COMUNICAÇÕES 250 - ARLINDO OLIVEIRA, PRESIDENTE DO 33º DIGITAL BUSINESS CONGRESS DA CONSCIÊNCIA HUMANA À ARTIFICIAL: UM POTENCIAL GIGANTE
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<strong>CONGRESS</strong>O <strong>DA</strong> APDC<br />
TEMAS & PROTAGONISTAS<br />
O PAPEL <strong>DA</strong> ESNA<br />
NO EMPREENDE<strong>DO</strong>RISMO EUROPEU<br />
NTT <strong>DA</strong>TA PORTUGAL<br />
ESTRATÉGIA VENCE<strong>DO</strong>RA<br />
N.º <strong>250</strong> • JUNHO 2024 | ANO 37 • PORTUGAL • 3,25€<br />
<strong>ARLIN<strong>DO</strong></strong> <strong>OLIVEIRA</strong>, <strong>PRESIDENTE</strong><br />
<strong>DO</strong> 33° <strong>DIGITAL</strong> <strong>BUSINESS</strong> <strong>CONGRESS</strong><br />
<strong>DA</strong> <strong>CONSCIÊNCIA</strong> <strong>H<strong>UM</strong>ANA</strong> <strong>À</strong> <strong>ARTIFICIAL</strong>:<br />
<strong>UM</strong> <strong>POTENCIAL</strong> <strong>GIGANTE</strong>
TELECOM<br />
+<br />
ENERGIA<br />
É de<br />
sinergia<br />
que o teu<br />
mundo<br />
precisa<br />
humaniza-te<br />
meo.pt<br />
meoenergia.pt
edit orial<br />
Sandra Fazenda Almeida sandra.almeida@apdc.pt<br />
Ambição de chegar<br />
mais além<br />
O<br />
2º relatório sobre o Estado da Década<br />
Digital, divulgado recentemente, não<br />
deixa dúvidas: os esforços da UE27 para<br />
alcançar as metas para 2030 estão muito<br />
aquém do que se ambiciona e, se não forem<br />
tomadas medidas, corre-se o risco de não serem<br />
alcançadas. É preciso mais investimento em<br />
áreas como as competências digitais, a conectividade<br />
de elevada qualidade, a IA e a análise de<br />
dados nas empresas, nos semicondutores e nos<br />
ecossistemas em fase de arranque. Pede-se, por<br />
isso, maior ambição e uma ação reforçada.<br />
Embora esteja entre os melhores em termos<br />
de 5G e tenha feito “progressos notáveis” na saúde<br />
online, Portugal não é exceção a este diagnóstico.<br />
Com dois grandes pontos fracos: competências<br />
digitais básicas e especialistas em TIC. Por<br />
isso, também o nosso país terá de melhorar o seu<br />
desempenho, pois só assim poderá “fomentar a<br />
competitividade, a resiliência, a soberania e promover<br />
os valores europeus e a ação climática”,<br />
como se avança no relatório.<br />
Exatamente para contribuir para a aceleração<br />
da transformação nacional, a APDC apresentou<br />
no <strong>33º</strong> Digital Business Congress uma proposta<br />
de prioridades para o país, com medidas concretas<br />
para o desenvolvimento nacional. Enquanto<br />
associação do ecossistema digital nacional,<br />
queremos tornar Portugal um dos líderes da<br />
economia e da sociedade digital da Europa nos<br />
próximos oito anos e estamos disponíveis para<br />
dialogar e colaborar com todos os stakeholders.<br />
No balanço que fazemos nesta edição sobre o<br />
congresso, é por demais evidente a importância<br />
desses investimentos e esforços. E fica comprovado<br />
o papel fundamental da IA e das tecnologias<br />
digitais no futuro de Portugal e da Europa, num<br />
encontro que contou com mais de 870 participantes<br />
presenciais e mais de 10,6 mil interações<br />
online e onde assinalámos também os 40 anos da<br />
APDC<br />
Contamos nesta edição com as perspetivas de<br />
Arlindo Oliveira, presidente do congresso, sobre<br />
o potencial transformador da IA, os seus desafios<br />
e oportunidades. Luís Santana, CEO da Medialivre,<br />
dá a sua visão sobre o novo projeto dos<br />
media, apoiado por investidores como Cristiano<br />
Ronaldo. E o líder da NTT Data Portugal, Tiago<br />
Barroso, fala sobre a dinâmica de crescimento e<br />
a aposta em hubs de I&D, o último dos quais centrado<br />
na IA. Já Paulo Filipe, da Accenture, aborda<br />
a sua relação com a tecnologia.<br />
Destaque ainda para os efeitos positivos da<br />
European Startup Nations Alliance (ESNA) no<br />
ecossistema de empreendedorismo europeu,<br />
uma iniciativa proposta por portugueses que já<br />
mostra resultados significativos, com a adesão<br />
de 19 países. E para o sucesso do 114 DXC Code<br />
Challenge, concurso de programação que envolve<br />
crianças e jovens entre os sete e os 15 anos,<br />
promovendo o interesse pelas STEM e pela programação,<br />
de forma lúdica e educativa.<br />
Boas leituras!•<br />
3
sumario<br />
FICHA TÉCNICA<br />
<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>250</strong><br />
A ABRIR 6<br />
5 PERGUNTAS 12<br />
Luís Santana, CEO da Medialivre<br />
<strong>À</strong> CONVERSA 14<br />
Arlindo Oliveira, presidente do <strong>33º</strong> Digital<br />
Business Congress fala do que podemos<br />
esperar da IA<br />
NEGÓCIOS 30<br />
NTT Data Portugal em dinâmica de<br />
crescimento<br />
I TECH 34<br />
Paulo Filipe, da Accenture<br />
EM DESTAQUE 38<br />
Tudo sobre o <strong>33º</strong> Digital Business<br />
Congress<br />
PORTUGAL <strong>DIGITAL</strong> 106<br />
A ESNA já está a produzir efeitos no<br />
ecossistema do empreendedorismo<br />
europeu<br />
CI<strong>DA</strong><strong>DA</strong>NIA <strong>DIGITAL</strong> 112<br />
DXC Code Challenge, o concurso que está<br />
a seduzir os miúdos para a programação<br />
ÚLTIMAS 114<br />
14<br />
30<br />
38<br />
106<br />
Propriedade e Edição<br />
APDC – Associação Portuguesa<br />
para o Desenvolvimento das<br />
Comunicações<br />
Diretora executiva<br />
Sandra Fazenda Almeida<br />
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Chefe de redação<br />
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Almeida; Olivia Mira; Paolo Favaro; Paulo<br />
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Edição<br />
Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />
Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D<br />
1050-052 Lisboa<br />
Coordenação editorial<br />
Ana Rita Ramos<br />
anarr@haveaniceday.pt<br />
Edição<br />
Teresa Ribeiro<br />
teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />
Design<br />
Mário C. Pedro<br />
marioeditorial.com<br />
Fotografia<br />
Vítor Gordo/Syncview<br />
Periodicidade<br />
Trimestral<br />
Tiragem<br />
3.000 exemplares<br />
Preço de capa<br />
3,25 €<br />
Depósito legal<br />
2028/83<br />
Registo internacional<br />
ISSN 0870-4449<br />
ICS N.º 110 928<br />
4
a abrir<br />
LÍDERES QUEREM<br />
GANHOS IMEDIATOS<br />
COM IA…<br />
… METADE <strong>DO</strong>S<br />
TRABALHA<strong>DO</strong>RES QUER MU<strong>DA</strong>R<br />
DE EMPREGO…<br />
OS LÍDERES empresariais estão a<br />
apostar na inteligência artificial (IA)<br />
para obter ganhos imediatos – como<br />
melhoria da eficiência, produtividade<br />
ou redução de<br />
custos – ao invés<br />
de optarem por<br />
estratégias de longo<br />
prazo, privilegiando<br />
crescimento e<br />
inovação. Ainda<br />
assim, esperam<br />
que a IA generativa<br />
promova uma<br />
transformação<br />
substancial das<br />
suas organizações<br />
em menos de três<br />
anos. A conclusão<br />
é do mais recente<br />
estudo da Deloitte,<br />
‘State of Generative<br />
AI in the Enterprise’,<br />
que mostra também que<br />
a maioria das organizações<br />
ainda depende de soluções de Gen<br />
AI off-the-shelf (já existentes e prontas<br />
a usar). Assim, 56% dos líderes<br />
foca-se na melhoria da eficiência e da<br />
produtividade e 35% na redução de<br />
custos, em detrimento do crescimento<br />
e inovação (29%). A melhoria de<br />
produtos e de serviços existentes<br />
é também destacada (29%), assim<br />
como o aumento do valor das tarefas<br />
dos atuais trabalhadores (26%).<br />
Subsiste ainda um sentimento de<br />
incerteza sobre como gerir talentos.•<br />
De entre os líderes<br />
inquiridos, 35%<br />
focam-se na<br />
redução de custos,<br />
em detrimento<br />
do crescimento e<br />
inovação<br />
QUASE METADE (46%) das pessoas em todo o mundo estão<br />
a considerar demitir-se já no próximo ano, percentagem<br />
recorde desde a grande demissão de 2021. Isto porque<br />
querem aproveitar oportunidades de emprego que estão<br />
a ser criadas pela IA. O conhecimento em IA<br />
é cada vez mais valorizado pelos empregadores:<br />
dois terços afirmam não<br />
contratar alguém sem competências<br />
nesta tecnologia e 55% preocupam-se<br />
com a falta de talento, sendo as áreas<br />
de cibersegurança, engenharia e design<br />
criativo as mais carenciadas. Os dados<br />
são do Work Trend Index, da Microsoft,<br />
com o LinkedIn. O trabalho demonstra<br />
ainda que só 39% dos colaboradores<br />
recebem formação em IA da sua empresa,<br />
estando, por isso, a apostar na<br />
aquisição de competências por conta<br />
própria. No final de 2023, aumentou<br />
142 vezes o número de utilizadores do<br />
LinkedIn a adicionar competências<br />
de IA – como Copilot e ChatGPT<br />
– aos seus perfis, assim e cresceram<br />
em 160% os profissionais não<br />
técnicos a usar cursos do LinkedIn<br />
Learning para melhorar a sua aptidão em IA.•<br />
CURIOSI<strong>DA</strong>DE<br />
IA RECONHECE SENTIMENTOS E EMOÇÕES…<br />
Que as ferramentas de IA têm uma capacidade inimaginável, já todos<br />
sabíamos. E esse potencial está a ser utilizado pelas big tech. Que o diga<br />
a Microsoft que, beneficiando da sua forte aposta na OpenAI, tem já<br />
um modelo que consegue analisar sentimentos, emoções e reconhecer<br />
intenções dos utilizadores no WhatsApp. A nova ferramenta de IA,<br />
a Azure OpenAI Service, dará às empresas que pagarem para usar o<br />
servidor a capacidade de traduzir comunicações ou extrair frases-chave<br />
de conversas na<br />
plataforma WhatsApp.<br />
O que lhes permitirá<br />
obter informações<br />
valiosas, melhorando<br />
a sua comunicação<br />
com os seus clientes e<br />
segmentos-alvo.•<br />
ILUSTRAÇÃO RAWPIXEL.COM/FREEPIK<br />
ILUSTRAÇÃO VECTORJUICE/FREEPIK
CURIOSI<strong>DA</strong>DE<br />
… E JÁ COMEÇA A MEXER COM O ADN…<br />
A norte-americana de design de proteínas Profluent já anunciou o<br />
lançamento de uma proteína desenvolvida com IA, denominada<br />
OpenCRISPR-1. Destina-se a funcionar no sistema de edição de genes<br />
CRISPR, um processo em que uma proteína corta um pedaço de ADN<br />
e repara ou substitui um gene. Além<br />
de ser uma ferramenta biomédica que<br />
pode fazer tudo, desde restaurar a visão<br />
ao combate a doenças raras, também<br />
tem competências como ferramenta<br />
agrícola, melhorando o teor de vitamina<br />
D dos tomates ou reduzindo o tempo<br />
de floração das árvores de décadas para<br />
meses…•<br />
… E EMPRESAS OPTAM POR<br />
INOVAÇÃO EM DETRIMENTO <strong>DA</strong><br />
SEGURANÇA<br />
MENOS DE <strong>UM</strong> QUARTO (24%) dos projetos de IA generativa estão<br />
protegidos, apesar da generalidade das empresas (82%) admitirem<br />
que uma IA de confiança e segura é essencial para o sucesso<br />
dos negócios. A conclusão é de um relatório do IBM Institute for<br />
Business Value, que confirma que 70% das empresas escolhe a<br />
inovação em detrimento da segurança em projetos de IA generativa.<br />
Apesar disso, os inquiridos destacam um conjunto de preocupações<br />
relacionadas com a implementação<br />
de ferramentas de IA generativa nas<br />
suas organizações: mais de metade<br />
(51%) menciona riscos imprevisíveis<br />
e novas vulnerabilidades<br />
de segurança e 47% salienta<br />
os novos ataques direcionados<br />
aos modelos, dados e<br />
serviços de IA existentes. A<br />
maioria reconhece que a<br />
IA generativa requer um<br />
novo modelo de segurança,<br />
para mitigar os riscos<br />
apresentados por estas<br />
tecnologias.•<br />
Empresas reconhecem<br />
que há riscos<br />
imprevisíveis e<br />
novos ataques que<br />
surgem associados<br />
a os serviços de IA<br />
que adotaram<br />
ILUSTRAÇÃO FREEPIK<br />
ILUSTRAÇÃO STORYSET/FREEPIK<br />
EMPRESAS<br />
NACIONAIS: 53,7%<br />
JÁ USA GEN AI<br />
MAIS <strong>DA</strong> METADE das organizações<br />
portuguesas já adotaram ferramentas<br />
de IA generativa (Gen AI). Sendo<br />
que os setores de Defesa & Inteligência,<br />
de Tecnologia e de Retalho estão<br />
na vanguarda da utilização, enquanto<br />
os setores da AP e da Saúde demonstram<br />
uma adoção reduzida desta tecnologia.<br />
A conclusão é do Empower<br />
Business with GenAI, um estudo da<br />
Devoteam sobre a utilização da IA<br />
no mercado empresarial. Cerca de<br />
53,7% das organizações portuguesas<br />
possuem pelo menos uma aplicação<br />
de Gen AI em funcionamento, o que<br />
demonstra que a tecnologia está a<br />
ganhar destaque. Este estudo, que<br />
abrangeu 358 inquiridos de diversos<br />
setores, revela que 83,2% das empresas<br />
diz ter experiência com a tecnologia.<br />
Sendo que mais de 95% dos<br />
inquiridos pretende ter contacto com<br />
a tecnologia ainda este ano e 44,3%<br />
já a utilizam para descobrir conteúdos<br />
e respostas. A criação de código<br />
(40,6%), feedback de conteúdos<br />
(31,2%) e criação de conteúdos de<br />
marketing (28,5%) são as aplicações<br />
mais populares. O trabalho conclui<br />
que a adoção da Gen AI ainda está<br />
em fase inicial, mas que o panorama<br />
é promissor. A implementação de<br />
frameworks e a criação de estratégias<br />
específicas para GenAI representam<br />
passos importantes para que as<br />
empresas aproveitem ao máximo<br />
o potencial da tecnologia. Entre os<br />
desafios na sua implementação,<br />
destacam-se a falta de competências<br />
especializadas, as questões de ética e<br />
a necessidade de investir em infraestrutura<br />
e segurança.•<br />
7
a abrir<br />
8<br />
SOUND BITES :-b<br />
“É preciso agarrar o momento.<br />
Para um bloco já atolado em regulação,<br />
ser pioneiro não é propriamente<br />
um bom cartão de visita<br />
para o investimento. É uma<br />
visão errada achar que se pode<br />
compensar o atraso na inovação<br />
e no desenvolvimento do negócio<br />
neste domínio com uma<br />
vanguarda regulatória. (…) A UE<br />
tende a ir longe demais na complexidade<br />
das regras, sufocando<br />
a inovação e o investimento”<br />
André Veríssimo, ECO,<br />
25/05/2024<br />
“Se guerra é a continuação da<br />
política por outros meios, como<br />
escreveu Clausewitz, a guerra comercial<br />
é a continuação da política<br />
com velhos meios. Acontece<br />
quando a geoestratégia ocupa o<br />
lugar da geoeconomia. Com esta<br />
guerra, o mundo fica ainda mais<br />
dividido, fragilizado e perigoso”<br />
Luís Marques, Expresso,<br />
24/05/2024<br />
“Se não formos capazes de atrair<br />
mais investimento para este setor,<br />
a Europa não vai conseguir<br />
cumprir as metas da Década Digital.<br />
(…) É necessário racionalizar<br />
e harmonizar ainda mais a<br />
regulação das telecomunicações<br />
em todos os Estados-membros e<br />
apoiar, e não dificultar, as consolidações”<br />
Ana Figueiredo, Jornal<br />
Económico, 24/05/2024<br />
“A era da IA vai continuar a desenvolver-se,<br />
e é por isso fundamental<br />
que tanto os humanos<br />
quanto a tecnologia evoluam ao<br />
mesmo passo. A revolução da<br />
IA não é apenas sobre inovação<br />
tecnológica — também se trata<br />
de capacitar os humanos para se<br />
sentarem com sucesso ao leme<br />
da IA, e usá-la de maneiras confiáveis<br />
e eficazes”<br />
Fernando Braz, ECO,<br />
17/05/2024<br />
ORGANIZAÇÕES PREOCUPA<strong>DA</strong>S<br />
COM ATAQUES VIA IA<br />
O RISCO de ataques maliciosos alimentados por IA são a<br />
principal preocupação dos líderes das empresas. A<br />
relativa facilidade de utilização e a qualidade<br />
das ferramentas de IA, como a criação de<br />
voz e imagem, aumenta a capacidade<br />
de realizar ataques maliciosos com<br />
elevadas consequências para as organizações.<br />
A conclusão é de um estudo<br />
realizado pela Gartner para o 1º trimestre<br />
de 2024, destinado a analisar<br />
os 20 riscos emergentes, de forma a<br />
oferecer uma visão das causas e potenciais<br />
consequências. Os ataques<br />
maliciosos baseados em IA são o<br />
risco emergente mais preocupante,<br />
seguindo-se a desinformação. A escalada<br />
da polarização política desceu<br />
da 2ª para 3ª preocupação. Gestores e<br />
empresários consideram também que a<br />
IA pode facilitar a criação de código malicioso,<br />
assim como a divulgação de engenharia<br />
social e phishing, aumentando o receio<br />
de intrusão. A IA aumenta a credibilidade desses conteúdos,<br />
originando ataques com mais danos. E o impacto destes<br />
ataques baseados em IA, como a desinformação, podem ter<br />
repercussões de reputação, produtividade e capacidade das<br />
organizações.•<br />
E INVESTIMENTO SUPERA<br />
100 MILHÕES EM PORTUGAL<br />
A APLICAÇÃO de IA nas empresas tem um vasto potencial<br />
para aumentar a competitividade dos negócios. Tudo graças<br />
à capacidade da IA agilizar processos, reduzir a burocracia e,<br />
consequentemente, diminuir os custos. Por isso, os investimentos,<br />
este ano, no mercado nacional deverão ultrapassar<br />
os 100 milhões de euros, sendo que o crescimento anual,<br />
estimado entre 2023 e 2027, é de 25%. As estimativas são<br />
da IDC, que destaca que, à medida que os investimentos em<br />
IA e automação crescem, o foco nos resultados, governança<br />
e gestão de riscos é fundamental para garantir o sucesso e<br />
a segurança dessas iniciativas por parte das organizações.<br />
Trata-se de uma revolução tecnológica que não se limita<br />
apenas a melhorias incrementais, estando na base de uma<br />
reestruturação dos negócios e da forma como as experiências<br />
dos clientes são moldadas.•<br />
O foco nos resultados,<br />
governança<br />
e gestão de riscos<br />
é fundamental<br />
para garantir o<br />
sucesso do<br />
investimento<br />
em IA
CORRI<strong>DA</strong> AOS CHIPS<br />
AVANÇA<strong>DO</strong>S DE IA<br />
A PROCURA de chips avançados para a IA está a disparar e a capacidade<br />
de resposta é ainda pouca, o que permite antever uma rápida evolução<br />
deste ecossistema, com a entrada de novos intervenientes. A conclusão<br />
é de um estudo da BCG, tendo em conta as tendências de mercado. É<br />
que as gigantes tecnológicas mundiais estão, cada vez mais, a entrar<br />
nesta área, criando os seus próprios chips. Casos como o da Meta e da<br />
Google, assim como a Intel e a Nvídia, que está a registar uma ascensão<br />
meteórica, mostram que a estratégia é ganhar controlo sobre a cadeia<br />
de valor e introduzir maior inovação, para garantir a diferenciação das<br />
ofertas. Além de eliminar a dependência dos fornecedores e de uma<br />
eventual exposição ao preço e à oferta. Trata-se de um novo ciclo de<br />
inovação em torno dos chips que está apenas a começar, já que estes<br />
serão essenciais num novo mundo em que os processos de negócio se<br />
estão a capacitar através da IA. Num mercado ávido por opções viáveis<br />
e competitivas para fornecer chips de IA, ainda não se sabe com que rapidez<br />
as fontes alternativas de fornecimento serão capazes de oferecer<br />
o preço, a sofisticação e a escala desejados. Pelo que, para já, e apesar<br />
dos investimentos que estão a ser anunciados, todos tentam garantir<br />
fornecimentos, para não correrem o risco de ficar para trás.•<br />
O novo ciclo de<br />
inovação em<br />
torno dos chips<br />
está apenas a<br />
começar, já que<br />
estes vão ser<br />
essenciais na era<br />
da IA<br />
ILUSTRAÇÃO MACROVECTOR/FREEPIK
a abrir<br />
N<strong>UM</strong>EROS<br />
43 MIL MILHÕES<br />
É o valor, em euros, do novo fundo<br />
de investimento criado pelo governo<br />
chinês para financiar a indústria de<br />
semicondutores. A meta é garantir<br />
autossuficiência na tecnologia, pelo que<br />
este já é o terceiro fundo, e o maior. Este<br />
é o caminho encontrado por Pequim para<br />
contornar as sanções impostas pelos EUA,<br />
que temem o uso dos chips avançados<br />
em armamento militar. O novo fundo vai<br />
beneficiar sobretudo as duas maiores<br />
fábricas de chips da China, a Semiconductor<br />
Manufacturing International (SMIC) e a<br />
Hua Hong Semiconductor. A fabricante<br />
de memórias flash Yangtze Memory<br />
Technologies também receberá parte deste<br />
financiamento.<br />
15,7 MIL MILHÕES<br />
É quanto a Amazon Web Services vai<br />
investir, em euros, em Espanha, com a<br />
criação de 17,5 mil empregos. A aposta é<br />
na expansão da sua infraestrutura de cloud,<br />
no âmbito do seu crescimento na Europa<br />
até 2033. A subsidiária da gigante Amazon<br />
antevê que o projeto contribua com 21,6<br />
mil milhões de euros para o PIB do país até<br />
2033.<br />
9 MIL MILHÕES<br />
O montante anual, em euros que o SoftBank<br />
antecipa investir por ano em IA para se<br />
manter relevante na corrida à tecnologia.<br />
Convicto de que o futuro passará pela<br />
computação inteligente, o gigante japonês<br />
admite ainda margem para oportunidades<br />
que possam surgir. Já detém a fabricante<br />
britânica de chips Arm, considerada a sua<br />
‘jóia da coroa’. Em maio último, o SoftBank<br />
liderou ainda um investimento de mais de<br />
mil milhões de dólares na startup britânica<br />
de carros autónomos Wayve, no maior<br />
acordo de IA da Europa até ao momento.<br />
EMPRESAS ATINGI<strong>DA</strong>S POR<br />
RANSOMWARE PEDEM AJU<strong>DA</strong><br />
A QUASE totalidade das organizações (97%) que no ano<br />
passado foram atingidas por ransomware recorreram às<br />
autoridades para obterem ajuda com o ataque. Mais de<br />
metade (59%) considerou o processo fácil ou relativamente<br />
fácil. Só 10% afirmou que foi muito difícil. A conclusão<br />
é do mais recente estudo da Sophos, denominado “State<br />
of Ransomware 2024”, que mostra ainda que 61% das<br />
empresas diz ter recebido conselhos sobre como lidar<br />
com o ransomware, enquanto 60% recebeu ajuda para<br />
investigar o ataque. Já 58% das organizações cujos dados<br />
foram encriptados recebeu ajuda das autoridades policiais<br />
para recuperar os seus dados. O ransomware tem sido<br />
uma ameaça contínua às empresas, particularmente às<br />
PME. No ano passado, foi o tipo de ataque mais frequentemente<br />
encontrado pelo 4º ano consecutivo. Muitas<br />
organizações ainda não estão a implementar medidas de<br />
segurança que possam reduzir o seu perfil de risco global<br />
de forma comprovada. Tal inclui a aplicação atempada de<br />
patches nos seus dispositivos e a ativação da autenticação<br />
multifator. O atual cenário de ameaças está em constante<br />
evolução, e é mais grave e mais complexo do que nunca.•<br />
OPTIMIZAÇÃO DE OPERAÇÕES<br />
<strong>DO</strong>MINA APOSTA NA IA<br />
Em Portugal, 90% das empresas identifica a otimização<br />
das operações como a principal motivação para a adoção<br />
da IA, mostra o Ascendant Digital 2024. Com o tema “IA:<br />
Uma revolução em curso”, este relatório da Minsait, tem<br />
dados de mais de 130 empresas nacionais, recolhidos em<br />
parceria com a AESE Business School. O estudo envolveu<br />
mais de 900 organizações do sul da Europa e da América<br />
Latina, de 15 setores de atividade. Revela que, embora as<br />
empresas tenham baixo nível de adoção da IA, estão conscientes<br />
do desafio que implica promover e captar todo o<br />
seu valor. Muitas estão já a lançar-se na implementação<br />
concreta, especialmente de IA generativa. Se só 10% das<br />
empresas, a nível global, tem um plano de IA totalmente<br />
integrado nas suas estratégias, 36% destas já começou a<br />
desenvolvê-lo e três em cada quatro planeia tê-lo a médio<br />
prazo, o que demonstra a importância estratégica que a<br />
IA terá nos negócios. No mercado nacional, das organizações<br />
que já iniciaram este caminho, 90% fizeram-no com a<br />
motivação de incorporar a IA na otimização de operações<br />
e redução de custos, 37% para aumentar as vendas e 32%<br />
para uma evolução da experiência dos seus clientes.•<br />
O ransomware<br />
tem sido uma<br />
ameaça contínua<br />
às empresas, sobretudo<br />
às PME.<br />
O ano passado foi<br />
o tipo de ataque<br />
mais frequente
O Melhor de Portugal na Transformação Digital<br />
Os Portugal Digital Awards ® são uma iniciativa organizada pela Axians e IDC Portugal.<br />
Visam distinguir organizações, projetos, equipas e personalidades que utilizem<br />
tecnologias de informação e comunicação na transformação do seu negócio.<br />
Esta iniciativa pretende dar visibilidade e reconhecimento às ideias que saíram do papel,<br />
para se transformarem em projetos que se assumem como motores de inovação,<br />
eficiência e crescimento nas organizações e na sociedade.<br />
A fase de candidaturas está a decorrer. Candidate o seu projecto até dia 11 de Outubro.<br />
Não deixe escapar a oportunidade de ver o seu projeto premiado e reconhecido!<br />
Saiba mais informações em:<br />
www.portugaldigitalawards.pt
5 perguntas<br />
12<br />
LUÍS SANTANA:<br />
Liderar é o objetivo<br />
estratégico<br />
A Medialivre é o mais recente grupo de media nacional, depois<br />
do MBO sobre a Cofina Media. Com independência e inovação,<br />
quer criar “projetos com vocação de liderança”. Os investidores<br />
partilham esta visão. Cristiano Ronaldo é um deles.<br />
Texto de Isabel Travessa| Fotos Cedidas<br />
Liderou o MBO e é agora o CEO do<br />
grupo. Que balanço faz do processo?<br />
Foi um processo desafiante, num<br />
setor que tem vindo a ser objeto<br />
de muita pressão em termos de<br />
negócio. Mas foi possível agregar aos<br />
quadros da empresa um conjunto de<br />
investidores que partilham os mesmos<br />
valores e princípios e fundar um<br />
grupo de comunicação social que<br />
tem na sua matriz a independência<br />
e a inovação ao serviço dos leitores,<br />
espetadores e anunciantes.<br />
O que distingue o novo grupo?<br />
A Medialivre é herdeira da empresa<br />
de comunicação social que, de forma<br />
contínua e sistemática, melhor se foi<br />
adaptando ao mercado, preservando<br />
a sua rentabilidade. Desta forma,<br />
garantiu ser um grupo livre e sem<br />
qualquer tipo de dependências que<br />
possam trazer constrangimentos ao<br />
seu rigor. Nesse sentido, em Portugal,<br />
é um grupo único. Naturalmente<br />
que, sendo um grupo que agrega a<br />
líder de televisão em plataformas<br />
pagas, o diário generalista líder, a<br />
newsmagazine líder, o diário de economia<br />
e negócios mais lido e o jornal<br />
desportivo com maior difusão, entre<br />
outros títulos, manterá, sempre,<br />
como objetivo estratégico, liderar em<br />
todos os segmentos onde se posiciona<br />
ou se vier a posicionar.<br />
Garante que o Now, que arrancou<br />
a 17 de junho, é um canal de<br />
notícias diferenciador. Tendo já a<br />
CMTV, num mercado com audiências<br />
pulverizadas e a concorrência<br />
de pelo menos mais três canais,<br />
onde está a criação de valor?<br />
Sentimos que, em Portugal, os canais<br />
de informação se mimetizam, deixando<br />
a sensação de que são todos<br />
iguais. O Now traz consigo uma nova<br />
frescura, na abordagem e rigor. Com<br />
informação na hora certa, promete<br />
informar de forma rápida e sem<br />
recurso a soluções de infotainement.<br />
Trará ainda espaços de análise, através<br />
de especialistas reconhecidos<br />
e com provas dadas e não fazendo<br />
recurso a “tudólogos”, bem como espaços<br />
de debate, de modo a contribuir<br />
para melhor esclarecimento dos<br />
espetadores. Temos consciência que<br />
um projeto com a qualidade do Now<br />
levará o seu tempo para se afirmar<br />
no concorrido espaço televisivo das<br />
plataformas pagas. Mas acreditamos<br />
que fazendo diferente, com propostas<br />
de valor claras e diferenciadoras,<br />
teremos a adesão dos espetadores<br />
e, sobretudo, dos mais exigentes.<br />
No cenário atual dos media, qual<br />
é a estratégia para apostar em<br />
investimentos que vão ‘mexer o<br />
mercado da comunicação social’,<br />
como tem vindo a afirmar?<br />
Em cinco meses, após a aquisição da<br />
Medialivre, fomos capazes de desenhar<br />
e implementar um novo canal<br />
de televisão, que terá claramente um<br />
posicionamento premium. A estratégia<br />
passa, pois, pela implementação<br />
de projetos com vocação de liderança,<br />
a aposta em bons profissionais<br />
– o Now representa a criação de 60<br />
postos de trabalho – e nos melhores<br />
conteúdos. Quando assim é,<br />
acreditamos que os projetos não são<br />
apenas sustentáveis, mas também<br />
um bom investimento.<br />
Como é que vê o European Media<br />
Freedom Act? Resolverá os grandes<br />
problemas do setor, como a<br />
independência editorial, transparência,<br />
proteção de conteúdos,<br />
sustentabilidade e defesa da<br />
democracia?<br />
