das empresas<br />
um novo modelo”. Porque<br />
são as pessoas que “<strong>do</strong>minam a<br />
mudança e a tecnologia terá de<br />
lhes dar resposta. Só assim se<br />
poderá ser relevante. Acordámos<br />
num mun<strong>do</strong> que mu<strong>do</strong>u, e talvez,<br />
mas só talvez, poderemos estar<br />
presentes nele”, alertou.<br />
EMPRESAS: NOVOS ATIVISTAS<br />
ECONÓMICOS<br />
Mas de que forma poderá a disrupção<br />
ajudar a criar novos negócios?<br />
Será que estamos to<strong>do</strong>s a abdicar<br />
da capacidade crítica construtiva<br />
em relação à estratégia económica<br />
de Portugal? As questões foram<br />
colocadas por Pedro Faustino, face<br />
ao muito que aconteceu no último<br />
ano. Como “em economia não<br />
há milagres e só se muda se o país<br />
criar mais riqueza”, o managing director<br />
da Axians Portugal defende<br />
que o país precisa, mais <strong>do</strong> que<br />
nunca, de “mais e melhores empresas”,<br />
o que só se faz com investimento.<br />
Com os 43 mil milhões de<br />
euros disponíveis até 2030, há que<br />
“transformar as empresas em ativistas<br />
económicos” para se ir mais<br />
além.<br />
Um <strong>do</strong>s caminhos para criar riqueza<br />
e valor económico passa<br />
pelos ativos digitais, potencia<strong>do</strong>s<br />
pela aceleração da tecnologia.<br />
Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral não<br />
tem dúvidas de que “vivemos uma<br />
inovação tremenda” e há que “saber<br />
transportar a tecnologia para<br />
a economia real”, multiplican<strong>do</strong> as<br />
oportunidades trazidas pelo blockchain,<br />
que, além de ter potencia<strong>do</strong><br />
o mun<strong>do</strong> das criptomoedas, tem<br />
a capacidade de “alterar as nossas<br />
vidas”.
De tal forma que, para o professor<br />
assistente da Católica-Lisbon,<br />
se trata “<strong>do</strong> início de uma nova era<br />
industrial, porque a diminuição <strong>do</strong><br />
custo é tão grande, que potenciará<br />
a criação de novos negócios. Este é<br />
um enorme conjunto de oportunidades<br />
para empresas, numa alteração<br />
<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> económico capaz de<br />
criar imensas oportunidades”.<br />
Para David Rimmer, research advisor<br />
da DXC Leading Edge, “há<br />
uma grande transição a decorrer”<br />
a to<strong>do</strong>s os níveis, com novos paradigmas,<br />
formas de pensar e gerir<br />
os negócios e novas tecnologias.<br />
“Cada vez mais, é importante não<br />
o que se faz, mas como se faz”,<br />
ou seja, o propósito <strong>do</strong> negócio,<br />
que tem de criar valor para os<br />
stakeholders, pois a pressão para<br />
o ESG “está a vir de to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>”.<br />
O talento está no centro das atenções,<br />
numa guerra cada vez mais<br />
intensa, acrescenta o managing<br />
partner da The Key Talent Portugal,<br />
destacan<strong>do</strong> que o tema essencial<br />
<strong>do</strong> propósito das organizações,<br />
é sempre ti<strong>do</strong> em conta pelas<br />
pessoas, na hora de aceitarem um<br />
novo emprego. Hugo Bernardes<br />
alerta que, se o híbri<strong>do</strong> veio para ficar,<br />
há empresas a voltar atrás, muitas<br />
vezes pelas dificuldades das lideranças<br />
neste novo mun<strong>do</strong>.<br />
Manuel Maria Correia, líder da DXC,<br />
confirma que o modelo híbri<strong>do</strong> é o<br />
que permite “maior produtividade<br />
e valor”, embora admita que o<br />
nosso país “ainda está a anos-luz<br />
de lá chegar, porque há temas de<br />
gestão, culturais e de modelos de<br />
negócio, que não permitem que<br />
seja assim. Será um processo”,<br />
ao qual as organizações se estão<br />
a ajustar. E se o lucro é importante,<br />
para Luísa Ribeiro Lopes “há outros<br />
valores com que as empresas<br />
estão preocupadas e que <strong>fazem</strong> a<br />
diferença”, já que “os ativos intangíveis<br />
são feitos por pessoas com<br />
talento. Estamos to<strong>do</strong>s no mesmo<br />
barco e as empresas <strong>TIC</strong>, como motor<br />
da economia, devem puxar pelas<br />
demais empresas, porque temos<br />
um teci<strong>do</strong> industrial que acha<br />
ainda isto tu<strong>do</strong> muito estranho”,<br />
O administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal refletiu<br />
sobre o que está a ser feito nos “Serviços<br />
Financeiros & Moedas Digitais Reguladas” na UE<br />
e no país<br />
A banca, sen<strong>do</strong> uma das indústrias mais<br />
inova<strong>do</strong>ras, vai manter o seu papel com o<br />
projeto <strong>do</strong> euro digital, garantem Francisco<br />
Barbeira e Ricar<strong>do</strong> Correia
76 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Está em curso uma revolução digital na generalidade <strong>do</strong>s<br />
serviços da AP. Com redesenho de to<strong>do</strong>s os serviços, para<br />
simplificar a vida das pessoas e das empresas<br />
As tecnologias <strong>do</strong> metaverso ainda estão na sua infância<br />
e há muito que desenvolver. APDC e XRSI anunciaram<br />
uma parceria para um uso responsável destas soluções
O debate sobre o futuro entre os líderes <strong>do</strong>s media:<br />
Francisco Pinto Balsemão (Impresa), Nicolau<br />
Santos (RTP) e Pedro Morais Leitão (MC)<br />
considera a presidente <strong>do</strong> .PT.<br />
Nesta era digital, tema cada vez mais relevante<br />
é o da sustentabilidade. No merca<strong>do</strong><br />
nacional, “vemos várias indústrias com comportamentos<br />
distintos relativamente à evolução<br />
das práticas sustentáveis”, diz Bruno<br />
Martinho, managing director da Accenture<br />
Strategy. A indústria de utilities e energia<br />
está a liderar esta evolução, como o prova<br />
o caso da Galp. Para a sua diretora de inovação,<br />
Ana Casaca, é necessário “um investimento<br />
enorme em tecnologias e pessoas”.<br />
Também da parte <strong>do</strong>s fabricantes europeus<br />
Ericsson e Nokia, esta é uma prioridade, com<br />
a oferta de infraestruturas, particularmente<br />
agora com o 5G. O CEO da Ericsson Portugal,<br />
Juan Olivera, diz que permitirá “uma sociedade<br />
mais sustentável”. A questão é que<br />
ainda não se vêem benefícios na Europa,<br />
que corre o risco de ficar para trás. Sérgio<br />
Catalão, CEO da Nokia Portugal, adianta que<br />
há que “saber usar to<strong>do</strong>s os recursos tecnológicos,<br />
monetizar o 5G e canalizá-lo na direção<br />
da sustentabilidade. Podemos dar um<br />
contributo muito grande para acelerar”.<br />
Uma das grandes apostas no espaço europeu<br />
é neste momento a criação <strong>do</strong> euro<br />
digital e a regulação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos.<br />
A primeira permitirá à UE criar finalmente<br />
um sistema de pagamentos<br />
europeu, deixan<strong>do</strong> de se depender das multinacionais.<br />
A segunda coloca-a como pioneira<br />
mundial neste tipo de regras e trará<br />
transparência e clareza a um ecossistema<br />
em explosão. “Estamos a assistir a um declínio<br />
acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong> numerário enquanto meio<br />
de pagamento, à entrada de novas tecnologias<br />
e de novos players, como as fintech,<br />
mas também as big tech. É aqui que emergem<br />
novas soluções de pagamentos, como<br />
as privadas, <strong>do</strong>s criptoativos ou as moedas<br />
digitais <strong>do</strong> banco central”, explica Helder Rosalino,<br />
administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal.<br />
“A disrupção é, na verdade, o novo normal”,<br />
garante o secretário de Esta<strong>do</strong> da <strong>Digital</strong>ização e<br />
da Modernização Administrativa<br />
FUTURO CHEIO DE OPORTUNIDADES<br />
Quem também pretende aproveitar to<strong>do</strong><br />
o potencial da disrupção tecnológica<br />
para acelerar a digitalização é a Administração<br />
Pública. Já muitos progressos foram<br />
feitos, mas há ainda muito por fazer,<br />
como ficou claro com a intervenção de João<br />
Dias. “A tecnologia permite fazer muito mais<br />
e queremos elevar a fasquia <strong>do</strong>s serviços públicos.<br />
Com o mesmo ADN, simplificar a vida<br />
de cidadãos e empresas”, assegura o presidente<br />
da AMA, que deixa claro que a IA “abre<br />
um mar de possibilidades extraordinárias
78 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
O ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar está otimista: “A<br />
digitalização e a intensificação tecnológica vão afirmar um<br />
caminho cada vez melhor para o futuro”<br />
Depois de fazer um balanço e traçar perspetivas para o PRR,<br />
Pedro Dominguinhos juntou-se ao debate sobre como se<br />
poderá acelerar a sua efetiva implementação
O painel de discussão entre Ricar<strong>do</strong> Reis e Pedro<br />
Siza Vieira mostrou que ambos estão convictos de<br />
que Portugal tem pela frente uma oportunidade<br />
sem precedentes<br />
“A Computação e as Comunicações Quânticas”<br />
foram tema de análise e ficou claro que o país está<br />
já a avançar, com vários projetos em concretização<br />
aos serviços públicos”. Mas é preciso trabalhar<br />
“em parceria e colaboração, para fazer<br />
esta disrupção”.<br />
Outra das áreas que apresenta um enorme<br />
potencial é a <strong>do</strong> metaverso. Embora tenha<br />
já um mun<strong>do</strong> de aplicações, estas “ainda falham<br />
no contacto entre mun<strong>do</strong>s virtuais”,<br />
como diz Pedro Nogueira da Silva. Para o<br />
head of <strong>Digital</strong> Experience da NTT DATA Portugal,<br />
“o metaverso impactará as nossas vidas<br />
pela positiva numa série de áreas” e vai<br />
continuar a evoluir, pelo que as empresas<br />
terão, desde já, de criar a sua própria visão<br />
sobre ele e acompanhar a sua evolução.<br />
Sob pena de “perder o comboio”.<br />
Para “explorar as potencialidades que o caminho<br />
para o metaverso permite, mas de<br />
forma responsável”, até porque se trata de<br />
“um caminho sem retorno”, avança Luís<br />
Bravo Martins, presidente da Secção Metaverso<br />
APDC, foi anunciada no congresso<br />
uma parceria da associação com a XRSI. A<br />
sua funda<strong>do</strong>ra e CEO, Kavya Pearlman, está<br />
muito preocupada com os riscos que a tecnologia<br />
pode trazer, nomeadamente para a<br />
democracia.<br />
A aceleração tecnológica também tem trazi<strong>do</strong><br />
inúmeros desafios ao setor <strong>do</strong>s media. No<br />
tradicional debate <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Nação <strong>do</strong><br />
setor, entre os líderes <strong>do</strong>s três grandes grupos<br />
nacionais, ficou clara a cada vez maior<br />
fragmentação de audiências, assim como<br />
a crescente concorrência das big tech no<br />
bolo da publicidade, o<br />
que tem leva<strong>do</strong> a RTP,<br />
Media Capital e Impresa<br />
a apostar na reconfiguração<br />
e diversificação<br />
de ofertas e<br />
nas parcerias, numa<br />
clara reinvenção, a par<br />
<strong>do</strong> corte de custos nas<br />
respetivas estruturas.<br />
O fim da TDT a médio<br />
-prazo, encontran<strong>do</strong>se<br />
uma forma alternativa<br />
de fazer chegar a<br />
tv aos poucos portugueses<br />
ainda sem uma<br />
subscrição paga, também foi defendida<br />
pelos players.<br />
E o primeiro dia <strong>do</strong> congresso terminou com<br />
uma mensagem positiva: “Se, coletivamente,<br />
abraçarmos estas causas como nossas,<br />
saberemos superar os novos desafios e disrupções”,<br />
assegura o secretário de Esta<strong>do</strong> da<br />
<strong>Digital</strong>ização e da Modernização Administrativa,<br />
Mário Campolargo.
80 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Na sessão sobre “Novas Oportunidades da Cibersegurança & Riscos”,<br />
o KNS António Gameiro Marques deixou claro que há ainda muitas<br />
questões por responder<br />
CONCRETIZAR COM FOCO<br />
No mesmo senti<strong>do</strong> começou o segun<strong>do</strong> dia <strong>do</strong> maior<br />
evento anual da APDC, com a mensagem de que o<br />
executivo está totalmente foca<strong>do</strong> na execução <strong>do</strong><br />
PRR e <strong>do</strong> PT2030, com uma aposta forte na inovação<br />
digital e na transição tecnológica. A garantia<br />
foi dada pelo ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar, que garante<br />
que “a economia portuguesa está a experienciar<br />
os processos de transformação digital de uma<br />
forma cada vez mais evidente e transversal”. Para<br />
António Costa Silva, “estamos a viver uma disrupção<br />
tecnológica extraordinária ao nível <strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong><br />
empresarial”.<br />
Mas entre as metas e a realidade subsiste ainda uma<br />
grande distância, como deixou claro Pedro Dominguinhos.<br />
Para o presidente da Comissão Nacional de<br />
Acompanhamento <strong>do</strong> PRR, é preciso andar mais<br />
depressa nas PME pois, apesar de to<strong>do</strong>s os projetos,<br />
muitos programas ainda não estão no terreno.<br />
Por isso, o desafio para este ano é levar os<br />
benefícios de tu<strong>do</strong> o que foi projeta<strong>do</strong> às empresas.<br />
O que passa por acelerar, porque os timings<br />
de concretização são cada vez mais aperta<strong>do</strong>s.<br />
Também o novo presidente da CIP, Armin<strong>do</strong> Monteiro,<br />
destaca a necessidade de andar mais depressa e<br />
de se responder, efetivamente, às necessidades das<br />
empresas. Até porque os priva<strong>do</strong>s estão disponíveis<br />
para investir e avançar e já o demonstraram. Aqui ao<br />
la<strong>do</strong>, em Espanha, o governo tem aposta<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em<br />
simplificar processos para chegar mais depressa ao<br />
setor priva<strong>do</strong>. Victor Calvo-Sotelo, general director da<br />
<strong>Digital</strong>ES, deixou bem claras as razões <strong>do</strong> sucesso:<br />
tu<strong>do</strong> feito online e o mais simples possível.<br />
Numa altura em que se assiste a uma reconfiguração<br />
da globalização, o conheci<strong>do</strong> economista Ricar<strong>do</strong><br />
Reis garante que “Portugal tem oportunidades,<br />
mas precisa de as saber agarrar”. O problema é<br />
que ainda “não vê dinâmica” nesse senti<strong>do</strong>. “Estamos<br />
numa altura em que temos de ganhar escala,<br />
virada para o merca<strong>do</strong> externo, em empresas e<br />
talento. Este é o desafio que temos no presente,<br />
para darmos o salto seguinte. É um grande foco a<br />
ter nos próximos tempos”, destaca.<br />
QUE ‘ESTADO DA ARTE’?<br />
As comunicações e a computação quântica também<br />
foram temas de debate e ficou claro que estão a surgir<br />
no merca<strong>do</strong> nacional, com parcerias europeias,<br />
projetos verdadeiramente disruptivos, que tiram parti<strong>do</strong><br />
das particularidades desta tecnologia. A cibersegurança<br />
é uma das preocupações centrais, numa<br />
aposta que terá de passar por uma “trilogia ganha<strong>do</strong>ra”,<br />
como lhe chamou António Gameiro Marques, diretor-geral<br />
<strong>do</strong> GNS, entre o setor público, a indústria<br />
e a academia. Até porque há ainda muitas questões<br />
por responder e o talento é cada vez mais escasso,<br />
nas empresas e no Esta<strong>do</strong>.
