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Paula Fonseca Entrevista<br />

ciplinar à direção da associação e a mais alguns<br />

estudantes.<br />

Como é que se decidia ir para a luta?<br />

No Técnico, não existindo partidos, o movimento<br />

era muito espontâneo. A greve geral do<br />

Técnico não foi proposta pela direção, que foi<br />

ultrapassada. Foi aprovada na RGA por proposta<br />

de dois, até então discretos, colegas da secção<br />

pedagógica. Com a ocupação da sala de alunas<br />

passou-se o mesmo. As coisas cavalgavam,<br />

e num ambiente de festa. A luta antifascista,<br />

quando é coletiva, é uma festa porque partilha-<br />

-se tudo e mesmo o medo (a pior coisa que gera<br />

um regime totalitário), quando estamos juntos,<br />

transforma-se em força. Durante a luta que se<br />

seguiu ao fecho do Técnico, surgiram os novos<br />

dirigentes. A direção da associação desapareceu<br />

enquanto tal. A direção do movimento era traçada<br />

em reuniões com a participação de alguns<br />

dos membros da direção, mas sobretudo com<br />

novos dirigentes que emergiram na luta. Mariano<br />

Gago, já colaborador da associação desde o<br />

tempo em que fazíamos teatro e presidente da<br />

associação em 69/70, é exemplo disso.<br />

Os limites da luta legal num regime fascista<br />

determinaram, entre outras coisas, o surgimento<br />

de organizações clandestinas para continuar<br />

a luta. Assim, nos anos seguintes, começa a haver<br />

mudanças no movimento associativo muito<br />

mais controlado por organizações políticas. O<br />

PC começa a ganhar mais peso nalgumas associações<br />

e surgem várias organizações com ideologia<br />

marxista-leninista, nomeadamente na do<br />

Técnico.<br />

Mesmo com a associação fechada a cantina ia-<br />

-se mantendo?<br />

Eles nunca fecharam, de facto, a associação. Fecharam<br />

o Técnico durante uns tempos, demitiram<br />

a direção e creio que proibiram o Binómio.<br />

Pudemos continuar a fazer coisas e, como<br />

estávamos semi-legais, até podíamos fazer coisas<br />

mais avançadas. Para exemplo, para substituir<br />

o Binómio, criámos um folheto cujo nome<br />

era, salvo erro, Unidade, em que já noticiávamos<br />

as lutas dos operários, nomeadamente da TAP e<br />

da Lisnave, e tentávamos alargar a sua distribuição<br />

para fora dos muros da escola. Em consequência<br />

dos processos disciplinares, como quem<br />

595<br />

chumbava era recrutado e podia ir para a guerra,<br />

três membros da direção da associação, o Luís<br />

Leitão, o Veludo e o Vasco Esteves saíram do<br />

país e só voltaram pós-25 de Abril.<br />

As mulheres não tinham essa agravante.<br />

Mas tinham os nossos companheiros. Se o<br />

meu marido fosse mobilizado para a guerra estava<br />

assente que se ia negar e portanto tínhamos<br />

que emigrar. O futuro era a guerra, não era<br />

ter emprego e a nota não interessava, o problema<br />

era o chumbo ou a passagem. Porque quem<br />

chumbava era incorporado. Não havia competições<br />

para ter melhores notas e para conseguir<br />

aquele emprego, o que se pretendia era tentar<br />

fugir à guerra. Do ponto de vista humano, esse<br />

aspeto solidário era muito agradável. A solidariedade<br />

entre estudantes era óbvia no movimento<br />

associativo , mas também se passava entre<br />

os outros estudantes. O Técnico era assim. Nos<br />

meus primeiros anos de assistente isto ainda era<br />

assim mas, depois do 25 de Abril, notou-se a<br />

diferença, a competição começou como é natural.<br />

Mas para nós, que tínhamos vivido aqueles<br />

tempos de fraternidade, era triste.<br />

Fale-me da relação da associação do Técnico<br />

com outras AE.<br />

Tínhamos a reunião interassociações (RIA) e<br />

era ela que dirigia o conjunto do movimento associativo.<br />

Na altura era uma estrutura já um bocado<br />

obsoleta. De facto estavam representadas<br />

não só os movimentos associativos de todas as<br />

escolas e do liceu, mas também outras instituições<br />

como o cineclube e um voto do cineclube<br />

valia tanto como o do Técnico ou outra escola ,<br />

o que se prestava a que certas posições conotadas<br />

com o PCP (havia várias escolas com orientação<br />

do PCP como Medicina e Económicas)<br />

obtivessem mais votos que as escolas que representavam.<br />

Nós éramos disciplinados e não<br />

usávamos o estatuto de grande potência. Muitas<br />

associações tinham sido fechadas e os movimentos<br />

pró-associativos reuniam e usavam as<br />

nossas infraestruturas, como Ciências, Arquitetura<br />

e o MAESL (liceus). Também estava instalado<br />

no Técnico o aparelho técnico da RIA, chamava-se<br />

SCIP (Secretariado coordenador de<br />

informações e propaganda), de que o João Crisóstomo<br />

era a alma. Nos copiógrafos faziam-se

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