Encerra um conjunto de medidas<br />
que fazem todo o sentido. Mas, mais<br />
importante do que uma arquitetura<br />
jurídica, é fundamental criar<br />
sistemas de incentivos que atraiam<br />
investidores para o setor, enquanto<br />
garantem um acesso à informação<br />
de qualidade, rigorosa e independente<br />
dos demais interesses. É<br />
muito pouco justo que milhões de<br />
pessoas fundamentem, cada vez<br />
mais, a sua opinião em fontes pouco<br />
credíveis, sujeitas a uma manipulação<br />
primária, por incapacidade de<br />
acesso aos meios de comunicação<br />
social que têm um cada vez mais importante<br />
papel de mediadores entre<br />
as fontes de informação e os seus<br />
leitores e espetadores. Em Portugal,<br />
o setor não tem qualquer sistema de<br />
incentivos. Se valorizamos os media<br />
enquanto plataformas fundamentais<br />
para a preservação da democracia,<br />
então é importante sinalizar isso<br />
mesmo através de ações muito concretas,<br />
que possam contribuir para a<br />
sustentabilidade dos projetos. •
O gestor defende como fundamental a criação de sistemas de incentivos para atrair mais<br />
investidores e garantir “um acesso à informação de qualidade, rigorosa e independente dos demais<br />
interesses”<br />
13
a conversa<br />
14<br />
“Para mim a questão da inteligência é interessante. Foi a inteligência humana que mudou o mundo”
INTELIGÊNCIA<br />
<strong>ARTIFICIAL</strong>:<br />
ELE ACREDITA<br />
NO SONHO<br />
<strong>DA</strong> MÁQUINA<br />
CRIATIVA<br />
Arlindo Oliveira sempre teve paixão por computadores e cedo se<br />
dedicou ao mundo desconhecido da Inteligência Artificial. Conheça<br />
o percurso e as motivações do Presidente do 33° Digital Business<br />
Congress, sempre com os olhos postos no futuro.<br />
TEXTO DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA FOTOS DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/ SYNCVIEW<br />
15
a conversa<br />
16<br />
“Estava em Silicon Valley no meio da grande explosão. O Google ainda não tinha aparecido. Depois surgiu a World Wide Web”
No ano em que a APDC comemora 40 anos, Arlindo Oliveira<br />
é o presidente do 33° Digital Business Congress, sob o tema<br />
“Futurizing”. Ninguém melhor do que ele para olhar o futuro.<br />
A saga do presidente do INESC no campo do sonho, aplicado<br />
sobretudo às tecnologias, não tem igual. Arlindo Oliveira é<br />
um dos protagonistas portugueses da espetacular aposta das<br />
empresas em Inteligência Artificial. Talvez por isso tenha conquistado<br />
a reputação e o respeito inquestionáveis de gestores,<br />
académicos e governantes.<br />
Acompanhe o seu percurso, se tiver fôlego. Nasceu em Angola<br />
e viveu em Moçambique, Portugal, Suíça, Estados Unidos<br />
(Califórnia e Massachusetts) e Japão. Tem uma licenciatura<br />
pelo Instituto Superior Técnico (IST) e um doutoramento pela<br />
Universidade da Califórnia, em Berkeley. É Professor Catedrático<br />
Distinto do IST, presidente do Instituto de Sistemas e<br />
Computadores (INESC), administrador não executivo da Caixa<br />
Geral de Depósitos, investigador do INESC-ID, membro do Conselho<br />
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Conselho<br />
Consultivo do Painel de Ciência e Tecnologia do Parlamento<br />
Europeu (STOA). Publicou três livros, traduzidos em diversas<br />
línguas, e centenas de artigos científicos e de divulgação. Foi<br />
administrador de diversas empresas e instituições e presidente<br />
do IST, da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial e<br />
do INESC-ID. Foi professor visitante no MIT e da Universidade de<br />
Tóquio, e abraçou vários outros desafios que não cabem nestas<br />
páginas.<br />
Apesar da sua aparência serena, Arlindo Oliveira tem uma<br />
força interior que lhe foi muito útil nas lutas que teve de travar<br />
ao longo da vida. Em tudo o que fez, nomeadamente na divulgação<br />
do potencial da Inteligência Artificial – quando ainda<br />
ninguém falava nela – procurou sempre escapar à banalidade<br />
de uma vida sem impacto. E conseguiu.<br />
17
a conversa<br />
“Se conseguirmos duplicar<br />
muitas componentes da<br />
inteligência humana,<br />
provavelmente no futuro,<br />
a humanidade será<br />
diferente”<br />
“O mundo real é onde<br />
vivemos, mas a tecnologia<br />
está a mudar o mundo real,<br />
por isso as duas coisas não<br />
estão assim tão separadas”<br />
18
Comecemos pelo princípio: a sua paixão por algoritmos,<br />
computadores e tabuleiros de xadrez vem de<br />
onde? Desde quando?<br />
A paixão pelo xadrez é mais antiga. Aprendi a jogar xadrez<br />
em Moçambique, quando tinha uns dez ou onze<br />
anos. Depois, mais tarde, já a viver no Montijo, cheguei<br />
a ser um jogador razoável…<br />
Chegou a participar numas competições…<br />
Sim, tenho lá em casa uma série de taças. Joguei muito<br />
xadrez até ir para a universidade. Depois, deixou de ser<br />
compatível.<br />
Mas ponderou ser jogador profissional em vez de ir<br />
para a faculdade?<br />
Ser jogador profissional de xadrez é muito difícil. Em<br />
Portugal nem sei se há alguém que viva só do xadrez e,<br />
na altura, ainda menos. Ainda assim, eu tinha a ideia<br />
de jogar xadrez mais a sério, mas financeiramente era<br />
muito mais arriscado.<br />
Continua a jogar?<br />
Muito pouco. Mas tenho um tabuleiro sempre montado<br />
em casa e às vezes jogo no computador. A verdade<br />
é que também não tenho muitas pessoas com quem<br />
jogar. Nunca consegui convencer as minhas filhas a jogar<br />
a um nível que dessem luta. Mas o xadrez permite<br />
várias coisas: em vez de ser jogado contra uma pessoa,<br />
pode-se só analisar posições e tirar conclusões. Por vezes<br />
faço isso. É interessante perceber de que forma é<br />
que os computadores jogam xadrez, que é um bocadinho<br />
diferente da humana.<br />
E o interesse pelos computadores, vem de quando?<br />
Vem mais ou menos da mesma altura, quando era miúdo.<br />
Aos 17 ou 18 anos, na década de 80, apareceu o ZX<br />
Spectrum, um computador pequenino que foi um sucesso.<br />
Comprei dois, um deles ainda tenho. Na altura,<br />
gostei muito daquilo, gostei muito de programar, de<br />
perceber tudo o que conseguia fazer com os computadores.<br />
Depois, quando fui para o Técnico, o curso de<br />
Engenharia Eletrotécnica tinha uma forte componente<br />
de computadores. Aprendemos a programar e, por<br />
acaso – veja como são as coisas – o meu primeiro projeto<br />
foi um programa para jogar xadrez.<br />
A sua inquietude interior nasceu como? Consegue<br />
identificar? Que criança e adolescente foi?<br />
Sempre fui uma criança e um adolescente pacíficos.<br />
Mas era muito bom aluno, muito interessado pela magia<br />
de aprender. Nunca dei grandes preocupações aos<br />
meus pais. Sempre brinquei na rua e fui um adolescente,<br />
digamos, normal. Quando fiz 18 anos, mudei-me<br />
para Lisboa.<br />
Quando é que percebeu que a ciência e a engenharia,<br />
poderiam ser um ofício? Foi através delas que despertou<br />
para a “espantosa realidade das coisas” (para citar<br />
um verso de Alberto Caeiro)?<br />
A minha paixão eram os computadores e a eletrónica.<br />
Gostava muito de eletrónica, fazia montagens de equipamentos,<br />
de maneira muito amadora, mas aquilo<br />
fascinava-me. Na altura, a Escola Técnica do Montijo<br />
tinha bons professores de Engenharia Informática. Tinham<br />
uns motores elétricos e fazíamos instalações. Eu<br />
gostava muito daquilo. Foi mais ou menos no 10º ano<br />
que isso começou.<br />
Depois seguiu o seu percurso académico sem nenhum<br />
tipo de hesitação.?Sim, depois tirei a licenciatura no<br />
Técnico. Acabei o curso em 86 e o mestrado em 89. Foi o<br />
ano em que fui para os Estados Unidos. Vivi cinco anos<br />
na Califórnia, onde fiz o doutoramento.<br />
Foi uma altura muito importante da vida, não foi?<br />
Muito importante para mim e muito importante para<br />
os computadores, para a internet. Estava em Silicon Valley,<br />
no meio da grande explosão. O Google ainda não<br />
tinha aparecido... Depois surgiu a world wide web. Estive<br />
até 1994, depois ainda passei lá vários verões, porque<br />
mantive ligações muito fortes com aquelas pessoas.<br />
Quase até ao fim da década de 90 ia lá passar os verões.<br />
Levava as minhas filhas, que faziam summer camps.<br />
Porque regressou a Portugal?<br />
Foi uma decisão difícil. Na altura, foi com sentido de<br />
dever. As pessoas tinham-me apoiado muito quando<br />
fui para os Estados Unidos, e não só financeiramente.<br />
Havia aquela ideia de que quem ia para fora estudar,<br />
depois regressava a Portugal para ajudar a desenvolver<br />
o país. Senti uma espécie de dever de regressar.<br />
E veio com uma tarefa específica?<br />
Não. Regressei em 1995 e em 1999 integrei o INESC-ID.<br />
Fui membro da direção e depois presidente durante<br />
dez anos. Só saí para ir para presidente do Técnico.<br />
Como é que foi regressar à sua casa de formação como<br />
presidente? O que é que sentiu?<br />
Não posso dizer que regressei apenas como presidente.<br />
Regressei como professor associado. Foi um grande<br />
orgulho. Não sei se as pessoas sabem, mas o Técnico é<br />
das poucas escolas – como faculdade é provavelmente<br />
a única, com exceção da Nova SBE – em que as pessoas<br />
19
a conversa<br />
“O machine learning, a ideia de que os computadores podem aprender com a experiência das pessoas foi o que me trouxe para os<br />
computadores e para a engenharia”<br />
20<br />
gostam de cá estar, as pessoas vivem pelo Técnico, defendem<br />
o Técnico. Foi uma honra ser presidente desta<br />
instituição. Foi algo que não estava planeado. Lembrome<br />
claramente dessa altura.<br />
Manteve a sua relação com os Estados Unidos, e com a<br />
Califórnia em particular, de um ponto de vista pessoal<br />
e profissional...<br />
Ao princípio de maneira muito forte, sobretudo nos<br />
primeiros dez anos. Tínhamos um contrato com uma<br />
empresa que fazia software para circuitos integrados,<br />
criámos aqui um centro de desenvolvimento. Ia muito<br />
à Califórnia – duas, três vezes por ano. Depois, quando<br />
acabou esse contrato, as coisas mudaram.<br />
A Bay Area é onde ainda se sente em casa, fora de Portugal?<br />
Sim, sim! Um sítio onde me sinto em casa. Depois disso,<br />
já estive noutros sítios, em períodos sabáticos: Boston,<br />
Tóquio e recentemente em Macau. É diferente de<br />
visitar o país por 15 dias. Quando se vive lá, quando se<br />
tem uma casa, quando se vai ao supermercado, quando<br />
se conhece os vizinhos, é tudo mais intenso. Em<br />
Boston fui trabalhar com alguns professores do MIT,<br />
num projeto que ainda agora está a dar resultados. Em<br />
Tóquio, fui trabalhar com professores da Universidade<br />
de Tóquio.<br />
Sempre em Inteligência Artificial (IA) ou noutras<br />
áreas?<br />
Sempre em IA. A IA tem costas largas, cabe lá muita<br />
coisa dentro.<br />
Da primeira vez que regressou dos Estados Unidos,<br />
como é que viu o país? Veio de uma realidade completamente<br />
distinta, onde estava tudo a explodir em termos<br />
digitais...<br />
Sim, é verdade. Mas as universidades portuguesas e<br />
o Técnico também avançaram rapidamente. Quando<br />
voltei, a única coisa que notei foi que era mais difícil<br />
fazer projetos cá, porque havia menos infraestruturas,<br />
menos condições. Na altura, havia o projeto do INESC,<br />
que já tinha começado em 1980. Embora Portugal tivesse<br />
muitas limitações – e ainda tem – aqui no INESC<br />
havia um ambiente interessante para se trabalhar.<br />
Mantivemos durante dez anos essa relação com a Califórnia,<br />
com projetos comuns, portanto, de alguma<br />
forma, também estávamos a trazer a tecnologia que
existia lá. Não era a mesma coisa que estar em Berkeley<br />
ou no MIT, mas tinha as suas vantagens.<br />
Portanto, esse é o objetivo dos cérebros e é também o<br />
que temos implementado em máquinas.<br />
Sendo um especialista em IA, o que o preocupa mais<br />
na vida? Os problemas do mundo real ou os problemas<br />
do mundo virtual?<br />
Antes de mais, se me perguntasse há 15 anos se eu trabalhava<br />
em inteligência artificial, provavelmente eu<br />
diria que não. Diria que trabalhava na área de machine<br />
learning, que foi a ideia que, na realidade, me trouxe<br />
para os computadores e para a engenharia: a ideia de<br />
que os computadores podem aprender com a experiência<br />
das pessoas.<br />
E isso sempre o fascinou, não é?<br />
Sim, desde os 16 ou 17 anos. Agora, a inteligência artificial<br />
absorveu muitas áreas, incluindo essa. Neste<br />
momento, é tudo inteligência artificial.<br />
Porque é que é tão fascinado com a ideia de fazer as<br />
máquinas aprenderem?<br />
Para mim, a questão da inteligência é interessante. Foi<br />
a inteligência humana que<br />
mudou o mundo. Se conseguirmos<br />
duplicar num<br />
computador muitas componentes<br />
da inteligência<br />
humana, provavelmente<br />
também vamos mudar o<br />
mundo e, no futuro, a humanidade<br />
será diferente.<br />
O mundo real é onde vivemos,<br />
mas a tecnologia está<br />
a mudar o mundo real, por<br />
isso as duas coisas não estão<br />
assim tão separadas.<br />
Disse, no podcast “Deixar o mundo melhor”, que encara<br />
as máquinas “como uma espécie de papagaios<br />
que papagueiam muito bem, e que aprendem as estatísticas,<br />
as relações entre as palavras, os conceitos e as<br />
ideias”. O que lhe perguntamos é: o cérebro humano<br />
também é uma máquina estatística inteligente?<br />
Sim. Digo isso em alguns dos meus livros. O que acontece<br />
é que, hoje em dia, as máquinas ainda são muito<br />
mais superficiais do que o cérebro humano, não têm<br />
aquela compreensão profunda que nós temos. Mas o<br />
cérebro também é uma máquina estatística, só que<br />
mais sofisticada e com representações muito mais<br />
complexas, em particular nos modelos de linguagem.<br />
Mas esse comentário não é muito negativo para as máquinas,<br />
porque os cérebros dos homens e dos animais<br />
também são máquinas estatísticas. Foram projetadas<br />
pela evolução para garantir a sobrevivência do individuo,<br />
pelo menos o tempo suficiente para ele ter filhos.<br />
Os cérebros dos homens e<br />
dos animais também são<br />
máquinas estatísticas.<br />
Foram projetadas pela<br />
evolução, para garantir a<br />
sobrevivência do indivíduo<br />
Tem fascínio pela ideia de fazer as máquinas aprenderem.<br />
Em relação às pessoas, qual é o impacto do seu<br />
processo de aprendizagem com essa ligação às máquinas<br />
e com os computadores?<br />
Isso é interessante, porque a maneira como as pessoas<br />
aprendem também tem mudado muito. Antes da evolução<br />
da escrita, e mesmo depois, as pessoas aprendiam<br />
essencialmente por experiência e por observação<br />
de outras pessoas. Depois, com a invenção da escrita,<br />
o processo de aprendizagem mudou um pouco, mas a<br />
maior parte das pessoas são sabia ler. Quando apareceram<br />
os livros e a imprensa pensou-se: “As escolas e<br />
universidades deixam de ter razão de existir, porque as<br />
pessoas agora podem ter um livro e aprender a partir<br />
dele”. Mas isso não aconteceu. As escolas e universidades<br />
tornaram-se cada vez mais importantes. Os<br />
livros, só por si, não resolveram o problema. Quando<br />
apareceu a internet, foi a mesma coisa: “Agora já não<br />
são precisos os livros, aprendemos na internet, desaparecerão<br />
as universidades”.<br />
Com a inteligência<br />
artificial há quem diga que<br />
os professores passarão a<br />
ser dispensáveis. Mas, na<br />
verdade, nenhuma dessas<br />
inovações mudou a importância<br />
da relação entre<br />
professor e aluno no<br />
processo aprendizagem, a<br />
importância de estar num<br />
ambiente estimulante.<br />
A importância da ligação?<br />
Da ligação e da excitação.<br />
No Técnico, por exemplo, os alunos são muito bons e<br />
são muito estimulados para aprender.<br />
O Técnico fez um regulamento de utilização da IA para<br />
professores e para alunos. Porquê?<br />
Elaborámos um relatório, sim. Pediram-me para ser o<br />
coordenador dessa comissão. Criámos regras e medidas<br />
para o que se deve fazer com a IA generativa.<br />
Ou seja, dizer que é para usar, mas responsavelmente.<br />
Sim. Determinar o que é razoável usar.<br />
Isso preocupa-o? A irrazoabilidade que as situações<br />
podem tomar?<br />
Não muito. Preocupa-me mais que se crie ou se reforce<br />
a superficialidade. Os alunos, neste momento, leem<br />
muito poucos livros, porque têm outras ferramentas,<br />
têm vídeos, têm sites, têm o chat GPT. Ler um livro é<br />
21
a conversa<br />
22<br />
uma atividade profunda. Preocupa-me que a sociedade<br />
em geral, não são só os alunos, esteja cada vez mais<br />
imediatista, com cada vez menos capacidade de atenção<br />
concentrada. Eu ainda insisto em escrever livros,<br />
sabendo que é uma coisa que pertence ao passado. Há<br />
pessoas que ainda leem, mas a juventude lê muito menos.<br />
Note-se que não é por isso que aprendem menos,<br />
eles sabem muita coisa, mas aprendem de maneira<br />
muito diferente. Portanto, esse processo vai mudando.<br />
Já no tempo de Platão se dizia que os jovens já não memorizavam<br />
as coisas, já não aprendiam como dantes.<br />
Quando começou a escrita, as pessoas deixaram de decorar<br />
o que aprendiam.<br />
Sim, a reclamação existe desde há 3 mil anos. Portanto,<br />
provavelmente, nada de grave vai acontecer.<br />
Já disse mais do que uma vez que antecipa um verdadeiro<br />
boom nos próximos anos em termos de aplicações<br />
de IA. Não o preocupa o tipo de utilização que se<br />
fará disto? Vamos conseguir controlar as máquinas<br />
ou, como nos filmes que<br />
vemos sobre o futuro, corremos<br />
o risco de sermos<br />
controlados por elas?<br />
Há várias preocupações,<br />
claro. A primeira e mais<br />
imediata é a desinformação,<br />
a capacidade de as<br />
máquinas serem usadas,<br />
neste caso por agentes humanos,<br />
para desinformar<br />
e fazerem conteúdos fraudulentos.<br />
Isso é assustador.<br />
Já acontece. Mas a culpa não é bem da IA, que é uma<br />
ferramenta que é usada de maneira distorcida por<br />
agentes humanos. Há consequências mais complexas,<br />
que originam problemas sociais: perceber se, em muitas<br />
tarefas, vamos perder competitividade como seres<br />
humanos.<br />
As máquinas controlarão determinadas áreas de atividade,<br />
farão aumentar o desemprego, esvaziarão a<br />
necessidade de pessoas?<br />
Esta é uma preocupação real. Aliás, o simples facto da<br />
IA aumentar a eficiência, quer dizer que serão precisas<br />
menos pessoas para fazer o mesmo trabalho. Por outro<br />
lado, é importante lembrar que, historicamente,<br />
nunca existiu desemprego criado pela tecnologia. Esperemos<br />
que essa tendência se mantenha. Mais: a sociedade<br />
ocidental está muito envelhecida, portanto,<br />
neste momento, há muitos projetos que não se fazem<br />
Historicamente nunca<br />
existiu desemprego por<br />
causa da tecnologia.<br />
Esperemos que essa<br />
tendência se mantenha<br />
por falta de pessoas, não há pessoas com as capacidades<br />
necessárias. Vamos precisar, cada vez mais, de pessoas<br />
para tomar conta de uma população idosa, por<br />
exemplo. Numa sociedade onde o número de pessoas<br />
em idade ativa se reduz a cada ano, é bom que aumentemos<br />
a eficiência e que sejam precisas menos pessoas<br />
para trabalhar, porque daqui a pouco vamos ter uma<br />
economia muito limitada pela inexistência de pessoas<br />
suficientes. A imigração é uma solução, mas não<br />
chega. Veja-se o caso do Japão, uma sociedade muito<br />
fechada à imigração, um país muito envelhecido. O<br />
resultado é visível: a economia japonesa está estagnada<br />
há dezenas de anos, justamente por causa disso. E<br />
nós vamos pelo mesmo caminho, como outros países<br />
da Europa – os Estados Unidos um bocadinho menos.<br />
Portanto, até é bom que essa questão exista. As pessoas<br />
têm de se atualizar, têm de se renovar, têm de<br />
dominar novas tecnologias para serem competitivas<br />
em novos mercados.<br />
Mas há medos existenciais, mais apocalípticos…<br />
Sim, o medo de virmos a<br />
ter máquinas de tal forma<br />
sofisticadas, dotadas<br />
de vontade própria e de<br />
consciência, que compitam<br />
connosco por recursos,<br />
eventualmente pelo<br />
próprio planeta ou pelo<br />
Sistema Solar. Mas essa é a<br />
visão mais da ficção científica.<br />
Nestas questões<br />
existenciais a comunidade<br />
científica está muito<br />
dividida. Há pessoas conceituadas<br />
com ideias opostas: umas dizem que isto é<br />
um risco iminente e tudo pode acontecer dentro de um<br />
curto período de tempo; outras dizem que é um risco<br />
completamente imaginário.<br />
A questão é que muitas destas pessoas que dizem que<br />
pode ser um risco iminente vêm das big-tech e isso é<br />
que é assustador. Qual é que é a sua visão?<br />
Está a pensar em particular no Geoffrey Hinton, um<br />
professor muito conceituado, que foi um dos três Turing<br />
Awards, conhecido popularmente como o “Nobel<br />
da Computação”, que veio publicamente expressar as<br />
suas preocupações. Mas, por exemplo, o Yann LeCun,<br />
que também recebeu o Turing Awards, head ligado ao<br />
Facebook, diz exatamente o oposto, defende que essas<br />
preocupações não fazem qualquer sentido. O Yoshua<br />
Bengio, o último dos Turing Awards, está algures no<br />
meio, diz que não é impossível, mas não tem uma posição<br />
catastrofista. Portanto, pegando nestes três in-
“O que eu defendo é que não é impossível convivermos num mundo onde existem não só seres humanos conscientes, mas também<br />
inteligências artificiais conscientes”<br />
vestigadores, que são talvez os três mais famosos do<br />
universo da IA, as opiniões são profundamente divergentes.<br />
E a sua opinião qual é? Em que campo é que está?<br />
Estou mais alinhado com Yoshua Bengio. Acredito que<br />
as preocupações de riscos mais ou menos imediatos<br />
são erradas porque a tecnologia ainda é muito insipiente<br />
e estamos muito longe de perceber tudo. Mas,<br />
por outro lado, podemos perguntar: e daqui a 30 anos,<br />
como será?<br />
Trinta anos? Não seria melhor pensar em dez ou cinco<br />
anos?<br />
Talvez, tudo está a acontecer muito depressa. Mas neste<br />
momento é ainda muito incipiente. Há propostas<br />
para tentar perceber a consciência humana e replicá-la<br />
em máquinas, para replicar a capacidades de decisão<br />
do ser humano.<br />
Acredita que uma máquina pode ter consciência?<br />
Sim, acredito. Estive no outro dia num debate com o<br />
António Damásio sobre isso. Quando o Yann LeCun e<br />
o Pedro Domingues dizem “deixem-se de coisas e desenvolvam<br />
a tecnologia, porque é um medo completamente<br />
disparatado”, eu não concordo. Julgo que é algo<br />
que temos de perceber. O que eu defendo, e isso é mais<br />
discutível, é que não é impossível convivermos num<br />
mundo onde existem não só seres humanos conscientes,<br />
mas também inteligências artificiais conscientes.<br />
Idealmente, teríamos sistemas que fossem capazes de<br />
usar esta capacidade de raciocínio. Se queremos ter<br />
sistemas autónomos e que uma máquina tenha níveis<br />
semelhantes de competência e de consciência de um<br />
médico humano, por exemplo, teremos de ter sistemas<br />
com uma capacidade de raciocínio que hoje não<br />
têm. Provavelmente, essas capacidades implicam livre<br />
arbítrio, consciência. Portanto é possível que venhamos<br />
a criar máquinas com algum tipo de consciência.<br />
A questão é: será suficiente para se tornarem perigosas?<br />
Não sei. Há pessoas que dizem que as máquinas agora<br />
já têm consciência…<br />
23
a conversa<br />
24<br />
Não o preocupa que o poder de desenvolvimento da IA<br />
esteja em meia dúzia de empresas esmagadoramente<br />
localizadas nos Estados Unidos, que querem fazer disto<br />
negócio?<br />
Nos Estados Unidos e na China. Essa concentração é<br />
preocupante, sim. A própria natureza da tecnologia<br />
concentra poder. A característica da inteligência artificial<br />
é que ela substitui a inteligência humana, portanto,<br />
se antes precisávamos de 10 mil pessoas para produzir<br />
carros, agora precisamos de apenas 10 pessoas e<br />
o resto são robots. A própria natureza da tecnologia cria<br />
estas grandes empresas, associadas à globalização. É<br />
uma preocupação. Mas qual é a alternativa? A alternativa<br />
é não desenvolvermos a tecnologia? Ou dizer: “Vamos<br />
desenvolver a tecnologia, mas só com empresas A<br />
ou B...”?<br />
Não dá para regulamentar?<br />
Sim, e a Europa está a tentar fazê-lo. Mas a regulamentação,<br />
para funcionar, teria de ser global. E isso não impede<br />
a concentração.<br />
Não, mas eles estão preocupados<br />
com esse poder,<br />
como sabe. Há muitos<br />
processos nos Estados<br />
Unidos.<br />
A regulamentação pode<br />
ajudar a evitar uma concentração<br />
excessiva e acho<br />
que isso é positivo.<br />
Por outro lado, o potencial<br />
destas tecnologias, se<br />
usadas para o bem, é enorme…<br />
O potencial para criar materiais, baterias, novas fontes<br />
de energia, novas formas de combater o aquecimento<br />
global, é gigante. Portanto, se dissermos que não vamos<br />
desenvolver mais IA também estamos a pôr em<br />
risco e a deixar cair estas possibilidades. A verdade é<br />
que houve uma moratória muito conhecida, em que<br />
vários investigadores pediram para parar o desenvolvimento<br />
da IA e o resultado disso foi exatamente zero.<br />
Do ponto de vista da reação das empresas não houve<br />
qualquer resposta a esse pedido. Esse movimento foi<br />
completamente ineficaz.<br />
Como é que olha para a regulação da Europa?<br />
A Europa tem regulação relevante. Começa logo com<br />
o Regulamento Geral de Proteção de Dados, que, por<br />
si, já tenta garantir a defesa da privacidade dos indivíduos<br />
e uma série de coisas muito bem intencionadas,<br />
mas cuja eficácia me parece duvidosa. Há muito mais<br />
O potencial (da IA) para<br />
criar materiais, baterias,<br />
novas fontes de energia,<br />
novas formas de combater<br />
o aquecimento global, é<br />
gigante<br />
regulação, há o Data Act, Digital Markets Act, o Digital<br />
Services Act…<br />
Olhando para o IA, Bruxelas está a interpor processos<br />
contra todas as big-tech norte-americanas, porque<br />
não cumprem as regras.<br />
É verdade. Os Estados Unidos também estão.<br />
Sim, contra a Apple, contra a Google... Mas na Europa<br />
não teremos regras demasiado estritas e que afastam<br />
as tecnológicas do mercado?<br />
Em primeiro lugar, é mais difícil desenvolver uma<br />
empresa na Europa do que nos Estados Unidos, por<br />
várias razões. Já era intrinsecamente mais difícil porque<br />
são várias línguas, várias culturas, vários Estados,<br />
mas com esta legislação fica ainda mais duro. Das 20<br />
maiores empresas da área da tecnologia, só temos uma<br />
europeia, que é a Spotify. As outras são chinesas e americanas.<br />
Se insistirmos em ter demasiada regulação,<br />
como estamos a insistir, não vamos tornar isto mais<br />
fácil. Podemos dizer que os americanos também têm<br />
de cumprir as regras para<br />
atuarem na Europa e, portanto,<br />
de alguma maneira,<br />
ficam sujeitos à regulação.<br />
Mas isso é apenas parcialmente<br />
verdade, porque<br />
para se desenvolverem<br />
não precisam de regulação,<br />
seja nos Estados Unidos<br />
ou na China e, depois,<br />
já são suficientemente<br />
grandes para conseguirem<br />
dar a volta à situação. Depois,<br />
o mercado chinês está-se<br />
marimbando para a<br />
Europa. Somos apenas 300 milhões de pessoas e eles<br />
são 1.500 milhões. Para eles, nem sequer faz diferença.<br />
Portanto, corremos algum risco de estar a dificultar as<br />
pequenas empresas europeias com tanta legislação.<br />
Acha que a Europa já perdeu a corrida da IA?<br />
Está a perder. Não é só a corrida em inteligência artificial<br />
que está a perder. Já perdeu várias corridas. Ainda<br />
somos muito competitivos em algumas áreas, nomeadamente<br />
no setor automóvel e no setor aeronáutico,<br />
e esperemos que se mantenha, mas não é garantido.<br />
Neste momento, a China tem um setor automóvel<br />
muito pujante, dominam toda a área dos veículos elétricos<br />
e da eletrificação e, portanto, arriscamo-nos a<br />
ver a Europa passar para um papel secundário em termos<br />
de tecnologia, e não só tecnologia digital, mas tecnologia<br />
em geral. Isso é uma preocupação.
