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COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais

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TOWERCOS<br />

O FUTURO NÃO PASSA APENAS PELO 5G<br />

CRIPTOECONOMIA: JUNTAR LIBERDADE<br />

E REGULAÇÃO NO MESMO CESTO<br />

TUDO SOBRE O 32° DIGITAL<br />

BUSINESS CONGRESS<br />

N.º <strong>246</strong> • JUNHO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />

PEDRO SIZA VIEIRA,<br />

PRESIDENTE DO 32° DIGITAL<br />

BUSINESS CONGRESS<br />

O REFORMISTA QUE NÃO<br />

GOSTA DE REVOLUÇÕES


Já submeteu os projetos da sua organização<br />

aos principais prémios de Transformação<br />

<strong>Digital</strong> em Portugal?<br />

Estão abertas as candidaturas para os prémios Portugal <strong>Digital</strong> Awards ® ,<br />

que visam distinguir organizações, públicas ou privadas, que utilizem<br />

tecnologias de informação e comunicação na transformação <strong>do</strong> seu<br />

negócio. Esta iniciativa, organizada pela Axians e a IDC Portugal,<br />

pretende, mais uma vez, premiar o que de melhor se faz em Portugal<br />

no âmbito da transformação digital.<br />

Saiba mais informações em:<br />

www.portugaldigitalawards.pt


edit orial<br />

Eduar<strong>do</strong> Fitas eduar<strong>do</strong>.fitas@accenture.com<br />

Quan<strong>do</strong> a maior oportunidade<br />

depende da maior desvantagem<br />

Ao fazer este editorial para uma edição que fala<br />

<strong>do</strong> investimento tecnologicamente exigente<br />

que o nosso país está a captar, a Fundação José<br />

Neves publicou o “Esta<strong>do</strong> da Nação 2023”. Trata-se<br />

de um estu<strong>do</strong> onde a educação e capacitação da<br />

nossa força de trabalho são analisadas de forma estruturada<br />

e profunda. E as suas conclusões deixam algum<br />

“amargo de boca”.<br />

Talvez porque a evolução tenha si<strong>do</strong> significativa<br />

nos últimos tempos, a tendência da maior parte <strong>do</strong>s<br />

membros deste ecossistema é fazerem análises demasia<strong>do</strong><br />

positivas, num setor que ainda necessita de<br />

mudanças estruturais. Mas, se fica claro que as competências<br />

digitais são críticas para entrar no merca<strong>do</strong><br />

de trabalho, “quatro em cada 10 trabalha<strong>do</strong>res portugueses<br />

estão em empregos em que, ou não utilizam<br />

tecnologias digitais, ou <strong>fazem</strong> uma utilização muito<br />

básica das mesmas. E 48% das empresas têm um nível<br />

de digitalização baixo”.<br />

Entendi<strong>do</strong> o diagnóstico da situação atual, é evidente<br />

a necessidade de acelerar a aquisição de competências<br />

digitais pela população adulta, uma vez que<br />

75% não as possui. O caminho passa por repensar e<br />

reestruturar o ensino, o que será sempre uma iniciativa<br />

de médio e longo-prazo, para a qual já vamos atrasa<strong>do</strong>s.<br />

Portugal é o país da UE com <strong>do</strong>centes mais envelheci<strong>do</strong>s<br />

e onde a carreira é menos atrativa, as escolas<br />

não estão preparadas para um ensino basea<strong>do</strong> em tecnologia<br />

e os programas não estão particularmente alinha<strong>do</strong>s<br />

com estes princípios. Se existe uma área cujo<br />

desenvolvimento se deveria definir como missão para<br />

o país é exatamente esta.<br />

A necessidade de investir na formação superior, alinhada<br />

com competências digitais e tecnológicas, uma<br />

vez que a procura existe e que o crescimento económico<br />

<strong>do</strong> país deve alicerçar-se nestas oportunidades, é<br />

cada vez mais urgente. O estu<strong>do</strong> deixa claro que “seis<br />

em cada 10 empresas interessadas nestes especialistas<br />

reportaram dificuldades de recrutamento, principalmente<br />

devi<strong>do</strong> às expectativas salariais e à falta de candidatos”.<br />

Outro da<strong>do</strong> para refletir é que, apesar da crescente<br />

procura, <strong>do</strong> potencial ainda a explorar e da escassez de<br />

recursos qualifica<strong>do</strong>s, o ganho salarial associa<strong>do</strong> a uma<br />

formação superior, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com uma formação<br />

secundária, está a atingir mínimos históricos.<br />

O que é um contrassenso. Uma das explicações mais<br />

óbvias e imediatas é a de que as empresas estão a tentar<br />

ganhar competitividade através da redução de salários<br />

para recursos qualifica<strong>do</strong>s, em vez de o fazerem<br />

por transformação das suas operações ou por crescimento<br />

no merca<strong>do</strong>.<br />

A má notícia é que rapidamente poderemos ficar<br />

sem acesso a estes recursos porque, sen<strong>do</strong> escassos,<br />

serão bem mais reconheci<strong>do</strong>s noutros merca<strong>do</strong>s. E,<br />

nesse caso, não vamos ficar com a matéria-prima necessária,<br />

nem para transformar as nossas empresas,<br />

nem para criar centros de excelência tecnológica, que<br />

podem ser fonte de crescimento económico. Se a esta<br />

redução de compensação somarmos uma carga fiscal<br />

completamente desajustada, é fácil concluir o risco<br />

que corremos, se efetivamente deixarmos de ser interessantes<br />

enquanto país para quem, com qualificações<br />

superiores, quer desenvolver carreira.<br />

Há muito que refletir, mas, independentemente<br />

das dimensões de análise, vale a pena a leitura deste<br />

trabalho, como inspiração para um movimento que<br />

se exige que seja de to<strong>do</strong>s. Esta<strong>do</strong> da Nação 2023 (https://www.joseneves.org/esta<strong>do</strong>-da-nacao-2023).•<br />

3


sumario<br />

FICHA TÉCNICA<br />

<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>246</strong><br />

A ABRIR 6<br />

5 PERGUNTAS 14<br />

Juan Olivera, CEO da Ericsson Portugal<br />

À CONVERSA 16<br />

Pedro Siza Vieira, presidente <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong><br />

<strong>Business</strong> <strong>Congress</strong>, acredita que tu<strong>do</strong> vai<br />

mudar quan<strong>do</strong> a geração mais qualificada<br />

de sempre estiver na liderança<br />

EM DESTAQUE 32<br />

Criptoeconomia: que liberdade depois da<br />

regulação?<br />

NEGÓCIOS 46<br />

Towercos estão a dar o máximo para<br />

recuperar o tempo perdi<strong>do</strong><br />

I TECH 44<br />

Abel Costa, managing director Portugal &<br />

Group VP da Inetum<br />

MANAGEMENT 54<br />

CIDADANIA DIGITAL 66<br />

A 29KFJN, da Fundação José Neves, tem<br />

foco na saúde mental<br />

ESPECIAL CONGRESSO 68<br />

Tu<strong>do</strong> sobre o<br />

32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

ÚLTIMAS 128<br />

16<br />

32<br />

46<br />

68<br />

Propriedade e Edição<br />

APDC – Associação Portuguesa<br />

para o Desenvolvimento das<br />

Comunicações<br />

Diretora executiva<br />

Sandra Fazenda Almeida<br />

sandra.almeida@apdc.pt<br />

Rua Tomás Ribeiro, 43, 8.º<br />

1050-225 Lisboa<br />

Tel.: 213 129 670<br />

Fax: 213 129 688<br />

Email: geral@apdc.pt<br />

NIPC: 501 607 749<br />

Diretor<br />

Eduar<strong>do</strong> Fitas<br />

eduar<strong>do</strong>.fitas@accenture.com<br />

Chefe de redação<br />

Isabel Travessa<br />

isabel.travessa@apdc.pt<br />

Secretária de redação<br />

Laura Silva<br />

laura.silva@apdc.pt<br />

Publicidade<br />

Isabel Viana<br />

isabel.viana@apdc.pt<br />

Conselho editorial<br />

Abel Aguiar; Abel Costa; Alexandre Silveira;<br />

Bernar<strong>do</strong> Correia; Bruno Mota;<br />

Bruno Santos; Carlos Leite; Diogo Madeira;<br />

Eduar<strong>do</strong> Fitas; Filipa Carvalho;<br />

Francisco Maria Balsemão; Guilherme Dias;<br />

Helena Féria; João Zúquete; Manuel Maria<br />

Correia; Miguel Almeida; Marina Ramos;<br />

Miguel Almeida; Nuno Saramago; Olivia<br />

Mira; Pedro Faustino; Pedro Gonçalves;<br />

Pedro Tavares; Ricar<strong>do</strong> Martinho; Rogério<br />

Carapuça; Vicente Huertas<br />

Edição<br />

Have a Nice Day – Conteú<strong>do</strong>s Editoriais, Lda<br />

Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D<br />

1050-052 Lisboa<br />

Coordenação editorial<br />

Ana Rita Ramos<br />

anarr@haveaniceday.pt<br />

Edição<br />

Teresa Ribeiro<br />

teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />

Design<br />

Mário C. Pedro<br />

marioeditorial.com<br />

Fotografia<br />

Vítor Gor<strong>do</strong>/Syncview<br />

Periodicidade<br />

Trimestral<br />

Tiragem<br />

3.000 exemplares<br />

Preço de capa<br />

3,25 €<br />

Depósito legal<br />

2028/83<br />

Registo internacional<br />

ISSN 0870-4449<br />

ICS N.º 110 928<br />

4


Ontem éramos Altice Empresas.<br />

Hoje somos MEO Empresas.<br />

meoempresas.pt


a abrir<br />

6<br />

TECH HOT TOPICS<br />

DA PRÓXIMA DÉCADA<br />

METAVERSO, phygital, automação inteligente<br />

de processos, computação quântica<br />

e migração das empresas para a cloud são<br />

os hot topics tecnológicos para os próximos<br />

dez anos. Antecipa-se que poderão criar<br />

uma revolução sem precedentes, na que é<br />

considerada a segunda onda de digitalização.<br />

Esta será caracterizada pela ascensão<br />

de novas tecnologias com<br />

impacto nos modelos de<br />

negócio e nas relações<br />

entre empresas e<br />

clientes. De acor<strong>do</strong><br />

com a Minsait, 2023<br />

representa um ano<br />

de transição, de<br />

passagem da 1ª<br />

para a 2ª onda de<br />

digitalização, num<br />

cenário de grande<br />

transformação e<br />

desenvolvimento.<br />

Alguns exemplos:<br />

dentro <strong>do</strong> metaverso,<br />

os utiliza<strong>do</strong>res<br />

poderão interagir<br />

com empresas<br />

como o fariam<br />

na realidade, mas<br />

com maior flexibilidade<br />

no<br />

tempo e no espaço. A realidade aumentada,<br />

permitirá que a informação digital seja<br />

sobreposta ao mun<strong>do</strong> físico, permitin<strong>do</strong><br />

aos utiliza<strong>do</strong>res obter mais detalhes sobre<br />

certos produtos ou serviços. Já o phygital, ou<br />

seja, a integração de canais físicos e digitais<br />

através de sistemas tecnológicos avança<strong>do</strong>s,<br />

como a IoT, terá grande impacto na gestão<br />

de operações industriais•<br />

Estamos a caminho<br />

da 2ª onda de<br />

digitalização, que<br />

acontecerá já este<br />

ano – afirma a Minsait<br />

num recente<br />

estu<strong>do</strong><br />

PORTUGUESES USAM<br />

INTENSIVAMENTE<br />

SMARTPHONE E PC<br />

CERCA DE 94% <strong>do</strong>s portugueses entre os 18 e os 65 anos<br />

têm smartphone e 87% têm acesso a computa<strong>do</strong>r portátil.<br />

Mas 50% preferia passar menos tempo frente aos ecrãs,<br />

embora 52% admita que fica acordada até mais tarde<br />

por conta <strong>do</strong>s dispositivos e 63% utiliza o smartphone ao<br />

acordar. A conclusão é <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> anual da Deloitte ‘<strong>Digital</strong><br />

Consumer Trends 2022, que analisa os hábitos de utilização<br />

de produtos e serviços digitais pelos consumi<strong>do</strong>res,<br />

com entrevistas a 36 mil consumi<strong>do</strong>res, mil <strong>do</strong>s quais<br />

portugueses, provenientes de 21 países em quatro<br />

continentes. As interações sociais a partir <strong>do</strong>s dispositivos<br />

móveis ficam também patentes: 78%<br />

<strong>do</strong>s portugueses utilizam diariamente redes<br />

sociais e serviços de mensagens. Mais de 80%<br />

têm pelo menos um dispositivo liga<strong>do</strong> à internet<br />

em casa, sen<strong>do</strong> os mais comuns smart TVs<br />

(58%), consolas de jogos (39%) e dispositivos<br />

de streaming de vídeo que se conectam à<br />

TV (24%). Cerca de 72% das pessoas com<br />

smartphones ou wearables monitorizam<br />

pelo menos uma atividade nos seus<br />

dispositivos. Quanto ao 5G, apenas 16%<br />

utiliza a tecnologia com regularidade, sen<strong>do</strong><br />

que entre estes, 34% admitem não conseguir<br />

distinguir o 5G da anterior rede 4G. No<br />

streaming de vídeo, a Netflix é o serviço<br />

que mais atrai os portugueses (53%).•<br />

CURIOSIDADE<br />

MODELO DE IA JÁ DETETA CANCRO PRECOCE<br />

Uma equipa de investiga<strong>do</strong>res britânica, da Fundação Royal Marsden<br />

NHS, Instituto de Investigação <strong>do</strong> Cancro em Londres e Imperial<br />

College Lon<strong>do</strong>n, desenvolveu uma ferramenta de IA capaz de identificar<br />

cancros com precisão. O algoritmo conseguiu ser mais eficaz na deteção<br />

de nódulos cancerígenos <strong>do</strong> que os méto<strong>do</strong>s atuais de diagnóstico,<br />

permitin<strong>do</strong> identificar um cancro num estágio precoce da <strong>do</strong>ença e, por<br />

isso, acelerar tratamentos. Também identifica se crescimentos anormais<br />

de células encontra<strong>do</strong>s em TAC’s<br />

são cancerígenos. Sen<strong>do</strong> a deteção<br />

precoce um fator essencial para<br />

o sucesso no combate ao cancro,<br />

uma das principais causas de<br />

morte em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, o novo<br />

méto<strong>do</strong>, ainda numa fase inicial<br />

de desenvolvimento, poderá ser<br />

uma enorme mais-valia.•<br />

ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK


a abrir<br />

8<br />

BENEFICIAR<br />

DE SOLUÇÕES<br />

INTEROPERÁVEIS<br />

AS EMPRESAS com aplicações<br />

empresariais altamente interoperáveis<br />

ganham maior agilidade para<br />

prosperar no meio da incerteza e<br />

alcançar desempenho financeiro<br />

mais robusto. No ano passa<strong>do</strong>, as organizações<br />

com elevada interoperabilidade<br />

aumentaram as receitas seis<br />

vezes mais depressa <strong>do</strong> que os seus<br />

pares com baixa interoperabilidade.<br />

E estão preparadas para desbloquear<br />

mais cinco pontos percentuais<br />

no crescimento anual das receitas. O<br />

relatório “Value Untangled: Accelerating<br />

radical growth through interoperability”,<br />

da Accenture, entrevistou<br />

mais de 4 mil executivos C-Suite em<br />

19 indústrias de 23 países e revela<br />

que, nos últimos <strong>do</strong>is anos, uma em<br />

cada duas empresas (49%) a<strong>do</strong>tou<br />

novas tecnologias e transformou o<br />

seu negócio da forma mais rápida<br />

alguma vez registada, com 40% a<br />

transformar múltiplas partes <strong>do</strong><br />

negócio. Estas aplicações interagem<br />

facilmente entre si para permitir a<br />

partilha de da<strong>do</strong>s, maior transparência<br />

e mais facilidade<br />

na intermediação<br />

com colabora<strong>do</strong>res,<br />

de mo<strong>do</strong> a possibilitar<br />

a agilidade<br />

necessária para<br />

que as organizações<br />

tirem parti<strong>do</strong> de<br />

novas oportunidades.<br />

Recomendam-se três<br />

ações para as empresas que<br />

aspiram a melhorar a interoperabilidade:<br />

potenciar a cloud,<br />

como facilita<strong>do</strong>r fundamental<br />

da interoperabilidade;<br />

utilizar “composable<br />

tech”; e foco na colaboração<br />

•<br />

CURIOSIDADE<br />

SACERDOTE ROBÓ<strong>TIC</strong>O EM TEMPLO BUDISTA<br />

Chama-se Mindar, tem cerca de 1,95 metros, pesa 60 quilos, é sacer<strong>do</strong>te num<br />

templo budista em Quioto, no Japão, e é um robot. Para se assemelhar a uma<br />

pessoa, foi revesti<strong>do</strong> com elementos anatómicos de silicone (rosto, ombros<br />

e mãos) que se mexem quan<strong>do</strong><br />

funciona e até consegue sorrir e<br />

piscar os olhos. Já deu mais de mil<br />

palestras desde que surgiu, em 2019.<br />

Os temas trata<strong>do</strong>s são decidi<strong>do</strong>s à<br />

priori pelos clérigos responsáveis<br />

pelo templo. A ideia foi de Tensho<br />

Goto, antigo responsável pelo<br />

templo que sugeriu, em 2017, a um<br />

professor da Universidade de Osaka,<br />

a criação de uma estátua robótica,<br />

já que acreditava num budismo<br />

flexível, capaz de se adaptar aos tempos e defendeu que isso implicava<br />

desenvolver novas formas de disseminar os ensinamentos da religião.•<br />

DADOS INSUFICIENTES SÃO DESAFIO<br />

NOS OBJETIVOS ESG<br />

EMBORA a sustentabilidade ambiental continue a ser uma prioridade<br />

de negócio, os da<strong>do</strong>s insuficientes são um desafio tanto<br />

para executivos, como consumi<strong>do</strong>res, quan<strong>do</strong> se trata de alcançar<br />

metas pessoais e corporativas em termos ambientais, sociais e de<br />

governança (ESG). A conclusão é <strong>do</strong> “The ESG ultimatum: Profit or<br />

perish”, um estu<strong>do</strong> global <strong>do</strong> IBM Institute for <strong>Business</strong> Value (IBV).<br />

Revela que os executivos inquiri<strong>do</strong>s apontam a insuficiência <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s (41%) como o maior obstáculo ao seu progresso ESG, assim<br />

como as barreiras regulatórias (39%), normas inconsistentes (37%)<br />

e competências inadequadas (36%). Sem a capacidade de aceder,<br />

analisar e entender os da<strong>do</strong>s, as empresas lutam para<br />

oferecer maior transparência ao consumi<strong>do</strong>r – uma<br />

das principais partes interessadas<br />

– e responder às suas expectativas.<br />

Apenas quatro<br />

em cada dez consumi<strong>do</strong>res<br />

entrevista<strong>do</strong>s<br />

sentem que têm<br />

da<strong>do</strong>s suficientes para<br />

tomar decisões de<br />

Cerca de 76% <strong>do</strong>s<br />

executivos dizem<br />

que o conceito ESG<br />

é um elemento<br />

central para a<br />

sua estratégia de<br />

negócio<br />

compra (41%) ou de emprego (37%)<br />

ambientalmente sustentável. Cerca de<br />

76% <strong>do</strong>s executivos dizem que o conceito<br />

ESG é central para a sua estratégia<br />

de negócio e quase três em cada<br />

quatro (72%) veem o ESG como um<br />

facilita<strong>do</strong>r de receita e não como<br />

um centro de custos .•<br />

ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK


a abrir<br />

SOUND BITES :-b<br />

“O mun<strong>do</strong> novo, esse de que nos<br />

falava Huxley em 1932, acontece-nos<br />

agora. Nos últimos anos,<br />

primeiro timidamente, ultimamente<br />

sem pu<strong>do</strong>res, vimos<br />

proliferar as aplicações que utilizam<br />

a IA para, supostamente,<br />

melhorar a nossa vida, rasgan<strong>do</strong><br />

caminho na cada vez maior dependência<br />

da humanidade das<br />

máquinas. (…) Importará que<br />

os esforços de to<strong>do</strong>s se concentrem<br />

não em repudiar o que é<br />

inevitável, por economia de esforço,<br />

mas antes em pugnar que<br />

a utilização da IA nas nossas vidas<br />

seja eticamente garantida”<br />

Rute Serra, Expresso online,<br />

2023/05/18<br />

“Se acreditarmos que a IA pode<br />

gerar benefícios incríveis por<br />

força <strong>do</strong> salto quântico em capacidade<br />

e inovação, temos de<br />

admitir que há precisamente<br />

o mesmo potencial de danos<br />

e perigos, um salto no senti<strong>do</strong><br />

oposto. (…) Nesta fase, já é impossível<br />

meter os pés nos travões.<br />

A corrida está a alargar-se<br />

e em breve pode tornar-se menos<br />

escrupulosa. Quem chegar<br />

em último será um ovo podre,<br />

mas se os regula<strong>do</strong>res falharem,<br />

teremos mais que uma <strong>do</strong>r de<br />

barriga”<br />

Ana Rita Guerra, Dinheiro<br />

Vivo, 2023/05/16<br />

“Será sempre o ser humano a<br />

ter de definir, através de princípios<br />

éticos e de disposições<br />

legais assertivas, os limites que<br />

uma sociedade, em qualquer<br />

circunstância, deve manter.<br />

Na tecnologia, na genética, na<br />

medicina, na investigação (…).<br />

Temos é que não abdicar de o<br />

fazer”<br />

Pedro Pimentel, ECO,<br />

2023/05/11<br />

IA IMPACTA DÍVIDA DIGITAL E<br />

CRIATIVIDADE PROFISSIONAL…<br />

HÁ TRÊS INSIGHTS urgentes para os líderes que procuram<br />

compreender e a<strong>do</strong>tar a IA de forma responsável na sua<br />

organização: a dívida digital está a colocar em risco a inovação;<br />

haverá uma nova aliança entre a IA e os colabora<strong>do</strong>res;<br />

e to<strong>do</strong>s devem saber trabalhar com IA. A conclusão<br />

é <strong>do</strong> Work Trend Index 2023 – Will AI Fix Work?, estu<strong>do</strong> da<br />

Microsoft destina<strong>do</strong> a preparar os líderes e as empresas<br />

para a era da IA. O trabalho contou com a participação de<br />

mais de 31 mil pessoas, em 31 países, e analisou biliões<br />

de sinais de produtividade no Microsoft 365 e tendências<br />

laborais no LinkedIn, entre 1 de fevereiro e 14 de março de<br />

2023. Num mun<strong>do</strong> em que a criatividade é a nova produtividade,<br />

a dívida digital (eleva<strong>do</strong> fluxo de da<strong>do</strong>s, emails,<br />

reuniões e notificações) está a afetar o negócio, pelo que a<br />

utilização da IA se revela essencial. Apesar da ideia comum<br />

de que a IA poderá acabar com empregos, os colabora<strong>do</strong>res<br />

anseiam que alivie a sua carga de trabalho. No futuro,<br />

trabalhar com IA será tão natural como usar internet e PC.<br />

“Existe uma enorme oportunidade para as ferramentas<br />

impulsionadas por IA ajudarem a aliviar a dívida digital, a<br />

desenvolver novas habilitações e a capacitar os colabora<strong>do</strong>res”,<br />

diz Satya Nadella, chairman e CEO da Microsoft.•<br />

…E ASSUME-SE COMO A<br />

PRINCIPAL PRIORIDADE DAS<br />

ORGANIZAÇÕES<br />

PARA A MAIORIA <strong>do</strong>s líderes das empresas globais, a IA é<br />

a prioridade. Mais de 70% estão a privilegiar este investimento<br />

sobre qualquer outra tecnologia. Sen<strong>do</strong> que o foco<br />

imediato está em melhorar a resiliência operacional num<br />

ambiente sem precedentes. A conclusão é <strong>do</strong> “Reinventing<br />

Enterprise Operations”, da Accenture, que revela que 90%<br />

<strong>do</strong>s executivos estão a aplicar a IA para enfrentar questões<br />

de resiliência operacional, que vão desde a área financeira<br />

(89%) à cadeia de abastecimento (88%). Os da<strong>do</strong>s resultam<br />

da avaliação das organizações em seis medidas de maturidade<br />

operacional: IA, da<strong>do</strong>s, principais procedimentos,<br />

talento, colaboração entre negócio e tecnologia e experiências<br />

com stakeholders. Apesar de só 9% das 1.700 empresas<br />

que participaram no estu<strong>do</strong> terem alcança<strong>do</strong> a maturidade<br />

em todas as vertentes, as que o fizeram obtiveram uma<br />

média de margens operacionais 1,4 vezes maiores e impulsionaram<br />

a inovação de forma mais célere, apresentan<strong>do</strong><br />

uma sustentabilidade 34% mais robusta e pontuações de<br />

satisfação 30% mais altas.•<br />

IA vai ajudar a<br />

reduzir a dívida<br />

digital, com reflexos<br />

positivos na<br />

produtividade<br />

Estu<strong>do</strong> da Accenture<br />

demonstra<br />

que a IA melhora<br />

a resiliência<br />

operacional<br />

10


a abrir<br />

12<br />

NUMEROS<br />

262 MIL MILHÕES<br />

É quanto os 12 empresários mais ricos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> juntaram, em dólares, à sua<br />

fortuna, desde janeiro ao final de abril.<br />

Neste grupo, 9 vêm da tecnologia, to<strong>do</strong>s<br />

norte-americanos, e conseguiram recuperar<br />

quase 172 mil milhões de dólares para<br />

as respetivas fortunas. Os números são<br />

<strong>do</strong> ranking de bilionários da Bloomberg.<br />

Mostram que Mark Zuckerberg foi um <strong>do</strong>s<br />

multimilionários que mais viu a fortuna<br />

diminuir em 2022, por causa <strong>do</strong>s receios<br />

<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res, mas agora é um <strong>do</strong>s que<br />

mais recupera. A sua fortuna cresceu 42 mil<br />

milhões de dólares. Elon Musk, funda<strong>do</strong>r<br />

da Tesla e SpaceX, na 2ª posição <strong>do</strong> ranking,<br />

logo atrás de Bernard Arnault, chairman da<br />

Moet Hennessy Louis Vuitton, já recuperou<br />

este ano mais de 26 mil milhões de dólares,<br />

ten<strong>do</strong> uma fortuna calculada em 163 mil<br />

milhões de dólares. Também Jeff Bezos<br />

(Amazon), Steve Ballmer (ex-Microsoft) ou<br />

Larry Page (Alphabet), respetivamente nos<br />

3º, 7º e 8º lugares, viram as suas fortunas<br />

valorizarem.<br />

33,2 MIL MILHÕES<br />

É o valor, em dólares, que os gastos em<br />

IA deverão alcançar este ano na Europa.<br />

Será impulsiona<strong>do</strong> por operações mais<br />

eficientes e níveis de segurança mais<br />

eleva<strong>do</strong>s, representan<strong>do</strong> 20% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

global. A estimativa é <strong>do</strong> Global Artificial<br />

Intelligence Spending, da IDC, que<br />

considera este número significativo, ten<strong>do</strong><br />

em conta os atuais desafios económicos e<br />

políticos, a guerra na Ucrânia, o aumento<br />

da inflação, os cortes orçamentais de TI e os<br />

despedimentos anuncia<strong>do</strong>s pelas maiores<br />

tecnológicas. As despesas de IA na Zona<br />

Euro registarão uma taxa de crescimento<br />

anual composta (CAGR) de 29,6% entre<br />

2021 e 2026, em comparação com uma<br />

CAGR global de 27%. O crescimento no<br />

continente está a ser impulsiona<strong>do</strong> pela<br />

Europa Ocidental e Europa Central e<br />

Oriental.<br />

MUDANÇA CLIMÁ<strong>TIC</strong>A É VISTA<br />

COMO PRIORIDADE<br />

A MUDANÇA climática deverá ser uma prioridade para<br />

as organizações, mesmo perante o contexto mundial de<br />

incerteza. A larga maioria <strong>do</strong>s líderes executivos C-Level<br />

(CxOs), ao listar as preocupações mais prementes, classificaram<br />

a mudança climática como um <strong>do</strong>s três principais<br />

desafios, à frente de temas como a inovação, talento e<br />

dificuldades na cadeia de abastecimento. O ‘CxO Sustainability<br />

2023’, da Deloitte, questionou mais de <strong>do</strong>is mil CxOs<br />

em 24 países, sen<strong>do</strong> que 75% diz que as suas organizações<br />

aumentaram os investimentos e sustentabilidade em 2022,<br />

sen<strong>do</strong> que quase 20% o fizeram de forma significativa.<br />

Quase to<strong>do</strong>s indicam que os efeitos das alterações climáticas<br />

impactaram de alguma forma as suas organizações.<br />

Mas a dificuldade em medir o impacto ambiental e o custo<br />

das estratégias de sustentabilidade são as grandes barreiras<br />

à ação climática. Este trabalho defende que os líderes<br />

mundiais devem unir esforços para, coletivamente, gerar<br />

um impacto positivo e mensurável para a sustentabilidade<br />

<strong>do</strong> planeta. Um caminho que exige um esforço adicional<br />

para cumprir as metas já definidas. A quase totalidade<br />

<strong>do</strong>s CxOs dizem que a sua organização sentiu de alguma<br />

forma o impacto das alterações climáticas e consideram a<br />

escassez e o custo acresci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos como o principal<br />

problema que afeta as organizações (46%). Enquanto 45%<br />

destacaram uma mudança nos padrões e preferências de<br />

consumo associada às mudanças climáticas, 43% apontaram<br />

a regulamentação das emissões como outro <strong>do</strong>s<br />

principais problemas.•<br />

Estu<strong>do</strong> da Deloitte<br />

indica que efeitos<br />

das alterações<br />

climáticas impactaram<br />

quase<br />

todas as empresas<br />

inquiridas


Navigate digital disruption<br />

with help from a global<br />

digital leader.<br />

dxc.com


5 perguntas<br />

14<br />

JUAN OLIVERA:<br />

Construir uma<br />

conetividade sem limites<br />

Dentro de uma década, o 5G estará na base de uma<br />

transformação radical, com repercussões transversais a toda a<br />

sociedade. Portugal terá de recuperar o tempo perdi<strong>do</strong>, avisa o<br />

novo CEO da Ericsson Portugal, que quer ter um papel ativo nesta<br />

aceleração.<br />

Texto de Isabel Travessa| Foto de Vítor Gor<strong>do</strong>/Syncview<br />

Passou de Madrid para Lisboa.<br />

Que diferenças e semelhanças<br />

encontra entre os merca<strong>do</strong>s espanhol<br />

e português nas telecomunicações?<br />

Pela sua proximidade geográfica<br />

e características socioeconómicas,<br />

têm inúmeras semelhanças, como<br />

a grande capilaridade da fibra, boas<br />

redes móveis e a reconhecida competência<br />

e mentalidade <strong>do</strong>s cidadãos<br />

na a<strong>do</strong>ção de soluções inova<strong>do</strong>ras.<br />

Mas Portugal, embora mais estável<br />

e coeso, está a atravessar uma<br />

nova fase que Espanha já viveu há<br />

algum tempo: a procurar definir um<br />

conjunto de medidas e tendências<br />

para entrar em velocidade cruzeiro<br />

quanto às melhores práticas<br />

tecnológicas. Já Espanha passa agora<br />

por um grande processo de consolidação,<br />

evolução que poderá trazer<br />

mais M&A na Europa, incluin<strong>do</strong> em<br />

Portugal. De resto, como toda a UE,<br />

ambos precisam de regulamentação<br />

para desenvolver um merca<strong>do</strong> mais<br />

flexível e dinâmico.<br />

O que é necessário para acelerar a<br />

utilização da tecnologia 5G?<br />

Precisamos de amplificar a implementação<br />

da banda média de 5G e<br />

o lançamento de redes stand-alone<br />

(5G Access + 5G Core), para libertar o<br />

potencial da tecnologia: altas taxas<br />

de transferência de da<strong>do</strong>s, baixa latência<br />

e capacidade de suportar até<br />

1 milhão de dispositivos por km2.<br />

Esta solução é revolucionária e vai<br />

transformar a forma como comunicamos.<br />

As mudanças não se <strong>fazem</strong><br />

de um dia para o outro. Demoram a<br />

entrar em funcionamento e a serem<br />

reconhecidas. Mas daqui a uma<br />

década vamos sentir uma transformação<br />

radical, com repercussões<br />

em toda a sociedade. Há um aspeto<br />

a que temos de estar atentos, não<br />

apenas em Portugal: a implementação<br />

<strong>do</strong> 5G está a ser executada de<br />

forma mais célere que o 4G, é <strong>do</strong>is<br />

anos mais rápida, mas a Europa não<br />

está a conseguir responder a este<br />

ritmo. Corremos o risco de ficar para<br />

trás em relação aos líderes, como<br />

os EUA, Japão ou Coreia <strong>do</strong> Sul, algo<br />

que não se verificou na anterior evolução<br />

tecnológica. Por isso, temos de<br />

assumir uma posição de total foco<br />

na recuperação <strong>do</strong> tempo perdi<strong>do</strong>.<br />

Quais as suas expetativas para<br />

o consórcio com a Vodafone e<br />

Capgemini para ajudar empresas a<br />

desenvolver produtos 5G?<br />

O Vodafone Boost Lab replica o<br />

ecossistema 5G adequa<strong>do</strong> para PME<br />

e startups verificarem os benefícios<br />

da tecnologia no desenvolvimento<br />

de produtos e serviços. Estamos a<br />

trabalhar com os clientes e parceiros<br />

para trazer casos de uso e impulsionar<br />

o ecossistema end-to-end.<br />

O que mu<strong>do</strong>u, com a sua liderança,<br />

na operação nacional?<br />

É uma oportunidade extraordinária<br />

liderar a Ericsson em Portugal,<br />

neste contexto de grande aceleração<br />

tecnológica e transformação digital.<br />

Quero trazer to<strong>do</strong> o conhecimento<br />

e capacidades globais <strong>do</strong> grupo,<br />

com mais inovação e maior valor ao<br />

negócio, o apoio e dedicação <strong>do</strong>s<br />

nossos colabora<strong>do</strong>res e em estreita<br />

articulação com os parceiros.<br />

Contribuin<strong>do</strong> para que a Ericsson<br />

mantenha a posição de liderança e<br />

alcance to<strong>do</strong>s os objetivos a médio/<br />

longo prazo.<br />

Como estão a marcar os 70 anos<br />

da Ericsson em Portugal, que comemoram<br />

este ano?<br />

O propósito da Ericsson de criar<br />

conexões que tornem o inimaginável<br />

possível é o mote que impulsiona a<br />

nossa presença no país. Temos uma<br />

longa história de inovação e colaboração,<br />

ao assumirmo-nos como um<br />

ator chave na jornada de digitalização<br />

e como um cria<strong>do</strong>r de ecossistemas,<br />

um parceiro confiável de longo<br />

-prazo, um líder em 5G e tecnologias<br />

relacionadas. Estes 70 anos são um<br />

marco numa jornada extraordinária,<br />

que queremos celebrar com<br />

colabora<strong>do</strong>res, clientes e parceiros,<br />

em momentos muito especiais. Mas<br />

é fundamental ir para lá <strong>do</strong> que já<br />

foi feito. É tempo de pensar no que<br />

virá. A Ericsson continuará a trilhar<br />

novos caminhos no fornecimento de<br />

soluções e serviços móveis e na próxima<br />

década pretendemos assumir<br />

um papel cada vez mais proativo.<br />

Estamos a visualizar um mun<strong>do</strong> criativo,<br />

cuja inovação tecnológica é uma<br />

força positiva e estimulante para o<br />

bem, onde a conectividade sem limites<br />

melhora vidas, redefine negócios<br />

e é pioneira no desenvolvimento de<br />

um futuro sustentável.•


“Portugal, embora mais estável e coeso, está a atravessar uma fase que Espanha já viveu: a<br />

procurar definir medidas e tendências para entrar em velocidade cruzeiro quanto às melhores<br />

práticas tecnológicas. Já Espanha passa agora por um grande processo de consolidação”<br />

15


a conversa<br />

16<br />

“Fui para Direito porque tinha a noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos são as construções sociais, que nos<br />

permitiram criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s”


TUDO<br />

EM TODO<br />

O LUGAR<br />

AO MESMO<br />

TEMPO<br />

Pedro Siza Vieira é um reformista que não gosta<br />

de revoluções. Ex-ministro da Economia, voltou<br />

à advocacia para, através <strong>do</strong> Direito, continuar<br />

a fazer o que realmente o motiva: impactar as<br />

empresas e as pessoas.<br />

TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />

FOTOS DE VÍTOR GORDO/ SYNCVIEW<br />

17


a conversa<br />

18<br />

“Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia coleção. A<strong>do</strong>rava geografia, história – a história das sociedades. Lia imenso. Para mim, o<br />

mun<strong>do</strong> era o meu quintal. Só estava à espera de chegar lá”


Na infância, sonhava andar pelo mun<strong>do</strong>, dissecar mapas,<br />

utopias. Em adulto, olhan<strong>do</strong> para trás, tem a certeza de<br />

que conseguiu, sem nunca fugir <strong>do</strong>s caminhos que bifurcam.<br />

Pelo menos foi o que partilhou na longa entrevista<br />

que concedeu à APDC, a propósito <strong>do</strong> desafio de ser <strong>Presidente</strong><br />

<strong>do</strong> 32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong>.<br />

Encontrámo-nos numa das bonitas salas de reuniões<br />

na sede da PLMJ, onde é sócio nas áreas de bancário,<br />

financeiro e merca<strong>do</strong>s de capitais. Com 30 anos de experiência<br />

profissional, entre 2017 e 2022 desempenhou<br />

funções governativas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> ministro de Esta<strong>do</strong>, da<br />

Economia e da Transição <strong>Digital</strong> de António Costa. Nesta<br />

mesma sala, com uma vista imponente sobre Lisboa, falou<br />

<strong>do</strong>s desafios políticos que abraçou nos últimos anos<br />

como uma missão, na busca de soluções para um futuro<br />

que é sempre incerto.<br />

Pedro Siza Vieira não gosta de holofotes e não tem estilo<br />

de pistoleiro – não atira a matar. O seu temperamento<br />

pondera<strong>do</strong>, discreto, trouxe-lhe credibilidade junto <strong>do</strong>s<br />

portugueses. O tom afável, muito afável, explica o resto:<br />

uma certa unanimidade à sua volta. Isto apesar de, destoan<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> coro nacional, se mostrar otimista em relação<br />

ao rumo <strong>do</strong> país.<br />

Esta entrevista oscila entre um registo pessoal e a densidade<br />

<strong>do</strong>s múltiplos assuntos profissionais de que gosta<br />

de falar. Não conversámos sobre música, de que é profun<strong>do</strong><br />

conhece<strong>do</strong>r, nem de livros, que devora desde a<br />

infância. Ainda assim, tentámos perceber quem é Pedro<br />

Siza Vieira para lá <strong>do</strong>s cargos que ocupa e percebemos<br />

que, quan<strong>do</strong> fala da primeira neta, os seus olhos se iluminam.<br />

Aqui fica o retrato de um homem que há um ano<br />

era ministro da Economia <strong>do</strong> seu país.<br />

19


a conversa<br />

“Estruturalmente, vai tu<strong>do</strong><br />

mudar muito quan<strong>do</strong>,<br />

à frente das empresas,<br />

estiverem as pessoas que,<br />

agora, já têm níveis de<br />

qualificação mais eleva<strong>do</strong>s”<br />

“Entre os 25 e os 34<br />

anos, a qualificação <strong>do</strong>s<br />

portugueses já é superior à<br />

média europeia. Portanto,<br />

quan<strong>do</strong> estas pessoas<br />

começarem a chegar aos<br />

cargos de decisão, isso<br />

terá um impacto brutal no<br />

desempenho das nossas<br />

empresas e da economia<br />

portuguesa no seu<br />

conjunto”<br />

20


Tem a vida que achou que queria ter? Quan<strong>do</strong> olha<br />

para trás, o que vê?<br />

Nunca fiz planos a régua e esquadro. A vida está sempre<br />

a surpreender-me…<br />

Quan<strong>do</strong> era pequeno não tinha ideia <strong>do</strong> que queria<br />

ser?<br />

A única coisa que queria era andar pelo mun<strong>do</strong>. Aliás,<br />

tive várias hesitações em termos profissionais, mas<br />

desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair,<br />

queria conhecer o mun<strong>do</strong>. Nunca disse que queria ser<br />

advoga<strong>do</strong>, ou bombeiro, ou astronauta. Depois, na<br />

a<strong>do</strong>lescência, foi inevitável, tive de me preocupar com<br />

o que ia estudar e aí pensei em várias áreas, <strong>do</strong> Jornalismo<br />

