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COMUNICAÇÕES 247 - PEDRO DOMINGUINHOS O GUARDIÃO DO PRR

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a conversa 22 da causa

a conversa 22 da causa pública. Longe de mim pensar que, mais tarde, seria um trabalhador em funções públicas. O seu pai deve estar muito orgulhoso. Sim, está. Até porque a minha família ficou marcada, no passado, por uma situação particularmente triste. Que situação foi essa? A minha irmã nasceu em 1974 e em 1982 foi-lhe diagnosticada uma leucemia. Foram dois anos muito complicados, e infelizmente não sobreviveu. Isso marca uma família para o resto da vida. Naturalmente. A situação durou cerca de dois anos, com idas e vindas constantes para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A minha mãe dedicou-se a acompanhar a minha irmã. Hoje é diferente, mas naquela altura, sobretudo a 200 km de distância, era muito complicado. À época, os meus avós desempenharam um papel fundamental, porque a minha mãe passava semanas em Lisboa e o meu pai vinha ter com ela ao fim-de-semana. E a minha avó materna, a avó Maria do Carmo, esteve sempre lá. É uma das pessoas da sua vida? Sem dúvida. É a minha referência. A vida dela daria um livro ou um filme. Quando se casou com o meu avô, ele já tinha cinco filhos. Era casado com a sua irmã, que morreu. A minha avó casou muito nova, com 17 anos. A filha mais velha do meu avô era apenas dez anos mais nova do que ela. Um exemplo de alguém que viveu uma vida inteira para os outros. Teve filhos biológicos? Teve a minha mãe. Esse contacto forjou a sua personalidade? Não tenho a mínima dúvida. Ela nunca fez distinção entre os seus filhos. Isso uniu a família para sempre. Nos verões, quando nos juntávamos – a casa era pequena, era onde a minha avó fazia os queijos e onde moravam – cabíamos todos. Éramos mais de 20. Esta questão da família é extremamente relevante para mim. “Com as desigualdades, ir estudar para fora é quase impossível e hoje ainda mais, com a crise da habitação. A questão da proximidade é basilar” Teve o melhor dos dois mundos: um avô empreendedor e uma avó carregada de bondade. Exatamente. O meu avô teve algumas dificuldades, alguns negócios que faliram, mas conseguiu sempre dar a volta por cima. Ainda continua a ter uma ligação umbilical ao Alentejo? Sim, tenho lá a família. Casei com uma pessoa da Chança. Os meus filhos passam os verões ali, sobretudo os mais novos, que são gémeos. Um deles tem a noção muito clara de que quer ser engenheiro agrónomo ou zootécnico, e quer voltar para o Alentejo. Há esta ligação que os meus pais também cultivaram. Vou praticamente todos os meses ao Alentejo e continuo a passar férias lá. Este vínculo constitui um pilar fundamental da minha vida. Foi natural ir para a universidade, quando chegou a altura? Sim, desde muito cedo ambicionei isso. Tenho de agradecer infinitamente aos meus pais terem percebido que a educação era a melhor herança que me podiam dar. No Alentejo e em Chança isto ainda não era normal. Ainda hoje não é normal as pessoas irem para o ensino superior. Como começou a ligação aos politécnicos? Isto vem de onde? Eu terminei o curso e, recordo-me, enviei quatro cartas de emprego, uma delas para a então Escola Superior de Ciências Empresariais, onde estamos neste momento sentados a conversar, que estava a iniciar o projeto. Um dia a minha mãe telefona-me, eufórica, a dizer que eu tinha recebido uma carta registada a dizer que tinha ficado em primeiro lugar no concurso para assistente do primeiro triénio. Esse foi o meu primeiro emprego. Esteve na génese deste projeto do Politécnico de Setúbal… Sim. Aquilo que me cativou foi construir algo de raiz. Na realidade, foi como fazer crescer um filho. Desde a criação do curso, a construção de novos currículos, o sonho de querer sempre mais… A participação na esco-

la permitiu-me desempenhar um conjunto de cargos – o único que não desempenhei foi o de presidente do conselho técnico-científico, que também não me motivava propriamente. Fui desde coordenador de departamento, coordenador de curso, até responsável pelo núcleo de relações exteriores de ligação às empresas. Portanto, tive a oportunidade de desempenhar os vários cargos e de conhecer a escola de fio a pavio. E de perceber a importância do ensino politécnico. À data, em 1995, o meu conhecimento sobre o ensino politécnico era muito residual. Eu estudei numa universidade. Só depois me apercebi da sua relevância. Foi um caminho duro de se fazer. No início só havia bacharelatos. Lutámos pela possibilidade dos mestrados. Passei por todo este processo de afirmação do ensino, sempre na lógica da exigência, rigor e qualidade. Costumávamos dizer: “A nós ninguém nos deu nada, tivemos de mostrar o que éramos enquanto ensino politécnico”. Ainda hoje me lembro do nome e do número dos meus primeiros alunos, que é uma coisa que ficou para a vida. Em 2009 fui convidado para vice -presidente, com responsabilidade pela área financeira. O Politécnico de Setúbal tem hoje uma situação financeira, com saldos significativos, que lhe permite fazer investimentos nos próximos anos de uma forma muito confortável. Isto é fruto do rigor na gestão que todos os presidentes imprimiram desde muito cedo. Fiquei com dois desafios adicionais em mãos: a inserção na vida ativa e a relação com as empresas, o empreendedorismo. Isso permitiu-me ter uma forte projeção, falar com as empresas e criar um conjunto de projetos que ainda hoje se mantêm. “Passei por todo este processo de afirmação do ensino (politécnico), sempre na lógica da exigência, rigor e qualidade” Daí até assumir a presidência do CSISP foi um passo… A sua grande ligação às empresas e ao território vem desse tempo. Sim, exatamente. Para nós, a questão da partilha sempre foi algo muito relevante. Partilhamos ideias, caminhos, boas práticas. Se há uma boa prática, por que não implementá-la, adaptada às condições locais? É um homem de causas e uma das missões do ensino politécnico é incrementar a inclusão, nomeadamente das famílias desfavorecidas. Isso também foi relevante para o seu caminho? Foi fundamental. Repare, hoje temos um sistema de ensino superior muito capilar. Temos um conjunto significativo de regiões, de comunidades intermunicipais e até de concelhos que têm ensino superior. Com as desigualdades, ir estudar para fora é quase impossível, e hoje ainda mais com a crise da habitação. Portanto, a questão da proximidade é basilar. A razão que 23

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