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“A primeira pergunta que se vai fazer é se haverá ajustes salariais com a semana<br />
dos quatro dias”, alerta Mariana Pinto Ramos, associada senior da VdA<br />
que pretendíamos atingir em agosto foram alcançados”,<br />
afirmou no final do verão. Apesar <strong>de</strong> terem consi<strong>de</strong>rado<br />
este ensaio positivo, na Feedzai dizem ainda<br />
não estar preparados para adotar a semana reduzida<br />
durante o ano inteiro, mas ficou já estabelecido que<br />
doravante, em agosto todos os seus 500 colaboradores<br />
vão ter, semanalmente, menos um dia <strong>de</strong> trabalho.<br />
Especializada em finanças pessoais e familiares, a<br />
Doutor Finanças foi mais uma empresa portuguesa a<br />
experimentar este mo<strong>de</strong>lo no verão passado. Tal como<br />
a Feedzai escolheu agosto e, feito o balanço, consi<strong>de</strong>rou<br />
ser esta uma experiência a repetir mas, por enquanto,<br />
só no mês em que por tradição o trabalho<br />
aperta menos.<br />
Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarem estas experiências interessantes,<br />
tanto Tiago Piló como Mariana Pinto Ramos<br />
consi<strong>de</strong>ram que lhes falta algo essencial para que se<br />
possa avaliar o verda<strong>de</strong>iro impacto <strong>de</strong>sta<br />
mudança no país - a representativida<strong>de</strong>:<br />
“A amostra é muito pequena”, afirmam.<br />
Ambos não <strong>de</strong>scartam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
a redução <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho vir a ser<br />
uma tendência a médio ou longo prazo.<br />
De resto, já existe uma iniciativa da UE<br />
para a criação <strong>de</strong> uma diretiva europeia<br />
que venha a harmonizar as legislações<br />
nacionais nesta matéria. Mas até que<br />
passe a ser uma prática generalizada, “a<br />
semana dos quatro dias <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá<br />
começar por partir <strong>de</strong> experiências<br />
concretas do empresariado. Depois o legislador<br />
vai atrás”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m.<br />
Entretanto os mo<strong>de</strong>los híbridos, que<br />
combinam o trabalho presencial e o trabalho<br />
remoto, fazem o seu caminho, ganhando<br />
cada vez mais popularida<strong>de</strong>. A<br />
sua elevada aprovação tem encorajado<br />
organizações públicas e privadas a continuar<br />
por essa via. É o caso da Farfetch.<br />
Ana Sousa, a sua VP of People, diz que na<br />
empresa se aposta na “política <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong>”<br />
e não na “redução <strong>de</strong> horários”:<br />
“Esta política, a que chamamos Making<br />
work, work for you, no fundo traduz a nossa<br />
premissa do trabalho se adaptar ao tempo<br />
<strong>de</strong> cada um e não ao contrário”, afirma.<br />
A expetativa no unicórnio português<br />
é que as suas pessoas “trabalhem 60% do<br />
seu tempo em casa e 40% no escritório”.<br />
Não duvidam <strong>de</strong> que esta “já não é uma tendência, mas<br />
uma realida<strong>de</strong>” e que “o mercado português, que foi até<br />
aqui muito conservador no que diz respeito ao regime<br />
<strong>de</strong> trabalho flexível, vai ter <strong>de</strong> se adaptar” a este novo<br />
mo<strong>de</strong>lo, “se não quiser per<strong>de</strong>r muitos dos seus colaboradores<br />
a longo prazo”.<br />
Os millenials, que já nasceram com asas, e cuja maneira<br />
<strong>de</strong> estar na vida incorpora muitas <strong>de</strong>stas mudanças<br />
na cultura do trabalho, agra<strong>de</strong>cem. Mas no país dos<br />
baixos salários, uma realida<strong>de</strong> que tanto tem frustrado<br />
esta geração, resta ainda esclarecer uma questão: po<strong>de</strong>rá<br />
a oferta <strong>de</strong> horários reduzidos vir a ser usada, em<br />
Portugal, como forma <strong>de</strong> compensação por remunerações<br />
que se quedam abaixo das expetativas? Mariana<br />
Pinto Ramos e Tiago Piló duvidam: “As empresas que o<br />
fizessem per<strong>de</strong>riam competitivida<strong>de</strong>”.•