A grande Depressão do Século XXI e a Riqueza Fictícia
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economia veremos que o total <strong>do</strong>s lucros 8 , incluin<strong>do</strong> os fictícios, é superior à magnitude <strong>do</strong><br />
excedente produzi<strong>do</strong>.<br />
A dialética <strong>do</strong>s lucros fictícios é a mesma <strong>do</strong> capital fictício: é real <strong>do</strong> ponto de<br />
vista <strong>do</strong> ato individual e isola<strong>do</strong> e fictício <strong>do</strong> ponto de vista da totalidade. Assim, eles são<br />
reais e fictícios ao mesmo tempo.<br />
Não é fácil aceitar essa categoria. E isso, em primeiro lugar, por não aparecer nos<br />
textos de Marx. E também por uma razão mais substantiva: para os que estão convenci<strong>do</strong>s<br />
da profundidade e realidade da teoria marxista <strong>do</strong> valor, aceitar que exista lucro que não<br />
tenha origem na exploração não é uma tarefa fácil. No entanto, é indispensável recordar o<br />
esforço que Marx realizou no livro III d´O Capital para mostrar o processo de mistificação<br />
da origem da mais-valia, ou melhor, <strong>do</strong>s lucros <strong>do</strong> capital. Esse processo é muito profun<strong>do</strong>:<br />
implica que uma simples análise superficial <strong>do</strong> sistema capitalista, da aparência, mostra<br />
que os lucros não têm origem na exploração <strong>do</strong> trabalho.<br />
E, é necessário insistir mais uma vez que essa conclusão não é um simples<br />
equívoco <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, <strong>do</strong> analista. Trata-se de uma conclusão que deriva diretamente da<br />
realidade, expressa o real. Somente que expressa a realidade exclusivamente em uma de<br />
suas duas dimensões: a aparência. É uma conclusão que deriva de uma perspectiva<br />
unidimensional da realidade. Ela não é errada em si, o erro está no fato de ser prisioneira<br />
da unidimensionalidade <strong>do</strong> real. Falta-lhe a perspectiva da outra dimensão: a da essência.<br />
O ponto de vista <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, que só permite observar um indivíduo isola<strong>do</strong> ou um<br />
ato mercantil isola<strong>do</strong>, é fundamental nesse aspecto.<br />
Assim, não podemos negar que, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> dia a dia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, <strong>do</strong><br />
ponto de vista <strong>do</strong> ato individual e isola<strong>do</strong>, que o lucro de um determina<strong>do</strong> empresário se<br />
deve à sua competência, à sua sagacidade. Mas isso não nega que a magnitude total <strong>do</strong><br />
lucro econômico, disponível para ser distribuí<strong>do</strong> entre seus beneficiários seja, de fato, fruto<br />
da exploração <strong>do</strong> trabalho produtivo. Quan<strong>do</strong> estudamos a transformação <strong>do</strong>s valores em<br />
preços de produção vimos como a distância, a contradição, entre essência e aparência<br />
(valor e preço) é tão profunda. Ali, a aparência é resulta<strong>do</strong> de processos de transferência de<br />
valor e, por tanto, de redistribuição da mais valia entre frações <strong>do</strong> capital e entre empresas<br />
ou agentes dentro dessas frações. A análise de Marx chega a mostrar isso, com muita<br />
profundidade. É possível mostrar até por que a magnitude total da mais valia difere da<br />
magnitude total <strong>do</strong> lucro, desde que ele esteja medi<strong>do</strong> em preço de produção.<br />
8 Entendi<strong>do</strong>s no nível de abstração <strong>do</strong> primeiro capítulo <strong>do</strong> Livro III d´O Capital de Marx.<br />
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