à Economia, e acabei por ir para Direito.<br />

Porquê Direito? O seu pai é engenheiro…<br />

Sim, eu sou o primeiro jurista da família.<br />

Com um pai engenheiro e um tio arquiteto (e logo Álvaro<br />

Siza Viera!), nunca ponderou ir para Engenharia<br />

ou Arquitetura?<br />

Para Engenharia, nunca. Arquitetura era fascinante,<br />

mas havia ali uma questão de talento. Era muito inibi<strong>do</strong>,<br />

porque na minha família toda a gente desenha. E<br />

eu também desenho, mas desenho tão mal que vi logo<br />

que não era para mim. Fui para Direito porque tinha a<br />

noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos<br />

são as construções sociais, que nos permitiram<br />

criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s.<br />

E isso andava muito à volta <strong>do</strong> Direito?<br />

Sim. Como é que aceitamos partilhar regras e princípios<br />

que se impõem a to<strong>do</strong>s e que não são dadas pela<br />

natureza? Eu sempre tive esta noção, desde muito pequeno,<br />

de que um médico estuda aquilo que a natureza<br />

criou. Tenta ver como é que funciona o corpo humano<br />

e como se tratam <strong>do</strong>enças, mas é uma coisa que já está<br />

feita. Quan<strong>do</strong> falamos de humanidades, de arte, de<br />

Direito, referimo-nos a criações da espécie humana. E<br />

isso é fascinante.<br />

Que recordações tem da sua a<strong>do</strong>lescência em Santo<br />

Tirso? A sua família tem raízes em Matosinhos, nasceu<br />

em Lisboa por acaso…<br />

Sim. O meu pai estava em Lisboa a trabalhar (trabalhava<br />

na CUF, na altura). Eu passei cá o primeiro ano de<br />

vida e depois os meus pais voltaram para Matosinhos.<br />

O meu pai, na altura, foi trabalhar para a indústria têxtil,<br />

numa época em que o setor se começou a abrir ao<br />

merca<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>r. Uma série de jovens engenheiros<br />

foram modernizar a indústria têxtil e o meu pai foi um<br />

deles. Foi diretor de produção de uma grande empresa<br />

no norte. Voltámos para Matosinhos e foi aí que cresci,<br />

na terra onde os meus pais tinham cresci<strong>do</strong> também.<br />

Depois, na minha a<strong>do</strong>lescência, mudámo-nos para<br />

Santo Tirso. Toda a minha vivência, nos primeiros anos<br />

de vida, é passada no norte, em regiões muito industrializadas,<br />

muito ligadas à vida empresarial.<br />

As suas âncoras de vida remontam a esses tempos, a<br />

esse lugares? À família? Às amizades?<br />

Com os amigos desses tempos mantenho contactos<br />

muito remotos. A família sim, é a minha verdadeira<br />

âncora.<br />

É um sítio onde regressa com regularidade…<br />

Segun<strong>do</strong> a minha mãe, com menos regularidade <strong>do</strong><br />

que devia (risos)…<br />

Tem saudades da sua infância em liberdade, muito vivida<br />

na rua, como acontecia naqueles tempos?<br />

Sim, tenho memórias muito felizes de infância, com<br />

os meus pais, os meus primos, os meus avós. Tínhamos<br />

uma família muito grande, estávamos sempre em<br />

contacto. Tínhamos uma casa com jardim, que estava<br />

sempre aberta para os meus amigos. Andávamos muito<br />

pela rua e morávamos ao pé da praia. As minhas memória<br />

de infância são cheias de ligações entre várias<br />

gerações, muito entrosamento social. Isso é algo que<br />

me deu muita autoconfiança. A partir daí, eu queria<br />

era conhecer o mun<strong>do</strong>!<br />

E conheceu? Começou a viajar ce<strong>do</strong>?<br />

Não. Na altura não se viajava como agora. O meu pai<br />

não tinha praticamente férias. E quan<strong>do</strong> tinha, saía<br />

com a minha mãe, nós não íamos. Acho que a minha<br />

primeira viagem para fora de Portugal foi a Paris, já devia<br />

ter uns 18 ou 19 anos.<br />

Mas começou a conhecer o mun<strong>do</strong> antes de viajar…<br />

Sim, isso sim. Através das leituras, da busca pelo conhecimento.<br />

Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia<br />

coleção. A<strong>do</strong>rava Geografia, História – a história das<br />

sociedades. Lia imenso. Para mim, o mun<strong>do</strong> era o meu<br />

quintal. Só estava à espera de chegar lá.<br />

Foi daí que veio a sedução pela política? A política foi<br />

algo que o seduziu desde novo?<br />

Desde sempre.<br />

Porquê?<br />

O Direito – e através dele também a política – é a maneira<br />

que os humanos encontraram para organizar as<br />

21


a conversa<br />

22<br />

sociedades. Fascina-me a forma como se organizam<br />

as comunidades, como é que comunidades de pessoas<br />

que não se conhecem tomam decisões que dizem respeito<br />

ao coletivo, como é que usam recursos em comum,<br />

como é que aplicam esses recursos, que escolhas<br />

<strong>fazem</strong>. Acho isso fascinante! A forma como inventámos<br />

a democracia, demos o direito de voto a cada vez<br />

mais pessoas, começámos a fazer escolhas coletivas já<br />

não são só para um déspota acumular poder, escolhas<br />

que têm de dar retorno a toda a comunidade.<br />

Isso é a essência da política?<br />

Sim. Não somos pessoas isoladas. Não vivemos só por<br />

nós ou pela nossa família. Beneficiamos das sociedade<br />

onde nos inserimos e, por isso, temos responsabilidades,<br />

deveríamos empenhar-nos em tarefas cívicas.<br />

Essas duas <strong>coisas</strong>, para mim, sempre estiveram muito<br />

presentes.<br />

Como foi a experiência<br />

em Macau, nos anos 90, a<br />

trabalhar com o secretário<br />

adjunto para a Administração<br />

e Justiça de Macau?<br />

Foi importante para si?<br />

Claro. Foi uma oportunidade.<br />

Alguém que queria<br />

viajar e conhecer o<br />

mun<strong>do</strong>, de repente, com<br />

24 anos, perguntam-lhe:<br />

“Queres ir para Macau?”.<br />

Claro que sim, vamos já<br />

embora, a correr! Não foi<br />

preciso pensar muito.<br />

E cresceu muito como profissional nessa altura?<br />

Sim, estive lá <strong>do</strong>is anos e meio.<br />

Regressou, porquê?<br />

Primeiro, porque nasceu-nos um filho e queríamos que<br />

ele crescesse em Portugal. Depois, senti que, profissionalmente,<br />

já não tinha muito mais espaço de progressão.<br />

Era muito confortável viver em Macau. Eu ganhava<br />

bem, mas não ia fazer muita coisa diferente <strong>do</strong> que<br />

já tinha feito naqueles <strong>do</strong>is anos. Senti que poderia começar<br />

a perder outras oportunidades de crescimento<br />

profissional.<br />

Como chegou a assessor jurídico de Jorge Sampaio?<br />

Como foi a experiência?<br />

Eu era adjunto <strong>do</strong> presidente da câmara. Era muito<br />

novo, mas acho que os melhores adjuntos que podemos<br />

ter são pessoas jovens, com muita capacidade e<br />

“Tive várias hesitações em<br />

termos profissionais, mas<br />

desde pequeno que tinha<br />

esta ideia de que queria<br />

sair, queria conhecer o<br />

mun<strong>do</strong>”<br />

qualidade intelectual. Foi uma experiência muito marcante.<br />

É fascinante trabalhar numa câmara municipal,<br />

porque tem impacto imediato na vida das pessoas. E<br />

num município com a dimensão de Lisboa é um trabalho<br />

com muita complexidade e responsabilidade.<br />

Portanto, exposto a muitas tarefas diferentes. E isso é<br />

muito positivo.<br />

Na sua família falava-se de política? Havia ali um la<strong>do</strong><br />

politiza<strong>do</strong>?<br />

Não, ninguém tinha atividade política ou partidária.<br />

Então, foi o primeiro advoga<strong>do</strong> da família e o primeiro<br />

a ter ligações à política?<br />

Sim, quan<strong>do</strong> estive na câmara municipal de Lisboa acabei<br />

por me filiar no PS, mas saí logo a seguir. A minha<br />

vida não passava por ali. Aliás, a certa altura, tal como<br />

tinha saí<strong>do</strong> de Macau ao fim de <strong>do</strong>is anos, comecei a<br />

pensar que queria ter uma<br />

vida profissional autónoma.<br />

Liberdade passa por<br />

independência profissional<br />

e económica. Por isso,<br />

com 28 anos, disse: “Agora<br />

isto acabou. Agora vou ser<br />

advoga<strong>do</strong>”.<br />

Ten<strong>do</strong> deixa<strong>do</strong> o PS, nunca<br />

aban<strong>do</strong>nou o tal chamamento<br />

cívico…<br />

Nunca, é verdade, mas<br />

passei a ser um espeta<strong>do</strong>r<br />

comprometi<strong>do</strong>. Não<br />

tive atividade política ou partidária durante mais<br />

de 20 anos.<br />

Mas sentia a missão de serviço público?<br />

Sim, sempre acreditei que não devemos encolher os<br />

ombros. Devemos preocupar-nos com as decisões<br />

<strong>do</strong>s que governam o coletivo, não devemos deixar<br />

de estar informa<strong>do</strong>s e de ter opinião. O nosso voto<br />

conta. Devemos isso a nós próprios como cidadãos.<br />

Mas a verdade é que, durante 20 e tal anos, fui exclusivamente<br />

advoga<strong>do</strong>, dedica<strong>do</strong> aos meus clientes<br />

e às sociedades onde trabalhei, não mais <strong>do</strong> que isso.<br />

Como agora, aliás.<br />

Perguntar-lhe se é de esquerda é uma maneira de perguntar<br />

pela sua história, pela sua essência?<br />

Tenho um coração à esquerda, no senti<strong>do</strong> em que<br />

sempre fui muito sensível à situação <strong>do</strong>s mais frágeis.<br />

Sempre me interessei pela maneira como, ao longo da<br />

história, se tentou construir sociedades mais igualitá-


“Vejo a reemergência <strong>do</strong>s movimentos extremistas como um sinal de que o sistema capitalista e a democracia precisam de fazer<br />

qualquer coisa”<br />

rias, que acabassem com a ideia de estratificação e de<br />

que o destino das pessoas é determina<strong>do</strong> à nascença.<br />

Considero que essa é uma matriz de esquerda. Mas, de<br />

feitio, sou intrinsecamente modera<strong>do</strong>, incrementalista,<br />

reformista.<br />

Falou <strong>do</strong> valor da liberdade, muito associa<strong>do</strong> a uma<br />

certa direita liberal.<br />

A liberdade é um valor da democracia. Não pertence<br />

à direita nem à esquerda. A ideia de liberdade é uma<br />

ideia de autodeterminação. Sou livre para dizer “sim”<br />

ou “não” aos meus clientes, às oportunidades profissionais<br />

e, com isso, manter integridade e fidelidade<br />

aos meus valores. E isso é facilita<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> temos independência<br />

económica. Por isso, uma sociedade desigual<br />

não garante liberdade aos mais frágeis. Limita<br />

a liberdade a quem tem dinheiro. E isso é inaceitável.<br />

Mas, como disse há pouco, sou modera<strong>do</strong> de temperamento.<br />

Talvez por ser jurista não acredito em revoluções;<br />

acredito em mudanças estabelecidas no seio<br />

da democracia. Aliás, acho que a história da democracia<br />

ocidental é uma história de progresso inequívoco<br />

para a humanidade. A emancipação das classes trabalha<strong>do</strong>ras<br />

aconteceu melhor nas sociedades ocidentais<br />

<strong>do</strong> que noutras.<br />

Preocupa-o, já agora, os movimentos extremistas a<br />

subirem de tom na Europa e em Portugal?<br />

Claro. Sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os extremistas chegam ao<br />

sistema político e partidário e têm influência no voto.<br />

Isto, periodicamente, acontece na História. Sabemos<br />

que, quan<strong>do</strong> os regimes começam a falhar, quan<strong>do</strong><br />

deixam de assegurar um nível de bem-estar partilha<strong>do</strong>,<br />

geram descontentamento, geram revolta. Aparecem<br />

pessoas a oferecer revoluções, a dizer: “Estes que mandam<br />

não vos servem. Eu é que resolverei os vossos problemas”.<br />

Temos populistas de direita, como aconteceu<br />

nos fascismos nos anos 30 na Europa, mas também<br />

temos revoluções de esquerda, com os argumentos:<br />

“Trabalhamos 14 horas por dia e ganhamos um salário<br />

de fome”.<br />

Qual a solução?<br />

Quan<strong>do</strong> estas <strong>coisas</strong> acontecem, as sociedades ou<br />

conseguem reformar-se e encontrar um caminho que<br />

partilhe benefícios com to<strong>do</strong>s – como aconteceu com<br />

a construção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> social na Europa ou com o New<br />

Deal nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, com o presidente Roosevelt,<br />

que reinventou a democracia e o sistema capitalista –,<br />

ou então temos extremismos e radicalismos. Normalmente,<br />

estes acabam mal, acabam em guerras. Vejo a<br />

23


a conversa<br />

24<br />

reemergência destes movimentos extremistas como<br />

um sinal de que o sistema capitalista e a democracia<br />

precisam de fazer qualquer coisa. Espero que sejam capazes<br />

de mudar, como já fizeram no passa<strong>do</strong>. Espero<br />

que não tenhamos de passar novamente pela experiência<br />

de ser geri<strong>do</strong>s por extremistas que levam os países à<br />

miséria e à guerra.<br />

Como é que se definiria como político que foi até há<br />

pouco tempo?<br />

Eu não me defino como político. Defino-me como cidadão<br />

que exerceu temporariamente funções políticas,<br />

que é uma coisa diferente.<br />

Sentia-se um outsider?<br />

Não. Sentia-me completamente comprometi<strong>do</strong>. Tenho<br />

a noção de que, enquanto estava no governo, era<br />

político. Mas era-o temporariamente.<br />

Como avaliaria a experiência?<br />

Foi muito boa. Inesquecível.<br />

Como foi conhecer a realidade<br />

concreta <strong>do</strong> setor<br />

empresarial português?<br />

Tenho ideia de que já o<br />

conhecia. Não estive propriamente<br />

a aprender.<br />

Mas é verdade que se tem<br />

acesso a um nível de informação<br />

e de conhecimento<br />

que, noutras funções, seria<br />

muito difícil de conseguir.<br />

Foi uma experiência<br />

que me enriqueceu, também<br />

pessoalmente.<br />

Preparou-o ainda mais para voltar a ser advoga<strong>do</strong>?<br />

Não, nunca vi isso assim. Todas as experiências pelas<br />

quais vamos passan<strong>do</strong> na vida devemos vivê-las plenamente,<br />

foca<strong>do</strong>s no que estamos a fazer. E enriquecem<br />

sempre, mas nunca como plataformas para seja lá o<br />

que for. Eu, quan<strong>do</strong> era advoga<strong>do</strong>, não estava a pensar<br />

que ia ser ministro.<br />

O que gostou mais da experiência governativa? O que<br />

foi mais reconfortante?<br />

Quan<strong>do</strong> se exerce funções políticas, estamos no nível<br />

mais eleva<strong>do</strong> de serviço público, com mais impacto na<br />

vida das pessoas. Isso é muito emocionante, se quisermos<br />

pensar nas <strong>coisas</strong> assim. Depois, obviamente,<br />

tive experiências únicas, como participar no processo<br />

de decisão de assuntos com enorme relevo para o país.<br />

Ainda por cima, devi<strong>do</strong> à pandemia, vivemos momentos<br />

muito intensos, em que tínhamos de tomar decisões<br />

muito rapidamente, com muito pouca informação<br />

e com verdadeiro impacto na vida das pessoas.<br />

Conseguia <strong>do</strong>rmir?<br />

Não posso dizer que <strong>do</strong>rmisse muito.<br />

“Uma sociedade desigual<br />

não garante liberdade<br />

aos mais frágeis. Limita<br />

a liberdade a quem<br />

tem dinheiro. E isso é<br />

inaceitável”<br />

Quais são os valores na política com que se identifica?<br />

O que mais me move é organizar uma sociedade que,<br />

de forma mais eficaz, ofereça a todas as pessoas a oportunidade<br />

de realizarem os seus sonhos e aspirações,<br />

cada vez mais exigentes. Alargar as oportunidades e a<br />

capacidade concreta de cada cidadão ter acesso a bens<br />

como a educação, saúde, emprego. Isto sim, é recompensa<strong>do</strong>r.<br />

É a tarefa política mais importante. Para<br />

mim, uma sociedade democrática e capitalista tem de<br />

assegurar crescimento económico, mas é preciso que<br />

isso seja acompanha<strong>do</strong> de preocupações de coesão social.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, não poderia ter esta<strong>do</strong> numa pasta<br />

mais interessante <strong>do</strong> que a da Economia...<br />

Gostei muito da pasta. A<br />

tarefa mais interessante<br />

como ministro da Economia<br />

é criar o contexto mais<br />

favorável possível para que<br />

as empresas possam desenvolver<br />

a sua atividade.<br />

Mas, ao mesmo tempo,<br />

assegurar uma transformação<br />

estrutural da nossa<br />

economia. Há 30 anos, a<br />

economia portuguesa especializava-se<br />

em produtos<br />

e atividades de mais<br />

baixo valor acrescenta<strong>do</strong>,<br />

que competia pelo preço baixo e, portanto, precisava<br />

de manter os custos de produção, particularmente os<br />

salários, reduzi<strong>do</strong>s. À medida que fomos educan<strong>do</strong> a<br />

população, tornou-se impossível manter este modelo.<br />

As pessoas mais educadas já não querem aceitar tarefas<br />

desqualificadas. Portanto, o trabalho que temos de<br />

fazer no país não é só garantir que as empresas funcionam<br />

bem. É incentivá-las a gerarem, cada vez mais,<br />

produtos de maior valor acrescenta<strong>do</strong>, vendi<strong>do</strong>s mais<br />

caros e que permitam melhorar os fatores de produção,<br />

designadamente o trabalho. Por outro la<strong>do</strong>, penalizar<br />

quem não acompanha este movimento.<br />

Vivemos um momento único, em que temos de aproveitar<br />

a oportunidade de transformar estruturalmente<br />

a economia?<br />

Uma transformação estrutural não é uma coisa que se


dê num estalar de de<strong>do</strong>s. Demora muito tempo, é preciso<br />

manter as políticas consistentemente, por exemplo,<br />

educar a população, investir no sistema científico<br />

e tecnológico, dar incentivos às empresas para se internacionalizarem…<br />

Isso são <strong>coisas</strong> que, ao fim de vários<br />

anos, começam a dar resulta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> olho para a<br />

estrutura produtiva da economia portuguesa de há 20<br />

anos percebo que muita coisa mu<strong>do</strong>u. Vejo muito mais<br />

orientação para os merca<strong>do</strong>s externos e uma diminuição<br />

<strong>do</strong> peso relativo <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno. Vejo pessoas<br />

muito mais qualificadas. Portanto, as <strong>coisas</strong> estão a<br />

acontecer.<br />

Mas mais devagar <strong>do</strong> que seria de esperar?<br />

Não sei se mais devagar ou mais depressa. Não partilho<br />

nada desta ideia de que a economia portuguesa está estagnada<br />

há 20 anos. Não acho que seja verdade! Uma<br />

economia estagnada é uma economia onde nada se<br />

passa. Há quem diga: em 20 anos o crescimento médio<br />

<strong>do</strong> PIB em Portugal foi na ordem de 1%. E é verdade,<br />

mas isso não significa que temos uma economia que<br />

se limitou a crescer 1%<br />

ao ano, sem que nada se<br />

passasse. É uma economia<br />

que, durante estes<br />

20 anos, teve perío<strong>do</strong>s de<br />

crescimento de produto,<br />

de destruição de produto,<br />

de novo crescimento e de<br />

nova destruição. Portanto,<br />

andámos assim, aos<br />

saltos. E, nesses saltos,<br />

houve uma alteração significativa<br />

da composição<br />

<strong>do</strong> nosso Produto Interno<br />

Bruto. Hoje, temos muito<br />

mais empresas exporta<strong>do</strong>ras,<br />

estamos a desenvolver uma economia de serviços<br />

tecnologicamente avança<strong>do</strong>s, de produção industrial<br />

cada vez mais complexa. Há 15 anos, o valor das nossas<br />

exportações era inferior a 30% <strong>do</strong> PIB e, hoje, é de 50%.<br />

Exportamos para muito mais merca<strong>do</strong>s e para merca<strong>do</strong>s<br />

muito mais exigentes. O investimento estrangeiro<br />

que atraímos é em setores tecnologicamente mais<br />

avança<strong>do</strong>s. Não é uma economia que esteve parada. É<br />

verdade que houve grupos económicos que desapareceram.<br />

Tivemos grande destruição de valor em alguns<br />

setores, mas noutros estamos a crescer. É este balanceamento<br />

que me dá nota de uma transformação estrutural.<br />

Portanto, quan<strong>do</strong> olhamos só para a média <strong>do</strong><br />

crescimento <strong>do</strong> PIB, não vemos isto.<br />

Não se conta a história toda, é isso?<br />

Não se conta a história toda.<br />

“Talvez por ser jurista não<br />

acredito em revoluções;<br />

acredito em mudanças<br />

estabelecidas no seio da<br />

democracia”<br />

Ainda assim, em termos de indica<strong>do</strong>res, a Roménia já<br />

passou à nossa frente…<br />

Se vocês forem à Roménia não vão achar que eles estão<br />

à nossa frente! Faz-se a comparação <strong>do</strong> PIB per capita<br />

relativamente à média da União Europeia (UE) e<br />

toda a média da UE está a subir. Portanto, nós temos<br />

uma economia mais madura <strong>do</strong> que esses países que<br />

ainda estão no início, ainda estão a crescer muito. Nós<br />

crescemos ao mesmo ritmo <strong>do</strong> que eles nos primeiros<br />

15 anos após a adesão à União Europeia e agora estamos<br />

a passar por este perío<strong>do</strong> de transformação. Outra<br />

questão tem a ver com a conversão <strong>do</strong> PIB per capita em<br />

paridades de poder de compra. Sabemos que 100 euros<br />

em Portugal compram muito mais <strong>coisas</strong> <strong>do</strong> que 100<br />

euros na Holanda, portanto, corrigimos o PIB português<br />

para nos aproximarmos mais da Holanda. Em termos<br />

reais, o nosso PIB é cerca de metade <strong>do</strong> que o da<br />

Holanda. Em termos de paridade de poder de compra,<br />

aproximamo-nos. A mesma coisa para a Roménia; de<br />

facto, 100 euros na Roménia compram muita coisa e<br />

essa correção também faz esse desvio. Essa métrica é<br />

importante, mas está longe<br />

de ser determinante. As<br />

métricas determinantes,<br />

as que nos mostram se estamos<br />

ou não a caminhar<br />

no senti<strong>do</strong> certo, são <strong>coisas</strong><br />

como o tipo de produção<br />

que vamos fazen<strong>do</strong>,<br />

com maior valor acrescenta<strong>do</strong>,<br />

se estamos ou não<br />

a ter uma economia mais<br />

internacionalizada, etc.<br />

Isto <strong>do</strong> ponto de visto económico.<br />

E <strong>do</strong> ponto de<br />

vista social?<br />

Do ponto de vista social temos indica<strong>do</strong>res como a<br />

escolaridade da população, indica<strong>do</strong>res de saúde, esperança<br />

de vida, qualidade ambiental, etc. Tu<strong>do</strong> isto<br />

nos mostra progressos indubitáveis. Queremos que a<br />

economia cresça para darmos melhor bem-estar e qualidade<br />

de vida à população.<br />

É um otimista? Acredita que há sempre maneira de<br />

dar a volta às dificuldades que se vão atravessan<strong>do</strong><br />

pela frente?<br />

Não sou um otimista. Mas acho que um <strong>do</strong>s grandes<br />

problemas que os portugueses têm é focarem-se apenas<br />

naquilo que acham que está mal. E <strong>fazem</strong>-no sem<br />

que isso crie um impulso de transformação. Pelo contrário,<br />

as nossas elites comprazem-se em ser cada vez<br />

mais sofisticadas e elegantes a dizer mal <strong>do</strong> país, como<br />

se o país não tivesse esperança. Isto deve vir tu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

25


a conversa<br />

26<br />

Eça e daquela ideia de que isto é uma “choldra”, onde<br />

nada há a fazer. Na verdade, não conheço nenhum líder<br />

que consiga transformar a sua organização, dizen<strong>do</strong><br />

que ela é uma desgraça e que nada vale a pena.<br />

Pegan<strong>do</strong> nas críticas, como é que olha para a taxa de<br />

execução <strong>do</strong> PRR? Ouvem-se muitas queixas e toda a<br />

gente diz que estamos muito atrasa<strong>do</strong>s.<br />

Não tenho razão para dizer que está atrasa<strong>do</strong>. Aquilo<br />

que são os desembolsos que estavam programa<strong>do</strong>s<br />

estão a ser realiza<strong>do</strong>s. Projetos públicos e priva<strong>do</strong>s de<br />

grande escala demoram muito tempo a ser prepara<strong>do</strong>s<br />

e a sair cá para fora. Ouvi no outro dia a comissária<br />

Elisa Ferreira a dizer que Portugal é, julgo eu, o quarto<br />

país mais adianta<strong>do</strong> de toda a União Europeia. Acho<br />

é que temos um problema de conceção <strong>do</strong> programa.<br />

O nosso programa foi concebi<strong>do</strong><br />

para ser executa<strong>do</strong><br />

num perío<strong>do</strong> muito curto.<br />

Os espanhóis, por exemplo,<br />

pegaram em muitas<br />

<strong>coisas</strong> que já tinham em<br />

curso e decidiram financiá-las<br />

com verbas <strong>do</strong> PRR.<br />

Com a inflação a subir,<br />

com capacidades produtivas<br />

muito comprometidas<br />

por outras <strong>coisas</strong>, temos<br />

de ir gerin<strong>do</strong> passo a passo.<br />

Este programa é muito<br />

mais inflexível <strong>do</strong> que são,<br />

normalmente, os fun<strong>do</strong>s<br />

estruturais.<br />

O que é que isso significa?<br />

Significa que estamos muito amarra<strong>do</strong>s ao que foi inicialmente<br />

defini<strong>do</strong> e a Comissão Europeia não é nada<br />

flexível para rever o tipo de projetos ou os valores com<br />

que nos comprometemos, que hoje estão muito prejudica<strong>do</strong>s<br />

pela inflação que entretanto ocorreu.<br />

Mas toda a Europa vai ter este problema de concretizar<br />

PRR até 2026, certo?<br />

Sim, toda a Europa está a ter estes problemas. Não estamos<br />

mais atrasa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os outros.<br />

O PT 2023, por sua vez, entretanto já arrancou.<br />

Sim, mas aí temos mais flexibilidade, quer em termos<br />

de tempo, quer em termos de definição <strong>do</strong>s projetos<br />

que vamos apoiar.<br />

“Não me defino como<br />

político. Defino-me como<br />

cidadão que exerceu<br />

temporariamente funções<br />

políticas, que é uma coisa<br />

diferente”<br />

Recentemente, num evento da Missão Portugal <strong>Digital</strong>,<br />

foi apresenta<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> que diz que as empresas<br />

portuguesas ainda estão numa fase embrionária<br />

<strong>do</strong> processo de transformação digital. Preocupa-o esta<br />

conclusão?<br />

Preocupa-me. Aliás, o plano de ação <strong>do</strong> Portugal <strong>Digital</strong><br />

foi lança<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eu estava no governo e, como<br />

ministro da Transição <strong>Digital</strong>, na altura, fizemos um<br />

diagnóstico muito exaustivo, quer <strong>do</strong> ponto de vista<br />

da qualificação das pessoas, quer <strong>do</strong> ponto de vista<br />

da situação das empresas e da Administração Pública.<br />

Conclusão: as tecnologias digitais já atingiram um<br />

grau de maturidade tal, que podem permitir dar saltos<br />

qualitativos muito rápi<strong>do</strong>s, mas, para isso, nós precisamos<br />

de fazer um enorme esforço de qualificação –<br />

das pessoas, das empresas e da Administração Pública.<br />

Portanto, o plano estava<br />

muito vocaciona<strong>do</strong> para<br />

melhorar as qualificações,<br />

reduzir a iliteracia digital,<br />

requalificar trabalha<strong>do</strong>res<br />

nos seus postos de trabalho,<br />

permitir às empresas<br />

utilizarem melhor as tecnologias<br />

digitais e adaptarem<br />

modelos de negócio<br />

para beneficiarem disso. E<br />

estava vocaciona<strong>do</strong> para<br />

a Administração Pública<br />

também. A convicção<br />

que tenho é que só vamos<br />

aumentar a eficiência, a<br />

eficácia e a transparência<br />

da Administração Pública se usarmos as tecnologias<br />

digitais, com reinvenção de processos. Ainda assim,<br />

se compararmos os valores agora, com os de há três ou<br />

quatro anos, percebemos que fizemos progressos consideráveis,<br />

em praticamente todas as áreas.<br />

O estu<strong>do</strong> aponta vários problemas: a iliteracia, sobretu<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s empresários, a fraca capacidade de investimento<br />

e a falta de estratégia.<br />

Mas a falta de estratégia tem a ver com as baixas qualificações.<br />

Temos um problema de base que é a qualificação<br />

<strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong> empresarial. Somos um país<br />

que só nos últimos 50 anos é que começou a investir<br />

na educação. A nossa classe empresarial é hiper-talentosa,<br />

hiper-empreende<strong>do</strong>ra, mexe-se o mais possível,<br />

mas quan<strong>do</strong> as qualificações de base têm limitações,<br />

as pessoas têm tetos naturais relativamente ao patamar<br />

onde conseguem chegar. Isso limita o potencial


de crescimento da economia portuguesa.<br />

Não podemos deitar fora<br />

a classe empresarial que temos. Há<br />

que ajudá-la a fazer o caminho.<br />

Como é que isso se resolve? Como é<br />

que se acelera?<br />

Estruturalmente, vai tu<strong>do</strong> mudar<br />

muito quan<strong>do</strong>, à frente das empresas,<br />

estiverem as pessoas que,<br />

agora, já têm níveis de qualificação<br />

mais elevadas. Entre os 25 e os 34<br />

anos, a qualificação <strong>do</strong>s portugueses<br />

já é superior à média europeia.<br />

Portanto, quan<strong>do</strong> estas pessoas<br />

começarem a chegar aos cargos de<br />

decisão, isso terá um impacto brutal<br />

no desempenho das nossas empresas<br />

e da economia portuguesa<br />

no seu conjunto.<br />

E tem havi<strong>do</strong> um esforço <strong>do</strong> país<br />

em formar as pessoas, reabilitar as<br />

que lá estão, requalificá-las.<br />

Sim, mas é preciso fazer mais. Há<br />

uma coisa que se sabe: quanto mais<br />

educadas são as pessoas, mais disponibilidade<br />

têm para continuarem<br />

a aprender ao longo da vida. Os<br />

processos de requalificação, reskilling,<br />

upskilling e regresso à escola ou<br />

à universidade é muito mais utiliza<strong>do</strong><br />

por quem já tem boa educação de base. Uma pessoa<br />

que não passou <strong>do</strong> sexto ou <strong>do</strong> nono ano, depois de<br />

20 ou 30 anos, tem muita dificuldade em aceitar que<br />

vai aprender com pessoas mais novas. Tem me<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

conhecimento.<br />

É uma questão de gerações?<br />

É uma questão de gerações, sim. À medida que vamos<br />

ven<strong>do</strong> as gerações mais qualificadas a substituírem as<br />

outras, vamos assistin<strong>do</strong> a saltos qualitativos, mas que<br />

demoram muito tempo. Não nos esqueçamos de que<br />

os países de leste, quan<strong>do</strong> aderiram à União Europeia,<br />

tinham níveis de qualificação média muito superiores<br />

aos que nós temos agora. Portanto, obviamente que<br />

“A globalização foi uma escolha política feita há 30 anos, depois <strong>do</strong> fim da Guerra Fria,<br />

pensan<strong>do</strong> que isso facilitaria a paz mundial. Mas hoje sabemos que não é assim”<br />

estão muito mais capacita<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que nós para agarrar<br />

as oportunidades. E isso é uma coisa que nos deve fazer<br />

pensar muito. Outro grande problema é que as nossas<br />

organizações – as públicas mas também as privadas –<br />

têm muito pouca disponibilidade para aceitarem mudanças.<br />

Pior: rejeitam a entrada de novo talento.<br />

Quer explicar melhor?<br />

O meu filho mais velho é engenheiro e, ao fim de ano<br />

e meio de ter i<strong>do</strong> trabalhar para fora, contou-me que a<br />

maior diferença que via não era na remuneração, mas<br />

sim na maneira como era trata<strong>do</strong> nas empresas. Dizia-<br />

-me: “Em Portugal tinha a noção de que os meus chefes<br />

me tratavam como se me fizessem um favor em pagar-<br />

27


a conversa<br />

28<br />

-me o salário. Basicamente, tinham as regras feitas e as<br />

tarefas definidas e eu tinha de executar, aceitar e pronto.<br />

Mas aqui é diferente, aquilo que me dizem é que tenho<br />

de alcançar resulta<strong>do</strong>s, e quem define o processo<br />

sou eu”. O que ele sente é que nas empresas portuguesas<br />

o contexto é muito adverso, no que diz respeito à<br />

progressão de carreira e aos desafios profissionais que<br />

lhe são lança<strong>do</strong>s.<br />

Tem to<strong>do</strong>s os filhos a trabalhar fora?<br />

Não, porque o terceiro ainda não tem idade para ir.<br />

Este é o grande problema da nossa economia: agora<br />

que começámos a qualificar o capital humano, não demonstramos<br />

capacidade de o absorver. Não é um tema<br />

de impostos, não é apenas um tema de salários. É sobretu<strong>do</strong><br />

a maneira como dizemos aos mais novos que<br />

contamos com o contributo deles nas empresas.<br />

Somos o país da Web Summit, temos um ecossistema<br />

empreende<strong>do</strong>r florescente, batemos recordes de<br />

investimento estrangeiro<br />

em centros de competências<br />

tecnológicos, o nosso<br />

talento é muito procura<strong>do</strong>.<br />

Mas temos um grande<br />

problema ao nível <strong>do</strong> talento.<br />

Não só somos procura<strong>do</strong>s<br />

pelo nosso talento, como<br />

também somos um país<br />

onde as empresas internacionais<br />

sabem que, se<br />

criarem aqui centros de<br />

operações tecnológicos ou<br />

industriais, conseguem<br />

atrair facilmente talento de outros países porque as<br />

pessoas gostam de vir para cá trabalhar.<br />

Temos todas as razões para acreditar, apesar da conjuntura<br />

complicada que vivemos neste momento?<br />

Acho que sim. Aliás, acho que a conjuntura não está<br />

assim tão complicada, porque temos a economia a<br />

crescer, temos forte criação de emprego. Os problemas<br />

que temos são muito diferentes <strong>do</strong>s que tínhamos há<br />

12 ou 13 anos. Nessa altura, as dificuldades eram de<br />

subocupação da nossa capacidade, tínhamos mais<br />

pessoas <strong>do</strong> que empregos disponíveis, casas vazias<br />

que ninguém queria comprar, investimento em baixo,<br />

a economia que não crescia, etc. Hoje o que temos é<br />

uma economia que cresce e que cria emprego. Não há<br />

pessoas para os lugares disponíveis, as casas tornam-se<br />

caras, porque há mais procura <strong>do</strong> que oferta. Acho que<br />

isto são melhores problemas <strong>do</strong> que tivemos no passa<strong>do</strong>,<br />

sem dúvida.<br />

“Não partilho nada desta<br />

ideia de que a economia<br />

portuguesa está estagnada<br />

há 20 anos. Não acho que<br />

seja verdade!”<br />

Ainda é possível à Europa liderar em termos tecnológicos,<br />

ten<strong>do</strong> em conta os enormes avanços de outras<br />

geografias, particularmente os EUA e a China? Parece<br />

que andamos sempre a reboque. Veja-se o exemplo<br />

das ajudas diretas às empresas: só reagimos depois de<br />

Washington avançar com um mega pacote para proteger<br />

as suas empresas…<br />

Há meia dúzia de anos, a Europa começou a perceber<br />

que estava numa situação muito difícil <strong>do</strong> ponto de<br />

visto económico e tecnológico, porque o modelo europeu<br />

é extremamente frágil estrategicamente. A nível<br />

tecnológico, nós liderávamos certos setores, como a<br />

automóvel, os transportes, etc. Mas as tecnologias <strong>do</strong><br />

futuro não as <strong>do</strong>minávamos – estavam a ser desenvolvidas<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na China. Portanto, passámos<br />

a ser toma<strong>do</strong>res de tecnologia. Isto é gravíssimo.<br />

Se não detemos o maior valor, não somos capazes de<br />

gerar excedentes para pagar o nível de vida <strong>do</strong>s europeus.<br />

Há uma década que se sente isto como um problema:<br />

a perda da liderança tecnológica. Além disso,<br />

temos uma dependência<br />

estratégica absolutamente<br />

decisiva de matérias-primas<br />

e de componentes,<br />

de energia, recursos minerais,<br />

componentes críticos<br />

em vários setores. Começámos<br />

a perceber que<br />

comprávamos tu<strong>do</strong> fora.<br />

E a guerra veio a agudizar<br />

esse sentimento, não foi?<br />

A guerra e a pandemia.<br />

Fizeram-nos perceber que<br />

nos faltavam <strong>coisas</strong> essenciais<br />

para a vida das nossas populações. E esta noção<br />

de fragilidade e de dependência estratégica já lá estava.<br />

Somos um continente sem capacidade militar, o<br />

que é complica<strong>do</strong>, porque estamos dependentes <strong>do</strong><br />

exterior. A Europa sempre dependeu da proteção <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

E o que está a ser feito?<br />

Em 2021 aprovámos um pacote de 750 mil milhões de<br />

euros para investir em tecnologias digitais na autonomia<br />

e resiliência estratégica e na transição climática.<br />

É isso que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estão a fazer agora. Mas<br />

como eles têm uma união política muito forte, quan<strong>do</strong><br />

tomam uma decisão, avançam muito depressa. O problema<br />

da Europa é que to<strong>do</strong>s os países europeus – qualquer<br />

um deles, mesmo a Alemanha – são demasia<strong>do</strong><br />

pequenos para serem internacionais. Só em conjunto é<br />

que temos dimensão para enfrentar os desafios globais<br />

com os quais nos comprometamos, mas não temos


Imagine uma ação<br />

climática com impacto<br />

exponencial.<br />

Através da tecnologia<br />

e da colaboração global,<br />

é Possível.<br />

A Ericsson está a criar um mun<strong>do</strong> com<br />

conectividade ilimitada, onde a tecnologia<br />

móvel abre novas possibilidades para<br />

um futuro sustentável.<br />

ericsson.com/imaginepossible


a conversa<br />

30<br />

ainda uma união política. Esse é o problema. Se quisermos<br />

determinar o nosso destino coletivo, precisamos<br />

de ganhar capacidade política que, neste momento,<br />

não temos.<br />

Deixar de pensar a 27 e começar a pensar como uma<br />

única entidade?<br />

Exatamente.<br />

A pandemia e a guerra estão a acabar com a globalização<br />

económica e a reforçar a globalização digital?<br />

Não sei. O que vejo – com as reações ao TikTok nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e a forma como, na China, também não<br />

entram certos produtos e serviços digitais – é que nos<br />

merca<strong>do</strong>s digitais há uma barreira entre quem acredita<br />

numa internet livre e quem acredita num mun<strong>do</strong><br />

digital fecha<strong>do</strong> e controla<strong>do</strong> pelos Esta<strong>do</strong>s. Portanto,<br />

não acho que exista propriamente globalização.<br />

Aquilo que determina esta “desglobalização”, ou<br />

esta fragmentação, é a constatação de que a China<br />

e a Rússia não partilham<br />

<strong>do</strong>s nossos valores. O modelo<br />

de economia global<br />

que construímos nos últimos<br />

30 anos – que criou<br />

a ideia de que tínhamos<br />

uma espécie de contexto<br />

que favorecia a paz e a<br />

convivência pacata entre<br />

nações partilhan<strong>do</strong><br />

os mesmos valores – não<br />

tem razão de ser. Portanto,<br />

é preciso repensar<br />

tu<strong>do</strong>. A globalização<br />

foi uma escolha política<br />

feita há 30 anos, depois <strong>do</strong> fim da Guerra Fria, pensan<strong>do</strong><br />

que isso facilitaria a paz mundial. Mas hoje<br />

sabemos que não é assim.<br />

Como é que imagina a Europa <strong>do</strong> pós guerra? Mais forte<br />

e mais unida?<br />

Ou a Europa sai disto mais unida e com mais capacidade<br />

política, ou vai entrar num grande perío<strong>do</strong><br />

de decadência. Não apenas de decadência relativa.<br />

Aquela decadência de não sermos capazes de manter<br />

o nível de bem-estar a que as populações europeias se<br />

habituaram. Para que tal não aconteça, precisamos<br />

de capacidade política. O grande problema que temos<br />

é que a atual forma de funcionamento europeia torna<br />

difícil tomar decisões e fazer as reformas de que<br />

precisamos no processo de decisão. Temos, dentro da<br />

união Europeia, perspetivas muito diferentes sobre o<br />

que deve ser o futuro. Isso preocupa-me. É a coisa que<br />

me preocupa mais.<br />

“As nossas elites<br />

comprazem-se em ser cada<br />

vez mais sofisticadas e<br />

elegantes a dizer mal <strong>do</strong><br />

país, como se o país não<br />

tivesse esperança”<br />

O que precisamos de mudar?<br />

Precisarmos de ter capacidade orçamental reforçada<br />

para fazermos investimentos. Veja-se, por exemplo,<br />

as ligações energéticas ou ferroviárias. Diz-se assim:<br />

“Vamos fazer estas ligações de infraestruturas entre os<br />

esta<strong>do</strong>s membros, mas cada um paga a sua parte”. Mas<br />

depois, quan<strong>do</strong> algum país não quer, não avançam.<br />

Portanto, precisamos de ter capacidade de decisão e<br />

execução orçamental, capacidade política a nível central.<br />

Isso implica que a União Europeia tenha capacidade<br />

orçamental acrescida. Sou, por exemplo, adepto<br />

de haver um subsídio de desemprego europeu. Não sei<br />

se a Segurança Social não deveria ser europeia, porque<br />

os meus filhos estão a pagar as pensões <strong>do</strong>s holandeses.<br />

Estão a descontar, mas não para a Segurança Social <strong>do</strong>s<br />

portugueses. Esse é um problema.<br />

Essa é uma ideia da Europa muito diferente.<br />

Se temos liberdade de circulação de pessoas e um merca<strong>do</strong><br />

único, isso significa que os cidadãos europeus vão<br />

para as regiões que criam<br />

mais e melhor emprego e,<br />

a meu ver, desejável.<br />

portanto, as regiões mais<br />

pobres têm menos capacidades<br />

de gerar recursos<br />

para sustentar as suas populações.<br />

Se nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s não houvesse uma<br />