As tecnológicas estão a apostar tu<strong>do</strong> no poder disruptivo da IA.<br />
Responsáveis da Microsoft e da Google deram a sua visão <strong>do</strong> que será o<br />
futuro com inteligência das máquinas<br />
Cooperação proativa, liderança comprometida e capacitação coletiva são caminhos,<br />
numa altura em que os múltiplos sistemas de IA começam a surgir, com enorme<br />
magnitude e poder, e estão a trazer to<strong>do</strong> um novo conjunto de desafios e oportunidades.<br />
A visão da Microsoft e da Google e as respetivas apostas nesta área deixaram<br />
claro que estamos a entrar num novo paradigma, que exige simultaneamente audácia e<br />
responsabilidade. São as pessoas que terão de ser responsáveis pelo crescimento destas<br />
soluções, maximizan<strong>do</strong> as suas capacidades.<br />
Mas nada será possível sem a conetividade fornecida pelas infraestruturas de telecomunicações.<br />
O merca<strong>do</strong> nacional tem neste momento soluções de topo e uma cobertura<br />
de redes fixas e móveis da quase totalidade da população. Os líderes <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />
de infraestruturas - Cellnex, Vantage Towers e FastFiber - deixaram bem claro que estão<br />
aposta<strong>do</strong>s em reforçar investimentos e dar aos opera<strong>do</strong>res de comunicações todas as capacidades<br />
para disponibilizarem soluções assentes nas tecnologias disruptivas, como a<br />
IA. Com transparência e independência face aos players <strong>do</strong> setor, garantem.<br />
Centra<strong>do</strong>s agora na oferta de soluções, os grandes grupos de comunicações nacionais<br />
destacaram os eleva<strong>do</strong>s investimentos que têm realiza<strong>do</strong> nos últimos anos e a<br />
aposta a longo-prazo no país. Por isso, defendem um ambiente de previsibilidade<br />
num setor onde to<strong>do</strong>s garantem que existe concorrência. Mas também destacam<br />
os desafios, a começar pela necessidade de maior consolidação ao nível nacional e<br />
europeu.<br />
“A indústria na Europa está fragmentada e os opera<strong>do</strong>res têm uma subescala que precisa<br />
de ser endereçada. Temos perto de 100 opera<strong>do</strong>ras e 600 MVNO. Há cinco vezes menos<br />
opera<strong>do</strong>res e menos de metade <strong>do</strong>s MVNO em países como os EUA”, explica Luís Lopes, o<br />
novo CEO da Vodafone. À espera de luz-verde da Autoridade da Concorrência para poder
82 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
O KNS deste debate considera que será dificil confiar na IA, nos<br />
próximos tempos, para a condução autónoma. E defende regulação para<br />
a tecnologia<br />
Os fornece<strong>do</strong>res de infraestruturas, fixas ou móveis, garantem que<br />
estão a investir forte para assegurar aos opera<strong>do</strong>res a disponibilização<br />
de serviços de ponta
5G, consolidações, concorrência e regulação foram temas aborda<strong>do</strong>s no<br />
debate <strong>do</strong>s líderes <strong>do</strong>s três grandes grupos de comunicações, que teve<br />
‘casa cheia’<br />
comprar a Nowo, diz que a operação “tem como racional estratégico uma oportunidade<br />
de acelerar investimentos na Nowo, que tem uma rede de cabo já bastante desatualizada”.<br />
Para Miguel Almeida, CEO da NOS, “a operação da Vodafone com a Nowo não me<br />
merece grandes comentários. O seu papel ativo como dinamiza<strong>do</strong>r de concorrência em<br />
Portugal é limita<strong>do</strong>”.<br />
Outra preocupação centra-se no 5G e no seu desenvolvimento. “Investimos acima de 350<br />
milhões de euros no 5G, a que acresce o investimento em aquisição de direitos de utilização<br />
de espectro. Hoje, o 5G ainda é gratuito… Este investimento que fizemos não tem<br />
ainda, <strong>do</strong> ponto de vista direto, um euro de retorno”, comenta o CEO da NOS. Dos <strong>do</strong>is<br />
novos opera<strong>do</strong>res que entraram, “um está numa operação de consolidação e o outro vai<br />
competir pelo preço, para nos desafiar. Compete-nos responder e competir pela melhor<br />
qualidade de serviço”, comenta Ana Figueire<strong>do</strong>, CEO da Altice.<br />
Tema em aberto é ainda a concorrência das big tech, sen<strong>do</strong> que seis gigantes norte-americanas<br />
são já responsáveis por 50% <strong>do</strong> tráfego que circula nas redes nacionais, não pagan<strong>do</strong><br />
nada pela sua utilização. “Este é um grande debate para a indústria. É urgente que<br />
se tome uma decisão nesta matéria e qualquer solução terá de respeitar a neutralidade.<br />
Não queremos criar situações de privilégio na utilização da internet. É estritamente uma<br />
lógica de fairness em relação a um ativo”, comenta o responsável da Vodafone.<br />
E o ‘elefante’ no meio da sala continua a ser a regulação <strong>do</strong> setor. “O regula<strong>do</strong>r tem uma<br />
agenda ideológica e pessoal, baseada numa narrativa falsa”, diz Miguel Almeida, citan<strong>do</strong><br />
o caso <strong>do</strong> 5G: “o que está a acontecer é inadmissível. É preciso estar completamente desliga<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> setor, para se exigir que se cumpram os prazos (de cobertura) estabeleci<strong>do</strong>s,<br />
depois de um atraso de um ano por parte <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r”. “O ambiente regulatório tem<br />
de nos ajudar, porque para rentabilizarmos o 5G como indústria vamos ter de operar em<br />
parceria, crian<strong>do</strong> plataformas e utilizações de 5G. A abertura <strong>do</strong> ponto de vista regulatório<br />
tem de existir”, acrescenta Ana Figueire<strong>do</strong>.<br />
Ten<strong>do</strong> em conta a mudança na liderança, prevista para agosto, o CEO da NOS diz esperar<br />
que o novo líder “tenha um perfil que convide ao diálogo. Esse diálogo perdeu-se
84 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
O ministro das Infraestruturas deixou bem claro no <strong>32º</strong> congresso<br />
que o papel <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r é dar estabilidade ao setor, com a procura<br />
equilibrada de soluções e um diálogo construtivo<br />
Carolina Freitas e João Adelino<br />
Faria, jornalistas da RTP, foram<br />
os hosts da edição de 2023 <strong>do</strong><br />
<strong>Congress</strong>o da APDC<br />
nos últimos seis anos. Um <strong>do</strong>s princípios da<br />
missão da Anacom é assegurar um ambiente<br />
concorrencial no merca<strong>do</strong> – uma missão<br />
que foi completamente esquecida”. Luís<br />
Lopes fala em “regulação justa para to<strong>do</strong>s,<br />
enquanto que para Ana Figueire<strong>do</strong> “na regulação<br />
<strong>do</strong> futuro, acho que precisamos de<br />
menos ego e mais lego”.<br />
No encerramento <strong>do</strong> congresso, também<br />
o ministro das Infraestruturas deixou<br />
uma mensagem clara: “É necessária<br />
uma separação adequada entre as políticas<br />
públicas, que devem ser promovidas<br />
e prosseguidas pelo governo, e as<br />
medidas regulatórias, que cabem à Anacom”.<br />
Por isso, espera “um setor onde<br />
haja lugar à crítica e ao diálogo construtivos,<br />
ao respeito institucional, à procura<br />
equilibrada de soluções e à defesa <strong>do</strong>s<br />
consumi<strong>do</strong>res”.•
PROGRAMA<br />
DIA 9 MAIO<br />
HYPOTHESIZING THE IMPACT OF TECHNOLOGY ON OUR LIVES<br />
ECONOMICS IS ALL ABOUT DISRUPTION?<br />
TOKENS AND THE CREATION OF ECONOMIC VALUE<br />
HOW DIGITAL DISRUPTIONS ARE CHANGING THE WAY WE WORK & LEAD<br />
SUSTAINABILITY IN THE DIGITAL DISRUPTION ERA<br />
FINANCIAL SERVICES & REGULATED DIGITAL CURRENCIES<br />
THE FUTURE OF EURO DIGITAL<br />
NEW WAVE OF PUBLIC ADMINISTRATION DIGITAL SERVICES<br />
METAVERSE<br />
THE STATE OF THE NATION OF MEDIA<br />
CLOSING SESSION<br />
DIA 10 MAIO<br />
2nd DAY WELCOME<br />
IS THE RECOVERY AND RESILIENCE PLAN TRANSFORMING THE<br />
PORTUGUESE DIGITAL LANDSCAPE?<br />
ECONOMICS IS ALL ABOUT DISRUPTION? YES, LET’S DEBATE HOW<br />
QUANTUM COMMUNICATION AND COMPUTING<br />
NEW CYBERSECURITY OPPORTUNITIES & RISKS<br />
THE DISRUPTION POWER OF AI<br />
ADVANCEMENTS IN AUTONOMOUS DRIVING<br />
TELECOMMUNICATION INFRASTRUCTURES<br />
THE STATE OF THE NATION OF COMMUNICATIONS<br />
CLOSING SESSION
86 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
DIA 9 MAIO<br />
OPENING SESSION<br />
Rogério Carapuça<br />
<strong>Presidente</strong>, APDC<br />
“Estamos a falar de uma transformação<br />
muito profunda a forma como trabalhamos,<br />
desenvolvemos atividades e nos relacionamos<br />
uns com os outros. Assisti<strong>do</strong>s<br />
por ferramentas tecnológicas. Vamos falar<br />
das disrupções que estão em curso com a<br />
IA e as suas aplicações, de tokenização, <strong>do</strong><br />
metaverso e as suas realidades virtuais e<br />
imersivas”<br />
“Até hoje, e a revolução digital na aplicação<br />
da lei de Moore, que já tem 65 anos, de uma<br />
duplicação a cada <strong>do</strong>is anos da capacidade<br />
de processamento. E isso mu<strong>do</strong>u tu<strong>do</strong>. Mas<br />
o que falamos hoje é de outra disrupção,<br />
que é a possibilidade de, através da computação<br />
e comunicação quântica, podermos<br />
ter um aumento ainda maior da velocidade<br />
de processamento. É outra transformação<br />
absolutamente revolucionária”<br />
“Hoje o nosso congresso é um programa de<br />
televisão e com isso conseguimos no ano<br />
passa<strong>do</strong> uma audiência de sete mil pessoas,<br />
o que para um congresso profissional<br />
é inaudito em Portugal. Queremos que<br />
tenha temas e discussões relevantes para<br />
qualquer país”<br />
Carlos Moedas<br />
<strong>Presidente</strong>, Câmara Municipal<br />
de Lisboa<br />
“A disrupção tem sempre três características<br />
que se encontram nas cidades, pois não<br />
é por acaso que a inovação acontece nelas.<br />
Estas características são o pai e a mãe da<br />
inovação e têm a ver com a diversidade,<br />
uma cultura <strong>do</strong> tempo e a identidade”<br />
“É nas cidades que podemos cruzar diferentes<br />
ideias, formas de pensar e pessoas.<br />
O ser humano, por definição, não quer diversidade,<br />
mas é o gosto pelo risco que faz<br />
com que a inovação aconteça. E os grandes<br />
exemplos <strong>do</strong> que tem vin<strong>do</strong> a transformar o<br />
mun<strong>do</strong> vêm dessa diversidade. Sem ela não<br />
conseguimos ter disrupção nem inovação”<br />
“A cidade tem ainda um ritmo e um tempo<br />
que já não existe noutras congéneres europeias,<br />
para poder digerir a disrupção e ter<br />
criatividade, de parar para pensar. Temos a<br />
capacidade de criar e alimentar o talento,<br />
dan<strong>do</strong>-lhe um ritmo que, apesar de acelera<strong>do</strong>,<br />
tem um tempo de digestão da própria<br />
mudança. Depois, vem a identidade, porque<br />
a nossa alma, em qualquer empresa,<br />
país ou cidade, é essencial”
Pedro Siza Vieira<br />
<strong>Presidente</strong>, 32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />
<strong>Congress</strong><br />
“Estes são tempos de mudanças muito acelera<strong>do</strong>s.<br />
Quase não temos tempo para nos<br />
adaptarmos e temos dificuldade em perceber<br />
o senti<strong>do</strong> desta mudança. Provavelmente,<br />
esse é mesmo o tema da disrupção.<br />
As <strong>TIC</strong> estão a mudar a forma como trabalhamos,<br />
produzimos e gerimos, como prevenimos<br />
<strong>do</strong>enças, como combatemos as<br />
alterações climáticas e até como somos capazes<br />
de gerir a guerra e construir a paz”<br />
Marcelo Rebelo de Sousa<br />
<strong>Presidente</strong> da República<br />
“As dirupções tecnológicas estão a mudar<br />
completamente a vida nas sociedades. Mas<br />
colocam-se questões. Estamos a aproveitar<br />
devidamente os benefícios e vantagens <strong>do</strong>s<br />
avanços tecnológicos? Ou estamos, pelo<br />
contrário, a perder essa oportunidade e a ficar<br />
para trás? Conseguimos acompanhar o<br />
ritmo inova<strong>do</strong>r, ou cansamo-nos da inovação?<br />
Conseguimos que a evolução tecnológica<br />
não nos leve a esquecer o que é fundamental,<br />
as pessoas?<br />
“As mudanças não são apenas na forma<br />
como as tecnologias digitais se impõem na<br />
nossa vida, de forma muito rápida. Estamos<br />
a assistir a uma reorganização da economia<br />
global, depois <strong>do</strong> modelo <strong>do</strong>s últimos<br />
20 a 30 anos, que assentou na ideia de<br />
globalização, eliminan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que eram<br />
barreiras históricas ao comércio mundial e<br />
promoven<strong>do</strong> a busca pela eficiência.<br />
“É tu<strong>do</strong> isto que nos deve preocupar e tu<strong>do</strong><br />
isso deve estar presente no debate que to<strong>do</strong>s<br />
os anos se faz sobre todas as tecnologias.<br />
Que não são ameaças, pois são imparáveis,<br />
inevitáveis e positivas. Temos de<br />
estar, permanentemente, nas posições pioneiras,<br />
mas há que saber como o fazer sem<br />
atingir a coesão social e o que já é hoje um<br />
panorama de muitas desigualdades”<br />
“Estamos, de facto, a condicionar a forma<br />
como se organiza a economia global e de<br />
como os Esta<strong>do</strong>s intervêm. Estas mudanças<br />
estão a impactar muita coisa, como<br />
a subida da inflação e das taxas de juro.<br />
Tu<strong>do</strong> acontece ao mesmo tempo e é o que<br />
nos surpreende e nos deixa perdi<strong>do</strong>s, ao<br />
tentarmos perceber o senti<strong>do</strong> destas mudanças.<br />
São tempos de grandes oportunidades<br />
para o país e temos hoje mais condições<br />
para as aproveitar <strong>do</strong> que alguma vez<br />
tivemos”<br />
“Esse é o desafio: avançar cientificamente<br />
e tecnologicamente, mas não deixar de ser<br />
colaborativo, de reforçar a solidariedade e<br />
olhar para as pessoas. Sobretu<strong>do</strong> as que ficam<br />
para trás, num mun<strong>do</strong> que é cada vez<br />
mais digital e tecnológico”
88 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
HYPOTHESIZING<br />
THE IMPACT OF<br />
TECHNOLOGY<br />
ON OUR LIVES<br />
Kellie Barnes<br />
Ex-Group Chief Disruption Officer,<br />
Asahi Beverages<br />
“O mun<strong>do</strong> está a mudar to<strong>do</strong>s os dias e a<br />
tecnologia lidera essas mudanças. Mas estaremos<br />
a a<strong>do</strong>tar todas as mudanças possíveis?<br />
Vivemos em tempos espantosos e o<br />
papel da tecnologia nunca foi tão importante.<br />
Hoje, podemos ver sinais a emergir<br />
que vão definir tu<strong>do</strong> nos próximos anos”<br />
“Os consumi<strong>do</strong>res querem mais experiências<br />
que lhes tragam felicidade. Exigem<br />
que as empresas tomem as medidas para<br />
o fazer, querem soluções sustentáveis, reforço<br />
de medidas nas alterações climáticas<br />
e práticas responsáveis. Temos de criar um<br />
novo modelo e considerar o anterior obsoleto.<br />
Inovação disruptiva é pensar o consumi<strong>do</strong>r<br />
de amanhã”<br />
“Há perigo adiante: a tecnologia está a ir<br />
mais além. É claro que é espantoso, mas<br />
tem de se mudar o modelo e ir de encontro<br />
<strong>do</strong>s desejos e necessidades <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />
São eles que <strong>do</strong>minam a mudança e a<br />
tecnologia terá de lhes dar resposta. Ter um<br />
mindset de disrupção permite ser elástico e<br />
aberto à mudança. Só assim se poderá ser<br />
relevante. Acordamos num mun<strong>do</strong> que mu<strong>do</strong>u,<br />
e talvez, mas só talvez, poderemos estar<br />
presentes nele”<br />
ECONOMICS IS ALL<br />
ABOUT DISRUPTION?<br />
KNS: Pedro Faustino<br />
Managing Director, Axians Portugal<br />
“Será que estamos to<strong>do</strong>s a abdicar da nossa<br />
capacidade crítica construtiva em reação<br />
à estratégia de Portugal? Trabalham<br />
nas empresas 4,3 milhões de pessoas que,<br />
se calhar, estão à espera que exerçamos<br />
essa responsabilidade. O capitalismo às vezes<br />
descarrila e é preciso uma moral para o<br />
regular. A globalização é hoje outra conversa<br />
completamente diferente”<br />
“Em economia não há milagres e só se<br />
muda se o país criar mais riqueza. Esta é a<br />
verdade mais fundamental da economia:<br />
nada de bom acontece sem criação de riqueza<br />
pelas empresas. O país precisa de<br />
mais e melhores empresas, com lucro. Para<br />
isso, é preciso mais investimento. Só que<br />
compete a nível internacional com este investimento<br />
e ainda é considera<strong>do</strong> um país<br />
fiscalmente pouco competitivo”<br />
“Há quem olhe para este cenário e diga que<br />
o país está num ciclo de empobrecimento,<br />
mas há luz lá à frente e boas notícias. O setor<br />
das TI tem ti<strong>do</strong> um crescimento acima<br />
da economia e vamos ter disponíveis para<br />
gastar ou investir, até 2030, qualquer coisa<br />
como 43 mil milhões de euros. A pergunta<br />
já não é se temos dinheiro para investir,<br />
mas sim de como o vamos investir ou, ao<br />
invés, simplesmente gastar. Transformar<br />
as empresas em ativistas económicos é o<br />
caminho”
TOKENS AND THE<br />
CREATION OF<br />
ECONOMIC VALUE<br />
Nuno Rodrigues<br />
Head of New <strong>Business</strong> Origination<br />
& Structuring, ioBuilders<br />
KNS: Paulo Car<strong>do</strong>so<br />
<strong>do</strong> Amaral<br />
Professor Assistente, CATÓLICA-LISBON<br />
“Temos de criar valor para ter sucesso. Para<br />
isso, é preciso perceber o valor económico<br />
<strong>do</strong> dinheiro e a sua capacidade para tornar<br />
a economia mais eficiente. A tecnologia<br />
veio mudar completamente as nossas<br />
vidas, começan<strong>do</strong> nos computa<strong>do</strong>res, mas<br />
sobretu<strong>do</strong> pela capacidade de interligação<br />
de tu<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong> uma vida mais simples<br />
e eficiente, para que a criação de valor venha<br />
da economia”<br />
“O que é que a blockchain e os smart contracts<br />
têm de diferente para fazer com que<br />
a nossa vida se altere daqui para a frente?<br />
Muitas <strong>coisas</strong> vão deixar de ser geridas por<br />
entidades específicas, porque há uma tecnologia<br />
autoexecutável que é capaz de realizar<br />
transações para to<strong>do</strong>s. Isto será o início<br />
de uma nova revolução industrial, porque a<br />
diminuição <strong>do</strong> custo por transação será tão<br />
grande que permitirá a disrupção na forma<br />
de criação de novos negócios”<br />
“Não vamos deixar que os ativos que têm<br />
de facto valor estejam na mão de uma privacidade<br />
que é anónima. Podemos manter<br />
a privacidade, mas sem anonimato. Podemos<br />
usar toda a tecnologia da DeFi, manten<strong>do</strong><br />
privacidade, mas garantin<strong>do</strong> que<br />
não há anonimato. E isso precisamos de fazer<br />
para todas as transações.“<br />
“Temos assisti<strong>do</strong> a inúmeras iniciativas no<br />
âmbito da tokenização, por múltiplas entidades.<br />
O objetivo fundamental tem si<strong>do</strong><br />
testar a tecnologia blockchain, a utilização<br />
<strong>do</strong>s smart contracts e a gestão <strong>do</strong> ciclo de<br />
vida <strong>do</strong>s ativos digitais tokeniza<strong>do</strong>s. Assim<br />
como medir o impacto que estes novos formatos<br />
têm nos processos internos, inclusivamente<br />
na relação com os stakeholders, e<br />
avaliar e medir a viabilidade económica e<br />
financeira destas iniciativas”<br />
“A grande novidade que nos traz o Pilot DLT,<br />
com caracter de regulamento, é a possibilidade<br />
de emitir ativos financeiros que nascem<br />
já tokeniza<strong>do</strong>s e que podem ser imediatamente<br />
transaciona<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong><br />
secundário, da mesma forma e com a mesma<br />
simplicidade com que hoje se compra<br />
uma ação ou uma obrigação numa bolsa<br />
de valores tradicional. Estamos a assistir a<br />
um interesse muito grande, sobretu<strong>do</strong> de<br />
empresas de setores onde as necessidades<br />
de financiamento são preponderantes.”<br />
“O que vamos ver é uma transição muito<br />
importante. Vamos passar de uma economia<br />
mais ilíquida e rígida para uma economia<br />
muito mais líquida, onde haverá facilidade<br />
em aceder a produtos financeiros que<br />
vão trazer simplicidade. Não só <strong>do</strong> ponto de<br />
vista <strong>do</strong> investi<strong>do</strong>r, mas também em to<strong>do</strong> o<br />
ciclo de vida <strong>do</strong> produto. Com muito mais<br />
automatismo e transparência.”
