COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais
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em destaque<br />
40<br />
digital <strong>do</strong> banco central. “Garanto que no dia em que<br />
tivermos uma moeda digital <strong>do</strong> banco central, será<br />
muito diferente de muitas outras <strong>coisas</strong>”, afirmou.<br />
Em fevereiro, a líder <strong>do</strong> FMI, Kristalina Georgieva,<br />
referia também, a propósito da necessidade de regulação<br />
urgente da criptoeconomia, que havia ainda muita<br />
confusão sobre dinheiro digital. “O primeiro objetivo<br />
<strong>do</strong> FMI é deixar claras as diferenças entre Moedas Digitais<br />
de Bancos Centrais, que são apoiadas pelo Esta<strong>do</strong>,<br />
e as criptomoedas e stablecoins”. As primeiras têm<br />
“confiabilidade” e “espaço razoável na economia”, enquanto<br />
os criptoativos “são investimentos especulativos<br />
de alto risco, não são dinheiro.”<br />
As posições não espantam os players <strong>do</strong> ecossistema<br />
cripto, até porque desde sempre o sistema financeiro<br />
tradicional se tem mostra<strong>do</strong> contra este novo merca<strong>do</strong>.<br />
“O que temos assisti<strong>do</strong> é a uma reação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
ao desenvolvimento <strong>do</strong> ecossistema cripto”, avança<br />
Jorge Silva Martins, que salienta que são realidades<br />
distintas, que não se substituem e que vão coexistir.<br />
Para o advoga<strong>do</strong>, “não<br />
há <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s separa<strong>do</strong>s.<br />
Têm de convergir. Mas<br />
vão convergir para termos<br />
o quê? O euro digital traz<br />
algo de completamente diferente<br />
daquilo de que falamos,<br />
quan<strong>do</strong> falamos de<br />
criptomoedas (e, principalmente,<br />
de bitcoin): um<br />
modelo centraliza<strong>do</strong>, que<br />
coloca inúmeras questões<br />
relacionadas, por exemplo,<br />
com a possibilidade de traceability das transações<br />
e <strong>do</strong>s seus autores, com a eventual possibilidade de estarmos<br />
perante dinheiro programável e, em paralelo,<br />
com um certo desincentivo à inovação por parte <strong>do</strong>s<br />
bancos no que se refere aos serviços de pagamentos a<br />
disponibilizar aos seus clientes. Além disso, na minha<br />
opinião, a pergunta central está ainda por responder:<br />
que problema vem, efetivamente, o euro digital resolver<br />
?”.<br />
A realidade é que, tal como noutras geografias estão<br />
a ser criadas moedas digitais de bancos centrais, também<br />
na Europa está em marcha o processo para criar<br />
o euro digital. O BCE arrancou com o projeto em 2020<br />
e está agora na fase de investigação, a estudar as suas<br />
características. Até final <strong>do</strong> ano, o Conselho de Governa<strong>do</strong>res<br />
deverá aprovar esta fase, entran<strong>do</strong>-se depois<br />
numa terceira, de realização, para se criarem as condições<br />
tecnológicas para a emissão <strong>do</strong> euro digital. Espera-se<br />
que em 2025 já se possa arrancar em concreto.<br />
Uma das preocupações<br />
é manter o papel <strong>do</strong>s<br />
bancos centrais enquanto<br />
âncora <strong>do</strong>s sistemas de<br />
pagamentos<br />
Para o administra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Banco de Portugal, uma<br />
das preocupações com o euro digital, face ao declínio<br />
da utilização da moeda física, e perante o surgimento<br />
muito rápi<strong>do</strong> de moedas digitais privadas, é “manter o<br />
papel <strong>do</strong>s bancos centrais enquanto âncora <strong>do</strong>s sistemas<br />
de pagamentos”.<br />
É que hoje, embora as notas sejam a âncora <strong>do</strong> sistema<br />
de pagamentos, o que se utiliza são sistemas de<br />
pagamentos <strong>do</strong>s bancos e das marcas internacionais,<br />
sen<strong>do</strong> cada vez maior a dependência da Europa das<br />
grandes empresas tecnológicas norte-americanas e <strong>do</strong>s<br />
sistemas de pagamentos chineses. Entre as gigantes<br />
globais de sistemas de pagamentos, três são <strong>do</strong>s EUA<br />
(Mastercard, Visa e PayPal) e duas são chinesas (Alipay<br />
e UnionPay). As cinco são responsáveis por mais de<br />
<strong>do</strong>is terços das transações de pagamentos com cartão<br />
na Europa.<br />
Com o euro digital, que “será disponibiliza<strong>do</strong> ao<br />
público em geral, incluin<strong>do</strong> empresas, para ser utiliza<strong>do</strong><br />
nos pagamentos no retalho, cria-se “um sistema<br />
de pagamentos eletrónico<br />
único na Europa, coisa<br />
que hoje não existe. Será<br />
isento de risco e vai coexistir<br />
com soluções de pagamentos<br />
privadas”, garante<br />
o representante <strong>do</strong> banco<br />
central.<br />
A ideia é ainda de “contribuir<br />
para a autonomia<br />
estratégica e a eficiência<br />
económica da Europa.<br />
Hoje, não temos verdadeiramente<br />
uma marca de pagamentos europeia, nem<br />
sequer temos um sistema de pagamentos integra<strong>do</strong>,<br />
que seja incluí<strong>do</strong> em todas as soluções que os bancos<br />
oferecem para pagamentos”.<br />
Hélder Rosalino não tem dúvidas de que será “um<br />
projeto importante para os bancos centrais, as autoridades<br />
monetárias e os Esta<strong>do</strong>s. Os bancos centrais,<br />
que têm funções essenciais para o funcionamento da<br />
economia, desde a definição e implementação da política<br />
monetária até à garantia da estabilidade financeira,<br />
têm de ter a capacidade de manter um papel na<br />
emissão monetária. Se não o tiverem, as funções ficam<br />
esvaziadas. A principal razão pela qual os bancos centrais<br />
estão a desenvolver os seus projetos é porque querem<br />
preservar o seu papel nas políticas económicas que<br />
estão sob a sua responsabilidade, além de simplificar,<br />
com uma solução única e universal, ao invés de se lidar<br />
com vários sistemas de pagamento”.•