COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais
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Tem a vida que achou que queria ter? Quan<strong>do</strong> olha<br />
para trás, o que vê?<br />
Nunca fiz planos a régua e esquadro. A vida está sempre<br />
a surpreender-me…<br />
Quan<strong>do</strong> era pequeno não tinha ideia <strong>do</strong> que queria<br />
ser?<br />
A única coisa que queria era andar pelo mun<strong>do</strong>. Aliás,<br />
tive várias hesitações em termos profissionais, mas<br />
desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair,<br />
queria conhecer o mun<strong>do</strong>. Nunca disse que queria ser<br />
advoga<strong>do</strong>, ou bombeiro, ou astronauta. Depois, na<br />
a<strong>do</strong>lescência, foi inevitável, tive de me preocupar com<br />
o que ia estudar e aí pensei em várias áreas, <strong>do</strong> Jornalismo<br />
à Economia, e acabei por ir para Direito.<br />
Porquê Direito? O seu pai é engenheiro…<br />
Sim, eu sou o primeiro jurista da família.<br />
Com um pai engenheiro e um tio arquiteto (e logo Álvaro<br />
Siza Viera!), nunca ponderou ir para Engenharia<br />
ou Arquitetura?<br />
Para Engenharia, nunca. Arquitetura era fascinante,<br />
mas havia ali uma questão de talento. Era muito inibi<strong>do</strong>,<br />
porque na minha família toda a gente desenha. E<br />
eu também desenho, mas desenho tão mal que vi logo<br />
que não era para mim. Fui para Direito porque tinha a<br />
noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos<br />
são as construções sociais, que nos permitiram<br />
criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s.<br />
E isso andava muito à volta <strong>do</strong> Direito?<br />
Sim. Como é que aceitamos partilhar regras e princípios<br />
que se impõem a to<strong>do</strong>s e que não são dadas pela<br />
natureza? Eu sempre tive esta noção, desde muito pequeno,<br />
de que um médico estuda aquilo que a natureza<br />
criou. Tenta ver como é que funciona o corpo humano<br />
e como se tratam <strong>do</strong>enças, mas é uma coisa que já está<br />
feita. Quan<strong>do</strong> falamos de humanidades, de arte, de<br />
Direito, referimo-nos a criações da espécie humana. E<br />
isso é fascinante.<br />
Que recordações tem da sua a<strong>do</strong>lescência em Santo<br />
Tirso? A sua família tem raízes em Matosinhos, nasceu<br />
em Lisboa por acaso…<br />
Sim. O meu pai estava em Lisboa a trabalhar (trabalhava<br />
na CUF, na altura). Eu passei cá o primeiro ano de<br />
vida e depois os meus pais voltaram para Matosinhos.<br />
O meu pai, na altura, foi trabalhar para a indústria têxtil,<br />
numa época em que o setor se começou a abrir ao<br />
merca<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>r. Uma série de jovens engenheiros<br />
foram modernizar a indústria têxtil e o meu pai foi um<br />
deles. Foi diretor de produção de uma grande empresa<br />
no norte. Voltámos para Matosinhos e foi aí que cresci,<br />
na terra onde os meus pais tinham cresci<strong>do</strong> também.<br />
Depois, na minha a<strong>do</strong>lescência, mudámo-nos para<br />
Santo Tirso. Toda a minha vivência, nos primeiros anos<br />
de vida, é passada no norte, em regiões muito industrializadas,<br />
muito ligadas à vida empresarial.<br />
As suas âncoras de vida remontam a esses tempos, a<br />
esse lugares? À família? Às amizades?<br />
Com os amigos desses tempos mantenho contactos<br />
muito remotos. A família sim, é a minha verdadeira<br />
âncora.<br />
É um sítio onde regressa com regularidade…<br />
Segun<strong>do</strong> a minha mãe, com menos regularidade <strong>do</strong><br />
que devia (risos)…<br />
Tem saudades da sua infância em liberdade, muito vivida<br />
na rua, como acontecia naqueles tempos?<br />
Sim, tenho memórias muito felizes de infância, com<br />
os meus pais, os meus primos, os meus avós. Tínhamos<br />
uma família muito grande, estávamos sempre em<br />
contacto. Tínhamos uma casa com jardim, que estava<br />
sempre aberta para os meus amigos. Andávamos muito<br />
pela rua e morávamos ao pé da praia. As minhas memória<br />
de infância são cheias de ligações entre várias<br />
gerações, muito entrosamento social. Isso é algo que<br />
me deu muita autoconfiança. A partir daí, eu queria<br />
era conhecer o mun<strong>do</strong>!<br />
E conheceu? Começou a viajar ce<strong>do</strong>?<br />
Não. Na altura não se viajava como agora. O meu pai<br />
não tinha praticamente férias. E quan<strong>do</strong> tinha, saía<br />
com a minha mãe, nós não íamos. Acho que a minha<br />
primeira viagem para fora de Portugal foi a Paris, já devia<br />
ter uns 18 ou 19 anos.<br />
Mas começou a conhecer o mun<strong>do</strong> antes de viajar…<br />
Sim, isso sim. Através das leituras, da busca pelo conhecimento.<br />
Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia<br />
coleção. A<strong>do</strong>rava Geografia, História – a história das<br />
sociedades. Lia imenso. Para mim, o mun<strong>do</strong> era o meu<br />
quintal. Só estava à espera de chegar lá.<br />
Foi daí que veio a sedução pela política? A política foi<br />
algo que o seduziu desde novo?<br />
Desde sempre.<br />
Porquê?<br />
O Direito – e através dele também a política – é a maneira<br />
que os humanos encontraram para organizar as<br />
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