90 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Inês Drumond<br />
Vice-<strong>Presidente</strong>, Comissão de Merca<strong>do</strong><br />
de Valores Mobiliários (CMVM)<br />
“O DLT Pilot já está em vigor, não necessita<br />
de transposição. Tem aplicação direta nos<br />
vários Esta<strong>do</strong>s-membros, garantin<strong>do</strong> uma<br />
aplicação homogénea. Falta apenas um<br />
diploma de execução nacional, que permita<br />
alterar alguns pontos <strong>do</strong> código de valores<br />
mobiliários, como o registo e a custódia.<br />
Vem permitir a criação de infraestruturas<br />
de merca<strong>do</strong> para a negociação e liquidação<br />
de ações, obrigações e unidades de<br />
participação em fun<strong>do</strong>s de investimento<br />
emiti<strong>do</strong>s, deti<strong>do</strong>s e transaciona<strong>do</strong>s em DLT”<br />
“Quan<strong>do</strong> se fala em criptoativos de instrumentos<br />
financeiros e se aplica toda a legislação,<br />
o que se concluiu é que não havia<br />
um merca<strong>do</strong> secundário, constituin<strong>do</strong> um<br />
desincentivo à emissão. O que este regulamento<br />
vem trazer é a possibilidade de haver<br />
um merca<strong>do</strong> secundário, permitin<strong>do</strong> algumas<br />
isenções à lei atual a nível europeu.<br />
“O trabalho da CMVM será diferente, não<br />
sei se mais fácil ou se mais dificil. Por um<br />
la<strong>do</strong>, cabe à autoridade competente autorizar<br />
estas infraestruturas de merca<strong>do</strong>. Na<br />
supervisão ongoing, cabe garantir que to<strong>do</strong>s<br />
os requisitos, quer prudenciais, quer<br />
comportamentais, são cumpri<strong>do</strong>s. Está previsto<br />
no próprio regulamento europeu que<br />
o supervisor terá acesso, de uma forma automática<br />
e rápida, à informação. Vamos ter<br />
de nos adaptar, porque esta informação vai<br />
chegar por uma via diferente”<br />
HOW DIGITAL<br />
DISRUPTIONS ARE<br />
CHANGING THE WAY<br />
WE WORK & LEAD<br />
KNS: David Rimmer<br />
Research Advisor, DXC Leading Edge<br />
“Há uma grande transição a decorrer. Os<br />
grandes princípios que vieram da revolução<br />
industrial estão a ser derruba<strong>do</strong>s. Estamos<br />
a mudar <strong>do</strong>s ativos físicos para ativos intangíveis,<br />
como a informação. Assim como nos<br />
propósitos <strong>do</strong>s negócios, que além <strong>do</strong> valor<br />
económico, estão a alargar para outros valores,<br />
como os ambientais, sociais e de governance.<br />
E assistimos a uma transformação<br />
da estrutura <strong>do</strong> trabalho”<br />
“Estão a surgir novos paradigmas, novas formas<br />
de pensar, novas formas de gerir os negócios<br />
e novas tecnologias. Em todas as áreas<br />
<strong>do</strong>s novos ativos, em termos de capital, investimento,<br />
retorno, produtividade e emprego,<br />
há agora outros valores. E o IT está no centro<br />
de tu<strong>do</strong>, assumin<strong>do</strong>-se como um enabler”<br />
“Cada vez mais, é importante não o que se<br />
faz, mas como se faz. É o propósito <strong>do</strong> negócio,<br />
o ideal, que não é apenas criar valor<br />
para si, mas para os demais stakeholders. A<br />
pressão para o ESG está a vir de to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>.<br />
Mas há estu<strong>do</strong>s que mostram que um negócio<br />
sustentável tem um retorno económico<br />
maior. As mudanças das empresas envolvem<br />
um total redesenho de processos, produtos,<br />
organização e cadeias de fornecimento. Com<br />
uma mentalidade de risco. Esta grande transição<br />
exige novos paradigmas, novas formas<br />
de pensar e novos modelos mentais”
Hugo Bernardes<br />
Managing Partner, The Key Talent<br />
Portugal<br />
“Hoje, é tão dificil atrair como ter a capacidade<br />
de manter as pessoas nas organizações.<br />
As variáveis nesta guerra pelo talento<br />
vão-se alteran<strong>do</strong> e aumentan<strong>do</strong>, porque<br />
há mudanças profundas no trabalho, com<br />
a eliminação das fronteiras e a transição<br />
para o trabalho remoto. O tema <strong>do</strong> propósito<br />
é cada vez mais relevante, sobretu<strong>do</strong><br />
para as novas gerações, e é sempre ti<strong>do</strong> em<br />
conta na tomada de decisão”<br />
“As empresas têm de conseguir captar os<br />
candidatos numa arena onde a informação<br />
se multiplica. É absolutamente essencial<br />
conseguir chamar a atenção e ter a<br />
capacidade de ter pensamento crítico e<br />
criativo. Esta realidade terá impacto ao nível<br />
<strong>do</strong> ensino. E o próprio recrutamento vai<br />
pensar cada vez mais nisso, escolhen<strong>do</strong><br />
as skills certas para dar resposta a certas<br />
necessidades”<br />
“O híbri<strong>do</strong> parece começar a ser o modelo<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de forma mais regular. Mas há<br />
grandes empresas a voltar atrás, para o<br />
presencial, o que está diretamente relaciona<strong>do</strong><br />
com o envolvimento das equipas e<br />
com o facto de sermos sociais. Ou pela dificuldade<br />
das lideranças em viver neste novo<br />
mun<strong>do</strong>. Mas para as novas gerações, o híbri<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong>mina. É um tema tendencialmente<br />
geracional”<br />
Luísa Ribeiro Lopes<br />
<strong>Presidente</strong> <strong>do</strong> Conselho Diretivo, .PT<br />
“Estamos a assistir a um mun<strong>do</strong> completamente<br />
altera<strong>do</strong>, o que é fascinante. Esta<br />
grande transição está a recentrar o mun<strong>do</strong><br />
nas pessoas, depois de uma fase de<br />
deslumbramento com a globalização e a<br />
tecnologia. Antes, éramos números, hoje<br />
as pessoas estão no centro da decisão, de<br />
como querem trabalhar, viver e como vêm<br />
os valores”<br />
“O lucro é importante, mas há outros valores<br />
com que as empresas estão preocupadas<br />
e que <strong>fazem</strong> a diferença. Criaremos ainda<br />
mais valor com isso. Os ativos intangíveis<br />
são feitos por pessoas com talento. Estamos<br />
to<strong>do</strong>s no mesmo barco e as empresas <strong>TIC</strong>,<br />
como motor da economia, devem puxar<br />
pelas demais empresas, porque temos um<br />
teci<strong>do</strong> industrial que acha ainda isto tu<strong>do</strong><br />
muito estranho”<br />
“Vivemos numa economia da informação<br />
e <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e quem os trabalha melhor<br />
é quem oferece melhores serviços. Mas a<br />
forma como trabalhamos os da<strong>do</strong>s e integramos<br />
a IA depende de ter capacidade<br />
criativa. É essa capacidade que temos de<br />
começar a ensinar. Temos hoje um ensino<br />
muito desfasa<strong>do</strong> da realidade e que não<br />
prepara para esta grande transição”
92 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Manuel Maria Correia<br />
General Manager Portugal, DXC<br />
Technology<br />
“É preciso embeber os novos comportamentos<br />
e valores em termos de governança<br />
ambiental, social e corporativa, em to<strong>do</strong>s os<br />
processos, cultura e governance das organizações.<br />
Já se percebeu que as empresas<br />
que o <strong>fazem</strong> são as mais rentáveis e têm<br />
um engajamento de pessoas muito superior.<br />
É nesta grande transição que estamos<br />
agora. Estamos no meio da ponte e não sabemos<br />
onde se poderá chegar”<br />
“Quan<strong>do</strong> entrevistamos pessoas, vemos as<br />
diferenças entre as várias gerações. As mais<br />
novas já não são tão ligadas aos bens tangíveis,<br />
querem ter experiências. O valor passou<br />
a estar no intangível, nas pessoas, no conhecimento<br />
e os bens vão deixar de ter tanto<br />
peso. Estamos a assistir a esta grande viragem,<br />
que levará o seu tempo, mas à qual<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> se está a adaptar”<br />
“O modelo híbri<strong>do</strong> permite maior produtividade<br />
e valor. A questão é saber se vai vingar<br />
e como nos vamos adaptar a este novo<br />
modelo de trabalho. Em Portugal, ainda estamos<br />
a anos-luz de lá chegar, porque há<br />
temas de gestão, culturais e de modelos de<br />
negócio que não permitem que seja assim.<br />
Será um processo, mas não tenho dúvidas<br />
de que o mun<strong>do</strong> será cada vez mais híbri<strong>do</strong>.<br />
A pandemia permitiu perceber que o<br />
modelo tem vantagens, como uma maior<br />
produtividade.”<br />
SUSTAINABILITY<br />
IN THE DIGITAL<br />
DISRUPTION ERA<br />
Ana Casaca<br />
Diretora de Inovação, Galp<br />
“A transição energética para um novo sistema<br />
mais verde vai ter de passar por mais<br />
energias renováveis, mas precisa de um investimento<br />
enorme em tecnologias e pessoas.<br />
Estamos neste caminho de transição<br />
energética, que deve ser equitativa e inclusiva.<br />
Em 2050, queremos atingir a neutralidade<br />
carbónica”<br />
“Vamos ter dificuldade em Portugal em<br />
massificar o acesso a carrega<strong>do</strong>res, o que<br />
prejudica a a<strong>do</strong>ção da mobilidade elétrica.<br />
Mas neste campo existe uma oportunidade<br />
enorme na Europa. 80% das baterias de lítio<br />
são produzidas na China, 60% das quais em<br />
processos com carvão. Precisamos de uma<br />
cadeia de valor adequada, onde está incluída<br />
a reciclagem”<br />
“A meta de 2035 indica o final de venda de<br />
carros movi<strong>do</strong>s a combustíveis fósseis. Estamos<br />
a trabalhar em combustíveis de biomassa,<br />
por exemplo. Estas soluções ainda<br />
não são massificáveis, pelo que o shift não<br />
pode ser imediato”
Bruno Martinho<br />
Managing Director, Accenture Strategy<br />
Juan Olivera<br />
CEO, Ericsson Portugal<br />
“To<strong>do</strong>s os negócios são hoje digitais e sustentáveis.<br />
São componentes essenciais <strong>do</strong><br />
desenvolvimento de todas as empresas,<br />
<strong>do</strong>s seus compromissos e da forma como<br />
criam valor para to<strong>do</strong>s os stakeholders. O<br />
que passa pela neutralidade carbónica, redes<br />
inteligentes, economia circular, cadeias<br />
de abastecimento, green IT, analítica e reporting,<br />
modelo operativo da organização,<br />
liderança e os clientes e a marca “<br />
“O debate sobre a sustentabilidade passa<br />
pela digitalização. O 5G não é apenas<br />
mais um ‘G’, é muito mais <strong>do</strong> que isso. É<br />
uma completa revolução das redes móveis<br />
e o potencial é gigantesco. E a boa notícia<br />
é que a tecnologia existe, mas a notícia má<br />
é que em Portugal e na Europa, estamos a<br />
ficar para trás, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com o<br />
resto das regiões líderes. Acreditamos que o<br />
5G será transformacional”<br />
“Quan<strong>do</strong> analisamos a cadeia de abastecimento<br />
de uma empresa, temos vontade de<br />
transformá-la numa cadeia mais sustentável<br />
e responsável. Isto implica sermos mais<br />
autónomos na forma como desenvolvemos<br />
soluções tecnológicas e iniciativas em R&D.<br />
A partir <strong>do</strong> momento em que dependemos<br />
de outros players para essa transformação,<br />
assumimos um perfil de risco muito maior<br />
no cumprimento deste objetivo”<br />
“Ainda não vemos na Europa desenvolvimentos<br />
massivos de média banda, que permitem<br />
trazer os benefícios <strong>do</strong> 5G, ainda não<br />
temos tecnologia standalone na generalidade<br />
<strong>do</strong>s países. Perdemos o comboio <strong>do</strong><br />
4G e estamos prestes a perder o comboio<br />
<strong>do</strong> 5G, se não tomarmos medidas. Temos de<br />
reforçar e estimular a colaboração pública<br />
e privada, para fazer acontecer”<br />
“Em Portugal, vemos várias indústrias com<br />
comportamentos distintos relativamente à<br />
evolução das práticas sustentáveis. A indústria<br />
de utilities e energia é a principal referência<br />
e a que está a liderar esta evolução,<br />
num ritmo acelera<strong>do</strong> para atingir a neutralidade<br />
carbónica das suas operações”<br />
“O 5G vai permitir uma sociedade mais sustentável.<br />
Neste momento, estamos a correr<br />
o risco de ficar para trás… diferentes regulamentações,<br />
fragmentação de merca<strong>do</strong>… há<br />
vários argumentos. Os Esta<strong>do</strong>s são responsáveis<br />
até algum ponto. A tecnologia existe<br />
e o facto de não haver uma abordagem<br />
única da UE é um problema”
94 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Sérgio Catalão<br />
CEO, Nokia Portugal<br />
“Estamos a meio da jornada de 15 anos na<br />
sustentabilidade e a questão que se coloca<br />
é se teremos, enquanto sociedade, capacidade<br />
de entregar os objetivos a que nos<br />
propusemos para 2030. A tecnologia tem<br />
aqui um papel fundamental e este setor<br />
tem uma oportunidade única para resolver<br />
desafios <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O 5G é uma dessas tecnologias,<br />
mas há muitas mais”<br />
“A nossa abordagem à sustentabilidade<br />
tem três dimensões. A primeira é maximizar<br />
o que é o nosso impacto positivo, através<br />
de to<strong>do</strong>s os projetos que <strong>fazem</strong>os nas<br />
áreas fixa e móvel e na cloud, para descarbonização<br />
das indústrias. Depois, minimizar<br />
o impacto negativo, o footprint, com o<br />
aumento da eficiência, a circularidade, cadeias<br />
de produção e operação. E, por fim,<br />
chegar a 2025 com 100% de energias renováveis<br />
e em 2030 termos toda a cadeia de<br />
valor com uma redução das emissões de<br />
CO2 em cerca de 50%”<br />
“Temos de usar to<strong>do</strong>s os recursos tecnológicos<br />
e saber monetizar o 5G e canalizá-lo na<br />
direção da sustentabilidade. Apesar de podermos<br />
estar mais à frente, esta indústria<br />
já mostrou que é capaz. Podemos dar um<br />
contributo muito grande para acelerar. Temos<br />
oportunidades grandes à nossa frente,<br />
nestes sete anos para fazer acontecer”<br />
FINANCIAL SERVICES<br />
& REGULATED DIGITAL<br />
CURRENCIES<br />
KNS: Hélder Rosalino<br />
Administra<strong>do</strong>r, Banco de Portugal<br />
“O ecossistema <strong>do</strong>s pagamentos está num<br />
processo de revolução muito acelera<strong>do</strong>.<br />
Cada vez mais, os consumi<strong>do</strong>res preferem<br />
meios de pagamento rápi<strong>do</strong>s, convenientes<br />
e de baixo custo. Estamos a assistir a um<br />
declínio acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong> numerário enquanto<br />
meio de pagamento, à entrada de novas<br />
tecnologias e de novos players, como as fintech,<br />
mas também as big tech. É aqui que<br />
emergem novas soluções de pagamentos,<br />
como as privadas, <strong>do</strong>s criptoativos, ou as<br />
moedas digitais <strong>do</strong> banco central”<br />
“Temos de entender a realidade olhan<strong>do</strong><br />
para a emergência destas soluções, que levam<br />
a que os bancos centrais e autoridades<br />
monetárias tenham de repensar o seu<br />
papel. Quer na perspetiva de âncora <strong>do</strong>s<br />
sistemas de pagamentos, mas também enquanto<br />
regula<strong>do</strong>res da atividade de novos<br />
opera<strong>do</strong>res. É isso que temos hoje como desafio<br />
central para os bancos centrais”<br />
“O euro digital é importante para a Europa<br />
para preservar o papel da moeda <strong>do</strong> banco<br />
central como âncora <strong>do</strong> sistema de pagamentos.<br />
E também contribui para a autonomia<br />
estratégica e a eficiência económica europeia,<br />
porque não temos nem uma marca<br />
de pagamentos europeia, nem um sistema<br />
de pagamentos integra<strong>do</strong>. Assim como se<br />
mantém a soberania monetária pois, com o<br />
declínio rápi<strong>do</strong> das notas e a emergência de<br />
marcas à escala global, isso pode criar dentro<br />
de alguns anos uma dependência da Europa<br />
em relação às marcas internacionais”
THE FUTURE<br />
OF EURO DIGITAL<br />
Ricar<strong>do</strong> Correia<br />
Managing Director, <strong>Digital</strong><br />
Currencies R3<br />
Francisco Barbeira<br />
Administra<strong>do</strong>r, BPI<br />
“O euro digital vai significar um avanço tecnológico<br />
em grande escala. Não é mais uma<br />
moeda, mas uma moeda especial, de reserva<br />
de dinheiro <strong>do</strong> banco central num formato<br />
digital. Acelera os processos de interoperabilidade<br />
e a criação de um espaço mais<br />
europeu de pagamentos. Depois, toda a regulamentação<br />
<strong>do</strong>s criptoativos permitirá<br />
que os bancos também possam continuar<br />
a desenvolver o seu dever fiduciário, crian<strong>do</strong><br />
massa monetária através de stablecoins e<br />
criptomoedas”<br />
“Os bancos portugueses estão a investir<br />
imenso em tecnologia. É cada vez maior a<br />
fatia de orçamento para esta componente.<br />
Estamos a trabalhar este caminho. É<br />
obrigatório. Teremos a possibilidade de ter<br />
novas soluções, de ter muita inovação em<br />
cima deste espaço regula<strong>do</strong>, assim como<br />
de ter a moeda <strong>do</strong> banco central. Temos de<br />
estar prepara<strong>do</strong>s. Não há alternativa”<br />
“A banca é uma das indústrias mais inova<strong>do</strong>ras,<br />
mas o papel fiduciário de garantia<br />
de valor e de empréstimos manter-se-á<br />
com o projeto <strong>do</strong> euro digital. Há soluções<br />
nacionais muito boas, como o MBWay, mas<br />
a interoperabilidade europeia passa neste<br />
momento por soluções não europeias, de<br />
grandes grupos. Iniciativas como o euro digital<br />
combatem esta ideia e tentam equilibrar<br />
o cenário com uma solução europeia<br />
de pagamentos”<br />
“O euro digital é especial e confere uma inovação<br />
tecnológica: será dinheiro programável,<br />
utilizável em diferentes ambientes, como<br />
a distributed finance. Os bancos centrais têm<br />
me<strong>do</strong> de perder este comboio e de se poderem<br />
tornar redundantes, pelo que sentimos<br />
essa motivação para a mudança”<br />
“No futuro não haverá uma desintermediação<br />
total. Vamos assistir é a uma reconstituição<br />
<strong>do</strong> campo de jogo, onde os diferentes<br />
papéis serão desenvolvi<strong>do</strong>s por atores<br />
distintos. Haverá mais trabalho a ser feito, o<br />
que significa que haverá mais participantes<br />
a entrar no sistema, mais atores a participar<br />
na distribuição <strong>do</strong> dinheiro e isso deverá<br />
criar inovação. É essa a ideia. Mas ainda não<br />
sabemos”<br />
“Mudar <strong>do</strong> dinheiro físico para o dinheiro digital<br />
não terá, por si, grandes implicações.<br />
Hoje, já gastamos apenas 10% <strong>do</strong> total em<br />
notas e moedas. O resto é digital. Uma das<br />
grandes motivações que vemos na Europa,<br />
em termos de bancos centrais, é sair <strong>do</strong> circuito<br />
das empresas de pagamentos norte<br />
-americanas, como a Mastercard ou a Visa,<br />
que são <strong>do</strong>minantes na Europa. O euro digital<br />
surge como uma forma de equilibrar<br />