a conversa<br />
26<br />
Seria melhor não termos regulamentação?<br />
Não diria isso. O que seria desejável é que os grandes<br />
blocos falassem uns com os outros e se entendessem<br />
em termos globais.<br />
Mas o G20 defende isso, que seria aconselhável.<br />
Sim, e também defende outra coisa: que a tecnologia<br />
chinesa não pode vir para a Europa, a Huawei não pode<br />
concorrer ao 5G… Isso é contraproducente. A China é<br />
suficientemente grande só por si, e ainda por cima há<br />
muitos países que lidam com a China, como o Brasil, a<br />
Índia, toda aquela zona da Ásia. Quando queremos isolar<br />
a China, estamos a dar um tiro no pé. A China continuará<br />
a avançar. Tem dimensão suficiente para isso.<br />
Os Estados Unidos também têm um mercado muito<br />
pujante, a economia americana continua a acelerar a<br />
uma velocidade brutal. E nós aqui na Europa...<br />
… estamos a fechar-nos cada vez mais.<br />
Por outro lado, continua a ser um sítio bom para viver,<br />
a Europa. Já tendo vivido em vários países, talvez seja<br />
o sítio onde prefiro viver.<br />
Mas, em termos comparativos,<br />
estamos a atrasarnos.<br />
Vamos agora a Portugal.<br />
Foi o coordenador geral<br />
da Estratégia Nacional de<br />
Dados, Web 3.0 e revisão<br />
da Estratégia Nacional de<br />
Inteligência Artificial...<br />
Apresentámos os documentos<br />
ao governo anterior.<br />
E está no dossier de<br />
transição para este governo.<br />
Olhando para o momento atual e baseando-se nas<br />
recomendações dos documentos que entregou, que<br />
conselhos daria ao novo governo em termos de aposta<br />
no digital em geral e de IA em particular?<br />
Todo o mundo quer ser competitivo nestas áreas e<br />
praticamente todos os países têm uma estratégia de<br />
IA. Não há nada de muito disruptivo no que apresentámos.<br />
O que temos de garantir é que não perdemos<br />
competitividade em relação aos outros países. Algumas<br />
recomendações: temos de ter uma estratégia clara<br />
para a integração nacional de dados. Os nossos dados<br />
estão muito fragmentados. Temos de ter uma estratégia<br />
de dados aberta, que permita criar ecossistemas<br />
onde as pessoas e as instituições possam desenvolver<br />
aplicações que exploram os dados. Nova Iorque tem<br />
feito isso muito bem e outros países, como a Estónia,<br />
Quando queremos isolar<br />
a China, estamos a dar<br />
um tiro no pé. A China<br />
continuará a avançar. Tem<br />
dimensão suficiente para<br />
isso<br />
também. Relativamente aos dados, esta ideia de ter os<br />
dados abertos, exploráveis, é uma questão importante.<br />
E na IA, qual a recomendação?<br />
Criar as melhores condições para atrair capital humano.<br />
De facto, acaba por ser a coisa mais importante na<br />
inteligência artificial. Poderá ser feito através de vistos<br />
para especialistas, benefícios fiscais para jovens na tecnologia,<br />
para as empresas tecnológicas, etc. O próprio<br />
Artificial Intelligence Act prevê a existência de regimes<br />
especiais para experimentação, que devem ser adotados<br />
em Portugal. Há dois grandes projetos na área da<br />
inteligência artificial no PRR e a nossa recomendação<br />
é que essas iniciativas com massa crítica não desapareçam.<br />
Acha que, nos últimos anos, devíamos ter feito mais,<br />
aproveitando os fundos do PRR?<br />
O dinheiro do PRR teve de ser gasto de forma rápida.<br />
Não tivemos capacidade para investir o dinheiro da<br />
maneira mais produtiva possível. Tivemos de inventar.<br />
Uma das grandes apostas<br />
do PRR era a modernização<br />
da Administração Pública.<br />
O dossier também<br />
passou para o novo governo.<br />
Há ilhas de excelência,<br />
como a Justiça, mas no geral<br />
não se avançou na Administração<br />
Pública...<br />
Uma grande parte do PRR<br />
foi investido na Administração<br />
Pública! Mas como<br />
tivemos de fazer um plano<br />
à pressa, de executar<br />
à pressa, os resultados poderão não ser os melhores…<br />
Comprar equipamentos e rede é relativamente fácil,<br />
mas formar pessoas já é mais difícil. E fazer alterações<br />
estruturais nos processos, tornar as coisas mais eficientes,<br />
aculturar as organizações, isso aí é muito mais<br />
complexo.<br />
Há dois problemas que defende que a IA pode resolver<br />
em Portugal: a falta de talento qualificado e a produtividade<br />
do país.<br />
Exatamente. O aumento da eficiência leva ao aumento<br />
da produtividade e, por sua vez, reduz a necessidade<br />
de recursos humanos. Mas para isso ser feito temos de<br />
pensar onde é que somos particularmente ineficientes.<br />
É na Saúde? É na Justiça? É na Educação? Deveríamos<br />
analisar os parâmetros internacionais e ver onde estão<br />
os nossos pontos de ineficiência, ver quais podem ser<br />
melhorados por alteração de processos. São essas coi-
a conversa<br />
28<br />
sas que são transformadoras, mas exigiam uma visão<br />
top-down e estratégica que não tivemos tempo de criar.<br />
O boom foi a partir do ChatGPT.<br />
Exatamente. Portanto, a própria tecnologia também<br />
não ajuda porque a velocidade de implementação<br />
destes programas económicos não é compatível com<br />
a evolução tecnológica. Onde é que somos menos eficientes?<br />
Na energia, por exemplo, os nossos edifícios<br />
são muito ineficientes. Muitos deles são mal construídos,<br />
têm mau isolamento. Houve um investimento<br />
do PRR nessa área, portanto se calhar até foi uma boa<br />
aposta. Mas é isso que devia ser feito de forma sistemática<br />
e quantitativa.<br />
Já “futurizámos” muito<br />
nesta conversa e esse é<br />
o tema do congresso da<br />
APDC: “Futurizing”. O<br />
que espera do congresso?<br />
Qual a sua expetativa?<br />
O tema deste ano é muito<br />
interessante. As pessoas<br />
estão preocupadas com o<br />
futuro. A inteligência artificial<br />
tem a ver com isso. É<br />
interessante as pessoas saírem do congresso com uma<br />
ideia mais clara de onde é que podemos estar daqui a<br />
cinco ou dez anos. <strong>À</strong>s vezes, perdemo-nos no dia a dia.<br />
Eu tento escrever sobre o futuro mais distante, é importante<br />
pensarmos mais além.<br />
Quais são as principais mensagens que vai transmitir<br />
enquanto perito nesta área?<br />
Relativamente aos medos, as pessoas estão muito preocupadas<br />
com a desinformação e a fraude. Estão muito<br />
assustadas. Neste momento – e isto não é um “achismo”,<br />
há estudos que mostram isto – é difícil convencer<br />
as pessoas a mudar de opinião, mesmo com argumentos<br />
bons, razoáveis e factuais. As pessoas estão muito<br />
entrincheiradas nas suas posições. Na verdade, o que<br />
me assusta não é que a desinformação leve as pessoas a<br />
fazer as coisas erradas; é que as pessoas façam as coisas<br />
erradas mesmo quando têm informação correta. Acho<br />
que este é um problema é sério. Tem várias razões: as redes<br />
sociais, a falta de profundidade nas análises, os media<br />
e a sua superficialidade e o próprio foco dos meios<br />
de comunicação social nas questões bombásticas.<br />
(Em relação à inteligência<br />
artificial) os medos estão a<br />
ser muito empolados pelo<br />
foco do mediatismo<br />
Portugal tem um problema essencial: a falta de recursos<br />
humanos, sobretudo os altamente qualificados…<br />
Sim. E aqui a inteligência artificial pode ajudar – e<br />
muito! Primeiro, porque substitui pessoas. Segundo,<br />
porque aumenta a eficiência, que só por isso aumenta<br />
a produtividade. A IA também nos ajuda a estruturar<br />
processos, que é uma coisa muito importante em Portugal.<br />
Nós temos processos mal estruturados, comparando<br />
com o panorama internacional.<br />
É um otimista em relação à IA?<br />
A minha mensagem principal é que, se forem pensadas<br />
estrategicamente, as novas tecnologias – o digital<br />
em geral e a inteligência<br />
artificial em particular –,<br />
podem endereçar questões-chave<br />
que limitam a<br />
economia portuguesa. Outra<br />
mensagem: os medos<br />
estão a ser muito empolados<br />
pelo foco do mediatismo.<br />
Para terminar: qual o melhor<br />
conselho que lhe deram<br />
na vida e que daria<br />
também às novas gerações?<br />
Lembro-me de um em particular. A minha memória<br />
é fraca, mas em 1989 eu tinha acabado o mestrado,<br />
comprado um apartamento, tinha acabado de casar e,<br />
na altura, colocou-se a possibilidade de ir estudar para<br />
Berkeley… Fui falar com o meu professor orientador,<br />
Luís Vidigal (que já morreu), e disse-lhe: “Mas eu estou<br />
aqui tão bem, porque é que hei-de ir para a Califórnia<br />
agora, onde não tenho casa e vou encontrar uma série<br />
de dificuldades?”. Estava numa grande incerteza.<br />
E o Vidigal disse-me: “A experiência de viveres cinco<br />
ou seis anos num país diferente vai-te trazer muitas<br />
vantagens ao longo da tua vida”. De facto, assim foi.<br />
Por isso recomendo o mesmo aos jovens: atrevam-se a<br />
sair da zona de conforto. Vão agradecer para o resto da<br />
vida.•
negocios<br />
30
<strong>UM</strong>A HISTÓRIA<br />
DE SUCESSO<br />
Liderada por um homem que se diz<br />
otimista, a NTT Data Portugal está a<br />
ultrapassar os seus próprios objetivos,<br />
mas com a serenidade típica dos<br />
projetos pensados. Não que afaste da sua<br />
estratégia margens de risco para testar<br />
e falhar. Até porque “inovação” é o seu<br />
nome do meio.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO<br />
FOTOS DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW<br />
31
negocios<br />
32<br />
Quando há quatro anos Tiago Barroso assumiu a<br />
direcção executiva da NTT Data Portugal, sabia<br />
que não podia competir em volume de negócios<br />
com outras operações que a multinacional<br />
NTT Data tinha pelo mundo: “O mercado português<br />
corresponde a 1% do mercado da região em que estamos<br />
inseridos, o que compreende a Europa, América<br />
Latina e Médio Oriente”, esclarece. O tom de voz é descontraído,<br />
reflete o de alguém que não encarou aquela<br />
vicissitude como um obstáculo: “Para crescer e dar<br />
retorno aos acionistas, que em última análise é o meu<br />
objetivo como CEO, percebi que tinha de investir em<br />
várias frentes”. Identificou-as: talento, inovação e diversidade<br />
no portfólio de serviços. Com esta estratégia<br />
Tiago Barroso conseguiu captar investimento e aportar<br />
ao grupo mais do que corresponde à dimensão do mercado<br />
português. Tinha traçado um plano para quatro<br />
anos, mas ao fim de três já tinha atingido os seus objetivos,<br />
um dos quais duplicar o número de colaboradores.<br />
Neste momento já são 1700 e não vai ficar por aqui.<br />
Mas nem tudo foram rosas. Assim que assumiu o<br />
comando da NTT Data Portugal, em março de 2020,<br />
a pandemia caiu-lhe em<br />
cima. Nesse mês os jornais<br />
anunciavam os primeiros<br />
casos de Covid 19 no<br />
país. E depois disso, como<br />
se sabe, na economia nacional<br />
houve uma deriva<br />
acidentada, que culminou<br />
com dois confinamentos.<br />
Tiago Barroso teve de criar<br />
um caminho para vencer a<br />
inércia que a crise sanitária,<br />
nesse período de exceção,<br />
impôs ao mundo dos<br />
negócios, deixando muitas empresas pelo caminho, ou<br />
nos cuidados intensivos: “Começámo-nos a espalhar<br />
pelo país durante o segundo confinamento. Na altura<br />
foi uma decisão corajosa. Aplicámos as lições aprendidas<br />
com a pandemia, desde logo a de que o trabalho<br />
híbrido pode ser uma janela de oportunidade para<br />
ganhar uma capacidade de talento adicional e avançámos”.<br />
Hoje a NTT Portugal tem 15 hubs espalhados pelo<br />
território. Foi um crescimento orgânico. As contingências<br />
da pandemia podem ter impulsionado esta<br />
tendência, mas rapidamente Tiago Barroso identificou<br />
Com 15 hubs espalhados<br />
pelo país, a empresa<br />
tira partido de todas as<br />
vantagens que a dispersão<br />
geográfica traz<br />
todas as vantagens que a dispersão geográfica trazia à<br />
empresa e aos seus colaboradores: “Ganhámos essa capacidade<br />
de talento adicional, ao permitir que gente<br />
a viver fora dos grandes centros urbanos se juntasse a<br />
nós e constituímos em cada um dos pólos equipas de<br />
30 a 50 pessoas, especializadas num domínio. O resultado<br />
foi excelente. Equipas relativamente pequenas a<br />
trabalhar com um propósito e objetivo comum criam<br />
mais facilmente um sentimento de pertença”.<br />
Sendo uma empresa de inovação em serviços de<br />
consultoria de negócio e tecnologia, o fator humano é<br />
crítico para o desenvolvimento e qualidade na entrega<br />
de soluções ao cliente. O bem-estar das equipas da NTT<br />
Data Portugal é uma preocupação constante, algo que<br />
impacta fortemente a cultura da empresa. Não por acaso,<br />
a subsidiária portuguesa da NTT Data foi distinguida<br />
nos três últimos anos pelo Top Employers Institute,<br />
entidade que certifica<br />
organizações com base na<br />
participação e nos resultados<br />
do Human Resources<br />
Best Practices Survey,<br />
um inquérito que abrange<br />
seis domínios na gestão<br />
de pessoas, que incluem<br />
tópicos como Ambiente<br />
de Trabalho, Aquisição de<br />
Talento, Formação, Diversidade<br />
& Inclusão e Bem<br />
-Estar: “Gostamos que os<br />
nossos colaboradores sintam<br />
a liberdade de ser aquilo que são. Quem gosta de<br />
desporto, pode praticá-lo, quem gosta de ler até tem<br />
cá uma biblioteca. Encorajamos o desenvolvimento<br />
pessoal e coletivo e privilegiamos o trabalho colaborativo”.<br />
Há iniciativas que ajudam a criar esta marca<br />
distintiva, como a “Connect with the CEO”, um fórum<br />
que tem o objetivo de chegar aos 1700 colaboradores da<br />
consultora e inclui espaços de conversa onde o CEO se<br />
reúne com pequenos grupos à vez, para partilhar a sua<br />
visão e ouvir cada uma das pessoas. Outra originalidade<br />
é a figura do mentor, que foi criada para que cada<br />
colaborador possa ter ao seu dispor acompanhamen-
Sendo uma consultora, a NTT Data Portugal aposta forte nas suas pessoas, dando-lhes espaço para crescer e revelar todo o seu<br />
potencial. A empresa está no ranking das melhores para se trabalhar em Portugal<br />
to na gestão da sua carreira. Esta abordagem permite<br />
adequar melhor a experiência de cada colaborador às<br />
suas necessidades e aspirações, com óbvios reflexos na<br />
produtividade de cada um.<br />
Os inquéritos de avaliação do clima organizacional<br />
que a NTT Data faz periodicamente mostram que<br />
a consultora tem conseguido evoluir neste domínio,<br />
colocando-se entre as melhores empresas para se trabalhar<br />
em Portugal. Um dos mais expressivos indicadores<br />
d a satisfação das suas pessoas é a baixa rotatividade<br />
de colaboradores, bastante inferior à média.<br />
Tiago Barroso sente orgulho nestes resultados. Salienta<br />
que a consultora tem perto de 40% de mulheres<br />
entre os seus quadros, “percentagem bastante acima<br />
da média do mercado” e gosta que a média etária das<br />
suas equipas seja baixa. Por todos estes motivos, o<br />
tema da retenção de talento, tão preocupante para a<br />
generalidade das empresas em Portugal, não lhe tira<br />
o sono: “Se calhar a NTT Data tem uma cultura forte,<br />
que mitiga essa questão”, frisa com um orgulho indisfarçada.<br />
Também aponta como fator relevante a estratégia<br />
de captação e criação de talento: “É verdade que<br />
há escassez de talento na área das TI e consultoria, mas<br />
também é verdade que temos tido capacidade para desenvolver<br />
programas de upskill e reskill, que mudam a<br />
forma como trabalhamos com as pessoas”.<br />
DENTRO <strong>DO</strong> ECOSSISTEMA<br />
A NTT Data está em Portugal há mais de 20 anos e trabalha<br />
com as maiores empresas e instituições do país,<br />
em processos de transformação dos negócios e em setores<br />
de atividade tão distintos como banca, seguros,<br />
utilities, saúde, indústria e Administração Pública.<br />
Como consultora, tem de estar sempre um passo à<br />
frente dos clientes, por isso desenvolveu ao longo do<br />
tempo laços com centros de investigação e também<br />
com o ecossistema empreendedor. Parcerias que a colocam<br />
onde está a inovação: “No nosso centro de Bra-<br />
33
negocios<br />
34<br />
ga, por exemplo, trabalha-se atualmente em temas de<br />
software para apoio à gestão de ensaios clínicos. Projeto<br />
que está a desenvolver-se em parceria com a Escola de<br />
Medicina da Universidade do Minho, nomeadamente<br />
com o Centro Clínico Académico de Braga (CCABraga)<br />
e com o Centro de Medicina Digital P5, no âmbito das<br />
iniciativas dos PRR”, partilha o CEO da NTT Data Portugal.<br />
Na área da Gen AI, a empresa trabalhou com um<br />
organismo na área dos fundos comunitários no desenvolvimento<br />
de uma solução de conversação que permite<br />
fazer perguntas sobre os regulamentos dos fundos<br />
comunitários e candidaturas, facilitando o entendimento<br />
desta informação pelos possíveis interessados.<br />
Estas parcerias com centros de investigação universitários<br />
são importantes, mas é nos seus hubs que a<br />
consultora desenvolve grande parte do conhecimento<br />
que produz. Recentemente lançou no norte do país<br />
mais três centros de conhecimento especializado: o<br />
Hub de NextGen Core Banking, uma extensão do Centro<br />
de Excelência que a empresa criou recentemente<br />
em Lisboa, com o objetivo de acelerar a modernização<br />
de sistemas core bancários; o Hub de Data Engineering,<br />
orientado para projetos de desenho de sistemas para<br />
recolha, armazenamento e processamento de grandes<br />
volumes de dados; e o Hub de Microsoft BizApps. Este<br />
último dedica-se ao desenvolvimento<br />
de soluções<br />
empresariais para gestão<br />
da relação com clientes.<br />
Além destes, a NTT<br />
Data Portugal tem mais<br />
três hubs no Porto. Os restantes,<br />
num total de nove,<br />
estão distribuídos por<br />
Braga, Guimarães, Castelo<br />
Branco, Guarda, Viseu,<br />
Coimbra, Évora, Óbidos<br />
e Lisboa. Não por acaso,<br />
quase todos se situam nas proximidades de pólos<br />
universitários: “A nossa maior fonte de recrutamento<br />
são as universidades, por isso temos a preocupação de<br />
criar estruturas onde o talento está disponível”, explica,<br />
com pragmatismo, Tiago Barroso.<br />
Naturalmente, o ecossistema empreendedor também<br />
interessa à NTT Data Portugal. Todos os anos, através<br />
dos eAwards, o concurso que teve este ano a sua<br />
24ª edição, se lança um repto às startups portuguesas<br />
para apresentarem projetos a concurso. O que interessa<br />
à consultora é sobretudo captar projetos inovadores<br />
Para explorar as<br />
potencialidades da IA,<br />
a consultora lançou o<br />
laboratório Point of<br />
Disruption<br />
em fase avançada de prototipagem, baseados em tecnologias<br />
de alto impacto, escaláveis e sustentáveis. O<br />
vencedor ganha 10 mil euros, um programa de aceleração<br />
e acesso direto à final internacional dos eAwards.<br />
Além do interesse óbvio em acompanhar estes projetos,<br />
a NTT Data Portugal tem anotado com orgulho<br />
como o concurso tem servido para revelar ao mundo<br />
o talento nacional: “Já tivemos duas startups portuguesas<br />
a ganhar a final internacional e outras duas a trazer<br />
para casa menções honrosas”, comenta Tiago Barroso.<br />
MONTRA DE EXPERIMENTAÇÃO<br />
Tudo o que tem a ver com inteligência artificial e em<br />
particular com a IA generativa é o que está no centro<br />
das preocupações dos clientes da NTT Data Portugal.<br />
Nada que agora não aconteça em todo o lado.<br />
Esta necessidade de explorar as potencialidades<br />
da tecnologia do momento levou a NTT Data a criar<br />
na sua sede, em Lisboa, o laboratório Point of Disruption<br />
(POD). Não se trata<br />
de um laboratório como<br />
os outros. Aqui existe a<br />
oportunidade de explorar<br />
a IA e outras tecnologias<br />
emergentes com o cliente<br />
sentado ao lado: “É um<br />
espaço para abrir a mente,<br />
abrir perspetivas, onde<br />
temos alguns use cases de<br />
tecnologias, sobretudo<br />
tecnologias assentes ou<br />
que passam por IA. No<br />
fundo é uma montra de experimentação e demonstração<br />
de casos inovadores, para que nós e os nossos<br />
clientes possamos pensar em novas soluções”, explica<br />
o CEO da NTT Data Portugal.<br />
Estando em causa a experimentação de tecnologias<br />
digitais, não poderia este trabalho de cocriação ser<br />
feito online? Tiago Barroso diz que podia, mas não seria<br />
a mesma coisa: “Acreditamos que o presencial tem<br />
muitas vantagens. Apesar de sermos uma empresa de<br />
prestação de serviços, em que o remoto, como modelo<br />
de trabalho, faz todo o sentido, consideramos a sociali-
Tiago Barroso é um líder confiante: “Até ao final de 2027 definimos como objetivo sermos ainda mais líderes em Portugal”<br />
zação importante, porque o trabalho em equipa ganha<br />
com o contacto presencial”.<br />
Também foi a pensar nos seus clientes que este ano<br />
a NTT Data Portugal lançou a agência Tangity, apresentada<br />
como o corolário de um processo de consolidação<br />
da oferta de serviços de marketing da consultora. A sua<br />
missão é apresentar soluções inovadoras para dar nova<br />
vida às marcas: “As soluções tecnológicas, para servirem<br />
as pessoas, têm de ter um pensamento criativo e<br />
de design. Nós acreditamos nisso. Mas ao contrário de<br />
outras empresas nossas concorrentes, não comprámos<br />
uma agência, quisemos desenvolvê-la organicamente”,<br />
explica Tiago Barroso. Agora aqui está ela, com<br />
uma equipa constituída por 60 “tangiteers”, entre strategists,<br />
marketeers, producers, designers, art directors, copy<br />
righters e project managers. A funcionar em Lisboa e em<br />
Óbidos, conjugando esta diversidade de competências<br />
com o know-how de negócio da consultora e trabalhando<br />
em rede com outras agências do grupo NTT Data, espera-se<br />
que a Tangity seja capaz de ultrapassar desafios<br />
complexos.<br />
Rodeado de projetos a acontecer, Tiago Barroso<br />
passa a imagem do gestor tranquilo. Tem metas a cumprir<br />
e resultados a apresentar, mas que não parecem<br />
constituir, para si, fonte de stress: “Até ao final de 2027<br />
definimos como objetivo sermos ainda mais líderes em<br />
Portugal, aumentarmos a nossa força naquilo que é o<br />
grupo, ou seja, manter ou superar os 80% que temos<br />
de avaliação de cultura de gente entusiasta com o NTT<br />
Data. Temos esse nível de engagement e há que mante-<br />
-lo. No fundo, é continuar a crescer”, afirma, com um<br />
sorriso nos lábios.•<br />
35
itech<br />
PAULO FILIPE:<br />
Paixão antiga<br />
36<br />
Esteve um ano a estudar Medicina Dentária, mas depois sentiu<br />
que estar todos os dias fechado num gabinete a fazer o que os<br />
médicos dentistas fazem, não era para ele. Foi então que se<br />
lembrou de uma velha paixão…<br />
Texto de Teresa Ribeiro | Vítor Gordo/Syncview<br />
DESDE a adolescência, quando passava<br />
tardes com os amigos de volta<br />
do ZX Spectrum e outros computadores<br />
para jogos, sentia fascínio<br />
por tecnologia digital. Apesar de<br />
rudimentares, aqueles aparelhos já<br />
permitiam dar os primeiros passos<br />
em programação e, quando decidiu<br />
fazer o inventário dos seus cromos<br />
de super-heróis, ficou satisfeito com<br />
o resultado. Mesmo quando avançou<br />
em programas só pelo prazer de descobrir<br />
como funcionavam, não deu o<br />
seu tempo por perdido. Era entusiasmante<br />
explorar aquelas máquinas e<br />
poder criar qualquer coisa de novo.<br />
Percebeu então que se mudasse de<br />
vida teria de ser por ali. Pela via que<br />
já lhe tinha dado bastantes alegrias.<br />
“Inscrevi-me no curso de Computer<br />
Science, na Universidade do Minho,<br />
e a experiência foi muito diferente<br />
da que tivera em Medicina Dentária.<br />
Senti-me logo em casa”, recorda<br />
Paulo Filipe, managing director da<br />
Accenture. Na universidade percebeu<br />
rapidamente que os seus professores<br />
tinham pequenas empresas, nas<br />
quais usavam a capacidade dos estudantes<br />
para desenvolvimento do seu<br />
negócio e também projetos de investigação.<br />
Aproveitou para colaborar<br />
com uns e com outros: “No primeiro<br />
caso, serviu para ganhar experiência<br />
e fazer algum dinheiro a desenvolver<br />
programas em Basic para<br />
clientes empresariais. No segundo, o<br />
trabalho não era remunerado, mas<br />
dava-me acesso a computadores que<br />
estariam fora do meu alcance, se não<br />
colaborasse nesses projetos”. Paulo<br />
Filipe, por temperamento, sempre<br />
geriu assim a vida, pois acredita que<br />
para evoluir é preciso saber agarrar<br />
as oportunidades. Também nunca<br />
gostou de perder tempo, por isso, ao<br />
sair da faculdade, já tinha emprego:<br />
“Fui proactivo. Contactei a Digital,<br />
na altura uma empresa com muito<br />
prestígio, fui à entrevista e fiquei”,<br />
expõe estes passos com o sorriso<br />
limpo de quem gosta de rever o que<br />
fez, porque sabe tê-lo feito bem.<br />
Seguiu-se a descoberta de que mais<br />
do que conceber tecnologia, o que<br />
gostava era de fazê-la convergir com<br />
os negócios e estratégias das empresas:<br />
“Isso interessou-me muito,<br />
por isso, quando tive oportunidade,<br />
fui para a PricewaterhouseCoopers”,<br />
conta. Ficou no seu elemento. De<br />
tal forma, que nunca mais de lá<br />
saiu. Passou depois pela Deloitte e a<br />
seguir entrou na Accenture, faz agora<br />
20 anos.<br />
Para Paulo Filipe, a tecnologia sempre<br />
foi um meio para atingir um fim.<br />
Por isso nunca sentiu que controlasse<br />
a sua vida. E se algum dia o tempo<br />
lhe fugiu, não foi por ceder aos seus<br />
apelos, mas por se entregar com<br />
paixão ao trabalho.Teve, de resto,<br />
de aprender a regular melhor o seu<br />
tempo. Hoje cumpre uma rotina diária<br />
que o satisfaz: “Levanto-me muito<br />
cedo, para poder planear o que<br />
tenho a fazer e ter algum tempo para<br />
mim”, partilha. “Em regra, às 19h já<br />
terminei o meu dia de trabalho”.<br />
Diz que, se não tiver acesso a tecnologia,<br />
para ele não é um problema.<br />
Assume-o consciente de que muita<br />
gente não poderia dizer o mesmo.<br />
Apesar de gostar muito de tecnologia,<br />
o managing director da Accenture<br />
vê com apreensão o hábito de as<br />
pessoas passarem demasiado tempo<br />
nas redes sociais. Atualmente, só<br />
está no LinkedIn: “Estive no Facebook<br />
ao princípio, por curiosidade. E achei<br />
que não era para mim”, comenta.<br />
Discreto por natureza, não quer desenvolver<br />
mais considerações sobre<br />
a popularidade das redes sociais,<br />
mas percebe-se que tem dificuldade<br />
em entender a paixão que suscitam:<br />
“É um meio agressivo, em que não<br />
me revejo. Não tenho necessidade<br />
de saber o que acontece com a vida<br />
das outras pessoas ou de me dar<br />
a conhecer neste meio. Faço-o no<br />
mundo real”.<br />
Apaixonado pela inovação que a tecnologia<br />
proporciona, desfruta-a através<br />
dos seus dois carros inteligentes,<br />
um híbrido e um elétrico. Também a<br />
leva para o mergulho e para o golfe,<br />
dois dos seus hobbies. Preocupações<br />
que a tecnologia lhe suscita?<br />
A adoção de IA: “A tecnologia, pela<br />
primeira vez, vai ser autónoma e no<br />
entanto – as empresas que a produzem<br />
reconhecem-no – ainda é uma<br />
caixa negra. Por isso, temos de ter<br />
cuidado com os impactos que vai ter<br />
na sociedade, para evitar situações<br />
incontroláveis”.•
Nunca se separa do iPhone, do iPad e do<br />
portátil, que é um HP, embora o de casa<br />
seja um iMac Pro. Não lhe perguntem<br />
quais são os modelos dos seus devices,<br />
porque não sabe responder: “Não ligo<br />
muito ao que tenho. Desde que sirva os<br />
meus propósitos, é quanto me basta”.<br />
37
<strong>33º</strong><br />
Digital<br />
Business<br />
Congress
40 <strong>33º</strong> Digital Business Congress
A emergência de um<br />
compromisso nacional<br />
A IA é uma oportunidade única para o país se diferenciar,<br />
assumindo esta tecnologia disruptiva como motor de<br />
crescimento. Mas para este verdadeiro salto qualitativo, é<br />
preciso criar as condições certas, pois persistem múltiplas<br />
barreiras: económicas, sociais e até políticas. No terreno, os<br />
progressos comprovam que é possível e há estratégias e<br />
planos prontos a avançar. A APDC, assinalando o seu 40º<br />
aniversário, também apresentou no <strong>33º</strong> Digital Business<br />
Congress uma visão para Portugal, com medidas e metas<br />
concretas.<br />
Texto de Isabel Travessa<br />
Fotos de Vítor Gordo e Filipa Bernardo /SYNCVIEW<br />
Criada há quatro décadas como uma associação<br />
de profissionais das comunicações, a<br />
APDC passou, ao longo dos anos, a ser a associação<br />
do ecossistema digital. Missão? Discutir<br />
o futuro. É que o país mudou e as TIC<br />
e Media foram dos setores que mais se modernizaram<br />
e contribuíram para modernizar<br />
Portugal. “Sem comunicações modernas,<br />
não se tinha atingido o nível de desenvolvimento<br />
que temos hoje. Mas não podemos<br />
estar inteiramente contentes com os resultados”,<br />
afirmou o presidente da APDC no arranque<br />
da edição deste ano do Digital Business<br />
Congress.<br />
“Temos um país com 30% de pobres e com<br />
30% de jovens a saírem de Portugal. A nossa<br />
economia tem de criar mais valor, as<br />
nossas empresas têm de crescer e desenvolver<br />
negócios de maior valor acrescentado.<br />
Não é possível distribuir valor que não<br />
se cria. O nosso problema é um problema<br />
de criação de valor. O Estado, por seu turno,<br />
tem de contribuir, sendo mais simples e<br />
mais eficiente”, defendeu Rogério Carapuça,<br />
ao anunciar que, para “ajudar a combater<br />
os atrasos”, a APDC desenvolveu uma visão<br />
para o país, com medidas concretas para o<br />
desenvolvimento da economia.<br />
“Se olharmos para o DESI, o indicador da CE<br />
para o desenvolvimento da sociedade e da<br />
economia digitais, estamos no lugar imediatamente<br />
abaixo da média europeia. Ou seja,<br />
somos o primeiro dos últimos. Mas temos de<br />
ser um dos primeiros. Por isso, a visão que<br />
desenvolvemos é ser um dos primeiros nos<br />
próximos oito anos”, adiantou, destacando<br />
duas medidas de modernização da AP: a<br />
criação da figura de CIO no Estado e a adoção<br />
do princípio “once only”. A meta é tornar<br />
Portugal um dos líderes da economia e da<br />
sociedade digital da Europa nos próximos<br />
oito anos.