Segurança Social federal,<br />

as pensões das pessoas <strong>do</strong><br />

Missouri ou <strong>do</strong> Arkansas<br />

não eram pagas.<br />

É um caminho a fazer?<br />

É uma evolução possível e,<br />

Porque é que aceitou este desafio de presidir ao <strong>Congress</strong>o<br />

da APDC?<br />

Apesar <strong>do</strong>s lamentos, <strong>fazem</strong>os <strong>coisas</strong> <strong>excecionais</strong> a<br />

nível tecnológico. É bom termos um momento de celebração<br />

deste caminho. Quan<strong>do</strong> era ministro da Economia,<br />

não tinha a responsabilidade das telecomunicações,<br />

mas tinha a clara noção de que não seríamos<br />

competitivos se não tivéssemos tecnologias de comunicação<br />

e de informação de primeiro mun<strong>do</strong>.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, como vê o papel de associações como<br />

a APDC?<br />

São gera<strong>do</strong>res de ecossistemas. Organizações onde os<br />

diversos stakeholders numa cadeia de valor se sentam à<br />

mesma mesa para facilitar as discussões que têm mesmo<br />

de acontecer. O que uma associação como a vossa<br />

faz, é criar pontos de diálogo e de contacto.•


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em destaque<br />

NO MEIO É QUE<br />

ESTÁ A VIRTUDE<br />

Como será a criptoeconomia <strong>do</strong> futuro? Até<br />

agora uma reserva de valor sem intermediários,<br />

vai passar a ser fortemente regulada. Para os<br />

players desta jovem indústria ainda à procura<br />

da sua identidade, tu<strong>do</strong> dependerá da pressão<br />

regulatória. Equilíbrio é a palavra-chave. Mas<br />

também o grande desafio.<br />

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GORDO/SYNCVIEW, ISTOCK E CEDIDAS<br />

32


33


em destaque<br />

34<br />

Era inevitável: foi aprova<strong>do</strong> a 9 de junho o diploma<br />

que vem regular o merca<strong>do</strong> de criptoativos<br />

em território europeu. O MiCA será aplicável a<br />

to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s-membros a partir de 30 de dezembro<br />

de 2024. Com ele, e to<strong>do</strong> o pacote associa<strong>do</strong>,<br />

Bruxelas foi, tal como aconteceu no RGPD, pioneira a<br />

nível mundial neste tipo de medidas. Que são aplaudidas<br />

por muitos, incluin<strong>do</strong> pelos players <strong>do</strong> setor, porque<br />

credibilizar é essencial, sobretu<strong>do</strong> depois <strong>do</strong>s mais<br />

recentes escândalos. Tu<strong>do</strong> dependerá da sua aplicação<br />

em concreto, que não deverá travar a inovação e o desenvolvimento<br />

da criptoeconomia.<br />

O ano de 2022 foi uma espécie de ‘annus horribilis’<br />

para o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos. O colapso de gigantes<br />

como a Terra, 3AC, Celsius, FTX ou a BlockFi, numa<br />

derrocada em cadeia, colocou esta indústria no centro<br />

de to<strong>do</strong>s os escrutínios. Falou-se numa espécie de destruição<br />

criativa, para separar ‘o trigo <strong>do</strong> joio’, e de ‘inverno<br />

cripto’. Houve até quem vaticinasse o fim deste<br />

jovem setor, que surgiu por volta de 2008, quan<strong>do</strong> a<br />

tecnologia permitiu a criação da primeira criptomoeda,<br />

e a mais relevante e famosa desde então, a bitcoin.<br />

A verdade é que a criptoeconomia continua florescente<br />

e de boa saúde e as<br />

criptomoedas são transacionadas<br />

um pouco por<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, mesmo depois<br />

<strong>do</strong>s colapsos na banca<br />

norte-americana de várias<br />

instituições ligadas a este<br />

merca<strong>do</strong>, já nos últimos<br />

meses. A procura é tanta<br />

que, em maio, a bitcoin já<br />

apresentava uma valorização<br />

de mais de 70%. Mas, em paralelo, a necessidade<br />

de regulação sobre este merca<strong>do</strong> tornou-se inevitável.<br />

“Há, claramente, interligações dentro <strong>do</strong> ecossistema<br />

entre um conjunto de entidades. Uma das conclusões<br />

que se retirou <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> é que muitos <strong>do</strong>s<br />

projetos estavam liga<strong>do</strong>s entre si, pelo que o colapso de<br />

um acabou por desencadear uma reação de rede, que<br />

ficou muito visível. A verdade é que ninguém espera<br />

que este processo de construção da criptoeconomia já<br />

tenha termina<strong>do</strong>. Provavelmente, existirão mais casos<br />

de entidades que se achava que eram de confiança, credíveis<br />

e com projetos sóli<strong>do</strong>s, que garantiam os ativos,<br />

Os ecossistemas das<br />

cripto e da própria web3<br />

e blockchain continuam à<br />

procura da sua identidade<br />

que ainda vão falhar”, antecipa Jorge Silva Martins, da<br />

CS’Associa<strong>do</strong>s.<br />

À PROCURA DA IDENTIDADE<br />

Para o responsável pela área de prática de Tecnologia,<br />

Da<strong>do</strong>s e Inovação <strong>Digital</strong> da sociedade de advoga<strong>do</strong>s,<br />

“o ecossistema das cripto e o próprio ecossistema da<br />

web3 e blockchain continuam à procura da sua identidade,<br />

que tem si<strong>do</strong> muito alterada e ajustada ao longo<br />

<strong>do</strong>s anos”. Agora, passará a depender cada vez mais<br />

da “pressão regulatória”, que será exercida sobre este<br />

merca<strong>do</strong>. Como explica, “até agora conseguiu-se montar<br />

um ecossistema relativamente descentraliza<strong>do</strong><br />

e à margem de alguma regulação, sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> setor<br />

financeiro e bancário. O que está em causa, quan<strong>do</strong> falamos<br />

em cripto e blockchain, é a promessa de devolver<br />

novamente aos utiliza<strong>do</strong>res os ideais da internet original:<br />

muito descentralizada, peer to peer, aberta e democrática”,<br />

em resposta a uma internet que estava cada<br />

vez mais centralizada, controlada e concentrada, com<br />

a entrada das big tech e um “modelo de negócio assente<br />

em publicidade e da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res, ocupan<strong>do</strong><br />

o centro <strong>do</strong> ecossistema digital com as suas plataformas”.<br />

“O grande encanto<br />

e fascínio desta suposta<br />

web3, como lhe têm chama<strong>do</strong>,<br />

e das cripto, é devolver<br />

de novo o poder aos<br />

utiliza<strong>do</strong>res. Permitir que<br />

possam participar ativamente<br />

na construção <strong>do</strong><br />

ecossistema. Que possam<br />

até, com a tokenização,<br />

ser proprietários de uma parte da comunidade e não<br />

apenas destinatários de publicidade. Mas este merca<strong>do</strong><br />

tem agora um momento incontornável, o da pressão<br />

regulatória. A evolução vai depender muito <strong>do</strong> modelo<br />

regulatório implementa<strong>do</strong>”, acrescenta.<br />

Pedro Borges, co-founder e CEO da Criptoloja, a primeira<br />

fintech portuguesa de compra e venda de criptomoedas<br />

registada no Banco de Portugal, na sequência<br />

da entrada em vigor, em 2020, da lei que transpõe para<br />

o ordenamento jurídico nacional a diretiva europeia de<br />

combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento<br />

<strong>do</strong> terrorismo, diz que o merca<strong>do</strong> já estava em


Pragmático, Jorge Silva Martins, responsável pela área de prática de Tecnologia, Da<strong>do</strong>s e Inovação <strong>Digital</strong> da CS’Associa<strong>do</strong>s, adverte:<br />

“Ninguém espera que este processo de construção da criptoeconomia já tenha termina<strong>do</strong>”<br />

correção mesmo antes <strong>do</strong>s colapsos de 2022 e desdramatiza<br />

a situação: “Obviamente que estes momentos<br />

não foram bons. Estamos a falar de pessoas que utilizaram<br />

o setor para fazer vigarices. Correu mal. A crise da<br />

criptoeconomia resultou de fraudes feitas por pessoas,<br />

como acontece nas demais indústrias. Não foi uma crise<br />

da tecnologia ou uma falha que, isso sim, seria extremamente<br />

grave. E mesmo que tivéssemos outro nível<br />

de regulação, poderia acontecer. Se há indústria que é<br />

regulada é a financeira, e falências não faltam. Não faz<br />

senti<strong>do</strong> usar o argumento da falta de regulação, por ser<br />

um mun<strong>do</strong> à parte”, assegura este responsável.<br />

O gestor admite que a corretora passou por momentos<br />

muito difíceis, sobretu<strong>do</strong> pelos entraves coloca<strong>do</strong>s<br />

pela banca nacional na abertura de contas, que inviabilizaram<br />

a operação, e diz que se não fosse a entrada<br />

para o capital “<strong>do</strong>s nossos sócios brasileiros, provavelmente<br />

não teríamos sobrevivi<strong>do</strong>”. Refere-se aos brasileiros<br />

da 2TM, que gere a maior plataforma de criptomoedas<br />

da América Latina, que ficou com a maioria <strong>do</strong><br />

capital da empresa no ano passa<strong>do</strong> (acabam de alterar<br />

o nome da Criptoloja para Merca<strong>do</strong> Bitcoin).<br />

Asseguran<strong>do</strong> que ainda hoje “o grande desafio<br />

continua a ser os bancos”, não poupa críticas a esta<br />

situação: “Num país que criou regulação específica<br />

e que permite que a empresa esteja em atividade, é<br />

uma completa subversão <strong>do</strong> sistema. E só há três razões<br />

para isto, não vejo mais nenhuma: incompetência<br />

para perceber aquilo com que estão a lidar; preguiça,<br />

pensan<strong>do</strong> que se é cripto vai dar chatice, e mais grave,<br />

falta de confiança no regula<strong>do</strong>r. Os bancos sabem que<br />

somos regula<strong>do</strong>s exatamente pela mesma entidade<br />

que os regula a eles e, de certeza, de forma ainda mais<br />

minuciosa. Mas devo dizer que se há entidade com<br />

quem as <strong>coisas</strong> têm corri<strong>do</strong> muito bem é com o Banco<br />

de Portugal”.<br />

A fintech continua, para já, a dedicar-se apenas ao<br />

merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s particulares, “basicamente por uma razão:<br />

o compliance em empresas é tão pesa<strong>do</strong>, que preferimos<br />

não abrir contas. Mas não há impedimento<br />

legal”. O principal perfil de clientes é, normalmente,<br />

de quem percebe pouco deste mun<strong>do</strong>, mas “que chega<br />

por causa da bitcoin, a principal moeda e a mais antiga,<br />

que é uma reserva de valor absolutamente incrível.<br />

35


em destaque<br />

36<br />

Para Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral, professor assistente da CATÓLICA-LISBON, “a possibilidade de<br />

criar merca<strong>do</strong>s secundários disponíveis, em tempo real, tornará a economia mais eficiente”<br />

É um ativo de refúgio, que preserva valor para o longo<br />

-prazo, é finito e com força monetária enorme, porque<br />

é dificil minerá-lo e as quantidades estão pré-estabelecidas.<br />

Qualquer pessoa pode sair <strong>do</strong> sistema tradicional<br />

e ter a sua ‘barra de ouro’ digital, a bitcoin”.<br />

Jorge Silva Martins confirma esta corrida às bitcoins,<br />

por uma simples razão: “A principal diferença<br />

entre a bitcoin e as altcoins – como a Ether e a Ripple<br />

– é que a primeira é totalmente<br />

descentralizada. O<br />

protocolo foi contruí<strong>do</strong><br />

de raiz e é autoexecutável,<br />

não há a possibilidade<br />

de interferir com a forma<br />

como a criptomoeda<br />

é criada e distribuída. O<br />

que significa que se torna<br />

num ativo digital de valor<br />

singular, pelo facto de estar<br />

muito menos sujeito a<br />

intervenção exterior. Dispõe,<br />

portanto, de um valor que as outras cripto não<br />

têm, porque estão sujeitas e vulneráveis não só à volatilidade<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mas, e principalmente, à circunstância<br />

de estarem sujeitas a uma alteração repentina<br />

das regras <strong>do</strong> jogo”.<br />

A principal diferença entre<br />

a bitcoin e as altcoins –<br />

como a Ether ou Ripple<br />

– é que a primeira é<br />

totalmente descentralizada<br />

REGULAR PARA<br />

CREDIBILIZAR<br />

Pedro Borges considera que<br />

“os ativos da criptoeconomia<br />

precisam muito de regulação,<br />

porque há muita<br />

coisa no merca<strong>do</strong> que não<br />

passa de um mero nome<br />

ou símbolo. Já há regulação<br />

para se saber de onde vem<br />

o dinheiro para comprar,<br />

através das regras de branqueamento<br />

de capitais.<br />

Agora, vai ficar ainda mais<br />

completa”. Mais, considera<br />

que o trabalho que foi feito<br />

na Europa é muito positivo,<br />

ao contrário <strong>do</strong> que aconteceu<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s:<br />

“O MiCA não protege só<br />

o investi<strong>do</strong>r, abarca tu<strong>do</strong>,<br />

desde a emissão de um token<br />

ou uma stablecoin, até à sua<br />

venda. A Europa fez o trabalho<br />

que devia fazer e regulou de A a Z. Não consigo<br />

lembrar-me de nada que não esteja regula<strong>do</strong>”.<br />

O funda<strong>do</strong>r da fintech não tem dúvidas de que “neste<br />

momento, a regulação credibiliza a atividade. Excesso<br />

de regulação haverá seguramente, mas é uma questão<br />

de opinião. Alguma é confusa e nem toda é boa. Mas,<br />

nesta altura, precisamos dela. Esperemos que, com o<br />

tempo, venha a ser aprimorada. Não está completa,<br />

mas deverá ir-se ajustan<strong>do</strong>”.<br />

Também o responsável<br />

da CS’ Associa<strong>do</strong>s destaca<br />

a necessidade de ter de se<br />

garantir um equilíbrio entre<br />

regulação e inovação:<br />

“Saber até onde regular é<br />

um <strong>do</strong>s grandes desafios.<br />

Temos vários diplomas<br />

que estão a ser discuti<strong>do</strong>s,<br />

ou prestes a ser aprova<strong>do</strong>s,<br />

que vão criar um enquadramento<br />

jurídico complexo, feito em várias camadas<br />

de muitas destas realidades. Vão existir entropias.<br />

Diria que a dificuldade será encontrar esse ponto de<br />

equilíbrio, que ainda ninguém sabe exatamente onde<br />

está”.<br />

Terá ainda que se “perceber se a regulação não levará


a uma nova centralização. Se forem cria<strong>do</strong>s requisitos<br />

que sejam regras prudenciais, comportamentais e um<br />

nível de escrutínio regulatório e de supervisão sobre<br />

tu<strong>do</strong> o que são projetos nestas áreas, significa que a capacidade<br />

para responder e cumprir esses requisitos vai<br />

afastar totalmente o regresso às origens da internet. Ao<br />

invés de voltarmos a uma internet descentralizada, que<br />

era a ambição, vamos ter um conjunto de entidades<br />

a centralizar o ecossistema. Ficaremos circunscritos,<br />

novamente, a um conjunto restrito de players. Serão as<br />

novas big tech”, assegura.<br />

Há também, na sua perspetiva, a necessidade de<br />

saber onde estão os limites da regulação: “Talvez não<br />

tenhamos ti<strong>do</strong> tempo suficiente para que a tecnologia<br />

fizesse o seu caminho, até com o apoio <strong>do</strong>s próprios<br />

regula<strong>do</strong>res e legisla<strong>do</strong>res, com estratégias que promovessem<br />

e fomentassem a inovação e quadros regulatórios<br />

descomplica<strong>do</strong>s.<br />

Corremos aqui o risco de,<br />

em algumas matérias, vir a<br />

regulação resolver problemas<br />

que, na verdade, ou<br />

ainda não existem, ou não<br />

são ainda merece<strong>do</strong>res de<br />

uma intervenção regulatória<br />

com esta densidade. Só<br />

o tempo o dirá”.<br />

Para manter pessoas,<br />

empresas e investimentos<br />

na criptoeconomia<br />

é preciso dar-lhes<br />

previsibilidade<br />

MICA: UM PASSO<br />

PIONEIRO<br />

Ainda assim, o ecossistema<br />

das criptomoedas europeu terá pelo menos um ano<br />

e meio até à entrada em vigor <strong>do</strong> MiCA (Markets in Crypto<br />

Assets). Com a sua publicação no passa<strong>do</strong> dia 9 de junho,<br />

no Jornal Oficial da UE, algumas das disposições<br />

serão aplicáveis aos Esta<strong>do</strong>s-membros a partir de 30 de<br />

junho de 2024 e as restantes a partir de 30 de dezembro<br />

<strong>do</strong> mesmo ano. Com ele, a Europa é a primeira região<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> a introduzir um regulamento abrangente<br />

para os criptoativos.<br />

A proposta inicial foi apresentada em setembro de<br />

2020, integran<strong>do</strong> a “Estratégia Financeira <strong>Digital</strong>” da<br />

Comissão Europeia, que inclui um pacote legislativo<br />

mais amplo sobre os serviços financeiros, como o <strong>Digital</strong><br />

Operational Resilience Act (DORA) e o Pilot DLT, já<br />

em curso, assim como o Transfer of Funds Regulation<br />

(TFR), que se aplica às transferências de criptoativos<br />

e garante a transparência financeira dessas transações.<br />

O MiCA vem estabelecer um quadro regulatório<br />

para o merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos, identifican<strong>do</strong> os vários<br />

tipos de atividades e crian<strong>do</strong> uma regulamentação<br />

específica. Visa trazer estabilidade legal, com regras<br />

para to<strong>do</strong>s os criptoativos que não estejam abrangi<strong>do</strong>s<br />

pela atual legislação <strong>do</strong>s serviços financeiros, assim<br />

como proteger os consumi<strong>do</strong>res/investi<strong>do</strong>res, ao garantir<br />

que os seus direitos são similares aos de outros<br />

produtos e serviços regula<strong>do</strong>s, no âmbito <strong>do</strong> setor financeiro.<br />

Pretende-se ainda dar suporte à inovação<br />

tecnológica e estabilidade ao sistema financeiro, ao<br />

estabelecer regras que mitigam os riscos associa<strong>do</strong>s à<br />

utilização e comercialização das cripto, promoven<strong>do</strong>se<br />

um level playing field.<br />

Como destacou no congresso da APDC, a 9 de maio,<br />

Hélder Rosalino, administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal,<br />

“o que vai acontecer é que quem opera com criptoativos,<br />

as entidades que oferecem plataformas e serviços<br />

(CASP), passarão a estar sujeitos ao regulamento.<br />

Serão supervisionadas ao<br />

nível nacional por uma<br />

entidade. Isso vai permitir<br />

que este merca<strong>do</strong> passe a<br />

funcionar de forma regulada<br />

e harmonizada no espaço<br />

europeu. É um passo<br />

importante”.<br />

A Autoridade Europeia<br />

<strong>do</strong>s Valores Mobiliários<br />

e <strong>do</strong>s Merca<strong>do</strong>s (ESMA)<br />

criará, de acor<strong>do</strong> com o regulamento,<br />

um registo público<br />

para presta<strong>do</strong>res de<br />

serviços de criptoativos que operam na UE sem autorização.<br />

E terá poderes para intervir, proibir ou restringir<br />

as plataformas criptográficas que não protegerem adequadamente<br />

os investi<strong>do</strong>res, ameaçarem a integridade<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ou a estabilidade financeira.<br />

“Os princípios <strong>do</strong> MiCA são váli<strong>do</strong>s. Existia, de facto,<br />

um problema. Mas a vida <strong>do</strong>s regulamentos é feita<br />

na sua implementação. Tu<strong>do</strong> aquilo que era legítimo<br />

regular pode tornar-se ilegítimo na execução e implementação.<br />

Espero que não venha afundar o ecossistema,<br />

mas sim impulsioná-lo. Tem de tomar-se uma<br />

decisão sobre o que se quer fazer. Para manter as pessoas,<br />

as empresas e os investimentos temos de lhes dar<br />

estabilidade e previsibilidade”, alerta o especialista da<br />

sociedade de advoga<strong>do</strong>s.<br />

E há mais novidades: recentemente, a 16 de maio,<br />

o Conselho da UE, no âmbito <strong>do</strong> combate ao branqueamento<br />

de capitais, a<strong>do</strong>tou regras para tornar as<br />

transferências de criptoativos rastreáveis, evitan<strong>do</strong><br />

37


em destaque<br />

38<br />

a utilização indevida de<br />

criptoativos para atividades<br />

ilegais. Assim, alargou<br />

as regras de informação da<br />

transferência de fun<strong>do</strong>s às<br />

transferências de criptoativos,<br />

fican<strong>do</strong> os presta<strong>do</strong>res<br />

destes serviços obriga<strong>do</strong>s a<br />

recolher e a tornar acessíveis<br />

informações sobre origina<strong>do</strong>res<br />

e destinatários<br />

das transferências de criptoativos<br />

que processam, independentemente<br />

<strong>do</strong> montante<br />

a transacionar.<br />

Projeto já em curso desde<br />

23 de março é o DLT Pilot<br />

Regime, a primeira sandbox<br />

pan-Europeia para testar o<br />

DLT em infraestruturas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> financeiro tradicional.<br />

É que Bruxelas tem como meta preparar a economia<br />

europeia para utilização de tecnologias inova<strong>do</strong>ras<br />

como a DLT (Decentralized Ledger Technology), cujo<br />

exemplo mais conheci<strong>do</strong> é a blockchain.<br />

Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral, professor assistente da<br />

CATÓLICA-LISBON, diz que é a “primeira abordagem<br />

na utilização <strong>do</strong>s tokens, ou seja, a tokenização em blockchain,<br />

para ações, obrigações<br />

e um tipo de fun<strong>do</strong>s<br />

especiais. O que significa<br />

que direitos de propriedade<br />

associa<strong>do</strong>s às empresas<br />

podem ser tokeniza<strong>do</strong>s,<br />

crian<strong>do</strong>-se merca<strong>do</strong>s secundários<br />

disponíveis em<br />

tempo real, o que torna a<br />

economia mais eficiente.<br />

Como o <strong>do</strong>cente explicou,<br />

também no congresso<br />

da APDC, “o Pilot DLT é o primeiro passo que<br />

a Europa dá na gestão <strong>do</strong> direito de propriedade, que<br />

permite começar a mexer em ativos reais, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> das<br />

<strong>coisas</strong>, as empresas, e da dívida, as obrigações. É só o<br />

início”. O que se espera – a Suíça já avançou nesse senti<strong>do</strong><br />

– é uma “alteração da lei, para que to<strong>do</strong>s os produtos<br />

financeiros possam passar por esta tecnologia. Isto<br />

“O que vai acontecer é que quem opera com criptoativos, as entidades que oferecem<br />

plataformas e serviços, serão supervisionadas ao nível nacional por uma entidade. Isso vai<br />

permitir que este merca<strong>do</strong> passe a funcionar de forma regulada”, afirma Hélder Rosalino,<br />

administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal<br />

Recentemente, o Conselho<br />

da UE a<strong>do</strong>tou regras para<br />

tornar as transferências de<br />

criptoativos rastreáveis<br />

vai criar uma enorme oportunidade e uma disrupção<br />

em toda a infraestrutura financeira”.<br />

O futuro passará pela “tokenização <strong>do</strong>s ativos reais<br />

e de qualquer tipo de direito. No dia em que isso acontecer,<br />

a forma como transacionamos e <strong>fazem</strong>os negócio<br />

será muito mais simples e terá muito menos risco.<br />

É assim que criamos valor económico, porque se diminuem<br />

os custos de transações e estas tornam-nas mais<br />

simples. Estamos a falar<br />

de transição ao nível <strong>do</strong><br />

ecossistema.”<br />

EURO DIGITAL<br />

EM MARCHA<br />

Em paralelo à regulação<br />

da criptoeconomia, os<br />

últimos meses têm si<strong>do</strong><br />

marca<strong>do</strong>s pelo debate em<br />

torno <strong>do</strong> euro digital. Os<br />

<strong>do</strong>is temas até têm si<strong>do</strong>,<br />

de alguma forma, mistura<strong>do</strong>s, muito embora sejam<br />

totalmente distintos. A própria presidente <strong>do</strong> Banco<br />

Central Europeu, Christine Lagarde, que desde sempre<br />

esteve contra as cripto, chegou a dizer em dezembro<br />

que as criptomoedas não valiam nada e que deviam ser<br />

fortemente reguladas, sen<strong>do</strong> o euro digital uma solução<br />

muito mais segura, já que se trata de uma moeda


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em destaque<br />

40<br />

digital <strong>do</strong> banco central. “Garanto que no dia em que<br />

tivermos uma moeda digital <strong>do</strong> banco central, será<br />

muito diferente de muitas outras <strong>coisas</strong>”, afirmou.<br />

Em fevereiro, a líder <strong>do</strong> FMI, Kristalina Georgieva,<br />

referia também, a propósito da necessidade de regulação<br />

urgente da criptoeconomia, que havia ainda muita<br />

confusão sobre dinheiro digital. “O primeiro objetivo<br />

<strong>do</strong> FMI é deixar claras as diferenças entre Moedas Digitais<br />

de Bancos Centrais, que são apoiadas pelo Esta<strong>do</strong>,<br />

e as criptomoedas e stablecoins”. As primeiras têm<br />

“confiabilidade” e “espaço razoável na economia”, enquanto<br />

os criptoativos “são investimentos especulativos<br />

de alto risco, não são dinheiro.”<br />

As posições não espantam os players <strong>do</strong> ecossistema<br />

cripto, até porque desde sempre o sistema financeiro<br />

tradicional se tem mostra<strong>do</strong> contra este novo merca<strong>do</strong>.<br />

“O que temos assisti<strong>do</strong> é a uma reação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

ao desenvolvimento <strong>do</strong> ecossistema cripto”, avança<br />

Jorge Silva Martins, que salienta que são realidades<br />

distintas, que não se substituem e que vão coexistir.<br />

Para o advoga<strong>do</strong>, “não<br />

há <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s.<br />

Têm de convergir. Mas<br />

vão convergir para termos<br />

o quê? O euro digital traz<br />

algo de completamente diferente<br />

daquilo de que falamos,<br />

quan<strong>do</strong> falamos de<br />

criptomoedas (e, principalmente,<br />

de bitcoin): um<br />

modelo centraliza<strong>do</strong>, que<br />

coloca inúmeras questões<br />

relacionadas, por exemplo,<br />

com a possibilidade de traceability das transações<br />

e <strong>do</strong>s seus autores, com a eventual possibilidade de estarmos<br />

perante dinheiro programável e, em paralelo,<br />

com um certo desincentivo à inovação por parte <strong>do</strong>s<br />

bancos no que se refere aos serviços de pagamentos a<br />

disponibilizar aos seus clientes. Além disso, na minha<br />

opinião, a pergunta central está ainda por responder:<br />

que problema vem, efetivamente, o euro digital resolver<br />

?”.<br />

A realidade é que, tal como noutras geografias estão<br />

a ser criadas moedas digitais de bancos centrais, também<br />

na Europa está em marcha o processo para criar<br />

o euro digital. O BCE arrancou com o projeto em 2020<br />

e está agora na fase de investigação, a estudar as suas<br />

características. Até final <strong>do</strong> ano, o Conselho de Governa<strong>do</strong>res<br />

deverá aprovar esta fase, entran<strong>do</strong>-se depois<br />

numa terceira, de realização, para se criarem as condições<br />

tecnológicas para a emissão <strong>do</strong> euro digital. Espera-se<br />

que em 2025 já se possa arrancar em concreto.<br />

Uma das preocupações<br />

é manter o papel <strong>do</strong>s<br />

bancos centrais enquanto<br />

âncora <strong>do</strong>s sistemas de<br />

pagamentos<br />

Para o administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal, uma<br />

das preocupações com o euro digital, face ao declínio<br />

da utilização da moeda física, e perante o surgimento<br />

muito rápi<strong>do</strong> de moedas digitais privadas, é “manter o<br />

papel <strong>do</strong>s bancos centrais enquanto âncora <strong>do</strong>s sistemas<br />

de pagamentos”.<br />

É que hoje, embora as notas sejam a âncora <strong>do</strong> sistema<br />

de pagamentos, o que se utiliza são sistemas de<br />

pagamentos <strong>do</strong>s bancos e das marcas internacionais,<br />

sen<strong>do</strong> cada vez maior a dependência da Europa das<br />

grandes empresas tecnológicas norte-americanas e <strong>do</strong>s<br />

sistemas de pagamentos chineses. Entre as gigantes<br />

globais de sistemas de pagamentos, três são <strong>do</strong>s EUA<br />

(Mastercard, Visa e PayPal) e duas são chinesas (Alipay<br />

e UnionPay). As cinco são responsáveis por mais de<br />

<strong>do</strong>is terços das transações de pagamentos com cartão<br />

na Europa.<br />

Com o euro digital, que “será disponibiliza<strong>do</strong> ao<br />

público em geral, incluin<strong>do</strong> empresas, para ser utiliza<strong>do</strong><br />

nos pagamentos no retalho, cria-se “um sistema<br />

de pagamentos eletrónico<br />

único na Europa, coisa<br />

que hoje não existe. Será<br />

isento de risco e vai coexistir<br />

com soluções de pagamentos<br />

privadas”, garante<br />

o representante <strong>do</strong> banco<br />

central.<br />

A ideia é ainda de “contribuir<br />

para a autonomia<br />

estratégica e a eficiência<br />

económica da Europa.<br />

Hoje, não temos verdadeiramente<br />

uma marca de pagamentos europeia, nem<br />

sequer temos um sistema de pagamentos integra<strong>do</strong>,<br />

que seja incluí<strong>do</strong> em todas as soluções que os bancos<br />

oferecem para pagamentos”.<br />

Hélder Rosalino não tem dúvidas de que será “um<br />

projeto importante para os bancos centrais, as autoridades<br />

monetárias e os Esta<strong>do</strong>s. Os bancos centrais,<br />

que têm funções essenciais para o funcionamento da<br />

economia, desde a definição e implementação da política<br />

monetária até à garantia da estabilidade financeira,<br />

têm de ter a capacidade de manter um papel na<br />

emissão monetária. Se não o tiverem, as funções ficam<br />

esvaziadas. A principal razão pela qual os bancos centrais<br />

estão a desenvolver os seus projetos é porque querem<br />

preservar o seu papel nas políticas económicas que<br />

estão sob a sua responsabilidade, além de simplificar,<br />

com uma solução única e universal, ao invés de se lidar<br />

com vários sistemas de pagamento”.•


Promova a Transformação <strong>Digital</strong> da sua empresa<br />

com a campanha Fast Track<br />

Entrega em duas semanas<br />

Wi-Fi 6 | LAN Switches | Data Center Switches | Routers<br />

MSP | Healthcare | Retail | Finance | ISP | Manufacturing | Hospitality<br />

Campanha Fast Track<br />

3.0


em destaque<br />

42<br />

BREVE GLOSSÁRIO<br />

DO MUNDO CRIPTO<br />

ALTCOINS – são todas as criptomoedas além da<br />

bitcoin, ou seja, moedas alternativas.<br />

BITCOIN – é a primeira e a maior criptomoeda <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> em valor de merca<strong>do</strong>. A rede da bitcoin<br />

foi criada em 2009, por Satoshi Nakamoto, uma<br />

figura misteriosa que ninguém conhece. No white<br />

paper da moeda refere-se que é um sistema<br />

eletrónico de pagamentos basea<strong>do</strong> em prova<br />

criptográfica, em vez de confiança, permitin<strong>do</strong><br />

que duas partes interessadas transacionem<br />

diretamente entre si, sem necessidade de um<br />

intermediário.<br />

BLOCKCHAIN – é um <strong>do</strong>s tipos de DLT, uma tecnologia<br />

que permite armazenar informação em<br />

blocos, liga<strong>do</strong>s entre si, por ordem cronológica.<br />

Habitualmente, a blockchain inclui uma componente<br />

de criptografia e fórmulas matemáticas<br />

que garantem que a informação guardada não<br />

pode ser adulterada. É o tipo de tecnologia que<br />

está habitualmente na base <strong>do</strong>s criptoativos,<br />

como a bitcoin ou a ether, da plataforma blockchain<br />

Ethereum, cujas transações ficam registadas<br />

em blocos da rede.<br />

CRIPTOATIVOS - são representações digitais de valores<br />

ou de direitos que podem ser transferi<strong>do</strong>s e<br />

armazena<strong>do</strong>s eletronicamente. Apesar de poderem<br />

ser usa<strong>do</strong>s para pagamentos, são sobretu<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s como ativos de investimento. O mais<br />

conheci<strong>do</strong> é a bitcoin.<br />

DEFI OU DECENTRALIZED FINANCE – é o termo usa<strong>do</strong><br />

para representar serviços e produtos financeiros<br />

construí<strong>do</strong>s sobre uma rede blockchain, através<br />

de contratos inteligentes. O objetivo é dispensar<br />

o controle de intermediários, como bancos e<br />

instituições financeiras.<br />

DLT OU DISTRIBUTED LEDGER TECHNOLOGY - é uma<br />

tecnologia de registo descentraliza<strong>do</strong> de informação.<br />

Na prática, a informação é armazenada com<br />

recurso a uma rede de bases de da<strong>do</strong>s, detida<br />

por várias entidades, sem que exista um administra<strong>do</strong>r<br />

central.<br />

ETHER – é a segunda e a mais importante criptomoeda<br />

da rede Ethereum, uma plataforma descentralizada,<br />

que foi criada em 2013, por Vitalik<br />

Buterin, não apenas para os pagamentos digitais,<br />

mas também como plataforma que servisse de<br />

suporte à criação de outros aplicativos relaciona<strong>do</strong>s<br />

com a descentralização, como os smart<br />

contracts e, mais tarde, NFTs.<br />

NFT’S OU NON-FUNGIBLE TOKENS - são representações<br />

digitais de algo único, como obras de arte, músicas<br />

e capas históricas de revistas. Ao adquirir um<br />

NFT, compra-se um registo de computa<strong>do</strong>r que<br />

contém o registo de um objeto, sen<strong>do</strong> por isso<br />

um certifica<strong>do</strong> digital de propriedade.<br />

SMART CONTRACTS - são contratos digitais com códigos<br />

de programação autoexecutáveis utiliza<strong>do</strong>s<br />

para firmar um acor<strong>do</strong> ou negociação. É menos<br />

burocrático, garante mais segurança e transparência<br />

e, por estar numa rede blokchain, não<br />

pode ser adultera<strong>do</strong>.<br />

STABLECOINS – são criptoativos cujo valor é estável<br />

e vincula<strong>do</strong> a um ativo como uma moeda real.<br />

Foram concebidas para reduzir a volatilidade de<br />

criptomoedas não vinculadas, como a bitcoin,<br />

cujo valor pode mudar de forma brusca em pouquíssimo<br />

tempo.<br />

TOKENS – significa, no universo <strong>do</strong>s criptoativos,<br />

a representação digital de um ativo com a utilização<br />

de tecnologia de contabilidade distribuída<br />

(blockchain). Todas as criptomoedas são tokens,<br />

mas nem to<strong>do</strong>s os tokens são criptomoedas.<br />

Estas são consideradas payment tokens. Há ainda<br />

os utility tokens, que oferecem alguma utilidade,<br />

como descontos em produtos específicos, acesso<br />

a um serviço exclusivo, direito a voto e outros<br />

benefícios. Os fan tokens, ativos digitais de clubes<br />

de futebol, são exemplos de utility tokens.•


Somos a marca<br />

que deixamos<br />

e a marca<br />

que queremos deixar<br />

O nosso propósito é impulsionar o seu<br />

negócio, deixan<strong>do</strong> uma marca na sociedade<br />

e geran<strong>do</strong> um impacto imediato no seu crescimento.<br />

Phygital Payments Cloud Data Cybersecurity


itech<br />

44<br />

ABEL COSTA:<br />

O engenheiro que<br />

aprendeu a andar<br />

nas nuvens<br />

Sim, é uma metáfora. As nuvens <strong>do</strong> título simbolizam a imaterialidade.<br />

Característica que pode ser atribuída à informática,<br />

mas nunca a circuitos eletrónicos, cabos e ferros de soldar,<br />

as <strong>coisas</strong> que faziam e ainda <strong>fazem</strong> as delícias de Abel Costa.<br />

Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gor<strong>do</strong>/Syncview<br />

Nada de carrinhos, caricas ou jogos<br />

de bola. O que mais empolgava o<br />

atual managing director Portugal &<br />

Group VP da Inetum em miú<strong>do</strong>, era<br />

descobrir como aquela energia, que<br />

animava certos objetos, funcionava.<br />

Aos dez anos deitou a luz de casa<br />

abaixo, ao fazer uma experiência:<br />

“Achava muita piada às luzes<br />

pisca-pisca de Natal e então um dia<br />

peguei numa daquelas lâmpadas e<br />

liguei diretamente à ficha para ver o<br />

que acontecia. É claro que com uma<br />

carga de 220 volts, aquilo explodiu”<br />

(risos).<br />

Essa curiosidade por tu<strong>do</strong> o que<br />

tinha a ver com eletricidade e eletrónica<br />

tinha a ver com a profissão<br />

<strong>do</strong> pai, que fazia instalações numa<br />

companhia de telefones. Lá em<br />

casa havia sempre fios, telefones<br />

estraga<strong>do</strong>s, materiais em que o via<br />

trabalhar na oficina que improvisara<br />

na adega. Abel a<strong>do</strong>rava lá estar e<br />

aos poucos foi perceben<strong>do</strong> como<br />

tu<strong>do</strong> aquilo funcionava.<br />

Aos 12 anos conquistou o direito<br />

a ter a sua própria bancada de<br />

trabalho, lugar onde passou não só<br />

a replicar muito <strong>do</strong> que aprendera<br />

com o pai, mas a construir sistemas<br />

da sua autoria. Aos 14 já fazia disso<br />

negócio. “Comecei a vender alguns<br />

aparelhos eletrónicos aos amigos.<br />

O meu top de vendas (risos), onde<br />

ganhei algum dinheiro, foi um sistema<br />

de luzes psicadélicas para festas<br />

de garagem”. Era sempre o técnico<br />

de som e de luzes, nessas festas,<br />

às vezes também DJ, funções que<br />

ajudavam, em muito, a incrementar<br />

a sua popularidade.<br />

A sua veia empreende<strong>do</strong>ra levou-o,<br />

não muito depois, a outro sucesso<br />

de vendas, inspira<strong>do</strong> numa série,<br />

muito popular, que passava na TV,<br />

a Knight Rider, cujo protagonista<br />

tinha um carro inteligente, que falava<br />

e andava sozinho. Esse carro, de<br />

linhas aerodinâmicas, tinha à frente<br />

umas luzes que piscavam sempre<br />

que “falava” com o <strong>do</strong>no. Calculou<br />

que esse sistema não fosse muito<br />

diferente <strong>do</strong> que concebera para<br />

as suas luzes psicadélicas e meteu<br />

mãos à obra. Objetivo? Produzir dispositivos<br />

que os amigos pudessem<br />

aplicar nas motas: “Hoje diria que,<br />

mais pimba, aquilo não<br />

podia ser (risos), mas na altura foi<br />

um enorme sucesso”.<br />

Claro que no ensino secundário<br />

Abel escolheu como disciplina<br />

opcional “eletricidade”. E quan<strong>do</strong><br />

chegou a hora de ingressar na universidade,<br />

não hesitou: matriculouse<br />

no curso de Engenharia Eletrónica<br />

e Telecomunicações. Tu<strong>do</strong> lhe<br />

correu sobre rodas até ao momento<br />

em que quis entrar no merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho: “Constatei que no norte<br />

não havia saída para a eletrónica.<br />

Natural de Monção, crescera em<br />

Barcelos, estudara em Aveiro e <strong>do</strong>s<br />

seus planos não constava, à partida,<br />

vir para Lisboa, um destino que<br />

lhe parecia, aos 20 e poucos anos,<br />

muito distante. Mas foi o que aconteceu:<br />

“Encontrei-me cá com um<br />

ex-colega de curso, que trabalhava<br />

na Compuquali (a empresa que veio<br />

a dar origem à atual Inetum). Por<br />

acaso ele veio acompanha<strong>do</strong> pelo<br />

então diretor da empresa e numa<br />

breve conversa, sem que eu tivesse<br />

sequer um CV para mostrar, fui<br />

contrata<strong>do</strong>”. Aceitou aquela oferta<br />

de trabalho sem saber o que ia<br />

fazer: “Sabia que era uma empresa<br />

fornece<strong>do</strong>ra da HP e pensei: se o<br />

meu ex-colega de curso se adaptou,<br />

eu também me vou adaptar”.<br />

Começou como forma<strong>do</strong>r de sistemas<br />

operativos. E como de informática<br />

percebia pouco, estu<strong>do</strong>u muito<br />

para poder assumir esse papel. Correu<br />

tão bem, que ainda não tinha<br />

passa<strong>do</strong> um ano, já fazia administração<br />

de sistemas operativos.<br />

Na verdade, como engenheiro, nunca<br />

chegou a trabalhar. Mas percebeu<br />

que a informática era o futuro,<br />

por isso rendeu-se.<br />

Hoje, diz que não pode viver sem<br />

ela. Não se separa <strong>do</strong> telemóvel,<br />

não dispensa o portátil e confia<br />

em tu<strong>do</strong> o que o smartwatch lhe<br />

diz quan<strong>do</strong> vai correr (faz trail nos<br />

tempos livres). Passa 10h por dia a<br />

olhar para ecrãs e não se queixa.<br />

Mas quan<strong>do</strong> tem tempo e oportunidade<br />

para cuidar da horta e <strong>do</strong><br />

jardim, não há Instagram, Twitter<br />

ou qualquer outro tipo de sedução<br />

cibernética que o desvie. A<strong>do</strong>ra pôr<br />

as mãos na terra, ou não descendesse<br />

de agricultores. E como não<br />

há nada como o primeiro amor,<br />

a eletrónica não ficou esquecida:<br />

“Sempre que alguma coisa se avaria<br />

em casa, sou eu que resolvo!•, confessa,<br />

de sorriso cúmplice.•


Não se separa <strong>do</strong> Android (um Samsung<br />

Note 20 Ultra 5G) nem para<br />

<strong>do</strong>rmir. É ele que o desperta to<strong>do</strong>s os<br />

dias<br />

Tem um HP Elite Book, mas que em<br />

breve será substituí<strong>do</strong> pelo Surface<br />

Laptop Studio, da Microsoft<br />

O Fénix, que traz sempre no pulso,<br />

controla a sua performance desportiva<br />

como ninguém<br />

45


negocios<br />

46


PARA<br />

O 5G<br />

E MAIS<br />

ALÉM!<br />

As tower companies ou<br />

towercos nasceram para<br />

libertar as opera<strong>do</strong>ras<br />

de telecomunicações de<br />

encargos com as suas<br />

redes de infraestruturas,<br />

mas também para<br />

lhes dar o chão de que<br />

precisam para levantar<br />

voo. No advento <strong>do</strong> 5G,<br />

estão a dar o máximo<br />

para recuperar o tempo<br />

perdi<strong>do</strong>.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO<br />

FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />

47


negocios<br />

48<br />

Quan<strong>do</strong> ficou concluí<strong>do</strong> o<br />

leilão de 5G, em outubro<br />

de 2021, to<strong>do</strong>s respiraram<br />

de alívio. Tinha si<strong>do</strong> uma<br />

longa espera, com muito nervosismo<br />

à mistura. Temia-se o pior:<br />

que com o atraso provoca<strong>do</strong> pelo<br />

desfecho tardio <strong>do</strong> leilão, as opera<strong>do</strong>ras<br />

ficassem muito para trás,<br />

relativamente às suas congéneres<br />

europeias, na implementação<br />

das novas redes. Passa<strong>do</strong> cerca de<br />

ano e meio já é possível avaliar se<br />

os estragos desse compasso de espera<br />

foram tão relevantes como<br />

se antecipava. Até ao fim de 2023<br />

há deadlines que é preciso cumprir<br />

quanto às obrigações de cobertura<br />

que estão associadas ao espectro<br />

que cada uma das opera<strong>do</strong>ras<br />

conseguiu ganhar e esse é um tech<br />

plan que depende, em muito, <strong>do</strong><br />

trabalho das towerco. Como é que<br />

elas se estão a sair? João Mora, que<br />

acaba de assumir a função de managing<br />

director da Cellnex Portugal,<br />

diz que a empresa conseguiu,<br />

em grande medida, recuperar o<br />

tempo perdi<strong>do</strong>: “Fizemo-lo através<br />

de uma instalação bastante<br />

acelerada e adaptação das nossas<br />

infraestruturas para conseguirem<br />

albergar o 5G”. Para este desafio, a<br />

palavra de ordem é aceleração: “Já<br />

fizemos mais de 3 mil adaptações<br />

aos nossos sites para os <strong>do</strong>tar de<br />

tecnologia 5G e as opera<strong>do</strong>ras que<br />

são nossas clientes continuam em<br />

ritmos bastante acelera<strong>do</strong>s de implementação de toda<br />

a tecnologia (antenas, equipamentos de rádio, todas as<br />

infraestruturas de backbone que permitem depois a disponibilização<br />

<strong>do</strong> 5G). A sua perceção é de que, embora<br />

os prazos a cumprir sejam exigentes, tu<strong>do</strong> vai correr<br />

bem: “Temos uma equipa fantástica, de mais de 60 pessoas,<br />

que dão o seu máximo, e um conjunto de parceiros<br />

muito experientes e profissionais que nos dão apoio<br />

de campo”, explica, para justificar o seu otimismo.<br />

A Cellnex, que foi a primeira empresa europeia a<br />

construir uma rede de empresas de torres e que se mantém<br />

até hoje líder <strong>do</strong> setor, gere em Portugal mais de 6<br />

mil infraestruturas de vários tipos. Entrou no merca<strong>do</strong><br />

“Apesar de não ter si<strong>do</strong> tão dramático como se previa, o atraso <strong>do</strong> leilão <strong>do</strong> 5G não foi<br />

fácil de gerir”, partilha Paolo Favaro<br />

nacional quan<strong>do</strong>, em janeiro de 2020, comprou à Altice<br />

Europe 25% da sua posição na Omtel, a sua empresa<br />

de torres no merca<strong>do</strong> nacional. Mais tarde, adquiriu<br />

a Omtel na totalidade e também a NOS Towering (da<br />

NOS). A estes investimentos foram-se soman<strong>do</strong> outras<br />

operações, como a compra de torres de telecomunicações<br />

à Altice, à ONI e à NOS.<br />

Desde que começou a sua atividade no merca<strong>do</strong> nacional<br />

já realizou, segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s que divulgou na última<br />

edição <strong>do</strong> <strong>Congress</strong>o da APDC, “mais de 3 mil intervenções”<br />

e, das infraestruturas que adicionou à rede<br />

nacional, “90% são fora <strong>do</strong>s grandes centros urbanos”.<br />

Para o desenvolvimento da rede de 5G em Portugal,


At Nokia we create<br />

technology that helps<br />

the world act together


negocios<br />

50<br />

a Cellnex estabeleceu também<br />

“uma parceria estratégica de<br />

longo prazo” com a opera<strong>do</strong>ra<br />

romena Digi. Após o leilão<br />

realiza<strong>do</strong> em 2021, ficou com<br />

lotes de espectro, asseguran<strong>do</strong><br />

assim a entrada no merca<strong>do</strong><br />

português. Esta parceria inclui<br />

a implementação de 2 mil PoPs<br />

(points of presence) até final deste<br />

ano.<br />

ALINHADOS PELO MESMO<br />

OBJETIVO<br />

Paolo Favaro, managing director<br />

da Vantage Towers, um spin off<br />

da Vodafone, também estabeleceu<br />

como prioridade ajudar ao<br />

“cumprimento das obrigações<br />

que estão ligadas ao leilão <strong>do</strong><br />

5G” pelas opera<strong>do</strong>ras suas clientes:<br />

“Estamos muito foca<strong>do</strong>s na<br />

construção <strong>do</strong>s sites novos que<br />

serão necessários. Esses sites<br />

são para zonas que não tinham<br />

cobertura, ou que não tinham<br />

cobertura adequada. Estamos<br />

a gerir to<strong>do</strong> este processo, end<br />

to end, no que respeita à gestão<br />

da construção e à ligação à rede<br />

elétrica”.<br />

Ten<strong>do</strong> inicia<strong>do</strong> a sua atividade<br />

em 2020, a Vantage Towers<br />

já está presente em oito países.<br />

No merca<strong>do</strong> nacional tem como<br />

clientes todas as opera<strong>do</strong>ras que<br />

estão a funcionar no setor e já<br />

apresenta no seu portfólio 3.500<br />

sites intervenciona<strong>do</strong>s. Paolo Favaro diz que, “apesar<br />

de não ter si<strong>do</strong> tão dramático como se previa, o atraso<br />

<strong>do</strong> leilão <strong>do</strong> 5G não foi fácil de gerir”. Factores como<br />

a guerra na Ucrânia e a inflação tornaram tu<strong>do</strong> muito<br />

mais complica<strong>do</strong>: “Com a guerra, os custos <strong>do</strong> aço<br />

e da energia dispararam. Depois da pandemia surgiu<br />

este problema e a mistura <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is foi explosiva. Tivemos<br />

de trabalhar muito para fazer uma revisão <strong>do</strong> processo<br />

to<strong>do</strong> em termos de custos, para que se pudesse<br />

cumprir com o prazo de entregas e com as expetativas<br />

<strong>do</strong>s clientes relativamente a custos. Necessitámos de<br />

otimizar o processo”, desabafa o managing director da<br />

Vantage Towers.<br />

“O 5G é um projeto prioritário para o nosso país, mas temos outras tecnologias nas<br />

nossas infraestruturas, como a IoT, que permitem prestar serviços bastante diversos”,<br />

salienta João Mora<br />

Paolo Favaro refere também os problemas de fornecimento<br />

de materiais que foi, e ainda está a ser, necessário<br />

enfrentar. A ligação à rede elétrica, um processo<br />

muito demora<strong>do</strong> e que não se pode começar sem que<br />

antes se determinem os sítios certos para se construir<br />

os sites, está a colocar muita pressão na equipa, salienta:<br />

“Tu<strong>do</strong> começou atrasa<strong>do</strong>. A E-REDES, que está a<br />

gerir este processo, esteve muito ocupada e não só por<br />

causa <strong>do</strong> 5G. Há muitas <strong>coisas</strong> a acontecer, muitos investimentos<br />

por causa <strong>do</strong> PRR e todas essas <strong>coisas</strong> precisam<br />

de atenção”.<br />

Stress à parte, a verdade é que o setor está em alta.


Sim, temos<br />

a net móvel 5G<br />

mais rápida<br />

de Portugal e não só<br />

O 5G da NOS em Lisboa ou no Porto<br />

é ainda mais rápi<strong>do</strong> que o mais rápi<strong>do</strong><br />

de Londres, Paris ou Barcelona<br />

5G mais rápi<strong>do</strong> de Portugal basea<strong>do</strong> em análise Ookla® de da<strong>do</strong>s Speedtest Intelligence® 3T-4T 2022.<br />

Comparação entre cidades baseada em análise NOS de da<strong>do</strong>s Speedtest Intelligence® 3T-4T 2022 de<br />

velocidade mediana de <strong>do</strong>wnload 5G em Lisboa e Distrito <strong>do</strong> Porto vs. velocidade mediana de <strong>do</strong>wnload 5G<br />

em Londres, Paris e Barcelona. As marcas comerciais Ookla® são usadas sob licença e reprodução autorizada.


negocios<br />

MAIS RESILIÊNCIA, S.F.F.<br />

AO CONTRÁRIO da Vantage Towers e da Cellnex,<br />

que apostaram em infraestruturas de rede<br />

móvel, a FastFiber tem tecnologia de rede<br />

fixa, com infraestruturas de fibra ótica. Presente<br />

num debate com a Cellnex e a Vantage<br />

Towers, sobre o futuro <strong>do</strong> setor, no âmbito<br />

da última edição <strong>do</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

da APDC – a FastFiber, na pessoa <strong>do</strong> seu CEO,<br />

Pedro Rocha, manifestou preocupação pela<br />

ainda pouco resiliente rede de infraestruturas<br />

civis <strong>do</strong> país. Segun<strong>do</strong> o CEO, esta vulnerabilidade<br />

inibirá os opera<strong>do</strong>res upper scalers de<br />

fazer grandes investimentos: “Hoje, Portugal<br />

é visto como porta de entrada de conectividade<br />

de grandes da<strong>do</strong>s, com implementação<br />

de data centres e com a atracagem de cabos<br />

submarinos que ligam a Europa, a América,<br />

África e Mediterrâneo. Esses opera<strong>do</strong>res têm<br />

uma exigência de qualidade de rede de fibra<br />

que é significativa. As nossas redes de fibra<br />

são boas, mas ainda não estão preparadas<br />

para esse grau de exigência, por causa das<br />

infraestruturas civis onde se deslocam. Ainda<br />

há muita rede de fibra que está assente em<br />

traça<strong>do</strong> aéreo e que tem de migrar para<br />

traça<strong>do</strong> em conduta. Sem essa resiliência da<br />

rede, as opera<strong>do</strong>ras não investirão”, frisou.<br />

Apesar deste S.O.S., Pedro Rocha não se<br />

queixa: “Temos uma rede de fibra que ocupa<br />

92% <strong>do</strong> território nacional e uma taxa de<br />

penetração de mais de 85% de to<strong>do</strong>s os lares<br />

existentes no país”, afirma. Falta só subir a<br />

fasquia e não perder as oportunidades que<br />

se abrem ao país no plano da conectividade<br />

internacional.•<br />

52<br />

Os analistas dizem que será inevitável assistir-se, a prazo,<br />

a um processo de concentração destes opera<strong>do</strong>res<br />

de redes, uma vez que o merca<strong>do</strong> não vai chegar para<br />

to<strong>do</strong>s e a fiberização tem os seus limites físicos, mas<br />

a verdade é que esse cenário não preocupa estes <strong>do</strong>is<br />

players. João Mora diz que o que vê é “uma crescente<br />

necessidade de instalação de mais equipamentos” nas<br />

suas infraestruturas, sublinhan<strong>do</strong> que, além <strong>do</strong> 5G, há<br />

novas tecnologias a reclamar espaço nas redes que gere<br />

e constrói: “O 5G é um projeto prioritário para o país,<br />

mas temos outras tecnologias nas nossas infraestruturas,<br />

como a rede de IoT, que permite aqui em Portugal,<br />

através <strong>do</strong>s mais de 3 mil sites que temos com essa<br />

tecnologia, prestar serviços bastante diversos, como<br />

IA para detetar fugas de água, ou fazer localização de<br />

animais em terrenos agrícolas. Essas tecnologias também<br />

permitem to<strong>do</strong> um ecossistema de conta<strong>do</strong>res<br />

digitais, de monitorização de veículos como bicicletas<br />

e trotinetas. Na área <strong>do</strong>s resíduos existe, igualmente,<br />

um conjunto de aplicações muito interessantes. No<br />

seu conjunto, estas funcionalidades são uma mais-valia<br />

para o país”, enumera, com entusiasmo. Só o tema<br />

das smart cities, refere, assegura um número sem fim de<br />

oportunidades para as towercos.<br />

O discurso <strong>do</strong> managing director da Vantage Towers<br />

não é muito diferente: “O nosso merca<strong>do</strong> ainda<br />

está a ser cria<strong>do</strong>, portanto estamos longe da saturação.<br />

Há muitos projetos a andar e que estão a ser planea<strong>do</strong>s<br />

para o futuro. Podemos mesmo dizer que o merca<strong>do</strong><br />

ainda está imaturo”, sublinha Paolo Favaro. “Se<br />

estivéssemos a falar de opera<strong>do</strong>ras”, acrescenta, “seria<br />

diferente, porque esse merca<strong>do</strong> já existe há cerca de 30<br />

anos. E não por acaso estamos a ver, hoje em dia, muitas<br />

fusões a acontecerem entre opera<strong>do</strong>ras”.<br />

Ao contrário, consideram Paolo e João, o merca<strong>do</strong><br />

onde as towerco se movem ainda é sexy. “Há inúmeros<br />

players que estão a entrar”, salienta Paolo. De facto, há<br />

infraestruturas que podem oferecer a novos players, há<br />

smart cities a precisar <strong>do</strong>s seus serviços para soluções<br />

cada vez mais desafiantes. Isto significa que, no horizonte,<br />

se perfilam novos paradigmas por explorar. De<br />

resto, no jargão das tower companies existe o acrónimo<br />

OTMO, que significa Other Than Mobile Operators. Ao<br />

contrário das opera<strong>do</strong>ras de telecomunicações, grandes<br />

pesos pesa<strong>do</strong>s que existem em número limita<strong>do</strong>,<br />

os OTMO poderão ser mais que muitos. E embora, individualmente,<br />

não tragam grandes investimentos ao<br />

setor, assegurarão múltiplos pequenos e médios projetos.<br />

Ou seja, uma constelação de oportunidades que<br />

iluminará o caminho às towerco ainda durante muitos<br />

anos. Para já, este merca<strong>do</strong> está pujante. E o futuro,<br />

longe de ser uma ameaça, insinua-se risonho.•


management<br />

54


CENTENNIALS<br />

O NÓ<br />

GÓRDIO DAS<br />

CONTRATAÇÕES<br />

As características <strong>do</strong>s centennials não<br />

nasceram de geração espontânea. Se é<br />

complica<strong>do</strong> contratá-los e ainda mais<br />

difícil retê-los é porque há fatores que os<br />

levam a ser como são. As responsabilidades,<br />

claro, dividem-se entre eles e a geração que<br />

os recruta.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />

Como em todas as situações que<br />

se complicam, aqui não há inocentes.<br />

As queixas de ambos os<br />

la<strong>do</strong>s existem e parecem consistentes,<br />

de tal forma que visto de fora<br />

este conflito mais parece um nó górdio:<br />

com os centennials (jovens nasci<strong>do</strong>s<br />

entre 1997 e 2010) a queixarem-se de<br />

que não lhes oferecem as condições de<br />

trabalho que entendem merecer e os<br />

emprega<strong>do</strong>res a acusar a mais recente<br />

geração a entrar no merca<strong>do</strong> laboral –<br />

também conhecida por Geração Z – de<br />

ser preguiçosa, demasia<strong>do</strong> exigente e<br />

incapaz de “vestir a camisola”.<br />

Diogo Santos, associate partner da<br />

Deloitte Portugal, diz que este diferen<strong>do</strong><br />

é reflexo de um evidente generation<br />

gap entre quem contrata e quem é contrata<strong>do</strong>.<br />

Na verdade, uma breve análise<br />

<strong>do</strong>s factos dá-lhe razão. Se é certo que,<br />

como disse Ortega Y Gasset, “o homem<br />

é o homem e a sua circunstância”, basta<br />

consultar o fio <strong>do</strong> tempo para perce-<br />

55


management<br />

56<br />

ber o que determinou as diferenças entre as gerações<br />

que compõem hoje o merca<strong>do</strong> de trabalho.<br />

Os baby boomers (nasci<strong>do</strong>s entre 1945 e 1964) que<br />

ainda restam no ativo, estão a chegar à idade da reforma.<br />

Últimos representantes da geração que inventou<br />

os hippies e a cultura <strong>do</strong> flower power, quan<strong>do</strong> chegaram<br />

ao merca<strong>do</strong> de trabalho em Portugal ainda era<br />

fácil encontrar um bom emprego desde que se tivesse<br />

uma licenciatura, por isso a competição e o carreirismo<br />

não pautavam o comportamento da maioria. Já os<br />

que vieram a seguir (nasci<strong>do</strong>s entre 1965 e 1981) e hoje<br />

ocupam a maioria <strong>do</strong>s lugares de liderança, assumiram<br />

uma atitude radicalmente diferente. Designada por<br />

Geração X, foi dela que nasceram os yuppies, jovens que<br />

fizeram carreira no merca<strong>do</strong> financeiro e que tinham<br />

por meta enriquecer antes <strong>do</strong>s 40.<br />

Chegada ao merca<strong>do</strong> de trabalho nos anos 90,<br />

quan<strong>do</strong> a economia ocidental se encontrava pujante,<br />

foi esta a geração que mu<strong>do</strong>u o senti<strong>do</strong> da palavra “ambição”<br />

(antes considerada um defeito) e pôs o termo<br />

“competitividade” no mapa. Foi também com ela que<br />

a expressão “workaholic” se popularizou. Diogo Santos<br />

ajuda a contextualizar: “Esta geração sentia que tinha<br />

de investir no início da carreira para ter retorno mais<br />

tarde. E que, para manter a sua competitividade salarial,<br />

tinha de apostar na carreira”. Mas “essa pressa<br />

de chegar/ para não chegar tarde” esbarrou numa crise<br />

económica, que contraiu violentamente o merca<strong>do</strong> de<br />

trabalho.<br />

Os millenials, também conheci<strong>do</strong>s como Geração<br />

Y (nasci<strong>do</strong>s entre 1982 e 1994), quan<strong>do</strong> chegaram ao<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho encontraram muitos escombros,<br />

exemplos de vidas precárias, alguns casos que acompanharam<br />

de perto, no seio familiar. Perceberam que<br />

o sucesso depende de múltiplos fatores, nem to<strong>do</strong>s<br />

edificantes. Vozes como a de Sir Paul Collier, professor<br />

de Economia e de Política Pública na Blavatnik School<br />

of Government, da Universidade de Oxford, que acusam<br />

“os negócios” de terem coloca<strong>do</strong> “os lucros acima<br />

<strong>do</strong> propósito, não confian<strong>do</strong> na sua força de trabalho”,<br />

o que resultou na “polarização entre uma minoria que<br />

teve muito sucesso e uma maioria que não o conseguiu”,<br />

foram ouvidas e o tema <strong>do</strong> “propósito” começou<br />

a emergir no mindset <strong>do</strong>s millenials como um objetivo de<br />

vida.<br />

A cereja no topo <strong>do</strong> bolo foi a pandemia que veio a<br />

seguir. Não admira que esta geração seja descrita pelos<br />

analistas como pessimista. Diogo Santos refere que,<br />

num estu<strong>do</strong> da Deloitte, foi essa a avaliação que se fez:<br />

“As pessoas desta geração (os centennials) querem construir<br />

uma vida com menos desafios e mais felicidade”, defende<br />

Frederico Canto e Castro, empresário de 29 anos<br />

“Por terem sofri<strong>do</strong> na pele certos problemas, os millenials,<br />

de acor<strong>do</strong> com os estu<strong>do</strong>s que fizemos, são mais<br />

pessimistas que a geração seguinte”.<br />

Na geração Y, que está agora na casa <strong>do</strong>s trinta, e<br />

de acor<strong>do</strong> com os mais recentes estu<strong>do</strong>s da Deloitte,<br />

existe “maior pragmatismo”. Herdaram <strong>do</strong>s pais o espírito<br />

competitivo, algo que continua a ser necessário<br />

em tempos de crise, mas já não esperam encontrar<br />

um pote de ouro no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> arco-íris. Segun<strong>do</strong> Diogo<br />

Santos, são os que colocam “maior foco naquilo que<br />

é o confortable living wage”, ou seja, a expetativa de ter<br />

um salário que lhes assegure a qualidade de vida que<br />

acham que devem ter.<br />

MAIS DO QUE DINHEIRO, FELICIDADE<br />

Com os millenials, o mun<strong>do</strong> laboral ganhou literacia digital.<br />

Não sen<strong>do</strong> nativa, esta geração habituou-se à tecnologia<br />

muito ce<strong>do</strong> na vida. E, ao contrário <strong>do</strong>s pais,


que acederam alegremente a viver para trabalhar, os Y<br />

aprenderam, ao ver exemplos entre os mais velhos, que<br />

nem to<strong>do</strong>s os que dão o corpo e a alma pelo trabalho<br />

são bem-sucedi<strong>do</strong>s. Por isso, trouxeram para cima da<br />

mesa o tema <strong>do</strong> work-life-balance.<br />

É neste contexto que entra em cena a Geração Z. Os<br />

enfants terribles que andam a pôr os emprega<strong>do</strong>res loucos.<br />

O que é que estes miú<strong>do</strong>s querem? Mais <strong>do</strong> que dinheiro,<br />

felicidade: “As pessoas desta geração acreditam<br />

que o caminho anterior não é o caminho certo. Querem<br />

construir uma vida com menos desafios e mais felicidade”<br />

– quem o afirma é Frederico Canto e Castro,<br />

um empresário de 29 anos, chairman da agência de modelos<br />

Sonder e CEO da Seekers, empresa cujo produto é<br />

o Life Mba, um programa educativo que Frederico define<br />

como “de partilha de conhecimentos e ferramentas<br />

que são essenciais para a vida, mas não são ensinadas<br />

na escola”. Literacia financeira, saúde mental e gestão<br />

de tempo são algumas das matérias <strong>do</strong> Life Mba.<br />

A sua idade coloca-o na zona de fronteira entre os<br />

millenials e os Z, por isso diz que os entende bem e partilha<br />

os seus valores. Como emprega<strong>do</strong>r, assegura que<br />

nunca teve razões de queixa: “A partir <strong>do</strong> momento em<br />

que uma pessoa sente que o seu trabalho tem um impacto<br />

muito direto na vida <strong>do</strong>s outros e que está ativamente<br />

a melhorar algo, envolve-se no projeto. Se tiver<br />

autonomia para fazer o seu trabalho e apoio da liderança,<br />

a parte emocional está lá praticamente toda”, responde,<br />

dan<strong>do</strong> a entender que é o que se passa com as<br />

suas equipas. Assume, porém, que a questão <strong>do</strong> salário<br />

não pode ser escamoteada: “Esta geração, ao contrário<br />

de outras, não está só à procura de receber um salário,<br />

mas claro que se tu<strong>do</strong> dependesse apenas <strong>do</strong> salário<br />

emocional, então as pessoas dedicavam-se a hobbies”.<br />

Relativamente a este tema, Frederico Canto e Castro<br />

é frontal: “Visto que estamos numa guerra por talento<br />

tão forte, as empresas não podem pensar só nas suas<br />

obrigações perante os acionistas. Têm de pagar às pessoas<br />

aquilo que elas merecem”.<br />

<strong>Presidente</strong> da ANJE (Associação Nacional de Jovens<br />

Empresários) há três anos, Alexandre Meirelles tem<br />

ideias muito definidas sobre esta tensão latente entre<br />

emprega<strong>do</strong>res e jovens em início de carreira: “Não<br />

concor<strong>do</strong> que esta geração seja preguiçosa, que queira<br />

fazer pouco e que esteja sempre a reivindicar. Acho é<br />

que estamos perante uma geração muito mais bem informada<br />

e que percebeu que tem outro tipo de direitos<br />

(que se calhar a geração anterior ainda não tinha<br />

percebi<strong>do</strong>). Por isso há que dar espaço a estes jovens.<br />

O presidente da ANJE, Alexandre Meirelles, não tem dúvidas:<br />

“Quan<strong>do</strong> eles (os centennials) se queixam de que não há<br />

condições, o que dizem, na essência, é que não há bons salários<br />

para eles”<br />

Quan<strong>do</strong> eles se queixam de que não há condições, o<br />

que dizem, na essência, é que não há bons salários para<br />

eles”.<br />

Alexandre Meirelles afirma que esta crise tem um<br />

nome: “transição geracional”. E acredita que, em vez<br />

de problema, estes jovens são a solução para a economia<br />

nacional: “Esta geração está muito bem preparada<br />

para estar em cargos de tomada de decisão, tanto no<br />

público como no priva<strong>do</strong>”. A disrupção que os centennials<br />

trouxerem à máquina <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e às empresas<br />

será, na opinião <strong>do</strong> presidente da ANJE, um fator-chave<br />

para mudar a economia <strong>do</strong> país: “Temos um país de<br />

PME e culturalmente com problemas a nível empresarial.<br />

Não existe, por exemplo, uma cultura empresarial<br />

de fusões, aquisições, joint ventures, smart money, capital<br />

estratégico. Nestes pontos, a nova geração está muito<br />

mais bem preparada. E nós precisamos de dar dimensão<br />

à nossa economia. Nas startups não se importam<br />

57


management<br />

de ter menos participação numa coisa maior. Preferem<br />

esse caminho <strong>do</strong> que ter uma grande participação<br />

numa coisa mais pequena. Isto revela uma diferença<br />

de mentalidade brutal. E em termos de contribuição<br />

para o PIB, esta atitude face à posse <strong>do</strong> capital faz enorme<br />

diferença”.<br />

58<br />

NÃO SÃO PIORES, SÃO DIFERENTES<br />

Segun<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> “Gen z and Millenial Survey 2022”<br />

da Deloitte, basea<strong>do</strong> num inquérito feito, entre novembro<br />

de 2021 e abril de 2022, a 14.808 centennials e<br />

8.412 millenials de 46 países, ambas as gerações sofrem<br />

de ansiedade financeira e preferem trabalho com mais<br />

propósito e flexível. Muitos sentem-se burned out, por<br />

terem de acumular, em diversos casos, <strong>do</strong>is empregos<br />

para se sustentarem. Esta circunstância sensibilizou<br />

muitas empresas para a importância de desenvolverem<br />

programas de proteção da saúde mental no meio<br />

laboral.<br />

A oferta de melhor salário, work-life-balance, mais<br />

suporte à saúde física e mental, oportunidades de carreira,<br />

formação e a prossecução de políticas sustentáveis<br />

são as melhores estratégias para os atrair e reter<br />

– também revela este estu<strong>do</strong>.<br />

Como é que tu<strong>do</strong> isto se materializa? Com salários<br />

mais eleva<strong>do</strong>s, mas também com horários flexíveis.<br />

Frederico Canto e Castro diz que tem to<strong>do</strong>s os seus colabora<strong>do</strong>res<br />

em regime de full time remote e sabe o quanto<br />

isso é valoriza<strong>do</strong> pelas suas equipas. Como é que<br />

esta apetência se compagina com a oferta tradicional<br />

das empresas? Diogo Santos tem a noção de que é uma<br />

tendência com repercussões “gigantescas” nas organizações.<br />

Mas o que fazer quan<strong>do</strong> há escassez de talento<br />

e são os candidatos que lideram as contratações? O<br />

partner da Deloitte diz que os empresários se têm de<br />

adaptar aos novos tempos: “Se calhar, a força de trabalho<br />

que têm de passar a considerar deverá ser uma pool<br />

variada, constituída por subcontrata<strong>do</strong>s, freelancers e<br />

pessoas que <strong>fazem</strong> parte <strong>do</strong>s quadros”.<br />

A geração Z, diz Diogo Santos, “não é pior nem melhor<br />

<strong>do</strong> que as anteriores. É diferente”. Por isso, antes<br />

de começar a julgá-la, é importante tentar percebê-la:<br />

“Mudar mais frequentemente de emprego – uma das<br />

características que mais lhe criticam – não deve ser visto<br />

como sinónimo de falta de compromisso. Não é por<br />

uma pessoa mudar de emprego de <strong>do</strong>is em <strong>do</strong>is anos<br />

que é menos dedicada <strong>do</strong> que uma que permanece<br />

numa empresa há dez. Esta geração tem é uma expetativa<br />

diferente relativamente àquilo que pensa que é<br />

melhor para o seu futuro profissional. Acha que é importante<br />

a diversidade de experiências e alargar a sua<br />

rede de contactos”, sublinha.<br />

Diogo Santos, partner da Deloitte, sobre a geração Z: “Mudar<br />

mais frequentemente de emprego – umas das características<br />

que mais lhe criticam – não deve ser visto como sinónimo de<br />

falta de compromisso”<br />

Também se diz <strong>do</strong>s centennials que, por preferirem<br />

trabalhar em remoto, são menos comprometi<strong>do</strong>s e só<br />

pensam no seu conforto, algo que, mais uma vez, Diogo<br />

Santos desmonta: “Falamos de uma geração que é<br />

nativa digital, com licenciaturas e partes de mestra<strong>do</strong>s<br />

feitas em digital. To<strong>do</strong>s os trabalhos de grupo que fizeram<br />

foi em contexto digital. Então porque é que, no<br />

contexto profissional, isso é negativo?”.<br />

A resistência a esta nova maneira de estar no trabalho<br />

existe por parte <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>res, mas a realidade<br />

é o que é. E, entretanto, o turnover estrutural <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong>, em áreas como a tecnologia, já é superior a<br />

20%. O que é que isto indica? “Que os instrumentos de<br />

retenção que funcionavam para pessoas que tinham<br />

como premissa ficar dez ou 15 anos na mesma empresa<br />

não podem ser os mesmos para as pessoas que assumem<br />

que querem mudar a cada <strong>do</strong>is anos”, responde<br />

Diogo Santos. Apetece dizer: “Elementar, meu caro<br />

Watson!”.•


portugal digital<br />

ALFREDO,<br />

O MORDOMO QUE<br />

FALTAVA AO SETOR<br />

IMOBILIÁRIO<br />

A história da Alfre<strong>do</strong> AI tem um ponto de partida<br />

que é um clássico: um grupo de jovens, acaba<strong>do</strong>s<br />

de sair da universidade, tropeça numa dificuldade<br />

que inspira uma ideia. O resto, já o mun<strong>do</strong><br />

conhece. Do “momento Eureka” ao presente, foi<br />

sempre a subir.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS VÍTOR GORDO/SYNCVIEW<br />

60


61


portugal digital<br />

62<br />

O<br />

tempo passa a correr. Já lá vão mais de quatro<br />

anos, desde o dia em que Guilherme Farinha,<br />

Mário Gamas e Gonçalo Abreu descobriram que<br />

enfrentavam as mesmas dificuldades. Queriam<br />

iniciar uma nova etapa nas suas vidas, que passava por<br />

encontrar uma casa para morar à medida das suas possibilidades<br />

e desejos, mas não era fácil resolver a questão<br />

tão depressa quanto imaginavam. A razão era simples:<br />

não existia muita informação disponível sobre o<br />

merca<strong>do</strong> imobiliário a que pudessem aceder. E mesmo<br />

recorren<strong>do</strong> a promotores imobiliários, a situação não<br />

melhorava substancialmente. Esse vazio, concluíram,<br />

só queria dizer uma coisa: que nem os profissionais <strong>do</strong><br />

setor tinham ao seu dispor informação tratada, que<br />

lhes facilitasse o trabalho e robustecesse o apoio presta<strong>do</strong><br />

aos seus clientes.<br />

Guilherme, Mário e Gonçalo, ex-alunos <strong>do</strong> Instituto<br />

Superior Técnico (IST), tinham background estatístico<br />

e tecnológico para somar 2+2 e identificar ali uma<br />

oportunidade de negócio. Foi o que aconteceu. Como<br />

quase sempre sucede com as boas histórias de inovação,<br />

os seus interesses pessoais<br />

e capacidades técnicas<br />

ficaram alinha<strong>do</strong>s por<br />

mero acaso, mas não desperdiçaram<br />

a feliz conjunção<br />

astral.<br />

Juntos desenharam a<br />

primeira versão <strong>do</strong> que viria<br />

a tornar-se o algoritmo<br />

de estimativas mais utiliza<strong>do</strong><br />

em Portugal. Mas<br />

era necessário fazer uma<br />

aproximação ao setor. Em<br />

outubro desse ano essa oportunidade surgiu através <strong>do</strong><br />

Salão Imobiliário de Portugal, que se realizava na FIL.<br />

Foi durante essa exposição, a partir de conversas tidas<br />

com profissionais <strong>do</strong> ramo, que lhes surgiu a ideia para<br />

o primeiro produto: um estu<strong>do</strong> de merca<strong>do</strong> residencial<br />

potencia<strong>do</strong> por inteligência artificial.<br />

De repente, de ex-colegas passavam a sócios e como<br />

mantinham ligação ao Instituto Superior Técnico, com<br />

a bênção de alguns professores, lançaram a startup Alfre<strong>do</strong><br />

AI, integra<strong>do</strong>s na comunidade de spin off <strong>do</strong> IST.<br />

O nome Alfre<strong>do</strong> foi escolhi<strong>do</strong> porque lhes pareceu<br />

ser muito adequa<strong>do</strong> para um mor<strong>do</strong>mo, figura que enquadra<br />

bem as funções para que o algoritmo foi desenha<strong>do</strong>:<br />

“O mote da empresa sempre foi ajudar, facilitar<br />

e dar tempo de volta às pessoas e de facto foi com esse<br />

objetivo que concebemos o Alfre<strong>do</strong>. Ele é quase um<br />

Como quase sempre sucede<br />

com as boas histórias<br />

de inovação, interesses<br />

pessoais e capacidades<br />

técnicas estavam alinha<strong>do</strong>s<br />

mor<strong>do</strong>mo que ajuda na parte chata <strong>do</strong> trabalho, que<br />

é o da coleção, extração e análise de da<strong>do</strong>s”, explica<br />

Gonçalo Abreu. O antropomorfismo que o nome sugere<br />

aju<strong>do</strong>u, segun<strong>do</strong> o co-founder, a transmitir ao setor<br />

imobiliário a ideia de que esta ferramenta existia para<br />

ajudar os seus profissionais.<br />

Hoje, a Alfre<strong>do</strong> AI já tem concorrentes, mas quan<strong>do</strong><br />

começou, a inteligência artificial quase não era<br />

usada no merca<strong>do</strong> imobiliário, por isso foi fácil entrar<br />

a pés juntos. Em menos de <strong>do</strong>is anos a startup conquistou<br />

cerca de 2000 clientes, entre analistas, media<strong>do</strong>res<br />

imobiliários, avalia<strong>do</strong>res, banca e fun<strong>do</strong>s de investimento.<br />

Esta rápida adesão foi o maior indica<strong>do</strong>r que<br />

poderia haver da necessidade de ferramentas com tecnologia<br />

baseada em IA no setor.<br />

ALGORITMOS “HAND MADE”<br />

Olhan<strong>do</strong> à distância para o caminho percorri<strong>do</strong>, Gonçalo<br />

Abreu não disfarça o orgulho: “O Alfre<strong>do</strong>, ao ser a<br />

primeira ferramenta <strong>do</strong> género dedicada a este setor,<br />

aju<strong>do</strong>u a melhorar muito os seus processos. Trouxe<br />

novos méto<strong>do</strong>s, novos conhecimentos,<br />

aumentou a<br />

eficiência, popularizou no<br />

país o uso de estatística no<br />

imobiliário e isso é muito<br />

importante”.<br />

O sucesso não lhes<br />

tem da<strong>do</strong> descanso, pelo<br />

contrário. Benefician<strong>do</strong><br />

da proximidade com as<br />

faculdades de engenharia<br />

onde a inteligência artificial<br />

nasceu e está a ser<br />

desenvolvida em Portugal, a Alfre<strong>do</strong> AI tenta manter-se<br />

na vanguarda, trazen<strong>do</strong> novos produtos para o<br />

merca<strong>do</strong> imobiliário e aperfeiçoan<strong>do</strong> o serviço que já<br />

disponibiliza. A concorrência crescente que atualmente<br />

enfrenta, não assusta: “Diria que acima de tu<strong>do</strong> temos<br />

a nosso favor <strong>do</strong>is vértices: a nossa qualidade algorítmica<br />

– usamos algoritmos que foram totalmente<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pela nossa equipa, não usamos versões<br />

de prateleira, que já existem feitas. A nossa segunda<br />

qualidade é a facilidade de uso: os nossos clientes conseguem,<br />

por exemplo, ver tu<strong>do</strong> o que pretendem consultar<br />

numa só plataforma, o que é bastante funcional.<br />

Dizem que a nossa ferramenta parece desenhada por<br />

pessoas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário para o merca<strong>do</strong> imobiliário<br />

e isso deixa-nos muito sartisfeitos”, comenta<br />

Gonçalo Abreu.


