08.05.2023 Views

COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tem a vida que achou que queria ter? Quan<strong>do</strong> olha<br />

para trás, o que vê?<br />

Nunca fiz planos a régua e esquadro. A vida está sempre<br />

a surpreender-me…<br />

Quan<strong>do</strong> era pequeno não tinha ideia <strong>do</strong> que queria<br />

ser?<br />

A única coisa que queria era andar pelo mun<strong>do</strong>. Aliás,<br />

tive várias hesitações em termos profissionais, mas<br />

desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair,<br />

queria conhecer o mun<strong>do</strong>. Nunca disse que queria ser<br />

advoga<strong>do</strong>, ou bombeiro, ou astronauta. Depois, na<br />

a<strong>do</strong>lescência, foi inevitável, tive de me preocupar com<br />

o que ia estudar e aí pensei em várias áreas, <strong>do</strong> Jornalismo<br />

à Economia, e acabei por ir para Direito.<br />

Porquê Direito? O seu pai é engenheiro…<br />

Sim, eu sou o primeiro jurista da família.<br />

Com um pai engenheiro e um tio arquiteto (e logo Álvaro<br />

Siza Viera!), nunca ponderou ir para Engenharia<br />

ou Arquitetura?<br />

Para Engenharia, nunca. Arquitetura era fascinante,<br />

mas havia ali uma questão de talento. Era muito inibi<strong>do</strong>,<br />

porque na minha família toda a gente desenha. E<br />

eu também desenho, mas desenho tão mal que vi logo<br />

que não era para mim. Fui para Direito porque tinha a<br />

noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos<br />

são as construções sociais, que nos permitiram<br />

criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s.<br />

E isso andava muito à volta <strong>do</strong> Direito?<br />

Sim. Como é que aceitamos partilhar regras e princípios<br />

que se impõem a to<strong>do</strong>s e que não são dadas pela<br />

natureza? Eu sempre tive esta noção, desde muito pequeno,<br />

de que um médico estuda aquilo que a natureza<br />

criou. Tenta ver como é que funciona o corpo humano<br />

e como se tratam <strong>do</strong>enças, mas é uma coisa que já está<br />

feita. Quan<strong>do</strong> falamos de humanidades, de arte, de<br />

Direito, referimo-nos a criações da espécie humana. E<br />

isso é fascinante.<br />

Que recordações tem da sua a<strong>do</strong>lescência em Santo<br />

Tirso? A sua família tem raízes em Matosinhos, nasceu<br />

em Lisboa por acaso…<br />

Sim. O meu pai estava em Lisboa a trabalhar (trabalhava<br />

na CUF, na altura). Eu passei cá o primeiro ano de<br />

vida e depois os meus pais voltaram para Matosinhos.<br />

O meu pai, na altura, foi trabalhar para a indústria têxtil,<br />

numa época em que o setor se começou a abrir ao<br />

merca<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>r. Uma série de jovens engenheiros<br />

foram modernizar a indústria têxtil e o meu pai foi um<br />

deles. Foi diretor de produção de uma grande empresa<br />

no norte. Voltámos para Matosinhos e foi aí que cresci,<br />

na terra onde os meus pais tinham cresci<strong>do</strong> também.<br />

Depois, na minha a<strong>do</strong>lescência, mudámo-nos para<br />

Santo Tirso. Toda a minha vivência, nos primeiros anos<br />

de vida, é passada no norte, em regiões muito industrializadas,<br />

muito ligadas à vida empresarial.<br />

As suas âncoras de vida remontam a esses tempos, a<br />

esse lugares? À família? Às amizades?<br />

Com os amigos desses tempos mantenho contactos<br />

muito remotos. A família sim, é a minha verdadeira<br />

âncora.<br />

É um sítio onde regressa com regularidade…<br />

Segun<strong>do</strong> a minha mãe, com menos regularidade <strong>do</strong><br />

que devia (risos)…<br />

Tem saudades da sua infância em liberdade, muito vivida<br />

na rua, como acontecia naqueles tempos?<br />

Sim, tenho memórias muito felizes de infância, com<br />

os meus pais, os meus primos, os meus avós. Tínhamos<br />

uma família muito grande, estávamos sempre em<br />

contacto. Tínhamos uma casa com jardim, que estava<br />

sempre aberta para os meus amigos. Andávamos muito<br />

pela rua e morávamos ao pé da praia. As minhas memória<br />

de infância são cheias de ligações entre várias<br />

gerações, muito entrosamento social. Isso é algo que<br />

me deu muita autoconfiança. A partir daí, eu queria<br />

era conhecer o mun<strong>do</strong>!<br />

E conheceu? Começou a viajar ce<strong>do</strong>?<br />

Não. Na altura não se viajava como agora. O meu pai<br />

não tinha praticamente férias. E quan<strong>do</strong> tinha, saía<br />

com a minha mãe, nós não íamos. Acho que a minha<br />

primeira viagem para fora de Portugal foi a Paris, já devia<br />

ter uns 18 ou 19 anos.<br />

Mas começou a conhecer o mun<strong>do</strong> antes de viajar…<br />

Sim, isso sim. Através das leituras, da busca pelo conhecimento.<br />

Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia<br />

coleção. A<strong>do</strong>rava Geografia, História – a história das<br />

sociedades. Lia imenso. Para mim, o mun<strong>do</strong> era o meu<br />

quintal. Só estava à espera de chegar lá.<br />

Foi daí que veio a sedução pela política? A política foi<br />

algo que o seduziu desde novo?<br />

Desde sempre.<br />

Porquê?<br />

O Direito – e através dele também a política – é a maneira<br />

que os humanos encontraram para organizar as<br />

21

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!