esse poder, introduzin<strong>do</strong> alternativas de<br />
pagamentos”
96 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
NEW WAVE OF PUBLIC<br />
ADMINISTRATION<br />
DIGITAL SERVICES<br />
KNS: João Dias<br />
<strong>Presidente</strong>, AMA – Agência para<br />
a Modernização Administrativa<br />
“Já algumas <strong>coisas</strong> foram feitas na AP, mas<br />
queremos mais. A tecnologia permite fazer<br />
muito mais e queremos elevar a fasquia<br />
<strong>do</strong>s serviços públicos. Com o mesmo<br />
ADN: simplificar a vida de cidadãos e empresas.<br />
Fazemos um trabalho que não se vê<br />
e que espero que se vá ver em breve, com<br />
a materialização de tu<strong>do</strong> o que está a ser<br />
desenvolvi<strong>do</strong>”<br />
“O Esta<strong>do</strong> tem de ter, num ponto único de<br />
contacto, vários serviços públicos ao cidadão.<br />
É um trabalho de integração absolutamente<br />
essencial. Não abdicamos <strong>do</strong> ADN<br />
<strong>do</strong> ‘digital first’, dan<strong>do</strong> primazia aos canais<br />
digitais, mas tu<strong>do</strong> tem de estar integra<strong>do</strong><br />
numa lógica onmnicanal, com uma experiência<br />
coerente, agilidade e proatividade<br />
e uma organização por eventos de vida. É<br />
absolutamente crítico que o cidadão, num<br />
só momento e numa só interação, trate de<br />
tu<strong>do</strong>”<br />
“O futuro está cheio de oportunidades. O<br />
tema da IA abre um mar de possibilidades<br />
extraordinárias aos serviços públicos. O que<br />
vamos conseguir fazer, a bem <strong>do</strong> cidadão,<br />
mudan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o atendimento, depende<br />
muito da AP. Trabalhamos muito nos basti<strong>do</strong>res<br />
para tornar isto possível, em parceria<br />
e colaboração.”<br />
Paula Salga<strong>do</strong><br />
<strong>Presidente</strong>, Instituto de Informática<br />
“Começámos esta jornada em 2017, com a<br />
estratégia Segurança Social Consigo, que<br />
teve alguns projetos emblemáticos, como o<br />
simula<strong>do</strong>r de pensões. Temos vin<strong>do</strong> ainda a<br />
desenvolver iniciativas focadas nas empresas.<br />
A pandemia foi fulcral para que as pessoas<br />
compreendessem a panóplia de serviços<br />
da Segurança Social Direta”<br />
“Seguimos uma estratégia de auscultação<br />
das necessidades <strong>do</strong>s cidadãos. Estão cada<br />
vez mais exigentes e, naturalmente, isso tem<br />
impacto e pressão nas nossas instituições.<br />
Todavia, nos últimos anos os nossos trabalha<strong>do</strong>res<br />
compreenderam que o caminho é<br />
digital. E com as ferramentas digitais, conseguem<br />
responder mais depressa e de forma<br />
mais eficiente. Temos 200 milhões de euros<br />
<strong>do</strong> PRR para a transformação digital e pretendemos<br />
mudar o paradigma de relacionamento<br />
com pessoas e empresas até 2026”<br />
“A segurança é um tema transversal a todas<br />
as organizações. Todas, públicas ou<br />
privadas, devem ter preocupações de segurança<br />
em to<strong>do</strong>s os canais que disponibilizam.<br />
Desde a pandemia que se sente um<br />
aumento significativo de incidentes de segurança,<br />
que chegam a ser diários”
Filomena Rosa<br />
<strong>Presidente</strong>, Instituto <strong>do</strong>s Registo<br />
e <strong>do</strong> Notaria<strong>do</strong><br />
Mário Martins Campos<br />
Subdirector, Sistemas de Informação<br />
da Autoridade tributária<br />
“Portugal está bem posiciona<strong>do</strong> na digitalização,<br />
ao contrário da perceção geral que<br />
existe entre os portugueses. Evoluímos muito<br />
e demos um grande salto qualitativo que<br />
assentou na simplificação de procedimentos,<br />
criação de balcões únicos e disponibilização<br />
de serviços online para to<strong>do</strong>s os registos.<br />
Estamos agora a tentar que as novas<br />
tecnologias nos ajudem a ir mais além”<br />
“Não foram só os cidadãos que se tornaram<br />
mais exigentes. Os funcionários já percebem<br />
que podem, com a automatização<br />
de tarefas e até agora, com a utilização da<br />
IA, deixar de fazer tarefas rotineiras e de<br />
menor valor acrescenta<strong>do</strong>, para fazer outro<br />
tipo de tarefas. Temos é de continuar a<br />
aposta continuada na formação e na gestão<br />
da mudança, para alinhar to<strong>do</strong>s com a<br />
estratégia definida”<br />
“Temos 42 milhões <strong>do</strong> PRR com os quais<br />
queremos rever os ciclos de vida <strong>do</strong>s nossos<br />
serviços e garantir uma maior integração<br />
com toda a AP e valorizar os da<strong>do</strong>s. Destaco<br />
a plataforma Da<strong>do</strong>s à Distância, que<br />
permite reconhecer assinaturas ou fazer<br />
procurações à distância, ou o pedi<strong>do</strong> de nacionalidade<br />
online”<br />
“O caminho da Autoridade Tributária no digital<br />
já tem longos anos. O desafio essencial<br />
que temos neste momento é entender<br />
como é que podemos maximizar a transferência<br />
de valor desta transformação digital<br />
para os cidadãos e empresas”<br />
“Apesar de estarmos na liderança europeia<br />
em termos de digitalização da AP, há um<br />
indica<strong>do</strong>r que nos deve fazer refletir: apesar<br />
de termos uma percentagem significativa<br />
de serviços públicos digitais, menos de 60%<br />
<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res não optam, como primeira<br />
escolha, pelos serviços digitais. Temos de<br />
perceber onde mexer nestas duas variáveis<br />
da equação: ou aumentar a literacia <strong>do</strong>s<br />
utiliza<strong>do</strong>res, ou criar confiança e eliminar o<br />
receio <strong>do</strong> erro”<br />
“Aprofundar o pensamento digital significa<br />
essencialmente colocar-nos <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cidadãos,<br />
ter um exercício empático e colaborativo<br />
que permita endereçar, <strong>do</strong> ponto de<br />
vista <strong>do</strong> foco <strong>do</strong> serviço e da sua simplificação,<br />
o que os cidadãos e empresas esperam.<br />
Há um ativo essencial, que são os da<strong>do</strong>s e a<br />
informação, porque é aí que podemos alavancar<br />
a maximização <strong>do</strong> valor”
98 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
METAVERSE<br />
KNS: Pedro Nogueira<br />
da Silva<br />
Head of <strong>Digital</strong> Experience, NTT DATA<br />
Portugal<br />
“O metaverso tem já um conjunto de aplicações,<br />
mas estas ainda falham no contacto<br />
entre os mun<strong>do</strong>s virtuais. E não teremos<br />
só mun<strong>do</strong>s virtuais, já que há múltiplas tecnologias<br />
que o vão complementar e definir.<br />
Esta área tem indefinições normais nas tecnologias<br />
emergentes. O metaverso está na<br />
sua infância e ainda requer muita definição”<br />
“Já ouvi mortes anunciadas e precoces, mas<br />
que me parecem manifestamente exageradas.<br />
Em 2026, cerca de um quarto da população<br />
já usará o metaverso e as gerações<br />
mais novas já o <strong>fazem</strong> hoje, com a utilização<br />
de óculos de realidade virtual. Estas tecnologias<br />
e dispositivos estão a evoluir para se tornarem<br />
menos intrusivos e para garantirem<br />
experiências imersivas ou mistas”<br />
“O metaverso impactará as nossas vidas<br />
pela positiva numa série de áreas. As empresas<br />
já estão mesmo a beneficiar destas<br />
plataformas, como o Fortnite, para fazer colocação<br />
de marca. Entretanto, o metaverso<br />
vai continuar a evoluir. Pelo que aconselho<br />
às empresas que criem a sua própria visão<br />
sobre ele, o experimentem e acompanhem<br />
a sua evolução. Se não o fizerem, vão perder<br />
o comboio”<br />
PARTNERING TOWARDS<br />
A SAFER & POSITIVE<br />
METAVERSE DISCUSSION<br />
PANEL:<br />
Luís Bravo Martins<br />
<strong>Presidente</strong>, Secção Metaverso APDC<br />
“Devemos ter consciência de que, por exemplo,<br />
nas tecnologias imersivas, estamos a<br />
falar de uma quantidade muito maior de<br />
recolha de da<strong>do</strong>s por cada utiliza<strong>do</strong>r. Ao<br />
usar estas tecnologias, há imensos da<strong>do</strong>s,<br />
desde a imagem à voz, cor da pele, todas<br />
as características podem ser capturadas.<br />
Pelo que é essencial informar os utiliza<strong>do</strong>res.<br />
As organizações devem criar soluções<br />
que aproveitem as oportunidades, mas que<br />
trabalhem os riscos”<br />
“Hoje, to<strong>do</strong>s nós sentimos a mudança no<br />
dia a dia. Contamos com serviços de IA que<br />
tornam alguns serviços tradicionais obsoletos<br />
e devemos compreender que, como indivíduos<br />
ou empresas, estamos a testar novas<br />
tecnologias sem sabermos bem quais<br />
os impactos reais da sua utilização. É essencial<br />
perceber os desafios inerentes à sua<br />
implementação”<br />
“A XRSI e a APDC estabeleceram uma parceria<br />
que nos permite explorar as potencialidades<br />
que o caminho para o metaverso<br />
permite, mas de forma responsável.<br />
Estamos num caminho sem retorno para o<br />
metaverso”
THE STATE OF THE<br />
NATION OF MEDIA<br />
Kavya Pearlman<br />
Founder & CEO, XRSI<br />
“Quan<strong>do</strong> ignoramos os riscos da tecnologia,<br />
colocamos em risco a democracia. A privacidade<br />
e a segurança, enquanto riscos, são<br />
um tópico complexo. Temos de compreender<br />
o que está em causa. As organizações<br />
que olham para o metaverso têm de perceber<br />
as questões que estão implicadas no<br />
tema”<br />
“Nos EUA não fizemos muito no que concerne<br />
à privacidade, o que nos diz que o nosso<br />
esforço tem de ser global. Com a Europa<br />
conseguimos criar uma base. Estamos<br />
a trabalhar com a Comissão Europeia, com<br />
alguns governos, com as Nações Unidas.<br />
Há desenvolvimentos otimistas, mas estamos<br />
confronta<strong>do</strong>s com um dilema que torna<br />
o nosso trabalho mais importante: só temos<br />
consciência das reais consequências<br />
da implementação da tecnologia após a<br />
sua implementação”<br />
“Tradicionalmente, a superfície de ataque<br />
da internet estava limitada a servi<strong>do</strong>res<br />
e pouco mais, mas com o metaverso essa<br />
superfície é maior e inclusivamente envolvemos<br />
pessoas e a sociedade no cenário.<br />
Acresce que o metaverso pode ser um perigo<br />
para a democracia. Os parti<strong>do</strong>s políticos<br />
podem agora, com tecnologia, manipular<br />
pessoas, polarizar votantes e fazer deep<br />
fake de informação e propaganda”<br />
Pedro Morais Leitão<br />
CEO, Media Capital<br />
“Tem havi<strong>do</strong> uma reconfiguração grande<br />
<strong>do</strong> portfolio <strong>do</strong>s serviços de publicidade que<br />
oferecemos aos anunciantes, com alguma<br />
subida de preço. Mas tem si<strong>do</strong> mais rápida<br />
a queda de ritmo e a transferência de receitas<br />
para outros meios, particularmente os<br />
digitais. Neste momento, 25% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
de publicidade convencional é feito para as<br />
plataformas globais. O caminho passa pelas<br />
parcerias e é o que to<strong>do</strong>s estamos a fazer”<br />
“A CNN é um exemplo dessas parcerias.<br />
Achamos que o streaming passa muito por<br />
parcerias e esta foi com o grupo Warner.<br />
Ainda não estamos a responder a uma tendência<br />
que se sinta já, mas que acontecerá<br />
no futuro, que é a <strong>do</strong> streaming chegar à informação.<br />
É uma aposta relevante na área<br />
da informação. Para saber se vai compensar,<br />
temos de ser pacientes. Serve um pouco<br />
de plataforma de aprendizagem para as<br />
parcerias e o negócio <strong>do</strong> streaming”<br />
“Vamos ter uma grande área de estúdios e<br />
de escritórios, para concentrar todas as operações<br />
<strong>do</strong> grupo. E surgiram uma série de estrangeiros<br />
interessa<strong>do</strong>s em usar os estúdios,<br />
porque há poucos no país de grande dimensão.<br />
O “hardware” conta. É preciso criar a<br />
infraestrutura e o apoio público é aqui importante.<br />
Mas, à partida, há muita manifestação<br />
de interesses de internacionais para<br />
usar os estúdios. A experiência que tenho<br />
ti<strong>do</strong> neste processo é boa e dá confiança<br />
que será um grande caminho. Mas, mais <strong>do</strong><br />
que fazer de banco de produtoras, é tentar<br />
encontrar modelos viáveis, de coprodução<br />
com as grandes plataformas mundiais”
100 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Francisco Pedro Balsemão<br />
CEO, Impresa<br />
“Publicidade é comunicação comercial. Vai<br />
continuar a ser fundamental para as pessoas<br />
conhecerem o que existe no merca<strong>do</strong><br />
e os anunciantes venderem. Os consumi<strong>do</strong>res<br />
têm uma enorme fragmentação para<br />
receber essa informação e os media portugueses<br />
terão de encontrar caminhos para<br />
podermos entregar os nossos conteú<strong>do</strong>s.<br />
Agora, isso é mais fácil de dizer <strong>do</strong> que fazer.<br />
Temos de saber como alocar os nossos<br />
recursos e orçamentos”<br />
“Não é impossível haver uma harmonização<br />
de condições com as big tech, como o prova<br />
a nossa parceria com a Google. Ainda assim,<br />
há aqui alguma injustiça que leva a uma<br />
concorrência desleal no digital, porque a big<br />
tech atua <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da procura e da oferta. Faz<br />
com que os seus produtos e serviços sejam<br />
mais usa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os <strong>do</strong>s seus concorrentes.<br />
Há vários processos e atos legislativos ao<br />
nível da UE que estão a fazer face a este tipo<br />
de distorção <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mas ainda não se<br />
vêm resulta<strong>do</strong>s. Demora algum tempo”<br />
“Com ou sem investimento público, temos<br />
um objetivo claro, que é de triplicar as nossas<br />
receitas no digital até 2025. Estamos<br />
também a investir em canais lineares digitais,<br />
para diversificar fontes de receitas. Isso<br />
não impede que façamos mais parcerias.<br />
Mas o nosso modelo de negócio é diferente.<br />
Consideramos que a tendência é para<br />
o digital e para a complementaridade. Os<br />
grandes grupos de streaming estão a reinventar-se<br />
e a cortar custos. Nós também temos<br />
de o fazer. Ainda ninguém encontrou o<br />
modelo certo. Não é fácil fazer dinheiro com<br />
o streaming, mas temos de lá estar com os<br />
parceiros certos”<br />
Nicolau Santos<br />
<strong>Presidente</strong>, RTP<br />
“É fundamental a questão da transformação<br />
para o digital. Se não a fizermos a médio<br />
prazo, podemos correr o risco de nos tornarmos<br />
irrelevantes. Como se faz isto numa<br />
conjuntura de queda de receitas e de grande<br />
mudança? Tem de ser com talento, esforço,<br />
perseverança e capacidade de acreditar<br />
que vai ser possível”<br />
“De acor<strong>do</strong> com o livro branco <strong>do</strong> serviço<br />
público de rádio e televisão, o desafio <strong>do</strong> digital<br />
tem de ser assumi<strong>do</strong> pelo setor público<br />
de media, sob o risco de se tornar irrelevante.<br />
É claramente algo que é preciso fazer,<br />
mas não é algo que se faça facilmente. A<br />
concessionaria tem de se reorganizar e a informação<br />
e jornalismo têm de ter um papel<br />
central, porque hoje vivemos desafios brutais<br />
nesta matéria. Já não nos bastavam<br />
as redes sociais, a desinformação, as fake<br />
news e agora temos a IA”<br />
“Para Portugal ter relevância no streaming<br />
tem de haver uma política pública de fomento<br />
da produção audiovisual, para financiar<br />
e apoiar os produtores independentes.<br />
Se é que o queremos fazer. A massa<br />
crítica poderia ainda ser obtida se to<strong>do</strong>s os<br />
opera<strong>do</strong>res se juntassem e criassem um<br />
player. Cada um tem a sua própria operação,<br />
que é muito pequena, face aos players<br />
mundiais”
1st DAY<br />
CLOSING SESSION<br />
DIA 10 MAIO<br />
2nd DAY WELCOME<br />
Mário Campolargo<br />
Secretário de Esta<strong>do</strong> da <strong>Digital</strong>ização<br />
e da Modernização Administrativa<br />
António Costa Silva<br />
Ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar<br />
“O PRR resulta, ele próprio, de um evento<br />
altamente disruptivo: a pandemia de Covid-19.<br />
E a resposta europeia à crise económica<br />
provocada por esta crise sanitária é<br />
outro exemplo de decisão rápida e de forma<br />
coesa. Agora, temos pela frente um caminho<br />
de disrupção composto pelo PRR e<br />
pelo Portugal 2030. Não sen<strong>do</strong> os fun<strong>do</strong>s<br />
europeus uma fonte eterna, Portugal terá<br />
inevitavelmente de fazer mais com os recursos<br />
e com o que consegue gerar”<br />
“A APDC tem si<strong>do</strong> uma força motriz em Portugal<br />
na reflexão sobre o desenvolvimento<br />
das <strong>TIC</strong>, a digitalização e o seu impacto na<br />
economia e na transformação da vida das<br />
empesas e das pessoas. Estamos a viver<br />
tempos absolutamente fascinantes, embora<br />
de algumas ameaças que devem ser<br />
analisadas, discutidas e consideradas nas<br />
políticas públicas. Estamos a viver uma disrupção<br />
tecnológica extraordinária ao nível<br />
<strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong> empresarial”<br />
“A disrupção é hoje, verdadeiramente, o<br />
normal. A tecnologia em que se baseia o<br />
ChatGPT demorou cerca de nove anos a<br />
ser desenvolvida, mas apenas 55 dias para<br />
atingir 100 milhões de utiliza<strong>do</strong>res. Avanços<br />
que em gerações anteriores se davam em<br />
100, 50 ou 10 anos, hoje surgem de forma<br />
aparentemente imediata”<br />
“Precisamos de garantir que as pessoas<br />
permanecem no controlo <strong>do</strong> processo de<br />
inovação e de decisão, que capacitamos<br />
e preparamos a população para entender<br />
os benefícios e os riscos da tecnologia que<br />
desenvolvemos, numa interação harmoniosa<br />
entre pessoa e máquina. Mas se, coletivamente,<br />
abraçarmos estas causas como<br />
nossas, saberemos superar os novos desafios<br />
e disrupções”<br />
“A economia portuguesa está a experienciar<br />
os processos de transformação digital<br />
de uma forma cada vez mais evidente<br />
e transversal. A economia ligada à digitalização<br />
<strong>do</strong>s processos, à transformação <strong>do</strong>s<br />
modelos de negócio, à reconfiguração das<br />
cadeias de produção e logística, o que está<br />
a levar à promoção de novas dimensões da<br />
economia. O ciberespaço multiplica o merca<strong>do</strong><br />
e globaliza as atividades económicas,<br />
potencia a economia <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s”<br />
“Estamos a dar toda a atenção à execução<br />
<strong>do</strong> PRR e <strong>do</strong> pacote PT2030, que também<br />
tem verbas muito significativas para a<br />
inovação digital e a transição tecnológica.<br />
Acredito profundamente que a intensificação<br />
da revolução tecnológica e a digitalização<br />
