25.03.2013 Views

Vis%C3%B5es%20do%20T%C3%A9cnico%2C%20no%20Centen%C3%A1rio%201911-2011

Vis%C3%B5es%20do%20T%C3%A9cnico%2C%20no%20Centen%C3%A1rio%201911-2011

Vis%C3%B5es%20do%20T%C3%A9cnico%2C%20no%20Centen%C3%A1rio%201911-2011

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Paula Fonseca Entrevista<br />

malta que andou a dar entrevistas sobre isto, já<br />

não me lembro quem foi.<br />

Houve vária gente a dar entrevista, mas só<br />

foi chateado o Sacra. Nós passámos toda a informação<br />

que pudemos, nomeadamente com<br />

a conferência de imprensa realizada no DTU,<br />

aquilo deu brado e a PIDE ficou irritada.<br />

Na cronologia que os antigos alunos do IST fizeram<br />

vem a referência ao Fernando Sacramento,<br />

que terá sido chamado à PIDE e interrogado<br />

pelo inspetor Sachetti, que pretendia<br />

espancá-lo. Ele tê-lo-á ameaçado com a divulgação<br />

de um filme feito pelos estudantes sobre<br />

as inundações na televisão sueca?<br />

Toda a direção da associação do Técnico, com<br />

exceção de mim e do Veludo, foi chamada à<br />

PIDE. No entanto, só o Sacra foi interrogado.<br />

Os outros ficaram à espera numa sala e depois<br />

foram mandados embora. Já não sei quem interrogou<br />

o Sacra, mas não o espancaram. Lembro-<br />

-me de estarmos muito inquietos na associação<br />

até tarde e depois, com grande alívio, lá vimos<br />

chegar o Sacra.<br />

O movimento em torno das cheias tem consequências<br />

no ME. Muitas das mais de 100 moções<br />

com propostas para as linhas de ação do<br />

movimento apresentadas ao IV Seminário dos<br />

Estudos Associativos, feito na piscina do<br />

Técnico lá para março desse ano, refletem essa<br />

vivência. As principais linhas de ação que saíram<br />

desse seminário, qualquer coisa como viragem<br />

aos cursos e abertura à nação, mostravam<br />

que o movimento queria alargar a sua base de<br />

apoio nos estudantes e intervir no país. Queríamos<br />

ir para a rua. É durante o seminário que se<br />

faz a primeira manifestação anticolonial a pretexto<br />

de protesto contra a política americana na<br />

guerra do Vietname. Pela primeira vez a polícia<br />

de choque apareceu com cães. Que medo!<br />

Quais as principais reivindicações dos estudantes<br />

ao longo do tempo em que esteve no<br />

Técnico?<br />

Ao longo dos anos as razões das lutas e as suas<br />

formas foram mudando. Quando eu entrei no<br />

Técnico, nas assembleias gerais, o que me lembro<br />

mais é de ouvir o Redol dizer em defesa de<br />

um dado aluno que tinha sido preso:<br />

– Eu tenho a certeza que ele não é comunista.<br />

594<br />

donde se podia deduzir que os comunistas, em<br />

princípio, podiam ser presos, aquele senhor é<br />

que não era comunista. O movimento associativo<br />

era tão recuado quanto isto. No meu tempo já<br />

não havia este discurso, mas ainda não se falava<br />

abertamente da guerra colonial. Depois de me<br />

formar estive um ano em Paris e, quando vim,<br />

eram então dirigentes do Técnico o Mariano<br />

Gago e de Económicas o Félix Ribeiro. Fui assistir<br />

a uma reunião na Cidade Universitária em<br />

que estes discursavam e fiquei muito surpreendida,<br />

pois estavam a discutir as teorias do Mao.<br />

Começou-se também a falar mais abertamente<br />

contra a guerra colonial. Houve um grande<br />

salto.<br />

Depois da campanha de solidariedade e do<br />

Seminário de Estudos Associativos dá-se Maio<br />

de 68 que teve um grande impacto no movimento<br />

associativo. Nesse verão, muitos de nós<br />

foram nas férias para Paris e traziam as novidades<br />

e aquela sensação que podíamos mudar<br />

o mundo.<br />

O movimento de 68/69 começa porque, perante<br />

o protesto dos estudantes pelo aumento<br />

dos preços na cantina, a associação exige ao<br />

governo maiores subsídios. Este foi o pretexto ,<br />

podia ter sido um outro qualquer, o mal-estar<br />

era de fundo queríamos a liberdade e o fim da<br />

guerra colonial. Como forma de luta resolvermos<br />

fazer um piquenique no pavilhão central.<br />

O então diretor Almeida Alves tenta evitá-lo<br />

só permitindo a entrada no pavilhão aos alunos<br />

que aí iam ter aulas. Fizemos uma reunião geral<br />

com parte dos alunos dentro do pavilhão e<br />

os outros cá fora. A comunicação entre os dois<br />

grupos era através da sala das alunas que nessa<br />

assembleia foi extinta. No fim lá fizemos o piquenique<br />

em que além da comida dávamos flores<br />

(talvez por influência dos hippies e de Woodstock),<br />

mesmo ao diretor que almoçou connosco<br />

e permitiu a realização da RGA no salão nobre<br />

do Técnico. Foi decidida greve geral ilimitada.<br />

Essa vontade de lutar por novos horizontes<br />

era bem expressa pelo cartaz, atualmente no<br />

Museu da PIDE, que fizemos para decorar o<br />

pavilhão onde se lia A escalada continua. A escalada<br />

continuou com a PIDE a invadir a associação,<br />

o fecho do Técnico e o processo dis-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!