42 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Com o tema “40 Years Futurizing”, o congresso<br />
da APDC centrou-se no futuro com<br />
a Inteligência Artificial (IA) que, segundo Rogério<br />
Carapuça, “permitirá provavelmente o<br />
maior salto qualitativo de produtividade da<br />
história da humanidade. Há que a aproveitar<br />
bem”, alertou. A tecnologia já está aí e promete<br />
uma “revolução profunda, que ainda<br />
só está a começar”, mas que já revela enormes<br />
impactos a todos os níveis. “Estamos a<br />
assistir a uma alteração muito rápida na sociedade,<br />
que terá consequências importantes,<br />
para as quais precisamos de nos preparar”,<br />
começou por destacar o presidente do<br />
Congresso na sua intervenção.<br />
“Temos um enorme desafio para o país: organizacional,<br />
educacional e, acima de tudo,<br />
de produtividade. O país necessita de se tornar<br />
mais produtivo. Essa é a razão essencial<br />
para não sermos mais desenvolvidos. Para<br />
nos tornarmos mais produtivos, a IA pode<br />
ajudar, mas só por si a tecnologia não o vai<br />
fazer. É uma questão organizacional”, considerou<br />
Arlindo Oliveira.<br />
Da parte do Governo, ficou o compromisso,<br />
nas palavras da Ministra da Juventude<br />
e Modernização, de que será definida e implementada<br />
uma estratégia para o digital,<br />
“com objetivos bem definidos, metas quantitativas<br />
e um plano de ação que concretize<br />
o sucesso da transição digital até 2030”. É<br />
que ela representa uma “enorme oportunidade.<br />
Estamos a testemunhar uma transformação<br />
sem precedentes na forma como interagimos<br />
com a tecnologia e com o mundo<br />
à nossa volta. Este cenário oferece um terreno<br />
fértil para a inovação, para o crescimento<br />
económico e para uma melhoria substancial<br />
da qualidade de vida”.<br />
Estando o executivo alinhado com as metas<br />
europeias, pretende “garantir uma abordagem<br />
coesa e ambiciosa para enfrentar os<br />
desafios da era digital”. Pelo que Margarida<br />
Balseiro Lopes assegura que “há uma clara<br />
visão sobre como estimular o crescimento<br />
da economia e da inovação”, que passa por<br />
agilizar a execução dos fundos estruturais<br />
para requalificar a economia e apostar de<br />
forma estruturada na IA.<br />
<strong>UM</strong> MUN<strong>DO</strong> DE POSSIBILI<strong>DA</strong>DES<br />
Foi na IA que Pedro Domingos, reconhecido<br />
investigador e docente da Universidade de<br />
Washington, centrou a sua reflexão, desfazendo<br />
mitos e receios que têm sido levantados.<br />
Considerando que a tecnologia “é sempre<br />
uma coisa necessariamente imperfeita,<br />
O conhecido<br />
investigador mundial<br />
em IA, Pedro Domingos,<br />
garante que Portugal<br />
tem a oportunidade<br />
de se assumir como<br />
a ‘Estónia da IA’ e um<br />
exemplo para a Europa.<br />
Falta o compromisso de<br />
todos.<br />
Os des<br />
ficaram<br />
e medi<br />
Arlindo<br />
Margar<br />
coesa e
afios que o país ainda tem pela frente no digital e o potencial da IA para fazer diferente<br />
claros no arranque do congresso. Rogério Carapuça deu o mote, com a visão da APDC<br />
das concretas. Garantindo que a IA trará uma profunda revolução, ainda no início,<br />
Oliveira (presidente do congresso) diz que tudo dependerá da organização e do talento.<br />
ida Balseiro Lopes (ministra da Juventude e Modernização) assegura “uma abordagem<br />
ambiciosa para enfrentar a era digital”
44 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
como são os seres humanos, está<br />
convicto de que “trará muitas surpresas<br />
no tipo de tarefas que se<br />
pensam que são fáceis e difíceis:<br />
um trabalho complexo de um perito<br />
poderá ser fácil para a IA, mas<br />
tarefas quotidianas fáceis serão difíceis<br />
para a tecnologia. Acresce que<br />
o impacto da IA na economia e no<br />
trabalho não terá nada de mágico.<br />
É uma forma de automatização<br />
extremamente avançada e o seu<br />
grande papel é o de reduzir o custo<br />
da inteligência”, libertando “dinheiro<br />
para as pessoas”.<br />
Estando o Mundo, a Europa e Portugal<br />
a envelhecer, “sem IA para<br />
substituir o trabalho humano, será<br />
muito dificil manter a qualidade de<br />
vida das pessoas. A IA não é opcional,<br />
mas urgentemente necessária”.<br />
O que “pode ser feito por ela e<br />
pelos seres humanos, em conjunto,<br />
serão as atividades do futuro que<br />
nunca foram feitas antes. É aí que<br />
Os líderes das equipas que elaboraram as estratégias<br />
de dados e da Web 3.0 e a revisão da Estratégia<br />
Nacional para a IA já concluíram o seu trabalho.<br />
Agora, aguardam decisões do executivo<br />
nos deveremos concentrar”, considera Pedro Domingos, para<br />
quem os perigos da tecnologia são apenas “os que resultam<br />
da sua utilização pelos humanos”.<br />
E deixa uma mensagem clara: “Portugal tem a oportunidade<br />
de tornar a IA num motor de desenvolvimento. Tem uma comunidade<br />
de primeira linha, indústrias onde pode ser líder na<br />
introdução da IA e uma agilidade que países maiores não podem<br />
ter. Temos a possibilidade de sermos ‘a Estónia da IA’ e<br />
um exemplo para outros países. Há barreiras económicas, sociais<br />
e políticas e para as ultrapassar é preciso o compromisso<br />
de todos”.<br />
Para já, o trabalho de elaboração das estratégias nacionais<br />
para os dados e Web 3.0 e a revisão da Estratégia Nacional<br />
para a IA está concluído e os documentos já foram entregues<br />
ao novo governo. Quem o garante é Arlindo Oliveira, também<br />
coordenador do grupo de trabalho das três equipas, adiantando<br />
ainda ter indicações de que o executivo pretende avançar<br />
com o processo, colocando em breve as propostas em consulta<br />
pública.<br />
Destaca ainda que não basta haver uma estratégia e um plano<br />
de ação. É imperativo garantir um orçamento para a sua<br />
implementação. “Esse é o passo que nos falta dar. Haja vontade<br />
e capacidade política e haja alocação de recursos à execução<br />
de cada uma destas estratégias”, rematou, antes da intervenção<br />
dos líderes de cada uma das três áreas, que também
Há países que já avançaram com a implementação de<br />
estratégias para o digital e para a IA. Objetivo: aproveitar<br />
o que já existia, experimentar, testar e fazer melhor. Com<br />
regras à prova de futuro, dizem Carme Artigas e Siim Sikkut<br />
reiteraram a necessidade de se garantir<br />
a efetiva implementação das<br />
medidas.<br />
FERRAMENTA<br />
PARA A DEMOCRACIA<br />
Espanha e Estónia são exemplos<br />
em termos de aposta na transição<br />
para o digital e de definição de estratégias<br />
públicas para a IA. Ex-secretária<br />
de Estado para a Digitalização<br />
e IA espanhola e presidente<br />
do Grupo de Alto nível das Nações<br />
Unidas para a IA, Carme Artigas diz<br />
que o desafio no seu país foi definir<br />
uma regulação à “prova de futuro,<br />
sem prejudicar a inovação. Porque<br />
a tecnologia está sempre a evoluir”.<br />
É exatamente isso que defende<br />
que está a ser feito na UE27, com o<br />
IA Act.<br />
“Pela primeira vez a Europa está<br />
a dizer ao mundo o que não quer<br />
que a IA faça. Mostrámos valores e<br />
criámos um standard moral para o<br />
A estratégia e os princípios da Google para a IA<br />
estiveram em debate, numa sessão onde Giorgia<br />
Abeltino anunciou o Impulso IA, uma iniciativa<br />
de formação em parceria com a APDC
46 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
O filósofo e cientista político Francis Fukuyama esteve à<br />
conversa com Pedro Faustino (Axians) sobre o futuro das<br />
economias democráticas e liberais, o papel da tecnologia e o<br />
poder das gigantes digitais<br />
Há vários setores da economia nacional que já estão a apostar<br />
de uma forma clara em soluções assentes em ferramentas de<br />
IA. Agora, é preciso passar a mensagem para acelerar
O Center for Responsible AI e o Accelerat.ai<br />
são dois consórcios financiados pelo<br />
PRR para desenvolver soluções ‘made in<br />
Portugal’ assentes em IA. Os resultados<br />
mostram o potencial da inovação nacional<br />
As metas e objetivos do IA Act estiveram<br />
em análise. Há que prevenir os riscos<br />
de utilização, ao mesmo tempo que se<br />
incentiva a inovação na Europa. O desafio<br />
é encontrar o equilíbrio<br />
resto do mundo, centrado no ser humano”,<br />
numa regulação que traz “transparência,<br />
controlo e confiança. A IA tem de ser usada<br />
com um propósito. É responsabilidade dos<br />
governos antecipar estes temas”, afirma.<br />
“A IA é uma ferramenta para a democracia,<br />
pois aumenta a transparência nos processos.<br />
Os governos têm de dar passos para<br />
usar estas ferramentas da melhor forma<br />
possível. Não são elas que fazem o mundo<br />
melhor, mas sim a forma como as usamos”,<br />
acrescenta Siim Sikkut, ex-CIO do governo<br />
da Estónia e atual sócio-gerente da Digital<br />
Nation. Diz que no seu país não se inventou<br />
nada. Recorreu-se ao que já existia: “Fizemos<br />
opções, experimentámos para perceber, incluindo<br />
na regulamentação. Não a apressámos.<br />
Tentámos perceber antes de avançar<br />
o que efetivamente precisávamos e implementámos<br />
projetos, espalhando o mais possível<br />
as sementes da mudança”.<br />
A Google é uma das gigantes mundiais que<br />
está a apostar em força nas ferramentas de<br />
IA, que já são transversais a toda a sua oferta.<br />
A diretora sénior de Políticas Públicas e<br />
Relações Governamentais para a Europa do<br />
Sul diz que a IA já está a resolver problemas<br />
num abrangente conjunto de setores e que<br />
o seu potencial é imenso, desde que seja garantida<br />
uma utilização responsável. Só em<br />
Portugal, poderá gerar 15 mil milhões de euros<br />
para a economia e poupar em média 80<br />
horas por ano a cada trabalhador, destaca<br />
Giorgia Abeltino.<br />
Mas até que ponto a resiliência das economias<br />
democráticas e liberais depende<br />
de nós? Foi a essa questão que tentou responder<br />
o filósofo e cientista político Francis<br />
Fukuyama , numa conversa com Pedro<br />
Faustino, diretor-geral da Axians Portugal.<br />
Destacando a lentidão dos processos de decisão,<br />
sobretudo na Europa, onde existem<br />
demasiadas salvaguardas, considera que se<br />
estes processos visam “impedir governos e<br />
empresas de ir demasiado além”, estão a<br />
deixar frustrados os cidadãos, que queriam<br />
mais resultados. Na IA, defende uma aproximação<br />
cautelosa: “não podemos ter regras<br />
para antecipar o futuro, pois corremos<br />
o risco de limitar o seu desenvolvimento”. E<br />
mostra-se preocupado com o crescente poder<br />
das big tech perante governos que não<br />
conseguem controlar a tecnologia.<br />
As verbas do PRR português já estão a impulsionar<br />
claramente soluções ‘made in<br />
Portugal’ assentes numa IA responsável.<br />
Como o comprovou a sessão que juntou
48 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
O talento qualificado mantém-se como uma dor<br />
de cabeça para todas as organizações, já que a oferta<br />
é escassa num mercado cada vez mais digital<br />
O governo tem uma clara visão para estimular<br />
o crescimento da economia e da inovação. E quer<br />
agilizar a execução dos fundos estruturais e apostar<br />
de forma estruturada na IA, garantiu o secretário<br />
de Estado da Economia, João Rui Ferreira, na abertura<br />
do 2º dia do congresso<br />
O congres<br />
da APDC.<br />
president<br />
como Gra<br />
O atual pr<br />
de priorid<br />
que enfre<br />
Adelino F
so foi marcado pela celebração dos 40 anos<br />
Em palco estiveram o fundador e primeiro<br />
e da associação, Gonçalo Sequeira Braga, assim<br />
ça Bau e Pedro Norton<br />
esidente da APDC apresentou uma proposta<br />
ades para o país e destacou alguns dos desafios<br />
ntamos, numa conversa com o jornalista João<br />
aria<br />
os responsáveis dos dois consórcios nacionais<br />
que beneficiaram destes apoios. Sendo<br />
o principal foco criar valor para a economia<br />
nacional, aumentar as exportações e criar<br />
emprego, respondendo a problemas reais<br />
da indústria, o Center for Responsible AI já<br />
tem 18 produtos. Paulo Dimas, vice-presidente<br />
da Unbabel e líder do projeto, diz que<br />
foi possível juntar “22 parceiros numa oferta<br />
que é completamente exportável, porque<br />
está na vanguarda das tecnologias. Temos é<br />
que ser rápidos”.<br />
Também o projeto do consórcio Accelerat.<br />
ai está a avançar, com a construção de um<br />
modelo de conversação AI em português de<br />
Portugal. Sebastião Villax, diretor sénior de<br />
Parcerias Estratégicas e Alianças da Defined.<br />
ai, diz que se tem de estar constantemente a<br />
inovar, pois só com isso se consegue captar<br />
talento especializado e investimento.<br />
A inovar estão também as empresas nacionais<br />
nas mais variadas indústrias, numa<br />
aposta clara em soluções assentes em IA<br />
que já estão a produzir efeitos, ainda que<br />
a abordagem seja cautelosa e gradual, em<br />
maior ou menor grau. Foi o que se debateu<br />
numa sessão que reuniu responsáveis da<br />
CGD, E-Redes, Glintt Next e AgentifAI.<br />
A questão é agora a de saber como se poderão<br />
preparar para as novas regras europeias<br />
do IA Act. Maria Manuel Leitão Marques é<br />
uma acérrima defensora da nova regulação,<br />
que diz que trará guidelines, “tentando estabelecer<br />
um equilíbrio entre aproveitar as<br />
oportunidades, com uma parte para a inovação,<br />
e prevenir certos riscos no uso da IA”.<br />
A ex-deputada do Parlamento Europeu garante<br />
mesmo se teve em conta a rápida mudança<br />
tecnológica, já que o documento foi<br />
elaborado com “alguma arte em matéria de<br />
flexibilidade. Ninguém quer inovação pela<br />
inovação, mas quando é segura e respeita os<br />
nossos direitos”.<br />
Clara Martins Pereira, professora Assistente<br />
na Durham Law School, acrescenta que, em<br />
termos de regulação, “há sempre uma procura<br />
de equilíbrio entre segurança e inovação.<br />
Se a UE se vira mais para a segurança, os<br />
países anglo-saxónicos, como o Reino Unido<br />
e EUA, apostam mais na inovação”. A questão<br />
é saber em que medida regular, fazendo<br />
leis “à prova de futuro”.<br />
O talento e a necessidade de qualificar para<br />
o digital são considerados um tema urgente<br />
no país e esteve também em debate neste<br />
congresso, numa sessão onde ficou claro<br />
que, apesar das iniciativas que já existem, é
50 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
As estratégias para tirar partido<br />
da tecnologia na melhoria da<br />
experiência, fidelidade e receitas<br />
das telcos foram abordadas pela<br />
responsável da NTT Data<br />
A cibersegurança e o papel da NIS2,<br />
que entrará em vigor em outubro,<br />
foram destacadas por Inês Antas de<br />
Barros (VdA) e Jéssica Domingues<br />
(SPMS)<br />
Yasmina Laraudogoitia falou do<br />
papel da plataforma TikTok como<br />
uma comunidade digital e um<br />
espaço seguro, na Europa e em<br />
Portugal<br />
O potencial do 5G só poderá<br />
ser aproveitado na UE27 se os<br />
operadores ganharem escala,<br />
através de consolidações, defende<br />
Juan Olivera (Ericsson)
preciso fazer muito mais. Não só para preparar<br />
os portugueses para o mundo digital<br />
e capacitá-los para usarem as ferramentas<br />
tecnológicas, mas também para formar<br />
profissionais especializados nas várias áreas<br />
onde a oferta de recursos escasseia. A atração<br />
das mulheres para as TIC também continua<br />
em cima da mesa.<br />
Será que Portugal poderá ser o próximo<br />
‘Silicon Valley da Europa’? Rodrigo<br />
Cordeiro (Capgemini Engineering) diz<br />
que tem de ser a ambição<br />
Sendo a terceira geração móvel<br />
uma oportunidade única de<br />
transformação, só a ligação entre<br />
o ecossistema e a indústria gerará<br />
valor, diz Sérgio Catalão (Nokia)<br />
ACELERAR, DIALOGAR<br />
E COLABORAR…<br />
O segundo dia do Digital Business Congress<br />
iniciou-se com perspetivas positivas. Apesar<br />
das incertezas no contexto global, a digitalização<br />
da economia é para acelerar, garantiu<br />
o secretário de Estado da Economia. Que<br />
diz que o governo tem uma clara visão sobre<br />
como estimular o crescimento da economia<br />
e da inovação e que pretende agilizar a execução<br />
dos fundos estruturais e apostar de<br />
forma estruturada na IA.<br />
Para João Rui Ferreira, “Portugal vive num<br />
contexto global de concorrência e competitividade.<br />
É importante provocar choques de<br />
crescimento, apostar na inovação tecnológica<br />
de bens e serviços, na qualidade e talento,<br />
em ações que possam promover a qualidade<br />
do que exportamos e que possam atrair<br />
investimento externo”. Defendendo que só<br />
com um “diálogo aberto e colaboração poderemos<br />
enfrentar os desafios e capitalizar<br />
as oportunidades que o futuro digital nos<br />
reserva”, quer reforçar as sinergias entre setores,<br />
a academia, as empresas e os centros<br />
de I&D, porque “precisamos de um Portugal<br />
verdadeiramente interligado no ecossistema<br />
económico, onde exista uma verdadeira<br />
união entre empresas, instituições e academia.<br />
Tudo isto é chave para uma economia<br />
ágil e inovadora.”<br />
A manhã foi dedicada à comemoração dos<br />
40 anos da APDC, com uma sessão que reuniu<br />
três dos seus presidentes. O fundador<br />
e primeiro líder da associação, Gonçalo Sequeira<br />
Braga, para quem a APDC é hoje “um<br />
parceiro do Estado para a transformação digital<br />
da sociedade portuguesa, porque tem<br />
o apoio das empresas. Somos um invulgar<br />
caso a nível europeu, como associação. Pela<br />
influência, capacidade e realizações”. Já Graça<br />
Bau abordou o desenvolvimento tecnológico<br />
e o papel da associação, como “despertador”<br />
das empresas, enquanto Pedro<br />
Norton, um “homem dos media”, juntou os<br />
mundos das comunicações e media, que<br />
“estavam condenados a entender-se”.<br />
Seguiu-se a apresentação, por Rogério
52 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Carla Martins (ERC) deu o mote ao<br />
debate entre os líderes dos grupos<br />
de media nacionais com canais<br />
de televisão: Francisco Pedro<br />
Balsemão (Impresa); Luís Santana<br />
(Medialivre), um estreante; Pedro<br />
Morais Leitão (Media Capital); e<br />
Nicolau Santos (RTP)<br />
Carapuça, da proposta de prioridades para o país, deixando claro que “todos nós temos<br />
de dar o passo a seguir. A APDC fará o seu papel. Somos uma associação de ecossistema,<br />
temos todo o tipo de empresas da área digital e o networking é o nosso nome do meio.<br />
Falamos uns com os outros e apresentamos propostas. Estamos disponíveis para falar<br />
com todos”.<br />
Tema essencial para o mundo digital é o da cibersegurança. Sobretudo quando os ciberataques<br />
estão a multiplicar-se, em número e sofisticação. A NIS2, a nova diretiva europeia<br />
de cibersegurança, que entrará em vigor em outubro, vem dar resposta aos novos desafios.<br />
Mas traz consigo uma teia regulatória muito mais complexa e abrangente, que obrigará<br />
as organizações a adotarem uma abordagem proativa e obrigações muito mais exigentes,<br />
refere Inês Antas de Barros, sócia da Área de Comunicações, Proteção de Dados<br />
& Tecnologia da VdA. Jéssica Domingues, chefe da Unidade de Cibersegurança da SPMS,<br />
diz que o maior risco está nas pessoas e é aí que se deverá atuar rapidamente.<br />
O 5G e o seu impacto para o país foi o tema abordado pelos líderes dos dois fabricantes<br />
europeus. Juan Olivera, CEO da Ericsson Portugal CEO, salientou o atraso europeu face a
Como está a transição energética na era do<br />
5G? Manuel Maria Correia (DXC Technology)<br />
e Tiago Marques (EDP) tentaram responder<br />
outras regiões e a penetração limitada desta tecnologia<br />
no mercado nacional, apesar da boa qualidade da<br />
rede. Tendo em conta o seu potencial transformador,<br />
o caminho na Europa terá de passar por um ganho<br />
de escala dos operadores, através das consolidações.<br />
E em Portugal, defende um protocolo de colaboração<br />
público-privada, à semelhança de Espanha. Também<br />
o CEO da Nokia Portugal, Sérgio Catalão, diz que o 5G<br />
é “uma oportunidade única de transformação. Portugal<br />
tem a ambição de crescer acima da UE e o 5G é o<br />
enabler tecnológico estratégico desse crescimento”.<br />
Será da ligação entre o ecossistema e a indústria que<br />
se gerará capacidade de criar valor.<br />
MEDIA E TELCOS:<br />
DESAFIOS VS OPORTUNI<strong>DA</strong>DES<br />
A edição deste ano do congresso ficou marcada pelo<br />
regresso dos reguladores dos media e das comunicações,<br />
que têm desde o final do ano passado novas<br />
lideranças. As respetivas intervenções deram o mote<br />
aos debates dos “estados da nação”, que juntaram os<br />
protagonistas dos principais grupos de cada um dos<br />
setores.<br />
E não há dúvida de que o setor dos media “enfrenta<br />
grandes dificuldades e desafios, num quadro bastante<br />
complexo. A evolução tecnológica é acelerada<br />
e constante, com impactos profundos na cadeia de<br />
valor dos media e nos processos de produção<br />
e consumo. E a IA traz outra camada<br />
de complexidade. O jornalismo vive um dos<br />
momentos mais críticos da sua história e o<br />
Estado desempenha um papel essencial”. A<br />
afirmação é de Carla Martins, vogal do Conselho<br />
Diretivo da Entidade Reguladora para<br />
a Comunicação Social (ERC).<br />
Para esta responsável, no atual quadro de<br />
incerteza, altamente competitivo e com<br />
um problema estrutural de financiamento,<br />
a “abordagem regulatória tem de assentar<br />
num diálogo construtivo e permanente com<br />
os diferentes intervenientes setoriais. Não é<br />
possível uma regulação positiva e relevante<br />
de costas voltadas para o setor”. Mas, como<br />
também a própria ERC enfrenta muitos desafios,<br />
nomeadamente na regulação sobre<br />
os media digitais e das plataformas online,<br />
defende como “prioritária a revisão dos<br />
instrumentos legais de que dispomos para<br />
atuar”, até porque o regulador terá de estar<br />
preparado ainda para aplicar os instrumentos<br />
legislativos adotados a nível europeu.<br />
No debate que se seguiu entre os players<br />
dos media com canais de tv, um dos temas<br />
abordados foi o lançamento do novo canal<br />
de tv paga Now, que arrancou a 17 de junho.
54 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Cellnex, FastFiber e Vantage Towers estão a<br />
investir no reforço das respetivas redes e ofertas,<br />
de olhos postos na aceleração do 5G e na utilização<br />
da IA<br />
Para o CEO da Medialivre, o segredo para este projeto<br />
de informação está na sua capacidade de diferenciação.<br />
“Não acho que seja a entrada de um novo canal<br />
que vá causar distúrbio naquilo que seja a capacidade<br />
dos demais canais. Se houver algo que está a distorcer<br />
o mercado é a questão da publicidade digital<br />
e das plataformas digitais que, de um bolo único da<br />
publicidade, está a comer um valor desproporcionado”,<br />
assegura Luís Santana.<br />
Os concorrentes esperam para ver. Nicolau Santos,<br />
presidente da RTP, admite que “um novo operador<br />
nos canais de informação paga vem disputar a atenção<br />
das audiências e criar desafios: “Na RTP3, estamos<br />
a olhar com atenção, e pensamos que o nosso<br />
projeto merece ser reformulado, senão mesmo refundado”.<br />
Já Pedro Morais Leitão, CEO da Media Capital,<br />
considera que “a entrada nos canais de tv paga<br />
é sempre uma decisão difícil, porque se está a criar<br />
um problema: a canibalização do seu canal generalista,<br />
que é a sua fonte de receitas. O mercado da publicidade,<br />
neste momento, não chega para ninguém”.<br />
Por sua vez, o CEO da Impresa, Francisco Pedro<br />
Balsemão, desdramatiza: “Compete-nos dar as boasvindas<br />
ao espaço dos canais informativos e prepararnos,<br />
antecipando o que aí vem. Na SIC Notícias, temos<br />
como preferência os targets com maior poder<br />
de compra e temos sido competitivos e inovadores”.<br />
O tema do financiamento da RTP voltou a ser abordado.<br />
Do lado dos privados, todos concordam que<br />
não faz sentido ter um projeto apoiado pelo Estado<br />
a operar num mercado competitivo. “Desde 2016<br />
que temos sido coerentes. Consideramos que devia<br />
haver eliminação ou redução substancial do tempo<br />
de publicidade reservado à RTP, para haver uma concorrência<br />
mais leal. Além disso, a RTP também faz<br />
publicidade no digital, o que nos prejudica a nós, privados”,<br />
comenta Francisco Pedro Balsemão.<br />
O líder da RTP voltou a rejeitar os argumentos dos<br />
concorrentes, defendendo que o grupo de media<br />
tem uma missão de serviço público que deve<br />
ser financiada. Explicando que terá de ser negociado<br />
um novo contrato de concessão com o governo<br />
– tudo está ainda em aberto - recusa “totalmente a<br />
ideia de que o posicionamento da RTP no mercado
Casa cheia para a estreia da líder do regulador,<br />
Sandra Maximiano, no “Estado da Nação das<br />
Comunicações. Ana Figueiredo (Altice), Miguel<br />
Almeida (NOS) e Luís Lopes (Vodafone) defendem<br />
consolidações para garantir maior capacidade de<br />
investimento. No 5G, ainda é cedo para falar de<br />
monetização
56 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
O ministro das Infraestruturas e<br />
Habitação, Miguel Pinto Luz, garantiu<br />
no encerramento do DBC2024 que<br />
vai dar resposta às preocupações dos<br />
operadores, num setor que tem sofrido<br />
sucessivas disrupções<br />
publicitário possa colocar em risco os outros<br />
operadores”.<br />
A crescente concorrência das plataformas<br />
mundiais e europeias dominou as atenções,<br />
assim como os impactos de tecnologias<br />
como a IA ao nível da informação. “É muito<br />
difícil competir com as grandes plataformas.<br />
Tem de haver regulação europeia que<br />
ajude a uma distribuição mais justa, onde os<br />
players nacionais estejam mais defendidos.<br />
De contrário não temos hipótese”, diz Luís<br />
Santana.<br />
“Termos uma plataforma própria é o caminho<br />
ideal, mas dificil. É um mercado populado<br />
por muitos gigantes e com a sua dinâmica<br />
própria. Gostaríamos de trilhar este<br />
espaço, mas ainda não vimos caminho para<br />
isso. A solução que encontrámos foi produzir<br />
conteúdos para plataformas como a Amazon<br />
Prime Vídeo. Hoje, é muito dificil manter-nos<br />
competitivos neste novo mundo<br />
que aí vem, sobretudo à escala portuguesa”,<br />
acrescenta Pedro Morais Leitão.<br />
Sendo a conetividade condição essencial<br />
para o mundo digital, as fibercos e as towercos<br />
que operam no mercado nacional assumem<br />
um papel cada vez mais relevante<br />
no fornecimento de infraestruturas fixas e<br />
móveis aos operadores. Cellnex, FastFiber e<br />
Vantage Towers estão a investir em força no<br />
reforço das respetivas operações, de olhos<br />
postos na aceleração do 5G e na IA.<br />
Depois de um ciclo de oito anos de aquisições<br />
em toda a Europa, a Cellnex teve em<br />
2023 um ano de transformação e crescimento.<br />
Agora, como diz João Osório Mora, managing<br />
director da subsidiária nacional, o foco<br />
está nas operações e no crescimento. Com<br />
partilha da rede entre todos os operadores,<br />
para uma maior rentabilização. Também a<br />
Vantage Towers vai prosseguir “a expansão<br />
do portfólio de ativos”, como adianta o seu<br />
managing director, Paolo Favaro, nomeadamente<br />
na cobertura das zonas mais remotas<br />
do país. A estratégia da FastFiber é similar:<br />
crescer em cobertura e em leque de serviços,<br />
refere o seu CEO, Pedro Rocha.<br />
A tão esperada sessão do ‘Estado da Nação<br />
das Comunicações” voltou a ser a última<br />
deste congresso. E o mote foi dado pela<br />
nova presidente da Anacom, Sandra Maximiano,<br />
para quem é essencial “assegurar<br />
uma regulação eficiente, eficaz, e sobretudo<br />
dinâmica. O setor das comunicações tem<br />
sofrido impactos profundos, com a adoção<br />
das tecnologias, e o regulador não pode ficar<br />
para trás neste processo de transformação
Os jornalistas da RTP Carolina Freitas e João<br />
Adelino Faria voltaram a ser hosts desta edição,<br />
imprimindo ao congresso uma dinâmica acelerada.<br />
O evento voltou a contar com tradução simultânea<br />
em inglês e em linguagem gestual<br />
digital”. Até porque “é preciso estar consciente de<br />
que as empresas de telecomunicações são viabilizadoras<br />
de todos os outros setores”.<br />
Mas, garantindo que o regulador quer “viabilizar a<br />
aposta no investimento dos operadores”, adianta que<br />
“a dinâmica das comunicações eletrónicas tem mostrado<br />
que existe uma oferta de grande qualidade,<br />
com predominância dos pacotes, levando à perceção<br />
de haver pouca concorrência no mercado”. Assim,<br />
e tendo em conta a entrada para breve da Digi, diz<br />
esperar “uma reação criativa e saudavelmente competitiva<br />
dos operadores. A procura por conetividade<br />
está em expansão e haverá espaço para que as oportunidades<br />
sejam maiores do que os riscos”. O 5G e a<br />
sua rentabilização foi um dos exemplos salientados.<br />
Mas para os líderes dos operadores ainda é cedo para<br />
falar na rentabilização do 5G. Tudo dependerá do que<br />
vai acontecer na Europa em termos de decisões para<br />
garantir a sua competitividade face a outras regiões,<br />
como os EUA ou a China. Todas as telcos europeias<br />
se debatem com o problema da escala e há cada vez<br />
mais constrangimentos na atração de investidores<br />
para o setor, hoje dos menos atrativos<br />
do mercado. Os esforços de rentabilidade<br />
têm passado pelo corte de custos e por<br />
decisões como a partilha de infraestruturas.<br />
Mas já não chega.<br />
“Pela sua dimensão, o mercado português<br />
tem desafios acrescidos, pelos efeitos de escala.<br />
Mas toda a Europa está numa encruzilhada.<br />
Estamos a perder competitividade<br />
económica e faltam 220 mil milhões de<br />
euros de investimento no setor ao nível europeu.<br />
Acresce que todos falam da IA, mas<br />
ninguém fala do acesso, que é garantido por<br />
nós”, comenta Ana Figueiredo, CEO da Altice<br />
Portugal.<br />
Para a gestora, “os operadores têm procurado<br />
contrariar a perda de rentabilidade com<br />
soluções criativas de reinvenção do negócio<br />
e otimização das estruturas de custos. Mas<br />
o setor necessita de escala. Têm de existir
58 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
políticas de regulação capazes de criar ecossistemas<br />
de parcerias. Temos 10 milhões de<br />
habitantes e praticamente o mesmo número<br />
de operadores dos EUA”.<br />
“O mercado não tem escala para operar de<br />
forma rentável um grande número de redes.<br />
Mas, aparentemente, em Portugal, não<br />
pode haver consolidações. Não vejo consolidação<br />
possível”, ironiza Luís Lopes, CEO da<br />
Vodafone Portugal, referindo-se ao impasse<br />
que se mantém na compra da Nowo, por<br />
decisão da AdC. “A Vodafone apresentou um<br />
conjunto de remédios mais fortes que o negócio<br />
da Orange em Espanha. Em Portugal,<br />
uma operação de concentração de uma empresa<br />
com margem residual é vista, do ponto<br />
de vista concorrencial, como sendo mais<br />
complicada do que aquela que em Espanha<br />
deu origem ao maior operador móvel.”<br />
Para o gestor, existe no mercado uma “concorrência<br />
quase instantânea”, de “respostas<br />
constantes, porque há uma guerra grande<br />
entre todos os players pela tentativa de ganho<br />
de quota por parte de todos. O preço é<br />
uma variável entre várias. Não se pode concluir<br />
que o setor não é concorrencial, porque<br />
tem pacotes parecidos”.<br />
Também o CEO da NOS não tem dúvidas de<br />
que as consolidações são o caminho. Na Europa<br />
e em Portugal, onde “é evidente que<br />
não podem existir mais do que três operadores.<br />
Não vale a pena pensar noutra coisa.<br />
A responsabilidade do regulador e do governo<br />
é criarem as condições para a consolidação,<br />
porque a tecnologia vai continuar a<br />
exigir muitos investimentos. Caso contrário,<br />
corremos o risco de o país ficar para trás”.<br />
Destacando que nos últimos dez anos as<br />
receitas recuaram, houve três novos ciclos<br />
de investimento e as taxas regulatórias aumentaram<br />
28% só nos últimos quatro, Miguel<br />
Almeida garante que a situação “é insustentável<br />
e é preciso fazer algo. Em vez de<br />
pensarmos nisto, garantindo o futuro, continuamos<br />
a debater a entrada de um novo<br />
operador, para destruir ainda mais esta<br />
equação”.<br />
Para a líder da Altice, há “uma necessidade<br />
urgente de compreensão do setor. A postura<br />
da ‘nova’ Anacom é um primeiro passo. Se<br />
queremos um dia criar um hub da economia<br />
digital do país temos de pensar holisticamente”.<br />
A realidade é que o setor, na sua<br />
perspetiva, não pode ter “uma multiplicidade<br />
de players, nem existe espetro para isso”.<br />
“Quando na Europa se discute como se<br />
garante a rentabilidade e se inverte a<br />
tendência, nós estamos a dizer que uma<br />
operação de fusão que não muda estruturalmente<br />
o mercado não pode acontecer e<br />
estamos a louvar a entrada de um novo operador<br />
como se fosse algo bom. Mas não é, e<br />
vamos ver rapidamente que não é”, acrescenta<br />
o líder da NOS.<br />
“Estava na hora de, neste país, existir um debate<br />
sério que envolva os operadores, regulador<br />
e o governo. Trabalhar em conjunto<br />
para mudar as coisas. É importante que o<br />
novo governo permita isso, porque é benéfico<br />
para múltiplos stakeholders. Tem ainda<br />
de estar na sua agenda medidas que permitam<br />
a sustentabilidade e investimento. E parece<br />
que só há uma: a consolidação!”, remata<br />
Miguel Almeida<br />
No encerramento, o ministro das Infraestruturas<br />
e Habitação respondeu a algumas das<br />
preocupações dos operadores: “O setor já foi<br />
mais fervilhante do que é hoje. Agora, tem<br />
margens esmagadas e uma arquitetura regulatória<br />
de concorrência que limita muito<br />
a ação. Sofreu disrupções sucessivas com a<br />
introdução de novos players no mercado,<br />
de novas formas de utilização da própria infraestrutura.<br />
É, portanto, um setor que tem<br />
de se encontrar”.<br />
“Enquanto Europa, para liderarmos os próximos<br />
ciclos de desenvolvimento ‐ e temos<br />
de liderar - precisamos de encontrar novas<br />
formas de dar robustez à remuneração de<br />
capitais que hoje oferecemos a quem investe.<br />
Não tenhamos dúvidas de que temos de<br />
o fazer, porque este setor tem externalidades<br />
positivas para muitos outros, como a investigação,<br />
inovação e retenção de talento,<br />
para a projeção do país internacionalmente”,<br />
acrescenta Miguel Pinto Luz. Que, por isso,<br />
garante que vai tentar colocar na agenda<br />
europeia estas temáticas, ao mesmo tempo<br />
que acompanhará todo o processo.<br />
Sobre a IA, o governante também questiona<br />
o posicionamento da UE27. “Se fomos capazes<br />
de ser disruptivos em algumas áreas<br />
do conhecimento, também poderemos ser<br />
aqui, porque a IA é absolutamente estratégica.<br />
E já percebemos que não é apenas no<br />
plano tecnológico que estamos a falar, mas<br />
no plano geopolítico, da competição entre<br />
três pólos. Corremos um sério risco de transformar<br />
um mundo tripolar num mundo bipolar<br />
e que já está ao final da esquina. Onde<br />
a Europa vai minguar e ficar cada vez mais<br />
irrelevante”.•
60 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
PROGRAMA<br />
DIA 14 MAIO<br />
OPENING SESSION<br />
LIVING IN A FUTURE WITH AI<br />
WILL AI ECONOMICS PROMOTE A FREE WORLD?<br />
PORTUGAL 2030 <strong>DIGITAL</strong> STRATEGY: AI, WEB 3.0 AND <strong>DA</strong>TA<br />
AI STRATEGIES IN EUROPE: NAVIGATING EXCELLENCE AND TRUST<br />
AI’S OPPORTUNITY: A GROWTH AGEN<strong>DA</strong> FOR PORTUGAL AND BEYOND<br />
THE RESILIENCE OF DEMOCRATIC AND LIBERAL ECONOMIES RELY ON US<br />
PORTUGAL’S PRR: SHOWCASING AI FOR THE FUTURE<br />
IMPACT OF AI IN MAJOR INDUSTRIES<br />
REGULATION OF AI APPLICATIONS<br />
TALENT<br />
DIA 15 MAIO<br />
2nd <strong>DA</strong>Y WELCOME<br />
40 YEARS OF APDC: A CRUCIAL STAKEHOLDER FOR A <strong>DIGITAL</strong> PORTUGAL<br />
APDC’S PRIORITIES FOR PORTUGAL<br />
CLIENTS IN-MOTION: LEVERAGING TECH TO IMPROVE EXPERIENCE,<br />
LOYALTY AND REVENUE IN THE TELCO INDUSTRY<br />
A NEW FRONTIER FOR COMMUNITY-BASED <strong>DIGITAL</strong> KNOWLEDGE<br />
PORTUGAL AS THE NEXT SILICON VALLEY OF EUROPE<br />
NAVIGATING NIS2: ENSURING CYBERSECURITY COMPLIANCE IN THE<br />
<strong>DIGITAL</strong> ERA<br />
FROM 5G DEPLOYMENT TO TRANSFORMATION: A TANGIBLE JOURNEY<br />
FOR PORTUGAL<br />
HARNESS THE EXPONENTIAL POTENTIAL OF NETWORKS – THE<br />
OPPORTUNITY FOR PORTUGAL<br />
THE STATE OF THE NATION OF MEDIA<br />
<strong>DIGITAL</strong> TRANSFORMATION & ENERGY TRANSITION IN THE 5G ERA<br />
FIBERCOS & TOWERCOS’ ROLE IN <strong>DIGITAL</strong> TRANSFORMATION<br />
THE STATE OF THE NATION OF COMMUNICATIONS<br />
CLOSING SESSION
62 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
14 MAIO<br />
OPENING SESSION<br />
Rogério Carapuça<br />
Presidente, APDC<br />
“A nossa economia tem de criar mais valor.<br />
As nossas empresas têm de crescer e<br />
desenvolver negócios de maior valor acrescentado.<br />
Não é possível distribuir valor que<br />
não se cria e o nosso problema é um problema<br />
de criação de valor. O Estado, por seu<br />
turno, tem de contribuir, sendo mais simples<br />
e mais eficiente”<br />
“Houve avanços importantes no país e no<br />
próprio Estado. Mas, se olharmos para o<br />
DESI, somos os primeiros dos últimos, quando<br />
temos de ser um dos primeiros. Por isso,<br />
a visão que desenvolvemos na APDC é ser<br />
um dos primeiros nos próximos oito anos,<br />
um período materialmente suficiente para<br />
algumas das tarefas que exigem tempo<br />
para se desenvolverem. Somos uma associação<br />
de ecossistema. Fazemos sugestões,<br />
propomos soluções e oferecemo-nos para<br />
discutir com quem nos governa”<br />
“Provavelmente, a IA permitirá o maior salto<br />
qualitativo de sempre em termos de produtividade<br />
da história da humanidade e há<br />
que a aproveitar bem. A tecnologia está aí<br />
e para a divulgar trouxemo-la para tema<br />
central do congresso”<br />
Arlindo Oliveira<br />
Presidente, Congresso<br />
“A IA é tão revolucionária que se vai tornar<br />
no sistema operativo da internet, revolucionando<br />
profundamente a forma como trabalhamos<br />
com sistemas de informação e<br />
