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COMUNICAÇÕES 247 - PEDRO DOMINGUINHOS O GUARDIÃO DO PRR

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a conversa “Se

a conversa “Se olharmos para rankings internacionais, Portugal não está pior do que muitos países desenvolvidos na produção de conhecimento. Onde estamos mal é na capacidade de partilha e transferência de conhecimento entre centros de saber e empresas” 24 está sempre no top três para a escolha de determinado curso ou instituição é a proximidade. Esta capilaridade é elementar. Portugal quase teve um retrocesso relativamente ao ensino superior – e eu fui muito crítico, sobretudo em 2013 – porque, na altura, sobretudo o secretário de Estado do Ensino Superior tinha uma ideia muito clara de elitização e de uma certa segregação do ensino. Felizmente, na altura o CSISP teve capacidade de resposta e a sociedade entendeu. Assistimos a uma verdadeira democratização do ensino superior. Em 2009, escrevemos o documento “Um Ensino Superior Para Todos”, com um conjunto de propostas nas quais continuo a acreditar profundamente. Como sociedade, devemos aspirar a que todas as pessoas tenham acesso ao ensino superior? Sim. Isso significa para o país ter outras capacidades. Os dados são muito claros: as pessoas com ensino superior permanecem menos tempo no desemprego, conseguem salários mais elevados, adquirem maior mobilidade no mercado de trabalho. E acredito que o ensino politécnico contribui, sim, para uma maior equidade social. Só com pessoas mais qualificadas é que aumentamos a produtividade, atingimos níveis de inovação mais elevados e conseguimos maior partilha de conhecimento entre as empresas, as instituições de ensino superior, os centros de investigação e os territórios. Se olharmos para rankings internacionais, Portugal não está pior do que muitos países desenvolvidos na produção de conhecimento. Onde estamos mal é na capacidade de partilha e transferência de conhecimento entre os centros de saber e empresas, para não falar na inovação e nos modelos de negócio das próprias empresas. Lá está, gestão de relacionamentos… Sim, connecting the dots e, sobretudo, níveis superiores de conhecimento, modelos de negócio mais exigentes e mais internacionalizados. E isso faz-se como? Como se constroem os tais ecossistemas colaborativos? Mudar cabeças nas PME portuguesas deve ser complexo. Temos algumas experiências em setores industriais onde a capacidade associativa foi essencial para escalar essa cadeia de valor. Portanto, a capacidade de agregar valor entre os diferentes players e de ter estratégias devidamente adequadas ao tecido empresarial até existe. A lógica é esta: a produção pode ser muito boa mas se o marketing não coexistir, ficamos incompletos na capacidade de atuar. E vice-versa. Hoje, estamos a viver uma profunda revolução motivada pela transição

verde, que obriga a um conjunto de novos materiais – precisamos da ligação ao conhecimento. Além da importância da diáspora, dos quadros com experiência internacional. O mercado nacional é exíguo e, por mais resilientes que sejam as empresas, chega a uma altura em que estão limitadas em termos de crescimento. Como lidar com isso? Precisamos de crescer de várias formas. E de juntar esforços entre várias empresas, de ter empresas que se associem, que se fundam, umas a adquirir outras, para ter maior capacidade e robustez para atuar nos mercados internacionais. Precisamos de massa crítica. Quando olhamos para a produtividade, temos 10% ou 20% das empresas que se comparam bem com as melhores empresas internacionais. O problema são todas as outras. Como a massa é muito grande, faz puxar para baixo a produtividade média. Nalguns casos, temos muitas empresas zombie que não deveriam estar no mercado. É preciso assumir isto, naturalmente com os impactos que pode ter ao nível do emprego. Mas para isso é que existe a política pública. Interessante essa noção das empresas zombie… Essas empresas lutam pelos mesmos recursos de todas as outras. Se continuam a ter crédito, por exemplo, significa que o investimento está a ir para projetos menos interessantes e não para os mais inovadores, que podem ter maior crescimento. Ter um tecido empresarial mais robusto não significa que as pequenas e médias empresas não sejam relevantes. Temos é de criar um maior número de grandes empresas que atuem nos mercados internacionais porque, nos ecossistemas, há um efeito de arrastamento de outras companhias. Basta olhar para as agendas mobilizadoras para perceber que a maior percentagem de empresas que participa são pequenas e médias. Esta lógica de ecossistema é cada vez mais relevante, porque essas PME têm um conjunto de competências específicas que são essenciais para construir soluções de produtos, serviços, processos, que ajudam as grandes empresas a nível global. As agendas mobilizadoras são um ensaio? Sim, são uma experiência muito relevante. A própria “Temos muitas empresas zombie que não deveriam estar no mercado. É preciso assumir isto, naturalmente com os impactos que pode ter ao nível do emprego” União Europeia está a olhar com muita atenção para as agendas mobilizadoras em Portugal, vistas como uma boa prática. Pela primeira vez temos um programa que olha de forma global para toda cadeia de valor, desde a investigação e desenvolvimento, até à produção e ao marketing. Claro que as agendas mobilizadoras têm o grande desafio do modelo de governação, sobretudo alguns consórcios com mais de 100 entidades. Está otimista com o aumento de mais de mil milhões de euros para as agendas mobilizadoras? A reprogramação é a concretização de um objetivo que o senhor Primeiro Ministro já tinha apoiado. O que a reprogramação faz é concretizar, do ponto de vista financeiro, aquilo que tinha sido um objetivo político. Há aqui uma assunção e uma coerência de financiamento para as agendas mobilizadoras que mostraram mérito – e são 53. Junho de 2026 é o timing limite definido pela Comissão Europeia. Da execução física, sim. Acha que este timing é possível, tendo em conta todos os atrasos? Nós até somos dos mais avançados, mas a Europa, como um todo, está muito atrasada. Por exemplo, a Comissão Europeia pediu a Portugal mais umas semanas para analisar a nossa reprogramação e dar-lhe o ok. Acha que poderá ser ponderado, em termos europeus, um delay do processo? Porque é muito dinheiro, são muitos projetos e muito pouco tempo. Ponto número 1: temos de nos concentrar em executar o que já está aprovado. É uma mensagem que tenho de transmitir: vamos continuar a executar o que está no nosso controlo e o que nos comprometemos. A própria programação prevê um aumento da comparticipação de muitos projetos fruto do aumento de custos. Por causa da guerra. Exatamente. E da inflação, das cadeias de abastecimento que ficaram com disrupções. Ponto número dois: a própria reprogramação para os projetos que estão a decorrer prevê alterações das metas e dos marcos. Ou seja, um deslizamento – não é em todos os projetos, não é todos os componentes, não é todos os in- 25

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