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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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“A primeira pergunta que se vai fazer é se haverá ajustes salariais com a semana<br />

dos quatro dias”, alerta Mariana Pinto Ramos, associada senior da VdA<br />

que pretendíamos atingir em agosto foram alcançados”,<br />

afirmou no final do verão. Apesar <strong>de</strong> terem consi<strong>de</strong>rado<br />

este ensaio positivo, na Feedzai dizem ainda<br />

não estar preparados para adotar a semana reduzida<br />

durante o ano inteiro, mas ficou já estabelecido que<br />

doravante, em agosto todos os seus 500 colaboradores<br />

vão ter, semanalmente, menos um dia <strong>de</strong> trabalho.<br />

Especializada em finanças pessoais e familiares, a<br />

Doutor Finanças foi mais uma empresa portuguesa a<br />

experimentar este mo<strong>de</strong>lo no verão passado. Tal como<br />

a Feedzai escolheu agosto e, feito o balanço, consi<strong>de</strong>rou<br />

ser esta uma experiência a repetir mas, por enquanto,<br />

só no mês em que por tradição o trabalho<br />

aperta menos.<br />

Apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarem estas experiências interessantes,<br />

tanto Tiago Piló como Mariana Pinto Ramos<br />

consi<strong>de</strong>ram que lhes falta algo essencial para que se<br />

possa avaliar o verda<strong>de</strong>iro impacto <strong>de</strong>sta<br />

mudança no país - a representativida<strong>de</strong>:<br />

“A amostra é muito pequena”, afirmam.<br />

Ambos não <strong>de</strong>scartam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

a redução <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho vir a ser<br />

uma tendência a médio ou longo prazo.<br />

De resto, já existe uma iniciativa da UE<br />

para a criação <strong>de</strong> uma diretiva europeia<br />

que venha a harmonizar as legislações<br />

nacionais nesta matéria. Mas até que<br />

passe a ser uma prática generalizada, “a<br />

semana dos quatro dias <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá<br />

começar por partir <strong>de</strong> experiências<br />

concretas do empresariado. Depois o legislador<br />

vai atrás”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m.<br />

Entretanto os mo<strong>de</strong>los híbridos, que<br />

combinam o trabalho presencial e o trabalho<br />

remoto, fazem o seu caminho, ganhando<br />

cada vez mais popularida<strong>de</strong>. A<br />

sua elevada aprovação tem encorajado<br />

organizações públicas e privadas a continuar<br />

por essa via. É o caso da Farfetch.<br />

Ana Sousa, a sua VP of People, diz que na<br />

empresa se aposta na “política <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong>”<br />

e não na “redução <strong>de</strong> horários”:<br />

“Esta política, a que chamamos Making<br />

work, work for you, no fundo traduz a nossa<br />

premissa do trabalho se adaptar ao tempo<br />

<strong>de</strong> cada um e não ao contrário”, afirma.<br />

A expetativa no unicórnio português<br />

é que as suas pessoas “trabalhem 60% do<br />

seu tempo em casa e 40% no escritório”.<br />

Não duvidam <strong>de</strong> que esta “já não é uma tendência, mas<br />

uma realida<strong>de</strong>” e que “o mercado português, que foi até<br />

aqui muito conservador no que diz respeito ao regime<br />

<strong>de</strong> trabalho flexível, vai ter <strong>de</strong> se adaptar” a este novo<br />

mo<strong>de</strong>lo, “se não quiser per<strong>de</strong>r muitos dos seus colaboradores<br />

a longo prazo”.<br />

Os millenials, que já nasceram com asas, e cuja maneira<br />

<strong>de</strong> estar na vida incorpora muitas <strong>de</strong>stas mudanças<br />

na cultura do trabalho, agra<strong>de</strong>cem. Mas no país dos<br />

baixos salários, uma realida<strong>de</strong> que tanto tem frustrado<br />

esta geração, resta ainda esclarecer uma questão: po<strong>de</strong>rá<br />

a oferta <strong>de</strong> horários reduzidos vir a ser usada, em<br />

Portugal, como forma <strong>de</strong> compensação por remunerações<br />

que se quedam abaixo das expetativas? Mariana<br />

Pinto Ramos e Tiago Piló duvidam: “As empresas que o<br />

fizessem per<strong>de</strong>riam competitivida<strong>de</strong>”.•

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