os processos de trabalho e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s<br />
de produção pode aumentar a produtividade<br />
das empresas e a competitividade <strong>do</strong><br />
país. E isso está a ser refleti<strong>do</strong> nos números<br />
que a economia portuguesa está a apresentar<br />
e que são notáveis”
102 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
IS THE RECOVERY AND<br />
RESILIENCE PLAN<br />
TRANSFORMING THE<br />
PORTUGUESE DIGITAL<br />
LANDSCAPE?<br />
KNS: Pedro Dominguinhos<br />
<strong>Presidente</strong> da Comissão Nacional<br />
de Acompanhamento <strong>do</strong> PRR<br />
“Os da<strong>do</strong>s mostram a necessidade de ir<br />
mais depressa nas PME. Até que ponto o<br />
PRR está alinha<strong>do</strong> com este diagnóstico?<br />
Portugal tem 650 milhões de euros e, se<br />
juntarmos a resiliência em termos de formação<br />
em STEAM, tem mais 200 milhões<br />
de euros. Estamos a falar de 850 milhões<br />
na área da digitalização. Com uma componente<br />
relevante de verbas destinadas à<br />
AP, seguin<strong>do</strong>-se a área <strong>do</strong> capital humano<br />
e depois os programas dirigi<strong>do</strong>s às PME”<br />
“Nas PME, destaco projetos como os <strong>Digital</strong><br />
Innovation Hubs, a Rede Nacional de Tests<br />
Beds, a internacionalização via e-commerce,<br />
os vouchers startup e o programa Coaching<br />
4.0. ”<br />
“O desafio de 2023 é colocar os programas<br />
<strong>do</strong> PRR no terreno, para que as empresas<br />
possam beneficiar destes apoios. Estamos<br />
a falar de PME, que têm uma capacidade<br />
financeira mais reduzida. Este é um desafio<br />
fundamental e é algo que temos de acelerar.<br />
Até porque algumas destas metas e<br />
marcos são profundamente exigentes no<br />
tempo. Estamos perante um programa<br />
muito ambicioso, que exige um compromisso<br />
muito grande de to<strong>do</strong>s”<br />
Armin<strong>do</strong> Monteiro<br />
<strong>Presidente</strong>, CIP – Confederação<br />
da Indústria Portuguesa<br />
“De quem é a culpa no atraso <strong>do</strong> PRR? O<br />
peca<strong>do</strong> original está na forma como foi<br />
construí<strong>do</strong>. Logo desde o início houve uma<br />
tremenda falta de ambição. Trata-se de um<br />
investimento e por isso na Europa chamase<br />
Next Generation, mas em Portugal chama-se<br />
Plano de Recuperação. Se o PRR se<br />
aplicasse às empresas, na sua linguagem, o<br />
time to market já estava obsoleto. Hoje, não<br />
é elegível para a maioria das necessidades<br />
e prioridades das empresas”<br />
“Como é próprio das empresas, aproveitam<br />
sempre ao máximo o que é possível.<br />
O que esperamos é que, ainda com to<strong>do</strong>s<br />
estes handicaps de base, que chegue rapidamente.<br />
Mas, para isso, é preciso que a<br />
administração <strong>do</strong> PRR confie mais nos seus<br />
agentes económicos. Há entidades portuguesas<br />
em quem se confia, que estão na esfera<br />
da AP, e outras em quem não se confia,<br />
que estão na esfera privada”<br />
“A transparência e a aplicação correta <strong>do</strong><br />
PRR são requisitos. Este dinheiro não é gratuito,<br />
visa um investimento. Nas empresas,<br />
a procura ultrapassou várias vezes a oferta.<br />
É uma prova que os priva<strong>do</strong>s estão disponíveis<br />
para investir. Mas muito <strong>do</strong> que está<br />
neste momento a ser gasto na AP é em<br />
OPEX e não em CAPEX. O que é exigi<strong>do</strong> ao<br />
priva<strong>do</strong> não está a ser exigi<strong>do</strong> ao público”
ECONOMICS IS ALL<br />
ABOUT DISRUPTION?<br />
YES, LET’S DEBATE HOW<br />
Victor Calvo-Sotelo<br />
General Director, <strong>Digital</strong>ES<br />
“Em Espanha temos o mesmo tipo de discussões.<br />
Com uma diferença, de em Portugal<br />
haver uma comissão independente para<br />
o acompanhamento da aplicação <strong>do</strong> PRR,<br />
que não temos. E deveríamos ter. Há muitas<br />
formas de colaboração entre o Esta<strong>do</strong> e<br />
os priva<strong>do</strong>s, mas não uma entidade destas,<br />
que poderia ajudar, porque a quantidade de<br />
dinheiro é tão elevada, sabemos que o Esta<strong>do</strong><br />
poderá ter dificuldade em lidar com isso.<br />
Até pela complexidade da administração”<br />
“No ano passa<strong>do</strong>, para evitar processos<br />
muito complexos, o governo apostou na<br />
simplificação para a atribuição <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />
ao setor priva<strong>do</strong>. Mas ainda não é suficiente.<br />
Continua a ser mais fácil dentro<br />
<strong>do</strong> setor público. Enquanto em Portugal a<br />
maior parte <strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong> PRR vai para o<br />
setor público, em Espanha vai para o priva<strong>do</strong>.<br />
Mas, definitivamente temos de acelerar<br />
este ano”<br />
“Precisamos de fazer as <strong>coisas</strong> de forma diferente.<br />
Temos mais de um milhão de PME<br />
e no apoio a elas os organismos públicos terão<br />
de aplicar três mil milhões de euros para<br />
a sua transformação digital. Com a criação<br />
de um novo sistema de procurement, to<strong>do</strong><br />
feito online e da forma mais simples possível.<br />
É uma das razões <strong>do</strong> sucesso”<br />
Ricar<strong>do</strong> Reis<br />
Professor de economia, titular<br />
da cátedra A.W. Phillips, Lon<strong>do</strong>n<br />
School of Economics<br />
“Há um ano e meio, estava otimista, porque<br />
as mudanças que estávamos a ter no mun<strong>do</strong><br />
têm si<strong>do</strong> benéficas para Portugal. Incluin<strong>do</strong><br />
a pandemia. O país tem oportunidades, mas<br />
tem de saber agarrá-las. Estes benefícios têm<br />
de se concretizar e não vejo dinâmica para os<br />
aproveitar. Isso vem <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mas também<br />
das mudanças na configuração <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />
internacional, que exigem foco”<br />
“A elevada carga fiscal é um obstáculo ao<br />
crescimento económico. Não há ferramenta<br />
mais poderosa de um esta<strong>do</strong> para afetar<br />
a economia <strong>do</strong> que a fiscalidade. Altera o<br />
retorno de todas as atividades económicas.<br />
A estabilidade fiscal é muito importante,<br />
porque é impossível poder planear sem isso<br />
e Portugal não o tem consegui<strong>do</strong> oferecer.<br />
Espero que melhore”<br />
“Temos de ganhar escala, virada para o<br />
merca<strong>do</strong> externo, em empresas e talento.<br />
Este é o desafio, para darmos o salto seguinte.<br />
É um grande foco a ter nos próximos<br />
tempos. O sucesso <strong>do</strong> PRR dependerá muito<br />
da qualidade da sua aplicação e isso não<br />
se vê nos planos e números. Tu<strong>do</strong> depende<br />
da capacidade de acompanhar a execução,<br />
testar, experimentar, aprender com o<br />
que correu bem e mudar. Corrigir rapidamente<br />
a qualidade da afetação de recursos<br />
é muito importante”
104 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Pedro Siza Vieira,<br />
<strong>Presidente</strong>, 32° <strong>Congress</strong>o<br />
“Se Portugal, nas últimas duas décadas, foi<br />
um <strong>do</strong>s perde<strong>do</strong>res da globalização, está<br />
a registar exatamente o movimento inverso.<br />
Quer nas exportações, quer no investimento<br />
direto estrangeiro, onde tem bati<strong>do</strong><br />
recordes. Esta situação positiva já se reflete<br />
nas contas das empresas, em termos<br />
de autonomia. Estão menos endividadas,<br />
com mais capitais próprios e aumento de<br />
rentabilidade”<br />
“Há um conjunto de grandes mudanças<br />
que são uma oportunidade para Portugal.<br />
Temos de ver como as podemos concretizar,<br />
para não serem meramente circunstanciais,<br />
dan<strong>do</strong> um salto muito positivo no<br />
nosso posicionamento internacional”<br />
“Precisamos mesmo é de escala. Crescemos<br />
muito em Portugal, já não nos limitamos a<br />
produzir barato, desenvolvemos produtos e<br />
processos e somos capazes de crescer e de<br />
nos tornarmos competitivos. Falta-nos os<br />
ganhos de escala e capacidade de ter uma<br />
relação direta com o consumi<strong>do</strong>r, que são<br />
os grandes desafios estratégicos que Portugal<br />
tem pela frente”<br />
QUANTUM<br />
COMMUNICATION<br />
AND COMPUTING<br />
KNS: Arman<strong>do</strong> Nolasco<br />
Pinto<br />
Professor Associa<strong>do</strong>, Universidade<br />
de Aveiro; Investiga<strong>do</strong>r, Instituto de<br />
Telecomunicações<br />
“As tecnologias quânticas permitem-nos<br />
manipular esta<strong>do</strong>s quânticos e tentamos tirar<br />
parti<strong>do</strong> das suas particularidades. A estranheza<br />
que temos face ao quântico resulta<br />
de não estarmos habitua<strong>do</strong>s a ele”<br />
“É altura de começarem a surgir <strong>coisas</strong> verdadeiramente<br />
disruptivas e é o que está,<br />
de facto, a acontecer. E que era expectável.<br />
Na parte das comunicações, seja para enviar<br />
mais informação, ou enviar informação<br />
de forma mais segura, temos a criptografia<br />
quântica. Na parte da computação, porque<br />
um computa<strong>do</strong>r quântico consegue resolver<br />
problemas que de outra forma seriam muito<br />
difíceis de resolver. Na simulação quântica.<br />
E na sensorização. É nestes quatro pilares<br />
que a teoria quântica tem evoluí<strong>do</strong> e se tem<br />
expandi<strong>do</strong>”<br />
“Em Aveiro, temos <strong>do</strong>is grandes projetos em<br />
que estamos a trabalhar. O Discretion, um<br />
projeto na área da defesa, que permite que<br />
o Esta<strong>do</strong> tenha uma cifra nacional encriptada<br />
por máquinas com tecnologia nacional.<br />
E o PTQCI, que integra a redes de sistemas<br />
quânticos de proteção que estão a ser<br />
desenvolvi<strong>do</strong>s pela UE”
Catarina Bastos<br />
Defence Account Manager, Deimos<br />
Engenharia<br />
“A ciência quântica evoluiu imenso nos últimos<br />
anos em Portugal. O que aconteceu<br />
foi uma trilogia de sucesso, com o aparecimento<br />
de três vertentes importantes: a<br />
indústria, que interagiu com a academia<br />
para começar a pôr no terreno e desenvolver<br />
estas tecnologias para serem utilizadas<br />
no âmbito da defesa ou das comunicações;<br />
e falan<strong>do</strong> com o GNS”<br />
Manuel da Costa<br />
Honorato<br />
Sub-Diretor Geral, Gabinete Nacional<br />
de Segurança (GNS)<br />
“O GNS trata essencialmente da informação<br />
classificada, incluin<strong>do</strong> as soluções e os<br />
produtos para assegurar a segurança dessa<br />
informação. Entre os quais está a criptografia.<br />
Trabalhamos com todas as entidades<br />
públicas e privadas, sejam empresas,<br />
laboratórios e academia. Temos sempre<br />
este propósito de agregar”<br />
“Começou tu<strong>do</strong> com o Discretion, que é um<br />
projeto europeu pioneiro na área, basea<strong>do</strong><br />
num programa para a inovação na indústria,<br />
na área da Defesa. Portugal apanhou<br />
este desafio, e com cinco companhias europeias,<br />
a Defesa e o GNS, estamos a desenvolver<br />
tecnologia que vai ter nós quânticos.<br />
O projeto é bastante longo e estamos neste<br />
momento na fase <strong>do</strong> design, de definir uma<br />
arquitetura de rede”<br />
“Na segurança da comunicação e informação<br />
segura, existem várias redes seguras,<br />
mas que são como que arquipélagos.<br />
Estão suportadas em tecnologia assumida<br />
por organizações internacionais, às quais<br />
pertencemos. Até agora, nunca tivemos capacidade<br />
para desenvolver uma solução<br />
criptográfica nacional. É isso que estamos<br />
a desenvolver, através destes <strong>do</strong>is projetos:<br />
Discretion e PTQCI”<br />
“Temos desafios de certificação e estandardização<br />
<strong>do</strong>s projetos, já que existe muito<br />
pouco feito, mesmo a nível europeu. A<br />
NATO tem algum trabalho feito, mas devemos<br />
compreender que standards devem<br />
ser implementa<strong>do</strong>s para que mais tarde todas<br />
as redes nacionais sejam interoperáveis.<br />
A rede nacional estará concluída em<br />
2025, mas temos como objetivo continuar o<br />
desenvolvimento”<br />
“Portugal não deve estar dependente de<br />
soluções sobre as quais não controla o seu<br />
ciclo de vida, pois é uma vulnerabilidade à<br />
nossa soberania. Devemos ter uma solução<br />
criptográfica nacional e é o que estamos a<br />
fazer com o Discretion e o PTQCI. Permitemnos<br />
dar um passo enorme e faculta uma<br />
garantia importante. Esperamos durante<br />
2023 lançar a fase de industrialização, passan<strong>do</strong><br />
além da prototipagem”
106 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
NEW CYBERSECURITY<br />
OPPORTUNITIES & RISKS<br />
KNS: António Gameiro<br />
Marques<br />
Diretor-geral, Gabinete Nacional de<br />
Segurança (GNS)<br />
“A cibersegurança, tal como outras áreas,<br />
junta uma trilogia ganha<strong>do</strong>ra: setor público,<br />
indústria e academia. Temos de apostar<br />
nela. Se no atual contexto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real,<br />
o equilíbrio entre o físico e o virtual é ténue<br />
e se verificam ataques a <strong>do</strong>is dígitos, o que<br />
poderá vir a acontecer no futuro, com a implementação<br />
sucessiva de tecnologias disruptivas<br />
na nossa vida? Há muitas questões<br />
por responder”<br />
“O problema <strong>do</strong> talento é de dificil resolução<br />
e poderá, no futuro, ter consequências<br />
estratégicas, com a progressiva redução de<br />
funções essenciais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> as<br />
de identidade soberana, que podem ficar<br />
nas mãos de empresas cuja estrutura acionista<br />
não controlamos. Isso é algo em que<br />
temos de refletir. É a minha posição, como<br />
convicto defensor das democracias liberais”<br />
“Quan<strong>do</strong> cooperamos é poderoso, em prol<br />
da modernidade, da segurança coletiva. É<br />
absolutamente ganha<strong>do</strong>r. Ter o compromisso<br />
das lideranças é também essencial,<br />
pois sem ele não conseguimos fazer nada.<br />
Tal como capacitar coletivamente, para superar<br />
adversidades, o que implica o empenho<br />
de todas as organizações e pessoas.<br />
Isto representa o nosso maior desafio”<br />
Carla Zibreira<br />
<strong>Digital</strong> Trust <strong>Business</strong> Unit Director,<br />
Axians<br />
“Em termos de cibersegurança, ainda há<br />
a ideia nas empresas de que é um custo<br />
e não um investimento. O que traz muito<br />
para cima da mesa a dificuldade de justificar<br />
o investimento que tem de ser feito, sem<br />
ter o respetivo retorno. Tem de se explicar a<br />
quem decide nas organizações, no senti<strong>do</strong><br />
de perceber o impacto que estes ataques<br />
podem ter no negócio”<br />
“Há um fator que influencia diretamente o<br />
custo da segurança: as pessoas. Há falta de<br />
capacidade e talento nesta área. Também<br />
as vamos buscar ao IT e roubamos pessoas,<br />
o que se traduz num aumento <strong>do</strong>s valores<br />
<strong>do</strong>s salários. A tecnologia de per si não resolve<br />
nada, precisamos de pessoas com massa<br />
cinzenta por detrás. Mas é um negócio em<br />
crescimento. Há aqui uma oportunidade”<br />
“Temos de entender o minset de quem ataca,<br />
de ter sensibilidade ao risco e por isso<br />
temos piratas bons nas nossas equipas. Temos<br />
de ser malandros e o sucesso <strong>do</strong> que<br />
<strong>fazem</strong>os e das recomendações que damos<br />
aos nossos clientes está muito basea<strong>do</strong> na<br />
aproximação e conhecimento que adquirimos<br />
dessa forma”
Luís Antunes<br />
Professor Catedrático, Universidade<br />
<strong>do</strong> Porto<br />
Rui Shantilal<br />
Managing Partner, Devoteam Cyber<br />
Trust<br />
“A cibersegurança hoje tem uma importância<br />
muito grande porque nem a internet,<br />
nem os sistemas de informação, foram<br />
desenha<strong>do</strong>s para serem seguros, mas para<br />
serem resilientes. Nunca esperámos um<br />
crescimento tão rápi<strong>do</strong> e uma dependência<br />
tão rápida deste tipo de tecnologias. Quanto<br />
maior é a evolução, mais vulneráveis ficamos.<br />
Aqui, as academias têm uma grande<br />
responsabilidade”<br />
“Sempre houve uma grande pressão nas<br />
equipas de desenvolvimento para avançar<br />
com produtos, sem importar como. Na AP<br />
é claro que isso aconteceu. Mas o priva<strong>do</strong><br />
também não é exceção. Se houver problemas<br />
de segurança, resolve-se depois”<br />
“Um em cada cinco talentos no merca<strong>do</strong><br />
nacional já trabalha <strong>do</strong> país para o exterior,<br />
pois são altamente atraentes para merca<strong>do</strong>s<br />
onde o ordena<strong>do</strong> médio é mais alto. Ganham<br />
duas ou três vezes o ordena<strong>do</strong> que<br />
recebiam. Perante esta realidade, as empresas<br />
de TI e de cibesegurança ou se conseguem<br />
internacionalizar e começam a pagar<br />
valores iguais aos de lá fora, ou os seus<br />
clientes terão de pagar mais pelas soluções.<br />
E não vão querer. É um problema que tem<br />
de ser debati<strong>do</strong>”<br />
“Há outro elefante na sala: temos de pensar<br />
de forma estruturada em como conseguir<br />
dar benefícios fiscais para não perdermos o<br />
talento nacional. Esta é a realidade to<strong>do</strong>s os<br />
dias em Portugal”<br />
“Os ataques resultam de um desafio intelectual,<br />
tu<strong>do</strong> começa aí. À data de hoje os<br />
grandes ataques são oportunistas. Algo se<br />
passou com algum recurso humano que<br />
fez alguma coisa mal. Gosto de avaliar o<br />
risco de fora, mas isso não é suficiente. Tem<br />
de se avaliar o risco de dentro. Porque, na<br />
maior parte das vezes, não estamos protegi<strong>do</strong>s.<br />
Cibersegurança implica um conjunto<br />
de várias componentes”<br />
“Há uma parte <strong>do</strong>s cibertataques que ainda<br />
são oportunistas, mas há cada vez mais<br />
especializa<strong>do</strong>s em grandes empresas ou até<br />
setoriais. Sempre com o objetivo <strong>do</strong> lucro. Se<br />
os atacantes estão cada vez mais sofistica<strong>do</strong>s<br />
e organiza<strong>do</strong>s, também teremos de estar.<br />
Neste momento o cibercrime continua a<br />
crescer e ainda vai à frente”
108 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
THE DISRUPTION<br />
POWER OF AI<br />
Microsoft ’s perspetive<br />
KNS: David Carmona<br />
General Manager Artificial Intelligence<br />
& Innovation, Microsoft<br />
“Para cada avanço em IA na última década,<br />
existiu um conjunto de tasks e especialistas<br />
foca<strong>do</strong>s numa componente <strong>do</strong> seu<br />
desenvolvimento. Mas hoje há um novo paradigma,<br />
em que o mesmo modelo consegue<br />
fazer diferentes tarefas em diferentes<br />
cenários, de forma consistente e sem alteração.<br />
Já não necessitamos de um conjunto<br />
de especialistas, ferramentas ou algoritmos<br />
especializadas”<br />
