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João Cravinho Entrevista<br />

é que o golpe de Beja não deu rigorosamente<br />

nada e foi rapidamente dominado. Mesmo que<br />

tivesse sido bem sucedido, era fantasiosa a ideia<br />

de que a tomada de um ponto militar originaria,<br />

por simpatia, uma deflagração de adesões.<br />

Houve repercussões das eleições de 58 no<br />

Técnico ou no movimento associativo em<br />

geral ?<br />

Suponho que o Técnico não teria sido atingido<br />

de um modo que o diferenciasse especialmente.<br />

Havia muita gente do Técnico que participava<br />

nas coisas mais diversas e [que pensava] que depois<br />

da fraude eleitoral o regime estaria a aproximar-se<br />

dos seus últimos dias. Porque o regime<br />

dividiu-se com o combate ao Delgado. A remodelação<br />

que se seguiu ao Delgado pôs na rua, simultaneamente,<br />

Caetano e Santos Costa , dupla<br />

razão, uma reforçando, sem querer, a outra, de<br />

enfraquecimento do regime. O Técnico não tinha<br />

uma maneira específica e própria de olhar<br />

as consequências pós-Delgado que o singularizasse<br />

relativamente a qualquer outra escola. É<br />

verdade que Técnico tinha gente do movimento<br />

associativo muito metida quer na candidatura<br />

de Arlindo, quer na de Delgado. Mas, também<br />

nesse ponto, não posso dizer que fosse o<br />

expoente máximo dessa participação da juventude.<br />

Lembro-me, por exemplo, que um homem-chave<br />

de Arlindo era de medicina.<br />

Quem era?<br />

Era o Falcato, destes tipos calmos e tranquilos,<br />

sem grande carisma, mas com enorme capacidade<br />

organizativa.<br />

Como caracteriza as relações institucionais<br />

entre as diferentes associações. Notava a presença<br />

de alunos de outras associações na associação<br />

do Técnico?<br />

As relações em Lisboa eram intensas, no início<br />

uma vez por outra, pré-conflituais, mas isso é o<br />

normal destas coisas. Em geral, direi que se tornaram<br />

intensas e boas.<br />

Pré-conflitual. Não chegava ao conflito<br />

efetivo ?<br />

Viviam-se tempos de grande tensão. Nós, por<br />

definição, éramos todos jovens e uns mais experientes<br />

do que outros. Sobretudo, logo a seguir<br />

416<br />

ao 40900, havia uma certa diferença de avaliação<br />

da situação, de perspetiva de condução da<br />

luta, como também é natural nestas coisas, havia<br />

quem tivesse a ideia de que teria de surgir uma<br />

vanguarda e uma liderança correspondente.<br />

Ora bem, [foi] a RIA que assumiu, e bem,<br />

o papel da junta de coordenação dos diversos<br />

movimentos, mas havia gente que achava que<br />

chegava lá e dizia como é que era e quem não<br />

abanasse as orelhas estava fora das responsabilidades<br />

exigidas pelas circunstâncias. A associação<br />

mais poderosa era a do Técnico, no sentido<br />

em que era a mais organizada e a mais reconhecida<br />

no meio universitário. Dentro da associação<br />

do Técnico não havia grandes divergências<br />

entre nós, mas havia divergências relativamente<br />

ao que defendiam alguns outros dirigentes sobre<br />

o que se devia fazer. A certa altura, foi preciso<br />

explicar que era preciso conduzir as coisas de<br />

modo a que houvesse real unidade no sentido de<br />

evitar o isolamento relativamente aos estudantes<br />

que não pertenciam ao núcleo duro do movimento<br />

associativo. O Técnico tinha condições<br />

para perceber isto bem devido à estrutura de que<br />

falei; o Técnico funcionava desse modo há anos.<br />

E havia outros que tinham a noção de que deveríamos<br />

adotar um curso agressivo e mais radical.<br />

Portanto, no início, isso deu uma certa tensão<br />

mas, devo dizer também que, depois de uma<br />

discussão frontal numa noite que prognosticava<br />

uma situação difícil de aparecimento de diversas<br />

tendências incapazes de encontrar uma<br />

plata forma unitária, na reunião seguinte as coisas<br />

acalmaram e acertámos o passo. Era como se<br />

essa reunião conflituosa tivesse servido para todos<br />

aprendermos um bocado.<br />

Tinham que ceder?<br />

Tínhamos que ser realistas.<br />

Mas que tendências eram essas?<br />

A gente pode olhar as coisas como quiser, mas<br />

é natural que o PC pensasse que era um processo<br />

que ele deveria conduzir. Naturalmente.<br />

E teve que se lhe explicar, de uma maneira ou<br />

outra, que, de facto, o PC era uma força muito<br />

importante, com uma grande capacidade de<br />

intervenção e de fazer circular a informação a<br />

tempo e horas e com grande experiência de organização<br />

em condições difíceis, mais do que os

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