A Alfre<strong>do</strong> AI já está a expandir para fora <strong>do</strong> país. No Reino Uni<strong>do</strong> esta equipa já conquistou o Global Entrepeneur Award, patrocina<strong>do</strong><br />

pelo governo inglês<br />

Hoje o Alfre<strong>do</strong> funciona em três vértices: ajuda à<br />

conceção de estu<strong>do</strong>s de merca<strong>do</strong> – essenciais na angariação<br />

de novos clientes e nos processos de avaliação.<br />

Disponibiliza um módulo de meta search e analítica,<br />

onde os utiliza<strong>do</strong>res da plataforma conseguem ver tendências<br />

macro e micro económicas e colocar as suas<br />

próprias perguntas. Questões como: “Quero comparar<br />

as dinâmicas <strong>do</strong> Bairro Alto e <strong>do</strong> Bairro Azul, no que<br />

diz respeito a apartamentos<br />

T2 e T3”, podem ser facilmente<br />

respondidas. Em<br />

cima disto os utiliza<strong>do</strong>res<br />

conseguem ter um acesso<br />

360 graus a tu<strong>do</strong> o que<br />

está no merca<strong>do</strong>, poupan<strong>do</strong><br />

tempo que gastariam a<br />

consultar várias plataformas<br />

com informações duplicadas<br />

e eventualmente<br />

menos consistentes. O<br />

terceiro vértice <strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong><br />

é o da geração de leads de negócio: hoje há muitos players<br />

no merca<strong>do</strong> português que têm sites sobre avaliação<br />

imóvel (são aplicações online, todas dinâmicas, que<br />

conseguem fazer uma estimativa <strong>do</strong> imóvel na hora.<br />

A Alfre<strong>do</strong> AI desenhou o<br />

algoritmo de estimativas<br />

que diz ser o mais utiliza<strong>do</strong><br />

em Portugal<br />

Ferramentas que ajudam, a quem está no merca<strong>do</strong>, a<br />

ter mais negócio). A maior parte destas aplicações têm<br />

tecnologia Alfre<strong>do</strong> AI.<br />

Para não <strong>do</strong>rmir sobre o sucesso alcança<strong>do</strong>, a equipa<br />

de investigação da startup faz muitas ciclos de literação<br />

(desenvolve um conjunto de funcionalidades, recebe<br />

feedback <strong>do</strong>s potenciais utiliza<strong>do</strong>res e com base na<br />

informação recolhida altera ou aperfeiçoa o produto).<br />

Uma das funcionalidades<br />

que lançou há cerca de um<br />

ano, “algo que ficou muito<br />

próximo <strong>do</strong> primeiro produto<br />

<strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong> que não<br />

chegou a ser lança<strong>do</strong>”, detalha<br />

Gonçalo Abreu, foi o<br />

identifica<strong>do</strong>r de oportunidades<br />

para investi<strong>do</strong>res,<br />

ferramenta concebida a<br />

pensar sobretu<strong>do</strong> nos fun<strong>do</strong>s<br />

de investimento que<br />

querem perceber quais as<br />

oportunidades que vão emergir no merca<strong>do</strong>.<br />

Outro projeto deste spin off <strong>do</strong> IST é o Observatório<br />

<strong>do</strong> Alojamento Estudantil, que foi lança<strong>do</strong> em parceria<br />

com o Ministério da Ciência e da Tecnologia. Trata-se<br />

63


portugal digital<br />

64<br />

A startup também desenvolveu o Índice de Preços Residencial, um<br />

<strong>do</strong>cumento aberto ao público, que permite compreender as dinâmicas de<br />

merca<strong>do</strong> mensais, em cada uma das capitais de distrito<br />

de uma plataforma <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que, como o nome indica,<br />

funciona como observatório para o merca<strong>do</strong> de<br />

arrendamento de quartos para os alunos que se estão a<br />

candidatar, ou já estão, no Ensino Superior. Esta plataforma<br />

é pública e resume um conjunto de estatísticas<br />

e analíticas para todas as<br />

cidades <strong>do</strong> país.<br />

A startup também desenvolveu<br />

o Índice de Preços<br />

Residencial, um <strong>do</strong>cumento<br />

aberto ao público<br />

que permite compreender<br />

as dinâmicas de merca<strong>do</strong><br />

mensais em cada uma das<br />

20 capitais de distrito portuguesas.<br />

Algo que, frisa<br />

Gonçalo, “em 2018 gostaríamos,<br />

enquanto cidadãos,<br />

de encontrar disponível para consulta, mas que<br />

não havia”.<br />

Fazem questão de usar<br />

algoritmos totalmente<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pela equipa,<br />

algo que – dizem – faz a<br />

diferença<br />

OLÁ, EUROPA<br />

Atualmente, com mais de 10 mil utiliza<strong>do</strong>res ativos, a<br />

Alfre<strong>do</strong> AI inclui na sua carteira de clientes as empresas<br />

líderes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> imobiliário nacional (ERA, Remax<br />

e Century 21), entre muitos outros players. Gonçalo<br />

Abreu não hesita em afirmar que hoje “a<br />

venda e a compra de imóveis estão profundamente<br />

ligadas aos algoritmos de IA que auxiliam<br />

os profissionais <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> na avaliação<br />

de propriedades, análise de ofertas e identificação<br />

de tendências em concelhos, freguesias<br />

e bairros”. Por outras palavras, com o tempo, a<br />

inovação que Gonçalo e os seus sócios trouxeram<br />

ao setor foi de tal forma transforma<strong>do</strong>ra,<br />

que hoje os profissionais liga<strong>do</strong>s à imobiliária<br />

já não concebem o seu trabalho no dia a dia<br />

sem o auxílio destas ferramentas.<br />

Portugal foi um excelente laboratório para<br />

a Alfre<strong>do</strong> AI, mas como Gonçalo já assumiu<br />

num artigo que divulgou publicamente, a visão<br />

desta equipa de empreende<strong>do</strong>res nunca<br />

se limitou ao merca<strong>do</strong> português: “Embora o<br />

merca<strong>do</strong> nacional seja uma boa rampa de lançamento,<br />

para uma empresa tecnológica é importante<br />

expandir os seus horizontes de forma a poder<br />

aproveitar a escalabilidade das soluções de software e<br />

algoritmia”, escreveu.<br />

No terceiro trimestre <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong> decidiram<br />

avançar para o merca<strong>do</strong> internacional com uma nova<br />

marca, chamada Propdata.<br />

Começaram por<br />

Espanha e Reino Uni<strong>do</strong>,<br />

onde se estrearam da melhor<br />

forma, ao conquistar<br />

o Global Entrepeneur<br />

Award, patrocina<strong>do</strong> pelo<br />

governo inglês. Querem,<br />

a curto prazo, alcançar<br />

nestes merca<strong>do</strong>s a mesma<br />

consistência obtida em<br />

solo português, por isso<br />

estão, pela primeira vez, a<br />

contratar para a área de negócio. Em 2018 eram três,<br />

hoje a equipa é composta por sete pessoas, mas como<br />

se vê, não ficará por aqui.<br />

A médio prazo a ideia é expandir para mais merca<strong>do</strong>s,<br />

a longo prazo, diz Gonçalo, “a Propdata será uma<br />

marca europeia”. Talvez nessa altura o Alfre<strong>do</strong> perca o<br />

nome. Se acontecer, será por uma boa causa: a da consagração<br />

internacional.•


66<br />

“Precisamos de mitigar o estigma que ainda envolve a saúde mental, de agir contra a incapacidade de falar sobre este assunto”,<br />

argumenta Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves


cidadania<br />

29KFJN a “senha” da Fundação<br />

José Neves para a saúde mental<br />

Parece um código e em certo senti<strong>do</strong> não deixa de ser. Porque como to<strong>do</strong>s<br />

os códigos, esta combinação de letras e números serve para dar um acesso.<br />

No caso, 29KFJN introduz-nos no programa de desenvolvimento pessoal da<br />

Fundação José Neves, cujo foco é a saúde mental.<br />

TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDIDAS<br />

A<br />

designação 29k é a <strong>do</strong> programa<br />

original, de origem sueca, que<br />

foi cria<strong>do</strong> para levar a to<strong>do</strong>s,<br />

através de uma app gratuita –<br />

disponível tanto no sistema operativo<br />

IOS, como em Android – um curso de<br />

desenvolvimento pessoal. O conteú<strong>do</strong><br />

desse programa é basea<strong>do</strong> em técnicas<br />

como a Terapia Cognitivo-Comportamental<br />

e a Teoria de Aceitação e Compromisso,<br />

cientificamente validadas. Compreende<br />

vídeos, meditações e exercícios e conta<br />

com a colaboração de embaixa<strong>do</strong>res da app, figuras<br />

públicas que participaram neste curso e se disponibilizaram<br />

para partilhar a sua experiência, contribuin<strong>do</strong><br />

para desmistificar um assunto, em torno <strong>do</strong> qual ainda<br />

existem muitos preconceitos.<br />

Com a discussão sobre o aumento <strong>do</strong>s problemas<br />

de saúde mental, impulsiona<strong>do</strong> pela pandemia, particularmente<br />

entre os jovens, a fazer manchetes nos<br />

jornais nacionais, a Fundação José Neves interessou-<br />

-se em trazer este programa para Portugal: “Precisamos<br />

de mitigar o estigma que ainda envolve a saúde mental,<br />

de agir contra a incapacidade de falar sobre este<br />

assunto”, argumenta Carlos Oliveira, presidente da<br />

fundação, explican<strong>do</strong> que além de captar utiliza<strong>do</strong>res,<br />

a iniciativa pretende contribuir para a desmistificação<br />

<strong>do</strong> tema.<br />

Adapta<strong>do</strong> para a língua portuguesa, ao programa<br />

29KFJN já aderiram mais de 60 mil pessoas, uma marca<br />

considerada por Carlos Oliveira “muito positiva”:<br />

“Já registámos mais de 60 mil meditações, mais de 70<br />

mil atividades, mais de 40 mil testes, mais de 56 mil<br />

lições <strong>do</strong>s cursos”, detalha com entusiasmo.<br />

Por questões de privacidade o 29KFJN<br />

não faz trakking de informação: “Queremos<br />

mostrar a quem decide fazer o<br />

programa que este é um espaço seguro,<br />

onde a recolha de da<strong>do</strong>s é mínima<br />

e totalmente controlada pelo utiliza<strong>do</strong>r”,<br />

explica o presidente da Fundação<br />

José Neves. Por este motivo não é<br />

possível apurar quais os perfis que maioritariamente<br />

se inscrevem no 29KFJN,<br />

nem o impacto que o programa tem nos seus<br />

frequenta<strong>do</strong>res. Por enquanto só o feedback que<br />

estes deixam na app, num espaço cria<strong>do</strong> para o efeito,<br />

pode dar uma ideia sobre os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no decurso<br />

desta experiência em termos de autoconhecimento,<br />

crescimento pessoal e bem-estar psicológico.<br />

Num terreno onde a confiança é fundamental, as métricas<br />

poderão, segun<strong>do</strong> Carlos Oliveira, ser feitas mais<br />

tarde, com validação científica.<br />

Por enquanto, o objetivo é conquistar cada vez<br />

mais utiliza<strong>do</strong>res, nomeadamente entre as camadas<br />

muito jovens (existe um segmento <strong>do</strong> programa inteiramente<br />

dedica<strong>do</strong> à faixa etária compreendida entre<br />

os 15 e os 20 anos) e esperar que as várias ferramentas<br />

que este programa disponibiliza façam a diferença. No<br />

comunica<strong>do</strong> que a Fundação José Neves divulgou no<br />

lançamento <strong>do</strong> 29KFJN, lê-se: “Acreditamos que o desenvolvimento<br />

pessoal tem o poder de mudar e transformar<br />

o mun<strong>do</strong>. É por isso que a dimensão humana<br />

está inscrita na fundação desde o primeiro momento,<br />

no seu quarto pilar. A pandemia só veio demonstrar a<br />

importância <strong>do</strong> autoconhecimento para atingirmos<br />

to<strong>do</strong> o nosso potencial e alcançarmos uma vida plena,<br />

feliz e equilibrada”. A semente está lançada.•<br />

67


<strong>32º</strong><br />

<strong>Digital</strong><br />

<strong>Business</strong><br />

<strong>Congress</strong><br />

Pessoas<br />

da disru


: as protagonistas<br />

pção


70 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Pessoas no centro<br />

de tu<strong>do</strong><br />

O mun<strong>do</strong> está a mudar a grande velocidade e na base dessa<br />

profunda transformação está uma aceleração tecnológica sem<br />

precedentes, que traz múltiplos desafios e incógnitas, mas<br />

também inúmeras oportunidades e possibilidades. No centro<br />

desta grande disrupção, que é hoje o novo normal, estão as<br />

pessoas. Porque são elas que têm de controlar o processo de<br />

inovação e recolher to<strong>do</strong>s os seus benefícios.<br />

Texto de Isabel Travessa<br />

Fotos de Vítor Gor<strong>do</strong> e Filipa Bernar<strong>do</strong> /SYNCVIEW<br />

Os <strong>do</strong>is dias <strong>do</strong> congresso da APDC, com o<br />

mote “Disruptions: The Great <strong>Digital</strong> Tech<br />

(R)Evolutions”, foram de reflexão, partilha de<br />

ideias, conhecimentos e de construção de<br />

cenários de futuro. Ninguém tem dúvidas<br />

de que o acelera<strong>do</strong> avanço tecnológico está<br />

a transformar profundamente tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s<br />

e urge definir as melhores estratégias para<br />

construir um amanhã mais sustentável, colaborativo,<br />

justo e solidário.<br />

Portugal tem todas as condições para ser<br />

um vence<strong>do</strong>r neste novo mun<strong>do</strong>, posicionan<strong>do</strong>-se<br />

no panorama europeu e até<br />

mundial como um player de relevo. Os<br />

fun<strong>do</strong>s europeus são uma enorme oportunidade<br />

para uma mudança estrutural e o<br />

processo está em marcha e a ganhar velocidade.<br />

Caberá a to<strong>do</strong>s, Esta<strong>do</strong> e setor priva<strong>do</strong>,<br />

em parceria e ecossistema, trabalharem<br />

para aproveitar esta que é uma das maiores<br />

oportunidades que o país alguma vez teve.<br />

Esta edição <strong>do</strong> congresso da APDC voltou<br />

a realizar-se num formato de programa de<br />

televisão, graças à parceria e apoio da RTP,<br />

decorren<strong>do</strong> em formato híbri<strong>do</strong> – online e<br />

presencial – a partir <strong>do</strong> auditório da Faculdade<br />

de Medicina Dentária de Lisboa. E registou<br />

um novo número recorde de participantes:<br />

mais de 9.700, <strong>do</strong>s quais mais de 700<br />

presenciais e os restantes online, seja através<br />

da plataforma <strong>do</strong> congresso (web e mobile),<br />

seja via streaming no website APDC,<br />

no YouTube APDC ou no Tek Sapo.<br />

O PODER DA TECNOLOGIA<br />

Para mostrar o poder da tecnologia, Rogério<br />

Carapuça abriu o congresso com um<br />

discurso produzi<strong>do</strong> por inteligência artificial<br />

(IA), escrito num minuto pelo ChatGPT.<br />

Este exemplo, de acor<strong>do</strong> com o presidente<br />

da APDC, ilustra claramente as disrupções a<br />

que estamos a assistir e que estão a “transformar<br />

de forma muito profunda a forma<br />

como trabalhamos, desenvolvemos atividades<br />

e nos relacionamos uns com os outros”.<br />

E não devemos ter me<strong>do</strong> da IA, porque<br />

“o que nos diferencia de tu<strong>do</strong> é a nossa<br />

alma”, considerou o presidente da Câmara


Rogério Carapuça (APDC) deu o mote ao congresso, na sessão de abertura,<br />

onde participaram também Carlos Moedas (CML) e Pedro Siza Vieira<br />

(presidente <strong>do</strong> congresso). Já o <strong>Presidente</strong> da República, na sua mensagem,<br />

colocou várias questões a que se impõe uma resposta urgente, na atual<br />

conjuntura de enormes mudanças


72 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Municipal de Lisboa, para quem a disrupção<br />

é hoje “tecnologia, criar e inovar”, num<br />

processo de “inovação que cria merca<strong>do</strong>s<br />

e produtos de que as pessoas precisam”.<br />

Para Carlos Moedas, esta inovação disruptiva<br />

acontece sobretu<strong>do</strong> nas cidades, porque<br />

é nelas que “podemos cruzar diferentes<br />

ideias, formas de pensar e pessoas”, graças à<br />

sua diversidade, ao seu ritmo e à sua identidade<br />

própria. Que, no caso de Lisboa, chama<br />

de “alma pragmática portuguesa”.<br />

Estes são “tempos de mudança muito<br />

acelerada. Quase não temos tempo para<br />

nos adaptar e sentimos dificuldade em<br />

perceber o senti<strong>do</strong> desta mudança. Provavelmente,<br />

esse é mesmo o tema da disrupção”,<br />

acrescentou Pedro Siza Vieira, alertan<strong>do</strong><br />

para uma realidade que revela que “as<br />

mudanças não são apenas na forma como<br />

as tecnologias digitais se impõem na nossa<br />

vida de forma muito rápida”. “Estamos”, salientou,<br />

“a assistir a uma reorganização da<br />

economia global, depois <strong>do</strong> modelo <strong>do</strong>s últimos<br />

20 a 30 anos, que assentou na ideia<br />

de globalização”, que “se trouxe um crescimento<br />

económico inédito ao mun<strong>do</strong>, foi<br />

também manifestan<strong>do</strong> a acumulação de<br />

riscos e tensões na economia e na organização<br />

mundial, que se tornaram agora muito<br />

evidentes”.<br />

Para o <strong>Presidente</strong> <strong>do</strong> <strong>32º</strong> congresso, “a globalização<br />

foi muito importante, mas teve os<br />

seus perde<strong>do</strong>res, como Portugal, o que causou<br />

um choque brutal à nossa economia,<br />

levan<strong>do</strong> à sua mudança”. Neste momento<br />

“as mudanças que estão em curso estão<br />

a traduzir-se em vantagens para o país.<br />

Não é por acaso que as nossas exportações<br />

têm bati<strong>do</strong> as previsões e que temos<br />

ti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s maiores números de IDE da<br />

UE. São tempos de grandes oportunidades<br />

e temos hoje mais condições para as<br />

aproveitar <strong>do</strong> que alguma vez tivemos”,<br />

considerou.<br />

Mas estaremos a aproveitar os benefícios<br />

e as vantagens <strong>do</strong>s avanços tecnológicos?<br />

Não estaremos a esquecer as pessoas? Estas<br />

foram algumas das questões colocadas<br />

pelo <strong>Presidente</strong> da República na sua intervenção,<br />

em que considerou que as tecnologias<br />

não são ameaças, mas sim oportunidades.<br />

O desafio está, para Marcelo<br />

Rebelo de Sousa, em liderar a revolução<br />

tecnológica “sem atingir a coesão social<br />

e o que já é hoje um panorama de muitas<br />

desigualdades”, sen<strong>do</strong> colaborativo,<br />

reforçan<strong>do</strong> a solidariedade e olhan<strong>do</strong>, em<br />

Asahi Beverages, Ex-Group Chief Disrup<br />

abor<strong>do</strong>u o impacto das disrupções nos c<br />

e os caminhos que se colocam às empre<br />

“Tokens e a cria<br />

o papel da banc


tion Officer,<br />

onsumi<strong>do</strong>res<br />

sas<br />

Pedro Faustino defende que, numa conjuntura de<br />

disrupção, o país terá de criar mais riqueza e as empresas<br />

terão de assumir o papel de ativistas económicos<br />

ção de valor económico” esteve em debate nesta sessão, onde<br />

a centrou as discussões. Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral foi o KNS


74 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Debate sobre a forma como as disrupções<br />

estão a mudar o mo<strong>do</strong> como trabalhamos e<br />

lideramos. David Rimmer (DXC) deu o mote<br />

Os líderes nacionais da Ericsson e da Nokia<br />

juntaram-se aos responsáveis da Galp e da<br />

Accenture para refletir sobre a aposta na<br />

sustentabilidade em to<strong>do</strong>s os negócios<br />

primeiro lugar, para as pessoas.<br />

O certo é que “vivemos tempos espantosos”,<br />

onde o “papel da tecnologia<br />

nunca foi tão importante”,<br />

realçou Kellie Barnes. Para a exgroup<br />

chief Disruption Officer da<br />

Asahi Beverages, os sinais que se<br />

vêm hoje a emergir e que vão definir<br />

tu<strong>do</strong> nos próximos anos, deixam<br />

claro que “os consumi<strong>do</strong>res querem<br />

mais experiências que lhes tragam<br />

felicidade” e “exigem das empresas<br />

um novo modelo”. Porque<br />

são as pessoas que “<strong>do</strong>minam a<br />

mudança e a tecnologia terá de<br />

lhes dar resposta. Só assim se<br />

poderá ser relevante. Acordámos<br />

num mun<strong>do</strong> que mu<strong>do</strong>u, e talvez,<br />

mas só talvez, poderemos estar<br />

presentes nele”, alertou.<br />

EMPRESAS: NOVOS ATIVISTAS<br />

ECONÓMICOS<br />

Mas de que forma poderá a disrupção<br />

ajudar a criar novos negócios?<br />

Será que estamos to<strong>do</strong>s a abdicar<br />

da capacidade crítica construtiva<br />

em relação à estratégia económica<br />

de Portugal? As questões foram<br />

colocadas por Pedro Faustino, face<br />

ao muito que aconteceu no último<br />

ano. Como “em economia não<br />

há milagres e só se muda se o país<br />

criar mais riqueza”, o managing director<br />

da Axians Portugal defende<br />

que o país precisa, mais <strong>do</strong> que<br />

nunca, de “mais e melhores empresas”,<br />

o que só se faz com investimento.<br />

Com os 43 mil milhões de<br />

euros disponíveis até 2030, há que<br />

“transformar as empresas em ativistas<br />

económicos” para se ir mais<br />

além.<br />

Um <strong>do</strong>s caminhos para criar riqueza<br />

e valor económico passa<br />

pelos ativos digitais, potencia<strong>do</strong>s<br />

pela aceleração da tecnologia.<br />

Paulo Car<strong>do</strong>so <strong>do</strong> Amaral não<br />

tem dúvidas de que “vivemos uma<br />

inovação tremenda” e há que “saber<br />

transportar a tecnologia para<br />

a economia real”, multiplican<strong>do</strong> as<br />

oportunidades trazidas pelo blockchain,<br />

que, além de ter potencia<strong>do</strong><br />

o mun<strong>do</strong> das criptomoedas, tem<br />

a capacidade de “alterar as nossas<br />

vidas”.


De tal forma que, para o professor<br />

assistente da Católica-Lisbon,<br />

se trata “<strong>do</strong> início de uma nova era<br />

industrial, porque a diminuição <strong>do</strong><br />

custo é tão grande, que potenciará<br />

a criação de novos negócios. Este é<br />

um enorme conjunto de oportunidades<br />

para empresas, numa alteração<br />

<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> económico capaz de<br />

criar imensas oportunidades”.<br />

Para David Rimmer, research advisor<br />

da DXC Leading Edge, “há<br />

uma grande transição a decorrer”<br />

a to<strong>do</strong>s os níveis, com novos paradigmas,<br />

formas de pensar e gerir<br />

os negócios e novas tecnologias.<br />

“Cada vez mais, é importante não<br />

o que se faz, mas como se faz”,<br />

ou seja, o propósito <strong>do</strong> negócio,<br />

que tem de criar valor para os<br />

stakeholders, pois a pressão para<br />

o ESG “está a vir de to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>”.<br />

O talento está no centro das atenções,<br />

numa guerra cada vez mais<br />

intensa, acrescenta o managing<br />

partner da The Key Talent Portugal,<br />

destacan<strong>do</strong> que o tema essencial<br />

<strong>do</strong> propósito das organizações,<br />

é sempre ti<strong>do</strong> em conta pelas<br />

pessoas, na hora de aceitarem um<br />

novo emprego. Hugo Bernardes<br />

alerta que, se o híbri<strong>do</strong> veio para ficar,<br />

há empresas a voltar atrás, muitas<br />

vezes pelas dificuldades das lideranças<br />

neste novo mun<strong>do</strong>.<br />

Manuel Maria Correia, líder da DXC,<br />

confirma que o modelo híbri<strong>do</strong> é o<br />

que permite “maior produtividade<br />

e valor”, embora admita que o<br />

nosso país “ainda está a anos-luz<br />

de lá chegar, porque há temas de<br />

gestão, culturais e de modelos de<br />

negócio, que não permitem que<br />

seja assim. Será um processo”,<br />

ao qual as organizações se estão<br />

a ajustar. E se o lucro é importante,<br />

para Luísa Ribeiro Lopes “há outros<br />

valores com que as empresas<br />

estão preocupadas e que <strong>fazem</strong> a<br />

diferença”, já que “os ativos intangíveis<br />

são feitos por pessoas com<br />

talento. Estamos to<strong>do</strong>s no mesmo<br />

barco e as empresas <strong>TIC</strong>, como motor<br />

da economia, devem puxar pelas<br />

demais empresas, porque temos<br />

um teci<strong>do</strong> industrial que acha<br />

ainda isto tu<strong>do</strong> muito estranho”,<br />

O administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal refletiu<br />

sobre o que está a ser feito nos “Serviços<br />

Financeiros & Moedas Digitais Reguladas” na UE<br />

e no país<br />

A banca, sen<strong>do</strong> uma das indústrias mais<br />

inova<strong>do</strong>ras, vai manter o seu papel com o<br />

projeto <strong>do</strong> euro digital, garantem Francisco<br />

Barbeira e Ricar<strong>do</strong> Correia


76 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Está em curso uma revolução digital na generalidade <strong>do</strong>s<br />

serviços da AP. Com redesenho de to<strong>do</strong>s os serviços, para<br />

simplificar a vida das pessoas e das empresas<br />

As tecnologias <strong>do</strong> metaverso ainda estão na sua infância<br />

e há muito que desenvolver. APDC e XRSI anunciaram<br />

uma parceria para um uso responsável destas soluções


O debate sobre o futuro entre os líderes <strong>do</strong>s media:<br />

Francisco Pinto Balsemão (Impresa), Nicolau<br />

Santos (RTP) e Pedro Morais Leitão (MC)<br />

considera a presidente <strong>do</strong> .PT.<br />

Nesta era digital, tema cada vez mais relevante<br />

é o da sustentabilidade. No merca<strong>do</strong><br />

nacional, “vemos várias indústrias com comportamentos<br />

distintos relativamente à evolução<br />

das práticas sustentáveis”, diz Bruno<br />

Martinho, managing director da Accenture<br />

Strategy. A indústria de utilities e energia<br />

está a liderar esta evolução, como o prova<br />

o caso da Galp. Para a sua diretora de inovação,<br />

Ana Casaca, é necessário “um investimento<br />

enorme em tecnologias e pessoas”.<br />

Também da parte <strong>do</strong>s fabricantes europeus<br />

Ericsson e Nokia, esta é uma prioridade, com<br />

a oferta de infraestruturas, particularmente<br />

agora com o 5G. O CEO da Ericsson Portugal,<br />

Juan Olivera, diz que permitirá “uma sociedade<br />

mais sustentável”. A questão é que<br />

ainda não se vêem benefícios na Europa,<br />

que corre o risco de ficar para trás. Sérgio<br />

Catalão, CEO da Nokia Portugal, adianta que<br />

há que “saber usar to<strong>do</strong>s os recursos tecnológicos,<br />

monetizar o 5G e canalizá-lo na direção<br />

da sustentabilidade. Podemos dar um<br />

contributo muito grande para acelerar”.<br />

Uma das grandes apostas no espaço europeu<br />

é neste momento a criação <strong>do</strong> euro<br />

digital e a regulação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s criptoativos.<br />

A primeira permitirá à UE criar finalmente<br />

um sistema de pagamentos<br />

europeu, deixan<strong>do</strong> de se depender das multinacionais.<br />

A segunda coloca-a como pioneira<br />

mundial neste tipo de regras e trará<br />

transparência e clareza a um ecossistema<br />

em explosão. “Estamos a assistir a um declínio<br />

acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong> numerário enquanto meio<br />

de pagamento, à entrada de novas tecnologias<br />

e de novos players, como as fintech,<br />

mas também as big tech. É aqui que emergem<br />

novas soluções de pagamentos, como<br />

as privadas, <strong>do</strong>s criptoativos ou as moedas<br />

digitais <strong>do</strong> banco central”, explica Helder Rosalino,<br />

administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal.<br />

“A disrupção é, na verdade, o novo normal”,<br />

garante o secretário de Esta<strong>do</strong> da <strong>Digital</strong>ização e<br />

da Modernização Administrativa<br />

FUTURO CHEIO DE OPORTUNIDADES<br />

Quem também pretende aproveitar to<strong>do</strong><br />

o potencial da disrupção tecnológica<br />

para acelerar a digitalização é a Administração<br />

Pública. Já muitos progressos foram<br />

feitos, mas há ainda muito por fazer,<br />

como ficou claro com a intervenção de João<br />

Dias. “A tecnologia permite fazer muito mais<br />

e queremos elevar a fasquia <strong>do</strong>s serviços públicos.<br />

Com o mesmo ADN, simplificar a vida<br />

de cidadãos e empresas”, assegura o presidente<br />

da AMA, que deixa claro que a IA “abre<br />

um mar de possibilidades extraordinárias


78 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

O ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar está otimista: “A<br />

digitalização e a intensificação tecnológica vão afirmar um<br />

caminho cada vez melhor para o futuro”<br />

Depois de fazer um balanço e traçar perspetivas para o PRR,<br />

Pedro Dominguinhos juntou-se ao debate sobre como se<br />

poderá acelerar a sua efetiva implementação


O painel de discussão entre Ricar<strong>do</strong> Reis e Pedro<br />

Siza Vieira mostrou que ambos estão convictos de<br />

que Portugal tem pela frente uma oportunidade<br />

sem precedentes<br />

“A Computação e as Comunicações Quânticas”<br />

foram tema de análise e ficou claro que o país está<br />

já a avançar, com vários projetos em concretização<br />

aos serviços públicos”. Mas é preciso trabalhar<br />

“em parceria e colaboração, para fazer<br />

esta disrupção”.<br />

Outra das áreas que apresenta um enorme<br />

potencial é a <strong>do</strong> metaverso. Embora tenha<br />

já um mun<strong>do</strong> de aplicações, estas “ainda falham<br />

no contacto entre mun<strong>do</strong>s virtuais”,<br />

como diz Pedro Nogueira da Silva. Para o<br />

head of <strong>Digital</strong> Experience da NTT DATA Portugal,<br />

“o metaverso impactará as nossas vidas<br />

pela positiva numa série de áreas” e vai<br />

continuar a evoluir, pelo que as empresas<br />

terão, desde já, de criar a sua própria visão<br />

sobre ele e acompanhar a sua evolução.<br />

Sob pena de “perder o comboio”.<br />

Para “explorar as potencialidades que o caminho<br />

para o metaverso permite, mas de<br />

forma responsável”, até porque se trata de<br />

“um caminho sem retorno”, avança Luís<br />

Bravo Martins, presidente da Secção Metaverso<br />

APDC, foi anunciada no congresso<br />

uma parceria da associação com a XRSI. A<br />

sua funda<strong>do</strong>ra e CEO, Kavya Pearlman, está<br />

muito preocupada com os riscos que a tecnologia<br />

pode trazer, nomeadamente para a<br />

democracia.<br />

A aceleração tecnológica também tem trazi<strong>do</strong><br />

inúmeros desafios ao setor <strong>do</strong>s media. No<br />

tradicional debate <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Nação <strong>do</strong><br />

setor, entre os líderes <strong>do</strong>s três grandes grupos<br />

nacionais, ficou clara a cada vez maior<br />

fragmentação de audiências, assim como<br />

a crescente concorrência das big tech no<br />

bolo da publicidade, o<br />

que tem leva<strong>do</strong> a RTP,<br />

Media Capital e Impresa<br />

a apostar na reconfiguração<br />

e diversificação<br />

de ofertas e<br />

nas parcerias, numa<br />

clara reinvenção, a par<br />

<strong>do</strong> corte de custos nas<br />

respetivas estruturas.<br />

O fim da TDT a médio<br />

-prazo, encontran<strong>do</strong>se<br />

uma forma alternativa<br />

de fazer chegar a<br />

tv aos poucos portugueses<br />

ainda sem uma<br />

subscrição paga, também foi defendida<br />

pelos players.<br />

E o primeiro dia <strong>do</strong> congresso terminou com<br />

uma mensagem positiva: “Se, coletivamente,<br />

abraçarmos estas causas como nossas,<br />

saberemos superar os novos desafios e disrupções”,<br />

assegura o secretário de Esta<strong>do</strong> da<br />

<strong>Digital</strong>ização e da Modernização Administrativa,<br />

Mário Campolargo.


80 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Na sessão sobre “Novas Oportunidades da Cibersegurança & Riscos”,<br />

o KNS António Gameiro Marques deixou claro que há ainda muitas<br />

questões por responder<br />

CONCRETIZAR COM FOCO<br />

No mesmo senti<strong>do</strong> começou o segun<strong>do</strong> dia <strong>do</strong> maior<br />

evento anual da APDC, com a mensagem de que o<br />

executivo está totalmente foca<strong>do</strong> na execução <strong>do</strong><br />

PRR e <strong>do</strong> PT2030, com uma aposta forte na inovação<br />

digital e na transição tecnológica. A garantia<br />

foi dada pelo ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar, que garante<br />

que “a economia portuguesa está a experienciar<br />

os processos de transformação digital de uma<br />

forma cada vez mais evidente e transversal”. Para<br />

António Costa Silva, “estamos a viver uma disrupção<br />

tecnológica extraordinária ao nível <strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong><br />

empresarial”.<br />

Mas entre as metas e a realidade subsiste ainda uma<br />

grande distância, como deixou claro Pedro Dominguinhos.<br />

Para o presidente da Comissão Nacional de<br />

Acompanhamento <strong>do</strong> PRR, é preciso andar mais<br />

depressa nas PME pois, apesar de to<strong>do</strong>s os projetos,<br />

muitos programas ainda não estão no terreno.<br />

Por isso, o desafio para este ano é levar os<br />

benefícios de tu<strong>do</strong> o que foi projeta<strong>do</strong> às empresas.<br />

O que passa por acelerar, porque os timings<br />

de concretização são cada vez mais aperta<strong>do</strong>s.<br />

Também o novo presidente da CIP, Armin<strong>do</strong> Monteiro,<br />

destaca a necessidade de andar mais depressa e<br />

de se responder, efetivamente, às necessidades das<br />

empresas. Até porque os priva<strong>do</strong>s estão disponíveis<br />

para investir e avançar e já o demonstraram. Aqui ao<br />

la<strong>do</strong>, em Espanha, o governo tem aposta<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> em<br />

simplificar processos para chegar mais depressa ao<br />

setor priva<strong>do</strong>. Victor Calvo-Sotelo, general director da<br />

<strong>Digital</strong>ES, deixou bem claras as razões <strong>do</strong> sucesso:<br />

tu<strong>do</strong> feito online e o mais simples possível.<br />

Numa altura em que se assiste a uma reconfiguração<br />

da globalização, o conheci<strong>do</strong> economista Ricar<strong>do</strong><br />

Reis garante que “Portugal tem oportunidades,<br />

mas precisa de as saber agarrar”. O problema é<br />

que ainda “não vê dinâmica” nesse senti<strong>do</strong>. “Estamos<br />

numa altura em que temos de ganhar escala,<br />

virada para o merca<strong>do</strong> externo, em empresas e<br />

talento. Este é o desafio que temos no presente,<br />

para darmos o salto seguinte. É um grande foco a<br />

ter nos próximos tempos”, destaca.<br />

QUE ‘ESTADO DA ARTE’?<br />

As comunicações e a computação quântica também<br />

foram temas de debate e ficou claro que estão a surgir<br />

no merca<strong>do</strong> nacional, com parcerias europeias,<br />

projetos verdadeiramente disruptivos, que tiram parti<strong>do</strong><br />

das particularidades desta tecnologia. A cibersegurança<br />

é uma das preocupações centrais, numa<br />

aposta que terá de passar por uma “trilogia ganha<strong>do</strong>ra”,<br />

como lhe chamou António Gameiro Marques, diretor-geral<br />

<strong>do</strong> GNS, entre o setor público, a indústria<br />

e a academia. Até porque há ainda muitas questões<br />

por responder e o talento é cada vez mais escasso,<br />

nas empresas e no Esta<strong>do</strong>.


As tecnológicas estão a apostar tu<strong>do</strong> no poder disruptivo da IA.<br />

Responsáveis da Microsoft e da Google deram a sua visão <strong>do</strong> que será o<br />

futuro com inteligência das máquinas<br />

Cooperação proativa, liderança comprometida e capacitação coletiva são caminhos,<br />

numa altura em que os múltiplos sistemas de IA começam a surgir, com enorme<br />

magnitude e poder, e estão a trazer to<strong>do</strong> um novo conjunto de desafios e oportunidades.<br />

A visão da Microsoft e da Google e as respetivas apostas nesta área deixaram<br />

claro que estamos a entrar num novo paradigma, que exige simultaneamente audácia e<br />

responsabilidade. São as pessoas que terão de ser responsáveis pelo crescimento destas<br />

soluções, maximizan<strong>do</strong> as suas capacidades.<br />

Mas nada será possível sem a conetividade fornecida pelas infraestruturas de telecomunicações.<br />

O merca<strong>do</strong> nacional tem neste momento soluções de topo e uma cobertura<br />

de redes fixas e móveis da quase totalidade da população. Os líderes <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res<br />

de infraestruturas - Cellnex, Vantage Towers e FastFiber - deixaram bem claro que estão<br />

aposta<strong>do</strong>s em reforçar investimentos e dar aos opera<strong>do</strong>res de comunicações todas as capacidades<br />

para disponibilizarem soluções assentes nas tecnologias disruptivas, como a<br />

IA. Com transparência e independência face aos players <strong>do</strong> setor, garantem.<br />

Centra<strong>do</strong>s agora na oferta de soluções, os grandes grupos de comunicações nacionais<br />

destacaram os eleva<strong>do</strong>s investimentos que têm realiza<strong>do</strong> nos últimos anos e a<br />

aposta a longo-prazo no país. Por isso, defendem um ambiente de previsibilidade<br />

num setor onde to<strong>do</strong>s garantem que existe concorrência. Mas também destacam<br />

os desafios, a começar pela necessidade de maior consolidação ao nível nacional e<br />

europeu.<br />

“A indústria na Europa está fragmentada e os opera<strong>do</strong>res têm uma subescala que precisa<br />

de ser endereçada. Temos perto de 100 opera<strong>do</strong>ras e 600 MVNO. Há cinco vezes menos<br />

opera<strong>do</strong>res e menos de metade <strong>do</strong>s MVNO em países como os EUA”, explica Luís Lopes, o<br />

novo CEO da Vodafone. À espera de luz-verde da Autoridade da Concorrência para poder


82 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

O KNS deste debate considera que será dificil confiar na IA, nos<br />

próximos tempos, para a condução autónoma. E defende regulação para<br />

a tecnologia<br />

Os fornece<strong>do</strong>res de infraestruturas, fixas ou móveis, garantem que<br />

estão a investir forte para assegurar aos opera<strong>do</strong>res a disponibilização<br />

de serviços de ponta


5G, consolidações, concorrência e regulação foram temas aborda<strong>do</strong>s no<br />

debate <strong>do</strong>s líderes <strong>do</strong>s três grandes grupos de comunicações, que teve<br />

‘casa cheia’<br />

comprar a Nowo, diz que a operação “tem como racional estratégico uma oportunidade<br />

de acelerar investimentos na Nowo, que tem uma rede de cabo já bastante desatualizada”.<br />

Para Miguel Almeida, CEO da NOS, “a operação da Vodafone com a Nowo não me<br />

merece grandes comentários. O seu papel ativo como dinamiza<strong>do</strong>r de concorrência em<br />

Portugal é limita<strong>do</strong>”.<br />

Outra preocupação centra-se no 5G e no seu desenvolvimento. “Investimos acima de 350<br />

milhões de euros no 5G, a que acresce o investimento em aquisição de direitos de utilização<br />

de espectro. Hoje, o 5G ainda é gratuito… Este investimento que fizemos não tem<br />

ainda, <strong>do</strong> ponto de vista direto, um euro de retorno”, comenta o CEO da NOS. Dos <strong>do</strong>is<br />

novos opera<strong>do</strong>res que entraram, “um está numa operação de consolidação e o outro vai<br />

competir pelo preço, para nos desafiar. Compete-nos responder e competir pela melhor<br />

qualidade de serviço”, comenta Ana Figueire<strong>do</strong>, CEO da Altice.<br />

Tema em aberto é ainda a concorrência das big tech, sen<strong>do</strong> que seis gigantes norte-americanas<br />

são já responsáveis por 50% <strong>do</strong> tráfego que circula nas redes nacionais, não pagan<strong>do</strong><br />

nada pela sua utilização. “Este é um grande debate para a indústria. É urgente que<br />

se tome uma decisão nesta matéria e qualquer solução terá de respeitar a neutralidade.<br />

Não queremos criar situações de privilégio na utilização da internet. É estritamente uma<br />

lógica de fairness em relação a um ativo”, comenta o responsável da Vodafone.<br />

E o ‘elefante’ no meio da sala continua a ser a regulação <strong>do</strong> setor. “O regula<strong>do</strong>r tem uma<br />

agenda ideológica e pessoal, baseada numa narrativa falsa”, diz Miguel Almeida, citan<strong>do</strong><br />

o caso <strong>do</strong> 5G: “o que está a acontecer é inadmissível. É preciso estar completamente desliga<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> setor, para se exigir que se cumpram os prazos (de cobertura) estabeleci<strong>do</strong>s,<br />

depois de um atraso de um ano por parte <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r”. “O ambiente regulatório tem<br />

de nos ajudar, porque para rentabilizarmos o 5G como indústria vamos ter de operar em<br />

parceria, crian<strong>do</strong> plataformas e utilizações de 5G. A abertura <strong>do</strong> ponto de vista regulatório<br />

tem de existir”, acrescenta Ana Figueire<strong>do</strong>.<br />

Ten<strong>do</strong> em conta a mudança na liderança, prevista para agosto, o CEO da NOS diz esperar<br />

que o novo líder “tenha um perfil que convide ao diálogo. Esse diálogo perdeu-se


84 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

O ministro das Infraestruturas deixou bem claro no <strong>32º</strong> congresso<br />

que o papel <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r é dar estabilidade ao setor, com a procura<br />

equilibrada de soluções e um diálogo construtivo<br />

Carolina Freitas e João Adelino<br />

Faria, jornalistas da RTP, foram<br />

os hosts da edição de 2023 <strong>do</strong><br />

<strong>Congress</strong>o da APDC<br />

nos últimos seis anos. Um <strong>do</strong>s princípios da<br />

missão da Anacom é assegurar um ambiente<br />

concorrencial no merca<strong>do</strong> – uma missão<br />

que foi completamente esquecida”. Luís<br />

Lopes fala em “regulação justa para to<strong>do</strong>s,<br />

enquanto que para Ana Figueire<strong>do</strong> “na regulação<br />

<strong>do</strong> futuro, acho que precisamos de<br />

menos ego e mais lego”.<br />

No encerramento <strong>do</strong> congresso, também<br />

o ministro das Infraestruturas deixou<br />

uma mensagem clara: “É necessária<br />

uma separação adequada entre as políticas<br />

públicas, que devem ser promovidas<br />

e prosseguidas pelo governo, e as<br />

medidas regulatórias, que cabem à Anacom”.<br />

Por isso, espera “um setor onde<br />

haja lugar à crítica e ao diálogo construtivos,<br />

ao respeito institucional, à procura<br />

equilibrada de soluções e à defesa <strong>do</strong>s<br />

consumi<strong>do</strong>res”.•


PROGRAMA<br />

DIA 9 MAIO<br />

HYPOTHESIZING THE IMPACT OF TECHNOLOGY ON OUR LIVES<br />

ECONOMICS IS ALL ABOUT DISRUPTION?<br />

TOKENS AND THE CREATION OF ECONOMIC VALUE<br />

HOW DIGITAL DISRUPTIONS ARE CHANGING THE WAY WE WORK & LEAD<br />

SUSTAINABILITY IN THE DIGITAL DISRUPTION ERA<br />

FINANCIAL SERVICES & REGULATED DIGITAL CURRENCIES<br />

THE FUTURE OF EURO DIGITAL<br />

NEW WAVE OF PUBLIC ADMINISTRATION DIGITAL SERVICES<br />

METAVERSE<br />

THE STATE OF THE NATION OF MEDIA<br />

CLOSING SESSION<br />

DIA 10 MAIO<br />

2nd DAY WELCOME<br />

IS THE RECOVERY AND RESILIENCE PLAN TRANSFORMING THE<br />

PORTUGUESE DIGITAL LANDSCAPE?<br />

ECONOMICS IS ALL ABOUT DISRUPTION? YES, LET’S DEBATE HOW<br />

QUANTUM COMMUNICATION AND COMPUTING<br />

NEW CYBERSECURITY OPPORTUNITIES & RISKS<br />

THE DISRUPTION POWER OF AI<br />

ADVANCEMENTS IN AUTONOMOUS DRIVING<br />

TELECOMMUNICATION INFRASTRUCTURES<br />

THE STATE OF THE NATION OF COMMUNICATIONS<br />

CLOSING SESSION


86 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

DIA 9 MAIO<br />

OPENING SESSION<br />

Rogério Carapuça<br />

<strong>Presidente</strong>, APDC<br />

“Estamos a falar de uma transformação<br />

muito profunda a forma como trabalhamos,<br />

desenvolvemos atividades e nos relacionamos<br />

uns com os outros. Assisti<strong>do</strong>s<br />

por ferramentas tecnológicas. Vamos falar<br />

das disrupções que estão em curso com a<br />

IA e as suas aplicações, de tokenização, <strong>do</strong><br />

metaverso e as suas realidades virtuais e<br />

imersivas”<br />

“Até hoje, e a revolução digital na aplicação<br />

da lei de Moore, que já tem 65 anos, de uma<br />

duplicação a cada <strong>do</strong>is anos da capacidade<br />

de processamento. E isso mu<strong>do</strong>u tu<strong>do</strong>. Mas<br />

o que falamos hoje é de outra disrupção,<br />

que é a possibilidade de, através da computação<br />

e comunicação quântica, podermos<br />

ter um aumento ainda maior da velocidade<br />

de processamento. É outra transformação<br />

absolutamente revolucionária”<br />

“Hoje o nosso congresso é um programa de<br />

televisão e com isso conseguimos no ano<br />

passa<strong>do</strong> uma audiência de sete mil pessoas,<br />

o que para um congresso profissional<br />

é inaudito em Portugal. Queremos que<br />

tenha temas e discussões relevantes para<br />

qualquer país”<br />

Carlos Moedas<br />

<strong>Presidente</strong>, Câmara Municipal<br />

de Lisboa<br />

“A disrupção tem sempre três características<br />

que se encontram nas cidades, pois não<br />

é por acaso que a inovação acontece nelas.<br />

Estas características são o pai e a mãe da<br />

inovação e têm a ver com a diversidade,<br />

uma cultura <strong>do</strong> tempo e a identidade”<br />

“É nas cidades que podemos cruzar diferentes<br />

ideias, formas de pensar e pessoas.<br />

O ser humano, por definição, não quer diversidade,<br />

mas é o gosto pelo risco que faz<br />

com que a inovação aconteça. E os grandes<br />

exemplos <strong>do</strong> que tem vin<strong>do</strong> a transformar o<br />

mun<strong>do</strong> vêm dessa diversidade. Sem ela não<br />

conseguimos ter disrupção nem inovação”<br />

“A cidade tem ainda um ritmo e um tempo<br />

que já não existe noutras congéneres europeias,<br />

para poder digerir a disrupção e ter<br />

criatividade, de parar para pensar. Temos a<br />

capacidade de criar e alimentar o talento,<br />

dan<strong>do</strong>-lhe um ritmo que, apesar de acelera<strong>do</strong>,<br />

tem um tempo de digestão da própria<br />

mudança. Depois, vem a identidade, porque<br />

a nossa alma, em qualquer empresa,<br />

país ou cidade, é essencial”