“A magnitude e o poder <strong>do</strong>s atuais modelos<br />
de IA é imensa. O que está por detrás<br />
deste novo paradigma é um novo conceito<br />
fundacional de modelo. Ao invés da abordagem<br />
tradicional de uma amostra de datasets,<br />
utilizamos o arquivo total para treinar<br />
estes modelos. Permite que utilizemos<br />
linguagem natural, sem necessidade de<br />
costumização, para dizermos ao modelo o<br />
que fazer”<br />
“Em termos de impacto <strong>do</strong> novo paradigma<br />
da IA nos negócios, com este novo modelo,<br />
o que podemos ter é a IA como uma plataforma.<br />
O poder por detrás disto, a escalabilidade<br />
em toda a organização, é enorme. A<br />
IA pode ser costumizada aos requisitos <strong>do</strong><br />
negócio, transforman<strong>do</strong> o conceito de information<br />
worker num intelligence worker,<br />
que se foca nos problemas que realmente<br />
interessam”<br />
Google ’s perspetive<br />
KNS: Pablo Carlier<br />
Head of Data Analytics & AI Iberia,<br />
Google<br />
“Transitámos de modelos específicos para<br />
cliente e modalidade, para uma forma de<br />
trabalhar muito mais semelhante à forma<br />
como o nosso cérebro funciona. Foi<br />
esta capacidade de associação que nos levou<br />
de modelos simples de pergunta e resposta<br />
para modelos de relacionamento, o<br />
que permitiu a criação de um sistema que,<br />
por exemplo, identifica uma pessoa numa<br />
imagem.”<br />
“As enormes capacidades que temos à nossa<br />
frente mostram-nos que evoluímos de<br />
modelos muito específicos e costumiza<strong>do</strong>s<br />
para cada task, para as capacidades<br />
de trabalhar de mo<strong>do</strong> mais similar à forma<br />
como o cérebro funciona. Com a capacidade<br />
de perceber conceitos em todas as<br />
áreas, seja em texto, imagens, som, vídeo, o<br />
que se imaginar. Onde estará o limite para<br />
isto? Trazemos magia à nossa vida to<strong>do</strong>s os<br />
dias”<br />
“O que vai acontecer no futuro? Temos de<br />
ser audazes e responsáveis na forma como<br />
exploramos novas soluções baseadas nestas<br />
aplicações. A inovação deve ser aberta,<br />
disponibilizada como modelos open source.<br />
E as pessoas serão responsáveis pelo crescimento<br />
destas soluções, pelo que se devem<br />
preparar para liderar com elas, maximizan<strong>do</strong><br />
as suas capacidades. Agora é o tempo<br />
para imaginarmos, sonharmos e construirmos<br />
estas experiências em conjunto”
ADVANCEMENTS IN<br />
AUTONOMOUS DRIVING<br />
KNS: Mark Roberts<br />
Principal Technologist Hybrid<br />
Intelligence, Capgemini Engineering<br />
“Estou envolvi<strong>do</strong> no campo da IA há cerca<br />
de 25 anos. o que me dá uma perspetiva<br />
única <strong>do</strong> que se está a passar atualmente.<br />
Se nos últimos 10 anos se falou muito da<br />
condução autónoma, foi sempre dizen<strong>do</strong><br />
que a IA estaria muito mais próxima <strong>do</strong> que<br />
realmente está. Ainda nos falta um longo<br />
caminho para uma total autonomia.”<br />
“Ainda não temos confiança nos sistemas,<br />
que nos dão razões para não confiar. O<br />
ponto central, de responder às necessidades,<br />
não é suficiente, porque o que se julga<br />
sempre é onde se falhou, o que correu mal.<br />
O que precisamos agora é de uma IA que<br />
seja confiável, que use modelos de contexto<br />
mais simples e que compreenda o mun<strong>do</strong> e<br />
como ele funciona. Só assim se poderá conduzir<br />
em segurança”<br />
“Confiar na IA será dificil. Estratégias baseadas<br />
apenas no treino e na experiência não<br />
vão ser bem-sucedidas, porque se pensará<br />
sempre no que corre mal. Haverá sempre<br />
alguma coisa. Não podemos saltar logo<br />
para a solução final, precisamos de mais<br />
trabalho e de ambientes controla<strong>do</strong>s de<br />
teste. E a perceção coletiva é essencial, porque<br />
os carros autónomos trabalharão em<br />
conjunto e em colaboração. E finalmente,<br />
uma das <strong>coisas</strong> mais importantes é a regulação,<br />
porque cria confiança no utiliza<strong>do</strong>r”<br />
Paulo Fernandes,<br />
<strong>Presidente</strong>, Câmara Municipal<br />
<strong>do</strong> Fundão<br />
“Quan<strong>do</strong> temos um desafio tão grande,<br />
to<strong>do</strong>s temos um papel. Territórios como o<br />
Fundão, no interior <strong>do</strong> país, podem funcionar<br />
como espaço de teste e estar na linha<br />
da frente. Pode aproveitar-se o que temos<br />
e sermos uma interface em áreas tão relevantes<br />
como a gestão remota, o 5G e os softwares<br />
associa<strong>do</strong>s, as baterias, os parques<br />
inteligentes”<br />
“O Fundão foi o segun<strong>do</strong> lugar no país a<br />
criar um living lab, como modelo de um<br />
ecossistema digital. Mas reconheço que a<br />
questão de avançar com abordagens de<br />
conceitos mais reais de teste foi um fatorchave.<br />
O contexto real ajuda a despistar<br />
caminhos, o que é muito relevante para<br />
podermos ser eficazes. Foi assim que nos<br />
posicionámos na agenda da mobilidade”<br />
“Estamos envolvi<strong>do</strong>s na agenda mobiliza<strong>do</strong>ra<br />
<strong>do</strong> Route 25, no âmbito <strong>do</strong> PRR, com<br />
várias demos a desenvolver a partir da região.<br />
Neste cluster que está a ser formata<strong>do</strong><br />
no desenvolvimento da autonomia <strong>do</strong>s veículos,<br />
se pudermos beneficiar de algumas<br />
das vertentes, em termos de interface de<br />
forma mais permanente, é uma vantagem<br />
para a qual não podemos deixar de olhar”
110 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Rui Ribeiro<br />
<strong>Presidente</strong>, Autoridade Nacional<br />
de Segurança Ro<strong>do</strong>viária<br />
“Temos de nos habituar que as máquinas<br />
vão cometer erros e é natural que o façam.<br />
O que não é natural é que o façam mais <strong>do</strong><br />
que uma vez e repetidamente. Devemos caminhar<br />
para que os veículos com cada vez<br />
mais automação não cometam as mesmas<br />
asneiras. Não se pode dizer o mesmo <strong>do</strong>s humanos,<br />
que repetem os erros”<br />
“Confiamos nos automatismos na parte da<br />
mecânica e nas ajudas à condução e estamos<br />
habitua<strong>do</strong>s a elas. Temos já muitas<br />
<strong>coisas</strong> automatizadas, mas existe sempre<br />
alguém por detrás que toma uma decisão<br />
quan<strong>do</strong> algo não corre bem. O conceito de<br />
autónomo, com vida própria, está ainda<br />
longe. Mas cada vez mais temos ajudas automatizadas<br />
nas competências para conduzir<br />
um carro”<br />
“Temos uma missão clara <strong>do</strong> planeamento<br />
das políticas <strong>do</strong> Governo para a condução<br />
ro<strong>do</strong>viária. Neste momento, o que <strong>fazem</strong>os<br />
é estar em to<strong>do</strong>s os fóruns internacionais,<br />
ir absorven<strong>do</strong> e contribuin<strong>do</strong> para o tema<br />
<strong>do</strong>s veículos autónomos e automatiza<strong>do</strong>s.<br />
Continuamos a trabalhar em vários grupos<br />
neste âmbito. É altamente provável que<br />
Portugal não vá fabricar carros, mas pode<br />
ser perfeitamente um país para testes aos<br />
veículos autónomos”<br />
TELECOMMUNICATION<br />
INFRASTRUCTURES<br />
Pedro Rocha<br />
CEO, FastFiber<br />
“Disponibilizamos uma rede de fibra ótica<br />
para que os opera<strong>do</strong>res possam disponibilizar<br />
redes de alta velocidade aos clientes.<br />
Temos uma rede passiva que se assume<br />
como a autoestrada por onde passam todas<br />
as comunicações. Somos o maior opera<strong>do</strong>r<br />
de fibra e tivemos de aumentar a<br />
rede. Queremos ser o opera<strong>do</strong>r de referência<br />
para to<strong>do</strong>s os opera<strong>do</strong>res de telecomunicações.<br />
Somos equidistantes em relação<br />
a to<strong>do</strong>s”<br />
“Estamos muito bem, com mais de 92% de<br />
cobertura. A Alemanha, França ou EUA têm<br />
taxas muito inferiores à nossa. Mas existem<br />
áreas brancas onde é necessário maior investimento,<br />
crian<strong>do</strong>-se mais redes de fibra<br />
para assegurar conectividade. Estas infraestruturas<br />
devem servir os opera<strong>do</strong>res<br />
que queiram investir em Portugal, que têm<br />
exigências muito elevadas”<br />
“A alienação das infraestruturas por parte<br />
<strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res teve que ver com a monetização<br />
<strong>do</strong>s ativos que tinham nessa área.<br />
Assim como com a possibilidade de encontrarem<br />
parceiros para essa área e com a<br />
capacidade de investirem no seu real core,<br />
que são os serviços. Passaram a ter as redes<br />
ubíquas, que empresas como a nossa<br />
asseguram”
José Rivera<br />
CTO, Vantage Towers<br />
Nuno Carvalhosa<br />
CEO, Cellnex Portugal<br />
“No contexto <strong>do</strong> nosso negócio, as torres de<br />
telecomunicações, os nossos clientes querem<br />
ter fibra. O que temos esta<strong>do</strong> a fazer é<br />
chegar a acor<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res<br />
de fibra para chegarem aos nossos sites. Já<br />
são mais de 80%. E estamos dispostos a investir<br />
na parte <strong>do</strong> last mile, achamos que<br />
deter redes de fibra não é, neste momento,<br />
o foco <strong>do</strong> nosso negócio. Mas ligar as torres<br />
a essas redes de fibra é. É onde estamos a<br />
investir”<br />
“As infraestruturas são críticas para to<strong>do</strong>s<br />
os países e são mais valorizadas por isso.<br />
Portugal está bem capacita<strong>do</strong>. Existe uma<br />
necessidade cada vez maior de conetividade,<br />
para suportar todas as tecnologias,<br />
como a IA. E toda a parte de IA aplicada à<br />
inteligência <strong>do</strong> nosso negócio está em explosão,<br />
o que é também uma vantagem<br />
para o nosso core business”<br />
“Com a cisão, colocámos to<strong>do</strong> o nosso negócio<br />
ao serviço de quem o quiser usar. Estan<strong>do</strong><br />
associa<strong>do</strong>s a um negócio, não era<br />
bem assim. Neste momento, o objetivo é ter<br />
o máximo de eficiência possível, o que vai<br />
ajudar muito o ecossistema. Trazen<strong>do</strong> eficiências,<br />
vai libertar dinheiro para outros<br />
investimentos, o que é relevante. Estamos<br />
ainda numa fase jovem na Europa, mas<br />
trará benefícios”<br />
“2022 foi um ano de grande atividade e<br />
imensos desafios, porque houve uma confluência<br />
muito grande de pedi<strong>do</strong>s de novas<br />
tecnologias nas nossas infraestruturas.<br />
Conseguimos contribuir, de forma relevante,<br />
para ajudar os nossos clientes nos seus<br />
projetos de crescimento, em particular na<br />
introdução muito acelerada <strong>do</strong> 5G”<br />
“Gerimos, em Portugal, mais de 6 mil infraestruturas<br />
de vários tipos e tivemos, num<br />
curto-espaço de tempo, de adaptar, reforçar<br />
e substituir várias, para estarem aptas e<br />
em segurança. Interviemos em mais de três<br />
mil e fizemos o esforço de sincronizar tu<strong>do</strong><br />
isto, as nossas equipas internas e o ecossistema<br />
de vários parceiros, para dar uma resposta<br />
em grande volume e em muito pouco<br />
tempo”<br />
“Para smart cities e países inteligentes,<br />
é importante instalar infraestruturas em<br />
to<strong>do</strong> o país, que garantam boa cobertura<br />
de rede móvel. Estas infraestruturas servem<br />
também para suportar equipamentos <strong>do</strong>s<br />
mais diferentes tipos, como serviços de comunicações<br />
móveis <strong>do</strong>s diversos opera<strong>do</strong>res,<br />
mas também possibilidades como IoT.<br />
Passamos a cobrir mais de 450 localidades<br />
nos últimos três anos, que têm agora ótima<br />
cobertura de serviço móvel, algumas mesmo<br />
em 5G”
112 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
THE STATE OF THE<br />
NATION OF<br />
COMMUNICATIONS<br />
Luís Lopes<br />
CEO, Vodafone Portugal<br />
“A nossa indústria na Europa está fragmentada<br />
e os opera<strong>do</strong>res têm uma subescala<br />
que tem de ser endereçada. Temos perto de<br />
100 opera<strong>do</strong>res e 600 MVNO. Há cinco vezes<br />
menos opera<strong>do</strong>res e menos de metade<br />
<strong>do</strong>s MVNO em países como os EUA. O resulta<strong>do</strong><br />
prático desta fragmentação é que<br />
os investi<strong>do</strong>res das telcos na Europa não<br />
olham para ele com especial apetite. É uma<br />
realidade”<br />
“O negócio que foi proposto e que está sob<br />
apreciação da AdC, de compra da Nowo<br />
pela Vodafone, tem como racional estratégico<br />
uma oportunidade de acelerar investimentos<br />
na Nowo, que tem uma rede<br />
de cabo já bastante desatualizada. Com<br />
mais vantagens para os clientes. Estamos<br />
há 30 anos no país e com uma visão de<br />
longo-prazo”<br />
“Há seis empresas, todas baseadas nos<br />
EUA, responsáveis por 50% de to<strong>do</strong> o tráfego<br />
que circula nas redes nacionais de telecomunicações.<br />
É um tráfego que vai exigir<br />
ainda mais investimentos em 5G e em capacidade<br />
e aqueles utiliza<strong>do</strong>res da infraestrutura<br />
não pagam nada por usá-la. Este é<br />
um grande debate para a indústria, porque<br />
esta também deveria contribuir para a rentabilização<br />
<strong>do</strong> investimento. É urgente que<br />
se tome uma decisão nesta matéria”<br />
Miguel Almeida<br />
CEO, NOS SGPS<br />
“É evidente que o regula<strong>do</strong>r tem uma narrativa<br />
que construiu com base em não factos<br />
e falácias, para levar a cabo uma agenda<br />
que é pessoal e ideológica. To<strong>do</strong>s sabemos<br />
isso. Era impossível levar a efeito essa agenda<br />
sem construir essa narrativa falsa, nomeadamente<br />
a <strong>do</strong>s preços. A concorrência<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> faz-se por tu<strong>do</strong>. Há investimento,<br />
há serviços de nova geração, existe disponibilidade<br />
e há penetração e subscrição<br />
de serviços”<br />
“A explicação das motivações de entrada<br />
de novos opera<strong>do</strong>res é de criação de valor<br />
económico para quem faz essa jogada. Em<br />
Portugal não há espaço para mais <strong>do</strong> que<br />
três opera<strong>do</strong>res. Basta olhar para o resto <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> e para a Europa. Porque só isso permite<br />
investimento e concorrência. Quem faz<br />
uma jogada entra, destrói e faz confusão,<br />
sai e ganha com isso. A curto-prazo, pode<br />
traduzir-se em preços mais baixos, porque<br />
é essencial para quem tem zero de quota.<br />
Mas deveremos ter visão de curto-prazo<br />
imediata, ou de médio e longo-prazo?”<br />
“Espero que o novo regula<strong>do</strong>r tenha um<br />
perfil que convide ao diálogo. Historicamente<br />
esse diálogo produziu resulta<strong>do</strong>s,<br />
mas perdeu-se nos últimos seis anos. Espero<br />
que exista uma consciência <strong>do</strong> que é<br />
a missão da Anacom, sen<strong>do</strong>, quiçá, a mais<br />
importante, a de assegurar um ambiente<br />
concorrencial e sustentável nas telecomunicações.<br />
Que tem si<strong>do</strong> completamente<br />
ignora<strong>do</strong>”
CLOSING SESSION<br />
Ana Figueire<strong>do</strong><br />
CEO, Altice Portugal<br />
“Sempre dissemos que no futuro íamos assistir<br />
a mais movimentos de consolidações.<br />
Por isso não nos espanta esse movimento,<br />
seja em Portugal, seja na Europa. Somos<br />
um investi<strong>do</strong>r de longo-prazo, estamos satisfeitos<br />
com a operação em Portugal. Temos<br />
crescimentos de receitas a <strong>do</strong>is dígitos.<br />
Estamos satisfeitos com o que temos feito<br />
e a nossa estratégia tem prova<strong>do</strong> que é<br />
bem-sucedida”<br />
“Precisamos de previsibilidade e estabilidade<br />
regulatória para investir, porque o retorno<br />
é obti<strong>do</strong> a longo-prazo. O ambiente regulatório<br />
tem de nos ajudar, porque para<br />
rentabilizarmos o 5G como indústria, vamos<br />
ter de operar em parceira. Crian<strong>do</strong> plataformas<br />
e utilizações. A abertura <strong>do</strong> ponto<br />
de vista regulatório tem de existir. Temos de<br />
saber como monetizar em cima <strong>do</strong> 5G. Este<br />
é um caminho que vai ser feito”<br />
“Nas big tech, a discussão está a ser feita<br />
a nível europeu. Não queremos que se<br />
transforme num imposto nem num financiamento<br />
público. Deve haver um diálogo,<br />
uma negociação, entre os opera<strong>do</strong>res tecnológicos<br />
e os opera<strong>do</strong>res de telecomunicações.<br />
Existe um desequilíbrio muito grande,<br />
de 1 para 10. O nosso nível e a nossa pressão<br />
regulatória é muito superior. Temos inúmeros<br />
deveres em todas as áreas que se traduz<br />
em mais investimento e maior estrutura de<br />
custos. Não queremos planos inclina<strong>do</strong>s”<br />
João Galamba<br />
Ministro das Infraestruturas<br />
“É necessário o esforço coletivo de to<strong>do</strong>s os<br />
atores <strong>do</strong> setor, a quem endereço desde já<br />
o meu apreço pelo importante contributo<br />
que deram ao setor e pelos benefícios que<br />
têm trazi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os portugueses. É necessário<br />
também um diálogo aberto entre<br />
regula<strong>do</strong>r e regula<strong>do</strong>s e entre estes e o governo.<br />
E é necessária uma separação adequada<br />
entre as políticas públicas que devem<br />
ser promovidas e prosseguidas pelo<br />
governo e as medidas regulatórias que cabem<br />
à Anacom”<br />
“Para o futuro, espero um setor onde haja<br />
lugar à crítica e ao diálogo construtivos, ao<br />
respeito institucional, à procura equilibrada<br />
de soluções para o desenvolvimento <strong>do</strong> setor<br />
e para a defesa <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, procuran<strong>do</strong><br />
sinergias e melhoran<strong>do</strong> processos<br />
produtivos”<br />
“É nestas linhas que se deve desenhar e<br />
executar a política de comunicações de<br />
que o país necessita, com o envolvimento<br />
de opera<strong>do</strong>res, autarquias e com o papel<br />
importante <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r como fator de estabilidade<br />
<strong>do</strong> setor”
114 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Um encontro<br />
repleto de iniciativas<br />
Mais de 700 pessoas estiveram presencialmente na edição<br />
de 2023 <strong>do</strong> congresso da APDC, reforçan<strong>do</strong>-se desta forma a<br />
componente física, que decorreu no auditório da Faculdade de<br />
Medicina Dentária de Lisboa. O evento permitiu a intensificação<br />
<strong>do</strong> networking e da troca de ideias entre to<strong>do</strong>s os participantes,<br />
assim como a criação de um espaço lounge verdadeiramente<br />
inova<strong>do</strong>r, onde decorreram múltiplas iniciativas. Para quem<br />
esteve online, a aposta voltou a centrar-se na gamificação e nos<br />
stands virtuais.
