a conversa “Estruturalmente, vai tu<strong>do</strong> mudar muito quan<strong>do</strong>, à frente das empresas, estiverem as pessoas que, agora, já têm níveis de qualificação mais eleva<strong>do</strong>s” “Entre os 25 e os 34 anos, a qualificação <strong>do</strong>s portugueses já é superior à média europeia. Portanto, quan<strong>do</strong> estas pessoas começarem a chegar aos cargos de decisão, isso terá um impacto brutal no desempenho das nossas empresas e da economia portuguesa no seu conjunto” 20
Tem a vida que achou que queria ter? Quan<strong>do</strong> olha para trás, o que vê? Nunca fiz planos a régua e esquadro. A vida está sempre a surpreender-me… Quan<strong>do</strong> era pequeno não tinha ideia <strong>do</strong> que queria ser? A única coisa que queria era andar pelo mun<strong>do</strong>. Aliás, tive várias hesitações em termos profissionais, mas desde pequeno que tinha esta ideia de que queria sair, queria conhecer o mun<strong>do</strong>. Nunca disse que queria ser advoga<strong>do</strong>, ou bombeiro, ou astronauta. Depois, na a<strong>do</strong>lescência, foi inevitável, tive de me preocupar com o que ia estudar e aí pensei em várias áreas, <strong>do</strong> Jornalismo à Economia, e acabei por ir para Direito. Porquê Direito? O seu pai é engenheiro… Sim, eu sou o primeiro jurista da família. Com um pai engenheiro e um tio arquiteto (e logo Álvaro Siza Viera!), nunca ponderou ir para Engenharia ou Arquitetura? Para Engenharia, nunca. Arquitetura era fascinante, mas havia ali uma questão de talento. Era muito inibi<strong>do</strong>, porque na minha família toda a gente desenha. E eu também desenho, mas desenho tão mal que vi logo que não era para mim. Fui para Direito porque tinha a noção de que aquilo que nos torna especificamente humanos são as construções sociais, que nos permitiram criar civilizações e Esta<strong>do</strong>s organiza<strong>do</strong>s. E isso andava muito à volta <strong>do</strong> Direito? Sim. Como é que aceitamos partilhar regras e princípios que se impõem a to<strong>do</strong>s e que não são dadas pela natureza? Eu sempre tive esta noção, desde muito pequeno, de que um médico estuda aquilo que a natureza criou. Tenta ver como é que funciona o corpo humano e como se tratam <strong>do</strong>enças, mas é uma coisa que já está feita. Quan<strong>do</strong> falamos de humanidades, de arte, de Direito, referimo-nos a criações da espécie humana. E isso é fascinante. Que recordações tem da sua a<strong>do</strong>lescência em Santo Tirso? A sua família tem raízes em Matosinhos, nasceu em Lisboa por acaso… Sim. O meu pai estava em Lisboa a trabalhar (trabalhava na CUF, na altura). Eu passei cá o primeiro ano de vida e depois os meus pais voltaram para Matosinhos. O meu pai, na altura, foi trabalhar para a indústria têxtil, numa época em que o setor se começou a abrir ao merca<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>r. Uma série de jovens engenheiros foram modernizar a indústria têxtil e o meu pai foi um deles. Foi diretor de produção de uma grande empresa no norte. Voltámos para Matosinhos e foi aí que cresci, na terra onde os meus pais tinham cresci<strong>do</strong> também. Depois, na minha a<strong>do</strong>lescência, mudámo-nos para Santo Tirso. Toda a minha vivência, nos primeiros anos de vida, é passada no norte, em regiões muito industrializadas, muito ligadas à vida empresarial. As suas âncoras de vida remontam a esses tempos, a esse lugares? À família? Às amizades? Com os amigos desses tempos mantenho contactos muito remotos. A família sim, é a minha verdadeira âncora. É um sítio onde regressa com regularidade… Segun<strong>do</strong> a minha mãe, com menos regularidade <strong>do</strong> que devia (risos)… Tem saudades da sua infância em liberdade, muito vivida na rua, como acontecia naqueles tempos? Sim, tenho memórias muito felizes de infância, com os meus pais, os meus primos, os meus avós. Tínhamos uma família muito grande, estávamos sempre em contacto. Tínhamos uma casa com jardim, que estava sempre aberta para os meus amigos. Andávamos muito pela rua e morávamos ao pé da praia. As minhas memória de infância são cheias de ligações entre várias gerações, muito entrosamento social. Isso é algo que me deu muita autoconfiança. A partir daí, eu queria era conhecer o mun<strong>do</strong>! E conheceu? Começou a viajar ce<strong>do</strong>? Não. Na altura não se viajava como agora. O meu pai não tinha praticamente férias. E quan<strong>do</strong> tinha, saía com a minha mãe, nós não íamos. Acho que a minha primeira viagem para fora de Portugal foi a Paris, já devia ter uns 18 ou 19 anos. Mas começou a conhecer o mun<strong>do</strong> antes de viajar… Sim, isso sim. Através das leituras, da busca pelo conhecimento. Na infância, era fascina<strong>do</strong> por mapas. Fazia coleção. A<strong>do</strong>rava Geografia, História – a história das sociedades. Lia imenso. Para mim, o mun<strong>do</strong> era o meu quintal. Só estava à espera de chegar lá. Foi daí que veio a sedução pela política? A política foi algo que o seduziu desde novo? Desde sempre. Porquê? O Direito – e através dele também a política – é a maneira que os humanos encontraram para organizar as 21
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