Pedro Siza Vieira<br />

<strong>Presidente</strong>, 32° <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />

<strong>Congress</strong><br />

“Estes são tempos de mudanças muito acelera<strong>do</strong>s.<br />

Quase não temos tempo para nos<br />

adaptarmos e temos dificuldade em perceber<br />

o senti<strong>do</strong> desta mudança. Provavelmente,<br />

esse é mesmo o tema da disrupção.<br />

As <strong>TIC</strong> estão a mudar a forma como trabalhamos,<br />

produzimos e gerimos, como prevenimos<br />

<strong>do</strong>enças, como combatemos as<br />

alterações climáticas e até como somos capazes<br />

de gerir a guerra e construir a paz”<br />

Marcelo Rebelo de Sousa<br />

<strong>Presidente</strong> da República<br />

“As dirupções tecnológicas estão a mudar<br />

completamente a vida nas sociedades. Mas<br />

colocam-se questões. Estamos a aproveitar<br />

devidamente os benefícios e vantagens <strong>do</strong>s<br />

avanços tecnológicos? Ou estamos, pelo<br />

contrário, a perder essa oportunidade e a ficar<br />

para trás? Conseguimos acompanhar o<br />

ritmo inova<strong>do</strong>r, ou cansamo-nos da inovação?<br />

Conseguimos que a evolução tecnológica<br />

não nos leve a esquecer o que é fundamental,<br />

as pessoas?<br />

“As mudanças não são apenas na forma<br />

como as tecnologias digitais se impõem na<br />

nossa vida, de forma muito rápida. Estamos<br />

a assistir a uma reorganização da economia<br />

global, depois <strong>do</strong> modelo <strong>do</strong>s últimos<br />

20 a 30 anos, que assentou na ideia de<br />

globalização, eliminan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o que eram<br />

barreiras históricas ao comércio mundial e<br />

promoven<strong>do</strong> a busca pela eficiência.<br />

“É tu<strong>do</strong> isto que nos deve preocupar e tu<strong>do</strong><br />

isso deve estar presente no debate que to<strong>do</strong>s<br />

os anos se faz sobre todas as tecnologias.<br />

Que não são ameaças, pois são imparáveis,<br />

inevitáveis e positivas. Temos de<br />

estar, permanentemente, nas posições pioneiras,<br />

mas há que saber como o fazer sem<br />

atingir a coesão social e o que já é hoje um<br />

panorama de muitas desigualdades”<br />

“Estamos, de facto, a condicionar a forma<br />

como se organiza a economia global e de<br />

como os Esta<strong>do</strong>s intervêm. Estas mudanças<br />

estão a impactar muita coisa, como<br />

a subida da inflação e das taxas de juro.<br />

Tu<strong>do</strong> acontece ao mesmo tempo e é o que<br />

nos surpreende e nos deixa perdi<strong>do</strong>s, ao<br />

tentarmos perceber o senti<strong>do</strong> destas mudanças.<br />

São tempos de grandes oportunidades<br />

para o país e temos hoje mais condições<br />

para as aproveitar <strong>do</strong> que alguma vez<br />

tivemos”<br />

“Esse é o desafio: avançar cientificamente<br />

e tecnologicamente, mas não deixar de ser<br />

colaborativo, de reforçar a solidariedade e<br />

olhar para as pessoas. Sobretu<strong>do</strong> as que ficam<br />

para trás, num mun<strong>do</strong> que é cada vez<br />

mais digital e tecnológico”


88 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

HYPOTHESIZING<br />

THE IMPACT OF<br />

TECHNOLOGY<br />

ON OUR LIVES<br />

Kellie Barnes<br />

Ex-Group Chief Disruption Officer,<br />

Asahi Beverages<br />

“O mun<strong>do</strong> está a mudar to<strong>do</strong>s os dias e a<br />

tecnologia lidera essas mudanças. Mas estaremos<br />

a a<strong>do</strong>tar todas as mudanças possíveis?<br />

Vivemos em tempos espantosos e o<br />

papel da tecnologia nunca foi tão importante.<br />

Hoje, podemos ver sinais a emergir<br />

que vão definir tu<strong>do</strong> nos próximos anos”<br />

“Os consumi<strong>do</strong>res querem mais experiências<br />

que lhes tragam felicidade. Exigem<br />

que as empresas tomem as medidas para<br />

o fazer, querem soluções sustentáveis, reforço<br />

de medidas nas alterações climáticas<br />

e práticas responsáveis. Temos de criar um<br />

novo modelo e considerar o anterior obsoleto.<br />

Inovação disruptiva é pensar o consumi<strong>do</strong>r<br />

de amanhã”<br />

“Há perigo adiante: a tecnologia está a ir<br />

mais além. É claro que é espantoso, mas<br />

tem de se mudar o modelo e ir de encontro<br />

<strong>do</strong>s desejos e necessidades <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res.<br />

São eles que <strong>do</strong>minam a mudança e a<br />

tecnologia terá de lhes dar resposta. Ter um<br />

mindset de disrupção permite ser elástico e<br />

aberto à mudança. Só assim se poderá ser<br />

relevante. Acordamos num mun<strong>do</strong> que mu<strong>do</strong>u,<br />

e talvez, mas só talvez, poderemos estar<br />

presentes nele”<br />

ECONOMICS IS ALL<br />

ABOUT DISRUPTION?<br />

KNS: Pedro Faustino<br />

Managing Director, Axians Portugal<br />

“Será que estamos to<strong>do</strong>s a abdicar da nossa<br />

capacidade crítica construtiva em reação<br />

à estratégia de Portugal? Trabalham<br />

nas empresas 4,3 milhões de pessoas que,<br />

se calhar, estão à espera que exerçamos<br />

essa responsabilidade. O capitalismo às vezes<br />

descarrila e é preciso uma moral para o<br />

regular. A globalização é hoje outra conversa<br />

completamente diferente”<br />

“Em economia não há milagres e só se<br />

muda se o país criar mais riqueza. Esta é a<br />

verdade mais fundamental da economia:<br />

nada de bom acontece sem criação de riqueza<br />

pelas empresas. O país precisa de<br />

mais e melhores empresas, com lucro. Para<br />

isso, é preciso mais investimento. Só que<br />

compete a nível internacional com este investimento<br />

e ainda é considera<strong>do</strong> um país<br />

fiscalmente pouco competitivo”<br />

“Há quem olhe para este cenário e diga que<br />

o país está num ciclo de empobrecimento,<br />

mas há luz lá à frente e boas notícias. O setor<br />

das TI tem ti<strong>do</strong> um crescimento acima<br />

da economia e vamos ter disponíveis para<br />

gastar ou investir, até 2030, qualquer coisa<br />

como 43 mil milhões de euros. A pergunta<br />

já não é se temos dinheiro para investir,<br />

mas sim de como o vamos investir ou, ao<br />

invés, simplesmente gastar. Transformar<br />

as empresas em ativistas económicos é o<br />

caminho”


TOKENS AND THE<br />

CREATION OF<br />

ECONOMIC VALUE<br />

Nuno Rodrigues<br />

Head of New <strong>Business</strong> Origination<br />

& Structuring, ioBuilders<br />

KNS: Paulo Car<strong>do</strong>so<br />

<strong>do</strong> Amaral<br />

Professor Assistente, CATÓLICA-LISBON<br />

“Temos de criar valor para ter sucesso. Para<br />

isso, é preciso perceber o valor económico<br />

<strong>do</strong> dinheiro e a sua capacidade para tornar<br />

a economia mais eficiente. A tecnologia<br />

veio mudar completamente as nossas<br />

vidas, começan<strong>do</strong> nos computa<strong>do</strong>res, mas<br />

sobretu<strong>do</strong> pela capacidade de interligação<br />

de tu<strong>do</strong>, permitin<strong>do</strong> uma vida mais simples<br />

e eficiente, para que a criação de valor venha<br />

da economia”<br />

“O que é que a blockchain e os smart contracts<br />

têm de diferente para fazer com que<br />

a nossa vida se altere daqui para a frente?<br />

Muitas <strong>coisas</strong> vão deixar de ser geridas por<br />

entidades específicas, porque há uma tecnologia<br />

autoexecutável que é capaz de realizar<br />

transações para to<strong>do</strong>s. Isto será o início<br />

de uma nova revolução industrial, porque a<br />

diminuição <strong>do</strong> custo por transação será tão<br />

grande que permitirá a disrupção na forma<br />

de criação de novos negócios”<br />

“Não vamos deixar que os ativos que têm<br />

de facto valor estejam na mão de uma privacidade<br />

que é anónima. Podemos manter<br />

a privacidade, mas sem anonimato. Podemos<br />

usar toda a tecnologia da DeFi, manten<strong>do</strong><br />

privacidade, mas garantin<strong>do</strong> que<br />

não há anonimato. E isso precisamos de fazer<br />

para todas as transações.“<br />

“Temos assisti<strong>do</strong> a inúmeras iniciativas no<br />

âmbito da tokenização, por múltiplas entidades.<br />

O objetivo fundamental tem si<strong>do</strong><br />

testar a tecnologia blockchain, a utilização<br />

<strong>do</strong>s smart contracts e a gestão <strong>do</strong> ciclo de<br />

vida <strong>do</strong>s ativos digitais tokeniza<strong>do</strong>s. Assim<br />

como medir o impacto que estes novos formatos<br />

têm nos processos internos, inclusivamente<br />

na relação com os stakeholders, e<br />

avaliar e medir a viabilidade económica e<br />

financeira destas iniciativas”<br />

“A grande novidade que nos traz o Pilot DLT,<br />

com caracter de regulamento, é a possibilidade<br />

de emitir ativos financeiros que nascem<br />

já tokeniza<strong>do</strong>s e que podem ser imediatamente<br />

transaciona<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong><br />

secundário, da mesma forma e com a mesma<br />

simplicidade com que hoje se compra<br />

uma ação ou uma obrigação numa bolsa<br />

de valores tradicional. Estamos a assistir a<br />

um interesse muito grande, sobretu<strong>do</strong> de<br />

empresas de setores onde as necessidades<br />

de financiamento são preponderantes.”<br />

“O que vamos ver é uma transição muito<br />

importante. Vamos passar de uma economia<br />

mais ilíquida e rígida para uma economia<br />

muito mais líquida, onde haverá facilidade<br />

em aceder a produtos financeiros que<br />

vão trazer simplicidade. Não só <strong>do</strong> ponto de<br />

vista <strong>do</strong> investi<strong>do</strong>r, mas também em to<strong>do</strong> o<br />

ciclo de vida <strong>do</strong> produto. Com muito mais<br />

automatismo e transparência.”


90 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Inês Drumond<br />

Vice-<strong>Presidente</strong>, Comissão de Merca<strong>do</strong><br />

de Valores Mobiliários (CMVM)<br />

“O DLT Pilot já está em vigor, não necessita<br />

de transposição. Tem aplicação direta nos<br />

vários Esta<strong>do</strong>s-membros, garantin<strong>do</strong> uma<br />

aplicação homogénea. Falta apenas um<br />

diploma de execução nacional, que permita<br />

alterar alguns pontos <strong>do</strong> código de valores<br />

mobiliários, como o registo e a custódia.<br />

Vem permitir a criação de infraestruturas<br />

de merca<strong>do</strong> para a negociação e liquidação<br />

de ações, obrigações e unidades de<br />

participação em fun<strong>do</strong>s de investimento<br />

emiti<strong>do</strong>s, deti<strong>do</strong>s e transaciona<strong>do</strong>s em DLT”<br />

“Quan<strong>do</strong> se fala em criptoativos de instrumentos<br />

financeiros e se aplica toda a legislação,<br />

o que se concluiu é que não havia<br />

um merca<strong>do</strong> secundário, constituin<strong>do</strong> um<br />

desincentivo à emissão. O que este regulamento<br />

vem trazer é a possibilidade de haver<br />

um merca<strong>do</strong> secundário, permitin<strong>do</strong> algumas<br />

isenções à lei atual a nível europeu.<br />

“O trabalho da CMVM será diferente, não<br />

sei se mais fácil ou se mais dificil. Por um<br />

la<strong>do</strong>, cabe à autoridade competente autorizar<br />

estas infraestruturas de merca<strong>do</strong>. Na<br />

supervisão ongoing, cabe garantir que to<strong>do</strong>s<br />

os requisitos, quer prudenciais, quer<br />

comportamentais, são cumpri<strong>do</strong>s. Está previsto<br />

no próprio regulamento europeu que<br />

o supervisor terá acesso, de uma forma automática<br />

e rápida, à informação. Vamos ter<br />

de nos adaptar, porque esta informação vai<br />

chegar por uma via diferente”<br />

HOW DIGITAL<br />

DISRUPTIONS ARE<br />

CHANGING THE WAY<br />

WE WORK & LEAD<br />

KNS: David Rimmer<br />

Research Advisor, DXC Leading Edge<br />

“Há uma grande transição a decorrer. Os<br />

grandes princípios que vieram da revolução<br />

industrial estão a ser derruba<strong>do</strong>s. Estamos<br />

a mudar <strong>do</strong>s ativos físicos para ativos intangíveis,<br />

como a informação. Assim como nos<br />

propósitos <strong>do</strong>s negócios, que além <strong>do</strong> valor<br />

económico, estão a alargar para outros valores,<br />

como os ambientais, sociais e de governance.<br />

E assistimos a uma transformação<br />

da estrutura <strong>do</strong> trabalho”<br />

“Estão a surgir novos paradigmas, novas formas<br />

de pensar, novas formas de gerir os negócios<br />

e novas tecnologias. Em todas as áreas<br />

<strong>do</strong>s novos ativos, em termos de capital, investimento,<br />

retorno, produtividade e emprego,<br />

há agora outros valores. E o IT está no centro<br />

de tu<strong>do</strong>, assumin<strong>do</strong>-se como um enabler”<br />

“Cada vez mais, é importante não o que se<br />

faz, mas como se faz. É o propósito <strong>do</strong> negócio,<br />

o ideal, que não é apenas criar valor<br />

para si, mas para os demais stakeholders. A<br />

pressão para o ESG está a vir de to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>.<br />

Mas há estu<strong>do</strong>s que mostram que um negócio<br />

sustentável tem um retorno económico<br />

maior. As mudanças das empresas envolvem<br />

um total redesenho de processos, produtos,<br />

organização e cadeias de fornecimento. Com<br />

uma mentalidade de risco. Esta grande transição<br />

exige novos paradigmas, novas formas<br />

de pensar e novos modelos mentais”


Hugo Bernardes<br />

Managing Partner, The Key Talent<br />

Portugal<br />

“Hoje, é tão dificil atrair como ter a capacidade<br />

de manter as pessoas nas organizações.<br />

As variáveis nesta guerra pelo talento<br />

vão-se alteran<strong>do</strong> e aumentan<strong>do</strong>, porque<br />

há mudanças profundas no trabalho, com<br />

a eliminação das fronteiras e a transição<br />

para o trabalho remoto. O tema <strong>do</strong> propósito<br />

é cada vez mais relevante, sobretu<strong>do</strong><br />

para as novas gerações, e é sempre ti<strong>do</strong> em<br />

conta na tomada de decisão”<br />

“As empresas têm de conseguir captar os<br />

candidatos numa arena onde a informação<br />

se multiplica. É absolutamente essencial<br />

conseguir chamar a atenção e ter a<br />

capacidade de ter pensamento crítico e<br />

criativo. Esta realidade terá impacto ao nível<br />

<strong>do</strong> ensino. E o próprio recrutamento vai<br />

pensar cada vez mais nisso, escolhen<strong>do</strong><br />

as skills certas para dar resposta a certas<br />

necessidades”<br />

“O híbri<strong>do</strong> parece começar a ser o modelo<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de forma mais regular. Mas há<br />

grandes empresas a voltar atrás, para o<br />

presencial, o que está diretamente relaciona<strong>do</strong><br />

com o envolvimento das equipas e<br />

com o facto de sermos sociais. Ou pela dificuldade<br />

das lideranças em viver neste novo<br />

mun<strong>do</strong>. Mas para as novas gerações, o híbri<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>mina. É um tema tendencialmente<br />

geracional”<br />

Luísa Ribeiro Lopes<br />

<strong>Presidente</strong> <strong>do</strong> Conselho Diretivo, .PT<br />

“Estamos a assistir a um mun<strong>do</strong> completamente<br />

altera<strong>do</strong>, o que é fascinante. Esta<br />

grande transição está a recentrar o mun<strong>do</strong><br />

nas pessoas, depois de uma fase de<br />

deslumbramento com a globalização e a<br />

tecnologia. Antes, éramos números, hoje<br />

as pessoas estão no centro da decisão, de<br />

como querem trabalhar, viver e como vêm<br />

os valores”<br />

“O lucro é importante, mas há outros valores<br />

com que as empresas estão preocupadas<br />

e que <strong>fazem</strong> a diferença. Criaremos ainda<br />

mais valor com isso. Os ativos intangíveis<br />

são feitos por pessoas com talento. Estamos<br />

to<strong>do</strong>s no mesmo barco e as empresas <strong>TIC</strong>,<br />

como motor da economia, devem puxar<br />

pelas demais empresas, porque temos um<br />

teci<strong>do</strong> industrial que acha ainda isto tu<strong>do</strong><br />

muito estranho”<br />

“Vivemos numa economia da informação<br />

e <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e quem os trabalha melhor<br />

é quem oferece melhores serviços. Mas a<br />

forma como trabalhamos os da<strong>do</strong>s e integramos<br />

a IA depende de ter capacidade<br />

criativa. É essa capacidade que temos de<br />

começar a ensinar. Temos hoje um ensino<br />

muito desfasa<strong>do</strong> da realidade e que não<br />

prepara para esta grande transição”


92 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Manuel Maria Correia<br />

General Manager Portugal, DXC<br />

Technology<br />

“É preciso embeber os novos comportamentos<br />

e valores em termos de governança<br />

ambiental, social e corporativa, em to<strong>do</strong>s os<br />

processos, cultura e governance das organizações.<br />

Já se percebeu que as empresas<br />

que o <strong>fazem</strong> são as mais rentáveis e têm<br />

um engajamento de pessoas muito superior.<br />

É nesta grande transição que estamos<br />

agora. Estamos no meio da ponte e não sabemos<br />

onde se poderá chegar”<br />

“Quan<strong>do</strong> entrevistamos pessoas, vemos as<br />

diferenças entre as várias gerações. As mais<br />

novas já não são tão ligadas aos bens tangíveis,<br />

querem ter experiências. O valor passou<br />

a estar no intangível, nas pessoas, no conhecimento<br />

e os bens vão deixar de ter tanto<br />

peso. Estamos a assistir a esta grande viragem,<br />

que levará o seu tempo, mas à qual<br />

to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> se está a adaptar”<br />

“O modelo híbri<strong>do</strong> permite maior produtividade<br />

e valor. A questão é saber se vai vingar<br />

e como nos vamos adaptar a este novo<br />

modelo de trabalho. Em Portugal, ainda estamos<br />

a anos-luz de lá chegar, porque há<br />

temas de gestão, culturais e de modelos de<br />

negócio que não permitem que seja assim.<br />

Será um processo, mas não tenho dúvidas<br />

de que o mun<strong>do</strong> será cada vez mais híbri<strong>do</strong>.<br />

A pandemia permitiu perceber que o<br />

modelo tem vantagens, como uma maior<br />

produtividade.”<br />

SUSTAINABILITY<br />

IN THE DIGITAL<br />

DISRUPTION ERA<br />

Ana Casaca<br />

Diretora de Inovação, Galp<br />

“A transição energética para um novo sistema<br />

mais verde vai ter de passar por mais<br />

energias renováveis, mas precisa de um investimento<br />

enorme em tecnologias e pessoas.<br />

Estamos neste caminho de transição<br />

energética, que deve ser equitativa e inclusiva.<br />

Em 2050, queremos atingir a neutralidade<br />

carbónica”<br />

“Vamos ter dificuldade em Portugal em<br />

massificar o acesso a carrega<strong>do</strong>res, o que<br />

prejudica a a<strong>do</strong>ção da mobilidade elétrica.<br />

Mas neste campo existe uma oportunidade<br />

enorme na Europa. 80% das baterias de lítio<br />

são produzidas na China, 60% das quais em<br />

processos com carvão. Precisamos de uma<br />

cadeia de valor adequada, onde está incluída<br />

a reciclagem”<br />

“A meta de 2035 indica o final de venda de<br />

carros movi<strong>do</strong>s a combustíveis fósseis. Estamos<br />

a trabalhar em combustíveis de biomassa,<br />

por exemplo. Estas soluções ainda<br />

não são massificáveis, pelo que o shift não<br />

pode ser imediato”


Bruno Martinho<br />

Managing Director, Accenture Strategy<br />

Juan Olivera<br />

CEO, Ericsson Portugal<br />

“To<strong>do</strong>s os negócios são hoje digitais e sustentáveis.<br />

São componentes essenciais <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de todas as empresas,<br />

<strong>do</strong>s seus compromissos e da forma como<br />

criam valor para to<strong>do</strong>s os stakeholders. O<br />

que passa pela neutralidade carbónica, redes<br />

inteligentes, economia circular, cadeias<br />

de abastecimento, green IT, analítica e reporting,<br />

modelo operativo da organização,<br />

liderança e os clientes e a marca “<br />

“O debate sobre a sustentabilidade passa<br />

pela digitalização. O 5G não é apenas<br />

mais um ‘G’, é muito mais <strong>do</strong> que isso. É<br />

uma completa revolução das redes móveis<br />

e o potencial é gigantesco. E a boa notícia<br />

é que a tecnologia existe, mas a notícia má<br />

é que em Portugal e na Europa, estamos a<br />

ficar para trás, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com o<br />

resto das regiões líderes. Acreditamos que o<br />

5G será transformacional”<br />

“Quan<strong>do</strong> analisamos a cadeia de abastecimento<br />

de uma empresa, temos vontade de<br />

transformá-la numa cadeia mais sustentável<br />

e responsável. Isto implica sermos mais<br />

autónomos na forma como desenvolvemos<br />

soluções tecnológicas e iniciativas em R&D.<br />

A partir <strong>do</strong> momento em que dependemos<br />

de outros players para essa transformação,<br />

assumimos um perfil de risco muito maior<br />

no cumprimento deste objetivo”<br />

“Ainda não vemos na Europa desenvolvimentos<br />

massivos de média banda, que permitem<br />

trazer os benefícios <strong>do</strong> 5G, ainda não<br />

temos tecnologia standalone na generalidade<br />

<strong>do</strong>s países. Perdemos o comboio <strong>do</strong><br />

4G e estamos prestes a perder o comboio<br />

<strong>do</strong> 5G, se não tomarmos medidas. Temos de<br />

reforçar e estimular a colaboração pública<br />

e privada, para fazer acontecer”<br />

“Em Portugal, vemos várias indústrias com<br />

comportamentos distintos relativamente à<br />

evolução das práticas sustentáveis. A indústria<br />

de utilities e energia é a principal referência<br />

e a que está a liderar esta evolução,<br />

num ritmo acelera<strong>do</strong> para atingir a neutralidade<br />

carbónica das suas operações”<br />

“O 5G vai permitir uma sociedade mais sustentável.<br />

Neste momento, estamos a correr<br />

o risco de ficar para trás… diferentes regulamentações,<br />

fragmentação de merca<strong>do</strong>… há<br />

vários argumentos. Os Esta<strong>do</strong>s são responsáveis<br />

até algum ponto. A tecnologia existe<br />

e o facto de não haver uma abordagem<br />

única da UE é um problema”


94 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Sérgio Catalão<br />

CEO, Nokia Portugal<br />

“Estamos a meio da jornada de 15 anos na<br />

sustentabilidade e a questão que se coloca<br />

é se teremos, enquanto sociedade, capacidade<br />

de entregar os objetivos a que nos<br />

propusemos para 2030. A tecnologia tem<br />

aqui um papel fundamental e este setor<br />

tem uma oportunidade única para resolver<br />

desafios <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. O 5G é uma dessas tecnologias,<br />

mas há muitas mais”<br />

“A nossa abordagem à sustentabilidade<br />

tem três dimensões. A primeira é maximizar<br />

o que é o nosso impacto positivo, através<br />

de to<strong>do</strong>s os projetos que <strong>fazem</strong>os nas<br />

áreas fixa e móvel e na cloud, para descarbonização<br />

das indústrias. Depois, minimizar<br />

o impacto negativo, o footprint, com o<br />

aumento da eficiência, a circularidade, cadeias<br />

de produção e operação. E, por fim,<br />

chegar a 2025 com 100% de energias renováveis<br />

e em 2030 termos toda a cadeia de<br />

valor com uma redução das emissões de<br />

CO2 em cerca de 50%”<br />

“Temos de usar to<strong>do</strong>s os recursos tecnológicos<br />

e saber monetizar o 5G e canalizá-lo na<br />

direção da sustentabilidade. Apesar de podermos<br />

estar mais à frente, esta indústria<br />

já mostrou que é capaz. Podemos dar um<br />

contributo muito grande para acelerar. Temos<br />

oportunidades grandes à nossa frente,<br />

nestes sete anos para fazer acontecer”<br />

FINANCIAL SERVICES<br />

& REGULATED DIGITAL<br />

CURRENCIES<br />

KNS: Hélder Rosalino<br />

Administra<strong>do</strong>r, Banco de Portugal<br />

“O ecossistema <strong>do</strong>s pagamentos está num<br />

processo de revolução muito acelera<strong>do</strong>.<br />

Cada vez mais, os consumi<strong>do</strong>res preferem<br />

meios de pagamento rápi<strong>do</strong>s, convenientes<br />

e de baixo custo. Estamos a assistir a um<br />

declínio acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong> numerário enquanto<br />

meio de pagamento, à entrada de novas<br />

tecnologias e de novos players, como as fintech,<br />

mas também as big tech. É aqui que<br />

emergem novas soluções de pagamentos,<br />

como as privadas, <strong>do</strong>s criptoativos, ou as<br />

moedas digitais <strong>do</strong> banco central”<br />

“Temos de entender a realidade olhan<strong>do</strong><br />

para a emergência destas soluções, que levam<br />

a que os bancos centrais e autoridades<br />

monetárias tenham de repensar o seu<br />

papel. Quer na perspetiva de âncora <strong>do</strong>s<br />

sistemas de pagamentos, mas também enquanto<br />

regula<strong>do</strong>res da atividade de novos<br />

opera<strong>do</strong>res. É isso que temos hoje como desafio<br />

central para os bancos centrais”<br />

“O euro digital é importante para a Europa<br />

para preservar o papel da moeda <strong>do</strong> banco<br />

central como âncora <strong>do</strong> sistema de pagamentos.<br />

E também contribui para a autonomia<br />

estratégica e a eficiência económica europeia,<br />

porque não temos nem uma marca<br />

de pagamentos europeia, nem um sistema<br />

de pagamentos integra<strong>do</strong>. Assim como se<br />

mantém a soberania monetária pois, com o<br />

declínio rápi<strong>do</strong> das notas e a emergência de<br />

marcas à escala global, isso pode criar dentro<br />

de alguns anos uma dependência da Europa<br />

em relação às marcas internacionais”


THE FUTURE<br />

OF EURO DIGITAL<br />

Ricar<strong>do</strong> Correia<br />

Managing Director, <strong>Digital</strong><br />

Currencies R3<br />

Francisco Barbeira<br />

Administra<strong>do</strong>r, BPI<br />

“O euro digital vai significar um avanço tecnológico<br />

em grande escala. Não é mais uma<br />

moeda, mas uma moeda especial, de reserva<br />

de dinheiro <strong>do</strong> banco central num formato<br />

digital. Acelera os processos de interoperabilidade<br />

e a criação de um espaço mais<br />

europeu de pagamentos. Depois, toda a regulamentação<br />

<strong>do</strong>s criptoativos permitirá<br />

que os bancos também possam continuar<br />

a desenvolver o seu dever fiduciário, crian<strong>do</strong><br />

massa monetária através de stablecoins e<br />

criptomoedas”<br />

“Os bancos portugueses estão a investir<br />

imenso em tecnologia. É cada vez maior a<br />

fatia de orçamento para esta componente.<br />

Estamos a trabalhar este caminho. É<br />

obrigatório. Teremos a possibilidade de ter<br />

novas soluções, de ter muita inovação em<br />

cima deste espaço regula<strong>do</strong>, assim como<br />

de ter a moeda <strong>do</strong> banco central. Temos de<br />

estar prepara<strong>do</strong>s. Não há alternativa”<br />

“A banca é uma das indústrias mais inova<strong>do</strong>ras,<br />

mas o papel fiduciário de garantia<br />

de valor e de empréstimos manter-se-á<br />

com o projeto <strong>do</strong> euro digital. Há soluções<br />

nacionais muito boas, como o MBWay, mas<br />

a interoperabilidade europeia passa neste<br />

momento por soluções não europeias, de<br />

grandes grupos. Iniciativas como o euro digital<br />

combatem esta ideia e tentam equilibrar<br />

o cenário com uma solução europeia<br />

de pagamentos”<br />

“O euro digital é especial e confere uma inovação<br />

tecnológica: será dinheiro programável,<br />

utilizável em diferentes ambientes, como<br />

a distributed finance. Os bancos centrais têm<br />

me<strong>do</strong> de perder este comboio e de se poderem<br />

tornar redundantes, pelo que sentimos<br />

essa motivação para a mudança”<br />

“No futuro não haverá uma desintermediação<br />

total. Vamos assistir é a uma reconstituição<br />

<strong>do</strong> campo de jogo, onde os diferentes<br />

papéis serão desenvolvi<strong>do</strong>s por atores<br />

distintos. Haverá mais trabalho a ser feito, o<br />

que significa que haverá mais participantes<br />

a entrar no sistema, mais atores a participar<br />

na distribuição <strong>do</strong> dinheiro e isso deverá<br />

criar inovação. É essa a ideia. Mas ainda não<br />

sabemos”<br />

“Mudar <strong>do</strong> dinheiro físico para o dinheiro digital<br />

não terá, por si, grandes implicações.<br />

Hoje, já gastamos apenas 10% <strong>do</strong> total em<br />

notas e moedas. O resto é digital. Uma das<br />

grandes motivações que vemos na Europa,<br />

em termos de bancos centrais, é sair <strong>do</strong> circuito<br />

das empresas de pagamentos norte<br />

-americanas, como a Mastercard ou a Visa,<br />

que são <strong>do</strong>minantes na Europa. O euro digital<br />

surge como uma forma de equilibrar<br />

esse poder, introduzin<strong>do</strong> alternativas de<br />

pagamentos”


96 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

NEW WAVE OF PUBLIC<br />

ADMINISTRATION<br />

DIGITAL SERVICES<br />

KNS: João Dias<br />

<strong>Presidente</strong>, AMA – Agência para<br />

a Modernização Administrativa<br />

“Já algumas <strong>coisas</strong> foram feitas na AP, mas<br />

queremos mais. A tecnologia permite fazer<br />

muito mais e queremos elevar a fasquia<br />

<strong>do</strong>s serviços públicos. Com o mesmo<br />

ADN: simplificar a vida de cidadãos e empresas.<br />

Fazemos um trabalho que não se vê<br />

e que espero que se vá ver em breve, com<br />

a materialização de tu<strong>do</strong> o que está a ser<br />

desenvolvi<strong>do</strong>”<br />

“O Esta<strong>do</strong> tem de ter, num ponto único de<br />

contacto, vários serviços públicos ao cidadão.<br />

É um trabalho de integração absolutamente<br />

essencial. Não abdicamos <strong>do</strong> ADN<br />

<strong>do</strong> ‘digital first’, dan<strong>do</strong> primazia aos canais<br />

digitais, mas tu<strong>do</strong> tem de estar integra<strong>do</strong><br />

numa lógica onmnicanal, com uma experiência<br />

coerente, agilidade e proatividade<br />

e uma organização por eventos de vida. É<br />

absolutamente crítico que o cidadão, num<br />

só momento e numa só interação, trate de<br />

tu<strong>do</strong>”<br />

“O futuro está cheio de oportunidades. O<br />

tema da IA abre um mar de possibilidades<br />

extraordinárias aos serviços públicos. O que<br />

vamos conseguir fazer, a bem <strong>do</strong> cidadão,<br />

mudan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o atendimento, depende<br />

muito da AP. Trabalhamos muito nos basti<strong>do</strong>res<br />

para tornar isto possível, em parceria<br />

e colaboração.”<br />

Paula Salga<strong>do</strong><br />

<strong>Presidente</strong>, Instituto de Informática<br />

“Começámos esta jornada em 2017, com a<br />

estratégia Segurança Social Consigo, que<br />

teve alguns projetos emblemáticos, como o<br />

simula<strong>do</strong>r de pensões. Temos vin<strong>do</strong> ainda a<br />

desenvolver iniciativas focadas nas empresas.<br />

A pandemia foi fulcral para que as pessoas<br />

compreendessem a panóplia de serviços<br />

da Segurança Social Direta”<br />

“Seguimos uma estratégia de auscultação<br />

das necessidades <strong>do</strong>s cidadãos. Estão cada<br />

vez mais exigentes e, naturalmente, isso tem<br />

impacto e pressão nas nossas instituições.<br />

Todavia, nos últimos anos os nossos trabalha<strong>do</strong>res<br />

compreenderam que o caminho é<br />

digital. E com as ferramentas digitais, conseguem<br />

responder mais depressa e de forma<br />

mais eficiente. Temos 200 milhões de euros<br />

<strong>do</strong> PRR para a transformação digital e pretendemos<br />

mudar o paradigma de relacionamento<br />

com pessoas e empresas até 2026”<br />

“A segurança é um tema transversal a todas<br />

as organizações. Todas, públicas ou<br />

privadas, devem ter preocupações de segurança<br />

em to<strong>do</strong>s os canais que disponibilizam.<br />

Desde a pandemia que se sente um<br />

aumento significativo de incidentes de segurança,<br />

que chegam a ser diários”


Filomena Rosa<br />

<strong>Presidente</strong>, Instituto <strong>do</strong>s Registo<br />

e <strong>do</strong> Notaria<strong>do</strong><br />

Mário Martins Campos<br />

Subdirector, Sistemas de Informação<br />

da Autoridade tributária<br />

“Portugal está bem posiciona<strong>do</strong> na digitalização,<br />

ao contrário da perceção geral que<br />

existe entre os portugueses. Evoluímos muito<br />

e demos um grande salto qualitativo que<br />

assentou na simplificação de procedimentos,<br />

criação de balcões únicos e disponibilização<br />

de serviços online para to<strong>do</strong>s os registos.<br />

Estamos agora a tentar que as novas<br />

tecnologias nos ajudem a ir mais além”<br />

“Não foram só os cidadãos que se tornaram<br />

mais exigentes. Os funcionários já percebem<br />

que podem, com a automatização<br />

de tarefas e até agora, com a utilização da<br />

IA, deixar de fazer tarefas rotineiras e de<br />

menor valor acrescenta<strong>do</strong>, para fazer outro<br />

tipo de tarefas. Temos é de continuar a<br />

aposta continuada na formação e na gestão<br />

da mudança, para alinhar to<strong>do</strong>s com a<br />

estratégia definida”<br />

“Temos 42 milhões <strong>do</strong> PRR com os quais<br />

queremos rever os ciclos de vida <strong>do</strong>s nossos<br />

serviços e garantir uma maior integração<br />

com toda a AP e valorizar os da<strong>do</strong>s. Destaco<br />

a plataforma Da<strong>do</strong>s à Distância, que<br />

permite reconhecer assinaturas ou fazer<br />

procurações à distância, ou o pedi<strong>do</strong> de nacionalidade<br />

online”<br />

“O caminho da Autoridade Tributária no digital<br />

já tem longos anos. O desafio essencial<br />

que temos neste momento é entender<br />

como é que podemos maximizar a transferência<br />

de valor desta transformação digital<br />

para os cidadãos e empresas”<br />

“Apesar de estarmos na liderança europeia<br />

em termos de digitalização da AP, há um<br />

indica<strong>do</strong>r que nos deve fazer refletir: apesar<br />

de termos uma percentagem significativa<br />

de serviços públicos digitais, menos de 60%<br />

<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>res não optam, como primeira<br />

escolha, pelos serviços digitais. Temos de<br />

perceber onde mexer nestas duas variáveis<br />

da equação: ou aumentar a literacia <strong>do</strong>s<br />

utiliza<strong>do</strong>res, ou criar confiança e eliminar o<br />

receio <strong>do</strong> erro”<br />

“Aprofundar o pensamento digital significa<br />

essencialmente colocar-nos <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cidadãos,<br />

ter um exercício empático e colaborativo<br />

que permita endereçar, <strong>do</strong> ponto de<br />

vista <strong>do</strong> foco <strong>do</strong> serviço e da sua simplificação,<br />

o que os cidadãos e empresas esperam.<br />

Há um ativo essencial, que são os da<strong>do</strong>s e a<br />

informação, porque é aí que podemos alavancar<br />

a maximização <strong>do</strong> valor”


98 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

METAVERSE<br />

KNS: Pedro Nogueira<br />

da Silva<br />

Head of <strong>Digital</strong> Experience, NTT DATA<br />

Portugal<br />

“O metaverso tem já um conjunto de aplicações,<br />

mas estas ainda falham no contacto<br />

entre os mun<strong>do</strong>s virtuais. E não teremos<br />

só mun<strong>do</strong>s virtuais, já que há múltiplas tecnologias<br />

que o vão complementar e definir.<br />

Esta área tem indefinições normais nas tecnologias<br />

emergentes. O metaverso está na<br />

sua infância e ainda requer muita definição”<br />

“Já ouvi mortes anunciadas e precoces, mas<br />

que me parecem manifestamente exageradas.<br />

Em 2026, cerca de um quarto da população<br />

já usará o metaverso e as gerações<br />

mais novas já o <strong>fazem</strong> hoje, com a utilização<br />

de óculos de realidade virtual. Estas tecnologias<br />

e dispositivos estão a evoluir para se tornarem<br />

menos intrusivos e para garantirem<br />

experiências imersivas ou mistas”<br />

“O metaverso impactará as nossas vidas<br />

pela positiva numa série de áreas. As empresas<br />

já estão mesmo a beneficiar destas<br />

plataformas, como o Fortnite, para fazer colocação<br />

de marca. Entretanto, o metaverso<br />

vai continuar a evoluir. Pelo que aconselho<br />

às empresas que criem a sua própria visão<br />

sobre ele, o experimentem e acompanhem<br />

a sua evolução. Se não o fizerem, vão perder<br />

o comboio”<br />

PARTNERING TOWARDS<br />

A SAFER & POSITIVE<br />

METAVERSE DISCUSSION<br />

PANEL:<br />

Luís Bravo Martins<br />

<strong>Presidente</strong>, Secção Metaverso APDC<br />

“Devemos ter consciência de que, por exemplo,<br />

nas tecnologias imersivas, estamos a<br />

falar de uma quantidade muito maior de<br />

recolha de da<strong>do</strong>s por cada utiliza<strong>do</strong>r. Ao<br />

usar estas tecnologias, há imensos da<strong>do</strong>s,<br />

desde a imagem à voz, cor da pele, todas<br />

as características podem ser capturadas.<br />

Pelo que é essencial informar os utiliza<strong>do</strong>res.<br />

As organizações devem criar soluções<br />

que aproveitem as oportunidades, mas que<br />

trabalhem os riscos”<br />

“Hoje, to<strong>do</strong>s nós sentimos a mudança no<br />

dia a dia. Contamos com serviços de IA que<br />

tornam alguns serviços tradicionais obsoletos<br />

e devemos compreender que, como indivíduos<br />

ou empresas, estamos a testar novas<br />

tecnologias sem sabermos bem quais<br />

os impactos reais da sua utilização. É essencial<br />

perceber os desafios inerentes à sua<br />

implementação”<br />

“A XRSI e a APDC estabeleceram uma parceria<br />

que nos permite explorar as potencialidades<br />

que o caminho para o metaverso<br />

permite, mas de forma responsável.<br />

Estamos num caminho sem retorno para o<br />

metaverso”