Lounge: Um espaço diferencia<strong>do</strong>r<br />
e multifaceta<strong>do</strong><br />
A zona lounge <strong>do</strong> congresso acolheu um conjunto de marcas<br />
que se puderam posicionar de uma forma diferencia<strong>do</strong>ra,<br />
proporcionan<strong>do</strong> em paralelo um espaço acolhe<strong>do</strong>r e versátil<br />
para to<strong>do</strong>s os participantes. Do reforço da presença <strong>do</strong>s patrocina<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> evento, aos stands físicos, passan<strong>do</strong> pelas live<br />
talks, gravadas num espaço específico, o Tech Garden – que<br />
captou a atenção de to<strong>do</strong>s os presentes – onde foram realizadas<br />
várias apresentações. O contact scanner foi uma novidade,<br />
através da qual to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s puderam digitalizar<br />
os QR codes <strong>do</strong>s badges, para ficar com os contactos digitais<br />
<strong>do</strong>s participantes.<br />
Reiteran<strong>do</strong> a aposta nas live talks, conversas curtas entre<br />
executivos de tecnologia para refletir e trocar ideias sobre<br />
temas que marcam o setor, num formato exclusivo para<br />
os patrocina<strong>do</strong>res anuais, a APDC registou este ano um<br />
reforço destas iniciativas. Vários líderes das mais relevantes<br />
empresas tecnológicas nacionais aceitaram o desafio<br />
e convidaram clientes sobre os mais varia<strong>do</strong>s temas. Altice,<br />
Capgemini, Deloitte, DXC, Inetum, Minsait, Nokia, NTT Data,<br />
SAS, Vantage Towers e Vodafone foram as empresas que gravaram<br />
conversas no espaço cria<strong>do</strong> para o efeito no lounge <strong>do</strong> congresso.<br />
Estas live talks estão já disponibilizadas num ciclo de Dot<br />
Topics especial, disponível no canal APDC no YouTube e Spotify.
116 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Na lista destas conversas curtas estão os<br />
seguintes temas e empresas:<br />
• Metaverso – Um caso prático | Altice<br />
convida Instintc to Innovate;<br />
• Veículos Autónomos: qual o enquadramento<br />
regulatório para a introdução da<br />
tecnologia em segurança? | Capgemini<br />
Engineering convida ANSR;<br />
• A transformação digital nos opera<strong>do</strong>res<br />
de telecomunicações | Deloitte convida<br />
NOS;<br />
• O papel da Fundação Francisco Manuel<br />
<strong>do</strong>s Santos na sociedade | DXC Technology<br />
convida FFMS;<br />
• O papel da data science para a sustentabilidade<br />
e qualidade <strong>do</strong>s processos fabris<br />
| Inetum convida Grupo Renault;<br />
• Um clube desportivo de referência em<br />
inovação | Minsait convida SLB;<br />
• Universidades portuguesas ligadas em
ede | Nokia convida FCCN;<br />
• Metaverse for Brands | NTT Data Portugal;<br />
• (R)Evolução <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s territoriais na Direcção-<br />
Geral <strong>do</strong> Território | SAS convida DGT;<br />
• Como as towercos estão a acelerar a expansão<br />
<strong>do</strong> 5G | Vantage Towers convida Altice;<br />
• Vodafone Boost Lab | Vodafone convida Capgemini<br />
e Ericsson<br />
Já no espaço <strong>do</strong> Tech Garden decorreram várias apresentações.<br />
Foi o caso da Zharta.io, que apostou num<br />
debate sobre “real-time loans backed by NFT Collateral”<br />
ou da iniciativa Apps For Good, <strong>do</strong> CDI Portugal,<br />
um projeto entre os WSA Winners nacionais. A<br />
The Newsroom.ai apresentou o tema “The Newsroom<br />
- fight misinformation. Promote plurality online”, enquanto<br />
a Wakaru apresentou o projeto “Water wise
118 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
system -disrupção com o water wise? Se<br />
chove amanhã, está tu<strong>do</strong> bem!”.<br />
Altice, Axians, Cellnex, FastFiber, NOS,<br />
NTT Data, Vantage Towers e Vodafone foram<br />
max sponsers <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />
<strong>Congress</strong>, enquanto a .PT foi plus sponsor<br />
e a Capgemini, Experis, Labsit e Minsait<br />
sponsors. Já a Hispasat e a Technetix foram<br />
XS sponsors, enquanto a RTP voltou a<br />
ser media partner, asseguran<strong>do</strong> a produção<br />
<strong>do</strong> evento em formato de programa<br />
de televisão. Next IT | Winprovit, Innowave<br />
e ISEG apostaram em stands presenciais<br />
no espaço <strong>do</strong> lounge, onde disponibilizaram<br />
as suas respetivas ofertas.•
120 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Múltiplas funcionalidades<br />
no acesso online<br />
Para os mais de nove mil participantes online desta<br />
edição <strong>do</strong> congresso, que acederam através da<br />
plataforma <strong>do</strong> congresso (web e mobile), via<br />
streaming no website APDC, no YouTube APDC<br />
ou através <strong>do</strong> acesso no Tek Sapo, os <strong>do</strong>is dias <strong>do</strong><br />
evento decorreram em formato<br />
de programa de televisão.<br />
Para quem fez <strong>do</strong>wnload da aplicação<br />
<strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />
<strong>Congress</strong>, que voltou a ser disponibilizada<br />
para iOS e Android<br />
a to<strong>do</strong>s os participantes já regista<strong>do</strong>s,<br />
puderam ter acesso a<br />
um vasto conjunto de funcionalidades.<br />
Incluin<strong>do</strong> o programa<br />
e ora<strong>do</strong>res, com a possibilidade<br />
de pesquisar e filtrar; avaliação<br />
das sessões; transmissão em direto<br />
<strong>do</strong> evento; acesso aos patrocina<strong>do</strong>res e expositores;<br />
agenda pessoal personalizável; materiais para<br />
<strong>do</strong>wnload; pesquisa; e páginas de informação com<br />
muitos conteú<strong>do</strong>s. Tiveram ainda oportunidades de<br />
networking, já que a app deu acesso à lista de participantes,<br />
que podiam trocar mensagens entre si.<br />
A APDC voltou a apostar também na gamification<br />
no âmbito <strong>do</strong> congresso, para to<strong>do</strong>s os que quiseram<br />
intensificar a sua participação através das<br />
várias modalidades de interação: Photographer,<br />
Movie Director, Communicator, Evaluator, Popular<br />
ou o Traveler. Os vence<strong>do</strong>res foram Luís Pera, Sofia<br />
Santos e Ana Rogeiro. Receberam, respetivamente,<br />
os seguintes prémios: tecla<strong>do</strong> e rato premium sem<br />
fios, Dell Technologies; curso intensivo de Marketing<br />
<strong>Digital</strong> & Inovação, Lisbon <strong>Digital</strong><br />
School; um mês de office space<br />
na LISPOLIS, com acesso a uma<br />
comunidade de 130 empresas.<br />
Destaque ainda para uma sessão<br />
paralela que decorreu online, sobre<br />
o tema “From Portugal to the<br />
Metaverse”. Piero Fioretti (Versy),<br />
Bernar<strong>do</strong> Azeve<strong>do</strong> (RealFevr)<br />
e Mário Mar (BPI) participaram<br />
num debate modera<strong>do</strong> por João<br />
Mesquita (Computerworld). Está<br />
disponível no YouTube da APDC,<br />
em https://www.youtube.com/watch?v=rcRV8x4lOxs&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=14<br />
Apostaram em stands online nesta edição <strong>do</strong> congresso<br />
a Altice, Axians, Cisco, Deloitte, Devoteam,<br />
DXC, Ericsson, Inetum, Kyndryl, Nokia, NTT Data, .PT,<br />
SAS e Vantage Towers.•
UPSKILL: criar Rede Alumni<br />
para ajudar e acelerar<br />
As empresas tech procuram talento tecnológico, cada vez mais dificil de encontrar.<br />
O Programa UPskill – <strong>Digital</strong> Skills & Jobs permite a todas as pessoas mudar<br />
de vida, enveredan<strong>do</strong> por uma carreira tech e uma nova profissão nas empresas<br />
que procuram estes recursos. Este foi o ‘match perfeito’ entre oferta e procura,<br />
num programa pioneiro que já formou 1.200 pessoas nas suas duas primeiras<br />
edições, estan<strong>do</strong> a decorrer atualmente a 3ª edição. Agora, acaba de ser<br />
lançada, numa apresentação que decorreu no <strong>Congress</strong>o, a “Rede Alumni<br />
UPskill”. Objetivo: juntar um grupo de forman<strong>do</strong>s para trocar experiências<br />
para ajudar os candidatos e as empresas, permitin<strong>do</strong> intensificar e acelerar<br />
o projeto.<br />
Como destacou Manuel Garcia, coordena<strong>do</strong>r nacional <strong>do</strong> programa, a necessidade<br />
de requalificação profissional é hoje muito grande, perante a perda de<br />
postos de trabalho, provocada pela crescente automatização e utilização de<br />
ferramentas tecnológicas. Ten<strong>do</strong> em conta que o UPskill já provou “que é possível<br />
unir esforços no país e criar um projeto de sucesso de requalificação”, é agora<br />
necessário replicar este desafio, atrain<strong>do</strong> mais pessoas. Até porque mais de<br />
18% <strong>do</strong>s indivíduos com menos de 25 anos estão desemprega<strong>do</strong>s, o que não faz<br />
senti<strong>do</strong>. “Temos de trabalhar to<strong>do</strong>s para corrigir este problema”, considerou, trazen<strong>do</strong>-se<br />
mais gente “para um setor cheio de oportunidade e onde se alcançam<br />
objetivos para a vida”.<br />
A comissão organiza<strong>do</strong>ra da “Rede Alumni UPskill” é composta por cinco<br />
profissionais que participaram nas edições anteriores <strong>do</strong> programa: Laís<br />
Gray, André Santos, Filipe Valente, Pedro Vaz e Paula Veloso. To<strong>do</strong>s consideram<br />
que o programa foi uma rampa de lançamento para uma mudança<br />
de profissão para as tecnologias digitais, pelo que querem agora<br />
criar uma rede de ajuda, partilha de conhecimentos e experiências,<br />
assumin<strong>do</strong>-se ainda como “embaixa<strong>do</strong>r e uma prova viva <strong>do</strong> sucesso<br />
<strong>do</strong> UPskill”. Reveja sessão de lançamento em https://www.youtube.com/<br />
watch?v=-3YKh1opCQc&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=15.•
122 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Reconhecer projetos pioneiros assentes em tecnologia<br />
Numa award ceremony que decorreu no final <strong>do</strong> primeiro<br />
dia <strong>do</strong> congresso da APDC, foram conheci<strong>do</strong>s<br />
os vence<strong>do</strong>res da 2ª edição <strong>do</strong> Prémio Cidades & Territórios<br />
<strong>do</strong> Futuro. Esta iniciativa da APDC tem como<br />
objetivo reconhecer projetos pioneiros, assentes em<br />
soluções tecnológicas, que transformem as cidades<br />
em espaços mais habitáveis, sustentáveis e economicamente<br />
viáveis. To<strong>do</strong>s os projetos, ideias e estratégias<br />
candidatos têm o apoio de inovações tecnológicas,<br />
que promovem a otimização <strong>do</strong>s recursos e<br />
um planeamento, entrega e controlo <strong>do</strong>s serviços urbanos<br />
mais inova<strong>do</strong>r e eficaz, por forma a potenciar<br />
a sustentabilidade da economia, da sociedade e <strong>do</strong><br />
ambiente.<br />
Um júri que integrou mais de 40 personalidades,<br />
constituí<strong>do</strong> por representantes de empresas e organizações,<br />
com conhecimento específico nas categorias<br />
a concurso, elegeu como vence<strong>do</strong>res, por cada<br />
categoria a concurso:<br />
‘Saúde e Bem-estar’<br />
LISBOA 65+ |Trata-se de um plano de saúde gratuito<br />
para i<strong>do</strong>sos, projeto onde foi desenvolvida<br />
uma plataforma de suporte, que facilita o acesso<br />
à saúde e contribui para a prevenção das <strong>do</strong>enças.<br />
Abrange to<strong>do</strong>s os munícipes residentes e recensea<strong>do</strong>s<br />
em Lisboa, com 65 anos ou mais, acrescentan<strong>do</strong><br />
uma componente complementar para os munícipes<br />
mais vulneráveis, os beneficiários <strong>do</strong> complemento<br />
solidário para i<strong>do</strong>sos (CSI). O plano disponibiliza três<br />
serviços: teleconsultas de medicina geral e familiar;<br />
assistência médica ao <strong>do</strong>micílio em caso de necessidade;<br />
transporte em ambulância, se o médico ao <strong>do</strong>micílio<br />
determinar essa necessidade. Promotor: Câmara<br />
Municipal de Lisboa<br />
‘Igualdade e Inclusão’ e ‘Qualificações’<br />
AS RAPARIGAS DO CÓDIGO | Organização sem<br />
fins lucrativos focada em promover a inclusão digital<br />
e a igualdade de género, através <strong>do</strong> ensino<br />
da programação a mulheres e raparigas em idade<br />
escolar. Este projeto tem como principais objetivos<br />
desmistificar o papel da mulher na tecnologia,<br />
encorajan<strong>do</strong> a experimentação nas áreas STEM e a<br />
escolher um percurso profissional no setor. Visa ainda<br />
apoiar e capacitar mulheres que procuram programas<br />
de qualificação, requalificação ou desenvolvimento<br />
de projetos pessoais de empreende<strong>do</strong>rismo.<br />
Promotor: Associação Geração Ambiciosa<br />
‘Mobilidade e Logística’<br />
KIOSK GUERIN | Projeto destina<strong>do</strong> a revolucionar<br />
a jornada <strong>do</strong> cliente <strong>do</strong> rent-a-car. Tradicionalmente,<br />
os clientes experienciam um processo mais lento<br />
e menos user-friendly. Com este quiosque, o processo<br />
torna-se mais autónomo: os clientes podem atualizar<br />
os seus da<strong>do</strong>s pessoais e ter acesso a serviços e<br />
promoções e terminar o processo de aluguer da viatura,<br />
fazen<strong>do</strong> o check out autonomamente. Promotor:<br />
Guerin Rent-a-Car.<br />
Menção honrosa: DEEPNEURONIC | Sistema de deteção<br />
e reconhecimento automático de eventos<br />
perigosos e comportamentos humanos anormais<br />
para a segurança e proteção pública. Objetivo é<br />
aumentar a sustentabilidade <strong>do</strong>s sistemas de videovigilância,<br />
diminuin<strong>do</strong> os eleva<strong>do</strong>s recursos necessários,<br />
através de algoritmos de visão computacional no<br />
processamento de vídeos em tempo real. Promotores:<br />
Vasco Ferrinho Lopes e Bruno Manuel Degardin,<br />
co-funda<strong>do</strong>res da DeepNeuronic.