acedemos a eles e a toda a informação que<br />
está na internet. E ainda estamos apenas<br />
no princípio da revolução”<br />
“Ninguém sabe qual vai ser a tecnologia revolucionária<br />
dos próximos 20 anos. O que<br />
sabemos é que a IA não é uma tecnologia<br />
do futuro, mas do presente, e com enormes<br />
impactos a todos os níveis. Na economia,<br />
claramente vamos ter uma sociedade onde<br />
a inteligência será maior. E estamos a assistir<br />
a uma alteração muito rápida na sociedade,<br />
que vai ter consequências importantes,<br />
para as quais temos de nos preparar”<br />
“Temos um enorme desafio para Portugal:<br />
organizacional, educacional e, acima de<br />
tudo, de produtividade. O país tem de se<br />
tornar mais produtivo. Cada um de nós tem<br />
de produzir mais por cada hora trabalhada.<br />
Essa é a razão essencial para não sermos<br />
mais desenvolvidos. A IA pode ajudar a tornarmo-nos<br />
mais produtivos, mas só por si a<br />
tecnologia não o vai fazer. É uma questão<br />
organizacional e um desafio para todos”
Margarida Balseiro Lopes<br />
Ministra da Juventude e Modernização<br />
“O compromisso deste governo é claro: definir<br />
e implementar uma estratégia nacional<br />
para o digital, com objetivos bem definidos,<br />
metas quantitativas e um plano de<br />
ação que concretize o sucesso da transição<br />
digital até 2030. Um primeiro passo já foi<br />
dado, com a promoção da modernização e<br />
digitalização, reconhecendo-se estas áreas<br />
como fundamentais para o futuro”<br />
Marcelo Rebelo de Sousa<br />
Presidente da República de Portugal<br />
Mensagem escrita lida pelo Presidente da APDC<br />
“Se há área da nossa sociedade que sofreu<br />
uma transformação imensa nas últimas<br />
décadas é certamente o setor das comunicações.<br />
(…) Nestes 40 anos o setor das comunicações<br />
esteve muitas vezes um passo<br />
à frente, foi muitas vezes pioneiro, em inovação,<br />
em tecnologia. Hoje, estamos no futuro<br />
que foi preparado e desenvolvido por vós”<br />
“Precisamos de uma estratégia abrangente,<br />
que funcione como orientadora, que<br />
coordene e alinhe as diversas iniciativas em<br />
curso. Só assim conseguiremos aumentar a<br />
taxa de execução das medidas e metas do<br />
PRR. Mas não queremos ficar por aqui. Temos<br />
de ir mais longe. A orientação de Portugal<br />
para a transformação digital segue<br />
os quatro pilares essenciais da Bússola Digital<br />
Europeia: competências, transformação<br />
digital das empresas, digitalização dos<br />
serviços públicos e infraestrutas digitais seguras<br />
e sustentáveis”<br />
“No contexto empresarial, ambicionamos<br />
tornar Portugal num país atrativo e competitivo<br />
para os negócios e para as empresas.<br />
Promovendo o crescimento digital e a inovação<br />
sustentável. Ter uma economia atrativa<br />
e competitiva alicerçada no digital, que<br />
atraia investimentos, exporte bens e serviços,<br />
estimule a criação de startups e facilite<br />
o acesso ao financiamento. Queremos uma<br />
AP eficiente, inovadora e centrada no cidadão<br />
e nas empresas.<br />
“O futuro está sempre em mudança e o vosso<br />
papel é essencial. É preciso discutir o futuro,<br />
o futuro do digital e o futuro da IA, que<br />
ainda agora chegou, mas já nos faz pensar<br />
em tantas oportunidades e desafios, do<br />
presente e do futuro”<br />
“A IA veio trazer um mundo de oportunidades<br />
em todos os domínios da nossa vida.<br />
Mas tem também desafios, seja no garantir<br />
a segurança da informação, seja pelo risco<br />
de desinformação, que afeta a qualidade<br />
das democracias, sejam os limites do foro<br />
ético que deveremos impor-lhe”
64 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
LIVING IN A FUTURE<br />
WITH AI<br />
KNS: Pedro Domingos<br />
Professor de Computer Science,<br />
University of Washington; Autor<br />
de “The Maser of Algorithm e “2040”<br />
“O grande efeito da IA não vai ser diminuir o<br />
emprego. Pelo contrário, vai tornar possível<br />
fazer muito mais coisas com inteligência do<br />
que era possível. Em cada profissão, a IA é<br />
capaz de automatizar algumas das tarefas.<br />
A grande vocação da IA é aumentar grandemente<br />
a nossa inteligência coletiva. Temos<br />
de pensar nela como o repositório dos<br />
conhecimentos que adquirimos no passado<br />
e que vamos adquirir no futuro”<br />
“O mundo, a Europa e Portugal estão a envelhecer.<br />
Sem IA para substituir o trabalho<br />
humano, vai ser muito dificil manter a<br />
qualidade de vida das pessoas. A IA não é<br />
opcional, mas sim urgentemente necessária.<br />
O que pode ser feito por ela e pelos<br />
seres humanos, em conjunto, e que nunca<br />
foi feito antes, serão as atividades em que<br />
está o futuro e onde nos deveremos concentrar.<br />
O maior efeito da IA não será apenas<br />
na economia e no trabalho, mas em melhorar<br />
o funcionamento da sociedade e da<br />
democracia”<br />
“Há uma confusão entre IA e inteligência<br />
humana. Mas a IA não tem vontade, emoções,<br />
desejos e não quer tomar o poder. Essas<br />
são características dos seres humanos<br />
que associamos erradamente. Mas está sob<br />
o nosso controlo. De longe, o maior perigo<br />
da IA é o da estupidez artificial. Os perigos<br />
reais estão nas pessoas que construíram<br />
os programas. Existe uma corrida entre as<br />
democracias e os estados totalitários na IA<br />
e temos de ganhar esta corrida, para que<br />
as ditaduras não prevaleçam”<br />
“Portugal tem uma oportunidade, se evitar<br />
cair nos erros de outros países, de tornar<br />
a IA num motor de desenvolvimento.<br />
Tem uma comunidade de 1ª linha, tem indústrias<br />
onde pode ser líder na introdução<br />
da IA e uma agilidade que países maiores<br />
não podem ter. Temos a oportunidade de<br />
ser a ‘Estónia da IA’ e um exemplo para outros<br />
países. Mas há barreiras económicas,<br />
sociais e políticas. E para as ultrapassar é<br />
preciso o compromisso de todos”<br />
“WILL AI ECONOMICS<br />
PROMOTE A FREE<br />
WORLD?”<br />
KNS: Pedro Faustino<br />
Managing Director, Axians Portugal<br />
“Habituámo-nos a assumir que a economia<br />
se continua a desenvolver em mercado livre,<br />
em regimes democráticos, em estados<br />
de direito. Mas não é assim. Há países em<br />
que a democracia e liberdade se vão reforçando<br />
e outros em que se vai reforçando o<br />
autoritarismo. Só no último ano foram mais<br />
do dobro os que cederam na democracia”<br />
“Em 2024, em particular, temos uma situação<br />
inédita no Mundo, de que não há memória.<br />
Metade da população mundial vai a<br />
votos, num processo que culminará no mais<br />
determinante para o futuro, o dos EUA. Ano<br />
após ano, sem parar, o número de regimes<br />
autoritários tem vindo a aumentar em todo<br />
o mundo”
“A China está muito inquieta com a sua<br />
evolução económica. A Rússia continua em<br />
guerra. No Médio Oriente, nem é preciso dizer<br />
nada. Temos de nos perguntar se podemos<br />
fazer alguma coisa. Há empresas que<br />
tiveram comportamentos louváveis neste<br />
âmbito, de defesa da democracia, liberdade<br />
e humanismo. Temos a responsabilidade<br />
de escolher a liberdade. Temos mesmo<br />
de querer saber”<br />
documentos, boas ideias e até estratégias,<br />
mas não temos maneira de as implementar.<br />
É o passo que nos falta dar. Haja vontade<br />
e capacidade política”<br />
PORTUGAL 2030 <strong>DIGITAL</strong><br />
STRATEGY: AI,<br />
WEB 3.0 AND <strong>DA</strong>TA<br />
KNS: Arlindo Oliveira<br />
Presidente, Congresso<br />
“Garantimos o alinhamento das estratégias<br />
e respetivos planos de ação, porque estão<br />
intimamente relacionados. Integrámos<br />
as melhores práticas internacionais, percebendo<br />
o que já foi feito, e toda a legislação<br />
e indicações ao nível da UE. E tirámos partido<br />
do ecossistema de colaboração, contando<br />
com a participação ativa de empresas,<br />
investigadores, instituições e organizações”<br />
“Já tivemos do atual governo a indicação<br />
de que o processo é para avançar e que os<br />
documentos serão colocados à discussão<br />
pública. Foi um trabalho feito como deve<br />
ser, com recursos significativos alocados e<br />
um orçamento. Mas, como costumo dizer,<br />
projetos sem orçamento são hobbies”<br />
“Se queremos ter uma estratégia e um plano<br />
de ação, será absolutamente necessário<br />
alocar um orçamento. Senão, arriscamonos<br />
a fazer uma coisa que, lamentavelmente,<br />
acontece em Portugal: temos bons<br />
Miguel Pupo Correia<br />
Coordenador Estratégia Web 3.0<br />
“Com a Web 3.0 a informação passa a estar<br />
descentralizada em muitos computadores<br />
e com isso obtém uma resiliência gigantesca.<br />
Mesmo que alguns países desliguem os<br />
computadores, a infraestrutura continua<br />
a funcionar. Deixamos de ter de confiar<br />
numa entidade, como uma big tech, para<br />
passar a confiar numa comunidade de pessoas<br />
que controlam os computadores. É um<br />
conceito radicalmente novo”<br />
“O que temos é de trazer esta comunidade<br />
informal que está a surgir com a web 3.0<br />
para dentro de um suporte legal. A ideia da<br />
estratégia é digitalizar de uma forma mais<br />
organizada e ao nível do país, na função<br />
pública e empresas. Dar os instrumentos<br />
para utilizarem estas tecnologias. O facto<br />
de passar o controlo para o utilizador coloca<br />
os seus riscos em termos, nomeadamente,<br />
de cibersegurança e ciberfraude. Que<br />
vão ter de ser tratados”<br />
“É preciso ter a capacidade de tapar os<br />
ouvidos ao ruido que existe na área, que é<br />
imenso. Há muita fraude e muitas mentiras<br />
sobre a capacidade da web 3.0 resolver<br />
todos os problemas do mundo. E, depois,<br />
abrir-se a saber quais os benefícios reais<br />
que poderá ter para o país, a economia e os<br />
cidadãos. É um desafio difícil, porque a tecnologia<br />
é complexa e recente”
66 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Graça Canto Moniz<br />
Coordenadora Estratégia<br />
para os Dados<br />
“A UE tem uma abordagem revolucionária,<br />
já que tem como principal objetivo tornar<br />
o acesso aos dados mais fácil. Porque são<br />
essenciais para a IA e facilitam a inovação<br />
no espaço comunitário. Portugal tem de<br />
acompanhar o esforço europeu nos dados<br />
nas várias áreas, sendo que esta matéria<br />
está hiper-regulada”<br />
“A arquitetura jurídica existe. Mas há o problema<br />
das pessoas: algumas não conhecem<br />
as regras e têm uma certa aversão ao<br />
risco e em dar acesso aos dados. Por outro<br />
lado, há dificuldades no armazenamento e<br />
nas infraestruturas e problemas de segurança<br />
e cibersegurança. Diria que o principal<br />
problema são as pessoas e o conhecimento<br />
que têm, não só das tecnologias,<br />
mas também do enquadramento jurídico<br />
que existe e daquilo que podem fazer. Diria<br />
que o ponto principal é mesmo o da literacia<br />
digital”<br />
“A UE está muito preocupada com a sua<br />
posição geopolítica nesta matéria. Porque<br />
vê os EUA com capacidade económica e<br />
capacidade de concentrar informação sobre<br />
as empresas e pessoas. E a China tem<br />
um modelo de governação de dados muito<br />
diferente. Bruxelas está à procura do seu<br />
modelo e padrão, com a preocupação de<br />
encontrar alternativas às big tech, que têm<br />
uma capacidade enorme de concentrar os<br />
dados. Nos pequenos e médios empresários,<br />
os esforços nacionais podem fazer mais<br />
a diferença do que uma perspetiva macro”<br />
João Gama<br />
Coordenador Estratégia para a IA<br />
“No âmbito da IA, há áreas em que Portugal<br />
pode ter um papel preponderante. Como no<br />
processamento da linguagem natural, com<br />
ferramentas computacionais para processar<br />
a língua portuguesa. Ou a oportunidade<br />
de ganhar relevância no mar. Ferramentas<br />
como robots ou submarinos autónomos<br />
podem ajudar a tirar mais partido e maior<br />
benefício económico do mar. Seriam duas<br />
áreas onde o país pode ter particular interesse<br />
em apostar”<br />
“Cada vez mais, as empresas usam ferramentas<br />
de IA. E estamos a promover e preparar<br />
nas universidades as gerações futuras<br />
que irão trabalhar na indústria. Há muita<br />
procura de pessoas com competências em<br />
análise e processamento de dados. Assim<br />
como de formação avançada em ciências<br />
de dados de quem está já dentro das empresas.<br />
Temos é de melhorar a oferta”<br />
“As empresas estão a ter uma atitude positiva<br />
face à IA. Percebem que há potencial<br />
para inovar e que o valor da inovação não<br />
se mede em euros, a curto-prazo. Portugal<br />
deve apostar na excelência. Para isso, financiamento<br />
e recursos são essenciais”
AI STRATEGIES<br />
IN EUROPE: NAVIGATING<br />
EXCELLENCE AND<br />
TRUST<br />
com um propósito. Daí ter sido criada regulação.<br />
É responsabilidade dos governos antecipar<br />
estes temas”<br />
Carme Artigas<br />
Ex-secretária de Estado para<br />
a Digitalização e IA espanhola;<br />
Presidente do Grupo de Alto nível<br />
das Nações Unidas para a IA<br />
“Na Europa, temos de atuar como um todo<br />
no mercado, porque temos concorrentes de<br />
peso, como os EUA e a China. O AI Act foi<br />
a primeira regulamentação mundial, promovendo<br />
um mercado único digital. O que<br />
nos traz um standard legal, técnico e moral.<br />
Trabalhámos durante quatro anos para encontrar<br />
o equilíbrio certo entre regulação e<br />
inovação”<br />
“O AI Act coloca o foco não só no futuro,<br />
mas também no presente. Pela primeira<br />
vez, a Europa está a dizer ao mundo o que<br />
não quer que a IA faça. Mostrámos valores<br />
e criámos um standard moral para o resto<br />
do mundo, centrado no ser humano. O problema<br />
número um da IA é a falta de confiança.<br />
A própria regulação responde a este<br />
problema, fornecendo transparência, controlo<br />
e confiança”<br />
“Há imensas oportunidades com a IA. Senão<br />
não se estava a investir tanto nela. O<br />
potencial desta tecnologia é imenso e vai<br />
continuar a evoluir, sempre com valores e<br />
controlo humano. Nunca como hoje tivemos<br />
tantas ferramentas para potenciar a<br />
transparência. Temos de ver o poder real<br />
dos controlos que estabelecemos nas nossas<br />
democracias. A IA tem de ser usada<br />
Siim Sikkut<br />
ex-CIO do governo da Estónia;<br />
Sócio-gerente da Digital Nation<br />
“A transformação digital de um país não<br />
acontece de repente. É um processo, que<br />
passa pela experimentação, pela aprendizagem,<br />
pela tentativa e erro. Para encontrar<br />
as soluções, há que testar o que funciona<br />
e o que não funciona. Não há garantias<br />
de que será tudo um sucesso. E nada se faz<br />
sem liderança e inovação, porque os riscos<br />
têm de ser assumidos”<br />
“Na Estónia, fizemos opções, experimentámos<br />
para perceber, incluindo em termos de<br />
regulamentação. Não a apressámos. Tentámos<br />
entender antes de avançar o que<br />
efetivamente precisávamos. Não inventámos<br />
nada, utilizámos o que já havia para<br />
fazer melhor, implementando projetos e espalhando<br />
o mais possível as sementes da<br />
mudança por todo o lado”<br />
“A IA é uma ferramenta para a democracia.<br />
Aumenta a transparência nos processos<br />
democráticos. E os governos têm de dar<br />
passos para usar estas ferramentas da melhor<br />
forma possível. Não são as tecnologias<br />
que fazem o mundo melhor, mas sim a forma<br />
como as usamos”
68 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
AI’S OPPORTUNITY:<br />
A GROWTH AGEN<strong>DA</strong><br />
FOR PORTUGAL<br />
AND BEYOND<br />
KNS: Giorgia Abeltino<br />
Diretora Sénior de Políticas Públicas<br />
e Relações Governamentais para o Sul<br />
da Europa<br />
“Está toda a gente a falar da IA porque é a<br />
tecnologia que pode ter o maior impacto de<br />
sempre nas nossas vidas e na nossa economia.<br />
Está a resolver problemas, pequenos e<br />
grandes, num abrangente conjunto de setores.<br />
A IA pode ser a mais rápida máquina<br />
para a mudança”<br />
“Mas a IA traz consigo oportunidades e riscos<br />
e temos de nos focar nas duas áreas. A<br />
IA pode amplificar os riscos que já existem<br />
na nossa sociedade, como a desinformação,<br />
e criar novos problemas. A boa notícia<br />
é que também nos pode fornecer um suporte<br />
para combatermos as ameaças”<br />
“Não podemos ter apenas as empresas<br />
como a Google ou as entidades públicas<br />
ativas no tema da IA. É realmente importante<br />
que os setores público e privado trabalhem<br />
juntos para amplificar as oportunidades<br />
da IA e para reduzir os riscos. E o<br />
potencial é grande: para a Europa, a GenAI<br />
poderá gerar 1,2 biliões de euros para a economia<br />
e para Portugal 15 mil milhões. Há<br />
que investir nas infraestruturas da IA e na<br />
inovação”<br />
THE RESILIENCE<br />
OF DEMOCRATIC<br />
AND LIBERAL<br />
ECONOMIES RELY ON US<br />
KNS: Francis Fukuyama<br />
Filósofo e Economista Político<br />
“Temos de ser muito cuidadosos na regulação<br />
da IA, porque não conhecemos quais os<br />
impactos políticos e sociais que vai ter. Temos<br />
todos medos e projeções, mas não temos<br />
grande experiência com a realidade.<br />
É dificil escrever regras para governar uma<br />
tecnologia cujo impacto e perigos ainda<br />
não se percebem realmente. Não acredito<br />
que possamos definir regras que possam<br />
antecipar os efeitos futuros da IA e corremos<br />
um grande risco de restringir o seu<br />
desenvolvimento. Precisamos de nos focar<br />
nos potenciais perigos a médio-prazo, com<br />
uma aproximação cautelosa”<br />
“Estamos preocupados com as empresas<br />
privadas, que se estão a tornar demasiado<br />
grandes e muito poderosas, em termos políticos<br />
e económicos. Vimos isso acontecer<br />
com as plataformas mundiais, que têm um<br />
importante papel na nossa democracia,<br />
e nem sempre positivo. A IA vem tornar o<br />
problema ainda maior. E as máquinas são<br />
muito caras, o que significa que só o setor<br />
privado terá capacidade para utilizar estas<br />
tecnologias. Está tudo nas suas mãos.<br />
Não acredito que seja um perigo imediato,<br />
mas é preocupante saber que os governos<br />
não terão capacidade de controlar a<br />
tecnologia”<br />
“Estou muito preocupado com o futuro da<br />
ordem democrática no mundo. Um dos
grandes desafios que temos é que muitas<br />
das ameaças à democracia não são simplesmente<br />
internacionais, de países autoritários<br />
como a China ou a Rússia, mas vêm<br />
também do aumento dos populismos dentro<br />
das democracias. Há uma combinação<br />
de ameaças internas e externas preocupante.<br />
A geopolítica está a refletir-se diretamente<br />
nas políticas internas das principais<br />
democracias”<br />
Trata-se de uma questão de soberania<br />
geopolítica. Espanha já anunciou isso com<br />
a sua língua. É muito importante que haja<br />
infraestrutura de IA para esta área. Temos<br />
de trabalhar em conjunto, com um alinhamento<br />
estratégico e político. Temos de aumentar<br />
a capacidade computacional”<br />
PORTUGAL’S PRR:<br />
SHOWCASING<br />
AI FOR THE FUTURE<br />
Accelerat.ai consortium:<br />
Sebastião Villax<br />
Diretor Sénios Parcerias e Alianças<br />
Estratégicas, Defined.AI<br />
Center for Responsible<br />
AI: Paulo Dimas<br />
Vice-Presidente para a Inovação,<br />
Unbabel<br />
“O principal foco do projeto é criar valor<br />
para a economia nacional, aumentar as exportações<br />
e criar emprego. Respondendo a<br />
problemas reais da indústria. Por isso, juntámos<br />
líderes da indústria na área da saúde,<br />
turismo e retalho. Como motor de aceleração<br />
e inovação, temos um conjunto de<br />
startups de IA que produz em torno destes<br />
desafios verticais”<br />
“Juntamos 22 parceiros numa oferta já de<br />
18 produtos que é completamente exportável,<br />
porque está na vanguarda das tecnologias.<br />
Temos três startups com mindset global<br />
e queremos trazer este mindset para as<br />
startups mais pequenas que fazem parte<br />
deste ecossistema. Temos é de ser rápidos”<br />
“Se não formos nós a preservar a língua<br />
portuguesa nos LLM, ninguém o vai fazer.<br />
“O projeto reside em construir um modelo<br />
de conversação AI em português de Portugal.<br />
Temos de ter três peças para isso:<br />
reconhecimento de voz, com dados em<br />
português transcritos; processamento de<br />
linguagem natural; e criar voz sintética. É<br />
isso que estamos a criar. A maior parte dos<br />
modelos são em conversação do Brasil e,<br />
por isso, detetámos uma lacuna no mercado<br />
e a avançámos com o projeto. Construir<br />
um modelo é caríssimo. Custa muitos milhões.<br />
Fazer de base é impensável”<br />
“Agarrar o talento especializado faz-se com<br />
inovação. Porque é esta que vai buscar o<br />
dinheiro. Estes dois projetos são altamente<br />
inovadores. Com isso, conseguimos ir buscar<br />
fundos e atrair e reter os melhores. E temos<br />
de estar constantemente a inovar, porque<br />
qualquer modelo de IA que não seja<br />
constantemente atualizado com novos dados<br />
torna-se obsoleto”<br />
“A sustentabilidade aplicada à IA transforma-se<br />
em ética. Tudo está nos dados, que<br />
têm de ser bem recolhidos e tratados. Há<br />
toda uma parte de qualidade que se tem<br />
de assegurar para garantir que os dados<br />
são altamente inclusivos”
70 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
IMPACT OF AI IN MAJOR<br />
INDUSTRIES<br />
Francesco Costigliola<br />
Chief Analytics Officer, CGD<br />
“Criámos uma área, o Centro de Inteligência<br />
Analítica, focado em business inside e<br />
process inteligence, analítica avançada e<br />
em IA. Tínhamos como meta estruturar a<br />
oferta que já existia, através de fornecedores<br />
externos, e tentar perceber de que forma<br />
é que poderíamos utilizar o know-how<br />
interno para a transformação. O ponto principal<br />
foi começar a medir desde o 1º dia, determinando<br />
o impacto efetivo que a analítica,<br />
dados e IA estão a ter no negócio”<br />
“Na IA, temos estado mais focados nos temas<br />
cognitivos. Pegamos em todas as tarefas<br />
que são humanas, e que são pesadas<br />
e manuais, e tentamos utilizar computer<br />
vision e linguagem natural para extrair informação<br />
e automatizar processos. Reduz<br />
o tempo de resposta e tem impacto em<br />
poupança de custos. A solução encontrada<br />
foi um mix entre AI e inteligência humana.<br />
Acreditamos em processos com IA<br />
sempre com o human in loop, para validar<br />
e controlar”<br />
“Numa componente mais estratégica, o<br />
nosso foco é utilizar tecnologias como a<br />
IA para melhorar duas componentes principais:<br />
tudo o que é relação com o cliente,<br />
seja direta ou indireta; e olhar para dentro,<br />
identificando na organização quais as personas<br />
que requerem suporte deste tipo de<br />
soluções. Como os gestores de empresas,<br />
que podem reduzir a componente burocrática<br />
para se focarem no cliente”<br />
João Martins de Carvalho<br />
Membro da Comissão Executiva,<br />
E-Redes<br />
“O setor energético está no centro da transição<br />
energética, com a descarbonização<br />
das fontes de produção e a sua descentralização.<br />
É uma alteração muito substancial<br />
na forma como as redes de distribuição são<br />
geridas, porque aumenta muito o número<br />
de intervenientes, a incerteza e a dificuldade<br />
na tomada de decisão e cria pressão na<br />
rede, que faz com que tenha de ser gerida<br />
de forma mais fina e próxima. Este contexto<br />
de alteração de paradigma implicou que as<br />
empresas se preparassem com muita digitalização,<br />
sensorização e contadores inteligentes.<br />
No fundo, para começar a ter mais<br />
informação sobre o que estava a acontecer<br />
e poder tomar decisões”<br />
“De facto, a IA chega num momento fantástico,<br />
porque pode dar um contributo muito<br />
grande para construir em cima dos dados<br />
e da digitalização da rede e ajudar as empresas<br />
de distribuição a cumprir de forma<br />
mais eficaz e efetiva a sua missão. E já está<br />
a resultar a vários níveis, continuando seguramente<br />
a dar esse contributo. Os impactos<br />
são múltiplos”<br />
“É muito dificil trabalhar IA e analítica avançada<br />
se não existir uma base de digitalização<br />
e de informação. No setor, há esta base<br />
de forma muito relevante que pode agora<br />
ser potenciada pela IA”
Miguel Leocádio<br />
Membro da Comissão Executiva<br />
da Glintt, Responsável pela Glintt Next<br />
“Estamos num momento muito especial, do<br />
ponto de vista não só das grandes organizações,<br />
mas também das empresas como a<br />
Glintt Next, com o advento da IA e, mais em<br />
concreto, da IA generativa. Há um novo capítulo<br />
que se abre na transformação digital,<br />
com muito mais potencial. Porque atua do<br />
lado da eficiência das empresas, das suas<br />
tarefas internas, processos e sistemas, e do<br />
lado da melhoria dos produtos e serviços ao<br />
cliente final”<br />
Rui Lopes<br />
CEO, AgentifAI<br />
“Como empresa especializada em sistemas<br />
conversacionais, na banca e saúde, temos<br />
lançado com os clientes de referência<br />
várias soluções assentes em IA. Que mostram<br />
que o país tem capacidade para trazer<br />
para o mercado inovação com impacto.<br />
Cerca de 4 milhões de clientes já falaram<br />
com os nossos sistemas, entre as assistentes<br />
da CGD e da Lusíadas Saúde. O que traz<br />
um impacto brutal do ponto de vista do<br />
utilizador, porque garante acessibilidade e<br />
inclusão”<br />
“Para uma empresa de tecnologia que trabalha<br />
em consultoria tecnológica, este é o<br />
momento do antes e do depois. Porque não<br />
é apenas criar uma oferta ou área, mas de<br />
saber como é que a IA pode estar em tudo o<br />
que fazemos. E isto é complexo, porque vem<br />
pôr em causa muitos dos nossos serviços e<br />
práticas. Talvez, dentro de alguns anos, estas<br />
empresas tenham um padrão de serviços<br />
muito diferente do que têm hoje. E isto<br />
já não acontece há muitos anos”<br />
“Hoje, todas as empresas estão a querer<br />
olhar, de uma forma proativa, para a forma<br />
como é que podem beneficiar destas novas<br />
tecnologias. Sentimos isso na nossa atividade.<br />
Estamos a ser convidados para, em<br />
proximidade com os clientes, testar, experimentar<br />
e validar soluções. Mas ainda nos<br />
encontramos numa fase muito inicial. Vamos<br />
ter mais para a frente o desafio de saber<br />
como é que podemos industrializar ou<br />
tornar mais mainstream toda esta experimentação,<br />
para chegar ao top line das empresas.<br />
Há vontade, mas é ainda um passo<br />
de cada vez”<br />
“Os sistemas são muitos exigentes e a resposta<br />
tem se ser muito rápida, sem latência.<br />
Têm ainda de ser compliance e seguros.<br />
Trabalhando com áreas altamente reguladas,<br />
claro que é essa a nossa prioridade.<br />
Tentando maximizar a user experience.<br />
Mas, se pensarmos de uma forma mais geral,<br />
em termos de sistemas conversacionais<br />
com base em IA, vai haver uma transição”<br />
“Quando há uma grande disrupção tecnológica,<br />
e neste caso está a haver, mesmo<br />
em termos de interação e na forma como<br />
nos relacionamos com a tecnologia, há<br />
sempre uma primeira fase em que se tenta<br />
aplicar a tecnologia ao que já se faz no momento.<br />
Tentamos automatizar processos<br />
que já existem. Mas depois há uma segunda<br />
fase, em que se começam a fazer coisas<br />
que antes não eram possível, começando a<br />
trazer um novo valor para a sociedade que<br />
vai fazer a diferença”
72 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
REGULATION OF AI<br />
APPLICATIONS<br />
Maria Manuel<br />
Leitão Marques<br />
Membro do Parlamento Europeu<br />
“Nenhum de nós está disponível para correr<br />
riscos e é para nos proteger que apareceu o<br />
IA Act. O que não quer dizer que não estejamos<br />
disponíveis para partilhar os nossos<br />
dados, em determinados projetos. O regulamento<br />
da IA, e vamos ver se resulta, tenta<br />
estabelecer um equilíbrio entre aproveitar<br />
as oportunidades, potenciando a inovação,<br />
e prevenir riscos em certos tipos de uso da<br />
IA. Queremos inovação em que possamos<br />
confiar”<br />
“Portugal tem de investir no seu ecossistema<br />
de IA e na inovação. Aliás, terá de criar<br />
um ambiente de teste no âmbito do IA Act<br />
e de investir muito. E o investimento será<br />
grande na literacia digital e na literacia em<br />
IA. Temos de saber com o que lidamos”<br />
“No mundo democrático, apesar de tudo há<br />
algumas convergências. Estamos unidos<br />
em alguns princípios, mas com instrumentos<br />
distintos. Começámos o mundo digital<br />
pensando que era de liberdade absoluta.<br />
Hoje sabemos que não é. Precisamos de<br />
regras. É preciso que também tudo isto se<br />
faça através da ONU ou de outros órgãos<br />
internacionais, como aconteceu com os dados.<br />
Era bom que o ‘efeito Bruxelas’ viesse<br />
também a acontecer na IA”<br />
Clara Martins Pereira<br />
Professora Assistente, Durahn Law<br />
School<br />
“Os legisladores de todo o mundo e a nível<br />
europeu vivem uma espécie de trilema.<br />
Num mundo ideal, um legislador gostaria<br />
de conseguir avançar com uma proposta<br />
regulatória capaz de promover a inovação,<br />
garantir a segurança e ser simples e clara. A<br />
questão é regular e em que medida”<br />
“Há sempre uma procura de equilíbrio entre<br />
segurança e inovação. Se a UE se vira<br />
mais para a segurança, os países anglosaxónicos<br />
olham para a inovação. No Reino<br />
Unido e nos EUA há um reconhecimento<br />
de que já existem muitas regras para a<br />
IA, com uma perspetiva muito mais setorial.<br />
E nos EUA, admito que é por uma questão<br />
de negócio que não há ainda regulamentação.<br />
Mas subsiste um gap de confiança que<br />
é preciso preencher”<br />
“Pode haver um problema de preparação<br />
legal, se surgir uma onda de crime em termos<br />
de IA, mas também um problema de<br />
capacidade de resposta. A ideia é fazer leis<br />
que sejam à prova de futuro, que avancem<br />
ao ritmo da imaginação dos criminosos e<br />
das empresas, mas há limites, porque há<br />
falta de recursos”
TALENT<br />
KNS: Filipa de Jesus<br />
Presidente, Agência Nacional<br />
para a Qualificação e Ensino<br />
Profissional (ANQEP)<br />
“A ANQEP tem três linhas de ação distintas:<br />
gestão e atualização do CNQ; formação inicial<br />
de jovens e formação de adultos e Programa<br />
Qualifica. A primeira linha de ação<br />
está agora em processo de renovação profunda,<br />
que se prevê que esteja concluído no<br />
final do ano. Permitirá adequar a oferta das<br />
qualificações às necessidades do mercado<br />
de trabalho”<br />
“Procuramos sempre garantir a qualidade<br />
e a relevância das ofertas de formação inicial<br />
de jovens, face às necessidades do mercado<br />
de trabalho e às expetativas e interesses<br />
dos jovens. Queremos ainda combater o<br />
estigma associado aos cursos profissionais,<br />
presente em alguns setores da sociedade<br />
portuguesa, mas também muito entre os<br />
pais dos alunos, que olham para estes cursos<br />
como uma opção de segunda escolha”<br />
“Nos adultos, regulamos e dinamizamos a<br />
formação, através de várias modalidades,<br />
e também do sistema de reconhecimento,<br />
validação e certificação de competências.<br />
Temos a responsabilidade da gestão da<br />
Rede Qualifica, atualmente com 313 centros.<br />
Este é um programa que tenta combater<br />
o défice estrutural de qualificações do<br />
país. Um terço das pessoas ativas necessita<br />
de melhorar as suas qualificações”<br />
Luísa Ribeiro Lopes<br />
Presidente, .PT<br />
“Sabemos que precisamos urgentemente<br />
de profissionais nas TIC, sobretudo mulheres.<br />
Os números dizem que, embora Portugal<br />
esteja acima da média europeia, só<br />
duas em cada dez pessoas que trabalham<br />
nestas áreas são mulheres. O que significa<br />
que há aqui um caminho grande a fazer.<br />
Faltam 800 mil profissionais na UE na<br />
área tecnológica. E sabemos que cerca de<br />
70% das ofertas de emprego neste momento<br />
exigem competências digitais”<br />
“Há falta de mulheres qualificadas nas<br />
áreas tecnológicas. E tem de se resolver o<br />
problema na raiz, na educação, logo no pré<br />
-escolar. Não pode haver diferenças. Tem se<br />
de educar de igual forma. E esperar que os<br />
resultados venham daqui a 20 anos”<br />
“Nunca tivemos tantas pessoas com tanta<br />
qualificação. Fizemos um percurso bem<br />
feito, e certamente em termos de políticas<br />
públicas. Existe o ensino mais formal e iniciativas<br />
que podem fazer a diferença, trabalhando<br />
com os professores e com os alunos.<br />
Há uma panóplia de trabalho a ser<br />
feito, apoiado pelas políticas públicas, para<br />
alavancar a aposta dos jovens no digital”
74 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Manuel Garcia<br />
Coordenador Nacional, UPskill - Digital<br />
Skills & Jobs, APDC<br />
“Na requalificação, temos de ser mais<br />
abrangentes. Precisamos de pessoas de<br />
uma forma transversal. Nas TIC talvez tenha<br />
começado um pouco antes, mas este<br />
tema tem de estar na agenda do país. O<br />
UPskill é específico deste setor, mas temos<br />
em Portugal um problema de competitividade<br />
e de produtividade. O que vai significar,<br />
cada vez mais, automatizar processos e<br />
libertar pessoas”<br />
“Temos duas opções para as pessoas: ou ficam<br />
em casa ou são desafiadas para se requalificarem.<br />
Esse é o nome do jogo. Se calhar,<br />
está na altura de olharmos para nós<br />
próprios e dizer que também precisamos<br />
de um serviço nacional de requalificação.<br />
Vamos precisar no futuro e cada vez mais.<br />
Quanto mais acelerarmos em tudo o que<br />
vai automatizar processos, mais pessoas<br />
haverá para requalificar. Esse é o desafio<br />
para a sociedade”<br />
“Será fundamental requalificar portugueses<br />
para o que serão as novas necessidades<br />
do mercado de trabalho. Precisamos<br />
de ‘abanar’ a sociedade. Por exemplo, no<br />
UPskill, o nível de candidatura é de cinco<br />
mil pessoas por edição e tem sido essencial<br />
o passa-palavra. Se nós lançarmos bons<br />
programas de formação, a própria sociedade<br />
se vai encarregar de os disseminar”<br />
Hugo Bernardes<br />
CEO, The Key Talent<br />
“Os clientes que querem contratar recursos<br />
pedem-nos cada vez mais agilidade, rapidez<br />
e uma experiência positiva. E começam<br />
a olhar para tecnologias como a IA, que podem<br />
promover uma maior humanização<br />
do processo em si. Cada vez mais, os recrutadores<br />
não têm capacidade de resposta,<br />
até em função das necessidades do mercado.<br />
O que pode ser simplificado e agilizado<br />
com uma maior utilização de tecnologia”<br />
“Em termos de preparação de recursos humanos,<br />
as empresas ainda não estão a tomar<br />
as precauções devidas. O processo de<br />
automação vai obrigar as pessoas a serem<br />
requalificadas para outro tipo de funções.<br />
Estamos neste momento numa mudança<br />
de paradigma, com a IA e as organizações<br />
terão de antecipar esta questão, o que passa<br />
por requalificar. Mas, do ponto de vista<br />
das competências digitais, isto é ainda uma<br />
caixa negra para muita gente”<br />
“Os estudos mostram que será nos postos<br />
intermédios das organizações que haverá<br />
mais redundância com a IA. O que é preciso<br />
é qualificar, para que as pessoas tenham<br />
tarefas de maior valor acrescentado.<br />
Será um processo tendencialmente moroso,<br />
mas num horizonte de dez anos vamos<br />
sentir, mesmo em Portugal, grandes alterações<br />
nos postos de trabalho”
15 MAIO<br />
2nd <strong>DA</strong>Y WELCOME<br />
Rodrigo Castro<br />
Founder & CEO, Educa-te<br />
“Não podemos tentar resumir o problema<br />
da Educação, que é múltiplo e multifacetado,<br />
a uma causa. Mas temos de começar<br />
por algum lado. Estar a investir na resolução<br />
de um problema equivalente a um bolso<br />
sem fundo não faria sentido. Mas há inúmeros<br />
projetos, formais ou não formais, que<br />
ajudam os alunos a aprender”<br />
“Parece que nos últimos 50 anos, todos se<br />
esqueceram de falar da figura na Educação<br />
que é a mais importante: os professores. No<br />
‘Professores do Futuro’, iniciativa que lançámos<br />
no final do ano passado, temos estado<br />
a adotar uma metodologia de aprendizagem<br />
diferente e inovadora: a experiencial,<br />
por desafios. Sendo 100% digital e com protocolos<br />
de acompanhamento pensados. O<br />
que faz ou desfaz um programa educativo<br />
não tem tanto a ver com os conteúdos, mas<br />
muito mais a ver com a experiência”<br />
João Rui Ferreira<br />
Secretário de Estado da Economia<br />
“Apesar das incertezas no contexto global,<br />
a digitalização da economia não voltará<br />
atrás. É importante refletir sobre o seu impacto<br />
e potencial, e na forma como pode<br />
melhorar a vida das pessoas. Temos a visão<br />
clara de estimular o crescimento e de<br />
inovar, de ser motor do desenvolvimento<br />
socioeconómico”<br />
“Portugal vive num contexto global de concorrência<br />
e de competitividade. Pelo que<br />
é importante provocar choques de crescimento,<br />
apostar na inovação tecnológica de<br />
bens e serviços, na qualidade e talento, em<br />
ações que possam promover a qualidade<br />
do que exportamos e que possam atrair investimento<br />
externo”<br />
“Tem de se investir nos professores e transformar<br />
a forma como olham para a própria<br />
prática. Porque um professor tem a possibilidade<br />
de fazer ou desfazer a vida de uma<br />
criança. As empresas também têm responsabilidades<br />
aqui, nomeadamente na forma<br />
como promovem a aprendizagem ao longo<br />
da vida. E as universidades têm um grande<br />
desafio, por estarem a ser ultrapassadas<br />
pelo YouTube. É preciso aprender uma experiência<br />
pedagógica diferente. E estamos<br />
a começar o processo do ensino da IA para<br />
a educação”<br />
“Pretendemos agilizar a execução de fundos<br />
europeus, para requalificar a nossa<br />
economia. Para além do reforço das equipas,<br />
haverá uma aposta estruturada na IA<br />
enquanto ferramenta de suporte à inovação<br />
e crescimento. Portugal tem já na sua<br />
rede científica e tecnológica muito conhecimento<br />
para apoiar o governo neste desafio.<br />
Vamos melhorar e simplificar a ligação das<br />
empresas com o Estado e os serviços da AP,<br />
apostar no empreendedorismo, identificar<br />
e limitar os ‘gargalos’, para que possamos<br />
promover desenvolvimento e crescimento<br />
no ecossistema nacional.”
