itech BERNARDO CORREIA: Paixão antiga 34 No tempo em que não havia “nativos digitais” Bernardo Correia, <strong>de</strong> certo modo, foi um precursor. Aos cinco, já brincava com computadores, antes dos <strong>de</strong>z lançou-se na programação. A tecnologia e ele cresceram juntos e até hoje permanecem inseparáveis. Texto <strong>de</strong> Teresa Ribeiro | Fotos cedidas O PAI TRABALHAVA no Laboratório Nacional <strong>de</strong> Engenharia Civil, um dos poucos sítios em Portugal on<strong>de</strong> existiam computadores a sério. Eram enormes, daqueles que ainda trabalhavam com cartões perfurados, mas tinham uma espécie <strong>de</strong> vida própria que encantava Bernardo. Sempre que podia experimentava tudo. Carregava nos botões, mexia nos comandos e o ecrã ver<strong>de</strong> reagia. Como a família morava mesmo ao lado do LNEC, era possível, através da janela passar um fio que vinha do laboratório e lhes levava para casa algo que quase ninguém tinha: internet. “Era uma facilida<strong>de</strong> permitida ao meu pai, por causa do trabalho <strong>de</strong>le, mas que eu aproveitava também”, recorda o country manager da Google Portugal. Quando mais tar<strong>de</strong> lhe ofereceram para seu uso pessoal um ZX Spectrum ficou <strong>de</strong>finitivamente rendido aos computadores. Ainda não tinha <strong>de</strong>z anos quando fez o seu primeiro programa: “Um jogo <strong>de</strong> futebol, ridiculamente rudimentar”, recorda divertido. O namoro continuou quando o avô lhe ofereceu um Commodore Amiga 500, hoje uma peça <strong>de</strong> coleção: “Foi o meu primeiro computador a sério, com imagem, som, côr, que eu adorava. Ainda tenho um cá em casa”, partilha. Ao Amiga já juntou outras peças <strong>de</strong>sse tempo: “Consegui encontrar o Spectrum em casa dos meus pais e comprei no eBay a primeira Playstation”. Diz que adora tudo o que tem a ver com a história da tecnologia digital, “a que mais mudou a capacida<strong>de</strong> das pessoas po<strong>de</strong>rem apren<strong>de</strong>r, a força mais igualitária que existe no planeta, pois permite a qualquer pessoa, em qualquer p<strong>arte</strong> do mundo, seja rico ou seja pobre, ace<strong>de</strong>r à mesma informação”. É isto que mais o fascina. Isto e o po<strong>de</strong>r que as TIC mantêm <strong>de</strong> o surpreen<strong>de</strong>r sempre. Apesar do fascínio precoce por esta área, na hora <strong>de</strong> escolher o curso optou por uma via tradicional, pois “a informática ainda era uma coisa <strong>de</strong> nicho”. Licenciou-se em Economia, mas fez carreira em Marketing. Um dia a Google contactou-o para fazer <strong>de</strong> interlocutor entre as gran<strong>de</strong>s marcas e a tecnologia. Ficou como um peixinho na água. Quando entrou, em 2008, ainda não havia Android, tinha acabado <strong>de</strong> sair o iPhone e a Google ainda não tinha lançado o seu primeiro smartphone. “Foi uma altura <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. Encontrava-me em Londres nessa altura, num escritório on<strong>de</strong> havia uns engenheiros que estavam a <strong>de</strong>senvolver essa tecnologia e eu adorava aqueles momentos em que falávamos sobre o que faziam. Foram anos absolutamente fantásticos”. De então para cá, ainda não saiu <strong>de</strong>sta espécie <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> encantamento: “A era da internet está só a começar. Basta pensar que dos 8 biliões <strong>de</strong> pessoas que vivem no planeta, apenas 5 biliões têm acesso à internet”. O futuro para ele é a IA e a automação, que libertarão os seres humanos para coisas cada vez mais estimulantes. Em casa, como seria <strong>de</strong> esperar, vive ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> tecnologia: “Não há uma divisão que não tenha um ecrã”. Mas preocupa-se com o bem- -estar digital, até porque tem três filhos ainda pequenos: “Não <strong>de</strong>ixamos que passem tempo <strong>de</strong>mais à frente <strong>de</strong> ecrãs. A Google tem ferramentas para gerir essa situação. A minha preferida é o Family Link, uma aplicação que permite controlar as horas a que eles têm acesso. E é assim que às 20.30 a internet <strong>de</strong>sliga e os telefones bloqueiam” (risos). Outra ferramenta que usa em casa é o Do Not Disturb, que <strong>de</strong>sliga todas as distrações, mantendo ativos só os canais essenciais. “O preço da liberda<strong>de</strong>”, cita o country manager da Google “é a vigilância eterna”. Este é o lema que segue para que o uso da tecnologia seja “o mais saudável possível”. Nunca se separa do seu Samsung Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha e ecrã dobrável adora e do seu portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã táctil. Last but not the least, Bernardo Correia tem brevet (para ultra-ligeiros) e quando voa também é nas asas da tecnologia, guiado pelo indispensável gps+sky<strong>de</strong>mon.•
Nunca se separa do seu Samsung Galaxy Flit 3, cujo mo<strong>de</strong>lo em concha e ecrã dobrável adora Tem um portátil da Google, <strong>de</strong> ecrã táctil, que leva para todo o lado Para fazer fotos a sério, tem uma Nikkon a sério Coleciona peças <strong>de</strong> tecnologia antigas, como este ZX Spectrum 35