To<strong>do</strong>s os projetos candidatos<br />
tiveram o apoio de inovações<br />
tecnológicas que promovem a<br />
otimização de recursos<br />
‘Relacionamento com o Cidadão e Participação’<br />
MOBICAB FLEXÍVEL |Integra-se num projeto piloto<br />
de mobilidade sustentável, inclusão e cidadania<br />
<strong>do</strong> município de Castelo Branco, disponibilizan<strong>do</strong><br />
uma rede de transportes que permite<br />
acabar com o isolamento social em que a população<br />
mais vulnerável se encontra. Em articulação<br />
com os opera<strong>do</strong>res locais (taxistas), criou-se uma<br />
rede de transporte a pedi<strong>do</strong>, cujas rotas são geridas<br />
de forma centralizada. Trata-se de um projeto inclusivo,<br />
que promove a igualdade, é amigo <strong>do</strong> ambiente e<br />
dinamiza<strong>do</strong>r da economia local. Promotor: Município<br />
de Castelo Branco<br />
‘Desenvolvimento Económico’<br />
PLATAFORMA DE GESTÃO INTELIGENTE DE LIS-<br />
BOA | Solução tecnológica com alta capacidade<br />
de processamento, que permite a monitorização,<br />
gestão operacional e realização de analítica sobre<br />
os da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> o ecossistema urbano.<br />
É capaz de receber e tratar um grande volume de<br />
da<strong>do</strong>s, muitos deles em tempo real, com origem em<br />
câmaras de vídeo, sensores, sistemas de informação<br />
da CML e de parceiros externos. Permite depois a disponibilização<br />
de alarmística e informação de apoio à<br />
decisão a um vasto conjunto de utiliza<strong>do</strong>res internos<br />
e ao cidadão, através <strong>do</strong> Portal de Da<strong>do</strong>s Abertos de<br />
Lisboa e da app Lisboa.24. Promotor: Câmara Municipal<br />
de Lisboa<br />
Menção honrosa: OBSERVATÓRIO DO TALENTO<br />
| Plataforma digital de informação que permite<br />
recolher, gerir e divulgar informação estratégica<br />
sobre o merca<strong>do</strong> de trabalho (oferta e procura) e<br />
competências. Explora ainda questões relacionadas,<br />
como salários e condições de emprego. Com recurso<br />
a múltiplas fontes e ferramentas de recolha de da<strong>do</strong>s,<br />
como estatísticas oficiais, estu<strong>do</strong>s e web scraping, é<br />
dirigida a empresas, talento e instituições de ensino/<br />
formação. Promotor: Câmara Municipal <strong>do</strong> Porto<br />
‘Sustentabilidade, Economia Circular e<br />
Descarbonização’<br />
RECOLHA SELETIVA DE BIORRESÍDUOS EM CAS-<br />
CAIS | Projeto de separação de restos de comida<br />
para produção de energia elétrica e composto orgânico.<br />
Os munícipes abrangi<strong>do</strong>s (10.000 famílias)<br />
recebem gratuitamente um rolo de sacos verdes,<br />
que usam para descartar os restos de comida, colocan<strong>do</strong>-o<br />
diretamente no contentor <strong>do</strong>s resíduos indiferencia<strong>do</strong>s<br />
(cinzento), para garantir a sua separação<br />
<strong>do</strong> “lixo comum”. Os sacos verdes, recolhi<strong>do</strong>s juntamente<br />
com os restantes resíduos indiferencia<strong>do</strong>s, são<br />
tria<strong>do</strong>s através de um leitor ótico na unidade de tratamento<br />
de resíduos e encaminha<strong>do</strong>s para outro processo,<br />
que originará o biogás e o composto. Promotor:<br />
Cascais Ambiente.<br />
Menção honrosa: COMSOLVE - Comunidade de<br />
energia Solar com integração de Veículos Elétricos<br />
| Projeto de desenvolvimento de soluções de<br />
gestão para comunidades de energia renovável<br />
(CER), com integração de veículos elétricos e sistemas<br />
de armazenamento de energia com base<br />
em baterias de segunda vida. Inclui a produção<br />
descentralizada de eletricidade a partir de painéis<br />
fotovoltaicos e a partilha da energia produzida, permitin<strong>do</strong><br />
estabelecer um merca<strong>do</strong> interno de energia<br />
entre os membros da comunidade. Promotores: <strong>Digital</strong>mente<br />
Coopérnico, Instituto de Telecomunicações<br />
Magnum Cap - Câmara Municipal de Ílhavo.<br />
Saiba mais em: https://premiocidades-apdc.pt/ •
124 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Premiar trabalho <strong>do</strong> talento<br />
jovem qualifica<strong>do</strong><br />
A Best Thesis Award Ceremony, realizada no 2º dia<br />
<strong>do</strong> congresso da APDC, deu a conhecer os vence<strong>do</strong>res<br />
da 3ª edição <strong>do</strong>s Best Thesis Award. Esta iniciativa<br />
criada pela associação, com o apoio <strong>do</strong> CEE<br />
- Consórcio das Escolas de Engenharia, abrangeu<br />
este ano os jovens finalistas de mestra<strong>do</strong> das academias<br />
aderentes ao Programa UPskill. A Axians<br />
Portugal voltou a patrocinar o prémio, que se destina<br />
a distinguir as melhores dissertações de mestra<strong>do</strong><br />
nas áreas de tecnologias de informação, telecomunicações<br />
e media.<br />
Os vence<strong>do</strong>res foram, por categoria:<br />
• TI | Vladyslav Mosiichuk, mestra<strong>do</strong> em Engenharia<br />
Electrotécnica e de Computa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Instituto Politécnico<br />
<strong>do</strong> Porto (Instituto Superior de Engenharia<br />
<strong>do</strong> Porto | ISEP), com a dissertação “Deep Learning<br />
for Automated Adequacy Assessment of Cervical<br />
Cytology Samples”;<br />
• Telecomunicações | Pedro Miguel Nicolau Escaleira,<br />
mestra<strong>do</strong> em Cibersegurança da Universidade<br />
de Aveiro, com a dissertação “Securing Real World<br />
5G MEC Deployments”;<br />
• Media | Beatriz Almeida Miranda, mestra<strong>do</strong> em<br />
Multimédia, Faculdade de Engenharia da Universidade<br />
<strong>do</strong> Porto, com a dissertação “Immersive VR<br />
eHealth Strategies: VR games to treat schizophrenia<br />
negative symptoms”.<br />
https://www.apdc.pt/iniciativas/agenda-apdc/<br />
premio-best-thesis-award-2023<br />
Reveja Sessão<br />
https://www.youtube.com/watch?v=8URp0ZQajLs&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=25<br />
•
Paulo Portas é o novo sócio honorário APDC<br />
To<strong>do</strong>s os anos, no âmbito <strong>do</strong> congresso, a APDC destaca uma personalidade – que em<br />
regra foi presidente de uma das edições anteriores <strong>do</strong> congresso – para distinguir como<br />
associa<strong>do</strong> honorário, pelo relevante contributo presta<strong>do</strong> na divulgação e desenvolvimento<br />
das <strong>TIC</strong>. Este ano, foi homenagea<strong>do</strong> Paulo Portas, presidente <strong>do</strong> congresso de<br />
2022.<br />
“A APDC tem memória e queremos distinguir e agradecer, de forma simbólica, às pessoas<br />
que nos ajudaram a construir as realidades <strong>do</strong> setor. Por isso, a presidência <strong>do</strong> congresso<br />
é importante, porque é uma personalidade externa e prestigiada, com contribuições<br />
de grande valor para o evento”, como referiu o presidente da associação.<br />
“Foi um enorme prazer trabalhar, na incerteza, com a equipa <strong>do</strong> congresso <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>,<br />
que foi o primeiro mais presencial, além <strong>do</strong> remoto. O setor está no coração <strong>do</strong> que<br />
vai ser a economia e quem quiser<br />
lá estar tem que pedalar e ser competitivo para a economia <strong>do</strong> futuro. É certamente no<br />
<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> digital que vão acontecer as <strong>coisas</strong> mais interessantes e também as questões<br />
geoestratégicas e éticas mais importantes”, comentou Paulo Portas.•<br />
REVEJA LOOK & FEEL DOS DOIS DIAS DO CONGRESSO<br />
9 MAIO https://www.youtube.com/watch?v=X2cwv8DICCw<br />
10 MAIO https://www.youtube.com/watch?v=eI-r1Iy9OMk
126 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />
Jantar de lançamento<br />
<strong>do</strong> <strong>Congress</strong>o reúne<br />
ecossistema e ora<strong>do</strong>res<br />
Antecipan<strong>do</strong> a realização <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />
<strong>Congress</strong>, a APDC realizou a 4 de<br />
maio, no restaurante Eleven, o jantar de lançamento<br />
<strong>do</strong> maior evento anual da APDC,<br />
que marca a agenda <strong>do</strong> setor e <strong>do</strong> país. Reuniu<br />
ora<strong>do</strong>res, convida<strong>do</strong>s, líderes das associadas<br />
institucionais e membros da direção<br />
num momento de partilha sobre os objetivos<br />
que se pretendiam alcançar com a iniciativa,<br />
num momento decisivo para o futuro<br />
<strong>do</strong> país, da Europa e até <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. •
10 Gbps<br />
IP68<br />
O rOLT da Technetix é a solução para implementar<br />
banda larga ultra rápi<strong>do</strong> com um custo ajusta<strong>do</strong>, em<br />
qualquer ambiente.<br />
• OLT XGS-PON com desenho compacto e robusto para FTTP<br />
• Ideal para pequenas cidades, áreas rurais, parques empresariais ou universidades<br />
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© Copyright 2023 Technetix Group Limited. Reserva<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s los derechos.<br />
Este <strong>do</strong>cumento es solo para información. Las características y especificaciones están sujetas a cambios sin previo aviso. Technetix, el logotipo de Technetix y algunas otras marcas<br />
y logotipos son marcas comerciales o marcas comerciales registradas de Technetix Group Limited en el Reino Uni<strong>do</strong> y algunos otros países. Otras marcas y nombres de empresas son<br />
marcas comerciales de sus respectivos propietarios. Technetix protege su tecnología y diseños registran<strong>do</strong> patentes, marcas comerciales y diseños en Europa y algunos otros países.
ultimas<br />
COMO ESCOLHER O MELHOR COMPUTADOR PARA JOGAR<br />
OS JOGOS de computa<strong>do</strong>r tornaram-se uma das formas de entretenimento mais populares no mun<strong>do</strong>.<br />
Mas se quiser jogar os jogos mais recentes com a máxima qualidade, um computa<strong>do</strong>r normal pode<br />
não ser adequa<strong>do</strong> para proporcionar o melhor desempenho. As marcas de gaming da HP, a Victus e a<br />
Omen, pretendem dar resposta a todas as necessidades <strong>do</strong>s gamers. A primeira está mais direcionada<br />
para o gamer casual ou para quem ainda está a dar os primeiros passos no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> gaming. A segunda<br />
destina-se aos entusiastas que querem tirar parti<strong>do</strong> da sua máquina. Há também a opção entre um<br />
desktop e um portátil, sen<strong>do</strong> que a decisão entre um e outro depende de fatores como personalizar e<br />
atualizar (os desktops dão mais opções de personalização e atualização que os portáteis), o transporte<br />
e o desempenho. Assim, a HP sugere o portátil de gaming Omen 16 para jogar em qualquer la<strong>do</strong>. Para<br />
quem prefere um desktop, a escolha deverá recair sobre o Omen 45L, modelo para quem procura o<br />
melhor desempenho e a possibilidade de customizar to<strong>do</strong>s os componentes. E, sen<strong>do</strong> o monitor uma<br />
peça chave, o modelo HP OMEN 27u é o mais adequa<strong>do</strong>.•<br />
128<br />
PLATAFORMA DE REALIDADE AUMENTADA PARA ATLETAS<br />
UMA PASSADEIRA inteligente que usa realidade aumentada para melhorar a<br />
performance <strong>do</strong>s atletas e evitar lesões? Chama-se Best Yourself e tem um software<br />
que, através de RA, permite ao atleta executar rotinas de treino enquanto responde<br />
a desafios coloca<strong>do</strong>s por ambientes virtuais. Através de sensores, a plataforma<br />
analisa os movimentos, mede parâmetros, identifica falhas e aumenta a performance.<br />
É uma inovação ‘made in Portugal’, criada por uma equipa de professores<br />
e investiga<strong>do</strong>res da Universidade de Évora e foi a vence<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s Open Innovation<br />
Challenges, uma iniciativa da NOS e da ANI que desafiou a academia a apresentar<br />
soluções inova<strong>do</strong>ras com base em tecnologia 5G, que permite avançar a passos<br />
largos e abrir novas possibilidades, que podem revolucionar todas as áreas da<br />
nossa vida.•
MANTEMOS<br />
A EUROPA<br />
CONECTADA,<br />
com uma infraestrutura<br />
sustentável<br />
Na Vantage Towers ajudamos a alcançar uma Europa digital<br />
e verdadeiramente sustentável.<br />
Estamos totalmente comprometi<strong>do</strong>s com a construção<br />
de uma sociedade conectada em benefício de to<strong>do</strong>s,<br />
centran<strong>do</strong> a nossa ação numa infraestrutura mais ecológica.<br />
Associámo-nos à start-up finlandesa Ecotelligent para construir<br />
torres de telecomunicações com estrutura de madeira.<br />
Desta forma, procuramos proteger o meio ambiente e reduzir<br />
as nossas emissões de CO2.<br />
As torres de madeira são naturais, esteticamente agradáveis<br />
e emitem significativamente menos CO2 <strong>do</strong> que as torres<br />
de aço ou de betão com tamanho e funcionalidades<br />
semelhantes,<br />
em linha com o objetivo da descarbonização da economia.<br />
Prevemos construir duas torres piloto na Alemanha na<br />
primavera de 2023. A nossa rede sustentável pode ajudar<br />
a proporcionar uma conectividade inteligente a milhões de<br />
pessoas e contribuir para a construção de um futuro melhor<br />
para to<strong>do</strong>s.<br />
Juntos, aceleramos rumo a uma Europa conectada de forma<br />
sustentável.<br />
www.vantagetowers.com
ultimas<br />
REFORÇAR TALENTO EM CIBERSEGURANÇA<br />
COM NOVA ACADEMIA<br />
CHAMA-SE Cisco Cybersecurity Academy e vai ser lançada a 12 de setembro, em Lisboa. Visa colmatar<br />
a falta de talento em Portugal na área de cibersegurança, forman<strong>do</strong> a próxima geração de profissionais<br />
nesta área, contribuin<strong>do</strong> para a criação de um sóli<strong>do</strong> pipeline de especialistas em cibersegurança,<br />
adequadamente forma<strong>do</strong>s e certifica<strong>do</strong>s. A Cisco está a trabalhar neste projeto com um ecossistema diversifica<strong>do</strong><br />
de organizações, incluin<strong>do</strong> universidades<br />
técnicas de topo e parceiros-chave na área da cibersegurança.<br />
Vai arrancar com 18 forman<strong>do</strong>s, recruta<strong>do</strong>s<br />
nas suas universidades que, ao longo de seis meses,<br />
serão forma<strong>do</strong>s pela tecnológica e pelos seus parceiros,<br />
preparan<strong>do</strong>-os para as certificações CCNA (Cisco<br />
Certified Networking Associate), CyberOps Associate<br />
& Security Networking com Cisco Firepower e Ethical<br />
Hacker, certificação independente e reconhecida pela<br />
indústria. A Cybersecurity Academy vai ainda oferecer<br />
formação em competências transversais e palestras<br />
de especialistas da Cisco, clientes e outros ora<strong>do</strong>res<br />
externos influentes.•<br />
NOVA EXPERIÊNCIA DE ENTRETENIMENTO EM CASA COM BOX TV<br />
CHAMA-SE TV PLAY e é a primeira tv box no merca<strong>do</strong> nacional com Android TV incorporada. Foi lançada pela Vodafone,<br />
que garante que esta oferta vem revolucionar o sistema de entretenimento em casa, oferecen<strong>do</strong> uma experiência<br />
exclusiva aos clientes. Junta, no mesmo dispositivo, a interface <strong>do</strong> serviço de televisão da Vodafone, o sistema<br />
inteligente Android TV, um assistente de voz mãos livres em português europeu e um sistema de som desenha<strong>do</strong> e<br />
otimiza<strong>do</strong> pela Bang & Olufsen,<br />
com suporte de Dolby Atmos,<br />
para uma experiência acústica<br />
imersiva. O opera<strong>do</strong>r pretende,<br />
com este lançamento, reforçar o<br />
seu posicionamento de liderança<br />
em Portugal como fornece<strong>do</strong>r da<br />
melhor experiência de televisão<br />
e de entretenimento para casa,<br />
responden<strong>do</strong> aos novos hábitos<br />
e necessidades de consumo. A<br />
oferta está incluída gratuitamente<br />
nos pacotes Fibra Super Séries,<br />
poden<strong>do</strong> também ser instalada<br />
por qualquer outro cliente de<br />
televisão. Neste caso, na fase de<br />
lançamento, estará disponível<br />
por um valor promocional de 5€/<br />
mês.•<br />
130
ultimas<br />
AVATAR ASSENTE EM IA GENERATIVA FALA COM CIDADÃOS<br />
JÁ É POSSÍVEL garantir aos portugueses, através da homepage<br />
<strong>do</strong> portal <strong>do</strong> ePortugal, um atendimento 24 horas<br />
por dia, sete dias por semana, para se ligarem à Chave<br />
Móvel <strong>Digital</strong> (CMD) através de dispositivos móveis e<br />
desktop. Tu<strong>do</strong> graças a um chatbot<br />
com um avatar realista que<br />
reconhece e reproduz texto e voz e<br />
que responde a todas as questões<br />
sobre a CMD. O projeto assenta em<br />
tecnologia Azure OpenAI, desenvolvi<strong>do</strong><br />
através de uma parceria entre<br />
a Microsoft, a DareData Engineering<br />
e a Defined.ai. Vem marcar um<br />
ponto de viragem na transformação<br />
digital <strong>do</strong>s serviços públicos em Portugal e é um <strong>do</strong>s elementos<br />
da nova estratégia de atendimento <strong>do</strong> futuro que<br />
a AMA está a desenvolver. O objetivo é promover uma<br />
maior aproximação entre o Esta<strong>do</strong> e os cidadãos, através<br />
da tecnologia mais transforma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> nosso tempo, a IA<br />
generativa. A solução, alojada na cloud Microsoft Azure,<br />
assenta no modelo GPT 3.5 turbo – o mesmo que serve de<br />
base ao ChatGPT, da OpenAI -, e é<br />
capaz de compreender texto fala<strong>do</strong><br />
e escrito em português, responden<strong>do</strong><br />
também através de voz e texto,<br />
graças ao recurso a tecnologia de<br />
conversão speech to text e text to<br />
speech. Recorre ainda a Azure Cognitive<br />
Search e Azure Cosmos DB,<br />
que permitem o serviço de pesquisa<br />
sobre a base de conhecimento da<br />
CMD e o arquivo <strong>do</strong> contexto das interlocuções com os<br />
cidadãos, respetivamente.•<br />
PREMIAR ECOSSISTEMA DE PARCEIROS<br />
132<br />
NO ÂMBITO <strong>do</strong> IBM Ecosystem Summit Portugal 2023, conferência anual dedicada ao ecossistema de parceiros,<br />
a tecnológica premiou os seus parceiros comerciais cujo desempenho mais se distinguiu ao longo de<br />
2022 em várias categorias e áreas de negócio. Assim, a Inetum foi a vence<strong>do</strong>ra em Reseller, a Timestamp em<br />
Automation, a Blue Chip em Servers, a Decsis em Storage, a IT Peers em Public Cloud, a Eurotux em Autonomy<br />
Systems, a Redshift em Security, a PDMFC em Data & AI , a PSE em Autonomy Software, a Art Resilia<br />
em New Partner, a AIRC em Build, e a Timestamp em Annuity. Houve ainda uma menção especial para a<br />
Arrow. A IBM anunciou ainda um novo portal IBM Partner Plus e o reforço <strong>do</strong> investimento e suporte ao<br />
ecossistema, que constitui o seu grande vetor de crescimento, ten<strong>do</strong> um papel fundamental na criação de<br />
valor e inovação para os clientes.•