76 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
40 YEARS OF APDC:<br />
A CRUCIAL<br />
STAKEHOLDER FOR<br />
A <strong>DIGITAL</strong> PORTUGAL<br />
Gonçalo Sequeira Braga<br />
Fundador da APDC, em 1984,<br />
e Presidente até Nov85<br />
“Temos, na vida da associação, três ciclos:<br />
o do nascimento, em que a APDC foi predominantemente<br />
uma associação de pessoas;<br />
um segundo, de uma associação de<br />
pessoas com empresas, prestadores de serviços<br />
e fabricantes; e esta terceira, em que<br />
vivemos hoje, em que somos uma associação<br />
de empresas com o apoio das pessoas”<br />
“Tivemos presidentes da APDC de nível<br />
mundial, a trabalhar pro bono, o que foi<br />
fundamental. Permitiu que a associação<br />
crescesse. Definimos um conjunto de princípios<br />
e valores para a atividade e isso foi respeitado<br />
ao longo dos anos pelas sucessivas<br />
direções. Tivemos um formato muito positivo<br />
da associação, que se impôs desde logo,<br />
desempenhando um papel fundamental:<br />
éramos um agente da mudança”<br />
“A APDC é um parceiro do Estado para a<br />
transformação digital da sociedade portuguesa,<br />
porque tem o apoio das empresas.<br />
Somos um invulgar caso a nível europeu,<br />
como associação. Pela influência, capacidade<br />
e realizações que a APDC fez”<br />
José Graça Bau<br />
Ex-Presidente APDC (fev95-fev97)<br />
“Nascemos numa época em que não se<br />
falava ao telefone, não se conseguia falar<br />
de Lisboa para o Porto. O país estava num<br />
caos, não havia telecomunicações. Os profissionais<br />
trabalhavam com telex”<br />
“Pensámos, na altura: entrámos numa boa<br />
altura, pois qualquer coisa que façamos,<br />
vamos ser heróis. Na década de 80, começámos<br />
a pôr fibra ótica, que ligou a Marinha<br />
Grande a Leiria, para a indústria dos<br />
moldes. Estava tudo a acontecer”<br />
“A APDC foi o despertador. As empresas tentavam<br />
todas avançar, porque estávamos<br />
muito atrasados e era preciso mostrar que<br />
havia futuro. A década de 80 foi a década<br />
em que tudo nasceu, em que projetámos os<br />
anos 90, com um plano de desenvolvimento<br />
para o setor, quando surgiram os primeiros<br />
telemóveis e a concorrência”
APDC’S PRIORITIES<br />
FOR PORTUGAL<br />
Pedro Norton<br />
Ex-Presidente da APDC (mar11-jan13)<br />
“A morte do Diogo Vasconcelos, que me<br />
precedeu, marcou o mandato. Acredito que<br />
nas instituições devemos beber do conhecimento<br />
acumulado e que não devemos inventar<br />
a roda. Foi isso que fizemos, sendo<br />
que a direção que presidi, a partir de março<br />
de 2011, teve um período dificil, com o pedido<br />
de resgate nacional, que gerou uma<br />
rutura económica, social e política. O país<br />
estava virado de pernas para o ar. E colocou-se<br />
o desafio de saber como a APDC se<br />
poderia posicionar”<br />
“Tornou-se rapidamente muito claro que,<br />
naqueles anos desafiantes, era preciso que<br />
a APDC dissesse ‘estamos presentes para<br />
ajudar o país’. Por isso, organizámos um<br />
congresso nesse sentido, com a produção<br />
de um estudo que tentava identificar um<br />
conjunto de medidas de racionalização da<br />
AP. Foi produzido pelo setor e entregue ao<br />
governo, numa tentativa de fazer uma call<br />
to action. O esforço foi reconhecido e uma<br />
oportunidade para posicionar a APDC e o<br />
setor, que está presente nas horas boas de<br />
desenvolvimento do país, mas também nas<br />
horas difíceis”<br />
Rogério Carapuça<br />
Presidente da APDC, desde jan13<br />
“Queremos fazer de Portugal um líder da<br />
economia e sociedade digitais da UE. Saltar<br />
para um lugar cimeiro. Sendo o 6º país<br />
mais atrativo para investimentos na Europa,<br />
Portugal tem grande potencial. Por isso,<br />
propomos implementar medidas concretas<br />
organizadas em seis pilares: incentivar o<br />
crescimento económico sustentável; investir<br />
no talento; promover adoção da tecnologia;<br />
otimizar o funcionamento do mercado;<br />
simplificar o Estado; e promover a cibersegurança<br />
e inclusão tecnológica social”<br />
“É preciso convocar todos os atores. Com<br />
um plano estratégico bem definido. Temos<br />
de ter maior número de grandes empresas,<br />
precisamos de mudar mentalidades e de<br />
incentivar as empresas a serem maiores. O<br />
problema é que temos os incentivos errados<br />
para ganhar esta escala. Se ser grande<br />
dá direito a ter mais impostos, mais vale ter<br />
um conjunto de empresas pequeninas. Não<br />
podemos ser penalizados quando a dimensão<br />
aumenta”<br />
“Não fui um presidente provável para a<br />
APDC. Era um homem dos media. Vinha<br />
com uma visão um bocadinho de outsider,<br />
para um setor e uma associação que tinha<br />
de ser vista como mobilizadora da economia,<br />
porque era fundamental para o desenvolvimento<br />
de todos os demais setores.<br />
Os mundos das comunicações e dos media,<br />
que não se conheciam bem, estavam condenados<br />
a entender-se. Tentei fazer essa<br />
aproximação e foi no meu mandato que os<br />
media passaram a participar no congresso”<br />
“Todos nós temos de dar o passo a seguir. A<br />
APDC fará o seu papel de ‘agitar as águas’.<br />
Somos uma associação de ecossistema, temos<br />
todo o tipo de empresas da área digital<br />
e o networking é o nosso nome do meio.<br />
Falamos e trazemos propostas que colocamos<br />
em cima da mesa dos governantes. E<br />
estamos disponíveis para falar com todos e<br />
contribuir”
78 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
CLIENTS IN-MOTION:<br />
LEVERAGING TECH TO<br />
IMPROVE EXPERIENCE,<br />
LOYALTY AND REVENUE<br />
IN THE TELCO INDUSTRY<br />
Raquel Henriques Santos<br />
Diretora de TMT, NTT Data<br />
“Na indústria das telcos, relação e emoção<br />
são a receita para o costumer engagement,<br />
criando relações de longo-prazo. O que<br />
passa por pensar sempre numa experiência<br />
que supera o que o cliente está à espera<br />
e trazer emoção, ultrapassando a simples<br />
entrega de um produto. O tema da mutualidade<br />
é também essencial, porque a empresa<br />
tem de sentir que também está a receber<br />
do cliente”<br />
“Mas como conseguir fazer esta interação<br />
com os clientes sem os maçar muito, evitando<br />
que desistam? A solução é encontrar<br />
um equilíbrio na interação, evitando que<br />
não seja prejudicial. Não há aqui receitas<br />
certas, mas perceções. Como incrementar<br />
a relação digital e implementar programas<br />
de digital engagement, com técnicas de<br />
gamificação. Ou demonstrar níveis de lealdade<br />
muito grandes com os clientes, criando<br />
a ideia de parceria”<br />
“As melhores experiências que cada cliente<br />
tem já não são exatamente de telecomunicações<br />
e os programas de engagement<br />
têm, eles próprios, que se reinventar. A personalização<br />
é muito importante, o que coloca<br />
novos desafios. Há já várias experiências<br />
com sucesso, nomeadamente as que dão<br />
mais poder ao cliente”<br />
A NEW FRONTIER<br />
FOR COMMUNITY-BASED<br />
<strong>DIGITAL</strong> KNOWLEDGE<br />
Yasmina Laraudogoitia<br />
Diretora de Políticas Públicas<br />
e de Assuntos Governamentais, TikTok<br />
Espanha e Portugal<br />
“Temos 3,3 milhões de utilizadores em Portugal.<br />
A segurança é a nossa prioridade e<br />
endereçamos o tema com 40 mil profissionais<br />
de segurança, em mais de 70 línguas<br />
e com a definição de guidelines para as<br />
comunidades”<br />
“Temos tecnologia automática e de machine<br />
learning para remover conteúdos que<br />
possam violar os nossos guidances. Investimos<br />
ainda em moderadores de conteúdos<br />
para as nuances dos conteúdos que<br />
as máquinas não detetam. Esta combinação<br />
é importante para garantir os melhores<br />
resultados. Foram criados ainda guidelines<br />
específicos para jovens, introduzindo-se<br />
mecanismos de reforço privacidade e segurança<br />
by default e recursos, como plataformas,<br />
programas e campanhas sobre<br />
como podem preservar a sua segurança no<br />
TikTok”<br />
“Estamos ainda a avançar com passos para<br />
respeitar a soberania dos dados na Europa,<br />
com o projeto Clover. Já construímos<br />
três data centers na Europa, foram implementados<br />
controlos de dados e restrições<br />
e temos parceiros independentes para auditorias<br />
de controlo, que asseguram o cumprimento<br />
das regras. Moderação de conteúdos,<br />
transparência e personalização são<br />
também apostas”
PORTUGAL AS THE NEXT<br />
SILICON VALLEY<br />
OF EUROPE<br />
NAVIGATING<br />
NIS2: ENSURING<br />
CYBERSECURITY<br />
COMPLIANCE IN<br />
THE <strong>DIGITAL</strong> ERA:<br />
Rodrigo Cordeiro<br />
Country Head, Capgemini Engineering<br />
“Portugal é um país atrativo, pelo tema da<br />
cultura, localização, custo de vida e infraestruturas<br />
de elevada qualidade. Está em 6º<br />
lugar na captação de talento e tem mais<br />
de 13% de startups que a média europeia. Já<br />
criou sete unicórnios até 2023. E Lisboa foi<br />
considerada no ano passado a capital europeia<br />
da inovação. É caso para dizer que<br />
já temos todos os ingredientes para que o<br />
nosso país seja o próximo ‘Silicon Valley da<br />
Europa’”<br />
Inês Antas de Barros<br />
Sócia da Área de Comunicações,<br />
Proteção de Dados & Tecnologia, VdA<br />
“Há um conjunto de legislação adicional à<br />
diretiva NIS2, que visa criar um quadro legal<br />
capaz de responder aos desafios atuais<br />
em matéria de cibersegurança. A nova diretiva<br />
tem de ser transposta para o ordenamento<br />
jurídico nacional até outubro, pelo<br />
que estamos mesmo na reta final da sua<br />
implementação”<br />
“Mas o país tem um investimento em I&D<br />
que representa apenas 1,7% do PIB, bem<br />
abaixo da média europeia, de 2,4%, e do objetivo<br />
de 3%, em 2030. Por si só, estes números<br />
devem fazer pensar sobre o que precisamos<br />
de fazer para fechar este gap. E não<br />
podemos evoluir apenas pelas startups,<br />
pois elas representam apenas 1% do PIB.<br />
Mesmo o tecido empresarial é composto<br />
por 99,9% de PME”<br />
“Há um aumento do leque das entidades<br />
e setores que passam a ser cobertas pelas<br />
novas regras, de forma automática. Exige<br />
às organizações uma abordagem proativa<br />
ao risco, dentro de casa e nos fornecedores,<br />
e não meramente reativa. Trazendo obrigações<br />
muito exigentes. Com uma lógica de<br />
responsabilidade da administração pelo<br />
quadro de gestão de risco”<br />
“A verdade é que as grandes empresas são<br />
uma variável-chave nesta equação. Precisávamos<br />
que tivessem capacidade para<br />
atrair centros de I&D para Portugal. Mas,<br />
acima de tudo, é altura de nos reinventarmos,<br />
de termos a coragem de fazer este trabalho<br />
em conjunto. Não ter medo de partilhar<br />
ideias, risco e esforços. É a única forma<br />
de ajudar a trazer investimento, que promoverá<br />
a inovação”<br />
“Os poderes das autoridades de supervisão<br />
são reforçados. E um muito substancial aumento<br />
das coimas a aplicar, até aos 10 milhões<br />
de euros ou 2% do volume global de<br />
negócios. Como conseguimos fazer face a<br />
toda esta teia regulatória? Antecipar o que<br />
são os novos requisitos e estar a par de todos<br />
os desenvolvimentos, capacitação das<br />
equipas e das pessoas e garantir a implementação<br />
nos prazos que estão previstos”
80 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Jéssica Domingues<br />
Diretora da Unidade<br />
de Cibersegurança, SPMS<br />
“As leis vêm ajudar aos requisitos de segurança<br />
e às medidas proativas. A perspetiva<br />
de incluir as cadeias de abastecimento vemos<br />
como uma grande mais-valia. Porque<br />
muitas vezes as ameaças vêm de fora. Há<br />
a necessidade de outro tipo de medidas de<br />
prevenção”<br />
“A NIS2 vai auxiliar as entidades a capacitarem-se,<br />
porque têm de cumprir os requisitos<br />
previstos e estão sujeitas a sanções. A diretiva<br />
vem especificar mais o que é esperado<br />
das organizações, com os tópicos que têm<br />
obrigatoriamente de ser cumpridos. A própria<br />
notificação de incidentes é crítica”<br />
“A consciencialização das pessoas para os<br />
riscos de cibersegurança é algo que tem de<br />
ser treinado todos os dias. É o próprio utilizador,<br />
no seu dia a dia, que muitas vezes<br />
coloca em risco as organizações. Os incidentes<br />
vão sempre acontecer, temos de<br />
reduzir é o seu impacto. O que passa pela<br />
capacitação na resposta, com monitorização<br />
e deteção de anomalias e de vulnerabilidades<br />
que possam existir, para se atuar<br />
rapidamente”<br />
FROM 5G DEPLOYMENT<br />
TO TRANSFORMATION:<br />
A TANGIBLE JOURNEY<br />
FOR PORTUGAL<br />
Juan Olivera<br />
CEO, Ericsson Portugal<br />
“Onde estamos quando falamos de 5G,<br />
um tema estratégico para a UE? Estamos<br />
a perder ritmo de implementação. No 3G,<br />
a Europa foi a 3ª economia. No 4G, foi a 5ª.<br />
No 5G, é a 7ª, superada por países com menor<br />
tradição tecnológica, como a Austrália,<br />
apesar das ambições anunciadas”<br />
“O 4G foi a geração que digitalizou toda a<br />
sociedade, através dos smartphones e das<br />
redes móveis. Criou-se uma economia baseada<br />
nas startups que em poucos anos<br />
multiplicaram por oito o valor da conetividade.<br />
Mas os valores da Europa estão muito<br />
abaixo dos EUA, porque há diferentes ritmos,<br />
pela estrutura distinta dos vários Estadosmembros.<br />
Com o 5G, o poder transformacional<br />
é infinitamente maior”<br />
“Porque falamos tanto disto e nada muda<br />
na UE? Porque os operadores não têm escala.<br />
Na Europa, temos 45 operadores com<br />
mais de 500 mil subscritores. Nos EUA temos<br />
oito, no Japão quatro e na Coreia do<br />
Sul, três. A escala é crítica no negócio de<br />
infraestruturas, para ter capacidade de investimento.<br />
A Europa perde todas as economias<br />
de escala. Acreditamos que a regulação<br />
deve ser alterada. Não podemos viver<br />
com uma regulação concebida há 30 anos<br />
para quebrar os monopólios. Os operadores<br />
precisam de escala para poder competir,<br />
inovar e ser relevantes”
HARNESS THE<br />
EXPONENTIAL POTENTIAL<br />
OF NETWORKS –<br />
THE OPPORTUNITY FOR<br />
PORTUGAL<br />
da inovação e do desenvolvimento, porque<br />
vão usar muito mais dimensões, para além<br />
da conetividade, para a criação de valor.<br />
Temos um momento único para resgatar<br />
valor para o setor”<br />
THE STATE OF THE<br />
NATION OF MEDIA<br />
Sérgio Catalão<br />
CEO, Nokia Portugal<br />
“Há um paradoxo na nossa indústria, no<br />
Mundo e em Portugal. Nos últimos anos,<br />
tem-se vindo a investir nas redes, fixas e<br />
móveis, para as capacitar para um crescimento<br />
de tráfego que tem sido exponencial.<br />
No caso nacional, cerca de seis a sete<br />
vezes, enquanto as receitas aumentaram<br />
1% ao ano. Isto é o reflexo de uma indústria<br />
que se tem desenvolvido à volta do consumo<br />
de um único bem, a conetividade, difícil<br />
de monetizar e cujo valor tem saído para<br />
outras indústrias”<br />
KNS: Carla Martins<br />
Vogal, Entidade Reguladora para<br />
a Comunicação Social (ERC)<br />
“Os media enfrentam grandes dificuldades<br />
e desafios. O quadro é bastante complexo.<br />
A evolução tecnológica é acelerada e constante<br />
e tem impactos profundos na cadeia<br />
de valor e nos processos de produção e de<br />
consumo. E a IA traz outra camada de complexidade.<br />
Além disso, as entidades estão a<br />
adaptar-se ao paradigma digital em diferentes<br />
velocidades”<br />
“O 5G é uma oportunidade única de transformação<br />
e para a indústria capturar novas<br />
oportunidades e criar valor. Portugal tem a<br />
ambição de crescer acima da UE e a digitalização<br />
e automação de processos são fundamentais<br />
para que isso aconteça. O 5G é<br />
um enabler tecnológico para isso e não há<br />
muitas receitas senão produzir mais, através<br />
da utilização da tecnologia”<br />
“Quando olhamos para o futuro do setor,<br />
vemos que o tráfego vai continuar a<br />
crescer exponencialmente, entre quatro a<br />
nove vezes até 2030, e o negócio da conetividade<br />
manter-se-á com o mesmo perfil,<br />
flat. Mas vamos ter um mercado de aplicações<br />
que vão usar a rede a crescer de<br />
30% a 40%. Com o 5G, passamos a ter redes<br />
programáveis, que vão estar no centro<br />
“O jornalismo vive um dos momentos mais<br />
críticos da sua história. Os media defrontam-se<br />
com um problema estrutural de financiamento<br />
e a concorrência das plataformas<br />
online. O quadro é de incerteza e<br />
altamente competitivo. Pelo que a abordagem<br />
regulatória tem de assentar no diálogo<br />
construtivo e permanente com os diferentes<br />
intervenientes. Não é possível ter<br />
uma regulação positiva e relevante de costas<br />
voltadas para o setor”<br />
“Também a ERC enfrenta desafios na regulação<br />
sobre os media digitais e as plataformas<br />
online, onde cada vez mais os públicos<br />
acedem a conteúdos mediáticos e estão<br />
mais expostos aos riscos e desinformação. É<br />
prioritária a revisão dos instrumentos legais
82 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
de que dispomos para atuar. Teremos ainda<br />
de estar preparados para aplicar os instrumentos<br />
legislativos europeus, como o European<br />
Media Feedman Act. Há que garantir<br />
um regulador de comunicação social independente<br />
e com capacidade em termos de<br />
recursos financeiros, humanos e técnicos”<br />
Francisco Pedro Balsemão<br />
CEO, Impresa<br />
“O mercado publicitário cresceu no 1º trimestre<br />
de 2024, mas queremos sempre<br />
mais e há muitos desafios neste setor, marcado<br />
pela disputa pela atenção. Há uma<br />
fragmentação crescente dos públicos, pela<br />
proliferação de dispositivos e plataformas.<br />
Cabe-nos a nós, grupos de media, encontrar<br />
o nosso espaço, reforçar a nossa relevância<br />
nas plataformas tradicionais e apostar<br />
nas novas”<br />
“Desde 2016 que temos sido coerentes. Devia<br />
haver eliminação ou redução substancial<br />
do tempo de publicidade reservado à<br />
RTP, para uma concorrência mais leal, à semelhança<br />
do que se faz noutros países. A<br />
RTP também faz publicidade no digital, o<br />
que nos penaliza a nós, privados”<br />
“A quebra de publicidade é uma realidade<br />
e os novos pacotes de publicidade dos serviços<br />
de streaming estão em cima da mesa.<br />
Temos de ver estas coisas novas como oportunidade<br />
de ser complementares em todas<br />
as plataformas, para chegarmos a novos<br />
conteúdos. Passar o ambiente de canal generalista,<br />
de qualidade, para uma experiência<br />
digital atrativa para os consumidores.<br />
Os media são um bom negócio. Há muitas<br />
novidades a caminho. Estamos a diversificar<br />
e a procurar oportunidades”<br />
Luís Santana<br />
CEO, Medialivre<br />
“Há outros motivos de atração, como as<br />
plataformas de streaming, mas achamos<br />
que existe espaço para um público mais seletivo.<br />
Vamos avançar com um novo canal<br />
de informação, que vai ocupar um espaço<br />
diferenciador. Não acho que seja a sua entrada<br />
que vá causar distúrbio. Se algo está<br />
a distorcer o mercado é a publicidade digital<br />
e as plataformas digitais, que estão a comer<br />
um valor desproporcionado”<br />
“Fazemos o negócio dos media à imagem<br />
da realidade do mercado que temos. É muito<br />
difícil competir com as grandes plataformas<br />
europeias. Tem de haver uma regulação<br />
europeia que ajude a uma distribuição<br />
mais justa, onde os players nacionais estejam<br />
mais defendidos. De contrário, não temos<br />
hipótese”<br />
“Com a AI vai ser difícil evitar uma ameaça<br />
àquilo que é o jornalismo com qualidade.<br />
Estamos num processo de intoxicação do<br />
que é a real informação”
Nicolau Santos<br />
Presidente, RTP<br />
“O contrato de financiamento da RTP terá<br />
que ser negociado com o novo governo e<br />
tudo está em aberto. Mas recuso a ideia de<br />
que o posicionamento da RTP no mercado<br />
publicitário possa colocar em risco os outros<br />
operadores. Temos de reconhecer que existe<br />
uma grave crise do setor dos media em<br />
Portugal. De sustentabilidade e de ameaças<br />
várias, que podem afetar ainda mais<br />
essa sustentabilidade. O Estado português<br />
tem de apoiar este setor, se for considerado<br />
essencial”<br />
“Nenhum de nós, individualmente, tem capacidade<br />
de negociar um acordo favorável<br />
com as grandes plataformas. Tivemos o<br />
‘Rabo de Peixe’ na Netflix e não nos caíram<br />
milhões daí. A capacidade de os operadores<br />
nacionais se poderem juntar para desenvolver<br />
determinadas áreas de atividade<br />
seria importante e possível. Mas cada um<br />
seguirá o seu caminho”<br />
Pedro Morais Leitão<br />
CEO, Media Capital<br />
“O negócio da publicidade é secundário<br />
para os novos projetos. Quem decide são os<br />
operadores, que partilham entre si o mercado<br />
de tv paga. Media Capital e Impresa<br />
fizeram um percurso do papel para o digital<br />
e é de louvar. A entrada nos canais de tv<br />
paga é sempre uma decisão difícil, porque<br />
se está a criar um problema, de provocar a<br />
canibalização do seu canal generalista, que<br />
é a sua fonte de receitas”<br />
“Quando discutimos as receitas de publicidade<br />
e de financiamento publico, estamos<br />
a discutir como se pagam os custos operacionais.<br />
Mas o nosso desafio para o futuro<br />
é como se pagam as plataformas digitais.<br />
Termos uma plataforma própria é o caminho<br />
ideal. Mas é dificil. É um mercado populado<br />
por muitos gigantes e com a sua dinâmica<br />
própria. A solução que encontrámos<br />
foi produzir conteúdos para plataformas<br />
como a Amazon Prime Vídeo”<br />
“É importantíssimo para o setor que a ERC<br />
atue em conjunto com os grupos privados<br />
e público no sentido de expurgar projetos<br />
que não parecem ser exatamente de jornalismo,<br />
mas sim para atingir determinados<br />
objetivos. Este novo CA tem outro posicionamento<br />
e muita capacidade de olhar de<br />
maneira diferente”<br />
“Hoje é muito dificil manter-nos competitivos<br />
neste novo mundo que aí vem, sobretudo<br />
à escala portuguesa. É nesse referencial<br />
que temos de pensar. O que sinto é que ainda<br />
não há condições para o fazer, mesmo<br />
por parte do regulador. Se não experimentarmos<br />
e em parceria, dificilmente vamos<br />
assegurar a sustentabilidade económica. É<br />
preciso abandonar os modelos do passado<br />
e preparar os do futuro”
84 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
<strong>DIGITAL</strong><br />
TRANSFORMATION<br />
& ENERGY TRANSITION<br />
IN THE 5G ERA<br />
Tiago Marques<br />
Diretor do Digital, EDP Generation<br />
“Conseguimos dar vários saltos tecnológicos.<br />
Acreditamos que o 5G, neste tipo de<br />
ativos em particular, nos permite acelerar<br />
e muito, a transformação digital ao serviço<br />
da transição energética. A estratégia de digitalização<br />
da EDP é vista como uma face<br />
da transição energética. A primeira acelera<br />
a segunda que, por sua vez, alimenta a<br />
primeira”<br />
“Na estratégia de digitalização, olhamos<br />
para o 5G como oportunidade de conferir<br />
conetividade permanente e resiliente a todos<br />
os ativos. O que permite desbloquear<br />
uma série de casos de uso de transformação<br />
digital mais avançada. Estamos a começar<br />
a testar, como na barragem de Castelo<br />
de Bode, onde criámos um laboratório<br />
vivo, com o objetivo de levar a tecnologia<br />
para outros ativos de produção de energia”<br />
“Estamos a testar as capacidades e as promessas<br />
do 5G e desta conetividade total,<br />
contínua e muito resiliente. Acreditamos<br />
muito no potencial da tecnologia, de forma<br />
faseada. Estamos a dar um primeiro<br />
avanço na intersecção entre o 5G e o setor<br />
da energia. Até um ano, acreditamos conseguir<br />
estar a alargar para outros ativos.<br />
Estamos a procurar trazer casos de estudo<br />
mais avançados, como drones, a robótica,<br />
a analítica de imagem em tempo real com<br />
câmaras 5G avançadas”<br />
FIBERCOS & TOWERCOS’<br />
ROLE IN <strong>DIGITAL</strong><br />
TRANSFORMATION<br />
João Osório Mora<br />
Managing Director, Cellnex<br />
“2023 foi um ano de transformação e crescimento.<br />
Terminámos um ciclo de oito anos<br />
em que nos tornámos no maior operador<br />
de infraestruturas da Europa. Depois de um<br />
período de crescimento por aquisições, queremos<br />
focar-nos nas operações e no crescimento<br />
com os nossos clientes. O que passa<br />
pela construção de novas infraestruturas e<br />
rentabilização das existentes”<br />
“A partilha das infraestruturas permite<br />
uma rentabilização maior. Na rede que adquirimos<br />
à MEO e à NOS temos acordos<br />
que passam pela construção de mais infraestruturas<br />
e a manutenção das atuais.<br />
Dá aos operadores uma rede maior, mais<br />
time to market e um impacto em termos<br />
de sustentabilidade na reutilização de<br />
infraestruturas”<br />
“As redes de comunicações, em particular<br />
o 5G, foram feitas com investimento totalmente<br />
privado. As redes partilhadas ajudam<br />
a reduzir os custos. Mas não chega.<br />
Estamos expetantes com as novas regras<br />
do GIA, para impulsionar a conetividade gigabit<br />
na UE27, que vem trazer novas regras<br />
para implementar redes mais rapidamente.<br />
O regulamento terá de ser implementado<br />
até final de 2025”<br />
“A IA é um fator disruptivo. Vai mudar efetivamente<br />
a forma de trabalhar muito rapidamente.<br />
As empresas têm de se preparar
EXPERIS.PT<br />
TALENT,<br />
OPTIMIZED<br />
Build tech teams that deliver<br />
EXPERIS.<br />
PT
86 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
e sobretudo de experimentar, para conhecer<br />
as potencialidades desta tecnologia. É o<br />
que temos estado a fazer”<br />
Paolo Favaro<br />
Managing Director, Vantage Towers<br />
“Depois de um 2023 muito bom, o entusiasmo<br />
é grande. Somos uma empresa vocacionada<br />
para a entrega operacional, no<br />
sentido de criar valor para os clientes. Continuaremos<br />
com a expansão do portfólio de<br />
ativos que estamos a gerir. Nomeadamente<br />
para ajudar os operadores a cumprir as<br />
obrigações de cobertura no âmbito do contrato<br />
de concessão do 5G”<br />
“Em termos de infraestruturas, há duas vertentes:<br />
os sites existentes, onde tem de ser<br />
feito um upgrade, e os novos sites que estão<br />
a ser construídos. Estamos a falar de zonas<br />
bastante remotas. Aqui, estamos otimistas:<br />
já entregámos cerca de 140 infraestruturas<br />
ao longo dos últimos dois meses, o que não<br />
foi fácil, e ainda temos mais para entregar<br />
até ao final de 2025”<br />
“Na IA, por enquanto temos muitas ideias<br />
e estamos a desenvolver alguns pilotos.<br />
Como na área legal e na operacional. Mas<br />
para preparar a empresa, é importante ter<br />
uma boa estratégia em termos de IT. Por<br />
isso, estamos a trabalhar no grupo para<br />
criar um centro de competências em desenvolvimento<br />
de IT. Que irá também tratar<br />
do desenvolvimento das ferramentas de IA,<br />
para que todas as subsidiárias possam tirar<br />
proveito das vantagens”<br />
Pedro Rocha<br />
CEO, FastFiber<br />
“Ser um operador de fibra de referência<br />
para todos os operadores, com uma rede<br />
aberta e neutra, é o objetivo do projeto. Entre<br />
2023 e 2024 aumentámos o leque de<br />
serviços disponibilizados e continuaremos<br />
a crescer. Queremos ser uma infraestrutura<br />
de fibra a nível nacional”<br />
“As obrigações que o 5G vai ter em termos<br />
de cobertura até final de 2025 são para zonas<br />
mais remotas, rurais e dispersas, em<br />
que a ligação a todos os clientes vai ser<br />
mais dispendiosa. É um desafio, sobretudo<br />
em termos de rentabilidade, porque existe<br />
pouca população”<br />
“Deve ser facilitada a utilização de infraestruturas<br />
aptas para passagem dos cabos<br />
de fibra até essas zonas. Isso é essencial<br />
não só para o 5G, mas também para o concurso<br />
nas áreas brancas, que o governo já<br />
lançou. Precisamos de processos simplificados<br />
de licenças e junto das entidades que<br />
detêm essas infraestruturas, em condições<br />
de rentabilidade. É garantir transparência<br />
de informação dessas infraestruturas, que<br />
atualmente não é suficiente”
Apresente-se sempre<br />
no seu melhor.<br />
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88 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
THE STATE<br />
OF THE NATION<br />
OF COMMUNICATIONS<br />
KNS: Sandra Maximiano<br />
Presidente; Autoridade Nacional<br />
de Comunicações (Anacom)<br />
“Em breve, um novo operador entrará no<br />
mercado português. O que levará, esperamos,<br />
a uma reação criativa e saudavelmente<br />
competitiva dos operadores. Sei que existe<br />
algum receio sobre o impacto deste novo<br />
operador nas suas receitas. Mas a procura<br />
por conetividade está em expansão. O 5G,<br />
as redes virtuais privadas, industry verticals,<br />
a realidade virtual aumentada, trazem<br />
espaço para que as oportunidades sejam<br />
maiores que os riscos”<br />
“As oportunidades de negócio e de monetização<br />
do 5G são múltiplas e variadas. A<br />
Anacom tem contribuído para a dinamização<br />
destas oportunidades. Como facilitador<br />
de disponibilização de espectro para uso de<br />
aplicações inovadoras, autorizando ensaios<br />
e testes de tecnologia. E através da publicação<br />
