COMUNICAÇÕES 246 - Presidente do 32º Digital Business Congress - TIC fazem coisas excecionais
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a conversa<br />
28<br />
-me o salário. Basicamente, tinham as regras feitas e as<br />
tarefas definidas e eu tinha de executar, aceitar e pronto.<br />
Mas aqui é diferente, aquilo que me dizem é que tenho<br />
de alcançar resulta<strong>do</strong>s, e quem define o processo<br />
sou eu”. O que ele sente é que nas empresas portuguesas<br />
o contexto é muito adverso, no que diz respeito à<br />
progressão de carreira e aos desafios profissionais que<br />
lhe são lança<strong>do</strong>s.<br />
Tem to<strong>do</strong>s os filhos a trabalhar fora?<br />
Não, porque o terceiro ainda não tem idade para ir.<br />
Este é o grande problema da nossa economia: agora<br />
que começámos a qualificar o capital humano, não demonstramos<br />
capacidade de o absorver. Não é um tema<br />
de impostos, não é apenas um tema de salários. É sobretu<strong>do</strong><br />
a maneira como dizemos aos mais novos que<br />
contamos com o contributo deles nas empresas.<br />
Somos o país da Web Summit, temos um ecossistema<br />
empreende<strong>do</strong>r florescente, batemos recordes de<br />
investimento estrangeiro<br />
em centros de competências<br />
tecnológicos, o nosso<br />
talento é muito procura<strong>do</strong>.<br />
Mas temos um grande<br />
problema ao nível <strong>do</strong> talento.<br />
Não só somos procura<strong>do</strong>s<br />
pelo nosso talento, como<br />
também somos um país<br />
onde as empresas internacionais<br />
sabem que, se<br />
criarem aqui centros de<br />
operações tecnológicos ou<br />
industriais, conseguem<br />
atrair facilmente talento de outros países porque as<br />
pessoas gostam de vir para cá trabalhar.<br />
Temos todas as razões para acreditar, apesar da conjuntura<br />
complicada que vivemos neste momento?<br />
Acho que sim. Aliás, acho que a conjuntura não está<br />
assim tão complicada, porque temos a economia a<br />
crescer, temos forte criação de emprego. Os problemas<br />
que temos são muito diferentes <strong>do</strong>s que tínhamos há<br />
12 ou 13 anos. Nessa altura, as dificuldades eram de<br />
subocupação da nossa capacidade, tínhamos mais<br />
pessoas <strong>do</strong> que empregos disponíveis, casas vazias<br />
que ninguém queria comprar, investimento em baixo,<br />
a economia que não crescia, etc. Hoje o que temos é<br />
uma economia que cresce e que cria emprego. Não há<br />
pessoas para os lugares disponíveis, as casas tornam-se<br />
caras, porque há mais procura <strong>do</strong> que oferta. Acho que<br />
isto são melhores problemas <strong>do</strong> que tivemos no passa<strong>do</strong>,<br />
sem dúvida.<br />
“Não partilho nada desta<br />
ideia de que a economia<br />
portuguesa está estagnada<br />
há 20 anos. Não acho que<br />
seja verdade!”<br />
Ainda é possível à Europa liderar em termos tecnológicos,<br />
ten<strong>do</strong> em conta os enormes avanços de outras<br />
geografias, particularmente os EUA e a China? Parece<br />
que andamos sempre a reboque. Veja-se o exemplo<br />
das ajudas diretas às empresas: só reagimos depois de<br />
Washington avançar com um mega pacote para proteger<br />
as suas empresas…<br />
Há meia dúzia de anos, a Europa começou a perceber<br />
que estava numa situação muito difícil <strong>do</strong> ponto de<br />
visto económico e tecnológico, porque o modelo europeu<br />
é extremamente frágil estrategicamente. A nível<br />
tecnológico, nós liderávamos certos setores, como a<br />
automóvel, os transportes, etc. Mas as tecnologias <strong>do</strong><br />
futuro não as <strong>do</strong>minávamos – estavam a ser desenvolvidas<br />
nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e na China. Portanto, passámos<br />
a ser toma<strong>do</strong>res de tecnologia. Isto é gravíssimo.<br />
Se não detemos o maior valor, não somos capazes de<br />
gerar excedentes para pagar o nível de vida <strong>do</strong>s europeus.<br />
Há uma década que se sente isto como um problema:<br />
a perda da liderança tecnológica. Além disso,<br />
temos uma dependência<br />
estratégica absolutamente<br />
decisiva de matérias-primas<br />
e de componentes,<br />
de energia, recursos minerais,<br />
componentes críticos<br />
em vários setores. Começámos<br />
a perceber que<br />
comprávamos tu<strong>do</strong> fora.<br />
E a guerra veio a agudizar<br />
esse sentimento, não foi?<br />
A guerra e a pandemia.<br />
Fizeram-nos perceber que<br />
nos faltavam <strong>coisas</strong> essenciais<br />
para a vida das nossas populações. E esta noção<br />
de fragilidade e de dependência estratégica já lá estava.<br />
Somos um continente sem capacidade militar, o<br />
que é complica<strong>do</strong>, porque estamos dependentes <strong>do</strong><br />
exterior. A Europa sempre dependeu da proteção <strong>do</strong>s<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />
E o que está a ser feito?<br />
Em 2021 aprovámos um pacote de 750 mil milhões de<br />
euros para investir em tecnologias digitais na autonomia<br />
e resiliência estratégica e na transição climática.<br />
É isso que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estão a fazer agora. Mas<br />
como eles têm uma união política muito forte, quan<strong>do</strong><br />
tomam uma decisão, avançam muito depressa. O problema<br />
da Europa é que to<strong>do</strong>s os países europeus – qualquer<br />
um deles, mesmo a Alemanha – são demasia<strong>do</strong><br />
pequenos para serem internacionais. Só em conjunto é<br />
que temos dimensão para enfrentar os desafios globais<br />
com os quais nos comprometamos, mas não temos