THE STATE OF THE<br />

NATION OF MEDIA<br />

Kavya Pearlman<br />

Founder & CEO, XRSI<br />

“Quan<strong>do</strong> ignoramos os riscos da tecnologia,<br />

colocamos em risco a democracia. A privacidade<br />

e a segurança, enquanto riscos, são<br />

um tópico complexo. Temos de compreender<br />

o que está em causa. As organizações<br />

que olham para o metaverso têm de perceber<br />

as questões que estão implicadas no<br />

tema”<br />

“Nos EUA não fizemos muito no que concerne<br />

à privacidade, o que nos diz que o nosso<br />

esforço tem de ser global. Com a Europa<br />

conseguimos criar uma base. Estamos<br />

a trabalhar com a Comissão Europeia, com<br />

alguns governos, com as Nações Unidas.<br />

Há desenvolvimentos otimistas, mas estamos<br />

confronta<strong>do</strong>s com um dilema que torna<br />

o nosso trabalho mais importante: só temos<br />

consciência das reais consequências<br />

da implementação da tecnologia após a<br />

sua implementação”<br />

“Tradicionalmente, a superfície de ataque<br />

da internet estava limitada a servi<strong>do</strong>res<br />

e pouco mais, mas com o metaverso essa<br />

superfície é maior e inclusivamente envolvemos<br />

pessoas e a sociedade no cenário.<br />

Acresce que o metaverso pode ser um perigo<br />

para a democracia. Os parti<strong>do</strong>s políticos<br />

podem agora, com tecnologia, manipular<br />

pessoas, polarizar votantes e fazer deep<br />

fake de informação e propaganda”<br />

Pedro Morais Leitão<br />

CEO, Media Capital<br />

“Tem havi<strong>do</strong> uma reconfiguração grande<br />

<strong>do</strong> portfolio <strong>do</strong>s serviços de publicidade que<br />

oferecemos aos anunciantes, com alguma<br />

subida de preço. Mas tem si<strong>do</strong> mais rápida<br />

a queda de ritmo e a transferência de receitas<br />

para outros meios, particularmente os<br />

digitais. Neste momento, 25% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

de publicidade convencional é feito para as<br />

plataformas globais. O caminho passa pelas<br />

parcerias e é o que to<strong>do</strong>s estamos a fazer”<br />

“A CNN é um exemplo dessas parcerias.<br />

Achamos que o streaming passa muito por<br />

parcerias e esta foi com o grupo Warner.<br />

Ainda não estamos a responder a uma tendência<br />

que se sinta já, mas que acontecerá<br />

no futuro, que é a <strong>do</strong> streaming chegar à informação.<br />

É uma aposta relevante na área<br />

da informação. Para saber se vai compensar,<br />

temos de ser pacientes. Serve um pouco<br />

de plataforma de aprendizagem para as<br />

parcerias e o negócio <strong>do</strong> streaming”<br />

“Vamos ter uma grande área de estúdios e<br />

de escritórios, para concentrar todas as operações<br />

<strong>do</strong> grupo. E surgiram uma série de estrangeiros<br />

interessa<strong>do</strong>s em usar os estúdios,<br />

porque há poucos no país de grande dimensão.<br />

O “hardware” conta. É preciso criar a<br />

infraestrutura e o apoio público é aqui importante.<br />

Mas, à partida, há muita manifestação<br />

de interesses de internacionais para<br />

usar os estúdios. A experiência que tenho<br />

ti<strong>do</strong> neste processo é boa e dá confiança<br />

que será um grande caminho. Mas, mais <strong>do</strong><br />

que fazer de banco de produtoras, é tentar<br />

encontrar modelos viáveis, de coprodução<br />

com as grandes plataformas mundiais”


100 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Francisco Pedro Balsemão<br />

CEO, Impresa<br />

“Publicidade é comunicação comercial. Vai<br />

continuar a ser fundamental para as pessoas<br />

conhecerem o que existe no merca<strong>do</strong><br />

e os anunciantes venderem. Os consumi<strong>do</strong>res<br />

têm uma enorme fragmentação para<br />

receber essa informação e os media portugueses<br />

terão de encontrar caminhos para<br />

podermos entregar os nossos conteú<strong>do</strong>s.<br />

Agora, isso é mais fácil de dizer <strong>do</strong> que fazer.<br />

Temos de saber como alocar os nossos<br />

recursos e orçamentos”<br />

“Não é impossível haver uma harmonização<br />

de condições com as big tech, como o prova<br />

a nossa parceria com a Google. Ainda assim,<br />

há aqui alguma injustiça que leva a uma<br />

concorrência desleal no digital, porque a big<br />

tech atua <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da procura e da oferta. Faz<br />

com que os seus produtos e serviços sejam<br />

mais usa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que os <strong>do</strong>s seus concorrentes.<br />

Há vários processos e atos legislativos ao<br />

nível da UE que estão a fazer face a este tipo<br />

de distorção <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, mas ainda não se<br />

vêm resulta<strong>do</strong>s. Demora algum tempo”<br />

“Com ou sem investimento público, temos<br />

um objetivo claro, que é de triplicar as nossas<br />

receitas no digital até 2025. Estamos<br />

também a investir em canais lineares digitais,<br />

para diversificar fontes de receitas. Isso<br />

não impede que façamos mais parcerias.<br />

Mas o nosso modelo de negócio é diferente.<br />

Consideramos que a tendência é para<br />

o digital e para a complementaridade. Os<br />

grandes grupos de streaming estão a reinventar-se<br />

e a cortar custos. Nós também temos<br />

de o fazer. Ainda ninguém encontrou o<br />

modelo certo. Não é fácil fazer dinheiro com<br />

o streaming, mas temos de lá estar com os<br />

parceiros certos”<br />

Nicolau Santos<br />

<strong>Presidente</strong>, RTP<br />

“É fundamental a questão da transformação<br />

para o digital. Se não a fizermos a médio<br />

prazo, podemos correr o risco de nos tornarmos<br />

irrelevantes. Como se faz isto numa<br />

conjuntura de queda de receitas e de grande<br />

mudança? Tem de ser com talento, esforço,<br />

perseverança e capacidade de acreditar<br />

que vai ser possível”<br />

“De acor<strong>do</strong> com o livro branco <strong>do</strong> serviço<br />

público de rádio e televisão, o desafio <strong>do</strong> digital<br />

tem de ser assumi<strong>do</strong> pelo setor público<br />

de media, sob o risco de se tornar irrelevante.<br />

É claramente algo que é preciso fazer,<br />

mas não é algo que se faça facilmente. A<br />

concessionaria tem de se reorganizar e a informação<br />

e jornalismo têm de ter um papel<br />

central, porque hoje vivemos desafios brutais<br />

nesta matéria. Já não nos bastavam<br />

as redes sociais, a desinformação, as fake<br />

news e agora temos a IA”<br />

“Para Portugal ter relevância no streaming<br />

tem de haver uma política pública de fomento<br />

da produção audiovisual, para financiar<br />

e apoiar os produtores independentes.<br />

Se é que o queremos fazer. A massa<br />

crítica poderia ainda ser obtida se to<strong>do</strong>s os<br />

opera<strong>do</strong>res se juntassem e criassem um<br />

player. Cada um tem a sua própria operação,<br />

que é muito pequena, face aos players<br />

mundiais”


1st DAY<br />

CLOSING SESSION<br />

DIA 10 MAIO<br />

2nd DAY WELCOME<br />

Mário Campolargo<br />

Secretário de Esta<strong>do</strong> da <strong>Digital</strong>ização<br />

e da Modernização Administrativa<br />

António Costa Silva<br />

Ministro da Economia e <strong>do</strong> Mar<br />

“O PRR resulta, ele próprio, de um evento<br />

altamente disruptivo: a pandemia de Covid-19.<br />

E a resposta europeia à crise económica<br />

provocada por esta crise sanitária é<br />

outro exemplo de decisão rápida e de forma<br />

coesa. Agora, temos pela frente um caminho<br />

de disrupção composto pelo PRR e<br />

pelo Portugal 2030. Não sen<strong>do</strong> os fun<strong>do</strong>s<br />

europeus uma fonte eterna, Portugal terá<br />

inevitavelmente de fazer mais com os recursos<br />

e com o que consegue gerar”<br />

“A APDC tem si<strong>do</strong> uma força motriz em Portugal<br />

na reflexão sobre o desenvolvimento<br />

das <strong>TIC</strong>, a digitalização e o seu impacto na<br />

economia e na transformação da vida das<br />

empesas e das pessoas. Estamos a viver<br />

tempos absolutamente fascinantes, embora<br />

de algumas ameaças que devem ser<br />

analisadas, discutidas e consideradas nas<br />

políticas públicas. Estamos a viver uma disrupção<br />

tecnológica extraordinária ao nível<br />

<strong>do</strong> nosso teci<strong>do</strong> empresarial”<br />

“A disrupção é hoje, verdadeiramente, o<br />

normal. A tecnologia em que se baseia o<br />

ChatGPT demorou cerca de nove anos a<br />

ser desenvolvida, mas apenas 55 dias para<br />

atingir 100 milhões de utiliza<strong>do</strong>res. Avanços<br />

que em gerações anteriores se davam em<br />

100, 50 ou 10 anos, hoje surgem de forma<br />

aparentemente imediata”<br />

“Precisamos de garantir que as pessoas<br />

permanecem no controlo <strong>do</strong> processo de<br />

inovação e de decisão, que capacitamos<br />

e preparamos a população para entender<br />

os benefícios e os riscos da tecnologia que<br />

desenvolvemos, numa interação harmoniosa<br />

entre pessoa e máquina. Mas se, coletivamente,<br />

abraçarmos estas causas como<br />

nossas, saberemos superar os novos desafios<br />

e disrupções”<br />

“A economia portuguesa está a experienciar<br />

os processos de transformação digital<br />

de uma forma cada vez mais evidente<br />

e transversal. A economia ligada à digitalização<br />

<strong>do</strong>s processos, à transformação <strong>do</strong>s<br />

modelos de negócio, à reconfiguração das<br />

cadeias de produção e logística, o que está<br />

a levar à promoção de novas dimensões da<br />

economia. O ciberespaço multiplica o merca<strong>do</strong><br />

e globaliza as atividades económicas,<br />

potencia a economia <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s”<br />

“Estamos a dar toda a atenção à execução<br />

<strong>do</strong> PRR e <strong>do</strong> pacote PT2030, que também<br />

tem verbas muito significativas para a<br />

inovação digital e a transição tecnológica.<br />

Acredito profundamente que a intensificação<br />

da revolução tecnológica e a digitalização<br />

os processos de trabalho e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s<br />

de produção pode aumentar a produtividade<br />

das empresas e a competitividade <strong>do</strong><br />

país. E isso está a ser refleti<strong>do</strong> nos números<br />

que a economia portuguesa está a apresentar<br />

e que são notáveis”


102 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

IS THE RECOVERY AND<br />

RESILIENCE PLAN<br />

TRANSFORMING THE<br />

PORTUGUESE DIGITAL<br />

LANDSCAPE?<br />

KNS: Pedro Dominguinhos<br />

<strong>Presidente</strong> da Comissão Nacional<br />

de Acompanhamento <strong>do</strong> PRR<br />

“Os da<strong>do</strong>s mostram a necessidade de ir<br />

mais depressa nas PME. Até que ponto o<br />

PRR está alinha<strong>do</strong> com este diagnóstico?<br />

Portugal tem 650 milhões de euros e, se<br />

juntarmos a resiliência em termos de formação<br />

em STEAM, tem mais 200 milhões<br />

de euros. Estamos a falar de 850 milhões<br />

na área da digitalização. Com uma componente<br />

relevante de verbas destinadas à<br />

AP, seguin<strong>do</strong>-se a área <strong>do</strong> capital humano<br />

e depois os programas dirigi<strong>do</strong>s às PME”<br />

“Nas PME, destaco projetos como os <strong>Digital</strong><br />

Innovation Hubs, a Rede Nacional de Tests<br />

Beds, a internacionalização via e-commerce,<br />

os vouchers startup e o programa Coaching<br />

4.0. ”<br />

“O desafio de 2023 é colocar os programas<br />

<strong>do</strong> PRR no terreno, para que as empresas<br />

possam beneficiar destes apoios. Estamos<br />

a falar de PME, que têm uma capacidade<br />

financeira mais reduzida. Este é um desafio<br />

fundamental e é algo que temos de acelerar.<br />

Até porque algumas destas metas e<br />

marcos são profundamente exigentes no<br />

tempo. Estamos perante um programa<br />

muito ambicioso, que exige um compromisso<br />

muito grande de to<strong>do</strong>s”<br />

Armin<strong>do</strong> Monteiro<br />

<strong>Presidente</strong>, CIP – Confederação<br />

da Indústria Portuguesa<br />

“De quem é a culpa no atraso <strong>do</strong> PRR? O<br />

peca<strong>do</strong> original está na forma como foi<br />

construí<strong>do</strong>. Logo desde o início houve uma<br />

tremenda falta de ambição. Trata-se de um<br />

investimento e por isso na Europa chamase<br />

Next Generation, mas em Portugal chama-se<br />

Plano de Recuperação. Se o PRR se<br />

aplicasse às empresas, na sua linguagem, o<br />

time to market já estava obsoleto. Hoje, não<br />

é elegível para a maioria das necessidades<br />

e prioridades das empresas”<br />

“Como é próprio das empresas, aproveitam<br />

sempre ao máximo o que é possível.<br />

O que esperamos é que, ainda com to<strong>do</strong>s<br />

estes handicaps de base, que chegue rapidamente.<br />

Mas, para isso, é preciso que a<br />

administração <strong>do</strong> PRR confie mais nos seus<br />

agentes económicos. Há entidades portuguesas<br />

em quem se confia, que estão na esfera<br />

da AP, e outras em quem não se confia,<br />

que estão na esfera privada”<br />

“A transparência e a aplicação correta <strong>do</strong><br />

PRR são requisitos. Este dinheiro não é gratuito,<br />

visa um investimento. Nas empresas,<br />

a procura ultrapassou várias vezes a oferta.<br />

É uma prova que os priva<strong>do</strong>s estão disponíveis<br />

para investir. Mas muito <strong>do</strong> que está<br />

neste momento a ser gasto na AP é em<br />

OPEX e não em CAPEX. O que é exigi<strong>do</strong> ao<br />

priva<strong>do</strong> não está a ser exigi<strong>do</strong> ao público”


ECONOMICS IS ALL<br />

ABOUT DISRUPTION?<br />

YES, LET’S DEBATE HOW<br />

Victor Calvo-Sotelo<br />

General Director, <strong>Digital</strong>ES<br />

“Em Espanha temos o mesmo tipo de discussões.<br />

Com uma diferença, de em Portugal<br />

haver uma comissão independente para<br />

o acompanhamento da aplicação <strong>do</strong> PRR,<br />

que não temos. E deveríamos ter. Há muitas<br />

formas de colaboração entre o Esta<strong>do</strong> e<br />

os priva<strong>do</strong>s, mas não uma entidade destas,<br />

que poderia ajudar, porque a quantidade de<br />

dinheiro é tão elevada, sabemos que o Esta<strong>do</strong><br />

poderá ter dificuldade em lidar com isso.<br />

Até pela complexidade da administração”<br />

“No ano passa<strong>do</strong>, para evitar processos<br />

muito complexos, o governo apostou na<br />

simplificação para a atribuição <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s<br />

ao setor priva<strong>do</strong>. Mas ainda não é suficiente.<br />

Continua a ser mais fácil dentro<br />

<strong>do</strong> setor público. Enquanto em Portugal a<br />

maior parte <strong>do</strong> dinheiro <strong>do</strong> PRR vai para o<br />

setor público, em Espanha vai para o priva<strong>do</strong>.<br />

Mas, definitivamente temos de acelerar<br />

este ano”<br />

“Precisamos de fazer as <strong>coisas</strong> de forma diferente.<br />

Temos mais de um milhão de PME<br />

e no apoio a elas os organismos públicos terão<br />

de aplicar três mil milhões de euros para<br />

a sua transformação digital. Com a criação<br />

de um novo sistema de procurement, to<strong>do</strong><br />

feito online e da forma mais simples possível.<br />

É uma das razões <strong>do</strong> sucesso”<br />

Ricar<strong>do</strong> Reis<br />

Professor de economia, titular<br />

da cátedra A.W. Phillips, Lon<strong>do</strong>n<br />

School of Economics<br />

“Há um ano e meio, estava otimista, porque<br />

as mudanças que estávamos a ter no mun<strong>do</strong><br />

têm si<strong>do</strong> benéficas para Portugal. Incluin<strong>do</strong><br />

a pandemia. O país tem oportunidades, mas<br />

tem de saber agarrá-las. Estes benefícios têm<br />

de se concretizar e não vejo dinâmica para os<br />

aproveitar. Isso vem <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, mas também<br />

das mudanças na configuração <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

internacional, que exigem foco”<br />

“A elevada carga fiscal é um obstáculo ao<br />

crescimento económico. Não há ferramenta<br />

mais poderosa de um esta<strong>do</strong> para afetar<br />

a economia <strong>do</strong> que a fiscalidade. Altera o<br />

retorno de todas as atividades económicas.<br />

A estabilidade fiscal é muito importante,<br />

porque é impossível poder planear sem isso<br />

e Portugal não o tem consegui<strong>do</strong> oferecer.<br />

Espero que melhore”<br />

“Temos de ganhar escala, virada para o<br />

merca<strong>do</strong> externo, em empresas e talento.<br />

Este é o desafio, para darmos o salto seguinte.<br />

É um grande foco a ter nos próximos<br />

tempos. O sucesso <strong>do</strong> PRR dependerá muito<br />

da qualidade da sua aplicação e isso não<br />

se vê nos planos e números. Tu<strong>do</strong> depende<br />

da capacidade de acompanhar a execução,<br />

testar, experimentar, aprender com o<br />

que correu bem e mudar. Corrigir rapidamente<br />

a qualidade da afetação de recursos<br />

é muito importante”


104 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Pedro Siza Vieira,<br />

<strong>Presidente</strong>, 32° <strong>Congress</strong>o<br />

“Se Portugal, nas últimas duas décadas, foi<br />

um <strong>do</strong>s perde<strong>do</strong>res da globalização, está<br />

a registar exatamente o movimento inverso.<br />

Quer nas exportações, quer no investimento<br />

direto estrangeiro, onde tem bati<strong>do</strong><br />

recordes. Esta situação positiva já se reflete<br />

nas contas das empresas, em termos<br />

de autonomia. Estão menos endividadas,<br />

com mais capitais próprios e aumento de<br />

rentabilidade”<br />

“Há um conjunto de grandes mudanças<br />

que são uma oportunidade para Portugal.<br />

Temos de ver como as podemos concretizar,<br />

para não serem meramente circunstanciais,<br />

dan<strong>do</strong> um salto muito positivo no<br />

nosso posicionamento internacional”<br />

“Precisamos mesmo é de escala. Crescemos<br />

muito em Portugal, já não nos limitamos a<br />

produzir barato, desenvolvemos produtos e<br />

processos e somos capazes de crescer e de<br />

nos tornarmos competitivos. Falta-nos os<br />

ganhos de escala e capacidade de ter uma<br />

relação direta com o consumi<strong>do</strong>r, que são<br />

os grandes desafios estratégicos que Portugal<br />

tem pela frente”<br />

QUANTUM<br />

COMMUNICATION<br />

AND COMPUTING<br />

KNS: Arman<strong>do</strong> Nolasco<br />

Pinto<br />

Professor Associa<strong>do</strong>, Universidade<br />

de Aveiro; Investiga<strong>do</strong>r, Instituto de<br />

Telecomunicações<br />

“As tecnologias quânticas permitem-nos<br />

manipular esta<strong>do</strong>s quânticos e tentamos tirar<br />

parti<strong>do</strong> das suas particularidades. A estranheza<br />

que temos face ao quântico resulta<br />

de não estarmos habitua<strong>do</strong>s a ele”<br />

“É altura de começarem a surgir <strong>coisas</strong> verdadeiramente<br />

disruptivas e é o que está,<br />

de facto, a acontecer. E que era expectável.<br />

Na parte das comunicações, seja para enviar<br />

mais informação, ou enviar informação<br />

de forma mais segura, temos a criptografia<br />

quântica. Na parte da computação, porque<br />

um computa<strong>do</strong>r quântico consegue resolver<br />

problemas que de outra forma seriam muito<br />

difíceis de resolver. Na simulação quântica.<br />

E na sensorização. É nestes quatro pilares<br />

que a teoria quântica tem evoluí<strong>do</strong> e se tem<br />

expandi<strong>do</strong>”<br />

“Em Aveiro, temos <strong>do</strong>is grandes projetos em<br />

que estamos a trabalhar. O Discretion, um<br />

projeto na área da defesa, que permite que<br />

o Esta<strong>do</strong> tenha uma cifra nacional encriptada<br />

por máquinas com tecnologia nacional.<br />

E o PTQCI, que integra a redes de sistemas<br />

quânticos de proteção que estão a ser<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s pela UE”


Catarina Bastos<br />

Defence Account Manager, Deimos<br />

Engenharia<br />

“A ciência quântica evoluiu imenso nos últimos<br />

anos em Portugal. O que aconteceu<br />

foi uma trilogia de sucesso, com o aparecimento<br />

de três vertentes importantes: a<br />

indústria, que interagiu com a academia<br />

para começar a pôr no terreno e desenvolver<br />

estas tecnologias para serem utilizadas<br />

no âmbito da defesa ou das comunicações;<br />

e falan<strong>do</strong> com o GNS”<br />

Manuel da Costa<br />

Honorato<br />

Sub-Diretor Geral, Gabinete Nacional<br />

de Segurança (GNS)<br />

“O GNS trata essencialmente da informação<br />

classificada, incluin<strong>do</strong> as soluções e os<br />

produtos para assegurar a segurança dessa<br />

informação. Entre os quais está a criptografia.<br />

Trabalhamos com todas as entidades<br />

públicas e privadas, sejam empresas,<br />

laboratórios e academia. Temos sempre<br />

este propósito de agregar”<br />

“Começou tu<strong>do</strong> com o Discretion, que é um<br />

projeto europeu pioneiro na área, basea<strong>do</strong><br />

num programa para a inovação na indústria,<br />

na área da Defesa. Portugal apanhou<br />

este desafio, e com cinco companhias europeias,<br />

a Defesa e o GNS, estamos a desenvolver<br />

tecnologia que vai ter nós quânticos.<br />

O projeto é bastante longo e estamos neste<br />

momento na fase <strong>do</strong> design, de definir uma<br />

arquitetura de rede”<br />

“Na segurança da comunicação e informação<br />

segura, existem várias redes seguras,<br />

mas que são como que arquipélagos.<br />

Estão suportadas em tecnologia assumida<br />

por organizações internacionais, às quais<br />

pertencemos. Até agora, nunca tivemos capacidade<br />

para desenvolver uma solução<br />

criptográfica nacional. É isso que estamos<br />

a desenvolver, através destes <strong>do</strong>is projetos:<br />

Discretion e PTQCI”<br />

“Temos desafios de certificação e estandardização<br />

<strong>do</strong>s projetos, já que existe muito<br />

pouco feito, mesmo a nível europeu. A<br />

NATO tem algum trabalho feito, mas devemos<br />

compreender que standards devem<br />

ser implementa<strong>do</strong>s para que mais tarde todas<br />

as redes nacionais sejam interoperáveis.<br />

A rede nacional estará concluída em<br />

2025, mas temos como objetivo continuar o<br />

desenvolvimento”<br />

“Portugal não deve estar dependente de<br />

soluções sobre as quais não controla o seu<br />

ciclo de vida, pois é uma vulnerabilidade à<br />

nossa soberania. Devemos ter uma solução<br />

criptográfica nacional e é o que estamos a<br />

fazer com o Discretion e o PTQCI. Permitemnos<br />

dar um passo enorme e faculta uma<br />

garantia importante. Esperamos durante<br />

2023 lançar a fase de industrialização, passan<strong>do</strong><br />

além da prototipagem”


106 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

NEW CYBERSECURITY<br />

OPPORTUNITIES & RISKS<br />

KNS: António Gameiro<br />

Marques<br />

Diretor-geral, Gabinete Nacional de<br />

Segurança (GNS)<br />

“A cibersegurança, tal como outras áreas,<br />

junta uma trilogia ganha<strong>do</strong>ra: setor público,<br />

indústria e academia. Temos de apostar<br />

nela. Se no atual contexto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real,<br />

o equilíbrio entre o físico e o virtual é ténue<br />

e se verificam ataques a <strong>do</strong>is dígitos, o que<br />

poderá vir a acontecer no futuro, com a implementação<br />

sucessiva de tecnologias disruptivas<br />

na nossa vida? Há muitas questões<br />

por responder”<br />

“O problema <strong>do</strong> talento é de dificil resolução<br />

e poderá, no futuro, ter consequências<br />

estratégicas, com a progressiva redução de<br />

funções essenciais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, incluin<strong>do</strong> as<br />

de identidade soberana, que podem ficar<br />

nas mãos de empresas cuja estrutura acionista<br />

não controlamos. Isso é algo em que<br />

temos de refletir. É a minha posição, como<br />

convicto defensor das democracias liberais”<br />

“Quan<strong>do</strong> cooperamos é poderoso, em prol<br />

da modernidade, da segurança coletiva. É<br />

absolutamente ganha<strong>do</strong>r. Ter o compromisso<br />

das lideranças é também essencial,<br />

pois sem ele não conseguimos fazer nada.<br />

Tal como capacitar coletivamente, para superar<br />

adversidades, o que implica o empenho<br />

de todas as organizações e pessoas.<br />

Isto representa o nosso maior desafio”<br />

Carla Zibreira<br />

<strong>Digital</strong> Trust <strong>Business</strong> Unit Director,<br />

Axians<br />

“Em termos de cibersegurança, ainda há<br />

a ideia nas empresas de que é um custo<br />

e não um investimento. O que traz muito<br />

para cima da mesa a dificuldade de justificar<br />

o investimento que tem de ser feito, sem<br />

ter o respetivo retorno. Tem de se explicar a<br />

quem decide nas organizações, no senti<strong>do</strong><br />

de perceber o impacto que estes ataques<br />

podem ter no negócio”<br />

“Há um fator que influencia diretamente o<br />

custo da segurança: as pessoas. Há falta de<br />

capacidade e talento nesta área. Também<br />

as vamos buscar ao IT e roubamos pessoas,<br />

o que se traduz num aumento <strong>do</strong>s valores<br />

<strong>do</strong>s salários. A tecnologia de per si não resolve<br />

nada, precisamos de pessoas com massa<br />

cinzenta por detrás. Mas é um negócio em<br />

crescimento. Há aqui uma oportunidade”<br />

“Temos de entender o minset de quem ataca,<br />

de ter sensibilidade ao risco e por isso<br />

temos piratas bons nas nossas equipas. Temos<br />

de ser malandros e o sucesso <strong>do</strong> que<br />

<strong>fazem</strong>os e das recomendações que damos<br />

aos nossos clientes está muito basea<strong>do</strong> na<br />

aproximação e conhecimento que adquirimos<br />

dessa forma”


Luís Antunes<br />

Professor Catedrático, Universidade<br />

<strong>do</strong> Porto<br />

Rui Shantilal<br />

Managing Partner, Devoteam Cyber<br />

Trust<br />

“A cibersegurança hoje tem uma importância<br />

muito grande porque nem a internet,<br />

nem os sistemas de informação, foram<br />

desenha<strong>do</strong>s para serem seguros, mas para<br />

serem resilientes. Nunca esperámos um<br />

crescimento tão rápi<strong>do</strong> e uma dependência<br />

tão rápida deste tipo de tecnologias. Quanto<br />

maior é a evolução, mais vulneráveis ficamos.<br />

Aqui, as academias têm uma grande<br />

responsabilidade”<br />

“Sempre houve uma grande pressão nas<br />

equipas de desenvolvimento para avançar<br />

com produtos, sem importar como. Na AP<br />

é claro que isso aconteceu. Mas o priva<strong>do</strong><br />

também não é exceção. Se houver problemas<br />

de segurança, resolve-se depois”<br />

“Um em cada cinco talentos no merca<strong>do</strong><br />

nacional já trabalha <strong>do</strong> país para o exterior,<br />

pois são altamente atraentes para merca<strong>do</strong>s<br />

onde o ordena<strong>do</strong> médio é mais alto. Ganham<br />

duas ou três vezes o ordena<strong>do</strong> que<br />

recebiam. Perante esta realidade, as empresas<br />

de TI e de cibesegurança ou se conseguem<br />

internacionalizar e começam a pagar<br />

valores iguais aos de lá fora, ou os seus<br />

clientes terão de pagar mais pelas soluções.<br />

E não vão querer. É um problema que tem<br />

de ser debati<strong>do</strong>”<br />

“Há outro elefante na sala: temos de pensar<br />

de forma estruturada em como conseguir<br />

dar benefícios fiscais para não perdermos o<br />

talento nacional. Esta é a realidade to<strong>do</strong>s os<br />

dias em Portugal”<br />

“Os ataques resultam de um desafio intelectual,<br />

tu<strong>do</strong> começa aí. À data de hoje os<br />

grandes ataques são oportunistas. Algo se<br />

passou com algum recurso humano que<br />

fez alguma coisa mal. Gosto de avaliar o<br />

risco de fora, mas isso não é suficiente. Tem<br />

de se avaliar o risco de dentro. Porque, na<br />

maior parte das vezes, não estamos protegi<strong>do</strong>s.<br />

Cibersegurança implica um conjunto<br />

de várias componentes”<br />

“Há uma parte <strong>do</strong>s cibertataques que ainda<br />

são oportunistas, mas há cada vez mais<br />

especializa<strong>do</strong>s em grandes empresas ou até<br />

setoriais. Sempre com o objetivo <strong>do</strong> lucro. Se<br />

os atacantes estão cada vez mais sofistica<strong>do</strong>s<br />

e organiza<strong>do</strong>s, também teremos de estar.<br />

Neste momento o cibercrime continua a<br />

crescer e ainda vai à frente”


108 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

THE DISRUPTION<br />

POWER OF AI<br />

Microsoft ’s perspetive<br />

KNS: David Carmona<br />

General Manager Artificial Intelligence<br />

& Innovation, Microsoft<br />

“Para cada avanço em IA na última década,<br />

existiu um conjunto de tasks e especialistas<br />

foca<strong>do</strong>s numa componente <strong>do</strong> seu<br />

desenvolvimento. Mas hoje há um novo paradigma,<br />

em que o mesmo modelo consegue<br />

fazer diferentes tarefas em diferentes<br />

cenários, de forma consistente e sem alteração.<br />

Já não necessitamos de um conjunto<br />

de especialistas, ferramentas ou algoritmos<br />

especializadas”<br />

“A magnitude e o poder <strong>do</strong>s atuais modelos<br />

de IA é imensa. O que está por detrás<br />

deste novo paradigma é um novo conceito<br />

fundacional de modelo. Ao invés da abordagem<br />

tradicional de uma amostra de datasets,<br />

utilizamos o arquivo total para treinar<br />

estes modelos. Permite que utilizemos<br />

linguagem natural, sem necessidade de<br />

costumização, para dizermos ao modelo o<br />

que fazer”<br />

“Em termos de impacto <strong>do</strong> novo paradigma<br />

da IA nos negócios, com este novo modelo,<br />

o que podemos ter é a IA como uma plataforma.<br />

O poder por detrás disto, a escalabilidade<br />

em toda a organização, é enorme. A<br />

IA pode ser costumizada aos requisitos <strong>do</strong><br />

negócio, transforman<strong>do</strong> o conceito de information<br />

worker num intelligence worker,<br />

que se foca nos problemas que realmente<br />

interessam”<br />

Google ’s perspetive<br />

KNS: Pablo Carlier<br />

Head of Data Analytics & AI Iberia,<br />

Google<br />

“Transitámos de modelos específicos para<br />

cliente e modalidade, para uma forma de<br />

trabalhar muito mais semelhante à forma<br />

como o nosso cérebro funciona. Foi<br />

esta capacidade de associação que nos levou<br />

de modelos simples de pergunta e resposta<br />

para modelos de relacionamento, o<br />

que permitiu a criação de um sistema que,<br />

por exemplo, identifica uma pessoa numa<br />

imagem.”<br />

“As enormes capacidades que temos à nossa<br />

frente mostram-nos que evoluímos de<br />

modelos muito específicos e costumiza<strong>do</strong>s<br />

para cada task, para as capacidades<br />

de trabalhar de mo<strong>do</strong> mais similar à forma<br />

como o cérebro funciona. Com a capacidade<br />

de perceber conceitos em todas as<br />

áreas, seja em texto, imagens, som, vídeo, o<br />

que se imaginar. Onde estará o limite para<br />

isto? Trazemos magia à nossa vida to<strong>do</strong>s os<br />

dias”<br />

“O que vai acontecer no futuro? Temos de<br />

ser audazes e responsáveis na forma como<br />

exploramos novas soluções baseadas nestas<br />

aplicações. A inovação deve ser aberta,<br />

disponibilizada como modelos open source.<br />

E as pessoas serão responsáveis pelo crescimento<br />

destas soluções, pelo que se devem<br />

preparar para liderar com elas, maximizan<strong>do</strong><br />

as suas capacidades. Agora é o tempo<br />

para imaginarmos, sonharmos e construirmos<br />

estas experiências em conjunto”


ADVANCEMENTS IN<br />

AUTONOMOUS DRIVING<br />

KNS: Mark Roberts<br />

Principal Technologist Hybrid<br />

Intelligence, Capgemini Engineering<br />

“Estou envolvi<strong>do</strong> no campo da IA há cerca<br />

de 25 anos. o que me dá uma perspetiva<br />

única <strong>do</strong> que se está a passar atualmente.<br />

Se nos últimos 10 anos se falou muito da<br />

condução autónoma, foi sempre dizen<strong>do</strong><br />

que a IA estaria muito mais próxima <strong>do</strong> que<br />

realmente está. Ainda nos falta um longo<br />

caminho para uma total autonomia.”<br />

“Ainda não temos confiança nos sistemas,<br />

que nos dão razões para não confiar. O<br />

ponto central, de responder às necessidades,<br />

não é suficiente, porque o que se julga<br />

sempre é onde se falhou, o que correu mal.<br />

O que precisamos agora é de uma IA que<br />

seja confiável, que use modelos de contexto<br />

mais simples e que compreenda o mun<strong>do</strong> e<br />

como ele funciona. Só assim se poderá conduzir<br />

em segurança”<br />

“Confiar na IA será dificil. Estratégias baseadas<br />

apenas no treino e na experiência não<br />

vão ser bem-sucedidas, porque se pensará<br />

sempre no que corre mal. Haverá sempre<br />

alguma coisa. Não podemos saltar logo<br />

para a solução final, precisamos de mais<br />

trabalho e de ambientes controla<strong>do</strong>s de<br />

teste. E a perceção coletiva é essencial, porque<br />

os carros autónomos trabalharão em<br />

conjunto e em colaboração. E finalmente,<br />

uma das <strong>coisas</strong> mais importantes é a regulação,<br />

porque cria confiança no utiliza<strong>do</strong>r”<br />

Paulo Fernandes,<br />

<strong>Presidente</strong>, Câmara Municipal<br />

<strong>do</strong> Fundão<br />

“Quan<strong>do</strong> temos um desafio tão grande,<br />

to<strong>do</strong>s temos um papel. Territórios como o<br />

Fundão, no interior <strong>do</strong> país, podem funcionar<br />

como espaço de teste e estar na linha<br />

da frente. Pode aproveitar-se o que temos<br />

e sermos uma interface em áreas tão relevantes<br />

como a gestão remota, o 5G e os softwares<br />

associa<strong>do</strong>s, as baterias, os parques<br />

inteligentes”<br />

“O Fundão foi o segun<strong>do</strong> lugar no país a<br />

criar um living lab, como modelo de um<br />

ecossistema digital. Mas reconheço que a<br />

questão de avançar com abordagens de<br />

conceitos mais reais de teste foi um fatorchave.<br />

O contexto real ajuda a despistar<br />

caminhos, o que é muito relevante para<br />

podermos ser eficazes. Foi assim que nos<br />

posicionámos na agenda da mobilidade”<br />

“Estamos envolvi<strong>do</strong>s na agenda mobiliza<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong> Route 25, no âmbito <strong>do</strong> PRR, com<br />

várias demos a desenvolver a partir da região.<br />

Neste cluster que está a ser formata<strong>do</strong><br />

no desenvolvimento da autonomia <strong>do</strong>s veículos,<br />

se pudermos beneficiar de algumas<br />

das vertentes, em termos de interface de<br />

forma mais permanente, é uma vantagem<br />

para a qual não podemos deixar de olhar”


110 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Rui Ribeiro<br />

<strong>Presidente</strong>, Autoridade Nacional<br />

de Segurança Ro<strong>do</strong>viária<br />

“Temos de nos habituar que as máquinas<br />

vão cometer erros e é natural que o façam.<br />

O que não é natural é que o façam mais <strong>do</strong><br />

que uma vez e repetidamente. Devemos caminhar<br />

para que os veículos com cada vez<br />

mais automação não cometam as mesmas<br />

asneiras. Não se pode dizer o mesmo <strong>do</strong>s humanos,<br />

que repetem os erros”<br />

“Confiamos nos automatismos na parte da<br />

mecânica e nas ajudas à condução e estamos<br />

habitua<strong>do</strong>s a elas. Temos já muitas<br />

<strong>coisas</strong> automatizadas, mas existe sempre<br />

alguém por detrás que toma uma decisão<br />

quan<strong>do</strong> algo não corre bem. O conceito de<br />

autónomo, com vida própria, está ainda<br />

longe. Mas cada vez mais temos ajudas automatizadas<br />

nas competências para conduzir<br />

um carro”<br />

“Temos uma missão clara <strong>do</strong> planeamento<br />

das políticas <strong>do</strong> Governo para a condução<br />

ro<strong>do</strong>viária. Neste momento, o que <strong>fazem</strong>os<br />

é estar em to<strong>do</strong>s os fóruns internacionais,<br />

ir absorven<strong>do</strong> e contribuin<strong>do</strong> para o tema<br />

<strong>do</strong>s veículos autónomos e automatiza<strong>do</strong>s.<br />

Continuamos a trabalhar em vários grupos<br />

neste âmbito. É altamente provável que<br />

Portugal não vá fabricar carros, mas pode<br />

ser perfeitamente um país para testes aos<br />

veículos autónomos”<br />

TELECOMMUNICATION<br />

INFRASTRUCTURES<br />

Pedro Rocha<br />

CEO, FastFiber<br />

“Disponibilizamos uma rede de fibra ótica<br />

para que os opera<strong>do</strong>res possam disponibilizar<br />

redes de alta velocidade aos clientes.<br />

Temos uma rede passiva que se assume<br />

como a autoestrada por onde passam todas<br />

as comunicações. Somos o maior opera<strong>do</strong>r<br />

de fibra e tivemos de aumentar a<br />

rede. Queremos ser o opera<strong>do</strong>r de referência<br />

para to<strong>do</strong>s os opera<strong>do</strong>res de telecomunicações.<br />

Somos equidistantes em relação<br />

a to<strong>do</strong>s”<br />

“Estamos muito bem, com mais de 92% de<br />

cobertura. A Alemanha, França ou EUA têm<br />

taxas muito inferiores à nossa. Mas existem<br />

áreas brancas onde é necessário maior investimento,<br />

crian<strong>do</strong>-se mais redes de fibra<br />

para assegurar conectividade. Estas infraestruturas<br />

devem servir os opera<strong>do</strong>res<br />

que queiram investir em Portugal, que têm<br />

exigências muito elevadas”<br />

“A alienação das infraestruturas por parte<br />

<strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res teve que ver com a monetização<br />

<strong>do</strong>s ativos que tinham nessa área.<br />

Assim como com a possibilidade de encontrarem<br />

parceiros para essa área e com a<br />

capacidade de investirem no seu real core,<br />

que são os serviços. Passaram a ter as redes<br />

ubíquas, que empresas como a nossa<br />

asseguram”


José Rivera<br />

CTO, Vantage Towers<br />

Nuno Carvalhosa<br />

CEO, Cellnex Portugal<br />

“No contexto <strong>do</strong> nosso negócio, as torres de<br />

telecomunicações, os nossos clientes querem<br />

ter fibra. O que temos esta<strong>do</strong> a fazer é<br />

chegar a acor<strong>do</strong> com to<strong>do</strong>s os fornece<strong>do</strong>res<br />

de fibra para chegarem aos nossos sites. Já<br />

são mais de 80%. E estamos dispostos a investir<br />

na parte <strong>do</strong> last mile, achamos que<br />

deter redes de fibra não é, neste momento,<br />

o foco <strong>do</strong> nosso negócio. Mas ligar as torres<br />

a essas redes de fibra é. É onde estamos a<br />

investir”<br />

“As infraestruturas são críticas para to<strong>do</strong>s<br />

os países e são mais valorizadas por isso.<br />

Portugal está bem capacita<strong>do</strong>. Existe uma<br />

necessidade cada vez maior de conetividade,<br />

para suportar todas as tecnologias,<br />

como a IA. E toda a parte de IA aplicada à<br />

inteligência <strong>do</strong> nosso negócio está em explosão,<br />

o que é também uma vantagem<br />

para o nosso core business”<br />

“Com a cisão, colocámos to<strong>do</strong> o nosso negócio<br />

ao serviço de quem o quiser usar. Estan<strong>do</strong><br />

associa<strong>do</strong>s a um negócio, não era<br />

bem assim. Neste momento, o objetivo é ter<br />

o máximo de eficiência possível, o que vai<br />

ajudar muito o ecossistema. Trazen<strong>do</strong> eficiências,<br />

vai libertar dinheiro para outros<br />

investimentos, o que é relevante. Estamos<br />

ainda numa fase jovem na Europa, mas<br />

trará benefícios”<br />

“2022 foi um ano de grande atividade e<br />

imensos desafios, porque houve uma confluência<br />

muito grande de pedi<strong>do</strong>s de novas<br />

tecnologias nas nossas infraestruturas.<br />

Conseguimos contribuir, de forma relevante,<br />

para ajudar os nossos clientes nos seus<br />

projetos de crescimento, em particular na<br />

introdução muito acelerada <strong>do</strong> 5G”<br />

“Gerimos, em Portugal, mais de 6 mil infraestruturas<br />

de vários tipos e tivemos, num<br />

curto-espaço de tempo, de adaptar, reforçar<br />

e substituir várias, para estarem aptas e<br />

em segurança. Interviemos em mais de três<br />

mil e fizemos o esforço de sincronizar tu<strong>do</strong><br />

isto, as nossas equipas internas e o ecossistema<br />

de vários parceiros, para dar uma resposta<br />

em grande volume e em muito pouco<br />

tempo”<br />

“Para smart cities e países inteligentes,<br />

é importante instalar infraestruturas em<br />

to<strong>do</strong> o país, que garantam boa cobertura<br />

de rede móvel. Estas infraestruturas servem<br />

também para suportar equipamentos <strong>do</strong>s<br />

mais diferentes tipos, como serviços de comunicações<br />

móveis <strong>do</strong>s diversos opera<strong>do</strong>res,<br />

mas também possibilidades como IoT.<br />

Passamos a cobrir mais de 450 localidades<br />

nos últimos três anos, que têm agora ótima<br />

cobertura de serviço móvel, algumas mesmo<br />

em 5G”