de estudos de caso e exemplos de uso<br />
da tecnologia”<br />
“É impossível imaginar um mundo a funcionar<br />
offline. Estamos por default hiperconectados.<br />
Os serviços de telecomunicações são<br />
parte da vida das pessoas, das empresas,<br />
do Estado e dos governos. Fica o compromisso<br />
que a Anacom está preparada para o<br />
desenvolvimento da sua missão de promoção<br />
da concorrência e proteção dos utilizadores<br />
e consumidores, abraçando um ambiente<br />
de inovação seguro e de criação de<br />
valor económico para o desenvolvimento<br />
do sector e do país”<br />
Ana Figueiredo<br />
CEO, Altice Portugal<br />
“Continuamos com um desafio muito grande<br />
neste setor, com a perda de rentabilidade<br />
sentida nos últimos 15 anos, que se agravou<br />
no último ano. Assistimos também a<br />
uma série de operações de concentração.<br />
Os operadores têm procurado contrariar a<br />
perda de rentabilidade com soluções criativas<br />
de reinvenção do negócio e otimização<br />
da estrutura de custos. Mas precisamos de<br />
escala”<br />
“É cedo para falar na monetização do 5G.<br />
Tudo depende da adoção dos consumidores<br />
e empresas e das capacidades de desenvolvimento<br />
e investimento. Mas seguramente<br />
que temos de procurar soluções.<br />
A Europa está a perder competitividade<br />
económica e temos de procurar condições<br />
para que possa manter o seu modelo de<br />
desenvolvimento económico e social. Temos<br />
de promover não só políticas públicas<br />
e regulatórias, mas a qualidade e o acesso.”<br />
“Vivemos de sobreregulação na Europa.<br />
Não temos um player mundial da IA e já regulámos.<br />
Há uma necessidade urgente de<br />
compreensão do setor. Os factos e a realidade<br />
contrariam alguns modelos teóricos.<br />
A postura da nova Anacom é um primeiro<br />
passo nesse sentido. Ser queremos um dia<br />
criar um hub da economia digital no país<br />
temos de pensar de uma forma muito mais<br />
holística do que meramente na introdução<br />
da concorrência”
90 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Luís Lopes<br />
CEO, Vodafone Portugal<br />
“A AdC permanece com dúvidas sobre a<br />
compra e parece que existe indicação para<br />
a resposta ser negativa. A Vodafone apresentou<br />
um conjunto de remédios mais forte<br />
que os apresentados para o negócio da<br />
Orange e da MásMovil em Espanha. Em<br />
Portugal, uma operação de concentração<br />
de uma empresa com uma margem marginal<br />
é vista como mais complicada do que<br />
uma fusão que resultou no maior operador<br />
móvel espanhol. A Vodafone olha para esta<br />
situação com uma perplexidade enorme”<br />
“O que existe neste mercado é uma concorrência<br />
quase instantânea. Há respostas<br />
constantes a promoções agressivas que<br />
são feitas, porque há uma guerra grande<br />
de tentativa de ganho de quota de mercado<br />
entre os três players. Concluir que o setor<br />
não é concorrencial porque os pacotes são<br />
parecidos é errado”<br />
“Se o setor fosse saudável e houvesse uma<br />
aposta estratégica nele, o que podia ter<br />
sido feito? É isso que temos de perceber. Temos<br />
assistido a grandes perdas de oportunidades,<br />
como a criação de mais centros de<br />
competências, nomeadamente do grupo,<br />
que são colocados noutros locais”<br />
Miguel Almeida<br />
CEO, NOS SGPS<br />
“Tenho pena de não ouvir no discurso da<br />
Anacom um ponto essencial: a função de<br />
utilidade e de maximização do valor para<br />
a comunidade passa por um equilíbrio entre<br />
rentabilidade e qualidade. Se à data<br />
de hoje não cobre sequer o custo de capital,<br />
num mercado tão pequeno, com um 4º<br />
operador a situação vai agravar-se de forma<br />
dramática”<br />
“Eu tenho consciência clara que as evidências<br />
demonstram que as autoridades competentes<br />
não estão aí, mas depois pode ser<br />
tarde demais. Quando na Europa se discute<br />
como se garante a rentabilidade e se inverte<br />
a tendência, nós estamos a dizer que<br />
uma operação de fusão que não muda estruturalmente<br />
o mercado não pode acontecer,<br />
e estamos a louvar a entrada de um<br />
novo operador como se fosse algo bom. Mas<br />
não é. Rapidamente veremos que não é”<br />
“Estava na hora de neste país existir um debate<br />
sério que envolva os operadores, regulador<br />
e o governo. Em Portugal não existe,<br />
mas na UE sim: trabalhar em conjunto<br />
para mudar as coisas. É importante que<br />
o novo governo permita isso, porque é benéfico<br />
para os múltiplos stakeholders. Tem<br />
ainda de estar na agenda do Executivo as<br />
medidas que permitam a sustentabilidade<br />
e o investimento. E parece que só há uma: a<br />
consolidação”
92 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
CLOSING SESSION<br />
Rogério Carapuça<br />
Presidente, APDC<br />
“É claro que, como em todas as tecnologias,<br />
a IA tem um enorme conjunto de oportunidades.<br />
Há também alguns riscos à espreita.<br />
Mas, por causa disso, não usar a tecnologia<br />
não é opção. Nunca isso aconteceu com<br />
tecnologia nenhuma. Temos de limitar os<br />
riscos e fazer frente aos perigos. Mas não há<br />
opção senão utilizar esta tecnologia, que<br />
será, porventura, aquela que nos trará o<br />
maior salto de produtividade da história da<br />
Humanidade”<br />
“A APDC é uma associação de ecossistema,<br />
onde estão representadas empresas de<br />
várias naturezas que colaboram num traço<br />
comum: serem empresas do digital. Por<br />
isso, apresentámos um documento com sugestões<br />
de um conjunto de medidas para<br />
cumprir uma visão: tornar Portugal um dos<br />
líderes da economia e da sociedade digitais<br />
da Europa nos próximos oito anos”<br />
“Dos seis pilares que definimos no documento,<br />
destaco algumas medidas para a<br />
modernização: vocacionar os fundos do<br />
Portugal 2030 maioritariamente para as<br />
empresas, concentrando os apoios nas<br />
áreas de maior valor acrescentado; criar incentivos<br />
ao aumento da escala das empresas,<br />
em vez de termos penalizações ao crescimento;<br />
e promover o desenvolvimento do<br />
setor de infraestruturas e a sustentabilidade<br />
dos operadores de telecomunicações”<br />
Miguel Pinto Luz<br />
MInistro das Infraestruturas<br />
e Habitação<br />
“O setor já foi mais fervilhante do que é hoje.<br />
Agora, tem margens esmagadas e uma arquitetura<br />
regulatória de concorrência que<br />
limita muito a ação. É um setor que sofreu<br />
disrupções sucessivas com a introdução<br />
de novos players do mercado, de novas<br />
formas de utilização da própria infraestrutura.<br />
E, portanto, é um setor que tem se se<br />
encontrar”<br />
“Vivemos num ecossistema europeu onde é<br />
premiado o pequenino. A Europa tem esta<br />
cultura de PME e mesmo as suas grandes<br />
empresas à escala mundial são pequenas.<br />
Temos de combater contra isto. Farei<br />
questão de começar a tentar trazer para a<br />
agenda europeia estas temáticas, porque<br />
a densidade e a massa crítica trazem mais<br />
capacidade de investimento, otimização<br />
de processos e capacidade de sobrevivência,<br />
num mercado onde hoje as margens<br />
não lhes pertencem, mas a outros players,<br />
nomeadamente os OTT e todos os que utilizam<br />
a infraestrutura”<br />
“Na IA, os outros pólos olham para nós como<br />
end users. Mas porque é que ainda não vamos<br />
a tempo de liderar a montante esta<br />
agenda? Se fomos capazes de ser disruptivos<br />
em algumas áreas de conhecimento,<br />
também poderemos ser aqui, porque a IA<br />
é absolutamente estratégica. Não apenas<br />
no plano tecnológico, mas geopolítico, da<br />
competição entre três pólos. Corremos um<br />
sério risco de transformar um mundo tripolar<br />
em bipolar, onde a Europa vai minguar<br />
e ficar cada vez mais irrelevante”
É a inovação que nos<br />
aproxima do futuro<br />
Na MEO Empresas, acreditamos que o sucesso é construído com uma visão clara do futuro. Por estarmos focados<br />
na inovação, procuramos constantemente as mais recentes tendências tecnológicas para responder às novas<br />
exigências das pessoas, empresas e do planeta. A nossa missão é liderar esta transformação e trabalhar em<br />
estreita colaboração com os nossos clientes, proporcionando um acompanhamento próximo e aconselhamento<br />
especializado. Estamos sempre ao lado das empresas, no seu crescimento e sucesso, hoje e no futuro.<br />
empresas<br />
meoempresas.pt
94 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Um congresso cada<br />
vez mais abrangente<br />
Numa edição que voltou a realizar-se em formato híbrido -<br />
presencial a partir do Auditório da Faculdade de Medicina<br />
Dentária de Lisboa e online – o congresso da APDC reforçou<br />
claramente a sua componente física: mais de 870 pessoas<br />
estiveram no evento, onde tiveram a oportunidade de potenciar<br />
o networking e de trocar ideias sobre o setor. Mas a presença<br />
digital também cresceu, já que se registaram mais de 10,6<br />
mil participações. São números que tornam claro o poder do<br />
DBC2024, que conseguiu mesmo chegar a quase 600 pessoas<br />
que assistiram de fora do país.
NOVI<strong>DA</strong>DES DE BILHÉTICA<br />
Para quem participou presencialmente neste grande<br />
evento nacional do digital, houve novidades nesta edição<br />
de 2024. A começar pelas novas opções de bilhética, com<br />
condições diferenciadas: o General Ticket (1 ou 2 dias), que<br />
incluiu acesso ao evento, à app e perfil dos participantes,<br />
coffee-breaks, almoços e participação no Gamification<br />
Awards; o Gold Ticket (2 dias), que abrangeu ainda<br />
o acesso aos almoços reservados, receção e jantar de lançamento<br />
do congresso com oradores e convidados, prioridade<br />
no check-in no registo, badge VIP e acesso a uma<br />
zona de lugares reservados no auditório; e o Leader Ticket<br />
(2 dias) que, além das vantagens anteriores, permitia o<br />
acesso ao Premium Lounge e a um Executive Breakfast<br />
especial, que decorreu a 15 de maio, com um dos oradores<br />
internacionais de relevo, Siim Sikkut.<br />
Destaque para o facto de todos os associados da APDC<br />
terem acesso gratuito ao General Ticket. Foi também realizada<br />
uma campanha TECH 4 WOMAN no Dia da Mulher,<br />
através da qual foram oferecidos um total de 182 inscrições<br />
presenciais.•
96 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
LOUNGE, TEN<strong>DA</strong> EXTERIOR<br />
E TECH GARDEN<br />
O Premium Lounge, uma zona lounge reservada<br />
a oradores, convidados e detentores<br />
do bilhete Leader, powered by Capgemini,<br />
permitiu disponibilizar um espaço para networking<br />
e/ou trabalho, confortável e com<br />
coffee-station permanente. Foi ainda disponibilizada<br />
uma zona lounge, com os mesmos<br />
objetivos, para todos os participantes<br />
do congresso.<br />
Uma das novidades foi a montagem de uma<br />
tenda no exterior do espaço, onde se realizou<br />
o jantar de lançamento do congresso,<br />
a 13 de maio, que contou com a participação<br />
de 68 convidados. Estes tiveram ainda a<br />
oportunidade de visitar, em antecipação, o<br />
auditório e alguns dos espaços de apoio do<br />
congresso.<br />
Na tenda, decorreram ainda os almoços reservados<br />
do congresso, patrocinados pela<br />
NTT Data no 1º dia, e pela Experis no 2º dia,<br />
e um executive-breakfast, realizado na manhã<br />
do dia 15 de maio, que contou com a
participação de Siim Sikkut. O orador convidado<br />
participou em formato remoto, num<br />
evento que decorreu de forma informal.<br />
Já na zona do tech garden foram apresentados<br />
vários projetos e iniciativas. Como vários<br />
projetos nacionais no âmbito dos World<br />
Summit Awards - Multicare Vitality Program,<br />
Programa <strong>DIGITAL</strong>L, da Fundação Vodafone,<br />
ETHIACK, DEEPNEUROTIC e IDE SO-<br />
CIALHUB. Marcaram ainda presença dois<br />
projetos do Prémio Cidades e Territórios do<br />
Futuro: o KIOSK GUERIN e o Centro de Gestão<br />
e Inteligência de Lisboa, da CML.<br />
No espaço presencial do <strong>33º</strong> Congresso da<br />
APDC foi ainda possível ver as ofertas da<br />
PIENSA AUDIOVISUAL, Avanade, RTP, Minsait,<br />
MEO e Delta Cafés, que apostaram em<br />
espaços próprios, num ambiente multifacetado<br />
onde também foram servidos os almoços<br />
buffet aos participantes.•
98 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
LIVE TALKS DEBATEM TEMAS<br />
MARCANTES<br />
A aposta nas live talks, conversas curtas entre executivos<br />
de tecnologia para refletir e trocar ideias sobre<br />
os grandes temas que marcam o setor, mantiveramse<br />
como uma aposta diferenciadora. Este formato de<br />
iniciativas, exclusivo para os patrocinadores anuais<br />
da APDC, contou com a presença dos líderes das<br />
mais relevantes empresas tecnológicas nacionais,<br />
que aceitaram o desafio e convidaram clientes. Estas<br />
conversas estão já disponíveis num ciclo de Dot Topics<br />
Especial Congresso, disponível no canal APDC no<br />
YouTube e Spotify.<br />
No total, foram gravados 15 episódios no primeiro<br />
dia do congresso, num espaço criado especialmente<br />
para o efeito. Assim:<br />
• A Nokia convidou a NOS para falar sobre “Integração<br />
com 5G via APIs”;<br />
• A DXC falou com a Galp sobre “The Innovation Engine:<br />
Powering Business Growth”;<br />
• Já a Kyndryl debateu com a VAWLT o tema “Let´s<br />
establish the right partnerships for 360 degrees<br />
Data Strategy”;<br />
• A Vodafone esteve com a Celfocus com o tema “Vodafone<br />
Analytics: Big Data ao serviço do negócio”;<br />
• A Vantage Towers convidou a Visabeira para debater<br />
“A cadeia de valor que as TowerCos colocam ao serviço<br />
da conectividade”;<br />
• Por sua vez, a Glintt Next analisou com o BIG “Os<br />
desafios de AI e GenAI na banca de investimento”;<br />
• A Capgemini e o SIRESP analisaram o “SIRESP Lab-Hub<br />
5G: Plataforma de Inovação para a Comunidade<br />
SIRESP”;<br />
• Inetum e IP Telecom debateram “O novo normal da<br />
gestão de serviços de TI”;<br />
• Enquanto a Minsait trouxe a Vista Alegre para traçar<br />
a perspetiva da “Vista Alegre: 200 anos a conciliar a<br />
inovação com a tradição”.<br />
• A .PT juntou-se à FCT para discutir “O Futuro da<br />
Internet”;<br />
• Por sua vez, a Salesforce convidou a Unbabel para<br />
falar sobre “A importância dos Ecossistemas de<br />
Confiança na era da Inteligência Artificial”;<br />
• A NTT <strong>DA</strong>TA debateu o tema da “Inteligência artificial<br />
- Como podem as organizações acelerar a adoção<br />
de GenAI?”;<br />
• Deloitte e NOS analisaram “Quais os impactos da IA<br />
Generativa no setor Telco?”;<br />
• E a MEO falou sobre “Uma rede 5G para a sua<br />
empresa”;<br />
• E a Ericsson convidou a AGIF.<br />
• A Accenture esteve com a Altice a analisar “A Inteligência<br />
Artificial na reinvenção dos Operadores de<br />
Telecomunicações”;<br />
Esta <strong>33º</strong> edição do Congresso da APDC teve como<br />
Premium Sponsors a Axians, Cellnex, FastFiber, MEO,<br />
NOS, Vantage Towers e Vodafone. A .PT e AgentifAI<br />
foram extra sponsors. Já a Avanade, Capgemini, Experis,<br />
Minsait, NTT Data e Piensa Audiovisual foram<br />
sponsors da iniciativa, que contou ainda com a RTP<br />
como media partner e a Delta Cafés como partner. •
PROGRAMA DE TV<br />
COM MÚLTIPLAS<br />
OPORTUNI<strong>DA</strong>DES<br />
Mais de 10,6 mil participantes acederam ao<br />
congresso através da plataforma do evento<br />
– web e mobile app – do canal YouTube da<br />
APDC e do Sapo Tek. Graças à parceria com<br />
a RTP, voltou a decorrer em formato de programa<br />
de televisão, contando com os jornalistas<br />
João Adelino Faria e Carolina Freitas,<br />
ambos da estação pública de tv, como hosts.<br />
O que permitiu que o congresso decorresse<br />
com uma dinâmica sempre renovada.<br />
A APDC voltou a disponibilizar a aplicação<br />
do congresso, para iOS e Android, a todos<br />
os participantes já registados. Garantindose<br />
desta forma o acesso ao vasto conjunto<br />
de funcionalidades que tem vindo a disponibilizar,<br />
como: programa e oradores, com a<br />
possibilidade de pesquisar e filtrar; avaliação<br />
das sessões; transmissão em direto do evento;<br />
acesso aos patrocinadores e expositores;<br />
agenda pessoal personalizável; materiais<br />
para download; pesquisa; e páginas de informação<br />
com muitos conteúdos.<br />
A iniciativa de gamificação também voltou<br />
a ser uma aposta, premiando-se os participantes<br />
mais ativos na app. E as interações<br />
multiplicaram-se, assim como a adesão das<br />
empresas, que atribuíram múltiplos prémios:<br />
Dell Technologies; Experis; Knower;<br />
Lisbon Digital School; Winprovit; Kyndryl;<br />
Izertis; Minsait; Capgemini; LISPOLIS;<br />
Ethiack; E-goi; Fundação Portuguesa das<br />
Comunicações.•<br />
IMPULSO IA: formação à medida<br />
para preparar nova era<br />
É um programa inovador de literacia em IA destinado<br />
a dar aos profissionais dos diversos setores as competências<br />
necessárias para compreender e utilizar eficazmente<br />
as ferramentas de IA no local de trabalho. Chama-se<br />
IMPULSO IA e foi lançado no <strong>33º</strong> Digital Business<br />
Congress, numa parceria da APDC com a Google, sendo<br />
anunciado pelo presidente da associação, Rogério<br />
Carapuça, e pela senior director of Public Policy & Government<br />
Relations for South Europe da Google, Giorgia<br />
Abeltino.<br />
A meta desta nova iniciativa é capacitar pelo menos<br />
mil pessoas, disponibilizando uma oportunidade única<br />
para adquirir competências fundamentais em IA, que<br />
permitirão aos participantes automatizar tarefas e concentrar-se<br />
em aspetos estratégicos e criativos do seu<br />
trabalho.<br />
O programa é composto por oito cursos que abordam<br />
uma ampla gama de tópicos essenciais: Marketing<br />
Strategy and AI; Engaging Audiences with Short-Form<br />
Video; Introduction to the Cloud; Leadership for the Digital<br />
Age; Understand Machine Learning Recording;<br />
Decision Making with Data; Telling Stories with Data Visualization;<br />
e Boost Your Productivity Recording.<br />
Destinado a estudantes, funcionários públicos e profissionais<br />
que tomam decisões, como gestores de marketing,<br />
representantes de vendas e analistas, o programa<br />
é acessível a todos, independentemente da experiência<br />
prévia em IA. O arranque está previsto ainda para o<br />
mês de junho, decorrendo até março de 2025. Abrange<br />
cerca de dez sessões de formação ministradas por formadores<br />
especializados. Com duração média de duas<br />
horas por curso, as sessões serão preferencialmente<br />
presenciais, mas também poderão ser disponibilizadas<br />
em formato híbrido. Quem participar presencialmente<br />
receberá um certificado de participação.<br />
O processo de inscrição será online, através de um formulário<br />
já disponível no site da APDC.•<br />
https://www.apdc.pt/iniciativas/impulso-ia/
100 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Inovação tecnológica<br />
ao serviço das cidades<br />
e territórios<br />
Já são conhecidos os vencedores da 3ª<br />
Edição do Prémio Cidades & Territórios do<br />
Futuro. A Award Ceremony realizou-se no<br />
âmbito do <strong>33º</strong> Digital Business Congress,<br />
onde foram distinguidos vários projetos<br />
pioneiros, assentes em soluções tecnológicas,<br />
nas sete categorias a concurso. Todos<br />
contribuem para assegurar a transformação<br />
das cidades e dos territórios em espaços<br />
mais habitáveis, sustentáveis e economicamente<br />
viáveis.<br />
<strong>À</strong> semelhança das edições anteriores, o júri<br />
de seleção dos projetos foi constituído por<br />
personalidades relevantes e especialistas<br />
da área das cidades, tecnologia e sustentabilidade.<br />
Entre eles, estiveram: Elsa Belo,<br />
Diretora do LabX - Inovação na Administração<br />
Pública; Vitor Crespo, da HealthTech<br />
Lisboa; e Ana Pedro, coordenadora do<br />
C2Ti - Centro de Competência em Tecnologias<br />
e Inovação, do Instituto de Educação<br />
da Universidade de Lisboa. Juntaram-se às<br />
40 personalidades que integraram o júri,<br />
como o médico Ricardo Mexia, a ex-eurodeputada<br />
Maria Manuel Leitão Marques<br />
ou a presidente da INCM, Dora Moita.<br />
Os vencedores da edição de 2024 do Prémio<br />
Cidades e Territórios do Futuro são:<br />
Categoria ‘Saúde e Bem-estar’<br />
KIN<strong>DO</strong>LOGY – BE KIND TO ALL KINDS – O projeto<br />
nasceu em maio de 2023 e junta psicólogos,<br />
terapeutas, pessoas inspiradoras e empresas na<br />
missão de tornar a saúde mental acessível a todos.<br />
Através de uma plataforma online, qualquer<br />
pessoa pode pedir ajuda em termos de cuidados<br />
de saúde mental. Assenta num modelo “Robin<br />
Hood”, onde quem pode pagar uma consulta<br />
ou adquirir produtos de merchandising ajuda<br />
a financiar as consultas de quem não dispõe de<br />
meios financeiros.<br />
Promotor: Kindology
Categoria ‘Igualdade e Inclusão’<br />
CARTA SOCIAL DE CASCAIS - É uma plataforma digital interativa de informação<br />
ao cidadão sobre equipamentos e respostas sociais da rede pública, solidária<br />
e privada lucrativa no concelho de Cascais. Funciona ainda como diagnóstico<br />
dos recursos sociais e de suporte à tomada de decisão política no planeamento<br />
da rede de equipamentos e serviços sociais no município. Destina-se a cidadãos<br />
que procuram uma resposta social para a sua vida pessoal e familiar e a dirigentes<br />
e colaboradores de organizações prestadoras de serviços sociais, profissionais<br />
da economia social, investigadores, académicos e consultores, dirigentes e<br />
profissionais da AP, políticos e decisores que procurem informação de suporte à<br />
sua atuação e/ou tomada de decisão.<br />
Promotor: Câmara Municipal de Cascais (promotor da iniciativa) e Quidgest (fornecedor<br />
tecnológico)<br />
MENÇÃO HONROSA: Academia Digital para Pais – É uma iniciativa da E-REDES<br />
e da Direção-Geral da Educação (DGE) para dar formação digital a pais e encarregados<br />
de educação. Oferece cursos gratuitos sobre diversos temas relevantes<br />
para a era digital e está disponível em todas as escolas, sendo as formações presenciais<br />
ou online. Os cursos são gratuitos e ministrados por formadores especializados,<br />
podendo os pais escolher os que mais lhes interessam. O objetivo é<br />
capacitar os pais para apoiarem os filhos nas suas atividades digitais; promover<br />
a utilização segura e responsável da internet; sensibilizar para a gestão sustentável<br />
dos recursos e preparar os pais para os desafios da era digital.<br />
Promotor: E-REDES e Direção-Geral da Educação
102 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Categoria ‘Mobilidade<br />
e Logística’<br />
APP E PLATAFORMA EVIO – Trata-se de uma plataforma<br />
para o ecossistema de carregamento de veículos elétricos<br />
(VEs), abrangendo utilizadores, gestores de frotas e<br />
operadores de infraestrutura. Oferece acesso a postos de<br />
carregamento em Portugal e internacionais, proporcionando<br />
uma experiência integrada aos utilizadores. Utiliza<br />
tecnologias avançadas para superar os desafios na expansão<br />
das infraestruturas de carregamento, diferenciandose<br />
pelos serviços inovadores e agnosticismo em hardware.<br />
A EVIO foi reconhecida pelo seu potencial disruptivo,<br />
abrangendo a sua oferta a gestão inteligente de carregamentos,<br />
frotas e integração de energias renováveis, destacando-se<br />
como líder em soluções para a mobilidade<br />
sustentável.<br />
Promotor: EVIO - Electrical Mobility<br />
MENÇÃO HONROSA: Automatizar o Mapeamento de<br />
Acessibilidades Urbanas com IA – O objetivo deste projeto<br />
é desenvolver uma plataforma de inteligência artificial<br />
(IA) para automatizar a deteção de características de acessibilidade<br />
nos espaços urbanos, especialmente focada no<br />
atravessamento da faixa de rodagem entre passeios e na<br />
presença de obstáculos que nele interfiram. Permitirá<br />
uma maior eficiência na deteção de problemas de acessibilidade,<br />
assim como a possibilidade de análise de grandes<br />
áreas urbanas e a disponibilização de informação de<br />
forma automática e gratuita.<br />
Promotor: Fundação Fernando Pessoa | Universidade<br />
Fernando Pessoa<br />
Categoria ‘Qualificações’<br />
MAPA DE EMPREGO DE LISBOA - É uma ferramenta interativa<br />
que resulta das mais recentes tecnologias de IA<br />
e big data, que analisa e disponibiliza (em tempo real)<br />
ofertas de emprego no concelho. Apresenta ainda as profissões<br />
com mais ofertas de emprego e as competências<br />
mais procuradas por profissão e por região, bem como as<br />
formações existentes para as profissões e a sua evolução<br />
no tempo.<br />
Promotor: Câmara Municipal de Lisboa | Direção Municipal<br />
de Economia e Inovação, Iniciativa Future of Work e<br />
Associação Better Future<br />
Patrocinada pela<br />
EXPERIS<br />
Categoria ‘Sustentabilidade,<br />
Economia Circular<br />
e Descarbonização’<br />
AZORES SMART ISLANDS - É um projeto abrangente<br />
e inovador, destacando-se como um dos<br />
principais projetos de smart tourism na Europa.<br />
Proporciona aos utilizadores o acesso a uma vasta<br />
gama de percursos turísticos e pontos de interesse<br />
nas nove ilhas e 19 municípios dos Açores.<br />
A rede de conteúdos é desenvolvida localmente<br />
pelas autarquias e associações de desenvolvimento<br />
local, garantindo informações precisas<br />
e relevantes. A inclusão de traduções em quatro<br />
idiomas e audioguias facilita a experiência dos<br />
turistas. Trata-se de um exemplo de como a tecnologia<br />
pode ser utilizada de forma inovadora<br />
para promover o turismo sustentável, preservar o<br />
património cultural e natural e melhorar a experiência<br />
do turista.<br />
Promotor: Mobinteg - Soluções Empresariais de<br />
Mobilidade.<br />
Patrocinada pela<br />
GALP
Categoria ‘Relacionamento<br />
com o Cidadão e<br />
Participação’<br />
AN<strong>DA</strong> CONHECER PORTUGAL – É um programa<br />
que resultou de uma parceria entre<br />
a Movijovem e a CP. Visa dar aos jovens que<br />
terminaram o 12º ano a oportunidade de conhecer<br />
a diversidade cultural e o património<br />
histórico e natural do país, enriquecendo as<br />
suas experiências de viagem e lazer. Os jovens<br />
podem viajar durante sete dias com<br />
viagens de comboio ilimitadas e dormir seis<br />
noites na rede de Pousadas de Juventude<br />
(com um mínimo de 2 noites por pousada),<br />
de forma gratuita. Garante-se a mitigação<br />
das barreiras socioeconómicas, promove-se<br />
a mobilidade, o turismo juvenil e a coesão<br />
territorial.<br />
Promotor: Movijovem e CP<br />
Categoria ‘Desenvolvimento<br />
Económico’<br />
GRANTER.AI – É uma plataforma que utiliza IA para<br />
tornar mais fácil às PME o acesso a fundos comunitários,<br />
como o PT2030. Tem como missão a democratização<br />
do acesso ao financiamento e promoção<br />
da inovação em Portugal e no mundo. A tecnologia<br />
foi desenvolvida para reduzir a burocracia e os custos<br />
associados à consultoria convencional, simplificando<br />
o processo de preparação e submissão de candidaturas<br />
para financiamento. A plataforma foi lançada<br />
em setembro de 2023 e está disponível para registo<br />
e uso gratuitos. Com 60 oportunidades em aberto,<br />
mais de 300 empresas já se candidataram a financiamentos,<br />
totalizando 4,6 milhões de euros em apoios<br />
financeiros.<br />
Promotor: Granter.ai<br />
MENÇÃO HONROSA: Academia Próxima<br />
Geração – O projeto procura revitalizar a<br />
democracia em Portugal, desenvolvendo e<br />
aumentando a participação cívica dos jovens,<br />
capacitando-os para a ação. Aborda o<br />
problema de jovens interessados, mas sem<br />
capacidade de agir, demonstrando que os<br />
jovens portugueses estão distantes das formas<br />
tradicionais de participação cívica.<br />
Promotores: ADPG - Associação para o desenvolvimento<br />
da Próxima Geração.<br />
Patrocinada pela<br />
INCM<br />
https://premiocidades-apdc.pt/<br />
Patrocinada pela<br />
E-Redes
104 <strong>33º</strong> Digital Business Congress<br />
Talento jovem reconhecido pela 4ª vez<br />
Foram anunciados no <strong>33º</strong> Digital Business Congress os vencedores<br />
da 4ª edição do Prémio Best Thesis Award. Esta iniciativa<br />
da APDC visa distinguir as melhores dissertações de mestrado<br />
dos jovens universitários em três áreas distintas: tecnologias<br />
de informação, telecomunicações e media. É desenvolvida em<br />
parceria com o consórcio de escolas de engenharia e com as<br />
academias participantes no Programa UPskill. Conta com o<br />
patrocínio da Axians Portugal.<br />
As candidaturas ao Best Thesis Award são reservadas aos alunos<br />
que tenham concluído um dos mestrados listados, numa<br />
das escolas do CEE ou numa das academias aderentes ao Programa<br />
UPskil, que abranjam o ano letivo de 2022/2023. De<br />
acordo com o regulamento do BTA, os critérios para a avaliação<br />
dos vencedores incluíram a originalidade e caráter inovador<br />
(50%) e o impacto social (aplicação e utilidade social - 50%).<br />
As candidaturas foram analisadas por um júri presidido por<br />
um representante da APDC, composto por um número variável<br />
de personalidades de reconhecido mérito no domínio das<br />
áreas do concurso.<br />
Nesta edição, foram vencedores:<br />
www.apdc.pt/iniciativas/agenda-apdc/premio-best-thesis-award-2024<br />
• TI | Sérgio Oliveira, com a dissertação<br />
