COMUNICAÇÕES 248 - VIRGÍNIA DIGNUM: IA RESPONSÁVEL PRECISA DE "REGRAS DE TRÂNSITO"
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em destaque|digital union<br />
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se orienta em torno de quatro eixos: a independência<br />
editorial, o aumento da transparência, a proteção dos<br />
conteúdos nas plataformas online e a cooperação entre<br />
entidades nacionais e europeias.<br />
As principais novidades que o advogado da VdA<br />
identificou neste documento são medidas que visam<br />
proteger a independência editorial dos fornecedores<br />
de serviços de comunicação social, através de uma série<br />
de direitos que lhes são reconhecidos. Uma das propostas<br />
é a da proibição de medidas adotadas pelo Estado<br />
ou por entidades privadas que tenham como efeito<br />
a interferência nas políticas e decisões editoriais. Tiago<br />
Bessa também referiu como relevante a proibição de<br />
“quaisquer tentativas de revelação de informações,<br />
incluindo as fontes utilizadas pelos jornalistas”, bem<br />
como “a instalação de mecanismos de vigilância e de<br />
espionagem dos fornecedores de serviços de comunicação<br />
social”.<br />
No reforço da proteção da atividade jornalística independente<br />
também existe a preocupação de o legislador<br />
“ obrigar os Estados<br />
-membros a ter mecanismos<br />
que permitam aos<br />
fornecedores de serviços<br />
de comunicação social<br />
recorrerem rapidamente<br />
a uma entidade quando<br />
sentirem os seus direitos<br />
violados”, apontou Tiago<br />
Bessa.<br />
A obrigação de assegurar<br />
a divulgação de informação<br />
sobre os proprietários<br />
dos órgãos de comunicação social também é outra<br />
medida relevante nesta proposta, que visa despistar<br />
conflitos de interesse que possam afetar a independência<br />
editorial.<br />
Existe outra novidade relevante nesta proposta da<br />
comissão, desta feita relativamente à moderação de<br />
conteúdos pelas plataformas digitais, que determina<br />
que essa moderação não se pode basear unicamente<br />
em decisões algorítmicas, sendo pois necessário haver<br />
recursos humanos que façam essa avaliação.<br />
Além do Comité Europeu dos Serviços de Comunicação<br />
Social, uma entidade que já existe e cuja margem<br />
de manobra a CE pretende alargar, o European Media<br />
Freedom Act cria uma figura nova, a do Grupo de Peritos,<br />
que terá representantes da indústria do setor e da<br />
sociedade civil, cuja função é a de assessorar e fiscalizar<br />
a atividade regulatória do comité.<br />
Este conjunto de medidas que Tiago Bessa destacou<br />
para análise foram o mote para a discussão que veio a<br />
seguir entre os representantes de três dos maiores players<br />
do setor da comunicação social em Portugal. Como<br />
A obrigação de divulgar<br />
informação sobre os<br />
proprietários dos órgãos<br />
de comunicação social está<br />
prevista no documento<br />
profissionais do terreno, revelaram sobretudo preocupação<br />
quanto à real eficácia de algumas delas. E no ar<br />
deixaram a certeza de que os desafios que hoje se colocam<br />
ao setor não deixam, sequer, entrever o que se<br />
seguirá no futuro.<br />
PONTAS SOLTAS<br />
“A autonomia não é apenas uma questão regulamentar,<br />
a autonomia também tem a ver com a sustentabilidade<br />
dos projetos em que estamos” – António José<br />
Teixeira, cuja intervenção abriu o debate, pôs o dedo<br />
na ferida, sublinhando que legislar é importante, mas<br />
não é tudo. Admitindo que “em Portugal ainda temos<br />
um ecossistema de baixo risco, ou risco médio quando<br />
se olha para questões de pluralismo e autonomia<br />
editorial”, realça que em contrapartida “a transparência<br />
da propriedade é uma questão crítica” no país:<br />
“Podemos ter atores no mercado cuja razão de ser não<br />
conhecemos e que obviamente prejudicam a saúde e a<br />
convivência dos vários projetos”. Nesse sentido saúda<br />
o facto de o diploma comunitário<br />
pretender introduzir<br />
normas que promovem<br />
a transparência<br />
quanto à propriedade dos<br />
órgãos de comunicação<br />
social, pois esse é um fator<br />
de confiança, que favorece<br />
a independência editorial<br />
e tem repercussões não só<br />
na “saúde da democracia,<br />
mas também na saúde das<br />
empresas”, porque “a confiança<br />
do mercado também depende disso e o facto de<br />
todos respeitarmos regras semelhantes introduz uma<br />
convivência mais saudável”.<br />
Partilhando as mesmas preocupações, Ricardo Costa<br />
apontou o dedo ao regulador: “Nós temos um problema<br />
não na lei, mas no controlo, que é totalmente<br />
ineficaz”. E cita exemplos: “O Álvaro Sobrinho foi dono<br />
de um jornal em Portugal durante vários anos e a Isabel<br />
dos Santos não teve um canal de TV por um triz, embora<br />
não cumprisse nenhuma regra de compliance para<br />
poder ser dona de um órgão de comunicação social”.<br />
Mas a questão da falta de transparência da propriedade<br />
dos órgãos de comunicação social sendo crítica,<br />
não foi o que o diretor de informação da SIC identificou<br />
como o principal problema do setor. “As grandes<br />
plataformas online”, frisa, “é que alteraram totalmente<br />
o ecossistema de media”, pois nunca antes tinham surgido<br />
no mercado “empresas com um poder global tão<br />
grande como estas empresas transnacionais, que têm<br />
controlo nos vários vetores da cadeia de produção, distribuição<br />
e consumo, porque produzem software, são