112 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

THE STATE OF THE<br />

NATION OF<br />

COMMUNICATIONS<br />

Luís Lopes<br />

CEO, Vodafone Portugal<br />

“A nossa indústria na Europa está fragmentada<br />

e os opera<strong>do</strong>res têm uma subescala<br />

que tem de ser endereçada. Temos perto de<br />

100 opera<strong>do</strong>res e 600 MVNO. Há cinco vezes<br />

menos opera<strong>do</strong>res e menos de metade<br />

<strong>do</strong>s MVNO em países como os EUA. O resulta<strong>do</strong><br />

prático desta fragmentação é que<br />

os investi<strong>do</strong>res das telcos na Europa não<br />

olham para ele com especial apetite. É uma<br />

realidade”<br />

“O negócio que foi proposto e que está sob<br />

apreciação da AdC, de compra da Nowo<br />

pela Vodafone, tem como racional estratégico<br />

uma oportunidade de acelerar investimentos<br />

na Nowo, que tem uma rede<br />

de cabo já bastante desatualizada. Com<br />

mais vantagens para os clientes. Estamos<br />

há 30 anos no país e com uma visão de<br />

longo-prazo”<br />

“Há seis empresas, todas baseadas nos<br />

EUA, responsáveis por 50% de to<strong>do</strong> o tráfego<br />

que circula nas redes nacionais de telecomunicações.<br />

É um tráfego que vai exigir<br />

ainda mais investimentos em 5G e em capacidade<br />

e aqueles utiliza<strong>do</strong>res da infraestrutura<br />

não pagam nada por usá-la. Este é<br />

um grande debate para a indústria, porque<br />

esta também deveria contribuir para a rentabilização<br />

<strong>do</strong> investimento. É urgente que<br />

se tome uma decisão nesta matéria”<br />

Miguel Almeida<br />

CEO, NOS SGPS<br />

“É evidente que o regula<strong>do</strong>r tem uma narrativa<br />

que construiu com base em não factos<br />

e falácias, para levar a cabo uma agenda<br />

que é pessoal e ideológica. To<strong>do</strong>s sabemos<br />

isso. Era impossível levar a efeito essa agenda<br />

sem construir essa narrativa falsa, nomeadamente<br />

a <strong>do</strong>s preços. A concorrência<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> faz-se por tu<strong>do</strong>. Há investimento,<br />

há serviços de nova geração, existe disponibilidade<br />

e há penetração e subscrição<br />

de serviços”<br />

“A explicação das motivações de entrada<br />

de novos opera<strong>do</strong>res é de criação de valor<br />

económico para quem faz essa jogada. Em<br />

Portugal não há espaço para mais <strong>do</strong> que<br />

três opera<strong>do</strong>res. Basta olhar para o resto <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e para a Europa. Porque só isso permite<br />

investimento e concorrência. Quem faz<br />

uma jogada entra, destrói e faz confusão,<br />

sai e ganha com isso. A curto-prazo, pode<br />

traduzir-se em preços mais baixos, porque<br />

é essencial para quem tem zero de quota.<br />

Mas deveremos ter visão de curto-prazo<br />

imediata, ou de médio e longo-prazo?”<br />

“Espero que o novo regula<strong>do</strong>r tenha um<br />

perfil que convide ao diálogo. Historicamente<br />

esse diálogo produziu resulta<strong>do</strong>s,<br />

mas perdeu-se nos últimos seis anos. Espero<br />

que exista uma consciência <strong>do</strong> que é<br />

a missão da Anacom, sen<strong>do</strong>, quiçá, a mais<br />

importante, a de assegurar um ambiente<br />

concorrencial e sustentável nas telecomunicações.<br />

Que tem si<strong>do</strong> completamente<br />

ignora<strong>do</strong>”


CLOSING SESSION<br />

Ana Figueire<strong>do</strong><br />

CEO, Altice Portugal<br />

“Sempre dissemos que no futuro íamos assistir<br />

a mais movimentos de consolidações.<br />

Por isso não nos espanta esse movimento,<br />

seja em Portugal, seja na Europa. Somos<br />

um investi<strong>do</strong>r de longo-prazo, estamos satisfeitos<br />

com a operação em Portugal. Temos<br />

crescimentos de receitas a <strong>do</strong>is dígitos.<br />

Estamos satisfeitos com o que temos feito<br />

e a nossa estratégia tem prova<strong>do</strong> que é<br />

bem-sucedida”<br />

“Precisamos de previsibilidade e estabilidade<br />

regulatória para investir, porque o retorno<br />

é obti<strong>do</strong> a longo-prazo. O ambiente regulatório<br />

tem de nos ajudar, porque para<br />

rentabilizarmos o 5G como indústria, vamos<br />

ter de operar em parceira. Crian<strong>do</strong> plataformas<br />

e utilizações. A abertura <strong>do</strong> ponto<br />

de vista regulatório tem de existir. Temos de<br />

saber como monetizar em cima <strong>do</strong> 5G. Este<br />

é um caminho que vai ser feito”<br />

“Nas big tech, a discussão está a ser feita<br />

a nível europeu. Não queremos que se<br />

transforme num imposto nem num financiamento<br />

público. Deve haver um diálogo,<br />

uma negociação, entre os opera<strong>do</strong>res tecnológicos<br />

e os opera<strong>do</strong>res de telecomunicações.<br />

Existe um desequilíbrio muito grande,<br />

de 1 para 10. O nosso nível e a nossa pressão<br />

regulatória é muito superior. Temos inúmeros<br />

deveres em todas as áreas que se traduz<br />

em mais investimento e maior estrutura de<br />

custos. Não queremos planos inclina<strong>do</strong>s”<br />

João Galamba<br />

Ministro das Infraestruturas<br />

“É necessário o esforço coletivo de to<strong>do</strong>s os<br />

atores <strong>do</strong> setor, a quem endereço desde já<br />

o meu apreço pelo importante contributo<br />

que deram ao setor e pelos benefícios que<br />

têm trazi<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os portugueses. É necessário<br />

também um diálogo aberto entre<br />

regula<strong>do</strong>r e regula<strong>do</strong>s e entre estes e o governo.<br />

E é necessária uma separação adequada<br />

entre as políticas públicas que devem<br />

ser promovidas e prosseguidas pelo<br />

governo e as medidas regulatórias que cabem<br />

à Anacom”<br />

“Para o futuro, espero um setor onde haja<br />

lugar à crítica e ao diálogo construtivos, ao<br />

respeito institucional, à procura equilibrada<br />

de soluções para o desenvolvimento <strong>do</strong> setor<br />

e para a defesa <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, procuran<strong>do</strong><br />

sinergias e melhoran<strong>do</strong> processos<br />

produtivos”<br />

“É nestas linhas que se deve desenhar e<br />

executar a política de comunicações de<br />

que o país necessita, com o envolvimento<br />

de opera<strong>do</strong>res, autarquias e com o papel<br />

importante <strong>do</strong> regula<strong>do</strong>r como fator de estabilidade<br />

<strong>do</strong> setor”


114 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Um encontro<br />

repleto de iniciativas<br />

Mais de 700 pessoas estiveram presencialmente na edição<br />

de 2023 <strong>do</strong> congresso da APDC, reforçan<strong>do</strong>-se desta forma a<br />

componente física, que decorreu no auditório da Faculdade de<br />

Medicina Dentária de Lisboa. O evento permitiu a intensificação<br />

<strong>do</strong> networking e da troca de ideias entre to<strong>do</strong>s os participantes,<br />

assim como a criação de um espaço lounge verdadeiramente<br />

inova<strong>do</strong>r, onde decorreram múltiplas iniciativas. Para quem<br />

esteve online, a aposta voltou a centrar-se na gamificação e nos<br />

stands virtuais.


Lounge: Um espaço diferencia<strong>do</strong>r<br />

e multifaceta<strong>do</strong><br />

A zona lounge <strong>do</strong> congresso acolheu um conjunto de marcas<br />

que se puderam posicionar de uma forma diferencia<strong>do</strong>ra,<br />

proporcionan<strong>do</strong> em paralelo um espaço acolhe<strong>do</strong>r e versátil<br />

para to<strong>do</strong>s os participantes. Do reforço da presença <strong>do</strong>s patrocina<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> evento, aos stands físicos, passan<strong>do</strong> pelas live<br />

talks, gravadas num espaço específico, o Tech Garden – que<br />

captou a atenção de to<strong>do</strong>s os presentes – onde foram realizadas<br />

várias apresentações. O contact scanner foi uma novidade,<br />

através da qual to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s puderam digitalizar<br />

os QR codes <strong>do</strong>s badges, para ficar com os contactos digitais<br />

<strong>do</strong>s participantes.<br />

Reiteran<strong>do</strong> a aposta nas live talks, conversas curtas entre<br />

executivos de tecnologia para refletir e trocar ideias sobre<br />

temas que marcam o setor, num formato exclusivo para<br />

os patrocina<strong>do</strong>res anuais, a APDC registou este ano um<br />

reforço destas iniciativas. Vários líderes das mais relevantes<br />

empresas tecnológicas nacionais aceitaram o desafio<br />

e convidaram clientes sobre os mais varia<strong>do</strong>s temas. Altice,<br />

Capgemini, Deloitte, DXC, Inetum, Minsait, Nokia, NTT Data,<br />

SAS, Vantage Towers e Vodafone foram as empresas que gravaram<br />

conversas no espaço cria<strong>do</strong> para o efeito no lounge <strong>do</strong> congresso.<br />

Estas live talks estão já disponibilizadas num ciclo de Dot<br />

Topics especial, disponível no canal APDC no YouTube e Spotify.


116 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Na lista destas conversas curtas estão os<br />

seguintes temas e empresas:<br />

• Metaverso – Um caso prático | Altice<br />

convida Instintc to Innovate;<br />

• Veículos Autónomos: qual o enquadramento<br />

regulatório para a introdução da<br />

tecnologia em segurança? | Capgemini<br />

Engineering convida ANSR;<br />

• A transformação digital nos opera<strong>do</strong>res<br />

de telecomunicações | Deloitte convida<br />

NOS;<br />

• O papel da Fundação Francisco Manuel<br />

<strong>do</strong>s Santos na sociedade | DXC Technology<br />

convida FFMS;<br />

• O papel da data science para a sustentabilidade<br />

e qualidade <strong>do</strong>s processos fabris<br />

| Inetum convida Grupo Renault;<br />

• Um clube desportivo de referência em<br />

inovação | Minsait convida SLB;<br />

• Universidades portuguesas ligadas em


ede | Nokia convida FCCN;<br />

• Metaverse for Brands | NTT Data Portugal;<br />

• (R)Evolução <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s territoriais na Direcção-<br />

Geral <strong>do</strong> Território | SAS convida DGT;<br />

• Como as towercos estão a acelerar a expansão<br />

<strong>do</strong> 5G | Vantage Towers convida Altice;<br />

• Vodafone Boost Lab | Vodafone convida Capgemini<br />

e Ericsson<br />

Já no espaço <strong>do</strong> Tech Garden decorreram várias apresentações.<br />

Foi o caso da Zharta.io, que apostou num<br />

debate sobre “real-time loans backed by NFT Collateral”<br />

ou da iniciativa Apps For Good, <strong>do</strong> CDI Portugal,<br />

um projeto entre os WSA Winners nacionais. A<br />

The Newsroom.ai apresentou o tema “The Newsroom<br />

- fight misinformation. Promote plurality online”, enquanto<br />

a Wakaru apresentou o projeto “Water wise


118 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

system -disrupção com o water wise? Se<br />

chove amanhã, está tu<strong>do</strong> bem!”.<br />

Altice, Axians, Cellnex, FastFiber, NOS,<br />

NTT Data, Vantage Towers e Vodafone foram<br />

max sponsers <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />

<strong>Congress</strong>, enquanto a .PT foi plus sponsor<br />

e a Capgemini, Experis, Labsit e Minsait<br />

sponsors. Já a Hispasat e a Technetix foram<br />

XS sponsors, enquanto a RTP voltou a<br />

ser media partner, asseguran<strong>do</strong> a produção<br />

<strong>do</strong> evento em formato de programa<br />

de televisão. Next IT | Winprovit, Innowave<br />

e ISEG apostaram em stands presenciais<br />

no espaço <strong>do</strong> lounge, onde disponibilizaram<br />

as suas respetivas ofertas.•


120 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Múltiplas funcionalidades<br />

no acesso online<br />

Para os mais de nove mil participantes online desta<br />

edição <strong>do</strong> congresso, que acederam através da<br />

plataforma <strong>do</strong> congresso (web e mobile), via<br />

streaming no website APDC, no YouTube APDC<br />

ou através <strong>do</strong> acesso no Tek Sapo, os <strong>do</strong>is dias <strong>do</strong><br />

evento decorreram em formato<br />

de programa de televisão.<br />

Para quem fez <strong>do</strong>wnload da aplicação<br />

<strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />

<strong>Congress</strong>, que voltou a ser disponibilizada<br />

para iOS e Android<br />

a to<strong>do</strong>s os participantes já regista<strong>do</strong>s,<br />

puderam ter acesso a<br />

um vasto conjunto de funcionalidades.<br />

Incluin<strong>do</strong> o programa<br />

e ora<strong>do</strong>res, com a possibilidade<br />

de pesquisar e filtrar; avaliação<br />

das sessões; transmissão em direto<br />

<strong>do</strong> evento; acesso aos patrocina<strong>do</strong>res e expositores;<br />

agenda pessoal personalizável; materiais para<br />

<strong>do</strong>wnload; pesquisa; e páginas de informação com<br />

muitos conteú<strong>do</strong>s. Tiveram ainda oportunidades de<br />

networking, já que a app deu acesso à lista de participantes,<br />

que podiam trocar mensagens entre si.<br />

A APDC voltou a apostar também na gamification<br />

no âmbito <strong>do</strong> congresso, para to<strong>do</strong>s os que quiseram<br />

intensificar a sua participação através das<br />

várias modalidades de interação: Photographer,<br />

Movie Director, Communicator, Evaluator, Popular<br />

ou o Traveler. Os vence<strong>do</strong>res foram Luís Pera, Sofia<br />

Santos e Ana Rogeiro. Receberam, respetivamente,<br />

os seguintes prémios: tecla<strong>do</strong> e rato premium sem<br />

fios, Dell Technologies; curso intensivo de Marketing<br />

<strong>Digital</strong> & Inovação, Lisbon <strong>Digital</strong><br />

School; um mês de office space<br />

na LISPOLIS, com acesso a uma<br />

comunidade de 130 empresas.<br />

Destaque ainda para uma sessão<br />

paralela que decorreu online, sobre<br />

o tema “From Portugal to the<br />

Metaverse”. Piero Fioretti (Versy),<br />

Bernar<strong>do</strong> Azeve<strong>do</strong> (RealFevr)<br />

e Mário Mar (BPI) participaram<br />

num debate modera<strong>do</strong> por João<br />

Mesquita (Computerworld). Está<br />

disponível no YouTube da APDC,<br />

em https://www.youtube.com/watch?v=rcRV8x4lOxs&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=14<br />

Apostaram em stands online nesta edição <strong>do</strong> congresso<br />

a Altice, Axians, Cisco, Deloitte, Devoteam,<br />

DXC, Ericsson, Inetum, Kyndryl, Nokia, NTT Data, .PT,<br />

SAS e Vantage Towers.•


UPSKILL: criar Rede Alumni<br />

para ajudar e acelerar<br />

As empresas tech procuram talento tecnológico, cada vez mais dificil de encontrar.<br />

O Programa UPskill – <strong>Digital</strong> Skills & Jobs permite a todas as pessoas mudar<br />

de vida, enveredan<strong>do</strong> por uma carreira tech e uma nova profissão nas empresas<br />

que procuram estes recursos. Este foi o ‘match perfeito’ entre oferta e procura,<br />

num programa pioneiro que já formou 1.200 pessoas nas suas duas primeiras<br />

edições, estan<strong>do</strong> a decorrer atualmente a 3ª edição. Agora, acaba de ser<br />

lançada, numa apresentação que decorreu no <strong>Congress</strong>o, a “Rede Alumni<br />

UPskill”. Objetivo: juntar um grupo de forman<strong>do</strong>s para trocar experiências<br />

para ajudar os candidatos e as empresas, permitin<strong>do</strong> intensificar e acelerar<br />

o projeto.<br />

Como destacou Manuel Garcia, coordena<strong>do</strong>r nacional <strong>do</strong> programa, a necessidade<br />

de requalificação profissional é hoje muito grande, perante a perda de<br />

postos de trabalho, provocada pela crescente automatização e utilização de<br />

ferramentas tecnológicas. Ten<strong>do</strong> em conta que o UPskill já provou “que é possível<br />

unir esforços no país e criar um projeto de sucesso de requalificação”, é agora<br />

necessário replicar este desafio, atrain<strong>do</strong> mais pessoas. Até porque mais de<br />

18% <strong>do</strong>s indivíduos com menos de 25 anos estão desemprega<strong>do</strong>s, o que não faz<br />

senti<strong>do</strong>. “Temos de trabalhar to<strong>do</strong>s para corrigir este problema”, considerou, trazen<strong>do</strong>-se<br />

mais gente “para um setor cheio de oportunidade e onde se alcançam<br />

objetivos para a vida”.<br />

A comissão organiza<strong>do</strong>ra da “Rede Alumni UPskill” é composta por cinco<br />

profissionais que participaram nas edições anteriores <strong>do</strong> programa: Laís<br />

Gray, André Santos, Filipe Valente, Pedro Vaz e Paula Veloso. To<strong>do</strong>s consideram<br />

que o programa foi uma rampa de lançamento para uma mudança<br />

de profissão para as tecnologias digitais, pelo que querem agora<br />

criar uma rede de ajuda, partilha de conhecimentos e experiências,<br />

assumin<strong>do</strong>-se ainda como “embaixa<strong>do</strong>r e uma prova viva <strong>do</strong> sucesso<br />

<strong>do</strong> UPskill”. Reveja sessão de lançamento em https://www.youtube.com/<br />

watch?v=-3YKh1opCQc&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=15.•


122 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Reconhecer projetos pioneiros assentes em tecnologia<br />

Numa award ceremony que decorreu no final <strong>do</strong> primeiro<br />

dia <strong>do</strong> congresso da APDC, foram conheci<strong>do</strong>s<br />

os vence<strong>do</strong>res da 2ª edição <strong>do</strong> Prémio Cidades & Territórios<br />

<strong>do</strong> Futuro. Esta iniciativa da APDC tem como<br />

objetivo reconhecer projetos pioneiros, assentes em<br />

soluções tecnológicas, que transformem as cidades<br />

em espaços mais habitáveis, sustentáveis e economicamente<br />

viáveis. To<strong>do</strong>s os projetos, ideias e estratégias<br />

candidatos têm o apoio de inovações tecnológicas,<br />

que promovem a otimização <strong>do</strong>s recursos e<br />

um planeamento, entrega e controlo <strong>do</strong>s serviços urbanos<br />

mais inova<strong>do</strong>r e eficaz, por forma a potenciar<br />

a sustentabilidade da economia, da sociedade e <strong>do</strong><br />

ambiente.<br />

Um júri que integrou mais de 40 personalidades,<br />

constituí<strong>do</strong> por representantes de empresas e organizações,<br />

com conhecimento específico nas categorias<br />

a concurso, elegeu como vence<strong>do</strong>res, por cada<br />

categoria a concurso:<br />

‘Saúde e Bem-estar’<br />

LISBOA 65+ |Trata-se de um plano de saúde gratuito<br />

para i<strong>do</strong>sos, projeto onde foi desenvolvida<br />

uma plataforma de suporte, que facilita o acesso<br />

à saúde e contribui para a prevenção das <strong>do</strong>enças.<br />

Abrange to<strong>do</strong>s os munícipes residentes e recensea<strong>do</strong>s<br />

em Lisboa, com 65 anos ou mais, acrescentan<strong>do</strong><br />

uma componente complementar para os munícipes<br />

mais vulneráveis, os beneficiários <strong>do</strong> complemento<br />

solidário para i<strong>do</strong>sos (CSI). O plano disponibiliza três<br />

serviços: teleconsultas de medicina geral e familiar;<br />

assistência médica ao <strong>do</strong>micílio em caso de necessidade;<br />

transporte em ambulância, se o médico ao <strong>do</strong>micílio<br />

determinar essa necessidade. Promotor: Câmara<br />

Municipal de Lisboa<br />

‘Igualdade e Inclusão’ e ‘Qualificações’<br />

AS RAPARIGAS DO CÓDIGO | Organização sem<br />

fins lucrativos focada em promover a inclusão digital<br />

e a igualdade de género, através <strong>do</strong> ensino<br />

da programação a mulheres e raparigas em idade<br />

escolar. Este projeto tem como principais objetivos<br />

desmistificar o papel da mulher na tecnologia,<br />

encorajan<strong>do</strong> a experimentação nas áreas STEM e a<br />

escolher um percurso profissional no setor. Visa ainda<br />

apoiar e capacitar mulheres que procuram programas<br />

de qualificação, requalificação ou desenvolvimento<br />

de projetos pessoais de empreende<strong>do</strong>rismo.<br />

Promotor: Associação Geração Ambiciosa<br />

‘Mobilidade e Logística’<br />

KIOSK GUERIN | Projeto destina<strong>do</strong> a revolucionar<br />

a jornada <strong>do</strong> cliente <strong>do</strong> rent-a-car. Tradicionalmente,<br />

os clientes experienciam um processo mais lento<br />

e menos user-friendly. Com este quiosque, o processo<br />

torna-se mais autónomo: os clientes podem atualizar<br />

os seus da<strong>do</strong>s pessoais e ter acesso a serviços e<br />

promoções e terminar o processo de aluguer da viatura,<br />

fazen<strong>do</strong> o check out autonomamente. Promotor:<br />

Guerin Rent-a-Car.<br />

Menção honrosa: DEEPNEURONIC | Sistema de deteção<br />

e reconhecimento automático de eventos<br />

perigosos e comportamentos humanos anormais<br />

para a segurança e proteção pública. Objetivo é<br />

aumentar a sustentabilidade <strong>do</strong>s sistemas de videovigilância,<br />

diminuin<strong>do</strong> os eleva<strong>do</strong>s recursos necessários,<br />

através de algoritmos de visão computacional no<br />

processamento de vídeos em tempo real. Promotores:<br />

Vasco Ferrinho Lopes e Bruno Manuel Degardin,<br />

co-funda<strong>do</strong>res da DeepNeuronic.


To<strong>do</strong>s os projetos candidatos<br />

tiveram o apoio de inovações<br />

tecnológicas que promovem a<br />

otimização de recursos<br />

‘Relacionamento com o Cidadão e Participação’<br />

MOBICAB FLEXÍVEL |Integra-se num projeto piloto<br />

de mobilidade sustentável, inclusão e cidadania<br />

<strong>do</strong> município de Castelo Branco, disponibilizan<strong>do</strong><br />

uma rede de transportes que permite<br />

acabar com o isolamento social em que a população<br />

mais vulnerável se encontra. Em articulação<br />

com os opera<strong>do</strong>res locais (taxistas), criou-se uma<br />

rede de transporte a pedi<strong>do</strong>, cujas rotas são geridas<br />

de forma centralizada. Trata-se de um projeto inclusivo,<br />

que promove a igualdade, é amigo <strong>do</strong> ambiente e<br />

dinamiza<strong>do</strong>r da economia local. Promotor: Município<br />

de Castelo Branco<br />

‘Desenvolvimento Económico’<br />

PLATAFORMA DE GESTÃO INTELIGENTE DE LIS-<br />

BOA | Solução tecnológica com alta capacidade<br />

de processamento, que permite a monitorização,<br />

gestão operacional e realização de analítica sobre<br />

os da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong> o ecossistema urbano.<br />

É capaz de receber e tratar um grande volume de<br />

da<strong>do</strong>s, muitos deles em tempo real, com origem em<br />

câmaras de vídeo, sensores, sistemas de informação<br />

da CML e de parceiros externos. Permite depois a disponibilização<br />

de alarmística e informação de apoio à<br />

decisão a um vasto conjunto de utiliza<strong>do</strong>res internos<br />

e ao cidadão, através <strong>do</strong> Portal de Da<strong>do</strong>s Abertos de<br />

Lisboa e da app Lisboa.24. Promotor: Câmara Municipal<br />

de Lisboa<br />

Menção honrosa: OBSERVATÓRIO DO TALENTO<br />

| Plataforma digital de informação que permite<br />

recolher, gerir e divulgar informação estratégica<br />

sobre o merca<strong>do</strong> de trabalho (oferta e procura) e<br />

competências. Explora ainda questões relacionadas,<br />

como salários e condições de emprego. Com recurso<br />

a múltiplas fontes e ferramentas de recolha de da<strong>do</strong>s,<br />

como estatísticas oficiais, estu<strong>do</strong>s e web scraping, é<br />

dirigida a empresas, talento e instituições de ensino/<br />

formação. Promotor: Câmara Municipal <strong>do</strong> Porto<br />

‘Sustentabilidade, Economia Circular e<br />

Descarbonização’<br />

RECOLHA SELETIVA DE BIORRESÍDUOS EM CAS-<br />

CAIS | Projeto de separação de restos de comida<br />

para produção de energia elétrica e composto orgânico.<br />

Os munícipes abrangi<strong>do</strong>s (10.000 famílias)<br />

recebem gratuitamente um rolo de sacos verdes,<br />

que usam para descartar os restos de comida, colocan<strong>do</strong>-o<br />

diretamente no contentor <strong>do</strong>s resíduos indiferencia<strong>do</strong>s<br />

(cinzento), para garantir a sua separação<br />

<strong>do</strong> “lixo comum”. Os sacos verdes, recolhi<strong>do</strong>s juntamente<br />

com os restantes resíduos indiferencia<strong>do</strong>s, são<br />

tria<strong>do</strong>s através de um leitor ótico na unidade de tratamento<br />

de resíduos e encaminha<strong>do</strong>s para outro processo,<br />

que originará o biogás e o composto. Promotor:<br />

Cascais Ambiente.<br />

Menção honrosa: COMSOLVE - Comunidade de<br />

energia Solar com integração de Veículos Elétricos<br />

| Projeto de desenvolvimento de soluções de<br />

gestão para comunidades de energia renovável<br />

(CER), com integração de veículos elétricos e sistemas<br />

de armazenamento de energia com base<br />

em baterias de segunda vida. Inclui a produção<br />

descentralizada de eletricidade a partir de painéis<br />

fotovoltaicos e a partilha da energia produzida, permitin<strong>do</strong><br />

estabelecer um merca<strong>do</strong> interno de energia<br />

entre os membros da comunidade. Promotores: <strong>Digital</strong>mente<br />

Coopérnico, Instituto de Telecomunicações<br />

Magnum Cap - Câmara Municipal de Ílhavo.<br />

Saiba mais em: https://premiocidades-apdc.pt/ •


124 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Premiar trabalho <strong>do</strong> talento<br />

jovem qualifica<strong>do</strong><br />

A Best Thesis Award Ceremony, realizada no 2º dia<br />

<strong>do</strong> congresso da APDC, deu a conhecer os vence<strong>do</strong>res<br />

da 3ª edição <strong>do</strong>s Best Thesis Award. Esta iniciativa<br />

criada pela associação, com o apoio <strong>do</strong> CEE<br />

- Consórcio das Escolas de Engenharia, abrangeu<br />

este ano os jovens finalistas de mestra<strong>do</strong> das academias<br />

aderentes ao Programa UPskill. A Axians<br />

Portugal voltou a patrocinar o prémio, que se destina<br />

a distinguir as melhores dissertações de mestra<strong>do</strong><br />

nas áreas de tecnologias de informação, telecomunicações<br />

e media.<br />

Os vence<strong>do</strong>res foram, por categoria:<br />

• TI | Vladyslav Mosiichuk, mestra<strong>do</strong> em Engenharia<br />

Electrotécnica e de Computa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Instituto Politécnico<br />

<strong>do</strong> Porto (Instituto Superior de Engenharia<br />

<strong>do</strong> Porto | ISEP), com a dissertação “Deep Learning<br />

for Automated Adequacy Assessment of Cervical<br />

Cytology Samples”;<br />

• Telecomunicações | Pedro Miguel Nicolau Escaleira,<br />

mestra<strong>do</strong> em Cibersegurança da Universidade<br />

de Aveiro, com a dissertação “Securing Real World<br />

5G MEC Deployments”;<br />

• Media | Beatriz Almeida Miranda, mestra<strong>do</strong> em<br />

Multimédia, Faculdade de Engenharia da Universidade<br />

<strong>do</strong> Porto, com a dissertação “Immersive VR<br />

eHealth Strategies: VR games to treat schizophrenia<br />

negative symptoms”.<br />

https://www.apdc.pt/iniciativas/agenda-apdc/<br />

premio-best-thesis-award-2023<br />

Reveja Sessão<br />

https://www.youtube.com/watch?v=8URp0ZQajLs&list=PLB0zVkqv-8UEjiAE8LV0J5VfrLmkb-GAx&index=25<br />


Paulo Portas é o novo sócio honorário APDC<br />

To<strong>do</strong>s os anos, no âmbito <strong>do</strong> congresso, a APDC destaca uma personalidade – que em<br />

regra foi presidente de uma das edições anteriores <strong>do</strong> congresso – para distinguir como<br />

associa<strong>do</strong> honorário, pelo relevante contributo presta<strong>do</strong> na divulgação e desenvolvimento<br />

das <strong>TIC</strong>. Este ano, foi homenagea<strong>do</strong> Paulo Portas, presidente <strong>do</strong> congresso de<br />

2022.<br />

“A APDC tem memória e queremos distinguir e agradecer, de forma simbólica, às pessoas<br />

que nos ajudaram a construir as realidades <strong>do</strong> setor. Por isso, a presidência <strong>do</strong> congresso<br />

é importante, porque é uma personalidade externa e prestigiada, com contribuições<br />

de grande valor para o evento”, como referiu o presidente da associação.<br />

“Foi um enorme prazer trabalhar, na incerteza, com a equipa <strong>do</strong> congresso <strong>do</strong> ano passa<strong>do</strong>,<br />

que foi o primeiro mais presencial, além <strong>do</strong> remoto. O setor está no coração <strong>do</strong> que<br />

vai ser a economia e quem quiser<br />

lá estar tem que pedalar e ser competitivo para a economia <strong>do</strong> futuro. É certamente no<br />

<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> digital que vão acontecer as <strong>coisas</strong> mais interessantes e também as questões<br />

geoestratégicas e éticas mais importantes”, comentou Paulo Portas.•<br />

REVEJA LOOK & FEEL DOS DOIS DIAS DO CONGRESSO<br />

9 MAIO https://www.youtube.com/watch?v=X2cwv8DICCw<br />

10 MAIO https://www.youtube.com/watch?v=eI-r1Iy9OMk


126 <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong> <strong>Congress</strong><br />

Jantar de lançamento<br />

<strong>do</strong> <strong>Congress</strong>o reúne<br />

ecossistema e ora<strong>do</strong>res<br />

Antecipan<strong>do</strong> a realização <strong>do</strong> <strong>32º</strong> <strong>Digital</strong> <strong>Business</strong><br />

<strong>Congress</strong>, a APDC realizou a 4 de<br />

maio, no restaurante Eleven, o jantar de lançamento<br />

<strong>do</strong> maior evento anual da APDC,<br />

que marca a agenda <strong>do</strong> setor e <strong>do</strong> país. Reuniu<br />

ora<strong>do</strong>res, convida<strong>do</strong>s, líderes das associadas<br />

institucionais e membros da direção<br />

num momento de partilha sobre os objetivos<br />

que se pretendiam alcançar com a iniciativa,<br />

num momento decisivo para o futuro<br />

<strong>do</strong> país, da Europa e até <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. •


10 Gbps<br />

IP68<br />

O rOLT da Technetix é a solução para implementar<br />

banda larga ultra rápi<strong>do</strong> com um custo ajusta<strong>do</strong>, em<br />

qualquer ambiente.<br />

• OLT XGS-PON com desenho compacto e robusto para FTTP<br />

• Ideal para pequenas cidades, áreas rurais, parques empresariais ou universidades<br />

• Baixo consumo de energia e arrefecimento passivo<br />

• Inclui bandeja de fibra com capacidade para splitagem<br />

• Facilidade de instalação em: Poste, pedestal, suspenso, torre, armário ou caixa<br />

technetix.com · +351 213 841 138 · info-pt@technetix.com<br />

© Copyright 2023 Technetix Group Limited. Reserva<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s los derechos.<br />

Este <strong>do</strong>cumento es solo para información. Las características y especificaciones están sujetas a cambios sin previo aviso. Technetix, el logotipo de Technetix y algunas otras marcas<br />

y logotipos son marcas comerciales o marcas comerciales registradas de Technetix Group Limited en el Reino Uni<strong>do</strong> y algunos otros países. Otras marcas y nombres de empresas son<br />

marcas comerciales de sus respectivos propietarios. Technetix protege su tecnología y diseños registran<strong>do</strong> patentes, marcas comerciales y diseños en Europa y algunos otros países.


ultimas<br />

COMO ESCOLHER O MELHOR COMPUTADOR PARA JOGAR<br />

OS JOGOS de computa<strong>do</strong>r tornaram-se uma das formas de entretenimento mais populares no mun<strong>do</strong>.<br />

Mas se quiser jogar os jogos mais recentes com a máxima qualidade, um computa<strong>do</strong>r normal pode<br />

não ser adequa<strong>do</strong> para proporcionar o melhor desempenho. As marcas de gaming da HP, a Victus e a<br />

Omen, pretendem dar resposta a todas as necessidades <strong>do</strong>s gamers. A primeira está mais direcionada<br />

para o gamer casual ou para quem ainda está a dar os primeiros passos no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> gaming. A segunda<br />

destina-se aos entusiastas que querem tirar parti<strong>do</strong> da sua máquina. Há também a opção entre um<br />

desktop e um portátil, sen<strong>do</strong> que a decisão entre um e outro depende de fatores como personalizar e<br />

atualizar (os desktops dão mais opções de personalização e atualização que os portáteis), o transporte<br />

e o desempenho. Assim, a HP sugere o portátil de gaming Omen 16 para jogar em qualquer la<strong>do</strong>. Para<br />

quem prefere um desktop, a escolha deverá recair sobre o Omen 45L, modelo para quem procura o<br />

melhor desempenho e a possibilidade de customizar to<strong>do</strong>s os componentes. E, sen<strong>do</strong> o monitor uma<br />

peça chave, o modelo HP OMEN 27u é o mais adequa<strong>do</strong>.•<br />

128<br />

PLATAFORMA DE REALIDADE AUMENTADA PARA ATLETAS<br />

UMA PASSADEIRA inteligente que usa realidade aumentada para melhorar a<br />

performance <strong>do</strong>s atletas e evitar lesões? Chama-se Best Yourself e tem um software<br />

que, através de RA, permite ao atleta executar rotinas de treino enquanto responde<br />

a desafios coloca<strong>do</strong>s por ambientes virtuais. Através de sensores, a plataforma<br />

analisa os movimentos, mede parâmetros, identifica falhas e aumenta a performance.<br />

É uma inovação ‘made in Portugal’, criada por uma equipa de professores<br />

e investiga<strong>do</strong>res da Universidade de Évora e foi a vence<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s Open Innovation<br />

Challenges, uma iniciativa da NOS e da ANI que desafiou a academia a apresentar<br />

soluções inova<strong>do</strong>ras com base em tecnologia 5G, que permite avançar a passos<br />

largos e abrir novas possibilidades, que podem revolucionar todas as áreas da<br />

nossa vida.•


MANTEMOS<br />

A EUROPA<br />

CONECTADA,<br />

com uma infraestrutura<br />

sustentável<br />

Na Vantage Towers ajudamos a alcançar uma Europa digital<br />

e verdadeiramente sustentável.<br />

Estamos totalmente comprometi<strong>do</strong>s com a construção<br />

de uma sociedade conectada em benefício de to<strong>do</strong>s,<br />

centran<strong>do</strong> a nossa ação numa infraestrutura mais ecológica.<br />

Associámo-nos à start-up finlandesa Ecotelligent para construir<br />

torres de telecomunicações com estrutura de madeira.<br />

Desta forma, procuramos proteger o meio ambiente e reduzir<br />

as nossas emissões de CO2.<br />

As torres de madeira são naturais, esteticamente agradáveis<br />

e emitem significativamente menos CO2 <strong>do</strong> que as torres<br />

de aço ou de betão com tamanho e funcionalidades<br />

semelhantes,<br />

em linha com o objetivo da descarbonização da economia.<br />

Prevemos construir duas torres piloto na Alemanha na<br />

primavera de 2023. A nossa rede sustentável pode ajudar<br />

a proporcionar uma conectividade inteligente a milhões de<br />

pessoas e contribuir para a construção de um futuro melhor<br />

para to<strong>do</strong>s.<br />

Juntos, aceleramos rumo a uma Europa conectada de forma<br />

sustentável.<br />

www.vantagetowers.com


ultimas<br />

REFORÇAR TALENTO EM CIBERSEGURANÇA<br />

COM NOVA ACADEMIA<br />

CHAMA-SE Cisco Cybersecurity Academy e vai ser lançada a 12 de setembro, em Lisboa. Visa colmatar<br />

a falta de talento em Portugal na área de cibersegurança, forman<strong>do</strong> a próxima geração de profissionais<br />

nesta área, contribuin<strong>do</strong> para a criação de um sóli<strong>do</strong> pipeline de especialistas em cibersegurança,<br />

adequadamente forma<strong>do</strong>s e certifica<strong>do</strong>s. A Cisco está a trabalhar neste projeto com um ecossistema diversifica<strong>do</strong><br />

de organizações, incluin<strong>do</strong> universidades<br />

técnicas de topo e parceiros-chave na área da cibersegurança.<br />

Vai arrancar com 18 forman<strong>do</strong>s, recruta<strong>do</strong>s<br />

nas suas universidades que, ao longo de seis meses,<br />

serão forma<strong>do</strong>s pela tecnológica e pelos seus parceiros,<br />

preparan<strong>do</strong>-os para as certificações CCNA (Cisco<br />

Certified Networking Associate), CyberOps Associate<br />

& Security Networking com Cisco Firepower e Ethical<br />

Hacker, certificação independente e reconhecida pela<br />

indústria. A Cybersecurity Academy vai ainda oferecer<br />

formação em competências transversais e palestras<br />

de especialistas da Cisco, clientes e outros ora<strong>do</strong>res<br />

externos influentes.•<br />

NOVA EXPERIÊNCIA DE ENTRETENIMENTO EM CASA COM BOX TV<br />

CHAMA-SE TV PLAY e é a primeira tv box no merca<strong>do</strong> nacional com Android TV incorporada. Foi lançada pela Vodafone,<br />

que garante que esta oferta vem revolucionar o sistema de entretenimento em casa, oferecen<strong>do</strong> uma experiência<br />

exclusiva aos clientes. Junta, no mesmo dispositivo, a interface <strong>do</strong> serviço de televisão da Vodafone, o sistema<br />

inteligente Android TV, um assistente de voz mãos livres em português europeu e um sistema de som desenha<strong>do</strong> e<br />

otimiza<strong>do</strong> pela Bang & Olufsen,<br />

com suporte de Dolby Atmos,<br />

para uma experiência acústica<br />

imersiva. O opera<strong>do</strong>r pretende,<br />

com este lançamento, reforçar o<br />

seu posicionamento de liderança<br />

em Portugal como fornece<strong>do</strong>r da<br />

melhor experiência de televisão<br />

e de entretenimento para casa,<br />

responden<strong>do</strong> aos novos hábitos<br />

e necessidades de consumo. A<br />

oferta está incluída gratuitamente<br />

nos pacotes Fibra Super Séries,<br />

poden<strong>do</strong> também ser instalada<br />

por qualquer outro cliente de<br />

televisão. Neste caso, na fase de<br />

lançamento, estará disponível<br />

por um valor promocional de 5€/<br />

mês.•<br />

130


ultimas<br />

AVATAR ASSENTE EM IA GENERATIVA FALA COM CIDADÃOS<br />

JÁ É POSSÍVEL garantir aos portugueses, através da homepage<br />

<strong>do</strong> portal <strong>do</strong> ePortugal, um atendimento 24 horas<br />

por dia, sete dias por semana, para se ligarem à Chave<br />

Móvel <strong>Digital</strong> (CMD) através de dispositivos móveis e<br />

desktop. Tu<strong>do</strong> graças a um chatbot<br />

com um avatar realista que<br />

reconhece e reproduz texto e voz e<br />

que responde a todas as questões<br />

sobre a CMD. O projeto assenta em<br />

tecnologia Azure OpenAI, desenvolvi<strong>do</strong><br />

através de uma parceria entre<br />

a Microsoft, a DareData Engineering<br />

e a Defined.ai. Vem marcar um<br />

ponto de viragem na transformação<br />

digital <strong>do</strong>s serviços públicos em Portugal e é um <strong>do</strong>s elementos<br />

da nova estratégia de atendimento <strong>do</strong> futuro que<br />

a AMA está a desenvolver. O objetivo é promover uma<br />

maior aproximação entre o Esta<strong>do</strong> e os cidadãos, através<br />

da tecnologia mais transforma<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> nosso tempo, a IA<br />

generativa. A solução, alojada na cloud Microsoft Azure,<br />

assenta no modelo GPT 3.5 turbo – o mesmo que serve de<br />

base ao ChatGPT, da OpenAI -, e é<br />

capaz de compreender texto fala<strong>do</strong><br />

e escrito em português, responden<strong>do</strong><br />

também através de voz e texto,<br />

graças ao recurso a tecnologia de<br />

conversão speech to text e text to<br />

speech. Recorre ainda a Azure Cognitive<br />

Search e Azure Cosmos DB,<br />

que permitem o serviço de pesquisa<br />

sobre a base de conhecimento da<br />

CMD e o arquivo <strong>do</strong> contexto das interlocuções com os<br />

cidadãos, respetivamente.•<br />

PREMIAR ECOSSISTEMA DE PARCEIROS<br />

132<br />

NO ÂMBITO <strong>do</strong> IBM Ecosystem Summit Portugal 2023, conferência anual dedicada ao ecossistema de parceiros,<br />

a tecnológica premiou os seus parceiros comerciais cujo desempenho mais se distinguiu ao longo de<br />

2022 em várias categorias e áreas de negócio. Assim, a Inetum foi a vence<strong>do</strong>ra em Reseller, a Timestamp em<br />

Automation, a Blue Chip em Servers, a Decsis em Storage, a IT Peers em Public Cloud, a Eurotux em Autonomy<br />

Systems, a Redshift em Security, a PDMFC em Data & AI , a PSE em Autonomy Software, a Art Resilia<br />

em New Partner, a AIRC em Build, e a Timestamp em Annuity. Houve ainda uma menção especial para a<br />

Arrow. A IBM anunciou ainda um novo portal IBM Partner Plus e o reforço <strong>do</strong> investimento e suporte ao<br />

ecossistema, que constitui o seu grande vetor de crescimento, ten<strong>do</strong> um papel fundamental na criação de<br />

valor e inovação para os clientes.•

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