11.04.2013 Views

Mistério e suspense na narrativa policial de Marcos - Centro de ...

Mistério e suspense na narrativa policial de Marcos - Centro de ...

Mistério e suspense na narrativa policial de Marcos - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

11. Criados — tais como mordomos, valetes, guardas florestais,<br />

cozinheiros e afins — não <strong>de</strong>vem ser escolhidos pelo autor como culpados. Isso é<br />

uma questão <strong>de</strong> princípio, pois constitui solução fácil em <strong>de</strong>masia. Mostra-se<br />

insatisfatória, leva o leitor a achar que <strong>de</strong>sperdiçou o tempo. O culpado <strong>de</strong>ve ser a<br />

criatura <strong>de</strong>cididamente merecedora — alguém que <strong>de</strong> modo comum, não estaria<br />

sob suspeita, pois se o crime foi obra sórdida <strong>de</strong> um trabalhador braçal , o autor<br />

não o <strong>de</strong>veria apresentar em livro .<br />

12. Deve haver ape<strong>na</strong>s um culpado, por mais que seja o número <strong>de</strong><br />

homicídios cometidos. Esse culpado po<strong>de</strong>rá, <strong>na</strong>turalmente, dispor <strong>de</strong> um auxiliar<br />

<strong>de</strong> menor importância, mas toda a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá repousar em uma só<br />

pessoa: a indig<strong>na</strong>ção completa do leitor <strong>de</strong>ve ser levada a concentrar-se em uma<br />

só alma negra.<br />

13. As socieda<strong>de</strong>s secretas, camorras, máfias , etc. não <strong>de</strong>vem ter lugar<br />

em estórias <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetives. O autor, nesse caso, entraria em ficção e aventura, no<br />

setor <strong>de</strong> romances e serviços secretos. O assassi<strong>na</strong>to fasci<strong>na</strong>nte e<br />

verda<strong>de</strong>iramente lindo está comprometido, <strong>de</strong> modo irremediável, por qualquer<br />

culpabilida<strong>de</strong> por atacado <strong>de</strong>sse tipo. É bem verda<strong>de</strong> que o assassino , em uma<br />

novela <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetive, <strong>de</strong>ve contar com uma possibilida<strong>de</strong>, mas estaríamos indo<br />

longe <strong>de</strong>mais, se lhe concedêssemos participação em alguma socieda<strong>de</strong> secreta<br />

(com seus escon<strong>de</strong>rijos por toda parte, proteção em massa, etc.) e da qual<br />

pu<strong>de</strong>sse valer-se. Nenhum homicida <strong>de</strong> coturno e com amor próprio quereria<br />

dispor <strong>de</strong> tais vantagens, em seus torneios com a polícia .<br />

14. O método utilizado para o assassi<strong>na</strong>to e o meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrí-lo <strong>de</strong>vem<br />

ser lógicos e científicos. Isto correspon<strong>de</strong> a dizer que pseudociência e os<br />

dispositivos puramente imagi<strong>na</strong>tivos ou especulativos não serão tolerados no<br />

roman policier. Como exemplo disso, o assassi<strong>na</strong>to <strong>de</strong> uma vítima por elemento<br />

recém — encontrado — um super-radium , digamos — não constitui problema<br />

legítimo. Tampouco uma droga rara e <strong>de</strong>sconhecida, que só existe <strong>na</strong> imagi<strong>na</strong>ção<br />

do autor, po<strong>de</strong> ser administrada. O autor <strong>de</strong> estórias <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetives <strong>de</strong>ve limitar-se<br />

,pelo ponto <strong>de</strong> vista toxicológico, à farmacopéia existente. Uma vez que se tenha<br />

a<strong>de</strong>ntrado no reino da fantasia à moda Jules Verne, o autor passa além dos limites<br />

da ficção <strong>policial</strong>, com piruetas nos recantos ignotos da aventura .<br />

15. A verda<strong>de</strong> do problema <strong>de</strong>ve estar à vista , em todos os momentos<br />

— <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o leitor seja arguto bastante para percebê-la. Com isto quero dizer<br />

que se o leitor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tomar conhecimento da explicação para o crime , voltar<br />

a ler o livro, perceberá que a solução , <strong>de</strong> certo modo estivera bem clara — que<br />

todas as pistas realmente indicavam o culpado — e que se houvesse sido tão<br />

perspicaz quanto o <strong>de</strong>tetive, po<strong>de</strong>ria ele próprio Ter solucio<strong>na</strong>do o mistério, sem<br />

chegar ao último capítulo. Que o leitor inteligente muitas vezes o faz, e assim<br />

solucio<strong>na</strong> o problema, é algo que não preciso dizer. Uma das minhas teorias<br />

básicas quanto à ficção <strong>policial</strong> está em que, se uma estória <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetive for<br />

legitimamente construída, será impossível manter a solução afastada <strong>de</strong> todos os<br />

leitores, antes das pági<strong>na</strong>s fi<strong>na</strong>is. Haverá , <strong>de</strong> cerro modo inevitável, certo número<br />

<strong>de</strong> leitores tão argutos quanto o autor, e se este <strong>de</strong>monstrou o espírito esportivo<br />

a<strong>de</strong>quado, bem como sincerida<strong>de</strong> no que afirma, <strong>na</strong> projeção do crime e <strong>de</strong> suas<br />

pistas, esses leitores perspicazes po<strong>de</strong>rão , mediante análise, elimi<strong>na</strong>ção e<br />

raciocínio lógico, indicar o culpado assim que o <strong>de</strong>tetive o fizer. E aí temos o<br />

sabor do torneio. Isso explica o fato <strong>de</strong> que alguns leitores que costumam<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar as novelas comuns e “ populares “ acabem por lê-las sem qualquer<br />

constrangimento .-<br />

16. Uma novela <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetives não <strong>de</strong>ve conter compridas passagens<br />

<strong>de</strong>scritivas, nenhum rebuscamento literário em questões secundárias, nenhuma<br />

análise sutilmente elaborada dos perso<strong>na</strong>gens, nenhuma preocupação<br />

“atmosférica”. Tais questões não têm lugar essencial em assentamento <strong>de</strong> crime e<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>dução. Elas retardam a ação e carreiam questões que não se importam,no<br />

tocante ao objetivo principal, qual seja o <strong>de</strong> enunciar um problema, a<strong>na</strong>lisá-lo e<br />

levá-lo a uma conclusão válida. É bem verda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve haver certa <strong>de</strong>scrição e<br />

<strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> perso<strong>na</strong>gens, a fim <strong>de</strong> conferir verossimilhança à obra; mas<br />

quando um autor <strong>de</strong> estórias <strong>de</strong> <strong>de</strong>tetives alcançou o ponto literário em que tenha<br />

criado um sentimento empolgante <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, arrebanhando o interesse e a<br />

74

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!