“Virtual Reality Serious Game for Stroke<br />
Rehabilitation at Home” | Mestrado em<br />
Desenvolvimento de Jogos Digitais da Universidade<br />
de Aveiro;<br />
• Telecomunicações | Inês de Brito Pereira,<br />
com a dissertação “Algorithms for physical<br />
layer authentication” | Mestrado Integrado<br />
em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores<br />
da Faculdade de Ciências e Tecnologia<br />
da Universidade Nova de Lisboa;<br />
• Media | Laura Ribeiro de Abreu Pais, com<br />
a dissertação “Graphic Ground - Sistema<br />
modular generativo de materiais de comunicação<br />
visual” | Mestrado em Design<br />
e Multimédia da Faculdade de Ciências e<br />
Tecnologia da Universidade de Coimbra.<br />
REVEJA LOOK & FEEL <strong>DO</strong>S <strong>DO</strong>IS DIAS <strong>DO</strong> <strong>CONGRESS</strong>O<br />
14 MAIO https://youtu.be/hATFE7X0hdo?si=I0YnOEW-IBxIqqcc<br />
15 MAIO https://youtu.be/zH-oCvYUEDg?si=xTMCZJlOYKZEe6IF<br />
FOTOGRAFIAS https://www.flickr.com/photos/apdc/
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portugal digital<br />
ESNA ,<br />
EMPREENDER<br />
COM ESCALA<br />
Há ideias tão boas, que depressa se<br />
tornam bens preciosos. Projetos cuja<br />
defesa é um desígnio. A ESNA, acrónimo<br />
de Europe Startup Nations Alliance é<br />
uma delas. Proposta por portugueses e<br />
nutrida em Portugal, a aliança que nasceu<br />
para projetar a Europa no panorama do<br />
empreendedorismo já tem resultados para<br />
mostrar.<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTOS VICTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW E iSTOCK<br />
106
107
portugal digital<br />
108<br />
Depois de ter sido apresentada ao mundo em<br />
novembro de 2021, durante a Web Summit, a<br />
ESNA fez trabalho de formiga. Começou a funcionar<br />
em pleno há um ano, quando foi nomeado<br />
o seu Conselho de Administração, mas os dados que<br />
previamente recolhera permitiram-lhe apresentar um<br />
relatório preliminar, que funcionou como amostra daquilo<br />
que é o seu principal instrumento, o Startup Nations<br />
Standard Report. Já no início deste ano lançou o<br />
seu primeiro standard report, elaborado com base na observação<br />
e monitorização do ecossistema de empreendedorismo<br />
dos países que representa. Coadjuvado por<br />
uma equipa composta por 14 pessoas, Arthur Jordão, o<br />
director executivo da ESNA, deu prioridade à elaboração<br />
deste índice destinado a medir resultados e afinar<br />
estratégias. Foi construído a partir de uma avaliação<br />
que é feita em torno de oito padrões, considerados<br />
fundamentais para a alavancagem do ecossistema empreendedor:<br />
acelerar e simplificar a criação de startups;<br />
atrair e reter talentos; stock options; inovar na regulamentação;<br />
facilitar a aquisição de inovação; facilitar o<br />
acesso ao financiamento; inclusão social, diversidade e<br />
proteção dos valores democráticos; e digital primeiro.<br />
Tinha decorrido tempo suficiente para perceber<br />
qual o impacto da adoção de políticas públicas focadas<br />
nestes oito itens e essa circunstância deu a estes resultados<br />
um agradável sabor a realidade, que deixa Arthur<br />
Jordão muito satisfeito: “Alguns países já olham para<br />
os nossos índices e adotam-nos como chave para o desenho<br />
das suas estratégias, outros entendem que têm<br />
outras prioridades. E o resultado muito tangível disso é<br />
que o Startup Nations Standard Report, que lançámos<br />
no início deste ano, mostra que Malta – um país que<br />
aposta cada vez mais forte no seu ecossistema de startups<br />
e usa como fonte, para desenhar algumas medidas<br />
e dar orientações estratégicas, o nosso report – está a<br />
alcançar excelentes resultados. No extremo oposto temos<br />
a Eslovénia, cujo ecossistema empreendedor teve<br />
uma performance abaixo das suas expetativas e que mediante<br />
o relatório da ESNA assumiu ter de fazer alguma<br />
coisa”. É o objetivo da ESNA: criar esta dinâmica e<br />
levar os diversos países a melhorar nestas diversas dimensões,<br />
por isso Arthur Jordão só tem motivos para<br />
sorrir.<br />
Quando esta aliança se constituiu, em 2021, começou<br />
com Portugal, Espanha e Áustria. Hoje tem 19<br />
países membros. O último a juntar-se foi a dinâmica<br />
Irlanda. Em conversações está neste momento um<br />
dos pesos-pesados da economia europeia: Itália. Esta<br />
progressiva adesão é a maior prova de reconhecimento<br />
que a ESNA poderia ter. Quanto ao peso que entretan-<br />
Orgulhosos com o que o reconhecimento que a ESNA já alcançou, André Azeve<br />
que os 19 países que aderiram até agora ao projeto que na<br />
to já alcançou, o seu diretor-executivo resume-o num<br />
número expressivo: “Os 19 países que aderiram a este<br />
projeto representam mais de 75% do PIB europeu”.<br />
Há muito que se discutia na Europa a necessidade<br />
de definir uma estratégia para o empreendedorismo<br />
capaz de concorrer de forma eficaz com mercados<br />
como o dos Estados Unidos. O problema estava identificado.<br />
Não havia falta de talento no velho continente,<br />
nem tão pouco de startups com potencial para escalar, o<br />
que existia era problemas que se resolveriam se o mercado<br />
europeu se organizasse numa frente comum. Esta<br />
consciência, que se foi formando, criou as condições<br />
para que a ESNA nascesse e fosse acolhida de forma tão<br />
expressiva.<br />
OPORTUNI<strong>DA</strong>DE DE OURO<br />
Estávamos no último trimestre de 2020 e a presidência<br />
portuguesa da União Europeia seria já no primeiro<br />
semestre de 2021. Era uma oportunidade de ouro para<br />
Portugal marcar pontos na agenda digital. Já há muito<br />
que se discutia, na UE, formas de enfrentar a concor-
do, membro do advisory board e Arthur Jordão, diretor executivo, adiantam<br />
sceu português, representam mais de 75% do PIB europeu<br />
rência dos Estados Unidos, da China, de Singapura, no<br />
âmbito do empreendedorismo. Havia a convicção de<br />
que seria importante criar standards que ajudassem a<br />
Europa a evoluir nesse mercado e essa discussão sobre<br />
quantos e quais estava em curso.<br />
Foi nesse final de 2020 que a ideia de criar uma<br />
estrutura que ajudasse a operacionalizar a estratégia<br />
europeia para o empreendedorismo ganhou forma.<br />
“Uma estrutura que se pudesse trazer para Lisboa, com<br />
o objetivo de começar a trabalhar nesses standards”,<br />
frisa André Azevedo, na altura secretário de Estado da<br />
Transição Digital.<br />
A proposta que Portugal apresentou quando assumiu<br />
a presidência da UE foi inovadora, “no sentido em<br />
que não foi só uma declaração política aspiracional,<br />
mas uma operação em concreto. Propusemo-nos criar<br />
uma aliança para executarmos tudo, assumir o compromisso<br />
de obter resultados tangíveis, institucionais<br />
e operacionais”, recorda o antigo governante e hoje<br />
membro do advisory board da ESNA.<br />
Em março, 26 membros da UE, a que se juntou a<br />
Islândia, assinaram uma declaração política na qual<br />
se comprometeram a criar a Europe Startup Nations<br />
Alliance - ESNA. Este consenso também escapou à<br />
norma: “É raro, nas presidências europeias conseguir<br />
esta mobilização coletiva”, salienta André Azevedo.<br />
Mas havia razões para que tal tivesse acontecido, como<br />
a consciência partilhada de que criar uma dinâmica<br />
à volta do empreendedorismo europeu – e uma marca<br />
europeia a ele associada – era uma decisão crítica<br />
para o novo ciclo que se queria abrir. Estava claro que<br />
a receita seguida até então não era boa e que mais inteligente<br />
seria federar vontades, criar essa aliança para<br />
enfim, ganhar escala e robustez: “A Europa é uma Europa<br />
de nações e portanto tem agendas nacionais, mas<br />
houve – e por isso é que toda a gente assinou a declaração<br />
– uma clara perceção de valor associada à ideia de<br />
definir os standards. Ou seja, de alinharmos todos por<br />
um diapasão comum, que permitia a cada país definir<br />
um conjunto de métricas de sucesso comuns a todos.<br />
E do cumprimento à escala nacional desses objetivos<br />
haveria um resultado – acreditamos nós, e está a acontecer<br />
– de um ganho maior, que é o de o ecossistema<br />
no seu conjunto estar muito mais homogéneo e começarmos<br />
a elevar os patamares de exigência em cada um<br />
dos países”, refere o ex-secretário de Estado.<br />
Arthur Jordão, que se encarregou da parte operacional<br />
da ESNA desde a primeira hora, estava ciente dos<br />
desafios que a montagem da nova estrutura implicava:<br />
“Para criar o serviço core da ESNA, o índice à volta dos<br />
oito padrões de alavancagem de startups, precisámos<br />
de desenvolver algo com base em indicadores comparáveis<br />
e harmonizados. Porque mais do que definir um<br />
conjunto de conceitos e dizer que estamos certos – não<br />
é isso que se pretende, porque estamos a falar de um<br />
ecossistema que é muito mutável – o importante foi<br />
conseguir, de forma independente, centralizar dados<br />
credíveis, harmonizados e comparáveis e pô-los à disposição<br />
de quem está a fazer política pública”.<br />
Para assegurar a independência da ESNA face aos<br />
ciclos políticos, pediu-se aos países membros para<br />
indicar uma entidade com peso no ecossistema empreendedor<br />
que os representasse em permanência. No<br />
caso português foi escolhida a Startup Portugal.<br />
O advisory board da nova estrutura europeia também<br />
não corresponde aos cânones. Apesar de ter matriz<br />
europeia, não se fechou em torno das estruturas<br />
comunitárias, nem se burocratizou. Desde o início<br />
esteve sempre presente a ideia de se constituir como<br />
uma estrutura aberta. Daí que no seu seio estejam representadas<br />
entidades tão diversas como incubadoras,<br />
unicórnios, venture capitalists, aceleradoras, academia,<br />
109
portugal digital<br />
110<br />
Nas calls que a Comissão Europeia tem lançado para o setor do<br />
empreendedorismo, “a ESNA é mencionada como entidade que tem de se<br />
consultar”, salienta Arthur Jordão<br />
founders e ex-governantes ligados ao digital, como André<br />
Azevedo, Carmen Artigas (ex-secretária de Estado<br />
espanhola) e Simon Zajc (membro de um anterior governo<br />
esloveno). São 26 ao todo e o que representam<br />
no seu conjunto é a voz do mercado.<br />
Outra originalidade na orgânica da ESNA é a figura<br />
do “presidence board”, que funciona de forma rotativa<br />
na mesma lógica da rotatividade do Conselho Europeu.<br />
O objetivo é assegurar sintonia total com a agenda<br />
das várias presidências. Arthur Jordão diz que resulta:<br />
“Desde a declaração política que foi assinada durante<br />
a presidência portuguesa em 2021, todas as outras tiveram<br />
um fio condutor com origem nesta primeira”.<br />
Exemplos? França, que assumiu a presidência a seguir,<br />
destacou dois dos oito standards do índice da ESNA e<br />
decretou: “Temos de desenvolver e aprofundar a nível<br />
político projectos que alavanquem estes<br />
dois fatores”. No caso tratava-se de “talento”<br />
e “acesso a financiamento a scaleups”.<br />
A ESNA foi incumbida de desenvolver uma<br />
plataforma de talento. O Fundo Europeu de<br />
Investimento ocupou-se do outro desafio.<br />
Em suma, a interação e cruzamento de<br />
competências em nome de um objetivo comum,<br />
que era o que faltava à Europa neste<br />
setor, está a acontecer.<br />
A MARCA CE<br />
É claro que o patrocínio político da CE tem<br />
muita importância nestas dinâmicas, assume<br />
André Azevedo: “Esse patrocínio ajuda à<br />
religação direta aos vários governos e à própria<br />
estrutura da CE. Dá à ESNA um mandato<br />
e legitimidade que permite, por exemplo,<br />
pedir informação que se fosse solicitada por<br />
uma associação de benfeitores ligada ao empreendedorismo<br />
não seria disponibilizada”.<br />
Este peso institucional que pode ser percecionado<br />
como burocratização ou excessiva<br />
institucionalização, na verdade trata-se, na<br />
opinião do ex-secretário de Estado, de um<br />
fator “absolutamente crítico para o sucesso<br />
do mandato da ESNA e estratégico para<br />
a Europa”.<br />
A ESNA, de facto, não funciona à margem<br />
da Comissão Europeia. De resto, é vista<br />
como uma extensão da equipa da CE que<br />
trabalha a área do empreendedorismo. Esta<br />
proximidade reflete o reconhecimento da<br />
importância do seu papel. Reconhecimento<br />
que se converte em financiamento.<br />
Nos fóruns anuais da ESNA, eventos<br />
onde se juntam diversos stakeholders para<br />
discutir as agendas nacionais e europeias, a<br />
CE está presente. A colaboração é constante:<br />
“Nas calls que a comissão tem lançado para este setor,<br />
a ESNA é mencionada como entidade que tem de<br />
se consultar”, exemplifica Arthur Jordão. Parceira incontornável<br />
para o empreendedorismo, a ESNA também<br />
co-realiza com a CE relatórios vários.<br />
André e Arthur estão cientes de que ainda existem<br />
países que não estão sensibilizados para a importância<br />
do empreendedorismo como fator de renovação e<br />
transformação do tecido empresarial para modelos de<br />
maior valor acrescentado. O papel da ESNA, afirmam<br />
os dois, também é este, o de demonstrar, através dos<br />
dados que disponibiliza numa plataforma comum,<br />
que empreendedorismo e inovação beneficiam cada<br />
uma das economias europeias e a Europa no seu todo.<br />
Antes não existia um documento como o Startup<br />
Nations Standard Report. O que havia era “estudos
esporádicos não estruturados”, informam.<br />
Só que o melhor ganho em qualquer política<br />
pública tem a ver com a continuidade da<br />
monitorização, sublinham. “Medir resultados,<br />
definir metas, monitorizar de forma<br />
objetiva, mas sobretudo a continuidade,<br />
era o que faltava. Até agora a evolução em<br />
cada país não era clara e o que se pretende<br />
é dar essa continuidade e essa estrutura nas<br />
oito dimensões que foram consensualizadas<br />
como estratégicas.<br />
O índice da ESNA não nasceu para estabelecer<br />
rankings. Até pode ser que alguém<br />
os faça, mas o objetivo é mostrar os dados<br />
recolhidos para que sejam olhados de forma<br />
crítica e inspirem políticas mais eficientes.<br />
É por isso que a fiabilidade dos seus dados<br />
tem a maior relevância. Mas sabe-se que<br />
há números disponibilizados que têm mais<br />
componentes de marketing político do que<br />
base científica. Daí que a ESNA esteja a investir<br />
numa equipa especializada em data.<br />
Para que a triagem que faz seja ainda mais<br />
rigorosa e os seus dados reflitam a realidade<br />
tal como ela é.<br />
“No momento em que esta informação<br />
tiver qualidade a toda a prova, a soma dos<br />
27 ecossistemas implicados na criação da<br />
ESNA vai dar a verdadeira escala do que é o<br />
mercado europeu do empreendedorismo.<br />
Do ponto de vista do marketing e comunicação<br />
do que é a Europa hoje, será um ativo<br />
muito grande”, comenta André Azevedo.<br />
FUTURO PORTUGUÊS?<br />
Não foi fácil dar à ESNA enquadramento<br />
jurídico. Até então não existia um modelo<br />
semelhante, que conciliasse o facto de ser<br />
uma entidade sob jurisdição portuguesa,<br />
mas com chancela europeia. E que ao mesmo tempo<br />
salvaguardasse questões do ponto de vista institucional<br />
que resultavam de um sistema de funcionamento<br />
que se pretendia diferente. Que previa, por exemplo,<br />
a articulação com as presidências rotativas da UE. Foi<br />
um trabalho difícil, mas fez-se, porque o incontestável<br />
valor da iniciativa portuguesa justificava esse desafio<br />
jurídico. Algum tempo depois, porém, a UE criou uma<br />
nova entidade jurídica, o European Digital Infrastructure<br />
Consorcio (EDIC). Nascida europeia, esta nova<br />
entidade tem mais facilidade de acesso a financiamento<br />
por parte da CE. Por isso a questão coloca-se: será<br />
mais interessante para a ESNA, que é uma associação<br />
privada sem fins lucrativos de direito português, tornar-se<br />
uma EDIC?<br />
Se tal acontecer, o que muda no essencial é a sua<br />
“Convém que a ESNA seja uma prioridade até de política externa, porque<br />
permite vender o país de uma forma completamente diferente”, adverte<br />
André Azevedo<br />
personalidade jurídica. Tornar-se-á, naturalmente,<br />
uma entidade mais institucional, mais europeia, mas<br />
tal como uma estrela do showbiz cuja carreira se internacionaliza,<br />
seria uma pena que se perdesse para o país<br />
que a lançou.<br />
André Azevedo e Arthur Jordão não disfarçam a<br />
preocupação: “Esta âncora institucional, operacional e<br />
diplomática que se conseguiu é absolutamente estratégica<br />
para Portugal. Convém que a ESNA seja uma prioridade<br />
até de política externa, porque permite vender<br />
o país de uma forma completamente diferente, associado<br />
a toda esta dinâmica do digital, de um país que<br />
se quer apresentar internacionalmente como mais do<br />
que um país de turismo”.<br />
Fica o recado.•<br />
111
112<br />
Carlota Guedes Figueiredo e Manuel Maria Correia querem escalar este concurso de modo a que possa chegar a todo o país,<br />
porque tem um óbvio impacto social, cativando crianças e jovens para as STEM e programação em particular
cidadania<br />
A TEORIA <strong>DA</strong> SEDUÇÃO<br />
Perguntem a uma criança que seja fã de videojogos como<br />
seria se conseguisse programar sozinha um jogo e depois<br />
levá-lo a um concurso nacional, de onde até pudesse sair<br />
vencedora. A resposta seria, certamente, algo parecido<br />
com: “Seria muita fixe!”<br />
TEXTO DE TERESA RIBEIRO FOTO CEDI<strong>DA</strong>S<br />
Foi qualquer coisa próxima disto que imaginou<br />
a equipa responsável pela criação do DXC Code<br />
Challenge, um concurso de programação em<br />
tecnologias Scratch e MakeCode Arcade. A ideia<br />
partiu da equipa da DXC Technology Espanha, mas<br />
logo Portugal foi desafiado a participar, quando o evento<br />
se materializou: “Foi em 2020, a primeira edição do<br />
concurso, isto é, em plena pandemia”, recorda Manuel<br />
Maria Correia, general manager da DXC Portugal.<br />
As circunstâncias obrigaram a que todo o processo<br />
fosse remoto. “E como se tratava da primeira edição do<br />
concurso, foi decidido que a estreia se faria só com a<br />
prata da casa, ou seja, com os filhos dos colaboradores”,<br />
acrescenta Carlota Guedes Figueiredo, Portugal<br />
Marketing & Communication director. Como teste,<br />
asseveram ambos, não podia ter corrido melhor. De<br />
tal forma que perceberam que o concurso podia muito<br />
bem ser o programa estrela da empresa.<br />
De então para cá o DXC Code Challenge tem crescido<br />
em número de participantes e em regiões do país.<br />
Começaram por desafiar crianças e jovens entre os 10<br />
e os 15 anos, mas na edição deste ano experimentaram<br />
baixar a idade mínima dos concorrentes para sete anos<br />
e foi um sucesso: “Esta faixa etária foi a que participou<br />
em maior número, o que prova que havia aqui uma<br />
lacuna a preencher”, sublinha, com entusiasmo, Manuel<br />
Maria Correia.<br />
Desde o início, a equipa da DXC Technology percebeu<br />
que só com o apoio das escolas o concurso podia<br />
escalar, por isso tratou de fazer essa aproximação. Hoje<br />
já tem muitas escolas a aderir regularmente ao evento,<br />
mas quer mais: “Queremos ter o país todo representado,<br />
por isso vamos precisar da colaboração de diversas<br />
entidades para alcançar a meta. Este é, agora, o nosso<br />
desígnio”, garantem Manuel Maria e Carlota.<br />
O DXC Code Challenge tem um duplo objetivo:<br />
levar o conhecimento da marca aos mais jovens, mas<br />
também seduzi-los, de uma forma muito lúdica, para<br />
a programação, desmistificando os preconceitos que<br />
ainda existem em torno das STEM e em particular da<br />
informática.<br />
Desta forma, a estratégia de negócio e responsabilidade<br />
social misturam-se, conseguindo o pleno. Segundo<br />
Manuel Maria e Carlota é entusiasmante assistir à<br />
forma como o seu público-alvo reage aos desafios do<br />
concurso. Este ano, pela primeira vez, realizou-se uma<br />
entrega de prémios ao vivo. “Foi incrível ver as crianças<br />
entrar nas instalações da empresa. Uma delas, dissenos:<br />
‘Obrigada por deixarem concretizar os nossos sonhos’”,<br />
partilham derretidos.<br />
O concurso tem sido tão apaixonante para a equipa<br />
da tecnológica que é tratado quase em regime de voluntariado,<br />
muitas vezes fora do horário de trabalho.<br />
Não é só o entusiasmo das crianças que a inspira. Os<br />
professores que aderiram também contribuem, elogiando<br />
a iniciativa e considerando-a um importante<br />
instrumento de sedução para as STEM.<br />
Falta dizer que o DXC Code Challenge tem uma<br />
abrangência muito grande, uma vez que os concorrentes<br />
podem participar nele individualmente ou através<br />
da escola. Em termos práticos, isto quer dizer que para<br />
entrar no concurso basta ter acesso a um computador<br />
e vontade de criar um jogo.<br />
Este ano a DXC Technology chegou ao número máximo<br />
de crianças a que podia só com os seus próprios<br />
meios. Está na altura de partilhar o “ouro” com o sistema<br />
educativo, ainda mais agora, quando se decidiu<br />
que em edições futuras do concurso os temas vão ter<br />
uma vertente marcadamente pedagógica e social. O da<br />
próxima edição, por exemplo, é “desperdício alimentar”.<br />
Fica dado o alerta ao meio educativo.•<br />
113
ultimas<br />
OS MAIS RÁPI<strong>DO</strong>S E INTELIGENTES DE SEMPRE<br />
PROMETEM ajudar os utilizadores a fazer mais no seu dia a dia, como criar um projeto criativo, começar<br />
um negócio e muito mais. Apresentam-se como os equipamentos Windows mais rápidos e inteligentes do<br />
mercado. Os novos Copilot+ PC da Microsoft Surface, o Surface Laptop e o Surface Pro, já estão disponíveis,<br />
com duas ofertas em exclusivo para o mercado português. A marca garante que há três motivos que<br />
tornam os novos Copilot+ PC da Microsoft Surface particularmente incríveis: foram desenvolvidos para<br />
o trabalho e entretenimento diário, disponibilizam experiências exclusivas de IA para potenciar a criatividade<br />
e a produtividade e desbloqueiam novos níveis de flexibilidade, particularmente o novo Surface Pro<br />
Flex Keyboard. A aplicação Copilot está apenas a um clique de distância com uma tecla dedicada, naquela<br />
que é uma das novidades nos teclados Windows 11 nos Copilot+ PC.•<br />
114<br />
REVOLUCIONAR FUTURO <strong>DA</strong> CONETIVI<strong>DA</strong>DE<br />
A TECNOLOGIA Wi-Fi 7 já está disponível no mercado nacional, pelas mãos da MEO, da Altice<br />
Portugal. Esta oferta vem revolucionar o futuro da conectividade, sendo a primeira do país e<br />
uma das primeiras ao nível mundial. O operador tem em curso um projeto-piloto, que antecede<br />
o lançamento comercial do novo router Fiber X7. Vem introduzir um conjunto significativo<br />
de inovações face às gerações anteriores, melhorando toda a experiência de internet sem<br />
fios dos utilizadores. Proporciona maior velocidade de ligação a cada equipamento terminal;<br />
maior número de terminais ligados em simultâneo; redução expressiva da latência, permitindo<br />
melhor performance nas aplicações de realidade virtual e aumentada; maior fiabilidade e<br />
estabilidade; mais segurança; e menor consumo de energia. O projeto foi desenvolvido pela<br />
Altice Labs e 100% desenhado em Portugal, visando uma utilização sem fios intensiva de<br />
tecnologias imersivas, vídeo 8K em tempo real e aplicações de cloud computing. Integrado no<br />
ecossistema MEO Smart WiFi, e com um design inovador, o novo router Fiber X7 será capaz de<br />
entregar por Wi-Fi o máximo de velocidade que a tecnologia XGS-PON suporta.•
Impossível ter boa net<br />
na sua empresa?<br />
Não há impossíveis<br />
para NOS<br />
Adira ao Wi-Fi Pro e experimente<br />
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Saiba mais numa loja NOS ou em nos.pt/empresas
ultimas<br />
DEMOCRATIZAR ACESSO AO DESIGN PARA IMPRESSÃO<br />
HÁ <strong>UM</strong>A NOVA colaboração inovadora para fornecer serviços e experiências únicas de design para<br />
impressão. Resultou de uma parceria da HP com o Canva, que vai permitir o acesso ao universo dos<br />
185 milhões de utilizadores mensais da única plataforma de comunicação visual all-in-one do mundo.<br />
Pretende-se fornecer uma experiência de impressão acessível,<br />
escalável e sustentável a uma maior base de clientes,<br />
com opções de impressão localizadas. E beneficiar tanto<br />
os fornecedores de serviços de impressão da HP como a<br />
comunidade Canva, permitindo que qualquer pessoa que<br />
crie conteúdos visuais na plataforma Canva desenhe e imprima<br />
sem problemas num sistema totalmente integrado.<br />
Este acordo plurianual permitirá aos utilizadores do Canva<br />
desenhar qualquer coisa e imprimir em qualquer lugar<br />
sem comprometer a qualidade e a autenticidade. O software<br />
de automatização líder de mercado da HP, o HP PrintOS<br />
Site Flow, ajudará o Canva a alargar o seu alcance através<br />
da automatização dos processos de produção e expedição<br />
para fornecedores de serviços de impressão.•<br />
PREPARAR FUTURO <strong>DA</strong>S SMART HOME<br />
A NOS acaba de assinar os primeiros contratos para a implementação das NOS Smart Home em Lisboa e no<br />
Porto. Com um total de 65 casas inteligentes e conectadas, as primeiras das quais deverão ser lançadas para<br />
comercialização até ao verão, o operador promete transformar o quotidiano dos novos moradores. As habitações<br />
são projetadas para redefinir o conceito de viver bem, unindo tecnologia de ponta e sustentabilidade.<br />
Cada casa será equipada com soluções inteligentes que simplificam as tarefas diárias e promovem uma utilização<br />
eficiente do consumo energético. A modularidade e flexibilidade permitem uma adaptação a projetos<br />
de diferentes escalas e exigências, oferecendo conforto, eficiência e sustentabilidade. Em Lisboa, o bairro da<br />
Estrela será o cenário das primeiras<br />
NOS Smart Home no empreendimento<br />
Vila do Tijolo. No Porto,<br />
o projeto Asprela Living Lofts, na<br />
freguesia de Paranhos, oferecerá<br />
30 apartamentos T0, localizados<br />
próximo ao polo universitário e<br />
destinados a universitários, pósdoutorados<br />
e jovens profissionais<br />
que procuram uma vida prática e<br />
confortável. Lançada oficialmente<br />
em novembro de 2023 e direcionada<br />
para promotores imobiliários, a<br />
NOS Smart Home visa transformar<br />
a experiência de viver numa casa<br />
inteligente.•<br />
116
ultimas<br />
<strong>UM</strong>A ASSISTENTE VIRTUAL SUPER-INTELIGENTE<br />
Chama-se Hoopie e é uma assistente virtual para engenheiros de rede desenvolvida pela Deloitte, com base<br />
na inteligência artificial generativa. Promete reduzir drasticamente o tempo de execução de tarefas complexas,<br />
ao tornar possível executar comandos na rede móvel de forma automatizada, com base em linguagem<br />
natural, recorrendo a um novo conceito de ‘Intent Based Work Order’. A solução, testada de forma integrada<br />
com a NOS, suporta as operações de redes de telecomunicações e o centro de operações de rede da Deloitte<br />
e gere uma gama alargada de capacidades para melhorar a produtividade e a experiência do utilizador em<br />
várias situações. A Hoopie poderá ser usada em múltiplos outros casos de uso, em que a intenção dos engenheiros<br />
possa ser interpretada em linguagem natural para posterior atuação, bem como forma de guiar as<br />
decisões dos engenheiros quando atuam sobre múltiplas fontes de informação e decisões complexas. Esta<br />
app de IA generativa permitirá dar um salto em direção ao futuro da engenharia de conetividade de redes.•<br />
TRÁFEGO DE <strong>DA</strong><strong>DO</strong>S ALCANÇA RECORDE<br />
COM TAYLOR SWIFT<br />
O TRÁFEGO de dados gerado pelos fãs de Taylor Swift nos dois dias de concertos em<br />
Portugal totalizou 8,6 terabytes (TB) na rede Vodafone, batendo recordes em dois dias<br />
consecutivos. O 2º concerto gerou um tráfego de 4,8 TB, acima dos 3,8 TB do concerto<br />
do dia anterior, que já tinham superado o valor mais elevado processado até àquele<br />
momento no estádio da Luz pela rede da Vodafone. Praticamente metade (49%) do<br />
volume de tráfego no 2º concerto correspondeu à utilização da rede 5G, superando<br />
os 47% do dia anterior. Esta é uma rede marcada por menor latência, mais velocidade<br />
e capacidade de ligação de mais dispositivos. Trata-se de percentagens superiores ao<br />
que normalmente se verifica em eventos desta natureza. O aumento substancial do<br />
tráfego de dados decorre não só da dimensão do evento, como do facto de o perfil de<br />
consumo dos utilizadores estar cada vez mais orientado para o recurso às aplicações<br />
em dispositivos móveis, tais como Instagram, X, Facebook, YouTube ou TikTok.•<br />
118
Estamos a construir um<br />
mundo mais conectado<br />
com sistemas indoor (<strong>DA</strong>S – Distributed Antenna System)<br />
Na Vantage Towers, estamos a construir uma sociedade conectada<br />
com os nossos sistemas <strong>DA</strong>S Neutral Host. As nossas soluções <strong>DA</strong>S<br />
permitem que os operadores de redes móveis forneçam cobertura<br />
de rede em espaços subterrâneos, como túneis e estações de metro.<br />
Também aumentam a cobertura em edifícios com muita afluência,<br />
como infraestruturas desportivas, culturais, lúdicas e aeroportos,<br />
entre outros.<br />
Juntos, vamos conectar a Europa.<br />
www.vantagetowers.com