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Jorge Dias de Deus Entrevista<br />

em Portugal. Não disse dos Estudantes Portugueses.<br />

Realmente tínhamos um bocado de medo de<br />

tocar na questão colonial e não sabíamos bem<br />

como havíamos de fazer. Se bem que ainda era<br />

o começo da guerra.<br />

Em 62 havia só uma frente.<br />

Exato, mas a CEI era feita quase por angolanos.<br />

Nessa altura, cerca de uma centena foram para<br />

a União Soviética, como o Luís Madeira, de<br />

Cabo Verde que foi para lá tirar o curso. Houve<br />

vários que desapareceram de repente. Nós dávamo-nos<br />

bem, mas não éramos muito íntimos.<br />

Eram mais contactos profissionais na associação<br />

e no boletim.<br />

Portanto, eram reivindicações de tipo sindical,<br />

para condições de estudo, de livros mais baratos,<br />

coisas assim. Além da organização política normal,<br />

no sentido de assembleias, tínhamos os delegados<br />

de curso e a Junta de Delegados que nos<br />

permitia ter sempre uma ligação institucional à<br />

escola. Porque havia os estudantes cá de cima, e<br />

os estudantes lá de baixo. Os primeiros, eram os<br />

estudantes normais; os outros eram os associativos.<br />

Eu tinha sempre a preocupação de evitar<br />

essa divisão, e a Junta de Delegados era o que<br />

nos servia de ponte, porque eram eleitos dentro<br />

das turmas ou dos cursos. Cada curso é que nos<br />

dizia qual era o seu representante. Isso permitia-nos<br />

ter uma ligação institucional e direta à<br />

escola. Isso evitava-nos a tal cisão. Portanto, nós<br />

insistíamos sempre muito nas questões académicas.<br />

Como é que decorriam os processos de luta?<br />

Como se iniciavam, desenvolviam e terminavam?<br />

Voltando à tal questão dos associativos e dos<br />

outros, eu tinha sempre a preocupação da tal<br />

divisão, e era importante mantermos os outros<br />

garantidos do nosso lado. Essa parte de dar<br />

seriedade à associação era uma coisa muito importante.<br />

Garantíamos isso através: dos delegados<br />

de curso, das edições que saíssem a tempo e<br />

horas e a preços eram razoáveis. Era importante<br />

nós publicarmos as folhas todas e termos o controle<br />

das folhas dos professores e os livros que<br />

eles faziam.<br />

468<br />

Os processos de luta eram muitos. Por exemplo,<br />

em 62 fez-se uma coisa extraordinária que foi<br />

a secção fotográfica. As fotografias que existem<br />

atualmente do Dia do Estudante de 62, penso<br />

que 80% foram feitas por nós e pela secção fotográfica.<br />

Tinham os seus repórteres que mandavam<br />

para a Cidade Universitária e para as<br />

manifestações de rua, etc. Daí que a secção fotográfica<br />

fosse extremamente importante para<br />

fazer um dossiê fotográfico da luta de 62. Nessa<br />

secção estavam o Jaime Reis, o Aquiles de Oliveira.<br />

Este último era uma pessoa com ideias e<br />

era de esquerda, mais independente.<br />

Também fazíamos a agitação política através<br />

da distribuição de comunicados. A certa altura ,<br />

por exemplo, as reuniões dos dirigentes associativos<br />

eram guardadas – tínhamos estudantes a<br />

fazer cerco ao sítio onde estava a haver reuniões<br />

da RIA. Tudo dependia da situação em que nós<br />

estávamos. Se sentíamos força para poder fazer<br />

abertamente uma coisa, fazíamos. Mas isso variava<br />

muito e isso desnorteava um bocado a polícia,<br />

porque eles nunca sabiam onde nós estávamos<br />

e onde os comunicados eram feitos nem<br />

quem os escrevia.<br />

Praticamente, eles nunca apreenderam os<br />

comunicados. Julgo que havia dois ou três sítios<br />

onde eram feitos. Como referi, penso que<br />

o principal era na Faculdade de Ciências, nuns<br />

barracões lá para trás. Mas iam mudando as<br />

pessoas e o sítio. Eu nunca soube onde eles eram<br />

feitos , por exemplo.<br />

Havia pessoas no Técnico, como os do grupo<br />

do Redol, que sabiam. A propaganda era uma<br />

rede quase clandestina que atuava a um nível<br />

um pouco abaixo. Não apareciam como os dirigentes,<br />

os presidentes, os vice-presidentes . Era<br />

uma rede mais esquisita. Essa rede era muito<br />

importante, porque com ela fazíamos o que<br />

era possível. Podíamos fazer um comunicado à<br />

meia-noite para sair às 7 da manhã e estar em<br />

qualquer sitio: em Coimbra, em Letras, em Medicina,<br />

etc. Portanto, essa rede funcionava lindamente.<br />

Como se dava o processo de decisão de ir para<br />

a luta?<br />

É preciso não esquecer que havia partidos por<br />

trás que também queriam aproveitar a nossa<br />

luta. E, pelo menos, o PS e o PCP faziam isso,

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